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Eu cresci doente.
Deixe-me esclarecer.
Quando vivi esta história, o meu próprio conto de fadas distorcido, foi
sem o meu conhecimento na época porque eu era jovem e ingênua. Cedi
à tentação e alimentei a besta que ficava mais sedenta a cada corte,
cada ataque, cada golpe.
Triple Falls não era nada o que parecia, nem eram os homens que me
arrastaram sob a sua asa. Mas para mantê-los, tinha de saber os seus
segredos.
Olhando para trás, estou plenamente convencida de que quis que minha
história existisse devido à minha doença.
E talvez seja, para outros, mas a vida não tem sido tão
boa comigo.
Cansei de fingir que não deixei a maior parte de mim entre
essas colinas e vales, entre o mar de árvores que guardam
meus segredos.
Não tenho dúvidas de que, para mim, foi amor. Que outra
atração poderia ser tão forte? Que outro sentimento poderia
me viciar ao ponto da insanidade? De fazer as coisas que fiz e
viver com essas memórias dentro dessa história de fantasmas.
Pode ser que nunca haja um feliz para sempre para mim,
porque dei minha chance ao me tornar consciente para as
partes escuras. Acostumada com o ano em que libertei minhas
inibições, reagindo à rejeição e à dor e perdendo todo o senso
moral de mim mesma.
Essas são coisas que você não diz em voz alta. Este é o
tipo de confissão que as mulheres que impõem respeito nunca
devem dar voz. Nunca.
— Sério? Quando?
— Ainda quero saber por que ela está bem em deixar você
morar com seu pai agora.
— Eu sei.
— Ok.
— Amo você.
Amaldiçoando como um marinheiro, eu estaciono na
última vaga na fábrica e rapidamente faço o meu caminho
através de um mar de carros no estacionamento. A última
coisa de que preciso é uma palestra sobre a oportunidade
depois de um jantar aborrecido e sem intercorrências com meu
pai na noite passada. Mais ou menos àquela hora, fui forçada
a ficar sob um olhar de águia e foi suficiente para me deixar
grata por meus novos horários, que me fará trabalhar quase
todas as noites. O calor do sol desaparece no segundo que abro
as portas de vidro. O prédio em si parece antigo. Embora
polido, o piso de cerâmica está rachando e descascando após
décadas de uso. Há um grande vaso de samambaia no meio do
saguão que dá uma aparência de vida em algum lugar lá
dentro, mas ao olhar mais de perto, percebo que é falso e está
cheio de teias de aranha. Um guarda de segurança solitário,
que não está mais em boa forma, fica parado de braços
cruzados enquanto uma mulher mais velha e bem vestida com
perspicazes olhos cinzentos me cumprimenta atrás de uma
mesa de recepção.
— Tente mais.
— Sentença?
— Cecelia, certo?
Eu concordo.
— Por quê?
Por quê?
Inteligente.
— Em que sentido?
— Em todos os sentidos.
— Eu irei te seguir.
Paramos em uma casa de dois andares, a única em uma
minúscula rua sem saída. O resto das casas na rua espaçada
apenas o suficiente para permitir uma quantidade razoável de
privacidade. É muito diferente da vizinhança entre casas em
que cresci. Saio do meu Camry e encontro Sean em seu carro,
um velho clássico que lutei para acompanhar na viagem. É de
um vermelho intenso, parece recém polido e parece combinar
perfeitamente com ele. O restante das vagas de
estacionamento no círculo e no contorno da rua são carros da
mesma natureza, principalmente clássicos, metal brilhante
com motores potentes – seja isso ou caminhões enormes que
exigem algum esforço para subir.
— O que é isso?
— Eu amo isso.
— Isso é reconfortante.
— Nós deveríamos?
— Lugar legal.
— É muito bom.
— Eu sou inofensiva.
— Não, você é mais — ele balança a cabeça lentamente.
— Muito mais. — Ele pega uma cerveja na geladeira e abre a
tampa, seus olhos nunca me deixando. — Com fome?
— Eu estou bem.
Ela sorri.
— Cecelia.
— Não brinca?
Eu encolho os ombros.
— É uma merda.
— Sim.
— Não.
Seus olhos ainda estão nos dele quando passam por um
olhar que mostra a propriedade do outro em ambas as partes
antes de ela se virar para mim.
— Certo.
— Sério?
— Sério.
— Que ramo?
— Fuzileiros navais.
