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FUEL

THE FIRE
KRISTA & BECCA RITCHIE
www.kbritchie.com
tradução:
BOOKSUNFLOWERS
ADDICTED SERIES
ORDEM DE LEITURA RECOMENDADA
Addicted to You (Addicted #1) Ricochet (Addicted #1.5) Addicted for
Now (Addicted #2) Kiss the Sky (Spin-Off: Calloway Sisters #1)
Hothouse Flower (Calloway Sisters #2) Thrive (Addicted #2.5)
Addicted After All (Addicted #3) Fuel the Fire (Calloway Sisters #3)
Long Way Down (Calloway Sisters #4)
UMA NOTA DAS AUTORAS
É possível ler apenas a série spin-off Calloway Sisters sem ler a série
Addicted, mas você DEVE ler Hothouse Flower (Calloway Sisters # 2)
antes de ler Fuel the Fire (Calloway Sisters # 3).

É altamente recomendável ler os livros na ordem de leitura


recomendada, que está em tangente com a série Addicted. No entanto, se
você escolher não ler Addicted After All antes de Fuel the Fire, haverá um
salto no tempo.
[ Prólogo ]
CONNOR COBALT
— Nome? — Atrás de uma mesa, uma mulher passa por cartões brancos
com cordões carmesins anexados.
— Richard Connor Cobalt. — Lhe dou um sorriso amável.
Ela pega o crachá correspondente. — Bem-vindo ao Modelo da ONU
deste ano, Richard. Boa sorte. — Sua última frase - mesmo que seja nada
mais do que uma despedida sem sentido - perfurou uma parte da minha
cabeça, cutucando um nervo.
Boa sorte.
Eu gostava de ter controle do meu destino. E sorte significava que eu
não tinha nenhum. Que eu teria que deixar alguém inferior decidir o meu
desfecho. Eu entendia que alguns juízes eram parciais, a maioria dos
quais eu provavelmente poderia enganar. Mas escalar as pessoas era
minha especialidade. Eu não estava lutando contra uma máquina caça-
níqueis ou um computador.
As pessoas eram maleáveis. As pessoas eram previsíveis.
Eu venceria os juízes. Eu venceria.
Em vez de usar minha irritação, lhe dei outro sorriso relaxado e
coloquei o cordão no pescoço. Ela estava olhando para mim como se eu
fosse um adolescente tentando fazer o papel de um homem adulto. Foi
esse olhar que cavou sob minha pele, a expressão que dizia que eu era
pequeno e indigno porque eu tinha apenas quinze anos.
— Você deveria se lembrar do meu nome, — eu disse.
Ela riu hesitante. — Vou tentar, mas há muitos de vocês.
— E, no entanto, eu sou o único que você verá vencer todos os anos.
Sua incerteza só cresceu como se dissesse eu te ouvi direito? Você quis
dizer o que eu acho que você quis?
Meus olhos mal piscaram para o seu broche laminado e então gesticulei
distraidamente para sua pilha de cartões. — O vigésimo sétimo crachá
está fora de lugar. Rolland vem antes de Rose. — Eu sorri novamente. —
Boa sorte, Marianne. Você vai precisar.
Eu era um idiota.
Um imbecil.
Um filho da puta presunçoso e arrogante.
Mas para mim, não havia nada mais frustrante, mais exasperante do
que ser considerado indigno pelo fato de eu ser mais jovem do que quem
eu enfrentava. Meus pensamentos, minhas ideias nunca importaram para
a maioria dos adultos. Ter alguém que me ouvisse seriamente era quase
impossível. Eu era simplesmente ‘uma criança’ - um garoto inteligente,
mas não aquele cujos pensamentos superavam os deles.
Eu nunca falaria com uma criança do jeito que as pessoas falavam
comigo, um garoto de quinze anos.
Eu sabia que ganharia respeito com a idade. Eu teria que esperar por
um prazo absurdo criado pela sociedade. Besteira, pensei. A vida era uma
besteira, e a única maneira de não me irritar era cooperando.
E então eu sempre cooperei.
Ela olhou para mim, boquiaberta e insegura.
Acenei-lhe adeus e meu sorriso se espalhou pelo meu rosto enquanto
eu caminhava pelo corredor do saguão, minha mochila de couro
pendurada no meu ombro.
Depois que eu entrei, fui em direção aos elevadores. O hotel havia
seccionado vários andares para os concorrentes. O Internato Faust para
Jovens Garotos ocuparia o sexto andar com outras três escolas
preparatórias.
Pessoas de catorze a dezoito anos já subiram e desceram elevadores de
vidro em tédio ou com lugares reais para ir, como eu.
Caras em blazers laranja escuro saíram do elevador. Eu entrei e apertei
o botão do sexto andar, tentado a apertar o botão ‘fechar portas’
também. Mas eu esperei, vendo duas garotas se aproximarem. A mais
alta, com cabelo castanho brilhante, tinha os olhos infernais que me
pareciam malévolos, determinados e ardentes. Não importa em que
direção ela se virava. Sua boca se movia rapidamente, gesticulando com
raiva enquanto falava.
Eu não consegui ouvi-la, muita interferência das pessoas
congestionando o hotel.
Eu examinei as meninas de longe. Sem crachás, então elas ainda não
tinham feito o check in. Ambas usavam saias xadrez azul-marinho, as
blusas de colarinho branco enfiadas dentro das saias. Avistei as insígnias
bordadas no bolso do paletó: Academia Dalton.
Eu não tinha noções preconcebidas da escola particular mista. No ano
passado, nós os vencemos. E no ano anterior, não tivemos problemas. Eu
assumi que esse ano seria o mesmo.
— Não, eu não vou deixar isso pra lá. É uma merda completa, Lydia, —
a garota mais alta xingou. Elas entraram no elevador, a garota muito
irritada para perceber que precisava apertar um botão, e eu estava
curioso demais para interromper.
— O gerente tinha razão, — disse Lydia com resignação. Ela tinha um
corpo esbelto, sardas e uma longa trança vermelha.
A outra garota colocou as mãos nos quadris, fumegando. Ela sufocava o
elevador com cada inspiração pesada.
Eu a observei da cabeça aos pés: salto alto preto, batom vermelho
escuro, elegante rabo de cavalo marrom e aqueles olhos tirânicos verde-
amarelados, fazendo buracos no vidro. Eu estava compartilhando um
elevador com uma tempestade tempestuosa e elétrica que me recusava a
acalmar. Eu sempre quis ser levado à loucura, mesmo que por um
momento, para separar os momentos mundanos da minha existência.
— O argumento dele era que três garotas conseguem se encaixar em
uma cama king size, mas três garotos não conseguem. Então, temos que
ficar com o pior quarto já que a gerência reservou a mesma suíte duas
vezes. Vê como isso é ridículo?
— É verdade, no entanto. Os meninos são maiores que nós. — Lydia
encolheu os ombros.
As portas do elevador se fecharam e nós subimos.
— Vamos dormir na suíte que nos foi designada, — a garota refutou. —
Eles podem ficar com o quarto menor.
— Eles não vão concordar com isso, — disse Lydia.
— Você só não quer discutir com eles sobre isso, — a menina replicou.
— Se você quer ficar quieta, tudo bem, mas eu não posso deixar os
garotos do Faust vencerem. Metade deles acreditam que mijam ouro e a
outra metade anda como se tivessem criado a terra e o céu.
Eu abaixei minha cabeça para esconder meu sorriso. Eu faço parte da
segunda metade.
Ela continuou, se mantendo alta, — Suas cabeças estão tão infladas que
eu vou aplaudir quando alguém as decapitar do pescoço deles.
Eu mal conseguia segurar minha risada. Eu olhei para o teto, meus
lábios se curvando ainda mais para cima.
Eu nunca tinha ouvido uma garota como ela antes.
Nunca na minha vida.
Eu tinha a maioria dos detalhes que eu precisava para entender os
eventos. A gerência reservou a mesma suíte para a Dalton e Faust e agora
eles estavam dizendo a um deles para trocarem.
Lydia suavizou sua voz. — Os garotos da Faust são intimidadores por
um motivo. Sebastian disse que eles ganham Delegação Extraordinária
todos os anos.
— Todo ano que nós não estávamos aqui, — a garota rebateu.
Isso me empurrou para falar. — Eu não acho que nos conhecemos. —
Eu me virei para elas, e as meninas mudaram suas posturas, finalmente
reconhecendo a terceira pessoa no elevador.
Ambas examinam minha estrutura imponente. Aos quinze anos, eu
tinha 1,80 e ainda estava crescendo. Meu cabelo castanho ondulado
estava perfeitamente penteado, minha sobrancelha arqueada em falsa
contemplação, e eu usava um blazer preto com uma gravata carmesim.
O uniforme da Faust.
O nariz da garota se alargou, especialmente quando ela olhou meu
crachá, Internato Faust para Jovens Garotos escrito pequeno e abaixo
Richard Connor Cobalt.
Lydia empalideceu.
Eu estendi minha mão para ela primeiro. — Prazer em conhecê-la.
Ela sacudiu, a palma da mão pegajosa e a aperto fraco.
Quando me virei para a outra garota, ela cruzou os braços sobre o peito
e salto o chão repetidamente. Esperei que ela se apresentasse. Eu queria
saber o nome dela. Muito. Eu estava ansioso para ouvir. Qualquer parte
dele.
Eu disse a ela: — Você é minha maior competição. — Eu esperava que
ela suavizasse ao elogio. Se eu falei a verdade ou não, eu não tinha ideia
ainda. Ela ficou tensa e as portas começaram a se abrir no sexto andar,
meu andar.
Ela não me respondeu. Ela saiu do elevador.
Lydia correu para alcançar sua amiga. — Rose, — ela gritou.
Entrei no corredor com um sorriso mais largo, e Rose olhou por cima
do ombro com um olhar mordaz, sabendo que Lydia soltou o que Rose
tinha me negado. Eu não precisei checar o cartão do meu quarto
novamente. Eu estava no 643, uma das suítes com varanda que dava para
o café e pro pátio no meio do hotel.
Eu pensei, por uma fração de segundo, que talvez eu estivesse no
quarto duplamente reservado também. A chance era microscópica, mas
não era improvável.
Assim que vi Dillon e Henry esperando na porta marcando o quarto
643 com outra garota da Dalton - todos eles carrancudos - percebi que
também pertencia a essa luta.
— A gerência deu a vocês um novo quarto, — Rose mentiu para Dillon,
passando os cartões-chave para o garoto de dezesseis anos de cabelos
loiros.
No segundo em que me aproximei, as sobrancelhas dela se franziram
em confusão.
— Cara. — Dillon cutucou meu braço. — Eles nos reservaram junto
com as garotas da Dalton.
Eu não tirei os olhos de Rose. — Eu ouvi. — Eu peguei os cartões-chave
de Dillon e passei-os de volta para Rose.
Realização passa por seu rosto.
Essa era a minha suíte também. E ninguém nunca pegou o que era meu.
Não a menos que eu de bom grado, tenha dado a eles, e eu não daria a ela
esse quarto. Eu não queria me enfiar na mesma cama com Dillon e Henry.
Eu queria a sala de estar, a escrivaninha extra, o sofá, o espaço mais
silencioso para estudar.
Mas Rose também queria.
— Basta mudar com a gente, — Rose tentou dessa maneira. — É a coisa
educada a fazer.
— Por quê? — Eu perguntei. — Porque você é uma menina?
Seus olhos se estreitaram. — Richard.
— Rose.
Ela soltou um pequeno rosnado. — O que quer por isso?
Minhas sobrancelhas levantaram. Tenha cuidado, Rose, foi meu
primeiro pensamento. Eu sabia que ela tinha quatorze anos, já que esse
era o primeiro ano dela competindo, e talvez, apenas talvez, ela estivesse
disposta a fazer qualquer coisa para ganhar.
Talvez ela fosse como eu.
— Vamos jogar um jogo, — eu disse, largando minha mochila no chão.
— O vencedor levará a suíte. O perdedor fica com o quarto menor.
— Quarto menor? — Ouvi Henry bufar atrás de mim, percebendo que
Rose iria enganá-lo para trocar de suíte.
— Que tipo de jogo? — Sua voz estava coberta de gelo.
— Trivia. — Levamos mais dez minutos para resolver os detalhes.
Todos nós seis escrevemos categorias em pedaços de papel e os
colocamos no boné de beisebol do Dillon. Apenas Rose e eu
competiríamos. Dillon e Henry sabiam que meu QI era mais alto que o
deles. E as duas meninas, Lydia e Anna, apontaram imediatamente para
Rose. Se elas estavam com medo de ir contra mim ou se ela era apenas
mais esperta do que elas, eu não sabia ainda.
— Quem vai primeiro? — Dillon perguntou, segurando o chapéu.
Rose abriu a bolsa vermelha que estava na dobra do seu braço e pegou
uma moeda. — Nós vamos na sorte. — Ela pediu coroa, e eu perdi ao
acaso. Mas eu não perderia mais nada.
Ela pegou um papel do boné. — Mitologia Egípcia. — De acordo com
nossas regras, tínhamos que criar perguntas sem usar nenhum material
de referência.
Eu me perguntei se ela poderia fazer essa parte.
Eu esperei. E seus olhos encontraram os meus em um olhar mais
severo. — Deus de sabedoria e conhecimento, — ela desafiou.
Meus lábios se contorceram em um sorriso. — Tote.
Ela sabia que eu estava certo, mas seus ombros ainda se endireitaram,
não desistindo.
— Ele está certo? — Dillon perguntou a Henry, que estava sentado no
chão com seu notebook aberto.
— Sim, — Henry disse em uma risada surpresa.
Dillon me deu um tapinha no ombro. — Bom trabalho, Cobalt. Continue
assim.
Da mesma categoria, eu perguntei: — Esposa de Aquenáton? — Eu
observei ela pensar sobre isso. Eu poderia parar aqui, vencer dela com
pouca informação, terminando o jogo rapidamente. Ou eu poderia testá-
la, para realmente ver o quanto ela sabia.
Eu queria prolongar isso.
Então eu acrescentei, — Madrasta de Tutancâmon, conhecida por
tentar mudar a religião politeísta para mono...
— Nefertiti, — ela me cortou.
Ela estava certa.
Foi a minha vez de escolher a próxima categoria aleatoriamente. Eu li o
papel em voz alta, — Termos médicos.
Seu peito subia e caía pesadamente.
Eu não consegui esconder um sorriso brotando. — Respiração rápida,
— eu desafiei.
— Taquipneia, — ela respondeu. — Pare de sorrir.
— Agora ela não gosta de sorrisos.
— Nem todos os sorrisos.
— Só o meu então? — Eu questionei.
— Sobretudo o seu. — Era como se ela estivesse dizendo, não pense que
você é tão especial.
Eu esfreguei meus lábios, tentando não rir. — E como é o meu?
Ela estreitou os olhos. — Como se você já tivesse me vencido. Como se
você estivesse no meio do caminho para a minha saia. Como se você
fosse o governante de toda nação livre e de todo homem livre. Devo
continuar?
— Por favor, — eu disse, me divertindo. — Eu estava me perguntando
o que mais eu governo. Poderia ser todo animal livre? Ou apenas aqueles
em zoológicos?
— Oooh, — as pessoas interpelavam. Mais estudantes se reuniram em
torno de nós, não apenas da Faust e Dalton, mas de outras escolas. Eles
lotaram a varanda e o corredor, tendo que se espremer enquanto
continuávamos esse jogo.
Ela me ignorou e desafiou, — Um crescimento anormal de tecido
causado pela multiplicação descontrolada e rápida de células.
— Um tumor.
— Também conhecido como você, — ela respondeu.
— Oooh, — a plateia zombou novamente.
Eu realmente ri. E isso apenas a irritou mais. Eu praticamente podia ler
seus olhos enfurecidos que diziam, cale a boca.
Quinze minutos se passaram e ambas as nossas perguntas estavam se
tornando mais difíceis. Nós nos aproximamos de alguma forma, apenas
alguns metros nos separando enquanto nós vomitávamos perguntas e
respostas de constelações estelares, compositores, teorias estéticas,
filosofia e história americana.
Ela era muito mais inteligente do que eu pensei inicialmente. Talvez,
até mesmo, a concorrente mais inteligente que eu encontrei na minha
adolescência. Ela gostava de fatos, conhecimentos aleatórios, tanto
quanto eu.
— Sua vez, Richard. — Ela disse meu primeiro nome com despeito,
veneno se infiltrando em cada letra, como se estivesse matando as
sílabas. Eu não me importei em corrigi-la, dizer a ela que todos me
chamavam de Connor. Eu fui capturado pela paixão dela, então eu não a
impediria. Nem uma vez.
Eu olhei para o meu pedaço de papel. Estava em cursiva pura e precisa.
Tinha que ser sua caligrafia. — Personagens das peças de Shakespeare
Ela tentou segurar um sorriso.
Então ela gostava de Shakespeare. — Sir John Falstaff, — eu disse a ela
um personagem. Agora ela tinha que nomear a peça.
Sem hesitar, ela respondeu, —As Alegres Senhoras de Windsor e
Henrique IV, parte 1 e parte 2. — Ela foi rápida em me fazer uma
pergunta. Não esperávamos mais que Henry confirmasse as respostas
que sabíamos estar corretas. — Ariel?
— A Tempestade. — Presumi que deveria ter sido o favorito dela.
Ela puxou o próximo papel. — Local de nascimento de civilizações
antigas.
Eu tentei não me gabar já que ela já estava irritada. Fui eu quem
escreveu essa categoria.
Ela respirou fundo e olhou para o teto, revirando seu cérebro atrás de
um fato trivial. — Mesopotâmia... 1800 a 1686 a.C. — Sua voz era mais
baixa, mais incerta sobre essa categoria do que as outras.
— Primeiro Império Babilônico, — eu disse a ela em voz baixa também.
Parecia que nós éramos os únicos no corredor por um minuto. Nossos
olhos se encontraram, e eu pude ver a derrota nos dela antes mesmo de
fazer uma pergunta. Ela não tinha confiança neste assunto.
Eu esperei para perguntar algo a ela. Houve uma longa sequência de
silêncio, exceto pelos dedos de Henry que batiam no teclado.
— Ele está certo, — Henry exalou.
Todos os meninos da Faust aplaudiram. As meninas e os meninos da
Dalton sussurravam entre si e tentavam animar a Rose com incentivos.
Eu não queria derrubá-la tanto quanto queria levanta-la, mas eu
também gostava de ganhar. E eu não perderia esse jogo. — Creta, 3000 a
1100 a.C.
Depois de um minuto, ela franziu a testa e balançou a cabeça. — Eu não
sei. — Cada palavra soou errada dos seus lábios.
— É a Civilização Minoica, — eu anunciei.
Todos gemeram atrás dela. Todos aplaudiram atrás de mim.
Eu tentei ignorá-los, deixando apenas ela e eu. Eu ansiava por mais
tempo, talvez até sozinhos. Eu queria conversar. Eu queria explorá-la. Eu
queria tantas coisas naquele momento que meu cérebro fui para cinco
caminhos ao mesmo tempo. Eu fiquei sobrecarregado.
Mais sobrecarregado do que eu já estive.
— Parabéns! — Disse ela, tendo que levantar a voz com os aplausos e
gemidos. Ela empurrou os cartões-chave no meu peito. Eu pensei que ela
iria colocar uma luta maior do que isso. Eu teria tentado um caminho
diferente, um caminho alternativo, para obter o que eu queria.
— É isso? — Eu perguntei, abaixando a cabeça na direção dela para que
ela pudesse me ouvir.
— Você ganhou justamente. Mas eu vou vencer você justamente essa
semana. — Ela não estava disposta a fazer uma pechincha, uma permuta,
algo mais. Ela não estava desistindo. Ela estava apenas seguindo as
regras, enquanto eu sempre procurava por brechas.
Rose não era uma cópia minha, eu reconheci. Ela era outra pessoa
inteiramente.
— Você vai ver muito mais de mim, — percebi. Se ela fosse tão
inteligente, eu a veria nos circuitos acadêmicos. Eu a veria ainda mais se
eu a convidasse para sair, mas isso não era tão atraente quanto ser seu
concorrente. Ainda não pelo menos.
— Então você precisa me comprar alguns sacos de vômito. — Ela me
olhou de cima abaixo. Eu estava sempre fisicamente em forma e parecia
exatamente como me vestia: bem-educado, culto, correto, rico. Um
babaca da escola de elite.
— Você sempre vomita em caras que gosta, — perguntei, — ou apenas
em mim?
Ela estreita os olhos, — Quanto mais você pesca por elogios, mais eu
quero vomitar em você.
— Então é só em mim.
Ela rosnou.
Eu sorri abertamente.
E nossos respectivos amigos começaram a nos puxar, em direção aos
nossos diferentes quartos de hotel. Eu nunca percebi o quão entediado
eu estava com a vida. Quão mundano meu redor era. Quão incontestável
eu me tornei.
Eu nunca percebi todas essas coisas.
Até que eu a conheci.
ONZE ANOS DEPOIS
[1]
ROSE COBALT

Siga instruções do seu marido, Rose Cobalt.
Quem, quem me destinou com essa noite? Você, Rose. Um gosto amargo
enche minha boca. Eu sou parcialmente culpada, vou admitir. Eu me
recusei a deixá-lo dirigir. Eu pensei que se eu estivesse atrás do volante,
ele me diria para onde estamos indo.
Em vez disso, ele me deu as instruções mais vagas. Eu estou dirigindo
cegamente, a vontade dele.
Siga instruções de Connor Cobalt, fora do quarto. Eu prefiro me afogar
em magma quente e borbulhante.
— Vire à esquerda no sinal, — diz Connor, com os dedos nos lábios. Eu
pego seu sorriso presunçoso, iluminado no brilho azul do painel.
Eu me coço para fazer o oposto, para virar à direita, mas onde quer que
estejamos indo, eu quero estar lá tanto quanto ele. O objetivo - qual eu
estou a par de tudo - significa mais para mim do que começar uma nova
disputa com meu marido. Então eu engulo meu orgulho esmagador e viro
meu Escalade para a esquerda.
Eu posso sentir ele se vangloriando. — Quanto mais você sorri como se
eu estivesse dando uma rapidinha em um banheiro público nojento, mais
meus ovários murcham e morrem, — digo a ele. — Então, pense em
todos os nossos futuros filhos que você está aniquilando, Richard.
Ele estica o braço atrás do meu encosto de cabeça. — Eu sou tão
extraordinário que meu sorriso pode te deixar infértil?
— Eu estava te insultando, — eu replico, meus olhos piscando para ele.
Suas sobrancelhas arqueiam com mais satisfação. — Foi parcialmente
um elogio e parcialmente errôneo.
Eu zombo. — Errôneo?
— Ilógico, irracional, sem sentido…
— Eu sei o que significa errôneo. Eu só quero cortar sua língua por usar
essa palavra contra mim. — Ele pode estar certo. Não é uma afirmação
racional, mas espero que meus ovários permaneçam comigo e não
firmemente do lado dele.
— Você esquece que eu uso minha língua para o seu prazer - vire à
direita.
Eu viro o carro para a direita. — Eu não preciso da sua língua, —
refuto. — Eu tenho outros meios para me dar prazer. — Embora a
masturbação não seja tão boa ou substancial, mas estou evitando outro
elogio para um homem que os encontra em insultos.
Seus dedos tamborilam no encosto de cabeça. — Esses meios são
operados por bateria?
Atiro-lhe um olhar penetrante, sem negar a verdade.
Seu polegar roça minha bochecha e eu realmente relaxo um pouco. —
Seu argumento carece de evidência, querida. Vire à esquerda depois
desse sinal.
Eu paro, no sinal vermelho brilhando ao longo da rua quase deserta.
São 10 da noite na noite de Ação de Graças, todo mundo está comendo
torta com suas famílias dentro de casa. Não vagabundeando pelas
estradas secundárias de Filadélfia em uma missão bizarra.
— Onde estamos indo? — Eu pergunto pela quarta vez.
— A um estacionamento, — diz ele novamente.
— Eu já passei de cerca de trinta deles. — Eu gesticulo para um vazio
ao lado de um posto de gasolina mal iluminado. — Aquele não é
suficiente?
— Um estacionamento específico, — corrige Connor. Um que ele teve
que pesquisar no Google em seu celular, o aparelho sendo apertado por
sua mão. — Estamos quase lá. Você acha que seus ovários sobreviverão
até então?
— Você planeja me engravidar nesse tal estacionamento? — Eu
estreito os olhos, me virando totalmente em sua direção enquanto
esperamos o sinal ficar verde. Ele usa uma camisa social azul e paletó,
feito sob medida para sua estrutura de um metro e noventa e três.
Connor Cobalt é tão elegante quanto ele é vaidoso. Ambos me atraem.
Ambos me irritam.
Eu sou um paradoxo. E talvez seja por isso que ele me ama.
— Eu pretendo engravidar você mais sete vezes, — ele declara, — mas
não essa noite. — Ele cobre meu rosto, e seu polegar escova meu lábio
inferior em uma linha lenta e medida.
Meu peito cai superficialmente, especialmente quando seus olhos voam
para a minha boca. Ele quer oito filhos. Um império. Já temos uma filha
juntos, mas há estipulações que ainda não discutimos detalhadamente se
quisermos mais. Para outra hora. Outro dia. Nós já temos muitas crises
para criar outra.
— Você está tendo muito prazer com isso, — eu digo um pouco mais
baixo do que eu pretendia. Eu não tenho certeza ao que estou me
referindo: nosso império proposto, ele controlando nosso destino, ou me
excitando?
— Você é a única que está sem ar, — diz Connor com calma, mas eu
ouço o humor por trás de sua voz. Depois de casados por quase dois anos
e meio, entendo a sutileza em seus tons. Ou isso ou ele decidiu aliviar a
fachada para mim. Eu gosto de pensar que é um pouco dos dois.
Mas duvido que eu vá saber um dia.
— Está verde, — ele anuncia sem quebrar meu olhar.
Eu viro minha cabeça e sua mão cai. Dirijo para ‘onde quer que ele me
guia’ - que é o meu destino menos favorito.
Depois de mais cinco minutos, ele me diz para ir mais devagar e virar à
direita em um estacionamento. Eu tiro meu pé do acelerador e o carro
para.
— Bem aqui. — Ele gesticula à nossa frente.
Eu entro no estacionamento vazio e digiro o que me rodeia: a frente de
uma loja fechada de tecidos, as luzes apagadas, o prédio tão escuro
quanto o céu sem estrelas.
Eu estaciono meu Escalade na terceira fila e desligo a ignição, meu
coração batendo contra minhas costelas apertadas. O silêncio nos cobre,
a realidade de nossas escolhas começa a subir para a minha cabeça.
Connor me observa, não falando. Talvez ele ache que vou voltar atrás.
Eu não vou.
Eu entendo para quem, e pelo que isso é.
— Vamos fazer isso rápido. — Eu tiro meu cinto e me viro para encará-
lo. — Antes que alguém perceba que estamos fora. — Nós saímos da casa
dos meus pais depois da torta de maçã. Eu coloquei minha filha de seis
meses nos braços da minha mãe e a deixei lá por algumas horas. Isso foi
mais difícil do que isso será.
Eu puxo meu cabelo castanho brilhante para trás em um rabo de cavalo
elegante, estalando o amarrador violentamente antes de me concentrar
em Connor no banco do passageiro. Suas sobrancelhas estão franzidas,
linhas em sua testa, seu prazer esgotando-se junto com o meu.
Minha coluna está em um rígido ângulo de noventa graus e me esforço
para descruzar meus tornozelos. — E agora? — Eu pergunto, embora eu
esteja certa de que sei o que acontece a seguir.
— Você quer instruções? — Ele me dá um olhar aguçado do tipo, você
tem discutido comigo pela última hora por ter dado elas.
Meus olhos ficam em flamas. — Quando se trata de seu pênis, eu
gostaria de instruções, sim. — Eu ainda tenho que dominar chupar ele, e
todo o tormento me dá um calor ansioso que eu quase nunca sinto.
Chupa-lo em um estacionamento público - nunca imaginei que faria
algo tão juvenil. Mas quando se trata de proteger as pessoas que amo,
minha lista de nãos diminui drasticamente.
Ele solta o cinto de segurança. — Se encoste contra a porta e abra as
pernas. — Meus olhos crescem em surpresa.
— O que?
— Se encoste contra a porta...
— Eu ouvi você pela primeira vez, — eu replico. — Eu só… — Eu tenho
que ler entre as palavras dele. Abra as pernas. Eu atordoadamente
sacudo minha cabeça.
Tradução: Você não está me chupando, querida.
Ele espera que eu aceite essa troca.
Hesito, só porque gosto de seguir as regras. — Connor, eles me
disseram para te dar oral. — Se nós realmente quiséssemos, eu poderia
fingir que iria chupa-lo. Nós só precisamos agir como se estivéssemos
fazendo isso perto das janelas.
Ele desliza para perto de mim e abaixa as mãos, segurando meu
tornozelo. Ele tira meus saltos pretos de doze centímetros antes que eu
possa protestar. E então ele levanta meus pés no assento, e eu sou
forçada a me inclinar contra a porta como ele pediu anteriormente. Eu
preciso do apoio de qualquer maneira, o sangue está correndo em
minhas veias com seus movimentos fortes e seguros.
Com meus tornozelos ainda em suas mãos, ele separa minhas pernas.
Eu puxo a bainha do meu vestido preto plissado, cobrindo minha
calcinha preta rendada de sua visão - mas o mais importante é a visão de
alguém lá fora.
Um olhar determinado pulsa em seus olhos azuis, ambição e confiança
que é mais forte e melhor do que um tapa na bunda.
Ele se ajoelha no banco e alcança debaixo do meu vestido, seus dedos
roçando minha calcinha.
— Connor, — eu aviso. Tudo o que posso pensar - se não fizermos isso
corretamente, do jeito que eles gostam, então estamos estragando tudo
no primeiro dia.
— Ils jouent notre jeu. On ne joue pas le leur. — Eles jogam nosso jogo.
Nós não jogamos o deles. Ele acrescenta em francês — Ensemble. —
Juntos.
Nós fazemos isso juntos ou não fazemos de jeito nenhum.
Estou mais apaixonada por ele, conquistando o mundo ao seu lado, do
que como sua rival. Ele estava pronto para ser meu companheiro de
equipe no momento em que me formei na escola preparatória, mas pus
uma pausa nisso, escolhendo uma faculdade diferente dele. Eu não
estava pronta para ser algo mais. Nós continuamos rivais. Ele não queria
esperar pela minha beca e chapéu, pela nossa entrada na idade adulta, e
quando surgiu a oportunidade, ele me convidou para sair.
Nós namoramos. Nós casamos.
Nós tivemos um bebê.
Juntos, somos uma força da natureza a ser considerada. Essa não é a
minha arrogância falando. É só a verdade.
Eu aceno uma vez, o poder fluindo através de mim. — Ensemble. —
Juntos.
Ele beija meu tornozelo enquanto levanta minha perna, tirando minha
calcinha. Eu continuo puxando meu vestido, o lado da minha bunda
exposta. Embora eu não tenha certeza do quanto alguém consegue ver
através das janelas.
Connor coloca minha calcinha no painel e, em seguida, coloca a mão na
minha, protegendo mais do meu corpo de vista. Ele levanta minha perna
esquerda por cima do ombro, seu corpo pairando sobre o console do
meio.
Ele sussurra: — Se incline para trás e feche os olhos.
Eu faço o que ele manda, mesmo que eu não esteja no quarto, esta é
uma atividade de quarto. E prefiro não estar no controle.
Eu descanso contra a porta do carro e fecho meus olhos, tentando não
pensar em ninguém espreitando do lado de fora.
Connor agarra meus quadris e me puxa para mais perto dele, então
minhas costas estão em um ângulo melhor, apenas meus ombros
apoiados contra a maçaneta da porta.
No momento de silêncio, a buzina de um carro distante parece estar
mais perto e meus olhos se abrem. Eu tento endireitar e espiar pelo para-
brisa.
Connor segura meu rosto, girando minha cabeça para ele. —
Concentre-se em mim. Ou prefere chupar meu pau?
Eu estreito meus olhos para ele. — Você gostaria de trocar? — Eu
desafio, mesmo que eu não queira, de jeito nenhum, ser fotografada com a
cabeça acima de suas calças. Não se houver uma alternativa.
Sua cabeça na minha virilha. Eu aprovo.
— Você sabe o que eu acho levemente irritante? — Ele pergunta, sua
voz calma, mas eu ouço o aperto de suas palavras, como se
aborrecimento, uma emoção escondida, apertasse cada sílaba.
— Sua voz, — eu rebato.
Ele segura um sorriso. — Responder uma pergunta com outra
pergunta. — Seu aperto ainda é forte no meu queixo. Meu corpo está em
sua posse completa. — É assim que você responde a uma pergunta, Rose.
Eu escuto atentamente.
— Não, — ele diz, — não quero trocar de lugar com você. Eles
acreditam que somos suas marionetes. Nós vamos lhes mostrar as
cordas, mas sempre nos moveremos por conta própria. — Ele faz uma
pausa, seus olhos voltando para a minha boca novamente. — Mas o mais
importante, você acredita que minha língua é descartável. — Seu rosto se
aproxima do meu, que ele agarra, e eu respiro pesadamente quando ele
sussurra, — Você vai se lembrar, Rose, o por que dela ser absolutamente
essencial.
Eu me sinto latejar.
— Agora feche seus olhos, — ele comanda.
Não tenho problema em ouvi-lo agora, bloqueando nosso ambiente - ou
pelo menos a minha imaginação, que está fazendo mais mal do que bem.
Fecho os olhos novamente e, enquanto ele abaixa a cabeça entre as
minhas pernas, sua mão viaja do meu queixo para o meu pescoço. Ele
está colocando a mão em volta dele e me sufocando com a quantidade
certa de força. Oh Deus. Sua língua e boca beijam meu calor - estremeço e
agarro o couro do banco, a parte de trás da minha cabeça batendo na
janela de vidro, os ombros afundando na maçaneta.
— Por favor, — eu choro profundamente, sentindo-o ajustar os dedos
em volta do meu pescoço, apertando um pouco mais forte, então não
posso falar. Minha cabeça fica leve... Deus, sim.
A sensibilidade com a qual sua língua brinca - é melhor que qualquer
um dos meus brinquedos. Ele choca cada nervo e inflama meu núcleo,
minha pele corada. Eu só ouço minhas respirações cambaleantes no
silêncio do carro.
Eu abro meus olhos. Só para ver a cabeça dele desaparecer entre as
minhas pernas. Uma das mãos dele está no meu vestido, segurando o
lado da minha bunda. E o outro braço longo e estendido dele está
encostado no meu corpo enquanto ele rouba meu oxigênio.
Esse braço constrói minha excitação tanto quanto todo o resto, meus
dedos do pé começando a enrolar. Connor…
Eu seguro seu antebraço e toco sua mão grande que envolve a maior
parte do meu pescoço. E então o celular dele vibra perto do câmbio,
ameaçando cair embaixo das profundezas do meu assento.
Ele tira a mão da minha bunda para agarrá-lo, mas ele continua me
dando prazer, um segundo grito na garganta pela maneira como ele
atinge um nervo.
Ele me passa o celular, me lembrando que somos uma equipe aqui.
Seus dedos soltam meu pescoço, apenas um pouco para reorientar minha
cabeça. Eu mantenho o celular baixo e desbloqueio a tela com sua senha:
0610
Foi uma mensagem de texto.
Onde diabos você e Rose foram? – Loren Eu tento sufocar um tremor,
odiando pensar em Loren Hale enquanto estou com Connor assim. Na
verdade, pensar sobre ele está tão baixo na minha lista de tarefas quanto
me colocar em fogo. (Me colocar em fogo é mais alto) No entanto, isso
não é totalmente preciso, já que somos novos parceiros de negócios. Eu
nunca pensei que isso aconteceria. Eu não estou totalmente feliz com
isso, mas também não estou decepcionada. Além de Connor, meu
relacionamento com Loren é o mais complexo que eu tenho.
Antes que eu possa dizer a Connor sobre a mensagem, outra chega.
E dessa vez, tenho dificuldade em ler as palavras. Connor de repente
me enche com os dedos, e minhas costas se arqueiam e minha cabeça
inclina para o lado, meus olhos se fechando, muitas emoções exaltadas
me ultrapassando em uma onda elétrica quente. Meu corpo é dele nesse
momento. Ele poderia fazer o que quisesse comigo e eu o deixaria de
bom grado.
— Por favor, — eu imploro. Eu costumava odiar o som da minha voz
quando estava com ele na cama. Quão fraca e carente era, mas agora eu
amo que eu possa me entregar a outra pessoa dessa maneira. Eu posso
ser vulnerável também.
Ele bombeia seus dedos mais fundo em mim, simultaneamente
sacudindo meu clitóris com sua língua. Ele aperta meu pescoço e eu
alcanço um clímax ofuscante, meus lábios se separando. Nenhum ruído
escapa, sem fôlego para criar um gemido. Meus quadris se levantam e
meus músculos se contraem. Ele deixa os dedos dentro de mim enquanto
eu pulso ao redor deles.
Connor levanta a cabeça, me observando recuperar o fôlego, seu
próprio desejo passando por suas feições. Ele olha para mim como se
preferisse me foder em nossa casa do que voltar para a casa dos meus
pais. Se não tivéssemos responsabilidades como amigos e uma filha,
então talvez isso fosse possível.
Mas eu gosto do jeito que a nossa vida está. Menos alguns grandes
fetiches que precisamos suavizar antes que Jane atinja uma certa idade.
Antes de decidirmos ter mais filhos.
Esses são os tipos de fetiches que têm prazos. Se não os resolvermos
até certo ponto, acabou para nós. A família Cobalt consistirá apenas de
Jane, Connor e eu.
Eu quero que Jane tenha uma irmã, mais do que qualquer outra coisa.
As melhores partes da minha infância consistiam em Lily, Daisy e Poppy.
E eu não posso imaginá-la crescendo sem uma.
Connor olha para mim como se estivesse lendo meus pensamentos
mais íntimos, com reverência e intriga. Eu toco sua mão em volta do meu
pescoço e ele coloca meus dedos nos dele.
Ele se senta ajoelhado.
Eu verifico o celular dele novamente.
Que porra você está fazendo? Samantha acabou de abrir álbuns de fotos.
Nós vamos ficar presos aqui por mais três horas, se você não voltar. – Ryke
— Parece que estamos sendo procurados.
— Sempre fomos procurados, — ele diz, puxando meu braço para que
eu me endireite contra o assento. Seus lábios ficam perto do meu
pescoço. — Somos os mais velhos, mais inteligentes e responsáveis de
nossos colegas de quarto.
Viro a cabeça para chamá-lo de vaidoso e talvez notar que o ego dele
está me sufocando mais do que a mão dele.
No minuto em que eu viro em sua direção, ele me beija, não por muito
tempo, mas o suficiente para que meu insulto desapareça. Ele morde
meu lábio suavemente antes de soltar.
Eu engulo e, quando me aperto entre as pernas, de repente me lembro
de algo. Eu não estou usando calcinha. E eu estou sentada em um assento
de couro. Meu banco de couro. E eu estou excitada e molhada e - eu me
afasto dele e agarro minha calcinha no painel. Eu tento examinar o dano
que causei no meu belo assento de couro, e como isso deve ser nojento,
para mim, sentar aqui enquanto dirigimos de volta.
— Você não está tão molhada assim, Rose, — diz ele.
Eu bato no peito dele. — Cala...
Ele aperta minha mão novamente e me levanta em seu colo para que eu
possa ver o assento. Sem manchas, mas eu penso se devo ou não ter o
couro...
— Vou limpá-lo amanhã, — diz Connor, facilitando minhas
preocupações. Eu aceno e ele desliza minha calcinha nas minhas pernas,
me vestindo. Ele estica a mão e abre a porta do passageiro antes de sair,
me colocando em seu banco. Enquanto ele anda ao redor do Escalade
para o lado do motorista, seu celular vibra na palma da minha mão.
Tenho a foto. Vocês vão vê-la amanhã. – WA Meus ombros relaxam. —
Eles aceitaram a troca.
Connor me ouve quando ele fecha a porta, os cantos de seus lábios se
levantam. Ele tinha certeza de que eles não teriam problema. Sua
confiança na vida e suas escolhas são incomparáveis.
Ele liga o carro com um sorriso muito mais largo. — “Se pareça com
uma flor inocente, mas seja a serpente debaixo dela.”
Eu inclino minha cabeça para ele. — Macbeth. — A citação de
Shakespeare é muito familiar para mim.
Ele usa aquele sorriso de bilhões de dólares de novo. Nós ganhamos
uma rodada de um jogo muito maior hoje à noite. Pelo menos é o que
parece.
No final do dia, ainda estamos na cama com a mídia. E ninguém sabe
disso, exceto Connor e eu.
As pessoas vão até o Connor para ele consertar seus problemas, para
resolver coisas maiores que elas, e geralmente ele diz não. Se não há
benefício para ele, ele não vê sentido em ajudar, correr esse risco.
Mas houve uma exceção.
Eu vi isso acontecer. Aquele dia. Semanas atrás. Connor entrou no
nosso quarto e me disse que ele tinha que enterrar um artigo. Ele disse
que a única maneira de fazer isso era fazendo um acordo com a
imprensa. Eu e ele. Se alimentarmos um escândalo de revista ou uma
manchete de vez em quando, eles concordam em nunca imprimir esse
editorial de difamação.
— É sobre a Jane? — Eu perguntei, meus olhos em chamas. Eu estava
pronta para levantar o inferno nos escritórios da Celebrity Crush,
marchar para Nova York e enfiar o dedo na cara de um jornalista e gritar,
e berrar. Eu até peguei minha bolsa do banquinho da minha penteadeira.
Connor me parou e eu li seu olhar bem o suficiente.
Não era sobre a nossa filha.
O artigo era sobre outra pessoa. Ele explicou como Celebrity Crush iria
publicar uma história sobre o filho de Lily e Loren, minha irmã e meu
cunhado. Como a revista alegaria que o teste de paternidade era uma
falsificação, citando o cabelo castanho chocolate do Maximoff como
evidência de ser o filho do Ryke. Ryke, como no meio-irmão do Loren.
Lo tem cabelos castanhos claros. A cor do cabelo de sua mãe biológica.
Não é castanho escuro, o tom que Ryke, seu pai e agora Moffy tem.
O artigo é um exagero, uma afirmação falsa. Mas um que abalaria o
mundo de Lily e Loren. Depois de lutarem por tanto tempo, eles
merecem uma vitória.
O filho deles merece nunca duvidar de sua paternidade.
— Eu tenho que ajudar o Lo, — disse Connor, com as sobrancelhas se
juntando com suas próprias palavras. Ele sabia. Ele sabia que o que ele
estava fazendo era tão fora de seu caráter. Porque aqui estava um
homem que sempre pesa o custo de oportunidades. Isso, de modo algum,
o beneficiou. Na verdade, isso lhe custou.
E pela primeira vez, provavelmente em toda a sua vida, ele está
escolhendo um preço sem recompensa para si mesmo.
— Sabe quando você me pediu para fazer isso com você? — Eu digo
baixinho enquanto ele dirige de volta para a minha casa de infância.
Ele acena com a cabeça uma vez.
— Eu acho que me apaixonei por você de novo, — eu admito. Isso é
algo que eu teria escolhido. Sem pensar duas vezes. Proteger as pessoas
que amo. Anos atrás, Connor teria rido dessas palavras.
Amor. Isso não significava nada para ele.
Agora está guiando suas escolhas.
[2]
CONNOR COBALT
— Eu já posso dizer que ela tem mau gosto para roupas, — declara Rose,
nossa filha de seis meses está sentada entre suas pernas. — Eu coloquei
essa bolsa da Chanel na frente dela e um chapéu de palha feio, e ela foi
atrás do chapéu de palha feio.
Eu esfrego uma toalha no meu cabelo, acabado de sair do chuveiro. Em
nossa cama de dossel, Jane usa um chapéu de palha que se afunda abaixo
de seus grandes olhos azuis, um sorriso de felicidade puxando suas
bochechas macias. Eu posso sentir o meu crescendo.
Eu me perguntei se eu me sentiria fraco por uma criança, como um tolo
amoroso e de coração afetado - emoções que minha mãe se recusava a
sentir comigo. Mas não foi o caso. Eu amo Jane, e me sinto forte o
suficiente para mover montanhas para ela, para separar as águas e cavar
através da pedra.
Rose está me encarando. — Estou feliz que você ache isso divertido.
— Eu acho vocês duas lindas. — Eu coloco a toalha úmida em uma
cadeira. — A única parte divertida é que você colocou nossa filha em um
experimento para testar se ela gosta ou não da Chanel.
— Eu estava curiosa. — Rose junta seus cabelos molhados em seu
ombro. Ela tomou banho antes de mim. Nós estamos acordados desde as
quatro da manhã.
Por um lado, Jane estava chorando e não conseguia dormir. Não é
incomum, mesmo depois de seis meses.
Por outro lado, estamos ambos esperando que nossa atividade de fim
de noite apareça no site da Celebrity Crush. Rose está com seu notebook
aberto ao lado dela, e ela atualiza a página a cada minuto.
Eu visto minha calça preta. — Ela escolheu o chapéu de palha por causa
das borlas.
Rose examina o chapéu na cabeça de Jane, a fita amarela brilhante e o
fio pendente de babados verde-limão. — Mas a bolsa da Chanel tem um
fecho de ouro e é mais fofa.
— Isso é em parte uma opinião, não um fato, querida.
Ela me lança um olhar e depois toca os dedos de Jane, que ri e balbucia.
Jane tenta levantar a cabeça para Rose, mas o chapéu cai mais sobre os
olhos. Enquanto eu coloco meu relógio prateado no pulso, observo o
sorriso de Rose, um sorriso que ela só produz para Jane.
Eu me apego às raridades da vida, os fragmentos incomuns que abrem
as janelas para a alma de uma pessoa. O sorriso sincero e acolhedor de
Rose é uma raridade. Não uma constante. E eu não gostaria que fosse. É
um pontinho poderoso que me dá um soco forte. Se isso acontecesse com
frequência, não teria o mesmo efeito. Não seria mais exclusivo.
Uma criança, nossa criança, destrava coisas dentro de nós que ambos
mantivemos fechados. Amor por mim. Carinho para ela. Eu
egoisticamente anseio por outro filho. Eu, abnegadamente, arruinaria
minha reputação para proteger todos os meus filhos.
Rose fala com Jane em sua voz normal. — Eu sabia que não joguei esse
chapéu fora por um motivo. Você pode tê-lo, minha pequena gremlin. —
Ela beija sua bochecha, e Jane quase diz algo como ya-ya.
— O que vai ser preciso? — Eu pergunto, de pé ao pé da cama,
apaixonado pela cena. Eu não elaboro já que eu perguntei isso antes.
Rose olha para o edredom enquanto recolhe seus pensamentos. —
Alguns problemas precisam ser suavizados antes de pensarmos em ter
mais filhos. — Ela sempre diz isso. É uma frase ensaiada. E ela sempre os
chama de problemas em vez do que eles realmente são.
Eu não estou trazendo nossos vídeos de sexo à tona. Vou deixar isso
para outra hora. Está quase fora do meu controle - mal posso admitir
para mim mesmo.
Mas o outro ‘problema’ - podemos suavizar. Juntos. — Você tem medo
de que estamos negando a Jane a escolha de entrar ou sair da mídia. Ela
estará involuntariamente em revistas durante toda a adolescência
porque é jovem demais para dizer sim ou não. E em um mundo perfeito,
você gostaria de esperar por seu consentimento para ser direcionada a
esse tipo de holofote.
Rose abraça Jane mais perto de seu corpo. — Não depende só de nós,
Connor. — Ela range os dentes. — Na semana passada, eu estava fazendo
compras com Daisy e um idiota com uma câmera se aproximou de mim
e… — Seus olhos brilham e sua garganta mexe quando ela engole.
Eu franzo a testa, meu estômago revirando com seu tom final. — Eu
não ouvi essa história.
— Porque eu mal posso repetir sem vomitar.
Sento-me na beira do colchão e coloco a mão no seu joelho dobrado. Eu
não quero tirar conclusões ilógicas. Se ele tivesse a tocado, Rose teria
processado. Mesmo assim, minha cabeça bate como se estivesse sendo
inundada por água.
Ela inala fortemente. — Ele me disse que comprou uma casa a alguns
quilômetros de distância da nossa vizinhança e disse - e cito - ‘Eu vou
estar por perto para cada momento da vida de Jane. Provavelmente até
ela ir para a faculdade.’ Eu... — Ela balança a cabeça. — É nojento, e não
posso deixar de pensar que tiramos algum tipo de liberdade dela. Se este
é o mundo em que estamos trazendo crianças, não tenho certeza se é
seguro o suficiente para ter outro.
O que estou prestes a dizer em seguida vai irritá-la. Mas eu tenho que
falar. — Não há como voltar no tempo e voltar ao modo como as coisas
eram. — Ficando em segundo plano, ignorando a mídia, todos tentamos
por meses. No final, eles só nos engoliram mais, encontrando partes de
nossas vidas interessantes: aniversários, férias, almoços na Filadélfia,
gravidez, novos cortes de cabelo, um acidente de carro. Qualquer coisa.
— Eu nos coloquei aqui então? — Diz ela, assumindo mais culpa do que
eu pensava que ela assumiria. — O reality show nos tornou mais
populares, a ponto de as pessoas agora desejarem serem partes de
nossas vidas.
— Isso também ajudou as pessoas a verem Lily e Lo em uma luz
melhor. Eles se tornaram amados, Rose. Duas pessoas que precisavam de
carinho mais do que qualquer um de nós. — Não acrescento que o reality
show também reforçou o sucesso da minha empresa. Esse fato está
confuso com a notoriedade dos vídeos de sexo, ambas beneficiando meu
negócio de diamantes: um ramo da Cobalt Inc.
Ela conserta o chapéu de palha da Jane, imersa em pensamentos, seus
olhos começando a ficar em chamas. — Eu não vejo uma solução. Esses
cinegrafistas vão acompanhar Jane no jardim de infância, escola
primária, ensino médio, e ela vai se perguntar por que homens estranhos
estão se escondendo nos arbustos, por que eles estão a perseguindo e
por que isso tudo é ok. O que nós falamos para ela? — Rose solta uma
risada derrotada e levanta a aba do chapéu de palha. — Sinto muito, Jane,
é apenas o jeito que as coisas são.
Jane bate as mãos e faz um som que pode ser comparável a ma-ma, mas
não totalmente.
— Não, — eu digo de repente, deslizando mais para a cama na frente
da Rose, Jane entre nós. — Não é assim que vai ser. — O futuro da minha
família está em jogo, e eu não sou o tipo de homem que o deixa entrar no
oceano e ver para onde ele flutua.
Eu quero muitas coisas. A primeiro delas é proteger minhas garotas. E
então eu quero ter mais filhos. Por fim, quero que minha família se sinta
segura, amada e completa. Tenho que dar a Rose paz de espírito
enquanto protejo nossa filha do foco da mídia.
Mas já estamos fazendo isso para Moffy, criando fofocas e mexendo
com a mídia, e em troca, estamos mantendo um boato de aparecer nas
manchetes da Celebrity Crush. Faz parte de um acordo que temos com a
revista, mas também podemos resolver o problema com nossas próprias
mãos. — O que estamos fazendo agora pelo Moffy, podemos fazer pela
Jane.
Rose ouve atentamente.
— Jane se torna interessante quando nada mais está acontecendo em
nossas vidas. Ela se torna o foco apenas quando não somos.
Rose digere isso rapidamente. — Você quer criar mais manchetes,
então eles não vão focar na Jane e se concentrar apenas nas manchetes
que criamos?
Eu concordo com a cabeça. — Se não podemos deixar os holofotes,
Rose, temos que redirecioná-los para nós e não para nossa filha.
Rose faz uma pausa, considerando isso por um momento. — E se ela
crescer e ler essas coisas falsas sobre seus pais, coisas que nós criamos?
— E se ela crescer e ler sobre si mesma? Você tem que escolher um,
Rose. — Eu estendo a mão e seguro a sua, entrelaçando meus dedos com
os dela. Eu me lembro quando Jonathan Hale me disse que não havia
nada que eu pudesse fazer para ajudar Lo. Ele estava resignado com o
fato de que seu filho seria atirado na lama novamente, desta vez com seu
neto. Ele não tinha fichas para negociar. Mas eu tinha. Eu tenho.
Lo não é o único nos olhos do público. Então coloquei meu status de
celebridade na mesa para Andrea DelaCorte, a nova diretora editorial da
Celebrity Crush.
Andrea me disse que se eu quisesse que o artigo sobre Moffy fosse
embora, eu precisava de algo de igual calibre para substituí-lo.
Então eu fiz oral na Rose em um estacionamento público, entrei em
contato com o fotógrafo da Celebrity Crush para uma foto exclusiva, e
agora eles são a única revista com essa história. Não é a única foto
exclusiva para a qual devemos posar. Para estarmos quite, temos que
fazer mais algumas.
Eu ainda posso usar esse poder, a fama que temos, para diminuir a
atenção da Jane. Nós só temos que ter certeza de que nossas histórias são
mais interessantes. E para fazer isso, talvez teremos que criar situações
extremas - fazer coisas fora de nossa natureza. Jogar um tipo diferente de
jogo. Um pouco familiar para Rose, mas muito familiar para mim.
Rose levanta Jane no colo, tirando o chapéu de palha. Seus dedos roçam
a bochecha de Jane. — Você merece uma escolha, não é?
Ela vai com o meu plano.
— Precisamos de um limite de tempo para testar isso, — diz ela. —
Não podemos continuar fazendo isso para sempre, se não estiver
funcionando.
— Seis meses, — eu digo. — Se virmos progresso e ela não estiver na
mídia com tanta frequência, faremos isso pelo tempo que for necessário.
E nós vamos ter mais filhos. Se não vemos progresso ou não o suficiente,
nós paramos. — Eu não falo o resto, mas ela sim.
— E nós vamos ter apenas a Jane.
Eu tenho que acenar. Eu tenho que concordar com isso. Ela tem sido
comunicativa sobre mais filho até agora, e se esta é a sua estipulação,
tenho que comprometer o que eu quero. Os próximos seis meses serão os
mais importantes para mim - de toda a minha vida.
Eu me inclino para frente e a beijo nos lábios, com mais força quando
minha mão desliza em seu cabelo. Jane balbucia entre nós, e Rose se
separa primeiro, Jane envolvendo os dedos em torno do robe preto da
Rose.
— Ela vai falar em breve, — digo a Rose. — Talvez apenas uma palavra
inteira.
Rose diz, — Espero que sim.
Eu pego Jane em meus braços, e ela ri alegremente, seus olhos
procurando por algo para agarrar. Estou sem camisa, sem cabelos longos
como Rose, mas ela fixa no meu relógio, tentando segurá-lo entre os
dedos.
Jane é hiperconsciente de seu entorno, mais ainda enquanto ela fica
mais velha. Ela se segura em brinquedos específicos para seu conforto,
chora quando algo muda ou um estranho se aproxima. Ela dorme
terrivelmente. Mas de acordo com minha falecida mãe, eu também.
Katarina costumava dizer que era o sinal de uma mente bonita em
constante trabalho.
Eu seguro Jane no meu peito enquanto ela inspeciona meu relógio, seus
olhos de um azul mais brilhante que os meus.
— Que citação vem à mente quando você olha para ela? — Rose me
pergunta.
Eu recito o que me toca primeiro. — 'Nós nunca podemos desistir de
ansiar e desejar enquanto estamos completamente vivos.' — Meus lábios
se levantam para Jane. — 'Há certas coisas que sentimos ser bonitas e
boas, e devemos ter fome delas.'
— George Eliot, — ela corretamente nomeia a citação. — O moinho à
beira do rio.
— Muito bem. Eu te beijaria de novo, mas estou ocupado. — Solto meu
relógio e deixo Jane abraçá-lo.
— Um beijo não é uma recompensa adequada. — Ela tenta usar
irritação em seu rosto, mas seu sorriso aparece novamente e sufoca
qualquer olhar sombrio. — Pare de me encarar assim.
— Pare de sorrir assim então, — eu brinco com um sorriso.
Ela tenta apertar os lábios em uma linha fina.
Eu volto para Jane. — Sua mãe aparentemente não prefere beijar. Ela
gosta de outras coisas sem nome.
Eu sinto Rose me observando, não ouvindo a minha resposta. E então
ela de repente diz, — Você a ama.
— Você diz isso três vezes ao dia, que é a definição de redundante.
— Eu só não acreditei que você amaria.
— Nem eu. — É a verdade amarga e honesta. Amar muitas pessoas
significa ser altruísta e normalmente só faço o que é do meu interesse.
Eu sempre vi as crianças como um desafio maior. Se eu os amasse ou
não nunca importou para mim. Rose me fez perceber que o amor é
necessário, mesmo que custe caro. De qualquer forma… seria impossível
não arriscar minha vida por Jane e desistir de tudo que eu valorizo. Eu
faria tudo.
Meu polegar roça a bochecha macia de Jane e ela sorri como se o
universo acabasse de abrir. — Você é muito fácil de amar.
Eu beijo sua testa e a coloco de volta na cama com Rose. Eu me levanto
para colocar minha camisa social cinza escura, e Rose boceja em sua mão
antes de atualizar o site novamente.
— Eu vou fazer café para nós, — eu digo.
Ela acena com a cabeça, muito focada no notebook. Eu posso dizer que
o artigo não apareceu, apenas por seus ombros rígidos. Ela não vai
relaxar até que seja publicado.
Planejamos um experimento muito maior do que se Jane Eleanor
Cobalt gosta ou não de Chanel. Os próximos seis meses serão um teste
com um resultado que irá mudar nossas vidas.
E isso começa hoje.
[3]
CONNOR COBALT
Assim que eu ligo a cafeteira na cozinha espaçosa de aço inoxidável, a
porta do porão faz barulho contra a parede. Espero que o companheiro
de quarto de um metro e noventa, com a barba por fazer e com a boca
suja com quem tenho vivido - por quase um ano inteiro - saia com uma
tirada arrebatadora.
Em vez disso, vejo longos cabelos castanhos.
Eu deixo a porta do armário aberta, abandono minha busca por
canecas de café e me inclino contra o balcão de granito. Observo Daisy
tropeçar pela porta com olhos vidrados e escuros. Minha preocupação
está no meio. De dez, eu daria quatro ponto cinco.
Se ela se aproximar das facas, subiria para um oito.
Mas agora, ela parece tão bem quanto ela pode estar. Seu cabelo está
tingido de volta à sua cor natural, e uma longa cicatriz corta sua
bochecha do motim de Paris. Essa é a primeira vez que vejo Daisy
Calloway sonâmbula, mas duvido que seja a primeira vez que isso
aconteceu. Esses últimos meses foram desagradáveis para a irmã mais
nova da Rose.
Daisy balança um pouco perto dos bancos de couro. A porta está
fechada para a sala de estar, então eu acho que ela vai ficar presa na
cozinha comigo. Eu estou impressionado que ela foi capaz de abrir a
porta do porão. Suas pálpebras pesadas estão baixas, cansadas, tentando
abrir todo o caminho.
— Daisy, — eu chamo.
Ela levanta a cabeça, mas olha por cima de mim.
Interessante. Eu estico a mão para o armário atrás de mim e pego duas
canecas enquanto o café é preparado. — Você quer saber um segredo?
Ela apenas continua a olhar por cima de mim, parecendo ligeiramente
perturbada. Eu acharia estranho se transtornos mentais me assustassem,
mas nada disso acontece. O efeito é horripilante para ela, mas não pode
me horrorizar.
Eu coloco ambas as canecas no balcão. — Quando eu tinha dezessete
anos, achei alguém atraente em Faust, meu internato só de meninos. —
Faço uma pausa para observar seu nível de lucidez.
Ela balança mais perto dos bancos na minha frente, o balcão nos
separando, ainda não ciente de seu entorno.
— Theo Balentine era um peão, — eu digo a ela, esfregando meus
lábios em pensamento. — Mas um peão interessante. Um que fumava
muita maconha e citava Thoreau demais. Ele era inteligente por si
mesmo e não escondia quem ele era. Gostei disso nele.
Ela cambaleia e bate em um banquinho. Seus olhos verdes passam por
mim.
— Então eu fodi ele, — eu digo casualmente. — Literalmente. Rose me
pegou saindo do banheiro com ele em uma conferência nacional da ONU.
Eu tinha acabado de chupa-lo, e Rose não parecia se importar. — Eu
sorrio com a lembrança. — Ela me conhecia bem o suficiente para que eu
mal tivesse que explicar nada. Ela me aceitou como eu era. — Eu deixo
cair a mão no balcão. — Meu tempo com esse cara durou um mês. Eu
fiquei entediado com ele.
Daisy parece um pouco consciente, piscando. Mas talvez seja apenas o
meu medo - dela saber. Meu pulso parece acelerar. Mesmo assim,
continuo, como se precisasse contar isso para outra pessoa. — E então
anos se passaram e, de alguma forma, ele conseguiu um emprego na Hale
Co., assistente do diretor de marketing. De alguma forma, nosso breve
tempo juntos na Faust chegou aos ouvidos de Jonathan Hale. E minha
vida se tornou uma porra de uma bagunça com rumores e verdades que
o pai de Loren poderia me ameaçar.
Eu não estou preocupado com Jonathan, não de verdade. Ele é como
um cachorro latindo que ameaça, mas sabe que é melhor não morder. Ele
não vai encenar nenhum tipo de conspiração contra mim. Seu
relacionamento com seu filho estaria em jogo, e isso é algo que Jonathan
não pode se dar ao luxo de perder.
O bule de café apita e Daisy se inclina para trás, silenciosa e sem piscar.
Fico parado como se ela pudesse responder em breve com palavras
duras que precisarei defender. Ela pisca uma vez, lenta e inconsciente.
— Obrigado por não julgar, — digo a ela. — Eu sempre soube que você
era uma das boas. — Quando eu volto para o bule, ouço pés descalços
subirem as escadas do porão. Eu tensiono e começo a colocar café em
uma caneca.
— Porra, — Ryke xinga. O namorado de 26 anos da Daisy entra na
cozinha, vestindo apenas uma cueca boxer cinza, o que significa que ele
acabou de pular da cama.
São apenas seis da manhã, por isso não me surpreendo que ele ainda
estivesse dormindo e acordou para encontrar Daisy desaparecida.
Seus olhos estreitos momentaneamente voam para mim. — Você está
apenas parado aí, porra? — Ele consegue silenciosamente rosnar as
palavras.
— Eu não estou no negócio de acordar sonâmbulos, — eu respondo
calmamente. Daisy já tem um histórico de ataques de pânico, e forçá-la a
sair desse tipo de sono aumenta a probabilidade de um deles. Eu
suponho que Ryke entenda isso. Ele é inteligente o suficiente.
Ryke me ignora e gentilmente descansa as mãos nos ombros dela, a
afastando do banco que ela repetidamente bate. Ela o guia mais do que
ele é capaz de guiá-la, e ela vai mais fundo na cozinha, perto do espaço
aberto onde estou.
Ela se senta na madeira. Ryke se agacha assim que ela se afunda em um
sono mais profundo. Ele a pega e gentilmente descansa a cabeça dela no
chão antes de se levantar.
— Você poderia ter feito isso, — ele me diz.
— Eu prefiro ver você fazer isso. Agora estou completamente certo de
que isso é uma ocorrência comum.
Com agitação inflamada, ele passa a mão pelo cabelo castanho
desgrenhado. —Você poderia simplesmente ter perguntado como uma
pessoa normal. — Ele ainda está falando em voz baixa enquanto eu
escolho falar normalmente. Não é que eu não me importe com Daisy. É só
que eu não acho que mudar o volume da minha voz fará mais mal do que
bem.
Eu coloco café na segunda caneca. — Onde está a diversão nisso?
— Isso é sério pra caralho.
— Je le sais, mon ami. — Eu sei, meu amigo.
Ele exala uma respiração pesada.
Tem sido difícil construir qualquer tipo de relacionamento com Ryke
que não inclua seu irmão ou a irmã de Rose no centro. Nossas
personalidades se batem. Ele é agressivo. Eu sou calmo. Ele está na sua
cara. Eu estou longe dela. Ele ama com todo seu coração. Eu amo com
moderação, pouco ou não amo.
Eu não consigo entender tudo dele do jeito que ele não consegue
entender tudo de mim. Raramente nos abrimos além das nossas
conversas sobre Lo e Daisy, e eu não tenho ideia de quantas línguas ele
fala, se ele ainda fala com sua mãe, se ele está planejando uma carreira
fora da escalada.
De todas as pessoas da minha vida, eu sei o mínimo sobre ele.
É levemente irritante.
Isso me faz querer cutucá-lo até que ele me dê algo mais, mas eu não
estou totalmente com vontade de acordar uma fera agitada.
— Ela precisa ver um novo terapeuta, — digo a ele.
Seus ombros travam, mas ele não está defensivo. — Ela gosta do
terapeuta dela.
— Gostar de um não é o mesmo que ter um efetivo, — respondo. — Ela
não está melhorando, e ela tem muitos problemas para ser complacente.
— Rose e eu ouvimos a mesma coisa de Daisy: Estou bem. Enquanto Ryke
diz, ela está na mesma.
Essas atualizações são irritantes para pessoas que gostam de detalhes.
Ryke continua balançando a cabeça, frustrado.
Eu lhe passo um café, sabendo que ele vai beber puro. Ele pega, e eu
encontro outra caneca para Rose.
— Não é tão fácil assim, porra, — diz ele. — Ela precisa de estabilidade.
Não passar por um monte de terapeutas aleatórios até encontrar um que
funcione. — Ele solta um suspiro irritado. — E se ela conseguir um
terapeuta de merda como o da Lily?
— Eu nunca recomendei esse terapeuta para Lily. Os pais dela que
recomendaram. — Faço uma pausa quando percebo como posso ter mais
detalhes e ajudar a irmã da Rose ao mesmo tempo. — Daisy pode ver
meu terapeuta. Eu conheço Frederick há anos e ele é quase tão
inteligente quanto eu.
Ryke olha para Daisy, que deitou de barriga para baixo, ainda
dormindo. — Que tipo de terapeuta ele é?
— Frederick é um homem de todos os ofícios, — evito a pergunta. —
Ele estará equipado para lidar com os problemas dela. — Ele a tomaria
como paciente sem hesitação. Primeiro porque ela pode pagar por ele.
Em segundo lugar, porque o caso dela é complexo.
A mandíbula de Ryke endurece, sua mão apertando a caneca.
— Você confia em mim? — Eu pergunto a ele. Eu quero o que é melhor
para Daisy. Além de Jonathan Hale, Ryke sempre questiona os meus
motivos.
— Eu sinto que você está me manipulando pra caralho, Cobalt.
Eu estou. Parcialmente. Quero mais informações sobre Daisy que talvez
Frederick possa me dar. — Eu quero o que é melhor para a irmã da Rose,
— eu digo, apenas uma parte da verdade.
Ryke acena com a cabeça, como se estivesse tentando acreditar em
mim. — Você terá que falar com Daisy sobre isso. Não é minha decisão.
Eu aceno também. Ryke e eu sempre nos cruzamos pela manhã, mas
geralmente é quando eu vou trabalhar e ele vai escalar. Nós nunca
pronunciamos uma palavra para o outro. Daisy deitada no chão entre os
nossos pés nos obrigou a comunicar às 6 da manhã.
Uma corda de silêncio tenso permanece no ar.
Ele bebe seu café.
Eu bebo o meu. — Eu tive conversas melhores com um periquito gago
que Frederick costumava ter, embora ele não fosse tão inteligente
quanto você.
Ryke digere minha declaração mais rápido que a maioria. — Tenho
certeza que você adorou ouvir a porra das suas próprias palavras sendo
repetidas para você.
Meus lábios se levantam no meu próximo gole de café, lembrando do
grito estridente do pássaro e como ele levou cinco minutos para repetir
uma fodida frase que eu disse. — Eu sou um narcisista, não um
masoquista. — Eu paro, pensando. — Talvez se o periquito não
gaguejasse.
Ryke ri baixinho e balança a cabeça.
Então eu pergunto: — Você está nervoso com a cirurgia? — Não é um
assunto que ele gosta de discutir, especialmente comigo, mas estou
curioso. Em janeiro, ele está passando por um transplante de fígado para
ajudar seu pai a sobreviver. Jonathan Hale destruiu seu próprio fígado
depois de décadas de abuso de álcool. Seu filho é sua melhor chance.
A cirurgia é um ato altruísta já que: a) Ryke não gosta de Jonathan b)
Ryke terá um processo de recuperação de seis semanas e…
c) Isso só se não houver complicações. Eu pessoalmente nunca vi Ryke
na cama ou alguém mandando ele deitar.
Parece fora de sua personalidade.
Ryke dá de ombros. — Eu só quero acabar com essa porra logo com
isso.
— Aimeudeus! Aimeudeus! — Lily corre para a cozinha da sala de
estar, um moletom preto da Halway Comics parando em suas coxas.
Daisy de alguma forma permanece dormindo, mas Ryke a observa de
perto, ignorando a esposa de seu irmão que se aproxima de nós como se
ela estivesse em uma missão urgente.
Lily tem um tablet na mão, acenando como se ninguém percebesse sua
presença.
Eu imediatamente coloco a mão no meu bolso atrás do meu celular...
que deixei no meu quarto. Eu costumo sempre tê-lo comigo, mas eu não
esperava ficar na cozinha por tanto tempo.
Lily está principalmente focada em mim, ignorando mutuamente Ryke,
e em segundos, ela acidentalmente bate em seu peito nu. Quando ela
levanta a cabeça, ela absorve seu corpo sem camisa, percebendo que ele
está apenas de cueca. Ela olha para seu próprio traje escasso.
Sério, sou o único bem vestido. Eu nunca estou surpreso.
Um tom profundo de vermelho mancha suas bochechas. — Ai meu
Deus. — Desta vez, ela parece mortificada. — Por que você não está
vestindo roupas?
— Os animais geralmente não os usam, — respondo primeiro.
Ryke me mostra o dedo casualmente, mais ou menos no mesmo
momento em que Daisy levanta em alarme, incógnita de seu novo
ambiente. Ryke apressadamente se agacha na frente de sua namorada, as
mãos no rosto dela, então ela se concentra em algo familiar.
— Ah, merda. — Lily hesita em correr para ajudar sua irmã, com medo
de piorar a situação. Eu posso ler sua culpa ao ver a angústia e confusão
da Daisy, o suor na testa de sua irmãzinha.
— Dais, — Ryke sussurra. — Você está na nossa cozinha. Nada de ruim
aconteceu, eu prometo.
Daisy pisca repetidamente, tentando ouvir em vez de cair em um
ataque de pânico.
Eu coloco minha mão nas costas de Lily, direcionando-a para a sala de
estar. Ela quase tropeça em seus pés, em um ligeiro nevoeiro.
— Ele orientará Daisy, — eu digo. — Não sabemos o que aconteceu,
mas ele sabe. — Prefiro que a Lily acredite que outra pessoa está do lado
dela, e ninguém é culpado por esse pequeno evento.
Lily acena algumas vezes, concentrando-se na porta à nossa frente. —
Isso é uma boa ideia. — Ela lambe os lábios rachados. — Nós não
devemos sobrecarregá-la.
Quando entramos na sala, fecho a porta atrás de nós, sem café comigo.
Viver com outros dois casais tornou a vida longe de ser previsível. Eu não
posso reclamar.
— Umm… — Lily coloca alguns passos entre nós. Ela puxa a barra do
moletom, as pernas finas pressionadas juntas, talvez mais por hábito que
excitação. Ela é viciada em sexo, mas muito raramente ela já admitiu ou
ficou excitada por mim.
Eu já sei que ela está aqui sobre o artigo já que eu estava esperando
que ele fosse publicado. Se Rose e eu vamos lidar com isso sozinhos, a
Lily não pode estar ciente desse fato. — Eu já coloquei o adesivo Team
Raisy na minha limusine, — digo a ela. Ela esteve em uma cruzada Raisy
no ano passado, em apoio ao relacionamento de Ryke com Daisy, assim
como todos nós somos. Lo também. O público é mais pró-Raisy do que
costumava ser. Daisy envelhecendo ajudou.
— Não é sobre o ship Raisy, mas obrigada. — Ela balança a cabeça em
apreciação e, em seguida, empurra o tablet no meu peito. — Só para ficar
claro, eu estava fazendo compras on-line com as ofertas da Black Friday,
não bisbilhotando ativamente o site da Celebrity Crush. Mas acho que
você deveria ver isso antes de Rose.
Eu tenho certeza que Rose já viu o artigo e releu uma dúzia de vezes
até agora. Eu uso uma expressão vazia e deslizo o dedo na tela, o site da
People aberta, que repostaram o artigo original. Clico no link que me leva
ao Celebrity Crush.
O título: EXCLUSIVO! Connor Cobalt Pego Fazendo Oral em Rose
Calloway em Público Meus músculos da mandíbula se contraem. Eles
usaram o nome de solteira dela. Eu entendo que ela era famosa antes de
se casar comigo, mas eu sinto prazer sabendo que ela é Rose Cobalt
porque ela escolheu. O que eles publicaram é impreciso.
Eu propositadamente deixo minha irritação passar. Rose e eu já
discutimos o que diríamos em defesa da noite. Eu tenho que parecer
descontente, chocado e brevemente alarmado. Todos os sentimentos
normais que acompanham essa situação fora do normal.
— Você parece nervoso, — observa Lily. — É real? Não que eu esteja
julgando. — Ela levanta as mãos. — Eu já estive nessa situação antes,
muitas vezes, mas nunca fui fotografada... — Seus olhos se iluminam com
o pensamento de que Rose e eu de alguma forma superamos suas
aventuras sexuais por uma fração. — Isso é estranho.
— A parte em que eu fiz oral na minha esposa ou que eu fiz em
público? — Pergunto com facilidade.
As bochechas de Lily ficam ainda mais vermelhas. — Uhh… ambos?
Não espere. Essa não é a resposta certa, é?
Eu sorrio. — Não existe resposta errada. É uma opinião, mas gosto de
ouvir a sua.
Ela relaxa e aponta para o tablet. — Você já leu?
Eu balanço minha cabeça, focando na fotografia no começo. Eles
capturaram Rose em seu clímax, olhos fechados, lábios entreabertos e
minha mão agarrando seu pescoço. Suas longas pernas se estendem para
fora da foto, mas você pode ver minha cabeça entre elas, sua calcinha no
painel. Isso é tudo. Sombras e escuridão escondem a maioria de suas
feições, suficiente para questionar a validade da foto. Como a Lily acabou
de fazer.
O fotógrafo é creditado em fonte pequena abaixo: Walter Aimes.
Leio partes do artigo da redatora da equipe, repassando os fatos e me
concentrando nas opiniões que ela construiu. Com quatro vídeos de sexo
já lançados, parece que Connor e Rose estão tentando superar o mais
famoso casal de celebridades sexuais: Loren Hale e Lily Calloway.
Isso poderia ser um conflito de LiLo-Coballoway? É provável! Uma fonte
interna da família disse a Celebrity Crush, "Ambas as irmãs têm bebês
recém-nascidos e eles estão basicamente lutando pela popularidade na
mídia."
Enquanto lutam por ‘favoritos’ entre os fãs, esperamos mais fotos
escandalosas, noites malucas e eventos chocantes das irmãs Calloway e
seus homens. Mantenha os olhos abertos!
É assim que eles estão distorcendo isso então.
— Entãooooo… — Lily estica a palavra. — Eu sei que isso é meio
estranho...
— Eu não acho estranho, — eu digo, devolvendo seu tablet.
Ela abraça o tablet no peito e aperta os olhos para mim, possivelmente
tentando estreitar os olhos sem sucesso. — Isso é um poder de estrela
nerd?
Eu entendo quase todo mundo, mas Lily e Lo jogam referências que eu
tenho dificuldade em entender. — Eu não sei referências de fandom, —
eu a lembro.
Seus olhos ficam grandes e ela olha por cima do ombro como se alguém
tivesse falado por ela. E então ela limpa a garganta e puxa os ombros
para trás, parecendo mais alta. — Eu não quis dizer isso. O que eu quis
dizer foi, como você pode não sentir o constrangimento com isso? — Ela
levanta seu tablet. — Eu ficaria envergonhada. Rose pode ficar
envergonhada e eu estou preocupada com a reação dela quando ela ler o
artigo.
— Ela não ficará envergonhada. Ela vai ficar irritada, — eu digo. — E
eu pessoalmente nunca me senti envergonhado na minha vida. Eu não
vou começar agora.
Seus lábios quase formam as mesmas palavras: poder de estrela nerd. E
eles acham que eu sou esquisito.
— Eu sou muito confiante. Alguns chamam isso de arrogância. Eu
chamo de quatro partes de charme e seis partes de auto respeito. Estou
sob a crença e a verdade de que sou superior a todos e a todas as coisas
ao meu redor. Agora, como o plâncton pode fazer o tubarão se sentir
envergonhado de si mesmo? A resposta correta é: não pode.
Lily aperta mais os olhos, lendo minhas palavras.
— Não a chame de plâncton, porra, — Ryke retruca atrás de mim.
Eu me viro para o lado, notando o braço de Ryke em volta de Daisy
enquanto ela bebe uma bebida esportiva Ziff: River Rush. — Não se
preocupe, eu não te deixei de fora, — eu digo. — Eu chamei todos de
plâncton, incluindo você e você.
Ryke parece que quer me dar um soco, provavelmente por agora
chamar Daisy de um organismo microscópico. Ele deveria estar exultante
que ele é o mesmo organismo que sua namorada.
— Exceto a Rose, certo? — Daisy diz com um sorriso, mais cor para sua
pele.
Estou prestes a concordar que Rose é superior comigo quando uma
porta bate no andar de cima. Vozes abafadas ecoam, e eu saio do lado de
Lily para ir até a escada. Ela segue logo atrás com Ryke e Daisy.
— Você acha que eu queria ver essa foto? Eu queria que Deus pudesse
me fazer esquecer o que acabei de ver. — A voz afiada pertence ao
marido de Lily, cunhado de Rose e meu melhor amigo.
O subtítulo de Loren também pode ser o inimigo jurado da Rose, e é por
isso que eu subo duas escadas de uma vez.
[4]
CONNOR COBALT
— Do que diabos eles estão falando? — Ryke pergunta a ninguém em
particular.
— Connor... hum, fez uma coisa na Rose, — Lily tenta explicar. Ela
aponta para baixo, em direção a sua virilha. E quando ela me vê olhando
por cima do ombro, seu rosto fica vermelho. — Não na minha vagina, só
para ser clara. Você sabe, a vagina dela. — Lily enruga o nariz. — Na
minha cabeça essa conversa foi muito mais suave.
— E mais clara, — eu digo.
Ryke continua balançando a cabeça. — Estou confuso pra caralho.
— Connor depilou a Rose, — Daisy adivinha com um sorriso bobo. —
Ou vocês fizeram outro bebê. — Ela levanta as sobrancelhas.
Eu arqueio as minhas. — Alguém está se sentindo melhor.
— Indubitavelmente. — Ela se curva para frente. Rapidamente, Ryke a
pega e a joga em seu ombro. Ela ri, a cabeça pendurada para baixo perto
de sua bunda. — Melhor vista, — ela reflete.
Paro no meio do caminho quando tenho uma visão clara da Rose e do
Lo. Ambos seguram seus respectivos filhos, seus olhos aquecidos e suas
posições estranhamente abertas para duas pessoas que se odeiam.
Eu começo a sorrir. A briga deles é divertida três quartos do tempo. O
quarto onde um deles arrasta o outro em uma corrente sempre me
assusta.
— Ah, então alguém forçou seus olhos em uma página de revista que
dizia: Connor faz oral na Rose? Foi o Moffy? Deixe-me ver seu filho de
cinco meses colocando você em uma coleira. Eu vou rir. — Se ela não
estivesse segurando Jane, ela teria cruzado os braços em triunfo. Ela
levanta o queixo em vez disso.
— Que porra é essa? — Ryke diz atrás de mim. Rose e Lo estão muito
presos à conversa para perceber nós quatro na escada, Ryke e Daisy
embaixo.
— Você é tão engraçada, — diz ele secamente. — Eu aposto que
Connor riu na sua boceta.
Rose ferve, os ombros rígidos e tensos. Eu subo mais dois degraus, meu
sorriso desaparecendo. Rose dá um passo para longe de Lo, mas ele tem
outra frase, para tentar retrair a outra. — Rose, eu tenho evitado
ativamente seus vídeos de sexo por anos...
— O que prova meu ponto de vista, você ativamente olhou para aquela
foto!
— O que prova meu ponto de vista, você ativamente olhou para aquela
foto! Lo aperta o celular com uma mão, o outro braço segurando o filho
ao seu lado. — Eu não sei porque você está gritando comigo, — ele
replica. — Foi você quem dirigiu por três malditas horas no Dia de Ação
de Graças apenas para ser comida. — Ele se encolhe com suas próprias
palavras e murmura um 'porra' sem som. Ele está tentando não insultar
verbalmente, o que eu agradeço. Mas é nisso que ele é bom e o que ele foi
condicionado a fazer.
Rose aponta um dedo para o rosto dele. — Eu estou gritando porque
Celebrity Crush tirou uma foto minha tendo um orgasmo e colocou na
porra do site deles. Por um segundo, por favor, você pode ser
compreensivo?
Lo cerra os dentes, levantando Moffy mais alto em sua cintura. Ele está
apenas em calças de moletom, as maçãs do rosto afiadas, cabelo mais
curto nas laterais, porém cheios no topo. Seu filho usa um macacão azul e
se anima para Lily, mas ela está congelada um degrau abaixo do meu, não
querendo interromper a briga de Lo e Rose.
— É difícil ser compreensivo quando você saiu para tricotar um suéter
e decidiu não contar a ninguém sobre seus planos. Mas tudo bem, sabe,
nenhum de nós estava preocupado com vocês. Ninguém se importou,
porra…
Eu sinto meus lábios puxarem para baixo. Rose e eu somos sempre
diligentes em ficar de olho em todo mundo, e nunca passou pela minha
cabeça que eles ficariam chateados se nós escapássemos. Eu pensei que
eles iriam dar de ombros, dar risada e fazer piadas. Quando voltamos
para a casa de seus pais, Lily correu para Rose e a abraçou com força,
enquanto Rose ficou rígida em choque.
Todos pensaram que sofremos em um acidente de carro.
— Já explicamos isso, — diz Rose. — Quando saímos, pensamos que
íamos sair por cinco minutos, mas as lojas estavam fechadas e eu
precisava de renda para o vestido de Jane, não fio. Eu não queria sair hoje
com as multidões da Black Friday.
— Espera, — Ryke diz, mais para mim do que qualquer outra pessoa.
Ele abaixa Daisy cuidadosamente em seus pés, e sua voz finalmente capta
a atenção de Rose e Lo. — Você está me dizendo que vocês dois
escaparam e tiveram uma rapidinha em um estacionamento na noite
passada?
— Relativamente falando, — eu digo.
O nariz de Ryke se inflama. — Eu liguei para seis fodidos hospitais,
enquanto vocês dois estavam gozando? — Daisy envolve o braço em
torno da cintura dele em um abraço reconfortante.
Lo abre a boca. — Jesus Cristo, há uma foto do Connor gozando
também?
— Não, — Rose estala.
— Isso realmente viajou além do ponto, — eu anuncio.
Eu ouço Ryke murmurar, — Inacreditável. — Normalmente eu teria
outra resposta para ele, mas como esse é um cenário muito diferente,
com Rose e eu no centro, eu deixo passar.
Lo levanta Moffy ao seu ouvido, seu filho agora se concentrando nele. O
garoto de pele clara e cabelos escuros toca a mandíbula de Lo e, na
verdade, pressiona os lábios na bochecha de seu pai. Lo acena em fingida
realização. — Isso mesmo, homenzinho. Há mentirosos entre nós.
Eu acho mais divertido do que preocupante. Por enquanto, pelo menos.
Jane murmura algo nos braços de Rose, o chapéu de palha na cabeça,
cobrindo fios marrons e finos.
— Ela disse que você está errado e eu estou certa, — responde Rose.
Eu esfrego meus lábios, tentando esconder meu sorriso.
— Basta dizer as palavras, Rose, — diz Lo. — Você. Saiu. Para. Gozar.
Eu espero que Rose aceite essa verdade parcial como a história toda,
mas não é a verdade que ela normalmente diria. Nós fizemos isso por
você, é o que está sentado na ponta da sua língua. Mas algumas coisas
precisam ser mantidas em segredo. Para o bem da Lily e Lo e a
simplicidade de todo esse processo. Rose e eu não queremos quatro
outras vozes nisso. É mais fácil construir planos sem eles.
Rose inala bruscamente, levanta o queixo de novo e diz, — Tudo bem.
Eu saí para gozar. Você se sente melhor, Loren?
— Sim. — Seus olhos âmbar voam para mim agora. — Se você
precisasse de um local privado para chupar sua esposa, eu poderia ter
direcionado você para o clube das meninas Calloway. Quintal. Lugar
perfeito para foder.
Eu não posso esconder meu sorriso crescente. — Então por que você
nunca me convidou, querido?
— Minha porta está sempre aberta. — A insinuação é clara.
Eu inclino minha cabeça em pensamento. Houve um tempo em que eu
realmente acreditei que Lo não iria me entender, talvez até agisse
diferente comigo se eu contasse sobre minhas experiências com homens.
Eu tenho um medo natural e inegável de que os relacionamentos que eu
cultivei de alguma forma se transformarão em fios emaranhados e
incertos, feitos de indiferença e olhares cautelosos para mim. Tudo por
causa de conexões passadas e casos de curta duração que não têm base
no que eu vivo hoje, agora, com minha esposa, meus amigos e minha
filha.
Eu contei ao Loren a verdade, não muito tempo atrás. Ele é a segunda
pessoa na minha vida a saber.
Ele mal hesitou. Duvido que ele saiba disso, mas como ele age em
relação a mim agora - como se nada tivesse mudado, como nossos flertes
despreocupados têm a conotação exata que eu quero passar - me fez
reverencia-lo e respeitá-lo ainda mais.
— Eu vou me certificar de bater, — digo a Lo.
— Eu gosto quando tocam meu sino, amor.
— Melhor ainda.
Lily levanta a mão. — Eu concordo com o Lo. O clube é uma boa
alternativa. — Ela assente repetidamente.
— Eu também, — Daisy canaliza do fundo da escada.
Lily sorri mais, sabendo que alguém já esteve lá antes. — Quando
você... com você? — Ela faz um movimento entre Ryke e Daisy.
Ryke tenta aliviar suas feições para Lily, sua carranca quase se
dissipando. Não funciona muito bem. — Com quem mais ela estaria?
— Eu posso citar alguns bastardos, — diz Lo, descontente com o
pensamento dos namorados passados da Daisy. Mas seu uso de
“bastardo” faz com que todos olhem para ele, inclusive eu. — Não eu. —
Ele se encolhe. — O que há de errado com vocês, porra?
— Então estamos falando de bastardos metafóricos, — digo facilmente.
Ryke estreita os olhos. — Eu odeio todos vocês - exceto você. — Ele
descansa a mão na cabeça de Daisy. Ela se inclina para ele novamente.
Lo desce as escadas para chegar a Lily. Ele diz a seu irmão, — Você só
está irritado porque eu falei sobre os ex-namorados da Daisy.
Daisy está falando alguma coisa com a Lily e depois com a Rose. Nós
três, os caras, estamos as ignorando.
Eu me envolvo, — E se você rebobinar um pouco, Ryke, você é quem
perguntou das 'outras pessoas' que ela possivelmente poderia ter
dormido. Então, você deveria estar se odiando agora, mas eu não
aconselho essa abordagem.
— Não, eu tenho certeza que eu odeio você pra caralho, Cobalt. — Eu
sei que não é verdade pelo seu tom relaxado.
Rose bate o pé. — Então, nós já terminamos aqui?
Lily pega Moffy de Lo, o bebê se agarrando em seu braço. — Eu acho
que sim, — diz Lily.
Subo a escada em direção a Rose.
— Agora é sério, — acrescenta Lo. Eu posso sentir seu olhar nas
minhas costas. — Da próxima vez que vocês dois desaparecerem, até
mesmo para se pegarem - o que deve ser tipo um evento anual para
vocês dois - apenas... nos falem para onde vocês estão indo, ok?
Eu não estou acostumado com esse discurso sendo direcionado a mim.
Ryke geralmente direciona ao Lo: tenha cuidado, nos diga para onde você
está indo, não fuja para foder sem dizer algo.
Eu entendo a preocupação deles. Conseguimos sair do bairro fechado
da família Calloway sem sermos seguidos por paparazzi, o que é raro.
Eles poderiam ter nos seguido. Nós poderíamos ter batido. Destruído o
carro. Morrido.
Tudo é possível, mas Rose e eu não conseguimos nem chegar a um
acordo sobre quem deveria ser os padrinhos da Jane se algo acontecesse
conosco.
— Vamos mandar uma mensagem da próxima vez que nos atrasarmos,
— asseguro a ele. Lo acena em agradecimento, e quando eu alcanço Rose,
seus olhos me perfuram.
— Não fala nada, — ela sussurra. Jane puxa os cabelos secos de Rose e
coloca um fio na boca. Rose vai lavar o cabelo dela novamente, não
importa o que aconteça, então ela deixa Jane brincar.
Eu abaixo minha voz. — Eu não estava nem pensando nisso. Você não
falhou. — Em mentir para o Lo. Eu não posso adicionar o resto em voz
alta. — Mas sempre há espaço para melhorias, a menos que você seja eu.
Ela revira os olhos e sussurra de volta, quase em um grunhido, — Me
desculpe, eu não me inscrevi na aula de como enganar na escola
preparatória.
Eu me aproximo mais dela, Jane entre nós. — Pena que você não era
um menino. Você poderia ter frequentado Faust e então eu poderia ter te
ensinado.
Seus olhos verde-amarelados voam para cima e para baixo no meu
corpo. — E quantos alunos teriam existido?
— Seulement vous, — eu sussurro. Só você.
Eu nunca tomei ninguém sob minha asa na Faust. Se não fosse um
colégio interno só para meninos ou se ela realmente fosse um homem
para frequentar, eu a teria levado em todos os sentidos. Mesmo assim,
fico feliz que essa tenha sido a ordem dos eventos. Eu estou feliz que
tivemos anos para sermos rivais antes de nos tornarmos algo mais. Eu
não mudaria nada. Eu adoro cada pedaço da minha vida, como eu a vivi, e
o único arrependimento que tenho é não ter me permitido amar Rose
mais cedo. Ou talvez não acreditado que eu amava.
Eu acaricio a nuca da Rose com o meu polegar, e ela começa a relaxar
mais. A cabeça de Jane balança enquanto ela cochila nos braços da mãe.
Quando participamos do reality show, Rose me pediu para jogar o jogo
dela. Nós deveríamos ser nós mesmos, sem performance. Mesmo quando
os produtores queriam isso - mesmo nos editando como queriam - nós
sempre deveríamos ser nós mesmos.
Agora estou pedindo a Rose para jogar meu jogo.
Para encontrar as brechas, para tomar as estradas manipuladoras,
enganosas, para fazer qualquer coisa para alcançar um objetivo. Eu estou
pedindo para ela mentir, se dobrar ao meio e se encaixar em caixas
apertadas. Para mudar e atender às necessidades de outra pessoa.
Não é fácil para alguém que segue regras, para alguém com uma
personalidade forte e ardente. Eu odeio pedir isso a ela, mas eu preciso
da Rose ao meu lado.
Eu não posso fazer isso sozinho.
— Cobalt, — Ryke chama.
Eu viro minha cabeça, e da parte inferior da escada, Ryke olha para
mim com sobrancelhas franzidas e a mandíbula dura. Daisy está
aninhada em seu peito, de costas para nós. Então ele está sozinho em
seus pensamentos.
Aqui está um fato simples.
Ryke não pode agir de outra maneira além de como ele é.
Ele é o meu oposto. Eu posso mudar. Então eu sou algo menos, algo
mais fácil de engolir. Ryke se entrega a você como uma garrafa de areia
ou um saco de estilhaços. Mastigue e engula, ele diz. Eu vou cuidar de você
se você sangrar.
O ponto é que Ryke não pode ajudar Rose e eu. Ele tornaria óbvio que
estamos organizando eventos para a imprensa. Ele basicamente usaria
eu estou na cama com a mídia em sua testa.
Eu preciso de pessoas na minha equipe que tornem isso mais fácil. Não
mais difícil.
Ele é um grilhão, um peso, um custo que eu posso dispensar.
Então, enquanto ele fica lá, olhando para mim como se eu estivesse
mentindo, eu me preocupo que ele vai estragar algo que ele apoiaria. Ele
faria qualquer coisa por seu irmão. Mas ele não pode fazer isso. Não é da
sua capacidade. Sinto muito, Ryke.
Eu estou te dispensando.
— Sim? — Eu digo, enchendo meu rosto de confusão, mesmo quando
não sinto isso.
Ele hesita, franzindo a testa. — Deixa pra lá… — Ele balança a cabeça e
sussurra no ouvido da Daisy. Ela acena com a cabeça e eles saem da sala
e desaparecem na cozinha.
Rose os observa saindo e diz baixinho, — Ele é esperto demais.
Entre o envolvimento da mídia com Jane e Moffy, nossos vídeos de sexo
e Ryke, ele é a menor das minhas preocupações. — Lembre-se, ele não é
mais esperto que nós.
Ninguém é.
[5]
ROSE COBALT
— Essa é a coisa mais estúpida que eu já fiz, — percebo com um leve
horror. Fico firme no banheiro principal, vestida apenas com uma das
camisas brancas do Connor e minha calcinha branca. Eu considerei fazer
essa coisa idiota e estúpida em nosso pequeno banheiro no andar de
cima, mas eu imaginei a bagunça, o cheiro, e eu decidi contra isso. O
banheiro principal está vago já que Connor e eu mudamos de quarto,
optando pelo segundo andar para ficar mais perto do quarto de Jane e
mais integrados nos acontecimentos da casa.
— Você não fez nada ainda, — diz Connor, lendo casualmente o
pequeno pacote de instruções. — E está muito longe de ser estúpido.
Eu ando de um lado para o outro na frente das pias de mármore dele-e-
dela, minhas mãos sem querer acariciando meu longo cabelo castanho.
Descolorante em pó, água oxigenada e tinta ficam ao lado da torneira,
substâncias químicas que eu nunca considerei usar no meu cabelo, nem
uma vez. Nem mesmo quando minha mãe me incitou a fazer luzes
quando elas eram “populares entre as garotas da minha idade” durante o
início dos anos 2000.
Connor de repente lança as instruções na pia.
Eu congelo. — Você leu elas por dois segundos. Juro por Deus, se você
só leu por cima, vou te jogar em águas infestadas de tubarões.
— Eu acho que seria melhor se você jurasse por mim e não pelo ar. —
Ele desenrosca a tampa da água oxigenada, seus lábios começando a
subir.
Eu odeio esse sorriso. Mas eu amo esse sorriso. Eu rosno, farta da
indecisão do meu cérebro sobre um homem que eu amo odiar. Hesito em
roubar a água oxigenada dele, mas ele já está misturando com o pó
descolorante em uma tigela de plástico.
Em vez disso, eu estico a mão para pegar as instruções, mas Connor
pega o pequeno pacote e o guarda no bolso dos seus shorts de ginástica
azul-marinho, sem camisa. Recuso até mesmo a reconhecer os seis - não,
oito - gominhos à minha frente que são ao mesmo tempo desejáveis e
detestáveis. Não é justo que alguém tão inteligente quanto Connor Cobalt
também esteja em forma. Tudo é proposital. Ele trabalha duro para
conseguir essa aparência, ser tão sólido por fora quanto é por dentro.
— Eu li as instruções, — diz ele, segurando meu olhar. — Elas são
diretas. Elas são simples, Rose. Não há absolutamente nenhuma maneira
de fazer isso incorretamente.
Eu confio nele.
Mais do que qualquer pessoa neste mundo, confio em Connor. Mas… —
Você não é cabeleireiro, Richard. A não ser que eu tenha perdido a parte
em que Faust ensinou a todos os meninos como fazer permanente uns
nos outros. — Isso seria menos estressante se eu pudesse marchar para
um salão e ter um profissional tratando meu cabelo com mãos delicadas
e experientes. Em vez disso, tive que condicionar meu cabelo nos últimos
três dias, com medo de que esse remédio caseiro danificasse o cabelo que
passei anos nutrindo como se fosse uma criança.
Connor lê minha expressão fervente e ansiosa. — Quantas vezes você
foi ao salão sem paparazzi esperando do lado de fora?
Nunca. Eu estreito meus olhos. — Eu poderia ter contratado uma
cabeleireira para vir aqui em casa.
— E quantas vezes um estilista contou algo para a mídia?
Quatro vezes. Eles falaram sobre a minha roupa para um evento de
caridade da Style Now… e descreveram meu penteado. Um dos quatro
também tirou fotos sem o meu conhecimento. Não posso confiar em
ninguém e ainda não encontrei uma cabeleireira honrada o suficiente
para contratar com à nossa situação atual com a Celebrity Crush.
Quando tantas pessoas se transformam em paparazzi com seus
próprios celulares, a captura de uma foto exclusiva é incrivelmente
difícil. É por isso que Andrea as cobiça. É por isso que tenho que engolir
meu medo e fazer isso do jeito antiquado e perigoso - tudo para garantir
que Walter Aimes tire sua foto e Celebrity Crush tenha uma bela
manchete sobre minha cor de cabelo feia.
Jane e Moffy valem mais do que o seu cabelo, continuo repetindo o
mantra. Eu aceito a situação - que isso está prestes a acontecer - assim
que Connor coloca luvas de plástico.
— Não deixe encostar nas minhas mãos ou pele, — lembro-lhe,
segurando a borda do balcão e olhando para a pia. O cheiro tóxico já está
embrulhando meu estômago, sabendo que vai estar no meu cabelo e no
meu couro cabeludo em breve. É por isso que lhe dei a parte laboriosa
desse processo.
Ele fica atrás de mim, muito mais alto já que eu estou sem saltos. —
Estou bem ciente das suas preferências, — diz ele, com a tigela de
plástico na mão. — Meu nome está no topo ao lado do número um.
Eu o observo através do espelho, meus olhos como poças de fogo. —
Você deseja.
— Eu não desejo coisas que já são verdade, — diz ele com um sorriso
maior. Suponho que minha réplica foi fraca em comparação, caindo em
sua aura presunçosa com muita facilidade. Eu culpo a água oxigenada e
sua proximidade, seu peito quase contra minhas costas.
Mais um passo e eu vou sentir sua pélvis contra mim. Seus braços
tonificados sempre parecem maiores e mais esculpidos sem camisa:
perfeitos com um terno, não muito volumosos, e perfeitos sem um terno,
largos e não muito magros. Há muita coisa perfeita atrás de mim - é
irritante.
— Dê um passo para trás, — eu comando.
Ele inclina a cabeça, apenas um pouco, e levanta uma sobrancelha. —
Perdão?
— Um. Passo. — Eu reforço.
— Não, — ele diz definitivamente, me negando isso.
— Eu não consigo pensar claramente quando você está tão perto, — eu
admito. Eu acabo indo em direção ao balcão da pia, minhas pernas e
cintura pressionadas contra ele.
— Você não precisa pensar em nada agora. Feche seus olhos.
Eu teimosamente mantenho meus olhos abertos, olhando no espelho
para ele. Com o meu olhar fulminante, seu desejo nada em seus
profundos olhos azuis, desejo sexual que ele frequentemente me mostra.
Sem quebrar meu olhar, ele tira uma de suas luvas e depois bate na
minha bunda. A minha respiração falha, um arrepio de prazer vibrando
nos meus membros rígidos. Ele desliza a mão por baixo da minha
calcinha, sua palma grande fazendo carinhos onde ele acabou de bater.
Dessa vez, eu de bom grado fecho meus olhos, deixando-o assumir o
meu controle. Algumas das minhas ansiedades começam a se dissipar,
mesmo quando ele aplica a mistura de pó descolorante em seções do
meu cabelo. Ele mantém a outra mão sob a camisa que eu uso e minha
calcinha. Eu gosto de como ele agarra minha bunda, mas mesmo assim,
minhas juntas ficam brancas com a força que estou segurando a borda do
balcão.
— Como está? — Eu pergunto.
— Como se não tivesse terminado, — diz ele. — Conte para trás de
duzentos e talvez acabe até então. — Eu sinto o sorriso em sua voz.
— Eu sonho em assassinar seu sorriso, — eu digo.
— Seu sonho claramente não se tornou realidade.
Eu ignoro esse comentário irritante. — Eu cortaria em pedaços e
venderia para quem desse o maior lance.
— Então você planeja lucrar com o meu corpo? — Ele vai para frente,
tão perto que sua ereção se funde contra mim. Ai, Deus…
— É melhor você se concentrar no meu cabelo e não na minha bunda,
— eu digo, nervosa demais para ver o progresso que ele fez.
— Sou proficiente em multitarefa, — ele me lembra. — É relativamente
fácil para mim me concentrar em você toda de uma vez.
Eu diria que ele está tentando me acalmar, mas tenho certeza de que
ele é habilidoso o suficiente para realizar as duas coisas. — Que parte de
mim você assassinaria? — Meu tom de voz frio o desafia a responder.
— Eu não mataria nenhuma parte sua, — ele diz, — e eu
definitivamente não venderia essas partes também. — Ele me
surpreende. Eu quase perco o equilíbrio, mas a mão dele sobe da minha
bunda para o meu quadril nu, agarrando minha cintura que cresceu
apenas um pouco desde que eu tive a Jane, mais forma do que eu já tive.
— Nem mesmo a minha língua? — Eu tenho que irritá-lo. Eu me irrito
três de seis vezes durante o dia.
— Você quer que eu venda sua língua para outro homem? — Pergunta
ele. — Para que ele possa ter essa conversa antes de mim?
Não, eu não quero isso. Eu duvido que outro homem iria se divertir
respondendo essas coisas bizarras, você cairia em uma espada ou se
banharia em leite de vaca, em forma de perguntas que eu sempre jogo
pro Connor. E ele sempre sorri, as analisa e joga de volta para mim.
Sinto algo frio no meu pescoço e endureço...
— Você está bem, — ele me garante rapidamente. — Não caiu na sua
pele.
Eu engulo em seco e inalo com força. Mais confiança se infiltra em mim,
enquanto ele me segura com mais força na cintura.
— Você prefere fazer amor em cima de sangue de cabra ou cortar
minha língua? — Eu digo as palavras como se eu estivesse a um segundo
de empunhar uma faca e encenar essas hipóteses.
Eu o sinto endurecendo ainda mais. — Eu te foderia em sangue de
cabra. Eu nunca cortaria a sua língua.
— Você me compartilharia? — Isso torce meus músculos e estômago,
meus dedos se enrolando ainda mais ao redor do balcão, a ideia de ser
passada de mãos. Eu só quero estar em seu controle, mas o conceito de
ser tão completamente dele, na frente de outros homens, desperta partes
proibidas em mim.
— Eu nunca fui bom em compartilhar, — ele me diz profundamente. —
Conquistas ou títulos, e eu certamente nunca quero compartilhar você.
— Eu posso senti-lo torcendo meu cabelo e prendendo os fios no topo da
minha cabeça.
Eu abro meus olhos agora, o creme aplicado uniformemente sobre cada
mecha, nada passando do meu couro cabeludo. A massa torcida de
descolorante e cabelo pesa na minha cabeça, mas eu mantenho meu
pescoço reto, capaz de suportá-lo bem.
— Trinta minutos, — ele me diz. — E então eu vou lavar o seu cabelo.
— Ele tira as mãos da minha cintura e atira a luva manchada na tigela de
plástico vazia. Seus braços passam em volta do meu corpo para alcançar
a pia, e ele me prende aqui enquanto lava as mãos. Tomo nota da hora
em seu relógio.
Ele ainda está me encarando, como se ele não tivesse acabado de
brincar comigo ainda.
Eu ainda não terminei com as perguntas. — E quanto à ménage à trois?
— Eu o testo, sem piscar e quase não hesitando nessa questão.
Eu me pergunto se ele está imaginando essa imagem distorcida de
outro homem junto conosco. Depois que ele desliga a torneira e seca as
mãos com uma toalha, ele envolve um braço em volta da minha cintura,
puxando minhas costas contra seu peito com tanta força que eu sinto
uma dor latejante entre as minhas pernas e mal consigo segurar a borda
do balcão.
Eu mantenho minha cabeça longe dele, evitando uma bagunça de
descolorante. Mesmo assim, sua voz soa perto do meu ouvido. — Esse
homem não teria chance na cama conosco. Eu nunca o deixaria chegar
perto de você, não para te tocar e nunca para te foder. — Seus dedos
fazem o seu caminho até a carne macia das minhas coxas, me segurando,
seu polegar me provocando em movimentos circulares contra a renda da
minha calcinha.
Meu peito sobe e cai pesadamente. — E se ele me foder de frente? —
Minha voz está com camadas de gelo.
Connor rapidamente me vira, agora minhas costas cavando na borda
do balcão, sua mão levantando uma das minhas pernas em volta da sua
cintura, sua ereção alinhada com a minha calcinha. Ele empurra contra
mim, a força na velocidade de quebrar o pescoço em minha mente, uma
força tão potente que eu poderia implorar em voz alta para ficar nua com
ele.
Eu não penso. Minha mente se orienta com rapidez suficiente. Eu me
seguro em seus bíceps musculosos, e seus lábios perto do meu ouvido
quando ele sussurra, — Eu giraria você. — Ele empurra minha bunda
para cima, como se ele quisesse me foder desse jeito, agora,
repetidamente. De novo e de novo. — Comme ça. — Assim.
Estou incrivelmente molhada.
Eu seguro seu pulso para parar seu movimento. — E agora ele pode
tirar meu sutiã, — eu atiro, capaz de encontrar seu olhar. — Você falhou.
Essas duas palavras fazem seu maxilar tensionar, tão sutilmente que
quase não percebo. Sem se mover, ele diz, — Eu te possuo na cama, Rose,
tanto que qualquer outro homem iria sair na miséria. — Eu acredito nele.
— Sem satisfação, sem liberação. — Ele me estuda com os olhos, meus
seios quase estourando alguns botões da camisa com minhas respirações
profundas. — Bolas doendo, pau implorando...
Alguém bate na porta. — Se vocês estão jogando Palavras Cruzadas no
banheiro, vocês dois estão em um novo nível de estranho, — Loren diz.
— Me solta, — eu sussurro para Connor, batendo no braço dele.
Ele não me solta, ainda não. — Estaremos prontos para sair em uma
hora, — ele diz a Lo.
Todos nós estamos vamos para a academia de escalada mais próxima,
como uma forma de celebrar Ryke antes de ele passar por uma cirurgia
depois do Natal, o feriado já é daqui a duas semanas. A academia também
é onde Walter Aimes deve tirar nossas fotos, sem o conhecimento das
minhas irmãs e de seus companheiros.
Lo fala pela porta de madeira. — Willow está aqui mais cedo para
tomar conta das crianças, então vamos agora.
Meus olhos se arregalam de horror. Agora. Meu cabelo. Eu estendo a
mão, subconscientemente, para tocar minha cabeça. Connor rapidamente
libera minha perna e agarra meus pulsos, logo antes de minhas palmas
quase tocarem na bagunça pegajosa.
Meu coração está na minha garganta. — Eu quase…
— Você não fez, — diz ele, seu sorriso diminuindo para seriedade. Eu
me tornei mais que um pouco obsessiva-compulsiva desde a minha
gravidez e o nascimento da Jane. Situações de alto estresse perfuram
pequenas partes de mim e eu me concentro em coisas que eu não
deveria.
— Abre a porta. — Loren bate novamente. — O que é esse cheiro? —
Ele faz uma pausa. — Isso é água oxigenada? — Eu odeio o nariz de
Loren Hale. Eu quero assassinar isso também.
Connor fala sem emitir som, fique calma.
— Eu estou sempre calma, — eu digo, a afirmação claramente falsa. É
de longe a pior resposta que dei a semana toda.
Seus lábios ainda se curvam para cima enquanto ele caminha de volta
para a porta. — Você precisa trabalhar na sua atuação, querida.
Verdade.
Em segundos, minha atuação está prestes a ser testada novamente. Eu
rezo para um ser mais elevado me dar força e sucesso, mas eu continuo
ouvindo a voz de Connor na minha cabeça que diz: eu sou a única pessoa
a quem que você deveria clamar. Sua egomania está obscurecendo meu
julgamento e minha sanidade.
Mas estranhamente, ainda estou feliz por ele estar no meu time.
Eu não posso fazer isso sozinha.
[6]
CONNOR COBALT
Lo coloca a mão na porta do banheiro, abrindo-a mais para ver Rose. —
Jesus Cristo. — Ele examina seu cabelo e os produtos no balcão. — Você
está tendo uma crise de um quarto de idade?
— Eu queria uma mudança, — Rose estala em defesa. Por baixo da
mistura branca de descolorante e água oxigenada, o cabelo dela começa a
ficar com uma cor laranja queimada - alguns fios ainda mais claros.
— Então você pensou que as loiras se divertem mais? — Lo anda ainda
mais para dentro do banheiro comigo.
— Não, — Rose estala. — Eu posso te castrar igualmente como uma
morena como eu posso loira. — Ela dá-lhe um sorriso irônico.
Ele retorna o sorriso. — Sua idéia de diversão é fodida.
Mais duas pessoas de repente emergem na porta. Lily está sem fôlego,
de leggings e uma camisa preta folgada. Daisy é a próxima, com roupas
de treino similares, só que com um top mais curto que diz wild at heart e
significativamente menos ofegante.
Lily segura um ponto no lado dela. — Vocês dois estão quase prontos?
Os guarda-costas estão esperando e ficando um pouco mal-humorados.
— Antes dela ir mais para frente, seus olhos se arregalam quando vê o
cabelo da Rose. — O queeee...
Daisy coloca as mãos na boca, os olhos crescendo em pires.
— Ela… — Lily não consegue encontrar as palavras.
Lo a ajuda. — Ficou louca.
— Ela está loira, — Lily consegue dizer, sozinha.
— Uau, — murmura Daisy, ainda em estado de choque.
Lo puxa Lily em seu peito para um abraço, e ele até beija sua bochecha.
Ela está muito concentrada em Rose para notar, o que significa que esse é
uma coisa maior para as irmãs Calloway do que eu pensei que seria.
— Cor de cabelo é temporária, — eu digo. — Isso sempre pode ser
mudado. — Eu só preciso que isso corra bem - pelo bem de Moffy e Jane.
— Mas Rose nunca tingiu o cabelo dela antes. — Daisy explica o que eu
já sei.
— Rose, — Lily começa, — você disse que esfolaria um gato antes de se
tornar loira.
Ela se vira, uma frieza em seus olhos. — Talvez eu já tenha esfolado
um. — Sua voz é plana e fria, mas não é sua melhor atuação.
— Ok, você está me assustando, — diz Lily. — Eu nunca pensei que isso
iria acontecer. — Sua voz falha.
Lo franze a testa e olha para a esposa. — Você está chorando?
Lily enxuga os olhos.
Rose está tentando não chorar.
Daisy parece chateada.
Eu não previ isso. Não podia prever.
— É só que, — começa Lily, — você pode contar com tão pouca coisa
na vida e uma delas é o cabelo da Rose.
— Jesus Cristo. — Lo geme.
— É verdade, — Daisy acena.
Eu nunca soube que o cabelo dela era tão especial para suas irmãs. —
Ela queria mudar, — digo a elas. — Vocês podem apoiar isso?
Lily franze a testa mais em confusão. — Você realmente quis mudar
seu cabelo, Rose?
Daisy continua balançando a cabeça. — Isso não parece certo, não é?
Rose respira com mais força e puxa os ombros para trás, entrando no
jogo. — Chame do que quiser, — ela responde, — uma crise de um
quarto de idade ou uma mudança de cenário - eu só me senti impulsiva e
destrutiva e … — Seu nariz se alarga. Ela levanta o queixo. — E eu fiz o
que eu queria. Então, aqui está. — Se estivéssemos sozinhos, eu foderia
ela agora.
— Então, aqui está? — Lo lhe dá outro olhar como se seu corpo tivesse
sido sequestrado por criaturas fictícias. — Você não costumava pentear o
cabelo trezentas vezes por dia?
— Eu ainda posso pentear meu cabelo mesmo que seja loira, e a
frequência absurda é um boato que uma de vocês, — ela aponta entre
Daisy e Lily — começou pelas minhas costas.
Lily enruga o nariz. — Pode ter sido eu.
Daisy olha para o teto. — Ou eu.
— E eu acho que dissemos cem penteadas, não é? — Lily pergunta a
Daisy e gesticula com a boca, quando foi isso?
Daisy dá de ombros e balança a cabeça. — Ano Novo? — Ela sussurra.
Rose estala os dedos repetidamente. — Concentração.
Lily e Daisy se viram para sua irmã, ambas ficando mais altas como se
fossem suas subordinadas ou soldadas, quando na verdade são adoráveis
irmãs mais novas. Eu posso ver, entre elas, por que Rose iria querer isso
para Jane. Eu quero isso para ela também, algum dia. É pelo que estamos
lutando no final.
— Eu estou loira agora, — diz Rose com orgulho. — Lidem com isso.
Meus lábios se levantam.
— A rainha Rose falou, — brinca Lo.
— Eu vou lavar o cabelo da Rose e depois podemos sair, — eu anuncio
para o banheiro.
Lily assente, dando mais uma olhada para Rose antes de sair. Daisy faz
o mesmo.
Loren estica a mão para a maçaneta da porta, mas não sai. Em vez
disso, alguém entra. Eu esfrego minha boca, a frustração franzindo
minhas sobrancelhas. Quando eu encontro os olhos de Rose, ela está
sorrindo para mim, o tipo de sorriso presunçoso que eu sempre tenho
para ela. Ela está se regozijando com a minha aflição.
Eu quase me viro para o balcão, minha ereção piorando. Quando eu
preciso de uma porra de segundo, eu perco mais cinco. O tempo
raramente está do meu lado.
Ryke entra mais no banheiro, segurando Nikes verde-limão pelos
cadarços azuis neon. Ele para de repente, a boca se abrindo com a visão
da Rose. — Que porra é essa?
Rose cruza os braços, esticando a camisa que, infelizmente, desabotoou
alguns de seus botões, sem que ela percebesse. Eu me contenho para não
beliscar a ponte do meu nariz.
Eu me movimento entre os dois. — Rose decidiu pintar o cabelo. Dos
eventos que todos nós compartilhamos juntos, isso é realmente
mundano.
— É estranho pra caralho, — Ryke murmura, seu olhar persistente nos
seios dela.
Depois da imagem distorcida de Rose sendo compartilhada com outro
homem, que eu não celebro de jeito nenhum, eu não estou com
disposição para um olhar masculino errante. Eu quase fico na frente dela,
o que a irritaria mais do que ajudaria qualquer situação.
Lo bate na nuca de seu irmão antes de eu mover um músculo.
— Porra, me deixa processar isso, — diz Ryke, esfregando debaixo de
seu cabelo.
— Processar o quê? — Eu pergunto. — O cabelo da Rose ou os seios
dela? Você sabe que as mulheres têm eles, certo? Ou você está
descobrindo a anatomia humana básica só agora?
Ryke me mostra o dedo do meio.
— Ah, bom, ele sabe onde seus dedos estão. — Eu brinco. Rose começa
a abotoar sua camisa.
— Vai se foder, — ele xinga.
— Não, vai se foder você. — Meus músculos faciais se apertam.
Definitivamente, não estou com disposição para isso.
Ryke levanta as mãos agora, entendendo que eu não estou brincando.
— Olha, eu não me importo com o que alguém faz com seu cabelo. Eu só
queria dar isso para Rose. — Ele acena para ela. — Eu sei que você não
alugará sapatos para escalar ou usará qualquer tipo de calçado que foi
usado anteriormente, mas Daisy tinha um par extra. Eu imaginei que
como ela é sua irmã, pode ser diferente. Ela disse que vocês duas calçam
quase o mesmo tamanho. — Ele ainda tem um dos cadarços presos no
dedo.
Eles não são tênis de escalada, mas são tênis finos com o que parece ser
uma boa sola, uma alternativa decente.
Rose faz um buraco neles com os olhos, como se tivessem a ofendido.
— O que é isso?
Eu respondo primeiro, — Sapatos. Tênis. Tênis de corrida. Há uma
infinidade de nomes inúteis para eles na minha opinião.
Quando os olhos dela apontam para mim, eles se estreitam. E eu sorrio,
qualquer tipo de aborrecimento começando a penetrar em sentimentos
que eu gosto.
— Suas opiniões são inúteis, — ela retruca.
— E suas opiniões são tendenciosas. Você quer continuar?
Lo corta, — Por favor, não.
Leva um longo momento para Rose desviar seu olhar do meu, o fixando
em Ryke. — Você pode deixar essas coisas perto da porta.
Lo dá uma cotovelada no braço de Ryke. — Você é um lacaio comum no
reino dela, mano. Não leve isso para o lado pessoal.
Rose franze a testa. — Você sabe o que significa lacaio?
Lo revira os olhos. — Jesus, eu não sou um idiota. Eu posso ter sido
expulso da faculdade, mas posso contar até cem, multiplicar e dividir
também.
— Quase um gênio, — eu gracejo.
Lo pisca. — Eu sabia que todo esse tempo você estava com medo de eu
ser melhor que você.
— Você tem um jeito com as palavras, — eu digo honestamente. — A
maioria dos homens deveriam ter medo de você. — Eu não sou a maioria
dos homens, mas essa é a verdade. Uma vez que ele ter confiança em si
mesmo, ele será imparável.
Lo digere minha declaração com um aceno de cabeça, ouvindo minha
sinceridade.
Ryke nos traz de volta ao ponto. — Você não tem que usar isso, Rose.
Vou colocá-los aqui, mas você não pode aparecer no carro ou na
academia com os saltos altos.
Rose suspira pesadamente. — E se...
— Não, — Ryke força.
Rose estreita os olhos. — Você é um merda.
— Quantos anos você tem? — Lo interrompe.
Rose o ignora.
Eu sorrio. — Eu sou o mais velho aqui...
Eu não posso nem terminar minha frase antes de Rose interromper, —
Eu também tenho vinte e seis anos.
— Sim, eu também. — Ryke deixa o tênis perto da porta.
Todos nós olhamos para Lo, que tem apenas vinte e cinco, — O quê? —
Ele diz. — Vocês três têm algum tipo de clube dos mais velhos. —
Ligeiramente, sim. Nós falamos sobre Lo e Lily e Daisy o tempo todo.
Nesse momento, ninguém diz nada e ele parece furioso. — Eu estava
brincando.
— Eu vou usar o tênis, — Rose desvia a conversa.
— Obrigado. — Ryke bate na moldura da porta em seu caminho para
fora.
Lo anda para trás quando ele começa a sair. — Dez minutos? Vocês
estarão prontos então?
Eu preciso de mais do que isso, mas claramente perdemos tempo. —
Quinze, — eu emendo. — Nós vamos encontrá-los lá embaixo.
Lo acena com a cabeça e, quando ele desaparece no quarto principal,
tranco a porta atrás de mim.

