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THE FIRE
KRISTA & BECCA RITCHIE
www.kbritchie.com
tradução:
BOOKSUNFLOWERS
ADDICTED SERIES
ORDEM DE LEITURA RECOMENDADA
Addicted to You (Addicted #1) Ricochet (Addicted #1.5) Addicted for
Now (Addicted #2) Kiss the Sky (Spin-Off: Calloway Sisters #1)
Hothouse Flower (Calloway Sisters #2) Thrive (Addicted #2.5)
Addicted After All (Addicted #3) Fuel the Fire (Calloway Sisters #3)
Long Way Down (Calloway Sisters #4)
UMA NOTA DAS AUTORAS
É possível ler apenas a série spin-off Calloway Sisters sem ler a série
Addicted, mas você DEVE ler Hothouse Flower (Calloway Sisters # 2)
antes de ler Fuel the Fire (Calloway Sisters # 3).
Minha bunda dói de ser espancada. Estou tão exausta. Isso é tudo que eu
penso quando Connor me leva sem esforço ao nosso banheiro. Eu mal
consigo segurá-lo, mas ele me ajusta então minha cabeça descansa contra
seu peito nu.
Connor me coloca na banheira, já cheia de água morna. Meus músculos
doloridos escorrem e começam a se relaxar. Acho que até solto um
suspiro audível. Eu abro meus olhos apenas o suficiente para vê-lo. Ele se
ajoelha ao lado da banheira, os lábios avermelhados pelo beijo e a pele
coberta por uma fina camada de suor.
Ele acaricia meu cabelo para trás, gentil e carinhoso. — Como você está
se sentindo?
Eu me pergunto que horas são e quando eu apaguei. — Como você
acha que eu estou me sentindo? — Eu sei que responder com uma outra
pergunta o incomoda, mas simplesmente escorregou. E tecnicamente seu
aniversário literalmente veio e se foi, sem mais regurgitar elogios para
ele.
Ele sorri, reconhecendo isso também.
Eu levanto meu joelho e meus músculos gritam em protesto. Eu
estremeço, e ele se inclina sobre a banheira e massageia minha coxa
embaixo da água.
— Tenez-moi, — eu sussurro. Me segura.
Já nu, ele entra na grande banheira e se afunda ao meu lado. Ele
envolve seu braço em volta do meu ombro e ele me puxa para ele, até
que eu esteja meio envolvida em seu corpo. Eu descanso minha bochecha
contra seu colarinho, ouvindo sua pulsação lenta em relaxamento com a
minha.
Depois de alguns minutos de silêncio, Connor cuidando do meu corpo
dolorido com uma mão mais macia, ele diz, — Obrigado.
Obrigado. Eu tento traduzir seu significado mais profundo, mas minha
mente girou e foi fodida por muito tempo. Eu luto para manter meus
olhos abertos. — Deve ter sido o melhor sexo que você já teve. — Para
mim, está no nosso top cinco.
— Não foi sobre o sexo, — ele diz, tão fracamente que eu quase sinto
falta.
— Foi sobre que então?
— Você se esforçou muito ontem para me agradar, mais do que você já
fez, e… — Ele faz uma pausa em realização. — Eu nunca quis perder
momentos raros na vida, e todo ano com você, no meu aniversário, eu
tenho escapado de um. — Ele acrescenta suavemente, — Isso foi perfeito.
Eu começo a sorrir, me agarrando mais a ele. — Você realmente
acredita nisso?
Ele acena com a cabeça, a sinceridade lavando seu rosto, e então ele
beija minha testa, deixando uma marca quente mesmo depois de seus
lábios se retirarem. Meus olhos estão quase fechados quando ele
sussurra, — E Rose?
— Sim? — Eu respiro.
— Eu sou tragicamente apaixonado por você também.
[ 24 ]
ROSE COBALT
— Nós não temos tempo para isso, — eu digo enfaticamente, uma frase
que flexiona seus músculos em aborrecimento. Eu estou sentada no colo
de Connor Cobalt no meu banquinho da penteadeira, mais no controle e
mais insegura do que gostaria de estar. Seu pau semiduro cava em minha
virilha, deixando-me saber que um de nós está se divertindo.
Ele verifica seu relógio. — Temos trinta minutos.
Eu inalo um suspiro de confiança e então me aproximo mais dele. Seus
dedos se espalham no meu cabelo, mantendo minha cabeça firme
enquanto meus lábios descem para o seu pescoço. Sua grande mão
praticamente envolve a parte de trás da minha cabeça. Seu aperto firme
me lembra que ele tem algum controle aqui. Não está tudo em mim.
Isso ilumina meu núcleo, mas não adormece o fato de minha língua
estar em sua pele. Eu o beijo gentilmente, sem saber o que mais fazer.
Eu nunca beijei Connor aqui, não gosto de como preciso fazer isso
agora.
Minha língua toca seu pescoço com incerteza. Ele massageia meu couro
cabeludo, como se quisesse dizer, vamos lá, querida de uma maneira
cuidadosa, mas feroz. Se ele pudesse se dar um chupão, eu tenho certeza
que ele preferiria isso do que eu hesitante e desconfortável.
— Mais forte, — ele exige. Ele segura um pedaço do meu cabelo e puxa.
A pressão rouba minha respiração por um momento.
Eu levanto meus lábios de sua pele, e um ruído frustrado - como uma
hiena morrendo - rompe minha garganta. — Esta é uma ideia estúpida,
— eu reclamo. — Adolescentes dão um ao outro chupão. Adolescentes
estúpidos, idiotas e induzidos por hormônios Eu me sinto tão boba e
insegura toda vez que beijo seu pescoço, minha autoconfiança exaurindo-
se como se algum demônio estivesse a sugando diretamente da minha
alma. Eu odeio me sentir assim, então eu costumo evitar as tarefas que
me colocam nessa posição.
Chupar o pescoço até que ele fique vermelho e com hematomas é
definitivamente uma delas.
— Você acabou de chamar Daisy de estúpida, — ele me diz levantando
uma sobrancelha. Ela tem dezenove anos. Uma adolescente. E como
todas as minhas irmãs, ela não tem absolutamente nenhum problema em
dar chupões gigantes e "prazerosos" a Ryke.
Eu franzo a testa. — Pare de distorcer minhas palavras. Meus dentes
estão perto do seu pescoço.
— Você planeja me morder? — Ele pergunta seriamente. — Vá em
frente, Rose. — Ele sabe que eu não vou, então seu sorriso cresce e meus
olhos se estreitam. Eu não quero nada mais do que limpar seu sorriso de
seu rosto. — Você sabe o que…
Eu pressiono minha mão contra sua boca; pelo menos eu não tenho
que olhar para ela. E então eu sinto seus lábios se levantarem em um
sorriso sob minha palma, mas eu não retiro minha mão.
— Você deveria me dar um chupão, — eu digo. — Entre nós dois, você
é obviamente o mais hormonal. — Eu me movo em seu colo, me
referindo a sua ereção que pressiona contra mim. Eu não menciono como
isso está começando a me afetar, a pulsação entre as minhas pernas
batendo em sincronia com o meu coração.
Ele solta um ruído irregular, um que ele tenta conter. Suas mãos se
acomodam na minha bunda, onde meu vestido preto sobe, minha carne
exposta. Eu tiro a mão da boca dele, precisando ouvir sua resposta.
— Seu argumento carece de provas, querida, — ele me diz, a palma da
mão mergulhando na minha coxa. Eu agarro seu pulso antes que ele
toque minha calcinha de renda para deduzir o quão molhada eu estou.
Estou molhada, tudo bem. Mas eu prefiro que ele não sorria de
satisfação. Estou satisfeita com a aparência de sua ereção. Deixe-me
regozijar.
Sua testa se franze novamente, mais combativamente.
— Não temos tempo para você reunir provas e interrogar testemunhas
e consultar um júri, — refuto. Nós deveríamos ir para o hospital em
breve.
Três dias atrás, Ryke passou pela cirurgia de transplante de fígado com
o pai. Antes de Ryke ir para o hospital, ele mal falou. Ele só disse alguns
eu amo você para minha irmã mais nova e eu o ouvi dizer um a seu irmão
também.
Todos nós saímos do trabalho e ficamos na sala de espera. Horas
depois, ficamos sabendo que tudo ocorreu bem entre o doador e o
destinatário, e finalmente pudemos ver Ryke. Ele estava grogue e
enjoado da anestesia, mas ele estava vivo e saudável, ainda dizendo
porra em cada frase ou algo assim.
Como os paparazzi praticamente acamparam do lado de fora do
hospital, ávidos por fotos de nós cinco entrando e saindo, Connor e eu
planejamos uma estratégia para atrair mais atenção da mídia para nós ao
invés da Jane e do Moffy.
Uma tarefa simples: faça Connor ser fotografado com vergões
vermelhos no pescoço.
Único problema: eu tenho que colocá-los lá.
— Vamos usar maquiagem, — ofereço de repente. É a solução perfeita.
Eu quase levanto do seu colo, mas as mãos dele apertam meus quadris.
— A mídia pode não se importar se for real, — diz ele, — mas as
pessoas on-line poderão dissecar as fotos e descobrir a farsa.
Meus lábios ficam em uma linha reta, minha pulsação prestes a seguir.
Como faço isso com confiança e sem me sentir como uma adolescente
desleixada e excitada?
Os profundos olhos azuis do Connor encontram os meus, e então, em
um movimento rápido, ele me levanta em seus braços, minhas pernas em
volta de sua cintura enquanto ele fica de pé. Acho que ele vai me colocar
no chão, desistir, mas em vez disso, ele engancha o tornozelo no banco da
penteadeira, o arrastando pela metade do quarto. Ele para bem na frente
do nosso espelho ornamentado de corpo inteiro.
Me fode.
Isso é ainda pior.
Meus olhos exacerbados queimam seu crânio, marcando pontos de
exclamação em seu cérebro. Ele se senta no banquinho comigo em seu
colo, como se estivéssemos aqui o tempo todo. Ele pega meu queixo em
sua grande mão. — Eu vou fazer em você primeiro, — diz ele. — Assista e
aprenda. — Essas últimas palavras devem parecer condescendentes, mas
não são. Ele está falando sério.
E percebo que Connor está me ensinando.
Ele prende meu cabelo em um rabo de cavalo, segurando meu olhar
por um momento. Acho que eu permitiria que ele me ensinasse também
como adolescente, apesar de sermos concorrentes. Não tenho certeza se
teria escutado tanto ou sido uma aluna muito complacente, mas teria
tentado.
Seu polegar roça meu lábio inferior antes que ele se incline até o meu
pescoço e beije a carne macia. Eu me concentro no espelho, capaz de ver
seus lábios se fecharem sobre a minha pele, sua língua deslizando antes
de chupar forte. Um gemido incontrolável me escapa, um suspiro agudo
junto. Seus dedos apertam a base do meu pescoço e seus dentes mordem
minha pele.
Meu corpo pulsa só de observar.
Ele se move como se quisesse dar prazer, nunca inseguro, não bobo ou
inapto na tarefa. Ele é um homem estampado com confiança e poder que
eu quero imitar e superar.
Eu absorvo cada pequena ação, cada elevação de sua cabeça. Eu conto
os segundos que ele chupa e o momento em que seus dentes apertam a
minha pele. Meus olhos se fecham quando a mão dele abaixa e aperta um
dos meus mamilos.
Eu bato na coxa dele. — Estou tentando me concentrar.
Ele sorri para o próximo beijo.
Dura mais alguns minutos antes que ele levante a cabeça. Ele esfrega
meu pescoço com o polegar, o ponto avermelhado. — Você vai precisar
passar maquiagem aqui para esconder isso, — ele me diz.
Eu concordo com a cabeça. Isso foi apenas uma demonstração, e ele
tem sido muito inflexível sobre termos igualdade nas tarefas para agitar
a mídia. É a minha vez, ele me disse com resolução.
Seus olhos se fixam nos meus lábios. — Vamos ver quão boa você é
como uma aluna, senhorita maiores honras. — Ele acaricia minha
bochecha com o polegar, e meus lábios partem com uma respiração
inebriante. Ele desliza o dedo na minha boca e eu sinto seu pau crescer
debaixo de mim. Isso derrama confiança através dos meus ossos.
Quando seu polegar deixa meus lábios, molhados e brilhantes, eu me
empurro para frente, roçando nele, e então eu pressiono minha boca em
seu pescoço.
Cada movimento que ele fez, repito, tentando superá-lo. Eu pressiono
minha mão na parte de trás do seu pescoço, segurando-o, e meus dedos
cravam em sua pele. Eu roço meus dentes ao longo de seu pescoço,
puxando sua carne.
Ele observa meus movimentos precisos no espelho. Eu só paro uma
vez, quando ele mexe na minha calcinha, sua mão em sua própria missão
entre nossos corpos.
— Continue, — ele comanda.
Seus dedos me preenchem primeiro e minhas coxas se apertam ao
redor dele. Então eu sinto algo maior substituir seus dedos, algo mais
duro... Eu ofego em seu pescoço enquanto ele empurra sua ereção para
dentro de mim.
Ele segura a parte de trás da minha cabeça, me forçando em seu
pescoço.
— Rose, — ele diz com firmeza.
— Foi você quem saiu do tópico, Richard... — Eu choramingo quando
ele dá uma estocada, apertando meus quadris. Há quanto tempo estou
chupando o pescoço dele? Os números passam pela minha cabeça com
palavrões e mais pontos de exclamação.
Me fode.
— Mais forte, — eu engasgo.
— Rose, — ele estala, seus movimentos cessando.
Eu sou uma multitarefa fantástica, então isso teoricamente deveria
estar dentro das minhas capacidades. Temos pouco tempo antes de
precisarmos sair e ele está tentando matar dois coelhos com uma
cajadada só. No entanto, minha mente continua se desligando em favor
de um clímax. — Não temos tempo, — digo de repente, minha voz rouca.
Sua mandíbula se flexiona em irritação. Ele guia minha cabeça de volta
ao seu pescoço. — Faça o que você sentiu, não apenas o que você viu. —
Eu o ouço e chupo novamente, meu corpo quente e pulsante. Eu me
encontro balançando contra ele já que ele está imóvel, precisando desse
atrito entre minhas pernas. Eu nunca questiono ou hesito dessa vez.
E então ele aperta meus quadris novamente, tão fortemente que eu
paro de balançar, e ele move sua pélvis para cima e para baixo, seu pênis
deslizando para dentro e para fora em ondas duras e profundas. Porra.
Eu o beijo no ritmo desse ritmo vigoroso. Nós dois nos conectamos em
outro nível, um só para duas pessoas que adoram ganhar juntas.
Mas o lado cauteloso de mim sempre temerá pelo dia em que ambos
perderemos.
[ 25 ]
CONNOR COBALT
Eu subo no elevador do hospital com Lo. As três garotas dirigiram
separadamente para que pudessem deixar Jane e Moffy na casa de
Poppy. Nenhum de nós sequer considerou levar uma criança de sete
meses e outra de oito meses para um hospital e felizmente a irmã mais
velha de Rose não tem nenhum problema de ser babá por algumas horas.
— Leia o pedido dele para mim. — diz Lo, vasculhando a sacola de
compras da Lucky’s Diner.
Eu percorro a mensagem do grupo entre Lo, Ryke e eu.
Chili fritos, jalapeño poppers e um hambúrguer de queijo com cebolas,
cogumelos, pimentas e queijo cheddar. - Ryke Além disso, se eles ainda
tiverem quiche, pegue uma fatia disso também. - Ryke Mais mostarda
extra… e me arranje um Reuben. Eu posso salvá-lo para amanhã se eu
ainda estiver nessa porra do inferno. - Ryke Eu leio seus pedidos em voz
alta. — ...quiche, mostarda extra e um Reuben, — eu termino, colocando
meu celular no bolso da calça cáqui. Ryke come mais do que o hospital
fornece a ele, então estamos tentando corrigir isso. Ele usaria a comida
como um incentivo para se levantar e sair correndo pela rua para um
restaurante local, estourando seus pontos.
No entanto, não podemos remediar sua outra necessidade. Escalar
montanhas, treinar, correr.
— Porra. — Lo xinga, puxando um sanduíche embrulhado para olhar
mais fundo na sacola. — Você disse mostarda extra?
— Sim. — Me lembro de dizer especificamente ao caixa para pôr mais.
— Não há nenhuma aqui. — Sua mandíbula se flexiona, e ele joga o
sanduíche de volta, rolando a parte superior do saco de papel em
frustração.
— Ele não vai notar. — O elevador sobe lentamente.
Lo parece mais jovem hoje, em jeans e uma camiseta em V preta. —
Talvez. — Seus olhos vagueiam para mim, pousando no meu pescoço,
observando o chupão pela quinta vez. Eu espero que seu medo apareça
novamente.
Aí está.
Suas sobrancelhas se franzem e o rosto se contorce. — Eu continuo
imaginando esses súcubos robóticos se prendendo em você porque a
Rose que eu conheço, — ele balança a cabeça em descrença — nunca
daria a ninguém um chupão, marido ou não. — A preocupação pisca em
seus olhos âmbar, pensando por um breve segundo. Se eu poderia ter
traído minha esposa.
Em sua mente, ele não pode me ver com outra pessoa além dela, mas
está tendo problemas para chegar a uma conclusão realista. Então ele me
colocou com um robô.
— Eu posso ser persuasivo, — eu o lembro.
— Você sabe, eu nunca vi Rose beijar alguém em público até você.
— Ela gosta de sua privacidade. — Perdemos quase tudo disso, mas o
que projetamos para os tabloides não é inteiramente real. O que fazemos
sozinhos no nosso quarto é, e ainda assim, perdemos alguns desses
momentos através dos vídeos de sexo. É complicado, mas eu sabia que
essa vida seria.
Lo faz movimentos com a mão para o meu pescoço. — Então ela vai
cortar suas bolas por não cobrir essa merda. — Os paparazzi nos
bombardearam quando entramos no hospital, então está claro para ele
que estará em algum tablóide. Independentemente de um chupão,
haveria artigos sobre nós, mas é importante que eles se voltem para
mim, não para as crianças.
Sem nossa interferência, eles poderiam dizer: onde estão Jane e Moffy?
Rose e Lily estão negligenciando seus filhos? Por que eles não são vistos em
lugar algum?
Nem sempre funciona, mas é por isso que isso é um teste. — Eu
protegerei minhas bolas. Não se preocupe, querido. — Eu pisco.
Ele ri, mais leve. Saímos do elevador e caminhamos pelo corredor, já
liberados. Eu encontro seu quarto rapidamente, e quando eu abro a
porta, pegamos Ryke em uma posição comprometedora.
— Mano. — Lo grita, entrando na minha frente.
Ryke está no chão de concreto fazendo flexões, sua bunda espreitando
para fora de seu frágil vestido de hospital azul. — Vai se foder, — Ryke
grunhe enquanto abaixa seu peso corporal, seus braços flexionados
enquanto ele se levanta de volta.
— Francamente, eu não estou surpreso, — eu digo. — Pensei que nós
teríamos que checar você no dia dois. Olha, mostrar a bunda para o
quarto não é tão ruim assim.
Ryke me lança um olhar em sua próxima flexão, seu carrinho de soro
ao lado dele. — Lembra daquela vez que você ficou algemado ao atrás de
frutas enlatadas?
Eu quase uso minha irritação. — É engraçado você mencionar atrás. —
Eu olho uma vez para sua bunda para referência.
Ryke não dá a mínima. Na verdade, ele faz uma flexão com uma mão e
me mostra o dedo do meio com a outra.
Ele continua fazendo o que ele quer fazer. De acordo com o habitual.
Eu ando para mais dentro do quarto de hospital e sento na cadeira
dura ao lado da cama. As cortinas de privacidade envolvem a segunda
cama vazia. O outro paciente, uma remoção da vesícula biliar, teve alta
ontem à tarde - então ele não está submetendo outra pessoa ao seu
treino nu.
Lo agacha na frente de seu irmão e agita a sacola do Lucky's. — Eu vou
jogar isso fora da maldita janela se você não parar.
Ryke imediatamente pega a sacola enquanto ele fica de pé.
Lo dá um tapinha no ombro do irmão dele. — Meias fofas.
Eu rio em um sorriso. Ryke tem que usar meias brancas de compressão
para ajudar no fluxo sanguíneo, mas tenho certeza de que suas viagens
constantes para fora da cama ajudam bastante a sua circulação.
— Vai se foder. — Ryke diz levemente. Ele se senta na beira da cama, já
vasculhando o conteúdo da bolsa.
Lo se senta ao lado dele. — Sério, você estava coerente quando o
médico disse que você poderia danificar o seu baço e precisar de uma
segunda cirurgia?
Ryke coloca uma batata frita na boca. — Eu estava coerente e também
o ouvi dizer que eles não danificaram nenhum dos meus órgãos durante
a cirurgia. — Ele tira um pacote de guardanapos da sacola. — Eu não
posso machucar meu baço sozinho. Os cirurgiões falaram que teriam que
ter fodido ele três dias atrás e eles não fizeram.
Eu me inclino para trás. — Uma infecção ainda é totalmente possível.
Lo assente algumas vezes.
Ryke me olha uma vez antes de comer outra batata frita. — Eu estou
bem pra caralho. Eu deveria sair daqui essa noite...
— Não, — Lo corta com um olhar sombrio. — Você deveria ficar aqui
por pelo menos seis dias. — Eles nunca estiveram nessa inversão de
papéis: Ryke sendo o inválido. Loren sendo o saudável. Ambos não estão
bem com a troca.
Para aliviar a tensão (o que faço melhor), digo, — Há um par de
algemas comunais flutuando em nossa casa em algum lugar. Terei prazer
em pagá-las e algemar você à sua cama.
Ryke desembrulha seu bife de queijo Philly. — Que tal… você se foder.
Bem, eu tentei. Ele nunca foi cooperativo quando os assuntos
circunvagam em torno dele. Ele está acostumado a lidar com sua vida
pessoal em particular e suas fraquezas sozinho. Eu posso entender isso,
mas ele tem pessoas que se importam com ele agora.
Ele não está mais sozinho.
Lo coça a nuca. — Você não tem corrido, tem?
Ryke come seu sanduíche, ficando quieto.
Lo olha para o chão, balançando a cabeça algumas vezes e estalando os
nós dos dedos. Ryke encontra meu olhar uma vez e eu levanto minhas
sobrancelhas para ele como se dissesse você tem que falar sobre isso. Ele
não pode fechar o Lo da vida dele, não depois de todos os avanços que
eles fizeram em seu relacionamento.
Ryke toma um gole de sua garrafa de água. — Eu tentei correr uma vez
e as enfermeiras me pararam.
— Que bom. — Lo se encaixa.
Ryke procura algo na sacola da Lucky's. — Você esqueceu a mostarda?
Lo se vira para mim com uma expressão que eu leio como o que você
estava dizendo no elevador? Ah, espera, você estava errado.
Eu passo por cima da imprecisão da mostarda. — Como exatamente as
enfermeiras te pararam? — Eu pergunto, tentando imaginar esse ato.
— Elas me falaram pra parar e eu parei.
— Elas acariciaram sua cabeça e disseram bom menino também?
Lo dá risada.
Ryke me olha com raiva.
— Que tipo de recompensa elas te deram? Um carinho na barriga?
Lo diz, — Foi bom, mano?
Ryke joga uma batata gordurosa coberta de chili em mim e depois em
Loren. Manchando meu suéter azul marinho. Eu não estou
necessariamente feliz com isso, mas eu sabia que corria esse risco o
provocando. Ryke gosta de projéteis e a comida fica em seu caminho.
Ele verifica a porta fechada por cima do ombro, seu corpo enrijecendo
em seriedade. — Como Daisy está dormindo à noite? Eu perguntei a ela
algumas vezes, mas ela apenas me diz para não me preocupar.
Lo olha para mim, sem saber como responder. Daisy tem dificuldade
em dormir sozinha por causa do seu TEPT e, na primeira noite, Rose a
checou às três da manhã. Todas as luzes estavam acesas no quarto de
Daisy no porão. Rose disse que ela estava bem acordada, alarmada pelos
menores barulhos, por isso Rose está dormindo em sua cama para
manter companhia.
Ontem à noite, Lo e eu corremos até seu quarto às duas da manhã com
seus gritos aterrorizados. Rose lutou para acalmar sua irmãzinha e Daisy
insistiu que um homem estava espiando pela janela.
Nós verificamos, e ninguém estava lá fora.
— Rose disse que Daisy se joga e vira muito, — eu ofereço essa
informação, com cuidado para não dar o resto. Eu acho que Daisy é parte
da razão pela qual ele quer sair essa noite. — Elas estão a caminho daqui,
então você vai poder vê-la.
Ryke parece mal do estômago. Ele realmente para de comer, o
sanduíche no colo. — Rose soube dizer quanto tempo ela dormiu?
— Talvez quatro horas. — Ou menos. — Quanto mais ela ver Frederick,
melhor ele será capaz de discernir que tipo de medicação ela precisa
para dormir.
Ryke acena algumas vezes, e alguém bate antes da porta se abrir.
Espero ver as garotas, mas na verdade são duas enfermeiras vestidas
com roupas brancas: uma mulher mais velha com óculos em volta do
pescoço e uma menina mais jovem e loira - possivelmente uma estudante
de enfermagem.
— O que é tudo isso? — A mulher mais velha pergunta, examinando a
variedade de comida gordurosa.
— Sustento, — diz Lo com um meio sorriso seco.
— Certo, — a enfermeira mais velha bufa, ainda tentando determinar
se ela deveria coletar a comida como contrabando.
A jovem enfermeira se concentra apenas em Ryke com um olhar
curioso que eu vi frequentemente das fãs. Ela pega a ficha da ponta da
cama e folheia os papéis. — Sua digestão está indo bem, sem problemas
com seus intestinos, então a comida extra deve estar ok.
— Não me diga. — Lo brinca com seu irmão. — Eu não ficaria surpreso
se essa combinação lhe fizesse correr para o banheiro. — Ele gesticula
para o chili e o hambúrguer com queijo. Ryke empurra o braço de seu
irmão de brincadeira.
Estou esperando a enfermeira mais velha gritar com a aprendiz, sobre
confidencialidade e não poder compartilhar a condição do paciente na
frente dos visitantes. A enfermeira mais velha nunca diz uma palavra,
bombeando os analgésicos de Ryke através do soro.
— Tudo bem, você pode manter a comida, — diz a enfermeira mais
velha. — Talvez possamos fazer vocês garotos assinarem algumas coisas
para nós também? Eu tenho uma sobrinha obcecada com Princesas da
Filadélfia.
Lo assume o controle. — Sem problemas, — diz ele, — as meninas
provavelmente ficarão felizes em assinar coisas também.
— Sério? — Seu rosto se ilumina. — Isso é tão doce da sua parte.
Eu quase rio, mas, em vez disso, cubro com um sorriso amável. Doce
não é uma palavra que eu usaria para descrever Loren.
A enfermeira mais nova coloca a prancheta de volta na beira da cama.
— Você acha que o show vai ter uma segunda temporada?
Antes de Ryke e Loren falarem não, eu os venço e digo a ela, —
Estamos realmente considerando isso.
O sorriso dela estica seu rosto, um que ela não pode conter. Eu posso
dizer que ela está mordendo as bochechas para tentar esconder. — Isso
seria incrível.
Ryke e Loren parecem um pouco nervoso e frustrados, entendendo que
temos que manter um nível de mistério. Scott precisa pensar que ainda
estamos pensando na segunda temporada, e enviar um não definitivo ao
mundo, mesmo que seja por um pequeno rumor, fará com que ganhar
sua confiança seja mais difícil para mim.
— Antes de ir, você precisa de mais alguma coisa, Ryke? — Pergunta a
jovem enfermeira. — Você sentiu alguma dor?
Ele encontra o olhar dela e eu conheço Ryke por tempo suficiente para
ler seu nível de interesse em uma garota. Desde que ele tem estado sério
com Daisy, ele nunca pareceu pensar duas vezes sobre outra pessoa.
— Eu estou fantástico pra caralho e é por isso que eu preciso sair daqui
essa noite. — Ele não está retribuindo nada para ela, nem mesmo
acidentalmente jogando sinais mistos. Seus pensamentos estão em sua
namorada.
— Você sabe que isso não é possível, — diz ela. A enfermeira mais
velha passa pela minha cadeira e sai, como se ela tivesse sido chamada
em outro lugar.
— Isso é o que eu tenho dito a ele. — Lo mexe em sua aliança de
casamento. É um hábito ansioso, uma oferta que diz que ele está
desejando uma bebida.
Ryke segue meu olhar e percebe o sinal de seu irmão. Ele suspira
pesadamente. — Eu vou sair daqui em dois dias?
— Isso é possível, — ela acena com a cabeça. — Só precisamos
continuar observando seus sinais vitais. Se você se acalmar, mas
continuar andando suavemente, você sairá daqui em pouco tempo.
Ryke embrulha seu sanduíche novamente e o coloca na sacola. — Eu
vou fazer isso então. — Ele está deixando essa luta pra trás por seu
irmão. Estranhamente, seu amor por Lo pode ser o que o ajuda a não
contrair uma infecção.
Se minha mãe estivesse viva e pudesse ver isso, eu mostraria a ela
como evidência: o amor beneficiaria a saúde de alguém. É tangível o
suficiente para que ela possa ter aceitado, como eu aceito agora.
Quando a enfermeira sai, Lo diz: — Ela parecia o seu tipo. — Eu ouço o
aviso em sua voz.
Lo não consegue ler Ryke tão bem quanto eu, e é por isso que eles
precisam se comunicar através de palavras para evitar brigas. Isso não é
fácil para nenhum deles, mas felizmente eles melhoraram em se
expressar um com outro.
Ryke coloca o saco de comida de lado em uma mesa de bandeja. —
Quem?
— Você não notou a enfermeira loira?
— Então você acha que porque você me viu namorar - três loiras - essa
é a minha coisa? — Ryke pergunta, balançando um pouco por causa dos
analgésicos. Isso é divertido.
Eu descanso meu tornozelo na minha coxa, observando meu
entretenimento de hoje. — Ele está certo, — digo a Lo. — Eu poderia te
dar a porcentagem de mulheres que ele namorou de acordo com a cor do
cabelo e a proporção de loiras é pequena. Eu faria as contas na minha
cabeça, mas honestamente, eu não me importo o suficiente.
Ryke revira os olhos e eles de alguma forma pousam no meu pescoço.
— Que porra é essa?
— Eu acho que sua espécie chama de au au.
Lo começa a rir.
Ryke está muito dopado para se juntar.
— É um chupão, — eu digo. — E sim, Rose deu para mim. E sim,
esqueci de encobri-lo antes de sair.
— Então os tabloides pegaram você? — Ele balança a cabeça
lentamente. — Você esqueceu? Você. — Ele aponta para mim.
Lo bufa com outra risada em seguida.
— Eu sei que é incrivelmente difícil de acreditar. — Porque não é
verdade. — Mas eu estava atrasado. O tempo essencialmente me
superou. — O que já aconteceu antes. Sua medicação para dor pode estar
do meu lado hoje.
Ele ainda parece um pouco incrédulo. — A coisa toda é esquisita pra
caralho.
Lo concorda com a cabeça. — Daisy não foi pega com um chupão uma
vez?
— Mas isso foi… — Ele está prestes a dizer isso foi a Daisy. Agora é
sobre Rose e Connor. Ele faz uma careta com suas próprias palavras. Não
é justo dizer que Rose não pode fazer algo que outras mulheres podem
fazer, simplesmente porque ela estabeleceu um precedente por ser tensa
e nervosa.
Na verdade, é a realidade. Quando você muda sua natureza, as pessoas
questionam.
Ryke deixa isso pra lá, apoiando um braço no ombro do irmão. — Você
sabe qual é o meu tipo? — E ele usa um sorriso drogado, seus lábios
levantando lentamente. — Daisy Calloway.
Eu sabia disso desde o começo.
Alguma atração é mais fácil de detectar do que outras. A deles podem
ser tão aparentes, mas a atração de Rose por mim e a minha por ela é
fraca para a maioria. Está tornando esses artigos mais populares para a
imprensa pegar e executar.
O sorriso de Ryke lentamente diminui, o nome dela trazendo
preocupação para os últimos dias novamente. Ele passa a mão pelo
cabelo grosso. — Eu odeio estar longe.
— Sim, mas merdas acontecem, certo? — Diz Lo. — Você tem que
deixá-la descobrir como lidar com algumas noites sozinha. — Ele faz uma
pausa. — Você tem mais dois dias aqui. Pelo menos você não está
ausente por três malditos meses.
O ar afina um pouco. Quando Loren foi para a reabilitação, ele deixou
Lily por três meses, na época em que ela estava lutando com seu próprio
vício.
Ryke olha para o chão. — Você sabe o que é engraçado, — diz ele, sua
voz profunda e crua. — Quando eu estava cuidando de Lily enquanto
você estava fora, eu fui tão duro com ela, porra. — Ele faz um barulho de
rosnado. — Se alguém faz isso com a Dais… — Ele balança a cabeça. —
Eu sou um fodido idiota.
Lo coloca a mão no ombro dele. — Bem-vindo ao maldito clube.
— Felizmente, eu vou recusar a minha adesão, — digo a ambos.
Ryke revira os olhos e Lo apenas ri.
A tensão quebra, mas na minha cabeça, eu imagino quanto tempo vai
durar até que um dos meus amigos descubra o que Rose e eu estamos
fazendo com a mídia, quem será, e quantas vozes começarão a complicar
o nosso mundo.
[ 26 ]
ROSE COBALT
Eu observo uma parede com prateleira cheia de consolos e vibradores,
meus ombros rígidos enquanto eu indiscretamente olho fora das janelas
da loja pela enésima vez. Tire a foto, Walter. Meu celular nunca vibra em
confirmação, então eu tenho que passar pelas prateleiras por mais
tempo.
Eu pego um chicote de couro de uma manequim dominatrix e giro ao
redor, me sentindo um pouco destrutiva hoje. Essa não é a minha
primeira vez em uma loja para adultos. Na faculdade, eu fui algumas
vezes, quando não havia paparazzi me perseguindo e as únicas pessoas
que realmente se importavam com o que eu fazia eram mulheres
intrometidas no círculo social da minha mãe.
Compras on-line podem ser mais discretas, mas eu gosto de ser
informada sobre minhas escolhas de produtos. Os funcionários daqui
sabem mais do que eu sobre brinquedos sexuais. Crescendo, eu nunca
tive bloqueios mentais com a idéia de me masturbar, mas eu sempre
congelei em ser íntima com outra pessoa.
— Legal… sim, cara. Apenas dê espaço para Lily e Lo. Quanto mais você
se aglomera ao redor deles, menos provável é que eles façam isso. Eu vou
falar com eles por você, ok? — Não soa nada como meu marido, mas
ainda assim, essa é a voz dele. Ele está no canto, no final do corredor,
com o celular apoiado no ouvido.
Eu giro meu chicote com um olhar mais quente. Imagino Scott na outra
linha com Connor e pequenos demônios com tridentes dançam em meu
cérebro. Eu reconheço que Connor está parcialmente colocando essa
farsa para mim. Ele poderia viver com os vídeos de sexo. Sou eu quem
não pode.
