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Sinopse
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Sinopse
O perseguido se torna o perseguidor. Depois de anos tendo Rowena
MacLawry, a irmã mais nova de seu melhor amigo rondando, o que Lachlan
MacTier quer fazer é fugir. Mas, em seguida, Winnie foge para Londres,
determinada a esquecer Lachlan no redemoinho de sua temporada de
debutante.
Quando ela retorna, três meses depois, se preparando para o pródigo
casamento Highlander de seu irmão mais velho, Rowena é uma mulher
mudada. Sufocou seu sotaque escocês, se tornando um árbitro das últimas
modas de Paris e Londres, e está na companhia de vários jovens e bonitos
aristocratas ingleses, todos competindo por seus favores.
Lach não sabe bem o que fazer com esta beleza espirituosa e sofisticada,
que agora tem coisas melhores a fazer do que segui-lo até uma lagoa de
pesca. Mas, por mais determinada que esteja em provar que não tem
necessidade de bajular um ladino escocês vestindo kilt, que não podia
sequer se incomodar em escrever-lhe uma única palavra, e quanto mais
deseja se afastar, mais interessado ele está em Winnie. Está fingindo
desdenhá-lo agora, ou será que realmente perdeu a chance com uma dama
que está se tornando muito mais agradável e interessante do que jamais
imaginou?
A Fera das Highlands
Prólogo
—O que você acha, Lachlan?
Com seu coração batendo, Lady Rowena MacLawry fez uma pirueta no
meio da sala matinal, em Glengask House. O vestido percorreu um longo
caminho, vindo de Paris. Praticamente flutuava no ar, cor de malva e num cinza
escuro que sabia que combinava precisamente com seus olhos, porque passou
horas segurando amostras do material para ver seu reflexo espelhado, até que
tinha encontrado a tonalidade perfeita.
—O que acho sobre o quê? —perguntou Lachlan MacTier, Visconde Gray,
voltando do canto da sala.
—Meu vestido —respondeu, tentando não soar melancólica.
Ele olhou por cima das cartas que estava jogando contra seu irmão mais
velho Munro. —Oh. É chique. Vai ter um baile à fantasia no seu aniversário,
então?
Rowena franziu a testa, deixando cair as dobras da saia que estava
segurando, para mostrar as bainhas com renda. —Isto não é uma fantasia. É o
meu vestido novo. Ranulf não quer me dizer se comprou um vestido, então tive
este garantido. Não posso ficar sem um vestido novo para o meu aniversário
de dezoito anos.
Munro riu. —Deus, Winnie, você sabe, poderia queimar metade do seu
guarda-roupa e ainda assim não usaria o mesmo vestido duas vezes em um
mês.
—Oh, esteja calado, Bear —, ela respondeu, usando o apelido bastante
apropriado a seu irmão. —Uma dama deve ter vários vestidos.
—Uma dama —, Lachlan repetiu com um grunhido. Ficando de pé,
caminhou até puxar seu longo rabo de cavalo, preto meia-noite. —Não acho
que uma dama tenha nós em seu cabelo.
Ela tentou ignorar a picada correndo por seu couro cabeludo. —Não tenho
nós no meu cabelo.—
Ele puxou novamente. —Hoje não.
—Vou colocá-lo para a festa, enfim. Ranulf disse que poderíamos ter quatro
valsas. Quatro!
—Sim? —Lachlan sentou-se novamente, uma mecha de seu cabelo
castanho-escuro caindo sobre um olho verde-claro, enquanto a olhava. —Boa
sorte em encontrar quatro rapazes dispostos a enfrentar o Marquês de
Glengask, encarando-os como o próprio diabo.
Três. Só precisava encontrar três rapazes, porque ele seria o quarto. Foi
assim que tinha imaginado por meses e meses. Rowena manteve sua expressão
cuidadosamente divertida. —Ranulf é meu irmão; não meu carcereiro. E gosta
de você, Lach. Poderíamos valsar.
—Sim, ele gosta de mim. Eu sou um chefe do clã MacLawry, e concordo
com o modo como está guiando o clã. E não podemos esquecer que mantém
todos os MacTiers no clã MacLawry, e ele é o MacLawry.
Sim, e Ranulf tornou-se o chefe do clã MacLawry e Marquês de Glengask
aos quinze anos, quando Rowena tinha apenas dois anos. O clã foi a sua
primeira memória consciente. E Lachlan foi... Lachlan, oito anos mais velho
que ela e o amigo mais próximo de seu irmão Bear. Bonito como pecado e
destinado a casar com ela. Só que ultimamente tinha começado a se perguntar
se ele tinha percebido isso.
—É mais do que isso, e sabe disso. —Rowena deu um suspiro exagerado.
—Estou com vontade de dar uma caminhada através do vale. Gostaria de me
acompanhar?
—Não, enquanto Bear me dever cinco libras —, ele voltou, pegando outra
carta e, em seguida, levantando-a. —Onde está Arran?
—Na biblioteca, aposto —, Bear expôs. —Ele vai com você.
Mas não queria caminhar com Arran; sim, ele tinha uma melhor
compreensão da moda e um melhor e adequado comportamento cavalheiresco
que Munro ou Lachlan, mas no final, ele era o irmão dela, ficando entre Ranulf
e Munro. As damas em An Soadh e Mahldoen sussurravam que Arran era
diabolicamente bonito —embora dissessem isso sobre todos os seus três
irmãos —mas o simples fato era que ele não seria Lachlan. —Vou sozinha —,
anunciou, e girou nos calcanhares.
Oh, isso era tão exasperador! Lá estava ela, uma semana antes de seu
aniversário de dezoito anos, uma jovem dama de recursos e boa educação e
muito bonita, se pudesse dizer isso de si mesma. E o homem com quem
pretendia se casar, encontrava-se a jogar uma partida maçante de cartas mais
interessante do que dar um passeio com ela. Provavelmente poderia dizer que
estava indo para a despensa da cozinha para escapar através dos túneis
jacobitas debaixo de Glengask, e Lachlan só iria dizer-lhe para levar uma
lanterna com ela. Supostamente deveria ser cavalheiro e atencioso, mas não...
não estava interessado.
—Não deveria persegui-lo tanto. —Um baixo sotaque veio da porta da
biblioteca quando passou, e Arran surgiu para juntar-se a ela marchando pelo
corredor. Ou antes, ela estava marchando; com o seu corpo alto e longo,
marchar seria meramente um passeio para ele.
—Não estou perseguindo ninguém. Estou saindo para dar uma caminhada, e
perguntei se Lachlan gostaria de se juntar a mim.—Fez uma careta. —E por
que ele não quer? Sou uma moça encantadora, não sou?
—Sim, você é —, seu irmão mais velho voltou. —Você também é... uma
amiga.
—Não sou uma amiga! —Ela protestou. —Nem sequer me beijou.
—Se tivesse, provavelmente estaria morto, ainda mais que só tem dezessete
anos. —O olhar que lhe enviou foi tanto avaliador como sério. —Não quero
que se comporte de forma inadequada. Quero dizer, ele lhe conhece desde que
nasceu e o tem importunado desde que aprendeu a falar.
—Isso não é importunar. Isso é flertar.
—É uma linha tênue, piuthar[1].
—Não sou uma tola, bràthair[2] —, respondeu. Isso era ridículo. Claro que
sabia a diferença entre flertar e importunar. Mas Arran era o mais inteligente
deles. Até passou um tempo no exército inglês e vira o Príncipe Georgie.
Ignorando o que ele disse sobre ser imprudente. —Quer dizer, ele está
acostumado comigo. Que não sou mas que uma... peça de mobiliário que
aprendeu a ter por perto.
—Sim, eu supon...
—Então tenho ainda mais uma razão para ir a Londres para a minha
temporada. Então Lach vai-me ver como uma dama. Então aprenderei a ser
mais do que uma moça Highlands.
—Não tenha muitas esperanças nisso, Winnie —, seu irmão retornou,
parando no hall de entrada para pegar e entregar-lhe um pesado casaco.
—Sabe que Ranulf não vai permitir isso.
Ela vestiu o agasalho e amarrou seu chapéu debaixo do queixo. Só tinha
começado a usar chapéu adequado a uma dama ao longo das últimas semanas,
e as fitas ainda a arranhavam. —Pedi-lhe para me dar uma temporada como
presente de aniversário —, disse ela, acenando para Cooper quando o
mordomo abriu a porta da frente. —E sabe que não vai negar—me uma coisa
se for no meu aniversário de dezoito anos.
—Eu sei disso, e conheço Ranulf —, Arran comentou, oferecendo seu
braço para ela.
Um olhar pelo corredor lhe disse que tanto Lachlan quanto Bear pareciam
perfeitamente satisfeitos em deixá-la ir andar sozinha. Ou isso, ou ouviram
Arran se juntar a ela. Apesar do que teria preferido pensar das suas maneiras
nada cavalheirescas, a última explicação fazia mais sentido. Todos sabiam que
ela nunca saía sem escolta. Não com Campbells e Dailys e Gerdenses à
espreita nas fronteiras.
O que Arran tinha dito, tudo o que tinha dito —fazia sentido, também.
Lachlan MacTier estava acostumado com ela, e claramente ainda a via como
uma garota pequena, que grudava nos rapazes para pegar rãs e caçar coelhos.
Para alterar isso, precisava de uma temporada em Londres.
Sua própria mãe tinha tido uma temporada em Londres, mas é claro, era
inglesa. As chances de Ranulf concordar que sua única irmã devia seguir os
passos de sua infeliz mãe eram péssimas. Quase não falavam o nome de
Eleanor Wilkie-MacLawry, e eles não o tinham feito desde que ela tinha
ingerido veneno, ao invés de ficar viúva nas Highlands, com quatro filhos
indisciplinados.
Mas nada disso alterava o fato de que Rowena queria —precisava —ir
para Londres e que Ranulf provavelmente iria proibi-la. Bem, supôs que tinha
uma semana para elaborar seus planos. E se convencer de que as
consequências que viessem no caminho, valeriam a pena, como resultado.
E se Lachlan não apreciasse a jovem em que queria tornar-se, com certeza
poderia encontrar um inglês bonito e com título, que a quisesse.
Capítulo um
Três meses depois
—Paixão. Foi isso. —Rowena MacLawry virou a mão para o par de jovens
damas sentadas à sua frente. —Quero dizer, pelo amor de Deus, não conhecia
ninguém.
Lady Jane Hanover manteve o olhar voltado para fora da janela da
carruagem. —Acho que ficaria mais convencida se conservasse seus
sentimentos por Lorde Gray e gastasse menos tempo falando sobre como não
dá a mínima para ele.
—Não seja rude, Jane —, sua irmã mais velha, comentou. Lady Charlotte
sorriu para Rowena. —Falar abertamente de uma complicação, muitas vezes
faz maravilhas para se libertar. E considerando que passou dezoito anos vendo
Lorde Gray de uma forma particular, espero que isso leve algum tempo para
vê-lo de forma diferente.
Rowena assentiu, chegando do outro lado da carruagem para apertar a mão
da filha mais velha do Visconde Hest. —Da mesma forma, ela concordou,
cuidadosamente enterrando seu sotaque sob os tons ingleses cultivados, que
tinha passado os últimos três meses aperfeiçoando. —É uma nova maneira de
pensar sobre as coisas, é tudo. —Deslocando-se, olhou pela janela para pegar
um vislumbre da longa cauda de carruagens atrás deles. Civilização nos
cascos, por assim dizer.
O conteúdo desses veículos foi o resultado de três meses passados
aprendendo a ser uma dama sensata, de lembrar-se que os cavalheiros
pareciam achar divertido que damas conversassem sobre tosquia de ovelhas e
pesca e banho em um lago como se fossem pagãos. Bem. Não era uma pagã. E
agora tinha os amigos e admiradores e guarda-roupa e maneiras, para provar
isso.
—Todos temos que encontrar uma nova maneira de pensar, não é? —Jane
comentou, mudando-se para sentar-se ao lado Rowena. —Você e eu estamos
prestes a nos tornarmos cunhadas. E estamos na Escócia, de todos os lugares!
Todos os Highlanders usam kilts? Nunca pensei em perguntar.
Por mais que pudesse apreciar um homem impecável nas cores preto,
vermelho e branco do clã MacLawry, Rowena continuou a ficar surpreendida
com a maioria da paixão de seus amigos ingleses ‘com o traje’. —Hoje todos
vão estar em kilts e cores do clã. Ranulf vai querer que sua noiva veja
Glengask no seu melhor.
A cor tocou o rosto de Charlotte, o que foi bastante animador. Rowena não
pensou que a filha mais velha de Lorde Hest poderia parecer tão calma quanto
tinha estado fingindo ao longo dos últimos dias. Não, quando estava prestes a
lançar seus olhos sobre o que seria seu novo lar. Sua nova vida.
Sufocou uma careta abrupta. Charlotte estava viajando para o norte, para
uma nova vida com um homem que a adorava. Tudo o que ela estava fazendo,
porém, era voltar para a sua antiga vida, depois de três meses gloriosos em
Londres. Nada tinha mudado para ela, exceto ela, é claro. No entanto, quanto
tempo duraria isso, de volta nas Highlands com seus irmãos? Não pertencia
mais aqui. Pertencia à maravilhosa e sofisticada Londres.
—Contudo, seja como for que se sente sobre Lachlan MacTier e, como ele
se sente sobre você, imagino que vai ficar muito surpreso ao vê-la novamente,
Winnie. —Charlotte sorriu. —E o que... —Ela parou de falar quando uma
vibrante melodia flutuou sobre elas. —O que é isso?
Finalmente, Rowena riu. Sobre qualquer coisa que pudesse perturbá-la, os
quatro irmãos MacLawry estavam prestes a se reunir. Juntos, em Glengask,
eram imbatíveis. E Glengask, por mais que desejasse estar centenas de milhas
ao sul, era onde tinha nascido. —Isso é ‘A vermelha, rosa vermelha’, —disse,
—tocado em pelo menos meia dúzia de gaitas de foles, ao que parece pelo
som disso. É uma canção de amor, para você, imagino. Estamos aqui.
Seu próprio coração acelerou, assim poderia imaginar que o de Charlotte
deveria estar acelerado também. Poderia dizer que se sentia ansiosa para ver
Bear novamente depois de três meses, e que queria jogar os braços em volta
do perspicaz Arran e de sua nova esposa, depois que tinham passado uma
quinzena fugindo de Campbells e MacLawrys. Poderia dizer que, quando
Ranulf tinha deixado Londres um pouco mais de uma semana atrás e ordenado
que todos o seguissem, ainda não estava pronta para partir. O que não queria
admitir era que parte de sua hesitação em voltar para a Escócia, tinha sido
aquele insignificante devaneio —aquele onde Lachlan MacTier a pegava em
seus braços e a beijava. Foi irritante que não conseguisse deixar de ser tão
tola, mesmo sobre um homem que claramente não a merecia. Paixão era uma
coisa estúpida, constrangedora, e deveria ser realizada completamente à
distância.
O timbre das rodas mudou quando a carruagem deixou a estrada de terra
esburacada para o cascalho de conchas de ostras amontoadas e
desconfortáveis, dobrando-se diante de Glengask. Tanto Charlotte quanto Jane
pressionaram-se contra as janelas e conversaram animadamente, mas Rowena
não estava pronta para olhar. Ainda não. Por mais que adorasse seus irmãos, o
sul da Inglaterra chamava por ela. Ou talvez seu desânimo fosse mais
profundo, temia sua própria reação ao ver Lachlan novamente, e era
simplesmente uma covarde.
—Oh, olhe, Charlotte! É Lorde Glengask! —Jane exclamou, praticamente
pulando em seu assento. —E também Arran e Mary Campbell!
—Lady Mary MacLawry, agora —, Charlotte corrigiu, enviando um outro
olhar sobre Rowena.
Supostamente deveria estar pouco à vontade ou com ciúmes? Rowena
questionou. Sim, tinha sido a única fêmea em Glengask nos últimos onze anos,
e sim, desejava que tivesse tido a oportunidade de conhecer Mary Campbell
antes de Arran fugir de Londres com ela, mas sinceramente a ideia de ter uma
irmã —ou duas delas, uma vez que Charlotte e Ranulf se casassem —a enchia
de alegria. Aquela casa tinha estado muito cheia de homens Highlanders
sangue quente por muito tempo.
—Aquele homem muito grande com eles —é Bear? Ou ele é o outro? Meu
Deus, ele é muito... musculoso.
—Pare de importunar, Jane. Vamos descobrir em breve.
Imediatamente Jane deixou a janela e agarrou a mão de Rowena. —Sinto
muito, Winnie —, disse ela. —Esqueci que saiu daqui com raiva.
Rowena apertou de volta. —Quer dizer que eu saí pela porta traseira e fugi
para Londres com raiva —, disse com um breve sorriso. —Sei que me
perdoaram, e se não o tiverem feito, só gostaria de salientar que Ranulf não
teria conhecido Charlotte, e Arran nunca teria conhecido Mary, se não me
tivessem seguido. Quanto ao resto, meus olhos estão abertos.
Quando terminou de falar, a carruagem balançou e parou. A porta se abriu
com tanta força que quase saiu de suas dobradiças, e antes que pudesse chiar,
Bear inclinou-se para dentro, agarrou-a pela cintura, e levantou-a para a
estrada em Glengask. Então foi tragada nos braços grandes e fortes e cercada
pelo cheiro familiar de couro e sabonete de menta.
—Bear, não consigo respirar! —Ela gemeu, mas o abraçou de volta. Se
Munro MacLawry estava feliz em vê-la novamente em casa, então tudo estava
certo com o mundo. Ou estava quase tudo, de qualquer maneira.
Finalmente, ele a soltou e deu meio passo para trás. —Por Deus —, falou
lentamente, o sotaque carregado das Highlands em sua voz, —Acho que está
mais alta. E olhe para seu cabelo, Winnie —está mais bonito que as asas de
corvo. Não acha, Lach? Ela mal teve tempo de mentalmente endireitar seus
ombros antes que o Visconde Gray aparecesse à vista. Como seus irmãos,
vestia seu kilt branco, preto e vermelho, mas era onde as semelhanças de
aparência terminavam. Onde seus irmãos eram altos e de ombros largos e
todos musculosos, Lachlan era mais magro e tinha a cintura mais estreita. Seu
cabelo era de um mogno profundo em vez de preto meia-noite dos MacLawrys,
mesmo que houvesse adotado a tendência de Bear para evitar um barbeiro.
Seus olhos sempre lembravam uma primavera exuberante —mas isso tinha
sido antes. Agora, eram simplesmente verdes.
—Sim —, disse, parecendo não saber ao certo se lhe dava um aperto de
mão ou um abraço. —Muito chique. Bem-vinda ao lar, Winnie.
Estendeu a mão para poupá-lo do dilema. Provavelmente não era culpa dele
que não tivesse um osso romântico em seu corpo, decidiu. —Você sem dúvida
está surpreso que não tenho nós em meu cabelo —, disse com um sorriso
praticado em seu novo sotaque praticado.
Suas sobrancelhas se juntaram. —O que aconteceu com sua voz?
—Perguntou.
—Nada aconteceu com a minha voz—, voltou, recuperando seus dedos tão
rapidamente quanto podia. Ele foi seu passado tolo, jovem. Isso foi tudo. E
trouxe seu futuro com ela naquelas outras carruagens, para que não precisasse
de nada dele, completamente. —É a maneira correta de falar. Agora, se me
permitem, gostaria de conhecer minha nova cunhada.
Com isso, virou-lhe as costas e deixou escapar um longo suspiro. Porque
tinha estado tão preocupada? Que fosse abandonar o seu bom senso e tentar
beijá-lo? Ha. Ele era apenas um homem —embora um homem muito bonito
—e já não era o único pretendente em potencial cujo conhecimento tinha feito.
Nem sequer era o único presente.
E por causa disso, ainda precisava manobrar um pouco mais. A meio
caminho de sua nova cunhada, dirigiu-se aonde seu irmão mais velho estava
com sua noiva. —Obrigada por me permitir convidar alguns amigos, Ranulf.
Com sua expressão ilegível, o Marquês inclinou a cabeça. —Preciso de
uma ou duas testemunhas Sassenach[3] no meu casamento, por isso vamos dizer
que isso é mutuamente benéfico. Embora ache que tinha em mente seus
próprios planos mais do que os meus quando enviou os convites.
—Bobagem, Ranulf. Trouxe alguns representantes das melhores famílias
inglesas. —A maior parte, de qualquer maneira.
Ele olhou de Charlotte a seus pais, que se aproximam em uma das seguintes
carruagens. —Suponho que vamos descobrir —, voltou-se então, deu meio
passo mais perto dela e abaixou a cabeça de cabelos negros. —Só tenha em
mente que aqui não é Londres. Vou enterrar qualquer rapaz que se aproxime
muito, Rowena.
—Não acho que nenhum deles se atreveria —, disse a verdade, quando a
pequena horda de ingleses começou a sair das carruagens e a perambular
ruidosamente até a estrada. —Este é o seu reino.
—Sim, é —, ele concordou, tomando a mão de Charlotte e olhando para sua
noiva como se tivesse passado muito mais de uma semana desde que a tinha
visto pela última vez. —Bem-vinda a Glengask, leannan[4] —, murmurou,
beijando seus dedos.
—É lindo —, Charlotte voltou-se com um sorriso caloroso, animado.
—Como você descreveu.
—É mais bonito com você aqui.—Ranulf inclinou a cabeça. —E sabia que
permitiam decapitações nas Highlands? —Perguntou, erguendo a voz.
—Desde quando? —Rowena perguntou, franzindo a testa. Estava
assustando todos antes que uma única peça de bagagem pudesse entrar na
mansão.
—Reconheço que existem regras diferentes nas Highlands, que esses
rapazes ingleses indolentes não estão acostumados —, continuou calmamente.
—Por exemplo, aqui não nos preocupamos em virar as costas para alguém, se
fizerem algo impróprio.
—Não —, Bear assumiu, olhando de seu irmão para a dúzia de carruagens
ainda cuspindo damas, cavalheiros e criados. —Aqui sangramos seu nariz e
ajustamos em sua bunda.
—E, em seguida, acharemos um bom e profundo pântano para descansar
debaixo —, Arran disse finalmente, compreendendo claramente o sentido da
declaração.
As bochechas da Rowena se ruborizaram. —Isso é o bastante —, ela
sussurrou. —Meus amigos não estão acostumados a ameaças e violência. E se
quer ser visto como cavalheiro —, continuou, apenas evitando apontar o dedo
na direção de Ranulf, —não se pode menosprezar as pessoas que não fizeram
nada de errado.
Ranulf levantou uma sobrancelha. —Posso ser um cavalheiro —, retumbou
em seu profundo sotaque Highlander. —Tenho os olhos, também. Tem um
grande número de homens Sassenach com você, piuthar. Não acho que estão
todos aqui para testemunhar meu casamento. Não conheço a maioria deles, por
exemplo.
—Isso não é...
