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A vingança errada.
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SafeCreative N. 2010085571133
***
Rachel acordou no dia seguinte com um sorriso. Durante toda a madrugada
pensou em Michael. Seus lábios pinicavam quando pensava aqueles beijos.
Seus mamilos incharam quando ela se lembrou do ardor daquela boca sobre
eles, mas sabia que tinha sido apenas a experiência de uma noite.
Pegou o celular e viu várias chamadas perdidas de Tamera. Escreveu-lhe
dizendo que a noite não teve contratempo. Sua amiga respondeu que, no
final, nenhum deles acabou detido na delegacia. Conseguiram um acordo
com os agentes e prometeram não fazer fogueiras nas praias da região.
Rachel deixou o telefone depois de se despedir de Tamera e foi tomar o
café da manhã. Não ia contar a ninguém sobre Michael. Seria o seu segredo.
“Uma louca aventura juvenil para contar aos meus netos.” Embora a verdade
é que teria gostado de experimentar em profundidade a sensação de voar
sobre chamas e se sentir invencível. Teria gostado de sentir a pele vibrar com
os cinco sentidos enquanto as mãos e o corpo de Michael a levavam a
experimentar algo que jamais havia conseguido com nenhum outro homem.
Com um suspiro, chegou ao patamar da escada. Viu sua tia. Sorriu.
— Bom dia, filha. Senti você chegar tarde. Foi tudo bem? — perguntou
Ariel com um olhar radiante de carinho.
Ariel Galloway era viúva, e cuidava de sua sobrinha há três anos. Seu
único irmão, Shelton, e sua esposa Hilary, haviam morrido anos atrás em um
doloroso acidente em uma rodovia em sua cidade natal, Chicago. Não tinham
mais família.
— Sim tia. Chegou carta da minha irmã?
Ariel, com seus cabelos loiros e mechas grisalhas, negou.
— Sinto muito, Rachel...
— Oh — sussurrou misturando o açúcar no café. Sentia falta de Piper.
Sua irmã era dez anos mais velha e a mimava muito. Ou ao menos costumava
fazer isso quando era livre. Tinham sido felizes juntas. Seus pais morreram
quando ela tinha onze anos e Piper, vinte e um, sua irmã ficou responsável
por ela. Tudo ia bem até o dia em que um infame incidente as separou,
obrigando-a a sair de Chicago para pedir abrigo a sua tia, que não tinha
filhos. Ariel a recebeu de braços abertos e sempre lhe dera conselhos e o
amor que precisava. — Sinto falta dela... ainda acredito em sua inocência.
Ariel suspirou. Essa era a eterna discussão entre as duas. Sua sobrinha,
Piper, havia sido condenada a vários anos de prisão por tráfico de drogas,
uma acusação que a magoou, mas como jornalista aposentada ela conhecia
certas informações às quais Rachel não tinha acesso, nem jamais teria. Não
podia mostrar as fotos que um amigo seu da DEA possuía. Algumas fotos
que foram decisivas para a condenação de Piper.
Viver com Rachel não era difícil. Infelizmente, as memórias de uma
menina de onze anos, que tinha permissão para viver em reuniões de adultos
e fazer o que quisesse, não eram fáceis de contradizer ou confrontar o que era
realidade. Piper era descuidada, uma má tutora para sua irmã, e praticamente
a fazia ir de festa em festa, mantendo-a acordada até tarde da noite. Rachel,
em sua pouca idade, na época, não sabia que nessas festas eram feitos
contatos para a entrega de drogas. Pior foi saber que aqueles vestidos
maravilhosos, o apartamento de luxo e o motorista que a levara para a escola
particular cara foram pagos com dinheiro sujo.
—Vai querer torradas com geleia ou manteiga? — perguntou mudando de
assunto, enquanto deixava um prato sobre a mesa.
— Geleia. — Olhou em volta como se estivesse procurando algo. — Tia,
não cancelou a assinatura do Chicago Tribune, certo?
— Claro que não. Eu sei o quanto é importante para você saber o que
acontece naquela cidade — comentou enquanto is buscar o jornal. Ao voltar
da sala deixou o exemplar junto ao prato de Rachel, e logo se sentou à mesa
com uma xícara de chá. — Vejo você particularmente feliz hoje. Algo que
deseja compartilhar? — Perguntou tomando um gole de Irish Breakfast Tea.
— Eu me diverti muito ontem à noite — respondeu, esperando não ter
corado. Tomou um gole de café e pegou o jornal. — O tempo está bom hoje,
então acho que vou dar um passeio na praia. Sabe? Tenho que voltar para
Chicago...
— Eu entendo muito bem, querida. Você é uma garota maravilhosa, e eu
sei que ficará bem onde quer que more. Sempre poderá voltar. Esta é a sua
casa também — estendeu a mão sobre a mesa e apertou a de Rachel. —
Nunca esqueça, Rachel. — Olhou pela janela da sala de jantar, com vista
para a praia. — Há um sol lindo. Se for sair, faça-o logo, antes que o sol fique
mais intenso.
Rachel rasgou o embrulho de plástico que cobria o jornal e começou a
folhear as páginas. Ele se divertiu comentando algumas notícias para a tia
Ariel, ao mesmo tempo que dava conta das três torradas. Abriu a seção
Celebridades. Não entendia como as pessoas pomposas tinham a necessidade
de anunciar seus compromissos e bobagens em um jornal. Não sabiam
apreciar a intimidade?
Folheou as fotografias. Até que uma chamou sua atenção. A mão dela
tremia. Levou os dedos até a boca, nervosa. “Não, não podia ser.”
—Rachel? O que aconteceu? Você de repente empalideceu.
Leu a legenda novamente pela quinta vez, caso tivesse se confundido.
Nem a foto mudou de lugar, nem a legenda se corrigiu.
—Na… nada, tia. Uma foto boba que me surpreendeu é isso — respondeu
tentando minimizar a importância. Mas o papel queimava em sua mão e seus
olhos ardiam com as lágrimas que não pretendia derramar. Esteve a ponto de
fazer amor com o carrasco de sua irmã.
Raymmond e Francine Bechmenton, de Western Springs, têm o prazer de
anunciar o noivado de sua única filha, Lara Bechmenton, com Douglas
Whitmore, filho de Jack e Louisa Whitmore, de Park Ridge, e irmão de
Michael Whitmore...
“Michael Whitmore.”
O homem que devia odiar com todas as suas forças em vez de estar
pensando naquele beijo, naquelas mãos... Droga!
Tinha vontade de quebrar algo. Ir até ele e esbofeteá-lo.
“Com que desculpa? Não tinha nenhuma”, ela disse a si mesma derrotada.
Não tinha como reconhecer Michael. Vários anos se passaram desde o
julgamento. Um julgamento a que nunca foi porque sua irmã havia pedido;
implorou em lágrimas, dizendo-lhe que um tribunal não era o lugar para ela.
Mas principalmente por segurança, porque entre os acusados havia pessoas
perigosas e Piper disse que preferia não a expor a ser conhecida.
Relutantemente, Rachel a obedeceu.
Agora ela se arrependia de ter feito, porque se tivesse participado do
julgamento, teria visto Michael em primeira mão, e nunca, jamais, teria
permitido que ele colocasse um único dedo em seu corpo. Nem ela, tão
estúpida, se permitiria praticamente se derreter.
— Deveria ter me deixado ver os jornais e a televisão durante o
julgamento, tia...
Ariel franziu a testa.
—Por que esse comentário? — quis saber rodeando a mesa, mas Rachel
protegeu o jornal como se pudesse queimar a sua tia, tanto como sentia que
essas páginas estavam queimando a ela.
—Nada— disse na defensiva, e ficando de pé. — Ontem à noite dormi um
pouco inquieta. Você sabe que eu estou esperando a resposta da universidade.
—É só isso?
—Sim, sim... não se preocupe com nada.
Ariel suspirou e voltou ao seu lugar.
— Tudo bem, querida...
De acordo com o que sua tia lhe contou há algum tempo, no assunto de sua
irmã estiveram envolvidos dois filhos de famílias muito ricas que tinham
influências. Influências que não utilizaram para tirar seus filhos ilesos, porque
segundo a tia Ariel todos os envolvidos receberam sentença, mas sim foram
usadas para deter a imprensa. E tinham conseguido. Mas Piper Galloway,
sem fortuna, foi a presa fácil com a qual os jornalistas não mostraram
piedade.
Gemeu por dentro.
Sentiu que tinha traído Piper. Ela estava prestes a pedir a esse homem para
não parar de tocá-la! Aquele bastardo que usara aquelas mãos para elaborar
documentos que condenaram sua irmã.
— Tia, você se lembra do julgamento de Piper? — perguntou com voz
trêmula.
— Nós já conversamos sobre isso... você acabou de me dizer que...
— Por favor, tia, é muito importante — interrompeu e sentou-se
novamente. Ariel suspirou. — Você se lembra do advogado que a enviou
para a cadeia? — continuou.
— Era uma equipe de advogados. Não apenas um.
—Sim, mas...
— Um tal Whitmore. Agora não lembro o primeiro nome dele... teria que
lembrar — respondeu franzindo a testa.
— Não, não é necessário. Eu só queria confirmar —murmurou. O que
teria esperado? Que por um milagre do destino não fosse Michael? Era uma
completa idiota.
— Rachel, você está agindo de forma estranha.
— Eu preciso sair um pouco — disse com uma voz estrangulada. Ela
pressionou o jornal no peito. Como se isso também protegesse sua tia de algo.
— Vou seguir o seu conselho e ir à praia por um tempo.
Ariel olhou para ela interrogativamente.
—Tudo bem... — ela respondeu não totalmente convencida. — Você
planeja levar o jornal?
— Para terminar de ler, sim. Obrigada pelo café da manhã, eu te amo tia,
Ariel. — Deu-lhe um beijo na bochecha enrugada pelo tempo. E logo subiu
ao seu quarto.
Pouco tempo depois, Rachel saiu de casa.
Uma vez que encontrou um lugar distante na praia, sozinho, ela chorou
com raiva. Um dia, ela encontraria uma maneira de afundar publicamente
Michael Whitmore, exatamente como ele havia feito com Piper, conseguindo
que um tribunal a considerasse injustamente culpada. Privando as duas de
uma vida juntas.
***
Três semanas depois, Rachel Galloway recebeu a carta da Universidade de
Chicago. Foi aceita no curso de administração. “Talvez o destino não seja tão
cruel, afinal”, ela pensou enquanto sorria com a carta de admissão na mão, e
o abraço de Ariel a protegendo.
C A P Í T U L O 3
***
Vinte e oito anos de idade, uma promissora carreira como contadora e
tinha que se vestir como bailarina do Moulin Rouge, pensou com humor.
Rachel se olhou de lado no espelho. Ela não gostava de se sentir exposta. Não
quando o traje, em uma versão moderna do que usavam no famoso cabaré de
Paris, consistia em uma tanga de lantejoulas mal coberta por uma longa cauda
de penas de pavão falsas.; um sutiã combinando que permitia que seus seios
parecessem mais volumosos que o normal; maquiagem que ela nunca usaria
em sã consciência; um cocar alto e elegante (pelo menos foi o que sua melhor
amiga havia lhe dado) e uns saltos estilo can-can muito chique. Uma
combinação um tanto bizarra, mas que parecia um Moulin Rouge moderno,
não tinha dúvida.
— Rachel, por favor, faça o seu melhor. Se esta cliente ficar satisfeita,
então recomendará meu serviço a suas amigas— Delaney Garth disse,
assoando o nariz. Havia contraído um resfriado.
— Já estou vestida, acho que não consigo ficar mais ridícula— disse
olhando a sua amiga com seus luminosos olhos azuis. — A que horas seu
motorista passa me pegar, Del?
Com cabelo preto, ao contrário do avermelhado de Rachel, Delaney Garth
era uma beleza morena. Parecia uma modelo da Victoria’s Secret.
Rachel costumava dizer a Delaney que as roupas bonitas que se
encaixavam como uma luva em sua amiga, nunca ficariam bem nela. Por
exemplo, aquela roupa que, em vez de fazê-la parecer sensual, parecia mais
uma oferta luxuriosa de prazeres e experiências sensuais que ela
absolutamente não oferecia.
Delaney riu. Tomou o comprimido para a febre e logo se deitou no sofá da
sala olhando para Rachel. Eram como irmãs. Passavam as férias juntas, a
menos que uma delas tivesse namorado, e geralmente no verão costumavam
ir a Kentucky, ao rancho que a família Garth tinha nos arredores de
Louisville.
As duas moravam no mesmo prédio no centro de Chicago, na região de
Gold Coast. Estavam indo muito bem financeiramente, então morar em um
dos condomínios mais caros da cidade não era problema. Rachel morava no
décimo segundo andar e Delaney no nono.
A única vez em que deixaram de morar nas proximidades foi quando
Delaney ficou noiva de um engenheiro eletrônico muito promissor, cinco
anos atrás. O garoto, Mauricio McCormann, morrera de um aneurisma
repentino e, desde então, Del preferia um pouco de solidão e se dedicava ao
seu negócio de organizar festas temáticas para solteiros. Como a daquela
noite, que se chamava Desejo no Moulin Rouge.
— Já te expliquei a dinâmica — respondeu, recolhendo as pernas no sofá
acolchoado. — Jim passará te pegar em alguns minutos. Quando chegar, não
desça do caminhão da empresa, mas também Jim ajudará com instruções
adicionais. Dançar é a coisa mais importante.
— Que clichê esse requisito — Rachel resmungou, colocando as mãos
nos seios. — Olhe isso, Del! Quase transbordam — gemeu com
aborrecimento —, sou tamanho 10, não oito, como você.
Delaney riu e então um acesso de tosse tomou conta dela.
— Ajuste um pouco a fantasia, para não parecer vulgar. Eu acho que você
deveria usar roupas um pouco mais apertadas para mostrar suas curvas.
Rachel revirou os olhos.
— Já é difícil mantê-las na linha com a academia. Ufff. De qualquer
forma, continue com a explicação antes que eu decida arruinar a empresa, não
cumprindo seu compromisso— ameaçou falsamente com um sorriso.
— Pegue este tema com filosofia. Escute. Depois que Jim te ajudar, você
canta e dança, então se aproxima do aniversariante e lhe dá um abraço.
—O quê?! Você não me disse isso.
— É só um abraço, Rachel. Não vai propor que ele durma com você.
—E depois o quê?
— Você se despede e desaparece com Jim, que a trará de volta para casa.
— Ou posso simplesmente me engasgar com todas a comida dessa festa
— disse cruzando os braços.
— Pelo menos, fará algo diferente do que permanecer no escritório com
números até o teto e analisando as estratégias de expansão da empresa que te
explora.
Rachel deixou cair os braços para os lados, mas não antes de passar uma
nova caixa de lenços de papel para a amiga, vendo que a última havia
acabado na lata de lixo.
— O ritmo de trabalho é difícil e sou perfeccionista. Não me explore, Del,
não exagere.
— Ah, é verdade, eu tinha esquecido que o chefe é louco por você e o que
ele quer é que fique mais tempo até que esteja convencida de que são o casal
perfeito.
Paul Eckhart, chefe de Rachel, era lindo. Por que negar? Ele era apenas
cinco anos mais velho que ela e era o principal advogado e o vice-presidente
executivo da empresa de fabricação de plásticos industrial mais procurada.
Echkart Enterprises.
Paul às vezes era muito irresistível. Ele nunca a pressionou, no entanto,
deixou suas intenções claras. Ela teve dificuldade em subir, os contatos de
Delaney eram inestimáveis para conseguir entrevistas de emprego, e ela não
queria jogar tudo fora por uma atração.
O mérito acadêmico funcionou após essas entrevistas de emprego e
recebeu várias ofertas de emprego. Eckhart Enterprises foi a melhor. Estava
na empresa havia seis anos e uma oportunidade que ela não queria destruir
devido a um caso com o chefe quando havia outros garotos tão interessantes
ou bonitos como Henry Duncan.
— Eu estou saindo com Henry, caso não se lembre — esclareceu. Já fazia
um mês que estava saindo com o carismático médico de internato. Se
conheceram através de amigos em comum. Gostava de Henry, e mesmo
tendo apenas cinco encontros desde que ele a convidou para saírem juntos,
ela gostava da ideia de vê-lo novamente. — Antes que pergunte, não estamos
saindo de forma exclusiva, embora tenhamos conversado sobre isso e,
aparentemente, ele, assim como eu, não tem tempo para flertar com várias de
uma só vez, quando gosta de uma em específico.
— Gosto do Henry, mas sinto que lhe falta uma faísca. Não parece
perfeito demais...?
— Eu acho que saí com muitos cretinos, então a resposta é "não". Se eu
encontro um homem celestial, por que devo reclamar se é perfeito demais?
— Mmm... talvez porque a longo prazo não há desafios ou metas para
estimular você se tudo é tão plano. Ao menos...— parou de falar quando viu
Rachel olhando para ela com impaciência. Del encolheu os ombros. Olhou
para o relógio. — Sem mais sermões, desculpe.
Rachel se aproximou e sentou-se ao lado de sua amiga.
— Eu não entendo assim, Del. Acho que depois do resultado horrível do
meu relacionamento com Ian, prefiro um relacionamento calmo. Henry
parece ideal para mim. Ela me trata como uma rainha e sabe me ouvir.
— Também na cama?
Rachel não pôde evitar de corar.
— Nós não chegamos a isso...
Delaney levantou uma sobrancelha.
— Então ainda há coisas a debater sobre o "perfeito" Sr. Duncan. Certo?
—Del! — disse rindo. — Você é impossível.
— Mas você me ama, então é melhor você ir. E lembre-se de que você
deve dançar ao ritmo da música sugestivamente...
—... e cantar como se fosse Marilyn Monroe — Rachel completou antes
de se levantar e pegar sua bolsa. Então ela vestiu o casaco.
— Você é minha esperança — Delaney disse piscando um olho.
— Ou seu bode expiatório.
Delaney sorriu.
— Você sabe que Elizabeth se demitiu para morar na periferia com sua
mãe doente, e eu não posso cobrir a vaga mesmo que seja a dona da empresa
por razões óbvias. — E como se seu corpo quisesse confirmar, naquele
momento espirrou.
— Só não esqueça que no próximo fim de semana me deve uma manicure
e um corte de cabelo. E, é claro, podemos incluir a Piper no pacote... se é que
consigo convencê-la.
Delaney revirou os olhos.
— Se esse é o pagamento que você deseja, aceite-o como garantido. Piper
precisa ser mimada um pouco mais em relação aos caprichos femininos —
disse com um aceno de cabeça. — Agora, nesta despedida de solteiro, haverá
apenas quarenta pessoas. Jim cuidará de você o tempo todo, caso alguém
tente pensar que é mais do que apenas uma dançarina do Moulin Rouge
fazendo um número especial. Ok?