Rose imediatamente gira em direção à pia, tamborilando as unhas no


balcão de mármore. Eu fico atrás dela, o cheiro de seu cabelo irritando
seus olhos. Eu suspeito que queime seu couro cabeludo também, mas ela
não vai reclamar de dor até que tenha queimaduras de terceiro grau.
Enquanto eu me endireito, inspecionando seu cabelo, ela diz, — Me
estupre*.
Eu coloco uma mão no balcão, ao lado de sua cintura, minha confusão
me empurrando para ela quando deveria fazer o oposto. Seus olhos estão
brilhando através do espelho. Não tenho certeza se a ouvi corretamente.
Eu digo, — Parlez clairement. — Fale claramente.
Ela lambe os lábios vermelhos. — Me avalie*, — ela diz lentamente, —
no meu desempenho.
(* Connor entende a Rose dizendo rape(estupre) ao invés de
rate(avalie))
Isso soa mais como a Rose. — Eu te dou um B menos. Você teve
problemas com suas irmãs.
Ela cruza os braços, botões em sua camisa se abrindo novamente, sem
sutiã, e dessa vez, noto seus mamilos endurecendo. Meu pau empurra
mais perto de sua bunda. Ela endurece, as clavículas salientes.
Sua voz fria nunca muda de temperatura. — Bem, eu te dou um F. —
Como esperado.
Ela continua me reprovando hoje - com desafios que eu tenho certeza
que venceria, dada qualquer outra circunstância. — Você está tentando
me incitar, querida? — Isso geralmente é o meu trabalho.
— Eu falo a verdade.
Ela soa como eu. Essas são minhas palavras. Rapidamente, eu abro as
pernas dela com os meus pés, as separando. Ela engasga com um barulho
de prazer, e eu aperto sua bunda por baixo da calcinha, meus lábios em
seu ouvido. — Você está me plagiando agora.
Esse comentário a irrita, não da maneira que eu gosto. Ela se vira para
mim, forçando a bunda para fora do meu aperto. Suas costas encostam
no balcão. Eu passo meus braços ao redor dela, rapidamente ligando a
torneira.
— Então, agora você tem o monopólio das verdades? — Ela descansa
as palmas das mãos no meu peito nu como um aviso, enfurecida. — Eu
nunca cometo plágio. Você não pode registrar fatos com direitos autorais.
Isso tudo é verdade, ironicamente. — Por que eu falhei? — Eu
pergunto.
Ela levanta a mão para coçar a cabeça e eu pego seu pulso antes que ela
tenha sucesso. Ela exala brevemente e diz, — Você xingou o Ryke de
verdade. Você saiu do personagem, Connor.
Não é como se isso prejudicasse diretamente nosso truque. — Eu fui
eu, — afirmo. Essa foi uma reação real, emocional, ela está querendo
dizer.
— Você não pode ser você, — ela me lembra. — Esse é o ponto disso.
Nós representamos os dramas, alimentamos a mídia, somos lascivos e
escandalosos por popularidade. Somos outra coisa. Você me ensinou
isso.
Você me ensinou isso. Ela me ensinou como ser real. Eu ensinei a ela
como ser falsa.
Eu gostaria de poder me orgulhar dessa parte, mas não sinto nenhum
orgulho. Eu não quero mais discutir isso. — Incline-se, — eu digo. —
Seus olhos estão lacrimejando.
Ela se vira novamente, inclinando-se e abaixando a cabeça na pia e,
sem me afastar dela, coloco uma nova luva de plástico, usando uma mão
para lavar o seu cabelo. Eu massageio seu couro cabeludo enquanto tiro
os produtos químicos. Ela tenta fechar as pernas, mas eu mantenho meu
pé entre elas, as forçando a se separarem.
Suas pálpebras se abrem.
— Mantenha os olhos fechados, — eu comando, preocupado que a água
oxigenada e descolorante escorram neles.
Ela relutantemente os fecha novamente. — Meu pescoço dói. — Ela
tenta mover os ombros.
Com minha mão livre eu a ajusto, virando sua cabeça uma fração, então
ela não está olhando diretamente para a pia. — Melhor?
— Hmhm. — Ela relaxa com a mensagem na cabeça. Com a água
oxigenada quase desaparecendo, eu noto que o cabelo dela não está loiro
- pelo menos ainda não. Precisávamos deixá-lo mais tempo do que
tínhamos e os fios estão marrom-amarelado, da cor de ferrugem.
Rose vai chamar de laranja.
Ela é linda, não importa a cor do cabelo, não importa se ela não tem
cabelo algum, mas ela vai ficar furiosa. Eu só preciso que o cabelo dela
cheire bem, então ela não se sentirá desconfortável. Quando a água
oxigenada é lavada, eu descarto a luva e jogo o shampoo em seu couro
cabeludo, seu corpo se soltando ainda mais.
Meu pau tem sido paciente o suficiente. Com a minha mão limpa e seca,
eu passo na bainha da calcinha dela. E a arranco.
Seus olhos se abrem. — Connor.
— Feche seus olhos.
Ela fecha, parcialmente, porque o shampoo começou a deslizar da sua
testa para o nariz. Limpo o shampoo e continuo massageando seu couro
cabeludo, lavando o excesso de shampoo.
Eu corro meus dedos entre suas coxas. — Você estava de pé aqui esse
tempo todo molhada pra caralho?
Ela respira superficialmente. — Connor...
Eu dirijo dois dedos para dentro dela e ela estende a mão procurando
por apoio. Eu guio as mãos dela para o balcão, para que ela possa segurar
o mármore. Água escorrendo pelos seus pulsos quando eu devolvo
minha mão ao cabelo dela.
Eu me inclino para mais perto da Rose, meu pau duro cavando contra
sua bunda e meus lábios escovam sua orelha, minha respiração baixa e
quente. — É melhor você estar pronta para algo maior.
Ela aperta os olhos com mais força e alcança minha mão entre suas
coxas. — Espere…
Eu retiro meus dedos e guio sua mão de volta para a porra da pia. — Se
você tem algo importante para dizer então diga agora, caso contrário, eu
estou entrando em você. — Eu agarro a parte de trás de sua cabeça com
mais força, fazendo com que sua garganta engula em excitação.
— Desligue a água, — ela pede.
Eu desligo a torneira para que ela possa se concentrar em nós e não
temer o afogamento. Então, rapidamente, eu a viro para me encarar, as
costas dela pressionadas contra a borda do balcão. Eu aperto seu rosto
com uma mão forte e beijo seus lábios. — C'est tout? — Mais alguma
coisa?
Ela solta outro suspiro. — Ne soyez pas gentil. — Não seja gentil.
Eu nem me lembro da última vez que eu fui gentil. — Eu não estava
planejando isso. — Eu abaixo meu short de ginástica e cueca, finalmente
livre. Com movimentos fortes e certos, levanto sua perna esquerda ao
redor da minha cintura, sua cabeça inclinada para trás e apoiada na
minha outra mão. Então eu agarro meu eixo e empurro todo o caminho
para dentro dela.
Ela choraminga, arqueando as costas no balcão. Eu mantenho seu
corpo parado e empurro nela com movimentos rápidos e profundos,
precisando fazer isso rapidamente.
Meu corpo aquece com o dela. Eu empurro com mais força.
— Porra, — Rose choraminga, suas pernas tremendo. Ela tem
dificuldade em recuperar o fôlego, a boca aberta. Eu gemo quando ela
pulsa contra o meu pau.
Desabotoo a camisa dela, o peito exposto, seios maiores e mais cheios
do que antes da gravidez. Ela me aperta ainda mais e eu beijo seu mamilo
antes de morder uma vez. Ela geme e murmura uma palavra que soa
como sim. Eu beijo o topo de seu seio antes de segurar sua cintura mais
curvilínea - e empurro mais fundo.
— Connor, — ela suspira.
Eu vejo meu pau longo e latejante desaparecer entre as pernas dela. De
novo e de novo. Dentro da mulher que eu amo. Dentro da mãe da minha
filha. Dentro da minha companheira de equipe e igual. Um sorriso puxa
meus lábios. Mais uma empurrada e uma sensação ofuscante me toma. E
ela também.
Ela estremece, seu pulso acelerando. Eu quase posso sentir seu coração
batendo.
— Meu Deus. — Ela murmura.
Eu me endireito e arqueio uma sobrancelha para ela.
Ela ainda está de olhos fechados.
Eu bato na bunda dela.
Ela geme novamente.
— Eu preciso encontrar uma nova maneira de repreendê-la. Você gosta
muito disso. — Eu aperto sua bunda, que eu adoraria foder um dia. Em
outro momento, eu sei.
Ela apoia o corpo nos cotovelos, metade dela ainda em minhas mãos. —
Honestamente, — ela respira, — eu nem tenho certeza do que eu disse.
Eu lentamente saio dela e ela faz um som de engasgo. Eu esfrego seu
clitóris. — Você agradeceu a Deus novamente.
— É um eufemismo.
— É um eufemismo chato quando sou eu quem faz você gozar.
Ela lambe os lábios. — Eu ia te dar um A pelo o sexo, mas estou
abaixando sua nota para um B.
— Eu não gosto de seus métodos de classificação.
— Eu não gosto do seu rosto. — Seus olhos dançam nas minhas feições
em pura atração.
— Talvez você devesse dizer isso sem parecer que me quer a vinte
centímetros de profundidade dentro de você.
— Talvez não seja você que eu quero em mim.
Eu levanto minhas sobrancelhas e paro de esfregá-la, a afirmação é
uma mentira tão grande que é difícil até mesmo reagir negativamente. —
Você teve muitas outras oportunidades. — E ela nunca aceitou nenhuma
delas quando éramos mais jovens. Tecnicamente falando, ela esperou
por mim. Se eu fosse mais moral, acho que me sentiria culpado por não
retribuir o favor. Mas o sexo nunca foi emocional para mim.
— E se eu tivesse aceitado essas oportunidades? — Ela pergunta
seriamente.
Eu coloco seu pé no chão. — Eu te amaria da mesma forma, mas estou
egoisticamente feliz que você não aceitou.
— Porque agora você pode ter tudo de mim, — afirma. Eu nunca fui
desonesto sobre o meu narcisismo. Não é uma fachada ou uma miragem.
Eu realmente me sinto no direito de ter à maioria das coisas e quando as
tenho, cuido bem delas até ficar entediado. Então eu acho algo novo para
brincar.
No entanto, eu nunca ficarei entediado com a Rose. Então me casei com
ela e, nesse sentido, sou moral. Estou comprometido com a pessoa que
realmente amo, em vez de gostar de alguém momentaneamente.
— Sim, eu tenho tudo de você, — eu respondo, — mas Rose, eu sou
casado com você. Eu nunca comparo minha experiência com sua falta de
experiência e não acho que você é menor do que eu. Você é e sempre será
minha igual.
Ela acena com a cabeça. — Eu acredito em você.
Eu coloco um pedaço de seu cabelo úmido atrás da orelha. Ela
estremece, os fios molhados em seus ombros. Ao levar sua mente de
volta para seus cabelos, ela está mais consciente de que está tingido. Seus
olhos estão bem nos meus, avaliando minha reação a sua nova cor antes
que ela olhe.
Eu estou completamente impassível, o cabelo dela realmente está mais
cobre que ferrugem.
— Apenas me diga. — diz ela, engolindo em seco.
Eu levanto o queixo dela com meus dedos e sussurro, — ‘Se a rosa
tivesse outro nome, ainda assim teria o mesmo perfume.’
Ela bate no meu braço com a palma da mão, reconhecendo a citação de
Romeu e Julieta de Shakespeare.
Eu não posso conter um sorriso. — É um eufemismo famoso, Rose. —
Eu a puxo para mais perto do meu corpo, espiando sua camisa aberta por
um milissegundo. Ela puxa o tecido com as duas mãos. Estou a abraçando
com seus braços grudados no peito, o que é normal para nós.
— É um eufemismo famoso e irritante, Richard. — Diz ela, seus lábios
quase se contraindo para cima.
— Isso é um sorriso?
— Não. — Diz ela. — É uma expressão de ódio.
— Se vamos renomear todas as construções sociais, então eu vou
chamar essa pia de mesa e o teto de chão.
— Você é irritante.
— Você é linda.
Ela sorri completamente e eu seguro sua bochecha, meu polegar
roçando seus lábios vermelhos.
— Vamos continuar? — Eu sussurro profundamente. Nós não temos
tempo suficiente, infelizmente. Eu quero mais com ela. Sempre.
Ela balança a cabeça e inspira, mais confiante. — Eu posso tingir de
volta na próxima semana, certo?”
— Logo, — eu digo. — A qualquer momento após a foto você pode ir ao
salão.
— Mas Celebrity Crush disse...
— Rose, — eu respiro. — Eles só querem a foto. — Andrea sugeriu uma
semana, um prazo para a aparência alterada da Rose. Ela deve ficar
satisfeita o suficiente com a reação do mundo depois de um dia. Será
exponencialmente maior que o choque de suas irmãs.
Depois de mais um momento de silêncio Rose se vira para o espelho e
eu a mantenho em meus braços, observando seus olhos se arregalarem.
Seus ombros se contraem e seu nariz se inflama.
— Essa porra está laranja, — ela xinga, prestes a pegar as instruções.
Eu deixo ela as folhear dessa vez.
— Eu fiz tudo corretamente, exceto esperar mais tempo. — Eu explico.
— Não tivemos tempo e estava queimando seu couro cabeludo.
— Eu estava bem. — Ela bufa, sabendo que não estava. Ela joga as
instruções na lixeira e segura uma mecha de cabelo. — Pare de sorrir.
— Eu não estou sorrindo. — Eu digo facilmente.
— E eu tenho que usar tênis. E eu tenho que escalar. — Ela coloca a
mão na testa. Eu beijo essa mão e depois beijo sua têmpora.
— Ensemble, — murmuro. Juntos. — Minha vez vai chegar.
Isso pode ser difícil para ela, mas não vai demorar muito para que um
desses cenários se virem para mim.
[7]
ROSE COBALT
Filadélfia Rochas! é uma academia mal intitulada que contém inclinações
verticais multicoloridas com cordas e arreios e mais ou menos perigo e
desgraça. O nome perfeito seria Filadélfia Morte! ou Miséria da Filadélfia
e Outras Coisas Ímpias Já Que Eu Não Posso Usar Meus Saltos De Doze
Centímetros!
O que é pior: tenho duas irmãs se alongando ao meu lado, com os
olhares grudados nos meus cabelos cor de laranja que está amarrado
num rabo de cavalo alto. Ninguém lançou um insulto à minha aparência
ainda e eu percebo que o meu olhar assassino de eu vou atropelar você e,
em seguida, dar ré deixou seus lábios fechados. Lo apenas pediu que eu
usasse um boné, anexando rapidamente sua explicação: os paparazzi nos
seguirão se virem seu cabelo e todos nós queremos fazer isso em particular
hoje.
Se ele soubesse.
Eu obedeci, enfiando meu cabelo debaixo de um dos bonés de beisebol
do Connor, mas assim que entramos na academia, eu tive que removê-lo.
Nós alugamos Filadélfia Rochas! - nenhuma festa de aniversário de
criança ou instrutores pairando à vista. Ryke tem a permissão da
administração para nos ensinar.
Connor já falou para Walter o nosso paradeiro, então o plano está
definido e em movimento. Subconscientemente, eu olho por cima do meu
ombro, nas janelas da academia que vão do teto ao chão, levemente
escuras do lado de fora. Gostaria de saber se ele terá que esperar até
sairmos para tirar uma foto.
Enquanto não houver uma brigada inteira de cinegrafistas do lado de
fora, Walter terá sua fotografia exclusiva. Rumores sobre Moffy vão ficar
de fora da imprensa. Tudo vai ficar bem.
— Terra para Rose. — Daisy acena com a mão na frente do meu rosto.
Eu acordo do meu estupor, esticando minhas mãos atrás de mim. Foda-
se alongamento. — Eu estava apenas imaginando a parede
violentamente sendo engolida por chamas. Quem tem um fosforo? — Eu
olho para Lily.
Lily tenta parecer severa, endireitando as costas. — Isso é sobre o
Ryke. Nós não podemos queimar o seu lugar de amor.
Eu bufo. — Seu lugar de amor é entre as pernas da nossa irmã.
Daisy acena com a mão novamente. — Estou sentada bem aqui.
— Eu sei, eu quis que você ouvisse isso. — Eu digo secamente,
checando minhas unhas pretas foscas, lembrando da beleza delas, já que
elas vão ficar quebradas até o final da noite.
Daisy amarra seus cabelos castanhos em um coque bagunçado. — Lily
está certa, no entanto.
— Eu estou? — Lily sorri.
— Definitivamente. — Daisy cutuca o braço dela com um sorriso maior
e mais brilhante. — O tempo está horrível nas últimas semanas e ele tem
ficado muito inquieto. — Ryke não foi capaz de escalar do lado de fora,
ela quer dizer.
Eu suspiro. — Tudo bem, — reconheço. — Talvez isso compense
nossos terríveis presentes de Natal para ele. — Passamos quatro horas
no shopping, cercados por nossos guarda-costas e seguidos por fãs
eufóricos e paparazzi. Foi um tormento, grande parte por causa da nossa
indecisão. Costumávamos comprar equipamento de alpinismo para Ryke,
era o que ele queria de Natal e aniversário, mas isso pareceu insensível
esse ano, considerando que sua cirurgia é em janeiro.
Comprei para ele uma boa máquina de barbear elétrica, mas tenho
certeza de que ele já tem uma, sua barba está sempre aparada e
uniforme. Perguntei a Connor o que ele comprou e ele simplesmente
disse: Eu escolhi o presente de Natal dele a um ano.
Um ano.
Ele se recusou a esclarecer essa resposta irritante.
Meu celular toca e quando eu pego o aparelho no chão acarpetado
percebo os três caras na parede da academia, conversando entre eles. Eu
olho para a tela.
Notificações de Tweets: @callowayforever: Aquele te fazendo um oral
era o Connor mesmo? @RoseCCobalt Sim. Nós fazemos sexo, mesmo que
algumas pessoas acreditem que somos frios e insensíveis, e como Lo
disse - nos beijamos anualmente. Eu não respondo, especialmente
comentários negativos. Nosso assessor basicamente disse: Ser defensivo
é a pior opinião que você pode ter. Se defender com as costas arqueadas
e garras à mostra não é permitido nas redes sociais, pelo menos não do
meu lado.
Isso é difícil para mim.
Meu dedo coça para apertar "responder", mas passo para a notificação
subsequente.
@liloloverallday: Você ama o Connor Cobalt? Você nunca age como se
o amasse. Ele merece alguém que quer beijá-lo. @RoseCCobalt.
Deus. Isso deve ser em resposta à quando eu fugi de seu beijo no
shopping. Ninguém o ouviu citar Platão com o sorriso mais arrogante
que eu já vi. Isso não merecia um beijo, um abraço ou um aperto de mão
e ele sabia disso.
@rachelle4beauty: @RoseCCobalt você é uma puta! Primeiro os pornôs
e agora orais públicos. É sério?
Sim, é sério.
@camibrat8: @RoseCCobalt não é uma modelo para mulheres. Estou
tão cansada de pessoas a chamando assim. Ela é burra e um pedaço de lixo
nojento.
Eu tento não ingerir nenhuma dessas palavras. Com a coluna rígida,
olho para o próximo tweet.
@_GoodWitchh: ecaa @RoseCCobalt Eu quase sorrio com a ironia de
uma "Good Witch" dizendo eca para mim.
Meu celular vibra na palma da minha mão. Tudo bem? – Connor Eu
levanto minha cabeça. Ele ainda está em uma conversa profunda com Lo
e Ryke do outro lado da academia, mas ele tira um tempo para digitar
uma mensagem para mim.
As pessoas não se divertiram com nossa atividade de Ação de Graças. Eu
envio e vejo ele ler a mensagem calmamente antes de digitar de volta.
Quando seus dedos param de se mover, meu celular vibra.
Caso você tenha esquecido, três quartos do que as pessoas dizem sobre
nós são incorretos, exagerados ou falíveis. – Connor Ele tem razão.
Embora eu não responda com isso. Eu tenho uma memória perfeita. Não
esqueço nada.
Então você se lembra quando tinha quatorze anos... – Connor Meu
sorriso desaparece e noto seus lábios começando a se curvar para cima
em triunfo. — Não diga, — murmuro baixinho.
— Você está mandando mensagens para o Connor agora? — Pergunta
Lily, olhando entre nós.
Eu não consigo responder, a próxima mensagem aparece.
…E Faust derrotou Dalton no Modelo da ONU e eu fui apertar sua mão
para você me parabenizar depois que eu te derrotei. E você realmente fez
isso. – Connor — Eles estão totalmente trocando mensagens. — Daisy diz
com uma risada.
Levanto uma mão para ela enquanto digito: também me lembro de
tentar apertar sua mão com força suficiente para que seus dedos
quebrassem. Eu aperto enviar. — Isso é importante... — Meu telefone
vibra.
Eu me lembro de você não tendo sucesso. – Connor Eu bufo, de boca
aberta. Eu vou matá-lo, da maneira mais gentil. Eu aperto meus lábios,
meus dedos voando sobre a tela. Eu me lembro de você não transando
hoje à noite. Eu ganhei. Quando eu olho para Connor, ele ainda está
sorrindo, como se estivesse muito, muito longe de perder o que ele quer.
Droga.
Quando eu tinha quatorze anos, eu pensei com certeza que iria vencê-
lo no Modelo da ONU, mas eu não era tão inteligente naquela época.
Nossa rivalidade me levou a trabalhar mais. E quando eu tinha dezessete
anos, Dalton quase venceu em um desempate, mas em parte, acho que ele
ficou desconcertado naquele ano.
Eu o peguei saindo do banheiro com outro cara - sua linguagem
corporal dizia mais do que Connor queria. Eu não acho que ele pretendia
que eu visse as partes escondidas de sua vida. Mas um véu se abriu
naquele dia. Ele disse cinco palavras para mim. Apenas cinco.
Eu não olho para gêneros.
E depois que ele percebeu minha reação - um aceno de cabeça e olhos
suaves - ele se afastou. Eu nunca pedi por mais. Eu entendi que ele olhava
para o mundo de uma maneira diferente, transformando as
complexidades e os absurdos da sociedade em simplicidades. Ser atraído
por alguém não porque é homem ou mulher, mas porque você sente uma
conexão, de alguma forma, você sente algo mais.
Isso me fez perceber o quanto eu ainda tinha para ver do Connor, das
verdades que eu ainda iria descobrir. E eu queria outro pedaço dele,
outro pedaço real.
Havia uma razão pela qual ele se escondeu. O que eu realmente aprendi
naquele dia foi que o mundo pode não estar pronto para aceitar Connor,
e isso é uma vergonha maior do que qualquer coisa.
Mas eu tenho cada parte real dele. Cada parte que eu amo. Mesmo que
o mundo não o entenda, eu entendo.
Eu vejo uma nova mensagem aparecendo.
Você não pode lembrar de algo que ainda não aconteceu. – Connor
Tradução: Eu ganhei. Você perdeu, Rose.
A parede de pedra imponente em uma série de cores primárias
nauseantes já selou meu destino muito antes de Connor Cobalt. Conheço
minhas fraquezas e qualquer coisa que exija a remoção dos meus saltos
altos fica no topo da lista.
[8]
CONNOR COBALT
Quando eu guardo meu celular no meu bolso, Lo leva o celular dele ao
ouvido. Ele coloca a mão na cabeça em aflição. — O que você quer dizer
com eles desistiram?
Eu encosto meu ombro contra a parede de pedra enquanto Ryke
abandona sua tarefa de desembaraçar dois arnês, ambos nos
concentrando em seu irmão.
— Sempre fazemos os comerciais na GBA. — Lo refuta. — Daniel disse
que a rede tem a maior porcentagem de espectadores do sexo feminino.
Nós não estamos colocando promoções de shampoo na FOX ou na ESPN.
— Lo esfrega os olhos e encontra o olhar de Ryke primeiro.
Ryke movimenta a boca, desligue.
Lo sacode a cabeça. — Estou bem, — ele diz baixinho.
O relacionamento deles está melhor do que nunca. Eu posso ver isso
como todos os outros. Lo passa mais tempo com Ryke e seus comentários
para seu irmão nunca são rancorosos ou ofensivos como eram antes.
Levou anos para que dois irmãos separados finalmente chegassem a
um ponto em comum, e se eu fosse mais compreensivo, acho que estaria
comovido.
Lo geme. — Isso não deveria ter acontecido!
Ryke range os dentes, provavelmente pensando que seu irmão não está
bem, mas ele está indo bem considerando a natureza de seu trabalho. Eu
sou o chefe de uma corporação multibilionária também. Para mim, é
relativamente fácil. Às vezes moderadamente desgastante, mas
raramente difícil. Para uma pessoa normal, seria estressante, difícil. Para
um alcoólatra em recuperação, isso pode empurrá-los ao limite.
Lo anda na minha frente, vestindo calças de treino preta e uma camisa
com gola V cinza. Seu cabelo está na moda, mas quando eu o conheci na
faculdade, curto na lateral e fios longos no topo, não era popular. Ele
provavelmente merece crédito por sua ascensão às massas.
Eu olho para ele, suas feições afiadas e seu olhar mortal.
Ele é o tipo de pessoa com quem eu nunca me entreteria ou me
associaria na faculdade a menos que fosse útil para mim. Eu nunca
precisei dele, embora. Eu não tinha motivos para usá-lo. Ainda assim,
meu eu de dezessete anos teria dito: Bom, você encontrou o rico bastardo
com conexões. Você precisou dele. Você o usou. Agora deixe-o ir.
Meu eu de 26 anos está mais consciente do que certas pessoas
significam para mim - além dos jogos finais, metas e lucros. Minha vida é
chata sem Loren Hale. Se eu deixá-lo ir, eu vou procurar por alguém
como ele - de língua afiada, confiante, sensível e cínico - e eu vou
perceber que Lo existe sozinho, como um indivíduo único, sem uma
duplicata. Eu gosto das partes mais escuras dele tanto quanto eu gosto
das mais leves, e eu não vou deixá-lo apenas para encontrar alguém com
um uso melhor.
Se isso me machucar no final, então eu vou lidar com as consequências.
Sua amizade vale a pena para mim.
Lo põe a mão na testa. — Quantas merdas vão acontecer em três
horas?… Isso foi retórico. Coloque Mark no maldito telefone.
Ryke coça a mandíbula não barbeada, tentando ficar enraizado no
chão. Sua reação natural seria interromper Lo, dando a seu irmão sermão
por causa do trabalho. Ele está tentando uma nova tática: ser solidário,
não tratar Lo como um ser humano frágil e indefeso.
Isso empodera seu irmão mais do que Ryke pode perceber.
No final do dia, Ryke pode ser cauteloso, mas ele não pode fazer Lo se
sentir inferior. É fácil para o Lo olhar Ryke e se perguntar se seu irmão
mais velho se destacaria na mesma posição em que ele se afunda. Mas ele
não está se afundando ainda.
Lo vira a cabeça e pega Ryke olhando com ainda mais preocupação
fraternal. A minha preocupação está escondida.
Lo mostra o dedo do meio para Ryke enquanto ele fala. — Por que
diabos o nosso diretor de marketing está de férias? — Ele balança a
cabeça. — Quem é o assistente dele?
Eu endureço e fico tenso ao verificar meu celular novamente. Rose não
respondeu. Do outro lado da sala ela está com o celular levantado acima
da cabeça, enquanto Daisy e Lily tentam segurá-la para alcançar o
aparelho e Rose as afasta com a mão.
Meus lábios começam a subir.
— Bem, peça a Theo para ligar para a GBA e resolver isso, — diz Lo,
seus pés diminuindo a velocidade até parar.
Eu tento não me concentrar nesse nome. Eu não falo com Theo há anos
e gostaria de continuar assim.
— Se a rede não responder, então bombardeie-os com mensagens até
que eles respondam. — Lo pausa, seu tom menos afiado. — Eu realmente
aprecio isso. Vamos apenas esperar que Theo possa resolver isso antes
que Mark volte. — Lo desliga e acena para mim. — Me fala que sua
equipe liga para você por coisas que eles deveriam resolver.
— Todos os dias. — Eu digo facilmente.
As meninas se levantam e começam a caminhar até onde estamos. Rose
declara, — Se vocês lerem minhas mensagens, temos que trocar de
telefone e eu vou ler as suas e as suas. — Ela faz um gesto para as irmãs e
depois para a poucos metros de mim. Ela coloca as mãos vitoriosamente
nos quadris.
Daisy e Lily olham interrogativamente uma para a outra enquanto
Ryke, Lo e eu as observamos. Prefiro que ninguém leia as mensagens
pessoais que envio para minha esposa, mas estou curioso o suficiente
para fazer essa troca, assim como Rose ficaria.
Lily oscila. — Eu não tenho nada a esconder.
Lo dá de ombros ao meu lado. — Por que eu vou mandar uma
mensagem para ela quando estamos sempre juntos?
Daisy vira o celular na palma da mão, aparentemente não ansiosa para
abandoná-lo. — Eu não sei.
Ryke está rígido, claramente sentindo o mesmo que sua namorada. —
Só vamos escalar, porra. — Ele finalmente desembaraça os arneses e
passa um para cada um de nós. Eu não quero abandonar essa conversa
tão facilmente, mas minha esposa se irrita com a menção de escalar e
prefiro não prolongar isso.
Lo põe seu cinto para baixo e ajuda Lily, se agachando e mantendo os
buracos abertos para que ela possa entrar neles. Rose larga o cinto no
chão e pega um frasco de álcool em gel para as mãos de sua bolsa. Eu a
vejo esguichar um pouco na palma da mão enquanto me preparo.
Ryke joga um arnês para Daisy. — Você quer ir primeiro, amor? Você
pode me ajudar a demonstrar.
Rose interrompe, — Não deveríamos apenas vê-lo escalar? — Ela muda
o peso em seus pés, perturbada por esse evento. Ela usa calça legging e
uma velha camiseta com o logo de Princeton, uma roupa que eu nunca a
vi usar antes, e para completar essa mudança, ela começa a acariciar seu
rabo de cavalo cor de cobre. Como se o toque sozinho revertesse para a
cor natural.
Eu me aproximo dela enquanto Ryke responde, — Eu fico entediado
com as rochas da academia em comparação as rochas reais. Vocês todos
escalando enquanto eu fico supervisionando é melhor. Mas se você não
quiser, Rose, você não precisa.
Rose é teimosa e leal. Se suas irmãs tivessem que atravessar o fogo, ela
estaria ao lado delas, suportando a dor. Mesmo com a escolha de desistir,
ela não faria isso. Solidariedade, camaradagem - significam tudo para
Rose, e através de anos de momentos catalisadores, Ryke se tornou uma
grande parte da nossa família.
Então, não estou surpreso com a próxima declaração da Rose.
— Não, eu vou fazer isso. — Ela acena com a cabeça algumas vezes.
Lily solta o que soa como um cruzamento entre um gemido e um
suspiro envergonhado. Todos nós olhamos para ela, suas bochechas
estão vermelhas como um caminhão de bombeiro. Lo tem as mãos nas
correias do cinto. Obviamente, ele apenas os puxou com mais força,
colocando pressão entre as pernas dela. — Eu não fiz nada! — Ela
anuncia, com as mãos oscilando, como se ela estivesse debatendo se
acovarda e cobre o seu rosto ou não. Lo se inclina e sussurra em seu
ouvido.
Isso não é nada novo.
Depois de apertar meu arnês, agacho e pego o da Rose. Essa não é a
primeira vez que participei de escaladas em uma academia. Ryke, Lo e eu
fizemos isso várias vezes para mudar nossa rotina de exercícios. Eu
entendo a necessidade de travar mosquetões, tanto de trava de torção
quanto de rosca, e estou bem familiarizado com o nó de 8 e os princípios
básicos de segurança. Apenas Lily e Rose nunca escalaram antes e elas
precisam de mais instrução do que o resto de nós.
Mas Rose não vai escalar hoje.
Com as costas viradas para todos, rompo duas fivelas de plástico: uma
no cinto e outra na perna esquerda. Quando estou de pé, passo o arnês
para Rose.
— Está quebrado. — Digo a ela.
Ela franze a testa, examinando o cinto. — O que? Onde?
— Esses estão quebrados. — Eu lhe mostro as fivelas. E ela solta um
suspiro profundo e olha para o teto.
— Você está agradecendo a Deus agora? — Eu questiono.
Ela balança o arnês na minha cara. — Isso é o que as pessoas chamam
de destino, Richard.
É o que eu chamaria de um poder maior. Eu. Eu mesmo. E eu adoraria
reivindicar essa conquista em voz alta, mas não posso. Ela teimosamente
ainda vai escalar se eu for a força por trás desse ato. — Eu chamo isso de
arnês quebrado, — digo a ela.
— O que está quebrado? — Ryke se aproxima, a mão na corda que está
ancorada no topo da parede.
Rose passa o arnês para ele.
— É, você não pode usar isso.
Rose quase fica dez centímetros mais alta com esse fato.
— Há mais lá atrás...
— Não. — Ela o interrompe. — O destino me disse que eu não posso
escalar. Eu sei que parece ridículo, mas o arnês quebrado foi um sinal de
que eu não deveria fazer isso.
Ryke acena em aceitação. — Meu amigo, Sully, também é supersticioso
quando escala.
— Como assim? — Eu pergunto. Ele raramente fala sobre Adam Sully,
seu amigo que ele encontra em todo lugar do mundo, principalmente em
países da América do Sul, para escalar rochas. Eu nunca o vi antes. Ryke
mantém essa parte de sua vida separada de nós.
— Ele gosta de beijar seus mosquetões antes de sair da porra de sua
casa e ele circula seu jipe pelo estacionamento três vezes.
Eu mal posso esconder quando me encolho. Parece juvenil e sem
sentido e algo que Rose me faria fazer. E eu definitivamente faria por ela.
— Você tem amigos estranhos. — Digo a ele.
— Eu sei. — Diz Ryke, olhando direto para o meu rosto.
Ele me chamou de amigo. Esse é um dia raro.
Rose acena para nós. — Todos vocês podem resolver isso. Eu vou
assistir de lá. — Ela se dirige para o banco de madeira na frente da nossa
parede em particular, transbordando de confiança novamente. Através
de sua alegria repentina, ela arrisca alguns olhares ao redor das janelas
escuras, procurando por Walter Aimes, o fotógrafo que está fora de vista
e deveria tirar a foto exclusiva do cabelo de Rose.
O resto de nós migra para mais perto da parede para assistir Ryke e
Daisy demonstrar para Lily. Meu celular vibra e eu verifico minha
mensagem.
Quantas horas você dormiu na noite passada? Você tem menos, mais ou a
mesma energia do que ontem? – Frederick Essa mensagem não era para
mim. Eu olho brevemente para Daisy, que já está subindo a parede, no
meio do caminho.
Claramente você dormiu mal na noite passada. Eu mando a mensagem
para meu terapeuta que esteve em contato com Daisy. Ela teve sua
primeira sessão na semana passada e pareceu gostar dele.
— Isso era para ser fácil? — Lily pergunta, vendo Daisy chegar ao topo
para tocar a campainha. Lily balança a cabeça de um lado para o outro e
recua no peito de Lo.
— Você será capaz de fazer isso, amor. — Lo a beija na bochecha.
Meu celular vibra com outra mensagem.
Finja que você não viu isso. – Frederick Eu respondo: Só se você me der
as respostas dela para as perguntas.
Não. Eu já fiz um favor ao ficar com sua gata. – Frederick Meu sorriso
desaparece. Nós não poderíamos manter Sadie perto de bebês recém-
nascidos quando ela tem tendências invejosas e gosta de arranhar, então
eu a dei temporariamente para Frederick.
Eu digito: Eu te fiz um favor, referindo Daisy para você. Eu falei sobre a
irmã mais nova de Rose durante as sessões com Frederick mais do que
algumas vezes e seu interesse despertou. Ele gosta de personalidades e
distúrbios complexos. Frederick não é cem por cento altruísta. Ele é
impulsionado pelo conhecimento. É por isso que gosto dele como amigo,
mesmo que pague pela presença dele.
Então estamos quites. Eu não te devo nada. E você não deveria estar
fazendo acordos comigo, Connor. Nós já passamos por isso antes. –
Frederick Eu não tenho permissão para manipular meu terapeuta,
mesmo quando é incrivelmente atraente, de acordo com suas regras. Eu
respeito isso, mas isso não significa que eu não tenha tentado contornar
isso. Conversamos depois. Eu mando a mensagem e ele responde ainda
mais rápido.
Segunda-feira. – Frederick Eu guardo meu celular assim que Lily se
aproxima da parede. Daisy já desceu e mostra para a sua irmã dois
joinhas encorajadores. Lily se vira, andando para trás e aponta um dedo
ameaçador para todos nós. É suave em comparação com os que estou
acostumado. — Não riam de mim. Eu tenho muita pouca força na parte
superior do corpo.
— Ninguém vai rir de você, — Ryke diz a ela.
Ela respira fundo e se ergue até a primeira pedra, a agarrando. Seus
tênis se ajustam na que está a cerca de meio metro do chão. É o próximo
passo que se mostra difícil. Ela tem que usar a parte superior do corpo
para se levantar mais alto. Ela luta, as pontas dos dedos comprimidas
sobre a nova pedra, mas seu pé está longe demais da base roxa. Cada vez
que ela tenta se erguer, ela mal levanta alguns centímetros.
Depois de quatro tentativas fracassadas, Lo se aproxima e coloca as
mãos na bunda dela e a empurra com toda a facilidade.
— LoAimeudeus, — ela diz rapidamente, mais alto do que ela
provavelmente pretendia. Mas isso funciona. Ela alcança a pedra mais
alta, o pé agora apoiado e o corpo a mais um metro do chão.
Lo não pode mais ajudá-la.
— Huum… — Lily olha em volta, os olhos arregalados, sabendo que ela
não consegue passar desse ponto. Suas pernas começam a tremer com
seus braços e me lembro que ela tem medo de altura.
Brrrrring! Um barulho de campainha sai do celular de Daisy. Ela o
levanta. — Parabéns, você tocou a campainha, Lil! — Ela grita para ela.
Lily solta um suspiro de alívio. — Ok... agora como eu desço?
— Assim como a Daisy desceu. — Explica Ryke. — Salte e vou
sustentar o seu peso.
— Você está a apenas um metro e meio do chão, — eu a lembro. — Isso
é menor que seu marido, se você precisa de referência.
— Ela sabe como um metro e meio se parece, Richard, — diz Rose do
banco.
— E eu juro que parece mais alto daqui de cima. — Diz Lily, respirando
fundo. Ela fecha os olhos e pula para trás. Quando ela pousa no chão, ela
dramaticamente cai de joelhos e beija o chão acolchoado.
Todos nós olhamos para ela enquanto ela se levanta.
Suas bochechas coram. — Eu sempre quis fazer isso, — diz ela com um
aceno de cabeça antes de correr para os braços de Lo. Ele a abraça sem
questionar, com as mãos se abaixando até a bunda dela e ele aperta como
se ninguém estivesse olhando.
Passamos a meia hora seguinte revezando a parede. Daisy quer
competir, então eu a cronometro no meu relógio. Rose até vem me ver
subir. Normalmente, eu brincaria com ela por olhar para minha bunda,
mas ela tem alternado entre lavar as mãos com álcool em gel e passar a
mão no cabelo.
Quando terminamos, Daisy e Lily vão até sua irmã mais velha, notando
sua aflição. Eu gostaria de conversar com ela sozinha, mas Rose gosta de
estar na companhia de suas irmãs, então eu não roubo tempo delas.
Daisy cutuca o quadril de Rose com o dela. — Ei, quer trocar de celular?
— Dais. — Ryke chama ela com cautela em sua voz.
— Eu não quero ver as fotos do seu pau que você enviou para a minha
irmã, por isso não precisa ter um infarte. — Rose interrompe, passando
os dedos ansiosamente através de seu rabo de cavalo.
— Hilária pra caralho. — Diz ele em voz baixa.
As três meninas caminham em direção ao vestiário, fora do alcance da
voz, e Lo, Ryke e eu ficamos para trás para guardar o equipamento.
[9]
CONNOR COBALT
Quando as garotas saem da área principal pela parede de pedra, eu
estudo a expressão desconfortável de Ryke e minha sobrancelha arqueia.
Ele me dá um olhar lateral. — Não olhe para mim assim.
— Vocês trocam mensagens picantes? — Pergunto. Rose estava
brincando antes, mas poderia ser uma teoria válida.
— Ela é a porra da minha namorada. — Ele joga o sexto arnês em uma
pilha e me entrega uma das longas cordas para rolar.
Eu só não posso imaginar suas mensagens sexuais mais do que ele
provavelmente não pode imaginar minhas conversas por mensagem com
a Rose.
Lo se inclina contra a parede ao nosso lado, sem fazer nenhum esforço
para ajudar. — As pessoas podem hackear essa merda, você sabe.
— Não é como se eu tivesse enviado nude completa e com o meu rosto.
Eu me envolvo, — Essa declaração implica que você já enviou nude
antes.
Ryke passa as mãos pelos cabelos. — Ninguém te pediu para se inserir
nessa porra de conversa, Cobalt.
Eu não posso nem me ofender com a fraca resposta. Primeiramente, eu
tecnicamente comecei a conversa perguntando se eles têm conversas
sexuais pelo celular. E em segundo lugar, seu relacionamento com Lo
nunca me faz sentir inferior ou com ciúmes. Eu nunca ponho
relacionamentos significativos um contra o outro do jeito que Ryke faz.
Eu peso o lucro e os benefícios.
— Aqueles de nós com QI igual a 0,01 por cento da população têm um
convite para todas as conversas, — digo a ele. — Eu sei que você não está
a par disso, então não fique chateado. Existem gênios. Existem pessoas
racionais. Existem idiotas. E depois tem você.
Ryke solta uma gargalhada. — Eu gostaria de saber como você não
apanhou pra caralho na escola preparatória. — Antes de responder, ele
acrescenta, — E estou falando sério dessa vez. Se você dissesse isso na
minha escola os garotos iriam destruir a sua cara. — Uma preocupação
equivocada começa a lavar suas feições. Pode ser a primeira vez que ele
questiona essa parte do meu passado.
Eu começo a enrolar a corda ao redor do meu braço para evitar
embaraçar. Lo coça o pescoço, se afastando da parede de pedra e se
aproximando do lado do irmão. Eles agora me encaram.
Isso é novo.
— Ryke e eu estávamos conversando no outro dia… — Lo procura as
palavras certas, mas tem que se voltar para seu irmão mais velho para
ele terminar. Isso é raro também.
Eu franzo a testa.
— Você mal se machucou no tumulto em Paris, — diz Ryke. — Por quê?
Lo acrescenta, — Eu vi você se esquivando de socos como se fossem
nada.
Ao contrário de Ryke, não tenho nenhum problema em explicar as
partes mais profundas da minha história. Ele fica com paredes de tijolos
quanto mais alguém cava seu passado, mas eu só me fecho se isso custa
minha reputação ou se alguém está procurando uma resposta emocional
de mim. Fatos são fáceis. Simples.
Eu amarro a corda e a jogo em uma cesta com as outras. — Estou muito
lisonjeado com a preocupação de vocês por mim, mas nunca fui
intimidado. Eu era... — eu não posso conter meu sorriso, — …muito
apreciado pela maioria em Faust e odiado por quase ninguém. Eu
precisava de algumas pessoas, e então eu era meticulosamente legal com
elas. Eu nunca falaria com certos caras do jeito que falo com vocês dois.
— Obrigado por isso, — Ryke resmunga, mas seus ombros estão mais
relaxados. Ele estava preocupado que meu passado fosse tão torturado
quanto o de seu irmãozinho. Não foi. Lo tinha mais contra ele do que eu
jamais tive. Ele acreditava que não tinha valor porque seu pai lhe dizia
isso todos os dias e ele precisou encontrar sua autoconfiança que fora
arrancada dele.
Eu nunca perdi a minha.
Eu olho entre eles: Ryke com o cabelo despenteado e uma careta
meditativa; Lo com seu queixo afiado e olhos âmbar. Eu sou um
deslocado quando fico ao redor deles - polido, cabelos penteados de
verdade - mas a ironia é que os interiores deles são provavelmente mais
quentes que os meus.
— Quanto as brigas, — explico, — eu pratiquei esgrima, taekwondo e
jiu-jítsu como atividades recreativas enquanto estava na Faust.
— Deixe-me adivinhar, — brinca Lo, — o clube de xadrez estava cheio.
— Não cheio, — eu digo. — Muito fácil.
O telefone de Lo vibra e ele olha para a tela. — Eu tenho que atender.
— Ele caminha até o balcão da recepcionista vazio.
Ryke fica do meu lado. Lembro que ele teve dificuldade em encontrar
um presente de Natal para Daisy no shopping. Ele alegou que nunca teve
que comprar tantos presentes para uma garota e está se tornando cada
vez mais difícil, especialmente porque ela já tem tudo o que ela quer.
— Daisy gosta de seda? — Eu pergunto.
A mandíbula de Ryke endurece, as sobrancelhas franzem em irritação e
aviso. Você acharia que eu perguntei sobre a vida sexual dela. — Para
você dar a ela. — Eu esclareço. — Lingerie.
Seu olhar sombrio basicamente diz: nunca mais repita isso.
— Você é um deleite.
— É? Eu não falo sobre os fetiches de sua esposa.
Eu inclino minha cabeça novamente. — Daisy tem fetiche com seda? —
Eu mal posso manter a minha compostura, meus lábios subindo.
— Vai se foder. — Ryke diz. — E vocês não deveriam estar me
celebrando hoje?
— Deixei minha animação na minha limusine. — Digo a ele. — Talvez
você possa ir buscá-la para mim.
— Que tal sem elogios sarcásticos ou insultos? — Ryke agacha para
pegar os seis arneses. — Ou isso é pedir demais?
— Está pedindo muito. — Digo a ele honestamente.
Ryke termina de organizar o equipamento, e nós dois observamos Lo,
que está ao lado da mesa da recepcionista. Ele gesticula
descontroladamente com as mãos enquanto fala ao telefone.
— Ele está bem, certo? — Ryke pergunta de repente.
A Cobalt Inc. fica a cinco minutos de carro da Hale Co. e eu o vejo mais
durante uma semana de trabalho do que Ryke. Eu saberia se ele está
conseguindo lidar com o estresse. — Eu acho que ele está bem. Melhor
do que eu previa. — Fico feliz que eu estava errado. Eu pensei que ele
não seria capaz de lidar com a primeira semana.
Lo não é a mesma pessoa que conheci na faculdade. Ele é muito mais
forte que aquele cara.
Ryke se vira de costas para Lo e para a minha direção, seriedade em
seu comportamento estrito. — Se algo acontecer comigo… — Ele limpa a
garganta. — Você vai cuidar deles?
Ele quer dizer Lo e Daisy. Ele está esperando que eu diga sim. —
Doadores vivos quase nunca morrem durante uma cirurgia de
transplante. — Ele não deveria se preocupar com isso.
— Connor, — ele diz, — eu não quero seus malditos fatos. Eu só quero
que você diga que você vai… — Ele balança a cabeça, passando as mãos
pelo cabelo grosso como se fosse um pedido frustrante - pelo menos,
pedindo isso para mim. — Foda-se isso. — Ele se endireita, seu olhar
flutuando para a janela da academia, o estacionamento vazio, exceto pelo
carro da Rose.
Por alguma razão, continuo imaginando um bando de adolescentes
com cartazes que dizem Casa Comigo, Ryke Meadows! Ele é popular entre
as garotas mais novas já que Daisy tem apenas dezenove anos. Mas
apenas Walter Aimes, o fotógrafo da Celebrity Crush, deve saber onde
estamos agora. Caso contrário, Rose tingiu o cabelo dela por nada.
De repente eu digo, — Eu vou fazer uma promessa para você. E eu
sempre cumpro minhas promessas.
Ryke se vira para mim novamente. — É?
Eu concordo. — Você morre escalando e eu vou cuidar deles. Nós dois
sabemos que você não vai morrer durante a cirurgia e você não vai
morrer de outra maneira a não ser por suas próprias atividades. —
Quanto mais ele escalar sozinho, menor será sua expectativa de vida. Sua
longevidade está em suas mãos e Ryke acreditar que está na de qualquer
outra pessoa é simplesmente besteira.
Se ele tem tanto medo de deixar as pessoas que ama, talvez devesse
começar a repensar seus hobbies.
— Você é uma dor na minha bunda. — Ele diz levemente, indo em
direção ao vestiário onde as meninas estão.
Eu sigo ao lado dele. — Impossível, — digo, — Nunca estive perto dela.
Ele mostra o dedo do meio para mim, a resposta habitual. Nossa
amizade pode ser estranha, mas pelo menos eu posso chamar nossa
relação de amizade.
[ 10 ]
ROSE COBALT
Um toque distante enche minha mente sonolenta, e o barulho constante e
pulsante cresce quando começo a acordar de um sono profundo. Eu olho
para o quarto escuro, o brilho azul do relógio piscando 3:42 da manhã na
minha mesa de cabeceira. Meu telefone simultaneamente vibra e toca
contra a madeira.
Eu procuro sonolenta pelo celular, virando de lado. O braço de Connor
escorrega da minha cintura. Quem diabos está me ligando tão cedo? Eu
quero assassiná-los, mas estou cansada demais para pensar em maneiras
inteligentes de decretar minha vingança.
— Rose? — Connor sussurra, despertando também. Ele apoia o
cotovelo no travesseiro e passa a mão pelo cabelo despenteado.
Eu desbloqueio a tela do meu celular e atendo antes de distinguir as
palavras na tela. — Alô? — Eu digo baixinho, bocejando no meu braço. Eu
puxo o lençol para perto do meu peito, meus mamilos quase espiando da
minha camisola de seda preta. Não é como se a pessoa na linha
conseguisse ver, mas estou muito delirante para fazer um balanço disso.
— Rose, o que você fez?
Oh Deus. Alguém me mata. — Mãe, — eu digo friamente, pressionando
dois dedos na minha testa e fechando os olhos com força. Eu os abro
depois de respirar fundo.
Connor relaxa contra a cabeceira da cama e recolhe seu telefone da
outra mesa.
— Você tingiu seu cabelo, — ela fala, irada com essa notícia. — Você
tingiu seu cabelo de laranja sem me dizer. Você nem consultou os
assessores antes de sair em público. Você fez isso sozinha?
— Onde você está lendo isso? — Eu atordoadamente levanto meu
corpo para ficar ao lado de Connor e olho por cima do ombro dele. Ele
percorre o site da Celebrity Crush.
— Online, — ela praticamente cospe. — Você está me ouvindo?
Eu mordo minha língua e lentamente digo, — Eu te ouvi, mãe.
Connor clica em um artigo, postado há cinco minutos atrás com o
título: Nova Cor de Cabelo da Rose Calloway! [Fotos exclusivas]. Meu peito
começa a se soltar. Cinco fotos claras me mostram saindo do Filadélfia
Rochas! com minhas irmãs, Connor, Ryke e Lo. Walter Aimes deu um
zoom no meu cabelo, estilizado em um rabo de cavalo alto. Nada de
especial, exceto que parece que uma raposa morreu na minha cabeça.
— Eu não sei o que você quer que eu fale. — Digo a ela. — E o que você
ainda está fazendo acordada? — Eu me sinto velha, perguntando a minha
mãe isso. Connor me observa atentamente e eu sussurro para ele, — Eu
estou velha?
Seus lábios puxam para cima. — Não querida. Ainda somos jovens.
— Que bom. — Eu digo, colocando o telefone de volta ao meu ouvido.
Minha mãe está me respondendo em uma série de sílabas aquecidas que
eu não quero digerir às três da manhã. Vai me manter acordada a noite
toda com uma dor de estômago.
Eu pego o final da frase. — …Tori pode te atender amanhã. Eu já
mandei uma mensagem para ela e ela disse que pode ao meio-dia.
— Você mandou uma mensagem para sua cabeleireira no meio da
noite? — Deixe a mulher dormir.
— Somos amigas. — Ela diz, como se não fosse nada, um pouco fria. —
Você vai fazer isso com ela?
— Tudo bem, — eu concordo. — Meio-dia com a Tori, eu vou pular
meu almoço no trabalho. — Se Celebrity Crush não tivesse sido uma
vitória hoje à noite, eu poderia ter lutado com ela sobre isso.
Aceno para Connor voltar a dormir, mas ele pega minha mão no ar e
envolve seus dedos nos meus. Estou prestes a dizer tchau para minha
mãe quando ela acrescenta, — Sinto muito pela casa, Rose. Eu pretendia
ligar para você mais cedo. Seu pai e eu pensamos que eles aceitariam sua
oferta.
Minhas costas se endireitam na cabeceira da cama. — O quê? — Eu
imediatamente coloco o celular no viva-voz. — O corretor nunca me
ligou.
— Você tem certeza?
— Positivo.
— Isso é pouco profissional deles, — minha mãe começa a se irritar
novamente sem me dar mais detalhes. Eu estou golpeando o ar como se
estivesse atacando as pessoas que roubaram essa casa de mim. Eu tenho
tentado comprar a mansão na rua desde o início de novembro. Fica na
diagonal da nossa casa e tem a quantidade perfeita de quartos e
banheiros para uma das minhas irmãs ou para mim quando nossas
famílias crescerem.
Eu sei que todos nós não podemos morar juntos nesta casa para
sempre. Haverá um momento em que teremos que nos separar, e espero
que a separação não seja a quilômetros e quilômetros de distância.
No final da rua pareceu mais ideal.
— Onde você ouviu isso? — Connor de repente pergunta, suas
sobrancelhas franzidas em confusão. Colocamos a oferta juntos. Era
muito dinheiro e eu não achava que alguém iria comprar além de nós.
A voz da minha mãe fica alta e estranhamente alegre. — Connor, como
você está essa noite? Você aprovou a cor do cabelo da Rose?
Meu olhar em chamas poderia queimar buracos em um homem, e
mesmo assim Connor nem sequer pisca um olho. Ele está dormindo na
mesma cama que um vulcão que gostaria muito de queimar e escaldar
tudo ao meu redor, incluindo ele, e ele está bem com isso. O que há de
errado com meu marido?
Ele está à vontade quando diz, — Estou bem, Samantha. Eu também
não busco a aprovação da Rose para mudanças no meu corpo, então eu
não espero que ela busque a minha aprovação.
Boa resposta.
Minha mãe faz uma pausa. — Mas o cabelo dela está medonho.
— Mãe! — Eu grito.
— Se eu não posso te dizer a verdade, então quem pode? — Ela rebate.
Eu olho para Connor com os dentes cerrados, tira ela de perto de mim.
Ele está tentando não rir. Isso não é motivo de riso. Ele pergunta
casualmente de novo, — Quem te deu essa informação sobre a casa? O
corretor de imóveis entrou em contato com você?
— Olivia Barnes deu. Ela ouviu de Linda, que ouviu de Tammy que um
amigo rico estava voltando para a Filadélfia. Ela disse que Rose o
conhece.
Um amigo rico.
De volta a Filadélfia.
Eu o conheço.
Minha boca cai. — Sebastian.
Connor praticamente revira os olhos para a ideia. Isso é o que mais faz
sentido. Sebastian era meu melhor amigo na escola preparatória e o
único que foi para Princeton comigo. Nós tivemos uma queda no nosso
último ano quando ele tentou arruinar meu relacionamento com Connor
e ajudar Lily a trapacear nos exames.
Eu não falo com ele há três anos e meio.
— Vou ligar para a Sra. Ross de manhã e ver se é ele, — minha mãe diz.
— Ele foi recentemente contratado por Patrick Nubell para sua equipe de
Relações Públicas. — A Nubell Cookies está localizada na Filadélfia.
Eu tiro o edredom azul claro do meu corpo. — Espero que ele engula
em um biscoito Nubell e vomite em cima de si mesmo.
— Rose, — minha mãe diz com firmeza.
Eu me levanto da cama, pegando meu robe de seda de uma cadeira
cinza Queen Anne. — Eu não vou deixar ele sair dessa. Ele
provavelmente ouviu que eu queria aquela casa e então ele nos superou
no lance de propósito.
— Olivia disse que o advogado do homem já arquivou a papelada e
fechou o negócio. Não há nada que você possa fazer.
— Eu não me importo com o que Olivia Barnes disse a você. — Eu
coloco meus braços através dos buracos do robe. Eu me sinto desastrosa.
Como um tornado destruindo uma cidade, quebrando vidros de um lado
para o outro. — Eu não estou esperando você ligar para ele de manhã.
— Nós vamos falar com você amanhã, Samantha. — Connor
rapidamente desliga o celular enquanto eu amarro meu robe e marcho
para a porta. Ele corre à minha frente, vestido apenas com calças de
moletom azul marinho e bloqueia minha saída, esticando os braços. Ele
tem muitos centímetros acima de mim. Ele está imponente como se
pudesse impedir minha missão. Não. Ele está no meu caminho. Eu
preciso passar.
— Mova-se, — eu forço.
— Pense racionalmente.
— Não seja condescendente comigo. — Eu empurro seu peito.
Ele nem se move.
— Richard. — Eu digo por dentes cerrados.
— Rose, — ele responde. — Ele acabou de assinar os papéis. Ele ainda
não se mudou. Você vai bater na porta de uma casa vazia.
— Então me deixe bater na porta de uma casa vazia e então vou dirigir
até a casa de seus pais e bater naquela porta. Ele está aqui ou lá. Eu sei
isso.
— Como? — Connor questiona, seus profundos olhos azuis focados
apenas em mim. — Como você poderia saber disso, Rose?
— Porque eu sinto isso. — Eu ouço a minha voz e quão irracional soa,
mas meu intestino está me dizendo para correr para a rua. Agora mesmo.
Eu tenho que enfrentá-lo.
— Nós queríamos aquela casa, mas isso não é um fim. Existem outros
bairros…
Eu tento passar por baixo do braço dele. Ele me pega pela cintura, seus
lábios ao meu ouvido. — C'est le milieu de la nuit. — Está de madrugada.
— Perfeito. Eu terei a satisfação de acordar seu traseiro traidor. — Eu
tento escapar do seu aperto.
Ele agarra meus antebraços, prendendo minhas costas em seu peito. —
É inverno. Você está vestindo seda.
— Minha raiva está me aquecendo o suficiente, obrigada. — Eu saio de
seus braços, principalmente porque ele finalmente me deixa ir
reconhecendo que eu preciso disso, talvez. Eu tenho que ver ele.
Eu ando pelo corredor com um passo apressado. Connor me segue. Eu
não quero ouvir sobre outros bairros, a 30 quilômetros de distância. Eu
tinha um plano de longo prazo. Todos nós tínhamos um plano de longo
prazo. Nós pensamos nisso juntos, logo após o Halloween. E Sebastian
arruinou nosso futuro por maldade.
Nós lutamos para ficar nesse bairro fechado, para torná-lo seguro, e há
apenas dez casas aqui, só quatro nessa rua em particular. A chance de
outra entrar no mercado nos próximos cinco a dez anos é pequena.
Isso é o que aquele corretor de imóveis traíra nos disse.
— Há um lugar frio no inferno para os traidores.
Connor acompanha meu ritmo, passando pelas portas no corredor. Eu
espero que ele fale algo pelo "inferno" não existir em suas crenças, mas
em vez disso, ele diz, — Você vai se arrepender disso.
Espero que não. — Se você tentar me parar, eu vou enfiar um picador
de gelo entre seus olhos. — Plumas de culpa torce meu coração com esse
comentário, que não é diferente de outros que eu disse. Eu não tenho
ideia do porquê disso, mas eu não deixo minha mente descansar para
contemplar os cantos e recantos.
— Suas ameaças dramáticas não me assustam. — Ele diz, — Então
tente novamente.
Eu não tento de novo. Eu desço as escadas em uma tirada, o vapor
soprando para fora dos meus ouvidos. Eu continuo pensando sobre o
corretor de imóveis e Sebastian, seus rostos em um alvo vermelho
brilhante. Eu lancei dardo neles em rápida e violenta sucessão. Minha
mente é um lugar sombrio e assombrado. Esse nível de fúria quase me
assusta, meus braços tremendo. Eu acho que estou com mais medo do
que com raiva.
Com medo de perder tudo o que construímos juntos. Medo de planos
destruídos que preciso manter são.
Eu engulo uma pedra que estava alojada na minha garganta, calçando
os chinelos da Lily que estão na porta da frente, dois números pequenos
demais. Meus saltos pendurados na parte de trás. Eu digito o código de
segurança, falhando várias vezes para apertar os botões certos.
— Tem certeza que o destino não está dizendo para você voltar? —
Connor zomba, apoiando o ombro contra a porta e observando a minha
hostilidade com uma mistura de preocupação e arrogância.
O sistema de segurança emite um sinal sonoro e pisca em verde. — Viu.
— Eu aponto para a máquina.
— Eu vi que você precisou de sete tentativas para fazer algo que
normalmente precisa de uma.
Eu levanto a minha mão em seu rosto e depois abro a porta. O frio do
inverno rouba minha respiração por um segundo, mas vou em frente, a
casa à vista, mas a uma caminhada decente de cinco minutos. Terra fica
em frente à nossa casa, uma bela vista, e depois a diagonal é a mansão
mais próxima: de pedras cinza com detalhes brancos ao redor das
janelas, sebes circulares emoldurando a longa entrada.
É linda.
— Você está tremendo. — diz Connor, preocupação em sua voz
normalmente calma.
— De fúria.
Uma rajada de vento sopra, um frio maior serpenteando pelo meu
pescoço. Eu tremo, me perguntando se o universo está contra mim ou ao
meu lado essa noite. Eu não sei mais.
Connor estende a mão e aperta a minha. Tenho medo de que ele me
puxe para a nossa casa, mas em vez disso, ele enrola minha mão entre as
suas, esfregando-as para frente e para trás. O atrito aquece minha pele.
A lua cheia lança mais luz do que as lâmpadas da rua e, em questão de
minutos, subimos a entrada e os degraus de pedra.
Connor examina nossos arredores. — Eu não vejo um carro.
— Pode estar na garagem. — Eu debato sobre bater meu punho contra
a porta preta, usar a aldrava de águia de prata ou tocar a campainha. Eu
decido sobre a opção mais alta e empurro a campainha repetidamente, o
sino audível através da madeira grossa.
Segundos passam, meu coração martelando, e então uma luz sai pela
janela. — Ele está em casa. — Eu anuncio.
Connor imediatamente me puxa para trás, e antes que eu possa refutar,
passos pesados soam na casa e a porta se abre.
O sangue corre da minha cabeça, a cor esvaindo do meu rosto. Pavor e
outras emoções misturadas em pânico e enfurecidas passam por mim a
uma velocidade vertiginosa.
Esse não é o Sebastian.
É alguém muito pior.
[ 11 ]
ROSE COBALT
— Eu ia convidar vocês amanhã para um pouco de vinho, mas vocês dois
estão muito ansiosos para me ver, não é? — Scott Van Wright descansa o
ombro nu contra o batente da porta, vestido apenas com calças de pijama
brancas Ralph Lauren. Só de olhar para suas feições - um sorriso de
babaca, cabelo loiro desbotado de lado e uma barba rala ao longo de sua
mandíbula e lábio superior - perfura buracos cavernosos no meu
estômago e depois os enche de ácido.
Minha mente come suas palavras e as cospe. Eu avanço para frente,
pronta para arrancar seu coração e pisar no órgão até que a justiça
finalmente seja feita.
No segundo que passo por Connor, ele me segura pela cintura, me
puxando em seu peito e me segurando com força, para que eu não corra
para a casa de Scott e liberte minha raiva reprimida.
— É melhor encontrar uma coleira para ela. — Diz Scott, nem mesmo
movendo um músculo. — Na verdade, você já está na metade do
caminho. — Seus olhos voam para o meu pescoço nu, sutilmente
insinuando o colar de diamantes que eu às vezes uso na cama, apenas
quando Connor e eu fazemos sexo. É um grande lembrete de que ele me
enganou durante o reality show. O produtor executivo de Princesas da
Filadélfia, Scott Van Wright, possui inúmeros vídeos meu e do Connor
fazendo sexo e os vende de vez em quando a distribuidores de
pornografia para obter lucro.
Não havia como ganhar esse processo, então Connor usou a exposição
e publicidade para o benefício de sua empresa, e eu tenho tentado
enganar a mim mesma acreditando que ganhamos - que minha vida
privada, para todo mundo ver, não tem efeito sobre meu estado mental.
Eu espantei o horror do que aconteceu por dois anos e meio, desde a
última vez que vi Scott, e encontrá-lo cara a cara hoje à noite aumenta
cada pedacinho da dor.
— Eu espero que você morra. — Eu digo entre os dentes cerrados,
meus olhos queimando e se enchendo de ódio malévolo. Eu não tenho
nenhuma morte dramática planejada para ele. Eu não me importo como;
eu só quero que ele desapareça da minha vida, da minha frente, do meu
mundo - para longe das minhas irmãs, minha filha e minha casa.
Scott faz uma careta zombeteiro. — E eu pensei que nós éramos velhos
amigos, Rose.
Connor passa um braço em volta da minha clavícula, me pressionando
mais perto de seu corpo, menos como uma gaiola e mais como se eu fosse
uma parte dele, como se compartilhássemos a mesma ira, mesmo que a
minha esteja mais aparente.
Em uma voz terrivelmente calma, Connor diz, — Esta é a parte em que
digo a você que fale como um ser humano inteligível, diminua as
besteiras. E essa é a parte em que você explica que não consegue -
porque você é incapaz de falar no mesmo nível compreensível que nós,
porque gosta de teatralidade. Porque você preferiria mijar em círculos e
tamborilar na porra do seu peito do que chegar no lugar mais alto onde
estamos, elevando-se acima de você.
O sorriso idiota de Scott começa a desaparecer.
Connor diz, — Agora que cortei cinco minutos de conversas inúteis,
diga-me por que diabos você está aqui.
— Você ainda é o mesmo. — Scott cruza os braços, mas fica encostado
no batente da porta. Percebo as caixas de papelão empilhadas atrás dele
perto de uma grande escadaria e corrimão preto.
— Exceto que agora sou vinte e seis anos mais inteligente do que você.
— Connor não está se divertindo nem um pouco. Eu posso sentir seus
dedos pressionando mais forte ao longo do meu ombro enquanto ele me
segura por perto.
A conversa sobre idade me lembra que Scott tem 31 anos agora. Ele usa
uma expressão de desgosto, como se Connor tivesse colocado algo podre
em sua boca. Aposto que compartilho o mesmo olhar contorcido. Ficar na
presença de Scott revolta cada parte de mim. Não sei por mais quanto
tempo posso ficar aqui sem me lançar para frente e arranhar o rosto dele.
— Besteira de lado, — diz Scott, — eu não gosto de nenhum de vocês.
— Ele acena para Connor. — Você é o maior idiota que eu já conheci, e eu
tive o prazer de conhecer centenas de pessoas distintas. — Seus olhos
repugnantes pousam em mim. — E você é a vadia rica mais esnobe que
eu já tive que fingir estar apaixonado. — Antes que eu possa o insultar,
ele acrescenta, — Mas eu não estou aqui para brigar com vocês. Estou
aqui para trabalhar com você.
Meu nariz se inflama. — Eu não trabalharia com você nem se fosse a
chave para salvar minha vida. — Eu morreria. Eu sem dúvidas morreria
antes de colocar Scott em qualquer lugar na minha equipe.
Ele ignora minha declaração. — As coisas mudaram desde Princesas da
Filadélfia. — Ele hesita por um momento, escolhendo suas palavras com
cuidado. Seu olhar voa para os degraus de pedra. O frio do inverno me
envolve mais forte que os braços de Connor, os pelos no meu pescoço se
arrepiando.
Eu me pergunto se ele quer dizer os vídeos de sexo ou se ele está se
referindo à minha filha.
— Não o suficiente para precisarmos de você, — diz Connor. — Então
me explique por que você precisa de nós. — Estamos no banco do
motorista então. Eu coloco minha mão na do Connor, aquela que está no
meu ombro, o braço dele no meu colarinho.
— Não se engane, — ele diz. — Eu poderia vender outro vídeo e ganhar
um milhão e meio agora.
— Só isso? — As sobrancelhas do Connor se erguem. — Isso não é nem
uma fração do que essa mansão custa. E você não comprou um iate de
quarenta milhões de dólares?
Os lábios de Scott se esticam em um sorriso rígido. — Eu tenho gostos
caros.
Ele precisa de mais dinheiro, mais do que vender nossos vídeos de sexo
pode dar a ele, claramente.
— Felizmente eu não estou pagando por essa casa. GBA está.
Meu estômago se coça. A Global Broadcasting Association (Associação
Global de Radiodifusão) tem os direitos de qualquer coisa que já
filmamos na televisão da rede. Eles transmitiram Princesas da Filadélfia
em um invejável horário nobre com alta audiência, e desde que minha
irmã e eu engravidamos, eles repetidamente ligaram para Lily, Loren,
Connor e eu - para transmitir uma nova temporada.
Com nossos filhos.
— Nós podemos ganhar aqui. Vocês assinam com Princesas da
Filadélfia, trabalham com um novo produtor executivo e a GBA me dá
uma posição de destaque na rede. Eu nem tenho que ver vocês.
— Você quer que a gente alavanque sua carreira? — Eu digo com
desdém. GBA está se rebaixando para um nível tão baixo, cavando a
sujeira e atirando em nossos rostos, só por mais audiência. Eles
costumavam ser a rede número um com o público feminino, mas quando
nosso reality show saiu do ar, a ABC os venceu nos semestres
subsequentes.
— Não há nenhum benefício para nós. — Connor diz.
— Vou vender os direitos dos vídeos de sexo para você, — diz Scott.
Meu coração pula uma batida. — A GBA está me oferecendo algo de
longo prazo que eu preciso para sustentar meu estilo de vida. Os vídeos
não são lucrativos depois do número que tenho.
— E quantos você ainda tem? — Connor questiona, em um caminho
muito lógico, enquanto eu continuo a desenhar chifres de diabo na
cabeça do Scott e tremo violentamente.
Por mais que eu queira que os vídeos de sexo estejam de volta em
nosso poder, nunca as trocaria às custas da minha filha. Não vou expor
Jane a câmeras invasoras por um período indefinido de tempo.
— Isso eu que tenho que saber. — Scott diz, se afastando do batente da
porta. — Eu vou estar no caminho de vocês até que concordem com isso.
Eu quero a sua filha na frente das câmeras e qualquer outra coisinha que
você colocar pra fora.
Eu vou para frente e Connor me segura com mais força. Eu começo a
gritar, minha garganta ardendo. Eu grito profanidades e xingamentos,
minha voz ensanguentada com ameaças sérias. — Você nunca vai tê-la!
Connor me puxa para o terceiro degrau para irmos embora, mas eu
seguro o corrimão de ferro, não estou pronta. — Seu filho da puta, — eu
grito. — Você pode tirar a porra da minha vida, mas você não pode tirar
as deles!
Scott assiste sem vacilar, meu coração sendo derramado nesses
degraus quando eu queria, tanto, esmagar o dele, bem aqui.
— Rose, — sussurra Connor na ponta do meu ouvido.
— Não. — Eu engasgo. Ele tem que saber que não aceitaremos mais
isso - que vamos destruí-lo de alguma forma, antes que ele destrua tudo
o que construímos. Ele é um caos e eu quero que ele desapareça.
— Connor! — Loren grita. Ele corre pela entrada circular, as pernas
batendo no chão rapidamente, Ryke ao seu lado, ambos apenas em calças
de moletom, sem perder tempo com roupas. Atrás deles, ao longe, o
segundo andar da nossa casa brilha, as janelas iluminadas. Mesmo com
essas emoções voláteis que assaltam minha cabeça, deduzo que os
irmãos nos ouviram sair e nos viram na casa vizinha pela janela.
Então eles vieram atrás de nós quando meus gritos dividiram a noite.
Scott solta uma risada fraca. — Onde estão as outras duas: a prostituta
e a gostosa? — Ele estende os braços. — Podemos muito bem fazer disso
um reencontro.
— Vá se foder. — Ryke rosna antes que eu possa desencadear o inferno
sobre ele. Eu tento ir para frente, mas Connor me puxa para baixo para
onde os dois outros caras estão.
Scott ri novamente e revira os olhos para o céu. — Eu não estou
ansioso para lidar com você novamente, confie em mim.
De repente, sinto um longo casaco de lã nos meus ombros, Ryke o
colocando lá. Ele trouxe meu casaco para mim? Eu coloco meus braços
nos buracos como se ele tivesse me dado uma armadura de batalha. —
Vamos, — eu digo, acaloradamente, dado um passo para frente e não
para trás.
Connor me puxa para seu peito novamente. — Não essa noite, Rose.
Lágrimas quentes e irritadas nublam minha visão. — Não podemos
deixá-lo ficar aqui, Connor.
— Espera, esse fodido de merda está morando aqui? — Lo aponta um
dedo ameaçador para Scott.
Ele dá um sorriso nojento. — Olá, vizinho.
Ryke respira pesadamente e balança a cabeça para Connor. — Eu disse
que ajudaria com o dinheiro se você precisasse oferecer mais para o
vendedor.
— Nós nem sabíamos que eles fecharam o negócio. — Diz Connor. —
GBA comprou primeiro.
— GBA? — Lo fica estranhamente rígido, encarando o cimento por um
longo momento.
Eu envolvo minhas mãos ao redor do corrimão, ainda queimando
buracos ao longo do bronzeado californiano de Scott.
— É simples, — Scott diz aos dois irmãos. — A GBA quer uma segunda
temporada de Princesas da Filadélfia, dessa vez girando em torno de seus
filhos. Eles precisam de vocês e vocês passaram anos evitando os
telefonemas deles. Agora eles estão preparados para tomarem medidas
maiores. Eu sou apenas uma delas.
Lentamente, os olhos escuros e maliciosos de Lo se afastam da entrada
e se fixam mortalmente em Scott. — Entendi. A GBA decidiu quebrar
todos os contratos que eles têm com a Hale Co. porque eles não
conseguiram o que querem. É isso, não é? Vocês estão planejando tornar
nossas vidas mais difíceis até eu colocar meu filho sob um holofote
maior.
Scott não nega suas táticas baixas. — GBA vai trabalhar com a Hale Co.
novamente quando as filmagens para o show começarem.
— Seu filho da puta! — Ryke invade as escadas e Connor me libera
para empurrá-lo de volta. Ryke aponta hostilmente por cima do ombro
de Connor. — Fique fora da vida do meu irmão, seu saco de merda!
Eu aprovo os métodos do Ryke, mesmo que Connor me dê um olhar de
comando para recuar, para voltar pra casa com ele. Nesse momento,
escolho me alinhar com as pessoas antagônicas e voláteis que
compartilham o mesmo calor no meu sangue.
Scott inclina a cabeça para Ryke. — Você preferiria que eu tivesse
brincado com a sua vida? A rede adoraria colocar você de volta no ar. O
estuprador de vulnerável. — Mentiras. Mentiras grosseiras e repulsivas.
Ryke avança e Connor o empurra com força dos degraus de pedra pela
enésima vez. Eu começo a remover meus chinelos.
Lo avança para a frente, ao meu lado agora. Connor tem dificuldade em
conter nós três. Ele decide barrar Ryke das quatro escadas e deixar
Loren e eu ir.
Minha respiração pesada e irregular condensa no ar frio e eu jogo cada
chinelo na cabeça do Scott. Ele bloqueia um com o antebraço, mas a
segunda sola de borracha se conecta com a bochecha dele. Ele quase ri
quando descansa seus olhos podres no meu corpo.
— Você olha para mim, — Lo grita, apertando os dentes, a mandíbula
afiada como uma lâmina.
Scott tira os olhos do meu rosto e vira para Lo. — Eu tenho uma garrafa
de Jameson...
— É a sua perda, vir aqui, — diz Lo. — No final disso, nós quatro vamos
enterrar você tão rapidamente, você vai implorar por uma maldita pá. —
Ele sobe mais um degrau, seu rosto alinhado com o de Scott. — E
ninguém vai desenterrar um pedaço de merda sem valor como você.
Loren Hale acabou de declarar guerra.
Ele não espera Scott recuar. Ele desce e coloca a mão no meu ombro,
me forçando a me virar com ele.
— Espera, — eu começo.
— Não. — Connor e Lo dizem em uníssono.
Eu estreito meus olhos, minhas pernas tremendo novamente. Eu
poderia fechar minhas mãos em punhos. — Eu não terminei, Richard.
— Todos vocês disseram mais do que o suficiente essa noite. — Os
músculos do maxilar de Connor se contraem, os ombros rígidos. Ele está
nervoso, não comigo, mas ele está tendo problemas para aprisionar sua
raiva. Percebo que ele está engarrafando tudo para conter nós três.
Ryke anda de costas lentamente. Como eu, ele luta para permitir que
Scott fique lá tão presunçosamente.
— Diga a Daisy que eu mandei um oi. — Scott cutuca outro lugar
sensível para Ryke e para mim. Eu avanço, descalça pelo chão sujo com
olhos furiosos. Connor me segura pela cintura. Lo tem a mão no ombro
de Ryke.
Scott diz, — Aposto que ela teria me fodido se eu tivesse dado em cima
dela mais um pouco.
Ryke está quieto, a expressão mais sombria varrendo seu rosto.
— Não? Você não acha? — Scott sorri de novo. — Você pode não saber
disso, mas Trent, um grande amigo meu de Los Angeles, veio a Nova York
para fotografar algumas modelos. Acredito que Daisy tinha acabado de
fazer dezoito anos. Trent a fodeu. Bem na bunda.
Vou matá-lo. Juro por Deus, ele vai morrer pelas minhas mãos furiosas.
— Vai se foder, seu fodido do caralho! — Ryke grita, batendo contra a
fortaleza de Connor.
Scott finalmente fecha a porta, seu sorriso de satisfação, a última coisa
que vejo. A injustiça de tudo isso se penetra no meu cérebro de frente
para trás.
— Ele merece morrer, — eu digo, lágrimas quentes se formando
novamente. — Ele merece ir para a prisão e apodrecer.
Lo olha entre as duas casas. — Então vamos tentar colocá-lo lá.
Connor libera Ryke novamente, que acaba chutando um refletor em
nosso caminho de volta.
— Por mais que eu despreze Scott, — diz Connor, — assassinato não
vai para o meu currículo.
— Eu quis dizer prisão. — Diz Lo.
— Eu quis dizer assassinato. — Eu interrompo. Eu duvido que eu
poderia cometer um crime de qualquer tipo, mas eu nunca fui de pensar
pequeno. Minha mente vai para extremos enquanto Connor permanece
nas limitações da realidade. É por isso que ele não está gritando até ficar
sem voz. Ele acha isso sem sentido e prejudicial para si mesmo. Ele sabia
que gritar com Scott não faria bem, então ele manteve a boca fechada.
Os três homens extremamente altos olham para mim e agora sinto as
lágrimas secas na minha bochecha, geladas quando o vento me atinge. Eu
não estava chorando porque estava triste. Eu estava chorando porque
me senti violada de novo, e dessa vez, Jane foi jogada na mistura.
— Imagine um mundo, — digo a eles, — Onde nossos filhos crescem
sem privacidade, cercados por pessoas como ele.
— Esse não será o nosso mundo. — Diz Lo inflexivelmente.
Eu espero que Connor concorde. Quando ele não faz isso, eu paro no
meio da rua, um poste de luz nos banhando em luz laranja. Eu encaro
meu marido, a meio caminho da nossa casa. — Você não vai dizer nada?
— Lágrimas ardem. Escaneio suas feições masculinas e vejo o olhar
direto e prático que repudia quaisquer conceitos fantásticos e ilógicos
que todos construímos para nos apaziguar.
Eu gostaria que ele mentisse essa noite. Eu gostaria que ele me fizesse
sentir que temos uma chance ao invés de me servir a verdade amarga e
honesta em um prato de ouro.
— Eu não faço promessas que não posso cumprir. — Ele me lembra. —
Nossos filhos conhecerão seres humanos terríveis, assim como todo
mundo conhece. Eu não posso mudar o mundo para ninguém, nem para
mim mesmo.
Sua confissão é brutal e nos atinge com força. Todos nós recuamos,
Ryke coça a mandíbula não barbeada. Eu inalo bruscamente e Lo olha
para o céu sem estrelas.
— Então, devemos assimilar, — eu respondo, — e se misturar e fingir
que está tudo bem. — Meu queixo treme de desgosto. — Eu odeio o seu
mundo.
— É a porra do mundo em que vivemos. — Ele diz friamente. — Não é
meu mundo. É o de todos.
Ryke começa a sacudir a cabeça. — Eu não posso ter um filho. — Ele
está percebendo.
A respiração de Lo faz fumaça no ar, as bochechas vermelhas do frio. —
Não diga essa merda. Você quer uma família.
Ryke solta uma risada baixa. — Eu nunca vou trazer uma criança para
isso, Lo. Eu não posso... — Ele esfrega a boca e xinga sob sua respiração
novamente.
É a mesma conclusão que tirei. Eu não posso ter mais filhos se não
pudermos mantê-los seguros.
Os profundos olhos azuis de Connor passam por cada um de nós, todos
espalhados em um círculo irregular. — Não podemos proteger nossos
filhos de todo mal do mundo, mas o que podemos fazer é protegê-los de
um grupo específico de pessoas.
— A mídia. — Responde Lo.
Connor acena com a cabeça. Seu olhar pousa em mim, silenciosamente
me lembrando do nosso plano para isso. Nosso teste de seis meses.
Eu não culpo ninguém pelas minhas escolhas, mas eu ainda acredito
que nossos filhos merecem ser tratados como seres humanos e não como
macacos em uma gaiola de vidro. Eles não devem perder seus direitos
humanos básicos quando nem conseguem falar por si mesmos.
Os paparazzi podem nos seguir, mas eles não precisam segui-los. Eles
não precisam.
Connor quebra o silêncio. — Deixe-me lembrar a vocês três como isso
funciona. — Ele aponta para Ryke. — Você vai para a cadeia, Scott vence.
— Ele olha para mim. — Você grita com ele, ele sorri, ele ganha. — Eu
engulo esse gosto amargo quando ele se vira para Lo. — Você aceita uma
segunda temporada, ele vence.
— Não fazemos nada, igual a última vez, — diz Lo, — e ele vence.
— Deixe-me resolver isso, — diz Connor. — Eu vou cuidar do Scott,
mas por enquanto, não dê a ele o que ele quer. Ele gosta de incitar todos
vocês, e essa noite foi praticamente um sonho para ele, então por favor,
apenas se acalmem. — Connor esfrega os lábios e deixa cair a mão. —
Vocês sabem do que a Lily chama vocês três, certo?
Nós olhamos um para o outro, confusos. Eu saberia se ela tivesse um
apelido para nós. Ela é minha irmã.
— Ela resmunga baixinho, — diz Connor do nosso silêncio. — O trio do
temperamento quente.
Meus lábios se contraem. Ryke realmente ri, o que faz Lo rir. Minha
irmãzinha pode ser esperta sem perceber.
E então Connor faz essa declaração, — Scott não está ganhando dessa
vez. Eu prometo.
Eu inalo fortemente, uma estranha mistura de medo e confiança.
Eu prometo.
Tradução: Apenas um de nós ficará de pé.
[ 12 ]
CONNOR COBALT
— Você é a razão pela qual Rose voltou a ser morena? — Um paparazzi
me pergunta quando me aproximo de um arranha-céu em Manhattan,
um café na minha mão esquerda. Com a outra, eu seguro Jane debaixo de
seu bumbum, seu braço no meu ombro e olhos curiosos procurando os
homens que nos cercam.
Tomo nota de três paparazzi e um cinegrafista, eles só perguntaram
sobre a cor do cabelo da Rose na semana passada, nada sobre Jane.
Eu tomo meu café, indo direto para a porta giratória.
Ele reformula a pergunta. — Você gostou da nova cor do cabelo da
Rose ou prefere ela como morena?
— Ela poderia ser careca e eu ainda estaria atraído por ela. — Flashes
piscam logo antes de eu passar pela porta giratória e Jane murmura uma
coleção de sons, seus grandes olhos azuis se arregalando para mim.
Antes de Rose sair para o trabalho, ela deixou a roupa da Jane: um
vestido xadrez cinza e azul, meias Dior cor de marfim e uma faixa de
cabelo cinza, o cabelo castanho curto apenas roçando as orelhas.
Nós transmitimos nossas sensibilidades sofisticadas sobre ela já que
ela é muito jovem para escolher por si mesma, mas quando ela for mais
velha, ela escolherá o que ela mais gostar.
Eu olho em seus olhos, muitas vezes percebendo a luz por trás deles
que nem Rose nem eu possuímos. O riso e a inocência que eu tenho
dificuldade em acreditar que uma vez existiu em mim. Não me lembro de
alguma vez ser alegre quando criança. Eu era calculado. Eu era direto e
honesto.
Eu não era luz. Eu era a neblina cinzenta depois de uma tragada de
charuto.
Antes de entrar no elevador, jogo meu café no lixo e aperto o trigésimo
andar. O silêncio nos cobre por um momento, e Jane sorri em uma risada,
batendo palmas. As crianças riem sem motivo algum. Elas riem porque
estão vivos e estão em nossos braços.
É sem sentido, mas esse momento sem sentido bate mais forte no meu
coração do que um fato sólido.
— Estamos indo para cima, Jane. — Digo a ela, apontando para o teto.
Ela ri e olha para cima, a faixa deslizando para trás. Eu ajusto e ela dá
um tapinha na cabeça. Ela diz uma palavra muito próxima a pa-pa e
aponta para cima também. Quando ela vira a cabeça para mim, eu cubro
meus olhos com a mão livre.
— Cadê a Jane?
Ela suspira, e eu removo minha mão, seu rosto se iluminando com o
sorriso mais puro e completo. Ela bate palmas com o meu
reaparecimento. Eu escondo meus olhos mais uma vez, e seu suspiro faz
meus lábios se levantarem. — Cadê a Jane?
Eu solto minha mão. — Aí está ela.
Jane ri e toca suas bochechas, descobrindo seu próprio sorriso
avassalador que acompanha a alegria. Eu beijo sua testa e ela tenta falar,
mas acaba balbuciando certas sílabas e sons de novo.
— Um dia, Jane, — eu sussurro, — você vai me superar de todas as
maneiras. Eu espero que você supere. — Eu penso em mais filhos, uma
névoa de um futuro. — Espero que todos vocês superem.
O elevador apita.
— Agora, vamos ver Frederick. Ele tem algumas informações que
preciso sobre sua tia Daisy. Como isso soa?
Jane aponta para o teto e tenta formar a palavra que eu disse uma vez.
— Para cima. — Repito, sempre na minha voz habitual. — Estamos
indo para frente agora, Jane. — Eu aponto para o corredor. — Sempre em
frente.
Seus olhos piscam confusos.
— Com o tempo, — eu sorrio. — Você vai entender com o tempo.

Frederick se senta na poltrona de couro ao lado do sofá, uma caneca de


café na mão. Ele tinge as mechas grisalhas de seus cabelos pelas
têmporas, apenas em seus quarenta e poucos anos, com a mandíbula
quadrada e o nariz proporcional ao restante de suas feições, um nascido
e criado na Nova Inglaterra. Ele pode ter navegado o Mayflower com
Christopher Jones e pulado em uma máquina do tempo para chegar ao
dia atual, se você acredita no ridículo.
As sombras roxas sob os olhos de Frederick sugerem falta de sono e os
cadernos e pastas de arquivo em sua mesa sugerem a fonte.
— Pare de me analisar, Connor. Eu não sou o paciente. Eu sou seu
terapeuta. — Ele bebe seu café.
Na almofada de couro ao meu lado, Jane brinca com um livro infantil,
texturas e botões de áudio mantendo-a entretida.
— Então talvez você não devesse se apresentar como se tivesse
dormido duas horas, Rick, — aconselho. Eu distingo os títulos dos livros
daqui, a maioria sobre TEPT e depressão. — O caso dela é tão difícil
assim para você?
— É complicado... — Ele percebe sobre o que estamos falando, parando
brevemente. — Não estamos discutindo sobre Daisy.
Ele ainda não cedeu, mas sua exaustão me dá uma vantagem nessa
tarde.
— O que há de novo com você? — Ele pergunta, descansando o
tornozelo em sua coxa e se inclina para trás.
Eu costumo falar tudo para Frederick. Ele é eticamente obrigado a
manter meus segredos, mas dizer o nome de Scott em voz alta cria
permanência difícil de consumir sem uma careta. Ele está do outro lado
da rua, da minha esposa e filha e quatro outras pessoas que pertencem
ao epicentro do meu mundo.
Frederick preenche o breve silêncio. — Jonathan Hale me ligou
novamente hoje. Ele ainda quer uma lista de quem você foi íntimo, e ele
quer minhas anotações e opinião profissional sobre o que você é.
Inclino minha cabeça com um fragmento de irritação. — O que eu sou?
— Meus lábios se levantam. — A maior mente que o universo nunca vai
entender, mais inteligente do que 99,9% da população mundial,
descaradamente arrogante e grosseiramente cansado das medidas
punitivas de Jonathan para me prejudicar. — Eu aceno para Frederick. —
Isso é o que eu sou.
— Você pode não achar que sua sexualidade é importante, — Frederick
me diz, juntando esse fato de tudo o que eu disse, — mas ele acha, as
pessoas acham, e é algo que você tem que aceitar.
— Eu aceito, — eu digo calmamente, puxando o vestido de Jane que
está em sua cintura para baixo.
— Mentira, — ele diz. — Você não fala como acabou de fazer sem se
sentir apaixonado por alguma coisa, Connor.
— O que devo fazer então, na sua opinião professional? Eu deveria ir
até o Jonathan e ter uma conversa cara-a-cara, abrir meu coração para
um homem que eu acho manipulador por direito próprio? Você acha que
ele vai me reverenciar, Rick? Você acha que ele vai me entender?
— Você já se decidiu. — Diz ele, ouvindo o tom da minha voz. — E eu
não sugeriria ir ao Jonathan pra nada. Do que você me disse, parece que
ele usou as informações contra você. Eu simplesmente não entendo
porque ele está tão empenhado em expor seus relacionamentos
passados.
Eu entendo. — Ele tem medo de que eu tenha controle emocional sobre
seu filho, algo que ele costumava ter. Ele só está ameaçado pela minha
amizade com Loren, e agora que seu filho está dirigindo sua companhia,
ele está preocupado que eu vou ter mais influência com a Hale Co. do que
ele. — E Jonathan quer mais evidências para me chantagear, então eu
deixo de ser uma força na vida de Loren.
Mesmo que eu seja uma força positiva.
Mas eu tenho mais cartas do que Jonathan, então, qualquer que seja a
chantagem que ele queira fazer, é um truque inútil. Jonathan Hale pode
ter dinheiro, mas ele está abaixo de mim, um invertebrado humano. Ele
nem controla mais a Hale Co., o que me torna mais e mais fora do seu
alcance.
Estou muito ligado às pessoas com quem ele se importa - Loren Hale e
Greg Calloway - para ele se mover contra mim. É suicídio. E Jonathan
Hale é todo sobre autopreservação.
Frederick toma outro gole de café. — Então, você ficou quieto quando
eu perguntei antes, então eu vou perguntar de novo. O que há de novo? E
tem que ser mais fácil de falar do que isso.
Eu enrolo as mangas da minha camisa social branca para cima, o calor
soprando através de uma ventilação acima da minha cabeça. Eu ainda
tento construir esse nome de cinco letras em voz alta.
Frederick se ajeita na poltrona, apoiando os antebraços nas coxas
enquanto segura a caneca. Ele observa Jane tentar virar uma página em
seu livro, mas a página grossa escorrega de suas mãos fracas. Ela vira a
cabeça e olha para mim em busca de ajuda. Eu me inclino para frente e
viro a página para ela. Ela murmura.
— De nada. — Eu digo com um sorriso crescente.
Ela solta uma risada aguda e retorna ao seu livro.
— Ela é avançada para a idade. — Frederick observa.
— Marginalmente. Ela certamente está um mês à frente, mas o filho de
Lo tenta acompanhá-la. Acho que ele pode andar primeiro. — Tenho
observado seus marcos - fala, destreza, conhecimento, mobilidade - e,
quando Jane deitou de barriga para baixo, ao longo do tapete da sala,
Moffy observou e fez o mesmo. Eu o vi tentando se levantar, como ela faz.
Ele tem mais poder em seus movimentos e é um mês mais novo.
Tenho orgulho desse bebê e ele nem é meu.
— Aconteceu alguma coisa com a imprensa? — Pergunta Frederick.
Quando ele começa a adivinhar cegamente, ele mostra suas cartas. Ele
está nervoso por mim, tirando conclusões sobre as piores possibilidades,
já que eu não falo.
— Scott Van Wright se mudou para o outro lado da rua. — Eu me
separo dessas palavras e apresento-lhe os fatos, o envolvimento e a
pressão da GBA para renovar o reality show.
Quando termino, Frederick se senta como se eu tivesse o empurrado
com força. Ele fica quieto por um minuto inteiro, processando tudo.
— E? — Eu pergunto, precisando de sua orientação. Ele é quase tão
inteligente quanto eu, e eu não viria aqui semanalmente se não
precisasse me lembrar de coisas sentadas no fundo do meu cérebro, das
emoções que eu guardo nas gavetas e dos fatos que deixo de lado.
— Eu acho que você sabe o que sente. — Ele diz.
Estou incrivelmente entorpecido. — Eu não sinto nada agora.
— Você é um narcisista, — lembra Frederick. — É difícil para você
acreditar que você falhou, de qualquer forma, e então você se faz
acreditar que teve sucesso.
— Eu tive sucesso, — eu digo. — Minha empresa...
— Como está a Rose? — Pergunta Frederick.
Eu me fecho de novo, meu corpo inquieto. Eu pensei que Rose poderia
lidar com os vídeos de sexo se nos beneficiássemos, mas ao longo dos
anos, eu vi como a simples menção deles enfraquece a sua determinação.
Eu esqueci que ela não é como eu. — O que eu quero não funcionam sem
consequências. Eu não consegui fazer os vídeos de sexo desaparecem,
então eu lucrei com eles de outra maneira.
— E o mesmo aconteceu com Scott, — diz Frederick. — Ele é a única
pessoa que já enganou você em toda a sua vida, Connor. E agora ele está
de volta.
— Estou repensando essas reuniões, Rick. Eu não te pago para me
dizer coisas que eu já sei.
— Você me paga para lembrar que você não é desumano e que você
tem sentimentos.
Eu esfrego meus lábios e olho para Jane por um momento, e ela aperta
um botão ao lado de uma foto de uma vaca. Muuu! Ela levanta o livro a
orelha para ouvir o barulho e ele cai da sua mão, batendo na almofada.
Mesmo assim, ela sorri.
Eu quero sua inocência intacta o tempo que tiver que ficar. O
pensamento de Scott se aproximando dela ferve meu sangue e o
pensamento de alguém ameaçando seu bem-estar é inconcebível.
— Eu não posso gritar. Eu não posso berrar, — eu digo a Frederick. —
Eu não posso bater no meu peito e esperar que Scott desapareça.
Rose quase perdeu a voz depois de gritar com Scott naquela noite. Ela
também passou uma hora esfregando as solas dos pés no banheiro - de
andar descalça na rua. Ela só parou quando eu a tirei do banheiro e a
servi uma taça de vinho.
Eu tenho que jogar isso de forma inteligente.
Eu corro meu dedo sobre um arranhão no descanso de braço de couro.
— Eu amo quase todos os jogos que eu jogo, até mesmo os recentes com
Rose. — Os artigos da Celebrity Crush têm seus encantos, especialmente
quando podemos controlar o contexto, o lugar e a hora. — Mas Scott é
como tentar matar um mosquito. Ele é um aborrecimento, sem cérebro,
mas inflexível, e eu não recebo satisfação alguma desse jogo - eu odeio
cada parte dele.
— Você poderia pagar mais do que a GBA está disposta a dar a ele...
— Não, — eu o interrompo. — Isso nem é uma opção. O que quer que
eu faça, não haverá benefício para Scott. Quando eu ganhar, não vou
deixá-lo ganhar também.
Imagino Jane com cinco anos de idade, e conhecendo Scott Van Wright
quando ele voltar, coletando mais dinheiro, nos chantageando por mais e
mais.
— Eu tenho que separá-lo da minha família.
— Apenas vá devagar. — Aconselha Frederick, examinando minhas
feições do jeito que eu fiz com ele antes. — Você é um pai agora, o chefe
de uma corporação gigante, sem mencionar que está lidando com
Jonathan Hale, agora Scott e você já está na cama com a mídia.
— Problemas do primeiro mundo, — eu gracejo.
Ele salta sobre isso. — Como está seu relacionamento com a mídia por
causa da Jane, a propósito?
— Ainda é muito cedo para dizer. — Eu penso em como ninguém me
perguntou sobre ela quando entrei nesse edifício. — Mas quando há
outras histórias relevantes, as câmeras geralmente ficam em cima de
mim. Quando não fazemos nada durante a semana, eles se fixam nas
crianças, lutando por alguma coisa.
— É arriscado. — Diz Frederick.
Meus lábios se levantam. — Tudo é um risco.
— Então você vai cutucar a fera? — Sua voz está moderada, o que me
deixa acreditar que ele pensa que isso é uma ideia decente, caso
contrário ele estaria me castigando, você tem certeza disso, Connor?
A irritação ainda agarra minha voz. — É melhor cutucar a fera e deixar
que ela me coma do que esperar que ela coma minha filha.
Com meu aborrecimento, ele muda de assunto. — Você está dormindo
bem?
Eu olho para os livros em sua mesa novamente. — Cinco horas por
noite, o habitual. — Eu posso fugir da pergunta facilmente. — Quantas
horas Daisy dorme?
— Mesma coisa que você. — Seu rosto endurece quando ele percebe
seu deslize. — Não. — Ele aponta um dedo para mim e se levanta da sua
poltrona, indo para a mesa.
— Eu não vou contar a ninguém o que você me diz.
Ele me ignora, coletando as pastas de arquivo de sua mesa e as
empilhando em gavetas de metal preto.
— Eu poderia ajudá-lo, — eu ofereço. — Ela é um caso complexo, e
pode ser benéfico ter duas mentes no projeto em vez de uma.
Frederick fica rígido.
Estou chegando a algum lugar. — Não é incomum colegas discutirem o
caso de um paciente.
— Você não é meu colega. — Frederick retruca.
— Só porque acho todo esse campo entediante e para ser honesto, sou
superqualificado1 para o seu trabalho. — E então acrescento, — Eu
poderia ter retido o que aconteceu com Scott e oferecido a você um
acordo, trocar isso por informações sobre Daisy, mas eu fiz a coisa nobre.
E agora, você está me dizendo que a coisa nobre não tem recompensa. —
Então, talvez eu devesse voltar a táticas imorais.
Frederick hesita por um segundo antes de admitir. — Eu quero
começar a medicá-la... Mas eu não posso escolher o caminho certo se eu
não estiver absolutamente positivo de todos os sintomas dela e do que
eles estão me indicando. Ela foi prescrita pílulas que só tratam uma parte
do que há de errado com ela, e elas aumentaram seus outros problemas…
— Ele descansa as duas mãos na mesa e balança a cabeça. — Eu não
posso dizer, com certeza absoluta, se ela é maníaca depressiva ou não. —
Ele não consegue discernir se seus altos são realmente altos.
— Estando perto dela por anos, posso dizer que suas explosões de
energia são fachadas. Não é real, Frederick. É uma fachada. Ela não é
bipolar.
Frederick não tem tanta certeza.
Percebo que ele ainda não está tão longe no caso dela. Ele está preso no
começo. Eu me levanto, levando Jane em meus braços. — Não observe ela
torcendo para a televisão, — eu aconselho, — Não olhe para ela sorrindo
enquanto folheie revistas. Daisy prefere se enganar acreditando que ela
está bem do que estragar o resto do nosso tempo nos preocupando que
ela não está.
— E como você sabe disso? — Ele pergunta enquanto eu vou para a
porta.
— Eu dominei a arte de esconder emoções. — Ela é boa, mas ela não é
melhor que eu.
[ 13 ]
CONNOR COBALT
Um tabuleiro de xadrez feito de mármore repousa sobre a cama entre
nós. Reis de carvão e marfim, rainhas, torres, bispos, cavaleiros e peões
alinhados a cada lado na ordem correta, as peças como ameias e
soldados em combate.
Jogar com Rose sempre parece uma guerra. Nós nunca jogamos esses
jogos de tabuleiro para passar o tempo. Nós jogamos com apostas, então
a perda parece uma perda e a vitória parece uma vitória. Nós jogamos
para conseguir algo maior.
Esta noite não é diferente. Se nossas peças são capturadas, temos que
remover uma peça de roupa ou dizer uma verdade.
Eu planejo deixá-la nua.
Ela planeja me despir de outras maneiras.
Três peões foram capturados, eu estou sem camisa e ela derramou
duas verdades inúteis sobre danças do ensino fundamental. Obviamente,
nenhum de nós está obtendo o que desejamos.
Eu pressiono meus dedos nos meus lábios, observando ela se mover na
cama. Ela amarra a alça do robe de seda preto em volta da cintura,
escondendo lingerie de renda branca que ela só usa quando quer me
provocar.
Está funcionando.
Imagino o material rendado transparente, os mamilos parcialmente
visíveis, os quadris mais curvilíneos, a bunda maior, acentuando suas
curvas e sua feminilidade. Se eu não gostasse tanto de jogos, teria ela de
costas agora.
O candelabro de cristal balança acima de nós, a luz diminuindo por
conta própria. Essa não é a primeira vez que isso acontece.
Ela olha para cima, os cristais tinindo juntos. — Por que ele tem que
foder minha irmãzinha no telhado?
— A mesma razão pela qual você prefere minhas mãos em torno de sua
garganta quando eu te fodo e a mesma razão pela qual eu gosto disso. —
Eu paro. — E os cães precisam sair de vez em quando.
Ela levanta o roupão mais alto perto do colarinho antes de voltar para
o jogo de xadrez, escondendo ainda mais sua pele nua.
— Novas regras, — eu digo de repente.
Seus ardentes olhos verde-amarelados voam para mim, como se eu não
tivesse o poder de mudar o que já foi estabelecido. Pense de novo, Rose.
— Você pega uma das minhas peças, — eu digo, — e eu lhe digo uma
verdade.
Seus lábios franzem, mas seus ombros se afrouxam. — Deixe-me
adivinhar, se você pegar uma das minhas, eu tenho que remover
automaticamente uma peça de roupa. Nenhuma escolha.
Eu sorrio enquanto seus olhos se aquecem. — Eu também não tenho
escolha, — eu a lembro. — Dessa forma, nós dois conseguimos o que
queremos. Você nua. Eu exposto. Nós dois vencemos.
Ela solta uma risada curta e seca. — Só há um vencedor, Connor.
— Não se você estiver jogando em equipe.
— Xadrez não é um jogo de equipe, — diz ela em voz baixa, já se
suavizando a idéia. Seus olhos voam para o meu abdômen e a definição
no meu bíceps. — E se eu quiser você nu? — Um silêncio tenso envolve
meus músculos, e seus olhos voam até os meus com um poder mortal,
venenoso e lindo de uma só vez.
— Fico feliz em fazer isso sem um jogo.
Seus ombros ficam rígidos e ela revira os olhos ao ver meu largo
sorriso.
— Querida, — acrescento. — Estamos entediados jogando isso. Ou
mudamos as regras ou vamos encontrar um novo jogo. E eu não tenho
certeza se você vai gostar. — Eu quero enrolar a alça de seda em volta do
meu punho e arrancar o roupão dela. Paciência. Eu tenho paciência. Mais
do que a maioria dos homens. É o que me faz melhor que eles.
Suas bochechas esquentam. — Tudo bem. — Ela rouba um olhar para a
babá eletrônica na mesa de cabeceira. — Eu preciso verificar a Jane
daqui a pouco mesmo. Nós podemos fazer isso rápido.
Rápido não é uma palavra que eu gosto quando se trata de minha
esposa. Cada momento com Rose, eu estenderia por infinitas medidas de
tempo. Até os momentos hostis e tórridos em que ela tenta acender o
mundo e eu em chamas. Eu amo todos eles.
Como ela já concordou com as novas regras, não discuto com ela sobre
a velocidade do jogo. Volto minha atenção para o tabuleiro de xadrez, os
joelhos dela perigosamente perto das peças de marfim enquanto ela
afasta as pernas para o lado. Eu estou sentado em frente a Rose com o
cotovelo apoiado em um joelho dobrado, os dedos na mandíbula em
contemplação.
Já montei uma estratégia de dez passos à frente, mas deduzo - com
base nas outras vezes em que jogamos - que ela está cinco à frente de
mim. Somos ambos adeptos do xadrez, mas nenhum de nós competiu.
Grandmaster é um título que eu nunca procurei ou queria.
A maioria das minhas habilidades vem do meu internato. Passei quase
metade da minha vida em Faust, minha mãe me mandou para da terceira
série até a o ensino médio. Eu tinha sete anos quando fiz minha mala e
minha mãe deu um tapinha no meu ombro e tchau.
Eu vou te ver quando você precisar de mim, ela disse. Mas se você é o
garoto que eu conheço, você não vai precisar de mim. Ela não queria que
eu me apegasse a ela, e então eu nunca me apeguei.
Esse colégio interno se tornou minha mãe e meu pai. Eu me refiro a
Faust mais do que me refiro a Katarina, mais do que falo do meu pai
ausente. A instituição me ensinou como sobreviver. Me deu mais
conhecimento, mas um lugar não pode te abraçar ou te amar.
E lembro-me da maioria dos dias em Faust como sonhos vívidos em
escala de cinza. Só sangrou cores quando conheci Rose pela primeira vez.
O xadrez era comum. Cerca de quinze de nós se reuniam no quarto de
um veterano, cigarros acesos e as janelas abertas em invernos de menos
dez graus. Começamos um torneio clandestino, bebendo shots para cada
peça capturada, dobro se alguém fizesse xeque mate. Os movimentos
tinham que ser feitos em menos de dez segundos ou você tinha que
beber.
Nós parecíamos gênios bêbados e privilegiados - inteligentes o
suficiente para jogar um jogo que a maioria não entende. E estávamos
entediados o suficiente para transformá-lo em algo mais emocionante,
juvenil e divertido.
Partes de mim nunca vão mudar.
Eu deslizo minha torre para o lado dela. Ela enjaula sua excitação atrás
de suspeita, olhando para o meu peão vulnerável. Eu pressiono meus
dedos no meu queixo novamente. — Em Faust, tínhamos uma regra de
dez segundos quando jogávamos xadrez. — Digo a ela.
— Deve ser de onde vem o boato. — Seus olhos ainda se fixam no peão.
Ela está me atraindo com suas palavras, e eu alimento isso. — Que
boato?
— Aquele sobre garotos da Faust durarem apenas dez segundos na
cama. — Ela move seu bispo, capturando meu peão de sacrifício.
Minhas sobrancelhas se erguem ligeiramente. — E eu consegui refutar
esse rumor várias vezes com você.
Ela levanta a mão para me silenciar. — Este não é o momento para
você se vangloriar de seus talentos sexuais.
Meus lábios se curvam para cima nessa palavra em particular: talentos.
Ela aponta para mim e de repente se ajoelha para ter a vantagem de
altura enquanto eu fico na mesma posição relaxada. — Nem pense nisso.
— Talento? — Eu digo em voz alta.
Ela rosna baixinho. — Eu não elogiei você.
— Talento é um elogio por definição.
— Não foi um.
— Vamos consultar o dicionário então. — Antes de protestar, eu digito
no mecanismo de busca do meu celular e a resposta puxa meu rosto para
um sorriso muito maior.
— Richard. — Ela avisa, odiando que ela erroneamente me elogiou. Eu
amo isso, só porque a irrita muito.
— ‘Uma habilidade especial que permite que alguém faça algo bem,’ —
eu leio a definição. — Isso foi um elogio.
Seus olhos queimam.
Eu olho para minha tela com mais humor em minhas feições. —
Também, 'pessoas sexualmente atraentes.’
Ela zomba. — Isso não está escrito aí.
Mostro-lhe o meu celular, e ela o puxa das minhas mãos, os olhos como
lasers, queimando a tela enquanto ela lê.
— Rose Calloway Cobalt me acha sexualmente atraente, — eu digo. —
Se você tivesse me chamado de talentoso quando tinha quatorze anos.
Ela fica rígida, mas mantém o olhar no celular que ela coloca entre as
duas mãos. — O que você teria feito se eu tivesse?
Eu espero que ela olhe para mim. Quando ela faz, eu vejo nossa história
plana na nossa frente como um antigo mapa do mundo. — Eu chamaria
você de talentosa também.
Suas clavículas se sobressaem quando ela inala profundamente.
Meu sorriso se espalha, o que ela chama de presunçoso.
Instantaneamente a torna consciente de como ela está apaixonada. Ela
corta isso e joga um travesseiro em mim, errando e por pouco não
acertando o tabuleiro de xadrez.
Eu dou risada e ela me ataca com outro travesseiro.
— É melhor que isso não seja a verdade que você me deve.
— Qual foi o problema com ela? — Eu pergunto.
— Não foi real.
— Foi real. — Eu digo.
— Você me disse que não me achou atraente até os dezessete anos.
Meu sorriso desaparece. A verdade real: eu achei Rose fascinante desde
a primeira vez que a vi, mas se admito isso, então admito o conceito de
amor à primeira vista. Toda a noção é ridícula, falível - cem por cento
inacreditável. Então eu tinha que ter dezessete anos quando me senti
atraído pela primeira vez pela Rose. Qualquer outra coisa é apenas
fantasia.
— Diga-me algo real, — Rose pressiona. — E é melhor que seja bom
pra caralho.
Eu sei necessariamente o que ela quer. Algo do coração. Eu ouço sua
voz quando penso nisso. Meu coração pode ser anatomicamente igual ao
dela, mas é diferente. Eu sempre serei diferente.
— Eu amo seus olhos. — Digo a ela.
Ela estreita os olhos para mim. — Eu já conheço sua estranha obsessão
com meus olhos. Isso não é novidade. Você está trapaceando. — Ela
enfatiza a palavra, acreditando que isso vai me irritar do jeito que a
irrita.
Eu fico complacente e passo um peão de marfim entre os dedos, que
capturei quinze minutos atrás. E penso em uma verdade. Algo do coração.
— A primeira vez que fiz sexo, — começo — Durou muito mais que dez
segundos. Eu fui bem.
— Chamar-se de um deus do sexo é uma avaliação pessoal, não uma
verdade, e você já me disse um pouco disso antes.
— Eu também contei a parte onde eu odiei?
Ela fica rígida, as mãos espalmadas em suas coxas.
— Eu odiei a minha primeira vez, — eu digo de novo, com a mesma
calma. — Há etapas monumentais na vida que a maioria das pessoas
acabam tendo. Nós falamos. Nós andamos. Nós sentimos. Nós choramos.
— Eu paro. — Nós amamos. Nós fodemos. E mais cedo ou mais tarde, nós
morremos. — Eu lambo meus lábios e solto uma risada suave. — Sexo foi
uma etapa. Foi prático. Era o que eu deveria fazer, mas não tinha sentido.
Não foi emocionante. Fisicamente, senti prazer. Mentalmente, foi sem
brilho. Eu não consegui descobrir como fazer isso ser melhor do que era.
Eu não conseguia descobrir o que fazer de diferente para transformar
algo comum em algo extraordinário. Não aos quinze anos. E então, eu
odiei.
Sua mente gira. Eu posso ver isso girando em seu olhar distante. —
Você deixou de fora o emocional, — ela sussurra.
— Sexo nunca foi emocional para mim, pelo menos não até eu ter
relações sexuais com você.
Rose me examina, como se estivesse se perguntando se estou falando
honestamente ou dizendo o que ela quer ouvir. Mas isso é sem dúvida, a
verdade mais sincera.
— O que mais? — Ela pergunta, querendo que eu transmita mais
sentimentos, não apenas fatos. Eu entendo isso agora.
— Minha vez. — Esquivo da sua pergunta e volto para o tabuleiro de
xadrez.
Ela cruza os braços, seu olhar quente fixo em minhas ações. Eu movo
um peão para alinhar minhas peças, rejeitando uma rota mais óbvia.
Rose joga xadrez de forma agressiva, mais do que a maioria. Dois
movimentos depois e eu capturei a torre dela. Ela solta um suspiro de
frustração, as sobrancelhas franzidas enquanto traça o tabuleiro, como
se pudesse voltar no tempo e alterar seu último movimento.
— Seu robe, querida. — Eu gesticulo para a roupa dela que eu
desesperadamente quero remover.
Ela solta outro suspiro pesado. Levou anos para ela se sentir
confortável ao meu redor. Ela venceu essas inseguranças, então toda vez
que ela bufa, é porque é teimosa, orgulhosa e, portanto, tem dificuldade
em se submeter a mim, mesmo que isso a encha de prazer.
Rose, indignada, puxa as alças do robe de seda. Talvez ela esteja
propositadamente sendo áspera e menos sensual e lenta, então eu não
sinta prazer. Ter uma ereção seria outro bônus para mim. Ela empurra o
tecido de seu ombro, e sua hostilidade atinge meu pau, muito mais do
que qualquer outra coisa faria.
O robe cai, se aglomerando em suas coxas. Eu quase tenho que
reajustar meu joelho dobrado, meus músculos se contraindo com a visão
de sua lingerie branca, uma peça como um maiô indecente. A renda
forma rosas delicadas ao longo de seus ossos do quadril, o corpete de
arame projetando sua estrutura de ampulheta. Um minúsculo arco
branco fica entre os seios fartos, empurrados para cima em duas taças,
transparentes, os mamilos já endurecidos.
Seu peito cai mais pesado que antes, o colar de gotículas de diamantes
precisa ser substituído por couro. Meus braços ardem para puxá-la para
meu peito, com força e tão rápido que cada movimento depois
pertencerá a mim.
Ela limpa a garganta, me repreendendo por olhar tanto tempo.
Rose tem tantas camadas de beleza que até eu teria dificuldade em
tocar cada uma delas.
— Você me tem na minha lingerie. Parabéns. — Ela se inclina para o
tabuleiro de xadrez, seu decote quase caindo em minha direção.
Meus dedos apertam meu joelho. Eu tento controlar a vontade de
empurrar o tabuleiro para o lado e abrir as pernas dela, a tomar com
força sem outra pausa.
— Seu peão está morto. — Ela anuncia. — Me dê uma verdade.
Eu franzo a testa e tiro meu olhar de seus seios. Ela belisca meu peão,
seu esmalte vermelho fazendo meu pau latejar novamente. Paciência.
Eu estico minha perna mais, meus músculos apertados. — Eu era bom
em sexo porque assistia pornô. Eu achava útil.
— Você e todos os outros adolescentes, — ela diz. — Isso não é uma
verdade, é um fato. — Seu foco rapidamente retorna ao tabuleiro, muito
rapidamente. Ela está evitando um assunto que nós dois sempre
contornamos. Pornô. Os vídeos de sexo.
Minha conversa com Frederick dispara para a frente do meu cérebro,
sobre o quanto esses vídeos afetaram Rose. Sobre a minha incapacidade
de reivindicá-los como um fracasso. Scott pode ter os vídeos de sexo, mas
eu tenho um negócio multibilionário e uma nova franquia de diamantes.
No meu ponto de vista, ganhei.
No da Rose, estou começando a perceber que ela sente que é uma
perda.
— Faça o seu movimento. — Ela me diz.
— E a minha verdade?
Seus olhos voam para os meus e voltam para o tabuleiro. — Eu não me
importo mais.
Eu me importo. Eu me importo se ela está ferida. Eu me importo se ela
está triste ou se está com dor. Eu me preocupo mais com Rose do que
jamais pensei que me importaria com outro ser humano.
Ela faz um gesto para as peças. — Continue para que eu possa te
vencer.
Eu fixo em seu olhar. — Sobre os vídeos de sexo...
— Mova a sua peça, — ela me corta abruptamente, — ou você perde a
sua vez.
— Não é assim que esse jogo funciona, _ eu respondo. — Eu lhe digo
uma verdade. — Talvez se eu lhe der algo maior, ela será mais aberta
sobre esses vídeos comigo. — Comecei a experimentar quando tinha
dezenove anos, submissão e algemas. Eu ia longe demais, para o meu
gosto pessoal, só para ver o que eu gostava às vezes. Eu nunca tive uma
pessoa me instruindo. Acabei deduzindo o que me dava mais prazer do
que qualquer outra coisa.
— E a outra pessoa? — Ela pergunta.
— Eles gostaram. Eu não tentaria nada em alguém que não estivesse de
acordo. Eu estou no jogo de agradar as pessoas, mesmo quando estou
insatisfeito, lembra?
Ela revira os olhos.
Eu sorrio. — Eu não gosto quando as mulheres me chamam de senhor.
Eu nunca vou te chamar de vadia. O que eu mais amo é o controle,
especialmente sobre alguém teimoso.
— Engraçado. — Ela diz friamente, mas ela limpa a garganta
novamente, desta vez em excitação.
— Como foi essa verdade? — Eu pergunto a ela, imaginando se a minha
verdade foi a par.
Ela acena com a cabeça. — Decente. — Seus olhos suavizaram como se
dissessem que foi muito mais que isso. — Sua vez.
Estudo o tabuleiro e procuro o movimento estúpido e menos calculado.
Eu propositadamente capturo seu bispo. Meus próprios motivos
usurpam ganhar o jogo. Sua calcinha, presa ao corpete para formar uma
peça única. Eu quero ela fora primeiro. Imagino-a sentada na cama, nada
entre o edredom azul de seda e sua carne.
Por seus quadris, ela solta os grampos e começa a tirar a parte de cima.
— Sua calcinha primeiro. — Eu exijo.
Ela congela. — Não é assim que esse jogo funciona. — Ela repete
minhas palavras anteriores.
Balanço a cabeça enquanto ela tira as alças dos cotovelos, dos braços e
depois levanta a lingerie de renda sobre a cabeça.
— Você está sendo obstinada. — Eu digo calmamente. — Vai lhe custar
essa noite.
Ela engole em seco, provavelmente imaginando como vou puni-la. E
quando ela joga o corpete de lado, ela imediatamente pressiona os
braços sobre os seios.
Eu mal vejo seus mamilos duros antes que eles desapareçam de vista.
Havia mais para ver quando ela estava usando o sutiã.
Eu inclino minha cabeça. — Há algo errado com seus seios?
Seus olhos brilham quentes.
Eu falo rapidamente antes que ela me repreenda. — É isso ou você fica
desconfortável estando nua na minha frente, mas esse não tem sido o
caso há anos. Então, o que há de errado? — Ela está apenas sendo
teimosa. Eu sei a verdade. Ela também.
— Eu te odeio, — diz ela, abaixando os braços.
— Eu não pedi uma mentira para acomodar a remoção de suas roupas,
mas é legal da sua parte me oferecer algo mais.
— Não há como perder, não é? — Ela pergunta abruptamente. — Você
sempre torcerá as coisas, então parece que você venceu.
Sua pergunta torna difícil apreciar a visão dela parcialmente nua. — Je
ne peux jamais perdre. — Eu nunca posso perder.
Ela levanta a mão para me silenciar novamente. — Vamos ver sobre
isso. — Sem pensar mais, Rose vai para o movimento vencedor, ao
contrário de mim. Ela puxa minha rainha do tabuleiro, seu cavaleiro a
distância do meu rei. Isso me surpreende - pelo quanto ela não quer que
eu fale sobre nossos vídeos de sexo, mas ela arriscará pelo jogo.
Ela levanta o queixo. — Xeque.
— Sinceramente, — eu digo com meus olhos fixos nos dela, — Eu
poderia viver com os vídeos de sexo pelo resto da minha vida e nunca
sentir uma grama de dor da sua existência. E todo esse tempo, você me
fez acreditar que poderia também, mas eu posso ver que isso não é
verdade.
Ela fica boquiaberta. — É sim.
— Rose, — eu digo o nome dela como se dissesse você sabe a verdade,
assim como eu, — naquela noite que nós confrontamos Scott, você
mostrou suas cartas. — Ela gritou como se os vídeos de sexo tivessem
acontecido ontem, como se ainda doessem depois de tudo que passamos.
— E talvez eu soubesse, todo esse tempo, mas eu só queria acreditar que
você era como eu.
Ela estremece.
Eu estico meus braços através do tabuleiro para puxá-la para mim, mas
ela empurra meu peito nu com uma mão e aponta para mim para ficar
parado.
— Você está me chamando de fraca?
— Não, — eu digo. — Estou te chamando de humana. Sua reação é
normal.
— Você está me chamando de normal. — Seus olhos brilham, mas suas
feições quase se estilhaçam como se eu tivesse batido um martelo no
vidro.
— Não é uma coisa ruim. — Eu digo.
— De você, é um insulto.
Eu não posso acreditar que estou tendo problemas para falar. Eu tento
encontrar as palavras certas rapidamente. — Você é minha igual, — digo
isso devagar, então as palavras afundem em seu cérebro.
— Se você pudesse me matar, sabendo que eu seria substituída com as
mesmas características, mas com sua personalidade exata, você faria
isso? — Ela questiona.
— Não, — eu respondo sem parar pra pensar. — Seria inútil namorar
alguém como eu. Eu saberia cada movimento, desejo, tudo. Eu adoro o
jeito que você me polariza.
Ela relaxa mais e acena com a cabeça. — Eu acredito em você. — Ela
tenta exalar. Depois de uma pausa muito mais longa, ela diz, — E eu não
percebi o quanto os vídeos de sexo ainda me machucavam até aquela
noite. — Rose coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eu os
odeio mais por estarem no controle do Scott do que qualquer coisa. Eu
não tive uma escolha se as pessoas poderiam ou não se masturbar
olhando o meu corpo, e ele sim.
— Você só quer justiça. — Percebo. — Agora que ele voltou, deve ser
mais fácil pegá-lo.
— O que devemos dizer a Jane? — Ela pergunta, desviando do curso e
me pedindo para segui-la.
Eu tento traçar os caminhos de sua mente. Jane, em relação aos vídeos
de sexo. — Nós dizemos a ela para não os assistir, e que não tínhamos
intenção de ter eles online porque não tínhamos ideia de que estávamos
sendo filmados em nosso quarto. Dizemos a ela a verdade. — Eu aperto o
peão marfim sem perceber, um recuo na palma da minha mão.
— E isso vai deixar tudo bem? — Rose pergunta, sua voz quase
falhando. — O que acontece quando ela tiver dez ou doze ou quinze anos
e outro vídeo for lançado e todos os seus amigos assistirem? E se ela for
ridicularizada e não tiver força para enfrentá-los? Não vai ficar tudo bem,
Connor.
— Eu vou fazer o que for preciso, — eu declaro. Eu sempre lutei pelas
coisas que eu desejei. Eu nunca me sentei à toa e esperei que meus
sonhos acontecessem. Eu vou encontrar o caminho para obter os direitos
para o resto dos vídeos. É mais necessário agora do que era antes.
Eu quero esse controle de volta antes que Jane cresça. Os vídeos
lançados anteriormente, nós não podemos mudar, mas talvez até o
momento que ela for mais velha, eles cairão no esquecimento.
— Diz o homem que nunca perde, — ela sussurra, seus lábios subindo
uma fração.
O meu combina com o dela. — Minha vez. — Eu vejo seus ombros
caírem de seu estado inflexível, mais despreocupada e aliviada. Ela
examina o tabuleiro com um rápido olhar, parecendo segura com o
resultado desse jogo, uma vitória para ela, uma perda para mim.
A jogada inteligente: desloco meu rei para fora do perigo.
A tola: eu capturo seu peão desprezível.
Sua respiração engata quando meus dedos seguram sua peça de xadrez
de mármore e eu olho sua última peça de roupa.
[ 14 ]
ROSE COBALT
Ele fez isso de propósito.
Foi um movimento idiota que deixou seu rei vulnerável.
— Xeque-mate, — eu digo em voz baixa. Seu olhar percorre meu corpo,
devorando cada curva. Não é a aparência de alguém que acabou de
perder um jogo. — Você perdeu. — Eu enfatizo esse ponto para que ele
sinta a dor da derrota.
— Eu tenho o que eu queria. — Diz ele. — Assim como você. — Um
sorriso envolve seu rosto. — Como eu disse, nós dois somos vencedores.
— Connor se inclina para frente e agarra meu tornozelo. Com um aperto
firme e rápido, ele me puxa para mais perto de seu corpo, minhas costas
batendo no colchão e minha bunda empurrando o tabuleiro de xadrez,
peças se espalhando ao redor do meu corpo, meu cotovelo cavando em
um cavaleiro.
Minha calcinha agora ao alcance, Connor rasga o tecido com um puxão
forte, o laço beliscando minha carne. A força acende meus nervos, dando
um pulso forte entre minhas pernas. Ele puxa novamente, dessa vez
liberando o tecido completamente.
Eu estreito os olhos para ele. — Elas eram caras.
Seus lábios roçam minha orelha, mordiscando, mordendo. — Et c’est
inestimable. — E isso é inestimável. Ele aperta meu rosto e me beija, com
força, seu domínio aproximando meu corpo mais perto do dele. Eu perco
o fôlego quando sua língua parte meus lábios, quando ele puxa todo o
meu corpo do tabuleiro de xadrez e para cima do seu. Minhas unhas
cravam em suas costas musculosas por apoio.
Sua certeza, sua confiança esmagadora me afoga sob a paixão, minha
cabeça se afundou abaixo de um rio aparentemente calmo e imóvel. Eu
não luto para chegar à superfície.
Enquanto ele me beija, ele empurra o tabuleiro de xadrez para fora do
colchão, o conjunto inteiro caindo no chão. Abro os olhos diante do
barulho violento e percebo o seu rei ainda está em suas mãos. Ele me
levanta mais alto na cama, colocando minha cabeça em um travesseiro
cinza claro.
Ele se ajoelha sobre mim, minha calcinha ainda na mão também.
Eu me fixo na minha calcinha rasgada. — Havia uma maneira mais fácil
de fazer isso. — Eu tento controlar minha respiração irregular.
Ele carinhosamente tira meu cabelo do meu rosto e então tira meu
colar, deixando-o delicadamente ao lado na mesa de cabeceira. É uma
manobra.
Connor Cobalt é muitas coisas na cama - carinhoso raramente é uma
delas.
— Se eu quisesse sua opinião sobre como removê-las, — ele pendura
minha calcinha rasgada em um dedo — Eu teria pedido por ela.
Eu tento fechar minhas pernas, meu calor latejando, mas ele usa os
joelhos para mantê-las abertas. — Quão atencioso de você. — Eu
respondo com despeito vazio. Minha reação natural é rebater, mesmo
que não resolva metade das vezes.
Ele abaixa a cabeça para mim, seus dentes beliscam meu lábio inferior
e, muito baixinho, ele sussurra em francês no meu ouvido. Eu me esforço
para traduzir as palavras aveludadas, o sangue saindo da minha cabeça.
Ele aperta minha bunda, sua palma larga, masculina, e então ele bate. Um
barulho sai da minha garganta.
— Você gosta disso, — ele afirma, levando a mão ao meu rosto. Espero
que ele me maltrate, mas em vez disso, ele acaricia minha pele
suavemente. — É uma pena que você tenha sido obstinada essa noite.
Eu estreito meus olhos. — Eu apenas sou obstinada para que o seu ego
não aumente e asfixie todos os seres vivos, inclusive eu.
Ele sorri, confirmando ainda mais que seu ego é incontrolável,
indomável e prestes a me sufocar. Eu queria que Connor não me
excitasse, mas então eu estou feliz por ser atraída por ele. Deus, por que
eu não posso simplesmente odiá-lo sem amá-lo? Seria muito mais fácil.
Eu estou a um segundo de contestar ele com mais palavras, mas ele é
mais rápido. Ele enrola minha calcinha e enfia na minha boca. Meu
pescoço queima com nova situação, e meus dedos do pé se enrolam,
almejando seu corpo forte contra o meu, seus movimentos rudes e
vigorosos, batendo dentro de mim.
Ele sai da cama.
Filho da puta.
Estou perto de cuspir a calcinha e seguir o exemplo. Assim que me
sento, Connor me alcança e coloca a mão na minha clavícula,
empurrando minhas costas contra o colchão.
— Fique aqui, — ele comanda. Ele chuta o tabuleiro de xadrez de
mármore em direção à cadeira, as peças rolando sobre a madeira e fora
do tapete. Espalhadas em desordem. Meu coração palpita, um frio sujo
serpenteando pelo meu pescoço. Eu odeio a bagunça, como uma
infestação repentina de besouros e baratas. Minha necessidade de
exterminar, de me sentir limpa, entra em ação.
— Olhe para o candelabro. — Ele instrui, sentindo o meu problema.
Eu planto meu olhar no lustre, apenas alguns cristais balançando com o
ar-condicionado. Minha mente afunda quando algo frio toca minha
barriga. Eu olho para baixo e vejo o rei acima do meu umbigo.
Ele não vai…
Connor, vestido apenas com calças de moletom azul marinho, atravessa
o quarto. — Quando eu voltar, se eu ver que você moveu o rei de seu
lugar exato, você estará com sérios problemas, Rose.
Adorável. Um teste. Tenho certeza que vou passar. Ele provavelmente
está indo para o guarda-roupa, para pegar as algemas e o colarinho de
couro.
Ele faz uma pausa em nossa cômoda, para me avaliar, seu olhar mais
forte bebendo cada centímetro do meu corpo. Minha respiração se
aprofunda e minhas costelas desmoronam e se expandem, ameaçando
derrubar o rei. Porra. Eu me concentro nesse pequeno rei estúpido e
tento forçá-lo a ficar parado só com minha força de vontade.
Ele para de tremer.
— Mais uma coisa antes de eu ir. — Seu olhar me varre novamente. —
Abra suas pernas.
Eu não me movo — Agora. — Seu tom severo simultaneamente me
incita a descongelar meus músculos, mas depois os congela novamente,
por despeito.
Eu engulo esse pouco de teimosia e cuidadosamente abro minhas
pernas, observando o rei permanecer imóvel com a minha precisão.
— Mais.
Eu luto contra a vontade de cuspir a calcinha e responder algo
obstinado para ele. Eu devo demorar muito, ou talvez Connor anseie por
toque, porque ele caminha até mim, aperta minha perna e termina a
distância ao seu gosto. Elas estão espalhadas até onde eu sou fisicamente
capaz, exposta e encharcada.
Eu realmente gemo contra o maldito tecido da minha calcinha. Eu
realmente o quero dentro de mim, forte e rápido e sem fim. Ele faria isso
com perfeição também. Mas ele arruma o rei que rolou do meu estômago
e depois se afasta da cama novamente.
Seu comportamento muda, me recusando uma gota de atenção. Ele
anda... em direção à porta do quarto.
Ele está saindo. Minha voz é abafada pelo tecido quando tento gritar
seu nome. O rei balança e eu me concentro, incapaz de falar ou me
mover.
Ele não se vira. Ele destranca a porta e desaparece no corredor,
fechando-a atrás dele. Não há trava no outro lado, o que significa que
qualquer um pode entrar…
Cuspir a calcinha sem se mexer. E arrancar a cabeça dele. Esse é o meu
primeiro objetivo. Eu poderia trapacear e ele nunca saberia. Eu poderia
cuspir o tecido e colocar o pedaço de xadrez de volta no mesmo lugar, se
ele rolar. Ele me deu o controle das minhas mãos e pernas, mas
trapacear…
Eu não seria capaz de me maravilhar com o meu sucesso, sabendo que
consegui através de um atalho.
Com muito cuidado, levanto minhas mãos e retiro a calcinha, meu olhar
treinado nesse rei inimigo. Vou destruí-lo.
Quando a calcinha está ao meu lado, não mais me impedindo de falar,
eu uso minha voz. — Connor! CONNOR!
Não ouço nenhum movimento do lado de fora, e noto o conjunto de
peças de xadrez no chão novamente. Eu engulo e olho para o lustre.
Talvez isso tudo seja para ajudar a conter meu TOC - ou talvez isso seja
apenas parte de seu plano. Eu não gosto disso.
Estou completamente nua com as pernas abertas. Uma peça de xadrez
na minha barriga. E preciso saber o que está acontecendo lá fora. Eu
preciso ver ele. E se algo estiver errado com a Jane? E se é por isso que
ele saiu?
Eu não posso simplesmente sentar aqui e esperar.
Minha mente está em uma plataforma giratória.
Que ele se vá para o inferno com cinco maneiras diferentes. Eu tiro o
rei do meu estômago e saio da cama. Não olhe para o chão. Eu engulo
novamente e pego meu robe preto, o vestindo e marchando para a porta.
Eu a abro, esperando encontrar um corredor vazio e banhando com a
luz do berçário onde Connor foi traidoramente sem mim. Quando viro a
cabeça para a direita, vejo Connor encostado na parede. Ele verifica seu
relógio.
— Você está apenas parado aí? — Eu fico boquiaberta. Meu sangue
ferve, meu peito se eleva em fúria.
— Você durou um minuto.
Eu bato no braço dele, e ele agarra meu pulso, puxando meu corpo para
ele tão rapidamente. Ele está me puxando na ponta dos pés, meu rosto
mais perto do dele, mas não exatamente na mesma altura.
Meu coração bate rapidamente. — Você estava me cronometrando?
— Você não me ouviu. — Sua outra mão roça a nudez da minha coxa,
deslizando mais alto, talvez para ver se eu coloquei calcinha. Minha
respiração engata quando seus dedos roçam meu clitóris.
— Eu não… — Fale corretamente, Rose. — Eu não sabia quanto tempo
você ia ficar fora. Você só me deixou lá. — Eu rosno as últimas três
palavras. Eu me preocupo que ele vai esquecer de mim - que algo vai
afastá-lo e ele vai me deixar amarrada ou em uma posição
comprometedora para alguém me encontrar. Essa não é a primeira vez
que tenho problemas em ficar sozinha enquanto ele checa Jane.
Ele aperta meu queixo com uma mão forte, seu polegar roçando meu
lábio inferior. — Je reviendrai toujours à toi. — Eu sempre voltarei para
você.
Eu pisco, minha fúria se dissipando. Eu sempre voltarei para você.
Esse foi o ponto de seu teste, eu percebo. Ele me beija, seus dedos
deslizando pelo meu cabelo, até a parte de trás da minha cabeça. Eu
derreto um pouco, lentamente começando a acreditar e confiar nele para
não me esquecer.
[ 15 ]
ROSE COBALT
— Ela ama aquele bicho de pelúcia. Não o perca. — Instruo Ryke pela
décima vez. Na sala de estar, Jane está a seus pés, golpeando o cobertor
de babados cor-de-rosa com um chocalho. Seu leão de pelúcia favorito
está sempre à vista dela e quando o perde, ela grita horrivelmente, como
se o mundo estivesse acabando.
Moffy está perto, rastejando em direção a Jane e sua variedade de
brinquedos. Ryke o pega pela cintura e o garotinho ri, vestido com um
macacão do Homem-Aranha. Ele tenta tocar a barba do seu tio.
Ryke é mais confortável com seu sobrinho, já que Lily e Lo não têm
uma lista impressa de regras para lidar com seu filho. Ele me disse isso
na semana passada quando eu perguntei por que ele nunca visita Jane
em seu quarto de bebê, mas ele está constantemente no quarto do Moffy.
Eu bato meu salto alto, o ruído ameaçador morrendo no tapete.
Ryke de repente joga Maximoff no ar, o bebê fora de suas mãos. Raios
laser largos, quentes e frenéticos saem dos meus olhos. Ryke o pega pela
cintura ao descer e Moffy ri novamente de alegria.
Minha boca está permanentemente aberta. Eu acho que acabei de ter
um infarto miocárdio.
— Ryke, — eu quase grito seu nome. Jane não passará de amanhã com
ele.
— Sim, eu entendi. Esse fodido leão é importante. — Ele põe Moffy no
chão e o bebê engatinha até Jane novamente.
— Eu juro por tudo que é sagrado, se a primeira palavra dela for fodido,
eu vou te estrangular enquanto você dorme.
Ryke suspira pesadamente, olhando entre os bebês e eu. — Nós já
passamos por isso. Se você não me quer xingando ao redor da sua bebê,
então não me deixe de babá, porra.
Isso não é uma opção. Quando Jane e Moffy nasceram, Lily e eu saímos
do trabalho para ficar com nossos bebês, mas agora que eles estão um
pouco mais velhos, temos que voltar para nossas empresas.
A Halway Comics lançou um novo super-herói em um evento de doze
edições. Lo, através de seus próprios olhos e paixão, descobriu o escritor
e o artista. Mesmo que a empresa agora tenha uma equipe de marketing,
Lily é responsável pelo merchandising do novo super-herói da
Superheroes & Scones: recortes de papelão, moletons, lancheiras,
relógios, bonecos de ação e muito mais.
É um momento crítico para eles. Esse super-herói poderia lançar a
marca deles na estratosfera da Marvel e da DC e da Image Comics. Ou
poderia fracassar.
Também passei o controle de minha butique, Calloway Couture, a
funcionários de confiança, enquanto me concentro na Calloway Couture
Babies com Loren, a linha de moda agora pertencente à Hale Co. A única
empresa em êxtase é a Cobalt Inc. - que alcançou uma margem de lucro
alto e não precisa de mais crescimento ou expansão nesse momento.
Nossa política de “sem babás” ainda está em vigor. Nós nos revezamos
trabalhando em casa para cuidar das crianças. Ryke e Daisy se oferecem
para tomar conta algumas vezes, e eu gostaria que minha irmãzinha
estivesse aqui para ajudar seu namorado e impedi-lo de jogar crianças e
coisas para o ar.
Ela está em Nova York para uma consulta de terapia com Frederick.
Talvez eu possa esperar que ela volte para casa ...
Eu olho para o meu celular.
— Janie vai ficar bem comigo. — Ryke tenta me assegurar. Ele se senta
no tapete na frente de ambos os bebês, e eles rastejam para os tornozelos
dele com sorrisos jubilosos. Connor e eu discutimos sobre os padrinhos
dela - da mesma maneira que Lily e Lo estão com dificuldade em
escolher. Eles não nos dizem para quem eles estão se inclinando, e nós
também não anunciamos para quem estamos.
Eu sempre me inclino para Lily, minha irmã mais próxima.
Mas Connor confia em Ryke. Ele me diz o tempo todo que Ryke é mais
adequado para cuidar de punhados de crianças. Lo não poderia lidar com
oito crianças, se tivermos muitas. Ryke poderia.
Eu me lembro da confiança do Connor em Ryke. Eu me dediquei ao fato
de que ele estaria disposto a deixar Jane com ele para sempre se
morrêssemos.
Ok, Ryke. Eu estou confiando em você com minha filha. Sem lista dessa
vez. Eu tento desesperadamente não pensar nele a jogando no ar como
uma bola de futebol.
— Não seja um herói. — Eu digo, meu tom gelado. — Se você acha que
algo está errado, me ligue.
— Você está na discagem rápida, Rose.
Eu aceno uma vez e meus saltos finalmente se descolam do tapete. É
preciso uma quantidade incrível de força para me afastar lentamente e
sair pela porta.