— Você gostou?
Ele sorri.
— Muito de nada.
— Exatamente.
— Vamos alimentá-la.
Puta merda.
Eu levanto meu queixo, enquanto ele caminha pelo
quintal, uma névoa escura envolta em beleza masculina. Logo
após o pico de uma viúva proeminente, há longas ondas de
cabelo ônix espesso e de aparência rica, sobrancelhas
igualmente escuras acima dos olhos prateados cheios de uma
intenção favorável. Entre as maçãs do rosto salientes está um
nariz elegante e... sua boca.
Juro que vejo seus lábios se contraírem antes que ele late
para Sean.
— Não diga.
Ele concorda.
— Não?
— Então você está presa a mim. — Ele diz, sua voz caindo
enquanto ele segura meu queixo e escova o polegar sobre o
pequeno ponto em meu queixo.
— Gostou disso?
Merda difícil.
Eu concordo.
— Ainda não.
— Oh sim?
— Bom saber.
— Apenas um local.
— Talvez.
— Lugar legal.
Eu encolho os ombros.
— Eu não ganhei.
— Como assim?
— Realmente?
— Seu idiota!
— Claro.
— Surpreenda-me.
— Negócio?
— É um corvo.
— É a verdade.
Ele sorri.
— Eu estava me perguntando quando você o mencionaria
novamente.
— Como o quê?
— Abrasivo?
Eu estremeço.
— Estacionado na frente.
— Você dirigiu meu carro aqui? Mas você não tem a
chave.
— Claro.
— Perdeu uma.
— Você está me distraindo — eu digo descaradamente.
— Realmente?
O francês.
— Realmente?
Cecelia: Tem sido um longo dia. Acho que vou para casa.
Bang.
É um tiro direto no peito e meu sangue bombeia horas
extras para acompanhar o oxigênio de que estou sendo
privada.
— Eu fui convidada.
— Por quê?
— Sim.
— O que isso quer dizer?
Estou tão alta com apenas dois golpes que juro que
consigo ver o espaço. Um estrondo profundo sai de sua
garganta quando ele solta um suspiro irritado.
— Eu sei.
— Sim.
— Vinte.
Foda-me.
Sean me puxa com mais força para ele, fazendo com que
minhas pernas se mexam e Dominic pragueje, tentando salvar
o derramamento de erva da revista que descansa em seu colo.
Seus olhos se estreitam em um Sean sorridente. Eu afundo no
aperto de Sean, uma parede de músculos rígidos atrás de mim
enquanto a língua de Dominic dispara novamente,
umedecendo novamente o papel com habilidade.
Idiota.
— Tudo bem.
— Tem certeza?
— Tenho certeza.
— Eu te amo, garota.
Minhas duas primeiras semanas na fábrica são
suportáveis devido ao meu supervisor e os longos intervalos ele
me concede. Ainda assim, eu ouço os sussurros de algumas
enquanto eu passo, e não há como confundir o sorriso de
escárnio de um grupo de mulheres que provavelmente me
odeia por causa do meu sobrenome. Uma em particular, uma
linda latina chamada Vivica, constantemente me olha como se
meu dia estivesse chegando. A notícia de que eu era a filha do
dono deve ter se espalhado rapidamente por toda a fábrica,
porque cada vez mais, meus sorrisos não são devolvidos.
— Acabei de acordar.
— Bafo matinal.
— É cedo.
— Uh-huh.
Eu franzir a testa.
— Isto é um teste?
— Agora é hora?
— OK, desculpe.
— Doeu.
— Por quê?
— Para quê?
— Para tudo.
Ele tira um cigarro do bolso e o acende, apontando para
mim com ele entre os dedos.
— Eu estava nisso.
Ele concorda.
Ele suspira.
— Por quê?
— Então me dê a melhor.
Ele considera minha pergunta brevemente, dando uma
longa tragada no cigarro.
Eu concordo.
Eu aceno novamente.
— Jesus.
Sean sorri.
— Como assim?
— Quase lá.
— Não.
— Sim.
— Esperemos.
— E?
— Ai.
— Sim, ele era um idiota. Para ser justa, fui avisada sobre
ele. Minha melhor amiga Christy o odiava, mas eu não dei
ouvidos — eu dou a ele um olhar aguçado. — E eu fui avisada
sobre você também.
— O que é isso?
— Legal, não é?
— Isto é incrível.
