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TITLE PAGE
Hierarquia dos anjos
Glossário Angélico
Prólogo
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Chapter 39
Chapter 40
Chapter 41
Chapter 42
Chapter 43
Chapter 44
Chapter 45
Chapter 46
Chapter 47
Chapter 48
Chapter 49
Chapter 50
Chapter 51
Chapter 52
Chapter 53
Chapter 54
Chapter 55
Chapter 56
Chapter 57
Chapter 58
Chapter 59
Chapter 60
Chapter 61
Chapter 62
Chapter 63
Chapter 64
Chapter 65
Chapter 66
Chapter 67
Chapter 68
Chapter 69
Epílogo
NEWSLETTER
Agradecimentos
Outros livros da autora
Sobre a autora
HIERARQUIA DOS ANJOS
SERAPHIM
Também conhecidos como Arcanjos. Existem sete deles. Ser
celestial de mais alta classificação.
Verities (anjos de sangue puro).
MALAKIM
Coletores de almas.
Verities.
ISHIM
Responsáveis pelos rankings. Eles estabelecem as pontuações do
pecador.
Verities.
ERELIM
Sentinelas celestiais.
Verities e híbridos.
OPHANIM
Trabalhadores da sociedade celestial: professores e supervisores.
Principalmente híbridos, mas abertos a Verities.
PLUMAS
Jovens anjos que ainda não completaram suas asas.
Verities e híbridos.
NEPHILIM
Anjos caídos. Desonrados. Sem asas. Mortais.
GLOSSÁRIO ANGÉLICO
ama – mãe
apa – pai
aheeva – amor
ayim – água
habamehot – escondam-se
kalkohav – luz das estrelas
lehatsamehot – mostrem-se
levsheh – amada
lev – coração
leh – meu
mota – boneca
mostasheh – doçura
naya – alvorecer
neshamateh – almas gêmeas
neshamim – almas
neshaleh – minha alma
ni – eu
sheh – doce
ta – você
teh – seus
tched - demônio
neshahadza – metade da alma
yot – ser ou estar
zoya - sedutora
PRÓLOGO
ASHER
H 4
E , a viagem de quarenta e
cinco minutos até o Harlem me ajudou a relaxar. Quando cheguei ao
The Trap, Leon estava do lado de fora dando longas tragadas em
um cigarro na companhia de duas garotas em idade universitária.
— Oi — falei, me aproximando dele.
Seus olhos se moveram para mim, desprovidos de seu calor
habitual. Em vez disso, estavam tingidos de cautela.
— O Jase está trabalhando hoje à noite?
Ele soprou uma nuvem de fumaça clara nos rostos das garotas,
antes de abrir a pesada porta de metal e conduzi-las para seu covil
subterrâneo.
— Está.
— Ele tem evitado minhas ligações.
Lentamente, ele acenou com a cabeça.
— Achei mesmo que ele estava de mau humor por sua causa. —
Ele deu uma tragada no cigarro, soprou a fumaça para o lado, pois
conhecia minha aversão por nicotina. — O que aconteceu?
— Nós brigamos. Mais ou menos.
As sobrancelhas de Leon franziram.
— Ele queria que você se comprometesse ou algo assim, e você
não quis?
Fiz uma careta.
— Não. Por que você pensaria isso?
— Meu irmão está caidinho por você, Celeste.
Meus cílios se levantaram tanto que roçaram minha sobrancelha.
— Eu não estava... ciente.
Ele olhou para mim com uma sobrancelha grossa levantada
como se não acreditasse muito.
— Ele é meu melhor amigo, Leon, e sim, eu o amo, mas não
estou aberta a um relacionamento. Nunca o levei a pensar o
contrário.
Ele suspirou e tossiu.
— Talvez devesse dizer isso a ele.
— Eu vou. Esta noite.
Ele assentiu, tossiu mais um pouco e jogou a ponta acesa do
cigarro na rua.
— O lugar está lotado hoje. — Seu número e lista de pecados
me veio a cabeça, se sobrepondo a seu rosto ferido pela vida. —
Bom para os negócios.
Me perguntei a qual negócio ele estava se referindo, o negócio
do bar ou o paralelo dos irmãos?
Quando sua tosse seca começou novamente, ele bateu contra o
peito.
— Quer que eu pegue um copo d'água para você?
Ele sorriu.