— Ótimo. Eu vou indo — expressou quando o interfone no apartamento
de Delaney tocou. As duas sabiam que os seis apitos só eram dados pelo
motorista, Jim. — Vou levar esse saquinho de biscoitos de amêndoas. Estou
com fome e até terminar o número não poderei engolir nada. Até maaais! —
Fechou a porta atrás de si e foi pressionar o botão de chamada no elevador do
prédio.
Piper Galloway havia saído da prisão quatro meses atrás, depois de ser
julgada por um juiz por bom comportamento e por ajudar com pistas para que
a polícia pudesse localizar um dos mais procurados de uma gangue de
pequenos traficantes que trabalhavam no país e nas escolas de Chicago.
Rachel ainda estava ansiosa para saber quantos anos sua irmã perdeu de viver
por culpa de Michael Whitmore, mas a ideia de se vingar dele não saia de sua
mente.
Implicitamente ela e sua irmã concordaram não falar do tempo na prisão,
muito menos sobre o processo judicial. Rachel não gostou da ideia, mas
deixaria a irmã seguir seu próprio ritmo e, talvez, ao longo dos anos, pudesse
começar a se abrir e conversar. Apesar de saber que Michael morava em
Chicago, ela estava muito ocupada abrindo espaço para si mesma no mundo
profissional para procurá-lo.
No entanto, o pensamento de ver Michael humilhado continuava a
assombrá-la. Sua irmã estava melhor, mas não era a mesma garota alegre que
se lembrava. Ela acreditava no Karma. Sabia que cedo ou tarde faria que
Whitmore enfrentasse o seu...
C A P Í T U L O 4
***
Rachel não imaginou que teria claustrofobia quando Jim lhe disse para
ficar dentro do bolo falso até ouvir as primeiras notas da banda cantando uma
melodia. Assim que recebeu o sinal e a tampa do bolo foi aberta, ela ativou a
alavanca interna que levantava uma pequena plataforma. Quando vislumbrou
um grupo de pessoas curiosamente silenciosas, se agarrou ao seu papel e
silenciosamente amaldiçoou Del. Que diabos era essa festa? Tinha mulheres,
algo bastante estranho se era uma despedida de solteiro e o aniversário do
referido homenageado.
Como se isso não bastasse, as roupas que essas pessoas usavam pareciam
metros e metros de tecido quando comparadas às suas roupas.
Definitivamente ia matar Delaney. Mas o show tinha que continuar, e se ela
entendeu mal a mensagem e sim era a festa ou uma piada ou qualquer coisa
pela qual tinham pagado sua melhor amiga, então não podia deixar de fazer a
apresentação. Arruinaria a reputação de Delaney. Não poderia fazer isso com
ela.
Tomou coragem e deu a mão a Ronald, um dos garçons que estava no
show, que a ajudou a descer as escadas laterais que tinham colocado abaixo
com um mecanismo elétrico na estrutura. Armou-se de coragem e entoou a
canção de feliz aniversário. Não tinha a melhor voz, mas ao menos era
afinada.
Quando terminou de cantar, uma música sensual ao estilo francês
começou. A essa altura, ela já havia percebido que sua melhor amiga a havia
enviado para a casa errada. Não sabia o que fazer, então decidiu sair o mais
rápido que essas plataformas permitiam. Estava vivendo um grave erro
logístico.
— Não tenho ideia de onde está Bronson — Rachel disse pegando o
microfone com força, enquanto sentia as pernas tremendo. Usou a voz mais
firme que pôde. — Imagino que certamente o encontro em outra festa — riu
nervosa — de qualquer forma, independentemente do que comemoramos
hoje, bem, feliz aniversário! — ela exclamou antes de se virar e caminhar
rapidamente pela abertura traseira da tenda.
Oh, Deus. Ela se afastou o mais rápido que pôde até chegar a um ponto
distante. Procurou em sua bolsa o telefone. Ligou para Delaney.
—Que diabos, Delaney?! Esta não era uma despedida de solteiro do noivo
nem seu aniversário— ela mal soltou Del respondeu.
—Ah?
A Rachel encontrou uma cadeira bastante caindo aos pedaços, mas servia.
Quando se sentou, sentiu sua bunda congelar. Ela fez um gesto para Jim
esperar por ela, o homenzinho assentiu, enquanto a equipe de Delaney movia
o bolo gigante em direção ao caminhão.
—Acorde de uma maldita vez! — exigiu, mais mortificada do que
irritada. — Acabei de sair do seu famoso bolo e encontrei uma família
atordoada, enquanto me contorcia em um traje dois números menor, cantando
como se não houvesse amanhã e olhando para o nada porque não havia
Bronson, mas alguns rostos rosados, risos dissimuladas e tosses afetadas.
Nunca tinha passado tanta vergonha em público.
—Oh, raios! Espera um segundo...— Delaney procurou na gaveta do
criado-mudo para localizar sua pasta de trabalho. Ligou a lanterna do iPhone.
— Não é 833 W Webster Avenue o endereço?
Rachel cobriu o fone e pediu a um dos garçons que passava para lhe dizer
o endereço exato da casa. Quando ele comentou, ela abaixou a cabeça e
deixou escapar um gemido de frustração.
—Del... esta é a 866... —resmungou.
—Oh… OH, DEUS! — Delaney gemeu fechando os olhos. — Vão exigir
um reembolso mais o dobro do dinheiro por quebra de contrato —sussurrou
desesperada.
— E quanto a mim? Acabo de passar o maior ridículo da minha vida e
nem é o endereço certo. — Delaney ia responder, mas Rachel continuou: —
Não se atreva a dizer que eu tome isso como lição!
Incapaz de evitar, cansada e com dor de cabeça, Delaney riu alto. Rachel
se contagiou. Del pediu desculpas, mas estava claro que a amiga desse
Bronson Clark, e que havia contratado sua empresa, a processaria na melhor
das hipóteses.
— Não ia fazer tal coisa... amanhã terei que lidar com uma cliente irritada
— queixou-se cobrindo a cabeça com o cobertor.
— Terá o que merece —sussurrou Rachel. — Agora vou tirar esta
fantasia, antes que pegue uma pneumonia.
— Sinto muito, Rachel.
A ruiva suspirou.
— Imagino que seja uma boa história contar aos meus filhos um dia, e
vou rir com você e com o seus.
—Viu? isso é tomá-lo como lição — Delaney respondeu pensando na
explicação que deveria dar no dia seguinte. Ela estendeu a mão e apagou a
luz. — Desculpe mesmo, Rachel. Jim vai te levar para casa.
— Acho que é muito tarde — sussurrou observando o motorista de
Delaney se afastar. Não podia gritar que a esperasse. — Acho que Jim pensa
que quero perambular por aí nessa festa. Eu disse para ele me esperar, mas...
—Foi embora?
— Está fazendo isso.
— Grite que eu pago horas extras!
— Acho que me fiz de idiota o suficiente por hoje, Del.
— Ok... eu te envio um táxi?
— Não se preocupe. Vou trocar de roupa e depois eu mesma pedirei.
Esses tipos de mansões geralmente têm banheiros de hóspedes na parte de
trás.
— E piscina... —murmurou Delaney. — Estou dormindo…
— Sim, vá descansar. Até amanhã.
Rachel colocou o telefone na bolsa e esperou em silêncio, ouvindo o riso
das pessoas na tenda. Provavelmente, estavam tirando sarro do que
aconteceu. Com resignação, pegou uma pequena mala na qual usava suas
roupas habituais para trocar de roupa. Encontrou uma pequena casa de
hóspedes nos fundos, no lado oposto da casa. De onde estava, podia ver as
sombras dentro da tenda.
A porta da casinha estava aberta. Obervou o interior e, quando encontrou o
banheiro, entrou. Tirou o rabo de pavão e relutantemente o guardou.
Demorou vinte minutos para tirar a roupa.
A maquiagem não podia tirar, mas tudo bem, faria isso em casa. Vestiu
jeans, botas pretas até à panturrilha, blusa cinza, lenço branco e jaqueta de
couro para protegê-la do frio. A imagem no espelho era menos embaraçosa
do que a que ela certamente deixou entre os convidados a alguns metros de
distância dela.
Sorriu e abriu a porta de repente. Pegou seus pertences e caminhou até a
entrada principal, apenas para encontrar uma figura recortada pela luz. Gritou
e derrubou as coisas no chão. Se preparou para correr, mas a voz que ouviu a
deixou plantada.
— Uau, a dançarina do... Moulin Rouge? — perguntou o homem que
durante anos, muitos anos, assombrou sua cabeça. Ela o reconheceu quando
ele se aproximou e a luz escassa do ambiente iluminava aquele rosto
cinzelado por algum mestre renascentista. — Eu estava procurando por você,
porque ninguém explica o que aconteceu.
— Uma missão louvável que você recebeu — disse com o coração
acelerado. Não podia acreditar no que estava acontecendo.
Michael Whitmore continuava sendo extremamente atraente. Muito bem
barbeado e com aqueles deslumbrantes olhos verdes não era fácil ignorar. O
traje casual destacava seus músculos. Lembrava dele sarado. Agora tinha uma
figura mais ampla e masculina. Irradiava força e virilidade. Desejou dar um
tapa em si mesma por fazer análises que não correspondiam. Não com um
homem assim.
— Por sorte, vi uma cauda de pavão se afastando pelo grande quintal da
minha família— olhou-a de cima a baixo — e que agora já desapareceu.
Curioso, não acha?
Rachel encolheu os ombros. Não estava preparada para enfrentá-lo.
Improvisava, e esperava estar fazendo bem. Não queria lhe jogar tudo o que
pensava na cara dele. Pareceria uma louca saída do manicômio mais próximo.
Que piada do destino era aquela?
— Um equívoco estratégico da dona da Party Themes, sem dúvida —
respondeu. A voz não tremeu. Deveria invocar a fúria que manteve por tantos
anos, mas quem atendeu seu chamado emocional foi o desejo de sentir se
aqueles lábios sensuais continuavam a se beijar tão bem quanto no passado.
— E você é...? — perguntou fingindo ignorância. Por nada no mundo teria
confundido aquele rosto.
Michael sentiu que o rosto era vagamente familiar, mas não conseguia se
lembrar de onde. Perguntar se eles já haviam se conhecido antes era uma
frase feita para flertar, e ele tinha idade suficiente para interagir com uma
mulher dessa maneira. Não teria procurado por ela se Lara, morrendo de rir,
não tivesse pedido por isso. Sua cunhada queria uma explicação. Seu irmão
estava mortificado, e seu pai, Jack, não parava de provocá-lo dizendo que era
ele, e não Douglas, que havia arranjado a surpresa para Lara.
À distância, considerara a mulher à sua frente bonita, mas de perto... ele
não podia descrevê-la. A imagem daquele corpo, envolto em glitter e roupas
provocantes, permaneceria impregnada por muito tempo.
—Michael Whitmore — ele disse estendendo a mão para Rachel. Ela não
hesitou em apertá-la, mas afastou-a rapidamente, como se tivesse tocado um
ferro em chamas. — Sou o cunhado da homenageada. Você se importaria de
explicar o que aconteceu? Meu irmão está muito indignado, porque
aparentemente sua surpresa se tornou zombaria.
Ela não era a favor de explicar nada a ninguém, exceto àquele homem que
havia destruído sua vida familiar. Tentou se acalmar.
— Minha amiga, a quem estou fazendo o favor de substituir, confundiu o
número da casa. Aparentemente a festa para a qual me vesti hoje é em outro
lugar —respondeu. — Gostaria de me desculpar com sua cunhada. Espero
que...
— Bobagem, sem desculpas. Lara é uma mulher muito relaxada a nesse
sentido. Se divertiu. Acho que a mais mortificada é você. E stou errado? —
perguntou. Sem pensar no que estava fazendo, ele estendeu a mão e colocou
no lugar um grampo de cabelo que ameaçava escorregar dos cabelos lisos de
Rachel. Instintivamente, ela recuou. — Desculpe, não queria incomodá-la —
acrescentou ao ver sua reação.
— Não gosto que estranhos se aproximem de mim assim. Você me pegou
de surpresa, porque eu estava saindo...— Ele se afastou. — E sim, claro que
estou mortificada. Imagine planejar ir a uma despedida de solteiros e acabar
seminua no pátio de uma família aparentemente conservadora.
Michael soltou uma longa risada. O som era requintado, como o melhor
chocolate enquanto derretia na boca. Quente e tentador.
— Minha família não é conservadora, mas esse tipo de surpresa é tão
estranha que é impossível que não aflorem os sorrisos. Está com pressa?
Ela queria fugir, mas ia aguentar. Agora que tinha Michael em carne e
osso, aproveitaria a oportunidade que o destino lhe dava.
— Faz um pouco de frio. Gostaria de falar primeiro com sua cunhada e
depois pedir que você me dê uma taça de algo para me ajudar a tirar o frio.
Michael assentiu.
— Claro. —Sorriu. — Devo estar perdendo minhas habilidades como
advogado, porque ainda não perguntei como você se chama dançarina do
Moulin Rouge.
Então não se lembrava dela, pensou Rachel. Não conseguia entender por
que esse ridículo lhe causara um ligeiro desconforto. Por que deveria se
lembrar dela? Quase uma década se passou.
—Verônica Marsh — disse rapidamente. Tinha que inventar uma maneira
de descobrir sua fraqueza e fazê-lo sentir a dor da perda e da desolação. Só
então sentiria que tinha conseguido fazer algo por Piper. Por sua família.
Agora tudo o que contava era o golpe de sorte do destino. E tiraria vantagem
disso.
— Prazer em conhecê-la, Verônica — Michael disse, alheio as suposições
da mulher sensual que tinha ao seu lado. Rachel não estava mentindo.
Verônica era seu nome do meio e o sobrenome era o nome de solteira de sua
mãe. Em teoria, ainda era ela. Certo? — Tenho certeza que minha família e
amigos vão gostar muito de ouvir o que aconteceu.
Sem lhe dar tempo, Michael se inclinou e pegou a bagagem leve de
Rachel. Ela olhou para ele pronta para discutir, mas preferiu não fazer isso.
Deixou que a guiasse até um beco lateral e logo deixou seus pertences em
uma salinha privada.
Sem dizer uma palavra, ele a levou para a festa, onde os donos da casa
estavam. Era o começo do fim para Michael Whitmore, Rachel pensou com
um sorriso deslumbrante que o belo advogado confundiu com o prazer que
acreditava que sua companhia lhe causava.
***
Michael observava a ruiva com prazer. Era vibrante e seu sorriso parecia
preencher a festa. Lara e Douglas aceitaram a situação de bom grado, assim
como outros convidados que vieram ver o riso de Jack Whitmore enquanto
Verônica falava sobre a trapalhada de uma tal Delaney.
O telefone vibrou no bolso, tirando-o de seus devaneios. Quando ele viu
que era Heidi, ignorou a ligação, silenciando-o. Guardou o celular
novamente.
Com as mãos nos bolsos se apoiou contra o batente da porta corrediça que
dava para o pátio. Amava sua família. Daria qualquer coisa por eles, em
especial por seus sobrinhos. Esses diabinhos eram sua fraqueza. Quando
notou o olhar de Verônica, como se estivesse procurando por ele, Michael se
aproximou.
— Sua família é muito gentil —disse ao vê-lo—, mas é hora de me retirar.
Amanhã eu tenho que ir ao escritório e acordar tarde não está nos meus
planos.
—Eu posso te levar para casa? — ele perguntou sem acreditar que tinha
feito essa pergunta. Poderia ter sugerido chamar um táxi, mas não levá-la
como se fosse um maldito encontro. O que diabos havia de errado com ele?
Rachel hesitou. Olhou discretamente ao redor e notou que aqueles que
estavam ouvindo a sua história sobre Delaney, a gripe e a confusão estavam
agora ouvindo Lara. Gostou da dona da casa imediatamente e de Douglas
também. Este último era uma espécie de réplica ligeiramente mais jovem de
Michael, mas com uma personalidade mais calma e características menos
fortes. “Pelo menos eles tiveram a chance de crescer juntos”, pensou com
ressentimento. Isso a fez lembrar que a última coisa que ela deveria sentir por
essa família era simpatia. Muito menos com Michael.
— Ok, obrigada —murmurou. A ideia era conhecer o inimigo em seu
terreno, e por esse motivo, e nenhum outro, aceitou que a levasse para casa.
O trajeto estava cheio de notas de Jazz. Era o tipo de música que Rachel
gostava muito. Ela se dedicou a apreciar a melodia. contou-lhe banalidades, e
ela respondeu com outras. Foi uma conversa agradável, e se irritou ao
reconhecer que ele podia ser encantador. Ela não precisava encontrá-lo de
nenhuma forma, o que queria era descobrir uma fraqueza. Uma maneira de
alcançá-lo e machucá-lo.
O carro elegante estacionou em frente à porta do prédio da Rachel. Antes
que ela pudesse sair, ele saiu e abriu a sua porta. Agora parecia que era um
cavalheiro? Sei!
— Obrigada Michael. Acho que, como falei a Delaney, será uma boa
história para contar aos meus filhos. E você, talvez aos seus — disse com um
sorriso forçado, enquanto tirava as chaves da bolsa e ele deixava a mala no
portal. Aos seus pés.
— Talvez —sorriu. — A que horas você sai do seu escritório amanhã? É
sábado, acho que você não vai ficar o dia todo. Ou sim?
O olhar intenso que lhe deu fez suas pernas tremerem. Só um pouco. Eram
aqueles olhos que a assombraram todos esses anos. Um beijo que nunca tinha
esquecido. O toque de sua boca em seus seios. Suas experiências sexuais não
haviam sido ruins, no entanto, ela estava convencida de que com ele teriam
sido melhores.
— Provavelmente às quatro da tarde. Como eu disse, a empresa em que
trabalho tem muitos projetos constantemente. Eu sou a responsável pela
equipe de coordenação de negócios. Têm que me consultar, e eu, informar
relatórios.
— Uma mulher independente e inteligente. Eu gosto — disse acariciando
sua bochecha. — Eu acho que desde que você não precisa substituir ninguém
dançando como uma garota do Moulin Rouge— Rachel não pôde deixar de
rir. Ela odiava que fosse tão fácil se sentir confortável com ele —, poderia
sair para jantar comigo.
Então ela teve uma faísca. A maneira de alcançar um homem era de duas
formas. A primeira não funcionaria, pois não sabia cozinhar. A segunda, sim,
que poderia conseguir. Gostava de sexo tanto quanto qualquer mulher em sã
consciência. E apesar de nunca ter tentado, estava convencida de que poderia
separar sentimentos e prazer. Não poderia ser tão difícil, poderia?
Seduziria Michael. Faria com que se apaixonasse por ela, e quando isso
acontecesse, então o humilharia na frente de quem mais lhe importava. O tipo
de homem como Michael não podia suportar desprezo social. Ela sabia disso
melhor do que ninguém. Não é de surpreender que, durante todo esse tempo
vivendo em Chicago, conheceu muitas pessoas que se encaixavam em grande
parte no tipo de pessoa que Whitmore chamaria de "amigos".