Eu deveria ter ficado em casa.


O pensamento singular passa pela minha cabeça quando o Gerente de
Qualidade da Hale Co. decide falar sobre renomear Calloway Couture
Babies, em vez de se concentrar em seu campo específico de interesse.
Estar com Jane é menos uma dor de cabeça e um milhão de vezes mais
agradável que isso.
— Os membros da diretoria ficaram com a decisão final sobre o nome
da marca. — James me lembra pela décima vez. — Você deveria deixar
isso para que possamos seguir em frente. Estamos trabalhando em uma
linha do tempo.
— Estou ciente da linha do tempo. — CCB estará nas lojas nesse verão
e, até então, preciso lidar com rótulos, publicidade, merchandising e
apaziguar a pessoa com maior influência: o chefe dessa empresa.
Loren Hale.
Eu prefiro focar apenas em designs, mas eu amo o controle que Loren
me concedeu. Ele me designou como chefe da divisão de roupas de bebê.
Isso não é apenas uma linha de roupa. É uma empresa subsidiária de
uma grande corporação, algo de que eu nunca fiz parte.
Passei anos na faculdade lutando para vender meus designs para
grandes corporações como a H & M, tendo sucesso apenas uma fração do
tempo e, por fim, deixando o sonho cair no esquecimento. O estresse e a
incerteza me deixavam louca e não tinha o mesmo valor que antes.
Agora que finalmente tenho a oportunidade de ver minhas roupas
permanentemente em lojas de departamento, não vou comprometer
todas as minhas crenças artísticas.
James continua falando, e eu levanto a mão, o parando no meio da
frase.
— Eu já ouvi tudo o que você está me contando do diretor de
marketing. — Embora ao telefone, ele está de férias. — Então, se as
próximas palavras não forem uma ideia ou um pensamento original, vou
cortar sua língua.
O homem loiro, com o dobro da minha idade, fica em silêncio. Ele
empurra seus finos óculos de armação prateada mais para cima em seu
nariz.
Eu tamborilo minhas unhas na minha mesa. — Eu gosto de você, James.
— Poderia ter me enganado, Sra. Cobalt. — Ele solta uma risada incerta
e desconfortável.
Minha expressão nunca suaviza. — Você está no meu escritório,
sentado em uma das minhas cadeiras. — Eu movimento para onde sua
bunda reside, a um metro e meio da minha mesa de mogno. — Mas se
você continuar vindo aqui apenas para repetir que a empresa quer
colocar HC nas tags e não CCB, você não vai conseguir passar da minha
porta.
Eu odeio ser a chefe megera. É um clichê que eu mais naturalmente me
encaixo. Deixando de lado minha personalidade fria, tenho dificuldades
para lidar com meus empregados e esses empresários de outra maneira.
Todos olham para mim como uma garota, de vinte e seis anos, sentada
aqui por causa do nepotismo e da notoriedade. Eu não posso vencer o
julgamento sem tempo e um histórico, mostrando que mereço essa
posição porque sou inteligente, trabalhadora e muito boa em criar
roupas - até mesmo em miniaturas para monstrinhos.
Ele se move desconfortavelmente em sua cadeira. Que bom. Uma
pequena pontada de culpa passa por ele, estranha e muito, muito
indesejável.
— Mais alguma coisa? — Eu pergunto, segurando minha caneta como
uma faca, meus dedos ficando brancos. Eu me sinto como uma guerreira
amazônica, pronta para atacar um inimigo à vista. O único problema: o
pobre James não é meu inimigo. Ele está no meu time, mas não parece.
— Nada nesse momento. — James resmunga antes de se levantar. Eu o
vejo correndo para a porta, pronto para sair do meu escritório. Aposto
que a primeira coisa que ele fará é fofocar sobre mim. Quão desagradável
eu sou. Como meu marido provavelmente não está me satisfazendo em
casa.
Esses foram os comentários de ontem que ouvi no refeitório, bem ao
lado do micro-ondas e da máquina de venda automática de Fizzle.
As fofocas de hoje serão mais coloridas, tenho certeza.
Quando James sai, vejo um corpo feminino do lado de fora com o punho
levantado. Ela abaixa e me dá um sorriso agradável, com o cabelo
vermelho espalhado por cima do ombro. Hannah é a única mulher com
quem interajo diariamente, e geralmente são comentários superficiais ou
os frequentes: “Loren Hale gostaria de ver você no escritório dele."
Estou tentando me acostumar a Loren tendo uma assistente, uma com
pernas longas e seios que balançam quando ela anda. Se eu não soubesse
o nível de devoção do meu cunhado com a Lily e o tipo de garota dele -
pequena com curvas mínimas - eu poderia ficar um pouco preocupada
com a minha irmã.
James passa por Hannah, sem tentar esconder o olhar rápido em seus
seios. Eu aperto a caneta com mais força, imaginando esfaquear o ponto
em seu pescoço. Não que eu realmente fosse fazer isso.
Se a Hannah percebe seu olhar, ela não deixa transparecer. Ela
descansa seu quadril no batente da porta, vestida com uma blusa verde
fofa e uma saia de cintura alta. Porém, seus saltos são muito baixos para
o meu gosto pessoal.
— Loren Hale gostaria de ver você no escritório dele. — Ela me diz.
Eu não reprimo uma revirar de olhos dramático. — Pela milionésima
vez, ele pode me ligar em vez de fazer você perder seu tempo.
— Eu sou a assistente dele. É o meu trabalho. — Diz ela com um sorriso
forçado. Nós raramente conversamos, mas eu nunca fui do tipo acessível.
Os poucos amigos que eu tinha na escola preparatória provavelmente
ficavam ao meu redor em busca de status. Ou talvez eles ficassem por
perto porque podiam confiar em mim: a amiga leal e responsável. Eu
pegaria um caderno esquecido no armário do Sebastian à meia-noite,
chamando um zelador para me deixar entrar e gastaria mais dez minutos
para entregá-lo em sua casa. Apenas para que ele pudesse fazer uma
prova.
Eu era essa amiga.
Quando me formei, a maioria desapareceu, indo para Harvard,
Georgetown, Universidade da Pensilvânia e Yale. Eu escolhi Princeton.
Eu tinha vários amigos na faculdade, mas depois que minha família foi
empurrada para a mídia, ou eles não queriam nada com minha família
deplorável, faminta por fama, ou eles me ligavam diariamente, como se
pintassemos as unhas dos pés uns dos outros todas as noites.
Eu tive que escolher entre ficar sozinha ou ter amigos falsos.
Então escolhi minhas irmãs.
E Connor, suponho.
No público, há garotas que me amam - as que compram revistas de
fofocas, me achando uma inspiração. Eu queria que essas garotas me
cercassem. As mulheres daqui, as da América corporativa, veem a fama
como vaidade, como uma falha repugnante em nosso país.
Hannah me encara assim agora. Com uma calma curiosidade e
desprezo.
É uma vergonha. Estamos ambas em desvantagem, sendo a maioria dos
funcionários homens - não deveríamos nos unir agora? Depois de anos,
ainda tenho dificuldades com as percepções das pessoas sobre mim. Às
vezes, eu realmente gostaria de poder mudá-las, mas, novamente, eu
nem saberia por onde começar.
Eu sigo Hannah pelo corredor, caminhando ao lado dela. — Então, qual
é a sua posição do seu sonho nesta empresa? — Eu pergunto, fazendo
conversa fiada, pelo menos. Talvez possamos ser amigas. É um
pensamento grosseiro e emocional. Um, eu quero me afastar. Eu tentei
fazer amigos. Isso nunca funciona. Eles ou vêm a mim graças ao destino
ou eu permaneço sem amigos.
Eu tenho vinte e seis anos de experiência no assunto.
Ela me dá uma olhada de lado. Você deveria ter deixado isso para o
destino, Rose. — Eu tenho um ótimo emprego remunerado. Eu não quero
estar em nenhum outro lugar. — Paramos na porta do escritório de
Loren, as paredes todas de vidro com uma grande vista da Filadélfia.
— Eu não quis dizer isso como um insulto. Não há vergonha em ser
uma secretária. — Me mantenho firme no chão, mesmo que minha pele
tenha começado a pinicar.
Seus olhos piscam com mais calor. — Eu sou uma assistente executiva,
— Ela diz com raiva. — E nem todo mundo consegue transar para chegar
no topo. — Minhas costas se arrepiam. Eu não sei porque eu odeio brigar
com mulheres mais que homens. Se há uma garota igualmente
desagradável, jogando veneno na minha direção, eu deveria atacar da
mesma forma que faria com um cara. Igualdade para todos, certo?
Hesito, mas não o suficiente para passar despercebida. — Você não
pode falar assim comigo. — Eu digo, e eu querendo ser amiga.
Seus ombros puxam para trás e ela alonga o pescoço, alguns
centímetros mais alta que eu. — Eu não trabalho para você.
Estou metade chocada por ela ter pronunciado essas palavras. A outra
metade de mim está puro gelo.
— Eu estava perguntando se você tinha algum sonho e vejo que o único
que você tem é de ser demitida depois de duas semanas de trabalho. —
Do canto da minha visão, vejo Loren em pé atrás de sua mesa, sua roupa
de trabalho não é tão chocante quanto a atmosfera corporativa em que
ele foi colocado. Graças a Deus ele manteve seu estilo pessoal intacto:
gravata preta, camisa social preta, calça preta.
Tradução: Ele ainda é Loren Hale.
A preocupação de Loren se acumula quando ele me observa com sua
secre… assistente. Eu tento reconectar essa palavra no meu cérebro.
Eu acrescento, — E eu não sei o que faz você pensar que eu transei
para chegar ao to...
Ela realmente me interrompe, — Que tal seus vídeos de sexo? Eles são
o que te tornaram famosa, certo? Todo mundo sabe que você só
conseguiu esse emprego porque tem fãs. Caso contrário, a Hale Co.
escolheria outra designer mais qualificada.
Eu vou arrancar o cabelo dela.
Lo abre sua porta de vidro e desliza entre nós antes que meu cérebro
possa teorizar quaisquer outras conclusões dramáticas para esse
argumento.
— Senhoritas, — diz ele, com uma raiva aparente em sua voz, o
habitual. Seus olhos âmbar disparam entre Hannah e eu. — O que está
acontecendo?
— Ela insultou meu trabalho. — Hannah diz rapidamente, falando
antes que eu possa. É como se ela estivesse dedurando para o papai.
Foda-se isso. Eu passo por Loren e entro em seu escritório.
Eu passo por sua mesa de café, a orquídea roxa, a variedade de sofás e
cadeiras de couro, e me aproximo de sua mesa prateada. Eu reivindico a
cadeira de couro preta na parte de trás, ganhando uma visão perfeita da
Hannah jorrando todos os detalhes sangrentos da nossa discussão.
Não consigo ouvir nada de dentro das paredes de vidro, mas ela
gesticula descontroladamente, apontando para mim.
Lo nunca segue seu dedo não-ameaçador. Ele acena com a cabeça e
acena novamente, permanecendo em silêncio. É estranho vê-lo em uma
posição de liderança, ainda mais estranho vê-lo a preenchendo tão bem.
Quando Hannah para de falar, Lo diz algumas palavras, apenas
algumas, e ela se encolhe. Seu rosto cai e a pele empalidece. Então seus
lábios se movem novamente, em rápida sucessão, precisos e definitivos.
Ele tem esse olhar em seus olhos, um que só Loren Hale pode convocar. O
que diz, eu tenho o poder de massacrar tudo o que você sempre amou.
Meus olhares são histriônicos e, muitas vezes, não são considerados
uma ameaça real.
Os deles são sérios.
Momentos depois, Hannah recua e sai enquanto Lo gira e entra em seu
escritório.
— Saia da minha cadeira, — ele diz.
Eu anormalmente levanto meus pés com saltos altos na superfície de
vidro. Meu vestido preto peplum está apertado o suficiente na minha
bunda que eu não devo estar mostrando nada. — Você fez isso na minha
mesa ontem, — eu digo, — então é justo.
Ele para no meio do seu escritório, cruzando os braços. — Você a
chamou de secretária. — Ele abre um sorriso, nem mesmo um seco. —
Honestamente, eu pensei que ela ia dizer que você ameaçou queimar o
cabelo dela. Alguém roubou sua vassoura hoje de manhã?
— Eu a enfiei na sua bunda, você não se lembra? Ou você ainda está
tentando esquecer? — Eu mimo uma lágrima escorrendo na minha
bochecha.
Aí está. Ele me mostra aquele meio sorriso seco. — Seu marido tirou
para mim. Ele gosta da minha bunda.
Eu reviro meus olhos. — Eu vomito com a amizade de vocês. — É
muito doce para mim. Os elogios que eles atiram para frente e para trás.
Ugh.
— Eu vomito vendo a sua calcinha.
Meus olhos se arregalam e queimam. Não. Ele não consegue ver por
debaixo do meu vestido. Ele só levanta as sobrancelhas para mim. —
Loren. — Eu rosno. Eu deixo cair meus pés no chão, só para ficar segura.
Ele nunca me deixa saber se ele realmente viu alguma coisa. Aposto
que ele está blefando, mas eu não testo.
Eu olho para o corredor, um executivo tomando um café com uma
pasta na mão. Ele brevemente olha para cá antes de se concentrar em seu
destino, provavelmente seu próprio escritório. Eu pergunto a Lo, — Você
a demitiu? — Uma pontada de culpa pressiona contra o meu peito.
— Não. Eu disse a ela que ela tem que ser menos sensível, e se ela não
respeitar você, então eu vou demiti-la.
Eu engulo uma pedra e aceno uma vez. — Então, por que você me
chamou aqui como uma humilde serva?
Ele arrasta a cadeira na frente da mesa, mas ele fica em pé, apenas
segurando o encosto. — Além de te dar um gostinho do que Connor e
você nos fazem sentir todos os dias, eu preciso falar com você sobre a
divisão de marketing aqui. A Hale Co. quer que a campanha promocional
comece bem antes do lançamento de verão.
Uma batida soa em sua porta de vidro. Eu olho por cima do ombro dele.
Meu estômago cai.
Loren se vira. — É por isso que, — ele diz para mim, — eu preciso que
você trabalhe com o assistente do gerente de marketing.
Eu sabia que Theodore Balentine trabalhava na Hale Co.
Eu sabia que ele era um dos assistentes de marketing do Mark.
Alguma vez acreditei que ficaria cara-a-cara com o ex-namorado do
meu marido?
Honestamente, achei que o destino seria mais gentil comigo.
[ 16 ]
ROSE COBALT
Cerca de dois meses depois de começarmos a namorar, perguntei a
Connor sobre seus relacionamentos passados. Eu esperava embolsar
suas inseguranças como munição, já que ele nunca mostrou nada. Eu
poderia usá-lo contra ele, se necessário. Ele muitas vezes me cutucou da
mesma maneira. Considerando que eu fiquei fechada por muito mais
tempo, ele respondeu minhas perguntas mesmo que, no fundo, eu
realmente não quisesse suas respostas.
Os fatos perfuram meu cérebro.
Oito anos atrás, em uma conferência de Modelos da ONU, vi Connor
saindo do banheiro, outro cara atrás dele, sem blazer ou crachá.
Connor limpou o lábio inferior, o cabelo igualmente desgrenhado,
indecente; a maneira como as pessoas ficam depois de uma rapidinha.
Connor o chupou, deduzi.
O que eu não sabia até anos depois: Theo Balentine e Connor estavam
namorando. Não abertamente. Daí o encontro no banheiro do hotel. E
isso foi diferente de Caroline Haverford. Connor chamou seu tempo com
ela de "onze meses e vinte e dois dias de insipidez e tédio".
Ele chamou seu tempo com Theo "divertido".
Ciúme deveria deslizar pela minha espinha como uma cobra fazendo
rota para o meu coração. Ou raiva. Eu sou fogo onde meu marido é água.
É natural que eu queime na cara do ex dele.
Mas eu não sinto essas coisas.
Eu me sinto triunfante. Eu mantive o que Theo não conseguiu.
Connor é meu.
Quando Theo entra na sala completamente, respiro fundo. Eu o vi
várias vezes. Ele sempre fez parte dos torneios acadêmicos na Faust e
mais tarde na faculdade, mas esta é a primeira vez que o vejo sabendo
que os amassos deles no banheiro não foi um evento único.
Ele é mais alto do que eu me lembro, mais pálido, as olheiras sob os
olhos mais escuras. Ele lembra a um vilão sinistro, nariz fino e cabelo
castanho, e sua postura sugere uma criatura que se esconde em cantos
sombrios.
Ele entra no escritório de Loren com os ombros para frente, curvado e
desconfortável com a altura, mãos enfiadas nos bolsos. Ele se arrasta até
nós, os olhos voando para Lo, como se quisesse se auto ejetar deste
ambiente... que me contém.
Ele usa um terno empertigado e adequado, de cor escura e feito para o
seu corpo. Eu olho seu cabelo, imaginando se ele propositalmente deixa
seus cabelos despenteados. Talvez ele tenha ouvido que estaria me
vendo, então ele abandonou seu pente para parecer descontraído e
maleável, mais amigável. É algo que Connor faria, parecendo tão pouco
ameaçador quanto possível para outros homens.
Mas eu esqueço que o Connor é um tipo único. Um manipulador e um
gênio.
Theo é mortal em comparação.
Eu vou mais para frente até a mesa, abertamente dando a Theo outra
olhada, como se eu fosse o scanner de segurança de corpo inteiro em um
aeroporto. Não tenho medo de você nem me sinto intimidada. Seus olhos
encontram os meus, a cor das nuvens de tempestade. O destino está me
dizendo algo.
Eu deliberadamente ignoro esse sinal sinistro e endireito minhas
costas.
Lo libera seu aperto na cadeira e se inclina, me dando uma visão
melhor do Theo e vice-versa. Uma tensão desajeitada e tensa permanece
no silêncio.
Eu giro minha cadeira uma fração para Loren. — Por que não posso
falar com o Mark? Ou ele está muito ocupado para ligar para a presidente
da nova subsidiária de bilhões de dólares da Hale Co.? — Eu não
acrescento que Mark ignorou nove das minhas dez ligações. Eu prefiro
que ele pareça um idiota incompetente do que eu pareça uma rejeitada.
Theo balança para frente e responde antes de Lo. — Isso seria porque
ele está muito ocupado bebendo cocktails em seu iate. — Ele encolhe os
ombros como se não fosse nada. — Mark tem uma família, filhos e netos
e aparentemente tem sido o aniversário de seu filho mais novo por 35
dias. — Ele olha hesitante para Loren, preocupado como se tivesse falado
demais na frente do CEO da Hale Co. — Eu trabalharia a mesma coisa se
ele ficasse fora trezentos dias no ano. Eu realmente não me importo em
ficar acordado a noite toda. Estou solteiro, então... — Ele se encolhe um
segundo, coçando a cabeça e olhando rapidamente para mim, depois
para o chão.
Que diabos. Divertido? Como ele é divertido?
Ele está acidentalmente me entregando informações pessoais,
cometendo erros de esquerda à direita. Alguém acabou de soltar um
pequeno girino triste em meu oceano e ele está nadando até as minhas
mandíbulas afiadas como navalhas. A menos que ele esteja me
manipulando para acreditar que ele é mais fraco do que ele realmente é...
Eu descanso minhas mãos na mesa. — Então essas olheiras sob seus
olhos não são de maconha?
Eu perguntei a Connor por três fatos sobre Theo no caso de eu me
encontrar com ele na Hale Co. Eu queria artilharia, e sem hesitar, ele me
deu, nenhuma emoção anexada.
1. Theo costumava fumar grandes quantidades de maconha na Faust,
enchendo seu dormitório de fumaça e acionando o alarme de incêndio.
2. Theo amava poesia e arte. Ele nunca teve paixão pelo mundo
corporativo, mas seus pais o empurraram para ele.
3. Theo gostava de ficar por baixo.
Eu não estava animado para saber o terceiro fato, mas o guardei de
qualquer maneira para uso posterior. Connor não me entregaria
informações sem sentido. Ele abriria um armário de munição - de
espadas, pistolas e flechas - e me perguntaria de qual eu precisava.
À menção de drogas, Theo tenta achatar seu cabelo esfarrapado. — Eu
não faço isso… — Ele limpa a garganta, tossindo em seu punho. — Foi
uma coisa... em Faust. — Ele solta um suspiro tenso e se vira para Lo,
talvez para ver se ele acabou de jogar seu emprego no lixo.
Lo só olha para mim. — Você o conhece também? — Ele estava ciente
de que Theo conhecia Connor do internato e é isso.
— Só um pouco. — Falar sobre o relacionamento de Theo com Connor
vai fazê-lo ser demitido na hora. A proteção de Loren em relação a mim
circula como um eclipse. Está sempre lá, esperando para escurecer os
céus.
Theo me observa com cuidado, cauteloso e sabendo. Eu seguro a corda
do seu destino. Seus olhos de nuvens de tempestade são benignos, um
tornado que nunca toca o chão, mas permanece incerto antes de passar
pelo céu.
Ele é o girino.
Eu me viro para Lo novamente. — Nós nos conhecemos através do
Modelo da ONU e do Quiz Bowl. — Eu não cortei a corda do Theo. Eu olho
para ele novamente. — Você era a carta na manga de literatura deles.
Ele acena com a cabeça, seus ombros caindo. — E poesia.
— Hum, — diz Lo, quase entediado com o conhecimento. Seu celular
toca, e ele o verifica, indo até a porta. — Theo pode cuidar do que você
precisar, Rose. Volto em meia hora. — Ele coloca o celular no ouvido,
saindo do escritório e desaparecendo pelo corredor em busca de
privacidade.
A ligação é do seu pai ou da Lily. Talvez Ryke.
Theo coça a cabeça novamente em pensamento. Então ele gesticula
para mim. — Eu posso cuidar de qualquer necessidade de marketing.
Qualquer outra coisa, você pode ligar para o seu assistente. — Isso foi
bastante assertivo. Ele faz uma pausa e balança em seus mocassins. — Eu
me formei summa cum laude em Yale. — Ele acena com a cabeça
algumas vezes, examinando o escritório para evitar o meu olhar.
Yale. Ugh.
Por que ele não pôde ficar lá e não entrar na minha estratosfera?
E me formei summa cum laude em Princeton, que é como correr pela
areia movediça com corrente de cinquenta quilos presas nos meus pés.
Em comparação, Yale é como ser jogado em uma piscina com um salva-
vidas. A faculdade de Connor é mais fácil do que ambos, mas ele não
frequentou a Universidade da Pensilvânia por causa dos estudos
acadêmicos. Ele foi por causa das pessoas. Tinha o distintivo de orgulho
da Ivy League, mas o mais importante era que abrigava grandes
quantidades de filhinhos de papais que ele precisava conhecer. Pessoas
como Patrick Nubell, da Nubell Cookies. Ou Loren Hale. E minha irmã.
Após um longo momento de silêncio, Theo aponta para a cadeira. — Eu
posso?
— Fique à vontade. — Eu aceno com um sorriso sacarino.
Ele arrasta a cadeira para mais perto da mesa. Eu me endireito por
alguns segundos, não prevendo isso. Eu pego uma caneta de uma caneca
da Hale Co., a rolando entre meus dedos. Connor costumava me contar
pequenas coisas sobre Faust, só depois que começamos a namorar. Ele
disse que todos os garotos conversavam sobre garotas da escola
preparatória de Dalton, Pavawich e Vorwell. Ele disse que circulavam
rumores sobre mim desde que ele me procurava durante as conferências
acadêmicas.
Ele disse que alguns eram falsos. Outros eram verdadeiros. Ele só
acreditava naqueles que eu verifiquei.
Eu só esperava que esses rumores não tivessem se estendido a Yale
depois da minha adolescência. Isso seria desastrosamente triste.
Depois que Theo se senta, ele passa as palmas das mãos úmidas em
suas calças.
Em quantos rumores ele acredita? Aposto que ele já formou quem eu
sou graças as fofocas do escritório e dos tabloides, o reality show e
qualquer remanescente que eu tenha deixado durante a infância.
— Eu te deixo nervoso? — Eu pergunto imediatamente.
Ele ri uma vez. — Sim. — Ele balança a cabeça, mais para si mesmo. —
Mais ou menos. Você é... você. — Eu não tenho cem por cento de certeza
de qual é o contexto de sua resposta.
— Eu não sei o que isso significa. — Eu tento imitar Connor, mantendo
minha voz nivelada e ilegível, mas acabo cuspindo as palavras.
Ele abre a boca e depois fecha devagar, repensando. Ele ainda evita
meus olhos.
— Não se segure, — digo a ele. — Se eu quisesse você fora desse
escritório, eu teria dito a Loren sobre seu relacionamento com meu
marido.
Theo acaricia os braços da cadeira algumas vezes, contemplando. —
Obrigado por isso. Esse trabalho... não foi fácil de conseguir. A Hale Co.
funciona com nepotismo, e o que eu tenho de inteligência me falta em
conexões. — Ele faz uma pausa, finalmente olhando diretamente para
mim. O funil do tornado se abaixa sob a linha de nuvens. — Connor
costumava dizer que é tão ruim quanto ter um GPA de 1,0.
— Ele te insultou. — Nenhuma surpresa.
— Ele insulta todo mundo, mas você provavelmente sabe disso. — Ele
limpa a garganta novamente.
— Pare de fazer isso. — Minha pele rasteja com o barulho. — A menos
que você seja um gato.
— Perdão? — Ele franze a testa.
Eu reviro meus olhos. Ele não é meu marido, nem mesmo
marginalmente. — Você parece estar tossindo uma bola de pelo, Theo.
A cor foge um pouco de suas bochechas e ele se mexe, colocando o
tornozelo no joelho. — Desculpa.
— Não se segure, — eu o lembro. — Por que eu te deixo nervoso?
— Você… — Ele estuda meu rosto, absorvendo meu olhar ardente. —
Você foi o assunto na Faust por um tempo. — Ele faz uma pausa por
muito tempo.
Eu aceno para ele.
Ele acena com a cabeça novamente. — Nós nunca consideramos a
Dalton uma ameaça no Modelo da ONU, não até você aparecer na equipe
deles. Você quase nos derrotou, e os caras não conseguiam parar de falar
sobre essa garota. — Seu olhar flutua enquanto ele junta suas memórias.
— A herdeira do império Fizzle tinha mais conhecimento do que cinco de
nós juntos. Naquela época todos esperavam que você fosse burra. Você
era uma garota. — Porra, sim, eu sou uma garota. — Você se vestia e
parecia que precisava de cinco horas para se preparar. — Eu amo moda.
— E você era rica. — Isso também.
Eu sacudo minha cabeça. — É trágico o fato de que foi preciso eu
aparecer para vocês aprenderem que as garotas podem ser femininas e
inteligentes. — Se eu soubesse disso, acho que teria invadido a Faust e
colocado retratos de mulheres que me inspiraram em todos os seus
corredores. Coco Chanel entre elas.
— Eu concordo. — Ele diz.
— Então você está nervoso porque eu sou uma mulher confiante.
Ele hesita como se houvesse mais. — Havia rumores sobre você. —
Quando ele esfrega o pescoço, sua manga desliza para cima, revelando
uma tatuagem no interior de seu pulso, talvez o início de um desenho
maior.
— Como o quê?
— Você esfaqueou uma boneca com uma tesoura e escreveu em sua
testa. — Ele aperta os olhos para lembrar das palavras. — Algo como... eu
não vou cuidar disso a menos que… algo.
Eu lembro. — Eu não vou me importar com um objeto inanimado, a
menos que os meninos também se importem, — digo a ele.
— Então é verdade?
— Esse é. Eu não sei os outros rumores que vocês inventaram sobre
mim. — Tenho certeza que alguns são dramáticos, até para mim.
Ele olha para o teto, como se isso fosse ajudá-lo a pensar. — Havia um
que você era viciada em cocaína. Você parecia um pouco... — Ele faz uma
breve pausa no meu olhar furioso. — …temperamental.
— Isso é ridículo. — Eu não posso simplesmente ser assim. Eu tenho
que ter um vício em cocaína?
Ele concorda com a cabeça. — E então o boato de que seu pai te
colocou em um casamento arranjado quando você era pequena.
— O quê? — Eu quase grito. Connor nunca me disse isso.
— Você não namorava. Pelo menos é o que ouvimos dos caras da
Dalton, então meio que se espalhou.
Eu franzo a testa. — Ninguém pensou que eu poderia ser lésbica? —
Essa parece ser a conclusão menos teatral.
— Você sempre usava salto alto, — diz ele.
Eu cerro meus dentes. Há muitos estereótipos para eliminar. — Eu
poderia ter sido uma lésbica orgulhosa de salto alto, — eu replico. — Por
serem tão inteligentes, vocês todos eram irritantemente estúpidos. —
Então eu era muito feminina para ser lésbica aos olhos deles, outro
estereótipo para mastigar.
— Eu não acreditei em nada disso, — diz ele. — Eu não acho que
alguém que usava o cérebro acreditou, mas a maioria dos rumores
geralmente eram sem fundamentos e cruéis.
Ele não é horrível.
— Isso foi há muito tempo, — diz ele, se endireitando na cadeira. —
Foi só coisa de escola preparatória.
— Yale...
— Foi diferente, — ele me corta com uma leve careta. — As pessoas
que se importavam o suficiente para conhecê-la pelo nome viam você
como uma filhinha de papai, recebendo a companhia de refrigerante do
seu pai. Era uma... atmosfera diferente. Os caras da Faust não davam a
mínima de onde você vinha, mas sim para onde você ia. Se fosse preciso
um passo para você chegar ao topo e outra pessoa quinhentos, seria tudo
a mesma coisa para nós.
Eu fico entre abominar os garotos da Faust e amá-los. Estou
acostumada a esse enigma de amor e ódio já que sou casada com um
deles.
Ele lambe os lábios secos, o silêncio criando uma tensão mais
desconfortável. — Vamos falar sobre a marca?
— Em um segundo. — Eu não vou desperdiçar esse tempo com ele,
mesmo que minhas costelas se contraiam em torno dos meus pulmões
quanto mais tempo compartilhamos a companhia um do outro. — Como
o Connor era na Faust?
Eu nunca recebi essa informação de uma fonte imparcial. Eu adoraria
até mesmo um pequeno segredo de infância. Já que Connor não tem
irmãos, os caras com os quais ele cresceu na Faust são os mais próximos
de irmãos que vou encontrar. Infelizmente, Theo é o primeiro que eu
encontrei fora de um evento da faculdade, ou então eu escolheria outro
antes dele.
Theo encontra meus olhos inquisitivos. — Eu assisti talvez a um
episódio de Princesas da Filadélfia, e Connor foi condescendente com
quase todas as pessoas em um intervalo de dez minutos. Ninguém
pareceu se importar.
Connor foi editado mal, mas nem tudo era falso. Isso provavelmente
não foi.
— Em Faust, ele era muito assim, — diz Theo, — e ele era popular. Não
foi porque ele tinha conexões e era rico como o inferno, mas sim, ele era
todas essas coisas também. Connor era apenas alguém que você queria
por perto porque ele dizia coisas que todos tinham medo de dizer. Ele
sabia quando ficar quieto e quando falar, e quando falava ele era o único
que conseguia te chamar de inferior e fazer você sorrir depois. Ele era o
único que podia dizer essas coisas sem ser odiado. — Ele dá de ombros.
— No final do dia, ele era apenas simpático.
Simpático.
Se ele era tão simpático, como demorou tanto para eu gostar dele?
Você me amou, Rose, eu ouço a voz dele na minha cabeça.
Eu clico minha caneta, refletindo sobre isso. — Você percebe que ele
estava manipulando todos vocês?
Theo acena com a cabeça. — Sim. Ele sempre nos dizia isso. Nós
sempre brincávamos que ele era o tipo de pessoa que explicaria como ele
ia te esfaquear na frente antes que ele realmente enfiasse a faca… e você
permitiria. Claro. Em algumas circunstâncias, ele provavelmente passaria
a faca para você, então você poderia enfiar em seu próprio peito, e você
faria isso.
Eles deixariam Connor hipoteticamente matá-los. Deus. Se ele ouvisse
isso agora, acho que seu ego literalmente engoliria o sistema planetário.
O que mais me interessa - Theo nunca disse nada sobre chantagem. As
táticas de Connor são aparentes, visíveis o suficiente para que a pessoa
reconheça o que está acontecendo, mas ela faria de qualquer maneira.
Esse poder é assustador, e se Connor visse vingança como algo além de
infrutífero, eu ficaria apavorada toda vez que alguém o desprezasse.
Eu volto no tópico. — Então você é o assistente do Mark. Você
compartilha suas opiniões sobre os rótulos?
Ele respira fundo. — Estou em uma encruzilhada aqui. Eu poderia te
dizer que é uma ideia estúpida ter HC no rótulo. As pessoas associam a
Hale Co. a fraldas, produtos para bebês e óleos. Clientes de alta qualidade
não vão comprar roupas com os mesmos rótulos das coisas em que seus
bebês cagam. Mas, se eu disser isso, estou discordando do meu chefe.
Você pode ter poder, mas Mark é quem pode me demitir.
Eu clico na minha caneta novamente, pensando. Theo concorda
comigo, mas ele se preocupa muito com o seu emprego para ir para o
meu lado.
— E se eu pudesse garantir o seu emprego? — Eu ofereço. Tenho
certeza de que, se eu falasse com Loren, poderia mudar o cargo de Theo,
assegurando-o ao meu time, e não ao do Mark. Preciso de outra voz no
meu canto, mesmo que seja tão moderada quanto a de Theo. É algo mais.
Uma onda de pena toma conta do rosto de Theo. Eu aperto minha
caneta com mais força. Não olhe para mim assim, tento traduzir essas
palavras em um olhar mais feroz.
— Não vai importar. Você vai perder, Rose. — A sinceridade cobre sua
voz. — Todo mundo sabe que CCB deveria estar nos rótulos. Mas isso não
significa que você vai vencer. Você está no centro de uma corporação que
foi administrada por um misógino há mais de trinta anos. Eles cairão em
suas espadas antes de deixar uma mulher de vinte e seis anos vencer.
Eu não posso acreditar nisso, mesmo que no fundo eu saiba que é
verdade. Jonathan Hale pode nunca falar mal de mim porque sou filha de
seu melhor amigo, mas eu o ouvi dizer coisas hediondas sobre mulheres
antes. No entanto, Jonathan não está mais administrando essa empresa.
— Loren ...
— Tem influência, mas a maioria dos membros da diretoria o
considera jovem e inexperiente. Ele precisa de tempo para construir
relacionamentos antes de poder conquistar a maioria. Vocês dois... vocês
estão em minoria agora. Dois contra quatorze. É uma batalha perdida.
— Como você sabe tudo isso? — Eu pergunto. Ele é apenas um
assistente.
— Eu ouço as coisas, — ele me diz. — As pessoas tendem a esquecer
que estou na sala. É uma qualidade útil.
Ele é uma sombra. Nos seus olhos e na sua vida.
É uma batalha perdida. Eu não posso enrolar e desistir. Os diretores
querem que eu cale a boca e use o meu rosto como uma jogada de
marketing, aproveitando o meu status de celebridade. Há blogs
dedicados ao que eu uso todos os dias e até para as roupas que escolho
para Jane. As fotografias dos paparazzi nos ajudam nessa parte, irônico
que a invasão faz nossos negócios crescerem, mas coloca nossos filhos e
suas privacidades em risco. Há uma linha segura em algum lugar entre os
dois, e todos nós ainda estamos tentando encontrá-la.
Eu pego um pedaço de papel em branco da gaveta na mesa do Loren.
Eu não vou ser uma ferramenta sem voz para essas pessoas. Loren me
contratou sabendo exatamente quem eu sou, e se o resto da diretoria não
vai me aceitar, me respeitar ou concordar comigo, então eu preciso fazer
isso de uma maneira nova.
A solução repousa na borda do meu cérebro. Eu bato no papel com
minha caneta.
O que.
Eu.
Posso.
Fazer?
Eu fecho meus olhos por um momento.
— Você está bem? — Theo pergunta. Eu ouço o couro ranger sob sua
bunda quando ele se mexe.
Eu levanto um dedo. Um segundo. Calloway Couture Babies: CCB. Hale
Co: HC. Tem que haver um meio termo...
Meus olhos se abrem e eu rapidamente puxo o papel para perto de
mim e começo a desenhar. Theo estica o pescoço, tentando ver minha
ilustração sobre uma pilha de pastas.
Eu termino em alguns segundos e giro o papel para encará-lo. Eu
empurro as pastas para mais perto do computador de Lo. Theo observa o
esboço simples: as letras HC estão inseridas no centro da letra B do CCB.
Sua expressão permanece ilegível e meu pulso dispara. Eu noto seus
olhos piscando para uma caneta na caneca.
— Você tem habilidades de arte? — Eu pergunto, puxando uma caneta
para ele. Eu coloco na sua frente com o papel. — Faça isso mais bonito. —
Eu sou boa em desenhar. Tenho cadernos de esboços em cima de
cadernos de inúmeros designs, mas não tenho muito orgulho para não
passar uma tarefa para outra pessoa.
Ele se endireita, mais ansioso para acrescentar sua visão à minha, e
começa a encobrir as letras com linhas mais longas, cursivas, lembrando
pinceladas. Ele coloca o HC mais baixo, alinhando-o com a barra do B.
Quando ele termina, ele gira o papel para me encarar.
É lindo. Ele de alguma forma fez algumas letras parecerem elegantes e
caprichosas.
— Eu preciso que você dê isso para o Mark, — eu instruo. Se Mark
aprovar, ele apresentará ao restante dos membros da diretoria. — Diga a
ele exatamente o que você me disse. Ninguém quer comprar roupas com
o mesmo rótulo que está na fralda de seus bebês, e diga a ele que você
me odeia. Que você nunca me deixaria ter meu rótulo, mas isso, — eu
gesticulo para o papel, — será o melhor dos dois mundos. Um dedo do
meio para mim, mas um sucesso para a marca.
Theo balança para trás, minhas palavras batendo contra ele. — Você
ainda tem que odiar isso externamente.
Eu não sou a melhor atriz. Estar na cama com a mídia provou isso o
suficiente, mas eu ainda tentaria dar o meu melhor. — Vou fazer uma
birra enorme. — Eu puxo meus ombros para trás. — Como eles ousam
colocar HC no meu rótulo? E agora tem cinco malditas letras? Vocês
todos disseram que três letras eram demais, então sua resolução é
adicionar mais duas? Essa é a pior ideia que já ouvi. Quem pensou nisso
deveria queimar.
Ele coloca os dedos nos lábios, um sorriso espreitando. — Isso é
loucura, — diz ele e depois ri. — Agora eu sei … — Ele balança a cabeça
em realização.
Meus ombros se abaixam. — Sabe o que?
Seus olhos cinzas tempestuosos pousam em mim. — Por que ele se
casou com você.
Eu me endireito. — Ele me ama, — eu digo por instinto. Eu acredito em
cada sílaba. Eu não questiono isso por um segundo, mas vejo a pena em
seus olhos novamente. Ele não acredita... talvez que Connor possa amar
alguém. Mas a piada está em Theodore Balentine. Connor é mais do que
ele era. Ele aprendeu a aceitar o amor em sua vida e a viver por ele, e isso
faz dele um homem diferente. Isso faz dele um melhor.
— Você muda as peças para se adequar, — explica ele. — Muitas
pessoas não conseguem fazer isso e muitas pessoas não querem jogar
esse jogo. Tenho certeza que ele valoriza esse aspecto em você.
A única pessoa que estou questionando é Theo. Ele é tão fraco quanto
parece? Se ele sabe que existe um jogo - que as pessoas manipulam e
enganam, que alguns de nós escolhemos ser cobras debaixo da grama -
então talvez ele esteja rastejando também.
Meus ossos endurecem, desconfiados e cautelosos.
Eu acho que estou mexendo com a minha cabeça.
Ou ele está.
Theo se levanta, o papel em suas mãos. — Eu vou dar isso para Mark e
caluniar seu nome ao mesmo tempo, se é isso que você quer.
— É. — Meu sangue corre frio.
Ele acena com a cabeça e eu o vejo indo para a porta de vidro. Ele abre,
praticamente um pé fora antes de fazer uma pausa e virar a cabeça para
mim.
— Eu quero que você saiba, — diz ele, — que embora isso seja
desconfortável... espero que possamos ser amigos no futuro.
Uma rocha se aloja na minha garganta. Ele está me manipulando? Por
que parece que ele está? Talvez porque seja preciso mais do que palavras
para eu confiar nas pessoas. Amigos. Esses são difíceis de encontrar,
ainda mais difícil de acreditar que são reais.
— Eu não tenho certeza se você possui as qualidades certas para ser
meu amigo, — digo a ele, minha voz mais fria do que quente. Tudo o que
eu quero é lealdade, e parte de mim está atenta com ele, como se fosse
um funil de tornado girando no céu.
Ele respira fundo, acena com a cabeça uma vez e saí do escritório.
Eu mal relaxo. Minhas mãos tremem de repente, e eu me esforço para
organizar a mesa bagunçada de Lo, colocando as pastas dele em ordem
alfabética, em uma pilha mais limpa. Eu tento não focar em uma certa
memória, uma que amplifique essa situação, mas inunda os espaços ocos
da minha mente.
Meu último ano na faculdade, em algum momento depois das férias de
primavera em Cancun, Connor e eu jogamos palavras cruzadas na minha
cama - nossos olhos estavam vermelhos, mas nenhum de nós conseguia
dormir. Eu também não queria ficar sozinha, então eu não pedi para ele
ir embora. Nós jogamos durante a noite. O vício em sexo de Lily havia
sido divulgado apenas uma semana antes, e nossas vidas estavam
mudando mais rápido do que conseguimos acompanhar.
Connor tinha menos a perder com o ataque das câmeras, da
intromissão e da má imprensa, mas precisava fazer telefonemas todos os
dias. Eu estava tentando salvar minha empresa. Ele estava tentando
proteger outra coisa. Na época, eu não tinha certeza de quem eram as
chamadas ou sobre o que elas eram.
Lembro-me de formar uma palavra medíocre com as letras de
madeira: estar. Muito exausta e gasta para pensar bem.
— Como que você ainda não me perguntou? — Connor perguntou,
vagamente interessado em suas letras. Ele se concentrou apenas em
mim.
— Seus enigmas são ainda mais irritantes quando estou sem dormir.
— Eu estava esperando que ele retrucasse, você ama meus enigmas.
Em vez disso, ele ficou sério. Nem mesmo uma silhueta de sorriso. —
Você não está curiosa para saber com quem eu tenho conversado?
Isso passou pela minha cabeça mais do que algumas vezes. — Não é da
minha conta, — eu disse a ele honestamente. — A menos que você esteja
me traindo… — Meus olhos queimaram.
— Não, — disse ele. — Eu nunca iria trair você, Rose.
Eu não queria me intrometer em partes pessoais de sua vida sem o seu
consentimento, assim como eu esperava o mesmo em troca. Nós só
estávamos juntos por oito meses, e seria uma mentira dizer que eu o
entendia completamente. Eu só entendia as partes reais que ele me
deixava ver.
Ele continuou a ignorar o jogo de tabuleiro. Eu não consegui ler sua
feição. Em retrospecto, acho que ele estava nervoso em abordar um
assunto que nunca discutimos em profundidade.
Eu mencionei, — Nós estamos namoramos há menos de um ano. Se
isso não me afeta, você não é obrigado a me dizer nada, Connor. — Eu
queria saber, mas eu não forçaria nada dele. Não se fosse pessoal. Não se
fosse tão difícil de falar. Eu esperaria, assim como eu esperaria Lily se
abrir sobre seu vício em sexo, mesmo que levasse anos para ela
compartilhar comigo.
Ele descansou o antebraço no joelho dobrado. — Quando estivermos
casados, isso pode afetar você.
Eu bufei. — Você está delirando se acha que eu me casarei com você,
Richard.
Ele quase sorriu, mas a verdade pesou sobre ele. — Então, em anos,
quando ainda estivermos juntos, ainda pode afetar você.
Eu engoli em seco.
— Eu quero te falar para quem eu liguei. Caso você seja puxada para
isso, eu quero ser completamente, totalmente honesto com você, Rose.
Eu estava assustada. — Ok…
Ele virou uma peça de madeira entre os dedos, mentalmente formando
as palavras precisas antes de pronunciá-las. — Eu tenho localizado todos
os meus ex.
Meu peito desabou, mas o deixei falar antes de saltar para conclusões
irracionais.
— Só os caras com quem eu estive, — ele disse em um breve suspiro.
Seus olhos piscaram para mim, para avaliar minha reação. Eu acenei com
a cabeça, o encorajando a continuar. — Eu os paguei e eles assinaram um
acordo de não divulgação. Eu não pude assumir o risco de qualquer um
deles me assumindo para a mídia. Isso poderia tornar as coisas mais
complicadas com o nosso relacionamento, e poderia prejudicar... — Sua
reputação. Cobalt Inc. Ele não tinha certeza. Eu não tinha certeza. Connor
mal expressou essa parte de sua vida comigo naquela época, e ele não
estava pronto para anunciar nada para o mundo todo. Não com
consequências desconhecidas pairando sobre sua cabeça.
Então ele fez controle de danos e varreu seu passado para cantos
escuros.
Fiquei feliz que ele me contou - que ele confiou em mim com essa
informação. Dizia mais do que suficiente. Eu teria apoiado suas escolhas.
— Ok, — eu disse com mais confiança.
Ele ainda hesitou. — Um deles não assinou, não importou quanto
dinheiro eu ofereci e o que eu falei.
Eu congelo. — Quem?
— Theodore Balentine.
Eu me lembrava dele. — O que ele quer?
— Nada, — Connor me disse. — Ele falou que moralmente não poderia
fazer isso comigo. Ele não queria me empurrar para o armário, mesmo
que fosse eu quem estava fechando a porta. — Connor balançou a cabeça
repetidamente. Ele estava chateado que uma corda ia ser deixada
desamarrada. — Eu só tenho que confiar que ele não dirá nada à
imprensa.
— Se a moralidade é a razão dele, ele não vai.
— As pessoas mudam, — disse Connor, deixando-me com aquelas três
palavras assombrosas antes de voltar a atenção para o tabuleiro.
Não faço ideia se o Theo mudou desde então. É muito provável que a
América corporativa tenha tido algum impacto sobre ele.
Então, mesmo que eu agisse como sua chefe... ele silenciosamente
detém todo o poder.
[ 17 ]
CONNOR COBALT
Rose carrega Jane na curva de seu quadril ao redor da cozinha,
recolhendo uma bandeja de canecas. O início precoce da manhã de Natal
é tranquilo, com todos ainda dormindo às 8 da manhã e sem tempo
previsto para acordar. Eu gosto mais disso do que passar o dia e a noite
na casa da minha sogra, que foi reservada para a véspera de Natal.
Eu termino de derramar purê de pêssegos em uma tigela rosa com
uma colher pequena.
— Há três coisas que você nunca pode ficar sem, Jane, — diz Rose,
colocando seis canecas ao longo da bandeja de madeira. — Um ótimo par
de saltos, uma roupa do seu gosto e café. Ou se preferir chá quente, isso
também funcionará.
— Alterando sua própria declaração já? — Com a tigela na mão, eu
bloqueio o caminho de Rose para a cafeteira.
— Se eu pudesse, eu teria alterado sua personalidade no primeiro
encontro.
Eu sorrio. — E então você teria me rebaixado. Você deveria estar feliz
por não ter esse poder.
— Estou feliz que eu tenho o poder para fazer isso. — Ela cobre minha
boca com a mão, e meus lábios sobem por baixo. — Pare de sorrir. — Eu
não paro, e ela abaixa a mão com um grunhido.
— Claramente seu poder é limitado, querida.
Jane ri, dissolvendo o calor nos olhos de Rose mais rápido que o
normal. — Isso mesmo, — diz Rose, — seu papai gosta de se gabar. É a
sua pior característica.
— Isso é discutível.
Rose bufa baixinho e depois leva Jane até a cadeira alta junto à mesa do
café da manhã. Claro que eu sigo. Jane balbucia algumas sílabas,
estendendo a mão para a tigela em minhas mãos. Ela chuta suas
perninhas. Eu coloco a tigela na sua frente, e ela observa curiosamente o
purê pêssegos primeiro, como ela costuma fazer. Vamos dar comida na
boca dela assim que ela se sentir confortável com o que está comendo.
Rose se vira para mim, muito mais baixa em apenas chinelos e sem
saltos. Ela cruza os braços sobre o robe de seda. Aproveito a
oportunidade para abraçá-la pela cintura, aproximando-a do meu peito.
Ela pergunta, — Que monarca inglesa nasceu perto de Londres, mas
sua mãe perto de Madri? — Seus olhos voam para os meus lábios. — Se
você responder errado, não vou falar com você pelo resto do dia.
O jeito que ela declara essas regras quase endurece meu pau. As
apostas são relativamente altas para mim. Mensagens não respondidas,
telefonemas ignorados e recusas de me responder - é uma tortura
particular que só derivaria de Rose. Qualquer outra pessoa, acho que
ficaria bem ignorando.
Eu fico quieto por um momento, passando pelo meu conhecimento
rapidamente.
— Você tem trinta segundos. — Ela levanta o queixo, os olhos ainda
nos meus lábios.
Você quer que eu responda ou te beije com força, Rose? Eu esfrego meus
próprios lábios, seu olhar persistente acumulando meu desejo.
— Dez segundos.
A resposta bate na frente do meu cérebro. — Mary Tudor.
Ela acena com a cabeça uma vez. — Parabén...
Eu a beijo com força, puxando-a para o meu corpo, e seus braços se
desenrolam, com as palmas das mãos no peito - e ela nos separa com um
empurrão.
Ela respira superficialmente. — Richard. — Ela não terminou de
brincar comigo. Vou tentar esperar, só porque estou curioso para saber o
que mais ela tem reservado. Tomo nota de como minha mão está na dela.
Rose não parece notar, e eu não vou esclarecer o fato. Eu quero a mão
dela na minha. Sempre.
— Sim? — Eu pergunto.
Ela olha para Jane uma vez. Nossa filha enfia um dedo nos pêssegos e
depois coloca na boca, saboreando a comida em passos medidos. Rose
vai até o balcão e pega um guardanapo fino que eu nunca vi.
Então ela empurra na minha cara.
Eu não posso esconder o sorriso que toma conta do meu rosto. Há três
nomes rabiscados no guardanapo: Branca de Neve. Ariel. Rapunzel. Eu
abaixo a mão dela. — Eu tenho uma memória impecável, e lembro-me
claramente de ter dado a você três príncipes da Disney para escolher
anos atrás, e você discutiu sobre isso.
Ela acena com a mão. — Então eu concedo a você o direito de discutir,
mas você ainda tem que responder como eu fiz.
Há uma resposta errada nesse jogo de foder, casar, matar. Há sempre
uma que nos fará questionar uns aos outros mais do que o habitual.
Quando eu a testo, eu tenho uma idéia da resposta dela, e se ela escolhe
algo diferente, minha mente entra em espiral com intrigas, desejando
entender o porquê.
Ela coloca uma caneta na minha mão, não querendo que eu diga as
palavras em voz alta. Nós nunca falamos. Esse jogo é por mensagem ou
em papel. Essas regras não foram alteradas em anos.
Eu tropeço no nome da Rapunzel. O cabelo de Daisy costumava ser tão
longo e loiro, e na mídia, os jornalistas a comparavam a personagem de
conto de fadas com muita frequência.
Rose sabe disso.
Mas Ariel? Cálculo minhas escolhas rapidamente e, ao lado de cada
nome, nessa ordem precisa, escrevo: Casar. Matar. Foder.
Eu passo a ela o guardanapo, seus olhos perfurados buracos no papel
enquanto ela lê. — Por que você está fodendo a Rapunzel? — Ela parece
horrorizada com essa noção.
— Porque eu não quero foder uma sereia.
— Ela cresce pernas.
— Você está descrevendo o desenvolvimento de um sapo. — Um girino
começa com uma cauda e guelras internas e começa a formar pernas,
mas eu não preciso explicar isso para Rose. — E ainda - surpreendendo
absolutamente ninguém - eu não estou transando com um anfíbio.
Ela bufa em gargalhadas, a mão tentando cobrir a boca para esconder a
existência dela à medida que aumenta.
Eu começo a rir também, e eu entrelaço meus dedos com os da Rose,
deixando cair nossas mãos para os lados para que eu possa ver seu
sorriso completo.
Jane ri atrás de nós. — Mama! — Em uníssono, nós dois balançamos
nossas cabeças em direção a nossa filha. Ela está levantando sua pequena
tigela de pêssegos acima da cabeça. — Cima!
Suas primeiras palavras.
A tigela escorrega de seu alcance, batendo no chão, pêssegos
amassados derramados. Eu avalio a reação de Rose para a bagunça. Sua
mão livre está pressionada contra seus lábios. — Você ouviu? — Ela me
pergunta, com os olhos cheios de emoção.
Meu sorriso se alarga, emocionado em ver que o amor delas uma pelo
outra superou o tique inato da Rose, que sempre aumenta com a visão do
caos. Eu abraço Rose ao meu lado. — Eu ouvi, querida.
Eu não sou nem minuciosamente religioso, mas hoje, na manhã de
Natal com minhas garotas envoltas de felicidade, parece tão espiritual
quanto eu já vi na minha vida.
[ 18 ]
ROSE COBALT

— Moffy desce sobre a caixa com um forte aperto de bebê e um brilho


diabólico em seus olhos, — Daisy narra ao lado da árvore de natal de
dois metros e meio, decorada com elegantes laços de ouro e ornamentos
cintilantes.
Ela segura uma câmera enquanto os sinos tilintam nas meias a cada
passo na espaçosa sala de estar, cheia de espírito de Natal: meias ao
longo da lareira, neve caindo atrás das janelas, presentes empilhados sob
a árvore; embrulhados cuidadosamente (eu) ou de qualquer jeito
(Loren) e o cheiro de baunilha e cookies adoçando o ar.
Loren provavelmente acredita que eu amo tradições e festividades,
porque é outro dia que eu posso decorar a nossa casa, outro dia para
mandar nas pessoas e orquestrar tudo ao meu gosto. Eu sou
perfeccionista, mas ver uma casa de gengibre inclinada e um boneco de
neve mal construído é bom para mim. Festas sempre significaram algo
mais. Toda pessoa que eu amo estará junto. Minhas irmãs, mais
importante.
Os outros detalhes são apenas extras.
— Diabólico? — Os olhos de Lily se arregalam em horror. — Ele não
parece diabólico. — No tapete de cor creme, Lily olha para o bebê
aninhado entre as pernas. Moffy ansiosamente agarra a caixa
embrulhada em vermelho, ignorando sua finalidade.
Loren está sentado ao lado de sua esposa e ajuda seu filho a rasgar o
papel. Todo mundo está vestido com algum tipo de pijama. Moffy e Jane
em macacões de Natal. Daisy com leggings despojadas e uma camisa
branca que diz: Duende você vai me amar! Lily em um macacão cinza com
estampa de floco de neve, pompons e um capuz. Lo e Ryke nas
respectivas calças de flanela vermelha e verde. Eu: o pijama todo preto.
Mas eu tenho elegantes brincos de ornamentos vermelho.
Connor é o único que não está participando. Fora de princípio, ele
disse. Ele está de calças de moletom cinza e eu não o pressiono para se
trocar. Eu o amo, estranhas peculiaridades e tudo mais.
— Moffy parece adorável, — Lo confirma. — O bebê diabólico está
sentado no colo do diabo.
E claro, ele se vira para mim.
Enquanto no sofá, eu protetoramente seguro Jane mais perto, o braço
de Connor em volta dos meus ombros. — Você percebe que isso está
sendo gravado, Loren? — Eu faço uma careta em um sorriso. — Então
agora sua sobrinha vai ver o quanto você é um otário do caralho.
— E agora ela vai ouvir a boca suja da mãe dela, — retruca Lo e depois
bate palmas.
Ryke se junta, esparramado no sofá de dois lugares com o cabelo mais
grosso e mais bagunçado, como se tivesse acabado de sair da cama. Daisy
lhe entregou um gorro de Papai Noel mais cedo, mas ele está com
preguiça de colocá-lo, o gorro de veludo vermelho ainda em seu peito.
Ele finalmente pega meu olhar quente e levanta as mãos em defesa. —
Eu estou apoiando a linguagem do caralho.
Daisy salta sobre um presente, quase largando a câmera de vídeo -
todos podem ficar enjoadas com as imagens tremidas para assistir de
qualquer maneira. — Eu posso editá-lo… — Daisy começa, mas depois
para com o meu olhar.
— Eu não quero que o primeiro Natal de Jane seja editado. — Eu
realmente gostaria que o vídeo ficasse nivelado também, mas eu não
menciono isso. Eu não sou tão rude.
Daisy finge estar chocada. — Quem sugeriu tal coisa? Eles devem ser
multados com uma dúzia de biscoitos de chocolate.
Sem sair de sua posição descansada, Ryke gesticula para ela se
aproximar dele. — Eu posso te dar algo melhor pra caralho, Calloway. —
Eu tento não ler muito em sua insinuação sexual descarada. Seu flerte
tem os mesmos limites de suas personalidades. Ambos passam pelas
zonas de perigo e pelas placas de Não Ultrapasse.
Daisy vira a cabeça para ele. — Bolo?
— Melhor que um fodido bolo.
Ela finge confusão. — Não existe tal coisa.
Ele à mostra o dedo do meio e depois gesticula para ela novamente. Ela
pula até ele, com cuidado para evitar esmagar as muitas variedades de
presentes.
Vendo-os juntos me lembra que a cirurgia de Ryke é em menos de uma
semana, no dia seguinte do aniversário do Connor. Com o tempo
horrendo - frio, chuva e neve - Ryke quase não teve oportunidade de
escalar desde que foi para a academia. Que não era realmente sua
preferência de escalada de qualquer maneira.
Quando Daisy alcança Ryke, ele segura seus quadris e levanta sua
camisa uma fração, beijando a parte baixa de suas costas. Ela brilha, seu
sorriso iluminando suas feições. Eu nunca vi Daisy tão radiante quanto
ela fica na presença do Ryke. Eu realmente espero que isso possa durar,
mesmo sem ele.
— Ei, Papai Noel, — Daisy sorri, se virando lentamente.
Ele levanta sua blusa novamente e beija abaixo do umbigo, o que é fofo,
mas também um pouco inadequado devido ao ambiente ao redor. Eu
também estou acostumada aos toques do Loren e da Lily (que são mil
tipos de feche seus olhos) que Ryke beijando o corpo da minha irmãzinha
é dócil em comparação.
Eu moro em um mundo estranho e não trocaria essa atmosfera por
nenhuma outra.
— Tudo bem, — Lo corta do chão. — Sem flertes de Natal. — Moffy
desembrulhou um boneco do Homem-Aranha de plástico, destinado a
crianças de sua idade. — E todos nós podemos não nos referir ao Ryke
como Papai Noel? Eu não quero confundir meu filho.
— Eu concordo com Lo, — diz Lily com um aceno de cabeça inflexível.
— Você não é o Papai Noel. — Ela também coloca as mãos sobre a orelha
de Lo, sussurrando para ele. Estou quase certa de que isso tem a ver com
ele proibir todo o flerte de Natal.
— Foda-se todos vocês, — Ryke diz despreocupadamente antes de
colocar a cabeça debaixo da camisa da minha irmã e beijar a... ugh, quer
saber - eu não quero saber o que seus lábios estão tocando.
Connor se inclina para mais perto, me passando nossas palavras
cruzadas conjuntas, tirada do jornal dessa manhã. Já que seu braço
direito está atrás dos meus ombros, ele o preenche com a mão esquerda,
irritantemente ambidestro. Como se ele precisasse de outro talento em
seu arsenal. Meus olhos percorrem as caixas quadradas, as descrições
apagadas e o título escrito em sua caligrafia elegante: Fornicação.
Em vez de fazer uma palavra cruzada normal, apenas preenchemos as
caixas com palavras pertencentes à nossa categoria escolhida.
Fornicação. Eu juro que Connor está tentando me deixar excitada ou
irritada.
Ele preencheu nove caixas com a palavra: Acrofilia.
Também conhecido como o fetiche de foder alguém em altas altitudes.
Como nas montanhas ou nos telhados. Também conhecido como Ryke
Meadows.
Atiro para Connor com um rápido olhar, mas ele está fazendo cócegas
no pé da Jane, a colocando no colo dele enquanto me concentro. Eu quero
usar a palavra felação, mas as únicas oito caixas disponíveis usam o "i" da
acrofilia, que estraga tudo. Não há um maldito "i" em felação.
Eu poderia ir com testículos, nove letras em outro lugar, mas eu não
acho que se encaixa bem na categoria.
— Sobre esse personagem fictício… — Connor começa.
Lo intervém, — Eles vão acreditar no Papai Noel, na Fada dos Dentes,
no Coelhinho da Páscoa e em tudo o mais que você acha que é um monte
de merda.
Nós nunca tivemos essa conversa, não de imediato, mas houve vários
momentos em que quase surgiu.
Eu mantenho minha caneta no jornal por muito tempo, um borrão de
tinta sangrando no papel fino e quase manchando meu pijama.
Ryke está fora da camisa de Daisy e ela está sentada no colo dele, os
braços dele enrolados confortavelmente ao redor de sua cintura. Ela
desliga a câmera.
Eu estalo meus dedos para ela. — Continue. Sem editar, lembra? — Eu
tive muitas pessoas editando minha vida. Minha filha não verá a versão
editada.
Daisy liga a câmera. — Eu não entendo porque Jane não pode saber a
verdade sendo que o Moffy conhece a versão infantil. — Na cabeça da
minha irmã mais nova, há um final feliz para todos. E meu coração negro
entende muito bem que felicidade para todos é um mito cruel.
Lo amassa o papel de presente vermelho em uma bola. — Porque Jane
vai arruinar isso para ele.
— E para qualquer outra criança no jardim de infância, — acrescenta
Ryke. Ele acena para Connor e para mim. — Sua filha será literalmente
aquela criança que fode o Natal.
Esse problema não foi importante para mim, não o suficiente para
discordar do Connor; então minhas opiniões não são tão fortes quanto as
de todos os outros.
— E como exatamente foi a sua experiência com o natal na infância,
Ryke? — Connor pergunta. — Como o Papai Noel foi tão especial para
você?
Ryke dá de ombros. — Do jeito que é para todo garoto.
Sua resposta é muito vaga para apaziguar Connor. — Descreva isso
para mim.
Ryke suspira em frustração. — Eu não sei. — Ele balança a cabeça em
um pensamento mais profundo.
Jane deixa cair seu leão de pelúcia nos pés do Connor e tenta descer
pelas pernas dele para pegar o brinquedo. Eu me inclino para frente para
pegá-lo, passando o animal para ela. Ela o abraça com tanto fervor que
meu coração negro quase se suaviza. Eu acaricio a cabeça dela. Eu amo
cada pedacinho de você.
— Eloquente. — Connor diz.
Ryke passa a mão pelo cabelo selvagem. — Natal não era só sua mãe e
você?
— Estou assumindo que foi assim para você, — diz Connor, ambos
criados por mães solteiras. Eu pensei que eles encontrariam um terreno
comum através dessa minúscula semelhança, mas dificilmente fortaleceu
seu relacionamento desigual e levemente distorcido. Eu sei que Connor
confia em Ryke. Eu sei que Ryke confia em Connor. Analisar qualquer
coisa além disso me causa uma enxaqueca indesejável e pulsante.
— Sim, — Ryke diz, — então quando eu via um presente do Papai Noel
debaixo da árvore, eu ficava muito animado. Parecia que... — Ele luta
para encontrar as palavras precisas.
— Como se alguém tivesse se importado com você, — Connor termina.
O silêncio pesa no quarto, Ryke não negando esse fato.
Lo franze a testa, como se percebesse a verdadeira solidão de seu
irmão durante esses feriados. Loren passava o Natal conosco, os
Calloways e o pai dele. Minha avó, com seu bolo de frutas duro e a
horrível gargalhada de hiena, adorava Loren e sempre lhe comprava
presentes.
Um ano, eu posso ter quebrado seu Game Boy depois que ele me
comparou com a Angélica do Rugrats, e então ele raspou meu Furby,
provando que ele é tanto Angélica quanto eu.
— Então foi assim para você também? — Ryke questiona, imaginando
por que Connor é tão anti-Papai Noel quando "aparentemente"
compartilha esse vínculo. Connor estava apenas sendo um idiota vago,
então assim Ryke revelaria mais verdades. Eu sei, de fato, que a primeira
vez que ele comemorou o Natal foi na Faust. Mas não é o mesmo que
comemorar com sua família.
Connor diz, — Eu nunca celebrei feriados com minha mãe. Ela os
achava sem sentido. Eu entendo que criaturas fictícias podem fazer você
se sentir melhor, mas nós não deveríamos ter que construir uma mentira
apenas por essa emoção. Jane será confortada com o conhecimento de
que Papai Noel não é real e todo mundo está vivendo em fantasia. — Ele
valoriza o poder que sua mãe lhe deu, capaz de ver o mundo do ponto de
vista “real”.
Loren suspira agora. — Vamos lá, cara. Ser criança significa acreditar
no impossível. Significa acreditar que as fadas existem junto com feitiços
e magia, e que no seu décimo primeiro aniversário você receberá uma
carta de Hogwarts. Significa pensar que seus presentes chegaram de uma
oficina no Polo Norte e não da loja na rua. E Connor... — O rosto de Lo se
contorce com um pensamento. — Eu realmente sinto muito que sua mãe
tirou essa merda de você. Se você tivesse um pouco disso enquanto
estava crescendo, perceberia o quanto é especial. Não tire isso de Jane.
Eu recuso a possibilidade de tirar algo de Jane, qualquer coisa.
Naturalmente, quero lhe dar tudo e mais - todas as coisas que nunca tive.
Como uma mãe compreensiva, não controladora e arrogante.
Eu olho para Connor enquanto ele medita sobre o discurso de Loren. —
Você sabe, — eu digo, — podemos ver quem descobre a verdade
primeiro: Moffy ou Jane. — Isso pode motivá-lo a manter a charada para
Jane, para que ela também possa acreditar em magia.
Lily enruga o nariz. — Isso é malvado.
— Bem, está vindo do diabo, — diz Lo, quebrando um pouco da tensão.
Ele pisca um meio sorriso para a câmera de vídeo. — E Jane, se você está
assistindo isso quando você for mais velha, só saiba que vem de um lugar
de amor. — Ele mal pode dizer isso com uma cara séria.
Eu aplaudo. — Você é tão convincente que meu coração está
começando a descongelar.
— Você tem um coração? — Lo brinca.
— Alguém me presenteou algo afiado para o Natal? — Eu pergunto, um
brilho ameaçador nos meus olhos.
Lo dispara a todos um olhar que diz quem deu uma arma para ela é
louco pra caralho. Então ele pousa de volta em mim. — Fique longe das
minhas bolas.
— Você tem bolas? — Eu estalo, não tão boa no sarcasmo quanto ele.
— Você está misturando seus sonhos com a realidade. Você não os
cortou ainda.
Ryke puxa Daisy para mais perto de seu peito, observando tudo através
da tela da câmera de vídeo com ela. — Esse é o vídeo do primeiro Natal
do bebê mais fodido de todos, — ele murmura.
— Ok, — Connor diz de repente, um silêncio caindo sobre a sala. Jane
tagarela algumas sílabas e olha para o pai dela. Ele diz a ela, — Tu seras
magnifiquement naïve. — Você será maravilhosamente ingênua. Eu sei
que ele está em paz com este conceito quando seus lábios se levantam
em um sorriso genuíno. Lo deve ter o convencido.
Daisy sussurra para Ryke, — Isso é bom?
Ele pode traduzir para todos, mas em vez de repetir palavra por
palavra, ele acena. — Sim. Ele vai deixá-los acreditar.
— Obrigado, cara, — diz Lo, seu filho emitindo ruídos enquanto bate o
boneco no tapete.
Connor acena com a cabeça. — Acho que todos vocês ainda têm meus
presentes para desembrulhar.
Daisy está pronta para entregá-los, passando a câmera de vídeo para
Ryke. Enquanto ela luta para encontrar os presentes debaixo da árvore,
eu volto para as palavras cruzadas e encontro onze caixas horizontais e
usando o “p” de uma palavra de duas caixas: DP.
Uma palavra quase perfeita vem à mente, mas é um pouco manchada
por sua definição - o que pode fazer com que o Connor arqueie uma
sobrancelha como se dissesse que porra.
— Travou? — Ele pergunta, olhando por cima do meu ombro para a
mancha de tinta gigante ao lado de Fornicação e nenhum progresso no
meu lado.
— Não. — Eu digo. Travou. Eu vou travar ele. Eu lambo meu lábio
inferior e escrevo as letras: e-s-c-o-p-o-f-i-l-i-a. Escopofilia.
Um fetiche por olhar foto erótica ou assistir a atos sexuais. Como
através de espelhos. Ou vídeos de sexo.
Ele lê minha nova resposta enquanto passo o jornal para ele e pego
Jane do seu colo, a abraçando com dois braços sólidos e inflexíveis. Meu
pequeno gremlin dificilmente se importa que eu a aperte em abraços -
ela ainda sorri. Eu não poderia amá-la mais do que eu amo. Meu coração
está cheio.
Quando eu dou uma olhada para Connor, as sobrancelhas dele estão
levantadas em confusão e intriga. Nós nunca assistimos esses vídeos
juntos. Inferno, nós mal conseguimos falar sobre eles até que Scott
retornou. Eles têm sido essa mancha tóxica em nosso relacionamento
que cobrimos com um tapete em vez de os remover com alvejante.
Nós finalmente começamos a esfregar ela.
Seus dedos escovam meu pescoço, questionando. Meus pelos se
arrepiam e nós olhamos um nos olhos dos outros. Eu não sei dizer se eu
gostaria ou não de assisti-los - se eles apenas causariam algo pior. Eu não
sei dizer porque nós nunca tentamos.
Eu ouço Lily sussurrar algo para Lo como lendo a mente - o que é
ridículo, embora um pensamento fofo. Connor não consegue ler minha
mente, mas talvez ele possa ler meus desejos e inseguranças. Qualquer
um que me conhece bem o suficiente pode, e Connor, de todos, é o que
mais me entende.
— Aqui está. — Daisy coloca um pacote ao meu lado, um objeto
quadrado pesado perfeitamente embrulhado em papel azul claro. Nós
desviamos nossos olhares um do outro.
Connor examina as palavras cruzadas. — Vocês deveriam abri-los
todos ao mesmo tempo. — Ele já está preenchendo as palavras cruzadas.
Sério?
Daisy entrega o último presente para Ryke, e todos nós começamos a
rasgar as dobras lisas e nítidas. Eu abro os presentes como se eu
planejasse guardar o papel de embrulho para mais tarde, mas todo ano,
alguém (Loren Hale) joga fora minha pilha cuidadosamente dobrada. É
extremamente rude. Sua resposta é sempre: estou evitando que você se
torne uma colecionadora.
Então, sou a mais lenta para desembrulhar o presente.
Todo mundo já está gritando exclamações.
— Que porra é essa? — Ryke diz. Ele não desembrulhou o presente
todo, então eu não posso ver.
Lo ri e olha para Connor. — Se você tivesse odiado, amor, você poderia
só me falar. — A cadeirinha do Moffy está na minha maldita visão do
presente do Lo.
— Hum? — Lily segura seu conjunto robusto de As Crônicas de Nárnia.
Eu fico boquiaberta. Não, ele não fez isso. Esse foi o presente que a Lily
lhe deu no ano passado para o Natal. Ele pediu a todos nós para lhe dar
presentes que nós gostamos. Nós escolhemos livros como o tema geral.
— Você está representeando? — Eu pergunto a ele com desdém.
Loren deve ter A Crônica de Gelo e Fogo ao lado dele, uma pilha de cinco
livros. Daisy está segurando O Rei do Ferro, de Julie Kagawa, um livro de
fadas, creio eu.
Eu nem terminei de desembrulhar o meu, mas tenho certeza de que
uma cópia antiga de A Tempestade de Shakespeare está embaixo, meu
presente para o Connor no ano passado.
— Os abra, — diz Connor, despreocupado. Ele gira a caneta na mão
esquerda.
Quando finalmente desembrulho A Tempestade, eu abro a capa. Post-its
estão dentro nas margens. Dezenas deles, sua letra em tinta azul. Eu
folheio as páginas, meu coração disparado. Ele fez anotações sobre isso.
Palavras de Shakespeare: Não quisera ter outro companheiro em todo o
mundo senão vós tão-somente.
Anotação do Connor: nada é mais verdadeiro.
Seus lábios no meu ouvido, ele sussurra, — Minha alma é que vos vai
falar agora. — Eu sinto seu sorriso contra a minha bochecha.
Essas palavras estão nessa página também. Ele não as destacou, mas
desenhou uma flecha em um post-it amarelo.
É lindo. Minha peça favorita com seus pensamentos reais combinando.
Meus olhos levantam do meu livro para Loren e Lily. Eles os folheiam
profundamente, sorrisos se expandindo com cada nova página virada. Eu
noto algo escrito ao longo da margem do papel, em vez de post-its como
o meu.
— O seu é vintage, — explica Connor. — Eu não queria escrever nas
páginas. — Ele me conhece bem.
— Obrigada, — eu respiro. Nesse momento, Jane puxa meu cabelo.
Minha cabeça bate na do Connor por causa do movimento repentino. Isso
é um sinal.
Ele se recupera antes de mim, e coloca a mão na minha testa, que levou
o impacto e lateja de dor.
— Isso é o que acontece quando eu digo algo gentil para você, — eu
digo a Connor, a pressão de sua mão fazendo o latejar na minha testa
parar. — O universo se revolta.
— Você acabou de igualar a nossa filha ao universo inteiro, e eu sou o
vaidoso? — Ele ri uma vez, inspecionando o galo na minha cabeça. —
Você está bem. Você precisa de gelo?
— Sim, para o seu ego.
— Meu ego não está machucado. Você deve realmente ter batido sua
cabeça com força se você acha que pode estar. — Ele pisca - eu bufo,
estreito os olhos para ele e o cutuco com um dedo, esperando que minha
unha bem cuidada o fure.
Ele sorri mais. — Sim?
— Espere, o que diabos ele te deu? — A voz alta e cortante de Lo corta
minha maré de sorte, sua pergunta dirigida ao seu irmão mais velho.
Só agora que noto o pequeno caderno de couro nas mãos do Ryke. Ele
realmente trapaceou no ano passado. Connor queria aprender mais
sobre todos lendo nossos livros favoritos, e Ryke lhe entregou um diário
em branco - basicamente dizendo vai se foder com um presente.
Eu não tenho ideia do que Connor fez nesse diário. Ninguém tem além
do Ryke. E ele mal o folheou. — É a mesma coisa que eu dei a ele. — Ryke
pigarreia um pouco, o que significa que Connor escreveu algo - mas em
vez de compartilhar, ele desliza o diário na parte de trás de suas calças,
como se fosse um revólver.
— Bem onde eu amo que meus presentes fiquem. — Connor sorri.
Ryke mostra o dedo para ele, colocando o dedo na frente da lente da
câmera.
— Seus filhos vão amar isso algum dia, — Lo diz.
Ryke lhe dá uma olhada. — Que filho?
Daisy coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha e depois se levanta.
— Alguém precisa de mais café? — Ela recolhe sua caneca e a minha.
— Eu vou com você, — diz Lily, ficando de pé e ajeitando o Moffy no
tapete. Ela desaparece na cozinha com Daisy, me deixando com os três
rapazes.
Connor me passa as palavras cruzadas. — C'est à votre tour. — Sua vez.
— Cara, — Ryke fala entre dentes cerrados para seu irmão, apoiando a
câmera no apoio de braços. — Eu jogaria uma porra de um travesseiro
em você agora, mas eu não quero acertar seu filho.
— Briga de travesseiro tão cedo? — Connor brinca.
Ele não consegue cortar a intensidade. — Eu disse algum dia, — Lo
retruca. — Não fique tão irritado por causa disso.
Ryke esfrega os olhos, cansado. — Desculpa. É só que tudo - a cirurgia,
eu não sei, porra. — Ele deve estar nervoso, independentemente da taxa
de sucesso ser alta ou não. Uma vez que ele sair da cirurgia, o jogo de
espera terminar, ele ficará melhor. Eu tenho fé que ele ficará.
— Você não está morrendo, — Lo diz inflexivelmente. — Ok? Você não
pode morrer.
— Todos nós morreremos mais cedo ou mais tarde, — Connor diz.
Eu o bato com o jornal, o que não é tão satisfatório quanto cutucá-lo
com minha unha. Ele simplesmente arqueia uma sobrancelha. Eu franzo
a testa e volto para as palavras cruzadas.
A nova palavra no papel: Oscular.
Eu…
Eu não conheço essa palavra. Hesito em pegar meu telefone e fazer
uma busca rápida no dicionário na frente do Connor. Oscular. Eu aposto
que é uma gíria para anal ou talvez uma posição pervertida de que eu
nunca tenha ouvido falar antes.
Oscular, meu cérebro repete a palavra. A curiosidade prevalece e eu
pego meu celular, abrindo um aplicativo de dicionário. Pela minha visão
periférica, vejo Connor usar o sorriso mais vaidoso e satisfeito. Ele sabe
que estou confusa.
— É melhor não significar anal, — eu digo tensa sob a minha
respiração. Eu não acho que estou pronta para ele colocar qualquer coisa
na minha bunda.
— Você verá.
Eu quase recuo com suas palavras. É pior que sexo anal. O que é pior
que isso?
A definição aparece na tela: dar um ósculo ou dar ósculos (em algo,
alguém, em alguma parte do próprio corpo, ou mutuamente); beijar.
O que?
Eu congelo. Beijar.
— A palavra latina para beijo é Osculum, — ele explica e depois beija o
topo da cabeça de Jane, seus lábios se levantando, olhos bem em mim.
Eu faço algo fora do comum, diferente de mim, meu coração ardendo
em chamas. Quando ele levanta a cabeça, eu faço o primeiro movimento
para beijá-lo nos lábios, sua surpresa me tocando por um momento, não
o suficiente para eu recuar. Seu choque desaparece quando ele morde
meu lábio e depois me beija mais, com mais força...
Jane puxa meu cabelo novamente, abruptamente nos separando. Eu
tento remover seu aperto e distraí-la com o leão, meu pescoço
aquecendo com o silêncio do Connor.
— Diga alguma coisa, — eu sussurro para ele.
Ele segura meu rosto, levantando meu olhar para o dele. Seu polegar
acaricia minha bochecha, seus olhos graciosamente azulados. — Eu sei
que me casei com a pessoa certa quando as palavras te excitam tanto
quanto a mim.
Eu leio mais fundo nisso, como deveria.
Tradução: Eu só poderia estar com você, Rose.
[ 19 ]
ROSE COBALT
Enquanto limpo os papéis de embrulho depois de abrir os presentes,
noto que Lily suspeitamente vai sorrateiramente para o andar de cima,
cuidadosamente verificando por cima do ombro para ver se alguém está
olhando para ela. De alguma forma ela não percebe os meus olhos
estreitos nela.
Eu estive ocupada na semana passada encenando duas cenas com
Connor para a Celebrity Crush - uma foi Connor me beijando contra uma
parede de tijolos, bem do lado de fora do Lucky’s Diner.
Nós quase nunca nos beijamos em público, então foi uma manchete de
primeira página.
Eu me preocupo com o fato de eu estar fora do circuito em relação às
minhas irmãs. Connor, vestido com calça cáqui e um suéter azul marinho,
mal olha quando passa por ela na escada, ele acabou de colocar Jane no
berço para tirar uma soneca.
— Isso não foi estranho para você? — Eu pergunto a ele.
Ele não olha de volta para ela. — Sua irmã é sempre estranha para
mim, — diz ele. — Ela fala em fragmentos e usa palavras como OTP e
shipper. — Antes que minha coluna arqueie em defesa, ele acrescenta, —
Eu gosto de estranho. É melhor que o normal.
Eu deixo cair o saco de lixo. — Bem, eu acho que ela está tramando
algo. — E eu pretendo descobrir. Eu marcho em direção à escada,
percebendo que ele não está me seguindo. Eu olho para trás, suas mãos
enfiadas casualmente nos bolsos. Ele também está agindo de forma
suspeita. — Você está se juntando a mim?
— Investigar sua irmã com base na estranheza dela? Acho que não.
Eu aponto para ele. — Você vai se arrepender de não ter investigado.
— Eu sinceramente duvido disso, querida.
Eu me engasgo com uma risada irritada e, em seguida, jogo meu cabelo
pelo ombro. Eu subo as escadas, determinação alimentando meus passos
forte. Eu sinto Connor me observando, esperando que eu saia antes dele.
Sua cautela me coloca em guarda. Como se eu precisasse de dois
mistérios natalinos.
Eu decido perseguir minha irmã primeiro, confiando em Connor mais
já que eu estou transando com ele e é melhor ele acreditar que minha
vagina vai expulsar seu pau com uma simples sugestão de traição.
Quando chego ao topo da escada, imediatamente vejo a Lily parada do
lado de fora da porta do meu quarto, roendo as unhas.
Ela vira a cabeça para a fresta da porta e sussurra, — Depressa.
Se eu estivesse com saltos altos, ela me ouviria. Esse é um caso claro do
destino. Eu esfregaria isso na cara do Connor, mas é claro que ele não
está aqui. Eu invado seu espaço rapidamente, e ela pula, quase caindo
contra a parede. Ela se endireita antes de isso acontecer.
— Rose!
— Quem está no meu quarto? É o Loren? — Eu pergunto, passando por
ela facilmente e abrindo a porta com o meu pé. Lily tenta agarrar meu
braço, mas eu sou uma escavadeira em forma de mulher, esmagando
tudo no meu caminho.
Ninguém está no meu quarto, mas alguém jogou meus travesseiros de
qualquer jeito na cama, a gaveta da minha penteadeira deixada
entreaberta. Um cobertor de veludo foi tirado da poltrona e colocado em
um pufe próximo... que também não está em seu devido lugar perto da
minha cadeira Queen Anne.
Eu olho para a porta do banheiro.
— Rose, — Lily chama, lutando para acompanhar o meu ritmo
vigoroso. — Eu preciso que você me leve ao médico. Eu não estou me
sentindo bem.
— Boa tentativa, Lily, — eu digo. Eu estou caçando.
— Eu te disse que essa porra não funcionaria! Rose pode farejar um
predador a um quilômetro de distância! — Loren grita do corredor, o que
significa que outra pessoa está no meu banheiro... ou no meu closet. Eu
vou em direção ao meu closet em vez disso.
— Eu não sou um predador, — diz Lily, se afastando de mim e indo em
direção ao marido.
— Claro que não, amor. — Sua voz se suaviza para a minha irmã.
Eu abro a porta do closet. Ryke, de todas as pessoas, está agachado ao
lado da minha extensa prateleira de saltos, procurando algo atrás deles.
Eu limpo minha garganta e ele se levanta, nem mesmo tentando
esconder o fato de que ele estava cavando entre meus pertences.
— O que você está fazendo? — Eu coloco minhas mãos em meus
quadris.
Ele coça a mandíbula não barbeada. — Eu estava procurando por algo.
Meu cérebro se volta para os vídeos de sexo, ao colar de diamantes. —
Meus brinquedos sexuais?
— Porra, não. — Ele faz uma careta, olhando para a porta atrás de mim
como se planejasse sair sem me oferecer uma resposta.
Eu tranco a porta, aprisionando nós dois, eu até fico de guarda. —
Desembucha.
Ele caminha para a frente, apenas a uns trinta centímetros de
distância, e ele tenta alcançar a maçaneta atrás de mim. — Se mova,
Rose.
— É você quem estava bisbilhotando minhas coisas pessoais.
— Alguém vai me ajudar aqui?! — Ele grita para seus aliados do outro
lado.
Lily puxa a maçaneta. — Está trancado!
Ryke olha para mim de novo. Ele não vai me empurrar fisicamente
para o lado. Eu nunca o vi maltratar uma mulher a menos que seja de
brincadeira ou flerte. Agora não se enquadra em nenhuma dessas
categorias.
— Você me dá a verdade, — eu digo, — e eu abro a porta. Não é tão
difícil, é?
— Eu estava procurando o esconderijo de cocaína do seu marido, —
diz ele sem rodeios. — É isso que você queria ouvir?
Não.
Choque, por ser pega, passa por mim antes que eu possa encobrir um
traço dele. O outro artigo da Celebrity Crush essa semana se centrou no
Connor derrubando um saquinho de pó branco, e foi fotografado o
pegando. Era açúcar em pó, mas Walter tirou a foto em um plano amplo,
a substância ali para interpretação.
Ryke lê minha feição desconfortável. — Pelo amor de Deus, Rose, você
está fazendo isso com ele também?
— Não. E ele só fez isso uma vez, — eu minto, girando nos meus
calcanhares e tentando destrancar a porta rapidamente. Eu me atrapalho
até mesmo girando a maçaneta, Ryke colocando pressão sobre mim
enquanto ele se aproxima, sua postura carregando muita dúvida.
— Tem certeza de que foi apenas uma vez? — Pergunta ele.
— Sim, eu vi.
— E se ele tiver a porra de um problema, Rose?
Eu finalmente me liberto do closet com o Ryke. — Todos vocês já
tentaram antes. Ele não precisa da sua preocupação. Ele tem vinte e seis
anos.
— Eu não me importo se ele tem cinquenta e cinco, — retruca Ryke. —
Estamos preocupados pra caralho. Vocês dois estão agindo de maneira
incomum ...
— Nós não estamos. — Eu começo a limpar meu quarto desordenado,
arrumando os travesseiros para que eles não estejam virados de lado,
fechando a gaveta da penteadeira. Lily e Lo permanecem na porta, a mão
dele deslizando para dentro da calça do pijama dela.
Eu nem estou brincando.
Quartos. Há quartos para essas coisas (e não o meu quarto), mas
quando se trata de provocar Lily, Loren raramente se importa com a
localização.
— Você tingiu seu cabelo de laranja por um dia, — diz Ryke. — Essa
porra não é estranha pra você?
— Loiro, — eu digo. — Era para ser loiro.
Aquele artigo da Celebrity Crush sobre o meu cabelo foi horrível. Eles
disseram que eu estava tentando ser como Daisy, agarrando a minha
juventude já que eu tenho uma filha. Algumas pessoas citaram isso como
um colapso mental. Eu mudo a cor do meu cabelo uma vez, e estou
perdendo a cabeça. Daisy pode mudar a cor do cabelo a cada duas
semanas e está se expressando.
É injusto.
— Connor te chupou em um fodido estacionamento.
Eu paro no meio do caminho para minhas cortinas que estão
amassadas incorretamente. Eu viro para encará-lo e nossos peitos
colidem. Me recuso a recuar primeiro e, infelizmente, ele também se
mantém firme, suas feições se escurecendo como se dissesse o que diabos
está acontecendo?
— E você chupa minha irmã mais nova e preciosa no nosso telhado. —
Eu aponto o dedo para o peito dele, esperando que ele dê um passo para
trás. Ele não dá. — Eu poderia ter te castrado por colocar seu pau ao
redor dela, você sabe. Você tem a minha idade. — Eu trago notícias
antigas para frustrar o evento atual.
Sua mandíbula se flexiona. — Obrigado por não me castrar. — Eu
espero que ele diga, eu gosto de foder sua irmã, só para me irritar, mas eu
esqueço que ele não é o Loren. — E você está certa - não deveria ser
estranho que vocês estejam fazendo coisas que o resto de nós faz ou já
tentou uma vez. Eu acho que nenhum de nós pensou que vocês dois
seriam tão... — Suas sobrancelhas se franzem, incapaz de encontrar a
palavra.
— Selvagens, — eu respondo por ele.
— Sim.
Eu volto meu curso para as cortinas. Eu acho que me saí muito bem,
mesmo sem a ajuda do Connor. — Eu pensei que você não lia artigos de
tabloides. — Eu me pergunto como ele leu essa manchete. — E você
raramente acredita nas coisas neles. A menos que você realmente teve
um relacionamento a três com Lily e seu irmão?
— Porra, não. — Ele me segue até as cortinas. — Daisy viu o artigo
primeiro e perguntou se eu sabia que Connor usava cocaína. Perguntei a
Loren, que perguntou a Lily, e ficamos todos confusos. Olha, eu não
queria acreditar, mas algumas fotos não podem ser tiradas do contexto.
Eu não poderia pensar nisso de outra maneira.
— Ele estava pegando drogas para um amigo. Que tal isso, Ryke? —
Paro na janela, endireitando o elegante tecido azul-claro que combina
com minha colcha.
— Isso é verdade?
— Não, — eu digo, — mas você poderia ter nos perguntado.
— Viciados mentem. — Lily diz da porta, com o rosto vermelho por
causa da mão do Loren. Ele está apenas a segurando pela cintura agora e
sussurrando em seu ouvido.
Eu aliso um amassado na cortina. — A única coisa em que Connor é
viciado é no seu próprio ego monstruoso. — Eu olho para a janela por
um breve segundo, movimento do lado de fora fazendo com que eu dê
uma outra olhada. Aquele é…? Eu me aproximo até minhas pernas
tocarem a parede.
— Pessoal! — Daisy chama, saltando para o meu quarto com o cabelo
molhado. Ryke se vira abruptamente, seu corpo se contraindo, mas Daisy
está se aproximando rapidamente, ilesa. Ela passa por Lily e Lo. —
Depois que eu terminei de tomar um banho, — ela exclama rapidamente,
— eu olhei pela janela e vi ...
— O que ele está fazendo? — Meus olhos queimam buracos através da
janela. Na neve recém-arada, Connor caminha pela rua, vestindo um
casaco de inverno preto, um presente embrulhado na mão.
Loren bate no meu ombro, tentando olhar para baixo. — Ele disse
alguma coisa para você? — Não. Lily se aproxima de nós, o nariz quase
tocando o vidro. Não há espaço para nós cinco, não até Ryke levantar
Daisy em seus ombros, seu corpo esmagado à minha direita.
Connor se dirige para a casa linda de pedra com cercas vivas bem
cuidadas e a entrada circular. A casa do Scott. — É melhor ele ter
embrulhado veneno de rato para o Scott, — eu anuncio. Por que ele não
me chamou para se juntar a ele? Me lembro da última vez - onde não
consegui engarrafar minhas emoções. Onde todos nós perdemos a
cabeça. Todos nós, menos ele.
— Aposto que é um gambá, — Lo supõe. — Talvez um tatu morto. —
Isso é algo que Lo teria feito para assustar Scott.
Não consigo imaginar Connor imitando as ações de Loren. Eu não
consigo pensar em nada. Ele está subindo a escada até a porta da frente
de Scott.
Daisy está com as palmas das mãos no vidro. — Eu aposto que é um
cupcake escrito vai se foder.
Ryke segura suas pernas carinhosamente e olha para ela. — Fofa,
Calloway.
Essa troca deles atrai minha mente para aquela noite novamente,
quando Scott plantou sementes viciosas de miséria em nossas cabeças.
— Daisy, — eu começo, — você já dormiu com alguém chamado Trent?
— Eu questiono quanta besteira Scott estava vomitando em nosso
caminho.
Daisy abre a boca e fecha, inquieta porque está sentada nos ombros de
Ryke.
Ryke estreita os olhos para mim. O relacionamento deles é o mais
privado de todos na casa. Eu não sei o quanto eles contam uns aos outros
ou o que eles compartilham. — Você não pode perguntar isso a ela, Rose.
— Ela é minha irmã, — refuto.
— E ela é a porra da minha namorada, — ele retruca. — Você não
precisa saber com quem ela dormiu. — Ele sabe a verdade. Ele sabe a
verdade antes de mim. Isso me deixa tão para trás.
Onde está a lealdade fraterna? Eu tento afastar a realidade: que
estamos todas um pouco mais perto dos nossos homens do que estamos
uma das outras. Isso estava fadado a acontecer, Rose. Eu sei, mas achei
que ainda tínhamos mais tempo.
— Foi há muito tempo atrás, e eu não me lembro muito, — Daisy
finalmente responde. — Então, ei, eu acho que mal conta, certo?
— O que você quer dizer - você não se lembra? — Estou pronta para
tirar minha armadura protetora e jogar na minha irmã. Loren e Lily
ergueram seus olhares da janela e os fixaram na Daisy também. Ryke é o
único que parece a par de tudo.
— Eu bebi muito champanhe. Foi depois de uma coisa de modelagem.
Realmente não importa. — Ela dá de ombros, seu olhar voltando para o
lado de fora. — Ei, ele está na casa!
Sua distração funciona. Do outro lado da rua, Connor toca a campainha.
Segundos passam antes que Scott abra a porta. Não consigo discernir
pequenos detalhes, mas vejo o sorriso característico de Scott, orgulhoso
e pomposo. Depois de uma troca rápida de palavras, espero que Connor
empurre o presente em seu peito e saia.
Em vez disso, Scott abre a porta, dando as boas-vindas a Connor. Ele
acena com a cabeça e desaparece dentro dos limites da casa, a porta se
fechando.
— Que diabos, — Lo diz, atordoado.
— Connor provavelmente está o ameaçando. — Lily acena algumas
vezes.
— Na porra da casa dele? — Ryke balança a cabeça. — Ele não é tão
estúpido assim.
Ele está fazendo um acordo, concluo. Nossa campainha toca e ecoa em
toda a casa, dividindo meus pensamentos. Eu não vi ninguém andando
em direção a nossa casa. Cada ruído, cada nova mudança arrepia meu
pescoço, deixando meu estado de espírito cauteloso e severamente
alarmado.
[ 20 ]
ROSE COBALT
Eu me afasto da janela primeiro, correndo para atender a porta.
Eu não sou a única.
É um corre-corre até o andar de baixo, com Lo levantando Lily em um
suas costas, indo para a minha frente. Eu ando rapidamente, logo atrás.
Ryke ainda carrega Daisy em seus ombros atrás de nós, movendo-se a
um ritmo indiferente.
— Alguém ligou para a mamãe? — Daisy pergunta, seus dedos
mexendo no cabelo espesso do Ryke.
— Não, — todos dizemos. Isso seria uma surpresa horrível - abrir a
porta rapidamente e encontrar nossa mãe do outro lado. Eu a amo, mas
ela já passou a véspera de Natal criticando minhas escolhas de presente
para Jane.
Depois de descer os degraus, Lo bate em um Papai Noel decorativo de
um metro de altura, fazendo com que Lily caia de suas costas e tente me
vencer até a porta. Eu já passei por ela, acelerando pelo hall de entrada.
Eu seguro a maçaneta, parcialmente sem fôlego. Assim que abro a
porta, a pessoa aperta a campainha mais uma vez.
O jovem se solidifica quando ele encontra o meu olhar quente, e enfia
os punhos nos bolsos da sua blusa de moletom preta, um gorro azul da
Academia Dalton cobrindo seu cabelo castanho. Eu sei exatamente quem
esse garoto de dezessete anos é.
— Hum… — Seus olhos piscam para Lily. Ela tenta se espremer para
cumprimentá-lo de braços abertos. Eu fecho a porta para que apenas
meu corpo se encaixe no espaço, não permitindo a saída dela.
— Rose, — ela reclama.
— Eu cheguei aqui primeiro, — eu digo a ela, mas mantenho um olhar
intimidante sobre ele.
Garrison pigarreia, nervoso. — Nós ainda não nos conhecemos. — Ele
estende a mão enluvada.
— Sim, nós já nos conhecemos. — Eu não aperto a mão dele, o frio de
menos dez graus entorpecendo meus dedos na borda da porta. — Você e
seus amigos jogaram ponche vermelho na minha filha recém-nascida e
em mim com pistolas de água. — Antes do Halloween, tivemos uma longa
disputa com os vizinhos adolescentes. Acabou com todos eles sendo
acusados de roubo, todos menos Garrison, que optou por não entrar em
nossa casa como seus amigos.
Seu caráter, em minha mente, está manchado até que eu veja o
contrário, mas ele trabalha como caixa na Superheroes & Scones, graças
à gentileza de Lily e à empatia de Lo por adolescentes quebrados e
rancorosos.
— Foi estúpido... me desculpa… — Ele morde o lábio ressecado por um
segundo. — Ei a Willow está aqui? Eu sei que ela é uma prima distante,
ou o que seja...
Ele quer dizer a meia-irmã do Loren, mas Willow tem que mentir sobre
suas conexões com seu irmão da mesma forma que Ryke fez uma vez.
Ninguém pode saber que a mãe de Willow é na verdade a mãe biológica
do Lo. Eu descobri que ela era menor de idade, apenas dezesseis anos,
quando ela engravidou do Loren.
Jonathan Hale teria sido preso por estupro de vulnerável e ele teve
seus dois filhos e essa mulher o cobrindo por décadas. Willow poderia
viver livre dessa mentira gigantesca simplesmente voltando para sua
cidade natal de Maine e ficando com sua mãe. Ao escolher estar na
Filadélfia e fazer parte da vida de seu meio-irmão, ela tem que dizer a
todos que é uma prima distante dos Hales.
Ninguém está mais irritado com isso do que Ryke - já que ele teve que
mentir sobre suas relações familiares quando adolescente também.
— Ela está chegando às duas! — Lily responde ao fundo.
— Lily, — eu estalo, abrindo a porta apenas um pouco. Eu me lembro
da Lily dizendo que Willow queria vir mais tarde, para não interromper.
Eu gostaria de pensar que somos inclusivos quando se trata de sangue,
mas ela só nos conhece da mídia. É por isso que ela escolheu morar em
um apartamento e não em nossa casa. Eu provavelmente insistiria que
ela morasse aqui, mas Lily e Lo não são tão insistentes quanto eu.
Lily me dá um olhar severo que é especialmente cômico vindo da
minha irmã amorosa. — Willow e Garrison são colegas de trabalho.
Lo põe a mão na porta, a puxando do meu aperto. Ela bate na parede e
agora ele pode ver Garrison completamente. Felizmente ele atira um
olhar sombrio para o garoto. — Um colega de trabalho não aparece na
manhã de Natal procurando outra colega de trabalho.
Garrison raspa o gelo no chão com a bota. — Esse tapete está dizendo
bem-vindo aqui? Não consigo ler com toda a neve.
— Ele é engraçado, — eu digo friamente.
— Você é assustadora, sem ofensas. — Ele tosse em sua luva e verifica
por cima do ombro. — Você vai me convidar para entrar, não vai?
— Sim.
Seus olhos passam por cada um de nós, sua respiração fazendo fumaça
no ar. — Eu só... eu queria dizer a ela que eu estou… — Ele solta uma
risada fraca, os olhos vermelhos. Eu noto um cigarro apagado entre os
dedos da mão esquerda. — Não importa, é uma merda estúpida… — Ele
se vira para sair.
Eu agarro seu moletom, o puxando de volta.
— Que porra é essa? — Ele gira e me dá um olhar familiar que diz, eu
não entendo você. Você é meio insana. Que porra é essa?
— Você está a chamando para o baile? — Eu questiono. — Porque esse
é o pedido mais patético que eu já vi. Você precisa de flores,
primeiramente.
— Eu não estou chamando ela para ir ao baile. — Sua voz treme um
pouco, seu nariz vermelho do frio. — Eu vim para lhe dizer que estou
indo embora, e eu acho que para dizer a vocês também. — Ele acena para
Lily e, em seguida, olha brevemente para Loren, não mantendo o olhar
por muito tempo.
— O que você quer dizer? — Lily pergunta.
É quando vejo Connor a distância, caminhando de volta para nossa
casa. Eu tiro meu casaco do gancho e coloco o par de botas mais
próximas: da Daisy, quase do mesmo tamanho que eu, felizmente.
— Meus pais me deram meu único presente de Natal essa manhã: um
envelope branco, — ele diz amargamente. — Eu... eles estão me retirando
da Dalton e me enviando para esse internato para “orientação adequada”
para terminar o meu último ano.
Passo por Garrison na entrada, minha mão congelando enquanto
aperto o corrimão, tomando cuidado para não escorregar nos degraus
com gelo.
— Para onde você está indo? — Pergunta Lily.
Eu vou em direção a entrada da garagem, a voz de Garrison flutuando
no fundo. — Para o norte de New York, — diz ele, — Internato Faust para
Jovens Garotos.
Um frio morde minha espinha. Eu me aproximo de Connor a uma
velocidade apressada, o encontrando perto da caixa de correio, onde ele
está com as mãos nos bolsos do casaco, não surpreso com a minha
aparição repentina. Ele fica alto, despreocupado e sem medo de tudo,
apesar de ter acabado de falar com aquele detestável roedor.
— Você entrou no covil do leão, — eu digo, minha garganta rouca de
mais do que apenas do frio.
Connor balança a cabeça. — Nós somos os leões, Rose. Nosso covil está
bem atrás de você.
Meu nariz se inflama. Ele está dizendo que somos mais fortes e
melhores que o Scott, mas eu não consigo superar isso. — Que negócio
você acabou de fazer? — Isso - nós não concordamos. Nós não
discutimos. Nós não...
— Nenhum.
Ele para meus pensamentos. — Você deu a ele algum animal morto.
Seus lábios se levantam em um sorriso bem-humorado. — Eu não sou
o Lo.
Eu deveria saber o que ele fez. Ele é meu marido, mas não consigo ver
a resposta que está literalmente bem na minha frente. A neve começa a
cair de novo, polvilhando nossos cabelos com flocos e molhando meu
nariz e bochechas. Eu tenho que perguntar imediatamente.
— O que você faz?
— Eu dei a ele uma garrafa de vinho caro.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Você drogou ele?
Seu sorriso se alarga. — Rose, querida, volte para a Terra.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris, os olhos estreitados. —
Você só deu a ele uma garrafa de vinho? O que, vocês são seus amigos
agora… — Meu rosto cai. — Não, Connor. — É isso o que ele faz. Ele finge
amizades e as corta nos joelhos quando não tem mais utilidade para elas.
— Ele nunca acreditará que você é amigo dele.
Ele segura minha mão fria. — Scott não é inteligente. Ele é hipócrita e
irritante. Ele pode ser manipulado. Eu nunca tive a chance de fazer isso
antes, não com as restrições do reality show, mas agora sim.
— E você pode suportar ser legal com ele? — Lágrimas quentes
ameaçam escorrer, fervorosas e enojadas pela mera idéia.
A mão do Connor se ergue para o meu rosto, seus olhos azuis
assegurados, mas calmos, tão calmos comparados ao meu fervor. Eu
quero que ele quebre, que liberte sua fúria e apazigue minhas entranhas
que começam a se revirar, mas ele não pode... ou então nós perdemos.
— Minha pele está formigando, — eu tremo. Ele provavelmente
compartilhou uma risada falsa com Scott e até mesmo o elogiou.
— Então você sabe como a minha estava. — Ele parece tão calmo, mas
está tudo dentro - as coisas que eu não posso ver, no fundo, seu desgosto
por ter que ser amigo dele.
— Você vai conseguir aguentar isso? — Eu pergunto.
Ele acena com a cabeça uma vez. — É a nossa melhor chance. — E
então ele recita: — Nunca sofremos o pior enquanto podemos dizer: “Isto
é o pior de tudo”.
— Rei Lear. — Shakespeare. Eu tento empurrá-lo. — Você acabou de
citar uma tragédia, Richard.
Ele se recusa a me deixar ir, me segurando mais perto. — Eu preciso de
você, — ele diz de repente.
Eu congelo. — O que?
Seu olhar se fixa em mim. — Eu preciso que você continue olhando
para mim como se fosse abrir um buraco no meu coração, e eu preciso
que você me diga que ama o meu verdadeiro eu. Todos os dias, eu
preciso de você, Rose. É só assim que vou aguentar isso.
Sem hesitação, digo, — Bien sûr. — É claro.
Não me lembro de outro momento em que ambos estivéssemos tão
inseguros sobre o futuro. É como se estivéssemos de pé, de mãos dadas,
na beira de uma floresta obscura, cheia de armadilhas de ferro,
predadores e presas. Eu só me agarro a uma certeza.
Estamos entrando nessa tragédia juntos.
[ 21 ]
CONNOR COBALT
Acordo às onze da manhã, a luz atravessando as janelas. 3 de janeiro, de
todos os dias, eu tento dormir até mais tarde para cortar um pedaço do
tempo. Eu fiz isso no ano passado e o dia pareceu um pouco mais curto.
Eu rolo para o meu lado, Rose já se foi. Meus dedos roçam os
cobertores, ausentes de um segundo corpo quente. Meus olhos levantam
uma fração e eu recuo.
Lily está empoleirada no banquinho ao lado da porta, usando o gorro
branco e peludo do Wampa de Star Wars, jeans e uma camiseta da
Superheroes & Scones em letras maiúsculas azuis. Esse pode ser um dos
únicos dias que ela está vestida antes de mim. Ela levanta a mão e me dá
um sorriso tímido. — Oi.
Eu sento e arrumo meu cabelo despenteado. Ela está tramando alguma
coisa. — O que você está fazendo, Lily? — Eu agarro o edredom, prestes a
sair da cama.
— Esperaesperaespera! — Ela fala, em pânico. — Rose disse que você
estava de cueca, mas eu só preciso confirmar antes de você se levantar.
— Então Rose é uma parte disso. Lily começa a divagar, — Não é tanto
sobre o meu vício em sexo, mas apenas respeitando o marido da minha
irmã em seu aniversário. — Ela balança a cabeça resolutamente - e, em
seguida, cora. — Não que eu não respeite você nos outros dias.
— Eu entendo, Lily. — Eu sorrio, meio forçado já que meu vigésimo
sétimo aniversário foi mencionado, a palavra instantaneamente
deteriorando meu humor. — Obrigado e não se preocupe, eu estou
vestido. — Em calças de flanela azul marinho.
Ela solta a respiração enquanto eu fico de pé, e então ela se levanta,
bloqueando a porta.
Minhas sobrancelhas se erguem. — Você está me segurando como um
refém?
— Você pode tomar um banho, — diz ela, não negando o fato de que ela
está de olho em mim. — Na verdade, você provavelmente deveria usar
algo legal hoje. — Ela continua assentindo. Então ela acrescenta, — É
que... ninguém quer uma repetição do ano passado.
No dia 3 de janeiro do ano passado, todos decidiram me dar uma festa
surpresa. Os surpreendi voando para Ontário durante o dia e voltando
para casa na manhã seguinte. Ninguém ficou satisfeito, a não ser eu, e
pensei que eles haviam aprendido a lição.
Não tenho problema em celebrar o aniversário de outra pessoa. Se isso
tiver significado para eles, tudo bem, mas meu aniversário não tem
significado para mim. Minha idade sempre foi uma restrição. Ela me
impede de avançar tão rápido quanto eu sou capaz. Eu poderia ter
dirigido aos doze anos. Eu poderia ter sido um eleitor informado aos
treze anos. Eu poderia ter superado os professores aos quinze anos. Não
gosto de celebrar minha idade - esse incômodo irritante e inflexível que
acompanha o tempo.
Lily bate as mãos. — Então tome um banho - não comigo, é claro. Você
sabe, sozinho. Só você. Eu estarei bem aqui. Nesse quarto, não perto da
sua nudez. — Ela está vermelha como um caminhão de bombeiro.
É difícil não rir. Eu vou para o banheiro, já preparando uma rota de
fuga. Vou sair pela porta dos fundos e pela garagem. — Onde está a Jane?
— Eu pergunto.
— Com a Rose.
Talvez ela esteja planejando deixá-la na casa da mãe dela. — Para onde
estamos indo hoje à noite? — Eu tento perguntar diretamente.
Lily abre a boca e depois a fecha. Eu vejo quando ela aperta os olhos
para mim, tentando estreitar os olhos. — Você está fazendo muitas
perguntas.
Eu abro a porta do banheiro. — O que acontece se eu sair dessa casa?
— Espera, você está pensando em sair já? — Ela se mexe
nervosamente em seus pés como se estivesse prestes a fazer xixi. — Você
não pode sair ainda, e se você fizer isso, eu não tenho escolha a não ser
usar força física. — É cômico vindo da garota usando um chapéu felpudo
que tem um rosto e chifres. — E eu também vou ter que pedir ajuda.
Ajuda?
No minuto em que ela enfatiza a palavra, a porta se abre e Ryke e Loren
entram no meu quarto, ambos vestidos casualmente com jeans e
camisetas. As algemas inconfundíveis nas mãos do Ryke.
Fico parado na metade do caminho para o banheiro, engarrafando
minha irritação. — Se você quer que eu o algeme na minha cama, tudo
que você tem a fazer é pedir.
— Hilário, — Ryke diz, — mas isso não é para mim.
Lo está meio distraído com a esposa, puxando as abas do gorro Wampa
e beijando sua bochecha. Ela sussurra rapidamente para ele,
acidentalmente apontando para mim, mais óbvia do que furtiva.
— Você está adiantado, querido, — eu brinco, desviando a atenção do
Lo para mim. — Nós nunca começamos antes do meio-dia.
Ele sorri. — Hoje é diferente, amor.
Eu sacudo minha cabeça. — Não, hoje é o mesmo que qualquer outro
dia, a menos que vocês três tentem fazer algo mais.
— Aqui está o acordo, — diz Lo. — Você vai tomar um banho, se vestir,
e não vai dar um de Jedi e tentar enganar alguém. — Ele olha para Lily
com o último pedido e ela balança a cabeça em aprovação.
— Você não vai me dizer o que a Rose planejou, vai?
— Sem chances. — Se ele estivesse mais perto, tenho certeza de que ele
teria dado um tapinha no meu ombro. Seu telefone toca, e ele checa
identificador de chamadas. — É o meu assistente de marketing. — Theo.
— Ryke, você vai...
— Eu cuido dele, — Ryke diz. — Atenda a ligação. — Lo sai com Lily, e
eu me concentro nas algemas de prata do Ryke novamente.
— Você está planejando em me algemar no chuveiro?
Ryke me olha com firmeza. — Se eu tiver que fazer essa porra.
Ótimo.
Eu reprimo a vontade de revirar os olhos - algo que quase nunca faço.
Eu deslizo para o banheiro e começo a tirar minhas roupas, deixando a
porta aberta. Eu poderia ficar aqui por um tempo, mas Ryke
intencionalmente destrói o meu plano, entrando no banheiro comigo.
Ele senta no balcão da pia, abrindo e fechando as travas nas algemas
com uma chave. — Não demore mais do que trinta minutos, porra. Eu
não quero ficar aqui mais do que você me quer aqui.
Ryke é o músculo: o único que pode fisicamente me manter na
Filadélfia, e é por isso que ele substituiu a Lily como meu guarda não
oficial.
Estou em prisão domiciliar.
Em um dia em que costumo fugir sozinho do país.
Eu tiro minha cueca boxer e me aproximo do box de vidro. — Eu não
sabia que cães sabem ver o tempo.
— Vai se foder, — ele diz, suas palavras mais duras do que o habitual.
Não pode ser pela pequena piada.
— Pessoas normais não xingam seus amigos no aniversário deles, — eu
menciono antes de entrar no chuveiro, a água morna batendo no meu
corpo tenso.
Ele fala alto o suficiente para eu o ouvir. — E pessoas normais não
manipulam seus amigos no Natal!
Isso. — Eu não sou normal! — Eu grito através da água jorrando,
correndo minhas mãos ao longo do meu cabelo molhado.
Através do vidro embaçado, posso distinguir a silhueta do Ryke,
balançando a cabeça. — Você me fez pensar que tinha o mesmo
relacionamento fodido com sua mãe que eu tive com a minha, só para eu
te contar sobre a merda da minha infância.
Ele me perguntou: Natal não era só sua mãe e você?
Eu respondi: estou assumindo que foi assim para você. Eu nunca disse
sim. Eu nunca disse não. Eu nunca respondi a sua pergunta até que ele
respondeu a minha. — Tudo que você tinha que fazer era ler mais
profundamente as minhas palavras, — eu explico, levantando a minha
voz sem gritar agora. — E você teria percebido que eu nunca concordei
com você. — Eu esfrego o shampoo no meu cabelo.
— Às vezes sinto que você propositalmente faz com que seja difícil eu
confiar em você.
Não é minha intenção, embora eu saiba que é uma consequência de
cutucar a vida de alguém. Nós dois ficamos quietos enquanto eu termino
de tomar banho. Depois de desligar o chuveiro, enrolo uma toalha na
cintura e saio. Eu vou para a pia onde Ryke ainda está sentado.
— Eu não vou te dizer quantas páginas eu posso ler, — ele diz, olhando
brevemente para cima das algemas para encontrar meus olhos. Ele está
falando sobre o presente de Natal dele. Em seu diário em branco que ele
me deu no ano passado, escrevi passagens para ele em vários idiomas
diferentes.
Eu esguicho uma linha de pasta de dente na minha escova. — Eu não
achei que você falaria. — Escrevi mensagens verdadeiras e honestas
sobre ele, coisas que eu admiro, mas ele não poderá ler as que ele não
consegue entender, não sem um tradutor on-line, pelo menos.
Eu escovo os meus dentes.
— Você me confunde pra caralho, — diz ele em voz baixa. Ele acha que
eu tinha um motivo oculto com o diário. Eu não tinha.
Eu lavo minha boca e cuspo a água. — Diz o cara que faz todo mundo
pensar que ele é estúpido quando na verdade ele é inteligente. — Ele fala
línguas diferentes. Ele vota em todas as eleições. Aposto que ele pode
citar autores. Aposto que ele entende referências que Rose e eu usamos.
Ele encobre essas partes de si mesmo, como se fossem lembretes de
como ele foi criado. Como o "garoto do sim" que fazia tudo o que sua mãe
lhe pedia.
Estude bastante para mim. Sim, mãe.
Seja atlético para mim. Sim, mãe.
Pratique corrida para mim. Sim, mãe.
Aprenda francês para mim. Sim, mãe.
Fique quieto por mim. Sim, mãe.
Minta por mim. Sim, mãe.
Não conte a ninguém sobre mim. Sim, mãe.
O garoto do sim não tem opiniões próprias. O garoto do sim não tem
voz.
Eu não tenho certeza de quando Ryke finalmente falou livremente, mas
está claro que ele odeia voltar a aquele lugar. Eu ainda posso ver os
restos dele quando ele se esforça para se abrir. Ele está acostumado a
ficar em silêncio sobre partes específicas de sua vida.
— Eu não faço ninguém pensar nada, — ele replica. — Eu só não me
importo em tentar provar que eles estão errados.
— Você é quem você é. — Coloco minha escova de dentes de volta no
suporte. — Pelo menos você tem cinco pessoas que podem aturar você.
Ele me mostra o dedo do meio e levanta as algemas como se dissesse, é
hora, Cobalt.
Eu pisco duas vezes. — Você não pode estar falando sério.
— Lo disse para pensar nisso como uma punição de aniversário. — Ele
pula para fora do balcão, uns dois centímetros mais baixo do que eu.
— E por que eu estou sendo punido exatamente? — Eu vou para o meu
closet, escolhendo calças pretas e uma camisa social branca.
— Eu não sei, porra, — diz ele de dentro do meu quarto. — Talvez por
ser um idiota arrogante sete fodidos dias por semana. — Eu coloco
minhas calças e começo a abotoar minha camisa enquanto ele
acrescenta, — Ou talvez por fazer uma festa de aniversário mais difícil do
que tem que ser.
Enquanto termino de abotoar minha camisa, eu deslizo de volta para o
meu quarto novamente. Ryke fisicamente bloqueia a porta. Eu tento
planejar uma fuga. Eu não posso correr mais rápido que o Ryke. Ele era o
capitão de sua equipe de corrida na faculdade. Eu não sou idiota o
suficiente para tentar.
Então, novamente, prefiro tentar sair do que não fazer nada e ser
algemado. — Você está me punindo por eu ser eu mesmo, — digo a ele.
Ele segura meu olhar concentrado. — Pelo menos você tem cinco
pessoas que podem aturar você.
Cinco pessoas que me amam tanto que querem celebrar um dia
mundano e sem sentido em minha homenagem. Eu pego meu celular da
minha cômoda e ligo para Daisy, meu celular no meu ouvido.
— Você tem que me seguir até a cozinha, — diz Ryke. — Se foder isso,
eu não tenho nenhum problema em lidar com você.
Minha sobrancelha se levanta, e a linha clica.
— Olá, aniversariante. — Daisy cumprimenta como se estivesse no
mesmo quarto que eu. Ela tem que estar no porão ou na cozinha.
— Você se importa em entreter seu namorado por dez ou quinze
minutos?
Ryke balança a cabeça para mim, silenciosamente dizendo que não vai
funcionar.
No telefone, Daisy suspira. — Eu gostaria de poder, mas Rose me fez
prometer não o ajudar hoje. Ela quase fez um pacto de juramento de
sangue... então ela ficaria muito chateada se eu escolhesse você ao invés
dela. Irmãs antes dos caras.
— Onde está a Rose? — Eu pergunto.
— O que? — Ela finge confusão. — A ligação está falhando. — E a voz
de outra pessoa cria um ruído estático no receptor. Lily. — Desculpa,
Connor, eu não consigo ouvir você! — Daisy desliga antes de eu falar
qualquer outra coisa.
Eu guardo meu celular no meu bolso e Ryke abre a porta, gesticulando
para eu segui-lo. Eu percebo que se eu quiser sair dessa casa, não há
outra alternativa a não ser dominar Ryke fisicamente.
Sem outra palavra, eu ando atrás dele pelo corredor. À medida que
descemos os degraus, decido que é melhor sair rapidamente pela porta
dos fundos e não pela frente.
Ele me leva para a cozinha de qualquer maneira, e no minuto que ele
estica o braço para me pegar e me algemar na porra da cadeira da
cozinha, corro para a porta dos fundos.
— Connor! — Ryke grita, correndo atrás de mim. Assim que minha
mão alcança a maçaneta, ele agarra meu bíceps e me puxa para trás.
Eu saio do seu aperto com facilidade e torço o braço dele para trás,
meus lábios perto de sua orelha. — Tu perdras cette lutte, mon ami. —
Você vai perder essa luta, meu amigo.
E então seu cotovelo bate no meu estômago, a força me tirando o ar. Eu
tusso com força, o suficiente para ele escorregar do meu aperto. Eu ouço
o clique antes de sentir o metal frio no meu pulso. Eu puxo meu braço,
mas eu fui contido na cadeira da cozinha. Eu posso me mover o suficiente
para encontrar um clipe de papel e abrir a algema, mas não com Ryke
Meadows como guarda-costas.
Meus músculos da mandíbula estão mais tensos que o normal. Eu
pensei que seu coração era muito suave para infligir dor física em mim.
Ryke descansa os cotovelos no balcão do bar, relaxado. — Veux-tu dire
la lutte que tu viens de perdre? — Você quer dizer a luta que você acabou
de perder?
Ele respondeu em francês. Isso é raro. Se eu vou ficar preso nessa
gigantesca cozinha a uma mesa redonda de seis pessoas, eu posso
aproveitar o máximo disso. Então eu mudo para italiano.
— Conosco un segreto sulla tua fidanzata di cui nessuno è al corrente,
nemmeno tu. — Eu conheço um segredo sobre sua namorada que ninguém
sabe, nem mesmo você. Parece zombeteiro e um pouco infantil, mas estou
com um humor estranho.
Seu rosto escurece, preocupação o atingindo. — Stai mentendo. — Você
está mentindo.
Ele sabe italiano.
Eu não posso conter meu sorriso. Eu mudo para o alemão. — Ich lüge
zu meinem Nutzen. Natürlich. — Estou mentindo para o meu benefício.
Claro.
Sua espinha endireita, preocupação ainda presente em seus olhos
estreitados. — Connor, eu não estou mais brincando, porra.
— Você não sabe Alemão, — percebo.
Seu nariz se inflama e ele balança a cabeça. — Não. Eu não sei Alemão.
Rose e eu preferimos o francês, mas me agarro a essa certeza: uma
língua que Ryke não entenderá se precisarmos de privacidade. Porém, o
alemão dela também não é ótimo.
Ao contrário de Rose, eu tinha uma queda por linguística em Faust. Eu
gostava de palavras, as raízes, a estrutura, a fundação. É quase como
matemática, e aprender um idioma facilitava o aprendizado de outro.
— Connor...
— Eu menti sobre a Daisy, — eu digo. — Eu realmente não sei nada
mais do que você sabe.
Ele revira os olhos. — Eu vou deixar isso passar. Só porque eu te soquei
no seu aniversário.
— Privilégios especiais? — Eu mal posso fingir animação, e eu tento
levantar meu braço, apenas para a cadeira raspar o chão e a algema
chocalhar. Percebo a mistura de bolo no balcão ao lado de um pote de
cobertura de chocolate e um de granulado. Os sentimentos são bons, mas
ninguém precisa fazer o dia todo de hoje sobre mim. É desnecessário. —
Posso pelo menos ter um papel e uma caneta?
Ryke me dá um olhar estranho. — Pra que, porra?
— Estou escrevendo uma carta de amor para minha esposa, — digo
categoricamente. Ele ainda está com o mesmo olhar. — Como ex-
jornalista, presumo que você entenda o conceito de escrever. É o
processo pelo qual você rabisca seu nome ou, no seu caso, profanidades
em uma superfície, neste caso, papel. Você sabe o que é papel?
— Vai se foder.
O eco de saltos soa ao longo do chão de madeira da sala de estar, e Rose
surge pela porta, a fechando atrás dela. Eu a estudo instantaneamente.
Ela usa um quimono floral preto e um simples vestido de algodão
preto, um que às vezes usa quando se maquia. Seu cabelo está amarrado
em um elegante rabo de cavalo, seus lábios manchados de vermelho
escuro e sombras muito esfumadas nos olhos para um evento casual.
Ela está vestida para alguma coisa. No momento em que ela me vê, um
sorriso aparece em seus lábios.
[ 22 ]
CONNOR COBALT
— Isso não é engraçado, querida. — Minha voz soa complacente, mas
séria.
Ela anda ao redor da cozinha. — O que é engraçado é que o seu jato
está agendado para voar para Hong Kong em… — Ela verifica o relógio
do forno. — Três horas.
— Ele quer papel e caneta para lhe escrever uma carta, — diz Ryke, já
indo para a porta do porão. — Você pode me mandar uma fodida
mensagem quando precisar de mim?
Ela acena com a cabeça, mas seus olhos ficam em mim. Eu a vejo
procurando por uma caneta e papel sem questionar, ela os desliza para
mim e se senta do outro lado da mesa.
Sento-me na cadeira que estou próximo. — Você pode se juntar a mim
em Hong Kong, — digo a ela, — se você prometer não dizer a palavra
com A. Ou melhor ainda... — Eu me aproximo da mesa. — Eu posso
colocar algo em sua boca para que isso não seja possível.
Suas bochechas coram e meu desejo bombeia sangue para meu pau.
O que eu daria para que nossas posições estivessem revertidas. Eu
levanto meu pulso, ainda algemado na cadeira. — Me solte e nós
podemos fazer disso um encontro.
Rose se recosta na cadeira, os tornozelos e os braços cruzados. — Eu
não posso. Tenho planos para esta noite e você fugindo como a Cinderela
os arruinaria.
— Não é costume receber as coisas que quero no meu aniversário? —
O que eu não quero: ir ao centro com a Rose ou fazer uma viagem
romântica nesse dia.
— É, — ela concorda. — Mas você nunca participou de tradições de
aniversário. — Ela pressiona os lábios vermelhos juntos, suavizando o
batom.
Eu clico na caneta. — Não se mova até que eu termine isso, — eu
ordeno. — Você pode fazer isso pelo menos?
Ela faz uma careta, estreitando os olhos. — Eu posso fazer muitas
coisas, Richard. Como arrancar seus globos oculares com uma colher ou
costurar seus lábios com minha agulha e linha.
— O último seria uma insatisfação para nós dois, então eu não sugiro
isso.
Ela me observa escrever no papel. — Jane está tirando uma soneca…
— Sua voz está distante com curiosidade. — A ironia é que somos
teimosos em nossos aniversários, apenas por diferentes razões.
Ela ama seu aniversário como uma narcisista amaria - como eu deveria
amar. E eu adoro dar a ela minha atenção completa e desenfreada no dia
5 de agosto, mimando todas as suas necessidades.
Eu passo a ela o papel e a caneta. Eu rabisquei três nomes: Connor
Cobalt em seu aniversário, Connor Cobalt trabalhando em seu escritório,
Connor Cobalt vencendo você no xadrez.
Seu olhar podia matar.
Minha excitação dispara, meu pau latejando e eu mexo minhas pernas
para tentar impedir uma ereção.
— E se eu não responder? — Ela pergunta desafiadoramente. Seus
olhos piscam para os meus lábios.
— Eu vou espancá-la no meio dessa porra de cozinha.
Vermelho aquece seu pescoço, mas seus olhos verde-amarelados me
perfuram mais. Acho que, por um momento, ela quer tentar isso. Ela
gostaria que eu a tomasse do outro lado da mesa e brincasse com ela,
mas ela hesita, deslizando em sua cabeça. Ela tenta enrolar uma mecha
de cabelo esvoaçante que não existe para atrás da orelha e retoma sua
concentração no papel.
Eu tento ficar de pé. As pernas da cadeira fazem barulho quando
estendo meu braço. Droga. Ela deve identificar a irritação e frustração
apertando meu rosto porque ela escreve mais rápido.
Eu pego a cadeira de madeira com uma mão e me aproximo de Rose.
Eu deixo a cadeira cair ao seu lado. Ela salta, me dando um terceiro olhar.
Eu permaneço de pé, me elevando acima de seu corpo. Seu peito sobe e
cai pesadamente, e ela abaixa a caneta quando termina.
— Pronto, — ela anuncia.
Eu leio as respostas por cima do ombro dela. MATAR. MATAR. MATAR.
Rose raramente trapaceia. Eu me inclino um pouco e agarro sua
cintura antes de chutar a cadeira debaixo dela. Ela ofega, mas eu
rapidamente empurro seu corpo sobre a mesa, minha pélvis cavando em
sua bunda. Sua respiração irregular quebra qualquer silêncio.
Eu estico suas mãos com uma das minhas, minha palma algemada
firmemente plantada em sua bunda. Eu desejo empurrar para dentro
dela, movimentos incessantes e fortes até que ambos estejam gozando.
— Connor, — ela avisa, seus olhos percorrendo a cozinha.
Eu coloco a caneta em sua mão para que ela possa reescrever sua
resposta, meus lábios indo até o ouvido dela. — Pas de triche. — Sem
trapacear. Eu bato na bunda dela com força e ela estremece, os dedos
embranquecendo ao redor da caneta.
Ela lambe o lábio inferior, a boca parcialmente aberta enquanto se
recolhe. Eu tento me aproximar para segurar seu rosto e virar para mim,
beijá-la, mas minha mão ainda está presa. Aproveito o momento para
chupar a sua nuca, muito lentamente e seu corpo treme com vontade de
mais. Eu levanto meus lábios para sua orelha, profundamente irritado
com essa porra de algema.
Eu não estou acostumado a qualquer restrição. — Onde está a chave?
— Eu pergunto a ela.
Ela estica a cabeça por cima do ombro para olhar para mim. — Eu não
vou soltar você, Richard.
Eu me inclino para frente, meu pau cavando em sua bunda, e com a
cabeça virada, eu a beijo com força, até que um gemido rompe sua
garganta e parece ecoar na minha. Eu me separo o suficiente para dizer,
— Você prefere que eu quebre a cadeira?
O fogo roda em seu olhar. — Você não está quebrando a minha cadeira.
— Nossa cadeira, — eu corrijo. Nós possuímos setenta e cinco por
cento dos móveis nesta casa juntos. Eu escolhi essa mesa já que ganhei
uma rodada de Palavras Cruzadas. Ela escolheu os utensílios de cozinha
me vencendo no Trivial Pursuit. Os jogos resolvem nossas diferenças
quando não estamos dispostos a conceder.
Seus olhos pingam entre a cadeira e a algema. Eu me pergunto com o
que ela se importa mais: o item material ou seus planos hoje à noite.
Espero que ela proteja a cadeira, mas, em vez disso, ela vira a cabeça
para o papel, concentrando-se novamente. Ela não vai abrir as algemas,
mesmo à custa dos nossos móveis.
Meu celular toca no meu bolso. Eu permaneço na mesma posição e
tento responder, mas meu pulso não passa da minha cintura. Estou
quebrando essa merda de cadeira. Eu tenho que remover a minha mão
que estava em cima da mão esquerda da Rose e passo o celular entre as
palmas das minhas mãos. Eu vejo o identificador de chamadas e meus
músculos ficam tensos.
SCOTT
Infelizmente, tenho que atender o telefone. — Ei, cara, — eu digo, a
saudação casual como sal na minha língua. Rose bate a caneta no papel,
ainda refletindo sobre suas respostas.
— Feliz aniversário, — Scott diz, cordialmente. Passei três horas
entorpecedoras em sua casa na noite passada. Eu aprendi três coisas.
1.) Ele bebe demais; seu favorito: pale ale.
2.) Ele fala nomes de pessoas famosas a cada cinco minutos, e ele se
entusiasma com elogios como: não acredito que você o conheça. Eu
literalmente morreria para conhecer esse cara.
3.) Ele pode não confiar em mim cem por cento ainda, mas ele precisa
de mim. Isso é uma vantagem maior do que qualquer coisa que Scott
tenha.
— Obrigado, obrigado, — eu digo, com vontade de segurar o rabo de
cavalo de Rose e inclinar a cabeça dela para mim. Mas essa fodida cadeira.
— Então, estou prestes a entrar em uma reunião com o executivo da
GBA, você tem alguma atualização para mim?
Atualização. — Lily está pensando na segunda temporada mais do que
a Rose, — eu minto. Nenhum de nós jamais fará isso, mas eu tenho que
segurá-lo por mais um pouco, para que eu possa ter mais tempo para
construir confiança entre nós. — Ela levará tempo.
Rose vira a cabeça para mim e murmura, Scott?
Eu murmuro, responda à pergunta. Isso de foder, casar e matar não
deveria ser tão difícil. Ela nem sequer escreveu uma nova resposta.
Ela suspira pesadamente antes de retomar seu foco.
— Que tal você apenas forçá-la a fazer isso? — Scott diz com uma
risada irritante anexada. — Ela é sua esposa. Você sabe o que vai
funcionar?
Meus dedos pressionam o celular com mais força. — O que? — Eu ouço
minha voz sair normal, mas eu trinco meus dentes.
— A espanque quando ela disser não, — Ele faz uma pequena pausa... e
então ri da sua própria piada repulsiva.
Eu seguro Rose protetoramente na cintura. Eu solto a menor risada
que posso reunir sem soar sarcástico ou zombeteiro. — Eu vou manter
isso em mente, — eu digo levemente. — Boa sorte. — Se alguém me
conhece, eles podem dizer que eu estou sendo falso só com essas duas
palavras.
Boa sorte.
— O mesmo para você. — Eu o deixo desligar primeiro.
— O que ele disse? — Rose pergunta.
— Ele está indo para uma reunião com a GBA agora. Não é importante.
— Eu guardo meu celular e, em seguida, acaricio seu pescoço, me
inclinando para frente, pressionando com força contra sua bunda
novamente.
Ela abaixa a caneta. — Acabei.
Eu descanso minha mão na sua estendida, mantendo seus seios contra
a mesa. — Vamos ver, Senhorita Maiores Honras.
Em cima de Connor Cobalt trabalhando em seu escritório, ela escreveu:
Matar.
Ela riscou Connor Cobalt vencendo você no xadrez e escreveu: Connor
Cobalt jogando xadrez com você - Casar Ligeiramente trapaceando, mas
não completamente. Eu aceito a emenda, mas se nossas posições
estivessem invertidas, ela nunca me deixaria fazer uma assim.
E então, finalmente - Connor Cobalt em seu aniversário, ela escreveu:
FODER em letras maiúsculas. Eu endureço quase instantaneamente,
aperto um dos puxadores da cadeira e bato ela no chão. Rose recua, mas
eu seguro sua mandíbula com a mão livre, mantendo sua cabeça virada
para frente, para que ela não possa ver a dizimação da sua porra de
cadeira.
São necessários mais dois contatos com o chão antes que as pernas se
quebrem e, com um puxão forte depois, o puxador se solta da armação de
madeira. A outra algema desliza do puxador e eu estou livre.
Eu puxo seu rabo de cavalo e um suspiro escapa de seus lábios. Eu a
beijo de novo, minha outra mão deslizando até a parte interna de sua
coxa.
Eu separo seus lábios com a minha língua, a provando, brincando com
ela, e então eu solto o cabelo dela e empurro o seu rosto de volta para a
mesa.
— Connor, — ela avisa, mas seus olhos permanecem fixados em mim,
não vagando pela cozinha. Ela tenta se levantar, mas eu forço o seu peito
para baixo, uma mão firme entre suas omoplatas.
Sua palma sai da mesa e ela tenta remover a minha entre as suas
pernas. Eu bato na sua mão e em seguida na sua bunda.
Ela choraminga em um gemido suave, e então ela diz, — Espera...
espera, Connor.
Você vai gostar disso, Rose.
Eu acaricio a carne macia de sua coxa novamente, e ela alcança aquela
mão novamente. Eu tiro sua mão e bato na sua bunda. Ela engasga em um
som. — Connor, espera... você tem que esperar...
Eu me inclino para frente, minha ereção se empurrando nela, e posso
sentir seus músculos da perna se flexionando com excitação. — Você
quer que eu te foda, — eu sussurro na ponta da sua orelha. — Eu quero
foder você. Nós dois vencemos, Rose.
Ela respira superficialmente. — Connor… — Minha mão está perto da
sua boceta. — Não! — Desta vez, ela aperta meu pulso, mas o pânico em
sua voz já me atingiu. Eu imediatamente tiro meu peso de cima da minha
esposa, e eu gentilmente viro Rose. Eu seguro seu rosto com cuidado,
rapidamente estudando seu corpo inteiro por qualquer tipo de sinal.
Ela coloca duas palmas no meu peito, seus olhos tremulando como se
eu já tivesse a fodido com força. Eu mal brinquei com ela.
— Rose? — Eu murmuro.
Ela lambe os lábios. — Eu tenho planos. Você não pode arruiná-los. —
É disso que se trata? Ela estranhamente continua puxando o vestido de
algodão, escondendo o que tem embaixo.
Eu levanto uma das mãos dela, prestes a beijar a palma, mas ela se
retrai e levanta o queixo.
— Espere até hoje à noite, — ela diz.
Eu pego a mão dela novamente e coloco na minha virilha, uma ereção
dura como pedra doendo para ficar entre suas pernas. — Eu não posso
esperar, então eu vou gozar na sua boceta, na sua boca ou no chuveiro.
Você gostaria de escolher?
Ela cautelosamente verifica por cima do ombro e então sussurra, — Vá
para a despensa.
Já que ela é relutante em me chupar, sempre tendo dificuldades para
me levar inteiramente em sua boca, eu acho que ela sucumbiu ao sexo,
mas quer fazer isso em um ambiente mais privado. Eu lidero o caminho
para a despensa. Ela fecha a porta atrás de nós e acende a luz.
Eu me concentro tanto em seu olhar penetrante que não vejo a
minúscula chave entre os dedos dela e ela abrindo a algema livre. Eu
acordo no minuto em que ela prende a algema a uma prateleira de
arame.
Ela sai.
— Rose! — Eu grito.
Ela retorna muito rapidamente. — Eu tive que guardar a chave, — ela
diz, se aproximando. Ela desabotoa minhas calças.
— Eu preciso da minha mão...
— Você só precisa de uma. Eu estou chupando você.
Eu não posso esconder minha surpresa. — O que?
Ela estreita os olhos. — Eu sei que não sou boa nisso, mas você não
está me fodendo agora. E você não está batendo uma no seu aniversário.
— Ela cai de joelhos, puxando minha calça até meus tornozelos. Seus
olhos suavizam uma fração. — Preciso da sua ajuda.
Eu prefiro ajudá-la a apenas assistir. — Eu sempre te guio, Rose.
Ela acena com a cabeça, puxando minha cueca boxer. O comprimento
do meu eixo a intimida nessa posição. Eu seguro o pulso dela e levo sua
mão até a base.
— Isso seria mais fácil se você não tivesse me algemado, — eu digo.
— Então é um desafio. Deveria ser mais divertido para você, — ela
replica.
Estar amarrado não é o tipo de desafio que eu gosto. — Não é mais
divertido, é mais agravante.
Ela aperta meu pau com mais força, e um grunhido arranha minha
garganta. Ela diz, — Eu quero estar com você no seu aniversário pelo
menos uma vez.
— Eu teria levado você para Hong Kong. Abra sua boca. — Eu descanso
minha mão na parte de trás de sua cabeça, planejando controlar seus
movimentos.
Ela olha para mim. — Não, você não teria.
Talvez ela esteja certa. Eu nunca sequer considerei levá-la comigo
antes.
— Eu vou mostrar por que você deveria amar hoje.
— Começando com um boquete? — Eu questiono. Não é a coisa mais
incomum entre nós, mas também não é frequente.
Seus olhos verde-amarelados perfuram um buraco em mim e então ela
abre a boca.
[ 23 ]
ROSE COBALT