Eu sou grata por ter alguém como Connor, que estaria disposto a fazer
o que for preciso para que eu não precise. Eu não posso fingir tão bem
quanto ele. Se eu entrar em contato com Scott novamente, eu arrancaria
seu rosto.
Eu bato o chicote e ele faz um barulho no ar.
A testa de Connor franze, mas a agitação reveste seu rosto com o que
Scott está dizendo. Eu posso ver vindo à superfície quando ele esfrega os
lábios. Ele coloca uma voz alegre e agradável. — Golfe no sábado
funciona para mim, só pega leve. Eu não jogo faz um ano. — Seus olhos se
erguem para os meus.
Eu sussurro, eca.
Ele sorri. — Vejo você sábado. — Ele desliga.
— Quais foram os dois reis que sentaram nos tronos da Inglaterra e da
França no começo de Um Conto de Duas Cidades? — Pergunto a ele. —
Você tem um minuto. — Eu bato o chicote novamente.
Seus lábios continuam subindo, sua habitual arrogância retornando.
Normalmente eu falaria algo sobre isso, mas eu amo essa parte dele,
principalmente depois de sua falsa conversa. Fico feliz em ver seus lados
reais emergirem.
— George III e Louis XVI, — ele responde corretamente.
— Parabéns, você se salvou de um tratamento de silêncio de 24 horas.
— Eu inspeciono o comprimento do chicote e, acidentalmente, olho para
as vitrines novamente.
Connor se aproxima de mim, sua mão escorregando para as minhas
costas. Em uma ação sensual e perfeita, ele me beija e morde meu lábio
inferior entre os dentes. Seria incrível - se eu não começasse a pensar
demais. Fico rígida e vejo a funcionária nos observando do caixa, as
prateleiras muito baixas para nos esconder.
— Relaxe, — sussurra Connor. Demonstrações públicas de afeto são
difíceis para mim. Eu entendo que é de dar risada que eu tenho
dificuldade para beijar meu marido em público quando os vídeos de sexo
estão online, mas eu posso bloquear um pouco daquilo.
Isso é o agora. Fisicamente tudo de mim. Aqui.
— A loja está quase vazia. — Ele pode ler minhas pequenas
inseguranças. Connor ligou mais cedo e pediu a gerente para fechar a loja
em troca dela sendo destaque na Celebrity Crush amanhã.
Funcionou, nós tivemos que pular o almoço em uma tarde de sexta-
feira para evitar suspeitas do Ryke, Lily, Loren e Daisy. Nossos guarda-
costas cobrem a porta, então está claro que ninguém vai nos
interromper.
Eu tiro meu cabelo castanho do meu ombro e inspeciono o chicote
novamente, um pouco atordoada. — Você me prefere assim? — Eu
pergunto a ele. — Você sempre quis que eu fosse externamente
carinhosa?
Connor inclina meu queixo e seus profundos olhos azuis me encaram
com sinceridade. — Não, — diz ele. — Eu te amo do jeito que você é. Eu
não quero mudar você, mas...
— Eu sei, — eu aceno com a cabeça. Ele não precisa dizer mais. Essa é
a última foto incriminadora que precisamos encenar para Walter Aimes e
Celebrity Crush. Nós terminamos com as fotos exclusivas depois disso,
nossa dívida paga. Agora o tablóide não postará histórias duvidando do
teste de paternidade do Moffy.
Mas não termina completamente para nós.
Nós ainda planejamos reforçar a mídia fazendo mais coisas assim. Mais
demonstrações públicas. Mais saquinhos aleatórios de açúcar em pó
caindo. Está funcionando, mantendo os artigos focados em nosso
relacionamento e não em nossos filhos.
— Eu quero que Jane tenha uma irmã, — eu sussurro. Eu sairia da
minha zona de conforto milhões de vezes só para dar mais a vida da
minha filha. Isso tem que funcionar.
Connor me puxa para o seu peito, me segurando perto. — J'en suis sûr.
— Tenho certeza que ela vai ter.
Seu celular vibra junto com o meu. Walter tirou a foto?
Aproxime-se da prateleira no lado direito. Eu não tenho um bom ângulo.
- WA Ugh. Connor facilmente aperta minha mão e me guia. Todo o tempo
eu arrasto o chicote pelo chão. Eu vou comprá-lo, só por sujar a coisa,
mas de jeito nenhum Connor usará isso em mim.
Nós paramos na parede gigante de consolos e vibradores
multicoloridos. Algumas marcas de luxo, outras muito mais baratas.
— Encontrou algo que queria? — Pergunta Connor, parcialmente
sério.
Eu nunca estive em um sex shop com ele. — Eu gosto disso, — eu
minto, com uma voz fria, balançando o chicote perto da bunda dele.
Ele rouba de mim e eu estreito os olhos.
— Isso era meu, Richard.
— E agora é meu, — ele brinca. Então ele bate o chicote, o barulho
muito mais alto, ecoando como um tiro. Os pelos dos meus braços se
levantam, minhas pernas se transformam em gelatina. Ele carrega um
chicote como se ele fosse o rei do fodido submundo.
— Então agora você é um ladrão, — refuto, tendo que limpar minha
garganta uma vez. Ele não deveria ser tão atraente em um sex shop, e o
que é mais irritante - ele sabe que é.
— Se não fôssemos casados, então sim, eu seria considerado um
ladrão. — Ele se volta para a parede de brinquedos.
Eu franzo a testa. Ele sempre tem que me superar. Eu vou vencê-lo,
deixá-lo desconfortável pela primeira vez. O jogo começou. Eu examino a
parede e retiro o maior dos consolos, grande e grosso, também em um
tom de azul. Sua circunferência sozinha parece insanamente miserável.
Minha vagina treme em aviso como se dissesse inferno, não.
Eu verifico a etiqueta: pau de cavalo.
Eu juro que não estou mentindo.
Eu me viro para Connor. Ele não está nem um pouco confuso.
— Para você, — eu digo com um sorriso tenso. Eu estou brincando, eu
acho. Eu engulo em seco enquanto seu sorriso se desvanece, olhando
impassivelmente para mim. Na parte de trás do meu cérebro, me
pergunto se isso é algo que ele sente falta. Não paus obscenamente
grandes, mas apenas eles em geral. Eu acrescento, — Se você precisar...
— Rose, — ele me interrompe. Ele olha para o caixa antes de abaixar a
voz para mim. — Você se lembra quando eu te disse que eu costumava
fazer sexo por duas razões diferentes?
— Por manipulação e por prazer, — eu digo baixinho.
Ele se inclina para perto, seus lábios roçando minha bochecha antes
que ele sussurre um segredo. — Quando eu estava por baixo, era sempre
por manipulação. — Ele segura meu queixo. — Eu não estou perdendo
nada com você.
Eu inalo fortemente. Tradução: você preenche todas as minhas
necessidades.
De todos os lugares para ter uma conversa de coração para coração... é
incrivelmente repugnante que esse tinha que ser o local. Eu coloco o
consolo no lugar, já planejando tomar banho em uma banheira de água
sanitária e desinfetante quando eu voltar para casa.
— Sexo não deixa você desconfortável, — eu digo. Percebo que estou
lutando uma batalha perdida, tentando enfraquecê-lo aqui.
— Nem mesmo por um segundo. — Ele está tão confortável em sua
própria pele que quase nada pode abalá-lo. Eu pensei que era assim
também, mas eu fui testada demais. Eu tenho limitações e coisas que
atingem um nervo.
— Eu tenho algo que eu preciso te mostrar, — ele me diz.
Minha mente gira enquanto eu sigo ao lado dele, me aproximando
apenas para roubar de volta o chicote. Ele cede, soltando o aperto firme
no couro. Eu me sinto poderosa com isso na mão, mas eu não quero usá-
lo.
— Por favor, me diga que você está me guiando até o álcool em gel.
— Eu vou tomar banho com você quando chegarmos em casa, — ele
me diz. Eu nunca pensei que me casaria com esse homem, muito menos o
ouviria oferecer tomar banho comigo tão casualmente. Dois anos já
passaram, e a garota que estava preocupada em ter que ser dominante na
cama (ou pelo menos todo cara esperava que ela fosse) quase
desapareceu.
Eu arfo e paro em frente a uma prateleira de roupa íntima comestível,
feita de alcaçuz preto. Eu pego a calcinha do expositor, já que as outras
estão em caixas, e a seguro com um dedo, apagando a imagem de outras
mãos sujas a tocando também.
— Você só pode fazer sexo comigo se eu usar isso. Lembre-se, você
tem que comê-la, — digo categoricamente, observando seu sorriso
retornar. — Ou você tem que fazer sexo em cima de um túmulo. Escolha.
A maioria dos caras não ligariam para calcinhas comestíveis, mas
Connor odeia alcaçuz. Alcaçuz preto está no topo da lista. Mesmo assim, a
outra opção tem consequências piores.
Sem hesitação, ele diz, — Eu te foderia em cima de um túmulo.
Eu estremeço, meus olhos perfurando sua testa. Eu esperava uma
resposta diferente, esquecendo que ele nem sempre escolhe o que eu
escolheria. — Isso é desrespeitoso e abominável em muitos níveis. — Eu
imagino que tipo de carma horrível iria me assombrar por profanar um
túmulo.
Eu coloco a calcinha no lugar e arrumo meu cabelo sobre um ombro,
congelando. Eu toquei naquilo e depois no meu cabelo. Não se concentre
nisso, Rose.
— Desrespeitoso para quem? — Connor pergunta, encostando um
ombro na parede. — Os mortos já estão mortos. Eles não se importam
porque carecem fisicamente da capacidade mental para se importar.
Meus lábios se pressionam em linha. Eu não posso dizer a palavra
"fantasmas" como validação. Ele vai usar isso contra mim de mil
maneiras ácidas. Eu tento deixar essa conversa pra lá, me aproximando
dele. Eu seguro seu suéter com as duas mãos, uma camisa social branca
embaixo do tecido azul marinho, formal e sofisticado.
E eu olho para ele com olhos flamejantes, meus saltos de dez
centímetros não são altos o suficiente para ficar perfeitamente da mesma
altura que ele, mas eles ajudam. Eu recito a citação em minha voz mais
acalorada, — Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas
o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez Ele parece
excitado, seus olhos me consumindo. — Shakespeare, — ele responde
corretamente. — Júlio César. — Ele pega meu rosto em sua mão, virando
minha cabeça para que ele tenha acesso ao meu ouvido, os movimentos
fortes aceleram meu pulso. — Por que você citaria sua peça menos
favorita? — Ele está intrigado. E excitado.
O poder que eu mantenho me deixa em chamas. — Pareceu oportuno,
— eu respiro. — Estamos discutindo a morte. — Eu aliso minhas mãos
sobre seu suéter e, em seguida, o empurro uma vez, uns cinco
centímetros nos separando. — E só para você saber, seríamos esmagados
pelo carma, destino e fantasmas se tivéssemos relações sexuais em cima
do túmulo de alguém.
Então eu mencionei fantasmas. Eu não me importo. Ele pode não
acreditar, mas eu acredito. E nesse cenário particular, ele está me
fodendo nesse túmulo.
Ele ri, os dentes aparecendo com o seu largo sorriso.
— Não use seu sorriso arrogante e venha me dizer que eles não são
reais. É chamado de fé e você não tem nenhuma.
— Eu tenho fé, — ele diz. — Em mim. — Eu bufo. Ele continua, — E em
você. — Tudo bem. — E em nossos amigos. Nas pessoas eu posso ler e
ver e entender. Eu não tenho fé no intangível e no invisível. — Ele
descansa a mão nas minhas costas, recomeçando nossa caminhada
anterior para o lado esquerdo da loja, um pouco mais perto da janela, na
verdade.
Seu olhar permanece em uma prateleira, ao lado de um manequim
vestido com uma calcinha de couro e sutiã cravejado. O manequim não é
seu foco.
Meus olhos seguem os dele.
Não.
— Não, — eu digo com uma sacudida da minha cabeça. — Eu prefiro
ser enterrada viva com cobras. Ou melhor ainda… — Minha imaginação
segue seu curso. — Você pode me enterrar e depois transar no meu
túmulo e eu vou voltar e assombrá-lo.
Suas sobrancelhas se erguem. — Quem está te matando nesse cenário?
— Eu mesma. Veneno. Talvez uma faca no coração. Ou me afogando. As
opções são infinitas.
— Você não é a Julieta e nem a Ofélia. — Ele está basicamente dizendo
que eu não estou vivendo em uma peça de Shakespeare. — E só para você
saber, Rose, as hipérboles sobre se matar agora são as minhas menos
favoritas.
— Você pode me matar então. — Eu bato meu salto no chão algumas
vezes. — Que tal por fogo?
Ele olha com força para mim, nenhum traço daquele sorriso divertido.
Eu me endireito, confiança apoiando minhas costas como uma
fortaleza. — Foi você quem me trouxe aqui para provar algo. — Eu
movimento para a prateleira ao nosso lado. — Como você achou que eu
ia reagir?
— Eu pensei que você fosse ameaçar meu pau, — diz ele, — não a sua
própria vida.
Minhas defesas se quebram. Eu suponho que isso é novo para mim. Eu
sou toda sobre a sobrevivência e o auto sacrifício ocasional para aqueles
que eu amo, não me jogando sobre as brasas sem nenhuma razão real. Oh
Deus, eu estava fazendo birra? Uma birra sobre uma hipérbole estranha?
Não.
Eu tenho vinte e seis anos.
Eu sou uma mulher forte e independente.
Mas quando você visita um sex shop com seu marido e ele te guia até a
parte de plug anal, você pode dizer que diabos você quiser.
Sexo anal nunca foi uma prioridade minha. Eu já tive curiosidade, mas
nunca interesse. É um enigma que sei que intriga Connor.
Eu solto um suspiro. — Eu sei que toda garota é diferente com anal. —
Eu penso nas minhas irmãs, em fatos que ele já sabe, então eu não me
importo em compartilhar como evidência para meus sentimentos. — Lily
ama. Daisy odeia e Poppy nunca tentou. Isso não faz de mim a Cachinhos
Dourados do Sexo Anal. Apenas pode não ser certo para mim.
Ele tenta abafar um sorriso, seus lábios querendo se curvar. Meu
sangue queima em minhas veias. Eu quase pego um plug da prateleira e
jogo na cabeça dele. Eu me paro, lembrando que há um fotógrafo do lado
de fora.
Isso seria uma foto terrível para ficar na página inicial da Celebrity
Crush. A manchete: Rose Cobalt agride seu marido com um brinquedo
sexual!!
— Se você rir, — eu ameaço, — eu vou arrancar sua língua, assá-la e
então alimentá-la para qualquer criatura da floresta que aparecer no
nosso quintal.
Ele sorri, mas não produz uma risada. — Eu aprecio que você dirigiu
essa hipérbole para mim. — Ele se inclina um ombro na parede
novamente. — Quanto à sua analogia… — Ele esfrega os lábios, quase
rindo.
Eu aponto um dedo de advertência para ele. — Me dê sua língua.
— Mais tarde hoje à noite, querida, — ele brinca. — E, estatisticamente
falando, você tem a mesma probabilidade de amar isso, odiar, e ser certo
mais do que é para qualquer outra pessoa. Você só tem que experimentar
primeiro.
Experimentar.
Essa é a parte intimidadora.
Eu nunca quis fazer isso, mas posso dizer que ele quis. Eu sei que
posso gostar. Lily se entusiasma demais para pensar que é
completamente terrível.
Uma mensagem aparece no celular do Connor e depois no meu.
Tenho a foto. Obrigado. - WA Acabou.
Estou surpresa com a recente decepção, a queda dos meus ombros.
Remova a impureza desse evento e foi divertido. Eu aprendi algumas
coisas sobre ele e ele aprendeu coisas sobre mim. Mesmo que sejamos
casados, explorar um ao outro nunca termina de verdade.
— Me avalie, — eu digo para ele, imaginando como foi minha atuação.
— C.
Eu reviro meus olhos.
— Pare de olhar por cima dos seus ombros e para as janelas. —
Felizmente, não vamos alimentar mais nada diretamente ao Celebrity
Crush. Eu gosto que tenhamos mais controle sobre o que acontece.
Eu bato meu chicote. Chega perigosamente perto de acerta-lo, um
completo acidente e meu coração se agita. Eu deixo cair a coisa, mas ele
está irrefutavelmente estoico, inabalável. Ele pega o chicote e me puxa
para perto novamente.
— E qual é a minha nota? — Ele pergunta.
— F, — eu digo o que sempre costumo falar.
— Sem preconceitos, — ele altera.
Eu não posso admitir. Ele não pode me vencer. — Um F sem
preconceitos.
Ele beija a ponta do meu nariz. É leve e nem de perto tão áspero
quanto eu gostaria. Ele sabe disso.
— Nunca faça isso de novo, — eu me encolho.
— Seja honesta.
Eu bufo. — Ok. Eu te daria um B. Você está feliz, Richard?
— Imensamente. — Dessa vez, quando ele me beija, ele agarra a parte
de trás da minha cabeça, seus lábios separando os meus com uma onda
ofegante. Estamos em público, me lembro, apenas uma vez.
Isso me congela. Ele não reduz minha nota por uma letra, mas eu
reduziria.
Eu mereço um D bem feio.
[ 27 ]
ROSE COBALT
— Vá para a Hale Co. agora. — A voz normalmente mansa do Theo se
tornou ácida, queimando meus ouvidos, o celular pressionado muito
perto. Não estou com disposição para receber ordens de ninguém,
especialmente às 10 da manhã de um sábado. Mas sua mudança
repentina de comportamento me coloca em guarda.
Eu afasto o celular um pouco, estreitando meus olhos para o ar. —
Acho que você está esquecendo quem é a chefe nessa relação.
Assim que digo isso, Connor sai do banheiro, se encostando no batente
da porta com nada além de uma toalha. Gotas de água rolam no peito e
no abdômen. Tivemos uma manhã agitada já que Jane nos manteve
acordados a maior parte da noite, chorando e gritando e sendo um terror
em geral. Eu ainda me jogaria na frente de um veículo em alta velocidade
por ela, mas espero que essa situação nunca aconteça.
Connor acena com a mão para o meu celular e murmura, Theo?
Eu aceno com a cabeça, apertando o botão do viva-voz.
Theo diz, — Olha, estou exausto. A diretoria finalmente aprovou o que
você queria na noite passada, e essa manhã está tudo prestes a ir à
merda.
Eles aceitaram os novos rótulos da CCB. É uma vitória que ainda não
posso comemorar. Minha cabeça está se recuperando. — O que você quer
dizer? — Eu me encontro tocando meu colar de safiras, assim como
minha mãe faria, dedos nas suas pérolas. Eu paro imediatamente, um
gosto nojento na minha boca. Você não é como ela, Rose. Eu aliso minha
saia preta e levanto as mangas do meu suéter branco, com calor de
repente.
— Você e Connor foram fotografados dentro de um sexo shop. É
notícia de primeira página essa manhã em todos os tabloides. Um dos
membros mais velhos do da diretoria quer mudar o voto. Ele já chamou
um assistente para entrar em seu escritório e triturar o contrato em sua
mesa. — Não pergunto como ele ouviu isso. Ele é uma sombra, eu lembro.
Ele ouve coisas. — Eu pensei que fosse uma boa ideia, Rose. Eu
realmente pensei. Teria funcionado, mas não importa se você ainda finge
odiar esse novo design, ele prefere não ter Calloway ligado ao produto.
Minha garganta balança. — Isso não é nada novo, — eu digo. — Eu
tenho vídeos de sexo. Como entrar em um sex shop muda minha
percepção pública?
— Seus vídeos de sexo não são um tema quente agora. Você sendo uma
mãe e seu estilo de moda - é por isso que a diretoria acredita que as
mulheres o admiram e por que você tem muitos fãs. Ele está preocupado
que essa foto comece a comprometer sua imagem atual.
Ele acha que vou perder meus fãs.
Bem, se meus fãs me amam, então eles vão permanecer aqui mesmo
depois dessa foto. Isso não é incriminador, mas eles dizem que é para
alguém que desenha roupas para bebês.
Theo continua, — Todos os outros membros da diretoria estão
mantendo os mesmos votos. Ele é mais conservador e, infelizmente, é o
voto decisivo.
Tradução: Você está fodida, Rose.
Mas Theo me ligou por um motivo. Ele acha que ainda tenho tempo
para consertar esse problema. Talvez se assinarmos o contrato antes que
seu assistente o destrua, o homem vai ceder. Loren dirá a ele que está
feito e para seguir em frente.
É assim que vencemos.
— Você não mora a cinco minutos da Hale Co.? — Pergunto
apressadamente. — Vá para o escritório e me envie esse contrato por fax.
— Faço uma pausa, precisando adicionar uma ameaça maior. — Se você
não chegar lá antes do outro assistente, você está demitido.
— Eu, sinceramente, vou fazer o meu melhor. — Sua sinceridade faz
com que uma onda de culpa me bata. Não. Eu sou uma guerreira que
precisa sofrer baixas.
Nós dois desligamos.
Connor olha para mim, suas sobrancelhas levantadas enquanto eu rolo
pelo site da Celebrity Crush no meu celular. — Ele é legal de um modo
repugnante, — digo a Connor. — Eu sinceramente pensei que era uma
estratégia para algo maior. — Talvez eu ainda pense.
— Pode ser, — Connor me fala. Eu não ouço a preocupação em sua voz,
e me pergunto se ele está me acalmando. Em uma respiração sendo
honesto e na outra tentando não me preocupar.
Eu preciso de um roteiro das verdadeiras intenções das pessoas. É
tudo muito confuso.
Minha tela do celular pisca com respostas.
A primeira manchete: [FOTOS EXCLUSIVAS] Connor Cobalt e Rose
Calloway foram vistos em um Sex Shop! Olha o que eles compraram!
Além da minha foto segurando a calcinha comestível, Walter Aimes
tirou fotos do Connor. O fotógrafo disse que tinha acabado de tirar fotos
antes disso, mas claramente não. Talvez ele esperasse que fizéssemos
algo fora do comum.
Felizmente, Connor só comprou um vibrador de bolso em vez dos
plugs anal, que ele comprará mais tarde. Ele mencionou essa informação
quando saímos da loja. Para me preparar, tenho certeza.
Eu atordoadamente me sento na beira da nossa cama, e Connor afunda
ao meu lado. Ele lê o artigo por cima do meu ombro.
— Obrigada, — eu digo, — por comprar o vibrador. — Até parece que
eu queria que o mundo soubesse que estamos fazendo sexo anal.
Podemos ter perdido a maior parte da nossa privacidade, mas há
algumas coisas que eu gostaria de manter entre nós.
Connor esfrega a parte de trás do meu pescoço. — Bien sûr. — Claro.
Eu entro no Twitter e verifico minhas notificações, curiosa para ver
como o mundo está lidando com essa notícia.
@CeleryHair: @RoseCCobalt Esperando sua linha de brinquedos
sexuais sair. Obs essa foto é pesquisa. Eu estou certa?
@PoPhilly4Life: @RoseCCobalt Você é uma deusa. Sério amo que você
não dá a mínima por ser pega comprando 4 coisas sexy com o seu marido
olhos de coração
@LilyHaleLOVE2: @RoseCCobalt Você deveria pedir conselho sobre
brinquedos sexuais para a Lils. Parece que ela sabe mais. Apenas dizendo.
@LindsayL453: @RoseCCobalt Você é uma prostituta da fama e uma
vagabunda. Pior que todas as suas irmãs juntas.
Eu amei esse último tweet. Se eu puder tirar o os holofotes de Lily e
Daisy, eu ficarei feliz em suportar as luzes cegantes.
Eu envio um tweet: não há medo no prazer #Coballoway A hashtag é o
nome que os fãs usam para designar eu e o Connor. É mais fácil do que
dizer Rose e Connor, e gosto de como soa.
Percorro o meu feed e noto uma conversa com flertes no Twitter do
Ryke e Daisy, tuitada ontem.
@daisyonmeadows: Você sabe qual cicatriz é maior que a minha
cicatriz agora? piscando @meadowsryke A cicatriz dele da cirurgia. E
cicatriz dela do tumulto de Paris.
Estou acostumada a esses tipos de conversas entre eles, já que estamos
no Twitter há algum tempo.
@meadowsryke: @daisyonmeadows a minha é maior
@daisyonmeadows: @meadowsryke prove ;) Eu imagino que suas
mensagens de texto são dez vezes mais sujas do que isso. Eu verifico o
Instagram rapidamente, percebendo que Connor postou uma foto essa
manhã.
Nós sempre postamos fotos um do outro, então eu não estou surpresa
que ele tenha colocado uma de mim na cama, o lençol cobrindo meus
lábios e apenas meus olhos fumegantes expostos. Ele tirou essa logo
depois de citar Steinbeck. Eu acabei o encarando assim, e ele imortalizou
o momento.
Entre milhares de comentários, a maioria é positiva. Eu olho alguns
negativos: Sua esposa parece que ela quer te matar.
Eu odiaria acordar com isso pela manhã #mulherlouca É por isso que vc
precisa levar um machado para a cama!!
Eles adicionaram uma variedade de emoticons de faca e diabo que
Loren acharia engraçado.
— As pessoas sempre vão especular, — Connor diz, se levantando da
cama e roubando minha atenção. Eu me lembro das táticas de
manipulação do Connor. Aquelas que nunca usei.
— Se você estivesse na minha posição, você teria dormido com o
membro da diretoria?
Ele passa a mão pelo cabelo úmido, o alisando para trás. — Não, — ele
diz resolutamente. Ele abre uma gaveta da cômoda. — Eu não faço mais
isso. — Porque estamos juntos.
— Antes de estar comigo, — eu reformulo novamente.
Ele faz uma pausa. — Dependeria da circunstância e das variáveis na
equação. Eu nunca pulei na cama cegamente. — Então ele está dizendo
talvez. Teria que ser o caminho com o maior benefício para ele escolher,
e ele está me dizendo que sexo nem sempre é a resposta.
— Era fácil? — Pergunto.
— Sim. — Sua voz é moderada, sua expressão ainda mais. Ele remove
sua toalha, me dando uma visão de sua bunda tonificada antes de colocar
a cueca boxer.
Eu o vejo caminhar até o closet e desaparecer lá dentro. Eu o sigo até
lá, abaixando as mangas do meu suéter.
— Como era fácil? — Eu pergunto, de repente querendo respostas. —
Eu não posso imaginar você voluntariamente se ajoelhando, chupando
alguém sem que isso seja difícil.
Meu marido ama o controle, ele prospera nisso. Eu não posso imaginá-
lo despojado de seu domínio durante o sexo. Mesmo quando eu algemei
em seu aniversário, ele ainda era incrivelmente alfa.
Connor entrar em calças cáqui. — Se ajoelhar não requer muito
esforço.
— Eu não estou falando sobre o ato físico. — Mas ele sabe disso. Ele
está apenas enrolando.
Ele termina de colocar as calças e se vira para mim. — Eu sei o que
você quer que eu diga. Que isso me afetou enormemente. Que por dentro
estou ferido. — Antipatia escorre da última palavra.
— Eu não quero que você diga isso, — eu respondo baixinho.
— Então o que você quer?
— A verdade, — eu atiro de volta, hostilidade de repente aumentando
minha voz. — Só a verdade.
Ele concorda com a cabeça. — Honestamente, — diz ele, — foi fácil,
Rose. E eu sei que você não pode entender isso porque nunca seria fácil
para você. Mas isso é porque eu não me casei comigo mesmo. — Ele me
lembra, — Se eu quisesse ficar com alguém um pouco mais parecido
comigo, nunca estaríamos juntos.
Meus ombros se abaixam, percebendo que ele está certo. Eu não posso
entender sexo sem emoção. Eu não posso separar meus sentimentos
para entender com precisão. Eu provavelmente nunca vou, e tenho que
ficar bem com isso.
— Obrigada, — eu digo honestamente. Nós não precisamos de nenhum
jogo desta vez. Eu simplesmente perguntei e ele ofereceu. Não foi tão
divertido, mas foi legal.
Meu telefone toca na cama. Eu saio correndo do closet para atender.
No minuto em que clico no viva-voz, Theo diz, — Ele foi enviado por fax.
Você precisa assinar e enviar por fax para mim enquanto estou no
escritório. O mais rápido que puder. — Ele desliga sem outra palavra.
Eu ando muito rápido para o escritório no primeiro andar e arranco o
contrato da máquina, juntando as páginas com o clipe de papel,
assinando meu nome nos lugares apropriados. Depois de destacar as
linhas onde Loren precisa assinar, mudo minha missão para rastreá-lo.
Depois que ele assinar, posso enviá-los por fax para Theo e vou ter
ganhado.
Subo as escadas para o segundo andar. Meus passos rápidos diminuem
quando estou perto do quarto de Loren e Lily. Gemidos soam pelo
corredor. — Sim… simsimsim!
Não. Não, não, não.
[ 28 ]
ROSE COBALT
Lily suspira e grita repetidamente o nome do Lo em sucessão orgástica.
Eu me recuso a deixar seu desejo sexual louco arruinar meus objetivos.
Sem uma única batida, eu entro em seu quarto escuro, cortinas
vermelhas fechadas, e forço meus olhos no alvo. Eu tento não englobar a
posição do Loren no topo da minha irmã, no meio de uma estocada, as
pernas dela abertas ao redor dele.
Eu preciso lavar meus olhos com água sanitária depois disso.
Sua bunda está totalmente à vista, os cobertores cor de champanhe
agrupados na beira da cama.
— Que porra é essa?! ROSE! — Loren grita com raiva. Lily solta um
grito envergonhado e começa a bater em Lo para sair dela.
Eu sigo adiante, fingindo que eles estão completamente vestidos e não
no meio de uma transa. Sim, eu retiraria seus globos oculares e os
queimaria se eles fizessem isso comigo. Mas não tenho tempo a perder, e
eles podem literalmente foder por quatro horas. Eu não estou esperando
eles terminarem.
Eu estendo meu braço com o contrato e seguro uma caneta. — Assine
por favor.
Todo o rosto de Lo se aguça, me lançando um olhar mortal
característico dos Hale que tenta me reduzir a pó. Eu não me encolho,
nem por um segundo. Isso significa muito para mim.
— Saia da porra do quarto, — ele rosna. — Monte em sua vassoura de
volta para onde você veio.
Eu bato o ombro nu dele com o contrato. — Assine. Isso não é uma
piada. Eu tenho minutos, talvez segundos, antes que eu perca isso. — O
desespero deve estar claro em minha voz. Sua raiva diminui um pouco,
seus olhos âmbar se deslocam de mim e de volta para sua esposa.
Lily congelou debaixo dele, suas mãos pressionadas contra o rosto
como se ela pudesse se esconder. Loren finalmente se afasta da minha
irmã, e ela grita, — LO!
Ele joga uma manta de camurça vermelha nas proximidades, cobrindo-
a de vista, e então ele se senta e me encara. Ainda completamente nu. Ele
está tentando me forçar a sair do seu quarto me constrangendo. Eu
respiro fundo.
Eu não estou cedendo.
Eu tranco os olhos com os dele, nunca olhando para a sua genitália.
Não chamarei seu pênis por nenhum outro nome além dos termos
científicos adequados.
Ele pega os documentos da minha mão e folheia os papéis. — Jesus
Cristo, quantas páginas têm aqui?
— Dez, — eu digo. — Apenas assine onde eu destaquei.
Ele me lança um olhar como se eu precisasse encontrar minhas células
cerebrais perdidas. — Eu não vou assinar algo que eu não tenha lido. Na
verdade, preciso ligar para o meu advogado para investigar isso também.
Isso levará uma eternidade. — É um contrato padrão, — explico.
— Você não deveria ter aprendido com o seu último erro? — Ele quer
dizer quando eu não tinha um advogado para analisar os contratos que o
Scott nos deu para o reality show, e, na verdade, ele legalmente possui
direito dos meus vídeos de sexo.
Isso é diferente. — Estou trabalhando nisso há meses. Eu até ajudei o
Daniel a redigir isso. Por favor, não seja responsável agora.
Ele fica boquiaberto. — Você se ouve? Quem te sequestrou no meio da
noite, porra? — Ele balança a cabeça. — Eu não sei porque estou
surpreso depois de todas as coisas estranhas que você tem feito. Como
ontem? — Ele me dá outro olhar que diz que porra é essa.
Eu fico rígida. — Você viu o artigo? — Já?
— Hummm. — Lily começa a dizer alguma coisa, mas sua voz está
abafada por baixo do cobertor. Aos poucos, ela puxa o tecido de camurça
para baixo. Seus olhos emergem e depois o nariz, e lentamente a boca.
Estou olhando para ela como se dissesse se apresse. E Lo olha para Lily
como se ele estivesse a segundos de fodê-la novamente.
— Existem lojas online que vendem essas coisas, — Lily me diz. —
Você não precisava sair publicamente para comprá-los.
— Eu não estou envergonhada, — eu digo, com muita força... isso
implica que a Lily está - e eu não quis dizer...
Ela fica vermelha. — Você não deveria estar. — Ela acena com a cabeça
como se estivesse respirando essa realidade que ela quer possuir
também. Eu não queria que ela se sentisse mal por fazer compras online.
Essa é uma ótima alternativa.
Lily limpa a garganta. — Mas eu só quis dizer que quanto mais você e o
Connor fizerem essas coisas em público, mais a mídia tem nos
perguntado sobre vocês dois. Nós sempre pensamos que você gostava do
seu relacionamento fora de foco. Mesmo enquanto filmávamos Princesas
da Filadélfia, era mais sobre Lo e eu.
Eu me sinto como uma idiota. — Connor e eu estamos lidando com a
atenção da melhor maneira possível.
Ela aperta os olhos para mim agora, confusa e desconfiada. — Eu
pensei que você estaria mais irritada.
— Eu estava irritada. Dez minutos atrás. Agora estou tentando cuidar
dos negócios. — Eu estalo meus dedos para Lo, mas ele ainda está lendo
a primeira página.
Os olhos de Lily piscam para sua virilha e ela se contorce um pouco.
Ele acaba pegando um travesseiro e colocando no colo. Ele vira a
página, olhando para o jargão legal. Por mais que irritamos um ao outro,
eu posso admitir que Lo não é burro. Ele é cauteloso com seus negócios.
Ele procura ajuda em aspectos que ele é fraco e que, segundo meu
marido, faz um grande líder.
Eu verifico seu relógio de cabeceira. São quase onze. — Por que vocês
dois estão fazendo sexo agora? — Pergunto. Eu pensei que eles teriam
começado e terminado horas atrás.
— Porque seu bebê demônio manteve nosso bebê acordado na noite
passada, — responde Lo. — O que significa que estávamos exaustos
demais para fazer sexo. E agora você está nos interrompendo. Tal mãe,
tal filha. — Ele dá um sorriso amargo.
Eu não deveria ter perguntado. Eu cruzo meus braços. — Desculpe,
Lily. Não me desculpe, Loren. — Estou prestes a acenar para ele
continuar lendo quando uma coisa branca e peluda sai pela porta e entra
no quarto. Ela passa por mim e corre para o colchão.