— Poderia —respondeu com um objetivo claro em mente —, tudo bem
se você passar para me pegar amanhã às sete?
Michael assentiu. Se sentia exultante. Queria, acima de tudo, beijá-la.
Seduzi-la e se envolver em seu perfume feminino. Mas antes tinha que falar
com Heidi. Não era o tipo de homem que poderia estar com uma mulher,
independentemente das condições de seu relacionamento, enquanto beijava
ou dormia com outra pessoa. Ele não pretendia ir contra seus próprios
princípios masculinos, por mais tentado que estivesse. Tinha aprendido que
deixar-se levar pelas emoções constituía uma perda de tempo.
Na manhã seguinte, sua primeira atividade de fim de semana seria terminar
com Heidi. Para o inferno com convites para eventos que já haviam aceitado
juntos. Levaria Verônica e aproveitaria ao lado dela. O destino tinha as
maneiras mais deliciosas de surpreendê-lo, e ele estava mais do que satisfeito
com aquela linda ruiva.
— Parece bom. Descanse, Verônica — murmurou muito perto de seus
lábios.
Ela pensou que Michael a beijaria. Teria jurado que essa expressão de
tortura e desejo era mútua. Enganou-se. Não deixou transparecer sua
decepção quando no último instante, ele se desviou e deu um beijo em sua
bochecha.
Quando Michael se afastou, o vento frio cobriu o calor daqueles lábios.
—Eu... obrigada.
Com uma piscadela, Michael foi embora.
Quando fechou a porta do seu apartamento, Rachel se repreendeu
severamente. Podia desejar esses beijos, mas não se deixar levar pelas
emoções. Devia lembrar-se de seu propósito. Quem tinha vantagem e sabia
controlar-se ganhava o jogo. Um jogo, neste caso, que Michael nem
suspeitava estar jogando e perderia de maneira monumental.
C A P Í T U L O 5
***
O Hospital Saint Cleare não era estranho para Rachel. Seus pais foram
hospitalizados em estado crítico quando sofreram o acidente. Passou vários
dias nos arredores da sala, até que lhe disseram que não os veria novamente.
Toda vez que pensava nos quatro dias tempestuosos vividos, inalando o
cheiro de desinfetante, ficava mal.
Quando recebeu a mensagem de Michael, dizendo que estava em uma
emergência familiar naquele hospital, ela perguntou se havia algo que
pudesse fazer. Ele respondeu que não era necessário, pois já tinha o suficiente
tentando confortar sua família. Uma parte, a que não estava ligada às suas
intenções de se vingar daquele homem, a levaram a seguir para o centro
médico. Descobrir que eram dois inocentes em uma sala de emergência, a
comoveu.
A saúde de dois pequeninos não precisava fazer parte de seu plano.
Deixaria de lado por esse dia ou até que Michael estivesse totalmente
recuperado. Um inimigo caído pelo destino não representava a mesma vitória
como se a queda fosse causada por ela. Claro que não?
Se os papéis estivessem invertidos, e fosse Michael quem estivesse
buscando vingança, não teria agido como ela? A vingança de um homem e
uma mulher era diferente? Ela não acreditava.
—Como disse que se chama? — a estranha perguntou com uma voz
nasalada. — Não te vi em nenhuma das festas em que Michael e eu
costumamos ir.
—Verônica — respondeu cruzando os braços na sala de espera. Já havia
enviado uma mensagem para Michael dizendo que estava no hospital. Sentia
náuseas e vontade de fugir, mas não era uma covarde. Estar lá a fez enfrentar
seus medos, o passado, e também a lembrava do porquê estava sendo gentil
com os Whitmore.
A mulher sorriu.
— Sou Heidi, a namorada de Michael — expressou estendendo-lhe os
dedos de manicure perfeita e cheia de decorações douradas. Não parecia de
mau gosto. A mulher exalava sofisticação por cada poro. — Vim o mais
rápido que pude. Descobri por acaso — começou a contar sem que ninguém
lhe perguntasse —, porque uma das enfermeiras é minha amiga. Michael é
tão reservado. Coitadinho, não acha? Tão sobrecarregado que não teve
oportunidade de me avisar— disse com um beicinho.
— Coitadinho, sem dúvida —Rachel respondeu com um resmungo. O
canalha tinha namorada e pretendia sair para jantar com ela. Não deveria
sentir um pingo de raiva. Era sobre essa tal de Heidi atrapalhando seus
planos, e nada mais do que isso, certo?
— Como você ficou sabendo? — perguntou a mulher olhando de um lado
para outro.
—Casualidades do destino — Rachel disse com um sorriso.
Quarenta minutos mais tarde, o inconfundível porte de Michael apareceu
frente a Rachel. Apesar do cansaço óbvio e dos cabelos despenteados, ele
parecia tão bonito quanto se lembrava. Ela sentiu vontade de se levantar e
abraçá-lo para oferecer conforto, mas se conteve. Pensou que Michael
abraçaria Heidi sem se importar com mais nada, por isso a resposta a sua
presença a pegou desprevenida.
—O que está fazendo aqui Heidi? Hoje de manhã, deixei bem claro que
tínhamos terminado.
Rachel desviou o olhar.
— Mas pensei que tinha dito isso apenas porque estava sobrecarregado
pelo trabalho. Nosso acordo é mais do que conveniente para nós dois, querido
— sussurrou sorrindo, enquanto colocava sua mão no peitoral da camisa
azul. Passou as unhas vermelhas pela costura do pescoço.
Ele afastou as mãos dela com firmeza.
—Pensou errado, Heidi —respondeu. — Agradeço a solidariedade, mas
preferiria que estivesse fora deste momento familiar.
—E essa garota é quem? — perguntou com ressentimento não
dissimulado, olhando a Rachel.
Rachel olhava para o teto. Como se não fosse com ela a conversa. Estava
arrependida de ter ido ao hospital. Estava se passando por idiota. Quem lhe
explicou os inconvenientes de se vingar sem conhecer o terreno?
— Verônica é bem vinda. Já conhece minha família — Michael
respondeu, muito desconfortável. Eu não tinha tempo para lidar com Heidi e
não tinha ideia de como ela descobriu.
— Não me diga... que surpresa. Ela é minha substituta? — perguntou,
pegando sua bolsa Gucci com firmeza e olhando-o com raiva.
— Nenhuma mulher é uma substituta para outra, especialmente quando
não há amor, Heidi.
— Apenas sexo — lisonjeou a mulher, antes de olhar para Rachel com
raiva e sair com pressa da sala de espera.
Michael passou os dedos entre os cabelos.
— Sinto muito, Veronica. Normalmente não costumo tratar ninguém
assim, mas Heidi e eu...
— Oh, não precisa me explicar —mentiu. — Eu vim sem ser convidada.
Então, se você prefere ficar sozinho, a verdade é que eu entendo. Só pensei
que talvez precisasse de companhia— riu sem alegria —, às vezes tendo a
supor situações em minha mente que, bom, não são precisamente as mais
adequadas.
Michael olhou para ela.
— Agradeço que tenha vindo. Eu preciso de um sopro de ar fresco e um
sorriso genuíno. Tem sido horas muito difíceis— ele disse se aproximando.
Sem pensar no que fazia, Rachel encurtou mais a distância, para abraçá-lo.
O calor que emana de Michael a envolveu. Sentindo aqueles braços fortes ao
seu redor, ela começou a se sentir confortável. Não era o que precisava,
quando voltou a si, se afastou.
—Houve uma evolução na saúde de seus sobrinhos? —quis saber.
Ao sentir a mudança nela, não disse nada. Ele franziu os lábios enquanto
se lembrava de seus sobrinhos.
— Moses está na sala de cirurgia. Alan em coma.
—Oh... sinto muito mesmo, Michael. — Lembrou que aqueles dois
pequenos estavam pulando de um lado para outro no dia anterior. Sentiu
pesar por ambos. — Comeu alguma coisa durante todo esse tempo?
Ele negou.
— Meus pais acabaram de sair para se trocar e descansar, mas meu irmão
e sua esposa continuam aqui. Quando disse a eles que a dançarina do Moulin
Rouge estava aqui, sorriram. —Rachel riu. — É o primeiro sorriso em mais
de dez horas. Pelo menos é um sinal de que vir foi uma ótima ideia. Obrigado
Verônica. É melhor eu comer alguma coisa antes de desmaiar por falta de
comida e ter que acrescentar mais uma preocupação...
Ela não queria a gratidão de Michael, porque isso gerava um peso leve,
muito leve, de consciência. Mas será que ele tinha peso na consciência ao
condenar uma mulher inocente à prisão? Claro que não!
—O que acha se formos tomar um café? Seu sobrinho ficará na sala de
cirurgia por um tempo, e não será legal que o tio não possa vê-lo por falta de
forças
Ele assentiu e começaram a caminhar em direção à saída.
Na mente de Rachel se conjuravam várias imagens que estavam longe das
que tinha de Michael. Em dois dias e poucas horas, ele parecia de tudo menos
esse inescrupuloso, ruim e desalmado advogado que ela acreditava. Mas se
ele aprendeu alguma coisa ao longo dos anos, não foi para se deixar levar
pelas primeiras impressões. Precisava continuar cavando.
— Imagino que no final, sim teremos nosso jantar...— Michael
murmurou sorrindo para ela e tirando-a de seu devaneio. — Com um toque
diferente, nada mais.
Ela devolveu o sorriso.
— Você já sabe que os planos mudam de um momento para o outro.
— Exceto pela intenção por trás deles — continuou com voz rouca,
observando-a enquanto abria a porta do restaurante que estava em frente ao
hospital. Era um Wendy´s, mas não estava indo a lugar algum fora do
perímetro de onde sua família estava.
—Tem certeza? —Rachel perguntou, enquanto entravam na fila para
pedir.
—Totalmente — ele respondeu, seu olhar fixo nos olhos azuis da garota.
Pelo menos a ideia de flertar com ela o afastou das preocupações da
família. Quando o inferno que ele estava atravessando passasse, tinha toda a
intenção de seduzir Veronica Marsh, sem importar como os planos haviam
mudado.
C A P Í T U L O 6
***
Os gêmeos haviam recebido alta após quinze dias de angústia para os
Whitmore. Geralmente, os processos para sair do coma podiam levar meses,
anos, e os médicos garantiam que era quase um milagre que o pequeno
acordasse depois de duas semanas, apesar dos golpes sofridos. Na casa de
Douglas e Lara, apesar de ter todos os recursos necessários para cuidar das
crianças, a angústia era latente. Os avós das crianças tentaram tornar os dias
agradáveis, mas a lembrança de estar prestes a perder aqueles dois querubins
nunca parava de assombrá-los.
A família Whitmore não poupou despesas e trouxe amigos especialistas
da Suíça e da França. Dada a boa relação de Michael com os dirigentes do
hospital, permitiram que os médicos estrangeiros aderissem à equipe de
cuidados das crianças. Monitoramento, exames constantes e atenção
preferencial no final haviam valido a pena. E, claro, a natureza do universo
tinha contribuído com a mão dos médicos.
No meio da crise familiar, Michael se sentiu sobrecarregado porque o
escritório estava lotado. Entretanto, tinha saído uma vez mais com Veronica
depois daquela primeira noite que se viram no hospital. Então ela teve que
viajar para Washington DC para coordenar um projeto com sua empresa e
não voltaria até o dia seguinte.
Conversavam ao telefone o máximo possível, embora às vezes isso fosse
complicado por ocupações mútuas. E cada dia que passava, Michael ansiava
se deixar levar pelo riso fácil ou as respostas inteligentes da ruiva. Não era o
mesmo que falar ao telefone por algumas horas do que fazê-lo pessoalmente.
Ele gostava de ouvi-la, sentir a vibração de sua risada e imaginá-la em seus
braços.
Era uma sensação estranha desejar conhecer mais uma mulher, porque
depois de Ingrid, conhecer o básico sobre alguém, era suficiente. No entanto,
a energia sedutora e misteriosa que envolvia Verônica o deixava intrigado.
Desejava descobrir cada parte desse delicioso corpo com suas mãos e
desfrutar a seu lado.
Finalmente fariam um jantar completo naquela noite, depois de tanta
conversa por telefone e mensagens de texto, raramente se falavam pelo
Skype. Ansiava terminar com a maldita papelada de sua escrivaninha e
delegar aos assistentes legais as tarefas pertinentes. Ser sócio tinha uma
grande vantagem, mas também o nível de responsabilidade era alto.
— Michael, você tem uma reunião com Charlie Guildford em vinte
minutos — seu assistente disse no interfone. — Há um caso importante que
acabou de chegar ao escritório.
—Que tipo de caso, falaram sobre a área de atuação?
A mulher olhou para ele, impotente.
— Criminal.
—Não trabalho nessa...
— Chefe, são palavras de um dos sócios principais. Não mate o
mensageiro — interrompeu com seu sorriso de assistente eficiente bem paga.
— Essa é a área de referência, mas também tem a ver com questões bancárias
e financeiras.
— Ok, obrigado.
Michael soltou um suspiro alto.
Minutos depois, ele se aproximou da sala de reuniões. Eram seis horas da
tarde. Ele não gostou nada de ter sido convocado para discutir um assunto
que o fez renunciar ao escritório de advocacia de família anos atrás. Não
queria passar por esse processo novamente.
A porta da elegante sala com vista para o rio se abriu diante dele. Cinco
dos doze parceiros da subsidiária da Salmann & Buckend em Chicago já
estavam sentados. Fizeram um gesto de saudação.
— Olá, Michael — disse Eileen Roberts, uma das poucas sócias que
dirigia a área de Lei Criminal. Como forma de cumprimento, Michael acenou
para os sócios. — Entendemos que, no passado, levou um caso de drogas
amplamente divulgado na mídia e com sucesso retumbante. Em nosso
trabalho habitual, não tivemos que lidar com a impressora aos montes, pois já
sabe que nossos casos são de um determinado tipo e tentamos o máximo de
discrição possível. No entanto, o cliente em potencial que veio pedir nossa
representação legal pode ser um pouco... controverso. Eles o acusam de
tráfico de drogas, e ele tem uma gangue de "colaboradores". No entanto, não
vincularíamos com parte do seu negócio. De fato, ignoramos os detalhes e
preferimos continuar assim.
Desconfortável, ele se mexeu na cadeira. Essa ridícula linha entre legal e
não legal, sob a qual seus colegas se amparavam nesse tipo de possível
cliente, criou um atrito moral que ele odiava experimentar.
— Não quero ter nada a ver com um cliente deste tipo — respondeu
firmemente. — Talvez eu tenha vencido um caso complexo no passado, mas
o custo pessoal que paguei foi muito alto. Não espero que entendam, embora
ache apropriado expô-lo. E não aconselho que comecemos com clientes com
antecedentes como esses apenas porque têm negócios "legais" e é por isso
que exigem um grupo de advogados encarregados de assessorar.
Um leve murmúrio foi gerado na sala. Michael era um dos poucos sócios
que nunca se incomodou em esconder seu desconforto ou seu ponto de vista,
independentemente de quem estivesse ao seu redor. Esse fator foi primordial
quando Dereck Salmann decidiu colocá-lo como candidato a membro, anos
atrás.
— Precisamos mostrar que continuamos liderando Chicago, Michael. Que
continuamos sendo os melhores, independentemente da atual crise que está
pressionando para reduzir outras empresas— interveio Mikos Arthemis, um
grego nacionalizado americano que era mais afiado que a espada. — Só
representaríamos este cliente em seus negócios legais como disse Eileen. O
pagamento a receber seria muito alto. As empresas legais na cidade estão
perdendo clientes e receita. Esse cliente não nos causaria nenhum
inconveniente moral, porque, como Eileen já mencionou, cuidaríamos dos
seus negócios que estão em ordem.
Ao redor da mesa, o clima era de expectativa.
Michael tamborilou com os dedos na madeira.
—O que acha Dereck? — indagou o advogado de olhos verdes. A opinião
do homem que o colocara no topo da empresa era essencial.
—Como Mikos lhe disse, embora eu tenha sido responsável pela área de
Direito Penal, sua contribuição será útil, no entanto, o que o cliente em
potencial deseja ajuda se concentra na área de bancos e finanças, que é sua
especialidade, por uma questão de suas políticas e alguns problemas de
contratos que você também costuma ter em questões de direito civil. Por
outro lado, Michael, Dereck não pode estar aqui hoje porque tinha que
atender uma entrevista com o juiz Robinson, o do tribunal de menores —
Eileen respondeu. — No entanto, ele acabou de enviar um e-mail informando
que, o que você decidir, deve ser respeitado. Faremos isso, mas não antes de
expressar a você que sua ajuda seria importante. Não apenas por causa de sua
experiência, mas você tem carisma com a mídia e isso seria essencial caso
houvesse muita publicidade quando vazasse, porque certamente vazará, que
uma das grandes empresas de Chicago está trabalhando com um cliente de
perfil... complexo — terminou com seu tom equânime e tranquilo.
— Quem é a pessoa que está solicitando nossos serviços? — Michael
perguntou, sentindo a tensão tomar conta de suas costas. O incomodou
quando seus colegas ficaram misteriosos e circunspectos.
—Emilio Gordov.
Esse nome era bem conhecido na cidade, Michael pensou. Era um
traficante de menores de idade, mas exercia uma influência brutal sobre
grupos vulneráveis, como estudantes de escolas particulares, que podiam
pagar a ingestão de drogas de tempos em tempos. Diziam nas ruas que Emilio
Gordov costumava não ser muito contemplativo quando se tratava de cobrar
uma dívida, e quando o traíam, não tinha piedade.
A polícia nunca conseguiu reunir evidências sólidas contra ele, nem
testemunhas que quisessem dar detalhes ou informações, e é por isso que
Gordov continuava nas ruas com a fachada de manter negócios legítimos.
Neste último caso, as autoridades não puderam fazer nada, porque os salões
de beleza e os distribuidores de produtos de beleza estavam em ordem. A
polícia não tinha como provar que o financiamento de muitos desses negócios
vinha do dinheiro do tráfico, a menos que houvesse alguém corajoso o
suficiente... ou estúpido, para dar uma dica que conseguisse descobrir Gordov
no meio da uma tarefa ilegal e detê-lo.
—Colocamos em votação a ideia de aceitar Gordov como cliente ou não?
— Mikos perguntou sutilmente, e olhando para Michael. Este último,
assentiu. Para que existia a democracia, senão...?
Trinta minutos depois, Gordov entrava pela porta.
Michael havia perdido a votação e a firma ia trabalhar com o conhecido
traficante.
Magro e baixo, com uma pele clara e olhos que pareciam um fosso preto
sem fundo, só de olhar Gordov causava calafrios. O homem deu um passo à
frente com dois guarda-costas ao seu lado, e o que parecia ser seu advogado
de serviço habitual. Com um gesto, ele dispensou todos, exceto o advogado.
