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NOTA DA AUTORA NICOLE

Em primeiro lugar, esta história é ficção, mas se você


acha que isso não é real para mim, então você deve estar
enganado.

Olha, eu posso aceitar críticas, mas você atacou minhas


intenções honestas.

As pessoas convivem com isso todos os dias.

Não me diga como estamos nos SENTINDO.

— Você carece de sinceridade... faça sua pesquisa esta


história não é realista...

Eu não só FIZ, EU VIVI, agora EU ESCREVO, agora estou


CURANDO.

SIM, eu sei como é, tudo que sei são essas palavras que
escrevo.

Você ainda pegou meu terceiro livro, então devo estar


fazendo algo certo.

E se você acha que esta rima é para você, aqui está meu
e-mail, responderei uma ou duas perguntas.

nicole@nicolefiorina.com

Você pode não concordar com os pontos de vista, ações,


discussões ou eventos da personagem nesta história, e isso
está certo. Conteúdo adulto, linguagem e palavrões para
adultos, conteúdo sexual gráfico, violência e assuntos
perturbadores podem desencadear uma resposta emocional.
Leia por sua própria conta e risco.

Feliz Aniversário Mackenzie.

Now Open Your Eyes Playlist disponível no Spotify.

https://spoti.fi/2GytbGj
DEDICATÓRIA

DEDICADO À CHRISTIAN

Para meu filho que sente demais, nunca tenha vergonha de


mostrar suas emoções ou lágrimas.

Um dia, haverá alguém quem precisa de cada um.

Enquanto isso... sim, baby, você pode lidar com isso, e você
não é nada menos que bonito.
SINOPSE

Estava tão perto, eu experimentei – a liberdade.


Mas a única coisa que eu podia sentir agora era o fim.
Nos últimos dois anos, deixei todas as forças externas ditarem minha vida,
meus sentimentos, minha cabeça.
Eu permiti que todos controlassem qual deveria ser minha punição por todas
as minhas más ações.
Eu fui testado e aprendi minha lição.
Eu paguei minhas dívidas e sofri o suficiente.
Porque no final, até mesmo aquela que era uma maldição merecia ser feliz
também.

Até onde você está disposto a ir?


Eu já me fiz essa mesma pergunta inúmeras vezes.
Mas nunca, em meus sonhos mais loucos, pensei que voltaria no tempo,
perseguindo fantasmas do meu passado por uma chance de salvar nosso
futuro.
Então, não havia limite.
Sem limites.
Eu cruzaria o tempo, o mundo, minha moral.
Sim, eu até me trairia.
Então, até onde eu iria?
A resposta sempre foi simples.
Eu passaria uma eternidade mas uma dia vai valer a pena.
PRÓLOGO

“A maior medida do homem é o que ele faz a seguir que tudo


tem sido tirado dele.”
− Oliver Masters

Sete meses atrás/setembro

EU TIVE TRÊS HORAS.

Inicialmente, eu vim aqui com um objetivo em mente. Mas


eu estava adiando. Mia se tornou uma distração. Ou talvez
uma salvação, dependendo de como você olha para isso.

De qualquer forma, eu não poderia perder mais um dia.

Era meio da noite e todos deveriam estar em seus


quartos. Por quinze minutos, estive diante de um espelho em
um banheiro vazio no terceiro andar com minha consciência
deixada em algum lugar no segundo, onde quer que Mia
estivesse no momento. Com sorte, em seu quarto, mas ela
tinha o hábito de vagar, se metendo em problemas.

Haden Charles não sentiu remorso. Absolutamente


nenhum. Haden caminhou por esses corredores como se
possuísse os direitos de cada redemoinho no mármore
colocado diante dele. Ele continuou com sua vida como se
nada tivesse acontecido. Mas algo aconteceu. Haden Charles
foi um dos cinco homens que tiraram a vida da minha irmã,
Livy. Eu assisti e estudei o cara nos últimos sete meses. Ele
não se encolheu depois de assassinar minha irmã. Haden
acordou, tomou café da manhã, foi para a aula, jogou cartas
no jardim, vivendo como se Livy nunca tivesse existido, como
se ele não tivesse participado de sua morte.

Enquanto olhava nos meus próprios olhos no espelho,


meu coração endurecia a cada segundo que passava. A raiva
preencheu os lugares onde minha irmãzinha costumava ficar,
e a sensação era mais fria, pesada e áspera nas bordas. A raiva
me consumiu, me ameaçou, me provocou. Essa foda de raiva
me mudou, há muito esqueci o homem que costumava ser.
Tudo que eu conhecia era essa raiva, esqueci como era sem
ela.

Então eu encontrei Livy em meus olhos. — Deixe ‘pra’ lá


— sua voz cantou dentro da minha cabeça. Mas eu não
conseguia esquecer. O monstro dentro de mim estava com
fome, os sussurros do relógio ficando mais altos, abafando a
doce voz de Livy.

Tique-taque.

A bolsa descansando ao lado da minha bota no chão sujo


do banheiro contém tudo que eu preciso para fazer o trabalho.
Mais de um ano, eu estive planejando. Haden tem uma mãe,
um pai na prisão, uma irmã mais nova e um Golden Retriever
chamado Poncho. Nada que eu fizer estará meio zonzo,
totalmente ciente da vida que estou prestes a tirar deste
mundo, de uma família.

Mas ele tem uma porra de uma irmãzinha. Ele deveria ter
conhecido melhor. E Deus? Eu dei a ele mais de um ano para
consertar as coisas. Ou Deus fez vista grossa... Ou Deus estava
esperando que eu cumprisse suas ordens.

Afastando-me da pia, endireito minhas costas antes de


pegar a bolsa preta em meu punho.

Tique-taque.

Minhas roupas se misturaram nos corredores escuros.


Camisa preta, jeans preto, botas pretas. Alma negra. A cada
passo que dou em direção a segunda ala, meu coração me
avisa, mas Karma canta sua doce canção uma e outra vez, e
só há uma maneira de sedar o monstro.

Tem que ser esta noite.

Jerry tinha esta ala, mas uma vez por semana, ele fica
bêbado com Rhonda em seu escritório na estação da
enfermeira atrás de portas trancadas. A única razão pela qual
sei disso é porque ele estava um pouco tonto na sala de
descanso, o que Rhonda não merece. Mas não vim aqui para
fazer amigos.

Com Jerry ocupado e os corredores vazios, não tenho


muito tempo.
Eu tinha roubado um crachá genérico de guarda do
escritório do reitor, um vinculado ao nome de ninguém, e
escaneio o cartão para a porta de Haden, respiro fundo e abro.

Haden Charles não esperava que a morte batesse, não é?

— Que porra é essa? — Haden grita, sentando-se da


cama. Seus olhos escuros e confusos percorrem meu traje
preto, tentando me identificar e juntar as peças da minha
intrusão de uma vez. Mas antes que Haden tenha a chance de
se levantar, eu bombardeio o cara, cavando meu joelho em seu
peito e envolvendo meus dedos em sua garganta.

— Três perguntas e você será honesto comigo. — Ordeno


em seu ouvido enquanto ele luta contra mim. Ele não é páreo
para o meu tamanho, o monstro por dentro e a adrenalina
jorrando em minhas veias. — Eu saberei se você estiver
mentindo. — Os olhos de Haden se arregalam enquanto ele
tenta se desvencilhar do meu alcance. Sabendo quanto
suprimento de ar devo deixar, aumento meu aperto. O drogado
está aqui em Dolor há três anos, atirando e traficando. A
maioria dos alunos ficam por dois, mas para minha sorte,
esses caras não conseguiam passar em uma aula. Haden tem
vinte anos agora, quase não é mais um menino. Os homens
devem assumir a responsabilidade por suas ações. — Olivia.
Você a estuprou?

Haden balança a cabeça violentamente e tenta alcançar


meu rosto, ele ficando azul, mas estou longe o suficiente para
que ele não possa me alcançar. Eu não sou um estranho para
a morte, e este não é meu primeiro rodeio. Meus braços estão
em um beco sem saída, mas abro um pouco para ele falar, e
ele respira fundo.

— Quem diabos é Olivia?

— Livy. — Eu rosno. — Responda-me.

— Todo mundo fodeu aquela vadia. — Haden cospe com


humor em seus olhos, provando, mais uma vez, como ele vê as
mulheres. — Eu dificilmente consideraria estupro quando ela
se deitou lá e pegou. Como uma campeã, também.

O monstro dentro de mim mostra os dentes, e eu deveria


ter quebrado seu pescoço ali mesmo. Não teria custado muito
esforço, considerando que eu já o tenho pela garganta. Mas
tenho mais perguntas para ele e preciso de mais respostas.
Soltando uma das mãos, coloco-a no bolso e abro o canivete,
passando a ponta afiada sobre o olho saliente do sujeito. —
Você a matou? — Surpreendentemente, minha voz fica calma,
minhas palavras são explícitas, mas não consigo mascarar o
leve tremor em minha mão segurando a faca. Os movimentos
de Haden param sob minhas mãos, e o medo se materializa em
seus olhos lacrimejantes sob a ponta da lâmina. O plano não
era usar a faca nele. Apenas um meio de obter as respostas de
que preciso para justificar o que estou prestes a fazer. — A
porra da verdade.

— Eu não sou um dedo-duro. — Ele resmunga em uma


respiração rouca.
— Você enforcou minha irmãzinha? — A tristeza e a dor
no coração ameaçam aparecer, prejudicando minha paciência.
Minha mão treme ao redor do aperto firme da faca, pronta para
gravar o nome de Livy em seu rosto para que, vivo ou morto,
ele nunca se esqueça do que tinha feito, para que todos
soubessem o que ele fez.

— Drew! — Haden solta apressado com uma revelação


chocante nos olhos. — Drew foi o único.

O monstro dentro de mim ri de sua audácia. Tommy, o


namorado de Livy, matou Drew, e Haden sabia que seria mais
fácil jogar embaixo do ônibus a única pessoa que não está aqui
para defender seu nome. — Vamos tentar de novo. — Eu já sei
os nomes. Quando visitei Tommy na prisão, ele me deu uma
lista dos cinco meninos que a estupraram em grupo. Drew,
Haden, Chad, William e Lionel. Mas eu preciso da confissão de
Haden. Quero ouvi-lo dizer isso. — Você matou Livy?

Haden fecha os olhos com força antes de abri-los e fixar


seu olhar escuro em mim. — Você quer que eu diga como eu vi
Lionel e Drew sufocá-la? Como seu rosto sardento ficou azul e
os braços ficaram moles? Como ajudei a erguer seu corpo para
que Lionel pudesse puxar o lençol em seu pescoço? Como ela
já estava morta antes de ser enforcada? Você acha que eu
honestamente admitiria algo assim? Você teria que me matar
antes que minha bunda fosse para aquele inferno de prisão.

Sua desculpa esfarrapada como uma confissão nubla


minha visão e me coloca em um choque temporário. Imagens
injustificadas de minha irmãzinha lutando por sua vida
enquanto era controlada por cinco caras com o dobro do seu
tamanho aparecem atrás dos meus olhos fechados.

Depois de respirar fundo, eu os abro novamente. —


Última pergunta, Haden. — Minha voz vacila, e leva tudo para
não cravar a lâmina em seu olho. — Você sente muito pelo que
fez?

— Sentir muito? — Ele ri. — Era ela ou eu. Eu me escolhi.

Três perguntas. Era tudo que eu precisava ouvir antes de


enviar a bunda de Haden para o inferno, mas não o mesmo
inferno que ele se referiu também. O monstro controla todas
as minhas próximas ações como se eu tivesse deixado meu
corpo e assistido do canto do quarto, um espectador. Tiro a
agulha e injeto succinilcolina1 na veia atrás de sua orelha.
Então, os únicos movimentos que ele consegue controlar são
os dos olhos. Desta vez, é seu corpo ficando mole em segundos.
O terror em seus olhos escuros corre ao redor, incapaz de se
mover, incapaz de falar. Haden Charles finalmente entendeu o
mesmo medo que Livy sentiu em seus últimos momentos:
inegavelmente desamparado com a morte no horizonte.

Eu o penduro em seu quarto e não fico por perto para ver


sua vida escapar. Ele merece morrer sozinho e, se conseguir
escapar, a droga o sufocará de qualquer maneira. Eu já tinha

1 Relaxante muscular.
visto o processo antes. Experimentei porque não faço nada pela
metade.

Automaticamente, meus pés descem pela ala, um pé na


frente do outro, subindo as escadas, até chegar ao banheiro.
Não é até que a porta se fecha atrás de mim quando desabo no
chão. Meu corpo inteiro treme e minhas mãos letais tremem
na minha frente. Eu as examino, horrorizado e enojado comigo
mesmo. Uma doença se agita enquanto os últimos momentos
de Haden se repetem. Tento escalar a parede de azulejos, mas
minhas pernas não conseguem se mover e o enjoo sobe pela
minha garganta. Ofegante e com os olhos ardendo, cambaleio
e vomito no piso do banheiro.

O assassinato não é novidade para mim. Eu já havia


matado antes e nunca foi tão fácil.

O monstro está quieto, cheio. No entanto, não demorará


muito até que o animal sangrento volte para mais.

É só questão de tempo.

Demora vários minutos para romper o choque inicial da


minha ruína. Esfrego minhas mãos até que ficam em carne
viva, querendo tirar camadas da minha própria pele. Tomo
banho, escovo os dentes e visto meu uniforme de guarda,
repassando repetidamente o plano em minha cabeça.

Eu tinha feito planos para quando deixasse Dolor, onde


ficar, dinheiro, passaporte, que criminosos comuns em fuga
planejariam para evitar serem pegos. Eu já havia dito ao reitor
que depois desse trabalho, deixaria o país e nunca mais
voltaria. Eu me certifiquei de que ninguém viria me procurar,
e ninguém poderia atribuir essas mortes a mim também,
nenhum vestígio de Ethan Scott. Mas eu nunca planejei como
me sentiria depois de tirar uma vida.

Quem sou eu para brincar de Deus? Por que sinto


remorso por aqueles bastardos doentes? Por que isso vira meu
estômago de cabeça para baixo em vez de me fazer sentir
melhor?

Isso, eu não planejei.

De volta ao segundo andar, a pressa do jantar passa por


mim. O tempo avança e ninguém percebe que Haden Charles
nunca chegou ao refeitório. Viro o corredor e me vejo cara a
cara com Zeke.

Além de Lynch, Zeke está aqui há mais tempo. Irmão de


Tommy.

Zeke me estuda de longe, seu olhar selvagem vagando e


tentando me decifrar. — Zeke. — Sussurro, me sentindo pego
em uma ação, mas sabendo que ele não poderia saber o que
eu tinha feito. Mas eu ainda estou com medo de que ele possa
entrar na minha cabeça e ver a memória do meu crime se
desenrolar. Cada vez que seus olhos se fixam nos meus, eu me
sinto exposto. — Está tudo bem, meu amigo?

Zeke segura um olhar triste e solta um suspiro antes de


assentir. O menino é capaz de falar, mas optou por não o fazer.
Ele está mudo desde que foi encontrado nos degraus de Dolor.
Seu arquivo menciona mutismo seletivo e distúrbio de
processamento sensorial causado por ansiedade de separação
severa quando criança. A única vez que ele falou foi com
Tommy. Quando visitei Tommy na prisão, ele mencionou que
quando eram crianças, Zeke o usava como uma barreira contra
o mundo ao seu redor. Tommy sempre falou em nome de Zeke
e, quando os dois se separaram, a ansiedade de Zeke só piorou.
Tommy havia encontrado Zeke após anos procurando por ele
e se plantou dentro de Dolor para tirar seu irmão de lá. Tommy
falhou com Zeke.

Tommy e eu somos parecidos em muitos aspectos.

Fracassar com nossos irmãos é um deles.

O assassinato é outro.

Eu tentei me aproximar de Zeke por causa de Tommy,


mas Zeke só permite a entrada de alguns. Mia e Masters sendo
os únicos dois além de Tommy, e eu nunca entendi o que Zeke
encontrou neles. Mas ele viu algo. Talvez Mia aliviasse sua
ansiedade da mesma forma que Mia acalmou meu monstro.

Depois do jantar, fico em meu posto no banheiro. As


últimas palavras de Haden ecoam em minha cabeça e agarro
meu cinto na tentativa de acalmar meus nervos.
Instintivamente, meus olhos encontram Mia do outro lado da
sala, procurando alívio. Percebo a maneira como ela se perde
enquanto seu amigo Jake fala com ela. Mia faz isso com
frequência, e eu gostaria de poder ver seus pensamentos
quando ela se perde em sua própria cabeça assim. Ela está
planejando mortes como eu? Ela também está doente? Ela está
com raiva? Qual é o nome de seu monstro?

A voz de Lynch vibra no interfone, quebrando meu olhar


sobre a garota que meu monstro gosta. Não demora muito para
que alguém encontre o corpo de Haden e o campus seja
bloqueado. Eu olho para o meu relógio. Bem na hora do
caralho.

Quando penso que a parte mais difícil tinha acabado, não


está. Tendo que ver o dano que eu fiz com minhas próprias
mãos de volta ao quarto de Haden, a doença ressuscita.
Quando penso que nunca poderei me odiar mais do que depois
de falhar com Livy, foi uma mentira. Ver Haden pendurado em
seu quarto me fez me odiar ainda mais. Inevitavelmente, o ódio
por mim só aumentará porque eu ainda não tinha acabado.

Estou apenas começando.

Às três da manhã, estou livre para voltar para minha ala,


de volta para Mia. Eu quero deitar ao lado dela e usá-la para
suavizar a raiva, a vergonha e a culpa como ela tinha feito
tantas vezes antes. Mia está dormindo ao entrar em seu
quarto. Finalmente, adormeceu em paz de seus terrores. Eu
quero me afogar nessa mesma paz. Quero embrulhar esse
maldito monstro em seu cobertor calmante e embalá-lo para
dormir.
Um por um, retiro meu cinto e camisa e afundo ao lado
de seu corpo gelado para aquecê-la. Mia sempre foi fria,
convencida de que nasceu com meia alma.

— Ollie. — Mia sussurra, e embora doa não ser quem ela


precisa, eu ainda preciso dela de forma egoísta. Isso deveria
me fazer sentir culpado, minhas mãos assassinas vagando
sobre sua pele sedosa e gelada, mas não faz. Mia acorda
agitada e tenta me fazer falar sobre o que quer que esteja me
incomodando, mas não consegue encontrar em mim. Sou um
homem quebrado com más intenções. Tudo que eu preciso
agora é o silêncio da noite e seu corpo, quase nu, contra o meu.
Tudo que eu preciso é a fachada de ser necessário em troca, e
que sua tempestade acalme a minha. Mia transformou meu
monstro em um animal de estimação. Ao redor dela, ele ouve.

Como todas as outras noites desde a primeira vez que ela


me puxou para a cama com ela, espero até que ela volte a
dormir. Correndo meus dedos ao longo do caminho de sua
silhueta, absorvo o que ela tem. Mia não se importa, ou pelo
menos ela nunca mencionou nada. No fundo, sei que é Masters
que ela quer, mas Mia me usa do mesmo jeito. Isto é o que nós
fazemos. Esse é o nosso relacionamento. Alimentamos um ao
outro da única maneira que entendemos.

Em algum momento, Mia voltou a dormir. Sua respiração


suave me hipnotiza em um estado de doce serenidade. Minhas
mãos fazem sua jornada através de seu abdômen até sua
bunda, puxando-a contra a minha frente para respirar seu
perfume floral natural.
Independentemente do que seu arquivo declare, Mia é
nada menos que cativante.

Sua respiração superficial atinge meu pescoço enquanto


meu peito sobe contra seus seios. — Você vai me perdoar, Mia?
— Eu pergunto, sabendo que um dia eu a abandonarei,
transarei com ela ou a matarei.

— Mmhm — Ela cantarola meio adormecida.

Eu sou um idiota doente. Um idiota assassino e doente.

Mia tem o que preciso e todas as noites, eu pego.

Só não percebi que se tornaria um vício até que fosse


tarde demais.
UM

“Este mundo precisa de mais mulheres com colunas


vertebrais atadas pela fortaleza, e mais homens com corações
beijados por uma graça terna.”
− Oliver Masters

DEVERIA TER SIDO fácil para a escuridão assumir o


controle, tão perturbadoramente fácil considerando que tenho
todos os elementos necessários para me arrastar até lá. Por
que não fui parar lá dessa vez? Por que, depois de todo esse
tempo, desejo fugir do abismo escuro quando antes eu me
permitia me afogar nele?

Pensar em Ollie continua a me dar esperança. Sei que ele


está lá, parado na luz, esperando por mim. Fecho os olhos com
força e nos imagino ali, o sol alto, correndo pelos campos de
papoula, as pétalas de cetim vermelho fazendo cócegas em
nossos tornozelos. É quente, seguro e melhor do que esta
realidade.

Mas é um paraíso temporário, e Deus pode colocar Ollie


e o futuro que sonhamos bem por cima da minha cabeça – uma
provocação. Um tormento cruel, dando-me tudo o que eu
nunca soube querer, só para tirar de mim. Como ele ousa
testar minha força? Será que ele não sabe que eu não
conseguirei desta vez?

Eu estou pegando isso.

Nos últimos dois anos deixei todas as forças externas


ditarem minha vida, meus sentimentos, minha cabeça. Eu
tinha permitido que todos controlassem qual deveria ser minha
punição por todos os meus erros.

Obrigada, Deus, por me testar. Eu aprendi minha lição.

Eu já tinha sofrido o suficiente. Paguei minhas dívidas.

E no final, até mesmo o maldito-era-uma-vez merece ser


feliz também.

A última coisa que lembro antes de desmaiar foi dos


sapatos pretos enlameados pendurados de cima quando
minha visão se transformou de embaçada para preta,
completamente escura.

Uma lágrima escorrega pela minha bochecha, e quando


meus olhos se abrem, a escuridão me dá as boas-vindas
novamente. Mas eu não deixo entrar, não desta vez. Minha
resposta imediata é gritar, mas a fita adesiva esticada em meus
lábios não só impede, mas aumenta o pânico onde fica mais
difícil respirar.

O oxigênio fica escasso e meu nariz queima. Meus pulsos


e tornozelos foram amarrados juntos, e eu giro no lugar,
jogando minhas pernas unidas para fora apenas para ter meus
joelhos batendo nas paredes ao meu redor. Não há saída.
Fecho os olhos com força e outra lágrima quente cai enquanto
meu peito queima com a falta de ar e o medo nadando em mim,
tentando me puxar para baixo da corrente.

Ethan. Tinha sido ele o tempo todo. Mas por que não vi
isso antes? Uma vez, eu confessei que Ethan tinha o coração
de um ceifador, e por meses deixei este homem que eu pensei
que conhecia ir para minha cama, mesmo nas noites em que
ele tirou vidas. Ethan não tinha apenas o coração de um
ceifador. Ele tinha sido o maldito Anjo da Morte o tempo todo.
E eu o deixei me tocar, o deixei me acalmar. Permiti que ele
entrasse, e me irrita o quão errada eu estava sobre ele. Saber
que o comportamento humano é a única coisa em que eu sou
boa, e entendi tudo errado com Ethan.

Ethan tinha levado aqueles caras para a morte, roubado


vidas, e ele poderia ter escapado com tudo isso também se não
fosse por eu ter caminhado até ele. Ele olhou para mim de volta
à sala de aula no terceiro andar com choque absoluto em seus
olhos azuis elétricos, os meus carregando o mesmo horror
antes de me derrubar no chão. — Desculpe, — continuou a
repetir até que se tornou a última coisa que ouvi antes de a
escuridão tomar conta.

Só quando o carro parou é que percebi que estive me


movendo o tempo todo neste pequeno espaço escuro. Uma
porta bate, sacudindo o porta-malas em que estou confinada,
e minhas lágrimas param no meio do fluxo. Ficando quieta,
espero o inevitável.

É isso. Ethan tentará me matar também.

Nunca tive medo de morrer. Na verdade, a morte me teme.


Por anos, eu tinha dançado nas cordas apertadas sem me
importar com o mundo, provocando o destino sinistro,
sussurrando: — Leve-me, eu te desafio, — com os braços
erguidos ao lado do corpo. Acontece que a morte é uma vadia
assustada.

Mas isso foi antes de Ollie entrar na minha vida.

No momento em que Ollie forçou sua entrada, ele se


tornou meu centro. Minha gravidade. Ollie me amou o
suficiente por nós dois até que eu aprendi a me amar. E,
finalmente, eu aprendi. Aprendi a amar a mim mesma e à
pessoa que cresci para ser. Dolor, as pegadinhas, nem o
bullying poderiam tirar isso de mim.

Ethan também não será capaz.

Se a morte não é uma vadia assustada, então certamente


deveria ser agora, porque não há uma luta a que eu me renda,
não desta vez. Eu não lutarei apenas por mim mesma, mas por
Ollie e por uma vida inteira juntos.

O porta-malas se abre e uma rajada de ar fresco sopra


pelo espaço fechado em que estou presa. O sol forte força meus
olhos a fecharem, e empurro minha cabeça para longe da luz
por um momento até que possa me ajustar.
— Chegamos. — Ethan afirma, mas é indiferente desta
vez. Relutante, pisco meus olhos abertos e as feições de Ethan
aparecem. Olhos vazios olham para mim e luto com as
palavras contra a fita. Maldições, ameaças de morte e gritos
saem como zumbidos agudos. Por um breve momento, Ethan
se vira e coça a nuca enquanto seus ombros ficam tensos
contra a camiseta preta lisa. Então ele endireita sua postura e
se vira para me encarar. — Isso é culpa sua. — Ele enfatiza,
soando mais como se estivesse tentando se convencer do que
a mim. Ele balança a cabeça, soltando um suspiro quebrado
antes de suas duas mãos grandes me agarrarem do porta-
malas e me jogarem por cima do ombro.

Eu me debato contra seu aperto forte, mas não há como


escapar do aperto firme de Ethan na parte de trás dos meus
joelhos. Em meio à luta, por acaso olho em volta para ver uma
densa floresta que nos cerca, uma tela de verdes e marrons.
Nem mesmo o céu é visível desse ângulo, bloqueado pelas
traiçoeiras copas de galhos e folhas. As árvores se estendem
por quilômetros sem nenhum sinal de civilização além de nós
dois. Nenhum sinal de Dolor, Ollie ou ajuda nesse assunto.
Apenas Ethan e eu. O anjo da morte e a ex-sociopata.

Uma porta se abre e Ethan abre caminho e consegue


chutá-la para fechá-la atrás dele, apagando a luz de fora.

Está escuro novamente e o ar pesado cheira a mofo e


vazio. Pranchas de madeira cobrem todas as paredes, e Ethan
se vira para bloquear a porta, me dando uma visão de todo o
espaço, que é limitado. Uma cozinha com uma pequena janela
acima da pia fica encostada na parede dos fundos. Ao lado,
uma porta dos fundos. Outra rota de fuga. À minha direita, um
sofá floral empoeirado está encostado em uma parede de
tábuas de madeira de frente para uma parede vazia com uma
porta interna. Eu não tenho muito tempo antes que ele se vire
e caminhe em silêncio pelo chão rangente até que passamos
por outra porta e descemos um lance de escadas.

Lutar contra ele é inútil, pelo menos até que eu possa me


livrar das restrições amarradas em torno de meus membros.
Elas são tão apertadas, cortando minha carne, e cada
movimento contra elas queima mais profundo. Economizar
minha energia se torna uma prioridade. Após o último passo
para fora da escada, Ethan me joga para trás até que minhas
costas batem, em seguida, ricocheteia em um colchão de
molas.

Ele anda para frente e para trás, puxando seu cabelo


enquanto permaneço imóvel, olhando para ele. O quarto é
minúsculo, sem outros móveis além do colchão embaixo de
mim. Meu olhar vai de Ethan para uma janela. Uma fatia dos
raios do sol brilha entre nós dois, enviando partículas de poeira
dançando no espaço como neve sem peso. A janela é alta, fora
de alcance.

— Por que, Jett? — Ethan se vira para mim com os braços


no ar, bochechas em fúria e olhos tensos. — Você não fazia
parte do plano! — Ele grita enquanto seu rosto treme. Uma
lágrima solitária escorre por sua bochecha enquanto ele se
coloca em cima de mim. Ethan arranca a fita da minha boca,
e um grito rasga através de mim, desesperado para que alguém
ouvisse, para se possível as árvores enviarem uma mensagem
pelo Reino Unido até chegar a Ollie.

Ethan agarra meu queixo com uma das mãos e seu rosto
fica a centímetros do meu.

— Eu não quero machucar você. — O desespero flui


através de cada palavra, seus olhos cheios de pesar. — Por
favor, não me faça machucar você. Se alguém pode entender,
é você. Você só precisa entender.

Ethan me prende ainda com um apelo em seus olhos e


hesitantemente solta seu bloqueio em volta do meu queixo.
Com uma janela de oportunidade, jogo minha cabeça para
frente e bato minha cabeça na dele. A dor intensa me manda
para o lado com um zumbido insuportável em meus ouvidos.
Ethan pragueja baixinho antes de empurrar meus ombros
para me segurar. — Me deixe ir! — Eu grito. Minha garganta
está seca e espessa e faz com que meu grito se transforme em
um sussurro cheio de lágrimas.

— Por favor, Ethan. Não vi nada... não vou falar nada!


Apenas me deixe ir. — É verdade. Eu não diria nada. Ele
poderia me deixar sair pela porta, e eu poderia esquecer que
isso aconteceu. Está na minha natureza. Quer eu queira
esquecer ou não, meu cérebro tem uma história de abolição de
momentos difíceis demais de lidar.

Por uma fração de segundo, acho que ele vá me deixar ir.


Mas então algo ocorre a ele, e seu olhar passa de apologético
para zangado como um estalar de dedos. — E para onde você
irá? Voltar para o Masters? Você honestamente acredita que
Masters ou Lynch vão esquecer seu desaparecimento e não
fazer perguntas? Não sou um idiota, Jett. Não posso arriscar...
E ainda não terminei.

— Terminar com o quê? Você não fez o suficiente? —


Quatro caras morreram de suicídio nos últimos sete meses. Eu
só encontrei Lionel, mas não precisa ser um gênio para juntar
todas as peças. Ethan havia assassinado todos os quatro. Se
ele foi capaz disso, do que mais Ethan Scott é capaz?

— Ainda não. — Ethan sussurra. — Tenho que terminar


o que comecei.

— Você é um filho da puta doente. — Grito e cuspo na


cara dele.

Ethan fecha os olhos com força e enxuga minha saliva de


seu rosto com as costas da mão. Quando seus olhos se abrem
novamente, uma calma perturbadora percorre suas pupilas
negras. Ele se lança para frente e coloca a fita adesiva na
minha boca novamente.

— Você apenas tem que entender. Eu não quero te


machucar. — A testa de Ethan cai para a minha. — Por favor,
não me faça machucar você. — Ele sussurra gravemente.
Fecho meus olhos, recusando-me a olhar em seus olhos azuis.
— Comporte-se, Jett. — Ethan diz para mim em um tom suave.
— Comporte-se, e quando chegar a hora, eu vou deixar você ir.
Mas agora, você precisa se acalmar.
Ele beija minha cabeça latejante e se afasta de mim, me
deixando sozinha no quarto.

O tempo passou. O sol morreu e a lua passou pela janela


e sumiu de vista. Botas pesadas prendem as pranchas de
madeira acima enquanto Ethan caminha continuamente pela
pequena cabana por horas. A cada passo, as tábuas do
assoalho rangem embaixo, enviando poeira do teto para a luz
da lua. Ele terá que descer mais cedo ou mais tarde, e prefiro
mais cedo. Minha bexiga queima, me lembrando de que sou
humana.

Eu me empurro contra a parede traseira e forço meus


olhos a permanecerem abertos. Minhas pálpebras parecem
estar sendo empurradas para baixo contra minha vontade, e
cada vez que eu flutuo, sacudo minha cabeça para me manter
alerta. Do lado de fora da janela, as árvores assombradas
balançam contra o vento forte. Minhas próprias palavras me
provocam:

— Nunca estaremos fora de perigo. — E a ironia me faz rir.

Mas, eu estava errada antes, uma covarde pessimista, um


copo meio vazio.

E não há espaço para pessimismo neste mundo.

Estou saindo dessa maldita floresta, mesmo que tenha


que cortar todas as árvores.

As botas de Ethan ricocheteiam nas escadas e minha


cabeça salta para frente. Uma mistura de raiva e adrenalina
toma conta de mim e me acorda totalmente de uma vez. A porta
se abre e ele aparece, ainda vestindo uma camisa preta com
jeans preto. Seu cabelo ruivo parece quase preto no escuro
também, e seus olhos azuis brilham como a lua contra o
oceano. Cada passo mais perto me faz querer me tornar uma
com a parede, mas me mantenho firme, levanto meu queixo e
o olho nos olhos, não dando a ele escapatória da minha
promessa silenciosa de matá-lo assim que tiver a chance.

Exausto, Ethan para perto de mim, enfia os dedos no


bolso e abre uma faca. Eu me seguro para não recuar, mas
balanço minha cabeça e murmuro contra a fita.

— Relaxe. — Ele murmura, colocando uma mão sobre os


meus tornozelos antes de soltá-los da amarração. — Você pode
usar o banheiro e eu vou te alimentar.

Deixando meus pulsos ainda amarrados e a fita adesiva


sobre meus lábios, Ethan me leva escada acima. O cheiro de
tomate doce desce pela escada e meus pés sobem lentamente
a cada degrau, ainda pesados e entorpecidos pela falta de fluxo
sanguíneo.

Penso em correr e em como essa ideia seria estúpida,


considerando que não conseguiria abrir uma porta com os
braços atrás das costas. Por enquanto, obedecerei às
exigências de Ethan e ganharei sua confiança até que surja
uma oportunidade.

O andar principal é como eu me lembro. Na cozinha, uma


pequena panela colocada sobre um fogão a gás. Olho em volta
e percebo que não há outro quarto, nenhum outro corredor ou
andar de cima. É isso. O único quarto nesta cabana é aquele
em que eu estava presa.

— Precisa ir? — Ethan pergunta enquanto abre a porta


acima da escada. Meus olhos voam dos dele para o banheiro
minúsculo. Não há armário, apenas uma pia, uma banheira e
um sanitário. Você poderia dizer que havia um espelho acima
da pia pelos orifícios dos pregos na parede de gesso, mas ele
foi retirado. Ethan deve ter removido. Inteligente.

Eu preciso fazer xixi, mas não quero. No entanto, não sei


quanto tempo até ter minha próxima chance. Abaixo meu
queixo e Ethan coloca a mão em meu ombro para me guiar. —
Eu quero confiar em você, eu quero, — Ethan explica enquanto
levanta meu capuz preto POÉTICO e se atrapalha com o botão
do meu jeans, — mas eu simplesmente não posso correr o
risco. — Meus olhos encontram o teto quando ele desliza
minha bunda para baixo e me senta sobre o vaso sanitário.

Depois que Ethan sai da sala e fecha a porta, as lágrimas


escorregam dos meus olhos e encharcam a fita adesiva presa
na minha boca, e a fita cai na metade. Sento-me no assento
frio, sugando ar o suficiente para encher meus pulmões
enquanto me alivio em tempo recorde. O oxigênio que eu
ansiava desesperadamente só fez minha garganta seca piorar.

Há uma pequena janela circular acima do chuveiro, sem


possibilidade de abrir, apenas para passar por ela. Isto me dá
mais de duas maneiras de sair daqui, mas minha melhor
chance é sair por uma das portas.

Ethan aparece menos de um minuto depois. — Tudo


feito? — Ele pergunta como se estivesse conversando com uma
criança de três anos. Ele pega um rolo de papel higiênico atrás
de mim, se agacha e envolve sua mão algumas vezes com o
papel. — Eu vou cuidar de você, Jett.

— Te odeio. — Minha voz é baixa, quase um sussurro, e


fecho meus olhos com força enquanto sua mão coberta passa
entre minhas pernas. Eles não abrem novamente até a
descarga do banheiro soar. — Por que você está fazendo isso?

Ethan fica em silêncio e me coloca em pé entre seus


joelhos agachados. Um após o outro, desliza minha calcinha,
depois jeans. Ele não consegue mais me olhar nos olhos. Em
vez disso, seu olhar hipnotizado está focado na maneira como
seus dedos arrastam pelas minhas pernas.

Separando a sala de estar e a cozinha há uma pequena


mesa de madeira com duas cadeiras. Ethan puxa uma cadeira
e me senta, me colocando de volta nas restrições. Ele se vira
para o fogão e o desliga. — Quais são seus planos, policial
Scott? — Tento novamente, me distanciando de nosso
relacionamento anterior. — Você planeja me manter como um
animal de estimação pelo resto de sua vida? Como você
costumava me chamar? — Inclino-me sobre a mesa, puxando
meus braços contra a cadeira para chamar sua atenção. — Oh,
isso mesmo. — Eu rio. — Eu sou uma tempestade. E você já
deve saber que não pode domar uma tempestade.

Ele baixa a cabeça e todos os músculos de seu braço


ficam tensos.

— Eu vou sair daqui. — Continuo. — Talvez não hoje,


talvez não amanhã, mas chegará um momento em que quando
você menos esperar, de onde vou escapar... E você conhece
meu passado, Ethan. Não tenho nenhum problema em matar
você, se for esse o caso. Eu poderia bater na sua linda cabeça
ruiva e nem piscar. Eu seria capaz de continuar sem um pingo
de empatia por isso. Mas você? Você andaria por aí com pesar
todos os dias, mais do que a carga que está carregando agora.
Eu não poderia imaginar a dor diária que você enfrentaria se
me machucasse.

Um grunhido ruge dele antes que ele bata com o punho


em um armário. Saber que consegui uma reação dele traz um
sorriso ameaçador ao meu rosto. Tudo o que eu disse tinha
sido apenas meia mentira. A verdade é que posso sentir
empatia porque ela me encontrou antes.

Ethan vem em minha direção, agarra meu cabelo em seu


punho e puxa minha cabeça para trás, seu peito arfando. —
Você sabe qual é o seu problema, Jett? — Apesar de cada
mecha de cabelo arrancando do meu crânio, chupo meus
lábios e estreito meus olhos para combinar com sua força
interna. — Você esquece, eu e você? Somos um e o mesmo. —
Ethan solta seu aperto e volta para o balcão da cozinha, e
minha respiração retida volta em curtos e fortes
estremecimentos. — Não me subestime.

Depois, o jantar foi silencioso.

Ethan me deu sopa de tomate com colher que esquentou


no fogão em uma lata. Eu pensei em me recusar a comer, mas
precisava de força. Eu precisava sair daqui, e a única maneira
é cuidar da minha saúde e comer a comida que ele ofereceu
enquanto planejo minha fuga.

Depois que toda a panela de sopa de tomate acabou,


Ethan me deixou esperando à mesa e voltou para o balcão da
cozinha. Um por um, ele lavou à mão cada colher, espátula e
prato, secando e colocando cada item no local designado. Ele
esfregou os balcões, a mesa e enxugou o fogão antes de lavar
e secar as mãos pela terceira vez.

Nunca pensei que Ethan fosse tão meticuloso, uma


aberração limpa. Mas, novamente, eu nunca realmente
conheci o homem.

Uma vez que Ethan limpou a área da cozinha com


perfeição, ele me agarra pelo braço e me levanta da cadeira.
Desço as escadas na frente dele e volto para o quarto.
Novamente, meus tornozelos foram amarrados e eu fui deixada
sozinha.

Horas se passam e a noite fica mais fria e cruel.

Sem Ollie, meu coração parece dezembro no meio do


inverno.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha, e é quente e
acolhedora.

Em algum momento, devo ter adormecido por que da


próxima vez que meus olhos se abrem, Ethan está deitado ao
meu lado com um pano úmido na minha testa enquanto ele se
cala melodicamente. Meu corpo treme dentro do único calor do
moletom, recusando-se a usá-lo como um cobertor de
segurança como eu costumava fazer. Ethan estaria aquecido,
mas prefiro congelar.
DOIS

“Quando um homem bom sofre, todos nós sofremos.”


– Oliver Masters

— ESTOU PREOCUPADO COM VOCÊ, cara. Eles vão encontrá-


la. Apenas volte para casa. — Travis divaga, pelo que parece,
pela centésima vez no celular que ele havia me dado antes. Ele
mencionou que eu precisaria para trabalhar.

Eu não preciso da porra de um telefone.

Preciso de Mia e não dessa maldita foto, a Polaroid que


estou segurando em minhas mãos nervosas. A primeira foto
que tiramos juntos.

Dela. Eu preciso dela, tudo dela.

— Estou bem. — Minto. — Ligarei para você pela manhã


com uma atualização. — Outra mentira. E não há nada para
fechar com o celular estúpido para aliviar minha frustração.
Então, pressiono meu dedo no botão vermelho com mais força
do que o necessário antes de jogá-lo sobre a cama no quarto
do motel.
Recusei-me a entrar em nossa casa sem ela. Eu tinha
imaginado o dia em que passaríamos pela porta da frente de
nossa casa tantas vezes, e não será o mesmo se ela não
estivesse ao meu lado.

Eu não consigo ficar parado, andando repetidamente pelo


quarto do motel com um carro alugado esperando no
estacionamento. Cada precioso segundo desperdiçado sem
procurá-la e, embora seja quase meia-noite, ainda coloco um
moletom na cabeça, tiro as chaves da cômoda e saio pela porta
sem um destino ou pista sólida de onde ela poderia estar.

A viagem foi inútil, mas minha mente não consegue parar


de repetir cada interação de hoje que me trouxe até aqui: o
sorriso que Mia tinha no rosto depois de acordar, dizendo que
estava pronta para uma vida inteira de manhãs e café na cama.
O ato de amor logo depois foi à prova de que ela não conseguia
imaginar nada diferente do que nós dois. Mia não é mentirosa.
Sua cabeça pode pregá-la, mas seus olhos e coração são
honestos. Ela prometeu me encontrar. Ela não teria me
deixado. Algo está errado.

Depois que ela não apareceu, passei horas verificando


cada cômodo, examinando cada andar, conversando com Jake,
Tyler, questionando cada porra de pessoa dentro das paredes
de Dolor. Lynch estava preocupado com um suicídio em uma
sala de aula, e uma parte de mim acredita que o
desaparecimento de Mia e o suicídio ocorrido no mesmo dia
não é uma coincidência.
Faz quinze horas desde que eu a tinha visto, dez horas
desde que alguém a viu.

Onde você está, amor?

Dirijo pela noite escura em torno das cidades vizinhas de


Guildford antes de parar o carro na beira da estrada. Em um
segundo, estou sentado dentro do veículo, no seguinte, estou
de pé sobre a calçada molhada, sem conseguir respirar. Faróis
passam correndo, pessoas tentando voltar para casa, mas
estou perdido sem Mia, a única casa que eu já conheci. Cada
carro que passa não pode ver que estou parado aqui,
sufocando, e chuto o pneu antes de cair no chão com as costas
contra o veículo molhado. — Eu não sei o que fazer. Diga-me o
que fazer. — Grito para ninguém. Zeke não está aqui para
empurrar os pedaços quebrados de volta para mim.

Demora menos de cinco minutos para perceber que


sentar aqui na chuva fria não irá me deixar mais perto dela, e
menos de cinco minutos para saber que eu não posso fazer
isso sozinho.

Volto para o carro e ligo para Jinx, o segurança de Dolor,


que se tornou um bom companheiro após a sentença de dois
anos. Ele atende ao terceiro toque, música estridente ao fundo
com uma névoa de conversa.

— Quem é?

— Masters. Eu preciso de um favor.


— Uau, Oliver Masters. Achei que não ouviria de você tão
cedo.

— Eu preciso do endereço de Lynch. — Não há tempo


para bate-papo. Eu o tinha visto antes em Dolor, e trocamos
números. Por horas, ele me ajudou a virar Dolor de cabeça
para baixo. Como o mundo inteiro foi capaz de seguir em frente
com suas vidas sabendo que Mia estava desaparecida? Como
ele estava na porra de uma festa neste momento?

— Sim, tudo bem. Estive lá uma vez para entregar algo.


Foxenden Court fora de Chertsey. Apartamento 8. Não diga a
ele que eu...

Desligo e volto para a estrada, virando a próxima à


esquerda na rua escorregadia.

Dez minutos depois, paro no prédio de tijolos vermelhos


e estaciono. A chuva cai sobre mim enquanto eu corro pela
porta e subo as escadas, sem perder tempo. Meu corpo
estremece de frio, impaciência ou raiva... eu não sei mais,
apenas bato meu punho na porta do apartamento de Lynch,
provavelmente acordando todo o edifício.

Lynch abre a porta de pijama xadrez com um taco de


beisebol em uma das mãos. — Oliver. — Ele range os dentes.
— Foi um longo dia. Não tenho energia para isso, e como você
encontrou meu endereço?

— Sua filha está desaparecida! — Abro caminho pela


porta dele e entro no apartamento. É pequeno e mínimo, e eu
me viro quando ele larga o taco ao lado do batente da porta e
passa o dorso das mãos sobre os olhos.

— Acorde, Lynch. Não vou embora até obter respostas.

— Você não tem que estar em minha casa, muito menos


a esta hora da noite. — Ele resmunga enquanto caminha até
sua cozinha e liga a cafeteira. — Eu deveria chamar a polícia,
garoto. — Mas suas ações foram contra suas palavras. No
fundo, Lynch se preocupa com Mia. E ele não iria chamar a
polícia porque sou a única pessoa que se importa com sua
filha.

— Por favor! Ligue para eles. — Desafio com minhas mãos


no ar. Eu liguei mais cedo e eles não ajudaram muito. Mas se
o reitor do reformatório ligasse talvez percebam a importância
de uma menina desaparecida.

Lynch joga pó de café em sua cafeteira, resmungando


incoerentemente para si mesmo e ignorando minha frustração.
— Eu conversei com o Bruce. Mia tem um histórico de fugas,
especialmente quando as coisas ficam muito difíceis. Mia fugir
no dia da liberação parece estar em sua personagem. Eu não
ficaria surpreso se ela ficasse confortável com alguém que não
fosse você, fugisse, e agora more em algum lugar. — Ele
suspira, esfregando a mão sobre a cabeça calva. — Não se
culpe por isso, garoto.

Travis disse a mesma coisa, mas conheço Mia. — Se você


tivesse dedicado tempo para conhecer sua filha, veria que ela
não é mais assim. — Mia é inteligente. Ela não teria desistido
tão rapidamente na primeira chance de fugir. Não de mim e
não de si mesma. Não depois de tudo que ela passou. Ela teria
que voltar ao tribunal nos Estados Unidos em uma semana. Se
ela não aparecesse, quem sabe para onde a mandarão em
seguida.

Lynch tira uma caneca do armário e se vira para mim.

— Eu conheci a mãe dela, e a mãe dela fugiu de volta para


a Pensilvânia sem nenhuma explicação. A maçã não cai longe
da árvore. Mia é exatamente como ela. Ela pode ter meus olhos,
mas todo o resto é sua mãe.

Mia nunca falou muito de sua mãe, mas isso não muda
nada. — Você está errado sobre ela. — Eu me levanto e inclino
meus cotovelos sobre o balcão da cozinha, nos separando. —
Algo não está certo. Não consigo definir o que é, mas algo
aconteceu na sua escola. Eu posso sentir ela. Não posso
explicar, mas ela está com problemas.

— Você não parece muito bem, Oliver. Você parece


cansado.

O idiota está se desviando.

Minha mandíbula cerra. — Eu estou bem. — Eu ranjo.

A cafeteira apita e Lynch se afasta de mim. — Se você


quer meu conselho, vá para casa. Ela vai aparecer
eventualmente. Bruce disse que ligaria se tivesse notícias dela.
Até então, não há nada que eu possa fazer.
— Então é isso? Nenhum relatório de pessoa
desaparecida? Você nem se importa o suficiente para notificar
as autoridades?

Lynch ri, servindo-se de uma xícara e polvilhando com


açúcar. Seu comportamento indiferente apenas incendeia
todos os nervos irritados, e ele leva a caneca à boca antes de
dizer:

— Você honestamente acredita que alguém vai levar Mia


a sério com sua história? As autoridades não informam a hora
do dia sobre o desaparecimento. Vá para casa, Oliver. Se
passar uma semana e ela não aparecer, irei à polícia. Até
então, siga em frente com sua vida. Tenho certeza que ela está
bem. Você tem algum lugar para ir?

Meu coração se parte por Mia e como ela é pouco amada


pelas pessoas ao seu redor. Como eles não podem ver o quão
mais escuro o mundo de todos é sem ela? Eu olho para o lado,
incapaz de encarar o homem que criou Mia, trouxe sua vida,
quando há tanta raiva na minha.

— Ethan Scott. Onde ele está?

— Provavelmente em casa, dormindo. A mesma coisa que


você deveria fazer a esta hora.

Conseguir o endereço de Scott de Lynch seria como


arrancar dentes. Jinx não terá nenhum problema em me dar
as informações se as tiver.
Contorno Guildford, passo por Dolor e, por volta das três
da manhã, o carro volta para o estacionamento do motel. Meus
pensamentos se distorcem, acreditando que meu irmão tem de
alguma forma, algo a ver com isso. Tem o nome de Oscar
escrito nele.

Ao estacionar, pego meu celular e procuro o horário de


visita da prisão. Meus olhos ficam vidrados enquanto leio o
pequeno texto na tela. É necessário um aviso prévio de oito
dias para marcar um encontro com um prisioneiro. Oito dias é
muito tempo, mas ligo para a Prisão de High Down mesmo
assim para marcar um encontro com Oscar. O horário de
expediente está encerrado e faço uma nota mental para ligar
de volta às nove da manhã.

Nunca planejei ver Oscar novamente, colocando-o no


passado e mantendo-o lá. Mas Oscar sempre encontrou uma
maneira de se inserir na minha vida, uma e outra vez. Ele pode
ter conseguido reunir alguns meninos para levar Mia em troca
de mim. Ele quer algo de mim que eu nunca desistirei antes,
mas se Mia está na linha, ele pode ter. Darei qualquer coisa
em troca de sua liberdade, incluindo minha vida.

Meu telefone toca e eu imediatamente atendo com o


coração na garganta.
— O encontrou? — O som da voz de Jinx retumba no
celular contra a batida do baixo ao fundo.

— Sim, não adiantou. — Fico olhando para a porta do


quarto do motel do carro. O sono será impossível e um
desperdício. — Você sabe onde Ethan Scott mora?

— Não. — Ele resmunga enquanto uma garota


choraminga ao lado dele, vibrando meus tímpanos. — Não
falamos com Scott.

— O que você quer dizer com ”Nós não falamos com


Scott”? — Eu limpo o cansaço dos meus olhos. — Onde você
está?

— Vou mandar o endereço e você pode me encontrar. Vou


te contar tudo que você precisa saber.

Depois que Jinx enviou o endereço, a viagem durou


apenas vinte minutos antes de estacionar do lado de fora de
uma propriedade fechada. Com meus braços cruzados sobre o
peito, encosto contra o veículo enquanto música e corpos
derramam de dentro da casa. Copos vermelhos, velas
luminárias e diferentes tons de pele decoram o gramado
imaculado. Todos estão festejando, rindo e se divertindo,
vivendo a vida sem se preocupar com o mundo. Mas por mim?
Minha cabeça gira e o pânico cresce a cada segundo que passo
perdido esperando aqui no frio por sua bunda. Eu não deveria
ter vindo, mas o desespero me puxou para baixo. Se Jinx tiver
informações sobre Scott, eu preciso saber, qualquer coisa que
me leve para mais perto de Mia.
Finalmente, Jinx me avista da grande porta com um
sorriso preguiçoso e bêbado estampado no rosto, luzes
refletindo em seus dentes de ouro. Ele caminha em minha
direção com uma garota debaixo do braço. Ela é minúscula
contra seu corpo largo. Instantaneamente, ela me faz sentir
desconfortável com seu batom vermelho manchado e um
cigarro entre seus dedos manchados de fumaça, me forçando
a um momento que eu tento tanto esquecer.

A janela não fecha totalmente, deixando uma pequena


fenda por onde o frio passa. Está escuro lá fora, e o zumbido do
tráfego transforma a cidade em um musical de vida noturna,
deslizando uma canção de ninar pela janela junto com o frio.
Isso abafa o ronco de O. Ele vai dormir na cama com a mãe.
Mas, mamãe ainda não está em casa.

Viro a página do livro que a senhora de gentis olhos


castanhos me deu da biblioteca. Ela disse que eu deveria
escolher outro da seção infantil, mas esses me aborrecem. Os
dois em minhas mãos são grossos, e o texto no verso promete
uma mudança estimulante em meu coração, que possivelmente
poderia mudar o mundo. Eu quero fazer parte disso e
examinarei os dois livros esta semana. Ela disse que eu só
poderia escolher um e voltar para buscar o outro, mas só depois
de devolver o primeiro livro, nas mesmas condições em que o
peguei. Ela não confiava em mim, mas eu não a culpo. Eu
também não confiaria em um garoto com um pedaço de história.
Confiança é conquistada.
Eu vou mostrar para ela.

Meus olhos vão da página para o relógio da cozinha com


números amarelos brilhantes. São quatro da manhã e mamãe
deve estar em casa a qualquer segundo. Às vezes ela atrasa. Às
vezes ela chega cedo.

Volto meus olhos para o livro e afundo sob o parapeito da


janela, onde posso dormir. Eu queria este lugar porque tem uma
pequena almofada sobre um banco, e é mais aconchegante que
o chão. Às vezes, quando fico com muito frio, uso a cortina da
janela. É longa o suficiente para me cobrir.

A fechadura desliza e as risadas de mamãe permitem que


minha frequência cardíaca se estabilize. Ela está de volta. Um
homem resmunga pelo batente da porta, dizendo seu adeus, e
ela joga as chaves sobre a mesa lateral e fecha a porta atrás de
si.

Ela está usando um top que mostra a barriga e uma saia


pequena. Ela deve estar com frio, o que me faz sentir mal, mas
não parece incomodá-la enquanto chuta os saltos e tropeça em
minha direção com um cigarro entre os lábios vermelhos. Ela
puxa o cigarro e solta a fumaça antes de se inclinar para me
beijar. — Você se preocupa demais, — ela me lembra quando vê
que ainda estou acordado, e meus dedos se estendem para
tocar a pele quente de sua barriga, onde as cicatrizes sobem,
mas ela dá um tapa na minha mão. — Você gostou do que fez
comigo?

— Elas são diferentes. Únicas.


Ela as chama de estrias e são minha culpa. Ela disse que
Oscar deu a beleza dela e eu a tirei. Mas digo a ela que ela é
linda, elas são lindas, embora ela não concorde. As estrias são
como as linhas de um livro, cada uma é uma frase que conta
uma história. Eu causei isso, a prova da minha existência
escrita em sua pele. E ela as odeia.

— Não, Oliver. Elas são feias. Você me arruinou


completamente. Eu poderia estar ganhando mais dinheiro se
não tivesse você.

Isso deveria me machucar, mas não machuca. Não mais.


Foi o que aconteceu nas primeiras vezes que ela disse, mas
percebi que ela está com dor e me usa para liberá-la, então não
respondo. Estou feliz por ela estar em casa e levo um segundo
para lembrar o número da página antes de fechar o livro e usá-
lo como travesseiro. Mamãe apaga o cigarro em um cinzeiro no
chão, depois cai ao lado de Oscar, enroscando os braços e as
pernas em volta dele para se aquecer.

— Você conseguiu. — Jinx berra com um tapinha no meu


ombro, me puxando da memória. Eu vacilo e sua expressão se
torce. — Entre. Você pode conhecer meu grupo.

Risos e conversas ecoam de todas as direções,


preenchendo o ruído de fundo e fazendo minha cabeça girar e
minhas mãos suarem. Já faz um tempo desde que eu estive
perto de uma multidão desse tamanho. O pânico dobra dentro
de mim e não consigo encontrar o foco. A música rap bate forte,
uma música que eu nunca tinha ouvido antes, e o ritmo da
festa rasteja sobre mim, empurrando meus limites.

— Eu não vou ficar.

— Você está bem?

— Estou legal. Estou bem.

Um sorriso cheio de dentes se espalha pelo rosto de Jinx


enquanto meu cérebro martela dentro da minha cabeça. —
Pegue uma bebida para o meu companheiro. — Jinx ordena à
garota. Ela assente e gira para voltar para dentro da casa.

— Ela é sua garota? — Eu pergunto, inclinando-me


contra o carro e apoiando meu pé para me equilibrar. Muito
caos se move ao meu redor, e a ansiedade interior só piora
quanto mais percebo o pouco controle que tenho no momento,
tentando conversar sobre amenidades para me distrair.

— Leslie? Lila, Leigh ou alguma merda assim... Não, só a


conheci esta noite. — Ele puxa cigarros e coloca a caixa na
palma da mão com humor nos olhos. — Você quer?

Olho para ele, sem colocar energia para responder à


pergunta ridícula antes que meu olhar faça a jornada sobre a
multidão lotada. A fumaça roda no ar entre nós, e Jinx
continua sobre algo que não tem nada a ver com Mia ou Scott.

Mas eu não consigo me concentrar em uma única coisa.


Muitas cabeças se viram para nós, olhando para onde estamos,
julgando, conspirando ou admirando, não sei dizer. Há muitos
olhos em mim, e seu barulho é muito alto.

— Oliver. — Jinx me puxa para fora, e eu viro meus olhos


para frente, onde a garota cujo nome começa com um L olha
para mim com um copo na mão. Vodca barata com gelo. A
queimadura atinge o fundo da minha garganta enquanto bebo
em um grande gole para abafar o barulho ao meu redor.
Colocando o copo plástico no capô do carro, olho para trás para
Jinx, que tem um sorriso agradável.

— Você está bem? — Ele pergunta, e eu balanço a cabeça


em reflexo. — Vamos entrar. Vou te contar tudo sobre Scott.

Depois de dois drinques, descubro que Scott é reservado


e não fez amizade com os outros seguranças em Dolor. Meus
nervos se acalmam um pouco com a bebida, a mente ficou
presa em um transe e meu olhar se fixa no borrão de corpos
dançando diante de mim. Uma nova música que eu nunca
tinha ouvido falar, risos e vozes suaves fluíram, e a garota com
o nome L acabou ao meu lado, ambos me alimentando com
bebidas e informações. Nenhum dos quais é útil para mim.

Tudo o que ele disse sobre Scott não é novidade para


mim.

Scott é quieto, cuidadoso e cauteloso.

A única pessoa que ele gosta é Mia.

— Eu nunca tinha ouvido ninguém falar com Lynch do


jeito que Scott fez. — Jinx se inclina e acende seu cigarro,
jogando cinzas em um copo entre nós, — Scott simplesmente
não deu a mínima, sabe? Agiu como se estivesse fazendo um
favor a Lynch por estar lá, e Lynch nunca disse o contrário.
Era muito estranho e irritou alguns dos meus amigos. Toda a
situação era duvidosa.

— Então, você não tem nada. — Murmuro antes de levar


a borda do copo aos lábios. Afundando de volta no sofá, estico
minhas coxas abertas enquanto meu calcanhar bate no chão.

— O melhor que posso fazer por você é tentar conseguir


o endereço dele amanhã. Meu turno começa à uma, mas é
arriscado. Estou colocando muito em risco por você.

— Eu vou cuidar de você. — Digo, querendo dizer cada


palavra. Normalmente, eu não colocaria ninguém na linha por
mim, mas Mia? Não há linha.

Jinx se levanta e agarra meu ombro. — Eu sei que você


vai. Você nunca me fez mal.

Depois de cada gole, fica mais difícil mantê-lo firme. Cerro


os dentes e agarro o copo de plástico com os sorrisos que me
cercam, casais se esfregando e pessoas se formando em pares.
Meus olhos queimam com as memórias girando dentro de
mim, me lembrando de como Mia e eu estamos distantes.

— Jinx disse que você é um escritor? — L pergunta com


a mão na minha coxa esticada e vodca em seu hálito. Eu me
levanto e viro meus olhos para onde Jinx estava sentado
momentos antes. — Ele saiu. — Acrescenta ela, puxando meu
braço.

— Onde ele foi? — A sala gira como o suor, a batida e as


risadas se infiltram na porra do meu cérebro inútil. A tontura
me manda de volta para o sofá, e coloco minha cabeça em
minhas mãos.

— Vamos, vou levá-lo até ele. — A garota com o nome L


me levanta do sofá e me leva por um corredor. Nós nos
esprememos por corpos suados e as bebidas derramam na
frente da minha camisa e calças até que empurramos uma
porta. A sala está iluminada e tudo que quero é deitar minha
cabeça para impedir o mundo de girar. A última vez que o licor
atingiu minha língua foi com Mia no Ano Novo, e minha
tolerância a ele havia cessado. — Você está molhado. — Ela ri,
suas mãos rastejando sobre meu peito.

Estamos em uma pequena sala, separando a cozinha de


outra porta que leva a outro lugar. Enojado com o toque,
agarro o pulso de L e empurro seu braço. Ela tem cabelo loiro,
mas o castanho escorre de suas raízes, e seus olhos negros
olham para mim por baixo enquanto ela segura meus quadris
contra a parede. Tudo sobre ela grita minha mãe, e quero me
enrolar dentro de uma bola até que ela desapareça.

— Eu tenho que ir. Diga a Jinx que estou indo embora


por mim?

Uma cortina de cabelo loiro cerca a falsa inocência nos


olhos negros de L. Ela está perto demais e o ar ao meu redor
fica mais espesso. Coloco minhas mãos sobre seus ombros
para mantê-la à distância, mas ela está bêbada demais para
notar minha rejeição plácida.

— Está bem. Estamos sozinhos aqui. — A voz de L atinge


minha pele, soando como xarope escorrendo de lábios
vermelhos pegajosos. Ela agarra meu bíceps e, naturalmente,
me afasto dela.

A parede atrás de mim é a única forma de me equilibrar


em meio à névoa oscilante. O tempo não passa normalmente
neste buraco negro.

— Eu preciso de ar... Eu preciso de ar. Preciso encontrar


Mia.

— Ela é sua namorada? — L pergunta, e minha cabeça


salta para frente ao som do nome de Mia vindo de outro lugar
que não a minha cabeça.

Ela é o meu amor. Por que ela não pôde me encontrar?


Fizemos uma promessa. Inferno, nós fizemos promessas.
Plural. — Eu não posso mais senti-la. — Coço meu peito. O
álcool está me envenenando, meu coração e minha mente. —
Por que não posso senti-la? Alguma coisa não está certa. Não
me sinto bem.

Minhas costas batem na parede novamente, e arrasto até


que duas mãos agarram meus quadris para me manter em pé.
— Oliver. — Meu nome desliza no espaço entre nós. — Você
está bem?
— Sim, estou bem! Estou bem! — Passo por ela,
tropeçando pela outra porta, entrando em uma garagem, até
chegar ao lado da casa. Meu punho soca o estuque, rompendo
a pele, e me viro e deslizo pelo revestimento áspero até minha
bunda bater no chão. Batendo os punhos e derramando
sangue, estou bêbado de desespero e preso no meio do nada.

Enfio as mãos no bolso para pegar o celular.

Ligando para Travis, ele atende com um tom cansado, e


meus dedos beliscam a ponta do meu nariz. — Eu não estou
bem, Travis. — Finalmente admito, colocando minha testa em
minha mão. Meus ombros tremem contra a lateral da casa. —
Eu não estou bem, caralho. Estou uma bagunça agora.

— Onde você está?

— Ela se foi, cara. Foda-se. — Fecho meus olhos com


força enquanto o mundo gira ao meu redor, — E se ela me
deixou? E se ela não quiser que eu a encontre? Eu não sei mais
o que fazer. — Eu me transformo em um maldito destroço
bêbado. — Eu tenho que acreditar que algo aconteceu, que ela
não iria me deixar assim. Ela não viraria as costas para nós.

— É isso aí. Estou indo te pegar.


TRÊS

“Não confunda sua calma, pois ela é perigosa. Pele de cobre


envolta em tiros; espinha dorsal afiada por facas. Silenciosa,
mas desafiadora; o arrepio na espinha. Você a confunde com
uma sereia, mas ela é a noite negra, sinistra, planejando
devorar você inteiro.”
− Oliver Masters

DEPOIS DE CONTAR três amanheceres e três luas, os dias se


transformaram em um borrão sem fim. Cada dia tem sido a
mesma velha rotina, Ethan me alimenta com café da manhã,
almoço e jantar. Então ele me banha antes de me resgatar dos
terrores no meio da noite. Entre tudo isso, fico trancada neste
quarto e sobre este colchão. Dolor me preparou para o
confinamento, e Ethan não foi direto com palavras ou
raciocínio.

Algumas horas por dia, ouço sons abafados vindos do


andar de cima enquanto Ethan fala em seu celular, ou nenhum
som. Ele mal tinha saído, e quando o fez, foi apenas por um
curto período. Às vezes em que eu não tenho fita adesiva na
boca é quando Ethan me alimenta. E as únicas vezes em que
ele não prendeu meu pulso foi quando me deixou ir ao
banheiro sozinha.

Não lutei com ele nem falei uma palavra, mesmo quando
a fita acabou.

Chegará um momento em que ele escorregará ou


aprenderá confiar em mim, e a cada dia ele confia mais e mais
em mim. Ou talvez eu esteja confiando nele. Apesar de tudo,
ainda não tive a oportunidade de fugir e, a cada dia que passa,
sinto-me cair ainda mais em um estado de torpor e paralisia.
Cada segundo passado aqui faz o passado parecer um sonho,
perdendo o controle sobre o que é e o que poderia ter sido.

Nada disso realmente aconteceu.

Ollie nunca existiu.

Está tudo na minha cabeça.

Porque se ele existisse, ele teria vindo atrás de mim, e não


o fez.

Então, foi isso que eu decidi.

Ollie é um sonho.

As grandes camisetas brancas são a única roupa para me


manter aquecida. Ethan foi gentil o suficiente para lavar
minhas roupas, mas hoje é dia de lavagem, e minhas pernas
ficarão nuas por causa do frio.
É de manhã e meus olhos nunca o deixam enquanto ele
cozinha salsicha na grelha. Ethan havia quebrado a janela
acima da pia, permitindo a entrada do ar fresco da manhã. Eu
estremeço dentro da camisa, mas minhas pernas nuas não têm
nada para se esconder atrás.

Ethan usa jeans e uma camisa preta lisa, seu cabelo ruivo
em desordem.

Ele desliga a frigideira e coloca a salsicha sobre um prato


antes de se virar para mim. Seus olhos percorrem meu peito
para ver meus mamilos respondendo ao frio. Há um desejo em
seus profundos olhos azuis, mas dura pouco antes que ele
puxe a cadeira e largue o prato sobre a mesa para dois.

Ele sempre me olha com conflito. Não é uma combinação,


é mais como flashes de uma necessidade para outra.
Instantâneo. Eu a quero. Flash. Eu tenho que mantê-la segura.
Flash. O que eu fiz? Flash. Estou indo para o inferno. Flash. É
melhor arrastá-la comigo.

Toda vez.

— Ethan. — Sussurro, e uma única palavra retarda o


corte da salsicha. Seus olhos não deixam o prato à sua frente.
— Sinto falta de como costumávamos ser. — É apenas meia
mentira. Eu sinto falta de como costumávamos ser. Sinto falta
de poder vê-lo como nada mais do que meu cobertor de
segurança. Mas eu sentia falta da minha fantasia de um
homem com olhos verdes, um coração caloroso e um toque
mais amoroso. — Fale comigo. Por que você está fazendo isso?
A faca retine contra o prato, e Ethan se ajusta em sua
cadeira. — Não consigo pensar agora, Jett. — Ele espeta a
salsicha com um garfo e coloca o cotovelo sobre a mesa entre
nós. — Coma.

Abro a boca e ele enfia a salsicha antes de dar uma


mordida.

Engolindo, fixo meu olhar em uma caixa de fósforos ao


lado de uma vela sobre o balcão. — Me solte. Você pode manter
meus tornozelos amarrados, Ethan. Eu não estou correndo
para lugar nenhum. Apenas me deixe me alimentar.

Depois de uma longa pausa de silêncio, Ethan se levanta


e limpa a mesa dos talheres, deixando cair as facas e os garfos
na pia, então se agacha atrás de mim e desfaz as amarras dos
meus pulsos. Um alívio instantâneo se instala em meus
braços, e eles parecem gelatina quando tento trazê-los para o
meu prato. — Obrigada.

Ele sabe que eu também não irei a lugar nenhum. Ainda


não, de qualquer maneira. Com meus tornozelos amarrados,
eu não conseguirei correr. Ethan volta ao seu lugar e pega um
pedaço de salsicha com os dedos. Um sorriso abre caminho,
sabendo que ele limpou a mesa de armas que eu poderia
apunhalá-lo, mas é tão fácil forçar o sorriso de volta. Sou um
animal enjaulado nessas restrições, nesta cabana e em minha
mente.

Depois do café da manhã, Ethan limpa a bagunça,


lavando à mão cada peça de louça e colocando tudo de volta
onde pertence. Ele pega a caixa de fósforos do balcão e coloca-
a em uma gaveta ao lado da pequena geladeira. Uma vez que a
cozinha está impecável, Ethan me levanta em seus braços e
começa a me carregar escada abaixo. Por quanto tempo ele
será capaz de manter isso?

Ele mantém meus braços livres e eu deito sobre o colchão,


pronta para minha soneca matinal.

Essa rotina é minha vida agora, mas me recuso a deixá-


la ser minha para sempre.

— Vou pegar suas calças hoje. — Ele oferece, olhando


para mim.

Mantenho meus olhos para frente, vidrados, sem piscar.

Acredite ou não, isso sou eu lutando.

Cada dia é uma luta para não me render ao


desvanecimento. Em vez disso, meu corpo fica em reserva.
Comatosa2 e totalmente complacente por fora, mas por dentro,
nunca paro de planejar minha fuga. Inteligente. Tenho que ser
inteligente.

Ethan fica parado perto de mim, esperando uma resposta


que nunca receberá. Tudo que quero é que ele suba e faça sua
ligação para que eu possa adormecer com os sons abafados de
sua voz e sonhar com o anjo que vem até mim quando meus

2 Situação ou condição de inconsciência.


olhos se fecham, meu anjo de olhos verdes com a voz da
música e mãos gentis e lentas.

Ollie…

— Mantenha-os fechados. — Ele sussurra em meu ouvido.


Eu sei que ele está ao meu lado, seu espírito livre e gentil está
irradiando e levantando todos os fios de cabelo da minha pele
formigando.

Estamos deitados em sua cama, completamente imóveis.


Está quieto agora, além da liberação de ar pelo meu nariz e as
respirações rasas vindo dele. Ainda não sei quais são seus
planos, mas tudo que Ollie faz tem um propósito.

Seu corpo esculpido, mas esguio, se move sobre mim sem


esforço e, instintivamente, minhas pernas caem para os lados
para deixá-lo entrar. Ele está se segurando porque não sinto seu
peso, e suas palmas se agarram às minhas orelhas. Não ouço
mais nada, apenas uma batida suave e contínua de dentro. É o
batimento cardíaco dele ou meu. Eu não sei dizer.

Seu hálito de hortelã atinge meus lábios primeiro e me


deixa tonta. Estou tentando ficar parada, mas quando a boca
de Ollie traça a minha, o batimento cardíaco em meus ouvidos
bate mais forte e acelera com cada movimento de seus lábios
tenros. A minha estremece, sua respiração se estilhaça e eu o
provo a cada inspiração. Não estamos nem nos beijando, mas
sua boca ainda tem uma maneira de explorar a minha e meus
lábios se abrem, antecipando cada movimento seu.

Seu mero gosto é nostálgico, um pedaço do céu, e desejo


mais. Lentamente, seus lábios acariciam os meus, sem
desculpas, mas perdoando. E como isso é possível? Ele morde
meu lábio inferior, e uma chama acende quando eu desmorono.
Cada vez que levanto minha cabeça para mais, ele se afasta, e
a perda me corta.

É estimulante. Quase demais para suportar por mais


tempo. Uma dor se forma dentro do meu peito devido à tortura
vibrante e inevitável. Por que ele não pode me dar o que estou
precisando? Mas eu confio nele, então permaneço imóvel
enquanto estou quebrando embaixo dele.

De repente, a língua de Ollie varre a minha, e cada nervo


explode em chamas. Um fogo flameja atrás dos meus olhos. Não
sei por que, mas tenho vontade de chorar. Ele está dentro da
minha cabeça, dentro do meu peito, provocando meu próprio
coração, mas ele mal me toca, e isso é demais.

Um gemido me escapa, e Ollie se rende, pegando minha


boca. Meu peito aperta com cada golpe de sua língua, e nos
beijamos como se as emoções estivessem sangrando entre os
lençóis. Lágrimas rolam pelo meu rosto e o sal se mistura com
seu sabor doce. Eu não entendo o que está acontecendo comigo.
Estou tremendo. A batida em meus ouvidos está tão alta agora.
Seu ritmo rápido não combina com o ritmo lento e intenso de seu
beijo.
Finalmente, Ollie se afasta e roça minha bochecha
molhada com os polegares. Seus antebraços e palavras
estremecem quando ele diz: — Agora, amor. Agora abra os
olhos. — Sem palavras, pisco três vezes enquanto olhos verdes
brilhantes olham para baixo sob os cílios molhados. — O que
você sente? — Ele pergunta nervosamente, e seus olhos saltam
entre os meus quando a ruga entre suas sobrancelhas aparece.

Eu sugo o ar, em seguida, solto uma respiração mais


instável. Ollie foi capaz de me mostrar um resquício de como eu
o faço se sentir. O dilema constante de lutar ou deixar ir, e isso
era apenas um beijo. Mas Ollie conseguiu desligando meus
outros sentidos. Eu fechei meus olhos. Ele bloqueou meu som. O
único toque foram seus lábios, suas mãos, me alimentando com
seu batimento cardíaco boêmio. — Tudo. Eu sinto tudo, Ollie.

Ollie fecha os olhos por um momento e lambe os lábios. —


Você entende agora?

Eu trago minha palma em seu rosto, balançando a cabeça.


— Sim. Eu entendo.

Sacudida para acordar, pisco meus olhos abertos para


Ethan, de pé sobre mim com uma sacola na mão.

— Você teve um pesadelo? — Ele pergunta com as


sobrancelhas franzidas. — Você está chorando.

Passo as costas da minha mão na minha bochecha e


balanço a cabeça.
— Sinto muito ter deixado você sozinha. — O colchão
afunda quando ele se senta ao meu lado. — Eu tenho calças
para você. Um par de jeans e este, — ele tira um par da bolsa
e os examina, — moletom. Eles provavelmente serão muito
grandes, mas peguei o menor tamanho.

Foi o máximo que ele disse em dias.

Ethan está tentando reverter o dano que havia feito, mas


não consegue. Nós nunca seremos os mesmos, e tudo que
quero é voltar a dormir e estar com o homem dos meus sonhos.

Ele só vem quando o sol está alto, nunca no meio da noite,


nunca quando Ethan dorme ao meu lado.

Eu desejo que haja uma maneira de ficar trancada dentro


do sonho para sempre e nunca ir embora, mas Ethan sempre
me acorda. Ethan sempre me tira dele.

— Vamos dar um passeio. — Ele oferece com um único


encolher de ombros. — Você precisa de exercício. Você não
pode mais dormir seus dias inteiros.

A última vez que saímos para caminhar, eu saí correndo


para a floresta, mas não fui longe. Ele rapidamente me
alcançou, me jogou no chão e me colocou para dormir. Ethan
é bom nisso. Ele sabe quanto oxigênio cortar para que eu
perdesse a consciência. E quanto menos luto mais rápido
estou de volta nos braços de Ollie. Naquele dia foi a primeira
vez que sonhei com Ollie e, desde então, é tudo o que eu quero
fazer.
— Ok. — Murmuro com um suspiro e me sento.

A vitória envolve sua expressão e ele quebra as amarras


em volta dos meus tornozelos. Assim que meus pés tocarem a
grama, o jogo começará. Eu corro e ele me pega e me coloca de
volta no sono, de volta com Ollie. Será uma vitória para nós
dois.

Ethan estava certo, a calça de moletom está solta, mas


não cai do meu quadril. Depois que meus pés estão firmes
dentro das minhas botas de combate, ele sobe as escadas atrás
de mim e em direção à porta da frente.

O mesmo Nissan prata está estacionado em frente à


cabana. A última vez que o vi, memorizei o número da placa do
carro por precaução, mas já tinha esquecido o número da
placa, incapaz de conter mais informações. Até as expressões
de Ethan se tornaram ilegíveis. Sua linguagem corporal
também. Eu não tenho ideia de quais são seus planos ou
intenções. Simplesmente, me tornei um fantasma,
acompanhando todas as demandas e aderindo ao que Ethan
espera de mim. Eu não sou nada mais do que uma sombra
com pensamentos mórbidos de tudo o que quero fazer com ele.

Pensei em quebrar o copo de vidro contra a mesa de


jantar e cortar sua garganta. Pensei em sufocá-lo durante o
sono com um travesseiro. Mais de uma dúzia de assassinatos
ocorreram dentro da minha cabeça doente, nenhum dos quais
eu tive coragem de realizar. Havia uma voz irritante me
impedindo. A voz de Ollie. O anjo.
Lado a lado, percorremos as trilhas em silêncio até
chegarmos a uma clareira no meio da mata. Ethan faz uma
pausa e se vira para mim com olhos curiosos.

— Eu nem sempre fui assim, sabe. — Ele começa, e eu


desvio meus olhos dele e em direção à linha das árvores. — Eu
tive meu primeiro beijo aqui. — Na minha visão periférica, ele
dá alguns passos para a direita. — Na verdade, bem aqui para
ser exato. Seu nome era Ashlyn. Eu tinha quinze anos quando
ela apareceu uma noite na porta da cabana da minha família
enrolada em um casaco de inverno sobre o pijama,
perguntando se tínhamos um abridor de garrafas.

A risada de Ethan deveria ter me feito sentir mais leve,


mas não fez. Eu congelo, catatônica e os olhos fixos diante de
mim, me recusando a olhar para ele e contando quantos
passos darei antes de chegar à floresta.

— Quero dizer, para que diabos ela poderia precisar de


um abridor de garrafa? Ela tinha quatorze anos na época,
quase não tinha idade para beber, especialmente à uma da
manhã. Mais tarde, porém, descobri que era para o pai dela.

— Eu não me importo. — Finalmente sussurro, mas as


partes congeladas e sem vida de mim lentamente se soltam. A
única coisa que revela é uma raiva. Por alguma razão, a
confissão de Ethan me deixou com raiva.

— Não, — ele aparece atrás de mim, cortando minha linha


direta com as árvores, — é hora de você ouvir minha história.
— Seu tom ansioso agita a calma da floresta, fazendo com que
os pássaros voem de seus galhos. Seguro meu olhar, sem me
mover um centímetro. — Eu a acompanhei de volta, todo o
caminho para sua cabana. Era um pouco mais de uma
caminhada de três quilômetros. Quatro mil cento e quarenta
passos. Mas não levou todos eles para eu me apaixonar por
ela. Demorou apenas metade. Bem aqui, eu a parei de divagar
sobre o quão louco era o fato de nos encontrarmos andando no
meio da noite no frio, dois estranhos. Ela brincou que eu
poderia facilmente matá-la e jogar seu corpo na floresta, mas
disse que se sentia segura comigo. E algo se apoderou de mim.
Se eu não a beijasse naquele momento, eu estava com tanto
medo de nunca ter a chance novamente. Então, eu a beijei. —
Sua voz vacila. — Eu nunca tinha beijado antes, e tenho
certeza que ela também não, e foi desleixado e bagunçado, mas
era nosso.

Eu beijei Ollie em meus sonhos. Mais e mais, nós nos


beijamos, e não foi desleixado ou bagunçado. Cada vez era de
partir a terra, de tirar o fôlego e pintado uma infinita gama de
cores em meus sonhos em preto e branco.

— Nós caminhamos o resto do caminho depois disso, de


mãos dadas até chegarmos à cabana dela. Seu pai gritou de
dentro uma vez que nos ouviu rindo, então nos despedimos
depois que eu a beijei novamente. Foi a primeira e última vez
que a vi. Na manhã seguinte, acordei com helicópteros voando
sobre nós, caminhões de bombeiros e alarmes disparando. Sua
cabana pegou fogo porque seu pai bêbado adormeceu com um
cigarro na mão. Ashlyn e sua irmã mais nova nunca
conseguiram sair da cama. Elas morreram durante a porra do
sono, mas seu pai e sua companheira conseguiram sair vivos.
Eu me puni todos os dias esquecidos por Deus por não dar
ouvidos ao meu instinto. Eu nunca deveria ter a deixado voltar
para dentro daquela casa com aqueles dois bêbados.

Ethan faz uma pausa, e a única coisa fervendo em minha


mente é o fato de que a garota morreu durante o sono. Se eu
morresse durante o sono, isso significa que poderei ficar com
Ollie trancado em um sonho para sempre? A ideia traz uma
sensação de paz sobre mim.

— É por isso que entrei para a polícia. — Ethan continua.


— Tudo que eu sempre quis fazer foi proteger aqueles que não
podiam se proteger. Não vou machucar você, Jett. Eu nunca
machucaria você de forma intencional. Apesar do que você
possa estar pensando agora, eu me importo com você. Talvez
eu não esteja fazendo certo, e talvez eu simplesmente não saiba
como, mas... Porra... eu não sei. Sempre que deixo alguém de
quem gosto sair do meu alcance, a morte segue. Estou com
medo por um milhão de razões para deixá-la ir neste momento.

Acho que uma parte de mim poderia ter sentido por ele
naquele momento ou pelo menos entendê-lo, mas essa
necessidade de correr tem controle total sobre mim.

Assim que Ethan vira as costas e dá um passo na direção


oposta, corro em direção às árvores.

Um.
Dois.

Três.

Três longas passadas foram tudo o que levou antes de ele


me derrubar.

— Você é estúpida? — Ethan respira pesado em meu


ouvido enquanto seu peito bate contra minhas costas, e fecho
meus olhos, esperando que ele me coloque para dormir. —
Quantas vezes eu tenho que te lembrar? Estamos a centenas
de quilômetros de qualquer coisa!

Ele nunca fez isso.

Ethan me alimentou com o jantar naquela noite. Com


amarras no punho, incapaz de escapar desse abismo de nada.
A preocupação gravou suas feições com cada colher de sopa
que ele trouxe à minha boca enquanto eu estava paralisada.
Ele implorou para eu falar, dizer qualquer coisa, mas eu não
pude. Tudo o que eu podia fazer era imaginar me libertando
das restrições, agarrando a colher de prata e enfiando-a
garganta abaixo.

Durante a hora do meu banho, fiquei imóvel e bloqueada


dentro da minha cabeça enquanto ele me lavava com as mãos
nuas. Elas eram fortes e generosas, mas nada parecidas com
as do homem dos meus sonhos. Eu me concentrei nas linhas
na parede, contando enquanto sua palma ensaboada vagava
sobre cada superfície da minha pele aquecida. Ethan me lavou
como os pratos na pia, cru e com perfeição até que eu estivesse
brilhante e nova novamente.

Ethan me vestiu e me carregou escada abaixo para o


quarto.

E naquela noite, ele deitou ao meu lado enquanto meus


olhos permaneceram abertos. Ollie não viria, não com Ethan
ao meu lado, então eu guardarei meu descanso para quando
Ethan vá embora. Não faz sentido quando os pesadelos vêm à
noite, de qualquer maneira.

Do lado de fora da janela, as árvores dançam com a lua,


e eu as observo balançando por horas com o braço de Ethan
em volta de mim com força. Mesmo que suas mãos estejam em
mim, ele não pode me tocar.
QUATRO

“Há uma melodia para sua loucura, e se você ouvir


calmamente, você ouvirá a chuva sob sua pele.”
− Oliver Masters

OSCAR FOI TRANSFERIDO para High Down, que não é a pior


prisão da região. Bom para ele. Mas, para ser honesto, gostei
da ideia de saber que ele está no buraco de merda do
Bronzefield, mas pelo menos High Down é mais perto.

A última vez que vi Oscar foi durante a sentença. Eles me


permitiram estar lá, e o sorriso estampado sua boca marca
uma memória indesejada desde então. Foi uma promessa
silenciosa de que ele encontraria uma maneira de se vingar de
mim pelo que eu fiz, pelo que nós dois sabíamos que eu tinha
tirado dele.

Mas Oscar mereceu. Por anos, eu o observei não apenas


objetificar as mulheres, mas fazer lavagem cerebral em sua
submissão para fodê-las sem sentido. Por anos, ele intimidou
e aterrorizou mentalmente as meninas, preparando-as para
amar sua natureza sádica. E por anos, eu me tornei seu
projeto, querendo me transformar em seu ajudante sob sua
rede de prostituição... como a polícia chamou isso? Oh, sim.
White Fox.

O cigarro entre meus dois dedos queima, me puxando do


passado. Uma última tragada e o mentol escorrega para meus
pulmões antes que eu jogue o bastão nojento sobre o
pavimento rachado do estacionamento. Graças a Travis,
demorei apenas dois dias para adquirir o hábito. O chiclete é
inútil neste momento. Os cigarros mantêm minhas mãos e
minha mandíbula ocupada.

O sol aparece nas nuvens da manhã e eu aperto os olhos


em direção às portas da prisão. Dois minutos, e estarei cara a
cara com meu irmão novamente. Empurro minha compra mais
recente. Uma 2000 Perua. Preta. Eu a encontrei em um
anúncio de jornal e negociei meu preço porque a senhora
estava ansiosa para vender. Todos os dias, o aluguel havia
atingido Mia e minha conta bancária, e Travis mencionou que
eu poderia pagar em dinheiro por algo mais novo. Mas eu não
preciso de um carro luxuoso. A maldita coisa cai de valor a
cada dia, e não sou idiota quando se trata de dinheiro. E eu,
especialmente, não sou tolo por desperdiçar um dólar para
impressionar estranhos. Desde que me leve do ponto A ao
ponto B, a pilha de lixo funcionará da maneira que eu preciso.

— Quando Hijack mencionou que eu tinha um visitante,


nada menos que Oliver Masters, eu não pude acreditar até que
vi com meus próprios olhos. — Oscar zomba, sarcasmo
escorrendo de seu sorriso. — Por favor, diga-me, irmãozinho,
a que devo este prazer?
Esta visita não é como você veria na televisão. Não há
vidro me separando do olhar feroz de Oscar. O cabelo preto de
Oscar tinha crescido e as pontas tocam suas bochechas, onde
seu sorriso enganador está. Seus olhos escuros percorrem meu
traje, julgando a mim e minha liberdade.

Mas, apesar da minha recém-descoberta liberdade de


Dolor, eu ainda sou um escravo da dor de cabeça. Os guardas
pegaram meu gorro antes de eu entrar na sala, e todos os dias
ainda uso moletom ou jeans preto e camisetas básicas que
gritam que eu nunca tinha deixado o mundo em que Mia e eu
estávamos, querendo ficar lá o máximo possível. Travis disse
que é hora de comprar roupas novas, especialmente porque
minha primeira sessão de autógrafos está chegando, mas não
tenho tempo de ir às compras porque Mia simplesmente
sumiu.