— Merda. — Loren xinga, tentando empurrar gentilmente a husky
siberiano para longe da cama. A cachorra cutuca as suas pernas nuas,
abana o rabo e depois o animal pula na cama e se deita ao lado de Lily. Eu
dou alguns passos para trás. Eu não temo cães, mas eu prefiro animais de
estimação menores. Aqueles que eu posso pegar. Ela tem apenas oito
meses e já pesa trinta e cinco quilos.
a husky cutuca o braço da Lily até ela responder. Então, Lily faz
carinho no seu pelo branco grosso. Minha irmã imediatamente sorri, a
cadela é uma profissional em ganhar esse tipo de resposta exultante das
pessoas.
Ela é a antítese da gata do Connor, e ainda assim me fez sentir ainda
mais saudades de Sadie. Agora que uma cachorra chorona e babona está
perambulando pela nossa casa, sacrificar nossa gata parece
desnecessário.
Na semana passada, Ryke comprou a husky siberiano para o vigésimo
aniversário de Daisy. Connor e Loren gostam de brincar sobre como
Ryke e Daisy agora são pais também, seu husky mais ou menos da
mesma idade que nossos bebês. Mas estamos todos bem conscientes da
verdade subjacente.
Esse é um cão de serviço certificado para o TEPT e ataques de pânico
da Daisy. Frederick sugeriu um como parte de um plano para ajudar
Daisy e ela falou com Ryke sobre isso, expressando bastante interesse
que ele até a surpreendeu com um. Eu nunca vi minha irmã tão feliz.
— Qual é o comando que devemos usar? — Lily me pergunta enquanto
Lo tenta se concentrar no contrato.
— Vá ver Daisy, — eu digo. Assim que as palavras saem dos meus
lábios, a husky branca salta da cama, seus brilhantes olhos azuis
direcionados para a porta.
— Oh meu Deus! Estou enlouquecendo! — Daisy corre para o quarto.
— Coconut! — A cachorra circula os pés da Daisy. — Ela ainda está
tentando se acostumar com a casa.
— Merda. — Lo xinga, colocando os papéis de volta na cama enquanto
ele procura por sua cueca. É um tanto interessante que ele reaja de
maneira diferente entre a minha intromissão e a da Daisy, sentindo-se
exposto, mesmo com o travesseiro. O que não está bem é o contrato que
ele abandonou.
— Loren, — eu digo.
— Me dê um minuto, — diz ele irritado, claramente com vergonha.
Daisy se encolhe e se vira de lado para proteger os olhos. — Eu
realmente sinto muito, pessoal. — Ela coloca a mão na cabeça da sua
cachorra que finalmente cai ao lado dela. — Coconut, seja legal. — Esse
nome vai ser encurtado um milhão de maneiras horríveis, exceto o meu.
— Coco, não arraste neve para a casa de novo. — Então eu a dispenso
com a minha mão.
— Rainha Rose, já dando as tarefas da cachorra, — brinca Lo. Não foi
uma tarefa. Foi uma ordem. Quer saber - se ele tem tempo para dizer
coisas assim para mim, então ele tem tempo para ler algumas páginas e
assinar seu nome.
Estou prestes a dizer isso quando Ryke corre para o quarto, rápido. Ele
bate no meu ombro a caminho de Daisy.
— Porra, — ele xinga, diminuindo a velocidade até parar.
Eu me pergunto se seus pontos... — Você não deveria estar correndo,
Ryke, — eu digo.
Ele já ouviu essa frase muitas vezes desde que voltou do hospital e
simplesmente a ignora agora. — Você não me machucou, — diz ele.
— Claro que não, você bateu em mim. — Soei tão mimada.
A preocupação em seu rosto bombeia a culpa em minha corrente
sanguínea. — Eu te machuquei? — Ele pergunta, os olhos voando pelo
meu corpo. Ele não é seu irmão. É dez vezes mais fácil dizer coisas ruins
para Loren e eu esqueço de diminuir minha hostilidade com ele.
— Estou bem, — lhe asseguro, e depois me volto para Loren. — Você
pode por favor se apressar?
Ele ainda está tentando encontrar sua roupa de baixo, deslizando a
mão sobre o colchão, Lily não é nada mais do que um bolinho sob os
cobertores, escondendo-se de Ryke.
Isso é uma catástrofe.
Loren solta um ruído frustrado, e eu vou para sua cômoda, abrindo a
gaveta de cima e jogando-lhe o primeiro par de cuecas que vejo.
Ele não parece nem um pouco apreciativo. Agora vestido, ele procura
Lily debaixo do cobertor ao invés dos contratos. Ele recebe um passe.
Minha irmã está acima de todas as coisas materiais.
— O que diabos está acontecendo? — Ryke pergunta, muito confuso.
A voz de Connor soa ao lado do batente da porta. — Vocês todos
interromperam Lo e Lily fazendo sexo, claramente.
— Eu sinto muito, — diz Daisy pela décima quinta vez, pelo menos
parece foi essa quantidade.
— Pare de dizer isso, — Lo diz.
Daisy agora está ajoelhada ao lado da Coco, a cachorra aninhada contra
o corpo dela. O animal é treinado para muito mais do que apenas
proporcionar conforto. Espero que ela ajude Daisy com seus problemas
noturnos e pânico.
— Eu pensei que a cachorra já tinha ganhando seu certificado, — diz
Connor. — Por que ela está correndo pelos quartos?
— Ela ainda precisa se adaptar à casa e às pessoas, — explica Ryke. —
Huskies gostam de explorar. Eu não comprei uma porra de um labrador
porque achei que Daisy gostaria mais dessa raça.
Daisy olha para Ryke com o tipo mais sincero de amor em seus olhos.
Ele conhece minha irmã tão bem.
Ryke acrescenta: — Mais duas semanas de treinamento na casa e ela
estará acostumada com tudo.
— Você não pode treinar Nutcake aqui, — diz Loren. — Você deveria
estar pegando leve.
— Número um, — Ryke começa, — não confunda a cachorra, porra.
Nós já passamos por isso - é Coconut ou Nutty. Nada mais.
Eu coloco minhas mãos nos meus quadris. — Eu coloquei uma
proposta para Coco e me lembro especificamente de ganhar dois votos.
— Eu aponto para Daisy e meu marido.
— Todo mundo só pode votar uma vez, — diz Daisy com os olhos
pedindo desculpas. — Eles contaram o meu voto com a Lily para
Coconut, e então Ryke e Loren foram com Nutty.
Todos falharam matemática na segunda série? Alô? — Ainda tenho
dois votos. Somos duas pessoas. — Eu gesticulo do meu peito para
Connor, que se aproxima de mim no quarto, seu braço deslizando ao
redor da minha cintura.
— Seu marido mudou o voto, — diz Lo com um sorriso seco.
Connor parece nada assustado pelo meu olhar fulminante. Ele deveria
estar com medo. Ele dorme comigo.
— Me diga que você ficou do lado das minhas irmãs, pelo menos, — eu
digo.
— Se eu te dissesse isso, seria uma mentira.
Minha boca cai e então eu tiro seu braço de cima de mim.
Ele está sorrindo. — Esse não foi um tipo de voto entre marido-
mulher, marido-mulher, namorado-namorada. — Eu sei o que ele quer
dizer. Todos os caras votaram juntos e eu era a dissenção entre as
garotas. Tudo bem.
— E número dois, — Ryke continua com seu irmão, — eu tenho
relaxado por praticamente dois meses. Eu não sou um maldito inválido.
Ele não pegou leve. Ele corre todas as manhãs e eu até o peguei
levantando pesos na academia do porão quando ele não deveria estar.
Ele está entediado e inquieto, me lembra muito da minha irmãzinha.
Sua coceira para escalar não pode ser arranhada por mais um mês e é
o que realmente o incomoda. Daisy me disse que nenhuma outra
atividade realmente parece preencher sua necessidade de escalar.
Connor quebra o breve silêncio. — Acho que já é hora de termos pelo
menos um cão treinado nessa casa. — Ambos os ombros de Ryke e Loren
relaxam quase instantaneamente e então Ryke mostra o dedo para
Connor, um sorriso quase preso a isso também.
— Faaiaam. — As palavras resmungadas vêm de debaixo do edredom.
— Lil quer que todos saiam. Eu também, — diz Loren.
— Ainda não. — Eu pego os contratos e os coloco de volta nas mãos de
Lo.
— Desculpe. — Daisy diz novamente, em seu caminho para fora com
Coco…nut. Eu me encolho internamente.
— Daisy. — Lo balança a cabeça com sua desculpa que não deveria
existir em seus olhos. Eu realmente amo que ele está reforçando isso com
ela, como Ryke sempre faz. Ela pede desculpas por quase tudo, apenas a
reação instintiva de ser criada por nossa mãe controladora.
Daisy assente. — Desc-ok… — Ela leva sua husky para fora da porta e
Ryke segue logo atrás.
Eu limpo minha garganta.
— Me dê um minuto, — diz Loren, tentando encontrar onde parou no
contrato.
— Eu te dei dez minutos. Isso significa muito para mim, por favor. —
Eu odeio minha própria voz. Eu estou implorando a ele agora.
Ele coça o pescoço. — Eu não posso assinar isso sem um advogado. —
Ele se levanta da cama, prestes a pegar seu celular na cômoda. Loren não
tem fé em mim desde a última vez que lidei com um contrato.
— Deixe-me lê-lo, — sugere Connor, deixando o meu lado para olhar
sobre os papéis no aperto de Lo.
Loren faz uma pausa e depois acena com a cabeça, passando-os para
seu melhor amigo. Ele confia em Connor, e talvez se eu não tivesse
estragado tudo antes, ele também confiaria em mim. Uma respiração
entra em meus pulmões enquanto espero o veredicto, esperando que
resolvamos isso em breve.
Connor lê dez vezes mais rápido que Lo, folheando as páginas
enquanto fica completamente inexpressivo. Seus olhos voam para mim
uma vez, na quinta página, mas não consigo discernir seus pensamentos,
bons ou ruins. Para Lo, ele explica, — Isto é especificamente apenas para
garantir o nome da marca como Calloway Couture Babies e não Hale Co.
Babies com o rótulo principal como CCB e uma inserção de HC.
— Sim, eu já entendi isso, obrigado, — diz ele amargamente. Lily
espreita por baixo do cobertor e murmura algo para ele. Ele murmura de
volta, e eu as ignoro, mais focada na poker face de Connor.
Um minuto depois, ele entrega o contrato para Loren. — É padrão, sem
frases vagas. Pessoalmente, eu assinaria sem precisar de outro par de
olhos, mas depende de você.
Lo hesita, folheando as páginas novamente.
Eu vou ter que implorar mais. — Por favor, — eu digo. — Temos
minutos, talvez menos. — Minha carreira de moda oscilou tanto que todo
sucesso foi acompanhado por um fracasso irascível. Eu quero ver meus
desenhos nas lojas com meu nome neles com a minha visão. Eu não
quero mentir e endossar algo que eu não acredito, que eu mal ajudei a
criar.
Eu preciso dessa vitória.
Loren volta para a cama e meu coração afunda. Ele procura nos
cobertores - acho que para dizer algo a Lily. Mas ele evita o bolo que é
claramente sua esposa. Um segundo depois, ele encontra a caneta
perdida.
Ele vai assinar.
Ele vira para a página correta. — Da próxima vez, me mande uma
mensagem de texto primeiro ou bata na porta. — Eu mal processo suas
palavras, o observando assinar seu nome. Isso me lembra que Lo sempre
esteve do meu lado com esse novo empreendimento da Hale Co. O que eu
quero, ele sempre tentou me dar.
Então, quando ele me passa o contrato, eu digo, — Obrigada. — Minha
voz muito mais suave do que o habitual. Até me surpreende. Ele balança
para trás em choque, mas acaba assentindo.
Eu não perco nem um segundo mais. Saio rapidamente pelo corredor e
desço as escadas. Eu viro e entro no escritório. Enquanto eu envio o
contrato por fax, ligo para Theo. — Tudo foi enviado por fax, — digo
antes que ele tenha a chance de falar.
— Eu estou vendo chegando. Eu não posso falar muito, mas tudo isso
parece bom para mim. — Eu ouço o farfalhar de papéis. — Eu vou te ver
na segunda-feira... espero que com um emprego ainda.
— Claro. — Essa nuvem de culpa paira sobre mim por ameaçar seu
trabalho. Nós desligamos ao mesmo tempo, mas eu não exalo um suspiro
de alívio.
Demoro alguns segundos para detectar a fonte do meu mal-estar.
Enquanto um cão anda pela nossa casa, a pequena gata malhada laranja
que abandonamos percorre o apartamento do terapeuta de Connor. Não
faço ideia se ele limpa a caixa de areia regularmente ou se esquece de
alimentá-la.
Eu não posso olhar para aquela cachorra sem me lembrar do que
fizemos, então tomo uma decisão rápida. Eu estou dirigindo para
Manhattan hoje.
E eu estou trazendo Sadie de volta.
[ 29 ]
ROSE COBALT
Eu balanço Jane no meu quadril e bato na porta do escritório, no nível
dos olhos uma placa de bronze: Dr. Frederick Cothrell. Assim que a porta
se abre, meu olhar já se concentra no alvo. Com meus saltos, Frederick é
da mesma altura que eu. Eu noto suas costeletas grisalhas desde a última
vez que eu o vi cara a cara, o tempo claramente passando rapidamente.
Exaustão também puxa as rugas pelos olhos.
— Rose. — Ele não está nem um pouco surpreso. Frederick abre mais a
porta, me dando passagem.
— Eu preciso dela, — eu digo sem esclarecer mais. Eu o sigo até a sala e
chuto a porta com o tornozelo, prendendo Jane na minha cintura.
Frederick desaba na cadeira de couro, fazendo sinal para eu me sentar
no sofá de pacientes em frente a ele. Não, obrigada.
— Eu não sou sua paciente. Eu estou aqui apenas para a minha gata.
Ele sorri, aparentemente genuíno. Pelo menos mais genuínos do que os
que o Connor dá para as pessoas. — É a gata do Connor, — ele me
lembra.
Eu respiro fundo. Sadie pode ter sido a gata dele, mas ao longo dos
anos, ela se aqueceu para mim. Eu sou a única que se importa o suficiente
para querer ela em casa. Por esse motivo, ela é tão minha quanto é dele.
— É hora de ela voltar para casa. — Eu abraço Jane um pouco mais
apertado, descansando a mão na cabeça da minha filha. Jane balbucia e
então audivelmente diz oi para Frederick. Ela até acena. Eu a colocaria no
chão, mas não ficaremos aqui por muito tempo.
Frederick acena para Jane. — Ela pode andar agora? — A maneira
como ele questiona, sinto que ele já sabe que a resposta é sim. Eu me
pergunto se Connor descreveu o evento para Frederick, como Jane
continuou tentando se levantar, apenas para cair. Estávamos todos na
sala de estar para um filme em um sábado à noite, A Pequena Espiã (a
escolha de Daisy) pausada na televisão.
Moffy continuou tentando ficar de pé também, ambos os bebês
tentando andar em direção ao outro. Eles não estavam apostando uma
corrida, apenas ansiosos para se juntar um ao outro do lado oposto do
tapete. Daisy pegou a câmera de vídeo enquanto Moffy orgulhosamente
ficou em pé e caminhou. Uma hora depois, Jane imitou seus passos.
Eu não posso imaginar Connor repetindo essa cena para Frederick, não
a pura emoção que eu vi por trás de seus olhos naquela noite. Talvez ele
apenas tenha dado os fatos a Frederick e seu terapeuta deduziu os
sentimentos do meu marido por conta própria. Isso parece mais
provável.
— Eu preciso da gata, — eu ignoro sua pergunta. Onde ela está? Eu
examino o arranha-céu de Manhattan, minha cabeça girando para a
direita e para a esquerda. Jane pega meu brinco de diamante e puxa com
força. — Aí. Porra, — eu amaldiçoo.
O lábio inferior de Jane treme, um choro iminente.
— Não você, — eu digo rapidamente, tentando suavizar minha voz
firme. — Bem, sim você. Não puxe as joias da mamãe. — Eu acaricio seus
cabelos castanhos, removendo sua faixa preta. — Tudo bem, pequeno
gremlin. — Eu desprezo quando bebês choram, mas quando minha
própria filha começa, é como uma lâmina de barbear contra cada um dos
meus órgãos internos.
Seus olhos ficam com lágrimas, mas seus lábios se fecham, seu lamento
desaparecendo. Ela funga e eu até limpo debaixo do seu nariz. O que eu
faço por ela. Eu beijo sua bochecha lisa e sussurro, — Tu es forte, ma
farouche petite fille. — Você é forte, minha pequena menina feroz.
Mesmo com as lágrimas, ela ainda é forte. Força vem em todos os
tamanhos diferentes e pacotes e moldes. Lily é prova suficiente disso.
— E você estava com medo de não ser materna, — diz Frederick como
se ele me conhecesse. Seu tom é amigável, o que torna difícil ficar
irritada.
— Você conheceu minha mãe? — Eu pergunto a ele, minha voz
tremendo com o pensamento. Claro que eu estava com medo. Eu não
sabia como criar um ser humano. Eu não sabia se poderia fazer um
trabalho melhor do que o que ela fez conosco e isso me apavorou.
E então eu pensei que trinta e cinco anos seria uma idade apropriada.
Até lá, eu teria realizado tudo o que eu precisava. Uma criança não me
impediria de quaisquer metas ou viagens ou qualquer coisa. Talvez aos
trinta e cinco anos, eu achasse que estaria pronta para o carinho que as
crianças precisam. Foi um plano.
Um plano arruinado. Destruído pelo destino. Jane foi um acidente de
proporções épicas. Eu estava no controle da minha pílula
anticoncepcional e, no entanto, eu já estava muito grávida. Eu amo
Connor e comecei a imaginar uma família com ele no futuro distante.
Esse futuro acabou sendo tão próximo - fiquei apavorada.
As pessoas estão constantemente evoluindo e aprendendo e através
desses nove meses e do surgimento de Jane no mundo, descobri mais
sobre mim mesma. Eu estava com medo de criar um menino. Alguns dias
tive medo de criar uma filha. Na maioria dos dias, eu estava com medo de
criar qualquer coisa. Quando a segurei pela primeira vez, quando meus
dedos tocaram os dela e os dela se fecharam ao redor dos meus, como se
reconhecesse quem eu era - toda ansiedade que eu nutria começou a
desaparecer.
Eu criei essa pessoa bonita com um homem brilhante e único. Não
havia nenhuma maneira concebível que eu pudesse ter medo de segurá-
la ou amá-la ou lhe dar tudo em meu poder absoluto. Então eu posso não
ser a representação perfeita de uma mãe. Eu posso não ser carinhosa e
meus abraços podem doer mais do que confortar, mas eu amo essa
garota tão terrivelmente, assim como eu me amo.
Qualquer um que me diga que estou fazendo um trabalho ruim ou que
ela merece uma mãe melhor do que eu - pode ir se foder.
— Eu conheci Samantha Calloway antes, — diz Frederick. — Ela queria
conhecer o terapeuta da filha dela.
Eu daria a minha mãe pontos extras se não fosse pelo fato de que ela
favorece todas as suas filhas menos a Lily, ela ainda não conhece a
terapeuta da Lily e já faz anos. Talvez ela esteja com medo.
Nossa mãe é parcialmente a fonte dos problemas da Lily. Ela não é
realmente a fonte dos problemas da Daisy.
— E? — Eu questiono.
— Samantha não é como você, — Frederick me diz, se encostando em
sua poltrona.
Quero brigar com ela por me acalmar, mas não consigo entender por
que ele me confortaria nesse momento. Estou aqui para levar embora
uma gata que mora com ele. Se qualquer coisa, ele deveria querer me
afugentar, não me consolar.
— É a verdade, — diz ele, vendo a minha expressão.
Eu me mexo desconfortavelmente, não gosto de quão bem ele pode me
ler, quão bem ele me conhece das sessões de Connor. — Apenas traga
Sadie aqui amanhã ao meio-dia. Eu virei buscá-la.
Ele sacode a cabeça. — Connor me disse para não a devolver, mesmo se
você dirigisse até aqui pedindo.
— Eu não estou pedindo, — eu digo. — Estou ameaçando.
— Ele também disse que você ameaçaria me causar danos corporais e
que eu deveria ficar ciente de que você gosta de hipérboles e exageros.
Eu vou matar meu marido.
Eu aperto meus olhos fechados. Sim, isso é um exagero do caralho.
Quando eu os abro, espero ver Frederick acenando uma bandeira branca.
Ele ainda está calmo, esperando para me acompanhar até a porta quando
eu estiver pronta para sair.
Ele acrescenta, — Sadie pode não se dar bem com os bebês ou com a
husky.
— Ela merece uma chance.
Ele pressiona o dedo na mandíbula em contemplação. — Por que você
a quer de volta, Rose? — Essa é a segunda pergunta que eu tenho certeza
de que ele já sabe a resposta.
Eu abandonei Sadie.
Eu desisti dela e nunca faço isso.
— Ela é muito parecida comigo, sabe, — eu digo. Sadie e eu
compartilhamos as mesmas qualidades. Somos agressivas e distantes;
nós atacamos sem pensar e temos dificuldades para deixar as pessoas
verem nossos lados suaves.
— Connor a deixou ir porque ela era dispensável para ele, — Frederick
explica. — Você não é.
Tradução: ele não vai abandonar você.
O sentimento é bom, mas Connor e eu somos diferentes. Ele pode jogar
fora as coisas quando elas não têm mais utilidade para ele. Eu não posso.
— E se ela não for dispensável na minha vida? — Eu pergunto. —
Posso tê-la de volta então?
Ele balança a cabeça, em silêncio.
Meu nariz se inflama e então Jane estica a mão para o meu brinco
novamente. Eu puxo minha cabeça para longe, e ela solta um grito maior,
um muito mais horrível do que se eu simplesmente tivesse dito não. Eu
toco seu traseiro, sentindo uma fralda molhada. — Eu voltarei para a
Sadie. — No meu caminho para fora, eu aponto para ele. — Além disso,
sua lealdade ao meu marido, embora admirável, é completamente
irritante.
Ele sorri quando saio pela porta.
[ 30 ]
ROSE COBALT
Acabo com o meu segundo appletini verde-limão. Rose bêbada está
saindo da toca hoje à noite e eu a mantenho firmemente afastada por -
bem, eu nem consigo me lembrar da última vez que passei dos meus
limites.
Essa noite é diferente.
Em um pub irlandês de Nova York, uma banda toca uma música de
rock alta, o som sangrando nas paredes de tijolos e vibrando meu
cérebro. Assim que chegamos, o pequeno estabelecimento congestionou-
se com corpos vestidos de verde, e agora lutamos para nos movimentar.
Connor tem a mão na parte inferior das minhas costas e eu percebo
que ele está me dirigindo através da multidão de pessoas que usam
colares de miçangas de plástico, pintura facial de trevo de quatro folhas,
e bandanas verdes brilhantes.
Sua palma desce para minha bunda e eu aqueço. É a bebida. Ele me
puxa para mais perto do seu lado, para evitar um cara bêbado. Seu olhar
seguro e protetor me atinge uma vez e contraio. É a porra do seu domínio.
É ele.
Seus lábios escovam minha orelha. — Você está corando.
— Eu não estou, — eu digo.
Ele apenas sorri e continua me guiando através das massas.
Demonstrações de afeto em público com meu marido está no itinerário
para o dia de São Patrício. A coragem líquida ajudará, então a intoxicação
pública também é obrigatória para mim.
Tenho certeza de que os tabloides vão amar Rose bêbada. Eu a amo
com moderação e suponho que logo ela vai sair.
É também a primeira vez que Jane vai passar a noite com minha mãe. A
ansiedade disso só me faz querer beber mais. Eu levo o copo aos meus
lábios. Está vazio. Certo…
Com o bar lotado à vista, Connor está me levando até lá. Quando
passamos por alguns rapazes com chapéus verdes brilhantes, cada um
aperta o braço ou o ombro de Connor. Ele dificilmente recua ou até
mesmo reconhece que está sendo tocado.
— Connor Cobalt, por que você não está vestindo verde?! — Alguém
grita, nos reconhecendo. Soa mais como um fã do que um jornalista.
Connor está usando uma calça cinza escura, uma camisa social de
manga longa branca por baixo de um suéter azul marinho e gravata
cinza. Ele está casual e formal, exalando confiança mesmo sem estar
usando verde - e seu cabelo castanho ondulado nunca viu um dia melhor
do que hoje. Cala a boca, Rose Bêbada.
Eu juro, se eu começar a elogiá-lo em voz alta, essa noite está
terminando sem nenhum beijo em público. Vou marchar até o hotel e
parar antes de me trair. Sem aumentar o ego dele. Isso é uma ordem.
Eu puxo a bainha do meu vestido tubinho verde escuro, o bordado de
miçangas e a cor me fazendo sentir como hera venenosa.
Eu aprovo.
Alguém belisca o braço de Connor. Lhe atiro um olhar fulminante e ele
encolhe um pouco. . Xô. Eu me inclino em Connor... quase oscilando em
meus saltos altos. — Pra que você está pagando seu guarda-costas?
Sua mão grande parece envolver meu quadril. — Para proteger minha
vida, — ele responde, seus lábios perto do meu ouvido. Imagino ele me
beliscando, só um pouquinho, e depois me puxando com mais força, para
mais perto. Eu aqueço novamente. — E eu dificilmente acho que
beliscões são tão arriscados assim.
— Isso é porque você ainda não foi beliscado por mim, — eu refuto
friamente, completando a declaração com um gole de... nada. Sério, não
consigo lembrar que minha bebida está vazia? Se controle até a bebida
quatro.
Ele ri uma vez com a minha ameaça, seus lábios se elevando em mais
diversão. — Querida, eu acho que posso sobreviver a seus ataques. —
Casualmente, tão imperceptivelmente, seus dentes roçam minha orelha e
ele morde meu lóbulo antes de sussurrar, — Eu sou indestrutível. — Ele
aperta minha bunda, apenas uma vez.
Câmeras piscam em todos os lugares, algumas de telefones, outros de
fora das janelas de vidro, é noite, às 1 da manhã - e os paparazzi nunca
ficaram tão famintos. Daisy, Ryke, Lily, Loren, Sam e Poppy estão
espalhadas pelo pequeno pub também, então eu posso ver porque eles
vão se transformar em coelhos raivosos hoje à noite.
Chegamos ao bar de madeira, mas temos que esperar que o barman
nos sirva. Eu me viro para Connor, seu olhar viajando pelo meu corpo em
uma onda longa e sensual. Seu desejo misturado com confiança
misturada com dominância é mais inebriante do que meu appletini.
Eu aperto suas costelas com a maior força que posso.
Ele sorri.
Eu estreito os olhos para ele, querendo extinguir esse sorriso que diz
nunca poderei perder. — Eu quero o divórcio, — digo-lhe incisivamente.
Seus lábios continuam a subir. Bem, isso não saiu como planejado.
— O QUE?! — Lily grita sobre a música, aproximando-se de nós com os
olhos arregalados. Loren passa o braço sobre os ombros da esposa.
— Um divórcio, — repito, colocando meu copo de martini vazio no bar.
Connor me encara e seu olhar se prende no meu, me obrigando a não
desviar.
— Essa é outra das suas batalhas nerds estranhas? — Loren pergunta.
Connor nunca desvia o olhar de mim. — Sob que motivos, querida?
— Irritação. Você está me irritando.
Seu sorriso presunçoso só cresce. Não é assim que as pessoas normais
funcionam. Eu os insulto, eles me olham com raiva. Eu os insulto, eles me
xingam. Em vez disso, Connor usa aquela expressão excitada que diz eu
vou te virar e te foder com força contra o bar.
— Desse jeito, — eu digo, o sangue bombeando entre as minhas
pernas. — Isso me irrita. — E me excita. Não consigo me decidir, mas
acho que um pode superar o outro em breve.
Seu sorriso diminui um pouco, só porque o barman se inclina para
pegar nosso pedido. Enquanto ele pede outro coquetel para mim, eu
aperto o pulso de Lily e digo a ela, — Fico feliz que você esteja aqui! —
Sua presença certamente vai diminuir a temperatura dos movimentos de
Connor e do público.
Eu honestamente não tenho certeza do quanto eu posso aguentar.
Minha mente pode implodir com sinais de pare e becos sem saída se
grandes grupos de pessoas começarem a me observar e temo que isso
possa acionar meu TOC mais tarde.
Eu realmente gostaria de não ficar tão ansiosa, já que só o cabelo dele
faz todo o meu corpo pulsar. Apetite sexual? Confere. Bloqueadores
mentais? Confere.
Lily fica na ponta dos pés para se aproximar mais. — Eu também! —
Ela grita. — Você se importa em segurar minha bolsa enquanto eu danço
com Lo?
Eu imploraria para ela ficar comigo, mas ela já colocou os olhos
desejosos em seu marido, que está falando com meu marido. Fui eu quem
a encorajou a trazer uma bolsa de qualquer maneira e minhas razões
para querer tê-la por perto são um pouco egoístas por natureza.
— Tudo bem. — Eu aceito sua bolsa roxa e a seguro com a minha
dourada.
— Obrigadaobrigadaobrigada! — Ela salta para Loren. Ele dá um
tapinha no ombro de Connor e depois levanta Lily em suas costas, indo
em direção à banda.
Connor se vira para mim de novo, e quando o álcool entra em ação,
percebo que está ficando cada vez mais difícil encarar seu olhar
autoconfiante de frente. É como se eu não estivesse mais imune ao
charme dele. Foda-se isso. Eu puxo meus ombros para trás, me recusando
a ser hipnotizada por sua postura.
Eu tenho compostura também, merda.
Eu oscilo em meus saltos.
Ele se aproxima de mim, suas mãos firmes nos meus quadris, me
puxando para seu corpo.
Eu seguro seu antebraço por apoio. — Isso foi desnecessário, Richard.
Eu não ia cair. — Eu me encolho com essa palavra. Eu não caio.
Seus lábios tocam minha orelha novamente. — Você se lembra sobre o
que é essa noite, Rose?
Sim. Suas mãos precisam estar em cima de mim. Eu confirmo com um
aceno de cabeça e seu olhar absorve o meu, cuidadosamente
assegurando que estou bem com isso.
Eu estou.
Esse é o nosso plano.
Eu gosto de planos.
— Por que você não está vestindo verde? — O barman pergunta a
Connor, deslizando meu appletini para mim e cortando nossa conversa.
Eu agradecidamente pego minha bebida.
Connor tem uma sombra de irritação em seus olhos, provavelmente só
perceptível para mim. Ele responde o barman muito casualmente. — Eu
faço minha própria sorte, então realmente, o dia de São Patrício deveria
estar me celebrando. — Ele faz uma pausa. — E eu prefiro azul.
Eu pressiono meus lábios firmemente juntos, tentando não dar um
sorriso, embora um queira aparecer. O barman solta uma gargalhada
bem-humorada. Eu não presto atenção no resto da conversa deles, um
celular vibrando na minha mão.
Está vindo da bolsa da Lily. Eu pego o celular dela, muito curiosa para
não o pegar e talvez, se eu não estivesse bêbada, eu seria mais respeitosa.
Pelo menos, acho que seria.
Uma mensagem ilumina a tela.
Olha que adorável - mãe Eu desbloqueio o telefone de Lily com sua
senha (aniversário do Moffy) e vejo a foto que minha mãe anexou à
mensagem dela. Moffy está abraçado a um cobertor azul, dormindo no
colo da minha mãe.
O que? Eu verifico meu celular - não há atualizações sobre Jane. Estou
feliz que minha mãe e Lily tenham reacendido o relacionamento delas,
mas eu gostaria de alguma coisa sobre a Jane.
— O que há de errado? — Connor pergunta, esfregando as minhas
costas. Ele olha entre os dois celulares em minha posse.
— É difícil deixá-la lá durante a noite, — eu admito. Eu sinto um pouco
de culpa por não estar com ela por tanto tempo, mas minha mãe nos
incentivou a sair. Ela queria o tempo da vovó. Eu nunca pensei que ela
fosse ficar tão entusiasmada com o papel de avó. Ela não ficou assim
quando a filha da Poppy nasceu, mas talvez o ninho vazio ainda esteja a
incomodando desde que a Daisy se mudou.
— Jane vai ficar bem, — Connor me garante. — Se você quiser voltar
para Filadel...
— Não, — eu o interrompo. Se eu voltar para casa e estragar nossos
planos, eu falho. Eu preciso abrir mão às vezes. — Eu estou perfeita. —
Eu faço questão de beber meu appletini e ele me observa com a
expressão mais impassível e estoica - em branco e ilegível e, portanto,
um pouco assustador.
Connor segura meu rosto, seus olhos dançando em torno de minhas
feições, e quando seu polegar roça meu lábio inferior, viro minha cabeça,
observando qualquer espectador. Eu vejo o barman olhando, junto com
uma multidão de pessoas, celulares com câmeras ainda virados em nossa
direção... embora a maioria está direcionada para a dança de Lily e Loren.
Connor aperta meu queixo, virando minha cabeça para ele. —
Concentre-toi sur moi. — Concentre-se em mim. Seu tom é parcialmente
reconfortante, parcialmente tão forte quanto seu aperto. Ele nunca me
empurraria para o fundo do poço se ele pensasse que eu me afogaria.
Meu pulso acelera. — Você vai me beijar? — Eu questiono, ouvindo a
ansiedade na minha voz. Eu odeio esse som. Eu engulo o resto do meu
appletini.
Ele acaricia minha cabeça, todo meu cabelo puxado em um rabo de
cavalo apertado e elegante. — Saia da sua mente, Rose, — ele sussurra.
Não é tão fácil para mim, não com tantos olhos em nós. Eu coloco meu
copo vazio no balcão e ele faz sinal para o barman novamente. Eu
percebo que ainda estou segurando o antebraço de Connor como se eu o
deixasse ir, eu cairia.
Isso não é exatamente normal para mim. Seja o maldito tubarão, Rose.
Eu vou ser. Eu vou mostrar meus dentes afiados para todos os
humanos aqui.
— Rose. — Esse não é o Connor. Ryke se aproxima do meu lado
enquanto Daisy desliza na frente do meu corpo, sentando em um
banquinho vago nas proximidades. Óculos escuros de trevos de quatro
folhas cobrem seus olhos enquanto ela está vestida com uma camiseta
que diz: Agite seus trevos. Já que ela está de costas para mim, eu não
consigo ver um sorriso.
Eu encaro Ryke.
Sua mandíbula está com mais barba, o fazendo parecer mais velho. Ele
passou a semana passada acampando com Daisy e seu husky siberiano
nas montanhas, ainda sem aprovação de seus médicos para escalar.
Daisy pensou que acampar ajudaria a aliviar a espera.
— O quê? — Eu pergunto, gelo nas palavras. Pelo menos minha
mordida ainda não desapareceu. Eu quase pego meu copo vazio e tomo
um gole. Eu me lembro de não ser uma bêbada tonta dessa vez.
Connor se separa de mim, exceto por seus dedos que mal se
engancham ao redor dos meus. Ele se inclina sobre o balcão para falar
com o barman, a música persistente afogando a conversa.
Ryke coloca a mão no meu ombro e se inclina para perto de mim, tudo
para que ele não tenha que levantar a voz. — Você tem algum Advil ou
Midol? — Ele pergunta.
Minhas costas se endireitam e meus olhos voam para minha irmã. Ela
está com os pés no banco, com as pernas dobradas no peito, sentada em
posição fetal. Quando ela balança a cabeça para mim, ela dá um sorriso
brilhante consumidor. Eu quase acredito nela, mas silenciosamente, eu a
ouço dizer, eu não quero ser a razão de você não aproveitar o dia.