—E eles principalmente têm que ter em mente que você é minha única irmã
—, pressionou, —e que não passei esse tempo todo cuidando de você para
que alguma coisa... Inaceitável, acontecesse agora —. Soltando a mão de
Charlotte, deu um grande passo para a frente. —Também não quero deixá-la
esquecer sua herança, no entanto, mesmo que você opte por falar bonitinho —,
continuou, em voz muito baixa agora. —Estamos entendidos, Rowena Rose
MacLawry?
Foi preciso uma grande força de vontade para olhar em seus olhos azuis
impassíveis. —Sim. Sim. Eu entendo.
—Bom.
Ha. Isso de homens que apostavam sobre a quantidade de whisky que
poderiam consumir. Bem, seria melhor que seus irmãos e Lachlan se
comportassem, também. Porque tinha uma boa ideia de que seus novos amigos
não iam ser o problema. Afinal, todos tinham tido governantas e tutores e
instrutores de dança. Todos sabiam como se comportar em bailes e jantares
formais e festas em casa. E se Ranulf tinha percebido ou não, estava muito
perto de preferir aquela vida com a qual tinha crescido. Não demoraria muito
mais para desequilibrar a balança. Na verdade, o homem certo poderia fazê-lo
facilmente. Com um movimento brusco de suas saias, seguiu para onde Arran e
Mary estavam, um pouco além da multidão, na porta da frente.
***
Lachlan MacTier deu um passo para trás para evitar que seus pés fossem
atingidos pelos baús. —Sabia que estava trazendo metade dos nortistas de
Londres com ela? —Murmurou para Bear ao seu lado.
—Não —, Munro rosnou de volta. —Ran disse que a família de sua
Charlotte e alguns amigos de Winnie e dos Hanovers viriam assistir ao
casamento. Não essa horda. —Suas sobrancelhas baixaram. —São todos...
bastante... Delicados.
—Sim.—Lachlan olhou depois para um rapaz alto e esguio, com detalhes
em sua camisa e cabelos loiros que pareciam tão lisos e brilhantes, que
provavelmente poderiam refletir a luz do sol. —Delicados.
Seja o que for que Bear disse, esse monte de babados não pareciam o tipo
de gente com que Lorde Glengask iria fazer amizade, muito menos convidar
sob o seu teto. E dado o discurso de um momento atrás, isto parecia ser ideia
da mais jovem MacLawry. Lachlan desviou o olhar para o lado. De cabelos
negros, Winnie MacLawry deslizou sua mão ao redor do braço de um dos
companheiros mais altos, sorrindo enquanto dizia alguma coisa e apontava
para a expansão cinzenta e branca grande atrás deles.
Ela convidou essas pessoas, ou pelo menos uma boa parte delas. Será que
realmente se sentia conectada o suficiente com os Sassenach depois de apenas
três meses na Inglaterra, que tinha necessidade de os trazer com ela de volta
de Londres para as Highlands? Ou era que a moça, que tinha andado atrás dele
por quase duas décadas em suas tranças e saias rendadas, tentando fazer-lhe
ciúmes?
Talvez ele estivesse avaliando a sua estima por ele demasiado alta, mas
talvez não estivesse. Ambos, Arran e Bear, o culpavam por sua fuga para
Londres em primeiro lugar. Se presentear uma moça com um par de excelentes
botas de montar por ocasião do seu décimo oitavo aniversário poderia levá-la
a fugir de sua ilustre casa e de sua família, então supôs que fosse culpa dele,
mas tudo parecia muito tolo e excessivamente dramático. Teve um acesso de
cólera, e agora estava em casa. Nada havia mudado, exceto a maneira como
falava, aparentemente.
—Espero que não tenha que me lembrar de todos os nomes —, Bear
murmurou.
—Não são todos homens, Bear —, ressaltou, oferecendo a seu amigo um
breve sorriso. —E aqui estamos, dois solteirões robustos de pé, enquanto
esperamos pelo casamento de seu irmão.
—Você não é um solteirão, Lach.
—Sou solteiro, e tenho a certeza desse fato. Não tenho esposa e nenhuma
mulher em mente.
—Talvez —, o grande homem pensou depois de um momento, depois
inclinou o queixo para sua irmã. —Mas ela sabe disso?
—Pelo amor de Lúcifer, Munro. São precisos dois para fazer um
casamento, e não fiz nada do tipo com sua irmã mais nova. Deixe isso. É ruim
o suficiente com ela me escrevendo poesia o tempo todo. Não comece com
isso de novo, também.
—Ainda está escrevendo poesia, então? —Arran perguntou, quando se
juntou a eles com sua esposa, Mary, a seu lado.
—Não. Estava muito ocupada com as compras em Londres, aposto. Sabe
que ela parou há algumas semanas. —Na verdade tinha-se sentido um pouco
estranho, a princípio, por não ter uma carta de escrita apertada, esperando por
ele a cada dia, contando tudo sobre seus primeiros dias em Londres. Quase se
sentiu como se estivesse lá com ela. Não respondera, é claro, porque seus
irmãos a vigiavam como falcões, e não ia ficar preso em algo simplesmente
por ser amável. E assim, tinha ficado aliviado quando tinha parado. Assim
como estava aliviado que não tivesse tentado jogar-se em seus braços quando
saiu da carruagem há poucos minutos.
—Então suponho que está solteiro —, Arran continuou, batendo-lhe no
ombro. —Basta ter em mente que Ranulf se vai casar com a primeira moça
Sassenach em que pôs os olhos em Londres. Não quer que aconteça isso com
você, eu acho.
—Hm —, Mary interferiu, inclinando-se em seu ombro. —Se bem me
lembro, você não desmaiou após conhecer a primeira moça Highlander em
Londres? E ela não era uma Campbell, de todas as coisas?
O irmão MacLawry do meio sorriu. —Não desmaiei, moça. —Ele se
inclinou e beijou sua bochecha. —Mas você parou meu coração.
Ela colocou a palma da mão sobre seu ombro esquerdo. —Vi você levar
um tiro, Arran —, sussurrou. —Não brinque sobre seu coração parar.
—Ah, vocês estão fazendo—me chorar —, Bear comentou. —Vamos, Lach.
Somos solteirões e vamos conhecer as encantadoras e delicadas moças.
—Só não ruja e as assuste, Bear.
Isso soou como algo que ele diria, de qualquer maneira. Na verdade, a
última coisa que queria era que Lachlan se encontrasse enroscado com alguma
moça estrangeira, que provavelmente iria deslocar-se sob uma brisa forte, e
que poderia vir a estar relacionada com os MacDonalds do lado do seu pai, ou
algo assim. Doce Santo André. Dito isto, a irmã mais nova da noiva de
Glengask era bonita o suficiente, e, obviamente, Ranulf já havia aprovado sua
familiar linhagem. Ela poderia servir para um beijo e uma risadinha, como
diziam os Sassenach, de qualquer maneira.
—Depois não digam que não avisei, rapazes —, Arran soou atrás deles.
Quando todos os hóspedes e criados tinham encontrado os quartos e se
reunido com a bagagem, Lachlan tinha conseguido uma trabalhosa contagem
—embora os criados estavam vestidos tão elegantemente, que não estava
totalmente certo de que tinha colocado todos na categoria correta. Sete
senhores, cinco moças, quatro Hanovers, incluindo Lorde e Lady Hest e suas
filhas, e dezessete criados, incluindo um criado inglês chamado Ginger, que
tinha sido adquirido pelo Marquês de Glengask. Pela primeira vez... enfim, os
Sassenach tinham ultrapassado em número os escoceses, na sede do poder
MacLawry.
Lachlan não se surpreendeu quando Glengask os caçou na biblioteca, onde
se refugiou com um copo de whisky. Bear poderia desfrutar da turbulência,
mas Lachlan preferia conversas onde poderia ouvir o que a outra parte poderia
estar dizendo. —Ouviu isso? —Perguntou, da cadeira junto ao ameno fogo.
—As paredes estão vibrando com o ruído. Mais ruído do que o normal, quero
dizer.
—Sim. —Ranulf se serviu de uma taça e tomou a cadeira oposta. —E
metade dos MacLawrys enterrados junto ao lago estão se torcendo sob as
pedras. Todos em Glengask poderiam ser engolidos por um pântano a qualquer
momento.
Rindo, Lachlan olhou para a porta fechada. —Essa invasão foi ideia sua ou
de Winnie, se me permite perguntar?
—O casamento nas Highlands foi ideia minha —, o Marquês retornou.
—Deixei a lista de convidados com Rowena, desde que tive que cavalgar à
frente. —Não entrou em detalhes, mas Lachlan sabia que tinha galopado para o
norte com um cavalariço e um cão de caça por companhia e proteção, e que
alcançou Gretna Green a tempo de salvar Arran e Mary e evitar uma guerra
entre os MacLawrys e os Campbells.
—Eles parecem muito... ingleses —, Lachlan ofereceu.
—Isso, eles são. E esperam que sejamos uma família inglesa. O que não
somos. —Ranulf se inclinou para frente. —Quero que vejam e que tenham um
gosto da hospitalidade das Highlands, mas ao mesmo tempo não sei se quero
que fiquemos constrangidos aqui. Preciso pedir emprestados alguns dos seus
criados.
Lachlan não ficou surpreso com o pedido, mas vindo diretamente do
Marquês, parecia incomum. Contudo, fosse como fosse que se procedia no sul,
a norte de Fort William, a palavra de Glengask era lei. Seu clã tinha a maior
população e o maior exército permanente nas Highlands. Solicitar criados,
parecia um pouco trivial para ele. —O que precisar —, retornou.
—Obrigado. Vou contratar alguns cozinheiros da aldeia, e mais rapazes
para o estábulo, mas não sei se quero que o moleiro Robert despeje haggis[5]
no colo de alguém.
—Winnie deveria ter informado que tinha metade de Mayfair montando com
ela para o norte.
Olhos azuis profundos enviaram-lhe um olhar especulativo. —Não sei se
isso deveria me surpreender.
Hm. —Ela parou de escrever-me cartas semanas atrás, Ran. E mal apertou
minha mão mais cedo, estava com tanta pressa para cumprimentar a esposa de
Arran e seus novos amigos.
—Mesmo assim, acho que é hora de termos uma conversa, Lachlan.
Isso não soou promissor. Evidentemente, a armadilha que tinha sido
pendurada sobre sua cabeça praticamente desde o nascimento de Winnie
estava prestes a ser exposta. Não havia nada tão agravante como uma vida
predestinada. E não queria uma. —Ran, não tive nada a ver com seu interesse
por mim —, protestou. —Não lhe dei motivos para pensar qualquer coisa.
Quero dizer, Bear e o resto de vocês estão mais perto de mim do que meus
próprios primos, e não tenho meus próprios irmãos e irmãs. Não, mas tenho
vocês. —Nem isso parecia claro o suficiente para consolar. —Vocês são meus
irmãos. E ela é minha irmã.
—Muito bem, então. —Ranulf tomou lentamente um gole de whisky. —É
um bom homem, Lachlan, e não teria nenhuma objeção se fosse atrás de
Rowena. Mas estou feliz que deixou suas intenções claras sobre ela, porque
não vou vê-la arrastando-se e esperando algo que nunca vai acontecer.
—Terminou a bebida e se levantou. —Quero ouvi-lo me dizer que não tem
intenção de pedir em casamento minha piuthar. Porque tenho planos para
elaborar, se não quiser que se case com um Lorde Sassenach com a
propriedade no extremo oposto do reino.
Lachlan ficou parado, também. —Não tenho intenção de pedir Winnie em
casamento —, disse em voz alta, pensando agora, se escapar do que parecia
inevitável era assim tão simples. Não pensava assim, mas não estava prestes a
deixar esta oportunidade passar-lhe. —Ela já é minha família.
—Ela pode ser sua irmã na sua mente, mas posso garantir que ela não
pensa em você como um irmão. Nunca. Mas não vou me intrometer. —Com um
lento aceno de cabeça, Glengask caminhou até a porta. —Vou dizer-lhe. Não
quero quaisquer mal-entendidos.
—Vou dizer-lhe —, Lachlan rebateu, embora não estivesse inteiramente
certo porque sentia necessidade de falar. Geralmente, evitava a histeria e
lágrimas femininas a todo custo. —Ela vai acreditar em mim. Espero.
—Veja o que ela faz. E diga-lhe hoje, se preferir. Prefiro manter qualquer
loucura ao mínimo.
—De acordo. —Ele hesitou, depois pousou a taça e esticou a cabeça para
olhar por cima do ombro o Marquês na porta. —Disse-lhe antes, você sabe.
—Não. Você falou em torno disso. Diga as palavras, e poupe-nos de alguma
desgraça. —Os ombros de Glengask subiam e desciam. —E de algum
sofrimento.
Uma vez que Glengask retornou ao caos do resto de sua casa, Lachlan
terminou seu whisky. Ao longo dos anos, pensou que tinha deixado claro o
suficiente que nunca poderia sentir... algo romântico pela jovem que o seguia
como um cachorrinho ansioso, desde que poderia andar hesitante sobre suas
próprias pernas.
Pensou que se tinha desviado habilmente, realmente, rejeitando os avanços
femininos e, ao mesmo tempo, cuidando de quebrar seu coração.
Aparentemente, ninguém apreciou sua sutileza —embora no clã MacLawry
sutileza nunca tenha sido uma arma privilegiada no arsenal.
Mas agora, e pela primeira vez, sentia que seu futuro lhe pertencia. Foi uma
sensação vertiginosa, quase. Ninguém tinha qualquer expectativa dele. Bem,
quase ninguém. Ranulf esperava uma coisa dele. Soltando o fôlego, se
levantou. Melhor acabar logo com isso, e esperava que ela não começasse a
chorar. A última coisa que queria seria Bear quebrando seu nariz, porque tinha
feito sua irmã mais nova chorar, precisamente.
Encontrou Winnie em uma das salas de estar no andar de cima. Tinha
colocado um bonito vestido creme e azul, embora não tivesse visto nada de
errado com o que estava usando quando chegou. Ela estava fingindo ser
inglesa, porém, e todos sabiam que os Sassenach trocavam de roupa mais
frequentemente do que um cervo agitava suas orelhas.
Estava sentada no meio de seus novos amigos extravagantes, todos rindo
sobre algo que o sujeito alto com o cabelo brilhante tinha dito. Lachlan não
conseguia lembrar seu nome, mas duvidava que o sujeito magro pudesse
sequer levantar um tronco —muito menos lançar um.
—Posso ter uma palavra com você, Winnie? —Solicitou, perguntando-se
por que de repente se sentia... desconfortável. Passou quase tanto tempo nesta
casa, como na sua própria; com essas pessoas, os sons e aromas que traziam
com eles, mas não conseguia impedir a sensação de que não chegava a
pertencer.
—Certamente, Lorde Gray —, Winnie disse alegremente, levantando-se.
—Jane, não deixe Lorde Samston começar outra de suas histórias até eu voltar.
—Deu um sorriso para o homem de cabelos loiros perto da janela.
—Eu não sonharia com isso, Lady Rowena—, falou pausadamente,
esboçando uma vênia que provavelmente teria parecido extravagante mesmo
em uma corte real.
Lachlan seguiu Winnie para a marquise no final do corredor. Um punhado
de bancos e cadeiras de madeira estavam espalhados em meio a vasos com
rosas e lírios —plantas muito delicadas para o tempo instável das Highlands.
—Isso é como um monte de macacos em um zoológico —, ele comentou com
um sorriso amplo. —Todos conversando ao mesmo tempo e sendo
acolhedores, com o estúpido superior no grupo.
—E quem você acha que é o estúpido superior? —Winnie caminhou até
uma das janelas grandes, viradas para sul.
—Isso seria Lorde Samston. Ninguém fala quando ele o faz.
—Muito observador você —, voltou-se, se apoiando contra a coluna e a
janela e cruzando os braços sobre o peito. —Mas, considerando que lhe foi
apresentado como o Conde de Samston, já sabia disso.
—Não —, Lachlan retornou, embora soubesse que provavelmente deveria
estar tocando nessa conversa e não provocando Winnie. A tinha provocado por
toda a sua vida, no entanto, e ao contrário dos amáveis rapazes no corredor,
não tinha medo de seu temperamento. —Não se trata de posição social. Não
completamente. Samston é o companheiro para prestar atenção.
—Manterei isso em mente. —Ela levantou uma sobrancelha graciosa.
—Felizmente ele é muito agradável aos olhos.
—Ele? Ele é muito pomposo.
Winnie inclinou a cabeça. —Estou um pouca confusa, Lachlan. O que quer
dizer-me? Me dizer que Lorde Samston é poderoso, ou que é pomposo?
—Nenhum dos dois. Ainda não sei por que sente a necessidade de falar
como um Sassenach —, disse, franzindo a testa. —Pode enganar quem quiser
em Londres, mas está em casa agora.
Ela virou-lhe as costas, aparentemente para admirar as montanhas
pontiagudas em torno deles. —É disso que se trata, então? Você não gosta do
jeito que eu falo? Porque isso não é da sua conta.
—Sei que não é. E não, não era isso que eu queria, também.
—Então me diga o que quer, Lorde Gray, para que eu possa voltar aos meus
deveres como anfitriã.
Lachlan franziu a testa e seu cabelo preto graciosamente enrolou. Há alguns
meses atrás, Winnie MacLawry teria feito grandes esforços para impedi-lo de
sair de uma conversa. Uma vez fingiu torcer seu tornozelo, para que pudesse
levá-la de Loch Shinaig de volta para a casa. Disse para o cavalariço Donald
o fazer, e ela abruptamente se recuperou.
Mas isso não foi nem aqui nem lá. E quanto mais cedo pudesse fazer suas
intenções, ou a falta dela —claras —mais cedo poderia parar de se preocupar
que ficasse preso em algo, simplesmente porque Ranulf não podia recusar
nada que sua irmã realmente quisesse.
Ele exalou. —Encare-me, está bem?
Seus ombros subiam e desciam, e ela se virou novamente. —Isso parece
sério —, meditou, sua expressão ainda um pouco irritada. Com ele, o que em
si era incomum.
—Reconheço que por um longo tempo teve seu coração determinado em...
em coisas muito pessoais, moça, e reconheço que fui uma das razões pelas
quais você saiu em disparada para Londres —então tive que vê-la como uma
dama, em vez de uma menina.
—Você n...
—Mas o que fez não importa, Winnie —, continuou ao longo de sua
interrupção. —Sempre vou vê-la como é, e essa é uma criança com os joelhos
ralados, que ensinei a pescar. O que quero dizer é, eu não vou —nunca —casar
com você, Winnie, então o que planejou em sua cabeça, não se perturbe.
Divirta-se com seus amigos, ajude Lady Charlotte com seu casamento
Highlands, mas não espere qualquer coisa de nós. Você entende?
Por um longo momento, ela olhou-o enquanto esperava que seus belos olhos
azuis transbordassem em lágrimas. Bear provavelmente tentaria socá-lo, mas
Ranulf tinha—lhe praticamente ordenado fazer isso. Não foi como se quisesse
vê-la chorar.
Winnie sorriu. Então uma risada explodiu de seu peito. —Oh, céus —,
conseguiu dizer.
Isso não soou como desgosto. Lachlan franziu a testa antes que pudesse
lembrar-se que isso era uma coisa boa. —O que é tão malditamente divertido?
—Você parecia tão sério. Sinto muito —, retornou. —Pobre Lachlan. Devia
ficar aterrorizado cada vez que me via aparecer.
—Não. Não fiquei apavorado. Além disso, não tenho medo de você agora.
Só quero que aceite que não haverá casamento entre nós.
—Claro que entendo isso. Você foi uma paixão de infância. Certamente não
sou mais uma criança.
Isso não foi o que esperava. —Já se passaram três meses. Mudou seu
sotaque bem o bastante, mas o seu coração? Isso não é tão simples, eu acho.
—Agora está me confundindo. Está com ciúmes por que percebi o que
quero, e que não é você?
—Apenas duvidando da veracidade de suas palavras, moça.
—Ah, bobagem. Até três meses atrás, não conversava com um homem que
não fosse meu irmão. Nunca tinha valsado com ninguém, além de vocês quatro,
e ninguém nunca me tinha elogiado sem que eu precisasse pedir. E então me
perdoe, se fui tão implacável em minha perseguição, mas não me pode culpar
por isso.
—Não lhe culpo de nada. Só quero que nos entendamos.
—Está bem. Mas essa conversa é desnecessária. Meu tempo em Londres
permitiu-me abrir os olhosm—, retornou, ainda fresca e composta. —Escrevi-
lhe cartas e você nunca respondeu. Desde a minha primeira lembrança, tenho-
lhe pedido flores, danças e poesia, e não queria ser perturbado. Nem uma
única vez. —Um passo à frente, ela colocou a mão em seu braço. —Não quero
mais. Você não vale o meu tempo.
Então inclinou-se e o beijou, como uma irmã, na bochecha. —Mas lhe
agradeço, por me mostrar exatamente o tipo de homem que não quero para
mim. É uma lição que aprendi muito bem. —Com isso, os dedos dela subiram
em seu ombro, passou por ele, cantarolando, porta afora novamente.
Lachlan ficou onde estava por um longo momento, enquanto tentava manter
a cabeça de girar. Que diabos? Quase dezoito anos perseguindo-o, e de
repente não valia a pena o seu tempo? Ha. O dia em que não conseguisse
agradar a uma mulher —qualquer mulher que escolhesse —seria o dia em que
iria amarrar pedras em sua cintura e saltar em Loch Shinaig.
Claro, não tinha perseguido Winnie MacLawry, então o que ela esperava?
Era ridículo. Ela estava atrás dele, mudou de ideia, e então decidiu que
poderia insultá-lo por causa disso? Não tinha feito nada de errado. Inferno,
não tinha feito nada, absolutamente. De propósito. Se a quisesse, ele a teria
tido, e era isso.
Mas dizer que não era o tipo de homem que queria, isso era um insulto. Era
tão sofisticado e charmoso como qualquer um desses canalhas na sala,
bebendo chá com seus dedos mindinhos presos no ar. Podia não ser um Conde,
mas era um maldito Visconde. E apostaria qualquer quantia como as
encantadoras e delicadas moças Sassenach, teriam prazer em receber as suas
atenções. Isso mostraria a ela.
Tudo isso a partir de uma criança com nós em seu cabelo. Poderia jogar de
adulta se escolhesse, mas poderia optar por mostrar-lhe que isso não era um
jogo para crianças. —Você fez isso agora, moça —, murmurou. —Não vou
derrubar sua pequena luva, a menos que esteja pronta para alguém assumir o
desafio. Vamos ver quem vale a pena querer. E ter. —Não seria ela, mas
poderia muito bem assistir.
Capítulo dois
—Você realmente deveria estar usando um gorro ou um dos quentes chapéus
dos seus irmãos hoje, Milady —, Mitchell disse, quando a criada colocava
uma escova de cabelo e grampos extras em uma gaveta da penteadeira. —Aqui
não é Londres. Um vento forte pode congelar suas orelhas.
—Cresci aqui, Mitchell —, Rowena retornou, dando uma última volta na
frente do espelho de corpo inteiro, admirando sua roupa de equitação
vermelha e preta e um jovial chapéu de castor vermelho, empoleirado no topo
de seus encaracolados cabelos negros. —Não me esqueci do tempo, pelo amor
de Deus. — Pegou as luvas de montaria e se dirigiu para a porta. —Mas não
posso usar um gorro com esta roupa, ou todos os ingleses vão rir de mim. Se
usasse um dos chapéus desleixados de Bear... —Deu um arrepio exagerado.