— Estou feliz por ter gostado. Existem outras cachoeiras
ao redor, mas esta é particular.
Eu não hesito.
— Sim.
— De que?
— Bom.
— É isso aí?
— Sim.
— Ok.
— Pode ser.
Após o nosso piquenique, nós cochilamos sobre o
cobertor. Sou a primeira a acordar no peito de Sean, onde ele
está deitado agora, esparramado de costas, as mãos atrás da
cabeça, os olhos fechados, respirando fundo e mesmo
enquanto silenciosamente empacoto os recipientes e limpo as
mãos dos detritos.
Ele diz que é um homem que pega o que quer, que segue
seus instintos sem se arrepender e não se preocupa com as
consequências. Eu me pergunto como ele se sentiria se eu
fosse tão ousada com a demanda atual do meu corpo. Retomo
meu assento no cobertor, apenas observando.
— Tenho certeza.
É muito.
— Onde?
— Em mim.
— Qualquer lugar.
— Significa o quê?
— Como assim?
— Desculpe senhor.
Porque eu prefiro ficar agora com Sean. Não sei por que
Roman insiste em jantarmos juntos. A conversa é forçada,
nossas refeições compartilhadas insuportavelmente
desconfortáveis, pelo menos para mim. É difícil avaliar o que
deixa Roman inquieto, porque o homem é uma pedra
impenetrável. Ele está sempre irritado, mas essa parece ser
sua única emoção perceptível, se ele é mesmo capaz de ter
emoções. Quanto mais tempo fico em sua casa, mais ele se
sente como um estranho para mim.
— Eles beberam.
— Sim.
1No original tough room é uma expressão usada quando um público não reage de forma esperada,
como um público que não ri das piadas de um comediante.
Enquanto saio da sala de jantar, juro que ouço ecoar meu
suspiro de alívio.
Ele faz uma pausa e então volta a passar giz em seu taco
antes de enfiar o gorro mais fundo no bolso.
— Já fiz.
— Oh sim?
— Ignore-o.
— Obrigada.
— Isto é para mim? — Seus dedos percorrem a lateral do
meu vestido, e a dor começa no meu núcleo com a memória de
pedras cavando minhas costas, o barulho da água e sua boca
perversa. Ele lê meus pensamentos, seus olhos faiscando, e
desta vez sou eu que estou exibindo o sorriso de comedor de
canário.
— Talvez.
— Eu sou péssima.
— Por favor?
Sem palavras, ele se levanta, me segurando nele
enquanto acena para Tyler.
Eu concordo.
— Você é um homem.
— Pronta?
— Você conseguiu.
— Não exatamente.
— Não. — Ele diz, passando a mão no meu ombro. — Você
conseguiu. Ligue. — Eu tremo sob seu toque e olho para ele
pegando sua piscadela na cabine escura.
— Certo.
— Isto é melhor.
— Como assim?
Desgraçado.
— Seu ponto?
Ele olha para baixo entre nós, passando os nós dos dedos
ao longo da carne da parte interna da minha coxa.
Caso em questão.
— Minha própria.
— Isso é louco.
— Eu ajudo.
— Espere pacientemente.
Eu engulo.
É quem ele é.
— Oi.
— O que você está bebendo?
— Jack e Coca.
Ele sorri.
— Doze.
— Eu só… — eu suspiro.
— Apenas o quê?
— Era?
— Volte novamente?
— Eu amo isso.
Ele pisca.
— Eu adoraria.
— Provavelmente.
— E a sua mãe?
— Eu sinto muito.
Eu concordo.
— Eu sei.
— Não.
Ele não me oferece mais nada. Ele apenas senta lá
comigo, me deixando chorar, seu toque é reconfortante
enquanto ele aperta minha mão.
— O comediante?
— Sim.
— Por quê?
— Talvez eu vá.
— Por quê?
— Por quê?
— Algumas razões, uma delas sendo esta é a minha vez.
Estou escolhendo gastá-lo com você e quero o mesmo de você.
Ele se inclina.
— Valerá.
— Ok. Tudo bem, por enquanto, sem telefone.
— O que é isso?
— A música, é claro.
Nós moemos.
Nós dançamos.
Nós saímos.
Eu monto nele.
Nós fodemos.
Despertando, vou de um sono de desmaio para uma
cabeça latejante, ligeiramente desorientada até sentir o calor
do corpo ao meu redor. Quase esqueci como era estar
encasulada em braços masculinos e ontem à noite foi a
primeira vez que Sean me trouxe para casa com ele.