Se você não se apressar, Connor vai arrancar a prateleira da porra da
parede. - Ryke Depois do boquete que deixou Connor momentaneamente
satisfeito e me deixou infinitamente mais excitada, tive que deixá-lo
algemado na despensa. Se eu o deixar solto, ele irá fugir e ele vai perder
uma noite que ele realmente apreciaria.
— Ele escapou? — Pergunta Lily. — Você está olhando para o celular
como se fosse matá-lo. — No meu quarto, ela coloca dois pratos de
robalo e abóbora em uma toalha de mesa elegante.
Daisy corre em volta dela, acendendo velas. — Ryke não iria deixar ele
escapar, — ela defende o namorado. Ele tem sido muito útil em
encurralar meu marido.
Connor não é fã de surpresas, mas essa é um pouco discreta. Só ele. Só
eu. Se ele odiar isso, então que assim seja, mas pelo menos eu tentei
alguma coisa.
Eu teria preparado um evento mais extravagante - qualquer coisa fora
desta casa - se eu achasse que ele gostaria. De tentativas anteriores de
fazer planos de aniversário, sei que ele não vai gostar. E apesar das
algemas, o resto do dia é sobre o prazer dele.
Eu diminuo as luzes na parede. — Ele ainda está algemado. — Eu
escrevo para Ryke, mande-o para cá em três minutos. Minhas veias estão
cheias de adrenalina, um pouco preocupada que tudo isso possa sair pela
culatra. — Eu acho que é isso, — digo a Daisy e Lily.
Minhas irmãs estudam a área: o jantar íntimo para dois, a iluminação
sensual, as músicas clássicas favoritas do Connor tocando baixo no
fundo. Eu uso possivelmente o vestido mais elegante que eu já criei, algo
adequado para o Oscar e não apenas um jantar tarde da noite no meu
quarto.
Mas alguns eventos merecem o vinho mais caro, a sobremesa crème
brûlée, e aquele raro vestido use-só-uma-vez feito para ser tirado
lentamente.
Meu vestido acentua meu corpo, o tecido quase completamente
transparente em um profundo tom de Merlot com apliques florais e
cristais cintilantes bordados. Com mangas longas e transparentes, o
vestido preenche duas necessidades minhas: é sofisticado, mas
inteiramente sensual. Partes do meu corpo estão expostas através do
tecido, como se eu estivesse em um box embaçado, a ilusão de estar nua,
mas ainda coberta.
— Ele vai adorar, — diz Lily com um aceno de cabeça assegurado, seu
gorro peludo ainda em sua cabeça. Ela pode dizer que estou nervosa.
Eu imagino a guerra se ele ficar desestimulado ou insatisfeito com
meus esforços. Eu posso usar um castiçal como arma. — Espero que sim
porque eu não comprei outro extintor de incêndio. — Eu aperto meu
rabo de cavalo. De alguma forma, um fardo de feno pegou fogo durante o
Halloween. Surpreendentemente, não tive parte em sua destruição.
— Vou encher alguns baldes de água no andar de baixo, — Daisy
oferece. Ela me dá uma piscada. — Só por precaução. — Eu amo minhas
irmãzinhas, meus músculos quase se relaxando. Eu não deveria estar
ansiosa com isso. Eu sinto que estou com quatorze anos de novo, me
preparando para aniquilar Connor no Modelo da ONU, espremidos
naquele minúsculo quarto de hotel e folheando minhas anotações. Tive
as piores dores de estômago, mais com a idéia de vê-lo novamente do
que com a idéia de perder para ele.
Após anos de reflexão, eu questiono se elas são minha forma de
borboletas no estômago, meu corpo rejeitando deliberadamente
qualquer coisa tão doce e amorosa.
Se for, então eu sou a destinatária de borboletas nauseosas que me
fazem querer vomitar. Estou casada há dois anos e meio - você pensaria
que elas já morreram.
Meu celular vibra na palma da minha mão.
Ele está subindo. - Ryke — Vocês duas precisam ir, obrigada, mas xô. —
Eu aceno minha mão para elas, especialmente quando Lily se aproxima
para um abraço de adeus. Eu recuo com a visão de um.
— Só um pequeno abraço? — Lily pergunta, juntando os dedos como
se eu não soubesse o que pequeno significa.
Daisy fica ao lado de Lily. — Eu vou ser o abraço da Rose. — Ela
envolve seus braços ao redor do corpo magro de Lily e aperta muito mais
do que eu faria. É um abraço fantástico, e é por isso que eu não torturo
ninguém com os meus rígidos.
Lily aperta Daisy de volta com o mesmo afeto fraterno. — Esse é um
abraço tão bom, Rose. — Lily sorri. Dou mais cinco segundos antes de
separá-las fisicamente, uma das minhas mãos em cada um dos seus
ombros, e as levo até a porta. Seus sorrisos são bem-vindos fora do meu
quarto.
Elas saem bem a tempo, correndo pelo corredor até o quarto da Lily e
desaparecendo de vista. Connor é o único que sobe as escadas. Eu fecho a
porta antes que ele veja minha roupa e meus olhos voam sobre o quarto.
Velas acesas na cômoda e na mesa, sua comida favorita de inverno de seu
restaurante favorito. Sua música favorita. E então eu, sua pessoa favorita.
Tudo está perfeito.
Por alguma razão, eu já concluí que ele vai odiar, então quando ele
abre a porta, eu estou tão quente quanto as chamas atrás de mim.
Ele estuda minhas feições e meu corpo em uma longa e inexpressiva
onda e minhas pernas endurecem como cimento. Eu forço meus pés a se
moverem, então eu estico minha mão para o seu lado e fecho a porta.
Todo o tempo ele olha para mim, meus saltos não equalizam nossa
diferença de altura.
Eu levanto meu queixo, mais ou menos uns 5 centímetros, separando
nossos corpos. Sua mão desliza para o meu quadril, seu aperto firme
enviando ondas de choque e pulsações para baixo. — Você está errado,
— eu digo a ele fortemente.
— Eu estou? — Ele pergunta.
Eu aceno com a cabeça uma vez, me recusando a ceder com esse
assunto. — Eu não estou comemorando sua idade, Connor. 03 de janeiro
é um dia em que eu celebro você existindo por mais um ano. Eu não me
importo se você tem dezessete anos ou se tem oitenta. Você está aqui e
eu... — O elogio está bem na ponta da minha língua. Tem um sabor
estranho, mas não ruim.
Seus lábios começam a levantar em um sorriso. — Vá em frente, Rose.
— Seu prazer geralmente me irrita a fazer o contrário, mas hoje é
diferente. Ele precisa ver isso.
— Eu sou grata, — eu digo, — por ter você em minha vida e se você
odeia tudo isso, então eu nunca tentarei novamente. Você pode passar
cada aniversário depois desse sozinho em outro país e eu vou deixar
você sair sem problemas. — Eu não posso ler seu rosto estoico, não tanto
quanto eu gostaria. Acho que talvez o jantar íntimo não o tenha
persuadido, então eu me forço a fazer outra coisa fora do meu normal. Eu
alcanço o zíper do meu vestido, tentando me despir.
Ele agarra meu pulso para me impedir, e seus profundos olhos azuis
me possuem primeiro, cheios de serenidade e finalidade. Ele fecha o
vestido de volta até meu colarinho. Meu coração está martelando, meu
sangue fervendo e eu o vejo andando ao meu redor até a mesa. Ainda de
pé, ele começa a colocar vinho nas taças.
Ele está intencionalmente quieto, me fazendo adivinhar seus
pensamentos trancados em ferro. Se ele tivesse desprezado isso, ele já
teria ido embora, então me apego a esse fato e puxo meus ombros para
trás com mais confiança. Eu ando pelo nosso quarto azul-claro e cinza,
me sentando no banco da minha penteadeira.
Ele não está interessado na comida. Isso eu já percebi.
Eu me vejo batendo meu salto no chão enquanto ele bebe seu vinho.
Ele observa meus olhos se estreitarem.
— Se o seu silêncio é o meu castigo por algemar você, — eu digo, —
então você deve saber que é mais um prêmio. Sua voz faz meus ouvidos
sangrarem.
Seus lábios se curvam para cima. — Vous êtes ravissante. — Você é
deslumbrante. Seu tom sério aperta meu coração, seus olhos passando
pelo meu vestido mais uma vez, para mostrar que ele está falando sobre
mais do que meu exagero anterior. Então Connor pega a segunda taça de
vinho. — E eu passei as últimas três horas em uma despensa com apenas
Ryke como companhia, então tive muito tempo para decidir qual seria
seu castigo. O silêncio não é satisfatório o suficiente para fazer parte
disso.
— Se eu não tivesse te amarrado, você teria saído, — refuto.
Ele não nega isso. Ele está na minha frente, tomando seu vinho e
segurando a segunda taça. Eu estendo a mão para pegá-la, mas ele puxa
para seu peito novamente.
Eu faço uma careta para sua tática juvenil.
Ele sorri mais e então examina o quarto pela terceira vez, sua mente
aparentemente trabalhando, mas vejo o sorriso por trás de seus olhos. —
Diga algo legal sobre mim e eu lhe darei o vinho.
Acho que ele está testando para ver até onde essa situação de "elogio"
vai no dia do aniversário dele. Eu pretendia ser mais gentil com ele hoje,
para celebrar. Mas é difícil elogiar um homem cujo ego é maior que o
quarto. — Você não é um amante horrível, — eu começo, até mesmo
forçando um sorriso apertado.
Ele bebe meu vinho. Ugh. — Você pode fazer melhor do que isso,
Senhorita Maiores Honras.
Eu cruzo meus tornozelos. Ele usa seu pé para os separar, meus
joelhos se separando. Meu peito se expande profundamente, seu domínio
é tão aparente e inflexível. — Você é alto, — eu digo.
Ele bebe mais da minha taça, consumindo cerca de metade. Eu amo e
odeio aquele sorriso arrogante e pretensioso. Eu amo e odeio sua boa
aparência: polido em calças pretas e uma camisa social branca, seu
cabelo castanho ondulado estilizado, sua pele suave com olhos
encantadores e uma boca satisfeita.
— Eu estou esperando. — Ele balança o vinho, segurando as duas
taças, mas ele se concentra apenas no meu.
— Seu pau é enorme. — Eu pressiono meus lábios juntos.
Ele ri uma vez. — Isso é um fato, querida. Não é o que eu quero de
você. — Ele bebe outro quarto do meu vinho.
Eu solto um suspiro. — Você é exigente quando quer. — Ele quase
levanta a taça para os lábios novamente, mas eu falo rapidamente. — E
você é tão brilhante e atraente; se torna enlouquecedor — meu coração
bombeia mais rápido — que alguém como você exista e que você está
aqui em nosso quarto, que dividimos um quarto de alguma maneira - é
irreal e é a vida mais gratificante que eu nem conseguiria imaginar isso.
— Eu sussurro, — Eu sou tragicamente apaixonada por você, e eu não
trocaria isso por nada.
Ele aperta minha mão e me levanta. Eu o vejo derramar seu vinho na
minha taça, a enchendo completamente antes de passá-la para mim. Ele
coloca sua taça vazia na penteadeira atrás de mim, o silêncio criando
mais e mais tensão. Eu tomo um pequeno gole, meu corpo já está quente
e corado.
Sua mão repousa na parte inferior das minhas costas. Eu seguro seu
olhar, imaginando que estamos sozinhos em um salão de baile juntos,
vestidos de acordo, preparados para conquistar o mundo. Ele pergunta,
— E como o tempo age no meu aniversário?
Tempo.
— É maleável, — eu respiro. Não há uma carruagem pronta para se
transformar em uma abóbora à meia-noite. Eu empurraria essa noite até
amanhã.
Minhas palavras parecem movê-lo, seus lábios encontrando os meus
primeiro. Ele me beija lentamente, depois com mais força, durando um
breve momento que incendeia meu pulso. Ele me vira para a penteadeira
e tira o vinho dos meus dedos. Ele coloca a taça nas tábuas do assoalho
fora de alcance. — Coloque as palmas das mãos na superfície, — ele
ordena.
Eu empurro alguns dos meus perfumes Chanel para o lado e, em
seguida, coloco as palmas das minhas mãos na madeira, minhas costas
ainda retas.
Ele sai por um segundo, seu calor se afasta mais de mim. Através do
meu espelho da penteadeira, eu o vejo entrar no closet. Quando ele
retorna, ele carrega mais do que alguns itens: um cinto, um colar de
diamantes, uma gravata e, claro, algemas. De tudo, o cinto me preocupa
mais. Ele nunca me bateu com um e não é uma fantasia particular minha.
Nós temos pequenos chicotes, mas se ele os usa, é para me provocar,
nunca para me chicotear. Eu tenho um limiar de dor que permanece dor
e nunca beira o prazer.
Ele sabe disso, mas o cinto ainda causa alarme. — Connor, — eu digo,
— eu não quero ser chicoteada.
Suas pernas batem nas costas das minhas, me empurrando ainda mais
contra a borda de madeira. A força desliza o banco para debaixo da
penteadeira. — Eu sei, Rose. — Ele beija minha nuca uma vez - não, duas
vezes, meu pulso batendo por mais.
Então ele coloca o colar de diamantes ao lado da minha palma
achatada e em vez disso prende o cinto em volta do meu pescoço,
apertado, mas não me sufocando. Ele envolve a ponta ao redor do seu
punho, o visual mais estimulante do que eu pensei que seria, meus
músculos das pernas se contraindo e o coração pulando algumas batidas.
— Sua punição, — diz ele na ponta da minha orelha. E então eu sinto o
tecido macio de sua gravata em volta dos meus olhos. Ele o amarra atrás
da minha cabeça. Eu estou cega para seus movimentos, mas eu o sinto
lentamente, tão lentamente, abrir o zíper do meu vestido, frio picando
minhas costas nuas.
Ele tira o tecido dos meus ombros, descobrindo meus braços. Eu posso
sentir meus seios totalmente expostos, meus mamilos endurecendo
enquanto suas grandes mãos masculinas percorrem minha pele. Eu
posso não estar com sutiã, mas eu estou de calcinha. Elas são algo que eu
nunca usei antes. Eu quis uma vez, mas eu me acovardei e troquei antes
que ele visse.
Eu pensei que hoje à noite seria perfeito já que não há nenhuma
maneira no inferno que eu as usaria novamente. Mas agora eu nem
consigo ver a reação dele com essa venda estúpida.
Eu a levanto acima dos meus olhos enquanto ele aperta um dos meus
mamilos. Connor me pega através do espelho, e ele me bate com tanta
força que eu me inclino para frente, meus ossos do quadril cavando na
borda de madeira. Um suspiro fica preso na minha garganta e acho que
estou suficientemente encharcada agora.
Ele puxa a gravata para baixo. — Não toque nisso.
— Eu vou colocá-la novamente em um segundo, — eu refuto, prestes a
puxá-la de volta para a minha cabeça. Eu tenho que ver sua reação à
minha maldita calcinha.
Suas sobrancelhas franzem, curioso quanto às minhas exigências
estranhas. Enquanto ele está pensando, ele desabotoa sua camisa e eu
absorvo cada pequena curva de seus músculos definidos. Ele tira a
camisa e enrola o cinto em volta do punho. Seu olhar de repente vai para
a minha bunda. Ele sabe que tem que terminar de me despir.
E então minha visão escurece mais uma vez, a gravata cobrindo meus
olhos. — Connor...
— Se você quer negociar, precisa me dar algo em troca. É assim que as
transações são feitas.
Ele tem que ser tão técnico. No entanto, eu geralmente também sou.
Ele puxa meu vestido mais para baixo na minha cintura, basicamente me
dizendo que tenho cinco segundos para fazer uma oferta. — Se você
remover essa venda, eu vou... deixar você me bater com o cinto. — Eu me
encolho assim que as palavras escapam.
— Não, — ele rejeita a minha oferta. Tenho certeza que ele quer que eu
cale a boca...
— Você pode me amordaçar com a gravata.
— Ok, — ele concorda, mas ele nunca remove a gravata. Em vez disso,
ele puxa meu vestido até meus tornozelos. Eu juro que todo o seu corpo
tenciona contra o meu, e eu instantaneamente puxo a venda para a
minha testa, testemunhando sua expressão através do espelho.
Connor esfrega os lábios como se quisesse esconder um sorriso, mas
está tomando conta do rosto dele, consumindo suas feições e
aumentando a cada segundo. Eu uso uma calcinha preta simples, mas na
parte de trás está escrito: EU AMO CONNOR COBALT!
Há até uma impressão de batom ao lado do nome dele.
Isso vai aumentar seu ego. — Pare de sorrir, — eu digo, por instinto.
Eu bufo, — Quero dizer... sorria, ria, divirta-se. — Ele de repente aperta a
gravata em volta da minha boca até que eu esteja a mordendo.
Seus lábios roçam minha bochecha. — Você me vê tirando sarro de
você?
Eu balanço minha cabeça e sinto sua mão em minha bunda. Ah, Deus.
Seus dedos cobrem minha calcinha, bem entre minhas pernas. Meus pés
tentam e não conseguem se contrair em meus saltos rígidos.
— Saia do seu vestido, — ele comanda, seu olhar plantado na minha
bunda. Seu desejo crescente agita ainda mais o meu. Ele aperta a parte
direita da minha bunda antes de bater de novo. — Mova-se, Rose.
Eu engasgo com a respiração antes de sair do tecido. Ele não apenas
joga o vestido de lado. Ele pega como se fosse outro dos meus membros
(poderia muito bem ser) e ele cuidadosamente o coloca em uma cadeira
próxima. Então ele se abaixa e remove os meus dois saltos, que seguram
meus pés de uma certa maneira. Meus orgasmos são sempre mais
intensos sem eles.
E então ele algema meus pulsos juntos. — Você quer ver o quão duro
eu estou, Rose? — Ele pergunta. Sim. Meu peito desmorona e levanta de
forma agressiva. Ele remove suas calças pretas e sua cueca boxer, seu
pênis tão rígido que eu praticamente posso sentir a plenitude antes
mesmo de ele o empurrar para dentro.
Estou tão molhada que seus dedos acariciam meu clitóris debaixo da
minha calcinha por um minuto, e eu já estou contraindo de novo e de
novo. Seu nome e meus gritos são abafados pela gravata. Enquanto
minha cabeça gira, ele me puxa para trás pelos quadris. Meus antebraços
acertam a madeira, me fazendo inclinar para frente, e ele abre minhas
pernas para que minha bunda esteja em sua posse, a escrita na minha
calcinha em sua visão.
Ele inclina o corpo para frente enquanto puxa o cinto. O couro cava na
minha traqueia, fazendo meus olhos tremerem. Sua ereção pressionada
contra mim e eu sofro para ele empurrar para dentro.
Sua respiração quente bate no meu ouvido. — Eu vou foder meu nome
na sua bunda. — Ele planeja manter minha calcinha, tanto quanto
possível. Ele afasta o tecido, apenas o suficiente em baixo para que ele
pode entrar em mim... e ele entra. Devagar. Tão devagar que a pressão
aumenta como uma faísca comendo uma linha de fusíveis.
Eu choramingo e posso acidentalmente falar a palavra Deus mais de
uma vez, mas ela sai distorcida com a gravata. Connor. Eu vejo a excitação
em seu rosto do espelho, seu foco na minha bunda, e seus braços me
segurando com essa carência que eu desejo na cama. Eu quero ser
desejada e esse homem completamente, totalmente me quer.
Antes dele se mexer e criar aquele atrito, ele abaixa a cabeça até a
minha bochecha novamente. — Como o tempo é maleável, isso vai durar
até que eu tenha visto você gozar tantas vezes até que você desmaie.
Eu gemo novamente, o sangue saindo da minha cabeça. Ele empurra
com força. Eu choramingo, tentando me segurar em minha penteadeira
como apoio. Minhas unhas raspam a madeira. Ele empurra novamente, e
eu já estou à beira de gozar. Estou tão cheia dele que mal consigo me
mexer.
Ele morde meu ombro, as sensações me deixando louca. Ele me bate.
Ele me engasga com o couro. Ele puxa meu cabelo. Ele brinca com cada
parte íntima minha, empurrando contra a minha bunda, meu amor
escrito através dela para ele ver.
Eu gozo, praticamente gritando na gravata, meus dentes se apertando
nela. Ele é tão rápido, me levantando na penteadeira e arrancando minha
calcinha. Ele abre minhas pernas e me fode de novo, meus pulsos
algemados. Seus lábios estão acima dos meus e ele abaixa até eles para
me beijar. Empurrando para dentro, mais fundo, mais forte. O momento
e a pulsação me elevam mais uma vez. Quando ele não está me beijando,
ele sussurra em francês entre grunhidos profundos e agradáveis, alguns
murmurados rapidamente na boca do meu ouvido.
Eu não consigo traduzir nada disso, minha mente em um redemoinho.
Nós trocamos de posição novamente, então ele tem acesso a minha
bunda, e eu me ajoelho no banco, antebraços de volta na superfície de
madeira. Ele está atrás de mim, segurando minha bunda enquanto ele me
fode. Meu corpo inteiro está paradoxalmente entorpecido e em chamas.
Ele tira a gravata da minha boca e depois me bate de novo e de novo, a
picada aumentando em cima de todas as outras.
— Quanto tempo… — eu engasgo. Eu não posso fazer isso por muito
mais tempo. A intensidade continua aumentando.
Seus dentes mordem minha orelha. — Até você desmaiar.
Eu contraio e contraio, meus músculos flexionando em todos os
lugares. — Connor!
Ele geme com o meu grito excitado, mas ele não está nem perto de
terminar. Enquanto minhas pálpebras lutam para se levantar, ele bate na
minha bochecha, não é bem um tapa, mas o suficiente para me acordar.
Meus lábios incham sob os dele. Eu o beijo e caio em sua posse mais uma
vez.

Minha bunda dói de ser espancada. Estou tão exausta. Isso é tudo que eu
penso quando Connor me leva sem esforço ao nosso banheiro. Eu mal
consigo segurá-lo, mas ele me ajusta então minha cabeça descansa contra
seu peito nu.
Connor me coloca na banheira, já cheia de água morna. Meus músculos
doloridos escorrem e começam a se relaxar. Acho que até solto um
suspiro audível. Eu abro meus olhos apenas o suficiente para vê-lo. Ele se
ajoelha ao lado da banheira, os lábios avermelhados pelo beijo e a pele
coberta por uma fina camada de suor.
Ele acaricia meu cabelo para trás, gentil e carinhoso. — Como você está
se sentindo?
Eu me pergunto que horas são e quando eu apaguei. — Como você
acha que eu estou me sentindo? — Eu sei que responder com uma outra
pergunta o incomoda, mas simplesmente escorregou. E tecnicamente seu
aniversário literalmente veio e se foi, sem mais regurgitar elogios para
ele.
Ele sorri, reconhecendo isso também.
Eu levanto meu joelho e meus músculos gritam em protesto. Eu
estremeço, e ele se inclina sobre a banheira e massageia minha coxa
embaixo da água.
— Tenez-moi, — eu sussurro. Me segura.
Já nu, ele entra na grande banheira e se afunda ao meu lado. Ele
envolve seu braço em volta do meu ombro e ele me puxa para ele, até
que eu esteja meio envolvida em seu corpo. Eu descanso minha bochecha
contra seu colarinho, ouvindo sua pulsação lenta em relaxamento com a
minha.
Depois de alguns minutos de silêncio, Connor cuidando do meu corpo
dolorido com uma mão mais macia, ele diz, — Obrigado.
Obrigado. Eu tento traduzir seu significado mais profundo, mas minha
mente girou e foi fodida por muito tempo. Eu luto para manter meus
olhos abertos. — Deve ter sido o melhor sexo que você já teve. — Para
mim, está no nosso top cinco.
— Não foi sobre o sexo, — ele diz, tão fracamente que eu quase sinto
falta.
— Foi sobre que então?
— Você se esforçou muito ontem para me agradar, mais do que você já
fez, e… — Ele faz uma pausa em realização. — Eu nunca quis perder
momentos raros na vida, e todo ano com você, no meu aniversário, eu
tenho escapado de um. — Ele acrescenta suavemente, — Isso foi perfeito.
Eu começo a sorrir, me agarrando mais a ele. — Você realmente
acredita nisso?
Ele acena com a cabeça, a sinceridade lavando seu rosto, e então ele
beija minha testa, deixando uma marca quente mesmo depois de seus
lábios se retirarem. Meus olhos estão quase fechados quando ele
sussurra, — E Rose?
— Sim? — Eu respiro.
— Eu sou tragicamente apaixonado por você também.
[ 24 ]
ROSE COBALT
— Nós não temos tempo para isso, — eu digo enfaticamente, uma frase
que flexiona seus músculos em aborrecimento. Eu estou sentada no colo
de Connor Cobalt no meu banquinho da penteadeira, mais no controle e
mais insegura do que gostaria de estar. Seu pau semiduro cava em minha
virilha, deixando-me saber que um de nós está se divertindo.
Ele verifica seu relógio. — Temos trinta minutos.
Eu inalo um suspiro de confiança e então me aproximo mais dele. Seus
dedos se espalham no meu cabelo, mantendo minha cabeça firme
enquanto meus lábios descem para o seu pescoço. Sua grande mão
praticamente envolve a parte de trás da minha cabeça. Seu aperto firme
me lembra que ele tem algum controle aqui. Não está tudo em mim.
Isso ilumina meu núcleo, mas não adormece o fato de minha língua
estar em sua pele. Eu o beijo gentilmente, sem saber o que mais fazer.
Eu nunca beijei Connor aqui, não gosto de como preciso fazer isso
agora.
Minha língua toca seu pescoço com incerteza. Ele massageia meu couro
cabeludo, como se quisesse dizer, vamos lá, querida de uma maneira
cuidadosa, mas feroz. Se ele pudesse se dar um chupão, eu tenho certeza
que ele preferiria isso do que eu hesitante e desconfortável.
— Mais forte, — ele exige. Ele segura um pedaço do meu cabelo e puxa.
A pressão rouba minha respiração por um momento.
Eu levanto meus lábios de sua pele, e um ruído frustrado - como uma
hiena morrendo - rompe minha garganta. — Esta é uma ideia estúpida,
— eu reclamo. — Adolescentes dão um ao outro chupão. Adolescentes
estúpidos, idiotas e induzidos por hormônios Eu me sinto tão boba e
insegura toda vez que beijo seu pescoço, minha autoconfiança exaurindo-
se como se algum demônio estivesse a sugando diretamente da minha
alma. Eu odeio me sentir assim, então eu costumo evitar as tarefas que
me colocam nessa posição.
Chupar o pescoço até que ele fique vermelho e com hematomas é
definitivamente uma delas.
— Você acabou de chamar Daisy de estúpida, — ele me diz levantando
uma sobrancelha. Ela tem dezenove anos. Uma adolescente. E como
todas as minhas irmãs, ela não tem absolutamente nenhum problema em
dar chupões gigantes e "prazerosos" a Ryke.
Eu franzo a testa. — Pare de distorcer minhas palavras. Meus dentes
estão perto do seu pescoço.
— Você planeja me morder? — Ele pergunta seriamente. — Vá em
frente, Rose. — Ele sabe que eu não vou, então seu sorriso cresce e meus
olhos se estreitam. Eu não quero nada mais do que limpar seu sorriso de
seu rosto. — Você sabe o que…
Eu pressiono minha mão contra sua boca; pelo menos eu não tenho
que olhar para ela. E então eu sinto seus lábios se levantarem em um
sorriso sob minha palma, mas eu não retiro minha mão.
— Você deveria me dar um chupão, — eu digo. — Entre nós dois, você
é obviamente o mais hormonal. — Eu me movo em seu colo, me
referindo a sua ereção que pressiona contra mim. Eu não menciono como
isso está começando a me afetar, a pulsação entre as minhas pernas
batendo em sincronia com o meu coração.
Ele solta um ruído irregular, um que ele tenta conter. Suas mãos se
acomodam na minha bunda, onde meu vestido preto sobe, minha carne
exposta. Eu tiro a mão da boca dele, precisando ouvir sua resposta.
— Seu argumento carece de provas, querida, — ele me diz, a palma da
mão mergulhando na minha coxa. Eu agarro seu pulso antes que ele
toque minha calcinha de renda para deduzir o quão molhada eu estou.
Estou molhada, tudo bem. Mas eu prefiro que ele não sorria de
satisfação. Estou satisfeita com a aparência de sua ereção. Deixe-me
regozijar.
Sua testa se franze novamente, mais combativamente.
— Não temos tempo para você reunir provas e interrogar testemunhas
e consultar um júri, — refuto. Nós deveríamos ir para o hospital em
breve.
Três dias atrás, Ryke passou pela cirurgia de transplante de fígado com
o pai. Antes de Ryke ir para o hospital, ele mal falou. Ele só disse alguns
eu amo você para minha irmã mais nova e eu o ouvi dizer um a seu irmão
também.
Todos nós saímos do trabalho e ficamos na sala de espera. Horas
depois, ficamos sabendo que tudo ocorreu bem entre o doador e o
destinatário, e finalmente pudemos ver Ryke. Ele estava grogue e
enjoado da anestesia, mas ele estava vivo e saudável, ainda dizendo
porra em cada frase ou algo assim.
Como os paparazzi praticamente acamparam do lado de fora do
hospital, ávidos por fotos de nós cinco entrando e saindo, Connor e eu
planejamos uma estratégia para atrair mais atenção da mídia para nós ao
invés da Jane e do Moffy.
Uma tarefa simples: faça Connor ser fotografado com vergões
vermelhos no pescoço.
Único problema: eu tenho que colocá-los lá.
— Vamos usar maquiagem, — ofereço de repente. É a solução perfeita.
Eu quase levanto do seu colo, mas as mãos dele apertam meus quadris.
— A mídia pode não se importar se for real, — diz ele, — mas as
pessoas on-line poderão dissecar as fotos e descobrir a farsa.
Meus lábios ficam em uma linha reta, minha pulsação prestes a seguir.
Como faço isso com confiança e sem me sentir como uma adolescente
desleixada e excitada?
Os profundos olhos azuis do Connor encontram os meus, e então, em
um movimento rápido, ele me levanta em seus braços, minhas pernas em
volta de sua cintura enquanto ele fica de pé. Acho que ele vai me colocar
no chão, desistir, mas em vez disso, ele engancha o tornozelo no banco da
penteadeira, o arrastando pela metade do quarto. Ele para bem na frente
do nosso espelho ornamentado de corpo inteiro.
Me fode.
Isso é ainda pior.
Meus olhos exacerbados queimam seu crânio, marcando pontos de
exclamação em seu cérebro. Ele se senta no banquinho comigo em seu
colo, como se estivéssemos aqui o tempo todo. Ele pega meu queixo em
sua grande mão. — Eu vou fazer em você primeiro, — diz ele. — Assista e
aprenda. — Essas últimas palavras devem parecer condescendentes, mas
não são. Ele está falando sério.
E percebo que Connor está me ensinando.
Ele prende meu cabelo em um rabo de cavalo, segurando meu olhar
por um momento. Acho que eu permitiria que ele me ensinasse também
como adolescente, apesar de sermos concorrentes. Não tenho certeza se
teria escutado tanto ou sido uma aluna muito complacente, mas teria
tentado.
Seu polegar roça meu lábio inferior antes que ele se incline até o meu
pescoço e beije a carne macia. Eu me concentro no espelho, capaz de ver
seus lábios se fecharem sobre a minha pele, sua língua deslizando antes
de chupar forte. Um gemido incontrolável me escapa, um suspiro agudo
junto. Seus dedos apertam a base do meu pescoço e seus dentes mordem
minha pele.
Meu corpo pulsa só de observar.
Ele se move como se quisesse dar prazer, nunca inseguro, não bobo ou
inapto na tarefa. Ele é um homem estampado com confiança e poder que
eu quero imitar e superar.
Eu absorvo cada pequena ação, cada elevação de sua cabeça. Eu conto
os segundos que ele chupa e o momento em que seus dentes apertam a
minha pele. Meus olhos se fecham quando a mão dele abaixa e aperta um
dos meus mamilos.
Eu bato na coxa dele. — Estou tentando me concentrar.
Ele sorri para o próximo beijo.
Dura mais alguns minutos antes que ele levante a cabeça. Ele esfrega
meu pescoço com o polegar, o ponto avermelhado. — Você vai precisar
passar maquiagem aqui para esconder isso, — ele me diz.
Eu concordo com a cabeça. Isso foi apenas uma demonstração, e ele
tem sido muito inflexível sobre termos igualdade nas tarefas para agitar
a mídia. É a minha vez, ele me disse com resolução.
Seus olhos se fixam nos meus lábios. — Vamos ver quão boa você é
como uma aluna, senhorita maiores honras. — Ele acaricia minha
bochecha com o polegar, e meus lábios partem com uma respiração
inebriante. Ele desliza o dedo na minha boca e eu sinto seu pau crescer
debaixo de mim. Isso derrama confiança através dos meus ossos.
Quando seu polegar deixa meus lábios, molhados e brilhantes, eu me
empurro para frente, roçando nele, e então eu pressiono minha boca em
seu pescoço.
Cada movimento que ele fez, repito, tentando superá-lo. Eu pressiono
minha mão na parte de trás do seu pescoço, segurando-o, e meus dedos
cravam em sua pele. Eu roço meus dentes ao longo de seu pescoço,
puxando sua carne.
Ele observa meus movimentos precisos no espelho. Eu só paro uma
vez, quando ele mexe na minha calcinha, sua mão em sua própria missão
entre nossos corpos.
— Continue, — ele comanda.
Seus dedos me preenchem primeiro e minhas coxas se apertam ao
redor dele. Então eu sinto algo maior substituir seus dedos, algo mais
duro... Eu ofego em seu pescoço enquanto ele empurra sua ereção para
dentro de mim.
Ele segura a parte de trás da minha cabeça, me forçando em seu
pescoço.
— Rose, — ele diz com firmeza.
— Foi você quem saiu do tópico, Richard... — Eu choramingo quando
ele dá uma estocada, apertando meus quadris. Há quanto tempo estou
chupando o pescoço dele? Os números passam pela minha cabeça com
palavrões e mais pontos de exclamação.
Me fode.
— Mais forte, — eu engasgo.
— Rose, — ele estala, seus movimentos cessando.
Eu sou uma multitarefa fantástica, então isso teoricamente deveria
estar dentro das minhas capacidades. Temos pouco tempo antes de
precisarmos sair e ele está tentando matar dois coelhos com uma
cajadada só. No entanto, minha mente continua se desligando em favor
de um clímax. — Não temos tempo, — digo de repente, minha voz rouca.
Sua mandíbula se flexiona em irritação. Ele guia minha cabeça de volta
ao seu pescoço. — Faça o que você sentiu, não apenas o que você viu. —
Eu o ouço e chupo novamente, meu corpo quente e pulsante. Eu me
encontro balançando contra ele já que ele está imóvel, precisando desse
atrito entre minhas pernas. Eu nunca questiono ou hesito dessa vez.
E então ele aperta meus quadris novamente, tão fortemente que eu
paro de balançar, e ele move sua pélvis para cima e para baixo, seu pênis
deslizando para dentro e para fora em ondas duras e profundas. Porra.
Eu o beijo no ritmo desse ritmo vigoroso. Nós dois nos conectamos em
outro nível, um só para duas pessoas que adoram ganhar juntas.
Mas o lado cauteloso de mim sempre temerá pelo dia em que ambos
perderemos.
[ 25 ]
CONNOR COBALT
Eu subo no elevador do hospital com Lo. As três garotas dirigiram
separadamente para que pudessem deixar Jane e Moffy na casa de
Poppy. Nenhum de nós sequer considerou levar uma criança de sete
meses e outra de oito meses para um hospital e felizmente a irmã mais
velha de Rose não tem nenhum problema de ser babá por algumas horas.
— Leia o pedido dele para mim. — diz Lo, vasculhando a sacola de
compras da Lucky’s Diner.
Eu percorro a mensagem do grupo entre Lo, Ryke e eu.
Chili fritos, jalapeño poppers e um hambúrguer de queijo com cebolas,
cogumelos, pimentas e queijo cheddar. - Ryke Além disso, se eles ainda
tiverem quiche, pegue uma fatia disso também. - Ryke Mais mostarda
extra… e me arranje um Reuben. Eu posso salvá-lo para amanhã se eu
ainda estiver nessa porra do inferno. - Ryke Eu leio seus pedidos em voz
alta. — ...quiche, mostarda extra e um Reuben, — eu termino, colocando
meu celular no bolso da calça cáqui. Ryke come mais do que o hospital
fornece a ele, então estamos tentando corrigir isso. Ele usaria a comida
como um incentivo para se levantar e sair correndo pela rua para um
restaurante local, estourando seus pontos.
No entanto, não podemos remediar sua outra necessidade. Escalar
montanhas, treinar, correr.
— Porra. — Lo xinga, puxando um sanduíche embrulhado para olhar
mais fundo na sacola. — Você disse mostarda extra?
— Sim. — Me lembro de dizer especificamente ao caixa para pôr mais.
— Não há nenhuma aqui. — Sua mandíbula se flexiona, e ele joga o
sanduíche de volta, rolando a parte superior do saco de papel em
frustração.
— Ele não vai notar. — O elevador sobe lentamente.
Lo parece mais jovem hoje, em jeans e uma camiseta em V preta. —
Talvez. — Seus olhos vagueiam para mim, pousando no meu pescoço,
observando o chupão pela quinta vez. Eu espero que seu medo apareça
novamente.
Aí está.
Suas sobrancelhas se franzem e o rosto se contorce. — Eu continuo
imaginando esses súcubos robóticos se prendendo em você porque a
Rose que eu conheço, — ele balança a cabeça em descrença — nunca
daria a ninguém um chupão, marido ou não. — A preocupação pisca em
seus olhos âmbar, pensando por um breve segundo. Se eu poderia ter
traído minha esposa.
Em sua mente, ele não pode me ver com outra pessoa além dela, mas
está tendo problemas para chegar a uma conclusão realista. Então ele me
colocou com um robô.
— Eu posso ser persuasivo, — eu o lembro.
— Você sabe, eu nunca vi Rose beijar alguém em público até você.
— Ela gosta de sua privacidade. — Perdemos quase tudo disso, mas o
que projetamos para os tabloides não é inteiramente real. O que fazemos
sozinhos no nosso quarto é, e ainda assim, perdemos alguns desses
momentos através dos vídeos de sexo. É complicado, mas eu sabia que
essa vida seria.
Lo faz movimentos com a mão para o meu pescoço. — Então ela vai
cortar suas bolas por não cobrir essa merda. — Os paparazzi nos
bombardearam quando entramos no hospital, então está claro para ele
que estará em algum tablóide. Independentemente de um chupão,
haveria artigos sobre nós, mas é importante que eles se voltem para
mim, não para as crianças.
Sem nossa interferência, eles poderiam dizer: onde estão Jane e Moffy?
Rose e Lily estão negligenciando seus filhos? Por que eles não são vistos em
lugar algum?
Nem sempre funciona, mas é por isso que isso é um teste. — Eu
protegerei minhas bolas. Não se preocupe, querido. — Eu pisco.
Ele ri, mais leve. Saímos do elevador e caminhamos pelo corredor, já
liberados. Eu encontro seu quarto rapidamente, e quando eu abro a
porta, pegamos Ryke em uma posição comprometedora.
— Mano. — Lo grita, entrando na minha frente.
Ryke está no chão de concreto fazendo flexões, sua bunda espreitando
para fora de seu frágil vestido de hospital azul. — Vai se foder, — Ryke
grunhe enquanto abaixa seu peso corporal, seus braços flexionados
enquanto ele se levanta de volta.
— Francamente, eu não estou surpreso, — eu digo. — Pensei que nós
teríamos que checar você no dia dois. Olha, mostrar a bunda para o
quarto não é tão ruim assim.
Ryke me lança um olhar em sua próxima flexão, seu carrinho de soro
ao lado dele. — Lembra daquela vez que você ficou algemado ao atrás de
frutas enlatadas?
Eu quase uso minha irritação. — É engraçado você mencionar atrás. —
Eu olho uma vez para sua bunda para referência.
Ryke não dá a mínima. Na verdade, ele faz uma flexão com uma mão e
me mostra o dedo do meio com a outra.
Ele continua fazendo o que ele quer fazer. De acordo com o habitual.
Eu ando para mais dentro do quarto de hospital e sento na cadeira
dura ao lado da cama. As cortinas de privacidade envolvem a segunda
cama vazia. O outro paciente, uma remoção da vesícula biliar, teve alta
ontem à tarde - então ele não está submetendo outra pessoa ao seu
treino nu.
Lo agacha na frente de seu irmão e agita a sacola do Lucky's. — Eu vou
jogar isso fora da maldita janela se você não parar.
Ryke imediatamente pega a sacola enquanto ele fica de pé.
Lo dá um tapinha no ombro do irmão dele. — Meias fofas.
Eu rio em um sorriso. Ryke tem que usar meias brancas de compressão
para ajudar no fluxo sanguíneo, mas tenho certeza de que suas viagens
constantes para fora da cama ajudam bastante a sua circulação.
— Vai se foder. — Ryke diz levemente. Ele se senta na beira da cama, já
vasculhando o conteúdo da bolsa.
Lo se senta ao lado dele. — Sério, você estava coerente quando o
médico disse que você poderia danificar o seu baço e precisar de uma
segunda cirurgia?
Ryke coloca uma batata frita na boca. — Eu estava coerente e também
o ouvi dizer que eles não danificaram nenhum dos meus órgãos durante
a cirurgia. — Ele tira um pacote de guardanapos da sacola. — Eu não
posso machucar meu baço sozinho. Os cirurgiões falaram que teriam que
ter fodido ele três dias atrás e eles não fizeram.
Eu me inclino para trás. — Uma infecção ainda é totalmente possível.
Lo assente algumas vezes.
Ryke me olha uma vez antes de comer outra batata frita. — Eu estou
bem pra caralho. Eu deveria sair daqui essa noite...
— Não, — Lo corta com um olhar sombrio. — Você deveria ficar aqui
por pelo menos seis dias. — Eles nunca estiveram nessa inversão de
papéis: Ryke sendo o inválido. Loren sendo o saudável. Ambos não estão
bem com a troca.
Para aliviar a tensão (o que faço melhor), digo, — Há um par de
algemas comunais flutuando em nossa casa em algum lugar. Terei prazer
em pagá-las e algemar você à sua cama.
Ryke desembrulha seu bife de queijo Philly. — Que tal… você se foder.
Bem, eu tentei. Ele nunca foi cooperativo quando os assuntos
circunvagam em torno dele. Ele está acostumado a lidar com sua vida
pessoal em particular e suas fraquezas sozinho. Eu posso entender isso,
mas ele tem pessoas que se importam com ele agora.
Ele não está mais sozinho.
Lo coça a nuca. — Você não tem corrido, tem?
Ryke come seu sanduíche, ficando quieto.
Lo olha para o chão, balançando a cabeça algumas vezes e estalando os
nós dos dedos. Ryke encontra meu olhar uma vez e eu levanto minhas
sobrancelhas para ele como se dissesse você tem que falar sobre isso. Ele
não pode fechar o Lo da vida dele, não depois de todos os avanços que
eles fizeram em seu relacionamento.
Ryke toma um gole de sua garrafa de água. — Eu tentei correr uma vez
e as enfermeiras me pararam.
— Que bom. — Lo se encaixa.
Ryke procura algo na sacola da Lucky's. — Você esqueceu a mostarda?
Lo se vira para mim com uma expressão que eu leio como o que você
estava dizendo no elevador? Ah, espera, você estava errado.
Eu passo por cima da imprecisão da mostarda. — Como exatamente as
enfermeiras te pararam? — Eu pergunto, tentando imaginar esse ato.
— Elas me falaram pra parar e eu parei.
— Elas acariciaram sua cabeça e disseram bom menino também?
Lo dá risada.
Ryke me olha com raiva.
— Que tipo de recompensa elas te deram? Um carinho na barriga?
Lo diz, — Foi bom, mano?
Ryke joga uma batata gordurosa coberta de chili em mim e depois em
Loren. Manchando meu suéter azul marinho. Eu não estou
necessariamente feliz com isso, mas eu sabia que corria esse risco o
provocando. Ryke gosta de projéteis e a comida fica em seu caminho.
Ele verifica a porta fechada por cima do ombro, seu corpo enrijecendo
em seriedade. — Como Daisy está dormindo à noite? Eu perguntei a ela
algumas vezes, mas ela apenas me diz para não me preocupar.
Lo olha para mim, sem saber como responder. Daisy tem dificuldade
em dormir sozinha por causa do seu TEPT e, na primeira noite, Rose a
checou às três da manhã. Todas as luzes estavam acesas no quarto de
Daisy no porão. Rose disse que ela estava bem acordada, alarmada pelos
menores barulhos, por isso Rose está dormindo em sua cama para
manter companhia.
Ontem à noite, Lo e eu corremos até seu quarto às duas da manhã com
seus gritos aterrorizados. Rose lutou para acalmar sua irmãzinha e Daisy
insistiu que um homem estava espiando pela janela.
Nós verificamos, e ninguém estava lá fora.
— Rose disse que Daisy se joga e vira muito, — eu ofereço essa
informação, com cuidado para não dar o resto. Eu acho que Daisy é parte
da razão pela qual ele quer sair essa noite. — Elas estão a caminho daqui,
então você vai poder vê-la.
Ryke parece mal do estômago. Ele realmente para de comer, o
sanduíche no colo. — Rose soube dizer quanto tempo ela dormiu?
— Talvez quatro horas. — Ou menos. — Quanto mais ela ver Frederick,
melhor ele será capaz de discernir que tipo de medicação ela precisa
para dormir.
Ryke acena algumas vezes, e alguém bate antes da porta se abrir.
Espero ver as garotas, mas na verdade são duas enfermeiras vestidas
com roupas brancas: uma mulher mais velha com óculos em volta do
pescoço e uma menina mais jovem e loira - possivelmente uma estudante
de enfermagem.
— O que é tudo isso? — A mulher mais velha pergunta, examinando a
variedade de comida gordurosa.
— Sustento, — diz Lo com um meio sorriso seco.
— Certo, — a enfermeira mais velha bufa, ainda tentando determinar
se ela deveria coletar a comida como contrabando.
A jovem enfermeira se concentra apenas em Ryke com um olhar
curioso que eu vi frequentemente das fãs. Ela pega a ficha da ponta da
cama e folheia os papéis. — Sua digestão está indo bem, sem problemas
com seus intestinos, então a comida extra deve estar ok.
— Não me diga. — Lo brinca com seu irmão. — Eu não ficaria surpreso
se essa combinação lhe fizesse correr para o banheiro. — Ele gesticula
para o chili e o hambúrguer com queijo. Ryke empurra o braço de seu
irmão de brincadeira.
Estou esperando a enfermeira mais velha gritar com a aprendiz, sobre
confidencialidade e não poder compartilhar a condição do paciente na
frente dos visitantes. A enfermeira mais velha nunca diz uma palavra,
bombeando os analgésicos de Ryke através do soro.
— Tudo bem, você pode manter a comida, — diz a enfermeira mais
velha. — Talvez possamos fazer vocês garotos assinarem algumas coisas
para nós também? Eu tenho uma sobrinha obcecada com Princesas da
Filadélfia.
Lo assume o controle. — Sem problemas, — diz ele, — as meninas
provavelmente ficarão felizes em assinar coisas também.
— Sério? — Seu rosto se ilumina. — Isso é tão doce da sua parte.
Eu quase rio, mas, em vez disso, cubro com um sorriso amável. Doce
não é uma palavra que eu usaria para descrever Loren.
A enfermeira mais nova coloca a prancheta de volta na beira da cama.
— Você acha que o show vai ter uma segunda temporada?
Antes de Ryke e Loren falarem não, eu os venço e digo a ela, —
Estamos realmente considerando isso.
O sorriso dela estica seu rosto, um que ela não pode conter. Eu posso
dizer que ela está mordendo as bochechas para tentar esconder. — Isso
seria incrível.
Ryke e Loren parecem um pouco nervoso e frustrados, entendendo que
temos que manter um nível de mistério. Scott precisa pensar que ainda
estamos pensando na segunda temporada, e enviar um não definitivo ao
mundo, mesmo que seja por um pequeno rumor, fará com que ganhar
sua confiança seja mais difícil para mim.
— Antes de ir, você precisa de mais alguma coisa, Ryke? — Pergunta a
jovem enfermeira. — Você sentiu alguma dor?
Ele encontra o olhar dela e eu conheço Ryke por tempo suficiente para
ler seu nível de interesse em uma garota. Desde que ele tem estado sério
com Daisy, ele nunca pareceu pensar duas vezes sobre outra pessoa.
— Eu estou fantástico pra caralho e é por isso que eu preciso sair daqui
essa noite. — Ele não está retribuindo nada para ela, nem mesmo
acidentalmente jogando sinais mistos. Seus pensamentos estão em sua
namorada.
— Você sabe que isso não é possível, — diz ela. A enfermeira mais
velha passa pela minha cadeira e sai, como se ela tivesse sido chamada
em outro lugar.
— Isso é o que eu tenho dito a ele. — Lo mexe em sua aliança de
casamento. É um hábito ansioso, uma oferta que diz que ele está
desejando uma bebida.
Ryke segue meu olhar e percebe o sinal de seu irmão. Ele suspira
pesadamente. — Eu vou sair daqui em dois dias?
— Isso é possível, — ela acena com a cabeça. — Só precisamos
continuar observando seus sinais vitais. Se você se acalmar, mas
continuar andando suavemente, você sairá daqui em pouco tempo.
Ryke embrulha seu sanduíche novamente e o coloca na sacola. — Eu
vou fazer isso então. — Ele está deixando essa luta pra trás por seu
irmão. Estranhamente, seu amor por Lo pode ser o que o ajuda a não
contrair uma infecção.
Se minha mãe estivesse viva e pudesse ver isso, eu mostraria a ela
como evidência: o amor beneficiaria a saúde de alguém. É tangível o
suficiente para que ela possa ter aceitado, como eu aceito agora.
Quando a enfermeira sai, Lo diz: — Ela parecia o seu tipo. — Eu ouço o
aviso em sua voz.
Lo não consegue ler Ryke tão bem quanto eu, e é por isso que eles
precisam se comunicar através de palavras para evitar brigas. Isso não é
fácil para nenhum deles, mas felizmente eles melhoraram em se
expressar um com outro.
Ryke coloca o saco de comida de lado em uma mesa de bandeja. —
Quem?
— Você não notou a enfermeira loira?
— Então você acha que porque você me viu namorar - três loiras - essa
é a minha coisa? — Ryke pergunta, balançando um pouco por causa dos
analgésicos. Isso é divertido.
Eu descanso meu tornozelo na minha coxa, observando meu
entretenimento de hoje. — Ele está certo, — digo a Lo. — Eu poderia te
dar a porcentagem de mulheres que ele namorou de acordo com a cor do
cabelo e a proporção de loiras é pequena. Eu faria as contas na minha
cabeça, mas honestamente, eu não me importo o suficiente.
Ryke revira os olhos e eles de alguma forma pousam no meu pescoço.
— Que porra é essa?
— Eu acho que sua espécie chama de au au.
Lo começa a rir.
Ryke está muito dopado para se juntar.
— É um chupão, — eu digo. — E sim, Rose deu para mim. E sim,
esqueci de encobri-lo antes de sair.
— Então os tabloides pegaram você? — Ele balança a cabeça
lentamente. — Você esqueceu? Você. — Ele aponta para mim.
Lo bufa com outra risada em seguida.
— Eu sei que é incrivelmente difícil de acreditar. — Porque não é
verdade. — Mas eu estava atrasado. O tempo essencialmente me
superou. — O que já aconteceu antes. Sua medicação para dor pode estar
do meu lado hoje.
Ele ainda parece um pouco incrédulo. — A coisa toda é esquisita pra
caralho.
Lo concorda com a cabeça. — Daisy não foi pega com um chupão uma
vez?
— Mas isso foi… — Ele está prestes a dizer isso foi a Daisy. Agora é
sobre Rose e Connor. Ele faz uma careta com suas próprias palavras. Não
é justo dizer que Rose não pode fazer algo que outras mulheres podem
fazer, simplesmente porque ela estabeleceu um precedente por ser tensa
e nervosa.
Na verdade, é a realidade. Quando você muda sua natureza, as pessoas
questionam.
Ryke deixa isso pra lá, apoiando um braço no ombro do irmão. — Você
sabe qual é o meu tipo? — E ele usa um sorriso drogado, seus lábios
levantando lentamente. — Daisy Calloway.
Eu sabia disso desde o começo.
Alguma atração é mais fácil de detectar do que outras. A deles podem
ser tão aparentes, mas a atração de Rose por mim e a minha por ela é
fraca para a maioria. Está tornando esses artigos mais populares para a
imprensa pegar e executar.
O sorriso de Ryke lentamente diminui, o nome dela trazendo
preocupação para os últimos dias novamente. Ele passa a mão pelo
cabelo grosso. — Eu odeio estar longe.
— Sim, mas merdas acontecem, certo? — Diz Lo. — Você tem que
deixá-la descobrir como lidar com algumas noites sozinha. — Ele faz uma
pausa. — Você tem mais dois dias aqui. Pelo menos você não está
ausente por três malditos meses.
O ar afina um pouco. Quando Loren foi para a reabilitação, ele deixou
Lily por três meses, na época em que ela estava lutando com seu próprio
vício.
Ryke olha para o chão. — Você sabe o que é engraçado, — diz ele, sua
voz profunda e crua. — Quando eu estava cuidando de Lily enquanto
você estava fora, eu fui tão duro com ela, porra. — Ele faz um barulho de
rosnado. — Se alguém faz isso com a Dais… — Ele balança a cabeça. —
Eu sou um fodido idiota.
Lo coloca a mão no ombro dele. — Bem-vindo ao maldito clube.
— Felizmente, eu vou recusar a minha adesão, — digo a ambos.
Ryke revira os olhos e Lo apenas ri.
A tensão quebra, mas na minha cabeça, eu imagino quanto tempo vai
durar até que um dos meus amigos descubra o que Rose e eu estamos
fazendo com a mídia, quem será, e quantas vozes começarão a complicar
o nosso mundo.
[ 26 ]
ROSE COBALT
Eu observo uma parede com prateleira cheia de consolos e vibradores,
meus ombros rígidos enquanto eu indiscretamente olho fora das janelas
da loja pela enésima vez. Tire a foto, Walter. Meu celular nunca vibra em
confirmação, então eu tenho que passar pelas prateleiras por mais
tempo.
Eu pego um chicote de couro de uma manequim dominatrix e giro ao
redor, me sentindo um pouco destrutiva hoje. Essa não é a minha
primeira vez em uma loja para adultos. Na faculdade, eu fui algumas
vezes, quando não havia paparazzi me perseguindo e as únicas pessoas
que realmente se importavam com o que eu fazia eram mulheres
intrometidas no círculo social da minha mãe.
Compras on-line podem ser mais discretas, mas eu gosto de ser
informada sobre minhas escolhas de produtos. Os funcionários daqui
sabem mais do que eu sobre brinquedos sexuais. Crescendo, eu nunca
tive bloqueios mentais com a idéia de me masturbar, mas eu sempre
congelei em ser íntima com outra pessoa.
— Legal… sim, cara. Apenas dê espaço para Lily e Lo. Quanto mais você
se aglomera ao redor deles, menos provável é que eles façam isso. Eu vou
falar com eles por você, ok? — Não soa nada como meu marido, mas
ainda assim, essa é a voz dele. Ele está no canto, no final do corredor,
com o celular apoiado no ouvido.
Eu giro meu chicote com um olhar mais quente. Imagino Scott na outra
linha com Connor e pequenos demônios com tridentes dançam em meu
cérebro. Eu reconheço que Connor está parcialmente colocando essa
farsa para mim. Ele poderia viver com os vídeos de sexo. Sou eu quem
não pode.
Eu sou grata por ter alguém como Connor, que estaria disposto a fazer
o que for preciso para que eu não precise. Eu não posso fingir tão bem
quanto ele. Se eu entrar em contato com Scott novamente, eu arrancaria
seu rosto.
Eu bato o chicote e ele faz um barulho no ar.
A testa de Connor franze, mas a agitação reveste seu rosto com o que
Scott está dizendo. Eu posso ver vindo à superfície quando ele esfrega os
lábios. Ele coloca uma voz alegre e agradável. — Golfe no sábado
funciona para mim, só pega leve. Eu não jogo faz um ano. — Seus olhos se
erguem para os meus.
Eu sussurro, eca.
Ele sorri. — Vejo você sábado. — Ele desliga.
— Quais foram os dois reis que sentaram nos tronos da Inglaterra e da
França no começo de Um Conto de Duas Cidades? — Pergunto a ele. —
Você tem um minuto. — Eu bato o chicote novamente.
Seus lábios continuam subindo, sua habitual arrogância retornando.
Normalmente eu falaria algo sobre isso, mas eu amo essa parte dele,
principalmente depois de sua falsa conversa. Fico feliz em ver seus lados
reais emergirem.
— George III e Louis XVI, — ele responde corretamente.
— Parabéns, você se salvou de um tratamento de silêncio de 24 horas.
— Eu inspeciono o comprimento do chicote e, acidentalmente, olho para
as vitrines novamente.
Connor se aproxima de mim, sua mão escorregando para as minhas
costas. Em uma ação sensual e perfeita, ele me beija e morde meu lábio
inferior entre os dentes. Seria incrível - se eu não começasse a pensar
demais. Fico rígida e vejo a funcionária nos observando do caixa, as
prateleiras muito baixas para nos esconder.
— Relaxe, — sussurra Connor. Demonstrações públicas de afeto são
difíceis para mim. Eu entendo que é de dar risada que eu tenho
dificuldade para beijar meu marido em público quando os vídeos de sexo
estão online, mas eu posso bloquear um pouco daquilo.
Isso é o agora. Fisicamente tudo de mim. Aqui.
— A loja está quase vazia. — Ele pode ler minhas pequenas
inseguranças. Connor ligou mais cedo e pediu a gerente para fechar a loja
em troca dela sendo destaque na Celebrity Crush amanhã.
Funcionou, nós tivemos que pular o almoço em uma tarde de sexta-
feira para evitar suspeitas do Ryke, Lily, Loren e Daisy. Nossos guarda-
costas cobrem a porta, então está claro que ninguém vai nos
interromper.
Eu tiro meu cabelo castanho do meu ombro e inspeciono o chicote
novamente, um pouco atordoada. — Você me prefere assim? — Eu
pergunto a ele. — Você sempre quis que eu fosse externamente
carinhosa?
Connor inclina meu queixo e seus profundos olhos azuis me encaram
com sinceridade. — Não, — diz ele. — Eu te amo do jeito que você é. Eu
não quero mudar você, mas...
— Eu sei, — eu aceno com a cabeça. Ele não precisa dizer mais. Essa é
a última foto incriminadora que precisamos encenar para Walter Aimes e
Celebrity Crush. Nós terminamos com as fotos exclusivas depois disso,
nossa dívida paga. Agora o tablóide não postará histórias duvidando do
teste de paternidade do Moffy.
Mas não termina completamente para nós.
Nós ainda planejamos reforçar a mídia fazendo mais coisas assim. Mais
demonstrações públicas. Mais saquinhos aleatórios de açúcar em pó
caindo. Está funcionando, mantendo os artigos focados em nosso
relacionamento e não em nossos filhos.
— Eu quero que Jane tenha uma irmã, — eu sussurro. Eu sairia da
minha zona de conforto milhões de vezes só para dar mais a vida da
minha filha. Isso tem que funcionar.
Connor me puxa para o seu peito, me segurando perto. — J'en suis sûr.
— Tenho certeza que ela vai ter.
Seu celular vibra junto com o meu. Walter tirou a foto?
Aproxime-se da prateleira no lado direito. Eu não tenho um bom ângulo.
- WA Ugh. Connor facilmente aperta minha mão e me guia. Todo o tempo
eu arrasto o chicote pelo chão. Eu vou comprá-lo, só por sujar a coisa,
mas de jeito nenhum Connor usará isso em mim.
Nós paramos na parede gigante de consolos e vibradores
multicoloridos. Algumas marcas de luxo, outras muito mais baratas.
— Encontrou algo que queria? — Pergunta Connor, parcialmente
sério.
Eu nunca estive em um sex shop com ele. — Eu gosto disso, — eu
minto, com uma voz fria, balançando o chicote perto da bunda dele.
Ele rouba de mim e eu estreito os olhos.
— Isso era meu, Richard.
— E agora é meu, — ele brinca. Então ele bate o chicote, o barulho
muito mais alto, ecoando como um tiro. Os pelos dos meus braços se
levantam, minhas pernas se transformam em gelatina. Ele carrega um
chicote como se ele fosse o rei do fodido submundo.
— Então agora você é um ladrão, — refuto, tendo que limpar minha
garganta uma vez. Ele não deveria ser tão atraente em um sex shop, e o
que é mais irritante - ele sabe que é.
— Se não fôssemos casados, então sim, eu seria considerado um
ladrão. — Ele se volta para a parede de brinquedos.
Eu franzo a testa. Ele sempre tem que me superar. Eu vou vencê-lo,
deixá-lo desconfortável pela primeira vez. O jogo começou. Eu examino a
parede e retiro o maior dos consolos, grande e grosso, também em um
tom de azul. Sua circunferência sozinha parece insanamente miserável.
Minha vagina treme em aviso como se dissesse inferno, não.
Eu verifico a etiqueta: pau de cavalo.
Eu juro que não estou mentindo.
Eu me viro para Connor. Ele não está nem um pouco confuso.
— Para você, — eu digo com um sorriso tenso. Eu estou brincando, eu
acho. Eu engulo em seco enquanto seu sorriso se desvanece, olhando
impassivelmente para mim. Na parte de trás do meu cérebro, me
pergunto se isso é algo que ele sente falta. Não paus obscenamente
grandes, mas apenas eles em geral. Eu acrescento, — Se você precisar...
— Rose, — ele me interrompe. Ele olha para o caixa antes de abaixar a
voz para mim. — Você se lembra quando eu te disse que eu costumava
fazer sexo por duas razões diferentes?
— Por manipulação e por prazer, — eu digo baixinho.
Ele se inclina para perto, seus lábios roçando minha bochecha antes
que ele sussurre um segredo. — Quando eu estava por baixo, era sempre
por manipulação. — Ele segura meu queixo. — Eu não estou perdendo
nada com você.
Eu inalo fortemente. Tradução: você preenche todas as minhas
necessidades.
De todos os lugares para ter uma conversa de coração para coração... é
incrivelmente repugnante que esse tinha que ser o local. Eu coloco o
consolo no lugar, já planejando tomar banho em uma banheira de água
sanitária e desinfetante quando eu voltar para casa.
— Sexo não deixa você desconfortável, — eu digo. Percebo que estou
lutando uma batalha perdida, tentando enfraquecê-lo aqui.
— Nem mesmo por um segundo. — Ele está tão confortável em sua
própria pele que quase nada pode abalá-lo. Eu pensei que era assim
também, mas eu fui testada demais. Eu tenho limitações e coisas que
atingem um nervo.
— Eu tenho algo que eu preciso te mostrar, — ele me diz.
Minha mente gira enquanto eu sigo ao lado dele, me aproximando
apenas para roubar de volta o chicote. Ele cede, soltando o aperto firme
no couro. Eu me sinto poderosa com isso na mão, mas eu não quero usá-
lo.
— Por favor, me diga que você está me guiando até o álcool em gel.
— Eu vou tomar banho com você quando chegarmos em casa, — ele
me diz. Eu nunca pensei que me casaria com esse homem, muito menos o
ouviria oferecer tomar banho comigo tão casualmente. Dois anos já
passaram, e a garota que estava preocupada em ter que ser dominante na
cama (ou pelo menos todo cara esperava que ela fosse) quase
desapareceu.
Eu arfo e paro em frente a uma prateleira de roupa íntima comestível,
feita de alcaçuz preto. Eu pego a calcinha do expositor, já que as outras
estão em caixas, e a seguro com um dedo, apagando a imagem de outras
mãos sujas a tocando também.
— Você só pode fazer sexo comigo se eu usar isso. Lembre-se, você
tem que comê-la, — digo categoricamente, observando seu sorriso
retornar. — Ou você tem que fazer sexo em cima de um túmulo. Escolha.
A maioria dos caras não ligariam para calcinhas comestíveis, mas
Connor odeia alcaçuz. Alcaçuz preto está no topo da lista. Mesmo assim, a
outra opção tem consequências piores.
Sem hesitação, ele diz, — Eu te foderia em cima de um túmulo.
Eu estremeço, meus olhos perfurando sua testa. Eu esperava uma
resposta diferente, esquecendo que ele nem sempre escolhe o que eu
escolheria. — Isso é desrespeitoso e abominável em muitos níveis. — Eu
imagino que tipo de carma horrível iria me assombrar por profanar um
túmulo.
Eu coloco a calcinha no lugar e arrumo meu cabelo sobre um ombro,
congelando. Eu toquei naquilo e depois no meu cabelo. Não se concentre
nisso, Rose.
— Desrespeitoso para quem? — Connor pergunta, encostando um
ombro na parede. — Os mortos já estão mortos. Eles não se importam
porque carecem fisicamente da capacidade mental para se importar.
Meus lábios se pressionam em linha. Eu não posso dizer a palavra
"fantasmas" como validação. Ele vai usar isso contra mim de mil
maneiras ácidas. Eu tento deixar essa conversa pra lá, me aproximando
dele. Eu seguro seu suéter com as duas mãos, uma camisa social branca
embaixo do tecido azul marinho, formal e sofisticado.
E eu olho para ele com olhos flamejantes, meus saltos de dez
centímetros não são altos o suficiente para ficar perfeitamente da mesma
altura que ele, mas eles ajudam. Eu recito a citação em minha voz mais
acalorada, — Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas
o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez Ele parece
excitado, seus olhos me consumindo. — Shakespeare, — ele responde
corretamente. — Júlio César. — Ele pega meu rosto em sua mão, virando
minha cabeça para que ele tenha acesso ao meu ouvido, os movimentos
fortes aceleram meu pulso. — Por que você citaria sua peça menos
favorita? — Ele está intrigado. E excitado.
O poder que eu mantenho me deixa em chamas. — Pareceu oportuno,
— eu respiro. — Estamos discutindo a morte. — Eu aliso minhas mãos
sobre seu suéter e, em seguida, o empurro uma vez, uns cinco
centímetros nos separando. — E só para você saber, seríamos esmagados
pelo carma, destino e fantasmas se tivéssemos relações sexuais em cima
do túmulo de alguém.
Então eu mencionei fantasmas. Eu não me importo. Ele pode não
acreditar, mas eu acredito. E nesse cenário particular, ele está me
fodendo nesse túmulo.
Ele ri, os dentes aparecendo com o seu largo sorriso.
— Não use seu sorriso arrogante e venha me dizer que eles não são
reais. É chamado de fé e você não tem nenhuma.
— Eu tenho fé, — ele diz. — Em mim. — Eu bufo. Ele continua, — E em
você. — Tudo bem. — E em nossos amigos. Nas pessoas eu posso ler e
ver e entender. Eu não tenho fé no intangível e no invisível. — Ele
descansa a mão nas minhas costas, recomeçando nossa caminhada
anterior para o lado esquerdo da loja, um pouco mais perto da janela, na
verdade.
Seu olhar permanece em uma prateleira, ao lado de um manequim
vestido com uma calcinha de couro e sutiã cravejado. O manequim não é
seu foco.
Meus olhos seguem os dele.
Não.
— Não, — eu digo com uma sacudida da minha cabeça. — Eu prefiro
ser enterrada viva com cobras. Ou melhor ainda… — Minha imaginação
segue seu curso. — Você pode me enterrar e depois transar no meu
túmulo e eu vou voltar e assombrá-lo.
Suas sobrancelhas se erguem. — Quem está te matando nesse cenário?
— Eu mesma. Veneno. Talvez uma faca no coração. Ou me afogando. As
opções são infinitas.
— Você não é a Julieta e nem a Ofélia. — Ele está basicamente dizendo
que eu não estou vivendo em uma peça de Shakespeare. — E só para você
saber, Rose, as hipérboles sobre se matar agora são as minhas menos
favoritas.
— Você pode me matar então. — Eu bato meu salto no chão algumas
vezes. — Que tal por fogo?
Ele olha com força para mim, nenhum traço daquele sorriso divertido.
Eu me endireito, confiança apoiando minhas costas como uma
fortaleza. — Foi você quem me trouxe aqui para provar algo. — Eu
movimento para a prateleira ao nosso lado. — Como você achou que eu
ia reagir?
— Eu pensei que você fosse ameaçar meu pau, — diz ele, — não a sua
própria vida.
Minhas defesas se quebram. Eu suponho que isso é novo para mim. Eu
sou toda sobre a sobrevivência e o auto sacrifício ocasional para aqueles
que eu amo, não me jogando sobre as brasas sem nenhuma razão real. Oh
Deus, eu estava fazendo birra? Uma birra sobre uma hipérbole estranha?
Não.
Eu tenho vinte e seis anos.
Eu sou uma mulher forte e independente.
Mas quando você visita um sex shop com seu marido e ele te guia até a
parte de plug anal, você pode dizer que diabos você quiser.
Sexo anal nunca foi uma prioridade minha. Eu já tive curiosidade, mas
nunca interesse. É um enigma que sei que intriga Connor.
Eu solto um suspiro. — Eu sei que toda garota é diferente com anal. —
Eu penso nas minhas irmãs, em fatos que ele já sabe, então eu não me
importo em compartilhar como evidência para meus sentimentos. — Lily
ama. Daisy odeia e Poppy nunca tentou. Isso não faz de mim a Cachinhos
Dourados do Sexo Anal. Apenas pode não ser certo para mim.
Ele tenta abafar um sorriso, seus lábios querendo se curvar. Meu
sangue queima em minhas veias. Eu quase pego um plug da prateleira e
jogo na cabeça dele. Eu me paro, lembrando que há um fotógrafo do lado
de fora.
Isso seria uma foto terrível para ficar na página inicial da Celebrity
Crush. A manchete: Rose Cobalt agride seu marido com um brinquedo
sexual!!
— Se você rir, — eu ameaço, — eu vou arrancar sua língua, assá-la e
então alimentá-la para qualquer criatura da floresta que aparecer no
nosso quintal.
Ele sorri, mas não produz uma risada. — Eu aprecio que você dirigiu
essa hipérbole para mim. — Ele se inclina um ombro na parede
novamente. — Quanto à sua analogia… — Ele esfrega os lábios, quase
rindo.
Eu aponto um dedo de advertência para ele. — Me dê sua língua.
— Mais tarde hoje à noite, querida, — ele brinca. — E, estatisticamente
falando, você tem a mesma probabilidade de amar isso, odiar, e ser certo
mais do que é para qualquer outra pessoa. Você só tem que experimentar
primeiro.
Experimentar.
Essa é a parte intimidadora.
Eu nunca quis fazer isso, mas posso dizer que ele quis. Eu sei que
posso gostar. Lily se entusiasma demais para pensar que é
completamente terrível.
Uma mensagem aparece no celular do Connor e depois no meu.
Tenho a foto. Obrigado. - WA Acabou.
Estou surpresa com a recente decepção, a queda dos meus ombros.
Remova a impureza desse evento e foi divertido. Eu aprendi algumas
coisas sobre ele e ele aprendeu coisas sobre mim. Mesmo que sejamos
casados, explorar um ao outro nunca termina de verdade.
— Me avalie, — eu digo para ele, imaginando como foi minha atuação.
— C.
Eu reviro meus olhos.
— Pare de olhar por cima dos seus ombros e para as janelas. —
Felizmente, não vamos alimentar mais nada diretamente ao Celebrity
Crush. Eu gosto que tenhamos mais controle sobre o que acontece.
Eu bato meu chicote. Chega perigosamente perto de acerta-lo, um
completo acidente e meu coração se agita. Eu deixo cair a coisa, mas ele
está irrefutavelmente estoico, inabalável. Ele pega o chicote e me puxa
para perto novamente.
— E qual é a minha nota? — Ele pergunta.
— F, — eu digo o que sempre costumo falar.
— Sem preconceitos, — ele altera.
Eu não posso admitir. Ele não pode me vencer. — Um F sem
preconceitos.
Ele beija a ponta do meu nariz. É leve e nem de perto tão áspero
quanto eu gostaria. Ele sabe disso.
— Nunca faça isso de novo, — eu me encolho.
— Seja honesta.
Eu bufo. — Ok. Eu te daria um B. Você está feliz, Richard?
— Imensamente. — Dessa vez, quando ele me beija, ele agarra a parte
de trás da minha cabeça, seus lábios separando os meus com uma onda
ofegante. Estamos em público, me lembro, apenas uma vez.
Isso me congela. Ele não reduz minha nota por uma letra, mas eu
reduziria.
Eu mereço um D bem feio.
[ 27 ]
ROSE COBALT
— Vá para a Hale Co. agora. — A voz normalmente mansa do Theo se
tornou ácida, queimando meus ouvidos, o celular pressionado muito
perto. Não estou com disposição para receber ordens de ninguém,
especialmente às 10 da manhã de um sábado. Mas sua mudança
repentina de comportamento me coloca em guarda.
Eu afasto o celular um pouco, estreitando meus olhos para o ar. —
Acho que você está esquecendo quem é a chefe nessa relação.
Assim que digo isso, Connor sai do banheiro, se encostando no batente
da porta com nada além de uma toalha. Gotas de água rolam no peito e
no abdômen. Tivemos uma manhã agitada já que Jane nos manteve
acordados a maior parte da noite, chorando e gritando e sendo um terror
em geral. Eu ainda me jogaria na frente de um veículo em alta velocidade
por ela, mas espero que essa situação nunca aconteça.
Connor acena com a mão para o meu celular e murmura, Theo?
Eu aceno com a cabeça, apertando o botão do viva-voz.
Theo diz, — Olha, estou exausto. A diretoria finalmente aprovou o que
você queria na noite passada, e essa manhã está tudo prestes a ir à
merda.
Eles aceitaram os novos rótulos da CCB. É uma vitória que ainda não
posso comemorar. Minha cabeça está se recuperando. — O que você quer
dizer? — Eu me encontro tocando meu colar de safiras, assim como
minha mãe faria, dedos nas suas pérolas. Eu paro imediatamente, um
gosto nojento na minha boca. Você não é como ela, Rose. Eu aliso minha
saia preta e levanto as mangas do meu suéter branco, com calor de
repente.
— Você e Connor foram fotografados dentro de um sexo shop. É
notícia de primeira página essa manhã em todos os tabloides. Um dos
membros mais velhos do da diretoria quer mudar o voto. Ele já chamou
um assistente para entrar em seu escritório e triturar o contrato em sua
mesa. — Não pergunto como ele ouviu isso. Ele é uma sombra, eu lembro.
Ele ouve coisas. — Eu pensei que fosse uma boa ideia, Rose. Eu
realmente pensei. Teria funcionado, mas não importa se você ainda finge
odiar esse novo design, ele prefere não ter Calloway ligado ao produto.
Minha garganta balança. — Isso não é nada novo, — eu digo. — Eu
tenho vídeos de sexo. Como entrar em um sex shop muda minha
percepção pública?
— Seus vídeos de sexo não são um tema quente agora. Você sendo uma
mãe e seu estilo de moda - é por isso que a diretoria acredita que as
mulheres o admiram e por que você tem muitos fãs. Ele está preocupado
que essa foto comece a comprometer sua imagem atual.
Ele acha que vou perder meus fãs.
Bem, se meus fãs me amam, então eles vão permanecer aqui mesmo
depois dessa foto. Isso não é incriminador, mas eles dizem que é para
alguém que desenha roupas para bebês.
Theo continua, — Todos os outros membros da diretoria estão
mantendo os mesmos votos. Ele é mais conservador e, infelizmente, é o
voto decisivo.
Tradução: Você está fodida, Rose.
Mas Theo me ligou por um motivo. Ele acha que ainda tenho tempo
para consertar esse problema. Talvez se assinarmos o contrato antes que
seu assistente o destrua, o homem vai ceder. Loren dirá a ele que está
feito e para seguir em frente.
É assim que vencemos.
— Você não mora a cinco minutos da Hale Co.? — Pergunto
apressadamente. — Vá para o escritório e me envie esse contrato por fax.
— Faço uma pausa, precisando adicionar uma ameaça maior. — Se você
não chegar lá antes do outro assistente, você está demitido.
— Eu, sinceramente, vou fazer o meu melhor. — Sua sinceridade faz
com que uma onda de culpa me bata. Não. Eu sou uma guerreira que
precisa sofrer baixas.
Nós dois desligamos.
Connor olha para mim, suas sobrancelhas levantadas enquanto eu rolo
pelo site da Celebrity Crush no meu celular. — Ele é legal de um modo
repugnante, — digo a Connor. — Eu sinceramente pensei que era uma
estratégia para algo maior. — Talvez eu ainda pense.
— Pode ser, — Connor me fala. Eu não ouço a preocupação em sua voz,
e me pergunto se ele está me acalmando. Em uma respiração sendo
honesto e na outra tentando não me preocupar.
Eu preciso de um roteiro das verdadeiras intenções das pessoas. É
tudo muito confuso.
Minha tela do celular pisca com respostas.
A primeira manchete: [FOTOS EXCLUSIVAS] Connor Cobalt e Rose
Calloway foram vistos em um Sex Shop! Olha o que eles compraram!
Além da minha foto segurando a calcinha comestível, Walter Aimes
tirou fotos do Connor. O fotógrafo disse que tinha acabado de tirar fotos
antes disso, mas claramente não. Talvez ele esperasse que fizéssemos
algo fora do comum.
Felizmente, Connor só comprou um vibrador de bolso em vez dos
plugs anal, que ele comprará mais tarde. Ele mencionou essa informação
quando saímos da loja. Para me preparar, tenho certeza.
Eu atordoadamente me sento na beira da nossa cama, e Connor afunda
ao meu lado. Ele lê o artigo por cima do meu ombro.
— Obrigada, — eu digo, — por comprar o vibrador. — Até parece que
eu queria que o mundo soubesse que estamos fazendo sexo anal.
Podemos ter perdido a maior parte da nossa privacidade, mas há
algumas coisas que eu gostaria de manter entre nós.
Connor esfrega a parte de trás do meu pescoço. — Bien sûr. — Claro.
Eu entro no Twitter e verifico minhas notificações, curiosa para ver
como o mundo está lidando com essa notícia.
@CeleryHair: @RoseCCobalt Esperando sua linha de brinquedos
sexuais sair. Obs essa foto é pesquisa. Eu estou certa?
@PoPhilly4Life: @RoseCCobalt Você é uma deusa. Sério amo que você
não dá a mínima por ser pega comprando 4 coisas sexy com o seu marido
olhos de coração
@LilyHaleLOVE2: @RoseCCobalt Você deveria pedir conselho sobre
brinquedos sexuais para a Lils. Parece que ela sabe mais. Apenas dizendo.
@LindsayL453: @RoseCCobalt Você é uma prostituta da fama e uma
vagabunda. Pior que todas as suas irmãs juntas.
Eu amei esse último tweet. Se eu puder tirar o os holofotes de Lily e
Daisy, eu ficarei feliz em suportar as luzes cegantes.
Eu envio um tweet: não há medo no prazer #Coballoway A hashtag é o
nome que os fãs usam para designar eu e o Connor. É mais fácil do que
dizer Rose e Connor, e gosto de como soa.
Percorro o meu feed e noto uma conversa com flertes no Twitter do
Ryke e Daisy, tuitada ontem.
@daisyonmeadows: Você sabe qual cicatriz é maior que a minha
cicatriz agora? piscando @meadowsryke A cicatriz dele da cirurgia. E
cicatriz dela do tumulto de Paris.
Estou acostumada a esses tipos de conversas entre eles, já que estamos
no Twitter há algum tempo.
@meadowsryke: @daisyonmeadows a minha é maior
@daisyonmeadows: @meadowsryke prove ;) Eu imagino que suas
mensagens de texto são dez vezes mais sujas do que isso. Eu verifico o
Instagram rapidamente, percebendo que Connor postou uma foto essa
manhã.
Nós sempre postamos fotos um do outro, então eu não estou surpresa
que ele tenha colocado uma de mim na cama, o lençol cobrindo meus
lábios e apenas meus olhos fumegantes expostos. Ele tirou essa logo
depois de citar Steinbeck. Eu acabei o encarando assim, e ele imortalizou
o momento.
Entre milhares de comentários, a maioria é positiva. Eu olho alguns
negativos: Sua esposa parece que ela quer te matar.
Eu odiaria acordar com isso pela manhã #mulherlouca É por isso que vc
precisa levar um machado para a cama!!
Eles adicionaram uma variedade de emoticons de faca e diabo que
Loren acharia engraçado.
— As pessoas sempre vão especular, — Connor diz, se levantando da
cama e roubando minha atenção. Eu me lembro das táticas de
manipulação do Connor. Aquelas que nunca usei.
— Se você estivesse na minha posição, você teria dormido com o
membro da diretoria?
Ele passa a mão pelo cabelo úmido, o alisando para trás. — Não, — ele
diz resolutamente. Ele abre uma gaveta da cômoda. — Eu não faço mais
isso. — Porque estamos juntos.
— Antes de estar comigo, — eu reformulo novamente.
Ele faz uma pausa. — Dependeria da circunstância e das variáveis na
equação. Eu nunca pulei na cama cegamente. — Então ele está dizendo
talvez. Teria que ser o caminho com o maior benefício para ele escolher,
e ele está me dizendo que sexo nem sempre é a resposta.
— Era fácil? — Pergunto.
— Sim. — Sua voz é moderada, sua expressão ainda mais. Ele remove
sua toalha, me dando uma visão de sua bunda tonificada antes de colocar
a cueca boxer.
Eu o vejo caminhar até o closet e desaparecer lá dentro. Eu o sigo até
lá, abaixando as mangas do meu suéter.
— Como era fácil? — Eu pergunto, de repente querendo respostas. —
Eu não posso imaginar você voluntariamente se ajoelhando, chupando
alguém sem que isso seja difícil.
Meu marido ama o controle, ele prospera nisso. Eu não posso imaginá-
lo despojado de seu domínio durante o sexo. Mesmo quando eu algemei
em seu aniversário, ele ainda era incrivelmente alfa.
Connor entrar em calças cáqui. — Se ajoelhar não requer muito
esforço.
— Eu não estou falando sobre o ato físico. — Mas ele sabe disso. Ele
está apenas enrolando.
Ele termina de colocar as calças e se vira para mim. — Eu sei o que
você quer que eu diga. Que isso me afetou enormemente. Que por dentro
estou ferido. — Antipatia escorre da última palavra.
— Eu não quero que você diga isso, — eu respondo baixinho.
— Então o que você quer?
— A verdade, — eu atiro de volta, hostilidade de repente aumentando
minha voz. — Só a verdade.
Ele concorda com a cabeça. — Honestamente, — diz ele, — foi fácil,
Rose. E eu sei que você não pode entender isso porque nunca seria fácil
para você. Mas isso é porque eu não me casei comigo mesmo. — Ele me
lembra, — Se eu quisesse ficar com alguém um pouco mais parecido
comigo, nunca estaríamos juntos.
Meus ombros se abaixam, percebendo que ele está certo. Eu não posso
entender sexo sem emoção. Eu não posso separar meus sentimentos
para entender com precisão. Eu provavelmente nunca vou, e tenho que
ficar bem com isso.
— Obrigada, — eu digo honestamente. Nós não precisamos de nenhum
jogo desta vez. Eu simplesmente perguntei e ele ofereceu. Não foi tão
divertido, mas foi legal.
Meu telefone toca na cama. Eu saio correndo do closet para atender.
No minuto em que clico no viva-voz, Theo diz, — Ele foi enviado por fax.
Você precisa assinar e enviar por fax para mim enquanto estou no
escritório. O mais rápido que puder. — Ele desliga sem outra palavra.
Eu ando muito rápido para o escritório no primeiro andar e arranco o
contrato da máquina, juntando as páginas com o clipe de papel,
assinando meu nome nos lugares apropriados. Depois de destacar as
linhas onde Loren precisa assinar, mudo minha missão para rastreá-lo.
Depois que ele assinar, posso enviá-los por fax para Theo e vou ter
ganhado.
Subo as escadas para o segundo andar. Meus passos rápidos diminuem
quando estou perto do quarto de Loren e Lily. Gemidos soam pelo
corredor. — Sim… simsimsim!
Não. Não, não, não.

[ 28 ]
ROSE COBALT

Lily suspira e grita repetidamente o nome do Lo em sucessão orgástica.
Eu me recuso a deixar seu desejo sexual louco arruinar meus objetivos.
Sem uma única batida, eu entro em seu quarto escuro, cortinas
vermelhas fechadas, e forço meus olhos no alvo. Eu tento não englobar a
posição do Loren no topo da minha irmã, no meio de uma estocada, as
pernas dela abertas ao redor dele.
Eu preciso lavar meus olhos com água sanitária depois disso.
Sua bunda está totalmente à vista, os cobertores cor de champanhe
agrupados na beira da cama.
— Que porra é essa?! ROSE! — Loren grita com raiva. Lily solta um
grito envergonhado e começa a bater em Lo para sair dela.
Eu sigo adiante, fingindo que eles estão completamente vestidos e não
no meio de uma transa. Sim, eu retiraria seus globos oculares e os
queimaria se eles fizessem isso comigo. Mas não tenho tempo a perder, e
eles podem literalmente foder por quatro horas. Eu não estou esperando
eles terminarem.
Eu estendo meu braço com o contrato e seguro uma caneta. — Assine
por favor.
Todo o rosto de Lo se aguça, me lançando um olhar mortal
característico dos Hale que tenta me reduzir a pó. Eu não me encolho,
nem por um segundo. Isso significa muito para mim.
— Saia da porra do quarto, — ele rosna. — Monte em sua vassoura de
volta para onde você veio.
Eu bato o ombro nu dele com o contrato. — Assine. Isso não é uma
piada. Eu tenho minutos, talvez segundos, antes que eu perca isso. — O
desespero deve estar claro em minha voz. Sua raiva diminui um pouco,
seus olhos âmbar se deslocam de mim e de volta para sua esposa.
Lily congelou debaixo dele, suas mãos pressionadas contra o rosto
como se ela pudesse se esconder. Loren finalmente se afasta da minha
irmã, e ela grita, — LO!
Ele joga uma manta de camurça vermelha nas proximidades, cobrindo-
a de vista, e então ele se senta e me encara. Ainda completamente nu. Ele
está tentando me forçar a sair do seu quarto me constrangendo. Eu
respiro fundo.
Eu não estou cedendo.
Eu tranco os olhos com os dele, nunca olhando para a sua genitália.
Não chamarei seu pênis por nenhum outro nome além dos termos
científicos adequados.
Ele pega os documentos da minha mão e folheia os papéis. — Jesus
Cristo, quantas páginas têm aqui?
— Dez, — eu digo. — Apenas assine onde eu destaquei.
Ele me lança um olhar como se eu precisasse encontrar minhas células
cerebrais perdidas. — Eu não vou assinar algo que eu não tenha lido. Na
verdade, preciso ligar para o meu advogado para investigar isso também.
Isso levará uma eternidade. — É um contrato padrão, — explico.
— Você não deveria ter aprendido com o seu último erro? — Ele quer
dizer quando eu não tinha um advogado para analisar os contratos que o
Scott nos deu para o reality show, e, na verdade, ele legalmente possui
direito dos meus vídeos de sexo.
Isso é diferente. — Estou trabalhando nisso há meses. Eu até ajudei o
Daniel a redigir isso. Por favor, não seja responsável agora.
Ele fica boquiaberto. — Você se ouve? Quem te sequestrou no meio da
noite, porra? — Ele balança a cabeça. — Eu não sei porque estou
surpreso depois de todas as coisas estranhas que você tem feito. Como
ontem? — Ele me dá outro olhar que diz que porra é essa.
Eu fico rígida. — Você viu o artigo? — Já?
— Hummm. — Lily começa a dizer alguma coisa, mas sua voz está
abafada por baixo do cobertor. Aos poucos, ela puxa o tecido de camurça
para baixo. Seus olhos emergem e depois o nariz, e lentamente a boca.
Estou olhando para ela como se dissesse se apresse. E Lo olha para Lily
como se ele estivesse a segundos de fodê-la novamente.
— Existem lojas online que vendem essas coisas, — Lily me diz. —
Você não precisava sair publicamente para comprá-los.
— Eu não estou envergonhada, — eu digo, com muita força... isso
implica que a Lily está - e eu não quis dizer...
Ela fica vermelha. — Você não deveria estar. — Ela acena com a cabeça
como se estivesse respirando essa realidade que ela quer possuir
também. Eu não queria que ela se sentisse mal por fazer compras online.
Essa é uma ótima alternativa.
Lily limpa a garganta. — Mas eu só quis dizer que quanto mais você e o
Connor fizerem essas coisas em público, mais a mídia tem nos
perguntado sobre vocês dois. Nós sempre pensamos que você gostava do
seu relacionamento fora de foco. Mesmo enquanto filmávamos Princesas
da Filadélfia, era mais sobre Lo e eu.
Eu me sinto como uma idiota. — Connor e eu estamos lidando com a
atenção da melhor maneira possível.
Ela aperta os olhos para mim agora, confusa e desconfiada. — Eu
pensei que você estaria mais irritada.
— Eu estava irritada. Dez minutos atrás. Agora estou tentando cuidar
dos negócios. — Eu estalo meus dedos para Lo, mas ele ainda está lendo
a primeira página.
Os olhos de Lily piscam para sua virilha e ela se contorce um pouco.
Ele acaba pegando um travesseiro e colocando no colo. Ele vira a
página, olhando para o jargão legal. Por mais que irritamos um ao outro,
eu posso admitir que Lo não é burro. Ele é cauteloso com seus negócios.
Ele procura ajuda em aspectos que ele é fraco e que, segundo meu
marido, faz um grande líder.
Eu verifico seu relógio de cabeceira. São quase onze. — Por que vocês
dois estão fazendo sexo agora? — Pergunto. Eu pensei que eles teriam
começado e terminado horas atrás.
— Porque seu bebê demônio manteve nosso bebê acordado na noite
passada, — responde Lo. — O que significa que estávamos exaustos
demais para fazer sexo. E agora você está nos interrompendo. Tal mãe,
tal filha. — Ele dá um sorriso amargo.
Eu não deveria ter perguntado. Eu cruzo meus braços. — Desculpe,
Lily. Não me desculpe, Loren. — Estou prestes a acenar para ele
continuar lendo quando uma coisa branca e peluda sai pela porta e entra
no quarto. Ela passa por mim e corre para o colchão.
— Merda. — Loren xinga, tentando empurrar gentilmente a husky
siberiano para longe da cama. A cachorra cutuca as suas pernas nuas,
abana o rabo e depois o animal pula na cama e se deita ao lado de Lily. Eu
dou alguns passos para trás. Eu não temo cães, mas eu prefiro animais de
estimação menores. Aqueles que eu posso pegar. Ela tem apenas oito
meses e já pesa trinta e cinco quilos.
a husky cutuca o braço da Lily até ela responder. Então, Lily faz
carinho no seu pelo branco grosso. Minha irmã imediatamente sorri, a
cadela é uma profissional em ganhar esse tipo de resposta exultante das
pessoas.
Ela é a antítese da gata do Connor, e ainda assim me fez sentir ainda
mais saudades de Sadie. Agora que uma cachorra chorona e babona está
perambulando pela nossa casa, sacrificar nossa gata parece
desnecessário.
Na semana passada, Ryke comprou a husky siberiano para o vigésimo
aniversário de Daisy. Connor e Loren gostam de brincar sobre como
Ryke e Daisy agora são pais também, seu husky mais ou menos da
mesma idade que nossos bebês. Mas estamos todos bem conscientes da
verdade subjacente.
Esse é um cão de serviço certificado para o TEPT e ataques de pânico
da Daisy. Frederick sugeriu um como parte de um plano para ajudar
Daisy e ela falou com Ryke sobre isso, expressando bastante interesse
que ele até a surpreendeu com um. Eu nunca vi minha irmã tão feliz.
— Qual é o comando que devemos usar? — Lily me pergunta enquanto
Lo tenta se concentrar no contrato.
— Vá ver Daisy, — eu digo. Assim que as palavras saem dos meus
lábios, a husky branca salta da cama, seus brilhantes olhos azuis
direcionados para a porta.
— Oh meu Deus! Estou enlouquecendo! — Daisy corre para o quarto.
— Coconut! — A cachorra circula os pés da Daisy. — Ela ainda está
tentando se acostumar com a casa.
— Merda. — Lo xinga, colocando os papéis de volta na cama enquanto
ele procura por sua cueca. É um tanto interessante que ele reaja de
maneira diferente entre a minha intromissão e a da Daisy, sentindo-se
exposto, mesmo com o travesseiro. O que não está bem é o contrato que
ele abandonou.
— Loren, — eu digo.
— Me dê um minuto, — diz ele irritado, claramente com vergonha.
Daisy se encolhe e se vira de lado para proteger os olhos. — Eu
realmente sinto muito, pessoal. — Ela coloca a mão na cabeça da sua
cachorra que finalmente cai ao lado dela. — Coconut, seja legal. — Esse
nome vai ser encurtado um milhão de maneiras horríveis, exceto o meu.
— Coco, não arraste neve para a casa de novo. — Então eu a dispenso
com a minha mão.
— Rainha Rose, já dando as tarefas da cachorra, — brinca Lo. Não foi
uma tarefa. Foi uma ordem. Quer saber - se ele tem tempo para dizer
coisas assim para mim, então ele tem tempo para ler algumas páginas e
assinar seu nome.
Estou prestes a dizer isso quando Ryke corre para o quarto, rápido. Ele
bate no meu ombro a caminho de Daisy.
— Porra, — ele xinga, diminuindo a velocidade até parar.
Eu me pergunto se seus pontos... — Você não deveria estar correndo,
Ryke, — eu digo.
Ele já ouviu essa frase muitas vezes desde que voltou do hospital e
simplesmente a ignora agora. — Você não me machucou, — diz ele.
— Claro que não, você bateu em mim. — Soei tão mimada.
A preocupação em seu rosto bombeia a culpa em minha corrente
sanguínea. — Eu te machuquei? — Ele pergunta, os olhos voando pelo
meu corpo. Ele não é seu irmão. É dez vezes mais fácil dizer coisas ruins
para Loren e eu esqueço de diminuir minha hostilidade com ele.
— Estou bem, — lhe asseguro, e depois me volto para Loren. — Você
pode por favor se apressar?
Ele ainda está tentando encontrar sua roupa de baixo, deslizando a
mão sobre o colchão, Lily não é nada mais do que um bolinho sob os
cobertores, escondendo-se de Ryke.
Isso é uma catástrofe.
Loren solta um ruído frustrado, e eu vou para sua cômoda, abrindo a
gaveta de cima e jogando-lhe o primeiro par de cuecas que vejo.
Ele não parece nem um pouco apreciativo. Agora vestido, ele procura
Lily debaixo do cobertor ao invés dos contratos. Ele recebe um passe.
Minha irmã está acima de todas as coisas materiais.
— O que diabos está acontecendo? — Ryke pergunta, muito confuso.
A voz de Connor soa ao lado do batente da porta. — Vocês todos
interromperam Lo e Lily fazendo sexo, claramente.
— Eu sinto muito, — diz Daisy pela décima quinta vez, pelo menos
parece foi essa quantidade.
— Pare de dizer isso, — Lo diz.
Daisy agora está ajoelhada ao lado da Coco, a cachorra aninhada contra
o corpo dela. O animal é treinado para muito mais do que apenas
proporcionar conforto. Espero que ela ajude Daisy com seus problemas
noturnos e pânico.
— Eu pensei que a cachorra já tinha ganhando seu certificado, — diz
Connor. — Por que ela está correndo pelos quartos?
— Ela ainda precisa se adaptar à casa e às pessoas, — explica Ryke. —
Huskies gostam de explorar. Eu não comprei uma porra de um labrador
porque achei que Daisy gostaria mais dessa raça.
Daisy olha para Ryke com o tipo mais sincero de amor em seus olhos.
Ele conhece minha irmã tão bem.
Ryke acrescenta: — Mais duas semanas de treinamento na casa e ela
estará acostumada com tudo.
— Você não pode treinar Nutcake aqui, — diz Loren. — Você deveria
estar pegando leve.
— Número um, — Ryke começa, — não confunda a cachorra, porra.
Nós já passamos por isso - é Coconut ou Nutty. Nada mais.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris. — Eu coloquei uma
proposta para Coco e me lembro especificamente de ganhar dois votos.
— Eu aponto para Daisy e meu marido.
— Todo mundo só pode votar uma vez, — diz Daisy com os olhos
pedindo desculpas. — Eles contaram o meu voto com a Lily para
Coconut, e então Ryke e Loren foram com Nutty.
Todos falharam matemática na segunda série? Alô? — Ainda tenho
dois votos. Somos duas pessoas. — Eu gesticulo do meu peito para
Connor, que se aproxima de mim no quarto, seu braço deslizando ao
redor da minha cintura.
— Seu marido mudou o voto, — diz Lo com um sorriso seco.
Connor parece nada assustado pelo meu olhar fulminante. Ele deveria
estar com medo. Ele dorme comigo.
— Me diga que você ficou do lado das minhas irmãs, pelo menos, — eu
digo.
— Se eu te dissesse isso, seria uma mentira.
Minha boca cai e então eu tiro seu braço de cima de mim.
Ele está sorrindo. — Esse não foi um tipo de voto entre marido-
mulher, marido-mulher, namorado-namorada. — Eu sei o que ele quer
dizer. Todos os caras votaram juntos e eu era a dissenção entre as
garotas. Tudo bem.
— E número dois, — Ryke continua com seu irmão, — eu tenho
relaxado por praticamente dois meses. Eu não sou um maldito inválido.
Ele não pegou leve. Ele corre todas as manhãs e eu até o peguei
levantando pesos na academia do porão quando ele não deveria estar.
Ele está entediado e inquieto, me lembra muito da minha irmãzinha.
Sua coceira para escalar não pode ser arranhada por mais um mês e é
o que realmente o incomoda. Daisy me disse que nenhuma outra
atividade realmente parece preencher sua necessidade de escalar.
Connor quebra o breve silêncio. — Acho que já é hora de termos pelo
menos um cão treinado nessa casa. — Ambos os ombros de Ryke e Loren
relaxam quase instantaneamente e então Ryke mostra o dedo para
Connor, um sorriso quase preso a isso também.
— Faaiaam. — As palavras resmungadas vêm de debaixo do edredom.
— Lil quer que todos saiam. Eu também, — diz Loren.
— Ainda não. — Eu pego os contratos e os coloco de volta nas mãos de
Lo.
— Desculpe. — Daisy diz novamente, em seu caminho para fora com
Coco…nut. Eu me encolho internamente.
— Daisy. — Lo balança a cabeça com sua desculpa que não deveria
existir em seus olhos. Eu realmente amo que ele está reforçando isso com
ela, como Ryke sempre faz. Ela pede desculpas por quase tudo, apenas a
reação instintiva de ser criada por nossa mãe controladora.
Daisy assente. — Desc-ok… — Ela leva sua husky para fora da porta e
Ryke segue logo atrás.
Eu limpo minha garganta.
— Me dê um minuto, — diz Loren, tentando encontrar onde parou no
contrato.
— Eu te dei dez minutos. Isso significa muito para mim, por favor. —
Eu odeio minha própria voz. Eu estou implorando a ele agora.
Ele coça o pescoço. — Eu não posso assinar isso sem um advogado. —
Ele se levanta da cama, prestes a pegar seu celular na cômoda. Loren não
tem fé em mim desde a última vez que lidei com um contrato.
— Deixe-me lê-lo, — sugere Connor, deixando o meu lado para olhar
sobre os papéis no aperto de Lo.
Loren faz uma pausa e depois acena com a cabeça, passando-os para
seu melhor amigo. Ele confia em Connor, e talvez se eu não tivesse
estragado tudo antes, ele também confiaria em mim. Uma respiração
entra em meus pulmões enquanto espero o veredicto, esperando que
resolvamos isso em breve.
Connor lê dez vezes mais rápido que Lo, folheando as páginas
enquanto fica completamente inexpressivo. Seus olhos voam para mim
uma vez, na quinta página, mas não consigo discernir seus pensamentos,
bons ou ruins. Para Lo, ele explica, — Isto é especificamente apenas para
garantir o nome da marca como Calloway Couture Babies e não Hale Co.
Babies com o rótulo principal como CCB e uma inserção de HC.
— Sim, eu já entendi isso, obrigado, — diz ele amargamente. Lily
espreita por baixo do cobertor e murmura algo para ele. Ele murmura de
volta, e eu as ignoro, mais focada na poker face de Connor.
Um minuto depois, ele entrega o contrato para Loren. — É padrão, sem
frases vagas. Pessoalmente, eu assinaria sem precisar de outro par de
olhos, mas depende de você.
Lo hesita, folheando as páginas novamente.
Eu vou ter que implorar mais. — Por favor, — eu digo. — Temos
minutos, talvez menos. — Minha carreira de moda oscilou tanto que todo
sucesso foi acompanhado por um fracasso irascível. Eu quero ver meus
desenhos nas lojas com meu nome neles com a minha visão. Eu não
quero mentir e endossar algo que eu não acredito, que eu mal ajudei a
criar.
Eu preciso dessa vitória.
Loren volta para a cama e meu coração afunda. Ele procura nos
cobertores - acho que para dizer algo a Lily. Mas ele evita o bolo que é
claramente sua esposa. Um segundo depois, ele encontra a caneta
perdida.
Ele vai assinar.
Ele vira para a página correta. — Da próxima vez, me mande uma
mensagem de texto primeiro ou bata na porta. — Eu mal processo suas
palavras, o observando assinar seu nome. Isso me lembra que Lo sempre
esteve do meu lado com esse novo empreendimento da Hale Co. O que eu
quero, ele sempre tentou me dar.
Então, quando ele me passa o contrato, eu digo, — Obrigada. — Minha
voz muito mais suave do que o habitual. Até me surpreende. Ele balança
para trás em choque, mas acaba assentindo.
Eu não perco nem um segundo mais. Saio rapidamente pelo corredor e
desço as escadas. Eu viro e entro no escritório. Enquanto eu envio o
contrato por fax, ligo para Theo. — Tudo foi enviado por fax, — digo
antes que ele tenha a chance de falar.
— Eu estou vendo chegando. Eu não posso falar muito, mas tudo isso
parece bom para mim. — Eu ouço o farfalhar de papéis. — Eu vou te ver
na segunda-feira... espero que com um emprego ainda.
— Claro. — Essa nuvem de culpa paira sobre mim por ameaçar seu
trabalho. Nós desligamos ao mesmo tempo, mas eu não exalo um suspiro
de alívio.
Demoro alguns segundos para detectar a fonte do meu mal-estar.
Enquanto um cão anda pela nossa casa, a pequena gata malhada laranja
que abandonamos percorre o apartamento do terapeuta de Connor. Não
faço ideia se ele limpa a caixa de areia regularmente ou se esquece de
alimentá-la.
Eu não posso olhar para aquela cachorra sem me lembrar do que
fizemos, então tomo uma decisão rápida. Eu estou dirigindo para
Manhattan hoje.
E eu estou trazendo Sadie de volta.
[ 29 ]
ROSE COBALT
Eu balanço Jane no meu quadril e bato na porta do escritório, no nível
dos olhos uma placa de bronze: Dr. Frederick Cothrell. Assim que a porta
se abre, meu olhar já se concentra no alvo. Com meus saltos, Frederick é
da mesma altura que eu. Eu noto suas costeletas grisalhas desde a última
vez que eu o vi cara a cara, o tempo claramente passando rapidamente.
Exaustão também puxa as rugas pelos olhos.
— Rose. — Ele não está nem um pouco surpreso. Frederick abre mais a
porta, me dando passagem.
— Eu preciso dela, — eu digo sem esclarecer mais. Eu o sigo até a sala e
chuto a porta com o tornozelo, prendendo Jane na minha cintura.
Frederick desaba na cadeira de couro, fazendo sinal para eu me sentar
no sofá de pacientes em frente a ele. Não, obrigada.
— Eu não sou sua paciente. Eu estou aqui apenas para a minha gata.
Ele sorri, aparentemente genuíno. Pelo menos mais genuínos do que os
que o Connor dá para as pessoas. — É a gata do Connor, — ele me
lembra.
Eu respiro fundo. Sadie pode ter sido a gata dele, mas ao longo dos
anos, ela se aqueceu para mim. Eu sou a única que se importa o suficiente
para querer ela em casa. Por esse motivo, ela é tão minha quanto é dele.
— É hora de ela voltar para casa. — Eu abraço Jane um pouco mais
apertado, descansando a mão na cabeça da minha filha. Jane balbucia e
então audivelmente diz oi para Frederick. Ela até acena. Eu a colocaria no
chão, mas não ficaremos aqui por muito tempo.
Frederick acena para Jane. — Ela pode andar agora? — A maneira
como ele questiona, sinto que ele já sabe que a resposta é sim. Eu me
pergunto se Connor descreveu o evento para Frederick, como Jane
continuou tentando se levantar, apenas para cair. Estávamos todos na
sala de estar para um filme em um sábado à noite, A Pequena Espiã (a
escolha de Daisy) pausada na televisão.
Moffy continuou tentando ficar de pé também, ambos os bebês
tentando andar em direção ao outro. Eles não estavam apostando uma
corrida, apenas ansiosos para se juntar um ao outro do lado oposto do
tapete. Daisy pegou a câmera de vídeo enquanto Moffy orgulhosamente
ficou em pé e caminhou. Uma hora depois, Jane imitou seus passos.
Eu não posso imaginar Connor repetindo essa cena para Frederick, não
a pura emoção que eu vi por trás de seus olhos naquela noite. Talvez ele
apenas tenha dado os fatos a Frederick e seu terapeuta deduziu os
sentimentos do meu marido por conta própria. Isso parece mais
provável.
— Eu preciso da gata, — eu ignoro sua pergunta. Onde ela está? Eu
examino o arranha-céu de Manhattan, minha cabeça girando para a
direita e para a esquerda. Jane pega meu brinco de diamante e puxa com
força. — Aí. Porra, — eu amaldiçoo.
O lábio inferior de Jane treme, um choro iminente.
— Não você, — eu digo rapidamente, tentando suavizar minha voz
firme. — Bem, sim você. Não puxe as joias da mamãe. — Eu acaricio seus
cabelos castanhos, removendo sua faixa preta. — Tudo bem, pequeno
gremlin. — Eu desprezo quando bebês choram, mas quando minha
própria filha começa, é como uma lâmina de barbear contra cada um dos
meus órgãos internos.
Seus olhos ficam com lágrimas, mas seus lábios se fecham, seu lamento
desaparecendo. Ela funga e eu até limpo debaixo do seu nariz. O que eu
faço por ela. Eu beijo sua bochecha lisa e sussurro, — Tu es forte, ma
farouche petite fille. — Você é forte, minha pequena menina feroz.
Mesmo com as lágrimas, ela ainda é forte. Força vem em todos os
tamanhos diferentes e pacotes e moldes. Lily é prova suficiente disso.
— E você estava com medo de não ser materna, — diz Frederick como
se ele me conhecesse. Seu tom é amigável, o que torna difícil ficar
irritada.
— Você conheceu minha mãe? — Eu pergunto a ele, minha voz
tremendo com o pensamento. Claro que eu estava com medo. Eu não
sabia como criar um ser humano. Eu não sabia se poderia fazer um
trabalho melhor do que o que ela fez conosco e isso me apavorou.
E então eu pensei que trinta e cinco anos seria uma idade apropriada.
Até lá, eu teria realizado tudo o que eu precisava. Uma criança não me
impediria de quaisquer metas ou viagens ou qualquer coisa. Talvez aos
trinta e cinco anos, eu achasse que estaria pronta para o carinho que as
crianças precisam. Foi um plano.
Um plano arruinado. Destruído pelo destino. Jane foi um acidente de
proporções épicas. Eu estava no controle da minha pílula
anticoncepcional e, no entanto, eu já estava muito grávida. Eu amo
Connor e comecei a imaginar uma família com ele no futuro distante.
Esse futuro acabou sendo tão próximo - fiquei apavorada.
As pessoas estão constantemente evoluindo e aprendendo e através
desses nove meses e do surgimento de Jane no mundo, descobri mais
sobre mim mesma. Eu estava com medo de criar um menino. Alguns dias
tive medo de criar uma filha. Na maioria dos dias, eu estava com medo de
criar qualquer coisa. Quando a segurei pela primeira vez, quando meus
dedos tocaram os dela e os dela se fecharam ao redor dos meus, como se
reconhecesse quem eu era - toda ansiedade que eu nutria começou a
desaparecer.
Eu criei essa pessoa bonita com um homem brilhante e único. Não
havia nenhuma maneira concebível que eu pudesse ter medo de segurá-
la ou amá-la ou lhe dar tudo em meu poder absoluto. Então eu posso não
ser a representação perfeita de uma mãe. Eu posso não ser carinhosa e
meus abraços podem doer mais do que confortar, mas eu amo essa
garota tão terrivelmente, assim como eu me amo.
Qualquer um que me diga que estou fazendo um trabalho ruim ou que
ela merece uma mãe melhor do que eu - pode ir se foder.
— Eu conheci Samantha Calloway antes, — diz Frederick. — Ela queria
conhecer o terapeuta da filha dela.
Eu daria a minha mãe pontos extras se não fosse pelo fato de que ela
favorece todas as suas filhas menos a Lily, ela ainda não conhece a
terapeuta da Lily e já faz anos. Talvez ela esteja com medo.
Nossa mãe é parcialmente a fonte dos problemas da Lily. Ela não é
realmente a fonte dos problemas da Daisy.
— E? — Eu questiono.
— Samantha não é como você, — Frederick me diz, se encostando em
sua poltrona.
Quero brigar com ela por me acalmar, mas não consigo entender por
que ele me confortaria nesse momento. Estou aqui para levar embora
uma gata que mora com ele. Se qualquer coisa, ele deveria querer me
afugentar, não me consolar.
— É a verdade, — diz ele, vendo a minha expressão.
Eu me mexo desconfortavelmente, não gosto de quão bem ele pode me
ler, quão bem ele me conhece das sessões de Connor. — Apenas traga
Sadie aqui amanhã ao meio-dia. Eu virei buscá-la.
Ele sacode a cabeça. — Connor me disse para não a devolver, mesmo se
você dirigisse até aqui pedindo.
— Eu não estou pedindo, — eu digo. — Estou ameaçando.
— Ele também disse que você ameaçaria me causar danos corporais e
que eu deveria ficar ciente de que você gosta de hipérboles e exageros.
Eu vou matar meu marido.
Eu aperto meus olhos fechados. Sim, isso é um exagero do caralho.
Quando eu os abro, espero ver Frederick acenando uma bandeira branca.
Ele ainda está calmo, esperando para me acompanhar até a porta quando
eu estiver pronta para sair.
Ele acrescenta, — Sadie pode não se dar bem com os bebês ou com a
husky.
— Ela merece uma chance.
Ele pressiona o dedo na mandíbula em contemplação. — Por que você
a quer de volta, Rose? — Essa é a segunda pergunta que eu tenho certeza
de que ele já sabe a resposta.
Eu abandonei Sadie.
Eu desisti dela e nunca faço isso.
— Ela é muito parecida comigo, sabe, — eu digo. Sadie e eu
compartilhamos as mesmas qualidades. Somos agressivas e distantes;
nós atacamos sem pensar e temos dificuldades para deixar as pessoas
verem nossos lados suaves.
— Connor a deixou ir porque ela era dispensável para ele, — Frederick
explica. — Você não é.
Tradução: ele não vai abandonar você.
O sentimento é bom, mas Connor e eu somos diferentes. Ele pode jogar
fora as coisas quando elas não têm mais utilidade para ele. Eu não posso.
— E se ela não for dispensável na minha vida? — Eu pergunto. —
Posso tê-la de volta então?
Ele balança a cabeça, em silêncio.
Meu nariz se inflama e então Jane estica a mão para o meu brinco
novamente. Eu puxo minha cabeça para longe, e ela solta um grito maior,
um muito mais horrível do que se eu simplesmente tivesse dito não. Eu
toco seu traseiro, sentindo uma fralda molhada. — Eu voltarei para a
Sadie. — No meu caminho para fora, eu aponto para ele. — Além disso,
sua lealdade ao meu marido, embora admirável, é completamente
irritante.
Ele sorri quando saio pela porta.
[ 30 ]
ROSE COBALT
Acabo com o meu segundo appletini verde-limão. Rose bêbada está
saindo da toca hoje à noite e eu a mantenho firmemente afastada por -
bem, eu nem consigo me lembrar da última vez que passei dos meus
limites.
Essa noite é diferente.
Em um pub irlandês de Nova York, uma banda toca uma música de
rock alta, o som sangrando nas paredes de tijolos e vibrando meu
cérebro. Assim que chegamos, o pequeno estabelecimento congestionou-
se com corpos vestidos de verde, e agora lutamos para nos movimentar.
Connor tem a mão na parte inferior das minhas costas e eu percebo
que ele está me dirigindo através da multidão de pessoas que usam
colares de miçangas de plástico, pintura facial de trevo de quatro folhas,
e bandanas verdes brilhantes.
Sua palma desce para minha bunda e eu aqueço. É a bebida. Ele me
puxa para mais perto do seu lado, para evitar um cara bêbado. Seu olhar
seguro e protetor me atinge uma vez e contraio. É a porra do seu domínio.
É ele.
Seus lábios escovam minha orelha. — Você está corando.
— Eu não estou, — eu digo.
Ele apenas sorri e continua me guiando através das massas.
Demonstrações de afeto em público com meu marido está no itinerário
para o dia de São Patrício. A coragem líquida ajudará, então a intoxicação
pública também é obrigatória para mim.
Tenho certeza de que os tabloides vão amar Rose bêbada. Eu a amo
com moderação e suponho que logo ela vai sair.
É também a primeira vez que Jane vai passar a noite com minha mãe. A
ansiedade disso só me faz querer beber mais. Eu levo o copo aos meus
lábios. Está vazio. Certo…
Com o bar lotado à vista, Connor está me levando até lá. Quando
passamos por alguns rapazes com chapéus verdes brilhantes, cada um
aperta o braço ou o ombro de Connor. Ele dificilmente recua ou até
mesmo reconhece que está sendo tocado.
— Connor Cobalt, por que você não está vestindo verde?! — Alguém
grita, nos reconhecendo. Soa mais como um fã do que um jornalista.
Connor está usando uma calça cinza escura, uma camisa social de
manga longa branca por baixo de um suéter azul marinho e gravata
cinza. Ele está casual e formal, exalando confiança mesmo sem estar
usando verde - e seu cabelo castanho ondulado nunca viu um dia melhor
do que hoje. Cala a boca, Rose Bêbada.
Eu juro, se eu começar a elogiá-lo em voz alta, essa noite está
terminando sem nenhum beijo em público. Vou marchar até o hotel e
parar antes de me trair. Sem aumentar o ego dele. Isso é uma ordem.
Eu puxo a bainha do meu vestido tubinho verde escuro, o bordado de
miçangas e a cor me fazendo sentir como hera venenosa.
Eu aprovo.
Alguém belisca o braço de Connor. Lhe atiro um olhar fulminante e ele
encolhe um pouco. . Xô. Eu me inclino em Connor... quase oscilando em
meus saltos altos. — Pra que você está pagando seu guarda-costas?
Sua mão grande parece envolver meu quadril. — Para proteger minha
vida, — ele responde, seus lábios perto do meu ouvido. Imagino ele me
beliscando, só um pouquinho, e depois me puxando com mais força, para
mais perto. Eu aqueço novamente. — E eu dificilmente acho que
beliscões são tão arriscados assim.
— Isso é porque você ainda não foi beliscado por mim, — eu refuto
friamente, completando a declaração com um gole de... nada. Sério, não
consigo lembrar que minha bebida está vazia? Se controle até a bebida
quatro.
Ele ri uma vez com a minha ameaça, seus lábios se elevando em mais
diversão. — Querida, eu acho que posso sobreviver a seus ataques. —
Casualmente, tão imperceptivelmente, seus dentes roçam minha orelha e
ele morde meu lóbulo antes de sussurrar, — Eu sou indestrutível. — Ele
aperta minha bunda, apenas uma vez.
Câmeras piscam em todos os lugares, algumas de telefones, outros de
fora das janelas de vidro, é noite, às 1 da manhã - e os paparazzi nunca
ficaram tão famintos. Daisy, Ryke, Lily, Loren, Sam e Poppy estão
espalhadas pelo pequeno pub também, então eu posso ver porque eles
vão se transformar em coelhos raivosos hoje à noite.
Chegamos ao bar de madeira, mas temos que esperar que o barman
nos sirva. Eu me viro para Connor, seu olhar viajando pelo meu corpo em
uma onda longa e sensual. Seu desejo misturado com confiança
misturada com dominância é mais inebriante do que meu appletini.
Eu aperto suas costelas com a maior força que posso.
Ele sorri.
Eu estreito os olhos para ele, querendo extinguir esse sorriso que diz
nunca poderei perder. — Eu quero o divórcio, — digo-lhe incisivamente.
Seus lábios continuam a subir. Bem, isso não saiu como planejado.
— O QUE?! — Lily grita sobre a música, aproximando-se de nós com os
olhos arregalados. Loren passa o braço sobre os ombros da esposa.
— Um divórcio, — repito, colocando meu copo de martini vazio no bar.
Connor me encara e seu olhar se prende no meu, me obrigando a não
desviar.
— Essa é outra das suas batalhas nerds estranhas? — Loren pergunta.
Connor nunca desvia o olhar de mim. — Sob que motivos, querida?
— Irritação. Você está me irritando.
Seu sorriso presunçoso só cresce. Não é assim que as pessoas normais
funcionam. Eu os insulto, eles me olham com raiva. Eu os insulto, eles me
xingam. Em vez disso, Connor usa aquela expressão excitada que diz eu
vou te virar e te foder com força contra o bar.
— Desse jeito, — eu digo, o sangue bombeando entre as minhas
pernas. — Isso me irrita. — E me excita. Não consigo me decidir, mas
acho que um pode superar o outro em breve.
Seu sorriso diminui um pouco, só porque o barman se inclina para
pegar nosso pedido. Enquanto ele pede outro coquetel para mim, eu
aperto o pulso de Lily e digo a ela, — Fico feliz que você esteja aqui! —
Sua presença certamente vai diminuir a temperatura dos movimentos de
Connor e do público.
Eu honestamente não tenho certeza do quanto eu posso aguentar.
Minha mente pode implodir com sinais de pare e becos sem saída se
grandes grupos de pessoas começarem a me observar e temo que isso
possa acionar meu TOC mais tarde.
Eu realmente gostaria de não ficar tão ansiosa, já que só o cabelo dele
faz todo o meu corpo pulsar. Apetite sexual? Confere. Bloqueadores
mentais? Confere.
Lily fica na ponta dos pés para se aproximar mais. — Eu também! —
Ela grita. — Você se importa em segurar minha bolsa enquanto eu danço
com Lo?
Eu imploraria para ela ficar comigo, mas ela já colocou os olhos
desejosos em seu marido, que está falando com meu marido. Fui eu quem
a encorajou a trazer uma bolsa de qualquer maneira e minhas razões
para querer tê-la por perto são um pouco egoístas por natureza.
— Tudo bem. — Eu aceito sua bolsa roxa e a seguro com a minha
dourada.
— Obrigadaobrigadaobrigada! — Ela salta para Loren. Ele dá um
tapinha no ombro de Connor e depois levanta Lily em suas costas, indo
em direção à banda.
Connor se vira para mim de novo, e quando o álcool entra em ação,
percebo que está ficando cada vez mais difícil encarar seu olhar
autoconfiante de frente. É como se eu não estivesse mais imune ao
charme dele. Foda-se isso. Eu puxo meus ombros para trás, me recusando
a ser hipnotizada por sua postura.
Eu tenho compostura também, merda.
Eu oscilo em meus saltos.
Ele se aproxima de mim, suas mãos firmes nos meus quadris, me
puxando para seu corpo.
Eu seguro seu antebraço por apoio. — Isso foi desnecessário, Richard.
Eu não ia cair. — Eu me encolho com essa palavra. Eu não caio.
Seus lábios tocam minha orelha novamente. — Você se lembra sobre o
que é essa noite, Rose?
Sim. Suas mãos precisam estar em cima de mim. Eu confirmo com um
aceno de cabeça e seu olhar absorve o meu, cuidadosamente
assegurando que estou bem com isso.
Eu estou.
Esse é o nosso plano.
Eu gosto de planos.
— Por que você não está vestindo verde? — O barman pergunta a
Connor, deslizando meu appletini para mim e cortando nossa conversa.
Eu agradecidamente pego minha bebida.
Connor tem uma sombra de irritação em seus olhos, provavelmente só
perceptível para mim. Ele responde o barman muito casualmente. — Eu
faço minha própria sorte, então realmente, o dia de São Patrício deveria
estar me celebrando. — Ele faz uma pausa. — E eu prefiro azul.
Eu pressiono meus lábios firmemente juntos, tentando não dar um
sorriso, embora um queira aparecer. O barman solta uma gargalhada
bem-humorada. Eu não presto atenção no resto da conversa deles, um
celular vibrando na minha mão.
Está vindo da bolsa da Lily. Eu pego o celular dela, muito curiosa para
não o pegar e talvez, se eu não estivesse bêbada, eu seria mais respeitosa.
Pelo menos, acho que seria.
Uma mensagem ilumina a tela.
Olha que adorável - mãe Eu desbloqueio o telefone de Lily com sua
senha (aniversário do Moffy) e vejo a foto que minha mãe anexou à
mensagem dela. Moffy está abraçado a um cobertor azul, dormindo no
colo da minha mãe.
O que? Eu verifico meu celular - não há atualizações sobre Jane. Estou
feliz que minha mãe e Lily tenham reacendido o relacionamento delas,
mas eu gostaria de alguma coisa sobre a Jane.
— O que há de errado? — Connor pergunta, esfregando as minhas
costas. Ele olha entre os dois celulares em minha posse.
— É difícil deixá-la lá durante a noite, — eu admito. Eu sinto um pouco
de culpa por não estar com ela por tanto tempo, mas minha mãe nos
incentivou a sair. Ela queria o tempo da vovó. Eu nunca pensei que ela
fosse ficar tão entusiasmada com o papel de avó. Ela não ficou assim
quando a filha da Poppy nasceu, mas talvez o ninho vazio ainda esteja a
incomodando desde que a Daisy se mudou.
— Jane vai ficar bem, — Connor me garante. — Se você quiser voltar
para Filadel...
— Não, — eu o interrompo. Se eu voltar para casa e estragar nossos
planos, eu falho. Eu preciso abrir mão às vezes. — Eu estou perfeita. —
Eu faço questão de beber meu appletini e ele me observa com a
expressão mais impassível e estoica - em branco e ilegível e, portanto,
um pouco assustador.
Connor segura meu rosto, seus olhos dançando em torno de minhas
feições, e quando seu polegar roça meu lábio inferior, viro minha cabeça,
observando qualquer espectador. Eu vejo o barman olhando, junto com
uma multidão de pessoas, celulares com câmeras ainda virados em nossa
direção... embora a maioria está direcionada para a dança de Lily e Loren.
Connor aperta meu queixo, virando minha cabeça para ele. —
Concentre-toi sur moi. — Concentre-se em mim. Seu tom é parcialmente
reconfortante, parcialmente tão forte quanto seu aperto. Ele nunca me
empurraria para o fundo do poço se ele pensasse que eu me afogaria.
Meu pulso acelera. — Você vai me beijar? — Eu questiono, ouvindo a
ansiedade na minha voz. Eu odeio esse som. Eu engulo o resto do meu
appletini.
Ele acaricia minha cabeça, todo meu cabelo puxado em um rabo de
cavalo apertado e elegante. — Saia da sua mente, Rose, — ele sussurra.
Não é tão fácil para mim, não com tantos olhos em nós. Eu coloco meu
copo vazio no balcão e ele faz sinal para o barman novamente. Eu
percebo que ainda estou segurando o antebraço de Connor como se eu o
deixasse ir, eu cairia.
Isso não é exatamente normal para mim. Seja o maldito tubarão, Rose.
Eu vou ser. Eu vou mostrar meus dentes afiados para todos os
humanos aqui.
— Rose. — Esse não é o Connor. Ryke se aproxima do meu lado
enquanto Daisy desliza na frente do meu corpo, sentando em um
banquinho vago nas proximidades. Óculos escuros de trevos de quatro
folhas cobrem seus olhos enquanto ela está vestida com uma camiseta
que diz: Agite seus trevos. Já que ela está de costas para mim, eu não
consigo ver um sorriso.
Eu encaro Ryke.
Sua mandíbula está com mais barba, o fazendo parecer mais velho. Ele
passou a semana passada acampando com Daisy e seu husky siberiano
nas montanhas, ainda sem aprovação de seus médicos para escalar.
Daisy pensou que acampar ajudaria a aliviar a espera.
— O quê? — Eu pergunto, gelo nas palavras. Pelo menos minha
mordida ainda não desapareceu. Eu quase pego meu copo vazio e tomo
um gole. Eu me lembro de não ser uma bêbada tonta dessa vez.
Connor se separa de mim, exceto por seus dedos que mal se
engancham ao redor dos meus. Ele se inclina sobre o balcão para falar
com o barman, a música persistente afogando a conversa.
Ryke coloca a mão no meu ombro e se inclina para perto de mim, tudo
para que ele não tenha que levantar a voz. — Você tem algum Advil ou
Midol? — Ele pergunta.
Minhas costas se endireitam e meus olhos voam para minha irmã. Ela
está com os pés no banco, com as pernas dobradas no peito, sentada em
posição fetal. Quando ela balança a cabeça para mim, ela dá um sorriso
brilhante consumidor. Eu quase acredito nela, mas silenciosamente, eu a
ouço dizer, eu não quero ser a razão de você não aproveitar o dia.
— Quão ruim estão as cólicas dela? — Eu pergunto, abrindo minha
bolsa primeiro. Batom, espelho compacto, mini-perfume, maquiagem,
balas, alfinetes...
— O suficiente para ela se sentar. — Ele passa a mão pelo cabelo, me
observando cavar dentro da minha bolsa que é dois tamanhos maiores
do que a da Lily. Todos os meus itens estão bem arrumados em bolsos e
pequenas carteiras.
…Mini-kit de costura, grampos, caneta removedora de manchas, escova
pequena, carteira de motorista, cartões de crédito e débito, supercola
(que Deus proíba que meu salto alto quebre) e...
— Advil, — eu digo, lhe entregando um mini-tubo de analgésico.
Ele abre o tubo. — Está vazio.
— O que? — Eu o pego de volta e agito... para não encontrar nada
dentro. — Lily pode ter um pouco. — Eu abro sua bolsa e encontro sua
identidade, dinheiro, seu celular e preservativos flutuando.
Pelo menos ela carrega proteção.
— Nada? — Ryke diz vendo a minha careta. — Porra. — Ele geme e
olha de volta para Daisy.
— Eu vou ficar bem, — ela grita. — Está tudo bem! — Ela brinca
alegremente com seus óculos verdes reluzentes antes de colocá-los de
volta.
Ele não está acreditando e nem eu.
— Encontre Poppy, — eu digo a ele, meu estômago sacudindo com o
pensamento de eu ser tão inútil que tenho que passar essa tarefa para
outra pessoa. — Ela vai ter algo.
Ele acena com a cabeça, mais esperançoso. — Fique de olho na Dais
para mim?
— Claro. — Enquanto ele passa pela multidão para procurar por
Poppy, eu estou prestes a me separar de Connor e me juntar a Daisy.
Em uníssono, não só Connor segura mais da minha mão, mas o telefone
da Lily vibra. Minha cabeça gira por causa do álcool, distraída com o
celular o suficiente para clicar nas mensagens da Lily.
Lil. Quanto tempo demora para fazer xixi? - Lo Eu pensei que eles
estavam dançando? O álcool deve estar fodendo com o meu senso de
tempo. Já são 2 da manhã Eu viro minha cabeça de um lado para o outro
e finalmente vejo Loren do lado de fora da porta do banheiro feminino,
uma que tem cabines para que ele não entre ou bata na madeira.
Curiosamente, percorro as antigas mensagens da minha irmã. Rose
sóbria nunca faria um ato tão desleal a menos que isso ajudasse Lily, mas
a moralidade está quase desaparecida.
Sua conversa mais recente: Moffy acabou de dizer cocô! Nós temos
falado muito cocô, Lo. - Lily Eu suavizo minhas articulações congeladas.
Minha irmãzinha é preciosa e, felizmente, a primeira palavra de seu filho
não foi cocô. Foi achou. Eles têm brincado de esconde-esconde bastante
com ele.
Eu continuo lendo as mensagens.
Pelo menos ele não disse merda. - Lo Eu reviro meus olhos, e uma nova
mensagem chega, meu olhar embriagado pousando em cada palavra sem
permissão.
Por favor, só responda, para que eu saiba que você está bem. - Lo Tenho
certeza de que a Lily está bem, e se Loren não me irritasse tanto, eu
poderia responder com isso. Com a mão livre, escrevo uma mensagem
com dedos rápidos e desleixados: appletini verde.
É tão aleatório quanto eu me sinto.
Eu aperto meus olhos e vejo seu rosto se contorcer em confusão. Ele
manda outra de volta rapidamente.
??? - Lo Eu bufo sob a minha respiração, um sorriso malicioso subindo.
Vai fuder um cacto, digito e pressiono enviar… só para reler a mensagem
e perceber que mandei: Bai goder um cactua.
Sério Rose?
Lo não perde tempo, empurrando a porta do banheiro. Os flashes da
câmera disparam novamente, iluminando a área dos fundos do pub. Em
um minuto, ele sai com Lily ao seu lado, e eu vejo seus olhos furiosos
atravessarem e procurarem no local.
Eles param em mim. Lily provavelmente disse a ele que eu estou com o
celular dela. Ele levanta a mão no ar e me mostra o dedo do meio.
Eu levanto o meu e - eu acidentalmente derrubo o celular da Lily. Nada
está indo de acordo com o plano. Eu me inclino para recolher os restos.
Não esteja quebrado, eu canto com um grunhido de raiva.
Eu acho um celular perfeitamente intacto e o coloco em segurança na
bolsa dela, em seguida coloco tudo no balcão ao lado da Daisy.
— Dá uma olhadinha nisso? — Eu pergunto, a mão de Connor ainda na
minha.
Ela me dá um sorriso e um joinha, seus óculos de sol verdes
mascarando qualquer dor que ela possa estar sentindo. Estou
literalmente a segundos de pedir que nossos guarda-costas façam uma
farmácia abrir para nós. Eu até sairia e faria isso com eles.
— Eu tenho Advil! — Poppy grita, tecendo através da multidão com
Ryke e Sam atrás dela. Minha irmã mais velha e bronzeada está mais
preparada para o dia mais sortudo do ano do que eu. Seu longo e liso
cabelo caem sobre seu vestido túnica verde, pulseiras de madeira
decorando seu antebraço.
Poppy é "calma" em comparação a mim, como Loren disse antes. Eu
não estou surpresa. Quando eu era mais nova, ela sempre desaparecia no
nosso quintal para pintar, encontrando lugares tranquilos longe da nossa
mãe. Ela descobriu a calma na adolescência que ela levou para os trinta
anos.
Tenho vinte e seis anos e a calma ainda está me evitando.
Talvez seja por isso que eu tenho Connor. Assim que penso nisso, ele
acaba a conversa com o barman. Eu deslizo para perto dele e escaneio
suas mãos e o balcão atrás da minha nova bebida. Não está em nenhum
lugar.
— Você só conversou com ele esse tempo todo? — Eu questiono, meus
pés doendo. Não por causa do sapato, mas porque meus músculos estão
se contraindo.
Meus saltos não me traíram.
Connor aperta meus quadris e me puxa contra seu corpo um pouco
mais, me guiando para que minhas costas atinjam a ponta do balcão. Eu
olho por cima do meu ombro, esperando encontrar o barman fazendo
minha bebida, mas ele está ajudando outra garota.
— Rose, — Connor diz firme meu nome e simultaneamente chama
minha atenção. Eu me concentro nele, seus profundos olhos azuis quase
me comendo. Seu olhar é tão sujo quanto soa.
Você ama isso, Rose.
Eu amo, mas tem pessoas nos observando...
Ele segura meu rosto, me possuindo com um movimento forte.
— Eu não estou pronta… — As palavras picam minha pele. — Eu
preciso de outra bebida, Richard.
Ele abaixa a cabeça, seus lábios roçando os meus antes de sussurrar
algo em francês. Eu não consigo traduzir, a não ser que ele fale mais
devagar. O álcool embaralha meus pensamentos, e ele percebe a
confusão cobrindo meu rosto.
— Concentre-se em mim, — ele repete.
Eu consigo lhe dar um olhar furioso decente. — Eu estou me
concentrando.
Espero que ele me beije agora. Ele vai te beijar contra o balcão com
todo mundo assistindo. Eu me pergunto se ele pode sentir minha pulsação
acelerada, meu peito desmoronando, meio ansioso, meio em
necessidade.
Muito rapidamente, ele agarra minha cintura e me senta no balcão.
Que porra é essa.
Que porra é essa.
Minha bunda bate na superfície de madeira e as câmeras se viram em
nossa direção. Minhas pernas estão penduradas e eu aperto seus
antebraços com tanta força que minhas unhas devem estar deixando
marcas.
— Connor ...
Espero que ele me beije agora.
Ele não beija.
Em vez disso, ele se ergue sem esforço para o balcão e coloca cada
joelho em ambos os lados das minhas coxas. A multidão aplaude, e eu
observo seu rosto: seu sorriso se eleva, seus olhos só se focam em mim,
seus dedos - seus dedos retiram sua primeira camada de roupa...
puxando seu suéter sobre a cabeça, agora em uma camisa branca - ele
tira a gravata que estava usando por baixo.
Ele joga o suéter para o lado.
A banda para de tocar, deixando apenas conversas e esse evento no
balcão ser o foco dos flashes de câmeras. Todo mundo está observando-o.
Mais ele do que eu.
Esse fato começa a transformar minha ansiedade em um despertar
sexual, uma pulsação começando lá embaixo. Meu cérebro tenta registrar
o que está acontecendo, seus dedos afrouxando a gravata.
Ele agarra a parte de trás da minha cabeça com a outra mão. E muito
lentamente, para que eu entenda, ele sussurra, — Prepare-se, querida. —
Sua respiração aquece meu pescoço. — Isso pode mexer com a sua
cabeça.