—Se eu fizesse isso, poderia muito poupar a todos de algum constrangimento e
me juntar a um convento.
—Nenhuma pessoa deveria ter as perspectivas de casamento arruinadas por
um chapéu —, a criada insistiu estoicamente.
—Ainda não, talvez. Mas não vou ser a primeira.
—Santa Brígida proteja a todos nós, então.
Rowena deixou seus aposentos e desceu para o primeiro andar. Ao seu
redor, a casa já estava bem acordada, e sorriu para o som de uma das criadas
lá em cima cantarolando, enquanto abria as cortinas e limpava os quartos
abandonados pela manhã. Glengask sempre fora um lugar barulhento e
animado, frequentado por chefes e aliados e aldeões e gaiteiros e vários
homens que tinha pensado que eram homens estabelecidos até que finalmente
percebeu que eram guerreiros Highlanders, membros do clã MacLawry
trazidos por Ranulf para ajudar a zelar pela família. Para protegê-los.
Hoje, a fortificada e antiga mansão era sacudida com o barulho de um
adicional de duas dúzias de ingleses e damas e servos —Sassenachs, todos
eles. Tinha arranjado isso, e no entanto, mesmo desagradando a seus irmãos,
talvez pudessem apreciar que fazer amigos ingleses poderia beneficiá-los.
Ainda melhor, poderiam decidir aprovar qualquer homem com quem decidisse
se casar. Pelo menos seus irmãos não poderiam estar apoiando Lachlan por
mais tempo —e se estivessem, precisava corrigi-los. Por que sentiu a
necessidade de informá-la que não se casaria com ela, não tinha ideia, dado
que tinha percebido isso meses atrás. E claramente nunca tinha pensado nela
romanticamente, de qualquer modo.
E tinha feito isso no meio da longa e alinhada galeria, no andar de cima,
quando uma mão forte agarrou seu ombro e arrastou-a lateralmente no arsenal.
—O que...
—Nos emboscou, você sabe —, Bear rugiu, soltando-a. Em sua mão
esquerda uma grande espada balançava frouxamente, e ao que parece o tronco
de árvore, que eles de alguma forma tinham arrastado para o quarto enquanto
ela esteve fora, ele estava incomodado com alguma coisa. Ela, aparentemente.
—Ranulf chegou aqui três dias antes de nós —, ela voltou, alisando a
manga de sua nova roupa de equitação. —E desde que me ordenou que fizesse
as malas e o seguisse para o norte, você pode culpá-lo. —Estreitou um olho.
—Ou culpar Arran, que se dirigia para o norte, quando ainda tínhamos três
semanas antes do fim da temporada.
—Não sei se conta ou imagina um conto, piuthar. Ran não convidou metade
de Mayfair para juntar-se a ele em Glengask. Isso foi obra sua.
—Sim, foi.
—Ha! Você admite isso.
Ela colocou as mãos nos quadris. —Sabe como eles chamam as mulheres
de sua idade que não se tenham casado?
Ele inclinou a cabeça para ela, uma mecha de seu longo cabelo preto
caindo sobre um dos olhos verde-acinzentados. —Desesperadas? —Sugeriu.
—Isso também. Chamam-lhes de ‘solteironas’, e dizem que estão ‘na
prateleira’. Você é apenas seis anos mais velho do que eu, Munro.
—Não se preocupe, Winnie. Lachlan vai ultrapassar sua h...
—Lachlan MacTier não vai se casar comigo —, cortou, ignorando o cenho
franzido. —Sim, eu sei, presumimos que aconteceria, mas Lachlan não. E fui
estúpida ao pensar que desejar conseguiria isso.
—Vou falar com ele, então.
Isso seria um desastre. —Eu já o fiz. Ou ele veio e me encontrou, em vez
disso, para me dizer que estive perdendo meu tempo e que nunca iríamos nos
casar.—Deu de ombros, uma parte dela ainda surpresa que isso a tivesse
ferido pouco. Evidentemente, um sonho podia ser posto de lado como se não
fosse nada. Porque tinha sido. Ela tinha feito isso. —E não vá socá-lo por ser
honesto.
—Parece estar levando esta pequena notícia razoavelmente bem —,
ponderou o irmão mais próximo a ela em idade, estudando seu rosto.
—Dei-lhe uma semana depois que saí daqui —, retornou. —Sou uma moça
amável, Bear, e tenho coisas melhores a fazer do que definhar por um homem
muito... mal-educado que não me valoriza. —Deu uma pirueta com sua roupa
elegante. —Ele teve sua chance, e dada a sua completa falta de paixão e
romance, me alegro que ninguém me queira cobrar uma coisa que achei que
fazia sentido, quando ainda acreditava em unicórnios.
Tinha dito exatamente isso para si mesma várias vezes, e quanto mais
repetia isso, mais se lembrava de quão pouca consideração Lachlan tinha por
ela, fazia mais sentido. E dizer isso em voz alta só servia para colocar um fim
oficial à história de Lachlan e Rowena, o conto de fadas de uma jovem
ingênua que, finalmente, havia crescido para ver que seu príncipe era um
estúpido pedaço de madeira.
Bear a olhou por um longo instante. —Então, esses perdulários rapazes
estão aqui para você avaliar? —Finalmente perguntou. —Vai-se casar com um
Sassenach que vai levá-la para longe das Highlands?
Isso era a única coisa que a perturbava. Por mais que quisesse escapar de
Glengask há três meses, embora estivesse cansada de como seu caminho
estava estabelecido, e quão sofisticada se sentia com seu dedicado sotaque e
suas roupas parisienses, iria sentir saudades de seus irmãos. —Eu não sei —,
respondeu com sinceridade. —Por amor, acho que iria.
Ele amaldiçoou em gaélico. —Não gosto disso —, disse inutilmente. —Tem
certeza de que não convidou os encantadores rapazes para aqui apenas para
fazer Lachlan observá-los?
—Oh, pelo amor de Santa Brígida. Não seja ridículo, Bear. —Talvez não
estivesse acima de demonstrar a Lorde Gray que outros homens a achavam
interessante, mas era apenas orgulho. —Essas pessoas são todas aliadas
potenciais para Ranulf. Você não arrasta um aristocrata mil milhas para deixar
alguém ciumento; haveria repercussões. E por que iria convidar amigas do
sexo feminino, se estivesse esperando fazer um homem me notar?
—Acho que vamos considerar isso. —Ele olhou além do ombro, em
direção às profundezas da casa. —Então, isso significa que as moças não são
para brincadeiras, não é?
Isso a fez franzir a testa. —Eles são meus amigos. Tentei combinar Jane
Hanover com Arran, e isso não deu certo. E você não vai quebrar seu coração,
também. —Ela olhou-o, a suspeita pondo tensão em seus ombros. —Pensei
que estava cortejando Bethia Peterkin.
Ele deu de ombros, um sorriso tocando sua boca. —Cortejei e ganhei,
Winnie. Um homem precisa de novas terras para conquistar.
—Conquiste, então. Tente não começar quaisquer novas guerras, no entanto;
Ranulf acabou de evitar a última.
—Sim, e deixou Arran casar com uma Campbell.—Ele balançou a cabeça
hirsuta. —Uma Campbell, vivendo em Glengask. E ela é uma moça amável.
Excêntrica, nas vezes em que nos encontramos, e isso é malditamente certo.
Definitivamente ela concordava com isso. —Se você acabou de ecoar no
meu ouvido, então, eu vou andar com meus amigos.
Bear bufou. —Esses pôneis ingleses que os trouxeram estarão mortos até ao
final do dia, se não puderem suportar uma caminhada. Pelo menos vamos ter
carne fresca para o jantar.
Rowena riu antes que pudesse se conter. —Já chega, Bear. A maioria dos
Sassenach já pensa que somos demônios e bárbaros. Se lhe ouvirem falando
sobre comer suas montarias, vão fugir para as florestas.
Quando ela se virou, ele pegou sua mão, virando-a para encará-lo
novamente. —Ainda é uma moça Highlands, então. Estou feliz em saber.
Antes que pudesse começar uma outra conversa e discussão, deixou o
arsenal e uma variedade impressionante de armas para trás. Tinha nascido uma
moça Highlands, mas se conhecia melhor. Não precisava ser grosseira ou
ingênua ou andar com nós em seu cabelo. Rowena franziu o cenho. Realmente
precisava parar de conjurar essa conversa. Isso tinha sido há três meses, por
um lado, e por outro, só a lembrava de quão tola tinha sido, até pouco tempo
atrás.
Ela não poderia estar surpresa que Bear —e provavelmente Ranulf e Arran,
também —tenham pensado que tinha convidado elegantes rapazes para
Glengask, a fim de antagonizar ou atrair Lachlan. Alguns meses atrás, poderia
ter feito uma coisa dessas. A ideia dele sentir ciúmes entrou em seus
devaneios tantas vezes, que houve momentos que parecia quase real.
Mas não era real. Nada do que tinha imaginado entre eles foi real. Estes
homens aqui eram reais, e disseram-lhe coisas lisonjeiras e elogiaram seus
olhos e sua sagacidade e seu vestido e certamente não a viam como um
incômodo. Fizeram seu coração se acelerar. Na verdade, tudo o que poderia
fazer neste momento era agradecer por ter percebido como indiferente Lachlan
ficava perante ela, antes que, de alguma forma, fosse forçada a casar-se com
ele. Teria passado o resto de sua vida na miséria.
—Você, Lady Rowena —, uma voz baixa e culta falou pausadamente,
quando entrou no saguão, —é uma visão. Diana, a caçadora trazida à vida.
Não, seu único arrependimento, quando Lachlan estava em causa, era que
não tivesse percebido antes quão inútil sua perseguição tinha sido. Sorriu
quando Adam James, Lorde Samston, tirou o chapéu e, em seguida, lhe
ofereceu o braço. —Se começar o dia com tanta bajulação —, voltou aos seus
tons adotados, —de tarde, não terá nada a dizer.
O Conde riu. —Absurdo. Tenho duas direções em que posso prosseguir.
Mais pretensioso, ou... mais íntimo.
Cooper, o mordomo, abriu a porta da frente, de alguma forma, quase
rachando a cabeça de Lorde Samston contra o carvalho maciço quando disse
aquilo. —Peço desculpas, Milorde —, o velho escocês entoou. —Não percebi
que sua testa era tão grande, zombou.
Adam fez uma careta. —Espero que não lhe permitam estar perto de objetos
pontiagudos —, disse secamente, gesticulando para Rowena o preceder porta
afora.
—Não, Milorde. Sou a favor do mosquete, ou um bom murro forte.
—Não ligue a Cooper, Lorde Samston —, Rowena interrompeu, meio
puxando o Conde para a soleira e saindo para a trilha onde uma dúzia de
cavalos esperava, a respiração se enevoando no ar fresco da manhã. —Ele é
excessivamente dramático.
—Meu cunhado tem uma propriedade nos arredores de Edimburgo, você
sabe —, comentou, quando colocou as mãos em volta de sua cintura, sorrindo,
e a levantou de lado para sua égua branca, Black Agnes. —Ele trouxe criados
de Londres apenas para que pudesse entender o que eles estavam dizendo.
—Cooper está com a família há muito tempo —, retornou, observando que
Jane já estava do lado de fora, junto com Lady Edith Simms e seu irmão Lorde
Victor. —Ranulf nunca iria substituí-lo —ou qualquer um deles —se é isso que
você está insinuando.
—Bem, não vou admitir tal coisa agora, vou? —O sorriso ainda no rosto,
girou em seu alazão castanho, King.
A conexão de Edimburgo foi uma das coisas que favorecia Adam James, na
verdade. Mesmo que fosse apenas através do casamento, o Conde tinha
conhecidos Highlanders. Highlanders geograficamente, de qualquer maneira; a
partir do que tinha descoberto, seu cunhado Lorde Lewis nem tinha um pingo
de sangue escocês, mas teve a sorte de ser o único herdeiro sobrevivente do
velho Lorde Lewis.
—Ah, mais rivais —, Adam pensou, e ela observou, quando Arnold e
William Peabody saíram da casa seguidos por John, Lorde Bask, e suas primas
Sarah e Susan Parker.
—Somos todos amigos aqui —, comentou, embora Lorde Samston a visse
como um desejável prêmio que ela certamente não tinha nenhuma objeção.
—Somos?
Quando Rowena olhou para ele, sentado confortavelmente na sela de King,
seu olhar foi direcionado para a colina abaixo, na trilha. Um grande garanhão
apareceu, o homem montando-o sem chapéu curvou-se sobre o pescoço do
animal, enquanto galopava em direção a eles. Mesmo com o sol atrás dele
pintando-o em silhueta, reconheceu Lachlan MacTier, seu comprido cabelo
castanho voando sobre o seu rosto magro e Beowulf soprando debaixo dele.
Apesar de terem terminado, gostava de vê-lo cavalgar. Qualquer pessoa
admiraria um hábil cavaleiro, supôs.
Ele galopou até à trilha e parou ordenadamente ao lado dela. —Algum
problema? —Perguntou, puxando Black Agnes quando a égua começou a se
inquietar.
—Não —, Lachlan respondeu, impulsionando Beowulf em um círculo
apertado em torno dela. —Soube que estava indo para um passeio nesta bela
manhã. Pensei em juntar-me a você.
Ela olhou-o. Ele parecia muito animado para um sujeito que pensava que
tinha quebrado seu coração. —Por quê?
Ele sorriu. —Por que tem algumas belas moças com você, e não seriam
verdadeiras férias nas Highlands se não encontrassem um Highlander.
Se precisasse de mais uma prova de que este homem não carregava nenhum
paixão escondida por ela, isso a forneceu. Mas o conhecia há dezoito anos, e
podia ser encantador quando queria. Então, ao invés de salientar que com três
homens MacLawrys na casa e um bando de Glengask e Gray e os criados
próximos, seus amigos estavam literalmente cercados por Highlanders, ela
balançou a cabeça. —Faça o que quiser.
—Estou feliz que ainda somos amigos, Winnie, mesmo após o seu mal-
entendido.
Ela chamou-o mais perto, e forçadamente ele esgueirou-se para que
ficassem apenas alguns passos de distância. —Todos cometemos erros —,
murmurou. —Tudo que peço é que não comece algo com Jane Hanover se
estiver apenas brincando. Ela é muito romântica. E muito... jovem.
Lachlan levantou uma sobrancelha. —Vocês não têm a mesma idade?
Tempos atrás, quando chegou a Londres, teria dito sim. Mas tinha visto a
sua casa de Londres em chamas, visto Ranulf e Arran serem hostilizados e
desafiados simplesmente por serem Highlanders. Tinha sido protegida por
Arran quando George Gerdens-Daily lhes apontou uma pistola. —Não mais
—, disse com um pequeno sorriso, depois virou Black Agnes para receber as
últimas hóspedes.
O vistoso sujeito, Lorde Samston, trotou ao lado Winnie quando o grupo
partiu em direção ao desfiladeiro que levava ao escoamento de Loch Shinaig.
Lachlan assistiu-os em sua posição na parte de trás; não seria bom que um dos
Sassenach se perdesse entre os montes de pedras, para nunca mais ser visto
novamente.
—Então você é Lorde Gray—, uma doce voz comentou à sua direita, e ele
virou a cabeça. Uma moça bonita, com cabelo cor de mel, cavalgava ao seu
lado em uma das montarias de reserva de Glengask.
—Sou —, ele respondeu. —E você seria Lady Jane Hanover, não é?
—Disse, decidindo que as regras de Winnie não se aplicavam a ele.
—Sim —, respondeu, e riu. —É verdade que você é... solteiro, então?
Então Winnie tinha falado dele. Isso poderia ser cansativo. —Sim. Sou
livre como um pássaro, moça. Sempre fui.
—Oh. Pensei... Bem. Deixa pra lá. —Certamente não me quero intrometer
na sua intimidade.
Ela era educada, mas claramente, sua suposta conexão com Winnie havia
sido discutida, e ele parecia ser a parte lesada. Isso foi um golpe. Mas,
novamente, supôs que o equívoco poderia trabalhar a seu favor, se todas as
moças queriam oferecer-lhe conforto. Mas não se o achassem uma flor murcha,
sisuda. —Não havia um acordo entre Winnie e eu —, respondeu. —Sou oito
anos mais velho que ela, pelo amor de Santa Brígida.
—Oh. É claro.
Quando ela lhe piscou, Lachlan soltou seu fôlego. Sendo relacionada com
Winnie MacLawry, certamente não era nada de novo. Não era culpa de Jane
Hanover. E pelo menos ele e Winnie tinham—se esclarecido entre eles. A
notícia chegaria aos convidados e ao resto do clã em pouco tempo —com
sorte. —Na realidade —, continuou, colocando um sorriso: —Provavelmente
desejaria conhecer uma gentil moça.
Seu nariz enrugou enquanto lhe sorria. —Acho que você pode ser um pouco
ladino, senhor.
—Sim. Todos os Highlanders são ladinos. Não aprendeu isso?
—Estava me perguntando se os MacLawrys eram a regra ou a sua exceção.
Lachlan riu. —Ambos, reconheço.
Um eco mais agudo, mais encantador que sua própria risada, se voltou para
ele ao longo da trilha. Na parte da frente de seu brilhante grupo, Samston
apontou para um par de raposas galopando através de um pedaço de urze, seu
comentário, evidentemente foi inteligente, o bastante para divertir Winnie. O
sujeito, em seguida, estendeu a mão para pegar as rédeas de Black Agnes e
guiar a égua em torno de um galho de árvore caído.
Bem, isso foi ridículo. Winnie passeou, correu e cavalgou este caminho
durante dezoito anos. Certamente poderia ultrapassar um galho caído. Fora
isso, Black Agnes tinha um gênio, e o tolo poderia muito bem encontrar-se sem
um dedinho para levantar no ar enquanto bebia seu chá.
—Quem é esse Samston? —Perguntou, franzindo a testa enquanto Winnie
agradecia ao colega por sua assistência desnecessária, na verdade, usando a
palavra —cavalheiresca.
—O Conde? —Jane retornou, seguindo seu olhar. —Seu nome é Adam
James. Tem quatro propriedades em Somerset e Derbyshire, e dizem que sua
renda está em algum lugar nas proximidades de oito mil por ano.
O que não dizia quase nada, mas era assim que o Sassenach media um
homem —pela sua propriedade e seu dinheiro. —Mas que tipo de homem ele
é? —Lachlan tentou novamente. —O que seus amigos pensam dele? Ele tem
amigos?
—Eu... Sim. Ele é considerado bom partido. Nas últimas semanas, tem
dado especial atenção a Winnie. Acho que ela gosta dele, mas disse que ele
continua perguntando sobre seu dote. Isso a deixou bastante cautelosa, acho.
—Tomando fôlego ao lado dele. —Se me permite perguntar, porquê? Quer
dizer, se você...
—Seus irmãos não estão entusiasmados em ter Winnie casando-se com um
Sass... um inglês que vai levá-la para longe das Highlands —, interrompeu,
antes que ela pudesse saltar à conclusão de que estava com ciúmes ou algo
assim. —Estou curioso sobre como Samston vai passar na inspeção.
—Oh. Isso faz sentido, suponho.
—Sim. —Claro que faz. Teria que contar a Bear sobre o interesse no dote.
Winnie certamente poderia perfeitamente conseguir mais do que um caçador
de fortunas. Lachlan limpou a garganta. Estava aqui para provar algo para
Winnie, não falar sobre ela. —Então, Lady Jane Hanover, o que está achando
das Highlands até agora?
Seu sorriso reapareceu. —É de tirar o fôlego. Winnie diz que o tempo pode
mudar ferozmente num piscar de olhos, mas neste momento está adorável.
—Nunca é o mesmo duas vezes —, respondeu, apontando para si mesmo.
Era o tipo de lugar que entranhava nos ossos e tendões de seu povo. Ele, por
exemplo, achava vital estar aqui.
—Jane, não deve manter Lorde Gray só para si —, outra mulher disse.
Agora, isso parecia-se mais com ele. Um rapaz podia desfrutar tendo várias
moças bonitas brigando por ele, mesmo que fossem delicadas e inglesas.
Winnie poderia dizer que o achou decepcionante, mas em sua experiência, foi
a única a fazê-lo.
—Estamos conversando, Edith —, Lady Jane retornou, sua expressão mais
divertida que irritada. —Está convidada a participar.
Edith retardou a delicada égua negra que tinha trazido ao norte com ela.
Teria sorte se a besta não quebrasse uma perna apenas descendo para o fundo
do desfiladeiro. —Sobre o que estão conversando, então? —Perguntou, com
um sorriso muito brilhante.
—Sobre o lindo dia com o qual temos sido favorecidos —, Lachlan falou
pausadamente. O que ela não faria por uma queda; Edith parecia totalmente
desesperada por um homem, e provavelmente nunca escaparia se colocasse as
mãos nele. —Há duas semanas tivemos neve.
Edith assentiu, tão atenta, como se tivesse dito a localização do ouro
escondido. —Você é um chefe de clã? Como Lorde Glengask?
—Não. Sou um chefe.
Seu sorriso permaneceu fixo no lugar. —Qual é a diferença?
—O que posso dizer sobre o clã MacTier, um ramo do clã MacLawry.
Tenho relações e aldeões que respondem a mim, e eu respondo a Glengask.
—E podia discutir com Glengask sobre alguma questão, no entanto, isso
acontecia apenas raramente. Ranulf tinha uma visão para o seu clã, e Lachlan
seriamente aprovava.
—Ah, então você é seu tenente.
Era muito mais complicado do que isso, mas, claramente, a fêmea Edith
com seu cabelo acobreado, estava firmemente concentrada em querer saber
quanto poder e influência ele tinha. O que foi um grande negócio, mas não de
uma forma tão óbvia quanto o Marquês de Glengask. —Sim —, disse em voz
alta. —Algo assim.
—E os irmãos de Glengask são chefes?
—Não. Eles impõem a lei de Glengask.
—A lei? Nossa, isso soa muito feroz.
Ele olhou para a frente novamente. Agora que tinham entrado no
desfiladeiro, encontravam-se entre árvores e um conjunto magnífico de quedas
rochosas que corriam para o centro. A trilha curvada em torno de pedras e
clareiras, e na frente do grupo, Winnie e o senhor de cabelos amarelos
escorregaram de sua visão.
Isso não aconteceria. No entanto, apesar de não sentir nada por ela
romanticamente, a única coisa que seus irmãos e ele sabiam, acima de tudo,
era que Rowena deveria ser protegida. E isso significava tanto sua segurança
física quanto a sua reputação. —Desculpe-me —, disse, e cutucou Beowulf
nas costelas.
O grande cavalo baio acelerou o passo, e em um momento, estava
diretamente atrás dos dois. Os outros homens presentes mantinham-se
ocupados com as outras moças; evidentemente queriam deixar o Conde ir com
Winnie em primeiro lugar, antes da próxima mudança de companheiro. Isso era
muito civilizado.