É só... Sean.
Ou ele quer?
Ele deve ter nos ouvido ontem à noite. Ele deixou a porta
aberta sabendo que eu o veria?
Ele tem sido nada menos que incrível comigo, para mim.
Cheio de vergonha, passo os dedos pelo cabelo de Sean antes
de puxá-lo para mais perto.
— Isso é mentir.
— Por quê?
— Droga, já?
— Eu sei, eu sei, é muito cedo e tão estúpido. Mas ele é
incrível.
— Bem. Eu vou.
— Me deixe ir.
— Cecelia.
— Realmente?
Animal.
— Foda-se, Dominic.
Eu fico de pé.
— Aproveite seu jantar.
— Ei, garota...
— Ele é horrível. E o que ele quis dizer com 'eu não tenho
isso em mim?'
— Você não quer, mas se vai ocupar o espaço que ele está
compartilhando, terá que descobrir.
— É isso aí?
Ele suspira.
Típico.
Sobremesa.
— Defina um pouco.
— Não.
— Por quê?
— Eles não eram pessoas afetuosas e evitam comentários
rudes. Estou ciente de que alguns consideram isso uma
lacuna.
— Talvez?
— Sobre o quê?
— Por quê?
Sean se volta para mim. — Olha, ele não é fácil. Mas ele
está aqui porque quer.
— Nada.
— Isto é.
— O que?
— Ambos.
— Isso é…
— Por quê?
Ele me beija e, em segundos, estou enrolada nele, a parte
de baixo do biquíni empurrada para o lado quando seus dedos
entram em mim. Ele coloca meu braço em volta do pescoço. —
Porque eu não posso ficar mais um minuto de merda sem estar
dentro de você. Segure-se em mim, baby.
— Fazer o que?
— Me cortar.
— Garota, você está brilhando — Melinda diz quando
saímos. — Vocês devem estar gastando todo o seu tempo ao ar
livre esses dias.
— Principalmente, sim.
— Promete?
— Eu estou.
— Sean?
— Cecelia.
— Sim?
— Eu esqueci.
— Por quê?
— Porque eu fui um pouco idiota.
— Eu vou.
— Nada é certo.
— É a verdade.
— Sempre tão enigmático comigo. Não sou idiota, Sean,
você está tentando me dizer algo indiretamente desde que nos
conhecemos. Qual é o grande segredo?
— Você adora.
— Nenhum palpite.
— Reefer Madness?
— Não.
— Por quê?
— Infelizmente.
Ele paira acima de mim com o céu noturno sem lua atrás
dele.
— Então é melhor nos apressarmos — digo, levantando-
me para beijá-lo e ele se esquiva, pressionando meus pulsos
no cobertor.
— Você é um idiota.
— Honestamente, eu não...
Eu sei o que isso quer dizer, mas nunca vivi qualquer tipo
de realidade significativa por trás dessa afirmação.
— Por quanto?
— Só meia hora.
Perfeito.
Ótimo.
— Você a demitiu?
— Sim.
Silêncio.
— Você nunca foi tão liberal com sua língua. O que deu
em você?
— Sem chance.
— Tenho praticado no Nova de Sean. Eu melhorei.
— Belo carro.
— Obrigada.
— Seu?
— Recados.
— Não.
— Drogas?
— Não.
— Não.
— Não.
— Como assim?
Tatie. Tia.
—Comment ça va?
— Putain. — Porra.
— É por isso que não tive filhos. — Ela se vira para ele,
erguendo o queixo desafiadoramente. — Eu mal tinha vinte
anos quando te levei. Você não morreu de fome. Vocês...
— Não existe tal coisa com esta doença. Não sei por que
você me leva.
— Por favor.
— Romanos 8: 38-39.
Quando ele faz o rádio voltar para cima e para baixo para
ganhar velocidade, eu sei que ele não vai ter nenhuma
conversa. Eu o observo, confusa pela mudança de humor, e
pela beleza total da máscara que ele usa, juntamente com os
segredos que ele guarda com tanta força. Ele é muito parecido
com Sean, em certo sentido, ambos dão o mínimo quando
questionados, como se tivessem tido e dominado uma maldita
aula sobre respostas terríveis. Minhas bochechas inflam ao
soprar um fôlego, e eu seguro o resto das minhas perguntas.