— Senhores, apresento-lhes Emilio Gordov — Eileen disse, depois de
apertar a mão do homenzinho. — A polícia está tentando verificar a
legalidade de seus negócios de Salão e distribuidores de produtos de beleza,
então precisam de assessoria para saber se tudo está em ordem e poder
mostrá-lo com documentos, se necessário.
— Então aceitaram o desafio de me representar — perguntou Gordov
com um sorriso tão falso como o dente de ouro que substituía o canino
esquerdo.
Mikos assentiu. Eileen apresentou-o rapidamente à Junta de Sócios.
— Então devo agradecer — expressou com tom de suficiência e
confortavelmente sentado em uma das poltronas da sala. — Eu gostaria de
avisá-los de uma situação incômoda da qual espero também se encarreguem...
como meus futuros advogados.
— Quanto mais transparente for o nosso relacionamento, Sr. Gordov,
melhor ficaremos — disse Michael sem poder evitar.
O olhar calculista de Gordov foi imediatamente para Michael. Estreitou os
olhos e depois sorriu em reconhecimento.
— Ah, você é o advogado que lidou com um caso de destaque aqui em
Chicago há mais de uma década. Eu tinha trinta e oito anos na época, fiquei
surpreso que você era tão jovem, advogado Whitmore.
Michael não sabia se deveria ficar ofendido ou lisonjeado por seu trabalho
transcender ao ponto de ser reconhecido por um homem perigoso como
Gordov.
—Gostaria de nos contar sobre o que deseja nos alertar, Sr. Gordov? —
Michael respondeu sem fazer nenhuma alusão à menção do passado.
Emilio olhou para o seu advogado de cabeceira. Ele assentiu.
— A polícia, em uma caça às bruxas, pretende me prender. Está
procurando pistas sobre os meus negócios. Aparentemente, há alguém que
acabou de ser libertado há alguns meses à custa da minha reputação.
Que cinismo, Michael pensou consigo mesmo.
— E quem é a pessoa que forneceu essas pistas sobre você? — Michael
perguntou com resignação. — Talvez possamos encontrá-la e resolver o
problema. Sem conflito para ambas as partes— ele disse secamente.
Emilio olhou para ele e antes de responder, pouco a pouco, seu sorriso
aumentou. Um calafrio percorreu a espinha de Michael.
— Uma amiga sua do passado, advogado, Piper Galloway.
C A P Í T U L O 7
O único vestígio de que seus lençóis queimaram de prazer até altas horas
da manhã era o cheiro de Michael. Uma combinação mortal de colônia cara e
virilidade. Com um sorriso bobo no rosto, Rachel estendeu a mão e sentiu o
lado vazio de seu amante. Ele a acordou há uma hora porque tinha um
compromisso urgente para atender. Ele se despediu com um beijo que
anunciava promessas.
Esfregou as pálpebras.
Naquela manhã tinha uma reunião com Paul. O contrato para o qual
haviam trabalhado em Washington, D.C., aparentemente seria finalizado e
teriam que fazer uma revisão final do orçamento. O investimento em
materiais poderia triplicar, então ter um fornecedor que oferecesse qualidade
e produtos a preços de atacado era essencial. O fornecedor local não
conseguiria se abastecer, pois o pedido do cliente da África do Sul seria
contínuo e em quantidades que batiam os recordes trimestrais a que estavam
acostumados na empresa.
Não sem preguiça, Rachel foi ao banheiro e entrou no chuveiro.
A memória do que ela e Michael haviam feito no início da manhã a
invadiu como uma nuvem quente. Passou um sabonete com aroma de rosa
suave sobre seu corpo. Quando suas mãos passaram sobre seus seios, os
acariciou e apertou seus mamilos com os dedos, pensando em como ele a
acariciou horas atrás...
—Demônios! Deixa de ser idiota, Galloway — disse em voz alta,
retirando as mãos. Ela agarrou o frasco de shampoo com força e aplicou uma
quantidade generosa em seu cabelo avermelhado. Esfregou a cabeça como se
não houvesse amanhã, tentando deixar no couro cabeludo a raiva por desejar
algo que sabia que era temporário e tinha um só fim.
Chegando ao escritório, Rachel caminhou rapidamente em direção ao
escritório de seu chefe.
Elegante e confiante, Paul Eckhart era um chefe muito generoso e zeloso,
mas ao mesmo tempo não permitia que nenhum funcionário perdesse de vista
que ele era o responsável. As pequenas janelas do escritório permitiam que a
sala não fosse ofuscada pelo inverno sombrio da cidade. A iluminação fraca e
o aquecimento, combinados com a decoração, criaram um ambiente luxuoso
e confortável.
—Paul? — Rachel chamou da porta.
Ele estava ao telefone, mas acenou para ela entrar. Ela se acomodou na
cadeira azul em frente a Paul. Rachel olhou para suas anotações até que
finalmente, quinze minutos depois, seu chefe encerrou a ligação.
— Rachel, desculpe. Trouxe o orçamento? —ele perguntou com um
sorriso. O olhar de Paul era da cor do petróleo, assim como seu cabelo
penteado com estilo. Sua aparência era imponente, mas não de uma forma
que deixaria sua subordinada favorita louca.
Ela assentiu. Tirou os arquivos impressos.
— Enviei as informações para o seu email, mas imprimi para mim para
que possamos verificar os dados. — Paul abriu o arquivo em seu
computador. — Como pode ver, conseguimos reduzir o investimento em
materiais, mas não o número de clientes. Continuamos a manter a qualidade
dos nossos produtos e também, se já fecharmos negócio com a África do Sul,
ao contratar um novo fornecedor nos beneficiará para distribuir a produção de
forma mais equitativa, manter os custos baixos para o cliente e melhorar os
nossos lucros.
Continuaram conversando por quase meia hora. Não só em relação ao
cronograma de trabalho, orçamentos e estratégias, mas também em relação a
cada um dos sete executivos especialistas que estavam sob a responsabilidade
de Rachel. Duas xícaras de café e alguns doces depois, Paul recostou-se no
assento e sorriu.
— Sempre fico surpreso com sua capacidade de sintetizar e explicar
perfeitamente.
Desconfortável com o elogio, ela acenou com a cabeça.
— Você me contratou há seis anos para isso, entre outras coisas, eu acho
— disse. Sabia que Paul podia ser intimidante quando queria e também que
não gostava de seus funcionários, especialmente aqueles que dirigiam uma
equipe de pessoas como Rachel, abaixassem a cabeça ou fugissem de um
desafio. Ele gostava da frontalidade. E essa era uma característica que a
jovem especialista em negócios admirava. — De acordo com os números
comparativos com a estratégia que aplicamos no ano passado?
— Totalmente, e acho que a modificação que fez desta vez deu resultados
como acabei de dizer. A propósito, Rachel, há uma viagem em curso.
—África do Sul? — perguntou franzindo a testa. Ela costumava viajar
para reuniões em várias cidades dos Estados Unidos, mas não era tão
frequente, só que o tempo de ausência costumava se estender por até uma
semana.
Ele negou.
—Las Vegas —respondeu—. Há um potencial parceiro que quer injetar
capital, o que seria útil, embora não seja necessário. É um bom contato
indistintamente dos resultados da conversa. É só uma entrevista, mas você
tem uma capacidade inata para saber se se pode confiar ou não em um
empresário. Eu gostaria que você viesse comigo. Você traz sua assistente?
Uma viagem. Sem a equipe completa. Com Allison, sua assistente, que era
uma mulher na casa dos 60 anos e preferia dormir cedo a acompanhá-la às
reuniões noturnas. Ela sabia que Paul não faria nada que ela não permitisse,
ainda assim...
— É uma ordem ou uma pergunta? — respondeu com um sorriso que não
tinha nada a ver com flerte.
Paul se inclinou e colocou as mãos sobre a mesa.
— Uma pergunta, Rachel. Eu deixei muito claro que eu amo sua
companhia, além do plano de trabalho. E você também sabe que eu nunca
faria nada que pudesse prejudicar sua carreira nesta empresa. Você é
eficiente, inteligente e bonita. Este último nada tem a ver com o seu perfil
profissional ou com o fato de eu ter te contratado. E a anterior é uma pergunta
por que, assim que sairmos da reunião com esse empresário, pretendo
convidá-la para jantar comigo. Fui claro, direto e sincero?
Rachel não pôde deixar de rir. Talvez tenha sido isso que a atraia em Paul.
Não achava que estava tudo bem dormir com um homem e sair com outro.
—Como sempre — respondeu — Mas eu não estou disponível. — Não ia
contar ao chefe sobre sua vida privada, mas pretendia colocar de lado a
questão da atração mútua de uma vez por todas. — Queria dizer que sim,
mas, Paul, minha profissão é transcendental para mim e eu não gostaria que,
se algo não der certo, vir trabalhar na empresa em vez de ser uma motivação,
seja um calvário.
Paul ficou em silêncio por um tempo.
— Tinha de tentar — disse com um amplo sorriso. — Merece um
aumento salarial pelo teu excelente desempenho no último ano. Vou enviar
um comunicado aos recursos humanos. Está bem?
Ela ficou atordoada, até que seu cérebro se reconectou.
—Bem, obrigada...
— Pelo contrário. — Seu tom era calmo e em nenhum momento pareceu
ter ficado desapontado com a rejeição de Rachel. — Por favor, elabore uma
lista dos últimos contratos que fechamos e faça uma projeção com base na
estratégia de expansão corporativa. Entre em contato com o departamento de
investimentos e fusões, eles devem fornecer a você um relatório completo
sobre despesas e receitas fora de sua área, a fim de expor a este empresário da
Califórnia o que ele teria na mesa no caso de eu decidir me juntar a ele como
sócio.
— Claro. — Era a quarta ocasião, em seis meses, que ele a convidava
para sair. E estava convencida de que era a última.
Ela foi até a porta, e seu chefe já estava no telefone falando em francês
com alguém que com certeza prometeu alguma renda extra para a Eckhart
Enterprises. Rachel sorriu e fechou a porta atrás de si.
“Paul é uma figura e tanto.”
***
Michael olhou entediado para o homem à sua frente. Tentou não revelar
suas preocupações ou desconfiança. Salmann & Buckend não representava
mafiosos, traficantes de drogas ou similares. O segundo sócio sênior a bordo,
Eugene Matthews, decidiu aceitar a votação do conselho e o contrato com
Gordov foi assinado.
—Eugene disse a ele que o contrato que assinei com este escritório de
advocacia tem a ver com minhas atividades comerciais relacionadas com
cabeleireiros e distribuidores de produtos de beleza? Negócio legítimo,
advogado Whitmore — ele disse com uma voz afetada pelo consumo
excessivo de cigarro.
Michael conteve uma resposta mordaz.
— Claro, minha equipe está revisando a papelada com seu advogado para
que eles possam nos repassar informações. E enquanto nos colocamos em dia
na firma sobre esses assuntos, pode me explicar sobre o que são as acusações
contra você da parte da senhorita Galloway? Assim poderíamos chegar a um
acordo com ela — ele respondeu com uma paciência que não tinha.
— Advogado, meu interesse é não ter nenhum tipo de comunicação com
aquela verme que quer me ver preso sem motivo. Como expliquei, preciso
que fortaleçam minha situação junto à comunidade por meio das atividades
legais que realizo para que a polícia pare de tentar reunir provas falsas contra
mim.
— Para reforçar seu perfil na sociedade, digamos especificamente na
polícia, é necessário que não haja intimidação ou extorsão a senhorita
Galloway.
—Tenta me ensinar?
Michael cerrou a mandíbula.
— Minha função é aconselhá-lo, senhor Gordov. Imagino que a minha
colega, Eileen, lhe tenha informado previamente dos prós e contras de Ações
que vão contra o quadro da legalidade. Uma das desvantagens é que seríamos
forçados a rescindir seu contrato assinado recentemente...
Gordov estreitou os olhos. Então relaxou contra o assento. Ele abriu a
lapela de seu caro terno vermelho em tons extravagantes e tirou um charuto.
Demorou para acendê-lo. Aspirou um sopro e logo a deixou sair lentamente.
— Só trabalho para o bem-estar da minha família. Tenho um filho de 15
anos. Quero dar-lhe um exemplo e uma boa vida. Minha esposa morreu há
dois anos de pneumonia. Por que deveria querer privar meu filho de seu pai,
advogado?
— Queria deixar claro e registrado que lhe fiz esta sugestão.
Gordov estendeu a mão e colocou as cinzas no cinzeiro. Deu outra tragada
no charuto.
— Uma vez resolvida a questão, o que gostaria neste momento é que um
dos meus inquilinos, que se recusa a abandonar o local que alugo há quatro
anos, seja avisado de que já é hora de desocupar o local. Legalmente claro. O
contrato de aluguel foi cancelado, por conta de uma das cláusulas, já que ele
deixou de pagar o aluguel há seis meses. Já sabe, ninguém gosta de se sentir
ridicularizado. Quero fazer da maneira certa, com os documentos em mãos.
Michael brincava com a caneta-tinteiro Tebaldi's Crew 60th White Gold.
Era um daqueles pequenos luxos que gostava de desfrutar. O mundo das
máfias, independentemente dos negócios que dirigiam, era perigoso. Gordov
tinha conexões em todas as esferas da vida e essas conexões podiam incluir
qualquer pessoa. Não tinha dúvidas de que um homem astuto como ele já
havia intimidado altos funcionários em instituições respeitadas. Todos tinham
coisas sujas e o tipo de gente como Gordov possuía informantes que se
encarregavam de cavar o suficiente para ter munição que servia como gancho
e intimidação.
— A advogada Angelique Cooper cuidará de sua papelada. Ela será o
vinculo, e comigo tratará apenas de detalhes específicos e claramente
relacionados a questões bancárias e investimentos precisos.
Gordov acenou com a cabeça e levantou-se.
—Sabe por que escolhi este escritório de advocacia, Michael? Posso
chamá-lo pelo primeiro nome, certo?
—Pode. — Ele também se levantou e ajustou o terno.
— Eu sei que é um homem muito inteligente, Michael, mas também sei
que saberá como lidar com a garota Galloway se necessário.
—Podemos dizer que não tenho contato com a senhorita Piper Galloway?
— perguntou sem responder à alusão anterior. Por acaso esse valentão
achava que estava tratando com alguém de sua laia? Vá esperando!
— Podemos dizer — Emilio expressou condescendentemente — que
independentemente de onde a Srta. Galloway esteja, meu interesse não é
encontrá-la... mas para evitar que a polícia tente me encurralar como um
criminoso. — Este último foi expresso em tom sarcástico, deixando claro que
tinha consciência de que o encontro estava sendo gravado e que, mesmo que
não fosse, nunca admitiria o tipo de negócio que realizava a quem ele não
queria
— Não trato de casos relacionados a assuntos penais, informo-lhe, só
estou aqui para o que tem a ver com contratos, bancário e financeiro.
Especialmente o último.
— Entendido. De qualquer forma, achei muito instrutivo cumprimentá-lo.
— Parte do meu trabalho é atender novos clientes ou que requeiram uma
reunião. Sendo Salmann & Buckend seu escritório de advocacia
representativo, pode confiar em nós. Caso contrário, será impossível ajudá-
lo... em qualquer exigência futura.
Emilio soltou uma gargalhada. Era áspera. Diabólica.
— Não confio nem na minha sombra, Michael. — Deixou uma mão sobre
a maçaneta da porta de vidro da sala de reuniões principal —. Agradecerei
que leve a representação de meus negócios legais da melhor maneira
possível. Tem que tirar vantagem das coisas positivas. Não acha?
— Qualquer incidente particular sobre Piper Galloway teria que ser
tratado diretamente com a advogada Eileen Roberts. Eu só estou em um
manejo, como expliquei, periférico da área bancária que lhe compete. O
assunto dos contratos será tratado pela advogada Cooper.
Emilio inclinou a cabeça para o lado. Tinha o rosto marcado de cicatrizes.
Uma varíola mal curada.
— Agradeço as informações esclarecedoras.
—Senhor Gordov — Michael chamou, ajustando sua gravata Tom Ford.
O referido olhou para ele com relutância. — Como advogado deste escritório,
devo deixar claro que, caso você me forneça qualquer informação que possa
estar associada a atividades, ações ou atos ilegais, tenho o dever moral e
constitucional de levá-lo às autoridades.
O homenzinho de origem hispano-marroquina aproximou-se dele. Ele era
muito mais baixo do que Michael, mas mesmo assim era sua aura de perfídia
e hostilidade que o fez ser visto como um homem maior.
— Valorizo muito a vida das pessoas... Michael. Bom Dia — disse.
Então saiu.
Michael ficou de pé por muito tempo.
Era uma ameaça, mas ele não temia. Tentaria estar o mais longe possível
do maldito Gordov e de tudo que tivesse a ver com o nome Galloway. É
quase como se uma maldição estivesse atrás dele.
***
Três semanas. Rachel não conseguia acreditar que o tempo havia passado
tão rápido. À medida que conhecia Michael, ela ficou entre a escolha de
confessar quem era e dizer que o odiava e não queria saber mais nada dele,
ou se aprofundar nas conversas para extrair mais informações. Este último
teria feito Michael suspeitar de seu interesse tão marcado por seu passado.
Não devia esquecer que ele era um advogado. Tinha que andar com cuidado
com essa corporação.
Durante esse tempo, ele a convidou para sair. Ele o apresentou a Kyle
Bronson, seu melhor amigo de todos os tempos, e cuja filha de dez anos era
afilhada de Batismo de Michael. Foram dançar e ela ficou surpresa que, até
na pista de dança, Michael era muito habilidoso.
As noites eram outra realidade. A forma de fazer amor foi se tornando
mais intensa, possessiva, apaixonada. Sentia-se subjugada pela maneira que
tinha de tocá-la e fazê-la chegar ao limite, e novamente começar até altas
horas da noite.
Quase estabeleceram uma espécie de rotina. Eles se viam todos os dias. Ao
anoitecer. Michael, a cada dois ou três dias, ficava para passar a noite em seu
apartamento, e ela fazia o mesmo, de vez em quando, na casa dele. Ela
adorou conhecer a casa em que ele morava. Lincoln Park era uma área
clássica e aconchegante.
A casa de Michael tinha dois andares. Uma varanda que convidava a
querer passar a tarde e salões muito espaçosos. Não havia decoração em
excesso. Tudo estava organizado. A cama de Michael era confortável e
deixava muito espaço para se movimentarem. Ela descobriu que estava
gostando da companhia desse homem, e os sentimentos que estava
começando a sentir a perturbavam.
Não fez nenhum progresso em sua investigação, embora tentasse ler nas
entrelinhas em suas conversas com Michael. Era impossível que esse homem
fosse tão transparente. Não acreditava que fosse possível. Tinha que ter algo.
Continuar indefinidamente ao seu lado, como sua amante, era uma idiotice.
Precisava se afastar um pouco. No entanto, a simples ideia de nunca mais
fazer sexo com Michael novamente causava uma leve pontada em seu peito.
