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Copyright © 2013 Lily Perozo

Todos os direitos reservados.


Desenho de capa por: Tania Gialluca
Modelo: Bernardo Velasco
Primeira edição: outubro de 2013
Edição em português: dezembro de 2016
Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro, nem sua inclusão em um sistema de informática, nem a transmissão
em qualquer formato ou meio, sem autorização prévia da titular do copyright. A infração das condições descritas pode constituir um
delito contra a propriedade intelectual.
Os personagens, eventos e acontecimentos apresentados nesta obra são fictícios. Qualquer semelhança com outras pessoas
vivas ou desaparecidas é pura coincidência.
LILY PEROZO

Doces mentiras, amargas verdades: Revelações.

Tradução: Ana Soave Da Silva.


ÍNDICE

ÍNDICE

CAPÍTULO1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 41

CAPÍTULO 42

NÃO DEIXE DE LER O DESENROLAR DESTA HISTÓRIA.


Vem aqui, doce amor
Me ajuda a mudar esse destino
Salva-me por favor
Que eu tenho o coração partido em dois
Me dê mais, quero mais desse sabor inédito e perfeito

Alexandre Pires
CAPÍTULO1

Um, entre os segredos guardados com muito ciúme por Samuel Garnett, era a Children Dreaming's
Foundation, uma clínica pediátrica gratuita de cirurgias plásticas e de reconstrução no bairro do
Brooklyn, que atendia pessoas de baixos recursos econômicos, oferecendo às crianças a
oportunidade de poder passar por intervenções que devolvessem seu sorriso. Em dois anos, o
centro médico já tinha atendido mais de duzentos e cinquenta mil crianças, muitos deles vindos de
outras cidades do país.
Samuel estava acabando de arrumar sua gravata, quando o telefone do apartamento tocou
logo cedo, uma das faxineiras levou o telefone até a porta do quarto. Era a psicóloga Eleanor
Dwan, informado que o paciente de doze anos Julian Wellman, tinha se negado a comer e a tomar
os remédios, a menos que ele fosse vê-lo.
Vinte minutos depois, Samuel atravessava o vestíbulo da clínica acompanhado pela doutora
Dwan. O lugar cheirava a produtos químicos e desinfetantes, tudo era branco e asséptico, seu
estômago apertou quando as lembranças espalhadas dos esterilizados odores nublaram seus olhos.
Respirou fundo, enquanto caminhava por um iluminado corredor, um dos lados era feito de vidro,
completamente através do qual a luz se filtrava, revitalizante, o vidro permitia ver a paisagem
decorada por várias crianças em recuperação, brincando na parte externa entre os jardins e as
árvores, outros simplesmente caminhavam em silêncio, ou paravam nas suas cadeiras de roda para
observar as outras crianças.
— Está sem comer faz dois dias, diz que está cansado e não quer fazer outra cirurgia, insistiu
em falar com você.
— Não se preocupe, eu me encarrego dele — Disse à mulher na porta, enquanto girava a
maçaneta. Ela concordou em silêncio e saiu.
Samuel entrou no quarto e estava escuro, todas a cortinas estavam fechadas, caminhou com
cuidado e encontrou o menino deitado de costas, aproximou-se da cama e se sentou na beirada
junto com Julian, observou-o em silêncio, buscando valor para enfrentar a dor, depois acariciou com
ternura o cabelo.
— Falaram que você não quer comer — sussurrou pausadamente. — Por que não quer comer,
Julian?
O menino ficou em silêncio, desviou o olhar e mexeu as mãos.
— Não tenho fome — falou finalmente.
— Mas você precisa comer, mesmo que seja um pouco para se recuperar logo — falou Samuel
com voz conciliadora.
— Não quero me recuperar — respondeu Julian quase imediatamente, com sua vozinha
carregada de amargura. — Não quero me recuperar, queria poder morrer e ir para o céu com a
minha mãe. — Fixou seus olhos tristes em Samuel. — Com meu pai e com minha irmã também,
quero voltar a estar com os três.
O ar parou dolorosamente nos pulmões de Samuel, entendia seu desejo, entendia perfeitamente,
mas não podia se deixar render.
— Eu sei, Julian, mas falta pouco, muito pouco, o mais difícil já passou.
— O mais difícil nunca passará — rebateu Julian com amargura. — Eu me vi no espelho —
Apertou uma mãozinha contra a outra e sua voz rompeu. — Assusta o que vejo, não quero vê-lo
nunca mais e não quero continuar vivendo sozinho, isso é pior do que o que vejo quando olho para
meu reflexo.
Um nó de impotência enroscou na garganta de Samuel, porque, no fundo, sabia que não tinha
palavras suficientes nem adequadas para aliviar a dor de Julian, porque tinha certeza de que, em
um momento como aquele, nada poderia compensar sua perda, e que quando se está sozinho no
mundo, a falta de esperança se torna a única âncora segura em que se prender.
Samuel ficou em silêncio por um longo período, fugindo dos seus próprios demônios e dores
ocultas, com o olhar tão perdido quanto o de Julian.
— Venha, levante-se, trouxe uns livros para você.
O menino olhou para ele por alguns instantes com a testa franzida.
— Minha vista arde, não suporto a luz, não vou conseguir ler.
— Talvez isso aconteça porque você não está deixando pingar as gotinhas — Suspirou Samuel.
— O que você acha de sairmos para algum lugar antes da cirurgia? Pode ser à noite.
— Não quero ir a lugar nenhum não quero… — Disse Julian bravo. — Não precisa pagar
mais minhas operações, odeio estar sedado, odeio ser operado, não serve para nada.
— Julian, não posso fazer isso, quero que você melhore, só queremos o melhor para você.
— É que eu não quero melhorar, tenho saudade dos meus pais e da minha irmãzinha… — Os
olhos do menino se encheram de lágrimas que, instantes depois, rodavam em abundância pelo seu
rosto, sua voz voltou a ser só um sussurro. — Sonho com eles, sonho com o acidente quase todos os
dias, escuto os gritos e vejo minha mãe chorando, não consigo vê-la de nenhuma outra maneira, a
não ser chorando no meio de todo o desastre, depois escuto o carro explodir, vivencio isso
repetidamente e não quero mais, não quero ver mais, nunca mais. Você não consegue entender,
não sabe como isso me dói.
—Sim, consigo… — sussurrou Samuel com voz suave, parando os gemidos bravos de Julian. —
Sei que não vai acreditar, mas entendo você melhor do que ninguém — As lágrimas fortaleceram
suas palavras, enchendo-as de dor e medo. — Sei como é doloroso, mas você não tem outra
opção além de aprender a viver com isso, você sabe que seus pais não gostariam de vê-lo assim...
Precisa ser forte por eles.
Samuel fixou os olhos nos seus sapatos, imerso nas suas próprias lembranças e nas promessas
que há muito tinha feito, ele não tinha se permitido render, ele tinha feito da dor sua aliada,
justamente a dor tinha dado um motivo, uma razão para se manter vivo, uma meta pela qual lutaria
sem descanso.
— Quer ir a Broadway, ao teatro Foxwoods para ver Spider Man: Turn Off the Dark? — Voltou
a falar com o menino, de novo com a máscara da compostura, sorrindo com entusiasmo. — Você o
verá em seu romance com Mary Jane e a luta contra o Duende Verde. Haverá lutas no ar e voos
acrobáticos, além da música do U2, o que acha?
Os olhinhos de Julian se abriram brilhantes de emoção.
— Você me levaria? — Perguntou em um sussurro, virando-se para olhar para ele.
— Claro, estou convidando, mas você precisa comer e deixar que deem os medicamentos,
lembre-se que, em duas semanas, é sua última cirurgia.
Julian parecia meditar seriamente, depois de uns minutos de silêncio, voltou a olhar nos seus
olhos.
— Está bem, aceito ir — Disse com meio sorriso. — Mas só porque estou há muito tempo neste
lugar, já nem lembro como é lá fora.
Samuel tinha usado um truque que não era seu, ele aprendeu aquela jogada com seu tipo, que
sempre teve tempo e paciência com ele, nunca teria como pagar a Reinhard Garnett o carinho e a
compreensão que dedicou naqueles dolorosos anos.
— Bom, vou chamar a médica para colocar as gotinhas, assim você não cansa seus olhos e tem
que usar os óculos!
— É que eu não gosto, fico com cara de tonto.
— Bom, vamos trocar o modelo, amanhã mando à óptica com vários desenhos e você escolhe o
que gostar mais, o que acha? — Propôs Samuel enquanto pegava o telefone e ligava para a
recepção. — Oi, Edith — cumprimentou com familiaridade a enfermeira do outro lado da linha —