— Não. Vai passar. Além disso, tenho uma cerveja. — Ele
ergueu a garrafa e tomou um gole.
Não insisti que a água provavelmente seria melhor quando
passei por ele e entrei no espaço barulhento.
Ele não estava brincando quando disse que estava lotado. Eu
não tinha certeza se já tinha visto The Trap tão cheio. Na verdade,
tinha. Após exames intermediários e finais. Você mal conseguia se
mover nessas noites.
Uma música do Lynyrd Skynyrd soava sobre as conversas,
criando uma cacofonia que fez meu cérebro cansado latejar, mas
então todos os sons desapareceram quando vi Jase e ele me viu. O
sangue correu em volta dos meus tímpanos quando o que eu estava
prestes a tentar fazer começou.
Quase voltei, mas a dor que passou por seu rosto incitou meus
pés. Enquanto eu abria caminho em direção ao bar, ele se virou
para um cliente sedento, depois outro e outro, me evitando.
— Soube que você está mal-humorado — falei quando ele
estava dentro do alcance auditivo.
A linha de seus ombros se acentuou, embora ele tenha ficado de
costas para mim
— Fale comigo, Jase.
Ele finalmente se virou, jogando o pano de prato que estava
usando para secar as mãos por cima do ombro.
— Não tenho nada a dizer.
— Ah, tenho certeza de que você tem muito a dizer.
Suas pupilas pulsaram com uma mistura de aborrecimento, raiva
e dor.
— Senti sua falta.
Ele ficou em silêncio, o que foi esmagador, porque Jase não era
do tipo silencioso. Esse era mais o modus operandi de Asher.
— Caso você não tenha percebido pelas milhares de mensagens
que enviei. E várias mensagens na caixa postal.
Depois de um breve silêncio, ele perguntou:
— Onde está o Abercrombie?
Dei de ombros.
— Provavelmente com a filha dele.
Ele piscou.
— Ele tem uma filha?
— Sim.
— E uma esposa?
— Não. Apenas um fã-clube de mulheres brilhantes.
— Brilhantes?
Mordi o lábio com aquele deslize. Não foi o meu pior.
— Você sabe... o tipo enfeitado. Muitas joias.
Seu olhar caiu para minhas mãos e minha variedade de anéis.
— Jase, ele e eu não estamos juntos. Nunca estivemos e nunca
estaremos. Mas não estou aqui para falar sobre ele. Estou aqui para
falar sobre você. Sobre nós.
Seus olhos castanhos vacilaram entre gentis e duros.
— Não estou com vontade de falar sobre mim e, claramente, não
existe nós.
— Tem certeza de que está claro?
— Agora está.
— Jase...
Ele levantou a mão.
— Por favor, Cee. Está tudo bem. — Seu rosto sério me disse
que não estava, mas pelo menos ele usou meu apelido.
Alguém tentou chamar sua atenção. Ele olhou em volta,
provavelmente para ver se Alicia poderia atender ao cliente, mas ela
estava entregando um prato de asas de frango em uma das
cabines, seu corpo se contorcendo como o de uma ginasta
enquanto ela passava pela multidão.
— Quer ajuda? Eu faço uma vodca com gelo mediana e sou
bastante profissional em destampar cervejas, se é que posso dizer
isso.
Ele sorriu. Desta vez, de verdade.
— Não. Está tudo sob controle. — Ele começou a se virar, mas
parou.
— Não vou a lugar nenhum. — Apoiei os cotovelos no bar e
fiquei confortável. — Se você não se importar que eu ocupe este
banco até a hora de fechar, claro.
— Não me importo.
— Que bom.
— Que bom — ele repetiu antes de ir para o cara sedento com o
braço levantado.
Embora ele tivesse passado as próximas horas recebendo
pedidos, ligando para clientes, embolsando gorjetas e esfregando a
parte superior do balcão, seu olhar se voltava para mim a cada
poucos minutos. Em algum momento, ele colocou um coquetel alto
e úmido na minha frente. Eu não tinha tocado em álcool por uma
semana, mas sentindo que era uma oferta de paz, aceitei a bebida e
tomei um gole hesitante, e depois outro, me acomodando para olhar
a multidão enquanto ele trabalhava. De vez em quando, outra coisa
aparecia na minha frente: uma pequena cesta de abobrinhas fritas,
um copo de água, uma bola de sorvete de chocolate caseiro, uma
bebida fresca, embora eu não tivesse acabado com a primeira.