Sim, ela sabia do que se tratava. Era a sensação de culpa por não ter
encontrado resultados logo. Que outra coisa, se não isso?
Por outro lado, Henry havia ligado há cinco dias.
Tomaram um café, e Henry confessou que se sentia inseguro porque ela
dificilmente retornava suas mensagens. Então decidiu ser sincera. Disse-lhe
que estava saindo com alguém e pediu desculpas por não ter se atrevido a
falar com ele antes. Henry era um doce, lhe disse que quem quer que esse
homem, era um sortudo.
E então Rachel se sentiu como um nada. Em que ponto da equação deixou
de ser uma pessoa ciente dos outros? Como ela poderia ter esquecido que ela
e Henry estavam saindo? Bem, havia uma maneira de explicar com um nome,
um sobrenome e algumas posições sexuais muito engenhosas que...
—Ei! Você está comigo ou na lua? — Delaney perguntou estalando os
dedos na frente de sua melhor amiga.
Rachel olhou para Delaney com um sorriso. Além do trabalho árduo que
tinha, Del não tinha estilo para se divertir muito. Depois de tudo organizava
festas a toda hora e isso era muito esforço. Mas se não falhava a memória,
Del acabara de lhe dizer que queria sair para dançar. Em uma terça à noite!
—Tem certeza Del? Você tem uma reunião com sua cliente estrela amanhã
e certamente você precisa de todas as suas ideias... sóbria— perguntou com
uma risada.
Delaney revirou os olhos.
— Eu acho ótimo que Bianca queira se comprometer a cada sete meses,
Rachel. Em seguida, terminar o noivado. E isso beneficia meu negócio.
— E fez uma despedida de solteira, e uma festa de comemoração por ter
deixado aquele...
— Bastardo e egoísta mulherengo — disseram ao mesmo tempo entre
risos.
Tinham pedido comida italiana. Canelones de pangora em molho de quatro
queijos. Uma daquelas iguarias que podiam pagar, bem pelo menos aquela
que queimava muito bem seus carboidratos e não tinha que se preocupar de
que não lhe coubesse o sutiã. Algo que a Rachel não podia dizer, mas
também não ia ficar como aquelas mulheres absurdas com água e laranja,
privando-se de uma boa comida. Por outro lado, Michael não tinha queixas
sobre suas curvas, na verdade, ele as reverenciava a cada beijo e…
—Rachel! Em que planeta você está? Mal tomou duas taças de vinho. Não
é motivo para tanto. Ou você já perdeu o bom hábito?
Sentadas à mesa, com um copo de vinho na mão, estavam na verdade mais
bêbadas do que animadas para se vestir e festejar. Rachel gostava de entrar no
jogo com sua melhor amiga. Já sabia que Del era uma bêbada ruim. Depois
de quatro taças, estava fora do ar. E já tinha tomado seis.
— Claro que não. Eu bebo regularmente, mas tenho muito trabalho e às
vezes você sabe que começo a descobrir como resolver as coisas fora do
escritório —mentiu.
—Ah! Como se eu não te conhecesse. Agora o que você está fazendo,
Rachel? — perguntou de repente, apontando para ela com um garfo cheio de
macarrão — Confessa.
Rachel riu da maneira como Del entortava os olhos.
— Não sei o que quer dizer — respondeu, dando conta do último pedaço
de seu prato. Estava delicioso — É tarde — olhou para o relógio de pulso em
sua mão esquerda — e amanhã eu tenho que trabalhar. Vou para meu
apartamento para descansar.
Delaney deixou cair o garfo estrepitosamente sobre o prato. Colocou o
cotovelo na mesa e apoiou o queixo na palma da mão. Olhou para Rachel
com desconfiança.
— Uma das vantagens de estar meio bêbada é que você fala sem papas na
língua.
— Quando foi diferente estando sóbria? — perguntou com uma risada.
— Eu vi isso, Rachel.
—Eh?
— Eu sei que é Michael Whitmore. Outra noite cheguei quase às onze da
noite e o vi no elevador. Ele não me conhece, claro. Mas o único botão que
estava apertado era o 12º andar. Sabe quem vive nesse andar?
—Del…
—Exato! Seu! Minha melhor amiga que, por três semanas, ou quem sabe
quantas mais na verdade, tem escondido o namorado de mim.
— Ele nao…
— Não me interrompa. Eu reconheceria aquele homem em qualquer lugar.
Sabe por que Srta. Galloway? — Rachel não se preocupou em responder —.
Porque o único interesse que eu sei que você tem por ele está ligado à
vingança, por isso você guarda um recorte de sua fotografia. Daquele velho
jornaleco de dez anos atrás. Como é possível que tenha guardado algo assim?
—E como você poderia ter visto isso? — perguntou furiosamente. Nunca
ficava zangada com Delaney, mas não deixava esses detalhes à vista do
público.
— Porque uma noite, quando fiquei para dormir no seu apartamento,
encontrei você chorando e jurando que o faria pagar por tê-la decepcionado.
— Isso aconteceu há muito tempo, mal tinha voltado do Maine.
—Tanto faz! Como é que você conseguiu fazer amizade com ele? E por
Deus, não ouse dizer que não pode me dizer nada porque estou bêbado. O
álcool pode fazer com que eu aperte os olhos e fale a 2 mil por minuto, mas
meu cérebro está funcionando de forma consistente e não tive apagamento de
memória.
Rachel cruzou de braços. Fulminou-a com o olhar. Já que Delaney não ia
desistir e não queria brigar por besteiras, ela decidiu confessar tudo. Esteve
jorrando palavras por quase vinte minutos. Quando terminou sentiu que um
grande peso havia saído de seu corpo. Respirou fundo e logo soltou o ar
ruidosamente.
— Bem… — Del murmurou. Tinha se acalmado. Não sobrou nada em
seu prato, nem sobrou nada na garrafa —. Acho que você cometeu um erro,
Rachel.
—Por quê?
— Você não é uma mulher que pode dormir com um homem que não se
importa.
— Eu me importo, porque seu vínculo comigo tem um fim.
— Você tem um coração de ouro, e se Michael descobrir que você o está
usando…
—Então o que? Ele arruinou minha família, a única coisa que restava para
mim. Eu tive que viver três anos fora da minha cidade natal. Longe de todos
os meus amigos aqui em Chicago, de você, Del. A única coisa que farei é
encontrar um motivo para retribuir a afronta.
— Mas nem sabe que é culpado. Ele era apenas um advogado fazendo seu
trabalho.
— Oh ele é, claro que é culpado. Na primeira noite em que estivemos
juntos, me contou sobre Piper. Não disse o seu nome, mas foi o caso da
minha irmã. Chama fazer o trabalho incriminando uma pobre garota e fazê-la
pagar por crimes que não cometeu?
— E se o seu plano não funcionar?
— Eu não pensei que não poderia funcionar.
Delaney olhou para ela com pesar.
— Se encontrasses algo que magoasse Michael e a sua família. Depois de
divulgá-lo, você realmente se sentiria melhor? Acha que faria justiça a Piper?
¿ Piper, uma mulher adulta, quase onze anos mais velha que você, que
quando você era criança sabia melhor do que ninguém o que estava fazendo?
— Espero que você não tente me dizer que minha irmã é culpada —
acusou-a.
Del se levantou. Pegou os pratos e os colocou na máquina de lavar louça.
—Não, Rachel. O que estou tentando dizer é que você está cometendo um
erro grave, porque está travando uma batalha que não é sua. Se Piper é
inocente e quiser provar que foi presa por injustamente, ela encontrará um
jeito. Te pediu ajuda? —Rachel negou—. Exato. Ela só quer deixar o passado
para trás, mas aparentemente você insiste em voltar a ele e alimentar um
rancor irracional.
—Eu perdi minha família! O culpado tem que sentir o que eu senti. A
desolação que experimentei tantos anos! — exclamou perdendo a paciência
—. Não pode me entender porque você sempre teve a sua. Todos felizes.
Alegres. Sem problemas de reputação e menos de dinheiro.
— Mas eu perdi o Mauricio Rachel — ela respondeu suavemente,
lembrando-se do homem com quem pensava em se casar, se a morte não o
tivesse levado embora de repente —. Cada pessoa experimenta a dor e a
perda de um ente querido de maneira diferente, mas isso não significa que dói
menos ou mais que o que você sentiu...
Isso a fez reconsiderar. Estava sendo injusto com Del.
— Desculpe...
— Apenas pense no que você faz. Depois de atingir seu objetivo, as
consequências podem não ser o que você espera. — Ela se aproximou de
Rachel, abraçou-a e sua amiga retribuiu o gesto — Eu termino de recolher
aqui. Vá descansar.
—Del.
— Está tudo bem, Rachel, sério. Amanhã farei uma viagem ao rancho da
família. Meu avô tem oitenta e oito anos. Fiquei de organizar a festa. Será
sábado à noite. Muitos amigos, bebidas e bem...
— Uau, uma grande celebração.
—Gostaria de vir? Minha família ficará feliz em vê-la. Será uma festa
bonita.
— Acho que não, Del. Tenho assuntos pendentes...
Del assentiu.
— Claro. Descanse Rachel.
Rachel ia dizer mais alguma coisa, mas preferiu pegar suas coisas e ir para
casa.
C A P Í T U L O 9
***
Olhou para o Chicago Tribune novamente. A mulher era incrivelmente
bonita. Ele não comentou sobre aquele evento de gala. Afinal, por que
deveria avisá-la? Ela não tinha motivos para ficar com ciúmes. Michael não
era seu marido nem seu namorado, apenas... O que era? Seu encontro
exclusivo para sexo e longas conversas? Era um pouco complicado colocar
um rótulo, pois embora aparentemente estavam saindo com exclusivo, ele
não tinha estabelecido nenhum limite.
Colocou o exemplar de lado. Olhou para o quadro de cortiça em seu
escritório que tinha algumas fotos de seus pais, sua irmã e alguns momentos
importantes de sua vida. Ela havia passado dois dias em Los Angeles, em
tantas reuniões, uma após a outra, que não se lembrava de que estava viva até
chegar ao seu quarto de hotel e terminar com as garrafas de bebida do
frigobar.
Ao sair do escritório teria que comprar um presente de aniversário para a
afilhada de Michael. Os amigos sempre eram uma boa fonte de informação e
os espaços familiares eram propícios a isso.
Há uma semana que não tinha notícias da Piper. Isso a preocupava, embora
soubesse que a polícia era muito eficiente no momento de proteger
testemunhas. Ou informantes, no caso de sua irmã. Talvez Piper ficasse feliz
em acompanhá-la à loja de brinquedos e eletrônicos. Claro, não pensava
gastar uma fortuna no presente, mas tampouco queria dar qualquer porcaria à
garotinha.
Desceu de elevador até o estacionamento, onde seu carro estava. Saiu a
toda pressa do estacionamento, e se dirigiu ao apartamento onde sua irmã
morava. Na área do Hyde Park. Os preços do aluguel eram acessíveis, e pelo
menos Piper concordou em deixá-la pagar a metade do aluguel. Um avanço e
tanto, Rachel pensou.
Quando encontrou o prédio de cinco andares, estacionou.
O oficial encarregado de proteger Piper, Dalton Callaway, a revistou e
questionou até que teve certeza de que ela poderia passar sem causar nenhum
dano físico a Piper. Gostou de saber que sua irmã estava segura. Quando ela
abriu a porta, o rosto de surpresa era mais que perceptível.
—Rachel... tudo bem?
— Claro. Sei que tem o dia de folga hoje, então queria saber se gostaria de
vir comigo fazer compras.
O olhar de Piper adquiriu um brilho especial.
—Sério?
—Claro! Tenho uma festa de aniversário de uma menina de dez anos e
gostaria que me acompanhasse para escolher o presente. Está ocupada?
Piper soltou uma gargalhada.
— Dalton cuida das minhas costas. E de fato, ele tem que vir comigo.
Parte do sistema de segurança.
— Claro que ele vem com a gente —disse extasiada diante da ideia de
passar o dia com sua irmã, que raramente se permitia não só um sorriso, mas
sair de casa para outros lugares que não fosse a cafeteria onde trabalhava.
Rachel a compreendia.
Passaram a tarde fazendo compras no Water Tower Place, um Shopping
Center de oito andares para enlouquecer qualquer cliente que quisesse
aproveitar o tempo na Michigan Avenue. O humor de Piper melhorou a
medida que entrava em uma e outra loja.
As irmãs experimentaram sapatos, blusas, entraram na Sephora e gastaram
uma boa quantia em maquiagem. Na verdade, Rachel gastou, e Piper deixou-
se mimar. Aos poucos, parecia que suas barreiras iam enfraquecendo e ela
tentava ser um pouco a mesma de muitos anos atrás. Pelo menos com sua
irmãzinha.
Exaustas e com um sorriso no rosto, saíram para deixar as sacolas no
carro. Em seguida, encontraram um lugar para comer e sentaram-se para
encher as veias de energia. Ou pelo menos esperavam com um milk-shake de
Butterfinger e um delicioso e gorduroso, hambúrguer. Elas o devoraram com
gosto. Conversaram sobre os últimos lançamentos de filmes. Piper contou a
ela sobre as histórias engraçadas na cafeteria, e Rachel sobre Paul, mas nunca
mencionou Michael.
— Deveria sair com alguém, Rachel. É tão jovem e bonita. Você me
lembra muito a mamãe...— Piper disse, limpando a boca com um
guardanapo. — Por que não aceita sair com esse tal de Paul?
— Ele é meu chefe como eu te disse. Realmente acha que eu pareço com a
mamãe? — ela perguntou ansiosamente passando os dedos pelos cabelos.
—Sim perguntou com saudade passando os dedos sobre o cabelo... Eu os
carrego com carinho em minha memória. Rachel, eu pensei em sair da
cidade.
—O quê? Não pode estar falando sério! Mal saiu da prisão, preciso de
você, por favor, Piper... além disso, têm que deter Gordov. Quem sabe o que
ele faria com você se te visse ou mandasse aqueles bandidos...
O tom desesperado de Rachel levou Piper a pegar a mão de sua irmã.
Apertou os seus dedos com carinho.
— Estou feliz que você veio me ver hoje. Rachel... é difícil para mim te
dizer isso, porque eu sei que você se preocupa muito.
—Você é minha única família... e tia Ariel! Mas ela está longe. Não quero
te perder.
— Rachel, Gordov está me procurando. — Isso a deixou sem palavras,
então Piper continuou — Dalton está ciente, assim como seu parceiro,
Edward, que faz as rondas noturnas postado na porta do meu apartamento. Já
comentei com você que às vezes a informação nas ruas voa. Sei que tem
perguntado sobre mim. Hoje não estava de folga, fui forçada a me demitir
pela segurança dos donos que foram tão bons comigo.
—Mas...
— Ouça, irmãzinha. Gordov contratou um escritório de advocacia para
defendê-lo e colocar seus negócios em ordem. Não tenho dinheiro para me
defender caso ele tente algum truque, e acredite, aquele traficante é capaz de
tudo. Não quero voltar para a prisão, não quero voltar a passar pelo inferno.
— Piper baixou o olhar.
— Rachel, eu sei que estão procurando por mim. Eu não sou uma idiota. E
Dalton e Edward me explicaram muito bem como essa situação funciona. Por
isso não saio de casa. Entende? Tenho que ser cuidadosa.
—Acha que nos seguem agora?
Ela negou.
— Estar perto de mim coloca você em perigo. Por favor não me procure
de novo, Rachel.
— Eu tenho dinheiro — ela disse desesperada — Agora eu tenho uma
conta especial e boa. Eu posso pagar qualquer escritório de advocacia que
você quiser. O melhor, Piper.
— Sim, mas há algo que nenhum advogado pode evitar.
—Como o que...? Que o pessoal do Gordov possa plantar provas falsas?
O olhar triste da Piper encolheu o coração da Rachel.
— Me matar é mais fácil que ter todo esse trabalho.
Rachel sentiu um frio gelado correr pelas costas.
—Qual firma está representando Gordov, Piper?
— Uma das grandes.
— Se descobrir, me enviará uma mensagem dizendo?
Piper franziu a testa.
—Para que você precisa dessa informação, Rachel? Pode perguntar a
Dalton, às vezes eles me colocam em alerta. São boas pessoas. Não me
julgam.
— Não tem por que, é inocente. — Piper não discutiria com a irmã, já
sabia que costumava ser teimosa — Além disso, preciso dessas informações
porque assim poderia encontrar os concorrentes e contratá-los para você.
A ex-presidiária soltou as mãos da irmã e reclinou as costas no apoio
macio.
— Não será necessário. Esta será a última vez que nos veremos. Amanhã
mudarei de endereço e assim continuarei até que esta confusão se resolva.
Não tente me fazer mudar de ideia ou argumentar.— Rachel afundou em sua
cadeira. — É o melhor para nós duas. Ou pelo menos até que a polícia
encontre uma maneira de pegar Gordov e meu pescoço esteja seguro. Entrarei
em contato por mensagem de texto no seu telefone. Sempre, como até agora,
de um número diferente.
Rachel sentia vontade de chorar. Gritar.
—Como saberei onde está ou se está bem?
Piper sorriu.
— Eu deixarei você saber, embora não explicitamente. Você é muito
inteligente.
Sentindo uma mistura de desamparo e raiva, algo muito semelhante ao que
experimentou anos atrás, Rachel dirigiu até a casa onde Piper estava
hospedada. Dalton os seguiu de perto em um carro que não chamava a
atenção.
Ela tentou conter as lágrimas quando Piper a abraçou, dizendo que se
veriam novamente em breve e não perderiam as esperanças de que as coisas
se resolvessem. Esperou que sua irmã fechasse a porta. Avançou
discretamente até onde se encontrava Dalton.
— Policial, posso te fazer uma pergunta? — disse em voz baixa.
O homem de um metro e noventa de músculos intimidadores assentiu.
— Por compaixão, por favor me diga qual escritório de advocacia Gordov
contratou. Sabe disso, certo? — Dalton ficou em silêncio —. Por favor,
policial, Piper é minha única família. Sei que estou lhe perguntando algo que
não é usual, que não me daria essa informação em hipótese alguma, mas
apenas peço que se coloque no meu lugar. Piper é minha irmã. Perdemos
mais de uma década. Ajude-me, diga-me qual empresa representa Gordov.
Quando ela estava prestes a perder as esperanças, a voz profunda do
policial, apenas para Rachel ouvir, emergiu.
—Salmann & Buckend.
— Obrigada —murmurou com um nó na garganta que pouco a pouco se
desfez.
Uma vez em seu carro, Rachel olhou para a caixa de fones de ouvido Beats
que comprou para a afilhada de Michael. Estava furiosa. E com essa raiva
ligou o motor de seu carro e arrancou a toda pressa.
C A P Í T U L O 1 0
Michael odiava ter que trabalhar em casa, mas também não tinha vontade
de ficar até de madrugada no escritório. Nesse caso, não teve outra opção,
principalmente quando acabava de receber uma solicitação direta de Dereck
sobre um caso em que ambos trabalhavam relacionado à fusão de dois
grandes bancos da cidade. Escolheu ir para seu escritório pessoal. A casa
estava silenciosa e tentou deixar livros de suporte legal para eventualidades
ou urgências.