Por favor, mande o doutro Weston ao quarto 203.
— Desculpe, senhor Garnett, o doutor Weston está na sala de cirurgia com Alan Castro —
Informou a mulher do outro lado do telefone.
— E a doutora Fitzgerald? — Perguntou amavelmente.
— Já a informo.
— Obrigada. — Não disse nada mais, só desligou e voltou o olhar ao menino, dando a ele
toda a sua atenção.
— Um dia, quero ser como você, ser tão importante, forte e feliz como você — sussurrou
imediatamente o menino.
— Eu não sou importante — corrigiu Samuel rapidamente, sentindo-se estranhamente tímido. —
Você será o que quiser ser, só precisa se propor a isso.
— Você vai me ajudar? — Perguntou Julian, enquanto alisava uma inexistente dobra no lençol.
— Claro que sim, por isso, quero que melhore rápido, você precisa voltar às aulas, se não
estudar e se dedicar, jamais conseguirá alcançar o que quer.
Nesse momento, a porta abriu e entrou a doutora Fitzgerald em companhia de uma enfermeira
baixinha e de pele escura, que trazia um carrinho com os medicamentos e a comida do menino.
Samuel abriu espaço para as profissionais para que fizessem seu trabalho, enquanto seu olhar se
fixava nos olhos cinzas do garoto que, temerosos, olhavam com repulsa para as injeções, mesmo
tendo aplicações diárias, não se acostumava com a agulha.
Julian Wellman, de doze anos, tinha sofrido um acidente de automóvel enquanto viajava com
seus pais e sua irmã mais nova; o veículo caiu em uma altura de mais de quinze metros, seu pai e
sua irmã morreram na hora; porém, sua mãe, presa nas ferragens e com dores pelas fraturas,
ajudou-o a sair dos destroços. Segundos depois, o carro explodiu, a detonação alcançou o garoto,
causando graves queimaduras, os médicos estimaram que oitenta por cento do seu corpo tinha sido
atingido pelas chamas.
Ao chegar na sala de emergências, Julian estava inconsciente e irreconhecível, sua pele
avermelhada por completo tinha enormes bolhas cheias de um líquido leitoso, outras bolhas tinham
estourado e os pedaços de pele estavam pendurados nos braços e no peito, o tecido da calça
tinha se fundido com as coxas e o cheiro de carne queimada se espalhou pela sala, insuportável,
asfixiante e doloroso, ver uma criança nessas condições era algo para o qual nem os corações
mais duros estavam preparados.
O conselho médico de plantão não deu muitas esperanças para o caso de Julian, poucos
acreditaram que conseguiria sobreviver, mas Samuel não permitiu que se entregassem em nenhum
momento, trouxe três especialistas japoneses em enxertos de pele para reconstruir o rosto, os
braços e o pescoço, e lutou cada dia durante as primeiras intervenções, esteve ao lado do menino
desde que o levaram para a sala de recuperação em cuidados intensivos depois de ter o coma
induzido para evitar a consciência da terrível dor.
Em nenhum momento, durante aquelas semanas difíceis, Samuel deixou de visitá-lo e manter-se a
par da evolução do menino. Ainda não caminhava, precisava de acompanhamento motor, tinha
tecidos nas perdas que precisavam de mais tempo para curar, onze meses não tinham sido
suficiente.
Samuel tinha sido fiel a Julian durante os momentos mais difíceis, mesmo quando as feridas
recém-cicatrizadas do menino faziam com que as suas velhas e quase invisíveis voltassem a doer.
Via um passado que, muitas vezes, queria esquecer, todas as manhãs, ao abrir os olhos se
perguntava se, algum dia, poderia perdoar e esquecer, seguir adiante, sem rancores, sem esse
ódio que consumia seu ser, sem a fúria pulsando pausadamente dentro dele, e não podia, não
conseguia, sabia que só descansaria no dia em que os culpados pagassem pelos seus crimes. Só
descansaria no dia em que pagassem a dívida que tinham com ele.
Depois que Julian almoçasse e deixasse de administrar o sedativo, dormiu no meio das
massagens que as enfermeiras faziam no estômago.
— Vamos sair na quinta-feira, levarei a uma peça. Você acha que há algum inconveniente? —
Perguntou à médica.
—Não, será bom ele se distrair, só não o exponha à luz direta, nem a cheiros fortes...
Recomendo que você escolha uma peça onde não haja efeitos de fogos, porque poderia
desencadear uma crise.
— Garanto que não terá nada de fogo — respondeu automaticamente, sentindo o coração
bater com força no peito, depois, levou as mãos ao bolso da calça para apaziguar a estranha
sensação de suas mãos cheias de suor.
— Tenho que voltar ao trabalho — A voz Samuel ficou mais clara. — Mas antes vou visitar a
Loren.
— Loren melhorou bastante, agora está com seu pai — A doutora Fitzgerald franziu a testa de
repente, muito séria — O que aconteceu com a mãe?
— O juiz a declarou inimputável, internaram-na em um centro psiquiátrico para que receba a
ajuda necessária — respondeu Samuel com tom seco.
— Algumas pessoas pensam que a depressão pós-parto não deve ser tratada e que é só
frescura das mães, há casos que são sérios, agora o caso é assustadoramente pior, pobre mulher.
— Sim, tive a oportunidade de me reunir com a senhora Anderson, não será nada fácil para
ela se perdoar de ter assassinado seu filho e quase ter feito o mesmo com a Loren... Com certeza,
disse a Julian que vamos trocar o modelo de óculos, agradeceria se chamasse ao oftalmologista e
também o optometrista para fazer outra vez o exame e deixem-no escolher um modelo de óculos
que goste.
— Com a ajuda necessária, a senhora Anderson conseguirá — Suspirou a mulher. — E está
bem, vou chamá-los para que venham hoje à tarde e receitem óculos novos a Julian. — Olhou
para ele com gravidade. — Não vou roubar mais o seu tempo, senhor procurador.
— Obrigado, doutora Fitzgerald.
Samuel andou novamente pelos corredores e se dirigiu ao quarto de Loren, uma menina de dois
anos que teve as mãos queimadas pela própria mãe, o pai chegou a tempo de evitar que a
desgraça aumentasse na família, já que a senhora Anderson tinha asfixiado seu próprio filho
recém-nascido. O senhor Anderson ainda estava destroçado e, de certa maneira, se sentia culpado
porque não deu importância suficiente às mudanças de humor da sua esposa, jamais podia
imaginar que a mulher que amava machucaria o fruto daquele amor.
Samuel viu a menina com as mãos enfaixadas, seu semblante era aprazivelmente alegre, como
a médica havia dito, estava muito melhor, talvez em algumas semanas voltaria para casa com seu
pai. Parou para cumprimentá-la, mas não ficou muito tempo com ela, suas obrigações na
procuradoria não davam trégua.
Durante o trajeto até baixa Manhattan, centenas de coisas pareciam não parar de rodar na
sua cabeça, entre elas, Rachell. Era justamente ela que se impunha sobre qualquer outra coisa na
sua mente, sobrecarregando-o de maneira quase obsessiva. Já tinha passado quase vinte dias da
última vez que a tinha visto e cada dia parecia ser uma tortura pior que o anterior. Inúmeras vezes
teve a tentação de ir atrás dela, com as chaves do carro na mão, disposto a dirigir até o seu
apartamento. Mas, então, que diabos supunha fazer quando estivesse em frente à porta? Não
tinha nem ideia de como se desculpar, sabia que tinha sido sua culpa, que tinha se comportado
como um idiota e odiava lembrar que tinha sido justamente Brockman que o fez perder o controle.
Deixaria tudo para vê-la naquele momento, mas também temia pela sua segurança, não queria
expor, jamais se perdoaria se algo acontecesse com ela por sua culpa. Mas seu desejo o
empurrava a buscá-la, sentia sua falta, tinha que ser completamente sincero, pelo menos, com ele
mesmo. Não tinha nem ideia do que fazer, mas tinha certeza de uma coisa, era questão de tempo
para que simplesmente não suportasse mais estar longe dela.
Ao chegar ao estacionamento, bufou ao ver seus guarda-costas descer depois dele, respirou
fundo e fez sinal para que um deles se aproximasse.
— Logan, por favor, compre roupa para um menino de dez anos, tudo o que for necessário,
incluindo sapatos, sei que não é seu trabalho, mas não tenho tempo para fazer eu mesmo, na
verdade, agradeceria muito se fizesse isso por mim.
— Não se preocupe, senhor… Deixo as compras no seu apartamento?
— Não, deixe no carro, por favor — Pediu. — E lembre-se, nenhuma única palavra para o meu
tio.
— Sim, senhor.
****