Meu joelho salta sob a mesa circular, lembrando-me


daquela do refeitório em Dolor quando Oscar se sentou na
minha frente, ficando o mais confortável possível com
correntes em torno de seus tornozelos. — O que é que você fez?
— Tento dizer, mas sai mais como um grito de socorro. Meu
peito arfa duramente a ponto de doer respirar.

— Você vai ter que ser um pouco mais específico. — Oscar


ri e baixa o olhar para as mãos presas em seu colo. — Eu fiz
um monte de coisas, incluindo sua preciosa Mia.

Oscar e Mia fizeram sexo, o que mexeu com minha cabeça


por um tempo. Mas eu aprendi a olhar além disso. Ele não
pode mais usar aquilo como arma. — Onde ela está? — Minha
voz aumenta, paro e olho em volta para ver os oficiais
correcionais de olho em nossa troca. Abaixo meu tom. — Se eu
a encontrar, quando eu a encontrar, se um maldito fio de
cabelo tiver sido machucado em seu corpo, eu vou te matar.

— Dolor fez um número em você, certo? — Oscar ergue


uma sobrancelha e move suas mãos acorrentadas sobre a
mesa para se inclinar. — Você está se ouvindo? Olhe para mim,
— ele baixa os olhos para as correntes — O que eu poderia
fazer?

— Com quem você entrou em contato?

— Oliver, você parece que enlouqueceu. Eu acho que você


precisa de ajuda.

Balanço minha cabeça, meu coração batendo forte no


meu peito. — Isso não é engraçado. Nós dois sabemos que você
a levou e por quê. Diga-me onde ela está.

— Ainda estamos falando sobre Mia, certo?

— Pelo amor de Deus, sim. Mia. — Esses jogos


envelhecem rápido e ele já está entrando na minha cabeça,
usando meu desespero como entretenimento. Eu deveria saber
melhor.

— Você sabe o que eu quero. Dê-me o que é meu e eu a


liberto. — Oscar diz em um tom baixo. Seus dedos conseguem
coçar as costas da outra mão, um hábito que ele teve durante
toda a vida. Sua sobrancelha ergue, esperando por uma
resposta. Mas com aquele único arranhão, ele já me disse o
que preciso saber. Ele não a tem.

— O que vai ser?

Se Oscar não tem Mia, isso apenas confirma o


envolvimento de Ethan Scott, e Oscar não poderia me ajudar.
É verdade, eu faria qualquer coisa para ter Mia de volta,
incluindo pedir a ajuda do meu irmão, mas Oscar será inútil
para mim. Eu preciso de alguém de fora, uma pessoa que
tenha conexões e mais acesso do que um telefonema e uma
espera de oito dias pela visita.

Levanto-me e empurro a cadeira enquanto Oscar se


endireita na sua quando percebe que a conversa havia
acabado. — Não vou voltar, O. Espero que este lugar mude
você, sim. E para a sua saúde, espero por Deus que você não
tenha nada a ver com o desaparecimento de Mia, porque se eu
descobrir que foi você. — Eu me inclino, deixando apenas um
espaço desafiador entre nós. — Você nunca pisará fora de High
Down. Não me subestime. Você não tem ideia de até onde estou
disposto a ir.

Fúria engole seu sorriso enquanto ele se levanta para


combinar com minha altura. — Você está me ameaçando?

— Vamos lá. — Eu rio. — Você me conhece. Eu não faço


ameaças. — Desgrenho seu cabelo oleoso com um sorriso
malicioso. — Não se curve irmão mais velho.
— Você roubou de mim, seu desgraçado! — Suas algemas
ricocheteiam na mesa e seus gritos diminuem enquanto eu me
afasto. Guardas passam correndo por mim e engulo o sorriso
querendo fundir-se com meus lábios.

O celular na cômoda explode, toque após toque, a cada


ligação de Travis ou Laurie, meu contato com a editora. Por
dias, eu ignorei a todos, e hoje não é diferente. Meus olhos
gananciosos permanecem no relógio digital sobre a mesa de
cabeceira no quarto do hotel, esperando a hora certa para ligar
para Bruce, o pai de Mia.

A Pensilvânia está apenas cinco horas atrás de mim e já


passa um pouco do meio-dia. Não passei um dia sem fazer
aquela ligação, oito da manhã no horário dele, para ver se Mia
apareceu. Hoje não será diferente.

E por mais trinta minutos, meu punho cerra quando me


sento na beirada da cama feita, olhando para as letras verdes
até que elas se borram em uma forma irreconhecível.

Exatamente às 13h no meu horário, meu alarme dispara


e tiro o celular da mesa de cabeceira.
— Nada. — Bruce me cumprimenta com um suspiro de
cansaço. — Você sabe que não precisa ligar todos os dias. Ligo
para você se ela aparecer.

Agradeço Bruce, mas ainda estou ligando. — Você já fez o


relatório de uma pessoa desaparecida?

A hesitação no silêncio dura um momento, e tenho minha


resposta.

— Oli...

— Não, não. Eu não quero ouvir isso.

— Tenho certeza que ela está bem.

— Eu quero acreditar nisso, mas eu sei diferente.

— Eu te ligo se ela aparecer.

— Ligarei para você amanhã.

E é assim que a conversa normalmente acontece. Mia


sempre disse que seu relacionamento com o pai havia se
distanciado desde o momento em que sua mãe morreu. Minha
fé na humanidade está se dissolvendo lentamente a cada dia
que passa. Sempre foi Mia contra o mundo, mas agora somos
nós dois contra eles. Ela me tem, e eu espero que seja o
suficiente para salvá-la.

Meus recursos são limitados, vindo direto de um


reformatório sem muitos amigos. Jinx roubou o endereço de
Ethan do escritório de Lynch pela bondade de seu coração,
mas eu ainda conectei os fundos de sua mãe para manter
comida na geladeira. Ele disse que não era necessário, mas eu
também não posso deixar sua família passar fome. Jinx é um
bom homem. Ele trabalha duro e fica longe de problemas na
maior parte do tempo. Mas, como qualquer outro cara, sua
maior fraqueza são as meninas. E Jinx gosta de beber de um
copo alto e branco de leite. Palavras dele, não minhas.

Alguns dias atrás, passei pela casa de Ethan para não


encontrar ninguém em casa. Eu até espiei pelas janelas e
desafiei todas as fechaduras, mas nada. Apenas uma vizinha
intrometida que queria saber o que eu estava fazendo vagando
pela casa pré-fabricada de Ethan. Depois de iniciar uma
conversa, a polida senhora mencionou que não via ele ou seu
carro há uma semana, o que não era incomum para ele. Ele
sempre partia por semanas a fio. Eu também tentei seu
celular, mas o número foi desconectado.

Durante minha última visita com Lynch, ele me informou


que Ethan renunciou por e-mail, e ele saiu no dia da liberação,
o que também não era incomum. Lynch só o tinha contratado
até aquele dia. Nada disso faz sentido. É tudo muito fácil,
muito limpo.

A batida na porta chama minha atenção. — É o Travis.


Seu companheiro. Lembra-se de mim? Cabelo muito loiro.
Olhos azuis irresistíveis. — Não faço nenhum movimento para
me levantar, mas então... outra batida. — Vamos lá, cara. Está
frio aqui, e preciso falar com você.
Eu me levanto e caminho até a porta para destrancá-la.
Travis entra e se senta em uma poltrona azul-marinho, ficando
confortável. Em relação ao meu peito sem camisa e moletom,
ele levanta uma sobrancelha. — Você não pode ir para
Thurrock assim. — Faço uma pausa e estreito os olhos,
esperando que ele solte uma risada ou uma frase que indique
que está brincando. Por dois segundos e meio, tivemos um
olhar fixo. — Estou falando sério. — Acrescenta.

— Não, não, não, não... — Balanço minha cabeça e caio


da beira do colchão com a cabeça entre as mãos. Meu queixo
prende entre meus dedos e eu olho para ele. — Eu deixei aquele
lugar há dois anos, Trav. Nunca vou voltar. — Meu foco
principal é encontrar Mia. Não há razão boa o suficiente para
voltar para aquele buraco de merda. Nenhum.

— Summer está recebendo ligações. Ameaças. Os Links


procuram coletar. Eu só preciso de você lá para me apoiar.

Exceto por isso.

Eu gemo. — Eu pensei que você tinha passado dos Links


e saiu daquela vida. E quanto a Summer? O bebê? — A culpa
consome suas feições enquanto ele passa a ponta do polegar
sobre a roda de sílex do isqueiro, acendendo e vendo a chama
se extinguir. De novo e de novo. — O que eles querem? — Eu
finalmente pergunto com minhas mãos no ar.

A veia em seu pescoço estoura, fazendo a tatuagem de


asas de anjo ganhar vida. Os olhos de Trav se movem de onde
a chama desaparece para mim. — Eles querem que eu termine
o trabalho pelo qual fui preso.

— Quanto? — Prefiro pagar e finalmente tirá-lo dessa


confusão. Não há uma quantia que eu não pagaria pela
segurança de Summer e de seu bebê. Ele finalmente colocou
sua vida em ordem. Há quanto tempo ele esconde isso de mim?

— Não estou pedindo dinheiro a você. — O isqueiro


desaparece dentro de seu punho quando ele se aproxima. —
Vou encontrá-los no Jack's. O pub em Ockendon. É uma hora
daqui...

— Eu sei onde é. — Eu me irrito.

— Você pode ficar no carro. Eu só preciso de alguém lá,


caso a conversa dê errado.

— Errado... — Eu rio incrédulo, — Errado. Você está


entrando e dizendo o quê? Obrigado, mas não, obrigado, estou
fora. Você não pode estar falando sério, Trav. Com você espera
que isso aconteça? Bem? Eles não vão deixar você sair até que
você termine o trabalho. E mesmo assim, eu ficaria chocado
que algum dia acabaria. — Travis me perguntou por que ele
sabia que eu nunca diria não, tirando vantagem da minha
humanidade. No entanto, meu foco principal é encontrar Mia.

Travis responde aos meus pensamentos turbulentos: —


Você está certo. Sinto muito por arrastar você para isso. Eu
não sei mais o que fazer. Não posso deixar que nada aconteça
com Summer. Com o bebê. Estou desesperado aqui. É como se
não importa o quanto eu tente, eu não posso escapar do
passado... eu. Não. Posso. Correr. Rápido. O. Suficiente.

Diante do meu coração sem limites, Travis e eu tínhamos


nos amontoado em seu banger3. Embora a viagem de uma hora
tenha sido silenciosa, minha cabeça, coração e alma gritam por
Mia. É doloroso estar tão longe dela. Eu entendo o medo de
Travis, a razão pela qual entrei em seu carro, para começar.
Não importa o quanto eu tente, é como se o mundo inteiro fosse
contra nós dois estarmos juntos, nosso amor testado. Estou
desesperado, mas não tenho uma direção para seguir. Perdido.
Eu estou perdido.

— Você vai ficar? — Travis pergunta do lado do motorista


assim que paramos no prédio branco independente. Não
conseguíamos ver o Jack's pelas janelas escurecidas, mas há
vários carros na frente. Carros caros. Eles estão aqui, os Links.

Balanço minha cabeça, saio do carro e estico minhas


pernas. Travis é meu amigo, e a hora de viagem me deu tempo
para pensar sobre isso. Sua cabeça aparece por cima do capô
do outro lado. — Eu tenho um plano, mas você tem que seguir
minha liderança. — Puxo meu capuz sobre minha cabeça e

3 Carro em más condições, muito barulhento.


olho para ele, apoiando as duas mãos sobre o topo do carro. —
Você confia em mim?

— Com a minha vida.

Minhas mãos batem no capô uma vez e caminhamos para


dentro. A campainha toca, reconhecendo nossa presença.
Travis dá a volta em mim e acena com a cabeça em direção ao
bar, onde um grupo de três homens se amontoa. Eu estive por
perto de intimidar homens minha vida inteira entre o negócio
em que Oscar estava e os namorados que mamãe costumava
trazer para casa.

— Travis, você trouxe um amigo. — O menor dos três


cumprimentou Trav com um aperto no ombro e acenou com a
cabeça na minha direção. — Como foi seu tempo?

Os clientes do bar observam nossa interação antes de


voltar a beber. Essa é a norma por aqui em Ockendon, no
Jack's. Cinco homens com tatuagens em preto àquela hora
significam apenas negócios duvidosos. Fico atrás de Travis
com os braços cruzados sobre o peito.

Os Links são apenas isso, bandidos feitos de pequenos


crimes e negócios de drogas para financiar um comércio mais
proeminente no topo, um esquema de pirâmide. Se um link
inferior rompesse, a organização ainda se mantinha forte.

— Sente-se. — Afirma uma voz de um banco atrás dos


outros dois. — Doris, uma rodada para meus amigos. — O
barman deixa cair dois copos sobre o balcão na minha
periferia. Meus olhos ficam grudados no homem que irradia
arrogância, pernas abertas, postura relaxada. Provavelmente
fazendo as malas atrás de seu jeans e jaqueta excessivamente
soltos. — Você vai me apresentar?

Travis dá um passo para o lado para me revelar, e é


quando seus olhos encontram os meus.

Dex Sullivan.

Ele ri e passa a palma da mão pelo rosto. — Baby Oscar,


é você? — Dex se levanta e os outros dois homens recuam,
dando espaço ao rei. Ele coloca as duas mãos em meus ombros
e procura meus olhos. — É você. — Ele sorri. — Tem sido um
longo tempo, Oliver.

— Não o suficiente.

Dex agarra meu queixo para ver melhor e estreito os


olhos. Oscar e Dex eram companheiros enquanto crescia,
sempre competindo um com o outro, subindo na escada do
crime. Oscar montou White Fox, perdendo seu melhor amigo
no processo. Por inveja e ganância, os dois se desentenderam.
Parece que Dex ganhou a competição.

— Eu queria te agradecer por bater em seu irmão. O idiota


mereceu certo? — Dex pega a bebida do bar e enfia no meu
peito. — Para Oliver!

— Para Oliver! — Os regulares gritam em uníssono.


— Beba, cara. — Dex dá um sorriso branco ameaçador.
— Doris, vamos fazer outra. Esta é uma celebração. — Ele gira
o dedo e minha mão agarra o copo antes de engoli-lo e batê-lo
de frente para o bar. As sobrancelhas de Travis se juntam e eu
balanço minha cabeça. Não é hora de explicar. Dex e eu temos
coisas mais importantes para discutir. — Oliver Masters, o
garoto que cospe na bunda antes de quebrar. — Dexter ri. —
Você sabe, nós chamamos de OJ'ing agora. Você é uma lenda
do caralho, Baby O.

— O negócio é o seguinte. — Não tenho tempo para


tagarelar, — cheguei a uma situação em que preciso de
serviços.

Dex aperta os lábios e baixa a cabeça, depois olha para


mim com olhos engraçados. — Assim como seu irmão, Oliver.
— Ele agarra meu ombro, me leva a um banquinho e enxota o
resto de seus homens enquanto Travis fica quieto ao meu lado.

— Estou aceitando o trabalho de Travis. Mostre meu


compromisso. Mas preciso de algumas coisas em troca.

Dex sorri. — Não pagamos em favores, pequeno O.

— Eu não preciso do dinheiro. Preciso de serviços. Um,


Travis está infinitamente fora do gancho. Ele não está mais
fazendo os lances dos Links. Livre e limpo, ele está fora.

— Você vai ter que colocar mais na mesa se estiver


pedindo duas coisas e apenas concluindo um trabalho.
— Não, você está perdendo o ponto. Travis não está mais
trabalhando com os Links, ponto final. Este trabalho que estou
fazendo é para mostrar meu compromisso. O negócio é que
quero que você encontre alguém para mim e, se o fizer, posso
conseguir algo que você sempre quis. — Fazer um acordo com
Dex Sullivan é um risco enorme. Se há uma pessoa tão suja e
faminta por dinheiro quanto Oscar, seria Dex, que por acaso
tem os contatos de que eu preciso. E, parece que as cartas
arriscadas e astutas surgiram do Inferno e caíram aos meus
pés. Momento perfeito.

Dex inclina a cabeça. — E o que eu quero?

— White Fox.

— Boa tentativa, baby O. Nós dois sabemos que não há


mais White Fox. — Dex balança a cabeça com a bebida levada
à boca. Seus olhos deslizam para seus companheiros, que
estão no canto do pub nos observando.

Eu dou um passo mais perto e corto sua linha de visão


para sua comitiva. Minha confissão tem que ser discreta, para
os ouvidos de Dex apenas considerando que tenho o que ele
quer e exatamente o que ele não gostaria de compartilhar com
ninguém, especialmente com seu chefe. Ganância, poder e
tudo. — Eu sou White Fox.

Meu comentário chama sua atenção como eu sabia que


faria.
Dex baixa a bebida, franzindo as sobrancelhas. — Eu não
entendo.

— Você conheceu meu irmão. Ele era um maldito idiota,


todos saltam primeiro, fazem perguntas depois. Ele não tentou
me forçar todos esses anos porque compartilhamos o mesmo
sangue. Não. — Balanço minha cabeça e me inclino mais perto,
— ele me queria porque eu não operava como todo mundo. Eu
penso fora da caixa. Vejo linhas antes de serem desenhadas.
Sinto as intenções antes de serem declaradas. Estou sempre
dez passos à frente.

— Você é White Fox.

Estendo meus braços para os lados. — Em carne e osso.


CINCO

“Seu fogo voraz acende um charuto com o sorriso dela. Ela


sempre foi louca assim.”
− Oliver Masters

MIA ESTÁ AGINDO DE FORMA ESTRANHA.

Não a garota típica que foi levada e mantida contra sua


vontade. Embora a Srta. Jett fosse tudo menos comum, eu não
tenho certeza do que esperar dela. Primeiro, ela estava
condenada ao inferno em me matar, o que era esperado. Agora,
é como se ela não pudesse recitar o alfabeto.

Ela está me confundindo muito.

Nossa estada na cabana durou mais do que eu queria


originalmente. Mia, mais uma vez, interrompeu meu plano e
eu tive que resolver essa merda. Por quase dois anos, o plano
estava em andamento. A cabana continha todos os meus
recursos antes de partir para outro país. No momento em que
meus companheiros da academia juntassem as peças em
Dolor, se é que algum dia juntassem as peças, eu estaria muito
longe sem deixar vestígios, morando em algum lugar em algum
iate, sobre o oceano, tomando uma bebida em algum tempo
mais quente.

Mas o que diabos farei com Mia? Ela não apenas


corrompeu meus planos, mas também quebrou meu bom
senso. E ela estava certa. Eu não colocaria a mão nela. Mia foi
a primeira garota com quem me importei desde que Livy
morreu. Também não significa que eu simplesmente irei deixá-
la sair daqui. Talvez ela possa aprender a passar os próximos
sessenta anos ou mais fugindo comigo. Talvez ela possa
aprender uma ou duas coisas sobre a vida na água. Ancorar
um navio, navegar em uma tempestade e aprender a estripar
um peixe, talvez até mesmo aprender a me amar.

Surpreendentemente, ninguém está procurando por ela


de qualquer maneira.

Dean Avery me manteve atualizado. Eu conheci o cigano


de vinte e poucos anos de idade, dois anos atrás, depois de
uma viagem à Nova Escócia durante uma guerra de lances em
Halifax no Carmen Olivia. Parecia que, não importava o custo,
nós dois não havíamos parado por nada para ganhar o lindo
barco com o nome predestinado de minha irmã. Depois de um
longo dia de idas e vindas, nós dois saímos e trocamos
histórias tristes sobre uísque envelhecido no Durty Nelly's.
Dean estava fugindo de algo também. Nós nos conectamos. Ele
desaprovou meus planos de assassinato. Mas ele entendeu
minhas razões e minha luta pela família, por justiça. Ele
continuou sendo capaz de fazer coisas que a maioria não
conseguia e conseguiu os documentos que eu precisava para
ajudar a realizar minha vingança.

Foi então, dois estranhos em um pub irlandês ambos


longe de casa, que a justiça se tornou mais do que um sonho.
Tornou-se real, tangível. Quando nos separamos, era como se
fôssemos dois irmãos de outra vida. Eu nunca o vi novamente
depois disso. Dean mudava seu número todo mês, junto com
sua localização. Ele ligava uma vez por semana, ao mesmo
tempo, e mantinha sua promessa de obter os documentos e as
informações de que eu precisava.

Ninguém relatou o desaparecimento de Mia ainda.

Eu só preciso que ela confie em mim o suficiente para


levá-la silenciosamente em um avião para fora do Reino Unido.
Seu passaporte e certidão de nascimento foram fáceis de
recuperar, graças a Dean. Deixei alguns detalhes de fora, o
maior deles sendo que peguei Mia contra sua vontade. Dean
tem a impressão de que ela é minha garota. Ele nunca iria
sequestrar, especialmente se soubesse que ela está
apaixonada por outra pessoa. Dean poderia olhar além de
muito, até mesmo eu assassinando assassinos, mas não
separando o amor. Com sorte, eu poderia quebrar a porra do
cordão umbilical amarrando Mia a Masters em breve e colocá-
la no time de Ethan antes que tivéssemos que embarcar em
um avião.

Ficar aqui mais um dia não é uma opção.

Temos que partir amanhã.


— O que está demorando tanto? — Pergunto depois de
bater com o dedo na porta do banheiro. Ela está lá há muito
tempo. Mia não responde. — Estou entrando. — A porta do
banheiro se abre e Mia submerge na banheira com a cabeça
aparecendo acima da linha d'água. — O que você está fazendo?

Ela olha direto para a água pingando da torneira.

— Mia?

Gotejamento.

Gotejamento.

— Venha, vamos sair daqui, certo? — Sento sobre o vaso


sanitário e olho para ela. — Você vai congelar até a morte.

Mia não se mexe. Mia não pisca. Eu a tinha visto nua


muitas vezes para contar, mas cada vez ainda envia um
zumbido ao meu pau. Eu não consigo me lembrar da última
vez que estive dentro de uma mulher, usando todas as minhas
noites cuidando da vingança em vez disso. Não como se ela me
devesse algo por isso.

Mas lá está ela, pele de marfim, seios de proporções


perfeitas, mamilos rosados e endurecidos e uma boceta macia
e aveludada. Meus dedos e língua estiveram dentro dela. Eu a
provei. Empurrei meu pau através de sua fenda, sentindo seu
calor, e ela ainda não me deixou entrar. Não é segredo, a garota
tirou um A por me irritar, mas me alimentei do desafio. O
aperto de Masters era mais forte do que eu pensava, mas não
demorará muito até que eu a tenha completamente. Nos
últimos dias, ela se transformou em uma marionete sem
emoção. Eu puxei todas as cordas e ela se rendeu.

Puxo o plugue da banheira, agarro seu braço e forço-a a


sair. Mia está diante de mim nua e molhada enquanto eu me
sento sobre o vaso sanitário. Ela nem estremece. Apenas fica
lá e olha para frente, sua pele morena pedindo para ser tocada,
apesar de sua recusa em falar comigo. Assusta-me como ela
está fora de contato com a realidade.

Minhas palmas envolvem seus lados, e arrasto minhas


mãos até que descansam abaixo de seus seios. Os músculos
de Mia relaxam em minhas mãos e eu roço seus mamilos com
as pontas dos meus dedos. Ela dá um passo à frente entre
minhas coxas abertas e meu olhar salta de seus seios para seu
rosto. Sua expressão é fria como uma pedra. Ela está me
testando?

— Jett, você está sendo ridícula. Você não pode agir assim
para sempre. — Eu suspiro, deixo cair minhas mãos e me
levanto, elevando-me sobre ela para arrancar a toalha do
gancho.

Mia não se mexe.

Eu a seco e coloco uma das minhas camisas em sua


cabeça. Meu fantoche. O cabelo de Mia ainda está molhado.
Jogo na toalha. Totalmente imóvel Mia permite que eu cuide
dela. Isso tornou fácil no início. Nos últimos três dias, ela está
sem as amarras. E talvez ela confie que eu não irei machucá-
la. Talvez ela finalmente tenha percebido que eu me importo.
Eu só estou fazendo o que é melhor. Mas perdi sua tempestade.
Eu perdi o sarcasmo em suas palavras e a fúria em seus olhos.
Eu perdi a porra do desafio.

Ela segue meu exemplo de boa vontade escada abaixo e


fica ao lado do colchão, esperando meu próximo comando. —
Durma um pouco. Estamos saindo pela manhã. Algum lugar
quente. — Como se ela se importasse. Os olhos de Mia nunca
deixam a janela enquanto ela se esparrama ao lado do colchão.
Balanço minha cabeça e apago as luzes, confiando que ela
estará na mesma posição quando eu voltar como ela estava na
noite anterior.

Subo dois degraus de cada vez quando meu celular toca.

— Surgiu uma coisa. Já estamos a quinhentos


quilômetros de distância. — Uma voz relutante pulsa pelo
telefone.

Dean.

— Você foi encontrado? — Os Avery permanecem


discretos, sobrevivem com o mínimo e nunca vivem em um
lugar por muito tempo. Ele me contou algumas histórias sobre
a vida deles, mas na época, eu devia estar bêbado ou exausto
demais para levar a sério.

— Eles o mataram.

— Quem? Um de seus irmãos? — Eu caio de volta no sofá.


Ele tem dois irmãos, Luke e Ash, e fala sobre eles com
frequência. Os três são próximos e invejei seu vínculo
fraternal. Se alguma coisa acontecesse com um de seus
irmãos, não há como dizer o que Dean fará. Além de
assassinato. Os Avery não matam. Ele me lembrou muitas
vezes para contar.

— Nosso pai. Uma longa história de merda. Mas eu não


posso ajudar mais. Tenho que cuidar de uma merda. Luke está
em uma missão própria. Tudo está configurado para você. As
chaves estão no escritório. Pergunte por Mandy. Eu a deixei
com a bolsa.

Porra. Seu pai. Inclino os cotovelos sobre os joelhos e levo


a mão à testa para apertar as têmporas. — Eu sinto muito,
cara. — Eu nunca conheci o pai, a mãe ou os irmãos de Dean,
apenas ele. Mas Dean e eu somos próximos. É difícil conseguir
amigos para nós dois. Ele passou sua vida fugindo com sua
família por razões que eu não consigo compreender. Agora seu
pai está morto, o que significa apenas uma coisa. Os outros
três são completamente dependentes da direção de Dean. Ele
tem que apoiar sua família.

Eu espero até que ele seja capaz de lutar contra mais


palavras. Seu silêncio grita emoção. — Obrigado, E.

— Há algo que eu possa fazer?

— Não, cara. Isso é algo com que você não quer se


envolver. Você não pode se envolver. Você não entenderia. Mas
eu agradeço. Eu faço.
— Pode chegar um momento em que você precisará de
alguém para fazer o seu trabalho sujo. Basta ligar e eu estarei
lá. — Eu gostaria. Só porque eles não acreditam em resolver o
problema por conta própria, só porque eles não podem matar
por qualquer motivo, não significa que eu não possa. Eu faria
isso por ele e por tudo que ele fez por mim nos últimos anos.

Dean ri ao telefone, mas está vazio e forçado. — Vou


manter isso em mente. Ouça. Fique seguro, E. Ligarei para
você quando puder.

— Você também. — A ligação é desligada e passo as


próximas horas empacotando o carro e limpando as evidências
da casa, de qualquer indicação de que Mia esteve aqui. Nada
para rastreá-la de volta para mim. Por volta das três da manhã,
desço as escadas para encontrar Mia exatamente onde a deixei.

Seus olhos castanhos ainda estão abertos e olhando pela


janela para a noite. Eu já tentei falar com ela. Eu tentei me
explicar. Ela não quis ouvir. Eu queria gritar que ninguém se
importa com ela. Eu sou o único fodido. Todos, em toda a sua
vida, não fizeram nada além de mentir para ela e jogá-la como
se ela fosse um lixo.

Minhas roupas cheiram a alvejante. Tiro meu moletom e


deito no meu lugar ao lado dela. Ela deve estar com frio. O
aquecedor não funciona aqui. Quer ela goste ou não, eu a puxo
para cima de mim dentro dos meus braços. Ela não diz nada
ou luta comigo por isso. Ela obedece como uma marionete.
Meu fantoche. O que só torna mais difícil não a agradar do jeito
que eu quero. Uma guerra constante contra minha cabeça e
minha... bem... cabeça.

Eu poderia transar com ela tão facilmente e dormir ainda


mais fácil.

Mas não farei isso, a menos que ela queira.

Engolindo a tentação, mantenho meu pau na minha


boxer e deixo minhas mãos vagarem sobre sua pele fria para
aquecê-la, subindo por suas coxas, sobre sua bunda, nas
costas. Ela nunca vacila, e cada noite levo isso mais longe,
testando-a, quebrando-a. Um dia ela perceberá que Masters
nunca se importou com ela, e até então, eu a lembrarei do
quanto eu me preocupo. Eu poderia fazê-la se sentir bem,
acalmar sua mente e trazer de volta a faísca dentro dela.

A luta para respirar me acorda enquanto luto para


respirar. Uma nuvem de fumaça desce as escadas e infiltra-se
na sala. Meus olhos queimam.

— Mia! — Ela não está ao meu lado. Minha pulsação


martela no meu peito. Tossindo, sento-me sob as luzes de fogo
brilhantes que saltam contra as paredes do topo da escada. O
cheiro de queimado. Pânico. — Mia! — Não consigo colocar
minhas calças rápido o suficiente. Não há tempo para uma
camisa ou sapatos, mas o calor do fogo é demais. Corro de volta
para pegar minha camisa para cobrir minha cabeça e corro
escada acima. Não há tempo para pensar, para planejar. O fogo
ruge na cozinha. Chamas alaranjadas, vermelhas e amarelas
dançam sobre o fogão e sobem pela parede, a cortina sendo
destruída pela fúria do calor. Está se espalhando rápido. Meus
olhos ardentes disparam em torno da fumaça espessa. Mia
está deitada no sofá, camiseta branca brilhante contra a névoa
negra com os olhos fechados. Um anjo envolto no inferno. Ela
tinha perdido a cabeça?

As chaves do carro estão em cima da geladeira. Não há


como chegar até elas. Graças a Deus por uma reserva dentro
do carro. É tudo que eu preciso.

Pego Mia e a jogo por cima do ombro.

— Pare! — Ela grita contra o som da cabana queimando.


— Me deixar ir! — Eu não ouço a voz dela há muito tempo.
Naquele momento, ela tinha mais fogo nessas quatro palavras
do que na minha cabana de infância. Seus gritos têm o poder
de cortar a fumaça enquanto ela luta contra o meu aperto forte.
Cada grito rouba outro fôlego que eu não posso pagar. Outro
soco no estômago.

Meus joelhos batem no chão e ela cai de meus braços.

Chamas e fumaça nos cercam e eu não consigo mais ver.


Seus gritos se transformam em tosses, e nós dois
ofegamos por ar, rastejando pelo chão de madeira, em busca
de oxigênio limpo como viciados em privação.

Mia queria morrer, queimar nós dois vivos.

Morreremos.

— Shhh... — Ashlyn ri. — Meu pai vai nos ouvir.

— Eu quero ver você de novo. — Nunca fui tão real com


ninguém, tão cru. Ashlyn tem o poder de me fazer dizer coisas
que eu normalmente nunca diria em voz alta. Ela é uma espécie
de feiticeira. — Eu gosto de você. Gosto muito. Já. Eu
enlouqueci?

Está escuro, e a única luz zumbindo acima revela o rubor


subindo por seu pescoço.

— Amanhã. — Ela sussurra, respondendo à minha


primeira pergunta. O rubor dela respondeu no segundo.

— Ok. Amanhã. — Temos amanhã. Temos todo esse


feriado.

— Boa noite, Ethan. — Ashlyn dá um passo à frente. É


pequeno, mas o suficiente. Ela quer que eu a beije novamente.
Eu sorrio porque não consigo evitar. Nossa primeira vez foi uma
bagunça. Eu não sabia o que estava fazendo antes. Mas esta é
minha chance de consertar. Eu fecho a distância entre nós e
puxo a luva da minha mão. Meu toque é quente contra sua
bochecha fria.

Eu não hesito e abaixo minha cabeça e a beijo. A força faz


com que ela dê um passo para trás, e eu passo meu braço em
volta de sua cintura e a puxo contra mim. Peito a peito. Coração
com coração.

E desta vez é perfeito.


SEIS

“Todos nós nascemos sem misericórdia e meia alma. E nós


vamos passar o resto de nossas vidas famintos e
procurando.”
− Oliver Masters

EU NÃO SOU PERFEITO.

Nunca afirmei ser melhor do que qualquer outra pessoa.


Eu cometi erros, continuamente jogando minha própria chave
na obra para salvar minha bunda quando chegasse a hora.
Essa é a hora.

E de repente, estou grato por meu rancor contra Oscar.

Depois que Oscar me culpou pela tentativa de homicídio


de Brad, eu roubei White Fox debaixo dele. O dinheiro, ativos,
contas, drenei e escondi o dinheiro em um local seguro que
ninguém seria capaz de encontrar ou rastrear até mim,
dinheiro que eu tinha a intenção de dar à esposa de Brad e aos
dois filhos. Embora o pai gostasse de prostitutas, de
preferência mamãe, sua família era inocente.
Depois que eles me confirmaram como suspeito, eu tinha
tatuado uma sugestão do local ao lado da tesoura no meu
braço antes de me entregar. Tinha sido um lembrete diário,
minha força para superar minha falsa punição para que um
dia eu pudesse, no mínimo, devolver uma parte do que foi
tirado da família, embora nunca fosse suficiente.

Eu me tornei White Fox, e meu irmão estava me


perseguindo desde então.

Oscar deveria saber que nunca deveria confiar em uma


raposa.

Dex não era melhor homem do que Oscar, mas Dex tem
recursos. E o desespero exige fazer acordos com o diabo e se
banhar no pecado. Mas o diabo seria tolo em subestimar um
homem quebrado sem nada a perder.

Fiquei nervoso ao mencionar o nome de Mia para Dex,


então dei o nome de Scott em vez disso, com certeza, onde quer
que Scott esteja Mia também estará. A última coisa que preciso
é que Dex descubra sobre Mia, que ele a use como um peão e
pendure a vida dela sobre minha cabeça como algum tipo de
ameaça doentia no futuro.

Já haviam se passado dois dias desde o encontro com


Dex. Travis e eu estamos de volta a Surrey, sentados em um
bar no vilarejo e esperando os pedidos para minha primeira
missão dos Links e para Laurie, minha agente, nos encontrar.
A atmosfera do Green Lion é muito diferente da de Jack.
Do lado de fora, o prédio tem tijolos brancos acolhedores,
detalhes verdes e telhas marrons, saídos de um conto de fadas.
O interior é quente e convidativo, com o fogo aceso na lareira
de tijolos curvos.

— Eu não gosto disso. — Travis geme ao meu lado com


um aceno de cabeça.

Tínhamos encontrado uma mesa no canto oposto do


restaurante, e o bater constante de seu garfo contra a mesa de
madeira ao lado de seu hambúrguer intocado não está
ajudando minha dor de cabeça.

— É o que é.

— Eu não posso deixar você consertar meu passado.

— Confie em mim, companheiro. Eu preciso disso mais


do que você. Preciso encontrar Mia, e Dex é minha única opção.
— O barman aumenta o volume da televisão pendurada na
parede acima do bar e exibe a notícia de um incêndio em uma
cabana em Cheshire na noite anterior. Volto minha atenção
para Travis. — Coma seu hambúrguer antes que ela chegue
aqui.

— Duas fatalidades em um incêndio na cabana. — Afirma


o repórter na televisão, puxando meu olhar de Travis para as
imagens da noite antes de aparecer na tela. — A investigação
continua para a causa do incêndio, e as identidades dos corpos
ainda estão em andamento.
A notícia acende uma dor em meu peito. Levanto, as
emoções chutando em alta velocidade, um sexto sentido. Algo
não está bem comigo. Meu olhar trava na tela quando um
drone voa sobre a destruição, capturando imagens de fumaça
e a cabana queimada. Minha mente está um caos enquanto
tenta juntar o que estou vendo e sentindo dentro do meu peito.

— O que foi? — Travis pergunta com a boca cheia.

— Eu não sei. — Enfio minha mão no bolso para


recuperar meu telefone e disco para Dex. Ele não responde. —
É Oliver. O incêndio na cabana em Cheshire. Descubra quem
é o dono e me ligue.

Travis fala atrás de mim: — Você acha que Scott teve algo
a ver com isso?

— Estou apenas seguindo meu instinto. — Normalmente,


estou certo. E pela primeira vez, eu não quero estar. Colocarei
todas as minhas cartas em uma cesta com Dex. Não, eu não
confio nele, mas às vezes você tem que jogar bem com seus
inimigos, desde que não se perca no processo. E a única
maneira de me perder será se eu perder Mia.

— Você é Oliver Masters. — A voz foi misturada com uma


pergunta e declaração. Eu desvio meus olhos da tela da
televisão acima do bar para uma senhora em seus trinta e
poucos anos olhando para mim, uma bolsa sobre o ombro. Seu
cabelo loiro torcido atrás de sua cabeça enquanto os fios caem
do aperto, vestindo um terno marinho com salto preto, o que
só aumenta a agitação que eu já estava enfrentando. Grandes
olhos castanhos espiam para mim por trás de grandes óculos
de aro preto, e sua boca se abre. — Oh, isso é ótimo. — Ela
continua observando minha aparência. — Você é...

Eu levanto meu queixo. — Eu sou o que?

— Inesperado. — Ela desliza para a cabine ao lado de


Travis depois de um rápido “como vai” e tira um laptop de sua
bolsa. O MAC liga e eu me sento em frente a ela. Travis tinha
me convocado para esta reunião, mas ele estava certo. Se eu
desistisse do futuro que tinha trabalhado tanto para construir
para Mia e eu, não sobraria nada quando ela estivesse de volta
em meus braços. Eu tenho que manter meu emprego, Dex,
Laurie, e minha tristeza e dor. Tenho que fazer tudo.

— Parabéns, você merece. Seu primeiro livro foi um


sucesso. Mas é o segundo livro que pode fazer ou acabar você,
e tenho certeza que você já está trabalhando nisso.

Eu não respondo, e ela olha para mim por trás de seus


óculos redondos.

— Claro. — Não.

— Bom. — Laurie volta a digitar em seu laptop. Travis e


eu trocamos olhares. — Então, você está pronto para sua
primeira noite de autógrafos neste fim de semana? Sei que
pode ser um pouco demais no começo, mas estarei com você
em cada passo do caminho. Teremos que tirar você dessas
roupas e colocar algo mais... — Sua cabeça inclina para o lado,
e ela empurra os óculos para cima da ponta do nariz —
apropriado.

Meu celular toca.

— Vá em frente, atenda. — Declara Laurie sem tirar os


olhos do computador.

Não reconheço o número, mas pode ser Dex.

— Sim? — Eu respondo.

— Eu verifiquei a cabana. O título foi transferido para


Ethan Scott alguns anos atrás... — Dex continua, mas eu não
consigo ouvir mais nada.

Duas fatalidades.

Tudo para, o sangue em minhas veias, os apelos na ponta


da minha língua, até mesmo meus pulmões param de
funcionar. Eu não consigo respirar. Travis arranca o telefone
da minha mão e salta de trás da cabine para assumir a
conversa. Mas eu? Fico congelado enquanto o mundo continua
a girar em seu eixo.

Os pensamentos até congelam dentro da minha cabeça.

Eu fecho meus olhos.

Mia Rose está se aproximando enquanto Alicia, Jake e eu


perambulamos no corredor entre as aulas. Endireito minhas
costas contra a parede e prendo minha respiração enquanto
meus dedos penteiam meu cabelo para trás. Ela vem falar
comigo? O coração em meu peito está batendo em um ritmo
impossível. Estou tentando manter a calma e espero que isso
apareça, mas então seus olhos se fixam nos meus e, de repente,
perco o controle. As palavras se perdem, meu aperto está
perdido e ela passa por mim.

— Respire, Ollie. — Jake sussurra ao meu lado, e é quando


percebo o quão óbvio é meu afeto por ela. — Maneira de
permanecer sutil.

— Cale-se.

Ela desaparece em um corredor, e eu já posso sentir meu


coração se partindo com a distância. Ontem à noite ela veio ao
meu quarto pela primeira vez. Dizer que fiquei surpreso ao vê-la
era um eufemismo. As poucas horas com ela foram passadas
em modo de crise. Nunca me senti tão calmo e nervoso ao mesmo
tempo. Eu só queria ser eu mesmo, mas era difícil quando ela
estava me transformando neste novo homem sempre que ela
está por perto. Porque perto dela, eu não tenho mais medo da
realidade. Perto dela, quero manter meus olhos abertos.

Jake ri. — Ela vai quebrar seu coração.

— Já posso ver. — Alicia acena com o braço na frente dela,


imitando uma manchete invisível no ar. — Sociopata pisa no
coração do sonhador, morte por ignorância.
Em vez de alimentar sua diversão, fico quieto e sorrio para
mim mesmo. Amá-la até me matar parece uma maneira
maravilhosa de morrer.

Uma picada na minha bochecha me tira disso, e abro


meus olhos para ver Travis olhando para mim. — Sinto muito,
irmão. — Ele sussurra, e olho para a minha esquerda para ver
que minha agente havia partido. Travis agarra meu queixo e
redireciona meu olhar. — Eu sinto muito.

Minha cabeça balança. — Não. — Eu cerro, e Travis baixa


a cabeça. — Ela não pode estar... Eu saberia se ela estivesse...
Eu sentiria, — bato no peito, — bem aqui. Eu saberia. Ela não
pode estar.

— Houve duas mortes, Oliver. Duas...

— Não faça isso. — Eu o empurro de cima de mim,


procurando uma saída.

Travis corre para o meu lado e puxa meu ombro para trás.
— Scott era o dono daquela maldita cabana. Você mesmo
disse. Ele deve ter tido algo a ver com ela ter ido embora.

Minhas palmas voam sobre meus ouvidos. — Pare! —


Grito.

— Me escute! Ela deixou você! Ela fugiu com o idiota para


a porra de uma cabana pelo amor de Deus! Você não vê? — A
voz de Travis quebra. — Ela está morta, Oliver. Sinto muito,
mas ela se foi.

Agarro o colarinho da camisa de Travis e o jogo por cima


do bar. As pessoas pulam para fora do caminho. — Você não a
conhece, porra! — Cuspe e agonia voam entre nós. — Eu
saberia se ela tivesse partido! Ela não se foi! Ela não morreu!
— Meus dedos se soltam de sua camisa e lanço meu olhar para
a multidão que nos cerca. Todos os olhos estão em mim. Uma
mãe segura a filha atrás dela. Elas estão com medo de mim.
Eu estou com medo de mim. Está silencioso. Meu peito dói,
uma dor inimaginável. Um fogo arde em meus olhos porque me
recuso a chorar. Porque ela não se foi.

Travis relutantemente coloca a mão em meu ombro. —


Ok, cara. Vamos para casa.

— Não. — Eu o empurro, sabendo o que ele está


insinuando. Ele não sabe como eu já tinha feito um lar dentro
de Mia. Ela é minha casa, e estou tentando esse tempo todo
voltar para ela. Eu perco o equilíbrio, tentando abrir caminho
através das ondas de olhares sobre mim para encontrar ar.

Meu celular não para de tocar desde que saí do bar cujo
nome tinha esquecido. Horas se passaram, eu sei por que está
escuro lá fora. O reflexo da janela aberta olha para mim através
do espelho. Estou sentado no chão do banheiro, ouvindo o
cano vazando de dentro das paredes do motel. O ocupante da
porta ao lado havia lavado o banheiro várias vezes nas últimas
horas. O pobre rapaz não deve estar se sentindo bem, e eu fiz
um jogo com sua miséria.

A cada descarga, pego uma nova garrafa de cerveja na


sacola do supermercado ao meu lado.

Não importa quantas garrafas empilhadas à minha


esquerda, o toque do celular não silencia. Repetidamente, bato
a parte de trás da cabeça contra a porta aberta do banheiro em
que me sentei até que a dor diminuísse dentro do meu peito.

Isso nunca aconteceu. A dor só piora.

— Ollie.

Eu olho para cima.

Travis olha para mim, terror em suas feições. Desse


ângulo, ele poderia se passar por James Franco no filme Spring
Breakers. Eu só conheço esse filme porque ele havia passado
no estúdio de tatuagem uma vez quando fiz minha tatuagem,
embora o cabelo de Travis é mais louro. Talvez Marshal
Mathers, se o talentoso rapper tivesse tranças loiras, pelos
faciais e asas de anjo tatuadas no pescoço.

— Você não pode jogar tudo fora. — Afirma Travis,


sentando-se no chão em frente a mim contra o armário da pia.
— Você trabalhou muito duro.
— Eu não estou jogando nada fora. Recaída momentânea.
— Pego uma garrafa da sacola e jogo no colo de Travis. — Mia
está viva. Eu vou encontrá-la.

— Você está em negação.

Eu ignoro seu absurdo e tomo outro gole.

Ele não está ouvindo. Ninguém está ouvindo.

Mesmo o álcool não está ouvindo, porra.

— Sabe você nunca me contou sobre ela. — Minha visão


embaçada cai sobre ele, e ele continua:

— Quem era a garota que roubou o coração de Oliver


Masters?

— Rouba. — Eu corrijo, apontando para ele com a


garrafa.

— O que?

— Você está falando como se ela não estivesse aqui. Como


se ela estivesse... — Eu não consigo dizer a palavra, então
apenas deixo a frase estagnar como minha vida tinha feito.
Travis desvia os olhos de mim para o espaço entre nós. A
pessoa no quarto ao lado puxa a descarga, então termino a
garrafa e pego outra. — É inútil porque não importa quais
palavras significativas eu pudesse inventar para descrever o
que temos, nunca soaria tão incrível quanto a maneira como
estamos conectados. E agora, estamos conectados. É assim,
meu amigo, que sei que o coração dela ainda está batendo. Eu
memorizei esse som. Eu poderia pegar seu batimento cardíaco
em um alinhamento. Mas tanto quanto eu conheço o som,
sinto a batida dura e constante dentro do meu peito. É um
espelho do meu. — Jogo minha cabeça contra a porta e permito
que a cerveja escorregue pela minha garganta. — Não importa
o quão distante estejamos eu ainda posso senti-la.

— Você e suas palavras. — Travis suspira. — E o que


acontecerá se Mia morreu? O que então?

— Eu morrerei. — É tão simples quanto isso.

— De quê?

— Desconexão.

Travis bate na minha perna com as costas da mão. —


Acho que você bebeu muito, não acha?

Aponto a boca da garrafa para ele. — Ah, você acha que


estou brincando, certo? Leia um livro. Você pode aprender uma
ou duas coisas. — Tenho lido sobre isso antes. Morrer com o
coração partido é um fato científico, a morte dos desesperados
e solitários.

— Tudo bem, irmão. Vamos para a cama. — Travis fica


de pé e me puxa do chão do banheiro.

E essa é a última coisa de que me lembro.


SETE

“Ela caminhou pelo vale da sombra da morte, olhou o medo


nos olhos e se apaixonou.”
− Oliver Masters

PASSA-SE uma fração de segundo ao acordar, quando tudo


parece bem no mundo. Mia não está faltando. Não estou
passando por uma ressaca horrível. Eu não tinha feito um
acordo com Satanás. Sou um homem honesto, vivendo uma
vida honesta. Um poeta apaixonado. Por um segundo fugaz,
meu coração não dói, minha cabeça não gira e minha alma
está livre.

Mas apenas por um mero segundo até que tudo desabe.

Gemendo, rolo e abro os olhos para ver o rosto alegre de


Travis com um saco de lixo na mão, limpando garrafas do
quarto do motel.

— O que você ainda está fazendo aqui? — Sento-me e


coloco meus pés na beirada da cama no tapete duro.

A maldita dor de cabeça voltou.


— Aqui, beba isso. — Travis joga uma garrafa de água em
mim, e eu a pego no ar. — Você vai precisar. — Alimento minha
alma sedenta com o veneno da noite passada. Depois de engolir
a garrafa inteira, Travis ergue a sacola e eu jogo a garrafa vazia
no lixo. — São três e meia. Dex ligou.

— Por que você não me acordou?

Travis dá de ombros, concentrando-se em amarrar a


sacola e evitando meu olhar duro. — Você precisava do seu
sono de beleza.

Inclino minha cabeça, meus olhos seguindo cada


movimento seu. Travis está nervoso com alguma coisa. — Bem,
você respondeu?

Ele joga a sacola para fora da porta, ainda sem olhar para
mim. — Sim.

Eu me levanto e jogo meus braços ao lado do corpo. — E?

Travis se vira e olha ao redor do quarto, ainda sem olhar


para mim, porra.

— O plano é nos encontrarmos às nove em Ockendon.

— Com o que você está preocupado?

— Tem certeza de que ainda quer fazer isso? Mia está...

— Mia está o quê?

— Eu não vou ser aquele companheiro que vai te dizer


que tudo vai ficar bem. Mia está morta e não há razão para
continuar com os Links. Você deve acompanhar os restos
mortais para confirmação. Vou fazer este trabalho, mas não é
saudável viver em negação assim. Eu não vou assistir você cair
naquele buraco. Já vi isso antes, não é bonito e é impossível
escalar para sair. Confie em mim. Estou te fazendo um favor.
Você deveria estar sofrendo por ela, companheiro. Porra, não
estou fazendo um trabalho para encontrar um fantasma.
Concentre-se em você. Melhore sua vida. Você fez isso por mim
uma vez, e é hora de eu fazer o mesmo por você.

Meus dentes cerram e os músculos se contraem. — Saia.

— Oliver...

— Não, dê o fora. — Puxo uma camisa pela cabeça,


caminho até a porta e abro. — Continue. Eu farei a porra do
trabalho. Você volta para Summer. Dê a ela um beijo de merda,
companheiro. Segure-a perto. Faça amor com ela. Acredite em
mim, não perca um segundo dado por Deus.

Travis abaixa a cabeça e caminha em minha direção. —


Eu não queria...

— Estou me segurando muito para não bater em você


agora. Sacrifique-se pela equipe e caia fora.

Ele sai. Eu bato a porta.


Somos em quatro parados no estacionamento do Jack's,
repassando o plano uma última vez. Esses meninos são novos
recrutas, novos no cenário de gangues. Eu poderia dizer pelo
jeito que Adrian não consegue ficar parado. Ele está nervoso e
eu não o culpo. Mas os nervos só podem fazer com que seja
preso ou pior, morto. Eu o puxo para o lado.

— Você está bem? — Preciso que ele se recomponha para


isso funcionar. Eu não poderia ter sua tensão espalhada para
os outros dois. Adrian não olha para mim diretamente. Ele
coça atrás da cabeça, pescoço e passa a palma da mão pelo
rosto enquanto seus olhos vagam pelas ruas de Ockendon.

— Ei, vai ficar tudo bem. Você tem que ter fé em mim.

— Fé em você? — Ele joga o braço no ar. — Eu não


conheço você, cara.

Adrian está certo. Ele não me conhece. Nenhum deles me


conhece, mas não temos tempo para trocar histórias do nosso
passado. — Veja. A única coisa que você precisa saber sobre
mim é que não vou deixar ninguém para trás. Ninguém vai
para a cadeia esta noite. Ninguém está morrendo. Tudo o que
peço em troca é que confie em mim cegamente. — Agarro sua
nuca. — Você pode fazer isso?

De pé na mesma altura que eu, Adrian tem feições jovens,


não contaminadas por poder, dinheiro e assassinato, e seus
olhos vibrantes prendem uma alma velha e determinada. Com
cabelo preto penteado e pele fresca sem marcas, ele deveria
estar imaginando uma boa garota a esta hora, não se
preparando para um assalto. Eu perguntaria a ele como ele se
envolveu com os Links, mas ele está aqui agora e não há tempo
para nenhum de nós desistirmos. Se o trabalho não for feito,
Dex não me ajudará a encontrar Scott.

Mia ainda está viva. Tenho que acreditar nisso.

— Sim, cara. Eu posso fazer isso. — Adrian diz com um


suspiro.

Agarro seu ombro e puxo-o de volta com Regi e James, os


outros dois meninos que Dex designou para mim. —
Descarreguem todas as suas armas. — Ordeno, e três olhos
assustados disparam para mim como se eu tivesse
enlouquecido. — Estou falando sério. Sem balas. Certifique-se
de que não haja nenhuma na câmara também.

— Qual é o sentido de carregar uma arma sem balas? —


James, o maior dos três, pergunta. Ele me lembra de uma
versão mais jovem de Travis, com cabelos loiros e olhos azul-
marinho, mas James é musculoso, enquanto Travis agora
ostenta uma intuição adequada da fabulosa culinária de
Summer, ou pelo menos foi o que me disseram.

Eu arqueio uma sobrancelha e levanto meu queixo. —


Você vai atirar?

— Bem, não. — James balança a cabeça e ergue a palma


da mão. — Apenas para assustá-los. Mas algo pode piorar e
temos que estar preparados para o pior.
— Vocês três carregam essas armas como se isso lhes
desse poder. Não é verdade. Suas armas não vão salvá-los,
especialmente porque nenhum de vocês atirou antes. — Faço
uma pausa e olho em volta para os caras, e nenhum deles me
corrige:

— Um, você não puxa o gatilho a menos que você vai


atirar. Dois, não podemos chamar atenção para a polícia. E
três, e se o dono da loja tiver uma arma? Se você apertar a sua,
ele não hesitará em responder. E como eu disse ao meu
companheiro, Adrian. Ninguém vai para a cadeia ou morrer
esta noite. Se precisar levar seu ego com você, sugiro que o
mantenha na cintura, descarregada. Existem outras maneiras
de obter o que deseja.

Eles trocam olhares. Adrian joga sua arma descarregada


no porta-malas, enquanto os outros dois enfiam o cano de suas
armas na cintura atrás das costas, descarregadas. Fecho o
porta-malas e nós quatro entramos em um carro preparado
com uma placa falsa.

Os assaltos em locais pequenos são em locais


degradados, pequenos, e o dinheiro é ainda menor, que foi o
primeiro erro de Travis. Só porque o trabalho era pequeno, não
pretendo tratá-lo de forma diferente ou ser descuidado.

Entramos no estacionamento, onde apenas uma única


lâmpada de rua ilumina alguns carros espalhados. Há uma
visão clara do interior, clientes espalhados por toda parte, e me
viro do banco do motorista para encarar os recrutas. Seus
rostos nervosos me encaram enquanto a chuva bate no teto do
carro, combinando com nossos batimentos cardíacos.

— O negócio é o seguinte, esta é a primeira corrida e


iniciação nos Links. Se vocês não conseguirem seguir minhas
instruções ou querem desistir, agora é a hora. — Ninguém se
move. — Adrian, você puxa o carro até a porta dos fundos. O
resto de nós vai entrar.

— Estamos fugindo pelos fundos? — Regi, o menor,


pergunta.

— Não estamos fugindo de lá. Estamos caminhando. —


Desligo o motor e saio do carro, e os outros dois seguem
enquanto Adrian se move para o banco do motorista. Atrás de
mim, os dois garotos sussurram para frente e para trás
enquanto caminhamos casualmente pela chuva em direção à
entrada.

A campainha toca assim que a porta se abre e os olhos


dos clientes passam por nós brevemente antes de voltarem às
suas necessidades de lavanderia. Este não é o melhor lado da
cidade, e os residentes de Ockendon sabem manter o nariz fora
dos negócios de todos.

Um homem mais velho trabalha na caixa registradora,


lendo o jornal e completamente pego de surpresa. Nós três nos
aproximamos e dou um passo à frente enquanto os outros dois
recuam, com certeza me perguntando como isso irá se
desenrolar.
— Você sabe por que estou aqui? — Pergunto enquanto o
velho fixa os olhos em mim por cima do jornal. Assentindo, ele
lentamente se levanta da cadeira, pegando algo embaixo do
balcão. Inclino-me para frente e planto as palmas das mãos
sobre o balcão. — Você não quer fazer isso. — O velho faz uma
pausa. — Eu sei que você tem vigilância por vídeo, e não
estamos usando máscaras. Eu sei que você tem uma arma aí
embaixo, pois por que você não teria quando sua loja funciona
24 horas por dia? E também sei que quando sairmos daqui,
você não ligará para a polícia porque esta lavanderia só paga
pelos seus... Fetiches repulsivos.

Suas sobrancelhas espessas se juntam. — Quem é você?


— Ele pergunta, e eu não tenho mais certeza se me conheço
mais.

— Há um carro esperando na entrada dos fundos, e você


vai enchê-lo com o conteúdo do cofre na sala dos fundos. Você
pode manter o dinheiro do caixa. De qualquer forma, não são
senão cem libras, além disso, sua esposa merece algo bonito
depois da merda que você a fez passar e iremos embora sem
perturbar seus clientes.

O homem mais velho olha além de mim para James


parado atrás de mim à minha esquerda antes de acenar com a
cabeça, tendo mais a perder se toda essa provação for ruim.
Nós três o seguimos de volta ao cofre, e ordeno que Regi volte
para o carro enquanto James e eu ajudamos o sujeito a encher
dois sacos de roupa suja até a borda com dinheiro.
Jogamos as malas na caminhonete e eu a fecho com
força.

— Tenha uma boa noite, Sr. Taylor.

O velho, com os olhos fumegando de raiva cega,


estremece quando entro no banco do motorista, agora vazio,
antes de partir.

Antes de aparecer no Jack's Pub, soube que a lavanderia


que estávamos roubando hoje à noite pertencia ao Sr. Taylor,
que não é tão inocente quanto diz ser. Embora tivesse dinheiro
mais do que suficiente para cuidar de sua família, suas libras
iam para garotas de treze e quatorze anos que Oscar havia
preparado para ele. Oscar se foi, mas eu não sou ingênuo em
acreditar que seu gosto se dissipou na ausência de Oscar.

— O que diabos aconteceu? — Adrian afirma ao meu lado


do banco do passageiro.

— Conheça o seu alvo, meu amigo. Você sempre tem que


estar dez passos à frente.

Laurie, Travis e eu chegamos a Londres para a minha


primeira sessão de autógrafos, e escapo de sua coleira
apertada em busca do banheiro enquanto eles montam a
cabine. Daunt Books é uma maravilha de três andares aos
olhos de um sonhador, com estantes e corrimãos de mogno,
escadas de madeira e assentos de couro. Os detalhes são ricos
e masculinos, exibindo livros alinhados em ambas as paredes
de uma ponta a outra. O teto se abre para o céu, e pingentes
de luz verde vibrante caem de cima, combinando com a mesma
cor da pintura ao redor da janela em arco no final do edifício.
Cheira a papel velho e café, e o silêncio sereno enraizou-se em
cada canto e recanto da livraria, envolvendo-me em uma paz
temporária.

Não importa o quanto eu queira aproveitar esse momento,


para comemorar esse trampolim em minha carreira, eu não
posso. Não sem Mia aqui para comemorar comigo. O que
deveria ter sido um momento maravilhoso acabou sendo uma
tarefa da qual fui forçado a participar. Parece inútil estar aqui
quando eu poderia estar fazendo algo, qualquer coisa, para
encontrá-la. Ela deveria estar aqui comigo, acalmando meus
nervos e me dizendo que está orgulhosa, mas não está.

— Não há razão para ficar nervoso. Você vai se sair bem.


— Afirma Travis, aparecendo ao meu lado e abrindo a torneira
para lavar as mãos. Ele nunca usa o banheiro, e é apenas uma
desculpa para me convencer a descer do penhasco em que
minhas emoções estão penduradas. Nós dois sabemos disso e
nunca discutimos o que aconteceu na outra manhã. Ele tem
suas crenças, eu tenho as minhas, e não há nada que ele possa
dizer para que eu mude de ideia ou me convença a parar de
procurá-la.
— Não estou nervoso. — Continuo a enrolar as mangas
da minha camisa preta até chegar aos cotovelos antes de
passar para o outro braço, mostrando minhas tatuagens.
Qualquer coisa para trazer à tona o meu verdadeiro eu sob
essas roupas mascaradas que gritam que sou um impostor. —
Eu simplesmente não me dou bem perto de multidões.

Eu me viro para encará-lo, e ele parece ridículo em uma


camisa branca e blazer, embora Travis exale equilíbrio e
controle.

— Tudo está configurado. Há uma fila esperando por


você. Laurie queria ter uma conversa estimulante com você
antes de entrar, mas eu disse a ela que estava tudo sob
controle. — Travis força um sorriso tranquilizador. — Seu rosto
bonito está na capa, mas acho que é hora de mostrar a essas
pessoas quem é o verdadeiro Oliver Masters.

— Sim, de quem foi essa ideia, afinal?

— Você é um cara bonito. — Travis ajusta minha gola. —


As mulheres gostam de você e seu rosto vende. — Ele dá um
tapinha na minha bochecha. — Vamos, garoto apaixonado.

O evento durou quatro horas. Homens e mulheres


jorraram sobre minhas palavras, falando a um milhão de
milhas por minuto, e eu não consegui acompanhar. Alguns
queriam fotos e outros queriam simplesmente minha
assinatura dentro de um livro que trouxeram com eles ou
compraram na mesa. A cada corpo que passava, minha energia
diminuía gradualmente de suas emoções, lágrimas, sorrisos e
histórias de vida que eles se sentiam compelidos a me contar.
Minha hipersensibilidade fez todo o evento piorar, mental e
fisicamente exauridos de absorver o que quer que eles
estivessem adiando.

— Oliver? — Uma voz familiar declara, e eu me viro da


mesa que Laurie e Travis estão arrumando para ver a garota
com o nome L olhando para mim com meu livro agarrado ao
peito. Ela parece diferente de quando eu a vi pela primeira vez
na festa de Jinx, sem batom, raízes retocadas e usando um
vestido floral pastel, apesar do frio lá fora. L não se parece mais
com minha mãe. Ela fez a viagem de uma hora para Londres
só para me ver?

— Vocês dois se conhecem? — Travis pergunta, sua


palma batendo nas minhas costas tensas.

Inclino minha cabeça em direção a ele. — Uma amiga de


um amigo.

— Bem, nesse caso. — Ele estende a mão e seu olhar


desliza sobre as pernas nuas dela. — Travis Lehman.

— Leigh. — Ela se apresenta, apertando a mão dele com


os olhos fixos em mim. Isso me deixa desconfortável. — Parece
que perdi o evento.

— Tudo bem, você gostaria que eu assinasse o livro? Eu


não sabia que você gostava de poesia. — Não consigo me
lembrar dela ter mencionado isso na festa em que a conheci,
embora estivesse bêbado e pudesse ter perdido a conversa
inteira. Leigh estende meu livro com meu rosto nele e eu o
agarro, inclino-me sobre a mesa vazia e pego uma caneta do
bolso de trás da minha calça jeans.

Assim que assino, ela acrescenta: — Posso tirar uma foto


também? Se estiver tudo bem, é claro.

— Com certeza. — Travis responde por mim. Voltando-


me, aceno para Leigh e seguro o livro para a câmera. Seu braço
desliza em volta da minha cintura enquanto ela me puxa para
perto, e seu corpo treme ao meu lado. Travis tira a foto. —
Sabe, vamos para o Green Lion depois para comemorar. Você
é mais que bem-vinda para se juntar a nós.

Minha mandíbula flexiona e lanço a Travis um olhar


astuto. Essa reunião é novidade para mim e, especialmente,
não tenho energia para entreter Leigh.

Os olhos e a voz de Leigh se iluminam. — Oh, isso parece


divertido! — Ela me solta e pega seu celular com Travis. — Eu
adoraria ir.

Depois que tudo foi embalado e pronto para ir, ajudo a


carregar as caixas para o carro de Laurie antes de nos
despedirmos. Falo com Travis por organizar este passeio de
última hora sem falar comigo sobre isso primeiro. — Este é um
bom motivo para comemorar. — Diz ele, mas não há o que
comemorar. A única medida verdadeira de sucesso é a
felicidade, e meu número é negativo.
A viagem de volta para Surrey demora um pouco mais de
uma hora, e digo a Travis que o encontrarei no jardim da
cervejaria depois de ligar para Dex para verificar o progresso
da busca por Scott. Eu havia deixado o dinheiro da lavanderia
na noite anterior, e ele parecia satisfeito com o bom andamento
da operação. Em troca, Dex confirmou que daria uma olhada
mais de perto no incêndio na cabana, obter mais detalhes e se
Scott tem outras propriedades ou veículos em seu nome. Como
sempre, ele não atende e deixo uma mensagem urgente.

A chuva havia parado e a temperatura diminui conforme


o sol desce atrás do caramanchão. Eu não quero estar aqui,
mas Travis tinha convidado sua noiva, Summer, e é importante
para ele que eu finalmente a conhecesse. Eu o localizo no
jardim, em uma mesa isolada no canto com, presumo,
Summer ao seu lado.

Faço meu caminho em direção aos dois enquanto eles


olham uma banda tocando música acústica descontraída.
Algumas pessoas dançam no jardim, canecas de cerveja
geladas nas mãos, enquanto as crianças correm descuidadas
pelos corpos balançando.

Depois de uma hora, descobri que Summer é mais velha


do que eu imaginava, com cabelos dourados, olhos azuis e
traços suaves. Com apenas quatro meses de gravidez, sua
blusa folgada esconde sua barriga minúscula enquanto ela
toma um gole de refrigerante. Ela é aberta, espirituosa e
amaldiçoa como um marinheiro, mas capaz de acalmar Travis
quando ninguém mais pode. Gostei dela imediatamente e sei
que Mia também gostará.

Leigh aparece, e eu a apresento a Summer como o


cavalheiro respeitável que sou, mas não posso evitar a maneira
como meu coração desanimado bate forte enquanto elas
apertam as mãos. Este dia inteiro era destinado a Mia e a mim.
Ela deveria estar aqui. Mia deveria ser a primeira garota que
eu apresentaria a Summer, Travis, a todos.

Eu preciso de outra merda de bebida.

As garotas vão ao banheiro, a terceira vez de Summer e


Travis se inclina para mim com o copo aos lábios. — A garota
quer transar com você. — Ele sussurra, agora que Summer
não está por perto. Eu não me incomodo em encontrar seus
olhos, mantendo meu olhar na faixa e minha mão firmando
meu joelho saltitante. — Ela também não é ruim de olhar. Ela
parece jovem, mas legal. Talvez uma bunda seja bom para
você, nada sério. Você está no limite.

— Cresça Trav. Meu pau não fica duro sempre que uma
mulher está por perto. — Não mais. Esse era o Ollie medicado,
aquele poluído com pílulas e despojado da moralidade.

De volta a Dolor, descobri muito sobre mim mesmo, a


hipersensibilidade. Para mim, um sussurro parece um grito,
um toque, uma violação e a energia que outros produzem me
consume. Eu preferia estar de volta ao motel, mas agora tenho
responsabilidades e pessoas para agradar, um trabalho a
fazer. E Travis sempre me lembra disso. Ele está apenas
tentando ser um amigo.

As meninas voltam assim que meu telefone toca. É Dex,


peço licença e me afasto da multidão para responder.

— Scott não tem outras propriedades além das duas que


você já sabe. — Dex confirma, que era o que me preocupava.
— Pode levar mais de oito semanas para identificar os corpos
do incêndio, mas eles estão confiantes de que um deles é ele.
Só não saberemos com certeza até depois de concluírem a
investigação. — Um silêncio se instala entre nós. — Olha,
Oliver. Vou continuar a investigar isso para você, mas temos
um policial desonesto que mencionou que Scott é um membro
da polícia, o que você não mencionou. Bem, eu não sei
exatamente no que você se meteu, mas se eu continuar
pesquisando, quero você oficialmente na minha folha de
pagamento. Você trabalha para mim agora.

— O corpo na cabana não é do Scott. Não pode ser.


Continue procurando. Vou continuar a trabalhar para você até
que Scott seja encontrado, mas estou lhe dando uma semana
para me conseguir uma pista, alguma coisa. Verifique os
aeroportos, câmeras de rua, tudo de Cheshire e Liverpool. Se
uma semana passar e você não tiver nenhuma merda,
considere este negócio anulado.

— Você vai ter que me dar mais. Por que você está
procurando por ele?
— Isso não é da sua conta. Apenas me encontre Ethan
Scott.

— Vou ligar de volta com sua próxima tarefa.

A ligação foi desligada e o desamparo percorre minhas


veias até chegar ao meu coração dolorido. Meus dedos cerram
em torno do celular, querendo enfiar meu punho no primeiro
objeto que meus olhos encontram, e antes que eu perceba,
estou dentro do bar, pedindo uma dose de uísque para
amenizar a dor. Por uma noite, não quero lembrar o quanto
dói. Estou cansado de esperar que Dex a encontre para mim.
Eu estou cansado de esperar que ela volte para mim. Estou tão
cansado de me sentir assim. Eu só quero passar da meia-noite
pela primeira vez sem o frio dentro do meu peito, sem os
pensamentos de nossos últimos momentos repetindo-se
continuamente na minha cabeça. Eu não posso aceitar que ela
está morta. Não posso aceitar que ela me deixou. A única coisa
que posso aceitar esta noite é uma dose de uísque ou três.

Travis me conduz para longe do bar e de volta ao jardim


onde a música está bombando, e a multidão está cada vez mais
turbulenta. As horas se passam enquanto o resto deles ri e
dança, e eu me abasteço de bebida enquanto lentamente
queimo neste inferno miserável, invisível para o mundo ao meu
redor.

Leigh tenta me puxar da cadeira, mas a única garota com


quem eu já dancei foi Mia.
— A garota dele o deixou. — Travis a informa
incorretamente. — Ele é um maldito desastre.

— Ela não me deixou. — Digo, mas minha voz engasga


com o aborrecimento.

— O que aconteceu? — Leigh pergunta, sentando-se ao


meu lado e movendo a mão para a minha coxa.

Eu deveria ter movido para longe, mas meu braço não


funciona corretamente. — Ela apenas... — Preguiçosamente
estalo meu dedo, — desapareceu. No ar.

— Bem, ela é estúpida por deixar você.

Inclino minha cabeça e estreito meus olhos para Leigh. —


Ela não me deixou.

— Ela morreu. — Travis sussurra, pensando que eu não


posso ouvi-lo, mas eu ouvi.

As feições de Leigh mudam e ela puxa sua cadeira para


perto de mim, muito perto, e move sua mão úmida sobre meu
braço tatuado.

— Você quer falar sobre isso? — É muita gentileza dela


perguntar. Em qualquer dia, eu gostaria de qualquer conversa
sobre Mia. Eu poderia escrever um livro inteiro sobre seus
olhos, seu sorriso, seu beijo, seus lábios, a maneira como ela
me faz sentir e como todos os homens do mundo juntos não
podem se comparar à sua força. Eu admiro Mia e o que ela é
capaz de fazer.
Uma lágrima escorrega do meu olho, rolo minha cabeça
para trás e empurro a palma da mão no rosto. O álcool não
está ajudando, e Leigh está perto demais para o meu gosto.

— Vou levá-lo para casa. — Ela se levanta e tenta me


puxar para cima junto com ela. — Está ficando tarde, e você
não deveria dirigir assim.

— Estou bem. Eu posso voltar andando. Não é longe.

— Ela está certa, companheiro. Deixe a garota levá-lo de


volta para o motel. — Travis concorda.

Ninguém me ouviu?

Nós quatro caminhamos até o estacionamento e, antes


que eu perceba, estou dentro do carro de outra pessoa quando
a voz de Leigh se torna um pano de fundo, fazendo perguntas,
respondendo-as sozinha e falando sobre minha poesia
trazendo nós dois juntos. Eu rio de seu absurdo. Leigh está
errada. Minha poesia está nas mãos de uma garota de espírito
sincero e coração reservado.

— Eu sinto que estou falando demais. — Ela diz com um


suspiro. Engraçado, eu não estava ouvindo. Não de verdade.
Em vez disso, meu foco permaneceu fora da janela do
passageiro, contando carros para ter certeza de que eu não
desmaiaria. Os faróis e postes passam zunindo e fecho os
olhos. Eu poderia fingir que estou em um ônibus espacial a
caminho das estrelas. Talvez Mia esteja lá, pairando entre o sol
e a lua, o único trio que eu imaginaria. — Estamos aqui, de
qualquer maneira.

Leigh entra no estacionamento do motel e é estranho que


ela nunca me perguntou onde estou hospedado. Ou talvez ela
tenha, e eu simplesmente não ouvi. De qualquer forma,
conseguimos e o carro para bem na frente do meu quarto de
motel, ao lado da minha Perua. — Obrigado. — Digo, puxando
a maçaneta da porta.

Saio do carro e na frente da porta, procurando


desajeitadamente pela chave do motel enquanto Leigh
caminha atrás de mim. Quando me viro, uma garrafa de
Hennessy4 aparece magicamente em sua mão direita, e ela a
segura ao lado do corpo e aperta com um sorriso tímido. —
Pensei que talvez pudéssemos nos conhecer um pouco melhor.
O que você diz?

— Eu digo que você tem uma ideia errada sobre mim. —


Já bêbado de álcool, espero que meu ponto seja entendido sem
soar como um idiota de classe mundial. — Eu não estou
procurando uma fuga rápida. Estou noivo e apaixonado por
alguém, felizmente.

Ela considera minhas palavras por um momento, por


muito tempo, e sinto meu mundo girar, talvez por causa da
bebida, então volto a tentar passar pela porta com a chave.

4 Conhaque francês.
— Só estou aqui para conversar, Oliver. Só uma amiga.
— Sua mão fria pousa na minha e ela tira a chave dos meus
dedos. — Deixe-me pelo menos levá-lo para dentro.

Rapidamente, penso em todos os cenários, nenhum deles


terminando de uma maneira que Mia se orgulharia. Eu poderia
deixá-la entrar, compartilhar um frasco de Hennessy, trocar
nossas cores favoritas e explicar o que significam minhas
tatuagens. Eventualmente, ela estaria bêbada demais para
dirigir e teria que ficar, e não há espaço para ela dormir que
não seja ao meu lado, o que é o melhor cenário. Todos os outros
terminam em sexo, e eu me recuso a ter uma garota tomando
qualquer parte de mim que não pertence a mim em primeiro
lugar.

Isso seria roubar.

O mundo gira comigo quando me viro para encará-la. —


Eu tenho isto. Está tarde. Você deveria estar indo para casa.
Agradeço a viagem, de verdade. — Estendo a palma da mão
para pegar a chave. — Tenho certeza de que você é adorável,
mas não vou permitir que vá além disso.
OITO

“Ele estava sempre muito ocupado sonhando e olhando para


as estrelas, mas ao contrário de todos os outros, as estrelas o
amavam de volta.”
− Oliver Masters

TRÊS DIAS SE PASSARAM desde que Ethan me resgatou do


incêndio que eu causei. Eu queria queimar com isso, morrer
durante o sono para poder estar com o homem dos meus
sonhos, Ollie, para sempre. Mas, mais uma vez, Ethan o tirou
de mim.

Meu plano de permanecer em conformidade saiu pela


culatra. Eu tentei fugir, mas o que as pessoas nunca parecem
perceber é que você nunca precisa correr para escapar de algo.
O homem em meus sonhos me ensinou isso. Ollie
continuamente fechava os olhos se precisasse escapar do
mundo cruel ao seu redor, muitas vezes me trazendo lá com
ele. Então percebi que as pessoas fogem todos os dias,
perdendo-se no trabalho, nos hobbies, nos hábitos ou no meu
caso, na minha cabeça.

O fogo foi minha maneira de fugir de Ethan.


Foi a única maneira que meu cérebro complexo entendeu
como fugir.

Ethan e eu mal tínhamos nos falado desde então. Ele me


levou para um apartamento abandonado e me trancou em um
quarto. O quarto parece comercial, e nada que anuncie que ele
era morado ou cuidado havia algum tempo. A única janela
neste quarto foi fechada com tábuas, deixando-me sem
nenhum ponto de referência para ver para saber onde estamos,
não que eu soubesse de qualquer maneira. O único lugar que
conheci foi Dolor desde que cheguei ao Reino Unido.

A cama aqui é maior, com buracos de queimadura no


colchão, e o teto está manchado de amarelo acima. Cheira a
fumaça de cigarro, e eu nunca tinha visto Ethan fumar. Estou
amarrada a esta cadeira, esperando pacientemente pelo
retorno de Ethan.

Faz três dias desde que eu tinha visto o sol, e eu tinha


esquecido como ele era na minha pele. Eu me pergunto se
algum dia verei ou sentirei de novo, mas se queimar minha
pele como o fogo, eu não gostarei de estar ali. Talvez eu esteja
melhor lá dentro.

Eu também não sei que horas são.

Ethan empurra a porta com sacolas nos braços, a chuva


escorrendo de seu cabelo e jaqueta de couro, e ele para assim
que nossos olhos se encontram.
— Isso é apenas temporário. — Diz ele, lendo meus
pensamentos e olhando para mim como se eu fosse um grande
erro. Um arrependimento. Ele se arrepende de me salvar
também?

Ele coloca as sacolas sobre a cômoda, e inclino minha


cabeça para vê-las cheias de lanches para passarmos a noite.
Viro minha cabeça para frente novamente enquanto ele
caminha em minha direção, agacha-se entre minhas coxas e
se inclina para tirar a fita adesiva da minha boca.

— Não estou com fome. — Sussurro baixo, e os músculos


de seu pescoço flexionam em resposta.

Ethan ergue a cabeça e seu rosto está a centímetros do


meu. Seus olhos disparam para frente e para trás, e ele respira
fundo. — Você precisa comer. — Diz ele lentamente com uma
sinceridade delicada em seus olhos, o tipo misturado com
desejo. Eu tenho que me lembrar de que ele me forçou nesta
posição, e meu coração está com alguém que eu claramente
imaginei, totalmente estúpido. Como me apaixonei por uma
pessoa que nem é real? Como diabos eu dei meu coração a um
personagem fictício?

Ele se levanta, tira a jaqueta de couro e pendura-a em um


gancho ao lado da porta do quarto antes de ligar o aquecedor.

— Escute, Mia. Eu sei que a semana passada não foi fácil,


mas você tem que saber que não vou deixar nada acontecer
com você. — Ele se vira para mim e coloca a mão sobre o
coração. — Eu não sou seu inimigo.
— Então me deixe ir. — É fácil dizer, e eu já sei a resposta,
mas não quero que ele pense que quero estar aqui com ele, que
gosto de ser mantida contra a minha vontade, apenas no caso
de o incêndio não ser prova suficiente.

— Você sabe que não posso fazer isso.

O tom de sua voz soa como se ele estivesse falando baixo


comigo. Estamos de volta ao irmão mais velho e à irmã mais
nova. De todos os papéis que desempenhamos, irmão e irmã
são os piores. Não gosto de ouvir o que fazer. Eu não gosto de
ser rebatida como se não conhecesse nada melhor. — E por
que não? — Inclino-me para frente e os nós cravam em minha
carne, mas não me importo mais. — Eu queria morrer! Você
tirou isso de mim. Tudo que eu queria era estar com ele!

Ethan fica parado perto de mim, levantando uma


sobrancelha. — Com quem?

Contar a ele seria estúpido, mas não tenho mais nada a


perder neste momento. Ele já acredita que eu estou louca. —
Ollie.

Ethan cai de joelhos diante de mim e agarra meus


ombros, seu rosto vermelho. — Masters não se importa com
você. Você quer saber a verdade, Jett? — Ele puxa o celular do
bolso da calça jeans e seus dedos digitam no teclado. A luz da
tela reflete em suas pupilas dilatadas e enfurecidas. — Veja!
Diga-me o que você vê! Porque, ao que parece, seu príncipe
encantado parece que está se divertindo muito sem estar
procurando por você.
Ele aperta um botão e o telefone clica em uma tela preta,
mas a imagem já havia queimado em meu cérebro. Oliver
Masters foi a primeira sessão de autógrafos em Londres, na
Daunt Books. É o homem dos meus sonhos, apenas diferente.
Ele é a mesma criança de ontem, com o cabelo castanho
rebelde e olhos verdes ferozes, mas está vestido com uma
camisa preta de botões e jeans sob medida com um sorriso
forçado. Sua altura é maior que a de duas outras mulheres
enquanto ele segura um livro com o rosto na capa.

— Ele é real.

— Sim, um verdadeiro mentiroso, se você me perguntar.


— Ethan guarda o celular no bolso e volta seus olhos para os
meus. — Me escute, Jett. Ele tem mentido para você e para
todos os outros o tempo todo, fazendo movimentos para
construir uma vida sem você. Eu não queria te dizer isso,
especialmente agora. Mas você precisava saber.

Eu não o imaginei. Ele é real. Ele é meu.

Eles não eram sonhos que eu estava tendo. Eles eram


memórias.

— Minha mãe uma vez me disse que as pessoas entram


em sua vida por um motivo, uma temporada ou uma vida
inteira. Masters era apenas uma temporada, uma maneira de
passar o tempo e torná-la suportável. Você está comigo por um
motivo.

— Não, você está errado.


— Isso se parece com alguém que te ama? — Ethan
balança a cabeça e coloca os dedos ao redor das minhas coxas.
— Sinto muito, Jett. Ninguém está procurando por você.
Ninguém mais dá a mínima para você. Para todos os outros,
você. Não. Há. Ninguém. É você e eu agora. Precisamos ficar
juntos. Eu cuidarei de você.

Cada palavra é uma faca no peito. Cravo meus dentes em


meu lábio inferior para roubar a dor de dentro e impedir meu
lábio de tremer. Eu tinha ouvido Ethan, alto e claro. As
palavras foram registradas, mas ainda não consigo entender.
Ollie não está procurando por mim. Ninguém se importa que
eu tenha ido embora.

— Meu pai não está procurando por mim?

Ethan solta uma risada desanimada. — Qual deles?

Inclino minha cabeça para trás e pisco as lágrimas dos


meus olhos.

— O que você quer dizer?

— Lynch ou Bruce? Seu pai biológico ou falso? E não,


nenhum deles está procurando por você.

— Você está mentindo.

Ethan levanta uma sobrancelha. — Você não sabia?

— Isso é demais. — Eu puxo as restrições novamente,


implorando para sair delas. A cadeira balança e Ethan segura
meus braços para me manter quieta. Estreitando meus olhos,
olho diretamente para os dele e grito através das lágrimas
incontroláveis:

— Você quer me dizer que sabia todo esse tempo que


Lynch era meu pai, e você não disse nada? Você é tão
mentiroso quanto todo mundo! — A cadeira balança para
frente e para trás enquanto eu me debato.

— Você precisa se acalmar, Jett! Você vai se machucar.


— Seu aperto aumenta, tentando me manter parada até que
finalmente, ele se inclina e libera minhas mãos, então meus
tornozelos. — Não era da minha conta! Achei que Masters
tinha te dito, ele disse que deveria ser ele, e que Lynch perdeu
a chance.

Eu congelo e um caroço feito de engano se aloja na minha


garganta.

— Ollie sabia?

— Eu sinto muito. — As mãos fortes de Ethan se movem


para cima e para baixo em meus braços pesados, e ele balança
a cabeça. — Deus, eu sinto muito mesmo. Pensei que você
soubesse.

A náusea agita meu estômago, e meu coração parece que


está tentando sair do meu peito com as garras. Uma fúria toma
conta de mim, controlando meus próximos movimentos, e eu
o soco no peito. — Você é o mentiroso! — Grito. — Você é quem
está enchendo minha cabeça! Saia da minha cabeça! — Mais e
mais, meu punho pousa em seu peito duro, liberando a fúria
muito atrasada. — Eu te odeio. — Eu choro.

Algo se abate sobre mim naquele momento, como uma


bomba atômica explodindo dentro da minha cabeça, me
lembrando de minhas circunstâncias. Ollie e eu éramos
noivos. Eu deveria conhecê-lo. Íamos decolar juntos e nos
casar. Eu tinha um encontro no tribunal, certo? Os últimos
dois anos foram para nada? Muitos pensamentos, cada um
dirigindo minha mão em seu peito, ombros, estômago,
qualquer coisa que eu pudesse colocar minhas mãos, e Ethan
não tinha se movido ou me parado.

A surra continua até que eu desmorono em seus braços


e ele me embala no chão do quarto escuro, sentindo o gosto de
minhas próprias lágrimas salgadas e o cheiro de sua colônia
misturada com a fumaça do cigarro. Por um segundo, desejo
que o mundo inteiro pare para que eu possa ter mais do que
um batimento cardíaco para colocar essas peças de volta na
minha cabeça.

— Senti nossa falta, Jett. — Sussurra ele. — Nós


precisamos um do outro.

— Todo mundo é um mentiroso. — Eu choro. — Até eu


tenho mentido para mim mesma esse tempo todo, acreditando
que ele não poderia ser real. Que se fosse ele teria me
resgatado.

— Resgatado você de quê? Eu te disse, nunca vou deixar


nada acontecer com você. Você está segura comigo. Eu
prometo. A única razão pela qual eu te mantive amarrada,
continuei colocando você para fora toda vez que você fugia era
porque você está um pouco fodida da cabeça se você não
percebeu, mas você é meu tipo de fodida. Tenho medo de que,
sem mim, você vá se matar, ou pior.

— O que é pior do que a morte? — Grito, olhando para


ele.

O peito de Ethan cede sob minha cabeça e seus dedos


empurram os fios molhados do meu rosto. — Eu vou te mostrar
amanhã. — Ele diz, então tira a camisa, expondo seu peito
esculpido. — Esta noite, estou aqui, Mia. Eu sou o único aqui
para você. — Ele pega uma colcha que trouxe junto com nossas
malas, enrola em torno de nós, me deita sobre seu peito e nos
leva pelo chão.

Choro até dormir, envolta nos braços do meu cobertor de


segurança.

Na manhã seguinte, rapidamente tomo banho no


banheiro conectado ao quarto. No espelho, meus olhos
inchados mostram a prova da minha longa noite de choro, mas
eu não tenho espaço para me importar. Fico parada, a água
pingando no azulejo, esperando que Ethan traga minhas
roupas que ele lavou.

Ethan empurra a porta e coloca uma pilha


cuidadosamente dobrada de roupas e uma toalha sobre o
balcão do banheiro antes de olhar para mim.

— Você tem cinco minutos. Há uma última parada antes


de irmos para o aeroporto.

— O aeroporto? — Pergunto, pegando a toalha para me


secar. Para onde estamos indo? Esta notícia é amarga, mas
doce. Significa voar possivelmente para mais longe do que onde
quer que Ollie esteja, mas também para mais longe de um
lugar sem mentiras e engano.

— Eu tenho um plano. Há um barco esperando por nós


nos Estados Unidos. — Explica ele, os olhos seguindo cada
movimento meu.

Coloco minha calcinha. — Um barco?

— Sim, agora vamos. Não temos muito tempo.

Depois de me vestir e secar meu cabelo com a toalha


ajudo Ethan a arrumar o carro e espero no banco do
passageiro enquanto ele volta para dentro do apartamento
para terminar algumas coisas de última hora. O sol está forte,
penetrando pela janela do carro e acariciando minha pele
sensível. Se eu quisesse fugir, agora seria a hora. Ethan
confiou totalmente em mim, me deixando abandonada com a
oportunidade. Mas eu não tenho para onde ir e ninguém para
onde voltar. Ollie está indo muito bem sem mim, vivendo seu
sonho de poeta, conhecendo pessoas, tirando fotos e
autografando livros. Bruce, meu falso pai, tem Diane, minha
madrasta, e eu não sou nada além de um fardo em sua vida.
Uma complicação. Lynch nunca se preocupou em me dizer.
Faz sentido agora, por que Bruce me mandou para o exterior
nas mãos do meu pai verdadeiro, pensando que eu era um
problema de Lynch para lidar e não mais dele.