O par na frente dele desacelerou, e chamou Beowulf para coincidir com seu
ritmo. Só conseguia assimilar uma em cada três ou quatro palavras que Winnie
falava, mas foi o suficiente para decifrar que estava dizendo a Samston sobre
o mito local em torno do desfiladeiro, como as esposas dos guerreiros
Highlands mortos em batalha podiam ser ouvidas lamentando-se durante a
noite, como suas lágrimas tinha formado o vale escarpado.
Lachlan se aproximou mais. Tinha ouvido a história inúmeras vezes, mas
Winnie tinha uma maneira de contar as coisas, que poderia fazê-lo se perguntar
se os sons de lamentações distantes que ouvia algumas noites eram gaitas de
foles ou os mortos há muito tempo, e o luto das moças Highlanders.
—É muito romântica, não é? —Samston comentou. —E finge ser tão
prática.
—Sou ambas, acho. Pelo menos, não acho que ser uma, exclua a outra.
—Exclua —, foi isso? Desde quando tinha começado a usar essas palavras
bonitas? Claramente foi algo que aprendeu em Londres, juntamente com seu
novo sotaque. Para uma moça que pensava que o romance significava jogar
flores na parte de trás de sua cabeça, isso foi uma declaração e tanto.
Foi estranho, porém, vê-la baixando os cílios para o Conde, virando a
cabeça a fim de mostrar seu lindo pescoço. Este era um jogo que costumava
funcionar em si mesmo. Mas nenhuma vez, enquanto cavalgavam mais
profundamente até o desfiladeiro, enviou um olhar em sua direção. Disse que
tinha deixado de persegui-lo. Agora, de repente, acreditou.
Deveria estar sentindo-se aliviado, supôs, já que não tinha que andar
cuidadosamente na ponta dos pés entre os machos MacLawry, que não
prestasse atenção ao que dizia, tomando cuidado para não cumprimentá-la,
para evitar acordar casado. Se não tivesse dito que o achou decepcionante,
provavelmente estaria se sentindo aliviado agora. Mas ela insultou-o e à sua
virilidade, e não gostou muito disso. Se tivesse sido encantador com ela,
estaria cantando uma música diferente agora.
O Conde de Samston não parecia achar a noção de Winnie ser romântica
como uma ameaça como Lachlan, porque o afável sujeito inclinou a cabeça e
deslocou seu grande cavalo inglês mais perto de Black Agnes. Por um
momento, Lachlan esperou que a égua mal-humorada puxasse a orelha direita
do alazão, mas só bufou e sacudiu a cabeça. Até o cavalo da moça estava
virando Sassenach.
—Quão longe daqui é sua propriedade?—Uma das irmãs Parker, Susan,
pensou, brilhantemente lhe perguntou, o surpreendendo.
Demasiado para a regra inglesa de não ser apropriado falar com um homem
a menos que uma senhora tivesse sido formalmente apresentada. Tinha
conhecido a maioria delas, de passagem, durante o jantar, embora isso talvez
contasse. Ou talvez as regras tivessem mudado nos nove anos desde que tinha
visitado Londres.
—Gray House é duas milhas ao sul e a oeste da casa principal de Glengask
—, respondeu.
—Mas pensei que toda essa terra fosse propriedade de Lorde Glengask.
Mais conversa sobre as obsessões inglesas como poder, propriedade e
riqueza. —E são. Sua propriedade curva-se sobre a minha e continua de norte
ao leste. Minha propriedade é mais a oeste.
—Oh. É uma sorte que você seja aliado, não é?
Aliado e primo de quarto grau. —Sim —, respondeu evasivamente.
—Você é um chefe de clã, como Lorde Glengask?
Estreitou um olho como o início de uma dor de cabeça começou a pulsar em
seu crânio. —Não.
—Oh. E Lorde Munro? Bear, você o chama assim? Ele é um chefe?
Por muito que os Sassenach vissem os Highlanders como diabos e
bárbaros, as moças pareciam ansiosas o suficiente para saber qual deles
estava para casar. —Algo assim—, disse ele. Bear poderia ter vindo esta
manhã, depois de tudo. O fato é que não tinha —bem, cada um por si.
Finalmente, atingiram a extremidade inferior do desfiladeiro, logo acima,
onde o fluxo girava sobre uma série de pedras achatadas pelo tempo e
mergulhava abaixo, para as encostas mais baixas após a aldeia de Mahldoen, e
mais ao sul das duas principais aldeias Glengask. Era um lugar pitoresco, e
não ficou surpreso que Winnie tenha escolhido para apresentá-lo aos seus
novos amigos.
Ele desceu de Beowulf, mas antes que pudesse chegar em Winnie para
ajudá-la a descer, Samston deslizou seus braços ao redor da cintura dela e a
tirou da sela. O Conde a colocou no chão, mas não tirou a mão. Em vez disso,
ficaram olhando um para o outro, como se o resto da paisagem tivesse deixado
de existir.
Seja qual for o modo que Samston a tratava, maldição, Lachlan não gostou.
Seus irmãos não gostariam, tampouco. Os homens não apalpavam a irmã mais
nova, especialmente homens Sassenach que perguntavam sobre seu dote. Se
ainda estivesse a tentar fazer-lhe ciúmes —e certamente não parecia ser assim
—ela estava bem da cabeça. Sabia como divertir-se e cortejar, como fingir
desmaiar aos pés de um rapaz, ou tropeçar e cair em seus braços, mas aqueles
eram apenas truques femininos para chamar a atenção. Uma vez que tivesse
essa atenção, não teria nenhuma ideia do que fazer a seguir.
Samston saberia, porém, e esse era o problema. —Deveríamos ter trazido
varas de pesca —, Lachlan disse em voz alta, e avançou para empurrar entre
os dois. Poderia fingir ser cabeça dura e alienado se servisse para fazê-lo.
—Poderíamos ter pegado o jantar.
—Estaremos aqui por várias semanas —, comentou o Conde atrás dele.
—Talvez os senhores possam ir pescar em outra ocasião. Quanto a hoje,
prefiro passá-lo em companhia mais encantadora e mais delicada.
—Muito bem dito, Adam —, Winnie colocou um sorriso em sua voz.
Lachlan bufou, desta vez não cobrindo seu aborrecimento com Samston e
sua fala suave. —Sim. Declarando que uma moça pode ser mais bonita que um
peixe é galante, de fato.
Quando se virou, porém, o olhar que Winnie lhe enviou não foi divertido,
exasperado com o qual estava familiarizado. Em vez disso, parecia
genuinamente e profundamente irritada. Meio que esperava que lhe desse um
tapa no rosto e lhe pedisse para ir.
Em vez disso, encarou seus novos amigos e abriu os braços. —Este é um
dos meus lugares favoritos —, disse ela, —e estou tão contente de ser capaz
de compartilhá-lo com todos vocês. Por favor, não se importem com Lorde
Gray; ele ainda pensa que iluminação a gás é mágica.
Todo o mundo riu. Na verdade, pareciam achar o comentário mais divertido
do que a justificativa. Já tinha sido provocado antes, e era geralmente bem-
humorado sobre isso. Afinal de contas, concedia tão bem quanto recebia. Mas
isso não foi uma provocação. Parecia um insulto, e nunca tinha feito isso com
ele antes.
Ficou para trás quando os Sassenach fizeram o seu caminho até a borda do
riacho em movimento rápido. Quando estavam todos ocupados com a vista,
deslocou-se atrás de Winnie. —Então, não somos mais amigos, não é?
—Murmurou.
Seus ombros se enrijeceram, mas ela não se virou. —Pare de insultar os
meus amigos —, sussurrou de volta. —Você não é tão charmoso quanto parece
pensar que é, Lachlan. Peço desculpas se ofendi seu orgulho por não estar
apaixonada por você, mas isso é culpa sua.
—Não me ofendeu —, replicou, apenas lembrando-se de manter a voz
baixa. —Está-se comportando como uma simplória. Perdeu seu juízo
juntamente com o gaélico?
—Estou tentando apresentar aos nobres influentes o lado justo das
Highlands. E está sendo um grande, idiot... você. —Ela trocou, em seguida,
deu um passo para trás até pisar na ponta de sua bota. Firmemente. —Vá
embora.
—Estou protegendo-a.
—Meus irmãos não acham necessário se arrastar atrás de mim hoje, então
não há nenhuma razão para você estar aqui, também.
—Essas quatro moças adoráveis que estão com você me dão vários
motivos, moça.
Finalmente o encarou, com o queixo erguido e os braços cruzados sobre o
peito. —Então por que você está aqui de pé, recusando-se a parar de falar
comigo? —Ela formulou.
Ele olhou-a, seu olhar abaixando aos lábios de aparência suave quando se
achataram em aborrecimento óbvio. Ou foi algum tipo de diversão cínica,
porque pensou que o tinha superado? Sempre foi capaz de decifrar seus
humores sem qualquer problema, de qualquer modo. Por que não podia fazê-lo
agora? E por que estava discutindo com ela, quando um punhado de moças
estava apenas a alguns passos de distância esperando para seduzi-lo?
Foi a primeira vez que ela o deixou perplexo, a primeira vez que ficou de
igual para igual com ele, como se as consequências não importassem para ela,
porque não o faziam. Seus olhos tempestuosos cinzentos praticamente
crepitavam com... alguma coisa. Algo ardente, de qualquer modo e sem
sorrisos afetados ou covardes. Ou ingleses.
Lachlan se aproximou dela antes mesmo que percebesse isso. Então uma
mão tocou o ombro de Winnie por trás, descendo o braço para pegar a mão
dela. —Venha, Rowena —, Lorde Samston falou pausadamente, virando as
costas para a água. —Diga-me como estas flores são chamadas.
Piscando, Lachlan conteve-se novamente. O Conde não tratou Winnie
—Rowena —como uma criança. Sem dúvida, achou isso lisonjeiro, mas foi
bastante óbvio que Samston sinceramente não a via como uma criança.
Nenhum dos cavalheiros Sassenach o faziam. Para eles, ela era uma linda
jovem de título e privilégio e riqueza, a única irmã do homem mais poderoso
das Highlands.
Eles a viam de forma imprecisa, ou era ele? Dada a forma como seu
intestino tinha reagido a ela naquele momento, tinha uma boa ideia de que era
ele. Que talvez —apenas talvez —tenha cometido um erro ao afastá-la antes
que pudesse se familiarizar com a dama que dizia ser.
Poderia dizer para si mesmo que fora pelo melhor, que se fosse atrás dela
e, em seguida, decidissem que não eram compatíveis, causaria uma ruptura
irreparável entre ele e os MacLawrys. Neste momento, porém, o principal
pensamento em seu cérebro era que não gostava de ver outro homem tocando-
a. De modo algum.
Capítulo três
Ranulf movia-se.
Rowena parou na porta do escritório de seu irmão para olhá-lo por um
momento, andando em passos medidos da estante para a janela e voltando
novamente. Apesar de ser treze anos mais velho e de seu pai morrer quando
ela era muito jovem para se lembrar de alguma coisa, a não ser de uma
espessa barba negra fazendo cócegas em suas bochechas, seu irmão tinha sido
mais um pai do que um irmão para ela. E vê-lo menos do que completamente
composto era raro e desconcertante.
—Queria ver-me? —Ela perguntou.
Girando, ele assentiu. —Sim. Sente-se, por favor? —Disse, passando por
ela e fechando a porta.
Seu mal-estar aumentou mais um ponto. —Todo o mundo se tem
comportado, espero. Escolhi cuidadosamente quais os amigos para trazer ao
norte comigo.
—Sei que o fez; Charlotte e Lorde Hest não tiveram uma palavra
inadequada para dizer sobre qualquer um dos Sassenach. Obrigado por isso,
piuthar.
Ela sentou-se em uma das duas cadeiras em frente de sua resistente mesa.
—Você não tem que agradecer. Bear não matou nenhum deles, então, não é?
—Ou talvez devesse estar perguntando sobre o comportamento de Lachlan.
Certamente tinha sido rude e hostil ontem. Isso foi muito diferente da imagem
que tinha na maior parte de sua vida.
Um breve sorriso tocou o rosto de Ranulf quando se moveu para a janela.
—Não. Todo o mundo ainda está vivo. Pedi para Munro se comportar, embora
esteja um pouco inclinado a mandá-lo para Edimburgo, só para ter certeza.
—Não pode forçá-lo a perder seu casamento —, protestou. —Só convidei
as mulheres para fazer uma festa equilibrada, para que não parece... —Ela
parou, corando.
—Então, para não parecer que estava trazendo pretendentes para Glengask
para ver quem melhor se adequaria à família? —Completou, levantando uma
sobrancelha. —Acha que não vi isso no momento em que chegou?
—Eu...
—Falou com Lachlan, não é? —Interrompeu, antes que ela pudesse evocar
uma história alternativa. —Ele disse que —bem —ele...
—Lachlan disse-me que nunca me pediria em casamento —, terminou,
tocada por sua relutância óbvia em causar-lhe dor. —Não precisa de se
preocupar sobre poupar meus sentimentos, Ran. Realmente não tenho nada
para ferir, no que se refere a Lachlan. Eu era jovem e tola, e ele estava...
presente, suponho. —Bonito, alto e magro, claro, mas estava longe de ser o
único homem que poderia se encaixar nessa descrição. Sabia disso agora.
Ranulf soltou a respiração e finalmente assumiu a cadeira do outro lado da
mesa. —Estou aliviado em ouvir isso. Teria acolhido com prazer uma união
entre vocês, mas somente se ambos quisessem.
—Não vale as lágrimas que chorei por ele, meu bràthair.
—Se ele não pode ver você por quem é, então não lhe merecia. —Inclinou-
se em sua cadeira, olhos azuis-escuros avaliando-a. —Tenho algumas coisas
para dizer-lhe, e não quero que bata em mim até ter escutado tudo.
Oh céus. —Concordo —, disse ela lentamente. Se estava indo para lhe
dizer que nenhum dos lordes ingleses eram aceitáveis, antes que se
incomodasse em familiarizar-se com qualquer um deles, iriam definitivamente
discutir.
—Há algumas semanas atrás quis que Arran se casasse com Deirdre
Stewart, para nos dar uma aliança com o clã Stewart. Então, o nosso irmão foi
e perdeu a cabeça por Mary Campbell, e pensei que estávamos prestes a entrar
em guerra aberta novamente.
—Mas nós temos uma aliança com os Campbells agora, não é? —Perguntou
ela. —O avô dela declarou a paz, e você concordou com isso.
—Sim. Concordei com paz. Não chamei de aliança. Mais uma decisão
mútua de deixar o outro viver. —Fez uma careta, depois limpou a expressão
de seu rosto. —Tenho pessoas para cuidar. Aldeões que já fugiram dos
MacDonalds e Campbells e que precisam de casas e emprego, educação para
os jovens, os moinhos que precisam funcionar, e uma centena de outras coisas.
O que acontece é... Tenho três rapazes em mente para você. Lorde Robert
Cranach e James MacMaster do clã Buchanan e Niall Wyatt, Visconde de
Cairnsgrove, do clã Watson.
Seu coração bateu doentio em seu peito. —Um casamento arranjado? Mas...
—Não. Não com tantas palavras, de qualquer maneira. Durante a maior
parte de sua vida pensei que fosse casar com Lachlan. Não havia nada para
pensar sobre isso. Agora, porém, reconheço que está procurando um
casamento por amor. Se estiver disposta a considerar todos esses rapazes
Sassenach, não poderia considerar um Highlander ou dois, também? —Ele
olhou para suas mãos por um momento. —Não escolhi os nomes em um
chapéu. Todos passaram algum tempo em Londres. Dois deles têm casas lá.
Isso a tocou profundamente. Há alguns meses atrás, ele tinha tudo, mas
jurou que nunca permitiria que ela colocasse os pés fora das Highlands, e
agora... isso. —Eu estou ouvindo —, disse em voz alta.
—Não iria forçar qualquer um deles em você, piuthar, mas o clã Buchanan
está deixando escapar algumas excelentes oportunidades para expandir o seu
valor, e os Watsons poderiam aumentar a sua construção naval com um pouco
mais de dinheiro e mão de obra.
Estava pedindo. Ranulf não estava ordenando ou ditando, ou proibindo-a de
fazer o que quisesse. Isso por si só a desequilibrou, assim como a maneira
como tinha acabado de falar com ela —como se fosse uma igual. Uma adulta.
—Tem alguma preferência? —Perguntou, satisfeita que sua voz permanecesse
fria e nivelada.
Seu irmão levantou a cabeça. —Honestamente? Ou então poderia chutá-lo
nas partes baixas?
Isso a fez sorrir. —Honestamente, se quiser.
—Lorde Robert Cranach. Ele tem vinte e quatro, e pelo que ouvi dizer, tem
um espírito mais progressista do que a maioria do seu clã.
Rowena assentiu. —Não vou prometer nada, mas além de admirar a forma
como Lorde Samston dança, não tenho nenhum apego real a qualquer um
desses senhores. Ainda não, pelo menos. Então, não tenho nenhuma objeção
em encontrar-me com Lorde Robert ou qualquer um dos outros homens que
você mencionou.
Por um longo momento, ele olhou-a. —Continua a surpreender-me, Rowena
—, disse ele, finalmente, —mesmo quando espero mais de você.
Nunca tinha recebido um elogio melhor. —Obrigada, a você, por me dizer
isso.
—Vou dizer mais uma coisa, piuthar, que deveria ter dito há semanas atrás.
—De repente, se levantou e deslocou-se para a cadeira ao lado dela, onde
tomou uma de suas mãos nas suas. —Pensei que tinha o direito disso, mantê-la
longe de Londres. Preocupei-me que fosse preferir essa vida mole e os
homens, muito mimados, de lá. Tanto me provou o contrário e levou-me a
Charlotte. Não é mais uma criança, Rowena, e estou satisfeito e orgulhoso da
verdadeira moça Highlander em que se tornou. Que você é.
Mas isso não era quem ela era. Preferia Londres. Mas olhou para cima,
para este homem durante toda a sua vida, e ouvi-lo dizer que estava orgulhoso
dela... —Traga-me seus formosos rapazes Highlander, bràthair—, falou, com
a voz tremendo um pouco. —Estou pronta para ser encantada.
Ranulf levantou a mão para beijar os nós dos dedos. —Basta ter em mente
que não vai estar encantada sem meu consentimento ou permissão.—Com um
sorriso, a soltou novamente. —Agora pode ir.
—Estamos caminhando para An Soadh hoje, se quiser juntar-se a nós.
Arran e Mary estão vindo. E Bear.—Enviou-lhe um sorriso malicioso. —E
Charlotte pediu para ser apresentada a alguns dos nossos aldeões.
—E deixou isso por último, não é?—Soprando o fôlego, se levantou e
caminhou até abrir a porta do escritório novamente. —Vou-me juntar a vocês.
E vou estar apresentando minha dama ao nosso povo, muito obrigado.
Agora só precisava ir dizer a Charlotte que Ranulf queria ir até An Soadh
com eles, e teria todo o grupo de Londres juntando-se a ela. E pensar que
nunca tinha hospedado ninguém antes. Estava começando a acreditar que tinha
um talento especial para este tipo de coisas.
Virou-se no corredor e chocou-se com um peito amplo e vigoroso.
Cambaleando para trás, olhou para cima com um pedido de desculpas em seus
lábios, quando dois braços fortes agarraram seus ombros para estabilizá-la.
—Sinto muito, eu não... Ah. Bom dia, Lachlan.
Ele olhou-a, com as mãos ainda em seus ombros. —Bom dia, Winnie. Ouvi
dizer que estava levando seu grupo para a aldeia hoje. Pensei em juntar-me a
vocês.
Se pretendia se comportar mal como fez ontem, não queria que fosse junto.
Não o queria perto de qualquer maneira, porque seria muito mais fácil ignorar
alguém quando não estava presente. Mas dizendo-lhe só iria alargar o abismo
entre eles. —Não precisa de minha permissão.
—Bem, pensei em perguntar—lhe, de qualquer maneira. Dissemos algumas
palavras ontem.
—Dissemos? Tive tanta coisa para ver ultimamente. Devo ter esquecido.
—Esqueceu, então? Que sorte a minha.
Quando não demonstrou nenhuma inclinação para se mover, ela saiu de seu
aperto. —Sim, suponho que sim. Por que se por acaso me lembrasse,
provavelmente ficaria irritada por estar se comportando como uma criança
petulante.—Passou por ele. —Apenas tente não me envergonhar novamente.
Antes que pudesse piscar, suas costas estavam contra a parede e o dedo
espetado entre seus seios. —Olhe para mim—, ele murmurou, sua voz baixa e
com raiva.
Ela ergueu o olhar para atender seus longos cílios e olhos verdes. O que
quer que tenha acontecido com seu habitual bom humor, esta versão do
Lachlan MacTier —a que ela tinha encontrado ao longo dos últimos dois dias,
a deixava... inquieta. Nada como os sentimentos doces e lisonjeiros, as
risadinhas que sempre tivera em volta dele antes. —Estou olhando para você
—, respondeu, mantendo a voz nivelada.
—Não sou um tolo, moça—, continuou no mesmo tom duro. —Não sou um
cão, que pode dar um tapinha na cabeça e mandar para o canil. Se não me
quiser por perto, então diga, e vou decidir se concordo com você. Mas vou
dizer o que penso, e vou dizer algumas coisas quando um dos seus belos
Sassenach agir de uma forma que for indigna de ti.
O coração dela deslizou um pouco, e não gostou da sensação. —Já que
você é o próprio retrato de alguém que não é digno de mim, terá que esperar
se vou ou não levar sua opinião em consideração.
Com um meio grunhido, inclinou-se para uma respiração mais perto,
pairando sobre ela, como uma estátua viva de granito, vigorosa e aquecida.
Então, virou-se e caminhou pelo corredor.
Rowena caiu contra a parede. Quando Lachlan tinha finalmente lhe dito o
que ela já sabia, que não tinham um futuro juntos, pensou que poderiam
continuar amigos. Afinal, tinham dezoito anos de história mútua. Sabia que
podia ser bem-humorado e afável. Talvez, porém, só tivesse sido quando ele
se considerava um quarto irmão para ela.
Como lhe havia dito, não precisava de outro irmão. Certamente nunca o
vira assim. O que acabara de se tornar claro, no entanto, foi que ele realmente
tinha visto a si próprio como só isso. E agora tinha alterado a forma como a
olhava, e qualquer que fosse a indulgência que sentia parecia ter
desaparecido. Lachlan MacTier não era bem o que tinha pensado —e isso, por
si só, invertia as coisas. Se suas próprias percepções estivessem erradas...
Estremeceu. Ranulf apenas apresentou seus três novos pretendentes, e tinha
um grupo de quinze Sassenach perto de An Soadh, e tinha que mantê-los
entretidos e felizes. Se Lachlan pretendia criar problemas, colocaria um fim a
isso. Não parecia que poderiam ser amigos por mais tempo, e se ele pretendia
tornar-se um inimigo, ficaria triste, mas ela iria tratá-lo como um.
—Eu ouvi Lachlan?—Disse Ranulf, fazendo-a saltar quando saiu de seu
escritório.
—Sim. Dirigiu-se para o quarto de Bear.
