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Índice

Sinopse
Capítulo um
Capítulo dois
Capítulo três
Capítulo quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Sinopse
O perseguido se torna o perseguidor. Depois de anos tendo Rowena
MacLawry, a irmã mais nova de seu melhor amigo rondando, o que Lachlan
MacTier quer fazer é fugir. Mas, em seguida, Winnie foge para Londres,
determinada a esquecer Lachlan no redemoinho de sua temporada de
debutante.
Quando ela retorna, três meses depois, se preparando para o pródigo
casamento Highlander de seu irmão mais velho, Rowena é uma mulher
mudada. Sufocou seu sotaque escocês, se tornando um árbitro das últimas
modas de Paris e Londres, e está na companhia de vários jovens e bonitos
aristocratas ingleses, todos competindo por seus favores.
Lach não sabe bem o que fazer com esta beleza espirituosa e sofisticada,
que agora tem coisas melhores a fazer do que segui-lo até uma lagoa de
pesca. Mas, por mais determinada que esteja em provar que não tem
necessidade de bajular um ladino escocês vestindo kilt, que não podia
sequer se incomodar em escrever-lhe uma única palavra, e quanto mais
deseja se afastar, mais interessado ele está em Winnie. Está fingindo
desdenhá-lo agora, ou será que realmente perdeu a chance com uma dama
que está se tornando muito mais agradável e interessante do que jamais
imaginou?
A Fera das Highlands
Prólogo
—O que você acha, Lachlan?
Com seu coração batendo, Lady Rowena MacLawry fez uma pirueta no
meio da sala matinal, em Glengask House. O vestido percorreu um longo
caminho, vindo de Paris. Praticamente flutuava no ar, cor de malva e num cinza
escuro que sabia que combinava precisamente com seus olhos, porque passou
horas segurando amostras do material para ver seu reflexo espelhado, até que
tinha encontrado a tonalidade perfeita.
—O que acho sobre o quê? —perguntou Lachlan MacTier, Visconde Gray,
voltando do canto da sala.
—Meu vestido —respondeu, tentando não soar melancólica.
Ele olhou por cima das cartas que estava jogando contra seu irmão mais
velho Munro. —Oh. É chique. Vai ter um baile à fantasia no seu aniversário,
então?
Rowena franziu a testa, deixando cair as dobras da saia que estava
segurando, para mostrar as bainhas com renda. —Isto não é uma fantasia. É o
meu vestido novo. Ranulf não quer me dizer se comprou um vestido, então tive
este garantido. Não posso ficar sem um vestido novo para o meu aniversário
de dezoito anos.
Munro riu. —Deus, Winnie, você sabe, poderia queimar metade do seu
guarda-roupa e ainda assim não usaria o mesmo vestido duas vezes em um
mês.
—Oh, esteja calado, Bear —, ela respondeu, usando o apelido bastante
apropriado a seu irmão. —Uma dama deve ter vários vestidos.
—Uma dama —, Lachlan repetiu com um grunhido. Ficando de pé,
caminhou até puxar seu longo rabo de cavalo, preto meia-noite. —Não acho
que uma dama tenha nós em seu cabelo.
Ela tentou ignorar a picada correndo por seu couro cabeludo. —Não tenho
nós no meu cabelo.—
Ele puxou novamente. —Hoje não.
—Vou colocá-lo para a festa, enfim. Ranulf disse que poderíamos ter quatro
valsas. Quatro!
—Sim? —Lachlan sentou-se novamente, uma mecha de seu cabelo
castanho-escuro caindo sobre um olho verde-claro, enquanto a olhava. —Boa
sorte em encontrar quatro rapazes dispostos a enfrentar o Marquês de
Glengask, encarando-os como o próprio diabo.
Três. Só precisava encontrar três rapazes, porque ele seria o quarto. Foi
assim que tinha imaginado por meses e meses. Rowena manteve sua expressão
cuidadosamente divertida. —Ranulf é meu irmão; não meu carcereiro. E gosta
de você, Lach. Poderíamos valsar.
—Sim, ele gosta de mim. Eu sou um chefe do clã MacLawry, e concordo
com o modo como está guiando o clã. E não podemos esquecer que mantém
todos os MacTiers no clã MacLawry, e ele é o MacLawry.
Sim, e Ranulf tornou-se o chefe do clã MacLawry e Marquês de Glengask
aos quinze anos, quando Rowena tinha apenas dois anos. O clã foi a sua
primeira memória consciente. E Lachlan foi... Lachlan, oito anos mais velho
que ela e o amigo mais próximo de seu irmão Bear. Bonito como pecado e
destinado a casar com ela. Só que ultimamente tinha começado a se perguntar
se ele tinha percebido isso.
—É mais do que isso, e sabe disso. —Rowena deu um suspiro exagerado.
—Estou com vontade de dar uma caminhada através do vale. Gostaria de me
acompanhar?
—Não, enquanto Bear me dever cinco libras —, ele voltou, pegando outra
carta e, em seguida, levantando-a. —Onde está Arran?
—Na biblioteca, aposto —, Bear expôs. —Ele vai com você.
Mas não queria caminhar com Arran; sim, ele tinha uma melhor
compreensão da moda e um melhor e adequado comportamento cavalheiresco
que Munro ou Lachlan, mas no final, ele era o irmão dela, ficando entre Ranulf
e Munro. As damas em An Soadh e Mahldoen sussurravam que Arran era
diabolicamente bonito —embora dissessem isso sobre todos os seus três
irmãos —mas o simples fato era que ele não seria Lachlan. —Vou sozinha —,
anunciou, e girou nos calcanhares.
Oh, isso era tão exasperador! Lá estava ela, uma semana antes de seu
aniversário de dezoito anos, uma jovem dama de recursos e boa educação e
muito bonita, se pudesse dizer isso de si mesma. E o homem com quem
pretendia se casar, encontrava-se a jogar uma partida maçante de cartas mais
interessante do que dar um passeio com ela. Provavelmente poderia dizer que
estava indo para a despensa da cozinha para escapar através dos túneis
jacobitas debaixo de Glengask, e Lachlan só iria dizer-lhe para levar uma
lanterna com ela. Supostamente deveria ser cavalheiro e atencioso, mas não...
não estava interessado.
—Não deveria persegui-lo tanto. —Um baixo sotaque veio da porta da
biblioteca quando passou, e Arran surgiu para juntar-se a ela marchando pelo
corredor. Ou antes, ela estava marchando; com o seu corpo alto e longo,
marchar seria meramente um passeio para ele.
—Não estou perseguindo ninguém. Estou saindo para dar uma caminhada, e
perguntei se Lachlan gostaria de se juntar a mim.—Fez uma careta. —E por
que ele não quer? Sou uma moça encantadora, não sou?
—Sim, você é —, seu irmão mais velho voltou. —Você também é... uma
amiga.
—Não sou uma amiga! —Ela protestou. —Nem sequer me beijou.
—Se tivesse, provavelmente estaria morto, ainda mais que só tem dezessete
anos. —O olhar que lhe enviou foi tanto avaliador como sério. —Não quero
que se comporte de forma inadequada. Quero dizer, ele lhe conhece desde que
nasceu e o tem importunado desde que aprendeu a falar.
—Isso não é importunar. Isso é flertar.
—É uma linha tênue, piuthar[1].
—Não sou uma tola, bràthair[2] —, respondeu. Isso era ridículo. Claro que
sabia a diferença entre flertar e importunar. Mas Arran era o mais inteligente
deles. Até passou um tempo no exército inglês e vira o Príncipe Georgie.
Ignorando o que ele disse sobre ser imprudente. —Quer dizer, ele está
acostumado comigo. Que não sou mas que uma... peça de mobiliário que
aprendeu a ter por perto.
—Sim, eu supon...
—Então tenho ainda mais uma razão para ir a Londres para a minha
temporada. Então Lach vai-me ver como uma dama. Então aprenderei a ser
mais do que uma moça Highlands.
—Não tenha muitas esperanças nisso, Winnie —, seu irmão retornou,
parando no hall de entrada para pegar e entregar-lhe um pesado casaco.
—Sabe que Ranulf não vai permitir isso.
Ela vestiu o agasalho e amarrou seu chapéu debaixo do queixo. Só tinha
começado a usar chapéu adequado a uma dama ao longo das últimas semanas,
e as fitas ainda a arranhavam. —Pedi-lhe para me dar uma temporada como
presente de aniversário —, disse ela, acenando para Cooper quando o
mordomo abriu a porta da frente. —E sabe que não vai negar—me uma coisa
se for no meu aniversário de dezoito anos.
—Eu sei disso, e conheço Ranulf —, Arran comentou, oferecendo seu
braço para ela.
Um olhar pelo corredor lhe disse que tanto Lachlan quanto Bear pareciam
perfeitamente satisfeitos em deixá-la ir andar sozinha. Ou isso, ou ouviram
Arran se juntar a ela. Apesar do que teria preferido pensar das suas maneiras
nada cavalheirescas, a última explicação fazia mais sentido. Todos sabiam que
ela nunca saía sem escolta. Não com Campbells e Dailys e Gerdenses à
espreita nas fronteiras.
O que Arran tinha dito, tudo o que tinha dito —fazia sentido, também.
Lachlan MacTier estava acostumado com ela, e claramente ainda a via como
uma garota pequena, que grudava nos rapazes para pegar rãs e caçar coelhos.
Para alterar isso, precisava de uma temporada em Londres.
Sua própria mãe tinha tido uma temporada em Londres, mas é claro, era
inglesa. As chances de Ranulf concordar que sua única irmã devia seguir os
passos de sua infeliz mãe eram péssimas. Quase não falavam o nome de
Eleanor Wilkie-MacLawry, e eles não o tinham feito desde que ela tinha
ingerido veneno, ao invés de ficar viúva nas Highlands, com quatro filhos
indisciplinados.
Mas nada disso alterava o fato de que Rowena queria —precisava —ir
para Londres e que Ranulf provavelmente iria proibi-la. Bem, supôs que tinha
uma semana para elaborar seus planos. E se convencer de que as
consequências que viessem no caminho, valeriam a pena, como resultado.
E se Lachlan não apreciasse a jovem em que queria tornar-se, com certeza
poderia encontrar um inglês bonito e com título, que a quisesse.
Capítulo um
Três meses depois

—Paixão. Foi isso. —Rowena MacLawry virou a mão para o par de jovens
damas sentadas à sua frente. —Quero dizer, pelo amor de Deus, não conhecia
ninguém.
Lady Jane Hanover manteve o olhar voltado para fora da janela da
carruagem. —Acho que ficaria mais convencida se conservasse seus
sentimentos por Lorde Gray e gastasse menos tempo falando sobre como não
dá a mínima para ele.
—Não seja rude, Jane —, sua irmã mais velha, comentou. Lady Charlotte
sorriu para Rowena. —Falar abertamente de uma complicação, muitas vezes
faz maravilhas para se libertar. E considerando que passou dezoito anos vendo
Lorde Gray de uma forma particular, espero que isso leve algum tempo para
vê-lo de forma diferente.
Rowena assentiu, chegando do outro lado da carruagem para apertar a mão
da filha mais velha do Visconde Hest. —Da mesma forma, ela concordou,
cuidadosamente enterrando seu sotaque sob os tons ingleses cultivados, que
tinha passado os últimos três meses aperfeiçoando. —É uma nova maneira de
pensar sobre as coisas, é tudo. —Deslocando-se, olhou pela janela para pegar
um vislumbre da longa cauda de carruagens atrás deles. Civilização nos
cascos, por assim dizer.
O conteúdo desses veículos foi o resultado de três meses passados
aprendendo a ser uma dama sensata, de lembrar-se que os cavalheiros
pareciam achar divertido que damas conversassem sobre tosquia de ovelhas e
pesca e banho em um lago como se fossem pagãos. Bem. Não era uma pagã. E
agora tinha os amigos e admiradores e guarda-roupa e maneiras, para provar
isso.
—Todos temos que encontrar uma nova maneira de pensar, não é? —Jane
comentou, mudando-se para sentar-se ao lado Rowena. —Você e eu estamos
prestes a nos tornarmos cunhadas. E estamos na Escócia, de todos os lugares!
Todos os Highlanders usam kilts? Nunca pensei em perguntar.
Por mais que pudesse apreciar um homem impecável nas cores preto,
vermelho e branco do clã MacLawry, Rowena continuou a ficar surpreendida
com a maioria da paixão de seus amigos ingleses ‘com o traje’. —Hoje todos
vão estar em kilts e cores do clã. Ranulf vai querer que sua noiva veja
Glengask no seu melhor.
A cor tocou o rosto de Charlotte, o que foi bastante animador. Rowena não
pensou que a filha mais velha de Lorde Hest poderia parecer tão calma quanto
tinha estado fingindo ao longo dos últimos dias. Não, quando estava prestes a
lançar seus olhos sobre o que seria seu novo lar. Sua nova vida.
Sufocou uma careta abrupta. Charlotte estava viajando para o norte, para
uma nova vida com um homem que a adorava. Tudo o que ela estava fazendo,
porém, era voltar para a sua antiga vida, depois de três meses gloriosos em
Londres. Nada tinha mudado para ela, exceto ela, é claro. No entanto, quanto
tempo duraria isso, de volta nas Highlands com seus irmãos? Não pertencia
mais aqui. Pertencia à maravilhosa e sofisticada Londres.
—Contudo, seja como for que se sente sobre Lachlan MacTier e, como ele
se sente sobre você, imagino que vai ficar muito surpreso ao vê-la novamente,
Winnie. —Charlotte sorriu. —E o que... —Ela parou de falar quando uma
vibrante melodia flutuou sobre elas. —O que é isso?
Finalmente, Rowena riu. Sobre qualquer coisa que pudesse perturbá-la, os
quatro irmãos MacLawry estavam prestes a se reunir. Juntos, em Glengask,
eram imbatíveis. E Glengask, por mais que desejasse estar centenas de milhas
ao sul, era onde tinha nascido. —Isso é ‘A vermelha, rosa vermelha’, —disse,
—tocado em pelo menos meia dúzia de gaitas de foles, ao que parece pelo
som disso. É uma canção de amor, para você, imagino. Estamos aqui.
Seu próprio coração acelerou, assim poderia imaginar que o de Charlotte
deveria estar acelerado também. Poderia dizer que se sentia ansiosa para ver
Bear novamente depois de três meses, e que queria jogar os braços em volta
do perspicaz Arran e de sua nova esposa, depois que tinham passado uma
quinzena fugindo de Campbells e MacLawrys. Poderia dizer que, quando
Ranulf tinha deixado Londres um pouco mais de uma semana atrás e ordenado
que todos o seguissem, ainda não estava pronta para partir. O que não queria
admitir era que parte de sua hesitação em voltar para a Escócia, tinha sido
aquele insignificante devaneio —aquele onde Lachlan MacTier a pegava em
seus braços e a beijava. Foi irritante que não conseguisse deixar de ser tão
tola, mesmo sobre um homem que claramente não a merecia. Paixão era uma
coisa estúpida, constrangedora, e deveria ser realizada completamente à
distância.
O timbre das rodas mudou quando a carruagem deixou a estrada de terra
esburacada para o cascalho de conchas de ostras amontoadas e
desconfortáveis, dobrando-se diante de Glengask. Tanto Charlotte quanto Jane
pressionaram-se contra as janelas e conversaram animadamente, mas Rowena
não estava pronta para olhar. Ainda não. Por mais que adorasse seus irmãos, o
sul da Inglaterra chamava por ela. Ou talvez seu desânimo fosse mais
profundo, temia sua própria reação ao ver Lachlan novamente, e era
simplesmente uma covarde.
—Oh, olhe, Charlotte! É Lorde Glengask! —Jane exclamou, praticamente
pulando em seu assento. —E também Arran e Mary Campbell!
—Lady Mary MacLawry, agora —, Charlotte corrigiu, enviando um outro
olhar sobre Rowena.
Supostamente deveria estar pouco à vontade ou com ciúmes? Rowena
questionou. Sim, tinha sido a única fêmea em Glengask nos últimos onze anos,
e sim, desejava que tivesse tido a oportunidade de conhecer Mary Campbell
antes de Arran fugir de Londres com ela, mas sinceramente a ideia de ter uma
irmã —ou duas delas, uma vez que Charlotte e Ranulf se casassem —a enchia
de alegria. Aquela casa tinha estado muito cheia de homens Highlanders
sangue quente por muito tempo.
—Aquele homem muito grande com eles —é Bear? Ou ele é o outro? Meu
Deus, ele é muito... musculoso.
—Pare de importunar, Jane. Vamos descobrir em breve.
Imediatamente Jane deixou a janela e agarrou a mão de Rowena. —Sinto
muito, Winnie —, disse ela. —Esqueci que saiu daqui com raiva.
Rowena apertou de volta. —Quer dizer que eu saí pela porta traseira e fugi
para Londres com raiva —, disse com um breve sorriso. —Sei que me
perdoaram, e se não o tiverem feito, só gostaria de salientar que Ranulf não
teria conhecido Charlotte, e Arran nunca teria conhecido Mary, se não me
tivessem seguido. Quanto ao resto, meus olhos estão abertos.
Quando terminou de falar, a carruagem balançou e parou. A porta se abriu
com tanta força que quase saiu de suas dobradiças, e antes que pudesse chiar,
Bear inclinou-se para dentro, agarrou-a pela cintura, e levantou-a para a
estrada em Glengask. Então foi tragada nos braços grandes e fortes e cercada
pelo cheiro familiar de couro e sabonete de menta.
—Bear, não consigo respirar! —Ela gemeu, mas o abraçou de volta. Se
Munro MacLawry estava feliz em vê-la novamente em casa, então tudo estava
certo com o mundo. Ou estava quase tudo, de qualquer maneira.
Finalmente, ele a soltou e deu meio passo para trás. —Por Deus —, falou
lentamente, o sotaque carregado das Highlands em sua voz, —Acho que está
mais alta. E olhe para seu cabelo, Winnie —está mais bonito que as asas de
corvo. Não acha, Lach? Ela mal teve tempo de mentalmente endireitar seus
ombros antes que o Visconde Gray aparecesse à vista. Como seus irmãos,
vestia seu kilt branco, preto e vermelho, mas era onde as semelhanças de
aparência terminavam. Onde seus irmãos eram altos e de ombros largos e
todos musculosos, Lachlan era mais magro e tinha a cintura mais estreita. Seu
cabelo era de um mogno profundo em vez de preto meia-noite dos MacLawrys,
mesmo que houvesse adotado a tendência de Bear para evitar um barbeiro.
Seus olhos sempre lembravam uma primavera exuberante —mas isso tinha
sido antes. Agora, eram simplesmente verdes.
—Sim —, disse, parecendo não saber ao certo se lhe dava um aperto de
mão ou um abraço. —Muito chique. Bem-vinda ao lar, Winnie.
Estendeu a mão para poupá-lo do dilema. Provavelmente não era culpa dele
que não tivesse um osso romântico em seu corpo, decidiu. —Você sem dúvida
está surpreso que não tenho nós em meu cabelo —, disse com um sorriso
praticado em seu novo sotaque praticado.
Suas sobrancelhas se juntaram. —O que aconteceu com sua voz?
—Perguntou.
—Nada aconteceu com a minha voz—, voltou, recuperando seus dedos tão
rapidamente quanto podia. Ele foi seu passado tolo, jovem. Isso foi tudo. E
trouxe seu futuro com ela naquelas outras carruagens, para que não precisasse
de nada dele, completamente. —É a maneira correta de falar. Agora, se me
permitem, gostaria de conhecer minha nova cunhada.
Com isso, virou-lhe as costas e deixou escapar um longo suspiro. Porque
tinha estado tão preocupada? Que fosse abandonar o seu bom senso e tentar
beijá-lo? Ha. Ele era apenas um homem —embora um homem muito bonito
—e já não era o único pretendente em potencial cujo conhecimento tinha feito.
Nem sequer era o único presente.
E por causa disso, ainda precisava manobrar um pouco mais. A meio
caminho de sua nova cunhada, dirigiu-se aonde seu irmão mais velho estava
com sua noiva. —Obrigada por me permitir convidar alguns amigos, Ranulf.
Com sua expressão ilegível, o Marquês inclinou a cabeça. —Preciso de
uma ou duas testemunhas Sassenach[3] no meu casamento, por isso vamos dizer
que isso é mutuamente benéfico. Embora ache que tinha em mente seus
próprios planos mais do que os meus quando enviou os convites.
—Bobagem, Ranulf. Trouxe alguns representantes das melhores famílias
inglesas. —A maior parte, de qualquer maneira.
Ele olhou de Charlotte a seus pais, que se aproximam em uma das seguintes
carruagens. —Suponho que vamos descobrir —, voltou-se então, deu meio
passo mais perto dela e abaixou a cabeça de cabelos negros. —Só tenha em
mente que aqui não é Londres. Vou enterrar qualquer rapaz que se aproxime
muito, Rowena.
—Não acho que nenhum deles se atreveria —, disse a verdade, quando a
pequena horda de ingleses começou a sair das carruagens e a perambular
ruidosamente até a estrada. —Este é o seu reino.
—Sim, é —, ele concordou, tomando a mão de Charlotte e olhando para sua
noiva como se tivesse passado muito mais de uma semana desde que a tinha
visto pela última vez. —Bem-vinda a Glengask, leannan[4] —, murmurou,
beijando seus dedos.
—É lindo —, Charlotte voltou-se com um sorriso caloroso, animado.
—Como você descreveu.
—É mais bonito com você aqui.—Ranulf inclinou a cabeça. —E sabia que
permitiam decapitações nas Highlands? —Perguntou, erguendo a voz.
—Desde quando? —Rowena perguntou, franzindo a testa. Estava
assustando todos antes que uma única peça de bagagem pudesse entrar na
mansão.
—Reconheço que existem regras diferentes nas Highlands, que esses
rapazes ingleses indolentes não estão acostumados —, continuou calmamente.
—Por exemplo, aqui não nos preocupamos em virar as costas para alguém, se
fizerem algo impróprio.
—Não —, Bear assumiu, olhando de seu irmão para a dúzia de carruagens
ainda cuspindo damas, cavalheiros e criados. —Aqui sangramos seu nariz e
ajustamos em sua bunda.
—E, em seguida, acharemos um bom e profundo pântano para descansar
debaixo —, Arran disse finalmente, compreendendo claramente o sentido da
declaração.
As bochechas da Rowena se ruborizaram. —Isso é o bastante —, ela
sussurrou. —Meus amigos não estão acostumados a ameaças e violência. E se
quer ser visto como cavalheiro —, continuou, apenas evitando apontar o dedo
na direção de Ranulf, —não se pode menosprezar as pessoas que não fizeram
nada de errado.
Ranulf levantou uma sobrancelha. —Posso ser um cavalheiro —, retumbou
em seu profundo sotaque Highlander. —Tenho os olhos, também. Tem um
grande número de homens Sassenach com você, piuthar. Não acho que estão
todos aqui para testemunhar meu casamento. Não conheço a maioria deles, por
exemplo.
—Isso não é...
—E eles principalmente têm que ter em mente que você é minha única irmã
—, pressionou, —e que não passei esse tempo todo cuidando de você para
que alguma coisa... Inaceitável, acontecesse agora —. Soltando a mão de
Charlotte, deu um grande passo para a frente. —Também não quero deixá-la
esquecer sua herança, no entanto, mesmo que você opte por falar bonitinho —,
continuou, em voz muito baixa agora. —Estamos entendidos, Rowena Rose
MacLawry?
Foi preciso uma grande força de vontade para olhar em seus olhos azuis
impassíveis. —Sim. Sim. Eu entendo.
—Bom.
Ha. Isso de homens que apostavam sobre a quantidade de whisky que
poderiam consumir. Bem, seria melhor que seus irmãos e Lachlan se
comportassem, também. Porque tinha uma boa ideia de que seus novos amigos
não iam ser o problema. Afinal, todos tinham tido governantas e tutores e
instrutores de dança. Todos sabiam como se comportar em bailes e jantares
formais e festas em casa. E se Ranulf tinha percebido ou não, estava muito
perto de preferir aquela vida com a qual tinha crescido. Não demoraria muito
mais para desequilibrar a balança. Na verdade, o homem certo poderia fazê-lo
facilmente. Com um movimento brusco de suas saias, seguiu para onde Arran e
Mary estavam, um pouco além da multidão, na porta da frente.

***

Lachlan MacTier deu um passo para trás para evitar que seus pés fossem
atingidos pelos baús. —Sabia que estava trazendo metade dos nortistas de
Londres com ela? —Murmurou para Bear ao seu lado.
—Não —, Munro rosnou de volta. —Ran disse que a família de sua
Charlotte e alguns amigos de Winnie e dos Hanovers viriam assistir ao
casamento. Não essa horda. —Suas sobrancelhas baixaram. —São todos...
bastante... Delicados.
—Sim.—Lachlan olhou depois para um rapaz alto e esguio, com detalhes
em sua camisa e cabelos loiros que pareciam tão lisos e brilhantes, que
provavelmente poderiam refletir a luz do sol. —Delicados.
Seja o que for que Bear disse, esse monte de babados não pareciam o tipo
de gente com que Lorde Glengask iria fazer amizade, muito menos convidar
sob o seu teto. E dado o discurso de um momento atrás, isto parecia ser ideia
da mais jovem MacLawry. Lachlan desviou o olhar para o lado. De cabelos
negros, Winnie MacLawry deslizou sua mão ao redor do braço de um dos
companheiros mais altos, sorrindo enquanto dizia alguma coisa e apontava
para a expansão cinzenta e branca grande atrás deles.
Ela convidou essas pessoas, ou pelo menos uma boa parte delas. Será que
realmente se sentia conectada o suficiente com os Sassenach depois de apenas
três meses na Inglaterra, que tinha necessidade de os trazer com ela de volta
de Londres para as Highlands? Ou era que a moça, que tinha andado atrás dele
por quase duas décadas em suas tranças e saias rendadas, tentando fazer-lhe
ciúmes?
Talvez ele estivesse avaliando a sua estima por ele demasiado alta, mas
talvez não estivesse. Ambos, Arran e Bear, o culpavam por sua fuga para
Londres em primeiro lugar. Se presentear uma moça com um par de excelentes
botas de montar por ocasião do seu décimo oitavo aniversário poderia levá-la
a fugir de sua ilustre casa e de sua família, então supôs que fosse culpa dele,
mas tudo parecia muito tolo e excessivamente dramático. Teve um acesso de
cólera, e agora estava em casa. Nada havia mudado, exceto a maneira como
falava, aparentemente.
—Espero que não tenha que me lembrar de todos os nomes —, Bear
murmurou.
—Não são todos homens, Bear —, ressaltou, oferecendo a seu amigo um
breve sorriso. —E aqui estamos, dois solteirões robustos de pé, enquanto
esperamos pelo casamento de seu irmão.
—Você não é um solteirão, Lach.
—Sou solteiro, e tenho a certeza desse fato. Não tenho esposa e nenhuma
mulher em mente.
—Talvez —, o grande homem pensou depois de um momento, depois
inclinou o queixo para sua irmã. —Mas ela sabe disso?
—Pelo amor de Lúcifer, Munro. São precisos dois para fazer um
casamento, e não fiz nada do tipo com sua irmã mais nova. Deixe isso. É ruim
o suficiente com ela me escrevendo poesia o tempo todo. Não comece com
isso de novo, também.
—Ainda está escrevendo poesia, então? —Arran perguntou, quando se
juntou a eles com sua esposa, Mary, a seu lado.
—Não. Estava muito ocupada com as compras em Londres, aposto. Sabe
que ela parou há algumas semanas. —Na verdade tinha-se sentido um pouco
estranho, a princípio, por não ter uma carta de escrita apertada, esperando por
ele a cada dia, contando tudo sobre seus primeiros dias em Londres. Quase se
sentiu como se estivesse lá com ela. Não respondera, é claro, porque seus
irmãos a vigiavam como falcões, e não ia ficar preso em algo simplesmente
por ser amável. E assim, tinha ficado aliviado quando tinha parado. Assim
como estava aliviado que não tivesse tentado jogar-se em seus braços quando
saiu da carruagem há poucos minutos.
—Então suponho que está solteiro —, Arran continuou, batendo-lhe no
ombro. —Basta ter em mente que Ranulf se vai casar com a primeira moça
Sassenach em que pôs os olhos em Londres. Não quer que aconteça isso com
você, eu acho.
—Hm —, Mary interferiu, inclinando-se em seu ombro. —Se bem me
lembro, você não desmaiou após conhecer a primeira moça Highlander em
Londres? E ela não era uma Campbell, de todas as coisas?
O irmão MacLawry do meio sorriu. —Não desmaiei, moça. —Ele se
inclinou e beijou sua bochecha. —Mas você parou meu coração.
Ela colocou a palma da mão sobre seu ombro esquerdo. —Vi você levar
um tiro, Arran —, sussurrou. —Não brinque sobre seu coração parar.
—Ah, vocês estão fazendo—me chorar —, Bear comentou. —Vamos, Lach.
Somos solteirões e vamos conhecer as encantadoras e delicadas moças.
—Só não ruja e as assuste, Bear.
Isso soou como algo que ele diria, de qualquer maneira. Na verdade, a
última coisa que queria era que Lachlan se encontrasse enroscado com alguma
moça estrangeira, que provavelmente iria deslocar-se sob uma brisa forte, e
que poderia vir a estar relacionada com os MacDonalds do lado do seu pai, ou
algo assim. Doce Santo André. Dito isto, a irmã mais nova da noiva de
Glengask era bonita o suficiente, e, obviamente, Ranulf já havia aprovado sua
familiar linhagem. Ela poderia servir para um beijo e uma risadinha, como
diziam os Sassenach, de qualquer maneira.
—Depois não digam que não avisei, rapazes —, Arran soou atrás deles.
Quando todos os hóspedes e criados tinham encontrado os quartos e se
reunido com a bagagem, Lachlan tinha conseguido uma trabalhosa contagem
—embora os criados estavam vestidos tão elegantemente, que não estava
totalmente certo de que tinha colocado todos na categoria correta. Sete
senhores, cinco moças, quatro Hanovers, incluindo Lorde e Lady Hest e suas
filhas, e dezessete criados, incluindo um criado inglês chamado Ginger, que
tinha sido adquirido pelo Marquês de Glengask. Pela primeira vez... enfim, os
Sassenach tinham ultrapassado em número os escoceses, na sede do poder
MacLawry.
Lachlan não se surpreendeu quando Glengask os caçou na biblioteca, onde
se refugiou com um copo de whisky. Bear poderia desfrutar da turbulência,
mas Lachlan preferia conversas onde poderia ouvir o que a outra parte poderia
estar dizendo. —Ouviu isso? —Perguntou, da cadeira junto ao ameno fogo.
—As paredes estão vibrando com o ruído. Mais ruído do que o normal, quero
dizer.
—Sim. —Ranulf se serviu de uma taça e tomou a cadeira oposta. —E
metade dos MacLawrys enterrados junto ao lago estão se torcendo sob as
pedras. Todos em Glengask poderiam ser engolidos por um pântano a qualquer
momento.
Rindo, Lachlan olhou para a porta fechada. —Essa invasão foi ideia sua ou
de Winnie, se me permite perguntar?
—O casamento nas Highlands foi ideia minha —, o Marquês retornou.
—Deixei a lista de convidados com Rowena, desde que tive que cavalgar à
frente. —Não entrou em detalhes, mas Lachlan sabia que tinha galopado para o
norte com um cavalariço e um cão de caça por companhia e proteção, e que
alcançou Gretna Green a tempo de salvar Arran e Mary e evitar uma guerra
entre os MacLawrys e os Campbells.
—Eles parecem muito... ingleses —, Lachlan ofereceu.
—Isso, eles são. E esperam que sejamos uma família inglesa. O que não
somos. —Ranulf se inclinou para frente. —Quero que vejam e que tenham um
gosto da hospitalidade das Highlands, mas ao mesmo tempo não sei se quero
que fiquemos constrangidos aqui. Preciso pedir emprestados alguns dos seus
criados.
Lachlan não ficou surpreso com o pedido, mas vindo diretamente do
Marquês, parecia incomum. Contudo, fosse como fosse que se procedia no sul,
a norte de Fort William, a palavra de Glengask era lei. Seu clã tinha a maior
população e o maior exército permanente nas Highlands. Solicitar criados,
parecia um pouco trivial para ele. —O que precisar —, retornou.
—Obrigado. Vou contratar alguns cozinheiros da aldeia, e mais rapazes
para o estábulo, mas não sei se quero que o moleiro Robert despeje haggis[5]
no colo de alguém.
—Winnie deveria ter informado que tinha metade de Mayfair montando com
ela para o norte.
Olhos azuis profundos enviaram-lhe um olhar especulativo. —Não sei se
isso deveria me surpreender.
Hm. —Ela parou de escrever-me cartas semanas atrás, Ran. E mal apertou
minha mão mais cedo, estava com tanta pressa para cumprimentar a esposa de
Arran e seus novos amigos.
—Mesmo assim, acho que é hora de termos uma conversa, Lachlan.
Isso não soou promissor. Evidentemente, a armadilha que tinha sido
pendurada sobre sua cabeça praticamente desde o nascimento de Winnie
estava prestes a ser exposta. Não havia nada tão agravante como uma vida
predestinada. E não queria uma. —Ran, não tive nada a ver com seu interesse
por mim —, protestou. —Não lhe dei motivos para pensar qualquer coisa.
Quero dizer, Bear e o resto de vocês estão mais perto de mim do que meus
próprios primos, e não tenho meus próprios irmãos e irmãs. Não, mas tenho
vocês. —Nem isso parecia claro o suficiente para consolar. —Vocês são meus
irmãos. E ela é minha irmã.
—Muito bem, então. —Ranulf tomou lentamente um gole de whisky. —É
um bom homem, Lachlan, e não teria nenhuma objeção se fosse atrás de
Rowena. Mas estou feliz que deixou suas intenções claras sobre ela, porque
não vou vê-la arrastando-se e esperando algo que nunca vai acontecer.
—Terminou a bebida e se levantou. —Quero ouvi-lo me dizer que não tem
intenção de pedir em casamento minha piuthar. Porque tenho planos para
elaborar, se não quiser que se case com um Lorde Sassenach com a
propriedade no extremo oposto do reino.
Lachlan ficou parado, também. —Não tenho intenção de pedir Winnie em
casamento —, disse em voz alta, pensando agora, se escapar do que parecia
inevitável era assim tão simples. Não pensava assim, mas não estava prestes a
deixar esta oportunidade passar-lhe. —Ela já é minha família.
—Ela pode ser sua irmã na sua mente, mas posso garantir que ela não
pensa em você como um irmão. Nunca. Mas não vou me intrometer. —Com um
lento aceno de cabeça, Glengask caminhou até a porta. —Vou dizer-lhe. Não
quero quaisquer mal-entendidos.
—Vou dizer-lhe —, Lachlan rebateu, embora não estivesse inteiramente
certo porque sentia necessidade de falar. Geralmente, evitava a histeria e
lágrimas femininas a todo custo. —Ela vai acreditar em mim. Espero.
—Veja o que ela faz. E diga-lhe hoje, se preferir. Prefiro manter qualquer
loucura ao mínimo.
—De acordo. —Ele hesitou, depois pousou a taça e esticou a cabeça para
olhar por cima do ombro o Marquês na porta. —Disse-lhe antes, você sabe.
—Não. Você falou em torno disso. Diga as palavras, e poupe-nos de alguma
desgraça. —Os ombros de Glengask subiam e desciam. —E de algum
sofrimento.
Uma vez que Glengask retornou ao caos do resto de sua casa, Lachlan
terminou seu whisky. Ao longo dos anos, pensou que tinha deixado claro o
suficiente que nunca poderia sentir... algo romântico pela jovem que o seguia
como um cachorrinho ansioso, desde que poderia andar hesitante sobre suas
próprias pernas.
Pensou que se tinha desviado habilmente, realmente, rejeitando os avanços
femininos e, ao mesmo tempo, cuidando de quebrar seu coração.
Aparentemente, ninguém apreciou sua sutileza —embora no clã MacLawry
sutileza nunca tenha sido uma arma privilegiada no arsenal.
Mas agora, e pela primeira vez, sentia que seu futuro lhe pertencia. Foi uma
sensação vertiginosa, quase. Ninguém tinha qualquer expectativa dele. Bem,
quase ninguém. Ranulf esperava uma coisa dele. Soltando o fôlego, se
levantou. Melhor acabar logo com isso, e esperava que ela não começasse a
chorar. A última coisa que queria seria Bear quebrando seu nariz, porque tinha
feito sua irmã mais nova chorar, precisamente.
Encontrou Winnie em uma das salas de estar no andar de cima. Tinha
colocado um bonito vestido creme e azul, embora não tivesse visto nada de
errado com o que estava usando quando chegou. Ela estava fingindo ser
inglesa, porém, e todos sabiam que os Sassenach trocavam de roupa mais
frequentemente do que um cervo agitava suas orelhas.
Estava sentada no meio de seus novos amigos extravagantes, todos rindo
sobre algo que o sujeito alto com o cabelo brilhante tinha dito. Lachlan não
conseguia lembrar seu nome, mas duvidava que o sujeito magro pudesse
sequer levantar um tronco —muito menos lançar um.
—Posso ter uma palavra com você, Winnie? —Solicitou, perguntando-se
por que de repente se sentia... desconfortável. Passou quase tanto tempo nesta
casa, como na sua própria; com essas pessoas, os sons e aromas que traziam
com eles, mas não conseguia impedir a sensação de que não chegava a
pertencer.
—Certamente, Lorde Gray —, Winnie disse alegremente, levantando-se.
—Jane, não deixe Lorde Samston começar outra de suas histórias até eu voltar.
—Deu um sorriso para o homem de cabelos loiros perto da janela.
—Eu não sonharia com isso, Lady Rowena—, falou pausadamente,
esboçando uma vênia que provavelmente teria parecido extravagante mesmo
em uma corte real.
Lachlan seguiu Winnie para a marquise no final do corredor. Um punhado
de bancos e cadeiras de madeira estavam espalhados em meio a vasos com
rosas e lírios —plantas muito delicadas para o tempo instável das Highlands.
—Isso é como um monte de macacos em um zoológico —, ele comentou com
um sorriso amplo. —Todos conversando ao mesmo tempo e sendo
acolhedores, com o estúpido superior no grupo.
—E quem você acha que é o estúpido superior? —Winnie caminhou até
uma das janelas grandes, viradas para sul.
—Isso seria Lorde Samston. Ninguém fala quando ele o faz.
—Muito observador você —, voltou-se, se apoiando contra a coluna e a
janela e cruzando os braços sobre o peito. —Mas, considerando que lhe foi
apresentado como o Conde de Samston, já sabia disso.
—Não —, Lachlan retornou, embora soubesse que provavelmente deveria
estar tocando nessa conversa e não provocando Winnie. A tinha provocado por
toda a sua vida, no entanto, e ao contrário dos amáveis rapazes no corredor,
não tinha medo de seu temperamento. —Não se trata de posição social. Não
completamente. Samston é o companheiro para prestar atenção.
—Manterei isso em mente. —Ela levantou uma sobrancelha graciosa.
—Felizmente ele é muito agradável aos olhos.
—Ele? Ele é muito pomposo.
Winnie inclinou a cabeça. —Estou um pouca confusa, Lachlan. O que quer
dizer-me? Me dizer que Lorde Samston é poderoso, ou que é pomposo?
—Nenhum dos dois. Ainda não sei por que sente a necessidade de falar
como um Sassenach —, disse, franzindo a testa. —Pode enganar quem quiser
em Londres, mas está em casa agora.
Ela virou-lhe as costas, aparentemente para admirar as montanhas
pontiagudas em torno deles. —É disso que se trata, então? Você não gosta do
jeito que eu falo? Porque isso não é da sua conta.
—Sei que não é. E não, não era isso que eu queria, também.
—Então me diga o que quer, Lorde Gray, para que eu possa voltar aos meus
deveres como anfitriã.
Lachlan franziu a testa e seu cabelo preto graciosamente enrolou. Há alguns
meses atrás, Winnie MacLawry teria feito grandes esforços para impedi-lo de
sair de uma conversa. Uma vez fingiu torcer seu tornozelo, para que pudesse
levá-la de Loch Shinaig de volta para a casa. Disse para o cavalariço Donald
o fazer, e ela abruptamente se recuperou.
Mas isso não foi nem aqui nem lá. E quanto mais cedo pudesse fazer suas
intenções, ou a falta dela —claras —mais cedo poderia parar de se preocupar
que ficasse preso em algo, simplesmente porque Ranulf não podia recusar
nada que sua irmã realmente quisesse.
Ele exalou. —Encare-me, está bem?
Seus ombros subiam e desciam, e ela se virou novamente. —Isso parece
sério —, meditou, sua expressão ainda um pouco irritada. Com ele, o que em
si era incomum.
—Reconheço que por um longo tempo teve seu coração determinado em...
em coisas muito pessoais, moça, e reconheço que fui uma das razões pelas
quais você saiu em disparada para Londres —então tive que vê-la como uma
dama, em vez de uma menina.
—Você n...
—Mas o que fez não importa, Winnie —, continuou ao longo de sua
interrupção. —Sempre vou vê-la como é, e essa é uma criança com os joelhos
ralados, que ensinei a pescar. O que quero dizer é, eu não vou —nunca —casar
com você, Winnie, então o que planejou em sua cabeça, não se perturbe.
Divirta-se com seus amigos, ajude Lady Charlotte com seu casamento
Highlands, mas não espere qualquer coisa de nós. Você entende?
Por um longo momento, ela olhou-o enquanto esperava que seus belos olhos
azuis transbordassem em lágrimas. Bear provavelmente tentaria socá-lo, mas
Ranulf tinha—lhe praticamente ordenado fazer isso. Não foi como se quisesse
vê-la chorar.
Winnie sorriu. Então uma risada explodiu de seu peito. —Oh, céus —,
conseguiu dizer.
Isso não soou como desgosto. Lachlan franziu a testa antes que pudesse
lembrar-se que isso era uma coisa boa. —O que é tão malditamente divertido?
—Você parecia tão sério. Sinto muito —, retornou. —Pobre Lachlan. Devia
ficar aterrorizado cada vez que me via aparecer.
—Não. Não fiquei apavorado. Além disso, não tenho medo de você agora.
Só quero que aceite que não haverá casamento entre nós.
—Claro que entendo isso. Você foi uma paixão de infância. Certamente não
sou mais uma criança.
Isso não foi o que esperava. —Já se passaram três meses. Mudou seu
sotaque bem o bastante, mas o seu coração? Isso não é tão simples, eu acho.
—Agora está me confundindo. Está com ciúmes por que percebi o que
quero, e que não é você?
—Apenas duvidando da veracidade de suas palavras, moça.
—Ah, bobagem. Até três meses atrás, não conversava com um homem que
não fosse meu irmão. Nunca tinha valsado com ninguém, além de vocês quatro,
e ninguém nunca me tinha elogiado sem que eu precisasse pedir. E então me
perdoe, se fui tão implacável em minha perseguição, mas não me pode culpar
por isso.
—Não lhe culpo de nada. Só quero que nos entendamos.
—Está bem. Mas essa conversa é desnecessária. Meu tempo em Londres
permitiu-me abrir os olhosm—, retornou, ainda fresca e composta. —Escrevi-
lhe cartas e você nunca respondeu. Desde a minha primeira lembrança, tenho-
lhe pedido flores, danças e poesia, e não queria ser perturbado. Nem uma
única vez. —Um passo à frente, ela colocou a mão em seu braço. —Não quero
mais. Você não vale o meu tempo.
Então inclinou-se e o beijou, como uma irmã, na bochecha. —Mas lhe
agradeço, por me mostrar exatamente o tipo de homem que não quero para
mim. É uma lição que aprendi muito bem. —Com isso, os dedos dela subiram
em seu ombro, passou por ele, cantarolando, porta afora novamente.
Lachlan ficou onde estava por um longo momento, enquanto tentava manter
a cabeça de girar. Que diabos? Quase dezoito anos perseguindo-o, e de
repente não valia a pena o seu tempo? Ha. O dia em que não conseguisse
agradar a uma mulher —qualquer mulher que escolhesse —seria o dia em que
iria amarrar pedras em sua cintura e saltar em Loch Shinaig.
Claro, não tinha perseguido Winnie MacLawry, então o que ela esperava?
Era ridículo. Ela estava atrás dele, mudou de ideia, e então decidiu que
poderia insultá-lo por causa disso? Não tinha feito nada de errado. Inferno,
não tinha feito nada, absolutamente. De propósito. Se a quisesse, ele a teria
tido, e era isso.
Mas dizer que não era o tipo de homem que queria, isso era um insulto. Era
tão sofisticado e charmoso como qualquer um desses canalhas na sala,
bebendo chá com seus dedos mindinhos presos no ar. Podia não ser um Conde,
mas era um maldito Visconde. E apostaria qualquer quantia como as
encantadoras e delicadas moças Sassenach, teriam prazer em receber as suas
atenções. Isso mostraria a ela.
Tudo isso a partir de uma criança com nós em seu cabelo. Poderia jogar de
adulta se escolhesse, mas poderia optar por mostrar-lhe que isso não era um
jogo para crianças. —Você fez isso agora, moça —, murmurou. —Não vou
derrubar sua pequena luva, a menos que esteja pronta para alguém assumir o
desafio. Vamos ver quem vale a pena querer. E ter. —Não seria ela, mas
poderia muito bem assistir.
Capítulo dois
—Você realmente deveria estar usando um gorro ou um dos quentes chapéus
dos seus irmãos hoje, Milady —, Mitchell disse, quando a criada colocava
uma escova de cabelo e grampos extras em uma gaveta da penteadeira. —Aqui
não é Londres. Um vento forte pode congelar suas orelhas.
—Cresci aqui, Mitchell —, Rowena retornou, dando uma última volta na
frente do espelho de corpo inteiro, admirando sua roupa de equitação
vermelha e preta e um jovial chapéu de castor vermelho, empoleirado no topo
de seus encaracolados cabelos negros. —Não me esqueci do tempo, pelo amor
de Deus. — Pegou as luvas de montaria e se dirigiu para a porta. —Mas não
posso usar um gorro com esta roupa, ou todos os ingleses vão rir de mim. Se
usasse um dos chapéus desleixados de Bear... —Deu um arrepio exagerado.
—Se eu fizesse isso, poderia muito poupar a todos de algum constrangimento e
me juntar a um convento.
—Nenhuma pessoa deveria ter as perspectivas de casamento arruinadas por
um chapéu —, a criada insistiu estoicamente.
—Ainda não, talvez. Mas não vou ser a primeira.
—Santa Brígida proteja a todos nós, então.
Rowena deixou seus aposentos e desceu para o primeiro andar. Ao seu
redor, a casa já estava bem acordada, e sorriu para o som de uma das criadas
lá em cima cantarolando, enquanto abria as cortinas e limpava os quartos
abandonados pela manhã. Glengask sempre fora um lugar barulhento e
animado, frequentado por chefes e aliados e aldeões e gaiteiros e vários
homens que tinha pensado que eram homens estabelecidos até que finalmente
percebeu que eram guerreiros Highlanders, membros do clã MacLawry
trazidos por Ranulf para ajudar a zelar pela família. Para protegê-los.
Hoje, a fortificada e antiga mansão era sacudida com o barulho de um
adicional de duas dúzias de ingleses e damas e servos —Sassenachs, todos
eles. Tinha arranjado isso, e no entanto, mesmo desagradando a seus irmãos,
talvez pudessem apreciar que fazer amigos ingleses poderia beneficiá-los.
Ainda melhor, poderiam decidir aprovar qualquer homem com quem decidisse
se casar. Pelo menos seus irmãos não poderiam estar apoiando Lachlan por
mais tempo —e se estivessem, precisava corrigi-los. Por que sentiu a
necessidade de informá-la que não se casaria com ela, não tinha ideia, dado
que tinha percebido isso meses atrás. E claramente nunca tinha pensado nela
romanticamente, de qualquer modo.
E tinha feito isso no meio da longa e alinhada galeria, no andar de cima,
quando uma mão forte agarrou seu ombro e arrastou-a lateralmente no arsenal.
—O que...
—Nos emboscou, você sabe —, Bear rugiu, soltando-a. Em sua mão
esquerda uma grande espada balançava frouxamente, e ao que parece o tronco
de árvore, que eles de alguma forma tinham arrastado para o quarto enquanto
ela esteve fora, ele estava incomodado com alguma coisa. Ela, aparentemente.
—Ranulf chegou aqui três dias antes de nós —, ela voltou, alisando a
manga de sua nova roupa de equitação. —E desde que me ordenou que fizesse
as malas e o seguisse para o norte, você pode culpá-lo. —Estreitou um olho.
—Ou culpar Arran, que se dirigia para o norte, quando ainda tínhamos três
semanas antes do fim da temporada.
—Não sei se conta ou imagina um conto, piuthar. Ran não convidou metade
de Mayfair para juntar-se a ele em Glengask. Isso foi obra sua.
—Sim, foi.
—Ha! Você admite isso.
Ela colocou as mãos nos quadris. —Sabe como eles chamam as mulheres
de sua idade que não se tenham casado?
Ele inclinou a cabeça para ela, uma mecha de seu longo cabelo preto
caindo sobre um dos olhos verde-acinzentados. —Desesperadas? —Sugeriu.
—Isso também. Chamam-lhes de ‘solteironas’, e dizem que estão ‘na
prateleira’. Você é apenas seis anos mais velho do que eu, Munro.
—Não se preocupe, Winnie. Lachlan vai ultrapassar sua h...
—Lachlan MacTier não vai se casar comigo —, cortou, ignorando o cenho
franzido. —Sim, eu sei, presumimos que aconteceria, mas Lachlan não. E fui
estúpida ao pensar que desejar conseguiria isso.
—Vou falar com ele, então.
Isso seria um desastre. —Eu já o fiz. Ou ele veio e me encontrou, em vez
disso, para me dizer que estive perdendo meu tempo e que nunca iríamos nos
casar.—Deu de ombros, uma parte dela ainda surpresa que isso a tivesse
ferido pouco. Evidentemente, um sonho podia ser posto de lado como se não
fosse nada. Porque tinha sido. Ela tinha feito isso. —E não vá socá-lo por ser
honesto.
—Parece estar levando esta pequena notícia razoavelmente bem —,
ponderou o irmão mais próximo a ela em idade, estudando seu rosto.
—Dei-lhe uma semana depois que saí daqui —, retornou. —Sou uma moça
amável, Bear, e tenho coisas melhores a fazer do que definhar por um homem
muito... mal-educado que não me valoriza. —Deu uma pirueta com sua roupa
elegante. —Ele teve sua chance, e dada a sua completa falta de paixão e
romance, me alegro que ninguém me queira cobrar uma coisa que achei que
fazia sentido, quando ainda acreditava em unicórnios.
Tinha dito exatamente isso para si mesma várias vezes, e quanto mais
repetia isso, mais se lembrava de quão pouca consideração Lachlan tinha por
ela, fazia mais sentido. E dizer isso em voz alta só servia para colocar um fim
oficial à história de Lachlan e Rowena, o conto de fadas de uma jovem
ingênua que, finalmente, havia crescido para ver que seu príncipe era um
estúpido pedaço de madeira.
Bear a olhou por um longo instante. —Então, esses perdulários rapazes
estão aqui para você avaliar? —Finalmente perguntou. —Vai-se casar com um
Sassenach que vai levá-la para longe das Highlands?
Isso era a única coisa que a perturbava. Por mais que quisesse escapar de
Glengask há três meses, embora estivesse cansada de como seu caminho
estava estabelecido, e quão sofisticada se sentia com seu dedicado sotaque e
suas roupas parisienses, iria sentir saudades de seus irmãos. —Eu não sei —,
respondeu com sinceridade. —Por amor, acho que iria.
Ele amaldiçoou em gaélico. —Não gosto disso —, disse inutilmente. —Tem
certeza de que não convidou os encantadores rapazes para aqui apenas para
fazer Lachlan observá-los?
—Oh, pelo amor de Santa Brígida. Não seja ridículo, Bear. —Talvez não
estivesse acima de demonstrar a Lorde Gray que outros homens a achavam
interessante, mas era apenas orgulho. —Essas pessoas são todas aliadas
potenciais para Ranulf. Você não arrasta um aristocrata mil milhas para deixar
alguém ciumento; haveria repercussões. E por que iria convidar amigas do
sexo feminino, se estivesse esperando fazer um homem me notar?
—Acho que vamos considerar isso. —Ele olhou além do ombro, em
direção às profundezas da casa. —Então, isso significa que as moças não são
para brincadeiras, não é?
Isso a fez franzir a testa. —Eles são meus amigos. Tentei combinar Jane
Hanover com Arran, e isso não deu certo. E você não vai quebrar seu coração,
também. —Ela olhou-o, a suspeita pondo tensão em seus ombros. —Pensei
que estava cortejando Bethia Peterkin.
Ele deu de ombros, um sorriso tocando sua boca. —Cortejei e ganhei,
Winnie. Um homem precisa de novas terras para conquistar.
—Conquiste, então. Tente não começar quaisquer novas guerras, no entanto;
Ranulf acabou de evitar a última.
—Sim, e deixou Arran casar com uma Campbell.—Ele balançou a cabeça
hirsuta. —Uma Campbell, vivendo em Glengask. E ela é uma moça amável.
Excêntrica, nas vezes em que nos encontramos, e isso é malditamente certo.
Definitivamente ela concordava com isso. —Se você acabou de ecoar no
meu ouvido, então, eu vou andar com meus amigos.
Bear bufou. —Esses pôneis ingleses que os trouxeram estarão mortos até ao
final do dia, se não puderem suportar uma caminhada. Pelo menos vamos ter
carne fresca para o jantar.
Rowena riu antes que pudesse se conter. —Já chega, Bear. A maioria dos
Sassenach já pensa que somos demônios e bárbaros. Se lhe ouvirem falando
sobre comer suas montarias, vão fugir para as florestas.
Quando ela se virou, ele pegou sua mão, virando-a para encará-lo
novamente. —Ainda é uma moça Highlands, então. Estou feliz em saber.
Antes que pudesse começar uma outra conversa e discussão, deixou o
arsenal e uma variedade impressionante de armas para trás. Tinha nascido uma
moça Highlands, mas se conhecia melhor. Não precisava ser grosseira ou
ingênua ou andar com nós em seu cabelo. Rowena franziu o cenho. Realmente
precisava parar de conjurar essa conversa. Isso tinha sido há três meses, por
um lado, e por outro, só a lembrava de quão tola tinha sido, até pouco tempo
atrás.
Ela não poderia estar surpresa que Bear —e provavelmente Ranulf e Arran,
também —tenham pensado que tinha convidado elegantes rapazes para
Glengask, a fim de antagonizar ou atrair Lachlan. Alguns meses atrás, poderia
ter feito uma coisa dessas. A ideia dele sentir ciúmes entrou em seus
devaneios tantas vezes, que houve momentos que parecia quase real.
Mas não era real. Nada do que tinha imaginado entre eles foi real. Estes
homens aqui eram reais, e disseram-lhe coisas lisonjeiras e elogiaram seus
olhos e sua sagacidade e seu vestido e certamente não a viam como um
incômodo. Fizeram seu coração se acelerar. Na verdade, tudo o que poderia
fazer neste momento era agradecer por ter percebido como indiferente Lachlan
ficava perante ela, antes que, de alguma forma, fosse forçada a casar-se com
ele. Teria passado o resto de sua vida na miséria.
—Você, Lady Rowena —, uma voz baixa e culta falou pausadamente,
quando entrou no saguão, —é uma visão. Diana, a caçadora trazida à vida.
Não, seu único arrependimento, quando Lachlan estava em causa, era que
não tivesse percebido antes quão inútil sua perseguição tinha sido. Sorriu
quando Adam James, Lorde Samston, tirou o chapéu e, em seguida, lhe
ofereceu o braço. —Se começar o dia com tanta bajulação —, voltou aos seus
tons adotados, —de tarde, não terá nada a dizer.
O Conde riu. —Absurdo. Tenho duas direções em que posso prosseguir.
Mais pretensioso, ou... mais íntimo.
Cooper, o mordomo, abriu a porta da frente, de alguma forma, quase
rachando a cabeça de Lorde Samston contra o carvalho maciço quando disse
aquilo. —Peço desculpas, Milorde —, o velho escocês entoou. —Não percebi
que sua testa era tão grande, zombou.
Adam fez uma careta. —Espero que não lhe permitam estar perto de objetos
pontiagudos —, disse secamente, gesticulando para Rowena o preceder porta
afora.
—Não, Milorde. Sou a favor do mosquete, ou um bom murro forte.
—Não ligue a Cooper, Lorde Samston —, Rowena interrompeu, meio
puxando o Conde para a soleira e saindo para a trilha onde uma dúzia de
cavalos esperava, a respiração se enevoando no ar fresco da manhã. —Ele é
excessivamente dramático.
—Meu cunhado tem uma propriedade nos arredores de Edimburgo, você
sabe —, comentou, quando colocou as mãos em volta de sua cintura, sorrindo,
e a levantou de lado para sua égua branca, Black Agnes. —Ele trouxe criados
de Londres apenas para que pudesse entender o que eles estavam dizendo.
—Cooper está com a família há muito tempo —, retornou, observando que
Jane já estava do lado de fora, junto com Lady Edith Simms e seu irmão Lorde
Victor. —Ranulf nunca iria substituí-lo —ou qualquer um deles —se é isso que
você está insinuando.
—Bem, não vou admitir tal coisa agora, vou? —O sorriso ainda no rosto,
girou em seu alazão castanho, King.
A conexão de Edimburgo foi uma das coisas que favorecia Adam James, na
verdade. Mesmo que fosse apenas através do casamento, o Conde tinha
conhecidos Highlanders. Highlanders geograficamente, de qualquer maneira; a
partir do que tinha descoberto, seu cunhado Lorde Lewis nem tinha um pingo
de sangue escocês, mas teve a sorte de ser o único herdeiro sobrevivente do
velho Lorde Lewis.
—Ah, mais rivais —, Adam pensou, e ela observou, quando Arnold e
William Peabody saíram da casa seguidos por John, Lorde Bask, e suas primas
Sarah e Susan Parker.
—Somos todos amigos aqui —, comentou, embora Lorde Samston a visse
como um desejável prêmio que ela certamente não tinha nenhuma objeção.
—Somos?
Quando Rowena olhou para ele, sentado confortavelmente na sela de King,
seu olhar foi direcionado para a colina abaixo, na trilha. Um grande garanhão
apareceu, o homem montando-o sem chapéu curvou-se sobre o pescoço do
animal, enquanto galopava em direção a eles. Mesmo com o sol atrás dele
pintando-o em silhueta, reconheceu Lachlan MacTier, seu comprido cabelo
castanho voando sobre o seu rosto magro e Beowulf soprando debaixo dele.
Apesar de terem terminado, gostava de vê-lo cavalgar. Qualquer pessoa
admiraria um hábil cavaleiro, supôs.
Ele galopou até à trilha e parou ordenadamente ao lado dela. —Algum
problema? —Perguntou, puxando Black Agnes quando a égua começou a se
inquietar.
—Não —, Lachlan respondeu, impulsionando Beowulf em um círculo
apertado em torno dela. —Soube que estava indo para um passeio nesta bela
manhã. Pensei em juntar-me a você.
Ela olhou-o. Ele parecia muito animado para um sujeito que pensava que
tinha quebrado seu coração. —Por quê?
Ele sorriu. —Por que tem algumas belas moças com você, e não seriam
verdadeiras férias nas Highlands se não encontrassem um Highlander.
Se precisasse de mais uma prova de que este homem não carregava nenhum
paixão escondida por ela, isso a forneceu. Mas o conhecia há dezoito anos, e
podia ser encantador quando queria. Então, ao invés de salientar que com três
homens MacLawrys na casa e um bando de Glengask e Gray e os criados
próximos, seus amigos estavam literalmente cercados por Highlanders, ela
balançou a cabeça. —Faça o que quiser.
—Estou feliz que ainda somos amigos, Winnie, mesmo após o seu mal-
entendido.
Ela chamou-o mais perto, e forçadamente ele esgueirou-se para que
ficassem apenas alguns passos de distância. —Todos cometemos erros —,
murmurou. —Tudo que peço é que não comece algo com Jane Hanover se
estiver apenas brincando. Ela é muito romântica. E muito... jovem.
Lachlan levantou uma sobrancelha. —Vocês não têm a mesma idade?
Tempos atrás, quando chegou a Londres, teria dito sim. Mas tinha visto a
sua casa de Londres em chamas, visto Ranulf e Arran serem hostilizados e
desafiados simplesmente por serem Highlanders. Tinha sido protegida por
Arran quando George Gerdens-Daily lhes apontou uma pistola. —Não mais
—, disse com um pequeno sorriso, depois virou Black Agnes para receber as
últimas hóspedes.
O vistoso sujeito, Lorde Samston, trotou ao lado Winnie quando o grupo
partiu em direção ao desfiladeiro que levava ao escoamento de Loch Shinaig.
Lachlan assistiu-os em sua posição na parte de trás; não seria bom que um dos
Sassenach se perdesse entre os montes de pedras, para nunca mais ser visto
novamente.
—Então você é Lorde Gray—, uma doce voz comentou à sua direita, e ele
virou a cabeça. Uma moça bonita, com cabelo cor de mel, cavalgava ao seu
lado em uma das montarias de reserva de Glengask.
—Sou —, ele respondeu. —E você seria Lady Jane Hanover, não é?
—Disse, decidindo que as regras de Winnie não se aplicavam a ele.
—Sim —, respondeu, e riu. —É verdade que você é... solteiro, então?
Então Winnie tinha falado dele. Isso poderia ser cansativo. —Sim. Sou
livre como um pássaro, moça. Sempre fui.
—Oh. Pensei... Bem. Deixa pra lá. —Certamente não me quero intrometer
na sua intimidade.
Ela era educada, mas claramente, sua suposta conexão com Winnie havia
sido discutida, e ele parecia ser a parte lesada. Isso foi um golpe. Mas,
novamente, supôs que o equívoco poderia trabalhar a seu favor, se todas as
moças queriam oferecer-lhe conforto. Mas não se o achassem uma flor murcha,
sisuda. —Não havia um acordo entre Winnie e eu —, respondeu. —Sou oito
anos mais velho que ela, pelo amor de Santa Brígida.
—Oh. É claro.
Quando ela lhe piscou, Lachlan soltou seu fôlego. Sendo relacionada com
Winnie MacLawry, certamente não era nada de novo. Não era culpa de Jane
Hanover. E pelo menos ele e Winnie tinham—se esclarecido entre eles. A
notícia chegaria aos convidados e ao resto do clã em pouco tempo —com
sorte. —Na realidade —, continuou, colocando um sorriso: —Provavelmente
desejaria conhecer uma gentil moça.
Seu nariz enrugou enquanto lhe sorria. —Acho que você pode ser um pouco
ladino, senhor.
—Sim. Todos os Highlanders são ladinos. Não aprendeu isso?
—Estava me perguntando se os MacLawrys eram a regra ou a sua exceção.
Lachlan riu. —Ambos, reconheço.
Um eco mais agudo, mais encantador que sua própria risada, se voltou para
ele ao longo da trilha. Na parte da frente de seu brilhante grupo, Samston
apontou para um par de raposas galopando através de um pedaço de urze, seu
comentário, evidentemente foi inteligente, o bastante para divertir Winnie. O
sujeito, em seguida, estendeu a mão para pegar as rédeas de Black Agnes e
guiar a égua em torno de um galho de árvore caído.
Bem, isso foi ridículo. Winnie passeou, correu e cavalgou este caminho
durante dezoito anos. Certamente poderia ultrapassar um galho caído. Fora
isso, Black Agnes tinha um gênio, e o tolo poderia muito bem encontrar-se sem
um dedinho para levantar no ar enquanto bebia seu chá.
—Quem é esse Samston? —Perguntou, franzindo a testa enquanto Winnie
agradecia ao colega por sua assistência desnecessária, na verdade, usando a
palavra —cavalheiresca.
—O Conde? —Jane retornou, seguindo seu olhar. —Seu nome é Adam
James. Tem quatro propriedades em Somerset e Derbyshire, e dizem que sua
renda está em algum lugar nas proximidades de oito mil por ano.
O que não dizia quase nada, mas era assim que o Sassenach media um
homem —pela sua propriedade e seu dinheiro. —Mas que tipo de homem ele
é? —Lachlan tentou novamente. —O que seus amigos pensam dele? Ele tem
amigos?
—Eu... Sim. Ele é considerado bom partido. Nas últimas semanas, tem
dado especial atenção a Winnie. Acho que ela gosta dele, mas disse que ele
continua perguntando sobre seu dote. Isso a deixou bastante cautelosa, acho.
—Tomando fôlego ao lado dele. —Se me permite perguntar, porquê? Quer
dizer, se você...
—Seus irmãos não estão entusiasmados em ter Winnie casando-se com um
Sass... um inglês que vai levá-la para longe das Highlands —, interrompeu,
antes que ela pudesse saltar à conclusão de que estava com ciúmes ou algo
assim. —Estou curioso sobre como Samston vai passar na inspeção.
—Oh. Isso faz sentido, suponho.
—Sim. —Claro que faz. Teria que contar a Bear sobre o interesse no dote.
Winnie certamente poderia perfeitamente conseguir mais do que um caçador
de fortunas. Lachlan limpou a garganta. Estava aqui para provar algo para
Winnie, não falar sobre ela. —Então, Lady Jane Hanover, o que está achando
das Highlands até agora?
Seu sorriso reapareceu. —É de tirar o fôlego. Winnie diz que o tempo pode
mudar ferozmente num piscar de olhos, mas neste momento está adorável.
—Nunca é o mesmo duas vezes —, respondeu, apontando para si mesmo.
Era o tipo de lugar que entranhava nos ossos e tendões de seu povo. Ele, por
exemplo, achava vital estar aqui.
—Jane, não deve manter Lorde Gray só para si —, outra mulher disse.
Agora, isso parecia-se mais com ele. Um rapaz podia desfrutar tendo várias
moças bonitas brigando por ele, mesmo que fossem delicadas e inglesas.
Winnie poderia dizer que o achou decepcionante, mas em sua experiência, foi
a única a fazê-lo.
—Estamos conversando, Edith —, Lady Jane retornou, sua expressão mais
divertida que irritada. —Está convidada a participar.
Edith retardou a delicada égua negra que tinha trazido ao norte com ela.
Teria sorte se a besta não quebrasse uma perna apenas descendo para o fundo
do desfiladeiro. —Sobre o que estão conversando, então? —Perguntou, com
um sorriso muito brilhante.
—Sobre o lindo dia com o qual temos sido favorecidos —, Lachlan falou
pausadamente. O que ela não faria por uma queda; Edith parecia totalmente
desesperada por um homem, e provavelmente nunca escaparia se colocasse as
mãos nele. —Há duas semanas tivemos neve.
Edith assentiu, tão atenta, como se tivesse dito a localização do ouro
escondido. —Você é um chefe de clã? Como Lorde Glengask?
—Não. Sou um chefe.
Seu sorriso permaneceu fixo no lugar. —Qual é a diferença?
—O que posso dizer sobre o clã MacTier, um ramo do clã MacLawry.
Tenho relações e aldeões que respondem a mim, e eu respondo a Glengask.
—E podia discutir com Glengask sobre alguma questão, no entanto, isso
acontecia apenas raramente. Ranulf tinha uma visão para o seu clã, e Lachlan
seriamente aprovava.
—Ah, então você é seu tenente.
Era muito mais complicado do que isso, mas, claramente, a fêmea Edith
com seu cabelo acobreado, estava firmemente concentrada em querer saber
quanto poder e influência ele tinha. O que foi um grande negócio, mas não de
uma forma tão óbvia quanto o Marquês de Glengask. —Sim —, disse em voz
alta. —Algo assim.
—E os irmãos de Glengask são chefes?
—Não. Eles impõem a lei de Glengask.
—A lei? Nossa, isso soa muito feroz.
Ele olhou para a frente novamente. Agora que tinham entrado no
desfiladeiro, encontravam-se entre árvores e um conjunto magnífico de quedas
rochosas que corriam para o centro. A trilha curvada em torno de pedras e
clareiras, e na frente do grupo, Winnie e o senhor de cabelos amarelos
escorregaram de sua visão.
Isso não aconteceria. No entanto, apesar de não sentir nada por ela
romanticamente, a única coisa que seus irmãos e ele sabiam, acima de tudo,
era que Rowena deveria ser protegida. E isso significava tanto sua segurança
física quanto a sua reputação. —Desculpe-me —, disse, e cutucou Beowulf
nas costelas.
O grande cavalo baio acelerou o passo, e em um momento, estava
diretamente atrás dos dois. Os outros homens presentes mantinham-se
ocupados com as outras moças; evidentemente queriam deixar o Conde ir com
Winnie em primeiro lugar, antes da próxima mudança de companheiro. Isso era
muito civilizado.
O par na frente dele desacelerou, e chamou Beowulf para coincidir com seu
ritmo. Só conseguia assimilar uma em cada três ou quatro palavras que Winnie
falava, mas foi o suficiente para decifrar que estava dizendo a Samston sobre
o mito local em torno do desfiladeiro, como as esposas dos guerreiros
Highlands mortos em batalha podiam ser ouvidas lamentando-se durante a
noite, como suas lágrimas tinha formado o vale escarpado.
Lachlan se aproximou mais. Tinha ouvido a história inúmeras vezes, mas
Winnie tinha uma maneira de contar as coisas, que poderia fazê-lo se perguntar
se os sons de lamentações distantes que ouvia algumas noites eram gaitas de
foles ou os mortos há muito tempo, e o luto das moças Highlanders.
—É muito romântica, não é? —Samston comentou. —E finge ser tão
prática.
—Sou ambas, acho. Pelo menos, não acho que ser uma, exclua a outra.
—Exclua —, foi isso? Desde quando tinha começado a usar essas palavras
bonitas? Claramente foi algo que aprendeu em Londres, juntamente com seu
novo sotaque. Para uma moça que pensava que o romance significava jogar
flores na parte de trás de sua cabeça, isso foi uma declaração e tanto.
Foi estranho, porém, vê-la baixando os cílios para o Conde, virando a
cabeça a fim de mostrar seu lindo pescoço. Este era um jogo que costumava
funcionar em si mesmo. Mas nenhuma vez, enquanto cavalgavam mais
profundamente até o desfiladeiro, enviou um olhar em sua direção. Disse que
tinha deixado de persegui-lo. Agora, de repente, acreditou.
Deveria estar sentindo-se aliviado, supôs, já que não tinha que andar
cuidadosamente na ponta dos pés entre os machos MacLawry, que não
prestasse atenção ao que dizia, tomando cuidado para não cumprimentá-la,
para evitar acordar casado. Se não tivesse dito que o achou decepcionante,
provavelmente estaria se sentindo aliviado agora. Mas ela insultou-o e à sua
virilidade, e não gostou muito disso. Se tivesse sido encantador com ela,
estaria cantando uma música diferente agora.
O Conde de Samston não parecia achar a noção de Winnie ser romântica
como uma ameaça como Lachlan, porque o afável sujeito inclinou a cabeça e
deslocou seu grande cavalo inglês mais perto de Black Agnes. Por um
momento, Lachlan esperou que a égua mal-humorada puxasse a orelha direita
do alazão, mas só bufou e sacudiu a cabeça. Até o cavalo da moça estava
virando Sassenach.
—Quão longe daqui é sua propriedade?—Uma das irmãs Parker, Susan,
pensou, brilhantemente lhe perguntou, o surpreendendo.
Demasiado para a regra inglesa de não ser apropriado falar com um homem
a menos que uma senhora tivesse sido formalmente apresentada. Tinha
conhecido a maioria delas, de passagem, durante o jantar, embora isso talvez
contasse. Ou talvez as regras tivessem mudado nos nove anos desde que tinha
visitado Londres.
—Gray House é duas milhas ao sul e a oeste da casa principal de Glengask
—, respondeu.
—Mas pensei que toda essa terra fosse propriedade de Lorde Glengask.
Mais conversa sobre as obsessões inglesas como poder, propriedade e
riqueza. —E são. Sua propriedade curva-se sobre a minha e continua de norte
ao leste. Minha propriedade é mais a oeste.
—Oh. É uma sorte que você seja aliado, não é?
Aliado e primo de quarto grau. —Sim —, respondeu evasivamente.
—Você é um chefe de clã, como Lorde Glengask?
Estreitou um olho como o início de uma dor de cabeça começou a pulsar em
seu crânio. —Não.
—Oh. E Lorde Munro? Bear, você o chama assim? Ele é um chefe?
Por muito que os Sassenach vissem os Highlanders como diabos e
bárbaros, as moças pareciam ansiosas o suficiente para saber qual deles
estava para casar. —Algo assim—, disse ele. Bear poderia ter vindo esta
manhã, depois de tudo. O fato é que não tinha —bem, cada um por si.
Finalmente, atingiram a extremidade inferior do desfiladeiro, logo acima,
onde o fluxo girava sobre uma série de pedras achatadas pelo tempo e
mergulhava abaixo, para as encostas mais baixas após a aldeia de Mahldoen, e
mais ao sul das duas principais aldeias Glengask. Era um lugar pitoresco, e
não ficou surpreso que Winnie tenha escolhido para apresentá-lo aos seus
novos amigos.
Ele desceu de Beowulf, mas antes que pudesse chegar em Winnie para
ajudá-la a descer, Samston deslizou seus braços ao redor da cintura dela e a
tirou da sela. O Conde a colocou no chão, mas não tirou a mão. Em vez disso,
ficaram olhando um para o outro, como se o resto da paisagem tivesse deixado
de existir.
Seja qual for o modo que Samston a tratava, maldição, Lachlan não gostou.
Seus irmãos não gostariam, tampouco. Os homens não apalpavam a irmã mais
nova, especialmente homens Sassenach que perguntavam sobre seu dote. Se
ainda estivesse a tentar fazer-lhe ciúmes —e certamente não parecia ser assim
—ela estava bem da cabeça. Sabia como divertir-se e cortejar, como fingir
desmaiar aos pés de um rapaz, ou tropeçar e cair em seus braços, mas aqueles
eram apenas truques femininos para chamar a atenção. Uma vez que tivesse
essa atenção, não teria nenhuma ideia do que fazer a seguir.
Samston saberia, porém, e esse era o problema. —Deveríamos ter trazido
varas de pesca —, Lachlan disse em voz alta, e avançou para empurrar entre
os dois. Poderia fingir ser cabeça dura e alienado se servisse para fazê-lo.
—Poderíamos ter pegado o jantar.
—Estaremos aqui por várias semanas —, comentou o Conde atrás dele.
—Talvez os senhores possam ir pescar em outra ocasião. Quanto a hoje,
prefiro passá-lo em companhia mais encantadora e mais delicada.
—Muito bem dito, Adam —, Winnie colocou um sorriso em sua voz.
Lachlan bufou, desta vez não cobrindo seu aborrecimento com Samston e
sua fala suave. —Sim. Declarando que uma moça pode ser mais bonita que um
peixe é galante, de fato.
Quando se virou, porém, o olhar que Winnie lhe enviou não foi divertido,
exasperado com o qual estava familiarizado. Em vez disso, parecia
genuinamente e profundamente irritada. Meio que esperava que lhe desse um
tapa no rosto e lhe pedisse para ir.
Em vez disso, encarou seus novos amigos e abriu os braços. —Este é um
dos meus lugares favoritos —, disse ela, —e estou tão contente de ser capaz
de compartilhá-lo com todos vocês. Por favor, não se importem com Lorde
Gray; ele ainda pensa que iluminação a gás é mágica.
Todo o mundo riu. Na verdade, pareciam achar o comentário mais divertido
do que a justificativa. Já tinha sido provocado antes, e era geralmente bem-
humorado sobre isso. Afinal de contas, concedia tão bem quanto recebia. Mas
isso não foi uma provocação. Parecia um insulto, e nunca tinha feito isso com
ele antes.
Ficou para trás quando os Sassenach fizeram o seu caminho até a borda do
riacho em movimento rápido. Quando estavam todos ocupados com a vista,
deslocou-se atrás de Winnie. —Então, não somos mais amigos, não é?
—Murmurou.
Seus ombros se enrijeceram, mas ela não se virou. —Pare de insultar os
meus amigos —, sussurrou de volta. —Você não é tão charmoso quanto parece
pensar que é, Lachlan. Peço desculpas se ofendi seu orgulho por não estar
apaixonada por você, mas isso é culpa sua.
—Não me ofendeu —, replicou, apenas lembrando-se de manter a voz
baixa. —Está-se comportando como uma simplória. Perdeu seu juízo
juntamente com o gaélico?
—Estou tentando apresentar aos nobres influentes o lado justo das
Highlands. E está sendo um grande, idiot... você. —Ela trocou, em seguida,
deu um passo para trás até pisar na ponta de sua bota. Firmemente. —Vá
embora.
—Estou protegendo-a.
—Meus irmãos não acham necessário se arrastar atrás de mim hoje, então
não há nenhuma razão para você estar aqui, também.
—Essas quatro moças adoráveis que estão com você me dão vários
motivos, moça.
Finalmente o encarou, com o queixo erguido e os braços cruzados sobre o
peito. —Então por que você está aqui de pé, recusando-se a parar de falar
comigo? —Ela formulou.
Ele olhou-a, seu olhar abaixando aos lábios de aparência suave quando se
achataram em aborrecimento óbvio. Ou foi algum tipo de diversão cínica,
porque pensou que o tinha superado? Sempre foi capaz de decifrar seus
humores sem qualquer problema, de qualquer modo. Por que não podia fazê-lo
agora? E por que estava discutindo com ela, quando um punhado de moças
estava apenas a alguns passos de distância esperando para seduzi-lo?
Foi a primeira vez que ela o deixou perplexo, a primeira vez que ficou de
igual para igual com ele, como se as consequências não importassem para ela,
porque não o faziam. Seus olhos tempestuosos cinzentos praticamente
crepitavam com... alguma coisa. Algo ardente, de qualquer modo e sem
sorrisos afetados ou covardes. Ou ingleses.
Lachlan se aproximou dela antes mesmo que percebesse isso. Então uma
mão tocou o ombro de Winnie por trás, descendo o braço para pegar a mão
dela. —Venha, Rowena —, Lorde Samston falou pausadamente, virando as
costas para a água. —Diga-me como estas flores são chamadas.
Piscando, Lachlan conteve-se novamente. O Conde não tratou Winnie
—Rowena —como uma criança. Sem dúvida, achou isso lisonjeiro, mas foi
bastante óbvio que Samston sinceramente não a via como uma criança.
Nenhum dos cavalheiros Sassenach o faziam. Para eles, ela era uma linda
jovem de título e privilégio e riqueza, a única irmã do homem mais poderoso
das Highlands.
Eles a viam de forma imprecisa, ou era ele? Dada a forma como seu
intestino tinha reagido a ela naquele momento, tinha uma boa ideia de que era
ele. Que talvez —apenas talvez —tenha cometido um erro ao afastá-la antes
que pudesse se familiarizar com a dama que dizia ser.
Poderia dizer para si mesmo que fora pelo melhor, que se fosse atrás dela
e, em seguida, decidissem que não eram compatíveis, causaria uma ruptura
irreparável entre ele e os MacLawrys. Neste momento, porém, o principal
pensamento em seu cérebro era que não gostava de ver outro homem tocando-
a. De modo algum.
Capítulo três
Ranulf movia-se.
Rowena parou na porta do escritório de seu irmão para olhá-lo por um
momento, andando em passos medidos da estante para a janela e voltando
novamente. Apesar de ser treze anos mais velho e de seu pai morrer quando
ela era muito jovem para se lembrar de alguma coisa, a não ser de uma
espessa barba negra fazendo cócegas em suas bochechas, seu irmão tinha sido
mais um pai do que um irmão para ela. E vê-lo menos do que completamente
composto era raro e desconcertante.
—Queria ver-me? —Ela perguntou.
Girando, ele assentiu. —Sim. Sente-se, por favor? —Disse, passando por
ela e fechando a porta.
Seu mal-estar aumentou mais um ponto. —Todo o mundo se tem
comportado, espero. Escolhi cuidadosamente quais os amigos para trazer ao
norte comigo.
—Sei que o fez; Charlotte e Lorde Hest não tiveram uma palavra
inadequada para dizer sobre qualquer um dos Sassenach. Obrigado por isso,
piuthar.
Ela sentou-se em uma das duas cadeiras em frente de sua resistente mesa.
—Você não tem que agradecer. Bear não matou nenhum deles, então, não é?
—Ou talvez devesse estar perguntando sobre o comportamento de Lachlan.
Certamente tinha sido rude e hostil ontem. Isso foi muito diferente da imagem
que tinha na maior parte de sua vida.
Um breve sorriso tocou o rosto de Ranulf quando se moveu para a janela.
—Não. Todo o mundo ainda está vivo. Pedi para Munro se comportar, embora
esteja um pouco inclinado a mandá-lo para Edimburgo, só para ter certeza.
—Não pode forçá-lo a perder seu casamento —, protestou. —Só convidei
as mulheres para fazer uma festa equilibrada, para que não parece... —Ela
parou, corando.
—Então, para não parecer que estava trazendo pretendentes para Glengask
para ver quem melhor se adequaria à família? —Completou, levantando uma
sobrancelha. —Acha que não vi isso no momento em que chegou?
—Eu...
—Falou com Lachlan, não é? —Interrompeu, antes que ela pudesse evocar
uma história alternativa. —Ele disse que —bem —ele...
—Lachlan disse-me que nunca me pediria em casamento —, terminou,
tocada por sua relutância óbvia em causar-lhe dor. —Não precisa de se
preocupar sobre poupar meus sentimentos, Ran. Realmente não tenho nada
para ferir, no que se refere a Lachlan. Eu era jovem e tola, e ele estava...
presente, suponho. —Bonito, alto e magro, claro, mas estava longe de ser o
único homem que poderia se encaixar nessa descrição. Sabia disso agora.
Ranulf soltou a respiração e finalmente assumiu a cadeira do outro lado da
mesa. —Estou aliviado em ouvir isso. Teria acolhido com prazer uma união
entre vocês, mas somente se ambos quisessem.
—Não vale as lágrimas que chorei por ele, meu bràthair.
—Se ele não pode ver você por quem é, então não lhe merecia. —Inclinou-
se em sua cadeira, olhos azuis-escuros avaliando-a. —Tenho algumas coisas
para dizer-lhe, e não quero que bata em mim até ter escutado tudo.
Oh céus. —Concordo —, disse ela lentamente. Se estava indo para lhe
dizer que nenhum dos lordes ingleses eram aceitáveis, antes que se
incomodasse em familiarizar-se com qualquer um deles, iriam definitivamente
discutir.
—Há algumas semanas atrás quis que Arran se casasse com Deirdre
Stewart, para nos dar uma aliança com o clã Stewart. Então, o nosso irmão foi
e perdeu a cabeça por Mary Campbell, e pensei que estávamos prestes a entrar
em guerra aberta novamente.
—Mas nós temos uma aliança com os Campbells agora, não é? —Perguntou
ela. —O avô dela declarou a paz, e você concordou com isso.
—Sim. Concordei com paz. Não chamei de aliança. Mais uma decisão
mútua de deixar o outro viver. —Fez uma careta, depois limpou a expressão
de seu rosto. —Tenho pessoas para cuidar. Aldeões que já fugiram dos
MacDonalds e Campbells e que precisam de casas e emprego, educação para
os jovens, os moinhos que precisam funcionar, e uma centena de outras coisas.
O que acontece é... Tenho três rapazes em mente para você. Lorde Robert
Cranach e James MacMaster do clã Buchanan e Niall Wyatt, Visconde de
Cairnsgrove, do clã Watson.
Seu coração bateu doentio em seu peito. —Um casamento arranjado? Mas...
—Não. Não com tantas palavras, de qualquer maneira. Durante a maior
parte de sua vida pensei que fosse casar com Lachlan. Não havia nada para
pensar sobre isso. Agora, porém, reconheço que está procurando um
casamento por amor. Se estiver disposta a considerar todos esses rapazes
Sassenach, não poderia considerar um Highlander ou dois, também? —Ele
olhou para suas mãos por um momento. —Não escolhi os nomes em um
chapéu. Todos passaram algum tempo em Londres. Dois deles têm casas lá.
Isso a tocou profundamente. Há alguns meses atrás, ele tinha tudo, mas
jurou que nunca permitiria que ela colocasse os pés fora das Highlands, e
agora... isso. —Eu estou ouvindo —, disse em voz alta.
—Não iria forçar qualquer um deles em você, piuthar, mas o clã Buchanan
está deixando escapar algumas excelentes oportunidades para expandir o seu
valor, e os Watsons poderiam aumentar a sua construção naval com um pouco
mais de dinheiro e mão de obra.
Estava pedindo. Ranulf não estava ordenando ou ditando, ou proibindo-a de
fazer o que quisesse. Isso por si só a desequilibrou, assim como a maneira
como tinha acabado de falar com ela —como se fosse uma igual. Uma adulta.
—Tem alguma preferência? —Perguntou, satisfeita que sua voz permanecesse
fria e nivelada.
Seu irmão levantou a cabeça. —Honestamente? Ou então poderia chutá-lo
nas partes baixas?
Isso a fez sorrir. —Honestamente, se quiser.
—Lorde Robert Cranach. Ele tem vinte e quatro, e pelo que ouvi dizer, tem
um espírito mais progressista do que a maioria do seu clã.
Rowena assentiu. —Não vou prometer nada, mas além de admirar a forma
como Lorde Samston dança, não tenho nenhum apego real a qualquer um
desses senhores. Ainda não, pelo menos. Então, não tenho nenhuma objeção
em encontrar-me com Lorde Robert ou qualquer um dos outros homens que
você mencionou.
Por um longo momento, ele olhou-a. —Continua a surpreender-me, Rowena
—, disse ele, finalmente, —mesmo quando espero mais de você.
Nunca tinha recebido um elogio melhor. —Obrigada, a você, por me dizer
isso.
—Vou dizer mais uma coisa, piuthar, que deveria ter dito há semanas atrás.
—De repente, se levantou e deslocou-se para a cadeira ao lado dela, onde
tomou uma de suas mãos nas suas. —Pensei que tinha o direito disso, mantê-la
longe de Londres. Preocupei-me que fosse preferir essa vida mole e os
homens, muito mimados, de lá. Tanto me provou o contrário e levou-me a
Charlotte. Não é mais uma criança, Rowena, e estou satisfeito e orgulhoso da
verdadeira moça Highlander em que se tornou. Que você é.
Mas isso não era quem ela era. Preferia Londres. Mas olhou para cima,
para este homem durante toda a sua vida, e ouvi-lo dizer que estava orgulhoso
dela... —Traga-me seus formosos rapazes Highlander, bràthair—, falou, com
a voz tremendo um pouco. —Estou pronta para ser encantada.
Ranulf levantou a mão para beijar os nós dos dedos. —Basta ter em mente
que não vai estar encantada sem meu consentimento ou permissão.—Com um
sorriso, a soltou novamente. —Agora pode ir.
—Estamos caminhando para An Soadh hoje, se quiser juntar-se a nós.
Arran e Mary estão vindo. E Bear.—Enviou-lhe um sorriso malicioso. —E
Charlotte pediu para ser apresentada a alguns dos nossos aldeões.
—E deixou isso por último, não é?—Soprando o fôlego, se levantou e
caminhou até abrir a porta do escritório novamente. —Vou-me juntar a vocês.
E vou estar apresentando minha dama ao nosso povo, muito obrigado.
Agora só precisava ir dizer a Charlotte que Ranulf queria ir até An Soadh
com eles, e teria todo o grupo de Londres juntando-se a ela. E pensar que
nunca tinha hospedado ninguém antes. Estava começando a acreditar que tinha
um talento especial para este tipo de coisas.
Virou-se no corredor e chocou-se com um peito amplo e vigoroso.
Cambaleando para trás, olhou para cima com um pedido de desculpas em seus
lábios, quando dois braços fortes agarraram seus ombros para estabilizá-la.
—Sinto muito, eu não... Ah. Bom dia, Lachlan.
Ele olhou-a, com as mãos ainda em seus ombros. —Bom dia, Winnie. Ouvi
dizer que estava levando seu grupo para a aldeia hoje. Pensei em juntar-me a
vocês.
Se pretendia se comportar mal como fez ontem, não queria que fosse junto.
Não o queria perto de qualquer maneira, porque seria muito mais fácil ignorar
alguém quando não estava presente. Mas dizendo-lhe só iria alargar o abismo
entre eles. —Não precisa de minha permissão.
—Bem, pensei em perguntar—lhe, de qualquer maneira. Dissemos algumas
palavras ontem.
—Dissemos? Tive tanta coisa para ver ultimamente. Devo ter esquecido.
—Esqueceu, então? Que sorte a minha.
Quando não demonstrou nenhuma inclinação para se mover, ela saiu de seu
aperto. —Sim, suponho que sim. Por que se por acaso me lembrasse,
provavelmente ficaria irritada por estar se comportando como uma criança
petulante.—Passou por ele. —Apenas tente não me envergonhar novamente.
Antes que pudesse piscar, suas costas estavam contra a parede e o dedo
espetado entre seus seios. —Olhe para mim—, ele murmurou, sua voz baixa e
com raiva.
Ela ergueu o olhar para atender seus longos cílios e olhos verdes. O que
quer que tenha acontecido com seu habitual bom humor, esta versão do
Lachlan MacTier —a que ela tinha encontrado ao longo dos últimos dois dias,
a deixava... inquieta. Nada como os sentimentos doces e lisonjeiros, as
risadinhas que sempre tivera em volta dele antes. —Estou olhando para você
—, respondeu, mantendo a voz nivelada.
—Não sou um tolo, moça—, continuou no mesmo tom duro. —Não sou um
cão, que pode dar um tapinha na cabeça e mandar para o canil. Se não me
quiser por perto, então diga, e vou decidir se concordo com você. Mas vou
dizer o que penso, e vou dizer algumas coisas quando um dos seus belos
Sassenach agir de uma forma que for indigna de ti.
O coração dela deslizou um pouco, e não gostou da sensação. —Já que
você é o próprio retrato de alguém que não é digno de mim, terá que esperar
se vou ou não levar sua opinião em consideração.
Com um meio grunhido, inclinou-se para uma respiração mais perto,
pairando sobre ela, como uma estátua viva de granito, vigorosa e aquecida.
Então, virou-se e caminhou pelo corredor.
Rowena caiu contra a parede. Quando Lachlan tinha finalmente lhe dito o
que ela já sabia, que não tinham um futuro juntos, pensou que poderiam
continuar amigos. Afinal, tinham dezoito anos de história mútua. Sabia que
podia ser bem-humorado e afável. Talvez, porém, só tivesse sido quando ele
se considerava um quarto irmão para ela.
Como lhe havia dito, não precisava de outro irmão. Certamente nunca o
vira assim. O que acabara de se tornar claro, no entanto, foi que ele realmente
tinha visto a si próprio como só isso. E agora tinha alterado a forma como a
olhava, e qualquer que fosse a indulgência que sentia parecia ter
desaparecido. Lachlan MacTier não era bem o que tinha pensado —e isso, por
si só, invertia as coisas. Se suas próprias percepções estivessem erradas...
Estremeceu. Ranulf apenas apresentou seus três novos pretendentes, e tinha
um grupo de quinze Sassenach perto de An Soadh, e tinha que mantê-los
entretidos e felizes. Se Lachlan pretendia criar problemas, colocaria um fim a
isso. Não parecia que poderiam ser amigos por mais tempo, e se ele pretendia
tornar-se um inimigo, ficaria triste, mas ela iria tratá-lo como um.
—Eu ouvi Lachlan?—Disse Ranulf, fazendo-a saltar quando saiu de seu
escritório.
—Sim. Dirigiu-se para o quarto de Bear.
—Bom. Tenho nove chefes vindo para o casamento, e não tenho a menor
inclinação para permitir que a minha celebração se transforme em uma briga,
porque não tenho whisky suficiente à mão.—Fez uma careta. —Minha cabeça
já está batendo com o pensamento de todos os gaiteiros competindo para nos
acordar de manhã.
—Talvez você e Charlotte devessem ter seguido o exemplo de Arran e
Mary e fugido—, sugeriu, forçando um sorriso. Se havia uma coisa que Ranulf
não precisava adicionar ao seu prato era a sua rivalidade —se é o que foi isso
—com Lachlan.
—Não me tente, moça—, ele retumbou, e beijou-a na bochecha quando
passou.
Ainda tentando livrar-se da ideia de que não conhecia o homem por quem
estava obcecada há quase duas décadas, Rowena foi procurar Charlotte
Hanover.
***