Embora eu tivesse pego Ethan matando o garoto em


Dolor, eu também sou uma assassina.

Talvez ele tivesse um bom motivo, um motivo pelo qual


estou determinada a aprender mais.

Ethan é minha aposta mais segura por enquanto, até que


eu possa descobrir tudo isso.

Ele entra no carro, nem um pouco surpreso por eu ainda


estar sentada aqui, esperando por ele, e liga o aquecedor.

— Está com frio? — Ele pergunta, inclinando-se atrás do


banco de trás. — Aqui.

Meu moletom cai no meu colo, meu moletom POÉTICO.


— Onde estamos indo? — Pergunto, deslizando pela minha
cabeça.

— Há alguém que eu quero que você conheça.

A viagem até Wirral dura cerca de quarenta minutos.


Ethan havia derramado todas as suas verdades, começando
com Livy sendo sua irmã e terminando com a resposta à minha
última pergunta: que dia é hoje?

— Dezessete de abril. O dia da liberação foi há duas


semanas.

Duas semanas. Eu oficialmente perdi meu encontro no


tribunal e não poderia voltar para casa agora, mesmo se
quisesse.

Duas semanas. Parece que foi há décadas quando fiz


amor com Ollie, sentindo seu toque, ouvindo sua voz, sentindo
seu cheiro.

Duas semanas desde que alguém mentiu para mim


também. Eu tinha passado pela cabeça de Ollie desde então?
Ele está pensando em mim? Ele se preocupou que algo terrível
aconteceu comigo? Forço esses pensamentos para longe. Claro,
ele não está pensando em mim. Oliver Masters está muito
ocupado aproveitando sua nova vida. Uma que ele nunca
mencionou antes porque nunca planejou compartilhá-la.

Ethan mentiu para mim também, mas por um bom


motivo. Ele me contou o que aconteceu com sua irmã, Livy. Os
quatro caras em Dolor a assassinaram, e ele estava fazendo
justiça em seu nome, resolvendo o assunto com as próprias
mãos. Em algum nível sádico, eu entendi Ethan.

— Você se lembra de quando você e eu nos sentamos


embaixo daquela árvore e juramos que sempre estaríamos lá
um para o outro, embora eu estivesse deixando o país? Uma
promessa mínima? — Ethan se vira para mim, um pequeno
sorriso iluminando seu rosto com a memória. Balanço a
cabeça, puxando as mangas sobre minhas mãos para me
aquecer. — Estas são as circunstâncias em que estamos Jett,
quer você goste delas ou não. Nunca planejei levar você comigo,
mas vamos aproveitar ao máximo. Eu posso te fazer feliz. Eu
sei isso. Você apenas tem que me encontrar no meio do
caminho. Você é minha família, lembra?

Olho para fora da janela. Está nebuloso, o calor de dentro


do carro competindo com a chuva fria pressionando de fora.

— Só não minta para mim. Eu não aguento mais


mentiras.

Ethan para em um estacionamento, passando por uma


placa curva marrom, lendo: “Birch Tree Manor”. O grande
prédio de tijolos me lembra de uma escola nos Estados Unidos,
tijolos amarelos na parte superior, laranja na parte inferior,
com janelas brancas. O carro para e Ethan se vira para mim.

— Deste ponto em diante, não há mais mentiras. Vou lhe


contar tudo o que você quiser saber e vai ser muito para
aceitar, mas tudo que você precisa fazer é pedir. — Ele estende
o dedo mindinho. — Eu juro, Jett. E você jura me encontrar
no meio do caminho.

Nosso dedo mindinho está ligado, mas eu não gosto. Não


como eu fazia antes.
Lado a lado, passamos pelas portas da Birch Tree Manor,
sem saber o que está esperando por nós. O interior cheira a
uma creche mergulhada em naftalina, e a senhora que
trabalha na recepção cumprimenta nós dois com um sorriso
cético, o cabelo castanho repartido cuidadosamente ao meio e
achatado atrás dos ombros.

— Eu me perguntei se algum dia veria você aqui de novo.


— Ela diz a Ethan, os olhos se movendo dele para mim,
decidindo se sou uma ameaça ou não. — E quem é essa?

— Esta é minha namorada, Rebecca. — Ethan me


apresenta, jogando um braço em volta do meu ombro e
olhando para mim com um sorriso orgulhoso. — Como está
minha mãe?

A garota franze a testa, empurrando uma prancheta para


frente. — Oh, você sabe... — Ela acena com a mão na frente
dela, tentando mascarar a decepção em seu rosto. Já faz muito
tempo que não estou perto de estranhos e, felizmente, não
havia perdido minha capacidade de ler a linguagem corporal
por completo. — Não mudou muito desde a última vez que você
esteve aqui. Mas suponho que muita coisa mudou para você
no ano passado.

Fico ociosa no meu lugar, olhando para o interior colorido


enquanto os dois continuam com uma conversa fiada, então
Ethan agarra minha mão enquanto a recepcionista nos conduz
por um corredor. — Sua mãe tem gostado da sala de mídia
ultimamente. — Ela continua a dizer, e cada corredor que
passamos tem paredes, portas e temas de cores diferentes. Por
fim, entramos em uma sala com papel de parede amarelo de
girassol, cortinas amarelas combinando e uma coleção de
pessoas idosas. Uma grande janela ilumina toda a sala, onde
o sol brilha depois da chuva, lançando raios sobre as almas
que estão à beira da morte.

— Ah, aí está ela. — A recepcionista gesticula para uma


senhora ruiva sentada com um grupo, jogando damas. — Ela
vai ficar tão feliz em vê-lo.

A mão de Ethan aperta a minha. — Realmente?

— Bem, tivemos alguns bons dias no ano passado. Ela


perguntou sobre você uma ou duas vezes. Vamos ver se a
pegamos em um bom dia.

Ocorre-me que a ruiva é a mãe de Ethan, que ele não vê


há mais de um ano, e toda a situação parece muito pessoal
para eu me envolver. Estou me intrometendo e não deveria
estar aqui. A palma da mão de Ethan sua na minha enquanto
ele caminha em direção a ela, e me viro para detê-lo.

— Eu posso esperar no carro. Você precisa deste tempo


sozinho com ela.

— Preciso de você, Jett. — Sussurra ele, olhando para


frente, admirando a mulher que lhe deu a vida. Nós nos
aproximamos até que paramos diante da mesa. Ninguém ergue
os olhos da mesa para nos reconhecer.
A recepcionista dá um tapinha no ombro da mulher mais
velha e aponta para Ethan e eu. — Mary, olha quem veio visitá-
la. — Ela diz cautelosamente com uma quantidade ainda de
entusiasmo, como se estivesse falando com uma criança. — É
Ethan, seu filho.

Mary tem o mesmo cabelo ruivo de Ethan, embora o dela


seja ralo e sem brilho. Seus olhos são de um azul pálido contra
sua pele ainda mais pálida, e seus lábios finos se abrem em
um grande sorriso, os cantos de seus olhos enrugando
enquanto ela admira o homem parado ao meu lado. — Ethan?
— A voz de Mary sai cansada e áspera, e Ethan aperta minha
mão com mais força. — Eu tenho um filho?

— Oi, mãe.

Eu nunca tinha visto Ethan tão nervoso. Ele geralmente


é calmo, composto e inquebrável. Mas quando seus olhos
batem em sua mãe, ele imediatamente se torna vulnerável à
mulher sentada diante dele.

— Olhe para isso, Ellen. — Mary bate palmas. — Eu tenho


um filho e ele é tão bonito.

— Eu estarei de volta à mesa se você precisar de mim. —


Afirma a recepcionista enquanto as senhoras mais velhas ao
redor da mesa concordam antes de ela se afastar.

Ethan solta minha mão e eu me levanto desajeitadamente


enquanto ele ocupa uma cadeira vazia ao lado de Mary. —
Como você tem estado? — Seus olhos brilham para a mulher
enquanto ele esfrega as mãos na frente de sua calça jeans. —
Este lugar está te tratando bem?

— Sim, senhor. É como um grande feriado aqui, embora


George provavelmente esteja dormindo em algum lugar. Você
conheceu George, meu marido? Eu posso ir acordá-lo. Ele
deveria conhecer você e sua linda...

— Mia. — Ethan diz rapidamente, acenando para mim. —


Esta é Mia, mãe.

Aproximo-me e Mary estende a mão. — Bem, prazer em


conhecê-la, querida. Você não é apenas a garota mais bonita
que eu já vi. — Sua mão fria dá um tapinha no topo da minha.
— Ellen, você poderia olhar para ela. Beleza natural bem aí,
vou te contar. Hoje em dia, as meninas cobrem sua beleza com
maquiagem e besteiras. No entanto, você deve visitar o salão
que temos aqui. Eles poderiam embonecar esse seu cabelo,
torná-lo mais chique.

— Sim, muito elegante. — Ellen acena com a cabeça com


a mão trêmula, alcançando uma peça preta de xadrez na mesa.

Mary bate na mão de Ellen. — Não pense que não estou


te observando, esse menino pode estar cegando minha visão,
mas não meus sentidos. Você não pode passar por mim.

Eu rio, algo que não sou capaz de fazer há muito tempo.

Mary aponta um dedo trêmulo para Ellen. — Essa Ellen,


vou te dizer uma coisa. Você tem que se cuidar com essa.
Nunca jogou um jogo honesto em sua vida.
Olho para Ellen, que continua a acenar com a cabeça e
concordar com sua amiga.

— Mãe, vamos dar um passeio no jardim. Levar você para


fora um pouco, certo?

— Sim, certo, bonito. E, Donald, — Mary joga uma caixa


para um cavalheiro que olha aturdido para fora da janela para
chamar sua atenção. — Observe Ellen enquanto estou fora,
ok?

— Tudo bem. — Assente Donald, mastigando os


folheados, os grandes óculos de aro marrom cobrindo o rosto.

Ethan empurra sua mãe em uma cadeira de rodas pela


grama até que estacionamos perto de uma mesa de concreto
cercada por bancos. Seu pé puxa os freios da cadeira de rodas,
certificando-se de que ela não saia, e eu me sento no banco,
seguindo o exemplo de Ethan. Ele puxa um grande casaco
firmemente em torno do corpo pequeno de Mary enquanto
nuvens brancas aparecem com cada respiração que ele respira
entre eles.

— Você ouviu sobre aquele incêndio na cabana em


Cheshire? Dois mortos, eles dizem, — Mary balança a cabeça,
— uma pena.

Dois mortos? Meus olhos se voltam para Ethan, e ele não


parece chocado com as mesmas notícias que estou ouvindo.

— Você não deveria estar assistindo ao noticiário, mãe. —


Ethan aponta, ignorando meu olhar descarado e sentando-se
ao lado dela, sentando no banco. — Você deveria estar se
divertindo.

— De que outra forma eu vou saber o que está


acontecendo no mundo?

— Você não deveria, você faz isso há muito tempo. É


perfeitamente normal não ter que se preocupar com os outros.
Aproveite seus dias. Cada um deles. Por mim.

— Então me fale sobre você, sim? Ponha-me à vontade


com algumas boas notícias desta vez. — Mary mantém os olhos
afastados, sua mão na de Ethan e meu coração aperta dentro
do meu peito.

— Mia e eu vamos para os Estados Unidos depois que


sairmos daqui. Vamos de barco, que tal boas notícias?

— Você está levando sua irmã? Você não pode deixá-la


para trás, Ethan. Olivia precisa de você agora. Ela não está
muito bem. Eu sempre disse que era por isso que tinha dois
filhos. No caso de alguma coisa acontecer comigo e George,
você e minha Livy teriam um ao outro. Você tem que empurrá-
la através disso, a escuridão a levou para baixo, mas você pode
conduzi-la para fora. Eu sei que você pode. — Ela suspira,
balançando a cabeça antes de se virar para Ethan. — A
depressão não é um negócio engraçado. Não é algo para tratar
levianamente. E não é que ela também não se importe com
você, você tem que se lembrar disso. A depressão não significa
mais não se importar. É se preocupar muito por muito tempo.
São aqueles com os maiores corações, dando muito para
muitos que acabam no escuro, — ela se vira para olhar para
Ethan, — seja o farol dela.

As lágrimas caindo são como fogo contra minhas


bochechas geladas, e minha visão turva segue em direção a
Ethan, cujas bochechas estão vermelhas. Ele olha brevemente
para mim e rapidamente enxuga uma lágrima antes que tenha
a chance de cair. Sua mãe não tem ideia de que ela está morta
há mais de dois anos.

— Eu sei, mãe. Eu sei. — Ethan faz uma pausa para se


recompor. — Ela sempre estará comigo, onde quer que eu vá,
você pode ficar tranquila sabendo disso.

— Bom. — Ela dá um tapinha no topo da mão dele


novamente. — Agora me fale sobre esta viagem. Haverá um
casamento no futuro? — Ethan ri através de uma fungada e
olha para mim. — Sabe, eles dizem que o amor à primeira vista
não é real. Mas isso é uma maldita mentira, se você me
perguntar. E deixe-me te dizer uma coisa, Mary...

— Mia. — Ethan a corrige com uma risada. — Mary é o


seu nome.

— Certo, bem, em qualquer caso, as pessoas entram em


sua vida por um motivo, uma temporada ou uma vida inteira.
Uma mulher leva apenas cinco segundos para saber que está
olhando para sua vida. Agora, diga-me querida. Quanto tempo
você demorou a perceber que estava olhando nos olhos de sua
eternidade?
A morte do silêncio pousa no espaço entre nós três. Um
par de olhos azuis combinando olha para mim enquanto eu
contemplo minha resposta. Ethan não pode mentir para ela, e
eu também não. — Três segundos. — Sussurro, lembrando-me
do momento em que cruzei os olhos com Ollie no refeitório no
meu primeiro dia em Dolor. — Demorou apenas três segundos.
NOVE

“Você sorri, fazendo amor doce para minha alma seca e


demente, e me matando suave e lentamente.”
− Oliver Masters

VER mamãe foi muito mais difícil do que eu esperava,


especialmente porque era um adeus. Ela se esqueceria de
nossa visita pela manhã, o que me deu uma sensação de paz
enquanto Mia e eu saíamos de Birch Tree Manor para o carro.

— Sua mãe parece uma boa pessoa. — Mia atira para o


ar quando estamos de volta às estradas principais em direção
ao aeroporto, e eu assinto. Ela não fala há vinte minutos, e
esse pequeno elogio sobre a mulher que me criou é apenas uma
porta para mais perguntas sobre o incêndio na cabana e os
dois corpos que minha mãe mencionou.

Eu temia que Mia mencionasse o fato de que foi a cabana


da minha mãe que ela colocou fogo. A cabana onde minha mãe
e meu pai passaram memórias durante as férias. Pelo menos
ela poupou a pobre mulher dessa notícia, se minha mãe sequer
se lembre. Ainda assim, Mia segurou a língua, mas seu olhar
pesado foi difícil de ignorar. Felizmente, mamãe mudou
rapidamente de assunto, levantando a tensão.

Mamãe tem esse efeito nas pessoas. Eu sentirei falta dela.

No canto do meu olho, Mia balança a cabeça, incapaz de


ficar parada. — Como pode ter havido duas mortes, Ethan?
Não entendo. Eles pensam que estamos mortos? Isso não faz
sentido. Se estamos aqui, então os corpos de quem eles
encontraram?

Aí está. A pressão das perguntas de Mia é como se


pesasse meia tonelada e estivesse sentada no meu colo,
despejando cimento na minha garganta. A temperatura lá fora
está na casa dos dez graus Celsius, mas ainda abaixo a janela,
precisando de mais ar no espaço sufocante.

— Não me ignore. Sem mais segredos, lembra?

Parece que minha marionete cortou outra corda e estou


perdendo o controle dela. Ela está virada em seu assento, de
frente para mim com as mãos acenando na frente dela
enquanto mantenho minha atenção na estrada. As perguntas
continuam chegando, e eu não consigo encontrar uma
explicação que não me faça parecer menos monstro. Só faltam
vinte minutos para chegarmos ao aeroporto de Liverpool e, se
não conseguir conter esse problema, não sei como conseguirei
colocá-la no avião em conformidade.

Um Frankie & Benny's está à frente e eu paro no


estacionamento e desligo o motor. Meus olhos pousam em
suas duas mãos apoiadas em sua coxa, eu as pego, aquecendo-
as entre as minhas, pensando no que direi. Eu não posso
perdê-la. Eu li seu arquivo psicológico em Dolor para entendê-
la melhor. Mia responde positivamente ao toque. Investi muito
tempo nessa garota. Eu estudei essa garota. Eu consolei essa
garota. Eu me inclinei para trás e atrapalhei meu plano por
essa garota. Então Masters voltou e interveio. Se não fosse por
ele, Mia e eu provavelmente estaríamos romanticamente juntos
neste exato momento. Mas eu me conformarei com o que ela
me der agora, e o resto virá com o tempo.

Fecho meus olhos, absorvendo tanto oxigênio quanto


meus pulmões permitem antes de olhar em seus assustadores
olhos castanhos. Então eu o solto, lento e firme. — Você se
lembra da história que contei sobre Ashlyn?

Mia assente com impaciência.

— Como ela tem algo a ver com isso?

— Tudo. Eu não poderia deixá-los viver, não depois do


que eles fizeram. Os dois corpos que encontraram no fogo eram
o pai de Ashlyn e sua companheira. Eu matei os dois. Por uma
série de razões. — Uma pausa abrupta acontece entre nós dois.
Seus olhos congelam fixos nos meus. Espero por uma reação,
mais do que o olhar prolongado. Possivelmente gritar por
socorro ou tentar escapar do carro. Se Mia quisesse total
honestidade, eu também deveria ter dito a ela que o
apartamento que dormimos nas últimas noites era o do pai
morto de Ashlyn também, mas isso é longe demais, e ela não
tinha perguntado especificamente.

Mia puxa a mão do meu aperto e olha para mim como se


estivesse me vendo pela primeira vez.

— Mia. — Pego a mão dela e ela a puxa para longe. Meus


dedos empurram meu cabelo. Preciso nos puxar de volta para
onde estávamos trinta segundos antes. — Fale comigo.

Seu queixo se ergue, estudando cada movimento meu o


que é decepcionante. Ela está perdendo a pouca fé que resta
em mim.

— Quais foram seus motivos?

Eu exalo. Talvez não. Mia quer me ouvir. Isso é bom.


Dando um mergulho, pego seu colo e ela não se mexe. Minha
palma pousa entre suas pernas e agarro sua coxa minúscula
em uma mão, dando-lhe o toque que ela precisa para passar
por minha próxima confissão. Seus músculos relaxam, e eu
continuo. — O motivo mais importante foi para Ashlyn. Eles a
deixaram lá para morrer, para se salvar. Que tipo de pai faz
isso, Jett? — Um ponto dolorido que Mia entende bem e
balança a cabeça, processando. Eu vejo em seus olhos, a
maneira como ela está tentando resolver o problema em sua
cabeça. — Em segundo lugar, eu precisava testar a droga para
realizar minha vingança em Dolor. Mas eles mereceram. Todos
eles mereciam porra.
Minha mão está praticamente implorando neste
momento, tendo uma mente própria e movendo-se por baixo
do capuz para encontrar a pele. Ela só precisa me deixar
entrar. Então ficaremos bem. Minha mão descansa sobre seu
quadril e dou um aperto suave.

Mia solta um suspiro superficial.

— Quantas pessoas você matou?

É uma pergunta simples, com um número como resposta.


— Você tem que acreditar em mim quando digo que não tiro a
vida de pessoas que não merecem.

— Ethan. — Sua voz dispersa, — quantas?

Eu respiro fundo e esfrego meu polegar em sua barriga.


— Seis. — Eu seria capaz de nomear todos eles também, e cada
pessoa em sua família imediata, seus endereços, como
preferiam seu chá...

— Seis? — Ela ri, mas é vazio, e eu a perco. — Você é um


assassino em série certificado, sabe disso, certo? — Ela olha
ao redor da cabine do carro, os olhos esbugalhados. — Eu não
sei por que a extensão desta situação não me atingiu antes,
mas você é um assassino em série. Na verdade, estou fugindo
com você, um assassino em série. Você é um assassino em
série, Ethan! Você mata pessoas. Pessoas! Mais de uma! Você
assassinou pessoas.

Não importa quantas vezes ela diga isso, não muda nada.
— Seis. — Eu confirmo. — Seis vidas que mereciam.
— Então, isso torna tudo bem?

— Eu não disse isso. — Eu nunca pedi por isso. O


assassinato de Livy me ensinou muito. Qualquer um pode ser
capaz de qualquer coisa quando a dor se mistura com a raiva.
No meu caso, nasceu um monstro implacável. Mia me olha de
soslaio quase como se ela não pudesse olhar para mim, mas
quero ter certeza de que ela sabe onde minha outra mão está
o tempo todo. Eu ainda tenho uma presa em seu quadril para
nos manter conectados, para mantê-la comigo. — Não vou
machucar você, Jett. Eu. Amo. Você. Você não vê isso agora?
Se os papéis se invertessem e você estivesse de fato
desaparecida, eu estaria preenchendo cada porra de relatório,
batendo em todas as portas, sem parar diante de nada para
encontrar você. Sim, eu até mataria por você. Isso é o quanto
eu me importo com você. Nem Masters, nem a porra do seu pai
ou Lynch. Eu!

— Isso é muito. — Uma lágrima escorrega de seu olho e


me inclino para pegá-la com o polegar.

— Eu sei. — Dois passos para frente, dez passos para


trás. Coço meu queixo, um hábito nervoso, desejando poder
usar minhas mãos para desvendar todas as suas
preocupações.

Então ela acrescenta baixinho: — Você sentiu isso? O


silêncio?

Minhas sobrancelhas se juntam. — O que você quer


dizer?
— Deixa ‘pra’ lá. — Ela murmura, olhando para o
estacionamento.

— Vamos tomar café da manhã, certo? Vá devagar. Você


pode me perguntar o que quiser.

Mia pede as panquecas com chocolate e banana. Ela


geme com cada mordida, pálpebras tremulando, e decido que
seu arquivo psicológico estava incorreto. Não é o toque que a
acalma. É comida. Em segundos, ela limpa o prato como se
não comesse há dois anos.

Quando eu disse a ela que ela poderia me perguntar


qualquer coisa, não quis dizer sobre a porra do Masters.
Pergunta após pergunta, e cada uma gira em torno do idiota,
algumas sobre Lynch. Ela está tão interessada em ver o livro
de poesia de Masters, a capa, os artigos de notícias e navegar
pelo meu celular, lendo todas as resenhas. Masters mentiu
para ela e seu rosto se iluminou na tela como uma namorada
satisfeita. Ela nunca tinha me olhado assim antes. Ela nunca
irá? Masters fez algo por si mesmo, e a única coisa que eu
consegui no ano passado foi assassinato.

No aeroporto, Mia fica em silêncio ao meu lado enquanto


fazemos o check-in na alfândega. Cada passo mais perto do
terminal, minha consciência fica cada vez mais pesada. Algo
muda dentro de mim. Talvez seja por ver minha mãe hoje, ou
talvez porque amo Mia o suficiente para estar disposto a deixá-
la ir. De qualquer forma, uma vez que embarcarmos no avião,
não há como voltar atrás. Ela também sabe.

As pessoas passam por nós, correndo para pegar o voo


enquanto Mia e eu ficamos desajeitadamente na área de espera
para embarcar no avião. Meu punho se aperta ao redor da alça
de nossa mochila. Não temos outra bagagem, mas é tudo o que
precisamos. Não há um segundo desperdiçado, cada um deles
pensando nas próximas palavras que eu direi. Nas últimas
duas semanas, tive a certeza de reunir todas as evidências
para mostrar a Mia que merda Masters e Lynch são, dando
todos os motivos para desprezá-los para trazê-la aqui, neste
aeroporto, por sua própria vontade. Mas eu fui um idiota o
tempo todo. Seu vínculo é muito forte. Mais forte do que o dela
e o meu jamais poderiam ser. Percebo que não há nada que eu
possa dizer para impedi-la de amá-lo. Não importa quanto
tempo Mia e eu estivermos juntos, um ano, cinco anos, vinte
anos, ele nunca irá embora. Oliver Masters a manchou de
forma permanente.

Para ser o cara bom pela primeira vez, preciso deixá-la


saber que ela tem essa única oportunidade de ir embora. Darei
a ela a opção agora, e se ela não tomar, será possível que eu a
guarde para sempre.

— Mia.
— Está tudo bem, Ethan.

— Você pode ficar com meu carro. Você deveria ir até ele.

Ela olha para mim sob os cílios pesados.

— Não, você estava certo. Ollie é um mentiroso. Ele nunca


me amou. Nunca se preocupou em procurar por mim.

— Mas...

Ela coloca a mão no meu braço para me impedir. — Eu


estou indo com você.

Meu coração dá um pulo, o Monstro dá vivas e nosso


destino e número do voo tocam pelo interfone, avisando aos
passageiros que é hora de embarcar. Mia puxa a mão e,
embora eu esteja satisfeito com sua decisão, também estou
preocupado em olhar aqueles olhos desanimados pelo resto da
minha vida.

Treze horas depois, chegamos ao aeroporto JFK em Nova


York, mas ganhamos cinco horas de volta devido à mudança
de horário, sendo seis da noite. Cerca de uma semana atrás,
Dean me enviou a localização do meu novo carro, que está
esperando no estacionamento do aeroporto com nossas novas
identidades localizadas dentro do porta-luvas. Eu nunca
questionei ou duvidei de Dean, mas ainda estou pasmo com
ele e as coisas que ele é capaz de fazer. Ele tinha feito o
trabalho e eu devo muito a ele.

Mia também não questionou. Na maior parte, ela ficou


quieta durante toda a viagem. Totalmente exausto, olho para
Mia de dentro da cabine do novo Supra preto. Seus olhos têm
a mesma cor vermelha e peso que os meus certamente têm. —
Você quer que eu dirija? — Ela pergunta com humor suave em
seu tom. Eu serei capaz de descobrir os diferentes lados da
estrada, mas esta noite não é uma noite para arriscar,
considerando nosso esgotamento e território desconhecido.

Sob um acordo silencioso, nós dois saímos do carro e


trocamos de lugar.

Mia para no hotel mais próximo. É elegante e caro, mas o


dinheiro plantado no porta-luvas nos dá o suficiente para
sobreviver até chegarmos em Louisiana para buscar o iate.

Nossas viagens finalmente nos alcançaram, e assim que


entramos no quarto do hotel, conecto meu telefone no
carregador e pego uma das camas, afundando no edredom
branco macio, e fecho os olhos. A respiração de Mia soa acima
de mim e eu abro um olho para vê-la parada com as mãos
cruzadas na frente dela. — Eu... Hum...

Levanto o lençol, apontando para ela se enrolar ao meu


lado. Eu não perguntei a ela, era escolha dela, e ela não
hesitou. Depois de um longo dia, as verdades que eu admiti, o
desgosto que ela estava sofrendo por causa de Masters, é de
mim que ela precisa. E estarei aqui para ela em cada passo do
caminho. Minha palma agarra sua coxa nua e envolvo sua
perna em volta da minha para prendê-la contra a minha frente.
Ela é pequena em meus braços e olha para mim através dos
cílios molhados. Eu não sabia que ela estava chorando.

— Você está certo. — Ela sussurra. — Somos iguais e vou


tentar.

Seus lábios roçam meu pescoço e meus olhos se fecham,


meu monstro por dentro sorri, mas meus nervos tremem com
sua confissão. Eu não quero que ela tente me amar, eu só
quero que ela faça, e as lágrimas quentes escorrendo pela
minha pele de seus olhos me lembram que ela está mentindo.

Mia nunca será incondicionalmente minha. Mia Rose Jett


será para sempre dele.

Ela sempre pertencerá aos Masters, e não há nada mais


que eu possa fazer para mudar isso.
DEZ

“Um dia, você olha para trás e percebe, foi tudo por nada.”
− Oliver Masters

CADA VEZ que dirijo de volta para casa em Ockendon,


perco um pedaço de mim mesmo. Esta vida tripla que estou
vivendo tem causado danos a mim. Não uma vida dupla. Uma
vida tripla. O poeta, fazendo sessões de autógrafos e seguindo
um cronograma que Laurie havia traçado. O criminoso,
participando de ações ilegais e imorais. E o noivo, certificando-
se de que cada ação que eu faça e cada máscara que coloque,
só me traga um passo mais perto de encontrá-la, protegendo a
vida que eu criei para nós.

O endereço enviado me levou a uma Rua em Grays South,


com cercas com correntes e propriedades degradadas cheias
de lixo. São quase dez da noite, e o zumbido da lâmpada da
rua ilumina os meninos da vizinhança jogando basquete no
meio da rua.

Entro na casa duvidosamente estável e Adrian, Regi e


James já estão aqui. Os três discutindo, mas ainda passando
um cigarro. Adrian e James estão sentados confortavelmente
em um sofá xadrez rasgado enquanto Regi está com a mão
voando para frente e para trás entre os dois.

Dex aparece de um corredor, traje escuro, cabelo


penteado para trás, com o telefone preso à orelha, e assim que
seu olhar atinge o meu, ele baixa a voz e puxa um cigarro à
boca. Aproximo-me e ele vira as costas para mim, encerrando
rapidamente a ligação. Encarando-me novamente, ele guarda
o telefone em sua calça jeans.

— Você está atrasado. — Ele se aproxima do balcão da


cozinha e rola a ponta do cigarro no cinzeiro para colocá-lo fora
o suficiente para guardar para mais tarde. — Você precisa
controlar esta situação, Oliver. — Ele acena com a cabeça para
os outros três discutindo. Ele está escondendo algo de mim e
o olho com desconfiança.

Ele está se desviando? Aponto para o telefone em seu


bolso.

— Isso era sobre Scott?

— Não que seja da sua conta, mas não. Não era nada a
ver com você.

— Você sabe muito bem que é da minha conta, ou você


esqueceu o nosso acordo?

Os meninos mais novos gritando atrás de mim se tornam


barulho de fundo quando Dex se aproxima e estufa o peito. —
Lembre-se de seu lugar. Você trabalha para mim agora.
Quando e se eu encontrar Scott, avisarei. — Seu tom é suave
e controlado, e seguro meus lados para esconder minha
agitação, — mas até então, você não pode fazer perguntas. —
Ele pontua sua frase com o dedo indicador batendo na minha
testa. A capacidade de me controlar para não bater em seu
rosto é algo inédito, quase sobrenatural. Mas isso não impede
meus punhos de cerrar ou meus dentes de ranger, reunindo
restrições de lugares que eu nunca tinha visitado antes.

O medo de nunca encontrar Mia é o que me mantém


quieto. Eu já estou muito envolvido com Dex. Dei a ele uma
semana e ele tem mais dois dias.

Dex dá um tapinha na minha bochecha e dou um sorriso


malicioso. — Agora, reúna os meninos.

Os nervos correm soltos dentro da cabine do carro em


direção à casa de drogas da rivalidade no lado oposto da
cidade. Regi dirige, e noto a maneira como seu olhar hostil se
dirige para James sentado atrás dele no espelho retrovisor.

— Não vamos fazer isso até que vocês joguem fora o que
quer que esteja incomodando suas calcinhas. — Não é da
minha conta o que os dois estavam discutindo, mas
precisamos passar pela porta do rival como um time, então do
negócio deles o meu.
— James está fodendo minha garota. — Regi range para
fora. — Peguei os dois. Na minha cama.

James ri. — Estávamos apenas nos divertindo um pouco.

Regi bate com a palma da mão no volante, flexionando a


mandíbula.

— É uma garota que vale a pena perder um companheiro,


ou é um companheiro que vale a pena perder uma garota? —
Não é uma pergunta a ser respondida aqui e agora, mas algo
em que pensar. — Todos nós temos complicações em nossas
vidas, mas uma vez que nós quatro entramos neste carro, nada
mais importa além do trabalho. James, Adrian e eu, somos sua
rede de segurança e prioridade, e vice-versa. Vamos entrar
juntos e sair juntos. Desta vez, armas carregadas.

A casa de drogas que estamos invadindo pertence à


gangue rival, BOGs, ou Blood of Greys5, que controla a maior
parte do tráfico de drogas nas cidades vizinhas a leste de
Londres. Recentemente, a clientela dos BOGs diminuiu em
número, então sua nova droga está se espalhando para áreas
externas, chegando ao território dos Links. Fentanil6 e heroína
são uma mistura letal, na forma de um doce Pez7. A embalagem
ideal tornou-se popular entre os jovens. A entrega foi um bom
marketing, mas o único motivo pelo qual seus números estão
diminuindo é que os BOGs estão matando seus clientes com

5 Sangue de cinzas.
6 Medicamento usado para dor.
7 Doce em pequenos blocos que se vende em pequenas embalagens de plásticos.
doses excessivas de Fentanil, e isso é um péssimo negócio da
parte deles.

Links só se preocupam em pegar de volta o que é deles e,


embora essa operação fosse forçada a mim por causa do acordo
que Dex e eu fizemos, pelo menos eu poderei fazer algo de bom
no processo e possivelmente salvar vidas.

Viramos na rua de nosso local de destino e estacionamos


fora de vista algumas casas abaixo para revisar o plano uma
última vez. Eu tinha verificado a propriedade no dia anterior e
percorri o perímetro. A casa de droga fica em uma rua
tranquila em um bairro nobre, uma casa que ninguém
suspeitaria. Se fossem inteligentes, teriam apenas dois, talvez
três caras preparando e guardando o laboratório para não
levantar suspeitas, dando-nos os números e vantagem.

Há três portas de saída. Instruo James e Adrian a


irromperem pela frente enquanto eu entro por trás, Regi
guardando a porta lateral no jardim que leva ao espaço da
garagem independente, apenas para garantir. — Não há
clientes, e esses caras terão armas totalmente carregadas. —
Eu os lembro. — Mas desta vez, vocês também terão. — Antes,
estávamos em um ambiente público com vidas inocentes em
jogo. Eu passei as últimas quarenta e oito horas ensinando a
esses meninos tudo que eles precisavam saber sobre uma
arma, desde desmontar a maldita coisa a remontá-la.

Quando eu tinha treze anos, um cliente chamado Gauge


me ensinou uma noite depois que minha mãe desmaiou no
chão da sala. Eu não tinha atirado nela na época, mas ele disse
que já que se eu estava vivendo essa vida, era hora de aprender
uma ou duas coisas sobre a arma, e quando eu crescesse,
deveria investir em uma para proteger a mim e minha mãe. As
armas eram ilegais e difíceis de conseguir, mas não foram
extintas dentro das gangues. Nunca consegui uma e, em vez
disso, aprendi a lutar. Disparar uma arma é cortante, distante
e mais fácil do que o derramamento de sangue causado por
suas mãos. Eu sei por experiência própria. Maddie foi a única
vida que eu já tirei, e planejei manter assim até que esteja cara
a cara com Ethan Scott.

James e Adrian assumiram a frente como Regi, e eu


atravesso o jardim. Ele pega a porta lateral e espero na parte
de trás. A noite está próxima dos quarenta graus, céu claro e
aberto e pontilhado de estrelas com ventos fortes. Levanto
minha cabeça e fixo meu olhar na lua, e o pensamento de Mia
respirando sob a mesma lua lava meus nervos enquanto vozes
explodem de dentro da casa.

Rápido e silenciosamente, abro a fechadura e entro na


casa. Meus sapatos fazem pouco ou nenhum ruído contra o
ladrilho que leva ao caos. James e Adrian ficam de frente para
mim com as armas em punho, apontando para os dois BOGs,
que também têm suas armas na mão. James e Adrian não me
reconhecem enquanto eu me arrasto para trás de um BOG que
está de costas para mim.
Ele não me vê chegando, agarro o pulso do braço que
segura a arma, apontando o cano para baixo, e empurro minha
palma contra seu cotovelo, quebrando-o.

Em segundos, o BOG está no chão com um braço


quebrado e sua arma na minha mão antes que o outro BOG
tivesse a chance de se virar. Agora são três contra dois, e
memórias dolorosas vêm à tona quando Mia ficou com uma
faca contra sua garganta. Naquela época, eu tinha uma
desvantagem. Maddie nos enganou e eu tinha tudo a perder.

— Largue sua arma. — Exijo para o outro homem que não


consegue decidir para onde apontar o cano, balançando-o para
frente e para trás. Ele sabe que está acabado, mas parece que
algo mais o está segurando. — Largue!

— Eu não posso deixar você sair daqui com tudo. Eles vão
nos matar. De qualquer maneira, estamos mortos. Prefiro levar
uma bala sua a descobrir o que eles farão conosco. — O jovem
BOG está com medo. Ele prefere morrer uma morte rápida e
sem dor do que sofrer as consequências de seu fracasso com
seu chefe.

A arma em minha mão aponta para o jovem Blood


enrolado no chão. James e Adrian estão mirando no único que
resta de pé, tremendo com uma pistola na mão. O BOG não
puxará o gatilho nem chamará atenção para a casa. A última
coisa que a gangue precisa é da polícia para saber uma de suas
localizações. — James, amarre-o. — Cutuco minha cabeça
para fazê-lo começar a se mover. O tempo não está a nosso
favor.

James caminha em sua direção e pressiona a ponta do


cano contra sua têmpora enquanto Adrian enfia a arma em sua
cintura antes de agarrar uma cadeira de madeira próxima. Uso
minha mão livre para recuperar meu celular do bolso da frente
para enviar uma mensagem rápida para Regi, aconselhando-o
a colocar o carro na garagem.

Depois que meus homens limpam a casa e James


confisca todas as armas, drogas e dinheiro, me aproximo dos
dois BOGs amarrados às cadeiras.

— Saiam desta vida. — Eu aconselho, jogando meu


punho em uma mandíbula para mostrar que ele pegou um
para o time. Aquele com o braço quebrado rosna quando
Adrian amarra suas mãos. — Vocês dois ainda são jovens.
Vocês têm uma vida inteira pela frente.

Eu o deixo com o olho inchado e a boca cheia de sangue.

Antes de voltarmos para Dex e sua equipe, eu nos dirijo


por um beco abandonado. Nenhum deles questiona meus
motivos para trazê-los aqui. Nesse ponto, todos os três já
olham para mim, colocando suas vidas em minhas mãos, o que
é um fardo pesado para carregar.

O carro para atrás da fábrica.

Tínhamos morado a alguns quarteirões daqui e, nas


noites em que minha mãe trazia um cliente para casa e Oscar
saia, eu pegava seixos, subia no andaime e os jogava nos barris
abaixo. Em outras noites, quando minhas emoções me
dominavam, subia até o topo até chegar ao telhado com um
livro dobrado no cós da calça. Passei muitas noites lendo no
céu até que a leitura se transformou em escrita. — Um dia você
vai olhar para trás e perceber que não foi tudo em vão. — Foi
meu primeiro registro. Aos doze anos, eu ainda tinha
esperança.

— O que você está fazendo aqui? — Adrian pergunta ao


meu lado.

— Fiquem no carro. — Saio do lado do motorista, dou a


volta para a parte de trás e abro o porta-malas. Um por um,
jogo os sacos de drogas em um barril enferrujado.

Apesar da minha instrução, Regi, Adrian e James se


retiram do carro e ficam de lado, observando em um silêncio
desconfortável.

— Dex não vai gostar disso. — Observa James.

A ordem era trazer tudo de volta para ele esta noite, mas
eu tenho outros planos. Essas drogas foram misturadas
incorretamente, mortais. As crianças estão tomando uma
overdose de um único doce. Tenho que me certificar de
descartá-los.

Sem palavras, procuro meu maço de cigarros no bolso e


coloco um na boca, acendendo-o antes de jogar o fósforo no
barril. Não tem gasolina para acelerar o processo. A queima é
lenta, consumindo e juntos esperamos até que o fogo morresse
e as drogas se transformassem em cinzas antes de voltarmos
para dentro do carro.

— Você queimou tudo isso? A porra do dinheiro também?


— Dex bate com o punho cerrado no balcão antes de passar as
mãos pelos cabelos. Não está mais escorregadio e duro, mas
agora cai para os lados. — Você percebe o que você fez?

Dex não estava sozinho quando chegamos. Os dois


homens que eu vi na primeira noite no Jack's estavam aqui
com ele, mas foram para outra sala sob as ordens de Dex. Ele
não queria que eles testemunhassem essa conversa até que
entendesse como lidar com isso.

— Sim, eu salvei sua bunda. Diga ao seu chefe que você


me mandou destruí-lo. As drogas eram ruins, literalmente
matando negócios. Foi o erro de Bloods em primeiro lugar. Os
Links têm algo melhor. Um motivo para voltar para mais. —
Ainda drogas, mas a mudança não acontece em uma noite. —
Quanto ao dinheiro, foi mais uma bofetada. Os Links fizeram
uma declaração. Não precisamos da porra do dinheiro deles.

— Como posso saber se você não guardou para si mesmo?

— Eu tenho três testemunhas. Vá verificar a porra do


carro. Foi-se. Vou acompanhá-lo até o barril, onde o vimos
queimar até o nada. — Eu fiz a coisa certa.

— Eu tenho que fazer uma ligação. — Dex range antes de


desaparecer atrás da porta dos fundos para o jardim.

James, Adrian e Regi foram para o sofá, já comemorando


com uma garrafa de vodca barata. Muito incomodado para
sentar, espero na cozinha, meus cotovelos cavando na ilha, me
separando dos três que eu comecei a gostar. A noite tinha
começado com Regi e James discutindo por causa de uma
garota, e terminou com sorrisos estampados em seus rostos
enquanto Regi colocava a mão no joelho, rindo, do que tenho
certeza ser uma piada terrível.

Minutos se passam e Dex volta do telefonema com um


humor mais leve também. Uma mão pousa no meu ombro e
aperta. — Bossman gosta da sua bunda maluca. — Diz ele
entre uma risada e um cigarro entre os lábios. — E já que você
está tomando suas próprias decisões por aqui, precisa que
você aprove isso, — ele ergue uma pílula branca entre nós, —
o futuro.

Nossos olhos se encontram. — Passe difícil.


Os outros dois companheiros de Dex entram de um
cômodo nos fundos e se juntam a nós na cozinha.

— Você ouviu isso, cara? — Dex ri. — O Baby Oscar


acredita que está no controle. — Os homens gargalham. A
pressão aumenta. E meus olhos saltam entre os três. Risos
rolam dos meus meninos na sala de estar atrás de nós. —
Pegue a porra do doce, para que possamos começar a festa.
Você invadiu os BOGs, companheiro. É hora de comemorar. —
Pressiona Dex. Sua comitiva coloca o comprimido na boca e o
persegue com uma cerveja. — Vê? Nada duvidoso aqui.

Pego a pílula de seus dedos e faço uma oração silenciosa


antes de colocá-la na língua. Um dos homens desliza uma
cerveja pelo balcão. Ela para na minha frente. Eu a puxo para
meus lábios e engulo a pílula. — Vou fazer algumas ligações.
— Dex bate com a palma da mão nas minhas costas, — Vamos
tocar alguma música.

Mais corpos amontoados no pequeno espaço da casa.


Alguém havia movido as cadeiras de plástico externas para
dentro. Estou sentado em uma delas, meus membros pesados
e pendurados sobre os braços da cadeira com um copo na mão.
A música bate em meus ouvidos, uma batida excêntrica, mas
hipnótica, enquanto as garotas dançam com saias justas no
meio do chão. Embora tenha custado muito esforço, viro a
cabeça para encarar os meninos que contavam comigo. O olhar
de Adrian bate no meu e ele se inclina e joga a cinza do cigarro
na bandeja sobre a mesa de centro. Regi senta-se ao lado dele
com os olhos colados na bunda de uma garota enquanto James
aprecia uma dança erótica de uma linda morena. Dex já havia
levado uma delas para outro cômodo, tenho certeza de que
seria um sucesso, e seus dois homens estão bebendo na
cozinha.

Consigo ficar de pé, mas a sala balança e a multidão


triplica. Eu preciso sair daqui. Preciso chegar ao meu carro e
desmaiar lá fora. Eu preciso respirar.

Meu celular não está mais no bolso, mas minhas chaves


estão.

— Aonde você vai? — Uma garota ao meu lado pergunta.

Viro minha cabeça para ver um rosto familiar. Cabelo


loiro. Olhos pretos. Uma garota que me lembra da minha mãe.
— O que você está fazendo aqui? — Ela está a uma hora de
distância de Surrey. Pensando bem, eu não tenho ideia de onde
ela realmente mora. — Você não deveria estar aqui. — Eu sei
o que estou tentando dizer, mas não sei se as palavras estão
saindo corretamente. Na ponta da minha língua, elas pareciam
certas, mas ela olha nos meus olhos como se eu tivesse falado
um idioma diferente.
Com os olhos vidrados e os lábios pintados de vermelho,
ela se transforma de volta na garota bêbada que conheci na
primeira noite com Jinx. Leigh agarra minha mão e me leva
para fora da porta da frente. Assim que entramos na noite, o
vento sopra entre nós, varrendo sua pequena saia para revelar
sua bunda nua. É então que noto seu traje, minissaia e blusa
curta enquanto seu cabelo loiro cai em volta dos ombros e nas
costas. Ela se vira para mim antes de cair na grama, rindo e
me levando para baixo com ela.

— Seu pau está duro — Ela aponta. Eu não tinha


percebido e não sei por quê. Deve ter sido a droga. Está fazendo
coisas comigo que eu não pedi.

— Sim. — É a única resposta que consigo pensar, porque


não tenho controle sobre mais nada. Sem mover meus braços.
Não voltando a ficar de pé. Olho para as estrelas e foco na lua,
desejando que ela pudesse falar comigo. Onde está Mia? É a
única pergunta que faço ao círculo redondo sem rosto no céu.
Isso apenas me provoca em retorno.

Leigh monta em meus quadris, plantando seus pés


descalços em ambos os lados. — Me aqueça então.

Meus olhos se arrastam do céu para ela enquanto ela


solta um ritmo desesperado contra minhas calças. Outro vento
torce seu cabelo em sua brisa, e meus olhos seguem a direção
de volta para o céu. — Não podemos. — Eu ranjo fora, os
braços pesados ao meu lado.
Seu dedo frio bate em meus lábios. — Ela não está aqui,
Oliver. Ela se foi, lembra? — O mesmo dedo desce pelo meu
peito até atingir o botão do meu jeans.

Meu olhar fica na lua enquanto estro e saio da


consciência. Com meu corpo sedado, as emoções me carregam
com suas palavras, trazendo lágrimas aos meus olhos. Sinto
uma escorregar do canto e escorregar pelo lado do meu rosto
antes de encontrar a grama morrendo. Estou fodido e
chorando enquanto Leigh tenta implacavelmente me colocar
em submissão e eu nunca me senti tão sozinho.

— Você é igualzinho ao seu pai — Minha mãe ferveu mais


cedo com um cigarro entre os lábios. — Não consigo nem olhar
para você. Coma sua comida. — Ela se afasta da mesa e eu
volto a colocar o mingau na boca, silenciosamente. Eu não
queria aborrecê-la. Ela estava chateada com o dinheiro gasto
em comida esta semana, o que eu não consigo entender porque
Oscar tinha ido embora e somos apenas mamãe e eu. Mas eu
disse a ela que tudo ficaria bem, e ela não gostou disso.

Mas enquanto estou deitado aqui sob o parapeito da


janela, tudo em que consigo pensar agora é no meu pai. Quem é
ele e por que não está aqui? Eu tenho os olhos dele e ele gosta
de ler? Eu sou o único com olhos verdes, então eles têm que ser
do meu pai, certo? Por que mamãe o odeia tanto?

Não há números na cozinha. Sem relógio. A eletricidade


acabou e está escuro. Uso a luz da rua que entra pela janela
para ler mais alguns capítulos até que mamãe finalmente entra
pela porta. O salto dela quebrou e ela está tropeçando na
cozinha. Os armários batem, as gavetas batem e eu sei que vai
ser uma daquelas noites.

— Onde estão a porra dos meus cigarros? — Ela murmura,


e um prato se espatifa no linóleo. Sento-me ereto, coloco meu
livro debaixo da minha bunda e prendo minhas costas contra a
parede. Ela rasgou o último livro quando estava assim, e a
senhora de olhos castanhos da biblioteca me deu mais uma
chance. — Você escondeu minha merda?

Mamãe está na minha cara, seus olhos parecem


estranhos, vesgos, e seu cabelo loiro bagunçado tem um cheiro
horrível. Eu balanço minha cabeça violentamente, com medo do
que ela fará a seguir. Não escondi os cigarros dela. Ela saiu
correndo. Eu me certifico de contá-los. É a única maneira de me
preparar, mas nunca a vi assim antes, com tanta raiva. Ela está
inclinada para o lado e seus olhos ficam maiores. Mamãe me
puxa do peitoril e me joga na cama. Talvez eu consiga dormir
com ela finalmente. Talvez ela finalmente me abraça, me
mantenha aquecido.

— Seu pedaço de merda inútil. — Ela monta em mim e


coloca um travesseiro no meu rosto. Com todo o seu peso
pressionado contra meu peito, meu estômago, meus pulmões,
não consigo respirar. — Eu gostaria de nunca ter tido você! —
Uma força cava contra o travesseiro e as lágrimas queimam em
meus olhos, mas não podem cair. A pressão é demais e quero
fechar os olhos, mas não consigo. O travesseiro está me
bloqueando. Eu não consigo fechar meus olhos. Eu não consigo
respirar. Tento mover meus braços, mas eles estão presos ao
meu lado entre suas pernas. Tento virar minha cabeça. Se eu
pudesse fechar meus olhos.

Minutos depois, ela está gritando comigo enquanto meu


corpo está lutando para respirar, meu peito implorando por
alívio. Meus olhos não podem fechar, mas ainda está escuro.
Não sei mais o que é real. Meu peito está queimando. Meus
pulmões estão queimando. Meu cérebro está queimando. Estou
em chamas.

E então tudo para.

Não está mais escuro.

Há uma luz, mas é breve antes que os recursos


aterrorizados de mamãe a substituam.

— Volte! Oliver, volte! — Mamãe chora, sacudindo a cabeça


de um lado para o outro enquanto se afasta do meu rosto. Eu
suspiro por ar e as lágrimas finalmente caem pelo meu rosto
enquanto pisco rapidamente. — Eu sinto muito. — Ela gagueja
entre soluços. Mamãe me levanta da cama e me segura nos
braços. — Eu sinto muito.

O som do meu zíper me puxa para fora e me dá uma


explosão de energia, e antes que Leigh consiga fazer o que quer
comigo, rolo debaixo dela até que meu peito encontra o chão.
Um tapa na minha bunda nua me acorda. — Levante-se
e brilhe, Oliver. — Uma voz grita, e abro um olho para ver
Adrian com um grande sorriso branco. — Puxe suas calças.
Você está assustando as crianças.

O sol ofuscante brilha de cima. Gemendo, eu me levanto


em meu antebraço e puxo minha calça antes de rolar de costas.
Apesar do frio da manhã, o veneno da noite passada foi
drenado dos meus poros. — James e Regi, eles estão bem?

— Oh, eles estão bem, tudo bem. — Adrian ri enquanto


apertamos os antebraços um do outro, e ele me puxa para uma
posição sentada no gramado da frente. Meus cigarros foram
jogados no meu colo enquanto ele bate nas minhas costas com
a outra mão.

Acendo o fósforo e coloco o cigarro na boca. O mentol


crocante escorre pela minha garganta e enche meus pulmões,
e meus olhos se fecham assim que a alta da nicotina me
acalma. — A noite passada foi uma merda. — Digo enquanto a
fumaça do cigarro se mistura com o ar frio. Meus braços
envolvem meus joelhos dobrados e abaixo minha cabeça. —
Este não sou eu. Isso não é quem eu sou ou o que defendo.
— Este é algum de nós, realmente? — Adrian solta um
suspiro longo e hesitante. — Ouça, há algo que eu queria te
dizer. — Inclino minha cabeça, os olhos semicerrados por
causa do sol. Adrian rola a cabeça para trás e estala os nós dos
dedos. — Ontem à noite, eu ouvi Dex falando com aqueles dois
idiotas sobre você.

— Sim? O que sobre mim?

— Sobre uma pista ou alguma merda.

Meu coração salta na minha garganta. Tento engolir de


volta.

Adrian esfrega as palmas das mãos.

— Eles não queriam te contar. Eles sabiam que você não


teria completado o ataque rival na noite passada se soubesse.

É tudo que eu precisava ouvir antes de já estar de pé e


entrar como um furacão pela porta. A pequena casa cheira a
sexo e licor, e uma rajada de fumaça do charuto de maconha
que James e Regi estão compartilhando me engolfa antes de os
dois pularem do sofá. Os dois guarda-costas de Dex
desmaiados nas cadeiras de plástico e mulheres nuas
espalhadas pelo chão aos meus pés. Eu ando ao redor deles e
viro pelo corredor antes de abrir a porta da sala dos fundos. O
estrondo da porta quicando na parede ecoa, acordando Dex e
sua única noite. — Dê o fora daqui. — Ordeno para a morena
com os dentes cerrados. Ela sai correndo da cama, pega suas
roupas do chão e passa por mim.
— Awe, você não tinha que vir e fazê-la ir embora, Oliver.
Ela poderia ter ficado. — Dex sorri, e minha raiva me empurra
para frente até que eu o tiro da cama e o jogo contra a parede.
— Você tem muita coragem. — Ele foi capaz de dizer antes que
meu punho atingisse sua mandíbula, virando sua cabeça para
o lado.

— É que eu sou impaciente. — Puxo-o de volta pelos


bíceps e prendo seus braços na parede, considerando que não
tenho mais nada para segurar em seu corpo sem camisa. — O
que você não está me dizendo?

Dex Sullivan é muitas coisas, mas um lutador não é uma


delas. A única vez que ele mantém o poder é quando uma
pistola está em sua mão, além das ameaças. Uma arma é sua
única fonte de intimidação. E no momento, ele não tem a
chance de pegar uma. Ele pode ter estado impotente, mas eu
não estou. Algo que tentei ensinar aos outros três meninos nos
últimos dias. Não foi por acaso a forma como os humanos
foram criados e, aprendendo a lutar, me tornei minha arma
mais valiosa.

Bato outro punho em seu sorriso, arrancando seu dente,


e ele se crava na minha junta.

— Scott comprou duas passagens para os Estados


Unidos e embarcou em um avião em Liverpool ontem. — Dex
solta rápido com a boca cheia de sangue.
Uma queimadura rasteja por trás dos meus olhos quando
o alívio se estabelece em minha alma. — Onde nos Estados
Unidos? — Minha voz falha de emoção.

— Você não pode sair, baby O.

Minha mão se move sobre seu pescoço, e Dex, como o


menino maricas que ele é sem seu apoio, murcha em meu
aperto. — Onde ele foi? — Eu grito, minhas bochechas
tremendo e cuspe voando.

Os olhos de Dex se arregalam e ele resmunga algo, mas


eu não consigo entender, então solto meu aperto em seu
pescoço.

— Nova York. — Ele finalmente diz em uma respiração


reunida. — Ele voou para o JFK.

Eu o solto e ele cai no chão. — Ele viajou com uma


companheira — Ele resmunga enquanto eu me afasto. — Mia
Rose Jett. — E a menção do nome do meu amor consegue me
abrir e me girar para encará-lo. Uma gargalhada escapa de
seus lábios sangrentos. — Você não terminou, White Fox. Isso
não acabou, não até que você cumpra a sua parte no negócio.
ONZE

“Não há mais volta para o lugar que uma vez foram, mas se
o tempo pudesse reverter, você ainda o escolheria, e eu ainda
preciso dizer adeus!”
− Oliver Masters

ABRO minhas pálpebras para ver o logotipo de Hilton


estampado sobre o balde de gelo e copos de plástico da
pequena cozinha, me lembrando de onde estamos. Finalmente,
de volta aos Estados Unidos. Estou tão perto da casa do meu
pai, um pouco mais de duas horas para ser exata, mas meu
pai não se importou em me ver. Os constantes lembretes de
Ethan me disseram isso.

Um braço forte me envolve. Eu me afasto do aperto de


Ethan para um banho rápido antes que ele acorde e procuro
dentro da mochila por uma calça de moletom, calcinha limpa
e uma das camisetas simples de Ethan que ele não precisa.
Todas as minhas roupas foram deixadas em Dolor. Eu não
tenho quase nada além das roupas que vestia quando ele me
capturou e as poucas que ele comprou.
Na noite anterior, eu disse a Ethan que poderia tentar.
Eu o deixei em aberto intencionalmente, permitindo-lhe espaço
para preencher todas as peças que faltavam. Tente superar
isso, tente não o matar, tente confiar nele. Mais e mais, Ethan
perfurou na minha cabeça como ele é o único que se importa
comigo. A evidência apresentada diante dos meus olhos e
minha mente concorda, mas meu coração se recusa a ouvir.
Ninguém está procurando por mim. Ninguém mais se importa.
A única razão de eu ter entrado naquele avião foi porque, se
Ollie está cuidando de si mesmo, eu tenho que fazer o mesmo.

Tenho que começar a pensar em mim. Tenho que me


colocar em primeiro lugar. Tenho que aprender a viver sem
Ollie, embora doa como o inferno.

Apesar do que Ollie fez, ainda me traz paz saber que ele
está vivendo o sonho que merece. Ele me deu uma noção de
mim mesma nos últimos dois anos, me tirou de um buraco
negro, foi o primeiro a me mostrar quem eu sou e do que sou
capaz. Oliver Masters, independentemente se ele me jogou de
lado para ir atrás de seu sonho, me deu algo que eu precisava
durante um dos momentos mais desafiadores da minha vida.
Oliver Masters me deu algo em que me agarrar pelo resto da
vida.

Mas a distância não faz doer menos.

Se Ollie foi capaz de fazer isso, talvez eu também possa.

E Ethan é a resposta.
Ethan matou pessoas, várias pessoas, o que eu achei
intrigante. Tenho tantas perguntas para ele. Isso trouxe a ele
uma sensação de serenidade, como me trouxe quando eu matei
meu tio? Ele tinha pensamentos monstruosos também, punindo
aqueles que o destruíram? Ele se sentia fortalecido por estar no
controle? O vazio em seus olhos dava a ele a mesma emoção
que me dava? Tantas perguntas e talvez Ethan estivesse certo,
e somos iguais.

O chuveiro está quente nas minhas costas. O pequeno


xampu e condicionador para de viagem Hilton cheira a chuva
na primavera, feminino. Muito diferente do cheiro de coco em
Dolor, e do perfume masculino que estou usando de Ethan
ultimamente.

As roupas são largas no meu corpo minúsculo, mas não


me importo, presumindo que passaremos o dia no carro de
qualquer maneira. Ethan havia planejado tudo, e pela
aparência do veículo, novas identidades e dinheiro encontrado
no porta-luvas, não estamos voando para outro lugar. Pelo
menos por enquanto.

Meu cabelo ainda está úmido, mas eu não consigo puxá-


lo das costas porque não tenho nenhum laço de cabelo.
Quando volto para a cama, Ethan senta-se acordado na beira
da cama olhando para mim.

— Como você dormiu? — Ele pergunta, ainda usando as


mesmas roupas de ontem. Estávamos muito cansados para
nos trocar e, aparentemente, ele estava muito cansado para
tirar qualquer coisa. Ethan raramente dorme com suas
roupas.

— Ok. — Deixo cair a toalha molhada no canto do quarto.


— Eu preciso pegar emprestado um par de suas meias.

— Você pode tirar o que quiser da bolsa, Jett. Vejo que


você já está vestindo minha camisa. — Ele levanta uma
sobrancelha e se levanta. — De qualquer forma, estou tomando
um banho rápido, então temos que sair. Tomaremos café da
manhã no caminho.

— Onde estamos indo?

Ele para no meio do caminho para o banheiro ao meu lado


e olha para mim. — É melhor se você não souber.

Enquanto Mia estava no banho, liguei para Dean.


Felizmente, ele atendeu porque eu precisava de alguém em
quem olhasse para obter respostas. Eu precisava de direção. A
última coisa que queria admitir para meu amigo era que eu
tinha sequestrado Mia, e ela nunca concordou com nada disso
até a noite passada. Dean não se conteve e mastigou minha
bunda. Nunca o tinha ouvido tão zangado. Quando se tratava
de amor e relacionamentos, o homem me lembra de Masters.
Depois de alguns minutos de ligação, fiquei frustrado com a
forma como a conversa estava indo e desliguei. Foda-se ele.
Mas Dean estava certo. Independentemente de gostar ou não,
era o que eu precisava ouvir.

Mia ficou ao meu lado enquanto saíamos do hotel. Eu


prometi mantê-la segura, mas tudo que fiz foi destruí-la
inteiramente apenas para construí-la em minha versão de
perfeição. Eu a queria como minha. Tudo dela. Tanto a
tempestade quanto a pequena marionete dócil. Eu estava
quase lá também, alimentando-me de como ela estava fodida.
Eu a virei contra o mundo inteiro para meu benefício. A maior
parte disso era verdade, no entanto. Com toda a honestidade,
eu não tinha ideia de por que Lynch, Bruce e Masters não estão
procurando por ela. Mas usei isso em minha vantagem.

Dean tinha me lembrado do homem em que eu estava me


transformando, e o que eu precisava fazer, não apenas salvar
Mia, mas eu também.

Mia e eu não podemos seguir em frente, não assim. Eu


disse a ela que todos estavam mentindo para ela, mas se não
pararmos agora, ela estará vivendo uma mentira para o resto
de sua vida. Mia nunca me amará do jeito que a amo. Mesmo
agora, enquanto caminhamos juntos em direção ao carro, é
uma mentira do caralho. O ar entre nós cheira a uma fachada,
um ato do qual ela está se forçando a participar enquanto sua
mente está em outro lugar. Nós dois sabemos disso. Nenhum
de nós precisa dizer as palavras em voz alta. O amor
transforma todos nós em tolos.

Eu destranco o carro e abro a porta do passageiro para


ela depois de jogar a mochila no banco de trás. Ela fez uma
pausa antes de entrar no carro.

— Eu só quero que você saiba que eu entendo. — Ela diz


calmamente e respira fundo. — Eu entendo porque você fez
isso. De jeito nenhum eu conseguiria dormir à noite se
soubesse que meu estuprador ainda estava vivo. Tive muito
tempo para pensar nisso e concordo. Você e eu somos iguais.
Eu entendo isso agora.

— Jett...

Mia passa os braços em volta da minha cintura e de


repente esqueço o que ia dizer, mas provavelmente seria algo
de que me arrependerei. Eu a abraço e ficamos assim por um
tempo. Não quero deixar o momento passar, mas todas as
coisas que estão aqui apenas por uma temporada precisam
chegar ao fim em algum momento. O dia com minha mãe me
lembrou disso. Todo esse tempo, pensei que Masters era a
temporada, mas não poderia estar mais errado.

Eu sou a temporada de Mia. Um inverno rigoroso, no


entanto.

— Venha, vamos entrar. Você está tremendo. — Tiro


minha jaqueta e enrolo em Mia antes de entrarmos no carro.
O calor aumenta muito enquanto dirijo ao redor do
estacionamento por alguns minutos para me familiarizar com
a condução no lado oposto. Mia ri, e é a primeira vez que eu a
ouço rir a algum tempo. Possivelmente Dean estava errado.
Talvez ele não tivesse tudo planejado, e Mia e eu poderíamos
ficar exatamente assim pelo resto de nossas vidas.

— Você conseguiu! — Mia elogia ao meu lado, pego sua


mão e dirijo para fora do estacionamento em uma rua
movimentada.

Eu não consegui isso, e você não tem ideia do porquê.

Depois de passar por um drive-thru, entro na rodovia


para nosso próximo destino. Mia pediu tortas variadas e um
café de avelã, comendo cada um antes de desmaiar ao meu
lado. Ontem à noite, ouvi seus gritos suaves todas as horas da
noite. Ela devia estar exausta e eu também.

Durante toda a viagem, ela dormiu em uma bola enrolada


à minha direita com meu braço pendurado sobre sua perna,
minha grande mão confortável entre suas coxas. Eu não quero
soltar enquanto ela murmura calúnias incoerentes em seu
sono, e meus lábios se contorcem para sorrir.

Fazemos isso por quatro horas, graças ao tráfego, encosto


o carro no meio-fio e coloco a marcha em ponto morto. Mia
ainda está dormindo ao meu lado, babando em minha jaqueta.
Eu não tenho ideia de como ela irá reagir a isso, e solto meu
cinto de segurança, inclino-me sobre o console e afasto o
cabelo de seu rosto.
— Jett. — Eu sussurro.

Seus olhos piscam abertos. — Onde estamos?

— Há algo que você precisa saber. — Eu não sei como


juntar as palavras para ela entender. Nunca fui bom com as
palavras, esse é o território do Masters, o poeta da noite para
o dia, que provavelmente está batendo em uma boceta
desconhecida enquanto falamos. Neste exato momento,
Masters provavelmente está fazendo as garotas se
apaixonarem por ele com suas malditas palavras, festejando,
bebendo, sorrindo e rindo do resto de nós. Mordo o interior da
minha bochecha, sabendo que estou prestes a destruir o resto
dela também.

— Eu cometi um erro. Eu nunca deveria ter levado você.


Foi cruel, egoísta até.

Mia se senta, seu cabelo castanho pegajoso chicoteado


contra seu rosto enquanto ela vira a cabeça e olha ao redor. —
Do meu pai? — Ela sussurra, reconhecendo a rua em que
estamos. — Você me levou de volta para a casa do meu pai? —
Seus olhos castanhos brilhantes se estreitam para mim. —
Ligue o carro, Ethan! Eu nunca vou voltar lá. Eu não vou sair
deste carro!

Seu pai, o único homem em quem ela confiou por mais


de dez anos, a deixou em Dolor dois anos atrás. Aqui estou eu,
o homem em que ela finalmente confiou de novo desde que a
tirei daquele lugar, deixando sua bunda cair de volta na casa
de seu pai. Círculo completo, porra.
— Sim, você vai.

— Não! — Lágrimas enchem seus olhos. — Dirija! — Seu


punho bate no painel e seus movimentos tornam-se frenéticos.
— Dirija a porra do carro!

Esfrego minhas mãos para cima e para baixo em meu


rosto, tentando me recompor. Eu não consigo parar agora.
Tenho que ver isso até o fim. — Você está saindo, goste ou não.
Vou arrastar sua bunda pela calçada pela porra do seu cabelo,
você me entende? — Minha voz falha e eu engulo as lágrimas.
— Eu não quero mais você. Eu cometi um erro colossal. Você
foi um grande erro, porra.

Os olhos de Mia se fixam nos meus e ela inclina a cabeça


como se estivesse vendo através de mim. — Você não quis dizer
isso.

Claro, eu não queria. Mas se Mia não sair do carro nos


próximos dois segundos, ficarei com medo de nunca ter forças
para fazer o que é certo por ela novamente. — Oh, tenho
certeza, Jett. Você só vai me arrastar para baixo.

Seu punho acerta meu rosto, mandando minha cabeça


para trás.

Por um momento, não consigo respirar. Um zumbido


explode dentro dos meus ouvidos e balanço minha cabeça até
que minha visão se acerta novamente. Ela estourou meu lábio,
e o gosto quente de cobre escorrega pelas minhas gengivas.
Limpo meu lábio com o dorso da minha mão, acessando o
dano. Eu não esperava isso. Talvez um tapa, mas não um soco.

Forço uma risada. — Você bate como a porra de uma


garota.

— Sério? Porque você é o único maricas neste carro — Ela


ferve. — Todos os dias que estivemos juntos, você não fez nada
além de me lembrar de como ninguém dá a mínima para mim.
Como todos mentiram, mas você é o maior mentiroso de todos
eles. Você nem consegue ser honesto consigo mesmo! Olhe
para você, Ethan! Você é patético. Vou guardar seu segredo.
Vou levá-lo para o meu túmulo, mas nunca vou deixar você
foder com a minha cabeça de novo.

— Eu nunca fodi com sua cabeça, Jett — Eu rio. — Isso


tudo foi você. Você sempre foi fodida para começar. — Eu sei o
que mais a machucaria, e tenho que dizer isso. — Não é à toa
que Masters deixou sua bunda na primeira chance que teve.
Não estou cometendo o mesmo erro.

A mão de Mia se fecha em punho enquanto seu queixo


treme. Se ela está prestes a me bater de novo, estou mais
preparado desta vez. Mas ela nunca o fez. Em vez disso, ela
respira fundo, trêmula, enxuga os olhos e sai do carro,
descalça em trajes de sem-teto. Ela nem mesmo se vira para
um segundo olhar, e me toma todo o controle para não sair do
carro e correr atrás dela, para me desculpar por tudo que eu
disse porque não quis dizer nada disso. Esta é a coisa certa,
repito várias vezes na minha cabeça. Um dia ela vai te perdoar
por isso.

Eu saio da rua, colocando meu pé no acelerador antes


que tenha a chance de mudar de ideia. A náusea me atinge
como um tsunami, colidindo com um litoral furioso, e bato as
palmas das mãos contra o volante repetidas vezes. Minha visão
escurece com o monstro enlouquecedor dentro de mim, e um
grito rasga minha garganta enquanto minhas bochechas
tremem.

— Eu te amo, Mia. — Grito dentro do carro para


absolutamente ninguém. — Estou deixando você ir porque é a
coisa certa a fazer. Porque eu não vou deixar a porra do
monstro vencer! — As palavras dirigidas aos ouvidos de Mia
voam de mim até minha garganta ficar rouca, chorando pela
primeira vez desde que matei Haden Charles.

Adeus, Mia.
DOZE

“Este foi o grito de guerra em tempos desesperados,


gritando porque machuca dentro.
Isso sacudiu a lua e iluminou o céu, o selvagem com o grito
de guerra.
Tudo por conta própria, ela chamou seu inimigo gritando
então eles sabiam.
Sacudindo seus ossos para sua canção de ninar, meu
selvagem com o grito de guerra.”
− Oliver Masters

EU SABIA DISSO, PORRA, e minha mente está girando desde


que deixei Thurrock. Voltei para Surrey duas horas depois
porque, a princípio, fui direto para um aeroporto, mas percebi,
ao me aproximar do balcão, que não tinha absolutamente nada
comigo. Meu passaporte e minha identificação não estavam
comigo, mas de volta aqui no motel.

Não há tempo para um banho, mas eu cheio como se


tivesse vindo de um clube de strip. Entro e saio em dois
minutos e mudo para algo mais apresentável, algo que Mia
poderia reconhecer, calça cinza, uma camisa branca básica e
um moletom preto. Com minha mente em outro lugar, minhas
mãos agarram as roupas da mala de Mia, colocando-as em
uma mochila. Ela tem roupas? O que está vestindo esse tempo
todo?

Quando liguei para Bruce algumas horas atrás, ele disse


que ela não estava lá, que ele não teve notícias dela. Mas não
há outro motivo que eu possa imaginar para Scott voar para
Nova York, um pouco menos de três horas de distância da casa
do pai de Mia.

As últimas duas semanas pareciam uma perseguição sem


fim atrás dela, mas se isso significasse passar o resto da minha
vida procurando, eu faria isso.

O voo durou quinze horas e chego a Nova York às três da


manhã. Depois de meu primeiro passo para fora do aeroporto
e para a cidade que nunca dorme, um fedor repulsivo de
poluição, água estagnada e rostos rudes e cansados me
cumprimenta. Espero pacientemente no meio-fio, segurando
meu braço no ar para chamar um táxi, e quando o carro
amarelo para, uma senhora em um terno preto passa por mim
e desliza para o banco de trás.

Por volta das cinco, estou viajando em um pequeno carro


prateado alugado na Alamo, a caminho de Bushkill,
Pensilvânia. Tinha sido o único lugar aberto naquela hora, e
eu peguei o que estava disponível.

Por volta das seis e meia, estaciono na garagem da


residência Jett.

A casa é uma casa de dois andares com uma varanda


frontal parcial. Era esta a mesma casa que Mia vivia onde todos
os maus momentos de seu passado aconteceram? Bruce a
havia mudado para uma nova casa para protegê-la das
memórias tanto quanto pudesse? A casa está voltada para a
floresta, isolada, com um caminho íngreme. Durante a última
hora, eu debati sobre encontrar uma cafeteria. Se Mia estivesse
lá dentro, ela apreciaria seus croissants. Mas estou com muito
medo de deixar o local.

E às oito, estou parado na frente da porta, batendo. Meu


coração dispara e minha adrenalina atinge níveis impossíveis.
Incapaz de ficar no lugar, ando pela varanda da frente,
esperando que alguém responda.

A porta se abre e Bruce olha para mim de dentro da casa.


Ele não é como nada que eu esperava, uma cabeça careca,
anos de culpa empilhados em camadas sob seus olhos fundos,
vestindo calça de moletom e uma camisa de futebol americano
Steelers8 com uma caneca de café na mão.

— Você deve ser Oliver.

8 Pittsburgh Steelers; time profissional de futebol americano.


Molho meus lábios congelados. — É... por favor... diga-
me...

— Ela está aqui. — Ele confirma com um aceno de cabeça.

Minha palma cai contra a moldura da porta e abaixo


minha cabeça, beliscando a ponta do meu nariz para lutar
contra as emoções que ameaçam derramar na varanda da
frente dos Jetts. Eu a encontrei. Minha visão turva e limpo meu
rosto na manga do meu moletom antes de levantar minha
cabeça para ver o homem com quem falei todos os dias desde
o dia da liberação. — Ela está bem? Ela está machucada?

— Por que você não entra? Tenho uma hora antes do


trabalho. Vamos conversar. — Bruce me conduz até a cozinha,
mas meus olhos não podem deixar de vagar e subir as escadas,
procurando por Mia. — Gostaria de uma xícara de café? Parece
que você acabou de voltar de uma expedição de cem anos. —
Ele dá uma risadinha.

— É o que parece. — Ele não faz ideia. — E sim, por favor.


Preto. — Sento-me na copa onde uma janela saliente dá para
o jardim que vai até na floresta. Meu joelho salta sob a mesa,
ansioso para subir as escadas correndo para encontrá-la. Mas
esta é sua casa. — Quando ela chegou?

— Ontem de manhã depois de eu ter saído para o


trabalho. Mia não falou muito. Mal saiu de seu quarto. Não
tenho ideia de como ela chegou aqui ou de onde veio, mas ela
está trancada no quarto de hóspedes desde então. Diane,
minha esposa, não está muito feliz com ela estar aqui. — Ele
aponta, colocando uma caneca na minha frente sobre um jogo
americano de vime. — Especialmente porque temos que pagar
mais honorários advocatícios para remarcar a data do tribunal
que ela perdeu.

Tiro a caneca da boca. — Não foi culpa de Mia. Tenho


certeza que ela se sente mal com isso. E você não precisa se
preocupar com o custo. Posso cuidar de um advogado.

As sobrancelhas de Bruce se erguem quando ele cai em


uma cadeira de jantar com sua caneca na mão. — Você?

Recosto-me na cadeira e pressiono minha mão no joelho.


— Sim. Eu a amo, senhor. Estou apaixonado por ela e Mia
também me ama.

O sorriso deserto em seus lábios alimenta minha


ansiedade.

— Mia não é capaz de amar.

Ele diz isso como se eu não a conhecesse, como se ele a


conhecesse melhor do que eu. — Você está errado. — Inclino
minha cabeça para o lado, evitando meu olhar brevemente
para me conter. As palavras estão lá, penduradas na ponta da
minha língua. Quero contar a Bruce como Mia sempre foi
capaz de amar. Que eu senti seu coração melancólico bater
furiosamente em seu pior, provando que a paixão se agitou no
meio do nada. Mia Rose Jett sempre esteve desesperada para
amar. Ela só tinha que acordar primeiro. — Mia passou pelo
inferno e voltou, e não apenas sobreviveu, mas floresceu. Mia
é nada menos que uma maravilha. Se você tivesse tempo para
conhecê-la, você também veria.

Bruce se recosta e cruza uma perna sobre a outra. —


Estamos falando da mesma Mia?

— Você me deixaria subir para que eu pudesse ter


certeza? — Tento e ele ri. Escondo meu sorriso atrás da borda
da caneca de café antes de tomar um gole. Eu estava falando
sério. Minhas veias tremem de estar tão perto e de não a ver.
Colocando o café de volta na mesa, as risadas se estabelecem
entre nós e eu solto um suspiro impotente. — Por favor, deixe-
me vê-la. Deixe-me acordá-la.

— Ela vai embora com você? Quais são seus planos? —


Bruce pergunta, direto ao ponto.

Sua primeira pergunta me pega de surpresa, quase como


se ele não quisesse Mia aqui. Quase como se Mia fosse um
fardo. Bruce não disse isso, mas ele não precisa. Uma
escuridão surge em seus olhos, e é evidente que, quando se
trata de Mia, Bruce havia desistido há muito tempo. — Por dois
anos, eu não fiz nada além de fazer planos, e parei de fazê-los
duas semanas atrás, quando Mia desapareceu. Eu cansei de
fazer planos, senhor. Eu costumava acreditar que se fizesse
tudo o que pudesse para mapear nosso futuro, isso aconteceria
porque foi planejado, porque pensei que havia nos preparado
para o desconhecido. Mas não é esse o caso, e eu vejo isso
agora. O único plano que tenho agora é sentar aqui nesta
cadeira até que você me dê permissão para subir correndo as
escadas para vê-la. Não consigo ver além disso agora.

— Eu gosto de você. — Admite Bruce.

— As pessoas costumam fazer.

— Quando você sobe as escadas, o quarto dela fica à


esquerda. Não acorde minha esposa.

Abandono a cadeira e vou embora. Meus pés não podem


se mover rápido o suficiente, e quando me aproximo da porta,
respiro fundo e giro a maçaneta.

Está trancada e minha testa cai sobre a porta quando


bato levemente. — Mia. — Eu imploro. — Sou eu. — O silêncio
e a barreira entre nós são aterrorizantes. Em que condição eu
a encontrarei? O que diabos ela poderia ter enfrentado nas
últimas semanas? O que Ethan fez com ela? Por que ele a
deixou ir? Perguntas nadam e minha cabeça gira. — Por favor,
abra a porta.

— Há uma chave sobre a moldura no topo — Bruce


declara abaixo.

Estendo minha mão sobre a saliência até que meus dedos


tocam o metal frio.

Em cheio, empurro-a pelo buraco e giro a maçaneta.

A porta se abre.

Mas o quarto está vazio.


Desesperadamente, verifico o armário e o banheiro. A
cama esteve ocupada, lençóis desalinhados amontoados ao pé
do colchão. Meus olhos correm ao redor do quarto até que
param em uma janela aberta por onde uma brisa sopra,
soprando a cortina fina descuidadamente. Avanço e tiro a
cortina do caminho para encontrar uma saliência da qual
alguém poderia pular facilmente. Uma saliência da qual ela
havia pulado.

Mia se foi.

Eu dirijo para cima e para baixo em montanhas, me perco


no vale e perco a rede do celular junto com ele. Sem saber para
onde Mia iria fugir, continuo a dirigir, com medo de cair de um
penhasco. Cada motorista que eu passei passa por mim,
buzinando rudemente.

Por volta das três da tarde, finalmente consigo o serviço e


estaciono no posto de gasolina mais próximo no GPS. Ela tem
que estar por aqui, ela está dentro do meu peito, dentro dos
meus ossos. Minha alma zumbe, reconhecendo a dela por
perto. Mais algumas horas de busca se passaram e no meu
caminho de volta para a casa deles para ver se ela tinha voltado
para a casa de seu pai, cabelo castanho retorcido, uma
pequena estrutura e um casaco com capuz preto chamam
minha atenção e roubam minha respiração. É Mia, e ela está
sentada em um banco ao longe, olhando para a vista.

Puxo de ré para a depressão na estrada e desligo o motor.


Mia está de costas para mim, mas sei que é ela. As batidas do
meu coração são muito familiares, e meus nervos à deriva,
transformando-se em alívio quando ela se sentou lá em várias
camadas de roupas, botas de chuva vermelhas cobrindo seus
pés. Ela não se incomoda em se virar quando ouve o carro
vindo atrás dela. Ou ela não ouviu?

Saindo do carro, penso no que direi ou farei. E a cada


passo mais perto, tenho que me conter para não a puxar em
meus braços. Sento-me ao lado dela no canto do banco e solto
uma respiração instável, meu olhar nunca se afastando dela.
Sob os cílios molhados, seus lábios estão rachados e ela treme
por dentro. Mas mesmo quando ela está chorando, ela é linda.
Eu não consigo tirar meus olhos dela enquanto ela mantém os
dela na vista da montanha.

Ficamos sentados lá por um tempo, nenhum de nós diz


nada. O silêncio de Mia provoca um pânico oscilando dentro
de mim, levando-o ao limite. Nunca estive tão nervoso. O vento
daqui de cima sopra violentamente, mas Mia nunca vacila. Os
pensamentos dentro de sua cabeça são tão altos que prende
todo o meu ser com força. Ela está confusa, e eu gostaria de
saber os motivos.
— Por que você não me procurou? — Ela finalmente
pergunta.

Suas palavras me chocam e abrem meu peito, e tenho que


virar minha cabeça para afastar a água acumulada em meus
olhos. Quando me viro para encará-la, pego sua mão em seu
colo, mas ela se afasta. — Mia, olhe para mim.

Seus olhos se fecham e ela balança a cabeça.

Em segundos, eu me agacho na frente dela, me


recusando a permitir que ela aceite a maldita mentira. — Eu
estive procurando por você minha vida inteira, Mia. Eu nunca
parei, porra. Procuro você em cada sala em que estou, em cada
rosto que vejo e, nas últimas semanas, não fiz nada além de
fazer tudo o que poderia para te encontrar, porque fui feito
para te encontrar. — Os olhos de Mia estão cerrados com mais
força, as lágrimas escapando. — Eu nunca vou parar, Mia.

Os olhos de Mia se abrem. Ela olha para mim e eu


congelo.

Apesar das últimas semanas, um único olhar em seus


olhos prova que ela é a mesma Mia forte por quem eu me
apaixono de novo a cada dia que passa. Ela fica comigo e solto
um suspiro longo e instável.

— Você mentiu para mim. Por dois anos, você mentiu


para mim. — Diz ela, e sua mão toca minha bochecha. Talvez
ela queira ter certeza de que sou real. — Você é um poeta
agora...
— Sempre fui poeta, amor.

— Você nunca me disse que publicou seu trabalho. Você


nunca me disse que o moletom que eu usava quase todos os
dias estava em seu nome. Você escondeu muito de mim.

Embora ela esteja falando, estou hipnotizado demais por


seu toque. Meu rosto afunda em sua palma antes que ela passe
os dedos pelo meu cabelo. Inclino-me mais perto, precisando
de mais. — Tudo o que fiz foi por você e Zeke. Essa é a verdade.
Eu estava com medo de dizer por que estava com medo de
falhar com você. Eu não queria que você ficasse desapontada
comigo. Quando descobri que o primeiro livro era um sucesso,
queria fazer uma surpresa para você, mas nunca tive a chance.

— Por que você não registrou um boletim de ocorrência?

— Deus, Mia. Eu tentei. Deus sabe, eu tentei. A polícia


nunca me deu uma hora do dia. Conversei com todos os
malditos oficiais e residentes em toda Guildford e Surrey,
visitei Oscar na prisão, apareci na casa de Lynch,
incomodando sua bunda todos os dias. Liguei para Bruce.
Cada. Maldito. Dia.

— Você tem uma resposta para tudo.

— Porque eu fiz tudo.

E nós fomos e voltamos assim por mais de uma hora, eu


de joelhos diante dela com suas mãos em mim. Ela me contou
o que aconteceu com Scott, como ele era responsável pelos
suicídios, e ela o surpreendeu, como Scott a levou e a manteve
presa em uma cabana. Como Mia colocou fogo na cabana e
Scott a salvou. Como foi sua decisão entrar no avião. Como
Mia não queria deixá-lo, mas Scott a deixou. Eu disse a ela que
queria matá-lo, e ela disse não. Eu disse a ela que a amava e
isso nunca mudaria.

A comunicação sempre foi fácil para nós, porque


colocamos tudo na mesa e raramente nos afastamos um do
outro, mas eu me contive. Eu deveria ter dito a ela que me
envolvi com os Links. Eu fiz um trato com o diabo para
encontrá-la, mas contar a ela apenas colocaria mais em seu
prato. Em vez disso, a lembrei que esperarei o tempo que ela
precisar. Que ficarei com ela o tempo que for necessário.

As temperaturas caem, e ela ainda não tinha se movido


da cadeira, não me deixando tocá-la, não me deixando segurá-
la. Dói, mas Scott causou danos. Dói vê-la assim, tão distante
e nervosa. Embora seus olhos permaneçam em mim,
certificando-se de que eu não desaparecerei. Quero perguntar
se ele a tocou em lugares onde minhas mãos estiveram e se ela
o tocou do jeito que ela me tocou, mas agora não é o momento.
Não teria feito diferença, de qualquer maneira.

— Estou tão brava. — Ela sussurra, suas mãos ainda no


meu cabelo como se elas fossem me manter real enquanto as
minhas seguram o banco em ambos os lados dela.

Sua raiva rasga minha alma em pedaços e me faz sentir


completo, um masoquista. Minhas pernas estão dormentes de
ficar agachado por tanto tempo, mas eu não consigo ver direito
por estar no espaço dela, com muito medo de me mover, medo
de suas mãos se afastarem de mim.

— Mia... — Fique comigo, amor.

Ela balança a cabeça enquanto suas mãos caem de mim


e balançam em seus lados. — Eu nunca precisei de ninguém.
Não precisava de mais ninguém para me fazer sentir segura,
para me fazer feliz. Eu estava bem e capaz de cuidar de mim
mesma... porque eu não me importava, porra. Agora eu me
importo e, de repente, é como se eu dependesse de todo
mundo. De Ethan, de você. Eu odeio não ser capaz de me
defender. Odeio como toda vez que você está longe de mim, a
dor me devora de dentro para fora como se eu estivesse
morrendo de forma lenta e dolorosa. Eu odeio isso. — Sua voz
aumenta, e estou com medo de onde ela está indo e o que sua
confissão faz com ela. — Eu não quero que meu mundo inteiro
dependa de ninguém além de mim. Quero começar a fazer
escolhas. Eu quero fazer algo de mim mesma, lutar minhas
próprias batalhas, ganhar minhas próprias vitórias. Eu não
quero mais ser fraca. — O ar escapa de seus lábios, uma lufada
de frio branco. — Eu não sei mais. Eu não consigo pensar em
nada. Estou tão brava, quero dar um soco em alguém. Eu
quero machucar alguém. Estou com tanta raiva e quero gritar.
Sim... — Ela olha para mim, ofegando por uma respiração em
meio a soluços furiosos. — Eu quero gritar, porra. — Eu quero
tanto beijá-la para acalmar o caos que gira em sua mente. Mia
está hiperventilando, palavras por todo o lugar. Ethan a havia
derrotado e enchido sua cabeça com tantas dúvidas e
incertezas, eu quero levar uma faca a sua garganta pela dor e
danos que isso causou a ela. Em um furacão de histeria, ela
tenta encher os pulmões e olha para mim com olhos pesados
e desesperados. Pela primeira vez, não sei como ajudá-la. Mas
as palavras simplesmente saem da minha boca como se fosse
um reflexo.