Os pés de Rachell palpitavam doloridos, tinha passado toda a semana andando de um lado
para o outro, atendendo os clientes que não paravam de chegar; porém, se sentia feliz porque a
publicidade de Elitte tinha aumentado consideravelmente suas vendas. A modelo escolhida tinha
atraído muitas mulheres e o anúncio estava só há uma semana no ar.
No dia seguinte, desde muito cedo, novas clientes tinham começado a chegar, já tinha contratado
uma nova funcionária, todos estavam trabalhando mais e, claro, todos ganhavam mais.
Lembrando os novos compromissos, deu uma olhada significativa para Sophia, indicando que
ficaria responsável por tudo na loja e, rapidamente, subiu as escadas até seu escritório. Remexeu
na sua agenda e ligou para a agência alfandegária, uma agradável voz masculina atendeu com
cortesia, ela verificou a rota dos tecidos que tinha importado do Irã, da Itália e da Indonésia, tinha
pouco tempo para o lançamento da nova coleção.
Enquanto escutava o relatório da alfândega, passou preguiçosamente as folhas de sua agenda,
então, seus olhos pararam no número de Samuel, seu olhar vívido se apagou um segundo depois.
Sentia muito sua falta, mais do que estava disposta a admitir, desejou não pensar em nada e
simplesmente ligar para ele, mas não voltaria a se expor a se machucar assim, lembraria sempre
quanto tinha doído sua atitude e suas palavras, ela não era uma imbecil disposta a sofrer
gratuitamente, com um golpe seco, fechou a agenda em cima da mesa.
Desligou e encostou na mesa, bateu os dedos na superfície de vidro e várias imagens de Samuel
sorrindo, beijando-a, com os olhos fechados de prazer, inundaram sua mente, piscou e se obrigou a
lembrar do olhar cruel no elevador. A última coisa que soube dele, pelo Morgan, foi que negou seu
pagamento, alegando que devia esperar a data estipulada no contrato. O advogado nem sequer
permitiu explicar que pensava em cancelar a dívida por completo. Porém, aproveitou a
oportunidade para informar que o trâmite seria feito pela sua assistente, condição que Morgan
aceitou.
A correria no trabalho tinha caído como uma luva, e tinha aproveitado a raiva para se manter
forte, naquele momento, desprezava-o com cada fibra do seu ser, ainda que seu corpo traiçoeiro
continuasse suplicando por ele cada noite. Levantou-se e encheu os pulmões de ar, não iria perder
tempo com bobagens, Samuel Garnett tinha virado história.
O eco do vidro da porta ao ser golpeado soou em seus ouvidos, tirando-a da bolha de
tranquilidade em que tinha se submergido brevemente, girou sobre seus altíssimos saltos, manteve o
rosto inexpressivo alguns segundos, logo formou um encantador sorriso falso e recebeu Henry
Brockman que esperava radiante na porta.
Jogou os ombros para trás e caminhou até a porta, ocultando por trás do seu sorriso o
desgosto, ao parecer Brockman não sabia ler os sinais de rejeição, tinha bastante sobrecarga com
a dívida do apartamento que adquiriu recentemente, suportar os avanços baixos de Henry era
simplesmente irritante.
— Boa tarde, Rachell — cumprimentou com um sorriso deslumbrante.
— Boa tarde, senhor Brockman — Sorriu Rachell, por último, convidando-o a entrar com um
movimento com a mão.
— Vejo que você está muito bem, a publicidade está dando bons resultados? — Perguntou sem
poder esconder o tom arrogante na sua voz, era óbvio que estava comemorando pelos bons
efeitos da publicidade da Ellite.
— Sim, mais do que eu esperava — Disse ela completamente séria, passou por ele e se sentou
a sua cadeira, sem dizer para fazer o mesmo, o homem estava bem equivocado se achava que
iria ficar com um mérito que era completamente dela e da sua equipe de trabalho, tinha pago
cada centavo dos serviços da Ellite. — Não tenho tempo, hoje nem sentei — Finalizou, cruzando as
pernas.
— Você mesma atende à clientela? — Perguntou olhando nos seus olhos, parecendo
escandalizado.
— Sim, o negócio é meu, eu mesma atendo, com a ajuda de Sophia, Oscar e, agora, Silvia, a
nova garota que contratei — garantiu com a voz grave e muito formal, desviando o olhar para a
jovem que estava passando umas peças de roupa para uma mulher no provador do primeiro
andar.
— Acho que você deveria contratar mais gente e só se encarregasse de supervisionar daqui,
essa é a função da dona e este escritório oferece as condições necessárias — Disse, admirando o
espaço rodeado de reluzente vidro, dava para ver toda a loja do alto do escritório.
Rachell ficou em silêncio, com os olhos cravados insistentemente nos de Henry.
— Prefiro assim, senhor Brockman, até que Winstead tenha outras filiais, continuarei
administrando as coisas desta maneira, mas agradeço sua observação.
— Entendo que você queira atendê-las pessoalmente, mas não deve ficar o dia todo de pé,
pode escolher... Será menos fatigante, desculpa, mas é que dá para ver o cansaço na sua cara e
não gosto de vê-la assim, além do mais, para sua segurança e das pessoas que vêm a comprar
seus desenhos, deveria ter outro segurança, Oscar não é suficiente.
Rachell sabia que Brockman tinha razão, precisava de mais gente, mas naquele momento, era
impossível, não tinha fundos suficientes para se dar ao luxo, contratar mais pessoas seria um
excesso para ela. Mesmo assim, suas já contínuas sugestões estavam começando a encher.
— Há uma certa razão em suas palavras, senhor Brockman, mas nem todos os dias a loja está
assim tão cheia, vamos ver como as coisas avançam, talvez o lucro futuro permita oferecer novas
oportunidades de emprego.
— Rachell, sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, permita que eu contrate, pelo
menos, outro homem para a segurança, os gastos serão por minha conta, posso até enviar um dos
da Elitte, o que acha? — Perguntou com seu sorriso que não apaga, que refletia esperança.
Henry admirava encantado a beleza de Rachell, seu coração enlouquecia cada vez que via
aqueles olhos enigmático, aquela boca tentadora, necessitava que ela desse uma oportunidade,
que se deixasse conquistar e, por ela, deixaria tudo, desta vez, estava disposto a deixar Morgana,
desejada acordar todos os dias ao lado de Rachell, queria tê-la embaixo do seu corpo, movendo-
se ao compasso do prazer, provar sua seiva, desejava-a de todas as maneiras possíveis.
— Não — respondeu Rachell com simplicidade, tirando-o de seu centro, ela sabia que ele
queria sexo em troca de qualquer de seus favores, e ela já não estava disposta a dar, era simples
assim. — Desculpe, senhor Brockman — Tentou suavizar seu tom. — Mas não posso aceitar, não
quero, agradeço sua ajuda, sinceramente agradeço, mas não posso aceitar, quero fazer isso
sozinha, quando seja possível, espero que entenda — Parou tentando ler algo mais que a evidente
decepção no rosto do homem diante dela. — O senhor já fez o suficiente por mim, nem sequer
incluiu no contrato o pagamento da modelo e sei que a colaboração dos acessórios de Lorraine
Schwartz não foi grátis, isso é mais do que a boa vontade deveria admitir, senhor Brockman, serei
eternamente grata, mas já é o suficiente. — Finalizou com um sorriso que nada tinha a ver com
suas palavras.
Henry não disse nada e ela não pôde evitar lembrar aquele momento em que viu chegar a
mulher com suas malas cheias de acessórios, ela ficou de boca aberta. Quando Brockman tinha
falado que pediria a colaboração para os acessórios, jamais imaginou que seriam os de Lorraine
Schwartz, essa possibilidade estava a anos luz, ele definitivamente a tinha surpreendido. Lorraine
parecia ser uma mulher simples e espontânea, sentiu-se cômoda com ela instantaneamente.
—Não foi nada, Rachell — finalmente falou Henry, aproximando-se dela, deu a volta na mesa,
pegou sua mão entre as suas e deu um beijo — Por você, faria qualquer coisa, você sabe, né? Não
tenho porquê fingir, já não consigo mais esconder o que sinto, Rachell.
Seu discursinho não tinha nada de novo e ela não aguentava mais tolerar suas promessas sem
graça. Fixou seus olhos nos de Brockman, sedutora, ele abriu os lábios repentinamente,
esperançoso, Rachell fechou um pouco os olhos e ele seguiu seu olhar, deslizando seus olhos com os
dela, até parar justamente onde ela tinha parado. Na sua reluzente aliança de casamento.
Henry se mexeu incomodado e Rachell se levantou, olhando-o novamente no rosto.
— Senhor Brockman, sei perfeitamente aonde estão dirigidas suas intenções. — Ele abriu a
boca para responder, mas Rachell não deixou que falasse nada. — Não temos por que negar, nós
dois somos adultos, e não ache que me sinto insultada, de nenhuma maneira, mas sabe que saio
com alguém — Imediatamente pensou em Samuel. — E sou monogâmica, senhor Brockman, rolos
que envolvam mais de duas pessoas não me interessam.
Henry a olhou nos olhos por vários segundos, se recompôs e decidiu mostrar sua mão.
— Rachell, sei que você tem um relacionamento com o procurador, mas eu posso oferecer muito
mais que um mísero salário do governo, você merece alguém que verdadeiramente possa
representar tanta beleza, alguém que proporcione as comodidades que você merece.
Rachell sorriu, pensando nas gordas contas de Samuel, mas, claro, não tinha por quê falar algo
a respeito.
— Senhor Brockman, neste momento da minha vida, não estou esperando… — Divagou
buscando uma palavra adequada. — O patrocínio de um milionário, hoje em dia, sendo solteiro, já
é suficiente — Ele deu um passo para trás e ela, um para frente. — E isso é algo que você não
pode me dar, e não estou pedindo que faça isso, não me interprete mal, como já falei, neste
momento, estou comprometida.
— Se o problema é meu estado civil, poderia mudá-lo, dê um tempo, Rachell, e demonstrarei
que posso cumprir minhas promessas.
O tom suplicante acabou com a limitada confiança de Henry.
— Sabe? Quando era pequena, a história para eu dormir era O Pastor e o Lobo, não acredito
em palavras, somente nos fatos e não gosto de promessas vazias, muito menos acredito na honra
de quem tenta seduzir a mulher de outro — Suas palavras diretas o deixaram gelado. Ela mesma
parou abruptamente. A mulher de outro…
— É melhor eu ir embora… — Henry se dirigiu até a porta e, logo, virou para olhá-la. — Pense
bem, Rachell.
— Há situações em que não se tem que pensar, senhor Brockman, e esta — enfatizou com as
mãos. — É uma delas, de verdade, agradeço a ajuda que me deu, mas não acho que só tenha
feito esperando algo em troca além da minha amizade, ou sim?
— Não, nunca tive segundas intenções — Apressou-se, sua posta ainda não tinha declinado,
Rachell continuava nos seus planos. — O sentimento de amizade ficou mais forte.
— Então tenho que mantê-lo na linha, só posso oferecer minha amizade, espero que nós dois
tenhamos isso muito claro.
— Entendo sua posição, Rachell, desculpe minha atitude precipitada... Boa tarde — Acabou
dirigindo-se à saída.
— Boa tarde, senhor Brockman — Despediu-se com um último olhar severo.
Não era a primeira vez que desprezava um homem, nem era a primeira vez que freava os
avanços de quem havia sugerido algo mais, mas havia algo sobre Henry que a incomodava, mas
não sabia exatamente o que era. Sacudiu a cabeça e pegou um bloco de rascunhos, seria melhor
se concentrar em algo mais.
CAPÍTULO 2