— Quão ruim estão as cólicas dela? — Eu pergunto, abrindo minha
bolsa primeiro. Batom, espelho compacto, mini-perfume, maquiagem,
balas, alfinetes...
— O suficiente para ela se sentar. — Ele passa a mão pelo cabelo, me
observando cavar dentro da minha bolsa que é dois tamanhos maiores
do que a da Lily. Todos os meus itens estão bem arrumados em bolsos e
pequenas carteiras.
…Mini-kit de costura, grampos, caneta removedora de manchas, escova
pequena, carteira de motorista, cartões de crédito e débito, supercola
(que Deus proíba que meu salto alto quebre) e...
— Advil, — eu digo, lhe entregando um mini-tubo de analgésico.
Ele abre o tubo. — Está vazio.
— O que? — Eu o pego de volta e agito... para não encontrar nada
dentro. — Lily pode ter um pouco. — Eu abro sua bolsa e encontro sua
identidade, dinheiro, seu celular e preservativos flutuando.
Pelo menos ela carrega proteção.
— Nada? — Ryke diz vendo a minha careta. — Porra. — Ele geme e
olha de volta para Daisy.
— Eu vou ficar bem, — ela grita. — Está tudo bem! — Ela brinca
alegremente com seus óculos verdes reluzentes antes de colocá-los de
volta.
Ele não está acreditando e nem eu.
— Encontre Poppy, — eu digo a ele, meu estômago sacudindo com o
pensamento de eu ser tão inútil que tenho que passar essa tarefa para
outra pessoa. — Ela vai ter algo.
Ele acena com a cabeça, mais esperançoso. — Fique de olho na Dais
para mim?
— Claro. — Enquanto ele passa pela multidão para procurar por
Poppy, eu estou prestes a me separar de Connor e me juntar a Daisy.
Em uníssono, não só Connor segura mais da minha mão, mas o telefone
da Lily vibra. Minha cabeça gira por causa do álcool, distraída com o
celular o suficiente para clicar nas mensagens da Lily.
Lil. Quanto tempo demora para fazer xixi? - Lo Eu pensei que eles
estavam dançando? O álcool deve estar fodendo com o meu senso de
tempo. Já são 2 da manhã Eu viro minha cabeça de um lado para o outro
e finalmente vejo Loren do lado de fora da porta do banheiro feminino,
uma que tem cabines para que ele não entre ou bata na madeira.
Curiosamente, percorro as antigas mensagens da minha irmã. Rose
sóbria nunca faria um ato tão desleal a menos que isso ajudasse Lily, mas
a moralidade está quase desaparecida.
Sua conversa mais recente: Moffy acabou de dizer cocô! Nós temos
falado muito cocô, Lo. - Lily Eu suavizo minhas articulações congeladas.
Minha irmãzinha é preciosa e, felizmente, a primeira palavra de seu filho
não foi cocô. Foi achou. Eles têm brincado de esconde-esconde bastante
com ele.
Eu continuo lendo as mensagens.
Pelo menos ele não disse merda. - Lo Eu reviro meus olhos, e uma nova
mensagem chega, meu olhar embriagado pousando em cada palavra sem
permissão.
Por favor, só responda, para que eu saiba que você está bem. - Lo Tenho
certeza de que a Lily está bem, e se Loren não me irritasse tanto, eu
poderia responder com isso. Com a mão livre, escrevo uma mensagem
com dedos rápidos e desleixados: appletini verde.
É tão aleatório quanto eu me sinto.
Eu aperto meus olhos e vejo seu rosto se contorcer em confusão. Ele
manda outra de volta rapidamente.
??? - Lo Eu bufo sob a minha respiração, um sorriso malicioso subindo.
Vai fuder um cacto, digito e pressiono enviar… só para reler a mensagem
e perceber que mandei: Bai goder um cactua.
Sério Rose?
Lo não perde tempo, empurrando a porta do banheiro. Os flashes da
câmera disparam novamente, iluminando a área dos fundos do pub. Em
um minuto, ele sai com Lily ao seu lado, e eu vejo seus olhos furiosos
atravessarem e procurarem no local.
Eles param em mim. Lily provavelmente disse a ele que eu estou com o
celular dela. Ele levanta a mão no ar e me mostra o dedo do meio.
Eu levanto o meu e - eu acidentalmente derrubo o celular da Lily. Nada
está indo de acordo com o plano. Eu me inclino para recolher os restos.
Não esteja quebrado, eu canto com um grunhido de raiva.
Eu acho um celular perfeitamente intacto e o coloco em segurança na
bolsa dela, em seguida coloco tudo no balcão ao lado da Daisy.
— Dá uma olhadinha nisso? — Eu pergunto, a mão de Connor ainda na
minha.
Ela me dá um sorriso e um joinha, seus óculos de sol verdes
mascarando qualquer dor que ela possa estar sentindo. Estou
literalmente a segundos de pedir que nossos guarda-costas façam uma
farmácia abrir para nós. Eu até sairia e faria isso com eles.
— Eu tenho Advil! — Poppy grita, tecendo através da multidão com
Ryke e Sam atrás dela. Minha irmã mais velha e bronzeada está mais
preparada para o dia mais sortudo do ano do que eu. Seu longo e liso
cabelo caem sobre seu vestido túnica verde, pulseiras de madeira
decorando seu antebraço.
Poppy é "calma" em comparação a mim, como Loren disse antes. Eu
não estou surpresa. Quando eu era mais nova, ela sempre desaparecia no
nosso quintal para pintar, encontrando lugares tranquilos longe da nossa
mãe. Ela descobriu a calma na adolescência que ela levou para os trinta
anos.
Tenho vinte e seis anos e a calma ainda está me evitando.
Talvez seja por isso que eu tenho Connor. Assim que penso nisso, ele
acaba a conversa com o barman. Eu deslizo para perto dele e escaneio
suas mãos e o balcão atrás da minha nova bebida. Não está em nenhum
lugar.
— Você só conversou com ele esse tempo todo? — Eu questiono, meus
pés doendo. Não por causa do sapato, mas porque meus músculos estão
se contraindo.
Meus saltos não me traíram.
Connor aperta meus quadris e me puxa contra seu corpo um pouco
mais, me guiando para que minhas costas atinjam a ponta do balcão. Eu
olho por cima do meu ombro, esperando encontrar o barman fazendo
minha bebida, mas ele está ajudando outra garota.
— Rose, — Connor diz firme meu nome e simultaneamente chama
minha atenção. Eu me concentro nele, seus profundos olhos azuis quase
me comendo. Seu olhar é tão sujo quanto soa.
Você ama isso, Rose.
Eu amo, mas tem pessoas nos observando...
Ele segura meu rosto, me possuindo com um movimento forte.
— Eu não estou pronta… — As palavras picam minha pele. — Eu
preciso de outra bebida, Richard.
Ele abaixa a cabeça, seus lábios roçando os meus antes de sussurrar
algo em francês. Eu não consigo traduzir, a não ser que ele fale mais
devagar. O álcool embaralha meus pensamentos, e ele percebe a
confusão cobrindo meu rosto.
— Concentre-se em mim, — ele repete.
Eu consigo lhe dar um olhar furioso decente. — Eu estou me
concentrando.
Espero que ele me beije agora. Ele vai te beijar contra o balcão com
todo mundo assistindo. Eu me pergunto se ele pode sentir minha pulsação
acelerada, meu peito desmoronando, meio ansioso, meio em
necessidade.
Muito rapidamente, ele agarra minha cintura e me senta no balcão.
Que porra é essa.
Que porra é essa.
Minha bunda bate na superfície de madeira e as câmeras se viram em
nossa direção. Minhas pernas estão penduradas e eu aperto seus
antebraços com tanta força que minhas unhas devem estar deixando
marcas.
— Connor ...
Espero que ele me beije agora.
Ele não beija.
Em vez disso, ele se ergue sem esforço para o balcão e coloca cada
joelho em ambos os lados das minhas coxas. A multidão aplaude, e eu
observo seu rosto: seu sorriso se eleva, seus olhos só se focam em mim,
seus dedos - seus dedos retiram sua primeira camada de roupa...
puxando seu suéter sobre a cabeça, agora em uma camisa branca - ele
tira a gravata que estava usando por baixo.
Ele joga o suéter para o lado.
A banda para de tocar, deixando apenas conversas e esse evento no
balcão ser o foco dos flashes de câmeras. Todo mundo está observando-o.
Mais ele do que eu.
Esse fato começa a transformar minha ansiedade em um despertar
sexual, uma pulsação começando lá embaixo. Meu cérebro tenta registrar
o que está acontecendo, seus dedos afrouxando a gravata.
Ele agarra a parte de trás da minha cabeça com a outra mão. E muito
lentamente, para que eu entenda, ele sussurra, — Prepare-se, querida. —
Sua respiração aquece meu pescoço. — Isso pode mexer com a sua
cabeça.
[ 31 ]
ROSE COBALT
Meu corpo pulsa e ele maliciosamente prende sua gravata em torno dos
meus pulsos, amarrando-os nas minhas costas. Os gritos dentro do bar
quase me puxam para fora do momento, mas Connor descansa a mão na
minha bochecha.
— Apenas olhe para mim, — ele me lembra.
Eu aceno, confiando nele. Então ele me beija tão poderosamente,
beliscando meu lábio inferior com os dentes antes que ele se levante da
posição que estava ajoelhado.
Ele se eleva acima de mim, minha cabeça nivelada com sua virilha.
Ai meu Deus.
Eu cruzo meus tornozelos que pendem do balcão e aperto minhas
coxas juntas, a pulsação começando a doer. Meu corpo está gritando para
ele entrar dentro de mim, essa necessidade só aumenta enquanto
estamos em um pub totalmente lotado. Isso não pode estar acontecendo.
Mas está.
Ele acaricia o topo da minha cabeça com a mão, seu braço a distância
perfeita, mesmo em pé. Eu olho para ele, e ele desabotoa sua camisa com
um olhar inebriante e sedutor que intensifica o pulsar entre as minhas
pernas.
— Tira! Tira! — Muitas pessoas cantam. Entre elas estão minhas irmãs
e amigos, se aglomerados perto do balcão.
Connor puxa meu rabo de cavalo, forçando minha atenção de volta
para ele e não ao meu redor. Concentre-se, seus olhos dizem em alto e
bom som.
Seus dedos desabotoam o último botão, a camisa se abrindo para
revelar seu conjunto irritantemente definido de abdômen e aqueles
bíceps esculpidos. Meu marido está se despindo em um bar, um show
destinado a agitar a mídia, mas também destinado para mim.
Sua confiança transforma o que poderia ser um ato bobo e descuidado
em uma experiência estimulante e autoritária que, sem dúvida,
despertou meu corpo. Eu estou completamente encharcada. Eu estou
pulsando por seu pau. Sem mencionar que fico com mais tesão alguns
dias antes de menstruar e esse é um daqueles dias.
E a mão dele - sua mão protetora e possessiva na minha cabeça está
fazendo mágica em mim.
Ele joga sua camisa para o lado, agora sem nada na parte de cima.
— TIRA! — Os cantos ficam mais altos.
Suas calças... ele vai...?
Eu instintivamente quero usar minhas mãos para proteger minha boca
que literalmente continua abrindo. Meus pulsos puxam contra a gravata
me imobilizando e Connor puxa meu rabo de cavalo novamente, até que
meus olhos encontram seu olhar íntimo que empurra direto para dentro
de mim.
Eu tomo respirações superficiais e curtas.
Os cantos de seus lábios começam a levantar mais uma vez,
especialmente quando ele tira o cinto, bem perto do meu rosto. Me...
fode. Ele se aproxima, de modo que minha bochecha está quase
pressionada contra seu pênis, uns três centímetros de espaço nos
separando. Enquanto ele desabotoa sua calça, a parte de trás dos seus
dedos tocam meu nariz.
— TIRA!
Os uivos de aprovação estão no fundo da minha cabeça. Minha pele
aquece como se fossem fazer sexo no balcão. Nós vamos? Parece que ele
está me fodendo, bem aqui, agora mesmo. Todo mundo está assistindo.
Ele nunca vacila. Nunca se atrapalha. Ele age como se estivéssemos
apenas nós dois aqui, como se essa fosse a aventura mais fácil que ele já
fez.
— Connor… — Eu digo, não tanto em aviso, apenas no lugar de
palavrões e pontos de exclamação que surgem dentro do meu cérebro.
Ele puxa para baixo o cós da calça, centímetro por centímetro, revelando
o cós de sua cueca boxer.
Eu rapidamente roubo um olhar para minhas irmãs e todas elas têm os
dedos pressionados em seus sorrisos largos. Os olhos de Lily parecem
estar prontos para pular de sua cabeça.
Eu experimento internamente tudo isso e uma excitação pulsante que
grita comigo, me fode, me fode, me fode!
Connor troca as mãos na minha cabeça, me segurando com a esquerda
- para Connor, sua mão esquerda é sua mão mais dominante.
Loren vem atrás de Connor, e ele puxa suas calças e cuecas boxer o
suficiente para mostrar sua bunda nua. Connor está sorrindo para mim.
Eu devo estar usando cada emoção que bate na minha mente.
Lo belisca a bunda dele. — Feliz dia de São Patrício, filhos da puta! —
Todo mundo aplaude e levanta suas cervejas e coquetéis verdes. Ele
levanta a cueca boxer de Connor de volta, mas estou ciente de que
Connor tem minha cabeça completamente imobilizada, alinhada com seu
pênis.
Ele empurra contra a minha bochecha três vezes, meu corpo inteiro
entrando em combustão e um gemido estrangulado sai da minha
garganta, o barulho sufocado pela euforia ao nosso redor.
Eu desamarro a gravata que estava prendendo meu pulso e agarro sua
coxa com uma mão e um pouco mais alto com a outra. Sua bunda flexiona
debaixo da minha palma.
Eu congelo.
Ele se abaixa, ajoelhando de cada lado das minhas coxas novamente e
enquanto minha cabeça gira em um milhão de direções diferentes, seus
lábios encontram os meus, a força - o poder, retorna. Embora nunca
tenha deixado. Só me enche oralmente, sua língua separando meus
lábios, seus braços puxando meu peito em seu corpo.
Eu não consigo acompanhar. Eu vou para onde quer que ele está me
dirigindo. No apoio que ele me fornece. Eu apenas seguro seu bíceps, e
ele desliza para fora do balcão, me levando com ele, me colocando de pé.
Ele ainda está me beijando, ainda envolto em mim. Sim, eu penso. Ele
me manuseia da maneira que eu amo ser manuseada, e eu aceito, cada
ação, cada movimento da sua língua. Meus lábios ardem sob os dele,
minha pele corada, o álcool nem chegando perto do efeito que Connor
tem em mim.
— FAZ DE NOVO, CONNOR COBALT! — O grito ao lado invade minhas
ações, e eu aperto os olhos para a luz forte dos flashes da câmera, vindo
em ondas mais uma vez. Meu marido ainda está sem camisa, com o cinto
solto e as calças desabotoadas, mas suas calças descansam no lugar
apropriado, cobrindo a bunda de vista.
Connor segura meu rosto carinhosamente, seu sorriso crescendo mais
e mais. — Você gostou disso.
Eu bato no peito dele, ainda respirando pesado e ele mal está sem
fôlego. Ele pega minha mão e beija meus dedos. Percebo que eu nem
precisava ficar completamente bêbada para realizar uma exibição
pública de afeto maior do que a maioria das pessoas jamais se
comprometeriam em fazer.
Ele fez eu me sentir segura.
Confortável. Ele já fez isso antes, mudando a atenção para si mesmo
para que eu me acalme. Sua confiança tem um jeito de me invadir e eu
amo essa pessoa na minha frente... um homem com quem eu sempre
quero estar.
Eu coloco as palmas das minhas mãos no peito nu dele e ele coloca os
braços em volta de mim, mesmo que eu não retribua com meus braços ao
redor dele. Eu apenas mantenho minhas mãos bem aqui.
Minha eu bêbada quase quer dizer a ele, você é tão gostoso. Eu quero
transar com você. Você é muito transavel, sabe? Seu cabelo é perfeito. Seus
lábios ainda mais. Eu continuo abrindo minha boca, mas até mesmo o
pensamento de proferir um elogio excessivamente doce tem um gosto
estranho e errado.
Então eu acabo falando isso, — Eu te odeio.
Ele sorri mais. — Odeia tanto que se eu ficasse lá por mais três
minutos, você teria gozado.
Eu bufo. — Não… — Eu paro, lembrando da pulsação do meu corpo
que estava subindo em direção a um pico. Você teria gozado no balcão de
um bar, Rose. Na frente de todos.
Eu acredito nisso, mas eu apenas levando uma mão para o rosto dele
para calá-lo.
Ele aperta meu pulso e abaixa os lábios até o meu ouvido. — Eu vou
cuidar de você hoje à noite.
Tradução: Continue bebendo se quiser.
Eu quero.
E então eu vejo seus olhos deslizarem de mim e eu os sigo até Ryke.
Todos riem ao seu redor. Até a Daisy parece que se sente melhor com um
sorriso mais claro e genuíno. No entanto, ele usa um olhar sombrio e de
questionamento, preso em nós.
Diz: por que diabos eles estão fazendo isso? Eles perderam uma aposta?
Essa porra não faz muito sentido...
O que não podemos responder: estamos fazendo isso para desviar a
atenção de nossos filhos para nós.
Essa pode ser a noite em que Ryke recusa desculpas vagas e exige uma
resposta real.
[ 32 ]
CONNOR COBALT
Daisy e Rose tropeçam pelo corredor do hotel juntas, rindo bêbadas e se
agarrando uma a outra em busca de apoio. As duas tomaram doses de
tequila até o pub fechar e cantaram “My Heart Will Go On” da Céline
Dion, todas incrivelmente desafinadas.
Eu apreciaria mais todo o cenário se Ryke não estivesse ao meu lado,
silenciosamente pensando no meu strip-tease no pub. Eu praticamente
posso sentir sua mente trabalhando enquanto andamos atrás das
garotas, ele dá olhares reticentes e cautelosos na minha direção, na
esperança de que eu encontre seus olhos e regurgite cada segredo que
tenho.
Eu não sou tão fácil de quebrar.
As garotas tropeçam nelas mesmas perto da porta do nosso hotel e
caem no chão, gargalhando. Eu esfrego meus lábios, tentando não rir, já
que Rose nunca faz esse barulho. É uma raridade que vou me lembrar - é
uma que eu adoro.
Eu paro na frente delas, olhando para baixo quando elas olham para
cima. — Garotas, — eu digo, passando pra Ryke o cartão-chave do hotel.
Daisy com olhos vidrados diz, — Rose quer um cupcake. Você não quer,
Rose? — Ela acaricia a bochecha de Rose.
Rose usa um sorriso satisfeito. — Sim... cupcakes, por favor. — Ela
estende a mão, como se esperasse que eu beijasse sua aliança de
casamento ou entregasse um presente a ela.
— Que tal a cama, querida?
Ela faz uma careta para mim como se eu tivesse oferecido sujeira em
uma sacola. — Esse é um presente horrível, Richard.
Eu agarro seu antebraço e a ajudo a se levantar, mas ela cambaleia
contra mim. É mais fácil para mim carregar minha esposa, então a
levanto em meus braços e abro a porta a chutando antes que ela se feche,
então Ryke ajuda Daisy da mesma maneira.
— Decidimos ter uma festa do pijama, — Daisy declara atrás de mim,
seus braços em volta do pescoço de Ryke enquanto ele a leva para o
quarto com uma cama king-size.
Eu coloco Rose na cama do hotel e ela se espreguiça e abraça um
travesseiro. — Nenhum garoto é permitido, — Rose acrescenta uma
exigência, o que me deixa mais tempo sozinho com Ryke. Temos quatro
quartos de hotel e eu esperava que as meninas quisessem conversar
umas com as outras por mais uma hora e depois nos deixariam as
separar.
Claramente isso não está acontecendo ao meu favor.
Ryke cede e joga Daisy na cama ao lado de sua irmã. Ela ri e Rose abre
os braços como se de repente estivesse no mar, afundando no Titanic.
Seu amarrador de cabelo perdido nas profundezas do edredom branco.
Eu me inclino sobre minha esposa e penteio o cabelo para fora de seu
rosto, e seus olhos se estreitam para mim, mesmo embaçados, eles ainda
contêm calor. O sangue se acumula no meu pau. Eu sempre posso dizer
quando ela vai menstruar porque meu corpo fica mais primitivo, atraído
por todos os movimentos físicos que ela faz.
Ela emite feromônios por volta dessa época, e as substâncias químicas
geralmente me dominam até eu transar com ela - mas essa noite é
diferente.
Ela olha atentamente para os meus lábios. — Porque eu te amo?
Eu a irrito. — Se você realmente quer que eu liste todas as razões, eu
ficarei aqui a noite toda.
Ela tenta cobrir minha boca com a mão, errando completamente,
golpeando o ar ao lado da minha cabeça. Eu dou risada.
Percebo Ryke sentado na beira da cama com Daisy bêbada no colo dele.
— Grande lobo mau… — Ela levanta a mão para tocar no cabelo dele,
mas seu braço cai ao lado dela. — Me coma.
É uma declaração provocativa e intoxicada que eu faço o meu melhor
para bloquear.
Ryke abaixa a cabeça para ela, beijando Daisy uma vez... duas vezes e
então ele diz, — Todos os fodidos dias, amor.
— Cadê a Lily? — Rose me pergunta.
— No quarto de hotel dela com o Lo. — Eles estão fodendo, algo que eu
preferiria estar fazendo com Rose, em vez de fazer companhia a Ryke.
— Cadê a Poppy?
— No quarto de hotel dela com o Sam.
— Onde está Willow... e onde está o namorado dela? — Rose mexe a
mão no ar em busca de respostas. Eu aperto a mão dela.
— A irmã de Lo não quis sair, — lembro a Rose. Willow completou
dezoito anos na semana passada, mas Lo disse que ela preferia passar a
noite em seu apartamento lendo uma revista em quadrinhos. — E ela não
tem namorado. — Eu sei que Rose deve estar se referindo a Garrison.
Rose bufa e tenta acenar para mim, mas tenho a posse da mão dela. —
Eu os vi flertar, — ela diz com naturalidade, como se isso fosse prova
suficiente.
— Sua lógica não é boa, querida. — Eu puxo seu vestido para baixo
quando ele sobe pela coxa dela. Eu o deixaria onde está, mas Ryke
também está nessa cama. — Nós flertamos por anos e você nunca me
chamou de seu namorado.
Sua boca cai e os olhos queimam. — O que fizemos não foi flertar.
Eu arqueio uma sobrancelha. — Quando eu tinha dezessete anos, você
disse que queria fazer uma autópsia em mim, abrir minhas costelas e
apertar meu coração até que ele explodisse entre seus dedos. — O que é
isso - se não flertar?
Ela levanta a cabeça de um travesseiro para se aproximar de mim,
apoiando os cotovelos no colchão. — Isso foi eu odiando você, Richard.
Eu sonhei com a sua morte.
— Você sonhava em agarrar meu coração, — rebato.
— Pra matar você, — ela enfatiza.
Eu me inclino para mais perto dela, nossos olhos se travando uns nos
outros. — Vous m’aimiez. — Você me amava.
Ela respira superficialmente e colapsa de volta contra o colchão,
cedendo mais cedo, principalmente devido ao álcool. Seus olhos com as
pálpebras pesadas lutam para ficar abertos por mais tempo, apenas para
olhar para mim com raiva.
Quando me viro para olhar para Ryke, ele está encarando Rose e eu
com mais desconfiança do que eu gostaria. — Você sabe, — diz ele, —
por muitos anos, eu nunca entendi por que diabos vocês dois
ocasionalmente usam vous ao invés de tu.
Meus músculos ainda permanecem flexionados, mesmo que esse seja
um tópico sem sentido para mim.
Rose responde antes de mim. — É formal. — Nós dois não somos
nativos da França. Como normalmente só conversamos um com o outro,
falamos do jeito que a gente quer.
— Vocês estavam namorando e agora estão casados, — retruca Ryke.
— Seu relacionamento é informal pra caralho.
— Nós não estávamos sempre namorando e não estávamos sempre
casados, — eu explico agora, me referindo sutilmente aos nossos dias nas
escolas preparatórias, onde éramos concorrentes. — Começamos como
formais e agora alternamos entre os dois sempre que queremos. Estamos
bem cientes das regras. Elas simplesmente não se aplicam a nós.
Rose está sorrindo de orelha a orelha.
Ela diz que odeia quando eu sou presunçoso, mas estou mais do que
certo de que ela sente prazer com o meu eu verdadeiro, mesmo que eu
seja um idiota arrogante.
Ryke balança a cabeça como se quisesse não ter falado nada e então
Daisy rola para fora dele, para mais perto de Rose, e as meninas
começam a sussurrar juntas.
Eu me levanto da cama na mesma hora que Ryke e trocamos um olhar
de reconhecimento.
Nós vamos ter que passar um tempo sozinhos juntos, além de só passar
um pelo outro pela manhã e conversar esporadicamente por dez
minutos. Nada de Daisy. Nada de Loren. Nada que nos une.
Maravilhoso.
[ 33 ]
CONNOR COBALT
Eu termino de tomar banho depois do Ryke. Nós trocamos algumas
palavras antes de basicamente confirmar que nós passaríamos a noite
juntos neste quarto de hotel. Nós não nos odiamos o suficiente para
incomodar a recepção às 4h da manhã por um quarto extra no dia de São
Patrício. E eu não sou tolo para acreditar que Ryke iria deixar suas
suspeitas para lá se nos separássemos.
Ele vai questionar em algum momento, então ele pode muito bem
deixar isso sair hoje à noite.
Depois de escovar os dentes e colocar calças de pijama, uma luz ainda
entra por baixo da porta. Eu suponho que ele ficou acordado para me
questionar e eu não pensei que ele iria dormir sem abordar o assunto.
Saio em silêncio, passando por um guarda-roupa com um espelho na
porta e entrando na parte principal do moderno quarto de hotel: uma
escrivaninha, uma cadeira e uma cama king-size, nada mais. Antes de
Ryke me ver, eu o vejo do seu lado da cama com os joelhos dobrados,
algo escondido atrás deles.
Ele está de calça de algodão cinza, peito nu com uma tatuagem escura
no ombro, costela e quadril. Quando um de seus joelhos se abaixa, vejo a
cicatriz da sua cirurgia do transplante. Começa logo abaixo do esterno,
bem no meio de seu peito, e para antes de seu umbigo, desviando sob
suas costelas, quase como a forma da letra L.
Agora acompanha a pequena cicatriz na sobrancelha do tumulto de
Paris.
Eu nunca vi as pessoas como telas físicas das suas vidas, revelando
tempo e memórias externamente como Ryke, seja por escolha ou por
circunstância. Eu posso ser uma tela em branco, mas nem todas as
pessoas são.
Eu me aproximo e ele abaixa o outro joelho, sua cabeça se levantando.
É quando percebo o livro na mão dele. Ele está lendo. Estranhamente, eu
nunca vi Ryke ler antes.
Ele coloca o livro atrás do travesseiro. — Eu tenho que te perguntar
uma coisa, — ele tenta me distrair.
Minha curiosidade aumentou, e eu não vou deixar isso passar. Eu vou
até o lado dele da cama, e ele imediatamente fica de pé e bloqueia minha
passagem para o travesseiro, sua mandíbula endurecendo e seu rosto
ficando sombrio.
Eu nunca fui intimidado por ele.
— Eu tenho que falar sério com você, porra.
Eu sei. — Por que você está tão envergonhado do que está lendo? — Eu
pergunto, sabendo que não é sobre vergonha.
— Cai fora. — Ele franze a testa. — Eu não tenho vergonha de nada,
então não torça a história do seu jeito.
Estou torcendo do meu jeito, mas ainda não terminei. — Se você não
está envergonhado, então você não deve ter nenhum problema em me
mostrar o livro.
Seu nariz se inflama. — O que importa para você se eu ler a parte de
trás de uma garrafa de shampoo ou Ulysses?
— Eu valorizo a inteligência, — digo facilmente. — Eu acho estranho
que você esconda a sua.
— Bem, aí está. — Ele gesticula entre o meu peito e o dele. — Não
classifico as pessoas acima ou abaixo de mim com base no fato de
poderem ou não me superar em um fodido teste de matemática.
É assim que ele me vê então? Eu sacudo minha cabeça. — Você me
entendeu errado. Não estou dizendo que desprezo Lo ou Lily porque eles
não são tão inteligentes quanto eu. Eles têm outras qualidades que eu
admiro e valorizo e não tenho em mim, mas eles não escondem essas
qualidades de ninguém.
— Eu não estou escondendo, porra.
— Seu livro está literalmente atrás de um travesseiro, escondido da
vista.
Sua mandíbula tensiona. — E eu estou dizendo que aquele livro não
sou eu. Eu poderia fazer essa porra o dia todo, Cobalt.
— Está de noite, — eu corrijo.
— Você é irritante pra caralho. — Ele faz uma careta e suspira
pesadamente. Eu não movo um músculo, e está o irritando o suficiente
para que ele pegue o livro. Ele o empurra no meu peito.
Eu leio o título em espanhol. El cuento de la criada por Margaret
Atwood, uma edição estrangeira de O Conto da Aia. — Você já leu isso
antes? — Eu pergunto. Eu só li a edição em inglês, mas é muito popular e,
na verdade, um dos favoritos da Rose, um romance de ficção científica
com temas feministas.
— Sim. — Ele o pega de volta. — Eu não estou tendo um clube de livros
com você às quatro da porra da manhã, ou nunca. — Ele coloca o livro
em sua mochila.
Eu ando até a janela, as cortinas marrons abertas para uma visão
brilhante de Manhattan. — Sua inteligência não pertence à sua mãe, você
sabe, — eu digo. — É sua. Você a conquistou. Ela não fez isso por você. —
Eu olho por cima do meu ombro, e ele está parado rigidamente ao lado
da cama, quieto. Nos muitos anos em que nos conhecemos, posso contar
em apenas uma mão todas as conversas de coração para coração que
tivemos. Eu não sei porque eu trago isso à tona agora.
Talvez para prolongar a discussão sobre o meu segredo com a Rose.
Talvez porque eu realmente ache que ele pode se abrir comigo hoje à
noite.
Quanto mais olho para ele, mais tenho certeza de que encontrei a
verdadeira razão pela qual ele se fecha com tanta frequência. Eu posso
ver isso enquanto ele olha para a frente, balançando a cabeça.
— Eu fiz tudo o que meus pais pediram enquanto crescia. Toda fodida
coisa. Eu não consigo dissociar a aprendizagem de quatro línguas do
resto da merda que minha mãe empurrou em mim.
Eu juntei a maioria desses fatos através da observação, mas ouvir a dor
em sua voz começa a revirar meu estômago. Eu inclino meu braço contra
a janela, levemente desconfortável, e percebo que ele está ativando
empatia dentro de mim, que só se estende a pessoas que eu me importo.
Ele olha diretamente para mim. — Você quer a verdade. Eu fui para a
faculdade e só queria ser eu. Eu não tinha a fodida ideia de quem isso era,
mas pensei que eu descobriria. — Ele solta um suspiro irritado. — Eu
não conseguia determinar se eu amava espanhol, italiano, francês ou
russo porque ela queria que eu os amasse ou porque eu realmente
amava. Mudei de cursos cinco fodidas vezes no meu primeiro ano, então
você ri pra caralho por eu ter ido com algo como jornalismo, que eu
nunca usei, mas eu tentei quase tudo e nada parecia certo.
Eu digiro cada uma das suas palavras e a emoção por trás delas.
Antes que eu possa falar, ele continua, — Olha, ela tornou difícil pra
caralho para eu encontrar minha identidade, mas se eu pedisse a ela para
escalar, mesmo que ela não gostasse, ela ainda deixaria. Minha mãe e
meu pai jogaram mentiras ao vento e eu tive que viver com elas para
proteger a reputação deles. Eu costumava ser mais inteligente e atlético
para o orgulho deles, não o meu, mas agora eu leio por mim. Eu corro por
mim. Eu falo por mim, porra. Mas eu fui tão condicionado que sei que
algumas coisas são apenas meus pais na minha cabeça. — Ele estende os
braços. — Então há alguns idiomas que eu gostaria de esquecer.
— Quais? — Eu questiono.
— Russo... Francês. — É por isso que tentar convencê-lo a falar francês
comigo é como arrancar dentes.
Eu ando até a mesa do quarto e me inclino contra ela, minhas mãos na
superfície de madeira. — Eu não acho que você já conversou tanto assim
comigo, — eu digo. — ...Eu aprecio isso, você se importando ou não. —
Minha vida não era nada parecida com a dele.
Eu nunca tive dificuldades com a minha identidade do jeito que ele
teve. Mas alguém do nosso grupo cresceu como a “garota do sim”, igual
ele. — Você sempre se viu em Daisy, não é?
Ele fica tenso e acena com a cabeça. — Sim.
— Agora estamos de volta às respostas de uma só palavra.
Ele se senta na beira da cama. — Talvez você devesse me dizer que
porra você estava fazendo hoje à noite.
É por isso que acho que ele divulgou mais que o normal. Ele pensou
que eu faria a mesma coisa. — Eu dancei para a Rose na frente de todos
vocês. Isso não é diferente.
— Você se despiu na frente de uma porra de um bar, não só para nós
cinco, e a dança do colo foi parte de uma aposta durante o reality show.
— Ele acrescenta, — E também nunca foi ao ar na televisão. Isso foi ao
vivo.
Nunca foi ao ar porque mostraria a química física que eu tenho com a
Rose, e Scott estava tentando editar o programa para fazer parecer que
Rose estava atraída por ele, não por mim.
— E? — Eu pergunto.
— E pra que foi essa porra? Eu tenho tentado entender tudo o que
vocês dois estão fazendo, mas eu não consigo… — Ele balança a cabeça.
— Eu sei que algo está acontecendo, e estou pedindo a você como meu
amigo para me dizer.
— É melhor que você não saiba.
Ele se levanta da cama, o que me força a me endireitar. — Eu vou
acabar com você.
— É por isso que eu não posso te dizer, — eu digo calmamente, mesmo
quando ele se aproxima, irritado. — Você responderia como você está
respondendo agora e eu preciso de pessoas racionais e equilibradas do
meu lado.
— Estou supondo que Rose sabe a verdade. Você acha que ela é tão
racional assim, porra?
Meu maxilar se flexiona e eu esfrego meus lábios para esconder minha
irritação. Rose não é racional o tempo todo, mas é bem menos agravante
que Ryke. Eles têm muitas semelhanças, e as coisas que os tornam
diferentes me torna exponencialmente mais compatível com ela e
exponencialmente menos compatível com ele.
Sou mais alto que Ryke, mas ainda estamos quase no mesmo nível.
— Você não tem ideia do quanto eu quero dar um fodido soco em você
agora mesmo, — Ryke rosna. — Você precisa parar de me manipular,
Connor. Eu posso ver toda vez que você faz isso.
Eu deixei ele compartilhar, pensando que eu compartilharia em troca.
Eu não compartilhei.
O que mais me atinge de tudo o que ele diz - não é o eu quero dar um
fodido soco em você ou o você precisa parar... é ele usando o meu nome.