— Grite Mia.

— O que?

— Grite. É só você e eu aqui, deixe o seu pior sair. —


Balanço a cabeça, esperando que isso funcione. A cabeça de
Mia se ergue e ela franze as sobrancelhas enquanto o vento
joga seus fios rebeldes contra seu rosto. Pego sua mão e a
levanto do banco em direção ao corrimão. Fico nervoso com o
quão perto do penhasco ela está, e fico atrás dela enquanto ela
continua a procurar por ar. Olhando para o sol se pondo atrás
das montanhas rígidas, coloco minha cabeça perto de sua
orelha e fecho os olhos. — Solte.

Eu quero que ela desmorone.

Eu quero que ela caia sobre mim.

Com cada pedaço dela lutando, estou pronto.

Eu quero que meu grande coração e alma possa ser o


filtro para ela.

Então os punhos de Mia agarram a grade, nós dos dedos


brancos e um grito perfura o ar da noite. Um grito de batalha,
ecoando no vale, o mundo inteiro seu público, a montanha seu
palco. Penetra minha alma, passando por cada parte de mim.
Seu grito entra em minha corrente sanguínea, rasteja em
minhas veias e traz lágrimas aos meus olhos. Meu peito se abre
enquanto eu a seguro, acreditando que ela tem o poder de
mover planetas e parar o tempo. É tão poderoso. Mia grita
porque dói e, pela primeira vez, ela quer que todos sintam a
mesma dor que ela sente, e eu sinto isso ‘pra’ caralho. Ela grita
porque pensa que está quebrada, mas ela nunca me fará
correr. Ela grita até que o grito se transforma em choro, ela
desaba em meus braços e eu a embalo contra o vento.

— Você pode perder a cabeça, Mia, mas nunca vai me


perder.
TREZE

“A maneira mais fácil de se perder está dentro de outro.


A maneira de se encontrar está dentro do outro.”
− Oliver Masters

OLIVER MASTERS ESTÁ NA AMÉRICA, seu carro alugado


estacionado na garagem do meu pai.

Nenhum de nós tinha falado uma palavra no caminho


para cá depois que eu gritei, o que me fez sentir mais leve. Em
menos de sessenta segundos, a raiva, o sofrimento e a dor
acumulados ao longo de duas semanas escaparam pela minha
garganta e nunca me senti tão bem. Ollie sempre soube do que
eu preciso.

Ollie para atrás do carro estacionado do meu pai e


ficamos sentados em um silêncio confortável por alguns
minutos. Antes de deixarmos Dolor, fizemos planos para fugir
e nos casar, nossos futuros abertos e livres, e para fazer,
juntos.

Mas duas semanas podem mudar muito.


Ethan me fez questionar a devoção de Ollie por mim. Seu
amor por mim. Ethan me fez acreditar que sou fraca e preciso
dele para sobreviver, mas isso foi antes de me descartar, uma
carta inútil em um jogo de pôquer perdido. Um coringa. Meu
cérebro está uma bagunça confusa e eu não sei mais em que
acreditar. Eu não consigo nem confiar em meus próprios
pensamentos. Um segundo, quero me jogar em Ollie e implorar
a ele para apagar as últimas duas semanas e me levar de volta
para Guildford, onde dançamos dentro de seu dormitório e
rimos sob o lençol fino a noite toda, falando sobre tudo que
faríamos e os lugares que iríamos. No próximo, quero correr
para dentro da casa do meu pai e traçar um plano para viver o
resto da minha vida sozinha, possivelmente cantando nas ruas
por dinheiro, para que ninguém pudesse ter a chance de me
trair novamente.

Ollie está sentado no banco do motorista vestindo o


moletom preto e as calças cinza que eu o tinha visto tantas
vezes antes. A exaustão consome suas feições, ele parece ainda
mais magro e seu cabelo é cortado de forma diferente, mais
curto nas laterais, mas ainda longo na parte superior. No
entanto, seus olhos verdes ainda são os mesmos, só que agora
uma pitada de alívio se mostra por todas as maneiras que eles
sempre falam comigo.

— Vou arranjar um hotel por perto. — Diz finalmente. —


Eu realmente gostaria que você ficasse comigo. — As palavras
ficam presas na minha traqueia e preciso de mais tempo do
que uma respiração para pensar nisso. — Eu entendo se você
não quiser. — Ele continua. — Eu sei que você precisa de
tempo, mas estarei aqui pela manhã e aparecerei todas as
manhãs naquela porta até você perceber que não vou a lugar
nenhum.

— Ok. — É tudo que consigo reunir. Ollie belisca a ponta


de seu nariz e meu coração desaba na boca do estômago. Ele
está tentando ser forte e isso o rasga por dentro. Em vez de
encontrar sua noiva, ele encontrou uma garota com o espírito
quebrado. E eu não quero que ele me traga de volta desta vez.
Preciso encontrar a força para me trazer de volta pela primeira
vez, para saber que eu poderia.

— Estou apaixonado por você, Mia. — Seus sentimentos


comprometem sua voz. — Eu sempre estarei apaixonado por
você. Para sempre, loucamente naquele lugar, você nunca terá
que questionar, não importa o que aconteça. Casamento ou
não casamento, é você e eu para sempre. Você me entende? —
Assentindo, meu lábio inferior treme e meus olhos queimam
enquanto observo meu espírito quebrado apenas fortalecer o
dele. Sua fé abala, mas ele ainda acredita em nós dois, o
suficiente por nós dois. Ele força um pequeno sorriso e solta
um suspiro. — Bom, agora vá dormir um pouco. Te vejo bem
cedo.

Eu não digo nada de volta. Eu não dou um beijo de


despedida em Ollie.

Estou com muito medo. Se nossos lábios se encontrarem,


estaria voltando para o hotel com ele. E se eu voltar, nunca
descobrirei a verdade. Eu sou a garota dependente cuja
felicidade e força dependem de outra pessoa, ou posso
encontrar a força interior?

Depois que Ethan foi embora, eu oficialmente cheguei ao


fundo do que deveria ser um poço sem fundo. A piada era
comigo quando bati na superfície dura. Três coisas que
aprendi sobre mim mesma. Primeiro, eu definitivamente não
sou uma sociopata, nunca fui. Dois, eu estaria para sempre
apaixonada por Oliver Masters. E três, eu não sei quem eu sou
sem ele.

O número três foi o soco no estômago e o principal motivo


de eu precisar de espaço dessa vez. Com ou sem mim, Ollie
tem um futuro, uma vida, sonhos, uma carreira... tudo que eu
não tenho e nunca soube que queria até agora. Uma parte de
mim está com ciúmes, outra parte incrivelmente orgulhosa. Eu
não posso ficar com raiva de Ollie por ir atrás disso, mas isso
apenas me lembra de como eu sou menos pessoa. Pelo menos
com Ethan, fugindo, isso poderia ter me distraído com um falso
senso de propósito. Pelo menos com Ethan, eu não seria a
única me escondendo, fingindo e mentindo para mim mesma.

Ollie espera na garagem enquanto eu subo os degraus da


varanda e empurro a porta da casa do meu pai, onde ele está
sentado no sofá de microfibra bege em frente à TV, assistindo
ao jogo dos Steelers, com a mão em torno de um vidro colocado
na lateral da mesa. Sua cabeça se inclina para o lado para ver
que eu tinha entrado pela porta.
Diane enfia a cabeça loira pela abertura da cozinha com
um pano nas mãos.

— Já comemos. Não estou acostumada a fazer o jantar


para três, então você vai ter que se virar. — Ela joga o pano por
cima do ombro. — Você é adulta agora, Mia. É hora de se
cuidar. — Sua cabeça desaparece, e eu não esperava nada
diferente dela.

— Está bem. — Vou em direção à sala de estar, passando


por ela no caminho. — Eu não estava com fome de qualquer
maneira.

— Morrendo de fome ou com preguiça? — Ouço atrás de


mim da cozinha.

Paro no meio de um passo, meus punhos cerrados ao


meu lado. — Apenas cansada. — Forço para fora. Já são quase
seis e meia da noite, o que seria quase onze e meia no Reino
Unido, mas por mais cansada que eu estivesse, uma conversa
entre meu pai e eu precisa acontecer. Não nos falamos desde
que voltei, evitando os dois até que eu pudesse descobrir o que
dizer.

Nosso sofá é em forma de L e eu me jogo no tecido de


pelúcia do lado oposto do meu pai. Ele olha para mim e me
sinto exposta. Enfio minha mão sob minhas coxas para evitar
ficar inquieta. — Eu sinto muito.

Meu pai pega o controle remoto do braço da cadeira e


abaixa o volume da TV. Eu gostaria que ele não tivesse. Eu não
queria que Diane ouvisse nossa conversa ou se metesse nela.
Sua sobrancelha espessa ergue-se no ar e ele cruza o tornozelo
sobre o joelho oposto. — Pelo que você está arrependida?

Eu não sei exatamente do que me desculpar, apenas que


temos que fazer as pazes se eu ficar sob seu teto. Ele já está
lidando com a tensão que isso coloca em seu casamento, e eu
não tinha notado até agora, até que meu coração derreteu
desde que Dolor me pegou. Ou Ollie. Ou ambos. — Que tudo
isso aconteceu. Isso chegou a este ponto.

— Agradeço isso, Mia.

Diane ri de dentro da cozinha e meu estômago dá um nó


com o som.

— Bruce, não caia nessa. Mia manipula, é o que ela faz.


A única razão pela qual ela está se desculpando é porque não
tem outro lugar para ir. Vinte anos e nada para mostrar. —
Sua risada continua, ricocheteando nas paredes brancas sem
vida de dentro da casa. Talvez eu mereça. Por mais de dez anos,
coloquei os dois no inferno para minha diversão.

Antes, eu diria algo inteligente em troca. Provavelmente


comentado sobre como Diane nunca trabalhou um dia na vida
e viveu do seguro de vida da minha mãe para pagar suas unhas
bem cuidadas e aulas de ioga, que é o que os dois
provavelmente esperavam de mim. A antecipação nos olhos do
meu pai se concentra em mim, e uma canção bufante chega
da cozinha à sala de estar enquanto os pratos tilintam dentro
da pia.
Deserta no deserto. Mãos nas minhas costas. Cem rifles
apontando para mim.

— Eu só queria dizer que sinto muito. — Repito, me


levantando. — Obrigada por me deixar ficar aqui até a minha
data no tribunal. — Há um constrangimento não dito no ar, e
caminho em direção às escadas para voltar para o meu quarto
sem olhar para trás para reconhecer os murmúrios de Diane
sob sua respiração. A ideia de ficar com Ollie no hotel parece
uma ideia melhor, mas se eu fizer isso, significa apenas fugir
dos meus problemas.

Enquanto subo de volta as escadas, o volume da TV


aumenta, provando que sou algum tipo de acessório
temporário que pode ser facilmente ignorado e logo removido
se a fiação falhasse.

Meu antigo quarto não é mais o meu antigo quarto. Desde


então, tinha se transformado em um quarto de hóspedes,
completo com paredes de papel de parede florais, móveis de
vime branco e uma placa na cabeceira, dizendo “Seja Nosso
Convidado”. Uma colcha branca esticada sobre a cama com
mais de uma dúzia de almofadas, brancas, felpudas e
completamente inúteis, e no canto onde minha escrivaninha
costumava ser colocada um bagageiro para convidados que,
tenho certeza, nunca visitaram.

Fico na ponta dos pés, pegando uma caixa com minhas


roupas velhas do topo do armário. Diane tinha jogado fora,
mas isso fez o corte. E depois de um banho quente, subo na
cama e ligo a Netflix para adormecer com programas sobre
casos de assassinato não resolvidos e adormeço me
perguntando se os assassinos são parecidos com Ethan e se
as vítimas mereciam.

Na manhã seguinte, acordei com o som de Diane batendo


na porta do quarto de hóspedes. Ela entra sem avisar, mas não
há muito que eu possa dizer. Este é seu quarto agora, sua casa.
— Tem um cara lá fora perguntando por você.

Ollie. Ele está aqui, e meu coração dá um salto mortal


dentro do meu peito, terminando com uma queda livre para
trás, caindo em um tapete invisível. Eu não deveria ter ficado
tão chocada que ele veio, mas ele poderia decidir se levantar e
sair a qualquer momento, como todo mundo. Eu respiro fundo,
lembrando o que preciso fazer.

— Ok.

— Ele não é permitido nesta casa.

— Ok, eu entendo.

— Bom. — Ela sai, e assim que desaparece virando o


corredor, corro para o armário e coloco um moletom pela
cabeça e puxo uma calça. Eu não possuo nada além de jeans
e moletom, acreditando que a vida é muito curta para ser
desconfortável. Cada degrau na escada me irrita e paro diante
da porta.

Se eu o visse, iria com ele.

Se eu o deixasse falar, eu ouviria.

Abro a porta. Ollie se vira para mim. E todos os meus


sentimentos abafam as palavras que eu queria dizer.

— Oi, amor. — Ele sorri seu sorriso de parar o coração,


olhando para mim da maneira que todas as garotas, pelo
menos uma vez na vida, desejavam ser olhadas, com
admiração e sem julgamento. Três segundos e aquele único
olhar sempre foi o que levou para me lembrar de que Oliver
Masters era o meu para sempre. Ele desvia o olhar por um
momento como sempre fazia para esconder o efeito que tenho
sobre ele, o rubor sombreando suas bochechas e o sorriso que
ele nunca poderia esconder. — Como você dormiu?

— Mal. — Senti falta de deitar ao lado dele.

Ele parece aliviado. — Eu também.

O silêncio invade o ar entre nós, mas não é estranho,


nunca é estranho. Estar no espaço de Ollie traz de volta uma
sensação de autoconsciência. Sei quem eu sou perto dele. A
garota capaz de derrotar a escuridão que toma conta, e se eu
sou capaz disso, posso fazer qualquer coisa. Perto de Ollie, eu
poderia lutar contra monstros, ter um futuro e ser a melhor
versão de mim mesma. Mas quero fazer todas essas coisas sem
ele também.

— Posso te levar para tomar café?

Meu olhar vaga sobre ele, finalmente levando tudo sobre


ele. Os jeans pretos esfarrapados são familiares, aqueles que
ele sempre usava no Dolor. Eu puxava os fios perdidos dos
buracos sobre seus joelhos no refeitório sempre que sua perna
saltava com os nervos da multidão, e eu pegava uma caneta e
escrevia nossos nomes nas partes ao redor de suas coxas
quando eu estava entediada, e ele me deixava porque sabia que
eu sempre tive dificuldade em ficar quieta. Mas o moletom
cinza sob a jaqueta jeans e os sapatos brancos são todos novos.
Enquanto eu estava em cativeiro por Ethan, ele teve tempo
para ir às compras.

— Mia...

Meus olhos saltam. — Eu preciso de mais tempo do que


uma noite.

— Posso voltar mais tarde?

Balanço minha cabeça.

— Isso está me matando. — Ele admite, mudando de


lugar.

— Volte amanhã. — Pode não ter feito sentido para ele,


mas faz sentido para mim.
— Estarei aqui. Amanhã, — Ollie confirma, e quando vou
fechar a porta, sua palma sobe e pressiona contra ela para me
impedir. — Eu estarei aqui, Mia. Todas as manhãs, estarei aqui
até que você encontre o que está procurando.

Na manhã seguinte...

Durante a maior parte da minha vida, fui uma pessoa


matinal e noturna. Eu ficava acordada todas as horas da noite,
falando com o céu noturno, meu melhor amigo. Antes de Dolor,
eu pularia pela janela durante as noites pegajosas de verão e
me deitaria sob as estrelas sobre as telhas ásperas, fazendo
perguntas que o Google ou um livro não poderiam responder,
como se fosse o nono rascunho de Deus da Terra porque Vênus
estava muito quente, e Marte muito frio? Talvez Deus nunca
tenha acertado da primeira vez. E havia um universo
alternativo com outra Mia em circunstâncias diferentes, nunca
abusada por seu tio, mãe ainda viva, com muitos amigos e
festejando em seu último ano? E por que e como a palavra
moist9 foi feita?

A noite nunca respondia, apenas ouvia, razão pela qual


nos demos tão bem.

Eu nunca tinha encontrado alguém com quem pudesse


conversar até ouvir a voz de Ollie. Ele rapidamente roubou o
status de melhor amigo sob o céu noturno, ficando acordado
todas as horas da noite comigo depois de voar pela abertura

9 Úmido.
no teto para ficar um com o outro. — A Terra é o nono rascunho
de Deus? — Eu perguntei a ele.

— Ninguém é perfeito, Mia, mas Deus é. Deus não faz nada


sem propósito. Talvez os outros oito estejam lá para se
equilibrar.

— Existe um universo alternativo? — Eu o perfurei sob o


forte de lençol comercial Dolor que seguramos com nossas
cabeças.

— Se houver, eu também estou com você lá. Estamos


juntos em todas as vidas.

— E o que há com a palavra moist?

—Phlegm10 já foi levada.

Era fácil adormecer à noite, quando você não tinha mais


perguntas. Com Ollie, tudo ficaria bem, mesmo que eu não
tivesse a resposta para tudo. Ao lado de Ollie, o espaço e o
tempo não existiam, e eu entraria em um coma de calor sem
me preocupar.

E embora ele não esteja dormindo comigo agora, os


sonhos de nosso tempo juntos me seguram.

Acordo antes que Diane entre dessa vez e olho pela janela.

Ollie está lá, encostado no porta-malas prateado no meio-


fio com um copo Dunkin11 em uma das mãos, a outra enfiada

10 Fleuma.
11 Empresa norte-americana de rosquinhas e café.
no bolso de seu moletom. Ele deve ter sentido meus olhos nele
e sua cabeça se inclina para me pegar olhando. Que horas ele
chegou aqui? Há pelo menos quinze metros, uma janela e um
galho de árvore entre nós, mas seus olhos encontram os meus
contra os obstáculos. Endireitando sua postura, ele sorri, e
sua mão retira-se do bolso e levanta em um pequeno aceno.

Eu aceno de volta.

Ele ergue um dedo, coloca o café em cima do carro e abre


a porta do motorista.

Ele está de costas para mim e aproveito para arrumar


meu cabelo. Meu cabelo bagunçado só deixa meu lado
esquerdo decente, e um grande moletom Champion12 pende
dos meus ombros. Meus braços caem para os lados quando
Ollie me encara novamente, segurando um segundo copo de
café no ar como uma oferta.

Eu balanço minha cabeça.

Ele ergue um dedo novamente.

Então, um saco de papel branco aparece atrás de suas


costas, e ele o sacode um pouco na sua frente.

Eu rio levemente, esperando que a distância, a árvore e o


vidro da janela deem a ilusão de que eu não estou corando ou
completamente tomada por sua determinação.

12 Marca de roupa.
Ollie ergue a palma da mão no ar como se dissesse, dê-
me-algo-aqui.

Balanço minha cabeça e ele inclina a dele.

Alguns segundos depois, ele coloca meu café ao lado do


dele e desaparece dentro do carro novamente, pegando uma
mochila. Observo da janela enquanto ele equilibra a mochila
sobre o joelho, abre o zíper e coloca o saco de papel branco
dentro, tenho certeza que está cheio de croissants e doces,
antes de fechá-lo novamente. Ollie pega meu café do carro e
caminha sob a janela em direção à porta da frente,
desaparecendo de minha vista.

Quando ele volta para o carro, suas mãos estão vazias.

Ele deixou tudo esperando por mim.

Ollie faz uma pausa antes de voltar para o carro com a


porta do carro entreaberta, protegendo metade de seu corpo.
Ele ergue os olhos mais uma vez, seus olhos dizendo tudo que
eu preciso saber: estarei aqui amanhã, farei isso para sempre,
mas se apresse porque você está me matando. E antes que ele
entre e feche a porta, o último olhar em seus olhos diz
exatamente o que eu precisava ouvir, provar e sentir. Amo você,
Mia.

Na manhã seguinte depois dessa...


Passei a manhã revigorante subindo e descendo as
colinas de Bushkill com a câmera que Ollie me deixou na
mochila, que também continha algumas roupas velhas, um
novo par de Converse e algumas camisetas simples que ele
pegou, sabendo que ele tinha tudo que eu deixei em Dolor.

Bushkill, na Pensilvânia, é a imagem perfeita durante as


mudanças das estações e morta no resto do ano, conhecida
pelas cachoeiras e Montanhas Pocono. Não há vida noturna
aqui, isolada com reservas, trilhas para caminhadas, parques
e museus. Nós nos mudamos para cá depois que minha mãe
morreu de Allentown, que era mais movimentada, barulhenta
e sufocante para meu pai. Eu não me lembro muito de
Allentown, apenas da pista de patinação no gelo que
costumava visitar aos sábados com Miley e Charlotte.

Examino dois rolos de filme e me lembro de como me


sentia atrás de uma câmera. Poderosa e no controle. Eu
poderia dar qualquer ilusão que quisesse. Tornar qualquer
coisa bonita. Até mesmo uma embalagem de chiclete carregada
pelo vento entre as folhas, cliquei e peguei o lixo, uma estrela
azul menta dançando em tons de marrom.

Desde o dia agitado anterior, Ollie me venceu até a porta


da frente.

Ficamos em lados opostos, completamente parados e


olhando um para o outro, e eu estremeço com a frente fria que
se infiltra pela passagem aberta e entra na casa. Ollie tem mais
camadas esta manhã com um gorro, a temperatura no mínimo
zero ou máximo cinco graus Celsius. Embora seus pés estejam
enraizados no lugar, o resto dele está vivo, pronto para atacar
se eu o deixasse. — Você está bem?

Ele fica na minha frente, ele no capacho e eu dentro da


entrada da casa, e forço minha cabeça a balançar para me
impedir de desabar. Aqui, me sinto mais no controle da
situação. Aqui, confio em mim mesma. Mas com Ollie aqui,
nenhuma distância é segura.

O queixo de Ollie cai sobre o peito.

— Não vou ficar com você, mas fui à cidade ontem e


comprei um telefone com serviço internacional para você.
Quero ter certeza de que você tem uma maneira de entrar em
contato comigo. — Ele puxa um telefone do bolso da frente e o
segura entre nós. — O jovem disse que a câmera é o melhor
recurso, e eu configurei para você ontem à noite, programei
meu número. Também baixei alguns aplicativos que acho que
você vai gostar. Principalmente aplicativos de imagem onde
você pode escolher filtros e distorcer imagens...

Ollie continua a divagar nervosamente e eu pego o


telefone.

— Não-uh-uh. — Ele puxa o Iphone e segura-o sobre


nossas cabeças, nuvens de nossa respiração se espalhando
entre nós. — Eu quero algo de você em troca.

Eu me mexo, inclinando meu quadril contra o batente da


porta em um par de suas calças que ele trouxe para mim e sua
camisa que dizia, FAÇA AMOR, NÃO GUERRA. Ele sabe que
eu amo essa camisa, não por causa do ditado, mas porque é a
sua favorita. — O que você quer?

— Se eu te der este telefone, você tem que me enviar uma


mensagem. E vou assistir você me enviar essa primeira
mensagem agora, para que eu saiba que você sabe como usá-
lo.

O telefone abaixa entre nós, e estendo minha palma para


ele colocar.

— Eu sei como usar um telefone, Ollie.

— Você ficaria surpresa com o quanto mudou em dois


anos.

Balançando a cabeça, me atrapalho com os botões para


mudar a tela preta para algo diferente. O botão home sumiu.
Ollie sorri, mas não oferece ajuda.

Finalmente, descubro que preciso tocar no ícone verde.

— Qual é seu número?

— Já está em seus contatos. — Sua mão sacode dentro


do bolso. — O único número lá, amor.

Desisto das mensagens e vou para os contatos. “Ollie”


está listado, algo tão simples, mas ver seu nome em uma tela
faz meu coração criar asas e voar. Eu sorrio, mandando uma
mensagem para ele.
O telefone de Ollie toca em seu outro bolso. Ele pega o
telefone e baixa a cabeça, os dedos trabalhando na tela para
abrir a mensagem, que simplesmente diz: — Eu te amo — Seus
ombros relaxam visivelmente, uma exalação o deixa e seu olhar
se arrasta da tela até que olhos verdes encontram os meus. —
Eu precisava disso.

...e a manhã depois daquela...

O sol do final da manhã filtra-se pelas cortinas de renda,


aquecendo o lado do meu rosto. A noite toda, eu me revirei,
incapaz de me aquecer ou ficar confortável. Minha garganta
queima e minhas entranhas parecem como se tivessem sido
lançadas em um inferno. Uma Diane irritada bate na porta,
anunciando a chegada de Ollie, mas não há como eu sair da
cama.

Pela primeira vez em muito tempo, fiquei doente.

Gemendo, eu cegamente dou um tapinha no telefone


dentro das cobertas para mandar uma mensagem para ele.

O telefone está sem bateria.

— Diane? — Eu chamo desesperadamente, esperando


que ela me entenda através do som animalesco que sai. Minha
voz some. — Diane! — Eu tento novamente, desta vez
empurrando o alojamento dentro da minha garganta.

Completamente vestida com calças de ioga, Nikes e


jaqueta preta Michael Kors, cabelo e maquiagem perfeitamente
no lugar, Diane entra no quarto de hóspedes com a bolsa
pendurada no ombro, tapete de ioga rosa espreitando para
fora.

— Eu estou doente. Eu não consigo sair da cama.

— Bem, o que você quer que eu faça? Estou indo


encontrar Lisa em Barre.

— Você pode dizer a Ollie que não posso descer? E eu


preciso de remédios. Temos remédios em algum lugar?

— Há Tylenol no armário de remédios do banheiro.

— E o Ollie?

— Eu direi a ele. — Ela ajusta a bolsa. — Ele não tem


permissão para entrar em casa, Mia. Não me sinto confortável
com alguém que não conheço aqui.

— Eu sei. Ele não vai entrar na casa.

Ela suspira e estende a mão para a maçaneta. — Vou


parar para pegar uma sopa no caminho de volta.

Esse único gesto é uma revelação chocante e aquilo de


que ambas precisávamos para nos colocar na direção certa.
Desde que cheguei, segui suas regras, guardei para mim
mesma, e nenhuma vez tornei esse momento difícil para ela,
ou pelo menos eu tentei. É essa a sua maneira de retribuir um
pouco? — Obrigada — Tento dizer, mas sai como um sussurro
rouco.

Depois que Diane sai, eu me atrapalho com o novo


carregador, tentando enfiar a ponta no telefone, e espero
impacientemente que o telefone tenha energia suficiente para
acender. O logotipo da Apple aparece e eu me sento na cama,
suando e tremendo enquanto minha cabeça lateja.

Eu imediatamente mando uma mensagem para Ollie.

Eu: Sinto muito.

Sua resposta é instantânea.

Ollie: Não sinta. Não é sua culpa. Deixe-me cuidar de você.

Mal sabe ele, é minha culpa. Eu não tinha me vestido


para o tempo ontem, andando sem casaco, tirando fotos.

Eu: Você não tem permissão para entrar em casa.

Ollie: Então venha aqui e eu a levarei de volta para a


pousada.

Mesmo se eu pudesse sair da cama, Diane estava me


trazendo sopa. Por mais que eu quisesse estar com Ollie,
preciso ver aonde isso irá levar Diane e eu. Talvez isso seja
parte de mim me reencontrando, acreditando que poderia
consertar meus erros.
Eu: Eu não quero.

Pequenas bolhas aparecem, desaparecem e aparecem


novamente na parte inferior da tela, então o telefone toca na
minha palma, o nome de Ollie saltando pela tela.

Eu respondo, e Ollie se apressa e diz:

— Não gosto mais de mensagens de texto.

— Diane está me trazendo sopa. — Explico. — Isso é


enorme, Ollie. Acho que ela está voltando.

— A rainha do gelo está descongelando? Isso é bom,


amor. Eu quero isso para você.

Forço meus pés sobre a cama e no chão, em seguida,


caminho em direção ao banheiro para encontrar um remédio.
— Sim, é estranho. Acho que vamos ver como vai.

— Você parece terrível.

Meus olhos pousam em uma garrafa de Tylenol e eu a


agarro. — Eu me sinto pior.

Seu suspiro pesado vibra pelo telefone. — Eu odeio isso.


Eu odeio que você esteja doente e não haja nada que eu possa
fazer. — O motor de seu carro ruge. — Cada vez que eu dirijo
para longe de você, parece tão errado.

— Onde você está?

— Sentado fora de casa no carro. Tive que ligar o


aquecedor.
— Tenho tirado fotos.

— Você tem? — Posso ouvir o sorriso em sua voz.

— Sim, eu perdi isso. Obrigada por deixar minha câmera.


— Digo, em seguida, tomo alguns comprimidos e corro minha
boca sob a água da pia para lavá-los.

— Você precisa de mais filme?

Balançando a cabeça, digo: — Ainda tenho um rolo.

— Vou pegar mais hoje. Preciso de algo para fazer.

— Isso é estranho.

— O que?

— Falar com você pelo telefone. — Rolo de volta para a


cama e puxo os lençóis sobre os ombros. — Nunca fizemos isso
antes.

— Eu não gosto disso, mas vou pegar o que puder. —


Então ele faz uma pausa, e uma pausa prolongada ocorre entre
nós. — Você encontrou o que está procurando?

— Ainda não.

— Você não precisa procurar sozinha, amor...


QUATORZE

“Cada menina é delicadamente desenhada com força e


beleza, capaz de conquistar o mundo sozinha.
E é preciso um homem especial para lembrá-la de que ela
pode, mas não precisa fazer isso sozinha.”
− Oliver Masters

UMA SEMANA SE PASSOU desde que cheguei aos Estados


Unidos. Foi tudo que eu imaginei. Felizmente, o pai de Mia
mora em uma área rural e eu não cruzei com muitas pessoas.

Nos últimos dias, Mia esteve doente e eu não pude vê-la.


O telefone foi uma ideia brilhante, dando-me uma maneira de
pelo menos falar com ela durante esse tempo. Seu encontro no
tribunal será em uma semana. Depois de tudo que ela
suportou, independentemente se ela mencionar que foi
sequestrada ou não, o juiz deve aprovar a eliminação de seu
registro. Se não, é para isso que serve um advogado. Encontrei
um de boa reputação nos Estados Unidos graças à minha
agente, Laurie. Mia completou sua sentença. Roger
Richardson, o advogado, afirmou que o pior que poderia
acontecer seria pagar uma multa por não comparecer ao
tribunal. O cheque já está quase escrito.
— Hoje é o dia. Posso sentir em meus ossos, garoto. — O
velho campanário balança em seu lugar com um sorriso no
rosto. Na maior parte do tempo, estou me guardando, mas Bud
está aqui das dez da noite às sete da manhã com o espírito do
velho St. Nick e a aparência de Beetlejuice13, com um chute
extra no passo. Ele é um sujeito alegre, orgulhoso de conseguir
manter a porta aberta para os convidados e se oferecer para
carregar malas.

Na semana passada, na primeira manhã que Mia me


empurrou, eu atravessei a estrada principal e entrei em uma
loja de esquina naquela noite. Estar em um lugar estranho e
meu único lar dentro de Mia ameaçado, minha crença outrora
elevada e durável havia rompido. Eu comprei um pacote de seis
e comecei na caminhada de volta. As temperaturas baixas não
podiam me afetar no momento, e eu me sentei em um banco
quando Bud apareceu, assobiando uma velha música que eu
não reconheci faltando quinze minutos até a meia-noite. Ele
mencionou que eu parecia perdido. No começo eu não tinha
falado nada, até que ele continuou falando das muitas pessoas
que entram perdidas pelas portas e saem rejuvenescidas. Que
o Old Mill Inn14 era um local de descanso e lazer e ele tinha
visto as propriedades curativas com seus próprios olhos, o que
era cômico porque Bud é cego de um olho.

— É melhor eu conhecer Mia antes de você voltar para


Dublin.

13 Besouro.
14 Pousada Antigo Moinho
— Surrey. — Eu corrijo com um aceno de cabeça. — Eu
não sou irlandês, Bud.

Bud se inclina para frente com as mãos cruzadas atrás


das costas. — O que?

— Eu. Não. Sou. Irlandês! — Repito em voz alta e lenta


em meio a uma risada, então tiro um sotaque irlandês do nada.
— Ah, foda-se.

— Parece que você está indo para uma corrida. Eu gosto


mais desta aparência. Você não parece um rato de rua pela
primeira vez. Não sei o que está na moda hoje em dia. Desde
quando usar trapos se tornou algo? — Bud aponta, olhos se
dirigindo à minhas roupas. Uso tênis novos, shorts esportivos
e um casaco com capuz com meu cabelo enfiado dentro de um
boné. — Você está tirando a garota de casa?

— Esse é o plano. — Mia finalmente havia descido de seu


quarto ontem de manhã, mas ficou atrás da barreira invisível
na porta. Sua febre havia sumido, mas seu comportamento
hesitante indicava que ela ainda não estava pronta.

— Estou nervoso. — Eu finalmente admito, mantendo


meus olhos além de Bud e no moinho atrás dele.

— Ah, uma mulher vai fazer isso com você.

— Bem, me deseje sorte.

— Sorte para os irlandeses? — Seus olhos brilham e


minha cabeça cai para trás. — Eu sei. Eu ouvi você. Surrey.
Inglês, garoto. Mas sorte é para tolos que vivem dentro de
limites. E você é um sonhador, e os sonhadores merecem tudo,
menos o comum. Deseje magia. O amor não deve ser nada
menos do que mágico.

Sorrindo, grito em voz alta para que ele e o mundo


ouvissem:

— Que me deseje essa magia da qual você fala, e que eu


nunca passe um dia sem ela.

— Isso, garoto. Agora, vá buscar sua garota.

O sorriso em meu rosto nunca desapareceu enquanto


dirijo para cima e para baixo nas colinas de Bushkill. Eu não
estou acostumado com as montanhas íngremes com saliências
que desaparecem rapidamente, e por dentro meu sorriso
prende a respiração. O que geralmente levaria para os
moradores locais quinze minutos, levo quase trinta. Carros
buzinam atrás de mim na minha velocidade lenta e cautelosa,
saindo da estrada quando um gancho aparece para deixá-los
passar. O pai de Mia vive em uma armadilha mortal, mas nada
poderia me impedir de chegar lá. E eu fiz isso por volta das
oito.

Depois de bater, o som da voz de Diane ecoa de dentro de


casa, chamando por Mia enquanto agarro a sacola em minha
mão. Eu não consigo pensar na possibilidade de ela dizer não
para mim. Em vez disso, eu me seguro no otimismo, e na
magia.
A porta se abre. Eu levanto meu olhar.

— Oi — Ela sussurra.

E fico bêbado com essa palavra. Isso me leva a lugares


com os quais um pacote de seis ou uma garrafa de uísque
nunca poderiam sonhar. — Oi.

— O que é isso? — O olhar de Mia ataca a bolsa em minha


mão e seus dedos se curvam ao redor da borda da porta como
se ela estivesse se afastando de mim, mantendo os pés colados
no piso laminado sob seus pés.

— Mia, você vai sair dessa porra de casa hoje. Você está
colocando isso, e você vem comigo. Eu me recuso a aceitar
qualquer coisa, exceto um sim. — Seguro a sacola, implorando
internamente para ela pegá-la. Apenas aceite, Mia.

— Onde estão...

Dou um passo à frente e sua frase fica presa na garganta.


Meu pé está pisando em território perigoso, alojado dentro da
porta. Eu coloco minha palma sobre a moldura para me
segurar, não tendo estado tão perto dela desde o dia em que
ela gritou no ar da montanha, puxando cada corda para me
impedir de agarrá-la e jogá-la no meu carro. Os olhos de Mia
se fecham momentaneamente antes de ela olhar para mim
através dos cílios longos. Quero beijá-la e acho que ela quer
que eu beije. Por mais difícil que seja, dou um passo para trás
porque, se não o fizer, eu teria feito. E eu quero que seja sua
escolha.
— Coloque isso, amor. Vou esperar por você no carro.

Mia agarra a sacola da minha mão e fecha a porta.

E eu não consigo tirar o sorriso estúpido do meu rosto.

Dez minutos depois, Mia sai de casa vestindo os itens que


comprei para ela. Os tênis Adidas são simples e preto e branco.
Ela não conseguiria aprender a se defender com um par de
botas de combate ou Chuck Taylor. Mia nunca usava cor, e sei
que ela gostaria deles e combinando com os tênis, camiseta e
moletom que encontrei na seção feminina de um Dillard's. Seu
cabelo está preso em um rabo de cavalo apertado, mostrando
suas feições perfeitas.

Juntos, parecemos estar no mesmo time, e meu sorriso


volta quando eu empurro o carro e endireito minha postura.

Mia aponta o dedo para mim.

— Casais que combinam são estúpidos e cafonas. — Ela


diz, caminhando em minha direção.

Inclino minha cabeça. — Então, suponho que somos


estúpidos e cafonas.

Ela passa por mim em direção ao lado do passageiro, não


me dando a chance de abrir a porta. Se hoje corresse bem,
talvez possa acontecer esta noite. As possibilidades são tão
próximas que podemos alcançá-las, pegá-las e moldá-las em
qualquer forma que quisermos. Mas hoje tenho que seguir os
termos de Mia.
Durante todo o caminho até o restaurante, Mia gritou
comigo do lado do passageiro. — Vá mais rápido, Ollie! —Você
dirige como um velho. Aquela senhora acabou de te mostrar o
dedo do meio. Deus me livre de morrer antes de chegarmos lá.
É isso aí. Nunca mais vou deixar você atrás do volante. Nunca.

Mas tínhamos chegado a Perkins, e Mia finalmente


pareceu à vontade quando a garçonete deixou cair o grande
prato de croissant de morango com torradas francesas,
completo com chantilly e açúcar de confeiteiro, na frente dela.
— Conte-me sobre sua primeira sessão de autógrafos. — Diz
ela antes de enfiar uma garfada de torrada francesa na boca.

— Você sabia disso?

— Ethan me contou sobre isso.

— Não era o mesmo sem você lá. Você estava faltando e


não havia muito que comemorar.

Mia coloca a mão no meu pulso. — Estou maravilhada


com você. Não importa o quão brava ou zangada eu estava, eu
não pude deixar de sorrir, sabendo que você fez isso. Você
merece isso, e as pessoas estão ouvindo.

— Estava? — Eu sorrio. — Você não está mais com raiva?


— Está desaparecendo. — Ela cobre a boca, certamente
não escondendo comida. Provavelmente o sorriso dela. — Mas
estou furiosa com algumas das críticas. Algumas pessoas são
rudes.

Eu rio. — Rude, certo?

— Você olhou?

— Não, estive muito ocupado procurando sua bunda. —


Laurie havia mencionado também não olhar, que as pessoas
podem ser odiosas e que sempre haverá críticas. Isso vem com
o território. Infelizmente, você não pode escrever para todos.

— Estou orgulhosa de você. — Ela finalmente diz, levando


o garfo à boca.

— Estou orgulhoso de você também.

Mia sorri. Eu sorrio. E terminamos nosso café da manhã


em um silêncio sereno.

Eu a levo para Bushkill Falls depois. A frente fria ainda


se agita no ar do final de abril, mas as árvores estão lentamente
voltando à vida após o inverno rigoroso, pintando as copas de
verde. É domingo de manhã cedo e caminhamos pelos decks
de madeira feitos pelo homem, e vejo o arrependimento nos
olhos de Mia por não ter trazido sua câmera.

— Sempre podemos voltar. — Eu a lembro com o olhar


fixo na cachoeira.
Está quieto aqui fora na floresta aberta, além da água
batendo no fundo. O único som dentro de milhas é da
natureza. A névoa da cachoeira cobre nossos rostos, e Mia
fecha os olhos para beber. — Definitivamente, estamos
voltando.

Aproveitando a chance, dou um passo atrás dela e inclino


minhas mãos sobre a grade, prendendo-a. Preciso estar perto
dela. — Você viveu aqui por quanto tempo? E nunca veio às
cachoeiras?

— Dez anos e nenhuma vez. — Mia apoia-se em mim e


apoia a nuca no meu peito. O único gesto me permite respirar
normalmente de novo.

Passamos pelas cataratas e pelas trilhas de caminhada


abrindo uma clareira na floresta. Já estamos aqui há mais de
uma hora, e tenho que trazer à tona o principal motivo de
termos vindo, vestidos com roupas de ginástica confortáveis.
Ela olha para mim com curiosidade enquanto giro no lugar
com as palmas das mãos levantadas para os lados. Não há
ninguém por perto. Estamos muito longe do caminho comum
das trilhas para caminhadas, precisando de privacidade para
o que estamos prestes a fazer. — Eu diria que aqui é perfeito.

A sobrancelha dela se arqueia no ar. — Perfeito para quê?

— Ensinar você como se defender.

— Ollie…
— Eu debati sobre levá-la para uma academia esta
manhã, ter outro cara te ensinando porque eu não sou um
lutador...

— Besteira.

Eu rio. — Você acha que eu sou um lutador?

— Você tem lutado por mim há dois anos. Você é um


lutador, Ollie.

A verdade é que eu poderia lutar, mas nunca quis ser o


único a lutar contra ela. Eu não tenho ideia se poderei
realmente continuar com isso, colocando minhas mãos sobre
ela de uma forma que nunca quis. — Sim, suponho que
quando tenho a motivação certa. De qualquer forma, você está
disposta a aprender?

— Não.

A reação dela me desencadeia e dou um passo à frente.


— Eu prometi a você uma e outra vez que iria protegê-la, mas
tenho feito tudo errado. Você tem que começar a lutar, Mia.
Você disse há uma semana, chorou em meus braços como você
odiava o quão fraca você era, o quão brava você estava e como
você nunca quis depender de ninguém. Bem, aqui está sua
chance — Levanto as palmas das mãos no ar. — O que você
vai fazer com isso?

— É por isso que você me trouxe aqui? Para me ensinar


a lutar?
— Para se defender. — Eu a corrijo.

— Isso é estúpido.

Mia se vira para ir embora. — Estúpido? — Pergunto a


ela de volta, e Mia se vira. — Aposto que você se sentiu
estúpida quando Ethan agarrou você e te nocauteou. Quando
você ficou presa por dias naquela cabana, ou devo lembrá-la
do Prankster15, Mia? A propósito, um bom apelido, dificilmente
um maldito Prankster.

— Pare!

— Como você se sentiu? Porque me sinto um idiota por


não ter ensinado isso antes. Que não lhe dei todas as
ferramentas necessárias para se proteger quando não posso
estar lá. Todos os dias, isso me dilacera por dentro. Cada
cicatriz em seu corpo é um lembrete de que falhei com você.
Não vou fazer isso desta vez, Mia. Estou lutando por você, mas
você também tem que lutar por si mesma. — Mia me empurra
no peito, mas eu não recuo. — Você está ficando brava, amor?

— Por que você está fazendo isso?

— Porque eu te amo ‘pra’ caralho.

Ela vem me bater e eu agarro seu pulso, giro-a e a jogo de


volta na minha frente, meu peito arfando. — Você sempre pisa
com o pé esquerdo quando vem para mim. Você é previsível e
lenta.

15 Pessoa que prega peças maliciosas.


— Eu não estou fazendo isso com você. — Ela puxa o
braço do meu alcance e se afasta, mas agarro seus quadris e
puxo-a de volta ao meu peito. Eu estava pedindo por isso e, se
não tomar cuidado, isso poderia ser motivo para nunca mais
confiar em mim. Mas é um risco que vale a pena correr.

Depois de uma breve luta, seguro seus pulsos com uma


das mãos e a empurro contra uma árvore. Todo o meu peso
pressionado contra ela, e minha outra palma cobre sua boca.
Suas lágrimas silenciosas caem sobre minha mão, mas não
consigo parar. Agora não. Eu já estou muito adiantado. — Se
alguém vier atrás de você. — Eu continuo em seu ouvido —
Use a outra mão e vá para o meu rosto, para os meus olhos.

Mia joga o polegar para trás e cutuca o tecido macio


abaixo do meu olho, e minha primeira reação é dar um passo
para trás, removendo minha mão de sua boca, o que dá a ela
a chance de se virar e me encarar. A confusão nada dentro
daqueles olhos castanhos vidrados.

Eu concordo. — Vamos continuar.

Mostro a ela diferentes cenários e como sair deles. A cada


um, Mia se torna mais corajosa, e a luz gradualmente volta à
vida em seus olhos. É difícil estar tão perto e manter minha
cabeça treinada para a tarefa em mãos, mas ela precisa disso.
Mia precisa saber que ela poderia lutar, que ela é forte o
suficiente sozinha.

Voltando na frente dela, envolvo minha mão em torno de


sua garganta para passar para o próximo movimento. Fios
soltos caem de seu rabo de cavalo, emoldurando seu rosto. O
pulso rápido de Mia em seu pescoço bate religiosamente contra
meu aperto, seu peito subindo e descendo em respirações
curtas. Seus olhos castanhos vítreos fixos nos meus me
enfraquecem e minha mão relaxa ao redor de sua garganta. Eu
não posso fazer isso. Colocar minhas mãos sobre ela dessa
forma já é difícil o suficiente, e eu gostaria de tê-la levado para
a academia.

— Continue. — Ela me desafia.

— Eu não posso. Eu pensei que poderia, mas não posso.

Mia ergue minha mão e a coloca de volta em sua garganta.


— O que eu faço em seguida?

Respirando fundo, aperto a ponta do meu nariz com a


outra mão.

— Ollie, eu confio em você. — Mia sussurra com lágrimas


nos olhos. — O que eu faço em seguida?

— Tudo bem. — Eu corro a palma da mão no meu rosto


e ajusto meu chapéu, — Você tem algumas opções. Em
primeiro lugar, você sempre deseja deixar cair o queixo sobre
o peito assim que sentir uma mão em sua garganta. Dê a eles
o mínimo de acesso possível. Você poderia agarrar meu pulso
com a mão livre e puxá-lo para baixo. Você pode torcer o corpo,
jogando o braço para cima e usando o cotovelo para quebrar a
conexão. Ou você pode levantar o joelho e acertar minha
virilha. Depende se o seu agressor está usando uma das mãos
na sua garganta, ambas as mãos ou se você está no chão. —
Mia assente e eu continuo:

— Vá em frente, tente um ou uma combinação. Mas não


a virilha. Eu pretendo dar a você filhos um dia. Três deles
lembra?

Mia morde o lábio e envolve seus minúsculos dedos em


volta do meu pulso. Quando eu pensei que ela puxaria meu
pulso para baixo, ela me surpreende com uma torção de seu
corpo e jogando o cotovelo para cima, batendo no meu
antebraço, quebrando a conexão como eu a ensinei.

Seu joelho sobe e eu rapidamente bloqueio. — Eu disse


não à virilha. — Resmungo.

— Então você não deveria ter mencionado isso. — Ela cai


de costas contra a árvore com um sorriso malicioso. — Vamos
fazer de novo. Não seja um bebê. Eu sei que você pode lutar
comigo mais forte.

Sorrindo como um idiota, balanço minha cabeça antes de


agarrar seu pescoço. Sua pele é macia sob meus dedos, o pulso
batendo em um ponto mais alto. Meus olhos pousam em seus
lábios, distraídos pela maneira como eles imploram para serem
beijados. Se Mia não se apressar com um movimento, eu
perderei todo o autocontrole.

— Faça uma jogada, Mia. — Minha mão sobe ao longo de


sua garganta, e ela engole quando a ponta do meu polegar roça
seu queixo. Há algo no ar frio da primavera, cheira a rosas
mergulhadas em desejo, e a mudança de humor gira dentro de
nossa bolha. Mia agarra minha cintura para me puxar para
mais perto, e sua respiração estremece em resposta a minha
ereção crescente pressionando contra sua pélvis. Com minha
mão livre, jogo meu boné para trás antes que minha palma
atinja o tronco da árvore acima de sua cabeça. Embora meus
dedos estejam perigosamente em volta de sua garganta, Mia
tem controle total sobre mim.

Talvez seja à maneira como ela se move em um desafio


delicado. Cada respiração me puxa para mais perto até que
meu nariz roça sua bochecha e meus lábios roçam sua pele.
Meu braço treme, e a única esperança neste momento é que
ela respire a força de volta em mim, cedendo e me beijando já.

Em vez disso, seu joelho sobe e resiste na parte inferior


do meu abdômen, tirando todo o ar dos meus pulmões.

O golpe me manda para trás e eu automaticamente caio


no chão de quatro, minhas mãos agarrando as folhas. — Mia.
— Eu resmungo, então rolo de costas. — Para que diabos fez
isso?

— Eu não sei por que fiz isso. — O pânico enterra em sua


voz, e ela caminha acima de mim, os raios de sol aparecendo e
desaparecendo, para frente e para trás. — Eu sinto muito. Eu
sinto muito. Ollie.

Gemendo, deixo cair meu braço sobre meus olhos para


esperar a dor diminuir.
Eu li a situação totalmente errada.

— Mia Rose, você está partindo meu coração.

Ela cai de joelhos ao meu lado e empurra meu braço para


fora do caminho. O horror marca suas feições enquanto seus
olhos disparam do meu rosto para o meu estômago. Ela levanta
meu moletom e minha camisa e pressiona seus lábios contra
minha barriga tatuada. — O que diabos você está fazendo? —
Eu rio, segurando sua cabeça e puxando-a para que eu possa
vê-la. Tiro os fios soltos de seu rosto.

— Eu sinto muito. Não sei o que deu em mim ou o que


acabou de acontecer.

Levanto minhas sobrancelhas, rindo. — Então, você beija


minha barriga?

— Estou desesperada. — Ela encolhe os ombros.

Um sorriso se espalha pelos meus lábios e projeto meu


queixo. — Quão desesperada? — O lábio superior de Mia
desaparece em um sorriso pressionado em minhas mãos, e
deixo cair meus braços para trás, um caso perdido para ela. —
Venha aqui. — Um apelo impulsivo, mas estou totalmente
indefeso contra seu sorriso criminoso.

Mia balança a cabeça, abaixando-a até que, finalmente,


seus lábios se agarram aos meus. Um momento crucial estoura
e, de repente, nada mais importa. Meu coração salta dentro da
minha caixa torácica, minhas pálpebras se fecham e cada
preocupação se desprende, flutuando fora do nosso espaço.
Minha língua empurra suas costuras, até que acaricia a dela,
de volta em uma dança lenta misericordiosa de nós dois. A
única força que tenho está em meus braços, e eu a puxo
totalmente para cima de mim, travada em uma doce câmera
lenta. Cada pequeno gemido vindo de sua garganta é
combustível, e seu sabor tentador dispara mísseis embalados
com fogos de artifício em minha corrente sanguínea, me
respirando de volta à vida. Ela afunda em meus braços, mas
eu a seguro. Eu sempre farei. — Mia. — Respiro em sua boca,
sem reconhecer minha voz. Minha mão agarra sua nuca e a
outra em seu quadril, pressionando firmemente contra a parte
que dói para preenchê-la e para me impedir de flutuar...

Um pigarro soa, e Mia se afasta primeiro para levantar a


cabeça.

— Ollie — Ela sussurra, mas eu ainda estou sob o feitiço


de seus lábios perpétuos. Ela bate no meu braço. — Estamos
em apuros.

Passo meu braço em volta de suas costas, sento e olho


para trás.

Dois policiais estão lá. Atrás deles, uma família de cinco


pessoas.

— Levantem-se. — Diz um dos homens de azul. — Vocês


dois estão vindo conosco.
QUINZE

“Magia não dança em confinamento.”


− Oliver Masters

— FIQUE CALMA, AMOR. — Ollie sussurra ao meu lado. —


Eles não têm nada para nos segurar. Não estávamos fazendo
nada de errado.

Meus braços se cruzam e descruzam em volta do meu


peito, percorrendo o comprimento do carro da polícia. — Eu
não consigo manter a calma. Tenho tribunal em uma semana.
E se eles nos prenderem por algo estúpido como obscenidade
aberta ou destruição da natureza.

— Destruição da natureza? Eu não sei do que você está


falando. Aquele beijo foi lindo.

Eu viro minha cabeça em sua direção. — Isso é sério,


Ollie.

A cabeça de Ollie está inclinada para trás, de frente para


o céu, e seus olhos caem para o lado até que encontram os
meus.
Um sorriso imparável rasteja em seus lábios.

Meus braços se cruzam novamente e meu pé bate na


calçada. — O que é tão engraçado?

Ollie ergue o ombro, seu sorriso maroto brilhando. —


Você se lembra de quando não conseguimos te levar de volta
pelo respiradouro, e eu estava com medo de que você fosse
pega no meu quarto? Foi a primeira noite depois que você
voltou do Prédio B. Eu estava ficando louco, mas você estava
incrivelmente calma. Parece que foi há muitas vidas.

Eu sorrio, a memória invadindo meu cérebro e


simultaneamente transformando minha preocupação em
cinzas. — Sim.

Ollie vira o corpo para me encarar e tamborila com os


dedos no teto do carro da polícia, o boné preto preso na cabeça.
— Vai ficar tudo bem, certo? Deixe-me falar.

Um dos dois policiais interrompe a conversa ao lado e se


aproxima de nós. Ele parece ter quase cinquenta anos, mas
tem cabelos grisalhos. — Vocês dois sabem por que estão
parados aqui agora? — Ele pergunta, tirando os óculos de
aviador dos olhos e dobrando-os no bolso da camisa do
uniforme.

— Não. — Eu digo enquanto Ollie diz: — Sim.

Ollie me cutuca no braço.


O policial cruza os braços. — Então, o que vocês dois
estavam fazendo lá?

— Nada. — Dizemos em uníssono, depois trocamos


olhares. Se eu arriscar olhar de novo, Ollie me fará rir, e isso
não é engraçado. Podemos ser presos.

Os olhos do policial disparam entre nós dois. — Vocês


sabiam que a lascívia aberta era motivo para prisão no estado
da Pensilvânia?

— Sim. — Eu digo quando Ollie diz: — Não.

O oficial ri, divertindo-se conosco, e não entendo por quê.


— Vocês dois são casados ou algo assim?

— Noivos. — Dizemos em uníssono, e reviro os olhos.

O policial ergue a sobrancelha. — Oh, isso é ótimo. Vocês


dois têm um longo caminho pela frente. — O policial baixa o
volume do rádio preso ao cinto. — Já que você não é daqui. —
Ele aponta para Ollie. — Vou deixar vocês escaparem com um
aviso. Mas da próxima vez, tente manter ações que pertencem
ao quarto, no quarto.

— Obrigado, senhor. — Ollie exala e agarra minha mão.


— Então, estamos livres para ir?

— Sim, saiam daqui. — Diz ele com uma risada.


Com nossa liberdade intacta, dirigimos em todas as
curvas, subidas, inclinações e descidas na estrada, Ollie mais
confiante e corajoso do que antes de dirigir no lado oposto do
carro. Eu não tenho ideia de para onde ele está me levando e
disse, não conte com voltar para a casa do meu pai esta noite.
Com as janelas abaixadas e o vento frio enrolando em meu
cabelo, Ollie agarra minha mão do lado do motorista enquanto
uma música de Ed Sheeran toca em nossos ouvidos, uma
batida assustadora batendo em meu peito. A única coisa em
nossas mentes é o beijo e o que está por vir. Seus lábios roçam
meus dedos antes de puxar minha mão sobre sua coxa.

Estou exatamente onde deveria estar.

A semana passada foi um turbilhão. Inferno, os últimos


dois anos foram um turbilhão. Quando Ethan me deixou na
casa do meu pai, doeu no começo. Pensei em voltar para a
garota antes de Dolor e os últimos dois anos não teriam
contado. Eu pensei, por alguma razão horrível, Ethan era a
resposta depois que todos fugiram e me abandonaram. Com
Ethan, eu poderia ter mantido a pessoa que cresci para ser e a
memória de Ollie vivas porque Ethan estava apegado à Dolor.
Mas o que eu nunca esperei, depois de todos os infortúnios,
dores de cabeça e engano, foi Ollie aparecendo na porta do meu
pai.

Na manhã seguinte que Ethan me deixou, eu ouvi Ollie


na cozinha conversando com meu pai e surtei, pulei da minha
janela e corri. Confusão e dor de cabeça eram uma mistura
terrível e motivou todas as ações na semana passada.
Mas Ollie ficou. E a cada dia, ele mostrou. Por uma
semana inteira, ele lascou a tinta preta sufocando meu coração
novamente. Havia algo a ser dito sobre um amor assim. Eu
simplesmente não sei as palavras certas. Talvez eu pergunte a
Ollie. Ele entrelaça as palavras como uma sequência épica de
notas em uma guitarra elétrica.

Sem falar naquele beijo.

Nós nos beijamos antes, em muitos lugares, em muitas


circunstâncias diferentes, mas aquele beijo me trouxe a novos
lugares e novos começos. É o tipo de beijo que te acorda e te
leva para o chão à luz de velas sob uma chuva de calor da
galáxia, euforia e as promessas de que tudo ficaria bem.

Ollie para em um estacionamento, a placa na frente


dizendo “Old Mill Inn”. Eu me lembro de ter visto o velho
moinho agitado morro acima da estrada principal, escondido
em uma montanha. Já havia passado por ele inúmeras vezes
antes. Todo o meu foco muda para Ollie e a maneira como ele
está tentando tanto se conter. O motor desliga e ele força os
olhos à sua frente.

— Você tem três segundos para me dizer não antes de eu


levá-la para o quarto, Mia.

Começo a contar na minha cabeça, me perguntando se


meus segundos são mais curtos que os dele.

Um.

Dois.
Não, os dele são mais curtos.

Ollie sai do carro e eu o sigo. Meu coração bate tão forte


que as vibrações zumbem em meus ouvidos até a ponta dos
meus dedos. Eu sei o que está por vir. Ollie expressa suas
emoções e necessidades como se estivessem estampadas em
sua pele. Mia. Mia. Mia. Mia. Ao longo de seus braços, peito,
estômago...

— Bud, Mia. Mia, Bud. — Ollie rapidamente apresenta


enquanto me puxa pela porta já aberta, que Bud, eu presumo,
estava segurando com um sorriso brilhante pintado no rosto,
vestido com um colete azul, calça azul e cabelos grisalhos se
ramificando em todas as direções. Ollie sobe cada degrau da
escada estreita com pressa, o desejo saindo de seus poros
como um veneno tóxico, e eu já estou infectada por ele.

A porta vermelha diante de nós tem tinta lascada com um


número três dentro de uma pequena moldura acima do olho
mágico. Ollie solta minha mão apenas para enfiar a dele no
bolso para retirar uma chave e se atrapalha com a fechadura.
Suas mãos tremem de antecipação, e o silêncio grita por uma
espera desesperada por muito tempo. Os segundos se passam,
mas parece uma eternidade. Isso está acontecendo.

Assim que nós dois entramos, minhas costas batem na


porta e bocas se encontram. Mas esse beijo não é apressado.

Suas mãos deslizam sob minhas roupas e sobre minha


pele.
Mas suas mãos são lentas.

Seu coração explode contra meu peito, seus lábios


roçando o pescoço.

Mas seus lábios não são apressados.

E essa é a sensação de estar apaixonado.

Mãos quentes e doloridas agarram meu rosto, e Ollie


desliza sua boca de volta para a minha. Línguas acariciam em
sincronia, lábios sugam e seu pau latejante esfrega contra meu
calor quando um arrepio desce pela minha espinha e um
gemido fica preso na minha garganta. Ollie está desesperado,
quadris rangendo entre as minhas pernas, e suas palmas
batem na porta em ambos os lados de mim sem perder nosso
ritmo.

Não se segure agora.

E em uma oração respondida, minha calça é puxada para


baixo e descartada em uma necessidade urgente. O dedo de
Ollie passa pela minha fenda para me encontrar encharcada.
— Por favor. — Eu imploro, e ele me pega, me prende contra a
parede e envolve minhas pernas em volta de sua cintura. A
tontura passa por mim enquanto meu sexo desliza contra seu
abdômen inferior, e se ele não se apressar, eu gozarei apenas
pelo atrito.

Ollie liberta seu pau duro, agarra-o em uma das mãos e


empurra dentro de mim, abrindo-me. Seus olhos se fecham em
uma expiração, e nossas testas se conectam antes que tudo se
transforme em uma canção de amor caprichosa.

Não há tempo para pele a pele, a conexão por si só


impulsiona as emoções dispersas de Ollie a toda velocidade,
provando com cada esforço que ele se sente seguro em meus
braços e eu nos dele. Nossas mãos se entrelaçam e se
enroscam acima de nossas cabeças, segurando enquanto o
comprimento dele me preenche e toca lugares que já estivemos
antes, mas ainda parecendo com a primeira vez, todas às
vezes. Seus quadris, presos aos meus, movem-se habilmente
como se ele fosse feito para isso, deslizando seu osso pélvico
contra meu clitóris. A fricção se transforma em uma linha de
vida suplicante: Fique comigo, Mia. Abra os olhos e me veja,
Mia. Sinta-me, me ouça, me prove, me acorde, Mia.

Sim, Oliver Masters foi feito para fazer amor e eu fui feita
para ele.

Então, acho que ninguém mais tem chance.

— Mia... — Ollie insinua sem fôlego, e meu nome em seus


lábios tira o clímax de mim, e eu balanço a cabeça, apertando
e tremendo quando ele bate mais fundo. Sua boca volta e seus
dedos se curvam em volta dos meus quadris para me segurar
e se prender a mim. Meus dedos empurram seu cabelo suado
enquanto jorros quentes bombeiam para dentro. E não muito
depois, Ollie derrete em meus braços enquanto nossos
corações imploram para dançar um com o outro, batendo forte
em nossos peitos arfantes.
Ollie enterra o rosto na curva do meu pescoço, e ficamos
lá por um momento, roupas que parecem paredes de pedra
entre nós, mas ainda conectadas e finalmente em casa.

— O que acabou de acontecer?

— Magia. — Ele sussurra.

Nossos corpos se esgotaram, Ollie e eu deitamos na cama,


olhando para o teto. Tínhamos deixado nossas malas e fardos
no porta-malas, não precisando de nada além um do outro,
deixando-nos em um torpor confortável.

— Ok, eu juro que não estava esperando por isso.


Esperançoso, sim, mas caramba... eu só deveria levá-la para
almoçar. — Ele ri. — E não me faça te deixar, amor. Fique
comigo pelo resto da semana. — Sua cabeça se inclina para
mim, e o êxtase permanece em seus olhos, ainda preso em uma
onda. Ollie está contente, feliz, o que me deixa feliz. — Nada de
Bruce ou Diane. Sem Scott, sem Dolor. Só você e eu, aqui até
a data do julgamento. O que você diz?

— Nós merecemos isso. — É para ser um pensamento,


que deveria ter ficado na minha cabeça, mas ainda escapa da
minha língua. As coisas com Diane haviam melhorado. Nós
poderíamos finalmente estar no mesmo quarto sem rasgar a
garganta uma da outra, e embora eu esteja no caminho da
redenção, não acho que Diane ou papai poderiam esquecer a
ira que eu trouxe para a casa deles. A invasão de meninos
estranhos, a destruição do carro dela e meu comportamento
destrutivo nos últimos dez anos.

Ollie oblitera meus pensamentos. — Nós absolutamente


merecemos isso.

Mas eu mereço? — Não vai...

Ele se senta completamente. — Não diga isso, Mia. Nem


mesmo tenha esses pensamentos.

— Você nem sabe o que eu ia dizer.

— Eu conheço você. Eu te conheço como se eu mesmo te


escrevesse. Não vai durar. — Zomba Ollie. — Bem, traga a
loucura, os obstáculos, cada pedra jogada, porque estou
pronto para isso agora. Você também. Eu sei isso. E o que
fizemos ali mesmo... Mia, conseguimos isso. Nós temos isso.

Ele também tinha sentido. Claro, ele teria sentido isso.


Ollie sente tudo. Ele é capaz de sentir uma preocupação antes
mesmo de eu expressá-la. Ele sempre soube quando eu estava
incomodada antes de uma carranca cruzar meus lábios. Ollie
sabia como se tivesse escrito minhas páginas. — E depois?

— Não há mais planos. Já tentei isso. Por dois anos, fiz


planos e você vê como isso acabou. Publiquei meu trabalho e
planejei adotar Zeke. Comprei uma casa e planejei me casar
com você. Eu planejava me encontrar com você às três. — Ele
balança a cabeça. — Eu não estou mais pensando no futuro.
Estou pensando aqui e agora.

— Você comprou uma casa?

— Sim, amor, eu comprei uma casa para você. Um lar.


Temos uma casa, sempre.

O telefone de Ollie vibra dentro de seu bolso. Ele tinha


feito isso o dia todo, e nenhuma vez ele o recuperou para ver
quem era. Eu lancei algumas suposições. Provavelmente
Laurie, sua agente ou algo que tivesse a ver com seu trabalho.
— Você vai responder isso? Provavelmente é importante.

— Você é importante. Quem quer que seja, pode esperar.

— Eles ligaram o dia todo. Basta ver quem é.

Gemendo, Ollie enfia o polegar e o indicador no bolso da


frente. Nesse ângulo, eu não tenho a chance de olhar para a
tela, mas um rápido debate luta em seus olhos antes que ele
decida responder.

— É melhor que seja importante. — Ele retruca, mas seus


longos dedos acariciam meu cabelo com calma. Até que param.
Ollie senta-se completamente, empurra as pernas sobre a
cama e abaixa a cabeça entre as mãos. — Eu não tenho
nenhuma resposta agora.

Sento-me e abraço meus joelhos contra o peito. A


mandíbula de Ollie flexiona e a veia em seu pescoço estoura.
Estou no final da conversa e não gosto. A curiosidade por quem
mudou todo o comportamento de Ollie tão rapidamente aperta
meus nervos. Quem quer que esteja do outro lado é do sexo
masculino, barulhento e gritando, mas eu não consigo
entender. A ligação termina e ele aperta o dispositivo em seu
punho.

— O que? O que há de errado? — Eu não sabia se quero


saber. Ollie passa os dedos pelos cabelos e a palma da mão
pelo rosto. Então sobe. Então desce novamente. Então sua
cabeça se inclina e ele procura minha expressão. Eu vejo a
pergunta em seus olhos, a dúvida se ele deveria me contar ou
não. — Diga-me. — Eu digo com os dentes cerrados.

Os olhos de Mia se fecham e abrem um buraco nos meus.


Eu não posso escapar deles. Se eu disser a ela que estava
brincando de amarelinha com os Links para encontrá-la, ela
imediatamente recuará e me pedirá para levá-la de volta para
a casa de seu pai. Mas também não consigo mentir para ela.
Temos uma semana antes que eu tenha a opção de levá-la para
casa. E depois do telefonema que acabei de receber, eu não
quero levá-la a nenhum lugar perto do Reino Unido.

Mas eu não posso mentir para ela.

Então, conto tudo a ela.


— O que você estava pensando? — Ela grita, andando de
um lado para o outro no carpete cor de vinho da sala. Seus
braços voam no ar, as lágrimas mancham suas bochechas, e
não é assim que eu queria que este dia fosse.

— Eu não conseguia sentar e não fazer nada.

— Uma porra de gangue, Ollie? É tudo ou nada? — Ela ri


sem graça. — Você finalmente estava fazendo algo para si
mesmo. Você saiu dessa porra de vida, longe do seu irmão! E
você arrisca tudo?

Algo incrivelmente justificável deveria ter saído da minha


boca, mas ela está certa até certo ponto. Sim, arrisquei tudo.
Eu poderia ter dito a ela que nada disso importava se ela não
estivesse comigo, o que é cem por cento correto. Mia estava
desaparecida e eu arrisquei tudo para encontrá-la. Se
pudéssemos voltar no tempo, eu faria tudo de novo também.
Mas a única razão pela qual minha boca se fecha é que, se os
papéis tivessem se invertido, eu nunca iria querer que ela
desistisse de seus sonhos, arriscasse sua vida ou destruísse
tudo o que ela havia conquistado por mim. Eu iria querer que
ela continue avançando. Mia está certa, mas eu também.

Suas palmas levantadas no ar e seus olhos são de um


raro tom de ouro. As lágrimas e a decepção neles os deixam
ainda mais adoráveis, e eu não sei como isso é possível.

— Você não tem nada a dizer?

— Não sei o que dizer. — Admito.


— Eu quero que você me leve de volta para a casa do meu
pai. Não consigo nem olhar para você agora. — Ela diz isso,
mas seus olhos ainda estão em mim, não apenas olhando para
mim, mas expressando amor e devoção, não importa o quanto
ela tente lutar contra isso. Claro, ela está com muita raiva, mas
seus olhos fixam-se nos meus, já se arrependendo de ter dito
para leva-la de volta. Mas Mia é teimosa demais para seu
próprio bem. Ela não mudará suas palavras, embora já tenha
mudado de ideia.

— Tudo bem, se é isso que você quer. — Eu sei que você


gosta de um livro, amor. — Mas eu tenho uma coisa a dizer. —
Eu me levanto e dou um passo à frente. Suas mãos se cerram
em punhos, e quero estender a mão e pegá-las nas minhas. —
Eu não teria mudado nada.

A viagem de volta para a casa de Bruce foi silenciosa. Ela


não disse uma palavra, nem mesmo quando estacionei na
garagem e percebi que Bruce voltou do trabalho mais cedo,
saindo da caminhonete. Depois de desligar o motor, saio para
cumprimentá-lo em sinal de respeito.

Bruce me cumprimenta de calça comprida, camisa de


botão e uma bolsa para laptop cruzada sobre o peito. Mia passa
por nós como uma criança e eu balanço minha cabeça e
estendo minha mão.

— O que você fez? — Bruce pergunta com uma risada.

— Apenas amo ela. Demais, aparentemente.


Ele acena com a cabeça, confuso com a minha resposta
vaga. Eu não ia contar a ele que seu futuro genro havia feito
bicos para uma gangue para encontrar sua filha. Talvez depois
do casamento.

— Por que você não vem jantar? Seria bom ter outro cara
por perto pela primeira vez.

— Uma refeição caseira? Eu não como isso... não me


lembro há quanto tempo. A que horas devo passar?

— Oh, cara. Seis. É noite italiana e Diane faz uma lasanha


ótima.

A lasanha fora inventada e reivindicada pelos britânicos,


não pelos italianos, mas agora não é o momento de educá-lo.
— Estou ansioso para isso.
DEZESSEIS

“Você não pode ser normal e se destacar contra eles.”


− Oliver Masters

— VOCÊ TEM UM GOSTO HORRÍVEL PARA MODA. — Bud afirma


da cadeira, folheando meu livro. — Lembro-me dos dias em
que aparecíamos para jantar com os pais de terno e gravata.

— Você não está ajudando.

— Acho que é melhor do que aqueles trapos que você


costuma usar. — Ele estala, — geração do milênio.

— Vá trabalhar Bud. — Enfio meu pé dentro da minha


bota, me perguntando por que ele ainda está aqui.

Bud se levanta e ajusta seu colete azul. — Estou cinco


horas adiantado. Mas você sabe o que eles dizem. Se chegar na
hora, você está atrasado, e se você chegar cedo, você está na
hora. Bem, eu pensei nisso sozinho. Foi o que me deu o
emprego há trinta e dois anos. Isso e meu sorriso encantador.

— Estou surpreso por não terem deixado você ir por


convencer os convidados a saírem do prédio.
— Alguém está mal-humorado.

Exalando, sento-me na cama com a outra bota na mão.


— Eu me meti em uma confusão para trazer Mia de volta, e
agora estou com medo de que seja a mesma coisa que a
afastará de mim.

— Você está em apuros.

— Vamos, Bud. Não é uma maldita piada. Você pode ser


real comigo por cinco segundos? Ser útil para uma mudança?
— Normalmente, eu não falo com os mais velhos assim, mas
Bud é um cruzamento entre um personagem de conto de fadas
e o Sr. Rogers.

— O que você está procurando é conselho? Tudo que você


precisava fazer era dizer isso. Acredite em mim. Fui casado por
mais de cinquenta anos, quer saber por quê? — Levanto
minhas mãos em um gesto de siga em frente. — A maioria das
mulheres quer que um homem cuide delas, mas as coringas
querem ser tratadas como iguais. Seja o que for não lute a
batalha separadamente. Lutem juntos. Não tome decisões por
ela; tomem decisões juntos. Seja o OG, Bonnie e Clyde.
Dirigindo rápido, armas em punho. Vocês dois contra o
mundo. — Ele acena com a cabeça e ergue um dedo. — Sim,
tenho um por cento de certeza, é isso que ela quer.

Minhas sobrancelhas se juntam.

— Um por cento? E os outros noventa e nove por cento?


— Mia parece um coringa, e você não teria se apaixonado
pelos outros noventa e nove por cento.

Você poderia dizer que a sala de jantar não é usada há


algum tempo. Bruce está de volta em seu traje relaxado,
vestindo jeans solto e uma camiseta, e ele me oferece uma
cerveja. Aceitei vir para o jantar. Entrar em sua casa é como
estar trancado dentro de um caixão quase dois metros abaixo
do solo. É sufocante, hostil e estressante, e ninguém ainda
disse nada. Ninguém precisa. Os olhos de Diane estão
invadindo o espaço de Mia e meu, julgando cada mordida, gole
e onde nossas mãos estão.

Bruce pigarreia. — Onde você nasceu no Reino Unido?

— Cerca de uma hora fora de Londres, mas eu não moro


mais lá.

— Não? Onde você mora agora?

— Agora mesmo? Old Mill Inn. — Eu rio, tentando aliviar


o clima. Ninguém mais ri.

— Você deveria ficar conosco. Não faz sentido desperdiçar


dinheiro quando temos um quarto extra.
— Ele não vai ficar aqui. — Retruca Diane. — Você não
pode simplesmente convidar as pessoas para ficarem aqui sem
falar comigo sobre isso.

— Está bem. Não vim aqui para me intrometer. Eu só vim


por Mia.

— Bem, estou pronto para outra cerveja. — Bruce


levanta-se da mesa. — Oliver?

— Sim, por favor.

Diane olha para Bruce. — Você não teve o suficiente?

É incrível, realmente. Vinte minutos depois do jantar e eu


aprendi mais sobre comunicação e casamento do que em uma
sessão de aconselhamento. Deslizo minha mão sobre a coxa de
Mia por baixo da mesa, e ela enrosca seus dedinhos nos meus.
Independentemente de ela estar com raiva de mim, eu nunca
duvidei que estamos nisso juntos. Bud estava certo.

— Vocês dois estiveram juntos pelo quê? Dois anos


agora? — Bruce pergunta, entregando uma Bud Light já aberta.

— Sim, senhor. — Nós concordamos antes que ele se


sentasse novamente. Bruce não é tão ruim. Ele simplesmente
não tem mais luta nele.

— Você deveria correr agora. — Diane diz através de uma


pequena risada. — Faça um favor a si mesmo.

Meu joelho salta. Olho para Mia. Seus olhos se fixam na


lasanha intocada diante dela, e eu lhe ofereço alguns segundos
para se defender. Ela não faz. Olho para Bruce e ele permanece
quieto. Mia enfrentou esse tipo de intimidação por mais de dez
anos e eu me recosto na cadeira.

— Sabe, levar Mia e fugir daqui não parece uma má ideia.

Uma risada escapa de Bruce e Diane revira os olhos. —


Você sabe o que eu quero dizer.

— Eu sei o que você está insinuando. Só não estou


entretendo a sugestão ridícula.

Os olhos de Diane se estreitam para mim. Mia não estava


brincando, ela é mais vingativa do que Dex Sullivan, e há algo
escuro e enterrado atrás daqueles olhos. — Você é o único
idiota nesta mesa, Oliver. Ela não fará nada além de mentir,
trapacear e roubar de você. — Seus olhos disparam para Mia,
e Diane faz uma careta. — Mas só depois que ela dormir com
metade de seus amigos.

— Diane! — Bruce bate na mesa e a cerveja cai.

Eu me levanto, levando Mia comigo, mas ela se


desvencilha do meu aperto. — O que eu fiz para que você me
odiasse tanto? — Mia grita. — Eu sinto muito pelo que eu fiz.
Eu disse que sentia muito. Todos os dias tenho tentado tanto,
mas não posso voltar atrás e mudar nada!

— Você quer saber o que você fez? — Diane grita.

Bruce se levanta e agarra o braço dela. — Não, Diane. É


o bastante.
— Eu perdi meu bebê por causa de você. Você matou meu
bebê! O inferno que você trouxe para esta casa, a preocupação,
a ansiedade, os ataques de pânico. Você matou a única coisa
que eu sempre quis, e isso é algo que você nunca será capaz
de mudar.

Mia congela ao meu lado. Bruce abaixa a cabeça. Diane


cerra os punhos, lágrimas derramando. Viro às costas para
todos os outros para encarar Mia e não sei o que dizer. Tento
pegar sua mão e puxá-la, mas ela fica lá, pronta para enfrentar
isso.

— Sinto muito. — Mia sussurra, balançando a cabeça.


Ela olha para o pai e crava os dentes no lábio inferior. — Sinto
muito, eu... não quis dizer... eu não sabia.

— Era uma menina. Eu deveria ter uma filha e pergunto


a Deus todos os dias por que você está aqui, e minha filha não.
— Grita Diane. — Eu tentei olhar além disso, tentei de tudo.
Não é justo. Você não merece estar aqui. Você merece
apodrecer no inferno.

— Mia. — Eu me viro para encará-la, mas ela se


desvencilha do meu aperto, sai da sala de jantar e sobe
correndo as escadas.

Estou preso, sem saber se deveria persegui-la ou colocar


aqueles dois em seus lugares. Minha mente dispara e meus
dedos empurram meu cabelo.
— Lamento que você tenha perdido seu bebê, mas não foi
culpa de Mia, e você sabe disso! Ela não pediu por isso! —
Levanto meus braços enquanto meus olhos disparam para
frente e para trás entre os dois. Nenhum deles diz nada.

Diane chora. Bruce esfrega as têmporas, esfregando as


costas de sua esposa, e minha mente dispara, o calor
queimando minha pele e queimando meus olhos.

Ando pela sala de jantar, tentando me acalmar, mas o


silêncio deles apenas alimenta minha frustração. Bato minhas
mãos sobre a mesa e olho para eles. — E você não perdeu
apenas uma filha. Você perdeu duas. Mia é sua filha também,
e ela mora nesta casa há mais de dez anos, e você não fez nada
além de afastá-la. Ela precisava de você! Ela precisava de vocês
dois! Mia estava lá o tempo todo, bem na sua frente, gritando
para que alguém a ouvisse.

Respiro fundo e limpo meu rosto na manga. Minhas mãos


tremem e eu permito que alguns segundos passem para me
acalmar antes de me dirigir a eles novamente. Caso contrário,
levarei uma cadeira para o armário de vidro atrás de mim. —
Obrigado, Bruce, por me convidar para jantar. Eu sei o tipo de
marido que quero ser para ela, um com bolas de merda. E
Diane. — Meus olhos deslizam para ela. — Com todo o respeito,
seu bebê se foi, mas Mia ainda está aqui. Não tome isso como
garantido.

Os dois olham para mim, atordoados, e vou atrás de Mia,


subindo as escadas e invadindo seu quarto. Meu coração
despenca quando meu olhar pousa em sua janela aberta, mas
então vejo seu cabelo castanho balançando ao vento.

Escalo a pequena janela e sento atrás dela, esticando


minhas pernas sobre as telhas. Ela afunda entre minhas
pernas e meus braços envolvem seu peito.

Muitas vezes eu me sentei sob o mesmo céu, sonhando


com este exato momento. Apaixonado, bem longe do chão, e
minha garota em meus braços. Em qualquer outro momento,
eu gritaria para a lua, dizendo que tínhamos conseguido.

— Sinto muito. — Ela sussurra, sua cabeça caindo para


trás contra o meu peito.

Eu olho para baixo para ver seu rosto encharcado, mas


os olhos secos.

— Não, me desculpe.

Ela inclina a cabeça quando seus olhos encontram os


meus. — Pelo que você está arrependido?

Que as coisas não foram mais fáceis. Que não te encontrei


antes. Que eu não posso te levar embora ainda por causa da
maldita data do julgamento. Mas decido:

— Acho que acabei de chamar seu pai de maricas.

Mia ri levemente, fungando. — Bem, alguém tinha que


dizer isso.
— Vire-se, amor. — E ela se torce em meus braços,
empurrando suas pernas sobre as minhas. Mia estremece
dentro de um suéter preto enorme, leggings de couro e meias
de Natal. Mergulho minhas mãos sob seu suéter para agarrar
seus lados enquanto ela rola seus quadris para mais perto. Ela
pisca para mim, marrom dourado e encantador. — Agora feche
os olhos. — Um sorriso luta por seus lábios. Levanto minhas
sobrancelhas e Mia sacode o cabelo do rosto, ergue o queixo e
fecha os olhos.

— Para onde você está me levando?

— Não vamos a lugar nenhum, eu só queria fazer isso. —


Eu a beijo levemente e, depois, ela baixa a cabeça no meu
pescoço e ri.

Ficamos assim por um tempo, sob o céu estrelado.


Acaricio as costas de Mia até ela adormecer em meus braços,
pensando em toda a bagagem que deixei no Reino Unido.
Minha primeira e única prioridade é Mia, mas se eu não cuidar
da minha parte no negócio, ela nos seguirá pelo resto de nossas
vidas.

Uma hora se passa e eu a acordo e a ajudo a voltar pela


janela. Ela está meio adormecida, resmungando sobre “um
cara com quem ela sonhou” e como ele a salvou, e eu apenas
digo a ela que se ele for real, agradeça a ele. Ela desmaia na
cama e eu beijo sua testa antes de sair. Mia desmaia em dois
segundos.
Desço as escadas e noto Bruce sentado do lado de fora no
pátio dos fundos, olhando para a floresta. No último segundo,
resolvo falar com ele e abro a porta dos fundos. Bruce está
sentado em uma cadeira de balanço em frente a uma fogueira
controlada, um refrigerador de cerveja a seus pés. Ele se vira
para olhar para mim antes de jogar a cabeça para trás. —
Sente-se.

Diane deve ter se entregado mais cedo. Hesitante, sento-


me na outra cadeira de balanço e empurro minhas pernas na
minha frente. As luzes do fogo iluminam suas feições abatidas,
e ele se abaixa para pegar outra Bud Light do gelo e entrega-a
para mim.

Eu nunca tinha bebido cerveja, mas abro com meu


antebraço, não deixando o sujeito aqui para beber sozinho.

— Quero me desculpar pelo que aconteceu esta noite,


mas a verdade é que não posso. — Admito.

— Você estava certo.

— Gostaria de não estar.

— Você sabe o que é tão fascinante para mim? — Ele se


inclina, coloca os cotovelos sobre os joelhos e inclina a cabeça.
— Minha filha de 20 anos tem um relacionamento mais
maduro do que eu. O que isso diz sobre mim?

— Que sua filha tem um gosto brilhante para os homens.


Bruce ri, inclina-se e bate com sua garrafa na minha. —
Você é um bom homem, Oliver.

— Sinto muito pela sua esposa. — Digo, olhando para o


fogo.

— Diane tem boas intenções.

— Eu não estou falando sobre Diane. Estou falando sobre


a mãe de Mia, Jackie. Sinto muito pelo que aconteceu com ela.
Não consigo imaginar perder Mia, muito menos tentar
sobreviver a cada dia. — O preço que deve ter sofrido ao longo
dos anos. Fico doente só de pensar nisso.

— Jackie era uma boa mulher, o amor da minha vida.


Acho que Diane também vê isso. Se não fosse o bebê, seria o
fato de eu nunca ter parado de estar apaixonado por minha
falecida esposa. — Ele dá um gole em sua garrafa, depois solta
um suspiro. — Nada jamais preencherá esse vazio. Não Diane.
Não a porra de Bud Light. Acredite em mim quando digo, não
espere até que alguém morra para lembrá-lo do que está na
sua frente. Saiba agora. Quando eu olho para tudo isso, quer
saber quando eu era mais feliz? — Seus olhos se movem do
rótulo descascado da garrafa para mim. — Estávamos tão
falidos. — Ele ri. — Mia tinha apenas dois anos na época,
dormia em seu berço, e nossa eletricidade foi cortada. Jackie e
eu levamos Mia para a sala de estar conosco e acendemos a
lareira. Jackie roubou o Wi-Fi do vizinho e nós nos enrolamos
no sofá e assistimos a Hora do Rush em seu laptop. — Outra
risada escapa dele e empurra os dedos na parte inferior do
nariz. — O maldito filme congelava a cada cinco segundos.
Acho que foi o filme mais longo que já vimos juntos, mas nunca
quis que acabasse. Mas Jackie adormeceu em meus braços e
acabou a bateria do laptop, e estava muito quieto. Bem ali, eu
sabia que nunca seria mais feliz. Merda, eu estava certo.

Está quieto novamente, e o fogo crepita diante de nós


enquanto eu digiro suas palavras.

— Vou me casar com Mia.

— Você está pedindo minha permissão?

Balanço minha cabeça. — Aviso prévio. — Eu deveria ter


pedido permissão, e pensei nisso por respeito, mas Bruce e
Lynch dificilmente tinham sido pais. Assentindo, Bruce
entrega outra cerveja. — Se você continuar me alimentando
com álcool vou ter que dormir no seu sofá.

— Por favor, eu dormiria melhor sabendo que você está


em casa. Tenho medo de que uma maníaca com TPM e uma
faca vá me estripar enquanto durmo aqui. — Ele ri. — E não
estou me referindo a Mia.

— Ah, você está por conta própria com isso.

— Você se comportou muito bem lá. Nunca ouvi ninguém


falar assim com Diane. Ela foi direto para a cama, e são
apenas, — Bruce olha para o relógio. — Merda, são apenas oito
e meia. Eu estou ficando velho.
Por horas, Bruce e eu ficamos chutando em volta do fogo,
conversando e bebendo. É quase meia-noite quando nos
deitamos, e ele me joga um cobertor e um travesseiro de um
baú no canto da sala. Eu disse que ele estava pedindo,
desafiando sua esposa. Ele disse que ela não sairia do quarto
e que eu estaria seguro. Liguei a televisão, abaixei o volume e
comecei uma maratona de Friends.

Meus olhos se abrem para ver Mia parada acima de mim,


me sacudindo. — O que você ainda está fazendo aqui?

Belisco a ponta do meu nariz, ainda sonolento. — Seu pai


me embebedou.

Mia dá uma risadinha e meu olhar vaga por suas pernas


nuas, as luzes da televisão refletindo em sua pele de marfim
no escuro. Ela usa um shortinho de dormir e minha camiseta
de FAÇA AMOR, NÃO GUERRA. — O que você está fazendo
acordada?

— Eu não consigo dormir. Sempre. Desci para tomar um


copo d'água.

Levanto as cobertas como um convite, Mia afunda ao meu


lado e inalo seu perfume de jasmim. — Você está assistindo
Friends? Este é o episódio onde Ross e Rachel fazem uma
pausa.

— Zeke nunca gostou deste.

Mia ri. — Zeke assistia Friends?

— Você está de brincadeira? Zeke era obcecado por


comédia americana. The Office e Friends eram seus favoritos.
Assisti a porra o tempo todo.

— Então, a verdadeira questão é... Eles estavam em uma


pausa?