Como toda manhã, Thor y Megan se encontraram no Central Park para sua rotina de exercícios;
porém, naquela manhã, o loiro tinha pensado em pular. Por isso, levou seu carro ao parque e,
quando sua namorada estava suficientemente longe do seu motorista, pegou-a pela mão e a
estimulou a correr até onde tinha estacionado.
— Posso roubá-la por algumas horas? — Perguntou, apertando o cinto de segurança e
aproximando-se para dar um beijo, que ela correspondeu com notável entusiasmo.
— Acho perfeito, só preciso desligar o GPS — Disse distraída, depois mordeu os lábios e sorriu,
com contraditória inocência, perdendo-se no olhar azul e brilhante, cheia de coisas não ditas que
ela definitivamente queria descobrir. Afastou-se um pouco e deixou seu pai desorientado só com
um toque na tela. — Aonde você vai me levar?
— Aonde você quer ir? — Perguntou Thor, com malícia. Ela mordeu o lábio inferior, enquanto
pensava em um monte de possibilidades.
Thor levantou as sobrancelhas e passou a língua nos lábios, abaixou os olhos, negando várias
vezes.
— Deixe esses pensamentos — Pediu com um sorriso, tocando com a ponta de um dos dedos a
ponta do nariz. — Duas horas não serão suficientes — sussurrou, colocando a mão no pescoço,
beijando-a com encanto, roubando o oxigênio da boca de Megan, introduzindo sua língua,
removendo-se até fazê-la gemer.
Emoções desconhecidas surgiram em Megan desde as coxas até o peito, duas horas não serão
suficientes.
—Não estava pensando… isso que você imagina — murmurou contra os lábios vermelhos e
inchados de Thor, retificando-se inutilmente.
— E em que pensava então?
— Ai, Thor, por que você não fala aonde vamos? — Perguntou, mudando de assunto sem
nenhum tato.
Thor sorriu, roçando seus dentes superiores com a língua. Ele sabia perfeitamente no que ela
estava pensando, mas mais valia ele desviar sua mente desses pensamentos.
— Está bem, vamos tomar café da manhã — Informou, acomodando-se e ligando o carro —
Não tive tempo de comer de manhã.
Megan não gostou dessa notícia, não estava acostumada a tomar café da manhã e sabia que
ele iria insistir, mas tentou disfarçar seu medo em comer com um meio sorriso que ele nem viu.
O restaurante Norma's do hotel Le Parker Meridien dava as boas-vindas com seus tetos altos e
painéis de madeira, as mesas estavam marcadas com bordas de prata, tudo era elegante e
acolhedor, com um toque clássico, mas com detalhes modernos que deixavam mais que agradáveis.
— Bom dia, Diego — cumprimentou Thor, dando um tapinha nas costas do jovem com traços
latinos que o recebia, causando surpresa em Megan, já que tratava o empregado como se fosse
alguém do seu meio.
— Bom dia, Thor — Apesar da familiaridade do cumprimento, o garoto mantinha certa
distância, talvez mantendo a diferença entre cliente e empregado.
— Apresento minha namorada — Disse Thor, desviando seu lindo olhar azul para Megan, que
deu um sorriso tímido para o garoto e, embora tenha duvidado um pouco, estendeu a mão.
Aquilo tudo era novo para ela; não estava acostumada, nunca tinha interagido com
empregados em nenhum lugar. Seu pai tinha inserido nela um respeito quase ortodoxo pela
diferença de classes, onde as pessoas de um status social inferior eram tratadas com distância e
não por respeito, mas sim porque não mereciam confiança.
— Muito prazer, meu nome é Megan — respondeu, sentindo que não ia morrer, nem se
desgastar por receber um cordial aperto de mão do amável garçom.
— Um prazer em conhecê-la, senhorita — Diego apertou a mão e sorriu com franqueza. — Por
favor, acompanhem-me.
Thor pegou sua mão e ela gostou do aperto morno e protetor, tendo consciência de que muitas
pessoas olhavam para eles, ficou com medo que alguém a reconhecesse e falasse para o seu pai.
Mas, em menos de um minuto, percebeu que o único que chamava a atenção era seu namorado e
não só de mulheres, também dos homens, e não porque fossem homossexuais, mas sim porque
reconheciam nele o herdeiro do senhor Garnett. Sabia que o seu sogro era um homem muito
influente, não só no Brasil, mas em toda a América, não conseguiu esconder o sorriso ao pensar na
denominação que ela mesma deu ao pai de Thor. Sua mente sempre voava.
Diego os colocou em uma mesa no canto esquerdo do restaurante, Thor se deslizou no sofá de
couro e grudou nela, com ânimo brincalhão. Megan, visitava o lugar pela primeira vez e achou
realmente agradável, tanto como já tinha escutado.
— O que vai comer? — Perguntou Diego, entregando o menu, tratando informalmente o jovem
Garnett, sabia que não gostava de formalidade.
— Hoje vou mandar o regime à merda... Pode me trazer algumas panquecas dessas aqui com
mirtilos e aquele creme que vocês preparam — Pediu, sem nem abrir o cardápio, jogando-o
imediatamente sobre a mesa.
— Duas Waz-za — Informou sorridente Diego, referindo-se a uma das exclusividades do lugar,
que eram as panquecas com os mais frescos mirtilos, cobertos com um tentador creme de morango,
decorado com banana caramelizada e creme batido.
— Esses mesmos, vocês com esses nomes estranhos — Disse Thor sorrindo e o rapaz se afastou.
Imediatamente olhou para a calada Megan. — Nunca experimentei, mas parecem deliciosos —
dizia entusiasmado, mas sua expressão mudou ao ver a atitude taciturna de Megan, esticou sua
mão e acariciou o rosto com o polegar. — Algum problema?
— Não, — murmurou ela, abaixando os olhos, mas, na verdade, estava aterrorizada com o que
iria comer; isso era uma bomba atômica para o seu organismo, engordaria e levaria toda a vida
para eliminar essas calorias.
— Megan, ainda está cedo, você não vai engordar dez quilos por causa disso — Disse,
percebendo porquê tal atitude.
— Sim, vou engodar sim. — O queixo tremeu diante da vontade de chorar, sentia pânico só
com o fato de pensar em aumentar o peso.
— Uns quilos a mais não vão fazer mal a você, talvez uns cinco..., mas não queremos de
gordura e sim de massa muscular. Por isso, hoje aproveitamos os Waz-za e depois você vai ficar
nas minhas mãos; vou treinar você, quer?
— Você está dizendo que estou muito magra?
— Claro que está, dê uma olhada — falou, fechando com sua mão a parte superior do braço
e ainda sobrava espaço. — Se treinar, poderá manter um peso ideal e também poderá comer.
Correr é bom, mas não é só isso, você precisa de um pouco de musculação.
— Está bem, me coloco em suas mãos, mas devemos ir a uma academia.
— Não, não gosto dessas academias onde todo mundo vai; poderíamos treinar à tarde no meu
apartamento. Samuel estará na torre ou na procuradoria... Bom, isso seria só até eu falar com ele
e espero fazer isto nesta semana. É justo que ele saiba nosso relacionamento, porque se souber de
outra maneira, vai ficar bravo comigo e Samuel, às vezes, é bastante irritado, não quero discutir
com ele quando posso evitar.
Nesse momento, chegou Diego com duas xícaras de café francês que soltavam fumaça e os
envolvia com o cheiro; também colocou sobre a mesa pães de noz e banana, cream cheese doce,
manteiga suave e duas geleias, uma de mirtilo e outra de damasco, colocou tudo e sorriu outra vez,
antes de dar meia volta.
Embora tenha adorado a proposta de treinar com Thor e acreditava em cada palavra que
falava que não engordaria, elas não tinham o mesmo poder o de sua consciência, por isso, não se
atrevia a tocar o pão de nozes e banana; embora tivesse vontade e desse água na boca,
imaginou que devia estar delicioso, mas não queria se ver obrigada a vomitar.
Thor percebeu suas dúvidas e o medo no rosto de Megan, por isso, sem pensar muito, pegou um
pedaço de pão, passou um pouco de cream cheese e levou até a boca.
— Está uma delícia — Disse ao engolir e preparou outro pedaço e levou até a boca dela. —
Abra a boca.
— Thor, que vergonha, pensarão que… Isto é cafona — resmungou a ver mais de um olhar
dissimulado sobre eles.
— Sim, eu sei e posso ser ainda mais se você não comer.
— Está bem, vou comer sozinha. — Aceitou, tirando o pão das mãos e engoliu de uma vez,
gemeu de prazer pela invasão de sabores; Thor sorriu na hora.
— Há quanto tempo você não experimentava?
— Anos — respondeu, pegando outro pedaço e, desta vez, colocou geleia de mirtilo.
O que era difícil, bem difícil para ela, era decidir comer, depois que começava, não conseguia
parar até se sentir saciada. Só esperava se manter realmente ocupada para não pensar e, assim,
não se sentir culpada e querer tirar esse peso de cima, devolvendo tudo no banheiro.
O café, o suco de morango, os Waz-za, tudo era uma delícia. Deliciosos biscoitos crocantes
foram colocados em um prato de porcelana, carregadas com uma banana bem madura, pudim de
morango, creme, mirtilos e xarope de ácer, o prato era deslumbrante aos olhos e à boca de
Megan, não conseguiu não devorar como Thor. Seu namorado era de comer muito bem, mas ela
desistiu dos biscoitos de chocolate com manteiga de amendoim e caramelo e não porque não
gostava, mas sim porque estava muito cheia.
O café da manhã durou um pouco mais de uma hora, se despediram de Diego e entraram no
carro. Megan viu seu telefone, tinha nove chamadas perdias, todas do seu motorista; com certeza,
o pobre estava à beira de um colapso nervoso, por isso, ligou para ele para acabar com sua
angústia. Embora fosse boca mole, muitas vezes, mostrava mais preocupação e interesse pelas suas
coisas que o seu próprio pai.
Como era de se esperar, tinha buscado e explicou que esteve a ponto de ligar para o senhor
Brockman; ela sabia que, se seu pai soubesse que ela aproveitava suas horas de aeróbico para
fugir, nunca mais a deixaria ir, por isso, suplicou a Robert que não falasse com ele, que ela estava
quase chegando, embora soubesse que era uma medida de pressão, porque ele também não
queria levar bronca de Henry Brockman.
Antes de descer do carro, ficou mais uns cinco minutos para se despedir de Thor em meio a
beijos que a deixavam sem fôlego e palpitante, desejando mais, muito mais. Já não eram
suficientes os momentos que passava com ele, nem as sutis carícias ou os beijos; ultimamente o
desejava tanto que tinha se atrevido a se tocar enquanto o imaginava, fazia isso ao tomar banho
ou antes de dormir, quando ele tomava seus pensamentos, outras vezes, enquanto estava fazendo
suas tarefas da universidade; sabia que talvez não era saudável fazer isso até três vezes ao dia,
mas não conseguia evitar. Quando seu corpo esquentava por lembrar dos momentos com seu
namorado e, então, ela tinha o poder de ir mais além, tanto quanto queria fazer com ele
fisicamente.