Ele raramente me chama de Connor ao invés de Cobalt, e quando ele faz
isso, eu posso praticamente sentir a severidade da nossa amizade,
balançando entre quebrada e completa.
Uma verdadeira amizade é uma via de mão dupla. Eu dirigi por ela com
Loren. Eu dei a ele partes vulneráveis minha, mais de mim, e ele me deixa
ver sua fraqueza. Ryke pode ter sido paredes de tijolos no começo, mas
eu sou a variável que faz essa amizade ficar parada, não ele.
— Dê um passo para trás e eu vou te dizer, — eu digo de repente. Eu
não quero manipular meus amigos. Eu não quero enganá-lo. Eu quero
algo real.
Ryke hesita. — Não minta para mim.
— Não vou, — eu asseguro a ele. — Eu prometo.
Com isso, ele dá alguns passos para longe de mim, colocando cerca de
um metro e meio entre nós. — Me deixa falar tudo antes de você
interromper. — Minha voz está impassível, não segurando notas finais de
irritação ou derrota. Passo os próximos minutos detalhando o que eu fiz
com Rose, primeiro para ajudar Moffy e enterrar um artigo, depois nosso
teste para ver se podemos redirecionar os holofotes das crianças para
nós.
Quando termino, vejo-o passar as mãos repetidamente pelo cabelo
grosso e castanho. Seus olhos se fixaram no tapete, processando a
verdade completa. A primeira coisa que ele diz, — Eu poderia ter
ajudado vocês, porra.
Se alguém me pedisse para nomear os dois primeiros atributos de
Ryke Meadows, agressivo nem estaria na lista. No coração de sua alma
está a bondade, envolvida firmemente em altruísmo que aparece em
quase todas as ações.
Eu reconheço, com firmeza, que não compartilho sua compaixão com o
mundo e com tantas pessoas, mas uma parte de mim deseja entender ele
em um nível mais profundo e humano.
— Era mais fácil para mim se você não ajudasse, — digo a verdade.
Ele exala asperamente. — É a porra do meu irmão e o filho dele. Aquele
boato foi parcialmente sobre mim. Eu poderia ter feito algo para que a
Rose não precisasse.
— Rose queria, — lhe lembro. Eu estou um pouco preocupado que ele
vai compartilhar essa informação com Lo. — Você não pode dizer a ele,
Ryke. Você percebe isso? — Isso enviaria seu irmão para um lugar
sombrio. A culpa pesa sobre o Lo mais do que me atinge, então temos que
manter em segredo qualquer coisa que o leve a beber.
Ryke coloca as mãos na cabeça e respira profundamente duas vezes.
— Por favor, confirme comigo, — eu digo, incapaz de lê-lo além de
frustração e raiva.
Ele deixa cair as mãos. — Eu nunca vou dizer essa porra a ele. Sempre
vai ficar só entre você, eu e a Rose. — Eu ouço Lo na parte de trás da
minha cabeça, brincando sobre o clube dos mais velhos.
Ele existe durante momentos como esse.
— Eu quero ajudar, porra, — Ryke me diz, dando um passo para
frente.
— Você não precisa… — Eu observo o seu punho se apertar e, em
seguida, o ângulo de seu corpo. Ele vai me socar. Eu não fujo disso.
Ele me golpeia na mandíbula, minhas gengivas pressionando meus
dentes, sentindo o gosto de ferro do sangue na minha língua. Eu não toco
meu rosto, só me viro para ele mais uma vez enquanto ele se acalma.
Ele está esperando há anos para me dar um soco. Ele se parou
inúmeras vezes antes. Suas feições relaxam, a dureza de sua mandíbula
menos aparente. Seu rosto não tem maldade, nem irritação.
Ele está contente.
Ryke acena para mim. — Amanhã você pode dizer à imprensa que eu
bati em você e que nós odiamos um ao outro ou você pode inventar outra
fodida história. — Ele caminha de volta para a cama, me dando uma
manchete para afastar a imprensa da minha filha.
Eu solto uma risada, atordoada e divertida. — Essa é a sua maneira de
me ajudar? — Eu o sigo, meu maxilar latejando, mas eu não reclamo. Na
minha vida, dei Ryke mais merda do que qualquer outra pessoa.
Porque eu sabia que ele poderia aguentar.
Mesmo assim, acrescentou uma fina camada de animosidade à nossa
amizade - piadas metade em brincadeira e metade em irritação - e agora
sinto que essa camada está lentamente sendo removida.
— Sim, — ele confirma. — Eu nunca tive uma fodida razão melhor
para bater em você até hoje. — Ele sobe de volta no seu lado e desliza
sob as cobertas.
Ele literalmente não conseguiria me socar, a menos que isso me
ajudasse. — Que bondoso de sua parte. — Eu vou para o meu lado da
cama.
— Apenas diga a palavra, Cobalt, e eu vou socar você de novo, porra. —
Ele apaga o abajur do lado dele.
Eu arqueio uma sobrancelha. — E que palavra é essa - auau?
— Vai se foder. — Sua voz está mais leve que antes.
Meus lábios se levantam e antes de desligar o abajur do meu lado, me
sinto pressionado a dizer mais uma coisa. Ele merece essa resposta em
sua totalidade. — Durante o Natal, eu disse a você que não celebrava o
Natal porque minha mãe não comemorava, mas eu nunca mencionei que
eu passava o feriado na Faust.
Ele se deita de costas, sobrancelhas franzidas em confusão e surpresa.
— Quantos caras passavam o feriado lá?
— Não muitos, e para você pode parecer solitário...
— Como isso não é solitário, porra?
— Eu passava o meu tempo correndo em direção a metas e ambições.
Eu nunca perdi um momento para considerar a solidão ao meu redor, e
até hoje, tudo que vejo são as coisas que consegui, não as coisas que
perdi. Então eu não consigo me comparar a você, não importa se eu tiro
um tempo para tentar.
Ryke olha para cima, pensando sobre isso por um segundo, e então ele
ri em realização. — Devemos ser óleo e água.
Eu sorrio. — Presumo que sou água nesse cenário.
Ryke me mostra o dedo do meio antes de se virar de novo e murmurar,
— Boa noite, Cobalt.
Com isso, eu desligo o abajur, nos cobrindo na escuridão.
*
Dez minutos de sono, meu celular vibra ao meu lado. Eu olho para a
tela iluminada e levanto meu corpo em um cotovelo.
Daisy tem dejkso sexuaol baoxo o feed sabe disso?!?$4 - Rose É uma das
piores mensagens bêbadas que eu já tive que decifrar da minha esposa.
Eu me sento e encosto na cabeceira da cama quando outras mensagens
chegam.
Leva muito tempo para ela órgãos também sabia - Rose — O que foi? —
Ryke pergunta, se sentando comigo. Sua voz não está grogue já que
desligamos as luzes há apenas alguns minutos.
— Rose está me mandando mensagens bêbada sobre a Daisy. — Eu
mal consigo entender a primeira, mas a segunda parece que ela está
falando sobre orgasmos. Eu passo o celular para Ryke.
Ele aperta a ponte do nariz no momento em que as lê.
— Traduza, — eu digo, a palavra estrangeira nos meus lábios.
— Daisy tem baixo desejo sexual. — Ele joga o celular de volta para
mim, prestes a voltar a dormir.
Com melhor contexto, traduzo a mensagem para: Daisy tem baixo
desejo sexual, Frederick sabe disso? As garotas ainda devem estar
conversando e Rose está preocupada que Frederick não tenha todas
essas informações relevantes para sua saúde.
— Ela disse ao terapeuta dela? — Eu pergunto a Ryke.
Ele ajeita o travesseiro sob a cabeça. — Sim.
Eu me pergunto se ele tem uma ideia do que há de errado com Daisy.
— O que você sabe?
— Eu não estou discutindo a porra da minha namorada com você. —
Ele rola de lado, as costas para mim.
— Ela sofre de depressão, — eu acho. Seu baixo desejo sexual e
dificuldade para ter um orgasmo aponta para isso ou para os efeitos da
medicação que está tomando. Talvez seja uma combinação dos dois.
Ele se vira para mim e eu posso ver suas sobrancelhas franzidas,
mesmo no escuro. — Frederick disse a você?
— Não, — eu digo. — Eu apenas imaginei.
Ele passa a mão pelo cabelo e depois deita de costas, olhando para o
teto. — Eu acho que sempre soube e ela também - nós simplesmente
nunca falamos isso em voz alta. — Ele solta um suspiro pesado. — Eu só
quero que ela sinta a felicidade a cada fodido minuto da sua vida, e toda
vez que eu acordo, está mais longe do meu alcance.
— Você só tem que ser paciente e gentil, — eu digo calmamente. —
Faça o que você faz agora e será o suficiente, mesmo quando não parecer.
— Normalmente, forneço a todos as palavras certas, mas não há palavras
certas para esse caso. Ele entende que não consegue consertar a Daisy e
tudo o que ele tem para dar é ele mesmo, para ficar lá durante toda a
vida dela.
Ele acena e depois se vira para o lado novamente, para longe de mim.
— Você pode por favor, parar de falar comigo agora, porra?
Eu deslizo de volta para baixo e desligo meu celular.
Eu valorizo ter detalhes, mas nunca levei em conta a emoção por trás
deles.
[ 34 ]
CONNOR COBALT
Eu estou agachado do outro lado da cozinha, quatro torres de blocos de
madeira separando as duas crianças de mim.
— Papai! — Jane chama, seus olhos azuis pingando inquisitivamente
em cada torre colorida: vermelha, azul, amarela e verde.
— Derrube os blocos, — eu encorajo, acenando para as duas crianças.
Eu mal consigo distinguir suas próximas palavras, sons ininteligíveis que
ela compartilha com Maximoff. O garotinho aponta para a torre
vermelha, como se estivesse construindo um plano com Jane.
Nessa terça-feira à tarde em particular, sou a babá designada e apesar
de estar sobrecarregado com papelada da Cobalt Inc., uso esse dia com
prazer para brincar com minha filha e meu sobrinho. Eu estou sempre à
mercê do tempo, mas eu tento não deixar isso roubar momentos raros e
preciosos de mim.
Eu coloco meu joelho no chão. — Você precisa que eu te mostre?
Jane olha curiosa para mim. Eu não tenho certeza se ela entende
metade do que eu fale, mas isso nunca me impede de falar com ela como
se ele me entendesse, o que vai acontecer um dia.
Estou prestes a ficar de pé, mas Moffy dá o primeiro passo. Mais firme
sobre os dois pés do que Jane, ele sai correndo e bate na torre vermelha.
Ele ri quando os blocos se espalham no chão ao redor dele.
— Bom trabalho, Moffy, — eu parabenizo, meus lábios subindo. —
Você sabe de que cor esses blocos são? — Ele pega um dos blocos de
madeira, a letra "A" esculpida de um lado e uma águia do outro.
Ele murmura uma palavra que soa muito perto de águia.
Eu sorrio. — Quase.
Jane aponta para a torre amarela. — Papai!
— Não está se movendo, Jane, — digo a ela. — Você tem que pegar
você mesma. É possível andar até lá, querida. Você só tem que levar seus
pés. — Eu falo um pouco mais devagar, mas no meu tom habitual,
esperando que ela processe a essência do que eu digo.
Ela bate seus lábios, incerta e confusa. Meu celular toca no meu bolso.
Eu verifico uma vez para ver que é uma mensagem. Eu te disse que
poderia ajudar, porra - Ryke Eu não olho no Twitter, mas eu vi os tweets
de depois do Dia de São Patrício, toda a viagem de Nova York passou há
muito tempo. A maioria dos tabloides especularam que eu tive uma briga
com Ryke, e então nossos fãs também acreditaram nisso. Em nosso
próprio círculo de amigos, todos, menos Rose, acham que Ryke me deu
um soco por causa de uma discussão acalorada. Não é uma suposição
fora da base, já que raramente conversamos cordialmente.
Estava fadado a acontecer, Lo me disse naquela manhã com uma
sacudida de cabeça. Vocês tiraram isso de seus sistemas?
Nós assentimos e foi isso.
Eu olho para cima quando Moffy vai para a torre azul na frente dele,
banhando as tábuas do piso com mais blocos. Ele ri e se vira para olhar
para sua prima, com os cabelos castanhos chegando aos ouvidos e a
metade em um rabo de cavalo alto, com um amarrador azul. Ele
murmura o que soa como Janie, o nome não sai perfeitamente claro de
seus lábios.
Jane balança a cada passo em direção à torre amarela. Eu coloco minha
mão na minha boca, minha garganta se fechando. Ela vai cair em um
segundo, e o instinto quase me coloca de pé, para pegá-la em meus
braços antes que ela caia no chão.
Eu me forço a ficar imóvel.
Ela não pode ter medo de andar. Haverá muitos, muitos dias em que
ela tem que fazer isso sem Rose ou eu presente e ela precisa reconhecer
que ela possui o poder de se levantar. Sem nós.
Pouco antes de chegar aos blocos, ela balança para trás, seu peso se
desloca e ela cai em seu traseiro com um tum. Seu queixo treme,
procurando por mim com olhos azuis molhados.
— Eu estou bem aqui, Jane, — eu digo.
Ela encontra meu olhar reconfortante e funga.
— Você está bem, querida. — Eu sorrio e aceno para ela. — Se você
não conseguir se levantar, poderá sempre engatinhar. Não se esqueça
disso.
Ela fala comigo incoerentemente. Eu aceno como se eu entendesse,
mas eu não tenho ideia do que sua sequência de ruídos realmente
significa. E então Moffy leva um bloco azul e outro vermelho até Jane. Ele
os bate um no outro e fala como ela, balbuciando até que Jane tenta se
levantar do chão.
Ela se levanta e corre para a torre amarela, seu rosto se quebra em um
sorriso quando os blocos desmoronam ao redor dela.
— Bom trabalho, Jane. — Eu começo a bater palmas quando meu
celular toca. Eu verifico o identificador de chamadas e o meu mundo
parece ficar mudo, silêncio abafado que é tão fácil de cortar quanto uma
sacola plástica amarrada na minha cabeça.
Henry Prinsloo.
Ele só me liga em situações terríveis, quando uma parte essencial da
minha vida está em risco de decair. Antes de atender, eu imediatamente
vou até Jane e percebo que ela está chorando.
Ela caiu de novo e dessa vez as lágrimas se acumulam, seu choro
começando a desencadear o do Moffy. Os olhos dele ficam vermelhos
quando ele a observa e seus lábios começam a tremer.
— Shh, — eu ecoo, levantando minha filha em meus braços. Eu
sussurro no ouvido dela, fazendo o meu melhor para acalmá-la. Então me
inclino para baixo, capaz de pegar Moffy no meu outro braço. Eu carrego
os dois apressadamente para a sala de estar, minha mente correndo para
vários caminhos. Eu tento formar conclusões a partir de fatos
minúsculos.
No passado, as ligações do Henry costumavam ser normalmente sobre
o Loren ou a Lily. Ele é meu contato dentro dos principais meios de
comunicação. Foi ele quem me falou sobre o artigo da Celebrity Crush
antes de ir ao ar - o artigo que duvidava, que dizia que o verdadeiro teste
de paternidade do Moffy era falso.
O que ele tem para me dizer, eu posso consertar. Igual aquele artigo.
Eu tenho o poder de juntar qualquer coisa que tenha sido desfeita. Eu
tenho esse poder.
Eu.
E eu vou juntar quem se desfazer dessa vez. Pedaço por pedaço. Nós já
passamos por isso antes. Nós podemos sobreviver de novo e de novo. Eu
só preciso agir rapidamente. Seja o que for isso, geralmente não há
margem para erro.
Meu celular toca incessantemente. Coloco Moffy e Jane em seu
cercadinho ao lado da cadeira Queen Anne, com as lágrimas
parcialmente secas. — Continuem brincando, — só continuem brincando.
Eu tento distrair ambos os bebês com bichos de pelúcia e bolas
multicoloridas espalhadas ao redor do cercado circular. — Eu já volto. —
Eu deixo a porta aberta entre a cozinha e a sala de estar com uma
cadeira, capaz de ouvi-los bem.
No último toque, atendo o celular. — Henry, — eu saúdo.
— Liguei assim que pude, — diz ele, sem ruídos no fundo. — Você tem
que acreditar em mim. Todas as agências de notícias estavam de boca
fechada até um minuto atrás.
— Você pode me enviar o artigo por fax? — Henry pode tentar ter
acesso ao servidor do tablóide e me enviar o rascunho programado. Ele é
só um produtor na GBA News, mas ele tem conexões com todos os
tabloides que eu preciso.
— Não é apenas um artigo...
Eu vasculho meu cérebro em busca de respostas, seguindo os
caminhos mais lógicos e sensatos. — Que foto é?
Eu posso comprar a fotografia.
Eu fiz isso antes.
Mais de um ano atrás, Henry me falou sobre um fotógrafo da Paris
Fashion Week. O homem tinha acabado de vender três fotos para um
tablóide bem conhecido. Elas eram todas da Daisy se despindo nos
bastidores.
Ela estava completamente nua.
Eu as comprei e as destruí com Rose, quase imediatamente e elas
nunca foram postadas em lugar nenhum.
— Não é uma foto, — diz Henry, tendo problemas para entregar as
notícias.
Eu continuo calmo, mas quero mais fatos rapidamente. — Então o que
é? — Eu pergunto. — Um vídeo, um artigo, uma fotografia, uma porra de
revista em quadrinhos - me diga.
— Está em toda parte, — diz ele vagamente. Eu agarro a borda do
balcão da cozinha, desejando que ele me dissesse com o que diabos eu
estou lidando. — Alguns dos artigos se transformaram em vídeos. — Sua
voz diminui. — A GBA vai passar a história no noticiário das sete da
noite.
Eu verifico meu relógio. Isso é daqui cinco horas, bastante tempo. —
Eu vou ligar para o...
— Não vai importar.
— Henry...
— Está em todo lugar, — ele enfatiza esse ponto. Ele ainda não diz o
que é. — Celebrity Crush está publicando em uma hora. Outros tabloides
estão falando sobre publicar mais cedo do que isso. Você não tem tempo
para fazer nada.
Ele está errado. — Me envie a história por fax.
— Eu não posso. Eu também não tenho tempo. GBA está realizando
uma reunião de equipe em cinco minutos.
Ele não diz o que é.
Se fosse centrado em Lily ou Loren, teria sido a primeira coisa que
sairia da boca dele. Qualquer outra pessoa, ele teria dito o nome até
agora. Mas se fosse eu - ele engasgaria.
Então, se eu escutar a parte mais racional do meu cérebro, ele diz que
estou prestes a ser despedaçado. — Me mande uma mensagem com os
nomes de todas as revistas e emissoras que planejam falar sobre essa
história. — Eu ouço Frederick na minha cabeça, você não é super-
humano, Connor. O mundo não vai mudar por você.
Eu me curvo para o mundo se ele não se curvar para mim, e mesmo
assim, se isso é sobre mim, eu finalmente terei que me curvar até eu
quebrar?
— Estou mandando para você agora, — diz Henry.
Um buraco cresce ainda mais no meu estômago. — Me diga, Henry, —
eu digo, — quais são os títulos que a maioria está usando? — Quase não
quero ouvir a verdade, nem mesmo quando mais preciso.
Depois de um momento de silêncio, ele diz, — Eles estão chamando
seu casamento de uma farsa.
Eu esfrego meus lábios. — Que evidencia…
— Eles têm fontes, ex… namorados? Seus namorados. Três deles, eu
tenho quase 80% de certeza. A GBA News filmou uma entrevista com um
deles. Ele está alegando que vocês dois fizeram sexo várias vezes e que
você não é hetero. Todos estão dizendo a mesma coisa - que você se
casou com Rose para esconder sua orientação sexual da imprensa.
Nós temos uma filha.
Nós temos vídeos de sexo por aí.
Repito isso como minha defesa, meus músculos se contraindo. Meus
dedos embranquecendo. — Eu tenho que ligar para meus advogados. Me
mande uma mensagem com todos que estão publicando essa notícia, —
eu o lembro antes de desligar o celular. Passei os quinze minutos
seguintes conversando com três advogados, contando fatos. Nenhuma
vez perdendo tempo para ingerir uma emoção desnecessária.
Eu digo a eles para mandarem cartas de cessar e desistir para cada
homem que está planejando quebrar o acordo de não divulgação. Eu digo
a eles que ameacem ações judiciais e multas tão íngremes que isso
deixará cada um deles na miséria. Eu digo a eles para trabalharem na
apresentação de mandados temporários, para impedir que as emissoras
e os tabloides corram as histórias.
— Não vamos receber uma liminar em tempo suficiente, — diz meu
advogado principal. — O cessar e desistir é a nossa melhor chance.
Vamos intimidá-los o quanto pudermos e manteremos você informado.
Ligue a tv nos jornais. Não tire os olhos deles até que lhe digamos que
tomamos conta de tudo.
Eu tenho quarenta e cinco minutos, talvez menos. Corro para a sala de
estar e ligo a televisão na GBA News, colocando no mudo, e abro meu
notebook para o site da Celebrity Crush. O clack clack das bolas de
plástico, os bebês brincando, é o único barulho.
Conserte isso.
Quarenta e três minutos.
Meus advogados serão melhores em ameaçar esses caras do que eu,
mas enquanto eles trabalham na liminar, eu posso ligar para as
emissoras e tabloides. Não tenho ideia de como isso aconteceu. Por que
alguns desses caras decidiram falar de repente. Quem quebrou e sob que
tipo de pressão. Mas o como não é importante agora.
Me concentrar no como vai arruinar qualquer chance que eu tenho de
controlar os danos.
No sofá, percorro a mensagem do Henry que consiste em doze nomes.
Eu ligo para o primeiro; é o segundo tablóide mais afluente, logo atrás da
Celebrity Crush. — Vamos publicá-lo com ou sem uma liminar. A Celebrity
Crush vai correr a história primeiro, assim como vários canais de notícias
do horário nobre.
— Você será severamente multado, — eu digo com força, minha voz
seca e rude, não defensiva.
— É um preço que estamos dispostos a pagar. Nós vamos ser
compensados em inscritos.
Eu ligo para o segundo nome.
O terceiro.
O quarto. — Vai ao ar em trinta minutos.
O quinto e sexto. O sétimo e oitavo.
O nono. — Seu acordo foi enterrar a manchete sobre Moffy. — Andrea
DelCorte da Celebrity Crush me diz. — Você não disse nada sobre se
proteger e eu não posso fazer um acordo com você quando não é uma
história exclusiva. Vai sair em quinze minutos por nós ou por outra
pessoa.
Você não é super-humano, Connor. O mundo não vai mudar por você.
Eu não posso parar isso.
Eu não posso evitar uma barragem de questionamento e especulação.
Eu não ligo para o décimo, décimo primeiro e décimo segundo meios de
comunicação. Eu me esforço para fazer diferente.
Eu agarro o celular firmemente ao meu ouvido, mas meu coração
bombeia mais forte, mais alto. Assim que a linha clica, eu digo, — Rose…
— Eu perco minha trilha de pensamentos com seu nome. Minha garganta
se fecha e penso - eu perdi uma conexão em algum lugar. Foi o Theo? Foi
Jonathan Hale? Foi Frederick? Eu bloqueio o fodido como. Eu tenho que
bloquear, mas eu sei que o como está parando a verdadeira dor - os
piores pensamentos.
Os que tentam me atacar.
Rose será arrastada para isso pelos tornozelos, sufocando por baixo da
maré alta de outra pessoa, e o melhor que posso fazer é segurá-la
enquanto formos para baixo. Eu nunca me imaginei me afogando antes.
Não assim. E nunca imaginei que teria essas duas opções: afogar sozinho
ou afogar junto com alguém.
Juntos.
Sempre.
Eu nunca deixaria Rose sofrer por isso sozinha.
— Jane está bem? — Ela pergunta diante o meu silêncio, preocupação
sangrando em suas palavras. Eu ouço o barulho de papéis. Ela já está de
pé, tenho certeza.
— Eu preciso que você volte para casa. — Digo a ela. — Rapidamente.
— Os paparazzi vão lotar a Hale Co., a boutique da Rose, Superheroes &
Scones, rastreando todo mundo que é próximo de mim.
— O que foi?
— Dirija em segurança, — eu digo, estoico e resoluto. Minha voz
pertence ao homem que precisa que um terapeuta diga a ele como se
sente.
— Eu estarei aí em quinze minutos. — Ela desliga, sentindo a
gravidade, mesmo que minha voz não carregue quase nada.
Eu disco o segundo número.
— Lo, — eu digo. — Eu preciso que você volte para casa. — Eu preciso
de você é uma frase que eu quase nunca uso com ninguém, especialmente
com ele. Ele precisa de mim.
Todo mundo precisa de mim.
— Eu tenho uma reunião em dez minutos. Devo cancelar ou…
— Você pode remarcar? Isso é importante.
Ele não pergunta por quê. Sua lealdade deriva de uma amizade
verdadeira, honesta e genuína, a primeira que eu realmente tive. E eu sei
- sem sombra de dúvidas - que meu passado está prestes a arruiná-la.
— Claro. — Eu o ouço começar a andar. — Eu só preciso saber se é
sobre a Lil.
— Não, — eu digo a ele. — É sobre mim. Eu te vejo em breve. — Eu
desligo, discando o próximo número.
— Ei, Connor, — diz Lily sobre um barulho que soa como a conversa
dos seus funcionários na Superheroes & Scones. — Eu estava prestes a
ligar! Como está o Moffy?
— Você pode vir para casa? — Eu pergunto, sabendo que eu tenho que
explicar um pouco mais para ela e muito mais para a minha próxima
ligação. — Algo está prestes a aparecer nos noticiários sobre mim, e é
melhor se você não estiver em público quando isso acontecer.
— Ok… — Preocupação abaixa seu tom como cortinas se fechando em
um show de comédia. — Quanto tempo eu tenho?
— Você deveria sair agora.
— Estou indo.
Minha última ligação. A linha toca três vezes antes de clicar. — Ei, —
Ryke responde em uma respiração pesada. Ele saiu para correr com
Daisy e a husky deles, mas uma “corrida” para Ryke às vezes se
transforma em uma aventura de um dia inteiro, o tempo passou sem
pressa e pacificamente, e é por isso que ele me mandou uma mensagem
mais cedo.
— Onde você está? — Eu pergunto, atualizando o site da Celebrity
Crush. Sem atualizações.
— No final da porra da rua, — ele diz. — Tudo certo? É o meu irmão?
— Não. Não é sobre Lo ou Daisy. Não é sobre a Lily também. — Ele tem
que saber que agora é sobre mim ou a Rose.
— Eu vou estar em casa em menos de dois minutos. — Sua simpatia
me surpreende, mas também me acorda. Eu nunca, na minha vida,
precisei da preocupação do Ryke. Nem por um momento.
Eu desligo o celular e espero meus advogados me darem uma boa
notícia que eu tenho certeza que nunca chegará. Moffy e Jane dormiram
em travesseiros no cercadinho. Eu me inclino contra o sofá pela primeira
vez. Estou sozinho com o silêncio e meus pensamentos violentos e
giratórios.
Eu sinto atração por pessoas.
Pelas palavras que elas falam, pelas ações que elas tomam, pelas suas
manias encorpadas e movimentos com alma. Eu sinto atração por
pessoas. Por corações apaixonados que saem de sincronia, aqueles que
pulam uma batida, que podem ser ouvidos em lugares silenciosos e
espaços violentos - eu sinto atração por pessoas.
Não há outra verdade que eu possa gritar tão alto quanto essa. E isso
não vai ajudar. Eles querem que eu me rotule para que eles me entendam
e eu nunca me defini verdadeiramente com um rótulo.
Nada consertará isso a não ser mais uma mentira.
Não é mentir para uma pessoa, que é mais fácil de engolir. É uma
declaração para milhares de pessoas. É condenar uma crença que sempre
esteve comigo, que me faz ser eu.
Então, o que diabos eu faço agora?
A porta se abre e a cachorra branca funga enquanto caminha
cansadamente até o canto da janela, deitando em seu travesseiro de lã.
Ryke emerge do hall de entrada com a Daisy. Ele joga sua mochila de
lado. — Eles estão dormindo? — Ele pergunta baixinho, apontando para
o cercadinho.
Eu aceno com a cabeça uma vez e atualizo o computador, verifico o
meu celular em busca de mensagens. Nada de novo ainda. Eu acho que
tenho cinco minutos. O céu parece escurecer do lado de fora, nuvens
rolando sobre o sol, provavelmente.
Eu me levanto quando Ryke se aproxima com Daisy. Eu abro minha
boca para explicar, mas eu vacilo, meu estômago revirando.
— Eu vou pegar um pouco de água para você, — Daisy começa.
— Não, — eu digo a ela.
Ryke passa a mão pelo cabelo, um pouco úmido da sua corrida. —
Talvez você devesse se sentar?
Daisy concorda com a cabeça, balançando nos pés.
Eu franzo a testa e escaneio sua expressão excessivamente preocupada
que combina com o do namorado, sem sombras de confusão. — Vocês
me conhecem? — Eu pergunto. É uma declaração vaga, mas eles são
inteligentes o suficiente para entender o que estou sugerindo. Eles
poderiam ter deduzido sobre o que isso é se tivessem um único fato: já
dormi com homens antes.
Ela acena com a cabeça uma vez.
Eu não entendo... — Sentem vocês dois, — ordeno.
Eles se sentam juntos na mesa de centro, cautelosos e respeitosos com
meus sentimentos. Eu permaneço me elevando acima deles.
— Quem te contou? — Eu pergunto.
Daisy torce a parte inferior de sua blusa verde-limão, inquieta. — Você.
Eu cubro meus olhos com a mão. — Não. — Ela estava sonâmbula.
Havia só uma pequena, minúscula chance de que ela se lembrasse das
coisas que eu disse quando ela acordasse.
Eu abaixo minha mão, meus olhos ardendo. Talvez houvesse um lugar
dentro de mim que queria que ela se lembrasse, e foi por isso que assumi
o risco.
— Sinto muito, — Daisy sussurra, seu rosto se contorcendo em culpa.
— Não era o meu segredo para compartilhar, mas estava pesando em
mim - e eu sabia que Ryke poderia mantê-lo também.
Eu atordoadamente me sento no sofá, meus olhos voando para cima
para encontrar os do Ryke.
Ele sabia o tempo todo que eu tinha dormido com um cara antes e ele
nunca disse nada. Ele nunca mudou comigo. Nunca me pressionou para
explicar ou elaborar. Nunca se sentiu desconfortável. Eu penso no dia de
São Patrício. Ele dividiu uma cama comigo e nunca agiu de forma
diferente.
Daisy se levanta. — Vou deixar vocês dois conversarem. Eu posso levar
Moffy e Jane para seus berços. — Ryke a observa pegar os dois bebês
cansados do cercadinho e seus olhos normalmente rígidos suavizam uma
fração quando mais eles se fixam em sua namorada.
Ele coça a mandíbula não barbeada e se vira para mim quando ela
desaparece no andar de cima. — Como isso saiu na porra da mídia? —
Como.
— Ainda não saiu...
Suas sobrancelhas se levantam. — Então está tudo bem? — Ele sabe
que não está. Eu não teria ligado para ele se estivesse.
Eu dou de ombros. — Você me diz. — Estou me referindo, é claro, ao
seu conhecimento do meu passado. Sentado nesse silêncio, com o peso
da verdade, parece um pêndulo de quarenta toneladas balançando no
meu peito.
Ele segura meu olhar. — Eu fiquei surpreso pra caralho quando Daisy
me disse o que você disse a ela, mas isso foi tudo que eu fiquei.
Eu tenho dificuldade em acreditar nisso e uso a desconfiança nos
cantos dos meus olhos.
Ryke percebe, e ele solta um suspiro profundo. — Olha, eu posso falar
asperamente, podemos discordar em mais fodidas coisas do que
podemos concordar, mas depois de anos de, eu não sei como chamar
isso… acho que a merda que nós passamos juntos... percebi que você se
preocupa com outras pessoas tanto quanto eu. Você pode distorcer isso
como quiser, mas a verdade é que metade das coisas que você já fez foi
para proteger outra pessoa. E você é bom com palavras, então qual é a
definição disso, Connor?
Altruísmo.
Uma característica que nunca reivindiquei antes. Ainda é difícil fazer
isso agora.
Ele continua, — Quando Daisy me disse que você tinha dormido com
um cara antes, fiquei chocado, mas não fiquei com nojo, porra; eu não fui
repelido. Eu não questionei seus sentimentos em relação ao meu irmão
ou a mim. Eu posso diferenciar quando alguém se importa pra caralho
com uma pessoa e quando alguém está sexualmente atraído por ela. Eu
só fiquei surpreso.
Eu esfrego meus lábios, meus olhos nublando. — Eu gostaria de poder
dizer que pensei melhor de você todo esse tempo, mas sinceramente,
achei que você colocaria uma barreira de trinta metros entre seu irmão e
eu. — Para proteger Loren. De mim.
É algo que Jonathan Hale tentou fazer, e talvez isso seja tudo ele...
talvez ele finalmente tenha conseguido. Lo sabe sobre mim. Ele me
aceita, mas imagino que as outras pessoas não serão tão compreensivas,
não entenderão meu relacionamento com ele.
Ryke sacode a cabeça e descansa os antebraços nos joelhos. — Houve
um tempo em que não confiei em você, mas nunca porque pensei que
você estivesse a fim dele. Você é manipulador pra caralho e ele é... frágil.
— Eu sei, — digo. — É por isso que eu pegava leve com o Lo quando
você era duro com ele.
Ryke acena com a cabeça, entendendo como eu só tentei impedir que
Lo caísse toda vez que Ryke precisou empurrá-lo. Nós estivemos em
conflito um com o outro por tanto tempo, discordando sobre como tratar
um alcoólatra em recuperação. Seu irmão. O meu melhor amigo.
— Então me diga, — eu digo, — se você estivesse na minha posição, o
que você diria à mídia?
— Eu diria a eles para se foderem.
— Claro que você falaria isso.
Ele quase sorri. — Vamos lá, Cobalt, você não aceita conselhos de
cachorros. — É sua tentativa de me animar - porque é óbvio para ele que
estou até os joelhos em areia movediça e afundando rápido.
— Você não é um cachorro, meu amigo. — Eu me inclino para frente
para atualizar o site da Celebrity Crush, meu notebook do lado de Ryke.
— Não mexa com o status quo.
O status quo já foi esmagado mais de cem vezes nos últimos quarenta
minutos, uma fodida carcaça do que uma vez foi. Nem mesmo eu posso
reverter o tempo para juntá-lo novamente.
Uma nova manchete aparece na página principal da Celebrity Crush e
meu mundo para, um momento inquantificável com um batimento
cardíaco estagnado.
A manchete: Connor Cobalt dormiu com homens! Casamento com Rose
Calloway sendo questionado!
Meu celular toca incessantemente, como se alguém próximo a mim
tivesse morrido. Imagino os telefonemas sendo dos membros da
diretoria da Cobalt Inc., do meu sogro e de todas as pessoas que me
conhecem, querendo uma citação ou uma resposta. Os porquês e os
comos e os quem sabia, todos se entrelaçando.
Metade do título deles é verdadeiro. Não posso negar o meu passado,
mas eles o distorceram de forma criminosa, invalidando a única coisa
que mais significa para mim.