Quando a multidão finalmente diminuiu, Jase se aproximou do
meu lado do bar.
— Viu algum canalha esta noite, Cee?
Vi algumas mãos errantes, mas nada que os receptores
daqueles toques indesejados não pudessem lidar. Na verdade, eu
estava muito perdida em meus pensamentos para prestar atenção
real ao salão. Minha cabeça estava no Jase, em como eu deveria
proceder para recuperá-lo e se essa era uma ideia terrível ou não.
Eu finalmente decidi que mesmo que isso me custasse a
amizade, fazê-lo trilhar um caminho melhor e, assim, salvá-lo do
destino de seu irmão, valeria o preço.
Mudando de posição no banco, eu disse:
— Nada que necessitasse de intervenção.
Ele pegou a tigela que esvaziei e a colocou em uma bandeja
cheia de pratos sujos, que carregou para a cozinha. Enquanto ele
saía, um pensamento me ocorreu. Ou melhor, um rolo de memórias.
Eu entregando carteiras de motorista e Jase tirando fotos delas.
Eu, sem saber, ajudei o seu negócio de roubo de identidade?
Ah, Jase... por favor me diga que você não me usou.
A porta se abriu, e ele caminhou para fora, seu andar
descontraído como sua personalidade. Como seu sorriso. Ele era
tão inteligente, tão trabalhador que eu não conseguia imaginar que
ele tivesse entrado nisso por vontade própria. Leon deveria tê-lo
arrastado além da linha do certo e do errado.
Girei meu canudo devagar, esperando que qualquer bem que eu
fizesse, Leon não desfizesse depois que eu tivesse partido.
Se ao menos os novos anjos não tivessem uma proibição de
viajar por um século...
Havia tantas leis que precisavam ser alteradas. Ophan Mira tinha
tanta confiança em Asher, mas ele era apenas um. Um homem
poderia mudar um mundo inteiro?
E por que eu estava pensando no Arcanjo novamente?
Ah, certo... porque eu tinha uma queda ridícula e não
correspondida pelo homem.
Engoli minha bebida, afastei o loiro dos meus pensamentos e me
concentrei no homem de cabelos escuros diante de mim.
32
O s dias se passaram.
Novembro se transformou em dezembro, que avançou
em direção à data de validade dos ossos das minhas asas.
E embora eu não estivesse mais preocupada em conseguir, tendo
ganhado noventa e uma penas desde o retorno de Asher, eu
também não estava abrindo champanhe com um sabre.
Eu poderia estar a 29 penas da vida eterna e de Mimi, mas
também estava a 29 penas de deixar Naya. A dor da minha partida
iminente rivalizava com a que cortou meu peito na noite em que
acreditei que ela estava morta para sempre.
— Por que você está me olhando assim? — Naya largou o garfo
com que lutava contra o monte de ervilhas.
Asher, que estava sentado à nossa frente no refeitório, levantou
uma única sobrancelha.
Engoli o caroço que obstruía minha garganta.
— Assim como?
Raven, a mais nova amiga de Naya, uma garotinha de sete anos
com olhos azuis claros e cabelos loiros quase brancos tirou os olhos
da história que estava lendo para Naya, um capítulo de um livro
sobre irmãs matadoras de dragões que eu tinha visto em uma
livraria no caminho de volta de uma missão.
— Como se fosse chorar — ela respondeu.
— Eu? Chorar? — Expirei.
Asher se moveu para frente, enfiou a mão por baixo da mesa, a
apoiou em meu joelho e o apertou.
Mordi o lábio com força antes de deixar escapar:
— Não quero te deixar.
Naya piscou seus grandes olhos para mim. Ela não percebeu
que, uma vez que minhas asas estivessem inteiras, eu teria que ir
embora?
— O Apa é um Seraphim.
Fiz uma careta.
— Ophan Pippa diz que os Seraphim são todo-poderosos.
Ela achava que a posição dele me daria um passe especial?
Olhei para ele em busca de ajuda para explicar que não estava
acima da lei.
— Infelizmente, motasheh — sua mão escorregou do meu joelho
—, a Celeste não vai poder voltar.
Sua boca se abriu.
— O quê?
Ao nosso redor, as conversas no jantar cessaram e os olhos se
voltaram para nós, me lembrando das primeiras refeições que Asher
e eu compartilhamos com Naya. E depois com Raven. Às vezes,
outros jovens Plumas se juntavam a nós. Especialmente quando
Asher entrava no modo de contador de histórias.