[ 31 ]
ROSE COBALT
Meu corpo pulsa e ele maliciosamente prende sua gravata em torno dos
meus pulsos, amarrando-os nas minhas costas. Os gritos dentro do bar
quase me puxam para fora do momento, mas Connor descansa a mão na
minha bochecha.
— Apenas olhe para mim, — ele me lembra.
Eu aceno, confiando nele. Então ele me beija tão poderosamente,
beliscando meu lábio inferior com os dentes antes que ele se levante da
posição que estava ajoelhado.
Ele se eleva acima de mim, minha cabeça nivelada com sua virilha.
Ai meu Deus.
Eu cruzo meus tornozelos que pendem do balcão e aperto minhas
coxas juntas, a pulsação começando a doer. Meu corpo está gritando para
ele entrar dentro de mim, essa necessidade só aumenta enquanto
estamos em um pub totalmente lotado. Isso não pode estar acontecendo.
Mas está.
Ele acaricia o topo da minha cabeça com a mão, seu braço a distância
perfeita, mesmo em pé. Eu olho para ele, e ele desabotoa sua camisa com
um olhar inebriante e sedutor que intensifica o pulsar entre as minhas
pernas.
— Tira! Tira! — Muitas pessoas cantam. Entre elas estão minhas irmãs
e amigos, se aglomerados perto do balcão.
Connor puxa meu rabo de cavalo, forçando minha atenção de volta
para ele e não ao meu redor. Concentre-se, seus olhos dizem em alto e
bom som.
Seus dedos desabotoam o último botão, a camisa se abrindo para
revelar seu conjunto irritantemente definido de abdômen e aqueles
bíceps esculpidos. Meu marido está se despindo em um bar, um show
destinado a agitar a mídia, mas também destinado para mim.
Sua confiança transforma o que poderia ser um ato bobo e descuidado
em uma experiência estimulante e autoritária que, sem dúvida,
despertou meu corpo. Eu estou completamente encharcada. Eu estou
pulsando por seu pau. Sem mencionar que fico com mais tesão alguns
dias antes de menstruar e esse é um daqueles dias.
E a mão dele - sua mão protetora e possessiva na minha cabeça está
fazendo mágica em mim.
Ele joga sua camisa para o lado, agora sem nada na parte de cima.
— TIRA! — Os cantos ficam mais altos.
Suas calças... ele vai...?
Eu instintivamente quero usar minhas mãos para proteger minha boca
que literalmente continua abrindo. Meus pulsos puxam contra a gravata
me imobilizando e Connor puxa meu rabo de cavalo novamente, até que
meus olhos encontram seu olhar íntimo que empurra direto para dentro
de mim.
Eu tomo respirações superficiais e curtas.
Os cantos de seus lábios começam a levantar mais uma vez,
especialmente quando ele tira o cinto, bem perto do meu rosto. Me...
fode. Ele se aproxima, de modo que minha bochecha está quase
pressionada contra seu pênis, uns três centímetros de espaço nos
separando. Enquanto ele desabotoa sua calça, a parte de trás dos seus
dedos tocam meu nariz.
— TIRA!
Os uivos de aprovação estão no fundo da minha cabeça. Minha pele
aquece como se fossem fazer sexo no balcão. Nós vamos? Parece que ele
está me fodendo, bem aqui, agora mesmo. Todo mundo está assistindo.
Ele nunca vacila. Nunca se atrapalha. Ele age como se estivéssemos
apenas nós dois aqui, como se essa fosse a aventura mais fácil que ele já
fez.
— Connor… — Eu digo, não tanto em aviso, apenas no lugar de
palavrões e pontos de exclamação que surgem dentro do meu cérebro.
Ele puxa para baixo o cós da calça, centímetro por centímetro, revelando
o cós de sua cueca boxer.
Eu rapidamente roubo um olhar para minhas irmãs e todas elas têm os
dedos pressionados em seus sorrisos largos. Os olhos de Lily parecem
estar prontos para pular de sua cabeça.
Eu experimento internamente tudo isso e uma excitação pulsante que
grita comigo, me fode, me fode, me fode!
Connor troca as mãos na minha cabeça, me segurando com a esquerda
- para Connor, sua mão esquerda é sua mão mais dominante.
Loren vem atrás de Connor, e ele puxa suas calças e cuecas boxer o
suficiente para mostrar sua bunda nua. Connor está sorrindo para mim.
Eu devo estar usando cada emoção que bate na minha mente.
Lo belisca a bunda dele. — Feliz dia de São Patrício, filhos da puta! —
Todo mundo aplaude e levanta suas cervejas e coquetéis verdes. Ele
levanta a cueca boxer de Connor de volta, mas estou ciente de que
Connor tem minha cabeça completamente imobilizada, alinhada com seu
pênis.
Ele empurra contra a minha bochecha três vezes, meu corpo inteiro
entrando em combustão e um gemido estrangulado sai da minha
garganta, o barulho sufocado pela euforia ao nosso redor.
Eu desamarro a gravata que estava prendendo meu pulso e agarro sua
coxa com uma mão e um pouco mais alto com a outra. Sua bunda flexiona
debaixo da minha palma.
Eu congelo.
Ele se abaixa, ajoelhando de cada lado das minhas coxas novamente e
enquanto minha cabeça gira em um milhão de direções diferentes, seus
lábios encontram os meus, a força - o poder, retorna. Embora nunca
tenha deixado. Só me enche oralmente, sua língua separando meus
lábios, seus braços puxando meu peito em seu corpo.
Eu não consigo acompanhar. Eu vou para onde quer que ele está me
dirigindo. No apoio que ele me fornece. Eu apenas seguro seu bíceps, e
ele desliza para fora do balcão, me levando com ele, me colocando de pé.
Ele ainda está me beijando, ainda envolto em mim. Sim, eu penso. Ele
me manuseia da maneira que eu amo ser manuseada, e eu aceito, cada
ação, cada movimento da sua língua. Meus lábios ardem sob os dele,
minha pele corada, o álcool nem chegando perto do efeito que Connor
tem em mim.
— FAZ DE NOVO, CONNOR COBALT! — O grito ao lado invade minhas
ações, e eu aperto os olhos para a luz forte dos flashes da câmera, vindo
em ondas mais uma vez. Meu marido ainda está sem camisa, com o cinto
solto e as calças desabotoadas, mas suas calças descansam no lugar
apropriado, cobrindo a bunda de vista.
Connor segura meu rosto carinhosamente, seu sorriso crescendo mais
e mais. — Você gostou disso.
Eu bato no peito dele, ainda respirando pesado e ele mal está sem
fôlego. Ele pega minha mão e beija meus dedos. Percebo que eu nem
precisava ficar completamente bêbada para realizar uma exibição
pública de afeto maior do que a maioria das pessoas jamais se
comprometeriam em fazer.
Ele fez eu me sentir segura.
Confortável. Ele já fez isso antes, mudando a atenção para si mesmo
para que eu me acalme. Sua confiança tem um jeito de me invadir e eu
amo essa pessoa na minha frente... um homem com quem eu sempre
quero estar.
Eu coloco as palmas das minhas mãos no peito nu dele e ele coloca os
braços em volta de mim, mesmo que eu não retribua com meus braços ao
redor dele. Eu apenas mantenho minhas mãos bem aqui.
Minha eu bêbada quase quer dizer a ele, você é tão gostoso. Eu quero
transar com você. Você é muito transavel, sabe? Seu cabelo é perfeito. Seus
lábios ainda mais. Eu continuo abrindo minha boca, mas até mesmo o
pensamento de proferir um elogio excessivamente doce tem um gosto
estranho e errado.
Então eu acabo falando isso, — Eu te odeio.
Ele sorri mais. — Odeia tanto que se eu ficasse lá por mais três
minutos, você teria gozado.
Eu bufo. — Não… — Eu paro, lembrando da pulsação do meu corpo
que estava subindo em direção a um pico. Você teria gozado no balcão de
um bar, Rose. Na frente de todos.
Eu acredito nisso, mas eu apenas levando uma mão para o rosto dele
para calá-lo.
Ele aperta meu pulso e abaixa os lábios até o meu ouvido. — Eu vou
cuidar de você hoje à noite.
Tradução: Continue bebendo se quiser.
Eu quero.
E então eu vejo seus olhos deslizarem de mim e eu os sigo até Ryke.
Todos riem ao seu redor. Até a Daisy parece que se sente melhor com um
sorriso mais claro e genuíno. No entanto, ele usa um olhar sombrio e de
questionamento, preso em nós.
Diz: por que diabos eles estão fazendo isso? Eles perderam uma aposta?
Essa porra não faz muito sentido...
O que não podemos responder: estamos fazendo isso para desviar a
atenção de nossos filhos para nós.
Essa pode ser a noite em que Ryke recusa desculpas vagas e exige uma
resposta real.
[ 32 ]
CONNOR COBALT
Daisy e Rose tropeçam pelo corredor do hotel juntas, rindo bêbadas e se
agarrando uma a outra em busca de apoio. As duas tomaram doses de
tequila até o pub fechar e cantaram “My Heart Will Go On” da Céline
Dion, todas incrivelmente desafinadas.
Eu apreciaria mais todo o cenário se Ryke não estivesse ao meu lado,
silenciosamente pensando no meu strip-tease no pub. Eu praticamente
posso sentir sua mente trabalhando enquanto andamos atrás das
garotas, ele dá olhares reticentes e cautelosos na minha direção, na
esperança de que eu encontre seus olhos e regurgite cada segredo que
tenho.
Eu não sou tão fácil de quebrar.
As garotas tropeçam nelas mesmas perto da porta do nosso hotel e
caem no chão, gargalhando. Eu esfrego meus lábios, tentando não rir, já
que Rose nunca faz esse barulho. É uma raridade que vou me lembrar - é
uma que eu adoro.
Eu paro na frente delas, olhando para baixo quando elas olham para
cima. — Garotas, — eu digo, passando pra Ryke o cartão-chave do hotel.
Daisy com olhos vidrados diz, — Rose quer um cupcake. Você não quer,
Rose? — Ela acaricia a bochecha de Rose.
Rose usa um sorriso satisfeito. — Sim... cupcakes, por favor. — Ela
estende a mão, como se esperasse que eu beijasse sua aliança de
casamento ou entregasse um presente a ela.
— Que tal a cama, querida?
Ela faz uma careta para mim como se eu tivesse oferecido sujeira em
uma sacola. — Esse é um presente horrível, Richard.
Eu agarro seu antebraço e a ajudo a se levantar, mas ela cambaleia
contra mim. É mais fácil para mim carregar minha esposa, então a
levanto em meus braços e abro a porta a chutando antes que ela se feche,
então Ryke ajuda Daisy da mesma maneira.
— Decidimos ter uma festa do pijama, — Daisy declara atrás de mim,
seus braços em volta do pescoço de Ryke enquanto ele a leva para o
quarto com uma cama king-size.
Eu coloco Rose na cama do hotel e ela se espreguiça e abraça um
travesseiro. — Nenhum garoto é permitido, — Rose acrescenta uma
exigência, o que me deixa mais tempo sozinho com Ryke. Temos quatro
quartos de hotel e eu esperava que as meninas quisessem conversar
umas com as outras por mais uma hora e depois nos deixariam as
separar.
Claramente isso não está acontecendo ao meu favor.
Ryke cede e joga Daisy na cama ao lado de sua irmã. Ela ri e Rose abre
os braços como se de repente estivesse no mar, afundando no Titanic.
Seu amarrador de cabelo perdido nas profundezas do edredom branco.
Eu me inclino sobre minha esposa e penteio o cabelo para fora de seu
rosto, e seus olhos se estreitam para mim, mesmo embaçados, eles ainda
contêm calor. O sangue se acumula no meu pau. Eu sempre posso dizer
quando ela vai menstruar porque meu corpo fica mais primitivo, atraído
por todos os movimentos físicos que ela faz.
Ela emite feromônios por volta dessa época, e as substâncias químicas
geralmente me dominam até eu transar com ela - mas essa noite é
diferente.
Ela olha atentamente para os meus lábios. — Porque eu te amo?
Eu a irrito. — Se você realmente quer que eu liste todas as razões, eu
ficarei aqui a noite toda.
Ela tenta cobrir minha boca com a mão, errando completamente,
golpeando o ar ao lado da minha cabeça. Eu dou risada.
Percebo Ryke sentado na beira da cama com Daisy bêbada no colo dele.
— Grande lobo mau… — Ela levanta a mão para tocar no cabelo dele,
mas seu braço cai ao lado dela. — Me coma.
É uma declaração provocativa e intoxicada que eu faço o meu melhor
para bloquear.
Ryke abaixa a cabeça para ela, beijando Daisy uma vez... duas vezes e
então ele diz, — Todos os fodidos dias, amor.
— Cadê a Lily? — Rose me pergunta.
— No quarto de hotel dela com o Lo. — Eles estão fodendo, algo que eu
preferiria estar fazendo com Rose, em vez de fazer companhia a Ryke.
— Cadê a Poppy?
— No quarto de hotel dela com o Sam.
— Onde está Willow... e onde está o namorado dela? — Rose mexe a
mão no ar em busca de respostas. Eu aperto a mão dela.
— A irmã de Lo não quis sair, — lembro a Rose. Willow completou
dezoito anos na semana passada, mas Lo disse que ela preferia passar a
noite em seu apartamento lendo uma revista em quadrinhos. — E ela não
tem namorado. — Eu sei que Rose deve estar se referindo a Garrison.
Rose bufa e tenta acenar para mim, mas tenho a posse da mão dela. —
Eu os vi flertar, — ela diz com naturalidade, como se isso fosse prova
suficiente.
— Sua lógica não é boa, querida. — Eu puxo seu vestido para baixo
quando ele sobe pela coxa dela. Eu o deixaria onde está, mas Ryke
também está nessa cama. — Nós flertamos por anos e você nunca me
chamou de seu namorado.
Sua boca cai e os olhos queimam. — O que fizemos não foi flertar.
Eu arqueio uma sobrancelha. — Quando eu tinha dezessete anos, você
disse que queria fazer uma autópsia em mim, abrir minhas costelas e
apertar meu coração até que ele explodisse entre seus dedos. — O que é
isso - se não flertar?
Ela levanta a cabeça de um travesseiro para se aproximar de mim,
apoiando os cotovelos no colchão. — Isso foi eu odiando você, Richard.
Eu sonhei com a sua morte.
— Você sonhava em agarrar meu coração, — rebato.
— Pra matar você, — ela enfatiza.
Eu me inclino para mais perto dela, nossos olhos se travando uns nos
outros. — Vous m’aimiez. — Você me amava.
Ela respira superficialmente e colapsa de volta contra o colchão,
cedendo mais cedo, principalmente devido ao álcool. Seus olhos com as
pálpebras pesadas lutam para ficar abertos por mais tempo, apenas para
olhar para mim com raiva.
Quando me viro para olhar para Ryke, ele está encarando Rose e eu
com mais desconfiança do que eu gostaria. — Você sabe, — diz ele, —
por muitos anos, eu nunca entendi por que diabos vocês dois
ocasionalmente usam vous ao invés de tu.
Meus músculos ainda permanecem flexionados, mesmo que esse seja
um tópico sem sentido para mim.
Rose responde antes de mim. — É formal. — Nós dois não somos
nativos da França. Como normalmente só conversamos um com o outro,
falamos do jeito que a gente quer.
— Vocês estavam namorando e agora estão casados, — retruca Ryke.
— Seu relacionamento é informal pra caralho.
— Nós não estávamos sempre namorando e não estávamos sempre
casados, — eu explico agora, me referindo sutilmente aos nossos dias nas
escolas preparatórias, onde éramos concorrentes. — Começamos como
formais e agora alternamos entre os dois sempre que queremos. Estamos
bem cientes das regras. Elas simplesmente não se aplicam a nós.
Rose está sorrindo de orelha a orelha.
Ela diz que odeia quando eu sou presunçoso, mas estou mais do que
certo de que ela sente prazer com o meu eu verdadeiro, mesmo que eu
seja um idiota arrogante.
Ryke balança a cabeça como se quisesse não ter falado nada e então
Daisy rola para fora dele, para mais perto de Rose, e as meninas
começam a sussurrar juntas.
Eu me levanto da cama na mesma hora que Ryke e trocamos um olhar
de reconhecimento.
Nós vamos ter que passar um tempo sozinhos juntos, além de só passar
um pelo outro pela manhã e conversar esporadicamente por dez
minutos. Nada de Daisy. Nada de Loren. Nada que nos une.
Maravilhoso.
[ 33 ]
CONNOR COBALT
Eu termino de tomar banho depois do Ryke. Nós trocamos algumas
palavras antes de basicamente confirmar que nós passaríamos a noite
juntos neste quarto de hotel. Nós não nos odiamos o suficiente para
incomodar a recepção às 4h da manhã por um quarto extra no dia de São
Patrício. E eu não sou tolo para acreditar que Ryke iria deixar suas
suspeitas para lá se nos separássemos.
Ele vai questionar em algum momento, então ele pode muito bem
deixar isso sair hoje à noite.
Depois de escovar os dentes e colocar calças de pijama, uma luz ainda
entra por baixo da porta. Eu suponho que ele ficou acordado para me
questionar e eu não pensei que ele iria dormir sem abordar o assunto.
Saio em silêncio, passando por um guarda-roupa com um espelho na
porta e entrando na parte principal do moderno quarto de hotel: uma
escrivaninha, uma cadeira e uma cama king-size, nada mais. Antes de
Ryke me ver, eu o vejo do seu lado da cama com os joelhos dobrados,
algo escondido atrás deles.
Ele está de calça de algodão cinza, peito nu com uma tatuagem escura
no ombro, costela e quadril. Quando um de seus joelhos se abaixa, vejo a
cicatriz da sua cirurgia do transplante. Começa logo abaixo do esterno,
bem no meio de seu peito, e para antes de seu umbigo, desviando sob
suas costelas, quase como a forma da letra L.
Agora acompanha a pequena cicatriz na sobrancelha do tumulto de
Paris.
Eu nunca vi as pessoas como telas físicas das suas vidas, revelando
tempo e memórias externamente como Ryke, seja por escolha ou por
circunstância. Eu posso ser uma tela em branco, mas nem todas as
pessoas são.
Eu me aproximo e ele abaixa o outro joelho, sua cabeça se levantando.
É quando percebo o livro na mão dele. Ele está lendo. Estranhamente, eu
nunca vi Ryke ler antes.
Ele coloca o livro atrás do travesseiro. — Eu tenho que te perguntar
uma coisa, — ele tenta me distrair.
Minha curiosidade aumentou, e eu não vou deixar isso passar. Eu vou
até o lado dele da cama, e ele imediatamente fica de pé e bloqueia minha
passagem para o travesseiro, sua mandíbula endurecendo e seu rosto
ficando sombrio.
Eu nunca fui intimidado por ele.
— Eu tenho que falar sério com você, porra.
Eu sei. — Por que você está tão envergonhado do que está lendo? — Eu
pergunto, sabendo que não é sobre vergonha.
— Cai fora. — Ele franze a testa. — Eu não tenho vergonha de nada,
então não torça a história do seu jeito.
Estou torcendo do meu jeito, mas ainda não terminei. — Se você não
está envergonhado, então você não deve ter nenhum problema em me
mostrar o livro.
Seu nariz se inflama. — O que importa para você se eu ler a parte de
trás de uma garrafa de shampoo ou Ulysses?
— Eu valorizo a inteligência, — digo facilmente. — Eu acho estranho
que você esconda a sua.
— Bem, aí está. — Ele gesticula entre o meu peito e o dele. — Não
classifico as pessoas acima ou abaixo de mim com base no fato de
poderem ou não me superar em um fodido teste de matemática.
É assim que ele me vê então? Eu sacudo minha cabeça. — Você me
entendeu errado. Não estou dizendo que desprezo Lo ou Lily porque eles
não são tão inteligentes quanto eu. Eles têm outras qualidades que eu
admiro e valorizo e não tenho em mim, mas eles não escondem essas
qualidades de ninguém.
— Eu não estou escondendo, porra.
— Seu livro está literalmente atrás de um travesseiro, escondido da
vista.
Sua mandíbula tensiona. — E eu estou dizendo que aquele livro não
sou eu. Eu poderia fazer essa porra o dia todo, Cobalt.
— Está de noite, — eu corrijo.
— Você é irritante pra caralho. — Ele faz uma careta e suspira
pesadamente. Eu não movo um músculo, e está o irritando o suficiente
para que ele pegue o livro. Ele o empurra no meu peito.
Eu leio o título em espanhol. El cuento de la criada por Margaret
Atwood, uma edição estrangeira de O Conto da Aia. — Você já leu isso
antes? — Eu pergunto. Eu só li a edição em inglês, mas é muito popular e,
na verdade, um dos favoritos da Rose, um romance de ficção científica
com temas feministas.
— Sim. — Ele o pega de volta. — Eu não estou tendo um clube de livros
com você às quatro da porra da manhã, ou nunca. — Ele coloca o livro
em sua mochila.
Eu ando até a janela, as cortinas marrons abertas para uma visão
brilhante de Manhattan. — Sua inteligência não pertence à sua mãe, você
sabe, — eu digo. — É sua. Você a conquistou. Ela não fez isso por você. —
Eu olho por cima do meu ombro, e ele está parado rigidamente ao lado
da cama, quieto. Nos muitos anos em que nos conhecemos, posso contar
em apenas uma mão todas as conversas de coração para coração que
tivemos. Eu não sei porque eu trago isso à tona agora.
Talvez para prolongar a discussão sobre o meu segredo com a Rose.
Talvez porque eu realmente ache que ele pode se abrir comigo hoje à
noite.
Quanto mais olho para ele, mais tenho certeza de que encontrei a
verdadeira razão pela qual ele se fecha com tanta frequência. Eu posso
ver isso enquanto ele olha para a frente, balançando a cabeça.
— Eu fiz tudo o que meus pais pediram enquanto crescia. Toda fodida
coisa. Eu não consigo dissociar a aprendizagem de quatro línguas do
resto da merda que minha mãe empurrou em mim.
Eu juntei a maioria desses fatos através da observação, mas ouvir a dor
em sua voz começa a revirar meu estômago. Eu inclino meu braço contra
a janela, levemente desconfortável, e percebo que ele está ativando
empatia dentro de mim, que só se estende a pessoas que eu me importo.
Ele olha diretamente para mim. — Você quer a verdade. Eu fui para a
faculdade e só queria ser eu. Eu não tinha a fodida ideia de quem isso era,
mas pensei que eu descobriria. — Ele solta um suspiro irritado. — Eu
não conseguia determinar se eu amava espanhol, italiano, francês ou
russo porque ela queria que eu os amasse ou porque eu realmente
amava. Mudei de cursos cinco fodidas vezes no meu primeiro ano, então
você ri pra caralho por eu ter ido com algo como jornalismo, que eu
nunca usei, mas eu tentei quase tudo e nada parecia certo.
Eu digiro cada uma das suas palavras e a emoção por trás delas.
Antes que eu possa falar, ele continua, — Olha, ela tornou difícil pra
caralho para eu encontrar minha identidade, mas se eu pedisse a ela para
escalar, mesmo que ela não gostasse, ela ainda deixaria. Minha mãe e
meu pai jogaram mentiras ao vento e eu tive que viver com elas para
proteger a reputação deles. Eu costumava ser mais inteligente e atlético
para o orgulho deles, não o meu, mas agora eu leio por mim. Eu corro por
mim. Eu falo por mim, porra. Mas eu fui tão condicionado que sei que
algumas coisas são apenas meus pais na minha cabeça. — Ele estende os
braços. — Então há alguns idiomas que eu gostaria de esquecer.
— Quais? — Eu questiono.
— Russo... Francês. — É por isso que tentar convencê-lo a falar francês
comigo é como arrancar dentes.
Eu ando até a mesa do quarto e me inclino contra ela, minhas mãos na
superfície de madeira. — Eu não acho que você já conversou tanto assim
comigo, — eu digo. — ...Eu aprecio isso, você se importando ou não. —
Minha vida não era nada parecida com a dele.
Eu nunca tive dificuldades com a minha identidade do jeito que ele
teve. Mas alguém do nosso grupo cresceu como a “garota do sim”, igual
ele. — Você sempre se viu em Daisy, não é?
Ele fica tenso e acena com a cabeça. — Sim.
— Agora estamos de volta às respostas de uma só palavra.
Ele se senta na beira da cama. — Talvez você devesse me dizer que
porra você estava fazendo hoje à noite.
É por isso que acho que ele divulgou mais que o normal. Ele pensou
que eu faria a mesma coisa. — Eu dancei para a Rose na frente de todos
vocês. Isso não é diferente.
— Você se despiu na frente de uma porra de um bar, não só para nós
cinco, e a dança do colo foi parte de uma aposta durante o reality show.
— Ele acrescenta, — E também nunca foi ao ar na televisão. Isso foi ao
vivo.
Nunca foi ao ar porque mostraria a química física que eu tenho com a
Rose, e Scott estava tentando editar o programa para fazer parecer que
Rose estava atraída por ele, não por mim.
— E? — Eu pergunto.
— E pra que foi essa porra? Eu tenho tentado entender tudo o que
vocês dois estão fazendo, mas eu não consigo… — Ele balança a cabeça.
— Eu sei que algo está acontecendo, e estou pedindo a você como meu
amigo para me dizer.
— É melhor que você não saiba.
Ele se levanta da cama, o que me força a me endireitar. — Eu vou
acabar com você.
— É por isso que eu não posso te dizer, — eu digo calmamente, mesmo
quando ele se aproxima, irritado. — Você responderia como você está
respondendo agora e eu preciso de pessoas racionais e equilibradas do
meu lado.
— Estou supondo que Rose sabe a verdade. Você acha que ela é tão
racional assim, porra?
Meu maxilar se flexiona e eu esfrego meus lábios para esconder minha
irritação. Rose não é racional o tempo todo, mas é bem menos agravante
que Ryke. Eles têm muitas semelhanças, e as coisas que os tornam
diferentes me torna exponencialmente mais compatível com ela e
exponencialmente menos compatível com ele.
Sou mais alto que Ryke, mas ainda estamos quase no mesmo nível.
— Você não tem ideia do quanto eu quero dar um fodido soco em você
agora mesmo, — Ryke rosna. — Você precisa parar de me manipular,
Connor. Eu posso ver toda vez que você faz isso.
Eu deixei ele compartilhar, pensando que eu compartilharia em troca.
Eu não compartilhei.
O que mais me atinge de tudo o que ele diz - não é o eu quero dar um
fodido soco em você ou o você precisa parar... é ele usando o meu nome.
Ele raramente me chama de Connor ao invés de Cobalt, e quando ele faz
isso, eu posso praticamente sentir a severidade da nossa amizade,
balançando entre quebrada e completa.
Uma verdadeira amizade é uma via de mão dupla. Eu dirigi por ela com
Loren. Eu dei a ele partes vulneráveis minha, mais de mim, e ele me deixa
ver sua fraqueza. Ryke pode ter sido paredes de tijolos no começo, mas
eu sou a variável que faz essa amizade ficar parada, não ele.
— Dê um passo para trás e eu vou te dizer, — eu digo de repente. Eu
não quero manipular meus amigos. Eu não quero enganá-lo. Eu quero
algo real.
Ryke hesita. — Não minta para mim.
— Não vou, — eu asseguro a ele. — Eu prometo.
Com isso, ele dá alguns passos para longe de mim, colocando cerca de
um metro e meio entre nós. — Me deixa falar tudo antes de você
interromper. — Minha voz está impassível, não segurando notas finais de
irritação ou derrota. Passo os próximos minutos detalhando o que eu fiz
com Rose, primeiro para ajudar Moffy e enterrar um artigo, depois nosso
teste para ver se podemos redirecionar os holofotes das crianças para
nós.
Quando termino, vejo-o passar as mãos repetidamente pelo cabelo
grosso e castanho. Seus olhos se fixaram no tapete, processando a
verdade completa. A primeira coisa que ele diz, — Eu poderia ter
ajudado vocês, porra.
Se alguém me pedisse para nomear os dois primeiros atributos de
Ryke Meadows, agressivo nem estaria na lista. No coração de sua alma
está a bondade, envolvida firmemente em altruísmo que aparece em
quase todas as ações.
Eu reconheço, com firmeza, que não compartilho sua compaixão com o
mundo e com tantas pessoas, mas uma parte de mim deseja entender ele
em um nível mais profundo e humano.
— Era mais fácil para mim se você não ajudasse, — digo a verdade.
Ele exala asperamente. — É a porra do meu irmão e o filho dele. Aquele
boato foi parcialmente sobre mim. Eu poderia ter feito algo para que a
Rose não precisasse.
— Rose queria, — lhe lembro. Eu estou um pouco preocupado que ele
vai compartilhar essa informação com Lo. — Você não pode dizer a ele,
Ryke. Você percebe isso? — Isso enviaria seu irmão para um lugar
sombrio. A culpa pesa sobre o Lo mais do que me atinge, então temos que
manter em segredo qualquer coisa que o leve a beber.
Ryke coloca as mãos na cabeça e respira profundamente duas vezes.
— Por favor, confirme comigo, — eu digo, incapaz de lê-lo além de
frustração e raiva.
Ele deixa cair as mãos. — Eu nunca vou dizer essa porra a ele. Sempre
vai ficar só entre você, eu e a Rose. — Eu ouço Lo na parte de trás da
minha cabeça, brincando sobre o clube dos mais velhos.
Ele existe durante momentos como esse.
— Eu quero ajudar, porra, — Ryke me diz, dando um passo para
frente.
— Você não precisa… — Eu observo o seu punho se apertar e, em
seguida, o ângulo de seu corpo. Ele vai me socar. Eu não fujo disso.
Ele me golpeia na mandíbula, minhas gengivas pressionando meus
dentes, sentindo o gosto de ferro do sangue na minha língua. Eu não toco
meu rosto, só me viro para ele mais uma vez enquanto ele se acalma.
Ele está esperando há anos para me dar um soco. Ele se parou
inúmeras vezes antes. Suas feições relaxam, a dureza de sua mandíbula
menos aparente. Seu rosto não tem maldade, nem irritação.
Ele está contente.
Ryke acena para mim. — Amanhã você pode dizer à imprensa que eu
bati em você e que nós odiamos um ao outro ou você pode inventar outra
fodida história. — Ele caminha de volta para a cama, me dando uma
manchete para afastar a imprensa da minha filha.
Eu solto uma risada, atordoada e divertida. — Essa é a sua maneira de
me ajudar? — Eu o sigo, meu maxilar latejando, mas eu não reclamo. Na
minha vida, dei Ryke mais merda do que qualquer outra pessoa.
Porque eu sabia que ele poderia aguentar.
Mesmo assim, acrescentou uma fina camada de animosidade à nossa
amizade - piadas metade em brincadeira e metade em irritação - e agora
sinto que essa camada está lentamente sendo removida.
— Sim, — ele confirma. — Eu nunca tive uma fodida razão melhor
para bater em você até hoje. — Ele sobe de volta no seu lado e desliza
sob as cobertas.
Ele literalmente não conseguiria me socar, a menos que isso me
ajudasse. — Que bondoso de sua parte. — Eu vou para o meu lado da
cama.
— Apenas diga a palavra, Cobalt, e eu vou socar você de novo, porra. —
Ele apaga o abajur do lado dele.
Eu arqueio uma sobrancelha. — E que palavra é essa - auau?
— Vai se foder. — Sua voz está mais leve que antes.
Meus lábios se levantam e antes de desligar o abajur do meu lado, me
sinto pressionado a dizer mais uma coisa. Ele merece essa resposta em
sua totalidade. — Durante o Natal, eu disse a você que não celebrava o
Natal porque minha mãe não comemorava, mas eu nunca mencionei que
eu passava o feriado na Faust.
Ele se deita de costas, sobrancelhas franzidas em confusão e surpresa.
— Quantos caras passavam o feriado lá?
— Não muitos, e para você pode parecer solitário...
— Como isso não é solitário, porra?
— Eu passava o meu tempo correndo em direção a metas e ambições.
Eu nunca perdi um momento para considerar a solidão ao meu redor, e
até hoje, tudo que vejo são as coisas que consegui, não as coisas que
perdi. Então eu não consigo me comparar a você, não importa se eu tiro
um tempo para tentar.
Ryke olha para cima, pensando sobre isso por um segundo, e então ele
ri em realização. — Devemos ser óleo e água.
Eu sorrio. — Presumo que sou água nesse cenário.
Ryke me mostra o dedo do meio antes de se virar de novo e murmurar,
— Boa noite, Cobalt.
Com isso, eu desligo o abajur, nos cobrindo na escuridão.
*

Dez minutos de sono, meu celular vibra ao meu lado. Eu olho para a
tela iluminada e levanto meu corpo em um cotovelo.
Daisy tem dejkso sexuaol baoxo o feed sabe disso?!?$4 - Rose É uma das
piores mensagens bêbadas que eu já tive que decifrar da minha esposa.
Eu me sento e encosto na cabeceira da cama quando outras mensagens
chegam.
Leva muito tempo para ela órgãos também sabia - Rose — O que foi? —
Ryke pergunta, se sentando comigo. Sua voz não está grogue já que
desligamos as luzes há apenas alguns minutos.
— Rose está me mandando mensagens bêbada sobre a Daisy. — Eu
mal consigo entender a primeira, mas a segunda parece que ela está
falando sobre orgasmos. Eu passo o celular para Ryke.
Ele aperta a ponte do nariz no momento em que as lê.
— Traduza, — eu digo, a palavra estrangeira nos meus lábios.
— Daisy tem baixo desejo sexual. — Ele joga o celular de volta para
mim, prestes a voltar a dormir.
Com melhor contexto, traduzo a mensagem para: Daisy tem baixo
desejo sexual, Frederick sabe disso? As garotas ainda devem estar
conversando e Rose está preocupada que Frederick não tenha todas
essas informações relevantes para sua saúde.
— Ela disse ao terapeuta dela? — Eu pergunto a Ryke.
Ele ajeita o travesseiro sob a cabeça. — Sim.
Eu me pergunto se ele tem uma ideia do que há de errado com Daisy.
— O que você sabe?
— Eu não estou discutindo a porra da minha namorada com você. —
Ele rola de lado, as costas para mim.
— Ela sofre de depressão, — eu acho. Seu baixo desejo sexual e
dificuldade para ter um orgasmo aponta para isso ou para os efeitos da
medicação que está tomando. Talvez seja uma combinação dos dois.
Ele se vira para mim e eu posso ver suas sobrancelhas franzidas,
mesmo no escuro. — Frederick disse a você?
— Não, — eu digo. — Eu apenas imaginei.
Ele passa a mão pelo cabelo e depois deita de costas, olhando para o
teto. — Eu acho que sempre soube e ela também - nós simplesmente
nunca falamos isso em voz alta. — Ele solta um suspiro pesado. — Eu só
quero que ela sinta a felicidade a cada fodido minuto da sua vida, e toda
vez que eu acordo, está mais longe do meu alcance.
— Você só tem que ser paciente e gentil, — eu digo calmamente. —
Faça o que você faz agora e será o suficiente, mesmo quando não parecer.
— Normalmente, forneço a todos as palavras certas, mas não há palavras
certas para esse caso. Ele entende que não consegue consertar a Daisy e
tudo o que ele tem para dar é ele mesmo, para ficar lá durante toda a
vida dela.
Ele acena e depois se vira para o lado novamente, para longe de mim.
— Você pode por favor, parar de falar comigo agora, porra?
Eu deslizo de volta para baixo e desligo meu celular.
Eu valorizo ter detalhes, mas nunca levei em conta a emoção por trás
deles.
[ 34 ]
CONNOR COBALT
Eu estou agachado do outro lado da cozinha, quatro torres de blocos de
madeira separando as duas crianças de mim.
— Papai! — Jane chama, seus olhos azuis pingando inquisitivamente
em cada torre colorida: vermelha, azul, amarela e verde.
— Derrube os blocos, — eu encorajo, acenando para as duas crianças.
Eu mal consigo distinguir suas próximas palavras, sons ininteligíveis que
ela compartilha com Maximoff. O garotinho aponta para a torre
vermelha, como se estivesse construindo um plano com Jane.
Nessa terça-feira à tarde em particular, sou a babá designada e apesar
de estar sobrecarregado com papelada da Cobalt Inc., uso esse dia com
prazer para brincar com minha filha e meu sobrinho. Eu estou sempre à
mercê do tempo, mas eu tento não deixar isso roubar momentos raros e
preciosos de mim.
Eu coloco meu joelho no chão. — Você precisa que eu te mostre?
Jane olha curiosa para mim. Eu não tenho certeza se ela entende
metade do que eu fale, mas isso nunca me impede de falar com ela como
se ele me entendesse, o que vai acontecer um dia.
Estou prestes a ficar de pé, mas Moffy dá o primeiro passo. Mais firme
sobre os dois pés do que Jane, ele sai correndo e bate na torre vermelha.
Ele ri quando os blocos se espalham no chão ao redor dele.
— Bom trabalho, Moffy, — eu parabenizo, meus lábios subindo. —
Você sabe de que cor esses blocos são? — Ele pega um dos blocos de
madeira, a letra "A" esculpida de um lado e uma águia do outro.
Ele murmura uma palavra que soa muito perto de águia.
Eu sorrio. — Quase.
Jane aponta para a torre amarela. — Papai!
— Não está se movendo, Jane, — digo a ela. — Você tem que pegar
você mesma. É possível andar até lá, querida. Você só tem que levar seus
pés. — Eu falo um pouco mais devagar, mas no meu tom habitual,
esperando que ela processe a essência do que eu digo.
Ela bate seus lábios, incerta e confusa. Meu celular toca no meu bolso.
Eu verifico uma vez para ver que é uma mensagem. Eu te disse que
poderia ajudar, porra - Ryke Eu não olho no Twitter, mas eu vi os tweets
de depois do Dia de São Patrício, toda a viagem de Nova York passou há
muito tempo. A maioria dos tabloides especularam que eu tive uma briga
com Ryke, e então nossos fãs também acreditaram nisso. Em nosso
próprio círculo de amigos, todos, menos Rose, acham que Ryke me deu
um soco por causa de uma discussão acalorada. Não é uma suposição
fora da base, já que raramente conversamos cordialmente.
Estava fadado a acontecer, Lo me disse naquela manhã com uma
sacudida de cabeça. Vocês tiraram isso de seus sistemas?
Nós assentimos e foi isso.
Eu olho para cima quando Moffy vai para a torre azul na frente dele,
banhando as tábuas do piso com mais blocos. Ele ri e se vira para olhar
para sua prima, com os cabelos castanhos chegando aos ouvidos e a
metade em um rabo de cavalo alto, com um amarrador azul. Ele
murmura o que soa como Janie, o nome não sai perfeitamente claro de
seus lábios.
Jane balança a cada passo em direção à torre amarela. Eu coloco minha
mão na minha boca, minha garganta se fechando. Ela vai cair em um
segundo, e o instinto quase me coloca de pé, para pegá-la em meus
braços antes que ela caia no chão.
Eu me forço a ficar imóvel.
Ela não pode ter medo de andar. Haverá muitos, muitos dias em que
ela tem que fazer isso sem Rose ou eu presente e ela precisa reconhecer
que ela possui o poder de se levantar. Sem nós.
Pouco antes de chegar aos blocos, ela balança para trás, seu peso se
desloca e ela cai em seu traseiro com um tum. Seu queixo treme,
procurando por mim com olhos azuis molhados.
— Eu estou bem aqui, Jane, — eu digo.
Ela encontra meu olhar reconfortante e funga.
— Você está bem, querida. — Eu sorrio e aceno para ela. — Se você
não conseguir se levantar, poderá sempre engatinhar. Não se esqueça
disso.
Ela fala comigo incoerentemente. Eu aceno como se eu entendesse,
mas eu não tenho ideia do que sua sequência de ruídos realmente
significa. E então Moffy leva um bloco azul e outro vermelho até Jane. Ele
os bate um no outro e fala como ela, balbuciando até que Jane tenta se
levantar do chão.
Ela se levanta e corre para a torre amarela, seu rosto se quebra em um
sorriso quando os blocos desmoronam ao redor dela.
— Bom trabalho, Jane. — Eu começo a bater palmas quando meu
celular toca. Eu verifico o identificador de chamadas e o meu mundo
parece ficar mudo, silêncio abafado que é tão fácil de cortar quanto uma
sacola plástica amarrada na minha cabeça.
Henry Prinsloo.
Ele só me liga em situações terríveis, quando uma parte essencial da
minha vida está em risco de decair. Antes de atender, eu imediatamente
vou até Jane e percebo que ela está chorando.
Ela caiu de novo e dessa vez as lágrimas se acumulam, seu choro
começando a desencadear o do Moffy. Os olhos dele ficam vermelhos
quando ele a observa e seus lábios começam a tremer.
— Shh, — eu ecoo, levantando minha filha em meus braços. Eu
sussurro no ouvido dela, fazendo o meu melhor para acalmá-la. Então me
inclino para baixo, capaz de pegar Moffy no meu outro braço. Eu carrego
os dois apressadamente para a sala de estar, minha mente correndo para
vários caminhos. Eu tento formar conclusões a partir de fatos
minúsculos.
No passado, as ligações do Henry costumavam ser normalmente sobre
o Loren ou a Lily. Ele é meu contato dentro dos principais meios de
comunicação. Foi ele quem me falou sobre o artigo da Celebrity Crush
antes de ir ao ar - o artigo que duvidava, que dizia que o verdadeiro teste
de paternidade do Moffy era falso.
O que ele tem para me dizer, eu posso consertar. Igual aquele artigo.
Eu tenho o poder de juntar qualquer coisa que tenha sido desfeita. Eu
tenho esse poder.
Eu.
E eu vou juntar quem se desfazer dessa vez. Pedaço por pedaço. Nós já
passamos por isso antes. Nós podemos sobreviver de novo e de novo. Eu
só preciso agir rapidamente. Seja o que for isso, geralmente não há
margem para erro.
Meu celular toca incessantemente. Coloco Moffy e Jane em seu
cercadinho ao lado da cadeira Queen Anne, com as lágrimas
parcialmente secas. — Continuem brincando, — só continuem brincando.
Eu tento distrair ambos os bebês com bichos de pelúcia e bolas
multicoloridas espalhadas ao redor do cercado circular. — Eu já volto. —
Eu deixo a porta aberta entre a cozinha e a sala de estar com uma
cadeira, capaz de ouvi-los bem.
No último toque, atendo o celular. — Henry, — eu saúdo.
— Liguei assim que pude, — diz ele, sem ruídos no fundo. — Você tem
que acreditar em mim. Todas as agências de notícias estavam de boca
fechada até um minuto atrás.
— Você pode me enviar o artigo por fax? — Henry pode tentar ter
acesso ao servidor do tablóide e me enviar o rascunho programado. Ele é
só um produtor na GBA News, mas ele tem conexões com todos os
tabloides que eu preciso.
— Não é apenas um artigo...
Eu vasculho meu cérebro em busca de respostas, seguindo os
caminhos mais lógicos e sensatos. — Que foto é?
Eu posso comprar a fotografia.
Eu fiz isso antes.
Mais de um ano atrás, Henry me falou sobre um fotógrafo da Paris
Fashion Week. O homem tinha acabado de vender três fotos para um
tablóide bem conhecido. Elas eram todas da Daisy se despindo nos
bastidores.
Ela estava completamente nua.
Eu as comprei e as destruí com Rose, quase imediatamente e elas
nunca foram postadas em lugar nenhum.
— Não é uma foto, — diz Henry, tendo problemas para entregar as
notícias.
Eu continuo calmo, mas quero mais fatos rapidamente. — Então o que
é? — Eu pergunto. — Um vídeo, um artigo, uma fotografia, uma porra de
revista em quadrinhos - me diga.
— Está em toda parte, — diz ele vagamente. Eu agarro a borda do
balcão da cozinha, desejando que ele me dissesse com o que diabos eu
estou lidando. — Alguns dos artigos se transformaram em vídeos. — Sua
voz diminui. — A GBA vai passar a história no noticiário das sete da
noite.
Eu verifico meu relógio. Isso é daqui cinco horas, bastante tempo. —
Eu vou ligar para o...
— Não vai importar.
— Henry...
— Está em todo lugar, — ele enfatiza esse ponto. Ele ainda não diz o
que é. — Celebrity Crush está publicando em uma hora. Outros tabloides
estão falando sobre publicar mais cedo do que isso. Você não tem tempo
para fazer nada.
Ele está errado. — Me envie a história por fax.
— Eu não posso. Eu também não tenho tempo. GBA está realizando
uma reunião de equipe em cinco minutos.
Ele não diz o que é.
Se fosse centrado em Lily ou Loren, teria sido a primeira coisa que
sairia da boca dele. Qualquer outra pessoa, ele teria dito o nome até
agora. Mas se fosse eu - ele engasgaria.
Então, se eu escutar a parte mais racional do meu cérebro, ele diz que
estou prestes a ser despedaçado. — Me mande uma mensagem com os
nomes de todas as revistas e emissoras que planejam falar sobre essa
história. — Eu ouço Frederick na minha cabeça, você não é super-
humano, Connor. O mundo não vai mudar por você.
Eu me curvo para o mundo se ele não se curvar para mim, e mesmo
assim, se isso é sobre mim, eu finalmente terei que me curvar até eu
quebrar?
— Estou mandando para você agora, — diz Henry.
Um buraco cresce ainda mais no meu estômago. — Me diga, Henry, —
eu digo, — quais são os títulos que a maioria está usando? — Quase não
quero ouvir a verdade, nem mesmo quando mais preciso.
Depois de um momento de silêncio, ele diz, — Eles estão chamando
seu casamento de uma farsa.
Eu esfrego meus lábios. — Que evidencia…
— Eles têm fontes, ex… namorados? Seus namorados. Três deles, eu
tenho quase 80% de certeza. A GBA News filmou uma entrevista com um
deles. Ele está alegando que vocês dois fizeram sexo várias vezes e que
você não é hetero. Todos estão dizendo a mesma coisa - que você se
casou com Rose para esconder sua orientação sexual da imprensa.
Nós temos uma filha.
Nós temos vídeos de sexo por aí.
Repito isso como minha defesa, meus músculos se contraindo. Meus
dedos embranquecendo. — Eu tenho que ligar para meus advogados. Me
mande uma mensagem com todos que estão publicando essa notícia, —
eu o lembro antes de desligar o celular. Passei os quinze minutos
seguintes conversando com três advogados, contando fatos. Nenhuma
vez perdendo tempo para ingerir uma emoção desnecessária.
Eu digo a eles para mandarem cartas de cessar e desistir para cada
homem que está planejando quebrar o acordo de não divulgação. Eu digo
a eles que ameacem ações judiciais e multas tão íngremes que isso
deixará cada um deles na miséria. Eu digo a eles para trabalharem na
apresentação de mandados temporários, para impedir que as emissoras
e os tabloides corram as histórias.
— Não vamos receber uma liminar em tempo suficiente, — diz meu
advogado principal. — O cessar e desistir é a nossa melhor chance.
Vamos intimidá-los o quanto pudermos e manteremos você informado.
Ligue a tv nos jornais. Não tire os olhos deles até que lhe digamos que
tomamos conta de tudo.
Eu tenho quarenta e cinco minutos, talvez menos. Corro para a sala de
estar e ligo a televisão na GBA News, colocando no mudo, e abro meu
notebook para o site da Celebrity Crush. O clack clack das bolas de
plástico, os bebês brincando, é o único barulho.
Conserte isso.
Quarenta e três minutos.
Meus advogados serão melhores em ameaçar esses caras do que eu,
mas enquanto eles trabalham na liminar, eu posso ligar para as
emissoras e tabloides. Não tenho ideia de como isso aconteceu. Por que
alguns desses caras decidiram falar de repente. Quem quebrou e sob que
tipo de pressão. Mas o como não é importante agora.
Me concentrar no como vai arruinar qualquer chance que eu tenho de
controlar os danos.
No sofá, percorro a mensagem do Henry que consiste em doze nomes.
Eu ligo para o primeiro; é o segundo tablóide mais afluente, logo atrás da
Celebrity Crush. — Vamos publicá-lo com ou sem uma liminar. A Celebrity
Crush vai correr a história primeiro, assim como vários canais de notícias
do horário nobre.
— Você será severamente multado, — eu digo com força, minha voz
seca e rude, não defensiva.
— É um preço que estamos dispostos a pagar. Nós vamos ser
compensados em inscritos.
Eu ligo para o segundo nome.
O terceiro.
O quarto. — Vai ao ar em trinta minutos.
O quinto e sexto. O sétimo e oitavo.
O nono. — Seu acordo foi enterrar a manchete sobre Moffy. — Andrea
DelCorte da Celebrity Crush me diz. — Você não disse nada sobre se
proteger e eu não posso fazer um acordo com você quando não é uma
história exclusiva. Vai sair em quinze minutos por nós ou por outra
pessoa.
Você não é super-humano, Connor. O mundo não vai mudar por você.
Eu não posso parar isso.
Eu não posso evitar uma barragem de questionamento e especulação.
Eu não ligo para o décimo, décimo primeiro e décimo segundo meios de
comunicação. Eu me esforço para fazer diferente.
Eu agarro o celular firmemente ao meu ouvido, mas meu coração
bombeia mais forte, mais alto. Assim que a linha clica, eu digo, — Rose…
— Eu perco minha trilha de pensamentos com seu nome. Minha garganta
se fecha e penso - eu perdi uma conexão em algum lugar. Foi o Theo? Foi
Jonathan Hale? Foi Frederick? Eu bloqueio o fodido como. Eu tenho que
bloquear, mas eu sei que o como está parando a verdadeira dor - os
piores pensamentos.
Os que tentam me atacar.
Rose será arrastada para isso pelos tornozelos, sufocando por baixo da
maré alta de outra pessoa, e o melhor que posso fazer é segurá-la
enquanto formos para baixo. Eu nunca me imaginei me afogando antes.
Não assim. E nunca imaginei que teria essas duas opções: afogar sozinho
ou afogar junto com alguém.
Juntos.
Sempre.
Eu nunca deixaria Rose sofrer por isso sozinha.
— Jane está bem? — Ela pergunta diante o meu silêncio, preocupação
sangrando em suas palavras. Eu ouço o barulho de papéis. Ela já está de
pé, tenho certeza.
— Eu preciso que você volte para casa. — Digo a ela. — Rapidamente.
— Os paparazzi vão lotar a Hale Co., a boutique da Rose, Superheroes &
Scones, rastreando todo mundo que é próximo de mim.
— O que foi?
— Dirija em segurança, — eu digo, estoico e resoluto. Minha voz
pertence ao homem que precisa que um terapeuta diga a ele como se
sente.
— Eu estarei aí em quinze minutos. — Ela desliga, sentindo a
gravidade, mesmo que minha voz não carregue quase nada.
Eu disco o segundo número.
— Lo, — eu digo. — Eu preciso que você volte para casa. — Eu preciso
de você é uma frase que eu quase nunca uso com ninguém, especialmente
com ele. Ele precisa de mim.
Todo mundo precisa de mim.
— Eu tenho uma reunião em dez minutos. Devo cancelar ou…
— Você pode remarcar? Isso é importante.
Ele não pergunta por quê. Sua lealdade deriva de uma amizade
verdadeira, honesta e genuína, a primeira que eu realmente tive. E eu sei
- sem sombra de dúvidas - que meu passado está prestes a arruiná-la.
— Claro. — Eu o ouço começar a andar. — Eu só preciso saber se é
sobre a Lil.
— Não, — eu digo a ele. — É sobre mim. Eu te vejo em breve. — Eu
desligo, discando o próximo número.
— Ei, Connor, — diz Lily sobre um barulho que soa como a conversa
dos seus funcionários na Superheroes & Scones. — Eu estava prestes a
ligar! Como está o Moffy?
— Você pode vir para casa? — Eu pergunto, sabendo que eu tenho que
explicar um pouco mais para ela e muito mais para a minha próxima
ligação. — Algo está prestes a aparecer nos noticiários sobre mim, e é
melhor se você não estiver em público quando isso acontecer.
— Ok… — Preocupação abaixa seu tom como cortinas se fechando em
um show de comédia. — Quanto tempo eu tenho?
— Você deveria sair agora.
— Estou indo.
Minha última ligação. A linha toca três vezes antes de clicar. — Ei, —
Ryke responde em uma respiração pesada. Ele saiu para correr com
Daisy e a husky deles, mas uma “corrida” para Ryke às vezes se
transforma em uma aventura de um dia inteiro, o tempo passou sem
pressa e pacificamente, e é por isso que ele me mandou uma mensagem
mais cedo.
— Onde você está? — Eu pergunto, atualizando o site da Celebrity
Crush. Sem atualizações.
— No final da porra da rua, — ele diz. — Tudo certo? É o meu irmão?
— Não. Não é sobre Lo ou Daisy. Não é sobre a Lily também. — Ele tem
que saber que agora é sobre mim ou a Rose.
— Eu vou estar em casa em menos de dois minutos. — Sua simpatia
me surpreende, mas também me acorda. Eu nunca, na minha vida,
precisei da preocupação do Ryke. Nem por um momento.
Eu desligo o celular e espero meus advogados me darem uma boa
notícia que eu tenho certeza que nunca chegará. Moffy e Jane dormiram
em travesseiros no cercadinho. Eu me inclino contra o sofá pela primeira
vez. Estou sozinho com o silêncio e meus pensamentos violentos e
giratórios.
Eu sinto atração por pessoas.
Pelas palavras que elas falam, pelas ações que elas tomam, pelas suas
manias encorpadas e movimentos com alma. Eu sinto atração por
pessoas. Por corações apaixonados que saem de sincronia, aqueles que
pulam uma batida, que podem ser ouvidos em lugares silenciosos e
espaços violentos - eu sinto atração por pessoas.
Não há outra verdade que eu possa gritar tão alto quanto essa. E isso
não vai ajudar. Eles querem que eu me rotule para que eles me entendam
e eu nunca me defini verdadeiramente com um rótulo.
Nada consertará isso a não ser mais uma mentira.
Não é mentir para uma pessoa, que é mais fácil de engolir. É uma
declaração para milhares de pessoas. É condenar uma crença que sempre
esteve comigo, que me faz ser eu.
Então, o que diabos eu faço agora?
A porta se abre e a cachorra branca funga enquanto caminha
cansadamente até o canto da janela, deitando em seu travesseiro de lã.
Ryke emerge do hall de entrada com a Daisy. Ele joga sua mochila de
lado. — Eles estão dormindo? — Ele pergunta baixinho, apontando para
o cercadinho.
Eu aceno com a cabeça uma vez e atualizo o computador, verifico o
meu celular em busca de mensagens. Nada de novo ainda. Eu acho que
tenho cinco minutos. O céu parece escurecer do lado de fora, nuvens
rolando sobre o sol, provavelmente.
Eu me levanto quando Ryke se aproxima com Daisy. Eu abro minha
boca para explicar, mas eu vacilo, meu estômago revirando.
— Eu vou pegar um pouco de água para você, — Daisy começa.
— Não, — eu digo a ela.
Ryke passa a mão pelo cabelo, um pouco úmido da sua corrida. —
Talvez você devesse se sentar?
Daisy concorda com a cabeça, balançando nos pés.
Eu franzo a testa e escaneio sua expressão excessivamente preocupada
que combina com o do namorado, sem sombras de confusão. — Vocês
me conhecem? — Eu pergunto. É uma declaração vaga, mas eles são
inteligentes o suficiente para entender o que estou sugerindo. Eles
poderiam ter deduzido sobre o que isso é se tivessem um único fato: já
dormi com homens antes.
Ela acena com a cabeça uma vez.
Eu não entendo... — Sentem vocês dois, — ordeno.
Eles se sentam juntos na mesa de centro, cautelosos e respeitosos com
meus sentimentos. Eu permaneço me elevando acima deles.
— Quem te contou? — Eu pergunto.
Daisy torce a parte inferior de sua blusa verde-limão, inquieta. — Você.
Eu cubro meus olhos com a mão. — Não. — Ela estava sonâmbula.
Havia só uma pequena, minúscula chance de que ela se lembrasse das
coisas que eu disse quando ela acordasse.
Eu abaixo minha mão, meus olhos ardendo. Talvez houvesse um lugar
dentro de mim que queria que ela se lembrasse, e foi por isso que assumi
o risco.
— Sinto muito, — Daisy sussurra, seu rosto se contorcendo em culpa.
— Não era o meu segredo para compartilhar, mas estava pesando em
mim - e eu sabia que Ryke poderia mantê-lo também.
Eu atordoadamente me sento no sofá, meus olhos voando para cima
para encontrar os do Ryke.
Ele sabia o tempo todo que eu tinha dormido com um cara antes e ele
nunca disse nada. Ele nunca mudou comigo. Nunca me pressionou para
explicar ou elaborar. Nunca se sentiu desconfortável. Eu penso no dia de
São Patrício. Ele dividiu uma cama comigo e nunca agiu de forma
diferente.
Daisy se levanta. — Vou deixar vocês dois conversarem. Eu posso levar
Moffy e Jane para seus berços. — Ryke a observa pegar os dois bebês
cansados do cercadinho e seus olhos normalmente rígidos suavizam uma
fração quando mais eles se fixam em sua namorada.
Ele coça a mandíbula não barbeada e se vira para mim quando ela
desaparece no andar de cima. — Como isso saiu na porra da mídia? —
Como.
— Ainda não saiu...
Suas sobrancelhas se levantam. — Então está tudo bem? — Ele sabe
que não está. Eu não teria ligado para ele se estivesse.
Eu dou de ombros. — Você me diz. — Estou me referindo, é claro, ao
seu conhecimento do meu passado. Sentado nesse silêncio, com o peso
da verdade, parece um pêndulo de quarenta toneladas balançando no
meu peito.
Ele segura meu olhar. — Eu fiquei surpreso pra caralho quando Daisy
me disse o que você disse a ela, mas isso foi tudo que eu fiquei.
Eu tenho dificuldade em acreditar nisso e uso a desconfiança nos
cantos dos meus olhos.
Ryke percebe, e ele solta um suspiro profundo. — Olha, eu posso falar
asperamente, podemos discordar em mais fodidas coisas do que
podemos concordar, mas depois de anos de, eu não sei como chamar
isso… acho que a merda que nós passamos juntos... percebi que você se
preocupa com outras pessoas tanto quanto eu. Você pode distorcer isso
como quiser, mas a verdade é que metade das coisas que você já fez foi
para proteger outra pessoa. E você é bom com palavras, então qual é a
definição disso, Connor?
Altruísmo.
Uma característica que nunca reivindiquei antes. Ainda é difícil fazer
isso agora.
Ele continua, — Quando Daisy me disse que você tinha dormido com
um cara antes, fiquei chocado, mas não fiquei com nojo, porra; eu não fui
repelido. Eu não questionei seus sentimentos em relação ao meu irmão
ou a mim. Eu posso diferenciar quando alguém se importa pra caralho
com uma pessoa e quando alguém está sexualmente atraído por ela. Eu
só fiquei surpreso.
Eu esfrego meus lábios, meus olhos nublando. — Eu gostaria de poder
dizer que pensei melhor de você todo esse tempo, mas sinceramente,
achei que você colocaria uma barreira de trinta metros entre seu irmão e
eu. — Para proteger Loren. De mim.
É algo que Jonathan Hale tentou fazer, e talvez isso seja tudo ele...
talvez ele finalmente tenha conseguido. Lo sabe sobre mim. Ele me
aceita, mas imagino que as outras pessoas não serão tão compreensivas,
não entenderão meu relacionamento com ele.
Ryke sacode a cabeça e descansa os antebraços nos joelhos. — Houve
um tempo em que não confiei em você, mas nunca porque pensei que
você estivesse a fim dele. Você é manipulador pra caralho e ele é... frágil.
— Eu sei, — digo. — É por isso que eu pegava leve com o Lo quando
você era duro com ele.
Ryke acena com a cabeça, entendendo como eu só tentei impedir que
Lo caísse toda vez que Ryke precisou empurrá-lo. Nós estivemos em
conflito um com o outro por tanto tempo, discordando sobre como tratar
um alcoólatra em recuperação. Seu irmão. O meu melhor amigo.
— Então me diga, — eu digo, — se você estivesse na minha posição, o
que você diria à mídia?
— Eu diria a eles para se foderem.
— Claro que você falaria isso.
Ele quase sorri. — Vamos lá, Cobalt, você não aceita conselhos de
cachorros. — É sua tentativa de me animar - porque é óbvio para ele que
estou até os joelhos em areia movediça e afundando rápido.
— Você não é um cachorro, meu amigo. — Eu me inclino para frente
para atualizar o site da Celebrity Crush, meu notebook do lado de Ryke.
— Não mexa com o status quo.
O status quo já foi esmagado mais de cem vezes nos últimos quarenta
minutos, uma fodida carcaça do que uma vez foi. Nem mesmo eu posso
reverter o tempo para juntá-lo novamente.
Uma nova manchete aparece na página principal da Celebrity Crush e
meu mundo para, um momento inquantificável com um batimento
cardíaco estagnado.
A manchete: Connor Cobalt dormiu com homens! Casamento com Rose
Calloway sendo questionado!
Meu celular toca incessantemente, como se alguém próximo a mim
tivesse morrido. Imagino os telefonemas sendo dos membros da
diretoria da Cobalt Inc., do meu sogro e de todas as pessoas que me
conhecem, querendo uma citação ou uma resposta. Os porquês e os
comos e os quem sabia, todos se entrelaçando.
Metade do título deles é verdadeiro. Não posso negar o meu passado,
mas eles o distorceram de forma criminosa, invalidando a única coisa
que mais significa para mim.
Luto para ler o artigo, para aceitar a permanência da situação. Eu
respiro pelo nariz, meu maxilar tenso. Leia o maldito artigo, Connor. Eu
olho sem piscar para a tela do computador. Meu olhar longe,
desaparecendo além das palavras.
Eu preciso ler, mas estou com medo.
Amar alguém não é fácil. Dobra a dor. Dobra a preocupação. Dobra
sentimentos que eu não gosto em uma dose. Amar alguém é uma
complexa teia de emoções, tentando me capturar.
E eu já fui pego antes.
Quando Rose entrou em trabalho de parto, eu realmente pensei esse
pode ser o dia em que eu perderei tudo. Presos em uma avenida na minha
limusine, sua sobrevivência em minhas mãos. Eu estava apavorado com a
ideia de perder o amor. Amor - de todos os sentimentos, de todas as
coisas. É uma ideia angustiante, quase debilitante e eu tentei a afastar
quando fiz o parto de nossa filha e enquanto Rose suportava a dor.
As pessoas me chamaram de herói, mas nunca me senti mais humano.
De repente sinto uma mão deslizar no meu ombro e um corpo afundar
ao meu lado. Eu olho para a minha esquerda e Rose enrola seus dedos ao
redor dos meus. Eu peço desculpas com meus olhos, mas seu olhar
inflamado e estreito está na tela do notebook, preparada para lutar
contra as coisas que deixei passar em cima de mim.
— Você já leu? — Ela pergunta, levantando o computador do meu colo.
Eu noto Ryke em pé para cumprimentar Loren e Lily no hall de entrada.
— Ainda não, — eu respiro.
— Vamos ler juntos então, — Sua voz treme, seus olhos verde-
amarelados em chamas com destruição.
Eu a puxo para mais perto de mim, apoiando sua forma rígida no meu
corpo. Eu me concentro novamente no artigo e passo por informação que
Henry já explicou, nomes exatos dos meus exs nunca escritos ou
mencionados. Apenas "uma fonte" e "nós vamos revelar mais quando
tivermos mais detalhes" - significando que esse não é o fim.
Eu aterrisso nas palavras que mais me surpreendem. Rose inala
bruscamente, lendo também.
Fontes afirmam que Connor Cobalt sabia que a verdade seria exposta em
breve. Isso explica por que - nos últimos quatro meses - ele vem ampliando
qualquer demonstração pública de afeto por sua esposa. Para citar apenas
alguns exemplos: ele fez oral em sua esposa em um estacionamento em
janeiro, visitou um sex shop em fevereiro e realizou um strip-tease em
março.
Tudo foi uma encenação para enganar as pessoas.
O que acreditamos: eles não estão apaixonados O casamento deles nada
mais é do que um acordo comercial. A Celebrity Crush entrou em contato
com os respectivos representantes dos Calloways e Cobalts e nenhum dos
dois emitiu uma declaração ainda, mas temos certeza de que alguém se
manifestará em breve. E quando isso acontecer, estaremos aqui para
comunicar. Então fiquem ligados.
Eu fecho o notebook violentamente e me levanto, apertando a mão da
Rose na minha antes que ela possa falar. Eu a levo para fora da sala de
estar, seu corpo rígido movendo-se mecanicamente, no torpor que eu
tenho percorrido nos últimos cinco minutos.
Estou mais acordado agora. Eles estão distorcendo o nosso jogo - tudo
o que fizemos nos últimos quatro meses para proteger os bebês. Eles
mudaram o roteiro, arrancando armas das nossas mãos e as apontando
diretamente para nossas cabeças.
Nosso plano de seis meses acabou de sair pela culatra.
Eu vi as consequências e o risco. Sempre houve um custo anexado. Eu
não sou tolo em acreditar que isso era infalível. Por natureza, os testes
são destinados a falhar ou destinados a serem bem-sucedidos.
Eu nunca acreditei que iria falhar assim.
Não há mais um pêndulo de quarenta toneladas batendo em mim. São
duzentas toneladas de cimento, me enterrando ao lado da minha esposa.
— Onde vocês estão indo? — Lo pergunta quando eu passo por ele,
Lily e Ryke para subir as escadas, Rose logo atrás.
— Precisamos de um minuto. — Ou cinco. Ou uma hora.
Rose está enraizada no centro do meu ser e eu tenho vontade de gritar
- de gritar com qualquer um que tente tirá-la de mim, me esvaziando. Me
deixando sem alma e sem propósito.
Minhas defesas vacilam em minha mente.
Nós temos vídeos de sexo.
Encenado, eles dirão.
Nós temos uma filha.
Arranjo de negócios, eles vão argumentar.
Estou desesperadamente apaixonada por ela.
Quem mais pode ver isso, além de você?
[ 35 ]
ROSE COBALT
Connor fecha a porta do nosso quarto, meu cérebro em chamas. Eu estou
em chamas, meus braços tremendo de algo muito maior e mais quente
que a raiva. Meu celular toca na minha mão e eu ignoro as ligações e
mensagens de minha mãe e meu pai, colocando o celular na cômoda.
Lentamente, eu me viro para encarar meu marido, três metros nos
separando - a tensão intrincada em meus ossos sólidos. Seus olhos estão
vermelhos de tanto conter emoções, mas ele continua alto, com um
metro e noventa e cinco. Seu olhar mantém a aceitação do nosso destino
que eu acabei de consumir com ódio.
Ele estuda minha reação, a maneira como eu esfrego minhas mãos
juntas e inalo respirações curtas.
— A Lily já esteve nessa situação antes… — Eu lembro de como a mídia
duvidou do relacionamento dela com o Loren, e depois rumores de
triângulo amoroso entre Loren, Lily e Ryke apareceram. Eles saíram
ilesos disso. Então nós também podemos.
— E? — Sua voz enfraquecida bate no meu coração.
Meu nariz se inflama e eu levanto meu queixo. Meus esforços para
incutir confiança em mim parecem mais como uma máscara mal
ajustada. — O que outras pessoas pensam não importa... porque é um
pequeno boato. — Minha voz me trai, tremendo a cada sílaba. — É o que
eu disse a ela antes... que as pessoas podem dizer o que quiserem, mas
você sabe a verdade. Você o ama.
Assim que as palavras saem dos meus lábios, ele fecha o espaço entre
nós, apertando meu pulso e me puxando para seu peito. Nossos corpos
rígidos se unem e ele me agarra em um abraço firme e reconfortante,
mas vejo seus músculos do maxilar se contraindo. Ele submerge tantos
sentimentos dolorosos quanto eu.
Muito suavemente, ele sussurra, — Eu sinto muito, Rose.
Eu sufoco uma respiração. Não chore. — Você não deveria se desculpar
por isso. — Eu seguro sua camisa social, meu olhar perfurando-o entre os
olhos. Ele olha para mim com firmeza. Precisamos de armadura de
batalha. Precisamos de armas e canhões. Precisamos atingi-los como eles
nos atingiram. Vingança - vingança horripilante e que destrói alma brota
no meu cérebro carbonizado.
Connor é mais lógico.
Ele não valoriza nenhuma parte da vingança da maneira que eu
valorizo. Nos sentiremos melhor quando isso acontecer, ele não vê? Eles
vão pagar, quem o traiu, e nós vamos nos erguer novamente.
Ele cobre meu rosto, sua mão grande me cobrindo, e seus olhos azuis
profundos se derramam rudemente através de mim como uma
correnteza invisível. — Importa, — diz ele, jogando a verdade mais fria
em minha direção e um arrepio corre no meu pescoço. Ele nunca dá
falsas esperanças, não para mim. — Sinto muito que importe. Esse não é
um rumor sem fundamento como os de Lily, Loren e Ryke. A mídia tem
evidências reais que nos desacreditam, nosso casamento e nosso amor, e
a percepção pública ficará esmagadoramente contra nós, diferente de
qualquer coisa que eles enfrentaram. — Seu polegar acaricia minha
bochecha. — Isso não está perto de ser o mesmo calibre.
Eu engulo em seco, meu nariz queimando novamente. Não chore. —
Nossas empresas podem lidar com os golpes. — Calloway Couture agora
está ligada à Hale Co. Tem uma estrutura de ferro que suportará
qualquer impacto. A Cobalt Inc. geralmente é resistente e anteriormente
foi liderada por Katarina Cobalt - aposto que os membros da diretoria
são tão progressistas quanto ela era. Connor não deverá ser rejeitado por
eles.
— Não são nossas empresas que me preocupam, — ele me diz.
Tradução: Eu me importo apenas com o nosso futuro juntos.
Jane... e todas as crianças que pensamos ter ao longo do caminho.
As outras crianças podem estar fora de questão agora, mas temos Jane.
Isso afetará ela. Eu nem posso começar a imaginar o tipo de ridículo e os
julgamentos que ela enfrentará de seus colegas. Todos acreditarão que
ela nasceu de um arranjo frio e sem coração de pais robóticos e
insensíveis. Vou envolvê-la em meus braços firmes, não importa quão
rígida eu possa ser ou quão mecânica eu possa parecer, e vou protegê-la
dessa tempestade injusta o melhor que posso.
Eu digo a ele, — Você está preocupado com Jane.
— E com você.
Eu pressiono minha mão no peito dele, dando um único passo para
trás. — Eu posso lidar com isso, assim como você pode. Somos iguais.
— Não. — Ele aperta meus pulsos, me impedindo de esfregar minhas
mãos novamente.
— Não? Como assim, não?
— Eu não quero ser igual a você, — ele anuncia, sua voz terrivelmente
plana.
Meus lábios se abrem, dor arranhando meus pulmões. —Você não quer
dizer isso.
Seus olhos ficam vermelhos. — Quero dizer tudo o que eu falo para
você.
Lágrimas ameaçam cair. Não chore, Rose, porra.
— Eu quero que você seja melhor do que eu, — ele declara, me
puxando de volta ao seu corpo pelos meus pulsos. Nós podemos lidar com
isso. Nós podemos lidar com isso. Nós podemos lidar com isso. Vou repetir
isso até que se torne uma verdade e não um som de zombaria na minha
cabeça. Ele segura minha bochecha. — Olhe para mim, Rose.
Eu tenho evitado sua clareza, e ele tenta me puxar para ela.
Quando eu encontro seu olhar, ele diz, — Isto é o pior de tudo.
A citação de Rei Lear perfura minha cabeça: Nunca sofremos o pior
enquanto podemos dizer: “Isto é o pior de tudo”.
Ele não pode consertar isso.
Nós não podemos consertar isso.
— Não. — Eu tento empurrá-lo, mas ele me segura com mais força,
meu pulso doendo de uma de suas mãos.
— Sim. — Ele força. — Não há nada que possamos fazer além de
suportar isso.
— Eu vou defender meu amor por você, — eu replico, fogo queimando
meu coração.
— Como? — Ele pergunta.
Eu penso em Princesas da Filadélfia, como o reality show ajudou a
justificar o romance de Loren e Lily. Eles precisavam de uma maneira de
mostrar e validar seu relacionamento. O plano funcionou perfeitamente.
O público se apaixonou por eles depois que Princesas da Filadélfia foi ao
ar. Pessoas torciam por eles e defendiam o afeto deles. O desejo que
sentiam um pelo outro ficava meticulosamente claro a cada cena.
Loren prenderia minha irmãzinha contra o balcão da cozinha, beijando
como se respirassem vida um no outro. Ela se agarrava
desesperadamente a ele, como se ela fosse cair se não fosse pela
existência dele, e quando ela chorava, ele se agarrava desesperadamente
a ela - sustentando sua alma enquanto ela abraçava a dele.
O amor deles é emocional.
O amor deles é exterior e aparente.
Penso no nosso tempo durante Princesas da Filadélfia. Connor não foi
bem recebido pelos fãs. Mais pessoas gostavam de mim com Scott Van
Wright - um homem que eu desprezava - do que com o homem que eu
amava.
Nosso amor é interior e intelectual.
É da mente e do espírito.
Quem mais pode ver isso além de mim?
Eu nunca tive que defender meu relacionamento nessa grande escala e
Connor está repetidamente me dizendo que é impossível. Eu reconto os
últimos quatro meses. Se agirmos como Lily e Loren, aumentando nossas
demonstrações de afetos novamente - estamos fingindo.
Se agirmos como nós mesmos - somos rígidos e desapegados.
Então, vamos apenas suportar as críticas. Deixar elas rolarem de
nossas costas, não importa o quanto queime e nos marquem? — Quando
um vulcão entra em erupção, não ficamos embaixo dele, Connor.
— Para onde você sugere ir?
Eu não sei. Eu balanço minha cabeça algumas vezes. Eu estou assustada.
Estou com medo de como nosso futuro vai ser. Minha respiração falha,
e eu levanto um dedo, para ele me dar um minuto. Minhas emoções
sufocadas ameaçam sair e se apossar de mim. — Eu já volto, — eu
sussurro. — Eu preciso trocar de roupa... colocar algo melhor. — Eu aliso
meu vestido.
— Rose, — ele diz meu nome com preocupação, mas eu o deixo e vou
para o closet. Eu só preciso de um minuto. Eu ficarei bem depois disso.
Eu suportarei qualquer coisa, assim como ele.
Eu ando rapidamente para o closet, e ele fica para trás, procurando
algo no quarto. Uma vez lá dentro, fecho a porta e deixo as luzes
apagadas. No escuro, uso minha memória para encontrar meu casaco de
pele, tirando a roupa macia do cabide.
Minhas pernas se dobram no momento em que eu agarro o casaco ao
meu corpo. Meus joelhos cravam no tapete, meu peito apertado e os
pulmões atados. Eu posso ouvir a televisão de repente através das
paredes, o volume alto. Connor deve estar procurando pelo controle
remoto.
— …Eles têm uma filha juntos, mas uma fonte próxima da família
Calloway acredita que Rose teve uma filha para o Connor...
Eu grito no casaco, os sons violentos e excruciantes sendo abafados.
Meu corpo vibra em agonia, pela invalidação do meu amor e agora da
minha filha, que carreguei por nove meses. Quem eu amo mais do que
qualquer outra pessoa pode ver, saber ou até mesmo perceber.
Eu grito de novo, minha garganta crua e inflamada.
— …Há várias cenas em Princesas da Filadélfia, onde Rose declara que
ela odeia crianças. Ela nunca gostou de crianças, e seus velhos amigos da
Academia Dalton atestaram isso e falaram com a GBA News.
As pessoas podem mudar. As pessoas podem crescer. As pessoas
podem perceber que a ideia de algo é mais assustadora do que a
realidade.
Eu não tenho permissão para tudo isso? Será que eu deveria ser
idêntica ao que eu era aos dezoito anos e aos vinte e dois anos e vinte e
seis? Não posso decidir de forma diferente ou pensar de uma nova
maneira? Por que eu deveria ser a mesma?
Um ataque de lágrimas enlouquecidas caem dos meus olhos e eu grito
algo que se origina no meu núcleo. Sinto um raio de luz no closet, mas
logo a escuridão toma conta novamente, a porta se abrindo e fechando
suavemente.
Eu não posso parar o sistema hidráulico, mesmo se eu tentasse. Eu
solto minhas emoções, a televisão fraca no fundo e eu sinto Connor se
ajoelhando atrás de mim. Seu peito forte se contrai contra minhas costas,
inclinando-se para frente ao longo da minha coluna curva para sussurra,
— Vous êtes en sécurité avec moi. — Você está segura comigo.
Seus braços deslizam ao redor dos meus quadris, me segurando com
um cuidado que ninguém mais verá, esses momentos mantidos em
closets escuros. Eu grito uma última vez, cada ferida aberta rasgando e
abrindo um túnel através de mim.
Seu peito sobe e cai mais profundamente e ele me aperta com mais
força. Eu tremo, minha garganta queima e ele me vira para o corpo dele.
Nossos membros perdidos no escuro. Eu simplesmente sinto ele me
puxando para o seu colo, minhas pernas abertas, uma de cada lado do
seu corpo, uma das suas mãos descansando na minha coxa. Ele guia
minha cabeça até a curva de seu ombro, minhas lágrimas silenciosas
molhando sua camisa.
Nossas respirações pesadas enchem o silêncio.
Ele beija minha testa, seus lábios roçando minha bochecha. — Eu não
trocaria nosso amor por nenhum outro.
Um tremor passa pelo meu corpo, e eu levanto minha mão e sinto ele,
minha palma deslizando no seu pescoço, sua mandíbula...
Ele aperta a mão sobre a minha, levantando meus dedos mais alto em
sua bochecha, onde eu quero estar. Eu levanto a cabeça do peito dele,
sentindo meus lábios se aproximando dos dele no escuro.
Eu sussurro, — Eu posso ouvir nossos corações se quebrando.
Uma lágrima molha a ponta dos meus dedos, suas lágrimas e sua outra
mão envolve meu rosto, do jeito que a minha faz com o rosto dele. Seus
lábios quase roçam os meus. — Vou proteger seus ouvidos do som dos
corações se partindo.
Meu peito incha. — E o que acontece quando eu quiser ouvir sua voz?
— Eu vou sussurrar através de todos os sons angustiantes. — Ele fecha
os lábios sobre os meus, uma vez, antes de murmurar, — Tu m’entendras
toujours, où que je sois. — Você sempre vai me ouvir, não importa onde eu
esteja.
Ele moldou minha vida, me moldou completamente e penso nele em
todas as ações, em todos os pensamentos extraordinários ou comuns. Eu
me pergunto o que ele faria ou o que ele diria. Eu sou independente,
autossuficiente e singular - eu sou todas essas coisas enquanto carrego e
sinto e vivo o amor.
— E você ainda vai pode me ouvir? — Eu pergunto, uma respiração
entre os nossos lábios.
— Toujours. — Sempre.
Eu escovo a umidade em sua bochecha, as lágrimas mais raras que
meus dedos já sentiram, escondidas nos confins da escuridão. — Estou
aqui para você, — lembro-lhe. — Eu vou ficar ao seu lado, o que você
quiser dizer à imprensa. — É a sexualidade dele, ele tem que escolher e
se ele preferir mentir sobre seu passado ou se ele preferir tentar explicar
a verdade - eu apoiaria ele igualmente e com todo o vigor.
Ele fica quieto por um longo momento, seu polegar acariciando meu
rosto coberto de lágrimas. Eu me preocupo que ele ache que seria melhor
me deixar ir. Para se desvencilhar de mim e da Jane e lutar contra isso
sozinho.
A escuridão esconde as respostas nos vincos de seu rosto. Eu só posso
senti-lo contra mim, seus músculos firmes e seus olhos molhados.
Então eu pergunto, — Você preferia se afogar comigo embaixo de um
rio ou queimar comigo em chamas?
— Nenhum dos dois, — ele sussurra.
Estamos juntos nessas escolhas, não importa de que maneira nós
falhamos - estamos juntos. Eu não entendo... — Você tem que escolher
um. — Uma dor pesada e fria pesa contra mim.
Seus dedos desaparecem no meu cabelo, segurando meu rosto, seus
lábios tão próximos. — Eu vou morrer com você quando estivermos
velhos e enrugados e de cabelos cinzas e eu vou viver com você todos os
dias até lá. Isso é o que eu sempre vou escolher.
Eu aceno com a cabeça, meus ombros relaxando, mesmo que ele não
possa ver. — Você vai morrer comigo então. — Eu respiro. É uma
tragédia de Shakespeare no seu melhor, e eu quase posso sentir seus
lábios se levantando, apenas por uma fração, pensando nisso.
— Sim querida. Eu vou morrer com você. — E ele me beija,
poderosamente e com força. Ele recua para sussurrar, — Mas não hoje.
Ainda assim, acho que nós dois reconhecemos que esse alvoroço da
mídia começou a nos machucar, muito mais do que qualquer coisa antes.
[ 36 ]
CONNOR COBALT
— Não pisque, — diz Rose, pingando colírio nos meus olhos enquanto eu
me sento na nossa cama. Eu faria isso sozinho, mas Jane está dormindo
em meus braços e toda vez que a coloco no berço, ela acorda e chora.
— Você está gostando disso, — eu menciono, me referindo a ela se
elevando acima de mim.
Seus lábios vermelhos nunca puxam para cima. — Eu não estou.
Eu estendo a mão e a seguro pela cintura, seu corpo moldado em um
vestido preto elegante, seus olhos verde-amarelados acentuados com
rímel e delineador. Ninguém imaginaria que Rose estava chorando a uma
hora atrás - e que meus olhos iriam arder e vazar em acompanhamento.
Ou que uma dor estranha e desconfortável ainda me atormentava.
— Pisca, — diz ela.
Eu pisco, algumas vezes, as gotas acalmando meus olhos crus e me
levanto com Jane no braço.
Rose toca os dedos minúsculos e delicados de Jane, os lábios da nossa
filha se separam com respirações profundas. Sua fragilidade, sua pureza,
me lembra que somos os únicos que podem protegê-la durante esse
tempo.
Eu nunca pensei em proteger uma criança das dores da realidade.
Minha mãe nunca me protegeu no início da adolescência. Você é mais
esperto por causa disso, ela disse. Eu aprendi a desligar meus
sentimentos. Perdi toda empatia por alguém que não fosse eu mesmo. Eu
precisava que o Frederick me lembrasse que sou humano.
Eu prefiro que Jane acredite em fadas e magia do que seguir meus
passos, eu percebo. Eu preferiria que ela fosse mais parecida com a mãe
do que comigo.
Temo que cinegrafistas a traumatizem. Temo que a inocência dela seja
quebrada mais rápido do que deveria ser. Esses medos estavam no fundo
do meu cérebro, mesmo enquanto estávamos encenando nosso teste de
seis meses. Agora eles estão na frente.
Minhas duas prioridades são Rose e Jane. O que acontece comigo no
processo, eu não me importo tanto quanto costumava importar.
— Pronto? — Rose pergunta. Todos estão esperando na sala de estar
no andar de baixo, nossos assessores, seu pai, sua mãe, suas três irmãs,
Sam, Ryke, Loren e o filho dele. Antes de encarar o mundo, tenho que
encarar as pessoas mais próximas a nós.
E a gravidade da situação é clara com um fato: isso se tornou um caso
familiar extenso.
— Espera, — eu digo a Rose. Eu penteio o cabelo dela sobre um ombro.
Ela inspira estritamente, com as clavículas salientes.
Eu beijo o pescoço dela e ela agarra meus braços. Eu beijo a linha de
sua mandíbula e a suavidade de sua bochecha. Ela pode ser hesitante e
rígida, mas essa mulher na realidade é a mesma mulher das minhas
fantasias. Ninguém mais pode entender isso, mas muitas pessoas nunca
vão me entender.
— Eu te amo, — eu sussurro antes de beijar sua testa, minha mão livre
segurando seu rosto.
Seus olhos verde-amarelados se estreitam, queimando um buraco
através de mim. Os cantos dos meus lábios começam a subir.
— Eu não posso chorar de novo, Richard. — Ela tem medo de isso
acontecer, e ela acabou de passar rímel.
Eu sorrio mais. — O amor faz você chorar?
— Nem todo amor.
— Só o nosso, — eu digo, como se segurasse um prêmio de primeiro
lugar.
Ela cobre meus lábios com a palma da mão. Rose nunca se afasta de
mim. Nos aproximamos, nossa filha entre nós. Quando ela deixa cair a
mão, eu ainda uso um sorriso desenfreado.
— Por que você está sorrindo assim? — Seu olhar voa para os meus
lábios.
— Porque eu amo tudo em você. — Agora estou pronto.