Não faz sentido. Ele está de volta ao impenetrável, sua
linguagem corporal aludindo tanto a ele, e eu deixo meus
pensamentos vaguear até chegarmos à garagem.
— Oh sim?
— Eu não me lisonjeio.
— Bons?
— Muito bons.
— Sempre.
— Cecelia.
— Sean... me dê um minuto.
— Nós temos.
Silêncio.
— Significado?
— O que?
Está errado?
Eu quero isso.
— E se alguém se machucar?
— Chance que temos, é aproveitar.
— Por quê?
É outra decisão.
Inquieta, ligo o chuveiro e tento afogar meus
pensamentos ansiosos com o jato de água.
Não.
Possua.
E é minha decisão.
— Tentando.
— Você gosta?
— Claro.
— Quieta?
Fiel. Ela quis dizer fiel. Por mim? Antes mesmo dele ter
uma ideia se houvesse um nós? Isso importa? O puxão em meu
peito me diz que sim.
— Noites de encontro?
— Com ele?
— Aparentemente sim.
— Você é um idiota.
— Isso não é novidade. Algo mais que você precisa saber?
— E? — Ele pede.
— É uma festa.
— Sim.
— Sim.
Ele concorda.
— Por que eles são chamados de The Spanish Lullaby?
— Parecemos gangsters?
— Eu sou Alicia.
Sim, até certo ponto. Mas ela está sendo honesta. — Ele
também é francamente honesto, como você.
— Superprotetor, hein?
— Por?
— Seus crimes.
— E isso é?
— Uma festa.
— Como os maçons?
— O que é isso?
— E agora?
Ela encolhe os ombros, puxando um baseado do nada e
acendendo-o. — É um modo de vida. — Ela exala uma nuvem
de fumaça e a oferece para mim.
— Não, obrigada.
— Sim.
— E depois?
— Um voltará vencedor.
— Você fez seu ponto — Sean toma seu lugar ao seu lado.
— É a sua explicação.
Eu me concentro no feixe dos faróis enquanto analiso
meus pensamentos.
— Então explique.
— Eu apenas fiz.
— Claro.
— Então, por que mostrar isso para mim? Por que não
me deixar sem noção como o resto do mundo?
Silêncio.
Ele concorda.
— Ou algo assim.
— Todos vocês?
— Não esta noite, e não até que você tome sua decisão. E
mesmo assim, não posso garantir que vou responder. Venha,
vamos dormir um pouco. — Ele desliga o motor e sai do carro.
Eu o sigo silenciosamente em sua casa e subo as escadas para
seu quarto. Tudo mudou, cada parte do meu envolvimento.
Devo ser uma participante voluntária em tudo o que vier a
seguir, ou terei que me afastar dele. Eu posso sentir o peso da
minha decisão já pesando no meu coração.
Esta não é uma fase para eles que irão superar, este é o
seu modo de vida. Seu propósito. Quero estar ancorada nisso
por um relacionamento que pode ou não dar certo?
Mentirosa.
— Está quebrado?
Ele levanta os olhos de onde está sentado, os olhos me
varrendo antes de voltar para sua tarefa. Eu me aproximo dele,
pego a gaze grossa de sua mão e examino delicadamente seu
ferimento. Seu pulso e mão têm o dobro do tamanho normal.
— Eu posso dobrar.
— Sempre.
— Significado?
Assentindo, eu me afasto.
— Mulher?
Rindo, ele me puxa para seu quarto e para seu colo, onde
se senta à mesa do computador, seu café da manhã situado ao
lado de seu teclado.
— Bem feito para você. Por que você ficou louco assim?
— Eu tenho um temperamento.
— Bom?
— Você é a aranha?
— De nada.
— Não.
Profundamente.
Tão profundamente, eu luto por ar, por sanidade,
enquanto ele pega e eu abro para ele, meus membros
relaxando. Em seu beijo, eu perco uma parte de mim, suas
palavras me levantando acima do solo enquanto sua língua me
persuade neste momento com ele. Com a boca moldando, ele
levanta minha camiseta, quebrando apenas o tempo suficiente
para me expor totalmente. E então seus lábios estão de volta e
capturam meu gemido enquanto nos fundimos. Bêbada pela
intensidade de nossa troca, eu afundo nele, meu corpo se
alinha ao dele enquanto ele controla nosso ritmo com sua
língua. Embalado, cercado, meu peito sobe e desce com ele
enquanto nós mergulhamos no fundo do poço.