— Eu... eu... — O lábio inferior de Naya tremeu mais. — Como
você pôde não me dizer isso? — Ela saltou da cadeira.
Ela atingiu meu coração já agonizante com um olhar de angústia
antes de correr pelo corredor em direção à seção infantil da
associação. Olhei boquiaberta para Asher, então de volta para o
corredor de pedra branca.
Chocada, gaguejei:
— Eu, ah... eu...
Raven fechou o livro e se levantou.
— Vou vê-la, Celeste. Quando ela estiver calma, virei te buscar.
— Tudo bem. — Depois que Raven se foi, apoiei os cotovelos na
mesa e agarrei minha testa, que pulsava. — Não posso acreditar
que ela achou que eu ia voltar.
— Isso explica o entusiasmo dela por suas missões.
Fechei os olhos.
— Isso já foi difícil, mas argh... — Sim, foi o melhor que consegui
dizer: argh. Agarrei meu cabelo, suspirei profundamente e abri os
olhos.
— Entendo por que não podemos voltar para a Terra, mas não
faz sentido não poder visitar as associações. — Os ossos das
minhas asas se arrepiaram como se me avisassem para parar por
aí.
— A razão para isso é técnica — ele disse baixinho.
Levantei uma sobrancelha.
— Temos chaves de canal, mas não das associações.
Eu pisquei.
— Você quer dizer que estamos presos em Elysium por que os
Sete temem que possamos vagar pelo mundo humano se tivermos
permissão para retornar às associações?
Ele assentiu.
— Você percebe como isso é louco, certo? — Os Ishim
roubaram uma pena em sua esperança eterna de me domar. — Eles
nunca ouviram falar do sistema de honra? Se você for desonesto,
está fora. Os Sete poderiam implementar a mesma regra para os
anjos. A primeira infração poderia custar um ano de viagens pelo
canal. Uma segunda poderia custar dez anos. E...
Asher estendeu a mão e pegou as minhas.
— Levsheh, não é a mim que você precisa convencer.
Levantei meus olhos para a cúpula clara e o céu noturno.
— Apenas o resto do seu grupo — suspirei.
Ele assentiu.
— Depois do meu julgamento, seja como for, você deve trazer
isso à tona.
Pressionei meus lábios. Embora eu estivesse tentando
ativamente não pensar em seu julgamento, ele nunca esteve longe
da minha cabeça. Fui poupada de pensar nisso ao ver Raven
voltando de mãos dadas com Naya, que estava com o rosto úmido.
Eu me levantei e caminhei em direção às duas meninas.
Em seguida me ajoelhei na frente de Naya e segurei suas mãos.
— Mesmo que eu me recuse a fazer uma promessa que não
posso cumprir, juro que vou lutar com unhas, dentes e plumas pelo
direito de visitá-la.
— Não — ela resmungou —, nada de luta.
Franzindo a testa, eu me afastei.
— Não quero que te machuquem.
— Me machuquem?
— Tirem suas asas — ela murmurou.
Empurrei uma mecha loira de suas bochechas molhadas.
— Ah, querida... ninguém vai tirar minhas asas.
Um movimento ao meu lado me fez desviar o olhar.
— Vou me certificar de que fiquem presas às costas dela,
motasheh. — Nossa espécie não tinha anjos da guarda e, ainda
assim, nunca teve um homem que cuidasse dos outros com tanto
fervor.
Naya fez beicinho de novo.
— Jura de mindinho, Apa? — Ela estendeu seu dedinho e isso
me levou de volta há alguns anos para a associação em Paris, onde
fiz Leigh jurar que ela ficaria com Jarod para ganhar suas asas e ir
para Elysium para se casar com Asher.
Fiquei tonta de repente, me sentei sobre os calcanhares e
observei Asher envolver seu dedo mindinho no de Naya e sacudir.
Se ela tivesse cumprido sua promessa de ascender e se casar com
o Arcanjo... minha alma-metade...
— Celeste? — Naya estava acenando com a mão na frente do
meu rosto.
Eu pisquei.
— O quê?
— Quer jogar um jogo?
— Eu, uh... — O rosto de Leigh se sobrepôs ao de Naya, como
se eu estivesse olhando para uma imagem iluminada do holo-
classificador.
— Na verdade, preciso pegar Celeste emprestada por um tempo.