Por volta das dez da noite, ouviu uma batida na porta. Franziu a testa e
deixou de lado a caneta. Estava com as mangas da camisa dobradas e uma
calça de corte chinês preta, descalço. O chão era acarpetado, então preferiu
deixar seus sapatos no quarto para trabalhar à vontade. E sempre com uma
xícara de café fumegante, embora a que tinha já estivesse bem fria devido à
concentração excessiva. Quando isto acontecia, perdia a noção do tempo.
Se não fosse por aquela batida, poderia ter ficado até as quatro da
madrugada sem se dar conta.
Relutantemente, ele se levantou. Esfregou os olhos. A temperatura externa
estava abaixo de zero, mas ele estava muito confortável com o aquecimento
em casa. Olhou pelo olho mágico da porta. Abriu imediatamente.
— Bem, que surpresa agradável, Verônica — ele disse com um sorriso
sincero. Michael franziu a testa quando abriu a porta para ela e, em vez de
dizer qualquer coisa, o cumprimentou com um aceno ridículo. — Verônica?
Ela ainda não respondeu, mas estava olhando para ele. E quando seus
olhos se encontraram, tirou o lenço. O par de luvas e em seguida a jaqueta de
couro. Tirou o elástico que prendia seu cabelo avermelhado brilhante. Ela se
inclinou em direção às botas, sem se importar que o decote em V do vestido
azul deixasse seus seios e sutiã praticamente à vista sem grandes obstáculos,
deslizou o zíper lateral de cada uma e depois as colocou de lado. Com
parcimônia e decisão, tirou a legging preta, deixando as pernas livres. O
vestido era bem curto visto assim.
Michael sentiu sua ereção começar a crescer.
— Acho que o silêncio faz parte da sua sedução, certo? — ele perguntou
se aproximando. Com seus braços, acariciou os braços nus dela. Ela sentiu
sua pele arrepiar.
O sorriso de Rachel tinha tudo a ver com raiva e pouco a ver com luxúria,
mas essa não foi a interpretação de Michael. E bem no fundo dela, Rachel
sabia que uma linha tênue de diferenciação entre as duas a empurrou para a
casa do advogado sexy. Estava ciente de que não poderia conter a raiva em
seu rosto e apenas sentiu que havia uma maneira de expulsar seus demônios
sem estragar seu plano.
— Espero que neste exato momento a última coisa que você queira falar
tenha a ver com minhas estratégias vindo aqui — Rachel disse colocando as
mãos em volta do pescoço para deslizar o zíper do vestido, que caiu como
uma nuvem de seda aos seus pés descalços.
A risada rouca de Michael se transformou em uma expressão de
admiração. Ele segurou seu rosto com uma mão e acariciou seu lábio inferior
com o polegar. Aquela pequena mulher tinha um jeito de deixá-lo louco. Que
homem com sangue nas veias não gostava de ser surpreendido numa sexta à
noite por uma mulher que o incitava ao prazer?
— Você é linda Verônica — expressou antes de beijá-la.
Ela não cedeu à suavidade que ele tinha intenção de oferecer. Pelo
contrário, se agarrou aos seus lábios e devorou com raiva e intensidade
aquela boca. Enterrou seus dedos no cabelo de Michael e quando ele
equiparou seu impetuoso ardor, suas línguas se encontraram, suas gargantas
gemeram de ansiedade e seus corpos se moveram juntos até que avançaram
para a área mais próxima para se acomodarem. O tapete da sala do piano à
direita.
Não houve risos, não houve palavras. Era apenas a troca mais básica e
primitiva de desejo feroz. Rachel praticamente arrancou sua camisa. Botões
se espalharam pelo chão. A calcinha de seda cinza e o sutiã combinando logo
caíram de lado. Arruinados. Ambos rolaram no tapete grosso em um
emaranhado de mãos, línguas e lábios.
Nus e suados, eles se beijaram e se arrastaram a alturas inimagináveis de
tentação. As mãos de Rachel masturbavam o longo e grosso pênis de
Michael, enquanto ele chupava seus seios sem qualquer dúvida, não se
importando com nada mais do que ouvi-la gemer, enquanto seus dedos
mergulhavam nas dobras molhadas, sem penetrá-la, apenas molhando-a,
tentando-a.
Rachel mordeu o ombro de Michael, ele não reclamou e intensificou suas
carícias nos seios dela e começou a deslizar os lábios pelo pequeno canal que
os separava. Ela foi forçada a liberar seu sexo, e antes que pudesse reclamá-
lo, Michael segurou suas mãos, acima de sua cabeça.
—Me solte! — pediu se contorcendo.
Ele a silenciou tomando sua boca, possuindo-a insistentemente.
— Nada disso, veio procurar prazer, certo? — ele perguntou, ofegante e
olhando para ela com a respiração instável. Ela estava em pé de igualdade,
mas seu olhar feroz, determinado a tomar as rédeas, a separava dele. Michael
estava alheio ao vulcão de emoções que operava em Rachel.
Ela se moveu sob seu peso. Era muito forte. Droga. O que ela queria era
deixá-lo louco, não que o contrário acontecesse.
—Me solte! Eu não quero que você esteja no controle — sentenciou,
virando a boca e movendo os quadris para tentar fugir, mas ele era mais ágil e
se posicionou entre as pernas dela. Seu sexo vibrante bem na entrada do
vértice mais íntimo de Rachel — Michael...— disse com um tom exigente e
determinado, que se perdeu no mar de desejo que estava por trás de suas
palavras.
— Impossível responder isso quando você está debaixo mim — ele
sussurrou contra seus lábios, antes de penetrá-la com uma única estocada.
Rachel parou de lutar. Ela foi dominada pela força, o cheiro mais exótico
que dois corpos sexualmente compatíveis produziam, e a maneira hábil como
ele a penetrou. Observou enquanto ele sorria, focado e determinado a agradá-
la. Ela odiava ter que aceitar o quão fraca era ao seu toque. E o quanto
gostava.
Pegando-a pelas nádegas para melhor posicioná-la ao entrar, Michael
continuou a balançar seus quadris, sentindo-a responder, tensa. Cerrou os
dentes, determinado a dar-lhe prazer primeiro, porque o prazer de Verônica
era o dele. Quando a sentiu ficar mole em seus braços, com um grito de
libertação se derramou dentro dela, e então enterrou o rosto no pescoço
delicado que exalava a essência de Verônica e seu perfume.
Vários segundos se passaram antes que Michael se recuperasse e se
afastasse dela. Com os olhos fechados, tentando conter as lágrimas, Rachel
sentiu seu corpo perder o contato mais íntimo com ele. Tentou recuperar o
fôlego. Ouviu-o procurando as roupas. Ela queria seduzi-lo novamente,
mostrar a ele que não poderia dominá-la que seus encontros sexuais não
poderiam ser mais poderosos do que seu desejo de se vingar dele.
—Verônica? — ele perguntou em um sussurro. Estendeu a mão e
acariciou sua bochecha. Estava úmida. — Querida, o que foi? Foi muito
brusco?
Ela virou a cabeça para não olhar para ele.
Droga. Por que suas lágrimas escolheram transbordar naquele momento?
Não deveria ter sido levada pela fúria quando deixou a casa de sua irmã. O
melhor seria ter ido para a academia. Descarregar a frustração e o sentimento
inconfundível de impotência injusta na aula de kickboxing das nove horas,
teria sido mais coerente, mas quando se tratava de sua família, ou do que
restou dela, não podia ser assim.
Não havia conseguido provar nada. Só o quanto era fraca enquanto tentava
não ser. Cada beijo, cada sussurro e palavra de Michael parecia penetrar sob
sua pele. Como um doce veneno que a consumia e ela gostava da tortura sutil
e deliciosa. Estava perdida.
— Verônica... fale comigo — ele pediu, acariciando as pálpebras
fechadas com o polegar.
Ela finalmente olhou para ele.
— Oi...
— Oi linda. Quer falar sobre isso?
— Sobre o quê? — perguntou querendo se fazer de desentendida.
Michael pegou um dos seios de Verônica e massageou suavemente,
olhando nos olhos dela.
— Uma mulher sexy vem à minha casa. Às dez da noite. Ela me
surpreende ao se despir no corredor e então me convida com seu corpo para
me deixar seduzi-la... se em troca eu esbanjar o mesmo prazer. Com esses
seios lindos— para provar que era, inclinou-se para beijar o mamilo que sua
mão acariciava — e a pele de seda, uns lábios enlouquecedores. — Inclinou-
se para beijá-la, longa e ternamente. — Também possui um lugar espetacular
feito para me perder com deleite. — Exemplificou suas palavras deslizando a
mão até o sexo de Rachel, e ao senti-la molhada, penetrou-a com seus dedos
hábeis.
—Michael, não...
—Michael, sim— respondeu e durante um longo tempo, nenhum dos dois
disse nada.
Ela se permitiu ser acariciada, beijada e mimada. Ele percorreu cada canto.
Cada pequena curva de seu corpo. Ele a fez pedir mais e não permitiu que ela
desse. Foi extremamente carinhoso. Girou-a sobre si mesma. Ele passou a
mão sobre sua barriga, enquanto ela movia avidamente sua bunda em direção
ao sexo ereto contra suas nádegas. Michael entrou nela por trás, sentindo não
apenas a suavidade de seu sexo inchado e úmido, mas também acariciou seu
traseiro arrebitado com a pele aveludada. Verônica era toda suavidade para
ele. Os sons vindos de sua garganta eram suaves, mas já haviam perdido
aquele fio de impetuosidade.
Antes de atingir o orgasmo, Michael se acomodou e pediu que ela se
deitasse de costas. Ele olhou para ela. Não havia rastro de lágrimas. Apenas o
brilho do desejo.
— Obrigada por ter vindo querida, sua companhia me faz bem — ele
sussurrou ternamente contra seus lábios, enquanto deslizava de volta para
dentro dela, para alcançarem o orgasmo juntos.
***
Na primeira noite em que tentou acreditar que poderia virar a página, viu
sua nemesis em um restaurante. Ficou doente ao ver Rachel rindo com o
grupo de amigos ao seu redor. Porque ele merecia criar aqueles sorrisos e, em
vez disso, suas últimas palavras a fizeram chorar. Ele deveria ter guardado
aquelas palavras dolorosas para quando a raiva se dissipasse. Rachel
confessou que o amava. Ela não o tinha visto, tinha certeza. E talvez fosse
melhor assim. Só depois de pensar muito, no dia em que recebeu o
telefonema de Dereck, a declaração dela ficou ancorada em sua memória.
A desconfiança que sentia com Ingrid parecia ter redobrado, e quando ele
acreditou que poderia acreditar em uma mulher novamente, Rachel não era
quem dizia ser... Procurá-la não estava em seus planos, nem tampouco
esquecê-la.
Douglas e Lara disseram que ele deveria se colocar no lugar de Rachel,
que embora suas intenções não fossem as mais nobres, no final ela acabou se
apaixonando por ele. As palavras dos Bronsons foram um pouco mais duras
quando descobriram o que aconteceu, mas a mensagem foi a mesma de sua
família: tente consertar a situação e encontre uma forma de resgatar o que
havia acontecido.
Sua mãe, de quem ele menos esperava palavras porque não lhe contara
nada em particular, insistiu com ele para que esperasse até que ela tivesse
tempo para se organizar. E se ela procurasse por ele, que falasse. Disse-lhe
que cada um tinha o seu tempo e para não esquecer o mais importante:
procurar sempre se colocar no lugar do outro. Com aquelas palavras diretas e,
ao mesmo tempo, de caráter geral, ela deu-lhe as respostas de que ele
precisava.
Quanto à situação no escritório, o relatório Breaking Legal Deals havia
dado a ele uma exposição significativa e isso resultou em novos clientes.
Dereck ficou satisfeito, mas eles não tocaram no lado filantrópico de Michael
novamente. A revista aproveitou o ângulo da juventude de Michael, a
tradição familiar de trabalhar na área jurídica, para a qual entrevistaram pai e
irmão como testemunhos, e claro, também houve perguntas sobre questões
políticas que Michael respondeu com sabedoria.
Apesar das muitas atividades que sua profissão geralmente envolvia, ele
não havia parado de pensar em Rachel. O amor demorou muito para morrer.
O dele estava bem vivo, espancado, mas ansioso para bater com força
novamente. Ele sentiu que sua consciência estava em paz com o passado.
Estava pronto para seguir em frente. Mas ele não queria fazer isso sem
Rachel.
Três meses sem poder tocá-la. Fazer um tour pelo seu corpo. Ouvir o som
de sua voz cantando e desfrutar de seus gemidos quando juntos eram um.
Mas o que mais sentia falta era poder falar com ela. Rindo da maneira como
queria defender causas que estavam fora de seu controle. A maneira como
seu senso de humor funcionava...
Sair com Saphire, uma bela artista plástica, foi um erro. A garota era
inteligente e sua conversa divertida, mas depois de ver Rachel naquela noite,
sabia que estava perdido. Aquela ruiva o havia arruinado para qualquer
mulher desde o dia em que cruzou a sua vida,
C A P Í T U L O 1 6
***
Missão cumprida, Rachel pensou com as pernas trêmulas, antes de tirar o
casaco e colocá-lo no sofá de seu apartamento. Ele a olhou exatamente como
esperado. Com descrença e indiferença. Não deveria doer que Michael
preferisse ficar com essa Sylvia, em vez de se interessar mais por seu filho ou
filha. Claro, ele provavelmente pensou que não era dele. Ela fez bem em
dizer a ele que estava disposta a fazer um teste para que ele esclarecesse
qualquer dúvida.
De manhã, teve uma reunião com seu chefe. Paul concordou em lhe dar
férias. Quando lhe disse que estava grávida, seu rosto não demonstrou
surpresa. Paul se levantou e deu um abraço nela. Disse-lhe que contasse com
o seu apoio para qualquer eventualidade, visto que era muito apreciada na
empresa e ele não queria que ela deixasse de contribuir como profissional.
Não fez perguntas sobre o pai de seu filho, nem mencionou a possibilidade
de apoiá-lo de uma... maneira mais pessoal. Algo que Rachel apreciou, na
verdade. Como havia previsto, desde o último convite de Paul para sair, ele
não mencionou um interesse romântico por ela novamente.
No final da reunião, tinha um mês de férias acumuladas dos últimos dois
anos, mas Paul insistiu que se houvesse uma emergência, precisava que ela
trabalhasse no Skype ou Facetime. A empresa ainda deveria a Rachel mais
algumas semanas de férias, já que ela costumava tirar cinco dias devido à alta
demanda por papelada.
Agora ela gostava de ter se dedicado tanto ao escritório. Um mês era o
suficiente para tentar organizar sua vida em seu próximo papel de mãe.
— Não se preocupe, meu tesouro, você e eu vamos ser felizes — disse
acariciando o local onde essa nova vida crescia. — Agora, vamos sair de
férias. O que você acha disso?
Ela poderia se virar sozinha.
Tinha uma conta bancária muito saudável, tendo economizado muito
durante os anos de trabalho. Poderia sustentar seu filho sem depender
financeiramente de ninguém, muito menos de um homem. Mas estava
disposta a levar Michael ao tribunal se ele não concordasse em reconhecer o
bebê como seu. Essa nova sensação de proteção com a criatura crescendo em
seu corpo era nova e também revigorante.
***
— Rachel, abre a porta, tenho uma surpresa para você —disse Delaney.
Vestida com um roupão, veio até à porta. Sua melhor amiga tinha a mania
de bater com os dedos, e fazer todo o escândalo possível, em vez de tocar a
campainha.
— Espero que um dia possa usar a campainha como uma pessoa normal
— respondeu dando-lhe um abraço —. Como você está?
— Eu deveria te perguntar isso, porque você tem meu sobrinho ou
sobrinha por aí — disse com um sorriso. Estava carregando uma bolsa
bastante pesada em uma das mãos —. Sabe o que é isto? — perguntou
enquanto Rachel fechava a porta.
— Bem, disse que era uma surpresa, então o que você acha?
Delaney riu de sua pergunta boba..
— Bem, vamos celebrar a gravidez com sorvete, salgadinhos e um jantar
como Deus planejou em um dos melhores restaurantes de Chicago. Liguei
para Piper e concordou em ir para o restaurante. Ela não pode vir para casa
porque disse que deve terminar uma tarefa. — Encolheu os ombros —. Não
sei que mania sua senhoria pegou que agora resulta é sua pessoa favorita.
Rachel olhou para sua amiga com carinho. Não a julgava e lhe dava todo
seu apoio. Era maravilhoso saber que contava com ela.
— Prefiro que ela a aprecie e a faça saber que pode progredir, do que
minha irmã ficar amarga ou preocupada com sua segurança ou liberdade.
Delaney se moveu familiarmente pela cozinha. Pegou duas tigelas
coloridas, colheres e um pires. Colocou as compras de lado e começou a
servir as guloseimas. Minutos depois, ela se acomodou no sofá e pediu a
Rachel para se juntar a ela. Esta não esperou e começou a devorar os doces.
— Está com fome, hein?
— Ultimamente tudo que tem muitas calorias me agrada — disse com
uma risada —. Acho que posso parar de me preocupar com o limite. No final,
eu não acho que o bebê se importa se sua mãe rola as escadas ou se mantém
no peso.
— Você é muito trágica. Precisa de um pouco de chantilly para se adoçar
mais —respondeu com um sorriso —. Eu teria gostado de te acompanhar na
ecografia.
— E também... que pena que você teve que receber os fornecedores da sua
empresa justo hoje. — E entregou a sua amiga a foto do ultrassom.
—Awww, que emoção, Rachel. — Ele notou o sorvete de framboesa com
baunilha —. Seguiu meu conselho?
—Sim, mas o cretino não reagiu. Ele me encarou como se, em vez de dizer
que seria pai, eu tivesse dito que a Terra era o terceiro planeta mais próximo
do Sol. Entreguei a ele uma cópia do ultrassom.. —Suspirou—. Não importa.
Quando meu bebê nascer, cuidarei de tornar a vida de Michael miserável até
dar a ele seu sobrenome.
— Eu acho que o homem está digerindo a informação.
— Del, acha que podemos parar de falar sobre Michael Whitmore esta
noite? Sério, a ideia de comer sobremesas enquanto falamos sobre ele vai me
fazer devolver todas essas calorias.
Delaney sorriu.
— Ok então, eu tenho algo para te contar.
—Sim? —perguntou com expectativa—. Um garoto à vista, finalmente,
Del?
Ela assentiu.
— Concordei em sair com Fabrizzio.
—O italiano dono de um restaurante na área de South Loop?
—Sim… —murmurou corando.