— Esse foi o primeiro erro deles. Você não pode colocar


um tecnicismo no amor. Ambos estavam certos. Ambos
estavam errados. Fim da história.

Os ombros de Mia tremem, rindo, sua bunda esfregando


contra mim e meu pau aperta dentro do meu jeans. Eu tenho
que me controlar, estando sob o teto de seu pai e tudo, mas
minhas mãos embriagadas têm uma mente própria enquanto
arrastam sua coxa, por baixo de seu short, e agarram sua
bunda com a palma da mão. Mia se vira em meus braços para
me encarar e sua risada desaparece, os olhos ficando pesados
sob seus cílios longos e grossos. — Ollie. — Ela avisa.

— O que? — Eu sorrio, levantando sua coxa sobre minha


perna. — Eu não vou transar com você na casa do seu pai,
Mia. Isso seria completamente inapropriado. — Um sorriso
nervoso aparece em seus lábios, e inclino minha cabeça. — Por
que você está sorrindo, amor?
— Estou feliz que você seja real. — Ela sussurra.

Existe aquela sensação que você tem quando alguém está


te observando. Com meus olhos fechados, minha alma se
retorce e gira dentro de mim, batendo em meu cérebro
inconsciente e fazendo polichinelos dentro da minha pele,
qualquer coisa para me acordar e enfrentar os olhos que me
perscrutam.

Abro minhas pálpebras para ver Diane parada perto de


Mia e de mim com uma xícara de café na mão, encolhendo-se
como se estivesse com dor ao nos ver. Levo alguns segundos
para juntar as peças antes de pular do sofá. Seu olhar percorre
meu peito tatuado até minha calça jeans, e olho para baixo
para ver minha ereção explodindo para sair.

Meus olhos se arregalaram.

Seus olhos se arregalaram.

Pego um travesseiro do sofá para me cobrir.

Eu nunca tinha ficado com vergonha antes, até aquele


momento.
Minha garganta fica seca, palavras totalmente perdidas
em mim. Esta senhora parece querer me matar. E de repente
entendo o medo de Bruce.

— Eu sinto muito. Fiquei acordado até tarde com Bruce.


Ele ofereceu o sofá. Eu não queria dirigir para casa bêbado. —
Aquele filho da puta me deixou para me defender sozinho. —
Eu vou embora. — Mia rola no sofá, seu corpo minúsculo
totalmente escondido sob o cobertor. A única evidência dela
são seus cabelos castanhos saindo debaixo do cobertor. Olho
de volta para Diane, que não se move. — Nós não. — Eu
balanço minha cabeça. — Não é o que parece.

— Certo, porque isso seria desrespeitoso, sabe...


Fornicação no meu sofá branco. — Ela leva a caneca branca
aos lábios e se vira para entrar na cozinha.
DEZESSETE

“Há algo sobre uma mulher em um vestidinho preto.


Um momento de angústia, com nirvana em seus olhos, e o
diabo em seu sorriso.
Ela deixou o lado escuro, mas ele nunca a deixou.
Um inferno de um anjo, na ponta dos pés descaradamente
quando a noite se transforma em dia.
Ela pode se parecer com qualquer outra garota, mas você
nunca vai esquecer o nome dela."
− Oliver Masters

DIANE ESTÁ SENTADA NA COZINHA, olhando cegamente pela


janela em arco ao lado da mesa do café da manhã.

— Seu namorado foi embora. — Ela sussurra, sua voz


baixa e estéril. — Eu fiz café.

Arrasto-me para a cozinha, onde a dor dela parece


gravidade, me comprimindo em nada. Eu não sei que horas
são, mas ainda é cedo, e o cheiro de café roda pelas fendas de
sua gravidade, puxando-me para dentro. As canecas estão
penduradas em um suporte de árvore preto ao lado da
cafeteira, e eu pego uma caneca, derramo o café e acrescento
montes de creme e açúcar.

— Amo seu pai, Mia. — Ela começa a dizer, sem olhar


para mim, mas pela janela. — Eu amo. Eu sempre o amei.

— Não sei aonde você quer chegar com isso. — É muito


cedo e eu não tenho espaço para decifrá-la.

Diane suspira, e faz isso sempre que está prestes a dizer


algo. Eu me inclino contra o balcão e tomo um gole da caneca,
olhando para a parte de trás de seu cabelo louro. Ela está com
um robe rosa fofo, cabelo despenteado e não perfeitamente no
lugar.

— Não é fácil se apaixonar por um homem que perdeu


sua esposa e filha de uma vez. Eu sou uma mulher, então devo
entender e consertar os pedaços quebrados. Para transformar
uma casa em um lar novamente. Para se conectar com uma
garota que não consegue se conectar com ninguém. Fingir que
se casou comigo deveria ter consertado tudo, e a decepção
depois quando isso não aconteceu.

— Ninguém esperava que você consertasse tudo.

Ela balança a cabeça e seu cabelo balança atrás dela. —


Quando não pude, pensei com certeza que o bebê iria. Que
talvez se eu engravidasse, tivesse um filho por perto fosse à
resposta. E agora eu percebo toda a pressão colocada em mim,
eu estava colocando na minha bebê. Talvez eu seja a culpada
por perdê-la. E eu não sei por que estou te contando isso de
qualquer maneira. Você não se importa com nada.

Meus dedos agarram a caneca de café que ainda está


quente em minha mão. — Eu estou tentando. Para ser
honesta, se eu soubesse que você estava grávida na época,
provavelmente não teria me importado. Mas, estou tentando
agora.

— Então, simples assim?

— Simples assim. — Chuto o balcão e puxo uma cadeira


ao lado dela. — Você já pensou que somos apenas duas
mulheres, ambas não preenchendo as expectativas? Esperava-
se que durante toda a minha vida eu me lembrasse, sentisse,
me relacionasse, compreendesse. Agora, espera-se que eu
tenha todas as respostas e saiba quem eu sou. Estou
começando a achar que nunca devemos ter tudo planejado, e
talvez essa seja a beleza de tudo.

Diane balança a cabeça para me encarar, estreitando os


olhos. — Quem é você e o que fez com Mia Rose?

— Eu não tenho ideia. — Digo exalando, e nós duas


rimos.
Diane e eu passamos o dia inteiro juntas, comprando
roupas novas, almoçando e nos conhecendo. Foi um novo
começo para nós duas, mas levará tempo para consertar todas
as partes quebradas que destruímos ao longo de dez anos. A
noite anterior precisava acontecer, abrindo um portal para a
dor acumulada e a culpa. E depois que o dia chegou ao fim,
aceitei que as coisas entre nós provavelmente nunca serão
perfeitas. Eu ainda odeio seu cabelo duro, a maneira como ela
se veste com Ralph Lauren e a maneira como ela tratou a
garçonete como se ela tivesse uma doença por causa de seu
piercing no nariz, mas somos apenas duas pessoas
completamente diferentes reunidas pela devastação e pelo
amor.

Diane ama meu pai e está aprendendo a me amar


também.

Os dias passaram como um redemoinho. Eu passei a


maior parte do meu tempo com papai e Diane, e Ollie manteve
distância. Eu odiei, mas ele incentivou o tempo com eles. Na
manhã do encontro do tribunal, estou na frente do espelho,
usando um vestido preto simples e sem mangas que Diane
escolheu. A bainha chega ao meio da coxa e o decote vai quase
até o pescoço. A última vez que usei um vestido foi no
julgamento antes de Dolor, e espero que desta vez, as coisas
corram a meu favor. Meu cabelo cai um pouco abaixo dos
ombros, e a única maquiagem que tentei foi blush e rímel.

— Mia, você está pronta? — Meu pai chama do fundo da


escada.
Eu não respondo.

— Mia Rose Jett!

Eu sorrio. — Dois minutos! — Levanto os olhos dos meus


saltos pretos e aliso o vestido nas minhas coxas, preocupada
que o juiz pudesse interpretar meu desaparecimento como um
sinal de que eu não sou uma mulher mudada. E se ele decidir
que está farto e me mandar para uma instituição mental? Ou
prisão? Meu sorriso desaparece e os nervos se estabelecem,
rastejando dos meus dedos dormentes até o pescoço. De
repente, o decote está muito apertado, sufocante, e quero sair
do vestido. Cerrando os punhos, tento respirar e a sala
balança.

Então sinto suas mãos em volta das minhas.

Eu levanto minha cabeça e Ollie está atrás de mim,


vestindo calça preta, uma camisa de botão branca passada a
ferro e um sorriso de arrasar. Seus olhos verdes me observam
e ele passa as palmas das mãos nas laterais dos meus braços.

— Respire, meu amor. Vai ficar tudo bem. — Ele


sussurra.

— Como você sabe?

— Porque, olhe. — Ele cutuca sua cabeça no espelho. —


Você não só ficou comigo, você ficou consigo mesma. Nenhuma
vez você desistiu. E se não estou enganado, você não precisa
mais de mim. — Ele ergue uma sobrancelha e dá um sorriso
torto. — Acho que meu trabalho aqui está feito. — Dou um
tapa no braço dele e Ollie abaixa a testa na minha nuca, rindo.

— Com toda a seriedade — Ele continua e passa os braços


em volta de mim. — Você é absolutamente de tirar o fôlego. —
Seus lábios atingem a borda da minha orelha, e as vibrações
passam por mim enquanto ele me balança para frente e para
trás no lugar. — Eu preciso de seis minutos com você sozinha.

— Seis?

— Um minuto para admirar você. Dois para provar você.


E três para me perder dentro de você.

— Somente três?

— Se estou sendo honesto, duvido que vá durar tanto.

O juiz chama meu nome e Ollie agarra minha mão antes


que eu me levante e suba ao pódio com meu advogado ao meu
lado. O advogado é jovem, não tem mais de trinta e cinco anos
e é magro, com cabelos castanho-chocolate penteado para o
lado. Ele me aconselhou antes de entrarmos na sala do
tribunal para ficar quieta e deixá-lo falar por mim, a menos
que o juiz me questionasse diretamente. Roger é o seu nome,
eu acho.
Tudo acontece rápido. O juiz e Roger falam de um lado
para outro no jargão jurídico enquanto eu congelo ao lado dele,
tentando me concentrar nos movimentos das mãos e
expressões faciais do juiz. Quando acho que tinha entendido,
o juiz larga o martelo e nos dispensa.

Viro-me para sair, ainda sem saber o que acabou de


acontecer. Ollie, Diane e meu pai levantam-se do banco e todos
os seus rostos estão em branco.

— O que acabou de acontecer? O que ele disse? Eu


terminei? — Eu nervosamente faço Roger sair pela porta. Viro
minha cabeça para ver Ollie andando atrás de mim,
sussurrando para meu pai. — É ruim, não é?

Roger continua a me ignorar até que nós cinco entramos


no corredor e a porta do tribunal se fecha atrás de nós. — Bem.
— Ele acena com a cabeça, — Isso foi bem.

— Quão bem? Como bem livre? — Eu pergunto, olhando


entre os quatro.

Ollie dá um passo em minha direção e segura meu rosto


com as mãos.

— Você está livre, amor. Acabou.

— Não faça isso comigo. — Bato meu calcanhar no


azulejo. — Eu vi seu rosto, parecia que o juiz me mandou
embora novamente.
— Eu disse que tudo ficaria bem. Não fiquei nem um
pouco surpreso com o resultado. — Ollie beija minha testa e
se vira para Roger para apertar sua mão. — A dupla cidadania
de Mia ainda está intacta?

— Sim, ela pode viajar de um lado para outro. Sem


problemas.

— Obrigado, Roger, mas nunca mais quero ver você de


novo. — Diz Ollie com uma risada, e o resto o segue, apertando
a mão de Roger antes de ele sair. Eu me sinto mais leve e Ollie
se vira para mim novamente, soltando um suspiro prolongado
e seus olhos brilhando. Ele se sente mais leve também. —
Vamos sair daqui, certo?

— Sim. — Eu concordo, balançando a cabeça.

Diane e meu pai se juntaram a nós para o almoço, e


perguntas não feitas permanecem no espaço entre nós quatro.
E agora? Quando vou embora? Eu irei embora?

A mão de Ollie desliza para minha coxa nua sob a mesa


enquanto ele pega seu chá, ouvindo meu pai falar sobre a
reforma que ele quer fazer na cozinha. Tudo que consigo focar
é na maneira como seus dedos se arrastam ao longo da parte
interna da minha coxa, subindo mais e mais...
— O que você acha, Mia? — Papai pergunta.

Minha cabeça se ergue e tento levantar minhas pálpebras


pesadas. — Mhm?

— Eu prefiro armários brancos. — Diane interrompe.

Coloco meu suéter no colo. — Sim, branco parece bom.

Ollie inclina a cabeça para me encarar assim que a ponta


dos dedos alcança minha calcinha. Solto um gemido quando
seu polegar raspa em meu sexo sobre o material fino. — Mia,
você está bem? — Ele pergunta com um sorriso malicioso.

— Mhmm.

Seu dedo pressiona contra meu clitóris. — E a sua


cozinha?

— Minha o quê?

— Sua cozinha em Surrey. É pequena, mas poderíamos


fazer branco se é o que você gosta. — Seu dedo mergulha sob
a bainha e marcha pela minha fenda, e minhas coxas cerram
quando pego meu Dr. Pepper16 da mesa e chupo do canudo. —
Ou você prefere prateleiras abertas?

O refrigerante espirra de meus lábios enquanto meus


quadris se sacodem para frente.

16 Marca de refrigerante.
— Mia! — Diane exclama, mas estou muito focada nos
dedos habilidosos e delgados de Ollie, fazendo amor comigo
debaixo da mesa enquanto todos nós sentamos para almoçar.

— Desculpe. Acho que deixei meu telefone no carro de


Ollie. — Deslizo meus olhos para Ollie, que está com um
sorriso maroto. — Dê-me seis minutos.

Levanto-me da mesa e corro em saltos pelo restaurante e


em direção ao estacionamento, esperando que Ollie me siga. É
meio-dia e estremeço com o vento no estacionamento vazio,
andando ao lado da porta traseira de Ollie. O sol brilha alto
enquanto Ollie caminha em minha direção com as mãos nos
bolsos e um sorriso malicioso nos lábios.

Ele passa por mim em direção à floresta.

Eu me viro. — Onde você vai?

Ele se vira para mim, mas continua a andar para trás. —


Nós temos cinco minutos restantes. Não tenho tempo para te
admirar. Agora, se apresse, não tenho o dia todo.

Inclino-me para frente quando uma risada escapa antes


de correr atrás dele.

Ollie tinha desabotoado os dois primeiros botões de sua


camisa quando chegamos a um campo atrás de uma camada
de floresta. Em um movimento rápido, ele me pega e me deita
sobre o canteiro de flores gramado, e empurra meu vestido e
minhas coxas separadas. Enganchando minha calcinha, Ollie
puxa-a para o lado, e sua língua quente e achatada se arrasta
pelo meu sexo encharcado quando um gemido escapa de nós
dois. — Eu vou sair disso sozinho. — Ele sussurra, então
empurra dois dedos dentro de mim e os curva. Mais e mais,
sua língua acaricia meu clitóris. Meus quadris resistem contra
sua boca e eu agarro flores em torno de mim, puxando suas
raízes das sensações que ameaçam explodir.

Ollie puxa sua mão para liberar seu pau esticado,


agarrando-o entre nós enquanto lambe minha entrada. Jogo
minha cabeça para trás e levanto meus quadris, doendo por
nossa conexão. Ele rosna e levanta as palmas das mãos sobre
mim.

— Esta noite, você é minha. Hoje à noite, vamos demorar


a porra do nosso tempo e estou fazendo o que quero, Mia. —
Ele diz tudo de uma vez. Assentindo, puxo sua camisa para
baixo até que nossas bocas se choquem e, após um impulso
forte, Ollie cai sobre o cotovelo. — Jesus Cristo, Mia. — Ele
lentamente puxa antes de bater de volta, seus lábios trêmulos
pairando sobre os meus. — Você é tão gostosa.

— Pare de falar, Ollie. — Grito por meio de outro impulso


que altera a mente.

— Também não gosta de conversa suja? — Ele sorri


contra meus lábios, seus quadris rolando tortuosamente,
movendo-se com a melodia selvagem que criamos. Um gemido
sai da minha garganta quando ele se firma em mim
novamente, e tento balançar a cabeça.
Os dedos de Ollie arrastam pela minha coxa e agarram
minha bunda enquanto ele me leva mais fundo enquanto sua
outra mão acaricia minha testa com o polegar. Eu me provo
em seus lábios quando nossas línguas colidem, e sua boca se
move da minha, desce pelo meu queixo até a minha orelha.
Sua respiração bate e meu núcleo aperta em torno dele.

— Eu sinto você, Mia. — Ele sussurra enquanto encontro


cada um de seus movimentos.

Ollie se senta, os olhos pesados e o olhar lambendo meu


corpo até onde estamos conectados. Seus dedos cravam em
minhas coxas, me espalhando ainda mais, e sua outra mão
massageia meu clitóris. O zumbido da chama incandescente
acende e drena o orgasmo de mim, e meu sexo se contrai
contra sua batida desesperada. Com as pernas tremendo, vejo
seus olhos verdes me adorarem enquanto mergulho em um
êxtase, minhas pálpebras tremendo com a forte intensidade.
Logo, Ollie se deixou ir, perseguindo a sensação maravilhosa.

Com meu corpo sedado e joelhos relaxados e separados,


Ollie toma seu doce tempo, beijando o interior das minhas
coxas, meu núcleo, meu clitóris sensível e lambendo minhas
feridas enquanto o campo de flores silvestres que nos rodeia
dança com o vento forte. Empurro contra sua língua quente
enquanto ele me leva em outro clímax. Ele é implacável e
totalmente sem vergonha em seu vício, e seus lábios se movem
delicadamente contra mim, pintando uma ilusão de que temos
todo o tempo do mundo. Porque com Ollie, o tempo não existe
e nada mais importa.
Mia e eu voltamos para o restaurante, de mãos dadas com
seu sabor delicioso pulando na ponta da minha língua. Pego
uma flor branca de seu cabelo enquanto nos sentamos à mesa
e desvio os olhos de Bruce e Diane com um sorriso persistente
no meu rosto. Um que eu não consigo afastar.

— Pegou seu telefone? — Diane pergunta, com todo


conhecimento.

— Devo ter deixado em casa. — Mia acena com a mão na


frente dela e olha para a comida que tinha chegado enquanto
estávamos fora. — Oh, cara. Isso parece tão bom.

Diane revira os olhos e passa o garfo pela salada de


repolho enquanto Bruce permanece quieto.

Meu telefone vibra e eu o tiro do bolso para ver que é


Travis. Ele tinha ficado em silêncio desde que eu enviei uma
mensagem apenas para entrar em contato comigo em caso de
emergência, e esta é a terceira vez que liga esta manhã.

— Desculpe. Eu tenho que atender isso. — Respondendo,


eu me levanto. — Sim?

— Tenho tentado entrar em contato com você, onde você


esteve? — Travis tenta sair com respirações curtas.
— Mia foi ao tribunal esta manhã. — Explica, dando um
passo para fora, para a lateral do prédio. — O que está
acontecendo? Está tudo bem?

— Não, Ollie. As coisas não estão bem. Estou dando o fora


daqui. Dex não está brincando. Eles o mataram, porra, Ollie.
Eles o mataram para chegar até você. Se você não voltar e dar
a ele o que ele quer...

— Calma, quem foi morto? — Meu olhar corre ao redor


até encontrar Mia comendo do outro lado da janela. — Quem
foi que Dex matou?

— Oscar. Ele foi esfaqueado ontem à noite em High Down.


Seu irmão está morto. Agora, eu não sei se ele acredita que
vocês dois eram próximos, mas foi uma porra de mensagem.
Eles podem levar quem quiserem. Não sei o que fazer, Oliver.
Eles não têm seu endereço, mas ainda estou fazendo as malas
de Summer e vou ficar com a mãe dela por... — Suas palavras
caem no fundo da minha mente. O celular treme em minha
mão, e o olhar firme que uma vez tive em Mia fica embaçado.

Meu irmão está morto.

Oscar está morto.

— Ollie, você está aí? Você está ouvindo o que estou


dizendo? — Travis grita ao telefone.

Abaixo minha cabeça para trás e movo meus dedos sobre


minhas têmporas.
— Sim. — Não posso dizer mais nada. Minhas emoções
me traem por causa de um irmão que uma vez amei, mas
aprendi a odiar, mas ainda sempre assumi que ele se tornaria
esse homem mudado um dia, que eu poderia ajudá-lo a mudar.

— Deixe Mia aí e volte e cuide disso. Dê a Dex o que ele


quer.

— Quando é o funeral?

— Velório? Você não pode estar falando sério. Seu irmão


era um fodido idiota. Ele não merece um funeral.

— Sua sentença de prisão, sua luta, acabou. — Eu o


lembro com os dentes cerrados. — Pare de punir um morto,
isso só faz crescer o ódio que deveria ser enterrado junto com
ele. Todos nós merecemos um encerramento.

Encerro a ligação com Travis para ligar para a Prisão de


High Down.

Eles planejam enterrar Oscar amanhã. Eu tenho que sair


hoje.

— Mãe! O que é que você fez?! — Oscar grita, correndo pela


porta, inesperadamente, deixando cair sacolas de
supermercado em seu rastro enquanto mamãe se agarra a mim,
chorando.

Seu corpo inteiro está tremendo, e ela está batendo a


cabeça violentamente, murmurando coisas que eu não entendo.
Talvez seja porque também estou chorando, com falta de ar.
Oscar me arranca dos braços dela. Ele procura meu rosto e
inclina minha cabeça para trás em suas mãos. — Respire,
Oliver. — Ele canta, passando os dedos pelo meu cabelo suado.
— Estou aqui. Estou bem aqui. — Uma lágrima desliza de sua
bochecha e pousa em meus lábios. Nunca vi Oscar chorar, mas
é fascinante, e não sei como é possível, mas seus olhos
castanhos ficam pretos quando ele vira a cabeça de volta para
a mãe. — Ele tem oito anos, mãe! Oito!

— Oscar. — Mamãe chora. — Sinto muito. Eu não... Voltei


para casa. Por favor, não sei o que aconteceu. Eu não aguento
mais...

Oscar me deita no colchão e, com o canto do olho, pula de


joelhos e ataca mamãe, com os punhos e ameaças voando:

— Se alguma coisa acontecer com ele, você me perderá


também. Você vai me perder para sempre, sua idiota inútil. Eu
deveria te matar. — Ele a bate contra a parede e ela se encolhe
no canto.

Oscar volta para o meu lado e me embala em seus braços.


— Vai ficar tudo bem. Eu nunca vou deixar nada acontecer com
você. — Oscar sussurra, enxugando as lágrimas dos meus olhos
na cama quente pela primeira vez enquanto mamãe chora no
canto do quarto. Ele tem dezoito anos agora, é grande, forte e
seguro. Meu irmão. — Feche os olhos, Oliver. Feche os olhos e
pense em outra coisa. Sonhe irmão.
Levo tempo para capturar minhas emoções e empurrá-las
de volta para baixo. Pondo o telefone no bolso, volto para o
restaurante e em direção à mesa, puxo a cadeira e sento-me.
Bruce e Diane continuam a conversa, discutindo sobre as
bancadas da cozinha. Eu encaro o hambúrguer diante de mim,
perdi meu apetite em algum lugar no estacionamento.

Os dedos de Mia deslizam sobre meu joelho saltitante em


busca de minha mão. — O que é? — Ela sussurra,
entrelaçando seus minúsculos dedos nos meus. O toque de
sua mão estabiliza minha frequência cardíaca, injetando força.
Mas eu não consigo olhar nos olhos dela. Oscar a atormentou
e tentou estuprá-la. — Ollie?

Balanço minha cabeça e pressiono meus lábios contra


sua têmpora, fechando meus olhos com força e respirando
fundo.

— Tudo bem. — Ela balança a cabeça e agarra minha


coxa. — Pai, temos que ir.

— Claro, sim. — Bruce olha para mim e pousa o garfo. —


Tudo bem?

Enfiando a mão no bolso, encontro minha carteira e jogo


o dinheiro sobre a mesa. Eu não sei se é demais ou não o
suficiente, mas minha cabeça está girando e Mia e eu nos
levantamos de nossas cadeiras. — Ficará. Obrigado a ambos
por tudo.
Bruce se levanta e reconhece a expressão em meus olhos.
— Sim, foi ótimo ter você, Oliver. Eu sei que você vai cuidar da
minha garota, melhor do que eu jamais poderia.

Rapidamente, mas suavemente, nos despedimos antes de


sairmos para o estacionamento. Meu único objetivo é chegar
ao carro sem perder o controle, sem socar algo ou alguém. Isso
foi minha culpa. Oscar, embora fosse o pedaço de merda que
era, estava morto por minha causa. Sua morte estava em
minhas mãos.

— Ollie. — Mia agarra meu braço e me puxa de volta, —


Ollie, vá devagar. Fale comigo.

Pego sua mão na minha e continuo avançando. Tenho


que levar Mia de volta para casa. Eu tenho que me despedir de
novo, e não quero.

— Ollie! — Ela puxa a mão da minha assim que chegamos


ao carro. — Eu não vou a lugar nenhum até que você me diga
para onde estamos indo.

— Estou levando você para a casa do seu pai. — As


palavras fluem com lágrimas presas na minha garganta, me
sufocando. Não foi por acaso que havia gaiolas em volta dos
corações, outras mais fortes para os corações selvagens que
batem em um ritmo diferente. O meu é um ritmo diferente.
Meu coração bate em uma música totalmente diferente. — Eu
tenho que voltar, Mia, e você tem que ficar aqui.

— Besteira!
Seguro seus ombros e me inclino para encará-la. Ela tem
uma altura diferente nos saltos. Uma altura com a qual não
estou acostumado. — Oscar morreu ontem à noite. Eles o
mataram para chegar até mim. Tenho que voltar e, por mais
que não possa ficar sem você, também não posso permitir que
nada aconteça com você. Você é meu tudo, Mia. Faça isso por
mim, por favor.

— Não. — Ela balança a cabeça. — Não se atreva a me


deixar. — As mãos de Mia agarram meu rosto e me beijam com
força, destrancando a confusão que me prende. Afundo
naquele beijo, desejando que nossos corpos possam se fundir
e se tornar um. Desejando que sua alma possa ficar segura
dentro da minha por toda a eternidade.

— Não sei o que fazer. — Confesso encostando a testa na


dela, agarrando sua nuca.

— Eu vou com você.

— Os OG's, Bonnie e Clyde. Dirigindo rápido, armas em


punho. Vocês dois contra o mundo. — Meu curinga; meu um
por cento. Meus lábios pousam em sua testa, esperando que
Bud estivesse certo no fato de que precisávamos começar a
lutar essas batalhas juntos. — Entre no carro, amor. Vamos
para casa.
DEZOITO

“A escuridão se aproxima, consumindo de forma


imprudente.
Mas estamos juntos e esta noite ela vai dormir.
Respirando silenciosamente, nossos corações com batidas
rítmicas.
Porque ela é amada desinteressadamente.
Almas divergentes sincronizam; um conto transversal.
Estrelas alinham e o destino intervém.
Eu mato seus terrores; palavras sagradas como espadas.
Porque ela é amada, sem palavras.
Ela descansa a cabeça; corpos derretem sob lençóis.
Eu estarei aqui até o amanhecer, com a arma da canção de
ninar de um poeta.
Porque ela está apaixonada, infinitamente.”
− Oliver Masters

OLLIE SENTA-SE na extremidade oposta do táxi,


tamborilando os dedos sobre o joelho saltitante. São três da
tarde, horário do Reino Unido, e nem mesmo voltamos para o
outro aeroporto para recuperar o carro antes de entrarmos em
nosso primeiro desentendimento.

— Eu não sei por que você ainda está chateado comigo.


Você me protegeu, assim que embarcamos no avião, eu
entendo isso. — Minha mão balança para frente e para trás,
indicando a distância entre nós. Ele não poderia estar mais
longe, o olhar fixo na janela traseira.

— Claro, eu cuidei de você, Mia. Eu sempre estarei com


você. Mas você estava errada.

— Eu não entendo. — O idiota da alfândega era um idiota,


fazendo perguntas ridículas. Ok, talvez eu tenha feito
comentários sarcásticos e não respondido a cada uma de suas
perguntas pervertidas de acordo, mas ainda não deu a ele o
direito. — Se eu estava tão errada, então por que me defender?

Ollie respira lentamente, estica os dedos e solta o ar


rapidamente. — Eu vou te defender, certo ou errado, o dia todo
na frente dos outros, mas assim que estivermos atrás de portas
fechadas, eu posso te dizer o quão ridícula você estava sendo.
Podemos ter perdido nosso voo. Eles não segurariam o avião
para nós, e tudo o que ele perguntou foi o que você faria com
esse, — ele estala o dedo, — tipo de coisa.

— É um vibrador, Ollie.

— Você disse “bomba”.

— Eu disse que era a bomba. — Propositalmente.


Os olhos de Ollie se estreitam como se eu o tivesse
insultado.

— E por que você tem um vibrador em sua mochila,


afinal?

— Você estava me apressando. Eu apenas peguei coisas


da minha caixa e coloquei na minha mochila. — Incluindo
minha câmera, filme, fotos...

Ollie estende a palma da mão e acena com os dedos. —


Me dê isto.

— Por quê?

— Porque você não precisa mais disso.

— E se você estiver fazendo alguma coisa e eu precisar


gozar?

Ollie olha pelo espelho retrovisor, onde o taxista


rapidamente desvia seu olhar divertido. — Desde quando eu
não cuido de você? — Ollie levanta uma sobrancelha. Ele tem
razão e seus dedos se mexem novamente. Gemendo, puxo a
mochila sobre meu colo e abro o zíper antes de enfiar minha
mão no bolso da frente e deixar cair o vibrador na palma de
Ollie. Ele abaixa manualmente a janela e joga-o no tráfego
intenso da tarde. — A porra de um vibrador. — Ele balança a
cabeça, rindo incrédulo. — Vou lamber os círculos ao redor
dessa coisa.
— Você acabou de deixar um carona muito feliz. — Eu
aponto. — Aposto que alguém vai pegá-lo e chamá-lo de
Wilson, mantê-lo para sempre.

— O lixo de um homem é o tesouro de outro. — Ollie


murmura baixinho. Ele é fofo quando está com raiva, joelhos
saltando, dedos tamborilando, balançando a cabeça. Deslizo
no banco de trás ao lado dele, movendo minha mão em suas
coxas esticadas. Calor irradia do material fino de sua calça, e
aperto minhas coxas para aliviar o efeito que ele tem em mim.
Ollie revira o pescoço e me encara, e olhos indulgentes
encontram os meus. — Venha aqui. — Ele diz exalando, então
ergue o braço e o solta em volta do meu ombro, me puxando
para mais perto.

Chegamos ao outro aeroporto duas horas depois. Ollie


paga o motorista e a taxa foi alta, mas não poderíamos pegar
um voo mais cedo para o mesmo aeroporto em que ele havia
deixado o carro.

— O que você acha? — Ele pergunta, batendo no capô da


Perua preta coberta de poeira.

Faço uma pausa com minha mochila pendurada no


ombro e inclino minha cabeça.

— É velho.

Ollie esfrega o capô com amor e sussurra para o retrovisor


do carro:
— Não dê ouvidos a ela, querido. Ela não quis dizer isso.
— Revirando os olhos com um sorriso, dou um passo à frente
quando Ollie abre a porta dos fundos e joga nossas malas
dentro. — Você não precisa ir para a prisão, Mia. Eu vou ficar
bem. Posso conseguir um quarto para você e você pode relaxar
um pouco. — As mãos de Ollie movem-se sobre meus quadris
e ele me puxa para o meio de suas pernas abertas enquanto
cai contra o carro. Estou exausta. Ele está exausto. Mas
nenhum de nós deixa transparecer. — Oscar foi horrível com
você. Não estou esperando nada de você.

Oscar foi horrível comigo. Ele me drogou, me bateu, quase


me estuprou, mas ele era irmão de Ollie, e se ele precisar de
mim ao seu lado, estarei lá porque é o que fazemos. Nós sempre
estamos lá um para o outro, não importa o quê. Eu levanto
meus olhos para encontrar os de Ollie, e sua sobrancelha se
ergue, procurando em meu rosto por uma resposta.

— Diga-me o que você quer que eu faça, e eu farei.

A covinha de Ollie aparece, e seus dedos puxam a bainha


inferior do moletom que estou usando por cima do vestido até
que fico colada nele. Não é o melhor senso de moda, mas nunca
estive na moda. — Tire essas roupas. — Ele sussurra. — Tome
um banho de espuma adequado, peça serviço de quarto e
descanse bem. É isso que eu quero que você faça.

— Então é isso que vou fazer.


Mata-me deixar Mia no Holiday Inn, mas não é seguro
para ela estar lá, especialmente se os Links estiverem
assistindo. Dex Sullivan não conseguirá colocar os olhos em
Mia a menos que eu permita, e sei que ele está em algum lugar,
observando. Dex sabia que eu viria.

Eu não tive tempo de me trocar, ainda usando a camisa


branca de botões e calça comprida e um cansaço pesando em
meus olhos. O carro para no estacionamento da Prisão High
Down, as janelas embaçando enquanto espero reunir coragem
suficiente para deixar a cabine da Perua. A chuva bate no capô
e uma série de guarda-chuvas pretos marcha pelo gramado à
distância, seguindo um caixão.

Meus dedos se curvam ao redor do volante até que


minhas juntas ficam brancas. Eu tinha como reivindicar o
corpo de Oscar e dar a ele um enterro adequado em um
cemitério, mas ele fez sua cama, é hora de dormir nela. Uma
vez, Oscar me salvou de minha mãe. Ele cuidou de mim, me
protegeu. E se não fosse por ele, provavelmente estaria morto.
Por isso, eu devia a ele minha presença e encerramento.

Desligo o motor, saio do espaço quente do carro e


caminho em direção ao círculo amontoado no cemitério isolado
da prisão. Fico de lado. A chuva goteja das pontas do meu
cabelo, desce pela ponte do meu nariz e pelos meus cílios. A
camisa branca gruda em minha pele fria e mantenho minha
cabeça baixa enquanto o padre fala algumas palavras, sua voz
abafada pela chuva.

A maioria das pessoas que ficam ao redor do túmulo pago


pelo país são funcionários e guardas de High Down, mas
quando o padre dispensa todos, tenho um vislumbre de
cabelos loiros desgrenhados caindo sob um guarda-chuva
inclinado. A mulher está sendo consolada por ninguém menos
que Dex Sullivan.

Eu desvio meus olhos e ordeno que meus pés se movam,


mas eles ficam cimentados no chão encharcado quando os dois
se aproximam.

— Oliver. — Ela declara surpresa.

Eu olho para cima e aperto os olhos na chuva.

— Mãe.

As íris pretas me encaram de volta, no centro do inchaço,


desolação e vermelhidão. Os anos não foram bons para ela, e
seus dedos trêmulos agarram-se ao sobretudo de Dex como
uma fonte de estabilidade.

— Como você ousa aparecer aqui? — Ela cospe, as pontas


desfiadas de seu cabelo danificado voando contra o vento. Ela
parece tão pequena contra Dex, que permanece quieto ao seu
lado com uma carranca enganosa estragando seu rosto. —
Você é muito corajoso.
— É bom ver você também, mãe.

— Não faça isso. Não finja que eu simplesmente não


enterrei meu filho. — Ela range entre os dentes cerrados e as
lágrimas. Dex desliza o braço em volta da cintura dela e puxa-
a para mais perto dele. Eu flexiono meu queixo com a facilidade
com que ela descansa contra o homem que ajudou a conspirar
a morte de Oscar. Dex provavelmente ainda está transando
com ela também, qualquer coisa para me irritar. — Sabe,
deveria ter sido você. Eu queria que fosse você, Oliver. — Ela
grita, lamentando a perda de seu primogênito. O que ela
entende. Aquele com quem ela podia se identificar, o filho que
estava tão doente quanto ela e não a fazia se sentir mal por
isso.

— Nós dois sabemos que já estou morto para você. Não


vamos abrir velhas feridas. — Contar para minha mãe que Dex
foi quem matou Oscar não teria me feito nenhum favor. Ela
não teria acreditado em mim. E Dex também não teria contado
para mamãe sobre White Fox. Ele não teria contado a
ninguém. Dex quer todo o dinheiro para si. E assim que eu
puder encontrar uma maneira de conseguir o dinheiro para
ele, estarei acabado com tudo isso.

— Vamos, Becky. — Dex enrola os dedos em sua cintura


e a conduz para longe. — Você não merece ouvir esse absurdo.

Os dois se afastam, deixando-me encharcado e tremendo


de frio. Uma lágrima escorre dos meus olhos enquanto o
garotinho em mim observa sua mãe ir embora. Passei anos
amando-a cegamente, mesmo depois de vários atentados
contra minha vida. Eu seria um mentiroso se dissesse que
nunca morri de fome pelo amor de minha mãe, ou que não me
matou vê-la escorregar pela toca do coelho do vício e sua
doença. Eu li muitos livros, acompanhei seus sintomas
enquanto crescia. Tudo isso levou a uma forma de transtorno
dissociativo de identidade, embora ela nunca tivesse me ouvido
ou se importado em procurar ajuda. Seu único refúgio foi uma
dose adequada de heroína.

De volta ao carro, bato meu punho no volante, uma e


outra vez antes de ligar o motor e dar ré. Alguns quilômetros
se passaram quando meus olhos se movem do para-brisa para
o espelho retrovisor, e vejo um carro seguindo muito perto.
Saio da rua para deixá-los passar, mas eles não deixam. Eles
param atrás de mim quando outro carro passa e estaciona na
frente da perua, bloqueando-me. Eu saio, a chuva batendo nas
minhas costas, caindo com força, e jogo minhas mãos no ar
enquanto caminho em direção ao carro estacionado atrás de
mim. Dois homens descem e grito maldições contra a
tempestade que se forma acima.

Um deles é Dex, e seus lábios se movem. — Pegue-o.

Uma força atinge minha cabeça por trás, e eu caio no


chão, o cascalho se cravando na lateral do meu rosto. Tento
ficar de pé quando uma bota me chuta no estômago, roubando
todo o ar dos meus pulmões. Meus olhos semicerram-se contra
a chuva fria e agarro um tornozelo, arrancando o cara de uma
posição em pé, colocando-o de bunda antes de subir em cima
dele. Antes que eu possa dar meu primeiro soco, sou atingido
novamente contra minha espinha, me incapacitando
temporariamente.

— Eu te avisei, Oliver. — Dex grita contra o trovão


estrondoso. Eu me coloco de quatro, tentando ficar de pé.
Quando levanto minha cabeça, um raio ilumina o céu,
iluminando o sorriso malicioso de Dex. Um chute no meu
estômago me vira e minhas costas batem no meio-fio. Em
seguida, mais golpes e socos martelam sobre mim. Dois ou três
homens, e não importa para onde eu vire, não consigo sair do
fundo.

Eventualmente, eles vão embora. Ouço os carros batendo


no acostamento, cascalho voando e atingindo meu rosto, mas
não consigo me mover. Deito lá no congelamento sob a
tempestade furiosa, sangrando, tremendo e congelado. E meu
olhar se fixa enquanto o sangue escorre de minha boca e corre
ao longo das correntes entre os seixos, a chuva lavando-o.

Não me lembro de como voltei para o hotel, mas foi nada


menos que um milagre, uma graça salvadora.

— Oh-meu-deus, — Mia grita, correndo de debaixo de um


cobertor sobre o sofá do quarto do hotel enquanto estou
atordoado na porta, pingando água e sangue. Lágrimas se
juntam em seus olhos quando ela toca minha boca. Eu viro
minha cabeça para longe dela, odiando-a por me ver assim. Eu
não pude me proteger. Como eu deveria protegê-la? Sua voz e
mãos estão em pânico enquanto ela desabotoa minha camisa
com um olhar de dor em sua expressão, lágrimas caindo
desamparadamente de seus olhos castanhos. — Eu tenho que
tirar você dessas roupas. Você está tremendo. Você vai ficar
doente. — Ela trabalha rápido nos botões antes de tirar a
camisa dos meus ombros. Suas mãos estão quentes contra
minha carne trêmula. — Deixe-me levá-lo ao hospital. Você
precisa ir para o hospital.

Agarro seu pulso. — Não, Mia. Você não pode. — Eles


fariam perguntas, registrariam um boletim de ocorrência.

— Eles poderiam ter matado você! — Ela grita.

— Dex não vai me matar. Não até que ele receba seu
dinheiro. — Estremeço e agarro minha caixa torácica, meu
corpo inteiro dolorido, tremendo de frio e machucado de dentro
para fora.

Silenciosamente, Mia solta meu cinto e desabotoa minha


calça antes de pegar minha mão e me levar até o banheiro.

Parando na porta, inclino-me no batente para me


equilibrar enquanto ela se abaixa para ligar a água. — Estou
preparando um banho para você. — Mia murmura. Ela está
com raiva e eu não posso culpá-la. Eu permiti que a presença
da minha mãe me afastasse.
As vozes da televisão competem com a água que escorre
da banheira, um programa policial que ela assistia e continua
passando ao fundo. Ela se vir e se aproxima de mim, e seu
cabelo está preso no topo de sua cabeça, mechas emoldurando
seu rosto enquanto ela desliza para fora do meu cinto.

— Você vai me deixar cuidar de você?

Consigo acenar com a cabeça e deixá-la me despir. Tanto


a calça quanto a boxer rolam pelas minhas coxas até que a
roupa molhada atinge o chão aos meus pés.

Depois de afundar na água do banho, a temperatura


quente queima minhas feridas, mas meus tremores diminuem
lentamente antes de ir embora completamente. Mia se senta
no chão, inclinando-se sobre a borda da banheira.

— Estou tão brava com você agora. — Ela repreende,


passando uma toalha de mão úmida sobre meu lábio cortado.
Outra lágrima escorre por sua bochecha e fecho os olhos,
incapaz de vê-la assim.

— Eu vou ficar bem, amor. — Sussurro, me encolhendo.


Dói respirar, quanto mais falar. Mia larga a mão e enfia a
cabeça nos braços sobre a banheira. Eu a vi quebrar, socar
paredes, espelhos, deixando escapar seu pior absoluto, mas
nunca a tinha visto tão derrotada às minhas custas. Minha
mão se ergue e envolvo meus dedos em seu pescoço e cabelo.
— Eu prometo. Eu vou ficar bem. Vai ficar tudo bem.

Ela ergue a cabeça, o queixo apoiado no braço.


— Eu não posso perder você.

— Você não está me perdendo.

— Prometa-me.

— Você nunca vai me perder. — Repito. — Eu prometo.

Mia cuida de minhas feridas e me ajuda a ir para a cama.


Já passei por coisas piores antes, mas parece que ela se sente
melhor em ajudar.

Vejo meu livro sobre a mesa de cabeceira e pergunto a ela


sobre isso.

— Eles têm uma livraria por perto. — Ela dá de ombros


do outro cômodo, pegando minhas roupas molhadas do chão
e desaparecendo no banheiro, sua voz arrastando atrás dela.
— Eu fui e peguei um exemplar do livro de poesia Oliver
Masters, volume 1.

— Oh, sim? — Isso me faz sorrir. Eu havia deixado algum


dinheiro para ela e sei quanto custa o livro. — Eu poderia ter
dado uma cópia a você, amor.

Mia reaparece na sala, limpando e incapaz de ficar


parada. — Eu queria comprar para te apoiar. Mas não me
ocorreu até que eu estava voltando para o hotel que você
praticamente pagou pelo seu próprio livro porque nem era meu
dinheiro, para começar.

— Seu dinheiro. — Eu a corrijo, estremecendo quando


viro de lado para que eu possa observá-la.
Suas sobrancelhas se juntam. — Hã?

— Tudo o que construí foi para o nosso futuro. É tanto


seu quanto meu.

— Não diga isso. — Ela balança a cabeça. — É todo o seu


trabalho duro. Eu não fiz nada para merecer isso.

Mia caminha ao redor do quarto e desliza sob as cobertas


ao meu lado na cama king-size, com cuidado para não me
tocar, mas eu quero que ela faça. Tento me sentar, mas uma
dor percorre minhas costas. Gemendo, caio de volta na cama.

— Você leu a poesia, Mia? — Os dentes brancos cravam


em seu lábio inferior enquanto seus olhos se fixam nos meus.
Lentamente, ela balança a cabeça, e minha outra mão vai para
roçar sua mandíbula e descer pela base de seu pescoço, apesar
da quantidade de dor que me percorre. — Meu amor por você
sangra nessas páginas. Escrevo porque não consigo conter
meus sentimentos por você, mas divulgo porque quero que o
mundo inteiro saiba que existe um amor como o nosso. — Sua
respiração estremece e meu polegar se move sobre seu lábio
inferior. — Dar esperança às pessoas, algo em que acreditar.
Algo para nunca parar de procurar.

— Você vai ler para mim esta noite? Você sabe, se você
estiver bem para isso.

Eu sorrio. — Não consigo pensar em mais nada que


prefiro fazer.
Mia se contorce na cama, e eu pego um vislumbre de sua
bunda aparecendo por baixo da minha camiseta grande que
ela usa enquanto pega o livro da mesa de cabeceira. Pernas
macias instantaneamente se enredam nas minhas, enquanto
ela se deita ao meu lado, o jasmim preenchendo meus
sentidos. Por um momento, fecho meus olhos para cimentar
este instante e despertar as muitas memórias de nós nos
últimos dois anos. Os Links poderão fazer o que quiserem
comigo, mas enquanto eu voltar para minha casa ao lado dela,
sei que tudo ficará bem.

Abro o livro na página de dedicatória.

— Uma canção de ninar de um poeta. — Leio, e continuo


com o resto do poema enquanto sua mão se move levemente
sobre meu peito e meu coração bate forte contra sua palma.

— Isso é lindo — Mia cantarola contra meu pescoço.

— Não fale amor. Nunca vamos ler este livro se você


continuar fazendo comentários. — Aponto, e ela olha para cima
com os cílios grossos, e eu ofereço um sorriso antes de passar
para a próxima página.
DEZENOVE

“Cobrirei seu corpo com uma noite estrelada e pintá-la no


céu porque a tela dela merece um Van Gogh e o mundo
deveria estar desejando por ela.”
− Oliver Masters

É UMA MANHÃ DE TERÇA-FEIRA e estamos acampados no


hotel até Ollie estar totalmente recuperado.

Ele ainda está dormindo quando o sol nasce e raios


amarelos e laranjas clareiam o quarto do hotel através da
cortina azul marinho parcialmente aberta. Seu braço descansa
sobre sua cabeça enquanto seu rosto se inclina para longe de
mim, e eu tiro um tempo para traçar meus dedos sobre suas
feições esculpidas delicadamente. A ponta do meu dedo
delineia suas tatuagens, peito duro, abaixo em seu abdômen,
onde os hematomas mudam de cor, e sobre as curvas de seu
abdômen. Seu corpo, marcado com tinta preta é a oitava
maravilha, e eu gostaria de poder pendurá-lo no céu, sua
vibração iridescente chovendo sobre esta terra sombria. Talvez,
então, as pessoas pudessem finalmente parar e ver o mundo
da maneira como ele o via e ter um motivo para sorrir
novamente.
Ollie cantarola em seu sono ao meu toque, e levanto meu
olhar para pegar seus cílios tremulando e seus lábios se
abrindo enquanto um gemido escapa. Espero até que ele se
acalme antes de mover minha mão para baixo, sentindo a
trilha leve de pelo sob meus dedos. Na noite passada, deitamos
nus, partes entrelaçadas, corações ancorados e almas
retorcidas, e assim é o amor com ele.

Seu tamanho talentoso se estende em minha mão,


inchado e quente, e eu afundo sob as cobertas entre suas
pernas com um sorriso espontâneo. Arrasto minha língua até
o comprimento de seu eixo e os músculos de suas coxas se
contraem sob minhas palmas. — Jesus Cristo. — Ele rosna
antes que eu circule o final da minha língua sobre a gota de
pré-sêmen, em seguida, levando-o totalmente à minha boca.

Os quadris de Ollie sacodem para frente e seus dedos se


enredam no meu cabelo enquanto eu o chupo lentamente,
acariciando o ponto sensível com minha língua. O edredom
branco e marinho é tirado de cima de mim antes que ele puxe
os joelhos para cima, e eu olho para cima para ver Ollie
olhando para mim com olhos verdes pesados.

Eu o pego fundo e a cabeça de Ollie cai para trás no


travesseiro. — Continue fazendo isso, eu vou gozar.

— Esse é o ponto. — Eu sussurro, meus lábios roçando


sua pele firme.

Os olhos suplicantes de Ollie voltam para mim, ele tira o


cabelo do meu rosto e passa o polegar pelo meu lábio inferior.
Rastejo por seu torso até que seu nariz roça o meu, e monto
nele, afundando em sua excitação até que centímetro por
centímetro esticado, ele me enche. Nossos dedos se entrelaçam
enquanto meu sexo se aperta em torno dele, moendo e rolando
em uma batida intensa. Suas mãos deixam as minhas para
correr as pontas dos dedos ao longo das minhas curvas, para
meus quadris e, finalmente, agarrando dois punhados de
minha bunda enquanto seus movimentos se tornam
frenéticos, encontrando cada um de meus movimentos. Mordo
meu lábio para lutar contra o clímax que ameaça derramar,
mas minhas pernas estão me denunciando, tremendo
incontrolavelmente.

Ollie agarra meus ossos do quadril, prendendo meu


centro ao dele até que cada músculo de seu corpo fica tenso
sob sua pele pintada quando ele se desfaz.

— Ninguém controla meu corpo como você. — Ele


sussurra em meu cabelo. — Você me pega e me deixa louco,
amor.

Eu rio na curva de seu pescoço. — Bom dia, a propósito.

Suas mãos percorrem na minha bunda e sobre as


cicatrizes das minhas costas. — Eu sabia que gostava das
manhãs por um motivo. — E seu nariz roça o meu mais uma
vez antes de eu rolar para longe dele e para o seu lado.

— Ollie?

— Sim?
— Por que eu sinto que esta é a calmaria antes da
tempestade?

Ollie rola para o lado e lambe os lábios. Sua boca se abre,


prestes a dizer algo, depois se fecha, preso em pensamentos
turbulentos. — Você não vai gostar do que estou prestes a lhe
dizer.

Três minutos depois...

— Um cemitério. — Eu questiono, meu tom agudo e me


recuperando da história que ele contou. Duas vezes, porque
pedi a ele que recontasse para ter certeza de que tinha ouvido
direito. — Você enterrou o dinheiro em uma porra de
cemitério?

— Sim. — Ele assente, resolvido.

— Deixe-me ver se entendi. Você roubou todos os bens da


rede de prostituição do seu irmão e enterrou ao lado do túmulo
de George porque...

— “Quando a morte chega, nunca é de nossa ternura que


nos arrependemos, mas de nossa severidade”, George Eliot. —
Cita ele, o que não ajuda a esclarecer em nada.

— Não acho que o Sr. Eliot queria que a terra ao seu redor
fosse perturbada por dinheiro de merda.
— Em primeiro lugar, George Eliot era uma mulher e uma
lenda. Em segundo lugar, acho que ela acharia a ironia
divertida.

Eu reviro meus olhos.

— Muito poético, Ollie.

— Obrigado. — Diz ele com um sorriso. — Esta noite,


temos que invadir o cemitério de Highgate para recuperar o
dinheiro.

— Então você vai, o quê? Entregar o dinheiro para Dex?

— Esse é o plano.

— Quanto estamos falando?

— Quarenta e três mil mais ou menos. Mas Dex não sabe


quanto exatamente. Vou dar a metade para ele e deixar a outra
metade para a família de Brad Burn. Deixe o resto para seus
filhos e esposa. Eles não merecem lutar sem um pai.

— Você enterrou muito dinheiro.

— Eu estava bêbado com uísque e rancor. Perdi uma


grande parte em algum lugar entre o carro e a lápide tenho
certeza. — Ele dá de ombros. — Não era o meu melhor
momento.

Eu balanço minha cabeça, sorrindo.

Ollie acaricia meu lado. — O que?


— Nada.

— Conte-me.

— Eles dizem que você não pode enterrar o dinheiro com


você. Você com certeza mostrou a eles.

A cabeça de Ollie cai para trás, uma pequena gargalhada


escapando.

— É que... estou feliz que você me disse, sabe. Incluindo-


me nisso. Você não pode levar todos os seus segredos para o
túmulo.

— Oh, lá vamos nós.

— O que? — Eu arqueio uma sobrancelha. — Estou


cavando um buraco mais fundo para mim?

O sorriso de Ollie é contagiante e ele tenta balançar a


cabeça em meio à risada.

— Estamos a quase dois metros de profundidade nessa


bagunça. — Eu rio. — E eu poderia ir o dia todo.

— Faça isso. — Ele bate na minha bunda. — Eu vou


tomar banho. Você vem?

— Você vai se enterrar dentro de mim de novo? — Ollie


vira a cabeça e vai embora, mas sinto seu sorriso persistir
enquanto observo sua bunda bronzeada e lisa durante todo o
caminho até o banheiro.
O som de água batendo no piso sai do banheiro, e Ollie
enfia a cabeça pela porta. — Você estará em grande perigo se
não estiver aqui em cinco segundos.

O carro para em frente a uma casa de paralelepípedos e


meu olhar se volta para Ollie, que exibe um sorriso orgulhoso.
— Bem-vinda ao lar, amor.

— Ollie... — Eu sussurro, meus olhos grudados na


casinha charmosa.

Ele agarra minha mão do meu colo e roça os lábios nos


meus dedos.

— Vamos. Há muito tempo que espero por este momento.

Ollie desliga o motor e nós dois saímos do carro. Meus


olhos pousam em todos os lugares, o portão com uma placa de
bronze vazia esperando para ser entalhada, a pequena ponte
arqueando sobre um riacho, a caixa de correio, que é uma
réplica exata em miniatura do chalé. As trepadeiras sobem
verticalmente pela frente da casa, agarrando-se à superfície de
pedra cinza e branca, e a porta da frente é curva e lascada em
torno da aldrava antiga. Tínhamos deixado nossas malas
dentro do carro e Ollie abre o portão e me deixa andar na frente
dele.
— Isso é... Eu estou...

— Pasma? — Ele termina.

— Sim, Ollie — Eu rio. — Estou pasma ‘pra’ caralho.


Casas como esta pertencem aos livros. Contos de fadas. Elas
não pertencem ao mundo real.

— Isso é real, e é sua. — A porta se abre e nós entramos


enquanto ele continua. — Eu não estive aqui ainda, então, por
favor, desculpe qualquer bagunça que Travis deixou. Ele e
Summer ficaram enquanto eu estive fora. Mas eles se foram
agora. Somos apenas nós... — Mas eu mal posso ouvir
enquanto percebo a vibração nostálgica que a casa transcende.
Caminhamos direto para uma pequena sala de estar, e duas
vigas de madeira grossas estão em ambos os lados de nós
enquanto um grande sofá de couro está encostado na parede,
de frente para uma lareira. Um velho piano enfiado no canto.
— Olhe onde pisa. — Ele agarra meu cotovelo, me guiando um
único passo.

Sem palavras, caminhamos pela sala de estar, pelo piso


de madeira e em direção à cozinha nos fundos, que dá para
um lago com um cais. A cozinha é pequena, com prateleiras
abertas, e corro meus dedos pelas prateleiras, lembrando-me
do que Ollie disse na Pensilvânia sobre meus pensamentos
sobre elas. Mal sabia eu, ele estava falando sério.

— Há apenas dois quartos e dois banheiros. Achei que


menos metragem quadrada e paredes entre nós seria o ideal.
Nunca precisei de muito, Mia. Eu sou um homem simples.
— Eu amo isso.

— Você ainda não viu as melhores partes.

— Tem mais?

Ollie agarra minha mão e me leva para o quarto principal.


A lareira da sala de estar é compartilhada com o quarto
principal, e ao redor dos tijolos há estantes de livros
embutidas. Cada detalhe é atemporal, feito à mão e pitoresco.
Eu o sigo até o banheiro branco, onde uma banheira
independente fica contra a janela traseira, vasos de plantas
revestindo o parapeito.

— Ok, você vai adorar isso. — Diz ele com entusiasmo,


levando-me para fora da sala em direção a uma escada estreita
alinhada em pilhas sobre pilhas de livros. — Ignore aqueles.
Mandei livros, mas estou com TOC17 sobre como eles são
organizados. Eu disse a Travis para colocá-los em qualquer
lugar.

Quando nossos pés pousam no degrau superior, é um


sótão acabado, completo com uma sala escura para minhas
fotografias. Lágrimas surgem em meus olhos. — Isso é surreal.
— Eu digo com uma respiração instável. — Ollie, isso não é
real.

— É real. — Ele sorri, os olhos vidrados. — Eu não posso


levar todo o crédito. Coloquei Travis para trabalhar. Para ser

17 Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
honesto com você, eu não pude vir aqui de jeito nenhum. Não
até que eu tivesse você de volta em segurança.

— Esta é sua primeira vez aqui?

— Sim. Travis foi bem, certo?

— Eu não posso acreditar nisso. — Continuo repetindo.


Está na minha frente, mas por algum motivo, não consigo
compreender. Por tanto tempo, nunca pensei que fosse digna
não apenas de um lugar para finalmente me sentir aceita e em
casa, mas com um homem que é tão oposto de mim, que é tudo
que eu não sou. Um homem que nunca parou de me encorajar
ou me empurrar para ser a melhor versão de mim mesma.

Seguro minhas emoções até que passamos pela porta dos


fundos da cozinha e saímos para o jardim. Uma fogueira fica
no meio do nosso quintal e a casa de paralelepípedos se
mistura ao solo, criando a ilusão de um deque de pedra e um
caminho para o cais.

— No verão, este jardim estará coberto de flores. Não


tenho certeza de quais ainda, mas acho que vamos descobrir
em breve.

Duas cadeiras estão do lado de fora da porta dos fundos,


e Ollie se senta em uma cadeira e me puxa para seu colo,
soltando um longo suspiro. Ficamos sentados em silêncio por
um tempo, com o queixo caído sobre meu ombro.
— Bem, o que você acha? Quer fazer uma casa aqui? —
Ollie pergunta enquanto balançamos suavemente na cadeira,
a vista da água roubando nosso olhar.

Os pássaros voam de árvore em árvore, cantando, e eu


me enrolo ainda mais contra ele. — É perfeito.

— Mia?

— Sim?

— Somos você e eu, para sempre. — Ele sussurra, enfia


a mão no bolso da calça e ergue uma pequena caixa de estopa
entre nós. — Comprei este anel na cidade logo depois de ver o
incêndio na cabana da televisão. Eu sabia, Deus, eu sabia que
você estava clamando por mim. E talvez não importa onde
estejamos, nossas almas ainda falam uma com a outra. É o
som mais doce e nunca duvidei da nossa música. — Ollie abre
a caixa de estopa e tira o anel de dentro. — Eu estive segurando
este anel desde então, esperando por essa chance de colocá-lo
em seu dedo.

Ollie pega minha mão na sua e o coloca. Sem palavras,


uma lágrima cai pela minha bochecha enquanto olho para ele.
O anel é redondo e simples, de ouro rosa, com pequenos
diamantes em volta de um maior no centro. É perfeito.

— É lindo. — Viro minha cabeça para encará-lo, e seus


maravilhosos olhos verdes vulneráveis brilham de volta para
mim.
Deixo cair minha testa na dele e seu nariz roça no meu
antes de seus lábios.

— Eu te amo, Mia. — Ele sussurra contra minha boca


antes de nossos lábios travarem em um beijo ardente e sem
pressa. As emoções dominam nós dois antes de nos
separarmos, e coloco meu rosto em seu pescoço.

— Este é o kit definitivo para criminosos em série. Traje


preto, uma pá, luvas e uma lanterna. — Mia ri com os braços
cruzados sobre o peito contra o carro, seu anel de diamante
brilhando na noite. — Eu me sinto inútil como se estivesse
apenas junto para obter apoio imoral.

— Você está segurando a lanterna. — Aponto, fechando o


porta-malas.

É quase meia-noite e a viagem até Londres demora cerca


de uma hora. Faço uma curva para Dartmouth Park Hill e
dirijo até encontrar o mesmo lugar que estacionei antes, onde
os escritórios corporativos se agrupam. Bem do outro lado está
George Eliot e quarenta e três mil, mais ou menos. A lua
ilumina o céu escuro e cinzento através de nuvens pesadas e
fofas, como se alguém arrastasse garras por elas. — Aqui
estamos.
Temos que ser rápidos e invisíveis. Pulo para fora do carro
e dou a volta para trás enquanto Mia me segue em seu jeans
preto recém-comprado, camisa preta de mangas compridas,
jaqueta de borracha preta e um gorro preto ajustado na
cabeça. Eu pareço o mesmo, omitindo a jaqueta inflável, e a
adrenalina bombeia por nós dois quando pego a mochila do
porta-malas, que carrega os itens de que precisamos. A
caminhada até a parede através da floresta coberta de
vegetação é curta, e estou feliz por Mia ter decidido usar suas
botas de combate. Coloco a mochila no ombro e beijo minha
garota. — Pronta?

— Como sempre estarei.

Assim que atingimos a parede, ordeno que ela direcione a


lanterna para baixo por toda a extensão da pedra. — Há uma
porta aqui em algum lugar. Ela se mistura com os escombros.
— Nossos pés afundam na lama enquanto caminhamos ao
longo da parede, minha mão roçando a pedra, procurando a
porta de madeira.

— Acho que é isso. — Mia fala em voz baixa alguns metros


à minha frente.

— Eu acabei de abri-lo? Como você sabia que isso estava


aqui?

Eu sorrio. — Não posso revelar todos os meus segredos.

— Levando para o túmulo?


— Sim. — Meu polegar abaixa a alavanca da maçaneta e
dou-lhe um empurrão com o ombro até que a porta cede.
Passamos por uma camada de mato grosso até encontrarmos
uma trilha. O cemitério tem um aroma intenso de dias de
morte e um passado irreversível. Um mistério gótico vitoriano
permanece dentro da densa vegetação de árvores com dossel e
lápides espalhadas, incorporando e transportando-nos de
volta a um tempo misterioso. A lua se abate sobre nós,
quicando no rosto pálido de Mia enquanto calafrios percorrem
minha espinha como da última vez que estive aqui. Balanço
minha cabeça para frente, e nossas botas e respirações saltam
entre nós através da lama até que pisamos em um terreno mais
sólido. Ventos fortes da meia-noite rasgam seu cabelo, mas
estamos quase lá.

Estou na frente da lápide desbotada de George Eliot. —


Daqueles mortos imortais que revivem em mentes melhoradas
por sua presença. — Leio, admirando a gravura pela segunda
vez.

— Mary Ann Cross. — Acrescenta Mia, olhando para a


pedra cinza alta.

— Ela usou o pseudônimo de um homem para que seu


trabalho fosse levado a sério.

— Isso é triste.

Dou de ombros e deixo cair a mochila, que bate no chão


com um baque.
— Os tempos eram diferentes naquela época.

Perfurando a terra suja ao lado da tumba com a ponta da


pá, cavo cerca de meio metro até a lanterna de Mia brilhar no
saco plástico preto. Mia se levanta de uma lápide próxima, e
levanto meus olhos até atingir os dela. — Bingo.

Ela se agacha ao meu lado com a lanterna entre os


dentes, segurando a mochila aberta enquanto rasgo o plástico
e jogo um punhado de notas com faixas dentro. A noite é mais
fria para maio, abaixo de sete graus Celsius, onde nossa
respiração sai em nuvens espessas. Paranoica, os olhos de Mia
disparam ao seu redor.

— Você está com medo, amor? — Pergunto, não deixando


nenhum espaço vazio dentro da bolsa.

— Não.

Eu trabalho no zíper. — Tem certeza? — O lugar é


assustador, especialmente no meio da noite. Precisei de
algumas doses de coragem líquida para vir aqui sozinho da
última vez, mas eu nunca admitiria isso para ela.

Ela inclina a cabeça. — Eu não fico com medo,


especialmente de fantasmas.

— Eu não diria isso muito alto. Você vai ferir os


sentimentos deles.

Eu rio quando os olhos de Mia se arregalam e ela empurra


meu ombro.
Porra, ela é linda, mesmo cercada pela morte como uma
rosa murcha no inverno.

Dou um tapinha na lateral da bolsa antes de me levantar


e preencher o buraco de volta.

Nossos pés fazem um rápido trabalho de largá-lo para


fora dali e desaparecer na floresta. A lua não é nossa amiga no
nosso caminho de volta, e dependo da pouca luz emitida pela
lanterna e de um senso de direção. Levamos mais de uma hora
para encontrar a porta, que havíamos deixado aberta, mas
agora está fechada e hermética. — Merda.

— Não diga merda. — Mia sussurra atrás de mim.

— Foda-se. — Digo em um suspiro, trabalhando a


maçaneta novamente.

— O que?

— O vento deve tê-la fechado.

— Então, abra.

— Eu não posso. — Largo o saco e planto a palma da mão


sobre a parede de pedra para me apoiar enquanto tento
novamente.

— Ollie...

— Estou falando sério, Mia. A maldita coisa está presa.


— Só pode estar brincando comigo. Eu sabia. Você irritou
o espírito dela. — Ela bufa ao meu lado. — O que vamos fazer
agora?

— Plano B.

— Qual é?

— Acampar.

— Você quer me dizer, você me mostra nossa bela casa


hoje, e eu vou passar minha noite em um cemitério. — Mia
geme, mas eu não consigo mais vê-la na noite escura como
breu. — E eu tenho que fazer xixi.

— Você vai ter que segurar, amor. É ilegal urinar em solo


sagrado. — E me arrependo das palavras assim que saem da
minha boca.

— Mas é perfeitamente normal esconder quarenta e três


mil dólares ao lado de uma famosa romancista morta? — Ela
fala em um grito-sussurro, e tenho certeza que suas mãos
estão voando, e eu só posso imaginar sua expressão. — Algo
que estamos fazendo agora é legal, Ollie?

Seu tom apenas significa que estou em apuros. — Tudo


bem, você está certa. — Passo minhas mãos pelo meu cabelo e
viro no lugar. — Faça seu xixi, princesa.

— Aqui?

— Eu prefiro que você faça isso aqui do que em um


túmulo.
Ela ilumina meu rosto com a lanterna. — Ok, não olhe.

— Mia, mal consigo ver minha própria mão.

— E tampe seus ouvidos.

Rindo, me viro e abaixo a cabeça, pensando que talvez


deva ligar para Travis para nos resgatar, mas lembro de que
deixei meu celular no carro. Mia remexe dentro da calça jeans
e um galho de árvore cai. Eu balanço minha cabeça. Uma
coruja pia no alto. A noite de provocação não está do nosso
lado.

— Mia, você terminou? — Estou pronto para sair da


vegetação sufocante e voltar para a lua.

Outro galho quebra. Eu viro minha cabeça.

— Mia?

O silêncio grita, pregando peças em mim. Procuro na


floresta por sua lanterna.

— Droga, Mia. Me responda! — Uma mão agarra meu


ombro e eu me viro para ver Mia pular por trás com a lanterna
em seu rosto, rindo. — Cristo. — Eu solto um suspiro e agarro
meu coração martelando. — Isso não é engraçado. Você não é
engraçada.

— O que há de errado, Ollie? Você está com medo? — Ela


ri.
Balanço minha cabeça e pego a bolsa do chão. — Não. —
Sim. Mas apenas de perdê-la.

Caminhamos de volta através do mato espesso até um


terreno mais alto, Mia logo atrás. Não podíamos estar aqui por
mais de três horas, o que significa que o nascer do sol chegará
em não mais de duas horas. Jogando a bolsa na lápide mais
próxima, me sento e me inclino contra a rocha, olhando para
ela.

O vento não diminuiu e apenas sopra mais ferozmente


contra ela, enviando fios castanhos retorcidos para grudar em
seus lábios rachados e rosados. Mas o vento não a
desequilibra. É como se ela o convocasse e a natureza a
seguisse. A força no ar arranca folhas mortas do chão,
flutuando e girando ao nosso redor, dançando bem em seu
cabelo.

Feitiço de uma noite.

Puxo meus joelhos para cima e jogo minha cabeça para


trás, hipnotizado enquanto ela fala, totalmente cativado com a
maneira como seus lábios se movem, a forma como a lua a
elogia. Seu jeans preto abraça seus quadris com tanta força
que poderia rasgar a pele. E tenho que desviar meus olhos para
me impedir de deixá-la nua sob a lua. Provavelmente já
estamos indo para o inferno e transar com ela em um cemitério
nos dará uma passagem só de ida.

Além disso, Mia é o tipo de garota com quem você demora.


Uma arte. Uma tela que merece um Da Vinci. Mas estou fraco
contra ela, já tinha partido. Pego o frasco que escondi com o
dinheiro da mochila, precisando de uma dose de bebida, ideia
brilhante na época, finalmente servindo ao propósito de
acalmar os hormônios em fúria que Mia costuma invocar
sempre que está por perto. Desenrosco a tampa e sinto a
queimação.

Mia inclina a cabeça e estreita os olhos. — Você está me


ouvindo?

— Honestamente, não. Não consigo ouvir nada com todo


esse apelo sexual.

Os ombros de Mia relaxam e seus lábios se transformam


em um sorriso simples

— Venha se sentar. — Ofereço, apontando para o espaço


entre minhas pernas, e ela me olha com ceticismo, pegando o
frasco da minha mão. Ela gira no lugar, bebendo da garrafa
antiga, então para na minha frente e empurra o polegar para o
canto da boca para pegar uma gota. Como se fosse neve, Mia
flutua entre as minhas pernas e ancora as mãos nas minhas
coxas, a cabeça caindo para trás no meu peito.

Não demora muito para ela adormecer. Também não


demora muito para o sol nascer e lutar através do céu nublado
e das copas das árvores. Quero protelar um pouco mais. E
seguro mais cinco minutos dela em meus braços antes de
acordá-la e pegar nossas coisas. Sonolenta, Mia
vagarosamente caminha atrás de mim pelo mato e volta para
a porta secreta.
Quando alcançamos a parede de pedra, meu olhar segue
o comprimento até que eles caem sobre minha porta secreta
totalmente aberta.

Eu me viro para encarar Mia, que tem confusão


estampada em seu rosto.

— Eu pensei que você disse que estava presa.

— Estava.
VINTE

“Ao bater da meia-noite quando a escuridão chama, somos


livres para correr com as coisas selvagens, para lançar
nossas máscaras, beijo francês como vodu, e me pergunto
como algo tão errado pode ter um gosto tão divino.”
− Oliver Masters

EU NÃO QUERO deixar Mia. Odeio deixá-la. Mas Dex


Sullivan é onde coloco um limite. Tenho que manter Mia longe
dele. Dex sabe o nome dela, o que é o suficiente para querer
enfiá-la em uma caixa, trancá-la e enfiá-la debaixo da minha
cama para mantê-la segura. Claro, eu não fiz isso, mas Mia
tem um jeito de se colocar na mira do fogo. E Dex é uma raça
diferente de Dolor.

Dex não tem reservas quando se trata de assassinato.

Em vez disso, levo-a para loja de ferragens na aldeia e a


deixo escolher tintas e suprimentos. Ela odeia as paredes
brancas. Disse que a lembra de uma instituição mental. Por
que não pensei nisso?

Mia escolhe um verde musgo chamado Nature's Cure, e


eu a deixo na sala de estar com a mobília empurrada para o
centro e coberta com plástico para mantê-la segura. Quando
se trata de talentos, nada relacionado à pintura faz parte de
seu currículo. Seus dedos foram criados para tocar apenas as
teclas do piano, uma câmera e minha pele.

Eu já tenho o número para um pintor de Londres retocar.


Apenas no caso de precisar.

Dirijo até a propriedade Links em Grays South e


estaciono na calçada. Adrian está curvado no degrau da frente,
fumando um cigarro quando eu subo. Seus olhos brilham
quando ele levanta a cabeça e imediatamente se levanta para
me cumprimentar. Nossas mãos se unem e ele bate com o
punho nas minhas costas.

— Oliver, você parece um homem totalmente novo. Onde


você esteve companheiro?

O lábio de Adrian está cortado e inchado, um corte abaixo


do olho direito.

— Por aí. O que aconteceu com o seu rosto?

Ele pega o cigarro na beira do degrau e leva-o à boca. —


Não é nada.

— Não parece nada. — Eu sondo, e Adrian enfia a mão no


bolso e me oferece um cigarro. — Eu parei.

Ele ergue uma sobrancelha. — Simples assim?

— Simples assim. — Seguro seu ombro. — Como estão os


outros dois idiotas? Ficando fora de problemas?
— Você poderia dizer isso.

James é o único com quem se preocupar. Adrian tem um


coração honesto e uma boa cabeça sobre os ombros, Regi já
havia queimado suas células cerebrais até ficarem crocantes,
mas o jeito que Dex olha para James é o mesmo que Oscar
costumava olhar para mim. Um projeto. Uma laje de concreto
úmido, implorando para ser moldada no criminoso perfeito.
Mas eu não posso ser o herói de todos.

— Dex está bravo por você ter partido. — Adrian avisa, e


então me dou conta. Dex machucou o rosto dele por minha
causa?

— Estou me pagando e pronto.

— Você não pode simplesmente sair.

— Eu nunca ficaria Adrian. Dex e eu tínhamos um


acordo. Estou acompanhando meu fim.

Entro na casa decadente e Dex Sullivan sabia da minha


visita. Eu havia mandado uma mensagem para ele mais cedo
dizendo que o encontraria aqui com os lucros da White Fox,
dinheiro suficiente para financiar a construção de um novo
império. É tudo o que ele sempre quis.

Dex Sullivan quer ser um rei.

Exceto, o aspirante a rei está longe de ser encontrado.

— Ele está na banheira de hidromassagem. — Afirma


James, vindo de uma sala dos fundos. Ele mal olha para mim,
pega uma cerveja na geladeira e sai pela porta dos fundos. Eu
o sigo.

Os braços de Dex estão estendidos em cada lado dele, a


cabeça apoiada na banheira e os olhos fechados. Limpo minha
garganta e ele ergue a cabeça. Olhos maliciosos encontram os
meus.

— Legal da sua parte finalmente aparecer aqui, Oliver.

— Você não deixou muita escolha. — Eu zombo.

Ele ergue um dedo e agarra algo abaixo da linha da água


antes de puxar uma mão cheia de cabelos loiros. A mulher que
estava presa se vira para me encarar e se enrola em seu braço,
minha mãe.

Eu viro minha cabeça. — Mãe, saia.

— Qualquer coisa que discutirmos pode ser discutida na


frente dela.

— Tipo como você matou o filho dela?

Minha mãe torce a cabeça e Dex ri.

— Eu não fiz tal coisa. Nós dois sabemos que eu nunca


machucaria meu melhor amigo.

— Vou deixar seu pacote lá dentro. Terminamos aqui,


amigo. Eu não devo mais nada a você. — Eu me viro para sair.

— Mia Jett. — Dex grita, e eu congelo.


Virando-me, flexiono meus ombros para trás. — O que
você acabou de dizer?

— Você me prometeu White Fox.

— Estou lhe dando o que sobrou de White Fox.

Dex semicerra os olhos. — Não, o que você está me dando


é a porra de um troco idiota. Eu quero poder. Quero o mesmo
anel de prostituição de merda que costumava controlar este
território, o mesmo anel que você me deve. Você sabe quem
reina no leste de Londres agora? A merda dos Links. Imagine
minha maldita sorte quando o cara para quem trabalho
atualmente é meu concorrente. — Minha sobrancelha se ergue
e ele continua: — O negócio foi a White Fox, e a única maneira
que posso conseguir é matando o chefe dos Links. Você tem
que matar Ghost.

Dex tinha perdido a porra da cabeça. Ghost é intocável.


Ninguém sabe quem é Ghost, daí o apelido. Sua identidade
está escondida por anos.

— O que você está pedindo é impossível.

— Eu não estou perguntando a você. Estou pedindo um


assassinato sem perguntas.

— Você ficou maluco? O que te faz pensar que eu faria


isso? Que eu mataria por você?

Dex ergue três dedos. — Mia. Rose. Jett. — Ele sorri. —


Você mataria por ela, não é? Se não me engano, você já o fez.
— Você não sabe do que está falando.

— Quando sua mãe mencionou que você tinha ido para


Dolor, eu fiz uma pequena pesquisa e encontrei um relatório
policial dizendo que você esfaqueou uma jovem no pescoço com
um lápis depois que ela atacou sua namorada. Bravo, Baby
Oscar. Mas eu encontrei sua fraqueza.

Deslizo meu olhar para mamãe, que baixou o queixo, os


olhos fixos na água.

— Eu poderia simplesmente matar você, qualquer dia.

— Mas você não vai.

— Sim? E o que está me impedindo?

— Me matar não protege sua garota. — Ele ri como se me


conhecesse. — Sabe, se alguma coisa acontecer comigo, tenho
um homem esperando para colocar uma bala na nuca dela.
Não deve demorar muito para encontrá-la. Certamente, apenas
seguir seu coração doente de amor por aí. — A única ameaça
transforma meu sangue em lava, e meu coração afunda no
meu estômago com o pensamento. — Não fique tão taciturno,
Oliver. Tudo deve dar certo.

A fúria aumentando faz minhas mãos tremerem, e cruzo


os braços sobre o peito para esconder minha fraqueza por Mia
e até onde irei por ela. Eu não tenho coragem de matar outro
humano. O assassinato é um trabalho para Ethan. Não eu. —
Eu vou fazer isso. Eu vou matar Ghost. — Minto, ganhando
tempo para descobrir isso.
— Eu sei que você vai, e eu tenho um amiguinho aqui
para ajudar. Considere isso meu presente para você e sua
entrada com o Ghost. Ela foi bastante aberta quando descobriu
que trabalharia com você. Acho que você tem uma fã. — Dex
sopra um apito, a porta atrás de mim se abre e, segundos
depois, as pontas dos dedos agarram meu braço.

Na minha visão periférica, o cabelo loiro embebe minha


visão. Leigh.

— O que você está fazendo? — Eu sussurro para ela. Ela


é inocente em tudo isso.

— Leigh afirma que ela é virgem. — Ele ri, e minha cabeça


vira para trás em direção a ele. — Não, sério. Eu também não
consigo acreditar. E o boato diz que Ghost gosta de virgens
muito jovens.

— Ela é uma criança. — Eu aponto.

— Tenho dezessete anos. — Argumenta Leigh.

Eu me viro para ela e agarro seus ombros. — Isso é


ridículo. Você não sabe no que está se metendo.

Dex interrompe:

— Calma, Oliver. Você vai matar o Ghost antes que a


troca aconteça. Leigh estará segura, mas você tem que verificá-
la.

— Verificar o quê?
Dex tira a palma da mão da banheira de hidromassagem.
— Bem, a virgindade dela, é claro.

— Oh, foda-se.

— Ou você faz, ou eu farei James fazer isso, e temo que


James possa pegar mais do que o necessário. Confie em mim,
Baby O, você não quer sua virgem corrompida. Ela é a sua
maneira mais fácil de entrar e, com ou sem ela, Ghost ainda
precisa ir.

Agarro a mão de Leigh e a puxo de volta para dentro


através da porta, batendo-a atrás de mim.

— Que porra você fez?

A mão de Leigh descansa sobre meu bíceps e ela olha para


mim com olhos sinceros.

— Eu quero ajudar você.

— Você pode ser estuprada ou morta. Você não sabe do


que essas pessoas são capazes. E como você acabou nessa
bagunça?

Leigh parece insultada e abaixa o braço. — Eu estava


procurando por você! A última vez que te vi foi aqui e Dex
prometeu que você voltaria se eu o ajudasse. E você está de
volta. Você voltou.

— Verifique essa boceta, Oliver. — James grita, entrando


pela porta com uma arma na cintura.
Olho para ele. — Você é a vadia dele agora?

Ignorando-me, ele coloca um comprimido sobre o balcão


e empurra uma cerveja aberta no meu peito. — Isso é para te
ajudar durante a noite, cara. — E eu contemplo minhas
opções, que são quase nenhuma. Coloco a pílula na boca e a
persigo com cerveja. James dá um tapa no meu ombro antes
de sair, e limpo minha boca com as costas da minha mão.

— Você realmente quer fazer isso? — Pergunto, virando-


me para Leigh e levantando uma sobrancelha. — Você vai me
deixar tocar em você? Você vai me deixar arrastar você para
essa bagunça? Arriscar sua vida? Tudo para quê?

— Eu confio em você. Você não vai deixar nada acontecer


comigo.

Entramos no banheiro, tranco a porta atrás de mim e


pego meu telefone, navegando na pesquisa do Google. — Tire
sua calcinha. — Ordeno a Leigh, digitando uma pergunta que
eu nunca pensei que faria no meu telefone e me perguntando
como diabos explicarei isso para Mia.

— Como foi o seu dia?

— Ótimo baby. Tive que verificar o hímen de uma menina,


como foi o seu?

Depois de ler o teste de dois dedos com a visão já


embaçada, me viro e olho para cima do meu telefone para ver
Leigh tímida, completamente nua. Um conjunto de seios
empertigados olha para mim, mamilos rosados e duros e
curvas adolescentes. — Você não precisava. — Agarro meus
quadris e deixo cair minha cabeça. — Não se preocupe, apenas
venha aqui. — Coloco meu telefone de volta no bolso.

Leigh dá um passo à frente, sua cabeça chegando ao meu


peito. Quero acabar com isso, pego-a pela cintura e coloco-a
sobre a pia. Olhando sobre sua pele jovem, Balanço minha
cabeça. — Porra, eu não posso fazer isso. — Recuo e belisco a
ponta do meu nariz. Está errado em muitos níveis. Mia, em
primeiro lugar. Legal, mas ainda apenas dezessete. E uma
virgem, no entanto. — Eu preciso fazer uma ligação. —
Murmuro, colocando minha mão no bolso.

Discando o número de Mia, ela atende no segundo toque.


— Picasso, aqui.

— Estou com problemas. — Admito.

— O que há de errado?

Para começar, uma garota nua está olhando para mim.

— Não acabou, Mia. — Quero gritar assim que as palavras


saem. — Porra, eu tenho essa garota aqui. Eles querem usá-la
porque ela é virgem...

— Leigh. — A virgem salta, e estreito meus olhos.

— O que ele quer que você faça? — Mia pergunta do outro


lado da linha.

— Coisas das quais você não ficaria orgulhosa.


Mia suspira. — Seja o que for eu vou te perdoar. Basta
fazer o que você tem que fazer e chegar em casa para mim
inteiro.

Agarro o telefone e enxugo meu rosto na minha camisa,


me virando.

— Estou tomando algum tipo de droga agora. — Não


mentirei para Mia. — Não confio em mim mesmo nesta posição
em que estou.

— Ollie, eu não quero saber. Apenas lembre-se, isso não


significa nada.

Eu respiro fundo. — Eu te amo. — Sai em uma expiração.

— Eu sei, mas prefiro que você me diga pessoalmente.

— Vejo você em breve. — Clico no telefone e coloco de


volta na minha calça jeans e estreito meus olhos para o corpo
sentado diante de mim. Leigh é apenas mais uma batalha que
preciso conquistar para me aproximar da liberdade. Uma
conquista.

Leigh inclina a cabeça, a preocupação consumindo seus


olhos. — Isso vai doer?

— Eu não vou te machucar. — Prometo.

— Será uma sensação boa?

— Leigh, não vou conseguir me concentrar se você


continuar falando.
— Estou com medo de doer. Pelo menos tente fazer com
que seja bom, Oliver. — Leigh olha para mim através dos cílios
escuros. — Seja gentil e me faça sentir bem. Por favor.

— Tudo bem. — Digo, acenando para que ela se sente na


beirada da pia. — Mas provavelmente o Ghost fará o mesmo.
— Bato minhas mãos em ambos os lados dela e levanto minha
cabeça até que nossos olhos se encontram. — Você já foi
tocada?

Leigh balança a cabeça, seu cabelo loiro caindo sobre


seus seios empinados. Ela não tem ideia no que ela se meteu
com os Links, mas não posso negar que sua inocência não está
mexendo com minha cabeça. Estou confiante de que é a pílula
que havia tomado. — Respire. — Eu a ensino, abrindo suas
pernas e correndo meus dedos pelo interior de suas coxas para
colocá-la à vontade, então não parece que estou prestes a
agredir a garota.

— Parece bom? — Leigh pergunta. — Você fica olhando


para a minha bunda como se fosse diferente.

É diferente. — Sua nádega está bem. — Não é a que eu


queria olhar, mas esta é a posição em que estamos, e afasto
seus joelhos para ter uma visão melhor do que estou lidando
enquanto minhas mãos continuam a percorrer suas coxas
para deixá-la confortável com meu toque.

Ela morde o lábio. — Isso é bom.

— Por favor, vamos fazer isso sem falar.


Leigh encolhe os ombros. — Eu sei que você não está
nisso. Em mim. Eu só queria que a primeira vez que alguém
me tocasse se importasse, no mínimo. Está bem. Você pode
apenas enfiar os dedos dentro de mim e acabar com isso.

Ela não se valoriza, o que me faz sentir pena dela. Ela não
merece isso. — Eu não vou fazer isso. — Uso dois dedos para
espalhar os lábios de sua boceta e mergulho meu polegar na
boca antes de correr sobre seu grande botão. Tudo isso é
completamente desnecessário, mas talvez fazê-la se sentir bem
diminuiria a dor de que eu ouvi falar. Rolo meu polegar sobre
seu clitóris, pressionando contra ele e fazendo círculos.

Alguém bate na porta e Leigh recua, fechando as pernas


com força.

— Qual é o veredicto, Masters? — Dex grita, e eu baixo


minha cabeça.

— Cai fora. — Grito de volta, tonto e alto por causa das


drogas. A sala fica quente e arranco meu moletom. Inclinando-
me sobre Leigh, afasto suas coxas rígidas novamente. — Você
tem que relaxar. — Inclino minha cabeça, sabendo que teria
que trabalhar com ela novamente. — Finja que é só você e eu
agora — Ela é tão pequena sobre o balcão, e agarro suas coxas
e as separo, revelando-se para mim novamente. — E nós
estamos em outro lugar que não aqui. — Pressiono a ponta do
dedo contra sua abertura. — Que eu sou alguém de quem você
gosta, certo?

Leigh empurra seus quadris para frente.


— Isso mesmo. — Coloco a palma da mão sobre sua pélvis
para mantê-la imóvel e puxar sua pele para cima, trabalhando
sua abertura com um dedo. — Mas não fique muito animada
ou você vai se machucar. — Ofereço um sorriso e ela afunda
para trás com os olhos escuros nos meus, revirando os quadris
para frente. O cheiro dela é o oposto do de Mia, e sinto falta da
minha garota. Eu sinto falta do calor de Mia, de seu gosto, da
maneira como me sinto dentro dela. Meu estômago revira,
empurrando meu dedo um centímetro por sua entrada
apertada, Leigh grita e eu abaixo minha palma sobre seu
clitóris, esfregando para cima e para baixo para tirar sua
mente disso. Certamente, não poderia doer tanto, mas eu não
saberia. — Vou ter que colocar mais um dedo lá, e você ainda
não está molhada o suficiente.

— Isso dói.