— Asher roçou em meu ombro. — Mas prometo que amanhã de
manhã, vou deixar vocês duas brincando enquanto vou visitar
algumas associações.
Embora ele não tivesse voltado para Elysium desde que me
libertou do armazém de Barbara Hudson, toda vez que eu estava de
folga, ele voltava a trabalhar, visitando casas de Plumas em todo o
planeta.
— Certo. — Naya deu de ombros. — Eu queria mesmo saber se
a madrasta dragão colocou fogo na casa de Penny. — Ela se virou
para Raven, e as duas voltaram para a mesa.
Eu me levantei em câmera lenta e saí do refeitório ao lado de
Asher. Achei que ele estava me levando para a Sala de
Classificação, mas acabamos voltando para o meu quarto. Embora,
na maioria das noites, usássemos meu apartamento, por uma
questão de privacidade, o quarto da associação permanecia sendo
meu, assim como Mira havia prometido.
Ele fechou a porta.
— Parece que você viu um fantasma.
Mordi o lábio. Ele o libertou.
— Jura de mindinho. Isso era uma coisa que eu fazia com a
Leigh o tempo todo.
Ele acariciou a lateral do meu rosto.
— Quer saber qual foi a nossa última?
— Só se você quiser falar sobre isso.
— Eu a fiz jurar que não iria se desvincular do Jarod.
— Não se culpe.
Balancei a cabeça.
— Isso não é... — Inspirei e recomecei. — Eu a fiz jurar que não
iria se desvincular dele para que ela pudesse ganhar suas asas e se
casar com você. Eu estava imaginando uma realidade alternativa
onde ela não tivesse se apaixonado por Jarod. Onde ela se
apaixonasse por você. E isso... doeu muito. — Estudei suas íris
brilhantes. — Asher, por um segundo, me senti feliz por ela ter ido
embora. Fiquei feliz... — minha voz falhou. — Eu sou uma pessoa
horrível.
Ele passou os braços ao meu redor e me puxou para seu peito.
— Você não é uma pessoa horrível.
— Você não ouviu o que eu acabei de dizer? — Empurrei seu
peito para me afastar.
Suas mãos flutuaram para a base da minha coluna, me dando
espaço, mas me mantendo perto.
— Achei que você finalmente gostasse dos meus abraços.
Eu o encarei, surpresa que depois de uma confissão tão sórdida,
ele ainda quisesse me abraçar. Muito menos fazer piada sobre isso.
E só para constar, eu adorava seus abraços.
— Se o Jarod fosse sua alma metade, no momento em que se
tocaram, nada nem ninguém poderia separá-los. Da mesma forma
que nada nem ninguém poderia nos separar agora.
— E se não tivessem se tocado quando eu a fiz jurar de
mindinho? E se ela tivesse se vinculado a outra pessoa e...
— E se a Muriel não tivesse morrido quando morreu? — Seu tom
foi tão brusco que prendi a respiração. — Desculpe. Não queria que
tivesse saído tão duro assim. — Ele engoliu em seco. — No
momento em que sua alma e a minha colidissem, nos tornaríamos
inseparáveis. Quer tenha acontecido aqui ou em Elysium, quer eu
fosse casado ou não. Você pode reescrever essa história de um
milhão de maneiras diferentes, Celeste, mas sempre terminará da
mesma forma. Vai terminar com nós dois juntos.
62
Q uatro dias.
Eu tinha quatro dias para ganhar nove penas.
No passado, eu poderia ter achado isso assustador,
mas aprendi a acreditar em mim mesma e não tinha
dúvidas de que conseguiria.
Embora a fé de Asher em mim nunca tenha vacilado, havia uma
energia nervosa sobre ele. Algo compartilhado por todas as
Ophanim da associação. Só Naya não estava nervosa, muito triste
para se preocupar. Ela me fez prometer – promessa de mindinho –
que assim que minhas asas estivessem completas, eu passaria
cada segundo das minhas últimas vinte e quatro horas na Terra com
ela.
Cada batida do meu coração parecia o tique de uma bomba, que
deixaria uma confusão de lágrimas quando explodisse.
Especialmente porque a detonação também marcaria o início do
julgamento de Asher.