Fabrizzio Orsinni era um menino de Roma que trabalhava como
fornecedor para Delaney, quando seus clientes queriam algo italiano na festa
temática. O homem era um sol, mas ela estava tão absorta em seu trabalho
que não queria namorar ninguém. No entanto, Fabrizzio foi persistente de
uma forma encantadora.
Na tarde anterior, ele havia trazido para ela uma musse de chocolate
branco e uma rosa para seu escritório, pediu que ela lhe desse uma chance
única de convencê-la de que a química que eles realmente existiam e que
precisavam explorá-la. Que ele seria paciente, mas que, por favor, desse-lhe a
oportunidade de se abrir com para conhecê-lo melhor. Delaney não poder
recusar. E não precisamente porque o mousse de chocolate branco era seu
favorito, mas porque depois de saborear esse doce, Fabrizzio a olhou com
intensidade e teve a delicadeza romântica de perguntar se lhe permitia beijá-
la.
Delaney praticamente derreteu em seus braços. E pela primeira vez em
muitos anos se sentiu viva. Queria explorar novamente as suas emoções com
um casal. E apesar de levar muito tempo para se apaixonar de novo, a ideia
de dar uma chance a Fabrizzio, sentia que era o que precisava seu coração.
— É maravilhoso, Del. Estou feliz por você!
— Quero ver você feliz de novo, Rachel. Seja como for, agora vai se
vestir, um delicioso jantar nos espera.
—No restaurante do Fabrizzio? — perguntou, estreitando os olhos com
desconfiança.
Del encolheu os ombros.
— É uma boa desculpa para vê-lo sem pensar que estou muito interessada.
Com uma gargalhada, a primeira em todo o dia, a Rachel foi vestir-se para
sair. No dia seguinte começavam suas férias e tinha que tomar um avião. Mas
essa noite pensava desfrutar a noite com sua irmã e sua melhor amiga.
***
Com nostalgia, da janela do táxi, Rachel observou como o centro de sua
cidade natal ficava para trás pouco a pouco. Havia amanhecido com bom
tempo, e por isso se entendia menos neve. Tinha quatro horas e vinte minutos
de viagem do Aeroporto Internacional de Chicago Midway até o Aeroporto
Internacional de Jetport de Portland, para então tomar outra rota, desta vez
por terra, que a levaria até Ogunquit. Sua tia Ariel estava esperando por ela.
Pagou ao taxista, e se alegrou de que o terminal não estivesse tão cheio.
Pegou um carrinho e colocou suas malas nele. Avançou para o balcão,
entregou o formulário de check-in para o assistente; então, apenas ela e suas
malas permaneceram. Olhou para o seu relógio de pulso. Faltavam quarenta
minutos para embarcar. Foi sentar-se perto de uma máquina de venda
automática de bebidas e comprou um refrigerante.
Seu celular tocou. Era Piper no WhatsApp.
“Tudo bem?”
Oi, Piper. Sim. Acho que cheguei com bastante antecedência.
“Diga olá para tia Ariel, embora ela não me ame muito.”
Não fale besteiras. Ela me disse que espera encontrar você em algum
momento.
“Vejo você na volta. Tente dar outra chance à vida, pois tenho certeza que
ela dará a você. Ok?”
Piper, quando fica enigmática, fico com cãibras.
“ Ha, ha, ha. Boa viagem!”
Diga a Delaney para não se esquecer de pagar ao meu senhorio o aluguel
do mês, por favor. Depositei o dinheiro para ela em sua conta.
“Eu direi. Tchau Rachel.”
Tchau.
***
Não aceitou a transferência para Nova York. Ele estava confortável em
Chicago e era onde pretendia continuar. Dereck e Eugene estavam céticos
quanto à sua recusa em se mudar para outra cidade com o triplo do bônus
trimestral, além de um Ático em Manhattan. Michael sabia quais eram suas
prioridades agora e isso não era crescer financeiramente, porque já tinha tudo
o que queria. Ou quase tudo…
Enquanto dirigia pela cidade, ele ligou o rádio.
Conduziu tentando conter a ansiedade. Estacionou no edifício de Rachel.
Pressionou o elevador e esperou que chegasse. Apertou o botão do piso doze.
O elevador parou no nono andar. Uma menina pequena e de rosto expressivo
entrou.
Olhou para ele com curiosidade. Então a viu esboçar um sorriso. Esperava
que no prédio não houvesse maníacos.
—Michael Whitmore, certo? —ela perguntou.
Ele franziu a testa e assentiu.
— Acho que sei mais sobre você do que deveria. Eu sou Delaney Garth, a
melhor amiga de…
—Rachel — ele completou, apertando a mão que a garota estendia —.
Gostaria de ter conhecido você em outras circunstâncias. Tenho algo
importante para falar com sua amiga.
Um largo sorriso apareceu na expressão da garota..
—Eu ia subir para pegar algumas coisas que deixei outro dia... Sinto muito
pelas coisas que aconteceram entre vocês, mas se quer saber, não concordei
com as ideias de Rachel desde o início. No entanto, estaria mentindo se
dissesse que não a entendo. Ela sofreu muito. Ela foi retirada da família desde
pequena, de formas muito duras. Não a justifico…— encolheu os ombros,
mantendo um tom otimista —. Que discurso para quem acaba de te conhecer.
Desculpe às vezes eu falo um pouco demais…
Michael riu. O elevador parou. Ele segurou a porta para ela e Delaney saiu.
— Uma característica que você compartilha com Rachel.
— Temo que não vai encontrá-la hoje.
Delaney pegou uma chave e abriu o apartamento de sua amiga. Ambos
entraram.
Michael aspirou o aroma floral que lhe era tão conhecido e experimentou
um vazio inexplicável. O vazio que tinha invadido cada dia e noite desde que
Rachel saiu de sua vida. Não era dado ao sentimentalismo, entretanto, só
acreditou retornar à vitalidade de sempre quando ela se apresentou no dia
anterior, tão segura e ao mesmo tempo tão nervosa, tão forte e tão vulnerável.
Cada vez que lembrava o modo em que a tinha ferido com suas palavras,
se amaldiçoava. Não podia acreditar que quis prejudicar alguém que amava.
Porque amava essa mulher. Com uma força que era capaz de varrer os
resquícios da decepção e a vulnerabilidade.
Se fosse outra pessoa que tivesse ido procurá-lo após o rompimento do
relacionamento, em vez de olhá-la com surpresa, ele a teria feito a segurança
retirá-la. Como ele fez uma vez com Heidi. Para um homem acostumado a
acompanhar os eventos e antecipar potenciais fracassos, a chegada de Rachel
foi como um redemoinho.
— É sábado e é meio-dia. Eu conheço a rotina... — passou a mão pelo
cabelo — ou conhecia a rotina de Rachel. Meses se passaram desde…
— Partiu o coração dela, Michael. Apesar de tudo, ela se apaixonou por
você. E embora você tivesse motivos para estar com raiva, as palavras que
disse não eram certas.
—Eu sei.
— Se ela não estivesse grávida nunca a veria novamente. — Ele já sabia.
E a própria ideia era insuportável. Eles tinham que conversar. Muito sério.
Ele não estava indo a lugar nenhum. Rachel Galloway iria ouvi-lo —. Não
vai encontrá-la aqui. Saiu de Chicago — disse olhando-o com severidade.
— Como assim saiu de Chicago? — ele perguntou sem controlar a
confusão em sua voz —. Partiu a trabalho ou para sempre? Para onde foi?
— Não acho que ela queira que você saiba.
Michael avançou até Delaney.
— Ouça, Del. Posso te chamar assim, certo?? — A garota assentiu —.
Bem. O fato é que Rachel perdeu o direito de voto quando decidiu jogar
comigo. Também quando deu a entender que poderia pensar que o filho que
está carregando não é meu e acreditar que me contentaria em apenas registrar
meu sobrenome. Como se eu não soubesse que meu senso de lealdade para
com minha família é o mais importante! — ele disse impotente.
— Você não pode culpá-la…— respondeu cruzando os braços —. Suas
palavras não foram exatamente encorajadoras. Principalmente porque você
não quer mais ouvir falar dela. Além disso, Rachel não é sua família... ela é
apenas... a futura mãe de seu filho.
Michael odiava que lhe dissessem a verdade, mas tinha que admitir que a
garota estava apenas explicando o óbvio. Ele olhou para Delaney.
—Rachel é a mulher que eu amo. E com quem pretendo me casar. Será
parte da minha família. E ela será minha. Então, se não quer que eu sequestre
Rachel e a leve para Las Vegas para me casar com ela, sem lhe dar a chance
de ser sua principal dama de honra, é melhor me dizer onde ela está.
—Por que acha que vai se casar com você? — respondeu de volta. O
pensamento de que não poderia ter um casamento como o que as duas haviam
sonhado a machucou. É muito rasteiro —. É orgulhosa. Não vai querer ver
você…
O sorriso confiante e satisfeito fez Delaney franzir a testa..
— Eu vou cuidar disso, Del. Então, onde ela está?
—Não vai fugir para Las Vegas com ela então…?
— Só se você responder à minha pergunta e parar de pensar tanto.
Delaney fez uma careta.
— Na casa de sua tia Ariel em Ogunquit — disse relutantemente.
— Vamos nos dar bem, Del. Prazer em conhecê-la. No veremos no
casamento. — Então ele saiu do apartamento, assobiando.
C A P Í T U L O 1 7
***
Rachel sentiu a areia sob seus pés. Gostava daquela sensação tão natural.
A praia estava vazia. As ondas estavam quebrando nas proximidades, mas a
maré estava baixa, então poderia aproveitar pacificamente sem temer que
uma onda surpresa a molhasse.
Usava um vestido rosa pardo de mangas compridas e gola redonda,
acentuado logo abaixo dos seios. Abria em A, para lhe dar mobilidade.
Perguntava-se quando sua barriga começaria a crescer.
Na mão esquerda carregava as sandálias e, para se aquecer, vestia uma
elegante jaqueta de couro preta. O cabelo estava voando sobre os ombros. No
dia anterior, o cortou em camadas, e estas delineavam seu rosto de uma
maneira diferente. Ela se sentia diferente e sua imagem refletia isso.
Sentia alegria ao caminhar no meio da natureza. Sentou-se em um tronco
de madeira que estava à vista e olhou para o oceano. Isso a acalmava. Ela
fechou os olhos e se concentrou no som das ondas.
— O mar também me acalma. Eu não venho aqui há muito tempo —
disse uma voz muito familiar para Rachael. Dolorosa demais. Não acreditava
que de tanto pensar nele, estivesse imaginando-o. O que fazia ali?
Abriu os olhos pouco a pouco.
— É um lugar que sentia falta — ela respondeu, voltando o olhar para o
mar. Tentando conter o batimento acelerado do seu coração. O desejo de se
levantar e se jogar em seus braços, de senti-lo envolvendo-a com sua força.
Em troca, ela permaneceu desconfiada. Cautelosa —. Quando eu era
adolescente e tinha um dia ruim, costumava vir aqui.
Michael tirou as mãos dos bolsos.
—Posso me sentar? —perguntou.
— Acho que ainda vivemos em um país livre — respondeu, olhando para
o mar.
Ele permaneceu em silêncio. A seu lado. Seus dedos pareciam arder com o
desejo de abraçá-la. Sacudi-la. Fazê-la reagir a ele de algum modo. Odiava
ver essa mulher passiva e muito calma. Precisava encontrar aquela Rachel
impulsiva e desafiadora.
—Não quer saber por que estou aqui?
Rachel soltou um suspiro abatido. Estava morrendo de vontade de saber o
que estava fazendo fora do escritório em uma terça-feira.
— A cho que você e eu não temos o direito de perguntar nada um ao outro.
— Desta vez, desviou o olhar do mar e fixou-o naqueles lindos olhos verdes
—. Você deixou claro. Só fui ao seu escritório para dizer o que eu achava
justo que você soubesse — encolheu os ombros — sem mentiras, sem
truques. — Voltou o olhar para o horizonte. Porque era mais seguro e menos
angustioso que ter o homem que amava, e que não a amava, a seu lado.
— O panorama marinho é bonito, mas prefiro que a pessoa com quem falo
me olhe durante a conversa.
Rachel deu uma risada apagada. Ignorou seu pedido.
— Não está em posição de expressar suas preferências e esperar que eu
me importe, Michael. Eu não sei o que você está fazendo aqui. Também não
me interessa. Você está arruinando meu momento pessoal. — Ela se
levantou abruptamente. Michael a imitou —. Não tenho nada que pertença a
você. Meu bebê é meu.
— A autoconcepção é um novo método? — ele perguntou
sarcasticamente.
— Preciso voltar para casa e jantar. Adeus, Michael. — Ignorou a
provocação.
Michael estendeu a mão e segurou Rachel pelo braço. Ela apertou a
mandíbula. Ele esperou que ela o olhasse. Demorou vários segundos para
conseguir isso. O rugido das ondas começava a fundir-se com a noite que se
aproximava.
— Eu vim porque você me deve algo.
— O que seria, por exemplo? — ela perguntou sem se afastar dele,
embora tentasse. Ele passou os braços em volta dela e puxou-a contra seu
corpo. Rachel ofegou.
— Tempo. O tempo em que você fingiu ser outra pessoa com outras
intenções. Quero que me dê três meses de seu tempo e tente reparar o
passado. Por isso vim. Porque temos uma dívida pendente.
—E quem disse que posso ter interesse em te dar tempo?
Michael não queria fazer desse modo, mas jogaria essa carta rasteira.
— Sua tia Ariel não é muito especialista em questões legais, sabia? —
Isso trouxe um brilho de interesse em Rachel. Então Michael continuou,
sentindo um grande alívio de que isso teria funcionado. Como se vingar dela
se não a tinha em seu terreno? — Eu vejo que não. Talvez seja por sua idade,
mas sua casa tem problemas em seu título de propriedade. Apesar de ter
pagado a hipoteca inteira e aparentemente a casa ser dela, há um herdeiro
que, se descobrir, pode reivindicar a casa como dele, porque o vendedor que
assinou com sua tia há muitas décadas foi antiético. Ele a enganou. A casa
pertencia a uma pessoa que aparentemente morreu sem herdeiros, e a
propriedade foi abandonada. O vendedor fez alguns ajustes inescrupulosos e
vendeu a propriedade para sua tia. Mas aquele antigo proprietário tinha um
herdeiro. Eu acho que ele gostaria muito de saber que tem uma linda casa de
frente para o mar.
Rachel se soltou com raiva.
—E quando você teve tempo para fazer tal investigação, Advogado
Whitmore?
— Eu vejo que agora tenho toda a sua atenção. — Seria uma perda de
tempo confessar que, antes de partir para o Maine, contratou um detetive
particular para procurar qualquer informação que pudesse ser útil sobre Ariel
Galloway. A propriedade não era esperada. Mas a informação era bem-vinda,
porque agora funcionava para ele —. Fico feliz em notar.
— Minha tia é a pessoa mais importante para mim. Não se atreva a mexer
com ela de forma alguma.
— Ou o quê?
Apontou-o com o dedo indicador, brandindo-o no ar como se fosse uma
espada.
— Vou gastar todo o meu dinheiro para lutar pelos seus direitos.
— Não queria que a mãe do meu filho vivesse na miséria.
— Você é um idiota absoluto. Existe para me machucar. Quando vai
parar? — estalou e começou a andar com pressa.
Michael a seguiu rapidamente. Ele estava morrendo de vontade de ver as
mudanças que ocorreram em seu corpo, porque parecia o mesmo de sempre.
Exceto seu cabelo. Tinha cortado. Combinava com ela. Era uma mulher
bonita. Queria saber como ela se sentia durante a gestação. Colocar a cabeça
naquela barriga que carregava dentro o milagre da vida e tentar ouvir o seu
filho. Cuidar dela. Mas ele não se apressaria.
Rachel colocou as sandálias na varanda e subiu correndo as escadas. Abriu
a porta de seu quarto e entrou no chuveiro tentando fechá-la com força.
Quarenta minutos depois, vestida e mais serena, ela saiu. Quando desceu para
a sala de estar, Michael estava sentado esperando por ela como se esta fosse
sua casa. Por que a tia Ariel não voltava logo para expulsá-lo?
— Quando você concorda em me dar seu tempo —disse—. Essa é a
resposta para sua pergunta na praia, Rachel Verônica Galloway.
Ela deixou cair as mãos.
Ela estava linda com o cabelo penteado para trás, sem uma gota de
maquiagem. Com a calça jeans que estava usando e a blusa lisa, ele podia
sentir a mudança em seus seios e um leve alargamento de seus quadris.
Estava mais arredondado. De um jeito sexy pra caralho.
—Ou senão?
— Já te expliquei.
— Chantagem, heim? — ela disse se abraçando. Michael encolheu os
ombros. Ela sentiu que não tinha outra saída —. É sua maneira de se vingar
de mim como queria fazer com você? É um daqueles que segue a lei de
Talião. "Olho por olho, dente por dente”?
Ele riu.
— Se você quiser colocar essas palavras, então que seja. A revanche é
doce. Você sabe?
— Explique-me o que você quer, Michael — cortou. Odiava esse tom
arrogante nele. Vê-lo de novo era reviver sua angústia.
— Quero que fique comigo durante uma semana na minha casa de praia.
— A época das concubinas terminou há muito tempo. E se não acredita
nisso, então se enganou de mulher.
Ele sorriu.
— Não me deixou terminar meu comentário, Rachel. — Ela apertou a
mandíbula —. Eu quero que você venha para minha casa. E acima de tudo
quero que conversemos.
— É isso que estamos fazendo... Oh não, não é verdade! Você esta me
chantageando.
— Você colocou as palavras, não eu. Em todo caso, você me deve tempo.
E eu quero essa semana. Estou trabalhando do escritório. Não tenho
assistente e há muitas coisas para despachar.
— E você acha que eu sou uma empregada disposta?
— Se você resistir a trabalhar para mim por uma semana, prometo que
nunca mais ouvirá falar de mim. Exceto para dar ao bebê o sobrenome, o dia
em que nascer. Estarei em todos os aniversários, nas apresentações da escola,
nos seus momentos importantes, nas festas de Natal e na chegada do ano
novo. Você acha que pode? Afinal, é um negócio justo.
Rachel olhou para ele com desconfiança.
— Posso lidar com muitas coisas, mas também tenho que verificar meus
problemas do escritório de vez em quando. Estou de férias e prometi a Paul
que ficaria alerta para qualquer eventualidade. Além disso, não entendo o que
você faz no Maine, quando deveria estar em seu novo prédio trabalhando.
Michael se levantou.
— Tirei férias bem merecidas, mas prefiro trabalhar um pouco para não
perder o ritmo. E já que casualmente coincidimos — ele disse
zombeteiramente —, parece justo pedir-lhe que trabalhe para mim. Eu vou te
pagar, claro que vou, e há também o assunto do meu silêncio conveniente
sobre a propriedade de sua tia Ariel. — terminou com sarcasmo.