— Sinto muito, estou tentando ser gentil. — Mas me foda.

— Lamba-me. — Ela sugere.

— Não. — Eu zombo, abaixando minha cabeça e cuspindo


em seu sexo. — Eu beijo minha garota com essa boca. — Movo
minha palma para cima e para baixo sobre sua carne,
encharcando suas dobras com minha saliva, e Leigh
choraminga, esfregando contra minha mão. Ela está amando
o que estou fazendo. A garota está brincando comigo.

— Eu nunca gozei antes, Oliver. Por favor, aposto que é


tão bom sentir sua boca em mim.
— Sim, você pode perguntar a Mia. — Pressiono meu
polegar contra seu clitóris enquanto acaricio suavemente sua
entrada, dentro e fora, e indo mais longe a cada vez. As pernas
de Leigh tremem incontrolavelmente enquanto ela se contorce,
mas mantenho o controle, apesar do meu barato. A boceta de
Leigh está apertada e tenho que tomar cuidado não apenas
para encontrar o hímen, mas também para não o romper, ao
mesmo tempo em que a mantenho com disposição para mantê-
la relaxada. Ela empurra seus quadris para trás, seus joelhos
se fechando enquanto seu orgasmo aumenta. Eu recuo,
agarrei suas coxas, bato seu traseiro contra minha pélvis e
empurro suas pernas. — Fique quieta. — Eu rosno, então
pressiono dois dedos de volta para dentro, gentilmente
pressionando mais fundo até... lá está, seu hímen. Eu
rapidamente retiro meus dedos e descanso minhas mãos sobre
a pia entre suas pernas abertas. — Boas notícias. Você é
virgem.

— Você não vai terminar comigo?

Abaixo minha cabeça. — Não.

— Ela tem sorte. — Afirma Leigh, referindo-se a Mia


enquanto eu lavo minhas mãos na pia ao lado dela.

— Eu sou o sortudo. — Seco minhas mãos na calça e


junto seus joelhos. — Mantenha as pernas fechadas e não
deixe esses meninos te foderem. — Tenho algum tipo de ligação
com essa jovem agora, tenho que manter sua inocência
intacta.
— Você está me deixando?

— Se vista Leigh. — Pego meu moletom do chão e a deixo


no banheiro para encontrar Dex.

Ele está na cozinha com seus guarda-costas.

— Bem? — Ele pergunta com um sorriso malicioso.

— Ela é virgem.

Ele pega minha mão e leva meus dedos ao nariz. — Porra,


você realmente fez isso. — Eu puxo minha mão. — Fraco, mas
delicioso.

— Não toque nela, porra.

— Você a tirou, Oliver? Não me diga que você a deixou


chapada aqui com uma casa cheia de caras com tesão.

— Estou indo embora. Seu dinheiro já está no seu carro.

— Estou ligando para o braço direito de Ghost e dizendo


que tenho uma virgem à venda. Seu tempo de resposta é de
alguns meses ou mais. Seu trabalho é garantir que ela
permaneça virgem até então e não desapareça novamente.
Mantenha seu telefone com você.
O que deveria ter levado apenas uma hora para voltar
para casa levou três. Eu tinha que ter certeza de que ninguém
estava me seguindo. Esta é a única casa que Mia conhece. Não
deixarei ninguém tirar isso dela.

Entro em nossa casa, saudado por um fogo aceso na


lareira e as paredes da sala de um adorável verde musgo
calmante. Todos os móveis estão de volta ao seu estado
original, e minhas sobrancelhas levantam quando olho ao
redor. Já estamos na casa há pouco mais de duas semanas, e
Mia colocou algumas fotos Polaroid emolduradas de Dolor
sobre a lareira. Eu passo, admirando nossa primeira foto que
tínhamos tirado no centro, cercada por uma foto de Mia, Zeke
e eu, Jake e Mia, e uma apenas eu escrevendo em meu diário.
O piano está aberto e meu coração se acalma dentro do meu
peito, sabendo que ela finalmente poderia tocar novamente
desde que perdemos Zeke.

— Mia. — Grito, deixando cair minhas chaves na bandeja


de madeira sobre a mesa de café. Tiro meu moletom e dou uma
espiada na cozinha antes de fazer meu caminho para o nosso
quarto.

O chuveiro está ligado, e tiro o resto das minhas roupas,


querendo me juntar a ela.

— Ollie? — Ela pergunta, me ouvindo do quarto através


da porta do banheiro.

Completamente nu, abro a porta do banheiro totalmente


e o vapor bate em mim. — Sim, amor. Sou eu.
— Por que demorou tanto? —Ela pergunta, e eu puxo a
cortina e entro. — E o que você acha?

Olho para ela de cima a baixo. A água escorre de seus


cílios e da ponta do nariz enquanto o sabão respinga em sua
pele de marfim. A tinta verde está grudada em seu cabelo
molhado e manchada em sua bochecha.

— Perfeição. — Eu roço meu nariz contra o dela, não


querendo tocá-la inteiramente até que lave esta noite horrível
de cima de mim.

Ela aperta os lábios em um sorriso brilhante. — Estou


falando sobre a cor da tinta.

— Oh, aquilo? — Pergunto, passando o sabonete na


esponja e rapidamente lavo meu corpo. Dou de ombros. — Eh.
— Mia empurra meu ombro e eu a envolvo em um abraço de
urso. — Estou brincando, amor. Eu amei.

Mia fica na ponta dos pés e me beija sob o chuveiro. —


Obrigada por vir para casa.

— Mia. — Eu rio. — Por que você diz obrigado como se eu


tivesse te feito um favor?

Ela ergue o ombro. — Porque você fez.


VINTE E UM

“Estou convencido de que ela é metade mulher, metade lobo.


Seja qual for sua alma, eu vou continuar a perseguindo.”
− Oliver Masters

FAZ mais de um mês desde que voltei para o Reino Unido,


e Ollie e eu ficamos sozinhos, na maior parte, compensando o
tempo perdido e fazendo da casa um lar. Ele tem outra
assinatura de livro chegando, e estou muito animada para
sentar ao lado dele e observá-lo com as pessoas que leem seu
trabalho.

É uma curta caminhada até Surrey, onde eu finalmente


encontrarei Travis e Summer. O sol não se põe antes das nove
da noite durante os verões, e as nuvens se dissipam,
permitindo que o sol brilhe sobre nós e prometendo pouca ou
nenhuma chuva. A maioria dos edifícios é feito de tijolos ou
paralelepípedos, delineados com detalhes de madeira verdes
ou brancos, e telhados de telha com chaminés saindo do topo.
Flores brancas desabrocham das frestas das vitrines das lojas,
e espio pelas vitrines das lojas pitorescas para ver bugigangas
charmosas, detalhes esculpidos à mão e sensações de cidade
natal. Fecho os olhos, respirando o ar fresco com um toque de
flores na chuva e agarro a mão de Ollie.

— Eu amo isso aqui.

— Esta é a sua casa, Mia. Você nasceu aqui. — Seu


comentário imediatamente me faz pensar em Lynch, e me
pergunto se ele sabe que estou de volta ou quer me ver. Ollie
para na faixa de pedestres e olho para cima, admirando ele e
seu estilo. Ele se veste como se não se importasse, em suas
calças verdes de caçador, camiseta branca solta e um chapéu
de feltro.

Pego a barra do meu vestido de algodão cinza que se junta


aos meus pés com sandálias enquanto caminhamos por uma
rua de paralelepípedos para o outro lado. Está perto de dezoito
graus Celsius hoje, mas puxo minha jaqueta de couro mais
apertada em torno de mim quando uma rajada de vento gira
no ar.

— Quer parar para tomar um café? — Ollie pergunta,


percebendo o frio. — Estamos quase lá, mas há uma cafeteria
na esquina.

— Estou bem. — Eu sorrio e ele beija o lado da minha


cabeça.

Chegamos ao restaurante, que é classificado como um


pub, e encontramos um lugar do lado de fora, sob a treliça.

Se tivéssemos escolha, sentávamos do lado de fora. Ollie


não se dá bem em espaços confinados com sua intensidade
emocional, e estar muito perto de outras pessoas aumenta sua
ansiedade. No mês passado, aprendi mais e mais sobre ele e
como as vibrações das pessoas podem afetá-lo física, mental e
emocionalmente. Depois de duas semanas aqui, nós dois
concordamos em continuar vendo um psicólogo, juntos e
separadamente. Demorou algumas tentativas para encontrar
uma de que ambos gostássemos, mas finalmente encontramos
uma em Londres de uma referência que a Dra. Conway nos
deu. Ela procurou de cima a baixo por alguém familiarizado
com a hipersensibilidade de Ollie e até pré-entrevistou a
senhora por telefone, apenas para garantir.

Eu tinha confessado abertamente sobre meus


pensamentos perversos, os de assassinato, mas apenas para a
conselheira. Não contei a Ollie sobre meus sonhos dementes
com a morte e como isso me persegue desde que matei meu
tio. Ethan tinha entendido, mas será que Ollie algum dia
conheceria os delírios doentios dentro da minha cabeça? Ele
algum dia entenderia que uma única ameaça me fez querer
rasgar alguém e vê-lo sangrar aos meus pés com um sorriso
no rosto? Ou como os pensamentos mórbidos me mantém
acordada à noite enquanto ele está fora, e ele é o único que
pode me acalmar com sua poética canção de ninar?

Ollie se levanta de sua cadeira assim que vê Travis e


Summer, e eu o sigo.

— Esta, — Ollie olha para mim com um sorriso, — é Mia.


— Já era hora. — Diz Travis, me puxando para um
abraço. — Você sabe Mia. Estou esperando há muito tempo
para conhecê-la.

— Ouvi dizer que você tentou dizer a ele que eu estava


morta. Você queria que ele desistisse de mim.

Travis franze a testa, lançando um olhar para Ollie.


Summer ri, percebendo meu sarcasmo.

— Eu já gosto dela. — Summer anuncia, entrando para


um abraço.

— Parece que você está prestes a estourar! — Tento


abraçá-la de volta, mas é estranho com sua grande barriga. —
Quanto tempo falta para você?

— Mais quatro malditas semanas. Eu estou prevista para


21 de julho, estou tão pronta. — Ela reclama, esfregando sua
barriga no tecido fluído de sua blusa abraçando seu estômago.
Summer tem cabelos dourados e grandes olhos azuis
brilhantes. Sua pele pálida brilha contra sua camisa azul
marinho, ela larga o guarda-chuva e se senta. — Oh, porra,
Oliver. Você não fez isso! — Summer agarra minha mão e olha
para o meu anel. — Você fez, porra. — Ela estreita os olhos
para Travis. — Vou ter seu filho, seu bastardo, e Mia já tem
um anel. — Summer repreende Travis.

— Em minha defesa, eu disse a ele para propor em


casamento há quase sete meses. — Diz Ollie, segurando as
palmas das mãos na frente dele.
Travis balança a cabeça. — Obrigado, Oliver. Obrigado
por isso.

— Como você fez isso? — Summer pergunta.

Ollie ergue as sobrancelhas. — Fazer o que?

— A proposta. Eu amo histórias de propostas.

Ollie olha para mim, e aperto minhas coxas com a


lembrança de mim no piano em Dolor, e Ollie dentro de mim.

— Não estou dando nenhuma indicação ao seu camarada


aqui — Ele agarra o ombro de Travis. — Ele terá que inventar
o seu próprio.

A noite passa com risadas, bebidas e boa comida, e depois


de algumas horas, nos despedimos, prometendo nos encontrar
pouco antes da chegada do bebê.

No caminho de volta para nossa casa, Ollie me puxa para


uma loja ao lado de uma pequena livraria que vende chá, borra
de café e garrafas de vinho com citações de livros nos rótulos.
Ele enche a cesta com pastéis e grãos e pega uma garrafa de
vinho rose. — O amor é a saudade da metade de nós mesmos
que perdemos, Milan Kundera. — Lê Ollie. — É esse. Isso me
lembra de um livro que li.

— Talvez A Insustentável Leveza do Ser? — Eu rio,


batendo na etiqueta onde o título do livro está listado.

— Não, outro livro que li baseado em almas gêmeas. —


Ele sorri com a memória. — Terei que ler para você. Depois de
algumas taças de vinho. — Ele balança a garrafa e coloca-a na
cesta.

No meio do caminho para casa, o céu se abre e a chuva


cai, e corremos o resto do caminho até chegarmos ao nosso
portão e cruzarmos a ponte até a porta da frente, encharcados.
Ollie deixa cair a sacola na cozinha quando começo a preparar
a banheira fechando o ralo e borrifando sais de banho. Ouço o
telefone dele da cozinha, que tinha tocado a noite toda, mas ele
não atendeu. Provavelmente era Leigh de novo, que liga sem
parar pelo menos uma vez por semana e implora para que ele
vá resgatá-la de situações em que ela se mete. No início, Ollie
saiu para ajudá-la, mas depois de duas vezes, ele se cansou e
ignorou suas ligações.

Tiro meu vestido assim que Ollie entra no banheiro,


vestindo apenas cueca boxer e chapéu de feltro na cabeça, a
garrafa de vinho em uma das mãos. — Más notícias. Teremos
que beber direto da garrafa. Vou ter que me lembrar de pegar
taças de vinho para nós.

Rindo de seu guarda-roupa, desligo a água enquanto


Ollie coloca o vinho sobre um banquinho de madeira ao lado
da banheira com garras antes de tirar minha calcinha preta e
afundar na água.

— Sim. — Ele balança a cabeça com entusiasmo,


perdendo sua boxer e seguindo bem atrás de mim.

Juntos, bebemos a garrafa inteira e sentamos na água


quente enquanto nossos dedos enrugam, Ollie ainda usando
seu chapéu de feltro e eu tirando sarro dele por isso. — Mas é
legal. — Explica ele, agarrando meus quadris e me puxando
sobre seu colo até que meu sexo esfrega sobre sua excitação.
Arqueio minhas costas, deixando meu cabelo cair na água, e
as mãos de Ollie percorrem o centro do meu peito.

Sua boca alcança meu seio, mas o chapéu o impede de ir


mais longe. Rindo, inclino-me para frente e minha testa colide
com seu queixo. Uma risada mais forte aperta meu estômago
enquanto eu me curvo para o lado da banheira. Água espirra
sobre a borda e tento me recuperar, mas a carranca de Ollie só
faz minha risada piorar, trazendo lágrimas aos meus olhos e
perdendo o fôlego.

— Tire o chapéu, Ollie. — Digo entre risadas.

Seus olhos vidrados. Ele está bêbado. Eu amo Ollie


bêbado. — Eu não quero.

Inclino minha cabeça e levanto a aba do chapéu, e


quando minha palma pousa sobre seu peito, minha risada
desaparece. O pau de Ollie estremece contra mim e eu me
inclino para frente, pressionando meus lábios em seu pescoço.
Seu pulso bate contra a minha língua e meus quadris rolam
sobre ele, desesperados por atrito.

— Oh, isso é incrível. — Ele sussurra, inclinando a cabeça


para me dar mais acesso enquanto cava seus dedos em meus
lados. — Não pare. Eu não quero que você pare.
Meus lábios sobem por seu pescoço e através de sua
mandíbula e para o outro lado. Cada centímetro de sua pele
tatuada implora para ser tocado, e eu chupo, mordendo-o
levemente. Seus músculos se contraem, até a virilha.

Beijo seu queixo, então seus lábios, saboreando o rose


persistente nas bordas suaves. Intoxicada, meu polegar passa
por cima deles antes que minha língua o faça. Ollie agarra a
parte de trás da minha cabeça e abre a boca, pegando a minha,
e sua língua desliza para dentro, caindo em um beijo selvagem.
Zumbido e totalmente selvagem, ele me ergue até que nossas
partes se alinhem, e eu afundo em seu comprimento. Ollie
agarra a borda da banheira, os nós dos dedos ficando brancos,
com a outra mão no meu cabelo. Peitos batem, e nós dois nos
perdemos um no outro, moendo e deixando essa névoa de
embriaguez nos manter girando e girando...

Eventualmente, Ollie me carrega para fora da banheira,


em seu chapéu de feltro, e rimos quando ele tropeça todo o
caminho até a cama, todo molhado.

Fizemos amor todas as horas da noite, parando para


comer pastéis e acender o fogo, depois voltamos até o sol
raiar... porque é quarta-feira à noite, e às quartas-feiras devem
ser passadas beijando, fazendo amor e comendo croissants
com glacê. Poderemos dormir quando estivermos mortos.

Por volta das cinco da manhã, tínhamos os cobertores


puxados em torno de nós na varanda de trás para assistir o
nascer do sol, nosso burburinho havia desaparecido, mas
ainda bêbados um do outro.

— Desde que te conheço, você sempre acorda antes do


sol. Agora eu? Amo as manhãs. Mas você? Você gosta do seu
sono. Por que diabos você sempre acorda ao nascer do sol e
depois volta a dormir por mais algumas horas? — Ollie
pergunta, batendo na ponta do meu nariz com o dedo
indicador. — Uma das muitas maravilhas de Mia Rose.

Penso sobre isso por um momento, compilando as


palavras certas para explicar para ajudá-lo a entender.

— Não dura muito. — Digo, respirando fundo, olhando


para o céu. — É o momento mais ínfimo, apenas quando o sol
surge acima do horizonte, mas a lua ainda é visível, quando a
escuridão e a luz podem coexistir. Isso me lembra de esperança
e que eu não estou sozinha ou perdida neste mundo. Um
lembrete de que tudo é possível, mesmo entre dois seres, como
o sol e a lua, que só se encontram por uma fração de segundo.
Durante aquele pequeno momento, juntos, eles podem criar
algo tão bonito no céu. Eu esperava que pudesse ser eu, sabe?
Que eu não era de todo ruim e possivelmente também poderia
fazer algo bonito com minha vida.

Aninhada sob uma pintura a óleo viva, rosas, azuis e


roxas formam o céu – um amanhecer pastel. Eu aponto para
cima.

— Olhe, Ollie. Olhe como é lindo.


Ollie olha para mim por um momento. — Estou olhando,
amor.

Eu me viro para encará-lo, e seus lábios agarram os


meus, segurando nosso beijo por um segundo a mais do que o
normal. Ele não diz mais nada enquanto olhamos para o céu,
e observamos enquanto o sol se ergue ao lado da lua
opalescente, uma laranja ígnea, sangrando no vasto cinza da
noite, lavando a escuridão como aquarela até a lua
desaparecer e as estrelas se transformarem em poeira.

— Momentos como esses são impossíveis de capturar em


palavras, mas nunca vou parar de tentar. — Sussurra Ollie.

Todas as manhãs, eu passo pelo cômodo sem uso em


frente à cozinha. Atualmente, ele abriga uma mesa, um
computador desktop, uma impressora e desordem, mas Ollie
prefere escrever em seu bloco de notas no jardim ou em lugares
estranhos pela casa. As ideias surgem e, a qualquer momento,
ele tem seu caderno dobrado na cintura com o lápis sempre
enfiado em todos os lugares, atrás da orelha, nos bolsos, entre
os lábios.

Esta manhã, Ollie tinha colocado um bule de café e


trazido uma caneca para mim na cama antes de sair para uma
reunião mais cedo com Laurie, então mencionou que mais
tarde teria que verificar Leigh para ter certeza de que ela não
tinha se fodido.

Passei as primeiras horas bebendo a mistura de avelã em


meu quarto escuro no andar de cima. É a minha solidão, com
janelas escurecidas e uma configuração com equipamentos
caros.

No começo, eu só tirei fotos no jardim, as roseiras e várias


flores que desabrocharam no final de junho até o dia em que
conheci Cora no caminho, uma garotinha de cabelos pretos,
não mais do que oito ou nove anos, que gosta de pular em
poças com suas botas de chuva amarelas. A mãe dela, a Sra.
Morrigan, sempre trabalha no jardim da frente depois que
chove e me deu algumas dicas sobre como cuidar de nossas
flores. Nos dias em que Ollie trabalha, ela e Cora aparecem e
ela me ensina seus métodos com plantas.

E as flores estão prosperando, assim como minha


fotografia. As pessoas rapidamente se tornaram na minha
musa favorita. A mãe de Cora está doente e, muitas vezes,
quando a Sra. Morrigan tem um dia ruim, levo Cora para a
cidade. Juntas, nós observamos pessoas enquanto eu tiro fotos
de momentos roubados, franzidos de testa, beijos, sorrisos,
vendo a verdadeira beleza da bondade humana através de uma
lente.

Mas hoje Cora teve que visitar seu pai, e eu fiz a ela uma
promessa de que visitaria meu pai biológico também. Foi fácil
contar meus segredos para uma criança de nove anos, mas o
conselho de Cora foi tão simples. — Vá vê-lo.

Estou nervosa por revisitar Dolor e passei o resto da


manhã juntando um feixe de frésias roxas, rosas cor de rosa e
lírios brancos do nosso jardim para a Dra. Conway, e pegando
uma xícara de café para viagem ao sair. O táxi espera do lado
de fora do nosso portão e eu entro com as flores aninhadas nos
braços. Eu não tenho ideia do que dizer ou como isso será, mas
as palavras de Cora se repetem continuamente:

— Pense no pior que poderia acontecer, então no melhor.


Na maioria das vezes, o que realmente acontecerá ficará bem no
centro.

Ela disse que seu pai disse isso a ela, e a vida é muito
curta para se preocupar, e se preocupar deixa você com rugas.

O táxi passa pelos portões de ferro de Dolor, e as


memórias da minha época aqui me dão uma chicotada.

— Chegamos, amor. — Diz o velho do banco do motorista


do táxi, que cheira a tabaco velho, usando um boné de lã na
cabeça. Ele dirige ao redor da garagem circular e estaciona em
frente às portas. Pago minha passagem, saio e subo os degraus
em jeans desbotados, slip-on de couro bege e uma camiseta
branca lisa, desejando colocar o macacão ou o vestido. Eu
mudei tantas vezes, mas não havia como voltar agora.

Respiro fundo e abro a porta.


— Estou aqui para ver a Dra. Conway e Lynch. — Quase
gaguejo, mas permaneço fria enquanto o novo segurança me
estuda.

— Coloque os itens sobre a correia transportadora e passe


pelo detector. — Ele acena com seu bastão. — Braços ao seu
lado.

Eu faço, e meu coração está batendo tão forte que minha


mente me trai com o pensamento deles sendo capazes de me
manter como refém novamente. Eles poderiam? Passo e ele
traça minha silhueta com seu detector de metais portátil,
prestando muita atenção em meus quadris.

— É o meu telefone. Eu sou uma visitante. — Eu o


lembro. — Não uma paciente.

O segurança larga o cassetete e olha para a prancheta. —


Não vejo você na lista de hoje.

— É inesperado, eu sei. Mas Lynch vai querer me ver.

— Uh-huh — Ele grunhe.

— Apenas... Diga a Lynch que sua filha está aqui.

Ele ergue os olhos da prancheta e pega um telefone de


corda na parede. Depois de uma conversa unilateral profunda
e abafada, ele desliga e volta para mim. — Estamos esperando
uma escolta.

— Vou ficar com ela. — Diz uma voz baixa e forte. Só


então, um homem grande com um sorriso disperso dá um
passo à frente. — Finalmente consegui conhecer a incrível Mia.
— Ele ri, seus olhos brilhando.

Levanto uma sobrancelha. — Eu conheço você?

— Jinx. Sou amigo de Oliver.

O homenzarrão fala muito durante todo o caminho até o


escritório de Lynch, mas fico grata pela distração porque estou
segurando as flores com tanta força que as pétalas estão
murchando. E quando nos aproximamos, Jinx bate na porta
antes de abrir.

Lynch imediatamente se levanta e agradece antes de me


indicar que me sente.

Eu estou muito nervosa para sentar.

— Você me trouxe flores? — Ele pergunta, contornando


sua mesa e sentando-se na beirada. Meu olhar vaga sobre ele,
tentando encontrar pedaços de mim mesma. Recebi meus
pensamentos sinistros dele? Havia uma escuridão à espreita
dentro dele também? Eu tinha olhado para o homem tantas
vezes antes, gritado com ele, desafiado, chorado com ele. Ele
tinha o mesmo cansaço e olhos castanhos encovados que eu
poderia jurar que eram azuis antes, mas acho que minha
mente tem um jeito de pregar peças em mim.

— São para a Dra. Conway.


— Claro. — Ele balança a cabeça para olhar pela grande
janela de frente para o Prédio B, um lugar que ele me enviou
uma vez antes.

— Dra. Conway. Ela não está aqui.

— Oh. — Eu mudo no lugar.

— Senhorita Jett. — Ele pigarreia. — Mia, o que


aconteceu. Onde você estava?

— Eu estava bem. — Até hoje, mantive minha promessa


a Ethan e seu segredo. Talvez eu não devesse nada a Ethan,
mas apesar do que passamos, ele ainda era meu amigo, e talvez
eu fosse a única pessoa na terra que o entendia. — Estou
surpresa que você se importe, considerando que não me
procurou.

Lynch abaixa a cabeça e sacode lentamente. — Isso não


é justo.

— Foi justo manter esse segredo de mim por dois anos,


enquanto estive aqui? — Lynch teve tantas chances de me
dizer que era meu pai, mas não disse. — Por que eu fui a última
pessoa a saber.

— Porque eu tinha que tratá-la como uma paciente. Não


uma filha. Eu planejava te contar, você sabe. No dia da
liberação. Mas você já havia saído antes que eu tivesse a
chance.
Solto uma respiração longa e constante. — Bem, estou
aqui agora. — Estou cansada de ficar com raiva. Por tanto
tempo, estive com raiva de todos, segurando tanta culpa, raiva
e tristeza reprimida. Pela primeira vez, quero deixar tudo ir e
não deixar esses sentimentos mancharem essa pessoa que
cresci para ser.

— Mia, estive esperando por este momento, mas não


tenho ideia do que dizer. Tudo isso é novo para mim.

— Isso também é novo para mim.

Ele bate os dedos sobre a mesa e se ajusta no lugar


nervosamente.

— Então, para onde vamos a partir daqui?

— Eu estava pensando que talvez pudéssemos ir devagar.


Talvez você possa me dizer como conheceu minha mãe.

Lynch sorri. — Eu adoraria.

— Oliver. — Dex canta, depois ri. — Sua garota está aqui.


É melhor você vir cuidar dela.

— Ela não é minha garota. — Eu o lembro por telefone, já


a caminho porque Leigh tinha me mandado uma mensagem,
implorando para salvá-la. Ela disse que James arrancou sua
calcinha e a fez dançar em uma mesa.

São duas da manhã e o baixo da música soa lá dentro,


mas não é a única festa em casa acontecendo a essa hora.
Festas constantes acontecem por toda a rua. Garrafas de
cerveja vazias enchem os degraus da frente, e eu empurro meu
caminho através da porta e entro em uma casa quando um
forte cheiro de cigarro velho e ainda de sexo mais velho me
cumprimenta.

— Oliver! — Regi exclama, e o resto da multidão repete,


cantando meu nome. Eu o ignoro, meus olhos examinando os
corpos em busca de Leigh. Ela é minha passagem para Ghost,
e sem ela, eu nunca terei o encontro ou nossa liberdade. Matar
Ghost é minha única opção.

Em um vestido vermelho apertado sem alças, Leigh


balança no topo da ilha da cozinha quando um cara agarra
seus tornozelos, olhando para cima por seu vestido enquanto
ela dança descuidadamente ao som de músicas hipnóticas com
uma garrafa na mão. Seu cabelo loiro é uma bagunça
emaranhada sobre sua cabeça. Batom vermelho manchando
seus lábios enquanto ela tropeça em stilettos vermelhos. Eu
agarro as costas da camisa do cara e o puxo para trás. — Dê o
fora dela.

O cara me lança um sorriso bêbado e ergue sua calcinha


de renda vermelha entre os dedos.
— O que você fez? — Jogo um punho em seu rosto, e o
mar de pessoas se divide no meio quando ele cai para trás
sobre a mesa de café.

— Relaxe, Oliver. — Diz Dex, segurando meu ombro. —


Beba um pouco. Isto é uma festa.

— Você deveria estar observando ela. — Aponto,


agarrando as coxas de Leigh para puxá-la para baixo da ilha
da cozinha. — Eu tenho um trabalho de merda, uma garota.
Não posso ficar aqui o tempo todo. — Leigh envolve as pernas
em volta da minha cintura, sem desistir.

— Você está certo. — Ele sorri, apontando para mim, —


Você tem um trabalho de merda. E eu possuo você até que
Ghost se vá. Meninos como nós não conseguem ter
relacionamentos. Você precisa deixá-la ir. Você precisa
esquecê-la.

Esquecê-la? Impossível. Mia Rose flui por mim, tatuada


em cada página da minha alma, o que me torna completo. Ele
não sabe que você não pode deixar de ler um livro? Se houvesse
uma chance, eu a encontraria. Eu gostaria de lê-la
repetidamente como se fosse a primeira vez de novo.

— Eu não tenho que ouvir isso. — Dou um tapinha na


bunda de Leigh para acená-la para baixo. — Estou indo.

Leigh me agarra com mais força, suas pernas abraçando


minha cintura com os braços em volta do meu pescoço,
agarrando-se com força enquanto implora para que eu não a
deixe aqui. Sua bunda nua está para fora, e cada cara que
passa cobiça e se move para ter uma visão melhor, então
carrego Leigh para fora de casa e de volta para o meu carro,
soltando seus braços esqueléticos ao meu redor para colocá-la
dentro do banco do passageiro. Ela choraminga contra meu
pescoço.

— Eu não vou deixar você, Leigh. Vou te levar para casa.


— Eu a tranquilizo, e Leigh ergue a cabeça e olha em volta,
percebendo que estamos do lado de fora. Seu corpo desliza pelo
meu e ela entra no meu carro. Corro pela frente do carro e subo
no lado do motorista antes de ligar o motor. — Onde você
mora?

Leigh não responde e viro minha cabeça para vê-la


desmaiada ao meu lado. Jogo minha cabeça para trás no
encosto de cabeça e solto um gemido.
VINTE E DOIS

“Assim como um livro, abra-a e quebre sua lombada, pois


ela não quer ser admirada.
Ela espera ser devorada, provocada e mudar o maldito
mundo.”
− Oliver Masters

— ESPERO QUE ELA GOSTE. — DIz Mia do lado do passageiro


enquanto dirigimos para o Hyde Park, admirando uma foto de
Summer em um porta-retratos vintage que ela escolheu no
mercado.

Na semana passada, Mia tinha feito uma sessão de fotos


de maternidade para Summer, e nós os encontraremos no
festival de música British Summer Time que é realizado todos
os anos nos campos de Londres, querendo nos encontrar mais
uma vez antes que Summer tenha seu bebê.

Eu seguro a mão de Mia, e suas doze sardas dançam com


seu sorriso.

— Ela vai adorar. — O cabelo de Mia está cortado curto


como da primeira vez que a conheci, um pouco além dos
ombros, e ela enfia a foto emoldurada de volta na sacola de
presente entre as pernas enquanto eu puxo a Perua para uma
vaga. — Está pronta?

O som de uma guitarra elétrica é carregado pelo vento,


empurrando as mechas de Mia enquanto ela gira com Summer
descalça na grama. Travis e eu nos sentamos sobre um
cobertor na grama enquanto as garotas dançam na nossa
frente enquanto Pearl Jam toca a metros de distância no palco,
e mantenho meus olhos em Mia enquanto Travis fala no meu
ouvido, mas tudo que ouço é sua risada através da música.
Com um macacão preto e meu chapéu de feltro sobre a cabeça,
Mia ergue os braços no ar enquanto gira.

— Terra para Ollie. — Travis estala na minha cara. —


Ainda na fase de lua de mel, certo?

— Do que você está falando? — Eu me inclino sobre os


cotovelos e Mia se vira para mim, um sorriso hipnotizante
brilhando em suas feições. Ela acena e eu aceno de volta.

— Você sabe o que dizem sobre o primeiro ano.

— Vai ser dois anos neste outono.

— Maldito inferno, estou fodido. — Ele suspira,


inclinando-se para frente e colocando os braços sobre os
joelhos. Ele tira a tampa da garrafa d'água. — Qual é o seu
segredo?

Com Mia, é fácil. — Primeira dica. — Dou um tapinha em


seu ombro, ficando de pé quando “Last Kiss” começa a tocar.
— Nunca deixe a garota dançar sozinha, companheiro.
Aproximo-me de Mia, agarro sua mão e a giro. Seus pés,
unhas pintadas de rosa, movem-se sem esforço sobre a grama
até que eu a tenha em meus braços. Ela agarra minha camisa
e eu inclino o chapéu para trás para ver seu rosto enquanto
canto as letras assustadoras que tocam um acorde do que
tinha acontecido no ano passado. É uma prova de quão longe
chegamos, e do inferno de onde voltamos sobreviventes.

Mia joga a cabeça para trás.

— Segure-me, querido, só um pouco. — Ela canta. E


continuamos a balançar até que a única música que conheço
da banda chega ao fim. Eu a beijo uma vez, duas vezes, antes
de me sentar sobre o cobertor.

Mia e Summer continuam dançando, e Travis empurra o


ombro no meu. — Ela vai colocar minha mulher em trabalho
de parto se continuarem dançando assim.

Eu rio, pegando minha água engarrafada e esticando


minhas pernas.

Uma nuvem escura paira sobre nós dois, bloqueando o


sol, e olho para cima para ver Leigh olhando para mim com
lágrimas nos olhos e as mãos tremendo. Ela está vestindo uma
saia jeans curta e um top curto, seus longos cabelos loiros em
uma trança lateral. Endireito minhas costas, sentando-me.

— O que você está fazendo aqui? — Minha voz está na


minha garganta. Limpo e olho além dela, onde Mia diminui a
velocidade de sua dança, observando nossa interação. — Você
não pode estar aqui.

— É bom ver você também. — Leigh zomba.

— Você está me perseguindo agora? — Levanto uma


sobrancelha, ficando de pé. Tento manter minha voz baixa,
mas é difícil contra meu temperamento de advertência e a
banda tocando ao fundo.

— Eu não precisaria se você atendesse minhas ligações.


— Uma lágrima escorrega de seus olhos. — Você me deixou.
Acordei em um quarto de motel dias atrás sozinha, sem minha
calcinha, sem ter ideia de onde estava.

— Uau, eu não toquei em você. — Argumento, e me


inclino para encará-la. Enfio meu dedo em meu peito para
evitar que afunde no dela. — Eu não toquei em você, porra.

A mão de Travis pousa no meu ombro e ele me puxa de


volta. — Acalme-se, companheiro. Vamos levar isso para outro
lugar.

— Não, Leigh, você não pode simplesmente aparecer.


Como você sabia que eu estava aqui?

— Summer postou sobre isso. Você não atende minhas


ligações, Oliver. Você prometeu que cuidaria de mim, mas me
jogou em um motel. — Uma lágrima escorre por sua bochecha.
— Eu estava com medo e sozinha, e você prometeu que
cuidaria de mim.
Eu tinha feito isso. Leigh estava bêbada, e eu a levei para
um lugar seguro e deixei bastante dinheiro para ela pegar um
táxi para poder voltar para Mia. Eu sempre encontraria uma
maneira de voltar para Mia. Corro minha mão ansiosamente
pelo meu cabelo.

— Falaremos sobre isso mais tarde. Você tem que sair.

— Claro, Oliver. — Leigh cruza os braços sobre o peito. —


Vou apenas encontrar uma carona com um dos cem caras
aqui, tenho certeza que qualquer um deles ficaria feliz em me
levar para casa.

— Não seja ridícula.

— Você esquece que estou sacrificando muito por você.


Sou eu que não tenho nada a ganhar e tudo a perder nisso.
Estou ajudando você, e é assim que você me trata?

Agarro seus ombros, minha mandíbula apertando e meu


peito arfando. — Eu não tenho sempre largado tudo para te
salvar de situações em que você se mete? — Grito na cara dela
enquanto as lágrimas inundam seus olhos. — Que porra você
quer de mim?

— Uau. — Travis me puxa de volta, olhando para mim


com as sobrancelhas franzidas. Ele olha nos meus olhos como
se não me reconhecesse. Ele olha para mim como se eu fosse
o cara mau. Tiro sua mão de mim. — Vou levar Mia para casa.
Você precisa lidar com isso. — Acrescenta.
Passo por Leigh e vou até Mia, que está a quinze metros
de distância. Suas mãos são pequenas nas minhas e ela olha
para mim sob a borda do chapéu de feltro com olhos
preocupados. — Essa é ela? — Mia pergunta, conhecendo bem
Leigh e as coisas que eu tinha feito.

— Sim, amor. — Inclino seu chapéu para trás e agarro


seu queixo. — Eu sinto muito.

— Está tudo bem. — Ela aperta minha mão. — Vejo você


mais tarde?

Assentindo, seguro seu rosto em minhas mãos e enrolo


meus dedos em seus cabelos enquanto a beijo, certificando-me
de deixar uma marca de segurança e algo pelo qual ansiar até
que eu volte para casa esta noite.

Durante a viagem de uma hora de carro, consigo acalmar


Leigh. — Aqui em cima à esquerda. — Leigh instrui enquanto
dirijo por seu bairro chique com grandes casas vitorianas,
sabendo que já tinha estado aqui antes. Nós paramos em uma
garagem circular, e é a mesma casa que eu encontrei Jinx
meses atrás na noite do dia da liberação em busca de respostas
para encontrar Mia.

— A festa era sua?


— Meio irmão. — Ela responde, girando a ponta de sua
trança com o dedo. — Eu moro aqui com ele e minha madrasta
malvada. Suponho que sou sua Cinderela moderna, problemas
com o papai e tudo.

Empurro a marcha para estacionar.

— Escute, você não pode simplesmente aparecer onde


quer que eu esteja e esperar que eu largue tudo como acabei
de fazer. A vida não funciona assim. Você não consegue apenas
o que deseja.

— Estou totalmente ciente.

— Eu não acho que você está. — Recosto-me no assento


no momento em que um homem na casa dos vinte anos entra
pela porta da frente. Ele desce os degraus, girando um molho
de chaves no dedo, vestindo um par de shorts esportivos e uma
camiseta sem mangas. — Quem é aquele?

— Samuel, meu meio-irmão pervertido. — Ela diz com um


suspiro. — Obrigada pela carona.

Quando chego em casa, entro pela porta da frente ao som


de pratos tilintando na cozinha e o aroma de uma refeição
caseira inundando meus sentidos. A vitrola da sala toca, tons
suaves de violão. Esvazio meus bolsos no caminho, deixando
cair minhas chaves, telefone e carteira sobre a mesa de centro
antes de chegar à cozinha. Mia ainda está em seu pequeno
macacão preto, descalça, tirando uma caçarola do forno. Meu
ombro descansa contra o arco da cozinha, e meus olhos
pousam nela. Os quadris de Mia balançam enquanto ela agita
um pano sobre o vapor que sai do prato com a batida da
música.

Ela cozinhou. Mia Rose cozinhou e fico impressionado.


Desde que nos mudamos, tínhamos conseguido sobreviver
com comida para viagem. Ela junta o cabelo em uma mão e
puxa-o dos ombros, admirando seu trabalho. Sua cabeça se
inclina e eu assisto por trás com um sorriso presunçoso
enquanto sua mão descansa em seu quadril, inclinando-se
para ele.

— Case-se comigo. — Eu sussurro por trás.

Mia dá um pulo e se vira. Sua mão bate contra o peito


quando ela solta um suspiro quando nossos olhos se
encontram. Um sorriso emerge do medo e ela balança a cabeça.
— Eu já estou me casando com você, seu idiota.

Agarro seus quadris, levanto-a no ar e a coloco sobre o


balcão. — Estou pedindo pela vida depois desta. — Inclino-me
entre suas pernas e seus braços penduram dos meus ombros.
— Porque sempre vou escolher você. Acima de tudo, vou
escolher você em cada vida.

Mia estreita os olhos. — Você se sente culpado por


alguma coisa?

— Sim, eu não deveria ter deixado você.

— Eu sou uma garota crescida, Ollie. Eu posso lidar com


outra garota tendo uma queda por você. — Minhas palmas
arrastam por suas coxas lisas até que mergulham sob o tecido
fino de seu macacão. — Eu cozinhei. — Acrescenta ela em uma
respiração dispersa.

— Eu vejo isso. — Meus dedos se enrolam em sua carne


por baixo da parte de baixo fina, e descubro que ela não está
usando calcinha. — Qual é a ocasião?

— Temos companhia chegando em breve.

— Cheira bem, amor. — Agarro o centro do short de


algodão entre suas pernas e puxo-o em uma corda apertada
contra sua fenda. Suas pálpebras ficam pesadas e olho para
baixo e movo o frágil material para o lado para ver seu centro
nu e liso. A maneira como seu sexo atraente se move quando
meus olhos estão sobre eles faz meus joelhos fraquejarem. Eu
não quero nada mais do que passar o resto da minha vida com
minha boca nela. — Quanto tempo eu tenho? — Havíamos
batizado todos os cômodos da casa, exceto a cozinha.

— Eu não sei. — Ela luta para dizer, suas pernas


fechando em mim. — Vinte minutos.

Passo meus dedos ao redor dos tornozelos de Mia e


levanto seus pés até a borda do balcão, em seguida, empurro
minhas mãos para baixo no interior de suas coxas enquanto
me inclino entre suas pernas abertas.

— Uh-uh, eu tenho vinte minutos. — E quero passar cada


um deles assistindo seu orgasmo.
A faixa do toca-discos muda, e beijo ao longo de seu
pescoço, minhas mãos lentas passando por baixo do macacão
fino em seus lados, encontrando seus seios nus. As mãos de
Mia caem do meu ombro enquanto ela vira a cabeça para o
lado, e meus polegares roçam seus mamilos. Seu pulso bate
como um tambor contra a ponta da minha língua, me
provocando e me deixando louco.

— Baby. — Eu sussurro, um idiota para ela, e minhas


mãos derivam para o sul para o espaço entre suas pernas. Com
minhas duas mãos segurando firme sua bunda, massageio sua
boceta com meus polegares, pressionando contra seu buraco
apertado e seu clitóris. Mia estremece, e meu nariz roça sua
orelha antes que meus lábios peguem os dela possessivamente
antes de nós dois decolarmos.

— Oh. Meu. Deus. — Ela diz lentamente, quebrando


nosso beijo, e sua cabeça cai para trás. Eu não consigo
acompanhar, meus olhos indo e voltando para seu rosto
adorável e o que minhas mãos estão fazendo com ela. — Eu
vou casar com você de novo e de novo...

Um sorriso se estende em meus lábios, caminhando no


ar e um pouco fora de forma com o destino de sua ruína na
palma de minhas mãos. Ela é linda, e eu não sei que esse alto
poderia dançar com ela, um balé. Uma largura de banda
celestial. Com dois dedos, abro os lábios de sua boceta e
imediatamente caio sob um feitiço sobre seu centro rosa e
pequeno clitóris redondo. Meus olhos a absorvem, cada
zumbido, cada vibração de seus cílios e cada movimento de
seus quadris.

Olho para cima, meu olhar batendo no dela.

E eu lambo meus lábios antes de minha boca envolver


sua boceta.

Arrastando minha língua para cima e para baixo de sua


entrada em seu clitóris, as pernas de Mia tremem. Sei a senha
para seus gemidos, e minha boca a trabalha como um beijo
francês até que ela agarra meu cabelo e seus sons escapam.
Nossa primeira vez na cozinha com seu núcleo apertado
batendo contra minha língua, ela goza rapidamente.

Minha garota se move como chuva contra mim, minha


língua contra seu buraco, provando seu gosto particular que
anseio enquanto minha mão livre puxa meu pau para fora e o
acaricia. Eu já estou duro por ela.

Quando subo, Mia agarra meu rosto e passa a língua pelo


meu queixo e pelos meus lábios. Ela gosta do seu gosto tanto
quanto eu.

A ponta do meu pau pressiona contra sua entrada, sua


boceta ainda se contraindo de seu clímax, e eu lentamente
avanço dentro dela, agarrando suas coxas para mantê-las
baixas e firmes. Meu olhar se afoga na maneira como nos
conectamos. É uma coisa linda.

— Ollie — Ela geme, agarrando meu rosto


desesperadamente. Beijo sua palma, o sangue correndo para
uma área enquanto suas paredes apertam meu pau, me
acariciando tanto quanto eu a acaricio. — Eu não consigo lidar
com isso.

— Vá em frente, amor. — Ela ainda está rolando em


êxtase, e movo meu polegar de volta sobre seu clitóris para
mantê-la lá. — Isso é tudo para você. — Levanto meu olhar
para ver a maneira como ela se desfaz com cada estocada
profunda, lindos lábios entreabertos, um rubor rastejando
sobre sua pele aquecida, olhos pesados nos meus. Vendo a
maneira como ela se perde comigo, não posso evitar meu
orgasmo crescendo, e minhas palmas batem nas prateleiras
atrás dela para me segurar enquanto minhas intensas
moagens se transformam em uma batida.

Meu aperto fica frenético e, de repente, a prateleira é


arrancada da porra da parede.

Parando no meio do impulso, toda a estante desaba,


pratos caindo e espatifando no nosso chão de ladrilhos. Viro
minha cabeça para Mia com os olhos arregalados, e ela olha
para mim da mesma maneira. — Foda-se. Continue. — Ela
choraminga, agarra minha nuca e puxa minha boca para a
dela.

Nosso beijo se torna carente, meus dedos cravam em suas


coxas, e leva apenas mais alguns golpes fortes e profundos até
Mia gozar novamente, seu clímax frenético drenando o meu.

Sua cabeça cai na curva do meu pescoço, ambas as


nossas respirações rasas e ásperas.
— O que acabou de acontecer? — Mia pergunta em meu
pescoço.

Eu rio. — Acho que morremos e fomos para o céu, amor.

— Eu nunca quero sair. — Ela admite, se afastando. Seus


olhos saltam para frente e para trás entre os meus.

— Então, não vamos. Vamos viver aqui para sempre,


certo? Para o inferno com essa bagunça.

Um sorriso preguiçoso aparece em seu rosto corado. —


Boa tentativa, mas você está limpando.

Cora é uma jovem brilhante, que nos manteve rindo


durante o jantar. Tenho certeza de que a carne assada que Mia
tinha feito com repolho e batata estava ótima, mas infelizmente
arruinada. Em questão de dez minutos, dirigi até o restaurante
mais próximo para pegar comida enquanto Mia limpava
freneticamente. E quando voltei, transferimos a comida para
outra caçarola que havia sobrevivido à nossa destruição. A Sra.
Morrigan elogiou como a comida era deliciosa e eu pisquei para
Mia.

— Foi a primeira vez que cozinhei. Estou surpresa por


não ter incendiado a casa. — Mia diz com uma pequena risada.
— Bem perto disso. — Eu murmuro, rindo por trás da
borda da minha taça de vinho.

— Bem, depois de remodelar a cozinha, você nunca mais


vai querer deixá-la. Vai ficar linda. — A Sra. Morrigan aponta
antes de dar outra garfada no assado.

Levamos a garrafa de vinho para o jardim, e a Sra.


Morrigan e eu nos sentamos em nossas cadeiras de balanço
enquanto Mia convencia Cora a ajudá-la a escolher um modelo
para a cozinha. O tempo tinha sido bom para nós nos últimos
dias, apenas chuvas do meio-dia borrifando sob o sol. Mia
carrega um balde de lata enquanto Cora pega um buquê de
rosas rosa claro, colocando-as dentro.

— Mia é tão boa com ela. — A Sra. Morrigan menciona


com seu olhar e sorriso apontado para as duas garotas entre
as flores. O cabelo da Sra. Morrigan é preto como o de sua
filha, mas cortado curto e espetado para cima. Um vento leve
aumenta, e ela puxa um cachecol grosso de tricô sobre os
ombros ossudos enquanto estremece. — Ela tem um bom
coração, Oliver. Não deixe essa ir.

Meu coração bate forte dentro do meu peito. Finalmente,


alguém pôde ver Mia do jeito que eu a vejo, e eu olhei de volta
para Mia, cujo cabelo está puxado para o alto, seu pescoço e
clavícula definida expostos contra o vestido sem mangas que
ela usa. — Eu nunca sonharia com isso.

Meu telefone apita e eu mergulho meus dedos no bolso


da minha calça jeans preta e abro a mensagem.
Dex: Esteja em minha casa hoje à noite às 11.

Digito uma mensagem de volta: Ocupado.

Dex: Você pode trazer a Mia. Eu adoraria conhecê-la.

Minha mandíbula flexiona. Envio rapidamente outra


mensagem: Você faz ótimas piadas.

Uma foto aparece. É Mia vestindo jeans solto destruído,


um top curto e seu rosto escondido atrás de um par de óculos
de aviador com uma sacola de mercado pendurada em seu
braço enquanto ela atravessa a rua. Teve que ser tirada na
semana passada, o que significa que Dex está de olho nela, e
minha visão turva de raiva insondável.

Dex: Te vejo esta noite.

Deixo o carro parado no meio-fio e pulo, correndo em


direção a Adrian e James, que estão ambos cobertos de
sangue. James se aproxima e dá outro soco em sua mandíbula
no momento em que eu os alcanço, e eu me empurro entre os
dois e esmago minhas mãos contra o peito de James para
segurá-lo.

— O que há de errado com você, companheiro? Acalme-


se!
Eu me viro para ver Adrian passando os dedos embaixo
do nariz, recuperando o equilíbrio.

— Ele veio até mim! — James grita, apontando o dedo


para Adrian.

O sangue encharca as camisas de ambos, e é demais para


sair de qualquer um deles. Puxo minhas mãos para trás e dou
um passo para o lado, meu coração batendo forte dentro do
meu peito.

— O que aconteceu?

— Foi um negócio que deu errado. — Explica Adrian


freneticamente, segurando a nuca com as duas mãos. — Regi,
cara. Ele se foi. E é tudo culpa sua, porra. — Ele se lança em
James novamente.

Eu pulo para interceptar e agarro os ombros de Adrian,


não consigo ouvir nada além da minha raiva e as batidas
pesadas dentro do meu peito. — Não, não, não. Diga-me que
não é o que estou pensando. — Agarro sua camisa manchada
de sangue e esmago minha testa na dele. — Diga-me que ele
não está morto.

— Ele está morto. — James confirma atrás de mim,


empurro Adrian e passo minhas mãos pelo meu cabelo
repetidamente, balançando minha cabeça. — Eu não sabia.
Estávamos lidando com os malditos BOGs. Eles têm um sobre
nós.
— Você preparou tudo! — Adrian grita. — Admita James.
Você está pulando do barco.

— Não é assim, cara. Não era para cair assim.

Meus braços voam para os lados. — Você está com medo,


certo? Dex está saindo e você está com medo de que ele não o
leve junto. — James tinha ficado nervoso, feito movimentos
com o inimigo em busca de um lugar para ir assim que Ghost
estivesse morto, e os Links não seriam nada além de um monte
de metal enferrujado e quebradiço. — Você está fora.

— Você não pode me tirar. — James ri. — Não é sua


decisão.

Sem pensar, agarro a arma de Adrian de suas costas,


sabendo que estava enfiada em sua cintura, e a armo antes de
apontá-la para James. — É a porra da minha decisão. Você
terminou. — James não é mais confiável. James agarrou a
lealdade em seu punho e a desintegrou assim que fez aquele
acordo com os BOGs. Eu me importo muito com Adrian para
vê-lo cair em cinzas nas mãos do medo. Conheço o desespero
e o quão longe alguns de nós estariam dispostos a ir. Não posso
arriscar. — Vá correndo, James. E se eu te ver de novo, não
vou hesitar.

Os olhos de James saltam para frente e para trás entre


nós dois antes que ele pegue sua jaqueta do gramado. —
Cuidado, A. — Ele ergue o queixo, dando um passo para trás.
— Pelo menos eu sei que estarei protegido quando os Links
caírem.
Então James balança a cabeça, se vira e se afasta de nós.

Adrian e eu entramos em casa, e Dex está parado na


cozinha, contando dinheiro com um cigarro entre os lábios. Ele
ergue um dedo antes de lambê-lo e vasculhar a pilha imunda
de dinheiro, então bate a pilha sobre o balcão e enrola uma
faixa ao redor dela. — Dê uma olhada nas fotos e me diga o
que você acha. — Ele desliza o telefone sobre o balcão.

Um de seus homens morreu esta noite, e o


comportamento calmo de Dex apenas alimenta a fúria
queimando dentro de mim. Pego o telefone do balcão e meu
olhar se espalha por várias fotos nuas de Leigh. Meu dedo
percorre as fotos, uma após a outra dela deitada sobre um
edredom rosa em uma cama estilo princesa, seios para fora e
um dedo entre os dentes. A última é ela de quatro, e sua cabeça
vira para trás com uma carranca. — Quem tirou isso?

— Inferno se eu sei. Eles são bons, certo? Estou enviando


para o meu contato para confirmar o compromisso. Ela é
perfeita. — Ele pega o telefone do meu punho cerrado e admira
a imagem dela, a fumaça saindo de seus lábios para a tela. —
Pena que precisamos dela inocente para a troca, a boceta da
virgem vai me render muito dinheiro. — Seu dedo corre pela
tela, e olho para cima para ver o sorriso do cara doente.

— Não estamos realmente fazendo uma troca, — eu o


lembro. — Estou matando Ghost antes de entregá-la.

— Okay, certo. — Dex desliga o telefone quando a tela fica


preta e o guarda no bolso.
— Dex... — Eu assobio. — Qual é exatamente o plano? —
Há algo que ele não está me dizendo, e eu não gosto de andar
cego nesse acordo.

— Por enquanto, é necessário conhecer a base. — Ele dá


outra longa tragada antes de segurá-lo na minha frente entre
dois dedos. — Não estrague tudo, Oliver. Você tem uma chance
nisso.
VINTE E TRÊS

“Vamos ficar bêbados com rose barato, confessar nossos


segredos mais escuros e criar playlists de nossos melhores
erros.
Beije-me como um louco, neste lugar mágico e escuro, isso
não tem nome, mas onde estamos livres.”
− Oliver Masters

O BEBÊ LEHMAN CHEGOU duas semanas atrasado em 7 de


agosto e eu adormeci no colo de Ollie enquanto esperávamos
na sala de espera por Summer para entregá-lo. Houve
complicações, e Summer foi levada às pressas para a sala de
cirurgia para uma cesariana não planejada, mas depois de
exaustivas dezesseis horas, Ollie e eu ficamos ao lado da cama
enquanto Summer embala seu filho.

— Você quer segurá-lo? — Summer pergunta, olhando


para mim com olhos azuis cansados, mas alegres.

— Ah, não. Eu não poderia. — Eu nunca segurei um bebê


antes, e sempre destruo tudo que minhas mãos encontram. —
Confie em mim. Você não quer que eu segure seu filho.
— Aqui. — Ollie fala, tirando o pequeno Turner dos braços
de Summer. O bebê é minúsculo, acomodando-se
perfeitamente em seus braços fortes. Turner agarra seu dedo,
grandes olhos novos olhando para ele, e a visão traz um
zumbido em meu peito. Ollie se vira para mim. — Está tudo
bem, amor. — Eu cedo à pressão e estendo meus braços, e
Ollie afunda o bebê dentro. — Vê? — Ele tira meu cabelo do
ombro e das minhas costas. — Você foi feita para isso.

Sem palavras, toco o braço macio de Turner com meu


dedo indicador. — Vocês fizeram isso. — Eu sussurro com
espanto. — É verdade. O amor realmente dá vida a este mundo.

— É verdade. Casais que estão sempre juntos acabam


falando como o outro. — Travis ri, e eu cuidadosamente coloco
Turner de volta nos braços de Summer.

De mãos dadas, Ollie e eu voltamos para o carro depois


de nos despedirmos da nova família de três pessoas. Ele abre
a porta do carro para mim e eu me sento no banco do
passageiro, rapidamente enxugando as lágrimas que haviam
caído. Pode ter sido facilmente pela falta de sono nas últimas
48 horas desde que Summer começou a ter contrações, e talvez
a exaustão estivesse levando o melhor de mim. Mas, para ser
honesta comigo mesma, foi a maneira como os olhos de Ollie
brilharam para Turner e sabendo que eu nunca serei capaz de
dar isso a ele.
— Mia, você está chorando. — Ollie entra no carro antes
de ligar o motor e pega minha mão. — Por que você está
chorando? O que há de errado?

Esfrego os olhos e afasto o cabelo do rosto antes de


respirar fundo. — Acho que estou muito cansada.

— Ah, não. Não se esconda de mim, me diga o que está


acontecendo. — Sua mão atinge a minha nuca e ele dá um
aperto suave antes de arrastar pelas minhas costas. — É o
bebê?

— Você ficaria feliz se fôssemos apenas nós? Para o resto


de nossas vidas, apenas você e eu, sem bebês? — A conversa
sempre foi tão fácil para nós. Nós conversamos sobre nosso
futuro, o que nós dois queríamos, e fizemos piadas e acordos
sobre quantos eu devo a ele, mas nunca pensei que seria
incapaz de dar a ele um.

— Você está mudando de ideia, Mia? Você não quer filhos


comigo?

Olho para ele, e seu rosto está congelado, lábios


entreabertos, olhos sem piscar enquanto espera o soco no
estômago. — Sim, simplesmente não posso. — Enxugo outra
lágrima. — Não posso ter filhos, Ollie. Não tomo
anticoncepcionais desde que deixamos Dolor, e não é como se
tentássemos, mas também nunca evitamos. E não é como se
você quisesse um agora, ainda somos jovens, você vai fazer 23
anos em novembro, dificilmente estamos em um lugar...
— Mia. — Ollie interrompe. — Você está divagando. Eu
não consigo entender. O que você está dizendo?

— Estou dizendo que este é meu castigo por tudo que fiz,
— pelos pensamentos mórbidos que passam pela minha cabeça.
— Eu sei disso. Não posso engravidar, Ollie.

Ollie vira a cabeça, seus pensamentos o consumindo, e


quero ouvir o que eles têm a dizer. Eu quero estar dentro de
sua cabeça, mas não o faço. Estou apavorada. — Você tem
certeza? — Ele pergunta, e poucas vezes ouvi sua voz tão
cortada e distante.

Mais lágrimas tremem nos cantos dos meus olhos e,


quando assinto, elas caem sem permissão. — Eu sinto muito.

Ollie sai do carro, e meu olhar turva, meus olhos


encobertos pela desconexão, e o observo dar a volta no carro
para o lado do passageiro e abrir minha porta. Ele se agacha
ao lado do assento e tira minhas mãos do meu colo. — Me
escute. É você e eu, para sempre. Lembra? — Eu concordo.
Ollie aperta minha mão, respira fundo e solta o ar lentamente.
— Estar com você é mais do que suficiente. Você sempre será
mais do que suficiente. E se for só você e eu no final de tudo
isso, teremos apenas que manter nossa juventude até os
setenta e envergonhar todos os jovens. Nos beijaremos em
público, dançaremos nas ruas e brincaremos com os pés
debaixo da mesa nas reuniões do clube do livro como dois
velhinhos apaixonados. Você e eu, para sempre.

Eu sorrio. — Sempre.
— Venha aqui. — Ele me tira do carro e me puxa para um
abraço apertado.

— Diga-me algo que você nunca disse a ninguém. — Fala


Ollie, em seguida, toma um gole de vinho enquanto estamos
sentados do lado de fora com meus pés em seu colo. Seu
polegar massageia meu calcanhar coberto de meias. — Algo
que você nunca me disse.

— Você sabe todos os meus segredos. — Digo através de


um sorriso forçado, a culpa provocando a mim e aos meus
pensamentos assassinos. Talvez Ollie realmente me
conhecesse, e eu, ele, mas talvez haja algo que ele quer tirar
de seu peito, e eu me inclino, apoiando o cotovelo no braço da
cadeira e balançando minha taça de vinho no ar. Ele abriu uma
porta e eu não consigo mais segurar. — Ok, eu vou cair nessa.
Quando atirei no meu tio e observei as luzes se apagarem,
gostei. Havia algo sobre estar lá para seu último suspiro, tendo
controle se ele viveria ou morreria. Toda a dor e vergonha que
ele me trouxe por anos apenas... sumiram, e eu queria deitar
lá em seu sangue e adormecer na paz da morte depois de
muitas noites de tormento. — Ollie olha para mim do outro
lado da linha, e eu não noto como sua mão para de se mover
sobre meus pés. — A vida dele estava em minhas mãos e eu a
peguei e gostei. E eu pensei em fazer de novo. — Eu me inclino
para trás e tomo outro gole do meu vinho, esperando ouvir uma
reação dele. É a minha verdade mais sombria, algo que
demorou tanto para admitir para mim mesma. — Sua vez.

Ollie move a mão novamente, pressionando o polegar no


centro do meu pé. Ele toma outro gole antes de limpar a
garganta, desviando o olhar para os meus pés em seu colo. —
Quando toquei aquela garota, Leigh, me esforcei para não me
imaginar fazendo outras coisas com ela, sabe. Eu me perguntei
se o gosto dela era como o seu. Se meu pau responderia a ela
do jeito que responde a você. Se sentiria a mesma coisa. — Ele
rapidamente olha para mim antes de engolir o resto de seu
vinho. — Mas então as drogas passaram e eu me sinto mal com
isso. Porque não existe eu sem você. Nunca mais seria o
mesmo.

Eu rio. — Então, você é um cara?

— Ei, eu não ri da sua coisa. Demorou muito para eu


dizer em voz alta.

— Me desculpe, você está certo. Mas, Ollie, isso parece


completamente normal para mim.

— Não é. Eu tenho autocontrole. Nenhuma mulher pode


me transformar do jeito que você pode. Mas quando estou
chapado de alguma coisa, é como se essa besta selvagem
tomasse conta dos meus pensamentos. Estou com tanto medo
de que algo aconteça com toda essa situação de Dex e Leigh, e
você me deixe para sempre. Que vou cavar uma porra de uma
cova profunda e ter que mentir sem você.

— Vou enterrar você ao lado de George Eliot. — Digo


simplesmente. — Lápide gravada com “Aqui jaz Oliver Masters,
rendido à besta selvagem por dentro e morto por sua esposa
sedenta de sangue... Traço, poeta.”

Ollie ergue o dedo no ar. — Não pode esquecer a parte do


poeta.

— Nunca, e eu nunca te deixaria, Ollie. — Acrescento,


resolvendo suas preocupações. — Esta vida está cheia de erros
e de crescer a partir deles. E quero cometer erros e crescer com
você.

Ollie ergue sua taça de vinho no ar. — Um brinde a revelar


segredos, cometer erros e beijar com os lábios manchados de
vinho.

E nós aplaudimos, beijamos e recostamos como se a


conversa que acabamos de ter fosse completamente normal.

Mas depois que muitos segundos se passaram, Ollie


ergue a cabeça e volta seu olhar compassivo para mim. — Mia?
— Ele sussurra, chamando minha atenção enquanto suas
mãos massageiam meu pé novamente. — Eu sei, amor. Eu
sempre soube, e você nunca precisa ter medo de falar comigo
sobre as coisas que passam pela sua mente. Não importa o
quão escuro, estou aqui para isso.
As horas perpassaram a noite. Ollie virou as panquecas,
cantando The Beatles e vestindo sua calça jeans preta rasgada
com o botão aberto e suas tatuagens desbotadas à mostra.
Trocamos vinho por café enquanto a noite avançava e ele,
finalmente, tornou esse momento real para mim. Estendi um
prato enquanto ele colocava duas pilhas sobre ele. — Você sabe
que horas são amor?

— São três da manhã.

Ele pisca e aponta a espátula para mim. — Eu disse que


estaríamos aqui, não disse?

Tenho pouquíssimas obsessões, e a história das livrarias


é uma delas. Quando recebi o telefonema de Foyles, que já foi
a maior livraria do mundo, e eles me convidaram para fazer
uma sessão de autógrafos, pulei da cama, acordando Mia no
processo. Era às dez da manhã quando recebi o telefonema e
comemoramos, pulando da cama por uma hora antes de correr
para me vestir para que eu pudesse exibir Foyles e bombardeá-
la com fatos de sua história durante todo o caminho para a
loja. A sessão de autógrafos demoraria algumas semanas, mas
ela precisava ver o lugar.

Isso foi há duas semanas, a memória de Mia e eu


andando pela loja de tijolos desapareceu, e a longa fila de
leitores que aguardam ansiosamente toma seu lugar,
segurando meu livro em seus braços sob os guarda-chuvas, se
escondendo da chuva.

— Foyles. — Afirma Travis, parando no meio-fio e


colocando a marcha em ponto morto. — Este lugar é legítimo.

— Quase cinquenta quilômetros de espaço de prateleira.


Costumava ser a maior livraria do mundo. — Eu continuo,
repassando as mesmas informações que disse a Mia. Eu não
posso evitar. — Dois irmãos em 1903, e agora olhe. Mais de
um século depois, veja o que aconteceu. Você sabe, William
Foyles supostamente cobriu o telhado com cópias do Mein
Kampf18 para repelir bombas durante a guerra mundial.
Significa minha luta, e uma bomba jogada do outro lado da rua,
deixou uma grande cratera. Enquanto a consertavam, William
alimentou os operários com sanduíches e cerveja de gengibre
enquanto trabalhavam e, quando a ponte foi concluída, eles a
batizaram de Ponte Foyle em sua homenagem. Legal, certo? A
bondade humana pode ir muito longe, fazendo uma marca na
história. — Desvio meus olhos da loja de tijolos e da multidão
para ver a boca de Travis pressionada e as sobrancelhas
torcidas. — O que? É interessante.

— É irritante. Diga-me, quando você engoliu a


enciclopédia, foi antes ou depois de sua coleção de livros de
história?

18 Livro escrito por Adolf Hitler.


Eu tinha esquecido minha audiência e abro a porta do
carro, balançando minhas sobrancelhas. — Tanto faz cara. Mia
come essa merda como se fosse doce.

A atmosfera dentro de Foyles é o oposto da Daunt Books.


Com quatro andares, linhas simples e modernas, paredes
brancas nítidas e grades de vidro, os livros se tornam o foco
principal e a única cor dentro do grande edifício, que se
expandiu por mais de 11.000 metros quadrados. Minha mesa
fica no andar de baixo, sob as palavras: “Bem-vindos, amantes
de livros, vocês estão entre amigos”, e depois que Laurie, Travis
e eu montamos, um empregador de Foyles permitiu a entrada
de pessoas da chuva lá fora.

Minha segunda sessão de autógrafos e Mia não pode estar


aqui para vivenciar isso comigo. Doía-lhe não estar aqui, mas
a mãe de Cora teve um dia ruim ontem e estava no hospital.
Mia esteve lá a noite toda e me mandou uma mensagem esta
manhã, dizendo que ela estava trazendo Cora de volta para
casa para que as duas pudessem dormir um pouco. Eu disse
a ela que haveria muitas outras oportunidades com eventos.

Por horas, assinei, sorri e tirei fotos enquanto Travis


mantinha a fila em movimento, e na metade do caminho, me
senti escorregando.

Passo os dedos pelo meu cabelo quando Laurie coloca um


chá na minha frente, um do café localizado dentro da livraria,
sabendo que estou me perdendo lentamente. Ela fixa os óculos
de aro preto cobrindo os olhos e se inclina para o meu ouvido.
— Você só tem uma hora restante, então está feito.

Assentindo, forço um sorriso quando outra garota se


aproxima da mesa.

Embora eu esteja totalmente grato por seu apoio e


presença, a sobrecarga de excitação testa meus nervos e rouba
minha energia. É o suficiente para fazer minha linha do cabelo
suar e minha visão me desafiar. Tomo um gole de chá antes de
assinar o próximo livro, empurrando minha testa sobre a
manga da minha camisa.

A próxima pessoa joga meu livro sobre a mesa e duas


mãos grandes agarram a borda quando ele se inclina.

— Precisamos conversar. — Diz ele.

Levanto os olhos do meu chá até que meu olhar pousa em


Ethan Scott.

Minha mandíbula aperta quando ele e seu cabelo


vermelho violam meu espaço.

É raiva que sinto primeiro. Um calor abrasador branco


rola sobre minha pele em ondas, e não tenho controle sobre
minhas próximas ações. Ethan é a razão pela qual estou nessa
maldita confusão com os Links, para começar. A situação de
Leigh. Dex Sullivan. A morte do meu irmão. Tudo para tirar
Mia dele. Ele foi o motivo pelo qual Mia uma vez me
questionou, nosso relacionamento e até a si mesma. Ela
passou pelo fogo do Inferno e voltou com ainda mais ferimentos
internos do que antes, e seus olhos sinistros fizeram meus
dedos se contorcerem e minha mente desmaiar.

A mesa vira, derramando o chá, e mãos agarram minha


camisa, tentando me puxar para trás enquanto eu me lanço
nele. — Eu vou te matar, porra. — Eu fervo, enrolando o decote
de sua camisa em meus punhos e levando-o para trás contra
a linha de pessoas.

Ofegante, a multidão se separa e gritos vêm de algum


lugar, mas meu único foco está em Ethan enquanto ele tenta
empurrar contra mim. Nós dois caímos no chão e as memórias
dolorosas tomam conta de mim. A espera por ela, a busca, a
bebida, o choro, a dor agonizante dentro do meu peito queima,
me lembrando de como a vida teria sido sem ela, e meu punho
bate em sua bochecha, mas não posso me conter. O sangue
espirra no meu rosto e Travis agarra meus braços e me puxa
contra seu peito.

Uma rajada de vento frio me atinge e Scott e eu nos


encaramos em um beco. Eu cuido dos nós dos dedos,
segurando-os contra a chuva e puxando o ferimento entre os
lábios. Scott deixa cair a cabeça para trás, chovendo sobre seu
rosto machucado e ensanguentado, nenhum de nós diz nada.
— Sinto muito. — Scott finalmente declara, abaixando a
cabeça para olhar para mim.

É óbvio que eu não serei bem-vindo de volta em Foyles,


um lugar com o qual eu fantasiava desde que era criança.
Abaixo minha cabeça até atingir o tijolo, mais chateado comigo
mesmo por deixar minhas emoções vencerem desta vez.

— Eu não queria que tudo acontecesse da maneira que


aconteceu. — Ele continua. — Eu reagi. E sim, peguei a garota,
certo? Eu nunca a machuquei. Fiquei com medo ‘pra’ caralho
e a peguei. É isso aí. Quando percebi o que tinha feito, devolvi-
a.

Uma risada sem humor sai da minha língua. — Você a


devolveu. — Balanço minha cabeça. — Obrigado,
companheiro, mas ela não é uma porra de objeto, e a única
razão pela qual você está respirando agora é porque prometi a
Mia que o deixaria viver.

Minhas mãos tremem, prontas para quebrar a promessa,


e Ethan desvia os olhos quando pergunta: — Ela está de volta
com você?

Levanto meus braços ao meu lado. — Onde mais Mia


estaria? — Não é para soar arrogante, mas Mia e eu
pertencemos um ao outro. Eu não entendo porque o mundo
inteiro não pode ver e aceitar isso. Quero que meu grito sacuda
esta terra, gritando que o amor tinha e sempre vencerá. Que
nada poderá nos separar. Se Scott tivesse voltado para
arrancá-la, seria o último erro que ele cometeria.
— Esqueça, você está certo.

— O que você está fazendo aqui, Scott?

— Voltei para a casa de Bruce e ela não estava. Eu tinha


que ter certeza de que ela estava bem. Quando não vi Mia
sentada ao seu lado, pensei... na verdade, não sabia o que
pensar. Talvez ela tivesse me escolhido. Que talvez eu estivesse
errado em deixá-la ir. Foi fodido o jeito que eu a deixei. Não sei,
só queria vê-la uma última vez e dizer a você...

— Eu nunca vou confiar em você. — Digo rapidamente.

O carro de Travis para no final do beco e algumas buzinas


ricocheteiam nas paredes estreitas.

Olhando para trás, Scott se levanta, suas roupas pesadas


e encharcadas.

— Achei que você deveria saber, estou libertando Tommy.


— Ele anuncia, e viro meu corpo inteiro de volta em sua
direção. — Eu sei a promessa que você fez a Zeke antes dele
morrer, que você faria tudo que pudesse para libertar Tommy.
Bem, estou libertando o cara. Por Livy. Por Zeke. Por
redenção... — Ele continua. Passo a palma da mão no meu
rosto molhado e coloco minhas mãos sobre os ossos do quadril,
sem saber o que ele está pedindo de mim ou para onde isso
está indo. — E eu não quero sua ajuda. Apenas cuide dela,
Masters. Mia merece muito mais do que os horrores deste
mundo, e você é a única pessoa que pode dar isso a ela. Vou
cuidar da promessa que você fez a Zeke e libertar Tommy.
— Isso ainda não muda nada.

Scott ri, pressionando a mão contra o rosto machucado.


— Eu não esperava que fosse.

Além disso, tinha.

Enquanto eu caminho de volta para o carro, com Ethan


Scott atrás de mim, um fardo que eu não sabia que estava lá
foi removido. Eu não quero mais matá-lo, sabendo que ele
cuidará da última coisa que me pesa desde que Zeke tinha
morrido, e respiro fundo quando a chuva bate contra minhas
bochechas.
VINTE E QUATRO

“...”

⎻ Oliver Masters

O AR ESTÁ denso com uma chuva noturna no horizonte. A


ameaça de uma tempestade exala um cheiro estranho de
destruição. Uma intuição, se você quiser? Ou talvez o universo
esteja revelando uma fortuna que ninguém deveria suportar,
especialmente Mia.

Ambos os meus olhos indefesos espiam pela janela de sua


casa. Mia toca piano, uma melodia familiar flutuando no
espaço entre nós. Cabelo castanho torcido preguiçosamente
sobre a cabeça, vestindo apenas uma camiseta branca e shorts
de pijama xadrez. Ollie caminha pela sala bebericando em uma
caneca em uma mão, segurando um livro na outra. Os olhos
do tolo grudam em Mia antes que ele se jogue no grande sofá
e abra o livro.

Eu deveria ter saído dias atrás, mas tinha que ter certeza
de que ela está bem. Não é como se eu estivesse obcecado pela
garota, mas Masters é muito delicado para satisfazer e entreter
sua mente feroz de espiralar para o abismo do tédio. Sei por
que Mia e eu somos iguais. Não fomos projetados para o
contentamento ou uma vida que consiste em casamento,
bebês, trabalho e rotina. E embora eu seja o único que poderia
libertar sua mente selvagem e alimentar os desejos que ardem
dentro dela, ela escolheu Masters.

Ollie fala, mas eu não consigo ouvir daqui, e Mia se vira


para encará-lo, um sorriso deslumbrante em suas feições. Ela
se levanta, caminha até Masters e pega sua mão. Os dois
desaparecem de minha vista. Eu não tinha percebido quanto
tempo havia passado comigo assistindo como um canalha até
que as luzes se apagam e um arrepio percorre minha espinha.

Aposto que ele não poderia transar com ela como eu e


uma risada sai dos meus lábios e cai na rua vazia, sua caixa
de correio é minha audiência. Rindo, porque tudo que consigo
imaginar é Masters lutando para manobrar suas partes
durante um jogo ruim de preliminares. Rindo, porque ele está
dentro com ela neste exato momento, tendo a chance, e eu
ainda estou parado aqui no frio.

Minha risada morre e faço a jornada de oitocentos metros


de volta ao meu carro. Mia está bem e é tudo que eu precisava
ter certeza. Precisei de todas as forças para não irromper pela
porta da frente e dizer a ela que sentia muito por deixá-la do
jeito que fiz, mas eu já tinha tomado minha decisão, e ela fez a
dela.

Quando entro no carro, meu reflexo no espelho retrovisor


me saúda.
Masters me pegou de surpresa de volta em Foyles. Eu
tinha a impressão de que Foyles era um território seguro com
seus fãs ao seu redor. A última coisa que eu esperava era que
ele se lançasse em mim em público e em exibição. Talvez eu
tenha subestimado ele o tempo todo, mas essa foi a segunda,
e última vez, que eu o deixei pintar meu rosto com seus punhos
impressionantes. Se ele tivesse pegado o que era meu,
provavelmente eu tentaria matá-lo também, nem mesmo me
preocupando com a porra de uma agulha ou enforcamento. Eu
o cortaria em pedaços e os espalharia sobre o Parque Nacional
de New Forest, onde os animais selvagens poderiam devorar o
resto dele.

Mas Mia o escolheu, e tenho que respeitar isso.

Ela nunca foi minha.

Então, Masters está seguro.

Dean, meu melhor amigo com conexões, ligou no meu


caminho para o motel. Nas últimas semanas, nós dois
estávamos tomando providências para a fuga de Tommy. Não
há como seguir em frente sem libertá-lo. Eu já tentei isso.
Assim que deixei Mia na casa de Bruce e atravessei metade dos
Estados Unidos, um chamado me incomodou de cima. Eu
nunca esqueci a maneira como Zeke costumava me olhar em
Dolor, e tenho sentido aquele olhar atormentador no fundo da
minha alma sombria desde então. Ele nunca teve que
perguntar ou dizer as palavras, mas ele e Tommy sabiam que
eu era sua única chance. E porque Tommy era o homem por
quem minha irmã se apaixonou e libertá-lo é a última coisa
que preciso fazer antes que o monstro dentro de mim se
dissolva em nada.

Eu também estarei livre.

— Você deveria ver esta cidade, cara. Tenho certeza de


que foi aqui que eles conseguiram o elenco para o filme
Quadrilha de Sádicos. — Diz Dean ao telefone.

— Nunca vi isso. — Eu corto. Nunca assisti à televisão.


Isso me entedia.

— Em todo caso, de todos os lugares, é aqui que Luke nos


traz. Meu irmão perdeu a porra da cabeça.

Dean ainda está vago sobre quem eles são e o que fazem,
mas eu sempre rolo com as conversas e os pequenos pedaços
de informação que ele me alimenta. Ele precisa desabafar e eu
preciso de distração. — Me desculpe, cara. Como estamos no
tempo? — Dean precisa estar aqui para a fuga de Tommy, e
estou ficando louco por estar na mesma cidade que Mia e
Masters, louco para mudar de ideia e levá-la de volta contra
sua vontade. Vê-la só me fez perder o caos e o desafio. Meu
fantoche. O lado quente da minha cama.

Um suspiro pesado veio do outro lado da linha. —


Depende de Luke. — A família vem primeiro. A única regra de
Dean. Se ele não estivesse me fazendo favores para tornar esta
missão muito mais suave, eu mesmo faria. Preciso de Dean, e
o tempo de vida do meu monstro está nas mãos de seu irmão.
Felicidades. — Dê-me seis meses. Eu sei que parece muito,
mas acredite em mim, cara. Seis meses, e estarei no olho
vermelho vindo em sua direção. Mantenha-se ocupado até
então.

Suprimindo um gemido, balanço a cabeça como se ele


pudesse ver. — Seis meses. Estou contando com você, cara. Se
você não estiver aqui em seis meses, estará libertando dois
camaradas da prisão.

— Seis meses. Ligarei para você após as férias para fazer


o check-in. Fique longe de problemas.

O telefone desliga e cai no meu colo quando entro no


apartamento que estou alugando com o nome fictício e a
identificação que Dean me enviou. Ben O. Verbich.

O cara tem senso de humor e eu finalmente tenho um


cronograma para planejar.

Mas esta noite, eu não deixarei Masters ser o único a


quebrar. Por mais de um ano, Mia fodeu com minha cabeça a
tal ponto que eu não me enterrei dentro de uma bunda desde
que coloquei os olhos nela. À noite, e todas as noites depois
dessa, pedia rum puro e uma escória local, as únicas duas
coisas capazes de me aquecer neste inverno longo e frio e
transformar Mia em uma estranha.

Em seis meses, Mia Rose Jett será nada mais do que uma
memória.
Em seis meses, Dean estará aqui e poderemos finalmente
libertar Tommy.

Em seis meses, o monstro desaparecerá.


VINTE E CINCO

“Amantes mergulham os pés nas galáxias e correm com o


desconhecido porque os sonhadores pertencem às estrelas, e
almas gêmeas fazem amor por aventura.”

⎻ Oliver Masters

A FRENTE FRIA de outubro sopra com raiva enquanto a


mãozinha de Cora agarra a minha enquanto ela está sobre o
túmulo de sua mãe em um vestido amarelo brilhante com
girassóis estampados esporadicamente, botas de cowgirl
cobrindo seus pés. O tempo só fica mais frio à medida que
entrávamos no mês, mas o vestido de girassol é importante
para Cora enquanto ela luta contra os arrepios. Amigos e
familiares da Sra. Morrigan haviam partido há algum tempo,
mas Cora não estava pronta para dizer adeus.

Olho para cima para ver Ollie segurando as duas mãos


da Vovó enquanto falam, mas a distância entre nós engole suas
palavras.

Logo, Cora terá que partir para morar na Irlanda com sua
avó, e embora seja incrivelmente difícil para eu dizer adeus à
primeira amiga de quem me tornei próxima desde que voltei,
tenho que ser forte e lembrá-la de todas as novas aventuras
que ela experimentará. Um novo país, novos amigos, novas
flores para dançar e novas poças para pular. — É exatamente
aqui que o corpo dela está, Cora. Mas não importa onde você
esteja o espírito dela está com você. Nunca é um adeus.

— Você só está dizendo isso porque minha mãe está


morta. Você está dizendo isso para me fazer sentir melhor, —
ela sussurra. — Eu não sou idiota. Eu sei como é. Meu pai
também está morto.

Embora ela chegue vindo até o meu peito, eu ainda


agacho e alisei meu vestido de renda preta sob minhas coxas
para não falar fisicamente com ela. — Você tem dois anjos da
guarda, Cora. Eles estão observando você agora, e é seu
trabalho garantir que você dê a eles a melhor e mais bela vida
para eles verem até que vocês estejam todos juntos novamente.

— Você tem um anjo da guarda?

Sorrindo, balanço a cabeça. — E ouvi dizer que a Irlanda


tem castelos, colinas e campos de raras flores roxas claras...

— Chove na Irlanda?

— Sim.

— Eles têm meninos que contam histórias como Oliver?

Eu rio de sua escolha de palavras. — Eles têm meninos


que contam histórias em todos os lugares. Não há falta. Eu
posso prometer isso.
Cora olha para o céu e fecha os olhos, seu cabelo preto
enrolado em torno de seu rosto levemente sardento enquanto
ela se comunica sem palavras com sua mãe e seu pai. Talvez
ela esteja se despedindo, ou talvez esteja orando. Uma rajada
de vento gira, levantando pétalas soltas do ramo de flores
aninhado em seus braços, e elas acabam em seus cabelos. —
Obrigada. — Ela sussurra com um sorriso de inocência e força.

Ajudamos Vovó a arrumar o carro com as coisas de Cora


e ficamos do lado de fora de nossa casa atrás do portão. Cora
sopra ar quente contra a janela de dentro do carro, e seu dedo
mindinho pressiona contra ela, desenhando um coração e uma
flor. O braço de Ollie pendura sobre meu ombro e ele me puxa
para perto enquanto acenamos para as duas. O barulho do
cano de escapamento cospe uma nuvem de fumaça antes que
o velho carro decole estrada abaixo com o nariz de Cora
pressionado contra o vidro, acenando de volta.

— Vamos para Gibraltar. — Digo, ambos os nossos olhos


na parte de trás do carro. — Dez e dez e vinte e vinte. — Fará
quase um ano que fizemos a promessa. Mas, naquela época,
não era apenas uma promessa. Foi muito mais. Um futuro.
Planos. Você e eu. Sempre.

A cabeça de Ollie gira para me encarar e seu braço cai do


meu ombro. Olhos verdes saltam entre os meus. Seus lábios
se separam. — Puta merda, você está falando sério.

— Estou falando sério. Vamos lá. Agora mesmo, Ollie.


Quem mais precisa morrer para nos lembrar de começar a
viver? Cego, sem planos, vamos apenas arrumar nossas coisas
e ir para Gibraltar e nos casar. Dez e dez e vinte e vinte, Ollie.
Estou tão pronta. — Pronta para casar com ele. Pronta para
ser Mia Masters. Pronta para finalmente sentir o oceano contra
meus pés, ansiosa por aquelas ondas geladas de liberdade
desde que o vi em Dolor em nosso primeiro ano.

As covinhas se aprofundam quando um sorriso se


espalha sob seus olhos verdes brilhantes. É o mesmo sorriso
que eu tinha visto do outro lado da sala durante o café da
manhã em Dolor, no final dos corredores enquanto as aulas
mudavam, e em seu dormitório enquanto ele me observava
dançar no meio da noite. Por toda a morte e escuridão que
passamos, é seu sorriso iluminando nossa vida despedaçada.
Ele desmoronou paredes, agarrou a esperança e nos puxou das
profundezas do desespero, um único sorriso e, como se não
bastasse, ele me beija.

Conversamos sobre nossos planos para a viagem


enquanto colocamos as roupas em uma grande mala,
decidindo em dirigir até o porto de Portsmouth e pegar a balsa
para a Espanha. Descobriremos o resto na chegada, ambos em
um estado de êxtase natural e incapazes de pensar com
clareza.
— Não se esqueça dos passaportes. — Grito, trocando o
vestido de renda preta por algo mais confortável para viajar.
Ollie entra pela porta do nosso quarto com nossos documentos
nas mãos e os coloca sobre a mala. Ele já tinha mudado para
sua calça cinza e um moletom preto, seu cabelo castanho
penteado para trás. Seus olhos grudam em meus quadris
enquanto visto um jeans rasgado de cintura alta.

— Pare, eu posso ouvir seus pensamentos daqui, e não


temos tempo. A balsa sai em duas horas.

— Sempre há tempo para o prazer.

— Não do jeito que você faz. — Aponto, meus olhos


viajando até a protuberância que se estica dentro de sua calça,
e Ollie não faz nada para esconder sua excitação.

Ele ergue as sobrancelhas. — Viu algo que você gosta,


amor?

Tiro meu sutiã e o jogo sobre sua cabeça, e Ollie o pega


no ar antes de jogá-lo para trás, me pegar e me jogar sobre a
cama. — Seis minutos. — Ele suspira em meu pescoço, seu
comprimento cavando contra meu núcleo. Ele empurra meus
braços acima da minha cabeça e move sua boca sobre o meu
mamilo já duro. — Tudo que eu preciso é de seis minutos. —
Suas mãos seguram ambos os seios antes de arrastar para
baixo em meus lados. — Um para admirar você. Dois para
provar você. E três para me perder dentro de você. — E ele
engancha seus dedos no meu cós, tirando-os de mim. — Seis
minutos.
Ollie levou vinte e um.

A viagem até o porto de Portsmouth demorou apenas uma


hora e chegamos bem a tempo para a última chamada para
embarcar no navio branco com o logotipo azul marinho da
Brittany Ferry, com destino a Bilbao, na Espanha. Eu nunca
tinha estado em um barco antes, e meus olhos se deleitam com
um mundo totalmente novo vivendo dentro das paredes do
navio. Passarelas ao redor do navio revestidas de vidro, com
vista para o vasto oceano azul. Em todos os lugares que meus
olhos pousam, noto novas lojas, salas de jantar, bares e palcos
para entretenimento. Certamente, não poderíamos colocar
tudo dentro de uma janela de 36 horas no navio antes de
chegarmos à Espanha.

Quando chegamos ao nosso pequeno quarto, completo


com duas camas de solteiro, notamos que nossa mala já havia
chegado.