— Gaveta da cabeceira.
— Dom... D-D-Deus.
— Vá para a cama.
Dominic vira outra página enquanto eu corro meu dedo
ao longo de sua trilha e sobre seu estômago tonificado. Eu
observo o título, 1984 de George Orwell, quando estou deitada
na diagonal de frente para ele, onde ele se senta encostado na
cabeceira da cama. A mesma posição em que estive nos
últimos dez ou mais minutos enquanto ele me ignorava
descaradamente desde que saí do chuveiro. Lá fora está uma
tempestade forte, o dia parecendo noite em seu quarto. A
chuva bate no telhado enquanto ele vira outra página, a única
luz no quarto vindo do protetor de tela de seu computador e de
uma pequena lâmpada de cabeceira.
—Ele não está bravo com você. E ele não estará. E você
não tem nada melhor para fazer.
— Eu não sou.
2 No
original closet geek significa uma pessoa que é realmente um geek (nerd) em casa, mas mantém
uma personalidade pública que não é de nerd.
— Quando eu era mais jovem e pensava que molhar meu
pau seria a segunda vinda de Cristo.
Silêncio.
— O que te interessa?
— Um o que?
Silêncio.
— Eu não vou.
— Boa.
Abrindo minha boca para falar, eu congelo quando o som
do Nova de Sean entra na sala através de nossa janela aberta.
Sua chegada me fez lutar para coletar o lixo e outras evidências
de nossos dias. Pegando a sacola da lata ao lado da mesa de
Dominic, eu corro jogando nossa comida para viagem e
garrafas de água vazias.
— Eu quero muito.
— Sim, este.
Eu vou. Prometo.
— É tão triste.
Ela concorda.
— Adoro poder ajudar, bem — mordo o lábio, — você sabe
o que quero dizer. — Subimos na enorme caminhonete de
Layla, estacionada na Main Street enquanto ela olha ao redor.
— Está tudo bem em ser feliz, Cecelia. Você não tem que
se desculpar por sorrir. Não sei quem te ensinou de forma
diferente.
— Estou feliz.
— Verdade.
— É um encontro.
— Eu tenho planos.
Ele acena com a cabeça quando me aproximo, a troca me
colocando no limite. Mesmo com roupas casuais, ele é
intimidante.
— Eu quero a sua.
— O que é besteira.
— Não, eu só...
— Eu também baby.
— Impossível.
Seus olhos vagam por cima do meu ombro para Tyler, que
parece surpreso com sua reação a nós. Ela balança a cabeça e
sai da cozinha enquanto trocamos um olhar cansado antes de
retomarmos nosso trabalho.
Depois de descompactar totalmente, dividimos para
arrumar. Começo em seu quarto, enchendo um saco de lixo
cheio de lixo sob seu olhar de águia antes de reunir meu
arsenal de produtos de limpeza. Estou no meio do caminho
para limpar uma mancha no carpete que parece uma causa
perdida quando ela soa atrás de mim.
— Não.
Mas nunca poderei usar isso a meu favor. Ela está tão
fechada quanto Dominic. Eu não sou um pé-de-cabra o
suficiente para tentar quebrar suas barreiras. Eu sei disso sem
nem tentar.
Mesmo que ela não goste, vou dormir melhor, por mais
egoísta que seja. Estou pensando que Tyler vai dormir melhor
também. Ele claramente tem afeição por ela. Eu simplesmente
não consigo entender por que Dominic não tentaria fazer isso
por si mesmo.
— Não, estou feliz que você fez. Achei melhor ficar longe,
mas agora que a vi... eu sei disso. Vou fazer melhor e não vou
deixá-la sofrer mais sozinha. Ela nos dispensou e partiu a
porra do meu coração, e então eu me virei e desisti dela em
troca. O eu de dezoito anos não entendia. Eu faço agora. — Eu
estudo seu perfil enquanto ele nos leva para fora da
vizinhança.
Pela minha vida, não consigo entender por que esses dois
caras lindos com tanto para oferecer se decidiram por mim.
Não pode ser apenas o sexo, porque eu vi por mim mesma o
quão capazes eles são de pegar qualquer mulher em um raio
de cinco milhas. Quero acreditar que o interesse deles é
genuíno, que eles realmente me respeitam e concordam com
esse acordo, porque não consigo me imaginar tendo que
escolher entre eles. Não recebo nenhuma tristeza em troca
dessa troca, absolutamente nenhuma.