—Bom. Tenho nove chefes vindo para o casamento, e não tenho a menor
inclinação para permitir que a minha celebração se transforme em uma briga,
porque não tenho whisky suficiente à mão.—Fez uma careta. —Minha cabeça
já está batendo com o pensamento de todos os gaiteiros competindo para nos
acordar de manhã.
—Talvez você e Charlotte devessem ter seguido o exemplo de Arran e
Mary e fugido—, sugeriu, forçando um sorriso. Se havia uma coisa que Ranulf
não precisava adicionar ao seu prato era a sua rivalidade —se é o que foi isso
—com Lachlan.
—Não me tente, moça—, ele retumbou, e beijou-a na bochecha quando
passou.
Ainda tentando livrar-se da ideia de que não conhecia o homem por quem
estava obcecada há quase duas décadas, Rowena foi procurar Charlotte
Hanover.
***
***
Rowena se escondeu atrás das velhas pedras caídas. Tinha pedido para
Lachlan ficar longe de Jane, e ainda estava lá, sendo... cavalheiro. E flertando.
Ela enrugou o nariz. Nunca se preocupou em verificar se o seu pé estava no
estribo, pelo amor de Deus. Uma vez até cavalgou e deixou-a, quando alegou
ter uma tontura.
Não que se importasse, claro. Adam, Lorde Samston pode ter jogado sua
mão e perdido, mas tinha três Highlanders no caminho apenas para conhecê-la.
Não era mais uma menina perseguindo um primeiro beijo, também. Rowena
levou os dedos aos seus lábios. Não tinha sido um... bem, um beijo glorioso,
mas tinha sido um beijo. E se uma vez, sonhou que seria Lachlan quem lhe
daria seu primeiro beijo, bem, isso foi apenas estupidez. Tinha deixado bem
claro que não estava interessado nela, e ela tinha feito outros planos.
Apenas escapou da casa esta manhã para ter certeza de que Jane estava
bem. Ele tinha sido tão diferente de si mesmo, ontem, com tanta raiva, que
precisava ter certeza de que não seduziria Jane apenas por despeito ou algo
assim. Dando um tempo, olhou ao redor da alvenaria quebrada novamente.
Ambos os cavalos e cavaleiros tinham desaparecido na manhã enevoada.
Talvez estivessem de mãos dadas e exclamando como os jacintos estavam
azuis. Ela certamente não se importava.
—Que diabo está fazendo aqui, moça?
Rowena guinchou, virando a cabeça ao redor. Lachlan MacTier, Lorde
Gray, estava inclinado contra o que tinha sido uma vez uma porta da velha
fortaleza, com os braços cruzados sobre o peito e a expressão divertida.
Droga. —Pensei ter visto um fantasma—, mentiu. Quando se endireitou, algo
prendeu na parte de trás da saia, puxando-a de volta para seus joelhos
novamente.
—’Um fantasma’?—Repetiu ele. —A velha Lady Teàrlag, veio para
encontrar seu marido traidor?
—Não sei—, ela voltou, torcendo e dando um puxão na parte de trás do seu
traje de montar. A única coisa pior do que ser descoberta pelo estúpido
Lachlan, seria ficar presa aqui. —Isso me deixou curiosa.
—Sempre foi destemida, Rowena. Vou dar-lhe isso.
Ela parou de puxar e encarou-o novamente. —Do que me chamou?
—Rowena. É seu nome, não é?
Um tremor suave correu por sua espinha ao seu sotaque baixo dizendo o
nome dela. —Nunca me chama de Rowena. É sempre ‘Winnie, você tem nós
em seu cabelo,’ ou ‘Winnie, me deixe em paz’.—Não. Isso foi o que precisava
para se lembrar —que pensava nela como uma criança, como uma irmã, e que
Lorde Samston a tinha beijado. De tal maneira que outros homens a achavam
perfeita para casar e atraente para uma dama. E que preferia um homem que
não detestasse Londres e os Sassennachs, de qualquer maneira.
Endireitou-se, afastando-se da parede do musgo e fazendo o seu caminho
mais perto. —Não sei se viu Lady Teàrlag, moça. Acho que queria saber o que
estava fazendo aqui com Jane Hanover.
—Estava aqui com Jane?—Aproveitou a admissão.
—Disse que não se importava. Não foi um segredo. Mas quero saber o que
está fazendo aqui sozinha. Não está com um cavalariço, nenhum de seus
irmãos, e nenhum dos cães de caça à vista. Isso não é sábio.
—O próprio Campbell estará visitando aqui em duas semanas. Ninguém vai
estragar seus planos. E agora quero lembrá-lo de que ela é muito romântica.
Jane, quero dizer. Não a machuque.
Lachlan se agachou ao lado dela. Seu olhar em seu rosto, inclinou-se mais
perto e lentamente chegou ao seu redor. Rowena conteve a respiração. Só
estava brincando, porque não suportava o fato de que, não estava mais
apaixonada por ele, que tinha mudado, para encontrar um homem digno de sua
atenção e carinho.
Com um puxão forte, libertou sua saia. Ela começou a se levantar
imediatamente, mas a agarrou pelo braço e segurou-a ali, olho no olho, com
ele. —Jane mencionou que o pomposo rapaz, o que é isso? Sandstone? Que
ele...
—Samston—, corrigiu ela, não olhando para sua boca.
—Que ele te beijou—, continuou, como se ela não tivesse falado.
—Danação—, murmurou, sentindo suas bochechas quentes. —Disse para
Jane ficar quieta sobre isso. A última coisa que quero, primeiramente, é que
um dos meus irmãos o cubra com os punhos.
—Não é só com seus irmãos que ele precisa se preocupar mais.
—Oh, por favor.—Puxou seu braço livre e se mexeu desajeitadamente em
seus pés nas pedras irregulares. Precisava de alguma coisa. Altura. Não tê-lo
muito perto dela. Alguma coisa. —Pode fingir que é meu irmão, mas já tenho
três. E não preciso de outro. Se quero me apaixonar e casar, vou precisar falar
com os homens. Dançar com eles, mesmo.—Colocou a mão no peito. —Meu
Deus, poderia até mesmo encontrar alguém que me ame em troca. Beijos
poderiam muito bem estar envolvidos.
—E ainda assim ouvi que se afastou de Samston. Depois do beijo.
Enfureceu-se. Podia culpar Jane pela tagarelice sobre o incidente, mas
Lachlan provavelmente a tinha enganado e tirou a informação dela. Fazia isso
com Bear o tempo todo. —Sim, me afastei. Encontrei vários homens para...
menos do que eu esperava. Incluindo você.
—Isso não é divertido, Rowena.
—Isso não deveria ser.—Virando-se, empurrou-o em seu extenso peito
rígido. —Vá embora. Deixe-me em paz. Tenho-lhe perseguido desde que
poderia engatinhar, e agora aprendi com meus erros. Era uma criança tola que
não sabia de nada. E não lhe quero mais. A única coisa que quero de você,
Lachlan MacTier, é que não interfira com as minhas chances de romance e
felicidade.
Antes que pudesse puxar sua mão, ele agarrou seu pulso novamente,
segurando-a contra ele. —Sei que ainda gosta de mim, Rowena, e sei que só
está tentando me fazer ciúmes, trazendo todas esses delicados almofadinhas
para as Highlands.
—Eles não são almofadinhas. São apenas elegantes. Algo sobre o qual
você não sabe nada.—Puxou, mas seu aperto era como ferro. Outras pessoas
disseram que Lachlan tinha um temperamento, mas sinceramente nunca tinha
visto. Não dirigido a ela. —Não estou tentando fazer qualquer coisa para você
—, continuou, finalmente olhando para encontrar o seu olhar verde exuberante.
—Dezoito anos de ser ignorada e ridicularizada é tempo suficiente. Agora
deixe-me ir.
—Não vou tê-la olhando para mim como se não fosse um homem—, disse
num tom mais baixo, mantendo-se imóvel. —Como pode piscar seus belos
olhos e me tornar invisível. Pode decidir que não me quer, mas não será
porque decidiu que não existo.—Olhou além dela, onde estava empoleirada
observando-o a flertar com Jane. —Porque está apenas fingindo que não gosta
de mim, Rowena. E eu sei disso.
Com um toque de sua mão, puxou-a contra ele. Ela engasgou, e sua vigorosa
e ardente boca fechou-se sobre a sua. Ele não foi gentil, de qualquer modo,
mas então era um Highlander nascido e criado. Não era cavalheiro ou vistoso
como qualquer dos homens que a seguiu ao norte para Glengask. Poder,
paixão, raiva, Rowena fechou os olhos para a pura força dele. Lachlan
MacTier, beijando-a. Devorando-a. E só por esse momento, queria ser
devorada.
De repente, afastou-a, colocando-a em seus pés como se não pesasse mais
que uma pluma. —Agora finja que sou invisível—, murmurou, endireitando-
se.
Rowena estava ali nas ruínas do Castelo Teàrlag e olhou-o. Se tivesse sido
há um ano —ou três meses atrás mesmo —teria ficado... Bem, não foi há três
meses, foi? Foi hoje, e tinha outros planos. Outros homens estavam vindo para
cortejá-la.
—Vejo você muito bem—, afirmou, e lhe deu um tapa tão forte quanto
podia. —Não, você não é invisível. E nem é tão charmoso quanto pensa que é.
Teve sua chance. Vá embora, Lachlan MacTier.
A marca vermelha em forma de sua mão começou a aparecer na mandíbula
cerrada de Lachlan, embora não se preocupasse reconhecendo o impacto.
—Muito bem—, falou pausadamente. —Mas isso ainda não terminou,
Rowena.—Deu um sorriso surpreendente. —Agora você se tornou
interessante.
Girou sobre o calcanhar, e depois de um momento, os sons de Lachlan e de
seu cavalo desapareceram na névoa. Em torno dela, as árvores sussurravam, e
quase poderia acreditar no motivo da perturbada e trágica Lady Teàrlag estar
falando com ela. E pelo que sabia de Lady Teàrlag, estava inteiramente de
acordo com o destino merecido de sedutores e galanteadores.
Não estava prestes a cair na mesma armadilha novamente. Não quando
finalmente tinha escapado disso —dele. Não quando tinha uma meia dúzia de
rapazes bonitos com título e riqueza perseguindo-a, e não quando seu irmão
mais velho tinha especificamente arranjado para conhecer mais três, qualquer
um dos quais beneficiariam o clã. Lachlan estava provavelmente jogando,
enfim, com raiva que o cachorro que tinha andado atrás dele por tanto tempo,
tinha decidido que preferia estar em outro lugar.
Mas ele estava certo sobre uma coisa; não ia ser capaz de continuar a fingir
que estava invisível. Não depois daquele beijo. Não quando em um vulnerável
segundo havia lembrado o quanto uma vez desejou ser beijada assim mesmo, e
por ele. —Maldito seja, Lachlan MacTier—, murmurou, deixando seu próprio
sotaque solto por um momento. —Está tudo acabado. É isso.
Capítulo Cinco
O Visconde de Cairnsgrove chegou pouco antes do anoitecer. Veio em uma
carruagem, dois jovens que se pareciam o suficiente com ele, que tinham que
ser seu irmão e irmã, apareceram atrás dele. Rowena assistiu da janela do
quarto de dormir de Bear, quando o trio desceu para o caminho e foi recebido
pelo próprio Lorde Glengask.
Sempre gostou de ver membros de outros clãs conhecerem Ranulf; sua
cortesia e, ocasionalmente, o aperto de mãos foram o suficiente para dizer-lhe
quanto respeito até mesmo os mais descorteses e destemidos Highlanders
tinham para com o MacLawry, como todos se referiam a ele.
A mão de Niall Wyatt não tremeu quando a segurou, mas se curvou muito
baixo. Os dois mais jovens, ambos com o mesmo cabelo vermelho que o
Visconde, pareciam prestes a desmaiar. Além de notar, mostraram para Ranulf
o devido respeito, porém, a maior parte de sua atenção permaneceu em
Cairnsgrove.
As cores do clã Watson eram azul e verde e amarelo, e usava um lenço
dessas cores. Fora isso, porém, poderia ter sido confundido com qualquer
cavalheiro inglês ruivo —chapéu, elegante casaco azul escuro, calça de
camurça marrom, um colete azul e preto, e um belo par de sapatos brilhantes.
—Bem, ele é bonito—, Bear observou, tirando o casaco de equitação
quando se juntou a ela na janela. —Esse é Cairnsgrove, não é?
—Sim. Ran quer que eu o conheça.
—Agora? E como se sente sobre isso, piuthar?
—Me sinto... curiosa.—A ideia de que estava olhando para um homem que
Ranulf aprovou —mesmo que Lorde Cairnsgrove fosse sua segunda escolha,
totalmente – fazia-a sentir-se estranha. Seu irmão quase não aprovava nenhum
homem mesmo quando o moço se adequava para ser seu esposo. E tinha
trazido homens que realmente gostavam de Londres, ou pelo menos não
evitavam o lugar. Era muito diferente de seu irmão mais velho.
—De maneira que realmente desistiu de Lachlan, então?
Rowena enviou a seu irmão um olhar. Poderia dizer-lhe que Lachlan a tinha
beijado e que lhe deu um tapa, mas guerras haviam começado com menos
provocação. Além disso, era mais fácil fingir que tinham sido apenas os
eventos de algum devaneio louco, ontem, os restos de um desejo que tinha uma
vez levado ao redor por ela.
Lachlan realmente não a queria, de qualquer forma. Apenas tinha ferido seu
orgulho e ele reagiu como um brutamontes desajeitado. Sim, o beijo tinha
mexido com ela, e continuava a fazê-lo, mas apenas porque tinha sido
inesperado. E por ter sido tão diferente do casto, sem paixão, que tinha
compartilhado com Samston. Claro, não tinha percebido que aquele primeiro
beijo tivesse sido sem paixão até Lachlan a atacar.
—Winnie? Está aí?
Estremeceu. —O quê, Bear?
—Realmente terminou com Lachlan?
—Sim. Sim, terminei.—Dando um tempo, ela deixou a janela. —Bem, acho
que deveria ir conhecer nossos novos convidados—, disse, alisando seu
vestido de musselina azul e marrom.
—Sim. E espero que possa manter os olhos abertos tempo suficiente para
terminar a conversa.
Rowena retardou sua saída. —Você o conhece, então? Ou apenas está sendo
antagônico?
Bear a acotovelou para o corredor. —Um pouco de ambos, é mais provável
—, disse com um sorriso, e fechou a porta atrás dela.
Bem, isso não foi nada útil. Claro, se ele estava mantendo-a em mente,
Ranulf provavelmente havia selecionado alguém que não compartilhava muitos
dos mesmos gostos ou hobbies que seus irmãos. Alguém calmo e seguro, que
poderia realmente ter tempo e disposição para permiti-la em sua vida, para
mostrar sua afeição e não decidir, depois de dezoito anos de ignorá-la, tentar
beijá-la até à morte, quando finalmente se tornou sábia o suficiente para lhe
virar as costas.
Os Wyatts sentaram-se na sala matutina, aquecida pela luz do fogo, Ranulf e
Charlotte estavam conversando com Cairnsgrove, enquanto Jane e Edith e
Arnold Peabody enchem os dois mais novos com perguntas sobre o tempo em
Edimburgo.
Jane enviou-lhe um olhar curioso, mas no momento, Rowena conformou-se
em sorrir para a amiga. Poderiam descobrir mais tarde, o que estava
acontecendo hoje. Mantendo o sorriso em seu rosto, caminhou até ficar ao lado
de seu irmão.
—Você deve ser Lorde Cairnsgrove—, disse, encarando o Visconde.
—Ranulf disse que estava vindo para o casamento.
—Sim, de fato—, respondeu, pegando sua mão e curvando-se sobre ela.
—Niall Wyatt, ao seu serviço.
Bem, isso soou muito jovial. Ela mergulhou numa reverência. —Rowena
MacLawry, ao seu.
Ranulf pegou a mão de Charlotte. —Vocês nos dão licença um instante?
Quero apresentar minha noiva ao seu bràthair e piuthar.
—Claro, Lorde Glengask—, o Visconde retornou. —Ambos estão muito
animados por estar aqui. Glengask e os MacLawrys são bastante míticos em
Edimburgo.
Uma vez que tinham ido, Cairnsgrove encarou Rowena diretamente. —Ouvi
dizer que acabou de voltar de Londres. Acho essa cidade um pouco entediante,
admito, mas gosto do teatro. Foi capaz de assistir a todas as peças?
Ele não tinha nenhum traço de sotaque das Highlands, percebeu. Na
verdade, se não soubesse que tinha uma propriedade nos arredores de
Edimburgo, teria pensado que apenas veio de Londres, mesmo. —Sim, fui—,
respondeu, então, sentiu um arrepio precipitado subir sua espinha. Quando
olhou para o lado, não se surpreendeu ao ver Lachlan caminhando para a sala
com Bear, Arran, e Mary.
Maldição, por que não poderia apenas ficar longe? Olhos verde-musgo
encontraram os dela e não desviaram o olhar. Ela o fez, apesar de tudo. Ele
poderia simplesmente ir tentar hipnotizar alguém.
—Fomos capazes de ver Hamlet—, continuou, voltando sua atenção para
Cairnsgrove, —e à noite antes de sairmos de Londres, assistimos à estreia de
Speed the Plow.
Ele bateu palmas. —Escolhas esplêndidas. Quem era seu Hamlet? A que
assisti no ano passado contou com um desempenho fascinante de um rapaz
—ah, como se chamava —Andrew Wilsby. Foi isso. Tal interpretação
diferenciada, por um momento ou dois, temi que realmente tivesse
enlouquecido diante dos meus olhos!
—Não lembro o nome do nosso Hamlet—, disse Rowena, mantendo o
sorriso no rosto. —Mas foi um bom desempenho. Vai a Londres muitas vezes,
então?
—Sempre que posso. Teatro em Edimburgo é, bem, desapaixonado,
suponho, mas certamente não é Londres.—Ele riu. —Mas então, o que é? Oh,
esse é o seu irmão, não é? Como é bom lhe ver, Lorde Arran.
Arran aproximou-se para apertar as mãos. —Niall. Conhece minha esposa?
Mary, este é Niall Wyatt, Lorde Cairnsgrove. Niall, Lady Mary MacLawry.
O rosto do Visconde ruborizou. —Oh, você está casado agora? Não fazia
ideia! Eu... Parabéns, é claro. Para os dois. Lady Mary, muito gosto.
Como a educação de Rowena tinha sido privilegiada, reconhecia um
coração partido quando via um. E tinha-se acabado de quebrar o coração do
Niall Wyatt. Pelo amor de Deus. Evidentemente, Ranulf não era tão onisciente
como pretendia, porque enquanto Niall favorecia um MacLawry, claramente
não era ela. Respirou fundo, em seguida, colocou a mão em seu braço.
—Lorde Cairnsgrove só estava lamentando a falta de um bom teatro em
Edimburgo—, disse em voz alta. —Admito, tão encantadores como alguns dos
saraus foram, acho que ir ao teatro foi, talvez, a minha parte favorita de estar
em Londres. Todo o mundo estava tão... ofuscante.
Cairnsgrove estremeceu visivelmente. —De fato. E todo o mundo tem a
intenção de ser visto indo ou vindo, porque caso contrário, são deixados
sentados no escuro com suas melhores roupas.
Lachlan escolheu esse momento para dar a volta por trás do Visconde.
Forçando uma risada, Rowena tensa apertou o braço de seu convidado. —É
verdade, meu senhor.
—Oh, por favor, me chame de Niall.
—É Niall, então.
Durante uma hora antes do jantar, fingiu flertar com um homem que estava
claramente mais interessado em seu irmão do que estava nela. Além disso,
quando lhe contou sobre o encontro de Arran e Mary e sua fuga, tornou-se
ciente de duas coisas: em primeiro lugar, na verdade tinha muita coisa em
comum com Niall Wyatt, que tinha perdido o seu coração para alguém que
nunca iria retribuir suas afeições; e em segundo lugar, estava fingindo flertar,
só porque Lachlan estava presente.
Tinha dito que não tinha terminado com ela, o que era ridículo, porque tinha
afirmado exatamente o oposto para ele no dia que voltou para Glengask. Além
disso, durante essa conversa, que havia iniciado, o canalha, deixou bem claro
que não tinha nenhum interesse nela. Que diabo tinha acontecido ao longo dos
últimos dias, para então mudar de ideia, exceto pelo fato de que tinha visto
outros homens se interessando por ela?
Tudo teria sido risível, algum tipo de farsa teatral, exceto por aquele beijo.
O beijo que a fez esquecer nos momentos mais simples que tinha jurado nunca
cair em seus velhos hábitos novamente, nunca mais se apaixonar novamente
por Lachlan MacTier, porque não valia a pena o desgosto. E isso não tinha
mudado. Não podia mudar, quando estava apenas fingindo persegui-la, porque
agora outros homens a queriam. Não o homem cujo braço atualmente segurava,
mas outros homens.
E quando chegasse amanhã, se Lorde Robert Cranach do clã Buchanan a
achasse interessante, e não só porque ela gostava de teatro, então estava pronta
—pronta —para se apaixonar por ele. O quanto antes melhor.
***
***
Uma vez que Lachlan deixou seu quarto e fechou a porta silenciosamente
atrás dele, Rowena se jogou para trás na cama novamente. No entanto, pensava
nele, e certamente tinha um jeito de ocupar uma sala com a sua presença.
Um beijo todas as noites. Deveria sentir-se chateada e com raiva que ele
tivesse usado seu desejo por algumas educadas semanas contra ela, isso
porque queria que Ranulf tivesse um casamento perfeito, teria que quebrar seu
próprio juramento de permanecer longe dos chamados encantos de Lachlan
MacTier. Irritada, no entanto, não chegou a descrever os tremores e a sensação
instável viajando através de seu intestino até sua espinha.
O que ele tinha acabado de dizer-lhe era a resposta para o sonho romântico
de uma jovem. Seu sonho, há três meses. Supunha que não poderia ser tão
surpreendente ouvi-lo agora, era talvez, apenas um pouco emocionante. Quanto
ao resto, não sabia absolutamente tudo sobre ela. Como ele poderia, quando
não tinha feito nada mais do que debochar dela quando era pequena, e evitá-la
quando estava mais velha, ou pensava que estava —para saber o que ela
queria? E ele não sabia nada de Londres e seus divertimentos sofisticados.
Isso era o que ela realmente gostava agora.
Mais ou menos vinte minutos depois, ouviu uma batida na porta. —Quem é?
—Perguntou, esperando que não fosse qualquer um dos seus irmãos. Não se
sentia à altura da tarefa de explicar a Ranulf por que não se casaria com
Cairnsgrove, ou por que Lachlan abruptamente decidiu persegui-la. Para
também cortejá-la.
—É Mitchell, minha senhora—, a voz de sua criada veio. —Disse para não
acordá-la, mas seu irmão está levando alguns dos rapazes Sassenach para
pescar, e pensei que gostaria de saber.
Oh céus. Rowena lançou as cobertas e saiu da cama ficando de pé.
—Entre!—Sentou-se em sua penteadeira para escovar seu cabelo e os dentes
enquanto Mitchell foi para o guarda-roupa encontrar-lhe algo adequado para
vestir. —Qual irmão?—Perguntou tardiamente, embora pudesse adivinhar.