— Não se preocupe, amor. Não vamos dormir.

— Saco de lixo! — Alguém grita, e o único nome faz meu


queixo cair, meu coração na garganta e meus olhos
esbugalhados. Ollie ergue o ombro quando um sorriso maroto
se forma e coloca a cabeça atrás de mim. — Eu estava me
perguntando quando haveria uma porra de casamento. Dama
de honra, lembra? Eu chamei...

— Jake. — Eu choro, girando para vê-lo parado na porta,


ainda divagando com uma mão plantada sobre o batente da
porta. Liam se curva atrás dele, os braços cheios de bolsas e
sem fôlego. — Como no mundo... Quando... O quê?

Então estou em seus braços e Jake me levanta do chão


em um abraço de urso. — Ollie mandou uma mensagem, disse
que está na hora. Você acha que eu perderia os meus deveres
de madrinha?

— Eu disse a Ollie três horas atrás! — Eu me viro para


encarar Ollie, que está com os braços cruzados sobre o peito
enquanto relaxa contra uma mesa na pequena sala. Lágrimas
caem livremente pelo meu rosto. — Eu te disse umas três horas
atrás! Como?

Ollie apenas ergue os ombros novamente em resposta.

Jake ergue o punho no ar. — Eu sou dama de honra,


vadias!

A temperatura perto dos dez graus traz fortes ventos


contra o navio, vindos do golfo da Biscaia, e nós quatro nos
amontoamos na popa do barco. Com o pôr do sol veio um céu
de fogo, queimando o dia com as mesmas cores que você veria
em um campo de batalha. Parece que uma eternidade havia se
passado desde o funeral da Sra. Morrigan e sua despedida de
Cora, mas foi apenas algumas horas atrás, e nós conquistamos
o dia sombrio, e a noite está próxima. O reflexo do sol poente
ricocheteia na baía de um azul profundo, criando estrelas
sobre a água. Ollie me segura mais perto.

O jantar havia passado e nós bebemos um ponche quente


de maçã com especiarias. O Bourbon quente misturado com
canela desce pela minha garganta, aquecendo meu peito com
os ventos frios de outubro.

— Ainda não consigo acreditar, — Jake balança a cabeça,


— Lynch é seu pai.

— Maldito inferno, eu comi a filha do Diabo, — Liam


murmura, o cabelo curto, combinando com o de Jake. —
Perdoe-me, Senhor, porque pequei.

— Não me lembre, cara. — Ollie rosna.

— Lynch não é tão ruim. — Digo, recostando-me no corpo


alto de Ollie. — Nós almoçamos uma vez por semana agora em
Shere Village. Ele tem um senso de humor seco que eu nunca
havia notado antes. Mas chega de falar de Lynch, quero ouvir
o que vocês dois têm feito.
Jake e Liam trocam um sorriso, e Jake se vira para mim
enquanto Liam corre a palma da mão pelo braço coberto de
Jake. — Vamos nos mudar antes do feriado.

— Oh, Jake, isso é incrível. — Pego sua mão livre e aperto.


— Para onde vocês estão se mudando?

— Liam é na verdade de Manchester, e eu de Windsor,


então a longa distância tem nos matado nos últimos seis
meses. Contanto que ambos possamos encontrar trabalho
dentro ou fora de Londres, é para lá que vamos. — Jake olha
para Liam, seus olhos azuis brilhando. — Liam tem um
emprego em uma empresa de tecnologia, mas acredita que
pode se transferir. Estou de volta à escola, trabalhando meio
período.

— Para que você está na escola? — Pergunto, meus olhos


deslizando entre os dois e percebendo a maneira como eles
sorriem um para o outro.

— Eu quero obter meu diploma de professor.

Passamos o resto da noite recuperando o atraso enquanto


nossas bebidas transbordam. Por fim, a conversa se acalma e
nós quatro nos enrolamos nas cadeiras da piscina, enrolados
em travesseiros e cobertores sob as galáxias e o céu preto fosco
acima. Ollie e eu nos enredamos, olhando para as estrelas. —
Obrigada. — Eu sussurro, minha cabeça descansando em seu
pescoço quente. — Por Jake. Não tanto Liam, mas acho que
eles são um pacote agora.
O peito de Ollie retumba contra mim enquanto ele ri
baixinho.

— Não teria sido o mesmo sem Jake aqui. — Sua palma


segura minha bochecha enquanto ele pressiona seus lábios
contra minha cabeça, então volta seus olhos para o céu. —
Você diz que há algo sobre o nascer do sol, mas para mim, há
algo sobre o céu da meia-noite. Quando as luzes se apagam, o
mundo se abre. Quieto. Pacífico. — Um arrepio percorre Ollie,
e ele solta um longo suspiro. — O desconhecido não é tão
assustador quando é espetacular.

— O que você está propondo?

— Eu digo que depois do casamento, depois que eu


terminar com Dex, nós deveríamos sair e viajar pelo mundo.
Posso colecionar minha poesia e montar meu segundo livro, e
seria uma ótima oportunidade para sua fotografia. Podemos
marcar a equipe da Terra. Você e eu. O que você me diz, amor?
Você está pronta para uma aventura? — A emoção em seu tom
passa por mim, uma corrente elétrica de curiosidade.

Não pergunto sobre nossa casa, sobre Lynch ou a vida


que construímos nos últimos cinco meses. Viajar sempre foi o
sonho de Ollie, encontrar pessoas de todas as esferas da vida
e experimentar as maiores maravilhas que este mundo tem a
oferecer. E eu não quero nada mais do que capturar cada
sorriso e brilho em seus olhos. — Eu estou pronta.
Com um olho mal aberto, olho para um garotinho que
está olhando para mim, vestindo uma jaqueta inflável com a
cabeça coberta por um boné de malha bem puxado sobre a
cabeça. — Mãe! — Ele grita, apontando para mim e Ollie com
uma expressão distorcida. — Eles estão mortos?

— Zeke, querido, deixe esses dois pombinhos em paz, ok?


— A mãe grita na parte de trás do navio, e o órgão selvagem
dentro do meu peito sacode ao som de seu nome.

O menino a ignora, dando um passo para mais perto


enquanto o sol bate sobre nós, lutando contra os fortes ventos
marítimos do início da manhã. — Você está apaixonada? — Ele
pergunta ansiosamente, e um nó se forma dentro da minha
garganta. Tentando sacudir o choque me consumindo, balanço
a cabeça. — É para sempre? Porque mamãe diz que quando
duas pessoas dormem juntas, o amor é para sempre.

Minha cabeça se vira para Ollie, que ainda está dormindo


com um cobertor puxado até a metade do rosto, os olhos
fechados.

— Bem?

Está claro, e aperto os olhos enquanto as emoções


ameaçam se espalhar pela popa e nas águas azuis.
— O amor é para sempre, — eu confirmo, aliviando sua
mente curiosa. — Nós somos para sempre.

O menino sorri, dá as costas para mim e sai correndo pelo


navio até a mãe, gritando: — Eles não estão mortos, mãe. Eles
estão apaixonados, para sempre!

— Oh, isso é bom, querido. — Sua mãe comemora,


mandando-me um aceno.

Aceno de volta e me enrolo sob as cobertas, os olhos bem


abertos com cada cabelo levantado sobre minha pele gelada,
olhando para o mar com um sorriso espontâneo.

Com Ollie, aprendi a acreditar no impossível, no


inexplicável. Com Ollie, a magia existe. Eu poderia ter
simplesmente anotado como uma coincidência, mas a
presença de Zeke tomou conta de mim, e sei que não há mais
nada que possa ser. Zeke tinha me visitado, e talvez fosse sua
maneira de me avisar que nos veria nos casar do alto do céu.

Ollie se mexe contra mim, respirações saindo como leves


gemidos quando ele acorda. — Você sentiu falta do seu nascer
do sol, amor?

— Sim, mas eu tenho algo melhor.


Depois de 36 horas no mar, estou pronto para voltar à
terra firme. O navio atracou em Bilbao, Espanha,
aproximadamente às seis da manhã, e ainda está escuro
quando descemos. Jake manteve sua palavra, e ele e Mia
ficaram acordados todas as horas da noite, planejando o
pequeno casamento enquanto bebiam bebida após bebida.
Ambos arrastados atrás de Liam e eu, Jake choramingando e
Mia escondendo o quão terrível ela se sentia sob o meu chapéu
de feltro enquanto ela calmamente continuava.

Rolando a mala atrás de mim, paro para ajustar a


mochila sobre meu ombro.

— Vamos, amor. Apenas mais alguns metros e você terá


seu café fumegante.

Mia resmunga, notificando-me que ela ainda está viva.


Olho para trás e vejo seu cabelo castanho emaranhado, jeans
rasgados e soltos e botas de combate, minúsculas dentro de
um dos meus moletons que é três vezes o seu tamanho.

Chegamos à lanchonete no porto, e Liam e eu pegamos


quatro cafés enquanto Mia e Jake se sentam na mesa
disponível mais próxima. Ainda está escuro, todos meio
adormecidos.
— Estamos na porra da Espanha. — Deixo cair um café
na frente de Jake enquanto ele geme. — Hora de acordar,
companheiro.

— Eu te odeio, Jake. — Mia afirma, e eu rio, entregando-


lhe o café.

— É sete de outubro. Temos três dias para chegar a


Gibraltar para nos casarmos em dez e dez e vinte e vinte.
Podemos pegar um trem pela Espanha, o que leva treze horas,
ou alugar um carro, que levaria dez se dirigirmos direto. —
Explico. — Eu digo que devemos pegar um carro. Vai ser
apertado, mas teremos mais liberdade.

Liam leva a xícara à boca. — Carro parece bom para mim.

— Mia? — Pergunto, movendo minha mão sob seu cabelo


para massagear sua nuca.

— Sim, estou pronta para o carro.

— O sol nasce em... — eu clico no meu telefone e olho


para a hora, — ... duas horas. Podemos tomar café da manhã
e passear um pouco antes de sair.

A Enterprise não abre antes das oito, então pegamos um


táxi para Casco Viejo e peço ao motorista que nos deixe em seu
lugar favorito para tomar café da manhã. Meu espanhol está
um pouco enferrujado, seu inglês recém-desenvolvido, mas
juntos, fizemos funcionar. Meus três companheiros de viagem
adormeceram no banco de trás enquanto eu iniciava uma
conversa com o motorista. Falar com estranhos sempre foi fácil
para mim, contanto que não fosse em áreas lotadas. Eu
prospero em ambientes íntimos como este, apenas eu e
Antonio, com uma aventura pela frente e cabeças sonolentas
atrás de nós.

Nos vinte e cinco minutos até Casco Viejo, descobri que


Antonio acabou de comemorar seu sexagésimo quarto
aniversário com seus sete filhos e quinze netos, com mais um
a caminho. Ele viveu na Espanha toda a sua vida, nasceu em
Madrid e se mudou para Bilbao por capricho. Ele tem olhos
escuros com mechas cinza rebeldes ondulando de suas
sobrancelhas animadas sob o chapéu estilo panamá. Por volta
das sete da manhã, seu sorriso iluminou as ruas estreitas da
cidade antes que o sol o fizesse.

— El Tilo de Mami Lou, — Antonio anuncia, parando o


táxi em frente à padaria belga. — Perfecto, para la dama con
un paladar dulce, hein?19 — Ele balança as sobrancelhas
espessas.

Eu disse a ele que minha noiva gosta de doces, e o velho


atendeu. — Perfecto, gracias, Antonio.20 — E dou uma gorjeta
extra com a moeda que troquei na balsa.

Os olhos de Mia brilham assim que entramos na padaria


com piso xadrez preto e branco sob nossos pés. Uma vitrine de
vidro diante de nós contém cupcakes, bolos, doces e pães
caseiros especiais. A pitoresca padaria tem um interior em

19 Perfeito para a dama com o paladar doce.


20 Perfeito, obrigado Antonio.
estilo barroco com mesas e cadeiras de bistrô. Peço
cappuccinos para nós dois, completos com um montão de
chantilly e canela, e dois croissants com glacê. Mia acrescenta
uma fatia de pão de abóbora com chocolate antes de
encontrarmos lugares do lado de fora do prédio, situado em
frente ao belo Teatro Arriaga, iluminado por holofotes no início
da noite.

— Oh-meu-Deus! — Mia geme após sua primeira mordida


em seu croissant. — Eu precisava tanto disso.

— Ah, ela está acordada. — Eu rio, bebendo o


cappuccino. Mia acena com a cabeça e dá outra mordida.

Cerca de quarenta segundos depois, seu croissant havia


sumido, e ela já está lambendo as gotas de chocolate derretido
de seus dedos enquanto Liam se desculpa para ir ao banheiro.

Passamos uma hora subindo e descendo o Riverwalk ao


lado do Estuário de Bilbao, parando quando o sol apareceu
acima dos prédios históricos. Rosa pálido, azul e amarelo
ricocheteavam na água do céu em mudança, e os postes de
iluminação antigos que alinhavam o canal apagaram-se, um
por um, quando a luz do dia chegou. Um novo dia, uma nova
aventura. Eu prendi Mia dentro dos meus braços contra a
grade, seu cabelo chicoteando sob o chapéu de feltro, enquanto
admirávamos o momento, absorvendo tudo. Baixei meus olhos
para ver os dela fechados com um sorriso preguiçoso elogiando
seu rosto e mergulhei minha boca roçando a borda de sua
orelha. Sua beleza misturada com a brisa matinal roubou meu
fôlego e, de repente, esqueci o que ia dizer.

Com a maravilha iluminada nos olhos castanhos de Mia,


nós quatro subimos e descemos as sete ruas do Casco Viejo
medieval. Sua câmera pendurada em seu pescoço, tirando foto
após foto. Paramos e almoçamos no Mercado de la Ribera, que
é um mercado tradicional composto por fazendeiros locais
dentro das paredes do prédio em estilo Art Déco. Todo o espaço
estava aberto, e a luz natural derramava-se pelo teto, refletindo
no piso luminoso enquanto comerciantes e viajantes trocavam
conversinhas e dinheiro pelo delicado interior floral. Não
ficamos muito tempo e apertamos muito em meio dia antes de
alugarmos um Suburban preto em uma Enterprise próxima,
antes de partirmos para nosso próximo destino.

Embora houvesse outra rota quase uma hora mais


rápida, pegamos aquela que nos conduzia pela cidade de
Madrid. No espelho retrovisor, olho para trás, onde Mia e Jake
caíram no sono logo após saírem da Enterprise. — Eles vão
dormir durante todo o caminho até Madrid. — Digo a Liam ao
meu lado, que está com a janela aberta e os olhos na estrada
movimentada à nossa frente.

Nunca em meus sonhos mais loucos eu esperava estar


sentado ao lado de Liam no meu caminho para me casar.
Durante nosso tempo em Dolor, nós dois nunca nos
importamos particularmente um com o outro. Não foi até eu
dar um tapa nele, acordando-o da negação, quando finalmente
viramos a página e desenvolvemos uma amizade. Liam cuidava
de Jake, e Jake era um dos melhores amigos de Mia, então, em
troca, eu não poderia ter deixado os dois de fora em um dia
importante. Embora o cara tivesse fodido minha noiva uma
vez, isso é água sob a ponte. Seus velhos hábitos... que
morreram muito depois que eu apareci e mostrei a ela a
verdade. Eu sempre senti a luz nela, ela iluminou a minha.

— Quem teria pensado. — Liam murmura, quase ouvindo


meus pensamentos. — Parece que foi há muito tempo, quando
Oliver Masters era um deus intocável em Dolor que eu
desprezava.

Uma risada sai dos meus lábios. — Deus intocável?

— As pessoas ouviam você, respeitavam você. Estávamos


trancados em um mundo de criminosos e usuários, mas você...
— Ele balança a cabeça. — Você não tem ideia, tem?

— Não, cara. Eu não tenho ideia do que você está falando.

Liam olha para Jake antes de afundar no banco do


passageiro. — Você inspirou muitas pessoas, Jake incluído.
Ele fala sobre você, sabe. O tempo todo, porra. — Ele exagera.
— Como você foi a primeira pessoa a falar com ele e aceitá-lo.
Quando ficamos juntos, eu estava com ciúmes, o que posso
admitir agora. Mas se não fosse por você, Jake não voltaria
para a escola para ensinar ou enfrentar o pai. Inferno, ele
olhou para você, companheiro. Ele viu como você estava com
Mia, com Zeke, Bria, Maddie, e criou coragem e uma nova
perspectiva de vida. Você fez uma mudança positiva dentro de
Dolor, e ainda me impressiona.
— Ser gentil pode ajudar muito. — Eu rapidamente
aponto.

— Claro, existe bondade, mas existe compaixão genuína.


Você tem uma centelha para as pessoas e para a vida. Você é
um bom homem, Ollie. Você com certeza me faz querer ser uma
pessoa melhor para Jake.

— É uma jornada sem fim. — Eu não gosto de falar sobre


mim, então mudo de assunto. — Os momentos vão chegar, e a
vida vai acontecer, mas ninguém é perfeito. Todos nós estamos
passando por esta vida esperando que todos pensem, andem e
falem como nós, mas é aí que erramos como sociedade, porque
diferente simplesmente funciona. A individualidade precisa ser
abraçada. Portanto, se Jake estragar tudo, não se precipite em
virar as costas para ele e vice-versa. Escolha um ao outro. Essa
é a minha lição de Ollie do dia.

Liam ri. — Obrigado, cara.

A conversa corre bem depois disso e, cinco horas depois,


chegamos a Madrid.

Na Espanha, o jantar só aconteceria por volta das nove


da noite, e paramos em um posto de gasolina para que eu
pudesse encher o tanque e os dois vagabundos que dormiram
a viagem inteira pudessem se refrescar e se trocar. Mia voltou
para o SUV vestindo jeans escuro rasgado, tão apertado que
poderia cortar a pele, com uma camiseta cinza casual
parcialmente enfiada na cintura, jaqueta de couro e botas de
combate. Meu coração para quando minha mão no gatilho do
acelerador não parou, transbordando do tanque e caindo sobre
meus sapatos. Jake solta uma gargalhada enquanto desliza
para dentro do banco de trás com um saco, jogando doce em
sua boca. — Todas às vezes. — Murmuro para Liam, colocando
o bico do bocal em seu lugar de descanso. — Essa garota me
pega o tempo todo.
VINTE E SEIS

“Sou uma criança de ontem brindando com velhos amigos


enquanto a noite é jovem; zumbido, ainda fresco, e se eu
devo morrer esta noite, me abra com um sorriso e me mate
com um beijo.”
─ Oliver Masters

— OLÁ, MADRID! — Jake grita do banco de trás da janela,


o punho erguido no ar em direção ao topo dos edifícios da
cidade. — Tem o cheiro de que esta cidade nunca dorme!

Olho para Ollie ao meu lado. — E como é esse cheiro?

Jake entra no Suburban enquanto Ollie vira à esquerda


em uma rua estreita e movimentada. — Como esgoto, cebola e
alho. — Ele respira fundo pelo nariz, — Sim, cheira como se
alguém tivesse jogado Nova York bem no meio da Itália.

— Você nunca esteve em Nova York ou Itália. — Liam o


lembra através de uma risada.

— Ei, eu ouvi sobre isso.

Nós quatro atravessamos as portas da Cacao Restobar,


onde as lâmpadas Edison se enrolam e balançam em volta dos
troncos das árvores do teto, e as paredes são curvas de tijolo
natural. O outro lado dá a ilusão de uma caverna, e
encontramos uma mesa contra uma janela coberta de barras
de ferro com vista para a cidade. Bato na janela com o dedo.
— Isso me lembra de Dolor.

Liam revira os olhos. — Foda-se Dolor.

Ollie me surpreende, sendo o único que sabe um pouco


de espanhol, e pede todas as nossas bebidas e comidas depois
de insistir para confiarmos nele.

— Isso foi impressionante. Como diabos você sabe


espanhol? — Eu pergunto, arqueando uma sobrancelha.

Ollie aperta os lábios, lutando contra um sorriso humilde.


— Como eu deveria viajar pelo mundo e falar com as pessoas
sem aprender como elas falam?

Liam se inclina na mesa em frente a ele, intrigado. —


Quantas línguas você sabe?

— Comecei a aprender sozinho há muito tempo, eu sei


um pouco aqui e ali. Na maior parte, tudo é semelhante depois
que você domina um, o resto vem fácil. Espanhol, italiano,
grego, francês... Posso entender, mas estou enferrujado de
falar, pois não as falo com frequência.

Os olhos de Liam se arregalam e ele deixa cair os dedos


sobre a cabeça e faz um som de bomba, imitando sua mente
sendo explodida.
Nossas bebidas chegam, decoradas com guarnições de
frutas e flores. Ollie agarra seu copo d'água e todos nós
brindamos a Madrid, aos amigos e às habilidades de falar
espanhol de Ollie.

Depois de comer tapas e pinchos21 tradicionais, descemos


a colorida Rua Cava Baja com faixas multicoloridas e panos
pendurados acima de nós. Os locais dedilham as cordas de seu
violão, batem sua bateria, tocando ritmos hipnóticos para cima
e para baixo nas vielas lotadas enquanto as pessoas se
aglomeram ao nosso redor, dançando e curtindo a noite.

— Apenas beba cara. — Diz Liam sobre a música para


Ollie. — Nós vamos conseguir um hotel aqui esta noite. São
suas férias. Divirta-se.

Ollie se vira para mim e balança a cabeça.

— Oh, pelo amor de Deus, Ollie. — Agarrando sua mão,


puxo-o para o bar ao ar livre mais próximo e peço um mojito
para soltá-lo.

E uma hora depois, Ollie tem um sorriso permanente


contornando suas covinhas. De jeans preto, camisa cinza de
manga comprida e tênis branco brilhante, como ele os chama,
Ollie dança atrás de mim, suas mãos movendo-se para baixo
em meus lados e agarrando meus quadris, puxando meu
traseiro contra sua virilha. A batida da música aumenta
nossos movimentos e ecoa pela rua festiva. Como se ele fosse

21 Aperitivos populares na Espanha.


uma extensão de mim, Ollie combina cada balanço meu. A
respiração fica pesada, o suor escorre por nossa pele e me viro
em seus braços quando sua testa cai sobre a minha. Com
nosso zumbido pesado e vivo, Ollie lambe os lábios enquanto
eu rolo para ele. — Ah, droga, amor.

Rindo e tropeçando em um hotel, pegamos um elevador


até um bar na cobertura, onde uma ponte de vidro fica acima
da cidade de Madrid. Bebidas geladas frescas congelam nossas
mãos, e nós quatro admiramos o horizonte, tendo uma vista
completa de 360º. Fortes ventos de outubro nos atingem de
todas as direções e meu cabelo sopra descontroladamente. —
Não olhem para baixo. — Liam anuncia, e o resto de nós olha
para baixo contra sua instrução através da ponte de vidro.
Pessoas, carros e luzes rolam sob nossos pés como se o mundo
tivesse virado de cabeça para baixo e estrelas brilhassem
abaixo.

— Isso é incrível. — Eu sussurro. — Você pode ver o


mundo daqui de cima.

Liam passa os braços em volta de Jake, e eu nunca tinha


visto os olhos azuis de Jake tão cativados, mas ele não está
olhando para a vista. Jake está olhando nos olhos de Liam. É
minha visão favorita esta noite até agora.

E em nossa única noite em Madrid, nós a reivindicamos


como nossa.
Na manhã seguinte, todos nós acordamos no mesmo
quarto de hotel, gemendo. Liam adormeceu ao lado do vaso
sanitário sobre o chão do banheiro enquanto Jake dormia
confortavelmente na segunda cama Queen-size. Durante toda
a hora, todos nós nos revezamos dentro e fora do chuveiro,
enquanto Liam e Jake comicamente ignoravam um ao outro.

Liam ficou ao lado de Ollie na recepção enquanto Jake e


eu pegamos o SUV.

— Você deveria apenas falar com ele. Ele está bravo por
você o ter deixado no banheiro. — Explico enquanto Jake puxa
o carro até a entrada do hotel para esperar por Ollie e Liam.

— Vai ficar tudo bem. Nós passamos por isso o tempo


todo, e acho que ele gosta disso. O pau de Liam foi chicoteado.
Ele vai superar isso quando chegarmos a Gibraltar. — Jake
diz, e aperto minhas sobrancelhas e estreito meus olhos. — O
que? Não acredita em mim? Isso é coisa nossa. Nós brigamos
por merdas estúpidas apenas para ter certeza de que o outro
ainda se importa e para ter um motivo para sexo com raiva.

— Sexo com raiva é realmente uma coisa?

— É totalmente uma coisa.

Jake foi transferido para o banco de trás com Liam


enquanto Ollie desliza no banco do motorista com dois cafés,
e pelas próximas cinco horas, nós viajamos em um silêncio
confortável até Gibraltar.

Chuto meus pés no painel e deixo a janela pela metade.


A mão de Ollie descansa sobre minha coxa enquanto flutuo
com a brisa pacífica, correndo por todo o país da Espanha, em
movimento para celebrar uma fantasia que sonhamos em
nossas cabeças por tanto tempo. A vista me captura a cada
milha que passa, e o sol quente bate em meu rosto enquanto
minha mão surfa pelo vento fora da janela.

Ollie aumenta o volume do rádio, as promessas


quebradas diminuem e ele olha para mim, seus olhos
dançando com seu sorriso de nocaute. Uma criança vive dentro
de nós, vendo o mundo com olhos novos e nada esperando,
apenas perseguindo a liberdade tendo a estrada aberta como
nossa musa.

Eu poderia imaginar isso, viajar por todo o mundo com


ele. Excitação bombeia dentro de mim com o mero
pensamento, e mantenho meus olhos abertos para não perder
nada.

E por volta do meio-dia, chegamos. O Estreito de


Gibraltar fica na beira da península, e Ollie estaciona o carro
em frente às águas azuis cristalinas e à praia de areia branca.
Eu pulo do SUV, correndo para a costa sem esperar por mais
ninguém.

— Mia, seus sapatos! — Ollie grita entre risos atrás de


mim.
No caminho para baixo, meus dedos trabalham horas
extras para desfazer meus cadarços antes de tirar minhas
botas e meias, deixando uma trilha em meu caminho. Emoções
queimam em minha garganta. Lágrimas ardem em meus olhos.
A memória de nós dois anos atrás me invade.

— Qual é a primeira coisa que você vai fazer quando sair


daqui? — Ollie pergunta, seus dedos enfiando em minhas
longas mechas enquanto eu deito sobre seu peito.

Não tenho que pensar sobre isso. — Colocar meus pés na


água. E você?

— Encontrar você... E depois te levar para o oceano. — Ollie


simplesmente diz, e ele não pode ver, mas estou sorrindo. — Eu
quero uma vida com você, Mia. Eu nunca quis nada mais. Você
acha que podemos sobreviver nos próximos dois anos? Acha que
vamos conseguir?

Um suspiro deixa meus lábios. — Deus, eu espero que sim.

Há um salto repentino em sua respiração. — Eu não posso


perder você. — Ele sussurra.

— Você não vai.

A areia voa enquanto corro e não paro até que meus pés
descalços atinjam a costa gelada e uma onda quebra contra
meus tornozelos. Meus olhos se fecham, acumulando lágrimas
que não deveriam cair.

Então o peito de Ollie encosta-se às minhas costas


enquanto nossos dedos se entrelaçam. — Agora, amor. — Ele
sussurra em meu ouvido por trás. — Agora, abra os olhos.

Pisco meus olhos abertos e as lágrimas caem livremente.


Cada uma por tudo que passamos para nos trazer aqui. A
escuridão. O tormento. A morte. Uma por uma, elas deslizam
sobre minhas bochechas enquanto Ollie passa os braços em
volta de mim. A água nadando entre meus pés é um lembrete
de que este mundo é muito maior do que Dolor e as misérias
de nosso passado. Momentos não descobertos, territórios não
percorridos, uma jornada inteira à nossa frente para ser
conquistada. Tínhamos chegado até aqui, mas nunca nos
esqueceremos de onde viemos ou quem encontramos ao longo
do caminho.

É 10 de outubro de 2020.

Dez e dez e vinte e vinte.

Jake tinha tudo sob controle, e não importa quantas


vezes eu silenciosamente repita isso para mim mesma, não
acalma os nervos trabalhando contra minha corrente
sanguínea. Ollie e Liam se mantiveram ocupados ontem,
enquanto Jake e eu fomos comprar vestidos.

— Você tem que usar um vestido, Mia. Você não é um


animal, pelo amor de Deus. — Foram suas palavras exatas
quando eu disse a ele que estava bem com uma camisa e jeans.
E eu comprei um contra o meu melhor julgamento, esperando
não estar vestida demais para a ocasião e não tendo ideia do
que veria Ollie usando assim que chegássemos.

Meu reflexo olha para mim no espelho enquanto Jake


brinca com meu cabelo, levando a madrinha de casamento a
outro nível. — Você tem alguma ideia do que está fazendo? —
Pergunto, música tocando em meu telefone em algum lugar
sobre a cômoda, escondendo-se entre a maquiagem e as
ferramentas que ele está usando.

— Shhh... — Ele diz, dando um tapinha no topo da minha


cabeça. — Você está distraindo o artista.

— O artista está pressionando.

Jake gira a cadeira da escrivaninha, afastando-me do


espelho. — Não há mais visão. Você verá quando eu terminar.

Assim que um gemido me deixa, uma batida soa na porta


do quarto do hotel.

Jake larga o pincel sobre a cômoda e me diz para sentar


firme com um dedo na frente dele. — E não olhe. — Ele
acrescenta antes de desaparecer. A porta se abre e Jake solta
um grito, voltando para o quarto. — Ok, estou oficialmente
com o cara errado. — Ele diz, e em seus braços está um buquê
de rosas de origami com estopa e uma fita rosa claro amarrada
em volta das hastes de madeira. Meu coração dá um salto
dentro do meu peito e luto contra as lágrimas de felicidade que
ameaçam estragar meu rímel.

Jake examina as rosas. — De que livro são estes?

Lutando para respirar, arranco uma rosa do buquê e


meus olhos pousam na poesia de Ollie. — É a nossa história
de amor.

Jake me entrega um bilhete e uma lágrima escapa do


canto do meu olho quando o abro.

Mia,

Eu sei o que você está pensando, mas não... não é nossa


história de amor...

Com a visão embaçada, deixo escapar uma pequena


risada.

Isso é tudo que escrevi desde o dia em que te conheci. Você


me dá tanto amor e vida, meu coração nunca poderia ser grande
o suficiente para contê-lo. Então, eu sangro no papel, chame isso
de amor carmesim. Chame isso de poético. Mas não é nossa
história de amor, porque meu amor por você nunca acaba. Você
e eu, estamos enraizados desde o início dos tempos e
continuamos a voar além da lua e do sol, os mesmos dois seres
que você observa todas as manhãs durante aqueles pequenos
momentos sagrados na esperança de nos tornarmos tão
atraentes. O que você pode não entender, é que você tem tanta
luz e beleza já vivendo dentro de você, você coloca galáxias de
joelhos e estrelas escurecem de inveja.

Você é meu nascer do sol, amor.

Estou lhe dizendo isso agora porque tenho medo de não ter
palavras na próxima vez que te ver. Passei os últimos meses
cumprindo todas as promessas que fiz a você, dessa forma,
enquanto escrevo as palavras a seguir, você acredita que elas
não são vazias. Prometo ser sempre o homem digno de cada
segundo que passar em sua presença. Para ser digno de seus
sorrisos, triunfos, beijos e, sim, até lágrimas. Obrigado por fazer
o sonhador em mim nunca mais querer dormir de novo...

Sempre,

Ollie

Solto um longo suspiro pelos lábios trêmulos, incapaz de


segurar por mais tempo. Eu preciso vê-lo. Passaram-se pouco
mais de doze horas e Jake colocou regras que meu coração não
aguenta.
— Não, não, não... pare! — Jake insiste, estendendo os
braços para os lados. — Mia Rose, você não vai estragar isso
para mim! — Puxando minhas mãos sobre o rosto, enxugo as
lágrimas enquanto Jake rosna, puxando lenços de uma caixa.
— Eu sabia. Assim que eu vi aquela carta, eu sabia disso... —
Ele continua a murmurar enquanto enxuga o lenço sob meus
olhos. — Pronto, e sem mais lágrimas de felicidade. Você verá
o homem em uma hora. Então pode chorar o quanto quiser.

Um pouco mais de uma hora depois, Jake e eu paramos


na frente do espelho de corpo inteiro preso atrás da porta do
armário no quarto do hotel enquanto seus dedos continuam
tocando meu cabelo.

— Jake, ele está esperando. — Eu choramingo, saltando


sobre o tapete com os pés descalços. — Está bem. Estou bem.

O vestido é uma mistura entre boêmio e praiano, com


detalhes em renda até o chão. O que Jake levou mais de uma
hora no meu cabelo poderia ter levado dez minutos, minhas
mechas emoldurando meu rosto em ondas quase naturais. A
maquiagem, porém, é impressionante. Eu nunca soube como
usar as ferramentas, e Jake aplicou olhos pesados com maçãs
do rosto bronze e lábios rosa-pink. Minhas sardas ainda
brilhando através do rubor de luz.

— Uma última coisa. — Jake desaparece enquanto


admiro seu trabalho. — Ah, aqui está. — Ele aparece atrás de
mim e coloca uma coroa de flores na minha cabeça. —
Perfeição absoluta.
— Eu nem sei o que dizer. — O choque nunca poderia
cobrir isso, estou pasma. — Nunca pensei que alguma vez
ficaria assim, ou mesmo que estivesse aqui com um vestido
branco. Irei me casar. Essa psicopata vai se casar, — me virei.
— Não mereço isso, Zeke. Eu não o mereço. Isso é demais. —
Eu divago, entrando no modo de surto.

Jake cruza os braços, sorrindo.

— Por que você está sorrindo? O que é tão engraçado?

Ambas as palmas das mãos pousam em meus ombros. —


Você acabou de me chamar de Zeke.

Balanço minha cabeça. — Não, eu não fiz.

— Sim, você fez.

Meus dedos agarram minhas têmporas, massageando


círculos enquanto caminho pela sala. — Estou oficialmente
perdendo o controle.

— Mia, me escute. Você me chamando de Zeke significa


que você o sente. Ele está aqui, pronto para ver você se casar
com a porra do Oliver Masters. Você realmente quer
desapontar Zeke?

— Você acha? Ele está aqui?

— Claro, ele está aqui. É ele quem está te acompanhando


pelo corredor.
Mia está atrasada, mas poderia ser por causa de Jake.
Liam fica me lembrando disso a cada cinco minutos na
esperança de tirar os nervos dos meus ombros, mas não ajuda.
Memórias de seis meses atrás, esperando do lado de fora dos
portões de Dolor por ela me encontrar, não vão embora. As
memórias apenas me atormentam.

Nós três ficamos ao lado do Rochedo de Gibraltar sobre a


areia branca, o oceano como nossa testemunha. Não há
cadeiras, música, família – apenas Liam, Christy e eu,
esperando a chegada de Mia e Jake. Christy é a senhora nos
casando, com cabelo loiro curto e um vestido rosa conservador.
Ela não é local, e eu só sei disso porque não consigo parar de
fazer perguntas sobre ela mesma para distrair o tempo. Christy
se casou exatamente neste local há quatro anos e nunca
deixou Gibraltar. — Este é o mesmo lugar onde John Lennon
se casou. — Ela me informa, parada sob um arco sob o sol da
tarde.

— Oh, sim? — Eu sei disso, Deus, eu já sabia, mas minha


cabeça está em outro lugar... Onde quer que Mia esteja no
momento.

Onde você está, amor?

Ajusto meu colarinho e aliso minha calça cáqui,


pensando que talvez a carta que eu escrevi a assustou. Mas
assim que esse pensamento vem à mente, um vento leve sopra
por nós, aliviando todas as minhas dúvidas. Os últimos dois
anos passaram na minha cabeça, e como me apaixonei antes
que seus lábios colidissem com os meus. Minha cabeça cai
para trás para enfrentar o sol, falando contra a brisa fria de
outubro. — Obrigado, irmão. — Fecho meus olhos quando
Liam bate no meu ombro.

Minha cabeça salta para frente e... Mia...

Lá.

Está.

Ela.

Esta é minha garota, minha eternidade.

E lá estão minhas mãos, tremendo.

Belisco a ponta do meu nariz para lutar contra o que


minhas emoções estão fazendo enquanto Mia está na minha
frente, a três metros de distância. Eu quero correr para ela,
mas não consigo me mover. Quero dizer a ela como ela está
linda, mas não consigo tirar meus lábios do formato do meu
sorriso. A única coisa que consigo fazer é passar a palma da
mão trêmula no meu rosto para remover as lágrimas e vê-la
melhor. Ela é real ‘pra’ caralho, e ela está aqui.

Mia caminha em minha direção com seu sorriso de parar


o coração, e o mundo inteiro silencia. Christy já tinha
começado a falar, mas eu não consigo ouvir nada além do meu
coração batendo forte em meus ouvidos. Jake está atrás dela,
e eu não tinha notado ele se aproximando. A única coisa na
minha frente é Mia, consumindo todos os meus sentidos.

Seguro ambas as mãos dela nas minhas. — Oi, amor. —


Eu sussurro, perdido em seus olhos castanhos café.

— Oi. — Ela sussurra de volta, o olhar disparando entre


Christy e eu.

Christy pergunta se temos algo a dizer, mas ‘oi’ foi a única


palavra que consegui dizer, e eu sabia que isso aconteceria.
Mia sempre roubou palavras da boca daquele poeta
ensanguentado, transformando-as em estrelas e iluminando o
céu.

— Eu tenho algo a dizer. — Mia diz, me surpreendendo.


Christy acena com a cabeça, dando-lhe a palavra, e então me
sinto estúpido por estar tão fraco naquele momento. — Você
me escreveu uma carta hoje. — Mia sorri com os olhos
brilhantes. — E eu não planejava dizer nada, porque você
sempre foi melhor com as palavras e explicando como se sente.
Então, isso pode não sair direito... — Eu aperto a mão dela,
deixando-a saber que é só ela e eu, e ela luta contra as lágrimas
antes de continuar. — Mas a sua carta me lembrou daqueles
pores do sol que eu vejo todas as manhãs, e aquele momento
sagrado em que a luz e a escuridão podem coexistir, criando
algo belo no céu. Eu sempre fui a escuridão, mas você sempre
foi a luz, Ollie, e juntos, nosso amor queima em cores. Você é
cada um de meus belos momentos sagrados e prometo ficar
para o resto da minha vida.

A mão de Mia enxuga meus olhos e beijo sua palma.

Christy continua, e trocamos votos.

Mia diz sim. E há uma explosão dentro do meu coração


quando pego seu rosto manchado de lágrimas em minhas
mãos, desesperadamente pegando seus lábios com os meus.
Ela tem gosto de oceano e liberdade, e eu afundo naquele beijo.
Os lábios se movem como água com aquele beijo. Línguas
lentamente roçam, corações batem descontroladamente e
planetas colidem com aquele beijo. Quero que ela me leve
embora e viva dentro de nossos sentimentos para sempre. A
ovação dispara ao nosso redor e nossas testas se conectam
quando abro os olhos. — Eu te amo, amor.

Mia sorri com um brilho natural em seus olhos castanhos


dourados. — Eu te amo.
VINTE E SETE

“Você é minha reviravolta na história mais inesperada,


lembrando-me de nunca ser pego na rotina mortal da vida.
E pela primeira vez, eu não estou com medo.”
─ Oliver Masters

INSISTO em carregar Mia por cima do ombro e passar pela


porta. Havíamos passado as últimas horas celebrando,
dançando e bebendo com Liam e Jake.

Mia está oficialmente bêbada. Ou talvez eu seja o único


perdido. Eu não consigo mais dizer.

Tudo depois da cerimônia é um borrão.

— Oh-meu-Deus. — Mia sussurra atrás de mim.

Paro no meio do quarto do hotel com meu braço


segurando a parte de trás de suas coxas. Mia dançou no
oceano à meia-noite, ensopando a barra do vestido onde a areia
gruda na renda. — O que?

— Não temos nenhuma porra de fotos. — Ela grita,


batendo na minha bunda.
— Oh, há fotos, amor. — Eu rio, então continuo minha
caminhada até o banheiro. — De você dançando, fazendo foto
após foto, sem mencionar o incidente da mesa. — Noto as
portas da varanda abertas, taças de vinho colocadas e uma
garrafa de champanhe preparada em um balde de gelo do lado
de fora no terraço. Música toca dentro do quarto com pétalas
de rosa espalhadas pela cama. O Rock Hotel é chique, e Jake
deve ter planejado isso para nós.

Mia se encolhe em meu aperto. — Eu não fiz.

— Você fez.

Surpreendentemente, chego ao banheiro sem deixá-la


cair e paro na frente do espelho. Minha postura oscila, mas
meus olhos se fixam na maneira como sua bunda parece no
reflexo por cima do meu ombro. Mia se mexe em meus braços,
sua risada nas minhas costas.

Puxo seu vestido para ver melhor, e a calcinha de renda


branca agarra-se ao seu sexo como uma segunda pele. — Pelo
amor de Deus, Mia. — Eu rosno, movendo minha mão livre por
sua coxa nua e sobre sua bunda redonda perfeita. Meu
membro estica dentro da minha calça enquanto o zumbido
corre para o único lugar que anseia por estar dentro dela. A
maneira como ela olha por trás prende meu olhar, queimando
desejos animalescos dentro de mim.

— Ollie. — Ela choraminga, mas meus dedos continuam


a vagar, roçando para cima e para baixo em sua fenda sobre
sua renda branca.
— Fique quieta, amor. Eu só quero olhar para você. —
Estico sua calcinha para o lado com uma mão para revelá-la.
Meus lábios se separam, minhas bolas apertam, e eu não
consigo tirar meus olhos da vista enquanto o oxigênio está
preso dentro dos meus pulmões.

Claro, ela não ouve, pressionando seu traseiro contra os


dedos enquanto eu a acaricio, querendo mais. O licor fluindo
por mim força meus dois dedos na minha boca, então sobre
sua entrada apertada, fazendo círculos enquanto ela brilha. Eu
assisto, amassando seu buraco apertado e avançando
lentamente para dentro, meu polegar raspando seu pequeno
clitóris. As pernas de Mia tremem e meus dedos se curvam.
Um fogo arde em minha pele até minha virilha. — Você não
tem ideia do que isso está fazendo comigo agora. Você é tão...
Fodido Cristo, Mia. — Eu rapidamente caminho para a cama
antes de jogá-la para baixo, mudando de ideia sobre o
chuveiro. Preciso dela agora, e ela se deita sobre os lençóis
brancos como nuvem em seu vestido de noiva enquanto fico de
pé sobre ela, olhando-a.

O vestido abraça seu corpo minúsculo, um mergulho


profundo no meio de seu peito, e meus olhos tocam cada
centímetro de minha esposa. Mia ergue os braços sobre a
cabeça, onde a coroa de flores cai, e ela vira a cabeça para fora
da varanda antes de suas sobrancelhas se franzirem. — Ollie...

Um caroço se aloja na minha garganta com a forma como


ela parece, e tento engolir de volta antes de dizer: — Sim?
Seus olhos voltam para mim. — A porra de um macaco
está nos observando.

— O que? — Eu rio, sem saber se a ouvi corretamente ou


se o número de fotos que tirei distorceu suas palavras.

Ela aponta para a varanda. — Um macaco está olhando


para mim agora.

Olho para trás e, com certeza, um macaco marrom está


sentado no parapeito do terraço, olhando para trás. — Você
está certa. — Eu viro minha cabeça de volta para ela. — O que
nós fazemos?

— Não sei, — seus olhos vão e voltam do macaco para


mim. — Não consigo ficar nua com ele olhando para mim, Ollie.
É estranho.

E eu terei certeza de que o pequeno macaco não irá


estragar a noite ou minhas chances de Mia não se despir para
mim. Marcho em direção ao terraço e aceno minhas mãos na
minha frente, com Mia rindo por trás. — Cai fora! — Eu
sussurro e grito, e os olhos do macaco se movem atrás de mim
para Mia mais uma vez antes de ir para a próxima sacada.

Eu me viro e meu olhar colide com o de Mia, que está


parada ao pé da cama com um sorriso delicado. A alça de seu
vestido cai de um ombro e seus olhos me capturam,
implorando para que eu a tire dele. Alguns passos à frente, e
me ergo sobre Mia e caio sob seu feitiço, totalmente perdido
nela. Um momento de vertigem, me deixando fraco e
fortalecido, sem saber se devo ou não cair de joelhos ou
arrancar o vestido e cruzar linhas, limites e horizontes.

Meus dedos dançam sobre as alças atrás dela, e abro o


zíper do vestido até a base de suas costas. Mia permite que o
vestido escorregue de seu corpo para o chão, acumulando-se a
seus pés, e meu coração bate forte dentro do meu peito. Ela
fica nua, e as pontas dos meus dedos percorrem suas linhas,
de sua clavícula até o comprimento de seus braços. Meus
dedos coçam para tocá-la, afogando-se no desejo de viajar por
esta mulher.

Mia olha para mim com olhos ternos, arrepios brilhando


em sua pele de marfim. Um rubor enfeita suas bochechas. Sóis
dourados brilham em seus olhos. O ecstasy puxa seus lábios.
Eu me abaixo e a beijo, já um caso perdido.

Mia agarra meu bíceps enquanto eu a levo de costas para


a cama. A parte de trás de seus joelhos atinge a borda antes
que ela se sente, e meus lábios se movem como um grito,
minhas mãos lentas como um sussurro. Meu peito queima
com o meu coração batendo, pronto para se libertar de sua
gaiola e voar com o dela. As emoções fazem minhas mãos
tremerem e Mia se afasta. — Pare de pensar. — Ela sussurra
contra meus lábios, seus dedos enganchando em meu cinto.
— Deixe ir e faça amor comigo, Ollie.

Meu cinto se desfaz. Meu botão e meu zíper são desfeitos.


Minha mente maldita se desfaz quando ela puxa meu pau
pulsante para fora e arrasta sua língua ao longo da parte
inferior do meu eixo, e a batida suave da música segue meus
dedos por seu cabelo. A respiração fica presa no meu peito
enquanto ela me leva fundo, e eu me inclino para frente com a
pressão crescente. Seu pescoço torce, conquistando um ângulo
diferente e ameaçando meu controle. E quando seus olhos se
erguem para os meus, luto para me afastar.

Mas eu fiz... porque preciso mais de nossa conexão.

Deitando-a de costas na cama, rastejo entre suas pernas


e subo por seu torso. As unhas de Mia se arrastam pelas
minhas costas quando minha respiração atinge seu pescoço
antes dos meus lábios. Peitos roçando, minha palma desliza
até sua coxa e eu a enrolo em volta da minha cintura.

Então entro nela lentamente até que tudo de mim esteja


nela. Molho meus lábios enquanto ela segura meu rosto,
movendo minha boca para a dela. Juntos, perseguimos
alturas, observamos estrelas e transcendemos o tempo, um
eclipse selvagem entre os lençóis, voando dentro de nossa
supernova. A luz da lua vem de fora do terraço, traçando
sombras em sua pele, mas as sombras não podem apagar a
sensação colorida queimando entre nós, assim como ela disse.

Corpos escorregadios. Meu nome em seus lábios. Seu


gosto no meu. Chegamos ao nosso céu. Terra tremendo, corpo
tremendo. Pecando e adorando, há uma inocência lutando
contra uma fúria, e a noite toda foi gasta em chamas,
indefinidamente, como se fosse nossa própria religião.
No momento em que sua cabeça pousa no meu peito, meu
coração batendo forte contra sua bochecha, quero nos envolver
nas estrelas e viver lá para sempre. Em momentos como esses
eu tatuo sobre a minha carne para que possa sempre ser
bonito, e ela sempre poderia admirar a maneira como ela me
faz sentir.

É verdade, deveria haver uma vida inteira desses


momentos, mas também há um pequeno aperto fugaz dentro
do meu peito, me lembrando de que o pior ainda está por vir.
Mia adormece em meus braços, mas eu fico acordado, lutando
contra os demônios depois que meu nascer do sol fechou seus
olhos. Ainda há um homem para matar e um problema para
cuidar. Ghost e Dex. Eu prometi a ela o para sempre, mas
ainda estou fugindo das decisões desesperadas do meu
passado.

Nos afastamos de Liam e Jake para explorar Gibraltar. O


tempo está perfeito, pouco mais de vinte e um graus, e visto
um short jeans cortado e uma blusa cor de creme com um boné
trançado que Ollie comprou para mim em Madrid na cabeça.
Peguei minha câmera antes de sairmos em busca de café.
Nunca fomos pessoas que tomam muito café da manhã, alguns
doces e estamos sempre prontos para ir. Mas houve muitas
noites em que tomamos café da manhã para o jantar, e as
panquecas de chocolate de Ollie rapidamente se tornaram
minhas favoritas.

Foi uma caminhada difícil pela íngreme escadaria


mediterrânea até o ponto mais alto de Gibraltar, situado 435
metros acima da praia de areia branca onde nos casamos no
dia anterior. Outro turista tirou uma foto de nós dois parados
na charneca, o vento ameaçando nos levar para longe. Daqui
você pode ver a costa da África no Estreito de Gibraltar. — Você
vê aquelas montanhas à distância? — Ollie me pergunta contra
o vento, seus olhos brilhando com a vista. Eu balanço a cabeça
e ele continua: — Isso é o Marrocos.

Depois de descermos, exploramos a Caverna de St.


Michaels e os túneis do Grande Cerco antes de irmos para a
cidade para almoçar. Depois de dois pratos de fideos al horno,
que nada mais é do que um macarrão chique, mostro a ele
todas as fotos que havíamos tirado. — Olhe para estas. — Eu
digo.

— Estas são brilhantes. — Ollie balança a cabeça com a


boca cheia de comida. — Eu as quero no meu próximo livro de
poesia.

Coloco minha câmera para baixo enquanto o calor sobe


para minhas bochechas com o mesmo sorriso que eu sempre
uso quando ele está por perto.

— Ollie, você não precisa dizer isso só porque me casei


com você.
— Estou dizendo isso porque elas são muito boas. Meu
próximo livro, minha poesia e sua fotografia. Não sei por que
não pensei nisso antes. — Quando Ollie dá sua próxima
mordida, um grito agudo sai da minha garganta quando um
macaco agarra minha câmera da mesa ao meu lado e dispara
pela cidade. Ollie larga o garfo e salta da cadeira, correndo
atrás do ladrão misterioso. Mas não pouco depois, pego nossa
mochila do chão para correr atrás de Ollie.

— Ollie, não, ele vai te morder! — Eu grito, mais de cinco


metros atrás.

No momento em que o alcanço, Ollie tem o macaco


encurralado com uma multidão ao seu redor, e ele se agacha
enquanto o pequeno macaco examina a câmera em suas
mãozinhas. — Dê-me a câmera, cara. — Ele afirma com
firmeza, e eu cruzo os braços sobre o peito, segurando uma
risada.

— Ele vai morder. — Diz uma espectadora, sacudindo o


dedo para o macaco, e eu quero dizer: “Eu avisei” até que o
homem ao lado dela intervém: — Não, ele é britânico. Ele é
bom.

Os dois iam e vinham, discutindo sobre Gibraltar estar


sob controle britânico quando Ollie se vira para silenciar a
multidão. As pessoas silenciam e Ollie estende a mão para o
macaco. — Entregue a maldita coisa.

— Ele não vai entregar porque você pediu. — A senhora


murmura para si mesma.
Ollie e o macaco entram em um jogo de cara feia, sua mão
estendida entre os dois, e a multidão fica paralisada com a
respiração contida, esperando. E depois de alguns instantes de
suspense, o macaco larga a câmera ao lado da mão de Ollie
sobre o caminho de pedra. Ollie pega a câmera na mão e se
levanta, e o macaco dispara em outra direção. Provavelmente
o mesmo da noite anterior. Lembro-me daquele olhar nos olhos
do macaco. Ele tinha tudo para nós.

A multidão aplaude, e Ollie coloca a alça na minha cabeça


e dá um beijo em meus lábios.

— Te disse. — O homem revira os olhos e ergue a palma


da mão. — É porque ele é britânico. — Explica à esposa, de pé
ao lado dele.

Mais tarde, nos encontramos com Liam e Jake no hotel,


depois de uma soneca muito necessária. É nossa última noite
em Gibraltar e passamos a noite sentados na praia com os
dedos dos pés enrolados na areia. O enorme penhasco
estendido à nossa direita enquanto o pôr do sol pinta rosa e
roxo sobre a água cintilante. Jake dança na areia sozinho com
a batida de uma banda tocando em um hotel próximo
enquanto eu conto a história de Ollie e o macaco.

— Oh, sim. Nosso guia turístico falou sobre isso hoje, —


Liam diz com fascínio absoluto crescendo em seus olhos. — A
lenda diz que os macacos alertaram os britânicos durante um
ataque surpresa, que impediu os franceses e espanhóis de
ganhar o controle de Gibraltar. Portanto, enquanto os macacos
permanecerem, os britânicos também permanecerão. Um
vínculo tácito entre eles. — Ele ergue as sobrancelhas. — Muito
legal, certo?

— Ah. — Eu olho de volta para Ollie, que está sentado ao


meu lado. — Agora faz sentido.

— Então, o macaco apenas entregou sua câmera? — Jake


pergunta com a respiração pesada.

Eu levanto um ombro. — Mais como deixá-la cair ao lado


de sua mão.

— Pequeno bastardo desonesto. — Murmura Ollie.

Voltamos para o Reino Unido da mesma forma que


viemos, mas desta vez, Liam dirigiu direto de Gibraltar para
Bilbao enquanto o casal se acomodava no banco de trás. Nós
quatro tivemos que passar uma última noite na Espanha antes
de pegar a próxima balsa disponível através do Golfo da Biscaia
para o Reino Unido. Poderíamos simplesmente ter voado de
volta, mas deixamos o carro de Ollie no porto de qualquer
maneira e não nos importamos com a viagem. Ollie e eu fomos
feitos para a aventura, nosso único lar um dentro do outro.
Exausto, Ollie para o carro na frente de nossa casa, mas
coloca a mão na minha coxa enquanto eu saía. — Mia, espere.
— Ele declara, e eu me viro para encará-lo. — Eu sei o que você
provavelmente está pensando agora, que assim que sairmos
deste carro, ele estará de volta ao mundo real. Um com os
Links e Dex e Leigh...

— Ollie...

— Não, me escute por um segundo. — Ele entrelaça seus


dedos com os meus. — Não importa o que aconteça, nós vamos
superar isso. Veja o quão longe chegamos. Somos uma força,
amor. Uma força que ninguém será capaz de suportar.
Enquanto você estiver ao meu lado, não estou com medo, e
você? — Mordendo meu lábio, Ollie alisa sua mão pelo meu
cabelo antes de agarrar as pontas enquanto balanço minha
cabeça lentamente. Ele beija minha testa antes de dizer: — Vou
tirar a gente daqui, Mia. Prometo fazer o que for preciso para
mantê-la segura e a mim fora dessa porra de confusão.

As temperaturas estão abaixo de dez graus Celsius


durante a noite quando saímos do carro antigo. Tenho que dar
a ele, no entanto. O carro velho conseguiu sobreviver muitos
quilômetros até agora sem problemas. Ollie pega a bagagem do
porta-malas e passamos pelo portão de nossa casa sem nome.
Quando passamos pela nossa porta da frente, ele acende a luz
e solta um longo suspiro.
— Lar, doce lar. — Diz ele com um suspiro, mas toda a
minha atenção se concentra no presente deixado em nossa
sala de estar.

Sobre nossa mesa de centro há uma dúzia de rosas cor


de rosa em um vaso de vidro antigo, e vou até as flores e as
pego na base. — Oh, Ollie, elas são lindas. Você fez Travis
deixar isso?

Olhando por cima, pego Ollie coçando a nuca. — Acho


que não.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Você acha que não?

— Mia, estou tão cansado, honestamente não me lembro,


mas parece algo que eu faria.

Rindo, examino as flores em busca de algum tipo de


bilhete ou cartão. — Não há nenhuma nota. — Digo, e Ollie
boceja da entrada antes de colocar o vaso de volta sobre a
mesa. — Tudo bem, Romeu, vamos levá-lo para a cama.

— Ligarei para Travis pela manhã.


VINTE E OITO

“É o caos me seguindo, ou eu simplesmente tornei-me


viciado seguindo o caos?”

⎻ Oliver Masters

O HALLOWEEN TINHA PASSADO, mas a vibração assustadora


persiste entre as ruas de Surrey enquanto dirijo para Thurrock
para encontrar Dex para um trabalho. Entre viajar e trabalhar
na preparação de um novo livro de poesia, eu tinha dispensado
a maioria das ligações de Dex.

Eu não consigo continuar assim, e Dex só ficou mais


irritado com a posição que ocupa na minha lista de
prioridades.

O grupo de homens se amontoa ao redor do bar no Jack's


Pub, e avisto Adrian com um sorriso fácil e olhos vidrados. Dex
e seus outros dois homens empurram o bêbado Adrian,
divertidos, e eu paro sobre eles, a maioria dos caras mais
baixos do que eu, para avaliar a situação.

Smith, um de seus homens, me nota primeiro e aperta


meu ombro.
— Legal de sua parte aparecer, cara.

— Eu estava ocupado. — Digo, minha voz vaga. Há um


milhão de outras coisas que prefiro fazer agora.

Dex levanta-se da banqueta do bar e os homens,


inconscientemente, dão um passo para trás. — Como foi o
casamento? — Ele pergunta com um sorriso onisciente.
Maldito inferno, ele sabia. E se dependesse de mim, e em
circunstâncias totalmente diferentes, o mundo inteiro saberia
que Mia Rose é minha esposa. Eu escalaria a montanha mais
alta com um sorriso e seis latas de Red Bull para esculpir
nossos dois rostos na rocha com essas palavras exatas
gravadas acima de nossas cabeças. Mas essa mesma notícia é
suficiente para Dex saber o quão profundo é meu amor por
Mia. Significa outro cartão em seu bolso traseiro e outra isca
para me fazer voltar. Seu olhar sinistro o confirma.

— Ah, eu entendi. Nosso amigo aqui se casa, — ele se vira


para me encarar com uma mão sobre meu ombro, — e o que
acontece em Gibraltar, fica em Gibraltar.

Smith desliza uma dose na minha frente, e eu a pego e


jogo a bebida na parte de trás da minha garganta. — Algo
parecido.

Adrian levanta-se da cadeira e segura a bebida acima da


cabeça. — Para finais e novos começos. — Ele grita divertido,
mas seus olhos cheiram a tristeza, ainda lamentando a perda
de nosso companheiro, Regi. Eu estive fora por semanas, e
Adrian foi deixado sozinho para lidar com a dor depois que
chutei James para o meio-fio por trocar de time.

A próxima respiração que inalo me enche de culpa, e


desliza para os meus pulmões e alimenta meu coração. Puxo
Adrian para o lado e seu olhar morto nunca vacila. — Como
vai você, meu amigo? — Eu pergunto, baixo, esperando que ele
esteja sóbrio o suficiente para puxar conversa.

— Foda-se. — Ele cospe, afastando meu braço. — Toda


essa conversa sobre fraternidade e confiança, você é igual ao
resto deles, então quer saber? Foda-se você e foda-se sua nova
esposa também.

Assim que as palavras o deixam, minha mão agarra sua


mandíbula, apertando-a com firmeza, viro sua cabeça para o
lado e baixo minha boca em seu ouvido. — Você está sofrendo
agora, eu sei. Eu sinto isso, cara. Mas se você ao menos
desrespeitá-la de novo, essa dor que está sentindo? Nada
menos do que uma gloriosa embriaguez em comparação com o
que eu poderia fazer.

Empurrando a cabeça de Adrian para trás, eu o solto e


volto minha atenção para o grupo. O olhar de Dex está fixo em
mim, um sorriso divertido brincando atrás de seu copo. Ajusto
meu capuz antes de jogar meu dedo para outra bebida. Com
Adrian bêbado, James fora, estou sozinho e a noite ainda é
jovem e tenho um trabalho ainda pela frente.

Depois de cerca de uma hora, acompanho Adrian até meu


carro e o deixo desmaiar no banco de trás. Dex e eu estávamos
repassando os planos. — Acontece que Ghost não marca
compromissos. Assim que eu tiver o horário e o endereço, ligo
para você, mas você precisa pegar seu maldito telefone. — Dex
ergue o dedo em minha direção. — Vamos ter algum problema?

— Não. — Quero que isso acabe tanto quanto ele, e


percebo que a única maneira de isso acontecer é matando
Ghost.

Dex pousa o copo no balcão. — Vou precisar de mais do


que isso.

Inclino-me e estreito meus olhos. — Você acha que eu


gosto da sua presença? Eu não suporto você, porra. Acredite
em mim quando digo, não haverá problemas. Eu vou
responder, matar aquele bastardo e está feito para sempre. E
se dependesse de mim, teria sido feito há meses.

— Situações como essas precisam de planejamento.


Ghost não estará sozinho, você sabe. Assim que você entrar e
atirar, seus homens irão matá-lo antes que você dê um passo
em qualquer direção. Você é um amador, Oliver. A razão pela
qual você está uma bagunça, para começar.

O pensamento de Mia me perdendo abre um buraco no


meu peito. A dor e o sofrimento que eu sabia que ela
enfrentaria são o suficiente para chamar de volta o medo. Um
mês atrás, eu disse a ela que não estava mais com medo. Mas
eu sou um maldito mentiroso. Estou apavorado. — Então, por
que me escolher para cumprir sua maldita ordem, — cutuco
minha cabeça em direção a sua comitiva, — por que não eles?
— É simples. Se o plano pegar fogo, você é descartável. —
Dex zomba. — Além disso, não se esqueça do que fiz por você.
Você fez sua cama, agora cale a boca e deite nela.

— Você ainda não me contou esse seu plano. — Eu


aponto.

— Eu estou trabalhando nisso.

Já que Adrian não está em condições de aceitar o trabalho


esta noite, eu o deixo na casa dos Links e dirijo com Dex para
o território do BOG com Smith atrás de mim no banco de trás.
Deliberadamente, Dex está movendo suas peças de xadrez pelo
tabuleiro, eliminando a competição uma por uma. Depois que
Ghost for morto, os BOGs ainda serão um problema no lado
leste de Londres. Pelo que eu entendi ninguém dentro dos
Links sabe da traição tortuosa de Dex além de seu círculo
interno, que, infelizmente, consiste em mim.

Tudo isso começou comigo.

Eu e meu acordo desesperado para encontrar Mia


tínhamos sido o primeiro movimento em seu jogo discreto,
dando a Dex todas as ferramentas de que ele precisava para
assumir e acender um fósforo sob os Links do fundo.
Sob as instruções de Dex, apago os faróis e paro em um
armazém abandonado no lado oposto da cidade. Revistas
carregadas, primeira rodada em câmaras, os sons agourentos
de criminosos manuseando armas ilegais tocados no carro,
tendo uma batida muito melhor do que qualquer música da
MGK. Os olhos de Dex se voltam para mim. — Vai limpar, baby
O?

— Eu tenho uma bala e estou guardando para Ghost.

Dex ri baixinho e se vira para Smith no banco de trás. —


Tudo bem, simples agarro e vá. — Ele joga panos pretos sobre
nosso colo. — Vamos levá-lo de volta para casa e interrogá-lo.
Eles estarão no meio de um negócio dentro daquele prédio, e
eu prefiro levá-lo depois, não antes. O outro jogador não pode
saber.

— Parece fácil. — Confirma Smith.

Então Dex acrescenta: — Minhas fontes dizem que James


pode estar com ele no treinamento, o que pode ser um
obstáculo. E se for esse o caso, temos que separar os dois.
Oliver é aí que você entra. James é inútil para nós. Ele é novo
e não sabe de nada. Depois que os compradores saírem,
pegaremos o BOG enquanto você se livra de James.

— O que você espera que eu faça com ele? — Pergunto,


sem intenção de matar ninguém esta noite, especialmente
James. Ele pode ter sido o responsável pela morte de Regi, mas
eu já tenho sangue suficiente manchando minha consciência
e planos para a bala queimando um buraco em meu bolso.
As sobrancelhas pretas de Dex se juntam. — Eu não me
importo com o que você faça com ele. Mate-o, apague as luzes
dele, foda a sua bunda. Basta ser rápido e voltar para o carro.

Nós três abandonamos o carro e cercamos o prédio. Entro


pelos fundos enquanto Dex e Smith entram pelo lado.
Escondido atrás de uma parede, espio pela esquina para ver
quatro homens no meio de um tráfico de drogas, James
presente. Enfio o pano preto na cabeça e levanto o capuz do
meu moletom, avistando Dex através de uma janela na porta
lateral, esperando.

Parece que uma eternidade havia se passado enquanto os


quatro batem papo dentro do armazém vazio, suas vozes
abafadas. Limpo minhas palmas ansiosas na frente do meu
moletom enquanto o suor cresce dentro do pano preto sobre
meu rosto. Nesse ponto, não temos ideia de como eles irão sair,
e eu salto na ponta dos pés em antecipação.

Finalmente, os caras se separam. Os dois compradores


deixam a frente, uma grande mochila sob um dos braços,
provavelmente contendo as drogas. Os olhos de James saltam
ao redor do armazém enquanto os lábios do outro BOG se
movem ao lado dele, contando o dinheiro antes de caminhar
em minha direção. Faz sentido porque Dex queria agarrar
depois, pode muito bem levar o lucro imundo também.

Puxo minha cabeça para trás e colo meu corpo contra a


parede até que um arrastar de pés ecoa nas paredes de
cimento, que é minha deixa. Saio da direção que James não
esperava e apareço atrás de suas costas enquanto Dex, com a
cabeça coberta, tenta obter o controle do BOG de que
precisávamos. Smith está com sua arma apontada para
James, e James tem a chance de recuperar sua pistola, mas
ela está pendurada em sua mão, apontando para o chão. Smith
tem total controle sobre ele e eu vou por trás, pego a arma de
sua mão e deslizo pelo chão em direção a Smith.

James se vira para mim, e eu o agarro por trás em um


estrangulamento e o arrasto de volta para o corredor enquanto
os outros dois saem com o BOG capturado. James é mais forte
do que eu sempre fui e ele luta contra o meu aperto até que eu
puxo seu braço para trás em uma chave, onde um simples
movimento iria quebrá-lo ao meio.

Assim que o som da porta fechando chega aos meus


ouvidos, sei que os outros três estão fora do armazém e a
caminho do carro. Eu não tenho muito tempo. Minhas costas
batem contra a parede, e deslizo com as costas de James no
meu peito, nós dois no chão. Ele luta, mas tenho o controle e
quero acabar com isso. Com todo o peso de James em cima de
mim, meus pulmões esmagam, tornando mais difícil respirar.
Eu luto para respirar e o momento passar, e quando meu braço
em volta do pescoço dele se aperta, conto os segundos antes
que ele desmaie.

— Oliver. — Ele murmura, sua mão livre agarrando meu


braço em volta de seu pescoço.
Com meu disfarce descoberto, meus olhos se fecham
brevemente na tentativa de me desligar da situação
emocionalmente. James foi um dos meus. Eu o treinei. Eu
estava lá durante seus episódios de embriaguez, quando ele
confessou seus medos e fraquezas. Eu costumava ser alguém
que ele admirava. E, aqui estou eu, aquele que tem duas mãos
nele no momento, uma em seu pescoço, a outra em seu braço
atrás das costas, e o giro para o lado para tirá-lo do meu peito
arfante para que eu possa reunir oxigênio suficiente. — Pare
de lutar comigo. Será mais fácil para você.

— Ele vai matar Adrian.

Eu mal entendo sua declaração rouca e alivio meu aperto


em seu pescoço. — Do que você está falando?

— Dex. — Diz ele em uma respiração controlada. —


Adrian e eu sabemos muito... Dex nunca planejou nos levar
com ele. Assim que acabar com Ghost... Adrian está
praticamente morto. Eu ouvi tudo, cara. Eu não tive escolha...
Mas, — ele resmunga, — ainda há tempo para Adrian.

— Conheça seu alvo, você sempre tem que estar dez


passos à frente, — eu repeti para Dex, para meus meninos,
para Oscar. Exceto que eu não tinha sido o único dez passos à
frente, estou muito atrás e só agora me recuperando quando
isso me atinge de uma vez, e solto James.

Dex tinha planejado matar meus três meninos o tempo


todo.
Adrian, James e Regi nunca tiveram uma chance.

Um furioso tornado desce dentro de mim e eu me levanto,


jogando meu punho na parede de cimento. Mais e mais, meu
punho bate, a mão se deformando, mas não consigo sentir
nada. James me empurra para frente, e meu corpo bate contra
a parede antes de eu virar minha raiva para ele, e com um
golpe certeiro em seu crânio, James cai para trás. Seu corpo
enorme bate no chão de concreto com um eco alto zombando
de mim.

Espero alguns minutos para esfriar antes de sair do


armazém e voltar para o carro.

Sentando no banco do passageiro, Dex se recosta ao


volante, folheando pilhas de dinheiro. — Por que demorou
tanto? — Ele murmura, e eu me viro para ver o saco preto
sobre a cabeça do BOG com Smith ao lado dele, uma arma
fechada em sua mão sobre o colo.

— James é forte, me deu uma chance para ganhar meu


dinheiro. — Digo, casualmente, segurando meu punho na
minha frente para examinar o dano. Não é a hora de confrontá-
lo, não com seu companheiro atrás de mim e um traficante de
drogas desonesto ao seu lado. Smith poderia muito bem estar
em sua lista de alvos também, ou o único homem que ele quer
levar para governar.

E durante todo o caminho de volta para a casa do Link,


mantenho minha boca fechada e os olhos para fora da janela,
traçando meu próprio plano. É tarde demais para salvar Regi,
e James tomou a decisão impulsiva de trocar de time. Bom
para ele, mas onde isso deixaria Adrian? Minha única opção é
tirá-lo de lá antes que eu puxe o gatilho em Ghost.

A casa sempre foi um grande monte de lixo, mas o


abandono só piorou desde a última vez que estive aqui.
Garrafas vazias e lixo para levar espalhados pelas mesas e
balcões, e mais buracos decoram as paredes destinadas a
pendurar fotos de entes queridos. Dex senta o BOG em uma
cadeira e o amarra. Assim que o BOG está seguro, Dex volta
sua atenção para mim. — Você pode ir agora, baby O. Eu cuido
disso.

Tiro água engarrafada da geladeira, desatarraxo a tampa


e tomo um gole com uma sobrancelha levantada. — Não. — Eu
rio. — Eu vou ficar se estiver tudo bem para você. — Dex
planejava exumar detalhes do BOG, e é hora de eu ficar por
dentro. Com um movimento do pulso, aponto a base da garrafa
para ele. — Continue.

Por meia hora, faço uma careta enquanto Dex tortura o


homem para obter informações, exigindo nomes, localizações e
negociações de seu chefe, o líder do BOG. Dex quer saber quem
está no comando, e seus sorrisos doentios e ameaçadores
apenas confirmam que está gostando enquanto meu estômago
revira com os gritos de partir o coração. Quando o homem
desmaia de dor, Leigh já havia entrado pela porta com minha
mãe atrás dela.
Rolando minha cabeça para trás, pego minha garrafa de
água que estava sobre o balcão ao lado do uísque. Eu
precisarei de algo mais pesado para lidar com as duas, mas a
única coisa que quero é voltar para casa com Mia, sóbrio. Dex
cumprimenta minha mãe com um tapa na bunda quando
Leigh se aproxima de mim com um sorriso e eu me levanto da
banqueta para sair.

— Puta merda, o que aconteceu com a sua mão? — Ela


pergunta, pegando minha mão ferida na dela. O sangue havia
secado, e eu não consigo mover meus dedos sem uma dor
lancinante subindo pelo meu braço. Não está quebrado. Está
destruída.

Eu puxo minha mão de seu alcance. — Estou bem.

Dex lava as mãos na pia, olhando entre nós. — O BOG


não está falando.

— Disseram-me que tenho jeito com as pessoas. Talvez


eu possa tentar. — Ofereço.

Minha mãe se aproxima da cozinha, olhando para mim


enquanto coloca o braço em volta da cintura de Dex, e ele lança
a ela um breve sorriso antes de seus olhos voltarem para os
meus. Em um instante, a máscara que ele usa cai e sua
expressão fica fria com o vazio. — Ele vai ficar fora por um
tempo. Você deveria ir. Melhor não deixar a esposa esperando.

A cabeça da minha mãe vira para a minha quando Leigh


engasga.
— Você se casou com ela? — Leigh pergunta, uma
carranca estragando suas feições.

Deixo cair o cotovelo sobre a mesa e a dor dispara dos


meus dedos até o ombro. Eu estremeço, dizendo:

— Claro, eu casei com ela.

— Sim. — Dex ri. — E esse é o problema, porque a única


pessoa com quem você deve se comprometer sou eu.

— Oliver? — Minha mãe pergunta, sua voz baixa e


cuidadosa, e isso envia meu coração em minha garganta. —
Você se casou?

— Não foi o que ela disse, Mia, foi o jeito que ela disse. —
Explico enquanto Mia envolve minha mão. Ela está sentada
sobre o balcão do nosso banheiro enquanto estou entre suas
pernas com meu braço entre nós. — Quatro anos, Mia. Por
quatro malditos anos, e ela não me visitou nenhuma vez.
Inferno, ela testemunhou contra mim quando tudo deu errado
com Oscar e Brad. Mesmo quando a vi no funeral, ela mal
conseguia olhar para mim. Mas assim que ela descobriu que
eu me casei... — Eu balanço minha cabeça, — Foi quase como
se ela se importasse.
Gentilmente, Mia puxa meu punho até os lábios, beijando
meus dedos levemente. — Bem melhor.

Um sorriso luta contra minha perplexidade. — Obrigado.

— O que aconteceu depois que ela disse isso?

A respiração sai correndo de mim e levanto um ombro.

— Saiu sem dizer nada. — Inclino minha mão boa sobre


a borda do balcão ao lado de Mia. — Sabe, ela perdeu o contato
com a realidade há muito tempo. Paranoia, alucinações...
Quase nos matou, e tudo que eu sempre quis foi que ela
parasse de usar e pedisse ajuda. Mas, Mia, aquele olhar nos
olhos dela esta noite...

— Você acha que ela parou?

Afastando-me do balcão, coço a nuca. — Eu não sei.


Talvez a morte de Oscar a tenha acordado. Ou talvez eu seja
aquele menino de seis anos de novo, tendo muitas esperanças.
Não posso ter certeza, mas também não posso confiar nela. —
Cada vez que eu a vejo, o tormento estala dentro de mim.
Várias vezes, mamãe tentou me matar, e essas são memórias
que jamais poderão ser apagadas. Uma e outra vez, mamãe
provou que ela é uma doença sem esperança e incurável, que
eu nunca desejaria em nosso futuro. Mas a maneira como ela
olhou para mim...

Mia pega minha mão ilesa e me puxa de volta para ela. —


Ela ainda não sabe que Dex matou Oscar, sabe? É estranho
ela sair com ele.
— Eu disse a você que Dex e Oscar eram amigos enquanto
cresciam, e Dex e minha mãe transaram de vez em quando
desde que ele era jovem. Se não me engano, ela tirou a
virgindade dele...

— O que?

Concordo. — Sim, então o cara tem um fraquinho por ela,


e vice-versa. Se eu dissesse a ela que Dex foi o responsável pela
morte de seu filho, ela não acreditaria em mim de qualquer
maneira.

Meu passado rapidamente me alcança, sangrando em


tudo que eu valorizo. E a única coisa inteligente a fazer é
empurrar Mia cada vez mais para longe de tudo. Mas como eu
disse antes, o amor transforma todos nós em tolos. A alma
firme de Mia ancora a minha, e ela é a única razão pela qual
permaneço são durante tudo isso. Com uma espada em uma
mão, ela está segurando a minha outra, e eu mal consigo me
segurar.
VINTE E NOVE

“Se um amor não criou asas de sonhos das profundezas da


alma, rasgado abre seu peito e empoleirado na borda lamber
seu coração sangrando.
Não foi amor depois de tudo.”
─ Oliver Masters

NUNCA TIVE as ideias mais brilhantes. Por experiência, a


maioria delas terminou em algemas, uma ressaca ou olhando
em olhos horríveis e sem amor depois de uma foda dura. Eu só
esperava que essa ideia de oferecer o jantar de Ação de Graças
não acabasse em chamas.

Ollie não voltaria para casa antes da meia-noite, e tenho


apenas esta noite para preparar um jantar para sete pessoas e
um bebê. Jake, Liam, Travis, Summer e seu bebê Turner
estarão se juntando a nós, junto com Lynch. Ollie tinha
encontrado uma mesa de madeira de três metros em uma loja
de antiguidades pela metade e passou os últimos dias
restaurando a madeira de volta ao seu charme original.
Amanhã teremos o jantar de Ação de Graças em nossa casa e
eu sou a responsável pela comida, ou pela falta dela.
Desde que cheguei ao Reino Unido, só circulo de táxi ou
de bicicleta para a cidade se preciso de algo. Recusei-me a
aprender a dirigir aqui, e isso deixou Ollie louco. Mas, para ser
honesta, os lados opostos me assustam profundamente. Eu
tentei uma vez e dirigi seu querido carro em uma vala. Foram
necessários três homens e uma picape para arrastar o carro
do vale lamacento para fora da estrada. Depois disso, Ollie
encontrou uma bicicleta roxa, completa com uma cesta e um
sino. O que começou como uma piada se tornou meu meio de
transporte mais confiável.

Mas não há como a bicicleta transportar os mantimentos


de volta da loja. Sabendo disso, Ollie havia deixado seu carro.
E eu fiquei do lado de fora da porta da frente, olhando para a
velha e enferrujada Perua com determinação em minha
postura, girando as chaves em meu dedo.

Depois de alguns telefonemas, tudo bem, muitos


telefonemas, buzinadas altas e insultos britânicos de outros
carros que passavam, chego à cidade inteira. Nuvens escuras
se separam e eu agarro o guarda-chuva do banco de trás antes
de sair e correr na chuva. Estamos chegando ao final de
novembro e a temperatura está terrível. As pessoas correm pelo
caminho de paralelepípedos e mergulham em seus carros
enquanto eu fico ociosa sob o beiral do telhado, fechando o
guarda-chuva e batendo os pés na água que pinga de minhas
botas Sperry.

Entro na loja, a campainha toca e o caixa acena para mim


de trás do balcão enquanto pego um carrinho. Os Yankees nos
Estados Unidos fazem com que os locais pareçam fadas
madrinhas de Pleasantville, e estou cansada de acompanhar
os sorrisos e conversa fiada.

Caminhando pelos corredores, eu como um saco de Mini


Cheddars enquanto jogo os itens da minha lista de compras no
carrinho quando meu carrinho bate em duas garotas, uma que
eu reconheço.

— Oi, Mia. — Diz Leigh. E embora eu a tenha visto uma


vez, nunca esqueci o rosto da garota que toma a maior parte
do tempo de Ollie. Mas vendo-a tão perto, ela não poderia ter
mais de vinte anos. Ela usa leggings pretas e uma regata de
cetim creme sob sua jaqueta preta com uma senhora muito
mais velha ao seu lado. Meus olhos disparam para frente e
para trás entre as duas.

Os olhos da outra senhora relaxam. — Então, você é a


Mia de Oliver?

— Não, pessoa errada. — Minto, tentando manobrar meu


carrinho em torno delas, mas Leigh agarra a ponta e puxa-a de
volta na frente dela. Fechando meus olhos, respiro fundo. —
Eu posso te ajudar com alguma coisa? — Pergunto ao exalar.

— Eu sou a mãe de Oliver. — A senhora diz, e seu olhar


vaga pelo meu corpo antes de voltar aos meus olhos, onde eles
se estabelecem. Sua expressão muda de conflituosa para
preocupada, e seus olhos lacrimejam. — Eu... eu só queria me
apresentar. Cuide-se, Mia. — Ela rapidamente se vira para
Leigh, que está com as palmas das mãos para cima, e a mãe
de Oliver balança a cabeça, — Vamos, vamos deixar a garota
sozinha.

Antes que eu possa falar uma palavra, a mãe de Oliver


agarra o braço de Leigh e a puxa na direção oposta enquanto
Leigh sussurra e grita, visivelmente chateada. Em seguida, as
duas desaparecem pelo corredor, deixando-me com nada além
de confusão com o que acabou de acontecer.

Uma vez que meu corpo descongela, faço o check-out,


chego em casa em segurança e passo o resto da noite
recapitulando os eventos anteriores na minha cabeça. O
documentário de Ted Bundy passa na TV sobre o fogo
queimando na lareira, mas eu não prestei atenção nos últimos
vinte minutos, muito ocupada meditando sobre o conflito, e
por que a mãe de Ollie saiu tão rápido. Não importa o quanto
tento me livrar disso, sua reação a mim está enterrada em meu
cérebro.

A sensação estranha de alguém me observando arrepia


todos os fios de cabelo do meu braço, seguido por arrepios.
Meu café esfriou, e me inclino e coloco sobre a mesa antes de
puxar o cobertor sobre o colo, olhando pela janela. Nossas
cortinas brancas estão parcialmente fechadas e tudo que posso
ver é a noite escura. Pego meu telefone do braço do sofá e
mando uma mensagem para Ollie para saber se ele está vindo.

É muito raro que Ollie me deixe sozinha em casa, mas no


mês passado ele tinha ido uma vez por semana para lidar com
Dex e os Links. Ele raramente entra em detalhes e odeia falar
sobre isso e, nos últimos meses, aprendi que era melhor não
saber. Mas não demorará muito para que Ollie entre pela
porta, pingando de remorso. Na semana anterior, ele me
colocou neste sofá e liberou sua vergonha e culpa dentro de
mim antes de passar o resto da noite escrevendo em seu
caderno. A cada duas noites, ele faz amor comigo devagar e
fode com força sua poesia. Mas a noite é assim, quando ele
volta daquela casa, é o contrário.

Claro, eu nunca me importei, uma vez que Ollie carrega


o fardo de mil almas perdidas e tem o coração de mil anjos, e
a única maneira de liberar suas emoções reprimidas é através
de mim.

E na hora certa, ele entra em nossa casa vestindo tênis


preto e uma jaqueta jeans por cima do moletom com seu cabelo
um caos. Hematomas colorem suas maçãs do rosto. As
bandagens se soltam de sua mão. O frio do inverno beija seus
lábios. Então Ollie ergue a cabeça. Os mesmos olhos verdes
onde vive um museu de conhecimentos, sonhos e livros sobre
histórias de amor, encontram os meus como se o sol nascesse
na calada da noite. Pensamentos gritando se transformam em
sussurros, e Ollie baixa a guarda, sabendo que ele está de volta
comigo em seu lugar seguro, seu refúgio.
O cheiro de canela e maçãs rodopia dentro de nossa casa,
e estou ocupada tirando a última torta do forno enquanto Ollie
está em frente a uma fogueira no quintal com Lynch, Travis e
Liam. Abanando a torta, fixo meus olhos para fora da janela,
admirando os quatro homens enquanto Summer cuida de
Turner no sofá em frente à mesa de três metros atrás de mim.
Ollie empurrou os móveis contra a parede para dar espaço
temporariamente e, depois do Dia de Ação de Graças, ela
voltará para fora.

Um fogo crepita na lareira, e Jake e eu trabalhamos


juntos, montando a mesa com uma música baixa tocando nos
alto-falantes acima do meu piano. Depois de espalhar uma
colocação, Jake olha para cima com um suspiro dramático.

— Eu tenho que admitir, Mia. Ao longo de dois anos,


Lynch me assustou muito. Literalmente. Tipo, ele literalmente
me fez mijar nas calças. Estou tão nervoso agora e não sei
como agir perto dele.

Rindo, cruzo os braços sobre o peito. — Seja você mesmo.

— É exatamente disso que tenho medo. E se ele ficar


bravo porque a torta acabou, decidir culpar o gay e me jogar lá
em cima na sua câmara escura.

Reviro meus olhos. — E como você chama um gay chato


de verdade?

Os ombros de Jake caem e seus olhos se estreitam. — O


que?
— Um pé no saco.

Summer dá uma risadinha no sofá.

— E, Mia, — Jake aponta para mim. — Quando o


comediante colocou seu senso de humor dentro de você, você
riu?

— Ok, touché. Mas temos um bebê na sala...

— O que é o Dia de Ação de Graças sem um pouco de


brincadeira, certo? — Summer pergunta, levantando-se e
colocando Turner no cercadinho ao lado do sofá. — Devo pegar
os meninos?

Meu olhar percorre a mesa onde está uma refeição


completa de Ação de Graças. Peru, molho, recheio, purê de
batata, caçarola de feijão verde e Cranberries sobre uma toalha
de mesa festiva, velas acesas e bebidas servidas. — Sim,
estamos prontos para eles.

Jake dá a volta na mesa e joga o braço em volta do meu


ombro. — Você fez bem.

— Espere até você experimentar antes de dizer isso. —


Digo entre uma risada, esperando que tenha um gosto tão
delicioso quanto parece.

Depois que todos entram, oohs e aahs ecoam dos outros


três homens com seus olhos navegando sobre minha obra-
prima. Todos nós nos sentamos ao redor da mesa e erguemos
nossas taças de vinho para um brinde antes do banquete.
— Eu gostaria de dizer algumas palavras. — Lynch
interrompe do outro lado da mesa, e baixo meu copo enquanto
a palma de Ollie descansa sobre minha coxa. — Em primeiro
lugar, quero agradecer a Mia e Oliver por me convidarem. Já
se passaram mais de vinte anos desde que comi um jantar
caseiro de Ação de Graças. E Mia, — ele pigarreia, — nós
percorremos um longo caminho, ainda há um longo caminho
a percorrer, mas eu não poderia estar mais orgulhoso da
mulher que você se tornou em tão pouco tempo. Obrigado por
me dar a chance de fazer parte da sua vida. Para Mia e Oliver,
todos.

— Para Mia e Oliver. — Minha família ecoa, tilintando


seus copos com sorrisos deslumbrantes.

Ollie aperta minha coxa, inclinando-se, e eu o encontro


no meio do caminho. Nossos lábios se tocam brevemente antes
de seu nariz roçar o meu, e ele encara os olhos ansiosos ao
redor da mesa com a mão no ar.

— Tudo bem, vão em frente. — Ele grita, parecendo bonito


com seu cabelo penteado em sua onda bagunçada de sempre,
calças pretas e um suéter cinza. O hematoma inchado e
vermelho sob seu olho mudou de cor, mas não machucou seu
espírito.

Depois que os alimentos foram passando e os pratos


cheios de comida, todos fizeram exatamente isso e comeram.

Felizmente, a comida não é tão ruim e eu não matei


ninguém. Na hora seguinte, rimos com as lembranças de nossa
viagem à Espanha, ouvimos as histórias malucas de Lynch de
seus primeiros dias em Dolor e ouvimos Travis e Summer
explicarem sobre a vida com um recém-nascido em casa.

— Então, o que vem por aí para vocês dois? — Liam


pergunta, os olhos disparando entre Ollie e eu.

As únicas pessoas nesta sala que sabem sobre as


negociações de Ollie com os Links são Travis, Summer, Ollie e
eu. Todos os outros não têm ideia da vida dupla que Ollie vive
desde Dolor, da atividade criminosa na qual ele está envolvido
e do nosso futuro de viajar pelo mundo em espera até que ele
possa sair.