—Está com um olhar tempestuoso—, Bear MacLawry comentou.


Lachlan olhou de soslaio para seu amigo, depois voltou a olhar para Loch
Shinaig, enquanto passeavam no caminho ao longo da sua costa. —Sua irmã
me deu ordens para não a envergonhar—, disse rigidamente.
—Me adverti sobre isso, pelo menos uma vez por dia—, disse seu irmão
com um encolher de ombros. —Parece que Sarah Parker continua me olhando.
O que acha?
—Não lhe incomoda que se envergonhe de você?—Lachlan persistiu.
—Não soltava meu braço ontem à noite. Não acho que isso seja vergonha.
—Sua irmã, seu amadan[6]. Não Sarah Parker.
—Mantenha seus malditos insultos para si mesmo. Winnie é uma dama
agora, Lach. Fez uma reverência à Rainha para tornar-se assim. Só está
abalado, porque não está mais inconvenientemente suspirando por você. Terá
que se acostumar a não ser melhor do que o resto de nós.
Talvez isso tenha sido o problema; ontem ela o surpreendeu, talvez pela
primeira vez. E a maneira que Samston ficou colocando a mão em seu braço,
como se fosse o maldito dono dela, ou algo assim —não, ele não gostou, e não
queria se acostumar a ser... classificado e descartado como alguém indigno de
seu tempo.
Poderia desfilar ex-amantes na frente dela, supôs, e mostrar-lhe o quanto a
opinião dela sobre ele importava. Mas ao longo dos anos, tinha sido tão
cuidadoso para não deixá-la saber que tinha amantes, ou qualquer outra coisa
que pudesse desnecessariamente machucá-la, que parecia cruel empurrá-la
agora só porque o havia irritado.
Uma mão enrolou em torno de seu braço, e manteve-se apenas um pouco de
esquivar-se. Em vez disso, deu um suspiro e olhou para os lados. —Lady Jane
—, falou pausadamente, uma estranha combinação de alívio e decepção
atravessando-o.
Jane Hanover sorriu-lhe. Parecia definitivamente menos inclinada a
empinar seu nariz no ar do que as outras moças Sassenach, isso falava a seu
favor, tanto quanto ele estava preocupado. Tinha-se tornado a melhor amiga de
Winnie, o que o deixou desconfiado, mas também tinha sido avisado para ficar
longe dela, coisa que hoje o fez sentir-se contrário.
—Todos parecem tão animados pelo casamento de Charlotte com Glengask
—, disse ela, apontando para a frente do grupo onde o casal caminhava de
braço dado. —Quando foi o último grande casamento realizado aqui?
Lachlan teve que pensar nisso por um momento. —Os Stewarts tiveram um
grande acontecimento há cerca de oito anos, mas não me lembro de outro onde
os MacLawrys fossem convidados a participar. Tivemos reuniões menores,
mas não há uma coisa como o casamento do chefe do clã.
—Parece ser muito como um casamento real, não é?
—Sim. Aqui, Glengask é da realeza. Nenhum dos outros clãs pode igualar-
se pelo poder nas Highlands.—Respirou, um breve mal-estar atravessando-o.
—E para este casamento teremos dois clãs aqui —os MacLawrys e os
Campbells. O próprio Duque de Alkirk e a sua comitiva. O Campbell.
—Caramba! Não tinha ideia que os Campbells estavam vindo. Um deles
atirou em Arran há apenas uma semana.
—Não tem que lembrar-me disso, moça. Mas Ranulf quer uma paz
duradoura, por isso vamos ajudá-lo a forjar isso.
Ela abaixou os cílios um pouco. —Isso soa muito corajoso.
Um aviso muito diferente começou a soar em seu crânio. Ele encolheu os
ombros. —Se isso der certo, será um bom encontro onde todos estaremos
muito bêbados para lembrar.
—Oh, mas quero me lembrar disso. As Highlands são magníficas.
—Sim, elas são. Dizem que pode sair de sua porta todas as manhãs e nunca
ver a mesma vista duas vezes. A...
Alguém chocouse com ele por trás, fazendo-o dar um passo para o lado.
—Teremos que encontrar um cachecol ou um lenço com a manta dos
MacLawrys, Janie—, Winnie interrompeu, movendo-se entre eles e tomando o
braço de sua amiga. —Charlotte será apresentada com as cores do nosso clã.
—Meu pai disse que Ranulf quer que ele use um kilt—, Jane retornou,
rindo. —Está-se preparando para ficar constrangido.
—Não há nada embaraçoso em vestir um kilt—, Lachlan protestou.
—Vocês Sassenach são muito confusos.
Mesmo quando falou, porém, sua atenção estava em Winnie. Estava
tentando proteger Jane de sua gentil e irresistível conversa? Ou apesar do que
já lhe tinha dito em várias ocasiões, estava com ciúmes por estar conversando
com sua amiga? Se fosse o último, alguém precisava descobrir o que queriam.
E ele não estava totalmente certo se ela estava tentando confundir alguém.
Maldição, estava irritado; ela nunca tinha ocupado seus pensamentos como
agora, antes. Problemas. Isso é o que ela era. Problemas.
—Lachlan—, disse, com a voz gélida, —Bear lhe disse que estamos
realizando uma reunião na semana do casamento? Ranulf aprovou; acha que
vai manter todos muito ocupados para causar problemas. Pedi para Bear fazer
os arranjos, visto que estou ocupada com meus convidados e os eventos do
casamento.
—Sim, ele me disse.—Embora tivesse suas dúvidas de que lançar cabers[7]
e espadas e atirar pedras nas mãos dos Highlanders seria uma maneira de
evitar problemas.
—Deveria ir dizer-lhe que vai ajudar. Ou prefere acompanhar as moças
enquanto vamos às compras?
Ele estreitou os olhos. Talvez tivesse sido uma indigestão, ao invés de uma
confusão momentânea. Seu cozinheiro chefe estava emprestado a Glengask,
afinal, e o ajudante do cozinheiro tinha desenvolvido uma obsessão por banha.
Endireitou-se para olhar sobre a cabeça de Winnie para Jane. —Gostei da
nossa conversa, moça—, falou pausadamente. —Se desejar saber mais alguma
coisa sobre as Highlands, terei prazer em dizer-lhe.
—Obrigado, Lorde Gray—, ela retornou, corando lindamente.
—Provavelmente vou aproveitar essa oferta muito gentil.
—Estou ansioso para isso.—Esboçou uma breve reverência e, então
deliberadamente olhou para a sua companheira, claramente irritada. —Winnie.
—Lachlan.
Antes que ela pudesse surgir com alguma outra tarefa para ele, alongou seu
passo para colocar alguma distância entre si e as duas mulheres. Ir diretamente
para Bear, fazia-se sentir que tinha sido mandado, então desacelerou ao lado
de Arran e da sua noiva Campbell, que andavam cuidadosamente no meio do
grupo. —Sua irmã é malditamente irritante—, retumbou.
—Esta é sua primeira vez dando uma de anfitriã—, disse o irmão do meio
MacLawry com um sorriso cortês. —E uma vez que a ocasião é o casamento
de Ranulf, também vai ser sua última, dando de anfitriã. Aqui, de qualquer
maneira. Tenha um pouquinho de paciência. Ou morda um galho. Isso funciona,
também.
—Rowena está indo muito bem, eu acho—, Mary Campbell MacLawry
disse. —Com apenas dezoito anos e equilibrando convidados estrangeiros, um
casamento, uma reunião de clã, e um influxo de meus parentes, não estou certa
se poderia gerir tudo isso na sua idade.
—‘Na idade dela’,—Arran imitou em seu profundo sotaque. —Não há mais
de três anos de diferença entre vocês. E você me fez um amante Campbell.
Não tenho dúvidas de que você poderia gerenciar um casamento e um
encontro.
Ela inclinou-se contra o seu ombro. —Vou ajudá-la tanto quanto puder, mas
ainda estou feliz por não ter tudo isso em meus ombros.
Lachlan respirou, tentando não vomitar com toda a doçura excessiva. —O
que quer que esteja sobre seus ombros, não vou tê-la gritando e me dando
ordens como se eu fosse algum tropeiro.
—Ela está requisitando todos nós aproximadamente—, Arran retornou.
—Seu kilt está torcido, porque não está arrulhando e bajulando mais você. É
apenas um dos rapazes, agora, Lach.
Não podia ser isso. Winnie nunca tinha sido tão insuportável ou
imprevisível como estava sendo desde que retornara de Londres. Todos
aqueles dias amenos e a manifestação de elogios de homens amáveis, a tinham
mudado. Claro, Arran não viu, porque tinha sido seduzido por Londres,
também. E assim tinha sido Ranulf, mesmo; há alguns meses, o Marquês teria
queimado sua própria casa antes que tivesse qualquer Sassenach dormindo sob
o mesmo teto. Agora, estava-se casando com uma deles.
—Você perdeu o juízo, Arran—, resmungou. —Está apaixonado, por isso
em todos os lugares que lançar seus olhos não vai ver nada além de ouro e
arco-íris. Vou conversar com Bear.
Arran bufou. —Se Munro é sua última esperança para uma discussão lógica
e imparcial, então pode atirar-se no lago.
Ignorando isso e as risadas contínuas atrás dele, Lachlan fez o seu caminho
através do grupo de ombreiras e sapatos impraticáveis para encontrar Bear
não apenas escoltando Sarah Parker, mas sua irmã Susan, também. O grande
homem fez como um desafio, mas duas moças inglesas com seu primo presente
parecia um bocadinho perigoso, mesmo para Munro.
Teria que encontrar um melhor momento para avisar o mais jovem do sexo
masculino MacLawry que sua irmã precisava ser refreada. Em vez disso, tudo
o que podia fazer no momento era manter um olho sobre ela. Com quartos
extras para chefes e outros hóspedes menos amigáveis, sendo preparados, tudo
o que aconteceria seria Winnie dar a alguém quartos errados porque a cor do
quarto combinando com seus olhos ou algo assim, e outra guerra iria sair nas
Highlands.
Samston e o companheiro de queixo estreito, Arnold Peabody, se juntaram a
Winnie e Jane. Caminharam lado a lado com os homens do lado de fora,
efetivamente isolando-a dele, fosse essa sua intenção ou não. Se ainda
quisesse se aproximar dela ou não. O que não fez, exceto que precisava
perceber que não era o seu cão de estimação. Ela tinha Fergus e Una,
atualmente para tomar conta de Ranulf, por trás.
—Winnie disse que existem duas aldeias nas terras Glengask—, disse outra
voz feminina, e virou a cabeça para ver outra das moças inglesas, Lady Edith
Simms, com suas saias nas mãos, quando corria para alcançá-lo.
Ah, aquela desesperada. A moça de cabelos castanhos que não era muito
alta, em comparação com sua altura. No entanto, estava sorrindo, e não lhe
estava dizendo que era decepcionante e seria bom saber. Nem tinha sido
advertido para ficar longe dela, como tinha sido de Jane Hanover. Pelo menos
não estaria declarando que ele era um idiota.
—Sim—, retornou, oferecendo seu braço. Enrolou seus pequenos dedos em
torno de sua manga, e não pode deixar de se sentir algo como um gigante
desajeitado ao lado dela. Winnie era, pelo menos, uns centímetros mais alta, e
não se sentia como se ele se elevasse sobre ela, especialmente quando estava
com raiva.
—Onde está a outra aldeia?—Perguntou Edith.
Estremeceu. Isto não era sobre Winnie. Isso era sobre ele divertir-se e
esses visitantes apesar do comportamento irritante da mais nova dos
MacLawrys. —É cerca de duas milhas ao sul daqui—, respondeu. —O riacho
que percorreu a cavalo ontem cai no caminho para Mahldoen. E há outras
aldeias, mas são menores e mais dispersas.
—Deve ser tão solitário aqui em cima—, disse depois de um momento.
—Mora em Gray House sozinho?
—Sim, exceto pelos criados. Acho que é por isso que passo a maior parte
do meu tempo livre em Glengask. Fomos todos praticamente criados juntos.
—Ah—, disse, balançando a cabeça como se tivesse respondido algumas
perguntas dela. Foi curioso.
—Será que vou resolver algum enigma para você, moça?
—Winnie nos contou tudo sobre Glengask enquanto viajávamos para o
norte. Disse que você era um primo, exceto que estava mais para um irmão.
—De terceiro ou quarto grau, ou alguma coisa assim. Minha avó era uma
MacLawry, uma prima do chefe.—Todas as vezes no passado que tentou
apontar que eram uma família, Winnie tinha tomado cuidado de salientar como
distantes estavam relacionados. Agora ele ia fazê-lo. —E Winnie não pensou
nos familiares quando andou chamando-se Lady Gray.
Edith riu. —Mal posso culpá-la. Você é o que chamaríamos em Londres de
um homem bem-apessoado, meu senhor.
Lachlan sorriu. —Me chame de Lachlan, moça. E sente-se no meu castelo e
veja o mundo através de minhas janelas.
—Lachlan, então.
Enquanto ele e os MacLawrys preferiam passar seus dias do lado de fora,
isso claramente não era verdade para grande número dos de Londres. Na
metade do caminho para a distante An Soadh já estavam suando e soprando
como cavalos cansados. A conversa diminuiu, e estava bastante certo de que
metade deles teria desistido e retornado, se o caminho a seguir não fosse
menor do que o caminho de volta.
Estando no alto das montanhas, não era surpresa, mas como Winnie acharia
irresistível um homem com o rosto manchado, rolando no chão e engolindo o
ar? O braço de Arran tinha sido baleado há dois dias, e ele não estava sequer
respirando com dificuldade.
—Você está sorrindo—, Edith apontou ao lado dele, seu tom de voz um
pouco ofegante, bem, e o aperto em seu braço parecendo mais para apoio do
que quaisquer razões de flerte. —Me diga qual é a graça.
Sim, poderia fazer isso, e ter Winnie gritando com ele novamente. Lachlan
alisou sua expressão. —Nós tivemos quatro dias de sol seguidos—, falou
pausadamente. —Isso é o suficiente para fazer qualquer Highlander sorrir.
Isso pareceu satisfazê-la, porque sorriu e acenou para ele. —Ah sim.
Winnie diz que agora estamos vendo a paisagem no seu melhor momento. Ela e
Samston vão montar na parte da manhã para ver um vale onde as paredes e o
chão estão simplesmente cobertos de jacintos.—Suspirou e recostou-se ainda
mais contra ele. —Isso soa romântico, não é?
—Sim—, retumbou, fixando outro olhar na nuca do Conde.
—Sabe onde é este vale, Lachlan? Talvez pudesse levar-me lá.
—Não me recordo—, mentiu, não querendo ser arrastado em um romance
simplesmente porque sua atenção estava em outro lugar.
Alguém precisava avisar Ranulf que sua irmã estava fazendo papel de boba
com um fidalgo Sassenach caçador de fortunas. O Marquês iria colocar um fim
nisso mais rápido do que uma bala. Ou com um tiro, se Samston não tomasse
cuidado.
O que diabos Winnie estava fazendo, afinal? Conseguiu ter a temporada que
queria em Londres, mas isso não era motivo para estar dizendo aos velhos
amigos que foi criada com eles ou para desfilar na frente desses tolos ingleses
vestida elegantemente. Essa tática não funcionava com ele, mas os homens
Sassenach não a viam do jeito que ele a via.
Quando chegaram a An Soadh manteve um olho sobre ela, como todos os
seus irmãos estavam preocupados com as fêmeas. Alguém tinha que tentar
manter um olho nela —ou de ser —tola. Quando os aldeões perceberam que
Lorde Glengask e sua noiva estavam a pé na aldeia começaram a aparecer de
todos os lugares, e a multidão de Londres se separou em grupos menores para
visitar a pitoresca aldeia.
As damas de Londres sem dúvida ririam das seleções limitadas da loja de
roupas, mas nunca tinha encontrado uma falha com qualquer coisa da Sra.
Todd, a padeira. E, claro, Ranulf já estava discutindo com o fabricante de lã
onde tecia o xadrez MacLawry, bem como um punhado de outros a serem
enviados para a América e nordeste, e a fábrica de cerâmica que tinha
decidido construir por causa do mercado surpreendente que tinham encontrado
para artigos que tinham imagens de cardos e urzes.
Glengask tinha começado várias empresas cujo objetivo principal era
vender mercadorias para Highlanders desenraizados, forçados a se deslocar
para as cidades, ou mesmo para o exterior. A maioria das instalações
localizavam-se em Edimburgo, embora algumas houvessem surgido em torno
do rio Dee e impulsionado suas próprias aldeias para abrigar os operários.
Ele tinha ouvido tudo isso antes, e tinha ajudado com a logística e a
convencer Highlanders desconfiados e hostis, que mudar seu presente não os
obrigaria a apagar seu passado. Foi a parte mais difícil de ser um chefe de clã,
encontrar formas de preservar as tradições escocesas, enquanto caminhavam
para um futuro mais confortável. E, quando bem sucedido, também era a coisa
mais gratificante de ser Lorde Gray.
—Estou perto de depreciar essa canção cada vez que ouço este conto—,
Bear disse, afastando-se das fêmeas enquanto se aproximava. —Acha que os
Sassenach dão a mínima sobre alguma coisa disso?
—Não. Não há nenhum homem entre eles que viu uma casa de família ser
queimada para abrir caminho para ovelhas. Não me surpreendo ao descobrir
que eles ordenaram, porém, de suas aconchegantes casas no sul.—Seu olhar
foi para Samston —exceto que o Conde estava longe de ser visto. E também
Winnie.
—Você é um jovem cínico, Lach.
Estremeceu, olhando para trás, para Bear. —Sim, suponho que sou. Prefiro
ser cínico do que desiludido.
As sobrancelhas de Bear uniram-se, mas antes que pudesse comentar,
Lachlan deixou a multidão. Não seria bom para Winnie se dissesse a todos que
ela tinha ido para algum lugar com Samston, e não conseguia explicar a si
mesmo por que estava caminhando em outra direção. Homens de linhagens
estúpidas e delicadas, que olhavam todos com desprezo por cima de seus
narizes e pensavam que isso os fazia inteligentes —como alguém poderia
achar um deles atraente? Como Winnie poderia fazê-lo, quando tinha seus
próprios irmãos, e ele, como exemplos?
Ele a viu e Samston inclinados sobre a cerca que confinava o par de vacas
Highlanders do Sr. Addie. Sem dúvida, o Conde achou por bem comentar
sobre seus cabelos compridos e desgrenhados, e iria compará-los com os
elegantes Herefords preto e branco de seu país. E Winnie riria e piscaria os
olhos, não importando o que estava dizendo, enquanto prestava atenção nela.
Samston encarou-a, tocando seu cotovelo com uma mão e, em seguida,
puxando a palma para baixo do braço para agarrar seus dedos. E Winnie
—Winnie —colocou seu rosto em sua palma. O gesto foi sensual e íntimo, e
não o tipo de flerte em que uma garota com personalidade se envolveria.
Mas, em seguida, Winnie —Rowena —não era mais uma criança, não mais.
Lachlan observou-a novamente. O exuberante cabelo preto enrolado em um
par de tranças que a criada dela, Mitchell tinha feito laços pelas costas, fios
escapando para acariciar seu rosto oval na brisa fresca saindo das montanhas.
Um irreverente e inútil chapéu de palha, sombreava metade de seus olhos,
aprofundando sua cor para o cinza suave da pele do gato selvagem escocês.
Bem sabia que tinha um temperamento para corresponder. O vestido de
passeio verde e branco era sem dúvida a última moda de Londres, e a forma
como ele pressionava contra suas curvas e sua forma esbelta com o pulsar da
brisa...
Engoliu em seco. Deus do céu. Quando isso tinha acontecido? Estava
bastante certo de que era uma criança há três meses. Quando retornou lhe disse
claramente que nunca lhe iria pedir em casamento, e praticamente riu quando
concordou com ele —ela era uma criança então, não era? Uma menina
petulante e impulsiva que se voltava para ele porque lhe tinha sido negada a
sua obsessão favorita?
As Highlands, o mundo, estalou em sua orelha. O retrato dela que tinha
memorizado em sua mente da menina com um rasgo em sua saia com babados e
nós em seu cabelo já não existia. Rowena MacLawry era uma jovem
incrivelmente atraente, e ainda não tinha visto isso até que outro homem
colocou as mãos nela.
Luxúria, ciúme, raiva o impulsionavam, mais quentes do que o sol de fim
do verão, e se afastou antes que qualquer um deles pudesse observá-lo e vê-lo
em seu rosto. Era evidente que tinha cometido um erro em mandá-la embora. E
agora precisava acertar as coisas antes que o pomposo Samston colocasse um
anel em seu dedo.
Não deveria demorar muito. Afinal, esteve apaixonada por ele por quase
todos os seus dezoito anos. E uma vez que a lembrasse disso, e a informasse
que agora a via como a bela moça que era... Bem, as coisas estavam prestes a
mudar.
Capítulo quatro
—Mas, esplêndidas como são as Highlands, Rowena—, Adam James
murmurou, olhando-a com seus lindos olhos castanhos, —não podem se
comparar a você.
—Oh...
—Silêncio—, ele interrompeu. —Vou-te beijar agora.
Parecia um anúncio totalmente desnecessário, dada a forma como a
conduziu para trás da casa do Sr. Addie. Não estava certa se o conhecia ou
confiava nele o suficiente para que se beijassem, mas alguém precisava ser
seu primeiro beijo. Antes que ele se tornasse muito apegado a ela, Rowena
também precisava informá-lo que Ranulf tinha escolhido outros três homens e
que concordou em se encontrarem. Mas um primeiro beijo era um primeiro
beijo, e não se sentia inclinada a desencorajá-lo. Se nada mais fosse, seria
mais um item que poderia riscar de sua lista de coisas que Lachlan não tinha
feito por ela.
A boca dele baixou sobre a dela, quente e suave e nada molhada (como
Jane a tinha avisado). Ela pressionou os lábios contra os seus... e lembrou-se
de dobrar um dos joelhos e levantar o pé algumas polegadas do chão como ela
e Jane tinham praticado no espelho em Hanover House durante toda a
temporada. Apesar de tudo, isso foi muito bom, se pudesse dizer isso a si
mesma.
Ele começou a se afastar, em seguida, com um rápido olhar para além de
seu ombro, fechou sobre ela novamente, agarrando-a ainda mais. Seus lábios
sentiram-se esmagados, e seu nariz enterrou-se no lado de sua bochecha.
Rowena ergueu a mão para afastá-lo. Isso não foi nada romântico, pelo amor
de Santa Brígida.
—Aí está você—, veio a voz de Jane, seguido por um guincho feminino.
—Oh céus!
Adam afastou-se dela, uma ligeira careta cruzando suas feições. —Peço
desculpas, Lady Rowena—, disse. —Excedi os limites do decoro. E Lady
Jane, peço a sua discrição.
Tudo parecia tão exagerado —e tão... ensaiado. Rowena fez uma careta
para ele. —Queria que alguém nos visse beijando?—Claramente, seu decoro
não foi ultrapassado, porque ainda não tinha esquecido o sotaque apropriado
que havia adotado.
—Eu... nunca faria algo tão dissimulado—, protestou, corando.
Não tinha corado quando a tinha beijado. Isso foi sobre o que a sua careta
tinha sido —queria que alguém que não fosse Jane os descobrisse. —Bem, não
precisa se preocupar, então—, disse, decepcionando-o com o seu
constrangimento. Quão simples e ingênua pensava que seria? Especialmente
depois de seus repetidos e —educados questionamentos—sobre o que Ranulf
lhe daria após seu casamento. —Jane vai guardar nosso segredo.—Afastou-se
dele sem olhar para trás e tomou o braço de sua amiga.
—Queria que fosse agradável para você, minha senhora. Cometemos um
erro, atraídos um pelo outro pelo nosso consentimento recíproco...
—Pare de falar—, ela atirou de volta. —Não sou estúpida.
Jane fungou para ele. —E se puder fazer uma observação, Lorde Samston,
você não tem ideia de como é sortudo de que fui eu que os vi. Dizer a qualquer
um de seus irmãos que você beijou Winnie, especialmente quando ninguém
mais vai corroborar com essa afirmação, será muito mais propenso a resultar
na sua morte, do que oferecendo-lhes a mão de Winnie e seu dote.
—Não tenho ideia por que sente a necessidade de me atacar—, o Conde
disse rigidamente. —Tudo o que fiz foi pedir a sua discrição.
—Isso, e beijou-me uma segunda vez quando percebeu que alguém estava
vindo. Isso não é paixão mútua, meu senhor. Isso é ganância. Venha comigo,
Jane. Quero mostrar-lhe a padaria.
Com um movimento brusco de suas saias, rebocou Jane ao virar na esquina
da cabana do aldeão. —Sabia que ele queria te beijar?—Sua amiga sussurrou.
—Pensei que quisesse. Não tinha certeza se gostava de mim, agora, no
entanto, já tive o bastante disso.
—Acho que gostava de você. Se não estivesse tão desesperado pelo seu
dinheiro, poderia ter tido ambos.—Jane franziu o nariz. —Talvez seja uma
coisa boa que se comportasse dessa maneira.
—Não vou discutir isso.—Rowena tentou produzir uma risada, mas agora
ocorreu-lhe que teve seu primeiro beijo e que não tinha sido por paixão, mas
porque Adam queria dinheiro, poder ou algo assim; não se sentia terrivelmente
divertida.
Quando voltaram para o centro da aldeia e o resto do seu grupo, enviou um
olhar cauteloso para Ranulf. Seu irmão mais velho tinha uma expressão
modesta, divertida, seu olhar em Charlotte, e relaxou um pouco. Arran parecia
igualmente ocupado com Mary, e Bear foi apanhado novamente pelas irmãs
Parker. Eles não tinham notado seu desvio, então —algo altamente incomum e,
dadas as circunstâncias, muito bem-vinda.
—Posso-lhe fazer uma pergunta?—Jane soltou o braço dela, mas ficou por
perto. —Mas não precisa ficar com raiva. É apenas uma pergunta.
—Pode-me perguntar qualquer coisa, Janie—, retornou, imediatamente
curiosa. —Claro que não vou ficar com raiva.
—Lachlan. Lorde Gray.
Oh céus. Explodiu tudo, tinha pedido para Lachlan ficar bem longe de Jane.
E, no entanto, cada vez que se virava os dois estavam conversando. Dada a
nova tensão entre ela e Lachlan, culpava o Visconde por desrespeitar
intencionalmente o seu pedido. —Isso não foi uma pergunta—, disse ela com
cuidado.
—Foi uma pergunta implícita, suponho—, Jane disse, suas bochechas
corando. —Quero dizer, agora que Samston está fora de questão, por assim
dizer, você não está... não vai mudar de ideia sobre Lorde Gray, vai?
Quase contra sua vontade, Rowena virou a cabeça para olhar para Lachlan
—para encontrá-lo olhando diretamente para ela. No entanto, não sabia o que
sentia sobre ele, podia objetivamente dizer que Lorde Gray era um homem
malditamente bonito. Sem dúvida, visto do lado de fora, com seus ombros
largos e cabelos castanhos atirados ao vento, e em um kilt, ou em calças e
botas como estava hoje, era a imagem que cada garota jovem, romântica
levava para a cama, quando tinha sonhos selvagens com Highlanders
indomáveis.
Tinha crescido com esses sonhos. Talvez isso tivesse feito mais sentido se
tivesse sido desinteressada, mais manejável e casual, com menos expectativas,
como agora. Aquelas em que o homem tanto apreciava seu interesse como o
retornava. Rowena suspirou, olhando para Jane. —Eu não tenho apego a
Lachlan. Nem tenho certeza se ainda somos amigos, não mais. Se está gostando
dele, só vou avisar que estará desperdiçando seus esforços e seu coração com
alguém que não possui um próprio.
—Ele tem sido muito legal comigo.
—Ele é legal. Ainda é encantador. Mas é assim com todas. Não se engane
em pensar que seus sorrisos são destinados apenas para você.
Sua amiga concordou. —Meus olhos estão abertos. Vi quão frustrada você
ficou. Cometi um erro encantando-me por Arran, pensando que tinha afeto por
mim, quando estava apenas sendo educado, mas entendo isso agora.
Rowena tinha dúvidas de que os olhos de Jane estivessem abertos, tanto
quanto sua amiga pensava, mas só recentemente percebeu seu próprio erro,
onde Lachlan estava envolvido, não podia recusar-se a dar a Jane crédito por
sua própria epifania. —Então, faça como quiser, minha querida. Só por favor,
por favor, não o deixe quebrar seu coração.
—Não vou. Prometo.
—Winnie, essa é a padaria de que nos tem falado nos últimos quinze dias?
—Perguntou Edith, interrompendo a conversa. —Parece muito... simples.
—Isso é porque os biscoitos falam por si—, Rowena voltou-se com um
sorriso, balançando-se. —Sugiro entrarmos e ver se a Sra. Todd assou alguns
biscoitos de mel hoje.
Quando liderou o caminho para o outro lado da rua de terra, avistou Lorde
Samston reunindo o grupo e dirigindo-se para o fabricante de cerâmica —e viu
o olhar implacável que Lachlan mandou ao Conde. O veneno em sua expressão
a assustou e a perturbou, em igual medida, porque era tão raro no semblante de
Lachlan, e porque não havia nenhuma razão que conhecesse para ele se sentir
tão amargo e cruel.
—Um momento, por favor—, disse ela, rapidamente dando à Sra. Todd um
sorriso e um pedido de duas dúzias de biscoitos de mel antes que se
esgueirasse para fora da loja.
Claro, Lachlan estava preocupado com ela, seu mau humor não influenciava
o seu, e seus gostos ou desgostos não eram adotados por ela. Mas ele ainda
ficou sozinho na parte de trás do grupo, e ainda parecia que queria socar o
Conde de Samston e deixá-lo desmaiado. Adam James a tinha decepcionado,
mas ninguém deveria bater nos visitantes que tinham vindo para o norte para
assistir a um casamento.
—Você engoliu uma abelha?—ela murmurou, parando ao lado de Lachlan.
—Não. Mas tenho vontade de socar esse janota sorridente nos dentes—, ele
retornou no mesmo tom.
Ah, não. Lachlan tinha visto o beijo? Não, isso não fazia sentido; se tivesse,
teria dito para Bear, ou já teria começado uma briga com o Conde. —E o que
motivou este impulso para a violência?—Perguntou, só para ter certeza.
—Ele tem esse olhar presunçoso. Não gosto disso.
Ela olhou de soslaio para o objeto de sua paixão de décadas. —Poderia
perguntar-lhe o que mudou entre esta manhã e agora, mas, honestamente,
Lachlan, não me importa. Deixe-o. Esqueça meus convidados e leve sua
aparência azeda para outro lugar.
Ele encarou-a, o brilho em seus afiados olhos verdes foi o suficiente para
que desse um meio passo involuntário para trás. —Acho que já discutimos que
não sou seu cão, moça. O seu Lorde Samston não pertence às Highlands, e não
vai se encaixar com você. Se ele não tomar cuidado, pode encontrar inimigos
aqui.
Ela sabia que Lachlan não ameaçava as pessoas sem motivo. Mas até os
últimos cinco ou seis minutos um ou outro dos dois homens esteve em sua mira
durante toda a manhã. O que tinha perdido, então? —Não, você não é meu cão,
é claro—, respondeu, ainda mantendo a voz baixa. —E não é um tolo, também.
Se gosta de Lorde Samston ou não, entenda que seria melhor não criar
problemas. Se você ferir um Lorde Sassenach por qualquer razão, vai causar
um desastre que vai fazer a nossa rivalidade com os Campbells parecer um
sarau.
Lachlan deu um suspiro de escárnio. —Um sarau? Alguém precisa lembrar-
lhe que você é uma Highlander, moça.
Ela franziu a testa. Quem quer que este homem fosse, estava... imprevisível.
Isso era novo, e não tinha a certeza se gostava. Não que isso importasse, claro.
—Não preciso ser lembrada de nada.
—Sim, precisa, se acha que qualquer um destes lisonjeiros rapazes, caça
fortunas poderá fazê-la feliz.
Agora ele parecia ciumento, e que fez ainda menos sentido. —Tivemos essa
discussão onde estabelecemos que não precisa se preocupar com a minha
felicidade. Se é por isso que está olhando furiosamente para Adam, pare com
isso. Isso não é da sua conta.
—Você está errada sobre isso, moça.
Ela olhou-o. —O que o faz pensar que ele é um caçador de fortunas, afinal?
—Mantenha a sua opinião, e vou manter a minha.
Bem, isso foi o suficiente. —Não sei porque está irritado—, declarou,
plantando as mãos nos quadris, —mas desde que parece estar rosnando sobre
Samston e eu, tudo o que posso dizer é que está muito atrasado. Tenho planos,
e eles não incluem você.
Parecia estranhamente gratificante dizer isso, e ser capaz de deixá-lo saber
através do seu tom de voz que ela estava com raiva. Mais do que provável, ele
não gostava do fato de que não estava concordando com cada palavra sua ou
pendurada em sua respiração, o que causou tudo isso. Se ele se sentia
negligenciado, apesar de, bem, poderia encontrar alguém para bajulá-lo. Jane
parecia uma provável substituta. Porque depois de três meses de lembrar-se
diariamente, de hora em hora, quanto tempo e esforço e pedaços de seu
coração e seu futuro tinha perdido com ele, ela não estava prestes a dar-lhe
mais um minuto.
—Talvez meus planos a envolvam.
—Agora, está sendo ridículo. Cale-se.
Lachlan não parecia que tinha terminado com essa conversa, então, antes
que pudesse dizer algo que fosse destruir um ou dois fios de amizade que
permanecessem entre eles, ela afastou-se, pisando na rua e no assoalho
principal do fabricante da cerâmica. Ninguém parecia muito interessado em
aprender como os pratos e xícaras eram feitas, mas estava preocupada que
isso significasse que eles tinham perdido o ponto. Porque Ranulf não se
importava muito com isso, também. Foi muito mais impressionante que
conseguiu construir o negócio, em primeiro lugar, e que duas dúzias de
aldeões ganhavam uma renda ao trabalharem lá.
—Ranulf?
Seu irmão virou-se, uma travessa bonita decorada com cardos em suas
mãos. —Sim, piuthar. Mostrou a padaria aos seus amigos?
—Sim.—Mais ou menos, de qualquer maneira. —Já enviou uma mensagem
a esses... homens que mencionou?
Ele levantou uma sobrancelha. —Não mudou de ideia, espero.
—Não, não.—Rowena respirou. —Estava me perguntando quando poderei
esperar por eles.
O Marquês continuou olhando-a com curiosidade. —Cairnsgrove pode
chegar mais cedo amanhã à tarde. Os outros dois vão demorar mais um ou dois
dias. Por quê?—Ele olhou além dela para onde sabia que Samston e alguns
dos outros estavam.
—Nenhuma razão especial—, disse com cuidado, mantendo a expressão
neutra. Isso não era tanto sobre Adam James, de qualquer maneira, ou sobre os
últimos dezoito anos desperdiçados. Quanto mais cedo encontrasse alguém,
mais cedo podia parar de pensar completamente em Lachlan MacTier. —Estou
ansiosa, suponho, para continuar com as coisas. Com a minha vida.
—Ah.—Ele entregou o prato para um trabalhador e pegou o braço de
Rowena, guiando-a a poucos passos do grupo. —E o que em especial induziu
essa sua ansiedade?
Poderia dizer a Ranulf que Samston a tinha beijado como um ardil para se
apossar do seu dote, ou poderia dizer que Lachlan parecia estar muito mais
irritado e intenso do que se lembrava, mas qualquer resposta poderia causar
mais problemas do que queria. E Lachlan ainda era o melhor amigo de Bear, e
o chefe em que Ranulf confiava acima de todos os outros. —Estamos
planejando seu casamento—, ela improvisou com um sorriso. —Não deveria
estar pensando em sua própria moça?
—Sim. Suponho que sim.
Amanhã à tarde. Já não cavalgaria para Madainn Srath com Samston de
manhã, mas com certeza poderia evitar problemas até então. Naquele
momento, porém, Jane caminhava ao seu lado, como se um dos antigos deuses
tivesse lido sua mente e estivesse rindo dela.
—Lachlan me pediu para cavalgar com ele na parte da manhã—, sua amiga
disse, entregando um dos dois biscoitos mergulhados em mel para Rowena e
sorrindo animadamente. —Nem sequer tive que flertar com ele primeiro.
—Oh. Esplêndido—, Rowena retornou, mantendo o sorriso em seu rosto.
Ou a última conversa com Lachlan tinha sido apenas para tentar fazê-la de
tola, ou pediu a Jane para cavalgar para irritá-la. —Há uma abundância de
trilhas pitorescas ao redor.
—Ele mencionou Madainn Valley. É aquele com campânulas?
—Eu... Sim, é. É um castelo em ruínas. Arran diz que é mal-assombrado.
Jane estremeceu. —Oh céus.
—Não se preocupe. Estou certo de Lachlan irá protegê-la.
Ah, ela soava como uma solteirona amarga, até mesmo para seus próprios
ouvidos. Não quis dizer isso dessa maneira. Foi apenas que sua amiga
necessitava de muito pouco para cair de cabeça apaixonada, e Lachlan era um
alvo pobre para o coração de uma jovem. E pior ainda, talvez —ele tenha
perguntado para Jane se queria ir cavalgar. Pretendia causar problemas? Para
Jane? Para ela? Para o clã?
Ela franziu a testa. Evidentemente, iria passear sozinha pela manhã. Lachlan
não tinha permissão para ferir ninguém. Especialmente não sua amiga mais
querida.
***

—É o velho castelo?—Jane perguntou, sua respiração florescendo no ar


frio da manhã. —Aquele que Winnie diz que é assombrado?
Lachlan abaixou seu olhar para a fileira de árvore e freou Beowulf. Onde
diabos estava Winnie? Ontem Jane tinha-lhe dito que estariam nesse vale —ela
e Samston. E o que quer que o Conde pensava dessa tentativa neste cenário
notoriamente romântico, Lachlan tinha intenção de colocar um fim a isso. Só
que não parecia que estivessem lá.
—Sim—, disse em voz alta, torcendo-se na sela para olhar através da lagoa
na base das altas falésias. —Castelo Teàrlag. Dizem que o velho Lorde
Teàrlag enviou sua esposa em uma visita, mas quando a neve bloqueou a
passagem, ela retornou, apenas a tempo de encontrar o seu senhor... envolvido
com a própria irmã. No principal quarto de dormir. O boato é que Lady
Teàrlag parecia ser uma bruxa, e de qualquer maneira, queimou o castelo em
torno deles. As histórias dizem que ainda percorre os restos dos salões,
certificando-se de que nenhuma outra moça chegue perto de seu marido.
—Isso é terrível—, Jane exclamou, enviando um olhar inquieto para a
pedra em ruínas desmoronando.
—A lição é não irritar uma moça Highlander. Nunca. Não há criatura mais
feroz do mundo.
—Oh, acredito nisso—, Jane disse, rindo. —E o mesmo acontece com
Lorde Samston, aposto.
Isso foi interessante. —Não disse que Winnie estaria aqui hoje? Pensei que
nós quatro poderíamos cavalgar juntos.
—Acho que Winnie mudou seus planos. Sei que ela mudou sobre o Conde.
Hm. Na família MacLawry, Bear era conhecido como o cabeça dura e
Arran o inteligente, mas passou a vida navegando com êxito em torno deles e
Ranulf era um rapaz íntegro, para não mencionar inundações, deslizamentos de
terra, colheitas arruinadas, e tinha acima de duzentos aldeões. Algo tinha
acontecido entre Samston e Winnie ontem, e enquanto a princípio pensou que
Winnie poderia estar tentando duramente cobrir algum segredo feliz, agora
parecia que o Conde tinha sido descartado —o que era esplêndido —mas
precisava saber o que, precisamente, tinha acontecido. E se tivesse calculado
mal e alfinetado Rowena duramente na aldeia. Ou se Samston precisava de um
nariz sangrando.
—Um homem deve saber melhor do que dar um passo além do que deve—,
arriscou. Isso parecia vago o suficiente para bastar.
Jane piscou-lhe seus lindos olhos castanhos, claramente surpresa. —Ela te
contou?
—Bem, não poderia dizer a seus irmãos—, decidiu.
—Isso é verdade. Disse que se soubessem que Lorde Samston a tinha
beijado, iriam matá-lo, mesmo que tenha lidado com o idiota, ela mesma.
Imagine, pensando que pudesse comprometê-la em um casamento por que eu
os peguei se beijando. Deveria saber que nunca iria contar a alguém.—Jane
riu. —Honestamente, acho que Winnie lidou com ele melhor até do que Lorde
Glengask poderia ter feito.
Lachlan apertou a mandíbula. —Sim, concordo com isso—, forçou a sair.
O bastardo a tinha beijado. E ele mesmo tinha tido sorte que o maldito
Conde não tinha ganho o seu afeto, ou poderia ter perdido esta batalha antes
mesmo que tivesse começado.
Tudo o que estava fazendo, ele precisava parar de hesitar. Winnie
—Rowena —mal estava falando com ele, e por mais frustrado que estivesse,
não poderia culpá-la por isso. Pensou que não tinha nenhum interesse nela.
Bem, encontraria um momento quando iria ouvi-lo e dizer-lhe que tinha, e
então...
Um movimento abaixo da porta de entrada caída, nos destroços, chamou sua
atenção. No passado, imediatamente teria assumido que o espertalhão era um
Campbell ou Daily, querendo assassinar um MacLawry. Ainda poderia ser,
supôs, mas com a trégua, seria mais provável um pastor ou alguém
familiarizado com a reputação do lugar.
Um flash de musselina verde capturou a luz do sol. Ou poderia ser alguém
querendo passar despercebido em qualquer lugar respectivo, mas que estava
preocupada com sua impressionável amiga tagarela, ou com ciúmes dela.
Deus, ele esperava que fosse o último.
Lachlan desceu de Beowulf. —Deixe-me olhar esse estribo, moça—, falou,
aproximando-se de Jane e de sua montaria de um ângulo que iria deixá-lo
olhar além dela para as ruínas. Não ia se fazer de tolo por emboscar uma
corça por engano. —Parece que tem um pouco de sujeira.
—Obrigado, Lachlan. Tenho que dizer, adoro Winnie, e geralmente parece
muito sensata, mas pode ter desistido cedo demais.
—Ela disse que me jogou de lado, não é?—Perguntou, franzindo a testa.
Isso não era sobre quem tinha perdido o interesse em quem, no entanto; isso
era sobre conseguir um pouco de informação, enquanto descobria ao certo
quem fora vê-los a partir das ruínas.
—Bem, realmente disse que você nunca foi dela, e finalmente percebeu
isso. Honestamente, não sei por que não gosta dela. Se eu fosse homem, iria
querer me casar com ela. É encantadora e divertida e muito, muito corajosa.
—E se eu estivesse errado?
Não estava certo de que tinha falado em voz alta, até que ela inclinou a
cabeça para ele, sua expressão atordoada. —Perdão?—Guinchou.
Lachlan limpou a garganta. —Não lhe quero ofender, moça, porque você é
muito bonita, jovem. É... Maldição, não tenho ideia do que é isso, mas ela não
é mais uma criança, como era há algumas semanas atrás.
—Lachlan, você está interessado em Winnie?—A notícia deve ter feito
realmente a terra tremer, porque mal conseguiu sussurrar. E isso foi uma coisa
boa, considerando a moça à espreita nas antigas ruínas.
Claro, foi apenas possível que dizer uma coisa tão louca em voz alta faria
com que as montanhas caíssem. —Acho que estou. Pelo menos, não gosto da
ideia de Samston, ou um desses outros canalhas Sassenach, colocando suas
mãos sobre ela.
—Oh céus—, respirou. Essa parecia ser a expressão favorita da moça.
Particularmente, e não achou alguma coisa boa sobre isso. De modo algum.
—Não sei o que... Você deveria dizer a ela, é claro.
—Eu tentei, ontem, mas desde que voltou de Londres, toda a vez que
começamos a conversar, terminamos discutindo.—Dizer-lhe, conversar com
ela, usando palavras bonitas —que era a maneira Sassenach, enfim. E não
seria um maldito Sassenach.
Um pouco de cabelo preto acima de um nariz empinado ficou à vista de um
lado do arco caído. A pegou espionando o suficiente ao longo dos anos para
saber que o nariz pertencia a Winnie.
—Sabe, acho que avistei alguns patinhos nos canaviais no lado mais
próximo da lagoa lá, Jane—, disse em voz alta. —Gostaria de ver? Preciso de
um momento ou dois para pensar.
—Claro.—Inclinando-se, colocou a mão em seu braço. —Ela estava
muito... decepcionada com você. Pode ser tarde demais.
Não foi tarde demais, porque não iria aceitar isso. Tudo o que Winnie
precisava seria de um homem das Highlands para cortejá-la. E precisava
descobrir se tinha, talvez, recebido um golpe na cabeça, ou se tinha apenas
demorado dezoito anos para se resolver. Para vê-la do jeito que realmente era,
e não a criança que tinha sido.
Teria simplesmente sido um tolo? Ou havia algo a dizer que o fruto
proibido era o mais apetecido? Porque há apenas dois dias, tinha renunciado a
qualquer reclamação sobre ela. Queria libertar-se. E agora, começava a
perceber que, ao fazê-lo, só poderia ter cometido o maior erro de seus vinte e
seis anos.