—Laird Munro. Ele e Laird Gray entraram na sala do café da manhã, e
Cooper disse que ofereceram dez libras e exigiram direitos para qualquer um
deles que capturasse a maior truta antes do pôr do sol.
—Então, as damas foram deixadas para trás?
—Alguns deles se recusaram a ir para o lago para fazer não sei o quê, mas
o resto decidiu ter um piquenique na praia.
Mitchell levantou um vestido de musselina branca, salpicada de flores
vermelhas e pretas. Rowena tinha escolhido o material em Londres, porque
trazia as cores dos MacLawry, e acenou em aprovação.
—Isso soa muito divertido, realmente—, disse de pé novamente e
alegremente lançando sua camisola e, em seguida, levantando os braços para
que Mitchell pudesse deslizar o vestido pela cabeça. Desde que Lachlan tinha
diretamente invadido seu quarto para organizar uma expedição de pesca,
estava um pouco surpresa que soasse tão... civilizado.
—Sim. Cooper enviou uma meia dúzia de lacaios para a costa para colocar
um toldo e mesas e cadeiras. Não vi tanta agitação desde a última reunião do
clã.
—Não precisavam ter tanto trabalho—, Rowena respondeu com uma
careta. Sentou-se novamente para que Mitchell pudesse levantar seu cabelo.
—Vou dizer a Cooper que tudo o que precisamos são alguns cobertores para
sentar.
—A senhorita de cabelos castanhos, Lady Edith, não é? Disse que o terreno
está muito molhado para se sentar, e devem-se abrigar do sol escocês.—A
criada se aproximou mais. —O que há de tão assustador sobre o sol escocês?
Nem sequer o vemos muitas vezes.
—As damas precisam proteger a sua tez—, Rowena respondeu com um
sorriso. —Os homens não gostam que uma dama tenha a pele vermelha,
manchada.
—Lembro-me de você chegando em casa queimada pelo sol mais de uma
vez—, Mitchell comentou quando terminou a espessa e incomum trança e
começou a enrolá-la no topo da cabeça de Rowena. —Você parecia bem e
saudável para mim, mesmo que cheirasse um pouquinho a peixe.
Rowena riu. —Isso não parece muito elegante.
Foi só quando havia visitado Londres que tinha percebido o quão incomum
sua infância tinha sido. Desde o seu quinto aniversário, tinha sido criada
inteiramente por seus irmãos e seu tio Myles. Até onde sabia, jovens damas
iam pescar, usavam calças para que pudessem montar a cavalo, aprendiam a
usar uma pistola e um rifle e uma espada, e usavam vestidos com muitos
babados para festas de chá.
Compreendia melhor agora. Portanto, essas coisas que Lachlan afirmava
saber sobre ela não significam nada, senão como uma fonte de embaraço. Se
queria usá-los contra ela, bem, sabia algumas coisas desagradáveis sobre ele.
Não queria que isso se transformasse em uma guerra, mas ela nunca —jamais
—desperdiçaria outro momento devaneando por Lachlan MacTier.
Na verdade, apenas esses poucos momentos eram numerosos. Endireitando
os ombros, abriu a porta de seu quarto e se dirigiu para as escadas. Poderia
andar delicadamente... depois que atingisse o piso principal e seus
convidados. Talvez não tenha organizado a excursão de hoje, mas poderia
evitar de se dissolver em um caos MacLawry.
—Está muito determinada, esta manhã—, Arran disse, fazendo uma pausa
no topo das escadas para esperar por ela.
—Evidentemente estou atrasada para uma expedição de pesca—,
respondeu, correndo para ele.
—Os homens partiram há cinco minutos, e as moças ainda estão escolhendo
seus pequeninos guarda-sóis.—O irmão MacLawry do meio desceu as escadas
atrás dela. —Apostei com Bear sobre qual moça vai ser soprada para dentro
do lago primeiro.
Com uma carranca ela parou, girando em torno para olhá-lo. —Isso não é
amu...—Parou quando avistou seu sorriso fácil. —Você está me provocando.
—Sim. Estava com um olhar sério. Além disso, desde que está organizando
para uma horda de Highlanders participar de uma reunião e um casamento,
pensei que poderia gostar de alguém lhe dizendo que está fazendo um ótimo
trabalho. Porque está fazendo um grande trabalho.
Rowena alcançou seu braço ileso e o deixou acompanhá-la o resto do
caminho até o piso principal. —Os Highlanders estão apenas começando a
chegar. Sem dúvida, teremos a nossa primeira briga até ao jantar.—E se
Lachlan a causasse, não teria que se preocupar em beijá-lo novamente, e nem
com os sentimentos indesejáveis e oscilantes que vinham com isso.
—Não seria um bom casamento sem uma briga.
—Esperemos que seja menor que a briga que teve.—Ela suspirou,
abraçando o braço bom. —Estava tão preocupada com você, você sabe.
Poderia ter-me contado o que estava acontecendo. E irritado como Ranulf
estava e duas vezes mais apavorado de que nunca fosse chegar na Escócia
vivo.
—Entendo isso—, ele voltou. —Antes de conhecer Mary nunca teria
cogitado fugir para casar, muito menos com uma Campbell. O amor é um
animal estranho, Rowena. Quando lhe apanhar, vai fazer de tudo para mantê-lo
envolto sobre você, custe o que custar.
O simples fato de que seu irmão inteligente e lógico, fugiu de Londres com
Mary Campbell, sabendo muito bem que uma horda de Campbells irritados
estavam diretamente nos seus calcanhares, foi prova suficiente para ela que o
amor era louco. Na verdade, tinha tomado sua decisão de encontrar um homem
calmo, culto para se casar, isso parecia ser mais sensato. —Onde está a sua
Mary, esta manhã?
Seu sorriso caloroso voltou. —Seu estômago está um pouco instável. Estou
no meu caminho para buscar algumas torradas e chá de hortelã.
Rowena o beijou na bochecha. —Estou tão feliz por você, Arran. Vai-me
fazer uma tia.
—Acho estou feliz por mim mesmo. Dê nossas desculpas aos seus amigos,
se quiser.
—Claro.
No momento em que Winnie agarrou seu próprio chapéu e guarda-sol e saiu
de casa, o sorriso de Arran caiu. —Glengask está perto?—Perguntou para
Cooper, quando o mordomo se inclinou contra a porta. Certamente ter tantos
Sassenach na casa, sem dúvida é cansativo.
—Sim, Milorde. Vai encontrá-lo no estábulo. Debny disse que não
estaremos mais alimentando os cavalos até ao final da semana.
Concordando, Arran voltou para as profundezas da casa e depois saiu pela
porta lateral mais próxima do estábulo. Aturaria todos esses ingleses aqui, mas
não tinha a intenção de passar mais tempo com eles do que precisava. Não
quando tinha uma recém adquirida noiva para fazer companhia. Além disso,
não queria nenhum dos amigos de Winnie, novos ou antigos, ouvindo sua
conversa.
Encontrou o Marquês de pé ao lado do cavalariço, próximo de outros dois
cavalariços, terminando de atrelar uma carroça. Howard Howard, o ex-
cocheiro caolho que percorreu Londres e o tinha ajudado e a Mary a alcançar
as Highlands, sentou-se no banco, as rédeas em suas mãos. Arran sorriu. O que
quer que estivesse acontecendo, devia ao Sr. Howard um significativo
emprego.
—Está gostando das Highlands, Howard?—Perguntou, estendendo a mão.
O cocheiro limpou os dedos em suas calças antes de apertar as mãos.—É
tão encantadora como descreveu, Lorde Arran. Além disso, Glengask aqui tem
um belo estábulo. Muito bem. Sinto-me honrado que me encontrou emprego
aqui.—Ele passou a mão em seu olho bom. —É bem popular, você sabe.
—Uma vez que chegarmos ao lugar e entendermos o que o rapaz está
dizendo, todos vamos ser felizes como mariscos—, Debny expôs com uma
risada.
—Hum-hum. Você continua dizendo que sou o único que fala engraçado.
—Howard fungou. —Estamos dirigindo para a aldeia, ou não?
—Você está—, Ranulf determinou, recuando quando Debny subiu na
carroça ao lado do motorista. —Não deixe Tom MacNamara sobrecarregar de
cereais. Volte a lembrar-lhe em manter seu moinho na transação.
—Sim, Milorde.
—Alimentou o cavalo?—Arran perguntou, quando a carroça saiu na
direção de Mahldoen.
—Sim. Os cavalos Sassenach não sabem como viver na doce relva
escocesa, ao que parece.—Ranulf lhe lançou um olhar de soslaio. —Como
está seu ombro?
—Não vou estar lutando com Bear por alguns dias, mas estou quase curado.
—Deu de ombros para demonstrar. Considerando que a bala que Charles
Calder, neto do Campbell, tinha disparado diretamente nele, tinha sido
destinada para o seu coração, sentiu-se com sorte apenas por estar acima do
solo.
—Bom. Vai pescar com o resto deles?
—Não. Mary vai ficar na cama esta manhã. Queria-lhe fazer companhia.
—Deveria, já que foi o único a deixá-la assim.—Ranulf voltou-se para a
casa, e Arran manteve-se ao seu lado. Assim como sua relação tinha estado
tensa durante as últimas semanas, com a paz do Campbell e Mary grávida,
lentamente estavam reparando os danos. Às vezes, porém, sentia que estava
caminhando sobre gelo fino.
—Tive um vislumbre de algo esta manhã, e pensei que deveria saber sobre
isso—, disse Arran, abaixando sua voz ao ruído dos estábulos ocupados por
trás deles.
—Estou ouvindo.
Os cães de caça, Fergus e Una, galoparam até ao estábulo e mantiveram-se
em ambos os lados deles. Ele coçou a cabeça de Una, e a cauda do outro
robusto cão bateu-lhe na coxa. —Lachlan saiu do quarto de Winnie. E ele
estava sorrindo diabolicamente.
Ranulf desacelerou. —Ele o viu?
—Não. Me inclinei em torno da porta quando o avistei.
—Hm.
—Isso é tudo que tem a dizer?—Arran fez uma careta. —Quase o
estrangulei ali mesmo.
—Me disse há alguns dias que Rowena era como uma irmã para ele, e que
não iria pedi-la em casamento. Além disso, tenho alguns prováveis rapazes
vindo conhecê-la. Então, sim, digo ‘hm’. Eles não têm precisamente sido
amigáveis.
—Tenho notado isso. Além disso, há alguns meses atrás não lhe teria
socado o olho por vê-lo lá. Mas... não parecia um sorriso fraterno para mim.
—E foi por isso que quase tinha agredido Lorde Gray, antes que decidisse
investigar um pouco em primeiro lugar.
—Se não fosse Lachlan, iria dar um pontapé em seu traseiro por estar em
qualquer lugar sozinho com ela—, Ranulf disse depois de um momento.
Quando olhou para o lago, estreitou os olhos contra a luz do sol da manhã.
—Me equivoquei, quando você estava em causa, Arran. Desta vez, estou
inclinado a ser mais paciente.
Para ouvir seu confiante irmão mais velho admitir estar errado sobre
qualquer coisa era bastante raro. Neste caso... Arran compreendeu. —Vou
ficar de olho em Lachlan, então, mas estou inclinado a pensar que não
deveríamos dizer a Bear.
—Sim. Concordo com você.—O Marquês retomou sua caminhada para a
casa. —E gostaria que me tivesse dito sobre Cairnsgrove antes que eu o
tivesse convidado aqui.
—Teria, se me tivesse dito que estava em sua lista.—Arran levantou uma
sobrancelha. —Qualquer outra coisa que eu deveria saber?
—Robert Cranach e Jimmy MacMaster.
Isso o surpreendeu. —Buchanan? É sério sobre encontrar um marido para
Winnie, então.
—Não vou tê-la chorando sobre Lachlan por mais tempo. Ou voltando para
isso, se ela perder seus sentidos novamente. Quero que seja feliz.
Arran assentiu. —Se precisar de Cairnsgrove, pode sempre colocá-lo atrás
de Bear.
Glengask bufou. —Isso seria interessante.
—Sim.
Capítulo Seis
—Não, isso seria nenhuma imposição de qualquer modo—, disse Lachlan,
embebendo o haggis em um vinho aguado horrível. —Terei prazer em mostrar-
lhe Gray House, Lady Jane. Não é tão antiga quanto Glengask, mas como foi
construída no meio de uma briga com o clã MacDonald é uma grande e velha
fortaleza resistente.
—É assombrada?—Perguntou Sarah Parker.
—Não seja boba, Sarah—, sua irmã Susan admoestou.
—Oh, sim, é—, respondeu ele. —E não é a única.
—Isso é verdade?—Sarah guinchou, olhando através da mesa de
piquenique para Rowena. —Glengask é assombrada?
Rowena enviou a Lachlan um olhar irritado. —Há histórias, é claro, mas
nunca vi nada.
—Não foi isso que você costumava dizer.—Lachlan tinha dado sua palavra
para evitar brigas com qualquer um de seus convidados do sexo masculino;
nunca disse que iria deixá-la relacionar-se. —Lembro-me de muitas noites de
tempestade quando veio correndo para a sala de bilhar para dizer que o velho
Dougall MacLawry estava caminhando sobre seu quarto, tonto e divertindo-se
assoviando.
Ao lado dele Jane estremeceu. —O que é assoviar tonto?—Ela sussurrou.
—Bêbado e tocando gaita de foles—, disse Rowena com seu cuidadoso
sotaque. —Dougall foi meu tatara, tatara tio-avô. A história é que notou os
Campbells montando para Glengask e agarrou sua gaita de foles para avisar o
castelo. Um batedor dos Campbells sorrateiramente foi por trás dele e cortou
sua garganta e jogou tanto Dougall, quanto sua gaita de foles no lago.
—Apontou para a água ondulando pelo vento atrás dela. —Sua advertência foi
ouvida, no entanto, e o castelo levantou-se.
—E até hoje nas noites de tempestade, toca sua gaita de foles para alertar o
castelo—, Lachlan terminou. —É o que dizem.
—Meu Deus—, Sarah respirou. —Isso é assustador.
—É romântico—, Jane Hanover rebateu. —A menos que você não seja um
MacLawry. Eu sou.—Sorriu. —Ou serei daqui a uns dias, de qualquer forma.
—Ele só aparece em seus aposentos, Winnie?—Susan Parker colocou a
mão sobre o coração.
—Sim—, respondeu, antes de Lachlan pudesse abrir a boca para responder
o contrário. Rowena enviou-lhe outro olhar duro. —Meu quarto de dormir já
foi seu—, mentiu.
—Oh, graças a Deus.
—Ele é o único espírito aqui?—Sarah Parker tinha os olhos espremidos,
quase fechados em claro desespero.
Da extremidade oposta da mesa, Bear bateu sua caneca sobre a mesa,
embora como conseguiu obter cerveja quando o resto deles tinha que sofrer
com o maldito Madeira, Lachlan não fazia ideia. —Tive um cão fantasma
dormindo no pé da minha cama, só no mês passado—, declarou. —Estava frio
como a morte.
As damas suspiraram. Com exceção de Rowena, que parecia
verdadeiramente consternada. Lá estava ela, tentando fazer com que todos os
vissem como eram civilizados e o Castelo Glengask erguia-se contra ela.
Lachlan olhou-a por um longo momento. Ela adorava histórias de fantasmas.
Ele sabia disso, de fato. Mas na frente de seus amigos Sassenach, preferia
fingir o contrário.
—Está louco, Bear—, ouviu-se dizer. —Isso foi seu próprio casaco
molhado, e sabe disso.
Jane riu, e o resto a seguiu como as ovelhas que pareciam ser. Lachlan mal
notou, no entanto. Sua atenção permaneceu em Rowena, a surpresa em seus
tempestuosos olhos cinzentos, e a ligeira curva em seus lábios, antes que
escondesse sua boca por trás de um guardanapo delicado.
—Se quer um conto—, continuou ele, —devia ter Owen dizendo-lhe sobre
os velhos túneis jacobitas debaixo do castelo.
—Não são túneis jacobitas—, Bear corrigiu. —Não há um jacobita neles.
—O que são, então?
Munro sorriu para Sarah Parker. —Túneis de fuga. No caso do exército
inglês começar a convocar. Se precisar fugir, vá para a despensa da cozinha.
Então, se puder enfrentar os ratos e aranhas e fantasmas, vai encontrar-se em
um dos cânions perto.
—Mas as pessoas não podem entrar através dos túneis? Isso não parece
muito seguro.
—A entrada exterior não é fácil de encontrar—, Lachlan continuou, olhando
novamente para Rowena para ver que tinha relaxado agora que seus amigos
Sassenach não estavam sendo inebriados com contos fantasiosos e bárbaros.
—É impossível encontrar, realmente, a menos que alguém lhe tenha mostrado.
Não se preocupe; mesmo se não estivéssemos em paz, todos estariam seguros
aqui.
—Precisamente—, acrescentou Rowena. —Já decidiu quais os jogos que
terá para o encontro, a propósito?—Perguntou a ele.
Pelo menos estava falando com ele, mesmo porque lhe ajudou. —Não. Para
todos os seus Sass —amigos aqui, pensei que uma corrida de cavalos e
possivelmente lançar a pedra.—Considerando que realmente não lhe tinha
dado um momento de pensamento, desde que tinha lhe pedido para ajudar a
organizar os jogos, parecia bastante dócil e gentil.
—Qualquer um pode entrar nessas competições?—Perguntou Samston,
praticamente o primeiro ruído que tinha expressado em mais de um dia.
—Sim—, respondeu Lachlan. —Se tiver a coragem de tentar fazê-lo,
estamos todos dispostos a vê-lo falhar.
As bochechas do Conde ruborizaram. —Aposto cem libras no meu King
contra qualquer cavalo das Highlands.—Enviou um olhar penetrante para
Rowena.
Isso resolvia. Lachlan levantou-se. —Fora da tenda, almofadinha com
babados—, rosnou. —Onde há mais espaço para vencê-lo e deixá-lo sem
sentidos.
—Lachlan!—Rowena disse bruscamente. —Não permito uma briga sobre
insultos a cavalos.
A partir de sua expressão, sabia precisamente o que o tinha irritado, e que
seu sangue estava fervendo. Sabia que tinha acabado de ser insultada, fosse
porque estava fingindo ser inglesa, ele deveria ignorá-lo. Não muito provável.
—Não se incomode—, retrucou, caminhando ao redor da mesa em direção a
Samston. —Não vou surrá-lo até que o tenha arrastado para fora da vista da
colina.
—Isso é ridículo!—O Conde ficou de pé, mas só para começar a afastar-se
para trás da abordagem de Lachlan.
—Tínhamos um acordo, Lorde Gray.
A declaração de Rowena o parou em seu caminho. Claramente, usaria isto
como uma desculpa para evitar beijá-lo, mesmo se tivesse apenas saltado para
defender sua honra. Respirando fundo, apontou um dedo no peito de Samston.
—Valorizamos nossos cavalos aqui—, retumbou, —e não insultamos a
propriedade... de outro homem, a menos que estejamos dispostos a defender
nosso comentário idiota com o nosso próprio sangue. Tenha isso em mente, seu
tolo.—Virando as costas, caminhou ao redor da mesa e retomou o seu assento.
Seguiu-se um silêncio longo e constrangedor, e, claro, Rowena iria culpá-lo
por isso, também. Isto tudo seria muito mais fácil se ela ainda achasse que ele
andava sobre a água. Mesmo Bear parecia um pouco surpreso, mas, em
seguida, a montanha não sabia que Samston tinha beijado sua irmã e foi
repreendido.
—Assim, vocês dois vão para a corrida, então, presumo?—Bear disse
finalmente. —Por que se você está colocando 100 libras em si mesmo,
Samston, vou levar essa aposta. Contra os dois.
Lorde Bask, um dos outros Sassenach, em seguida, decidiu participar da
corrida por si mesmo, embora fosse um pouco mais educado em se gabar
sobre seu arábico Lúcifer. Metade dos cavalos pretos em Mayfair foram
evidentemente chamados de Lúcifer ou Satanás, mas, em seguida, Lachlan
supôs que devia fazer um gentil rapaz sentir-se poderoso, para dizer que
montou o diabo.
—Poderia haver competições para as damas?—Perguntou Lady Edith.
—Sim. Sugestão merecida, embora —Rowena e sua Black Agnes tenham
ganhado nos últimos dois jogos. E esses foram os jogos MacLawry. Vamos ter
meia dúzia de clãs aqui, desta vez.
—Queria perguntar-lhe uma coisa, Winnie—, Jane interrompeu com seu
bom humor habitual, —por que você nomeou uma égua branca de Black
Agnes?
Rowena sorriu. —Ela recebeu o nome de Black Agnes Randolph. Resistiu
contra o exército inglês, mesmo com seu marido lutando em outro lugar. O
Conde de Salisbury partiu sem danificar as paredes do castelo de Dunbar,
após cinco meses de tentativas. A própria mãe de Lachlan foi chamada de
Agnes depois.
—Então, ela é uma heroína—, disse Jane com um aceno. —Mas não um
fantasma.
Bear balançou a cabeça. —Duzentos anos atrás, no Parlamento ordenaram
que Dunbar fosse desmantelado, assim não restaria pedra sobre pedra. Mas
dizem que Black Agnes ainda percorre a colina onde costumava ficar.
—Céus.—Sarah Parker suspirou com um sorriso. —Talvez devesse ter
perguntado se existe qualquer lugar das Highlands que não seja assombrado.
Depois disso, a conversa voltou-se para a pesca e a dança que Rowena
aparentemente estava organizando para amanhã à noite. Lachlan não tinha
ouvido uma palavra sobre isso até então, e não tinha sido convidado, também,
mas seria amaldiçoado se perderia a chance de mostrar a Rowena que sabia
dançar a jiga, bem como qualquer aristocrata inglês.
—Temos mais convidados chegando—, disse Bear, seu olhar na estrada
que serpenteava para baixo pelo lago antes que subisse a longa colina para
Glengask. —Dois homens, a cavalo.
Não seriam quaisquer Campbells, então, porque mesmo com uma paz entre
os clãs nenhum deles ousariam chegar em tão pequeno número. Além disso, os
chefes dos clãs MacLawrys estavam trazendo as famílias e quem quer que
tivessem escolhido para competir nos jogos. Lachlan voltou a olhar a Rowena,
para encontrá-la olhando as figuras na estrada, também.
—James MacMaster e Robert Cranach; não me ia contar?—Disse
calmamente.
Ela piscou. —Sabia sobre eles?—Sussurrou, inclinando-se sobre a mesa
em direção a ele.
Ele queria beijar aqueles lábios entreabertos, sentir sua respiração suave
no rosto. —Sim. Acha que eles são mais como Cairnsgrove, ou Samston?
—Ele voltou no mesmo tom.
—Silêncio.—Rowena olhou para a ponta da mesa, onde Cairnsgrove
conversava com William Peabody. —Talvez tudo o que me importa é que
nenhum deles é você.