Meus dias chuvosos com Dominic são escassos porque
ele fica tão ocupado com o funcionamento da garagem e com
os negócios do Hood, às vezes tenho que esperar dias só para
colocar os olhos nele.
O filho da puta.
Eu amo isso.
Bastardo presunçoso.
— Fácil, nunca.
— Seriamente?
— O que é isso?
— Eu amo isso.
— Você é um bebê.
— Seis.
— Eu sinto muito.
— E seu pai?
— De jeito nenhum.
— Sim, o pai dele era escocês, é daí que vem o meu xará,
e a mãe dele era francesa, então ele era meio escocês, meio
vira-lata francês, criado na França.
— Eu não.
— O que?
— Quem diabos é você, e o que você fez com meu filho da
puta?
— Sim?
— Nada.
Mais. Mais dele. Mais de Sean. Mais deste verão sem fim.
Mas guardo minhas esperanças para mim mesma. Porque
tenho certeza de que isso não pode durar para sempre. Esse
medo está começando a me consumir mais e mais. E além de
suas ambições, eu tenho as minhas e sei que um dia vou exigir
mais para mim. Um dia, talvez, eu escolha uma vida ou um
caminho que nenhum dos dois poderá seguir comigo. A ideia
de perder qualquer um deles, desse tipo de progresso, é
paralisante. Nunca estive tão feliz. Nunca. Minha única graça
salvadora é que não vou deixar Triple Falls tão cedo.
— Isso é desolador.
— O que é isso?
— O que eu decidir.
Eu me afasto dele e ele me permite. — Só por uma vez,
você pode me dar uma resposta direta?
— Qual é a questão?
— Por quê?
— É verdade.
— Essa é a questão.
— Você não quer, Cecelia, você pensa que quer, mas não
quer.
— Sempre.
— Mas...
— Quando?
— Agora.
Eu os deixei me usar.
Mas aqui estou eu, uma idiota. Não melhor do que uma
prostituta contratada.
Algo aconteceu.
Pode não ter sido amor para nenhum dos dois, mas era
algo mais do que sexo. Mesmo assim, suas ações são
imperdoáveis.
— Não.
— Um muito.
Eu aceno em perfeito entendimento.
Eu concordo. — Absolutamente.
— Vocês duas são masoquistas. — Ela olha entre nós
enquanto pego o controle remoto. — Me fazendo assistir a
todos esses velhos filmes tristes que doem.
Eu chuto.
No dia em que volto para casa em Triple Falls, mudo o
código do portão e destruo o biquíni que usei no dia no lago.
Meu telefone vibra com uma mensagem solitária e eu ignoro.
Ainda não me permiti verificar as mensagens de Sean. Não há
desculpa, nenhuma razão que eu possa imaginar que algum
dia será bom o suficiente o que eles fizeram comigo.
Porra.
Ele leva meu golpe, seu corpo sólido contra seu carro e
olha para mim como se estivesse me inspirando. Mão ardendo,
eu balanço de novo e ele me bloqueia. Lívida, eu o observo
enquanto ele abaixa a cabeça, seu rosto empalideceu vermelho
com o contorno dos meus dedos. Sua mão se fecha em volta do
meu pulso, me restringindo.
— Eu sinto muito.
— Foda-se você. Isso é tudo?
— Cecelia...
— Isso é um elogio?
— Baby, por favor, olhe para mim. — Sua voz está rouca,
arrastando as unhas pela crueza em meu peito. — Baby, por
favor, olhe para mim.
Eu não.
— Pais de Dominic?
Ele concorda.
— Delphine.
— Nós vamos fazer ele sofrer. Por tudo o que ele fez e tudo
que ele tirou de Dom, e de todas as outras famílias que
trabalharam para ele desde que abriu esta porra de fábrica. É
por isso que você precisa ficar longe de nós. Você não pode
estar envolvida em nada que vá abaixo. Não é seguro.
— Me tiveram.
— Viram o que?
—Sean...
Eu engulo.
— Eu te contaria se pudesse.
— Não. Sean, você sabe que estou aqui para cuidar dela.
Ela ainda não está bem e, se eu for embora agora, perderei
minha herança. Se isso fosse apenas sobre mim, seria
diferente.
Eu concordo.
E eu espero. Eu espero.
E congelo.
— Você é o francês.
Continua...