***

Rowena se escondeu atrás das velhas pedras caídas. Tinha pedido para
Lachlan ficar longe de Jane, e ainda estava lá, sendo... cavalheiro. E flertando.
Ela enrugou o nariz. Nunca se preocupou em verificar se o seu pé estava no
estribo, pelo amor de Deus. Uma vez até cavalgou e deixou-a, quando alegou
ter uma tontura.
Não que se importasse, claro. Adam, Lorde Samston pode ter jogado sua
mão e perdido, mas tinha três Highlanders no caminho apenas para conhecê-la.
Não era mais uma menina perseguindo um primeiro beijo, também. Rowena
levou os dedos aos seus lábios. Não tinha sido um... bem, um beijo glorioso,
mas tinha sido um beijo. E se uma vez, sonhou que seria Lachlan quem lhe
daria seu primeiro beijo, bem, isso foi apenas estupidez. Tinha deixado bem
claro que não estava interessado nela, e ela tinha feito outros planos.
Apenas escapou da casa esta manhã para ter certeza de que Jane estava
bem. Ele tinha sido tão diferente de si mesmo, ontem, com tanta raiva, que
precisava ter certeza de que não seduziria Jane apenas por despeito ou algo
assim. Dando um tempo, olhou ao redor da alvenaria quebrada novamente.
Ambos os cavalos e cavaleiros tinham desaparecido na manhã enevoada.
Talvez estivessem de mãos dadas e exclamando como os jacintos estavam
azuis. Ela certamente não se importava.
—Que diabo está fazendo aqui, moça?
Rowena guinchou, virando a cabeça ao redor. Lachlan MacTier, Lorde
Gray, estava inclinado contra o que tinha sido uma vez uma porta da velha
fortaleza, com os braços cruzados sobre o peito e a expressão divertida.
Droga. —Pensei ter visto um fantasma—, mentiu. Quando se endireitou, algo
prendeu na parte de trás da saia, puxando-a de volta para seus joelhos
novamente.
—’Um fantasma’?—Repetiu ele. —A velha Lady Teàrlag, veio para
encontrar seu marido traidor?
—Não sei—, ela voltou, torcendo e dando um puxão na parte de trás do seu
traje de montar. A única coisa pior do que ser descoberta pelo estúpido
Lachlan, seria ficar presa aqui. —Isso me deixou curiosa.
—Sempre foi destemida, Rowena. Vou dar-lhe isso.
Ela parou de puxar e encarou-o novamente. —Do que me chamou?
—Rowena. É seu nome, não é?
Um tremor suave correu por sua espinha ao seu sotaque baixo dizendo o
nome dela. —Nunca me chama de Rowena. É sempre ‘Winnie, você tem nós
em seu cabelo,’ ou ‘Winnie, me deixe em paz’.—Não. Isso foi o que precisava
para se lembrar —que pensava nela como uma criança, como uma irmã, e que
Lorde Samston a tinha beijado. De tal maneira que outros homens a achavam
perfeita para casar e atraente para uma dama. E que preferia um homem que
não detestasse Londres e os Sassennachs, de qualquer maneira.
Endireitou-se, afastando-se da parede do musgo e fazendo o seu caminho
mais perto. —Não sei se viu Lady Teàrlag, moça. Acho que queria saber o que
estava fazendo aqui com Jane Hanover.
—Estava aqui com Jane?—Aproveitou a admissão.
—Disse que não se importava. Não foi um segredo. Mas quero saber o que
está fazendo aqui sozinha. Não está com um cavalariço, nenhum de seus
irmãos, e nenhum dos cães de caça à vista. Isso não é sábio.
—O próprio Campbell estará visitando aqui em duas semanas. Ninguém vai
estragar seus planos. E agora quero lembrá-lo de que ela é muito romântica.
Jane, quero dizer. Não a machuque.
Lachlan se agachou ao lado dela. Seu olhar em seu rosto, inclinou-se mais
perto e lentamente chegou ao seu redor. Rowena conteve a respiração. Só
estava brincando, porque não suportava o fato de que, não estava mais
apaixonada por ele, que tinha mudado, para encontrar um homem digno de sua
atenção e carinho.
Com um puxão forte, libertou sua saia. Ela começou a se levantar
imediatamente, mas a agarrou pelo braço e segurou-a ali, olho no olho, com
ele. —Jane mencionou que o pomposo rapaz, o que é isso? Sandstone? Que
ele...
—Samston—, corrigiu ela, não olhando para sua boca.
—Que ele te beijou—, continuou, como se ela não tivesse falado.
—Danação—, murmurou, sentindo suas bochechas quentes. —Disse para
Jane ficar quieta sobre isso. A última coisa que quero, primeiramente, é que
um dos meus irmãos o cubra com os punhos.
—Não é só com seus irmãos que ele precisa se preocupar mais.
—Oh, por favor.—Puxou seu braço livre e se mexeu desajeitadamente em
seus pés nas pedras irregulares. Precisava de alguma coisa. Altura. Não tê-lo
muito perto dela. Alguma coisa. —Pode fingir que é meu irmão, mas já tenho
três. E não preciso de outro. Se quero me apaixonar e casar, vou precisar falar
com os homens. Dançar com eles, mesmo.—Colocou a mão no peito. —Meu
Deus, poderia até mesmo encontrar alguém que me ame em troca. Beijos
poderiam muito bem estar envolvidos.
—E ainda assim ouvi que se afastou de Samston. Depois do beijo.
Enfureceu-se. Podia culpar Jane pela tagarelice sobre o incidente, mas
Lachlan provavelmente a tinha enganado e tirou a informação dela. Fazia isso
com Bear o tempo todo. —Sim, me afastei. Encontrei vários homens para...
menos do que eu esperava. Incluindo você.
—Isso não é divertido, Rowena.
—Isso não deveria ser.—Virando-se, empurrou-o em seu extenso peito
rígido. —Vá embora. Deixe-me em paz. Tenho-lhe perseguido desde que
poderia engatinhar, e agora aprendi com meus erros. Era uma criança tola que
não sabia de nada. E não lhe quero mais. A única coisa que quero de você,
Lachlan MacTier, é que não interfira com as minhas chances de romance e
felicidade.
Antes que pudesse puxar sua mão, ele agarrou seu pulso novamente,
segurando-a contra ele. —Sei que ainda gosta de mim, Rowena, e sei que só
está tentando me fazer ciúmes, trazendo todas esses delicados almofadinhas
para as Highlands.
—Eles não são almofadinhas. São apenas elegantes. Algo sobre o qual
você não sabe nada.—Puxou, mas seu aperto era como ferro. Outras pessoas
disseram que Lachlan tinha um temperamento, mas sinceramente nunca tinha
visto. Não dirigido a ela. —Não estou tentando fazer qualquer coisa para você
—, continuou, finalmente olhando para encontrar o seu olhar verde exuberante.
—Dezoito anos de ser ignorada e ridicularizada é tempo suficiente. Agora
deixe-me ir.
—Não vou tê-la olhando para mim como se não fosse um homem—, disse
num tom mais baixo, mantendo-se imóvel. —Como pode piscar seus belos
olhos e me tornar invisível. Pode decidir que não me quer, mas não será
porque decidiu que não existo.—Olhou além dela, onde estava empoleirada
observando-o a flertar com Jane. —Porque está apenas fingindo que não gosta
de mim, Rowena. E eu sei disso.
Com um toque de sua mão, puxou-a contra ele. Ela engasgou, e sua vigorosa
e ardente boca fechou-se sobre a sua. Ele não foi gentil, de qualquer modo,
mas então era um Highlander nascido e criado. Não era cavalheiro ou vistoso
como qualquer dos homens que a seguiu ao norte para Glengask. Poder,
paixão, raiva, Rowena fechou os olhos para a pura força dele. Lachlan
MacTier, beijando-a. Devorando-a. E só por esse momento, queria ser
devorada.
De repente, afastou-a, colocando-a em seus pés como se não pesasse mais
que uma pluma. —Agora finja que sou invisível—, murmurou, endireitando-
se.
Rowena estava ali nas ruínas do Castelo Teàrlag e olhou-o. Se tivesse sido
há um ano —ou três meses atrás mesmo —teria ficado... Bem, não foi há três
meses, foi? Foi hoje, e tinha outros planos. Outros homens estavam vindo para
cortejá-la.
—Vejo você muito bem—, afirmou, e lhe deu um tapa tão forte quanto
podia. —Não, você não é invisível. E nem é tão charmoso quanto pensa que é.
Teve sua chance. Vá embora, Lachlan MacTier.
A marca vermelha em forma de sua mão começou a aparecer na mandíbula
cerrada de Lachlan, embora não se preocupasse reconhecendo o impacto.
—Muito bem—, falou pausadamente. —Mas isso ainda não terminou,
Rowena.—Deu um sorriso surpreendente. —Agora você se tornou
interessante.
Girou sobre o calcanhar, e depois de um momento, os sons de Lachlan e de
seu cavalo desapareceram na névoa. Em torno dela, as árvores sussurravam, e
quase poderia acreditar no motivo da perturbada e trágica Lady Teàrlag estar
falando com ela. E pelo que sabia de Lady Teàrlag, estava inteiramente de
acordo com o destino merecido de sedutores e galanteadores.
Não estava prestes a cair na mesma armadilha novamente. Não quando
finalmente tinha escapado disso —dele. Não quando tinha uma meia dúzia de
rapazes bonitos com título e riqueza perseguindo-a, e não quando seu irmão
mais velho tinha especificamente arranjado para conhecer mais três, qualquer
um dos quais beneficiariam o clã. Lachlan estava provavelmente jogando,
enfim, com raiva que o cachorro que tinha andado atrás dele por tanto tempo,
tinha decidido que preferia estar em outro lugar.
Mas ele estava certo sobre uma coisa; não ia ser capaz de continuar a fingir
que estava invisível. Não depois daquele beijo. Não quando em um vulnerável
segundo havia lembrado o quanto uma vez desejou ser beijada assim mesmo, e
por ele. —Maldito seja, Lachlan MacTier—, murmurou, deixando seu próprio
sotaque solto por um momento. —Está tudo acabado. É isso.
Capítulo Cinco
O Visconde de Cairnsgrove chegou pouco antes do anoitecer. Veio em uma
carruagem, dois jovens que se pareciam o suficiente com ele, que tinham que
ser seu irmão e irmã, apareceram atrás dele. Rowena assistiu da janela do
quarto de dormir de Bear, quando o trio desceu para o caminho e foi recebido
pelo próprio Lorde Glengask.
Sempre gostou de ver membros de outros clãs conhecerem Ranulf; sua
cortesia e, ocasionalmente, o aperto de mãos foram o suficiente para dizer-lhe
quanto respeito até mesmo os mais descorteses e destemidos Highlanders
tinham para com o MacLawry, como todos se referiam a ele.
A mão de Niall Wyatt não tremeu quando a segurou, mas se curvou muito
baixo. Os dois mais jovens, ambos com o mesmo cabelo vermelho que o
Visconde, pareciam prestes a desmaiar. Além de notar, mostraram para Ranulf
o devido respeito, porém, a maior parte de sua atenção permaneceu em
Cairnsgrove.
As cores do clã Watson eram azul e verde e amarelo, e usava um lenço
dessas cores. Fora isso, porém, poderia ter sido confundido com qualquer
cavalheiro inglês ruivo —chapéu, elegante casaco azul escuro, calça de
camurça marrom, um colete azul e preto, e um belo par de sapatos brilhantes.
—Bem, ele é bonito—, Bear observou, tirando o casaco de equitação
quando se juntou a ela na janela. —Esse é Cairnsgrove, não é?
—Sim. Ran quer que eu o conheça.
—Agora? E como se sente sobre isso, piuthar?
—Me sinto... curiosa.—A ideia de que estava olhando para um homem que
Ranulf aprovou —mesmo que Lorde Cairnsgrove fosse sua segunda escolha,
totalmente – fazia-a sentir-se estranha. Seu irmão quase não aprovava nenhum
homem mesmo quando o moço se adequava para ser seu esposo. E tinha
trazido homens que realmente gostavam de Londres, ou pelo menos não
evitavam o lugar. Era muito diferente de seu irmão mais velho.
—De maneira que realmente desistiu de Lachlan, então?
Rowena enviou a seu irmão um olhar. Poderia dizer-lhe que Lachlan a tinha
beijado e que lhe deu um tapa, mas guerras haviam começado com menos
provocação. Além disso, era mais fácil fingir que tinham sido apenas os
eventos de algum devaneio louco, ontem, os restos de um desejo que tinha uma
vez levado ao redor por ela.
Lachlan realmente não a queria, de qualquer forma. Apenas tinha ferido seu
orgulho e ele reagiu como um brutamontes desajeitado. Sim, o beijo tinha
mexido com ela, e continuava a fazê-lo, mas apenas porque tinha sido
inesperado. E por ter sido tão diferente do casto, sem paixão, que tinha
compartilhado com Samston. Claro, não tinha percebido que aquele primeiro
beijo tivesse sido sem paixão até Lachlan a atacar.
—Winnie? Está aí?
Estremeceu. —O quê, Bear?
—Realmente terminou com Lachlan?
—Sim. Sim, terminei.—Dando um tempo, ela deixou a janela. —Bem, acho
que deveria ir conhecer nossos novos convidados—, disse, alisando seu
vestido de musselina azul e marrom.
—Sim. E espero que possa manter os olhos abertos tempo suficiente para
terminar a conversa.
Rowena retardou sua saída. —Você o conhece, então? Ou apenas está sendo
antagônico?
Bear a acotovelou para o corredor. —Um pouco de ambos, é mais provável
—, disse com um sorriso, e fechou a porta atrás dela.
Bem, isso não foi nada útil. Claro, se ele estava mantendo-a em mente,
Ranulf provavelmente havia selecionado alguém que não compartilhava muitos
dos mesmos gostos ou hobbies que seus irmãos. Alguém calmo e seguro, que
poderia realmente ter tempo e disposição para permiti-la em sua vida, para
mostrar sua afeição e não decidir, depois de dezoito anos de ignorá-la, tentar
beijá-la até à morte, quando finalmente se tornou sábia o suficiente para lhe
virar as costas.
Os Wyatts sentaram-se na sala matutina, aquecida pela luz do fogo, Ranulf e
Charlotte estavam conversando com Cairnsgrove, enquanto Jane e Edith e
Arnold Peabody enchem os dois mais novos com perguntas sobre o tempo em
Edimburgo.
Jane enviou-lhe um olhar curioso, mas no momento, Rowena conformou-se
em sorrir para a amiga. Poderiam descobrir mais tarde, o que estava
acontecendo hoje. Mantendo o sorriso em seu rosto, caminhou até ficar ao lado
de seu irmão.
—Você deve ser Lorde Cairnsgrove—, disse, encarando o Visconde.
—Ranulf disse que estava vindo para o casamento.
—Sim, de fato—, respondeu, pegando sua mão e curvando-se sobre ela.
—Niall Wyatt, ao seu serviço.
Bem, isso soou muito jovial. Ela mergulhou numa reverência. —Rowena
MacLawry, ao seu.
Ranulf pegou a mão de Charlotte. —Vocês nos dão licença um instante?
Quero apresentar minha noiva ao seu bràthair e piuthar.
—Claro, Lorde Glengask—, o Visconde retornou. —Ambos estão muito
animados por estar aqui. Glengask e os MacLawrys são bastante míticos em
Edimburgo.
Uma vez que tinham ido, Cairnsgrove encarou Rowena diretamente. —Ouvi
dizer que acabou de voltar de Londres. Acho essa cidade um pouco entediante,
admito, mas gosto do teatro. Foi capaz de assistir a todas as peças?
Ele não tinha nenhum traço de sotaque das Highlands, percebeu. Na
verdade, se não soubesse que tinha uma propriedade nos arredores de
Edimburgo, teria pensado que apenas veio de Londres, mesmo. —Sim, fui—,
respondeu, então, sentiu um arrepio precipitado subir sua espinha. Quando
olhou para o lado, não se surpreendeu ao ver Lachlan caminhando para a sala
com Bear, Arran, e Mary.
Maldição, por que não poderia apenas ficar longe? Olhos verde-musgo
encontraram os dela e não desviaram o olhar. Ela o fez, apesar de tudo. Ele
poderia simplesmente ir tentar hipnotizar alguém.
—Fomos capazes de ver Hamlet—, continuou, voltando sua atenção para
Cairnsgrove, —e à noite antes de sairmos de Londres, assistimos à estreia de
Speed the Plow.
Ele bateu palmas. —Escolhas esplêndidas. Quem era seu Hamlet? A que
assisti no ano passado contou com um desempenho fascinante de um rapaz
—ah, como se chamava —Andrew Wilsby. Foi isso. Tal interpretação
diferenciada, por um momento ou dois, temi que realmente tivesse
enlouquecido diante dos meus olhos!
—Não lembro o nome do nosso Hamlet—, disse Rowena, mantendo o
sorriso no rosto. —Mas foi um bom desempenho. Vai a Londres muitas vezes,
então?
—Sempre que posso. Teatro em Edimburgo é, bem, desapaixonado,
suponho, mas certamente não é Londres.—Ele riu. —Mas então, o que é? Oh,
esse é o seu irmão, não é? Como é bom lhe ver, Lorde Arran.
Arran aproximou-se para apertar as mãos. —Niall. Conhece minha esposa?
Mary, este é Niall Wyatt, Lorde Cairnsgrove. Niall, Lady Mary MacLawry.
O rosto do Visconde ruborizou. —Oh, você está casado agora? Não fazia
ideia! Eu... Parabéns, é claro. Para os dois. Lady Mary, muito gosto.
Como a educação de Rowena tinha sido privilegiada, reconhecia um
coração partido quando via um. E tinha-se acabado de quebrar o coração do
Niall Wyatt. Pelo amor de Deus. Evidentemente, Ranulf não era tão onisciente
como pretendia, porque enquanto Niall favorecia um MacLawry, claramente
não era ela. Respirou fundo, em seguida, colocou a mão em seu braço.
—Lorde Cairnsgrove só estava lamentando a falta de um bom teatro em
Edimburgo—, disse em voz alta. —Admito, tão encantadores como alguns dos
saraus foram, acho que ir ao teatro foi, talvez, a minha parte favorita de estar
em Londres. Todo o mundo estava tão... ofuscante.
Cairnsgrove estremeceu visivelmente. —De fato. E todo o mundo tem a
intenção de ser visto indo ou vindo, porque caso contrário, são deixados
sentados no escuro com suas melhores roupas.
Lachlan escolheu esse momento para dar a volta por trás do Visconde.
Forçando uma risada, Rowena tensa apertou o braço de seu convidado. —É
verdade, meu senhor.
—Oh, por favor, me chame de Niall.
—É Niall, então.
Durante uma hora antes do jantar, fingiu flertar com um homem que estava
claramente mais interessado em seu irmão do que estava nela. Além disso,
quando lhe contou sobre o encontro de Arran e Mary e sua fuga, tornou-se
ciente de duas coisas: em primeiro lugar, na verdade tinha muita coisa em
comum com Niall Wyatt, que tinha perdido o seu coração para alguém que
nunca iria retribuir suas afeições; e em segundo lugar, estava fingindo flertar,
só porque Lachlan estava presente.
Tinha dito que não tinha terminado com ela, o que era ridículo, porque tinha
afirmado exatamente o oposto para ele no dia que voltou para Glengask. Além
disso, durante essa conversa, que havia iniciado, o canalha, deixou bem claro
que não tinha nenhum interesse nela. Que diabo tinha acontecido ao longo dos
últimos dias, para então mudar de ideia, exceto pelo fato de que tinha visto
outros homens se interessando por ela?
Tudo teria sido risível, algum tipo de farsa teatral, exceto por aquele beijo.
O beijo que a fez esquecer nos momentos mais simples que tinha jurado nunca
cair em seus velhos hábitos novamente, nunca mais se apaixonar novamente
por Lachlan MacTier, porque não valia a pena o desgosto. E isso não tinha
mudado. Não podia mudar, quando estava apenas fingindo persegui-la, porque
agora outros homens a queriam. Não o homem cujo braço atualmente segurava,
mas outros homens.
E quando chegasse amanhã, se Lorde Robert Cranach do clã Buchanan a
achasse interessante, e não só porque ela gostava de teatro, então estava pronta
—pronta —para se apaixonar por ele. O quanto antes melhor.

***

—Bem, para quantos rapazes Glengask está empurrando Rowena, então?


—Lachlan lançou um dardo no alvo na parede com tanta força que balançou
seu dardo anterior e enviou-o para o chão.
—Não estou contando—, Bear comentou, apontando para o dardo vermelho
descansando no chão de madeira polida. —O total é para os dardos no alvo,
no final da rodada.
—Não me importo se vai contá-los ou comê-los—, Lachlan rosnou. —Por
que seu irmão está jogando homens em sua irmã? Pensei que não queria forçá-
la em um casamento arranjado.
—Não quer. Eu acho, de qualquer maneira. Pergunte a ele. Ou pergunte a
Winnie. Mas pare de tentar deformar o jogo de dardos.
—Não está preocupado por si mesmo?—Lachlan persistiu, lançando
apenas seu último dardo para tê-lo cavando os painéis da parede a alguns
centímetros do tabuleiro.
—Para mim? Não vou casar com ela. Você ficou louco?
Seu maxilar estava começando a doer de tão cerrado que estava. —Quero
dizer, Ranulf tentou casar Arran com Deirdre Stewart, e agora ele tem Rowena
visando um Watson. O que é...
Munro deu uma gargalhada. —Cairnsgrove preferia ter Arran visando ele,
eu aposto.
—Isso não é... Espera. O quê?
—Niall Wyatt não conseguiu tirar os olhos de Arran a noite toda. Não
notou? Estou feliz por ele preferir o MacLawry magricela.
Claro que não tinha notado; estava muito ocupado olhando a maneira como
Rowena se pendurava em seu braço. E se Arran estava magro, então ele estava
pele e ossos. Claro, comparados com Bear, todos estavam esqueléticos. Mas
isso não significava nada no momento. —Cairnsgrove não se vai propor para
ela, então?
Bear deu de ombros quando se moveu na frente do painel. —Não sei. Ele
pode; os Watson poderiam usar a aliança. Suponho que isso depende se
Winnie iria junto com ele ou não. Na mente de Ranulf seria perfeito, casar sua
irmã com um homem que não vai colocar as mãos sobre ela.
—Isso é idiotice.
—Por que está tão irritado, Lach? E tire suas malditas peças horríveis do
caminho para que eu possa jogar.
Seguindo para a parede, Lachlan puxou seus dardos, pegou o caído no chão,
e se jogou na cadeira que Munro tinha desocupado. Havia momentos em que
achava as avaliações contundentes de Bear refrescantes; política de clã
poderia ser irritantemente complexa, e o irmão mais novo MacLawry tinha um
olho afiado para ver através da merda. Esta manhã, no entanto, Bear estava
simplesmente sendo teimoso, e Lachlan estava quase convencido de que era
intencional.
—Ranulf está forçando Rowena a se casar, ou não?—Insistiu. —Deveria
ter um maldito interesse, Bear, porque poderia ser o próximo.
O arremesso de Bear quase pegou no próprio pé. —Que diabos está
falando, homem?
—Casamentos arranjados. Arran, Rowena, e você. Metade dos clãs está
enviando alguém aqui para testemunhar o casamento de Glengask. Não pensou
que poderia ter uma moça em mente para você, entre todos os convidados?
Está trazendo rapazes para Rowena. Ou um rapaz, de qualquer maneira.
—Três rapazes para Winnie, reconheço—, disse a montanha com uma
careta. —Cairnsgrove é o primeiro. James MacMasters e Lorde Robert
Cranach são esperados aqui esta tarde.
—Clã Buchanan—, Lachlan terminou, reconhecendo os nomes. Não
conhecia nenhum deles, mas o simples fato de que tinham sido especificamente
convidados, presumivelmente para a apreciação de Rowena, era de
enlouquecer. Irritante.
Podia admitir que talvez tivesse sido um pouco tolo de pensar que poderia
influenciar Rowena a voltar a se apaixonar por ele com um beijo. O tapa lhe
disse isso. Mesmo assim, com Samston fora do caminho, tinha presumido em
mudar sua mente com bastante facilidade. Mas então Cairnsgrove tinha
aparecido, com roupas bonitas e sotaque de Oxford e falando de teatro.
Se não fosse por Samston ser um idiota e Cairnsgrove montar do outro lado,
poderia tê-la perdido duas vezes agora. Sua sorte não estava continuando. E
mais dois pretendentes, ambos selecionados pelo irmão que Rowena adorava,
estariam chegando hoje. —Onde está Rowena?
—Eu não sei. Ela e Jane Hanover estiveram de pé quase até ao amanhecer
tagarelando sobre alguma coisa. Provavelmente ainda está dormindo. Quem
você acha que Ranulf me vai impor? Não Bethia Peterkin, espero.
Lachlan levantou-se novamente. —Pensei que já a tinha tido em sua cama.
E sua irmã, Flora.
—Sim. E poderia ter chamado uma pelo nome da outra, mas não lembro
qual.—Bear estremeceu. —Uma ou outra jurou-me apunhalar no coração.
—Tem sorte se isso for tudo o que pretendem esfaquear.—Ele abriu a porta
da sala de bilhar. —E Glengask provavelmente vai querer você com uma
MacAllister, reconhece que o Campbell fez em seguida uma aliança com eles.
—Uma MacAllister? Não Gormal MacAllister, espero. Ela só tem um olho.
E... droga, Lach! E o jogo?
—Eu desisto.
De outro modo, ignorando os berros de Munro, Lachlan caminhou pelo
corredor próximo da ala oeste do castelo, onde os quartos da família ficavam
localizados. Arran e Mary se mudaram para um conjunto maior de quartos na
extremidade sul para lhes dar mais privacidade, mas com todos os convidados
que estavam chegando, tanto Bear quanto Rowena tinham dado suas salas
adjacentes para se transformarem em quartos de dormir adicionais.
Conhecia tudo isso, assim como conhecia o plano de Glengask melhor do
que a palma de sua própria mão —porque passava mais tempo lá do que em
sua própria casa. Gray House era boa o suficiente, mas preferia a barulhenta e
movimentada Glengask com os irmãos MacLawry do que a sua própria
companhia. Tinha-se sentado no chão do quarto de Rowena para mais festas de
chá do que poderia contar.
Agora? Agora não queria festas de chá. Ele a queria.
Parou diante de seu quarto. Se batesse seria mais provável que trancasse a
porta e dissesse para ir embora, não necessariamente nessa ordem. Em vez
disso, calmamente abriu a porta e fechou-a atrás dele novamente, então bateu.
O monte de cobertores em cima da cama se mexeu. Por mais tentador que
fosse, despojá-la um por um para chegar ao deleite que estava por baixo, ficou
perto da porta. A única maneira de vencer este jogo seria tê-la querendo-o de
volta, e não poderia vencer assustando-a.
—Quem é?—Murmurou, a cabeça ainda em algum lugar debaixo dos
cobertores pesados. —Mitchell, pedi que não me acordar.
—É Lachlan—, respondeu.
Os cobertores pararam de se mexer. —Vá embora.
—Não.
Silêncio. —Já está aqui, não está?
—Sim.—Com muito cuidado, foi afastar e abrir um dos conjuntos de
cortinas verdes pesadas que cobriam as janelas. Os que tinha selecionado,
porque combinava com seus olhos, como recordou.
Na cama um olho cinza, meio obscurecido por cabelos desgrenhados com a
cor das asas de corvo, escorregou para fora das cobertas. —Precisa ir
embora. Agora.
O aparelho de chá em miniatura com o qual uma vez o torturou, permanecia
ordenadamente em uma prateleira. Cuidadosamente, retirou uma das xícaras de
porcelana azul e branca. Tinha uma pequena lasca no delicado puxador.
—Essa é a xícara que sempre deu para Munro—, disse, —por isso, se ele a
quebrasse, ainda teria três boas.
—Não me faça gritar por socorro, Lachlan. Ranulf vai bani-lo da casa. Pelo
menos.
—Sim, provavelmente iria.—Colocou a xícara danificada de volta e pegou
aquela na outra extremidade da fileira. —E esta era a minha—, continuou,
virando-a em sua mão. —Você pensava que o padrão oposto à asa parecia um
coração do dia dos namorados.
—E você sempre fazia uma careta quando eu dizia isso.—Seu olho foi
direto para ele, e ficou olhando-o.
—Bem, você era implacável, moça.—Voltando a xícara para o pires em
miniatura, Lachlan voltou-se para encará-la e cruzou os braços sobre o peito,
principalmente para mantê-los de fazer algo que ela poderia considerar
descortês.
—Então, deveria estar aliviado que o dispensei. Estava feliz na terça-feira,
quando não discutimos e me disse que nunca iria pedir-me em casamento.
—Ah, isso. Acontece que eu estava errado.
Rowena sentou-se, com seu jeito de menina segurou os cobertores dobrados
até debaixo do queixo. Ela estava nua aí embaixo? Seu pênis se contraiu com o
pensamento. Talvez devesse ter cruzado as mãos na frente dele, para manter
esse sujeito se comportando.
—Levei várias semanas para perceber como estava errada sobre você—,
voltou, sua voz perfeitamente estável. —Como conseguiu arruinar dezoito anos
de pensamento em quatro dias?
—Eu...
—Deixe-me adivinhar—, Rowena interrompeu. —Sentiu falta de ter
alguém te bajulando. E então, para piorar, viu os homens me bajulando.
Ele estreitou um olho. —Essa segunda parte pode ter sido parte do que me
impressionou—, a honestidade o fez dizer. —Mas só porque me fez olhar para
você. Não, fez-me vê-la. Não como era, mas como é.
—E é por isso que decidiu me atacar ontem, presumo.
Ali estava ele, dizendo-lhe seus profundos e verdadeiros sentimentos, pelo
menos, como muitos que atualmente descobriu, e ela continuava a encará-lo
como se tivesse chifres. E verrugas. O que não tinha. —Isso foi um beijo,
moça. Porque me importo com você e tenho a intenção de conquistá-la.
Rowena caiu na gargalhada.
—Que diabos é tão divertido quanto a isso?
—É só que... Nós tivemos essa conversa uma centena de vezes na minha
cabeça, e sempre soou muito mais romântica.—Suspirou. —Se está fazendo
isso porque perdeu a minha atenção, então sinto muito. Existem várias outras
moças aqui que me disseram que o acharam bonito, embora. Se está sendo
sincero, então desista de me cortejar, mas por favor, perceba que está muito
atrasado. Não quero ser cortejada. Não por você.
Lachlan respirou, franzindo a testa. Não era assim que essa conversa
deveria prosseguir. —Não acho que seja muito tarde—, ele voltou. —E
também acho que não sabe o que quer. Viu todos os cavalheiros bonitos e
lisonjeiros em Londres e decidiu ter um para si, porque reconhece que isso é o
que uma dama faz. Mas não é uma dama inglesa, Rowena. É uma moça das
Highlands, e mãos delicadas nunca lhe vão aceitar.
Seu queixo levantou. —Quão perspicaz você é, Lachlan. Acho que é uma
coisa boa, então, que Lorde Cairnsgrove esteja presente. Ele não é inglês.
Ele bufou. —Então vai casar com um homem que cobiça seu irmão, só para
me irritar? Não acho que terminou comigo, como diz.
A partir de sua expressão, já tinha percebido as preferências do Conde, mas
desejava que ele não tivesse feito. —Não estou lhe ofendendo, Lachlan.
Ranulf me pediu para escolher alguém. Estou avaliando.—Sua testa franziu.
—E isto é para Ranulf, portanto, não vou permitir que estrague isso.
—Respirou. —Está errado, de qualquer maneira. Nasci neste lugar, mas não
pertenço aqui. Não mais.
Era ainda pior do que tinha percebido. —O que é agora, inglesa?
—Sempre fui meio inglesa.
Eles pareciam estar num impasse. E se Ranulf tinha feito um pedido ao
invés de uma ordem, Rowena iria tentar honrá-lo. —Direi isso, moça. Veja se
qualquer um dos seus rapazes bonitos agita seu coração. Não vou interferir,
vou fazer o melhor que sou capaz para me conter. Mas, ao final de cada dia,
vou entrar neste quarto e lhe dar um beijo de boa noite.
—Não. Absolutamente não.—Pela primeira vez nesta conversa, parecia
perturbada, com seu sotaque verdadeiro e doce, deslizando em seu ouvido.
—Não? E então, quer que pise nos dedos do pé de alguém ou lhe dê um
murro no rosto? Como vai ser, então?—Deu três passos largos para o lado da
cama. —Não estou desistindo, Rowena. Isso é um fato. Sou uma parte desta...
competição, suponho que seja isso, e tenho a intenção de ganhar.—Virou-se
para a porta.
—Se permitir que me beije, irá se comportar?
Lachlan parou em seu caminho, esperou um batimento cardíaco, então
encarou-a novamente. —Não posso prometer isso. Sou um Highlander, e
quando vejo o que quero, faço o que for preciso para obtê-lo.—Fez uma
pausa, sabendo que precisava adoçar este arranjo um pouco se quisesse que
ela concordasse com aquele beijo todas as noites —e tudo o que poderia vir
depois. —Prometo dar-lhe tempo para conversar com seus galanteadores, não
matar ninguém e não começar nenhuma guerra de clã, mas apenas se concordar
com minhas condições.
Permaneceu em silêncio por tanto tempo, que pensou que poderia realmente
ter perdido sua chance com ela depois de tudo. E isso... feriu, em algum lugar
no fundo do seu peito. Se alguém tão vivaz e entusiasmada como Rowena
desistiu dele, ela seria a única a perder, ou era ele?
—Suponho que não tenho uma escolha na verdade, então—, disse
finalmente. —Um beijo todas as noites, em troca de não ficar entre mim e o
meu futuro. E vai prometer não começar nenhuma briga.
—Não brigar com ninguém?—Ele prosseguiu.
Sua boca se contraiu. —Sem lutas com meus convidados. Brigas.
Bofetadas. Não começará uma.
—Sim. Concordo com isso.—Especialmente desde que ele estivesse em
seu futuro, quer ela fosse admitir isso ou não. E qualquer outra pessoa que
corresse atrás dela, bem, estava provocando problemas. Ele não. —Devemos
apertar as mãos?
Com uma careta, puxou a mão direita dos cobertores e estendeu-a.
Voltando-se para a cama, Lachlan agarrou seus dedos, em seguida, levantou a
mão para escovar os lábios contra os nós dos seus dedos. —Posso estar
atrasado para esta reunião, Rowena—, murmurou, relutantemente liberando
seus dedos, —mas lhe conheço melhor do que ninguém.
—Apenas se estivesse prestando atenção. Pelo que me lembro, passou a
maior parte de seu tempo tentando escapar de mim. E mesmo se soubesse do
que eu gostava, aposto que não me conhece mais.
—Vamos ver sobre isso, não é?

***

Uma vez que Lachlan deixou seu quarto e fechou a porta silenciosamente
atrás dele, Rowena se jogou para trás na cama novamente. No entanto, pensava
nele, e certamente tinha um jeito de ocupar uma sala com a sua presença.
Um beijo todas as noites. Deveria sentir-se chateada e com raiva que ele
tivesse usado seu desejo por algumas educadas semanas contra ela, isso
porque queria que Ranulf tivesse um casamento perfeito, teria que quebrar seu
próprio juramento de permanecer longe dos chamados encantos de Lachlan
MacTier. Irritada, no entanto, não chegou a descrever os tremores e a sensação
instável viajando através de seu intestino até sua espinha.
O que ele tinha acabado de dizer-lhe era a resposta para o sonho romântico
de uma jovem. Seu sonho, há três meses. Supunha que não poderia ser tão
surpreendente ouvi-lo agora, era talvez, apenas um pouco emocionante. Quanto
ao resto, não sabia absolutamente tudo sobre ela. Como ele poderia, quando
não tinha feito nada mais do que debochar dela quando era pequena, e evitá-la
quando estava mais velha, ou pensava que estava —para saber o que ela
queria? E ele não sabia nada de Londres e seus divertimentos sofisticados.
Isso era o que ela realmente gostava agora.
Mais ou menos vinte minutos depois, ouviu uma batida na porta. —Quem é?
—Perguntou, esperando que não fosse qualquer um dos seus irmãos. Não se
sentia à altura da tarefa de explicar a Ranulf por que não se casaria com
Cairnsgrove, ou por que Lachlan abruptamente decidiu persegui-la. Para
também cortejá-la.
—É Mitchell, minha senhora—, a voz de sua criada veio. —Disse para não
acordá-la, mas seu irmão está levando alguns dos rapazes Sassenach para
pescar, e pensei que gostaria de saber.
Oh céus. Rowena lançou as cobertas e saiu da cama ficando de pé.
—Entre!—Sentou-se em sua penteadeira para escovar seu cabelo e os dentes
enquanto Mitchell foi para o guarda-roupa encontrar-lhe algo adequado para
vestir. —Qual irmão?—Perguntou tardiamente, embora pudesse adivinhar.
—Laird Munro. Ele e Laird Gray entraram na sala do café da manhã, e
Cooper disse que ofereceram dez libras e exigiram direitos para qualquer um
deles que capturasse a maior truta antes do pôr do sol.
—Então, as damas foram deixadas para trás?
—Alguns deles se recusaram a ir para o lago para fazer não sei o quê, mas
o resto decidiu ter um piquenique na praia.
Mitchell levantou um vestido de musselina branca, salpicada de flores
vermelhas e pretas. Rowena tinha escolhido o material em Londres, porque
trazia as cores dos MacLawry, e acenou em aprovação.
—Isso soa muito divertido, realmente—, disse de pé novamente e
alegremente lançando sua camisola e, em seguida, levantando os braços para
que Mitchell pudesse deslizar o vestido pela cabeça. Desde que Lachlan tinha
diretamente invadido seu quarto para organizar uma expedição de pesca,
estava um pouco surpresa que soasse tão... civilizado.
—Sim. Cooper enviou uma meia dúzia de lacaios para a costa para colocar
um toldo e mesas e cadeiras. Não vi tanta agitação desde a última reunião do
clã.
—Não precisavam ter tanto trabalho—, Rowena respondeu com uma
careta. Sentou-se novamente para que Mitchell pudesse levantar seu cabelo.
—Vou dizer a Cooper que tudo o que precisamos são alguns cobertores para
sentar.
—A senhorita de cabelos castanhos, Lady Edith, não é? Disse que o terreno
está muito molhado para se sentar, e devem-se abrigar do sol escocês.—A
criada se aproximou mais. —O que há de tão assustador sobre o sol escocês?
Nem sequer o vemos muitas vezes.
—As damas precisam proteger a sua tez—, Rowena respondeu com um
sorriso. —Os homens não gostam que uma dama tenha a pele vermelha,
manchada.
—Lembro-me de você chegando em casa queimada pelo sol mais de uma
vez—, Mitchell comentou quando terminou a espessa e incomum trança e
começou a enrolá-la no topo da cabeça de Rowena. —Você parecia bem e
saudável para mim, mesmo que cheirasse um pouquinho a peixe.
Rowena riu. —Isso não parece muito elegante.
Foi só quando havia visitado Londres que tinha percebido o quão incomum
sua infância tinha sido. Desde o seu quinto aniversário, tinha sido criada
inteiramente por seus irmãos e seu tio Myles. Até onde sabia, jovens damas
iam pescar, usavam calças para que pudessem montar a cavalo, aprendiam a
usar uma pistola e um rifle e uma espada, e usavam vestidos com muitos
babados para festas de chá.
Compreendia melhor agora. Portanto, essas coisas que Lachlan afirmava
saber sobre ela não significam nada, senão como uma fonte de embaraço. Se
queria usá-los contra ela, bem, sabia algumas coisas desagradáveis sobre ele.
Não queria que isso se transformasse em uma guerra, mas ela nunca —jamais
—desperdiçaria outro momento devaneando por Lachlan MacTier.
Na verdade, apenas esses poucos momentos eram numerosos. Endireitando
os ombros, abriu a porta de seu quarto e se dirigiu para as escadas. Poderia
andar delicadamente... depois que atingisse o piso principal e seus
convidados. Talvez não tenha organizado a excursão de hoje, mas poderia
evitar de se dissolver em um caos MacLawry.
—Está muito determinada, esta manhã—, Arran disse, fazendo uma pausa
no topo das escadas para esperar por ela.
—Evidentemente estou atrasada para uma expedição de pesca—,
respondeu, correndo para ele.
—Os homens partiram há cinco minutos, e as moças ainda estão escolhendo
seus pequeninos guarda-sóis.—O irmão MacLawry do meio desceu as escadas
atrás dela. —Apostei com Bear sobre qual moça vai ser soprada para dentro
do lago primeiro.
Com uma carranca ela parou, girando em torno para olhá-lo. —Isso não é
amu...—Parou quando avistou seu sorriso fácil. —Você está me provocando.
—Sim. Estava com um olhar sério. Além disso, desde que está organizando
para uma horda de Highlanders participar de uma reunião e um casamento,
pensei que poderia gostar de alguém lhe dizendo que está fazendo um ótimo
trabalho. Porque está fazendo um grande trabalho.
Rowena alcançou seu braço ileso e o deixou acompanhá-la o resto do
caminho até o piso principal. —Os Highlanders estão apenas começando a
chegar. Sem dúvida, teremos a nossa primeira briga até ao jantar.—E se
Lachlan a causasse, não teria que se preocupar em beijá-lo novamente, e nem
com os sentimentos indesejáveis e oscilantes que vinham com isso.
—Não seria um bom casamento sem uma briga.
—Esperemos que seja menor que a briga que teve.—Ela suspirou,
abraçando o braço bom. —Estava tão preocupada com você, você sabe.
Poderia ter-me contado o que estava acontecendo. E irritado como Ranulf
estava e duas vezes mais apavorado de que nunca fosse chegar na Escócia
vivo.
—Entendo isso—, ele voltou. —Antes de conhecer Mary nunca teria
cogitado fugir para casar, muito menos com uma Campbell. O amor é um
animal estranho, Rowena. Quando lhe apanhar, vai fazer de tudo para mantê-lo
envolto sobre você, custe o que custar.
O simples fato de que seu irmão inteligente e lógico, fugiu de Londres com
Mary Campbell, sabendo muito bem que uma horda de Campbells irritados
estavam diretamente nos seus calcanhares, foi prova suficiente para ela que o
amor era louco. Na verdade, tinha tomado sua decisão de encontrar um homem
calmo, culto para se casar, isso parecia ser mais sensato. —Onde está a sua
Mary, esta manhã?
Seu sorriso caloroso voltou. —Seu estômago está um pouco instável. Estou
no meu caminho para buscar algumas torradas e chá de hortelã.
Rowena o beijou na bochecha. —Estou tão feliz por você, Arran. Vai-me
fazer uma tia.
—Acho estou feliz por mim mesmo. Dê nossas desculpas aos seus amigos,
se quiser.
—Claro.
No momento em que Winnie agarrou seu próprio chapéu e guarda-sol e saiu
de casa, o sorriso de Arran caiu. —Glengask está perto?—Perguntou para
Cooper, quando o mordomo se inclinou contra a porta. Certamente ter tantos
Sassenach na casa, sem dúvida é cansativo.
—Sim, Milorde. Vai encontrá-lo no estábulo. Debny disse que não
estaremos mais alimentando os cavalos até ao final da semana.
Concordando, Arran voltou para as profundezas da casa e depois saiu pela
porta lateral mais próxima do estábulo. Aturaria todos esses ingleses aqui, mas
não tinha a intenção de passar mais tempo com eles do que precisava. Não
quando tinha uma recém adquirida noiva para fazer companhia. Além disso,
não queria nenhum dos amigos de Winnie, novos ou antigos, ouvindo sua
conversa.
Encontrou o Marquês de pé ao lado do cavalariço, próximo de outros dois
cavalariços, terminando de atrelar uma carroça. Howard Howard, o ex-
cocheiro caolho que percorreu Londres e o tinha ajudado e a Mary a alcançar
as Highlands, sentou-se no banco, as rédeas em suas mãos. Arran sorriu. O que
quer que estivesse acontecendo, devia ao Sr. Howard um significativo
emprego.
—Está gostando das Highlands, Howard?—Perguntou, estendendo a mão.
O cocheiro limpou os dedos em suas calças antes de apertar as mãos.—É
tão encantadora como descreveu, Lorde Arran. Além disso, Glengask aqui tem
um belo estábulo. Muito bem. Sinto-me honrado que me encontrou emprego
aqui.—Ele passou a mão em seu olho bom. —É bem popular, você sabe.
—Uma vez que chegarmos ao lugar e entendermos o que o rapaz está
dizendo, todos vamos ser felizes como mariscos—, Debny expôs com uma
risada.
—Hum-hum. Você continua dizendo que sou o único que fala engraçado.
—Howard fungou. —Estamos dirigindo para a aldeia, ou não?
—Você está—, Ranulf determinou, recuando quando Debny subiu na
carroça ao lado do motorista. —Não deixe Tom MacNamara sobrecarregar de
cereais. Volte a lembrar-lhe em manter seu moinho na transação.
—Sim, Milorde.
—Alimentou o cavalo?—Arran perguntou, quando a carroça saiu na
direção de Mahldoen.
—Sim. Os cavalos Sassenach não sabem como viver na doce relva
escocesa, ao que parece.—Ranulf lhe lançou um olhar de soslaio. —Como
está seu ombro?
—Não vou estar lutando com Bear por alguns dias, mas estou quase curado.
—Deu de ombros para demonstrar. Considerando que a bala que Charles
Calder, neto do Campbell, tinha disparado diretamente nele, tinha sido
destinada para o seu coração, sentiu-se com sorte apenas por estar acima do
solo.
—Bom. Vai pescar com o resto deles?
—Não. Mary vai ficar na cama esta manhã. Queria-lhe fazer companhia.
—Deveria, já que foi o único a deixá-la assim.—Ranulf voltou-se para a
casa, e Arran manteve-se ao seu lado. Assim como sua relação tinha estado
tensa durante as últimas semanas, com a paz do Campbell e Mary grávida,
lentamente estavam reparando os danos. Às vezes, porém, sentia que estava
caminhando sobre gelo fino.
—Tive um vislumbre de algo esta manhã, e pensei que deveria saber sobre
isso—, disse Arran, abaixando sua voz ao ruído dos estábulos ocupados por
trás deles.
—Estou ouvindo.
Os cães de caça, Fergus e Una, galoparam até ao estábulo e mantiveram-se
em ambos os lados deles. Ele coçou a cabeça de Una, e a cauda do outro
robusto cão bateu-lhe na coxa. —Lachlan saiu do quarto de Winnie. E ele
estava sorrindo diabolicamente.
Ranulf desacelerou. —Ele o viu?
—Não. Me inclinei em torno da porta quando o avistei.
—Hm.
—Isso é tudo que tem a dizer?—Arran fez uma careta. —Quase o
estrangulei ali mesmo.
—Me disse há alguns dias que Rowena era como uma irmã para ele, e que
não iria pedi-la em casamento. Além disso, tenho alguns prováveis rapazes
vindo conhecê-la. Então, sim, digo ‘hm’. Eles não têm precisamente sido
amigáveis.
—Tenho notado isso. Além disso, há alguns meses atrás não lhe teria
socado o olho por vê-lo lá. Mas... não parecia um sorriso fraterno para mim.
—E foi por isso que quase tinha agredido Lorde Gray, antes que decidisse
investigar um pouco em primeiro lugar.
—Se não fosse Lachlan, iria dar um pontapé em seu traseiro por estar em
qualquer lugar sozinho com ela—, Ranulf disse depois de um momento.
Quando olhou para o lago, estreitou os olhos contra a luz do sol da manhã.
—Me equivoquei, quando você estava em causa, Arran. Desta vez, estou
inclinado a ser mais paciente.
Para ouvir seu confiante irmão mais velho admitir estar errado sobre
qualquer coisa era bastante raro. Neste caso... Arran compreendeu. —Vou
ficar de olho em Lachlan, então, mas estou inclinado a pensar que não
deveríamos dizer a Bear.
—Sim. Concordo com você.—O Marquês retomou sua caminhada para a
casa. —E gostaria que me tivesse dito sobre Cairnsgrove antes que eu o
tivesse convidado aqui.
—Teria, se me tivesse dito que estava em sua lista.—Arran levantou uma
sobrancelha. —Qualquer outra coisa que eu deveria saber?
—Robert Cranach e Jimmy MacMaster.
Isso o surpreendeu. —Buchanan? É sério sobre encontrar um marido para
Winnie, então.
—Não vou tê-la chorando sobre Lachlan por mais tempo. Ou voltando para
isso, se ela perder seus sentidos novamente. Quero que seja feliz.
Arran assentiu. —Se precisar de Cairnsgrove, pode sempre colocá-lo atrás
de Bear.
Glengask bufou. —Isso seria interessante.
—Sim.
Capítulo Seis
—Não, isso seria nenhuma imposição de qualquer modo—, disse Lachlan,
embebendo o haggis em um vinho aguado horrível. —Terei prazer em mostrar-
lhe Gray House, Lady Jane. Não é tão antiga quanto Glengask, mas como foi
construída no meio de uma briga com o clã MacDonald é uma grande e velha
fortaleza resistente.
—É assombrada?—Perguntou Sarah Parker.
—Não seja boba, Sarah—, sua irmã Susan admoestou.
—Oh, sim, é—, respondeu ele. —E não é a única.
—Isso é verdade?—Sarah guinchou, olhando através da mesa de
piquenique para Rowena. —Glengask é assombrada?
Rowena enviou a Lachlan um olhar irritado. —Há histórias, é claro, mas
nunca vi nada.
—Não foi isso que você costumava dizer.—Lachlan tinha dado sua palavra
para evitar brigas com qualquer um de seus convidados do sexo masculino;
nunca disse que iria deixá-la relacionar-se. —Lembro-me de muitas noites de
tempestade quando veio correndo para a sala de bilhar para dizer que o velho
Dougall MacLawry estava caminhando sobre seu quarto, tonto e divertindo-se
assoviando.
Ao lado dele Jane estremeceu. —O que é assoviar tonto?—Ela sussurrou.
—Bêbado e tocando gaita de foles—, disse Rowena com seu cuidadoso
sotaque. —Dougall foi meu tatara, tatara tio-avô. A história é que notou os
Campbells montando para Glengask e agarrou sua gaita de foles para avisar o
castelo. Um batedor dos Campbells sorrateiramente foi por trás dele e cortou
sua garganta e jogou tanto Dougall, quanto sua gaita de foles no lago.
—Apontou para a água ondulando pelo vento atrás dela. —Sua advertência foi
ouvida, no entanto, e o castelo levantou-se.
—E até hoje nas noites de tempestade, toca sua gaita de foles para alertar o
castelo—, Lachlan terminou. —É o que dizem.
—Meu Deus—, Sarah respirou. —Isso é assustador.
—É romântico—, Jane Hanover rebateu. —A menos que você não seja um
MacLawry. Eu sou.—Sorriu. —Ou serei daqui a uns dias, de qualquer forma.
—Ele só aparece em seus aposentos, Winnie?—Susan Parker colocou a
mão sobre o coração.
—Sim—, respondeu, antes de Lachlan pudesse abrir a boca para responder
o contrário. Rowena enviou-lhe outro olhar duro. —Meu quarto de dormir já
foi seu—, mentiu.
—Oh, graças a Deus.
—Ele é o único espírito aqui?—Sarah Parker tinha os olhos espremidos,
quase fechados em claro desespero.
Da extremidade oposta da mesa, Bear bateu sua caneca sobre a mesa,
embora como conseguiu obter cerveja quando o resto deles tinha que sofrer
com o maldito Madeira, Lachlan não fazia ideia. —Tive um cão fantasma
dormindo no pé da minha cama, só no mês passado—, declarou. —Estava frio
como a morte.
As damas suspiraram. Com exceção de Rowena, que parecia
verdadeiramente consternada. Lá estava ela, tentando fazer com que todos os
vissem como eram civilizados e o Castelo Glengask erguia-se contra ela.
Lachlan olhou-a por um longo momento. Ela adorava histórias de fantasmas.
Ele sabia disso, de fato. Mas na frente de seus amigos Sassenach, preferia
fingir o contrário.
—Está louco, Bear—, ouviu-se dizer. —Isso foi seu próprio casaco
molhado, e sabe disso.
Jane riu, e o resto a seguiu como as ovelhas que pareciam ser. Lachlan mal
notou, no entanto. Sua atenção permaneceu em Rowena, a surpresa em seus
tempestuosos olhos cinzentos, e a ligeira curva em seus lábios, antes que
escondesse sua boca por trás de um guardanapo delicado.
—Se quer um conto—, continuou ele, —devia ter Owen dizendo-lhe sobre
os velhos túneis jacobitas debaixo do castelo.
—Não são túneis jacobitas—, Bear corrigiu. —Não há um jacobita neles.
—O que são, então?
Munro sorriu para Sarah Parker. —Túneis de fuga. No caso do exército
inglês começar a convocar. Se precisar fugir, vá para a despensa da cozinha.
Então, se puder enfrentar os ratos e aranhas e fantasmas, vai encontrar-se em
um dos cânions perto.
—Mas as pessoas não podem entrar através dos túneis? Isso não parece
muito seguro.
—A entrada exterior não é fácil de encontrar—, Lachlan continuou, olhando
novamente para Rowena para ver que tinha relaxado agora que seus amigos
Sassenach não estavam sendo inebriados com contos fantasiosos e bárbaros.
—É impossível encontrar, realmente, a menos que alguém lhe tenha mostrado.
Não se preocupe; mesmo se não estivéssemos em paz, todos estariam seguros
aqui.
—Precisamente—, acrescentou Rowena. —Já decidiu quais os jogos que
terá para o encontro, a propósito?—Perguntou a ele.
Pelo menos estava falando com ele, mesmo porque lhe ajudou. —Não. Para
todos os seus Sass —amigos aqui, pensei que uma corrida de cavalos e
possivelmente lançar a pedra.—Considerando que realmente não lhe tinha
dado um momento de pensamento, desde que tinha lhe pedido para ajudar a
organizar os jogos, parecia bastante dócil e gentil.
—Qualquer um pode entrar nessas competições?—Perguntou Samston,
praticamente o primeiro ruído que tinha expressado em mais de um dia.
—Sim—, respondeu Lachlan. —Se tiver a coragem de tentar fazê-lo,
estamos todos dispostos a vê-lo falhar.
As bochechas do Conde ruborizaram. —Aposto cem libras no meu King
contra qualquer cavalo das Highlands.—Enviou um olhar penetrante para
Rowena.
Isso resolvia. Lachlan levantou-se. —Fora da tenda, almofadinha com
babados—, rosnou. —Onde há mais espaço para vencê-lo e deixá-lo sem
sentidos.
—Lachlan!—Rowena disse bruscamente. —Não permito uma briga sobre
insultos a cavalos.
A partir de sua expressão, sabia precisamente o que o tinha irritado, e que
seu sangue estava fervendo. Sabia que tinha acabado de ser insultada, fosse
porque estava fingindo ser inglesa, ele deveria ignorá-lo. Não muito provável.
—Não se incomode—, retrucou, caminhando ao redor da mesa em direção a
Samston. —Não vou surrá-lo até que o tenha arrastado para fora da vista da
colina.
—Isso é ridículo!—O Conde ficou de pé, mas só para começar a afastar-se
para trás da abordagem de Lachlan.
—Tínhamos um acordo, Lorde Gray.
A declaração de Rowena o parou em seu caminho. Claramente, usaria isto
como uma desculpa para evitar beijá-lo, mesmo se tivesse apenas saltado para
defender sua honra. Respirando fundo, apontou um dedo no peito de Samston.
—Valorizamos nossos cavalos aqui—, retumbou, —e não insultamos a
propriedade... de outro homem, a menos que estejamos dispostos a defender
nosso comentário idiota com o nosso próprio sangue. Tenha isso em mente, seu
tolo.—Virando as costas, caminhou ao redor da mesa e retomou o seu assento.
Seguiu-se um silêncio longo e constrangedor, e, claro, Rowena iria culpá-lo
por isso, também. Isto tudo seria muito mais fácil se ela ainda achasse que ele
andava sobre a água. Mesmo Bear parecia um pouco surpreso, mas, em
seguida, a montanha não sabia que Samston tinha beijado sua irmã e foi
repreendido.
—Assim, vocês dois vão para a corrida, então, presumo?—Bear disse
finalmente. —Por que se você está colocando 100 libras em si mesmo,
Samston, vou levar essa aposta. Contra os dois.
Lorde Bask, um dos outros Sassenach, em seguida, decidiu participar da
corrida por si mesmo, embora fosse um pouco mais educado em se gabar
sobre seu arábico Lúcifer. Metade dos cavalos pretos em Mayfair foram
evidentemente chamados de Lúcifer ou Satanás, mas, em seguida, Lachlan
supôs que devia fazer um gentil rapaz sentir-se poderoso, para dizer que
montou o diabo.
—Poderia haver competições para as damas?—Perguntou Lady Edith.
—Sim. Sugestão merecida, embora —Rowena e sua Black Agnes tenham
ganhado nos últimos dois jogos. E esses foram os jogos MacLawry. Vamos ter
meia dúzia de clãs aqui, desta vez.
—Queria perguntar-lhe uma coisa, Winnie—, Jane interrompeu com seu
bom humor habitual, —por que você nomeou uma égua branca de Black
Agnes?
Rowena sorriu. —Ela recebeu o nome de Black Agnes Randolph. Resistiu
contra o exército inglês, mesmo com seu marido lutando em outro lugar. O
Conde de Salisbury partiu sem danificar as paredes do castelo de Dunbar,
após cinco meses de tentativas. A própria mãe de Lachlan foi chamada de
Agnes depois.
—Então, ela é uma heroína—, disse Jane com um aceno. —Mas não um
fantasma.
Bear balançou a cabeça. —Duzentos anos atrás, no Parlamento ordenaram
que Dunbar fosse desmantelado, assim não restaria pedra sobre pedra. Mas
dizem que Black Agnes ainda percorre a colina onde costumava ficar.
—Céus.—Sarah Parker suspirou com um sorriso. —Talvez devesse ter
perguntado se existe qualquer lugar das Highlands que não seja assombrado.
Depois disso, a conversa voltou-se para a pesca e a dança que Rowena
aparentemente estava organizando para amanhã à noite. Lachlan não tinha
ouvido uma palavra sobre isso até então, e não tinha sido convidado, também,
mas seria amaldiçoado se perderia a chance de mostrar a Rowena que sabia
dançar a jiga, bem como qualquer aristocrata inglês.
—Temos mais convidados chegando—, disse Bear, seu olhar na estrada
que serpenteava para baixo pelo lago antes que subisse a longa colina para
Glengask. —Dois homens, a cavalo.
Não seriam quaisquer Campbells, então, porque mesmo com uma paz entre
os clãs nenhum deles ousariam chegar em tão pequeno número. Além disso, os
chefes dos clãs MacLawrys estavam trazendo as famílias e quem quer que
tivessem escolhido para competir nos jogos. Lachlan voltou a olhar a Rowena,
para encontrá-la olhando as figuras na estrada, também.
—James MacMaster e Robert Cranach; não me ia contar?—Disse
calmamente.
Ela piscou. —Sabia sobre eles?—Sussurrou, inclinando-se sobre a mesa
em direção a ele.
Ele queria beijar aqueles lábios entreabertos, sentir sua respiração suave
no rosto. —Sim. Acha que eles são mais como Cairnsgrove, ou Samston?
—Ele voltou no mesmo tom.
—Silêncio.—Rowena olhou para a ponta da mesa, onde Cairnsgrove
conversava com William Peabody. —Talvez tudo o que me importa é que
nenhum deles é você.
Bem, isso machucou mais fundo do que gostaria de admitir. Lachlan forçou
um sorriso. —Se isso fosse verdade, moça, já teria escolhido um homem. E
não escolheu, então esta corrida ainda não acabou.
—Não sou um troféu a ser vencido.
—Não. Você escolhe o vencedor. Só não se esqueça, estou nesta corrida
tanto quanto qualquer outro de seus pomposos rapazes. E não sei perder.
Essa era a complicação, embora fosse a única irmã MacLawry, e Ranulf
tinha deixado a escolha para ela. Cem anos atrás, há cinquenta anos, mesmo,
tê-la—ia simplesmente roubado no meio da noite, lançando-a sobre a sela, e
encontrado um sacerdote para casá-los rapidamente.
Agora, porém, supostamente seria um cavalheiro em uma competição com
outros cavalheiros mais educados. Além disso, já tinha uma marca negra
contra ele, simplesmente porque não tinha percebido até poucos dias atrás, que
ela se tornara uma jovem adorável, desejável.
Não gostava disso, em tudo. Mas, a menos que viesse com uma solução
melhor, teria que jogar o seu jogo. Felizmente, não estava acima de enganar
—ou qualquer outra coisa que o ajudasse a ganhar.
***

Meia hora depois que a dupla de cavaleiros desapareceu ao lado da colina,


um trio de homens veio andando em direção ao lago. A maioria dos
convidados masculinos voltara para a pesca, mas não todos eles. Não aquele
que desejava que fosse para outro lugar, para lhe dar tempo para pensar.
Tinha que ter sido Munro quem tinha dito para Lachlan sobre seus novos
pretendentes em potencial. Ranulf nunca teria pensado em fazer isso, e Arran
não o faria, em princípio. Olhar para seu irmão de costas largas enquanto
chicoteava sua vara de pescar, não lhe faria nenhum bem agora, no entanto.
Nem faria cara feia para Lachlan, que se sentou entre Jane e Edith sob o toldo
e, aparentemente, tentou aprender a bordar. Era um péssimo aprendiz, embora,
ou estava com grande parte de sua atenção sobre os recém-chegados, também.
Que diabo, por que ele não voltava a pescar? Provavelmente, tudo tinha
sido ideia dele, de qualquer forma.
No entanto, sentou-se lá bem no meio para prestar atenção na conversa
—ou apenas para causar problemas, porque já não o achava irresistível. Essa
desculpa, porém, não fazia muito sentido tanto quanto antes de beijá-la no
Castelo Teàrlag. Antes que a agarrasse em seus braços, como tinha imaginado
desde que tinha completado quinze anos e afirmasse que se casaria com ele e
que começasse a sugerir algo mais... romântico. Algo sexual.
Suas bochechas ruborizaram, e tomou um gole de Madeira. Só porque tinha
tido esses pensamentos sobre ele não significa que agora não poderia tê-los
por qualquer outra pessoa. Pelo amor de Deus, estava pronta para se
apaixonar por Samston, até que percebeu que se importava mais com sua
riqueza do que com seu coração. Tinha ficado animada e esperançosa no
encontro com Cairnsgrove, mesmo que isso só tenha durado dez minutos ou
menos.
Agora, pretendia ser cautelosamente esperançosa e sábia. Ranulf preferia
Lorde Robert Cranach. Seis meses atrás, teria, portanto, escolhido qualquer
pessoa, menos Lorde Robert —se, claro, já não estivesse comprometida com
Lachlan. Bem, não estava prometida para Lachlan, e Ranulf tinha pedido, em
vez de ordenado.
O imponente homem alto, no meio dos outros dois não poderia ser qualquer
um que não o Marquês de Glengask. À sua direita, o homem parecia ser bem-
apessoado, mas forte, com cabelo cor de trigo e um maxilar amplo. Não tão
bonito quanto Lachlan, embora com toda a honestidade poucos homens fossem.
Rowena voltou sua atenção para o homem no lado esquerdo de seu irmão.
A primeira coisa que notou foi seu longo casaco de equitação preto e a forma
como batia contra a parte traseira de suas gastas botas de equitação pretas. Um
casaco poderia ser romântico? Parecia poético, pelo menos.
Sob o casaco parecia mais alto que seu primo, o rosto mais longo e estreito
e seus olhos de um marrom quente muito agradável. Usava o cabelo dourado
escuro cortado rente e impecável, e seu olhar mudou-se dela para Ranulf
enquanto os homens conversavam.
Quando o trio chegou ao toldo, levantou-se, mal notando que o resto das
damas presentes fizera o mesmo. O que reparou foi que esperava que o homem
de casaco preto de equitação fosse Lorde Robert Cranach.
—Rowena—, Ranulf disse, gesticulando para se aproximar, —adicionei
mais dois convidados em sua lista. Espero que não se importe, piuthar.
—Claro que não, bràthair. Quanto mais melhor.
—Bom.—Ele indicou o homem mais baixo. —Então Rowena, posso
apresentar-lhe James MacMaster? James, minha irmã, Rowena.
—Muito prazer, Lady Rowena—, falou pausadamente em seu sutil sotaque
Highlander. Mas, então, viveu um tempo em Londres. Ranulf tinha-lhe dito...
que ambos os homens Buchanan viveram.
Ela fez uma reverência. —Da mesma forma, Sr. MacMaster.
—E este é Lorde Robert Cranach, irmão mais novo do Marquês de Helvy.
Rob, minha irmã.
O de casaco preto de equitação mostrou sutilmente uma flexão muito
elegante. —Minha Lady Rowena. Realmente é tão adorável quanto todas as
fofocas dizem.
As Highlands estavam em sua voz também, mas claramente, tinha passado
uma grande parte de tempo em outros lugares. Tardiamente, Rowena inclinou a
cabeça. —Lorde Robert. Estou muito contente em conhecê-lo.
Ele sorriu. —Vou-me adiantar, porque vejo que todos estes rapazes aqui
estão olhando para você. Ouvi dizer que está incentivando um baile amanhã à
noite, e gostaria muito de valsar com você, minha senhora.
Oh, isto foi muito melhor do que ela esperava. —Porei o seu nome no meu
cartão, então.
Do outro lado de Ranulf, o Sr. MacMaster deu um suspiro alto. —Sabia que
isso iria acontecer. Uma moça lança seus olhos em Rob, e o resto de nós
parece um trouxa.
Rowena riu, ciente de que provavelmente parecia um pouco tonta.
Certamente sentia-se dessa forma. —Bem, se cada um de vocês me conceder o
braço, vou ficar feliz em apresentá-los a todos.
Eles prontamente obedeceram, e com ela no meio, guiou-os ao grupo
sentado mais distante de Lachlan. Intencionalmente não tinha olhado em sua
direção desde que os homens tinham aparecido na trilha, mas estava certa de
que podia sentir seu olhar sobre ela. Não se importava, claro, e ele sabia
quem eram e por que estavam em Glengask. Pelo menos tinham sido
convidados. Ele só aparecia quando tinha vontade, o que parecia ser o tempo
todo.
Quando não pôde adiar por mais tempo a apresentação, parou em frente
aonde ainda estava sentado, tornozelos cruzados, enquanto em ambos os seus
lados Jane e Edith formalmente se levantaram. As mulheres, claro, foram
perfeitamente educadas e simpáticas. Com a mandíbula apertada, encontrou o
olhar de Lachlan. Esses lindos olhos verdes que ele tinha —e desejava que o
resto dele fosse para o fundo do lago.
—James, Lorde Robert, este é o nosso vizinho—, anunciou, colocando a
maior distância social possível entre ela e Lachlan. —Lorde Gray, James
MacMaster e Lorde Robert Cranach.
Lentamente, quase preguiçosamente, ficou em pé. —MacMaster, Lorde
Robert—, falou pausadamente. Se sentia a necessidade de demonstrar que era
o mais alto dos três, estava perdendo tempo. Já sabia exatamente como era
alto. Além disso, não tinha nada a ver com nada, homem insuportável.
—Gray.—Lorde Robert inclinou a cabeça.
—Não veio todo o caminho de Fort William a cavalo, não é?—Ele
perguntou, oferecendo sua mão.
Lorde Robert apertou. —Não—, respondeu. —Temos uma carruagem
poucas horas atrás de nós. Prefiro andar quando posso.
—E eu não queria ser deixado para trás—, acrescentou James.
—O...
—Meu irmão Munro está, certamente, pescando—, disse rapidamente, antes
de Lachlan pudesse desafiá-los a uma queda de braço ou algo assim. —Com o
resto dos homens. Vamos?
—Estou às suas ordens—, Lorde Robert disse solenemente, gesticulando
com a mão livre.
Os pés de Rowena mal tocavam o chão, enquanto levava os dois homens do
clã Buchanan até à praia e fazia o resto das apresentações. Se a próxima
quinzena fosse tão esplêndida quanto os trinta minutos anteriores, Lachlan
MacTier poderia gritar sobre prêmios e ganhá-los até à exaustão e não teria a
mínima importância.
Entretanto ele poderia tê-la coagido com alguns beijos, o que só o fazia
menos cavalheiro. E ela queria um maldito cavalheiro.
***