Bem, isso machucou mais fundo do que gostaria de admitir. Lachlan forçou
um sorriso. —Se isso fosse verdade, moça, já teria escolhido um homem. E
não escolheu, então esta corrida ainda não acabou.
—Não sou um troféu a ser vencido.
—Não. Você escolhe o vencedor. Só não se esqueça, estou nesta corrida
tanto quanto qualquer outro de seus pomposos rapazes. E não sei perder.
Essa era a complicação, embora fosse a única irmã MacLawry, e Ranulf
tinha deixado a escolha para ela. Cem anos atrás, há cinquenta anos, mesmo,
tê-la—ia simplesmente roubado no meio da noite, lançando-a sobre a sela, e
encontrado um sacerdote para casá-los rapidamente.
Agora, porém, supostamente seria um cavalheiro em uma competição com
outros cavalheiros mais educados. Além disso, já tinha uma marca negra
contra ele, simplesmente porque não tinha percebido até poucos dias atrás, que
ela se tornara uma jovem adorável, desejável.
Não gostava disso, em tudo. Mas, a menos que viesse com uma solução
melhor, teria que jogar o seu jogo. Felizmente, não estava acima de enganar
—ou qualquer outra coisa que o ajudasse a ganhar.
***
***
***
***
Jantaram naquela noite no prado, em tocos, troncos e cadeiras, em
cobertores e sentados na grama fresca. O Campbell chegou no final da tarde
com duas dezenas de seus homens, e sentaram-se misturados com MacLawrys
e Stewarts e MacDonalds. Ninguém puxou um punhal, ninguém lembrou a
qualquer outra pessoa erros do passado, ou provocou o sangue de feudos
antigos. Isso, apesar do fato de que o desmedido Dermid Gerdens, um dos
homens que quase matou Arran em Londres, fazer parte da comitiva do
Campbell. Este encontro era um novo começo para todos os clãs. Mesmo os
Gerdenses.
A família de Rowena tinha feito isso. Ranulf tinha trabalhado durante a
maior parte de sua vida para trazer paz para as Highlands, e depois Arran
tinha fugido com a neta do Campbell e tinha convencido o Campbell e o
MacLawry a apertar as mãos. Era simplesmente notável.
Rowena olhou para Robert Cranach, sentando-se apenas a alguns
centímetros de distância e bebendo uma caneca de cerveja. Sua família tinha
feito tanto pelas Highlands, e pelo seu povo, e Ranulf pediu-lhe —bem,
ordenou-lhe agora —para fazer mais uma coisa. Deveria ter sido uma coisa
fácil, também; Rob era bonito, charmoso, e culto.
Mas não era assim tão fácil. Não mais.
Lachlan era selvagem e impetuoso, e orgulhava-se de ser assim. Já era
parte integrante do clã MacLawry, e trouxe com ele novas alianças. Sangrou
duramente pelas Highlands, e nunca seria feliz em Londres, ou mesmo em
Edimburgo, ou Aberdeen. Isso não importava, claro —exceto que contava.
Porque o que quer que sua mente lhe dissesse, que isso estava resolvido e
estava apenas esperando flores e um homem de joelhos, seu coração não
estava tão certo.
Por sinal, Bear e Lachlan caminhavam para a pequena área ao redor da
fogueira. Ambos usavam sabres embainhados em seus quadris. Ela sorriu, algo
profundo e aquecido correndo através dela.
Jane pegou seu braço. —Eles vão lutar?—Sussurrou, preocupação em seu
rosto.
—Não. Vão dançar.
—Dançar? Você sabia?
Angus Mackles, que tinha sido chefe gaiteiro de Glengask desde antes dela
nascer, aproximou-se e tomou um lugar no lado mais distante do Bear. Os dois
homens desembainharam seus sabres e colocaram-nos no chão, formando um
par de cruzamentos com as bainhas.
Com a mão direita curvada para cima no ar e dedos do pé esquerdo
combinando, eles esperaram. Então, com um gemido, a música começou, e
entraram na dança. Perfeitamente juntos, em perfeita harmonia.
—O que significa?—Jane sussurrou, depois de um momento.
—É sobre o poder, e controlá-lo—, Rowena respondeu, seu olhar nunca
deixando Lachlan. —Passam a saltar sobre a espada para todos os quatro
pontos cardeais, cruzando para a frente e para trás. Se tocam uma lâmina é má
sorte para o clã, mas chegam tão perto quanto possível para mostrar que não
têm medo.
—Oh. É esplêndido. Sabe a dança da espada, Lorde Robert?—Sua amiga
perguntou.
—Não. É uma dança muito antiga. Danço valsa, porém.
Não era antiquada. Era feroz, e muito difícil, especialmente quando
realizada em conjunto. E foi fascinante, de uma maneira que nunca tinha notado
antes. Flexionar firme e forte os músculos da panturrilha, o movimento dos
joelhos, o redemoinho do xadrez MacLawry com as faixas vermelho sangue,
captando a luz da fogueira e o antigo e doce som das solitárias gaitas.
Quando terminaram de dançar os quatro pontos, cada um retornou à sua
posição original. Pararam, a música parou, se curvaram na mesma batida do
coração. Por um longo instante, o único som na clareira foi o estalar do fogo e
a exalação suave de gaita de foles.
E então os clãs reunidos rugiram. Hoje à noite, todos seriam Highlanders
ferozes e livres, manchados de sangue.
Rowena levantou-se. Olhos verdes encontraram com os dela do outro lado
da fogueira. —Estou muito cansada esta noite—, disse, seu olhar ainda em
Lachlan. —Acho que vou para a cama.
***
***
Ranulf tinha descoberto há algum tempo que os bons haggis tinham, para
todos os efeitos, o mesmo sabor. Pegou outra colherada, sorriu, mastigou e
engoliu. —Isso está glorioso, Sra. Meason—, proclamou, e mudou-se para a
próxima oferta.
Por que diabos alguém desejava a sua opinião a respeito de quem
cozinhava os melhores haggis, não tinha ideia. Mas alguém lhe entregou três
fitas e pediu-lhe para escolher seus três pratos favoritos, e assim o faria.
Conforme concordava e sorria para o próximo prato, avistou um Lorde Robert
Cranach coberto de lama sendo seguido pela multidão em direção a casa.
Imediatamente procurou Rowena. Um momento depois, encontrou-a de pé a
poucos passos atrás de Charlotte e Jane, em uma conversa profunda com
Lachlan. Primeiro, os dois estavam olhando para Cranach, como estavam
quase todos na multidão. Segundos depois estavam olhando um para o outro.
Seus dedos roçaram-se rapidamente, e depois se separaram novamente.
Lachlan disse algo, sua expressão séria, e Rowena assentiu. Então ela sorriu.
Só então inclinou a cabeça e foi andando atrás de Cranach.
—Tem mais três amostras à sua esquerda, Milorde—, Mrs. Forrest, a
cozinheira chefe, a moça que Rowena tinha pedido para supervisionar as
competições de comida, comentou. —Quer outra cerveja?
—Sim, Sra Forrest. Preciso molhar a minha garganta.
Bebeu metade da cerveja que Peter Gilling lhe foi buscar, e retomou a sua
caminhada ao longo da mesa, dividindo sua atenção entre os haggis e sua
irmã. Rowena poderia ouvir uma proposta, mas Cranach não parecia a fim de
curvar-se sobre um joelho e dizer alguma coisa romântica para uma jovem
moça ansiosa por amor.
Além disso, não tinha ficado feliz com seu pronunciamento de ontem. Hoje,
parecia... animada. O que, então, tinha mudado? Uma noite de reflexão, talvez
—afinal, tinha-se esforçado para encontrar um homem que cumprisse os
requisitos que considerava mais importantes. Mas Lachlan parecia feliz,
também. E assim, não conseguia encontrar uma razão para isso.
Algumas semanas atrás, sim. Teria esperado que Lorde Gray ficasse
aliviado por Rowena ter encontrado um outro homem em quem derramar sua
atenção. Por que, então, Lachlan estava atualmente olhando Rowena por trás e
ostentando um sorriso pouco fraterno?
Comeu o seu último bocado de haggis, engoliu com mais cerveja e
distribuiu as três fitas. Charlotte, ele decidiu, devia-lhe um grande favor por
mantê-la longe desse deleite escocês —e tinha várias ideias de como cobraria.
Com um sorriso, assobiou para Fergus e Una retornarem aos seus calcanhares
e caminharem através dos hóspedes barulhentos na direção em que Arran
supervisionava a colocação da corda para puxar. O torneio era para ser entre
o clã MacLawry, que representava a maioria presente, e todos os que iam ou
vinham.
A corda atravessava o estreito riacho que atravessava uma borda do prado
no seu caminho para Loch Shinaig. Uma fita vermelha brilhante marcava seu
ponto central, diretamente sobre o meio da água. —Quem você colocou na
frente do nosso lado?—Perguntou.
—Lach se ofereceu—, Arran retornou, —o que é justo, considerando que
ele e Bear, supostamente organizaram os malditos jogos.
—Eles não poderiam abaixar a bandeira na corrida em que estavam.
—Sim. Reconheço que faz sentido para mim ajudar, com minha asa ferida.
—Mas?—Ranulf solicitou, a metade de sua atenção sobre onde Rowena e o
lamacento Cranach estavam conversando, Jane Hanover agora com eles.
—E nada, não precisa se preocupar com mais nada—, disse Arran com uma
careta, fazendo um gesto desdenhoso com a mão. —Já tem muito em seu
cérebro, só tem que se casar depois de amanhã.
Uma suave e animada... satisfação correu em suas veias com esse
pensamento. Charlotte era dele, e sempre seria, mas queria que todos vissem.
Santo André, queria gritar para o céu. Ranulf estremeceu. Se algo perturbava o
inteligente Arran, precisava saber o que era. —Fora com isso.
—Não sei o que é.—Seu irmão deu de ombros. —Algo está acontecendo.
—Problemas?—Os MacDonalds seriam a fonte mais provável, mas não
havia nenhum amor perdido entre os Gerdenses e os MacLawrys —e os
Gerdenses respondiam aos Campbells. —O que viu?
—Nada em particular. É só que...—Deu de ombros. —Lachlan programou
todas as competições, tinha tudo no papel para mantê-lo organizado. Esta
manhã foi e mudou tudo, então, não há um homem que saiba onde vai estar ou
quando. E acrescentou o nome de Lorde Robert para a maioria das
competições. E então saiu e me deixou com a bagunça.—Arran fez uma careta.
—Não me importo, realmente. Não estou reclamando sobre isso. Foi só... os
pelos na parte de trás do meu pescoço estão arrepiados.
Com um aceno de cabeça, Ranulf olhou através do prado novamente.
—Conheço o sentimento.
—Talvez eu esteja apenas esperando problemas—, seu irmão mais novo
continuou. —Tivemos apenas três lutas desde que montamos as barracas. É
inquietante.
Talvez fosse isso, afinal de contas. Depois de tantos anos de conflito, era
inquietante ver os Campbells sentados com os MacLawrys e os Camerons com
os Stewarts. —Quem está na frente do outro lado da corda?
—Supostamente não é nenhum MacLawry, mas é o nome de Lorde Rob que
está na lista.—Arran esperou por um momento. —Quer mudar isso?
—Não. Deixe. Se ele não gostar, pode mudá-lo por si mesmo.
O que quer que estivesse acontecendo, Lachlan, Rowena, e Rob Cranach
pareciam ser o centro disso. Tinha dito a Rowena em termos inequívocos, o
que esperava dela. Sabia que haveria consequências se o desafiasse. Tinha
ainda menos tolerância onde Lachlan estava interessado. Lorde Gray não tinha
nenhum direito, e não tinha razões, para criar problemas agora. Pelo amor de
Deus, ambos tiveram dezoito anos, e falharam miseravelmente para fazer o que
ele previa e desejava. Se estavam tramando algo agora, e tinha mais do que
uma suspeita que estavam, estava disposto a dar a qualquer um deles, ou
ambos, bastante corda para se enforcarem.
***
***
No momento em que Rob Cranach apareceu, Lachlan fez sinal para que os
tocadores de tambor e os flautistas MacLawry terminassem. Não podia dar
tempo a Cranach de considerar precisamente o que estava acontecendo e que
ficaria melhor simplesmente mantendo a distância.
Arran tinha estado encarando Lachlan durante os últimos vinte minutos,
mais ou menos, exceto quando se dedicou a olhar ansiosamente para sua
esposa —atualmente, sentada ao lado de seu avô, o Duque de Alkirk. Há
algumas semanas atrás, ter quaisquer Campbells presentes, muito menos o
chefe do clã, teria chamado a atenção de todos.
Agora, porém, Lachlan precisava fazer três coisas, simultaneamente, se
possível: derrotar Rob Cranach, evitar os olhos e a atenção do chefe de seu
próprio clã e ver e tocar Rowena MacLawry sempre que possível, só para ter
certeza de que não tinha sonhado com a coisa toda.
Sabia exatamente onde estava —ajoelhada em frente a um tear na barraca
dos tecelões e mostrando a Jane Hanover como faziam a manta MacLawry. Se
por nenhuma outra razão que não a sua importância e popularidade com o seu
próprio clã, sua moça precisava continuar a ser uma MacLawry. Por que as
cores amarelas dos Buchanan jamais se adequariam a ela, não importava o
quanto alguém tentasse fazer isso. Nem mesmo se o MacLawry se favorecesse
com o casamento.
—Maldição, Lach, segure a amaldiçoada corda ou perca a disputa para que
eu possa ver Mary—, Arran finalmente rosnou para ele.
—Não está preocupado por ela estar com o Campbell, não é?—Lachlan
retornou, com a culpa o instigando. Hoje não era o único com o coração
inseguro.
—Estou preocupado que ele vá nomear o meu primogênito Campbell
MacLawry ou algo assim.—Um rápido sorriso puxou a boca de Arran. —Isso
é muito peso para qualquer criança suportar.
—Então vá perguntar ao Campbell se não quer julgar a competição, não
seja por isso?
Arran inclinou a cabeça. —Sabia que seria inteligente, Lach. Mas agora
não posso saber se você vai ficar próximo a Bear.—Com um aceno rápido,
caminhou para o dossel bem equipado, onde o Campbell e a sua família tinham
colocado suas cadeiras.
Um momento depois, o Duque de Alkirk, juntamente com meia dúzia de
rapazes musculosos, cujo dever foi proteger o seu chefe, caminharam até onde
tinham colocado a corda. —Obrigado por começar, Vossa Graça—, disse
Lachlan, apontando os rapazes MacLawry atrás dele para tomar posse da
corda.
Do outro lado do riacho, um bom número de Camerons pegaram sua
extremidade da corda na parte de trás para puxar, rapazes inteligentes que eles
eram. Isso deixou os MacDonalds e Campbells no meio —sempre uma
proposta arriscada —e vários Buchanans na frente. Eles, é claro, deram a
Lorde Rob Cranach a liderança e a pior posição, em frente à água e lama de
Lachlan.
Pisoteando os seus pés para que pudesse criar uma base em que pudesse
apoiar-se, Lachlan agarrou firme a corda. Não se importava se os MacLawrys
ganhassem ou perdessem; seu único objetivo era ver Cranach cair de cara na
lama. Se rachasse a cabeça no processo, melhor ainda.
—Segurem-se, rapazes—, Alkirk instruíu, mantendo um olhar atento sobre a
fita suspensa sobre a água, para ter certeza de que não se deslocaram de uma
maneira ou de outra. —Firme, firme... puxem!
A corda sacudiu e se esticou, arremessando no ar de gotículas de água. De
um lado, um arco-íris de kilts escavaram no chão e puxaram com força,
enquanto do outro lado o uniforme preto e branco e vermelho dos MacLawry
se recusava a ceder.
—Segurem, rapazes!—Lachlan berrou, um pé escorregou antes que pudesse
cavar novamente. —No três! Um, dois, três!
Enquanto puxavam, agitavam o chão gramado. A fita concedeu-lhes duas
polegadas, em seguida, perdeu uma quando o outro lado recuperou sua
posição. Parecia que estavam puxando uma montanha.
Lorde Robert arfando verificou por cima do ombro, grunhindo aos
Highlanders atrás dele. Evidentemente, seguindo o exemplo de Lachlan,
começou a contar. Quando chegou dois, Lachlan soltou a fim de puxar
novamente. Desta vez, ganharam quatro polegadas. O barulho dos
espectadores principalmente MacLawrys em torno deles, abafou o que estava
certo foi uma maldição de Cranach.
—E três!—Ele gritou de novo, não se sentindo nem um pouco
envergonhado de sua estratégia.
Os MacLawrys puxaram, arrastando um Cranach lutando até a borda
lamacenta do riacho. Os braços de Lachlan estavam começando a doer, mas se
recusava a mudar seu aperto. Tinha três dias para convencer o falso escocês a
detestar as Highlands e a ideia de se casar em uma família firmemente
enraizada lá. Cada segundo, cada palavra, importava.
Perderam uma polegada para os Buchanans e então a recuperaram.
—Vamos lá, rapazes!—Lachlan resmungou. —Para o MacLawry e sua noiva!
Puxem!
Cranach se levantou. Lento como um sonho, deslizou adiante na água, uma
mão agora agarrando-se à corda quando tentava evitar seu kilt de ir para seu
traseiro. Ha. Um verdadeiro Highlander não se importava com tal absurdo.
Lachlan puxou com tanta força que caiu sobre seu traseiro e reclinou-se
quase plano para manter a tensão na corda. O primo de Cranach, MacMaster,
passou por cima de cabeça, jogando os dois homens na agitada confusão.
O Campbell abaixou a mão longe dos Buchanans. —Os MacLawrys
venceram!—Gritou, provavelmente, a primeira vez que pronunciou essas
palavras. Se Lachlan precisasse de alguma prova de que milagres poderiam
acontecer, isso a forneceu. Agora só precisava de mais um.
Cranach veio furiosamente da margem de quatro, como um cão raivoso.
Soltando a corda, Lachlan ficou de pé. Não esperava uma luta —não ainda, de
qualquer maneira, mas a idéia de socar a delicada mandíbula de Lorde Robert
não o incomodava, nem um pouco.
—Você fez isso!—Robert cuspiu, espalhando lama e água de seu rosto.
—Sim—, respondeu Lachlan, deliberadamente, sorrindo. —Eu e catorze
dos meus parentes. Quer bater em todos nós, ou só em mim? Será um prazer,
independentemente do que decidir.
Abruptamente Ranulf ficou entre eles, uma parede sólida, imóvel. —Acho
que todos esses rapazes merecem uma cerveja—, disse em uma voz contida.
—E então, acho que poderíamos dançar um pouco!
—Que...
—Venha, vamos conversar, Lorde Robert—, Ranulf interrompeu por causa
do barulho da debandada em direção —as barracas que guardavam cerveja
inglesa, cerveja e whisky, e começou a colocar o braço sobre os ombros
enlameados e pegajosos de Cranach, antes que evidentemente repensasse a
sabedoria disso.
O breve olhar que Glengask enviou a Lachlan mal durou um piscar de
olhos, mas o gelou até aos ossos. Em seguida, o Marquês levou o encharcado
Buchanan em direção ao castelo, com um punhado de homens e os dois cães de
caça a reboque.
Danação. Quão longe Ranulf pretendia ir e apaziguar com pobres desculpas
para um Highlander? Apenas o que queria dos Buchanan que o fazia disposto a
acalmar o orgulho de um idiota por algo tão imbecil como perder uma
competição justa? Se Ranulf simplesmente adicionasse mais concessões para
o dote de Rowena cada vez que Cranach espirrasse, o plano deles não ia
funcionar.
Amaldiçoando novamente, Lachlan limpou as mãos doloridas em seu kilt.
Facilmente poderia ter sido ele na água. Certamente estava disposto a arriscar.
Dissimulando sua carranca, atravessou a multidão que o parabenizava e
esperava que não tivesse acabado de perder a guerra.
***
***
—Não vou fazer nada enquanto este saco estiver na minha cabeça—,
Rowena afirmou, tentando não cambalear como se alfinetes e agulhas
estivessem espetando-a de cima a baixo em suas pernas, agora que o sangue e
sensibilidade tinham voltado a eles. —Não sei se posso confiar em qualquer
um de vocês e se vão manter sua palavra.
—Coloque-a de volta no cavalo, então—, disse a voz de Calder, monótona
e irritada.
—Não a quero mijando em mim—, a mais aguda das vozes, Arnold Haws,
que reconhecia, queixou-se.
Ela trabalhou sua mandíbula novamente, baixando a mordaça pelo seu
queixo um pouco mais. —Eu vou, também—, assegurou-lhes. —Tire o saco da
minha cabeça e desamarre as minhas mãos. Onde você acha que eu vou?
O saco foi puxado de sua cabeça, e piscou, sugando o ar frio e úmido da
noite das Highlands. Felizmente, estava uma noite clara, com uma lua de três
quartos e no fundo apenas os picos afiados para o oeste. A brisa fria estava
gelada, mas já estava fria antes. Tinha-se perdido antes, embora não desde que
tinha dez anos de idade. Ranulf tinha estado frenético, se lembrava, e recusou-
se a deixá-la sair de casa por três dias depois disso.
Um cara grande com um rosto manchado de sangue apareceu na sua frente.
—Vou desamarrá-la, e não vamos olhá-la enquanto urina, e vai-se comportar.
Rowena voltou a olhar fixamente. Não tinha nenhum escrúpulo em dar sua
palavra e depois quebrá-la. Não para estes homens. Não tinham honra, e não
seria retida pela sua própria. —Vou-me comportar—, concordou.
Depois de um minuto hesitante e cada vez mais doloroso, a corda sobre os
pulsos afrouxou. Segurou um suspiro quando a sensação inundou de volta em
seus dedos. Em seguida, deu um clarão em cada um deles. —Voltem-se de
costas para mim—, ordenou. —Façam um triângulo ou algo assim, que eu não
consiga passar sem me verem.
Um a um eles cumpriram, Calder, claro, virou as costas por último.
Estavam em um prado devastado, coberto aqui e ali com urze e cardo e
campainhas azuis. Provavelmente seria encantador à luz do dia, mas estava
mais interessada nas pedras ásperas que se intrometiam entre as flores.
Agachando-se, aliviou-se, ao mesmo tempo tentando pegar alguma coisa,
qualquer coisa, que pudesse usar como uma arma. Seus dedos tocaram uma
pedra meio enterrada, mas quando tirou, era pequena demais até mesmo para
fazer um estrago.
—Ainda não terminou?—Dermid perguntou, virando-se.
—Quase não sinto as minhas pernas e braços—, ela respondeu. —Deem-me
um maldito minuto, bárbaros.
Além da arma, isso fez tudo para seguir mais lentamente. Irritá-los,
confundi-los, voltando-os uns contra os outros —somente o primeiro parecia
plausível, mas cada segundo que pudesse impedi-los de cavalgar, era um
segundo que Lachlan poderia usar para alcançá-la.
Seus dedos encontraram outra pedra, e puxou, tentando não perder o
equilíbrio. Ela saiu, apropriada, na medida certa. Endireitando-se lentamente e
silenciosamente para que os homens não ouvissem suas saias farfalhando,
olhou para cada um deles. Poderia ferir um deles, mas isso apenas lhe
renderia um tapa e ser jogada de volta em um novo cavalo. Não ganharia
tempo com isso.