****

O musical da Broadway, Spider Man: Turn Off the Dark deixava claro por que era a sensação
do momento entre crianças e adultos. Samuel tinha que admitir que o que mais gostou foi a trilha
sonora, exceto, claro, os temas um pouco cafonas de Mary Jane e Peter Parker. Emocionava e ria
como uma criança e gostava de ver o mesmo entusiasmo em Julian, isso era o que o menino
merecia, pelo menos.
Ao sair, o garoto não parava de falar, contando sobre o musical, como se ele não estivesse
junto, mas Samuel continuava a conversa e também fazia perguntas. Ao chegar ao estacionamento,
Logan carregou o menino e o colocou no banco do passageiro no carro, enquanto Samuel subia, o
guarda-costas se encarregou de fechar a cadeira de rodas e colocá-la no veículo.
— Gostei mais das canções do Duende Verde, principalmente todos os efeitos sonoros —
continuou Julian, enquanto ajustava o cinto de segurança e Samuel verificava.
— Eu também — concordou, dando um sorriso e saindo com o carro.
— Sabe o que o oftalmologista me falou? — Perguntou, brincando com o cordão do capuz do
agasalho.
— Não, mas pelo seu semblante, acho que são boas notícias — Disse Samuel, olhando de rabo
de olho.
— Falou que, se eu continuar com o tratamento, só terei que utilizar os óculos para ler e ver
televisão ou quando use o computador.
— É uma excelente notícia, logo você não precisará usar os óculos o tempo todo; eu, por
exemplo, só uso para ler, mas não fale para ninguém, só meu primo me viu de óculos — Disse,
franzindo o nariz. Pararam em um semáforo no farol vermelho, distraído, olhou pela janela e um
iluminado telão o deixou sem ar.
Rachell estava diante dele iluminada, em versão gigante, deixando-o tonto com sua beleza e
sensualidade, ofuscava a modelo ao seu lado, a segurança que mostrava era incomparável. Era
belíssima, seu corpo perfeito expressava exatamente esse algo tão espontâneo na sua
personalidade, lembrando-o justamente por que estava louco por ela, porquê sua insuportável
tendência a dizer o que tinha vontade tinha cativado tanto. Sua pele brilhava suave, e suas
perigosas curvas o convidavam, deixavam-no sedento, sentia falta dela na sua vida e na sua
cama. Com muito desespero.
— A de cabelo preto é mais bonita, algum dia, vou ter uma namorada como ela — falou Julian,
mostrando que tinha percebido sua fixação sobre o painel publicitário.
— Você tem razão, ela é linda — murmurou, sentindo-se frustrado, enfiou a cara no volante,
querendo acabar com as irritantes emoções no seu peito, tentando controlar a respiração, tentando
deixar de lado suas emoções; nenhuma mulher tinha desestabilizado tanto ele e queria encontrar a
maneira de afastar o maldito sentimento ambíguo em que se debatia, não se decidia se a
desejava ou repudiava.
Nesse momento, a buzina do carro de trás comunicava que o farol estava aberto, elevou a
cabeça, arrancou com o carro e foi para seu destino, enquanto tentava fazer o menino acreditar
que tudo estava normal com ele, quando, na verdade, por dentro, estava totalmente confuso.
Ao chegar, foi recebido por uma das enfermeiras, juntos, levaram o menino ao quarto, onde
esperou dormir antes de voltar para o seu apartamento.
Enquanto dirigia, sua vontade parecia ganhar a batalha com o passar dos minutos, precisava
encontrar uma oportunidade com Rachell. Ele podia mantê-la segura se estivesse ao seu lado, por
isso, sem pensar mais, mudou o rumo até o apartamento dela, com sorte, iria encontrá-la acordada.
Acelerou, pegando as ruas menos movimentadas, lutando com sua necessidade de chegar o mais
rápido possível.
Pensava, pensava e pensava. O que iria dizer para ela? Com que palavras faria entender que
precisava ser perdoado? Como poderia fazê-la entender com poucas palavras, ele era um
incapaz, que nem ele mesmo se entendia, que ele era um completo caos, não tinha ideia do que
falar para ela entender, por um momento, que havia muito mais dele para ela que a sua estúpida
tendência a desconfiar de todas as pessoas que a cercavam. Não era algo pessoal, não duvidava
da sua fidelidade, sabia que ela o desejava tanto quanto ele, duvidava da sua lealdade, é
verdade, não acreditava que ninguém realmente pudesse ser leal algum dia.
Mas por ela, tentaria, por Rachell daria tudo de si por agir como alguém normal, por fazer as
coisas bem e conservá-la ao seu lado o máximo de tempo que fosse possível ou até que a maldita
obsessão que um sentia pelo outro desaparecesse.
Mas, a menos de duas ruas para chegar ao apartamento de Rachell, fez uma manobra brusca
e inesperada na rua, levando várias buzinadas e xingamentos. Enquanto se afastava, seu orgulho
veio à tona, fazendo-o mudar drasticamente de opinião, porque não sabia o que iria dizer para
ela e, na situação em que se encontrava, só seria ridículo e não queria fazer papel de derrotado.
Não sabia pedir perdão e não estava preparado para fazer isso pela primeira vez. Não estava.
Precisava tirar Rachell da cabeça, encontrar alguma maneira de se distrair, então, sem pensar
muito, dirigiu até um dos locais noturnos que frequentava.
O bar estava lotado, sentou-se no balcão e, enquanto tomava uma vodca, buscava sutilmente
com o olhar a sua presa, em poucos minutos, o contato visual o fez reconhecer uma das tantas que
já tinha levado ao apartamento, a garota se aproximava movendo os quadris, gritando que estava
disposta a sair com ele.
— Oi, tudo bem? — Perguntou a mulher, sentando-se ao seu lado.
— Com você aqui, melhorando consideravelmente — Disse quase sem pensar. Maldita lábia que
saía com as outras, só com Rachell que era um completo caos e um cúmulo de nervos estúpidos.
— Muito bom saber. Seu primo não veio? — Perguntou ela, procurando o loiro com os olhos,
mais que disposta e ansiosa em compartilhar com os Garnett.
— Não, ele está no apartamento, quer cumprimentá-lo? — Sussurrou, fixando o olhar no seu