Lachlan se endireitou, observando quando a bola de bilhar amarela rolou


para o bolso do canto superior esquerdo —precisamente onde não queria que
fosse. —Ya Bas—[8], resmungou.
—Amaldiçoar a pequenina coisa não lhe vai salvar.—Bear riu.
—Pensei que estava jogando com o vermelho—, Arnold Peabody comentou
de uma das cadeiras da sala.
—Ele estava—, seu irmão disse da cadeira ao lado.
—E com isso, estou fora.—Lachlan jogou o taco para Bear, que habilmente
pegou e ofereceu-o para Jimmy MacMaster.
—Não devo recusar, para o orgulho do ‘clã Buchanan—, MacMaster disse,
pegando o bastão e ajudando Bear a repor a mesa.
E assim, de repente, sou substituído, Lachlan pensou amargamente,
enquanto tirava seu casaco. —Vejo você pela manhã, Bear. Não esqueceu,
espero, que me deu sua palavra que me vai ajudar a expulsar seu maldito gado
fora do campo sul para que eu possa semear o meu trigo.
—Sim. Estarei lá.
—Oh, isso parece divertido—, Lorde Bask disse, olhando para cima a
partir do jogo de faraó que ele e Cranach e o irmão de Edith, Victor estavam
jogando. —Conte comigo.
Em outro momento Lachlan poderia ter escolhido dizer algo sobre os
Sassenach montando em todo o seu campo, mas esta noite tinha coisas
melhores para fazer. Ele assentiu. —Como quiser.
Poderia passar a noite em Glengask se preferisse; tinha feito isso inúmeras
vezes antes. Mas se fizesse isso, iria roubar-lhe a desculpa para deixar a sala
de bilhar antes do amanhecer. E um encontro o aguardava.
No momento em que ficou fora de vista, mudou de direção, subindo as
escadas em vez de descer. No fundo de sua mente, sabia que não contando a
Munro aonde estava indo —e, pior, não corrigindo o que se havia tornado a
mentira que contou a Ranulf, estava traindo a confiança dos MacLawrys.
Deixaram-no entrar neste castelo, em suas vidas, como parte de sua família, e
agora estava esgueirando-se como um ladrão. Ele era um ladrão, para roubar a
virtude de Rowena, seu coração e sua mão.
Poderia dizer-lhes o que pretendia, supôs, se se expressasse nos termos
apropriados. Afinal, Glengask tinha convidado os homens justamente com a
mesma finalidade. Mas em primeiro lugar, tinha orgulho suficiente para querer
ter a certeza de que teria sucesso, antes de se arriscar a ser ridicularizado ou,
pior, afastado. Em segundo lugar, se qualquer um dos irmãos MacLawrys
percebesse suas intenções, estariam no seu direito de enterrá-lo em seu
próprio campo de trigo.
Desacelerou do lado de fora da porta de Rowena, procurou por criados e
convidados errantes, então abaixou a maçaneta e entrou, fechando a porta
silenciosamente atrás dele.
—Não acredito que realmente acha que vou continuar com isso.
Rowena estava sentada em uma das cadeiras diante da lareira, um livro
aberto no colo. Não tinha tirado seu vestido de noite; evidentemente, não
queria que a visse em sua camisola novamente, o que era uma pena.
—Acho que vai—, ele voltou, caminhando e soltando-se na cadeira ao
lado.
—Quase chegou às vias de fato com Lorde Samston. O acordo foi que se
iria comportar.
—O acordo foi que não começaria uma briga. Não comecei. Ele sim, e eu
ainda não fiz seu nariz sangrar. Mesmo depois de ter-te insultado. Porque me
pediu para não fazê-lo. Então me dê algum maldito crédito por isso, pelo
menos.
Ela assentiu com a cabeça. —Não seria necessário. Ninguém, além de Jane
sabia que ele estava insultando-me.
—Eu sabia. E mais importante, você sabia—, retornou, enfatizando a
palavra. —E imagino que não vai fazer novamente, então não sei por que
espera que me desculpe.
—Não, isso seria esperar demais.—Rowena suspirou.
Inclinou-se e pegou o livro de seu colo. —Culpepper’s Medicine—, leu.
—Então,vai ser médica agora? Ou estava fingindo ler, para assim, eu não
achar que ficou sentada aqui, pensando em mim?
Recuperando o livro, colocou—o na ponta da mesa ao seu lado. —Isso é
bobagem, Lachlan. E isso não significa nada.
—Se não significa nada, por que está duramente se esforçando para se safar
disso?
—Não estou —não —me esforçando para escapar de qualquer coisa. Só
estou... Estou tentando dizer-lhe que alguns beijos não me vão influenciar. E
mais do que isso, cada vez que pretende esgueirar-se até aqui, sem qualquer
razão, está arriscando sua amizade com Bear e todos os outros. E comigo.
—Tudo bem. Não quero ser seu amigo.
Seus olhos cinzentos, salpicados com a luz alaranjada refletida do fogo,
piscaram. —Não quer?
Ele balançou sua cabeça. —Não. Amigos são para festas de chá e
brincadeiras com lama e jogos de bilhar. Quero mais do que isso de você,
Rowena.
Abruptamente, levantou-se e caminhou até a cama e voltou novamente.
—Lorde Robert é muito encantador.
—Claro que é—, Lachlan voltou-se, sem se preocupar em esconder sua
carranca. —Poderia ser encantador e pedir que, por favor escreva meu nome
no seu pequenino cartão de dança e vou levantar meu dedo mindinho quando
beber chá, se for tudo que quer para que me veja como um cavalheiro.
Um breve sorriso tocou sua boca e depois desapareceu novamente.
—Nunca pensaria em você como cavalheiro.
—Dancei nessa—, admitiu. —Mas costumava pensar que sou um
cavalheiro.
—Isso foi antes de conhecê-lo bem, Lach. É muito tarde agora.
Ele ficou de pé, também. —Se não sou um cavalheiro, então, não adianta
dançar com você.
Rowena deu meio passo para trás enquanto avançava para ela, e ele
imediatamente abrandou. Tudo o que queria dela, seria tê-la virando e gritando
por ajuda. Quando ela parou e levantou o queixo, o olhar de fuga de seus olhos
à boca, não pode deixar de sorrir.
—Isso não é divertido—, declarou ela, os punhos abrindo e fechando.
—Não é para ser divertido. Estou satisfeito.
—Satisfeito? Por que...
—Porque está nervosa, moça feroz—, murmurou, e deu um grande passo à
frente.
Tocou sua boca na dela. Rowena manteve os lábios firmemente fechados,
mas em vez de insistir que cooperasse, mudou de tática. Levemente, escovou
os cantos de sua boca, avançando e recuando até que seus lábios se
suavizaram com um suspiro, que levou a sensação até seu pênis.
—Rowena—, respirou, e fechou sobre ela novamente. Segurando seu rosto
em suas mãos, brincou com sua boca, a atração e o estímulo entre eles quase
palpável. Quando ela deslizou os braços sobre seus ombros, não pôde deixar
de sorrir novamente.
—Pare com isso—, murmurou, beijando-o de volta.
—Não.
Finalmente, ela caiu em si e o empurrou. Assim, tanto quanto queria
continuar tocando-a, com uma última mordida em seu lábio inferior, recuou.
Assim como a conhecia, ou achava que a conhecia, não conseguia ler a
expressão em seu rosto. Queria saber o que estava pensando e —mais
importante, sentindo —mas, provavelmente pela primeira vez não tinha
nenhuma ideia por onde começar.
Quando ela se moveu, seus músculos se reteseram, prontos para um tapa ou
um beijo. Em vez de tocá-lo, porém, finalmente quebrou seu olhar do dele e
passou ao seu lado. Quando ele se virou para ver, ela chegou à porta e olhou-o
novamente.
—Boa noite, Lachlan—, disse, e abaixou o trinco.
—Isso é tudo que tem a dizer?—Voltou-se, lembrando-se de manter sua voz
baixa. A ideia de que se estava esgueirando na casa ainda levaria algum tempo
para se acostumar, aparentemente.
—Temos um acordo, fique satisfeito com isso. Agora vá, antes que Bear
apareça e desça um machado sobre você.
—Não estou satisfeito, Rowena, mas vou fazer o que me pede.—Parou
diretamente na frente dela. —Acho melhor colocar o meu nome em seu
pequenino cartão de dança para amanhã à noite também, porque vou dançar
com você.
Ela engoliu em seco. —Vou dar-lhe uma quadrilha.
Lachlan colocou a mão sobre a dela, onde segurava a maçaneta da porta.
—Vou ter uma valsa.
—Prometi a valsa para Rob.
—’Rob’, é?—Disse suavemente. —É sua festa. Tenha seu violinista
tocando duas valsas. Uma delas é minha...
—Lachlan—, disse, abaixando a cabeça.
—A sua palavra, moça.
Finalmente, soltou a respiração. —Bem. Terá uma valsa. Agora vá embora.
Suas palavras poderiam ter soado irritadas, mas seu tom não correspondia
muito. E nem a forma como o seu olhar baixou de novo à sua boca, como se
não conseguisse se conter. E depois havia o jeito que tinha esquecido de falar
como um Sassenach, algo que não estava prestes a apontar para ela. Não
quando poderia ouvir seu doce sotaque novamente.
—Tudo bem, então. Oidhche mhath[9]. Boa noite, Rowena. E não se
esqueça, estarei aqui amanhã à noite, depois da sua festa.—Liberando sua
mão, ele a deixou abrir a porta.
—Você ainda não é um cavalheiro, Lachlan. E um cavalheiro é o que eu
quero—, sussurrou em suas costas enquanto deslizava para o corredor.
—Não sou—, retornou, e dirigiu-se para uma casa fria, desconfortável.
Capítulo Sete
—Está procurando por alguém?—Perguntou Rob Cranach, movendo-se
através da multidão do sarau para entregar-lhe uma taça de limonada.
Rowena piscou, então tomou um longo gole do líquido ácido para dar-se
um momento para pensar. Seus irmãos —e Lachlan —a tinham deixado beber
whisky na ocasião, e poderia ter bebido uma taça esta noite. Ontem à noite,
ainda não tinha adormecido até quase amanhecer, e, em seguida, pelas
próximas três horas tinha sido interrompida por sonhos com Lachlan dançando
com ela e beijando-a e fazer algumas outras coisas que foram bastante vagas e
nebulosas, mas ao recordar-se sentia-se desavergonhada e radiante.
E, então, durante todo o dia, não tinha visto nenhum sinal de Lachlan, de
qualquer modo. Sabia que Bear e alguns dos outros homens tinham percorrido
a cavalo duas milhas para Gray House para ajudá-lo a conduzir o gado
perdido de um de seus campos de descanso, mas Bear esteve de volta a tempo
de levá-los para um passeio à Madainn Srath para que pudesse deliciar a
todos com o conto de Lady Teàrlag.
Foi frustrante. Durante todo o dia tinha ficado com uma resposta pronta nos
lábios, uma resposta ao seu comentário final na noite passada, e depois não
apareceu. Sabia muito bem que ela estaria andando com Lorde Robert, que
poderia até ter solicitado sua ajuda com a decoração do salão de baile formal
raramente usado em Glengask —não que soubesse alguma coisa sobre saraus
adequados.
Claro, Gray House era uma propriedade significativa em seu próprio
direito, e tinha a última plantação do ano para providenciar. De qualquer
maneira, no momento, decidiu, foi provavelmente intencional. Ele sabia que
ela teria algo a dizer-lhe, e que se estivesse presente, iria compará-lo
desfavoravelmente com o encantador e cortês Rob.
—Lady Rowena?
Oh, e agora Lachlan a estava distraindo novamente. Silenciosamente,
acrescentou isso a sua lista de queixas contra ele. —Sinto muito, Rob—disse
em voz alta. —Nunca organizei uma festa tão grande antes. Isso me deixou um
pouco alheia.—Parecia plausível, pelo menos, embora na verdade devesse
estar gastando mais do seu tempo do que do que se preocupando com a festa.
—Bem, não têm que se preocupar, minha senhora—, disse com um sorriso.
—Estive em salões de Mayfair que não poderiam patrocinar uma vela para
esta.
—Obrigado por dizer isso.
Jane veio pulando, sua irmã mais velha a reboque. —Winnie, diga a
Charlotte que podemos ter tantos valsas quantas quisermos.
—Eu não discordo—, disse Charlotte com um sorriso. —Só disse que ter
uma dúzia de valsas podem nos confundir com um bordel.
—Esta casa tem sido muitas coisas—, Ranulf colocou, juntando-se a eles,
—mas não é, nunca foi, nem vai ser um bordel. Uma valsa, Rowena.
Isso iria libertá-la da sua promessa a Lachlan. Mesmo assim, sentia-se
estranhamente desapontada, e isso foi sem que Lachlan estivesse presente.
—Bem, agora vai-nos confundir com o Parlamento—, afirmou. —Três valsas.
Seu irmão mais velho olhou para Charlotte. —Quantas vezes um homem
dança com sua noiva em sua própria casa, leannan[10]?—Perguntou a ela.
Charlotte limpou a garganta. —Três vezes. Mas apenas duas valsas.
Ranulf girou a cabeça para trás na direção de Rowena. —Vê, alguém que
me dá uma resposta direta, honesta. Duas valsas. Mas é melhor ter seus
‘rabequistas’ tocando uma agora.
—Vou acompanhá-la—, Rob disse, oferecendo seu braço.
Ela envolveu a mão em sua manga. —Ranulf sabe que os ‘rabequistas’
preferem ser chamado de violinistas—, ela comentou. —Ele é muito teimoso,
no entanto.—[11]
—Ele fez uma boa vida para o seu clã—, Lorde Robert respondeu. —Pode
chamá-los do que preferir, tanto quanto estou interessado.
Como seus irmãos e Lorde Cairnsgrove, Rob e James MacMaster estavam
vestidos com seu traje escocês esta noite. Todas as suas amigas do sexo
feminino de Londres pareciam achar homens vestindo kilts impróprios e
exóticos, mas para ela isso era exatamente o que os Highlanders usavam.
Podia admitir que Rob e seus irmãos, pelo menos, pareciam elegantes, na
verdade. O Buchanan amarelo, verde e vermelho era bonito, mas era estranho
e... desconcertante, pensar que, em breve, poderia estar trocando o negro,
branco e vermelho dos MacLawrys, por outras cores, por outras lealdades.
Chamou a atenção de um dos violinistas na varanda... e solicitou uma valsa.
Então, Rob levou-a para o centro, colocou a mão em sua cintura, e começaram
a dançar.
A pista de dança estava cheia. Ranulf e Charlotte, Arran e Mary, Bear e
—oh, céus —Jane. Quase todos tinham deixado seus assentos, e ela começou a
respirar um pouco mais facilmente. Como a única mulher MacLawry presente,
afinal esta era a sua responsabilidade, e seria assim até que Charlotte e Ranulf
se casassem. Então, bem, seria desnecessária aqui —exceto pela aliança,
poderia ajeitar seu próprio casamento.
Isso não era inteiramente verdade, é claro, porque nunca poderia se sentir
inútil ou desnecessária onde sua família estava envolvida. Era a única irmã
dos MacLawry, depois de tudo, e nada separava os irmãos MacLawry. Nada.
—Gostaria de ter estado em Londres para ver a sua estreia, minha senhora.
—Rob sorriu-lhe. —Tinha negócios em Inverness que levaram mais tempo do
que deveriam.
—Vai a Londres com frequência?—Perguntou. Um Highlander que poderia
valsar, tratá-la com deferência e respeito, e que não via Londres como um
pequeno buraco do inferno. Era maravilhoso, realmente.
—Tento ir pelo menos duas vezes por ano—, respondeu. —Esta é a
primeira temporada em quatro que perdi.
—O que foi fazer em Inverness, se me permite perguntar?
—Ovelhas. Lã, na verdade. Supervisiono a venda de lã crua para os
moinhos em nome do meu irmão. E este ano, bem...—Fez uma pausa,
abaixando a voz e movendo-se uma respiração mais perto dela. —Este ano
negociei uma participação maioritária nas duas maiores fábricas na cidade
para o clã Buchanan.
—Bem. Parabéns—, disse, enterrando seu mal-estar com a menção de
ovelhas. O clã MacLawry não criava ovelhas, com exceção de um punhado da
raça Highland, que mantinham para suas próprias fábricas e uso próprio.
Ovelhas significavam aldeões chutados para fora da terra para dar lugar a
pastagens. Isso significava esvaziar as Highlands do seu próprio povo. Além
disso, era contra tudo o que os MacLawrys lutavam.
Ranulf sabia que os Buchanan faziam a maioria de sua riqueza de carne de
carneiro e lã, no entanto. E tinha selecionado tanto Robert Cranach e James
MacMaster como possíveis pretendentes para ela. Portanto, os Buchanan
tinham algo que ele queria, ou precisava, para o clã. Ou, caso contrário, não
estaria promovendo uma aliança.
—Tem um olhar muito sério em seus olhos—, Rob observou, enquanto
continuavam girando sobre o aposento.
—Tenho? Isso raramente acontece.
Ele riu. —Bom.
Não tinha certeza do que ele quis dizer com isso, mas sorriu de qualquer
maneira. Isso, uma festa linda com seus novos amigos, uma valsa nos braços
de um homem bonito, que prestava atenção nela e a elogiava —parecia
perfeito.
E então o viu, e quase tropeçou em seus próprios pés. Lachlan MacTier. O
resto dos homens Highlands usavam kilts, mas ele não. Não essa noite. Não,
esta noite estava vestindo uma jaqueta de cauda longa cinza escura, calça de
camurça marrom e polidas botas Hessian pretas com franjas amarelas. Sua
camisa branca de neve, colete preto e cinza, a gravata caprichada e elegante.
Ele parecia... Rowena virou a cabeça para mantê-lo à vista, enquanto girava
na pista de dança.
Ele parecia bem e devidamente vestido como qualquer cavalheiro inglês
presente —melhor, na verdade, do que a maioria deles. Nem sabia que possuía
roupas Sassennach, ou que jamais se dignaria a usá-las, se tivesse.
Antes que Robert Cranach pudesse questionar por que estava olhando, de
boca aberta, a valsa terminou. Tardiamente, juntou-se aos aplausos, depois
sorriu para seu parceiro. —Isso foi lindo. Obrigada.
—Não me agradeça, minha senhora. O prazer foi meu.—Olhou-a e para
Lachlan e de volta. —Um rival, presumo?
—Lachlan? Céus, não.—Deliberadamente esperou até que Lorde Gray
estivesse ouvindo antes de continuar. —Está sempre dizendo que é como um
irmão para mim.
—A fraternidade das Highlands, eu acho—, Lachlan rebateu. —Peço
desculpas por estar atrasado, Rowena. Plantamos metade do campo sul antes
de perceber que o gado estava entrando através da cerca. Estavam vindo, não
sei como, do leito do rio até ao outro lado. Então, agora tenho uma bela cerca
nova ao longo da margem.
Queria dizer-lhe que não tinha notado que ele não estava lá, mas parecia
mesquinho mesmo em sua própria cabeça. Além disso, plantar um campo só
para tê-lo pisado e comido poderia ser um desastre —não apenas para
Lachlan, mas para seus aldeões e o moleiro e todos os lojistas relacionados e
assim por diante. Ranulf sempre disse que o menor dos desastres poderia
causar muito maiores.
—Muito bem, então—, disse ela em vez disso.
—Não é tão excitante quanto um sarau, mas não podia esperar até amanhã.
—Ele observou o salão de baile decorado de branco e ouro. —Espero não ter
perdido todas as boas danças.—Os olhos verdes penetrantes olharam-na.
—Apenas as quatro primeiras—, Rob respondeu por ela. —Vejo que seu
irmão está olhando incisivamente para mim. Com licença, moça?
—É claro.
—Então, Glengask estava olhando para ele, hein?—Disse Lachlan,
imitando o ligeiro sotaque de Rob com uma precisão surpreendente.
—Suponho que Ranulf não olhou ninguém meio incisivamente esta noite.
Rowena virou as costas e estava indo procurar por Jane. Não ia ouvi-lo
tirar sarro do homem com quem provavelmente se casaria. Além disso, Jane
poderia muito bem estar precisando de ajuda. A única coisa pior do que sua
amiga caindo por Lachlan, seria vê-la perder seu coração para Munro. A
maioria das mulheres tinha aprendido.
Uma mão a agarrou pelo braço. —Sem brilho?—Disse Lachlan, movendo-
se na frente dela. —Isso foi um esforço pequenino, Rowena.
—Por que está vestido como um inglês?
Ele olhou para seu esplêndido traje e endireitou o casaco. —Inglês é o que
diz gostar, não é?
—Você não é inglês, porém decidiu se vestir como eles.
Lachlan fez um gesto para as costas de Rob, enquanto este se retirava.
—Nem Lorde Rob Cranach é.
—Não, ele é um Highlander. Ao contrário de você, porém, pode discutir
teatro e moda e literatura.
—Então Cairnsgrove também pode.
—Mas Rob também me diz que sou bonita e desejável, e não discute
comigo sobre tudo. Gosta de mim.
—Gosta do que seu dote pode fazer pelos Buchanan, quer dizer.
Rowena apertou seu punho. —Agora insultou a Rob e a mim. Merece um
tapa por isso.
—Mas não vai fazer isso, não é, moça?—Sorriu, e ela involuntariamente
olhou para sua boca antes que se contivesse. —Se esta fosse uma festa
Highlander, você o faria.
Possivelmente era o homem mais agravante que já conheceu, Rowena
decidiu. —Pensei que estivesse tentando olhar e agir como um inglês—, disse
tão calmamente quanto podia. —Se for o caso, tenho medo que seja uma
representação muito pobre.
Olhos verde-musgo a estudaram por um longo momento. —Deseja-me, mas
não quer conversar o que está em minha mente, então—, finalmente murmurou,
—e para sorrir e dizer-lhe coisas lisonjeiras para convencê-la que sou o rapaz
para você. Cuido disso.
—Isso não é...—Com um grunhido quase sufocado, se conteve. Poderia
protestar o que ele tinha dito, mas iria contrariar que não tinha como saber se
ele —ou qualquer outra pessoa —estava sendo sincero ou não. Então,
começaria a se perguntar quantos dos elogios de Rob foram calculados para
ganhar sua aprovação. Dane-se tudo, não poderia deixar de fazer isso agora.
—Não se preocupe—, disse em vez disso.
—Não. Vou ser um cavalheiro, moça.—Com isso, ofereceu o braço, dando-
lhe a escolha de andar com ele ou se afastar como uma louca, de maneira que
parecesse ser um gesto muito adequado.
Ela pôs a mão em de sua manga. —Leve-me para a mesa de refrescos.
Caminharam nessa direção, embora ele parecesse estar tomando um desvio.
—Você vê? Muito bom.
—Não fale comigo.
—Mas então não posso dizer-lhe que seu cabelo é preto e brilhante como
as asas de um corvo, ou que seus olhos são da cor de um céu tempestuoso.
Ela enterrou os dedos no tecido em torno de seu braço. —Isso não é
bajulação—, afirmou. —Está apenas zombando do comportamento
cavalheiresco.
—Estou agora?—Ele levantou uma sobrancelha. —Como assim?
—Só escolheu itens poéticos com as cores corretas, como se eu devesse
acreditar que poeticamente pensa em mim. Ambos sabemos que não pensa, no
entanto.
—Então, deveria ter dito que seus olhos de gato selvagem me olham com
raiva, e que seu cabelo é tão negro quanto o meu coração? Não ouvi qualquer
Sassenach ser honesto.
—Talvez não—, admitiu, recusando-se a ser divertida. —Mas de você,
preciso de honestidade.—Rowena fez uma careta. —Vi você com as cores do
arco-íris por muito tempo.—Pediu-lhe para ser honesto, então supôs que
devesse ter a obrigação de dizer a verdade, a si mesma.
—Então, é isso?—Perguntou abruptamente, abaixando o braço e voltando-
se para encará-la de frente, olhando para baixo para encontrar o seu olhar
virado para cima. —Me imaginava ser algum tipo de Galahad, e agora me
culpa porque não sou o homem que nunca fui?
—Isso não faz nenhum sentido.—Começou a passar por ele, mas moveu-se
para bloquear seu caminho.
—Sim, faz—. Respondeu. —E ainda tem esse arco-íris envolvendo você. É
com essas cores que olha para todos esses rapazes. Está-se enganando,
Rowena. Além disso, sou o único que vê claramente agora. Isso lhe assusta,
não? Afinal, aquela conversa sobre Londres, cavalheiros e sociedade, eu fui o
homem que sempre quis. E agora percebeu que não sou nenhum Beau
Brummell, então não quer admitir que ainda gosta de mim.
—Não posso admitir que ainda gosto de você, porque não...—protestou,
sua mandíbula começando a doer de estar há tanto tempo cerrada. —Você é o
pior homem que conheço.
—Sou o único que não finge ser algo que não sou—, retrucou, a linha de
sua boca achatada.
—Ha!—Ela respondeu. —Olhe para você, vestido como um Sassenach,
porque acha que é isso o que quero.
—Sim, me vesti chique para você. Mas agora que descobri que não quer,
não vou fazê-lo novamente.
—Não sabe nada sobre mim! Agora saia desta casa antes que eu...
—Separem-se. Agora.—Ranulf pisou entre eles tão rapidamente que a
assustou. —Diabos, qualquer que seja o motivo da discussão, podem resolver
isso amanhã. Lachlan, acho melhor que saia.
—Não—, rebateu o Visconde, para surpresa de Rowena. Lachlan era o
aliado mais próximo de Ranulf. Sempre agiu para apoiar e reforçar Glengask.
Sempre.
—Sei que não me vai fazer pedir uma segunda vez. Vá. Falo com você
amanhã.
—Rowena me prometeu uma valsa. Quero tê-la.
O tom acalorado de sua voz a surpreendeu. Ninguém falava assim com
Ranulf, especialmente quando estava sendo tão imparcial. Mas Lachlan
pareceu não se importar. Pelo contrário, seu olhar permaneceu fixo nela, como
se nada mais —ninguém mais —existisse. Não era uma brincadeira, ela
percebeu. Ele a queria para si mesmo.
Abruptamente, o chão pareceu desaparecer debaixo de seus pés, deixando-a
lutando por equilíbrio, um ponto de apoio, qualquer coisa para não ficar
olhando-o de boca aberta. Lachlan MacTier a queria. Ela. Por dezoito anos,
quase todos seus pensamentos, acordada ou dormindo, foram centralizados
neste homem. Além disso, enquanto lutava para manter seu nível de expressão,
percebeu que realmente não sabia como reagir a ele agora. Isso não mudava
nada, é claro —não poderia. Mesmo assim... Se nada tivesse mudado sobre o
que queria fazer com sua vida, por que se sentia tão... diferente, de repente?
—Não posso ter forasteiros vendo os MacLawrys lutarem entre si, Lach.
Não quero isso.—O olhar de Ranulf era gélido.
Ah não. Supostamente não era para isso acontecer. Rowena tentou colocar
seus pensamentos em ordem. Lorde Gray era parte integrante do clã. Se algo
acontecesse para mudar isso —e agora parecia bem possível —nada disso
seria bom para eles. No entanto, estava confusa, certamente não queria que
Lachlan fosse banido, de qualquer maneira. —Eu...
Abruptamente, Bear colocou o braço sobre os ombros de Lachlan. —O que
acha de irmos ao Bonny Bruce e pegar uma grande quantidade de bebidas?
—Ele rugiu.
Lachlan saiu do aperto de seu irmão, em seguida, visivelmente mexeu-se.
—Não precisa beber comigo. Posso providenciar isso sozinho.—Com um
último olhar para Rowena, virou as costas e deixou o salão.
—O que diabos foi isso?—Munro exigiu, franzindo a testa para ela.
—Não tenho tempo para discutir isso com você—, disse, tentando parecer
indiferente e reunir sua inteligência novamente. —Tenho convidados para
acolher.
—Rowena—, Ranulf disse, seu tom firme.
—Não quero fazer uma cena, Ranulf. Por favor.
Seus ombros baixaram. —Sim. Dez horas da manhã, no meu escritório.
Ela assentiu com a cabeça. —Obrigada.
Portanto, agora tinha doze horas para decidir o que dizer a Ranulf, quando
nem sequer sabia o que dizer a si mesma. Tudo o que queria era uma vida
decente, romântica com um homem que cuidasse dela tanto quanto se
importava com ele.
Agora, o homem que já havia pensado como seu cavaleiro de armadura
brilhante estava agindo como um louco. Tudo seria mais simples se Lachlan só
ficasse afastado. Ao mesmo tempo, não conseguia livrar-se de seus
pensamentos sobre sua visita agendada para mais tarde esta noite —não
porque ansiasse pelo seu beijo, mas porque estava preocupava com os
problemas que poderia ter, se decidisse que ela tinha quebrado o acordo.

***

—Isso foi... perturbador—, Bear retumbou. —Não acho que já vi os dois


discutirem. Provocando, sim, mas não brigando.
—Ela sempre concordou com tudo o que ele dizia—, Ranulf retornou,
observando como sua irmã e irmão mais novo colavam um sorriso no rosto e
foi pedir para seu tio Myles dançar uma quadrilha com ela. Para uma moça tão
interessada em se casar, e uma com uma dúzia de rapazes ansiosos dançando e
competindo em sua própria festa, Myles foi uma escolha curiosa. A não ser,
que, precisasse de um momento para livrar-se dos pensamentos de outra
pessoa.
—Está esperando que Rob Cranach se proponha a ela?—Munro virou-se
para fixar um olhar no irmão do Marquês de Helvy.
—Sim, espero que vá.
—Talvez sentisse a necessidade de dizer a Lach que perdeu sua
oportunidade. Embora isso provavelmente o fizesse feliz. Pode ser que ele
tenha dito, apesar de tudo. Eu...
—Bear, vai torrar seus miolos se continuar a pensar tanto.—Ranulf bateu-
lhe no ombro. —Acho que não vai decifrar nada disso hoje à noite.
—Perdi alguma coisa?
—Provavelmente não—, Ranulf respondeu, porque Munro esperaria algum
tipo de insulto, e não estava disposto a levantar suspeitas para seu irmão, até
que tivesse decifrado para si o que, em nome de Santa Brígida, estava em
andamento.
—Ah. Vá em frente e zombe, então, vou lembrá-lo que em uma semana você
estará de pé diante de Deus e da maioria dos clãs, enquanto se casa com uma
moça Sassenach.
Uma lasca de inquietação atravessou Ranulf, não porque estivesse
hesitando em se casar com Charlotte, mas por causa de todos os convidados
que este casamento atrairia. Através de uma medida igual de esforço e sorte,
conseguiu a paz com os Campbells. Com tantos aliados incertos e rivais
secretos estando presentes, tudo poderia acontecer.
Além disso, esse foi o outro motivo porque queria o marido de Rowena
escolhido e seu futuro assegurado. Estava com dezoito anos agora, e fez saber
que estava disponível e à procura de um marido. A irmã do MacLawry, o
poder e a riqueza que representava, poderia revelar-se muito tentadora —e se
alguém a raptasse contra sua vontade ou contra a vontade dele, isso
significaria guerra.
—Vou manter isso em mente, Bear—disse em voz alta, —e lembre-se que
meu casamento será um grande momento para que encontre uma esposa.
—É um homem cruel, Glengask—, Munro voltou, pela primeira vez,
olhando um pouco preocupado.
—Sim. Não tem ideia. Agora vá dançar com alguém.
Abandonado a si mesmo por um raro momento, Ranulf lançou um olhar ao
redor da sala. Charlotte estava com Arran e sua Mary, o trio rindo de alguma
coisa. Rowena ainda dançava com seu tio Sassenach, Myles Wylkie, o rubor
lentamente desaparecendo de suas bochechas. No meio da sala estavam os
dois Buchanan, Lorde Rob e seu primo James, no que parecia ser uma
conversa profunda e séria. Rob não era tolo, isso poderia dizer, e se Cranach
viu Lachlan competindo por Rowena, poderia muito bem propor-se antes que
fosse tarde. Além disso, poderia ser melhor para todos os envolvidos.
***

A taberna Bonny Bruce em Mahldoen foi geralmente um bom lugar para


encontrar um rapaz disposto a dar uns socos. Hoje, porém, o lugar estava mais
silencioso do que a morte —sem dúvida, porque os chefes e os outros clãs
começariam a chegar amanhã. A aldeia seria ajeitada e restaurada e todos
estariam vestidos com suas melhores roupas, e olhos negros e lábios cortados
não seriam bem-vindos.
—Outro para você, Lorde Gray?—O dono da taverna perguntou, e Lachlan
assentiu.
—Sim. A última e vou pegar a estrada, por favor.
—Pensei que estava no castelo para dançar com Lady Winnie—, Tim
continuou, completando a caneca já servida com cerveja. —Parece elegante o
suficiente para isso.
Lachlan fez um gesto de desprezo. —Muitos Sassenach e suas frescuras.
—Sim. Gastam muito dinheiro com isso, pelo menos.
Tinham uma qualidade redentora, então. O que diabos Rowena admirava
tanto neles? Falar sobre o teatro não fazia sentido, quando o mais próximo
estava a sessenta milhas de distância em Inverness. O mesmo com a moda de
Paris. Essa bobagem de laço de seda não duraria uma semana nas Highlands.
Realmente queria muito deixar as Highlands? Por tudo o que dizia, não
conseguia acreditar nisso. Este lugar fluía através do sangue de um homem e
afundava em sua alma. Uma moça, mesmo uma com a educação que tinha e
visto os enganos de Londres, não poderia simplesmente decidir que pertencia
a outro lugar.
Diabos, se queria visitar lugares chiques, ficaria feliz em levá-la para
Londres, sempre que desejasse. Teria um teatro construído em An Soadh e
contrataria atores para enchê-lo, se ela quisesse.
Mas se o problema era por não ser inglês, então por que tinha estado
rodopiando na pista de dança com Rob Cranach? O homem era um Highlander,
mesmo que geralmente escolhesse ser visto de outra forma. Lachlan fez uma
careta. Sim, isso seria Lorde Rob —um sujeito que usaria seu kilt, quando ser
escocês se apresentasse uma vantagem, e que na próxima respiração poderia
rir dos pitorescos Highlanders e dizer que passou a maior parte de seu tempo
em outros lugares.
Carrancudo, Lachlan olhou para a apropriada roupa Sassenach que pegou
emprestada de Arran. Claramente, não era um hipócrita tão hábil como alguns,
e sabia que não fazia parte deste traje. Tinha esperado impressionar Rowena,
mas ela sabia instantaneamente o que estava fazendo. —Tolo—, murmurou
para si mesmo.
Tim trouxe uma jarra de cerveja. —Vai querer cerveja, Milorde? Tenho
uma cerveja inventada e preparada por Tom MacNamara, o moleiro e eu.
Com dois goles esvaziou sua caneca, e Lachlan estendeu-a. —Vamos tê-la,
então.
O taverneiro sorriu. —Sabia que iria querer uma rodada disso. É um bom
sujeito, se me permite dizê-lo.
Hoje à noite Tim provavelmente seria a minoria com essa opinião. Na
verdade, Lachlan se sentia pronto para qualquer coisa, exceto que nada se
manifestou. Algo, porém, causou um formigamento na parte de trás do seu
cérebro. Jogo. Os jogos. Foram criados para realizar-se durante dois dias
antes do casamento, e Bear tinha deixado o planejamento para ele.
O que disse aos convidados da Rowena? Que tinha corridas de cavalos e
lançamento de pedras, o que seria mais... apropriado para eles, que eram
encantadores. Mas esses jogos não foram feitos para impressionar o
Sassenach. Rowena gostaria de pensar o contrário, mas isso era sobre o clã
MacLawry. Sobre mostrar aos outros clãs e ao seu próprio, que Glengask e
seus chefes e seu povo não estavam para brincadeiras. Os jogos seriam sobre
as Highlands.
Rowena amava os jogos. Sempre amou, de qualquer maneira, e duvidava
que três meses em Londres pudessem mudar isso. Lachlan sorriu. Ela era uma
maldita Highlander, e iria provar que apenas outro Highlander —um
verdadeiro Highlander, não apenas um homem que usava o traje de vez em
quando —faria por ela.
Pelos seus cálculos, passava das três da manhã, quando deixou Bonny
Bruce e ergueu-se em Beowulf para o passeio de três milhas de volta para
Gray House. Geralmente teria pelo menos um de seus homens com ele, porque
um chefe MacLawry sozinho no escuro poderia ser uma oportunidade
perigosa. Esta noite, porém, estava com raiva e frustração o suficiente
envolvida em seus ossos, que gostaria de ter problemas.
A maioria das luzes em Glengask estavam apagadas quando circulou o
caminho junto ao lago, de modo que a festa deveria ter sido animada —ou
quase isso. Com o cenho franzido, virou-se até a estrada em direção à casa.
Sabia exatamente quais janelas que pertenciam a Rowena, e todas ainda
piscavam e brilhavam com a luz de velas.
Devia-lhe um beijo. Estava lá em cima esperando-o em seu lindo vestido
lavanda, ou ainda estava dançando no salão nos braços de Lorde Robert?
Queria saber, e queria sua boca na dela. Queria tirar a seda lavanda de sua
pele macia e colocar a boca nela, e estar dentro dela e reclamá-la para si
mesmo.
Mas queria que tivesse esses mesmos pensamentos sobre ele, sentisse o
mesmo... precisava que sentisse. Além disso, bêbado ou sóbrio, sabia
perfeitamente que neste momento não o fazia. Ou melhor, havia-se convencido
de que ele era um príncipe sedutor e sombrio de seus sonhos, foi isso que
Londres tinha despertado nela.
—Maldita Londres.
Foi bom dizer isso, assim fez isso novamente. Duas vezes. Depois com um
último olhar para as janelas iluminadas, se virou e voltou para Gray House.
Sonhos, desejos e arco-íris tinham causado todos estes problemas, tanto
quanto estava preocupado. Portanto, a partir de amanhã, lhe daria uma amostra
de quem ele realmente era. Além disso, de quem ela realmente era. E seria
melhor que Robert Cranach ficasse fora do seu maldito caminho.

***

—Você parece uma pilha fumegante de merda—, Bear disse, enquanto


entrava na sala de refeições de Gray House na manhã seguinte.
Lachlan assentiu de sua cadeira habitual na cabeceira da mesa. Sua mesa.
Isso pareceu importante hoje, porque não estava totalmente certo de como se
sentia por qualquer um dos MacLawrys. —Assim como você. Pelo menos sei
o que aconteceu comigo. Qual é a sua desculpa?
—Sarah Parker. Essa moça não é tão doce quanto parece. Meu traseiro
parece que montei nu sob urtigas.—Balançando seu cabelo preto desgrenhado,
Munro caminhou para o aparador e selecionou uma generosa porção de café
da manhã. —Foi, e sabe do que estou falando, ao Bonny Bruce sem mim?
—Sim. Estava mais vazio do que uma igreja na segunda-feira, apesar de
tudo. Nada para fazer, a não ser beber.
Bear tomou o assento à sua frente e fez um gesto para o lacaio que ainda
restava na casa para uma xícara de chá. —Por que você e Winnie estavam
brigando?
Esse era Bear, diretamente ao ponto. Sutileza era para diplomatas. Lachlan
terminou de morder a torrada e retomou seu próprio chá. —Arco-íris.
Bear levantou uma sobrancelha. —Quase chegou às vias de fato por causa
de arco-íris—, disse, despejando cinco torrões de açúcar em sua xícara de
chá. —E espera que acredite em você, por quê?
—Se quer saber mais do que isso, terá que perguntar a ela.—Deslizou um
pedaço de papel sobre a mesa. —Deixou os jogos para mim, achei que
deveria pelo menos saber o que decidi.
Virando o papel para encará-lo, Bear lia enquanto devorava um ovo cozido
e toda uma truta assada. —Deixou de fora a armadilha de ursos—, disse
depois de um momento, olhando para cima novamente. —Está tentando fazer
com que todos morram?
—Não. Essas são equipes adequadas para jogos próprios das Highlands.
—Indicou a lista com um dedo livre. —Não sabia que queria que o Sassenach
saísse daqui sentindo um pouquinho de medo?
—Então, podem trazer o seu exército para o norte e tentar eliminar-nos
novamente? Aqueles que ainda estiverem de pé após o lançamento de tora,
arremesso de pedra, corrida, corrida de cavalo —homens e mulheres
—lançamento de martelo, arremesso de peso, lançamento de feixe, desafio
com claymores, tiro ao alvo, maide leisg[12], e perseguição ao porco untado,
de qualquer maneira.
—Escrevi os tocadores de flautas, de violinos e competições de dança do
outro lado.—Lachlan deu uma carranca falsa. —Acha que deveria sugerir a
Ranulf para termos três dias para os jogos? Dois podem não ser suficientes.
—Enlouqueceu, você sabe.
—Não, não enlouqueci.—Inclinou-se. Se não conseguisse convencer Bear,
não teria a menor chance com Glengask. —Isto não é apenas uma reunião do
clã MacLawry. Todos os melhores estarão aqui, sim. E ainda os Campbells,
Stewarts, Buchanan, uma parte dos MacDonalds, MacGregor, Camerons e
Gordons. E nem todos estarão aqui.
—Sim. Começaram a chegar ao amanhecer. Vim buscar-te para me ajudar a
organizar as tendas ao longo do lago, se for civilizado novamente.
—E qual a impressão que quer que todos tenham quando voltarem para suas
casas? Que conduzimos um excelente e civilizado casamento e algumas
competições aristocráticas que qualquer Sassenach poderia ganhar? Que
somos praticamente Sassenach nós mesmos, que somos gentis e cavalheiros?
Seu amigo franziu a testa novamente. —É assim que Ranulf quer que os
ingleses nos vejam. Educados.
—E ele quer que os outros clãs nos vejam como civilizados? Como
almofadinhas educados que desmaiam ao ver sangue? Temos alguns ingleses
aqui, e o maldito restante são Highlanders.
Munro olhou para a lista novamente, um sorriso tardio tocou seu rosto.
—Não é louco afinal, Lach. Na verdade, reconheço que pode ser um gênio.
—Bateu com o punho na mesa, respingando chá de sua xícara. —Este é um
jogo das Highlands—, rugiu, levantando a lista. —E nós somos Highlanders.
—Sim. Somos. Além disso, quem esperar menos de nós terá uma surpresa.
Agora vamos levar a lista para Glengask?
—Oh, sim. Winnie pode não gostar, mas reconheço que Ran vai. Fale você.
Lachlan ficou de pé. —Vamos em frente, então. Temos algumas tendas para
levantar e alguns jogos para organizar.—Além disso, um coração de mulher
para ganhar.
Capítulo Oito
Rowena olhou para a lista. —Não! Não, não, não!
—Já dei a minha aprovação, Rowena—, Ranulf disse da cadeira atrás de
sua grande mesa de mogno. —Não adianta contradizer-me.
—Os jogos deveriam manter todos ocupados antes do casamento.—Isso, e
balançou a página em seu punho, —isto é... selvagem!—Claramente foi escrita
da elegante mão de Lachlan. Aparentemente, decidiu encontrar outra maneira
de atormentá-la.
—A maioria dos meus convidados não é civilizada.
—Mas o meu não é.
—Rowena, geralmente concordo com você. No entanto, pense sobre isso:
tenho que equilibrar a segurança da minha propriedade nas Highlands, com a
abertura de novas vias em Londres, e até mesmo no exterior. Se posso
promover jogos ferozes, sem deixá-los cair no caos, e no dia seguinte me
casar com uma dama inglesa, de uma família respeitada, na frente de
aristocratas escoceses e ingleses, provei para mim mesmo que sou duplamente
forte e formidável.
De certa forma estúpida e viril, um choque fazia sentido. —É um grande
risco. Já vimos o caos em erupção nos jogos do clã MacLawry. Aqui terá, o
quê, uma dúzia de clãs participantes?
—Sim.—Ele olhou-a fixamente, olhos azuis profundos encarando os
cinzentos. —Isso está na minha cabeça, piuthar. Meu fracasso, ou meu
sucesso. E na minha opinião, o risco vale a recompensa.
—Mas...
—Rowena, não estou acostumado a me explicar. E não mais de uma vez. Já
decidi.
Sabia que não deveria discutir sobre isso. Provavelmente teria mais
sucesso gritando com uma parede de pedra. —Muito bem, então.
—Boa. Agora. Você e Lachlan. O que está errado?
Ah, tantas coisas. —Nada. Foi só uma discussão boba.
Ele não parecia convencido. —Sobre o quê?
—Realmente não quero falar sobre isso, Ran. Acabou, de qualquer
maneira.—Sendo assim, possivelmente, isso tenha acabado, desde que Lachlan
não parou para recolher seu beijo ontem à noite. E isso apesar do fato de que
ficou esperando até quase ao amanhecer —não por causa do beijo, é claro,
mas porque queria terminar a discussão. E porque não conseguia se acostumar
com o fato de que não estava simplesmente brincando.
—Não está ansiando por ele ainda, não é?
—Não. Não, claro que não. É... é só que agora não estou apaixonada sobre
cada pequena coisa que faz, ele é muito irritante.
—Podem planejar essa reunião juntos, ou devo removê-lo da coisa? Pode
ter Bear, em vez dele.
Isso tornaria as coisas muito mais fáceis. Ao mesmo tempo, sentia-se
covarde, embora, é claro, provavelmente fosse dizer isso na sua cara. Também
não resolveria o que quer que estivesse entre eles. —Posso trabalhar com ele.
Bear só iria querer jogos onde pudesse jogar coisas pesadas, tanto quanto
possível. Pelo menos Lachlan incluiu corridas, dança e tiro ao alvo.
Depois de um longo momento, Ranulf assentiu. —Veja isto, então. Tenho
chefes chegando. E os MacDonalds.
Desde que parecia estar divertido, ela sorriu, em seguida, levantou-se e
saiu do escritório. Por que razão continuava a sentir necessidade de proteger
Lachlan de seus irmãos, não tinha ideia, mas tinha feito isso mais uma vez. E
agora estavam organizando a reunião.
O dia amanheceu nublado, e nos últimos minutos, faixas claras de chuva
começaram a atravessar as colinas. A maioria de seus amigos de Londres se
dispersara pela manhã, retirando-se para a grande biblioteca de Ranulf e para
a sala matutina ou, a partir do som disso, para a sala de bilhar e sala de
música. Pelo menos não precisava mantê-los entretidos hoje, porque
simplesmente não estava de bom humor.
Cooper na porta da frente, estendeu-lhe um elegante casaco de pele de foca,
o vestiu, e colocou suas botas de caminhada para tempo ruim —que
geralmente usava mais do que seus sapatos para tempos bons. Colocou um dos
chapéus de Arran sobre seu cabelo enrolado e saiu para a chuva.
—Rowena.
Virou-se para ver Ranulf descendo as escadas internas. —O que foi?
—Como disse, existem Highlanders chegando hoje. Leve Una com você.
—Deu um tapinha na cabeça do cão de caça escocês. —Una. Proteja Rowena.
—Vamos, Una—, repetiu, e com o cão ao seu lado, dirigiu-se para o
caminho em direção ao lago.
Quando chegou no topo da colina, desacelerou. Ontem, tinha sido um prado
cheio de urze. Hoje, duas dúzias de tendas de lona já estavam de pé,
juntamente com várias coberturas e estruturas de madeira temporárias e rolos
de tecido e madeira para mais três dúzias ou mais. Isso parecia-se muito com
o início de uma reunião do clã MacLawry, mesmo sabendo que este evento
teria muito mais importância. O MacLawry estava-se casando, garantindo a
continuação da linhagem MacLawry, e todos os clãs circundantes estavam
destinados a testemunhar isso.
Pela primeira vez, estava contente que tudo isso não estivesse destinado a
ela. E esperava que Ranulf apoiasse Charlotte quando sua noiva visse a horda
de Highlanders que estariam preenchendo essas tendas ao longo dos próximos
dias. Todos viviam em pequenos grupos nestes dias, tão isolados uns dos
outros, que agora, mais do que nunca, ninguém queria perder uma reunião.
—Bear, amarre isso antes que eu seja arremessado para o lago, por favor?
—Eu vou! Dê-me um maldito minuto.
Ela olhou para a tenda sendo erguida. Um homem, sem camisa na chuva, na
verdade, vestindo nada além de um kilt[13] MacLawry e botas de trabalho
enlameadas, puxando com força para trás um longo trecho da lona para mantê-
la apertada, enquanto um punhado de outros rapazes amarravam as vigas e
martelavam o suporte no chão. Quando a peça estava segura, soltou-a,
afastando a chuva e cabelo castanho comprido de seu rosto, enquanto se
virava.
—Lachlan—, disse em voz alta, atraída por seus ombros musculosos e
abdômen, a fina trilha que viajou de seu cabelo por seu peito e para baixo,
desapareceu sob a faixa de seu kilt. Prendeu um pouco a respiração.
Ele inclinou a cabeça. Sua pele nua deveria estar quente, porque poderia
jurar que vapor se erguia dele, enquanto se aproximava. —Rowena.
—Vo... você não está com frio?—Perguntou, quando não conseguia pensar
em mais nada para dizer.
—Não. E estou todo molhado, de qualquer maneira.—Inclinou a cabeça
para trás, fechando os olhos e abrindo a boca para a chuva. —Para as
Highlands, este tempo é refrescante.
—Se ele não o derrubar, não é tempo—, retornou, parafraseando um dos
ditos favoritos de Arran.
—É verdade.—Estendeu a mão, e Una trotou em frente para uma coçada.
—Estou feliz que tenha um dos cães com você. Este lugar vai estar cheio de
clãs rivais pelo por do sol. Os Camerons já reivindicaram duas tendas, não sei
porquê, à esquerda.
—E está preocupado com a minha segurança?
Com a testa franzida. —Claro que estou. Não quero que nenhum mal lhe
aconteça, moça. É preciosa para mim.
Agora, só estava tentando ser charmoso novamente. E, sem dúvida, sabia
exatamente como magnífico parecia ali de pé com o peito nu e lamacento.
—Então, não estamos discutindo por mais tempo sobre quem vê quem, mais
claramente?
—Acho que a evidência é melhor do que palavras—, retornou, indicando
para ela uma das barracas concluídas no caminho que estava aberta, para a
direita.
Curiosa, abaixou-se e entrou, saindo da chuva. Una sacudiu gotas por todo o
lado, então ajeitou-se no lado da abertura e se deitou. Ninguém mais se iria
juntar a eles sem a aprovação do cão de caça. —Como posso provar que o
vejo claramente, então?—Ela prosseguiu.
Lachlan puxou uma das cordas, em seguida, olhou-a novamente.
—Primeiro, me deve algo.
Seu pulso acelerou. —Eu não. Não apareceu no momento acordado, ou no
lugar acordado.
—Gritou tão alto, que fui expulso de sua festa pela bunda. E então fiquei
bêbado. Não poderia recolher um beijo, mesmo que quisesse.
—Não lhe fiz ir beber.
Sorriu alegremente. —Sim, fez, mas vou admitir o ponto antes de começar
outro argumento.
Realmente, discutir com ela o perturbou tanto? Não tinha dormido bem, de
qualquer modo, mesmo, mas então ficou esperando que aparecesse.
—Independentemente—, obrigou-se a dizer: —o acordo foi para o final da
noite, no meu quarto. Isto também não é.—Além disso, não tinha intenção de
ficar encantada por ele. De novo não.
—Suspenda o acordo.—Caminhando para a frente, tomou o rosto em suas
mãos e beijou-a.
Eletricidade disparou por sua espinha, forte e de tirar o fôlego. Lachlan não
se contentou com um beijo casto, como Samston lhe dera. Em vez disso,
moldou sua boca contra a dela, puxando e procurando, até que teve que
responder na mesma moeda, ou simplesmente render-se. Colocou as mãos em
torno de seus pulsos, mantendo-o próximo dela.
Arco-íris, realidade, devaneios infantis —tudo se derreteu sob o calor do
seu abraço. Rowena levantou-se na ponta dos pés para encontrar a boca mais
diretamente. Queria correr os dedos por seu peito nu, e agarrou seus braços
duramente mantendo as mãos ainda. Porque depois que começasse a tocá-lo,
não achava que seria capaz de fazer-se parar.
—Lachlan! Onde está?
Ao som da voz de Bear do outro lado do pano pesado, Rowena endireitou-
se. Oh, meu Deus. Munro não iria aprovar se os encontrasse se afrontando. Seu
olhar em seus lábios, Lachlan passou as costas da mão na boca.
—Doce Brígida,—murmurou, em seguida, deu dois passos para trás.
—Estou na tenda—, chamou, —discutindo os jogos com sua irmã.
Um momento depois, Bear abaixou-se e entrou, a água escorrendo de seus
longos cabelos negros e fazendo sua fina camisa abraçar seu musculoso peito.
Ele olhou de Rowena para Lachlan e de volta. —Sem tapas ou chutes?
Ela respirou rapidamente. —Ranulf concordou com seu plano para os jogos
—, propôs. —É realmente necessário lançar árvores, rochas, martelos e feixes
de trigo? Poderíamos substituir por puxar uma corda ou qualquer outra coisa
para um deles, pelo menos?
—Troco os martelos por uma boa puxada de corda—, Bear concordou.
—Será que vai nos dar três dias, ou ainda vamos gerenciar com dois?
—Vamos começar ao meio-dia na quarta-feira, e terá até o por do sol na
sexta-feira—, ela decidiu, uma vez que Ranulf não tinha especificado.
—Ter a noite antes do casamento para ficar sóbrio faz algum sentido—,
Lachlan colocou, —embora não possamos garantir como alguém fará uso do
tempo.
—Sim. Não vou esquecer o acordo e manter a paz nas mãos dos Campbells
ou dos Camerons.—Bear fez uma careta.
—Claro que não.—Rowena lhe deu um tapinha no ombro grande, molhado.
—Mas podemos garantir que os MacLawrys estejam sóbrios e prontos para
parar qualquer problema antes de começar.
Ele assentiu. —Reconheço que podemos fazer isso. E estou contente de ver
os dois conversando e não gritando. Somos todos amigos aqui. Somos uma
família.
Lachlan tinha dito que não queria sua amizade, e aquele beijo não lhe tinha
dado a impressão de que eram uma família. Aquele beijo a fez se sentir
positivamente nua —ou, pelo menos, a fez querer que suas peles se tocassem.
Precisava voltar para a casa antes que dissesse ou fizesse algo que a
colocasse novamente na posição de há três meses, em sua antiga paixão de
menina.
—Somos todos amigos—, ela concordou. —E preciso voltar para a casa
para o encontro com o Father Dyce.
—Vou levá-la—, Lachlan disse, antes que ela pudesse escapar.
—Só não me deixe para fazer tudo isso sozinho, ou vou-lhe culpar de todos
os mergulhos.—Com isso, Bear fez um gesto para precedê-lo de volta para a
chuva.
Pela sua expressão, Lachlan preferiria ter permanecido com ela na tenda.
Porque esse mesmo pensamento lhe ocorreu, Rowena estalou os dedos para
Una e praticamente correu para a garoa. Uma dúzia de batimentos cardíacos
mais tarde, porém, uma grande e forte quentura moveu-se ao seu lado.
—Não precisa de vir comigo—, disse, mantendo o olhar sobre o caminho à
sua frente. —Tenho Una.
—Disse que vou acompanhá-la.
—Mas é de você que estou tentando fugir.
Lachlan riu. —Quero dizer que vou-lhe seguir insistentemente, e persiste
em meus pensamentos durante o dia, e nos meus sonhos à noite.
Ela arriscou um olhar. —Não sou a primeira mulher que beijou, apesar de
tudo.
Sua expressão ficou séria. —Não, não é.
—E não começou beijando outras mulheres há apenas três meses.
—Ainda quer que seja honesto, moça?
—Exijo isso de você, Lachlan.—Tinha passado tempo depois fantasiando
sobre ele. Se isso foi culpa dele ou não, não toleraria mais mentiras ou
invenções. Não podia. Especialmente agora, quando... quando disse que a
queria.
—Então, ao longo dos anos beijei a minha parte de moças. Sou oito anos
mais velho que você, Rowena.
—E fez mais do que beijá-las—, insistiu.
Ele soltou a respiração. —Uma ou duas vezes, sim.
Abruptamente, queria chorar. Mesmo a parte dela que gritava que deveria
ter sido ela em seus braços, entendia, mas ainda doía. —Quem?
—Isso, não vou dizer. Só diz respeito a mim.
—Como é que nunca soube?—Insistiu. —Sabia quando o Bear e Arran
estavam... se comportando mal. E praticamente vivia em seus calcanhares.
—Não queria ferir seus sentimentos—, disse Lachlan, olhando em direção
ao castelo. —Sabia que acreditava que... me amava, mesmo quando tinha doze
anos e eu vinte. Então, fui discreto, se posso chamar assim.
—Amou qualquer uma delas?
—Não. Queria, mas não consegui. Na verdade, eu estava prestes a ir passar
algum tempo em Edimburgo para encontrar uma moça apropriada para casar,
quando fugiu para Londres.
O teria perdido de qualquer maneira, mesmo que não se tivesse curado de
sua obsessão por ele. A noção enviou breve pânico através dela, embora,
logicamente, soubesse que não importava mais. —Vai partir após o casamento,
então?
—Não—, disse novamente, encontrando seu olhar. —As circunstâncias
mudaram.
—Sim, mudaram.—E precisava ficar lembrando-se precisamente disso.
Apenas as suas ideias sobre o que estas circunstâncias pareciam ser
radicalmente diferentes. E a sua veio com beijos.
—Por que parou de me escrever?—Perguntou abruptamente.
—Perdão?
—Quando chegou a Londres e se estabeleceu com as Hanovers. Me
escreveu uma carta por dia, durante uma quinzena, e então parou. Sem mais
uma palavra. Por quê?
—Nunca me respondeu—, ela volveu.
—Eu...
—E me ocorreu—, Rowena continuou, para seu próprio bem, tanto quanto o
dele, —que nunca me respondeu. Poemas que lhe enviei, um milhão de cartas,
notas, colares de flores, biscoitos, conchas, pedras bonitas. Deveria ter sido
educado e agradecer-me, mas nunca retribuiu. Nunca. Além disso, começando
com a primeira noite que fui a uma festa em Londres, os homens me cercavam.
Homens bonitos, ricos que me enviavam flores, notas e poemas. Homens que
estavam interessados em mim.
A poucos passos da porta, parou, segurando seu pulso para mantê-la ao seu
lado. —Não posso desculpar—me por ter crescido com você ou por vê-la da
maneira que o fiz. Não foi a única dizendo que deveríamos nos casar, sabe.
Toda vez que sorriu para mim, Bear ou Arran começava com essa merda de
Lorde e Lady Gray. E isso foi quando você tinha oito anos. Me apavorava que
minha vida já tinha sido planejada sem que tivesse dito uma palavra sobre a
mesma, e que esperavam que me casasse com uma criança.
Um trovão retumbou à distância, o seu eco subindo e descendo nas colinas
ao redor deles. —Nunca pensei nisso assim—, disse depois de um longo
momento. Quando o olhou agora, podia ver que tinha sido bastante implacável,
mas na época —em sua própria mente, pelo menos —os dois juntos era um
fato apenas esperando o momento certo para acontecer.
—Adorei ter todos vocês sobre mim—, continuou. —E lhe adorava. Não
do jeito que você me queria.—Lachlan olhou-a longamente. —Mesmo quando
voltou. Fiquei surpreso quando disse que iria se afastar de mim. E aliviado.
—Então, ambos podemos seguir em frente.—Rowena tentou puxar seu
pulso livre de seu aperto, mas a conteve.
—Estou seguindo em frente. E na minha opinião, é obrigada a me dar uma
chance.
Ela levantou uma sobrancelha. —Não sou obrigada a dar-lhe qualquer
coisa.—Isso era mais fácil; discutir era mais fácil em sua mente do que seria
uma conversa sincera.
—É sim—, insistiu. —Me perseguiu como uma gata selvagem atrás de um
coelho por quase dezoito anos. Agora pode tolerar isso e me ouvir enquanto a
persigo um pouco.—Acariciou o polegar ao longo de seu pulso. —E quanto a
beijá-la, vou fazer o meu melhor para a atrair para a minha cama.
Ela engoliu em seco, o toque dando arrepios em seus braços. —E então o
quê? Muda de ideia novamente?
Com seu fascinante sorriso, riachos de água escorrendo pelo seu rosto e
peito nu, a fez estremecer. —Me caso com você.
Mesmo com seu recente comportamento e deliciosos beijos, Lachlan
declarando a sua intenção de se casar com ela, atordoou Rowena até os dedos
dos pés. Doce Brígida e todos os anjos celestiais. Não conseguia parar de
olhá-lo. Mil pensamentos cintilaram em sua mente, mas nada seguro ao qual
pudesse se agarrar.
—Não sabe que tem uma coisa a dizer sobre isso?—Perguntou, inclinando
a cabeça.
Ela impôs que seu coração se fechasse novamente. —Seis meses atrás ter-
me-ia atirado em seus braços, chorando de alegria nessa ocasião.
—Mas não está chorando agora, noto.
Não parecia terrivelmente lisonjeado, mas não estava gritando ou se
afastando, pelo menos. Precisava fazê-lo compreender. Seria bom se também
pudesse convencer-se o suficiente para que parasse, pelo menos, de sonhar
com ele. —Minha vida mudou, Lachlan.
—Não tanto quanto gosta de pensar, acho.—Com um último aperto, soltou
seu pulso. —Posso ser paciente. E pode lembrar-se que o que queria de mim
não foi realista. Porque quero quem você é agora, e acho que se olhar para o
que somos agora, pode simplesmente concordar comigo.
—Muito em breve espero que irá perceber que lhe vejo por quem você é
—, ela volveu. —Não estou jogando duro, Lach. Simplesmente não somos
compatíveis. Não quero uma vida simples nas Highlands. Não mais.
Lachlan sorriu novamente, sem humor em seus olhos verdes penetrantes,
desta vez. —Bem, então. Até que cheguemos a um ponto de compreensão
mútua, acho que vou continuar a visitar—lhe à noite para um beijo.
Com isso, se afastou, desaparecendo de vista na chuva fina, enquanto
retornava à trilha em direção ao prado e Loch Shinaig. Desejou que fosse tão
fácil afastá-lo de seus pensamentos e sentimentos como de sua vista.
A porta da frente abriu. Quando se virou para olhar, Lorde Robert Cranach
saiu da saliência estreita no pórtico. —Aí está você, minha senhora—, disse,
sorrindo. —Ficamos animados e nos reunimos e começamos a brincar de
charadas. Declarei que deve estar no meu time.
Colocando novamente o sorriso em seu rosto, subiu os degraus da frente e
entrou, entregando a capa e o chapéu molhados para Cooper e voltando a
colocar os sapatos adequados de uma dama. —Ficarei encantada.
Agora, aquilo seria uma atividade apropriada para damas —e cavalheiros.
Nenhuma instalação de tendas na chuva ou arrastar carroças com toras para
jogar cabers. Lachlan MacTier não era seu cavaleiro evasivo. Não era nem um
cavalheiro. Era um escocês bárbaro em um mundo que tinha pouca paciência
para a sua espécie, não mais.
Robert Cranach seria o futuro das Highlands. Ranulf queria que o clã
MacLawry fizesse parte desse futuro, também. Seu casamento com Rob
poderia ajudar seu irmão a conseguir isso. Além de tudo isso, era bonito e
sofisticado e um cavalheiro. Como já não era uma moça Highlander com nós
no cabelo, ele era precisamente o que ela precisava. O que queria.
Nunca iria arrastá-la através da chuva ou atacá-la em uma tenda. E iria
levá-la ao teatro e não discutiria com ela nas festas. Sim, seria perfeito. E, por
isso não dava a mínima se por um dia ou dois, permitisse que Lachlan a
beijasse à noite. Esperava que isso fosse suficiente para convencê-los —ele
—que não combinavam, que um casamento entre eles tinha sido apenas um
sonho de menina boba.
Depois disso, teria que ouvir a razão. Se não o fizesse, teria que contar a
Ranulf o que estava acontecendo. E realmente não queria fazer isso. Para o
bem de todos.
***