Os olhos de Ollie encontram os meus quando um sorriso


infantil surge em seus lábios. — Eu não tenho nenhuma
maldita pista, companheiro. Mas seja o que for que venha a
seguir, estamos prontos para isso.

Bolhas flutuam sobre a água quente do banho, o cheiro


de rosa e bergamota explodindo em nosso banheiro e se
infiltrando em cada inspiração. — O Dia de Ação de Graças foi
um sucesso. — Diz Ollie, sentando-se sobre a pequena
banqueta de madeira e enxaguando o sabão do meu cabelo
com o spray do chuveiro. — A comida não estava tão ruim,
então por que a carranca?

Aceno minha mão sobre a água, recolhendo bolhas e


soprando-as da palma da mão. Algumas estalam e o resto
flutua até que se prende na parede de azulejos metrô enquanto
penso nas minhas próximas palavras. — Tenho uma sensação
de mal-estar no estômago de que esta é a calmaria antes da
tempestade, e é apenas uma questão de tempo antes de sermos
arrastados. Essa coisa toda com os Links... — Balanço minha
cabeça e coloco minhas mãos sob a água. — Não se esqueça,
você me prometeu, Ollie.

Ollie desliga o pulverizador e arregaça as mangas cinza


até os cotovelos antes de se inclinar. — Você não está me
perdendo, amor. Vai ficar tudo bem.

— Como você sabe? — Parece que estou fazendo a mesma


pergunta desde que nossos olhos se encontraram pela primeira
vez.

Um sorriso enfeita seus lábios. — Eu simplesmente sei.


— Ele sussurra, me dando a mesma resposta todas às vezes.

— Ollie.

O cotovelo de Ollie cai sobre o joelho enquanto ele coloca


o dedo indicador sobre os lábios. Fecho minha boca, capturada
pelo olhar sonhador em seus olhos. A ponta de seu dedo
encontra meu peito e meu coração bate contra ele antes de
fazer a jornada para o dele. — Lembra?
Eu concordo. — Eu lembro.

Um gesto tão pequeno, mas significa o mundo.

Eu me levanto da banheira e Ollie enrola uma toalha


branca felpuda em volta de mim para me secar antes de pegar
um romance da estante no quarto e se juntar a mim na cama.

Assim que o livro foi aberto, sua voz angelical silenciou os


pensamentos circulando em minha cabeça, me acalmando,
perseguindo o mal e me levando a novas alturas e mundos
distantes onde terrores, demônios e bestas não são bem-
vindos.

São duas da manhã quando acordo com o som do nosso


portão batendo bem do lado de fora da nossa janela, e me viro
nos braços de Ollie para encontrá-lo dormindo de lado com os
lábios entreabertos. O vento uiva, o portão bate de novo e
passos ecoam, as notas sinistras transbordando pelas frestas
de nossa porta da frente.

— Ollie. — Eu sussurro, sacudindo seu ombro. — Acorde.

Seus olhos piscam lentamente antes de encontrar os


meus sob a luz da lua.

— O que há de errado?
— Eu acho que alguém está fora de casa.

— Dê uma olhada, Senhora “Eu-não-tenho-medo-de-


nada”.

— É Sra. Masters, agora, muito obrigada. E, de jeito


nenhum. Você vai dar uma olhada.

Outra batida, outra briga, e Ollie senta-se da cama e enfia


a mão embaixo do colchão para puxar uma arma. Meus olhos
se arregalam, saltando para frente e para trás da arma para
sua postura tensa enquanto ele se levanta e veste uma calça e
um moletom. Ollie coloca a pequena arma nas costas e pega
uma lanterna na mesa de cabeceira. Ele tenta acender a
lâmpada, mas faltou energia.

— Fique aqui e não se mova.

— O que você está fazendo com uma arma?

— Eu já volto. — Responde ele, me ignorando. —


Certifique-se de que seu telefone esteja por perto.

Ollie desaparece do nosso quarto e o som da porta da


frente fechando ressoa nas paredes internas enquanto eu me
sento no escuro. A única luz é a lua, e meus olhos se fixam no
relógio colocado na estante. Cada segundo de espera é longo e
agonizante, e meu batimento cardíaco se recusa a obedecer ao
ritmo constante do tempo. Desde os oito anos, parei de ter
medo até o momento em que conheci Ollie. Eu nunca fui uma
garota assustada, mas aquela de quem temer. E, com tudo a
perder, estou apavorada ‘pra’ caralho.
A pequena voz atormentadora na minha cabeça responde,
me mostrando todos os piores cenários, e eu não tinha ouvido
a porta da frente fechar quando Ollie aparece na porta. — Não
há nada lá fora. — Diz ele, colocando a lanterna na mesa de
cabeceira.

Eu solto um suspiro de alívio. — Eu sinto muito. Eu


poderia jurar que ouvi passos.

Ollie tira o moletom úmido e coloca a arma de volta sob o


colchão. Ele põe as duas mãos sobre a cama para me encarar.
— Está ruim lá fora. Pode ter sido a chuva, amor. Reprise de
The Officer? — Ele pergunta. — Faltou eletricidade, mas posso
ligar o laptop e usar a Internet no celular.

Balanço a cabeça, e Ollie sorri antes de nós dois


puxarmos o grande edredom fofo e alguns travesseiros da
cama e arrastar tudo para a sala de estar. Com o laptop
instalado sobre a mesa de centro, Ollie aperta o play e
afundamos dentro do cobertor quando Ollie encosta a cabeça
no encosto do sofá e solta uma risada.

O show mal tinha começado e eu olho para ele. — O que


é tão engraçado?

— Déjà vu. — Ollie levanta a cabeça e seus olhos pousam


nos meus, seu sorriso contagiante. — Nos Estados Unidos, seu
pai, Bruce, me contou uma época em que era só ele, sua mãe
e você. É a coincidência mais estranha... — Ele balança a
cabeça e me puxa para mais perto até que minha cabeça
descanse contra seu peito. — Este momento com você, Mia.
Sou o homem mais feliz do mundo e não quero que você durma
sem saber disso.

Ele nunca me contou a história, e faço uma nota mental


para perguntar sobre isso outro dia. Passamos o resto da noite
tempestuosa emaranhados um no outro, as mãos vagando
lentamente, e o tamborilar da chuva competindo contra o
laptop e nossas respirações leves e gemidos pesados.
TRINTA

“Aqui estamos nós de novo minha sombra arrepiante,


olhando para mim com a ira mortal de uma rosa murcha e o
toque de uma lápide. Aqui estamos nós, doce insanidade.
Suba dentro e me dê a paz que eu anseio tão
desesperadamente.”

⎼ Oliver Masters

A SITUAÇÃO ENTRE MIA, Leigh e minha mãe não passou


despercebida por mim. Por duas semanas, esperei até que o
momento certo se apresentasse para confrontar Leigh. Ela não
tinha estado na casa dos Links na semana anterior, mas assim
que entro em uma festa que Dex deu no local dos Links,
através da multidão de corpos e fumaça densa, meus olhos
imediatamente a encontram. A batida vibrante da música pelos
alto-falantes explode em meus ouvidos, e me aproximo para
ver a saia de Leigh amontoada na altura dos quadris, os olhos
vidrados e deitada no peito de um cara no sofá. Seu seio está
em uma mão, a outra entre as pernas. Inclino minha cabeça,
e o viciado em frente a eles tem um cigarro entre os lábios com
os olhos fixos no show.
Minha boca enche de água, sentindo o gosto da fúria, e
agarro Leigh pelos cabelos e a arranco de seu colo, arrastando-
a entre as pessoas e para o corredor. Eu a empurro para frente,
sua bochecha pressionada contra a parede. Leigh choraminga,
bêbada irritada e mal conseguindo se segurar.

— Que diabos está errado com você? — Grito em seu


ouvido por cima da música, mas ela não consegue formar uma
frase completa, resmungando incoerentemente. Ela escorrega
pela parede e consigo pegá-la em meus braços e levá-la para o
banheiro. Ela está desmaiando, e o pânico substitui a raiva,
cobrando cada nervo. Em um frenesi, a coloco na banheira e
ligo o chuveiro, borrifando água fria sobre sua forma sem vida.

Ela está fora e eu caio de joelhos, dando tapinhas em sua


bochecha. — Vamos, Leigh. — Grito, cada movimento
desesperado. Viro Leigh de lado e empurro meu dedo em sua
garganta até que seu corpo se ergue. Leigh cambaleia para
frente quando o conteúdo sobe e dispara de seus lábios
enquanto meus dedos puxam seu cabelo para trás, tentando
me segurar.

Depois que nada mais surge, seus olhos se fecham


enquanto ela chora sob a água fria. Eu caio para trás até que
minha bunda bate no chão e deixo cair minha cabeça sobre
meu braço livre, o outro se recusando a soltá-la.

— Por que você sempre faz isso consigo mesma? —


Exalando, levanto minha cabeça e passo minha palma pelo
meu rosto. — Você não pode continuar fazendo isso. Você
precisa de ajuda.

Leigh estremece sob minha mão e eu a ajudo a se levantar


e a tirar as roupas sujas. Ela fica nua na banheira e desvio
meus olhos, transformando a água de fria em quente. — Você
vai precisar lavar os pedaços de seu cabelo. Vou pegar roupas
limpas no meu carro.

Os dentes de Leigh batem. — Obrigada, Oliver.

— Sim. — Eu murmuro, fechando a porta do banheiro


atrás de mim antes de fechá-la. Inicialmente, eu vim aqui para
confrontar Leigh e falar com Adrian, mas nunca planejei uma
festa e salvá-la novamente. Envio uma mensagem rápida para
Mia, avisando-a que seria uma daquelas noites antes de
retornar ao banheiro. Bato levemente na porta do banheiro
quando Leigh abre do outro lado e espia com a cabeça para se
certificar de que sou eu.

Seguro algumas roupas entre nós. — Aqui, se vista. Vou


te levar para casa.

Depois de receber uma mensagem decepcionante de Ollie,


preparo uma xícara de café antes de subir as escadas para a
minha câmara escura, evitando as pilhas e pilhas de livros de
Ollie empilhadas nos degraus de madeira no caminho. Além do
aumento da minha lista de clientes devido à boca a boca,
surgiu uma grande oportunidade de emprego para capturar
imagens de uma modelo local para anunciar uma marca de
joias. Oficialmente, é um passo para as grandes ligas com
minhas fotos dentro de revistas. Milhares de pessoas verão
minha arte e eu não posso estar mais nervosa.

Tenho muitos lugares favoritos na casa, mas a câmara


escura é, de longe, meu favorito. Depois de implorar a Ollie
para mover o piano para minha câmara escura, e ele se
recusar, ele me comprou um teclado de mesa e o colocou sob
a janela ao lado do meu laptop. A inspiração poderia vir de
qualquer lugar e sempre que eu preciso de uma pausa na
edição, design e desenvolvimento, rolo minha cadeira até o
teclado, ligo-o e me afogo nas notas que fluem por meus dedos.

Ninguém tem permissão para subir aqui, ninguém além


de Ollie. Entrando na sala, negativos das minhas fotos
favoritas saltam de parede a parede, principalmente dele. Ollie
é meu muso favorito. Aqui, eu poderia admirar partes dele
quando ele sai. O sorriso dele. O estrabismo em seus olhos. Os
ângulos e bordas de seu corpo. E todos os momentos sagrados
que eu o peguei sem que ele percebesse. Aqui, eu poderia
cortar e distorcer, alterar, filtrar...

…Mas nunca de Ollie.

As paredes foram pintadas de preto, incluindo uma


cortina opaca sobre o vitral. Contra uma parede inteira está
um balcão de trabalho, pia de processamento, pia com suporte
e lavadoras de impressão. No lado oposto há o equipamento
pesado que eu economizei nos últimos meses.

Depois de horas passando com música abafada tocando


no escuro no laptop, e brincando com um filme, adormeço
sobre minha mesa e acordo com sons vindos do andar de
baixo. Erguendo minha cabeça, a baba gruda no lado do meu
rosto, e eu passo meu antebraço em minha bochecha e boca
apenas quando outro som colide abaixo.

Eu lentamente me levanto da cadeira e vou na ponta dos


pés até a janela, e o carro de Ollie não está fora de seu lugar
de costume. Com o coração batendo forte, chicoteio e examino
a sala em busca do meu telefone. Eu tinha deixado lá embaixo.

Pode muito bem ser Ollie, mas normalmente, ele me


encontra assim que passa pela porta. Ele já estaria aqui. Ele
seria o único a me acordar.

É outra pessoa.

E o único pensamento traz todo o medo à existência.

Lentamente, ando pelo piso de madeira até que minha


mão trêmula envolve a maçaneta da porta. Com medo de fazer
um som, prendo a respiração quando a porta se abre com um
pequeno rangido doloroso.

Espio com minha cabeça para fora e olho para os degraus


onde fica a cozinha. Uma garota está inclinada sobre o balcão
com meu telefone na mão, a tela brilhante iluminando seu
rosto. Mas ela está de costas para mim e, embora eu não possa
vê-la, sei que é Leigh.

Ela invadiu minha casa.

Eu tinha deixado Dolor há muito tempo, mas


aparentemente, Dolor nunca me deixou.

Com meu olhar preso em suas costas, analiso todos os


cenários de como isso seria. Somos apenas ela e eu aqui, mas
esta é a minha casa. Deixando a porta aberta, me afasto atrás
da parede e solto um suspiro enquanto planejo meus próximos
movimentos. Saber que ela tem relações com os Links poderia
significar que ela tem uma arma, mas eu também tenho.

Enquanto ela ainda está de costas, faço movimentos


rápidos e silenciosos descendo as escadas para atravessar a
sala de estar e entrar no meu quarto. Cada passo mais perto é
uma ameaça, mas meus pés ainda se movem para frente com
os olhos treinados em suas costas, conhecendo cada curva da
casa melhor do que ninguém. Todas as luzes do andar de baixo
estão apagadas e, assim que consigo passar pela porta do meu
quarto, deslizo de joelhos, puxo os cobertores e enfio minha
mão sob o colchão no lado de Ollie.

Meu batimento cardíaco pulsa em meus ouvidos e meus


olhos ardem quando meus dedos não tocam o metal. Eu
levanto o colchão. A arma havia sumido. Ollie levou com ele.

De repente, uma corda enrola em volta do meu pescoço e


aperta, cortando o fluxo de ar a ponto de eu não conseguir
mais respirar. Meus olhos se arregalam, e agarro a corda,
tentando puxá-la. Leigh empurra meu rosto no colchão e
pressiona o joelho nas minhas costas, puxando com mais
força. Meu peito queima e meus membros lutam, o terror
consumindo todos os meus sentidos enquanto o barbante
corta minha carne.

— Sinto muito, Mia, — diz ela, — mas você tem que ir.

Ethan me transportou para este lugar antes. O lugar onde


eu poderia mergulhar em um mundo onde apenas Ollie e eu
vivíamos.

Eu me sinto escorregando para aquele lugar.

Meu coração bate forte.

Está quente e quieto.

Meu coração bate forte.

Apenas paz e liberdade.

Meu coração bate forte.

Mas olhos verdes brilham diante de mim. Promessas,


sonhos e uma luta para nunca desistir. Meus olhos se fecham
quando uma única lágrima desliza pelos lençóis encharcados,
e jogo minha cabeça para trás até que uma onda de dor estoura
dentro do meu crânio. A corda se afrouxa e meu peito implora
por oxigênio, ofegando e tossindo enquanto me viro para
encará-la. Leigh lança-se de volta para mim e eu dobro minha
perna para trás e a chuto entre as pernas antes de ficar de pé.
Antes que ela consiga se equilibrar, vou para a cozinha.
Meu celular havia sumido e pego o telefone residencial da
parede. Depois de discar 9-1-1, todo o meu corpo treme
enquanto abro gavetas em busca de uma faca. Eu arrumei a
cozinha, coloquei tudo em seus lugares, mas não consigo
organizar minha mente para encontrar uma única faca. A
ligação é desconectada e tento ligar novamente em pânico e
desesperada. No momento em que meus dedos se fecham em
torno do cabo de uma faca, Leigh agarra meu cabelo e me puxa
para trás quando a faca cai no chão.

Nós duas lutamos em uma luta por poder, puxões de


cabelo, punhos voando, ofegando por ar enquanto nós duas
imploramos por uma respiração sólida. Uma vez que consigo
manobrar e prendê-la no chão com minhas pernas montadas
em sua cintura, ela soca minha têmpora esquerda e meu corpo
inteiro voa para o azulejo. Um gemido profundo escapa da
minha boca. Levanto minha cabeça para ver que a faca havia
deslizado pelo chão e contra o balcão.

Centímetro por centímetro, rastejo pelo chão enquanto o


sangue pinga do meu rosto no azulejo. Mas a adrenalina e a
luta para sobreviver amortecem temporariamente a dor.

— Maldito inferno, eu subestimei você. — Leigh murmura


baixinho. — Você é uma vadia louca. — Ela fica em cima de
mim enquanto deito sobre meu estômago, rastejando e
comendo a distância entre mim e a faca enquanto as
provocações continuam.
Assim que as pontas dos meus dedos tocam a faca,
agarro-a e chuto suas pernas. Leigh cai de costas, e eu me
arrasto sobre ela, pressionando o metal frio em sua garganta.
— Você entrou na casa de uma psicopata certificada. — Eu a
lembro. — Você não viu loucura ainda. — Seus olhos escuros
se arregalam e ela congela embaixo de mim. Cravando a ponta
da faca afiada em sua carne, as lágrimas ficam presas nos
cantos dos meus olhos enfurecidos enquanto os pensamentos
de abri-la me invadem. Isto seria tão fácil. Eu a tenho bem
onde a quero. O pulso em seu pescoço bate contra a lâmina de
prata, e não consigo desviar meus olhos.

Lutando para me conter, estendo meu braço para cima e


sobre o balcão para o telefone para ligar para Ollie e me impedir
de matá-la.

Ele atende ao primeiro toque.

— Sinto muito. — Diz imediatamente, e o som de sua voz


faz com que as lágrimas caiam dos meus olhos. — Deixei Leigh
há horas, mas tive que voltar para outra... — Ele faz uma
pausa, ouvindo minha respiração áspera do outro lado da
linha. — Mia, o que há de errado?

Mordo meu lábio enquanto Leigh me olha do chão com


lágrimas nos olhos e uma faca em sua garganta. — Ollie... —
Eu resmungo em um sussurro. Chupando uma respiração
rápida, eu a solto lentamente entre meus lábios, minha mão
segurando uma faca tremendo contra sua garganta,
ameaçando esfaqueá-la no pescoço e vê-la sangrar. A guerra
interna não acabou. Isso nunca acabará. Sempre esteve lá,
espreitando, esperando. Pensamentos maus turvados. Visões
de sua vida escapando, seus olhos fechando, o vazio tomando
conta de nós dois. Parece tão pacífico. Final. E estou exausta.
— ...eu vou matá-la.

— Quem, Mia? Fale comigo. O que você está fazendo?

— Leigh. Ela invadiu. Estou sentada em cima dela. Uma


faca em seu pescoço. Ela não pode sair desta casa com vida.
Esta é a minha casa. Nossa casa. — Eu divago enquanto Ollie
abafa o telefone e fala baixo com outra pessoa para chamar a
polícia. — Ollie?

— Eu estou bem aqui. Estou a caminho. Ouça-me, Mia,


estou implorando. Não faça isso e fique comigo no telefone. —
Sua voz está frenética, e Leigh engole em seco com as lágrimas
manchando seu rosto. — Você está me ouvindo?

Uma batida se passa e Leigh se mexe embaixo de mim


para tentar se libertar. Pressiono o gume da lâmina contra sua
carne e os dentes cravam em sua pele. O sangue escorre de
sua garganta para o azulejo. Leigh para. — Sim. — Eu
sussurro.

— Feche os olhos, baby. — Diz ele calmamente. — Eles


estão fechados? — Eu fecho meus olhos com força e tento
inalar pelo nariz enquanto luto contra a vontade de cortar mais
fundo. Balanço a cabeça, mas ele não pode ver e continua de
qualquer maneira. — Mais de dois anos atrás, no meu
dormitório, você veio pelo respiradouro com essa crença
maluca de que beijar era mais íntimo do que sexo. Você se
lembra?

Eu balanço a cabeça, fungando.

— Mia?

— Eu lembro.

Ollie solta um suspiro. — Então você deslizou no meu colo


e meu coração parou dentro do meu peito. Eu não conseguia
pensar. Eu mal conseguia respirar, amor. Mas quando seus
olhos encontraram os meus, uma mudança aconteceu. Dentro
de você. Dentro de mim. Seus olhos se iluminaram e eu não
estava mais com medo. Você continuou falando sobre ciência
e esse beijo proibido, e tudo que eu conseguia pensar era no
fato de que você eventualmente iria embora, e o pânico voltou.
Nunca quis perder esse contato. Eu nunca quis ficar sem você.
— Ele engasga e faz uma pausa para respirar. — Eu puxei você
para mais perto, coloquei minha cabeça na sua, vivendo
naquele momento pelo maior tempo possível. Porque você
conseguiu me dar algo que estive procurando por toda a minha
vida, Mia. Você me deu você, tudo de você, sem nem mesmo
perceber. — O caos irrompe quando a polícia entra pela porta,
as armas erguidas e a faca escorrega da minha mão trêmula
para o ladrilho enquanto eu caio de costas no balcão com o
telefone agarrado no meu ouvido, lágrimas escorrendo dos
meus olhos. — O engraçado nisso tudo é que você estava
errada o tempo todo, amor. Sexo, um beijo... demorou muito
menos do que isso. Eu só disse essas coisas na hora... porque
eu só queria beijar você.

Homens de terno e equipamento arrastam Leigh para


longe enquanto outro agarra meu braço e me puxa do chão. O
telefone cai, quebrando assim que atinge o ladrilho.

Luzes azuis piscam para cima e para baixo em nossa rua


de fora e através das janelas da minha casa. Sento-me no sofá
com dois policiais de pé diante de mim, me questionando sobre
o que aconteceu com um cobertor enrolado em meus ombros.

Poucos minutos depois, Ollie entra correndo pela porta


da frente. Ele empurra os dois oficiais e se agacha diante de
mim, sem palavras examinando meu rosto, meus olhos, com
preocupação e terror gravados nos seus. — Mia?

Balanço minha cabeça. — Eu não fiz isso.

Ollie agarra minha nuca e beija minha testa antes que


nossas cabeças se conectem. E ficamos assim por um
momento, meu corpo ainda tremendo por causa do telefonema,
até que o policial pigarreia e larga o cartão sobre a mesa de
centro.

— Se você tiver alguma dúvida, aqui está o meu número.


— O que irá acontecer com ela? — Eu pergunto, e Ollie se
levanta e se senta no braço do sofá ao meu lado, sua mão
nunca deixando a minha.

O policial fecha seu bloco de notas em espiral e ajusta o


chapéu na cabeça.

— É muito cedo para dizer, mas pelo que eu posso ver,


pode haver uma chance para Leigh. Ela provavelmente vai
acabar no reformatório em Guildford, Dolor.
TRINTA E UM

“Amá-la muito até que ela se desfaça; poeira estelar em suas


palmas, brilho aderindo à sua alma e vinte e quatro quilates
derretendo na sua boca.
Ame-a com tanta força, que você não tem nada e ela é
deixada para brilhar.”

⎼ Oliver Masters

UMA SEMANA SE PASSOU. Recusando-se a ir para a sala de


emergência, Mia se curou sozinha. Minha pequena explosão de
esperança. Eu nunca consegui imaginar ou entender a luta
interna que ela enfrentou naquele momento, a necessidade de
matar quando todo o seu ser foi ameaçado em sua própria
casa, mas ela foi forte o suficiente para lutar contra isso, eu
tenho certeza que ela sempre foi capaz de fazer.

Estamos a meio caminho do Natal e Dex ainda não tinha


feito a ligação ou falado sobre o plano. A polícia prendeu Leigh,
o que atrapalhou seu plano, e se ele soubesse, teria ligado. De
qualquer forma, não podemos mais usá-la. Mas com ou sem
Leigh, estou preparado para usar a bala que salvei. Eu ainda
estou pronto para matar Ghost mais do que nunca. É a única
maneira.
— Que tal esta? — Mia pergunta parada ao lado de uma
árvore de Natal. Bochechas rosadas, olhos escondidos atrás de
grandes óculos pretos e cabelo preso no alto, admiro como ela
é pequena contra o monstro de uma árvore. Os dedos de Mia
puxam os galhos congelados e pedaços de gelo caem da árvore.
— Acha que vai passar na porta?

— Não, definitivamente não. — Digo com uma risada. Mia


franze a testa, vestindo jeans preto, botas de combate e um
grande casaco cinza sobre um capuz preto liso. O sol irá se pôr
em breve e não temos muito tempo. — Pense pequeno, amor.
Vamos colocá-lo na frente da janela da sala, certo?

— Aquela ao lado do piano?

Eu balanço minha cabeça. — Do outro lado da porta da


frente. Mais perto do nosso quarto.

— Oh, sim. Ok. — Mia salta na frente de outra árvore. —


Esta!

A árvore tem metade da altura e metade da vida, mas


caberia. Eu caminho em direção a ela. — Você tem certeza?
Esta é a que você quer?

Mia salta na ponta dos pés, a luz do dia morrendo. — Sim,


agora vamos. — Ela sopra ar quente nas mãos e aperta o
casaco ao redor dela. — Está um frio maldito aqui.

Eu rio. — Fique com seu sotaque, amor. O único britânico


em você sou eu.
O cara da fazenda de árvores ajuda a amarrar a árvore no
topo da velha Perua, e ela se mantém firme durante todo o
caminho de volta para nossa casa. Eu armo a árvore no canto
perto da janela e Mia se senta no chão com as decorações
espalhadas que ela havia coletado na cidade semana passada
ao seu redor. Ela trocou de jeans por calças de pijama, meias
de Natal aquecendo seus pés.

As chamas dançam na lareira, aquecendo a pequena casa


enquanto velhas canções de Natal tocam na vitrola, e estou na
cozinha, fazendo chocolate quente caseiro com as barras de
chocolate ao leite que comprei em uma loja em Londres. Uma
vez feito isso, encho as duas canecas com bastões de doces e
volto para a sala onde Mia tem o canto da caixa de enfeite entre
os dentes.

— Está sendo difícil para você? — Pergunto, rindo e


caminhando em direção a ela, mas sei que não devo ajudá-la.
Na maioria das vezes, Mia está determinada e nunca pedir
ajuda, querendo fazer tudo sozinha.

Ela rosna para dentro da caixa e eu tomo um gole da


minha caneca enquanto lhe entrego a outra.

Depois de uma batalha entre Mia e a embalagem, amarro


as luzes ao redor da árvore e tiro uma caixa com nossas coisas
da Dolor. Entre nós dois, salvamos cada rosa de origami que
eu dei a ela. Mas o que penduramos primeiro, é o que ela
rasgou e eu juntei novamente. A rosa descansa no meio da
árvore, e olho para ela para ver lágrimas em seus olhos.
— Eu sinto muito. — Ela acena com a mão na frente do
rosto. — Eu não sei por que estou tão emocionada agora.

Eu a puxo em meus braços e ela pressiona seu rosto no


meu peito. Minhas mãos alisam sua nuca. — Contanto que
sejam lágrimas de felicidade, amor.

Meu celular toca e Mia se afasta, respirando fundo. — Eu


vou ficar bem. — Ela ri. — Você deveria atender. Pode ser Dex.

Mia está certa, e vou até a lareira e pego meu telefone na


borda para olhar para a tela. Meu coração dispara dentro do
meu peito. Dex. Eu respondo.

— Eu preciso que você venha em casa hoje à noite. — Ele


afirma. — Temos que revisar algumas coisas.

Os olhos lacrimejantes de Mia observam os meus em


busca de uma reação.

— Sim, estarei lá.

A ligação é desligada e coloco o celular no bolso e vou até


ela, segurando seu rosto em minhas mãos. — Eu tenho que ir.

— Eu sei.

— Qual é o número de emergência aqui, amor?

Ela revira os olhos. — 9-9-9, não 9-1-1.

Assentindo, forço um sorriso. Deixar Mia sempre foi meu


maior erro repetido. Um que eu tenho feito várias vezes há
meses, mas sempre volto para ela.
— Espere por mim.

— Eu sempre faço.

Não era a ligação que eu esperava, mas também não


quero atravessar a cidade para vê-lo esta noite, especialmente
com a chance de ele saber que Mia está envolvida na prisão de
Leigh. Meu joelho salta sob o volante, a tensão aumentando
enquanto puxo na frente do portão com corrente contra o meio-
fio. Nenhuma música toca na casa, o que significa apenas uma
coisa. Esta noite significa negócios.

Sopro ar quente em minhas mãos e esfrego as palmas,


meus pés avançando pelo caminho em direção à porta. Ao
entrar, Dex, Smith, Adrian e outro cara que eu tinha visto com
Dex estão na cozinha, amontoados em um círculo enquanto
mamãe se senta no sofá rasgado da sala de estar. — Baby O.
— Dex chama, acenando para mim em volta do grupo de caras.
Passo por mamãe e seu olhar apreensivo nunca deixa o meu,
fazendo minhas palmas suarem. Dex dá um passo para o lado,
abrindo espaço para mim. — Eu tenho que te perguntar uma
coisa, cara. Você sabe onde Leigh está?

Ele sempre vai direto ao ponto.


Meus olhos percorrem o círculo, procurando uma
indicação sobre qual resposta eu deveria dar. Os outros três
homens olham para mim, olhos totalmente vazios de qualquer
emoção, além de Adrian. Ele parece sem noção e fora do
circuito.

— Não, não ouvi falar dela. — Minto.

A mão de Dex bate na minha nuca antes de apertar. —


Essa é a mentira número um. — Ele aponta e encara os outros
homens. — Nos deixe.

Depois de se olharem para trás e para frente, os homens


se dispersam pela porta dos fundos. Mamãe se levanta do sofá,
mas Dex ergue a palma na direção dela, gesticulando para que
ela se sente.

Então ele se vira para mim. — Nossa virgem se foi, — Dex


continua. — Não respondeu ou apareceu por uma semana de
merda. Você sabe como é difícil encontrar uma participante
disposta que seja virgem? Leigh era perfeita. E imagine minha
surpresa quando descobri quem a prendeu.

Dex sabe, e meu coração salta na boca do estômago.

— Mia não teve nada a ver com isso. — Eu rosno.

— Mia acabou de se tornar seu maior problema. — Diz


ele lentamente. — Sua esposa acabou com todas as chances
de você sair vivo do escritório do Ghost.
Meu lábio se contrai e eu cruzo os braços sobre o peito.
— Do que você está falando?

— Tive uma reunião com o líder do BOG e fechamos um


acordo. Acontece que Leigh valia mais do que eu esperava.
Então, uma virgem bonita com uma nádega apertada para
ganhar em troca de uma invasão por homens BOGs. Assim que
soubéssemos da hora e do lugar, eles seriam sua distração
para tirá-lo de lá. Agora, não temos nada para trocar. Leigh era
sua passagem só de ida e agora você está por conta própria.
Não há tempo para encontrar outra Leigh.

Se Leigh valia tanto quanto ele disse, ele não a teria


trocado por minha vida. O ataque do BOG era para que nada
recaísse sobre Dex. Mais um passo à frente. A única pessoa
que Dex cuida é ele mesmo. Ele não é nada mais do que um
peixinho em um vasto oceano com o apetite de um tubarão.

Um tubarão que planejou me matar o tempo todo, mas só


depois que ele me usou para cumprir suas ordens. Ele disse
isso. Eu sou descartável. E eu fiz uma promessa a Mia.

Prometi que ela nunca me perderia.

— Foda-se. — Sussurro, meus olhos disparando sobre o


balcão enquanto o quebra-cabeça fica mais claro. Lentamente,
levanto meu queixo até que nossos olhos se encontram.
Primeiro as notícias de James sobre os planos de Dex com
Adrian, agora isso? Minha voz aumenta, a raiva se espalhando
em cada palavra. — Isso nunca acabaria, não é? — Meu punho
cerrado bate no balcão. — Você acha que eu desistiria da
minha vida para construir seu império?

Há humor nos olhos estreitos de Dex. — Você me deu


uma oportunidade e eu a aproveitei. Você está matando Ghost
e, se conseguir sair vivo, pode ir embora. Você tem minha
palavra.

Uma risada seca sai dos meus lábios. — Sim? E o que vou
fazer com isso? Jogar em você?

Dex agarra meu colarinho e me puxa para frente até que


nossas testas colidam. A saliva voa de seus lábios enquanto ele
grita:

— Você vai matar Ghost.

— Vá para o inferno. — Digo, empurrando-o de cima de


mim, e ele cambaleia para trás. — Eu cansei dessa merda.
Encontre outra cadela.

Viro-me para sair quando a voz de Dex toca minha nuca.


— Você sabe o que sua mãe disse quando descobriu que a
morte de Oscar foi sua culpa? — O tom de Dex é calmo,
treinado, e eu paro no meio da sala e deslizo meu olhar para
ela. — A única maneira de quebrar você, era quebrar seu
coração. E pensei comigo mesmo... ela está exatamente certa.
A porra do coração de Oliver. Mas o que exatamente faz o
coração de Oliver Masters bater? Quero dizer, ele desistiu de
boa vontade de quarenta mil em troca de encontrar a porra de
um segurança. Ele dirige uma velha Perua pelo amor de Deus,
então nunca foi o dinheiro que ele quis. E sexo? — Ele dá uma
risadinha. — O rapaz tocou em um buraco apertado, mas não
quebrou. E por um tempo lá, quase acreditei que o idiota
chupava um pau. Mas isso só deixava uma coisa. Família. E
não estou falando sobre o irmão ou a mãe dele... Porque todos
nós sabemos que a mamãe querida tentou se livrar dele há
muito tempo. Ele nunca a perdoou pelo envenenamento, pela
sufocação...

Com meu olhar fixo em mamãe, meus olhos queimam. As


lágrimas escorrem por suas bochechas e ela inclina o rosto
para o lado, quebrando a conexão como um palito de picolé.
Eu fecho meus olhos com força e me viro para encará-lo.

Dex dá um sorriso. — Bem, você sabe como foi essa


história.

— Vá direto ao ponto.

— A questão é que nunca foi o que faz seu coração bater,


mas quem, — Dex enfia a mão no bolso da calça e pega o
telefone. Seus olhos se fixam na tela brilhante enquanto seu
dedo rola. — Jake, Travis e o pequeno Turner, que cresceu
tanto, — ele sorri, e meus músculos ficam tensos, — mas então
há Mia. Assim que coloquei os olhos nela, companheiro, eu
quase me distraí e deixei que ela assistisse. A menina é bonita.
Quero dizer, olhe para ela. — Dex ergue o telefone, a tela está
voltada para mim e é uma foto de Dex e Mia conversando nas
ruas de Surrey, a mão de Mia apontando para frente como se
ela estivesse lhe dando instruções.
Pisco uma vez, o medo tomando conta do meu coração, e
Dex coloca o telefone de volta no bolso. — Você vai matar o
Ghost, Oliver. — Ele continua. — E, desde que o trabalho seja
feito, vou garantir que nada aconteça a nenhum deles. As
chances são, sim... Você morrerá naquela sala, mas você pode
pelo menos morrer sabendo que Mia está segura. E se você
tentar me matar, meus garotos do lado de fora sabem o que
está acontecendo. Mia está morta, todo o derramamento de
sangue estará em suas mãos, e você vai voltar para a prisão
pelo resto da vida. — Dex ergue as palmas das mãos no ar e
inclina-se de um lado para o outro, imitando uma balança. —
Eu diria que as coisas não estão parecendo muito boas para
você, cara.

Um grito passa por mim na cabine do carro enquanto


corro para casa para Mia no meio da noite escura e sob a
mesma lua que eu sonhei inúmeras vezes. Passo por todos os
carros em meu caminho, indo bem mais de 160 quilômetros
por hora na M25, depois da ponte Queen Elizabeth II.

Minha mão bate no porta-luvas para abri-lo e me arrasto


para dentro em busca do maço de cigarros velho, precisando
de algo para acalmar a ansiedade. Acendo o cigarro, com um
brilho laranja entre os olhos, e inalo o mentol, mas a nicotina
não diminui a ansiedade que me dilacera. Mia não está segura
e só há uma maneira de garantir que ninguém a toque.

Eu tenho que quebrar minha promessa.

Eu tenho que soltar a mão dela.

Quando chego à nossa casa, meu olhar se fixa em nossa


árvore de Natal, lançando luzes brancas de dentro da casa pela
janela enquanto meus pés voam escada acima e pela porta da
frente. Mia pula do canto do sofá, o cobertor caindo no chão.
— Ollie, o que há de errado? — Ela pergunta, caminhando em
minha direção com a minha camiseta de FAÇA AMOR, NÃO
GUERRA, seu cabelo ainda úmido do banho.

Sua mão alcança meu peito, mas meu coração não


aguenta. — Você tem que ir. — Digo, agarrando seu pulso e
puxando-a para longe. Entro em nosso quarto e paro na frente
do armário, e Mia me segue de perto. — Você não pode ficar
com Summer ou Jake. — Minhas mãos tremem quando puxo
uma mochila do topo do armário e me viro em direção a sua
cômoda, — Você tem que voltar. — Todas as gavetas que abro
caem no chão, e minhas mãos automaticamente agarram as
roupas, jogando-as na mochila enquanto um fogo arde atrás
dos meus olhos. Não posso ver claramente. Eu não consigo
pensar com clareza. O único objetivo que consome meu cérebro
é colocar Mia de volta em um avião para os Estados Unidos,
levá-la o mais longe possível daqui.
— Ollie, pare! — Mia chora ao meu lado, arrancando
roupas de minhas mãos e me empurrando para longe da
cômoda. — Eu não estou deixando você!

Virando, agarro seus ombros e me abaixo para encará-la.


— Eu menti, Mia. Isso parece o rosto de alguém que não tem
medo? — Pergunto a ela, e meu próprio reflexo ricocheteia em
seus olhos castanhos dourados. Cru. Vulnerável. Despido até
o âmago da minha alma. — Porque estou apavorado! Não posso
permitir que nada aconteça com você. Este é o único caminho!

Mia semicerra os olhos e afasta meus braços dela. — Você


é um verdadeiro filho da puta, sabia disso? O que aconteceu
com você e eu? O que aconteceu com passarmos por isso
juntos?

— Não há você e eu se estivermos mortos, porra. — Grito,


e Mia se vira, então saio na frente dela com o dedo apontando
para a parede. — Você está entrando naquele avião, Mia! Você
vai ficar quieta, me ouvir pelo menos uma vez na vida e entrar
naquele maldito avião.

Meu olhar trava com o dela, ambos os nossos peitos


pesadamente arfando. Nesse ponto, os olhos de Mia estão
injetados, lábios macios tremendo, e meu coração pesado bate
dentro de sua gaiola frágil, nenhum páreo contra ela e o poder
que tem sobre mim. Minha respiração prende, as lágrimas
brotam em meus olhos e uma finalidade cruza sua expressão.

Ela tinha se decidido.


Mia dá volta na cama, pega um travesseiro e vai para a
sala. — Certifique-se de limpar a bagunça quando terminar
sua birra. — Ela mal sussurra em meio às lágrimas. Um
rosnado desesperado irrompe do fundo da minha garganta, e
agarro uma gaveta e jogo pelo quarto, abrindo um buraco na
parede de gesso acima da cama antes de desmoronar no chão
contra a cômoda.

Horas se passam, e o único som em nossa casa é um


show passando na televisão e as fungadas suaves de Mia na
sala de estar. Eu estive na mesma posição o tempo todo, com
os joelhos dobrados e minhas pernas dormentes. Totalmente
drenado pelas emoções acontecendo dentro de mim, meus
membros estão fracos quando me levanto e faço meu caminho
até ela.

Mia está de costas para mim enquanto se deita em nosso


sofá de couro, seu cabelo castanho caindo do travesseiro e da
borda. — Sinto muito. — Eu sussurro, e ela se vira ao som da
minha voz para me encarar. Seus olhos estão inchados e as
bochechas tão vermelhas, suas sardas estão perdidas, mas
ainda assim tão lindas. — Estou com medo, Mia.

— Eu sei, eu também estou. — Ela admite, então se afasta


para me dar espaço. Tiro meu moletom e a camiseta, em
seguida, minha calça jeans antes de afundar no sofá ao lado
dela. Ela imediatamente me aquece e meus dedos empurram
seu cabelo enquanto ela balança a cabeça. — Eu não vou
deixar você, Ollie. Não há nada que você possa dizer ou fazer
para me fazer partir. Eu vou ficar com você. Não importa o que
aconteça, estarei bem aqui com você a cada passo do caminho.

A coisa certa a fazer é dizer a ela que eu sou um homem


morto, para prepará-la para o inevitável, mas não consigo
encontrar força em mim. É melhor de qualquer maneira, Mia
não saber. Ela só faria algo incrivelmente estúpido como me
implorar para não atender a ligação e fugir de tudo. Mas não
podemos forçar Travis, Summer, Jake e o resto deles a fugir
conosco. Se fugíssemos, Dex estaria em busca de sangue. Ele
tiraria tudo o que faz meu coração bater dentro do peito, o mais
importante, Mia. E se morrer significa que ela estará segura,
eu morrerei mil mortes.

— Prometa-me uma coisa, Mia. — Digo quando sua


respiração superficial atinge meus lábios. Mia ergue os olhos
para mim e acena com a cabeça uma vez. — Se uma noite eu
não voltar para casa, não espere por mim. Em vez disso, feche
os olhos e durma, assim, não importa onde eu esteja eu ainda
posso estar com você. — Seus olhos saltam entre os meus, e
eu engulo. — Sonhe comigo, certo? Prometa que você vai fazer
isso.

Os lábios de Mia se separam e os olhos ficam vidrados. —


Eu prometo.

Abandono o sofá e a pego, carregando-a em meus braços


de volta para a nossa cama. Ela não diz nada sobre o buraco
na parede, a gaveta quebrada ao lado de nossa cama ou as
roupas penduradas na cabeceira de madeira. Mia apenas
mantém os olhos nos meus enquanto eu a coloco sobre o
colchão e lentamente a dispo.

A única maneira que eu poderia passar por este momento


é me manter junto quando todo o meu corpo e emoções querem
quebrar com o pensamento de que esta será a nossa última
vez. Sua pele de marfim brilha contra os lençóis brancos de
nossa cama, e levo meu tempo, correndo a ponta dos meus
dedos sobre seus lábios, pescoço e seios. Cada centímetro dela
marcado em minha mente, mas esta noite, ela queima minha
alma, então eu me lembrarei de nós muito depois da morte.

Meus dedos roçam em seu estômago, que ligeiramente


sobe e desce sob o meu toque. Viro meus olhos para cima e
seu lábio inferior fica preso entre os dentes, seus olhos
fechados. — Abra seus olhos, amor, — sussurro, e seus cílios
grossos se abrem.

Continuo minha jornada, seu corpo inteiro estremecendo


quando meus dedos roçam seu sexo e suas coxas se separam
sob meu comando silencioso. Os olhos de Mia tremulam e uma
respiração fica presa em sua garganta enquanto meus olhos
deslizam por seu torso. Meu coração bate forte, e seu centro
tenro anseia por ser beijado.

Eu rastejo entre suas pernas e subo por seu torso até que
meu nariz roça o dela. Minha boca desce para seu pescoço para
beijar o ponto abaixo de sua orelha apenas uma vez. — A
primeira vez que fizemos amor, — sussurro em sua garganta.
— Eu perguntei algo a você antes de acontecer. O que eu pedi
para você fazer?

As costas de Mia se arqueiam e seus mamilos roçam meu


peito antes que ela diga: — Você queria que eu me lembrasse
do momento e de como você me fez sentir.

— Sim. — Sorrio, movendo minha boca de volta para a


dela, — Segure isso também.

E nós fazemos amor naquela noite como todas as outras,


e embora eu seja incapaz de esconder a maneira como meu
coração dança com a nossa última música, ela nunca notaria
ou veria a diferença. Eu nunca me segurei quando se trata de
nós dois, e Mia sempre teve o poder sobre mim. Minha outra
metade, minha força.

A garota é um desenho, uma forma de arte. Pintores,


músicos e nem romancistas podem capturar ou imitar o modo
como ela ilumina galáxias sob minha carne ou faz meu coração
bater ao som de River Flows in You. Mesmo o mais talentoso
ficaria com ciúme da maneira como ela se move como tinta em
minha pele e em minha corrente sanguínea. Por mais de dois
anos, eu a derramei em cada linha, palavra e sílaba de poesia,
mas nunca consegui acertar.

Uma maravilha absoluta.

Eu passei os últimos anos me apaixonando por ela, e


poderia morrer fácil sabendo que Mia Rose é forte o suficiente
sozinha. Ela nunca precisou de ninguém. É verdade, eu a
pressionei para trazê-la de volta, mas ela sempre foi aquela que
se salvou. Talvez esse fosse o meu propósito nesta vida com
Mia, para lembrá-la de que a luta ao longo do caminho poderia
ser tão bonita quanto a liberdade que ela encontrará quando
eu partir porque... nós já estivemos juntos, e foi lindo.
TRINTA E DOIS

“Uma vez que um poeta cai apaixonado por você, você


nunca vai morrer.”

⎼ Oliver Masters

É DIA DE NATAL e temos a casa cheia mais cedo para uma


troca de presentes com Lynch, a família de Travis, Jake e Liam.
Sorrisos e risadas enchem a sala enquanto todos saboreiam
meu famoso chocolate quente e a música de Natal que Mia toca
no piano. Perto do fim, Jake e Lynch se juntam para um jogo
de charadas, ambos irritados com uma garrafa compartilhada
de gemada condimentada. Como os dois ganharam está além
de mim.

Depois que todos foram embora, uma música do Mazzy


Star abençoa os alto-falantes, interrompendo o clima de Natal.
Mia grita da cozinha e corre em minha direção em um suéter
vermelho com estampa de floco de neve e calças de couro, me
forçando a sair do sofá. — Dance comigo. — Ela pede, e não
precisa pedir duas vezes. Afasto a mesa de centro do caminho
e dançamos em nossa sala de estar em frente ao fogo, as luzes
coloridas de nossa árvore de Natal brilhando em seus olhos.
— Quando posso te dar meu presente?

Nós conversamos sobre isso. Eu disse a Mia para não


gastar montes de dinheiro comigo, então ela mencionou que o
primeiro ano era papel. Eu disse a ela que era para
aniversários, não para o Natal, mas Mia nunca gostou de
seguir as regras, e meu coração se apertou com a ideia de não
ir ao nosso primeiro aniversário, então concordei. Era papel.

Com seus braços em volta do meu ombro e um sorriso


ansioso puxando seus lábios, vou abrir minha boca quando
meu telefone toca.

O ar fica mais denso. Meu estômago revira com o leve


som, e coloco minha mão no bolso da frente da minha calça
para recuperar meu telefone e segurá-lo para o lado.

Meu celular acende. É hora de ir. As quatro palavras


simples na tela me paralisam.

Meus olhos não se movem da tela e uma batida atinge


meus ouvidos. Meu punho cerra-se e minha pulsação acelera
nas pontas dos meus dedos contra o telefone.

— Ollie, o que é? — Mia pergunta, mas sua voz parece


distante, perdida enquanto minhas entranhas gritam.

A sala gira, Mazzy toca e parece que toda a cabana está


submersa na água.

— Ollie? — Mia pergunta novamente, tocando meu rosto.


Sua mãozinha agarra meu queixo para mover meus olhos
de volta para os dela, e molho meus lábios secos antes de
engolir a agonia de volta. — Eu, — faço uma pausa para limpar
a garganta de emoções, — eu tenho que ir. — Sai como uma
pergunta. Eu tenho que ir?

Claro, tenho que ir. É a única maneira de mantê-la


segura.

— Agora? — Mia inclina a cabeça com o cenho franzido.


— É Natal.

— Acredite em mim quando digo, eu não quero. É a


última coisa que quero fazer, amor. Mas eu não tenho escolha.
— Forço um sorriso e custa todo esforço. Mia estuda minha
expressão, vendo através dela. Desvio meu olhar e levanto o
braço dela ao redor do meu ombro para trazer a palma da mão
aos meus lábios, pressionando um beijo dentro. — Eu tenho
que ir me trocar.

Eu a deixo parada na sala de estar para fazer meu


caminho em direção ao quarto. A única coisa que me mantém
são e estável é o fato de que ela estará segura e livre. É o único
pensamento cantando dentro da minha cabeça repetidamente
enquanto eu rapidamente visto uma calça jeans preta, uma
camiseta branca e um moletom preto. Saltando em uma perna,
calço minhas botas pretas na porta para olhar para a sala de
estar. Mia está ocupada arrastando a mesinha de centro de
volta no lugar e pegando canecas das mesinhas laterais,
limpando, o que ela raramente faz. Desta vez, deixo a arma
debaixo do colchão para Mia, caso ela precise de proteção,
esperando que ela nunca tenha que usá-la. Corro para o
guarda-roupa antigo para recuperar uma carta que escrevi
para ela, a segunda arma que Travis ganhou esta semana, e
uma caixa de balas.

Meus olhos correm para frente e para trás em torno do


guarda-roupa em direção à porta, pegando Mia dobrando um
cobertor e colocando-o sobre o sofá, e minhas mãos trêmulas
deslizam balas na arma. Farei o que for necessário para voltar
para casa com ela, e desta vez, irei totalmente carregado.
Depois de me certificar de que a trava de segurança está
colocada, coloco a arma atrás de mim e fecho as gavetas.

Mia está na cozinha, de costas para mim, e eu paro no


meio do caminho em na sua direção, apenas para me virar para
respirar. O oxigênio fica escasso, espalhando-se para dentro e
para fora dos meus lábios enquanto meu estômago retorce em
nós. Com um golpe da palma da mão no meu rosto, limpo as
lágrimas e deixo cair minha cabeça para trás em busca de
qualquer força que reste dentro de mim antes de me virar.

Minhas mãos agarram os quadris de Mia, girando-a para


me encarar. Seguro seu rosto em minhas mãos, e ela não diz
nada com olhos dourados vítreos. Naturalmente, meu corpo se
apoia no dela, prendendo-a no balcão, e fecho os olhos para
inspirar pelo nariz. O aroma distinto de jasmim depois de
chover, e eu o impregno em minha alma.
Coloco a mecha atrás de sua orelha antes de beijá-la,
meus lábios agarrando-se aos dela e minha boca se move mais
suavemente, minha língua roça mais devagar e meus lábios
sugam com mais força, segurando por mais tempo do que eu
deveria antes de me afastar com relutância. Nossos narizes
roçam antes que nossas testas se conectem.

— Eu sempre estarei apaixonado por você, Mia. — Digo,


passando meus polegares sobre suas bochechas e seu lábio
carnudo. — Lembra da sua promessa?

— Não esperar acordada por você. — Ela sussurra, e eu


balanço a cabeça contra ela. Mia solta um suspiro e coloca os
braços em volta da minha cintura acima da arma, sem
perceber. — Você se lembra da sua promessa para mim? — Ela
pergunta, piscando para mim.

— Você não está me perdendo. — Minto, porque é o único


jeito, e pressiono meus lábios contra sua testa antes de deixar
seus braços para ir em direção à porta, meu coração me
avisando.

— Ei, Ollie, — ela grita assim que minha mão pousa na


maçaneta da porta, e congelo ao som do meu nome em seus
lábios. Não me viro, eu mentalmente não posso fazer isso, e
sua voz viaja entre nós. — Eu também te amo.
Ligo para Dex a caminho de Thurrock e ele repassa os
detalhes antes de enviar o endereço para o meu telefone. A
reunião acontecerá em duas horas em um armazém a dez
minutos dos andaimes que eu tinha escalado quando criança.
Com tempo a meu favor, envio uma mensagem rápida para
Adrian para me encontrar no mesmo local em que queimamos
as drogas após o ataque dos BOGs, que parece ter ocorrido há
muitas vidas atrás.

O Civic de dois tons de Adrian está parado ao lado do


grande edifício, e eu estaciono ao lado dele antes de abrir o
porta-luvas para pegar um cigarro. Meus olhos pousam no
presente de Natal de Mia dentro, e todos os músculos do meu
corpo flexionam meu joelho quicando. Depois de alguns
batimentos do meu coração, pego a mochila, fecho o porta-
luvas com força e me junto a Adrian pelo cano.

Com uma sacudida rápida e um tapinha nas costas, nós


acendemos nossos cigarros.

Há silêncio entre nós no início, e arrasto a fumaça até que


a queimadura atinge meus pulmões enquanto nós dois
olhamos para o abismo do nada. A lua aparece no alto, a noite
muito pacífica, muito calma para o que está prestes a cair.
Meus pensamentos se emaranham na bagunça sagrada que é
Mia, e se eu não disser algo agora, provavelmente o perderei.

— Lembra quando viemos aqui depois da invasão?


— Sim, cara. — Adrian joga a cabeça para trás e ri
levemente. — Eu pensei que você tinha atingido o status de
maluco depois de queimar drogas BOGs e dinheiro sujo.

Jogo a ponta do cigarro e a cinza flutua na minha bota.

— Além disso, eu não fiz.

Na minha visão periférica, Adrian inclina a cabeça.

— O que você quer dizer? Eu vi você fazer isso.

Balançando a cabeça, uma fina camada de fumaça


escapa da minha boca e se mistura com o ar frio. — Você só
viu o que eu queria que visse. — Aponto, puxando o cigarro de
volta à boca e dando alguns passos largos atrás da
caminhonete.

Adrian me segue e eu empurro a chave dentro da


fechadura do porta-malas até que ela estala e abre. Erguendo
a tábua do piso, pilhas coloridas de dinheiro em faixas
descansam nas fendas e as feições jovens de Adrian se
iluminam com uma gargalhada. — Você está brincando
comigo, porra. — Ele se vira para mim, e eu levanto minha mão
por cima do capô do porta-malas e me inclino. — Isso deve ser
pelo menos dez mil parados aí.

— São trinta. — Corrijo.

Que é dinheiro de bolso para o acumulador em mim. Mia


ficará bem. Eu tenho certeza disso. Passei a semana passada
examinando as finanças, e havia o suficiente para cuidar de
Mia pelo resto de sua vida. E é verdade, nunca esperei ser o
poeta milagroso, mas terminei meu segundo manuscrito na
mesa de cabeceira junto com a carta. Mia terá a escolha de
entregá-lo a Laurie para compartilhar com o mundo ou
apreciá-lo para si mesma. Pode até valer mais quando eu for
um caso perdido. De qualquer maneira, sempre fomos nós dois
que combinamos em cada página e palavra, poeticamente
fazendo amor com ela pela eternidade.

— Eu preciso que você faça algo por mim, companheiro.


— A sinceridade em minha voz chama sua atenção. — É
importante para mim.

Adrian inclina a cabeça e cruza os braços. — Sim, Oliver.


Qualquer coisa. Você sabe que sou bom pela minha palavra e
você é meu garoto. Eu sou leal a você, sempre fui.

— Vou mandar uma mensagem de texto com um


endereço assim que eu sair, e preciso que você pegue o
dinheiro das sacolas pretas e coloque-as na porta de casa. Já
está dividido. — A entrega da família do Burn. Eu gostaria de
poder fazer mais pela família.

— E o resto?

— O resto é seu. — Meu braço cai do porta-malas e jogo


o cigarro sobre o concreto rachado. — Eu tinha toda a intenção
de tirar você dos Links, e pode não ser o suficiente para cuidar
de você para sempre, mas é um maldito começo. Você é um
bom homem, Adrian. E eu prometo, há muito mais por aí. Este
mundo é lindo demais para passar seus dias se afogando em
drogas, bebida alcoólica barata e sexo sem sentido. Não o
desperdice, A.

Adrian esfrega a palma da mão no topo de sua cabeça


zumbida antes de agarrar a nuca. — Eu não entendo. — Ele
balança a cabeça, grandes olhos castanhos tentando me ler. —
E você? E o Ghost?

— Vai ficar tudo bem. — Eu o asseguro. — Estou


confiante de que você fará isso por mim, então?

— Sim, claro.

Pelos cinco minutos seguintes, começamos a trabalhar no


carregamento de seu carro e, depois de terminar, interrompo
nosso adeus e deslizo para a Perua com alguns minutos
restantes. Adrian passa por mim e enfio outro cigarro na boca
e abro o porta-luvas para roubar o presente de Mia. Meus
dedos tremem enquanto vincam as linhas do papel
esfarrapado, tornando-o perfeito.

Em vez de parar na frente do armazém, dou a volta pelos


fundos. Embora seja um negócio, homens como Ghost não
deixam ninguém passar pelas portas da frente sem serem
revistados e verificados em busca de armas ou fios. Tenho que
encontrar uma maneira de colocar minha arma para dentro
sem ser notada, e a maioria das saídas não abre pelo lado de
fora.

Um vento forte fere meus olhos enquanto tento a última


porta sem sorte. Apenas um único poste de luz zumbe acerca
de quatrocentos metros de distância, dando-me pouca ou
nenhuma luz. Dou um passo para trás e olho para a lateral do
prédio. Três portas alinhadas, e eu só poderei deixar minha
arma na frente de uma delas. Se eu escolher errado, todo o
plano queimará.

Coloco a arma contra a parede de tijolos na porta número


três, deixo o carro atrás do prédio e caminho de volta para
frente com minhas mãos enfiadas no fundo dos bolsos e a
ansiedade em um ponto mais alto. Mais cedo, dei a Dex minhas
próprias instruções sobre como isso iria acontecer sem Leigh.
Ghost tinha a impressão de que pagaria metade agora antes
de nos encontrarmos mais uma vez para entregar uma virgem
presa. Ghost tinha a impressão de que é apenas mais um
negócio.

Mas não é.

Nós dois morreremos esta noite.

Alguns homens me cumprimentam na entrada, e um


deles me apalpa e verifica se há fios sob meu capuz. — Estou
limpo, companheiro. — Asseguro, examinando o interior do
armazém. Numerosas unidades de armazenamento com portas
azuis brilhantes alinham-se nos corredores do complexo,
algumas abertas, mas não podem ver o que está escondido
dentro deste ângulo.

— Você está atrasado. — Ele rosna. — Onde está sua


garota?

O pescoço do homem corpulento é grosso, veias azuis


aparecendo sob sua carne, vinte e cinco quilos de rosto e
provavelmente um fígado mais pesado. Se não se pudesse dizer
pelo cabelo ruivo loiro ou pelos olhos azuis glaciais, o sotaque
o teria denunciado, um irlandês que está muito longe de casa.

— Você não traz o presente para a festa, a menos que


queira que alguém o abra. — Digo com um sorriso. O camarada
estreitou os olhos e eu balanço minha cabeça. — A troca não
acontecerá até que eu receba meu primeiro pagamento, não
vamos fingir que não sabemos como isso funciona.

O irlandês olha para outro sujeito.

— O homem é um verdadeiro mandão, não é? Vamos em


frente. — Ele cutuca sua cabeça, e eu o sigo pela linha de
unidades de armazenamento na parte de trás, seu
companheiro atrás de mim.

Meus olhos se voltam para as salas de armazenamento


conforme passamos, pilhas de recipientes em alguns,
enquanto os homens levantam, carregam e organizam o que
quer que esteja dentro. Em outras unidades, mulheres jovens
e velhas remexem em roupas penduradas em armários,
exibindo um vazio nos olhos e trajes reduzidos.
E meus pés continuam se movendo até chegarmos ao fim
da linha, onde o corredor se divide em duas direções opostas.
Três escritórios dispostos diante de mim, e para meu horror, o
irlandês vira à esquerda quando eu contava com ele para virar
à direita. Enraizado no lugar, ele se vira para me encarar.

— Algo errado?

Forço um passo à frente. — Não, tudo bem.

Paramos em frente à porta, e o irlandês rapidamente abre


e me conduz para dentro com um gesto de sua mão. — Vai
demorar um pouco. Nesse ínterim, sente-se e aproveite o
entretenimento do Ghost. — Ele enfatiza com humor em seu
tom.

Dou um passo para dentro da sala, a porta se fecha atrás


de mim, e paro no lugar quando um rosto familiar olha para
mim contra a mesa. O caos absoluto nada dentro de seus olhos
escuros de bronze. — Mãe? — Minha voz aumenta.

— Oliver. — Ela sai correndo, me puxando para longe da


porta e na frente dela. Meus olhos correm ao redor da sala
vazia em busca de respostas enquanto ela agarra minha mão.

— Não temos tempo. Você tem que me ouvir.

— Que porra está acontecendo? — As palavras me


deixam, mas eu não consigo ouvi-las, e puxo meu braço para
longe e dou um passo para trás enquanto sua expressão se
suaviza. Meu coração martela dentro dos meus ouvidos e cerro
minha mandíbula enquanto tento dar sentido a tudo. — A
porra do Dex mandou você? De todas as pessoas, ele enviou
minha mãe para se certificar de que eu o matasse? Ou você
queria me ver morrer? Os últimos vinte anos de tortura não te
agradaram o suficiente? — Falo em um sussurro e me viro e
passo minha mão nervosa pelo meu cabelo antes de agarrá-lo.
— Não, você tem que ir, porra. — Minha mão bate na
maçaneta.

— Oliver, pare! — Seu cabelo loiro pegajoso bate em sua


bochecha quando ela pula na minha frente. Sua mão aperta
meu bíceps e eu estremeço.

Olho para a mão dela e de volta para o terror em seus


olhos. — Não me toque, porra. — Eu me irrito, conduzindo-a
para trás contra a parede e cavo meu dedo em meu peito. —
Você não tem o direito de me tocar, de falar comigo, de me ver
morrer. Você perdeu seus direitos sangrentos.

— Eu sei, Oliver. — Ela chora. — Eu era uma mãe terrível.


A verdade é que nunca te mereci.

— Eu não tenho tempo para isso. — Balanço minha


cabeça, então olho ao redor da sala em busca de algo para
manter a porta aberta para recuperar a arma que está no lado
oposto do prédio. Ghost entrará por aquela porta a qualquer
segundo.

— Não, me escute. — Ela grita, seguindo meu ritmo


errático. — Eu fiquei limpa, bebê. E assim que fiquei limpa,
pude finalmente pensar com clareza! Você não pode fazer isso,
Oliver! Se por algum milagre você conseguir sair daqui vivo,
não acabou. Ele planejou matar você o tempo todo. — Ela
divaga freneticamente.

Eu me viro. O tempo está passando, a raiva crescendo e


minha mão treme enquanto bato vigorosamente na lateral da
minha cabeça.

— Você acha que eu não sei disso?

— Não, você não sabe tudo! — Ela grita.

— Eu tenho dois segundos antes que eles cheguem aqui,


e você teve vinte malditos anos para me compensar! — Eu
sussurro a centímetros de seu rosto, meus dentes cerrados.

Os ombros de mamãe afundam e ela enxuga as lágrimas


com as costas da mão. — Deixe-me fazer isso por você. Depois
de tudo que fiz você passar, deixe-me ser mãe pelo menos uma
vez. Deixe-me fazer isso.

— Não. — Eu balanço minha cabeça, visão embaçada


quando tiro minha bota para entrar pela porta dos fundos. —
Eles vão matar você. Já aceitei meu destino. — Eu me viro e
alcanço a porta dos fundos.

— Foi Dex quem ordenou que Leigh matasse Mia para ter
certeza de que você seguiria em frente.

Eu paro e me viro.

Isso não poderia estar certo. Eu tinha conhecido garotas


como Leigh antes.
— Não, Leigh tinha ciúmes de Mia.

— Não, Oliver. Leigh teria feito qualquer coisa por Dex.


Ela teria feito qualquer coisa para se sentir parte de algo, para
se sentir parte de uma família. Quem sabe se Dex algum dia
deixaria Mia em paz. E você não pode fazer isso, Oliver. Mia
precisa de você. O bebê vai precisar de você.

Eu congelo.

Meus pulmões congelam.

Meu peito congela.

Eu não consigo pensar.

— O que? — Sussurro, minha cabeça balançando


lentamente e meus olhos semicerrados, sem saber se a ouvi
direito. Eu não poderia ter ouvido ela corretamente, mas meu
coração deve ter. Golpes fortes e pesados batem dentro do meu
peito, um salto extra do que antes.

É alto e eterno, Ba-dub. Ba-dub. Ba-dub...

— Mia está grávida. — Ela deixa escapar, e as lágrimas


congelam em meus olhos. — Eu a vi há quatro semanas. Ela
tinha aquele brilho sobre ela, que só uma mãe poderia ver. Eu
nunca vou esquecer aquele olhar nos olhos dela, Oliver. Se
você fizer isso, não estará apenas arriscando a vida de Mia.
Você também arriscará seus bebês. Quem sabe o que Dex fará
quando você morrer.
Assim que ela diz isso, a porta se abre, e tudo o que se
segue parece acontecer muito rápido, mas em câmera lenta.

Um homem alto de terno dá um passo para dentro da sala


quando mamãe puxa uma arma de debaixo da saia, aponta
para a cabeça dele e puxa o gatilho. Um estrondo ‘Bang!‘,
perfura meus tímpanos quando o homem cai no chão. Um
zumbido rompe em meus ouvidos, minha audição
temporariamente prejudicada e meus olhos disparam ao redor
quando os lábios de mamãe se movem, — CORRA!

Dois homens se lançam sobre o corpo do Ghost e eu me


viro e corro para a saída quando outro tiro ecoa, assobiando
por mim.

Consigo passar pela porta, o vento frio bate contra meu


rosto, transformando minhas lágrimas em gelo quando o Civic
de Adrian para com a janela aberta. — Entre. — Ele grita, e eu
rapidamente contorno o carro e deslizo justamente quando
tiros abertos explodem de dentro do prédio, um após o outro,
cada um rasgando meu coração em pedaços sabendo que
mamãe está lá dentro.

Eu a deixei lá.

Mamãe está morta e eu a deixei lá.

Minhas palmas pressionam contra meus ouvidos


enquanto eu grito, e Adrian dispara, pneus escorregando e
asfalto borrifando.

O que eu fiz?
Bato no painel, minha raiva me rasgando.

— Mia precisa de você. O bebê precisa de você. — As


palavras paralisantes de mamãe se repetem, e eu corro minhas
palmas para cima e para baixo em meu rosto aquecido
enquanto Adrian acelera pelo beco, mas a fúria apenas
alimenta os pensamentos maliciosos que pulsam dentro da
minha cabeça.

Enfio minha mão no bolso e tiro o presente de Natal de


Mia, amassando o papel repetidamente com as mãos trêmulas
em um torpor cheio de raiva.

Isso nunca irá acabar. Minha família nunca estará


segura.

Não enquanto Dex estiver vivo.

— Adrian. — Eu grito, e inclino minha cabeça para


encará-lo. — Leve-me ao Dex.
TRINTA E TRÊS

“E todos nós sabemos como a história termina, pela primeira


vez, vamos com um pouco de mistério e um monte inteiro de
magia.”

⎼ Oliver Masters

ADRIAN ACELERA pelas ruas degradadas de Thurrock até a


casa de Dex, e eu não posso evitar a raiva crescendo dentro de
mim. Minhas mãos tremem, ansiosas para envolver sua
garganta e roubar cada pedaço de vida que ele ameaça tirar de
mim. Minha mandíbula aperta, me segurando para não rasgar
a bunda de Adrian por não ir rápido o suficiente. E meu peito
e pulmões queimam de segurar o Santo tentando falar com
bom senso em mim. Vadia, não é a porra da sua vez.

Meu joelho salta a uma velocidade impossível. Meus


ouvidos ainda zumbem com os mesmos tiros que tiraram a
vida de mamãe. Desisti de tentar me acalmar há muito tempo.
Dex havia enviado Leigh para matar minha esposa, meu bebê.
Suor e lágrimas enfurecidas escorrem pelo meu rosto no auge
do inverno. Eu não sinto frio. Eu não consigo sentir nada além
da loucura. Meu punho cerrado bate no console do meio.
— Depressa, porra. — Eu grito.

Adrian salta ao meu lado e agarra o volante. — Você


precisa pensar sobre isso. Pare por um segundo e pense no que
está prestes a fazer.

Inclino minha cabeça para o lado. — Não me questione,


porra.

— O que diabos você vai fazer?

Vou abrir o mundo e engoli-los inteiros.

Estou matando todos eles.

O Honda salta no meio-fio e antes que Adrian tenha a


chance de parar completamente, abro a porta do carro e pulo
para fora.

Fogo. Chamas vermelhas, amarelas e laranja escaldantes


brilham através da minha visão nebulosa enquanto corro até
a casa e passo pela porta sem arma, só eu. Vingativo,
enfurecido e em pé de guerra, a raiva me rasga e me controla.
Minhas emoções se transformam em munição e, neste ponto,
me pergunto se eu cortaria minha própria carne, se ainda
sangraria porque o poder rugindo dentro de mim me faz
acreditar que sou invencível.

E se eu morrer esta noite, talvez minha raiva imortal me


traga de volta à vida.

Três homens estão sentados na sala de estar quando eu


irrompo pela porta, nenhum deles me esperando.
Dex salta do sofá e seu sorriso desaparece rapidamente
quando seus olhos confusos encontram os meus. Smith está
ao lado dele, os olhos saltando entre Dex e eu, e pego a
pequena televisão sobre a mesa de três pernas e a lanço do
outro lado da sala e na lateral do crânio grosso de Smith, e ele
instantaneamente fica mole e cai sobre o sofá.

Os olhos de Dex se arregalam quando ele alcança sua


arma atrás dele, e eu viro a mesinha de centro em seu rosto
assim que a arma dispara, a bala abrindo um buraco no teto.
O som do tiro não poderia me afetar. Nada poderia me
confundir. Não até que todos os três estejam mortos.

O único pensamento dela mantém minha mente


correndo, meus pés se movendo para frente e minhas reações
se movendo mais rápido. O terceiro sujeito corre para a
cozinha, onde sua arma está sobre a geladeira, e Dex empurra
a mesa contra meu peito, gritando ameaças vulgares. Agarro a
borda da mesa e jogo contra a parede, e uma janela se
estilhaça.

Dex dá um soco, mas eu desvio de seu punho e acerto o


meu em sua mandíbula. Ele cai de costas no sofá, e agarro a
arma caída do chão e a levanto, apontando-a para as costas do
sujeito em fuga.

Tudo acontece tão rápido.

Um grito horripilante dispara do meu coração dolorido, e


eu puxo o gatilho, uma e outra vez, atirando em suas costas.
A cor vermelha mancha minha visão quando o sangue espirra
na geladeira branca, e o cara cai no chão, a cabeça quicando
no ladrilho.

No momento em que olho de volta para Dex, seu punho


acerta meu queixo e eu caio para trás, mas rapidamente me
equilibro. Levanto a arma para Dex, e ele recua quando o som
de outra arma sendo engatilhada ecoa ao meu lado.

Smith.

Meus olhos deslizam para ele, e ele fica ao lado com sua
pistola apontada para mim.

— Você não quer foder comigo! — Eu grito, minha mão


tremendo e as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Eu vou
te matar, porra!

Um único tiro soa, rasgando meu lado. Meus olhos


saltam. As lágrimas param. O impacto me sacode para trás e
tira o ar dos meus pulmões. Eu caio de costas contra a parede,
a arma mais pesada na minha mão e a gravidade me puxando
para baixo.

Mia, meu bebê... agarro cada grama de força para me


puxar contra a parede e aceno a arma na direção de Smith, me
recusando a parar até que todos estejam mortos.

Desesperado, puxo o gatilho rígido e um trovão corta o ar


quando uma bala rasga o centro da testa de Smith, sangue
pintando a parede atrás dele.
Um segundo vento sacode uma onda dentro de mim como
uma injeção de adrenalina. Apesar da queimação, da dor de
partir o coração se materializando e do sangue quente
escorrendo do buraco de bala ao meu lado, eu corro até Dex.

Ele balança a cabeça lentamente, o pânico invadindo


seus sentidos, e antes que ele possa dizer uma palavra, bato
com a base da arma na lateral de sua cabeça.

Dex cai de costas no sofá e eu agarro seu cabelo preto,


puxo sua cabeça para trás e cavo a ponta do cano sob seu
queixo.

— Tudo bem, eu entendi. — A voz de Dex treme com as


palmas das mãos no ar. — Eu entendi, Oliver.

Flashes de Mia e eu disparam como fogos de artifício na


minha cabeça. A primeira vez que nossos olhos se encontraram
no refeitório, seu pequeno sorriso no banheiro quando
conversamos pela primeira vez, o encontro de fim de noite,
persegui-la na biblioteca, ler para ela, fazer amor, lutar um
pelo outro, as lágrimas, seus olhos dourados, as rosas de
papel, a dança, as estrelas, o nascer do sol, o pedido, nossas
noites de bebedeira, o casamento... caindo neste amor
enlouquecedor que permaneceu para todo o sempre...

— Não. — Eu limpo meu rosto na manga e inclino minha


cabeça. — Você não entendeu.

Então puxo o gatilho.


— Oliver! — Adrian grita, meus olhos pesando cada vez
mais. Ele tira meu moletom preto e eu o pressiono contra o
meu lado, mas não está ajudando. Minha camiseta branca
encharcada de sangue. Está em toda parte. A cor da raiva. A
cor do amor. Como isso é possível? — Aguente firme, cara.
Estamos quase no hospital.

— Não. — Eu resmungo, balançando minha cabeça. Com


a arma ainda em minhas mãos, cerro meus olhos da dor
branca e intensa, meu corpo implorando para desmaiar. Mas,
eu conheço Mia. Ela está esperando por mim. — Leve-me para
casa.

— Você nunca vai conseguir. — Adrian explica


nervosamente, girando o carro para a direita, e minha cabeça
cai sobre a janela do passageiro.

Eu levanto a arma sobre minha coxa e aponto para ele.


— Leve-me para casa, porra. — Falo com os dentes cerrados.
Não podemos estar mais de dez minutos longe. Eu poderia
fazer isso com ela.

— Porra, Oliver! — Adrian bate a palma da mão contra o


volante uma vez antes de sacudir as mãos e soltar um longo
suspiro. — Eu vou te levar para casa, mas eu te conheço e você
não vai atirar em mim, porra. — Sua voz treme, e sua mão
desce sobre a arma quando ele a tira do meu punho cerrado.
— Você tem que confiar em mim, companheiro. Cegamente. É
a sua vez de confiar cegamente em mim, Oliver. Você me
entendeu?

Assentindo, minha mão relaxa sobre minha coxa


enquanto Adrian dirige com os joelhos, limpando a arma com
sua camisa. Percorrendo bem mais de 160 quilômetros por
hora, ele larga a arma no bolso da porta e tira o celular do
porta-copos, digitando os números antes de levá-lo ao ouvido.
Os olhos arregalados de Adrian se voltam para mim. — Sim. É
o policial Adrian Taylor. — Ele volta seu olhar assustado para
a estrada. — Eu estou disfarçado com SC e O ten. Tenho um
homem de vinte e três anos em estado crítico. Ferimento de
bala no abdômen. Eu preciso de uma ambulância na área
imediatamente...

Minhas sobrancelhas se juntam. — A? — Mal sai contra


a dor.

Adrian inclina a cabeça para trás para mim enquanto


continua ao telefone.

— Minha localização? — Sua respiração está pesada e a


voz trêmula enquanto ele examina minha condição, e eu fecho
os olhos com força quando fazemos uma curva. — O chalé dos
Masters em Surrey...

O resto vai à deriva enquanto eu me movo para o lado,


encolhendo-me de dor, e com dois dedos, pego o presente de
Natal de Mia e seguro-o na palma da minha mão. Minha cabeça
balança contra a janela e eu viro meu olhar para o céu,
fixando-o na lua iridescente pelo resto do caminho.

Em tempo recorde, Adrian chega em minha casa. Minhas


entranhas estão em chamas. A dor é insuportável, e cada
passo lento e curto em direção à nossa porta parece um
quilômetro enquanto nossa árvore de Natal brilha através da
janela. Adrian grita atrás de mim antes que a porta do carro
bata, mas continuo com o presente dela agarrado em meu
punho, provavelmente arruinado. Mas ela precisa saber.

Assim que chego aos degraus da frente, coloco minha


mão ensanguentada no bolso e tiro minhas chaves. Depois de
algumas tentativas, a porta se abre e eu desabo contra o
batente da porta.

Então lá está ela, vindo de nosso quarto e aparecendo


diante de mim em seu pijama vermelho e seu cabelo uma
bagunça selvagem.

Sua presença é avassaladora.

Eu deixo cair meu braço ao meu lado.

Mia.

Eu só a vejo e ela me vê.

Horror brilha em seus olhos, mas não consigo tirar o


sorriso dos meus.

Eu cheguei em casa.
— Vamos ter um bebê, amor? — Eu sussurro, e a mão de
Mia voa sobre sua boca, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto
enquanto ela assente.

Uma respiração aliviada me escapa quando afundo no


batente da porta. Mia corre em minha direção, pegando minha
queda quando um grito corta seus lindos lábios e perfura a
noite fria de inverno. Juntos, escorregamos para o chão e ela
agarra minha cabeça contra seu peito enquanto meu corpo
entorpecido se estende em uma poça de sangue quente. Gritos
desesperados ecoam pela noite negra enquanto suas mãos
trêmulas correm pelo meu cabelo repetidamente.

Mia estava certa. Há algo de pacífico na morte,


especialmente em seus braços. Eu poderia ficar aqui para
sempre, ouvindo seu coração batendo. Eu memorizei aquele
som. Eu poderia pegar seu batimento cardíaco em uma
programação. Mas tanto quanto conheço o som, eu o sinto
duro e firme dentro do meu peito.

Porque seu batimento cardíaco espelha o meu.

Adrian tenta acalmá-la e coloca a mão em seu ombro,


mas Mia se sacode e grita contra ele, balançando a cabeça. As
pontas de seu cabelo macio roçam meu pescoço como nas
vezes que ela rolou seus quadris sobre mim quando fizemos
amor. Eu olho para cima para ver suas bochechas
encharcadas, olhos injetados de sangue e rajadas de neve
dançando descontroladamente em seu cabelo quando meus
olhos ficam mais pesados.
— Ollie, por favor, — ela grita, soluços estalando em seus
lábios trêmulos. — Abra seus olhos. Mantenha-os comigo.

A dor está se dissolvendo. Eu não estou mais com medo.

Com a pouca força que me resta, meus olhos se abrem,


vendo a neve cair na minha direção sob a mesma lua com
quem eu tinha falado quando era criança. Meu punho cerrado
se abre ao meu lado, e o presente de Mia é colocado na minha
palma. O único presente que eu poderia dar a ela em nosso
último Natal – liberdade.

O avião de papel cai dos meus dedos e eu olho para cima


para vê-la gritando, mas seus gritos não chegam aos meus
ouvidos desta vez. Mia bate no meu peito, mas não sinto. Luzes
azuis e vermelhas brilhantes piscam ao redor, e eu pisco mais
uma vez para incorporar seus olhos castanhos dourados em
minha alma.

E, finalmente, estamos livres...


NOTA DE OLIVER MASTERS

Sou um sonhador, mas não tenho medo.

Não mais.

Por toda a minha vida, vivi em uma fantasia. Eu criei meu


próprio mundo e me perdi nele porque não conseguia acreditar
na realidade ao meu redor. Eu tinha certeza de que havia luz
e bondade lá fora. Pessoas que eram mais gentis. Lugares que
eram mais quentes. Sorrisos genuínos, risos honestos e amor
altruísta. Não podia ser tudo mentira, porque eles estavam nas
histórias. E dentro de cada história, havia verdade. Qualquer
coisa real já foi imaginada e eu encontrava conforto nisso, e
até que pudesse encontrar este mundo em que acreditava de
todo o coração ou enfrentar a minha realidade, eu me levaria
para aquele que imaginei porque era mais fácil, mais seguro.

Eu deixei Mia entrar no meu mundo, levando-a para


longe do escuro.

Juntos, dançamos, nos beijamos e fizemos amor atrás


dos portões do nosso céu.

E foi lindo, poético até.

Sou um homem, mas não tenho mais medo.

Eu não tenho medo de chorar.

Não tenho medo de sonhar.


E não tenho medo de colocar todo o meu coração nela.

Eu visto meu coração na manga porque não tenho medo


de quebrá-lo. Nunca foi meu de qualquer maneira, foi de todos
os outros. Foi da minha mãe quando ela cometeu erros tolos,
mas ela fez o melhor que pôde nas circunstâncias. Talvez ela
nem sempre tenha feito a coisa certa, mas ela me amou da
única maneira que entendeu.

Era do meu irmão porque, apesar da doença dentro de


sua cabeça, eu não podia culpá-lo. Ele foi criado por uma
prostituta, com um irmão que constantemente escapava da
dura realidade e vários apostadores com muitos conselhos
sobre como sobreviver na vida. Talvez ele nem sempre tenha
feito a coisa certa, mas me amava da única maneira que sabia.

Meu coração estava com Ethan porque ele amou Mia o


suficiente quando eu não consegui. Ele a protegeu quando eu
não pude. Quando o mundo cruel falhou com ele, falhou com
sua irmã, ele fez a única coisa que uma pessoa em sua posição
só pensaria. Vejo isso agora mais do que nunca. E eu admiro
sua força, sua lealdade e sua devoção. Talvez ele nem sempre
tenha feito a coisa certa, mas amava Mia da única maneira que
sabia e espero que um dia ele seja capaz de encontrar o amor
novamente...

Meu coração estava com o pai que eu nunca conheci


porque ele me trouxe a este mundo. Talvez ele tenha decidido
não estar na minha vida, ou talvez ele nunca soube que eu
existia, de qualquer forma, isso ainda me levaria a ela.
Não, meu coração nunca foi meu. Era responsabilidade
de todo mundo consertar, moldar, cortar e costurar, tudo isso
me tornando o homem que sou hoje. E por isso, eu me amo.
Porque qualquer que seja a condição em que meu coração está
agora, Mia ainda o valoriza da mesma forma.

Ainda sou um sonhador, mas não tenho mais medo.

Porque eu a encontrei.

Tudo que eu precisava fazer era abrir meus olhos.


EPÍLOGO

“Às vezes tenho pavor do meu coração; de sua fome


constante por tudo o que deseja.
A maneira como para e começa.”

⎼ Edgar Allan Poe

Três Anos Depois

EU NUNCA ESQUECEREI o dia em que ele quase morreu.

Cercado por sangue e neve, soluços quebraram meus


apelos desesperados enquanto eu segurava sua cabeça contra
meu peito. Seu olhar se fixou no meu, uma liberdade
melancólica colidiu com a admiração naqueles olhos verdes,
agarrando-se à crença para sempre. Eu nunca tinha visto sua
sombra tão vibrante. Isso fez com que todo o meu ser caísse
em um eclipse sombrio, espiralando cada vez mais rápido sem
fim, sem paredes, apenas escuridão.

E então ele piscou os olhos mais uma vez antes de


fecharem.
A carne de meus ossos, o sangue em minhas veias, o
oxigênio em meus pulmões, tudo isso se desintegrou,
quebrando em pequenos pedaços, mas ainda preso por um fio,
o fio era meu coração. Ele havia acionado o piloto automático
como se não pudesse se associar ao resto do meu corpo. Estava
batendo forte em meus ouvidos, e eu gostaria que parasse, mas
meu coração não estava pronto para me soltar. Ele continuou
com a mesma batida constante, recusando-se a desistir do que
estava bem na minha frente. Abra os olhos, pensei, bem,
implorei desesperadamente.

E eu esperei.

Dois segundos se passaram, esperando meu corpo


enfraquecer com sua desconexão e meu coração continuar a
bater.

Três.

Então os paramédicos o arrancaram de meus braços...

Isso foi há três anos atrás

Um brilho rosa suave derrama pelo corredor, e eu sigo a


luz, parando antes de chegar à porta com uma caneca de café
na mão. As risadinhas suaves vindas de seu quarto são música
para meus ouvidos, e viro o corredor e me inclino no batente
da porta de seu quarto. Rosas de origami e aviões de papel
pendurados em seu teto pintado de céu. Jake arrumou seu
quarto enquanto estávamos viajando e o preparou pouco antes
de voltar para casa no Natal.
Sob as constelações e as formas de origami dançando
acima, meus olhos encontram os dela.

Eles são lindos. Raro, mas duplicado. Uma cor tão


familiar. É da cor do reflexo das palmeiras ao longo da costa
quando o sol está no ponto mais alto do dia. A cor é o momento
perfeito quando três das criações de Deus colidem: o sol, as
árvores e a água. A cor é de Ollie.

Ela sorri aquele sorriso inocente de sua cama quando sua


covinha beija sua bochecha, então se enrola dentro de seus
braços.

O olhar de Ollie desvia-se do livro para mim e ele congela


com aquela centelha de devaneio em seus olhos verdes. Um
sorriso correspondente se espalha de seu rosto para o dele.

— Uh-oh, — Ollie vira a cabeça para nossa garotinha. —


Estou em apuros.

— Grande problema. Você, — meus olhos se estreitam


para a criança selvagem de cabelos castanhos e olhos verdes,
— já deveria estar dormindo. E você, — deslizo meu olhar para
Ollie, — deveria estar... bem... eu realmente tenho que
terminar essa frase? — Balanço minha cabeça para orelhas
jovens.

Sorrindo, Ollie fecha o livro. — Sim, ela está com raiva.


Papai está com problemas. — Ele se senta na cama dela e
aponta para a porta com olhos em pânico e um sorriso. —
Corra Ever. É tarde demais para mim, mas você ainda tem
tempo!

Em uma falsa frenética, Evermore22 se vira, desliza para


fora da beira da cama até que seus dedinhos tocam o piso de
madeira, então corre em minha direção, rindo. Eu a pego com
um braço e aninho meu rosto em seu pescoço enquanto a
carrego de volta para a cama. Ollie aperta os lábios para conter
a risada. Depois que Ever nasceu não conseguimos mais
engravidar. No entanto, eu não poderia estar mais feliz. Tudo
de que precisamos é a nossa Evermore, de qualquer maneira.

— Mais um então é a vez da mamãe e do papai.

Ollie ergue as sobrancelhas. — Oh, sim?

Corando, deito ao lado de Ollie com Ever acomodada


entre nós dois. Ollie abre seu livro e eu descanso minha cabeça
sobre seu ombro enquanto ele vira as páginas com sua canção
de ninar. Sua voz encantadora e elegante prende meu coração.
E eu pisco para ver seus lábios se moverem e os olhos piscarem
lentamente enquanto ele lê para nossa filha, nunca tirando
vantagem de uma única batida.

— Deite sua cabeça, Evermore,


pois não há nada a temer.
O amor matará os monstros;
os céus de veludo são quentes e claros.
Vá dormir, Evermore,

22 O nome dela significa ‘para sempre’.


você está livre para tocar a lua.
Suba e dance com as estrelas;
Mamãe e papai cuidarão de você.
Perca-se na aventura, Evermore,
mas nunca se afaste muito.
Fique comigo em meus braços,
mesmo enquanto você estiver fora.
Durma com anjos, Evermore.
Logo o sol vai nascer,
Mas quando a manhã sussurra,
Agora abra os olhos.
E nós estamos juntos,
e é lindo...

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