Olhei para ele, para a linha forte de sua mandíbula que só tinha
ficado mais forte na semana que passava e que provavelmente não
iria amolecer até que minhas asas se ligassem aos meus ossos e os
Sete emitissem seu veredicto. Ele devia ter sentido meu olhar,
porque me encarou enquanto atravessávamos a rua em direção ao
meu penúltimo pecador, um rapaz de quatro penas.
Ele queria que eu me vinculasse a alguém com dez penas, mas
implorei a ele por mais um dia.
Só mais um.
Ele apertou minha mão enluvada, mas não usava as dele. Sim,
ele estava sem luvas, porque, qual a necessidade de um homem
feito de fogo usar luvas? Em breve, eu teria fogo também. Não no
momento em que ascendesse, mas um ano ou mais depois. Meu
fogo não seria quente o suficiente para queimar almas, mas seria
para selar feridas, limpar sujeiras e manter meu corpo quentinho
para sempre.
O telefone vibrou no meu bolso. Tive que comprar um aparelho
novo, mas mantive o número. Não que eu tivesse recebido ou feito
muitas ligações.
Há uma semana, depois de topar com o perfil de Fernanda e
descobrir que sua pontuação havia melhorado em oito pontos,
enviei uma mensagem a ela me desculpando por como agi na última
vez em que nos falamos. Ela mudou seus hábitos e, embora minhas
asas não tenham se beneficiado disso, minha alma e meu coração,
sim. Ela não me respondeu, mas contanto que continuasse se
aprimorando, não importava.
Fiz uma careta quando vi MOUNT SINAI iluminar minha tela. Por
que um hospital estaria me ligando? Parei de andar e tirei a luva
com os dentes para atender.
— Oi, é Celeste Moreau? — uma mulher perguntou.
— Sim.
As sobrancelhas de Asher baixaram.
— Você está listada como contato de emergência de Jason
Marros, e... — Todo o resto veio para mim de forma desconexa. —
Overdose. Heroína. Estável.
Levei a mão enluvada para minha boca aberta.
— Posso vê-lo?
Ela disse sim, mas eu teria ido mesmo se ela tivesse negado.
Assim que a ligação terminou, informei Asher.
— Preciso vê-lo.
Asher olhou para a fachada de vidro do banco onde meu
pecador trabalhava. Eu podia sentir seu desejo de que eu entrasse
e completasse a missão, mas mesmo se eu quisesse, não seria
capaz de ajudar ninguém.
Ele suspirou. Não reclamei quando ele me pegou e jogou um
punhado de pó de anjo para cobrir nossos corpos antes de voar pela
calçada coberta de lama para o céu perolado. Eu ainda não era fã
de ser transportada assim, mas pelo menos meu estômago não
ficava mais no fundo do poço. Progresso.
Minutos depois, estávamos pousando. E então eu estava
correndo pelo saguão do hospital em direção à recepção para
descobrir qual era o quarto de Jase. Embora Asher não tenha
corrido, ele me acompanhou. Foi comigo até a porta do quarto meu
amigo.
Segurei a maçaneta.
— Acho melhor você esperar aqui.
Mesmo que parecesse exigir tudo dele aceitar, ele assentiu. Ele
estava ansioso, não com a minha afeição mudando para outra
pessoa – o entrelaçamento de nossas almas garantia que isso fosse
impossível – mas que isso atrasasse minha ascensão.
Fiquei na ponta dos pés para beijá-lo.
— Não se preocupe.
Ele grunhiu em resposta.
Entrei no quarto sem bater e fechei a porta, me separando da
minha alma metade inquieta, que sem dúvida começaria a andar
pelo corredor e faria as enfermeiras desmaiarem com sua beleza.
As solas molhadas das minhas botas rangeram quando me
aproximei da cama do hospital, tentando não pensar naquela em
que fui algemada não muito tempo atrás.
Jase virou a cabeça e o tempo... simplesmente parou.
— Celeste? — As maçãs do seu rosto formavam uma tenda em
sua pele amarelada, e seu cabelo escuro, que ele sempre teve
grande orgulho em mantê-lo arrumado – cortado nas laterais e com
gel na parte superior – caía de forma desordenada ao redor de seu
rosto.
Tentei livrar minha expressão de choque, mas ele viu, porque
sua garganta balançou e ele desviou o olhar.
Brinquei com um botão do meu casaco.
— O hospital me ligou. Você não me tirou da sua lista de
contatos de emergência.
Seus cílios baixaram, protegendo seus olhos castanhos.
— Me desculpe.