—E deve ser Lorde Gray, presumo—, disse a moça de cabelos vermelhos,


sentando-se na cadeira ao lado do Lachlan.
—Sim. E você deve ser Lady Bridget Cameron, se não me engano.
—Och. Inteligente e bonito.—O presenteou com um largo sorriso. —Não
está enganado. Minha prima Florence está de olho no seu amigo Munro
MacLawry, mas acho você mais bonito do que ele.
Lachlan olhou para a longa mesa, onde Rowena se sentava, ladeada por
Gregory Mackles, Lorde Arden, de um lado, e Lorde Robert Cranach do outro.
Arden era um dos chefes MacLawry e bem conhecido por ser totalmente feliz
com sua bebida, mas ele não seria o problema, de qualquer maneira.
—Obrigado, moça—, disse em voz alta, quando o olhou e levantou uma
sobrancelha vermelha.
—Então, pode estar se perguntando—, continuou, quando ele se recusou a
dizer mais alguma coisa, —como é que uma das sobrinhas do Cameron, com
vinte e um anos, permanece solteira.
Não lhe ocorrera até mesmo pensar na questão. —E o que responderia?
A última das senhoras encontrou o seu lugar, para que todos os homens que
estavam como sentinelas sobre a mesa pudessem finalmente sentar-se. Se um
companheiro desejasse sentar-se antes das moças em algumas famílias, teria
apenas restos para o jantar. Ranulf estava sentado à cabeceira da mesa
extraordinariamente longa, com Charlotte ao seu lado direito. Seus próprios
chefes sentados dispersos sobre os ajustes de lugar, estrategicamente
colocados, em caso de problemas.
O Cameron e sua esposa sentaram-se à esquerda de Ranulf, enquanto o
MacDonald e sua filha estavam um pouco além de Charlotte. Uma vez que o
Stewart e o Campbell chegassem, a disposição seria mais complicada, e
estava feliz que isso não dependesse dele. Não, isso seria para Ranulf e
Rowena descobrirem —que levou sua atenção em torno dela novamente, não
que estivesse longe dela.
—Responderia dizendo que meu tio me deu uma lista de seis rapazes para
encontrar aqui no casamento MacLawry. Disse que se conseguisse um
casamento com qualquer um deles iria agradá-lo.
O Cameron parecia ter apenas sobrinhas —pelo menos uma dúzia delas —e
até agora tinha conseguido fazê-las casar com pelo menos sete diferentes clãs.
Lachlan supôs que era uma forma de garantir que o clã Cameron nunca fosse
atacado. —Meu primo está nessa lista?
Suas espectaculares sobrancelhas se juntaram. —Sim. E minhas outras três
primas solteiras. Mas não sabe quem quero. Sua mãe é irlandesa.
—Ah. Obrigado pelo aviso.
—Provavelmente não deveria estar dizendo essas coisas, mas você é o
único na minha lista que gostei de olhar.
—Bem. Estou lisonjeado, então.—Era bonita, na verdade, e se suas
intenções para com Rowena não se tivessem invertido na semana passada,
poderia ter expressado mais entusiasmo. Com isso, imediatamente se tornou
um obstáculo entre ele e o quarto de Rowena.
—Ouvi dizer que foi você quem organizou os jogos—, Bridget continuou,
puxando a frente de seu vestido amarelo, evidentemente, para lhe dar uma
visão ainda melhor do seu substancial ventre.
—Eu o fiz—, ele volveu. —Com Lorde Munro e Lady Rowena.
Ela era tão sutil como Rowena tinha sido aos quinze anos. Foi quando sua
estratégia havia começado a mudar, lembrou. Em vez de falar alto e se jogar
em seus braços, tinha começado a suspirar e simular várias lesões, enviando-
lhe olhares e fingindo ser pega de surpresa durante a leitura de um livro, ou
ajeitando buquês de flores. Queria que a notasse, e enquanto poderia dizer que
intencionalmente tinha deixado de fazer isso, a clareza com que se lembrava
de todos os seus encontros foi surpreendente.
E, claro, a falta de resposta de sua parte tinha sido deliberada. Uma
olhadela, um bilhete gentil de obrigado, ou mesmo reparar que estava elegante,
e teria sido fisgado como um peixe. Por mais que a quisesse agora, tinha uma
boa ideia que, se tivesse sido preso contra a sua vontade, teria começado a
desprezá-la antes de descobrir como verdadeiramente deliciosa seria como
uma mulher adulta.
—Quero dizer, entrar para a corrida de cavalos das senhoras e algumas
danças. Pode vir me ver?
—Estarei lá.—Não para Bridget Cameron, no entanto.
Olhou para Rowena novamente, para vê-la rindo de algum disparate que
Lorde Rob estava vomitando. O que diabos Ranulf achou que estava fazendo,
deixando um Buchanan em qualquer lugar perto de sua única irmã? Os
MacLawrys não precisavam de qualquer aliança ruim o suficiente, para
oferecer até alguém como parte de um negócio.
No final do jantar Arran levantou-se, erguendo o copo. —Gostaria de
propor um brinde—, disse. —Para uma reunião pacífica dos clãs, e a Lorde
Glengask e sua Lady Charlotte.
Todos se levantaram. —Glengask e Charlotte—, Lachlan repetiu com o
resto deles, e bebeu o resto de seu vinho.
Uma vez que as damas deixaram a mesa, não viu nenhuma razão para ficar
para trás, particularmente quando Rob Cranach começou algum conto sobre os
preços da lã. E lá estava Glengask, que odiava ovelhas Cheviot e todos os
representantes, escutando com um sorriso educado no rosto. Sim, Rob poderia
contar uma história, e tinha traços de sotaque escocês e uma residência em
Fort William. Na opinião de Lachlan, nenhuma dessas coisas fazia dele um
Highlander.
Ficando de pé. —Desculpe-me—, disse secamente. —Preciso de um pouco
de ar.
Quando deixou a enorme sala de jantar formal, porém, se dirigiu para a sala
de estar, em vez da porta mais próxima ou janela. Tinha levemente brincado
quando disse a Rowena que queria os cães a seguindo, mas como nunca deixou
seus pensamentos, não poderia deixar sua vista, também.
—Veio-se juntar as moças, não é?—Lady Bridget murmurou da porta
aberta. O riso e o bate-papo feminino além dela, soava como um bando de
gansos inconvenientes. Não queria muito ir lá, também, mas Rowena estava lá
dentro.
—Sim—, retornou. —O local aqui é mais bonito do que os cães na sala de
jantar.
Bridget riu. —Realmente quer conversar com um bando de galinhas, porém,
Lorde Gray, ou prefere aconchegar-se a um pássaro em particular?—Puxou
novamente a frente de seu vestido para baixo, quase expondo seus seios para
sua visão.
—Se seu vestido não cabe em você, moça, há uma costureira muito boa em
An Soadh.
Estendendo a mão, agarrou um dos botões de prata de seu colete. —Por que
não percebe e tira este vestido de mim, e vamos ver o quanto você se encaixa?
—Inspirou.
Lachlan respirou, grato por um momento que não agarrou seu kilt. Há alguns
anos, não pensaria duas vezes antes de concordar com um encontro rápido com
ela. Rowena estava ocupada e, portanto, não saberia que esteve em outros
lugares, e Bridget não era interessante o suficiente para preencher sua mente
ou seu coração. Isso certamente ajudaria a aliviar um pouco sua frustração.
Com um sorriso, pegou a mão dela, puxando seus dedos longe de seus
botões. —Parece uma bela moça, Bridget—, falou pausadamente. —Há outra
moça que possui meu coração, porém, e não quero outra.
O sorriso que lhe deu parecia forçado, mas Bridget Cameron assentiu e
enfiou o que podia do seu regaço de volta para seu vestido. —É um rapaz
bonito, Lorde Gray. Se essa moça o decepcionar, bem, por cerca de uma hora.
Vou manter minha porta de quarto aberta para você.
Inclinando a cabeça, Lachlan passou por ela para a sala de visitas e
encontrou-se cara a cara com Rowena. Danação. Será que tinha ouvido essa
conversa? Com sua sorte, tinha ouvido apenas o suficiente para decidir que
precisava de um bom chute nas partes baixas. —Rowena.
—Lachlan.
Bridget passou por eles, e Rowena deslocou-se para lhe dar espaço. Seu
olhar, porém, manteve-se fixo em seu rosto. —Os outros rapazes ainda estão
na mesa—, disse, tentando calcular seu humor. Sempre costumava ser capaz de
dizer o que estava pensando; havia algo... fascinante em não saber o que ela
poderia dizer ou fazer em seguida.
Ela assentiu com a cabeça. —Deveria ter ido com Bridget Cameron—,
disse finalmente, sua voz baixa.
—Não. Para decidir que não me conhece, não farei isso tão simples para
você.
—Então, sou a moça que é dona de seu coração? Posso entender a luxúria,
suponho, mas agora é o seu coração? Depois de uma semana?
—É isso?—Retornou, aproximando-se dela e decidindo que tinha feito
algum progresso se acreditasse, pelo menos, que a queria. —Acha que fiquei
caído por você muito rápido? Acreditaria se Lorde Rob dissesse que te ama?
Só o conheço há três dias. Conheçolhe desde o dia em que nasceu.
—Mas nunca gostou de mim até esta semana.
—Nunca pensei em você como uma mulher adulta até esta semana—,
corrigiu. —Acha que usaria gorros e beberia chá em xícaras pequeninas, ou a
deixaria vencer corridas, ou a ensinaria a disparar uma pistola, ou viria todos
os dias, se não gostasse de você?
Ela roçou em um olho. —Você é amigo dos meus irmãos. Claro que viria.
Pelo amor de Deus, era teimosa. Mas então, também valeria o esforço.
—Moça, sabe por que não respondi às suas cartas?
—Por que não, então?
—Porque não queria quebrar seu coração.—Deu mais um passo em direção
a ela. —Se me escrevesse hoje eu iria responder, porque agora posso dizer
tudo o que você queria me dizer antes. Vejo você agora, Rowena. Realmente,
realmente vejo. Sempre lhe amei. Agora, estou apaixonado por você.
Esperava que fosse muito mais difícil dizer essas palavras. Mas vieram
muito facilmente, realmente, como se estivesse esperando em seu peito, em seu
coração, por um longo tempo e simplesmente acabaram lançadas.
—Eu... não quero falar sobre isso agora.—As bochechas de Rowena
empalideceram, e estendeu a mão para ajudá-la.
—Moça, você está...
—Não me toque, Lachlan. Eu não posso...
—Lachlan!
Ambos congelaram ao som da voz inconfundível de Ranulf chegando no
corredor. Lachlan virou-se para enfrentar o Marquês. Foi quando parou e
tentou ser cauteloso. Suas intenções seriam honradas, afinal de contas.
—Ranulf, eu...
—Chega—, Glengask estalou. —É a segunda vez que a faz fugir.
Lachlan olhou por cima do ombro. Rowena tinha sumido, desapareceu em
algum lugar nas profundezas da sala cheias de aves. —Foi apenas uma maldita
conversa.
—Evidentemente—, Ranulf continuou na mesma voz baixa e controlada,
—Rowena lhe amou por tanto tempo que não sabe o que fazer com você ou
qualquer outro homem agora. Não terei essas palhaçadas acontecendo com
todos os clãs aqui à procura de problemas —e olhando para minha irmã, como
uma maneira de fazer uma aliança. Ela vai se casar com Lorde Robert
Cranach. Isso deve acabar com qualquer confusão.
Uma dor profunda e fria estabeleceu-se acentuadamente no peito de
Lachlan, roubando-lhe a respiração e pensamento. Quase tinha conseguido
convencê-la de que estava sendo sincero. Outro dia, dois dias e ele iria tê-la
para si. —Não—, murmurou, sem saber se a palavra foi audível.
—Sim. Está na hora. E está feito.
Capítulo Nove
—Contos de fadas?—Repetiu Jane, franzindo a testa. —Como aquele com a
garota do capuz vermelho e o lobo que comeu a avó dela?
—Não. Tipo... como a menina que sempre amou o príncipe, e só depois
percebe que é estúpido, ignorante e imbecil amar alguém que nem a conhece,
nota-se que sabe quem ela é, e quer que seja sua princesa.—Rowena tentou
abrandar a respiração, mas não conseguiu diminuir seu batimento cardíaco. Se
havia a opinião de uma pessoa que não queria ouvir agora, era a sua própria.
—Poderia ser verdade?
—Bem, como o príncipe sabe quem ela é? É uma criada em sua casa?
Porque não acho que um príncipe se casaria com uma criada—.
—Jane, eles só... Eles conhecem-se uns aos outros.
—Oh. Mas ela é nobre?
—O que importa isso, pelo amor de Deus?
—Você perguntou se o conto de fadas poderia ser verdade.—Jane tomou um
gole de seu chá, olhando-a por cima da borda da xícara. —Não pode ser
verdade a não ser que a garota e o príncipe estejam em um nível semelhante
socialmente. A menos que a menina seja muito rica, e o príncipe muito pobre.
—Colocou de lado sua xícara. —Se, por exemplo, ela é uma menina vendendo
laranjas, e a vê vendendo o seu fruto enquanto cavalga pelo seu reino, no seu
magnífico garanhão, então pode ser um conto de fadas, mas não pode ser
verdade. Se, por outro lado, a menina é a irmã do amigo mais próximo do
príncipe, então não vejo por que não poderia de repente ser atingido na cabeça
e perceber que cresceu e se tornou numa linda dama inteligente e respeitável, e
que a ama e quer casar-se com ela.
Rowena, sorriu estreitando os olhos, ainda que ultrajada. Jane sentou-se no
sofá ao seu lado, uma expressão perfeitamente inocente em seu rosto, exceto
pelo brilho nos seus olhos castanhos e o ligeiro sorriso nos cantos de sua
boca. —Sua infeliz!—Exclamou. —Adivinhou?
Jane balançou a cabeça, seu sorriso se aprofundando. —Estive observando.
Quando olha para você, especialmente quando não está olhando para ele, tem
uma expressão genuína.—Colocou o queixo no punho e olhou para o céu,
batendo os olhos e suspirando deslumbrada.
—Se ele me olhasse assim, alguém poderia arrastá-lo para Bedlam[14] —,
Rowena respondeu, rindo e verdadeiramente admirada. Se Jane percebeu isso
e viu, então já não poderia rejeitá-lo.
—E ele me disse: —Jane continuou. —O peguei para me levar para o vale
dos sinos, e estava tentando flertar com ele, até que me disse que estava
debaixo de sua pele, e esperava que não tivesse levado muito tempo.
—Verdadeiramente?
—Verdadeiramente.
Será que Lachlan a amava? Ou melhor, poderia estar apaixonado por ela?
Havia dito que estava. Agora, Jane parecia pensar a mesma coisa. Poderia
acreditar, no entanto?
Desejava que tivesse feito um desenho de cada olhar que já tinham
compartilhado, de cada vez que ela e Lachlan tinham rido pondo um sapo nas
calças de Bear, ou de quando se amontoaram e caíram de rir, depois de uma
luta de bolas de neve. Então poderia ter a certeza de que estava vendo o que
estava lá e não só o que queria ver.
Quão simples teria sido se tivesse declarado que estava cansado de sua
perseguição atrás dele? Poderia ter-lhe dito, demonstrado como pouco
respeito tinha por ela, mil diferentes ocasiões e formas ao longo dos anos.
Certamente ela não tinha sido tão cega que ele tinha tentado, e simplesmente
ela não percebeu.
Mas a primeira vez que se lembrava dele fazer tal coisa foi na semana
passada, quando de forma muito clara e muito... delicada, disse que queria que
ela fosse feliz, mas ela era uma irmã para ele e nunca serviriam. E, então, um
ou dois dias depois, voltou para dizer-lhe que estava errado, que
simplesmente não tinha visto que tinha crescido.
—Ah, Rowena, alguém deveria pintar um retrato seu.
Seguindo, olhou para ver Rob Cranach se aproximando. —Não acho que
poderia sentar—me para isso—, retornou, muito estridente, e engoliu. Se não
pudesse resolver-se, ela seria a única sendo levada para Bedlam.
—Posso ter uma palavra com você, minha senhora?—Continuou, parando
na frente dela e oferecendo sua mão.
—Certamente.—Claramente, pensar e decifrar tudo isso teria que esperar
até à noite. Ou depois de hoje, desde que Lachlan parecia determinado a beijá-
la novamente antes de dormir. E para si mesma podia admitir que ansiava por
isso. Apertando os dedos de Rob, ficou de pé.
Rob transferiu a mão para seu braço, e foi em direção da porta para o
corredor. —Quis dizer, que deve usar cor de lavanda tão frequentemente
quanto possível. Define seus olhos à perfeição.
Ela balançou a cabeça. —Obrigada.—O que Lach disse quando lhe pediu
para parar de tentar lisonjeá-la? Que tinha olhos penetrantes de gato
selvagem? Pelo menos Lorde Robert sabia como fazer um elogio adequado
para uma dama.
Isso foi o que precisava de se lembrar —que queria alguém calmo e
sofisticado em sua vida. Que trabalhou arduamente para aprender refinamento
e a maneira correta de falar. Por que finalmente desistiu de Lachlan? Porque
finalmente percebeu que não era um cavalheiro refinado, imponente. Tinha um
humor inteligente e sem dúvida era forte e capaz, mas primeiramente e sempre
seria um Highlander. Um bárbaro.
Rob levou-a pelo corredor alaranjado, onde parou e pegou as duas mãos
nas suas. —Acabei de falar com o seu irmão—, disse. —Na verdade,
Glengask veio-me encontrar. Deu sua permissão para nos casarmos.
Por um momento, suas palavras sequer se registraram. Então, à medida que
afundou, um som estranho começou a encher seus ouvidos. —Acho que
gostaria de me sentar—, o informou, e então tudo ficou escuro.
Abriu os olhos de repente, não conseguia descobrir por que estava olhando
para uma tira do xadrex MacLawry na ponta do seu nariz. Ainda mais
estranho, sentia como se estivesse em movimento.
—Estou caindo.
—Não está caindo, Rowena.
A voz de Ranulf estava perto do seu ouvido. Ela piscou intensamente. Ele a
carregava, percebeu. Ranulf estava levando-a escada acima, e o xadrez era o
que usava drapeado sobre um ombro.
—Posso andar.
—Sim. A vi fazê-lo.—Seu aperto não se alterou.
—Ponha-me no chão, Ran. Não sou uma criança.—Piscou novamente
quando ele chegou ao topo das escadas e se virou em direção a seu quarto.
—Quer dizer, não sou uma criança. Um bebê.
Outra pessoa, Charlotte, passou por eles e abriu a porta de seu quarto.
Enquanto a noiva de Ranulf acendia lâmpadas e atiçava o fogo na lareira,
Ranulf colocou Rowena em sua cama e puxou as cobertas sobre ela. Depois
sentou-se no colchão ao lado dela.
—Agora. Mitchell está a caminho com chá e um pano frio para a sua
cabeça.
Rowena respirou fundo, percebendo a expressão muito preocupada de seu
irmão mais velho, e Charlotte diretamente atrás dele com a mão em seu ombro.
Enquanto observava, estendeu a mão para segurar os dedos de sua noiva.
Pareciam muito apaixonados e por um momento —um momento —ficou com
ciúmes. —Estou bem—, disse em voz alta. —Desmaiei, eu acho.
—Isso, você fez. E sinto muito dizer, que todos sabem disso, porque Rob
Cranach correu para a sala de estar gritando que tinha desmaiado. De
felicidade, aparentemente.
—Sim. Parabéns, a propósito—, Charlotte disse com um sorriso, e apertou
com sua mão o ombro de Ranulf.
—Queria ter certeza de que estava com todos os seus sentidos sua
percepção, antes de felicitá-la, moça—, respondeu, sem calor.
Oh céus. —Todos sabem?—Repetiu, sua mente foi para um homem com
cabelo cor de mogno desalinhado e olhos verdes penetrantes, que dez minutos
antes declarou que a amava.
—Sim. Mesmo alguns mortos, eu acho. Tem um forte par de pulmões, Rob
tem.—Ranulf suspirou. —Deve evitar quaisquer MacDonalds ou MacCullochs
de tentar fugir com você, embora tivesse a intenção de fazer o anúncio de um
jeito menos magnífico.
Lentamente, Rowena percebeu que ainda usava seus sapatos, e cavou
debaixo dos cobertores para retirá-los e jogá-los no chão. Foi muito mais fácil
se concentrar nisso, para pensar sobre quão tola deve ter parecido
chafurdando sobre o chão e como embaraçada se sentiria amanhã, quando
tivesse que admitir que tinha desmaiado. Mas não podia contar a ninguém, que
não tinha sido porque estava sobrecarregada com felicidade. Não sabia o que
sentia, exceto que estava confusa.
Mitchell correu para o quarto, cacarejando, carregando uma bandeja com
chá e sais aromáticos comprimida em seus braços. —Oh, minha querida—,
continuou resmungando, pondo as coisas para baixo e fazendo barulho em
cima da penteadeira.
—Estou bem, Mitchell. Sinceramente.—E Rowena realmente desejava que
todos fossem embora para dar-lhe um momento ou dois para pensar.
—Deixe-a cuidar de você, de qualquer maneira. Vai-me fazer sentir-me
melhor.—De pé, Ranulf se inclinou para dar um puxão em sua orelha. —Então,
agora sabe, disse para Lachlan e nossos irmãos antes de Rob a arrastasse para
fora.
—Lachlan sabe?
—Sim. E que seria melhor resolver qualquer bobagem antes de se envolver
com outro. Agora podem ser amigos, como disse que queria ser..—Pegando a
mão de Charlotte, Ranulf se dirigiu para a porta. —Agora fique aqui e durma
um pouco. Os jogos começam amanhã, e quero ver você e Black Agnes
ganharem a fita de corrida.
Ela assentiu. —Boa noite. E obrigado, Ran.
—Só não faça isso novamente, piuthar.
Rowena permitiu que Mitchell se preocupasse exageradamente e a ajudasse
a vestir a camisola, principalmente porque ouvir a criada tagarelar sem parar,
a impedia de lidar demais em seus próprios pensamentos. Finalmente, não
suportando mais, mandou a criada descer.
Virou-se de lado, acumulando cobertores e travesseiros sobre sua cabeça,
mesmo que não fizessem nada para aliviar a turbulência de seus pensamentos.
Um homem tinha-lhe proposto casamento hoje à noite, e, aparentemente, o
desmaio significava que tinha respondido afirmativamente. Não foi nada como
tinha imaginado em todos os seus devaneios —embora, é claro, naqueles, Rob
Cranach não era o homem que lhe propôs.
Um dia atrás, teria realmente dito que sim; Rob foi o homem sofisticado
com quem poderia se ver casada. Passariam o verão em Londres, iria levá-la
junto quando fosse para Inverness ou Edimburgo, a respeito dos negócios do
clã Buchanan, saberia todos os últimos livros e peças de teatro e óperas e
discutiria com ela à noite. Era o que queria. Tudo o que queria.
Com um clique silencioso, a porta se abriu e então fechou-se novamente.
Seu coração batia acelerado como um tambor em seu peito, e estreitou seus
olhos fechados, embora sua cabeça estivesse debaixo dos cobertores.
—Sei que não está dormindo—, a voz seca de Lachlan veio. —Tem um
leve ressonar.
—Não tenho.
No silêncio, ouviu-o caminhar até a janela e, em seguida, o farfalhar suave
das cortinas. —Venha aqui e lance seus olhos sobre isso—, disse depois de
um momento. —Ou quer que eu lhe carregue para a janela?
Ela afastou os cobertores. —Outras pessoas expressariam preocupação por
que desmaiei, você sabe—, comentou, deslizando para fora da cama e
caminhando até ficar ao lado dele.
—Está bem, então?—Olhou-a, seus olhos sombreados quase escuros.
—Sim, estou bem.
—Então pare de reclamar e olhe.
Isso não parecia muito bom, mas quando olhou para a colina inclinada ao
pé da Glengask, se esqueceu de ficar irritada com sua conversa arrogante.
Meia dúzia de fogueiras queimavam, sombras esvoaçando sobre eles,
enquanto alguns Highlanders dançavam. Inclinou-se sobre o braço de Lachlan
e abriu a janela. O som de gaitas de foles e a batida de tambores flutuou até a
colina, misturando-se com o cheiro de fumaça da madeira. —Vislumbre antigo
—, respirou depois de um longo momento.
—Tão antigo quanto as Highlands. Sim.
Apesar dele estar de sapatos e ela descalça, o topo de sua cabeça ficava
sob seu queixo. Sempre esteve cercada por homens altos, e embora, às vezes
achasse a altura irritante, em outras ocasiões, apreciava a proteção, o conforto
e a formidável presença fornecida. Hoje à noite a presença era de Lachlan,
porém, não a sentia amigável. Pelo contrário, parecia... rejeitado, como um
lobo antes de exibir-se.
E a próxima coisa que dissesse, tudo o que dissesse, provavelmente o
deixaria livre. Claro que permanecer em silêncio não lhe faria nenhum bem,
também. Rowena respirou lentamente. —Após não nos comprometermos
oficialmente, Ranulf sugeriu três prováveis homens e me pediu para escolher
um deles.
—Sei disso. Cairnsgrove, MacMaster, e Cranach—, comentou, ainda
olhando a fogueira lá fora.
Nenhuma explosão ainda, de qualquer maneira. Ela assentiu. —Não sabia
que tinha determinado um para mim, até que Rob me chamou de lado esta noite
para me dizer que Ranulf o tinha procurado e dado sua permissão para nos
casarmos.
—E então você disse sim a ele.
—Quando tomei conhecimento disso, tenho certeza que lhe disse que
precisava sentar, e então desmaiei.
Lachlan não moveu um músculo, mas o ar em torno dele parecia carregado,
como se abruptamente tivesse entendido. —Você não disse sim?
—Todo mundo parece pensar que o fiz, então suponho que posso ter feito
isso.
Olhou-a novamente, os olhos verdes brilhando vermelho à luz da fogueira
refletida. —Não lhe disse sim—, repetiu, não sendo uma pergunta. Sua voz
estava profundamente baixa, quase um rosnado ríspido.
Por que isso importa? Ranulf queria o casamento, e Rob seria o homem
perfeito para ela. Iria concordar com ele, mesmo que esta noite estivesse mais
surpresa do que animada. —Ainda não—, disse em voz alta.
Lachlan colocou a mão na parte de trás do pescoço dela e puxou-a para a
frente, esmagando sua boca contra a dela. Fora de equilíbrio, calor lançando
através dela, Rowena envolveu as mãos nas lapelas de sua jaqueta e segurou-
se.
Quando começou mordendo seu queixo, por uns poucos momentos, Rowena
pensou que poderia desmaiar novamente. Sabia exatamente onde tocá-la para
enviar calafrios para cima e para baixo em sua coluna vertebral. Isso não foi
um súbito beijo de boa noite.
—Ranulf disse que com isso resolvido, você e eu poderíamos ser amigos
novamente—, murmurou, tentando soar prosaica e lógica e sabendo que estava
falhando gravemente. —Não lhe disse que você já tinha anunciado que não
queria ser meu amigo.
—Você tem razão, moça. Não sou seu amigo—, murmurou de volta,
deslocando as mãos para soltar o pequeno trio de botões sob seu queixo.
Oh, Meu Deus. —Mas somos amigos—, insistiu, as pernas começando a
tornar-se instáveis. Quando puxou o vestido para descobrir seu ombro
esquerdo para seus beijos, ela gemeu.
—Então reconhece que deveria apertar sua mão e ir embora, não é?
—Voltando sua atenção para a boca, começou a arrancar os grampos de seu
cabelo e deixá-los cair no chão. —Não vou embora. Não esta noite. Não até
que sinta sua pele contra a minha e beije cada polegada sua. Não até que a
faça minha.
Sua camisola fina começou a parecer quente e áspera contra ela. Isto era
tão, tão errado —mesmo que ainda não tivesse concordado com a proposta de
outro homem, não o tinha recusado, também. O casamento, a aliança,
aconteceria. Mas tinha sonhado por toda a vida sobre a dança em seus braços,
e nos últimos três anos sobre algo mais sexual, só esta noite, com apenas este
homem.
—Lachlan, nós...
—Acho que usei palavras suficientes para a tentar convencer do que sinto
por você, Rowena, —interrompeu. —Então me diga não agora, ou coloque
seus braços ao meu redor.
A única coisa boa sobre estar em sua posição era que seria avaliada para a
aliança que representava, e não por sua virgindade. Porque, neste momento,
não conseguia se lembrar por que decidira que não queria que Lachlan a
perseguisse. Não conseguia lembrar-se de nada, exceto o quão rápido fazia
seu coração bater. Rowena tocou seu rosto com a palma da mão, em seguida,
lentamente deslizou os braços ao redor de seus ombros, puxando-se mais
contra ele.
Lachlan mergulhou, capturando-a em seus braços, e levou-a até a cama
amarrotada. Não conseguia parar de beijá-lo, mas isso só combinava com a
sua boca faminta contra a dela. Colocou-a sobre os cobertores, perseguindo-a
quando se deitou.
—Diz que não se importa comigo, não mais —, murmurou, estendendo a
mão para a bainha de sua camisola e puxando-a para cima, passando os
joelhos e, em seguida, acima da cintura antes que pudesse sequer fingir
modéstia. —Acho que me enfeitiçou, Rowena MacLawry. Não consigo pensar
em nada nem ninguém além de você.
—Mesmo com Lady Bridget se atirando em você?—Retornou, ciente de
que tinha esquecido seu sotaque apropriado em algum lugar, e não
particularmente se importando. Lachlan sabia quem ela era. Ou, pelo menos,
como se sentia, hoje à noite.
—Não a quero. Ela não é quem eu quero.—Sentou-se, movendo sua boca
para baixo de seu estômago, após a retirada da sua camisola, enquanto
continuava empurrando-a acima de seu corpo.
Arquejou quando lambeu um dos seios expostos e depois o outro. Cravando
as mãos no emaranhado de seu cabelo, se arqueou contra ele. E então deslizou
a mão entre suas pernas, e ela arquejou novamente. Calor e desejo se
formando através dela. Mesmo com outras mulheres, praticamente implorando
para dividir sua cama, mesmo com ela constantemente dizendo-lhe que nunca
serviria, a queria. Finalmente, a queria. E no entanto, quando imaginava seu
futuro perfeito, o queria tanto. Tão ferozmente.
Quando ela o empurrou, ele sentou-se um pouco, e o perseguiu em posição
vertical para empurrar seu casaco para baixo de seus braços. Uma tenda
formada em seus quadris sob as cores MacLawry, e alcançou debaixo do kilt
para agarrar seu pênis saliente. Doce Santa Brígida e todos os anjos
celestiais.
—Você não é uma moça tímida, não é?—Ele riu, inclinando sua cabeça um
pouco para trás.
—Não com você.
—Espero que não pense que estava mentindo sobre querer você, Rowena.
Porque eu quero.
Ela certamente poderia ver e sentir a evidência disso. —Lhe quero,
também, Lachlan.
Breve satisfação cruzou suas feições esguias. —Levante seus braços, moça.
Relutantemente ela soltouse para fazer o que lhe pediu, e puxou a camisola
sobre sua cabeça. Seu cabelo caiu ao redor de seus ombros e, enquanto
Lachlan a olhava, se sentiu linda, imoral e devassa —todas aquelas palavras
que tinha lido, mas que nunca tinha entendido antes deste momento.
—Bem?—Perguntou, olhando-o, enquanto a olhava dos joelhos à cabeça e
voltava para o meio novamente. —O que você acha?
Sua risada curta enviou calor em cascata novamente entre suas pernas.
—Acho que é mais bonita do que o luar sobre a água, moça, e feroz como o
fogo ao nascer do sol.—Deslocando-se para sentar-se de costas, rapidamente
desamarrou seus sapatos e os colocou no chão. A gravata e camisa seguiram,
então tudo o que usava era o seu kilt.
E Lachlan MacTier parecia magnífico, como um dos famosos Highlanders
ferozes antigos, os que tinham expulsado os romanos e reivindicado esta terra
novamente para si. Rowena sacudiu esse pensamento, no entanto, quando
desabotoou o kilt e jogou em cima do resto de suas roupas. Não precisava
imaginar nada esta noite. E inventara contos suficientes sobre ele ao longo dos
anos. Hoje à noite, precisava ser exatamente quem ele fosse. Hoje à noite, isso
seria mais do que suficiente.
Ele agarrou-a novamente, seu cabelo caindo sobre um olho, enquanto
levemente beliscava seu mamilo e depois seguia com a boca, a mão livre se
arrastando para acariciar entre suas pernas novamente. Enterrou os dedos em
seus ombros, puxando-o mais duro contra ela. Seu pênis roçou sua coxa, e
estremeceu. Crescendo com três irmãos, sabia o que seria aquilo, e queria-o
dentro dela.
Empurrando com os joelhos e separando os próprios, ele tomou sua boca
em um beijo profundo, de parar o coração. Enquanto suas línguas se
emaranhavam, empurrou para a frente com seus quadris, entrando nela em um
resvalar lento, quente. Dor abrupta a fez enrijecer, mas com as mãos ladinas
sobre os seios e os lábios e os dentes em sua boca, relaxou novamente, a
sensação dele dentro dela, seu peso em seus quadris, indescritivelmente...
satisfatório.
—Você é minha agora, Rowena, minha moça feroz—, murmurou,
levantando seu rosto longe do dela, olhando-a nos olhos enquanto empurrava
mais fundo dentro dela, até que ela o levou totalmente.
—Pensa assim?—Perguntou, sem fôlego.
Lentamente, puxou e então deslizou novamente. —Sim.—Ele fez isso
novamente. —Sim.
Rowena o beijou novamente, cavando seus dedos em seus ombros enquanto
ele se movia dentro dela. A tinha chamado de feroz, e esta noite se sentia
como se fosse o encontro de impulso com o impulso, o ritmo crescendo, até
que com um gemido tremendo e profundo, ela se veio. Desacelerou quando
convulsionou em torno dele, beijando-a ardentemente e de boca aberta,
abafando seus gemidos até que seus sentidos se estabeleceram novamente um
pouco. —Doce Santa Brígida—, ela se arrastou.
Sorriu, parecendo sem fôlego para si mesmo. —Isso não é o fim ainda,
moça. Vamos ver se posso fazer isso com você novamente.
Abruptamente ele os virou, para que se deitasse olhando-a enquanto ela
montava em seus quadris, ainda empalados. Lachlan empurrou para cima,
colocando-lhe as mãos em volta da cintura até que pegasse o ritmo de seus
movimentos. Ela gostou disso, a sensação de que controlava o momento —até
que ele colocou as mãos espalmadas sobre seus seios, provocando e puxando.
Os músculos em seu abdômen começaram a apertar novamente, e colocou
as mãos sobre o peito de Lachlan para se despedaçar mais uma vez. Ele tomou
seus quadris e puxou-a para baixo sobre ele, enquanto rosnava e jogava a
cabeça para trás.
Com um suspiro profundo e trêmulo, Rowena caiu contra seu peito. Sob sua
bochecha, seu coração batia forte e rápido. Seu Lachlan. Ela queria isso —ele
—por tanto tempo. E justamente quando desistira...
Não. Não tinha desistido. Alteraria o que queria. Se tornaria mais sábia e
escolheria alguém mais refinado.
Se assim fosse, porém, por que estava tão... satisfeita? Por que não queria
fazer nada, tanto quanto mentia enrolada em seus braços, precisamente onde
estava? Talvez o ato físico sexual não tenha apenas dominado seus sentidos,
mas seu julgamento. Isso parecia inteiramente provável. Afinal, conseguia
mesmo recuperar o fôlego. Como deveria pensar com clareza?
—Está muito quieta—, disse Lachlan, sua voz retumbante sob sua
bochecha. —Especialmente sendo você.
—Estou?—Ela retornou, imóvel, desejando que tornar-se irracional fosse
tão simples.
—Sim. Sei que lhe magoei, mas não vou fazê-lo novamente. Eu juro.
Sentiu que não estava falando apenas de hoje à noite, que estava tentando
fazer as pazes para descontar com ela todos aqueles anos. —Não importa.
Estou livre.
Os braços em torno das suas costas apertaram, então relaxaram novamente.
—Não lhe disse sim. Então está falando, apenas para mim.
Ela ergueu a cabeça, tirando o cabelo de seus olhos para olhar para seu
rosto. —Você e eu somos os únicos que sabem sobre isto—, disse, apontando
entre eles, —e o fato é de que não disse sim a Rob. Que ainda não disse sim a
Rob.
—Sabe que você não disse que sim, e mentiu sobre isso.
—Não estou tão certa de que mentiu, Lach. Achou que concordaria em ser
sua esposa, e então eu desmaiei.
Lachlan saiu de debaixo dela e sentou-se. —Quer ir junto com ele.—Seus
olhos verdes praticamente estalaram com raiva abrupta.
Sentando-se, para que ele não se elevasse sobre ela, enquanto a encarava,
Rowena puxou um travesseiro ao redor e o colocou na sua frente. Sim, a viu
nua, e sua boca e suas mãos ou ambas tinham acariciado cada polegada sua,
mas sem roupa, se sentia muito vulnerável – por dentro e por fora. —Ranulf
quer a aliança. E Robert Cranach, ao contrário de você, é muito agradável, e
temos os mesmos interesses.
—Quer dizer que ele tem interesses e você decidiu que são os únicos que
uma jovem moça inglesa adequada deve ter, também.—Estendendo a mão,
arrancou o travesseiro para longe dela e jogou-o no meio do quarto. —Não é
uma moça de sangue frio que conversa sobre o tempo e o teatro, sobre o chá e
diz que seu dia está oh, tão ocupado. É uma moça Highlander com fogo em seu
coração e o vento em seu cabelo —e quem me dera visse isso sobre si mesma.
Ainda não via isso, Lachlan percebeu. Bastava olhar para o rosto dela, os
lábios firmemente fechados e os olhos apertados, para dizer-lhe que
considerava esta noite uma anomalia, uma indiscrição de uma só vez. E agora
a tinha deixado com raiva, provavelmente não iria ouvi-lo mais. Pior, poderia
procurar Rob Cranach e dizer as palavras que não tinha conseguido dizer mais
cedo.
—Essa é a sua opinião—, disse ela rigidamente, seu adorável sotaque
enterrado novamente, como se tivesse decidido tornar-se uma pessoa
completamente diferente e simplesmente feito isso. Do lado de fora, de
qualquer maneira. —Não compartilhei isso. E agora acho que deveria ir
embora.
Danação. —Talvez eu seja um pouco desajeitado com minhas palavras,
Rowena, mas me empurrou firmemente para trás e, em seguida, se recusou a
me olhar novamente. Se quiser visitar o teatro, vou construir um. Vou levá-la
para Londres a cada ano, se é isso que quer. Mas se fingir ser o que você não
é, e se casar vestindo essa máscara, não pode tirar isso novamente. Preocupo-
me que você seja infeliz.—E que vou ser miserável sem você, mas não disse
essa parte em voz alta. Não ajudaria. Não agora, de qualquer maneira.
Ela empurrou—lhe o peito. Inflexível. Poderia muito bem ter sido um
pequeno pássaro canoro batendo nele com suas asas, mas apenas se afastou e
ficou do outro lado da cama. Seu olhar baixou para seu pênis antes que olhasse
para seu rosto, o que realmente o fez sentir-se um pouco melhor. Rowena
poderia fingir ser adequada, mas se sentia livre e ansiosa o suficiente com ele
quando o humor a atingia.
—Não precisa se preocupar comigo—, disse, tardiamente puxando para
cima os cobertores para cobrir-se novamente. —Não sou nenhum interesse
seu.
—Mas você é, moça.—Se agachou até recuperar seu kilt e o endireitou
para envolvê-lo novamente sobre seus quadris. Feito isso, deu de ombros em
sua camisa. —E é ainda obrigada a fazer o que eu quero, de qualquer forma,
se não quiser que me comporte mal.
—Não sou. Não vai se comportar mal e arriscar uma guerra, agora que os
clãs estão aqui.
—É verdade. Não entende a impaciência, no entanto, se eu disser a todos
que não concordou em casar Cranach e que ele fez isso para mimar o seu
orgulho?
Ela empalideceu um pouco. Sabia o que deveria estar pensando, que
poderia negar os rumores —e que isso provavelmente iria torná-los ainda
mais interessantes para as fofocas. Ou poderia ignorá-lo, caso em que seria
Cranach imaginando a quem ela havia dito e por quê.
—Tudo o que peço é que não dê a Cranach sua verdadeira resposta até
depois do casamento do seu irmão. Passou os últimos três meses como uma
inglesa entre o ingleses. Passe os próximos quatro dias como uma mulher
Highlander entre os Highlanders. Então, decida quem quer ser para o resto da
sua vida.
Rowena contemplou-o por um longo momento, enquanto terminava de se
vestir, para dar-lhe tempo para considerar o que tinha dito. Forçando-a para
que não se sentisse bem com ele, mas vê-la escolher Robert Cranach seria
ainda pior. Especialmente se fizesse isso só para irritá-lo —se nunca
reconhecesse que deveria haver uma razão ou não.
Finalmente colocou as mãos nos quadris, o cobertor baixou deliciosamente
até a cintura, quando fez isso. —E o que sugere que eu diga a todos que me
felicitarem pelo meu noivado?
Lachlan fez uma careta. Ele sabia o que queria que ela dissesse.
Obviamente, porém, não diria a qualquer um que poderia felicitá-la, mas
estavam com o nome do marido errado. —Diga que Robert não pediu sua mão,
e você é uma moça Highlander que não sucumbirá até que tenha sido feito
corretamente e dada a sua resposta.—Ele inclinou a cabeça. —Ou vai ser
arrastada nisso sem ter sua própria opinião?
—Acha que pode me convencer tão facilmente, Lach?
—Moça—, retornou, fundindo suas respirações, —nada sobre você é fácil.
Em nossos anos crescendo, isso foi o que mais me irritou sobre você. E é o
que mais adoro. O seu espírito.—Sentou-se novamente na beira da cama,
longe o suficiente para que não pudesse chutá-lo se o humor a atingisse. —Se
fosse fácil lhe convencer, não teria nenhuma roupa no corpo, e ainda
estaríamos nus juntos nessa cama.
Seu longo e ondulado cabelo caindo sobre os ombros e metade
obscurecendo seus seios, Rowena saiu da cama nua para encará-lo. Ele se
levantou novamente, batendo os dedos para não alcançá-la. Evidentemente,
frustrado com ela ou não, ainda a desejava.
—Bem—, observou ela, lentamente, colocando a mão para dar um puxão
em seu colete—, odeio admitir isso, mas foi um bom argumento. Não, não vou
casar com alguém sem ser perguntada, e sem dar a minha resposta. Quatro
dias, Lachlan.—Abaixou a mão novamente. —Mas você não vai mudar minha
mente.
—Não sei sobre isso, moça. Sou muito persuasivo.—Inclinando-se, beijou
sua boca suave, teimosa. Quando o beijou de volta, deslizou as mãos em volta
da cintura nua e esbelta e puxou-a contra ele. Se tinha percebido isso ainda ou
não, precisava de um homem que fosse firme contra ela. A moça ficaria
entediada com um cavalheiro.
Com um último beijo, colocou as palmas das mãos em seu peito e
empurrou-se para longe dele alguns centímetros. —Vamos ver sobre isso.
Agora vá, antes que alguém perceba que você está aqui.
—Sim.—Tomando um último olhar para ter certeza de que não tinha
esquecido nada, Lachlan foi até à porta. Movendo-se e a abriu, olhou para o
corredor. Estava vazio, supostamente estava com sorte, embora não tivesse
nenhuma desculpa para permanecer mais tempo nos seus aposentos. —Durma
bem, Rowena, minha moça Highlander feroz. E sonhe comigo.
Maldição, sabia muito bem que estaria sonhando com ela. Restavam apenas
quatro dias para convencê-la disso, que a conhecia melhor e não apenas o que
realmente queria, mas o que precisava. E que juntos seriam um par perfeito.
Capítulo Dez
Hoje, esta parte das Highlands não parecia vazia. O vasto prado na base do
Castelo de Glengask tornou-se um tapete vivo de som, cor e aroma.
Geralmente nas reuniões do clã MacLawry vinham quase quinhentas
pessoas, mas a circunstância única do casamento de Ranulf tinha convocado
ainda mais —e isso não incluía os outros duzentos homens, mulheres e
crianças que chegavam com os chefes e chefes dos outros clãs.
—Céus—, Charlotte tomou fôlego, enquanto descia o morro com Rowena e
o grupo de Mayfair.
Durante toda a manhã Rowena estremecia de emoção e ansiedade e de
volta, mas o temor na voz de Charlotte Hanover a fez sorrir. —A maioria deles
são o seu clã agora, Charlotte—, disse. —Basta lembrar o que Ranulf lhe
disse; não saia sem Owen. É provável que todos estejam apenas querendo
conhecê-la, mas é sempre melhor ser um pouco cautelosa.
—Sim—, Owen concordou, e deu um tapinha no bojo sob sua jaqueta,
apenas parcialmente obscurecido pelo xadrez MacLawry envolto por cima do
ombro. —Eu e este bacamarte não estaremos muito longe.
—Ranulf tem proteção, também, não é?—Charlotte sussurrou, tomando o
braço de Rowena. —Parece que ele seria um alvo mais provável para
qualquer problema que eu.
—Todos os membros do clã cuidam de nós—, retornou, aquecida pela
preocupação de sua quase cunhada, mesmo quando olhava para a multidão e
fingia que não estava procurando por Lachlan. Ele estaria em algum lugar no
meio de tudo, com Bear e Ranulf esta manhã. E tinha coisas mais urgentes para
se preocupar agora do que ele. A brisa fresca da montanha a arrepiou, e pela
milésima vez desde que deixou seu quarto e a imagem dele nu, olhando-a de
meros passos de distância, a tocou. Que diabo, por que tudo a fazia pensar em
Lachlan esta manhã?
—Ranulf tem Fergus e Una com ele, também,—Jane expôs. —Eu o vi sair
de casa esta manhã com eles. E Bear.
—Eu certamente não iria querer irritar aqueles cães—, Charlotte disse,
sorrindo novamente. —É só que... há tantas pessoas. E isso não é nem a
metade do clã, a partir do que ele disse. E todos o olham.
Claro, Charlotte ia ficar mais afetada por essa representação dos deveres
de Ranulf como chefe do clã do que pelo tamanho da multidão. Essa era uma
das razões porque Rowena estava tão feliz que os dois se tivessem
encontrado. Ranulf precisava de alguém que fosse cuidar dele em primeiro
lugar, e do clã em segundo, desde que ele sempre se colocaria na parte de trás
de todo o resto.
Segurando a mão de Mary, Arran moveu-se para o lado delas, um sorriso
satisfeito no rosto. —O clã é principalmente de agricultores e pescadores,
cortadores de turfa, tropeiros e vaqueiros—, disse. —Ferozes quando
irritados, mas não estão irritados hoje. E como fui proibido de cansar minha
mão em qualquer um dos jogos, vou estar perto de você, também.
Na borda do prado tiveram que desacelerar, com todos querendo fazer uma
reverência ou saudação para Charlotte, e prestar suas homenagens a Arran e
—com ainda mais aberta curiosodade —Mary. As notas ressoantes de gaitas
de foles e centenas de vozes conversando em inglês e gaélico escocês eram
quase ensurdecedoras, e certamente não ajudava Rowena a conciliar seus
pensamentos. Se Ranulf não tivesse saído de casa tão cedo, poderia tê-lo pego
então, mas tinha dormido demais. Um pequeno sorriso tocou-lhe novamente.
Pelo menos tinha um bom motivo para isso.
Lachlan pediu-lhe para tentar ser uma Highlander hoje, mas poderia admitir
para si mesma que, com uma reunião ao seu redor teria sido difícil ser outra
coisa senão uma Highlander. Em um momento, tinha as mãos cheias de torta e
massa de bolinhos, e entregou pedaços de deleites aos seus amigos para
experimentar.
Olhava em volta enquanto cumprimentava rostos conhecidos e dava boas-
vindas aos novos. Muitas dessas pessoas, mesmo que não compartilhassem seu
nome, compartilhavam seu sangue. Em algum lugar do passado, todos os que
usavam as cores preta, cinza e vermelho sangue era um MacLawry, ou se
tinham casado com alguém do clã, ou mais recentemente, quando precisaram,
porque o próprio clã os expulsou para dar espaço para as ovelhas e pastagens.
Para um dos lados, em linha reta, um círculo grande e irregular havia sido
mantido limpo para a primeira das competições; eles colocaram cobertores e
algumas cadeiras para os pais de Charlotte. Seu evento, a corrida de cavalos
das damas, foi marcado para o final da tarde, mas já estava vestida com seu
traje de equitação, para que não tivesse que voltar para a casa e trocar de
roupa.
—Não vai se sentar?—Jane perguntou, olhando-a.
—Em um momento. Preciso de ter uma palavra com Ranulf, primeiro.
—Algumas palavras, de que ele definitivamente não gostaria. Mas se
decidisse anunciar a todos que sua irmã estava noiva, estaria acorrentada, sem
nunca ter sido perguntada.
—Eu o vejo—, Arran disse, ainda de pé, também.
—Isso é porque você é do tamanho de uma montanha—, respondeu,
engolindo os nervos atrás de um sorriso.
—Sou mais uma colina. Munro é do tamanho de uma montanha.—Ele
ofereceu seu braço. —Venha comigo. Vou levá-la a ele.
Isso significava que estaria dizendo a seus três irmãos. Melhor fazê-lo de
uma só vez, decidiu, principalmente porque não tinha nenhuma escolha, e
colocou a mão em torno de sua manga. —Obrigada.
—Hum-hum—, disse, enquanto percorriam em torno da borda do círculo.
—Diga-me uma coisa.
—O quê?
—A vi fingir desmaiar meia dúzia de vezes ou mais, geralmente na
esperança de que Lachlan a apanhasse. Jamais soube que realmente perdesse
seus sentidos. Então, o que aconteceu ontem à noite para lhe perturbar tanto?
Céus, com tudo o que tinha acontecido na noite passada, quase tinha
esquecido que começara com seu desmaio. —Se me levar até Ranulf, vou-lhe
dizer.
—É justo.—O irmão MacLawry do meio enviou-lhe um olhar de soslaio.
—Não está feliz com Cranach? Parece um pouco... distraída.
Claro, se alguém notasse isso, seria alguém tão inteligente quanto Arran. —
É... Eu não sou...—Soltou a respiração. —Pare de observar as coisas por um
maldito minuto, pode ser?
—Sim. Posso fazer isso.
Finalmente, caminharam através de um outro grupo de espectadores e
apareceram na clareira central. Maravilhoso. Então, teria uma audiência de
cerca de setecentos, enquanto falava uma palavra particular com o homem que
tinha a atenção de todos hoje. Quando se aproximou de Ranulf, outro homem
vestido com o xadrez MacLawry apareceu à vista, e quase tropeçou e um ardor
correu por seus músculos. Lachlan.
Claro, ele estaria lá com Ranulf; o colocou e a Bear encarregados de
organizar os malditos jogos. Mas como conseguiria dizer a Ranulf o que
precisava dizer com ele ali, distraindo-a?
—Glengask, uma palavra com você—, Arran chamou.
Ranulf encontrou-os no meio do caminho, Bear e Lachlan e os dois cães de
caça flanqueando-os. O MacLawry usava seu kilt, também, é claro. Mesmo se
talvez fosse um pouco preconceituosa em favorecê-los, em sua opinião, eram
os mais encantadores e elegantes homens em toda a Escócia. E Inglaterra.
—Sim—, disse ele. —Digame uma palavrinha rápida, de preferência. Se
não abrir os jogos logo, prevejo um motim.
—Não sou eu que quer uma palavra. É Winnie.
Homens altos rodearam-na, e pegou o olhar ardente e encorajador de
Lachlan. Claro, isso era o que ele queria, —mais tempo e oportunidade para
tentar mudar sua mente. Não fazia isso por ele, no entanto. Pelo contrário, era
porque se recusava a se render sem dizer uma única palavra a Rob Cranach.
Ela respirou fundo. —Não concordei em me casar com Rob—, disse de
repente.
Ranulf a olhou por um momento. Não era sempre que fazia algo para
realmente surpreendê-lo, sua fuga para Londres tinha sida a última que
conseguia se lembrar. Mas parecia assustado agora. —Diga isso de novo?
—Ele finalmente pediu, suas sobrancelhas juntando-se.
—Não estou dizendo que não vou concordar em me casar com ele—,
continuou, encontrando o olhar de Lachlan e desafiando-o a contradizer isso.
Tinha sugerido que falasse a verdade, e estava falando. Mas isso não queria
dizer que tinha decidido sobre ele.
—Precisamente, é melhor se explicar, piuthar—, Bear expôs. —Mais cedo,
ou mais tarde.
—Ele —Rob —me puxou de lado na noite passada e anunciou que Ranulf o
tinha caçado e dado sua permissão para nos casarmos.
—Não usaria a palavra ‘caçar’, precisamente—, Ranulf rebateu. Então,
enviou um olhar para Lachlan. Será que suspeitava que havia mais argumentos
que nenhum dos dois tinha admitido? —Mas isso nem aqui nem ali, suponho.
Vamos lá, moça.
Rowena assentiu. —Eu —isso me surpreendeu. Quero dizer, você disse que
eu poderia escolher, Ranulf. E suponho que bebi muito vinho, mas de qualquer
forma, eu desmaiei. Não me perguntou nada, e certamente não lhe dei uma
resposta.
—Isso não foi o que andou dizendo a todos.—Bear levantou a cabeça para
procurá-lo na multidão. —O bastardo. Eu vou...
—Não fará nada com ele—, Ranulf cortou, antes que Munro pudesse
terminar de descrever o tipo de violência que faria com Rob. —Disse que não
tinha objeção em se casar com Cranach, não foi, Rowena?
—Sim, mas...
—Arran, vá encontrá-lo. Agora. Ele vai pedir e você vai responder e tudo
vai ser resolvido e tudo esclarecido.
Arran começou a caminhar para longe, mas Rowena agarrou seu braço.
—Isso não é muito romântico, Ranulf. Pelo amor de Deus.
O Marquês a prendeu com o olhar que uma vez deixou Samuel Cameron
molhado. Rowena, no entanto, recusava-se a recuar ou desviar o olhar,
deixando-o saber o que faria com isso. —Deem-me um momento, rapazes—,
disse ele calmamente, seu olhar nunca deixando o rosto dela.
Num segundo estavam a sós, apenas os dois, no centro de um vasto círculo
de espectadores, nem todos desejando o melhor para a família MacLawry.
Estabeleceu-se um mal-estar no estômago. Seu irmão ou não, não havia homem
mais formidável nas Highlands do que Ranulf MacLawry. E ela,
evidentemente, tinha sua total atenção, inabalável. —Isso pode esperar até
hoje à noite—, disse ela. —Há um motim pendente, pelo que me lembro.
—Não—, disse, sem rodeios. —Não posso esperar. Não percebe que há
mais ou menos trinta rapazes por aí solteiros que a desejariam em seus
próprios braços e casar com você, Rowena. Alguns deles iriam conquistá-la, e
alguns não se incomodariam com isso.
—Já compareci em todas as reuniões desde que me lembro—, retornou,
franzindo a testa. —Qual é a diferença?
—A diferença é que fez dezoito anos há três meses. A diferença é que não
era a única a pensar que iria casar-se com Lachlan. A diferença é que todos
aqui sabem que vocês brigaram e não se vão casar. E que existem outros
homens aqui pretendendo cortejá-la. Se colocou no esquema, piuthar? Agora é
vista como uma mulher adulta e disponível. E cada rapaz que quiser você,
cada clã que quiser uma aliança, cada aproveitador que quiser se juntar, não
apenas ao clã MacLawry, mas à família MacLawry, está olhando para você
agora com olhos lascivos, calculistas.
Nunca tinha falado com ela tão sem rodeio antes. E suas palavras a
perturbaram como uma maldição. Foi por isso que tinha dado sua permissão
para Rob Cranach, por que tinha pedido Lachlan para dizer-lhe que não
haveria nenhum casamento entre eles, e por que provavelmente queria usar a
ocasião da abertura dos jogos para anunciar seu noivado. Para proteger a
família, e para protegê-la.
—Então. Se for seu orgulho que está lhe fazendo hesitar, Arran vai buscar
Cranach e vamos fazer com que lhe peça devidamente. Se for algo mais,
precisa me dizer. Agora.—Seu olhar azul firme desviou-se para além de seu
ombro, em direção a Charlotte. —E não pense que de alguma forma, perdi
minha vontade por causa da minha moça. Não serei constrangido por você,
Rowena. Não vou permitir que o clã seja constrangido ou fique em perigo,
porque agora não sabia o que queria até um dia atrás.
Ela respirou profundamente. Oh céus. Isso não pressagiava nada de bom.
—Olhei para Rob Cranach, como me pediu. Ele é muito gentil e agradável.
Provavelmente vou casar com ele. Mas agora é... É complicado.
—Complicado... como?—Seu irmão incentivou.
—Posso ter cometido um erro—, disse lentamente. —Sobre Lachlan.
Ranulf virou a cabeça para olhar para Lorde Gray, de pé ao lado de Bear e
olhando para eles, claramente frustrado por não ter sido convidado para
participar dessa conversa. Seu irmão olhou-a novamente. —Não—, disse.
Rowena piscou. —Mas...
—Não. Da última vez, tinha consciência de que ele não se importava com
você, tanto quanto se importava com ele, você fugiu —sozinha —para
Londres.
—Mitchell estava comigo.
—E teve uma maldita sorte que não a deixei para trás em Londres.—Deu
um passo mais perto dela. —Não, Rowena. Dezoito anos são suficientes. Não
vou vê-la com o coração partido novamente quando perceber que ele não é o
homem que imaginava. Este é um novo começo, e é um que você precisa.
—Não estou dizendo que não me casarei com Rob—, tentou novamente,
tentando entender isso em sua própria cabeça, ao mesmo tempo que estava
falando. —Só quero mais uns dias —quatro dias —para decidir. Além disso,
estes jogos, este encontro é para você e Charlotte. Não quero que seja sobre
mim.
Ele estreitou os olhos. —É uma moça inteligente, não é?
—Talvez, mas também é verdade. Aproveite seu momento, Ran. Pela
primeira vez.
Por fim, deu um leve aceno de cabeça, como que para si mesmo. —Os
rumores já começaram sobre você e Robert. Vou suportá-los. Ou seja, em
quatro dias vai anunciar formalmente seu noivado. Com Rob Cranach.
—Mas eu e Lachlan...
—Já chega, Rowena. Vocês dois me disseram que romperam, e fiz planos
nesse sentido. Não serei influenciado novamente. E não terei outro dos meus
irmãos reescrevendo alianças nas minhas costas. Quando Robert se dobrar em
um joelho e pedir a sua mão, vai dizer sim. Está claro?
Ela piscou, lágrimas inesperadas borrando sua visão. —Mas...
—Rowena.—Ele suspirou. —Pedi para escolher, e você o fez. Não faça
isso com você mesma. Dezoito anos chorando por um homem que não lhe quer
é o bastante.—Tomou o queixo em sua mão e inclinou o rosto para olhar
diretamente em seus olhos. —Quatro dias. Pode não gostar agora, mas acho
que vai entender quando o conhecer totalmente. Vou dizer-lhe para lhe
perguntar, e vou dizer-lhe para ser romântico. E é isso.—Ele procurou seu
olhar. —Diga-me que entende, e faça o que lhe peço.
Incapaz de falar, percebendo o quão profundo esse buraco era, agora que
tinha permitido Lachlan em seu coração novamente, Rowena conformou-se e
assentiu. Isso foi o que tinha pedido. Só não tinha certeza de que queria isso,
não mais.
***

—O que ele disse?—Perguntou Lachlan, interceptando Rowena enquanto


caminhava até onde seus amigos Sassenach e Lorde Robert estavam sentados.
—Não agora—, murmurou, sem olhá-lo.
Lachlan pegou em seu braço, tentando fazer parecer amigável. Fraternal, se
foi isso que todos esperavam. —Sim, agora, Rowena. Ele lhe dará —a nós
—quatro dias?
Silenciosamente, balançou a cabeça. —Não—, ela murmurou, com a voz
firme e tranquila.
—O que quer dizer com, não?—Ele voltou, exagerando no som da
expressão.
—Não vai confirmar os rumores durante quatro dias, mas só porque eu
disse que queria que esse encontro fosse sobre ele e Charlotte. Disse que você
e eu terminamos, e fez seus planos nesse sentido, e não vou constrangê-lo
reorganizando suas alianças.
Por um longo momento ele olhou-a, enquanto caminhava ao seu lado. Sim,
tinha cometido um erro em não perceber precisamente quem estava diante
dele. Mas nem mesmo permitir-lhes uma chance... —Mas lhe disse que
Cranach nunca te pediu em casamento. Ouvi você dizer isso.
—Sim, e vai incentivar Rob a me perguntar de forma adequada, romântica.
Uma vez que me perguntar, devo dizer sim. Não vai ouvir mais desculpas, e
acha que ainda estou apaixonada por você e que não quero abandonar a
fantasia.
Isso poderia ter sido lisonjeiro, em circunstâncias diferentes. Agora,
parecia que o sino badalava uma punição. Amaldiçoou. —Não vou aceitar
nada disso.
—Você tem de o fazer, Lachlan. Não vou ver você e meus irmãos lutando
entre si.—Libertou seu braço. —E como eu disse, nunca disse que escolheria
você, de qualquer maneira. É só... Está acabado.
Ele parou, observando enquanto ela retornava para seus amigos e se
sentava ao lado do maldito intrometido com o qual pretendia se casar. Os
músculos em seus ombros contiveram-se com tanta força que seria capaz de
jurar que rangiam. Não seria para acontecer assim. Se estava certo de uma
maldita coisa, era que ele e Rowena estavam destinados a ficar juntos.
—Está pronto, Lach?—Perguntou Bear, batendo-lhe nas costas.
Ele pulou. —Em um minuto.
Ranulf tinha negligenciado um pequenino ângulo de seu grande plano para
casar sua irmã, de qualquer maneira. Lachlan seguiu até onde Lorde Robert
Cranach se sentava com seu primo de um lado, e Rowena do outro. Rowena
não poderia se casar com um homem morto.
—Cranach—, disse, parando na frente do grupo, —não vi seu nome ou suas
cores colocados para qualquer um dos jogos aqui.
—Estou feliz em ver o triunfo esperado do clã MacLawry—, o diabo
voltou com um sorriso.
Rowena manteve o olhar em suas mãos. —Ninguém está sendo forçado a
participar, Lachlan. É apenas por diversão.
—Você é um rapaz bonito e robusto, Cranach—, pressionou, ignorando seu
protesto indiferente. —Vai sentar-se lá, ou vai defender a honra do clã
Buchanan e atirar um caber? Só por diversão, claro.
O irmão do Marquês de Helvy estreitou os olhos. —Posso ter uma palavra
com você, Lorde Gray?—Perguntou, ficando de pé.
—Certamente.—Brigar seria melhor, mas iria se contentar com uma
palavra. No momento.
Cranach se levantou e apontou-o a para caminhar longe do resto dos
convidados da Rowena. —Presumo que seja sobre mim casando-me com
Winnie—, comentou.
—Não se vai casar com ela. Tem que pedir seu consentimento antes de
poder casar com ela, e não fez nada disso, mas deixou-a no chão, desmaiada.
Ela não lhe deu uma resposta.
—E você a quer para si mesmo? Vamos resolver isto com cabers?
—Ou puxar corda, ou lançar pedras, ou claymores[15], ou tiro ao alvo, ou a
corrida de cavalos—, Lachlan voltou. Um homem poderia quebrar seu
pescoço durante qualquer um desses, se não fosse cuidadoso. —Só estou
especulando que a visão de você rastejando para fora do campo com o rabo
entre as pernas não vai impressioná-la nenhum pouco.
—Acho que vou estar usando melhor o meu tempo sentado ao lado dela,
enquanto você se afunda na lama, na verdade, Gray.
Lachlan deu de ombros. —Você é um maldito covarde. E não vai pedi-la
em casamento até falar com Glengask.—Não foi muito, mas se não ia ser
capaz de colocar uma espada através do homem, poderia pelo menos atrasá-
lo.
Cranach sorriu. —Vou fazer isso, então. E para sua própria informação,
tenho certeza que Rowena é uma dama que prefere uma boa leitura de poesia
do que ver um rapaz lançando uma árvore sem uma boa razão.
Bem, ele estava errado sobre isso. Provavelmente. Não, ela não tinha
pedido para ser resgatada, e ainda não tinha, na verdade, afirmado que gostava
de qualquer um deles —exatamente o oposto, na verdade, mas Lachlan não
tinha intenção de se render. Se tinha aprendido alguma coisa com uma vida
inteira nas Highlands, foi que havia duas maneiras de fazer as coisas: a
maneira simples, e o caminho tortuoso. Parecia que tinha acabado de escolher
o caminho tortuoso.
—Falando tão lindamente como você gosta, Cranach. Não ganhou nada,
ainda.
—Considerando-se que nunca sequer mencionou seu nome em minha
presença e que parece saber tudo sobre mim, estou disposto a arriscar.
—Cranach ofereceu sua mão. —Boa sorte para você, Lorde Gray.
Lachlan apertou a mandíbula e apertou sua mão; não ficou surpreso quando
ouviu que Rowena não era a única fingindo um sotaque. A única diferença era
que Rob estava fingindo soar como um Highlander, enquanto ela estava
fingindo não soar como uma. Era tudo um absurdo, tanto quanto estava
preocupado. —Que vença o melhor, então.
—Que diabos foi isso?—Bear perguntou, quando Lachlan se juntou aos
homens de pé para distribuição das toras.
—Não lhe contei?—Disse Lachlan, tendo a extremidade larga de um tronco
e impulsionando-o para o céu, enquanto Munro apoiava a extremidade mais
estreita de encontro a seus pés.
—Não me contou o quê?—Com um grunhido, Bear levantou o caber na
posição vertical em ambas as palmas, apoiando-o contra o peito e a bochecha.
—Quero casar—me com sua irmã.
Lachlan golpeou o amigo nas costas, mandando-o para a frente. O caber
vacilou, depois endireitou quando Bear deu alguns passos correndo para a
frente e depois lançou para cima, lançando o tronco na marca. Pousou entre a
marca 2 e a 6, marcada com os pés.
Bear levantou o punho no ar, agradecendo os altos aplausos da multidão.
—Você é um bastardo mesmo, não é?—, murmurou enquanto retornava à sua
posição inicial e balançava os braços.
Lachlan impeliu e lançou outro caber e aproximou-se do limite da marca,
enquanto Bear lançava outro maior no ar. —Sim. Lembre-se quando me deu um
caber com besouros pretos rastejando sobre ele? Agora estamos quites.
Uma vez que o tronco foi direto para cima, inclinou-se, apoiou os joelhos e
levantou-a com as mãos entrelaçadas. O caber foi três vezes à sua altura, cerca
de 20 pés[16] de comprimento. Empurrando o ar em seus pulmões, trotou para a
frente e soltou, evitando o caber de inclinar para o lado quando foi lançado no
ar e batendo na marca do chão e caindo novamente. Caiu em um baque surdo
no caminho entre as onze horas e o meio dia.
—Vença essa, grande homem—, chamou, jogando ambos os braços no ar,
enquanto a multidão vibrava.
—Está sangrando, você sabe.—Bear atirou-lhe um pano, pois ficou de lado
para ver o resto dos concorrentes jogar.
Olhou para baixo para o antebraço que tinha raspado contra a madeira
áspera. —Agora é um jogo—, disse com um sorriso frio, limpando o sangue
com o pano.
—Isso foi sobre o que Winnie e Ran estavam tagarelando, não é?—Bear
enviou a sua irmã um olhar interrogativo. —Então, ela decidiu contra Cranach,
afinal? E Ranulf concordou?
Lachlan deu de ombros. —Não exatamente—, disse.
Bear virou-se para encará-lo. —E o que significa isso?
—Isso significa que nada está feito até que seja feito. Não me vou render.
—Agora que a tinha provado, nunca iria desistir dela, embora seu irmão
dissesse que não seria do seu melhor interesse.
—Bem, isso explica por que estava mais intratável do que um pedaço de
espinhos, de qualquer maneira.—Os olhos verdes de vários tons mais claros
do que os seus o acompanharam no meio da multidão, Ranulf em pé na borda
da clareira com Charlotte em seu braço, e então, Rowena ainda sentada com
Cranach diretamente ao seu lado. —Ran quer negociar com Buchanan nas
colônias, acho—, disse, depois de um momento. —Prefiro tê-lo sentado em
Hogmanay jantando conosco do que Cranach, porém. Ele é muito bom para
meu gosto. Tudo o que precisar, me avise.
—Ranulf não vai gostar. Escolheu Cranach.
Munro respirou pelo nariz. —Ran ficou com a moça que queria. Arran tem
a moça que queria. Justo é justo.
Lachlan assentiu, mais compreensivo do que poderia dizer. —Obrigado,
Bear.
—Você não tem que agradecer. E se quebrar seu coração novamente, vou-
lhe cortar em pedaços pequeninos e alimentar os porcos.
—Não vou deixá-la ir, desta vez.—Se conseguisse agarrá-la.
E ele ia. Precisava. Porque a ideia de não a ter ali para beijá-la, brincar,
discutir, segurá-la em seus braços, era simplesmente inaceitável.
Mal notou quando ele, Bear e três rapazes grandes de outros clãs
avançaram para a próxima rodada de cabers. Com alguns minutos para
descansar —e beber um pouco de whisky —deixou a clareira para ir verificar
com Debny e certificar-se que a rota de corrida de cavalos das damas ficaria
bem dentro de vista de ambos, os espectadores e os homens designados para
vigiar Rowena.
—Movam os fardos de feno—, instruiu, apontando. —Não quero que
fiquem do outro lado dos montes de pedra.
—Sim, Milorde—, a cabeça do cavalariço de Glengask voltou, e foi reunir
um punhado de cavalariços para ajudá-lo.
—O que disse para Rob?
Um arrepio ardente correu através de seus ossos, quando reconheceu a voz
e se virou para Rowena. —Disse que não lhe tinha perguntado nada, e que não
iria perguntar até que tivesse falado com Glengask. E talvez tenha dado a
entender que seu caminho não estava tão organizado como parecia estar
assumindo. Por quê?
—Porque esteve lhe olhando durante toda a tarde, e sendo muito cortês
comigo.
Bom. Um inimigo com sua atenção dividida seria duas vezes mais fácil de
derrotar. —E você? Ficou ainda olhando para mim durante toda a tarde?
—Porque a sua atenção não fora dividida. Estava fixa nela e em nenhum outro
lugar.
Seu olhar baixou para seu peito nu. Suas bochechas coraram, encontrou
seus olhos novamente. —Não importa. Ranulf decidiu.
—Você não é Ranulf.
—E você é um homem exasperador.
—Sim—, concordou. Inclinou a cabeça, estudando seu semblante delicado,
o bonito vestido vermelho e branco com o tartan MacLawry sobre um ombro.
—Sabe, costumava concordar com tudo o que eu dizia.
—Isso era quando estava apaixonada por você.
—Estou feliz de que não esteja apaixonada agora. Gosto de brigar com
você, gosto de ver seus olhos flamejarem e gosto de sua língua afiada.
—Queria o sabor da língua afiada dela, mas havia gente demais para isso.
—Está feliz que não goste de você?—Repetiu, levantando uma sobrancelha
elegante. —Quero dizer, acho que isso faz tudo...
—Mas você gosta de mim—, interrompeu. —E, finalmente, não é por causa
do que imaginava que eu fosse.—Além dela, avistou um dos lacaios de
Glengask que haviam sido encarregados de manter a família a salvo. Bom.
Não a queria andando sozinha, mesmo para vir vê-lo. —É quem eu realmente
sou.
—Está tentando mudar de assunto. Vim aqui dizer-lhe que pare de
antagonizar Rob. Não vou ser a razão para uma briga, especialmente nestas
circunstâncias.
Lachlan deu um passo mais perto dela. —Vou parar de antagonizar Cranach
quando a ouvir dizer que vai casar comigo.
—Lachlan.
—Não sou um cavalheiro, minha moça feroz. Não vou jogar de acordo com
as regras de conduta cavalheirescas dos Sassenach. Você é a única razão pela
qual estou nessa, e não me vou contentar com nada mais.—Deu mais um passo
em frente, desta forma estavam apenas alguns centimetros distante, seu rosto
doce e teimoso levantado para que pudesse continuar a encará-lo. —Não está
casada, ainda. Não disse sim a qualquer um. Mantenha sua porta destrancada
hoje à noite, Rowena.
A respiração rápida que ela tomou, elevou e desceu seu seio, fazendo seu
pênis se contrair. —E se trancar minha porta?
—Acho que vou arrombá-la, o que acha?—Lachlan agarrou a mão dela.
—Você esbraveja calorosa e insensivelmente, moça, como o vento quando não
pode decidir sobre a temporada. Acho que é enlouquecedor. Então, se não há
nada aqui, se está determinada e decidida a render-se e casar-se com Cranach
logo, porque não mudamos nossas mentes, precisa me dizer. Agora. Sem
brincadeiras, sem insinuações, nada que eu possa interpretar para significar
algo mais. Diga-me.
Ela olhou para seu rosto, seus dedos flexionados nos dele. —Não sei—,
disse, finalmente; em seguida, puxou sua mão e se afastou.
—Graças a Deus—, murmurou sombriamente, e com uma carranca foi
lançar outra rodada de cabers.
Não foi um endosso empolgante, mas foi melhor do que um tapa na cara. Se
Rowena percebeu ou não, tinha acabado de dizer que estava lhe dando uma
chance. E não iria desperdiçá-la.
Capítulo Onze
—Porque muitos desses jogos envolvem jogar coisas pesadas?—Jane
perguntou, segurando as rédeas de Black Agnes enquanto Rowena se
acomodava de lado. Adequada ou não, hoje quase teria preferido montar a
cavalo, mas como nenhum de seus amigos ingleses faria uma coisa dessas,
supôs que não fosse justo. Flora Peterkin estava montando a cavalo, e assim
estava Lady Bridget Cameron, mas nenhum de seus pôneis poderia igualar
Black Agnes em seu pior dia. Não em uma longa corrida.
—Quando os ingleses tiraram nossas espadas e armas—, disse, verificando
para ter certeza de que seu chapéu de montaria não iria soltar-se e assustar
qualquer um dos cavalos, —os homens consideraram outras maneiras de
demonstrar sua força. E para mostrar aos Sassenach que não tínhamos
terminado de lutar, mesmo que tivéssemos que recorrer a atirar pedras.
Jane assentiu, virando a cabeça para ver um homem robusto, musculoso e
grande passar. —É impressionante. E um pouco intimidante. Viu quão longe
Lorde Gray jogou seu último caber? E o sangue em seu braço quando limpou
sua sobrancelha? Foi bastante... magnífico.
Sim, tinha sido o diabo. E tinha superado Bear, o que quase nunca
acontecia. O pensamento de que esta noite queria vir vê-la, mesmo com todas
as outras moças olhando-o hoje, mesmo sem qualquer esperança de um
casamento entre eles e —não saber se tinha decidido deixá-lo entrar ou não
—deixou-a quente e um pouco... desconfortável. Calafrios correram por sua
espinha e se estabeleceram entre suas pernas. Então notou Jane olhando-a com
expectativa e estremeceu. —Ele foi muito bem, sim.
—Ah, ele trapaceou.—Bear passou e puxou as cilhas da sela. —Bem, não
enganou, precisamente, mas me distraiu. Quase coloquei aquele caber na tenda
do cozinheiro.
—Vi isso—, Rowena respondeu, esboçando um sorriso. —Teríamos que
comer carne de veado esmagada esta noite.
—Sim. Veado esmagado.—Ele apertou-lhe o tornozelo. —Se derrotar
aquela Sarah Parker, vou comprar—lhe um vestido novo.
—Por que quer que eu vença Sarah?
—Acho que pode ter em mente que merece um prêmio se ganhar, e
maldição, estou cansado.
O rosto de Jane ficou escarlate, mas Rowena bufou. —Pobre homem. Vou
fazer o que puder, mas não vou fazer nenhuma promessa.
Ele assentiu, tomando as rédeas de Jane para liderar Black Agnes até à
linha de partida. —O que foi aquela expressão do Buchanan, enquanto falava
em sua orelha durante toda a manhã?
—Estava recitando poesia—, respondeu.
—Poesia? Sobre as Highlands, pelo menos?
Rowena abanou a cabeça. —O último poema de Byron. Foi muito lírico.
—Minha bunda é muito lírica.
—Munro Branan MacLawry!—explodiu, tentando não rir. —Não pode
dizer tais coisas de forma educada.
—Tem uma forma educada agora?—Retornou, um sorrisinho torto.
—Porque vi seu rosto, enquanto estava recitando para você, piuthar, e acho
que preferiria assistir aos jogos.
Ela suspirou. Isso era o problema, não era? —Hoje, sim. Mas os jogos são
apenas uma vez por ano, e gosto de poesia.
—Então, diga-lhe para lhe escrever algumas, e não roubar palavras de
outra pessoa.
—Não é tão ruim, Bear. Vaise acostumar com ele.
Inclinou a cabeleira despenteada. —Quer dizer que vai se acostumar com
ele. Eu estarei aqui, em Glengask.
Antes que pudesse gastar algum tempo contemplando aquele par de
comentários bastante perspicazes de seu musculoso irmão, Arran aproximou-
se, levantando uma bandeira para um dos lados da linha de amazonas.
—Estão prontas, moças?
—Sim—, ela gritou, envolvendo as mãos nas rédeas, a resposta ecoou
pelas outras doze mulheres na linha.
—Então, pronto, posição, e ... vão!—Deixou cair a bandeira.
O percurso era marcado por fardos de feno e estacas com fitas amarradas
nos topos. O percurso foi pouco mais de duas milhas de comprimento,
começando ao longo da costa do lago, então regressando até à borda das
árvores, de volta e ao redor das enormes pilhas de pedras de granito, subindo
a colina em direção ao castelo, e depois de volta para baixo, no prado.
Black Agnes pulou para a liderança, com Rowena inclinada ao longo de
suas costas e murmurando o seu encorajamento. Olhou por cima do ombro
para ver Flora Peterkin e Sarah Parker diretamente em seus calcanhares, o
resto se espalhando para além delas.
A égua baia de Sarah, Precious, as alcançou perto das árvores, mas Rowena
manteve Agnes —isso não foi uma corrida de velocidade, e claramente Sarah
estava muito ansiosa sobre algo. Ela sorriu, um vento arrepiante para sua
alegria. Serviria Bear direito, mas não tinha entrado nesta corrida para perdê-
la.
No topo da colina, esticou sua cabeça sobre Black Agnes. A égua disparou
para a frente, terra e grama chutados para o ar sob seus cascos. Rowena gritou,
o som ecoou pela multidão de aldeões MacLawry na frente da linha de
chegada.
Arrancaram mesmo com Precious na metade da colina, e Rowena pegou a
expressão de desânimo e admiração de Sarah, quando Agnes seguiu para a
liderança. Sem fôlego, sorrindo, seu cabelo voando sobre o rosto, Rowena
gritou novamente quando cruzaram a linha com metade da distância de avanço.
—É uma grande e bela moça, você—ofegava, afagando Black Agnes na
cernelha. As orelhas da égua se agitaram para a frente e para trás, e relinchou.
A multidão se fechou em torno delas, e então Lachlan estava lá, levantando
os braços para ela. Rowena lançou-se do estribo e segurou-se em seus
ombros. Quando a levantou no ar, totalmente sentiu-se ofegante. Este homem
não era dela, não poderia ser dela, e ainda...
O que precisava se lembrar era que ele teve a sua chance. Não era um
homem que tinha acabado de conhecer, pela primeira vez quando voltou para
Glengask. Tinham um passado, onde tinha ignorado seu flerte e deixou-a ir
para casa a pé, quando fingiu que Black Agnes estava mancando.
Mas, ao mesmo tempo, não brincava com ela sobre como se sentia. Não
elogiou outras mulheres na sua frente. Na verdade, quando começou a ver toda
a sua perseguição e flerte do seu ponto de vista, percebeu que estava... tipo.
Bem-humorado. E, às vezes, indulgente.
—O que foi, Rowena?—Perguntou, colocando-a no chão, mas mantendo as
mãos em volta de sua cintura.
Ela se aproximou, para sussurrar em seu ouvido. —Não vou trancar minha
porta—, murmurou, em seguida, virou-se para receber as felicitações de
Ranulf antes que pudesse ver como Lachlan responderia a isso. Supôs que
teria que descobrir isso, esta noite. Afinal, como ele disse, não tinha sido
pedida, ainda.

***
Jantaram naquela noite no prado, em tocos, troncos e cadeiras, em
cobertores e sentados na grama fresca. O Campbell chegou no final da tarde
com duas dezenas de seus homens, e sentaram-se misturados com MacLawrys
e Stewarts e MacDonalds. Ninguém puxou um punhal, ninguém lembrou a
qualquer outra pessoa erros do passado, ou provocou o sangue de feudos
antigos. Isso, apesar do fato de que o desmedido Dermid Gerdens, um dos
homens que quase matou Arran em Londres, fazer parte da comitiva do
Campbell. Este encontro era um novo começo para todos os clãs. Mesmo os
Gerdenses.
A família de Rowena tinha feito isso. Ranulf tinha trabalhado durante a
maior parte de sua vida para trazer paz para as Highlands, e depois Arran
tinha fugido com a neta do Campbell e tinha convencido o Campbell e o
MacLawry a apertar as mãos. Era simplesmente notável.
Rowena olhou para Robert Cranach, sentando-se apenas a alguns
centímetros de distância e bebendo uma caneca de cerveja. Sua família tinha
feito tanto pelas Highlands, e pelo seu povo, e Ranulf pediu-lhe —bem,
ordenou-lhe agora —para fazer mais uma coisa. Deveria ter sido uma coisa
fácil, também; Rob era bonito, charmoso, e culto.
Mas não era assim tão fácil. Não mais.
Lachlan era selvagem e impetuoso, e orgulhava-se de ser assim. Já era
parte integrante do clã MacLawry, e trouxe com ele novas alianças. Sangrou
duramente pelas Highlands, e nunca seria feliz em Londres, ou mesmo em
Edimburgo, ou Aberdeen. Isso não importava, claro —exceto que contava.
Porque o que quer que sua mente lhe dissesse, que isso estava resolvido e
estava apenas esperando flores e um homem de joelhos, seu coração não
estava tão certo.
Por sinal, Bear e Lachlan caminhavam para a pequena área ao redor da
fogueira. Ambos usavam sabres embainhados em seus quadris. Ela sorriu, algo
profundo e aquecido correndo através dela.
Jane pegou seu braço. —Eles vão lutar?—Sussurrou, preocupação em seu
rosto.
—Não. Vão dançar.
—Dançar? Você sabia?
Angus Mackles, que tinha sido chefe gaiteiro de Glengask desde antes dela
nascer, aproximou-se e tomou um lugar no lado mais distante do Bear. Os dois
homens desembainharam seus sabres e colocaram-nos no chão, formando um
par de cruzamentos com as bainhas.
Com a mão direita curvada para cima no ar e dedos do pé esquerdo
combinando, eles esperaram. Então, com um gemido, a música começou, e
entraram na dança. Perfeitamente juntos, em perfeita harmonia.
—O que significa?—Jane sussurrou, depois de um momento.
—É sobre o poder, e controlá-lo—, Rowena respondeu, seu olhar nunca
deixando Lachlan. —Passam a saltar sobre a espada para todos os quatro
pontos cardeais, cruzando para a frente e para trás. Se tocam uma lâmina é má
sorte para o clã, mas chegam tão perto quanto possível para mostrar que não
têm medo.
—Oh. É esplêndido. Sabe a dança da espada, Lorde Robert?—Sua amiga
perguntou.
—Não. É uma dança muito antiga. Danço valsa, porém.
Não era antiquada. Era feroz, e muito difícil, especialmente quando
realizada em conjunto. E foi fascinante, de uma maneira que nunca tinha notado
antes. Flexionar firme e forte os músculos da panturrilha, o movimento dos
joelhos, o redemoinho do xadrez MacLawry com as faixas vermelho sangue,
captando a luz da fogueira e o antigo e doce som das solitárias gaitas.
Quando terminaram de dançar os quatro pontos, cada um retornou à sua
posição original. Pararam, a música parou, se curvaram na mesma batida do
coração. Por um longo instante, o único som na clareira foi o estalar do fogo e
a exalação suave de gaita de foles.
E então os clãs reunidos rugiram. Hoje à noite, todos seriam Highlanders
ferozes e livres, manchados de sangue.
Rowena levantou-se. Olhos verdes encontraram com os dela do outro lado
da fogueira. —Estou muito cansada esta noite—, disse, seu olhar ainda em
Lachlan. —Acho que vou para a cama.