decoto muito acentuado.
— Na verdade, faz muito tempo que não o via por aqui, senti sua falta.
— Estávamos visitando a concorrência — Disse, elevando o lábio direito em um sorriso sensual.
— O que você está tomando?
— Martini — respondeu ela, estendendo a mão e acariciando o pescoço de Samuel.
Não gostou do seu toque, sutilmente pegou sua mão e colocou sobre seu joelho direito. Ele pediu
um Martini Cosmopolitan, e ela aceitou, naquele momento fazia insinuações mais evidentes,
desejando que ele a levasse o quanto antes.
A garota falava e Samuel fazia o esforço por acompanhar sua conversa, já que sua cabeça
não estava lá; a mulher já tinha ultrapassado o tempo de excitá-lo e não tinha conseguido. Entre
frustrado e divertido, deu uma olhada no meio das pernas dela.
Agora você também faz greve — falava em silêncio com seu pênis irreverente.
Sabia que não encontraria como funcionar naquela noite, que, se o seu amigo não estava
disposto, porque não estava mesmo, e era ele que tinha a última palavra. Tinha a certeza que, de
certa maneira, era porque, na sua cabeça, onde só girava Rachell, dava as ordens, mesmo que
contra seus próprios planos.
Sentindo-se traído pelo seu melhor amigo, soltou um suspiro e se levantou.
— Volto em um minuto. — Levantou-se, deixando a garota um pouco aturdida.
Tinha pensado em ir ao banheiro, mas preferiu ir embora dali. Chegou ao apartamento depois
da meia-noite e, para sua surpresa, as luzes estavam apagadas, supondo que Thor já estaria
dormindo, algo que ele também deveria fazer, porque tinha que estar cedo na procuradoria para
entregar um relatório ao procurador geral e, de lá, ir a uma reunião na torre Garnett, para depois
se afundar em mais trabalho.
Já no seu quarto, caiu na cama e tirou as botas, deitou-se estendendo os braços dos dois lados,
soltou um pesado suspiro e seu olhar fixou na luz dos olhos de boi e nas placas de mármore preto,
criando um halo de luz ao redor das pupilas fechadas que iluminavam seu olhar, deixando-o mais
claro.
A pressão que sentia no peito começava a ser um tormento, unido a isso estava o cansaço, que
causava cócegas que percorriam suas costas. Durante três anos, tinha trabalhado sem um merecido
descanso, desejava poder ter, pelo menos, duas semanas em alguma ilha paradisíaca, sentia falta
da sua época de universidade, quando ele ia a qualquer canto do mundo para aproveitar, sem
preocupações, nem pressões.
Mesmo desejando ter sucesso e chegar ao cargo que tinha, porque adorava as leis, sabia que
extrapolava, tudo para conseguir fazer justiça, para cumprir esse juramento que tinha feito a si
mesmo. Mas sentia que estava se consumindo na tentativa, embora, no final das contas, inclusive,
nem se desintegrava, não ia deixar, disso tinha certeza.
Agora precisava dormir, mas o turbilhão de dúvidas e ânsias não o deixavam descansar, por
isso, decidiu se render, girou meio corpo e abriu a última gaveta de um dos criados-mudos e pegou
uma pequena caixa de aço, abriu e preparou um cigarro de maconha, sabia que isso daria um
pouco de tranquilidade.
Ao estar pronto, acendeu e tragou profundamente, retendo a fumaça por vários segundos e
soltando lentamente, repetiu a ação até acabar. Tinha conseguido o efeito desejado, mas não
dormiu como esperava, só ficou de pé e saiu do quarto e entrou no de Thor.
— Primo, você está dormindo? — Perguntou com voz pausada pelos efeitos do narcótico. —
Thor — chamou-o, deixando-se cair deitado sobre ele.
— Caralho! Samuel — Exclamou aturdido. — Que porra está acontecendo?
— Faz tempo que não conversamos.
— E você quer fazer isso agora que está chapado? Não enche. Vá tomar um banho e dormir,
amanhã, quando conseguir processar a informação, conversamos.
— Não estou chapado… Bom, só um pouco — Disse, dando uma meia gargalhada. — Se você
não quer falar, eu falo; hoje fui ao musical Spider Man...
— Samuel, cale a boca — Disse Thor, sem poder acreditar em uma única palavra, pegou um
travesseiro e colocou em cima da cabeça, tentando não o escutar mais. — Agora quando você
ficar chapado, não vai se achar mais Ethan Hunt, vai achar que é o Homem-Aranha, falta o
Batman, tem que ser bem poderosa essa erva, ela faz você se achar super-herói — falava e
Samuel soltava curtas gargalhadas.
— Foi um pé no saco quando Mary Jane e Peter Parker vinham com suas canções, acabaram
com o musical, embora entrete... — A voz foi sufocando quando Thor colocou um travesseiro na
cara e apertou, ameaçando asfixiá-lo.
— Não me interessa Spiderman, nem Superman, menos ainda Batman, vá dormir — resmungou,
saindo da cama, agarrou Samuel, agarrou por uma mão e arrastou-o até o banheiro e enfiou
embaixo da ducha fria. — Fique aí e depois vá dormir, eu tenho que madrugar.
— Quero ver a Rachell — murmurou, sentindo a água fria molhando. — Admito que sinto sua
falta.
— Merda, nada mais patético que um homem apaixonado e, ainda por cima, drogado — falou
o loiro, sentindo que o sono estava indo embora, querendo rir, mas viu que Samuel estava falando
sério.
— Bom, amanhã você a procura e pede que ela perdoe, que você é um imbecil completo... Até
então, esquece, não tem porque saber que você transou com outras mulheres, porque, senão, vai
dar outro pontapé no traseiro e você vai parar no triângulo das Bermudas para, aí sim,
desaparecer definitivamente.
— Não dá, não sei o que tenho que dizer.
— Fale o que sair na hora, você vai saber o que falar quando encontrar com ela. Não vá me
falar que agora virou covarde.
— Sou um imbecil — Disse, soltando uma sonora gargalhada que, claramente, era produto da
maconha.
— Sim, isso ela já sabe muito bem; agora saia daí, tire essa roupa e vá para a cama. Pode
ficar aqui e eu vou para o outro quarto.
Samuel saiu e começou a tirar a roupa, deixando uma poça de água pelo corredor entre a
bancada e a ducha. Seu primo entregou uma tolha e saiu, deixando-o sozinho.