Luto para ler o artigo, para aceitar a permanência da situação. Eu
respiro pelo nariz, meu maxilar tenso. Leia o maldito artigo, Connor. Eu
olho sem piscar para a tela do computador. Meu olhar longe,
desaparecendo além das palavras.
Eu preciso ler, mas estou com medo.
Amar alguém não é fácil. Dobra a dor. Dobra a preocupação. Dobra
sentimentos que eu não gosto em uma dose. Amar alguém é uma
complexa teia de emoções, tentando me capturar.
E eu já fui pego antes.
Quando Rose entrou em trabalho de parto, eu realmente pensei esse
pode ser o dia em que eu perderei tudo. Presos em uma avenida na minha
limusine, sua sobrevivência em minhas mãos. Eu estava apavorado com a
ideia de perder o amor. Amor - de todos os sentimentos, de todas as
coisas. É uma ideia angustiante, quase debilitante e eu tentei a afastar
quando fiz o parto de nossa filha e enquanto Rose suportava a dor.
As pessoas me chamaram de herói, mas nunca me senti mais humano.
De repente sinto uma mão deslizar no meu ombro e um corpo afundar
ao meu lado. Eu olho para a minha esquerda e Rose enrola seus dedos ao
redor dos meus. Eu peço desculpas com meus olhos, mas seu olhar
inflamado e estreito está na tela do notebook, preparada para lutar
contra as coisas que deixei passar em cima de mim.
— Você já leu? — Ela pergunta, levantando o computador do meu colo.
Eu noto Ryke em pé para cumprimentar Loren e Lily no hall de entrada.
— Ainda não, — eu respiro.
— Vamos ler juntos então, — Sua voz treme, seus olhos verde-
amarelados em chamas com destruição.
Eu a puxo para mais perto de mim, apoiando sua forma rígida no meu
corpo. Eu me concentro novamente no artigo e passo por informação que
Henry já explicou, nomes exatos dos meus exs nunca escritos ou
mencionados. Apenas "uma fonte" e "nós vamos revelar mais quando
tivermos mais detalhes" - significando que esse não é o fim.
Eu aterrisso nas palavras que mais me surpreendem. Rose inala
bruscamente, lendo também.
Fontes afirmam que Connor Cobalt sabia que a verdade seria exposta em
breve. Isso explica por que - nos últimos quatro meses - ele vem ampliando
qualquer demonstração pública de afeto por sua esposa. Para citar apenas
alguns exemplos: ele fez oral em sua esposa em um estacionamento em
janeiro, visitou um sex shop em fevereiro e realizou um strip-tease em
março.
Tudo foi uma encenação para enganar as pessoas.
O que acreditamos: eles não estão apaixonados O casamento deles nada
mais é do que um acordo comercial. A Celebrity Crush entrou em contato
com os respectivos representantes dos Calloways e Cobalts e nenhum dos
dois emitiu uma declaração ainda, mas temos certeza de que alguém se
manifestará em breve. E quando isso acontecer, estaremos aqui para
comunicar. Então fiquem ligados.
Eu fecho o notebook violentamente e me levanto, apertando a mão da
Rose na minha antes que ela possa falar. Eu a levo para fora da sala de
estar, seu corpo rígido movendo-se mecanicamente, no torpor que eu
tenho percorrido nos últimos cinco minutos.
Estou mais acordado agora. Eles estão distorcendo o nosso jogo - tudo
o que fizemos nos últimos quatro meses para proteger os bebês. Eles
mudaram o roteiro, arrancando armas das nossas mãos e as apontando
diretamente para nossas cabeças.
Nosso plano de seis meses acabou de sair pela culatra.
Eu vi as consequências e o risco. Sempre houve um custo anexado. Eu
não sou tolo em acreditar que isso era infalível. Por natureza, os testes
são destinados a falhar ou destinados a serem bem-sucedidos.
Eu nunca acreditei que iria falhar assim.
Não há mais um pêndulo de quarenta toneladas batendo em mim. São
duzentas toneladas de cimento, me enterrando ao lado da minha esposa.
— Onde vocês estão indo? — Lo pergunta quando eu passo por ele,
Lily e Ryke para subir as escadas, Rose logo atrás.
— Precisamos de um minuto. — Ou cinco. Ou uma hora.
Rose está enraizada no centro do meu ser e eu tenho vontade de gritar
- de gritar com qualquer um que tente tirá-la de mim, me esvaziando. Me
deixando sem alma e sem propósito.
Minhas defesas vacilam em minha mente.
Nós temos vídeos de sexo.
Encenado, eles dirão.
Nós temos uma filha.
Arranjo de negócios, eles vão argumentar.
Estou desesperadamente apaixonada por ela.
Quem mais pode ver isso, além de você?
[ 35 ]
ROSE COBALT
Connor fecha a porta do nosso quarto, meu cérebro em chamas. Eu estou
em chamas, meus braços tremendo de algo muito maior e mais quente
que a raiva. Meu celular toca na minha mão e eu ignoro as ligações e
mensagens de minha mãe e meu pai, colocando o celular na cômoda.
Lentamente, eu me viro para encarar meu marido, três metros nos
separando - a tensão intrincada em meus ossos sólidos. Seus olhos estão
vermelhos de tanto conter emoções, mas ele continua alto, com um
metro e noventa e cinco. Seu olhar mantém a aceitação do nosso destino
que eu acabei de consumir com ódio.
Ele estuda minha reação, a maneira como eu esfrego minhas mãos
juntas e inalo respirações curtas.
— A Lily já esteve nessa situação antes… — Eu lembro de como a mídia
duvidou do relacionamento dela com o Loren, e depois rumores de
triângulo amoroso entre Loren, Lily e Ryke apareceram. Eles saíram
ilesos disso. Então nós também podemos.
— E? — Sua voz enfraquecida bate no meu coração.
Meu nariz se inflama e eu levanto meu queixo. Meus esforços para
incutir confiança em mim parecem mais como uma máscara mal
ajustada. — O que outras pessoas pensam não importa... porque é um
pequeno boato. — Minha voz me trai, tremendo a cada sílaba. — É o que
eu disse a ela antes... que as pessoas podem dizer o que quiserem, mas
você sabe a verdade. Você o ama.
Assim que as palavras saem dos meus lábios, ele fecha o espaço entre
nós, apertando meu pulso e me puxando para seu peito. Nossos corpos
rígidos se unem e ele me agarra em um abraço firme e reconfortante,
mas vejo seus músculos do maxilar se contraindo. Ele submerge tantos
sentimentos dolorosos quanto eu.
Muito suavemente, ele sussurra, — Eu sinto muito, Rose.
Eu sufoco uma respiração. Não chore. — Você não deveria se desculpar
por isso. — Eu seguro sua camisa social, meu olhar perfurando-o entre os
olhos. Ele olha para mim com firmeza. Precisamos de armadura de
batalha. Precisamos de armas e canhões. Precisamos atingi-los como eles
nos atingiram. Vingança - vingança horripilante e que destrói alma brota
no meu cérebro carbonizado.
Connor é mais lógico.
Ele não valoriza nenhuma parte da vingança da maneira que eu
valorizo. Nos sentiremos melhor quando isso acontecer, ele não vê? Eles
vão pagar, quem o traiu, e nós vamos nos erguer novamente.
Ele cobre meu rosto, sua mão grande me cobrindo, e seus olhos azuis
profundos se derramam rudemente através de mim como uma
correnteza invisível. — Importa, — diz ele, jogando a verdade mais fria
em minha direção e um arrepio corre no meu pescoço. Ele nunca dá
falsas esperanças, não para mim. — Sinto muito que importe. Esse não é
um rumor sem fundamento como os de Lily, Loren e Ryke. A mídia tem
evidências reais que nos desacreditam, nosso casamento e nosso amor, e
a percepção pública ficará esmagadoramente contra nós, diferente de
qualquer coisa que eles enfrentaram. — Seu polegar acaricia minha
bochecha. — Isso não está perto de ser o mesmo calibre.
Eu engulo em seco, meu nariz queimando novamente. Não chore. —
Nossas empresas podem lidar com os golpes. — Calloway Couture agora
está ligada à Hale Co. Tem uma estrutura de ferro que suportará
qualquer impacto. A Cobalt Inc. geralmente é resistente e anteriormente
foi liderada por Katarina Cobalt - aposto que os membros da diretoria
são tão progressistas quanto ela era. Connor não deverá ser rejeitado por
eles.
— Não são nossas empresas que me preocupam, — ele me diz.
Tradução: Eu me importo apenas com o nosso futuro juntos.
Jane... e todas as crianças que pensamos ter ao longo do caminho.
As outras crianças podem estar fora de questão agora, mas temos Jane.
Isso afetará ela. Eu nem posso começar a imaginar o tipo de ridículo e os
julgamentos que ela enfrentará de seus colegas. Todos acreditarão que
ela nasceu de um arranjo frio e sem coração de pais robóticos e
insensíveis. Vou envolvê-la em meus braços firmes, não importa quão
rígida eu possa ser ou quão mecânica eu possa parecer, e vou protegê-la
dessa tempestade injusta o melhor que posso.
Eu digo a ele, — Você está preocupado com Jane.
— E com você.
Eu pressiono minha mão no peito dele, dando um único passo para
trás. — Eu posso lidar com isso, assim como você pode. Somos iguais.
— Não. — Ele aperta meus pulsos, me impedindo de esfregar minhas
mãos novamente.
— Não? Como assim, não?
— Eu não quero ser igual a você, — ele anuncia, sua voz terrivelmente
plana.
Meus lábios se abrem, dor arranhando meus pulmões. —Você não quer
dizer isso.
Seus olhos ficam vermelhos. — Quero dizer tudo o que eu falo para
você.
Lágrimas ameaçam cair. Não chore, Rose, porra.
— Eu quero que você seja melhor do que eu, — ele declara, me
puxando de volta ao seu corpo pelos meus pulsos. Nós podemos lidar com
isso. Nós podemos lidar com isso. Nós podemos lidar com isso. Vou repetir
isso até que se torne uma verdade e não um som de zombaria na minha
cabeça. Ele segura minha bochecha. — Olhe para mim, Rose.
Eu tenho evitado sua clareza, e ele tenta me puxar para ela.
Quando eu encontro seu olhar, ele diz, — Isto é o pior de tudo.
A citação de Rei Lear perfura minha cabeça: Nunca sofremos o pior
enquanto podemos dizer: “Isto é o pior de tudo”.
Ele não pode consertar isso.
Nós não podemos consertar isso.
— Não. — Eu tento empurrá-lo, mas ele me segura com mais força,
meu pulso doendo de uma de suas mãos.
— Sim. — Ele força. — Não há nada que possamos fazer além de
suportar isso.
— Eu vou defender meu amor por você, — eu replico, fogo queimando
meu coração.
— Como? — Ele pergunta.
Eu penso em Princesas da Filadélfia, como o reality show ajudou a
justificar o romance de Loren e Lily. Eles precisavam de uma maneira de
mostrar e validar seu relacionamento. O plano funcionou perfeitamente.
O público se apaixonou por eles depois que Princesas da Filadélfia foi ao
ar. Pessoas torciam por eles e defendiam o afeto deles. O desejo que
sentiam um pelo outro ficava meticulosamente claro a cada cena.
Loren prenderia minha irmãzinha contra o balcão da cozinha, beijando
como se respirassem vida um no outro. Ela se agarrava
desesperadamente a ele, como se ela fosse cair se não fosse pela
existência dele, e quando ela chorava, ele se agarrava desesperadamente
a ela - sustentando sua alma enquanto ela abraçava a dele.
O amor deles é emocional.
O amor deles é exterior e aparente.
Penso no nosso tempo durante Princesas da Filadélfia. Connor não foi
bem recebido pelos fãs. Mais pessoas gostavam de mim com Scott Van
Wright - um homem que eu desprezava - do que com o homem que eu
amava.
Nosso amor é interior e intelectual.
É da mente e do espírito.
Quem mais pode ver isso além de mim?
Eu nunca tive que defender meu relacionamento nessa grande escala e
Connor está repetidamente me dizendo que é impossível. Eu reconto os
últimos quatro meses. Se agirmos como Lily e Loren, aumentando nossas
demonstrações de afetos novamente - estamos fingindo.
Se agirmos como nós mesmos - somos rígidos e desapegados.
Então, vamos apenas suportar as críticas. Deixar elas rolarem de
nossas costas, não importa o quanto queime e nos marquem? — Quando
um vulcão entra em erupção, não ficamos embaixo dele, Connor.
— Para onde você sugere ir?
Eu não sei. Eu balanço minha cabeça algumas vezes. Eu estou assustada.
Estou com medo de como nosso futuro vai ser. Minha respiração falha,
e eu levanto um dedo, para ele me dar um minuto. Minhas emoções
sufocadas ameaçam sair e se apossar de mim. — Eu já volto, — eu
sussurro. — Eu preciso trocar de roupa... colocar algo melhor. — Eu aliso
meu vestido.
— Rose, — ele diz meu nome com preocupação, mas eu o deixo e vou
para o closet. Eu só preciso de um minuto. Eu ficarei bem depois disso.
Eu suportarei qualquer coisa, assim como ele.
Eu ando rapidamente para o closet, e ele fica para trás, procurando
algo no quarto. Uma vez lá dentro, fecho a porta e deixo as luzes
apagadas. No escuro, uso minha memória para encontrar meu casaco de
pele, tirando a roupa macia do cabide.
Minhas pernas se dobram no momento em que eu agarro o casaco ao
meu corpo. Meus joelhos cravam no tapete, meu peito apertado e os
pulmões atados. Eu posso ouvir a televisão de repente através das
paredes, o volume alto. Connor deve estar procurando pelo controle
remoto.
— …Eles têm uma filha juntos, mas uma fonte próxima da família
Calloway acredita que Rose teve uma filha para o Connor...
Eu grito no casaco, os sons violentos e excruciantes sendo abafados.
Meu corpo vibra em agonia, pela invalidação do meu amor e agora da
minha filha, que carreguei por nove meses. Quem eu amo mais do que
qualquer outra pessoa pode ver, saber ou até mesmo perceber.
Eu grito de novo, minha garganta crua e inflamada.
— …Há várias cenas em Princesas da Filadélfia, onde Rose declara que
ela odeia crianças. Ela nunca gostou de crianças, e seus velhos amigos da
Academia Dalton atestaram isso e falaram com a GBA News.
As pessoas podem mudar. As pessoas podem crescer. As pessoas
podem perceber que a ideia de algo é mais assustadora do que a
realidade.
Eu não tenho permissão para tudo isso? Será que eu deveria ser
idêntica ao que eu era aos dezoito anos e aos vinte e dois anos e vinte e
seis? Não posso decidir de forma diferente ou pensar de uma nova
maneira? Por que eu deveria ser a mesma?
Um ataque de lágrimas enlouquecidas caem dos meus olhos e eu grito
algo que se origina no meu núcleo. Sinto um raio de luz no closet, mas
logo a escuridão toma conta novamente, a porta se abrindo e fechando
suavemente.
Eu não posso parar o sistema hidráulico, mesmo se eu tentasse. Eu
solto minhas emoções, a televisão fraca no fundo e eu sinto Connor se
ajoelhando atrás de mim. Seu peito forte se contrai contra minhas costas,
inclinando-se para frente ao longo da minha coluna curva para sussurra,
— Vous êtes en sécurité avec moi. — Você está segura comigo.
Seus braços deslizam ao redor dos meus quadris, me segurando com
um cuidado que ninguém mais verá, esses momentos mantidos em
closets escuros. Eu grito uma última vez, cada ferida aberta rasgando e
abrindo um túnel através de mim.
Seu peito sobe e cai mais profundamente e ele me aperta com mais
força. Eu tremo, minha garganta queima e ele me vira para o corpo dele.
Nossos membros perdidos no escuro. Eu simplesmente sinto ele me
puxando para o seu colo, minhas pernas abertas, uma de cada lado do
seu corpo, uma das suas mãos descansando na minha coxa. Ele guia
minha cabeça até a curva de seu ombro, minhas lágrimas silenciosas
molhando sua camisa.
Nossas respirações pesadas enchem o silêncio.
Ele beija minha testa, seus lábios roçando minha bochecha. — Eu não
trocaria nosso amor por nenhum outro.
Um tremor passa pelo meu corpo, e eu levanto minha mão e sinto ele,
minha palma deslizando no seu pescoço, sua mandíbula...
Ele aperta a mão sobre a minha, levantando meus dedos mais alto em
sua bochecha, onde eu quero estar. Eu levanto a cabeça do peito dele,
sentindo meus lábios se aproximando dos dele no escuro.
Eu sussurro, — Eu posso ouvir nossos corações se quebrando.
Uma lágrima molha a ponta dos meus dedos, suas lágrimas e sua outra
mão envolve meu rosto, do jeito que a minha faz com o rosto dele. Seus
lábios quase roçam os meus. — Vou proteger seus ouvidos do som dos
corações se partindo.
Meu peito incha. — E o que acontece quando eu quiser ouvir sua voz?
— Eu vou sussurrar através de todos os sons angustiantes. — Ele fecha
os lábios sobre os meus, uma vez, antes de murmurar, — Tu m’entendras
toujours, où que je sois. — Você sempre vai me ouvir, não importa onde eu
esteja.
Ele moldou minha vida, me moldou completamente e penso nele em
todas as ações, em todos os pensamentos extraordinários ou comuns. Eu
me pergunto o que ele faria ou o que ele diria. Eu sou independente,
autossuficiente e singular - eu sou todas essas coisas enquanto carrego e
sinto e vivo o amor.
— E você ainda vai pode me ouvir? — Eu pergunto, uma respiração
entre os nossos lábios.
— Toujours. — Sempre.
Eu escovo a umidade em sua bochecha, as lágrimas mais raras que
meus dedos já sentiram, escondidas nos confins da escuridão. — Estou
aqui para você, — lembro-lhe. — Eu vou ficar ao seu lado, o que você
quiser dizer à imprensa. — É a sexualidade dele, ele tem que escolher e
se ele preferir mentir sobre seu passado ou se ele preferir tentar explicar
a verdade - eu apoiaria ele igualmente e com todo o vigor.
Ele fica quieto por um longo momento, seu polegar acariciando meu
rosto coberto de lágrimas. Eu me preocupo que ele ache que seria melhor
me deixar ir. Para se desvencilhar de mim e da Jane e lutar contra isso
sozinho.
A escuridão esconde as respostas nos vincos de seu rosto. Eu só posso
senti-lo contra mim, seus músculos firmes e seus olhos molhados.
Então eu pergunto, — Você preferia se afogar comigo embaixo de um
rio ou queimar comigo em chamas?
— Nenhum dos dois, — ele sussurra.
Estamos juntos nessas escolhas, não importa de que maneira nós
falhamos - estamos juntos. Eu não entendo... — Você tem que escolher
um. — Uma dor pesada e fria pesa contra mim.
Seus dedos desaparecem no meu cabelo, segurando meu rosto, seus
lábios tão próximos. — Eu vou morrer com você quando estivermos
velhos e enrugados e de cabelos cinzas e eu vou viver com você todos os
dias até lá. Isso é o que eu sempre vou escolher.
Eu aceno com a cabeça, meus ombros relaxando, mesmo que ele não
possa ver. — Você vai morrer comigo então. — Eu respiro. É uma
tragédia de Shakespeare no seu melhor, e eu quase posso sentir seus
lábios se levantando, apenas por uma fração, pensando nisso.
— Sim querida. Eu vou morrer com você. — E ele me beija,
poderosamente e com força. Ele recua para sussurrar, — Mas não hoje.
Ainda assim, acho que nós dois reconhecemos que esse alvoroço da
mídia começou a nos machucar, muito mais do que qualquer coisa antes.
[ 36 ]
CONNOR COBALT
— Não pisque, — diz Rose, pingando colírio nos meus olhos enquanto eu
me sento na nossa cama. Eu faria isso sozinho, mas Jane está dormindo
em meus braços e toda vez que a coloco no berço, ela acorda e chora.
— Você está gostando disso, — eu menciono, me referindo a ela se
elevando acima de mim.
Seus lábios vermelhos nunca puxam para cima. — Eu não estou.
Eu estendo a mão e a seguro pela cintura, seu corpo moldado em um
vestido preto elegante, seus olhos verde-amarelados acentuados com
rímel e delineador. Ninguém imaginaria que Rose estava chorando a uma
hora atrás - e que meus olhos iriam arder e vazar em acompanhamento.
Ou que uma dor estranha e desconfortável ainda me atormentava.
— Pisca, — diz ela.
Eu pisco, algumas vezes, as gotas acalmando meus olhos crus e me
levanto com Jane no braço.
Rose toca os dedos minúsculos e delicados de Jane, os lábios da nossa
filha se separam com respirações profundas. Sua fragilidade, sua pureza,
me lembra que somos os únicos que podem protegê-la durante esse
tempo.
Eu nunca pensei em proteger uma criança das dores da realidade.
Minha mãe nunca me protegeu no início da adolescência. Você é mais
esperto por causa disso, ela disse. Eu aprendi a desligar meus
sentimentos. Perdi toda empatia por alguém que não fosse eu mesmo. Eu
precisava que o Frederick me lembrasse que sou humano.
Eu prefiro que Jane acredite em fadas e magia do que seguir meus
passos, eu percebo. Eu preferiria que ela fosse mais parecida com a mãe
do que comigo.
Temo que cinegrafistas a traumatizem. Temo que a inocência dela seja
quebrada mais rápido do que deveria ser. Esses medos estavam no fundo
do meu cérebro, mesmo enquanto estávamos encenando nosso teste de
seis meses. Agora eles estão na frente.
Minhas duas prioridades são Rose e Jane. O que acontece comigo no
processo, eu não me importo tanto quanto costumava importar.
— Pronto? — Rose pergunta. Todos estão esperando na sala de estar
no andar de baixo, nossos assessores, seu pai, sua mãe, suas três irmãs,
Sam, Ryke, Loren e o filho dele. Antes de encarar o mundo, tenho que
encarar as pessoas mais próximas a nós.
E a gravidade da situação é clara com um fato: isso se tornou um caso
familiar extenso.
— Espera, — eu digo a Rose. Eu penteio o cabelo dela sobre um ombro.
Ela inspira estritamente, com as clavículas salientes.
Eu beijo o pescoço dela e ela agarra meus braços. Eu beijo a linha de
sua mandíbula e a suavidade de sua bochecha. Ela pode ser hesitante e
rígida, mas essa mulher na realidade é a mesma mulher das minhas
fantasias. Ninguém mais pode entender isso, mas muitas pessoas nunca
vão me entender.
— Eu te amo, — eu sussurro antes de beijar sua testa, minha mão livre
segurando seu rosto.
Seus olhos verde-amarelados se estreitam, queimando um buraco
através de mim. Os cantos dos meus lábios começam a subir.
— Eu não posso chorar de novo, Richard. — Ela tem medo de isso
acontecer, e ela acabou de passar rímel.
Eu sorrio mais. — O amor faz você chorar?
— Nem todo amor.
— Só o nosso, — eu digo, como se segurasse um prêmio de primeiro
lugar.
Ela cobre meus lábios com a palma da mão. Rose nunca se afasta de
mim. Nos aproximamos, nossa filha entre nós. Quando ela deixa cair a
mão, eu ainda uso um sorriso desenfreado.
— Por que você está sorrindo assim? — Seu olhar voa para os meus
lábios.
— Porque eu amo tudo em você. — Agora estou pronto.
***
***
***
— Por favor, Lil. Estou bem. Tudo bem… — Lo tenta acalmar sua
esposa com um abraço e ela enxuga as lágrimas repetidamente, tentando
se recompor por ele. Ele favorece a mão direita, todos nós juntos na
cozinha.
— Eu sei - eu só... eu posso dizer que está machucando você. — Ela
esfrega suas bochechas manchadas, cheias de culpa que ela está
chorando em face da lesão dele.
Eu procuro os armários da cozinha por qualquer analgésico com Rose.
E Daisy fecha um saquinho de plástico com gelo, passando-o para Lily,
que o entrega a Lo.
Eu bato ombros com Ryke enquanto ele se dirige para a geladeira e nós
dois trocamos um olhar que diz você estava no meu caminho primeiro
antes de retornar ao nosso curso natural.
— Minha mão mal dói, — Lo diz a ela e ele tenta fechar os dedos em
um punho, mas ele se esforça para mover suas articulações.
— Não faça isso! — Lily segura o braço dele parado, os olhos grandes e
arregalados. — Você não precisa provar nada para mim, Lo.
Lo acena com a cabeça uma vez.
Eu realmente quero levá-lo para o hospital agora. A parte lógica de
mim - que é quase tudo de mim - combate sua decisão de permanecer na
casa.
Rose e eu acabamos no mesmo armário inferior, agachados e
vasculhando recipientes de plástico por qualquer coisa que possa ajudá-
lo.
— Eu não queria interromper seu filme por tanto tempo, — exclama
Lo. Ele se vira para Willow, que se senta contemplativamente no banco
do balcão, observando tudo com olhares respeitosos e tímidos. — Você
está tendo um dia de merda.
Willow levanta os óculos de armação preta. — Ser largada no dia do
baile não é tão ruim quanto quebrar a mão.
As maçãs do rosto de Lo se afiam, rangendo os dentes. — Tudo
depende. — Para Lo, a dor emocional sempre supera a dor física.
Rose me entrega uma cesta nova e eu rapidamente folheio os remédios
e os descongestionantes, não encontrando nada mais forte que Advil.
Rose rosna baixinho e ela olha por cima do ombro para Lo.
Eu também.
— Eu estou levando ele em vinte minutos, — diz ela sob sua
respiração.
Eu comentaria que eu o levaria em dez, mas a maneira como Lily tem a
mão em sua cintura, silenciosamente o guiando em direção à porta da
garagem - acho que vai demorar só mais cinco minutos até ele ir para o
hospital.
Rose e eu ficamos juntos com nada mais do que um pote de Advil. Eu
pego algumas pílulas e as passo para ele. Daisy é rápida para pegar um
copo de água.
— Vocês todos podem seriamente parar de enlouquecer?
— Eu não disse uma palavra, — eu menciono.
— Exatamente, — ele retruca.
Ryke está ocupado fazendo um sanduíche de peru, colocando alface em
cima da carne, e eu não posso acreditar por um segundo que este é um
ato egoísta para alimentar sua própria fome.
Daisy pula no balcão ao lado dele, balançando as pernas. — Vocês já
assistiram A Jovem Rainha Vitória antes? — Ela pergunta a Ryke, Lo e eu,
uma distração fácil para aliviar a tensão.
— Isso é o que vocês estavam assistindo? — Lo pergunta com um
sobressalto. Ele olha para Willow. — Você deixou Rose te convencer a
ver um filme chato?
Meu celular toca no meu bolso.
— Eu não sei… quadrinhos me fazem pensar em Declan, então Rose
sugeriu algo diferente. Eu gosto até agora.
O rosto de Lo aguça, todas as linhas severas. — Não deixe ele arruinar
os quadrinhos para você, Willow. Isso é uma merda da parte dele. Ok?
Willow acena, mas olha solenemente para o balcão, e eu não posso
mais ignorar meu celular. Eu checo a mensagem.
Você está livre? Venha em 5 min. Dois dos meus amigos de L.A. estão aqui
e nós vamos fazer algo — Scott Eu tenho que dizer sim.
Eu olho para cima e a vida ainda está se movendo no mesmo ritmo.
Ryke corta metade de seu sanduíche com uma faca de manteiga e ele
atravessa a cozinha para dar a Lo.
— Obrigado, mano. — Lo aceita a comida com a mão esquerda.
Quando Ryke retorna, ele corta metade do sanduíche mais uma vez e
passa um quarto para Daisy. Ele sobe no balcão ao lado dela, comendo o
que resta. Eles costumam compartilhar comida, mas esse gesto hoje me
lembra o quão próximo eles são e como são parecidos.
— Seu celular, — Rose me diz.
Ele vibra novamente, e ela vê a próxima mensagem piscar na tela.
Nós vamos começar sem você — Scott Eu não tenho certeza do que
‘começar’ implica, mas eu sei que tenho que estar lá. Eu posso ter os
vídeos de sexo, mas está faltando uma certa vitória esmagadora que tira
Scott de nossas vidas, garantindo que nunca mais teremos que vê-lo
novamente.
É um processo delicado que acho que pode surgir hoje de todos os
dias. Se seus amigos de L.A. estão aqui, ele pode estar disposto a fazer
algo ilegal para entretê-los, e é claro que eu estou convidado.
Eu sou seu melhor amigo.
— Eu tenho que ir, — eu sussurro para ela.
Ela assente com a cabeça, os ombros puxados para trás e os olhos em
chamas, como se quisesse enfrentar Scott, que está do outro lado da rua,
em uma casa tão próxima da nossa. Eu tenho que ir, eu penso.
E eu não quero me separar dela. Eu preferiria ficar aqui e ser
incendiado, mas com base em fatos - baseado na chegada de seus amigos
- eu sinto que é agora. A última vez que tenho que aguentar sua presença.
— Eu vou estar aqui para você, — diz ela, me dizendo que vai estar
nesta casa.
Ela estará muito mais próxima do que isso. Não tenho dúvidas de que
ela estará na minha cabeça, bem ali comigo, mesmo quando estiver
doendo. É o que eu preciso.
Eu ando pelo hall de entrada e em seguida, abro a porta. No meu
caminho para rua, vejo um rosto familiar correndo pra cá. Quando ele se
aproxima, noto as calças pretas formais, a blusa social branca e um
buquê de flores.
Garrison Abbey.
Quando voltamos para a Filadélfia depois da casa do lago, deixamos
Garrison na casa de seus pais, então ele teve que enfrentar a reprovação
de Faust. Willow disse que ele vai se inscrever no Maybelwood
Preparatory no próximo ano, a uma hora desse bairro, ironicamente, na
mesma escola que Ryke foi.
Nós nos encontramos abruptamente na calçada da entrada de carros
de Scott e ele estranhamente fica parado em vez de continuar andando,
como se esperasse que eu lhe dissesse que ele está fazendo a escolha
correta.
— Onde você está indo? — Eu pergunto a Garrison, embora eu tenha
cem por cento de certeza de seu destino e seus planos. As flores. O traje
formal. A data. Tudo aponta para o baile.
Ele penteia a mão pelo cabelo castanho. — Algum babaca deu o bolo na
Willow, então eu decidi que iria convidá-la para sair… — ele diz,
estudando meu rosto em branco por uma reação.
Eu não uso nenhuma. O sol está começando a se pôr. — Você tem
algumas horas antes do baile começar.
Garrison aponta para mim com suas flores, suas feições se
contorcendo em confusão. — Você sabe… as pessoas ainda falam sobre
você na Faust. Os veteranos disseram que você tinha uma resposta para
tudo - que você era algum tipo de prodígio.
Um prodígio. Eu quase rio. Estou satisfeito em saber que essa versão
imortal e piedosa de mim ainda flutua nos dormitórios e nos corredores
de Faust. Estou ainda mais satisfeito sabendo que o homem vulnerável
permanece nos braços de Rose, minha linda e apaixonada esposa.
— Aqui está a minha resposta para você, — digo a ele. — Chame sua
amiga para o baile sem motivos egoístas, sem motivos vãos, nada menos
do que porque você a admira e porque prefere passar dois minutos
sentado ao seu lado em um baile do que cinco horas na companhia de
qualquer outra pessoa.
Suas sobrancelhas se apertam em contemplação, como se tudo
clicasse. Eu gosto muito dela. Estou fazendo a coisa certa.
Garrison e Willow aparentemente nunca seriam amigos. Ela está
sentada com um macacão desbotado, uma camisa azul com estampas de
morcego e óculos escorregadios no nariz. Ela é introvertida e estudiosa.
Ele é rebelde e exilado.
Seus interesses únicos podem não se alinhar, mas algo no âmago de
seus corações se alinha - e isso faz a diferença.
Estou ficando sem tempo, então começo a subir a entrada íngreme.
— Onde você está indo? — Garrison pergunta.
Eu olho por cima do meu ombro uma vez. — Esclarecer as coisas.
Ele acena para mim. — Boa sorte.
Eu sorrio. — Eu aprecio o sentimento, mas eu não preciso de sorte. —
Eu me viro e caminho sem vacilar para o meu destino.
Foda-se a sorte. Passei meses me preparando para isso, para me
colocar nessa posição no tabuleiro de xadrez e em um golpe, posso
finalmente derrubar o oponente mais detestável que já enfrentei.
Não há sorte nos meus movimentos finais.
O crédito é todo meu.
[ 59 ]
CONNOR COBALT
Eu pego uma cerveja de Scott e sento no sofá ao lado de Trent. Ele é um
fotógrafo de moda de trinta anos de idade, de L.A., suspensórios pretos e
o bigode são evidências disso o suficiente. Eu só o conheço pelo
constante lembrete de Scott de que Trent transou com Daisy depois de
uma sessão de fotos, anos atrás.
— Scott diz que você é de boa, — diz Trent, mordendo o final de um
palito de dente.
— Em que sentido? — Eu tomo um gole de cerveja.
— Você está no jogo para qualquer coisa, você não leva a vida muito a
sério, esse tipo de coisa.
Minha vida é séria para mim. Importa. Eu estou sentado em uma gaiola
de bufões, agindo como um porque eu não consigo imaginar Scott
existindo por tempo não quantificável no meu mundo. Eu estou dando a
ele mais trinta minutos, e então ele está fora.
— Soa como eu, — eu digo com um sorriso no meu próximo gole.
Scott entra na sala de estar com um controle remoto na mão. — Simon
ainda está cagando? — Ele pergunta.
O melhor amigo de Trent tem vomitado no banheiro desde que
cheguei. — Ele cheirou muita cocaína antes da viagem de avião, — diz
Trent. — Eu disse a ele que você tinha extra, mas ele estava convencido
de que passaria dois dias sem.
— Idiota. — Scott se senta na cadeira quadrada e moderna. Ele muda a
televisão para uma entrada que conecta seu computador à tela da TV. —
Escolha um número de um a sete.
— Eu ou Connor? — Trent pergunta.
— Ou um ou outro. — Ele percorre uma lista de reprodução de vídeo
rotulada com apenas números de um único dígito e eu vejo seu cursor
acender cada um em tentação.
1
2
3
4
5
6
7
E ele vai no começo de novo, esperando nós escolhermos. Eu olho para
Trent e ele dificilmente parece perplexo com os vídeos. Eu presumo que
ele tenha visto alguns, senão todos, antes.
Então eu digo, — Você escolhe.
Trent estreita os olhos para os números. — ...não consigo lembrar do
vídeo em que ele diz a ela para se despir.
— Ela está nua do quatro ao sete, — responde Scott, o cursor
iluminando esses números.
4
5
6
7
Eu estico meu braço sobre o sofá, mas aperto meu celular com mais
força. Eu tenho uma ideia do que é isso agora, e eu tenho que dar uma
desculpa insuspeita para sair rapidamente. Eu toco meus lábios com meu
celular em uma falsa contemplação. — Vocês dois sempre fazem isso no
seu tempo livre? — Eu pergunto com um sorriso blasé.
Eu esperava que suas atividades ilegais começassem e terminassem
com drogas. A resposta que martela meu cérebro tem consequências
ondulantes e se eu fizer algo errado uma vez, isso explodirá na minha
cara.