***

Lachlan bebeu a caneca de cerveja que alguém lhe entregou, em seguida,


quase engasgou com isso quando um outro rapaz lhe bateu nas costas. A dança
de espada tinha sido ideia de Bear, e ainda estava um pouco surpreso que
Ranulf tivesse dado a sua aprovação. Mas tinha, e por Deus, mostraram aos
clãs que os MacLawrys ainda se lembravam dos velhos costumes. A maioria
dos outros clãs já tinha aprendido que os MacLawrys também abraçavam os
novos —ou pelo menos estavam dispostos a transformá-los em proveito
próprio.
Tudo isso girava por sua mente como momentos que teriam sentido mais
tarde. Neste momento, estava mais interessado em assistir a Rowena se
encaminhar e voltar até a colina em direção ao Castelo Glengask, dois criados
flanqueando-a. Da sua expressão um pouco antes de que o tivesse deixado,
queria que se juntasse a ela lá em cima. E estava certamente mais do que
disposto a fazê-lo.
Só poderia esperar que isso significasse que tinha percebido o quanto
valorizava sua própria cultura e tradições, porque achou que tivesse sido
aglomerado em uma cesta. Pelo menos esta noite, seria a cesta que ela queria.
Quando colocou a caneca e aceitou outro punhado de parabéns, dispensou um
momento para olhar para Lorde Robert Cranach. Rob ainda estava sentado
sobre o cobertor, onde a maior parte dos Sassenach se reuniram, e estava
conversando novamente com seu primo. Bastardo presunçoso. Bem, poderia
ter vencido —embora Lachlan ainda não estivesse preparado para apostar em
que contagem —mas não ganhara ainda.
—Vou até a casa—, disse para Bear, que acenou para ele.
Não, não tinha uma desculpa para deixar a festa e visitar a casa de outro
homem, mas felizmente sua amizade com os MacLawrys era profunda o
suficiente para que não precisasse de uma. Não tinha ideia do que diria, de
qualquer maneira; admitir que estava indo possuir sua irmã, especialmente
agora que quase tinha sido entregue a outra pessoa, só se fosse para vê-lo
atirar-se em uma fogueira.
Sem a multidão e as várias labaredas em torno dele, a subida da colina foi
surpreendentemente fria. Não que sentisse frio. Não essa noite. Não quando
uma moça jovem e feroz esperava por ele.
Cooper, o mordomo, tinha sido dispensado para assistir à reunião, por isso
foi um dos outros lacaios que abriu a porta da frente para ele. Acenando para
o rapaz, Lachlan o ignorou enquanto se dirigia para as escadas. Tinha a
sensação de que encontrar o caminho para o quarto de Rowena seria muito
mais fácil do que escapar da casa depois, mas queria correr o risco.
A porta estava fechada. Lachlan bateu duas vezes, suavemente, em seguida,
abriu a porta e entrou. Antes que pudesse respirar, ela estava sobre ele, sua
boca contra a dele, as mãos cavando em seus ombros e puxando seu tartan[17]
e a camisa.
Colocou seus braços em volta da cintura dela, tocando a pele macia e
quente. Santa Brígida, já estava nua. —Estou feliz que fui eu que entrei aqui.
Com uma risada ofegante, lambeu sua garganta, depois voltou novamente à
boca. —Também estou.
—O que está fazendo moça, devagar—, murmurou, com a voz abafada
contra ela. —Não temos razão para nos apressar.
—Quero você, Lachlan—, retornou, deixando cair o tartan no chão. —Não
sei se você é bom para mim, mas lhe quero.
Movendo as mãos sobre os ombros dela, a segurou um pouco longe dele.
—Sou bom para você, moça. E não quer dizer que seja um punhado de noites
que possa olhar para trás mais tarde e suspirar. Essas noites são apenas as
nossas primeiras noites juntos, Rowena. Apenas a nossa primeira.
Por um momento, se preocupou que a tivesse pressionado demais, e que
fosse tentar empurrá-lo porta fora, em vez de admitir que talvez pudesse estar
tentando pensar em uma maneira de sair de um casamento com Lorde Rob. Em
seguida, suspirou e se apertou sobre ele novamente, puxando sua camisa livre
de seu kilt e deslizando suas mãos no seu peito, por baixo do tecido. —Me
convença—, respirou.
Ah, estava muito disposto a fazê-lo. Uma vez que puxou a camisa sobre a
cabeça, soltou o sabre e o colocou de lado, cuidadosamente, não querendo
alertar alguém com o forte ressoar no chão duro. Em seguida, abriu seu kilt e o
deixou cair também. Sentiu-se um pouco tolo em suas meias e sapatos, então
estendeu a mão para soltar os nós e, então usou um pé para descalçar o outro.
Quando ela estendeu a mão para pegar seu rosto e mordiscar sua orelha,
seus olhos praticamente reviraram na cabeça. Esperava que a dança fosse
agitar algo nela —orgulho, memórias, compreensão, mas a luxúria foi
perfeitamente aceitável também.
Virando-se, a imobilizou contra a parede, agarrando-lhe os pulsos e
segurando seus braços acima de sua cabeça, enquanto devorava sua boca. Ela
girou seus quadris, roçando seu pênis, e gemeu. A timidez que tinha tido na
noite anterior, claramente passara. Esta noite parecia uma gata selvagem,
empurrando-o para fora de controle. Ele adorou.
Liberando seus braços, colocou as mãos em seus quadris e a levantou.
—Coloque as suas pernas ao meu redor, minha moça feroz—, disse em voz
baixa.
Ela o fez, e cravou os dedos em seus ombros. Lachlan baixou mais de seus
próprios quadris, espetando-a contra a parede. Com um suspiro, mordeu seu
ombro duro o suficiente para deixar uma marca, mas não se importou. Tudo o
que importava era que Rowena estava em seus braços, e ao seu redor. E isso
significava que poderia reclamá-la para si próprio. Para sempre.
Empurrando para frente, entrou nela duro e rápido, suas respirações e
gemidos tão excitantes quanto o resto dela. Lá fora, as gaitas de foles tinham
retomado, desta vez tocando uma música do velho continente, The Bonnie
Lass of Fyvie. Não estava tão certo que queria ouvir uma música de amor não
correspondido, enquanto estava dentro de Rowena, mas estava grato por
qualquer coisa que mantivesse a maioria da família lá fora, no prado.
Com outra respiração rápida e gemendo ela gozou, e diminuiu seus
movimentos enquanto estremecia ao redor dele, agarrando-se a seus ombros.
Sorrindo, a beijou na doce boca. —Meu Deus, você me faz sentir muito bem,
moça—, murmurou, deslizando os braços em torno de suas costas para segurá-
la e andar para a cama dela.
Ainda dentro dela, colocou—a de costas e se moveu sobre ela. Tomando
um seio em sua boca, retomou suas estocadas, lentas e profundas, ao mesmo
tempo que com os movimentos de sua língua. Flexionando seus dedos, sua
excitação óbvia e prazerosa —isso empurrou-o para a borda, e depois mais
além. Com um gemido baixo, gozou, pressionando contra ela quando se veio.
Não sabia se ela tinha percebido ou não, mas deliberadamente não tinha
tomado todas as precauções com ela. Porque já sabia que teria seus filhos,
seria sua mulher, quer se tivesse apercebido disso já, ou não.
Quando conseguiu respirar novamente, rolou de costas, seu coração
oscilando até que ela se virou de lado e se enrolou contra ele, descansando a
cabeça em seu ombro. Toda a vez que se aproximava dele, toda a vez que
iniciava o contato, parecia um presente.
—Há quanto tempo vocês rapazes vêm praticando essa dança?—Perguntou,
correndo os dedos em um círculo preguiçoso em torno de seu peito esquerdo.
—Fizemos isso uma vez—, respondeu. —Não tivemos tempo para mais, e
isso é uma coisa que, uma vez que você aprende, não consegue esquecer.
—Acho que poderia esquecer, se não significa nada para você.
Ele franziu a testa. O que significa isso? —Isso significa alguma coisa para
mim, Rowena.
—Eu sei. E para mim, também, surpreendentemente. Lembro-me de quando
você e Bear me ensinaram a dançar.
—Sim. Os clãs ficariam escandalizados se soubessem que uma pequenina
moça dança com as espadas. Mas fez bem, e sabia o que significava.—Ele fez
uma pausa, considerando. —É sobre isso que estava falando? Que você
esqueceu isso?
—Não. Quer dizer, acho que eu teria que treinar mais para acertar, mas
geralmente as mulheres não dançam isso. Eu... não importa.
—Ah.
Ela virou a cabeça para olhá-lo. —’Ah,’ o quê?
—Não vou dizer o nome dele, enquanto estiver aqui com você, moça. Mas
presumo que ele não se lembre da dança?
Rowena estabeleceu-se contra ele novamente, sua respiração suave e
quente em seu tórax. —Isso, se a conhecesse.
Será que detectou uma nota de desdém? Poderia tripudiar, supôs, mas isso
não parecia produtivo. Isso poderia voltar para assombrá-lo. Essa bobagem de
—ser um cavalheiro—foi só isso, mas se importava com os sentimentos dela,
e assim alterou o que queria dizer. —Ele é o rapaz que seu bràthair quer que
se case, Rowena. E foi escolhido por sua cultura inglesa, porque isso é o que
você diz que valoriza. Não pode esperar que ele conheça os caminhos das
Highlands, também.
—E você só conhece os caminhos das Highlands, presumo?
—Sei um pouco mais do que isso. Posso citar um pouco de Keats, se
desejar: ‘Tenho viajado muito aos reinos de ouro, e vi muitos estados e reinos
formosos.’
Ela riu. —Eu não sabia.
—Isso porque geralmente leio à noite, depois que volto para Gray House.
—Lá fora as gaitas começaram outra canção, as palavras harmonizando-se e
ecoando acima do prado.
—Isso é ‘Flores da Floresta,’—ela comentou. —Isso não é um pouco
sombrio para uma celebração?
—Conhece-nos a nós, escoceses: Sempre prontos para comemorar, e
sempre lembrando que a morte é apenas uma palavra mal falada, porém.—Ele
escutou por um momento, depois começou a cantar baixinho.
Os idiotas ordenaram e enviaram nossos notáveis rapazes para a
Fronteira!
O Inglês em abundância, pálido e astuto para ganhar o dia, As Flores da
‘Floresta, que lutaram sim, acima de tudo,
O orgulho e nossa mentira na terra poderiam virar barro.
Rowena se virou de bruços, repousando o queixo em suas mãos em cima de
seu tórax para vê-lo. —Isso é o que me assusta, sabe—, disse calmamente.
—Não é o inglês —não desta vez, enfim —mas como essa paz que você e
Ranulf e Arran conseguiram para nós é frágil. O que acha que aconteceria se
eu desistisse de Rob? Não me refiro apenas a ele, mas ao clã Buchanan. E não
minta para mim.
—Nunca mentiria para você. Nunca o fiz.
Ela levantou uma sobrancelha. —Não?
—Não.
Rowena quase desejava que não tivesse feito a pergunta, e não apenas
porque Lachlan não queria dizer o nome de Rob enquanto estavam deitados e
entrelaçados nus em sua cama. Mas tinha-se acostumado a confiar em Lachlan,
percebeu. E como se lembrava, parecia sempre dizer a verdade, ou pelo
menos lhe dizia que não podia, ou não queria, discutir determinado tópico com
ela. Arran e Ranulf provocariam, Bear zoaria, mas Lachlan responderia às
suas perguntas. E estava-se lembrando de todas as vezes que não conseguia
retribuir seu interesse romântico, supunha que seria justo também se lembrar
das coisas boas sobre ele. As coisas boas que tinha esquecido durante três
meses.
—Bear acha que Ranulf quer os contatos comerciais que Buchanan tem na
América—, disse depois de um momento, o braço esquerdo enrolado
espontaneamente em volta dela. A posse implícita no gesto foi... excitante.
—E você concorda?
—Não. Acho que Ranulf quer os fabricantes de lã.
—Mas não criamos ovelhas.
—Não. O que temos são aldeões precisando de emprego, no entanto. E
acho que Ranulf apreciaria a ironia daqueles que perderam suas terras por
causa das ovelhas, ganhando a vida por causa delas.
Por um longo instante, ela olhou para seu rosto, sua expressão ilegível na
metade escura. —Não está ajudando, você sabe.
Ele deu de ombros debaixo dela. —Me fez uma pergunta. Eu a respondi.
—Então por que deveria casar—me com você? Se pudesse, quero dizer.
Esperava que isso o irritasse. De certa forma, preferia que ficasse zangado.
Quando discutiam achava muito mais fácil lembrar suas qualidades menos
atraentes. Porque, é claro, ela conhecia todas.
A mão dele acariciava lentamente sua coluna. —Deve-se casar comigo
porque lhe adoro, minha moça feroz. Reconheço quão teimosa você é, gosta
que todos os seus vestidos tenham rendas, como não gosta de aranhas, mas as
baratas lhe fazem gritar.
Seu coração deu um caloroso baque. —Continue. O que mais sabe sobre
mim?
Lachlan sorriu. —Sei que gosta de canções tristes, mas prefere a comédia
de Shakespeare —especialmente A Megera Domada. Sua cor favorita é
lavanda. E realmente acha que viu o fantasma do velho Dougall MacLawry e
suas gaitas neste quarto com você, uma noite durante uma tempestade.
—Mas acreditou em mim sobre isso?
—Sim. Vi o olhar em seu rosto, e acreditei em você. Por que acha que corri
até aqui com um punhal na mão quando desceu as escadas gritando?
Seus irmãos tinham corrido até seu quarto, também, com raiva de uma
forma que não tinha entendido até muito mais tarde. No entanto, tinham
pensado que um homem estranho estava em seu quarto. Evidentemente, apenas
Lachlan estava disposto a admitir que acreditava na história que tinha dito. Ela
acreditava; mesmo agora, como uma mulher adulta, mantinha os olhos
fechados nas noites de tempestade.
Ela beijou seu peito. —É bom lhe ouvir dizer isso, de qualquer maneira.
Ele levantou uma sobrancelha enquanto colocava o braço livre sob sua
cabeça. —Não sou legal. Lhe disse, não sei mentir, Rowena.
—Então me diga uma coisa. Sinceramente.—Provavelmente seria muito
mais sensato parar de fazer perguntas, parar de pensar e simplesmente gostar
de estar com ele enquanto pudesse. Mas talvez tivesse pensado em uma
solução para esta situação, mesmo que ela não tenha sido capaz de evocar uma
única coisa. —Sabe o que disse Ranulf. Vou casar com Lorde Rob. Então por
que continua falando em se casar comigo?
—Não é só a minha opinião sobre isso, Rowena. E até que diga seus votos
para outro homem, não vou desistir de você. Nem mesmo, então, diga-se a
verdade.
Ela escovou os olhos e as lágrimas que ameaçavam transbordar. —Por quê
isso agora, depois que pensei em me afastar de você, finalmente acredito que
gosta de mim?
—Porque gosto de você. Eu lhe amo, Rowena. Talvez tenha tido um estalo
para abrir os olhos, e talvez tenha mudado um pouco, ou eu tenha mudado, mas
lhe adoro. E não vou deixá-la ir.—Seu braço apertou em suas costas.
—Ranulf diz que vai.
Lachlan sentou-se, puxando os lençóis sobre as pernas geladas e
deslocando-se, assim poderia inclinar-se contra a cabeceira da cama.
Deslocou-se, também, entrelaçando os dedos nos dele e descansando a
bochecha contra seu ombro. Por que poderia imaginar estar com ele assim
todas as noites? Por que poderia imaginar acordar em seus braços e ouvi-lo
cantando para ela em sua adorável voz de barítono? E por que Londres
parecia um sonho bobo agora, quando finalmente o tinha ao seu alcance?
—O que, precisamente, disse Ranulf?—Perguntou, tirando o cabelo de seus
olhos. —Além da parte sobre ter Cranach propondo-lhe corretamente?
Rowena suspirou. —Está procurando um acontecimento escuso, longe desta
confusão? Porque duvido que Ranulf permitiria tal coisa passando por ele.
—Diga-me, moça. A menos que esteja recebendo exatamente o que quer.
—Isso não é justo, Lachlan. Pedi-lhe tempo para escolher entre os dois.
—Embora, enquanto considerava isso, tinha realmente pedido tempo para se
reconciliar com Lachlan e deixá-lo ir. Em quatro dias não haveria tempo
suficiente. Cem anos não seria tempo suficiente para que escolhesse desistir
dele. Não mais.
Por um longo momento, sentou-se silenciosamente ao lado dela. Sentiu a
ascensão e queda do seu peito enquanto ele respirava fundo. —Digamos que
seu tempo acabou, Rowena. Esquecendo tudo o resto, quem você escolheria?
Intimamente meia dúzia de batimentos cardíacos, o levou a fazer a tal
pergunta, que ela sabia a resposta. Achou que seria mais difícil e, talvez,
devesse ter sido, mas, quando isso veio abaixo, mas uma escolha entre o
civilizado Lorde Robert Cranach e o selvagem Lachlan MacTier, foi muito,
muito simples.
—Escolheria você—, sussurrou.
Ele inclinou o queixo para cima e beijou-a suave e lenta e longamente.
—Obrigado Saint Andrew por isso.
Quando conseguiu respirar —e pensar —mais uma vez, fez uma careta.
—Mas isso não importa. Ranulf disse que quando Lorde Rob me propuser,
devo aceitar.
Seus dedos apertaram em torno dela. —Ele disse isso assim? Que quando
Cranach propuser, você tem que aceitar?
Ela assentiu. —Sim. O que...
—Então, não considera seu desmaio como se tivesse concordado com algo.
Aos olhos de Glengask, ainda não está noiva.
—O que isso...
Lachlan se endireitou, virando-se para encará-la. —E se Cranach não te
propuser, então?—Seus olhos brilharam ferozmente.
—Não pode matá-lo!—Exclamou, alarmada. —Seria o início de uma
guerra com os Buchanan.
—Que ganharíamos com folga—, disse distraidamente, sua mente girando
claramente em torno de uma conspiração ou de alguma outra coisa qualquer.
—Mas não. Só vou matá-lo em último recurso.
—Lachlan.
—E se por algum motivo, decidir não lhe pedir em casamento? Ranulf quer
anunciar seu noivado na festa de casamento. Se não for Cranach, vou ser eu.
—Mas por que não iria propor?—Corou quando ele levantou uma
sobrancelha para ela. —Não o digo porque sou uma sereia irresistível ou algo
assim. Quer dizer, por causa do meu dote, e tudo o que Ranulf decidiu
conceder ao clã Buchanan sobre nosso casamento.
Seu sorriso malicioso e caloroso tanto a preocupou quanto a excitou. Não
poderia estar tramando um assassinato, mas duvidava que Ranulf ou qualquer
outra pessoa fosse aprovar tudo o que ele estava pensando. Não estava certa
se aprovaria, mas se sempre a olhasse dessa mesmo intensa forma,
possessiva, provavelmente poderia ser convencida a tentar qualquer coisa.
—Primeiro, me diga o que sabe sobre Cranach—, disse, movendo-se sobre
ela novamente com sua boca talentosa. —Tudo o que sabe.
Ela gemeu ao seu toque. —Pensei que não quisesse falar sobre ele,
enquanto estivesse na cama comigo—, indicou, afundando-se para trás sobre
os travesseiros macios.
—Oh, falo sobre uma maneira de impedi-lo, minha feroz e linda moça.
Rowena enroscou os braços ao redor de seus ombros. Isso ia ser um
problema. Toda sua vida seus irmãos praticamente a haviam agradado e
mimado, e se Lachlan conseguisse o que estava prestes a tentar, ia decepcionar
terrivelmente Ranulf. O que Lachlan tinha dito anteriormente continuou a
afundar-se nela, no entanto. Não estava apaixonada por ele, não mais. Não
estava cega para o homem que realmente era. E aquele homem, aquele
segurando-a nos braços e beijando-a, ah, em todos os lugares, estava-se
tornando muito mais interessante e muito mais atraente do que o que tinha
imaginado.
A ideia de desistir dele, mesmo em troca de empregos para que os aldeões
continuassem mantendo-se, não parecia justo. Isso não era aceitável, na
verdade, e pretendia fazer o que pudesse para manter Lachlan MacTier, o real,
verdadeiro Lachlan MacTier, em sua vida. Desta vez, para sempre.
Capítulo Doze
Ir contra os desejos de Ranulf MacLawry seria uma questão arriscada, na
melhor das circunstâncias. Remover Rowena dos planos de Glengask,
interrompendo uma aliança com os Buchanan, e ir diretamente contra as suas
ordens, seria algo que a maioria dos membros do seu clã, muito menos uma
dúzia de chefes, sequer apreciaria.
Lachlan, no entanto, pretendia mais do que contemplar o desafio. Queria
vê-lo passar e tomar para si o que tinha sido prometido a outro homem. E
agora tinha três dias para fazê-lo.
A manhã começaria com a corrida de cavalos dos homens. Bocejando,
Lachlan supervisionou Beowulf sendo selado, e então trotou as duas milhas até
Glengask para aquecê-lo. Provavelmente não venceriam a corrida, mas tinha
que parecer como se tivesse tentado.
Ele encontrou o chefe dos cavalariços de Glengask no pátio do estábulo,
latindo ordens para uma dúzia de cavalos castrados e garanhões que foram
levados para fora e caminhavam pelo quintal. —Bom dia, Debny.
—Milorde.
—Não vejo Prince—, Lachlan comentou, não querendo perder um tempo
precioso com conversa fiada.
—O negro de Lorde Robert? Não, não entrou na corrida.
—Hm. Vamos ver sobre isso.
Com isso, entrou no castelo por uma das portas laterais e fez o seu caminho
até à grande sala do café da manhã. Cranach estava sentado à mesa, um grande
prato na sua frente. E estava sentado ao lado de Rowena, maldito, como se a
questão já tivesse sido resolvida. Bem, não estava. E não estaria. Não do jeito
que Cranach acreditava, de qualquer maneira.
Ao invés de entrar em linha reta para organizar o jogo, Lachlan encostou-se
no batente da porta e observou Rowena. Longos cílios escondiam parcialmente
seus exuberantes olhos acinzentados, e o sorriso em seu rosto oval parecia
forçado, o que não o surpreendeu. O que quer que acontecesse, ela estaria bem
no meio disso. Iria protegê-la, e ficaria ao lado dela por tudo isso, mas
eventualmente teria que contar a seu irmão sua decisão. Tudo se resumia a
isso.
Esta manhã, também parecia cansada, e por isso, se recusava a pedir
desculpas. Tinha ficado na cama com ela até pouco antes do amanhecer e
quase não conseguiu sair pela porta lateral, antes que os criados da cozinha
subissem. Por um momento ou dois, pesou as consequências para ambos, se
simplesmente se permitisse ser pego em seu quarto. Se Ranulf queria uma
aliança com os Buchanan, porém, encontraria uma maneira de conseguir —a
menos que Lachlan e Rowena tirassem completamente a oportunidade de suas
mãos.
Finalmente, endireitou-se e entrou na sala. —Tem a certeza que deve comer
tanto antes de uma corrida de cavalos, Cranach?—Falou pausadamente.
Em resposta, uma dúzia de pares o olhou, mas apenas dois importavam.
Trocou um olhar com Rowena, em seguida, apertou a mandíbula e virou seu
olhar para Lorde Robert.
—Acho que a quantidade de pão e molho que consumo não tem nada a ver
com o meu prazer em ver uma corrida de cavalos—, Cranach retornou, com
seu habitual sorriso indiferente, ligeiramente condescendente.
—Oh—, Rowena disse, então cobriu a boca e olhou para baixo novamente.
Lachlan escondeu o seu próprio sorriso. Ela estava com ele, sua Rowena.
Antes do amanhecer, tinha certeza, mas eles tinham estado em caminhos
diferentes por tanto tempo que, por um momento, tinha suas dúvidas de que
atravessaria isso com ele agora que o sol estava alto e não poderia culpar
qualquer loucura em um sonho. Mas ainda estava com ele, por Deus. —O que
está errado, moça?—Perguntou, caso Lorde Robert não se preocupasse em
perguntar.
—Nada, é claro. Eu... Oh, é bobagem.
—O que é bobagem, Winnie?—Robert finalmente consultou. —Deve-nos
contar.
—É que depois que ganhei a corrida das damas, mencionei a Jane e a Edith
que nós —você e eu —Rob —seríamos uma triunfante dupla, uma vez que
você ganhasse a corrida dos homens. Não sabia que ia ser a única a competir.
Oh, muito bem, moça, Lachlan pensou silenciosamente. —Bem, talvez ele
possa recitar poesia para você, enquanto eu ganho o prêmio, Rowena.
—Vou estar assistindo à corrida—, retornou, emoção verdadeira tocando
sua voz. —Não ouvindo poesia.
—Uma pena que seja tarde demais para eu entrar, então—, Rob comentou,
seu sorriso desvanecendo-se um pouco.
—Oh, não é tarde demais, Milorde.—Desta vez foi Owen, lacaio chefe de
Glengask e mordomo em Londres, que falou. —Vou correr e dizer-lhes para
selar seu pônei se assim desejar.
—Grande!—Rowena exclamou, em seguida, diminuiu novamente, mas não
antes que enviasse a Lachlan um olhar que o aqueceu até os ossos. —Quero
dizer, seria grande. Cabe a você, é claro, Rob. Como eu disse, é tudo por
diversão.
Cranach inclinou a cabeça. —Acho que vou competir, então.
—Vou vê-lo na linha de partida. É melhor parar de empilhar o molho.
Quando chegou a hora, todos estavam alinhados na largada, havia vinte e
seis cavalos inscritos, desde pôneis montanheses peludos, ao puro-sangue
preto de Lorde Samston. Isso ra bom; quanto mais confusão e desordem,
melhor. O percurso dos homens era o dobro do das damas, e passava por
pedregulhos e dentro da linha das árvores em vários lugares.
Bear e seu grande garanhão cinza, Saturn, estavam participando também,
porém isso poderia ser um problema. Munro disse que apoiava uma união
entre Rowena e ele, mas Lachlan não tinha a certeza de quão perto seu amigo
estava disposto a chegar a desafiar diretamente Ranulf. Mesmo que isso não
fosse precisamente, o que estavam fazendo, estava perto o suficiente.
—Conversei com Ranulf ontem à noite, depois que foi embora—, Bear
disse em sua versão de voz baixa, controlando-se ao lado de Lachlan e
Beowulf. —Ele quer Winnie feliz e casada e não suspirando por você por
mais tempo, Lach.
—E eu quero Rowena feliz e casada comigo—, retornou, estabelecendo-se
na sela quando Arran apareceu com a bandeira. —E quero—a aqui, nas
Highlands, e não em Fort William ou em Londres, durante a maior parte do ano
e não usando cores do outro clã. Quase a mesma coisa.
—Sim, se a sujeira e água são as mesmas coisas.
Lachlan respirou. —Sei o que Ranulf quer. E acho que sei o que Rowena
quer. Tudo o que peço é que guarde o que eu disse para você mesmo, e não
interfira, Munro.
—Acho que vou esperar e ver um pouco, antes de decidir isso.
—É justo.—Lachlan assentiu. Não era um endosso empolgante, mas
Glengask não tinha aparecido com um rifle nas mãos, por isso, teria que servir.
Por agora, de qualquer maneira.
—Senhores!—Arran chamou com sua grave voz. —E escoceses!—Isso
provocou alguns risos, e o irmão MacLawry do meio sorriu. —Em suas
marcas. Em posição. Vão!—E baixou a bandeira.
O percurso em todo o prado foi alinhado com os espectadores, por isso,
Lachlan estabeleceu-se em um comprimento mais ou menos atrás de Prince e
esperou. Samston e seu Diabo, ou Satanás, ou qualquer que fosse o nome do
cavalo negro que estava correndo para a liderança. O Sassenach podia galopar
de volta para Londres, pelo que Lachlan se importava. Não era o Conde que o
preocupava.
No segundo que estava fora da vista dos espectadores e atrás das árvores,
Lachlan chutou Beowulf nas costelas. Sem nenhum esforço perceptível, o baio
aproximou-se de Prince. Passaram precisamente e, em seguida, puxou metade
do comprimento à frente. Lachlan deslocou-se para a direita na sela. Em
resposta, Beowulf desviou acirrado para a esquerda. Prince os viu chegando e
moveu-se para a esquerda, enviando Cranach a fustigar nos baixos ramos
pendurados na borda da pista.
—Ei, rapaz, nada disso!—Lachlan gritou, endireitando-se e fazendo uma
demonstração de maior rigor nas rédeas. Recuaram novamente quando o
percurso arredondou para fora da borda do prado.
—O que diabos foi isso?—Perguntou Bear, chegando à sua direita.
—O quê?
—Vi você provocar, Lach.
Lachlan fez uma careta. —Foi um olá Highlander. Disse que ia ficar para
trás.
—E se fizer isso novamente, ele vai saber que não foi um acidente. Então
afaste—se.
Droga, droga, droga. Tinha três malditos dias, agora. Se Bear interferisse
em tudo o que pretendia tentar, teria que admitir a derrota e assistir a Rowena
caminhar pelo corredor da igreja e para a cama de outro homem, ou teria que
agarrá-la e fugir. E ela nunca faria isso com Ranulf. Consideraria isso, mas era
um chefe MacLawry. Movendo—me diretamente em oposição às ordens do
MacLawry, que pediu para não dificultar.
Os cavaleiros estavam cavalgando na parte mais estreita do percurso, entre
os pedregulhos enormes e a chuva estagnada da última tempestade. E observou
quando Cranach manteve Prince firme no centro do caminho. E amaldiçoou.
Munro e Saturno passaram por ele e pela esquerda de Cranach. —Não vou
perder a minha própria e maldita corrida!—Bear gritou, ficando no meio,
enquanto ele e o grande baio se empurravam, passando um par de cavaleiros e
depois empurrando duramente em Prince.
O esguio negro tropeçou. Então se endireitou. Amaldiçoando novamente,
Lachlan abaixou-se no pescoço de Beowulf. —Vai, rapaz—, murmurou. As
orelhas do baio se agitaram, e então se distanciaram. —Não vou perder dez
libras para você, Bear!
Desta vez Prince tropeçou na lama, perdeu um passo, e empancou. Lachlan
teve apenas um segundo para vislumbrar a expressão infeliz de Cranach antes
que o homem desse de cabeça na lama e Prince retomasse a corrida sem o seu
cavaleiro.
Voltando para o prado novamente, Beowulf surgiu ao lado de Saturn.
Ambos passaram Diabo, que parecia pronto para lançar seu próprio cavaleiro.
—Obrigado, Bear—, Lachlan disse ofegante.
—Você me deve. Não se esqueça disso.
—Não esquecerei.
Duncan Lenox, um dos chefes MacLawry, passou Donald MacAllister na
última volta e atravessou a linha de chegada em seu alazão castrado, Bruce.
Lachlan e Bear terminaram em quarto e quinto, embora no que dizia respeito a
Lachlan, vigésimo quinto teria sido bom. Porque Lorde Robert Cranach nem
sequer terminou em vigésimo sexto.
Tão logo o resto dos cavalos cruzaram a trilha, virou Beowulf de volta em
direção às pedras em uma caminhada. Não fazia sentido apressar-se, afinal.
Quando Cranach ficou à vista, Lachlan nem sequer se preocupou em esconder
seu sorriso. Ninguém mais o faria, também. —Cranach, está ferido?
Estava coberto de lama e praguejou. —Maldição, fez isso de propósito.
—Tomei um banho de lama uma vez ou duas, eu mesmo. Dizem que é bom
para a pele. Não lhe reconheço em suas roupas extravagantes de equitação, no
entanto.
—Dê-me uma carona de volta, pelo menos.
Lachlan apoiou Beowulf fora do alcance de Cranach. —Não. Vai-me sujar
todo.
—Vou vê-lo com o nariz sangrando, eu vou.
—Pode tentar. O próximo evento é puxar a corda. Vou inscrevê-lo.—Ele se
virou com o baio de volta para a multidão.
—Ela vai ser minha, você sabe.
—Sim? Então, bem-vindo à família.—Dando joelhadas em seu baio,
Lachlan deixou Cranach para trás, para andar o resto do caminho de volta para
as tendas. Uma vez que desmontou e entregou sua montaria para um
cavalariço, foi procurar Rowena.
Estava com as irmãs Hanover, Charlotte e Jane. Pelo menos Ranulf não
estava lá. Desejou saber o quão longe estaria disposta a ir, porque iria
encontrá-la lá. —Moças—, falou pausadamente, removendo grama e sujeira de
seu kilt.
—Lorde Gray—, disse Jane, oferecendo-lhe um sorriso e uma reverência
que foi puramente Sassenach. Ela era uma pessoa rara e agradável, mas sem
dúvida inglesa. —Vejo que derrotou Lorde Samston.
—Sim. Não acho que quer pagar a aposta, embora.—Ele deu de ombros.
—Não ganhei a corrida, então não vou pressioná-lo sobre isso.
—Isso é muito generoso da sua parte—, Jane retornou. —Dadas as
circunstâncias, não acho que seria tão magnânima.
A testa de sua irmã franziu a isso. —Em que circunstâncias, quer dizer?
Jane forçou uma risada. —Oh, não é nada. Nós —Rowena e eu
—descobrimos que Samston fingiu estar apaixonado por Winnie porque queria
seu dote.
—Ah.—A noiva de Ranulf voltou seu olhar sobre Lachlan. —E você sabia
disso?
Ranulf não teria caído por uma moça estúpida. Precisava, portanto, ter
muito cuidado. —Percebi isso—, disse, cruzando os braços sobre o peito e
endireitando-se. Ela era uma moça alta, mas isso ainda significava que mal
chegava ao seu queixo. —Rowena deu-lhe uma parcela de seu ponto de vista e
o afugentou, para que eu não sentisse a necessidade de fazê-lo sangrar sobre
isso.
Charlotte assentiu. —Bom, então. Fico feliz que isso tenha sido resolvido.
Imagino que Ranulf teria preferido saber, mas teve várias outras coisas em sua
mente esta semana.—Ela sorriu, excitação iluminando seus olhos castanhos
quase para verde.
—Como v... Ah, meu—, Jane exclamou, sua atenção em algo além do
ombro esquerdo de Lachlan. —O que aconteceu com Lorde Rob?
Todos se viraram para olhar, e Lachlan aproveitou o momento para escovar
as pontas de seus dedos contra Rowena. —Ele alega que vai tê-la, o que digo
sobre isso—, respirou, estando tão perto dela quanto ousava. —Ofereci-lhe as
boas-vindas à família.
—Oh, céus—, murmurou, quando o resto da multidão pegou a figura do
espantalho enlameada. —Talvez eu deva tentar falar com ele. Tem sido
educado até agora, afinal.
—Você sabe, só finge soar como um Highlander—, retornou. —Fora de sua
audiência ele diz ‘em verdade’ e ‘muito bom’.
Uma risada explodiu de seu peito. —Parece que estou fingindo um sotaque
também, Lach. Não posso usar isso contra ele.
—É um homem bom, então.—Apertando sua mandíbula, abaixou a cabeça
na direção dela. —Por que não se casa com ele?
Seus olhos cinzentos praticamente provocavam. —Porque há um outro
homem que eu quero—, afirmou, mantendo felizmente a voz baixa. —Por um
tempo pensei que apenas um de nós tinha crescido, e então perguntei se
estávamos simplesmente destinados a nunca querer a mesma coisa ao mesmo
tempo. Mas ninguém me conhece tão bem quanto ele. Ninguém significa mais
para mim do que ele.—Abaixou a cabeça para dar-lhe um olhar dissimulado
debaixo de seus longos cílios. —E ouso dizer que sou a única moça que sabe
como fez a pequenina cicatriz no lado esquerdo de seu traseiro.
Lachlan bufou, muito mais satisfeito e otimista do que provavelmente
deveria estar. Afinal, estavam tentando dobrar as ordens do homem mais
formidável que já conheceu, e as apostas seriam a felicidade de uma mulher
que sempre tinha sido preciosa para ele, e que, ao longo dos últimos dias se
tornara vital para a sua própria sobrevivência.
—Se depender de mim, Rowena, vai ser a única moça que vai saber o por
quê do seu enorme irmão colocar um anzol através do meu traseiro. Agora, vá
falar com Lorde Rob, e não vá a qualquer lugar sozinha.—Por um vulnerável
momento de loucura, quase a beijou ali mesmo na frente de todos os clãs.
Ela assentiu, claramente, não percebendo o quão perto tinha chegado a uma
calamidade pública. —Vai ter que confiar em mim.
—Confio, moça. Isso, eu faço.

***

Ranulf tinha descoberto há algum tempo que os bons haggis tinham, para
todos os efeitos, o mesmo sabor. Pegou outra colherada, sorriu, mastigou e
engoliu. —Isso está glorioso, Sra. Meason—, proclamou, e mudou-se para a
próxima oferta.
Por que diabos alguém desejava a sua opinião a respeito de quem
cozinhava os melhores haggis, não tinha ideia. Mas alguém lhe entregou três
fitas e pediu-lhe para escolher seus três pratos favoritos, e assim o faria.
Conforme concordava e sorria para o próximo prato, avistou um Lorde Robert
Cranach coberto de lama sendo seguido pela multidão em direção a casa.
Imediatamente procurou Rowena. Um momento depois, encontrou-a de pé a
poucos passos atrás de Charlotte e Jane, em uma conversa profunda com
Lachlan. Primeiro, os dois estavam olhando para Cranach, como estavam
quase todos na multidão. Segundos depois estavam olhando um para o outro.
Seus dedos roçaram-se rapidamente, e depois se separaram novamente.
Lachlan disse algo, sua expressão séria, e Rowena assentiu. Então ela sorriu.
Só então inclinou a cabeça e foi andando atrás de Cranach.
—Tem mais três amostras à sua esquerda, Milorde—, Mrs. Forrest, a
cozinheira chefe, a moça que Rowena tinha pedido para supervisionar as
competições de comida, comentou. —Quer outra cerveja?
—Sim, Sra Forrest. Preciso molhar a minha garganta.
Bebeu metade da cerveja que Peter Gilling lhe foi buscar, e retomou a sua
caminhada ao longo da mesa, dividindo sua atenção entre os haggis e sua
irmã. Rowena poderia ouvir uma proposta, mas Cranach não parecia a fim de
curvar-se sobre um joelho e dizer alguma coisa romântica para uma jovem
moça ansiosa por amor.
Além disso, não tinha ficado feliz com seu pronunciamento de ontem. Hoje,
parecia... animada. O que, então, tinha mudado? Uma noite de reflexão, talvez
—afinal, tinha-se esforçado para encontrar um homem que cumprisse os
requisitos que considerava mais importantes. Mas Lachlan parecia feliz,
também. E assim, não conseguia encontrar uma razão para isso.
Algumas semanas atrás, sim. Teria esperado que Lorde Gray ficasse
aliviado por Rowena ter encontrado um outro homem em quem derramar sua
atenção. Por que, então, Lachlan estava atualmente olhando Rowena por trás e
ostentando um sorriso pouco fraterno?
Comeu o seu último bocado de haggis, engoliu com mais cerveja e
distribuiu as três fitas. Charlotte, ele decidiu, devia-lhe um grande favor por
mantê-la longe desse deleite escocês —e tinha várias ideias de como cobraria.
Com um sorriso, assobiou para Fergus e Una retornarem aos seus calcanhares
e caminharem através dos hóspedes barulhentos na direção em que Arran
supervisionava a colocação da corda para puxar. O torneio era para ser entre
o clã MacLawry, que representava a maioria presente, e todos os que iam ou
vinham.
A corda atravessava o estreito riacho que atravessava uma borda do prado
no seu caminho para Loch Shinaig. Uma fita vermelha brilhante marcava seu
ponto central, diretamente sobre o meio da água. —Quem você colocou na
frente do nosso lado?—Perguntou.
—Lach se ofereceu—, Arran retornou, —o que é justo, considerando que
ele e Bear, supostamente organizaram os malditos jogos.
—Eles não poderiam abaixar a bandeira na corrida em que estavam.
—Sim. Reconheço que faz sentido para mim ajudar, com minha asa ferida.
—Mas?—Ranulf solicitou, a metade de sua atenção sobre onde Rowena e o
lamacento Cranach estavam conversando, Jane Hanover agora com eles.
—E nada, não precisa se preocupar com mais nada—, disse Arran com uma
careta, fazendo um gesto desdenhoso com a mão. —Já tem muito em seu
cérebro, só tem que se casar depois de amanhã.
Uma suave e animada... satisfação correu em suas veias com esse
pensamento. Charlotte era dele, e sempre seria, mas queria que todos vissem.
Santo André, queria gritar para o céu. Ranulf estremeceu. Se algo perturbava o
inteligente Arran, precisava saber o que era. —Fora com isso.
—Não sei o que é.—Seu irmão deu de ombros. —Algo está acontecendo.
—Problemas?—Os MacDonalds seriam a fonte mais provável, mas não
havia nenhum amor perdido entre os Gerdenses e os MacLawrys —e os
Gerdenses respondiam aos Campbells. —O que viu?
—Nada em particular. É só que...—Deu de ombros. —Lachlan programou
todas as competições, tinha tudo no papel para mantê-lo organizado. Esta
manhã foi e mudou tudo, então, não há um homem que saiba onde vai estar ou
quando. E acrescentou o nome de Lorde Robert para a maioria das
competições. E então saiu e me deixou com a bagunça.—Arran fez uma careta.
—Não me importo, realmente. Não estou reclamando sobre isso. Foi só... os
pelos na parte de trás do meu pescoço estão arrepiados.
Com um aceno de cabeça, Ranulf olhou através do prado novamente.
—Conheço o sentimento.
—Talvez eu esteja apenas esperando problemas—, seu irmão mais novo
continuou. —Tivemos apenas três lutas desde que montamos as barracas. É
inquietante.
Talvez fosse isso, afinal de contas. Depois de tantos anos de conflito, era
inquietante ver os Campbells sentados com os MacLawrys e os Camerons com
os Stewarts. —Quem está na frente do outro lado da corda?
—Supostamente não é nenhum MacLawry, mas é o nome de Lorde Rob que
está na lista.—Arran esperou por um momento. —Quer mudar isso?
—Não. Deixe. Se ele não gostar, pode mudá-lo por si mesmo.
O que quer que estivesse acontecendo, Lachlan, Rowena, e Rob Cranach
pareciam ser o centro disso. Tinha dito a Rowena em termos inequívocos, o
que esperava dela. Sabia que haveria consequências se o desafiasse. Tinha
ainda menos tolerância onde Lachlan estava interessado. Lorde Gray não tinha
nenhum direito, e não tinha razões, para criar problemas agora. Pelo amor de
Deus, ambos tiveram dezoito anos, e falharam miseravelmente para fazer o que
ele previa e desejava. Se estavam tramando algo agora, e tinha mais do que
uma suspeita que estavam, estava disposto a dar a qualquer um deles, ou
ambos, bastante corda para se enforcarem.

***

—Mas como Lorde Gray o fez cair de seu cavalo?—Jane perguntou, em


seguida, deu um passo para trás quando Rob fez um gesto e lama voou de seu
braço e salpicou a grama.
—Empurrou-me para fora da pista—, Rob estalou. —Ele e seu irmão,
ambos, Lady Winnie. E isso foi depois que tentou me empurrar contra uma
árvore.
Por que não tinha percebido antes como a voz dele subia uma oitava quando
estava indignado? Talvez porque nunca o tinha visto perturbado antes. Mas
então, conhecia Lachlan por dezoito anos, e não poderia comparar com quatro
dias de um companheiro em seu melhor comportamento. Até este momento, é
claro.
—Foi uma corrida das Highlands, se você recordar—, disse, pela primeira
vez em três meses, não tentando esconder seu sotaque na frente de um...
namorado. Ou ex-namorado, quer soubesse disso ou não. Na verdade,
intencionalmente exagerava seu sotaque. —Tem que esperar alguns empurrões.
Não perdeu nenhum sangue, não é?
Rob e Jane piscaram para ela. —Tenho alguns arranhões, sim—,
respondeu.
—Bem, isso é um sinal de sua bravura, então.
Jane apertou o braço dela. —Por que está falando assim?—Murmurou.
Rowena deu uma risadinha, cobrindo a boca com a mão livre. —É como eu
falo—, exclamou, esperando que soasse pesarosa. —Acho que foi o encontro
com todo o meu povo. Sou uma moça Highlander, você sabe.
E há alguns meses atrás, nunca teria dito tal coisa. Não era só a influência
de Lachlan; vendo todo o clã ao seu redor, ouvindo as músicas, percebendo o
quão orgulhosas e satisfeitas e apoiantes todas essas pessoas estavam para ver
o MacLawry, seu chefe, prestes a se casar —a tocava profundamente.
Eles —alguns deles fugiram, outros se refugiaram em clãs vizinhos que
tinham tido sorte suficiente para chegar ao solo MacLawry com suas famílias
intactas —tinha tanto orgulho sobre quem eles eram, e lá estava ela, com seus
belos vestidos finos e uma casa quente para se viver, fingindo ser outra
pessoa. Se realmente pertencia às Highlands ou não, se poderia ser feliz lá ou
não, ainda não estava totalmente certa. Mas queria Lachlan. O resto teria que
descobrir mais tarde. Só esperava que tivesse tempo para fazê-lo.
—Se as damas me derem licença, acho que já tive a minha cota de jogos
por hoje.
—Mas acabei de falar com Lachlan—, Rowena rebateu, disse que você o
desafiou para puxar a corda.
—Ele está enganado.
Maldição. Precisavam de Rob para continuar o seu envolvimento. Se ele
desaparecesse no dia seguinte, teria tempo para reunir seus pensamentos. Teria
tempo para ser lógico. E isso não seria bom. Pegou a mão de Jane e apertou.
Se ela flertasse com Lorde Rob, poderiam estabelecer um plano para dissuadi-
lo de propor-lhe novamente, e restavam apenas três dias.
—Mas Lorde Robert—, Jane deixou escapar. —Lorde Gray disse que você
desistiria, e apostei com ele duas libras que você não desistiria. E ele já é
tão... arrogante.
Virou-se, olhando-as com seu olho direito, e ainda piscando lama do seu
esquerdo. —Apostou em meu favor, Lady Jane?
Ela balançou a cabeça, cachos loiros agitando-se. —Claro que sim.
—E você, Lady Winnie?
Rowena ergueu o queixo. —Não posso apostar contra o meu próprio clã.
—Ou contra o homem que tinha começado a favorecer acima de tudo e de
todos os outros no mundo.
—Bem. Acho que não posso decepcionar um torcedor—, comentou,
enviando um olhar penetrante para Rowena.
Jane, porém, libertou as mãos para bater palmas. —Viva!
Rob inclinou a cabeça. —Preciso chamar meu criado e me transformar em
algo menos marrom. Se encontrar Lorde Gray, por favor, diga-lhe que estou
ansioso pelo nosso próximo encontro.
Observaram-no sumir na colina. —Oh, graças a Deus—, Rowena respirou,
lutando contra o desejo de cair no chão. —Muito obrigada, Jane.
—Não tem de quê, claro, mas gostaria que me dissesse que diabos está
acontecendo. Pensei que ficaria furiosa com Lorde Gray por envergonhar
Lorde Rob.
Rowena puxou a amiga um pouco mais longe dos homens MacLawry que
sempre a cercavam em público. —Tem que prometer que não fala nada para
Ranulf.
—Não vou dizer nada a seu irmão que possa deixá-lo irritado.—Jane
estremeceu. —Ele é muito feroz para mim. Então, o que está fazendo? Isso é
porque Lorde Gray decidiu que gosta de você?
Ela suspirou. —Sim. E se Rob me propuser, tenho que aceitar—, sussurrou,
esperando que o barulho em torno delas e a pequena distância que tinha
conseguido longe de seus sentinelas fosse evitar qualquer outra pessoa de
ouvir. —Essas são as ordens de Ranulf.
Jane olhou-a. —Gosto de contos de fadas, você sabe, mas se quer desafiar
Lorde Glengask, precisa ter certeza de que isso é mais do que ilusões. Lorde
Rob é o Highlander mais sofisticado que já conheceu. Me disse isso há três
dias.
—Sei que disse. É complicado.
—Lachlan foi a razão porque fugiu para Londres, Winnie. Disse que tinha
terminado com ele.
Evidentemente disse algumas coisas que agora estava repensando. —Nós...
chegamos a um entendimento mútuo—, disse lentamente. —Estou feliz por ter-
me afastado. Se não tivesse, acho que nunca teria visto que Lachlan não é uma
ilusão. E ele não me teria visto como algo que não fosse a única irmã do
MacLawry.
—Mas está certa, Winnie?—Jane pressionou, seu sorriso geralmente
efusivo enterrado sob clara preocupação. —Vou ficar muito chateada com
ambos, se ele estiver apenas brincando e você acabar com seu coração
partido. Mais uma vez.
—Estava zangada com ele quando estava em Londres. Só lhe disse coisas
ruins sobre ele. Acho que agora, pela primeira vez, finalmente estou vendo
quem realmente é. E gosto dele. Muito.—‘Gostar’ não seria a palavra correta,
no entanto. Mas a palavra que sentia em seu coração, a que queria usar,
precisava dizê-la para Lachlan. —Conversamos agora—, continuou. —E ele
gosta que eu não o... adore.
—Isso é bom. É... é maravilhoso. Não pode dizer isso a Lorde Glengask,
então?—Jane insistiu, sacudindo-a de seus pensamentos.
—Eu tentei. Acho que decidiu que ouviu o suficiente sobre Lachlan e eu.
O olhar de Jane foi fácil de ler —disse que talvez devesse estar ouvindo
sua família e amigos porque claramente que não podia confiar em si mesma,
quando Lachlan MacTier estava envolvido. Sabia que já não seria assim, mas
provar algo assim a outra pessoa, simplesmente não tinha tempo. Agora não.
Agora, quando tinha menos de três dias para evitar um casamento, ver que um
outro avançasse, e limpar o caminho para o futuro que queria para si mesma.
Mas ter Jane ao seu lado melhoraria drasticamente suas próprias chances
de sucesso, então respirou. —Em Londres, lhe disse que nunca tinha visto
Lachlan claramente. Ele seria o perfeito sonho de uma jovem vindo à vida. E
realmente não conhecia quaisquer outros homens, exceto meus irmãos, então
não tinha nenhuma base para comparação. Agora tenho.
—Lembro-me que escreveu para Lachlan todos os dias durante duas
semanas e nunca respondeu. E ele lhe deu botas de montaria no seu aniversário
de dezoito anos.
—Eu sei. Não me esqueci.—Embora há algumas semanas atrás, a ideia de
defender o caráter de Lachlan tivesse sido ridícula, tinha uma ideia muito boa
de como seria importante que fosse capaz de convencer Jane. Pelo amor de
Deus, se sua amiga não acreditasse nisso, como ia convencer Ranulf? Muito
menos a si mesma. —Percebi, no entanto, como ele me via, ele via-nos como
amigos. E me via como uma criança. Mas não sou apenas um rostinho bonito.
Nós temos conversado, e me ouve. Gosto de conversar com ele. Ontem à noite,
cantou para mim.—Sorriu com a memória.
—Ontem à noite?—Repetiu Jane. —Pensei que tinha ido para a cama cedo.
Rowena se inclinou ainda mais perto, seu sorriso se aprofundando. —Eu
fui. Só não fui sozinha.
A boca de Jane abriu. —O quê?
Capítulo Treze
—Silêncio, Jane—, Rowena disse, incapaz de manter a diversão animada
em sua voz. Jane foi provavelmente a única pessoa no mundo a quem poderia
confiar uma coisa dessas. Ainda seria um risco, mas toda a manhã queria
cantar uma canção sozinha. Isso seria tudo resolvido para melhor. Tinha que
ser, porque, enquanto como uma menina que não tinha sido capaz de imaginar
uma vida com alguém, mas com seu príncipe perfeito, hoje não poderia
imaginar passar seus dias sem o divertido, espirituoso, teimoso,
enlouquecedor e bonito Lachlan MacTier. A ideia de qualquer homem,
beijando-a, tocando-a, abraçando-a, a fazia sentir-se doente.
—Falando no diabo—, Jane murmurou, e Rowena olhou para cima para ver
Lachlan se aproximando. O plano foi para manterem distância um do outro
hoje, mas seu coração deu um baque feliz, no entanto.
—E como está o nosso sujo Lorde Rob?—Perguntou, caindo ao lado dela
enquanto a multidão ia na direção das tendas e toldos.
—Está convencido de que você tentou matá-lo.
—Não. Se eu tivesse tentado matá-lo, ele estaria morto.—Olhou além dela
para Jane. —É uma aliada, então?
—Claro que sou.
—Está tudo bem, Lach. Contei-lhe tudo.—Rowena fez uma careta. —Quase
tudo.—E Jane tinha ajudado sem saber o que estava acontecendo. Tinha
esperado toda a sua vida por uma amiga como Jane. Talvez essa tenha sido a
melhor parte sobre Londres. Fazendo uma amiga verdadeira e tendo algum
tempo para refletir sobre não apenas o que queria, mas quem queria ser.
Lachlan deu a Jane um olhar avaliador. Para seu crédito, a irmã mais nova
Hanover encontrou seu olhar sem vacilar. Finalmente, ele sorriu. —Acho que
pode ser parte escocesa, Jane.
—Pelo casamento da minha irmã, pelo menos.
—Então, nesse caso—, disse depois de um momento, movendo-se entre
elas e oferecendo um braço a cada uma, —Cranach virá se juntar a nós para
puxar a corda?
—Sim. Jane disse-lhe que tinha apostado duas libras se ele teria coragem
de aparecer ou não.
—Então, devo-lhe minha gratidão, minha senhora.
Jane corou. —Estava ajudando Winnie. Ela parece estar apaixonada por
você.
O sorriso caloroso e carinhoso de Lachlan aqueceu Rowena até os ossos.
—Fico feliz em ouvir isso. Sei que estou apaixonado por ela.
Colocando sua mão livre no quadril, Jane olhou-o com óbvio ceticismo.
—E tem certeza agora? Não vai mudar de ideia?
—Eu sou um chefe do clã MacLawry—, Lachlan disse bruscamente.
—Cresci com os irmãos de Rowena como minha própria família. Vou arriscar
tanto as minhas amizades como o meu lugar no clã, por ir contra as ordens do
MacLawry. Assim, se não aparento certeza para você, Lady Jane, olhe
novamente. E pode provavelmente responder sem ser sarcástica, também.
Desta vez Jane abriu a boca e fechou-a novamente antes de concordar.
—Agora acredito em você.
—Me desaprova, moça. Estou confiando em você, porque Rowena confia.
Rowena se esquecia, as vezes, que tinha temperamento. O via tão
raramente, que seria uma coisa fácil de amansar, mas sabia uma vez que,
quando ele e Munro tinham entrado em uma briga, seu irmão tinha terminado
com um nariz quebrado e um olho roxo. Bear disse que o temperamento de
Lachlan seria semelhante ao de um canhão com um estopim muito longo. Sua
reação a Jane questionar sua sinceridade a fez se perguntar quanto tempo o
estopim tinha sido queimado —e quanta pólvora foi acondicionada no canhão.
—O que fazemos agora?—Perguntou ela. —Arran já está empurrando de
volta a multidão para puxar a corda, e Rob ainda está com o seu criado.
—Vou-me preocupar em puxar a corda—, retornou. —Um duelo agradável
de gaita de foles deve servir. Ranulf está julgando pudins agora, mas não vai
estar tão distraído em poucos minutos. Não confio que não vá perceber que
algo está em andamento, então tente manter distância dele, se for capaz.
Coloquei o nome de Cranach na pedra para lançar o feixe.
—Lance da ovelha[18]?—Jane perguntou, arregalando os olhos. —Sei que
os MacLawrys não cuidam de ovelhas, mas...
—Feixe—, Rowena corrigiu, rindo. —Com um f. Vinte quilos de palha
acoplada dentro de um saco. Os homens jogam isso com um ancinho sobre um
par de postes, colocando no topo deles, e eles levantam-no, cada vez mais
alto.—Ela formou um H, com as mãos, tentando explicar.
—Bem, graças a Deus. Não gosto de ver ovelhas sendo lançadas.
Levantando uma sobrancelha, Lachlan riu. —Isso não é uma má ideia. Para
o encontro no próximo ano, é claro.—Quando chegaram ao círculo de tendas
movimentadas e Highlanders, se aproximou. —Bear sabe que estou atrás de
você, mas acho que não conhece todas as circunstâncias. E que seria mais
sábio se não soubesse.
Não havia muito mais que pudesse dizer a Bear, mesmo se quisesse,
Rowena refletiu. Principalmente por causa de sua falta de vontade de desafiar
abertamente Ranulf, tudo o que tinham era um plano vago para provocar e
irritar Lorde Rob o suficiente para que o seu dote e uma aliança com os
MacLawrys não valessem a pena o esforço de ter que casar com ela. Se lhe
fosse dada rédea solta, Lachlan provavelmente já teria resolvido o problema
até agora, mas os dois provavelmente teriam sido obrigados a fugir das
Highlands.
Sim, estava disposta a caminhar até à borda, mas ainda não estava certa de
que poderia ir além dessa linha, quando se tratava de Ranulf. Não só era o
chefe do clã, mas também o irmão mais velho —e aquele que se tinha
esforçado para criá-la após o assassinato de seu pai e do suicídio de sua mãe.
Tinha feito tudo por ela, começando quando tinha apenas quinze anos de idade.
Três anos mais jovem do que ela, agora. E agora a única coisa que realmente
lhe pediu, não poderia fazer.
—Moça—, Lachlan disse suavemente, seu hálito quente contra seu rosto,
—não se preocupe. Seus irmãos são meus irmãos. Farei qualquer coisa para
não estragar isso. Mas não vou lhe perder.
Queria caminhar para seus braços, para descansar a cabeça em seu ombro e
ouvir seu coração batendo. —Eu sei, Lach. Isso não é uma brincadeira para
mim, também. E confio em você.
Quando eles pegaram Ranulf olhando em sua direção, Lachlan separou-se
delas e se dirigiu para onde Bear estava prestes a colocar e ganhar a pedra. O
esquema louco parecia mais plausível com ele ao seu lado, e segurou a mão de
Jane um pouco mais firmemente depois que desapareceu no meio do multidão.
—O que posso fazer para ajudar?—Sua amiga perguntou. —Além de
persuadir Lorde Rob a participar da competição para que seu Lachlan
pretende arrastá-lo.
Seu Lachlan. Gostava do som disso. —Queria desesperadamente confiar
em em você há dias, Jane. Acredite, já está ajudando. Uma grande parte.
—Sim, mas emprestar um ouvido não é muito heroico. O que mais precisa?
Por um momento Rowena considerou. —Depois que desmaiei ontem à
noite, Ranulf disse que ia fazer com que Lorde Rob me pedisse em casamento
de forma adequada e romântica. Então, não saia do meu lado quando Rob
aparecer. O que quer que eu diga.
—Oh, posso me exceder em ser persistente e chata. Basta perguntar a
Charlotte. Ou Arran.—Jane sorriu. —Agora sou sua sombra.
Rowena abraçou a amiga. —Estou tão feliz por ter lhe conhecido—, disse,
com lágrimas se movendo por seu rosto.
—Não seja boba. Nunca tive quaisquer aventuras antes de lhe conhecer—,
Jane retornou. —E em dois dias seremos irmãs.
Sim, elas iriam. Em poucos meses Rowena deixou de ser a única moça em
uma família de homens, para ter pelo menos, três moças. Tinha uma cunhada,
Mary, que faria dela uma tia em algum momento na primavera. E no sábado,
teria Charlotte, com Jane como um bônus. Só então Bear teria de encontrar
uma moça, e o jogo estaria inclinado em favor das moças. Ela sorriu. Isso
seria algo para ver.
Se ela se casasse com Rob, isso iria mudar, porém. Não seria mais uma
MacLawry. Não estaria vivendo a 3 km de onde tinha crescido. Ainda mais do
que isso, perderia o homem que tinha sido uma parte tão grande da sua vida
por tanto tempo, que não podia nem imaginar não vê-lo todos os dias. Não
podia imaginar não ser capaz de beijá-lo e tocá-lo e conversar com ele sempre
que quisesse. Isso era quase surpreendente a facilidade com que tinha passado
de ser uma parte de sua vida a ser a pessoa mais importante em sua vida. Se
não pudesse estar com ele...
Não, não queria pensar nisso. Tinha fugido de Glengask uma vez porque se
recusava a notá-la —ou assim tinha pensado. A ideia de que tivesse que fugir
novamente para ficarem juntos a aterrorizava, mas a cada minuto que passava
com ele só aumentava a sua determinação de não perdê-lo novamente. Só
esperava que não tivesse que escolher entre ele e seus irmãos.
Por favor, isso não, pensou, enviando uma oração a Santo André a Santa
Brígida e a qualquer outra alma que pudesse estar ouvindo. Por favor.

***

No momento em que Rob Cranach apareceu, Lachlan fez sinal para que os
tocadores de tambor e os flautistas MacLawry terminassem. Não podia dar
tempo a Cranach de considerar precisamente o que estava acontecendo e que
ficaria melhor simplesmente mantendo a distância.
Arran tinha estado encarando Lachlan durante os últimos vinte minutos,
mais ou menos, exceto quando se dedicou a olhar ansiosamente para sua
esposa —atualmente, sentada ao lado de seu avô, o Duque de Alkirk. Há
algumas semanas atrás, ter quaisquer Campbells presentes, muito menos o
chefe do clã, teria chamado a atenção de todos.
Agora, porém, Lachlan precisava fazer três coisas, simultaneamente, se
possível: derrotar Rob Cranach, evitar os olhos e a atenção do chefe de seu
próprio clã e ver e tocar Rowena MacLawry sempre que possível, só para ter
certeza de que não tinha sonhado com a coisa toda.
Sabia exatamente onde estava —ajoelhada em frente a um tear na barraca
dos tecelões e mostrando a Jane Hanover como faziam a manta MacLawry. Se
por nenhuma outra razão que não a sua importância e popularidade com o seu
próprio clã, sua moça precisava continuar a ser uma MacLawry. Por que as
cores amarelas dos Buchanan jamais se adequariam a ela, não importava o
quanto alguém tentasse fazer isso. Nem mesmo se o MacLawry se favorecesse
com o casamento.
—Maldição, Lach, segure a amaldiçoada corda ou perca a disputa para que
eu possa ver Mary—, Arran finalmente rosnou para ele.
—Não está preocupado por ela estar com o Campbell, não é?—Lachlan
retornou, com a culpa o instigando. Hoje não era o único com o coração
inseguro.
—Estou preocupado que ele vá nomear o meu primogênito Campbell
MacLawry ou algo assim.—Um rápido sorriso puxou a boca de Arran. —Isso
é muito peso para qualquer criança suportar.
—Então vá perguntar ao Campbell se não quer julgar a competição, não
seja por isso?
Arran inclinou a cabeça. —Sabia que seria inteligente, Lach. Mas agora
não posso saber se você vai ficar próximo a Bear.—Com um aceno rápido,
caminhou para o dossel bem equipado, onde o Campbell e a sua família tinham
colocado suas cadeiras.
Um momento depois, o Duque de Alkirk, juntamente com meia dúzia de
rapazes musculosos, cujo dever foi proteger o seu chefe, caminharam até onde
tinham colocado a corda. —Obrigado por começar, Vossa Graça—, disse
Lachlan, apontando os rapazes MacLawry atrás dele para tomar posse da
corda.
Do outro lado do riacho, um bom número de Camerons pegaram sua
extremidade da corda na parte de trás para puxar, rapazes inteligentes que eles
eram. Isso deixou os MacDonalds e Campbells no meio —sempre uma
proposta arriscada —e vários Buchanans na frente. Eles, é claro, deram a
Lorde Rob Cranach a liderança e a pior posição, em frente à água e lama de
Lachlan.
Pisoteando os seus pés para que pudesse criar uma base em que pudesse
apoiar-se, Lachlan agarrou firme a corda. Não se importava se os MacLawrys
ganhassem ou perdessem; seu único objetivo era ver Cranach cair de cara na
lama. Se rachasse a cabeça no processo, melhor ainda.
—Segurem-se, rapazes—, Alkirk instruíu, mantendo um olhar atento sobre a
fita suspensa sobre a água, para ter certeza de que não se deslocaram de uma
maneira ou de outra. —Firme, firme... puxem!
A corda sacudiu e se esticou, arremessando no ar de gotículas de água. De
um lado, um arco-íris de kilts escavaram no chão e puxaram com força,
enquanto do outro lado o uniforme preto e branco e vermelho dos MacLawry
se recusava a ceder.
—Segurem, rapazes!—Lachlan berrou, um pé escorregou antes que pudesse
cavar novamente. —No três! Um, dois, três!
Enquanto puxavam, agitavam o chão gramado. A fita concedeu-lhes duas
polegadas, em seguida, perdeu uma quando o outro lado recuperou sua
posição. Parecia que estavam puxando uma montanha.
Lorde Robert arfando verificou por cima do ombro, grunhindo aos
Highlanders atrás dele. Evidentemente, seguindo o exemplo de Lachlan,
começou a contar. Quando chegou dois, Lachlan soltou a fim de puxar
novamente. Desta vez, ganharam quatro polegadas. O barulho dos
espectadores principalmente MacLawrys em torno deles, abafou o que estava
certo foi uma maldição de Cranach.
—E três!—Ele gritou de novo, não se sentindo nem um pouco
envergonhado de sua estratégia.
Os MacLawrys puxaram, arrastando um Cranach lutando até a borda
lamacenta do riacho. Os braços de Lachlan estavam começando a doer, mas se
recusava a mudar seu aperto. Tinha três dias para convencer o falso escocês a
detestar as Highlands e a ideia de se casar em uma família firmemente
enraizada lá. Cada segundo, cada palavra, importava.
Perderam uma polegada para os Buchanans e então a recuperaram.
—Vamos lá, rapazes!—Lachlan resmungou. —Para o MacLawry e sua noiva!
Puxem!
Cranach se levantou. Lento como um sonho, deslizou adiante na água, uma
mão agora agarrando-se à corda quando tentava evitar seu kilt de ir para seu
traseiro. Ha. Um verdadeiro Highlander não se importava com tal absurdo.
Lachlan puxou com tanta força que caiu sobre seu traseiro e reclinou-se
quase plano para manter a tensão na corda. O primo de Cranach, MacMaster,
passou por cima de cabeça, jogando os dois homens na agitada confusão.
O Campbell abaixou a mão longe dos Buchanans. —Os MacLawrys
venceram!—Gritou, provavelmente, a primeira vez que pronunciou essas
palavras. Se Lachlan precisasse de alguma prova de que milagres poderiam
acontecer, isso a forneceu. Agora só precisava de mais um.
Cranach veio furiosamente da margem de quatro, como um cão raivoso.
Soltando a corda, Lachlan ficou de pé. Não esperava uma luta —não ainda, de
qualquer maneira, mas a idéia de socar a delicada mandíbula de Lorde Robert
não o incomodava, nem um pouco.
—Você fez isso!—Robert cuspiu, espalhando lama e água de seu rosto.
—Sim—, respondeu Lachlan, deliberadamente, sorrindo. —Eu e catorze
dos meus parentes. Quer bater em todos nós, ou só em mim? Será um prazer,
independentemente do que decidir.
Abruptamente Ranulf ficou entre eles, uma parede sólida, imóvel. —Acho
que todos esses rapazes merecem uma cerveja—, disse em uma voz contida.
—E então, acho que poderíamos dançar um pouco!
—Que...
—Venha, vamos conversar, Lorde Robert—, Ranulf interrompeu por causa
do barulho da debandada em direção —as barracas que guardavam cerveja
inglesa, cerveja e whisky, e começou a colocar o braço sobre os ombros
enlameados e pegajosos de Cranach, antes que evidentemente repensasse a
sabedoria disso.
O breve olhar que Glengask enviou a Lachlan mal durou um piscar de
olhos, mas o gelou até aos ossos. Em seguida, o Marquês levou o encharcado
Buchanan em direção ao castelo, com um punhado de homens e os dois cães de
caça a reboque.
Danação. Quão longe Ranulf pretendia ir e apaziguar com pobres desculpas
para um Highlander? Apenas o que queria dos Buchanan que o fazia disposto a
acalmar o orgulho de um idiota por algo tão imbecil como perder uma
competição justa? Se Ranulf simplesmente adicionasse mais concessões para
o dote de Rowena cada vez que Cranach espirrasse, o plano deles não ia
funcionar.
Amaldiçoando novamente, Lachlan limpou as mãos doloridas em seu kilt.
Facilmente poderia ter sido ele na água. Certamente estava disposto a arriscar.
Dissimulando sua carranca, atravessou a multidão que o parabenizava e
esperava que não tivesse acabado de perder a guerra.

***

Adam James, o Conde de Samston, olhou de Lady Rowena MacLawry,


sentada em uma das mesas espalhadas e colocados do outro lado do prado,
para o Marquês de Glengask. O MacLawry, como o chamavam, parecia ter
pressa em se desculpar com Lorde Robert Cranach, por permitir de alguma
forma que aquele sujeito o puxasse para a lama.
Embora Robert mal lhe tivesse dado um olhar em quatro dias, sem dúvida,
porque tinha a intenção de proteger a própria fortuna, os dois realmente se
conheciam. Não tão bem quanto pensava, ao que parece, já que nem sabia que
Cranach era um Highlander, mas ambos eram membros do Club White.
Evidentemente todos estavam jogando jogos aqui, e não apenas os
companheiros corpulentos e mal vestidos do campo.
Quando Winnie o convidou para Glengask, por exemplo, tinha pensado que
seu namoro de quase três meses com ela finalmente começava a dar
resultados. Glengask tinha milhas de propriedades na Escócia, e uma grande
quantidade de ouro, além da terra. Como um bônus, Winnie era bonita, com um
toque muito seguro de si mesma.
Tinha feito tudo corretamente, cercando e flertando com ela, sendo
agradável e socialmente conectado como parecia preferir. Talvez se tivesse
precipitado um pouco ao beijá-la, mas não queria perder uma oportunidade
—e essa parecia uma boa. Por que razão ela tinha decidido que o seu
comportamento era motivo de zombaria e insulto, ele não tinha ideia. Foi
assim que decidiam o jogo.
Agora, porém, vê-la empurrada para um homem sem título e uma propensão
para pobres apostas, simplesmente porque nasceu ao norte da Hadrian’s Wall,
parecia ridículo. E sua família provavelmente não tinha ideia de que estava
conspirando, sussurrando e rindo nas costas de todos, com aquele brutal Lorde
Gray. Era Cranach simplesmente o próximo a ser exaltado e, em seguida,
deixado de lado por diversão? Ou Cranach ganhou o prêmio porque se
lembrou de dizer —cê—em vez de —você—[19]?
Tomou outro gole de sua pitoresca caneca, lascada, voltando o olhar para
onde o Duque de Alkirk mantinha sua corte. Pelo que tinha sido capaz de
perceber, o Campbell e o MacLawry tinham sido inimigos mortais, até poucas
semanas atrás. Agora seriam parentes, o que parecia torná-los aliados, se não
amigos.
Mas nem todos, no círculo de Alkirk, pareciam satisfeitos com essa
circunstância. Seu olhar foi para o indiferente homem de ombros largos que
estava atrás do Duque e enviou um sinistro olhar na direção de Lorde Arran
MacLawry. Geralmente não se preocupava em conversar com um sujeito que
mal poderia contar sem usar os dedos, mas tinha feito uma exceção para
Dermid Gerdens. Afinal, tinham algo em comum.
De pé, Adam passeou pelos Campbells reunidos e chegou conversando com
várias das jovens senhoras lá —embora com esses acentos, dificilmente
poderia compreender mais do que cada terceira ou quarta palavra que
falavam. Quando Dermid olhou em sua direção, Samston inclinou o queixo na
direção do lago e então afastou-se novamente. Com todos estes escoceses
presentes, meio que esperava encontrar dezenas deles banhando-se no Loch
Shinaig —mas assumiria que já tinham tomado banho.
Assim, poucos minutos depois direcionou-se para o norte ao longo da costa
e encontrou-se sozinho no meio de um bosque de pinheiros definhados.
Recostando-se contra um deles, olhou para o grande e plano espelho de água,
refletindo as nuvens dispersas e a margem oposta. Teria sido lindo, se
estivesse mais perto de Londres e da civilização.
—Estou aqui—, anunciou um grosso sotaque atrás dele, mais cedo e mais
baixo do que esperava.
—Se move muito silenciosamente para um homem robusto, companheiro—,
observou, virando a cabeça quando Dermid Gerdens passou ao seu lado,
abaixou-se para pegar uma pedra e jogou-a no que parecia ser metade da
distância, do outro lado do lago.
—Gosto de ser furtivo.
—É eficiente nisso.—Adam esperou para ver se isso merecia uma resposta.
Quando isso não aconteceu, cruzou os braços sobre o peito. —Já ouviu falar
do seu irmão?
A cabeça ruiva desgrenhada balançou de um lado para o outro. —Avisei
que o Campbell o enviou para o Canadá.
—Ah, sim. E foi por causa de seu problema com os MacLawrys, você
disse?
—Sim. Eu estava lá, com minha pistola, mas George disse que foi culpa do
Donald. Disse que Donald mentiu sobre o que aconteceu, e que meu irmão
estava tentando iniciar uma guerra entre os Campbells e os MacLawrys.
Adam já sabia de tudo isso, praticamente todos em Londres sabiam dentro
de poucas horas após o ocorrido, que Donald Gerdens, o Conde de Berling[20],
tinha ido atrás de Glengask e quase tinha disparado tanto em Arran, quanto em
Winnie MacLawry, sobre algum insulto ou outro. Ninguém parecia saber
exatamente o que tinha desencadeado a contenda, mas os Highlanders
frequentemente pareciam ter pouca, ou nenhuma ideia, porque se estavam
matando uns aos outros. —Precisaria muito de um ato heroico para ganhar o
retorno de seu irmão, do Canadá, então, não é?
Dermid atirou outra pedra. —Sim.
—E era capaz de mandar uma mensagem aos seus amigos?
—Disse que o faria, e fiz. Então, se sabe alguma coisa que faça o Campbell
deixar o meu irmão voltar para casa, diga o que é.
Um pequeno mal-estar soprou na coluna de Adam. Esse homem
provavelmente o quebraria em dois, se tivesse metade de inteligência para
fazê-lo. E ser meio inteligente parecia uma descrição justa para Dermid
Gerdens. Evidentemente, era o seu irmão, o Conde, que tinha a inteligência,
embora mesmo que provavelmente pudesse ser contestada, dada a residência
presente de Donald Gerdens ser em algum lugar no Canadá. —Glengask quer
que sua irmã, Winnie, se case com Lorde Robert Cranach.
—Já ouvi o Campbell falando sobre isso. Disse que o MacLawry nos veria
como pobres restos e implorando até o fim da década.
—Mas só se ele casasse Winnie com um Buchanan. E se...—Com outra
pessoa, teria dado a oportunidade para um homem chegar às suas próprias
conclusões —que diminuiria sua parte de qualquer culpa mais tarde —mas
Dermid provavelmente nunca teve um pensamento completo em toda a sua
vida. —E se esse dinheiro para o dote, e a aliança de seu casamento fizerem
garantir aos Campbells e Gerdenses terem uma grande parte da riqueza
MacLawry?
—Não estamos aliados aos Buchanan.
Ah, meu Deus. —Quero dizer, e se Winnie casasse com você, em vez de
Cranach?
A densa sobrancelha franziu. —Ela não gosta de mim.
Adam começou a se sentir como o pastor solitário em uma terra de ovelhas.
—Isso importa?—Insistiu. —Já ouvi histórias de bravos Highlanders
roubando suas noivas debaixo dos narizes de seus inimigos. Campbell e
MacLawry são praticamente aliados agora. Seria muito simples, eu acho. E
como ela é a única irmã do MacLawry, não só o dote dela será enorme, mas
você será quase tão poderoso quanto o próprio Campbell. E teria que permitir
que Lorde Berling voltasse para casa.
Um lento sorriso tocou o rosto de Dermid. —Iriam escrever uma canção
sobre mim, eu acho. E eu poderia viver com Donald novamente, e não teria
que fazer tudo o que o Campbell me diz.
—Exatamente.
O imenso homem avançou e estendeu a mão tão rapidamente, que fez Adam
hesitar antes de perceber que era um gesto amigável. Balançou a volumosa
mão de Dermid. —Precisa agir rapidamente e com cuidado. Se alguém
perceber o que está fazendo, vão tentar impedir. Todos querem a riqueza
MacLawry e poder para si próprios.
Dermid sorriu novamente. —Gosto de esgueirar-me.
E Adam gostava de ver que nenhum linguarudo e pivete meio civilizado o
fazia parecer um tolo. Isso poderia ser nas Highlands escocesas, mas ninguém
insultava e envergonhava um lorde inglês. Não este lorde, de qualquer
maneira.
Capítulo Quatorze
Lorde Rob Cranach não participou do lançamento de feixe. Lachlan não
teve sequer a oportunidade de persuadi-lo ou intimidá-lo, porque Cranach não
se moveu do lado de Ranulf durante toda a tarde.
Rowena tentou desfrutar assistindo a competição, tentou ficar sinceramente
contente quando Tom MacNamara, o moleiro do An Soadh, jogou um feixe
sobre uma barra fixa em quase três vezes a sua altura para ganhar. No entanto,
cada pensamento que tinha, cada oração, estava centrada na busca de uma nova
solução para evitar ser pedida em casamento por Rob pelos próximos dois
dias e meio.
E desde que o plano tinha sido fazer com que não quisesse casar-se com
ela, nem mesmo tentar pedir-lhe a mão, estava absolutamente perdida. E então
ficou pior.
—Ele está sorrindo—, Jane murmurou, enquanto os trabalhadores
removiam o feno e os postes da clareira com os ancinhos, em preparação para
a dança da noite.
—Ele é um maldito covarde—, Lachlan declarou, a poucos passos atrás
dela e ostensivamente conversando com Bear. —Ficando perto de Glengask
como um puxa-saco, por isso não posso chegar perto o suficiente para dizer-
lhe qualquer coisa.
—Ranulf concordou em dar-lhe Fen Darach—, Bear disse, com a voz mais
baixa e mais sisuda que Rowena estava acostumado a ouvir dele. —A velha
mansão e quinhentos acres. Como presente de casamento.
—Pensei que Arran ficaria com Fen Darach.—Raiva fria, de si mesma, de
Ranulf, e de Cranach, aprofundou-se em direção a seu coração. —Então, ele
quer-me punir e magoar Arran? Isto é... É horrível.
—É eficaz.—Lachlan bateu com o punho na coxa. —Sabe que você não
arriscará a felicidade de ninguém, nem a sua própria.
Ela fechou os olhos por um longo instante, ainda tentando ver um caminho
através do qual estava rapidamente se tornando um campo de urtigas. —No
fundo da minha alma, achei que isso seria sua ideia de um teste, para ver até
onde você e eu estaríamos dispostos a ir para lhe provar que queremos nos
casar. Mas não é um teste, não é? Ele decidiu que deveríamos ter percebido o
que queríamos dois dias atrás, e agora não se importa que mudemos de ideia.
A mão de Lachlan roçou a parte de trás de seu braço, então soltou
novamente. —Isso é apenas para você se render, Rowena.
—E o que faremos agora, então?—Perguntou, levantando-se e virando-se
de frente para ele. —Qual é o próximo plano? Você vai assassinar Rob
Cranach? Vai matar Ranulf?—Ela estremeceu.
—Rowe...
—Não! Isso é o quão alto ele está empurrado as apostas, porque sabe que
nunca faremos tal coisa. Quero você, Lachlan. Meu coração... Meu coração
está partido.—Ela deu um soluço. —Mas o que podemos fazer? Por favor,
diga-me, porque não consigo pensar em nada.
—Poderíamos fugir—, disse, muito calmamente.
Por alguns segundos ela considerou. —Teríamos que ir para a América.
Mesmo assim, provavelmente nos encontraria. E se casássemos, me
deserdaria. Baniria nós dois. Não teríamos clã.
—Ainda teria Gray House e terras, e dinheiro suficiente para irmos para
qualquer lugar.
Fugir significaria que poderia ficar com Lachlan, mas ao mesmo tempo
perderia seus irmãos, seu clã, o único lar que tinha conhecido na única terra
que tinha conhecido. Nunca poderiam voltar.
—Não pode vender Gray House—, disse em voz alta. —Não permitiria
isso.
—Oh, você não permitiria?—Levantou uma sobrancelha.
—Não, não permitiria. Mas não poderíamos viver perto dele. Alguém
morreria por causa disso, Lachlan. E poderia ser você.—Balançou a cabeça,
sem se importar com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e quem poderia
vê-la chorando. Ranulf sabia que tinha ganho; e ver as evidências desse fato
dificilmente o surpreenderia.
—Temos dois dias, minha moça feroz. Não vamos desistir ainda.
—‘Ainda’,—repetiu ela, ouvindo a amargura e a derrota em sua própria
voz. Com um suspiro profundo, estremecendo, ela estendeu uma mão. Ele
nunca pararia. Não até que estivesse morto, ou Cranach morto, ou Ranulf
estivesse morto também. Então teria que fazê-lo parar. —Venha comigo.
Pegou a mão dela, mas ela não poderia olhar para seu rosto. Se o fizesse,
sua determinação cairia. Quebraria em mil pedaços e nunca estaria inteira
novamente.
Caminharam até a borda da clareira, além da queda de pedra para as
árvores. Ela ouviu o murmúrio de vozes atrás dela, e virou-se. —Vão embora
—, ordenou para o trio de grandes homens.
Owen olhou para seus pés. —Não podemos, Lady Winnie. Estamos
vigiando-a.
—Lachlan pode cuidar de mim.
—Meu...
—Pelo menos espere nos pedregulhos, Owen. Ficaremos aqui.
Depois de um momento, ele acenou com a cabeça, em seguida, fez um gesto
para os outros dois homens MacLawry com ele. —Posso dar-lhe cinco
minutos, minha senhora.
Estar tão irritada e frustrada quanto ela estava, tanto que queria asas e voar
para longe, muito longe, não era culpa de Owen. Ela inclinou a cabeça.
—Obrigada.
No momento em que o trio desapareceu atrás de uma das pedras, Lachlan
agarrou-a pelos ombros. Não foi um beijo; estava muito desesperado e faminto
por algo tão simples e puro como um beijo. Rowena entregou-se, agarrando
seus braços e ombros, querendo desaparecer dentro dele.
—Eu não vou parar—, finalmente murmurou, a dor crua na voz dele
rasgando-a novamente.
Finalmente, ela encontrou seu olhar, para encontrar olhos verdes tão
sombrios e assombrados como o inverno. Ele sabia. Tão teimoso quanto ela,
e, é claro, tinha pensado através de cada toque, cada ângulo, cada truque —e
mais que opções que provavelmente nunca lhe ocorreu. E ele sabia. Estavam
sem sorte. E tempo. E esperança. Rowena tomou uma respiração irregular,
pressionando a testa dele. —Eu te amo, Lachlan MacTier, com cada parte
minha. Não amarei outro. Nunca.—Puxou os dedos ao longo de sua mandíbula,
sentindo os músculos rígidos, cerrados lá.
—Não diga isso—, ele sussurrou. —Por fav...
Ele caiu para a frente, empurrando-a com força para longe dele.
Tropeçando para trás, ela avistou sangue logo abaixo do seu ombro esquerdo
e, em seguida, uma lâmina deslocando-se através de sua camisa.
Antes que ela pudesse puxar o ar em seus pulmões para gritar, algo golpeou
contra seu crânio por trás. Tudo ficou branco e depois preto.