Rowena, em seguida, voltou sua atenção para os cavalos. Todos estavam
com suas cabeças para baixo, pastando. E porque isso foi apenas uma parada
momentânea, nenhum deles estava estropiado ou amarrado.
Puxando o máximo de ar em seus pulmões machucados podiam, levantou o
braço, assim como seus irmãos e Lachlan a tinham ensinado. Certa vez, matou
um coelho com uma pedra bem lançada, e o jantaram naquela noite.
Não ousando esperar mais, gritou —o mais alto e ferozmente quanto podia.
Enquanto os homens saltavam, girando para encará-la, se aproximou e atirou a
pedra. O cavalo mais próximo que estava ali, guinchou quando a pedra pegou
em cheio no nariz. Ele fugiu, os outros dois o seguiram a galope.
Alguém, Calder, pensou, a algemou nas costas, e ela caiu em suas mãos e
joelhos. —Procurem os malditos cavalos—, rosnou.
Amaldiçoando, os outros dois correram para a escuridão, assobiando. Se
esses animais fossem tão bem treinados quanto aqueles em Glengask, não
correriam muito, e voltariam quando chamados. Mas isso não importava,
contanto que isso levasse tempo.
—É uma pena que tenha que estar bonita quando tivermos que mostrá-la ao
pároco—, Calder continuou, puxando a mordaça para cima, e desta vez
amarrando—a com tanta força que não conseguia fechar a boca em torno dela.
Suas mãos e pés ainda estavam livres, no entanto. E ele tinha sido baleado
na perna por seu próprio avô, Arran tinha-lhe dito. Recuando, virou-se para
ele e o chutou —desejando que estivesse usando as botas de montaria que
Lachlan lhe dera em seu aniversário de dezoito anos, em vez de um estúpido
sapato azul.
Ele tropeçou, praguejando, em seguida, atirou-se sobre ela antes que
pudesse se distanciar. Caíram no chão com ele em suas costas. —Perna errada
—, sussurrou em seu ouvido.
Ela se debateu, socou e deu pontapés nele, tentando se virar debaixo dele
para que pudesse bater mais forte. Ele era maior e mais pesado do que ela, no
entanto, e certamente mais cruel. Agarrando seu braço esquerdo, torceu por
trás dela, empurrando sua própria mão em suas costas.
—Vou quebrá-la—, ele ofegava. —Pare de lutar.
Se tivesse alguma dúvida de que estivesse blefando, agora não mais. Com
um braço quebrado, teria sorte em permanecer consciente no dorso de um
cavalo, e com muito menos capacidade de pensar e planejar sua fuga. Rowena
parou de bater nele, mas não estava perto de relaxar.
—Não se mova—, Calder ordenou, e agarrou sua mão livre, puxando-a
para trás com a outra. —Alguns homens podem preferir uma moça com
espírito—, continuou, atando seus pulsos novamente. —Eu não. Gosto delas
calmamente deitadas, choramingando enquanto abrem as pernas para mim.
—Apertou mais os nós. —Talvez deixe Dermid tê-la em primeiro lugar. Isso
deve tirar-lhe a vontade de lutar e acalmar seu espírito combativo e deixá-la
esgotada.
A ideia de qualquer homem a tocar tão intimamente a assustou e enojou,
mas era exatamente o que ele queria fazer, estava certa. Mantê-la quieta e
intimidada para que pudessem se apressar em seu caminho, e em seguida, fazer
a coisa horrível que estavam pensavam, mais tarde. Paralisá-la com medo,
para que não pudesse pensar, e, portanto, deixá-la ser o instrumento de sua
própria destruição. O diabo levasse todos eles.
Não era uma dama inglesa. Era uma moça das Highlands. Mais do que isso,
uma MacLawry. E um MacLawry, homem ou mulher, não se rendia sem lutar.
Mesmo sem nenhuma maneira fácil para julgar o passar do tempo, pela sua
melhor estimativa, pelo menos, meia hora se passou antes que os outros dois
homens trotassem acima, o terceiro cavalo a reboque. —As malditas coisas
atravessaram a estrada e estavam a meio caminho de Loch Garry—, disse
Arnold Haws, saltando para o chão.
Já estavam a meio caminho de Loch Garry? Céus, fizeram um tempo melhor
do que esperava. Ou isso, ou esteve inconsciente por mais tempo do que tinha
percebido. De qualquer forma, definitivamente estavam indo para Fort
William. E longe de Glengask.
Os dois homens se mantiveram ao seu lado, e deslizaram o maldito saco
sobre sua cabeça novamente. Os conhecia, e sabia mais ou menos em que
direção estavam indo, de modo que ela não sabia por que estavam se
incomodando —a menos que fosse para assustá-la ainda mais.
Ao invés de ter medo, porém, no momento em que esconderam seu rosto,
começou a mastigar a apertada mordaça em sua boca. Tinham seus planos, mas
ela também. E por mais que tentassem convencê-la, não estava sozinha.
Estava ciente disso, assim como sabia a cor de seu próprio cabelo. Lachlan
MacTier estava vindo. E os MacLawrys estavam andando com ele.
Capítulo dezesseis
Lachlan freou. —Ouviu isso?
Ao lado dele, o rosto de Bear estava tão irritado e preocupado, como ele já
tinha presenciado. —Ouvi algo.
—Foi Rowena—, disse Lachlan, certo até aos ossos. Estava tentando
deixar quaisquer perseguidores saberem onde ela estava? Ou estava chorando
de medo ou dor?
Apertando sua mandíbula, chutou Beowulf novamente. As últimas palavras
que ele e Rowena trocaram não seriam as últimas. Ranulf não iria mantê-los
separados. Dermid Gerdens e quem andava com ele não iria mantê-los
separados. Havia jurado para si mesmo, repetindo-o várias vezes, durante as
últimas oito horas.
—Calma, Lach—, Munro chamou de trás dele. —Não queremos invadir no
escuro.
—Esse grito estava bem à frente de nós—, respondeu. —E não vou perder
terreno para eles, porque quer ser cauteloso.
—Não estou sendo cauteloso. Não vão estar diretamente na estrada, e sabe
disso. Sei que a quer de volta. Eu também.
—Quero estar perto o suficiente para mantê-los em movimento. Porque se
estiverem correndo, não podem estar machucando-a.
Raiva frustrante o fez tremer, como fez a cada vez que imaginava o que ela
deveria estar passando. Tinha tentado convencer-se —e a todos os outros
—que era uma dama inglesa adequada, sofisticada. Tinha tentado lembrá-la
que deveria estar orgulhosa de ser uma Highlander, e tinha-o ouvido. Ele sabia
disso.
E agora um Highlander a tinha levado. Quem poderia culpá-la se nunca
mais quisesse estar na Escócia novamente depois disso? Ou se não quisesse
mais nada com ele? Lachlan amaldiçoou novamente.
Ao voltar para Glengask de Londres, tinha perdido tudo. Se Ranulf fizesse
do seu jeito, deixaria Glengask e o clã MacLawry completamente para se
tornar uma Buchanan. Se fosse do seu jeito, continuaria a ser uma MacLawry,
mas só até que o chefe o banisse do clã. Além disso, perderia seu sonho de
morar em Londres, com um marido que gostava de poesia e de teatro e de ficar
sentado sem fazer nada. Se Gerdens fizesse do seu jeito —diabos o levassem,
não sabia o que Gerdens queria dela, mas não seria nada que ela fosse
escolher.
Ele seria o menor dos três ou quatro males para ela, ou nem mesmo isso?
Disse que o amava —finalmente, as palavras ainda rasgando seu coração
—mas tudo o que disse a si mesmo, sabia que estava prestes a ceder às
exigências de Ranulf.
Isso tudo se resolveria mais tarde. Agora, só precisava encontrá-la. E ter
certeza que os homens que a tinham levado, nunca tentariam tal coisa
novamente. Nunca mais.
Lachlan queria gritar de volta, responder-lhe e deixá-la saber que alguém
estava chegando. Que ele estava vindo. Enquanto queria que seus captores se
mantivessem em movimento, no entanto, seria insensato se soubessem o quão
perto estava. E não poderia dar-se ao luxo de ser insensato.
Estremeceu. Embora não soubessem quão atrás de Rowena estavam,
precisava prestar atenção ao que estava ao seu redor. Bear manteve o ritmo ao
lado dele, e praticamente podia sentir os olhares de lado do grande homem. Se
o irmão de Rowena não estivesse gostando da forma como a busca estava
sendo conduzida, seria bem-vindo para conduzir sua própria perseguição.
Lachlan não tinha intenção de parar.
—Peter!—Munro finalmente chamou. —Você e Aulay vão para a esquerda
e acompanhem o ritmo com a gente. Eòin, se encaminhe para a direita comigo.
Espalhem-se. Isso nos dará uma melhor possibilidade de ver qualquer sinal
dos cavaleiros.
Fazia sentido. A estrada seria a rota mais provável de Glengask a Fort
William, mas isso não significava que Rowena estivesse realmente nela.
Poderiam flanqueá-la em ambos os lados, ou em paralelo, desde as colinas a
leste. Mas estavam indo nesta direção. Supôs que devesse agradecer ao
Campbell por isso. Sem a ajuda do Duque, poderia ainda estar tentando
descobrir quem tinha levado Rowena, e muito menos cavalgar para resgatá-la.
Tentou aliviar a pressão sobre o ombro da melhor maneira possível, mas a
dor e a umidade quente manchando lentamente sua camisa lhe disse que
provavelmente não deveria estar cavalgando de todo. Lachlan ignorou as
advertências; poderia ser remendado novamente mais tarde.
Enquanto seus companheiros se espalharam em ambos os lados da estrada,
quase parecia que estava cavalgando sozinho no escuro, antes do amanhecer.
Além do som de cascos e da respiração de Beowulf e o rangido de couro,
manteve-se atento. O grito não se repetiu, e só podia esperar que isso não
fosse porque ela estava incapaz de produzir um som.
Pouco depois do nascer do sol, chegaram até uma pousada na estrada,
brandindo um letreiro de madeira; THE BRUCE INN esculpido em letras
grandes e ornamentadas. Metade das pousadas e tavernas das Highlands
levavam esse nome, por isso não foi de muita ajuda em dizer-lhe o quão
distantes tinham vindo. O xadrez verde, azul e branco pintado na porta, porém,
dera-lhe mais informações.
—O xadrez escocês dos Gerdens—, murmurou, enquanto trotava para o
estábulo.
—Sim—, Bear destacou. —Ficaremos apenas o tempo suficiente para dar
água os cavalos e comer alguma coisa rápida de café da manhã.
—Não estou...
—Perdeu sangue, e não come nada há mais de doze horas.—Munro desceu
da Saturn e caminhou até pegar as rédeas de Beowulf. —E nem qualquer um
de nós.
—Não gosto disso.—Franzindo as sobrancelhas, de má vontade, Lachlan
desmontou —e cambaleou quando suas botas tocaram o chão.
Bear o pegou com um braço sob o seu ombro bom. —Não gosto disso,
também—, murmurou. —Não é o único homem que daria sua vida por Winnie.
Coma alguma coisa. Não quero que nos atrase.
Lachlan respirou. —Reconheço isso, Bear. Não tenho intenção de te
impedir. Mas isso —eu —eu deveria tê-la protegido. No entanto, sinto por ela,
não deveria ter esquecido a primeira regra em Glengask: sempre proteger
Rowena.
Peter Gilling assumiu o comando dos cavalos e instruiu para que lhes
dessem de beber e fossem escovados, e estivessem prontos para partir em
vinte minutos. O resto deles entrou na estalagem, para encontrá-la já lotada de
tropeiros e fazendeiros e viajantes. Há alguns meses atrás, um grupo de
homens MacLawry, de xadrez MacLawry colocando um pé em uma estalagem
Gerdens teria sido suficiente para começar o derramamento de sangue. Hoje,
com exceção de um punhado de olhares sinistros, ficaram sozinhos.
—Acho que devemos agradecer a Arran por ter casado com uma Campbell
—, Bear comentou em voz baixa, quando se sentaram nos bancos em uma mesa
rústica perto da porta.
—Não tenho tanta certeza—, Lachlan retornou. —Sem paz, nenhum
Campbell ou Gerdens teria conseguido chegar a uma milha de Rowena.
—Sim. Mas se tivessem conseguido chegar até ela, poderiam tê-la matado
em vez de a levarem.
Aquela ideia esfriou Lachlan novamente. Bear fez um bom ponto. Sem
trégua, os MacLawrys e os Campbells e todos os das suas tribos e aliados ter-
se-iam matado uns aos outros durante séculos. Rowena e ele poderiam muito
bem ter sido apenas mais um par de baixas. —Você me assusta algumas vezes,
Bear.
O irmão MacLawry mais novo fez seu pedido de café da manhã ao
estalajadeiro antes de favorecer Lachlan com um sorriso sombrio. —Só está
dizendo isso para ser simpático.
Peter Gilling juntou-se a eles e colocou um mapa desgastado na mesa.
—Paguei a um dos cavalariços um xelim por isso—, murmurou.
Lachlan assentiu, agradecendo. Peter Gilling conhecia Rowena durante toda
a sua vida, também. Como Bear dissera, não era o único homem aqui disposto
a dar a vida por ela. Precisava lembrar-se disso. Por mais desesperado que
estivesse para encontrá-la, não estava sozinho.
—Onde diabos estamos, então?—Bear grunhiu, virando o mapa para
encará-lo.
—Sabe que não consigo ler esses rabiscos—, Peter respondeu, franzindo a
testa. —E nem poderia o jovem cavalariço Gilbert.
—Estão aqui.—Uma mão chegou sobre o ombro de Peter, e um indicador
longo indicou um local cerca de trinta milhas ao norte de Fort William, apenas
fora da estrada norte.
Seguindo o dedo de volta até seu dono, Lachlan se levantou, praguejando.
Munro foi ainda mais rápido. O homem alto e magro não se mexeu, e em vez
disso os observou com olhos cor de avelã. O cabelo castanho-avermelhado
pendia do lado direito do rosto, parcialmente obscurecendo a cicatriz apagada
que corria logo abaixo de sua orelha e descia até o lado direito de sua boca,
dando-lhe uma expressão permanentemente cínica.
—George Gerdens-Daily.—Bear cerrou os punhos. —Deveria saber que
você faria parte disso. É um homem morto.
Gerdens-Daily ergueu a sobrancelha direita, o movimento puxando sua
cicatriz e levantando o canto de sua boca. —Não sei do que é que estou no
meio, mas estou feliz em vê-lo, Lorde Munro MacLawry. Como está seu
ombro?
Com um rugido, Bear atirou-se sobre a mesa.
Danação. —Bear, não!—Lachlan agarrou seu amigo pelo casaco e o puxou
para trás. O movimento abalou seu ombro novamente, mas diabos, não tinham
tempo para uma briga. Não quando estavam em desvantagem numérica e não
quando sua primeira e —única tarefa —seria resgatar Rowena.
—Ele levou Winnie! Não vê isso?
—Acha que ele ainda estaria aqui se tivesse feito?—Lachlan pressionou.
Do outro lado da mesa, Gerdens-Daily inclinou a cabeça. —O que foi isso?
—Fez sinal para os homens abandonando o café da manhã e se apressando
para aderir à luta. —Calma, rapazes. Isso é pessoal entre mim e o gigante.
—Sabe que é!—Bear endireitou, mas isso não o impediu de apontar e
berrar.
—Se eu tivesse feito alguma coisa com um MacLawry, não teria vergonha
em admiti-lo—, o outro homem falou pausadamente. —Atirando em você, por
exemplo. Isso foi o quê, há quatro anos?
—Sim—, Munro retornou. —E tenho estado ansioso para retribuir o favor
desde então.
—Bem. Aqui estou.—Gerdens-Daily abriu os braços.
Lachlan não teria apostado um tostão que o homem Campbell estivesse
desarmado. E Bear também o saberia, mas isso não o impediu de fazer mais
uma investida. Desta vez Lachlan empurrou-o de lado, estremecendo quando o
movimento rasgou alguns de seus pontos. —Não. Há apenas um Gerdens do
qual estamos atrás. E não é ele.
Finalmente Bear cedeu, sentando-se novamente. —Sim.
Gerdens-Daily, porém, olhou de um para o outro. —Berling está em algum
lugar do Canadá, se for ele que estão procurando. Por isso, não lhe culpo. Na
verdade, poderia ajudá-lo a enterrá-lo.
—Não o queremos. Não hoje.—Bear continuou olhando para o homem do
outro lado da mesa. —É o irmão dele que quero enfiar debaixo da terra.
—Dermid?—Para surpresa de Lachlan, George Gerdens-Daily sentou-se na
outra extremidade do banco, logo depois de Peter Gilling. Quaisquer que
fossem seus outros defeitos, o homem com certeza não era um maldito
covarde. —O que aquele grande idiota fez para vocês?
Lachlan respirou fundo, por um momento desejando que Munro estivesse
em outro lugar. Não precisavam de um rufião mal-humorado para esta
conversa. A história complicada entre os MacLawrys e os Gerdens havia
começado com pais sendo assassinados, tiroteios e lutas. Nos últimos meses,
no entanto, enquanto ninguém diria que a animosidade estava terminada, as
tensões tinham... diminuído. Esta não era a hora de renovar velhos rancores.
—Dermid veio para Glengask com o Campbell—, disse, sendo tão sucinto
quanto possível com Munro olhando-o. —Na última tarde, fui esfaqueado e
Rowena MacLawry foi levada. E agora Dermid está longe de ser encontrado.
Gerdens-Daily olhou-o por um momento. —Vamos ver—, finalmente disse.
—Ver o quê? Não tenho tempo para enigmas.
—Você disse: —fui esfaqueado—, não que —Dermid me apunhalou.—Ou
então não viu quem fez isso, ou está mentindo. Então vamos ver.
Franzindo o cenho, Lachlan tirou o casaco do ombro esquerdo. Não se
preocupou em se olhar, mas das expressões de seus companheiros, sabia que
estava sangrando novamente. —Parece o mesmo na parte de trás—, disse,
soltando o casaco novamente.
Esfregando o queixo com uma das mãos, Gerdens-Daily assentiu. —Por que
não se junta a mim na minha mesa?—Sugeriu, levantando-se para caminhar até
uma mesa solitária na parte de trás da pousada.
Lachlan começou a se levantar, mas Bear não se moveu. —Não vou
desperdiçar meu tempo batendo boca com um Gerdens—, o grande homem
murmurou. —Especialmente aquele.
—Então fique aqui. Hoje não vou preocupar—me com orgulho, Munro.
Limpo as botas dele se puder nos dar alguma informação sobre Dermid.
Bear agarrou seu braço. —Reconheça que não pode confiar nele.
—Sim. Mas posso ouvir. Coma seus ovos. Me deu sua palavra de que
iríamos embora daqui em dez minutos.
O irmão de Rowena amaldiçoou, então pegou sua caneca e saiu em direção
à parte de trás da sala comum da pousada. Lachlan não tinha certeza se
Gerdens-Daily realmente tinha algo para lhes dizer que precisava de mais
privacidade do que sua mesa na frente fornecia, ou se já sabia o que Dermid
tinha feito e pretendia atrasar a perseguição. No momento, estava disposto a
assumir o risco deste último em troca de uma chance do primeiro.
Sentou-se em frente a Gerdens-Daily. Seus companheiros, porém,
permaneceram de pé, uma parede sólida de Highlanders irritados. Dermid e
seus companheiros tinham sido tolos para se atravessar com os MacLawrys. E
se estivesse no seu caminho, ao meio-dia os tolos estariam todos mortos.
—Tem algumas dicas para nós, ou só quer tripudiar? Não tenho tempo para
um, e nem paciência para o outro.
O estalajadeiro trouxe seu café da manhã com ovos e carne de carneiro, e
Gerdens-Daily ficou em silêncio até que o velho se afastou. Então tomou um
gole do que cheirava a café americano. —Dermid não é um homem pequenino,
mas como conseguiu lhe pegar e levar consigo a moça e fugir sem ser baleado
uma dúzia de vezes?
—Fui atingido por trás. Um segundo homem agarrou-a.—Lachlan colocou
as mãos sobre a mesa. —O que importa, afinal?
—Então, você não o viu—, o homem continuou, ignorando a pergunta de
Lachlan. —O Campbell disse—lhe que tinha desaparecido depois, aposto.
—Sim, ele nos disse—, Munro resmungou, controlando de alguma forma e
mantendo sua voz baixa. —Praguejou e disse que estava cansado dos malditos
Gerdeneses, e que poderíamos colocar a cabeça de Dermid em uma lança, que
não se importaria.
Essa não foi precisamente a conversa. Não foi precisamente uma mentira,
tampouco, então Lachlan decidiu não corrigir seu amigo. Em vez disso, olhou
fixamente para Gerdens-Daily. —Se sua curiosidade foi satisfeita, por que não
nos diz algo útil? A menos que esteja apenas para nos manter aqui.
—É um MacLawrys em terra dos Gerdens. E por onde acha que vai
começar? E o que, em nome do diabo, acha que será capaz de encontrar um
homem aqui?
Engolindo o último pedaço de ovo e afogando-o com cerveja, Lachlan
empurrou o banco para trás e ficou de pé novamente. —Nós temos uma ideia
ou duas. O Campbell quer manter essa paz.
—Não estou preocupado com a maldita paz—, Gerdens-Daily retornou,
emoção tocando sua voz pela primeira vez. —Alkirk não perdeu seu pai para
um MacLawry.—Ele empurrou seu próprio prato. —Os MacLawrys, no
entanto perderam o seu seannair[23] para um Gerdens.
—Você h...
—Não vou ficar aqui parado e deixá-lo perder sua única irmã para um
Gerdens, também.—Gerdens-Daily ficou de pé. —Tenho a noção de que se vai
dirigir para uma casa antiga em ruínas chamada Denune Castle. Vou levá-lo lá,
se me deixar.
Lachlan olhou-o, tão surpreendido pela oferta, quanto estava do fato de que
tanto o Campbell, quanto o Gerdens-Daily, terem indicado a mesma
propriedade. Isso seria bom para eles —e para Rowena. Se nenhum deles
tivesse um motivo oculto que fosse. —Dermid é seu primo—, disse em voz
alta. —Não está lhe fazendo nenhum favor falando conosco.
—Sim. Assim mantenho meu ponto de vista. Lhe ajudarei se puder, mas não
quero ser assassinado pelo meu próprio clã.
Gerdens-Daily conhecia a terra aqui muito melhor do que eles, e maldição
isso estava certo. Além disso, há algumas semanas, impedira seu clã de
arrastar uma noiva Sassenach longe de Duncan Lenox —e seu marido era um
chefe MacLawry. Qualquer que fosse o jogo de Gerdens-Daily, parecia ter seu
próprio senso de moralidade. E no momento, isso teria que ser suficiente.
Lachlan assentiu. Se queria ajudar, seria bem-vindo a fazê-lo. Se quisesse
criar problemas, acabaria morto. Resgatar Rowena vinha antes de rivalidades
de clã e velhos rancores. Até velhos assassinatos. —Vamos, então. Para
Denune Castle.
***