— Cara, quando você ver o que Scott tem, você vai desejar que ele
tivesse te mostrado mais cedo, — diz Trent. — Não é melhor que a coisa
real, no entanto. — Ele ri e dá um tapinha no meu ombro enquanto bebe
sua cerveja, confirmando que ele realmente fodeu quem quer que esteja
nessas fitas.
Scott murmura, — Bastardo sortudo.
Daisy.
Tenho noventa e nove por cento de certeza. Eu tinha apenas vinte por
cento quando Scott falou sobre ela e sexo oral, e eu tinha setenta por
cento de certeza no minuto em que ele mencionou os vídeos numerados.
Mas agora eu sei.
Daisy é o um ao sete. Há tantas razões pelas quais eu nunca iria assistir
isso. Porque eu não posso. Por que me deixa fisicamente mal só de
imaginar Scott, Trent e quem quer que os veja repetidamente.
5
6
— Aquele, — diz Trent.
Eu ajo como se meu celular estivesse vibrando. — Merda, — eu xingo,
percorrendo uma mensagem antiga e ficando de pé.
— O quê? — Scott para o cursor no número seis.
— Jane caiu da porra da cadeira alta. — Eu passo a mão pelo meu
cabelo, parecendo angustiado. — Eu já volto - você pode começar sem
mim.
— Ela provavelmente está bem, — diz Scott. — Você não vai querer
perder isso. — Ele clica no vídeo.
— Quanto tempo tem? — Eu pergunto.
— Esse tem meia hora, — diz Scott, acenando o controle para eu voltar
e me juntar a eles. Eu vacilo, para agir como se eu realmente quisesse
assistir. Meus músculos se esticam, flexionam enquanto eu me forço a
permanecer na falsa curiosidade.
O porão de uma casa na cidade pisca na tela, data e hora no canto
inferior direito, afirmando a data de quando Princesas da Filadélfia foi ao
ar. A câmera tem vista para o pequeno quarto com uma cama e uma
cômoda de madeira. O ex-namorado da Daisy está sentado na beirada da
cama enquanto ela já está meio despida e começa a deslizar sua calcinha
pelas pernas.
Não olhe.
É tarde demais.
Meu pulso martela, náusea subindo para minha garganta, e eu verifico
meu celular novamente, agindo como se Rose continuasse mandando
mensagens.
Scott disse que ele destruiu as filmagens da Daisy, mas claramente
manteve algumas das cenas que ele filmou durante Princesas da
Filadélfia. Como o resto de nós, ela não tinha ideia de que havia câmeras
nos quartos. Então ela se despiu e ficou com o namorado dela sem medo
de ser gravada.
Daisy tinha apenas dezessete anos na época.
— Tire isso, baby, — Trent ri e olha para mim. — Ela o chupa aos
quinze minutos.
Eu tento parecer o que ele quer que eu pareça - animado, mas
desanimado por ter que ir para casa e perder isso. Eu olho para o meu
celular e gemo. — Merda.
— O quê? — Pergunta Scott.
— Rose acha que Jane machucou o braço. Eu já volto. — Com isso, eu
corro para fora da porta, capaz de correr sem que eles questionem meus
motivos.
Enquanto eu corro pela calçada, os fatos me atingem de uma só vez -
fatos que pesquisei depois do Saturn Bridges, para reafirmar o que eu já
sabia.
A lei estadual da Pensilvânia proíbe a fotografia, filmagem e gravação de
um ato sexual envolvendo uma criança menor de 18 anos.
Eu corro mais rápido para o outro lado da rua.
A lei da Pensilvânia pune a visualização ou posse voluntária de
pornografia infantil na casa de um indivíduo.
Estou tão perto de me juntar a ele em quebrar a lei, mas não é por isso
que eu corro, porque quando eu alcanço a caixa de correio eu aumento
meus passos.
Há apenas uma pequena janela de oportunidade para foder Scott. Eu
não posso esperar outra hora ou outro dia. É agora.
Quando entro na casa, subo correndo as escadas, nem prestando
atenção em Lo, Garrison e Ryke na sala de estar. — Connor?! — Lo
chama, preocupação em seu tom.
Eu ando com confiança pelo corredor, ouvindo um grupo de vozes... no
meu quarto. Eu me viro abruptamente e abro a porta para encontrar as
meninas amontoadas ao redor da penteadeira com Willow. Em segundos
deduzo que ela concordou em ir ao baile com o amigo, e Rose, Lily e
Daisy estão a ajudando a se arrumar.
Todas as quatro cabeças viram para mim em uníssono.
— Eu preciso de você e de você, — ordeno, apontando para Daisy e
Rose. Eu faço um gesto para elas irem ao banheiro.
— O que está acontecendo? — Pergunta Lily, confusa sobre por que eu
a deixaria de fora.
— Connor? — Rose se levanta e se aproxima de mim enquanto Daisy
hesitante entra no banheiro.
Eu agarro a parte de trás da cabeça de Rose e sussurro rapidamente em
seu ouvido, explicando tudo em poucas frases. Eu sinto seu corpo inteiro
se contrair e enrolar contra o meu.
— O que está acontecendo, porra? — Ryke pergunta na porta, me
seguindo no andar de cima com Loren logo atrás. Eu estendo minha mão,
dizendo a ele para esperar por um segundo.
— Ele quer falar com Daisy, — explica Lily.
Quando termino de informar Rose, ela parece horrorizada por um
único segundo antes do horror se transformar em uma expressão hostil e
furiosa, o veneno se derramando através de seus olhos verde-
amarelados.
— Levaremos cinco minutos, — diz Rose, pegando minha mão e me
guiando até o banheiro.
— Cobalt! — Ryke grita.
Rose fecha a porta do banheiro, em seguida, Daisy pula no balcão da
pia e balança os pés. — E aí galera?
Eu fico lado a lado com Rose, de mãos dadas, preparado para largar
uma granada em uma garota que já sofreu demais. Eu costumo sempre
ter as palavras certas, mas é difícil expressar o peso do que estou prestes
a liberar - e o que isso significa para a vida dela.
Rose também está quieta. Como você diz a uma garota que ela foi
violada? Me lembro de como comprei e destruí fotos dela tirando a roupa
nos bastidores - de um fotógrafo - para evitar isso para Daisy e com uma
estranha circularidade, ela está prestes a experimentar uma versão disso
de qualquer maneira.
— Gente? — Seu sorriso diminui. — O que está acontecendo?
Um calafrio corre pelas minhas costas e braços. — Acabei de descobrir
que Scott ainda tem imagens de você de Princesas da Filadélfia. No seu
quarto.
Seu rosto cai. — O que… isso é...
— Não está online. Não pode estar, — tento aliviar sua preocupação. —
É pornografia infantil, Daisy. É crime ele ter filmado, quanto mais assistir
a filmagem.
Ela olha para o teto, horrorizada como Rose ficou.
— Ele vai pagar por isso, — diz Rose inflexivelmente. — Ok? Ele não
vai sair dessa, mas precisamos do seu consentimento para ligar para a
polícia.
Ela balança a cabeça em transe. — Por que você precisa do meu
consentimento? É ilegal…
— Daisy… — Rose se solta da minha mão e se ajoelha na frente de
Daisy, coletando as mãos da irmã na dela. — Ele tem filmagens de você,
que será a base do caso contra ele. Você pode ter que ir ao tribunal e
testemunhar… ou pelo menos fazer uma declaração.
— Ele te machucou, — diz Daisy, as lágrimas caindo, quase tão
chateada quanto a sua irmã. — Ele me machucou. Quem mais ele vai
machucar? — Ela inala fortemente e, em seguida, estende a mão para
mim.
Eu franzo a testa, não entendendo essa ação.
— Eu quero ligar para a polícia.
Acho que dois anos atrás, Daisy teria dificuldade em se defender,
mesmo em uma situação tão grotesca e abismal quanto essa. Ela teria
pedido para eu ligar para a polícia. Ela teria pedido a irmã para terminar
o trabalho. Qualquer um menos ela.
Rose se levanta e pede que eu dê a Daisy o celular e há orgulho nos
seus olhos. Ela até abraça a irmã ao seu lado.
— Por quanto tempo ele vai para a cadeia? — Daisy pergunta quando
eu passo celular para ela. Para Rose, colocar Scott na cadeia por toda a
eternidade teria sido fácil. Para mim, teria sido uma ação sem culpa. Para
alguém como Daisy, é difícil, mas não ouço remorso em sua voz.
Ela levanta o queixo como Rose, seguindo o comportamento confiante
e poderoso de sua irmã mais velha.
— Talvez cinco anos, — digo a ela, — e ele será registrado como um
predador sexual. — Ele também pode enfrentar acusações federais, mas,
no momento, estou analisando a lei estadual e isso por si só arruinará
sua vida.
Não é chantagem. Não é injusto. Scott vai para a prisão por crimes que
ele escapou por anos. Se eu nunca me tornasse amigo dele, nunca teria
descoberto o que ele tinha em casa. Ele nunca nem pensaria em me
mostrar ou confiar em mim com isso.
Eu nunca teria chegado nesse lugar.
Daisy coloca o celular no ouvido dela. — Alô, gostaria de denunciar um
crime…
[ 60 ]
ROSE COBALT
Dois carros de polícia estão no meio-fio da rua, um ao lado da casa de
Scott e outro ao lado da nossa. Faço furos com o olhar na caixa de correio
do Scott, esperando que o desgraçado apareça em algemas.
— Ele está cooperando, — diz o policial. — Estamos levando o
computador dele como prova e com o que vimos até agora, poderemos
obter um mandado para procurar em sua casa qualquer outra coisa.
Perfeito.
Connor está no final da nossa calçada comigo, equilibrado e calmo
enquanto estou fumegando, um tubarão de mandíbulas bem abertas, uma
leoa agachada e pronta para atacar com garras à mostra.
— Se você precisa dos meus registros de celular, você pode tê-los, —
diz Connor. — Ele me mandou uma mensagem para ir até lá hoje e
quando vi o que ele estava planejando assistir, imediatamente corri de
volta para chamar a polícia.
O policial anota isso em seu bloco de notas. — Isso seria útil, obrigado.
Eu me levanto na ponta dos pés no minuto em que vejo o outro policial
do outro lado da rua, um pouco na diagonal para nós. Ele acompanha os
três caras para fora daquela casa. Connor disse que os dois se chamavam
Trent e Simon e é claro que posso distinguir Scott entre eles, não mais
sorrindo com prazer presunçoso. Ele franze a testa para o carro da
polícia, todos os três homens algemados atrás das costas.
Vire-se, eu comando mentalmente para Scott, mas seu rosto ainda está
preso ao veículo. Eles estão fora do alcance da voz e vejo Trent e Simon
entrar no carro e o policial fecha a porta para eles. Ele coloca a mão no
ombro de Scott e o direciona para o carro da polícia na nossa frente.
— Com licença, — diz o policial, deixando o nosso lado para conversar
com seu parceiro.
Scott Van Wright está algemado.
Scott Van Wright vai para a cadeia.
Scott Van Wright nunca estará obtendo nada que ele deseja, nunca
mais.
— Foram tantos dias, — digo a Connor, — onde achei que ele sempre
andaria livre, viajando em seu iate. — Eu me encolho em desgosto. —
Pegando um bronzeado, ficando chapado e, aparentemente, assistindo a
minha irmãzinha… — Eu não posso nem terminar essa verdade.
Uma coisa é me observar, mas saber que todo esse tempo sem o nosso
conhecimento, ele estava se masturbando para a Daisy - é totalmente
inconcebível.
Connor envolve o braço em volta da minha cintura. — Esses dias se
foram, — ele anuncia a melhor verdade de todas.
Os dois policiais conversam ao lado enquanto deixam Scott na porta do
carro, mais perto de nós do que deles. Eu ouço a palavra ‘cocaína’, então
eu suponho que ele será autuado por mais do que apenas filmar e ver
pornografia infantil.
Scott, em grande parte, manteve as costas para nós, mas ele finalmente
se move, apoiando o quadril na porta do carro. Sua fúria transforma seu
rosto em uma careta enojada quando ele olha entre meu marido e eu.
Connor entrelaça seus dedos nos meus. Eu fico ainda mais alta com
meu marido, meus saltos de dez centímetros abaixo dos meus pés.
Eu não tenho provocação suficiente para Scott, nenhum como essas
algemas estão? ou se divirta no inferno.
O que ele fez foi tão vil, tão grosseiro que não há nenhuma palavra no
meu vocabulário, digna de se ligar a ele. Eu apenas deixo meu olhar
perfurá-lo dez vezes.
Scott solta uma risada curta e indignada sob sua respiração. — Sua
puta do caralho...
— Não, — diz Connor, silenciando Scott para isso. — A próxima vez
que você disser alguma coisa depreciativa sobre minha esposa ou sobre
qualquer mulher, vai ser na cadeia.
No interior, estou dando voltas de vitória ao redor da minha calçada
com os punhos levantados, descalça e uivando para o sol. É algo que
minhas irmãs fariam. Algo que eu tenho orgulho de imaginar, elas aqui
sentindo o triunfo comigo.
Scott fixa seu olhar assassino em Connor. — Você não tem sido
verdadeiro comigo, não é? Não foi só isso que te empurrou. Ou foi?
Na voz mais moderada, Connor diz, — Você conhece uma cobra
Aesculapian? Não. — Ele olha para mim. — Rose?
Eu sei onde ele está indo com isso. — Uma espécie de cobra não-
venenosa, — eu respondo com a cabeça erguida.
— Entre elas está a cobra rato. — Connor se concentra em Scott
novamente. — Cobras rato são como cobras comuns, exceto quando são
mantidas em cativeiro. Quando você prende uma cobra rato, ele tenta
engolir seu próprio corpo e eventualmente se auto canibaliza. — Connor
diz, — Você é a cobra rato e estava se comendo lentamente até a morte
desde que se mudou para o outro lado da rua.
O rosto de Scott - uma bola torcida de choque, raiva e terror - é
inestimável. Ele parece que vai vomitar, e mantém a maior parte do peso
do corpo contra o carro da polícia. Ele olha para o nada, como se somasse
todos os meses que Connor o enganou. As coisas que Connor falou de
mim, a única pessoa que ele amou. Para realizar o que Connor realizou e
ainda ter uma alma - é preciso uma força e um poder raro que nenhum
ser humano poderia se igualar, não a esse grau inexplorado.
Scott lentamente levanta o olhar para meu marido. — Você é um
psicopata.
— Não, — diz Connor, — eu apenas odeio você pra caralho.
Então os policiais começam a retornar ao carro. Connor e eu dizemos
um curto adeus a eles e voltamos para a nossa casa, nos distanciando de
Scott.
Connor beija minha mão. — On a gagné. — Nós vencemos.
Eu ouço a batida da porta do carro da polícia. E eu expulso o último
suspiro ferido que Scott aprisionou dentro de mim.
— On a gagné, — repito com um sorriso crescente.
Nós vencemos.
[ 61 ]
ROSE COBALT
Eu passo por uma prateleira de roupas de bebê em uma das maiores
lojas de departamentos infantis. Vestidos plissados de linha, saias de tule,
vestidos com gola peter pan - tudo em uma variedade de cores pastel de
primavera e verão. A linha de moda masculina é no estilo náutico com
camisas listradas, calças cáqui e jeans.
Meus lábios levantam com a visão de um vestido floral azul-marinho
com um colarinho branco. Nenhuma estampa de zebra, nenhum sapo
lambendo moscas ou macacos com bananas. A simplicidade, a
feminilidade, é todo meu estilo. Eu pego o vestido da prateleira e
inspeciono a etiqueta.
Lá está: CCB com uma pequena inserção HC.
Loren se aproxima ao meu lado e me entrega uma limonada. — Credo,
— Lo se encolhe de brincadeira e coloca a mão nos olhos. — O sorriso
está de volta.
Essa loja de departamento em particular está fechada para uma festa,
todos da Hale Co. presentes e em vez de conversar com homens que
preferem fazer o oposto de tudo o que eu digo, acabei de me juntar à
companhia da minha recompensa final.
Essas roupas. Essa coleção. Em uma loja de departamentos.
— Acostume-se com ele, Loren, — eu replico.
Ele inclina a cabeça para mim. — Eu já estou acostumado. — É um
momento pequeno, realmente bom entre nós, e percebi que trabalhar
com ele não é tão ruim assim. Quer dizer - não é o ideal, mas também não
é horrível. Deus, elogiar Lo sempre será um feito.
Ele aponta com o queixo para Mark e Theo e todos os outros
funcionários que se reúnem em volta das roupas de menino. — Se você
continuar, eles vão pensar que você conseguiu o que queria.
— Eu consegui o que queria, — eu digo. — Essa é a minha volta da
vitória. — Eu coloco o vestido de volta no lugar. — Talvez com o tempo
eu não tenha que fingir desprezar todas as coisas que eu gosto para ser
ouvida.
— Eu quero isso para você também, você sabe.
— Essa é à sua maneira de dizer que você está sempre do meu lado?
Ele solta uma risada curta. — Não vamos forçar isso, Angélica.
Eu estreito meus olhos. — Esse comentário só faz você mais Angélica
do que eu, — eu sempre noto. Ele mostra um sorriso seco, não negando a
verdade. Nós dois nos transformamos em crianças hostis de vez em
quando. Eu saboreio meu copo de limonada, evitando conversa de
trabalho entre meus adoráveis colegas de trabalho.
— Você verificou o Twitter recentemente? — Lo me pergunta.
— Não. Eu não entro desde a coletiva de imprensa. — Eu não queria
que ninguém arruinasse o discurso do Connor para mim. Ele foi corajoso
e ter pessoas dizendo que ele não ama aquela vadia! Eles estão usando um
ao outro! Isso tudo é tão falso! teria manchado algo bonito.
Lo de repente, enfia a mão na minha bolsa preta e eu me afasto dele
com olhos arregalados e selvagens.
— Desculpa? — Eu estalo.
Ele me dá um olhar azedo. — Estou tentando pegar seu celular.
— Você não pode simplesmente mexer na bolsa de uma mulher. — Eu
pressiono meus lábios juntos. Ele não aprendeu já que a Lily odeia
carregar bolsas.
Ele pega minha bolsa de novo e eu dou um tapa em seus dedos. Ele se
inclina para frente e diz baixinho, — Você acabou de bater em seu chefe,
Rose.
Eu cutuco seu peito com o dedo. — Oh, olhe, eu acidentalmente
cutuquei meu chefe com minha unha bem cuidada.
— Sua garra. — Ele afasta minha mão e, em seguida, acaba pegando
seu próprio celular e o virando para mim.
Eu não entendo — O que é isso?
— O que eu tenho tentado mostrar a você - guarda a careta, Gelica.
Apenas leia.
— Tudo bem, — eu resmungo e pego seu telefone. É um tweet da Lily.
#RCC Isso é amor.
RCC são as minhas iniciais e a do Connor. Lily anexou uma foto ao
tweet, uma minha e do Connor no México ano passado. Estou grávida,
nossas cadeiras de iate juntas. Meus olhos verde-amarelados estão
perfurados em Connor e seu sorriso para mim é igualmente
proeminente. Fogo para a água.
Existem 4,8 mil retweets e 12 mil favoritos. Eu percorro o feed de Lily
e está cheio de fotos semelhantes da minha dinâmica com Connor.
Algumas que ela tirou sem que nós notássemos. Como na festa do pijama
na casa do lago, onde Connor e eu estávamos encarando um ao outro por
um longo, longo momento para ver quem cederia primeiro.
Ela escreveu: #RCC Isso é amor. #estrelasnerds Meu coração incha.
— Ela vem fazendo isso há semanas, — explica Loren. — Veja o que
está nos assuntos mais comentados.
Eu clico no perfil da Lily e vejo mais tweets com uma hashtag similar.
@Morningside32: #RCCIssoÉAmor quando a inteligência é mais sexy
do que abdomens.
@heatherveronica: #RCCIssoÉAmor quando você joga xadrez comigo,
e nós nos recusamos a deixar o outro vencer @fashionpleeeaze:
#RCCIssoÉAmor quando você olha para mim como se me amasse, não
importa o meu humor :) @neverneverland: #RCCIssoÉAmor quando
compartilhamos segredos por trás de um jornal <3
@hearmeroar29: #RCCIssoÉAmor quando eu arranco meu cabelo para
proteger minha filha & você envergonha a mídia por nos envergonhar.
Meus dedos estão congelados nos meus lábios, deslumbrada. Eu
questionaria como todas essas pessoas conhecem alguns detalhes do
meu relacionamento com Connor, se a Lily não tivesse tirado tantas fotos
nossas. Ela postou tantos momentos honestos com Connor e eu - coisas
que eu nunca pensaria em capturar, coisas que eu nunca pensaria em
compartilhar.
Isso me faz perceber quanto amor minha irmã vê entre nós e agora o
quanto outras pessoas estão começando a ver também.
A hashtag está nos nos assuntos mais comentados do mundo:
#RCCthisislove — Ela é louca, — eu digo aturdida. — Ela é louca e eu a
amo.
Loren ri. — Eu vou dizer a ela que você disse isso.
— Eu vou dizer a ela, — eu digo com firmeza. Eu diria à minha irmã
que eu a amo mil vezes. Antes que ela fizesse meu amor conhecido pelo
mundo. E definitivamente depois.
[ 62 ]
ROSE COBALT
Minha mãe beija minhas duas bochechas no momento em que entro no
solário, algo que nunca a vi fazer. Se isso é ela virando uma nova página,
eu vou aceitar.
— Olá, aniversariante, — minha mãe diz com uma voz aguda,
acariciando a cabeça da minha filha. Eu tenho dificuldade em imaginar
minha mãe agindo dessa maneira com suas próprias filhas pequenas,
mas com seus netos talvez seja diferente. Ela se sente mais obrigada a ser
excessivamente doce e menos disciplinar. Então, novamente, ela não era
assim com a filha de Poppy, então o tempo poderia ter sido um fator
também.
Eu ajusto Jane em meus braços e ela balbucia de volta para sua avó, a
única palavra reconhecível é oi! e azul.
Eu não sei como “azul” acabou em seu minúsculo vocabulário, mas eu
não questiono isso com frequência. — Essa é a sua cor favorita agora,
Jane? — Eu pergunto a ela na minha voz habitual.
Jane apenas sorri como se o mundo estivesse azul para ela.
Não é azul. Na verdade, é rosa.
Bolo cor-de-rosa, rosas cor-de-rosa, uma toalha de mesa cor-de-rosa
pastel. Eu coloco Jane no chão e seguro sua mão enquanto ela inspeciona
curiosamente a toalha de mesa, seu leão de pelúcia em sua mão.
— Isso é bonito, — digo a minha mãe, apontando para a mesa. A luz do
sol da manhã flui através das vidraças e os ventiladores giram
languidamente no alto. Não é muito. Eu pensei que ela teria contratado
um quarteto de cordas e feito um chá do lado de fora.
Eu disse à minha mãe que crianças de um ano não lembrarão do
aniversário delas e para guardar as festas extravagantes para quando
souberem da diferença entre um carnaval no quintal e uma sacola de dez
dólares de serpentinas da Party City.
— Eu fiz simples como você disse, — ela me diz e eu a observo em
silêncio contar as cadeiras na longa mesa.
— Todo mundo está vindo, — eu asseguro a ela. Jane puxa meu vestido
e eu a levanto de volta para os meus braços. Ela descansa sua bochecha
no meu ombro.
Minha mãe solta um suspiro suave. — Você sabe, houve um minuto em
que pensei que você não me deixaria fazer uma festa de aniversário para
Jane.
— Você pode me culpar? — Eu pergunto. Ela não ficou ao meu lado
durante um dos momentos mais angustiantes da minha vida. Eu
precisava que ela apoiasse o Connor e o meu amor por ele, mesmo que
ela não entendesse completamente.
— Não, eu não culpo você. — Ela toca o colar, não o seu costumeiro
colar de pérolas. Dessa vez, é um medalhão de prata. — Corri para julgá-
lo... eu e seu pai. — Antes que ela possa dizer mais alguma coisa, a porta
do solário se abre e Connor e meu pai entram.
Ambos parecem à vontade e Connor usa sua habitual expressão
complacente, não divulgando muito. Ele se aproxima, fazendo cócegas no
braço de Jane e ela ri e se contorce contra o meu quadril.
— Seu pai se desculpou, — explica ele, voltando os olhos para o meu
pai.
Meu pai assente repetidamente e limpa a garganta. — É fácil para mim
ficar ofendido quando sinto que minhas filhas e minha empresa estão
sendo ameaçadas ao mesmo tempo. Não estava certo, mas... Eu estava
apenas vendo vermelho. Eu sinto muito.
É bom estar de acordo com esses termos e espero sinceramente que
isso dure. — Eu aprecio o pedido de desculpas, — eu digo.
— Você ouviu que Scott não foi concedido fiança? — Ele pergunta a nós
dois.
Antes de podermos dizer sim, minha mãe diz, — Ele deveria receber
uma sentença máxima depois do que ele fez. — Eu vejo a raiva em sua
postura rígida. Ela pode ser uma mãe protetora, suponho. Precisa apenas
do tipo certo de bala direcionada a nossa cabeça antes que ela produza
chifres e respire fogo como eu.
— Connor não acha que ele vai a julgamento, — digo a eles.
Scott está preso na cadeia desde que o juiz negou fiança, então ele tem
que sentar lá e esperar o que poderia ser meses. Ele está sendo julgado
em um tribunal federal, então é provável que ele tente se livrar de um
acordo judicial.
Minha mãe parece horrorizada com a ideia. — Um júri precisa
condená-lo.
— Se ele se declarar culpado, — diz Connor, — e aceitar o acordo,
provavelmente não será muito melhor do que um julgamento, — Scott
Van Wright está pegando cinco a dez anos de prisão.
E o nome dele não vai obscurecer a atmosfera eufórica do primeiro
aniversário da Jane, então decido mudar de assunto. — A mãe diz que
você está fazendo dieta, — digo ao meu pai, uma digressão clara, mas
nunca fui sutil.
Ele ri uma vez em um sorriso. — Meu colesterol está alto.
— Onde está a coelhinha aniversariante?! Nós viemos com presentes!
— Daisy exclama antes mesmo de a porta se abrir. Meus pais se viram
para cumprimentar o grande grupo de pessoas, todos se espremendo no
solário e eu vou para perto do outro lado da mesa com Connor, sentando
na cabeceira da mesa na cadeira de vime com Jane no meu colo. Ele fica
ao meu lado.
Eu ganhei o direito de sentar aqui depois de um jogo de trinta minutos
de Palavras Cruzadas essa manhã. Eu só o venci por dois pontos.
— Os vencedores se sentam à cabeceira da mesa, Jane, — digo a ela.
Ela mexe seu leão de pelúcia ao redor e olha para mim com grandes
olhos azuis. — Mamãe… — Eu realmente não consigo entender mais
nada. Às vezes acho que posso, mas depois percebo que só quero ouvir
frases reais, e a minha mente fingi que seus ruídos são palavras
inteligíveis.
— Você está brilhando, — diz Connor. Ele está com um dedo na
mandíbula, seu sorriso se alargando quando encontro seus olhos.
— Eu não estou grávida, se é isso que seu cérebro superdimensionado
está pensando. — A menção da gravidez abaixa meus lábios. Jane deveria
ser filha única, Rose. Qualquer outro bebê que nascer, pertencerá a Daisy.
— Eu não estava, mas claramente você estava, — diz ele facilmente,
como se o assunto dificilmente o atormentasse. Eu não vejo como isso
não acontece.
Eu penso sobre o nosso sonho perdido quase que diariamente e nunca
eu começo a sorrir.
Pensamentos felizes, Rose. É o primeiro aniversário da Jane, uma
ocasião importante e alegre no dia 10 de junho. Ficar triste por não ter
mais filhos no aniversário do meu bebê é absolutamente cruel e quase
sacrílego.
Eu tento ser melhor. Talvez seja assim que a vida sempre é.
Connor traz a cadeira para perto de mim.
— Você está trapaceando, Richard? — Ele está tentando sentar na
cabeceira da mesa comigo.
— Você me amaria se eu fosse um trapaceiro? — Pergunta ele. Na
minha visão periférica, noto nossos amigos e familiares começando a
tomar seus lugares.
— Por que você me faz perguntas para as quais sabe a resposta?
Ele passa por cima do meu comentário. — Você me ama, então eu não
poderia ser um trapaceiro.
Jogos mentais. Enigmas. Paradoxos. Minha cabeça bate com todos eles.
E eu sou transportada para nós aos dezesseis e dezessete anos, quando
estávamos trancados em um armário de zelador no Modelo da ONU
juntos. Eu nunca soube que ele tinha os meios para nos deixar sair, não
até ele admitir isso na coletiva de imprensa.
— Você disse a todos uma lembrança nossa, — eu digo, pulando para
uma nova página do nosso livro e ele me segue.
— Eu não achei que você se importaria.
— Eu não me importo, — eu digo baixinho. — Mas você esqueceu de
lhes dizer a parte em que você se inclinou para me beijar e eu coloquei
uma mão no seu rosto.
Ele me dá uma olhada e balança a cabeça. — Não foi assim que
aconteceu.
Eu estreito os olhos, — Foi sim. Eu tenho uma memória perfeita,
Richard.
Ele se aproxima ainda mais. Até o ombro dele encostar no meu. — Moi
aussi. — Eu também. — Ele levanta meu queixo com dois dedos. —
Naquele dia, você me olhou como está olhando para mim agora.
— Como?
— Com paixão, — diz ele com sua própria paixão. — Você olhou para
os meus lábios e eu olhei para os seus.
Ele já me envolveu e eu me aproximo, nossos joelhos batendo.
— Nós nunca nos tocamos, mas eu fiz amor com a sua mente. Quando
você teve o suficiente, foi quando colocou a mão no meu rosto.
Eu fiz amor com a sua mente. Ele nunca pronunciou essas palavras
antes, mas acho que estou apaixonada por elas. — Hummm, — eu digo.
Suas sobrancelhas se levantam. — Hummm?
— Sua memória não é terrível.
Ele ri em outro sorriso. — Você me ama.
— E você ama afirmar o óbvio, — indico. Eu não olho para ele para ver
seu sorriso cheio que atinge seu rosto. Eu raramente concordo que eu o
amo na medida em que ele afirma, mesmo que seja sempre verdade.
Alguém bate em um copo de vinho e eu redireciono minha atenção para a
mesa cheia, cada membro da família e amigos sentados.
Estamos todos aqui, incluindo Willow, Sam, Poppy... e Jonathan. Ele
está posicionado entre meu pai e Sam, e seu cabelo parece fino nas
laterais, como se ele estivesse lutando contra o estresse.
Estou surpresa que ele fique quieto, talvez ele esteja se sentindo um
pouco culpado como Connor afirmou.
Loren se levanta com água gelada em sua mão esquerda, sua mão
direita em um gesso preto. Enquanto a mesa se cala, estudo o momento,
os rostos sorridentes das minhas três irmãs, meus pais de mãos dadas
em frente a uma xícara de café, a manhã tranquila em minha casa de
infância, Connor tão perto que seu braço está atrás de mim na cadeira e
minha filha aqui, no meu colo, abraçando seu leão.
— Eu sei que é o aniversário da Janie, mas depois de tudo o que
aconteceu com vocês dois, — ele gesticula com seu copo de água para
Connor e para mim — Eu tenho algo a dizer.
Isso pode ser bastante ruim ou razoavelmente bom, mas eu tenho
muito mais fé em Loren Hale para ir em uma direção que não vai causar a
Terceira Guerra Mundial, eu liderando um pelotão contra ele.
— Eu posso sempre dizer que Rose é tão fria quanto gelo e Lily pode
sempre dizer que Connor deve ser um alienígena extraplanetário, — Lo
começa, Lily assentindo ao lado dele enquanto balança Maximoff nos
seus joelhos, — mas vocês dois têm corações de tamanho astronômico,
vocês sabem disso né?
Eu olho para Connor e seus dedos voltaram para sua mandíbula em
contemplação. Nós temos corações. Não é uma realização devastadora. Eu
sei que tenho coração. Eu sei que Connor também tem um, mas para
outras pessoas reconhecerem isso é raro. Nossos corações estão
submersos sob a armadura mais densa e espessa que deixamos apenas
alguns escolhidos passar.
Loren continua, — Vocês dois nunca me julgaram por ser um viciado e
mesmo quando muitas pessoas julgaram e questionaram vocês - vocês os
perdoaram. — Ele balança a cabeça em descrença com a ideia de que
todos nós nos reuniríamos juntos pacificamente no final. — Essa mesa só
está cheia por causa da compaixão de vocês e quero que saibam que eu
consigo ver isso. — Ele se vira para os meus pais, seu pai, Sam e Poppy.
— E é melhor que todos aqui vejam também.
Com isso, meu pai se levanta com sua mimosa e minha mãe segue o
exemplo em solidariedade. Quando Jonathan se levanta, com a água na
mão, a tensão estranhamente se desenrola. Ele tem muito caminho pela
frente para reparar suas relações com seus filhos, mas estar aqui sem ser
um idiota é um começo.
Eu assisto Poppy se juntar a eles, então Sam e sua filha, Maria.
Quando Lily fica ao lado de Lo, ela limpa a garganta, já ficando
vermelha. Eu a vejo levantar o queixo triunfalmente e depois puxar os
ombros para trás. Vai Lily. E ela diz com confiança, — Eu acho que se
podemos nos unir depois de tudo o que aconteceu, nossos filhos serão
melhores por isso. — Ela assente com a cabeça em resolução.
Eu respiro pelo nariz, segurando a emoção que incha meu peito. Eu não
gosto da sensação de pessoas se elevando sobre mim, então eu me
levanto com Jane no meu quadril. Connor é rápido em seguir.
Ryke e Daisy são os únicos dois ainda sentados, o que não é totalmente
surpreendente. De todos, eles enfrentaram a maior disseminação de
dentro da família.
Ryke se inclina para trás e balança a cabeça. — Isso é real? — Ele tem
que perguntar. — Porque eu não vou ficar de pé se em três meses esse
lado da mesa - ele gesticula para os nossos pais - tornarão a nossa vida
um inferno porque acreditaram em um rumor das revistas sobre nós.
Meu pai pigarreia e faz uma pausa, tentando encontrar o jeito certo
para compartilhar suas emoções. — ...Eu sei que duvidei de alguns dos
homens aqui com minhas filhas. — Seus olhos pingam de Sam para Ryke
e, finalmente, para Connor, uma dúvida mais nova do que os outros dois.
— Eu não posso me desculpar por me importar com minhas garotas, mas
posso pedir desculpas por colocar uma pressão em seus relacionamentos
e sentir como se vocês tivessem que escolher entre as pessoas que vocês
amavam e suas famílias. — Ele faz uma pausa. — É hora de mudar isso.
Os lábios de Ryke se separam lentamente em descrença. Ao longo de
um ano, eu sabia que meu pai havia se aqueceu ao relacionamento do
Ryke e da Daisy, mas eu não acho que ele expressou isso externamente
para o Ryke.