***

Lachlan tossiu. O gosto e o cheiro de sangue e grama inundado suas narinas,


forçou-se a abrir os olhos. —Rowena—, murmurou, seu peito queimando.
O silêncio respondeu-lhe. Grunhindo de dor, enfiou as mãos debaixo de si e
levantou-se. Alguns centímetros na sua frente, algo azul pegou atraiu seu olhar,
e rastejou em direção a isso. Um sapato.
—Rowena!—Chamou novamente, desta vez mais alto. —Owen!
Agarrando o sapato, virou-se e sentou-se. Seu ombro latejava e a morna
umidade corria pelo seu peito e costas. Evidentemente, tinham errado o seu
coração, mas não por muito, os bastardos. O que tinham feito, porém, foi ainda
pior.
—Owen!—Desta vez, rugiu, e depois começou a tossir novamente.
O lacaio trotou e olhou em volta, em seguida, começou a correr. —Milorde
Gray! O que é...
—Alguém me apunhalou—, rosnou. —E Rowena se foi. Procure Ranulf.
Agora.
—Santa Brígida—, o servo respirou, seu rosto empalidecendo.
Apontando um dos outros homens para ficar para trás, Owen correu de
volta para o prado. Erguendo a mão direita, Lachlan agarrou o sapato com a
outra. —Ajude-me, Ben.
O criado o ajudou a ficar de pé. Todo seu sangue parecia ter ido, deixando-
o frio e com tonturas, mas Lachlan estremeceu. Entraria em colapso depois.
Agora, tinha trabalho a fazer. —Havia pelo menos dois homens—, murmurou,
avançando em seus próprios passos. Grama não deixava boas impressões, mas
rastreou seus animais boa parte da vida. Sabia onde Rowena estava parada, e
sabia que não se tinha abaixado na grama, enquanto estava falando com ela.
Tinha caído —ou foi empurrada.
Fúria negra bateu nele, seguido rapidamente por medo. Mas não iriam
matá-la, lembrou-se. Rowena MacLawry valia muito mais viva. A menos que
fosse unicamente o sangue MacLawry que quisessem. —Maldição, inferno,
danação—, resmungou.
Quem ousaria? Cambaleou, colocando uma mão no ombro. Esforçando-se
para se endireitar, olhou em volta, não com o olhar de um amante preocupado,
mas um caçador. Isso é o que ela precisava, agora. Que a encontrasse. Floresta
à sua esquerda, o lago, a uma curta distância atrás dele, os pedregulhos à
frente dele e o prado com os mil escoceses à sua direita. Começou nas
árvores, mantendo o seu olhar para baixo, à procura de um sinal.
—Lachlan!
O rosnado de Ranulf o deteve. Por mais que quisesse fazer isso por conta
própria e certificar-se de quem tinha desejado que não houvesse nascido, mas
estava ferido. E era um homem. Ranulf comandava um exército. Virou-se.
—Pare!—Ordenou, colocando a sua mão direita, só então percebendo o
sangue escorrendo pela palma de sua mão.
O Marquês e seus cães de caça, seus irmãos, seu tio Sassenach, e vinte
outros homens alinharam-se atrás deles que derraparam até parar. A maioria
estava armada —por mais pacífica que a reunião tenha sido, era claro que
Ranulf se preparou para o pior. E agora o pior tinha acontecido.
—Estávamos lá—, disse, apontando para o chão alguns passos na frente de
Glengask. —Fui atingido por trás, e tenho certeza de que vi alguém se
movendo quando caí.
—Pelo menos dois, então—, Ranulf disse, com a voz entrecortada e
precisa. —Debny, Peter, procurem por qualquer sinal. O resto de vocês,
espalhem-se pelas árvores. Mantenham-se à vista uns dos outros e gritem se
virem alguma coisa. Qualquer coisa.
Com um coro de —sim, Milorde—soando atrás dele, Ranulf seguiu em
frente. Evitou o chão onde os dois homens agora se agachavam, procurando,
mas não parou até que ficou a um pé de Lachlan.
—Por que não viu os homens chegando perto de você?—Perguntou, sua voz
abaixando ainda mais.
Lachlan endireitou-se da melhor maneira possível. —Porque eu estava
beijando Rowena, e estávamos ocupados, tentando descobrir como ficar
juntos.—Dissimulação agora só seria um desperdício de tempo, e isso era uma
coisa que não tinham. Além disso, nada que Ranulf dissesse, ou fizesse,
poderia importar para ele, tanto quanto encontrar Rowena. Sua Rowena, se
alguém queria que a tivesse, ou não.
Ranulf enrolou o punho e o esmurrou. Com o golpe na mandíbula, Lachlan
cambaleou, no seu equilíbrio já incerto, e caiu sobre um joelho. Piscando,
ficou de pé. —Pode muito bem me bater novamente—, rosnou, —porque não
vou afastar-me dela, enquanto estiver respirando.
—Não me tente—, Ranulf retornou.
Enviando a seu irmão uma carranca, Munro se colocou entre eles. —Não
pode ver que Lach foi esfaqueado? Acha que teria permitido isso se pudesse
ter evitado?
Ranulf caminhou em torno deles, seguindo para as árvores. —Poderia ter
evitado isso, se tivesse ficado longe dela. Você me deu sua palavra, Gray.
—Sabia o que estava acontecendo—, Lachlan atirou de volta. —Poderia ter
evitado isso, se tivesse parado de bater na lã do Buchanan e a tivesse escutado
por um maldito minuto. Ouvido qualquer um de nós.
As costas de Glengask endureceram, mas continuou andando. Agora que
Lachlan tinha dito o que precisava dizer, a preocupação dissipou sua raiva
para a substituir. Ficando tonto, Lachlan cedeu. Bear colocou a mão sob o
braço bom. —Precisa de um médico—, disse, caminhando de volta em
direção ao prado.
Se fosse apenas dor, ter-se-ia recusado a ir. Mas precisava de seus pés
debaixo dele, se pretendesse ser útil aqui. —Pode rastreá-la, Bear—, disse.
—Vá procurar Rowena. Ben pode me ajudar a me remendar.
O criado assentiu, e Bear entregou Lachlan. —Isso é minha culpa, acho—, o
irmão de Rowena disse sombriamente, tocando o sapato de Rowena, que
Lachlan ainda apertava. —Eu poderia ter dito alguma coisa para Ran, e não o
fiz.
—Apenas vá. Vamos discutir de quem é a culpa quando ela estiver segura.
—Sim.—Bear afastou-se.
Qualquer um deles poderia ter dito algo, feito algo, para mudar o curso dos
acontecimentos, mas Lachlan estava bastante certo de que ainda teria ido para
à beira das árvores e beijado Rowena. Mas quem mais sabia disso? Quem a
tinha levado, e por que tinham escolhido este momento?
Inclinando-se mais pesadamente em Ben do que gostaria de reconhecer, fez
o seu caminho de volta para o meio da reunião. Com todos tão perto, pareciam
já saber que Rowena tinha desaparecido. Antes que quatrocentos homens
pudessem ir vagar por entre as árvores, subiu em um toco de árvore.
—Rapazes, vamos deixar Glengask e seus rastreadores ver se podem
encontrar uma trilha—, disse tão alto quanto pode. —O melhor que qualquer
um pode fazer agora é olhar perto de vocês. Alguém está faltando? Ouviram
alguma coisa estranha que faz algum sentido agora?—Olhou em volta da
multidão —não por um rosto amigável, necessariamente, mas por um em quem
pudesse confiar. A maioria dos aliados e amigos mais próximos de Ranulf já
estavam na floresta. E não sabia se ainda se qualificava como um desses, ou
não.
—Se avistarem alguma coisa—, continuou, —mesmo se acharem que pode
não ser importante, falem com Lady Charlotte ou Lady Mary MacLawry.
Com o rosto sério e claramente preocupado, as duas damas assentiram.
—Vamos estar na tenda Campbell—, Mary disse com a voz oprimida. —Não
demorem; se souberem de alguma coisa, por favor, nos digam.
Feito isso, Lachlan finalmente permitiu que a escuridão na borda de sua
visão o fizesse cair novamente e o envolvesse na escuridão. Alguém estava
procurando por ela. E a encontraria —ele iria encontrá-la —porque a
alternativa era simplesmente impensável.
***
Rowena não conseguia recuperar o fôlego. Não conseguia sentir suas mãos,
também. Quando se forçou a abrir os olhos, tudo o que conseguia ver foi um
brilho acastanhado filtrado perto demais para se focalizar. E estava saltando
loucamente, a cabeça doendo com cada pancada.
Aos poucos, descobriu que estava de bruços na sela de alguém, os braços
amarrados para atrás, um saco na cabeça, e um pano amarrado em sua boca. E
então tudo voltou —Lachlan tentando afastá-la, a lâmina saindo de seu peito...
Deixou escapar um soluço. Não. Não o peito. Tinha sido seu ombro.
Fechando os olhos, obrigou-se a pensar logicamente antes que dor e o
sofrimento pudessem oprimi-la. Tinha crescido com quatro homens em sua
vida. Tinham-lhe ensinado a atirar, e como usar uma espada. Embora tivessem
tentado torná-la uma brincadeira, tinham-lhe ensinado como se defender
—embora não contra covardes que atacavam por trás. Mas sabia onde
encontrar o coração de um homem, e ela sabia —ela sabia —a lâmina estava
muito elevada.
Portanto, Lachlan ainda estava vivo. Seria um absurdo considerar qualquer
outra coisa. E porque ainda estava vivo, seria capaz de dizer a seus irmãos o
que tinha acontecido. Todos eles —todos os MacLawrys —poderiam estar
seguindo-os agora. Rowena se mexeu um pouco, tentando aliviar a pressão da
sela contra seus pulmões.
—Ela está acordada—, uma voz grave disse perto dela.
—A agrida novamente. Não sabemos quanto nos afastamos. Mas não tão
forte desta vez. Quase a matou, antes.
Ela sufocou o desejo de se mexer. Mesmo se Lachlan... Mesmo que
estivesse inconsciente, forçou sua mente a alterar, ficando bem longe de
qualquer outra possibilidade, Owen e seus homens tinham estado por perto.
Ranulf saberia que tinha sido levada. Bear e Arran saberiam. Lachlan sabia.
Tudo o que precisava fazer seria derrubar seus captores e dar-lhe tempo para
que o clã os pegasse.
Ela esperneou. Seus pés estavam atados, percebeu tardiamente, de modo
que arqueou o melhor que pôde e depois apertou os joelhos. Forte. O cavalo
debaixo dela desviou. Torcendo para o seu lado, enquanto alguém
amaldiçoava e agarrava-lhe o ombro, Rowena chutou novamente. Deslizando e
sentindo-se maldisposta, caiu de cabeça. Ondulando tão firmemente quanto
podia, caiu com força em um ombro. Graças a Deus que seus irmãos também
lhe tinham ensinado como cair.
Saltando e rolando, finalmente parou. E então ela se obrigou a ficar quieta e
mole. O cheiro de urze misturado com o cheiro de cebola do saco; estavam em
um prado de algum tipo, diria. E era dia ainda, ou não estaria vendo luz
através do saco. O que mais sabia?
A partir da discussão anterior sobre a parceria, havia pelo menos dois
homens, ambos com cavalos. Prestando atenção nos cascos que pararam além
dela, e então passos se aproximaram. Dois? Ou três pares? Com a cabeça
ainda latejando e suas orelhas zumbindo, não tinha certeza.
—Ela está morta?
—É melhor que não esteja morta, ou seremos enforcados com certeza. Por
que não a amarrou?
—Porque ela estava fria—, a voz mais profundo e lenta respondeu. —Se
estiver morta, não vou embolsar seu dote.
Seu dote? Quem quer que este homem fosse, pensava em se casar com ela?
E esfaquear homens e raptar mulheres não o perturbava nem um pouco,
evidentemente. Ocorreu-lhe que provavelmente deveria estar com medo —uma
jovem arrastada por pelo menos dois estranhos para Deus sabe onde —mas
não estava. Estava brava. Não, não tinha gostado do que Ranulf a estava
forçando a fazer, e sim, estava pesando as consequências de fugir do país para
estar com Lachlan. Mas tinham ferido o homem que amava, e a tinham
arrastado para longe de sua família. Isso não ficaria assim.
Lachlan a tinha chamado de sua moça feroz. Enquanto não se sentia
terrivelmente feroz, sendo empurrada para um casamento que não queria e não
fazendo nada mais do que beicinho sobre isso, neste momento, e até que
parasse esses homens, estava furiosa. Ninguém levava um MacLawry e fugia
com disso. Ninguém.
Um pé empurrou-a, machucando seus pulsos. O saco saiu de sua cabeça,
mas manteve os olhos fechados. Mesmo quando sua cabeça saltou
dolorosamente de volta para o chão, não vacilou. Sentiu alguém ajoelhando-se
pesadamente na borda de seu vestido. E ainda o mantinha.
—Ela não está se movendo—, disse a voz lenta.
—Bem, cutuque-a com alguma coisa. Veja se está respirando.
O pano amarrado em sua boca foi puxado para baixo do seu pescoço.
Respiração tocou seu rosto quando inclinou-se sobre ela. Cheirava a cerveja e
haggis. Alguém do grupo? Bem, iria fazer com que ele não pudesse voltar para
lá. Não sem ser reconhecido. Abrindo os olhos, no mesmo instante empurrou-
se com as mãos e dobrou os joelhos, ficando em uma posição sentada. O lado
do rosto dele diretamente na frente dela, esticou-se e mordeu o mais forte que
podia.
Com um uivo, tropeçou em seu traseiro, segurando sua bochecha esquerda
enquanto o sangue jorrava entre seus dedos. Rowena cuspiu o maldito gosto de
sangue de sua boca. —Sei quem é você—, rosnou, balançando no gigante
ruivo novamente. —Dermid Gerdens. Eu lhe conheço.—Voltou sua atenção
para o homem franzino segurando os cavalos. —E sei quem você é, Arnold
Haws. Você é um maldito Campbell, e vou vê-lo pendurado por isso!
Apareceu um terceiro par de botas com um ligeiro coxear. Quando olhou
para cima, pela primeira vez, um fio de medo se emaranhou com sua raiva. Ah
não.
—E você me conhece, não é, Winnie MacLawry?—Ele disse, olhando-a
com seus olhos negros, seu sotaque desapareceu de uma vida passada na maior
parte longe das Highlands. Não longe o suficiente para seu gosto, no entanto.
—Sim, sei quem é você—, retornou, trabalhando para manter a voz firme.
Puxou os pulsos, mas os nós não se moveram. —Você é Charles Calder. Atirou
no meu irmão Arran.[21]
—Sim.—Assentiu com a cabeça, seus olhos negros e seu cabelo preto
penteado para trás davam-lhe a aparência de... mal. E não tinha ouvido nada
sobre ele contestar essa descrição.
—Não foi convidado para o encontro. E não tem direito de estar nas terras
dos MacLawrys.
Ele sorriu. —Bem, parece que agora tenho gosto para derramar sangue
MacLawry.—Calder investiu contra ela, agarrando-a pela parte de trás do
pescoço antes que pudesse torcer o suficiente para encontrá-lo com os dentes.
Colocou a mordaça de volta no lugar, em seguida, apertou-o de modo que só
conseguisse respirar pelo nariz. —Pare de reclamar e me dê o saco, Dermid.
—Ela me mordeu.
—Vai-se curar.
—Ela disse que vai nos ver pendurados—, o grande homem declarou em
sua voz lerda. —Mas não pode, se estiver morta.
—Dermid, não sabe nada sobre a lei?—Calder voltou, empurrando o saco
com cheiro de cebola sobre sua cabeça. —Uma mulher não pode testemunhar
contra o marido. Nem mesmo se quiser. E desde que apunhalei Gray no
coração, ela é nossa única testemunha.
Rowena se estremeceu. No ombro. A lâmina tinha errado seu coração.
Silenciosamente repetiu para si mesma, várias vezes, desejando que fosse
verdade. Lachlan estava vivo. E ele viria por ela.
—Isso é verdade, Arnold?—O homem grande perguntou. —Não pode dizer
nada contra nós?
—Acho que sim.
Uma grande mão agarrou-a pela frente do vestido e colocou-a em pé sem
nenhum esforço perceptível. —Não pode dizer uma palavra contra nós, Lady
Winnie. Porque estaremos casados.
Ele deu-lhe um tapa. O golpe a surpreendeu, principalmente porque não
podia vê-lo chegando, o covarde. Cambaleou e teria caído, mas ele ainda a
segurou pela gola de seu vestido. E então riu e jogou-a de volta sobre a sela.
Foi provavelmente uma coisa boa que a tivessem amordaçado novamente.
Caso contrário, poderiam ter feito mais do que lhe bater. Poderiam dizer o que
quisessem, e lhe bater se quisessem. Rowena pretendia se lembrar de todas as
coisas. Testemunharia contra eles, porque se casaria com Lachlan MacTier
—não Dermid Gerdens. Apenas Lachlan a tocaria, não importava quem queria
um moinho, ou navios, ou comércio, ou qualquer outra coisa. Pretendia
sobreviver a isso, e quando o fizesse, seria melhor ninguém entrar em seu
caminho.
Desta vez, a amarraram à sela. Ao invés de desperdiçar sua força lutando
para se mover ficou imóvel —tão imóvel quanto podia com o cavalo forçando
sua respiração cada passo —e prestou atenção. Antes de cobrirem seus olhos
novamente, olhou para o céu e já estava anoitecendo, o que significava que a
arrastaram para fora antes que tivesse recuperado o juízo suficiente para saber
o que estava acontecendo. A partir da direção do sol, estavam indo
aproximadamente do sul para o leste —na direção das partes mais selvagens
das Highlands.
Lachlan a tinha ensinado a conhecer e perceber essas coisas. Lachlan e seus
irmãos. E lhe tinha ensinado também outras coisas que foram muito mais
prazerosas. Disse-lhe que no fundo era uma moça Highlander, com um coração
Highlander, e neste momento era exatamente quem ela era. Não era uma
debutante culta e sofisticada ou amante de teatro. Era uma MacLawry do clã
MacLawry, e alguém estava tentando arrastá-la para longe de sua família e de
seu amor.
Não teriam sucesso, não importava quem fossem. Tinha um casamento para
ir em dois dias. E tinha que pedir desculpas a um homem, porque quase tinha
desistido dos dois. E não faria isso novamente.
Capítulo Quinze
Bebendo outro gole de uísque, Lachlan caminhou em direção à tenda
Campbell. Três homens Mactier seguiam atrás dele; contudo, tinha certeza que
Rowena tinha sido o único objetivo de quem a levou, e não estava disposto a
permitir que outra pessoa terminasse o trabalho que tinham começado. Não até
que Rowena estivesse de volta a Glengask e em segurança, novamente.
—Descobriram alguma coisa, moças?—Perguntou em voz baixa, parando
na frente de Charlotte e Mary.
—Todos suspeitam uns dos outros—, disse Charlotte, sua boca comprimida.
Para alguém que só recentemente se tinha tornado familiarizada com a política
do clã, as suspeitas profundas e rancores antigos eram provavelmente cruéis e
exasperadores.
Mary assentiu. —Mesmo os aliados estão acusando-se mutuamente. Os
Camerons acham que os Mackles podem estar querendo mais poder com um
casamento com a irmã do MacLawry, e os Stewarts estão com raiva porque
Arran casou comigo em vez de Deirdre Stewart.—Ela fez uma careta. —Ouvi
o suficiente disso.
—Sinto muito por lançar tudo isso em vocês, moças—, disse, não surpreso
ao ouvir isso —ou não havia verdadeiros suspeitos para serem descobertos.
Clã era clã, não importava o que um primo ou primo de primo poderia ter
feito.
—Não se desculpe, pelo amor de Deus, Lachlan—, Charlotte disse,
pegando sua mão. —Se eu conhecesse este território melhor, estaria lá fora,
procurando por ela.
—Ranulf não gostaria disso, minha senhora.—Ele tinha sua própria
desavença com Glengask, mas o objetivo principal do Marquês tinha sido
sempre manter sua família segura. Não podia esquecer, não importava quão
zangado e furioso estivesse. —Não ouvi nada de nenhum dos rapazes. E
vocês?
—Não. Nenhuma palavra. Só tochas nas árvores.
Ainda estavam à procura de pistas, então. Isso não augurava nada de bom.
Inclinou a cabeça. —Então, se me desculparem, há algo que preciso ver.
Charlotte segurou sua mão firmemente. —O que houver entre você e
Winnie, você...
—Eu a amo, Charlotte. Isso é o que há entre nós. Então, não me diga que
preciso sentar-me, ou descansar e deixar Ranulf encontrá-la.—Olhou além
dela para ver Lorde Robert Cranach sentado com seu primo, ambos jantando;
carne de veado; o prato principal. —E mantenha esse amadan[22],
—murmurou, apontando o dedo na direção de Rob, —bem longe de mim e dos
meus.
Ela soltou sua mão. —Vá encontrá-la, Lachlan.
Afastando-se, ele assentiu. —Pretendo-o.
Um dos cavalariços trouxe Beowulf até à borda do prado, e rigidamente
balançou-se para montar. O movimento puxou os recentes pontos em seu
ombro, e estremeceu. Uma vez que chegou à floresta, não sabia para que lado
ir, e isso incomodava-o mais do que uma facada. Se tivesse alguma ideia de
quem a tinha levado teria uma pista por onde começar a procurar, mas
intensamente tentou tudo o que podia para lembrar e foi um par de botas. E
calças. Sem kilt. Isso significava que não havia cores de clã.
Os homens que a tinham agarrado poderiam até não ter estado no encontro.
Poderia ser qualquer um, ainda que aparecessem depois do momento do
ataque, estaria propenso a apostar que eram escoceses.
—Gray.
Puxou Beowulf pela última das tendas. O homem que saiu parcialmente das
sombras surpreendeu-o até os ossos. Cabelo curto grisalho, a coluna reta, e
penetrantes olhos cinzentos. Era um daqueles homens das Highlands que nunca
poderiam ser confundidos com ninguém, além de si mesmo —o Campbell.
—Vossa Graça.
O Duque de Alkirk inclinou a cabeça. —Não contaria para duas moças,
nem mesmo a minha neta, sobre assuntos do clã—, disse, em voz baixa. Pela
primeira vez, a meia dúzia de homens que geralmente o acompanhavam,
estavam longe de ser vistos.
—Não sou uma moça.
—É um chefe MacLawry, no entanto. Não se sente bem comigo. Um clã
resolve seu próprio negócio.
—Estou procurando Rowena MacLawry—, Lachlan respondeu. —Não me
importo se foi o próprio diabo quem a levou. Ela é minha, e vou tê-la de volta
ao meu lado.
—Assim, é que eu gosto—, Alkirk comentou. —Isso significa que o
MacLawry não fará aliança com os Buchanan.
—Então o que pode fazer para me ajudar com isso?—Inesperado ou não,
não estava prestes a recusar qualquer ajuda que pudesse apontar para Rowena.
—Mandei Berling para o Canadá—, o Duque disse após um momento.
—Depois daquela confusão em Londres, não queria que causasse mais
problemas.
—Então não foi Berling.—Olhou para as árvores e as tochas amplamente
dispersas. —Obrigado, então.
—Eu trouxe o irmão para Alkirk. O rapaz não está apto para se sustentar,
mas pensei em... ajudá-lo para ficar longe de problemas. Se um homem nasce
um tolo, então você espera que seja um tolo.
—Vossa Graça, não tenho tempo para contos da família sobre pessoas que
não posso cuidar.
—Eu o trouxe aqui, como um dos rapazes para me vigilar e aos meus. Não
o vi desde o almoço.
Medo se estabeleceu no intestino de Lachlan. Não conhecia Dermid
Gerdens —não se moveu para se familiarizar com todos os homens do clã
Campbell. Mas tinha ouvido algumas coisas. Estavam preocupados por
Dermid arriscar seus músculos para o rato que foi seu irmão, e gostava de
brigar ainda mais do que Bear fazia. Isso não soava como um homem que
poderia arranjar um rapto no meio de uma reunião de clã e, dois dias antes do
casamento do MacLawry. —Está faltando alguém?—Perguntou, controlando
Beowulf quando tentou contornar a baía.
—Soou um pouco acusatório, rapaz—, o Duque retornou friamente. —Não
estou habituado que duvidem de mim. Disse o que sei. Não tenho
envolvimento nisso. Tanto quanto estou preocupado, faça o que quiser com
Gerdens. Já tive minha cota dessa maldita parte do clã.
—Se é assim, então acho que você ficaria feliz em me dizer onde
provavelmente Dermid foi, se soubesse que um bando de irritados MacLawrys
estão em seus calcanhares—, Lachlan pressionou.
O Campbell enviou-lhe um olhar especulativo. —Não tenho o hábito de
mapear e fugir para buracos, rapaz.
—Não seria Sholbray, acho—, Lachlan continuou, revendo mentalmente o
mapa do território. Sholbray seria o imóvel mais próximo do Conde de
Berling, mas apenas a duas horas de Glengask, do sul ao longo do rio Dee.
Provavelmente seria um risco óbvio demais para um homem lerdo fugir com
uma mulher que não era dele.
—Berling tem outra propriedade, metade de um dia a noroeste de Fort
William—, Alkirk disse, após um momento. —Denune Castle. É pouco mais
do que uma ruína velha e um lago, mas não há muito ao redor. Exceto pela
igreja paroquial e um punhado de cabanas e chalés.
Lachlan balançou a cabeça, seu coração arrancando novamente. Glengask
ficava a dois dias a partir de Fort William, e havia um grande espaço de nada
no meio. Rowena estaria por conta própria, com pelo menos um bruto que já a
havia golpeado. Queria ir. Agora. Mas quanto mais informações tivesse, mais
bem sucedido provavelmente seria. —Tenho a sensação de Dermid não faria
isto por conta própria. Qual a sua opinião sobre isso?
—Faz muitas perguntas, rapaz. Podemos não estar lutando, mas não sou seu
aliado.
—Isto não é sobre mim, Alkirk. E se souber de alguma coisa que possa
ajudar—me a encontrar Rowena MacLawry, as chances de você e o
MacLawry se tornarem aliados seriam um pouco melhores.
—E se não puder ajudá-lo, estaremos todos na mira da espada novamente,
eu presumo?—O Duque soltou a respiração. —Não, não acho que Dermid
conseguiu isso por conta própria. Ele pode-lhe esfaquear ou lhe bater, mas
Glengask o teria rastreado agora. Quanto a quem está com ele, não tenho...
nenhuma ideia. Deixei metade dos meus sobrinhos e netos bem longe daqui,
para evitar qualquer problema.
Lachlan assentiu. —Obrigado, Vossa Graça.
O Duque sumiu na escuridão da tenda, e Lachlan dirigiu-se à encosta em
direção às árvores. Tochas e lanternas alinhavam-se por uma milha ao norte e
ao sul de onde ele e Rowena tinham sido atacados. O fato de que alguns dos
melhores rastreadores das Highlands ainda não terem encontrado qualquer
sinal de onde Rowena e seu agressor tinham ido, significava que sua suspeita
estava provavelmente correta. Dermid Gerdens não tinha feito isso por conta
própria.
—Onde está Glengask?—Ele latiu, atingindo a clareira. Fazia horas.
Rowena poderia estar a milhas de distância agora. Poderia estar ferida.
Danação.
—Eu estou aqui.—Ranulf aproximou-se da fogueira. —Está remendado?
—Sim. Bem o suficiente.—Lachlan não sabia por que se tinha dado ao
trabalho de perguntar; seriam aliados até que Rowena estivesse segura. —O
Campbell me achou—, disse bruscamente. —Disse que Dermid Gerdens
desapareceu.
A fisionomia tensa do Marquês empalideceu um pouco. —Dermid Gerdens.
Sabia que aquele idiota seria um problema. Mas achei que seu irmão o levava
pelo nariz. Diabos.
—Alguém ainda deve estar liderando-o, o que você acha?—Lachlan
prosseguiu. —Não que eu espere que me dê o nome de todos os seus inimigos.
Não temos tanto tempo.
—Eu não fiz isso, Gray. Owen disse que ela enviou seus homens para longe
para que pudesse conversar com você. Isso está em sua cabeça. E eu juro, se...
—Pare com isso, Glengask. Se ela estiver machucada, vou matar cada
homem que tenha uma mão nisso. Se...—Ele engoliu em seco, sua mente se
recusando a percorrer esse caminho. —Alkirk sugeriu que podem ter ido em
direção a Denune Castle, metade de um dia a noroeste de Fort William. É uma
das posses de Berling.
—Berling—, Ranulf grunhiu. —Vou matá-lo desta vez.
—O Campbell exilou-o no Canadá. Se quiser vê-lo morto, terá que viajar.
—Apanhou as rédeas. —Vou para Denune Castle.
O Marquês deu um passo mais perto, estendendo a mão como se quisesse
prender as rédeas da montada. Lachlan moveuse para fora do caminho. —Não
está em condições de cavalgar para qualquer lugar, Lachlan.—Glengask fez
uma careta.
—De maneira nenhuma vou ficar sentado procurando uma trilha quando
tenho uma ideia de onde possa estar sendo levada.—Bateu no rifle preso ao
lado de sua sela. —Tenho o que preciso. E só para você saber, seu futuro
cunhado está jantando em uma das tendas, carne de veado. É isso que você
está lhe dando.—Com isso, chutou Beowulf nas costelas, e partiram a galope
rumo ao sul.
Dermid e quem mais andava com ele, teriam que saber que os MacLawrys
não estariam muito atrás deles. Estariam, portanto, sem pressa. Cortou através
do vale para além do lago, dirigindo-se para a estrada aberta mais próxima,
indo na direção correta. Foi a primeira vez que se sentiu grato a esse maldito
General irlandês George Wade. A obsessão do homem com a construção de
estradas nas Highlands poderia ter permitido ao inglês ultrapassagem pela
Escócia, mas hoje apenas importava que a estrada que Wade fez para o Sul,
era o caminho fácil através das montanhas.
Seu ombro doía, mas com todos os sons dos passos batendo, apenas o
lembravam que Rowena poderia estar em perigo. Provavelmente teria sido
mais sensato diminuir seu ritmo no escuro, mas conhecia esta parte das
Highlands, assim como conhecia seus próprios campos. Teria que ser mais
cauteloso depois, mas no momento preferia velocidade.
—Lachlan!
O alto rugido ecoou pelas colinas em torno dele. Com uma maldição,
abrandou, mas não parou. Um momento depois, cascos chegaram perto, e rolou
seu ombro bom quando se virou. —Eu não vou voltar.
—Não esperaria isso de você—, Bear retornou. —Tem certeza que foi
Dermid, e que está indo para Denune?
—Não tenho uma ideia melhor, e todos passaram três horas à procura de
pistas e não encontraram uma maldita coisa.
—Então, pode dizer que todos caímos sobre nossos traseiros hoje, suponho.
Estou aqui porque é minha irmãzinha, Lach. É a melhor de nós, e não vou
sentar-me e deixar meu peito latejar, enquanto ela está lá fora. E trouxe-os
—apontou o queixo em direção aos três cavalariços com ele —porque acho
que melhora as chances de pelo menos um de nós ficar com ela.
Lachlan assentiu. —Como você diz. Vamos lá, então.
***
—Está feito—, disse Arran, andando no escritório de Ranulf. —Não há
cabanas de aldeões ou esconderijos em uma centena de milhas que não tenha
um homem MacLawry no caminho, indagando.
Ranulf assentiu. —Feche a porta.
Seu irmão obedeceu, mas ficou perto, como se estivesse pronto para atacar
se qualquer notícia chegasse. Ambos estavam; toda a família estava. Tudo
estava parado. As tendas abaixo no prado estavam quase silenciosas, a dúzia
de fogueiras da noite anterior reduzida a duas. Não havia gaitas de foles
soando noite adentro, ninguém cantava, ninguém sequer parecia estar falando.
Pegou seu livro de contabilidade e abriu-o, em seguida, fechou—o
novamente. Com um grunhido, atirou—o contra a parede oposta. —Por que
diabos estou parado aqui?—Perguntou, esperando que Arran lhe pudesse dar
uma resposta. —Por que não estou lá com Munro e Lachlan?
—Porque você é o MacLawry—, Arran respondeu. —Porque se acaso
acontecer algo de errado, seu clã volta-se para você.
—Minha irmã espera que eu a encontre. Para ajudá-la.—Sua voz ficou
presa nas palavras.
—Com toda a honestidade, Ran—, seu irmão disse, seu tom cauteloso e
muito preocupado, —isso é sua culpa falando. Porque tenho certeza que
Winnie está à espera de Lachlan.
—Não importa—, o Marquês disse com desdém. —Não, desde que seja
encontrada.
A única vez em que se deixou distrair —foi por Charlotte, por um
casamento que agora não teria lugar, até que Rowena estivesse segura e em
casa novamente, arranjando emprego para mais de seus aldeões e se
arriscando a ver Rowena feliz e segura e sem mais dor de cabeça —a tinha
perdido. A moça não parecia apenas sua irmã, e sim a calorosa luz de
Glengask, quase como uma filha. Tinha sido unicamente a sua
responsabilidade desde que completou cinco anos e sua mãe tinha ingerido
veneno, ele com apenas dezoito anos. A idade que ela tinha agora.
—Eles vão encontrá-la—, Arran estava dizendo, embora soasse como se
estivesse tentando convencer a si mesmo. —Não há nenhum lugar nas
Highlands onde qualquer homem poderia se esconder de você.—Seu sorriso
sombrio tinha mais raiva do que diversão. —Considerei essa mesma coisa há
algumas semanas, e cheguei à conclusão de que o único lugar que Mary e eu
nos poderíamos esconder de você, seria em uma floresta americana em algum
lugar.
Isso agarrou sua atenção —e melhor ainda, puxou seus pensamentos para
longe das palavras de despedida de Lachlan. —Sei que não estávamos... Eu
estava muito furioso com você, Arran, mas realmente achou que iria prejudicá-
lo? Porque não o faria. Não poderia.
—Agora não é o momento para debater isso, Ran. Basta dizer que você e
todos os Campbells estavam atrás de nós, e eu não queria ser separado de
Mary. Por ninguém.
Lentamente Ranulf assentiu. Sabia que era extremamente seguro de si
mesmo; um homem não poderia ser fraco e ainda cuidar do bem-estar de três
mil homens, mulheres e crianças. Mas tinha cometido um erro com Arran, e
isso quase lhe tinha custado um irmão. —Encontrou Lorde Rob?—Obrigou-se
perguntar.
—Sim. Comendo uma boa carne de veado na tenda dos Buchanan. Abstive-
me de rachar-lhe o queixo, mas passou perto.—Arran olhou-o. —Reconheço
que um homem tem que comer. Mas não temos tido tempo para isso, e nem
Munro.
Ou Lachlan. Arran não disse isso, mas ficou pendente no ar entre eles, de
qualquer maneira. O Visconde tinha sido esfaqueado de trás para a frente, e
poucas horas depois, estava cavalgando através de algumas das partes mais
selvagens da Escócia por um palpite. No escuro. —Rob conhece Rowena por
somente alguns dias—, disse em voz alta.
—E ela é dinheiro e terras e uma propriedade para ele. Não é algo
precioso. Não é algo que não pode ser substituído.
Ranulf bateu com o punho na mesa, e Arran saltou. —Ele a ignorou por
malditos dezoito anos!—É claro que ambos sabiam quem seria —ele—.
—Tudo o que ela fez foi segui-lo, até que finalmente percebeu que não era o
único homem no mundo.
—Se eu disser alguma coisa, vai-me estrangular?—Perguntou Arran.
—Posso sentir vontade de fazer exatamente isso, mas não. Sabe que
valorizo a sua opinião. Mesmo quando está errado.
—Bem, obrigado por isso.—Arran recusou-se a sentar-se, mas cruzou os
braços sobre o peito. —Não fez segredo do fato de que favorecia uma aliança
entre eles.
—Não permitiria que ela ficasse tanto com ele se não quisesse.
—E isso todos os dias a partir do seu oitavo aniversário; Lachlan conhecia
seu futuro. E ela era uma criança pequena, pegajosa.
—Ele não a olha assim agora.
—Porque tomou o jugo de seus ombros, imagino. Parou de tentar forçá-los
a ficar juntos.
Ranulf estreitou os olhos. —Então, na sua opinião, tudo isso é minha culpa?
—Perguntou secamente.
—Eu não o acusaria de tal coisa.—Arran fez uma careta. —Tudo o que
estou sugerindo é que olhe quem lhe desafiou para ir atrás dela, e quem não se
incomodou em ser voluntário.—Abaixou as mãos novamente. —E agora, vou
dar um passeio no lago, apenas no caso de termos perdido alguma coisa.
Ranulf fez sinal para ele. —Vá. Mas leve Fergus com você. Rowena pode
não ser o fim de tudo isso, e Charles Calder já colocou uma bala através de
você uma vez.—Fez uma pausa, frio forçando caminho em seu peito.
Em frente a ele, Arran abruptamente praguejou. —Você não sabe...
—Vá a cavalo—, Ranulf ordenou, caminhando para a porta. —Vou ter uma
palavra com o Campbell.
Arran abriu a porta e lançou-se atrás dele. —Não. Vou com você. Não vou
respirar novamente até ouvir que Calder está no Canadá com seu maldito
primo.
Descendo as escadas de dois em dois degraus, amaldiçoando-se a cada
passo, Ranulf saiu pela porta da frente. Tinha oferecido ao Campbell um
sofisticado quarto de dormir, mas evidentemente Alkirk não se sentia
confortável o suficiente para descansar a cabeça debaixo de um teto
MacLawry. E isso significava, que agora não estaria apenas falando com um
homem; estaria fazendo algumas perguntas difíceis sobre um assunto difícil na
frente de todos os Campbells que tinham vindo para o casamento.
O casamento. Danação, deveria se casar depois de amanhã. —Onde está
Lady Charlotte?—Latiu para Cooper quando chegaram ao hall.
—Estou aqui—, sua voz doce chamou de volta da sala matutina, antes que o
mordomo pudesse responder.
Mudando de direção, entrou na pitoresca sala confortável. Não se sentia tão
confortável no momento, apesar de tudo. Charlotte, sua irmã, seus pais, e a
esposa de Arran; Mary; estavam sentados amontoados perto da porta, enquanto
seu próprio tio Sassenach, Myles Wylkie, estava parado como uma estátua,
com o olhar fixo para fora da janela.
Charlotte levantou-se quando entrou, andando até ele com as mãos
estendidas. Parou-a no comprimento do braço, no entanto, não querendo o seu
abraço. Com ela em seus braços, não poderia estar tão irritado, tão mordaz,
pronto para atacar, como precisava estar agora.
—Enviamos homens para cada edifício ao longo de cem milhas—, disse,
para a sala em geral. —Lachlan dirigiu-se para Fort William com Bear, para
uma velha propriedade de Lord Berling.
Charlotte engasgou. —Berling?
—Pode ser que seu irmão tenha levado Rowena.
Myles finalmente virou-se. —Então envie todos—, o Visconde disse, com a
voz trêmula e as mãos apertadas. —Comanda um maldito exército, Ranulf.
Envie todos. Recupere-a.
Ranulf sacudiu a cabeça. —Se nossas suspeitas estiverem erradas, já
desperdiçamos dois dias lá. Bear levou Peter Gilling com ele e outros dois.
Não estão sozinhos lá fora.
Jane fez um som quebrado, soluçando. —Winnie está sozinha—, sussurrou,
e deixou cair a cabeça em suas mãos.
Ele não queria pensar nisso agora. Não podia. Tudo o que tinha, tudo o fez,
foi procurar uma maneira de resgatar sua irmã. O resto pôs de lado para mais
tarde. —Preciso falar com você, Charlotte.
—É claro.
Ela o seguiu para o canto mais distante da sala. —Sinto muito, leannan,
—murmurou. —Isso não foi nada do que eu...—Parou.
Charlotte colocou a mão na manga antes que pudesse dizer qualquer outra
coisa. —Encontre Winnie—, disse calmamente. —Todo o resto pode esperar.
—Estendeu a sua mão livre e segurou sua bochecha. —Não vou a lugar
nenhum.
—Não estou acostumado a ouvir como uma moça pode reagir a ter seu
casamento adiado—, retornou, lutando contra o desejo de simplesmente estar
com ela e deixar o resto do mundo desaparecer, —embora imagine que é
geralmente cheio de gritos. Mas não é qualquer moça comum, não é?
Ela balançou a cabeça. —Não, não sou.
—Eu lhe amo, Charlotte, no caso de não dizer isso com frequência
suficiente.
—E eu lhe amo, Ranulf. Faça o que precisa fazer.
A beijou vigorosamente e sem se importar que seus pais estivessem
assistindo. Em seguida, assentiu. —É melhor não ir a qualquer lugar. Porque
quero me casar com você.
***

—Não vou fazer nada enquanto este saco estiver na minha cabeça—,
Rowena afirmou, tentando não cambalear como se alfinetes e agulhas
estivessem espetando-a de cima a baixo em suas pernas, agora que o sangue e
sensibilidade tinham voltado a eles. —Não sei se posso confiar em qualquer
um de vocês e se vão manter sua palavra.
—Coloque-a de volta no cavalo, então—, disse a voz de Calder, monótona
e irritada.
—Não a quero mijando em mim—, a mais aguda das vozes, Arnold Haws,
que reconhecia, queixou-se.
Ela trabalhou sua mandíbula novamente, baixando a mordaça pelo seu
queixo um pouco mais. —Eu vou, também—, assegurou-lhes. —Tire o saco da
minha cabeça e desamarre as minhas mãos. Onde você acha que eu vou?
O saco foi puxado de sua cabeça, e piscou, sugando o ar frio e úmido da
noite das Highlands. Felizmente, estava uma noite clara, com uma lua de três
quartos e no fundo apenas os picos afiados para o oeste. A brisa fria estava
gelada, mas já estava fria antes. Tinha-se perdido antes, embora não desde que
tinha dez anos de idade. Ranulf tinha estado frenético, se lembrava, e recusou-
se a deixá-la sair de casa por três dias depois disso.
Um cara grande com um rosto manchado de sangue apareceu na sua frente.
—Vou desamarrá-la, e não vamos olhá-la enquanto urina, e vai-se comportar.
Rowena voltou a olhar fixamente. Não tinha nenhum escrúpulo em dar sua
palavra e depois quebrá-la. Não para estes homens. Não tinham honra, e não
seria retida pela sua própria. —Vou-me comportar—, concordou.
Depois de um minuto hesitante e cada vez mais doloroso, a corda sobre os
pulsos afrouxou. Segurou um suspiro quando a sensação inundou de volta em
seus dedos. Em seguida, deu um clarão em cada um deles. —Voltem-se de
costas para mim—, ordenou. —Façam um triângulo ou algo assim, que eu não
consiga passar sem me verem.
Um a um eles cumpriram, Calder, claro, virou as costas por último.
Estavam em um prado devastado, coberto aqui e ali com urze e cardo e
campainhas azuis. Provavelmente seria encantador à luz do dia, mas estava
mais interessada nas pedras ásperas que se intrometiam entre as flores.
Agachando-se, aliviou-se, ao mesmo tempo tentando pegar alguma coisa,
qualquer coisa, que pudesse usar como uma arma. Seus dedos tocaram uma
pedra meio enterrada, mas quando tirou, era pequena demais até mesmo para
fazer um estrago.
—Ainda não terminou?—Dermid perguntou, virando-se.
—Quase não sinto as minhas pernas e braços—, ela respondeu. —Deem-me
um maldito minuto, bárbaros.
Além da arma, isso fez tudo para seguir mais lentamente. Irritá-los,
confundi-los, voltando-os uns contra os outros —somente o primeiro parecia
plausível, mas cada segundo que pudesse impedi-los de cavalgar, era um
segundo que Lachlan poderia usar para alcançá-la.
Seus dedos encontraram outra pedra, e puxou, tentando não perder o
equilíbrio. Ela saiu, apropriada, na medida certa. Endireitando-se lentamente e
silenciosamente para que os homens não ouvissem suas saias farfalhando,
olhou para cada um deles. Poderia ferir um deles, mas isso apenas lhe
renderia um tapa e ser jogada de volta em um novo cavalo. Não ganharia
tempo com isso.
Rowena, em seguida, voltou sua atenção para os cavalos. Todos estavam
com suas cabeças para baixo, pastando. E porque isso foi apenas uma parada
momentânea, nenhum deles estava estropiado ou amarrado.
Puxando o máximo de ar em seus pulmões machucados podiam, levantou o
braço, assim como seus irmãos e Lachlan a tinham ensinado. Certa vez, matou
um coelho com uma pedra bem lançada, e o jantaram naquela noite.
Não ousando esperar mais, gritou —o mais alto e ferozmente quanto podia.
Enquanto os homens saltavam, girando para encará-la, se aproximou e atirou a
pedra. O cavalo mais próximo que estava ali, guinchou quando a pedra pegou
em cheio no nariz. Ele fugiu, os outros dois o seguiram a galope.
Alguém, Calder, pensou, a algemou nas costas, e ela caiu em suas mãos e
joelhos. —Procurem os malditos cavalos—, rosnou.
Amaldiçoando, os outros dois correram para a escuridão, assobiando. Se
esses animais fossem tão bem treinados quanto aqueles em Glengask, não
correriam muito, e voltariam quando chamados. Mas isso não importava,
contanto que isso levasse tempo.
—É uma pena que tenha que estar bonita quando tivermos que mostrá-la ao
pároco—, Calder continuou, puxando a mordaça para cima, e desta vez
amarrando—a com tanta força que não conseguia fechar a boca em torno dela.
Suas mãos e pés ainda estavam livres, no entanto. E ele tinha sido baleado
na perna por seu próprio avô, Arran tinha-lhe dito. Recuando, virou-se para
ele e o chutou —desejando que estivesse usando as botas de montaria que
Lachlan lhe dera em seu aniversário de dezoito anos, em vez de um estúpido
sapato azul.
Ele tropeçou, praguejando, em seguida, atirou-se sobre ela antes que
pudesse se distanciar. Caíram no chão com ele em suas costas. —Perna errada
—, sussurrou em seu ouvido.
Ela se debateu, socou e deu pontapés nele, tentando se virar debaixo dele
para que pudesse bater mais forte. Ele era maior e mais pesado do que ela, no
entanto, e certamente mais cruel. Agarrando seu braço esquerdo, torceu por
trás dela, empurrando sua própria mão em suas costas.
—Vou quebrá-la—, ele ofegava. —Pare de lutar.
Se tivesse alguma dúvida de que estivesse blefando, agora não mais. Com
um braço quebrado, teria sorte em permanecer consciente no dorso de um
cavalo, e com muito menos capacidade de pensar e planejar sua fuga. Rowena
parou de bater nele, mas não estava perto de relaxar.
—Não se mova—, Calder ordenou, e agarrou sua mão livre, puxando-a
para trás com a outra. —Alguns homens podem preferir uma moça com
espírito—, continuou, atando seus pulsos novamente. —Eu não. Gosto delas
calmamente deitadas, choramingando enquanto abrem as pernas para mim.
—Apertou mais os nós. —Talvez deixe Dermid tê-la em primeiro lugar. Isso
deve tirar-lhe a vontade de lutar e acalmar seu espírito combativo e deixá-la
esgotada.
A ideia de qualquer homem a tocar tão intimamente a assustou e enojou,
mas era exatamente o que ele queria fazer, estava certa. Mantê-la quieta e
intimidada para que pudessem se apressar em seu caminho, e em seguida, fazer
a coisa horrível que estavam pensavam, mais tarde. Paralisá-la com medo,
para que não pudesse pensar, e, portanto, deixá-la ser o instrumento de sua
própria destruição. O diabo levasse todos eles.
Não era uma dama inglesa. Era uma moça das Highlands. Mais do que isso,
uma MacLawry. E um MacLawry, homem ou mulher, não se rendia sem lutar.
Mesmo sem nenhuma maneira fácil para julgar o passar do tempo, pela sua
melhor estimativa, pelo menos, meia hora se passou antes que os outros dois
homens trotassem acima, o terceiro cavalo a reboque. —As malditas coisas
atravessaram a estrada e estavam a meio caminho de Loch Garry—, disse
Arnold Haws, saltando para o chão.
Já estavam a meio caminho de Loch Garry? Céus, fizeram um tempo melhor
do que esperava. Ou isso, ou esteve inconsciente por mais tempo do que tinha
percebido. De qualquer forma, definitivamente estavam indo para Fort
William. E longe de Glengask.
Os dois homens se mantiveram ao seu lado, e deslizaram o maldito saco
sobre sua cabeça novamente. Os conhecia, e sabia mais ou menos em que
direção estavam indo, de modo que ela não sabia por que estavam se
incomodando —a menos que fosse para assustá-la ainda mais.
Ao invés de ter medo, porém, no momento em que esconderam seu rosto,
começou a mastigar a apertada mordaça em sua boca. Tinham seus planos, mas
ela também. E por mais que tentassem convencê-la, não estava sozinha.
Estava ciente disso, assim como sabia a cor de seu próprio cabelo. Lachlan
MacTier estava vindo. E os MacLawrys estavam andando com ele.
Capítulo dezesseis
Lachlan freou. —Ouviu isso?
Ao lado dele, o rosto de Bear estava tão irritado e preocupado, como ele já
tinha presenciado. —Ouvi algo.
—Foi Rowena—, disse Lachlan, certo até aos ossos. Estava tentando
deixar quaisquer perseguidores saberem onde ela estava? Ou estava chorando
de medo ou dor?
Apertando sua mandíbula, chutou Beowulf novamente. As últimas palavras
que ele e Rowena trocaram não seriam as últimas. Ranulf não iria mantê-los
separados. Dermid Gerdens e quem andava com ele não iria mantê-los
separados. Havia jurado para si mesmo, repetindo-o várias vezes, durante as
últimas oito horas.
—Calma, Lach—, Munro chamou de trás dele. —Não queremos invadir no
escuro.
—Esse grito estava bem à frente de nós—, respondeu. —E não vou perder
terreno para eles, porque quer ser cauteloso.
—Não estou sendo cauteloso. Não vão estar diretamente na estrada, e sabe
disso. Sei que a quer de volta. Eu também.
—Quero estar perto o suficiente para mantê-los em movimento. Porque se
estiverem correndo, não podem estar machucando-a.
Raiva frustrante o fez tremer, como fez a cada vez que imaginava o que ela
deveria estar passando. Tinha tentado convencer-se —e a todos os outros
—que era uma dama inglesa adequada, sofisticada. Tinha tentado lembrá-la
que deveria estar orgulhosa de ser uma Highlander, e tinha-o ouvido. Ele sabia
disso.
E agora um Highlander a tinha levado. Quem poderia culpá-la se nunca
mais quisesse estar na Escócia novamente depois disso? Ou se não quisesse
mais nada com ele? Lachlan amaldiçoou novamente.
Ao voltar para Glengask de Londres, tinha perdido tudo. Se Ranulf fizesse
do seu jeito, deixaria Glengask e o clã MacLawry completamente para se
tornar uma Buchanan. Se fosse do seu jeito, continuaria a ser uma MacLawry,
mas só até que o chefe o banisse do clã. Além disso, perderia seu sonho de
morar em Londres, com um marido que gostava de poesia e de teatro e de ficar
sentado sem fazer nada. Se Gerdens fizesse do seu jeito —diabos o levassem,
não sabia o que Gerdens queria dela, mas não seria nada que ela fosse
escolher.
Ele seria o menor dos três ou quatro males para ela, ou nem mesmo isso?
Disse que o amava —finalmente, as palavras ainda rasgando seu coração
—mas tudo o que disse a si mesmo, sabia que estava prestes a ceder às
exigências de Ranulf.
Isso tudo se resolveria mais tarde. Agora, só precisava encontrá-la. E ter
certeza que os homens que a tinham levado, nunca tentariam tal coisa
novamente. Nunca mais.
Lachlan queria gritar de volta, responder-lhe e deixá-la saber que alguém
estava chegando. Que ele estava vindo. Enquanto queria que seus captores se
mantivessem em movimento, no entanto, seria insensato se soubessem o quão
perto estava. E não poderia dar-se ao luxo de ser insensato.
Estremeceu. Embora não soubessem quão atrás de Rowena estavam,
precisava prestar atenção ao que estava ao seu redor. Bear manteve o ritmo ao
lado dele, e praticamente podia sentir os olhares de lado do grande homem. Se
o irmão de Rowena não estivesse gostando da forma como a busca estava
sendo conduzida, seria bem-vindo para conduzir sua própria perseguição.
Lachlan não tinha intenção de parar.
—Peter!—Munro finalmente chamou. —Você e Aulay vão para a esquerda
e acompanhem o ritmo com a gente. Eòin, se encaminhe para a direita comigo.
Espalhem-se. Isso nos dará uma melhor possibilidade de ver qualquer sinal
dos cavaleiros.
Fazia sentido. A estrada seria a rota mais provável de Glengask a Fort
William, mas isso não significava que Rowena estivesse realmente nela.
Poderiam flanqueá-la em ambos os lados, ou em paralelo, desde as colinas a
leste. Mas estavam indo nesta direção. Supôs que devesse agradecer ao
Campbell por isso. Sem a ajuda do Duque, poderia ainda estar tentando
descobrir quem tinha levado Rowena, e muito menos cavalgar para resgatá-la.
Tentou aliviar a pressão sobre o ombro da melhor maneira possível, mas a
dor e a umidade quente manchando lentamente sua camisa lhe disse que
provavelmente não deveria estar cavalgando de todo. Lachlan ignorou as
advertências; poderia ser remendado novamente mais tarde.
Enquanto seus companheiros se espalharam em ambos os lados da estrada,
quase parecia que estava cavalgando sozinho no escuro, antes do amanhecer.
Além do som de cascos e da respiração de Beowulf e o rangido de couro,
manteve-se atento. O grito não se repetiu, e só podia esperar que isso não
fosse porque ela estava incapaz de produzir um som.
Pouco depois do nascer do sol, chegaram até uma pousada na estrada,
brandindo um letreiro de madeira; THE BRUCE INN esculpido em letras
grandes e ornamentadas. Metade das pousadas e tavernas das Highlands
levavam esse nome, por isso não foi de muita ajuda em dizer-lhe o quão
distantes tinham vindo. O xadrez verde, azul e branco pintado na porta, porém,
dera-lhe mais informações.
—O xadrez escocês dos Gerdens—, murmurou, enquanto trotava para o
estábulo.
—Sim—, Bear destacou. —Ficaremos apenas o tempo suficiente para dar
água os cavalos e comer alguma coisa rápida de café da manhã.
—Não estou...
—Perdeu sangue, e não come nada há mais de doze horas.—Munro desceu
da Saturn e caminhou até pegar as rédeas de Beowulf. —E nem qualquer um
de nós.
—Não gosto disso.—Franzindo as sobrancelhas, de má vontade, Lachlan
desmontou —e cambaleou quando suas botas tocaram o chão.
Bear o pegou com um braço sob o seu ombro bom. —Não gosto disso,
também—, murmurou. —Não é o único homem que daria sua vida por Winnie.
Coma alguma coisa. Não quero que nos atrase.
Lachlan respirou. —Reconheço isso, Bear. Não tenho intenção de te
impedir. Mas isso —eu —eu deveria tê-la protegido. No entanto, sinto por ela,
não deveria ter esquecido a primeira regra em Glengask: sempre proteger
Rowena.
Peter Gilling assumiu o comando dos cavalos e instruiu para que lhes
dessem de beber e fossem escovados, e estivessem prontos para partir em
vinte minutos. O resto deles entrou na estalagem, para encontrá-la já lotada de
tropeiros e fazendeiros e viajantes. Há alguns meses atrás, um grupo de
homens MacLawry, de xadrez MacLawry colocando um pé em uma estalagem
Gerdens teria sido suficiente para começar o derramamento de sangue. Hoje,
com exceção de um punhado de olhares sinistros, ficaram sozinhos.
—Acho que devemos agradecer a Arran por ter casado com uma Campbell
—, Bear comentou em voz baixa, quando se sentaram nos bancos em uma mesa
rústica perto da porta.
—Não tenho tanta certeza—, Lachlan retornou. —Sem paz, nenhum
Campbell ou Gerdens teria conseguido chegar a uma milha de Rowena.
—Sim. Mas se tivessem conseguido chegar até ela, poderiam tê-la matado
em vez de a levarem.
Aquela ideia esfriou Lachlan novamente. Bear fez um bom ponto. Sem
trégua, os MacLawrys e os Campbells e todos os das suas tribos e aliados ter-
se-iam matado uns aos outros durante séculos. Rowena e ele poderiam muito
bem ter sido apenas mais um par de baixas. —Você me assusta algumas vezes,
Bear.
O irmão MacLawry mais novo fez seu pedido de café da manhã ao
estalajadeiro antes de favorecer Lachlan com um sorriso sombrio. —Só está
dizendo isso para ser simpático.
Peter Gilling juntou-se a eles e colocou um mapa desgastado na mesa.
—Paguei a um dos cavalariços um xelim por isso—, murmurou.
Lachlan assentiu, agradecendo. Peter Gilling conhecia Rowena durante toda
a sua vida, também. Como Bear dissera, não era o único homem aqui disposto
a dar a vida por ela. Precisava lembrar-se disso. Por mais desesperado que
estivesse para encontrá-la, não estava sozinho.
—Onde diabos estamos, então?—Bear grunhiu, virando o mapa para
encará-lo.
—Sabe que não consigo ler esses rabiscos—, Peter respondeu, franzindo a
testa. —E nem poderia o jovem cavalariço Gilbert.
—Estão aqui.—Uma mão chegou sobre o ombro de Peter, e um indicador
longo indicou um local cerca de trinta milhas ao norte de Fort William, apenas
fora da estrada norte.
Seguindo o dedo de volta até seu dono, Lachlan se levantou, praguejando.
Munro foi ainda mais rápido. O homem alto e magro não se mexeu, e em vez
disso os observou com olhos cor de avelã. O cabelo castanho-avermelhado
pendia do lado direito do rosto, parcialmente obscurecendo a cicatriz apagada
que corria logo abaixo de sua orelha e descia até o lado direito de sua boca,
dando-lhe uma expressão permanentemente cínica.
—George Gerdens-Daily.—Bear cerrou os punhos. —Deveria saber que
você faria parte disso. É um homem morto.
Gerdens-Daily ergueu a sobrancelha direita, o movimento puxando sua
cicatriz e levantando o canto de sua boca. —Não sei do que é que estou no
meio, mas estou feliz em vê-lo, Lorde Munro MacLawry. Como está seu
ombro?
Com um rugido, Bear atirou-se sobre a mesa.
Danação. —Bear, não!—Lachlan agarrou seu amigo pelo casaco e o puxou
para trás. O movimento abalou seu ombro novamente, mas diabos, não tinham
tempo para uma briga. Não quando estavam em desvantagem numérica e não
quando sua primeira e —única tarefa —seria resgatar Rowena.
—Ele levou Winnie! Não vê isso?
—Acha que ele ainda estaria aqui se tivesse feito?—Lachlan pressionou.
Do outro lado da mesa, Gerdens-Daily inclinou a cabeça. —O que foi isso?
—Fez sinal para os homens abandonando o café da manhã e se apressando
para aderir à luta. —Calma, rapazes. Isso é pessoal entre mim e o gigante.
—Sabe que é!—Bear endireitou, mas isso não o impediu de apontar e
berrar.
—Se eu tivesse feito alguma coisa com um MacLawry, não teria vergonha
em admiti-lo—, o outro homem falou pausadamente. —Atirando em você, por
exemplo. Isso foi o quê, há quatro anos?
—Sim—, Munro retornou. —E tenho estado ansioso para retribuir o favor
desde então.
—Bem. Aqui estou.—Gerdens-Daily abriu os braços.
Lachlan não teria apostado um tostão que o homem Campbell estivesse
desarmado. E Bear também o saberia, mas isso não o impediu de fazer mais
uma investida. Desta vez Lachlan empurrou-o de lado, estremecendo quando o
movimento rasgou alguns de seus pontos. —Não. Há apenas um Gerdens do
qual estamos atrás. E não é ele.
Finalmente Bear cedeu, sentando-se novamente. —Sim.
Gerdens-Daily, porém, olhou de um para o outro. —Berling está em algum
lugar do Canadá, se for ele que estão procurando. Por isso, não lhe culpo. Na
verdade, poderia ajudá-lo a enterrá-lo.
—Não o queremos. Não hoje.—Bear continuou olhando para o homem do
outro lado da mesa. —É o irmão dele que quero enfiar debaixo da terra.
—Dermid?—Para surpresa de Lachlan, George Gerdens-Daily sentou-se na
outra extremidade do banco, logo depois de Peter Gilling. Quaisquer que
fossem seus outros defeitos, o homem com certeza não era um maldito
covarde. —O que aquele grande idiota fez para vocês?
Lachlan respirou fundo, por um momento desejando que Munro estivesse
em outro lugar. Não precisavam de um rufião mal-humorado para esta
conversa. A história complicada entre os MacLawrys e os Gerdens havia
começado com pais sendo assassinados, tiroteios e lutas. Nos últimos meses,
no entanto, enquanto ninguém diria que a animosidade estava terminada, as
tensões tinham... diminuído. Esta não era a hora de renovar velhos rancores.
—Dermid veio para Glengask com o Campbell—, disse, sendo tão sucinto
quanto possível com Munro olhando-o. —Na última tarde, fui esfaqueado e
Rowena MacLawry foi levada. E agora Dermid está longe de ser encontrado.
Gerdens-Daily olhou-o por um momento. —Vamos ver—, finalmente disse.
—Ver o quê? Não tenho tempo para enigmas.
—Você disse: —fui esfaqueado—, não que —Dermid me apunhalou.—Ou
então não viu quem fez isso, ou está mentindo. Então vamos ver.
Franzindo o cenho, Lachlan tirou o casaco do ombro esquerdo. Não se
preocupou em se olhar, mas das expressões de seus companheiros, sabia que
estava sangrando novamente. —Parece o mesmo na parte de trás—, disse,
soltando o casaco novamente.
Esfregando o queixo com uma das mãos, Gerdens-Daily assentiu. —Por que
não se junta a mim na minha mesa?—Sugeriu, levantando-se para caminhar até
uma mesa solitária na parte de trás da pousada.
Lachlan começou a se levantar, mas Bear não se moveu. —Não vou
desperdiçar meu tempo batendo boca com um Gerdens—, o grande homem
murmurou. —Especialmente aquele.
—Então fique aqui. Hoje não vou preocupar—me com orgulho, Munro.
Limpo as botas dele se puder nos dar alguma informação sobre Dermid.
Bear agarrou seu braço. —Reconheça que não pode confiar nele.
—Sim. Mas posso ouvir. Coma seus ovos. Me deu sua palavra de que
iríamos embora daqui em dez minutos.
O irmão de Rowena amaldiçoou, então pegou sua caneca e saiu em direção
à parte de trás da sala comum da pousada. Lachlan não tinha certeza se
Gerdens-Daily realmente tinha algo para lhes dizer que precisava de mais
privacidade do que sua mesa na frente fornecia, ou se já sabia o que Dermid
tinha feito e pretendia atrasar a perseguição. No momento, estava disposto a
assumir o risco deste último em troca de uma chance do primeiro.
Sentou-se em frente a Gerdens-Daily. Seus companheiros, porém,
permaneceram de pé, uma parede sólida de Highlanders irritados. Dermid e
seus companheiros tinham sido tolos para se atravessar com os MacLawrys. E
se estivesse no seu caminho, ao meio-dia os tolos estariam todos mortos.
—Tem algumas dicas para nós, ou só quer tripudiar? Não tenho tempo para
um, e nem paciência para o outro.
O estalajadeiro trouxe seu café da manhã com ovos e carne de carneiro, e
Gerdens-Daily ficou em silêncio até que o velho se afastou. Então tomou um
gole do que cheirava a café americano. —Dermid não é um homem pequenino,
mas como conseguiu lhe pegar e levar consigo a moça e fugir sem ser baleado
uma dúzia de vezes?
—Fui atingido por trás. Um segundo homem agarrou-a.—Lachlan colocou
as mãos sobre a mesa. —O que importa, afinal?
—Então, você não o viu—, o homem continuou, ignorando a pergunta de
Lachlan. —O Campbell disse—lhe que tinha desaparecido depois, aposto.
—Sim, ele nos disse—, Munro resmungou, controlando de alguma forma e
mantendo sua voz baixa. —Praguejou e disse que estava cansado dos malditos
Gerdeneses, e que poderíamos colocar a cabeça de Dermid em uma lança, que
não se importaria.
Essa não foi precisamente a conversa. Não foi precisamente uma mentira,
tampouco, então Lachlan decidiu não corrigir seu amigo. Em vez disso, olhou
fixamente para Gerdens-Daily. —Se sua curiosidade foi satisfeita, por que não
nos diz algo útil? A menos que esteja apenas para nos manter aqui.
—É um MacLawrys em terra dos Gerdens. E por onde acha que vai
começar? E o que, em nome do diabo, acha que será capaz de encontrar um
homem aqui?
Engolindo o último pedaço de ovo e afogando-o com cerveja, Lachlan
empurrou o banco para trás e ficou de pé novamente. —Nós temos uma ideia
ou duas. O Campbell quer manter essa paz.
—Não estou preocupado com a maldita paz—, Gerdens-Daily retornou,
emoção tocando sua voz pela primeira vez. —Alkirk não perdeu seu pai para
um MacLawry.—Ele empurrou seu próprio prato. —Os MacLawrys, no
entanto perderam o seu seannair[23] para um Gerdens.
—Você h...
—Não vou ficar aqui parado e deixá-lo perder sua única irmã para um
Gerdens, também.—Gerdens-Daily ficou de pé. —Tenho a noção de que se vai
dirigir para uma casa antiga em ruínas chamada Denune Castle. Vou levá-lo lá,
se me deixar.
Lachlan olhou-o, tão surpreendido pela oferta, quanto estava do fato de que
tanto o Campbell, quanto o Gerdens-Daily, terem indicado a mesma
propriedade. Isso seria bom para eles —e para Rowena. Se nenhum deles
tivesse um motivo oculto que fosse. —Dermid é seu primo—, disse em voz
alta. —Não está lhe fazendo nenhum favor falando conosco.
—Sim. Assim mantenho meu ponto de vista. Lhe ajudarei se puder, mas não
quero ser assassinado pelo meu próprio clã.
Gerdens-Daily conhecia a terra aqui muito melhor do que eles, e maldição
isso estava certo. Além disso, há algumas semanas, impedira seu clã de
arrastar uma noiva Sassenach longe de Duncan Lenox —e seu marido era um
chefe MacLawry. Qualquer que fosse o jogo de Gerdens-Daily, parecia ter seu
próprio senso de moralidade. E no momento, isso teria que ser suficiente.
Lachlan assentiu. Se queria ajudar, seria bem-vindo a fazê-lo. Se quisesse
criar problemas, acabaria morto. Resgatar Rowena vinha antes de rivalidades
de clã e velhos rancores. Até velhos assassinatos. —Vamos, então. Para
Denune Castle.