—Você fez esta viagem para a Costa Leste, podendo ir a outros lugares
mais interessantes e vivos, só porque encontrou uma maneira de me fazer
pagar por ter mentido para você, por ter mandado aquela carta para Dereck…
? Sua vingança é que trabalhe para você e me humilhar? É isso? — perguntou
com os olhos cintilantes de cólera —. Deve me desprezar muito para ter tido
tanto trabalho, Whitmore.
Ele inclinou a cabeça.
— Só pedi a sua ajuda e, em troca desse tempo de ajuda que acho justo,
dadas as nossas circunstâncias, vou pagar-lhe como se fosse uma semana de
trabalho.
— Você me disse que não queria saber mais sobre mim e agora está
pedindo meu tempo. Ou você fumou uma substância ilegal ou está
começando a perder a sanidade.
— Não é vingança Rachel — disse se aproximando e erguendo o queixo
dela para que olhasse nos olhos dele. Evitou responder ao seu comentário,
porque essas respostas seriam dadas mais tarde, muito mais tarde —. É uma
revanche. Há uma grande diferença.
Ela tirou-lhe a mão. Não porque seu tato não lhe agradasse, ao contrário.
Queimava-lhe e enviava flashes de fogo a suas entranhas; excitou aquela
parte dela tão tola que não podia deixar de desejá-lo quando estava perto dele.
Como se seus hormônios estivessem ligados a um interruptor que os deixava
loucos e incontroláveis. «Corpo traiçoeiro.»
— Esclareça-me, por favor, oh advogado magnânimo — respondeu com
altivez.
Michael se inclinou até que seus lábios quase se tocassem. Quase.
— A vingança é amarga, mas a revanche é doce, Rachel. — Ele se
afastou e sorriu —. Muito doce. — Caminhou até a porta —. Te vejo
amanhã. Chegue às dez da manhã. A senhora Arondale cozinha. Não espero
que você faça isso, é claro.
—É claro — ela respondeu relutantemente.
C A P Í T U L O 1 8
Nos primeiros quatro dias, Rachel não teve problemas em ajudar Michael.
Ele não mencionou nenhum assunto que causasse centelhas de desconforto.
Era direto e na verdade levava um ritmo de trabalho ágil, por isso ela podia
despachar tudo com prontidão. Não era déspota nem tentava fazê-la sentir-se
inadequada quando não entendia algum termo legal ou não conseguia
entender algum escrito muito especializado.
Não se lembrava como era a casa de Michael no Maine, mas gostou de
como estava decorada. Limpa e pintada. Aparentemente recentemente,
porque ainda em alguns cantos o aroma da pintura era um pouco perceptível.
Ou o mais provável era que seus afinados sentidos estivessem mais alertas
aos aromas, que antes da gravidez.
Michael não estava tentando se aproximar mais do que deveria. Ele não a
tocou, mas ela sentia seu olhar quando pensava que não percebia. Quando lhe
pedia que o ajudasse com algum tema de número, tinha que aproximar-se, e o
aroma de sua habitual colônia a enlouquecia. Afastava-se dele com prontidão.
Parecia uma tortura, mas ele, jamais tentava nada. Às sete da tarde,
convidava-a para jantar, conversavam de coisas banais, e logo ela ia à casa de
sua tia Ariel.
Sua tia não se surpreendeu quando lhe disse que Michael estava nos
arredores, e tão somente lhe sugeriu que desfrutasse de suas férias. Estava
surpresa que sua tia não tinha mais nada a dizer, porque geralmente Ariel
tinha opiniões muito marcadas. Talvez estivesse cansada de escutá-la penar
pelos corredores nas noites ou na manhã observar seu rosto inquieto e
indeciso sobre o novo dia que a esperava.
— Rachel, hoje eu tenho um almoço ao meio-dia. Você acha que poderia
terminar de organizar a pasta que está na minha mesa? São fax que me
enviaram. Muitos e agora mesmo tenho que ir pegar uma encomenda antes do
almoço…
—Ok.
***
O relógio marcou cinco da tarde, e Michael não tinha voltado. Naquele dia
em particular, não estava se sentindo muito bem. Foi até a cozinha pegar um
copo de água. E isso pareceu acalmá-la. Voltou à sala e removeu os troncos
para a lareira. Não havia aquecimento central, e isso era algo de que gostava,
embora em várias ocasiões, no final da tarde, Michael reclamasse.
Os dias pareciam passar muito rápido. Em setenta e duas horas, ela nunca
veria Michael novamente. Ela se perguntou se tinha imaginado suas
intenções. Era estranho. Ele a confundia. Agia de um modo inesperado,
enquanto ela lentamente mergulhava na angústia de querer sair. Se não fosse
por sua tia Ariel, teria recusado aceitar o estúpido pedido de Michael. Além
disso, com quem poderia ter um almoço estando tão longe de Chicago? Não,
não, não.
Colocou de lado o ferro da lareira e se afastou. Nesse momento, a porta da
frente se abriu e Michael apareceu. Ele estava vestindo uma camisa azul e
calças de um tom mais escuro. Estava muito elegante.
— Oi! Tudo em ordem? — perguntou deixando o casaco no cabide ao
lado da porta—. Faz um frio demoníaco.
Ela sorriu.
— Sim. Terminei o que você pediu. Estava atiçando o fogo, e… — disse,
e cortou de repente. Uma leve tontura. Já tinha ocorrido anteriormente, então
não deu importância —. Hoje terminei mais cedo. — A tontura voltou. Desta
vez, estendeu a mão para se encostar-se à parede da lareira, mas sua mão saiu
do controle. —. Eu… Michael…
Ele reagiu imediatamente, conseguiu segurá-la antes que ela pudesse se
queimar ou se machucar. Pegou-a nos braços. O sofá parecia muito
desconfortável, então subiu as escadas de dois em dois com ela. Abriu a porta
de seu quarto com o ombro e colocou-a no centro da cama.
—Rachel? —chamou-a.
Deus, como era horrível. Tudo estava girando. Manteve os olhos fechados.
Não se lembrava de ter tomado café da manhã. Ou sim? Iogurte e frutas. Nem
pretendia se transformar em uma baleia com a desculpa de que comia por
dois. Não, obrigado. Devia estar saudável, não inflada como um balão.
—Mmm —gemeu. Porque não se calava e a deixava em paz? Só queria
manter os olhos fechados mais um pouco, de repente sentia-se confusa, tonta,
e esperava que os hormônios não a traíssem e começasse a chorar. Porque
estava muito sensível, e a presença desse homem complexo, a deixava pior.
—Querida, abra os olhos. Consegue?
«Michael a havia chamado, “querida”? Certeza e estava, mais que
desmaiada, demente.»
— Eu não sei o que aconteceu comigo… — sussurrou abrindo os olhos.
Encontrou Michael curvado sobre ela —. Já pode se afastar — disse com
suavidade e tom combativo. Era a forma de defender-se dele —. Não vou
morrer na sua casa, nem vão te processar por...
—Rachel, chega — apelou —. Vou chamar o médico.
Ela o pegou pelo pulso.
— Não. Às vezes isso acontece comigo. A ginecologista disse que não é
anormal, talvez meu açúcar no sangue tenha caído um pouco… Michael,
posso ficar aqui… — Rachel murmurou em desespero —. Por favor,
Michael… eu…
Ele soltou um suspiro.
—Me assustou… Tem certeza que não quer que eu chame o médico local?
— Ela negou —. Então, para ter certeza de que você está bem e o bebê
também, por favor, passe a noite em casa.
Ela negou de novo profusamente e tentou se sentar. Ele a deteve colocando
a mão no braço. Rachel se deixou cair sobre os travesseiros.
— Tenho que ir, amanhã me sentirei melhor, e voltarei. Só restam três
dias de nosso acordo, assim que…
— Foda-se os três dias, Rachel. Por que diabos você acha que eu estou
neste lugar perdido da minha cidade habitual?
—Para se vingar…?
Michael a olhou. Esticou a mão como se quisesse acariciar seu rosto, mas
se conteve.
— Nunca tive que lutar pelo amor de nenhuma mulher. Sempre tive
alguém que quis, porque na realidade, nunca amei. Praticamente chantageei
Delaney para que me dissesse onde estava no sábado que fui te buscar no seu
apartamento. Eu estava com raiva, indefeso. Você tocou no assunto da sua
gravidez e fiquei impressionado. Não reagi a tempo e com certeza você
entendeu errado.— Ela apenas assentiu com a cabeça, não podia acreditar no
que estava ouvindo —. Rachel… vim por você. Porque eu sei que te
machuquei muito. Que te magoei com minhas palavras naquela noite. E ao
fazer isso, infligi uma tortura monumental a mim mesmo. Porque também
menti para você…
—Eu… não sei o que lhe dizer.
— Apenas me escute e depois decida o que fazer… —Ela assentiu—.
Queria falar com você na praia, mas sei que está magoada comigo. Mereço
que não queira saber de mim. Eu te tratei mal, e sinto mais do que você
pensa. Vir ao Maine e pedir seu tempo foi uma ousadia da minha parte.
Chantageá-la com a casa de Ariel também, mas me diga uma coisa. Teria
vindo a minha casa, teria concordado em falar comigo, quando você não
atendeu minhas chamadas ou mensagens? — Rachel negou, comovida pelas
palavras de Michael, por aquele olhar tão determinado quanto desesperado.
Era um olhar que nunca existiu nele —. Então organizei tudo no escritório e
mal consegui voar para este local. Para te ver. Por você. Porque preciso que
saiba que te amo, Rachel. Que trabalhe para mim foi uma forma de tentar
interagir com você. Que não se sentisse desconfortável, mas vejo que não
consegui…
—Michael…
Ele olhou para ela com fervor, pegou sua mão.
— Eu menti para você quando disse que era apenas mais uma aventura,
mais uma de muitas. Você nunca poderia ser. No dia em que entrou na minha
vida, independente do seu nome ou identidade, você me arruinou para
qualquer outra mulher.
— Te vi no restaurante com outra e… — sussurrou movendo o polegar
sobre os dedos de Michael que agarravam os seus.
— Mais uma bobagem para adicionar à minha lista de erros.
—Ela e você…?
— Não, eu não dormi com ela. — Deixe o ar escapar —. Tenho estado
tão ocupado tentando te esquecer, com mais horas faturáveis do que o
normal no escritório, que a última coisa que pude fazer foi ter energia para
tentar estar com outra mulher que não seja você.
—Porque estou grávida?
Michael olhou para baixo. Ele se inclinou para mais perto dela e segurou
seu rosto com a palma da mão esquerda.
—Porque eu te amo, Rachel. Te amo. Estou louco por você. Tão louco que
sou capaz de fazer coisas estúpidas como vir e pintar esta maldita casa, para
tentar te lembrar daquela noite quando te conheci. Aquela noite foi especial
para mim e espero que de alguma forma tenha sido para você. Porque esse foi
o nosso começo, porque eu não quero que tenhamos um fim se não juntos.
— Se eu não tivesse vindo para ver você, então nunca teríamos nos
encontrado novamente.
— As hipóteses não nos fizeram bem, então não vamos pensar no que
teríamos feito, mas no que vamos fazer.
—E isso o que é…? — ela perguntou mordendo o lábio inferior.
— Em primeiro lugar, quero que saiba que não guardo rancor de você.
Que entendo o seu passado, as suas motivações e que sei que não foram as
mais sinceras ao se aproximar de mim. Mas assim pude te encontrar de novo
e nunca vou terminar de agradecer. Minha preciosa Rachel de olhos azuis.
Em segundo lugar, quero que me perdoe e diga que podemos tentar
novamente… por favor — disse com fervor.
—A parte em que te digo que te amo, que jamais deixei de fazer isso, e
que estou apaixonada por você, não te interessa?
O sorriso de alívio e amor que Rachel viu em Michael fez seu coração
disparar. Como se estivesse voltando ao seu ritmo normal. Não de uma forma
monótona e abatida. Vibrou em seu peito novamente com vigor renovado.
Ele se inclinou para ela, e a beijou. Rachel o recebeu com um suspiro, que
era metade alívio metade libertação. O beijo de Michael foi pura necessidade
e amor. Ao encontrarem suas bocas de novo, depois de mais de três longos
meses, o mundo pareceu estourar ao redor. A dimensão e a força do amor que
sentiam um pelo outro era uma fervorosa onda que arrastava qualquer outra
emoção que houvesse no meio.
Michael desejava fazer mais do que beijá-la, mas tinha um assunto
pendente. Vários na realidade, e muito importantes. Com relutância se
afastou e uniu sua testa com a dela.
—Muito, minha vida —respondeu—. Antes tem algo que pensei em te dar
no final da semana. Na verdade, eu preparei antes de voar para cá.
—Sim?
Ele assentiu e saiu do quarto por alguns minutos.
Ela esperou que Michael voltasse. A incerteza e a curiosidade a
dominaram, mas também um alívio indescritível porque, finalmente, três
longos meses de solidão e angústia estavam chegando ao fim.
Ele se aproximou e entregou a ela um documento de duas páginas.
— Por favor, leia.
Rachel se acomodou na cama. Sentada bem perto dele, como se o calor
que emanava de Michael pudesse aquecer sua alma inteira. Ela gostou de tê-
lo ao seu lado.
Quando ela olhou para baixo para continuar o próximo parágrafo, Rachel
não conseguia acreditar no que estava escrito. Virou a página e viu que havia
duas pessoas assinando aquele acordo. Michael, cuja assinatura já estava
carimbada, e ela.
Olhou para ele.
— Um contrato de casamento em que, no caso de você quebrar suas
promessas, posso usar este documento para tirar toda a sua fortuna… Coloca
as contas nos nomes de ambos… — deixou os papéis na mesa de cabeceira
—.Por que Michael?
— Porque terei tudo o que realmente me faz feliz se você concordar em
ser minha esposa.
Lágrimas de alegria brotaram sem esperar. Enxugou-as com as costas da
mão. E cruzou os braços fingindo indignação.
— Bem, eu não ouvi você pedir, Advogado Whitmore —sussurrou.
Ele riu com alívio.
— Que tolo de minha parte. Hoje tive que fazer uma diligência e acho que
foi uma boa ideia. — Saiu um momento e voltou com uma caixa de veludo.
Ajoelhou-se junto a Rachel, pegou sua a mão e olhou-a com todo o amor que
sentia —. Rachel Verônica Galloway, me daria a honra de tirar esta horrível
solidão e encher meus dias com você, com este bebê — colocou a mão na
barriga da Rachel — e os que chegarem, suportando minha teimosia e todo o
amor que sinto por você, convertendo-se em minha esposa?
O riso banhou o quarto.
— Sim, claro que aceito ser sua esposa — sussurrou com lágrimas de
alegria rolando por suas bochechas, enquanto ele deslizava o anel em seu
dedo —. É lindo — Disse rodeando o pescoço de Michael com os braços —.
Te amo.
—E eu a você, querida.
Ele ia beijá-la, mas Rachel se afastou. Michael franziu a testa.
—Tanta certeza tinha de que eu diria sim ou que te perdoaria?
Michael sorriu e esfregou o nariz com o de Rachel. Ele deu-lhe um beijo
suave e profundo que a fez querer mais.
—Na verdade, aprendi que com você não tenho nada certo e não vou
deixar de trabalhar no nosso relacionamento para que não duvide do meu
amor. E em segundo lugar, querida, vai se casar com um advogado. Se eu não
preparasse minha defesa e meus testes, como acha que eu ganharia a vida?
Ela riu.
— Talvez mostrando a sua futura esposa o quanto você sente falta dela —
ela murmurou com sensualidade, enquanto Michael começava a beijar seu
pescoço, suas bochechas, ao mesmo tempo em que ela sentia aquelas mãos
hábeis despi-la aos poucos.
— Isso que pretendo fazer — respondeu. Ele a despiu lentamente,
absorvendo cada mudança —. Seus seios estão maiores — se inclinou para
beijá-los com reverência, chupou os mamilos eretos esperando as carícias de
sua língua hábil — e têm um gosto maravilhoso. — Rachel enterrou os dedos
no cabelo de Michael e gemeu enquanto ele a acariciava com as mãos, com a
boca, com o corpo. —. Aqui esta o nosso bebe — sussurrou beijando o
ventre com pequenos beijos insistentes cobrindo cada canto — quero que
saiba sempre que o seu pai e a sua mãe o conceberam com amor —
sussurrou olhando para Rachel, que devolveu o olhar com entusiasmo.
— Estou muito chorona… —murmurou.
— Espero que esse mito de que mulheres grávidas tendem a se interessar
mais por sexo do que o normal seja verdade.
Rachel soltou uma risada que se transformou em um gemido quando
Michael deslizou sua calcinha e a calça jeans, deixando-a totalmente exposta
a ele.
— Meu Deus, você é tão sexy.
—Michael… vou parecer uma baleia em breve — murmurou quando um
sorriso malicioso apareceu nos lábios masculinos.
— Vai parecer uma mulher amada e satisfeita sexualmente — disse com
uma risada antes de descer pelo corpo da Rachel beijando tudo. Quando
chegou até seu sexo coberto ligeiramente por pelos avermelhados ele piscou
um olho e logo o tomou com sua boca —. Mmm… não sabe quanto senti
falta de seu sabor — comentou antes de mergulhá-la num turbilhão de
sensações.
A boca de Michael fez magia em seu sexo. Sentiu a língua lhe dando
prazer e suas grandes e quentes mãos em seus mamilos, apertando-os com
intensidade. Era doloroso e gostoso ao mesmo tempo. Estava sensível, e em
poucos minutos um grito de satisfação saiu de sua garganta gemendo o nome
de Michael. Arqueou as costas e fechou os olhos deixando-se consumir,
enquanto ele a acompanhava com leves carícias na viagem de volta à
realidade.
Rachel suspirou e sorriu.
— Olá trapaceiro…— ela sussurrou quando ele se inclinou para beijá-la.
— Olá princesa. Acha que eu deveria fazer algo sobre isso?
Ela riu.
— Você poderia começar por se despir e me deixar retribuir o favor.
— Sempre tão pró-ativa em igualdade de direitos — respondeu e uma
entusiasmada Rachel tirou a sua camisa. Olhos azuis brilharam de amor e
desejo.
Michael estava nu e a prendendo em seus braços. Pele à pele. Fazendo
com que sentisse com seus beijos o quanto a desejava, com suas mãos o
quanto a adorava e com suas palavras tudo o que carregava em seu coração.
***
Horas mais tarde, quando a noite dominava o firmamento, ela o olhou.
Parecia estar completamente adormecido, mas estava certa de que não era
assim. Não quando o polegar de Michael acariciava os dedos de sua mão.
—Você ainda quer revanche…? — perguntou se inclinando para beijar o
ombro de Michael. Então lhe deu uma mordidinha.
Ele a olhou de relance com um sorriso em seus lábios. Nunca se saciaria
dela.
— Claro querida, eu te disse, a revanche é tão doce — ele respondeu
antes de surpreendê-la com um beijo, para então se perder nela com ternura e
paixão.
E P Í L O G O
Instagram @KristelRalston