****

Duas e quinze da manhã e o monte de rascunhos amassados no chão, começava um desenho e,


em alguns minutos, arrancava do bloco e lançava longe, não tinha ideia para onde tinha ido sua
inspiração, não conseguia se concentrar, não tinha sono, nem sequer apetite, era um caos completo,
com olheiras, horríveis olheiras.
Suspirou e jogou o lápis contra a parede, sentindo-se chateada, a palheta se converteu em um
poço de frustração. Enquanto a música retumbava no seu apartamento, tentava, a todo custo, se
concentrar em outra coisa; sem outras alternativas, começou a cantarolar, mas o ritmo do tema de
Portishead, Glory Box só fez que um Samuel e uma Rachell, sendo submetida ao mais cru dos
prazeres, se materializassem sobre a cama em meio a lençóis revirados, com suspiros, gemidos,
respirações forçadas, palavras lascivas e o som maravilhoso dos corpos se chocando na mais
deliciosa das batalhas.
Era a única maneira em que gostava de brigar com ele e ainda não tinha se dado conta do
muito estúpido, imbecil, cabeça dura e centenas de adjetivos mais que surgiram quando aplaudiu,
para que aquela cena, aquele delirante holograma, desaparecesse.
— Acho melhor ir dormir no sofá — Disse, descendo da banqueta que utilizava para estar na
altura do cavalete. — Nem sequer merece que eu me masturbe pensando em você; se é por isso
que se mete nos meus pensamentos, prefiro ver um filme pornô! — Exclamou, pegando um lençol e
um travesseiro.
Ao passar pelo amplificador, suavemente o desligou e tudo ficou em silêncio, silêncio este que a
estava torturando ultimamente. Há alguns meses, ela adorava sua solidão, ainda adorava estar
sozinha, mas sentia falta dos momentos que viveu com Samuel e percebeu que o pior erro que
pôde ter cometido foi colocá-lo no apartamento. Até já imaginava, estava acontecendo a mesma
coisa que quando Richard foi embora, ela tinha que se submeter a uma estranha e desagradável
readaptação e recuperar sua segurança.
Ao chegar na sala, deitou no sofá, com a respiração agitada pelas emoções que a percorriam,
dando-lhe a briga. Sabia que, se continuasse imaginando Samuel Garnett, nunca o tiraria da
cabeça e, definitivamente, precisava fazer isso para poder seguir adiante.
CAPÍTULO 3

Depois de abandonar a procuradoria, Samuel se dirigiu à torre Garnett. No momento em que