***

Os cavalos desaceleraram para um trote, e os músculos de Rowena ficaram


tensos contra o duro martelar. Um trote significava que tinham abrandado a sua
fuga, mas isso não seria necessariamente uma coisa boa. Ou não estavam mais
preocupados com a perseguição, ou estavam perto de seu destino.
—Vou até à vila e trarei o café da manhã—, disse Charles Calder, com uma
voz que ela já detestava. —E vou ver se consigo localizar o pastor.
—Não quero criar uma confusão sobre isso, porém, Charles; não queremos
qualquer curioso.
—Somente aparecendo lá vai deixá-los curiosos, Arnold—, Calder disse
secamente. —Vou dizer-lhes que estou com alguns pastores, logo depois da
colina.—Um momento depois, os passos se distanciaram deles e
desapareceram por trás do som dos pássaros e do vento sobre a grama.
—Como está sua passageira, Dermid?—A voz de Haws veio um minuto
depois.
Uma mão desceu bruscamente por suas costas, e estremeceu antes que
pudesse conter-se. —Viva—, disse o brutamontes. —Não se preocupe, moça.
Estamos quase lá.
Então isso foi para fazê-la se sentir melhor? Rowena conteve uma réplica.
Não tinham ideia de que tinha roído sua mordaça, e pretendia aproveitar ao
máximo quando a oportunidade surgisse. Talvez a outra face da Dermid. Ou a
orelha de Haws. Não se importava, desde que ninguém fosse capaz de olhar
para qualquer um dos homens sem saber que alguma coisa desagradável tinha
acontecido.
Brevemente, se perguntava o que aconteceria se Lachlan e seus irmãos
nunca a encontrassem. Sua respiração ficou presa. Não. Ele iria encontrá-la,
porque nada mais seria aceitável. Tinham passado por muita coisa nesses
últimos dias, e não permitiria que nada destruísse o que finalmente e
mutuamente perceberam —que estavam apaixonados, e que deveriam ficar
juntos. Ele faria tudo o que pudesse para que isso acontecesse, e ela também.
Dermid Gerdens não iria impedi-los, e nem Ranulf MacLawry.
Embora estivesse dolorida e desconfortável, seu estômago roncou, e
esperava que Charles Calder estivesse retornando com café da manhã para
ela, também. Parecia que se passaram séculos, desde que tinha comido, ou
desde que bebeu um gole de água. Nos contos de romance tórridos que Jane
consumia, jovens damas sempre eram sequestradas, e elas nunca comiam. Se
recusavam a comer até que fossem resgatadas. Evidentemente, ser delicada,
indefesa e desmaiar de fome seria a reação aprovada por ser levada contra a
sua vontade.
Se recusava a isso.
Os cavalos batiam ruidosamente no chão e, em seguida, chegaram a parar.
Antes que pudesse tomar uma respiração profunda, bem-vinda, Dermid
deixou-a cair de lado, desta vez, felizmente em pé. Mesmo assim aterrissou
duro, suas pernas cedendo. Desmoronou em um monte coberto de sacos.
—A moça parece ter-se acalmado por algum tempo—, Dermid observou, e
podia ouvir a diversão em sua voz. —Vergonha, isso.
—Duvido que tenha acabado de causar problemas—, Arnold Haws
retornou secamente.
—Não sei se tem energia para se mexer. Se me morder novamente, no
entanto, vou quebrar sua mandíbula. Ouviu isso, Lady Winnie? Vou quebrar
sua maldita mandíbula.
Supostamente ainda estava amordaçada, então ficou em silêncio. Em vez
disso, trabalhou em flexionar seus músculos da perna, tentando trazer a
sensação de volta para eles. Estendendo a mão com as pontas dos dedos,
sentiu os paralelepípedos, que estavam quebrados e cobertos de terra. Onde
quer que estivessem, não era em qualquer lugar agradável.
E agora que tinham, evidentemente, alcançado seu destino; o fato de que não
eram cavalheiros que a tinham tomado começou a deixá-la ainda mais
desconfortável. Várias vezes durante a longa e contundente noite, haviam feito
comentários grosseiros sobre ela. Talvez tivesse sido para impedi-la de lutar
novamente —embora isso não tivesse funcionado. Agora, não tinha tanta
certeza.
Uma mão debaixo do braço arrastou-a para ficar de pé. —Para dentro,
minha senhora MacLawry.
—Sim—, Arnold interveio. —Vamos lhe arranjar uma cama e um banho
quente.
Dermid riu, um som sombrio e cruel que a fez tremer por dentro. —E
vamos ter cordeiro assado e torta de carne moída—, acrescentou. —E... E
morangos frescos.—Riu novamente.
Rowena ficou tensa, esperando que desamarrassem seus pés, mas em vez
disso a agarrou pelas coxas e a colocou sobre seu ombro como um saco de
batatas. Danação. Uma vez que estivesse em qualquer lugar dentro, seria
muito difícil encontrá-la. Com as pernas amarradas, suas mãos atadas atrás
das costas e um saco em sua cabeça, não sabia como pará-los, no entanto.
—A despensa ainda tem uma fechadura?—Haws perguntou, diretamente
atrás deles.
—Sim, desde a última vez que vi.
—Coloque-a lá para que possamos comer na maldita paz.
Ela se endireitou, levantando com força. A parte de trás de sua cabeça
bateu em algo. Haws caiu.
—Maldita seja!—Amaldiçoou. Uma mão bateu no ombro e na orelha, mas
não teve força real.
—Não vou machucar seu rosto—, Dermid reclamou. —Não desejo
machucar seu rosto, moça. E Parson Nicholas não vai gostar, também, mesmo
se for uma MacLawry.
Ele deixou-a em um chão duro. Um momento depois, uma porta se fechou, e
ouviu uma chave girar. Então, silêncio. Por um momento, Rowena ficou
deitada de qualquer jeito, ouvindo. Seu ombro esquerdo já estava dolorido de
sua queda na noite passada, porém, e então se virou de costas e cravou os
calcanhares no chão. Então deslocou-se, curvando as pernas, até que o saco
escorregou sobre sua cabeça.
Ser capaz de ver não alterou muito a sua situação, mas fez com que se
sentisse melhor. O chão de pedra, coberto de fezes de rato e poeira. Haviam-
na chamado de despensa, mas, exceto, uma cadeira a que faltava o assento e
um barril virado —e ela —estava vazia.
Nenhuma janela para dar-lhe uma vista do lado de fora, embora se tivesse,
não teria sido capaz de alcançá-la, de qualquer maneira. A única luz vinha de
uma fenda horizontal no alto de uma parede —provavelmente de onde os ratos
vinham.
Virando-se para o lado direito, se encaminhou para a cadeira quebrada.
Onde o assento tinha cedido, um único prego de ferro havia ficado exposto.
Esperava que isso fosse suficiente. Com a cabeça e os pés, derrubou a velha
cadeira suja, pegando-a em sua coxa antes que atingisse o chão.
Charles Calder tinha ido pegar o café da manhã, mas não tinha ideia de
quanto tempo isso levaria, ou se voltaria com ovos cozidos para ela também,
ou com um pastor no reboque. Nem em um milhão de anos, concordaria em se
casar com qualquer um, com exceção de Lachlan, e esses homens tinham que
saber que criaria problemas. Evidentemente, só tinha que parecer ilesa para
que a ação fosse feita. Portanto, não poderia estar aqui quando Calder
voltasse.
Demorou algum esforço, mas conseguiu manobrar para poder esfregar as
ataduras dos pulsos contra a ponta do prego. Continuava cutucando-se com a
ponta afiada, mas isso não importava. Há mil anos atrás, até cem anos atrás,
clãs rivais sequestrarem mulheres para forçar alianças, ou garantir poder, ou
começar guerras, não era terrivelmente incomum. Dermid provavelmente só
queria colocar as mãos em seu dote. Provavelmente estaria morto antes que
pudesse receber qualquer coisa, mas então alguém o vingaria, e Campbells e
MacLawrys estariam lutando novamente.
E pensar que ontem estava prestes a renunciar a Lachlan porque não queria
desobedecer a Ranulf. Se —quando —escapasse, nada a separaria do homem
que amava. Por que, porquanto sabia que seus irmãos estavam em perseguição,
não eram eles cuja imagem guardava em seu coração, confortando-a e
lembrando-a de que esse horror seria apenas temporário.
Queria que ele estivesse lá, queria ouvir sua voz e sentir seu toque. Tudo o
resto —o teatro, danças em salas abafadas, beber chá com seu dedo mindinho
levantado um vestido bonito —parecia bom, e se sentia elegante, enquanto
usava, mas isso não a fazia feliz. Lachlan a fazia feliz. Quanto a ser apropriado
e inglês, não achou que sobreviveria a isso se isso fosse tudo o que quisesse
ser.
A corda em seus pulsos se separou. Rowena ofegou, as mãos tremendo
enquanto cuidadosamente se sentava e as descansava por um momento no colo.
Contusões, cortes, queimaduras de corda —seus dedos estavam inchados e
desajeitados, mas não estava com tempo para se mimar a si mesma. No
segundo momento em que poderia flexioná-los novamente, foi trabalhar nas
cordas ao redor de seus tornozelos.
Levantou-se, agarrando a cadeira para se firmar e mancou até à porta. Com
muito cuidado e lentamente empurrou para baixo o cabo enferrujado. Não deu.
Com uma maldição silenciosa em gaélico escocês deixoo ir novamente. Por
um momento, inclinou-se, tentando e querendo sentir a coordenação de volta
em seus braços e pernas.
Em seguida, fez seu caminho para a parede rachada, penetrando seus dedos
dentro da abertura estreita. Empurrou, em seguida, puxou, empurrando tão
forte quanto podia. A pedra não se moveu. Maldição, inferno. Todas as
maldições vulgares que já tinha ouvido seus irmãos expressarem, queria
extravasá-las. Queria gritar, fazer Lachlan ouvi-la.
Em vez disso, tinha que esperar neste quarto minúsculo, imundo, enquanto
algum homem estúpido estava vindo e sendo intimidado a casá-la com um
homem ainda mais estúpido, cruel, enquanto dois homens mais inteligentes e
mais cruéis observavam. Era insuportável.
Rowena respirou fundo, tentando acalmar seus pensamentos selvagens e
banindo-os para algo adaptável e útil. Poderia não ter uma arma, mas tinha a
sua inteligência. O que poderia fazer, então, para atrasá-los?
Voltando a olhar a sala, voltou para a porta. Enquanto pressionava seu
ouvido para que pudesse ouvir o som abafado dos homens conversando, mas
não poderia dizer se eram dois, ou três ou quatro —ou vinte. A porta se abriu
em sua direção, o que teria sido uma coisa boa se tivesse algo para bloqueá-
la.
Tinham entrado no prédio e caminhado por um corredor e um breve
conjunto de escadas antes que a tivessem jogado nesta sala. Um pensamento
repentino a atingiu, e sua respiração ficou presa. Ainda estavam nas
Highlands. E nas Highlands, em castelos construídos para serem alvos
proeminentes para os Sassenach e quaisquer clãs rivais. Glengask tinha uma
entrada de túnel de fuga na despensa da cozinha e outro no canto da sala
matinal. Gray House tinha uma saída secreta por trás da despensa da cozinha.
Os túneis frequentemente tinham origem em quartos mais afastados, de onde os
ocupantes da casa poderiam escapar sem serem detectados.
Ainda movendo-se tão silenciosamente como podia, foi para o canto mais
distante da sala e começou a examinar o chão. Permaneceram algumas tábuas
de madeira, mas o resto tinha apodrecido ou fora transferido para outras salas
públicas. Na borda do barril virado encontrou... algo. Bateu no chão com os
nós dos dedos, e isso não soou tão sólido. O coração dela balançou. Oh,
graças a Deus. Finalmente, um pouco de sorte.
O barril estava vazio, mas ainda pesava muito. Estremeceu com cada
derrapagem e colisão da madeira velha quando o empurrou, lentamente, para o
lado. Então, ajoelhando-se, limpou a poeira e pedaços de madeira até que
encontrou um pequeno espaço na argamassa. Enviando uma oração rápida,
cavou os dedos e levantou.
Com um rangido muito alto, uma seção do assoalho foi arrancado para cima
em um lado. A abertura tinha apenas um pé quadrado ou assim, mas talvez
quem tivesse vivido ali em tempos era pequeno e magro. Nenhum de seus
irmãos caberia.
Estremeceu. Sim, pensando em sua família, e principalmente em Lachlan,
dava-lhe coragem, mas não tinha tempo a perder. O buraco debaixo dela era
negro como breu, mas com uma respiração profunda, pendurou as pernas por
cima, pegou o pequeno anel de metal na parte inferior do alçapão, e caiu.
Seus pés bateram no chão antes mesmo que tivesse fechado a porta. Por um
segundo manteve isso, usando a escassa quantidade de luz para se orientar. O
túnel era feito de terra e pedra, com alguns suportes de madeira aqui e ali, em
ruínas e de aparência antiga. Dirigiu-se para a esquerda, mas só conseguia ver
cerca de quatro pés. Com um último olhar para a escuridão, fechou o resto da
abertura.
Uma vez que os Gerdenses entrassem na despensa e vissem seu
desaparecimento, Dermid não seria capaz de ir atrás dela. Tanto Haws quanto
Calder o fariam, e isso a incomodava. Melhor, então, não ficar presa nos
túneis. Começou a encurvar-se no caminho, sentindo com as mãos, sentindo o
chão com um pé antes de colocar seu peso sobre ele. Se o túnel tivesse cedido
em qualquer lugar, ou se terminasse em uma masmorra destinada a capturar
qualquer estranho —e seria totalmente provável —teria de voltar para o
alçapão, ou esperar lá no escuro para ver se viriam atrás dela, ou
simplesmente colocar o barril sobre a porta e deixá-la lá para apodrecer.
Esse pensamento a perturbou mais do que a ideia de rastejar pela
escuridão. Queria permanecer ao ar livre, em algum lugar onde Lachlan
pudesse encontrá-la. Agora estava abaixo do solo, sozinha e no escuro. Tudo o
que poderia lhe dar seria tempo, e tudo que poderia fazer agora seria rezar
para que lhe tivesse dado o suficiente.
Capítulo Dezessete
—Isso é Denune?—Lachlan parou na curva na estrada para olhar a pilha de
pedra velha e ruindo.
Deve ter sido impressionante uma vez, à beira de um penhasco e com vista
para o vale inteiro. Na parte de trás, o muro caiu por duzentos metros,
engolido pelo rio que corria em sua base. A única maneira de aproximar-se
seria na parte dianteira, uma inclinação delicada com somente algumas rochas
e uma árvore baixa, atrofiada.
—Sim—, George Gerdens-Daily retornou, olhando para a estrutura antiga.
—Lembro-me de ser mais impressionante.—Cuspiu no chão rochoso. —Meu
pai e o de Dermid nasceram aqui. É uma pena que Berling esteja do outro lado
do Atlântico. Não me importaria de ter uma palavra com ele sobre como
mantém suas propriedades.
Geralmente, Lachlan estaria muito interessado em ouvir sobre as tensões
entre os primos Gerdens. Hoje tinha apenas uma preocupação. —Surpresa
parece estar fora—, comentou, quando um par de cavalos relincharam perto da
porta. —Nos conduza. Dermid não atirará em você, suponho.
—Ele não vai atirar em mim. Mas não vou atirar nele, também. Não por
uma moça MacLawry. Fiz o que disse.
—Sim—, Bear respondeu. —Fez o que qualquer cão farejador poderia
fazer. E agora vira as costas quando tem a chance de fazer alguma coisa mais.
Gerdens-Daily deu um sorriso cínico. —Maldição, não me importo nem um
pouco com o que você pensa, Munro MacLawry. Não sou seu amigo. Mas é
bem-vindo para me encontrar se quiser resolver a questão desse buraco no seu
ombro.—Com um aceno de cabeça para Lachlan, virou o cavalo e trotou de
volta para a estrada.
—Poderia incentivá-lo a nos ajudar, acho—, disse Peter Gilling, erguendo
o seu bacamarte.
—Não—, Lachlan devolveu. —Ainda estaríamos procurando por Denune
se não nos tivesse guiado até aqui. E não estou disposto a discutir com ele
hoje.—Chutou seus calcanhares nas costelas de Beowulf. —É Dermid quem
eu quero—, disse, enquanto galopavam.
Assim que entrou ao alcance das janelas do andar de cima, quase intactas,
esperou ser atingido, mas nada se agitou. Ter-se—ia o Campbell enganado?
Seria que os cavalos pertenciam a alguns viajantes vadios? Gerdens-Daily
tinha-os levado a Denune porque tinha a vantagem de um dia aqui e de volta
para Glengask? Na porta da frente, desmontou, sem esperar que Bear se
juntasse a ele antes de empurrar o robusto carvalho.
Abriu mais facilmente do que esperava, e entrou, a pistola em sua mão
direita. Toda a ala norte do castelo tinha desmoronado, deixando o edifício
exposto ao tempo e aos elementos. A pintura no corredor principal estava
descascando, e todo o tapete tinha sido removido, deixando para trás um chão
de pedra irregular.
—Calder!—Uma voz gritou de dentro da casa. —Estamos na cozinha.
Encontrou o pastor?
Ele e Bear trocaram um olhar. —Sim—, Lachlan respondeu, abafando a voz
por trás da manga do casaco.
—Calder?—Munro sussurrou. —Charles Calder? Danação.
Charles Calder. Outro dos primos de Dermid. A pessoa que tinha disparado
em Arran há algumas semanas. Todas as encantadoras pessoas estavam aqui,
evidentemente. —Firme, Bear. Estamos aqui por Rowena.
—E se Calder colocou as mãos nela, vai perder ambas.
Se Charles Calder a tivesse tocado, perderia mais que suas mãos, tanto
quanto Lachlan estava preocupado. Tinha sido diplomático com o Campbell e
com George Gerdens-Daily, porque tinham informações que achou úteis.
Depois de quase vinte e quatro horas de perseguição, sua habilidade de se
manter equilibrado tinha acabado de expirar. Fez sinal para Eòin permanecer
perto da porta da frente. A última coisa que precisavam seria de Charles
Calder chegando por trás deles.
Movendo-se tão rapidamente quanto se atrevia, Lachlan fez facilmente seu
caminho para a parte traseira da ala principal do castelo. Havia buracos no
teto, onde este havia cedido, e à medida que passavam, uma dúzia de pássaros
marrons levantaram voo do que tinha sido a biblioteca. Os homens estavam
esperando um pastor. Para Lachlan isso significava que um deles pretendia se
casar com Rowena —o que, por isso, significava que ela ainda estava viva e
bem.
Isso seria uma parada temporária, então, assumiu. Nenhum homem em seu
juízo perfeito escolheria viver aqui, e mesmo que Dermid fosse estúpido o
suficiente para arrebatar Rowena MacLawry, deveria ter tido outro destino em
mente.
A porta da cozinha estava aberta, e com uma respiração profunda,
endireitou-se e deu a volta no canto e entrou no aposento. —Boa tarde, rapazes
—, rosnou, nivelando sua pistola.
Em uma mesa desgastada e vacilante, no centro do aposento, estavam
espalhados ovos cozidos e pão com manteiga. Duas cadeiras estavam atrás
dele —e ambas estavam vazias. Isso só pode significar uma coisa.
Instintivamente, Lachlan abaixou-se. Quando fez isso, uma claymore girou
sobre sua cabeça e mordeu o batente da porta. Ainda avançando, bateu no
cotovelo do portador, separando-o da arma, então apertou o cano de sua
pistola contra a têmpora de Dermid Gerdens antes que o grande homem
pudesse recuperar seu equilíbrio. —Chega—, rosnou.
Bear deu um passo em torno dos dois e empurrou o segundo homem para
trás em uma das cadeiras. —Bem, bem. Todos os ratos vieram para o norte. Eu
lhe conheço, Arnold Haws. E espero que tenha dito adeus à sua família,
porque não vai pôr os olhos neles novamente.
—Bear MacLawry—, o segundo homem respondeu. —Nunca fiz nada para
você.
—Exceto caçar e tentar matar meu irmão Arran.
—Só estava fazendo como Lorde Fendarrow ordenou[24]. Se tiver uma
reclamação, fale com ele.
O Marquês de Fendarrow, o novo sogro de Arran, não tinha sido convidado
para o casamento de Ranulf. Mas então, nem Arnold Haws. —Você é um nada
conveniente. Onde está minha irmã?
—Será que a perdeu?—Dermid perguntou com um sorriso folgado.
—Onde está Rowena?—Lachlan exigiu, sua atenção em Dermid quando o
olhar do grande homem se desviou para o pequeno corredor e além.
—Rowena!
Avançando, viu uma porta fechada —provavelmente uma velha despensa de
mordomo. Nenhum som vinha de dentro. Seu coração martelando, chamou seu
nome novamente. Nada ainda. Procurou por Peter Gilling para ficar em seu
lugar, Lachlan entrou no corredor e desceu até à porta. Girou a chave na
fechadura enferrujada e abriu-a.
—Row...—Parou. Exceto por uma cadeira inclinada e um velho barril, a
sala estava vazia. Cheirava a mofo e não estava sendo usada, mas quando
inalou, um fraco e familiar perfume o tocou. O perfume violeta de Rowena.
Estava certo disso.
—Ela não está lá—, disse, voltando para a cozinha.
—Quem está procurando?—Perguntou Haws, franzindo a testa. —E o que
os MacLawrys estão fazendo nas terras dos Gerdens? Armados, devo
acrescentar?
Bear o fez ficar de pé pelo colarinho e, em seguida, empurrou-o para o
velho fogão. —Sabe muito bem quem estamos procurando, seu rato. Diga-nos.
Agora.
Arnold olhou para seu primo. —Sabe quem eles procuram?
O homem grande sacudiu a cabeça. —Não sei.
Lachlan estreitou os olhos, em seguida, caminhou até Dermid e puxou o
curativo que cobria sua bochecha. Marcas de mordidas de dentes claras na
pele, deixando uma maldita confusão e raiva para trás. —Não mordeu a si
mesmo.
—Isso?—Haws bufou. —Dermid foi muito amigável com uma moça na
taverna local. Não foi, Dermid?
—Sim. Muito amigável com uma moça.
Claramente, não conseguiriam obter quaisquer respostas com Arnold Haws
falando pelos dois homens. —Bear. Pegue Haws e leve-o para uma
caminhada. Lá fora no penhasco.
Munro sorriu, uma expressão que arrefeceu até mesmo Lachlan. Não estava
precisamente brincando, mas seu amigo nunca tinha sido bom segurando sua
ira. E isso esteve fervendo durante o dia anterior, com ajuda adicional de
Gerdens-Daily. —Devo a Arran um presente de casamento—, o irmão mais
novo MacLawry rosnou.
Pela primeira vez Arnold parecia desconfortável. —Não me pode matar.
Não fiz nada!
—Um de vocês, Campbells atirou em meu irmão. Outro atirou em mim, e
agora Lach foi esfaqueado. Acho que é o suficiente.—Bear inclinou a cabeça.
—Mesmo se eu estivesse no lugar errado, como diz que estou, não vou sair
daqui de mãos vazias.—Agarrando Haws pelo braço, empurrou-o com força
pelo corredor e porta.
—Dermid!
Gerdens se mexeu, mas com bacamarte de Peter Gilling apontando para sua
barriga, não havia nenhum lugar onde pudesse ir. —Isso vai significar guerra
—, grunhiu. —O Campbell não vai...
—O Campbell nos disse onde encontrá-lo—, Lachlan cortou. —Não tem
nenhuma proteção. São apenas vocês dois. Duvido que alguém ainda chore por
você, amadan. Está olhando para sua única chance de sobreviver, e se não
puder provar-me que Rowena MacLawry está viva e ilesa, não tenho motivos
para lhe mostrar qualquer tipo de bondade. —Olhou para Arnold Haws,
agarrando-se à moldura da porta com os dedos, enquanto Bear o empurrava
novamente. —Qualquer um de vocês.
Os dois Campbells trocaram um olhar. —Ela está lá!—Haws finalmente
assobiou, indicando a despensa.
—Me acha idiota?
—Ela estava—, ele insistiu. —Nós fomos lá para vê-la, e ela se foi.
Ouvimos vocês vindo e arrumamos tudo.
—’Arrumaram tudo’—, Lachlan repetiu, voltando para a sala. —Como?
—Olhe no barril.
Seu coração congelou. —Aulay, traga-me uma lanterna ou uma tocha.
O cavalariço vasculhou o velho aparador e veio com uma vela quebrada no
seu suporte. Acendeu—a no fogo da cozinha e trouxe-o para a despensa.
—Aqui está, Milorde.
Lachlan nunca quisera tanto não olhar. Se ela estivesse naquele barril, não
tinha feito um som em minutos... Não. Não era assim que isso acabaria. Iria
encontrá-la, estaria segura, e então se casaria com ela. Teriam filhos e uma
vida feliz. Juntos.
Por favor, pensou consigo mesmo, e se aproximou do barril. Inalando
fortemente, tentando estabilizar-se, levantou a vela e olhou para dentro.
Abruptamente seu coração começou a bater novamente. Uma corda puída, um
saco, pedaços de pano. E isso foi tudo. —Você a amarrou.
—Ela me mordeu!—Dermid replicou, como se isso tivesse sido culpa de
Rowena.
Lachlan caminhou de volta para a cozinha, bateu na cabeça de Gerdens com
a coronha da pistola. Queria continuar batendo em Dermid, para transformá-lo
em pó. Mas isso não o ajudaria a encontrar Rowena. E ela seria tudo o que
importava. —Onde está?—Perguntou muito lentamente, sua voz baixa e nítida
e tão irritada quanto se sentia.
Dermid cuspiu sangue no chão. —Olhe mais de perto. Não me assusta,
Gray. Em uma luta justa, não é páreo para um Gerdens. Se não tivesse chegado
aqui tão rápido, teríamos estado prontos para você.
—Se pensou que poderíamos ter uma luta justa, por que enfiou uma faca em
minhas costas?—Lachlan replicou.
—Não fui eu.
Lachlan deu uma olhada em Haws. —Obrigado por isso, de qualquer
maneira.
De volta para dentro da sala, deu um olhar mais atento. Com a vela, podia
agora distinguir uma grande seção do chão no meio da sala onde a poeira e a
sujeira haviam sido remexidas, e colocou a palma da mão sobre a pedra. Ela
tinha estado aqui, e não muito tempo atrás. Mas para onde tinha ido, e por que
Gerdens ou Haws não a tinham seguido?
Um prego saiu do assento quebrado da cadeira, e quando se agachou, viu as
gotas de sangue se agarrando a isso. Uma fúria profunda e fria percorreu-o.
Claro, ela tinha tentado se libertar, e havia sido ferida no processo. O que lhe
disse que estava desesperada para fugir desses homens. Mas não havia janelas
e não havia outras portas.
Fez uma pausa, olhando para o barril novamente. A menos que houvesse
outra porta.
—Lach?
—Aulay, olhe Haws. Bear, dê-me uma mão.
Um segundo depois Bear estava na despensa, amaldiçoando. —A trancaram
aqui? No escuro? O que...
—Empurre esse barril, por favor?—Lachlan interrompeu, agachando-se ao
lado dele. A sujeira também estava mexida, e estava certo de que poderia
distinguir a delicada ponta de seus dedos na poeira.
Munro virou o barril sem nenhum esforço notável, e depois se agachou ao
lado dele. —Um túnel de fuga?
—Acho que sim.
Lachlan enfiou os dedos na pequena abertura e puxou. Com um rangido, a
porta se ergueu. Tinha entrado lá. Na escuridão. Sozinha.
—Eles colocaram o barril em cima—, Bear disse lentamente, com o rosto
pálido. —Ela não teria sido capaz de sair novamente.
—Pode estar do outro lado agora.—Lachlan lhe entregou a vela e, em
seguida, com algum esforço espremeu-se através da pequena abertura e caiu
no chão. —Vá ver o que pode encontrar. Ou pergunte a um desses rapazes se
sabem onde o túnel sai.
Assentindo, Bear entregou-lhe a vela. —Encontre a minha irmã—, disse,
sua voz embargada. —Vou cuidar desses bastardos.
O túnel tinha cerca de três metros de altura e a mesma largura, um buraco
escuro alinhado, cavado a mão por algum ancestral dos Gerdens. Mesmo com
a luz das velas, quase não tinha visibilidade; o túnel retorcia-se e bruscamente
virava, provavelmente em volta das pedras enormes que se erguiam acima da
superfície.
À medida que avançava, parecia que havia túneis adicionais que se
dividiam em diferentes partes da casa. O túnel principal estava desocupado,
mas não sabia exatamente em qual deles estava. Tudo à direita parecia nada
mais do que pilhas de escombros, mas tinha que verificar cada cruzamento
para ter certeza. Para tentar descobrir esse labirinto em absoluta escuridão
—poderia estar em qualquer lugar. Poderia estar presa, ou sufocada. Parte do
teto poderia ter desabado sobre ela.
—Rowena!—Chamou, curvando-se sobre as mãos e joelhos para olhar
para o chão de terra do túnel. O chão estava remexido, mas não poderia dizer
se estava indo ou vindo quando tinha passado por ali. —Rowena!
—Lachlan?
A voz distante estava abafada e fraca, mas acionou seu coração mais uma
vez.
—Estou aqui, moça! Onde está?
—Eu não sei!—Sua voz voltou, ainda fraca. —Virei para a esquerda, mas
não sei quantas vezes virei.
—Você vê minha luz?
Uma pausa. —Não.
O ar abaixo nos túneis estava escasso, mofado e obsoleto. Não tinha ideia
de como ainda estava respirável. A chama das velas tremeluziu e desvaneceu-
se, tornando-se cada vez mais fraca enquanto se aventurava. Há quanto tempo
ela estava ali antes que os dois homens decidissem checá-la?
Se a luz se apagasse, precisava ser capaz de tirar os dois. Tirando a faca de
sua bota, a cavou na parede à sua esquerda, fazendo uma profunda seta
apontando para trás o caminho que tinha vindo. Então, alternando entre rastejar
e agachar-se, continuou para a frente, parando a cada poucos passos para fazer
outra marca.
—Rowena? Fale comigo, minha moça feroz.
—Pensei que Calder tivesse matado você—, disse, a dor em sua voz
ferindo-o novamente —Não estou morto.
—Isso foi o que comecei a dizer a mim mesma. Porque quase cometi outro
erro, e não poderíamos acabar assim.
—Que erro quase cometeu?—O túnel ramificou-se. Ela disse que tinha
ficado à esquerda, então ele foi por ali, também.
—Quase me afastei de você, Lachlan.—Soltou um soluço. —Como eu
poderia fazer isso?
—Porque é uma moça que ama seu irmão. Não teria deixado você se afastar
de mim, então não tem nada com que se preocupar.
—Você era tudo em que eu conseguia pensar. Sabia que viria atrás de mim.
Sabia que me encontraria.
—Parece-me que fez um bom trabalho de resgatar a si mesma, minha moça.
A vela apagou-se. Sufocando uma maldição, continuou, ainda parando para
esculpir as setas. Se conseguiu abrir caminho através desta escuridão, então
ele também poderia. O rastejar enviou a dor de seu ombro até os dedos, mas
apertou a mandíbula e continuou.
—Mordi Dermid.—Este breve humor tocou sua voz.
—Eu vi isso. Não vai tomar outra moça contra a sua vontade, acho.
Silêncio. —Estou muito cansada, Lach.
Ele fez uma careta. —Temos um ar miserável aqui. Estou quase chegando.
Continue falando, Rowena.
—Ainda não vejo tua luz.
Sua voz soava mais perto, agora. O túnel em que ele estava virou
bruscamente para a direita e depois para a esquerda novamente. —A luz
apagou—, teve que admitir, esperando que isso não a deixasse em pânico.
—Fique onde está. Irei até você.
—Quem está com você? —Perguntou depois de um momento.
—Bear, mas ele não caberia no maldito buraco. E Peter, e dois dos
cavalariços. Ranulf tem o resto do clã procurando por você em todo o
noroeste.
—Como soube onde procurar por mim?
—O Campbell. Nos disse que Dermid tinha desaparecido do encontro, e
que provavelmente estaria com você.
—O Campbell nos ajudou?
Ela parecia estar perto o suficiente para tocar, agora. Quase batendo a
cabeça quando o túnel se virou para a esquerda novamente, desacelerou.
—Moça?
Braços quentes lançaram-se ao redor de sua cabeça, depois abaixou até os
ombros. Graças a Deus. Graças a Deus, repetia para si mesmo, enquanto
encontrava a sua boca e a beijava. Parecia muito mais do que um dia desde
que a tinha tocado pela última vez. E jurou para si mesmo que ninguém ficaria
entre eles novamente, Gerdens, Buchanan, Campbell, ou MacLawry.
—Lachlan—, sussurrou, segurando-o com força. —Sabia que me
encontraria. Eu sabia. Só tinha que lhe dar tempo suficiente.
Por um longo momento, apenas a segurou. Sua Rowena. Como poderia
pensar em encontrar alguma outra moça? Nenhuma poderia se equiparar a ela.
Nenhuma. E ele seria dela, tanto quanto ela seria sua. —Eu iria para o Hades
propriamente dito para encontrá-la—, murmurou, acariciando seu longo
cabelo desgrenhado. —E agora vamos voltar para a luz do sol, minha moça
feroz.
—Sabe o caminho?
—Marquei a parede com setas. No lado direito, a poucos centímetros do
teto. Siga-os até que veja a luz do alçapão aberto.
—Vou-lhe seguir, se não se importar.
Beijou-a novamente. —Não. Não me importo.
Começaram a voltar com ela logo atrás dele, tocando um pé ou as costas.
Ainda não conseguia vê-la, mas podia sentir sua presença quente com ele. Um
homem poderia viver com isso e seus beijos.
Não podia sequer imaginar o que tinha passado ao longo do dia anterior.
Sendo arrastada para algum lugar, depois de ver um homem esfaqueá-lo.
Pensou que ele estivesse morto.
Algo deslizou na frente dele. Na escuridão profunda, sombras cruzaram sua
visão, mas sabia que não poderia ser qualquer coisa que estivesse realmente
vendo. Foi provavelmente um rato, mas não gostava da ideia de ser mordido
ou arranhado no rosto. Quando sentiu a próxima seta, fez uma pausa. O que
Rowena tinha dito? —Viu quem me apunhalou, moça?—Perguntou em voz alta.
—Não. Mas Calder disse que fez isso.
Calder. —Charles Calder?
—Sim. A pessoa que atirou em Arran. Foi buscar café da manhã para os
outros dois, e estava preocupada com o que poderia fazer quando voltasse.
O café da manhã deles estava na mesa. Mas não havia qualquer sinal de
Charles Calder. —Moça, tem uma arma com você?
—Tenho uma pedra na mão.
Puxou a faca novamente. —A mantenha na mão. Penso que podemos ter
companhia h...
Com um suspiro, foi puxada para trás, mais fundo na escuridão. —Lach...
Com seu grito, já estava arrastando-se no caminho que tinham vindo. Um
segundo depois, tocou sua mão, e depois passou por ela. Bateu em uma forma
sólida e vestida, com o ombro ferido. A repentina dor expulsou o ar de seus
pulmões. Apontou para a frente, e pegou algo com a faca.
—Rowena, encontre as setas—, sussurrou, seguindo a facada com o punho.
Bateu na parede, e amaldiçoou. Mesmo assim, estava agradecido —muito
agradecido —que tinha conseguido colocar-se entre Rowena e Calder. É claro
que o covarde tinha ido atrás dela, mas queria assegurar-se de que o primo de
Dermid não tivesse uma segunda chance de machucá-la.
Ouviu o som além dele novamente, e pegou um punhado de terra,
arremessando nessa direção. Uma vez que ouviu a batida, atirou-se.
—Continue, Rowena—, grunhiu sobre seu ombro. Calder não estaria passando
por ele. Não dessa vez.
Segurando uma perna, bateu com a faca de novo, sentindo uma lâmina
raspar sua própria bochecha. Lachlan empurrou seu ombro bom para dentro
das costelas de Calder, derrubando-os em um cruzamento mais amplo no túnel.
—Por que—, Calder ofegou, balançando e acertando Lachlan no cotovelo,
—vocês MacLawrys nunca morrem quando deveriam?
—Porque não é muito bom em tentar nos matar, imagino—, Lachlan
retornou, estimando onde a cabeça de Calder estivesse e quando terminou de
falar o empurrou com força na parede. Então, de novo. E outra vez.
Finalmente, Charles caiu sem energia no chão. Lachlan não sabia se estava
morto ou inconsciente, mas não se importava muito. Protegendo seu ombro,
virou-se na direção que tinha enviado Rowena e sentiu uma pedra atingir sua
cabeça. —Maldição, sou eu moça—, rangeu, estendendo-lhe a mão.
—Oh, me desculpe!
—Disse para seguir em frente, moça.
—Não lhe ia abandonar. Machuquei você?
Ele soltou a respiração. Claro, ela não tinha intenção de ir a lugar nenhum.
—Estava com saudades de mim. Deveria ter-lhe chamado.—Lachlan pegou a
mão dela. —Vamos. Você lidera o caminho, desta vez.
—Ele está morto?
—Não sei. Pode voltar e chutá-lo nas partes de homem, se quiser.
Não podia vê-la, é claro, mas estava certo que sorria enquanto a seguia
para a frente e para a direita, ao longo da linha de setas. Finalmente, depois do
que pareceram horas, pegou o fraco brilho da luz à frente deles.
—Vejo alguma coisa—, ela sussurrou no mesmo momento.
—Sim. Estamos quase lá.
—Lachlan?—A voz rouca de Bear veio. —Rowena?
—Estamos aqui. Ela está segura.
—Calder poderia estar naquele lugar com vocês!
—Ele nos encontrou.—Lachlan a ajudou a endireitar-se. —Aqui. Dê-lhe
sua mão, Bear.
Meio subindo a parede, com a mão agarrada na de Munro, Rowena saiu do
túnel. No segundo em que estava livre, virou-se e alcançou a abertura
novamente. —Agora você, Lachlan.
Bear pegou sua mão boa e ela agarrou seu casaco e juntos o puxaram com
força até o chão da despensa. E então Rowena se atirou nele, colocando-o
deitado de costas, enquanto o beijava mais e mais. Lachlan envolveu os braços
em volta dela e beijou-a de volta. Além deles, no entanto, seu irmão prendeu a
respiração. Lachlan sentou-se, deslocando-a para seu colo, pronto para atacar
novamente se Calder aparecesse na abertura do túnel.
Seu irmão, porém, estava olhando-a. Franzindo o cenho, Lachlan a afastou
um pouco. E então começou a praguejar. —Por que não disse que estava
machucada, Rowena?—Murmurou, afastando os cabelos de seu maltratado
rosto para expor o hematoma negro em sua bochecha e ao redor de um olho.
—Vou curar—, disse, estendendo-lhe os pulsos para revelar mais cortes e
contusões onde tinha estado claramente atados. —Agora, vou curar.
—Não posso dizer o mesmo de Calder e seus amigos—, ele rosnou,
esfregando o polegar suavemente ao longo das contusões em seus braços.
—Digo que podemos fechar a porta novamente e colocar o barril de volta
sobre ele.
—Poderíamos colocar Haws lá, também—, Bear concordou. —Mas
Dermid não caberia.—Levantou-se. —Há algumas coisas que deveria ouvir,
apesar de tudo. Dermid é surpreendentemente falante quando colocamos uma
pistola em sua cabeça.
—E quanto a Calder, entretanto?—Perguntou Rowena, a inquietação
tocando sua voz. —Ele pode saber o caminho.
—A saída cedeu—, Bear retornou, ajudando-a e, em seguida, Lachlan a
ficar de pé. —Não sei o que poderia ter acontecido se não a tivéssemos
encontrado, Winnie.
—Nós a encontramos—, disse Lachlan com firmeza. —Vamos enviar Eòin
e Aulay de volta lá com mais luzes e alguma corda. Vamos arrastar Calder
para fora, e vou entregar todos para Ranulf lidar com eles. Fiz a minha parte.
Pegou a mão de Rowena na sua, e os dois seguiram Munro para a sala com
a maior parte do seu telhado e duas janelas quebradas. Mandaram os dois
cavalariços recolher Calder, e depois Bear caminhou até Dermid, batendo na
parte de trás de sua cabeça. —Diga ao meu amigo o que me disse—, ordenou.
Dermid lançou-lhe um olhar sombrio. —Disse que isso não foi ideia minha.
Disse que eu estaria ganhando uma fortuna em dinheiro e terras, e que o
Campbell traria meu irmão de volta do Canadá.
—Quem lhe disse isso?—Bear perguntou.
—O Sassenach. Aquele com o cabelo amarelo brilhante. Samston.
Capítulo Dezoito
Rowena olhou por cima do ombro novamente. Os dois cavalariços vinham
na retaguarda do pequeno grupo, mas dois cavalos que tinham colocado entre
os jovens rapazes e Peter Gilling era o que mais a interessava. Com um
Dermid sentado virado para trás, com as mãos amarradas atrás dele e um saco
sobre sua cabeça. Por outro lado, Calder e Haws deitados de barriga para
baixo sobre a sela, e a cada passo do cavalo batiam um no outro. Também
tinham as mãos amarradas para trás e sacos sobre suas cabeças. E isso era a
justiça das Highlands, no que lhe dizia respeito.
Estava montada no alazão castrado de Calder. Na sociedade educada, nunca
teria ousado fazer uma coisa dessas, especialmente num vestido de passeio.
Ou melhor, antes dos últimos dias, ter-se-ia sentido mortificada se fosse
apanhada no que estava fazendo. Agora, sentia ser importante que estivesse
retornando para Glengask em seus próprios pés, por assim dizer.
—Não vão a lugar nenhum—, disse Lachlan ao seu lado.
—Eu sei. É... satisfatório vê-los assim. Só queria que pudéssemos galopar
mais. E trotar. O trote foi o pior.
Ele estendeu a mão e tocou o seu rosto. Estava fazendo isso com
frequência, tocando-a, como se ainda não conseguisse acreditar que a tinha
alcançado a tempo e conseguido resgatá-la. Sabia o tempo todo que ele iria
alcançá-la, mas nesse momento, sentia-se tão cansada que às vezes se
perguntava se ainda seria prisioneira de Dermid e se estava sonhando que já
tinha sido salva.
Bear os tinha deixado cerca de uma hora atrás, para ir na frente e dizer a
Ranulf que a tinham resgatado. Esperava que todos os seus irmãos saíssem
para encontrá-los, e também provavelmente o Campbell —se Ranulf se
incomodasse em contar-lhe o que seus netos e sobrinho-neto tinham feito até
agora.
Abruptamente, ela respirou fundo. —Maldição!
—O quê?—Perguntou Lachlan, parecendo alarmado.
—Ranulf deveria ter-se casado com Charlotte ontem. Esqueci
completamente!
—Isso é compreensível. Não se preocupe.
—Mas...
—Ele disse que esperariam até que estivesse segura em casa. Agora você
está segura, e quase em casa.
Sim, estava quase em casa. Não estava tão certa de que seria o fim de seus
problemas, no entanto. Porque se Ran ainda quisesse que se casasse com
Lorde Rob, ela não ficaria. Ficaria com Lachlan, onde quer que tivessem que
ir. O que quer que tivessem que fazer. Comparado a ser sequestrada e passar
horas em um túnel escuro com ratos e um homem que não teria piscado em
matá-la, maldição, poderia muito bem falar o que pensava para seu irmão.
Nem seria intimidada por ele novamente.
Contornaram a estrada que corria ao longo do lago, e em seguida,
começaram a subir a colina em direção ao castelo. Quando olhou para cima,
ansiosa para ver a bandeira escocesa e o brasão Glengask flutuando acima do
telhado, fungou no alazão. Um soluço aliviado partiu de seu peito.
Ranulf descia a colina em sua direção. Arran o acompanhava, e Bear estava
diretamente atrás deles, com Mary e Charlotte em cada braço. Jane corria ao
lado de Tio Myles, com um sorriso úmido no rosto. Uma mão tocou seu pé, e
ela pulou.
Lachlan já tinha desmontado, e com um sorriso, ergueu-lhe os braços. Não
estava montada de lado, e poderia descer do cavalo sozinha, exceto que de
repente sentia-se vacilante. —Não pense muito sobre isso, moça—, murmurou,
colocando-a no chão. —Estão felizes em vê-la segura em casa.
Sim. Isso era tudo. Não que seu irmão e sua noiva não tivessem atrasado
seu casamento para esperá-la, ou que sua família provavelmente estivesse
preocupada e abatida, durante três dias. Estava em casa.
Ranulf não parou sua aproximação até que a envolveu em seus braços,
prendendo-a duramente contra seu peito. Por um momento se sentiu como a
menina que tinha sido uma vez, precisando de seu irmão mais velho para
abraçá-la e dizer-lhe que tudo estava bem. Mas nada seria tão simples. E não
era apenas de seus irmãos que precisava perto dela.
—Você está bem, piuthar?—Perguntou, suas mãos em volta dela tremendo
um pouco.
—Tenho alguns cortes e contusões, mas nada que não se cure—, voltou,
estendendo a mão para apertar a mão de Jane.
—Isso foi o que nos disse Munro—, Ranulf disse, soltando-a finalmente.
—Ainda queria ouvi-la com meus próprios ouvidos. E lhe ver com meus
próprios olhos.
Agora Arran estava indo abraçá-la. —Bear disse que se lançou numa luta e
tanto, Winnie.
—Claro que sim—, concordou. —Queria voltar para casa.
—Escapamos nessa direção—, continuou ele. —Os clãs reunidos e toda a
família estão esperando para recebê-la em casa, mas Ran achou que gostaria
de um momento para respirar primeiro.
Ela assentiu com a cabeça. —Sim. Mas tenho algo que preciso dizer para
Ran, caso não queira festejar a minha volta, afinal.
Arran olhou-a. —Ele não dormiu em três dias, piuthar. Não comece uma
discussão se puder evitá-la.
Porque tudo tinha que ser tão complicado? Claro, não queria lutar com
Ranulf. Não queria desapontá-lo, também. Mas também não estava disposta a
deixar Lachlan ir. Deliberadamente, virou-se, para encontrar Lachlan falando
com Ranulf e Myles, os três se revezando olhando para seus companheiros de
viagem relutantes.
Talvez Arran estivesse correto. Talvez pudesse esperar até que Ranulf e
Charlotte se casassem. Se era sua culpa ou não, sua ausência tinha feito com
que atrasassem o casamento. Com um suspiro, aproximou-se para abraçar
Charlotte. —Sinto muito que esse absurdo tenha arruinado as coisas—, disse
sensivelmente.
—Isso é bobagem—, sua quase cunhada comentou. —Sinceramente duvido
que alguém tenha feito uma única queixa sobre ficar em Glengask durante mais
um dia ou dois. E se seu irmão e eu estamos casados ou não, estamos... juntos.
—Suas bochechas coraram. —Quero dizer...
—Você o ama e ele lhe ama, e a cerimônia é para os outros. Vocês já
sabem.
Charlotte sorriu lentamente. —Sim. Já sabemos.
Olhou por cima do ombro para Lachlan novamente. —Eu também.
Depois que todos se abraçaram e perguntaram se estava bem, Peter Gilling
e os dois cavalariços levaram os cavalos e os Gerdenses para fora da vista em
direção ao estábulo. Ranulf tomou seu braço e os encaminhou para a parte de
trás da casa grande. —Prefiro não esgueirar-me em minha própria casa, mas
Lachlan quer conversar com Samston antes que descubra que você está a
salvo.
Ela assentiu com a cabeça. —Nós conversamos sobre isso.
Ele olhou-a. —Não quero irritar você, mas fico contente em ouvir sua doce
voz com seu sotaque natural novamente.
—Sou uma moça das Highlands. Mordi um homem no rosto, debandei
cavalos, roí uma mordaça, soltei minhas próprias amarras, e me escondi em
um túnel de fuga de cinco séculos de idade. Gosto de Londres. Gosto de
dançar, e gosto de ir ao teatro. Mas não sou uma Sassenach. Nem quero ser
uma.
Seu sorriso agradou-a e fez com que se sentisse mais culpada. Colocou seus
irmãos em uma grande confusão, bem antes do seu sequestro. E pelo amor de
Deus, colocou Lachlan numa ainda maior. Queria estar com ele, adormecer em
seus braços. Mas primeiro tinham que passar o resto do dia.
Dentro da casa, Ranulf a acompanhou até seu quarto, como se pensasse que
poderia desaparecer novamente. —Desça quando estiver pronta—, disse,
beijando-a na testa.
—Só vou demorar uns vinte minutos.
Para sua surpresa, ele sorriu. —Vai levar o mesmo tempo para fazer
Mitchell parar de chorar.
Com um sorriso de volta, abriu a porta e entrou para assegurar a sua criada
que estava realmente viva, e que sim, poderia usar um vestido, mesmo com o
ombro machucado e ataduras em seus pulsos.
Lachlan tinha colocado aquelas ataduras nela, e a... raiva em seus olhos a
fez se preocupar se os Gerdenses viveriam o tempo suficiente para serem
entregues a Ranulf. Tinha crescido com contusões e joelhos ralados, e
enquanto ele tinha sido geralmente simpático, todos sabiam que os tinha ganho
por vontade própria escalando com os meninos. Estas, porém – tinham-lhe
sido feitas.
—Och—, Mitchell estalou, enquanto escovava os cabelos de Rowena.
—Tem nós e grama e, provavelmente, ninhos de pássaros em seu lindo cabelo,
minha senhora.
—Arranjei alguns rolando na terra.—Sorriu enquanto falava; evidentemente
ainda seria uma moça com nós em seu cabelo.
—Seu irmão, o Marquês, mandou rapazes para a cabana de cada aldeão e
cães de caça a esconderijos e a estalagens por cem milhas, procurando um
sinal de você—, a criada prosseguiu. —Homens MacLawry vieram de todos
os cantos das Highlands para ajudar a encontrá-la. Lorde Arran queria seguir
Lorde Munro e Lorde Gray, mas o MacLawry disse que não poderíamos
colocar todos os nossos rapazes atrás de uma possibilidade.
—Sabia que alguém iria me encontrar—, Rowena retornou. Também sabia
que seria Lachlan, mesmo depois que o tinha visto ser esfaqueado. Precisava
acreditar que ele estaria lá, não Bear, ou Arran, ou mesmo Ranulf. E se
perguntou onde estava agora, porque ela o queria. Calor subiu por sua espinha,
estabelecendo-se entre suas pernas.
Alguém bateu à sua porta. Enquanto duvidava que Lorde Samston ousaria
vir chamar, particularmente porque não deveria saber ainda que estava em
casa, mandou Mitchell atender a porta. A criada abriu a porta, fez uma
reverência e recuou quando Lachlan entrou.
—Deveria ir para casa e trocar de roupa—, disse, apontando para o seu
kilt sujo, camisa branca manchada, e botas enlameadas. —Não poderia sair da
casa sem falar com você.
—Mitchell disse que eu tinha nós no meu cabelo—, anunciou, levantando-
se da penteadeira.
—Não posso dizer que estou surpreso—, voltou com um sorriso. —Está
muito bem, agora. Uma dama adequada.
Por um momento, estudou sua expressão. —Sou uma dama. E sou uma moça
das Highlands.
—Sim, você é.—Estendeu a mão, segurando ambas as mãos dela. —Sabe
que lhe amo, Rowena.
Ela assentiu. —Sei. E também lhe amo, Lachlan.—Tinha tentado se
apaixonar por alguém, qualquer outra pessoa, mas isso nunca tinha acontecido.
Sempre e somente havia sido Lachlan MacTier.
Lachlan respirou fundo. —Provavelmente deveria ser prudente e astuto, e
esperar para fazer o reconhecimento do terreno antes de pedir permissão a seu
irmão para me casar com você. Mas, em primeiro lugar, não sei se vai dar a
sua permissão, e em segundo lugar, não quero ser prudente.—Ajoelhou-se.
Oh, meu Deus. De repente, não conseguia respirar. Tudo o que conseguia
ouvir era o bater duro de seu coração em seus próprios ouvidos, e o suspiro
de Mitchell em algum lugar atrás dela. Claro, ele queria a criada lá
—poderiam exigir uma testemunha. —Lachlan—, murmurou.
—Somos amigos desde que nasceu, Rowena. Às vezes acho que estávamos
muito perto como amigos, porque por um tempo não lhe vi como qualquer
outra coisa. Mas a vejo agora. Vejo quão linda é, quão feroz, gentil e
inteligente. Não quero perder mais tempo do que poderíamos passar juntos. Eu
lhe amo. Eu lhe adoro. Diga que será minha esposa, Rowena.
Uma lágrima desceu pelo seu rosto. Por um longo momento, o olhou.
—Quando eu era uma criança—, disse lentamente, —eu imaginei que me
estava pedindo em casamento. Estaria em um grande cavalo branco, e o vento
bateria em seu cabelo. Você diria, ‘você é minha, moça,’ me colocaria em seu
cavalo com você, e iríamos embora. Mas você não é esse homem.
Ele deu um leve franzido. —Wh...
—Silêncio. Estou falando. Não é um senhor imaginário com raios
disparando de seus olhos. Você é Lachlan. É corajoso, teimoso, e
enlouquecedor, e oh, tão bonito, e gentil e caloroso e... Você é tudo. E eu lhe
amo. E sim, serei sua esposa.
Com pressa, levantou-se novamente, balançando-a nos braços e beijando-a
ao mesmo tempo. Rowena riu. Isso foi muito melhor do que ser transportada
em um cavalo branco por algum homem perfeito e imaginário. Jogou seus
braços ao redor de seus ombros, tendo cuidado com seu ferimento, e afundou-
se contra ele.
—Oh, meu Deus!—Exclamou Mitchell, pulando para cima e para baixo e
batendo palmas.
Lentamente, Lachlan voltou a pousá-la no chão. —Nunca se vai arrepender,
minha moça feroz. Pode-me mostrar Londres, as festas e o teatro.—Não lhe
vou tirar isso.
—Gostaria de mostrar-lhe Londres—, retornou, —mas apenas para visitar.
Sou uma moça das Highlands, afinal de contas.
Ele sorriu-lhe. —É muito mais do que isso, reconheço.—Lachlan olhou
para a criada. —Nem uma palavra sobre isso, Mitchell. Vamos contar à
família quando chegar o momento.
—Claro, meu senhor. Claro.
Pegando uma de suas mãos novamente, levou Rowena até à porta. —Está
pronta?
Ela assentiu, mas sabia que podia sentir o tremor em seus dedos. Pelo amor
de Deus, tinham tido umas angustiantes vinte e quatro horas, se pudesse dizer
isso a si mesma, seguidas de uma viagem cansativa para o norte, com seus três
captores a poucos metros dela. Tudo isso fez com que desejasse que Ranulf
tivesse decidido ser um pouco menos sutil. Bear tinha comentado várias vezes
durante a viagem de volta a Glengask que uma claymore acima dos ombros,
acabaria com Lorde Samston —e os outros três —muito mais rápido e
eficientemente. Evidentemente, não era uma boa moça Highlands, porém,
porque apenas a ideia a fez estremecer.
Nem ela nem Lachlan tinham falado sobre Lorde Rob Cranach, mas sabia
que ele tinha que estar pensando sobre isso. Ou, mais provavelmente, queria
saber se Ranulf iria continuar pressionando o pedido de casamento. Ele a tinha
pedido em casamento há apenas alguns dias atrás, depois de tudo. E sim, se
casaria, mas não com um Buchanan. Estava comprometida.
O resto da família estava no foyer, e Lachlan apertou seus dedos antes de
soltá-la, enquanto desciam as escadas. Quanto mais cedo lidassem com
Samston e os Gerdenses, mais cedo poderiam informar a Glengask que
Lachlan se havia proposto e tinha aceitado. E que quaisquer que fossem os
planos do Marquês, eles tinham os seus próprios.
Ranulf ofereceu o braço, e envolveu seus dedos ao redor de sua manga.
—Deveria estar andando com Charlotte—, ela disse, enquanto Cooper abriu a
porta da frente.
—Hoje isso é sobre você—, retornou. —E certificando-se de que está a
salvo de qualquer pessoa que decida interferir nos assuntos do clã.
O grupo começou a descer a colina. Uma vez que se aproximaram da
reunião, tinha que estar pronta para o que pudesse acontecer. E enquanto podia
ser feroz, uma parte dela desejava que seus irmãos e Lachlan cuidassem de
Samston e dos outros três e a deixassem fora disso. Hoje tinha-se tornado o
dia mais feliz de sua vida, e queria alguns malditos minutos para apreciá-lo,
para compartilhar as notícias com sua família e amigos. Em vez disso, tinha
que esconder, porque seu irmão queria algo diferente para ela do que queria
para si mesma.
O Marquês olhou-a. —Não perguntou por Lorde Rob—, disse ele.
Por mais perspicaz que ele fosse, nem mesmo um MacLawry podia ler
mentes. Estava certa disso. —Não estava lá para me cumprimentar mais cedo
—, retornou. —Eu... Me esqueci dele, realmente.
—Tinha um rapaz diferente em sua mente, não é?—Replicou.
Antes que pudesse comentar sobre isso, eles se excederam. Meu Deus.
Mitchell não tinha exagerado quando disse que Ranulf tinha todos os homens
MacLawrys procurando por ela, porque estavam todos aqui agora —junto com
suas esposas e filhos. Havia quase setecentas pessoas no prado, quando partira
há pouco mais de três dias. Agora, parecia haver duas vezes isso. E todos
estavam vindo em sua direção, aplaudindo.
Lachlan recuou um pouco quando os clãs reunidos fecharam em Ranulf e
Rowena. Ele e seus irmãos haviam-lhe dito que ela era a queridinha do clã
MacLawry, e se não acreditasse hoje, nunca o faria. Eles a adoravam, tanto
porque ela era uma MacLawry, quanto pelas obras que fazia para os mais
pobres. Ranulf concentrara-se na educação e no emprego, mas Rowena tinha-
se assegurado que todos estivessem alimentados e tivessem telhados sobre
suas cabeças.
Samston e os outros que se tinham instalado para o almoço na chamada
tenda Sassenach, juntaram-se à multidão, mas Bear e Arran estariam
observando Samston. Lachlan estava à procura de um outro homem —Lorde
Robert Cranach. O homem merecia ser humilhado logo no início. Se não fosse
por nada mais, uma moça tinha desaparecido, e não se tinha preocupado em
deixar esse fato perturbar seu jantar. Mas era pior do que isso. Ela e Cranach
estavam —tinham sido —praticamente noivos. O bastardo não seria digno em
lhe desejar felicidades, porque nunca se preocupou com sua ausência.
Talvez, porém, tivesse algum senso, porque Lachlan não poderia encontrá-
lo —ou qualquer sinal de Buchanan —de fato. Bem, então. Bateria em Lorde
Rob em outra ocasião. Agora, seria a vez de Samston.
Com um aceno de Arran, dirigiu-se para a multidão, fazendo o seu caminho
para ficar justamente atrás da esquerda do Conde, enquanto o irmão
MacLawry do meio se deslocava para a direita. Bear se ofereceu para ser o
seu segundo, mas então Samston nunca chegaria à frente do encontro, e Bear
terminaria na prisão.
No mesmo instante, cada um deles pegou um dos braços do Conde e o
conduziu para a frente. —O que é isso?—Perguntou Samston, franzindo o
cenho.
—Ranulf e Winnie querem falar com você—, disse Arran. —Nunca
conseguirão chegar a você, por isso estamos levando-o para eles.
—Posso andar sozinho, então. E por que me querem ver? Winnie fez com
que seus sentimentos em relação a mim ficassem bem claros.
—Sim—, Lachlan assumiu. —Sim. E você fez o mesmo com ela.
Samston começou a puxar contra o seu domínio. Juntos, porém, ele e Arran
podiam conter Bear, mas o esguio Conde não tinha chance de escapar. Em um
momento, pararam diretamente na frente do MacLawry e sua delicada irmã,
assim como Bear chegava com o Campbell ao seu lado.
Como um Sassenach, o Conde provavelmente não tinha uma verdadeira
percepção da precária, nauseante e arriscada posição em que estava, sendo
confrontado por dois dos chefes de clãs mais poderosos das Highlands. Ele
saberia em um minuto, no entanto.
—Ah, Samston—, Ranulf falou lentamente, seus olhos azuis gelados.
—Ouvi um conto ou dois, e queria sua opinião sobre eles.
—Que histórias?
—Bem, em primeiro lugar, você beijou minha irmã e, em seguida, parecia
querer usar isso para pressioná-la em casamento.
—Isso é um absurdo. Nunca ouviu tal coisa de mim.
—Sim. É uma coisa boa que não tenha ouvido.
Samston tentou novamente liberar um braço, mas Lachlan não se moveu. Ele
e Arran tinham suas asas cortadas, mas o dia em que não conseguissem
segurar-se contra um homem como Adam James era o dia em que estariam
mortos. —Sou seu convidado, Lorde Glengask. Não vou ser mantido preso
contra a minha vontade.
—Interessante escolha de palavras, Samston.—Ranulf virou a cabeça.
—Peter!—Gritou.
Um amplo círculo se formou em torno deles. Todos claramente queriam ver
e ouvir o que estava acontecendo, mas da mesma forma, nenhum deles queria
estar perto o suficiente para serem apanhados no que quer que isso fosse.
Lachlan enviou um sorriso encorajador para Rowena, e quando lhe sorriu de
volta, sentiu seu pênis despertar.
Isto tinha de ser muito mais difícil para ela do que para ele. Tudo o que
tinha que tentar dominar era o crescente ódio acumulado. Ela estava de frente
para o homem que tinha incentivado seu sequestro. O apertou ainda mais.
Lorde Samston não iria a lugar nenhum.
Peter Gilling apareceu da direção do estábulo. Atrás dele, algemados e
amarrados como cães, tropeçavam Charles Calder, Arnold Haws, e Dermid
Gerdens. Meia dúzia de homens MacLawry os rodeavam, todos armados até
aos dentes.
—Obrigado, Peter—, Ranulf disse friamente. —Dermid Gerdens. Suba
aqui e converse com o Campbell.
O rosto do homem grande, inchado por ter sido golpeado nos últimos dias,
empalideceu. Mancou para a frente, dois cavalariços segurando suas amarras.
—Vossa Graça, eu...
—Conte-me sobre a conversa que teve com esse Sassenach, Dermid—, o
Campbell interrompeu. —Não quero ouvir mais nada de você.
—Sim, Vossa Graça. Disse que você tinha errado em banir meu irmão, e
que precisava de bastante poder e riqueza para fazer você trazê-lo de volta.
Disse que se eu pegasse Winnie MacLawry, tal como os Highlanders usavam
para levar as mulheres que queriam, Glengask teria que me pagar seu dote e
me dar a terra.
O Duque assentiu. —Como Calder e Haws acabaram envolvidos com isso?
Não foram convidados para este encontro.
—Avô—, Calder começou, tentando soltar-se. —Posso explicar.
—Sim, imagino que possa, Charles. É por isso que quero ouvir isso de
Dermid. Ele não usa palavras bonitas e mentiras complicadas.
—Nós...—Dermid engoliu. —Charles disse que não tinha terminado com
Arran MacLawry, então ele e Arnold estavam esperando por perto. Contei-
lhes o que Lorde Samston me disse, e decidimos levá-la.
Todos esses três homens eram netos do Campbell. Ranulf estava assumindo
um risco ao permitir que o Duque de Alkirk conduzisse o interrogatório, e por
tê-lo presente para ouvir quaisquer decisões sobre esses homens. A paz tinha
apenas algumas semanas. Em termos históricos, era provavelmente a mais
longa entre os Campbells e o MacLawrys em trezentos anos.
E então Ranulf surpreendeu Lachlan novamente. —Vossa Graça—, disse o
Marquês, —são seus homens. O que gostaria de fazer?
Por um longo momento o Duque olhou para os seus netos. Olhos cinzentos
frios, a espinha rígida, e cabelo curto grisalho —parecia exatamente quem ele
era, o antigo líder de um clã muito poderoso. Finalmente, olhou para Glengask.
—Não precisava de mos entregar, MacLawry. Significa muito para mim o que
você fez. Dermid quer seu irmão. Acho que todos os três se podem juntar a
Berling no Canadá. Não quero que andem na mesma terra em que estou. Se
você estiver de acordo com isso, como a parte prejudicada.
Hoje o dia fora cheio de milagres. Lachlan esperava que houvesse espaço
para mais um.
Ranulf assentiu. —Sim. É muito gentil. Obrigado, Campbell.
Isso deixou Samston. Ranulf começou a avançar, mas Rowena estendeu uma
mão e parou. Em vez disso, caminhou até ao Conde, que agora estava pálido.
Se Lachlan e Arran não estivessem segurando-o, provavelmente teria
desmaiado. Isso poderia ter sido divertido, mas também o deixaria livre para
tentar algo. E isso não aconteceria.
Parou dois passos na frente de Samston. —Gostava de você—, disse
simplesmente. Então deu-lhe um tapa no rosto. Forte. —Agora pode deixar as
Highlands. Se eu colocar de novo os olhos em você, está morto. Se ouvir que
passou ao norte da Muralha de Adriano[25] por qualquer motivo, está morto.
Tem cinco minutos para recolher suas coisas. Tudo o que deixar para trás, será
queimado.—Olhou por cima do ombro. —Alguma coisa que queria
acrescentar, bràthair?
—Não. Isso deve servir.
Lachlan empurrou o Conde para o chão. E então todos se afastaram dele.
Dentro de uma hora, Ranulf conseguiu levar Rowena junto de todos os que
queria que ela especialmente agradecesse, e foram capazes de retornar para a
casa. —Charlotte—, o Marquês disse, abrindo caminho para a sala matinal,
—Quero-me casar com você amanhã. Tem alguma objeção a isso?
—Não—, retornou, sorrindo. —Estamos todos onde deveríamos estar. Não
preciso de mais nada.
—E eu não preciso de mais nada além de você—, retornou, depois olhou
para o resto deles. —Porque todos os meus nervos estão em frangalhos,
apreciaria se ficassem em casa o resto do dia. Você também, Lach; mandei
Owen buscar seu traje formal. Está no quarto em frente ao de Bear.
Isso funcionou bem, como Lachlan não tinha intenção de sair sem ter um
momento —ou vários deles —com Rowena. —Como quiser.
—Bom. Tenho algumas coisas para ver, mas vou estar por perto.—Ele
girou nos calcanhares.
—Onde está Rob Cranach?—Lachlan perguntou, antes que Ranulf pudesse
sair da sala.
Rowena lhe lançou um olhar penetrante. Sim, queria esperar até depois do
casamento, mas Ranulf estava tomando decisões com tanta rapidez que tinha
certeza que não podiam esperar tanto tempo. Ela seria dele. E quanto mais
cedo todos percebessem isso, menos chance havia de dificultarem as coisas
mais tarde.
Ranulf virou-se. —Cranach está a caminho de casa, acho eu.
—Ele está?—Rowena deixou escapar. —Por quê?
—Você o quer, moça? Tive a impressão de que não.
—Não, não o quero. Mas por que está a caminho de casa?
Seu irmão entrou mais na sala novamente e fechou a porta atrás de si.
—Porque não gostei do jeito como ele comia—, disse sucintamente.
Agora Bear estava apreensivo. —O quê?
—Quando Rowena desapareceu, Cranach e seu primo sentaram-se para
jantar. Como tinha acabado de concordar em dar-lhe algo muito precioso para
mim, isso me deixou preocupado quanto à forma como ele a via.—Olhou
fixamente para Lachlan. —Você apontou isso para mim, se bem me lembro.
—Sim. Eu o fiz.
—Também mencionou alguma coisa sobre Rowena ser o coração deste clã,
e o que aconteceria conosco se deixasse de ser uma MacLawry.
Um baque estranho e esperançoso começou a bater em algum lugar na
região do coração de Lachlan. Ranulf era um maldito obstinado e estava
acostumado a ter razão e que sua palavra fosse a lei. A menos que estivesse
interpretando mal os sinais, porém, gostava do que Ranulf estava dizendo.
—Mencionei isso—, retornou. —E mantenho isso.
—E, mesmo assim disse que não queria Rowena.
Esperança caiu novamente. —Cometi um erro. O que digo agora é que não
vou ter ninguém a não ser Rowena.
—Hm.—O Marquês voltou sua atenção para a sua irmã, a poucos metros de
distância. —Deixou bem claro, moça, que tem algumas opiniões fortes sobre
com quem quer casar. Onde Lachlan se enquadra na lista?
—Não existe uma lista—, retornou. —Vou ter Lachlan, ou mais ninguém.
—Se estão tão certos um sobre o outro, por que não lhe propôs, Lach?
Lachlan respirou fundo. —Eu propus.
—Propôs, agora? Quando pensou que se casaria com outro homem?
Ele olhou para o perfil de Rowena, enquanto tentava observar seu irmão.
—Você pode ter pensado que ela estava se casando com outro homem,
Glengask, mas não estava. Eu não o permitiria. Vai casar comigo, quer você
goste ou não.
Ranulf cruzou os braços sobre o peito. —O que disse quando ele lhe
propôs, piuthar?
—Disse sim. Não quero desapontá-lo, Ranulf. Você é meu irmão, e eu o
amo. Faria qualquer coisa por você. Tudo menos casar com um homem que
não amo, quando o homem que amo está de pé ao meu lado.
Lentamente Ranulf soltou o fôlego, seus ombros abaixando quando deixou
cair as mãos novamente. —Pelo amor de Deus, os dois nos enlouqueceram.
Reconheço que alguma coisa daquilo foi minha culpa. Fiz suposições e não
lhes dei a chance de descobrir as coisas por si mesmos.
—Ran, fez o que achou melhor. Sempre faz—, disse Rowena, caminhando
até colocar a mão em um de seus braços.
Ele segurou sua bochecha com a mão livre. —Tem a minha bênção,
Rowena. Vá beijar o rapaz antes que ele entre em combustão.
Com um grito feliz, Lachlan avançou e agarrou-a, girando-a e dando-lhe um
sonoro beijo em sua boca. Dezoito anos estando em caminhos diferentes, e
finalmente alcançaram o mesmo destino ao mesmo tempo. Juntos. Ela jogou os
braços ao redor de seus ombros e beijou-o de volta, rindo.
—Maldição, já não era sem tempo!—Bear rugiu, batendo-lhe com tanta
força nas costas que quase caiu sobre Rowena.
Lachlan ergueu a cabeça. —O que o fez mudar de ideia, Ran?—Perguntou,
embora provavelmente devesse ter mantido a boca fechada. Não era só que
tinha visto que Cranach não seria a pessoa certa para ela, porém. Algo tinha
finalmente voltado Ranulf em sua direção.
—Você foi esfaqueado, de um lado a outro—, Ranulf respondeu,
caminhando e oferecendo sua mão. —Não ficou para trás, mesmo quando
deveria. Me empurrou e me colocou em meu lugar, e então cavalgou por quase
vinte e quatro horas e a encontrou. Cuidou dela. Você a ama. É isso que ela
merece.
—Eu a amo—, respirou, e beijou-a novamente, mais suavemente desta vez,
ignorando os parabéns sendo dados ao seu redor. —Amo você.
Com um suspiro, apoiou seu corpo leve no dele. —É melhor mesmo,
Lachlan—, murmurou de volta, um sorriso em sua voz. —Sou uma moça feroz
das Highlands, e não aceitarei nada menos.
Ele riu. —Eu lhe amo, Rowena. Não vou lhe dar nada menos do que isso.

[1] Piuthar: (gaélico) irmã.


[2] Bràthair: (gaélico) irmão.
[3] Sassenach: (gaélico) termo para Inglês, usado pelos Escoceses das Terras Altas, com conotação
pejorativa.
[4] Leannan: (gaélico) amor, doçura, anjo; querida.
[5] Haggis: Enchido escocês muito típico, feito com o estômago de carneiro, recheado com as
vísceras, aveia e especiarias. Serve-se depois de cozido.
[6] Amadan: (gaélico) Imbecil.
[7] Cabers: Esporte escocês, que consiste em levantar um tronco de árvore verticalmente e, em
seguida, lançá-lo, lançando-o para que ele caia na sua outra extremidade. O objetivo não é a distância,
mas pousar o mais vertical possível.
[8] Ya Bas: (gaélico) abreviatura de bastardo.
[9] Oidhche mhath: (gaélico) Boa noite.
[10] Leannan: (gaélico) querida; amor; doçura; tesouro; anjo.
[11] Fiddlers: rabequistas.
[12] Maide Leisg: (gaélico) literalmente Bastão Preguiçoso: prova de força realizado por dois
homens sentados no chão, com as solas dos seus pés pressionando um contra o outro. Assim sentados,
ficam com uma vara entre suas mãos que eles puxam um contra o outro até que um deles seja levantado
do chão.
[13] Kilt: espécie de saia pregueada, que faz parte do traje nacional da Escócia.
[14] Bedlam: Asilo de loucos/Hospício, muito famoso em Londres nesta época.
[15] Claymores: grandes espadas de dois gumes.
[16] Pé: medida inglesa, correspondente a 30,48 cm.
[17] Tartan: tecido axadrezado com as cores de cada clã.
[18] Confusão entre ovelha (sheep) e feixe (sheaf)
[19] Referência às diferenças entre a pronúncia escocesa e a inglesa.
[20] Ver o 1º volume da Série.
[21] Ver o 2º Volume da Série.
[22] Amadan: (gaélico) Imbecil; idiota.
[23] Seannair: (gaélico) Palavra composta por sean (velho) e air (preposição com vários
significados, incluindo (por cima de; acima de). Também significa avô. Neste contexto refere-se ao
anterior chefe do clã MacLawry, pai de Ranulf, Arran, Munro e Rowena.
[24] Ver o 2º Volume da Série.
[25] Muralha construída no séc II da nossa era (ficou pronta em 126 d.C.) pelos Romanos, durante a
vigência do Imperador Adriano. Estende-se por 118 Km, mais ou menos na atual fronteira entre a Escócia
e a Inglaterra.

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