No minuto em que descemos as escadas e dobramos a esquina, todos


se levantam de vários móveis. Às vezes recebo esse tratamento real,
minha confiança impulsionando as pessoas a ficarem de pé. Embora eu
esteja totalmente equilibrado - de pé, expressão composta, mão firme na
de Rose enquanto embalo minha filha com a outra - eu reconheço que
isso é mais um processo de julgamento do que uma saudação real.
Rose e eu não falamos nada. Nós nos sentamos no sofá vago e todo
mundo segue o nosso exemplo. Nossos dois assessores estão sentados à
nossa frente em cadeiras de madeira. O da esquerda trabalha para a
família Calloway: Corbin Nery, mais ou menos 50 anos, extremamente
focado e ousado o suficiente para ser um tubarão em crises de alto
padrão, mas também é pago para proteger a reputação de Greg e
Samantha, mesmo ao custo da minha reputação.
A assessora à direita trabalha para mim: Naomi Ando,
surpreendentemente diplomática, racional e objetiva - todas
características valiosas.
Corbin e Naomi agem como se estivessem trabalhando em conjunto -
aliados amigáveis, lado a lado - mas eles não são mais cúmplices do que
eu seria para Jonathan Hale... que estranhamente não está nessa reunião
formal.
Naomi segura uma pasta. — Nós temos muito chão para cobrir, Sr.
Cobalt.
Corbin pega seu bloco de notas. — Primeiro, todos nós precisamos
saber com o que estamos lidando aqui. Independentemente de como
planejamos abordar a imprensa, precisamos saber a verdade.
Desabotoo meu paletó, minha filha adormecida no meu colo e olho
diretamente para meu sogro, sentado ao lado de sua esposa, nas duas
cadeiras Queen Anne. Em muitas palavras, ele basicamente está me
dizendo que ele quer a verdade, usando Corbin como seu porta-voz.
Greg Calloway pode ser quieto e benevolente, mas ele ama todas as
suas filhas acima dos homens aos quais elas se ligam. Ele só me aprecia
pelas minhas habilidades nos negócios, minha capacidade de puxar saco
e dar um sorriso falso. Ele não tem ideia de quem eu realmente sou. Eu
estive no jogo de construir relacionamentos, não as destruir, e a verdade
arruinará tudo.
Samantha toca suas pérolas uma vez. — Tem que ser uma mentira. —
Eu sinto seu julgamento antes mesmo de proferir uma palavra. Minha
irritação quase traindo a minha expressão, mas eu forço para trás
qualquer movimento facial, permanecendo impassível.
Rose está mordendo a língua, pronta para atacar, mas ela não vai soltar
essa resposta antes de mim.
É minha para libertar.
— Seja mais específico, — eu finalmente falo. — O que exatamente eu
estou reconhecendo?
Naomi diz sem rodeios: — GBA News e onze outros veículos estão
sugerindo que você esteve em um relacionamento sexual com três
homens, dois dos quais eram ex-alunos do Internato Faust Para Jovens
Garotos.
— Isso é verdadeiro ou falso? — Corbin pergunta.
Nessa sala, há um punhado de pessoas que não sabem do meu
passado: Sam, Poppy, Samantha, Greg e talvez até Lily, se Lo ainda não a
contou.
Eu escolho encontrar o olhar severo do meu sogro. Eu não posso
hesitar dessa vez, não como eu hesitei com meus amigos. Eu quero que
saia como se não significasse nada, mesmo que isso possa mudar tudo.
Com a mesma facilidade com que estou falando a temperatura, digo, —
É verdade. — Meu interior se aperta, mas sou o único que sente isso.
Greg vira a cabeça, incapaz de me olhar nos olhos. Ele praticamente
range os dentes. Eu acho que seu ódio vem de um pai tentando proteger
sua filha, ele deve acreditar em toda a história então - que eu criei um
acordo comercial com Rose. Se alguém em nosso círculo interno
realmente acredita nessa elaboração dramática da verdade, então
estamos tão sinceramente fodidos quanto eu pensava que estaríamos.
— Rose, — diz Samantha em um tom de repreensão. — Você sabia
sobre isso?
— Sim, — Rose diz poderosamente. — E eu não me importo. Todos
nós temos relacionamentos passados... — ela para e eu olho para ela de
lado. Ela cometeu um deslize - já que ela nunca esteve em um
relacionamento antes de mim.
Eu aperto a mão dela em conforto, mas seus ombros se travam.
Samantha balança para a frente, os dedos trêmulos pressionados
contra a boca. Greg está olhando para a parede e eu estou mais
preocupado com a forma que a Rose está lidando com as reações deles.
Embora ela tenha tido muitas divergências com a mãe e às vezes até com
o pai, nenhuma delas foi tão séria assim.
Eu estudo sua respiração afiada, prestes a mover essa conversa, mas a
irmã mais velha de Rose interrompe.
— Você realmente está confortável com isso, Rose? — Poppy pergunta
como se tentasse entender a verdade.
Lo se irrita, — Pelo amor de Deus, ele dormiu com alguns caras, ele
não cometeu um assassinato, porra.
Corbin faz uma anotação no seu bloco de notas. — Seria útil se você
ficasse quieto, Loren, — diz ele. — Você vai piorar isso se você falar.
O fundo do meu estômago se afunda, mas eu estava esperando Lo
perceber que nossa amizade está prestes a ser testada.
— O que foi isso? — Lo lança um olhar mordaz para Corbin e depois
passa Moffy para Lily, sua família de três aninhada no sofá.
— É um dos nossos pontos de discussão, — afirma Corbin. — Nós
vamos chegar nele em um minuto. Não vamos sair da ordem.
Lo cerra os dentes e se vira para mim em busca de respostas, seu olhar
interrogativo, perplexo, perguntando, você sabia que seríamos um tópico
de merda nessa conversa?
Sim. Eu sabia.
— Por que eu não ficaria confortável? — Rose de repente fala para sua
irmã, com raiva. — Eu sou casada com ele. Nós temos uma filha juntos.
Você se preocupa com todas as pessoas que Sam fodeu no passado?
— Uou. — Sam levanta as mãos em defesa. — Por favor, não me
arraste para isso.
— Não, — Poppy diz a Rose, seu tom calmo. — Eu não me preocupo
com as exs dele, mas isso é um pouco diferente, você não acha?
Minha sogra, Samantha, fala, — Por que você não me contou se sabia
esse tempo todo? Eu sou sua mãe.
— Sinto muito, mãe, — Rose responde. — Você contou para todo
mundo com quem o seu marido costumava dormir antes de ficar com
você?
Greg grita, — Não é a mesma coisa, Rose! — Ele se levanta.
— Deveria ser! — Rose fala com a mesma ira. Deveria ser. Talvez um
dia seja, mas agora, hoje, eu fazendo sexo com uma mulher e eu fazendo
sexo com um homem não tem a mesma conotação para eles do jeito que
tem para mim, do jeito que tem para Rose.
Gritar não é a solução, mesmo que eu adorasse poder me levantar ao
seu lado e gritar tão alto e apaixonadamente. Eu agarro a mão dela, a
puxando até que ela se sente novamente. Eu esfrego as costas dela e
sussurro, — Dê tempo para eles processarem.
Ela vira a cabeça para mim, os olhos em chamas. — Eu só quero que
eles entendam. — Sua voz baixa só é audível para mim.
— Paciência, querida.
Ela solta um suspiro irritado.
Greg continua de pé, com as mãos na cintura, andando até a janela e de
volta à cadeira algumas vezes. Ele faz um gesto para Corbin continuar,
incapaz de produzir as palavras, incapaz de me olhar nos olhos e me
perguntar.
Então eu devo conversar com alguém que trabalha para ele. Eu me
imagino rindo de frustração, olhando para o teto, balançando a cabeça,
cada reação que só posso internalizar. Eu não mostro minha antipatia ou
minha indignação ou meu agravamento - mas existe dentro de mim,
raspando meu cérebro.
Corbin pergunta, — Você se casou com Rose para esconder sua
sexualidade? E esse arranjo é consensual entre as duas partes?
Eu posso sentir meus músculos da mandíbula tentando se contrair.
Consensual. Como se eu tivesse a obrigado a se casar. — Eu casei com
Rose porque nós nos amamos, — afirmo claramente. Eles esperam por
um aguaceiro emocional vindo de mim. Não está em mim o material para
chutar e gritar e cair de joelhos. Rose acha que pode ter dificuldade em
convencer o mundo de que ela me ama, mas vou ter muito mais
dificuldade em convencer seus pais de que amo a filha deles. — Não
tivemos segundas intenções, — concluo.
— E se ele a manipulou? — Greg de repente pergunta ao seu assessor.
Eu franzo a testa, imaginando se Jonathan está resmungando em seu
ouvido.
Naomi corta Corbin, — Isso é algo para a equipe jurídica e não
devemos inspecionar uma bala quando ninguém puxou o gatilho.
Me levanto com a minha filha no braço e a sala fica em silêncio.
Consigo capturar o olhar de Greg, mesmo que ele tenha vontade de
desviar o olhar. — Eu não vou implorar para você confiar em mim, — eu
digo calmamente. — O que posso pedir é que você reconheça a
inteligência de sua própria filha. Ela não foi enganada por mim; na
verdade, ela se separaria de mim com a mínima insinuação de
infidelidade. Eu compartilhei mais com ela do que com você, então saiba
que ela não é cega de maneira alguma.
Eu paro, mais cauteloso quando Samantha fixa o olhar na Jane em
meus braços. Eu ajusto minha filha, seus olhos quase se abrindo de sua
soneca.
Greg aperta a ponte do nariz. — Eu acho que devemos nos concentrar
em como enterrar isso e não o que pensamos disso agora.
O coque estrito de Samantha puxa os folículos da sua linha do cabelo.
— Pode ser melhor para Jane ficar com a gente nesse meio tempo....
— Não, ela está segura conosco, — eu a interrompo, minhas defesas e
guardas começando a se levantar, mais do que antes. Eu sinto Rose
fervendo ao meu lado, com o olhar assassino para a mãe dela só por
sugerir levar nossa filha para longe de nós.
Sento-me novamente e passo Jane para Rose, que puxa nossa filha
protetoramente para o peito. Jane apenas se move para segurar o braço
de Rose como se estivesse segurando um ursinho de pelúcia.
Greg observa Jane. — Ela está em um ambiente amoroso? — Sua
dúvida penetrando em cada fodida palavra. Eu esfrego meus lábios,
irritado, tão irritado que eu poderia gritar. Eu poderia tamborilar meu
peito e bater meus pés, mas não importa o quanto eu gostaria de fazer
isso, eu não vejo nenhum ponto lógico nas ações.
O rosto de Rose se contorce, saltando entre raiva e mágoa. — Como
você pode perguntar isso?
— Eu sou um avô preocupado. Eu amo essa garotinha.
Ele está sugerindo que o amor dele supera o nosso. Eu lembro como fiz
o parto de Jane com minhas próprias mãos. Como Rose a abraçou toda
noite que ela chorou. Como passamos meses sem dormir e sem reclamar.
Como tentamos minimizar a exposição de Jane na mídia, redirecionando
o calor para nós. Como valorizamos todos os marcos que ela realizou.
Como você mede o amor?
É pelas coisas que estamos dispostos a fazer? Pelo que estamos
dispostos a sacrificar? Se for - então eu amo minha filha loucamente
porque eu iria aleijar meu mundo para lhe dar algo para se apoiar. Eu
explodiria a Cobalt Inc. se fosse necessário, uma escolha tola. Mas uma
mulher sábia disse uma vez que o amor vale cada escolha tola que
fazemos.
Será que Greg Calloway trocaria Fizzle pela neta? Sem chances.
Rose se endireita ainda mais. — Primeiro seja um pai e confie em mim,
sua filha.
— Por favor, Rose, — diz Greg, sem levantar a voz, mesmo que ele já
tenha gritado uma vez hoje.
Eu abraço Rose mais perto ao meu lado e ela exala algumas vezes,
tentando superar a dúvida de seu pai. Não há solução aqui.
Eu me viro para Naomi, pronto para acelerar isso e passar das
acusações e culpas. — Nosso casamento é real e consensual. Os vídeos de
sexo não são fabricados e tivemos uma filha para começar uma família
juntos. A única verdade nisso tudo é o que aconteceu no passado.
Rose desliza até a beira do sofá, mantendo a mão na minha. — Qual é a
nossa melhor defesa? — Ela pergunta a Naomi.
— Uma declaração pública de vocês dois, — diz ela. — Há muitas
evidências que dizem que seu casamento é uma manobra. — Ela fecha a
pasta. — Sr. Cobalt, seu Instagram está repleto de fotos especificamente
de sua esposa com você, mas ela está olhando com raiva para você em
quase todas.
Como eu gosto.
— Eles se amam, — interrompe Lily. Ela cora quando todos os olhos se
fixam nela. — É assim que o amor deles é.
Rose quase sorri, as lágrimas começando a se acumular. Ela murmura
para Lily, obrigada.
— Bem, — Corbin se intromete, — parece ódio.
— Vai se foder. — Ryke solta uma maldição do canto da janela, Daisy
em seu colo.
Meus lábios se levantam.
— Estou aqui para dizer o que todo o público está pensando, — lembra
Corbin.
— E eu estou aqui para virar isso de uma forma positiva, — afirma
Naomi. — Não exclua nenhuma dessas fotos, Sr. Cobalt. Admite culpa.
Tente adicionar uma variedade de imagens, talvez de encontros a noite,
fotos de seus anéis de casamento e, sim, continue a postar as que você
normalmente postaria. Há uma linha tênue entre se justificar e tentar
demais parecer algo que você não é.
O aumento de demonstração de afeto nos mordeu no traseiro por esse
último motivo. Respeito o conselho de Naomi, então pergunto, —
Devemos reconhecer o strip-tease ou qualquer outra coisa que a mídia
tenha distorcido? — Normalmente eu seria mais específico e diria a vez
que fiz oral na Rose, mas o pai dela está na sala. Ele precisa de tempo
para se acalmar e eu prefiro não tornar mais difícil para ele gostar de
mim novamente.
— A GBA News fez um analista de linguagem corporal dissecar essas
fotos, — explica ela. — E eles acharam uma dúvida razoável na postura
rígida da Rose. Em quase todos os lugares em que vocês estão em público
- onde você a beija - ela parece desconfortável.
Ela não foi a melhor atriz, mas ela tentou e nós não poderíamos saber
que isso aconteceria.
— Ei, — Daisy diz, sua husky deitada ao lado do Ryke, — Não é culpa
dela. Você sabe, nem todo mundo gosta de se beijar em público.
— Mas por que nesses últimos quatro meses mais do que nunca? —
Corbin pergunta. — A mídia vai se agarrar ao momento.
Rose puxa seus ombros para trás. — Nós estávamos tentando algo
novo, para apimentar nosso relacionamento desde que tivemos uma
filha.
Nunca vamos dizer a verdade: estamos seduzindo a mídia - de
propósito. Até onde a Rose e eu sabemos, o único que sabe do nosso
segredo é Ryke Meadows.
Naomi acena com a cabeça. — É uma defesa decente e é melhor do que
ficar quieto. Nós vamos adicionar isso à sua carta escrita. Não é algo que
você precisa dizer em uma coletiva de imprensa. — Ela irá digitar a carta.
Vamos ler e aprovar. É assim que isso funciona. — Eu sei que você tem
algumas fotos de família com a Jane no seu Instagram, mas vocês dois
deveriam postar mais. Além disso, vocês dois deveriam se esforçar para
tuitarem sobre serem pais. As pessoas gostam desses comentários. Isso
faz elas se relacionarem as vocês.
— Comentários amorosos, — Corbin esclarece, — Não sarcasmo ou
qualquer coisa que possa ser tirada do contexto.
Rose bufa. — Eu não tenho idéia do que você quer dizer. — Ela penteia
os dedos pelo cabelo de Jane carinhosamente. Ela sabe, quase
inteiramente. Ela odeia falar sobre isso. Eu já a vi se arrepender dos
comentários que ela fez antes, levando um conceito longe demais, não
querendo dizer o que ela disse.
Ela fala o que pensa com frequência e é penalizada por cada palavra,
mesmo as que são pronunciadas às pressas, as que têm camadas de
medos, as que estão sangrando de raiva. Eu amo todas as suas opiniões,
as apaixonadas, as dramáticas e tudo mais.
— Arroba ConnorCobalt, — Corbin lê o tweet antigo de Rose do seu
bloco de notas. — Toda vez que a pequena gremlin chora, meus ovários
matam um óvulo. Eu vou ficar estéril em breve.
As pessoas que conhecem Rose riem. Sua mãe e pai permanecem em
silêncio.
— Foi uma piada, — diz Rose, sua voz falhando no final. Ela olha
severamente para o teto, mais chateada do que eu pensava que ela
ficaria. Eu posso sentir sua confiança diminuindo.
Meu sorriso desaparece. Eu massageio seu ombro tenso e me inclino
mais perto para sussurrar, — Não é sua culpa, Rose. — Nada disso é
culpa dela. Tudo está sendo distorcido.
— Ela deveria ser autorizada a ser ela mesma. — Ryke interrompe,
sentando-se no canto da janela. Daisy escorrega do colo dele e faz
carinho em seu cachorro.
— Não ao custo da reputação dela, — diz Samantha. — Você não
entenderia...
— Eu entendo. Eu entendo mais do que você gostaria de saber - e essa
coisa toda é sobre transformá-los em pessoas que eles não são. — Ele
aponta para mim. — Deixe-os ser quem eles querem ser - fim.
Se fosse assim tão fácil, meu amigo.
— Você vive de uma poupança da Hale Co., — Sam intervém,
lembrando a todos sobre o dinheiro envolvido na minha decisão. —
Estamos tentando proteger empresas que podem ser prejudicadas pela
percepção do público. Eu não acho que você tenha uma palavra a dizer
aqui.
— Vai se foder, — Ryke fumega, se levantando do canto da janela.
Lo hesita em bloquear seu irmão de uma briga física, mas Ryke ainda
não atacou Sam.
Naomi aproveita o breve silêncio e redirecionar o tópico. — Os vídeos
de sexo são uma boa forma de defesa, mesmo que todos estejam
tentando empurrá-los para baixo do tapete.
Corbin bate a caneta no bloco de notas. — Eles não estão empurrando
para lugar algum. Todo mundo acredita que os vídeos são apenas outro
truque para cobrir o passado do Connor. E francamente, eu acreditaria
também.
— Então você é um idiota, — Loren interrompe.
— Não, — diz Corbin, — o público não conhece Connor tão
intimamente quanto todos vocês. Eles conhecem o que veem e o que eles
veem alude principalmente a uma ação bem coordenada. Minha sugestão
- para limpar tudo de maneira rápida e fácil - você precisa negar essas
acusações contra você.
Rose fica ainda mais tensa sob a minha mão. Eu não posso falar
imediatamente, mas Corbin ainda não terminou.
— Você dirá que nunca fez sexo com um homem antes. Você dirá que
esses caras eram amigos seus e querem apenas um dinheiro rápido dos
tabloides. Você dirá que é heterossexual e está em um casamento
amoroso e saudável com sua esposa.
Para consertar isso, devo mentir.
Eu já sabia disso. Pensei cem passos à frente deles e espero que Naomi
me ofereça uma versão diferente do mesmo obstáculo.
— Vão se foder todos vocês, — Ryke diz palavras que eu sinto, mas não
posso articular.
— Se você não tem nada de construtivo para adicionar, acho que você
deve sair, — diz Corbin.
Lo dispara um olhar fulminante em seu caminho. — Você é nosso
maldito assessor, não o rei do castelo, então pare de agir como se tivesse
autoridade para banir meu irmão para outro quarto.
Naomi se levanta abruptamente. — Eu tenho uma alternativa. — Ela
pega um papel de sua pasta e passa para mim. Eu leio uma longa lista de
sexualidades: bissexual, pansexual, polysexual entre outros termos. —
Escolha um, — ela diz ela Como se fosse tão fácil quanto pedir um
aperitivo em um menu.
A sala fica em silêncio, todos os olhos virados para mim. O papel é mais
pesado do que eles imaginam. Meus vinte e sete anos de existência
inteiros me encaixando em parâmetros que outras pessoas constroem -
para se misturar, para apaziguar homens e mulheres.
Para mim, esses termos são apenas mais um parâmetro - e eu nunca
gostei de entrar nessa caixa, fingir ser outra pessoa quando o que sinto é
tão simples, tão rudimentar. Eu admiro outras pessoas que podem se
identificar com essas palavras, mas não é o que eu sinto.
Eu sou atraído pelas pessoas, pela paixão abrangente da alma, do
corpo e da mente.
E eu não deveria ter que ser rotulado para fazer sentido. Minha
sexualidade não deveria ser prioridade para ninguém além de mim. Se eu
só dormisse com mulheres, ninguém se importaria, mas as pessoas
aprenderam de forma diferente e agora estão incomodadas, irritadas -
confusas, duvidosas.
Então, para satisfazê-las, eu tenho que entrar nessa caixa apertada.
Para fazer sentido para elas, tenho que declarar algo que não sinto.
Eu sei quem eu sou, mas poucas pessoas realmente me conhecem.
Agora tenho que escolher qual Connor Cobalt milhões de pessoas verão.
O falso: eu vou me dar um rótulo. Eu serei o que eles precisam que eu
seja. Ao fazer isso, eu fico bem com meu sogro e elimino a dúvida que
obscurece meu amor por Rose e seu amor por mim.
O verdadeiro: eu não confirmo nem desminto nada. O público ficará
imaginando coisas. Eu destruo relacionamentos com Greg e Samantha,
possivelmente danifico minha amizade com Lo. Meu amor por Rose e seu
amor por mim sempre podem ser questionados.
Meu eu de dezenove anos não teria se esquivado desse ultimato. Eu
teria falsificado meu caminho pelo resto da minha vida, pelo resto dos
meus dias, e eu teria perdido o último fragmento de humanidade que
deixei Rose manter em segurança por todos esses anos.
Seja real, Richard.
Eu acalmo as pessoas. Eu as apaziguo. O que acontece quando eu parar,
por um momento, de viver no conforto da minha própria pele? Eu posso
perder tudo. Mas e se esse for o sacrifício que eu tenho que fazer por
Jane? E se eu quiser abandonar quem eu sou, viver uma mentira, para
que ela viva em paz?
As variáveis, os custos, os benefícios, os e se persistentes que me levam
à confusão - a uma colisão frontal com o medo.
Eu esfrego minha testa que começa a transpirar.
— Não deve ser tão difícil, — diz Samantha.
— Você já teve que declarar ao mundo que você é hetero? — Eu
pergunto a ela. — Alguém olhou para você de uma forma diferente por
causa disso?
Seus lábios se apertam.
— Não, eu imaginei. — Dobro o papel em quatro, todos me observando
intensamente. — A heterossexualidade é a norma. Talvez quando você
tiver que ficar em um pódio, com câmeras na sua cara e dizer uma
palavra que mudará a forma como as pessoas encaram você - você
entenderá que isso não é fácil, nem mesmo para mim.
Rose aperta minha mão em apoio, e quando eu olho para ela, eu
detecto o orgulho brilhando sob suas írises verde-amarelas. Ela diz que
vai ficar ao meu lado, não importa o que eu escolha, mas Rose defende
cada parte de mim que me faz ser eu.
Isso não é exceção.
— Então diga a todos que você é hétero, — diz Samantha, — e
ninguém vai olhar para você de forma diferente.
— Mãe, — Rose desdenha.
— Não, Rose. Eu estou dizendo o que todo mundo está pensando. Eu
entendo que todos nós temos nossos segredos, mas há alguns que não
devem ser mencionados em voz alta. — Eu mudei em seus olhos e ela
provavelmente me jogaria de volta em um armário, se pudesse, iria tapar
suas orelhas e reverter o tempo, para que eu voltasse a ser a pessoa que
eu era antes.
Esse é quem eu sempre fui, mesmo que ela não pudesse ver.
Ryke se aproxima da mobília, seu olhar escurecendo, e Daisy aperta o
pulso dele, para mantê-lo parado. — É, ele não deveria dizer a porra da
verdade porque você não consegue lidar com isso? Ele não deveria ser
ele mesmo porque faz você se contorcer?
Este assunto o irrita mais do que outros. Ele nunca precisou ser meu
defensor antes, mas é legal ver ele me defendendo. Eu sou grato por isso.
— Chega, — diz Greg. — Acho que todos expressamos nossas opiniões
e Connor tem a palavra final.
Eu passo o papel para Naomi. — Você escreverá a carta formal,
afirmando que eu amo Rose - tudo o que discutimos aqui - mas você
deixará de fora qualquer reconhecimento de se eu dormi ou não com os
três homens. Preciso de tempo para decidir o que quero dizer antes de
realizarmos uma coletiva de imprensa.
Corbin solta um suspiro exasperado. — O silêncio admite a culpa.
— Você pode convocar a coletiva de imprensa para que as pessoas
saibam que eu planejo falar.
Ele verifica seu calendário. — Vamos marcá-lo para o dia 10 de abril.
Isso é em uma semana. — Em maio, — respondo. Eu preciso de tempo.
— Você não percebe, mas esses caras estão mantendo acordos de não
divulgação, e se eu reivindicar que sou heterossexual e eles mostrarem
isso a alguém, eu prejudicarei a mim mesmo. Então eu preciso de tempo
para resolver meus assuntos legais. — Eu não posso processá-los por
quebrar o acordo, não a menos que eu queira admitir que eu dormi com
eles. É complicado.
Corbin olha para Greg e meu sogro aceita essa conclusão em aberto.
Naomi fecha sua pasta e Corbin limpa a garganta, — Uma última
coisa… — Ele gira sua caneta entre dois dedos e depois aponta para o Lo.
— Precisamos esclarecer isso. — Ele faz um gesto para mim, depois de
volta para Lo.
— E o que é isso? — Lo cerra os dentes.
Corbin olha para as anotações. — Você foi filmado beijando-o no
México ano passado...
— Foi um desafio. — A voz de Lo está mais cortante que uma serra. —
Todo mundo sabe disso.
— Em março, durante o dia de São Patrício, você foi fotografado
beliscando a bunda dele...
— Ele é meu amigo.
— Durante Princesas da Filadélfia vocês dois costumavam fazer
comentários sobre 'boquetes' e 'masturbação' e 'gozando' um com o
outro, não com suas respectivas namoradas.
Lo se senta na beirada do sofá, apontando um dedo ameaçador para
Corbin. — E ninguém deu a mínima, então pare de tentar transformar
isso em um problema agora.
— Eu represento a grande maioria das pessoas fora dessa casa e elas já
começaram a analisar a amizade de vocês. Se não acabarmos com isso
logo, elas vão começar a alegar que você está dormindo com ele e que a
Lily, sua esposa, está na verdade com Ryke, seu irmão, que seu filho não é
realmente seu. Tudo o que estou tentando fazer é minimizar as
ramificações.
Lo olha para o chão, os olhos dançados como se dissessem por quê?
Como isso pode acontecer?
Isso aconteceu porque há um estigma que eu não posso me livrar.
— Minha sugestão, — diz Corbin, — é que vocês dois nunca se cruzem
em público. Não conversem. Não se toquem. Não mandem tweets um
para o outro. Nem sequer olhem na direção do outro. Provavelmente é
melhor se Connor fizer o mesmo com Ryke.
Meu estômago está inesperadamente em nós. Eu removo meu paletó,
desconfortavelmente quente de repente.
— As pessoas veem a amizade de vocês de forma diferente agora,
Loren, e você não quer que elas tenham a impressão errada.
De acordo com o assessor da família Calloway, eu não tenho permissão
para ter amigos homens heterossexuais. Nossas piadas não serão
mantidas nos mesmos padrões por mais tempo. Tudo o que eu disser a
Lo e Ryke será questionado. Você se sente atraído por eles? Você quer
dormir com eles?
Não.
Mas quem vai acreditar em mim agora?
Ryke passa as mãos pelos cabelos, desgrenhando os fios grossos. Ele
está tão irritado que ele sai da sala, batendo a porta da cozinha. Eu o
ouço dizer algo como nada mudou, porra. E mesmo assim, tudo mudou.
Daisy e Nutty, seu husky branco, correm atrás dele.
— Lo, — eu respiro.
Ele levanta a cabeça apenas para encontrar minha expressão e vejo o
quão avermelhados seus olhos estão. Eu o vi em seu ponto mais baixo da
vida. Eu o vi ficar sóbrio e assisti ele recair. Eu o carreguei, quase sem
vida, em meus braços. Ele me viu chorando depois do nascimento da
minha filha. Eu o vi sorrir depois do nascimento de seu filho. Passamos
por dois casamentos, cinco de seus aniversários, ainda mais feriados e
viagens ao redor do mundo.
Nunca há um momento de tédio na companhia de Loren Hale.
Alterar os limites da nossa amizade faz com que ela mude de forma e
eu não tenho certeza se ela será a mesma que foi.
— Você precisa fazer o que é melhor para você, — digo a Lo, tentando
facilitar para ele.
Sua mandíbula se flexiona, restringindo a emoção. — E ignorar você
todos os dias fora dessa casa é o melhor para mim? Fingir que você nem
existe? Agora não podemos dar carona um para o outro até o trabalho.
Não podemos pegar nossos filhos no jardim de infância ao mesmo tempo
ou almoçar no mesmo restaurante. Eu não posso te ligar. Eu não posso
enviar mensagens de texto para você. Eu não posso agir como se eu me
importasse com você - está tudo errado.
Eu tento encontrar palavras melhores para ele, — Lo...
— Você me ajudou por anos. — Suas sobrancelhas se franzem com
força. — Agora é hora de eu te ajudar e não vou agir como se você fosse
um leproso porque esse cara me disse para fazer isso. Você pode ficar
esquisito pra caralho quando você e a Rose começam as discussões de
vocês, mas você é meu melhor amigo esquisito. Isso não está mudando.
Antes que eu possa aceitar sua declaração, solas de sapatos batem ao
longo da madeira. Eu nem sequer ouvi a porta se fechar, mas Jonathan
Hale enfia as mãos nos bolsos, de pé atrás do meu sofá. Eu
imediatamente me levanto - a parte do como desse enorme vazamento
me batendo no rosto. Como esses três caras foram pressionados a
quebrarem seus acordos?
— Está mudando, Loren, — Jonathan diz. — Você protege sua esposa,
seu filho e sua empresa. Você não protege ele.
Existem apenas três pessoas que poderiam ter me fodido: Jonathan.
Theo.
Frederick.
Ouvindo o despeito na voz de Jonathan, eu apostaria tudo nele.
[ 37 ]
ROSE COBALT
As feições de Loren Hale poderiam matar, seu queixo um machado e seus
olhos, lâminas de aço. — Quando todo o maldito mundo pensou que você
havia me molestado eu não ignorei você, — ele diz a seu pai. — E
adivinha só? Eles ainda acreditam nisso e aqui está você e aqui estou eu.
— Nosso relacionamento não afeta a sua família, — Jonathan diz com
raiva. — Isso afeta. Não seja um fodido idiota, Loren.
Cerca de três pessoas, incluindo eu, preparam-se para interpor, mas Lo
fala primeiro. — Você não tem o direito de falar assim comigo - nunca
mais. — Ele se levanta do sofá e dá a Lily um único olhar que diz tire o
Moffy daqui. Ela acena uma vez antes de sair para a cozinha.
O auto respeito do Loren é uma coisa boa de se ver em meio à traição,
que começou com a lista de coisas a fazer para gerenciar a crise, seguida
por mentiras e humilhação, e agora termina com a chegada indesejada de
Jonathan. Eu não gosto de como Connor o estuda, cada um parado em
cada lado do sofá com posturas rígidas.
Há respostas que ninguém quer ouvir. Nós lidamos com a deslealdade
em uma escala maior e mais desagradável antes e essa pessoa foi banida
do nosso grupo.
A mãe do Ryke, Sara Hale, vazou o vício em sexo da Lily para a
imprensa. Eu mal posso imaginar alguém tentando repetir esse erro e o
dano que ela causou.
Jane se agita em meus braços e eu a levanto um pouco, descansando
sua cabeça no meu peito. Ela agarra meu colar de ouro.
— Eu estou ajudando você, — responde Jonathan, chamando minha
atenção para ele. — Se você não pode ver isso, então você precisa abrir o
seu… — Ele se encolhe com o olhar severo de Lo. Também estou
enviando um, mas não é efetivo já que Jonathan se concentra apenas em
seu filho.
Eu posso admitir isso: quando eu era mais nova, eu tinha medo desse
homem que entrou em nossa casa, trazendo consigo uma criança que me
irritou até o fim. Jonathan estava sempre refinado, vestido em ternos de
mil dólares, feitos sob medida, com uma bebida ainda mais cara na mão.
Ele tinha um comportamento tirânico que esmagava todos em seu
caminho.
Ele era o vilão nos clássicos filmes do James Bond, mas conforme eu fui
crescendo, vi seus defeitos, o ponto fraco da fera. Jonathan era tão
inseguro, tão torturado pela idéia de que seu filho descobriria suas
entranhas podres e depois o deixaria. Ele faria qualquer coisa para
manter Lo ao seu lado.
Ele ficaria sóbrio por ele.
Então, enquanto eu estava com medo de Jonathan há muitos anos
atrás, hoje ele parece mais humano, menos como um criminoso
bidimensional. Ele está mais frágil agora. Não apenas por causa da sua
idade, costeletas grisalhas e rugas dos lados olhos, mas também pelas
suas palavras que estão cheias de medo.
Loren cruza os braços. — Connor é meu melhor amigo, então você está
me dizendo que não ajudaria Greg se ele precisasse? — Ele aponta para
meu pai, que está ao lado de uma cadeira Queen Anne. — Ele é seu
melhor amigo.
— Se você fosse o custo, não. Eu deixaria Greg queimar.
Meu Deus.
Minha mão trêmula sobe aos meus lábios. Meu pai sempre foi o
apaziguador entre Jonathan e Connor. Se Jonathan machucasse meu
marido, isso significaria que ele estaria me machucando, a filha do seu
melhor amigo. O que ele está dizendo destrói a última armadura que nós
temos.
— O que você está fazendo, Jonathan? — Meu pai pergunta, seus dedos
agarrando o topo da cadeira da minha mãe.
— Lo está tomando conta da minha empresa agora. Estou tentando
orientá-lo e, em seguida, eu fico sabendo sobre esse, — ele aponta um
dedo na direção do Connor, — e o tipo de coisas que ele fez.
Connor finalmente fala. — Fez, no passado. Seu amplo uso de "coisas"
não ajuda a defender seu caso e como você não consegue se articular,
deixe-me ajudá-lo. Eu fiz sexo com homens e mulheres antes de começar
a namorar Rose. Eu espero que você pelo menos conheça a diferença
anatômica dos "homens", então não vou esclarecer isso para você.
Todos nós seguramos cada palavra precisamente construída e meu
pulso salta com cada respiração apertada que Connor libera entre elas.
— Agora isso pode ser difícil para você entender, — continua Connor,
sem perder o ritmo, — mas eu pessoalmente prático a monogamia. Eu
também acredito nas tradições do casamento, a promessa de ser fiel. Eu
percebo que esse termo não tem nenhum fundamento para você, já que
você traiu sua ex-esposa várias vezes, mas você não deve usar suas
experiências como peso contra mim. É ilógico, falível e francamente
irritante.
Jonathan abre a boca, mas Connor nunca lhe dá espaço para uma
interjeição.
— Ignorando sua pura ignorância, você sabe que eu sou
excepcionalmente leal a minha esposa, então com qual base eu tentaria
foder seu filho?
Jonathan tenta falar.
— Isso foi uma pergunta retórica, — Connor o interrompe. — Não há
fundamentos racionais para o que você fez. Então, quando você me
disser que entrou em contato com esses três caras do meu passado e os
pressionou a me assumirem, é melhor acreditar que foi a decisão mais
estúpida que você já poderia ter feito. Para dizer claramente, você
acabou de dar um tiro na sua fodida cara.
Eu fico ao lado do Connor, apoiando Jane no meu quadril. Meu cérebro
dispara sinapses que dizem, arranque os globos oculares do Jonathan,
corte ele em pedacinhos. Eu imagino um assassinato hediondo e
sangrento, mas minhas pernas viraram magmas congeladas, incapazes
de se mover até mesmo um passo em direção a ele.
— Je veux lui faire du mal, — eu sussurro para Connor, minha voz
tremendo de dor e raiva. Eu quero machucá-lo. Me assusta o quanto eu
quero machucar esse homem.
Connor desliza o braço em volta da minha cintura, seus lábios no meu
ouvido. — Isso não resolve nada, Rose. — Ele está tão calmo por fora e eu
não posso por um segundo acreditar que é o que sente por dentro. Seu
discurso era um de raiva, mesmo que suas palavras tivessem uma
entonação muito esparsa.
— Jonathan? — Meu pai repete, descrença em sua voz.
— Pai? — Lo franze a testa. — Me fala que você não fez nada...
Ele estreita os olhos para Connor, nunca movendo o olhar para
confrontar as pessoas que ele nunca quis machucar.
Minha mãe fica de pé de repente. — Jonathan, — ela repreende. — Nós
colocamos nosso pescoço na reta por você várias vezes e se você sabia de
alguma coisa sobre o marido de Rose, você tinha o dever de nos dizer
primeiro, não a imprensa.
Não estou surpreso com a lealdade da minha mãe. Ela pode ser um
monte de coisas, mas quando se trata de proteger o nome Calloway, ela
ocupa um lugar na primeira fila. Eu posso ser legalmente uma Cobalt,
mas para a mídia, sempre serei Rose Calloway.
Eu protetoramente mantenho a mão na cabeça de Jane enquanto ela
dorme. — Você sabe o que você fez? — Eu pergunto a ele.
Jonathan estende os braços. — Eu fiz o que eu senti que era certo. —
Ele olha para Lo. — Você não sabe do que seu amigo é capaz e se você
não ia se distanciar dele, eu tive que encontrar uma maneira de fazer isso
por você.
Sua admissão me faz cambalear para trás, mas Connor me segura mais
perto, sua mão se apertando como se ele precisasse de mim ao seu lado
tanto quanto eu preciso dele.
Culpa e dor quebram a expressão de Loren. — Não… — Lo balança a
cabeça.
Meu rosto aquece e meus olhos ardem e se estreitam em pontas
afiadas. Eu continuo querendo dizer: Se você vier atrás da minha família…
ou se você tentar machucar minha filha… ou se você destruir as pessoas
que eu amo…
Mas essas ameaças já expiraram.
Jonathan gesticula para Connor. — Você continua me encarando como
se pensasse que eu sou um idiota do caralho, mas você nem mesmo
impediu que isso acontecesse. — Seu tom está menos hostil, e seus olhos
piscam para Greg, vendo o rosto do meu pai machucado.
Jane acorda e solta um choro estridente. Eu a balanço um pouco e
acaricio sua cabeça. Eu dou uma rápida olhada para Loren, seu olhar
assombrado e colado no tapete. Eu ouço comoção na cozinha, junto com
os uivos de um cachorro e só posso imaginar que Daisy e Lily estão
tentando impedir Ryke de invadir a sala de estar.
Connor observa a porta com a mesma atenção que ele observa Loren,
com a mesma atenção que observa Jane e eu. Ele é aquele rio ocioso, mas
pela primeira vez, isso é sobre ele mais do que qualquer um. Tem que
estar o corroendo por dentro, mesmo que ele mal mostre isso.
— Eu trabalho dentro do campo da lei, — Connor diz a Jonathan. — Eu
não lanço ameaças contra o sustento de alguém ou sua família - então,
quando enfrento alguém que joga um jogo mais imoral do que eu, não
estou cego para o fato de que estou em desvantagem. Mas isso não
significa que eu não possa vencer.
Eu estreito meus olhos novamente para Jonathan. — Como você soube
com quem Connor esteve? — Até mesmo o pensamento de Frederick
entregando a Jonathan essa informação revira meu estômago.
Coconut uiva novamente, raspando a porta, igualmente descontente
com os eventos de hoje. Eu gosto dessa cachorra. Ela pode sentir o cheiro
podre da deslealdade. Da cozinha, eu ouço xingamentos: uma enxurrada
de porras misturado com calma e espera.
Jonathan coça a mandíbula, uma leve sombra da barba. — Eu tive um
tempo livre depois da minha cirurgia de transplante… — Ele olha para
Loren e depois para Greg novamente, as consequências o atingindo
melhor do que a minha raiva. Pelo menos ele está sentindo algo feio. — …
E liguei para a Faust. O internato me deu uma lista de todos que
estudaram lá junto com o Connor. Me custou cinquenta mil... — Acho
que ele agora percebeu que isso lhe custou mais do que dinheiro.
Loren esfrega os olhos, prestes a pedir licença enquanto se aproxima
da porta da cozinha.
— Você ligou para centenas de pessoas? — Connor pergunta. Ele teve
todo esse trabalho só para ver Lo e Connor separados?
— Eu tinha tempo em minhas mãos e você ficaria surpreso com
quantas pessoas cederam com uma oferta em dinheiro de seis dígitos. As
pessoas mijam em seus acordos de não divulgação assim que você diz
que vai cobrir a multa. Lembre-se disso, Lo…ren. — Suas palavras
vacilam com a visão de seu filho, que esfrega seus olhos avermelhados.
— Você é doente, — Poppy de repente diz. Eu me viro para a minha
irmã que fica quieta na maior parte do tempo, Sam ao lado dela. Ela está
boquiaberta de horror.
Jonathan toca o peito defensivamente. — Quando você está
protegendo seu filho, você faz praticamente qualquer coisa. — Ele olha
para mim. — Você vai ver. — Eu pressiono minha filha mais perto do
meu peito, seus choros no mínimo.
— Nenhum de nós faria isso, — declara Lo. — Nós nunca
consideraríamos isso nem por um segundo.
— Então você é fraco...
— Não, — Lo o interrompe, seu rosto se contorcendo de dor. — Eu
tenho vinte e cinco anos, pai. Eu não preciso que você segure minha mão
e me diga em quem confiar. Eu não preciso que você fale por mim ou me
degrade. Eu preciso que você me ame. — Sua voz falha. — E a coisa mais
triste... eu estou começando a pensar que você nem sabe o que é o amor
verdadeiro.
Jonathan reage como se uma bala estivesse passando devagar e
dolorosamente pelo seu cérebro. Como se ele tivesse se dado um tiro no
rosto.
Connor estava certo. Para surpresa de ninguém, ele diria.
Eu vejo Loren ir em direção à cozinha enquanto meu pai pergunta, —
Por que não me disse, Jonathan?
A garganta de Jonathan balança. Ele parece pequeno e indefeso agora.
Eu nunca vi Loren ter tanto poder sobre seu pai, não até hoje. — Connor
teria convencido você do contrário. — Jonathan diz a ele.
— Não porque eu sou manipulador, — diz Connor, — mas porque eu
estaria certo. É impossível reverter o que você fez.
Jonathan encolhe os ombros tensos. — Eu tive que tentar.
Meu sangue ainda ferve, meus braços tremendo. Preciso sair daqui
com o Loren e olho rapidamente para Connor para avisá-lo. Em vez de
acenar com a cabeça, ele diz a Jonathan, — Saia.
— Eu vou esperar pelo meu filho...
— Qual deles? — Connor pergunta. — Você está vendo aquela porta
que Lo está prestes a abrir? Do outro lado está um homem que deu parte
de seu fígado para o pai dele, na esperança de que ele se tornasse uma
pessoa gentil e melhor do que antes. Aquele homem também gosta de
usar os punhos em pessoas que o prejudicaram. E se você vai ficar aqui,
vai levar um soco na cara. Então vá embora.
As sobrancelhas de Jonathan franzem. — Você não quer me ver levar
um soco? — Estranhamente, ele parece que prefere ser socado do que ir
para casa sozinho.
Eu me encolho. Eu não quero ter pena dele. Eu quero odiá-lo. Eu
prefiro focar nas qualidades vilãs bidimensionais de Jonathan do que nas
partes que fazem dele um ser humano problemático. Isso faz com que o
meu ódio se sinta justificado, racional até.
— Eu nunca tive uma figura paterna, nem particularmente quero uma,
— Connor anuncia. — Mas eu estou ciente do que significa para um filho
bater em seu pai e eu não sinto prazer em ver isso. Então, se você é
inteligente, você iria embora.
— Eu não sei como você faz isso, — diz Jonathan, quase em voz baixa.
Ele na verdade se dirige para o hall de entrada.
Eu pergunto já que eu sei que Connor não vai, — Faz o que?
Seus olhos pousam no meu marido. — Você me faz sentir como se eu
tivesse perdido quando eu deveria ter ganhado, e faz parecer que você
ganhou quando na verdade perdeu.
Ele deve ter planejado dar uma volta da vitória ao redor da minha sala
de estar, pronto para levantar seus punhos no ar e sair com seu filho, sã e
salvo ao seu lado.
Agora ele está saindo com o rabo entre as pernas.
— Nós dois perdemos, — Connor admite e eu empalideço.
Ele nunca admite isso em voz alta, nem mesmo quando é verdade. Uma
lâmina fria percorre meu abdômen, a realidade me levando de volta para
uma tempestade.
Você não ama seu marido.
Você não ama sua filha.
É tudo um grande jogo. É tudo falso.
Falso, eu ofego.
Falso.
E quanto a nossa dor e fúria e tristeza? Isso é falso também?
[ 38 ]
CONNOR COBALT
Levamos alguns minutos para atravessar a barricada na cozinha que Lily
e Daisy fizeram, a mesa e as cadeiras empilhadas juntas para barrar Ryke
da sala de estar. Quando Lo e eu finalmente abrimos a porta, Ryke tenta
passar por nós. Eu agarro seu bíceps e o empurro mais para trás, para
onde Rose e Loren podem deslizar ao meu redor.
— Ele se foi, Ryke, — eu digo, tão calmamente quanto posso. Minha
garganta contrai com o resto dos meus músculos. É difícil para mim me
concentrar no futuro depois de hoje e ficar totalmente de pé. Nunca tive
esse problema antes. Para me enganar, apenas me preocupo com o
presente e deixo o amanhã fora da minha mente.
— Ele não foi embora, — Ryke rosna. — Eu o ouvi - estou ouvindo ele,
porra. — Ele me empurra para ir até a porta, mas eu agarro seus braços
novamente.
— Você está ouvindo Corbin, Samantha, Poppy e Sam. — Eu disse a
Naomi que ela poderia ir, então Greg saiu para falar com Jonathan,
provavelmente na calçada. Eu não digo a Ryke o quão perto o pai dele
está.
Infelizmente, Jonathan está ligado a quase todos nós, então quando ele
faz algo deplorável, quase todos são afetados. Theo tinha apenas um fio
fino amarrado a Loren e Rose pela Hale Co.
Se meu passado tivesse que ser exibido, Theo vingativamente me
assumindo seria melhor do que estamos enfrentamos agora.
— Ele realmente… — Ryke se esforça para falar. Na minha visão
periférica, eu noto Loren sussurrando para Lily perto micro-ondas, os
olhos dele cheios de lágrimas, Daisy rapidamente deixa sua husky sair
pela porta dos fundos, para o quintal cercado.
Eu não vejo Rose em lugar algum e eu nem tenho tempo para pensar
onde ela poderia estar porque meu celular toca no meu bolso. Minha
mente está embaçada ou girando para trás e para os lados.
— Connor, — Ryke rosna meu nome. — Eu tenho que saber se essa
porra é verdade. — Presumo que ele só ouviu fragmentos da nossa
discussão através da parede.
Eu descanso a mão em seu ombro, preocupado que ele possa tentar
passar por mim novamente e com a outra mão, eu pego meu celular. —
Sim, é verdade. — Antes que a culpa o atinja, eu acrescento, — E se você
se culpar por isso, você estará sendo dramático, meu amigo. As ações
dele não são suas, da mesma forma que as ações da sua mãe não são
suas.
Daisy rapidamente desliza entre nós, colocando as mãos no peito de
Ryke. Isso me permite soltar meu aperto nele. — Ei, — Daisy diz.
Ryke solta um suspiro tenso. Sem surpresa, ele relaxa mais na
companhia dela do que na minha.
Eu verifico meu celular.
Você está livre? Nós precisamos conversar. - Scott Van Wright Ele é a
última pessoa que eu quero ver, encerrando um dos piores dias que já
experienciei. Independentemente dos meus sentimentos pessoais, tenho
que encontrá-lo. Eu posso dizer que ele não confia em mim cem por
cento ainda. Nós não conversamos sobre nossa rivalidade durante o
reality show. Então, como ele poderia acreditar que sou verdadeiramente
seu amigo de repente? É uma conversa que tem que acontecer.
Eu me seguro no balcão, meu corpo em nós.
— Eu me sinto mal do estômago, — Ryke diz para Daisy.
— Eu posso pegar uma água ou um cupcake pra você.
Ele quase sorri. — Um cupcake do caralho?
Ela acena com a cabeça. — Nós temos cupcakes do caralho também. Eu
ouvi que eles podem curar todas as doenças.
— Isso é uma teoria, Calloway?
Ela sacode a cabeça. — Não, é apenas verdade.
Antes de mandar uma mensagem de volta para Scott, tenho que checar
minha esposa. — Onde está a Rose? — Pergunto a Daisy, seus braços em
volta da cintura de Ryke e os braços dele ao redor dos ombros dela.
— No banheiro. — Ela aponta para a porta ao lado da despensa.
Eu guardo meu celular no meu bolso e me apresso para encontrar
Rose.
Quando eu entro no minúsculo banheiro, eu vejo Rose vigorosamente
esfregando as mãos, a torneira ligada. Jane está sentada perto da
banheira, sacudindo uma pulseira.
— Rose… — Fecho a porta e deslizo para trás da minha esposa, mais
preocupado do que eu deixo transparecer.
— Eu troquei a fralda de Jane, — ela me diz, sua voz firme.
Normalmente ela consegue trocar a fralda da Jane, lavar as mãos uma vez
e acabar com o processo e não obcecar. O estresse de hoje jogou tudo
fora de sincronia.
— E há quanto tempo você está lavando as mãos?
— Elas ainda cheiram a lenços umedecidos. — Ela cheira a palma da
mão e se encolhe antes de adicionar mais sabão.
Eu estendo meus braços em ambos os lados do seu corpo e aperto
ambos os pulsos dela.
— Richard, — ela adverte.
— Olhe para as suas mãos, Rose.
Seus olhos estão vermelhos e quando eu olho para mim no espelho,
percebo que os meus também estão. Ela finalmente abaixa o olhar para
as palmas das mãos e a pele avermelhada, uma das unhas sangrando na
cutícula. Ela inala e recua com a visão, batendo contra o meu peito.
Eu pego uma pequena toalha e a viro para que ela fique de frente pra
mim. Então eu recolho as mãos dela e as envolvo na toalha para secar,
seus olhos verde-amarelados fixados nos meus azuis.
— Eu não percebi, — ela sussurra.
— Foi um longo dia, — eu digo. Estou pronto para ele acabar, mas
ainda não é possível.
Ela pode dizer que há mais. Eu vejo suas clavículas se projetando. —
Eu vou lidar com as redes sociais, — ela diz. — Isso tirará um pouco do
seu estresse e você poderá pensar no que quer dizer ou não na coletiva
de imprensa.
— Isso não é uma divisão igual de trabalho, querida. As redes sociais
devem ser divididas. — Eu esfrego meu polegar sobre o seu lábio
inferior, a verdade encravada na minha garganta. Eu tenho que ir ver o
Scott. Um momento mais longo passa - e ela espera pacientemente,
mesmo que seus olhos comecem a fazer buracos nos meus. — Eu tenho
que ir ver o Scott.
— O que? — Seu rosto cai e ela libera as mãos da toalha.
— Hoje.
Ela bate no meu polegar para tirá-lo do seu lábio. — Ele pode esperar.
— Não, ele não pode, Rose.
Ela olha uma vez para Jane, que está mais interessada em mexer na
pulseira do que em nós agora. — Você não precisa mais fazer isso,
Connor.
— Sim, eu preciso, — eu digo. — Quero ele completamente fora das
nossas vidas tanto quanto você e essa é a única maneira. — Faço uma
pausa, já ouvindo sua resposta na minha cabeça. Você não pode lidar com
isso. — O argumento que você quer usar não é bom o suficiente, então
nem fale nada.
Ela agarra minha camisa, fogo retornando ao seu olhar. Fico feliz em
ver mais disso, mesmo que por um momento. — Você não tem ideia do
que vou dizer.
— Você vai me dizer que eu não posso lidar com o Scott e com essa
tempestade de merda da mídia ao mesmo tempo.
Ela levanta o queixo. — Ou talvez seja apenas a sua consciência.
Ou talvez Frederick esteja na minha cabeça. Eu tenho ignorado suas
ligações durante todo o dia. Ele vai querer explorar meus "sentimentos"
que estão mais fortes que o normal.
— Emoções são apenas obstáculos, — digo a ela. — Elas não são
restrições a menos que eu as deixe ser. — Eu posso controlá-las um
pouco mais.
Ela parece assustada com a minha declaração, os nós dos dedos
branqueando, ainda segurando minha camisa.
— Rose, — murmuro, — n'ayez pas peur. — Não tenha medo. Eu a
puxo para mais perto, nossos corpos se curvando juntos. Ela teme que eu
vou esquecer quem eu sou, o homem que pode amar e simpatizar, mas eu
sei que ela vai me lembrar dessas coisas. Eu estou contando com isso.
Ela me surpreende beijando meu pescoço.
Eu sorrio para a sua tentativa, e levanto a cabeça dela e a beijo mais
agressivamente nos lábios. A força a prende na pia. Minha mente quase
abafa a dúzia de outras frequências e o ruído branco, deixando apenas
sua boca e seu calor.
Então a porta se abre.
Ryke entra no banheiro. Felizmente, Jane está sentada fora do caminho
dele, a presença abrupta de Ryke a distrai da pulseira.
Ele se ajoelha. E ele vomita.
Daisy é rápida em aparecer ao seu lado, esfregando as costas dele.
— Já de joelhos para mim, — eu digo, esperando que o gracejo
despreocupado diminua a tensão. Minha pele rasteja em uma realização
irritante. — Suponho que essa seja a última piada que posso fazer com
você. — Não é como se ele respondesse com algo mais do que um dedo
do meio e um vai se foder, mas sentirei falta disso mesmo assim.
Ele agarra o vaso sanitário, respirando mais pesado, mais irritado.
Antes que ele responda, Lo desliza para dentro do banheiro com Lily,
Moffy na curva do quadril dela. Ele fecha a porta atrás deles e eu o
examino da cabeça aos pés em busca de sinais de que ele está estável.
Ryke faz o mesmo do chão, mas ele é mais óbvio do que eu.
Na minha opinião, que deve ser mais confiável do que todos as outras,
ambos parecem igualmente angustiados: peles pálidas, olhos inchados e
músculos flexionados. Eles colocaram muitas emoções em seu pai para
aceitarem essa notícia bem.
— Eu estou bem, — Lo diz a seu irmão mais velho. — É você que
parece um merda.
Ryke mostra o dedo para ele e se move para uma posição sentada, com
o cotovelo no assento do vaso sanitário. Ele sussurra algo inaudível para
Daisy, que acena com a cabeça e sussurra de volta. É fácil discernir o que
acontece entre Lily e Loren, mas o outro casal é privado demais para
deduzir uma conversa fraca.
— Eu sei que é difícil falar sobre isso… — Lily é a primeira a falar com
todo mundo. Ela coloca Moffy no chão e o garotinho se aproxima de Jane,
se sentando ao lado dela. — Mas enquanto estamos todos juntos agora,
devemos conversar. Pode ajudar. — Ela acena com a cabeça,
provavelmente lembrando da sua própria experiência com o ataque da
mídia.
Lo a abraça ao seu lado. — Isso é uma boa ideia, amor.
Rose solidifica, meu braço em torno de sua cintura dura enquanto ela
se inclina contra a pia. — Connor e eu estamos cuidando disso, — diz ela
com firmeza. — Vocês quatro não precisam se preocupar com nada. —
Ela não quer sobrecarregar suas irmãs com um fardo mais pesado do
mesmo modo que eu não quero sobrecarregar Ryke e Lo.
Ryke respira pelo nariz e balança a cabeça algumas vezes. Mas ele fica
em silêncio.
— O que está sendo cuidado, exatamente? — Lo pergunta, sua voz
afiada.
Eu inclino minha cabeça. — Eu não liguei para minha assessora para
que ela pudesse me divertir por uma hora com conselhos inúteis.
Daisy descansa o queixo no ombro do Ryke. — Eu pensei que o
objetivo de estarmos nas redes sociais era sermos nós mesmos?
— E para esclarecer quando os tabloides espalharem mentiras sobre
nós, — acrescenta Lo.
— E apoiar uns aos outros, — Lily diz, a maior defensora do
relacionamento de Ryke e Daisy online.
Daisy sorri. — E sempre se divertir.
Rose cruza os braços. — Então, vamos nos divertir executando a lista
de tarefas da Naomi.
Lo se irrita. — Então é melhor eu te ver sorrindo quando você tuitar
coisas como 'meu anjinho dorme tão pacificamente quando eu canto uma
canção de ninar para ela. Hashtag, sou uma mentirosa do caralho'.
Rose está exausta demais para responder com a mesma intensidade.
Ela apoia a maior parte do seu peso corporal contra mim e apenas lhe dá
um olhar que diz pare de falar.
— Eu sei que é difícil para todos vocês aceitarem, — digo a eles, — mas
se não fizermos pelo menos um pequeno esforço, isso não vai acabar.
Não podemos simplesmente ser quem somos online se as pessoas
continuarão distorcendo nossos relacionamentos em algo… — frio, sem
amor e vazio. As palavras me atingem, mas não quero dizê-las em voz
alta.
— Por que isso não é mais difícil para você? — Lo me pergunta, seu
rosto se contorcendo com mais emoção. Ele gesticula para nós dois. —
Vocês estão apenas parados aí como se isso fosse um maldito buraco que
você pode dirigir por cima. — Essa é uma cratera sem rotas alternativas.
Estou ciente. — Eles estão degradando o seu casamento... e tudo o que
vocês dois são. — Talvez ele ache que deveríamos estar imobilizados no
chão.
Me lembro da Rose chorando mais cedo no armário, gritando em seu
casaco para que ninguém pudesse ouvir. Eu podia sentir sua dor crescer
e eu pude sentir a minha explodir. Eu deixei sair aquela hora, mas não se
foi. Está afundada em algum lugar para que eu possa ficar de pé, então eu
não me torne aleijado e pequeno.
— Eu não sei como lamentar, — digo a ele honestamente. — Talvez
essa ação não esteja em mim, mas lhe garanto, a dor está. — Eu nunca
vou ser totalmente expressivo com minhas emoções, mas o fato de eu
sentir alguma coisa é o que importa.
Suas sobrancelhas franzem, como se ele estivesse a detectando, e
então ele percebe a Rose esfregando as mãos, a pele seca e descascando.
Eu seguro a suas mãos nas minhas e ela para.
Lo acena algumas vezes para si mesmo. — Nós sabemos que vocês dois
se amam, então agora nós só temos que fazer o mundo inteiro perceber
que o amor de vocês é igual ao resto do nosso.
Não é possível. — Você não pode fazer as pessoas verem o amor. É
intangível. Elas podem ver carinho, as ações entre duas pessoas que
estão apaixonadas, mas as nossas são menos físicas e mais mentais. — O
plano de Naomi é o melhor, independentemente do quanto envergonhe a
maneira como nos amamos.
— Eu vi o amor de vocês, — diz Lily.
Rose franze a testa. — O que?
Os olhos de Lily sorriem antes dos lábios dela. — A primeira vez que vi
vocês juntos no meu apartamento com Lo. Parecia que vocês dois
estavam brigando, mas eu sempre acreditei que estavam flertando.
Eu posso sentir meu sorriso. Flertando - eu disse a Rose no dia de São
Patrício.
— E eu também senti muita... tensão sexual. — Ela fica vermelha. — Eu
não posso ser a única que pensou assim. Certo? — Ela se vira para Lo. Ele
estava lá naquele dia, há muito tempo atrás.
— Eu pensei que eles eram estranhos, — ele admite. — Mas em
retrospectiva, eu acho que sim, estavam flertando. — Ninguém é
convencido por ele, muito menos a Rose.
Ela solta uma respiração presa. — Nós vamos fazer o que Naomi diz.
A sala fica tensa e Ryke finalmente fala. — Eu odeio essa porra.
— Não tanto quanto as pessoas odeiam meus tweets, — Rose
resmunga.
Ryke lhe dá uma olhada. — Eles são engraçados pra caralho, Rose.
— Aparentemente eles são insensíveis.
— Eu tuitei mais merdas insensíveis e ninguém caiu em cima de mim,
— ele rebate.
As sobrancelhas de Lo se levantam. — Ele uma vez tuitou que quem
estava rezando por chuva novamente precisava calar a porra da boca.
Daisy sorri, toda a sala iluminando um grau extra. — E quem está
fazendo uma dança da chuva precisa sentar a porra da bunda.
Lo ri, mas desaparece no meio do estresse crescente.
Rose preenche o silêncio. — É um pequeno sacrifício.
— Eu não gosto quando temos que sacrificar quem somos… — Ryke
para de falar, seu olhar se movendo para os dois bebês próximos dele.
Jane até sorri para Ryke e balbucia uma série de ruídos que desejam ser
palavras.
Rose diz, — Eu nunca me esquivei de quem eu sou, mesmo quando as
pessoas me pediam para ser mais suave, mais quieta ou mais calorosa.
Eu permaneci eu mesma com orgulho. Mas eu estou disposta a ser a
pessoa que eles querem, pela Jane. — Ela se vira para mim e eu leio o
olhar em seus olhos que diz exatamente como você estaria disposto a
fazer aquele sacrifício.
Se eu mentir para o mundo e escolher um rótulo, ela não quer que eu
levante esse fardo sozinho.
Sua lealdade é admirável, mas sua fala bate em mim de uma nova
maneira, com uma nova realização.
Eu preferiria que Rose ensinasse Jane a nunca desistir e se acovardar, a
nunca parecer ser outra coisa, como eu sempre fiz.
Para ser real.
Ser ela mesma, amar cada parte de sua própria alma, não importa se é
o que outra pessoa deseja ou não.
Essa é a mulher que amo.
Eu não quero que ela seja nada menos que isso.
Eu abro minha boca para discutir, mas ela diz, — Deixe-me tentar. Se
Jane for importunada por seus colegas, quero pelo menos saber que fiz
algo para mudar o resultado.
— Você ensina a Jane a nunca ter medo de falar o que pensa, nunca ter
medo de falar a sua verdade, — sussurro para Rose. — Você dá a ela as
ferramentas para derrotar as palavras deles através da confiança e do
auto respeito.
— E você? — Ela me pergunta. — Não é justo que você tenha que
carregar isso… — Ela revira os olhos quando eles se enchem de lágrimas.
Eu limpo embaixo deles.
— Ainda não fiz uma escolha. — Não posso dizer a ela que estou me
inclinando para a opção que ajudará Jane. O falso eu. Eu vou soar como
um hipócrita, e talvez eu seja nesse momento. Eu preferiria muito mais
proteger o espírito de Rose, mesmo que isso signifique impedi-la de
proteger o meu.
— Eu vou apoiar vocês, não importa o que aconteça, — Lily de repente
nos diz.
Rose funga e Daisy dá um pedaço de papel higiênico para ela, e Rose os
passa sob os olhos.
— Eu também, — diz Daisy. — O que quer que você diga, eu vou
apoiar. — Ela me dá um sorriso, referindo-se sutilmente à minha escolha
e à coletiva de imprensa em maio.
— Eu tenho que te ignorar, — Lo diz. — Não tenho?
— Isso é com você, — digo a ele.
— Por quanto tempo? — Ele pergunta.
— Eu não sei. — É a verdade.
Ele balança a cabeça automaticamente. — Não. Eu não estou fazendo
isso. Eu não vou dar ao meu pai o que ele queria. Se eu der, ele vai
continuar fazendo essa merda uma e outra vez, e porra, se alguém
precisa aprender uma lição é ele.
Meus lábios se curvam para cima.
Ryke balança a cabeça em concordância, flexionando o maxilar. — Eu
dei a ele parte do meu fígado e é isso que ele faz? — Seus olhos distraídos
se levantam para mim, para entender, para qualquer coisa que torne isso
melhor.
Eu tenho mais conhecimento do que eles, mas isso não vai aliviar suas
dores. O que ninguém, a não ser Rose, pode saber e o que Jonathan pode
não entender completamente: ele reagiu hoje baseado no medo do
abandono. Ele pode dar razões como eu estou tentando impedir Connor de
seduzir meu filho o quanto ele quiser, mas é mais do que isso.
É sobre Jonathan se sentir como se eu tivesse tomado seu lugar na vida
do Lo. Por ajuda, por conexões, por dinheiro - Lo vem até mim. Quando
estou por perto, o Jonathan é desnecessário. Não há nada pior do que ser
inútil quando você gosta de ser útil.
Ele se sentiu inferior e impotente, provavelmente pela primeira vez na
vida.
Greg, seu melhor amigo, é bondoso e maleável. Eu sou calculista e
estoico.
Quando encontro homens como Jonathan, costumo recuar e tentar
parecer não tão ameaçador. Eu finjo porque eles não conseguem lidar
comigo como eu normalmente sou, mas eu nunca tive razão para fazer
isso com o pai do Lo. Ele não servia nenhum valor para mim. Eu não
precisei de nada dele. Eu não queria ele como uma conexão. Se
estivéssemos em conflito, achei que não faria diferença.
Eu não considerei Jonathan Hale como uma variável na minha vida. Ele
não era nada. E o nada que eu desconsiderei acabou sendo o algo que eu
deveria ter prestado mais atenção.
É por isso que isso aconteceu. Não há outra razão além disso.
Quando olho para Ryke, percebo que tenho a oportunidade de
esclarecer a situação, ou posso deixar como está. Eles podem continuar
acreditando que o pai deles é um intolerante e um idiota - ou posso
mostrar a eles que ele é totalmente imperfeito.
Eu não gosto do Jonathan. Eu o odeio, na verdade, mas tenho mais
pena dele - e talvez seja essa pena que venceu. Ou talvez seja porque eu
realmente não vejo sentido em vingança.
De qualquer maneira, eu começo a compartilhar meus pensamentos
que não vão livrar a dor que ele causou, mas pelo menos vai colocar para
descansar o vilão em seus olhos.
[ 39 ]
CONNOR COBALT
Eu casualmente fumo um charuto, inalando profundamente. Scott
observa a cor da fumaça que sai dos meus lábios: cinza translúcido e
transparente, em vez de uma pluma de branco.
Ele está constantemente se certificando de que eu não estou jogando
com ele. Lembro-me de seu comentário extremamente opinativo há um
mês: homens de verdade não seguram fumaça em suas bocas. E
infelizmente tenho que obedecer a isso.
— Você percebe que há dois cinegrafistas na varanda leste daquele
complexo de apartamentos. — Eu bato as cinzas em um cinzeiro e, em
seguida, tomo um gole do meu uísque para afogar o sabor do charuto.
Scott toma um grande gole de Bourbon, mal reconhecendo o complexo
de apartamentos com vista para Saturn Bridges, um bar da Filadélfia
inundado de pessoas desde que chegamos à uma da manhã. Ele também
escolheu ficar no terraço do bar, vasos de plantas que escondem
parcialmente nossa visão da rua.
Scott queria se encontrar em público, no mesmo dia em que a notícia se
espalhou sobre mim, me lembrando ainda mais que ele ama o dinheiro
apenas um grau acima da notoriedade.
Estou ciente de que este não é o melhor cenário para mim: Connor
Cobalt é visto sem sua esposa em um bar local no mesmo dia em que é
revelado que seu casamento é uma farsa! Rose planeja vir me buscar,
então o comentário "sem esposa" desaparecerá.
Não ajuda que o mundo acredite que Scott é o ex-namorado da Rose.
Eu não tenho certeza do que o público vai pensar sobre eu o
encontrando. Faria sentido se eles soubessem a verdade: ele era o
produtor de Princesas da Filadélfia.
— Estou seguro da minha sexualidade, — ele me lembra pela segunda
vez. Ele coloca o charuto entre os lábios e eu descanso meu antebraço no
corrimão de ferro, uma samambaia pinicando minha mão. — Então quem
foi que espalhou as mentiras? — Ele pergunta.
É por isso que ele me convidou para sair hoje. Curiosidade.
Ele também acredita que as acusações são totalmente infundadas. Ele
manipulou tantas coisas para o público que ele tem dificuldade em
acreditar na mídia.
Com outro gole, a bebida queima minha garganta. — Você planeja
apertar a mão da pessoa? — Eu pergunto com um sorriso crescente,
minha voz alegre, mesmo que não seja o que eu sinto.
Scott dá de ombros com um sorriso convencido. Vá em frente e sorria,
seu tolo. — Eu só não quero irritar quem você irritou. — Ele levanta seu
copo em um brinde a isso. Eu faço o mesmo e bebemos em uníssono.
Então ele lambe os lábios e acena com a cabeça. — Então... eu o conheço?
Eu deixo as brasas comerem meu charuto. — Não e acredite em mim,
você não quer ser arrastado para essa bagunça. — Confie em mim é uma
declaração que ele vai se apegar, vacilar, até que ele pergunte...
— Por que passar tempo comigo? — Ele passa os dedos pelos fios de
cabelo loiro escuro e liso, a dúvida em suas sobrancelhas franzidas. —
Por que tentar me ajudar a convencer seus amigos a fazerem parte de
uma segunda temporada?
Eu dou um trago no charuto novamente e sopro fumaça no ar, minha
postura mais parecida com a de Loren Hale - relaxado e apático - do que
como a minha: dominador e confiante demais. — Eu sinceramente pensei
que você estava interessado na Rose, — eu começo meu discurso em um
tom fácil. — Tipo - realmente interessado nela. Eu estava com ciúmes do
que você tinha que eu não tinha, do que você poderia oferecer a ela que
eu não podia. E houve um momento em que eu pensei que ela gostava de
você muito mais do que de mim, — uma mentira, obviamente.
Ele ostenta um sorriso intitulado, como se mulheres estivessem se
reunido ao seu lado e dado uvas na boca dele. — Eu poderia ter te falado
que ela queria me foder no primeiro dia. — Ele está tentando me irritar,
mas ele é o idiota com opiniões que não correspondem aos fatos.
Rose nunca quis transar com ele, nem por um momento.
Ele ri em seu próximo gole.
Eu sempre tento encontrar outra estrada antes de me colocar nessa
situação, mas preciso da confiança dele e não há outra pista para descer
voo. Não vejo outra maneira legal de alcançar meu objetivo do que essa.
Eu dou risada. — Se você tivesse me falado no primeiro dia, eu teria te
odiado um milhão de vezes mais. — É como se eu estivesse o lembrando
da nossa profunda aversão um do outro, exatamente o que eu quero.
Ele também dá risada e um tapinha no meu braço. — Eu também teria
me odiado.
Eu solto a fumaça novamente. — Olha, eu não tenho nada contra você.
Depois que eu percebi que você não tinha interesse em Rose, eu não dei a
mínima.
— Os vídeos de sexo...
— Gênio, — eu digo a ele, meus lábios se levantando em um sorriso
mais brilhante. Se você não tem nada real para dizer, então pra que falar?
Eu ouço a voz nervosa da Rose na minha mente. Tem que ser assim, penso
antes de prosseguir. — Esses vídeos me deram a exposição que eu
precisava para lucrar com uma corporação de diamantes. Você me
ajudou. — Essas palavras rasgam através de mim e eu sei que elas não
serão as piores. — Rose pode estar chateada, mas ela não importa. —
Isso é uma merda completa, Richard. Meu estômago torce de forma não
natural. — Eu tive que bater em você para que ela não fizesse uma birra
depois, falando ‘por que você não ficou do meu lado’, você sabe. — Eu
rolo meus olhos, como se tudo o que Rose fizesse me irritasse. Como se
eu me esforçasse para aturar ela todos os dias.
Como eu sei quem é o verdadeiro Connor Cobalt? ela pergunta. Você é
diferente em torno de certas pessoas.
Nunca deixe minha cabeça, eu penso. Eu preciso desses lembretes
constantes. Eu preciso sentir a culpa, o remorso, todo sentimento
humano que eu costumava abandonar. Quando eles saem, quando eu fico
oco e distante, eu perco tudo.
Os lábios de Scott se abrem em completa compreensão, como se eu
desse a ele a peça do quebra-cabeça que estava faltando para completá-
lo. — Então, se eu pedisse para você me ajudar a plantar as câmeras para
os vídeos...
— Eu teria ajudado você em um piscar de olhos, — eu digo. — Foi uma
ótima ideia. Porra, eu gostaria de ter pensado nisso primeiro. — Eu
cutuco o braço dele de brincadeira. Empurra-o da sacada, Richard.
Paciência, querida.
Ele ri. — Foi genial, não foi? — Ele termina sua bebida com um sorriso
de satisfação. — Se eu soubesse que você estava de boa com isso, eu teria
pedido para você colocar as câmeras lá. Levou cinco tentativas da minha
equipe para conectá-las no seu quarto quando vocês estavam fora.
Eu amasso a ponta do charuto no cinzeiro. — Tá falando sério?
— Foi puta difícil, — diz ele, — mas você tem a puta real, não é? — Ele
olha para o meu rosto, esperando que meus lábios caiam, mas eu apenas
sorrio novamente. A única coisa que me impede de quebrar o
personagem e publicamente humilhá-lo em frente às câmeras de celular
e clientes do bar é a ideia de arruiná-lo no final disso.
— Ela é complicada, — eu digo a ele e, em seguida, dou um tapa em seu
peito. — Falando nisso, ela está cogitando uma segunda temporada, mas
ela tem uma tonelada de exigências. — Ninguém pode mentir como eu.
Ele bufa baixinho. — Claro que ela tem.
— Vou enviá-las para você. — Eu verifico meu relógio. Ela deveria ter
chegado já... e então meu celular vibra.
Acabei de estacionar. Estou entrando para arrancar seu rosto com as
minhas unhas – o falso, não o que eu amo. – Rose Eu gosto quando
trabalhamos juntos, mas eu não quero que ela veja Scott ou vice-versa.
Eu aperto seu ombro em adeus, provocando flashes de câmera. Scott
quase ri deles.
— Eu tenho que ir, — eu digo, — mas obrigado por isso. — Eu abaixo a
bebida e coloco o copo em uma mesa no pátio de madeira.
— Sabia que você iria precisar disso. — Ele realmente aperta minha
mão – a primeira vez que ele ofereceu esse gesto. É um aperto de mão
mais amigável, me puxando para o peito dele. Ele dá um tapinha nas
minhas costas. — Mantenha-me informado sobre todos?
— Sim, definitivamente. — Eu tenho uma melhor leitura sobre ele do
que eu costumava ter. Ele tem esse olhar nervoso em seus olhos sempre
que saímos, com medo de que eu atire nele e acabe com o seu acordo
com a GBA. Eu tenho mais cartas na manga, e eu só preciso que o Scott
acredite que eu não irei machucá-lo.
Eu prevejo que ele vai me testar em breve. Um teste. Só para ver se
estou sendo sincero sobre tudo o que eu já disse a ele. Nos encontramos
todo fim de semana e tenho certeza que ele vai escolher uma frase que eu
disse a ele, uma palavra ou comentário, e tentar ver se eu me contradigo.
Se eu passar, ele vai me ver como um amigo de verdade.

***

Saio do bar usando a escada do lado de fora com meu guarda-costas,


contornando multidões de pessoas, alguns jornalistas que reconheço da
Celebrity Crush. Wendy Collins entre eles. Quando as solas dos meus
sapatos atingem a calçada, eu não posso passar pelos paparazzi. Apesar
de meu guarda-costas gritar avisos para se afastarem, seu braço esticado,
eles pressionam contra mim, empurrados mais perto por outros
cinegrafistas se tumultuando muito perto.
— Você já dormiu com homens, Connor?
— Você é gay?
— Você ama Rose?
— Quem é seu parceiro e Jane é considerada a filha dele também?
Eu fico em silêncio e procuro por Rose na entrada do bar, os
seguranças instruindo todos a permanecerem na fila e não me cercarem.
Disco um número e coloco meu celular no ouvido. — Onde você está?!
— Eu grito por cima do barulho e tento ir em frente.
— Estou presa no estacionamento - xô, se afasta. — A cacofonia do lado
dela está mais alta que a minha. — Me dê espaço ou vou enfiar meu salto
de dez centímetros na sua bunda.
Eu passo através dos cinegrafistas, incapaz de correr, mas eu os
empurro para o lado, não mais lentamente me arrastando. Alguns caem,
se afundando na calçada. Meu guarda-costas descansa uma mão no meu
ombro para acompanhar o meu ritmo, e quando eu tenho espaço
suficiente, eu corro em volta do prédio de tijolos para o estacionamento
lateral.
Assim que vejo o grande volume de câmeras e pessoas ao redor de
Rose, corro o mais rápido que posso em direção a ela, todos os outros
pensamentos insignificantes se desintegrando em meu cérebro.
Vic, seu guarda-costas, tenta acompanhá-la através das massas, e seu
outro guarda-costas, Heidi, que ela contratou depois que Jane nasceu,
flanqueia seu lado esquerdo.
— Rose! — Eu grito, alto o suficiente para ela ouvir sobre as multidões
de pessoas.
Ela vira a cabeça na minha direção, mas ela não consegue ver por cima
das câmeras. — Connor!
Estou a três metros dela, cerca de três pessoas me bloqueando. Eu
tenho que deixar meu guarda-costas para passar entre os corpos, os
questionamentos, os gritos aumentando dez vezes com a minha
presença.
— Rose, eu estou bem aqui! — Eu grito enquanto ela estica o pescoço.
Eu estico uma mão por cima do braço de alguém, tentando tocá-la.
— Seu casamento é falso?!
— Você está apaixonado?
Rose finalmente consegue apertar minha mão e ela me puxa para ela,
Heidi ajudando apertando meu pulso. Ambos puxam e eu passo pela
última fileira de câmeras.
Eu puxo Rose ao meu corpo e seguro seu rosto. O calor em seus olhos
esconde o pânico, mas seus braços me agarram com mais segurança, com
medo de que nos separem novamente.
Eu posso sentir meu coração bombeando vigorosamente no meu peito
e eu beijo sua testa, as câmeras piscando freneticamente de novo.
— Por que você não beijou a boca dela?! — Alguém grita.
Porque você dissecaria sua postura rígida e diria que era um golpe de
publicidade, como todo mundo já fez antes.
Eu sussurro no ouvido dela: — Ça va? — Você está bem?
— Apenas nervosa com aquele ali. — Ela aponta para um homem mais
velho com uma barba cheia. Ele levanta uma mão de sua câmera em sinal
de rendição quando encontro seu olhar. — Não se faça de inocente, — ela
estala, enfiando a bolsa debaixo do braço. — Todo mundo ouviu o que
você disse!
Os outros cinegrafistas se afastam dele, dissociando-se de seu
comportamento. Eu puxo Rose para mais perto do meu peito, sem saber
o que ele disse. Para ela ficar tão nervosa com um comentário, deve ter
sido pior do que todos os outros.
Ela respira fundo e os gritos dos paparazzi se intensificam ao nosso
redor. Eu abaixo minha cabeça até seus lábios para poder ouvir sua
resposta.
— Ele disse que o conselho tutelar deveria levar nossa filha embo...
Uma câmera quase se choca com sua cabeça, mas em vez disso atinge o
Escalade. Seus olhos piscam em alerta e eu a puxo para o lado do
motorista. — Precisamos sair, — digo a ela.
Ela concorda com a cabeça. — Heidi, — ela diz em voz alta. — Você
pode nos seguir com Vic e Stephen? — Meu guarda-costas já está no SUV
extra com Vic.
Antes de sair, Heidi grita, — Vamos tentar manter os paparazzi longe
de você!
Eu protetoramente fico atrás de Rose enquanto ela abre a porta do lado
do motorista. Eu espero ela deslizar para dentro. Lentes batem nas
minhas costas, paparazzi empurrando uns aos outros com pressa.
— Entre primeiro e passe para o outro lado, — ela me diz. Eu abro
minha boca para refutar, mas ela acrescenta, — Você estava bebendo.
Eu esqueci. Os últimos dez minutos pulverizaram qualquer álcool que
eu bebi. Eu coloco meus lábios no ouvido dela novamente. — Fique perto
de mim. — Eu me movo em torno dela, mantendo um braço em volta da
cintura pelo tempo que posso. Eu tenho que rastejar sobre o banco do
motorista e até o do passageiro, um feito muito mais difícil para alguém
da minha altura.
Eu consigo fazer isso bem o suficiente, mais rápido possível, e no
momento em que me sento, Rose já está em seu lugar, fechando a porta.
Ela liga a ignição e acende o farol.
— Eu espero que eu os cegue, — ela murmura.
Estico o braço sobre as costas do encosto de cabeça, observando os
paparazzi se dispersarem para os carros, alguns ainda parados e outros
colocando as lentes nas janelas laterais.
— Vá devagar, — eu digo a ela.
Ela sempre foi uma motorista agressiva e nessas situações, exige
alguém que esteja entre a linha de cuidadosa e assertiva.
— Eu acho que devemos atropelá-los. — Ela aperta a buzina, deixando
escapar um grunhido frustrado.
— Você falhou o curso de direção defensiva, eu presumo. — Meu braço
cai para os ombros dela.
Ela relaxa um pouco, mas sua voz continua firme. — Eu passei com uma
pontuação perfeita.
Eu mal posso acreditar nisso. Tenho certeza de que ela fez o curso.
Rose gosta de aulas de segurança e de aprendizado, mais do que
qualquer um que eu conheça, mas ela fica irritada quando as pessoas
fazem algo de errado nas ruas. — Foi um curso de passar ou falhar? —
Eu pergunto.
Ela me lança um olhar antes de se concentrar na rua, avançando para
frente até chegarmos ao meio-fio.
— Pelo seu silêncio, estou assumindo que sim.
— Passar é uma pontuação perfeita, — ela retruca.
Eu não posso esconder um sorriso. — Então, a porcentagem de pessoas
que têm pontuações perfeitas é alta e perde todos os direitos de se gabar.
Ela revira os olhos dramaticamente. — É uma vitória pessoal. Minhas
conquistas não precisam ser comparadas com a das outras pessoas.
As minhas geralmente são, percebo. Eu gosto de competições. Eu gosto
de ser o melhor. Eu sempre prosperei com isso, mas o que ela diz faz
senti.... — Pare, — digo de repente, e ela pisa no freio.
O sedã de um cinegrafista acabou de parar na nossa frente. O Escalade
se detém no meio-fio, logo antes de chegarmos à rua movimentada.
Rose bate no volante algumas vezes e rosna de novo.
Abro a janela e peço a um paparazzi com uma Canon para ajudar a
empurrar para trás alguns dos homens e mulheres que estão muito
perto. Ele obedece e limpa o caminho. Alguns paparazzi sabem que se
eles são gentis conosco, nós seremos gentis em troca.
O caminho se abre e Rose puxa para a rua, a SUV com nossos guarda-
costas nos seguindo. Sem o barulho extra, o carro se acalma, os únicos
sons são os dos veículos acelerando na rua.
Os dedos de Rose ficam tensos ao redor do volante, e isso me lembra de
onde eu estava, com quem eu estava conversando - tudo o que eu disse.
— Me diz que você pelo menos não usou a palavra cara? — Ela se
encolhe com o pensamento.
Meus lábios se levantam novamente. — Sem cara dessa vez.
Seus olhos voam para mim, suavizando um pouco para perguntar você
está bem? Ela não precisa dizer isso em voz alta.
— Você estava comigo essa noite. — Minha voz é quase um sussurro.
— Eu te disse para castrar Scott com uma faca cega?
— Nenhuma castração, mas danos corporais foram mencionados pelo
menos uma vez.
— Eu devo ter estado apenas parcialmente com você então. Eu sempre
encontro maneiras de cortar o pau dele. — Ela para em um sinal
vermelho e então cheira o ar, franzindo a testa. Ela cheira seu vestido, o
cheiro persistente de charutos está em mim... mas eu pressionei contra
Rose, então há uma pequena possibilidade de que o cheiro também
esteja nela.
— A luz está verde, — eu digo.
Ela dirige novamente, mas ela tenta se concentrar na rua e em mim,
estreitando os olhos com cada olhar para mim e cada fungada. — Você ...
você não... você fez. Richard!
Eu tento não rir. — Eu fiz muitas coisas. Você está certa.
— Tire sua camisa, — ela exige.
— Hummm, — eu finjo contemplação. — Não.
— Eu preciso sentir o cheiro da sua camisa, — ela reformula, acenando
com a mão teatralmente para eu abrir mão da minha camisa, seus olhos
verde-amarelados colados na rua.
— Isso é um novo fetiche, querida? — Meu sorriso se alarga com seu
olhar de raiva. — Eu posso pensar em algumas coisas que valem a pena
cheirar antes da minha camisa, — eu digo, minha mão deslizando na
nudez de seu pescoço. — Meu cabelo, meu...
— Meu carro está com o fedor do seu ego.
— Meu ego cheira a sucesso, então vá em frente e fumigue seu carro -
sei que você sentirá falta do perfume.
Ela bufa. — E qual é o cheiro do sucesso, Richard?
Eu me inclino para trás, minha mão acariciando seu pescoço e ombros.
Seu corpo se derrete contra o assento, e eu vejo seus joelhos se
apertarem juntos. — Como ternos recém passados, cintos de couro e
Oxfords, uma pitada de creme de barbear e ainda mais sândalo. — Eu
não ouso conter meu sorriso. — Você dorme comigo todas as noites,
Rose, eu espero que você saiba como é o meu cheiro.
E o pescoço dela aquece debaixo da minha palma. — O cheiro do
sucesso parece ser tendencioso para você.
Esse é um enigma que eu sei que ela já resolveu, mas afirmo em voz
alta mesmo que ela não consiga. — Eu sou sucesso, querida.
Ela vira a cabeça para olhar para mim, apenas uma vez. — Pelo menos
a sua arrogância ainda está intacta. — A seriedade de seu tom puxa um
lugar mais profundo dentro de mim.
Eu acaricio a parte de trás de sua cabeça. — Você me faz esquecer as
piores partes da vida.
Ela realmente sorri, focada na rua. — E qual é o termo para isso?
Eu penso por um momento. Uma pessoa que encobre os momentos
dolorosos, que conspira fazer momentos alegres. Que elimina todas as
tonalidades mundanas em favor de cores ardentes e te mantém vivo.
Existe uma palavra para essa pessoa rara na vida de alguém?
Eu acho que existe.
— Alma gêmea, — eu digo.
Seus lábios se separam em surpresa. — O que?
— Se você quiser outros termos, eu também os tenho: minha esposa,
minha concorrente às vezes, minha companheira de equipe sempre,
minha amiga, a mãe da minha filha...
— Rebobine, — ela acena para mim. — Para a parte da alma gêmea.
Eu sorrio. — Eu te amo, Rose.
Ela relaxa completamente, seus ombros inclinados para frente e
totalmente relaxados. Ela abre a boca, para me elogiar, eu acho, mas
então ela inala o ar com cheiro de charuto e seus olhos se estreitam mais
uma vez.
— Você pode tomar um banho comigo quando chegarmos em casa. —
Minha mão desliza pelo seu braço e até sua coxa. — Eu vou te lavar
debaixo do chuveiro, bem devagar... cada parte de você. — Eu mergulho
minha mão debaixo de seu vestido.
Ela aperta meu pulso, me impedindo de subir entre suas pernas. — Foi
um longo dia, — ela diz.
Eu franzo a testa. Foi e eu só quero passar o resto da noite emaranhado
com ela, a segurando...
— Então eu prefiro tomar um banho de banheira com você.
— Eu gosto desse plano. — Eu beijo a mão dela e a coloco de volta no
volante. Eu não tenho certeza do que vai acontecer a seguir, no futuro a
longo prazo ou o que eu posso escolher em maio, mas eu me lembro que
Rose mantém em segurança todos os meus pedaços reais.
Se eu me perder, eu só preciso encontrá-la.
— Rose! — Uma van corta nosso Escalade, evitando por pouco uma
colisão com nossos faróis. Em vez de pisar no freio, ela muda
rapidamente de faixa e passa pela van.
As janelas deles estão abaixadas, câmeras direcionadas para o nosso
carro.
— Eles vão nos matar. — diz Rose, fogo ardendo em seu olhar, mas o
pânico retorna aos seus ombros tensos, sua respiração pesada.
— Nós vamos conseguir sair dessa, — eu tento assegurá-la, embora a
realidade fria tome conta de mim.
Esse é o primeiro dia de uma tempestade de merda. Só vai piorar
daqui.
[ 40 ]
CONNOR COBALT

Flagra! Loren Hale e Connor Cobalt almoçam juntos. Isso significa que eles
estão declarando sua relação ao público? Talvez seja muito mais do que
platônico. Tudo o que sabemos é que LoCo é um casal QUENTE, mesmo que
estejam traindo suas esposas.
Lo levanta o celular na frente do meu rosto, me deixando ler a legenda
abaixo da foto de nós dois juntos em um restaurante comendo tacos e
agindo civilizadamente apenas dez minutos atrás.
— Está em toda maldita parte, — diz Lo, incrédulo. — Nós acabamos
de sair de lá. Essas pessoas não têm uma maldita vida?
Eu coloco meu tornozelo no meu outro joelho e sento reto na cadeira
de couro. Eu segui Lo de volta ao seu escritório para discutir alguns
contratos financeiros. Ele valoriza meu conselho, especialmente porque
ele sabe que os membros da diretoria não estão todos do lado dele. É por
isso que ele não pode simplesmente defender as ideias da Rose e
conquistá-los. Relacionamentos de negócios levam tempo para serem
construídos.
— Eu te disse que isso iria acontecer, — eu o lembro. Não há como
voltar atrás agora.
Seus olhos voam para mim. — E eu não me importo com isso. — Seu
celular vibra pela décima segunda vez desde que chegamos ao seu
escritório. Ele geme sob sua respiração. — Corbin continua me
mandando mensagens, me dizendo como eu fodi tudo. — Sua mandíbula
aguça e ele começa a escrever uma mensagem de volta. — Vai ver se eu to
na esquina. Enviado. — Ele aperta um botão e deixa o celular cair na
mesa de vidro, com os olhos homicidas. Ele está dando esse olhar para
qualquer pessoa que sequer olha na direção dele.
Quando seu olhar retorna para mim, dificilmente amolece, mas isso é
porque ele ficou no limite o dia todo.
— Eu não consigo acreditar que você nem sequer olhou para uma
única pessoa. — Ele balança a cabeça. — Nem mesmo quando eles te
chamaram de… — Ele não consegue repetir as palavras. Eu não tomei
uma decisão ainda. Eu não falei com a imprensa, menti ou contei a
verdade. Eu estou em silêncio, o que alguns acreditam que é
praticamente admitir as acusações. Estou bem em esperar pela coletiva
de imprensa para fazer um discurso. Preciso de tempo.
— Seus olhares são muito mais eficazes, querido, — digo a ele com um
sorriso.
Ele acena com a cabeça, devolvendo o sorriso, embora haja uma
camada tensa quando faço a piada. Nós dois sabemos o que está
causando o atrito externo.
Lo gira sua aliança de casamento, o gesto que diz que ele está
almejando álcool. — Por favor, me diga que você pelo menos gritou ou
chorou ou algo assim.
Eu me lembro de como eu me desfiz enquanto segurava Rose em meus
braços, mas eu não quero mencionar isso. Há uma grande parte de mim
que anseia a maneira como Lo olha para mim. Imortal. Impermeável. Um
deus entre os homens. Isso só foi alterado um punhado de vezes ao longo
dos anos e eu não quero adicionar hoje à contagem. Então eu mudo a
conversa, — Como a Lily está?
Ele balança a cabeça uma vez. Eu cutuquei em um ponto dolorido.
— Tão ruim assim?
Ele esfrega sua têmpora, ansiedade ferindo através dele. Estou
causando isso. Eu. Meu passado. O pensamento faz minha respiração
falhar por um segundo.
— Uh… merda. Ela não quer que eu fale sobre ela. — Ele bate os dedos
na mesa, obviamente querendo compartilhar. Tirar isso do peito.
— Eu não vou contar.
— Rose? — ele pergunta. — Porque ela provavelmente vai sentir a
necessidade de conversar com a Lily sobre isso e então eu estou fodido
por te contar.
— Eu prometo.
Seus ombros caem e ele para de torcer sua aliança de casamento. — Ela
está realmente chateada com o novo nome que os jornalistas criaram
para ela e Ryke. Celebrity Crush tem postado sobre isso em todos os
lugares. — Agora que há rumores de Lo e eu juntos, os rumores de Lily e
Ryke ressurgiram. — Ela disse que não está chateada com os rumores em
si. É só que ela estava promovendo essa porra de Raisy o ano passado
inteiro e agora eles vieram com isso de Rily. Ela disse que isso a deixa
doente.
Lo parece esmagado, o peso da dor de Lily está batendo nele. É esse
tipo de amor que mais me assusta. Sentir esse tanto de empatia é
incapacitante.
— Talvez tudo passe com tempo, — eu digo, deixando um fragmento
de esperança flutuar no mundo. Pode ser falso, mas eu escolho vê-lo
como real.
Seus olhos estão vermelhos e ele abaixa a cabeça para que as pessoas
no corredor não possam ver, seu escritório é composto na maior parte
apenas por paredes de vidro.
— Eu sinto muito, Lo, — eu digo a ele. Eu o machuquei, quer ele
acredite ou não. Se ele quer enterrá-lo com olhares mortais e eu não dou
a mínima. A dor que ele está passando é o resultado da minha história.
Ele sacode a cabeça. — Não é sua culpa. Se qualquer coisa, Lil e eu
deveríamos nos desculpar com você. Somos nós que começamos isso. —
Ele está falando sobre a fama. Tudo começou com Lily e Lo. Seus vícios e
as manchetes lascivas.
— É gentil da sua parte tomar crédito por isso, mas é desnecessário, —
digo a ele. — Estamos todos tão além do começo que a culpa não é de
ninguém para reivindicar.
Ele olha para mim por um longo momento antes de dizer, — Isso é
profundo pra caralho, amor.
— Eu já estive mais fundo.
A insinuação o faz rir. Seus olhos passam por mim até a porta. —
Falando de onde você esteve, — diz ele.
Eu sigo o seu olhar, virando a cabeça ligeiramente. Eu vejo Rose se
aproximando, uma pasta em sua mão. Ao lado dela está alguém que não
vejo há anos. Eu sei que Lo não está se referindo a Theo, já que ele não
sabe que eu dormi com o funcionário da Hale Co., mas a ironia não está
perdida em mim.

***

— Eu preciso lavar minha boca com sabão. — Rose toma o assento em


frente a mim. — As palavras que saíram dela foram desprezíveis. — Theo
continua de pé ao lado, segurando uma pasta e esperando Lo reconhecer
ele.
A concentração de Lo está em Rose. Suas sobrancelhas se juntam. —
Você não chamou ninguém de ogro, não é?
— Não na cara deles. — Ela alisa sua saia e coloca a pasta
cuidadosamente sobre a mesa de vidro. — Mas isso não é o que eu disse
que fez minha pele se arrepiar.
Eu pressiono meus dedos nos meus lábios, pensando e
simultaneamente mantendo um olho no meu ex no canto. Ele está quieto,
perceptivo, misturando-se às paredes como se ele fosse feito de vidro
transparente. Theo Balentine não mudou. Eu não precisava vê-lo para
saber disso.
Não foi ele que contou à imprensa sobre o meu passado. Só isso me diz
que ele ainda é o mesmo cara moral que eu conheci no internato.
Rose respira fundo antes de explicar. — Eu tive que dizer a diretoria
que eu amei os desenhos de macacos comendo bananas. — Ela me dá um
olhar e murmura eca. Eu sorrio. — E então havia aqueles com abelhas. —
Ela estreita os olhos para Loren como se ele tivesse infligido isso nela. —
A. Be. Lhas.
— Eu suponho que tudo correu bem então, — eu digo, conhecendo seu
truque.
— Eles me disseram que vão precisar de um tempo para repensar os
desenhos, — diz ela, com os lábios subindo. — Foi quando eu chamei um
deles de ogro.
Loren solta um suspiro irritado. — Ótimo. Simplesmente, ótimo. Sabe,
até eu posso segurar minha língua em uma sala de reuniões.
— Foi tudo proposital, Loren.
Lo foi informado sobre sua nova estratégia de fingir gostar de todas as
ideias dos membros da diretoria que ela na verdade odeia e toda vez que
ela concorda com eles, eles mudam de idéia. Ela está os guiando para
seus estilos e designs sem que eles percebam. Até agora, seu plano
parece ter funcionado para seu benefício.
Lo olha para Theo no canto. — Você tem os desenhos alternativos?
— Eu tenho… — Ele tosse em sua mão e empurra a pasta sobre a mesa.
Ele se aproxima de mim, seus olhos voando para a minha direção.
Lo olha entre nós. — Vocês dois se conhecem, certo?
— Do colégio interno, — eu digo calmamente. Nós dois encontramos os
olhares um do outro e eu aceno com a cabeça, não oferecendo um aperto
de mão, nunca me levantando. Eu não me importo o suficiente para fazer
isso.
Meu telefone vibra e eu o pego do meu bolso.
— Da Faust. — Theo acena, parecendo levemente desconfortável.
— Connor era tão divertido naquela época quanto ele é agora? — Diz
Lo com um meio sorriso, mais prazer nesse cenário do que eu estou
recebendo.
Quando foi sua última menstruação? - Frederick Eu quase rio. Meu
terapeuta está fora do jogo dele. Eu respondo: Deixe-me adivinhar, Cobalt
e Calloway estão muito perto em sua lista telefônica ou você apenas
conversa mais com a gente do que com seus outros contatos?
Eu olho para cima e Rose está me dando um olhar estranho, um olhar
que está meio contorcido de curiosidade e meio em confusão.
Eu murmuro, mais tarde.
Ela solta um pequeno bufo, muito mais impaciente por detalhes do que
eu, mas eu amo o jeito que ela cruza os tornozelos e os braços, os seios se
elevando com uma inspiração profunda.
Theo responde a Lo, — Era interessante. Toda vez que ele me pegava
fumando, ele me dizia que minha ambição estava sendo asfixiada.
— Eu não estava errado, — digo minhas primeiras palavras para ele
em anos. Eu olho para o meu celular quando ele vibra.
Ignore isso. - Frederick Eu ignoro sua mensagem já que eu o Theo está
franzindo a testa para mim e Lo solta um longo assovio com a minha
declaração, quebrando uma série de tensão.
Eu encontro o olhar ardente e irritado de Rose por um momento e ela
murmura, quem? Ela não está muito preocupada com Theo, apenas com
as minhas mensagens, já que estamos trabalhamos juntos para lidar com
essa bagunça com a mídia.
Estou mais preocupado com o seu TOC, por isso lhe entrego o meu
celular.
Ela lê rapidamente e o devolve, os ombros relaxados, provavelmente
agradecida por não ser Scott. Seus olhos encontram os meus novamente
e eles ainda possuem aquele fogo.
Lembro-me da vez em que perguntei o que ela achava do Theo. E ela o
chamou de "um peixe em nosso oceano" - nosso oceano. Eu amo Rose, e é
fácil para mim ser amigável com o Theo quando ele se senta tão longe no
meu passado, um passado que eu não nutro igual todo mundo.
Eu deixo as pessoas irem o tempo todo e foi ele quem escolheu ficar à
deriva enquanto eu nadei para a costa. Eu não me importo o suficiente
para nadar atrás dele. Eu não faria isso. Eu não vou. Mas eu sinceramente
agradeço sua moralidade. É um dos valores que eu admiro, mas sei que
nem sempre possuo.
— Ainda tenho ambição. Você não vê onde eu estou? — Theo diz,
puxando meu olhar da minha esposa. Rose dificilmente parece se
importar. Nós temos tanta confiança em nosso relacionamento que seria
quase impossível que uma pessoa se colocasse entre nós e causasse
dúvidas e atritos em nosso casamento.
Você não vê onde eu estou? Seus olhos cinzentos repetem a declaração.
Ele está em uma empresa da Fortune 500. Ele está em um emprego
com salários mais altos do que a maioria da Faust. Ele está subindo até o
topo.
— Não é o que você queria, — digo a ele. Ele sonhava em escrever
poesia, viver da terra com necessidades básicas da vida. Ele sonhava em
jogar os braços no ar, seminu em uma floresta, onde comungaria com a
natureza e aprenderia grandes e intocados significados.
Agora ele está de terno, na cidade, preso dentro de um arranha-céu
onde a poesia tem pouco uso, exceto em sua própria mente.
— Os sonhos mudam, — diz Theo, e posso ver que ele aceitou essa
nova vida agora. Talvez seja o que ele quer.
Os sonhos mudam.
Eu acho que há uma boa chance em que vemos nosso caminho divergir
e seguimos de bom grado a nova estrada. E depois há uma mudança
forçada onde os detritos nos barra no meio do nosso caminho e estamos
procurando desesperadamente por um caminho de volta ao nosso
destino planejado.
O sonho que sempre desejei - cultivar uma família com Rose - está
sendo forçado a mudar.
E não consigo ver nenhum caminho em torno dos detritos.
[ 41 ]
ROSE COBALT
Jane chora, focada nos corpos se espremendo contra as janelas da
limusine do Connor. Eu quero massacrar cada pessoa que está fazendo
ela chorar assim. Não sei se já estacionamos em frente ao prédio do
pediatra, mas estou ansiosa para chegar ao nosso destino e levar Jane a
sua consulta regular na hora marcada.
Seu primeiro aniversário é em junho. Eu gostaria de pensar que isso vai
acabar até lá, mas é provável que seja só um desejo da minha parte.
Eu seguro Jane no meu colo, enxugando as suas lágrimas rapidamente.
— Mamãe vai chutar qualquer um que te tocar.
— E o papai vai tirar a mamãe da cadeia, — diz Connor, colocando
minúsculos tampões de ouvido azuis na palma da minha mão.
Eu dou a ele uma olhada. — Mamãe terá todo o direito de assassinar
qualquer criatura desprezível que fizer mal ao bebê dele.
Ele acaricia minha bochecha com os dedos, a pressão como eu gosto. —
Nada vai acontecer com o nosso bebê.
Ele está me acalmando. Connor não pode prever o futuro. Ele sabe
disso e há uma probabilidade razoável de que algo possa dar errado.
— Tudo pode acontecer, — digo a ele. Quase me pergunto se
deveríamos voltar e remarcar a consulta. Nós tentamos despistar os
paparazzi, mas eles têm acampado do lado de fora do nosso bairro
fechado pela última semana, esperando sairmos de carro. Nossos
vizinhos já reclamaram e Connor acha que outra casa estará à venda até
o final do mês.
É muito provável que a presença da mídia possa aumentar até o início
de maio, por isso é difícil voltar para casa, sabendo que amanhã e na
próxima semana e na semana depois, isso pode piorar ou continuar a
mesma coisa.
— Eu não vou sair do seu lado, — Connor me lembra. Nós formamos
um plano para atravessar os paparazzi sem Jane ser prejudicada ou até
mesmo respirarem em cima dela de forma errada.
Concordo com a cabeça, absorvendo sua confiança, e encaixo os
plugues macios nos ouvidos da Jane.
Gilligan, o motorista de Connor, estica o pescoço por cima do ombro. —
Chegamos. — Eu quase não notei a limusine parando já que mal
aceleramos.
— Onde está Heidi? — Pergunto a Connor.
Ele está com o celular ligado, mandando mensagens com as instruções
para os nossos guarda-costas. — Todos os três acabaram de estacionar
ao nosso lado.
Eu olho para fora de sua janela, uma lente da câmera literalmente
pressionada contra o vidro. — Eu não os vejo. — E assim que eu digo as
palavras, nossos guarda-costas afastam os paparazzi, abrindo espaço do
lado da porta do Connor.
Eu ajeito Jane no meu quadril, seus choros aumentando agora que eu
coloquei um objeto estranho em seu ouvido. Lá fora está muito alto e
cáustico para removê-los. — Shh, — eu sussurro. — Seja corajosa, minha
pequena gremlin e eu prometo que todos vão embora. — Suas lágrimas
sinceramente fazem um número em mim, meu peito se contorcendo. Eu
coloco uma manta de lã sobre uma parte do meu ombro e sua cabeça, o
tempo todo esfregando suas costas.
Ela se acalma só um pouco.
Eu solto um suspiro tenso. Eu nunca acreditei que um bebê pudesse
provocar esse tipo de emoção de mim, mas transformo seu medo em
motivação, preparada para ignorar todas as lentes e pessoas que estão
em nosso caminho.
Você é um fodido furacão de categoria cinco, Rose. Todos devem temer
sua destruição.
Isso mesmo, porra.
Connor aperta minha mão livre, enfiando seus dedos nos meus. —
Pronta?
Eu levanto meu queixo e aceno com a cabeça.
Ele abre a porta, os flashes explodindo. Os ruídos e as luzes brilhantes
me cegam por um milésimo de segundo, quase me empurrando para trás.
Eu nunca vi nada assim na minha vida, nem mesmo quando a mídia
começou a se interessar pela minha família.
Eu me oriento ao mesmo tempo que Connor desliza para fora. Eu
desligo ao longo do banco, sua mão nunca deixando a minha, e saio com
ele.
— O casamento de vocês é falso?!
— Você sabia que o Connor esteve com homens?
— Os vídeos de sexo são reais?!
Connor aperta minha mão e eu não consigo fechar a porta atrás de
mim. Vic cuida disso, ficando para trás enquanto Heidi e Stephen
avançam. — Deem espaço para eles! — Nossos guarda-costas continuam
gritando por nós.
Eu me aproximo das costas do Connor enquanto ele me guia para a
frente, Jane protegida entre meu peito e seu corpo de quase dois metros
de altura.
Eu gostaria de lançar olhares ameaçadores em todas as direções, mais
territorial sobre o meu bebê do que eu já estive antes, mas toda vez que
eu olho para o lado, flashes explodem e luzes brancas piscam na minha
visão.
Então eu abaixo minha cabeça e me concentro em Jane. O prédio de
tijolos da pediatria não tão longe.
— De quem foi a ideia do negócio?
— Connor, você tem um namorado?
— Você deveria ter vergonha!
Eu quase vacilo com essa última exclamação. Eu já ouvi isso antes, mas
é um soco mais forte do que os outros. Isso desperta partes de mim que
querem gritar em resposta, lutar verbalmente até eu perder a minha voz.
— Uma criança precisa de amor! Uma criança precisa de amor! — Mais
do que algumas pessoas gritam. Não são paparazzi, mas sim haters que
gostam de nos importunar.
Eu cerro meus dentes. Há alguns dias do lado de fora da Hale Co., eu já
gritei uma vez: quem são vocês para saberem se eu amo ou não minha
filha? Vocês não me conhecem! Eu fui chamada de "cruel, megera e
beligerante" por simplesmente me defender. Eu gritaria que eu amo Jane
até que eu ficasse com o rosto azul, mas ninguém quer minhas palavras.
É a batalha mais frustrante e enfurecedora da qual eu já fiz parte. Meu
instinto natural sempre será falar mais alto se eles me disserem para
calar a boca.
Corpos se pressionam contra mim. Aperto Jane com mais força no peito
e sinto seu coração pulsar em rápida sucessão.
Eu não vou deixar nada acontecer com você. Eu não vou.
E então alguma coisa se prende em um pedaço do meu cabelo com
força e dolorosamente. Eu não sei dizer o que é: uma joia ou
equipamento de câmera ou zíper de uma jaqueta... algo que eu detesto
agora.
Eu dou um passo à frente e não consigo me soltar. Ele me puxa para
trás e eu cambaleio em meus saltos.
Imediatamente, eu solto a mão do Connor, com medo de que, se eu cair
enquanto o seguro, ele tombe para trás e esmague a Jane. — Me deem
espaço! — Eu grito para todos ao meu redor.
— Rose! — Connor grita. Duas pessoas já se colocaram entre nós e
somos separados. — ROSE! — Ele luta para me alcançar enquanto eu
luto para libertar meu cabelo com uma mão. Não consigo me soltar e
estou perto de ser arrastada para trás e puxada para o cimento.
Eu faço uma decisão em uma fração de segundo.
Eu não posso cair, não com Jane em meus braços, não nas multidões de
pessoas com câmeras pesadas, então eu inalo fortemente, ambos os
braços em volta da minha bebê, e eu avanço com um puxão agressivo. A
dor queima meu couro cabeludo e faz meus olhos se encherem de
lágrimas.
Mas eu estou livre.
Connor me alcança, seu braço enroscando rapidamente em torno da
minha cintura. Ele me leva mais rápido para o prédio. Eu não olho para
trás para ver o pedaço de cabelo que deixei para trás. Eu só penso no que
poderia ter acontecido, uma pilha de pessoas, sufocando Jane.
Isso não aconteceu.
Eu ainda tremo com se tivesse acontecido. Então me acalmo e percebo
que estou dentro do corredor do prédio de consultórios, com os
paparazzi do lado de fora.
— Rose, — Connor força meu nome, batendo levemente na minha
bochecha até que eu me concentre nele. — Você está em choque… — Ele
segura minha nuca, protetoramente e no controle, fazendo o caos
parecer administrável - como se não fosse derrubar a gente, mesmo que
quase tenha derrubado.
— Não… — Eu digo, embora eu saiba que estou. — ...como ela está? —
Eu verifico Jane sob seu cobertor e ela não está mais chorando, seu rosto
pressionado no meu peito em contentamento. Ela estuda o formato de
um gato malhado laranja impresso em seu cobertor.
— Onde você estava? — Connor grita para Vic sem me soltar. — Você
deveria ficar atrás dela.
— Eu fiquei preso na multidão.
O músculo da mandíbula de Connor se contrai visivelmente. — Antes
de sairmos, você já precisa ter um caminho limpo para nós, eu vou
contratar mais seguranças para ajudar você, já que não consegue
gerenciar isso sozinho.
Ele acena com a cabeça e pede desculpas para nós dois.
Com isso, eu acordo. Todo mundo está seguro. É isso que importa.
— Vamos, Connor, — digo a ele, e sua mão cai no meu ombro,
parcialmente me guiando para o consultório do pediatra. Meus passos
ainda parecem um pouco confusos, mas assim que entramos na sala de
espera vazia, eu me separo dele e sento em uma cadeira perto de uma
pilha de revistas, cruzando meus tornozelos.
Eu me sinto mais seguro agora que estamos aqui. Connor vai registrar
Jane na recepção.
Minha cabeça lateja e queima. Uma rajada de ar frio sopra através do
ar-condicionado e pica minha ferida. Eu ignoro a dor e sento Jane em
minhas coxas, enrolando o cobertor em volta dela. Ela imediatamente
puxa meu colar... e depois, claro, meu cabelo.
Eu estremeço. — Não, não toque no cabelo da mamãe. — Eu retiro seus
dedos dos fios e tiro seu leão de pelúcia da minha bolsa. Meu cérebro
está um pouco embaçado, mal acreditando que minha frágil e delicada
criança passou por aquele inferno. Eu não posso e não vou a trancar em
uma torre e a removerei da sociedade, só porque as pessoas não podem
se comportar adequadamente.
Tem que haver limites... porque isso é demais para qualquer criança
viver.
— Leão… — ela diz claramente, o resto de suas palavras ininteligíveis e
acompanhadas de baba. Limpo a sua boca com o canto do cobertor.
Meus olhos ardem. — Eu espero que você nunca questione o quanto eu
te amo, Jane.
Ela pisca para mim e então sorri, respondendo com uma variedade de
ruídos que eu aceito como sempre amarei você, mamãe. Mesmo que esse
não seja o caso - eu realmente não me importo. É o que eu acredito que é.
E nesse momento, acredito que ela nunca duvidará do meu amor.
Quando olho para cima, percebo a recepcionista passando um item
para Connor e os lábios dele formam um obrigado antes de voltar para
mim.
— O médico está pronto? — Pergunto. Estamos atrasados, mas não
muito.
— Eles disseram que em cinco minutos e a enfermeira vai pesá-la. —
Ele se senta ao meu lado, um olhar estranho em seus olhos. — Vire sua
cabeça para mim, querida.
— O que você está sentindo? — Eu pergunto, assim que me viro para
enfrentá-lo.
Ele gentilmente escova meu cabelo para trás e mexe na minha bolsa,
tirando um amarrador, colocando meu cabelo em um rabo de cavalo
baixo. — Preocupação, — diz ele.
Deve estar em outro nível de existência então, tão abundante que
escurece seus olhos azuis. — Eu fiz o que tinha que fazer, — digo a ele.
Eu me concentro em uma fila de cadeiras tortas próxima à parede atrás
do Connor, uma televisão montada no canto. De oito cadeiras, três estão
muito à frente, duas inclinadas demais para a esquerda - é irritante.
Ninguém consegue arrumar essas cadeiras?
— Rose, olhe para mim, — diz Connor.
— Essa sala de espera está uma bagunça. — Eu viro minha cabeça para
encontrar uma cadeira infantil virada de lado. Eu coço para me levantar,
e quanto mais tempo fica em desordem, mais minhas costelas apertam
meus pulmões.
Connor aperta meu queixo, forçando meu olhar de volta para o dele, e a
severidade em suas feições me tira o fôlego. — Concentre-se em mim,
por favor, — ele força as palavras. — Você está no controle comigo. Você
está na sala mais arrumada em que você já esteve, com o homem mais
inteligente que você já viu e não há nada que não possamos fazer. Repita.
Eu bufo e solto uma respiração profunda ao mesmo tempo. — Você
quer que eu repita isso em sua totalidade, apenas para acariciar seu ego.
— Porém, eu foco na primeira frase. Você está no controle comigo.
Eu exalo outro suspiro curto. Quando meus olhos se voltam para os
dele, espero que ele sorria, brinque também, mas ele não está fazendo
nenhuma dessas coisas.
Percebo a gaze branca na sua mão, o item misterioso que a
recepcionista lhe deu. Ele cobre um lado do meu rosto, me segurando no
lugar.
Você está no controle comigo.
— Você pode se aproximar? — Eu realmente pergunto. Eu relaxo mais
quando sinto sua presença estoica e inflexível, entrando em contato com
a minha. Ele se move tanto quanto os braços das cadeiras permitem, sua
outra mão no meu pescoço por um segundo ou dois enquanto eu agarro
Jane.
Eu inalo a calma de Connor, a quietude da sala e não olho em volta
dessa vez. Eu apenas me concentro nele.
— Vou aplicar pressão na sua têmpora, — ele diz suavemente. —
Apenas continue respirando fundo. — Com isso, ele pressiona a gaze na
pele crua e eu inalo bruscamente.
Meu Deus. Essa porra dói.
Eu seguro Jane com um braço e aperto o bíceps do Connor com o outro.
Ele verifica sob a gaze, e sob sua fortaleza, vejo o vislumbre de uma
reação dolorosa, linhas vincando sua testa.
— Está sangrando? — Eu questiono. Ele não teria essa reação a menos
que houvesse sangue. — Deixe-me ver. — Ele pega minha bolsa. Ele é
literalmente o único homem que vou deixar mexer nela e não demora
muito para ele encontrar meu espelho compacto, segurando-o para mim.
Lentamente, eu inspeciono o dano. O sangue já penetra na gaze. Connor
a remove gradualmente. Bem perto da linha do meu couro cabeludo, um
pedaço do tamanho de dois-quartos está faltando, deixando apenas uma
bagunça avermelhada e escalpelada. E por mais horrível que pareça e
seja qual for o tempo que vai ser necessário para curar, sei que eu faria
tudo de novo.
Connor me observa com cuidado, provavelmente preocupado que eu
vou perder o sono por causa do meu cabelo, algo que sempre cuidei
como um filho, mas não é meu filho. É apenas um bloco de construção
que cria minha vida organizada e mesmo que pareça que tirar um do
lugar derrube a torre inteira, tenho que continuar me lembrando de que
eu estou no controle.
Isso não destrói tudo. O importante é que ela está segura.
Você está no controle comigo.
— Cabelo cresce de novo, — digo a ele.
Connor acena com a cabeça. — E você pode pentear seu cabelo para
cobrir se precisar. — O pensamento deveria me confortar, mas eu
percebo algo...
— Não, — eu falo quando ele fecha o espelho. — Todo mundo precisa
ver isso, então talvez eles parem de colocar Jane em perigo.
Ele beija minha testa e murmura em francês, inaudível demais para o
meu cérebro traduzir. Ele beija a cabeça de Jane em seguida e ela sorri,
em paz na silenciosa sala de espera.
Connor devolve a gaze a minha cabeça, cuidando do meu ferimento de
guerra. Eu quero diminuir a tensão que se acumula entre nós. Eu gostaria
de viajar em direção a um lugar onde ele sorri arrogantemente e eu
reviro os olhos, tentando desesperadamente reprimir um sorriso.
Levanto um pouco o queixo, mostrando-lhe que estou melhor e
pergunto, — Qual cientista do século dezesseis costumava dizer que
'parou o sol e moveu a Terra?' Você tem trinta segundos, mesmas
apostas. — Terei que ignorá-lo por vinte e quatro horas se ele responder
incorretamente.
Porém eu sei que ele sabe a resposta.
Ele remove a gaze novamente, quase toda vermelha e meu estômago
revira. Ele a dobra para encontrar um espaço em branco (não há
nenhum), mas ele a pressiona de volta mesmo assim. Eu vejo raiva,
frustração, mágoa em seus olhos - um redemoinho de emoções que ele
raramente expressa tão externamente.
— Richard, — eu digo, querendo que ele não se preocupe e se
concentre no meu teste. — Dez segundos.
— Galileo, — ele responde... incorretamente.
Minha boca cai. — O quê? — Ele sabia a resposta. Eu sei que ele sabe.
Eu não teria tentado enganá-lo, não agora.
Seus olhos se apertam em um encolhimento. — Copérnico. — Ele
aperta a ponte do nariz e balança a cabeça uma vez. — Eu não estava
pensando.
— Claramente, — eu murmuro. Espera... eu não posso falar com ele
agora? Eu posso? Eu mordo o interior das minhas bochechas. — Talvez
possa haver uma estipulação ou exceção para... eventos avassaladores. —
Eu faço uma careta e olho para o teto, mesmo quando as palavras saem
dos meus lábios.
Uma vez que fazemos uma exceção tão grande quanto você não perde
quando você deveria perder, nenhuma de nossas apostas tem o mesmo
peso. Os jogos não são levados tão a sério.
Suas sobrancelhas se levantam. — Você sabe que não podemos. O que é
uma alteração realista: você começar a me ignorar quando estivermos na
limusine de novo, a caminho de casa, em segurança.
Concordo com a cabeça e meus lábios se levantam com um
pensamento. — Você está preparado para ser ignorado por mim? — Eu
já fiz isso antes, quando brigamos sobre filosofia ou teorias científicas e
isso o deixa louco. Quase nada deixa Connor irritado, mas eu não falando
com ele sempre o deixa.
— É o meu tipo de tortura menos favorito.
— Você tem um tipo de tortura favorito? — Eu questiono.
Ele sorri. — Você vai ser capaz de me ignorar, querida?
Lhe atiro um olhar. — Por favor, eu já ignoro metade das coisas que
você diz. — Eu não estou sendo completamente sincera. Eu presto
atenção em quase todas as palavras que ele fala, a menos que eu cubra
sua boca com a mão e evite que elas saiam.
— Tantas mentiras, — ele me diz, seus lábios continuam a se curvar
para cima. — Você está esquecendo o quanto falamos e conversamos um
com o outro em um período de vinte e quatro horas.
Estou?
— Mesmo quando você alegou que estávamos separados na faculdade,
ainda conversávamos por ligações, — ele me lembra.
Nós conversamos. Todo os dias. — Deixe-me regozijar com a imagem
de você fazendo beicinho por pelo menos cinco minutos antes de você
alegar que eu vou estar fazendo beicinho também.
Ele quase sorri completamente. — Vamos ver.
Sim, nós vamos.
[ 42 ]
ROSE COBALT
Apenas quatro horas se passaram desde que cheguei em casa e eu
continuo desbloqueando meu celular, uma batida de coração longe de
enviar um Foder, Casar, Matar para o Connor ou um pensamento
aleatório que passa pelo meu cérebro.
Acontece que sua punição é uma consequência irritante para nós dois.
Então ele estava certo quando disse que seria. Estou escondendo meu
sofrimento da melhor maneira possível.
Se ele ver, ele apenas se vangloriar.
E ele deveria ser o perdedor aqui, não eu.
Os perdedores não podem se vangloriar. Essa é minha lei.
— Deveríamos ser capazes de trazer o Connor pro nosso time, — diz
Lo com um meio sorriso amargo. Ele está sentado no banco do balcão,
me observando enrolar a massa da pizza no balcão da cozinha. Farinha se
espalha toda vez que uso o rolo, e simultaneamente limpo minha
bagunça e aliso a massa. Demorou um tempo terrivelmente longo, mas
meu humor só consegue lidar com lugares limpos e arrumados agora.
É noite da pizza e nós tiramos três nomes de um chapéu para serem os
cozinheiros. Infelizmente, foi o meu nome, o do Loren e de seu irmão
mais velho, nenhuma das minhas irmãs para me fazer companhia.
E ninguém ficou mais descontente em ver meu nome do que eu. Exceto,
talvez, Loren.
— Trazer o Connor pro seu time? — Eu estalo. — Desculpa, eu estou
lutando contra vocês, Loren?
— Ficar a um metro e meio de você é como levar um golpe definitivo,
então sim, parece isso. — Ele me dá outro sorriso seco e depois toma um
gole de Fizz Life. Seus olhos de aço quase amoleceram quando eles se
moveram para minha testa, enfaixada com gaze.
— Você faria mais progresso se olhasse para o pepperoni e não para o
meu rosto.
Ele finge ter interesse em fatiar o pepperoni, apenas dois pedaços em
sua tábua de corte.
— Você não vai querer trazer o Connor pra cá hoje, — Ryke diz ao
irmão, cortando os pimentões do outro lado da pia. — Ele está mal-
humorado pra caralho. Passei por ele no corredor e antes mesmo de eu
abrir minha boca, ele me mandou latir para o meu dono.
Loren come um pepperoni. Nós nunca vamos terminar essa pizza. —
Hum, — diz ele. — Eu pensei que Connor era seu dono.
Ryke joga um pimentão para ele. Meu Deus, não. Não quero encontrar
pedaços aleatórios de comida espalhados pelas tábuas do assoalho.
— Estou falando sério, — diz Lo.
— Sim, eu também estou falando sério pra caralho. Eu não sei o que há
com ele... além da tempestade de merda. — A tempestade de merda. É
disso que estamos oficialmente chamando essa rodada de invasão de
privacidade da mídia.
Loren aponta para o meu rosto. — Pode ser por que a esposa dele está
toda machucada e ele não foi capaz de impedir que isso acontecesse.
Eu aponto o rolo na direção do Lo. — Não é culpa do Connor. Ele sabe
disso. — Meu marido pensa logicamente e ele sabe que não há nenhuma
maneira concebível de que ele pudesse ter mudado o resultado. Eu
considero isso destino. Ele considera isso uma circunstância terrível,
ditada pelas pessoas que me cercaram.
— Independentemente, ele provavelmente ainda está furioso com os
paparazzi, — Lo diz.
Eu não duvido disso. Eu o vi falando ao telefone e ele parecia irritado.
Suponho que ele esteja contratando segurança extra e ligando para os
locais onde costumamos frequentar, para diminuir nosso risco quando
saímos.
Nós dois ficamos confinados dentro de casa por muito tempo. Não
somos como Daisy e Ryke que buscam aventura através de atividades
aterrorizantes. Remova o trabalho em um escritório, e eu gosto de fazer
compras, fazer manicures, ir em bons restaurantes e de qualquer motivo
para me vestir elegantemente. Connor está sempre em movimento
comigo e quando diminuímos a velocidade, geralmente é para passar
mais tempo com nossa filha, minhas irmãs, Loren e Ryke.
Connor e eu conseguimos manter nossos estilos de vida intactos,
mesmo com a mídia, mas está se tornando mais difícil para nós agora.
Levar nossa filha ao pediatra não deveria ser uma experiência
assustadora. E isso foi antes mesmo de passarmos pelas fodidas portas.
Ryke lambe o dedo e então toca outro pimentão verde.
Meus olhos se arregalam de horror. — Ryke!
— O quê? — Ele olha em volta. — O que aconteceu? — Ele percebe meu
olhar. — Que porra que eu fiz?
— Lave suas mãos, — eu digo. Ele toca minha irmãzinha com essas
mãos. Não pense de onde e para onde elas vão, Rose. Eu estremeço.
Ele revira os olhos, mas não protesta como Loren teria feito. Já que ele
está sendo legal e realmente lavando as mãos embaixo da torneira, eu
decidi lançar luz sobre a discussão deles.
— Connor está mal-humorado porque eu estou o ignorando, — eu
explico.
Loren franze a testa. — Por que você está ignorando ele?
Eu limpo o balcão. — Ele respondeu errado a minha pergunta.
Ryke fecha a torneira, ambos quietos.
— Espera, é só isso? — Loren abre a boca. — Você está falando sério?
— Eu pareço estar brincando? — Eu treino meus olhos de fogo sobre
ele.
— Você parece que tem que cagar.
Eu rosno. — Você é nojento.
— Você é estranha, — ele retruca. — Eu pensei que vocês dois eram os
maduros de nós seis, e aqui estão vocês, se ignorando como crianças de
dez anos. — Ele ri. — Acho que subi no ranking de poder.
— Dificilmente, — eu digo. — Você ainda está embaixo.
Ele descansa os cotovelos no balcão. — Tecnicamente… eu sou seu
chefe.
Eu sabia que ele iria jogar isso no universo um dia. — Você prometeu
que nunca diria isso se eu me juntasse com a Calloway Couture Babies.
— Eu também não cumpro três quartos das minhas promessas, Rose.
— Obviamente. Ele não é meu marido.
Eu solto um suspiro, limpando minhas mãos pela enésima vez. — Eu só
tenho que ignorar Connor por vinte e quatro horas. Ele vai sobreviver.
Ryke me dá uma olhada. — Nós não achamos que ele vai morrer por
causa dessa porra. Ele só não está sendo ele mesmo. — Ele dá de ombros.
— Ele geralmente passa cinco malditos minutos tentando me fazer
manter uma conversa e não me ignorando antes mesmo de eu falar algo.
— Só envie uma mensagem para ele, — Loren combate.
— Concentre-se em seu pepperoni, Loren, — eu respondo friamente.
Ryke percebe eu esfregando o balcão novamente. — Vamos trocar. —
Ele abaixa a faca e o pimentão.
— Eu posso fazer isso muito bem, — eu argumento.
— Eu não estou dizendo que você não pode, mas a esse ritmo, nós só
vamos jantar amanhã de manhã e eu estou com uma fome do caralho.
É difícil entregar uma tarefa, mesmo uma tão simples quanto essa.
Ainda estou me apegando a coisas que posso realizar, controlar e
dominar quando os paparazzi tornaram isso difícil para mim.
Ryke diz, — Eu não estou pisando em seu território. Apenas me deixe
rolar a porra da massa.
Eu hesitantemente renuncio esse trabalho, limpando minhas mãos em
um pano novamente. Eu não sou uma daquelas pessoas que podem
espalhar farinha em um avental. O meu é muito bonito para manchar.
Nós trocamos de lugar ao mesmo tempo, e Lo diz, — Eu tenho que te
perguntar uma coisa. — Eu acho que ele pode estar falando com seu
irmão, mas quando eu olho para cima, seus olhos estão fixos em mim.
Suas maçãs do rosto afiadas ficam mais definidas, as guardas se
levantando como se isso fosse sério.
— E...? — Eu espero pela bomba. Não deixe a Lily estar grávida. Não
deixe a Lily estar grávida. Eu não posso imaginar uma irmã grávida na
tempestade de merda da mídia agora. Eu vou ter um ataque cardíaco
toda vez que sairmos de casa, com medo de alguém esbarrar nela com
muita força ou derrubá-la. Tenho certeza de que o estado mental dela
não será o melhor.
— A imprensa continua questionando a Willow na Superheroes &
Scones, — ele diz. — Eles acham que ela é minha prima, então eles vão
atrás de alguém que seja remotamente próximo de você e do Connor por
respostas.
Sua meia-irmã é acessível, ou pelo menos é mais do que o resto de nós
que se escondem atrás de guarda-costas e portões.
— Ontem, ela foi seguida até o apartamento dela, — acrescenta Loren.
Meu queixo cai. Isso é inaceitável. — Por quem? — Eu pergunto, pronta
para caçá-los com tridentes. Eu posso não ser a amiga mais próxima da
Willow, mas ela é da família por causa do Loren. Eu usaria todas as armas
que tenho no meu arsenal para protegê-la, assim como eu faria com ele.
— Você pode guardar suas garras. Eu já rastreei o cara e ameacei
prendê-lo por perseguição.
— Nós, — Ryke esclarece. Ele estava nisso também.
Lo acena com a cabeça. — Eu realmente não acho que lá seja seguro
para ela agora.
Existe uma solução clara. — Temos três quartos vagos na ala leste. Ela
pode escolher o dela. — Compramos uma mansão de oito quartos por um
motivo - sabíamos que esses quartos iriam se encher. Talvez mais pelos
nossos filhos, mas quando sua meia-irmã vem passar um tempo, um
quarto deve estar sempre disponível.
— Você tem certeza? Você pode pensar sobre isso. — Ele está sendo
atencioso por causa do meu machucado e do estresse da mídia. Caso
contrário, duvido que ele perguntaria isso.
— Ela é sua família. O que há para pensar? — Eu corto o miolo do
pimentão e jogo as sementes na lixeira.
— Obrigado, — ele acena com a cabeça algumas vezes. — Vou pedir a
ela para se mudar amanhã. Tenho certeza que ela dirá sim dessa vez. —
Ela optou por não morar com ele no começo, mas ela deve ficar mais
confortável agora que o conhece melhor, e nós conhece também.
Eu corto o pimentão perfeitamente. — Eu não sei porque a Lily nos
chama de trio do temperamento quente, — eu digo a eles. — Estamos
todos muito civilizados agora, especialmente que estamos todos
armados.
Ryke levanta as mãos vazias. Seus bíceps se flexionam com o
movimento, vestindo uma regata cinza.
— Seus músculos são suas armas, — eu replico. Parece idiota, mesmo
que seja lógico. Ele tem o corpo magro de correr e escalar, mas seus
músculos são tão definidos que é difícil imaginar uma grama de gordura
corporal.
— Jesus Cristo, não elogie seus músculos, — diz Lo. — Ele não é
natural.
Connor chega perto, mas seu cérebro é mais sexy do que qualquer
outra coisa que ele tenha.
— Eu sou um atleta do caralho, — Ryke refuta. — E sua esposa fez um
nome estúpido para nós.
— Ei, — Loren aponta sua faca para Ryke dessa vez... — não insulte a
Lily.
— Temperamento quente… seja qual for a porra do nome. Eu não
consigo nem falar ele.
— Não seja um babaca, — digo a Ryke.
Ele estende os braços para mim. — Você acabou de concordar comigo
porra, não foi?
— Mudei de idéia, — eu digo. — Eu tenho permissão para fazer isso. —
Eu sempre vou ficar do lado das minhas irmãs... a menos que elas estejam
contra minha filha. Então eu vou ficar do lado da Jane, mas ela é jovem
demais para fazer parte disso.
Estou animada para o dia em que ela descobrir sua própria voz. Eu não
vou impedi-la de ter opiniões ou escolhas - e sei que isso não parece
importante, mas eu mal posso esperar para ver que com que tipo de
estilo ela vai se identificar, para ver se os gostos dela divergem dos meus.
Acho que adoraria vê-la crescer em seu próprio ser, sem minha
influência constante. É algo que minha mãe nunca gostou que nós
fizéssemos.
Termino de cortar o último pimentão e entrego ao Ryke o pote de
molho de tomate. — Falando nas minhas irmãs ...
Ele encontra meus olhos. — Nós só estávamos falando sobre Lily, não
sobre todas as suas irmãs. — Estou prestes a recolher o frasco, mas ele o
arranca da minha mãe e abre a tampa.
Eu não posso voltar atrás agora. — Como você e a Daisy estão?
— Estamos bem, porra. — Ele dá os ombros e procura por uma
espátula. É esse movimento, o dar de ombros, que me faz cruzar meus
braços.
— Só bem? — Eu pergunto. Eu poderia perguntar isso a Daisy, mas ela
sempre diz a mesma coisa.
Ele solta um gemido frustrado, fechando uma gaveta. Então ele passa
as mãos pelos cabelos. Quando ele exala, diz, — A última vez que falei
sobre o meu relacionamento, recebi uma palestra de vinte minutos sobre
dar uma folga para ela. Então, sim, eu não sou de falar muito sobre essa
porra.
Meus olhos se estreitam. — Poppy? — Estou ciente dos protestos da
minha irmã sobre a Daisy estando com o Ryke por causa do "momento",
ela me disse.
Ele acena com a cabeça uma vez.
Loren estica mão para o outro lado do balcão e puxa uma espátula do
suporte de utensílios. Está bem na frente do Ryke. Ele passa para o irmão
mais velho. — Qual é o problema dela? — Pergunta Lo.
— Aparentemente ela tirou uma folga de um ano do Sam durante o
primeiro ano da faculdade e ela disse que a ajudou a colocar em
perspectiva o que ela queria da porra da vida. Poppy quer que eu dê a
Daisy a chance de "se encontrar" antes de se comprometer com algo
sério. — Ele espalha molho sobre a massa. — A coisa é: Daisy e eu - nós
dois estivemos sozinhos mais do que qualquer um nessa porra de casa e
se eu realmente pensasse que era isso que Daisy queria, eu terminaria
com ela amanhã para que ela pudesse ser feliz. Mesmo se eu fosse ficasse
miserável pra caralho.
— Rose era virgem até os vinte e três anos, — Loren fala. — Eu acho
que ela te vence na coisa de ficar sozinho, mano.
— Ele não está falando sobre sexo, Loren.
Lo me ignora e se concentra em seu irmão. — Tem certeza de que ela
não quer uma pausa?
— Eu estou te falando, eu continuo perguntando a ela - a ponto de a
irritar - só para ter certeza, e ela continua dizendo não. — Daisy não
discutiu o tópico comigo, mas eu não posso ver minha irmãzinha
mentindo para Ryke apenas para acalmá-lo.
— Como a Daisy fica quando está irritada? — Lo coloca outro
pepperoni na boca. Eu nunca vi esse sentimento na minha irmã também.
— Esgotada. Ela tenta me distrair do assunto, e então quando ela
desiste, ela fala por favor, pare com essa voz aflita, como se eu estivesse
esmagando vidro em seus ouvidos. É uma merda.
Isso me lembra que ele está com ela há um ano e meio. — Você não
precisa fazer uma pausa só porque minha irmã mais velha lhe disse que é
o certo, — eu digo. — Foi bom para a Poppy e o Sam, mas isso não é bom
para você e a Daisy. Todo relacionamento é diferente.
É fácil pesar experiências pessoais em relação aos relacionamentos de
outras pessoas, mas não podemos entender os altos e baixos e as
complexidades de outros casais da mesma forma que entendemos do
nosso próprio.
Ryke acena com a cabeça. — Eu sei, mas quero casar com aquela garota
um dia. E essa porra é uma merda, porque eu ficaria de joelhos amanhã
se algumas pessoas da família dela não odiassem nós dois juntos.
Eu fico boquiaberta, minha boca caindo mais e mais. Ele quer se casar
com Daisy. Ele quer se casar com minha irmãzinha. Eu não tinha certeza
se ele valorizava o casamento porque ele nunca fala sobre isso para
ninguém.
Mas a opinião dele faz sentido para mim agora. Eu nunca o vi tão
apaixonado por alguém como ele está pela Daisy. E ele anseia por
companheirismo familiar, já que ele não teve nenhum enquanto crescia.
Então não é difícil acreditar que ele gostaria de ter isso um dia.
Meu coração frio amolece um pouco, isso é, antes da voz de Lo o
congelar de volta.
— Quando as opiniões de outras pessoas o impediram de fazer algo? —
Pergunta Lo. Isso não foi tão ruim.
Ryke vai até a geladeira. — Daisy se importa e se ela se importa, então
eu me importo pra caralho. — Ele pega um saco de mussarela e retorna
para a pizza. — Casamentos e pedidos de casamento - essas coisas
deveriam ser experiências felizes. Eu não quero o julgamento de ninguém
arruinando isso. Daisy merece um dia que pertence a ela sem nenhum
drama e eu não posso dar isso a ela ainda. — Ele balança a cabeça. — É
tudo apenas um momento fodido, com tudo que está acontecendo.
Por causa da tempestade de merda.
Ele não tem ideia se poderá pedi-la em casamento, nunca. — O destino
estará a seu favor, — digo a ele.
— Rose acha que pode prever o futuro agora, — Lo zomba.
— Eu só tenho esperança, Loren, — eu digo. — Onde está a sua?
Lo sorri, não amargo dessa vez. — Se eu posso ficar sóbrio e criar um
filho, acho que tudo é possível.
Ryke faz um gesto para a tábua de carne do Lo, apenas quatro pedaços
grossos de pepperonis fatiados. — Que porra você está fazendo?
— Tomando o meu tempo, — Lo diz. — E no espírito do mau momento,
acho que precisamos convocar uma reunião da casa. Eu tenho outra coisa
que preciso discutir.
Eu franzo a testa. — Agora?
— Já que todo mundo parece tão disposto a compartilhar, sim, agora.
— Ele levanta as sobrancelhas. — Você precisa que eu envie uma
mensagem para o seu marido por você?
Eu reviro meus olhos, mas não respondo a ele.
— Vou tomar o seu silêncio como um sim, é claro, eu te amo, Loren Hale.
— Não me faça usar essa faca em você. — Eu aceno ameaçadoramente,
mas ele está preocupado demais com o celular para fazer uma
observação sarcástica. Seja o que for que ele quer falar... Eu acho que
pode ser sério.
[ 43 ]
ROSE COBALT
— Vocês dois podem guardar as armas antes de começarmos a reunião?
— Lily ajusta Moffy em seu quadril, seus olhos correndo entre Lo e eu.
Eu seguro minha faca menos como um utensílio de cozinha e mais
como artilharia. Não ajuda que Connor esteja aqui agora, colocando a
Jane em sua cadeira alta. Eu olho rapidamente em sua direção, esperando
que ele olhe pra mim.
Ele não olha.
Estou precisando me esforçar para ignorá-lo mais do que imaginei.
Coconut come em sua tigela ao lado da mesa do café da manhã e Daisy
desliza para o banquinho ao lado de Loren. Estamos todos aqui, a pizza
assando e infundindo o cheiro de pepperoni e queijo no ar. Loren leva
muito tempo para largar a faca e percebo que meu aperto está tão forte
quanto antes.
Lily diz, — Você também, Rose.
Tá. Eu gentilmente coloco a faca em seu suporte. Então eu vou pegar a
comida da Jane. Eu cortei kiwi mais cedo em pedaços do tamanho de um
cubo, eu o pego na geladeira e coloco um pouco de iogurte em uma tigela
pequena. A parte difícil é se aproximar da cadeira de Jane com Connor
tão perto.
Ele olha por cima do ombro para mim e eu viro minha cabeça na outra
direção, não antes de perceber seus lábios se levantando. Não vou falhar
em ignorá-lo. Você pode fazer isso, Rose.
Eu deslizo o kiwi e iogurte para Daisy. — Dê isso para o Connor, — eu
instruo. Então eu adiciono o superficial, — por favor. — Embora o meu
por favor nunca soe tão suave e convidativo como os dos outros.
Daisy pula do banco sem hesitar. — Você ainda está ignorando ele? —
Eu conversei com as minhas irmãs sobre a aposta hoje cedo.
— Até às dez da manhã de amanhã, — eu digo.
— Isso é ridículo, — Loren fala, vendo minha irmãzinha entregar a
comida de Jane para o meu marido. Quando eu olho para ele novamente,
seus profundos olhos azuis estão presos em mim, seu sorriso
aumentando a cada vez que fazemos contato. Sua expressão diz, você não
pode desviar o olhar, pode Rose?
Eu posso.
Veja só. Eu me concentro em Loren e seu queixo afiado e meia careta
que praticamente diz, eca, por que diabos você está olhando para mim?
— Tem que haver consequências para quem perde, — digo ao meu
cunhado. — Então não, não é ridículo, Loren. É o preço do fracasso.
Connor diz, — Mal é um fracasso já que havia distrações.
Eu bufo. — Loren, diga a Richard que uma pergunta errada ainda
significa que ele perdeu e que é ele quem diz que 'distração' é uma
palavra que 'perdedores' usam para se sentir melhor. — Eu tenho que
ficar de costas para Connor, mesmo querendo virar e olhar em sua
direção.
Loren abre a boca, mas Connor fala antes mesmo que ele possa repetir.
— Minha esposa sendo ferida está inquestionavelmente acima de um
competidor que espirrou durante um torneio de perguntas e respostas.
Eu não posso discutir com isso. A alergia de alguém fodeu com a minha
concentração durante os torneios acadêmicas na faculdade e ele nunca
deixará de me irritar com isso.
Eu rosno. — Loren, diga ao Connor que eu sei que o ego super inflado
dele não consegue lidar com a palavra fracasso, mas pela sua definição,
isso ainda se aplica.
— Pelo amor de Deus, — Lo interrompe. — Vocês dois calem a boca.
Eu só obedeço porque ele solta um suspiro pesado e lembro que ele
convocou essa reunião com todos.
Lily coloca Moffy em sua cadeira ao lado da Jane e só pela sua
expressão não consigo discernir se ela já sabe sobre o assunto em
questão.
Lo descansa os cotovelos no balcão, inclinando-se para a frente. — Os
bebês tem quase um ano e ainda não escolhemos os padrinhos.
O ar se afina.
Padrinhos. Eu anseio em olhar para o Connor e ver se sua complacência
racha por um breve segundo.
— Você quer fazer isso agora? — Ryke questiona. Perdi a parte em que
Daisy pulou no balcão ao lado dele, sentada ao lado do micro-ondas. Ela
balança as pernas e descasca uma laranja enquanto Ryke sutilmente
passa o braço por cima dos seus ombros.
— Não há melhor momento, — diz Lo. — Todos nós continuamos
evitando o assunto.
Lily concorda. — Precisamos tomar uma decisão em breve. — Então
ela sabia o que ele estava fazendo.
Lo acrescenta, — Lá fora está insano. Eu nunca pensei que alguém
pudesse machucar você de todas as pessoas. — Ele faz um gesto para
mim, as maçãs do rosto como navalhas quando ele olha para o meu
ferimento enfaixado novamente.
Minha cabeça lateja. — Se isso acontecer de novo, alguém perderá os
dedos das mãos e dos pés, eu lhe garanto.
— Não vai acontecer de novo, — Connor proclama, sua voz severa
fazendo meu pescoço formigar. Não se vire, Rose. Eu permaneço rígida no
lugar.
Lo se concentra em Connor. — Tanto vocês dois, quanto eu e a Lily,
precisamos pensar no pior acontecendo. Eu não posso deixar a Samantha
ou meu pai ficarem com a custódia do Moffy.
O silêncio varre a cozinha e a tensão engrossa quanto mais tempo
ficamos sem falar. Todos nós guardamos nossas opiniões sobre os
padrinhos, principalmente porque haverá sentimentos feridos no
processo. Nenhum de nós é totalmente religioso, mas vemos essa decisão
apenas como uma tutela. Os padrinhos serão os responsáveis por nossos
filhos se algo acontecer conosco.
Coconut mastiga sua ração, fazendo barulho no ar amortecido. Jane
toma seu iogurte e Moffy bate as mãos na bandeja da cadeira.
— Quem está morrendo, porra? — Ryke pergunta, tentando
dificilmente aliviar a tensão.
— Coisas inesperadas e ruins acontecem, — Loren retruca. — Eu acho
que todos nós podemos concordar com isso. — Seus olhos piscam para o
rosto de Daisy, a longa cicatriz em sua bochecha. E então para o meu.
Lily levanta a mão. — Eu tenho algo a acrescentar. — Ela limpa a
garganta. — Eu sei que ninguém quer dizer nada com medo de rejeitar
outra pessoa. Mas podemos todos tirar nossas emoções disso e tomar
uma decisão bem aqui. Por favor. — Seu por favor está dolorosamente
desesperado, me lembrando que eu preciso trabalhar no meu.
— Diz uma das pessoas mais emotivas na porra da cozinha, — Ryke
resmunga baixinho.
Lhe atiro um olhar mordaz.
— Ei, — Lo diz alto.
— Sim, ei. — O rosto de Lily se contrai, tentando dar um olhar malvado.
Ryke se encolhe de remorso e passa a mão frustrada pelos cabelos
grossos. — Eu também sou emotivo, Lil. Eu não quis dizer isso assim.
Desculpa.
Lily aceita o pedido de desculpas com um sorriso.
Daisy compartilha sua laranja com Ryke, dividindo as fatias ao meio. —
Connor e Rose não vão ter um milhão de crianças? — Ela pergunta.
Eu acidentalmente olho para Connor novamente, suas feições ilegíveis
enquanto ele me estuda. Nós não conversamos sobre filhos desde que o
nosso teste saiu pela culatra, mas pelos parâmetros de nossas regras,
acho que estamos ambos de acordo que Jane é tudo que podemos ter.
Não pense nisso, Rose.
Eu não gosto de pensar sobre esse novo futuro, nem um pouco.
— Exatamente o que o mundo precisa, um exército Coballoway, — diz
Loren, seu sarcasmo extraordinariamente ausente.
— Podemos ter só a Jane. — Eu puxo meus ombros para trás para
tentar aceitar esse resultado, mesmo que pareça fora de ordem, como se
a vida estivesse desequilibrada.
Lo franze a testa profundamente. — O que? Desde quando?
Lily parece melancólica. — É por causa do que aconteceu com os
paparazzi?
Apenas Ryke sabe sobre o nosso teste, mas a razão por trás disso
continua a mesma: como vamos proteger nossos filhos? Eles não têm
escolha se querem ou não estar em revistas ou ser perseguidos e
traumatizados por câmeras.
— Sim, — responde Connor. — É por causa da mídia.
— Se vocês querem mais filhos, — diz Lo, — vocês deveriam ter mais
filhos e não deixar que alguns jornalistas de merda ditem o que vocês
fazem. — Ele acena para Ryke. — O mesmo vale para você, mano. É
melhor eu ver um mini você um dia porque eu tenho certeza que você
quer um filho.
Daisy sorri enquanto morde uma fatia de laranja.
Ryke revira os olhos. Ele está com o mesmo pensamento que nós desde
o começo, com medo de trazer uma criança para esse ambiente.
Daisy alivia a tensão com um sorriso mais brilhante. — Vamos supor
que Rose e Connor tenham mais filhos. Quantos vocês estavam
planejando?
— Oito, — eu envio o número para o vazio. Quando Connor propôs a
quantia pela primeira vez, achei que ele era insano, mas quanto mais
tempo conversávamos sobre oito bebês isso e oito bebês aquilo - se tornou
uma idéia menos louca, gerada por uma batalha verbal e conceitos
egoístas. Agora isso se tornou um plano cativante. Uma família de dez.
Soa forte, ele me disse.
Soa mesmo.
Mas suponho que tenha voltado a ser uma ideia louca novamente.
Lily começa a mexer nas unhas. — Oito? — Ela parece preocupada com
o número, não tendo certeza se consegue lidar com tantas crianças.
Eu encontro minha faca e aponto ela entre minhas duas irmãs. — Quem
for a madrinha da Jane terá que fazer um pacto de sangue comigo.
As duas trocam um olhar como se estivessem pensando em desistir da
posição.
Eu descanso uma mão no meu quadril. — Tudo bem, o pacto de sangue
é opcional. A parte da madrinha ainda é obrigatória.
— Ryke e Daisy que deveriam ser. — Não é a Lily que expressa essa
opinião.
É o Loren.
— E por que isso? — Eu pergunto, ligeiramente desanimada. Isso está
indo onde eu acho que está? Lo e Lily vão escolher Ryke e Daisy também.
Eu sei que não sou carinhosa. Eu sou fria à primeira vista. Eu sei que a
mídia acha que eu não amo minha própria filha. Eu disse coisas no
passado que me condenam antes das minhas ações dizerem a verdade
real.
Mas eu gostaria de acreditar que Lily vê o quanto eu amo a Jane e o
filho dela. Eu daria a ele o mundo, assim como faria com minha própria
filha. Eu suponho que, secretamente, eu queria ser a madrinha dos filhos
da Lily. Nós sempre fomos as mais próximas entre as nossas irmãs e se a
Lily deixasse esse mundo com o Lo, eu gostaria que as partes restantes
dela ficasse o mais próximo possível de mim.
Eu não sou tão divertida ou tão ousada quanto a Daisy, mas eu
realmente, realmente, tento ser tão compassiva e amorosa quanto a Lily -
por ela.
Eu olho para a minha faca, evitando os olhos de todos.
— As crianças são estressantes, — Lo explica. — Oito crianças parece
um pesadelo. Eu não sei se poderíamos fazer isso sem… — recair, a
palavra não dita fica no ar.
— É compreensível, — diz Connor. — Ryke e Daisy foram nossas
primeiras escolhas de qualquer maneira.
Eu olho para a parede. — Ryke, você pode dizer ao Connor que era
desnecessário compartilhar essa informação com o Loren e a Lily?
Ryke olha por cima do meu ombro. — Você ouviu essa porra? — Ele
pergunta ao meu marido.
Antes que ele possa dizer alguma coisa, Lily joga as mãos para o ar. —
Não estamos ofendidos. Sério, estou feliz por termos tomado uma
decisão. Faltam só dois agora.
Dais finge um suspiro. — Coconut está no cardápio? Ela poderia usar
alguns padrinhos. Tenho orgulho de dizer que ela não molha a cama. —
Ela coloca as mãos em volta da boca e sussurra, — Mas ela ronca.
Ryke bagunça o cabelo da Daisy com uma mão áspera e ele murmura
em seu ouvido, as palavras quase distinguíveis como, eu te amo, amor.
Loren lança um olhar para Lily. — Padrinhos de cachorro?
Lily concorda. — Nós não podemos abandoná-la.
Meu estômago dá um nó. Não pense em Sadie.
Ryke e Daisy discutem calmamente sua decisão por não mais do que
alguns segundos, e então seus olhares se fixam em Loren e Lily. Daisy diz,
— Queremos que vocês dois cuidem dela, já que vocês gostam mais de
cachorros do que Connor e Rose.
Isso é verdade.
E mesmo assim, eu estou me sentindo excluída. Eu deveria saber que
seria assim desde o começo. Eu posso ser mais responsável do que
minhas irmãs, mas as pessoas querem seus filhos com alguém que os
abrace, tão afetuosamente, tão calorosamente, que coloque um sorriso
no rosto deles.
Eu sou a pessoa que vai buscar as crianças na escola na hora, que vai
escrever anotações à meia-noite para que eles possam estudar para uma
prova, que sempre vai lembrar de fazer os lanches deles e colocá-los na
cama. Eu posso importuná-los até eles escovarem os dentes. Posso até
ficar os lembrando constantemente de tirar os sapatos sujos antes de
entrarem na casa. Mas eu os defenderia. Eu lutaria por eles.
Espero que isso conte.
— Reunião adiada, — eu digo de repente, não querendo ouvi-los
escolher Raisy. Sim, é hipócrita, já que não estávamos planejando em
escolher a Lily e o Lo. Mas eu não posso mudar meus sentimentos.
Estou prestes a abrir o forno quando Loren diz, — Nós temos um filho
também. Ou a Jane é o floquinho de neve especial aqui?
Eu inalo, meu peito apertado. — Apenas escolha seu irmão e vamos
acabar com isso.
Ele bufa em uma risada seca e amarga. — É claro que você tem que
fazer isso difícil para mim. — Ele balança a cabeça. — Se você acabar
criando o Moffy, espero que ele aprenda a ser duro com você.
Minhas sobrancelhas se franzem. O que? Eu olho para a Lily por
confirmação. Ela está com um sorriso bobo no rosto, assentindo
rapidamente. — Você e Connor serão os padrinhos do Maximoff?
Algo molhado corre pela minha bochecha. Não, não, não. Eu me viro
rapidamente, limpando debaixo do meu olho traidor. Quando olho para
cima, percebo que me virei na direção do Connor.
Sua sobrancelha se arqueia para mim. Eu estreito os olhos para a visão
de seu sorriso largo, e eu quero tanto falar, cale a boca, mas eu não posso
falar com ele. Espero que meus olhos transmitam a mensagem. É melhor
que isso não seja considerado trapaça.
Loren ri atrás de mim. — Você está chorando, Rose?
— Não, Loren, — eu respondo, me virando novamente. — Havia poeira
no meu olho.
— Claro, — ele diz, um sorriso ligado à sua voz. — Era só poeira. — Ele
inclina a cabeça para mim. — Você sabe que é uma mãe do caralho,
certo?
Eu acho que ele está tentando me fazer chorar.
— Tenho certeza que você iria arrancar seus cabelos pelo meu filho
também.
Eu tenho que limpar debaixo dos meus olhos novamente. — Eu iria, —
eu sussurro sob minha respiração. Eu iria de novo e de novo.
Lily acrescenta, — Eu sei que você ama Moffy tão ferozmente quanto
você ama a Jane. — Ela limpa o nariz que escorre com suas lágrimas. Ela
funga. — E ficaríamos em paz sabendo que ele está com você.
Eu tenho que enxugar meus olhos com uma toalha de papel. Eu digo o
que está pedindo para sair. — Obrigada.
Eu vivo minha vida com confiança, mas a maternidade sempre esteve
"em progresso" para mim. Depois que eu tive Jane, me senti mais segura
de mim mesma, mas isso está no meu coração. Meu crescimento
permanece vazio aos olhos dos outros. Exceto para essas pessoas, nessa
cozinha. Eles me veem. E percebo que é tudo de que preciso.
O temporizador do forno emite um bipe e olho por cima do meu ombro
para Connor. Ele segura meu olhar novamente.
Silêncio é um castigo cruel entre as pessoas que você ama.
Nunca mais, eu penso.
Eu não consigo imaginar como vou lidar com isso hoje à noite. Ignorar
um ao outro. Na cama.
Algo me diz que uma barricada de travesseiros não vai impedir meu
marido ambicioso de conseguir o que ele quer.
Independentemente disso, eu não sou trapaceira. E as regras ainda se
aplicam
[ 44 ]
ROSE COBALT
Escovo os dentes antes de dormir e faço o meu melhor para ignorar a
presença dominante do meu marido. Ele parece fazer um show de se
esticar lentamente pelo balcão, só para pegar a porra da pasta de dente.
É irritante. Sua altura. Sua postura inabalável. Sua capacidade de
aspirar todo o oxigênio, só para pegar um objeto. Esse tipo de confiança
intoxica o ar e eu inalo as emanações venenosas com cada respiração
superficial.
Eu coloco meu cabelo sobre meu ombro direito, o segurando enquanto
cuspo na pia e lavo minha boca. Eu evito o espelho, seu olhar me
chamando para encontrá-lo, e procuro minha escova de cabelo. Eu não
vou sucumbir a ele tão facilmente.
Ele perdeu.
Existem consequências.
— Rose, você está deitada com a sua bunda perfeitamente levantada,
— ele diz profundamente. Eu tento não ficar tensa. Ignore ele. — Uma
das minhas mãos está enrolada em volta do seu pescoço. — Eu o sinto se
aproximando de mim. Um passo. Dois. — Eu puxo com força a sua
calcinha da sua bunda, pelas suas pernas, fora de seus tornozelos. — Sua
mão repousa ao lado da minha no balcão, e eu fecho a gaveta. Ignore ele,
Rose.
— Você acabou de cair na cama, — diz ele.
Eu não cai, eu quase respondo. Eu literalmente mordo minha língua.
— Eu ainda não deslizei minha ereção para dentro de você, mas eu
pretendo… — Sua voz parece estar mais perto, como um sussurro rouco
na boca do meu ouvido. — Eu pretendo te encher tão profundamente,
Rose. Meu pau todo o caminho entre suas pernas, bem... bem ali... — Eu
continuo esperando suas mãos me tocarem, bem ali. Mesmo quando elas
não me tocam e só me sobra o ar frio, eu me contraio. Me fode.
Não, Rose. Abandono a busca pela minha escova de cabelo que
desapareceu no momento mais inoportuno. Então viro minhas costas
para o Connor. Na minha saída para fora do banheiro, eu apago as luzes,
o encobrindo na escuridão, como se ele não existisse.
Eu sinto sua frustração atrás de mim, seu corpo flexionando e fervendo
com a minha falta de resposta.
Connor raramente fervilha. Nossas provocações liberam sua presunção
reprimida, seu narcisismo que precisa ser alimentado e reconhecido, e
sem minha resposta, sua irritação se acumula e acumula.
Receio que minha vagina não entenda a missão dessa noite.
Ignore seu marido.
Eu delicadamente coloco cada travesseiro decorativo no meio da cama.
Já vestida com uma camisola preta, uma fenda na minha coxa, estou
preparada para tran... dormir.
Deus. Eu não posso fazer sexo hoje à noite. Entre no jogo, Rose.
Eu acho que estou emaranhada no meio disso.
Entro debaixo do edredom macio quase na mesma hora que Connor sai
do banheiro, sem camisa, mas ainda de calça preta. Eu tento não apreciar
seu corpo por muito tempo ou seu cabelo castanho ondulado.
Na minha visão periférica eu o pego inspecionando os travesseiros ao
longo de nossa cama com agitação e então ele tira o cinto, seus
movimentos ásperos, controlados e extremamente audíveis. O barulho
do fecho de metal. O bater do couro deixando as alças da calça.
Eu pressiono minha bochecha no meu travesseiro e estico minha mão
para a minha mesa de cabeceira, desligando meu abajur. Eu mergulho
minha mão debaixo do edredom, espalmando minha palma na minha
coxa. Eu sofro para ir um pouco mais alto, um pouco mais perto da minha
calcinha, para estimular...
Eu o escuto muito atentamente, ouvindo-o tirar as calças. Na verdade,
eu imagino Connor em sua cueca boxer, sua protuberância perceptível,
talvez até já duro abaixo dela.
Meus dedos acariciam minha coxa nua, mergulhando sob a seda da
minha camisola. Estou morrendo de vontade de tocar meu clitóris, mas
temo que ele escute. Mesmo casados, eu ainda me masturbo, mas não
com tanta frequência e nunca ao lado do Connor. Ele nunca me viu fazer
isso. Minha pele aquece quanto mais eu me provoco, minha mão tão
perto da minha calcinha...
A cama ondula com seu peso e ouço cada travesseiro sendo jogado no
chão. Normalmente eu os empilho delicadamente na cadeira em frente à
nossa cama de dossel. Eu não posso nem xingar Connor por maltratar
meus travesseiros.
Eu poderia me arrastar para fora da cama e colocá-los em seu devido
lugar, mas minhas coxas apertadas e o pulsar dentro de mim tem
exigências carnais, não limpas.
Estou literalmente com muito tesão para me mexer.
Eu fixo meu olhar na parede, de costas para ele e espero que o abajur
dele se apague. Uma eternidade deve passar e eu sinceramente me
pergunto se ele está lendo um livro só para me irritar. São 2h da manhã -
nós dois precisamos dormir. Ou transar.
Isso também - mas só eu posso matar minha própria excitação hoje à
noite.
Ignore seu marido.
Com isso em mente novamente, me viro lentamente e percebo que ele
está, de fato, encostado na cabeceira da cama com um livro na mão.
Porém, não para me irritar. Suas sobrancelhas estão franzidas em
frustração enquanto ele vira a página, se focando no texto. Ler é sua
tentativa de estimular seu cérebro de maneiras que eu não posso.
Não está funcionando também. Ele fecha o livro de maneira rude e
depois trava os olhos em mim, seus lábios começando a subir. — Venez à
moi. — Venha até mim.
Ah não. Não está acontecendo. Pelo menos não como ele quer. Eu
pretendo desligar o abajur dele para ele. Eu quebro o contato visual e em
seguida, me aproximo, me esticando em seu colo para alcançar sua mesa
de cabeceira. Eu inalo quando ele agarra minha bunda, seus dedos
mergulhando rapidamente entre as minhas coxas e deslizando para
debaixo da minha calcinha.
Eu apressadamente desligo seu abajur, nos banhando na
semiescuridão e começo a me mover para o meu lado da cama.
Assim que eu passo, ele agarra meu rosto e me beija com força,
roubando todo o oxigênio dos meus pulmões. Eu estou sofrendo e
pulsando e então acordo, me separando e pressionando minha mão
sobre sua boca.
— Existem regras, — eu ofego, tentando recuperar o fôlego. — Não
foda com elas.
Meus olhos já estão orientados com a falta de luz. Seu
descontentamento cruza suas feições. Eu lhe dei uma ordem. Na cama,
nunca faço esse papel. Não gosto, embora não seja ideal para nenhum de
nós - não podemos menosprezar as consequências dos nossos jogos. Ele
sabe disso.
Ele não está acostumado a falhar.
Eu tiro a mão de seus lábios, retiro seus dedos rebeldes da minha
calcinha, e depois deslizo de volta para o meu lado. Arrumando meu
travesseiro, esperando que ele fale.
— Você sabe o quão molhada você está agora? — Ele pergunta.
Eu congelo.
— Sua calcinha está encharcada, Rose.
Eu não duvido disso. Espero que ele perceba meu olhar ardente,
mesmo que não esteja em seu rosto. Me deito de costas, escorregando
por completo sob o edredom com os braços desaparecendo por baixo
dele. Eu estou dura, mumificada. Se for bastante descarada, também
posso ser uma mulher saciada.
Fecho os olhos para bloquear Connor da minha visão periférica, mas
sua aura dominadora ainda me ilumina. Eu o sinto na mesma posição:
encostado na cabeceira da cama, com o joelho dobrado. Sua mente está
em constante trabalho para encontrar uma solução, a fim de realizar seus
desejos.
— Eu nunca disse como foi a sensação da primeira vez que eu coloquei
meu pau dentro de você.
Meu peito desmorona profundamente. Ele está tentando me excitar o
suficiente para que eu sucumba a ele e permita que ele domine cada
centímetro do meu corpo.
Eu não sou tão fácil de quebrar.
É uma parte do porquê ele está comigo. Ele ama o desafio e ele acha
que eu não vou me tocar ao lado dele. Mas sou tão teimosa quanto ele é
dominante.
— Quando eu deslizei em você, Rose, você estava tão apertada que meu
pau inchou com a pressão.
A primeira vez que fiz sexo. Eu nunca perguntei se eu era tão apertada
assim, mas ouvir que isso o afetou aumenta a pulsação. Dói, grita por
uma entrada forte e rápida. Minha mão esquerda aperta meu seio e
minha outra desce pela frente da minha calcinha.
Hesito apenas quando mergulho em minha mente, imaginando se ele
está assistindo ou se está se concentrando em outras coisas. Como o que,
Rose, o teto, o chão?
Quando ele fala de novo, me incita a continuar até o meu clitóris,
pensando que ele está mais focado em suas palavras. — Você estava
acostumada com brinquedos, mas não estava acostumada ao calor ou ao
comprimento da minha ereção, que se encaixava perfeitamente entre
suas coxas. Dentro e fora... dentro e fora.
Eu engulo, meus dedos esfregando o botão sensível. Meus dedos dos
pés já se curvam em antecipação, e a umidade cria uma fricção mais fácil.
Eu quero ele. Dentro e fora... dentro e fora.
Empurro meus quadris para cima uma vez e depois congelo. O silêncio
me solidifica. Se ele não está falando, então ele está assistindo. Isso é uma
coisa ruim?
É parcialmente inquietante, parcialmente excitante, parcialmente eu-
não-sei-porra.
Eu tenho que ver o que ele está fazendo. Eu não posso deixar minha
mente tirar conclusões irracionais, então eu lentamente viro minha
cabeça. Ele está na mesma posição sentada contra a cabeceira da cama,
com o braço apoiado no joelho dobrado, e sim, seu olhar está fixo em
mim.
Eu estreito meus olhos por instinto, fogo retornando aos meus olhos
infernais. Olhe para longe, Richard, falo através deles.
— Não. — Sua palavra singular tem mais peso do que qualquer outra
pessoa teria.
Eu tenho três opções.
1) Ir dormir com tesão.
2) Continuar me masturbando com Connor assistindo.
3) Sucumbir aos desejos do meu marido com muita facilidade e deixar
ele me foder.
A segunda opção é a melhor, mesmo que seja difícil. Eu olho para o
lustre acima da nossa cama e eu mexo meus dedos mais rápido. Eu quero
tanto gozar. Eu tento ficar parada, mas minhas pernas tremem com as
sensações avassaladoras, minha pele aquecendo com o suor.
Dentro e fora... dentro e fora, imagino Connor bombeando entre as
minhas pernas, as abrindo mais...
O cobertor é tirado de cima do meu corpo, revelando minha fonte de
prazer, mão sob minha calcinha, a camisola rolada até os meus seios,
meus mamilos expostos já que as alças caíram dos meus ombros. Estou
tão perto de gozar.
— Richard, — eu falo meio ofegante com vontade de ter ele bem dentro
de mim e meio que em aviso para ele não entrar em mim. Sento-me em
duas extremidades polares de sim e não. Muito complicado para um
homem comum.
Graças a Deus eu tenho Connor, um homem inteligente, que pode lidar
com meus desejos bipolares.
Ele coloca a mão sobre o meu calor, bem onde minha mão reside e
meus olhos perfuram ele. Ele é rápido. Ele desliza para trás de mim, suas
pernas se estendem em ambos os lados do meu corpo e então ele me
levanta contra ele, de costas para o seu peito.
Seus movimentos assegurados, cada um deles, me tiram o fôlego. Eu
aperto meus joelhos um no outro, silenciosamente não cooperando.
Ele agarra minha perna e as abre novamente, as esticando para ficarem
em cima das suas pernas que parecem muito distantes. Eu me encaixo
entre ele, cada membro meu tocando seus membros. Eu posso sentir a
forma do pau duro dele contra as minhas costas. Eu tremo.
— Você está trapaceando. — Minha voz rouca coça minha garganta.
Seus lábios roçam minha orelha. — Me ignore, querida. — As palavras
soam cheias de tesão. Ele morde minha orelha, morde meu pescoço, seus
dedos beliscam meu mamilo...
— Siga... as... regras... Richard, — eu respiro.
— Pare de falar comigo e eu vou. — Ele tira minha calcinha e em
seguida, guia minhas mãos para suas coxas, ditando meus movimentos.
Eu hesito, meu cérebro não está funcionando corretamente para
entender.
Ele percebe, sua mão envolvendo meu rosto enquanto seus lábios
tocam minha bochecha, meu queixo e depois vão para meu ouvido, — Eu
vejo um caminho alternativo. — Estou ouvindo. — Eu nos vejo seguindo
as regras. — Sim. — E eu fodendo você como nós dois queremos. Então
me ignore. Fique em silêncio. Fique parada. Não faça nada.
Fazer nada.
Ele encontrou uma brecha por ser técnico com cada palavra às nossas
regras. Eu o ignoro por vinte e quatro horas. Isso não significa que ele
tem que me ignorar e se nós não podemos estimular um ao outro
mentalmente, pelo menos podemos fisicamente.
Ele vai conseguir o que ele quer.
E eu também vou, percebo.
Nós dois vencemos.
Assim que penso isso, ele me levanta pelos quadris. Uma mão em seu
eixo, ele me abaixa em seu pau, a plenitude cegando minha mente. Eu vou
gozar. Sua respiração baixa aquece meu ouvido. — Não se mova, querida.
E então ele levanta o quadril – ah, Connor. O ritmo profundo nunca
cessa, o atrito se transforma em uma bola gigante... e eu explodo.
Um grito rompe meus lábios, um gemido que faz com que ele aumente
seu ritmo vigoroso. Meu corpo se aperta e eu contraio ao redor dele,
explodindo de novo e de novo. Eu não posso ver Connor atrás de mim,
mas eu posso sentir o suor da pele dele, a ondulação de seus músculos,
sua mão forte envolvendo meu rosto enquanto minha cabeça começa a se
curvar para trás.
Ele sussurra francês rouco, sexo pingando de cada sílaba e meu cérebro
está muito frito para traduzir uma única palavra. Eu olho para baixo, seu
pênis entrando em mim, rápido. Dentro e fora. Meus nervos tensionam
novamente, prontos para outra experiência inebriante e atordoante com
Connor no comando.
Eu não faço nada.
E não fazendo nada, sinto tudo.
Minutos voam e seus dedos tocam meu clitóris. Eu suspiro, constrito e
meus lábios se partem, um ruído prazeroso estrangulado na minha
garganta.
Ele bate na lateral da minha bunda.
Minhas costas se curvam e quando ele empurra para dentro em mim,
ele atinge o seu pico também, seu grunhido baixo vibra todo o meu
corpo.
Ele gozou dentro de mim... e parte de mim quer tomar um banho e
talvez até trocar os lençóis, um impulso neurótico. Mas estou cansada
demais para aprovar esse plano.
Enquanto nós dois recuperamos nossas respirações, ele
cuidadosamente me tira de cima dele e me descansa do meu lado. Meus
olhos se fechando e eu não consigo deixá-los abertos. Seu corpo está
muito mais perto do meu agora, seu braço acariciando carinhosamente
minha cintura. Seus lábios se pressionam no meu pescoço - a última
sensação que sinto antes de cair rapidamente no sono.