Minha mãe se endireita, sabendo que metade da declaração de Ryke foi
dirigida a ela. — Você passou por uma cirurgia de transplante de fígado
para seu pai e você quer saber o que eu disse ao Jonathan - que você
nunca faria isso. — Sua mão para de apertar seu copo de mimosa. É um
reconhecimento sutil de que ela também julgou mal o Ryke. — Eu não
quero viver imaginando que todo mundo quer destruir minha família, e
isso começa confiando nas pessoas em quem devemos confiar. — Ela diz,
— E eu confio em você.
Eu congelo na declaração muito maior do que eu esperava ouvir. Eu
acho que alguém batizou as bebidas de todo mundo, mas ninguém tomou
um gole ainda.
Ryke olha para Daisy e as lágrimas cobrem os olhos dela. Ela sussurra
em seu ouvido e ele concorda.
Ambos se levantam.
Se alguém me perguntasse o que me faz - uma chama vulcânica e
ardente do inferno - derramar lágrimas e chorar como se eu fosse uma
patética chuva de dois minutos, eu diria que minhas irmãs crescendo,
meu marido em sua rara vulnerabilidade, meu bebê em momentos
incomensuráveis aleatórios e o começo do Titanic.
Em algum lugar entre tudo isso, essa parte singular do tempo existe, e
isso me atinge com força. Com os copos levantados no ar, com todos nós
unidos em torno de uma mesa decorada, um bolo no centro - eu aceito
uma realização poderosa e inflexível como uma verdade calorosa e
sincera.
Todos os nossos filhos serão criados sem ódio. Inimizades serão
lavadas e brigas finalmente postas de lado. Eles terão as ferramentas
mais afiadas e resistentes para combater inimigos que não estarão em
suas próprias casas, mas a quilômetros e quilômetros de distância.
Nossos filhos terão a melhor chance na vida porque estamos juntos.
Porque todos nós temos a capacidade de amar, não importa de que forma
ou formato possa vir. Porque no final, cada um de nós permanece intacto,
para que as vidas deles possam começar.
Eu inalo poderosamente, e Connor envolve seu braço em volta do meu
ombro.
Loren levanta seu copo mais alto. — Um brinde a Rose e o Connor, por
nos ajudarem a perceber a importância da família e a diferença que um
bom amigo pode fazer. — Não é comum que outras pessoas nos digam
isso - que as impactamos. Eu não posso deixar de sorrir.
— A Rose e o Connor, — todos dizem em uníssono.
Connor captura meu olhar com seus olhos azuis profundos e
cintilantes, juntos, nós brindamos a nós.
[ 63 ]
CONNOR COBALT
— Foi apenas uma pequena queda, minha gremlin. — Rosa agacha em
saltos de dez centímetros e sopra as palmas das mãos avermelhadas da
Jane. Ela tenta consolar nossa filha que chora no jardim de Claude Monet,
um dos lugares mais bonitos que eu já visitei na França. O cenário
exuberante e floral dificilmente é contaminado pelas lágrimas de Jane. Eu
vejo quando Rose limpa a bochecha rosada da nossa filha e Jane funga,
percebendo que ela tropeçar na calçada não doeu tanto quanto ela
achava que tinha doido.
Jane estende a mão para Rose pegá-la, mas depois ela vira a cabeça,
sem me notar ao lado dela. — Papai! — Ela começa a chorar novamente.
Rose revira os olhos. — Seu pai tem um metro e noventa e três de
superioridade e sua cabeça está perdida nas nuvens.
Eu me inclino ao lado da Rose. — Pelo contrário, querida, minha
cabeça está nas estrelas. — Nossa filha relaxa assim que me vê de novo.
Os olhos verde-amarelados da Rose me atravessaram e meu pulso bate
com força. — Está de dia.
— É uma meta...
Ela cobre minha boca com a palma da mão e meu sorriso florescente
espreita por entre os dedos. Eu sei o que é uma metáfora, Richard, eu leio
a expressão dela. Ela bufa, os olhos brilham e voam através das minhas
feições, o peito subindo e descendo. Como alguém pode ficar tão viva só
com palavras - isso me faz ganhar vida com ela.
Jane murmura uma série de ruídos e nós dois quebramos nosso olhar.
Eu escovo uma lágrima da bochecha de Jane, e ela funga novamente.
Rose me pergunta, — Você acha que faremos isso o dia todo? — Ela
conserta o chapéu de sol branco de Jane que caiu durante seu tropeço.
— Talvez mais quinze minutos, e então ela provavelmente terá o
suficiente. — Estamos viajando pelo norte da França a maior parte da
tarde. É 22 de junho, então planejamos passar o resto do nosso
aniversário no hotel com Jane.
Rose solta os dedos de Jane e pergunta a ela, — Quem você quer que te
carregue?
Nossa filha olha entre nós antes de esticar os braços para sua mãe.
— Boa escolha, — digo a Jane.
Os lábios de Rose começam a subir quando ela pega Jane em seus
braços e nós dois nos levantamos juntos. Eu ouço o estalo das câmeras,
mas faço o melhor para bloqueá-los.
As pessoas encaram. As pessoas tiram fotos e nossa equipe de
segurança está a seis metros de nós. Não me importo com o olhar
constante e inabalável dos espectadores, desde que possamos ter um dia
como este - sem medo de assédio ou de sermos cercados por paparazzi.
Eu descanso a mão na parte inferior das costas de Rose e caminhamos
vagarosamente em direção à ponte de madeira que fica em cima de uma
lagoa de lírios. As flores roxas das glicínias drapejam e se penduram, as
raízes em torno do corrimão e as plantas verdes ricas rastejam e cobrem
a ponte. É como entrar na pintura de Monet, experimentando uma obra
de arte de perto.
Quando paramos no meio da ponte, eu viro Rose para mim, um de
frente para o outro, nossa filha entre nós. Está quieto aqui, a serenidade
enchendo minha cabeça com desejos e esclarecendo todas as dúvidas.
— Pare de me encarar assim, — ela diz, mas ela se aproxima de mim.
Eu posso sentir seu coração em seu peito, batendo contra o meu.
— Isso assusta você - o que eu vou dizer? — Eu questiono. Ela não
consegue ler minha mente, mas devo usar meus desejos em meu rosto. E
eu a quero e quero Jane. E eu quero muito mais filhos.
— O que você vai dizer? — Ela pergunta imediatamente.
— Quando olho profundamente em seus olhos, vejo mais do que
apenas três anos do nosso casamento, — confesso. — Eu vejo dez, trinta,
cinquenta, sessenta anos com você e nos vejo retornando a esse lugar.
Nos vejo velhos e no final de nossas linhas de vida, olhando para essa
água, nessa ponte - tão consumidos pelo amor como estamos
tragicamente consumidos agora.
Sua mão aperta meu bíceps, metade em ameaça, metade para cobrir o
fato de que ela está sem fôlego.
— Eu vejo nossos filhos, — eu digo. — Muito mais crianças, Rose.
— Existem regras, — diz ela incisivamente. — Perdemos nosso jogo e
a invasão da mídia... você disse que não há caminhos alternativos. — Não
tenho ficado cego para sua decepção. Eu a encontro diariamente quando
ela pensa em aumentar nossa família juntos. Eu engulo a minha própria
decepção na frente dela, mas a derrota se intensifica, um sonho intocado
tremendo para ser mantido.
Eu nunca quebrei um jogo.
Eu encontrei brechas, mas esse não tem nenhuma.
Ou vamos contra o que planejamos ou vivemos uma vida insatisfeita.
Eu não estou me colocando em nenhuma amarra. Estou rasgando cada
uma delas, mesmo que isso signifique dar um mergulho difícil para nós
dois - um que sempre teve a sensação de deslizar por uma montanha sem
tração e sem jeito de subir de volta. Mesmo que isso signifique que
quebrar os termos que definimos uma vez mude a forma como jogamos
nossos jogos para sempre.
Tem que haver uma exceção. Sempre.
E essa é a exceção. — Podemos quebrar nossas regras para nossos
filhos, — digo a ela. — Temos a noção de que ter mais filhos seria
egoísmo, mas olhe ao nosso redor, Rose, olhe para ela e me diga que
parte deste mundo é tão insuportável que não devemos dar vida a outra
criança?
Rose observa Jane se inclinar para a glicínia roxa, grandes olhos azuis
cheios de uma maravilha infantil e então nossa filha aponta
curiosamente para a fauna coberta acima de nós. Ela balbucia uma série
de ruídos que soa como, o que é isso?
— É um sonho levantando voo, Jane, — digo as palavras para Rose,
aproveitando a atenção e o olhar dela. Ela não está convencida cem por
cento que esse é o melhor plano. — É egoísta nós vivermos de acordo
com uma regra que afeta outra vida.
— A mídia, no entanto, — ele diz. — Como isso mudou? — O teste real
não foi o nosso jogo que construímos com a mídia. O teste real foi depois,
como lidamos com a consequência com a nossa filha no braço e aos meus
olhos, tivemos sucesso.
Eu explico, — Nosso amor supera qualquer custo que a mídia possa
infligir. Talvez esse tempo todo, Rose, tenha sido inconscientemente
seguro e que foi preciso a nossa convicção - de que podemos
proporcionar amor a uma criança, que sentimos de todo o coração - para
finalmente vermos isso nós mesmos.
Ela luta contra as lágrimas e eu a puxo o mais perto que ela pode ir,
minha mão segurando sua mandíbula e meu polegar acariciando sua
bochecha. Aqui estou eu, convencendo Rose do amor quando ela passou
tanto tempo abrindo minha mente para o seu verdadeiro significado. Vou
lembrá-la todos os dias o quanto ele reside dentro de nós dois.
— Não há mais dúvidas, — eu digo. — Seja qual for o erro que nossos
filhos cometam ou erros que possamos cometer, suas vidas serão
preenchidas com amor e paixão - e nossos filhos, nossos, sugarão a
tristeza da vida e pintarão esse mundo cinzento com cores.— Eu olho
profundamente naqueles olhos ferozes verde-amarelados, meu coração
batendo em sincronia com o dela. — Nossos filhos serão inesquecíveis
como nós. Espera e você verá.
A mão de Rose sobe até o meu ombro. — Esse é o lugar onde nós dois
ficamos loucos. — Ela vira a cabeça apenas uma fração, para os lírios
ociosos na água. — Quem na Terra gostaria de procriar com você? Oito
vezes? — Ela encontra meu sorriso crescente e arrogante. — Eu devo
estar louca.
Ela está dizendo um retumbante sim.
Eu deslizo meu braço ao redor de sua cintura. Ganhar e perder sempre
foi apenas um estado de espírito e sinto que o nosso está se tornando são
novamente.
Eu descanso minha outra mão na parte inferior da sua barriga,
esperando que ela a tire, mas ela me deixa tocá-la aqui sem reclamar.
Seus lábios tentam puxar para cima, mesmo quando ela odeia combater
meu sorriso com um sorriso.
Antes de Jane chegar, eu adorava vê-la grávida, vendo seu corpo
crescer com nosso bebê, uma parte de mim e uma parte dela. Rose tinha
muitos medos sobre a maternidade, mas ela gostou da maior parte de
carregar uma criança. Se ela odiasse, ela nunca consideraria outra.
— Não podemos ter mais por impulso, — ela me lembra. — Eu tenho
que planejar isso com Daisy, caso ela não possa ter um bebê.
— Eu sei. — Estou supondo que isso significa que Ryke estará na
discussão também. Para cada obstáculo que ele enfrenta com Daisy, para
cada montanha em que eles figurativamente e literalmente subiram, é
mais provável que se casem hoje do que se separarem amanhã.
Rose ajusta Jane, lutando para segurar seu peso por tanto tempo.
— Eu vou levá-la, — eu digo.
Rose passa a nossa filha para mim e eu a seguro, levantando-a em
direção ao meu ombro. Jane pressiona a bochecha contra o meu
colarinho, as pálpebras pesadas.
Eu olho para Rose. — Mais quantos filhos você quer? — Oito foi o meu
número. É com o que ela está acostumada porque eu repito com
frequência, mas isso não é definitivo.
Rose tira o chapéu torto de Jane e o coloca em sua bolsa de fraldas da
Chanel, que mais parece uma bolsa gigante. — Eu só quero que Jane
tenha uma irmã. Poderíamos ter duas filhas e eu seria feliz ou podemos
ter dez, desde que houvesse duas garotas em algum lugar.
Não podemos planejar o número exato, não quando há muitos
obstáculos imprevisíveis, mas podemos tentar alcançar isso.
Duas garotas Cobalt.
Irmãs.
— Então, assim que você tiver outra garota, nossa garota, — eu tenho
que começar — nós vamos parar e esse será o tamanho da nossa família.
— Eu espero que essa proclamação afunde em suas feições, e os olhos de
Rose se ampliam. Ela quase balança para trás, mas eu agarro seu quadril,
mantendo-a perto.
— Richard Connor Cobalt, você está deixando isso para o destino. —
Seu sorriso ilumina seus olhos, cheios de diversão. Estou mais do que
satisfeito em deixar o número de nossos filhos para a ciência e sim, para
o acaso.
— Seu destino será gentil comigo, — digo a ela. — Eu posso fazer
qualquer um me amar com tempo.
Rose revira os olhos. — Seu destino é meu destino. — Eu acredito
nisso. — E eles não amam você, Connor. Eles amam a pessoa que você
mostra para eles. — Ela faz uma pausa e diz, — Eu amo você. Estou
orgulhosa de você. E eu não consigo me imaginar estando em qualquer
lugar, exceto ao seu lado.
Nossos pulsos martelam novamente.
Eu levanto o queixo dela, o olhar dela queimando todas essas verdades
dentro de mim. Há pessoas raras que alimentam o fogo dentro de você,
que vai despertar uma paixão latente, que vai desafiar você, que vai te
empurrar e te melhorar. Ela sozinha é minha raridade.
— Eu sou sempre quem ou o que as pessoas precisam que eu seja, —
eu digo com força, — mas você foi a única que precisou que eu fosse eu.
Ela assente com a cabeça, lágrimas nos olhos. — Eu posso ouvir seu
coração batendo.
Meus lábios sobem mais e eu coloco uma mecha de cabelo atrás da sua
orelha. — Ele bate em tempo igual com o seu. — Eu beijo o oco de seu
pescoço e sussurro, — Toujours.
Sempre.
[ Epílogo ]
ROSE COBALT
Um Mês Depois — Eles estão aqui em algum lugar, — diz Lily, escondida
nas profundezas de seu closet. Ela continua passando os cabides,
esperando encontrar dois dos meus casacos de pele que ela pegou
emprestado ao longo dos anos.
Eu me agacho ao lado da prateleira de sapatos, fingindo caçá-los. —
Você pode manter os casacos...
— Não, — ela diz inflexivelmente pela quinta vez.
— Eu quero que você os tenha, — repito, também pela quinta vez.
— Eu não consigo ouvir você, — ela mente e depois desaparece na
escuridão das camisas sociais pretas de Loren Hale. Ela definitivamente
pode ficar com eles se eles estiverem traidoramente fazendo
acampamento entre as camisas dele.
Eu deixo escapar um suspiro pesado e olho por baixo de uma pilha de
roupas, jogando sua camisa de lado e então uma - eca. — Lily! — Eu
grito, saltando e ficando reta, como um gato feroz.
A cabeça de Lily aparece entre as blusas. — O quee...
Eu aponto para a pilha de roupas no chão, o que parece ser uma cueca
boxer masculina no topo. — Isso está sujo?
Ela murmura algo que soa como talvez e desliza de volta para as
trevas. Eca, eu acabei de tocar na cueca suja de Loren Hale. Eu saio do
closet e entro no banheiro, esfregando minhas mãos vigorosamente na
pia.
Eu jogo sabão extra e ensaboo as palmas das mãos. Três minutos
depois, seco minhas mãos em uma toalha cinza.
— Encontrei eles, — Lily ofega e segura meus dois casacos.
Meu rosto cai. Eu estava sinceramente esperando que ela não os
encontrasse. — Tem certeza de que você não os quer? — Pergunto.
— Você os usa mais do que eu, — ela expressa. — Eu quero ter certeza
de que você tem tudo o que faz você se sentir confortável.
É a última parte de mim nessa casa. Eu fui erradicada.
Você escolheu isso, Rose. Eu sei. Estou me mudando para o final da rua
com Connor e Jane. Nós planejamos esperar mais, talvez anos antes de
nós realmente empacotarmos nossas coisas e deixar Lily e Lo, e Ryke e
Daisy sozinhos. Mas quando chegamos em casa da França - com câmeras
quentes em nossos rostos, nos acusando de relacionamentos incestuosos
que eram absolutamente desprezíveis - acho que nós dois sabíamos que
a distância ajudaria a todos.
Era a hora.
Seguir em frente é um sentimento agridoce. É se despedir de uma era
com minhas irmãs e dizer olá para uma era com meu marido. Eu nunca
estive pronta ou preparada para fazer isso, mas estou agora.
Eu só queria que pequenos pedaços de mim ainda fossem deixados nos
closets das minhas irmãs. Como meus casacos. Como meus saltos altos ou
um colar que eu as emprestei. Eu não quero ser erradicada. Eu quero ser
lembrada.
Do meu silêncio, Lily diz, — Você só está se mudando para o final da
rua.
Eu reviro meus olhos. — É o princípio. — Eu tiro meu cabelo do meu
ombro e relutantemente pego os dois casacos, marchando para fora do
quarto com ela do meu lado.
— Eu vou ficar com um, — diz ela. — Você se importari...
— Qual deles? — Eu contenho meu sorriso, embora eu o sinta crescer
dentro de mim.
— O marrom.
Lhe passo o casaco macio e ela o abraça no peito. — Eu vou encontrar
você lá fora!
Ela corre de volta pelo corredor para colocar o casaco em seu quarto.
Desço as escadas até a sala de estar, e roço as costas do sofá com a
mão, como se estivesse me despedindo. Eu paro logo antes do Hall de
entrada, e gravo esse lugar em minha mente. Não está vazio.
Está apenas vazio de mim.
Eu passei mais de um ano aqui, a primeira vez que eu morei com Daisy
e Lily juntas. Minha filha andou pela primeira vez na sala de estar. Ela
falou sua primeira palavra na cozinha. Finais me tornam sentimental
como os novos começos, e suponho que, se eu olhar de perto, eles são os
mesmos.
Lily desce as escadas com o gorro Wampa, os cabelos castanhos até o
ombro parecendo lavados e limpos. Suas pernas desengonçadas se
movem rapidamente abaixo dela, e eu inalo fortemente, embolsando
minha estranha fragilidade.
— É isso? — Lily me pergunta, apontando para o casaco.
— Sim, — eu digo, — isso é o último de mim.
Lily franze a testa. — Não fala assim. Me deixa triste.
— Isso é triste. Ainda estou esperando você chorar por mim. — Abro a
porta da frente.
Lily puxa as abas do gorro. — Você disse que eu não deveria chorar se
você não estivesse morrendo.
Não duvido que tenha dito isso. Eu gostaria apenas de um pouco de
emoção hoje de alguém que não seja eu. Eu não posso ser a única a
experimentar este coquetel agridoce, posso?
— Biiibiiii! — Daisy dirige em círculos com um carrinho de golfe na
entrada da garagem, um sorriso torto iluminando seu rosto.
Sim, eu sou a única em luto por mim mesma, porra.
Daisy leva o carrinho de golfe até a frente da casa e vira rapidamente
como se estivesse fazendo um teste para um comercial de carro. — Olá,
lindas senhoras. Querem uma carona no meu veículo? — Ela mexe as
sobrancelhas e esfrega o volante.
Lily ri e eu reviro os olhos, escolhendo sentar ao lado dela enquanto
Lily se senta atrás. Compramos um carrinho de golfe na mesma época em
que compramos a casa no final da rua. É mais fácil do que entrar em um
carro - e caminhar, é claro.
— Seu chupão está aparecendo, — digo a ela e arrumo meu cabelo no
menor espelho retrovisor que já vi.
— É uma mordida de lobo. — Ela bate os dentes e em seguida, sorri
mais largo, uma marca vermelha clara em seu pescoço. Além do chupão,
ela usa o boné de beisebol de Ryke para trás e uma camiseta que diz,
“Calma aí, pirata. Eu quero seu tesouro.”
— Contanto que você esteja feliz com isso, eu estou feliz, — eu digo
distante, me encostando no assento e ela vira o carrinho de golfe em
direção à rua. Eu me preparo para o caso de Daisy chicotear o carrinho
de golfe novamente, e eu verifico Lily. Ela se agarra a almofada branca de
seu assento - com medo de ser jogada para fora.
Lily murmura para mim, eu estou com medo.
Estamos indo a menos de 20 quilômetros por hora, mas ela viu Ryke
acidentalmente jogar Loren para fora essa manhã. Ele também estava
dirigindo em círculos.
Mas Daisy está dirigindo em linha reta agora.
Antes de Lily se voluntariar para caminhar até a minha nova casa, eu
estendo a mão e seguro seu braço, silenciosamente dizendo a ela que ela
não vai cair. E se ela fizer isso, eu vou cair com ela.
— Prenda a respiração, — Daisy diz rapidamente, assim que o
carrinho de golfe passa por uma mansão familiar do outro lado da rua, a
fita e os carros da polícia ausentes. Eu imediatamente inspiro o ar de
volta para os meus pulmões, um hábito que Daisy começou quando Scott
foi escoltado do bairro e o pessoal da mudança empacotaram suas coisas.
Ainda está à venda, mas nenhum de nós vai comprá-la, uma aura
escura praticamente circulando a mansão.
Nós nunca vamos ter que ver Scott Van Wright novamente. Ele se
declarou culpado para evitar uma sentença mais dura. Ele sabia que o
júri teria todas as evidências para considerá-lo culpado de qualquer
maneira. As principais agências de notícias publicaram a história sobre
como o produtor executivo (finalmente isso foi anunciado publicamente)
de Princesas da Filadélfia enfrentava acusações federais de filmar e
assistir a pornografia infantil de Daisy Calloway.
O mundo vê minha irmãzinha como uma queridinha aventureira e de
espírito livre e para ele se aproveitar dela, de qualquer forma, mostrou
sua verdadeira forma como a cobra rato repugnante que ele é. Uma
criatura vil que merece estar na prisão.
O juiz concordou.
Scott aceitou o acordo de nove anos de prisão, depois mais cinco anos
em liberdade condicional. Como era um caso altamente divulgado, o juiz
quis fazer ele de exemplo e ele foi mais duro do que o esperado.
Passamos pela propriedade e expiramos juntas.
— Willow ainda está trabalhando? — Pergunto a Lily. A irmã de Loren
quer economizar para a faculdade e todo mundo continua se oferecendo
para pagar por ela, mas ela está evitando. Acho que ela quer provar que
está aqui não por dinheiro ou notoriedade, mas para fazer parte da vida
de seu irmão. E a única maneira de fazer isso é ser a mais autossuficiente
possível.
— Sim, — diz Lily. — Eu tentei colocar mais dinheiro no seu salário,
mas ela percebeu e não aceitou nada mais que os outros funcionários.
Willow é nobre e ela tem um grande sistema de apoio aqui, em
qualquer coisa que ela escolha fazer. Tudo o que peço é que o seu ‘amigo’
a trate bem. Garrison ainda trabalha com ela, mas ela disse que o baile
terminou sem um beijo ou qualquer promessa de algo mais.
Lily segura o meu braço que a segura. — Então… O que acontece se eu
precisar perguntar sobre um livro ou uma constelação ou... um
personagem engraçado na televisão que parece um presidente, mas não
tenho certeza de qual presidente é - eu só... eu ligo para você? Ou vou
para sua casa ou procuro no google...
— Você não está me substituindo pelo Google.
Lily acena algumas vezes. — Então eu te ligo?
— Ou você pode vim na minha casa. Eu sempre vou na sua casa
também.
Lily acena novamente, com mais certeza. — Ok.
— Chegamos, — Daisy anuncia, subindo no meio-fio e indo para a
entrada de carros. As tulipas cor-de-rosa enquadram ambos os lados do
cimento, a beleza não passa despercebida por mim, não importa quantas
viagens façamos em direção à casa. Ficamos quietas, ouvindo o jorro de
um chafariz. Quando a última árvore de tulipa passa, o chafariz aparece,
ficando diante da mansão como se anunciasse sua presença majestosa.
Revestimento branco, molduras lindas, uma imponente porta dupla - é
uma casa que eu nunca pensei que estaria à venda. O tumulto da mídia
fez uma viúva se mudar e nós compramos essa propriedade de dez
quartos dela. É apenas um pouco maior que a casa em que vivíamos
antes e, dependendo do destino, pode ser grande demais, pequena
demais ou adequada para o tamanho da família Cobalt.
Daisy dirige pela fonte e estaciona. — Desçam.
Eu pego meu casaco de pele e minha bolsa e entramos em minha nova
casa. Somos recebidas primeiro pelo teto arqueado e pelo lustre de
cristal.
— Eu sempre me sinto como a Cinderela quando eu entro aqui, — Lily
sussurra atrás de mim.
— Por que você está sussurrando? — Eu pergunto.
— Parece um daqueles lugares em que você sussurra, — ela sussurra e
depois fica vermelha. — Certo?
— Não é um museu ou um cemitério, — eu digo, esperando que ela
não se sinta assim sobre minha casa por muito tempo.
— Eu acho que é apenas diferente, — diz ela suavemente. — Eu nunca
te visitei na faculdade. Você me visitou, e quando eu fui para sua casa, eu
estava morando com você… então era minha também.
Essa é a primeira vez que ela está pisando em algo que não
compartilhamos.
Ela diz, — Você está certa. Eu não deveria sussurrar. — Ela solta um
suspiro apertado e então nós duas seguimos Daisy em direção à grande
sala de estar, móveis de camurça já arrumados, mas ainda há muitas
caixas de papelão para desempacotar. Portas francesas de vidro levam a
uma piscina e lareira ao ar livre...
— ...Eu não me importo se nunca fizermos isso, porra. — Eu pego a voz
de Ryke no meio de uma conversa.
— Você esquece o quão apertado é, — diz Loren casualmente. Quão
apertado - Loren. Ugh. Eles estão falando sobre minhas irmãs e sexo, eu
suspeito.
Meus saltos batem contra o chão de madeira e ambos calam a boca no
minuto em que eu chego na porta com Daisy e Lily.
— Porra, — Ryke amaldiçoa enquanto Loren Hale não parece nem um
pouco culpado. Eles estão no tapete branco, dando um tempo dos objetos
pesados. Suas latas de Fizz Life descansam em caixas de papelão e Moffy
e Jane se perseguem instáveis em torno da nova mobília.
Connor bebe vinho e está em pé, supervisionando as crianças mais do
que esses dois.
— Você pode andar fazendo um pouco mais de barulho da próxima
vez? — Pergunta Lo com um meio sorriso, sua mão direita ainda em um
gesso preto. — Obrigado.
— Talvez você não devesse falar sobre sexo anal pelas nossas costas,
— retruco, capaz de deduzir o assunto da conversa.
— Tudo bem, vou falar sobre isso na sua cara, — desafia Lo. — Eu ouvi
dizer que você gosta de tomar na bunda. — Ele levanta sua lata de Fizz
Life para mim. — Saúde.
Eu estreito meus olhos para o meu marido. — Richard.
Ele parece tão inocente quanto Loren. — Rose, — diz ele e, em seguida,
bebe seu vinho com um sorriso.
Lily se inclina para mim. — Estávamos falando sobre anal trinta
minutos atrás. — Isso é verdade. Daisy trouxa esse assunto em uma
conversa casual, admiti tentar, e sim, gostar disso.
Então não é diferente para os caras fazerem o mesmo. É só que Loren
sabendo disso... Eu estremeço, mas ele não parece feliz com o
conhecimento. Bom.
Eu coloco meu casaco no sofá, observando uma husky dormindo nas
almofadas com uma gata malhada laranja enrolada em cima do estômago
da cachorra. É a amizade mais bizarra de todos nós, concluímos. Sadie e
Coconut deveriam ser inimigas mortais, mas foram amigas à primeira
vista.
No entanto, Sadie não se acostumou com as crianças, não inteiramente,
mas apenas Jane realmente tenta se aconchegar com ela, mesmo quando
a gata está sendo teimosa. Eu sempre mantive um olho em ambas para
evitar qualquer tipo de arranhão.
— É só isso? — Ryke pergunta, se levantando com Loren. Os dois
olham para o casaco, a última coisa que eu precisava.
Eu aceno, sabendo que eles estão prontos para voltar para casa. Lo
pega Moffy e o joga por cima do ombro, o garoto dá gargalhadas. —
Aproveite esse voo, homenzinho.
— E se minha menstruação atrasar? — Lily de repente me pergunta. O
quarto se acalma e todos os homens trocam olhares de preocupação. —
Hipoteticamente, — ela acrescenta, ficando vermelha. — Eu ligo para
você ou venho até aqui ou eu...
— Você vem me ver. — Eu seguro a mão dela, e então eu seguro a da
Daisy, que tem estado suspeitamente quieta desde que entramos na casa.
Ela não está sorrindo como estava no carrinho de golfe.
— E se... Se eu estiver tendo um dia ruim e precisar que você entre no
meu quarto… E você faz aquela coisa onde abre as cortinas muito rápido
e toda a luz entra… — Ela começa a chorar.
Isso desencadeia Daisy, que começa a chorar também.
E agora estou chorando, porra. — Qualquer um pode abrir suas
cortinas.
— Não como você abre. — O sistema hidráulico da Lily não cessa. Por
que eu pedi por isso? Meus olhos ardem terrivelmente, e não importa
quantas grandes inspirações eu tome, um peso afunda em meu peito. Isso
não é um adeus, Rose.
Daisy acrescenta em lágrimas, — Vou sentir falta do som dos seus
saltos de manhã.
— E quando você sempre colocava pop tarts na torradeira para nós,
mesmo que você odeie pop tarts, — Lily chora.
Estamos todas uma bagunça. Eu aperto suas mãos, mas isso só
intensifica o que resta entre nós, um adeus subjacente, mesmo que não
seja permanente, fixo. Isso é adeus de nossas vidas em uma casa juntas.
— Eu amo vocês duas, — eu digo a elas fortemente, — e eu sempre
estarei aqui se vocês precisarem de mim.
— Quando, — Daisy corrige. — Quando precisarmos de você.
Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e elas me abraçam ao
mesmo tempo. Eu sou a mais velha delas, mas eu considero Daisy e Lily
totalmente iguais a mim, os lados mais doces e mais amáveis de uma
irmã Calloway, enquanto eu sou o lado feroz.
Quando nos separamos, todas nós nos viramos para nossos homens,
todos parecendo um pouco sufocados. Loren tem seu filho ao seu lado
agora, não mais por cima do ombro.
— Ela não está morrendo, — Loren lembra Lily. — E eu posso colocar
pop tarts para você.
— Não é a mesma coisa. — Lily funga, hesitante, saindo do meu lado.
— Você gosta de pop tarts e comeria os meus.
Ele suspira, desejando poder acabar com sua tristeza, sabendo que não
pode. O melhor que ele faz é colocar Moffy em frente ao peito e então Lily
pula em suas costas, envolvendo as pernas em volta da cintura dele. Eles
vão em direção à porta da frente assim.
Ryke parece estar do mesmo jeito que o Loren, passando a mão pelo
cabelo grosso. Ele espera pacientemente que Daisy saia do meu lado.
— Moffy! — Jane chama, porém não tão coerente assim.
Connor a pega antes que ela saia em busca de seu primo. Ele a distrai
com sua taça de vinho antes de encontrar um brinquedo de pelúcia.
— Você vai me ligar todos os dias como você fazia antes? — Daisy
pergunta, sua cicatriz ao longo de sua bochecha mais avermelhada já que
ela está chorando. Quando eu estava na faculdade longe de todos, eu
costumava ligar para ela todos os dias como eu fiz com Lily e Poppy. Eu
fiz disso uma rotina para manter contato, mesmo que eu me tornasse um
incômodo.
— Você provavelmente vai me ver mais do que eu vou te ligar, — digo
a ela. — Eu prometo.
— Você vai a minha consulta médica comigo? — Ela pergunta. É a
primeira vez que ela pede isso em voz alta. — É tudo muito confuso e...
Acho que você entenderia os tratamentos de fertilidade e todas as opções
que eles continuam jogando em mim.
Eu aceno com a cabeça, restringindo o maior número de lágrimas
possível. — Claro. — Eu limpo sua bochecha. Ela está adiando qualquer
tipo de cirurgia ovariana até ter uma noção melhor dos efeitos a longo
prazo.
— Ok, irmã mais velha, — diz Daisy com um sorriso sincero. — Eu vou
te ver amanhã então. — Nós soltamos nossas mãos, e ela se aproxima de
Ryke.
— Calma aí, pirata, — diz ela com meio rindo, meio em lágrimas,
incapaz de conter sua tristeza como ela geralmente consegue fazer. Ela
cobre o rosto com as mãos para esconder.
Ryke a abraça no peito e beija o topo da cabeça dela. Daisy esfrega o
rosto e depois assobia. Coconut salta do sofá e corre para o lado dela.
Então todos saem em silêncio, Ryke acena para mim em reconhecimento
na saída.
As portas duplas se fecham.
Eu atordoadamente me sento ao lado de Sadie no sofá. — Isso foi
brutal, — eu digo a ela com naturalidade.
Ela ronrona em acordo antes de se alongar - e depois cai de volta em
um sono. A almofada ondula enquanto Connor se senta ao meu lado com
Jane no braço. Ele me passa a minha própria taça de vinho, eu tiro meus
saltos e descanso meus pés no sofá.
Ele me puxa para mais perto dele, até que eu inclino o peso de todo o
corpo contra o seu lado e ele coloca a mão na minha coxa. Eu bebo meu
vinho e ele passa os dedos pelo meu cabelo.
— Está quieto para você aqui? — Eu pergunto.
— Não, querida, — diz ele.
— O que você ouve? — Eu tomo outro gole e estico minha mão para
que Jane possa brincar com o bracelete no meu pulso. Ela imediatamente
se interessa por ele.
— Despertadores apitando durante os dias de aula, em vários quartos,
— diz Connor. — Eles continuam tocando em diferentes intervalos.
Eu sorrio, imaginando adolescentes apertando o botão soneca. —
Quem os acorda, eu ou você?
— Nós nos revezamos. — Claro que nos revezamos.
— O que mais?
— O bater das portas do banheiro e torneiras sendo abertas. Música
nos quartos e risadas - sempre risadas.
Eu descanso meu queixo em seu ombro. — Eu devo estar rindo do seu
sorriso.
Ele imediatamente abre um sorriso completo.
— Eu não estava brincando, Richard. — Eu estreito meus olhos para
ele.
— Você não ri quando sorrio, você faz isso. — Ele aperta meu queixo
de modo que minha cabeça se ergue do ombro dele. Eu estou esculpindo
meu nome em sua testa com olhos de punhal. — Você sabe o que é uma
'risada'?
Eu lhe dou um olhar de zero divertimento. — Eu vou arrancar sua
língua.
Seu sorriso se espalha. — Então a casa ficará literalmente e
figurativamente silenciosa.
Eu coloco minha mão em frente ao seu rosto, e ele beija minha palma...
e então ele me beija, minha respiração fica presa na minha garganta e
minha taça de vinho quase escorrega dos meus dedos.
Seus lábios contra os meus, eu beijo de volta.
E eu ouço despertadores soando, risos na cozinha, gritos na piscina. Eu
ouço o pulso vigoroso do nosso futuro, rugindo com a vida.
EM BREVE