— Isso não é... você não precisa se desculpar. — Me aproximei
da cabeceira da sua cama.
Seus olhos se abriram e o ódio que emanou deles foi tão intenso
que dei um passo para trás.
— Eu queria tirar seu nome, mas a única pessoa da minha lista
está na prisão, então — ele deu uma risada amarga — não teria
dado muito certo. Duvido que eles deixem os condenados fazerem
visitas ao hospital.
A acusação de Jase torceu meu coração da mesma forma que
meus dedos estavam torcendo o botão do casaco. Eu me perguntei
qual desabaria primeiro.
Olhei para a porta. Eu poderia sair e desejar a ele uma boa vida,
ou...
— Seu irmão foi para a cadeia, da mesma forma que você parou
neste hospital. Ele fez escolhas ruins na vida e você também. —
Soltei o botão, cansada de me sentir culpada. Pelo que fiz. Pelo que
ele fez. Pelo que dissemos.
Jase precisava de uma chamada para acordar, e talvez o choque
de uma overdose fosse o suficiente para tirá-lo de sua depressão,
mas e se não fosse? E se a próxima o matasse? Qual era a
pontuação dele agora? Eu duvidava que tivesse diminuído, mas
será que teria aumentado?
— Agora me escute, Jason Marros. Não me importo se você vai
me odiar pelo resto da sua vida. O que me importa é você assumir a
responsabilidade pelo que deu errado. Você roubou das pessoas.
Você roubou de mim! De mim, Jase. Sua melhor amiga. Seu contato
de emergência. — Joguei a mão no ar, exasperada. — E depois
você jogou minhas coisas fora. Jogou fora a nossa amizade.
— Você nos largou primeiro.
— Como? Quando? — gritei. — Quando tentei colocar algum
juízo na cabeça do seu irmão?
— Quando você mentiu!
— Sobre o que eu menti? — gritei de volta.
— Aquele cara! Abercrombie. Você disse que ele não significava
nada para você.
Recuei, surpresa.
— Achei... — Seus lábios pálidos se fecharam, uma fina linha
branca no mar de sua escura barba por fazer. — Achei que
tínhamos uma chance. No dia em que pegaram o Leon, eu ia dizer a
ele que queria sair, mas você estava nos braços do Abercrombie, e
você... foi embora. Com ele. Você foi embora com ele. — Ele cobriu
o rosto com a mão, empurrando os tubos presos ao seu braço e
soltou um uivo de dor que me fez afundar em seu colchão.
— Eu nunca tive a intenção de te enganar. — Lágrimas rolaram
pelo meu rosto. — Mas juro, naquela época, eu não estava com ele.
— Você também não estava comigo.
Minha garganta se apertou.
— E agora? — Ele abaixou a mão, olhando para mim. — Você
está com ele agora?
Pesei a consequência de contar a verdade a ele ou mentir. Em
quatro dias, eu teria partido. Se eu dissesse não, perderia uma
pena, mas ganharia um amigo. Mas e daí? O que aconteceria
quando eu desaparecesse no ar e Jase ficasse sozinho novamente?
Quem seria seu contato de emergência? Embora eu tivesse
recuperado pecadores de alta pontuação em um dia, ele precisava
de apoio de longo prazo.
— Chega para lá, tá?
Ele o fez, e eu me enrolei ao seu lado.
— Vou te contar uma história. Uma história que não tenho
permissão para contar. E você não vai acreditar em uma palavra
disso, tenho certeza. Vai pensar que estou louca. Provavelmente até
vai me chamar assim. E tudo bem. Mas você tem que prometer
ouvir. Cada palavra. E talvez um dia, você veja algo acontecer, você
sentirá algo acontecer, algo inexplicável, e vai perceber que sua
amiga pode não ter sido tão boba quanto você imaginou.
Respirei fundo. E então, palavra por palavra, fiz um resumo de
onde vim e para onde estava indo. E para cada segredo que contei,
uma pena caiu. Os ossos das minhas asas doeram, mas meu
coração doeu mais.
Por Jase.
Mas também por Asher.
Eu não só arranquei penas das minhas asas, mas também os
segredos de nosso povo.
Não contei quantas penas perdi. Não ousei.
Simplesmente fechei meus olhos e rezei para ter tempo
suficiente para compensar a perda antes que fosse tarde demais.
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E , A N :
ESTRELA
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AGRADECIMENTOS
Com carinho,
Olivia
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