Eu acordo me sentindo completa, com Connor empurrando para


dentro de mim. Eu gemo baixinho nos lençóis, ainda de lado. Meu corpo
balança cada vez que ele empurra para frente, seu pênis indo mais
profundo, sua mão na curva do meu quadril.
Eu amo essas sessões improvisadas, resultado da sua excitação. Meus
joelhos estão levemente flexionados, o que deve ter permitido que ele
entrasse em mim, mesmo de lado com minhas coxas pressionadas juntas.
Meus olhos roçam o relógio. 9:59 da manhã Ele me deixou dormir até
mais tarde, e eu quero perguntar sobre a Jane - se ele cuidou dela mais
cedo essa manhã, embora eu tenha certeza que sim. Mas a punição ainda
tem um minuto...
Sua mão de repente envolve meu queixo, mandíbula e boca, puxando
meu pescoço para trás até que encontro seu olhar. Ele está emaranhado
no meu cabelo úmido e a intensidade de seus olhos azuis me penetram
tanto quanto sua ereção. Sua mão desce do meu quadril para minha
bunda, apertando minha carne.
Eu gemo em sua palma, o barulho fazendo cócegas em meus lábios.
— Primeira palavra que vem na sua cabeça, — ele me testa,
provavelmente bem às 10h da manhã - nem um minuto tarde demais. Ele
tira a mão da minha boca, seu corpo e sua mente me encontrando de uma
vez. — Rose.
— Amor, — eu digo em uma respiração.
Ele me beija, a cabeça para baixo, enquanto empurra dentro de mim e
eu me afasto primeiro quando meu corpo atinge seu ponto de ruptura.
Eu agarro os lençóis e praticamente grito no colchão, meu orgasmo
elétrico e mais poderoso. Eu posso senti-lo ordenhando seu próprio
clímax, lentamente bombeando dentro de mim uma última vez.
Quando ele sai, ele me vira de costas. Ele está meio sentado, a mão ao
lado do meu ombro enquanto olha para baixo. — Bom dia querida.
Eu tive tantos pensamentos que queria compartilhar com ele nas
últimas vinte e quatro horas, e todos eles fugiram traidoramente, me
deixando com o presente. Eu latejo como se ele ainda estivesse dentro de
mim, mesmo quando ele já saiu.
Eu preciso de um banho, a umidade escorrendo pela parte interna da
minha coxa. — É como se você estivesse tentando me engravidar. —
Meus olhos verde-amarelados perfuram ele. Seu esperma já derrotou
minhas pílulas anticoncepcionais uma vez. Parte de mim quer que ele
diga: eu estou.
Seus olhos varrem minhas feições. — Eu estou brincando com a
ciência...
— Destino, — eu esclareço. Ele gosta de brincar de roleta russa com
meus ovários.
— Quando meu esperma trabalha duro para alcançar seu óvulo, é
chamado de reprodução. Ciência.
— A possibilidade de seu esperma alcançar meu óvulo agora é um
incidente fortuito. Destino.
— Probabilidades também são científicas.
Ugh. Eu rosno em irritação, prestes a afastá-lo do meu rosto, mas ele
segura meu pulso. A seriedade se interpõe entre nós por um momento.
Eu tenho que perguntar, — Você vê um caminho alternativo para ter
mais filhos?
Seu corpo se solidifica, suas feições ficando em branco, algo que eu não
quero encontrar. E ele diz, — Não.
Isso dói. Essa palavra. Eu reconheço o quanto eu quero mais. Quanto
nós os queremos.
— Ça ne peut pas être comment ça se termine. — Não pode ser assim
que termina. Parece um encerramento do nosso futuro. Tudo o que vejo é
uma porta enorme tentando se fechar em nossos sonhos. Os que
construímos juntos. Criando oito filhos juntos.
— C'est vrai. — Mas é.
Mais duas palavras angustiantes.
— Então talvez você devesse usar um preservativo da próxima vez.
Seu polegar roça meu lábio inferior, mas percebo sua mandíbula se
contraindo. Ele não está feliz com esse veredicto. Eu espero que ele diga,
ainda não. Eu prevejo que ele não está pronto para aceitar esse
resultado.
Ele me beija nos lábios.
E ele diz, — Eu vou.
Tradução: não vamos ter mais filhos.
[ 45 ]
CONNOR COBALT
— Eu o julguei mal durante Princesas da Filadélfia, — diz Scott Van
Wright. — Você é realmente legal, Connor.
Eu vou para a porta, acenando algumas vezes. — O mesmo para você,
cara. — Bloqueio a voz da Rose em minha mente, incapaz de ouvir sua
verdade e lidar com o que acabou de acontecer na casa de Scott uma hora
antes.
O que aconteceu foi um preço que tive que pagar para alcançar um
benefício maior. Foi uma perda de liderança. Não há emoções nos fatos.
Eu me viro e aperto sua mão, dou tapinhas nas costas dele e me
despeço.
— Devemos almoçar amanhã, — Scott me diz enquanto desço os
degraus da varanda.
Eu aceno casualmente para ele como se dissesse claro, e então ele
sorri, aceitando nossa amizade de todo o coração, sem nenhum traço de
dúvida, sem hesitação - exatamente o que eu queria. Ele fecha a porta e
eu ando ao longo de sua calçada, minha casa na diagonal do outro lado da
rua.
No caminho de volta para casa, ligo para Frederick.
Ele responde no segundo toque. — Eu não estou falando com você
sobre Daisy. — Ele nunca compartilhará mais informações sobre o
progresso dela, mas não é por isso que eu liguei.
— Lembre-me, Rick, por que as pessoas escolhem sentir? — Porque
Richard, é - eu bloqueio as crenças da Rose. Eles não são mais úteis. Eu
consegui passar no teste do Scott essa tarde só porque eu afastei a voz
dela. Na minha mente, ela está me impedindo de completar metas. Ela
está tornando isso mais difícil do que tem que ser.
— Você sabe por quê, — ele me diz.
— Emoções me sufocam. É uma camisa de força que pessoas
superiores sabem que não devem colocar.
Eu ouço o barulho de papéis do lado dele, como se ele os empurrasse
para o lado para se concentrar. — O que aconteceu, Connor?
— Você não tem uma resposta, — percebo — porque você sabe que
estou certo.
— Emoções fazem você ser humano.
— Então eu sou mais que humano. — Eu sou indestrutível dessa
maneira.
— Não, — diz ele. — Quando você não sente, você é menos do que
humano.
Eu engulo o desgosto. — Não. Eu conquisto mais coisas do que eles.
— Você ama menos.
— Há dor no amor, — eu digo de repente, magoado, a dor inchando
meu peito. Eu guardo tudo, sem sentir nada. Richard - não, Rose. Eu não
posso ouvi-la. Eu não posso sentir o que ela quer que eu sinta. — Eu não
quero nenhuma parte disso.
— Homens maiores experimentariam dor apenas para amar.
Chego à minha caixa de correio e minha mão aperta o celular. — Você
está tentando me incitar, Rick?
— Você sente, Connor. Está aí, dentro de você. Você só está com medo.
— Não. — Mas não tenho outra defesa que essa.
Eu estou com medo.
Estou com medo de sentir a agonia me rasgar por dentro e prefiro
voltar ao tempo em que minhas escolhas eram motivadas por motivos
egoístas, onde minhas decisões nunca me afetaram emocionalmente.
Onde eu poderia acordar na manhã seguinte e nunca vacilar. Eu nunca
sentiria minha alma murchar.
— Eu ganhei hoje, — eu digo. — Eu não quero sentir como se tivesse
perdido. — Não de novo. Eu piso na minha varanda e destranco a porta
da frente.
— Concentre-se no que você tem...
Eu afasto a voz dele quando Rose entra no hall de entrada, descalça,
sem meias ou saltos limpos que ela geralmente usa em ambientes
fechados. Do meu olhar, ela diz, — Eu estava no quarto da Jane e vi você
retornando. Como foi com o diabo?
Eu digo um pequeno adeus a Frederick e desligo o telefone. — Foi fácil,
— digo a Rose, trancando a porta atrás de mim. Então eu passo por ela e
vou para a cozinha.
Eu não tenho nenhum problema em ser o que outras pessoas precisam,
para ser o chefe, a calma em frente a uma tempestade furiosa e imortal.
Eu gosto de ser necessário, ser útil. Rose sabe disso, mas também sabe,
assim como eu, que Scott é diferente.
Eu nunca desprezei um ser humano como desprezo ele, e ser qualquer
outra coisa além de inimigos está longe de ser fácil.
Ela me segue com um passo borbulhante. — Na semana passada, no
campo de golfe, você disse que foi difícil não o chamar de idiota e bater
com o taco na cabeça dele.
Eu abro a geladeira. — Eu estava pensando irracionalmente na semana
passada. — Eu olho por cima das garrafas de água e restos de
hambúrgueres do Lucky’s. Eu não sei o que estou procurando.
— Richard, — Rose estala.
— Rose, — eu digo calmamente, fechando a geladeira e me virando
para ela.
Quanto mais ela olha para mim, mais seu nariz se inflama, suas
emoções raivosas e sufocantes borbulhando para a superfície. É lindo…
só não é algo que eu pessoalmente queira compartilhar.
— O que aconteceu na casa dele? — Ela pergunta.
Elas são apenas palavras.
Eu deveria poder dizê-las sem vacilar. Eu sou superior assim. — Eu
sabia que ele ia ver se eu cairia em contradição, para me testar. — Eu dou
um passo para perto da Rose, me elevando acima dela. Ela levanta o
queixo para parecer mais alta, mesmo quando não é. — E ele escolheu
algo que eu disse no Saturn Bridges. — O bar onde Rose foi me buscar. —
Naquela noite, eu disse a ele que não me importava com os vídeos de
sexo, mas você se importava.
Eu nunca falei mal da Rose em minha vida, não para subir em uma
escala social, não para fingir meu caminho através do mundo
corporativo, e aquela noite no Saturn Bridges foi a primeira vez que eu a
rebaixei. As palavras que eu falei hoje foram piores. Elas foram
imperdoáveis, tão hediondas que eu tenho dificuldades em voltar uma
hora atrás na casa de Scott e me lembrar delas.
Se eu me concentrar apenas nos meus objetivos, no que consegui e não
olhar nos olhos dela - então posso ficar livre dessas emoções
incapacitantes.
É difícil evitar Rose, fervendo na minha frente.
Eu olho para ela e seu olhar quente queima buracos através de mim.
Ela está bem. Eu não a machuquei.
Ela coloca as mãos nos quadris. — Não foi fácil para você dizer a ele
essa mentira.
— Como você sabe?
— Eu vi seu rosto no carro naquela noite, e você parecia perturbado.
Perturbado? — Não, — eu digo categoricamente.
— Sim, — ela diz com raiva. — Estava no canto dos seus olhos.
Eu levanto minhas sobrancelhas para ela. — Nos cantos dos meus
olhos? — Eu esfrego meus lábios, me perguntando se eu quero rir ou se
eu quero gritar. Talvez eu esteja apenas dormente para tudo. — E o que
está no canto dos meus olhos agora? — Eu visto o rosto mais vazio que
eu tenho.
— Feiura, — ela responde.
— Você é a única pessoa na Terra que já me chamou de feio, — eu
penso. — Você sabe disso, Rose?
— Então você enganou todo mundo menos eu. — Ela vai até a mesa do
café da manhã. Eu não entendo o que ela planeja fazer, mas ela arrasta a
cadeira de madeira para o outro lado do balcão da ilha onde eu estou.
— Você está arranhando a madeira, — eu indico.
— Eu não me importo com o chão, — ela retruca, posicionando a
cadeira na minha frente. E então ela sobe nela, ficando uns cinco
centímetros mais alta do que eu. É cômico, se não totalmente ridículo.
— Se sente melhor? — Eu pergunto.
— Corte as besteiras, — ela me diz. — Eu conheço você, e você pode
ser arrogante, você pode ser totalmente convencido e imperturbável até
o milionésimo grau, mas você não tem o coração gelado. Você não é
insensível, então pare de fingir que é.
— Eu não posso ser você, — eu a lembro. — Eu não posso bater meus
pés com força no chão e gritar e berrar. Isso não me leva a lugar algum.
— Eu não estou pedindo para você fazer essas coisas. — Seus olhos
verde-amarelados me empurram para as partes aprisionadas de mim
mesmo, e um peso de quarenta toneladas tenta descer sobre mim. Por
que alguém iria querer sentir isso? Durante anos, eu assisti de segunda
mão quando a dor do Lo afetou a Lily e a dor da Lily afetou o Lo - nunca
imaginei que atingiria meu próprio ponto de ruptura com a dor do amor.
Nunca imaginei que seria demais para mim.
Eu olho para Rose. — Então o que você quer?
— A verdade, — diz ela. — Não apenas fatos.
— Você não consegue lidar com isso, Rose.
Ela quase parece ferida. Ela está bem. Então seus olhos brilham
quentes, indignados novamente. Ela aponta uma unha bem cuidada no
meu peito. — Você não consegue lidar com isso, Richard. Se conseguisse,
você me contaria toda a extensão do que aconteceu.
Eu não quero confrontá-la ou contar a verdade. Eu vou ver a dor dela.
Eu vou sentir ela se revirar através de mim e eu não vou - eu não consigo
suportar esse peso. Eu sou mais forte sozinho. — Deixe-me viver com
esse conhecimento. Você não precisa disso.
Ela segura minha camisa. — Eu não vou deixar você mentir para si
mesmo. Eu te fiz essa promessa e estou a cumprindo. — Ela olha para
mim, sua testa quase pressionada contra a minha. Minha respiração
igualada com a dela, pesada e irritada.
— Todo mundo, exceto você, ama essa versão minha, então talvez seja
você quem está errada.
— Todo mundo ama as versões covardemente falsas e terríveis suas.
— Seus olhos se enchem de paixão. — Eles amam o você inferior, porque
não conhecem o real.
Minha mão treme. — Rose, — eu murmuro, meu peito queimando
quanto mais eu olho para ela. Ela alimenta o fogo em minha alma, as
brasas morrendo lentamente, e ela tenta febrilmente me acordar.
Eu abro minha boca para dizer a verdade - o que aconteceu... as
palavras grudam no fundo da minha garganta.
Coloco minhas mãos nas dela, as que seguram minha camisa, como se
ela estivesse a segundos de me estrangular até seu plano de existência -
onde o mundo é pintado vibrantemente de tristeza, raiva e desespero.
Sou eu quem vive em tons suaves de apatia e vazio, precisando de outras
pessoas para colorirem minha paisagem para mim.
Lágrimas escorrem por suas bochechas, mas ela nunca sufoca o fervor
em seu olhar. — Eu vou esperar até você ter a força para me dizer.
Força. É preciso mais poder para confrontar emoções do que expulsá-
las.
Seguro sua mandíbula esbelta com uma mão, escovando suas lágrimas
com o polegar e uso a outra mão para segurar seu quadril, me
aproximando de seu corpo até que nós somos duas linhas verticais
pressionadas juntas. Ela está a cinco centímetros acima de mim.
Ela está chorando silenciosamente.
Ela está longe de ser impermeável. E, no entanto, ela é melhor que eu.
Eu pedi para ela ser, para que quando tudo estivesse em cima de mim,
ela me levantaria de volta à sua altura novamente. — Fatos, — eu
sussurro.
— Verdades, — ela responde, resiliente e inflexível.
Minha garganta se fecha. Qual é a expressão - a verdade te libertará? É
uma frase dinâmica que descreve inadequadamente o tormento de falar
de verdade.
— Eu vou esperar, — ela me lembra.
Eu balanço minha cabeça uma vez.
Força.
Eu a seguro com mais força e redireciono minha mente e volto no
tempo. Do outro lado da rua. Casa do Scott. — Ele queria ver se eu
realmente me importava com os vídeos de sexo... já que eu disse que não.
— Em vez de evitar o olhar dela, eu a encontro de frente, fazendo isso
direito. — Ele me sentou em seu sofá, controle remoto na mão - e foi
quando eu soube o que ele planejava me mostrar.
Eu vejo seu rosto começar a se contorcer enquanto ela tenta
compreender o evento.
— Eu tive que bloquear você da minha cabeça... Eu não poderia fazer o
que ele precisava de mim com você lá.
Seu peito desmorona. — Ele fez você... você...?
— Ele me pediu para assistir a um dos nossos vídeos de sexo - com ele.
— Eu paro. — E eu assisti.
Eu espero ela soltar minha camisa e me dar um tapa, mas ela segura
com mais força, como se dissesse eu não vou deixar você. Suas feições
estão em uma montanha-russa de sentimentos sombrios. Uma emoção
excessiva e estranha arranha meus órgãos, um aríete avançando por
lugares vitais e necessários dentro de mim.
Eu machuquei ela.
Eu abro minha boca para explicar mais... para dizer que foi um vídeo
que ainda não foi lançado. Onde amarrei os pulsos da Rose na nossa
cama e a beijei - fiz amor com ela, e tive que ficar sentado lá, ao lado de
Scott Van Wright, um homem que detesto, e zombar da mulher que eu
adoro.
Eu tive que ser vulgar e insensível - eu tive que dizer coisas que fariam
a pele dela rastejar, que a fariam gritar até que a garganta dela ficar crua,
que a deixaria doente ao me ver... isso me deixa doente.
O ato de ver o vídeo com o Scott carrega suas próprias profanações,
mas minhas palavras não param de me assombrar.
— Eu teria enojado você, — digo a ela. — As coisas que eu disse...
— Não... ele me enoja. — Ela solta minha camisa quando a culpa puxa
meus ombros para baixo. Eu viajo através de um ciclo escaldante de dor,
quase insuportável.
A umidade desliza pelas minhas bochechas e ela segura meu rosto que
continua fraturando. Eu estou paralisado por causa das minhas ações,
não importa o quanto eu conquistei, não importa quão grande seja a
conquista que eu agora possuo - meu amor por Rose supera essas
vitórias.
— Eu te perdoo, — ela respira, lutando contra mais lágrimas. Seu
perdão deveria me aliviar, mas me sinto o mesmo. Eu me sinto enojado e
envergonhado.
— Eu me odeio pelo que acabei de fazer, — eu sussurro. Eu quero
separar o homem que falou mal da esposa dele daquele que cairia de
joelhos diante dela - se eu pudesse apenas separá-los, então eu ficaria
livre.
Mas eu sou uma pessoa com uma alma e estou atolado em cada palavra
maligna que pronunciei e toda risada sem coração que dei. Eu estou
atolado no meu espírito que desonrei e nunca me senti tão baixo.
Suas lágrimas se misturam com as minhas. — Você tem que se
perdoar, Connor.
Me perdoar. Como posso perdoar ferir alguém que é mais do que uma
extensão minha? Quem eu passei anos procurando durante nossa
adolescência, só mais alguns minutos, só mais uma hora - só um pouco
mais de tempo. Ela pode me perdoar, mas ela não ouviu o que eu disse.
Eu nunca vou repetir as palavras.
Eu nunca pensarei nelas.
É demais - até para mim.
Eu agarro a parte de trás de sua cabeça, meus dedos emaranhados no
seu cabelo espesso. — Eu não tenho certeza se eu posso, Rose. — É um
peso que quase me derruba, esmagando minhas costelas contra o meu
coração.
Com suas mãos pequenas em cada lado do meu queixo, ela diz, — Você
nunca deve odiar a sua melhor versão, a que ama, a que sente dor -
porque esse homem na minha frente é extraordinário.
Suas palavras me inundam, me sufocam, me agarram e me queimam.
Suas palavras me acendem em uma chama letal e eu estou sufocado
em sentimentos quentes que me puxam e me imploram para gritar. Eu a
seguro com mais força, mais apertado, minha testa pressionada contra a
dela.
Eu estou pegando fogo, cada parte minha.
Eu não quero ser menos que humano. Talvez seja esse remorso natural
que me faz igual a todo mundo, e talvez seja o nosso amor eterno e
cerebral que me faz ser mais.
Meus músculos queimam, minha respiração trava, mas eu seguro Rose
bem aqui, a dor distanciando meus lábios dos dela, a tensão rasgando
minha carne. É avassaladora. É horrível e ofuscante, e me agarro a ela
enquanto minha própria culpa e vergonha me espancam a uma
velocidade vertiginosa.
— Eu não vou deixar você, — ela sussurra em uma voz quebrada,
agravando ainda mais essa dor angustiante.
Beije-a. — Je t'aime, — eu engasgo, segurando sua bochecha
escorregadia. Eu te amo. — Je t'aime. Je aime.
Estou queimando vivo.
Ela chora mais audivelmente e eu a beijo, nossos lábios juntos em um
beijo ardente e torturado que se prolonga. Eu inalo com ela, e eu diminuo
o movimento, nossas lágrimas escorrendo, e isso se torna um beijo
apaixonado e consumidor de almas que desperta minha mente.
Eu abraço Rose no meu corpo, a tirando de cima da cadeira, meus
lábios ardendo com sal e urgência. Pressiono Rose tão perto de mim que
seus pés nunca atingem o chão. Em vez disso, estamos no nível dos olhos.
Na altura perfeita e igual.
Eu fui aberto ao meio. Eu fui despido. Eu permiti que o espírito dela
entrasse dentro de mim - para me lembrar, me lembrar... porque eu amo.
Eu mal posso recuperar o fôlego, fervendo contra ela.
E ela pergunta, tão calmamente, — Do que mais você precisa?
Do que eu preciso? Ninguém me perguntou isso antes. A resposta me
atinge de uma vez. — Uma pausa. — Eu preciso de mais tempo longe de
tudo.
— Eu vou fazer isso acontecer, — ela me garante, suas mãos caindo
para o meu peito. Eu olho em seus olhos verde-amarelados e percebo
que ela está sentindo meu coração bater contra as palmas das mãos.
— O que eu seria sem você? — Eu pisco e uma única lágrima escorre
pelo meu rosto. Nós dois sabemos a resposta para isso - nós dois
reconhecemos o que ela está fazendo por mim. Me lembre. Me queime.
Me ame.
Eu beijo sua testa, meu peito aceso com paixão e dor.
— Ensemble, — ela sussurra em francês. Juntos.
— Ensemble, — murmuro.
Juntos.
[ 46 ]
ROSE COBALT

Por favor, venha ao almoço de domingo. Eu prometo que Jonathan não vai
estar lá, mas nós adoraríamos ver todos vocês e os bebês. - Mãe Eu apago a
quinta mensagem que ela enviou essa semana. Nós temos pulado os
almoços familiares de domingo desde a tempestade de merda da mídia.
Todas as conversas seriam sobre a coletiva de imprensa, que agora é em
nove dias. Posso só me imaginar na mesa do pátio, apontando um garfo
para minha mãe ou até mesmo para meu pai por pressionarem meu
marido a mentir para milhões de pessoas e fazer o que eles querem em
vez do que ele quer.
— É a mamãe de novo? — Pergunta Lily, com as mãos apoiadas no
volante. Ela dirige meu Escalade enquanto eu lhe dou instruções. Meu
carro está totalmente cheio. Nós trocamos de lugar a cada três horas, já
que é uma viagem longa, mas atualmente Connor está sentado nos
bancos de trás, os bebês de cada lado dele em assentos de carro virados
para trás. Loren e sua meia-irmã, Willow, estão nos bancos do meio, um
corredor de espaço entre eles.
Willow se mudou para nossa casa há não muito tempo, e quando eu a
convidei para se juntar às nossas miniférias, eu estava preocupada que
ela iria recusar. Nós não somos o grupo mais quieto de pessoas e eu
pensei que ela poderia precisar de uma pausa de nós quando,
ironicamente, precisávamos de uma pausa de todos os outros.
Eu fiquei feliz que ela disse sim, especialmente durante uma viagem de
carro de doze horas com Loren. Ele diminui os comentários idiotas
quando está perto dela. Eu me pergunto o quão diferente ele seria se
tivesse crescido com uma irmãzinha em vez de conhecê-la mais tarde na
vida.
— Rose? — Lily pergunta, olhos piscando da estrada para o meu
celular.
— Ela nos quer no almoço da próxima semana, — eu digo — o que não
está acontecendo. — Estamos em uma viagem secreta de uma semana e
estamos excluindo os almoços do itinerário.
Uma Ferrari branca dirige paralelamente a nós, a cabeça da Coconut do
lado de fora da janela aberta. Eu posso ver a mão do Ryke segurando o
topo da janela, sentado no banco do passageiro.
Daisy deve pisar com força no acelerador. Um segundo depois, a
Ferrari passa de sessenta quilômetros por hora para cerca de cem
quilômetros na estrada tranquila, quase deserta.
Eles avançam na nossa frente.
— Huum… — Lily fica de boca aberta. — Eu não deveria segui-los,
deveria?
Eu sou a favor da camaradagem, mas eu não quero me juntar a brigada
da morte deles.
— De jeito nenhum, — Lo diz a sua esposa. — Não estamos caindo de
um penhasco com Thelma e Louise.
Willow vasculha em sua mochila Jansport e pega uma garrafa de água.
— Eles sabem para onde estão indo?
— Não, — Lo diz. — Espero que eles se percam.
Eles deveriam nos seguir, então não os encontraríamos sem vida em
um monte de metal cinquenta quilômetros à frente. Chegamos até a
negar o endereço.
— Conhecendo Ryke e Daisy, eu tenho certeza que é o objetivo deles,
— Connor diz.
Eu estico meu pescoço por cima do ombro, notando Connor
balançando um brinquedo em cima do assento de carro da Jane. Eu mal
consigo ver as minúsculas mãos dela estendidas. Connor sorri, mais
relaxado do que tem estado ultimamente e isso faz meus lábios se
levantarem também, esperando que nosso destino servirá como um
santuário muito necessário.
— Cristo, — Lo diz, se encolhendo. — Eu juro que toda vez que você
sorri assim um demônio brota asas. Não é natural.
Connor olha para cima e pega meu sorriso parcial antes dele se
transformar em um olhar fulminante. Meu marido sorri mais, mas eu
dirijo minha hostilidade para Loren.
— Você sabe o que mais não é natural? Seu rosto.
Lo parece mais entretido, e ele se vira para Connor. — Você ouviu isso,
amor? Sua esposa acha que eu sou bonito.
Eu soltaria um grunhido, mas a promessa sob essa brincadeira do
Loren para Connor supera qualquer irritação, uma promessa que diz: eu
sempre te apoiarei. Você é meu melhor amigo, ninguém vai fazer com que
isso mude.
Connor esfrega os lábios, mas eu vejo seu sorriso tão bem quanto todo
mundo. — Ela não estaria errada.
Lo se vira para mim e dá um meio sorriso.
Eu estico meu braço e levanto minha palma para ele como se dissesse
cala a boca, mas tenho dificuldade para alcançar seu rosto, parecendo
nem um pouco ameaçadora.
— Você quer que eu bata na sua mão, Rose?
Eu rosno dessa vez, prestes a mostrar o dedo do meio para ele, mas o
GPS no meu celular emite um bipe. Eu rapidamente me viro para focar na
minha tarefa principal. — Depois de três quilômetros você vira à direita,
— eu instruo Lily.
As estradas sinuosas se curvam ao redor das montanhas e criam
estranhas bifurcações com placas de pare que fazem Loren coçar a
cabeça. Lily é uma motorista melhor que ele, então eu tenho fé.
Bétulas e árvores de bordo se sobressaem no céu azul cristalino,
nenhum outro carro dirigindo pela estrada. Quando estamos todos
quietos, quase podemos ouvir o vento balançar as folhas. A quietude
contrasta nossa atmosfera normal da cidade e a presença caótica da
mídia.
— É tão quieto, — Lily diz o que viaja pela minha mente.
— Contanto que não nos sigam, — murmuro.
— Ninguém nos segue, — garante Connor. Sua confiança me lembra
que nós dois trabalhamos juntos para garantir umas férias sem paparazzi.
Quando saímos do nosso bairro, nossos guarda-costas dirigiram em uma
direção e nós fomos para outra. Connor e eu mapeamos nossas paradas,
calculando as áreas mais obscuras e não lotadas. Nós só fomos seguidos
por uma hora fora da Filadélfia.
— Willow? — Eu pergunto.
Ela verifica seu celular. — Nenhuma foto sua no Instagram ou no
Twitter desde ontem.
Pedi para ela acompanhar tudo, querendo incluí-la no nosso grupo,
mesmo que Lo tenha me chamado de estraga prazeres.
— Lá estão eles, — Lily exclama, diminuindo a velocidade do nosso
Escalade em um mirante na encosta da montanha, a Ferrari estacionada.
Ryke e Daisy estão no corrimão de metal para observar a vasta paisagem
verde, uma enorme queda do outro lado. A cachorra deles solta fareja a
grama logo atrás.
— Jesus, — Loren amaldiçoa.
Eu abaixo a minha janela ao mesmo tempo que Lo.
Ele fala primeiro. — Ei! — Ele grita. — Raisins Loucos! — Ryke e Daisy
olham ao mesmo tempo.
Lily resmunga baixinho, Loucos por Raisy, para corrigir o mau uso do
nome do casal. Sua preciosidade faz luz da rebelião deles. Eu sou a favor
de auto expressão, mas eu não quero ver minha irmãzinha no hospital
com o namorado dela. Nunca.
Como eles ainda estão no corrimão de metal, eu acrescento, — Nos
sigam, por favor! Daisy, você não precisa dirigir no escuro! — Ela
comprou a Ferrari há duas semanas, seu primeiro carro.
— Quantas vezes ela dirigiu um carro? — Connor questiona do banco
de trás, seu tom moderado.
Ela nunca dirigiu antes de receber sua carta de moto e eu não consigo
me lembrar de uma vez em que ela sentou atrás de um volante. Eu me
inclino mais para fora da janela. — Daisy, quantas vezes você dirigiu
qualquer tipo de carro?!
Ela sai do corrimão com Ryke e ele a abraça pela cintura, aninhando
sua cabeça no pescoço dela. Algo estranho aperta minha caixa torácica.
Inveja? Não, não exatamente. O amor deles não é tão ofuscante quanto o
da Lily e do Lo, mas é um raio de sol brilhante, doce e açucarado que
quase todo mundo pode ver.
Daisy diz, — Cuatro! — Ela mexe quatro dedos.
Meu Deus.
— Mano, por que você está andando no mortemovel?! — Lo grita.
Ryke mostra o dedo do meio para ele. — Estamos bem pra caralho!
Daisy está com um sorriso tão grande no rosto que é difícil dizer não a
ela ou perguntar mais. Talvez ela esteja brincando. Eu confio que Ryke
saiba a verdade. Loren e eu fechamos as janelas quase ao mesmo tempo,
tendo mais fé de que eles ficarão próximos.

***

— Poderia ser maior, — Loren diz em tom de brincadeira. Nós sete


olhamos para a casa do lago de quatro andares, oitenta quilômetros de
caminho batido, cascalho sinuoso e estradas de terra que nos trouxeram
a esse santuário. Com duas varandas envoltórias, a casa fica em meio a
um bosque de árvores de bordo lindamente cobertas de folhas, o telhado
pintado de vermelho cereja. Nosso agente imobiliário (que só me
conhece por um nome falso) disse que quando as estações mudam, as
folhas combinam com a tonalidade da casa.
Está localizada perto de uma margem de grama, a casa sendo refletida
no lago ondulante, ajardinada pelas Smoky Mountains. A olho nu, não
consigo ver uma única cabine à distância.
Todos nós contribuímos e não só compramos essa propriedade.
Investimos em acres e acres de terra ao redor, garantindo que ninguém
construiria perto de nós.
— É propositalmente grande, — lembro a Lo, minhas mãos nos quadris
em triunfo. Este será um lugar seguro para todos nós, onde podemos ir
para escapar quando nossas vidas se tornarem incontroláveis e agitadas.
Jane e qualquer outra pessoa pode precisar disso tanto quanto nós.
— De volta a desovar oito bebês, Myrtle fértil? — Lo fala.
Eu atiro-lhe um olhar. — Só a Jane, Loren. E há mais famílias aqui além
de mim e do Connor. — Cruzo meus braços. — Como você. — Depois do
Maximoff, sua opinião sobre filhos mudou e eu percebi que ele é um
pouco parecido comigo a esse respeito.
Ele estava com medo de que ele acabasse sendo igual o pai dele.
Eu estava com medo de ser igual a minha mãe.
Estamos ambos muito conscientes das falhas deles e muito
autoconscientes para não identificarmos as nossas e suponho que essa é
a nossa queda e nossa graça salvadora. Isso nos deixou com medo, mas
também nos permitiu divergir dos caminhos que nossos pais tomaram e
aprender com os erros deles.
— É, é, — diz ele com uma risada curta. Seus olhos âmbar brilham na
luz da noite, passando pela casa como se imaginando a expansão de sua
família de três pessoas. — Talvez algum dia.
Daisy e Ryke andam de mãos dadas para o lado da casa, com Coconut
correndo para baixo da colina. Ryke para no topo da encosta, em vista do
longo cais de madeira, presumo. Ele usa uma expressão impressionada,
de conquista, uma que eu só vejo quando ele está com Daisy e depois que
ele escala. Ele retornou ao esporte em abril com a aprovação de seu
médico.
Ficamos todos orgulhosos que ele esperou para escalar até receber o
ok.
Connor se aproxima do meu lado, segurando Jane, dormindo, na curva
de seu ombro. — É perfeito, querida. — Eu entrelaço meus dedos com
sua mão livre. Ele beija meus dedos.
— Tem uma boa energia, — eu digo com naturalidade.
— Você trouxa velas, não é? — Suas sobrancelhas se arqueiam.
Eu pensei em limpar a casa do lago de maus espíritos, mas não é por
isso que eu trouxe as velas. Eu posso muito bem avisá-lo. — Eu queria
fazer uma festa de pijama com todos e existem certas tradições que não
podem ser ignoradas.
— Tipo?
— Uma sessão espírita, máscaras faciais, leve como uma pena, dura
como uma pedra, sobremesas e talvez até mesmo o tabuleiro Ouija, se a
Lily não estiver muito assustada até lá. — Antes que ele solte sua
descrença em fantasmas, eu adiciono meu raciocínio, — Aparentemente,
quando éramos mais jovens, sempre esquecemos da Daisy durante as
festas do pijama. Ela estava lá, mas nós a deixávamos de fora de alguma
forma.
Dói só de pensar que esqueci da minha irmã, mas eu era muito mais
próxima da Lily e a diferença de idade apenas enfraqueceu meu
relacionamento com Daisy. Eu deveria estar mais consciente...
— Ela lhe contou isso? — Connor parece chocado.
— Não. — Daisy nunca iria me causar dor dos seus sentimentos
feridos. — Ryke mencionou isso para mim há algumas semanas. — Ele
sabia que eu iria querer compensar o tempo perdido com a minha irmã.
Connor suspira. — Podemos eliminar um evento espiritual em favor de
um evento intelectual? Isso beneficiaria mais a sociedade e nós.
— Vou levar o seu pedido em consideração e de bom grado ignorar o
seu desrespeito na minha festa do pijama, — eu digo e seu sorriso se
expande.
— Então eu tenho essa teoria… — Daisy se vira em nossa direção, a
mão ainda entrelaçada com a do namorado. — Se comprarmos um
porquinho e observamos ele fazer amizade com um urso, descobrimos o
Ursinho Pooh. — Ela estende os braços e se curva teatralmente.
Eu pergunto a Connor, — Você está imaginando o urso comendo o
porco? — A cena sangrenta quase me faz querer torcer para que o
oprimido vença, mas um porquinho tem zero chances de sobrevivência.
— Sim, mas minha imagem é provavelmente menos sangrenta que a
sua.
— Então está incorreta.
— Um urso comeria qualquer coisa tão pequena como ela descreveu
em uma mordida, — ele responde. — Sem sangue, Rose.
Eu reviro meus olhos, aceitando essa derrota. Ele tem razão. Eu só
desnecessariamente construí uma cena grotesca em minha mente.
Loren olha para Daisy com uma expressão resumida simplesmente em
mas que porra. — Você fumou um baseado no caminho até aqui?
Daisy abana as sobrancelhas. — Eu fumei? — Ela se vira para Ryke. —
Você pode me revistar atrás de contrabando. Eu gosto de esconder as
coisas no minha…
— Ok, — Lo corta ela. — Eu já me arrependi de ter perguntado.
Lily levanta a mão, a outra apoiando Moffy em seu quadril. — Mais
alguém está com medo de ursos?
— Os alces são mais assustadores, — proclama Willow, empurrando os
óculos ainda mais para cima do nariz.
— Tem alces aqui?! — Os olhos de Lily se transformam em pires. —
Por que ninguém me falou sobre alces?! Você sabia sobre o alce?
Eu não posso levá-la a sério quando ela continua repetindo a palavra
alce com sua voz aguda.
— Não, não, — Willow diz rapidamente — eu só quis dizer em geral.
Havia muitos alces no Maine, mas eu nunca estive aqui, então eu não
saberia.
— Sem alces, — Connor limpa essa confusão.
Ryke geme. — Podemos por favor, proibir a fodida palavra alce a partir
de agora?
— Concordo, — eu digo.
— Eu gosto de um bom alce pela manhã, — diz Loren, apenas para nos
irritar.
— Mas, sério, — Lily interrompe antes de eu gritar uma réplica para o
marido dela, — há ursos... então ninguém está com medo, além de mim?
— Ficamos todos em silêncio.
— O que... sério? — Ela franze a testa.
— Eu vou te proteger, — eu digo a Lily, confiante sobre isso.
Loren bufa. — Com o quê? Chutando o urso nas bolas?
— Eu tenho uma arma.
Ele empalidece. — Espera... você está falando sério? Eu sempre achei
que você estava brincando quando falava que tinha uma. — Eu fiz alguns
gracejos inesperados sobre usar minha arma, então eu posso ver como
ele achou que era outro exagero meu.
— Nós obviamente precisamos passar pelas fodidas regras sobre os
ursos, — Ryke interrompe. — A menos que seja temporada de caça ou o
urso esteja atacando você, você não pode atirar.
— Quem disse? — Eu respondo de volta. Eu me viro para Connor para
confirmar, e ele concorda com a cabeça como se fosse mais do que
apenas uma regra arbitrária que Ryke fez.
— A porra da lei, — Ryke refuta. — Eu não posso acreditar que
acampei com você e nós não falamos sobre isso. — Ele estava muito
ocupado fodendo minha irmã em uma tenda. Eu mordo minha língua, me
recusando a soltar isso e envergonhar Daisy. — Olha, eu trouxe spray de
urso para todos, então não é negociável, porra.
— Vamos pegar as malas antes que fique escuro, — Connor interrompe
a conversa, checando o relógio e depois o sol se pondo.
— Vocês deveriam explorar a casa primeiro, — Willow proclama. —
Vou pegar as malas.
— Você não está aqui para fazer trabalho manual, — Loren diz,
suavizando sua voz. — Então você deve explorar a casa com a gente.
Willow limpa a garganta inquieta. — Eu… — Ela olha para o meu
Escalade... como se estivesse escondendo alguma coisa.
Eu só não consigo imaginar o que, e eu olho para Connor por seus
pensamentos. Ele ainda está estudando-a.
Ela respira fundo. — Eu ia ligar para minha mãe - quer dizer, nossa
mãe. Ou… você sabe, o que ela é. Eu só precisava de um minuto sozinha.
O ar engrossa e todos nós olhamos para Lo.
Ele acena com a cabeça sem vacilar. — Sim, eu não percebi que você
estava em contato com ela, mas... claro, contanto que você não diga a ela
onde você está...
— De jeito nenhum, — diz ela. — Eu nunca faria isso.
— Eu só tinha que ter certeza, — ele responde, coçando a nuca e em
seguida, ele aponta para mim. — Precisamos conversar sobre a coisa da
arma. Cadê?
Subo os degraus da casa do lago e todos se juntam a mim, exceto
Willow. — No meu porta-luvas, — eu digo a ele. Meu celular vibra assim
que eu chego na varanda.
Nós agendamos o voo para o final da semana, então estaremos aí em
alguns dias. Não se divirtam muito sem nós. - Poppy Minha irmã mais
velha, Sam e sua filha de oito anos foram convidadas para a casa do lago,
mas Maria tem a escola, então eles estarão aqui no fim de semana.
— Fica no porta-luvas o tempo todo ou só aqui? — Lo pergunta.
— O tempo todo, — digo a ele, andando pela varanda para inspecionar
o cais e ver de cima antes de entrar. Eu passo por várias cadeiras de
balanço e um tabuleiro de xadrez ao ar livre.
Lo, Ryke, Daisy e a husky são os únicos que me seguem. Connor e Lily
entram com os bebês.
— Existe uma política de não-armas-na-casa? — Ryke pergunta a seu
irmão.
Lo se vira para ele com as maçãs do rosto afiadas. — Você tem uma
arma, — ele assume. — Na casa?
— Eu não achei que você se incomodaria com isso, — Ryke diz,
parecendo genuinamente arrependido por não ter contado para ele.
Chegamos à frente do convés e eles estão muito ocupados concentrados
um no outro para ver a ampla visão do lago. Eu nunca fui parcial com a
natureza, uma garota da cidade de coração, mas eu já estou apaixonada
por aqui.
— Eu não teria me incomodado um ano atrás, — Lo explica. — Mas há
dois bebês naquela casa. Por favor, me diga que você mantém tudo
trancado.
— Está em um fodido cofre, eu prometo, — ele diz. — Eu posso deixar
ela no carro... se você realmente precisa que eu faça isso. — Ele olha para
Daisy, como se estivesse verificando se ela está bem com o plano.
E percebo - essa arma deve ser para ela, para aliviar sua mente quando
ela está com medo à noite.
Daisy coça atrás das orelhas da Coconut. — Eu vou ficar bem sem ela
em casa, Ryke, — diz ela, não se esquivando do assunto como costumava
fazer. Então ela uiva, o que faz com que Coconut uive.
Eu odeio quando ela faz isso, já que eu não gosto muito de cachorros,
mas é um pouco mais cativante no meio do bosque.
— Tudo bem, Calloway, — diz ele com um aceno de cabeça.
— Você pode mantê-la no cofre, — Loren declara de repente. — Eu não
sabia… — Ele olha rapidamente para Daisy. — Desculpa…
Um pedido de desculpas de Loren Hale é difícil de ver.
— Tudo bem, — Daisy diz rapidamente, não querendo causar remorso
a ninguém. — Honestamente, Lo, nós deveríamos ter perguntado
primeiro.
Eu bato minhas mãos juntas. — Vamos desfazer as malas. — Todo
mundo se concentra em mim, cortando a tensão. Eu me movo em direção
à porta de vidro, meus saltos estalando pelo convés.
— Sim, sua majestade! — Lo grita quando eu entro na casa.
Estamos aqui, sem paparazzi, a salvos e longe. Deveria ser um
santuário, mas tenho a sensação de talvez alguns de nós podem matar
uns aos outros.
[ 47 ]
ROSE COBALT
— Existem regras, — eu anuncio para a sala de estar, uma vela na mão e
uma caixa de fósforos na outra. Uma chuva violenta bate contra a janela
hoje à noite, o que parece apropriado para a nossa festa assustadora do
pijama. Movemos os móveis de couro superdimensionados mais perto da
ampla janela do chão, a casa rústica com decoração de cabana como
colchas e tapetes vermelhos com estampa de urso.
— Claro que existem, — diz Loren, carregando tigelas de pipoca com
Ryke e Connor para dentro da sala. Lily, enrolada na colcha mais grossa,
desenrola seu saco de dormir com Daisy e Willow.
Eu acendo um fósforo, esperando parecer mais ameaçadora. Com uma
chama na posse, eu certamente me sinto destrutiva. — Primeira regra:
você derruba uma vela, tem vinte anos de azar. Portanto, esteja ciente de
onde elas estão.
Connor se aproxima de mim. — Eu faria um balanço da sua regra se ela
não fosse completamente sem sentido.
Eu lhe dou um olhar lateral, seu sorriso puxando seus lábios. — Você
nunca ouviu falar que se você quebrar um espelho, você tem sete anos de
azar? É o mesmo conceito, Richard.
— Eu ouvi esse provérbio igualmente sem sentido, sim. — Ele apaga
meu fosforo aceso.
Estou prestes a rebater quando percebo que estava a segundos de
queimar meus dedos. Bom. — Segunda. — Eu falo mais com Connor do
que o resto da sala. — Sem ridicularizar. — Eu estreito meus olhos. — Ou
você será severamente ferido pelo fogo.
— Isso é muito ruim para você, — diz ele.
Eu tento me manter firme, não parecendo tão perplexa quanto me
sinto. — De que maneira?
— Eu sou muito inteligente para queimar sozinho, então você vai ser
incendiada comigo.
Acho que já estamos pegando fogo juntos...
Loren passa por Connor e joga pipoca nele. — Vocês dois estão
flertando?
— Nós não estamos flertando, Loren. — Eu bufo, sentindo o ego do
Connor crescer.
Os olhos do Connor me absorvem, sua atenção cem por cento minha.
Sua importância para o Connor depende diretamente da quantidade de
tempo que ele lhe dá - e se eu viajar de volta no tempo, para a nossa
adolescência, percebo que sempre fiquei no topo da lista dele.
Ele segura meu olhar e então pega os fósforos de mim, abaixando a
tigela de pipoca. Ele começa a me ajudar a acender as velas restantes que
circulam a sala. Eu vejo seus olhos voltando para mim, seu sorriso ainda
está lá.
Eu posso sentir meus lábios imitando sua expressão.
Ele sorri mais, mas eu estranhamente gosto da visão.
— Essa é a última regra? — Daisy pergunta, amarrando o cabelo em
um coque alto.
Eu tinha mais, mas elas parecem supérfluas. Eu só quero que todos se
divirtam. — É só isso, — declaro, me sentando no meu saco de dormir
azul escuro, assim que Connor acaba de acender a última vela. E então
um celular toca.
Todos nós começamos a verificar nossos...
— É o meu, — Connor declara. Eu endureço, o observando colocar os
fósforos no sofá. Ele vai atender a ligação. Não consigo ler a expressão
dele, então me preocupo se é...
— É o Scott? — Eu pergunto a ele.
A sala inteira cai em um silêncio tenso. Todos eles sabem que ele está
tentando fazer amizade com Scott, mas ninguém sabe o que isso implica
além de mim. Mesmo sem os detalhes, todos podem ver o quanto de
estresse se acumulou em cima dele. Ele pode não mostrar isso em suas
feições, mas há uma intensidade quieta que fica acima de Connor que não
estava lá antes.
— Não, — ele diz, passando por mim. — É o Frederick. — Ele mostra a
tela do celular para mim, só para aliviar minha preocupação. — Vou
demorar alguns minutos. Você pode começar a chamar partículas de ar
sem mim.
— Ninguém gosta de um cético, — eu replico.
— Pelo contrário, querida, todo mundo me ama. — Ele sorri como se
fosse a exceção. Ele é, de várias maneiras, embora eu nunca vá admitir
isso para ele. Ele coloca o celular no ouvido, desaparecendo no banheiro
em busca de privacidade.
Estamos todos em um amplo círculo, os sacos de dormir amortecendo
o chão.
Lily abraça sua tigela de pipoca. — Mais alguém tem medo de
fantasmas?
O sorriso de Lo abre covinhas em suas bochechas e ele passa um braço
pelos ombros da esposa. — Eu vou te proteger do sobrenatural, amor.
— E se Rose conjurar um demônio? — Ela pergunta.
— Eu não vou conjurar um demônio.
— Porque ela é o demônio, — Lo tenta sussurrar isso para Lily, mas
sua voz ecoa no teto arqueado.
— Volte para o inferno, Loren, — rebato.
— Não se você estiver lá.
Eu considero pegar o spray de urso e o direcionar para o rosto dele.
— O que primeiro? — Daisy interrompe e assim quebra nosso pequeno
argumento que poderia ter se transformado em uma briga.
Esta festa do pijama é sobre reavivar velhos tempos juntos enquanto
trazemos coisas novas, todos os caras e Willow.
— Leve-como-uma-pena primeiro.
Daisy balança as sobrancelhas para o namorado. — Eu acho que
devemos fazer Ryke primeiro.
Parece uma insinuação sexual.
— Estou classificando essa festa como L, — diz Lo, — de louca. — Sua
voz está despreocupada, não querendo que as palavras signifiquem algo
mais que uma piada.
Daisy sorri. — Eu classifico para maiores de 18 anos. — Ela estende os
braços teatralmente. — Sem bolo para nós. — Ela coloca a mão na testa,
fingindo desmaiar. — O horror.
Todos riem, até eu. Quando nos aquietamos, eu aceno para Ryke, —
Você precisa deitar no meio do círculo. — Ele faz o que foi instruído sem
reclamar.
Lo come pipoca da tigela de Lily. — Boa sorte irmão. Que o seu
sacrifício nos traga vinte dias de boa colheita.
Lily cutuca o peito dele. — Estamos jogando leve-como-uma-pena, não
o sacrificando. — Sua cabeça se vira para a minha direção. — Certo?
De maneira alguma eu feriria um dos nossos. — Nós não vamos
sacrificar ninguém, — eu declaro.
— Vocês, garotas, podem não ser capazes de me levantar, — Ryke nos
adverte.
Eu rio brevemente. Nós vamos conseguir.
— Somos as irmãs Calloway, — Daisy proclama, cutucando meu braço
e depois o da Lily. — Nós podemos fazer qualquer coisa, certo?
— Definitivamente, — Lily e eu dizemos juntas.
— Mais a Willow, — Daisy acrescenta e levanta a mão para a menina de
dezoito anos de idade. Willow bate na mão dela com um sorriso
crescente, e agora reconheço que Daisy é melhor em integrar pessoas à
margem de grupos do que talvez eu seja.
Lo desliga as luzes antes de voltar para sua pipoca.
— Você vai participar? — Eu pergunto a ele.
— Eu vou casualmente observar meu irmão ser levantado por um
monte de garotas em uma festa do pijama. — Ele ri como se fosse bom
demais para deixar passar e come mais pipoca.
— Eu posso te ouvir rindo, porra, — Ryke diz a Loren, prestes a virar a
cabeça, mas eu estalo meus dedos e ele olha para o teto novamente.
— O sacrifício deveria estar falando? — Lo me pergunta.
Eu ignoro Loren e me sento de um lado do Ryke com a Willow, e então
Lily e Daisy estão do outro lado do corpo dele. Depois de dar breves
instruções, cada uma de nós não desliza mais do que dois dedos para
baixo dele. Estou perto das omoplatas dele.
Eu digo primeiro, — Leve como uma pena, duro como uma pedra. — As
meninas começam a repetir o canto comigo.
— Leve como uma pena, duro como uma tábua.
— Leve como uma pena, duro como um...
— Pau. — Lo faz Daisy explodir em uma gargalhada, arruinando a
concentração do ritual. Lily provavelmente está em um novo tom de
vermelho, mas eu nem posso dizer no escuro, as velas adicionando
apenas um brilho fraco e laranja ao quarto.
Eu gostaria que tivéssemos começado com o Lo no meio - então eu
poderia ter deixado ele cair de propósito.
Meu olhar furioso deveria fazer Loren se encolher, mas ele apenas olha
diretamente para mim, sem ser afetado. — O que? — Ele diz. — Você
sabia que eu ia fazer isso. — Quando eu tinha festas de pijama com a Lily
e amigas, ele sempre entrava de penetra, e sempre que chegávamos a
essa parte, ele fazia o mesmo comentário infantil.
— Por alguma razão insana, achei que você amadureceria depois dos
dez anos de idade.
— Eu tenho vinte e cinco anos. Eu estou agindo conforme a minha
idade. Meu eu de dez anos era quem estava à frente de seu tempo.
Eu aceno minha mão para ele, silenciosamente dizendo a ele para calar
a boca. Porém, meu coração pode estar sorrindo - se um coração puder
sorrir. É como nos velhos tempos, mas melhor… eu olho para Daisy. —
Vamos fazer isso de novo.
Daisy me dá um sinal de positivo e Willow e Lily concordam, prontas.
Começamos o canto em sussurros abafados, — Leve como uma pena,
duro como uma pedra.
— Leve como uma pena, duro como uma pedra. — Começamos a
levantar Ryke lentamente com apenas as pontas dos dedos. Seu corpo
fica mais leve à medida que vamos mais para alto, passando de ficar de
joelhos a nos agachar.
— Leve como uma pena, duro como uma pedra. — Torna-se mais fácil,
seu corpo pairando no chão com o nosso trabalho em equipe e foco.
— Leve como uma pena, duro como uma pedra. — Estamos de pé, e ele
está agora a um metro do chão.
— Leve como uma pena, — Ryke está na altura dos meus ombros. —
Duro como uma pedra. — Nossas vozes crescem em oitava e o canto pega
ritmo. Ele continua a subir mais e mais, passando pelo meu pescoço,
passando pela minha cabeça.
— Puta merda, — Lily amaldiçoa em surpresa.
Instantaneamente, seu corpo parece pesar uma tonelada, pronto para
quebrar meu dedo indicador em dois. Lily engasga e solta primeiro,
depois Willow hesita, e Ryke cai para baixo.
Em mim.
Minha bunda bate no chão com força, talvez carma por meus
pensamentos malvados em direção a Loren Hale. O cotovelo esquerdo de
Ryke cava nas minhas costelas, seu peso corporal me esmagando. Isso
não é ideal.
— Porra, — Ryke amaldiçoa. — Rose, você está bem? — Sua
sinceridade e preocupação é muito apreciada.
— Esse é um jogo novo. — A voz do Connor eletrocuta minhas
entranhas. Eu não posso vê-lo por cima da cabeça grande do Ryke. Ele sai
de cima de mim o mais rápido que pode e pede desculpas para mim, não
para Connor. Já que foi o corpo que ele derrubou no chão.
— Enfureceram um espírito já? — Connor diz enquanto ele desvia de
tigelas para me alcançar no meio da área de dormir. Seus olhos me
estudam, atrás de sinais de lesão. Eu estou inteira e meu olhar deve
acalmá-lo o suficiente, porque ele nunca menciona sacos de gelo ou
viagens para o hospital.
— Não, — eu digo, endireitando minha parte de cima do pijama.
Connor coloca um pé em cada lado das minhas pernas e ele se agacha
na minha frente, todo o movimento coberto de dominância, e eu congelo
completamente. — Nós estávamos jogando twister sem o tapete? — Ele
pergunta, e eu noto o copo de vinho em sua mão. Eu não o vi sair do
banheiro e ir para a cozinha, mas ele viu o nosso jogo.
Ele está apenas sendo um idiota. Seus lábios se levantam quando ele
toma um gole, intoleravelmente lento. Um idiota irritante e atraente.
— Leve como uma pena, duro como uma pedra, — responde Lily. —
Nós estávamos levantando Ryke.
Ele sabe, eu quero dizer, mas estou competindo com meu marido para
ver quem pisca primeiro. Eu não vou piscar e perder.
— Eu não posso acreditar que funcionou, — Daisy sorri e Ryke
bagunça o cabelo dela, o tirando do coque. É a primeira vez dela jogando
um jogo adolescente. Quando ela finalmente chegou à idade de ter “festas
do pijama” em sua vida, ela foi tratada como se fosse muito mais velha.
Nossa mãe a envelheceu conosco, mas ao fazer isso, Daisy pulou esses
anos jovens e divertidos.
— Sim, funcionou, antes do Ryke aterrissar na Rose, — Lo diz. — Foi
literalmente como uma cena do Mágico de Oz.
Eu viro minha cabeça para ele, prestes a dizer umas poucas e boas, mas
Connor aperta minha mão. Eu perdi a competição. Eu suspiro quando ele
me ajuda a ficar de pé.
Eu coloco a mão em seu peito. — Você chegou bem na hora.
— Para o que, querida?
— Para a sessão espírita ou, como você fala, conversar com partículas
de ar. — Um gosto engraçado fica na minha boca só de repetir essas
palavras.
— Nós não paramos de brincar de faz de conta então?
— É mágica, — Lily fala. — Não faz de conta.
— Não é mágica, — Connor diz. — É ciência. Vocês se distribuíram
uniformemente ao redor do Ryke, e fica mais fácil levantar qualquer
pessoa assim.
— E o canto? — Ela pergunta.
— Isso ajuda a coordenar todas, então seus movimentos ficam em
sincronia.
Sou casada com o maior descrente do mundo e estranhamente, não
mudaria nada. Eu me sento no círculo novamente com Connor ao meu
lado, tomando seu vinho. Talvez ele prefira estar intoxicado para isso.
— Ahhh, — Lily fica boquiaberta. Ela franze a testa um pouco e depois
se vira para Loren. Eu a ouço sussurrar, — Então não somos mágicos?
— Nós definitivamente somos mágicos, — ele sussurra de volta com
um aceno de cabeça.
— Então, o que eles são? — Seus olhos piscam para Connor e eu, nos
pegando os observando.
Lo propositalmente levanta a voz para que possamos ouvir. — Um
deus imortal que se casou com um demônio imortal. — Ele dá um sorriso
seco. — Uma união feita no purgatório.
Estranhamente, me sinto no purgatório com Connor agora, nossos
futuros em fluxo com a coletiva de imprensa se aproximando e Scott
ainda incomodando meu marido por uma segunda temporada.
— Falando em purgatório… — Eu me levanto e pego algumas das velas,
as colocando no meio antes de me sentar novamente.
— Ah, espera, isso está acontecendo agora? — Lily segura uma babá
eletrônica e então joga sua colcha sobre a cabeça. Lo a envolve em seus
braços.
Ele sussurra, — Você está tentando se misturar com todos os outros
fantasmas, amor?
— Uh-hum, — ela sussurra de volta, assustada.
Daisy passa a mão na chama, rápido demais para ser queimada, então
ninguém diz nada. — Podemos chamar a velha tia Margot e perguntar o
que ela achou da primeira garrafa de Fizz do papai?
— Deveria ter gosto de merda, — Lo diz. — Ele não fez ela no porão?
— Garagem, — eu corrijo. Ele era um adolescente com grandes
ambições, como eu, suponho. Só que ele começou do nada. Eu comecei na
alta plataforma que ele me deu - mais privilegiada do que a maioria.
Quanto mais eu relaciono Fizzle com seu sonho e seu sonho de ter
medo de perder tudo - posso entender sua posição na coletiva de
imprensa. Eu só queria que estivéssemos do mesmo lado dessa vez.
— Eu não sabia que vocês tinham tias e tios, — diz Ryke, um pouco
surpreso e magoado com esse fato... talvez porque Loren não esteja nem
um pouco chocado. Ele é tão próximo da nossa família quanto nós.
— Todos eles estão em partes diferentes dos Estados Unidos, — Daisy
diz a ele — mas a Velha Tia Margot costumava morar com a irmã, que é a
mãe do nosso pai. — Vovó Pearl é aposentada e mora em Palm Beach,
Flórida, vivendo no que ela chama de "paraíso" graças à generosidade de
seu filho.
Connor esfrega os lábios, ligeiramente irritado, eu posso dizer. —
Então ela é a tia-avó Margot?
— Velha tia Margot, — todas as minhas irmãs e eu dizemos em
uníssono.
— Quando 'tia-avó' e 'velha' se tornaram sinônimos? — Ele olha pra
mim por resposta, já que claramente ela é nossa tia-avó por parentesco.
— Ninguém nunca a chamou de tia... — Eu paro, percebendo o quão
perturbador isso soa. — Ela gostava de ser chamada de velha. — Meu
Deus, isso é pior, não é? — Foi a escolha dela. — Eu termino com isso, o
que é tão bom quanto parece.
— Eu gostaria de tê-la conhecido, — diz Connor com um sorriso. — Ela
parece interessante.
Abro a boca para dizer que ele está prestes a conhecê-la, mas Loren
fala, — Ela cheirava a azeitonas verdes podres, então se considere com
sorte.
Eu estreito os olhos pra ele. — Você vai desejar não ter a insultado.
— Eu já a ofendi? Onde ela está? — Ele olha por cima do ombro,
zombando.
— Você acabou de quebrar a regra número dois.
— E eu ainda estou vivo. — Ele acena para Connor. — Do que você
chama isso, amor?
— Favoritismo, — diz ele.
Eu engasgo, — Ele não é meu favorito em nada.
De repente, Coconut uiva da cozinha, as patas tamborilando nas tábuas
do assoalho. Daisy endurece e examina a sala rapidamente. Nós todos
ficamos quietos, e Ryke puxa Daisy para mais perto dele, seus lábios ao
seu ouvido enquanto ele sussurra, provavelmente palavras
reconfortantes.
— Então é a Tia Margot, — eu digo, tentando chamar a atenção dela. —
Vamos todos dar as mãos. — Eu seguro a mão do Connor e depois da
Willow. Daisy respira fundo, especialmente quando Coconut se acalma.
— Fechem os olhos, — eu instruo.
Eu espero por todos, principalmente Connor, que teimosamente
mantém ambos os olhos abertos. Ele arqueia uma sobrancelha. Depois de
você, ele parece dizer.
Eu confio que ele fecha os olhos também. Então eu fecho o meu
primeiro. — Tia Margot, — eu começo... e eu tenho que dar uma olhada
para o Connor, para ver se ele está cooperando. Mesmo que não seja real
para ele, é real para mim.
Seus olhos estão surpreendentemente fechados.
Eu o amo ainda mais por isso.
— Estamos chamando você, tia Margot, — eu digo. A chuva cai mais
violentamente do que antes, o vento assobiando. — Sentimos falta da sua
linda e perdida alma. Por favor, venha até nós.
Lo dá risada primeiro e eu posso sentir Connor tentando não rir.
Ignore-os, Rose. — Lute através da barreira da vida após a morte para
que possamos falar com você.
Craaaaaaccck!
Lily solta um grito petrificado sob sua colcha.
— Que porra foi essa? — Ryke pergunta. Ele só olhar para fora da
janela, então acho que ele está preocupado com os danos estruturais
causados pela tempestade.
— É descarga eletrostática, — Connor diz. — Também conhecido como
relâmpago.
As luzes acendem e apagam até que uma lâmpada explode e todas se
apaguem. O relógio da TV se apaga com elas, então a luz acabou.
— Aimeudeus, — Lily diz rapidamente em pânico.
— Tia Margot? — Daisy fala, a única que ainda está com os olhos
fechados. — Você pode nos ouvir? — Apesar de sua voz brincalhona, eu
posso dizer que ela está colocando uma frente corajosa, seu colarinho se
projeta enquanto ela segura uma respiração. Ela aperta os joelhos e eu
me preocupo que toda essa sessão possa ter sido uma péssima idéia.
Uhhaaaaap!
Lily grita com o novo barulho, que emana do andar de cima. Coconut
entra na sala de estar com determinação, na verdade checando a porta de
correr... a cachorra a trava de volta com um cutucão do nariz.
Eu vi Ryke treinando a husky no primeiro dia aqui, mostrando a ela as
travas para as portas e todas as saídas, então eu não estou surpresa que
ela tenha o talento de trancar a porta - estou apenas alarmada que a
porta estava destrancada para começo de conversa.
— O que foi esse barulho? — Lily pergunta, incapaz de ver a rotina
vigilante de Coconut. — Connor?
Ele está olhando para o teto. — Um objeto caiu.
— Foi um fantasma?
Thuuump! é seguido por um gemido longo e agudo... talvez um gemido
humano. Não. De jeito nenhum. Estamos no meio do nada. Ninguém mais
está aqui. Eu me assegurei disso.
Animais.
Há animais vivos no andar de cima.
Eu matarei qualquer roedor que tenha decidido se alojar em nossa casa.
Ratos, eu acho. É provavelmente uma infestação deles.
Ryke imediatamente repousa a mão na cabeça de Daisy, sua testa
coberta de suor, sua respiração superficial, lutando para engolir o ar.
Ryke assobia e vejo o pelo branco de Coconut quando ela se aproxima.
— Deite-se, Dais. — Ele ajuda minha irmã a deitar de costas para
combater o início de um ataque de pânico, e a cachorra se enrola no peito
de Daisy, o peso aplicado atua como uma terapia de pressão profunda -
eu já vi isso ajudar uma vez antes.
Passos tamborilam no andar de cima. Eu fico de pé e pego minha babá
eletrônica, ouvindo a Jane. Eu posso ouvir seus roncos suaves, o que me
acalma um pouco, mas eu pretendo checar...
Mais passos. Não é uma pessoa. É um animal.
Lily joga a colcha para o lado. — Moffy, — diz ela, correndo em direção
à escada, a babá eletrônica ainda com ela.
— Lily, espera… — Lo corre atrás dela, e então Willow corre na direção
oposta, através de um corredor escuro.
Sem pensar duas vezes, corro atrás de Willow, sentindo Connor atrás
de mim. Quando ela apressadamente sobe outra escada, Connor vence
meu ritmo e passa por mim, segurando meu ombro com se me dissesse
está tudo bem. Ele sabe... algo que eu não sei.
O corredor do segundo andar está escuro como breu. Eu tento acender
as luzes, mas nada acontece. Connor pega seu celular e liga a lanterna,
um brilho azul iluminando Willow enquanto ela tenta girar a maçaneta
de uma certa porta.
Ela bate na madeira. — Você está bem?
Corro até ela um pouco depois que Connor chega e pergunta, — Ele
está aí?
Willow diz rapidamente, — Ele não tinha outro lugar para ir. Eu fiz
questão de vendar ele quando estávamos vindo. Eu prometo, ele não tem
ideia de onde fica esse lugar.
Eu levanto meu queixo, no modo de batalha com Connor. Eu puxo
Willow para mais perto de mim para que ele possa abrir a porta. Quando
ele faz isso, ele aponta a lanterna para o quarto, iluminando a cama
acolchoada. Um garoto de dezoito anos está sentado na beirada, uma
lâmpada quebrada no chão. Ele segura o pé descalço, como se tentasse
verificar a sola... gotas de sangue - um pedaço de vidro alojado no fundo.
— Você está bem? — Willow tenta se aproximar, mas eu a puxo de
volta para mim.
— Você também não está usando sapatos, Willow, — digo a ela.
Ele abaixa a cabeça em mais culpa do que dor, eu acho, seu cabelo
caindo em seus olhos. — Eu tentei ligar o abajur novamente. Acabei
derrubando e… — pisou no vidro. Ele estremece, tentando tirar o caco na
escuridão.
— Não, — Connor alerta. — Rose, você pode ir buscar um kit de
primeiros socorros e verificar a Jane?
— Eu já volto, — eu digo.
A meia-irmã do Loren trouxe sorrateiramente o amigo para dentro da
casa. Tenho certeza de que ela teve uma razão para isso, mas não acalma
o fato de que um babaca de dezoito anos está acampado no andar de
cima e minha irmã mais nova está aterrorizada no andar de baixo.
E pelo olhar no rosto normalmente estoico do Connor, ele também não
está contente.
[ 48 ]
CONNOR COBALT
Eu sei que Garrison não está com um celular. Ele deu o dele para Willow
quando se escondeu no Escalade, querendo mostrar a sua amiga que ele
não tinha planos em trair a confiança dela. Quando nós exploramos a
casa pela primeira vez, Willow ficou para trás e "ligou para sua mãe"
para que ela pudesse tirar Garrison do carro.
Basicamente, é tudo o que eu reúno antes de Rose retornar com o kit
de primeiros socorros, Jane no braço, e um par de sapatos. — Eu quero
falar com a Daisy e a Lily, — ela me diz. Seus olhos apontam para Willow.
— Eu sinto muito, Rose...
— Eu entendo o que significa ser leal, — Rose diz, — mas você não
deveria ter guardado isso de nós. Se você quisesse trazer seu namorado,
poderíamos ter feito algo.
— Amigo. — Willow corrige, empalidecendo e evitando os olhos do seu
amigo.
Garrison olha para Rose. — Seria melhor se estivéssemos namorando?
Eu respondo, — Isso tornaria tudo exponencialmente pior.
Ele se cala e abaixa a cabeça novamente, mais batido por sua própria
culpa.
Willow hesita ao lado da porta e se concentra em Rose. — Posso
explicar ... eu quero me desculpar com Daisy também…?
Rose concorda com a cabeça. — Me siga. — Ambas as meninas
desaparecem.
Talvez um minuto depois, Loren entra no quarto com velas e Ryke
entre com uma vassoura, já atualizados graças a Rose. Como todas as
garotas querem ficar juntas, nós três decidimos cuidar da bagunça no
andar de cima.
Loren acende velas em volta do quarto de hóspedes enquanto Ryke
varre o vidro. Eu me sento na cama ao lado de Garrison com o kit de
primeiros socorros.
— Eu posso fazer isso, — diz ele quando eu pego a pinça.
Eu a passo para ele. — Você precisa de pontos e o hospital mais
próximo fica a mais de duas horas de distância.
Ryke varre com mais força, irritado já que Garrison assustou Daisy pela
segunda vez, mas ele não está prestes a dizer: eu não vou levar ele, porra.
Ele levaria o Garrison. Ele levaria qualquer um para o hospital porque ele
se preocupa muito com as vidas humanas.
Eu não sou assim com qualquer um, mas eu aprecio quando outras
pessoas preenchem o papel.
Garrison parece ranger os dentes para trás e para a frente, com os
olhos nublados, e ele olha rapidamente para mim. — Você pode parar de
me observar? — Sua voz é tão cortante quanto a de Loren Hale.
— Eu poderia, mas estou esperando você me responder.
Ele nervosamente inspeciona seu pé, a pinça pairando sobre o vidro.
Ele diz algo em voz baixa que eu não consigo ouvir.
— O que foi isso? — Eu pergunto, suavizando o tom da minha voz para
ele.
Seu nariz se inflama e ele grita, — Eu não vou para o hospital! — Ele
aponta a pinça na direção da porta. — Eu prometi a ela que não
estragaria os relacionamentos que ela fez com cada um de vocês - e se eu
for ao hospital, as pessoas vão ver vocês, tirar fotos estupidas e todo
mundo saberá em que maldita cidade estamos. Então não, eu não vou. —
Ele respira fundo e se concentra em seu pé, com a mandíbula apertada.
Ele tem um coração. E talvez ele tenha aprendido com seus erros. O
suficiente para eu perdoá-lo por suas transgressões passadas? Pode levar
mais tempo para eu querer passar algum tempo com ele, mas posso
perdoar. Eu posso dar isso a ele.
— Relaxa, — Lo diz. — Nós não vamos forçá-lo a fazer algo que você
não quer, mas eu gostaria de saber por que você está aqui.
Ryke se agacha para varrer o vidro em uma pá de lixo, seu rosto
escurecendo. — Se ele está aqui para transar...
— O que? — Garrison se encolhe. — Não. — Ele recua com o olhar do
Lo. — Não que eu não goste de Willow.
Ryke se junta ao Lo para encará-lo, então Garrison se vira para mim em
busca de conforto. Meu rosto é acolhedor entre o forte e áspero de Ryke
Meadows e o afiado e acentuado de Loren Hale.
Garrison diz com raiva, — Um nerd que gosta de tropas estelares
chamou ela para ir o baile, ok?
— Declan, — Lo diz. — Você sabe quem ele é. Lily me disse que ele
passa na Superheroes & Scones pelo menos quatro vezes por semana.
— Para tentar falar com a Willow, — Garrison reclama. — E que porra
de nome é Declan?
— Que porra de nome é Garrison? — Lo retruca.
Garrison revira os olhos e suspira pesadamente. — Tanto faz.
Garrison se escondeu em uma mala em um porta malas por doze horas
e ele não parece ser o tipo de pessoa que faz isso apenas por uma garota.
Eu interrompo, — Por mais divertido que isso seja, ainda não estamos
mais perto das respostas e gostaríamos delas nos próximos cinco
minutos.
Ryke despeja o vidro em um saco de lixo e depois desaparece no
banheiro. Lo se ajoelha ao lado da cama e gesticula para a pinça de
Garrison.
Ele hesita e em seguida, passa para Loren.
— Tem alguma coisa que podemos usar para fechar o corte aí dentro?
— Lo acena para o kit de primeiros socorros.
Garrison relaxa ainda mais com a ideia de que não vamos para o
hospital.
— Podemos encontrar uma alternativa, se é isso que ele realmente
quer, — eu digo. Tenho certeza de que podemos suturar a ferida, mas
não ficará bonito.
Garrison assente. — É isso que eu quero.
Ryke retorna com um copo de água e entrega para Garrison. Eu passo a
ele um frasco de Advil, o melhor que temos para aliviar a dor.
Garrison olha entre nós e estranhamente, parece que ele pode chorar,
talvez só esteja sobrecarregado. — Eu pensei que vocês dois se odiavam?
— Ele gesticula do Ryke para mim. Baseado em tabloides, pode parecer
que sim.
Ryke responde antes de eu dizer algo, — Somos bons amigos. — Eu nos
rotularia de maneira semelhante. Não apenas amigos, mas um amigo
com quem posso contar, confiar, uma pessoa que eu preciso na minha
vida.
Garrison fica quieto, com os olhos fixos no carpete.
— O que foi? — Eu pergunto, incapaz de ler os sentimentos sob suas
feições.
Ele balança a cabeça e abre o frasco. — Eu só estava pensando... Eu
nem sei onde encontro o tipo de amizade que vocês três têm. Meus
amigos são idiotas. — Ele solta uma risada curta e dolorida. — Eu
também sou...
Eu olho para Ryke e Lo. Depois de anos de altos e baixos, discussões e
brigas entre nós, nós nos aproximamos, e ambos me ensinaram coisas
valiosas: como ser altruísta e como suportar a dor do amor.
Eu não vivo por dinheiro ou por títulos ou conquistas como eu
costumava fazer.
Eu vivo por pessoas.
Não há nada melhor que isso.
— Somos todos idiotas, — Lo diz para Garrison. — Mas um dia, você
vai conhecer um idiota que te pressionara a ser uma pessoa melhor.
Esses são os que vão continuar do seu lado.
Garrison esfrega os olhos uma vez, tentando esconder o movimento da
vista. Então ele toma uma pílula com um gole de água.
— Estamos chegando no meu limite de cinco minutos, — digo a ele.
Sua garganta balança. — Eu precisava de um lugar para dormir... Eu
tenho dormido na sala de descanso da Superheroes & Scones no último
mês. Mas eu descobri que Lily planeja em instalar mais câmeras de vídeo
na loja... Eu só... Não sei. Eu não conseguia pensar em nenhum outro
lugar para ir.
Eu já compilei uma lista de cinco lugares que aparentemente deveriam
superar onde ele está agora. — A casa dos seus pais, — sugiro.
Ele lambe os lábios rachados. — Eles acham que estou no Faust. Você
estudou lá, certo?
Eu concordo com a cabeça. — E por que você não está lá? — Raios
fazem barulhos do lado de fora da janela, a tempestade continua furiosa.
— Eu fui reprovado em abril… — Ele puxa a corda do seu moletom com
mais força. — A maioria das aulas do último ano são de níveis
universitário, você sabe disso?
Eu concordo de novo. Eu sei.
— Eu falhei tanto que eles não me deixariam fazer outra prova ou até
mesmo tentar fazer a prova final em maio. — Ele puxa o capuz sobre a
cabeça. — E você sabe, é culpa dos meus pais. — Seus olhos vermelhos
encontram os meus. — Porque eles precisavam me mandar para uma
nova escola no meio do ano? Eu sei… Eu sei que eu fodi tudo, mas se eu
quiser pelo menos um diploma do ensino médio, eu vou ter que repetir
de ano. Você sabe o que é isso?
Não. — E seus amigos? Eles têm casas, presumo.
— Você quer dizer os meus amigos que invadiram sua casa para
assustar vocês? Esses amigos?
— Não, — eu digo, sabendo o que aconteceu com eles. O julgamento
deles foi em abril e todos foram julgados como adultos. Cada um deles foi
condenado a servir um ano de prisão. — Seus outros amigos.
— Eu não tenho outros amigos, — ele diz. — Ninguém quer ser
associado com o cara malvado, não na Dalton e definitivamente não na
Faust. — Ele dá de ombros. — Eu não tinha para onde ir, ok? Eu tinha
Superheroes & Scones e Willow, só isso.
Se Lily e Lo não tivessem sido simpáticos com ele - para onde ele teria
ido então? Entrei na vida de Loren com zero motivos altruístas no início,
mas esses pequenos exemplos, em que tocamos a vida de outra pessoa
quando ela mais precisa, podem ser o fator decisivo para elas decidirem
se vão ou não acordar na manhã seguinte.
— Eu queimei a carta que Faust enviou aos meus pais antes deles
receberem - aquela que dizia que eu fui reprovado. E você sabe... — Ele
engasga. — Eu nunca fui uma boa pessoa. Eu nem sei o que alguns de
vocês veem em mim... Porque eu sou um merda.
Se ele pode ver suas falhas e sentir a terrível dor ao vê-las, acho que ele
vai ficar bem, especialmente com alguém como Lo ao seu lado.
— Você não é um merda, — Lo diz, tão forte quanto Ryke teria dito. —
Você quer que esse vidro saia do seu pé?
Almas quebradas são consertadas todos os dias por almas remendadas
que uma vez estavam quebradas.
— Sim, — Garrison finalmente solta um suspiro profundo. — Sim, eu
quero que saia.
[ 49 ]
ROSE COBALT
Poppy chegou essa tarde com o marido e a filha, perdendo a falta de luz,
a aparição surpresa do Garrison e o pequeno ataque de pânico da Daisy.
Eu não tenho energia para compartilhar tudo isso, então Lily e eu agimos
como se a viagem tivesse transcorrido tranquilamente e escutamos as
atualizações da nossa irmã mais velha.
— Tem sido caótico, — diz Poppy, retirando a chaleira assobiando do
fogão. — Há sempre pelo menos quatro paparazzi seguindo Maria até a
escola e eu escolhi acompanhá-la com três guarda-costas.
Lily coloca três xícaras de chá no balcão. — Não está tão diferente de
antes, né? — Essa é a tentativa da Lily de despertar meu espírito. Estou
mais furiosa com os paparazzi do que mal-humorada e cheia de culpa,
mas entendo que sou responsável pelo aumento da atenção da mídia. A
história digna de manchetes é centrada em Connor e em mim, mas
prefiro planejar estratégias de vingança - que provavelmente nunca
serão concretizadas - do que lamentar.
— Isso é verdade. Costumava haver um ou dois paparazzi pairando em
torno de nós antes. — As pulseiras de madeira de Poppy tilintam em seu
antebraço enquanto ela derrama água quente em três xícaras.
Lily coloca os saquinhos de chá.
Minhas juntas parecem rígidas e inúteis enquanto fico parada no meio
da cozinha. — Nenhuma de vocês precisa perder tempo me animando.
Eu nunca fico animada para começar. — Minha voz está gelada. Eu
decido colocar meus brincos de diamante. — Vocês não se lembram? Eu
sou feita de espinhos. — Quando eu estava na escola preparatória e
sendo particularmente espinhosa e fria, Poppy costumava me dizer
enfaticamente, nem todos nós somos feitos de espinhos, sabe.
Poppy me dá um olhar arrependido, considerando meus sentimentos
mesmo quando estou dizendo a ela que não tenho nenhum. Eu posso
balançar um coração preto em seu rosto e ela ainda diria que bate como
o de todo mundo.
— O que está acontecendo é horrível, — diz Poppy, — e eu não quero
virar isso e me vitimizar. — Ela me passa uma xícara de chá, como uma
oferta de paz. — Eu tenho tentado dizer a mamãe, papai e até mesmo ao
Sam para ficarem fora da sua vida. Isso é entre você e seu marido e
nenhum de nós pode lhe dizer o que fazer. Se eu estivesse em sua posição
com Sam, eu esperaria o...
Um grito gutural do lado de fora corta Poppy no meio da frase.
Daisy.
A xícara de chá escorrega da minha mão e eu mal a ouço se estilhaçar
quando corro para a porta de correr de vidro, a abrindo. Quando chego
ao corrimão da varanda, Poppy e Lily correm atrás mim.
Abaixo de nós, perto do lago, Daisy está no longo cais de madeira com
Ryke ao lado dela, a husky sentada a seus pés. Com as mãos em punhos
ao lado do corpo, ela simplesmente grita no ar. Os pelos dos meus braços
arrepiam, seu grito estridente e dolorido queimando a encosta da
montanha.
Ryke tem cuidado para não tocar na namorada, cautelosamente
observando ela expulsar o que a sobrecarregou. Eu forço meus pés a
ficarem parados, querendo muito ajudar minha irmã, mas eu não vou
perturbá-los agora.
De vinte minutos a eles, Rose. Eu estremeço. Ou dez.
— O que aconteceu? — Lily pergunta suavemente.
— O que não aconteceu? — Minha voz firme queima minha garganta. E
se for algo novo e não apenas seu ataque de pânico da sessão espírita?
Poppy coloca os dedos nos lábios. — Acho que ele terminou com ela.
O rosto de Lily se encolhe de horror. — Não. — Ela balança a cabeça
repetidamente.
Eu gosto de pensar que conheço Daisy e não posso imaginá-la gritando
porque um cara terminou o relacionamento deles, mesmo que esse cara
seja Ryke. E se ela quisesse gritar, nunca faria isso ao lado dele. O que eu
posso imaginar: Ryke dizendo, estamos dando um tempo e depois Daisy
se retirando para o quarto para chorar sozinha.
E por que diabos Ryke pisaria no coração da minha irmã durante uma
viagem? Uma viagem que são necessárias doze horas dentro de um carro
para voltar para casa?
Ele não iria fazer isso.
— Ele não terminou com ela, — eu digo a minhas irmãs.
— Você tem certeza? — Poppy pergunta.
Lily parece que vai chorar. Eu lembro da declaração de Ryke na cozinha
há algum tempo atrás. Sobre casamento. Ele não terminaria as coisas
com ela, mas há sempre a chance microscópica de que algo aconteceu -
algo que eu não vi no relacionamento deles. Eles são tão... Privados.
— Não cem por cento, mas eu não posso vê-lo fazendo isso, não aqui.
— Eu cruzo meus braços, lutando para ficar na varando e não correr para
ajudar a Daisy.
— Eu não posso vê-lo fazendo isso de jeito nenhum, — diz Lily. — Ele a
ama.
Poppy torce uma de suas pulseiras ansiosamente. — Não muito tempo
atrás, eu disse a Ryke o quão importante meu ano sem o Sam foi. Talvez
ele tenha considerado isso para Daisy.
Eu pressiono meus lábios juntos, já sabendo sobre a conversa dela com
o Ryke. Poppy acabou de dizer como ela não iria interferir no meu
relacionamento, mas ela está disposta a se intrometer no do Ryke e
Daisy. Eu entendo que Poppy tem experiência em ser jovem e
apaixonada e ela se relaciona mais com o relacionamento deles do que
com o meu.
Eu olho para Poppy. — Ryke me contou sobre a conversa de vocês e ele
estava mais irritado do que qualquer coisa.
Poppy franze a testa. — Você tem certeza?
Daisy grita novamente, profundamente do seu núcleo, um grito que
sacode seu corpo. Meu pescoço se arrepia. Não chore, Rose. Eu sou a irmã
severa e estoica que pode levá-las a qualquer lugar e não posso ser essa
irmã me afogando em lágrimas.
Eu tento soltar um suspiro apertado. Estou familiarizada com o grito
vibratório da Daisy, só que prefiro soltar ele no meu casaco. Minha mente
percorre minha infância e adolescência e continuo batendo em um
obstáculo que Daisy e eu compartilhamos: nossa mãe, aquela que gosta
de interferir em nossos relacionamentos.
Eu lentamente me viro para Poppy. — Você falou com alguém além do
Ryke sobre essa ideia de ‘pausa’?
Poppy abre e fecha a boca como um peixe morrendo. — Eu falei para a
mãe e o pai sobre e...
Meus olhos brilham quentes. — E o que?
— Ela apontou que eu mal tinha experiências mundanas aos dezoito
anos, então fazia sentido que eu ficasse independente do Sam depois da
escola preparatória. Mas Daisy viajou para quase todos os continentes
desde os catorze anos. Eu não tinha pensado nisso até a mamãe
mencionar.
Eu congelo. — Ela discordou de você?
Poppy acena com a cabeça. — Muito, na verdade. Desde que ela jogou
Ryke na cadeia, ela se sentiu culpada. E ela se sentiu um pouco parecida
com Sara Hale, eu acho. — Nossa mãe odeia a mãe do Ryke, então
compará-las deve ter a deixado com raiva.
É difícil para mim acreditar que eu concordo com a minha mãe em
alguma coisa, mas eu prefiro ter ela do meu lado do que contra mim.
Lily funga, seu nariz escorrendo. — E o papai?
— Ele disse que eles têm estado tão comprometidos um com o outro
que não faz sentido para eles se separarem a menos que Daisy queira ir
para a faculdade, mas ela não quer.
Independentemente dos nossos pais, a opinião da Daisy é mais
importante. — Você já falou com a Daisy? — Pergunto a Poppy.
— Não, eu continuo esquecendo toda vez que a vejo. — Poppy cobre a
boca, chateada, e eu a ouço xingar sob sua respiração.
— Você não o influenciou, — digo a ela.
— Eu não vejo como você pode ter tanta certeza, — ela sussurra.
Lily parar de roer as unhas e responde primeiro. — Ryke é um dos
pensadores mais independentes que eu já conheci, e se ele fez isso...
Então ele fez isso por conta própria... Certo, Rose? — Lágrimas se
acumulam nos olhos da Lily.
— Não chore ainda. É como chorar no começo de um filme.
Ela funga e enxuga os olhos. — Você chorou no começo de Titanic.
— Eu estava grávida e hormonal, — rebato e bufo. — E eu sabia da
tragédia que estava prestes a acontecer. Nós nem sabemos do que isso se
trata. — Essas são as minhas defesas para manter a água sob controle e
eu as compartilho com ela o máximo possível. Porque se ela começar a
chorar, vai criar um efeito de dominó entre todas nós.
Eu me endireito, me concentrando no cais. Eu fico completamente em
silêncio quando Daisy cambaleia para trás em exaustão, seu último grito
já deixando seus lábios. Ela começa a soluçar e suas pernas se dobram
sob ela.
Ryke pega Daisy pela cintura, a segurando firmemente contra seu peito
e ele cai de joelhos com ela embrulhada em seus braços. Ela chora na
curva do ombro dele, e a mão dele desaparece no cabelo dela, os seus
lábios no ouvido dela enquanto ele sussurra algo. Sua voz é inaudível,
mas eu vejo o corpo de Daisy se levantar com cada soluço.
Eu agarro o corrimão para não sair de lá. E então os olhos dele se
movem para a varanda, avistando minhas irmãs e eu. Ele gesticula para
nós irmos até eles.
É por isso que gosto do Ryke Meadows.
Eu ando rapidamente em meus saltos, com cuidado para não cair da
escada. Eu desço do último degrau e descendo a colina, Lily limpando
suas bochechas manchadas apressadamente. Poppy levanta a saia
boemia da grama úmida e eu lidero o caminho, apesar de um dos meus
saltos estar tentando entrar na grama encharcada.
Ryke se afasta de Daisy, preocupação endurecendo sua mandíbula. Ela
tem dificuldade em apoiar seus membros pesados, esmagados pela
tristeza, e posso dizer que ele está se esforçando para deixá-la, mesmo
que por um segundo. Ele se agacha na frente de Daisy e beija o topo de
sua cabeça, diz algo fora do alcance da voz, e fica de pé.
Ele se dirige para nós.
Quando chegamos ao cais, Ryke está a poucos metros de distância,
lutando contra as próprias lágrimas. Ele passa por nós e diz em voz
baixa, — Ela precisa das irmãs.
Não chore, Rose. Eu respiro pelo nariz.
Lily não espera para ouvir o que aconteceu. Pernas desengonçadas e
tudo, ela corre desajeitadamente o mais rápido que pode para a nossa
irmã mais nova.
— Vocês dois estão dando um tempo? — Poppy pergunta.
— O quê? — Suas sobrancelhas se franzem, parecendo atordoado. —
Não. Porra, não. — Ele passa a mão pelo cabelo.
Eu hesito entre ficar e pedir mais informações e ir confortar minha
irmã, mas sei que a Lily tem ótimos abraços. Melhor que o meu pode ser.
— O que aconteceu? — Eu pergunto, um buraco se abrindo no meu
estômago.
Ryke balança a cabeça. — Eu não posso falar. Vocês têm que ouvir isso
dela.
— É ruim? — Eu pergunto.
Ele acena com a cabeça uma vez.
— Vamos, — Poppy diz, deslizando a mão na minha. Nós caminhamos
juntas até o final do cais. Lily segura Daisy em seu colo e ela descansa a
bochecha no ombro da Lily, lágrimas escorrendo pelos seus rostos
avermelhados. Eu encontro o olhar de Lily em busca de respostas, mas
ela balança a cabeça, silenciosamente dizendo que ainda não tem
nenhuma. Ela é apenas severamente empática.
Poppy se senta ao lado delas e eu me sento na frente de todas as três,
fechando o círculo entre nós. As árvores de bordo sussurram com uma
rajada de vento, o lago ondulando debaixo de nós nessa atmosfera serena
e remota. Eu entrelaço meus dedos com a da minha irmãzinha e Poppy
acaricia o cabelo moreno de Daisy, tirando os fios de suas bochechas
molhadas.
Minha mente não está construindo conclusões drásticas. Eu estou até
os joelhos no momento presente, observando sua respiração irregular
diminuir para inalações mais cheias. Ela olha para as tábuas de madeira
do cais, perdida em sua cabeça.
Eu aperto a mão dela. Por enquanto, tudo o que podemos fazer é ficar
aqui.
Minutos devem se passar antes que ela finalmente fala. — Eu tenho
essa teoria... Que se você ama alguém tanto, tão esmagadoramente, tão
terrivelmente, então alguma força da natureza vai te ferir por seu amor
terrível e você nunca mais será a mesma. — Sua voz falha, seu queixo
tremendo.
Eu engulo um caroço. — Eu gostei mais de sua teoria do porco e do
urso.
Ela solta uma risada fraca que se transforma em dor. Poppy limpa as
bochechas de Daisy com o tecido de algodão de sua saia.
Então Daisy vira a cabeça, os olhos com as pálpebras pesadas em mim.
— Minha menstruação é irregular desde quando fiquei menstruada pela
primeira vez, mas todas sabem disso.
Lily e Poppy acenam. Eu não posso descongelar os músculos do meu
pescoço para fazer isso.
— Eu nunca tive uma alimentação saudável quando eu era modelo, —
ela continua com uma respiração irregular. — E algumas outras modelos
mais velhas não menstruavam porque comiam tão pouco e parecia ser
normal. Sabe? — Lágrimas escorregam de seus olhos.
Eu não consigo entender o mundo em que ela cresceu - aquele em que
ela acreditava que era normal começar a menstruar com dezesseis anos e
só duas vezes por ano. Me desculpe, eu quero dizer, mas do que adianta
um pedido de desculpas agora? O estrago está feito, e o melhor que posso
fazer é manter minha irmã em um pedaço enquanto ela precisar de mim.
— Sua menstruação ainda ficou irregular depois que você parou de
modelar, — eu lembro, um tremor indetectável na minha voz.
Lily olha para mim. — Mas é melhor do que costumava ser. Daisy me
disse isso.
— É melhor, — Daisy diz suavemente, — mas eu também mencionei
como ainda é irregular.
— O ginecologista disse que era estresse, — relembro bem dessa
memória. Isso foi na época em que eu estava grávida da Jane, e Daisy
tinha cólicas horríveis. Sua menstruação durou muito tempo, e então eu
disse a ela que a levaria ao médico, só para garantir que tudo estava bem.
Eu estava lá quando o fodido médico disse que o estresse era a causa,
nada mais.
Por favor, que não seja nada mais.
Ela abre a boca para falar, mas as palavras não saem ainda. Poppy
continua penteando o seu cabelo, o que parece relaxar Daisy nos braços
da Lily.
E então Daisy aperta minha mão e percebo que ela está olhando para
mim. Acho que sei a conclusão dessa história e já está esmagando minha
alma, porque sei que deve estar esmagando a dela.
— Eu parei de tomar pílulas anticoncepcionais por algumas semanas
em março, — ela explica para o céu e depois olha para mim, — e foi tão
doloroso; eu pensei que elas eram cólicas de monstros ou algo assim. —
Ela ri tristemente antes de franzir a testa profundamente. — Eu disse a
Frederick sobre minha menstruação e os anticoncepcionais, uma vez que
isso afeta meu humor, e ele apenas disse que eu precisava de um
ultrassom imediatamente.
Minha garganta queima. — Por que você não disse nada?
— Você estava passando por tanta coisa com o Connor e a Lily estava
em um bom lugar - Poppy, você tem sua própria família, eu só não queria
descarregar isso em vocês. Eu pensei que poderia não ser nada, e se não
fosse nada, então eu não preocuparia vocês, mas se fosse alguma coisa...
— Ela engasga com as lágrimas, e eu me aproximo para apertar as suas
duas mãos.
— Ryke foi com você pelo menos? — Ninguém quer imaginá-la
sozinha.
Ela acena com a cabeça. — Ele tem sido muito bom. — Ela faz uma
pausa, sua voz quebrando com cada frase. — Eu estava muito triste
depois para poder dirigir minha moto para casa, então fui na dele e ele
andou comigo pela cidade por uma hora. Isso me fez sentir melhor. —
Ela balança a cabeça novamente, mais para si mesma. — No médico, eles
não me deram os resultados completos. Tudo o que disseram foi que eu
tinha alguns... Cistos em ambos os meus ovários, o que estava me
causando dor e bagunçando meus ciclos. Eles disseram que poderiam ser
inofensivos, mas queriam fazer um exame de sangue antes de determinar
que tipos de cistos eles eram.
Ambos os ovários, eu foco nisso e solidifico.
O vento chicoteia as árvores novamente, um pássaro canta, o que é tão
blasfemo. O mundo deveria estar de luto com nós quatro, outro
aguaceiro de raios e trovões. Em vez disso, o sol espreita através das
nuvens ondulantes, a terra se movendo no lazer e na paz.
— O médico me ligou essa manhã, — ela diz suavemente. — Ele me
disse que meus resultados tinham chegado, e eu precisava ir vê. — Ela
solta um suspiro pesado. — Eu implorei a ele para me dizer agora. Eu
só... Eu não queria ficar o resto da viagem sem saber.
Eu tenho que perguntar, — Que tipo de cistos?
Com outra expiração profunda, ela diz, — Endometrioma. — Ela tem
endometriose. Não é câncer, mas também não é bom. — Ele disse que,
devido ao tamanho do cisto e do estado do meu ovário esquerdo e do
tubo esquerdo, o melhor curso de ação é remover os dois.
Eu segurei tudo até esse ponto. Eu pisco e uma cascata de lágrimas lava
minhas bochechas.
Daisy chora silenciosamente.
Lily a abraça com mais força e seus olhos avermelhados voam para
mim em busca de soluções. — Tem que haver outras opções.
Eu aceno com a cabeça, apesar de me sentir impotente. Eu levanto meu
queixo e limpo minhas bochechas antes de segurar as mãos da Daisy
novamente. — Daisy, — eu digo com força. — Vamos levá-la a outros
médicos para suas opiniões profissionais. Você precisa de múltiplas
opiniões antes de fazer uma cirurgia como essa.
Daisy acena, mas sua voz está tão desanimada quanto estava. — Você
deveria ter visto os rostos deles quando viram o ultrassom... Eles sabiam
o que era naquele momento. Eu sei que sabiam.
— E o seu ovário direito? — Eu pergunto. Estamos contornando a
verdadeira consequência disso e eu me bato nisso para ela. — Você ainda
pode ter filhos com um ovário, Daisy.
— Ele disse que... A qualquer minuto o cisto poderia se romper e eu
precisaria retirá-lo. A cirurgia laparoscópica ajudaria a melhorar o
ovário, mas não há garantia de que vai funcionar ou durar. — Seus olhos
cheios de lágrimas encontram os meus. — É mais provável que eu nunca
tenha bebês do que é provável que eu tenha.
Em um tempo indefinido, eu sempre imaginei esse cais, no qual nós
quatro estamos sentadas, cheio de crianças e adolescentes, suas risadas e
gritos tomando conta do ar.
E então haveria o filho de Daisy, subindo na árvore de bordo mais
próxima, dançando no galho retorcido que se projeta. Haveria o filho de
Daisy, saltando descontroladamente e mergulhando no lago.
— Shh, — Poppy sussurra, — está tudo bem, Daisy.
Não está tudo bem. É um conjunto ruim de cartas, um destino mais
sombrio do que eu sempre quis para minha irmã. Não pode terminar
desse jeito.
— Estar aqui tem sido difícil, — ela confessa em lágrimas, seu corpo
tremendo. — Eu sei o que essa casa do lago significa para todos, e
significava a mesma coisa para mim também. — Ela inala bruscamente.
— Eu queria filhos. Eu sei... Eu sei que ainda sou jovem, mas algum dia,
eu queria eles. Eu queria essa experiência, o começo, o durante, o depois.
— Ela faz uma pausa. — E você sabe o que é realmente triste? Eu
realmente comecei a imaginar o futuro... Sonhando com meus próprios
bebês.
— Você vai ter filhos, — digo a ela com certeza.
Ela abaixa a cabeça com dúvida. — Eu poderia ir fazer a cirurgia do
ovário esquerdo, e eles poderiam dizer que o outro precisa sair também.
Me recuso a ficar de braços cruzados com essa tristeza, essa conclusão
infeliz para minha irmã. Eu quero dar a ela um final melhor para a sua
história. Eu vou dar um para ela. Eu sacudo suas mãos. — Olhe para mim,
Daisy.
Quando ela levanta a cabeça, seus olhos estão mais cheios de lágrimas.
Eu pisco e mais caem dos meus.
Eu entrelaço os dedos das minhas duas mãos com os dela. — Você terá
bebês. Você pode congelar seus óvulos e se alguma coisa acontecer, eu
vou carregar o seu bebê, quantos você quiser. — Estamos todas
chorando, e eu embalo essas promessas. Eu sei que não é exatamente o
mesmo que experimentar o parto, mas é o mais próximo que posso dar a
ela. — Eles terão seus traços. Você os segurará em seus braços e os verá
crescerem grandes e fortes.
Daisy está em algum lugar entre outro soluço e um sorriso quebrado.
— Tem certeza, Rose?
Poppy esfrega os olhos. Ela não terá outro bebê, nem mesmo como
barriga de aluguel. Seus enjoos a colocou no hospital por algumas
semanas. Depois de Maria, ela disse que nunca teria outro filho. Por
causa dos efeitos adversos que a gravidez tem no vício da Lily, Daisy não
gostaria que Lily carregasse um bebê para ela.
Mesmo que eu não fosse a única opção, eu seria a primeira a se
voluntariar.
— Meu útero é todo seu, — digo a ela. — No momento em que você
quiser um, eu estou pronta. — Eu sempre fui boa em compartilhar com
minhas irmãs. Isso não é diferente para mim.
Daisy solta minhas mãos e me abraça primeiro. Meus ombros e braços
ainda estão duros, mas eu tento retribuir o abraço como a Lily
retribuiria.
— Obrigada, — ela respira.
— Eu te amo, — digo, passando meus dedos pelo cabelo dela. Lily e
Poppy se juntam ao nosso abraço, expressando o mesmo sentimento, e
pouco tempo depois, todas nós estamos empilhadas juntas, com marcas
de lágrimas na bochecha, rímel escorrendo, os caminhos de nossas vidas
se desviando só um pouco para seguirmos a nossa irmã. E nunca a deixar
sozinha.
[ 50 ]
ROSE COBALT
Nós ficamos no cais, com nossos pés na água e conversando sobre tudo e
qualquer coisa. Daisy ri quando Lily descreve como ela dormiu abraçada
com a lata de spray contra ursos depois que Loren rejeitou sua ideia de
uma barricada-contra-ursos.
Os olhos de Lily se arregalam comicamente. — Se um urso pode
demolir uma pilha de cadeiras, nenhuma de nós estamos seguras. Pense
nisso.
— Há um machado no meu quarto, — digo a Lily. — Eu decapitaria
esse urso filho da puta.
Daisy chuta os pés na água, um sorriso erguendo os lábios. — Há dois
lobos no meu quarto, então estou segura.
Poppy levanta as mãos em sinal de rendição. — Eu não estou
machucando o urso. Se por azar algum tropeçar no meu quarto, Sam me
ajudaria a tira-lo.
Eu bufo. — Com o que?
— Mel, — Daisy fala.
Lily concorda. — Pooh*. — Ela fica vermelha. — Quero dizer, o Pooh
urso… — Ela torce o rosto. — Espera... eu não quero dizer isso assim.
Quero dizer…
*(trocadilho com poo que significa cocô em inglês) — Nós sabemos, — eu a corto no meio
desse acidente de trem. — Ursinho Pooh.
Ela acena novamente, com mais confiança. — Sim. Ursinho Pooh. Ele
gosta de mel, então se nós deixarmos frascos a cinquenta quilômetros de
distância, talvez eles não cheguem nem perto de nós.
Eu quero ressaltar que ninguém viu um urso ainda, mas Poppy se
estica para olhar a Daisy ao meu lado. — Daisy?
— Sim? — Daisy lhe dá um sorriso, para mostrar que ela está melhor.
Eu não sei dizer o quanto ele é forçado, mas eu gostaria de pensar que ela
não está tão melancólica quanto antes.
— Você já pensou em fazer uma pausa... como eu fiz com o Sam? — Ela
pergunta. — Eu só queria saber seus pensamentos sobre isso.
Antes da Daisy falar, eu ouço o barulho da porta de vidro se abrindo.
Todas nós viramos nossas cabeças ao mesmo tempo, e nossos maridos e
o namorado de Daisy se juntam na varanda do segundo andar. Loren
acende a churrasqueira e nenhum deles se intromete ainda, apenas
cozinhando e conversando entre si.
— Eu imaginei, — Daisy admite, — mas não é como você pensa. — Ela
mexe o pé no lago. — Toda vez que eu me imagino sozinha, estou
viajando de volta para onde eu estive uma vez. Eu não estava feliz
naquela época.
— Em que momento você ficou mais feliz? — Poppy pergunta.
Daisy sorri completamente enquanto pensa nisso. — No momento em
que comecei a preencher meu tempo com ele. Eu não fazia mais todas as
coisas divertidas sozinha. Ele surfou comigo. Ele mergulhou comigo. Ele
pulou de penhascos comigo. Eu tive um amigo. Um amigo de verdade. Eu
aprendi mais sobre mim mesma, sobre meus gostos e desgostos e minhas
limitações e minhas expectativas, na companhia do Ryke do que em
todos os anos que passei sozinha. E eu não quero voltar.
Eu envolvo meu braço em volta da cintura dela. — Não há nenhum
lugar que diga que, depois que você tem um amigo, namorado ou marido,
você perde sua independência. Eles não são mutuamente exclusivos e
todo mundo deveria ter o direito de ter ambos. — Não importa a idade.
Poppy concorda com a cabeça, compreendendo mais essa noção. —
Concordo.
Daisy inala profundamente, olhando para o céu. — Alguns dias eu não
consigo nem me imaginar um ano mais velha e depois outros dias, tudo
que vejo é o futuro distante.
— É melhor eu ainda ter um senso de estilo em seu futuro, — digo a
ela. — Se estou usando um poncho gigante, o mundo realmente foi para o
inferno.
Todas riem e não muito depois, nos levantamos juntas. Daisy segura
minha mão enquanto subimos a colina, o cheiro de hambúrgueres
flutuando em nossa direção. Subimos os degraus da varando e chegamos
ao topo, onde todos estão reunidos. Willow e Garrison se sentam um ao
lado do outro em cadeiras de balanço, bebendo refrigerantes Fizz Life.
Estou prestes a abordá-los quando Connor entra na minha frente, Jane
em seu quadril. — Ça a été? — Como foi?
Ryke contou tudo pra ele, eu presumo. Pelo canto do meu olho, vejo
Daisy e Ryke se reunindo perto da churrasqueira. Ele a abraça com muito
apoio e carinho, seu amor por ela é tão aparente.
Connor tenta remover meu rímel borrado com o polegar. Eu me
concentro nele novamente. — Eu vou ter o bebê dela se ela não puder
carregar um.
Ele não está surpreso ou relutante com essa ideia. Ele concorda com o
plano. Eu vejo isso em seu sorriso genuíno. E então diz, —Você é uma
mulher forte.
Eu recebi um conjunto de cartas maior do que os que foram passados
para Lily e Daisy. Elas são igualmente fortes, se não mais. Eu sempre
estive aqui como reforço extra, e não importa quão velha nos tornemos,
quantos fios de cabelos grisalhos vamos ter, isso nunca vai mudar.
[ 51 ]
ROSE COBALT
— Respirez profondément, — sussurra Connor no meu ouvido. Respire
fundo.
Eu prendi o oxigênio nos meus pulmões. Meu cérebro está altamente
consciente do que o cérebro do Connor quer fazer. Estamos indo embora
da casa do lago amanhã e por isso, não é loucura acreditar que ele queira
ultrapassar uma barreira nossa. Eu penso em todas as viagens que
fizemos juntos, sempre fazemos algo "fora do comum" perto do fim.
Como nos Alpes. Perdi minha virgindade antes de irmos embora.
Como na nossa lua de mel em Bora Bora. Fizemos sexo em uma cabana
de praia no dia anterior do nosso voo para casa.
E você amou as duas e todos as outras, Rose.
Esse conhecimento mal extingue minha ansiedade.
Eu deito de bruços e ele se inclina para frente, tirando meu cabelo
úmido do meu ombro e ganhando acesso ao meu pescoço. Ele beija
minha pele sensível, meu corpo latejando das preliminares - já molhada,
já pronta para outro clímax. Eu percebo tudo isso, mas... Mesmo usando
plugues por semanas, duvido que Connor na minha bunda vai ser outra
coisa senão excruciante.
— Saia da sua cabeça, Rose. — Ele bate na minha bunda e eu exalo uma
respiração mais apertada. Então ele tira seu peso de mim.
Eu olho por cima do meu ombro. Completamente nu como eu, ele está
com as pernas de cada lado das minhas coxas que estão pressionadas
juntas, meu corpo deitado como se eu estivesse apenas dormindo de
barriga para baixo, em paz. Ele coloca um travesseiro sob meus quadris,
levantando meu traseiro para sua posse.
— Apenas relaxe.
Relaxar. Não é tão fácil para a minha mente neurótica. Eu tento me
concentrar nele: a confiança dele que consome o quarto e diz isso será
prazeroso para você, Rose; seus bíceps esculpidos e abdomens
irritantemente definidos, músculos apontando para seu pênis ereto.
E seus joelhos estão em ambos os lados do meu corpo - é uma imagem
que eu imaginei enquanto me masturbava quando adolescente. Eu não
posso negar isso, mas na minha fantasia, não havia sexo anal em jogo.
— Shh, — ele respira, seus lábios subindo.
— Me silenciar não vai ajudar, Richard, — murmuro.
— Je connais toutes les façons de vous aider. Croyez-moi. — Eu
conheço todas as maneiras de ajudá-la. Acredite em mim.
Acreditar nele? Confiar nele? Vejo enquanto ele estuda meu corpo com
seu olhar e uma mão lenta e desejosa, desenhando a curva da minha
estrutura com sua palma. Meus nervos se acendem sob seu toque e
minhas pernas tremem um pouco.
Eu engulo alguns receios, sabendo que ele não vai em frente se eu
mostrar momentaneamente sinais de luta.
Você é uma maldita leoa, Rose. Deixe-o montar você.
Algo frio e delicado roça meus tornozelos. Eu estico meu pescoço mais
por cima do meu ombro, prestes a virar de costas e me sentar. Ele coloca
uma mão firme na minha bunda, me mantendo parada. — Não se mova,
— ele ordena.
— O que você está fazendo?
Ele se vira para mim, um item em seu punho fechado. Aposto que é
uma duplicata do que quer que esteja em volta dos meus tornozelos. É
tão fino que eu acho que posso puxá-lo e levantá-lo com os dedos dos
pés, tudo sem me virar de costas. No entanto, no momento em que eu
levanto um pé só, Connor agarra minha perna, me prendendo.
— Você não vai querer fazer isso, Rose.
Eu estreito os olhos para ele, — Por que não?
E então ele se inclina para frente para segurar meus pulsos. Ele os
puxa mais para cima, os juntando com um aperto forte. — Porque se
você se mexer, você quebrará isso. — Ele revela um fio de diamantes
tentador e interminável, o colar frágil e fraco como um sussurro em seu
ouvido. Ele cuidadosamente o envolve duas vezes ao redor dos meus
pulsos antes de fechar o mais melhor fecho que já vi.
Eu me pergunto se isso faz parte dos novos produtos da Cobalt
Diamonds. Mesmo que não fosse, eu odiaria quebrar joias -
especialmente uma peça que é meu estilo, meu gosto, perfeitamente eu.
— Você está me subornando? — Eu pergunto.
— Não, — ele diz com firmeza. — Eu preciso que você não se contorça,
não fique de pé ou abra as pernas. E você está gostando muito de
algemas.
Ainda posso esticar o pescoço sobre o ombro para espiar ele. Ele está
na mesma posição, com as mãos na parte inferior das minhas costas. —
Feche seus olhos.
— Não.
Ele bate na minha bunda. Eu estremeço e mordo meu travesseiro, meu
corpo desejando mais estímulo. Seus dedos obedecem, massageando
meu clitóris por dois segundos agonizantes.
— Você precisa estar completamente relaxada.
Ele me lembrou antes que se eu ficar tensa, vai me causar dor, então
ele está tentando o seu melhor para me acalmar antes de fazer qualquer
coisa.
— Eu vou devagar, — ele comunica, sabendo que eu não posso ficar
sem informações sobre isso. — Eu não vou entrar em você de uma vez,
eu prometo.
Tradução: Eu conheço o seu corpo. Eu conheço suas limitações. Confie
em mim.
Eu confio. Eu fecho meus olhos e descanso minha bochecha no meu
travesseiro macio, tentando relaxar. Eu sinto uma nova temperatura,
gelado, mas um pouco quente. Lubrificante, eu suponho. Não muito
tempo depois, Connor gradualmente entra em mim. Assim que a
expansão começa a arder, seus dedos mergulham e esfregam, criando
uma fricção quente.
Minha mente coloca a dor de lado quando sensações orgânicas piscam
em tecnicolor. Eu ofego no travesseiro, meus lábios se separando em
uma respiração desconcertada. Ele remove os dedos e empurra mais
para dentro e para fora, abrindo caminho para mais fundo. A plenitude
(cheia dele - meu Deus) é diferente de tudo...
Quando eu alargo para acomodar o seu tamanho, ele empurra a cada
segundo, não muito áspero, mas estocadas confiantes. A pulsação entre
as minhas pernas cresce e parece ficar em sincronia com o seu
movimento na minha bunda.
Eu abro meus olhos e olho para ele. Com as mãos firmemente
segurando meu quadril, seu corpo se flexiona com cada movimento para
a frente. Eu continuo o observando. Como ele está ajoelhado, como ele
está empurrando em mim, como o foco dele está no meu ser. A excitação
em seus olhos azuis profundos me leva para outro lugar sufocante.
— Connor, — eu suspiro, minha boca incapaz de se fechar. Eu gemo
nos lençóis, descansando minha cabeça que está girando no travesseiro.
Um gemido gruda na sua garganta, e ele se inclina para trás para soltar
o fio de diamante dos meus tornozelos, nunca perdendo o ritmo. De
repente ele agarra meu tornozelo e o levanta mais alto enquanto
continua a empurrar, permitindo uma penetração mais completa e
profunda. — Fica para...
Ele avisa tarde demais. A explosão rápida, sua força poderosa, faz com
que eu mova meu braço, para procurar um apoio melhor. O colar de
diamantes se parte em dois. Ele não para pra me deixar fixar no que eu
fiz.
Com minha palma da minha mão na cama, ele segura meu cotovelo
dobrado com a outra mão, me segurando em uma posição ligeiramente
alterada. Ele me fode mais forte por trás.
Ele tem meus membros. Em seu aperto. E ele nunca para o ritmo. Estou
tão consciente do seu pau dentro de mim, mais do que nunca. Estou cheia
de Connor Cobalt, e é…
Meus olhos se reviram. Meus dedos se curvam.
Me monte pra caralho.
Eu não posso acreditar que eu gosto disso.
Mas então eu posso. Eu gostei de muitas coisas que eu nunca pensei
que gostaria.
***

Se Connor é um deus durante o sexo, então ele certamente é um deus


depois. Ele é tão atento às necessidades do meu corpo, para ser tratado
com a estranha mistura de cuidado áspero e delicado. Ele massageia
minha pele crua e avermelhada, de ser espancada, com um creme quente
e suave.
Eu posso dizer que ele gostou tanto quanto eu - sua respiração pesada
e sorriso um sinal suficiente. Ele me ajuda a ficar de pé, tomamos um
banho juntos, depois colocamos pijamas novos e eu me arrasto de volta
para lençóis limpos. Eu me viro para encará-lo e ele coloca uma mecha de
cabelo úmido atrás da minha orelha.
— Você vai falar ‘eu te disse’ e que minhas limitações estão todas na
minha cabeça, — eu prevejo. Ele estava certo. Eu gostei.
— Não, — ele me surpreende. — Todo mundo tem limitações e tenho
certeza de que algumas das suas não são apenas construídas pelo medo.
Minha mente está em uma descida lenta e cansada, então tento
imaginar quais são minhas limitações. — Você não vai chupar meus
dedos do pé, — falo.
Eu sinto seu sorriso no escuro. — Eu não vou.
O que mais tem?
Eu percebo que disse as palavras em voz alta porque ele responde
com: — Fisting.
Eu me encolho. — Não.
— Eu também não quero, — ele sussurra na boca do meu ouvido, me
puxando para mais perto. Às vezes nós ficamos de chamego (uma palavra
tão suave) depois do sexo e eu deixo ele me abraçar por um tempo,
flutuando na segurança de seus braços fortes.
[ 52 ]
ROSE COBALT
Eu seguro uma xícara de café na cama com Connor, Jane brincando com
um livro de imagens entre nós. Trouxemos um jornal para a casa do lago
e eu seguro uma extremidade enquanto Connor segura a outra. Meus
olhos brilham sobre algumas das palavras, o peso do nosso último dia
aqui se pendurado no fundo da minha mente.
Eu tenho que abordar o assunto. — Eu vou falar depois de você na
coletiva de imprensa, — eu digo. — Então, se você mudar de ideia no
último minuto, eu vou concordar com o que você decidir.
Connor tenciona e Jane aperta um botão no livro, os alto-falantes
soltando o méééé de uma ovelha. Espero que ele não sinta a ironia. O
destino é cruel. Por que o livro não soltou um rugido de leão ou um uivo
de lobo? Não, tinha que ser uma ovelha.
Ele abaixa o seu lado do jornal. Eu abaixo o meu e seguro minha caneca
com as duas mãos.
— Isso é mais do que atencioso, Rose, — ele diz, — mas eu não vou
deixar você ir lá às cegas e ficar surpresa junto com o resto do mundo. —
Ele inclina o corpo contra a cabeceira da cama, então ele está mais virado
para mim.
— Então você tomou uma decisão? — Eu tomo um gole de café.
Suas feições calmas nunca vacilam, mesmo que sua mente sim. Connor
escova meu lábio inferior com o polegar e vejo seus pensamentos
girando.
Então eu pergunto, — Fica nu na frente de uma multidão ou falar uma
verdade onde ninguém entenderia você...
— Eu ficaria nu, — ele escolhe antes mesmo que eu possa terminar.
Eu aceno com a cabeça, meu peito doendo por ele.
— Estou inclinado para escolher queer, — ele me diz. Ele planeja se
rotular então. — É um termo abrangente que tem conotações positivas.
Eu gosto de como outras pessoas se identificam com orgulho como queer
e eu acho que é um meio termo seguro para mim.
Tudo o que sai da boca dele parece ser praticado, como se ele tivesse
falado as frases em sua cabeça por semanas. Eu foco na forma que ele diz,
as pessoas se identificam com orgulho. Ele não disse, eu me identifico. Ele
se deixou de fora.
Eu me endireito. — Se é isso que você quer, eu vou ficar ok, e eu quero
que você saiba que você não vai me machucar de nenhuma maneira. E
você não deveria se preocupar em machucar meu pai, minha mãe ou
qualquer um com sua decisão.
Ele levanta meu queixo com dois dedos. — Acredite em mim, eu pensei
em todas as possíveis superfícies dessa escolha. — Seu polegar faz
carinho na minha bochecha. — Eu pesei todos os custos, todos os
benefícios e tudo está apontando para isso.
Eu olho diretamente para ele, meus olhos se agitando mais do que eu
gostaria. Eu quero que eles fiquem suaves para ele. É disso que ele
precisa, não é? Minha voz não sai nem aveludada. Sai áspera e gelada. —
Em que escala você pesa isso?
— Minha escala. — Ele sorri.
Eu reviro meus olhos. — Bem, na minha escala, o custo da sua alma
supera todo o resto.
— Quão egoísta eu vou ser, Rose? — Ele me pergunta.
Mééééé! Jane aperta o mesmo botão. Ela ri e Connor se inclina para
frente e vira a página para um sapo em um nenúfar.
— O destino diz que você deve ser tão egoísta quanto quiser.
— Eu não posso ouvir o seu destino ou cordeiros em livros infantis. Eu
só tenho que ouvir os fatos.
— Você não pode ouvir seu coração? — Reviro meus olhos novamente
para como isso soa banal.
— Se eu escutasse meu coração, só diria para eu proteger minhas
meninas, nada mais.
— Se você escutasse seu coração, ele perguntaria se você está vivo, —
eu rebato. — Depois da coletiva de imprensa, você realmente estará? E
eu não estou falando literalmente, Connor, então não fale sobre anatomia
e vasos sanguíneos.
Uma fração de um sorriso aparece e depois volta à contemplação
profunda. — Eu não sei, Rose.
Eu não sei. É uma frase que Connor raramente fala. Ouvir isso agora me
pressiona.
— Vamos fazer as palavras cruzadas, — eu digo, colocando minha
caneca de lado e pegando o jornal. — Eu vou deixar você escolher o
tópico.
Ele arqueia uma sobrancelha. — Você vai deixar eu escolher? — Seu
sorriso quase retorna, e é o suficiente para empurrar a coletiva de
imprensa para o fundo da minha mente, a arquivando mais uma vez.
[ 53 ]
CONNOR COBALT
Ajudo Lo a limpar a geladeira da casa do lago antes de sairmos. Nós
jogamos tudo o que pode estragar em um saco de lixo preto. Minha
mente está sempre trabalhando, mas está girando mais rápido hoje,
percorrendo centenas de pensamentos.
— Você está bem? — Lo pergunta novamente, jogando sobras de ovos
mexidos no saco.
Eu estou com um olhar distante que eu não consigo apagar. — Você se
lembra do seu casamento? — Eu coloco um pacote extra de
hambúrgueres no congelador.
— Você está pensando sobre o meu casamento agora?
Estou pensando em tudo. — Está ocupando uma parte do meu cérebro,
— digo facilmente. Eu oficializei o casamento dele, então eu tinha um
discurso de abertura preparado. Eu só compartilhei com Rose antes de
falar naquele dia e a garota que raramente derrama lágrimas começou a
desabar no nosso quarto. Eu sabia que estava certo, mas depois de tudo
que eu passei recentemente, o significado tem um poder maior para
mim.
— Eu não consigo esquecer o dia do meu casamento, não que eu tente,
— ele me diz com um sorriso, abrindo mais o saco de lixo enquanto eu
jogo o leite dentro dele.
Eu seguro seu olhar. — Quando eu disse que você e Lily eram as
pessoas mais fortes que eu já tive a honra de conhecer, eu quis dizer cada
palavra. — Eu não consigo nem imaginar, por um momento, lutar contra
o tipo de demônios que eles lutaram todos os dias de suas vidas, onde
isso afeta as pessoas que eles amam, onde as derrubam igualmente. É
uma tortura que mal posso experimentar, e estou admirado por eles
saírem disso vivos e juntos.
Lo acena algumas vezes, me estudando para encontrar a origem dos
meus pensamentos. — Você e a Rose - vocês são praticamente super-
heróis no meu mundo, sabe? Se alguém ganha no final, é vocês.
Eu tenho dificuldade em acreditar em palavras que sempre pensei ser
verdade.
Minha dúvida é nova, mas está persistindo no meu cérebro
suavemente. Sei que daqui a alguns dias, vou afasta-la. É apenas a
incerteza, o futuro banhado pelas cinzas, sem caminhos detectáveis que
obscurecem meu julgamento geralmente sólido e garantido.
— Lo! — Lily chama do alto da escada. — Você já colocou a bolsa de
fraldas do Moffy no carro?!
— Merda, — ele amaldiçoa, hesitando em sair.
— Vá, — eu digo a ele, pegando seu saco de lixo.
— Obrigado, amor, — ele diz. — Você sempre sabe como acabar com
força.
Eu sorrio enquanto ele sai. Passo alguns minutos jogando, na maior
parte, itens vazios e meio comidos no saco. Não temos espaço suficiente
no porta-malas para coolers e salvar alimentos perecíveis. Eu pego a
caixa de suco de laranja meio vazia.
— Ei, não jogue isso fora, porra. — Ryke se aproxima e rouba a caixa
da minha mão. Ele desenrosca a tampa e toma o suco. Enquanto ele bebe,
ele empurra algo duro no meu peito.
Eu pego o item... um livro de tamanho decente. O título e uma parte da
capa estão escondidos por um post-it. Eu leio a sua caligrafia que diz:
Feliz Natal, porra.
Eu não consigo esconder minha surpresa, não hoje.
Ele limpa a boca com as costas da mão. — Eu planejava dar isso a você
no próximo Natal, mas eu não podia esperar. — Sua voz está menos
áspera do que o habitual. Ele acena para mim. — Página duzentos e
sessenta.
Estou honestamente sem palavras, mas ele não espera por uma
resposta. Ele joga fora a embalagem agora vazia de suco de laranja, me
deixando sozinho.
Eu retiro o post-it e olho a capa, o fogo do inferno laranja e amarelo
floresce em torno de criaturas gárgulas, como se estivessem aninhadas
em flores feitas de chamas.
É a edição Penguin Classics de Homem e Super Homem, um drama de
quatro atos de George Bernard Shaw. Eu já li isso antes, mas de maneira
alguma eu posso lembrar o que está na página duzentos e sessenta.
Então eu faço como ele instruiu e vou para o local preciso.
A peça termina em duzentos e quarenta e nove, e Máxima para
Revolucionários, de Shaw, começa. Em uma seção intitulada ‘Razão’, Ryke
destacou uma citação em amarelo.
Eu leio silenciosamente as palavras: — O homem racional se adapta ao
mundo: o irracional persiste em tentar adaptar o mundo a si mesmo.
Portanto todo o progresso depende do homem irracional.
Eu descanso meu antebraço no balcão e o saco de lixo cai do meu
aperto. A passagem me atinge mais do que eu pensei que atingiria.
Eu sempre fui o homem racional. É mais fácil. Eu costumo ir atrás dos
desafios mais difíceis, mas não quando é como bater meu cérebro contra
uma parede de tijolos.
Ser irracional pela primeira vez na minha vida - posso fazer isso?
[ 54 ]
CONNOR COBALT
— O Sr. e a Sra. Cobalt não responderão perguntas da imprensa, então, se
você tiver alguma coisa planejada, sugerimos que você as guarde, —
Naomi aconselha ao grupo de jornalistas e fotógrafos reunidos para a
coletiva de imprensa. Eu estou nos bastidores com Rose, nossa filha, seus
pais e amigos, esperando minha hora de falar com a mídia.
Lily sussurra, — Já está ao vivo na GBA News. — Ela está com o celular
de Lo nas mãos e mostra a tela para nós. Minha assessora está atrás de
um pódio com cerca de dez microfones anexados nele, logo de cada canal
de notícias impressos neles.
Em segundos, será eu.
Não consigo determinar o que sinto nesse momento em particular. Eu
não tenho tempo para ligar para Frederick para perguntar. Rose levanta
Jane mais alto em seu quadril, e Jane diz, — Papai! — Sua exclamação
ecoa do celular da Lily, o que significa que os microfones captaram sua
voz.
Eu descanso a mão nas costas da Rose e beijo a bochecha de Jane. Ela
toca meu queixo com um sorriso mais amplo, e eu digo em voz baixa para
que apenas Rose e Jane possam ouvir, — As únicas desculpas que vou
dar hoje é para vocês duas. — O que eu decidir vai afetá-las mais do que
qualquer outra pessoa nos bastidores.
— É desnecessário, — Rose me diz, com os ombros puxados para trás,
queixo levantado, pronta para a guerra. Eu a amo por isso. — Então
guarde seu pedido de desculpas desnecessário.
Eu sorrio com a paixão em sua voz. — Meus bolsos estão cheios,
querida.
Ela revira os olhos. — De que?
— De amor.
Ela aperta os lábios para parar de sorrir, mas ela está fazendo um
trabalho horrível o escondendo.
— Ela está sorrindo para mim, — eu admiro. — É uma ovação de pé
antes mesmo do discurso começar.
Ela controla sua expressão e se transforma em uma careta.
Eu sorrio. — Rose, Rose, Rose, — eu finjo contemplação, — sempre me
fazendo trabalhar duro pela vitória. — Do jeito que eu gosto.
— Richard, Richard, Richard, — ela praticamente fere meu nome. E
então ela faz uma pausa, seus olhos perfurando em mim. — Vá vencer.
Isso me traz de volta ao momento, e Naomi atravessa a cortina preta,
entrando nos bastidores. — Eles estão esperando por você, — ela me diz.
Eu beijo a bochecha de Rose e depois a da Jane novamente. Eu saio do
lado delas.
Corbin está na ponta do palco. — Onde está seu discurso? — Seus olhos
dançam pelo meu terno.
— Na minha cabeça, — eu digo facilmente.
Ele xinga como se isso fosse acabar terrivelmente.
— Você me conhece? — Eu pergunto a ele. Eu nunca me encolho, nem
um centímetro. Com toda a confiança que possuo, permaneço reto,
seguro e alto.
Ele demora muito para responder, então estendo minha mão para
cumprimentá-lo, como se estivéssemos nos conhecendo pela primeira
vez. Com a astúcia do meu comportamento assertivo, ele aperta minha
mão.
— Eu sou Richard Connor Cobalt, — digo a ele. — O homem cujo QI é o
dobro do seu. Eu sugeriria scripts para você, talvez linha por linha e em
fonte grande, mas eu nunca precisarei de um. — Eu lhe dou um tapinha
no ombro. — Eu diria a você para lembrar disso, mas é extremamente
difícil esquecer.
Eu passo por seu corpo assustado e subo no palco principal. Câmeras
piscam em rápida sucessão, jornalistas sentados em cerca de oito filas
com tripés posicionados ao redor do parâmetro, filmando a coletiva. Eu
estou atrás do pódio de vidro.
Não há papel.
Nenhum teleprompter.
Eu não ensaiei um discurso pungente por horas a fio. Eu não recitei
nada para Rose ou no espelho. Eu vou construir o que preciso dizer no
momento e confio em mim com todo o coração para realizar isso com
meus altos e impossíveis padrões.
Estou acostumado aos flashes brilhantes e quase não pisco quando eles
aparecem em ondas. Todos os jornalistas ficam eretos, ávidos por
respostas: você realmente dormiu com esses caras? Você já teve relações
sexuais com Loren? Você realmente ama Rose? Como Jane se encaixa em
tudo isso?
Quando as câmeras se acomodam e eu não estou mais banhado em luz
ofuscante, eu finalmente digo, — Não há nada que a mídia possa me dizer
que justifique a maneira como eles agiram. Vocês podem me perturbar.
Vocês podem me seguir, mas de modo algum podem assustar as pessoas
ao meu redor. Ferir a minha esposa e potencialmente ferir a minha filha -
não há desculpa que possa colocar qualquer um de vocês do lado certo
da moralidade.
O dia em que Rose quase caiu em uma multidão de paparazzi me
inundou. Muitos canais de notícias condenaram os paparazzi por nos
cercar, por fazer com que Rose arrancasse seus cabelos apenas para
proteger nossa filha, mas não mudou muito desde então.
— Ela é sua esposa apenas no sentido legal? — Grita um repórter. A
segurança se espreme através das filas para tirá-lo, mas ele se esforça
para ficar parado, agarrado à estrutura de sua cadeira de plástico.
Eu não reconheço ele. — Eu conheci Rose quando eu tinha quinze anos
e ela tinha quatorze anos, e através do que ela chamaria de destino e eu
chamaria de circunstância de nossos hobbies, nossos caminhos se
cruzaram algumas dezenas de vezes ao longo de uma década.
Estou abrindo um livro de história particular para milhões de pessoas
lerem, e talvez elas ainda não entendam o amor que eu compartilho com
Rose, mas elas pelo menos saberão o quanto eu a desejo.
— Aos dezessete anos, participei da mesma conferência nacional do
Modelo da ONU que a Rose, e um delegado da Groenlândia nos trancou
no armário do zelador. Ele também roubou nossos celulares.
Os jornalistas riem da imagem.
— Ele teve que nos derrotar desonrosamente porque ele não poderia
nos derrotar de outra maneira. — Eu olho em volta da sala, para todos
eles, e eles se calam com essa afirmação. — Rose disse que ser trancada
em um espaço confinado comigo foram as duas piores horas de sua vida.
Eles parecem confusos, sobrancelhas franzidas. Eu não posso deixar de
sorrir.
— Vocês estão confusos porque não sabem se ela estava exagerando ou
se estava sendo sincera. Mas a verdade é que somos pessoas complexas
com a capacidade de amar-odiar e odiar-amar, e eu não a trocaria por
nenhuma outra pessoa.
Eles fazem anotações, as câmeras piscam novamente.
— Então, naquele dia, preso ao lado de esfregões e toalhas sujas, eu
poderia ter aberto a fechadura cinco minutos depois e a deixado sair. Em
vez disso, eu propositalmente passei duas horas com uma garota que
usava paixão como um vestido feito de diamantes e cabelos feitos de
chamas. Todos os dias da minha vida, estou apaixonado. Todos os dias da
minha vida, eu estou enfeitiçado. E todos os dias da minha vida, eu passo
isso com ela.
Meu peito incha com mais força, me deixando mais alto.
— Eu dormi com tipos diferentes de pessoas, e sim, os três que falaram
com a imprensa estão entre eles.
Os flashes aumentam, juntamente com os murmúrios, mas eu nunca
vacilo.
— Rose é a única pessoa que amei e através desse amor, nos casamos e
criamos uma família. Não há outro significado por trás disso, e para
vocês criarem um é nada menos que um ataque malicioso contra meu
casamento e minha filha.
Eu pauso e todos eles esperam atentamente novamente. Como se eu
fosse bater o martelo logo depois de anunciar o que sou. Depois de entrar
na caixa deles, para que então eles possam me entender melhor.
— Qualquer outra coisa não tem relevância. Eu não posso ser o que
vocês precisam que eu seja. Então vocês terão que aceitar essa versão ou
perder seu tempo questionando algo que não tem resposta. Eu sei que a
aceitação não é fácil quando você não tem certeza do que está aceitando,
mas tudo o que posso dizer é que vocês estão me aceitando como eu sou.
Eles vão de chocados para cientes de que isso pode terminar com
alguns fios soltos.
Aos meus olhos, tudo está amarrado.
Eu descanso minhas mãos em ambos os lados do pódio. Meus olhos
passam pelos jornalistas, as lentes das câmeras e eu me acomodo
orgulhoso e confortável com a escolha que fiz.
Deixo-os com uma citação de Sylvia Plath.
— ‘Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração.’
— Meus lábios puxam mais alto, em um sorriso mais vivo. — ‘Eu sou, eu
sou, eu sou.’
Com isso, eu me afasto do pódio e saio com uma cacofonia de
jornalistas gritando e me pedindo para esclarecer.
Adapte-se a mim.
Estou satisfeito, mais do que previa.
Algumas pessoas vão rever essa coletiva em suas televisões, para ouvir
atentamente e tentar me entender. Eu não preciso da compreensão delas,
mas minha filha sim - e espero que as mentes de seus colegas estejam
abertas com tons vibrantes de paixão.
Espero que todos eles pintem o mundo dela com cores.
[ 55 ]
ROSE COBALT
São 3 da manhã e eu consegui dirigir para Manhattan sem ser detectada.
Quando entro em um complexo de apartamentos luxuosos, levanto meus
óculos de sol enormes para a minha cabeça. Eles têm obscurecido minha
visão no escuro da noite, mas eu precisava de um disfarce decente. Desde
o discurso pungente de Connor nessa tarde, a mídia não perdeu sua
mordida raivosa. Eles tentaram sugar uma resposta mais clara e
definitiva de todos nós.
Tenho orgulho de dizer que ninguém está dando à imprensa o que eles
querem. Eu não consegui discernir a reação do meu pai ou a da minha
mãe nos bastidores, mas eles contornam a sexualidade de Connor
sempre que são perguntados.
Meu celular vibra. Me diga quando você chegar em segurança. —
Connor Ele sabe o meu plano, e se Jane não estivesse tão exigente hoje,
eu sei que ele teria se juntado a mim. Estou aqui. Eu respondo.
Ao longo de um corredor acarpetado, paro em uma porta e bato com
força, não uma, mas três vezes, ouvindo passos. Ela se abre, revelando o
terapeuta do meu marido. Frederick esfrega seus olhos cansados, apenas
em boxers azuis. — Rose? — Ele aperta os olhos na luz forte. — O que
você está fazendo aqui?
— É assim que você atende a porta, Frederick?
Ele só então percebe sua falta de roupas, mas em vez de se cobrir, ele
se inclina para fora da porta, olhando para o corredor vazio.
— Connor não está comigo, — eu anuncio. — E a segurança do
complexo é horrenda. Eu disse a eles que minha avó doente e decrépita
morava aqui e me deixaram entrar.
Frederick mexe no cabelo castanho desarrumado. — Você está aqui
pela gata, — ele assume.
— Estou aqui pela minha gata, — eu valido. — Connor e eu
concordamos que é hora dela voltar para casa.
Eu espero uma briga. Estou pronta para uma, bolsa apoiada como uma
arma no meu braço.
Ele estranhamente abre mais a porta, me convidando para entrar. Eu
tento sufocar minha surpresa e entro em seu apartamento de solteiro:
móveis de couro, paredes sem brilho de cor, utensílios de cozinha
prateados.
— Sadie! — Eu chamo. — Estou aqui para te levar para casa. — O sino
do colarinho dela toca, mas não posso vê-la em lugar nenhum.
— Eu assisti a coletiva de imprensa, — diz Frederick, deslizando
lentamente em seu banco de couro. Ele não vai me ajudar a encontrá-la.
— E? — Eu descanso meu quadril em seu sofá e busco na minha bolsa
por doces de gato.
— Isso me lembrou de quão longe ele chegou.
Eu congelo no lugar, não esperando essa resposta, e eu travo os olhos
com Frederick. Ele nunca me contou nada sobre Connor. Sempre achei
que o sigilo médico o impedia e talvez também a amizade deles.
— Eu o conheci quando ele tinha doze anos, — ele explica, — e achei
que ele era brilhante. Ele falava como se tivesse vivido por décadas, não
por apenas doze anos. Levou algum tempo para ele se abrir comigo, mas
quando isso aconteceu, percebi que ele não tinha muita empatia pela
raça humana. Ele pensava nas pessoas como degraus para conquistas
maiores e nada mais. Você vê, um narcisista é incapaz de amar, e eu
nunca acreditei que ele amaria uma única alma até que ele conheceu
você.
A declaração quase me empurra para trás. Eu sei que Connor me ama,
mas Frederick é um homem que viu Connor através de muitas facetas de
sua vida. Ele o conhecia antes que eu o conhecesse. Ouvir que Frederick
acreditava que Connor viria a me amar - tem um significado maior, mais
poder e mais verdade.
— Como você sabia? — Eu pergunto.
— Você não apenas o fascinou, Rose. Você o fez se importar mais do
que apenas com si mesmo. Ele se importava com você, e você não tinha
nenhum propósito maior na vida dele além de existir. — Ele balança a
cabeça com um sorriso incrédulo. — Eu nunca teria pensado que aquele
menino de doze anos se tornaria esse homem. É extraordinário.
É. Meu coração martela de orgulho por Connor. Eu olho de volta para
Frederick, ignorando o fato de que ele está em cuecas boxers flácidas e
enrugadas. — Eu quero te agradecer, — eu digo a ele, — por tudo que
você fez pela minha irmã mais nova até agora. — Ele ajudou a encontrar
métodos saudáveis para combater seu TEPT e ataques de pânico, e foi ele
quem aconselhou o ultrassom.
Não passou despercebido por mim.
Frederick sorri. — Estou feliz que Daisy está me deixando ajudá-la.
Acho que todos concordamos que ela merece um pouco de paz.
— Sim, — eu engasgo, minha garganta inchando. Você vai chorar, Rose?
Na frente de Frederick em suas boxers flácidas e enrugadas? Deus, não.
Recomponha-se. Eu continuo buscando na minha bolsa e encontro os
doces com sabor de salmão.
Eu agito o saco de plástico e a gata laranja malhada sai de debaixo do
sofá. Eu a agarro pela cintura e ela surpreendentemente me deixa
segurá-la. Eu posso sentir suas costelas. — Ela está abaixo do peso, — eu
olho para ele.
— Ela estava acima do peso quando Connor a trouxe.
Eu tiro meu cabelo do meu ombro. — Ela estava perfeita. — Eu coço
atrás de suas orelhas, e ela solta um grande ronronando. Ela ainda é
perfeita. — Você tem a coleira dela? — Eu tenho medo que ela pule para
fora dos meus braços quando eu tentar colocá-la no carro.
Ele assente com a cabeça e se dirige para o armário. — Você e Connor
formam um bom time.
Percebo que Connor deve ter ligado para Frederick antecipadamente,
não essa noite já que ele ficou surpreso com a minha chegada, mas talvez
há algum tempo atrás e falou a Frederick para devolver Sadie para nós. E
eu vim para adicionar a declaração final e levá-la para casa.
Se ao menos o resto dos nossos problemas fossem consertados
facilmente como esse. Isso me lembra de Scott. Do olhar constante e
inflexível da mídia em cima da Jane. Da ausência de Jonathan Hale nas
nossas vidas por semanas a fio. De Loren e Connor sendo sufocados por
paparazzi se eles saem juntos, de qualquer forma.
É tudo uma grande pilha de merda. Uma bagunça que pode nunca ficar
polida e em manchas, mas se esfregarmos um pouco mais, talvez fique
limpa o suficiente.
[ 56 ]
CONNOR COBALT
— Rose faz os melhores boquetes depois de dois anos ou ela ainda é
ruim? — Scott pergunta com um sorriso malicioso. — Ele viu a primeira
vez que ela me chupou - a primeira vez que ela chupou qualquer pessoa -
já que foi gravado no banheiro.
Frite o pau dele.
A voz hostil de Rose retorna à minha cabeça.
Eu sorrio internamente. Eu posso tê-la novamente como minha
consciência e fazer isso direito. Eu tenho certeza disso agora. — Ela é
uma aprendiz rápida, — é tudo o que eu digo.
Eu o vejo descuidadamente comer um hambúrguer de bar em uma
cabine escura do Saturn Bridges. Nós estamos empurrados no canto de
trás, onde ninguém pode nos ver, sem fãs ou jornalistas à espreita.
Ele lambe os dedos. — Daisy provavelmente poderia ensinar-lhe
alguns truques.
Eu espero pela risada superficial, mas isso nunca chega. Ele está
falando sério.
Eu me inclino para trás e tomo um gole de cerveja, relaxado. Lá dentro,
meu sangue começa a ferver e eu me concentro em soltar meu aperto da
garrafa. — Experiência? — Eu pergunto com uma risada despreocupada.
O jogo mudou ligeiramente, e eu me lembro de girar minha estratégia
mais tarde para acomodá-lo.
Scott pega seu hambúrguer novamente. — Vamos colocar dessa
maneira, eu pagaria dez mil para ela chupar meu pau agora, mas seu
namorado psicótico nunca me deixaria chegar perto dela. — Ele dá uma
grande mordida.
Só porque Ryke valoriza e respeita as mulheres - ele é psicótico. Lo
chamou Scott de ‘bosta humana’ ontem, mas eu sinceramente acho que
ele estava sendo muito gentil. — E durante Princesas da Filadélfia? — Eu
pergunto. — Ryke não estava com a Daisy naquela época.
Ele mastiga e bebe sua cerveja. — Eles ainda ficavam juntos o tempo
todo. Eu gostaria que ele tivesse a deixado comigo por dez minutos. Eu
teria tido aquela putinha loira de joelhos tão rápido. — Ele lambe os
dedos novamente.
Eu sorrio e meu estômago revira com essa mentira, — Eu sempre
pensei que ela gostava de chupar pau. — Richard, eca. Eu sei Rose. Eu
poderia muito bem estar comendo carne podre, o gosto ruim deslizando
pela minha garganta.
Ele balança a cabeça em concordância e, em seguida, aponta seu
hambúrguer para mim, o alface caindo do pão. — Você deveria despedir
a sua pessoa de relações públicas, a propósito. — Ele mergulha seu
hambúrguer na mostarda. — O fato de ela ter dito para você mentir
sobre dormir com um bando de homens foi estúpido. Eu posso pensar
em vinte truques publicitários diferentes que seriam melhores.
Ele acha que Naomi me aconselhou a dizer que dormi com os três
rapazes, mas a deixar uma conclusão em aberto, assim eu ganhava mais
atenção. Para mim, a atenção da mídia foi o efeito adverso do meu
discurso, uma consequência que eu sabia que aconteceria. Para Scott, é
um benefício.
— Talvez eu demita, — eu minto, me inclinando para trás e tomando
outro gole de cerveja. — Você tem um assessor?
Scott coloca uma batata frita na boca. — Não, eu não preciso de um. —
Rose rosna na minha cabeça, espero que ele engasgue nessa batata.
Eu finjo preocupação, tocando meus lábios, minhas sobrancelhas
franzidas.
— O quê? — Ele mastiga mais devagar.
— Eu fui nos escritórios da GBA ontem para falar sobre publicidade
para a Cobalt Inc. - nada a ver com Princesas de Filadélfia. — Eu
realmente me encontrei com publicitários na GBA para a Cobalt Inc.
ontem, de propósito, apenas para cobrir meus rastros. — Eu não iria
passar por cima da sua cabeça com a produção para a segunda
temporada.
— É melhor que não, seu babaca, — ele brinca com uma risada. Ele
limpa a boca com um guardanapo e se inclina para trás como eu, sua
atenção agora em mim. É como fisgar um peixe pela garganta. Eu o vejo
pegar sua cerveja. — E?
— Eu ouvi algumas coisas. — Eu não ouvi nada fora do comum, mas
boatos dificilmente são verificáveis de um jeito ou de outro. Eu coço meu
pescoço como se isso fosse difícil para mim compartilhar. — Estou lhe
dizendo isso porque acho que é do seu interesse saber. Caso contrário, eu
apenas daria de ombros. — Eu gesticulo minha cerveja para ele. — Então
Princesas de Filadélfia surgiu no assunto e eu perguntei se eles
conheciam você, já que você estava no comando da primeira temporada.
Os executivos... — Eu me encolho.
— O que eles disseram? — Ele estala, seu punho apertando ao redor da
garrafa.
— Eles zombeteiramente chamaram você de o cara do pornô e não
pareciam levá-lo a sério.
Fumaça poderia estar saindo de suas orelhas, e eu sinceramente
espero que ele goste desses sentimentos. Ele vai ficar asfixiado com eles
nas próximas semanas.
— Sei que você está olhando para uma posição de alto nível na GBA se
assinarmos uma segunda temporada do reality show e eu tenho muita
experiência no mundo corporativo. A reputação pode fazer ou quebrar
você, e ser o cara do pornô tornará difícil adquirir respeito das pessoas
que importam. Uma coisa é a GBA prometer a você vinte anos de
segurança em um trabalho com alta rotatividade e outra é você ter
finalidade lá. Eles poderiam colocá-lo em um cubículo e te dizer para
calar a boca.
Ele geme um par de palavrões e depois olha para a parede. Ele nem
sequer questiona a validade da minha declaração. Eu sou provavelmente
seu melhor amigo na Filadélfia agora, então por que ele iria questionar?
E então ele aponta para mim com sua garrafa de cerveja. — O que você
acha que eu deveria fazer?
O que você acha que eu deveria fazer? Eu o chamaria de idiota, mas sou
mais genial por colocar uma arma no meio de uma mesa, o dizendo para
pegá-la e atirar em quem eu quiser. Nesse caso, vou dizer a ele para virar
para si mesmo e puxar o gatilho.
— Você precisa se distanciar da distribuição dos vídeos de sexo de
alguma forma. — Deixo em aberto para Scott, então ele vai sentir que a
ideia é dele, não minha. — Deixa eu te perguntar isso: o que você quer
mais, lucrar com os vídeos de sexo restantes não distribuídos ou obter
uma posição executiva na GBA, sendo mais útil do que um grampeador
ou um aparelho de fax?
Eu sei o que é mais importante para ele e é por isso que ele vai me dar
o que eu quero sem um único sentimento de mágoa.
É assim que você nunca faz inimigos.
— GBA, — responde. Ele solta um suspiro irritado. — Eu teria dado os
vídeos de sexo a Rose se ela tivesse concordado com a porra da segunda
temporada.
— Ela não quer fazer um acordo com você, — digo a ele. — Mas ela
está encontrando benefícios em reviver o reality show. Eu a convenci de
que a exposição ajudaria a Calloway Couture Babies, então acho que ela
vai mudar de ideia até o próximo mês. — Não é verdade. Todo mundo
ainda está inflexível contra uma segunda temporada. Isso nunca irá
acontecer.
— Eu não quero dar os vídeos sem algo em troca e eu não quero que a
imprensa continue dizendo a quem eu as vendi, porra. — Celebrity Crush
gosta de acompanhar a distribuição dos vídeos de sexo, e eles sempre
citam Scott Van Wright nos artigos.
Pela primeira vez, o jornalismo sem tato da Celebrity Crush pode girar
em nosso favor.
Espero ele escolher cenários diferentes em sua cabeça e eu mordo meu
hambúrguer de queijo azul. Depois de um minuto inteiro, sinto seus
olhos fixos em mim.
— Você as compraria de mim? — Ele pergunta. — Seria uma transação
silenciosa. Dessa forma, eu ganharia algum dinheiro e você poderia se
masturbar com elas ou o que caralho você quiser.
Eu dou de ombros, nem um pouco ansioso. — Depende de quanto você
quer por elas.
— Eu aceitaria cinquenta mil pelo restante nesse momento. — Isso não
é nada. Ele recebeu mais de um milhão por apenas um vídeo antes.
— Quantas vídeos não distribuídos sobraram? — Eu me pergunto.
— Eu vou te mostrar, — diz ele. — Vou ligar para o meu advogado,
você liga para o seu, e eu vou te vender todos os direitos amanhã. — Ele
está ansioso, pronto para consertar sua reputação manchada antes
mesmo de começar a trabalhar oficialmente na GBA.
Se tudo der certo, ele nunca vai trabalhar lá.
Eu aceno algumas vezes. — Sim, — eu digo. — Eu acho que podemos
trabalhar em algo.
[ 57 ]
ROSE COBALT
Scott Van Wright (filho da puta idiota) 0 - Rose & Connor Cobalt
(brilhantes) 1.
Usando um atiçador de brasa de ferro, eu agito as chamas em nossa
fogueira no quintal, fumaça ondulando em direção ao céu estrelado. O
fogo e o calor de maio acumulam suor sob minha blusa. Mas é o melhor
suor da minha vida.
— Estou pronta, — digo a Connor, levantando e jogando o atiçador de
lado.
Ele segura uma caixa de papelão cheia de DVDs e pen-drives, todos os
dispositivos em que Scott gravou os vídeos. Depois do encontro deles
nessa tarde com uma transação financeira e contratos assinados, Connor
agora é dono dos direitos digitais e cinematográficos das filmagens de
Princesas da Filadélfia. Ele disse que ele se certificou de que o contrato
fosse específico. Connor só queria a propriedade de filmagens contendo
ele e eu - nossas atividades no quarto.
Qualquer outra coisa ainda legalmente pertence a Scott, mas nós só
estávamos atrás dos vídeos de sexo e agora nós as temos.
Connor me passa um DVD e coloca a caixa aos nossos pés. — Quinze
vídeos de sexo, — ele diz, ainda com certa descrença de que Scott
poderia ter lucrado quinze vezes mais conosco.
Eu pensei que havia duas sobrando, no máximo.
Esta é uma grande vitória e reconheço o que Connor precisou fazer
para alcançá-la. Eu abro minha boca para agradecê-lo, mas ele coloca um
dedo nos meus lábios, para me calar. — Nós fizemos isso juntos.
Ele disse que eu estava em sua cabeça novamente, mantendo-o com os
pés no chão. Eu tento não sorrir com essa proclamação, mas certamente
ele pode sentir meus lábios subirem sob seu dedo.
Ele sorri e quase ri enquanto eu engasgo com uma careta decente. Seus
dedos deslizam para o meu queixo.
Eu descanso a mão no meu quadril. — Você está me distraindo da
nossa libertação.
— Nós já fomos libertados. Seu fogo é apenas cerimonial.
— Nosso fogo, — eu emendo.
Seu sorriso se alarga para um completo. — Nosso fogo, — ele concorda.
Eu abro a caixa de plástico, rabiscado de caneta no DVD: o quarto da
Rose. 23/04/13 - amarrada a uma cadeira, 43 minutos. Meu estômago
revira. Eu imediatamente o jogo na fogueira, um grunhido escapando ao
fazer isso.
Eu paro.
Eu escuto por um momento o crepitar satisfatório e o plástico
derretendo, meu espírito acendendo com cada explosão de faíscas,
brasas alaranjadas brilhando como fogos de artifício comemorativos.
Finalmente. Estou destruindo as coisas que Scott usava para nos
machucar.
O braço de Connor desliza pela minha cintura enquanto as chamas
consomem e comem esses vídeos.
— Agora você. — Eu lhe entrego uma capa de DVD, não querendo olhar
dentro.
Sem hesitar, ele atira a capa e em menos de cinco minutos,
adicionamos cada dispositivo à pilha fumegante, junto com a caixa de
papelão, por precaução.
Eu coloco um cobertor de lã na grama, e nós dois nos sentamos no
tecido macio, observando a parte mais escura de nossas vidas queimar
até as cinzas.
Entendo que os vídeos online nunca desaparecerão, mas recuperamos
quinze momentos íntimos e eles sempre serão nossos. Eu respiro uma
respiração catártica, expulsando a areia feia que se agarra a mim por
tanto tempo.
Eu exalo e exalo. O braço forte de Connor se encaixa nos meus ombros
como segurança extra e calor. Eu me vejo inclinando para ele, minhas
pernas batendo nas dele, e não demora muito para tirarmos nossos
olhares do fogo e olhar um para o outro.
Connor sempre teve esses olhos azuis profundos e austeros que voam
entre a serenidade e as verdades duramente pressionadas. É como se ele
contivesse o conhecimento e a história do mundo, a idade das trevas e a
luz. Por trás de suas próprias mentiras estão todos esses fatos sombrios
e maravilhosos sobre milênios de pessoas: os primeiros viajantes, os
primeiros filósofos, os primeiros cientistas.
Quando olho em seus olhos agora, os milênios encolhem para uma poça
de dois. Duas pessoas. Só nós. Os fatos são varridos com verdades e a
história é agora. Ao lado de um fogo.
Ele cobre meu queixo, seus pulmões se expandindo, sua respiração se
unindo com a minha respiração. — ‘Os sonhos são verdadeiros enquanto
duram’, — ele cita em um sussurro, — ‘e não vivemos em sonhos?’
Eu ouço seu coração sob essas palavras. — Tennyson, — eu respondo
com uma forte inspiração.
Uma inundação de emoção corre através de suas feições normalmente
inexpressivas, avermelhando seus olhos, puxando linhas acima de suas
sobrancelhas. Ele me puxa para mais perto e todos os sentimentos que
acompanham o amor me puxam para ele e ele para mim.
Ele recita, — ‘Eu não posso voltar para ontem porque eu era uma
pessoa diferente.’
— Lewis Carroll, — eu respiro, — Alice no País das Maravilhas. — Eu
me agarro aos seus ombros, meu olhar quente nunca o deixando.
Eu me sinto louca com ele, tão apaixonada que não consigo desvendar
meus pensamentos embaralhados e sobrecarregados.
Seu olhar percorre minhas feições, como se ele quisesse estender sua
estadia por mais um minuto, mais uma hora - qualquer coisa que o
tempo lhe desse, ele aceitaria. Eu toco sua mão que segura minha
bochecha, nossos lábios doendo para se encontrar.
E ele murmura, — ‘Minhas gotas de lágrimas vou transformar em
faíscas de fogo.’
Nosso aperto um no outro fica mais forte.
— Shakespeare, — eu respondo. — Henry VIII.
Ele me inclina para trás, me guiando para o cobertor. Seu corpo paira
acima do meu, seus antebraços de cada lado da minha cabeça, seus lábios
tão perto dos meus lábios. Meu núcleo aquece e quanto mais tempo o
silêncio nos envolve, mais tempo o fogo crepita e nossos erros queimam.
Connor penteia meu cabelo para trás e se inclina para sussurrar: —
Enquanto eu viver, eu vivo com você.
Eu me perco nessa fala, lágrimas se formando e molhando meus olhos.
Não porque é de uma peça favorita ou de uma peça de literatura favorita,
mas porque essas palavras pertencem exclusivamente a ele.
Eu estava em um vestido de noiva.
Eu fiquei bem na frente dele, daquele sorriso crescente, e ele
sussurrou: Enquanto eu viver, eu vivo com você. A força de seus votos bate
dentro das minhas veias.
Eu respondo o que eu respondi há quase três anos, — Em espírito e em
mente, eu vivo com você.
Ele escova minhas lágrimas com o polegar, um beijo longe dos meus
lábios, ele respira, — Eu vivo com você.
Ele entrelaça os dedos nos meus, seus olhos se abrem e ele me beija tão
profundamente que meu corpo se eleva para encontrar o dele.
A força dos nossos votos bate dentro de minhas veias.
Ele se afasta apenas uma vez, seus lábios se arrastando para o meu
ouvido e eu olho para o céu noturno, queimando vivo com esse amor. —
Para sempre não é tempo suficiente, — ele murmura outra fala que
pertence a ele.
Para sempre não é tempo suficiente.
Eu sinceramente, sem dúvidas, concordo.
[ 58 ]
CONNOR COBALT
Todas as máquinas estão ocupadas na academia em uma tarde de
sábado. Nós provavelmente deveríamos ter ficado em casa, mas Ryke e
eu estávamos muito confinados em casa para treinar no porão. Não
ajudou quando saímos do nosso bairro, três caravanas de paparazzi nos
seguiram e anunciaram nossa localização para o público.
— CASA COMIGO, RYKE MEADOWS! — Pode ser ouvido através das
paredes de vidro. Outros homens em volta dos pesos nos lançam olhares
descontentes por causa da perturbação.
Ryke tenta ignorar, fazendo flexões na área de peso livre. Loren faz
abdominais ao lado dele e eu fico em cima de seus sapatos para mantê-lo
parado.
Eu bebo minha água e vejo os cartazes do lado de fora junto com
garotas e garotos gritando. Eu conto os team Ryke. — Cinco propostas
para casamento, três para procriar e uma para foder, — eu digo. —
Alguém deve informar que os cães não sabem ler.
Ryke tira a mão do chão e me mostra o dedo do meio por chamá-lo de
animal. Então ele continua fazendo flexão com uma mão. Eu acabei de
terminar um treino de circuito, então eu não me juntei a Ryke no chão de
concreto para as flexões.
Eu apenas elevo acima de sua estrutura magra.
— Calma, garoto, — eu gracejo.
Os cantos de seus lábios se levantam em uma fração de um sorriso. É
pouco detectável, quase imperceptível e talvez eu não tenha visto abaixo
de todas as camadas de Ryke Meadows, mas sei de uma coisa: somos
bons amigos. Eu faria praticamente qualquer coisa por ele e tenho
certeza de que ele faria o mesmo por mim.
Lo relaxa depois de uma última sessão, esticando as mãos atrás dele.
Eu saio de seus sapatos, mas permaneço de pé. Eu vejo seu sorriso
desaparecer em uma expressão mais carregada de culpa, suas
sobrancelhas comprimidas.
— O que? — Eu pergunto.
Ele olha com remorso ainda pior. Ele carrega mais do que o necessário,
batendo em si mesmo antes que eu sequer pense em machucá-lo.
Eu arqueio uma sobrancelha. — Você não poderia ter me substituído
por um ser humano mais inteligente, espirituoso e bonito - já que não
existe nenhum - então, o que quer que você tenha feito, não me
aborrecerá.
Ele solta um suspiro pesado. — Eu conversei com meu pai novamente.
Apenas pelo telefone, — ele admite. — Estou tão confuso porque sinto
que, se eu até mesmo pensar nele, estou ficando do lado dele ao invés do
seu. E não é assim - o que ele fez foi errado, mas ele está uma bagunça…
Ryke para no meio da flexão e se desloca para a posição sentada. Ele
está quieto, sua respiração mais pesada, mas eu presumo que é menos
por causa do treino e mais por causa da súbita mudança de assunto.
— Eu não me importo, — eu respondo com sinceridade. — Jonathan
nunca será minha pessoa favorita, mas é difícil para mim guardar rancor
contra um homem que cometeu um erro idiota apressadamente por
medo e amor. — Intenção maliciosa me daria uma pausa, mas eu não
sinto nenhuma dele. — Então, por favor, — digo a Lo, — não se culpe por
minha conta.
Lo acena algumas vezes, processando isso. Ele olha para o irmão, que
não disse nada.
— Ele precisa aprender, Lo, — lembra Ryke. — Você disse isso,
lembra? Você não pode correr de volta para ele tão facilmente. Isso dá a
ele a ideia de que ele pode fazer mais coisas assim para nós no futuro.
Você quer Moffy em torno disso? Você tem uma porra de uma criança...
— Ok, — Lo o interrompe. — Eu entendo. — Ele solta outro suspiro
profundo, as mãos espalmadas atrás dele, e seu olhar retorna para mim.
— Volte para meus pés, amor.
— Esta não é minha posição favorita, mas vou fazer uma exceção para
você, querido.
Estou prestes a ficar em seus pés quando um homem de 40 e poucos
anos no suporte de peso tosse em voz baixa: — Gay.
Se olhares pudessem matar, Loren Hale acabou de massacrar a
academia em dois segundos. — O que foi isso? — Ele estala, sem precisar
gritar, já que o homem está literalmente a três metros de nós.
O cara pega um haltere de dezoito quilos e chia silenciosamente.
Eu não sinto culpa sobre a minha decisão de dizer a verdade. Que eu
dormi com homens no meu passado. Tenho orgulho das escolhas que fiz
na vida e não deixo que outras pessoas se enfiem na minha pele e me
façam sentir vergonha de quem eu sou.
Não há um único osso no meu corpo que se encolhe. Eu sempre ficarei
com um metro e noventa e três de altura.
— Eu não suporto as pessoas, — Ryke resmunga baixinho.
— Da próxima vez vamos ao parque dos cachorros, — eu brinco.
— Hilários pra cara…
Do nada, o homem simplesmente solta o haltere de dezoito quilos na
mão de Loren, que está espalmada no concreto. Lo solta um ruído
sufocado e dolorido e Ryke se põe de pé.
Eu me agacho para Lo por instinto, para checar o dano na mão dele —
O que há de errado com você, porra? — Ryke grita para o cara, que bufa
com raiva profunda.
— Eu estou bem, — diz Lo, cerrando os dentes e favorecendo a mão
direita. Três de seus dedos estão claramente esmagados, e eu suspeito
que seus outros ossos estejam iguais.
— Ninguém aqui quer ver isso! — O homem gesticula entre Lo e eu
com desgosto.
Eu já fiquei nos pés do Lo para abdominais nessa academia antes. Nós
brincamos sem ninguém reclamar. Ainda assim tudo mudou com base no
que eu já admiti e eu nunca mais vou voltar atrás. Mas eu preferiria que o
homem jogasse a porra do peso em mim do que machucasse meu amigo.
— Fale por si mesmo! — Isso não vem de Ryke. Ou de mim. Ou Loren.
É um cara aleatório em um banco de peso.
— Sim! — Alguém do outro lado da sala entra.
— Nós não queremos você aqui, cara! — A exclamação é direcionada
ao cara do haltere. Os funcionários da academia de camisas de colarinho
vermelho começam a se aproximar de nós.
— Você está falando sério? — O cara zomba. — Eles estavam flertando!
— Buuuuu! — O barulho vem das esteiras.
Ryke se acalma com o apoio de mais da metade da academia, e ele se
agacha na frente de seu irmão mais novo, inspecionando sua mão
rapidamente inchada. Lo olha para mim como, você pode acreditar nisso?
Ele não está falando sobre sua lesão. Há mais surpresa e temor em seus
olhos do que dor.
Acho que compartilho um pouco desse temor - orgulho de que a
intolerância pode ser enfrentada com reações como essas. Os
funcionários da academia falam em voz baixa com o homem.
— Vocês não está me chutando para fora. Eu estou saindo, — ele rosna.
— E eu estou dizendo a todos que eu conheço que não venham nessa
academia gay.
Assim que ele se dirige para a porta, quase todo mundo para o treino e
começa a aplaudir sua partida, felizes por vê-lo ir tanto quanto todos nós.
— Eu me juntaria, mas… — Lo estremece quando ele tenta fechar a
mão.
— Você precisa de um gesso.
— Eu preciso de uma bebida.
Ryke lança um olhar para ele.
As sobrancelhas de Lo se elevam. — Brincadeira. — Ele acrescenta: —
Eu prometo.
Ryke acena, acreditando nele, e eu estendo a mão esquerda de Lo e o
ajudo a ficar de pé.
Lo estremece novamente. — Eu quero ir para casa primeiro e colocar
gelo...
— Isso não é uma torção do caralho, — Ryke replica.
Eu franzo a testa para Lo. — Normalmente é seu irmão evitando
hospitais, não você.
— Estará no noticiário no minuto em que estacionarmos perto do
pronto-socorro e eu prefiro ir para casa, colocar gelo na minha mão por
uma hora e contar para a Lily. Dessa forma, ela descobrirá por mim.
Se eu tivesse que escolher quem tem a maior tolerância a dor de todos
nós, seria Loren Hale, sem dúvida.

— Por favor, Lil. Estou bem. Tudo bem… — Lo tenta acalmar sua
esposa com um abraço e ela enxuga as lágrimas repetidamente, tentando
se recompor por ele. Ele favorece a mão direita, todos nós juntos na
cozinha.
— Eu sei - eu só... eu posso dizer que está machucando você. — Ela
esfrega suas bochechas manchadas, cheias de culpa que ela está
chorando em face da lesão dele.
Eu procuro os armários da cozinha por qualquer analgésico com Rose.
E Daisy fecha um saquinho de plástico com gelo, passando-o para Lily,
que o entrega a Lo.
Eu bato ombros com Ryke enquanto ele se dirige para a geladeira e nós
dois trocamos um olhar que diz você estava no meu caminho primeiro
antes de retornar ao nosso curso natural.
— Minha mão mal dói, — Lo diz a ela e ele tenta fechar os dedos em
um punho, mas ele se esforça para mover suas articulações.
— Não faça isso! — Lily segura o braço dele parado, os olhos grandes e
arregalados. — Você não precisa provar nada para mim, Lo.
Lo acena com a cabeça uma vez.
Eu realmente quero levá-lo para o hospital agora. A parte lógica de
mim - que é quase tudo de mim - combate sua decisão de permanecer na
casa.
Rose e eu acabamos no mesmo armário inferior, agachados e
vasculhando recipientes de plástico por qualquer coisa que possa ajudá-
lo.
— Eu não queria interromper seu filme por tanto tempo, — exclama
Lo. Ele se vira para Willow, que se senta contemplativamente no banco
do balcão, observando tudo com olhares respeitosos e tímidos. — Você
está tendo um dia de merda.
Willow levanta os óculos de armação preta. — Ser largada no dia do
baile não é tão ruim quanto quebrar a mão.
As maçãs do rosto de Lo se afiam, rangendo os dentes. — Tudo
depende. — Para Lo, a dor emocional sempre supera a dor física.
Rose me entrega uma cesta nova e eu rapidamente folheio os remédios
e os descongestionantes, não encontrando nada mais forte que Advil.
Rose rosna baixinho e ela olha por cima do ombro para Lo.
Eu também.
— Eu estou levando ele em vinte minutos, — diz ela sob sua
respiração.
Eu comentaria que eu o levaria em dez, mas a maneira como Lily tem a
mão em sua cintura, silenciosamente o guiando em direção à porta da
garagem - acho que vai demorar só mais cinco minutos até ele ir para o
hospital.
Rose e eu ficamos juntos com nada mais do que um pote de Advil. Eu
pego algumas pílulas e as passo para ele. Daisy é rápida para pegar um
copo de água.
— Vocês todos podem seriamente parar de enlouquecer?
— Eu não disse uma palavra, — eu menciono.
— Exatamente, — ele retruca.
Ryke está ocupado fazendo um sanduíche de peru, colocando alface em
cima da carne, e eu não posso acreditar por um segundo que este é um
ato egoísta para alimentar sua própria fome.
Daisy pula no balcão ao lado dele, balançando as pernas. — Vocês já
assistiram A Jovem Rainha Vitória antes? — Ela pergunta a Ryke, Lo e eu,
uma distração fácil para aliviar a tensão.
— Isso é o que vocês estavam assistindo? — Lo pergunta com um
sobressalto. Ele olha para Willow. — Você deixou Rose te convencer a
ver um filme chato?
Meu celular toca no meu bolso.
— Eu não sei… quadrinhos me fazem pensar em Declan, então Rose
sugeriu algo diferente. Eu gosto até agora.
O rosto de Lo aguça, todas as linhas severas. — Não deixe ele arruinar
os quadrinhos para você, Willow. Isso é uma merda da parte dele. Ok?
Willow acena, mas olha solenemente para o balcão, e eu não posso
mais ignorar meu celular. Eu checo a mensagem.
Você está livre? Venha em 5 min. Dois dos meus amigos de L.A. estão aqui
e nós vamos fazer algo — Scott Eu tenho que dizer sim.
Eu olho para cima e a vida ainda está se movendo no mesmo ritmo.
Ryke corta metade de seu sanduíche com uma faca de manteiga e ele
atravessa a cozinha para dar a Lo.
— Obrigado, mano. — Lo aceita a comida com a mão esquerda.
Quando Ryke retorna, ele corta metade do sanduíche mais uma vez e
passa um quarto para Daisy. Ele sobe no balcão ao lado dela, comendo o
que resta. Eles costumam compartilhar comida, mas esse gesto hoje me
lembra o quão próximo eles são e como são parecidos.
— Seu celular, — Rose me diz.
Ele vibra novamente, e ela vê a próxima mensagem piscar na tela.
Nós vamos começar sem você — Scott Eu não tenho certeza do que
‘começar’ implica, mas eu sei que tenho que estar lá. Eu posso ter os
vídeos de sexo, mas está faltando uma certa vitória esmagadora que tira
Scott de nossas vidas, garantindo que nunca mais teremos que vê-lo
novamente.
É um processo delicado que acho que pode surgir hoje de todos os
dias. Se seus amigos de L.A. estão aqui, ele pode estar disposto a fazer
algo ilegal para entretê-los, e é claro que eu estou convidado.
Eu sou seu melhor amigo.
— Eu tenho que ir, — eu sussurro para ela.
Ela assente com a cabeça, os ombros puxados para trás e os olhos em
chamas, como se quisesse enfrentar Scott, que está do outro lado da rua,
em uma casa tão próxima da nossa. Eu tenho que ir, eu penso.
E eu não quero me separar dela. Eu preferiria ficar aqui e ser
incendiado, mas com base em fatos - baseado na chegada de seus amigos
- eu sinto que é agora. A última vez que tenho que aguentar sua presença.
— Eu vou estar aqui para você, — diz ela, me dizendo que vai estar
nesta casa.
Ela estará muito mais próxima do que isso. Não tenho dúvidas de que
ela estará na minha cabeça, bem ali comigo, mesmo quando estiver
doendo. É o que eu preciso.
Eu ando pelo hall de entrada e em seguida, abro a porta. No meu
caminho para rua, vejo um rosto familiar correndo pra cá. Quando ele se
aproxima, noto as calças pretas formais, a blusa social branca e um
buquê de flores.
Garrison Abbey.
Quando voltamos para a Filadélfia depois da casa do lago, deixamos
Garrison na casa de seus pais, então ele teve que enfrentar a reprovação
de Faust. Willow disse que ele vai se inscrever no Maybelwood
Preparatory no próximo ano, a uma hora desse bairro, ironicamente, na
mesma escola que Ryke foi.
Nós nos encontramos abruptamente na calçada da entrada de carros
de Scott e ele estranhamente fica parado em vez de continuar andando,
como se esperasse que eu lhe dissesse que ele está fazendo a escolha
correta.
— Onde você está indo? — Eu pergunto a Garrison, embora eu tenha
cem por cento de certeza de seu destino e seus planos. As flores. O traje
formal. A data. Tudo aponta para o baile.
Ele penteia a mão pelo cabelo castanho. — Algum babaca deu o bolo na
Willow, então eu decidi que iria convidá-la para sair… — ele diz,
estudando meu rosto em branco por uma reação.
Eu não uso nenhuma. O sol está começando a se pôr. — Você tem
algumas horas antes do baile começar.
Garrison aponta para mim com suas flores, suas feições se
contorcendo em confusão. — Você sabe… as pessoas ainda falam sobre
você na Faust. Os veteranos disseram que você tinha uma resposta para
tudo - que você era algum tipo de prodígio.
Um prodígio. Eu quase rio. Estou satisfeito em saber que essa versão
imortal e piedosa de mim ainda flutua nos dormitórios e nos corredores
de Faust. Estou ainda mais satisfeito sabendo que o homem vulnerável
permanece nos braços de Rose, minha linda e apaixonada esposa.
— Aqui está a minha resposta para você, — digo a ele. — Chame sua
amiga para o baile sem motivos egoístas, sem motivos vãos, nada menos
do que porque você a admira e porque prefere passar dois minutos
sentado ao seu lado em um baile do que cinco horas na companhia de
qualquer outra pessoa.
Suas sobrancelhas se apertam em contemplação, como se tudo
clicasse. Eu gosto muito dela. Estou fazendo a coisa certa.
Garrison e Willow aparentemente nunca seriam amigos. Ela está
sentada com um macacão desbotado, uma camisa azul com estampas de
morcego e óculos escorregadios no nariz. Ela é introvertida e estudiosa.
Ele é rebelde e exilado.
Seus interesses únicos podem não se alinhar, mas algo no âmago de
seus corações se alinha - e isso faz a diferença.
Estou ficando sem tempo, então começo a subir a entrada íngreme.
— Onde você está indo? — Garrison pergunta.
Eu olho por cima do meu ombro uma vez. — Esclarecer as coisas.
Ele acena para mim. — Boa sorte.
Eu sorrio. — Eu aprecio o sentimento, mas eu não preciso de sorte. —
Eu me viro e caminho sem vacilar para o meu destino.
Foda-se a sorte. Passei meses me preparando para isso, para me
colocar nessa posição no tabuleiro de xadrez e em um golpe, posso
finalmente derrubar o oponente mais detestável que já enfrentei.
Não há sorte nos meus movimentos finais.
O crédito é todo meu.
[ 59 ]
CONNOR COBALT
Eu pego uma cerveja de Scott e sento no sofá ao lado de Trent. Ele é um
fotógrafo de moda de trinta anos de idade, de L.A., suspensórios pretos e
o bigode são evidências disso o suficiente. Eu só o conheço pelo
constante lembrete de Scott de que Trent transou com Daisy depois de
uma sessão de fotos, anos atrás.
— Scott diz que você é de boa, — diz Trent, mordendo o final de um
palito de dente.
— Em que sentido? — Eu tomo um gole de cerveja.
— Você está no jogo para qualquer coisa, você não leva a vida muito a
sério, esse tipo de coisa.
Minha vida é séria para mim. Importa. Eu estou sentado em uma gaiola
de bufões, agindo como um porque eu não consigo imaginar Scott
existindo por tempo não quantificável no meu mundo. Eu estou dando a
ele mais trinta minutos, e então ele está fora.
— Soa como eu, — eu digo com um sorriso no meu próximo gole.
Scott entra na sala de estar com um controle remoto na mão. — Simon
ainda está cagando? — Ele pergunta.
O melhor amigo de Trent tem vomitado no banheiro desde que
cheguei. — Ele cheirou muita cocaína antes da viagem de avião, — diz
Trent. — Eu disse a ele que você tinha extra, mas ele estava convencido
de que passaria dois dias sem.
— Idiota. — Scott se senta na cadeira quadrada e moderna. Ele muda a
televisão para uma entrada que conecta seu computador à tela da TV. —
Escolha um número de um a sete.
— Eu ou Connor? — Trent pergunta.
— Ou um ou outro. — Ele percorre uma lista de reprodução de vídeo
rotulada com apenas números de um único dígito e eu vejo seu cursor
acender cada um em tentação.
1
2
3
4
5
6

7
E ele vai no começo de novo, esperando nós escolhermos. Eu olho para
Trent e ele dificilmente parece perplexo com os vídeos. Eu presumo que
ele tenha visto alguns, senão todos, antes.
Então eu digo, — Você escolhe.
Trent estreita os olhos para os números. — ...não consigo lembrar do
vídeo em que ele diz a ela para se despir.
— Ela está nua do quatro ao sete, — responde Scott, o cursor
iluminando esses números.
4
5
6

7
Eu estico meu braço sobre o sofá, mas aperto meu celular com mais
força. Eu tenho uma ideia do que é isso agora, e eu tenho que dar uma
desculpa insuspeita para sair rapidamente. Eu toco meus lábios com meu
celular em uma falsa contemplação. — Vocês dois sempre fazem isso no
seu tempo livre? — Eu pergunto com um sorriso blasé.
Eu esperava que suas atividades ilegais começassem e terminassem
com drogas. A resposta que martela meu cérebro tem consequências
ondulantes e se eu fizer algo errado uma vez, isso explodirá na minha
cara.
— Cara, quando você ver o que Scott tem, você vai desejar que ele
tivesse te mostrado mais cedo, — diz Trent. — Não é melhor que a coisa
real, no entanto. — Ele ri e dá um tapinha no meu ombro enquanto bebe
sua cerveja, confirmando que ele realmente fodeu quem quer que esteja
nessas fitas.
Scott murmura, — Bastardo sortudo.
Daisy.
Tenho noventa e nove por cento de certeza. Eu tinha apenas vinte por
cento quando Scott falou sobre ela e sexo oral, e eu tinha setenta por
cento de certeza no minuto em que ele mencionou os vídeos numerados.
Mas agora eu sei.
Daisy é o um ao sete. Há tantas razões pelas quais eu nunca iria assistir
isso. Porque eu não posso. Por que me deixa fisicamente mal só de
imaginar Scott, Trent e quem quer que os veja repetidamente.
5

6
— Aquele, — diz Trent.
Eu ajo como se meu celular estivesse vibrando. — Merda, — eu xingo,
percorrendo uma mensagem antiga e ficando de pé.
— O quê? — Scott para o cursor no número seis.
— Jane caiu da porra da cadeira alta. — Eu passo a mão pelo meu
cabelo, parecendo angustiado. — Eu já volto - você pode começar sem
mim.
— Ela provavelmente está bem, — diz Scott. — Você não vai querer
perder isso. — Ele clica no vídeo.
— Quanto tempo tem? — Eu pergunto.
— Esse tem meia hora, — diz Scott, acenando o controle para eu voltar
e me juntar a eles. Eu vacilo, para agir como se eu realmente quisesse
assistir. Meus músculos se esticam, flexionam enquanto eu me forço a
permanecer na falsa curiosidade.
O porão de uma casa na cidade pisca na tela, data e hora no canto
inferior direito, afirmando a data de quando Princesas da Filadélfia foi ao
ar. A câmera tem vista para o pequeno quarto com uma cama e uma
cômoda de madeira. O ex-namorado da Daisy está sentado na beirada da
cama enquanto ela já está meio despida e começa a deslizar sua calcinha
pelas pernas.
Não olhe.
É tarde demais.
Meu pulso martela, náusea subindo para minha garganta, e eu verifico
meu celular novamente, agindo como se Rose continuasse mandando
mensagens.
Scott disse que ele destruiu as filmagens da Daisy, mas claramente
manteve algumas das cenas que ele filmou durante Princesas da
Filadélfia. Como o resto de nós, ela não tinha ideia de que havia câmeras
nos quartos. Então ela se despiu e ficou com o namorado dela sem medo
de ser gravada.
Daisy tinha apenas dezessete anos na época.
— Tire isso, baby, — Trent ri e olha para mim. — Ela o chupa aos
quinze minutos.
Eu tento parecer o que ele quer que eu pareça - animado, mas
desanimado por ter que ir para casa e perder isso. Eu olho para o meu
celular e gemo. — Merda.
— O quê? — Pergunta Scott.
— Rose acha que Jane machucou o braço. Eu já volto. — Com isso, eu
corro para fora da porta, capaz de correr sem que eles questionem meus
motivos.
Enquanto eu corro pela calçada, os fatos me atingem de uma só vez -
fatos que pesquisei depois do Saturn Bridges, para reafirmar o que eu já
sabia.
A lei estadual da Pensilvânia proíbe a fotografia, filmagem e gravação de
um ato sexual envolvendo uma criança menor de 18 anos.
Eu corro mais rápido para o outro lado da rua.
A lei da Pensilvânia pune a visualização ou posse voluntária de
pornografia infantil na casa de um indivíduo.
Estou tão perto de me juntar a ele em quebrar a lei, mas não é por isso
que eu corro, porque quando eu alcanço a caixa de correio eu aumento
meus passos.
Há apenas uma pequena janela de oportunidade para foder Scott. Eu
não posso esperar outra hora ou outro dia. É agora.
Quando entro na casa, subo correndo as escadas, nem prestando
atenção em Lo, Garrison e Ryke na sala de estar. — Connor?! — Lo
chama, preocupação em seu tom.
Eu ando com confiança pelo corredor, ouvindo um grupo de vozes... no
meu quarto. Eu me viro abruptamente e abro a porta para encontrar as
meninas amontoadas ao redor da penteadeira com Willow. Em segundos
deduzo que ela concordou em ir ao baile com o amigo, e Rose, Lily e
Daisy estão a ajudando a se arrumar.
Todas as quatro cabeças viram para mim em uníssono.
— Eu preciso de você e de você, — ordeno, apontando para Daisy e
Rose. Eu faço um gesto para elas irem ao banheiro.
— O que está acontecendo? — Pergunta Lily, confusa sobre por que eu
a deixaria de fora.
— Connor? — Rose se levanta e se aproxima de mim enquanto Daisy
hesitante entra no banheiro.
Eu agarro a parte de trás da cabeça de Rose e sussurro rapidamente em
seu ouvido, explicando tudo em poucas frases. Eu sinto seu corpo inteiro
se contrair e enrolar contra o meu.
— O que está acontecendo, porra? — Ryke pergunta na porta, me
seguindo no andar de cima com Loren logo atrás. Eu estendo minha mão,
dizendo a ele para esperar por um segundo.
— Ele quer falar com Daisy, — explica Lily.
Quando termino de informar Rose, ela parece horrorizada por um
único segundo antes do horror se transformar em uma expressão hostil e
furiosa, o veneno se derramando através de seus olhos verde-
amarelados.
— Levaremos cinco minutos, — diz Rose, pegando minha mão e me
guiando até o banheiro.
— Cobalt! — Ryke grita.
Rose fecha a porta do banheiro, em seguida, Daisy pula no balcão da
pia e balança os pés. — E aí galera?
Eu fico lado a lado com Rose, de mãos dadas, preparado para largar
uma granada em uma garota que já sofreu demais. Eu costumo sempre
ter as palavras certas, mas é difícil expressar o peso do que estou prestes
a liberar - e o que isso significa para a vida dela.
Rose também está quieta. Como você diz a uma garota que ela foi
violada? Me lembro de como comprei e destruí fotos dela tirando a roupa
nos bastidores - de um fotógrafo - para evitar isso para Daisy e com uma
estranha circularidade, ela está prestes a experimentar uma versão disso
de qualquer maneira.
— Gente? — Seu sorriso diminui. — O que está acontecendo?
Um calafrio corre pelas minhas costas e braços. — Acabei de descobrir
que Scott ainda tem imagens de você de Princesas da Filadélfia. No seu
quarto.
Seu rosto cai. — O que… isso é...
— Não está online. Não pode estar, — tento aliviar sua preocupação. —
É pornografia infantil, Daisy. É crime ele ter filmado, quanto mais assistir
a filmagem.
Ela olha para o teto, horrorizada como Rose ficou.
— Ele vai pagar por isso, — diz Rose inflexivelmente. — Ok? Ele não
vai sair dessa, mas precisamos do seu consentimento para ligar para a
polícia.
Ela balança a cabeça em transe. — Por que você precisa do meu
consentimento? É ilegal…
— Daisy… — Rose se solta da minha mão e se ajoelha na frente de
Daisy, coletando as mãos da irmã na dela. — Ele tem filmagens de você,
que será a base do caso contra ele. Você pode ter que ir ao tribunal e
testemunhar… ou pelo menos fazer uma declaração.
— Ele te machucou, — diz Daisy, as lágrimas caindo, quase tão
chateada quanto a sua irmã. — Ele me machucou. Quem mais ele vai
machucar? — Ela inala fortemente e, em seguida, estende a mão para
mim.
Eu franzo a testa, não entendendo essa ação.
— Eu quero ligar para a polícia.
Acho que dois anos atrás, Daisy teria dificuldade em se defender,
mesmo em uma situação tão grotesca e abismal quanto essa. Ela teria
pedido para eu ligar para a polícia. Ela teria pedido a irmã para terminar
o trabalho. Qualquer um menos ela.
Rose se levanta e pede que eu dê a Daisy o celular e há orgulho nos
seus olhos. Ela até abraça a irmã ao seu lado.
— Por quanto tempo ele vai para a cadeia? — Daisy pergunta quando
eu passo celular para ela. Para Rose, colocar Scott na cadeia por toda a
eternidade teria sido fácil. Para mim, teria sido uma ação sem culpa. Para
alguém como Daisy, é difícil, mas não ouço remorso em sua voz.
Ela levanta o queixo como Rose, seguindo o comportamento confiante
e poderoso de sua irmã mais velha.
— Talvez cinco anos, — digo a ela, — e ele será registrado como um
predador sexual. — Ele também pode enfrentar acusações federais, mas,
no momento, estou analisando a lei estadual e isso por si só arruinará
sua vida.
Não é chantagem. Não é injusto. Scott vai para a prisão por crimes que
ele escapou por anos. Se eu nunca me tornasse amigo dele, nunca teria
descoberto o que ele tinha em casa. Ele nunca nem pensaria em me
mostrar ou confiar em mim com isso.
Eu nunca teria chegado nesse lugar.
Daisy coloca o celular no ouvido dela. — Alô, gostaria de denunciar um
crime…
[ 60 ]
ROSE COBALT
Dois carros de polícia estão no meio-fio da rua, um ao lado da casa de
Scott e outro ao lado da nossa. Faço furos com o olhar na caixa de correio
do Scott, esperando que o desgraçado apareça em algemas.
— Ele está cooperando, — diz o policial. — Estamos levando o
computador dele como prova e com o que vimos até agora, poderemos
obter um mandado para procurar em sua casa qualquer outra coisa.
Perfeito.
Connor está no final da nossa calçada comigo, equilibrado e calmo
enquanto estou fumegando, um tubarão de mandíbulas bem abertas, uma
leoa agachada e pronta para atacar com garras à mostra.
— Se você precisa dos meus registros de celular, você pode tê-los, —
diz Connor. — Ele me mandou uma mensagem para ir até lá hoje e
quando vi o que ele estava planejando assistir, imediatamente corri de
volta para chamar a polícia.
O policial anota isso em seu bloco de notas. — Isso seria útil, obrigado.
Eu me levanto na ponta dos pés no minuto em que vejo o outro policial
do outro lado da rua, um pouco na diagonal para nós. Ele acompanha os
três caras para fora daquela casa. Connor disse que os dois se chamavam
Trent e Simon e é claro que posso distinguir Scott entre eles, não mais
sorrindo com prazer presunçoso. Ele franze a testa para o carro da
polícia, todos os três homens algemados atrás das costas.
Vire-se, eu comando mentalmente para Scott, mas seu rosto ainda está
preso ao veículo. Eles estão fora do alcance da voz e vejo Trent e Simon
entrar no carro e o policial fecha a porta para eles. Ele coloca a mão no
ombro de Scott e o direciona para o carro da polícia na nossa frente.
— Com licença, — diz o policial, deixando o nosso lado para conversar
com seu parceiro.
Scott Van Wright está algemado.
Scott Van Wright vai para a cadeia.
Scott Van Wright nunca estará obtendo nada que ele deseja, nunca
mais.
— Foram tantos dias, — digo a Connor, — onde achei que ele sempre
andaria livre, viajando em seu iate. — Eu me encolho em desgosto. —
Pegando um bronzeado, ficando chapado e, aparentemente, assistindo a
minha irmãzinha… — Eu não posso nem terminar essa verdade.
Uma coisa é me observar, mas saber que todo esse tempo sem o nosso
conhecimento, ele estava se masturbando para a Daisy - é totalmente
inconcebível.
Connor envolve o braço em volta da minha cintura. — Esses dias se
foram, — ele anuncia a melhor verdade de todas.
Os dois policiais conversam ao lado enquanto deixam Scott na porta do
carro, mais perto de nós do que deles. Eu ouço a palavra ‘cocaína’, então
eu suponho que ele será autuado por mais do que apenas filmar e ver
pornografia infantil.
Scott, em grande parte, manteve as costas para nós, mas ele finalmente
se move, apoiando o quadril na porta do carro. Sua fúria transforma seu
rosto em uma careta enojada quando ele olha entre meu marido e eu.
Connor entrelaça seus dedos nos meus. Eu fico ainda mais alta com
meu marido, meus saltos de dez centímetros abaixo dos meus pés.
Eu não tenho provocação suficiente para Scott, nenhum como essas
algemas estão? ou se divirta no inferno.
O que ele fez foi tão vil, tão grosseiro que não há nenhuma palavra no
meu vocabulário, digna de se ligar a ele. Eu apenas deixo meu olhar
perfurá-lo dez vezes.
Scott solta uma risada curta e indignada sob sua respiração. — Sua
puta do caralho...
— Não, — diz Connor, silenciando Scott para isso. — A próxima vez
que você disser alguma coisa depreciativa sobre minha esposa ou sobre
qualquer mulher, vai ser na cadeia.
No interior, estou dando voltas de vitória ao redor da minha calçada
com os punhos levantados, descalça e uivando para o sol. É algo que
minhas irmãs fariam. Algo que eu tenho orgulho de imaginar, elas aqui
sentindo o triunfo comigo.
Scott fixa seu olhar assassino em Connor. — Você não tem sido
verdadeiro comigo, não é? Não foi só isso que te empurrou. Ou foi?
Na voz mais moderada, Connor diz, — Você conhece uma cobra
Aesculapian? Não. — Ele olha para mim. — Rose?
Eu sei onde ele está indo com isso. — Uma espécie de cobra não-
venenosa, — eu respondo com a cabeça erguida.
— Entre elas está a cobra rato. — Connor se concentra em Scott
novamente. — Cobras rato são como cobras comuns, exceto quando são
mantidas em cativeiro. Quando você prende uma cobra rato, ele tenta
engolir seu próprio corpo e eventualmente se auto canibaliza. — Connor
diz, — Você é a cobra rato e estava se comendo lentamente até a morte
desde que se mudou para o outro lado da rua.
O rosto de Scott - uma bola torcida de choque, raiva e terror - é
inestimável. Ele parece que vai vomitar, e mantém a maior parte do peso
do corpo contra o carro da polícia. Ele olha para o nada, como se somasse
todos os meses que Connor o enganou. As coisas que Connor falou de
mim, a única pessoa que ele amou. Para realizar o que Connor realizou e
ainda ter uma alma - é preciso uma força e um poder raro que nenhum
ser humano poderia se igualar, não a esse grau inexplorado.
Scott lentamente levanta o olhar para meu marido. — Você é um
psicopata.
— Não, — diz Connor, — eu apenas odeio você pra caralho.
Então os policiais começam a retornar ao carro. Connor e eu dizemos
um curto adeus a eles e voltamos para a nossa casa, nos distanciando de
Scott.
Connor beija minha mão. — On a gagné. — Nós vencemos.
Eu ouço a batida da porta do carro da polícia. E eu expulso o último
suspiro ferido que Scott aprisionou dentro de mim.
— On a gagné, — repito com um sorriso crescente.
Nós vencemos.
[ 61 ]
ROSE COBALT
Eu passo por uma prateleira de roupas de bebê em uma das maiores
lojas de departamentos infantis. Vestidos plissados de linha, saias de tule,
vestidos com gola peter pan - tudo em uma variedade de cores pastel de
primavera e verão. A linha de moda masculina é no estilo náutico com
camisas listradas, calças cáqui e jeans.
Meus lábios levantam com a visão de um vestido floral azul-marinho
com um colarinho branco. Nenhuma estampa de zebra, nenhum sapo
lambendo moscas ou macacos com bananas. A simplicidade, a
feminilidade, é todo meu estilo. Eu pego o vestido da prateleira e
inspeciono a etiqueta.
Lá está: CCB com uma pequena inserção HC.
Loren se aproxima ao meu lado e me entrega uma limonada. — Credo,
— Lo se encolhe de brincadeira e coloca a mão nos olhos. — O sorriso
está de volta.
Essa loja de departamento em particular está fechada para uma festa,
todos da Hale Co. presentes e em vez de conversar com homens que
preferem fazer o oposto de tudo o que eu digo, acabei de me juntar à
companhia da minha recompensa final.
Essas roupas. Essa coleção. Em uma loja de departamentos.
— Acostume-se com ele, Loren, — eu replico.
Ele inclina a cabeça para mim. — Eu já estou acostumado. — É um
momento pequeno, realmente bom entre nós, e percebi que trabalhar
com ele não é tão ruim assim. Quer dizer - não é o ideal, mas também não
é horrível. Deus, elogiar Lo sempre será um feito.
Ele aponta com o queixo para Mark e Theo e todos os outros
funcionários que se reúnem em volta das roupas de menino. — Se você
continuar, eles vão pensar que você conseguiu o que queria.
— Eu consegui o que queria, — eu digo. — Essa é a minha volta da
vitória. — Eu coloco o vestido de volta no lugar. — Talvez com o tempo
eu não tenha que fingir desprezar todas as coisas que eu gosto para ser
ouvida.
— Eu quero isso para você também, você sabe.
— Essa é à sua maneira de dizer que você está sempre do meu lado?
Ele solta uma risada curta. — Não vamos forçar isso, Angélica.
Eu estreito meus olhos. — Esse comentário só faz você mais Angélica
do que eu, — eu sempre noto. Ele mostra um sorriso seco, não negando a
verdade. Nós dois nos transformamos em crianças hostis de vez em
quando. Eu saboreio meu copo de limonada, evitando conversa de
trabalho entre meus adoráveis colegas de trabalho.
— Você verificou o Twitter recentemente? — Lo me pergunta.
— Não. Eu não entro desde a coletiva de imprensa. — Eu não queria
que ninguém arruinasse o discurso do Connor para mim. Ele foi corajoso
e ter pessoas dizendo que ele não ama aquela vadia! Eles estão usando um
ao outro! Isso tudo é tão falso! teria manchado algo bonito.
Lo de repente, enfia a mão na minha bolsa preta e eu me afasto dele
com olhos arregalados e selvagens.
— Desculpa? — Eu estalo.
Ele me dá um olhar azedo. — Estou tentando pegar seu celular.
— Você não pode simplesmente mexer na bolsa de uma mulher. — Eu
pressiono meus lábios juntos. Ele não aprendeu já que a Lily odeia
carregar bolsas.
Ele pega minha bolsa de novo e eu dou um tapa em seus dedos. Ele se
inclina para frente e diz baixinho, — Você acabou de bater em seu chefe,
Rose.
Eu cutuco seu peito com o dedo. — Oh, olhe, eu acidentalmente
cutuquei meu chefe com minha unha bem cuidada.
— Sua garra. — Ele afasta minha mão e, em seguida, acaba pegando
seu próprio celular e o virando para mim.
Eu não entendo — O que é isso?
— O que eu tenho tentado mostrar a você - guarda a careta, Gelica.
Apenas leia.
— Tudo bem, — eu resmungo e pego seu telefone. É um tweet da Lily.
#RCC Isso é amor.
RCC são as minhas iniciais e a do Connor. Lily anexou uma foto ao
tweet, uma minha e do Connor no México ano passado. Estou grávida,
nossas cadeiras de iate juntas. Meus olhos verde-amarelados estão
perfurados em Connor e seu sorriso para mim é igualmente
proeminente. Fogo para a água.
Existem 4,8 mil retweets e 12 mil favoritos. Eu percorro o feed de Lily
e está cheio de fotos semelhantes da minha dinâmica com Connor.
Algumas que ela tirou sem que nós notássemos. Como na festa do pijama
na casa do lago, onde Connor e eu estávamos encarando um ao outro por
um longo, longo momento para ver quem cederia primeiro.
Ela escreveu: #RCC Isso é amor. #estrelasnerds Meu coração incha.
— Ela vem fazendo isso há semanas, — explica Loren. — Veja o que
está nos assuntos mais comentados.
Eu clico no perfil da Lily e vejo mais tweets com uma hashtag similar.
@Morningside32: #RCCIssoÉAmor quando a inteligência é mais sexy
do que abdomens.
@heatherveronica: #RCCIssoÉAmor quando você joga xadrez comigo,
e nós nos recusamos a deixar o outro vencer @fashionpleeeaze:
#RCCIssoÉAmor quando você olha para mim como se me amasse, não
importa o meu humor :) @neverneverland: #RCCIssoÉAmor quando
compartilhamos segredos por trás de um jornal <3
@hearmeroar29: #RCCIssoÉAmor quando eu arranco meu cabelo para
proteger minha filha & você envergonha a mídia por nos envergonhar.
Meus dedos estão congelados nos meus lábios, deslumbrada. Eu
questionaria como todas essas pessoas conhecem alguns detalhes do
meu relacionamento com Connor, se a Lily não tivesse tirado tantas fotos
nossas. Ela postou tantos momentos honestos com Connor e eu - coisas
que eu nunca pensaria em capturar, coisas que eu nunca pensaria em
compartilhar.
Isso me faz perceber quanto amor minha irmã vê entre nós e agora o
quanto outras pessoas estão começando a ver também.
A hashtag está nos nos assuntos mais comentados do mundo:
#RCCthisislove — Ela é louca, — eu digo aturdida. — Ela é louca e eu a
amo.
Loren ri. — Eu vou dizer a ela que você disse isso.
— Eu vou dizer a ela, — eu digo com firmeza. Eu diria à minha irmã
que eu a amo mil vezes. Antes que ela fizesse meu amor conhecido pelo
mundo. E definitivamente depois.
[ 62 ]
ROSE COBALT
Minha mãe beija minhas duas bochechas no momento em que entro no
solário, algo que nunca a vi fazer. Se isso é ela virando uma nova página,
eu vou aceitar.
— Olá, aniversariante, — minha mãe diz com uma voz aguda,
acariciando a cabeça da minha filha. Eu tenho dificuldade em imaginar
minha mãe agindo dessa maneira com suas próprias filhas pequenas,
mas com seus netos talvez seja diferente. Ela se sente mais obrigada a ser
excessivamente doce e menos disciplinar. Então, novamente, ela não era
assim com a filha de Poppy, então o tempo poderia ter sido um fator
também.
Eu ajusto Jane em meus braços e ela balbucia de volta para sua avó, a
única palavra reconhecível é oi! e azul.
Eu não sei como “azul” acabou em seu minúsculo vocabulário, mas eu
não questiono isso com frequência. — Essa é a sua cor favorita agora,
Jane? — Eu pergunto a ela na minha voz habitual.
Jane apenas sorri como se o mundo estivesse azul para ela.
Não é azul. Na verdade, é rosa.
Bolo cor-de-rosa, rosas cor-de-rosa, uma toalha de mesa cor-de-rosa
pastel. Eu coloco Jane no chão e seguro sua mão enquanto ela inspeciona
curiosamente a toalha de mesa, seu leão de pelúcia em sua mão.
— Isso é bonito, — digo a minha mãe, apontando para a mesa. A luz do
sol da manhã flui através das vidraças e os ventiladores giram
languidamente no alto. Não é muito. Eu pensei que ela teria contratado
um quarteto de cordas e feito um chá do lado de fora.
Eu disse à minha mãe que crianças de um ano não lembrarão do
aniversário delas e para guardar as festas extravagantes para quando
souberem da diferença entre um carnaval no quintal e uma sacola de dez
dólares de serpentinas da Party City.
— Eu fiz simples como você disse, — ela me diz e eu a observo em
silêncio contar as cadeiras na longa mesa.
— Todo mundo está vindo, — eu asseguro a ela. Jane puxa meu vestido
e eu a levanto de volta para os meus braços. Ela descansa sua bochecha
no meu ombro.
Minha mãe solta um suspiro suave. — Você sabe, houve um minuto em
que pensei que você não me deixaria fazer uma festa de aniversário para
Jane.
— Você pode me culpar? — Eu pergunto. Ela não ficou ao meu lado
durante um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Eu
precisava que ela apoiasse o Connor e o meu amor por ele, mesmo que
ela não entendesse completamente.
— Não, eu não culpo você. — Ela toca o colar, não o seu costumeiro
colar de pérolas. Dessa vez, é um medalhão de prata. — Corri para julgá-
lo... eu e seu pai. — Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, a porta
do solário se abre e Connor e meu pai entram.
Ambos parecem à vontade e Connor usa sua habitual expressão
complacente, não divulgando muito. Ele se aproxima, fazendo cócegas no
braço de Jane e ela ri e se contorce contra o meu quadril.
— Seu pai se desculpou, — explica ele, voltando os olhos para o meu
pai.
Meu pai assente repetidamente e limpa a garganta. — É fácil para mim
ficar ofendido quando sinto que minhas filhas e minha empresa estão
sendo ameaçadas ao mesmo tempo. Não estava certo, mas... Eu estava
apenas vendo vermelho. Eu sinto muito.
É bom estar de acordo com esses termos e espero sinceramente que
isso dure. — Eu aprecio o pedido de desculpas, — eu digo.
— Você ouviu que Scott não foi concedido fiança? — Ele pergunta a nós
dois.
Antes de podermos dizer sim, minha mãe diz, — Ele deveria receber
uma sentença máxima depois do que ele fez. — Eu vejo a raiva em sua
postura rígida. Ela pode ser uma mãe protetora, suponho. Precisa apenas
do tipo certo de bala direcionada a nossa cabeça antes que ela produza
chifres e respire fogo como eu.
— Connor não acha que ele vai a julgamento, — digo a eles.
Scott está preso na cadeia desde que o juiz negou fiança, então ele tem
que sentar lá e esperar o que poderia ser meses. Ele está sendo julgado
em um tribunal federal, então é provável que ele tente se livrar de um
acordo judicial.
Minha mãe parece horrorizada com a ideia. — Um júri precisa
condená-lo.
— Se ele se declarar culpado, — diz Connor, — e aceitar o acordo,
provavelmente não será muito melhor do que um julgamento, — Scott
Van Wright está pegando cinco a dez anos de prisão.
E o nome dele não vai obscurecer a atmosfera eufórica do primeiro
aniversário da Jane, então decido mudar de assunto. — A mãe diz que
você está fazendo dieta, — digo ao meu pai, uma digressão clara, mas
nunca fui sutil.
Ele ri uma vez em um sorriso. — Meu colesterol está alto.
— Onde está a coelhinha aniversariante?! Nós viemos com presentes!
— Daisy exclama antes mesmo de a porta se abrir. Meus pais se viram
para cumprimentar o grande grupo de pessoas, todos se espremendo no
solário e eu vou para perto do outro lado da mesa com Connor, sentando
na cabeceira da mesa na cadeira de vime com Jane no meu colo. Ele fica
ao meu lado.
Eu ganhei o direito de sentar aqui depois de um jogo de trinta minutos
de Palavras Cruzadas essa manhã. Eu só o venci por dois pontos.
— Os vencedores se sentam à cabeceira da mesa, Jane, — digo a ela.
Ela mexe seu leão de pelúcia ao redor e olha para mim com grandes
olhos azuis. — Mamãe… — Eu realmente não consigo entender mais
nada. Às vezes acho que posso, mas depois percebo que só quero ouvir
frases reais, e a minha mente fingi que seus ruídos são palavras
inteligíveis.
— Você está brilhando, — diz Connor. Ele está com um dedo na
mandíbula, seu sorriso se alargando quando encontro seus olhos.
— Eu não estou grávida, se é isso que seu cérebro superdimensionado
está pensando. — A menção da gravidez abaixa meus lábios. Jane deveria
ser filha única, Rose. Qualquer outro bebê que nascer, pertencerá a Daisy.
— Eu não estava, mas claramente você estava, — diz ele facilmente,
como se o assunto dificilmente o atormentasse. Eu não vejo como isso
não acontece.
Eu penso sobre o nosso sonho perdido quase que diariamente e nunca
eu começo a sorrir.
Pensamentos felizes, Rose. É o primeiro aniversário da Jane, uma
ocasião importante e alegre no dia 10 de junho. Ficar triste por não ter
mais filhos no aniversário do meu bebê é absolutamente cruel e quase
sacrílego.
Eu tento ser melhor. Talvez seja assim que a vida sempre é.
Connor traz a cadeira para perto de mim.
— Você está trapaceando, Richard? — Ele está tentando sentar na
cabeceira da mesa comigo.
— Você me amaria se eu fosse um trapaceiro? — Pergunta ele. Na
minha visão periférica, noto nossos amigos e familiares começando a
tomar seus lugares.
— Por que você me faz perguntas para as quais sabe a resposta?
Ele passa por cima do meu comentário. — Você me ama, então eu não
poderia ser um trapaceiro.
Jogos mentais. Enigmas. Paradoxos. Minha cabeça bate com todos eles.
E eu sou transportada para nós aos dezesseis e dezessete anos, quando
estávamos trancados em um armário de zelador no Modelo da ONU
juntos. Eu nunca soube que ele tinha os meios para nos deixar sair, não
até ele admitir isso na coletiva de imprensa.
— Você disse a todos uma lembrança nossa, — eu digo, pulando para
uma nova página do nosso livro e ele me segue.
— Eu não achei que você se importaria.
— Eu não me importo, — eu digo baixinho. — Mas você esqueceu de
lhes dizer a parte em que você se inclinou para me beijar e eu coloquei
uma mão no seu rosto.
Ele me dá uma olhada e balança a cabeça. — Não foi assim que
aconteceu.
Eu estreito os olhos, — Foi sim. Eu tenho uma memória perfeita,
Richard.
Ele se aproxima ainda mais. Até o ombro dele encostar no meu. — Moi
aussi. — Eu também. — Ele levanta meu queixo com dois dedos. —
Naquele dia, você me olhou como está olhando para mim agora.
— Como?
— Com paixão, — diz ele com sua própria paixão. — Você olhou para
os meus lábios e eu olhei para os seus.
Ele já me envolveu e eu me aproximo, nossos joelhos batendo.
— Nós nunca nos tocamos, mas eu fiz amor com a sua mente. Quando
você teve o suficiente, foi quando colocou a mão no meu rosto.
Eu fiz amor com a sua mente. Ele nunca pronunciou essas palavras
antes, mas acho que estou apaixonada por elas. — Hummm, — eu digo.
Suas sobrancelhas se levantam. — Hummm?
— Sua memória não é terrível.
Ele ri em outro sorriso. — Você me ama.
— E você ama afirmar o óbvio, — indico. Eu não olho para ele para ver
seu sorriso cheio que atinge seu rosto. Eu raramente concordo que eu o
amo na medida em que ele afirma, mesmo que seja sempre verdade.
Alguém bate em um copo de vinho e eu redireciono minha atenção para a
mesa cheia, cada membro da família e amigos sentados.
Estamos todos aqui, incluindo Willow, Sam, Poppy... e Jonathan. Ele
está posicionado entre meu pai e Sam, e seu cabelo parece fino nas
laterais, como se ele estivesse lutando contra o estresse.
Estou surpresa que ele fique quieto, talvez ele esteja se sentindo um
pouco culpado como Connor afirmou.
Loren se levanta com água gelada em sua mão esquerda, sua mão
direita em um gesso preto. Enquanto a mesa se cala, estudo o momento,
os rostos sorridentes das minhas três irmãs, meus pais de mãos dadas
em frente a uma xícara de café, a manhã tranquila em minha casa de
infância, Connor tão perto que seu braço está atrás de mim na cadeira e
minha filha aqui, no meu colo, abraçando seu leão.
— Eu sei que é o aniversário da Janie, mas depois de tudo o que
aconteceu com vocês dois, — ele gesticula com seu copo de água para
Connor e para mim — Eu tenho algo a dizer.
Isso pode ser bastante ruim ou razoavelmente bom, mas eu tenho
muito mais fé em Loren Hale para ir em uma direção que não vai causar a
Terceira Guerra Mundial, eu liderando um pelotão contra ele.
— Eu posso sempre dizer que Rose é tão fria quanto gelo e Lily pode
sempre dizer que Connor deve ser um alienígena extraplanetário, — Lo
começa, Lily assentindo ao lado dele enquanto balança Maximoff nos
seus joelhos, — mas vocês dois têm corações de tamanho astronômico,
vocês sabem disso né?
Eu olho para Connor e seus dedos voltaram para sua mandíbula em
contemplação. Nós temos corações. Não é uma realização devastadora. Eu
sei que tenho coração. Eu sei que Connor também tem um, mas para
outras pessoas reconhecerem isso é raro. Nossos corações estão
submersos sob a armadura mais densa e espessa que deixamos apenas
alguns escolhidos passar.
Loren continua, — Vocês dois nunca me julgaram por ser um viciado e
mesmo quando muitas pessoas julgaram e questionaram vocês - vocês os
perdoaram. — Ele balança a cabeça em descrença com a ideia de que
todos nós nos reuniríamos juntos pacificamente no final. — Essa mesa só
está cheia por causa da compaixão de vocês e quero que saibam que eu
consigo ver isso. — Ele se vira para os meus pais, seu pai, Sam e Poppy.
— E é melhor que todos aqui vejam também.
Com isso, meu pai se levanta com sua mimosa e minha mãe segue o
exemplo em solidariedade. Quando Jonathan se levanta, com a água na
mão, a tensão estranhamente se desenrola. Ele tem muito caminho pela
frente para reparar suas relações com seus filhos, mas estar aqui sem ser
um idiota é um começo.
Eu assisto Poppy se juntar a eles, então Sam e sua filha, Maria.
Quando Lily fica ao lado de Lo, ela limpa a garganta, já ficando
vermelha. Eu a vejo levantar o queixo triunfalmente e depois puxar os
ombros para trás. Vai Lily. E ela diz com confiança, — Eu acho que se
podemos nos unir depois de tudo o que aconteceu, nossos filhos serão
melhores por isso. — Ela assente com a cabeça em resolução.
Eu respiro pelo nariz, segurando a emoção que incha meu peito. Eu não
gosto da sensação de pessoas se elevando sobre mim, então eu me
levanto com Jane no meu quadril. Connor é rápido em seguir.
Ryke e Daisy são os únicos dois ainda sentados, o que não é totalmente
surpreendente. De todos, eles enfrentaram a maior disseminação de
dentro da família.
Ryke se inclina para trás e balança a cabeça. — Isso é real? — Ele tem
que perguntar. — Porque eu não vou ficar de pé se em três meses esse
lado da mesa - ele gesticula para os nossos pais - tornarão a nossa vida
um inferno porque acreditaram em um rumor das revistas sobre nós.
Meu pai pigarreia e faz uma pausa, tentando encontrar o jeito certo
para compartilhar suas emoções. — ...Eu sei que duvidei de alguns dos
homens aqui com minhas filhas. — Seus olhos pingam de Sam para Ryke
e, finalmente, para Connor, uma dúvida mais nova do que os outros dois.
— Eu não posso me desculpar por me importar com minhas garotas, mas
posso pedir desculpas por colocar uma pressão em seus relacionamentos
e sentir como se vocês tivessem que escolher entre as pessoas que vocês
amavam e suas famílias. — Ele faz uma pausa. — É hora de mudar isso.
Os lábios de Ryke se separam lentamente em descrença. Ao longo de
um ano, eu sabia que meu pai havia se aqueceu ao relacionamento do
Ryke e da Daisy, mas eu não acho que ele expressou isso externamente
para o Ryke.
Minha mãe se endireita, sabendo que metade da declaração de Ryke foi
dirigida a ela. — Você passou por uma cirurgia de transplante de fígado
para seu pai e você quer saber o que eu disse ao Jonathan - que você
nunca faria isso. — Sua mão para de apertar seu copo de mimosa. É um
reconhecimento sutil de que ela também julgou mal o Ryke. — Eu não
quero viver imaginando que todo mundo quer destruir minha família, e
isso começa confiando nas pessoas em quem devemos confiar. — Ela diz,
— E eu confio em você.
Eu congelo na declaração muito maior do que eu esperava ouvir. Eu
acho que alguém batizou as bebidas de todo mundo, mas ninguém tomou
um gole ainda.
Ryke olha para Daisy e as lágrimas cobrem os olhos dela. Ela sussurra
em seu ouvido e ele concorda.
Ambos se levantam.
Se alguém me perguntasse o que me faz - uma chama vulcânica e
ardente do inferno - derramar lágrimas e chorar como se eu fosse uma
patética chuva de dois minutos, eu diria que minhas irmãs crescendo,
meu marido em sua rara vulnerabilidade, meu bebê em momentos
incomensuráveis aleatórios e o começo do Titanic.
Em algum lugar entre tudo isso, essa parte singular do tempo existe, e
isso me atinge com força. Com os copos levantados no ar, com todos nós
unidos em torno de uma mesa decorada, um bolo no centro - eu aceito
uma realização poderosa e inflexível como uma verdade calorosa e
sincera.
Todos os nossos filhos serão criados sem ódio. Inimizades serão
lavadas e brigas finalmente postas de lado. Eles terão as ferramentas
mais afiadas e resistentes para combater inimigos que não estarão em
suas próprias casas, mas a quilômetros e quilômetros de distância.
Nossos filhos terão a melhor chance na vida porque estamos juntos.
Porque todos nós temos a capacidade de amar, não importa de que forma
ou formato possa vir. Porque no final, cada um de nós permanece intacto,
para que as vidas deles possam começar.
Eu inalo poderosamente, e Connor envolve seu braço em volta do meu
ombro.
Loren levanta seu copo mais alto. — Um brinde a Rose e o Connor, por
nos ajudarem a perceber a importância da família e a diferença que um
bom amigo pode fazer. — Não é comum que outras pessoas nos digam
isso - que as impactamos. Eu não posso deixar de sorrir.
— A Rose e o Connor, — todos dizem em uníssono.
Connor captura meu olhar com seus olhos azuis profundos e
cintilantes, juntos, nós brindamos a nós.
[ 63 ]
CONNOR COBALT
— Foi apenas uma pequena queda, minha gremlin. — Rosa agacha em
saltos de dez centímetros e sopra as palmas das mãos avermelhadas da
Jane. Ela tenta consolar nossa filha que chora no jardim de Claude Monet,
um dos lugares mais bonitos que eu já visitei na França. O cenário
exuberante e floral dificilmente é contaminado pelas lágrimas de Jane. Eu
vejo quando Rose limpa a bochecha rosada da nossa filha e Jane funga,
percebendo que ela tropeçar na calçada não doeu tanto quanto ela
achava que tinha doido.
Jane estende a mão para Rose pegá-la, mas depois ela vira a cabeça,
sem me notar ao lado dela. — Papai! — Ela começa a chorar novamente.
Rose revira os olhos. — Seu pai tem um metro e noventa e três de
superioridade e sua cabeça está perdida nas nuvens.
Eu me inclino ao lado da Rose. — Pelo contrário, querida, minha
cabeça está nas estrelas. — Nossa filha relaxa assim que me vê de novo.
Os olhos verde-amarelados da Rose me atravessaram e meu pulso bate
com força. — Está de dia.
— É uma meta...
Ela cobre minha boca com a palma da mão e meu sorriso florescente
espreita por entre os dedos. Eu sei o que é uma metáfora, Richard, eu leio
a expressão dela. Ela bufa, os olhos brilham e voam através das minhas
feições, o peito subindo e descendo. Como alguém pode ficar tão viva só
com palavras - isso me faz ganhar vida com ela.
Jane murmura uma série de ruídos e nós dois quebramos nosso olhar.
Eu escovo uma lágrima da bochecha de Jane, e ela funga novamente.
Rose me pergunta, — Você acha que faremos isso o dia todo? — Ela
conserta o chapéu de sol branco de Jane que caiu durante seu tropeço.
— Talvez mais quinze minutos, e então ela provavelmente terá o
suficiente. — Estamos viajando pelo norte da França a maior parte da
tarde. É 22 de junho, então planejamos passar o resto do nosso
aniversário no hotel com Jane.
Rose solta os dedos de Jane e pergunta a ela, — Quem você quer que te
carregue?
Nossa filha olha entre nós antes de esticar os braços para sua mãe.
— Boa escolha, — digo a Jane.
Os lábios de Rose começam a subir quando ela pega Jane em seus
braços e nós dois nos levantamos juntos. Eu ouço o estalo das câmeras,
mas faço o melhor para bloqueá-los.
As pessoas encaram. As pessoas tiram fotos e nossa equipe de
segurança está a seis metros de nós. Não me importo com o olhar
constante e inabalável dos espectadores, desde que possamos ter um dia
como este - sem medo de assédio ou de sermos cercados por paparazzi.
Eu descanso a mão na parte inferior das costas de Rose e caminhamos
vagarosamente em direção à ponte de madeira que fica em cima de uma
lagoa de lírios. As flores roxas das glicínias drapejam e se penduram, as
raízes em torno do corrimão e as plantas verdes ricas rastejam e cobrem
a ponte. É como entrar na pintura de Monet, experimentando uma obra
de arte de perto.
Quando paramos no meio da ponte, eu viro Rose para mim, um de
frente para o outro, nossa filha entre nós. Está quieto aqui, a serenidade
enchendo minha cabeça com desejos e esclarecendo todas as dúvidas.
— Pare de me encarar assim, — ela diz, mas ela se aproxima de mim.
Eu posso sentir seu coração em seu peito, batendo contra o meu.
— Isso assusta você - o que eu vou dizer? — Eu questiono. Ela não
consegue ler minha mente, mas devo usar meus desejos em meu rosto. E
eu a quero e quero Jane. E eu quero muito mais filhos.
— O que você vai dizer? — Ela pergunta imediatamente.
— Quando olho profundamente em seus olhos, vejo mais do que
apenas três anos do nosso casamento, — confesso. — Eu vejo dez, trinta,
cinquenta, sessenta anos com você e nos vejo retornando a esse lugar.
Nos vejo velhos e no final de nossas linhas de vida, olhando para essa
água, nessa ponte - tão consumidos pelo amor como estamos
tragicamente consumidos agora.
Sua mão aperta meu bíceps, metade em ameaça, metade para cobrir o
fato de que ela está sem fôlego.
— Eu vejo nossos filhos, — eu digo. — Muito mais crianças, Rose.
— Existem regras, — diz ela incisivamente. — Perdemos nosso jogo e
a invasão da mídia... você disse que não há caminhos alternativos. — Não
tenho ficado cego para sua decepção. Eu a encontro diariamente quando
ela pensa em aumentar nossa família juntos. Eu engulo a minha própria
decepção na frente dela, mas a derrota se intensifica, um sonho intocado
tremendo para ser mantido.
Eu nunca quebrei um jogo.
Eu encontrei brechas, mas esse não tem nenhuma.
Ou vamos contra o que planejamos ou vivemos uma vida insatisfeita.
Eu não estou me colocando em nenhuma amarra. Estou rasgando cada
uma delas, mesmo que isso signifique dar um mergulho difícil para nós
dois - um que sempre teve a sensação de deslizar por uma montanha sem
tração e sem jeito de subir de volta. Mesmo que isso signifique que
quebrar os termos que definimos uma vez mude a forma como jogamos
nossos jogos para sempre.
Tem que haver uma exceção. Sempre.
E essa é a exceção. — Podemos quebrar nossas regras para nossos
filhos, — digo a ela. — Temos a noção de que ter mais filhos seria
egoísmo, mas olhe ao nosso redor, Rose, olhe para ela e me diga que
parte deste mundo é tão insuportável que não devemos dar vida a outra
criança?
Rose observa Jane se inclinar para a glicínia roxa, grandes olhos azuis
cheios de uma maravilha infantil e então nossa filha aponta
curiosamente para a fauna coberta acima de nós. Ela balbucia uma série
de ruídos que soa como, o que é isso?
— É um sonho levantando voo, Jane, — digo as palavras para Rose,
aproveitando a atenção e o olhar dela. Ela não está convencida cem por
cento que esse é o melhor plano. — É egoísta nós vivermos de acordo
com uma regra que afeta outra vida.
— A mídia, no entanto, — ele diz. — Como isso mudou? — O teste real
não foi o nosso jogo que construímos com a mídia. O teste real foi depois,
como lidamos com a consequência com a nossa filha no braço e aos meus
olhos, tivemos sucesso.
Eu explico, — Nosso amor supera qualquer custo que a mídia possa
infligir. Talvez esse tempo todo, Rose, tenha sido inconscientemente
seguro e que foi preciso a nossa convicção - de que podemos
proporcionar amor a uma criança, que sentimos de todo o coração - para
finalmente vermos isso nós mesmos.
Ela luta contra as lágrimas e eu a puxo o mais perto que ela pode ir,
minha mão segurando sua mandíbula e meu polegar acariciando sua
bochecha. Aqui estou eu, convencendo Rose do amor quando ela passou
tanto tempo abrindo minha mente para o seu verdadeiro significado. Vou
lembrá-la todos os dias o quanto ele reside dentro de nós dois.
— Não há mais dúvidas, — eu digo. — Seja qual for o erro que nossos
filhos cometam ou erros que possamos cometer, suas vidas serão
preenchidas com amor e paixão - e nossos filhos, nossos, sugarão a
tristeza da vida e pintarão esse mundo cinzento com cores.— Eu olho
profundamente naqueles olhos ferozes verde-amarelados, meu coração
batendo em sincronia com o dela. — Nossos filhos serão inesquecíveis
como nós. Espera e você verá.
A mão de Rose sobe até o meu ombro. — Esse é o lugar onde nós dois
ficamos loucos. — Ela vira a cabeça apenas uma fração, para os lírios
ociosos na água. — Quem na Terra gostaria de procriar com você? Oito
vezes? — Ela encontra meu sorriso crescente e arrogante. — Eu devo
estar louca.
Ela está dizendo um retumbante sim.
Eu deslizo meu braço ao redor de sua cintura. Ganhar e perder sempre
foi apenas um estado de espírito e sinto que o nosso está se tornando são
novamente.
Eu descanso minha outra mão na parte inferior da sua barriga,
esperando que ela a tire, mas ela me deixa tocá-la aqui sem reclamar.
Seus lábios tentam puxar para cima, mesmo quando ela odeia combater
meu sorriso com um sorriso.
Antes de Jane chegar, eu adorava vê-la grávida, vendo seu corpo
crescer com nosso bebê, uma parte de mim e uma parte dela. Rose tinha
muitos medos sobre a maternidade, mas ela gostou da maior parte de
carregar uma criança. Se ela odiasse, ela nunca consideraria outra.
— Não podemos ter mais por impulso, — ela me lembra. — Eu tenho
que planejar isso com Daisy, caso ela não possa ter um bebê.
— Eu sei. — Estou supondo que isso significa que Ryke estará na
discussão também. Para cada obstáculo que ele enfrenta com Daisy, para
cada montanha em que eles figurativamente e literalmente subiram, é
mais provável que se casem hoje do que se separarem amanhã.
Rose ajusta Jane, lutando para segurar seu peso por tanto tempo.
— Eu vou levá-la, — eu digo.
Rose passa a nossa filha para mim e eu a seguro, levantando-a em
direção ao meu ombro. Jane pressiona a bochecha contra o meu
colarinho, as pálpebras pesadas.
Eu olho para Rose. — Mais quantos filhos você quer? — Oito foi o meu
número. É com o que ela está acostumada porque eu repito com
frequência, mas isso não é definitivo.
Rose tira o chapéu torto de Jane e o coloca em sua bolsa de fraldas da
Chanel, que mais parece uma bolsa gigante. — Eu só quero que Jane
tenha uma irmã. Poderíamos ter duas filhas e eu seria feliz ou podemos
ter dez, desde que houvesse duas garotas em algum lugar.
Não podemos planejar o número exato, não quando há muitos
obstáculos imprevisíveis, mas podemos tentar alcançar isso.
Duas garotas Cobalt.
Irmãs.
— Então, assim que você tiver outra garota, nossa garota, — eu tenho
que começar — nós vamos parar e esse será o tamanho da nossa família.
— Eu espero que essa proclamação afunde em suas feições, e os olhos de
Rose se ampliam. Ela quase balança para trás, mas eu agarro seu quadril,
mantendo-a perto.
— Richard Connor Cobalt, você está deixando isso para o destino. —
Seu sorriso ilumina seus olhos, cheios de diversão. Estou mais do que
satisfeito em deixar o número de nossos filhos para a ciência e sim, para
o acaso.
— Seu destino será gentil comigo, — digo a ela. — Eu posso fazer
qualquer um me amar com tempo.
Rose revira os olhos. — Seu destino é meu destino. — Eu acredito
nisso. — E eles não amam você, Connor. Eles amam a pessoa que você
mostra para eles. — Ela faz uma pausa e diz, — Eu amo você. Estou
orgulhosa de você. E eu não consigo me imaginar estando em qualquer
lugar, exceto ao seu lado.
Nossos pulsos martelam novamente.
Eu levanto o queixo dela, o olhar dela queimando todas essas verdades
dentro de mim. Há pessoas raras que alimentam o fogo dentro de você,
que vai despertar uma paixão latente, que vai desafiar você, que vai te
empurrar e te melhorar. Ela sozinha é minha raridade.
— Eu sou sempre quem ou o que as pessoas precisam que eu seja, —
eu digo com força, — mas você foi a única que precisou que eu fosse eu.
Ela assente com a cabeça, lágrimas nos olhos. — Eu posso ouvir seu
coração batendo.
Meus lábios sobem mais e eu coloco uma mecha de cabelo atrás da sua
orelha. — Ele bate em tempo igual com o seu. — Eu beijo o oco de seu
pescoço e sussurro, — Toujours.
Sempre.
[ Epílogo ]
ROSE COBALT
Um Mês Depois — Eles estão aqui em algum lugar, — diz Lily, escondida
nas profundezas de seu closet. Ela continua passando os cabides,
esperando encontrar dois dos meus casacos de pele que ela pegou
emprestado ao longo dos anos.
Eu me agacho ao lado da prateleira de sapatos, fingindo caçá-los. —
Você pode manter os casacos...
— Não, — ela diz inflexivelmente pela quinta vez.
— Eu quero que você os tenha, — repito, também pela quinta vez.
— Eu não consigo ouvir você, — ela mente e depois desaparece na
escuridão das camisas sociais pretas de Loren Hale. Ela definitivamente
pode ficar com eles se eles estiverem traidoramente fazendo
acampamento entre as camisas dele.
Eu deixo escapar um suspiro pesado e olho por baixo de uma pilha de
roupas, jogando sua camisa de lado e então uma - eca. — Lily! — Eu
grito, saltando e ficando reta, como um gato feroz.
A cabeça de Lily aparece entre as blusas. — O quee...
Eu aponto para a pilha de roupas no chão, o que parece ser uma cueca
boxer masculina no topo. — Isso está sujo?
Ela murmura algo que soa como talvez e desliza de volta para as
trevas. Eca, eu acabei de tocar na cueca suja de Loren Hale. Eu saio do
closet e entro no banheiro, esfregando minhas mãos vigorosamente na
pia.
Eu jogo sabão extra e ensaboo as palmas das mãos. Três minutos
depois, seco minhas mãos em uma toalha cinza.
— Encontrei eles, — Lily ofega e segura meus dois casacos.
Meu rosto cai. Eu estava sinceramente esperando que ela não os
encontrasse. — Tem certeza de que você não os quer? — Pergunto.
— Você os usa mais do que eu, — ela expressa. — Eu quero ter certeza
de que você tem tudo o que faz você se sentir confortável.
É a última parte de mim nessa casa. Eu fui erradicada.
Você escolheu isso, Rose. Eu sei. Estou me mudando para o final da rua
com Connor e Jane. Nós planejamos esperar mais, talvez anos antes de
nós realmente empacotarmos nossas coisas e deixar Lily e Lo, e Ryke e
Daisy sozinhos. Mas quando chegamos em casa da França - com câmeras
quentes em nossos rostos, nos acusando de relacionamentos incestuosos
que eram absolutamente desprezíveis - acho que nós dois sabíamos que
a distância ajudaria a todos.
Era a hora.
Seguir em frente é um sentimento agridoce. É se despedir de uma era
com minhas irmãs e dizer olá para uma era com meu marido. Eu nunca
estive pronta ou preparada para fazer isso, mas estou agora.
Eu só queria que pequenos pedaços de mim ainda fossem deixados nos
closets das minhas irmãs. Como meus casacos. Como meus saltos altos ou
um colar que eu as emprestei. Eu não quero ser erradicada. Eu quero ser
lembrada.
Do meu silêncio, Lily diz, — Você só está se mudando para o final da
rua.
Eu reviro meus olhos. — É o princípio. — Eu tiro meu cabelo do meu
ombro e relutantemente pego os dois casacos, marchando para fora do
quarto com ela do meu lado.
— Eu vou ficar com um, — diz ela. — Você se importari...
— Qual deles? — Eu contenho meu sorriso, embora eu o sinta crescer
dentro de mim.
— O marrom.
Lhe passo o casaco macio e ela o abraça no peito. — Eu vou encontrar
você lá fora!
Ela corre de volta pelo corredor para colocar o casaco em seu quarto.
Desço as escadas até a sala de estar, e roço as costas do sofá com a
mão, como se estivesse me despedindo. Eu paro logo antes do Hall de
entrada, e gravo esse lugar em minha mente. Não está vazio.
Está apenas vazio de mim.
Eu passei mais de um ano aqui, a primeira vez que eu morei com Daisy
e Lily juntas. Minha filha andou pela primeira vez na sala de estar. Ela
falou sua primeira palavra na cozinha. Finais me tornam sentimental
como os novos começos, e suponho que, se eu olhar de perto, eles são os
mesmos.
Lily desce as escadas com o gorro Wampa, os cabelos castanhos até o
ombro parecendo lavados e limpos. Suas pernas desengonçadas se
movem rapidamente abaixo dela, e eu inalo fortemente, embolsando
minha estranha fragilidade.
— É isso? — Lily me pergunta, apontando para o casaco.
— Sim, — eu digo, — isso é o último de mim.
Lily franze a testa. — Não fala assim. Me deixa triste.
— Isso é triste. Ainda estou esperando você chorar por mim. — Abro a
porta da frente.
Lily puxa as abas do gorro. — Você disse que eu não deveria chorar se
você não estivesse morrendo.
Não duvido que tenha dito isso. Eu gostaria apenas de um pouco de
emoção hoje de alguém que não seja eu. Eu não posso ser a única a
experimentar este coquetel agridoce, posso?
— Biiibiiii! — Daisy dirige em círculos com um carrinho de golfe na
entrada da garagem, um sorriso torto iluminando seu rosto.
Sim, eu sou a única em luto por mim mesma, porra.
Daisy leva o carrinho de golfe até a frente da casa e vira rapidamente
como se estivesse fazendo um teste para um comercial de carro. — Olá,
lindas senhoras. Querem uma carona no meu veículo? — Ela mexe as
sobrancelhas e esfrega o volante.
Lily ri e eu reviro os olhos, escolhendo sentar ao lado dela enquanto
Lily se senta atrás. Compramos um carrinho de golfe na mesma época em
que compramos a casa no final da rua. É mais fácil do que entrar em um
carro - e caminhar, é claro.
— Seu chupão está aparecendo, — digo a ela e arrumo meu cabelo no
menor espelho retrovisor que já vi.
— É uma mordida de lobo. — Ela bate os dentes e em seguida, sorri
mais largo, uma marca vermelha clara em seu pescoço. Além do chupão,
ela usa o boné de beisebol de Ryke para trás e uma camiseta que diz,
“Calma aí, pirata. Eu quero seu tesouro.”
— Contanto que você esteja feliz com isso, eu estou feliz, — eu digo
distante, me encostando no assento e ela vira o carrinho de golfe em
direção à rua. Eu me preparo para o caso de Daisy chicotear o carrinho
de golfe novamente, e eu verifico Lily. Ela se agarra a almofada branca de
seu assento - com medo de ser jogada para fora.
Lily murmura para mim, eu estou com medo.
Estamos indo a menos de 20 quilômetros por hora, mas ela viu Ryke
acidentalmente jogar Loren para fora essa manhã. Ele também estava
dirigindo em círculos.
Mas Daisy está dirigindo em linha reta agora.
Antes de Lily se voluntariar para caminhar até a minha nova casa, eu
estendo a mão e seguro seu braço, silenciosamente dizendo a ela que ela
não vai cair. E se ela fizer isso, eu vou cair com ela.
— Prenda a respiração, — Daisy diz rapidamente, assim que o
carrinho de golfe passa por uma mansão familiar do outro lado da rua, a
fita e os carros da polícia ausentes. Eu imediatamente inspiro o ar de
volta para os meus pulmões, um hábito que Daisy começou quando Scott
foi escoltado do bairro e o pessoal da mudança empacotaram suas coisas.
Ainda está à venda, mas nenhum de nós vai comprá-la, uma aura
escura praticamente circulando a mansão.
Nós nunca vamos ter que ver Scott Van Wright novamente. Ele se
declarou culpado para evitar uma sentença mais dura. Ele sabia que o
júri teria todas as evidências para considerá-lo culpado de qualquer
maneira. As principais agências de notícias publicaram a história sobre
como o produtor executivo (finalmente isso foi anunciado publicamente)
de Princesas da Filadélfia enfrentava acusações federais de filmar e
assistir a pornografia infantil de Daisy Calloway.
O mundo vê minha irmãzinha como uma queridinha aventureira e de
espírito livre e para ele se aproveitar dela, de qualquer forma, mostrou
sua verdadeira forma como a cobra rato repugnante que ele é. Uma
criatura vil que merece estar na prisão.
O juiz concordou.
Scott aceitou o acordo de nove anos de prisão, depois mais cinco anos
em liberdade condicional. Como era um caso altamente divulgado, o juiz
quis fazer ele de exemplo e ele foi mais duro do que o esperado.
Passamos pela propriedade e expiramos juntas.
— Willow ainda está trabalhando? — Pergunto a Lily. A irmã de Loren
quer economizar para a faculdade e todo mundo continua se oferecendo
para pagar por ela, mas ela está evitando. Acho que ela quer provar que
está aqui não por dinheiro ou notoriedade, mas para fazer parte da vida
de seu irmão. E a única maneira de fazer isso é ser a mais autossuficiente
possível.
— Sim, — diz Lily. — Eu tentei colocar mais dinheiro no seu salário,
mas ela percebeu e não aceitou nada mais que os outros funcionários.
Willow é nobre e ela tem um grande sistema de apoio aqui, em
qualquer coisa que ela escolha fazer. Tudo o que peço é que o seu ‘amigo’
a trate bem. Garrison ainda trabalha com ela, mas ela disse que o baile
terminou sem um beijo ou qualquer promessa de algo mais.
Lily segura o meu braço que a segura. — Então… O que acontece se eu
precisar perguntar sobre um livro ou uma constelação ou... um
personagem engraçado na televisão que parece um presidente, mas não
tenho certeza de qual presidente é - eu só... eu ligo para você? Ou vou
para sua casa ou procuro no google...
— Você não está me substituindo pelo Google.
Lily acena algumas vezes. — Então eu te ligo?
— Ou você pode vim na minha casa. Eu sempre vou na sua casa
também.
Lily acena novamente, com mais certeza. — Ok.
— Chegamos, — Daisy anuncia, subindo no meio-fio e indo para a
entrada de carros. As tulipas cor-de-rosa enquadram ambos os lados do
cimento, a beleza não passa despercebida por mim, não importa quantas
viagens façamos em direção à casa. Ficamos quietas, ouvindo o jorro de
um chafariz. Quando a última árvore de tulipa passa, o chafariz aparece,
ficando diante da mansão como se anunciasse sua presença majestosa.
Revestimento branco, molduras lindas, uma imponente porta dupla - é
uma casa que eu nunca pensei que estaria à venda. O tumulto da mídia
fez uma viúva se mudar e nós compramos essa propriedade de dez
quartos dela. É apenas um pouco maior que a casa em que vivíamos
antes e, dependendo do destino, pode ser grande demais, pequena
demais ou adequada para o tamanho da família Cobalt.
Daisy dirige pela fonte e estaciona. — Desçam.
Eu pego meu casaco de pele e minha bolsa e entramos em minha nova
casa. Somos recebidas primeiro pelo teto arqueado e pelo lustre de
cristal.
— Eu sempre me sinto como a Cinderela quando eu entro aqui, — Lily
sussurra atrás de mim.
— Por que você está sussurrando? — Eu pergunto.
— Parece um daqueles lugares em que você sussurra, — ela sussurra e
depois fica vermelha. — Certo?
— Não é um museu ou um cemitério, — eu digo, esperando que ela
não se sinta assim sobre minha casa por muito tempo.
— Eu acho que é apenas diferente, — diz ela suavemente. — Eu nunca
te visitei na faculdade. Você me visitou, e quando eu fui para sua casa, eu
estava morando com você… então era minha também.
Essa é a primeira vez que ela está pisando em algo que não
compartilhamos.
Ela diz, — Você está certa. Eu não deveria sussurrar. — Ela solta um
suspiro apertado e então nós duas seguimos Daisy em direção à grande
sala de estar, móveis de camurça já arrumados, mas ainda há muitas
caixas de papelão para desempacotar. Portas francesas de vidro levam a
uma piscina e lareira ao ar livre...
— ...Eu não me importo se nunca fizermos isso, porra. — Eu pego a voz
de Ryke no meio de uma conversa.
— Você esquece o quão apertado é, — diz Loren casualmente. Quão
apertado - Loren. Ugh. Eles estão falando sobre minhas irmãs e sexo, eu
suspeito.
Meus saltos batem contra o chão de madeira e ambos calam a boca no
minuto em que eu chego na porta com Daisy e Lily.
— Porra, — Ryke amaldiçoa enquanto Loren Hale não parece nem um
pouco culpado. Eles estão no tapete branco, dando um tempo dos objetos
pesados. Suas latas de Fizz Life descansam em caixas de papelão e Moffy
e Jane se perseguem instáveis em torno da nova mobília.
Connor bebe vinho e está em pé, supervisionando as crianças mais do
que esses dois.
— Você pode andar fazendo um pouco mais de barulho da próxima
vez? — Pergunta Lo com um meio sorriso, sua mão direita ainda em um
gesso preto. — Obrigado.
— Talvez você não devesse falar sobre sexo anal pelas nossas costas,
— retruco, capaz de deduzir o assunto da conversa.
— Tudo bem, vou falar sobre isso na sua cara, — desafia Lo. — Eu ouvi
dizer que você gosta de tomar na bunda. — Ele levanta sua lata de Fizz
Life para mim. — Saúde.
Eu estreito meus olhos para o meu marido. — Richard.
Ele parece tão inocente quanto Loren. — Rose, — diz ele e, em seguida,
bebe seu vinho com um sorriso.
Lily se inclina para mim. — Estávamos falando sobre anal trinta
minutos atrás. — Isso é verdade. Daisy trouxa esse assunto em uma
conversa casual, admiti tentar, e sim, gostar disso.
Então não é diferente para os caras fazerem o mesmo. É só que Loren
sabendo disso... Eu estremeço, mas ele não parece feliz com o
conhecimento. Bom.
Eu coloco meu casaco no sofá, observando uma husky dormindo nas
almofadas com uma gata malhada laranja enrolada em cima do estômago
da cachorra. É a amizade mais bizarra de todos nós, concluímos. Sadie e
Coconut deveriam ser inimigas mortais, mas foram amigas à primeira
vista.
No entanto, Sadie não se acostumou com as crianças, não inteiramente,
mas apenas Jane realmente tenta se aconchegar com ela, mesmo quando
a gata está sendo teimosa. Eu sempre mantive um olho em ambas para
evitar qualquer tipo de arranhão.
— É só isso? — Ryke pergunta, se levantando com Loren. Os dois
olham para o casaco, a última coisa que eu precisava.
Eu aceno, sabendo que eles estão prontos para voltar para casa. Lo
pega Moffy e o joga por cima do ombro, o garoto dá gargalhadas. —
Aproveite esse voo, homenzinho.
— E se minha menstruação atrasar? — Lily de repente me pergunta. O
quarto se acalma e todos os homens trocam olhares de preocupação. —
Hipoteticamente, — ela acrescenta, ficando vermelha. — Eu ligo para
você ou venho até aqui ou eu...
— Você vem me ver. — Eu seguro a mão dela, e então eu seguro a da
Daisy, que tem estado suspeitamente quieta desde que entramos na casa.
Ela não está sorrindo como estava no carrinho de golfe.
— E se... Se eu estiver tendo um dia ruim e precisar que você entre no
meu quarto… E você faz aquela coisa onde abre as cortinas muito rápido
e toda a luz entra… — Ela começa a chorar.
Isso desencadeia Daisy, que começa a chorar também.
E agora estou chorando, porra. — Qualquer um pode abrir suas
cortinas.
— Não como você abre. — O sistema hidráulico da Lily não cessa. Por
que eu pedi por isso? Meus olhos ardem terrivelmente, e não importa
quantas grandes inspirações eu tome, um peso afunda em meu peito. Isso
não é um adeus, Rose.
Daisy acrescenta em lágrimas, — Vou sentir falta do som dos seus
saltos de manhã.
— E quando você sempre colocava pop tarts na torradeira para nós,
mesmo que você odeie pop tarts, — Lily chora.
Estamos todas uma bagunça. Eu aperto suas mãos, mas isso só
intensifica o que resta entre nós, um adeus subjacente, mesmo que não
seja permanente, fixo. Isso é adeus de nossas vidas em uma casa juntas.
— Eu amo vocês duas, — eu digo a elas fortemente, — e eu sempre
estarei aqui se vocês precisarem de mim.
— Quando, — Daisy corrige. — Quando precisarmos de você.
Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e elas me abraçam ao
mesmo tempo. Eu sou a mais velha delas, mas eu considero Daisy e Lily
totalmente iguais a mim, os lados mais doces e mais amáveis de uma
irmã Calloway, enquanto eu sou o lado feroz.
Quando nos separamos, todas nós nos viramos para nossos homens,
todos parecendo um pouco sufocados. Loren tem seu filho ao seu lado
agora, não mais por cima do ombro.
— Ela não está morrendo, — Loren lembra Lily. — E eu posso colocar
pop tarts para você.
— Não é a mesma coisa. — Lily funga, hesitante, saindo do meu lado.
— Você gosta de pop tarts e comeria os meus.
Ele suspira, desejando poder acabar com sua tristeza, sabendo que não
pode. O melhor que ele faz é colocar Moffy em frente ao peito e então Lily
pula em suas costas, envolvendo as pernas em volta da cintura dele. Eles
vão em direção à porta da frente assim.
Ryke parece estar do mesmo jeito que o Loren, passando a mão pelo
cabelo grosso. Ele espera pacientemente que Daisy saia do meu lado.
— Moffy! — Jane chama, porém não tão coerente assim.
Connor a pega antes que ela saia em busca de seu primo. Ele a distrai
com sua taça de vinho antes de encontrar um brinquedo de pelúcia.
— Você vai me ligar todos os dias como você fazia antes? — Daisy
pergunta, sua cicatriz ao longo de sua bochecha mais avermelhada já que
ela está chorando. Quando eu estava na faculdade longe de todos, eu
costumava ligar para ela todos os dias como eu fiz com Lily e Poppy. Eu
fiz disso uma rotina para manter contato, mesmo que eu me tornasse um
incômodo.
— Você provavelmente vai me ver mais do que eu vou te ligar, — digo
a ela. — Eu prometo.
— Você vai a minha consulta médica comigo? — Ela pergunta. É a
primeira vez que ela pede isso em voz alta. — É tudo muito confuso e...
Acho que você entenderia os tratamentos de fertilidade e todas as opções
que eles continuam jogando em mim.
Eu aceno com a cabeça, restringindo o maior número de lágrimas
possível. — Claro. — Eu limpo sua bochecha. Ela está adiando qualquer
tipo de cirurgia ovariana até ter uma noção melhor dos efeitos a longo
prazo.
— Ok, irmã mais velha, — diz Daisy com um sorriso sincero. — Eu vou
te ver amanhã então. — Nós soltamos nossas mãos, e ela se aproxima de
Ryke.
— Calma aí, pirata, — diz ela com meio rindo, meio em lágrimas,
incapaz de conter sua tristeza como ela geralmente consegue fazer. Ela
cobre o rosto com as mãos para esconder.
Ryke a abraça no peito e beija o topo da cabeça dela. Daisy esfrega o
rosto e depois assobia. Coconut salta do sofá e corre para o lado dela.
Então todos saem em silêncio, Ryke acena para mim em reconhecimento
na saída.
As portas duplas se fecham.
Eu atordoadamente me sento ao lado de Sadie no sofá. — Isso foi
brutal, — eu digo a ela com naturalidade.
Ela ronrona em acordo antes de se alongar - e depois cai de volta em
um sono. A almofada ondula enquanto Connor se senta ao meu lado com
Jane no braço. Ele me passa a minha própria taça de vinho, eu tiro meus
saltos e descanso meus pés no sofá.
Ele me puxa para mais perto dele, até que eu inclino o peso de todo o
corpo contra o seu lado e ele coloca a mão na minha coxa. Eu bebo meu
vinho e ele passa os dedos pelo meu cabelo.
— Está quieto para você aqui? — Eu pergunto.
— Não, querida, — diz ele.
— O que você ouve? — Eu tomo outro gole e estico minha mão para
que Jane possa brincar com o bracelete no meu pulso. Ela imediatamente
se interessa por ele.
— Despertadores apitando durante os dias de aula, em vários quartos,
— diz Connor. — Eles continuam tocando em diferentes intervalos.
Eu sorrio, imaginando adolescentes apertando o botão soneca. —
Quem os acorda, eu ou você?
— Nós nos revezamos. — Claro que nos revezamos.
— O que mais?
— O bater das portas do banheiro e torneiras sendo abertas. Música
nos quartos e risadas - sempre risadas.
Eu descanso meu queixo em seu ombro. — Eu devo estar rindo do seu
sorriso.
Ele imediatamente abre um sorriso completo.
— Eu não estava brincando, Richard. — Eu estreito meus olhos para
ele.
— Você não ri quando sorrio, você faz isso. — Ele aperta meu queixo
de modo que minha cabeça se ergue do ombro dele. Eu estou esculpindo
meu nome em sua testa com olhos de punhal. — Você sabe o que é uma
'risada'?
Eu lhe dou um olhar de zero divertimento. — Eu vou arrancar sua
língua.
Seu sorriso se espalha. — Então a casa ficará literalmente e
figurativamente silenciosa.
Eu coloco minha mão em frente ao seu rosto, e ele beija minha palma...
e então ele me beija, minha respiração fica presa na minha garganta e
minha taça de vinho quase escorrega dos meus dedos.
Seus lábios contra os meus, eu beijo de volta.
E eu ouço despertadores soando, risos na cozinha, gritos na piscina. Eu
ouço o pulso vigoroso do nosso futuro, rugindo com a vida.

EM BREVE

LONG WAY DOWN


Mesmo que a história de amor de Rose e Connor tenha terminado, suas
vidas continuam no romance final de Calloway Sisters. Espere um
epílogo extenso da série Addicted / Calloway Sisters em Long Way Down.
DAMAGED LIKE US
O primeiro livro da nova série adulta de Like Us.
O que acontece quando as crianças de Addicted estão crescidas?
A série Like Us vai girar em torno da próxima geração do mundo de
Addicted enquanto eles navegam na faculdade, amor, família e fama.
AGRADECIMENTOS
Isso não é um adeus, então não chore nesse momento. Isso é um muito
obrigado. Este livro foi gerado a partir de sua paixão. Isso existe por
causa de vocês. Depois que publicamos Kiss the Sky, não tínhamos planos
em escrever mais de Connor & Rose, mas seu fervor, seu desejo e seu
espírito nos encorajaram a buscar mais de sua história.
Depois de Hothouse Flower, nós demos um salto e decidimos que esse
livro iria se concretizar. Então começamos a moldar esse romance e o
resto da série com uma visão em mente. Uma visão de que Connor e Rose
iriam voltar a festejar em francês um dia, com taças de vinho na mão,
com tabuleiros de jogo espalhados sobre a cama de dossel, com aqueles
ardentes olhos verde-amarelados presos naquele sorriso vaidoso e
presunçoso.
E assim veio Fuel the Fire. Um livro gerado graças a corações
apaixonados.
Obrigada à nossa família por nos ensinar a importância de nunca
guardar rancor e sempre seguir em frente. Nosso pai, pelo seu constante
apoio aos nossos sonhos - nós amamos você.
Obrigada à nossa mãe, nossa própria Rose Calloway. Você nos ensinou
o que significa ser uma mulher forte e independente e ser nós mesmas,
não importa se gravitamos em direção a tênis ou a seus saltos altos. Nós
amamos você tremendamente, e esse livro não seria quase o mesmo se
não crescêssemos com uma inspiração feroz como você.
Agradecemos aos nossos tradutores Nieku & Ashley por não só nos
ajudarem com os franceses e alemães, mas também por serem grandes
amigos. Estamos tão felizes que o destino tenha nos alinhado na
faculdade e todos nos conhecemos.
Obrigada a Siiri, sabemos que você é normalmente muito doce para
receber crédito por isso, mas temos que dar a você aqui. Você tem
defendido Rose e Connor desde a sua introdução, e em algum lugar na
jornada deles, você criou o nome Coballoway. Obrigada por cuspir fogo
nesse par e em nós. Nós sempre levaremos sua amizade em nossos
corações.
E, finalmente, é o mais alto e poderoso obrigada que vai se espalhar por
todo o mundo. Obrigada à Força Fizzle. Não podemos expressar
justamente nossa apreciação pelo fandom da série Addicted - realmente,
não há uma palavra perfeita que descreva o que cada um de vocês
significa para nós. Vocês mudaram nossas vidas e nos deram coragem
para escrever ficção que vem das partes mais profundas de nossos
corações. Fuel the Fire foi criado com o seu amor em mente, e não
podemos imaginar a série sem esse romance final de Connor & Rose. Nós
amamos vocês, adoramos vocês e sempre estaremos aqui para apoiá-los,
em quaisquer sonhos que vocês persigam. Então, obrigada, seus espíritos
apaixonados. Obrigada por pintar o nosso mundo com cores. É
imensamente mais bonito agora.

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