cruzou o hall, foi interceptado por Vivian que, com muito esforço, tentava igualar o caminhar
enérgico e seguro do seu jovem chefe. Samuel parou atrás da sua mesa, enquanto desabotoava o
terno para sentar, tocou na tela de um dos monitores e o computador ligou instantaneamente.
— Senhor, já está tudo pronto para a reunião, começará em quarenta minutos, as pastas estão
sobre a mesa e o lanche chegará em vinte minutos para coincidir com o final da reunião — Vivian
suspirou profundamente, deslizando o indicador pelo tablet eletrônico. — Precisa de alguma coisa
mais, senhor?
—Não — respondeu Samuel, ajustando o nó da gravata. — Nada mais, confio no seu trabalho,
Vivian — Olhou novamente para o computador. — Poderia me trazer um pouco de água? Falar
com o procurador me deixa a garganta seca — Pediu, com um sorriso incrível que, imediatamente,
evocou outro igual em Vivian, que saiu rapidamente do escritório.
Deu uma olhada na agenda, sabia que naquela semana, teria uma entrevista com o seu tutor no
mestrado em Ciência da Justiça Penal, mas não lembrava o horário; também tinha uma reunião
pendente com o contador. Assim, deixava que sua mente percorresse seus compromissos enquanto
divagava nos altos e baixos de sua apertada agenda. Sentiu o iPhone vibrar dentro do casaco,
pegou-o, estranhando por ser uma ligação de Morgan.
— Aconteceu alguma coisa, Morgan? — Perguntou, franzindo a testa com desconcerto.
— Garnett, você está na torre? — Perguntou Morgan, coma evidente mostra de preocupação
na sua voz.
— Sim, acabei de chegar, por quê?
— Estou reunido com a senhorita Sophia Cuthbert, a assistente de Rachell Winstead, acho que
você deve estar presente nesta reunião.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, reconhecendo aquele característico tom de voz de
Morgan e não conseguiu ignorar como todos os seus sentidos ficaram em alerta.
— É melhor você vir ao meu escritório.
— Está bem — concordou, cobrindo sua voz com falso estoicismo. — Já estou indo — Terminou
e escutou pelo telefone Sophia sussurrar "Não é necessário".
Ficou de pé e a foi rapidamente. Vivian trouxe um copo com água em uma pequena bandeja
de prata e ele parou porque realmente estava com sede, os efeitos de ter fumado de madrugada
estavam passando a conta, por isso, deu um celestial e revitalizante gole. Quase gemeu de alívio
ao sentir a água fresca deslizando pela sua garganta.
— Quanto tempo falta para reunião? — Perguntou, devolvendo o copo à bandeja.
— Pouco mais de meia hora.
— Bem — afirmou, verificando o relógio. — Vou a uma reunião com Morgan, volto no horário
marcado.
— Sim, senhor.
Samuel novamente retomou o caminho, entrou no elevador e desceu três andares para chegar
até o escritório do advogado. O assistente abiu a porta e tanto Morgan quanto Sophia ficaram de
pé ao vê-lo entrar. O semblante da ruiva era indecifrável.
— Olá, Sophia — cumprimento, aproximando-se e dando um beijo no rosto, que ela recebeu um
pouco receosa. Afinal de contas, estava brava com ele por ter insinuado que sua amiga era uma
qualquer.
— Tudo bem, procurador? — Disse, sem ocultar sua pausada animosidade.
— Bem, obrigado — Sorriu Samuel, lendo a prevenção da ruiva. — Mas tínhamos combinado
de me chamar de Samuel — Lembrou, depois desviou o olhar para Morgan. — Algum problema?
— Perguntou, levando as mãos aos bolsos da calça, querendo esconder, estupidamente, seu delator
e repentino suor.
— É melhor sentar — Pediu Morgan, apontando para uma das cadeiras ao lado de Sophia.
Samuel concordou e todos sentaram ao mesmo tempo. — Pedi para chamar você porque acho que
poderia se interessar — Levantou uma sobrancelha, deslizando um cheque sobre a mesa para
Samuel ver.
O rapaz observou o valor no comprovante e virou a cabeça com a irritação foi subindo pelo
seu peito a ver que era o equivalente ao valor total do empréstimo que fez a Rachell semanas
antes.
— O que significa isto, Sophia? — Perguntou, com voz suave e compassada, desviando o olhar
para a garota.
— É óbvio que é o pagamento do empréstimo, está escrito aí — Os pelos da nuca se
arrepiaram quando os olhos dourados de Samuel, aparentemente calmos, pousaram nos seus. O
cara ficou furioso. Rachell tinha dito que só tinha que entregar o cheque, não disse que armariam
uma emboscada.
— Sim, eu sei que é o dinheiro, mas eu me refiro a como Rachell conseguiu o dinheiro? —
Perguntou curto e grosso.
— Vendeu bem na butique — murmurou Sophia uma improvisada resposta, abaixando os olhos.
Ela era péssima para mentir e sabia disso. Como iria mentir na frente do tal procurador?
— Sophia, nem com a venda de um ano, a butique teria lucro para pagar este valor —
continuou Samuel, com aquele tom calmo e profundo.
— Ah, vendeu alguns desenhos exclusivos — Disse a ruiva, jurando que Rachell iria pagar.
— Nem que tivesse leiloado a roupa de Michael Jackson e você sabe disso — falou com a voz
mais rouca, deixando-a encurralada com o olhar fixo nos seus atemorizados olhos verdes.
— Não estou autorizada a dar nenhum tipo de informação — Defendeu-se com uma fingida
indignação. — Só vim trazer o pagamento, nada mais que isso e deixe o procurador de lado
porque não cometi nenhum delito, guarde seu interrogatório.
— Mas eu tenho que constatar se este dinheiro foi ou não encontrado de maneira ilícita. —
Queria o procurador? Ele sabia perfeitamente como irritar alguém.
— Claro que não — respondeu imediatamente, muito brava. — Foi de maneira estúpida, mas
não ilícita — continuou, antes de segurar a própria língua.
— Do que você está falando que foi de maneira estúpida? — Perguntou Samuel, inclinando,
quase imperceptível, seu corpo na direção de Sophia, sentindo que o sangue começava a ferver
entre suas ideias que, contra sua vontade, começavam a se formar na cabeça.
Sophia abaixou os olhos e alisou a saia, tentando evitar o olhar de Garnett, ficando em silêncio,
enquanto levantava o queixo e mordia a língua pela sua imprudência.
— O que falou para você? — Desviou a atenção para Morgan, sabendo que Sophia seria uma
causa perdida.
— Nada, ela não quer falar — respondeu o advogado com igual paciência.
— Sophia, se não me disser, eu rasgo o cheque e você vai ter que levar os pedaços para
Rachell.
Sophia levantou seus ombros, preparando-se para a tempestade que iria começar.
— Hipotecou o apartamento — murmurou, finalmente, sem levantar os olhos, sabia que, embora
Rachell ficasse brava, o mais sensato era Samuel saber que, por sua culpa, sua amiga poderia
perder o apartamento.
—Que inferno acontece com Rachell? Ela está louca? Por acaso, ela não sabe qual é a
porcentagem atual das taxas de juros? — Disparou a metralhadora de perguntas, sentindo como
perdia a paciência em cada palavra e olhou para Sophia como se ela pudesse dar alguma
resposta.
— É uma decisão dela, eu a aconselhei, mas… — Parou diante do ressonante berro de Samuel
que, sem levantar a voz, tinha feito Sophia se sentir minúscula.
— Mas é uma cabeça-dura mesmo, intransigente, impulsiva, inconsciente! — Cuspiu, irritado,
ficando de pé. Pegou o cheque, dobrou e colocou no terno. — Morgan, deixo a reunião para você,
Vivian já tem tudo aprovado, vou ver o que consigo fazer com esta situação — Dirigiu seu olhar
furioso para a pobre mulher. — Vamos, Sophia — exigiu com seu modo seco e autoritário.
— Não! — Disse ela, sarcástica, depois fixou seus olhos verdes no mandão. — Eu não vou com
você a nenhuma parte. Se está pensando em falar com Rachell, não me meta nisso, nem nos seus
problemas.
— Vamos, Sophia — ordenou, pegando-a por um braço, colocando-a de pé e, praticamente,
arrastando-a para fora do escritório de Morgan. — Prometo não meter você em problemas —
Tentou, em vão, tranquilizá-la. — Por quê Rachell tomou esta decisão?
— Não sei — respondeu, irritada, soltando o braço. Quem ele achava que era?
— Você sabe sim, tenho certeza — enfatizou, enquanto entravam no elevador.
— Talvez seja porque ela não quer dever nada para um imbecil que acha que ela é uma puta
— respondeu, brava, olhando nos olhos e cruzando os braços.
— Sophia… — Respirou impaciente. — Eu não acho que Rachell seja uma qualquer, tenho
certeza que não é. A questão é que desconfio de algumas pessoas com quem se relaciona.
— E por isso você coloca um letreiro luminoso na testa dela? Que pusilânime você é, sabia? —
Franziu a testa, contendo-se para não arrancar os olhos.
— Algumas vezes, sou sim — Concordou, enquanto indicava o corredor ao abrir a porta do
elevador. Caminharam um pequeno trecho pelo estacionamento, abriu a porta do carro,
convidando-a a entrar, fechou, deu a volta no carro para entrar e continuar com as palavras. —
Mas reconheço que sou sim. Agora sua amiga não reconhece que é uma cabeça fechada e
orgulhosa e me faz perder a paciência — Ligou o carro, saindo do estacionamento, seguido pelos
guarda-costas que não perdiam seu rastro.
A mão de Sophia estava grudada na maçaneta, o cara estava dirigindo feito um louco.
Estacionaram e entraram rapidamente na butique, que estava cheia de mulheres acariciando as
peças de roupa e olhavam com um interesse quase hipnótico as estantes. A música de Lykke Li
inundava o lugar, fazendo uma deliciosa sinfonia com o suave odor à baunilha que dispersava no
local. Procurou-a com o olhar e a viu no seu escritório, sentada atrás da mesa, sentiu que o seu
coração disparava, o peso de quanto tinha sentido sua falta caiu direto em cima dele.
Sua respiração se agitou, fazendo-se sentir como um tonto adolescente, igual a seu irreverente
pênis que respondia diante da excitante imagem de Rachell concentrada no seu escritório,
movendo-se de modo fluído e profissional. Com as mãos trêmulas, procurou o cheque no bolso de
dentro do terno, irritando-se pelo absurdo descontrole ao que ela o submetia, mas não podia fazer
nada com as voluntariosas emoções que o enlouqueciam ao estar perto dela.
Ao vê-lo, Oscar parou no seu claro caminho até o escritório de Rachell, desafiando com o olhar,
obrigando Samuel a interromper a busca do cheque no seu bolso.
— Oscar, deixe-o passar. Eles têm que resolver seus problemas, não devemos nos meter nisso —
Pediu Sophia, segurando-o pelo braço.
— Espero que tenha modos, procurador, porque se levantar um pouquinho a voz, eu acabo com
a minha vontade de quebrar seu pescoço — Disse Oscar, perigosamente, enquanto caminhava até
o balcão com Sophia.
Samuel preferiu ignorar a ameaça e olhou com serenidade, avaliando a verdadeira lealdade
do homem com Rachell, mas seria necessário mais que quase dois metros de altura para intimidá-lo
de verdade.
Abriu a porta do escritório da garota sem bater. Rachell não conseguiu esconder sua surpresa e
como seus olhos arregalaram ao ver Samuel na sua frente no momento menos esperado. Respirou
fundo, acomodando-se na sua cadeira e cruzando as pernas. Uma rajada de fogo a golpeou e
seu coração disparou, engoliu seco, porque, em um milésimo de segundo, sentiu que estava na
garganta.
Apertou os punhos e petrificou seu gesto com severidade.
— Não dei autorização para entrar assim no meu escritório, procurador — Sua voz parecia
convincente, mas, por dentro, era um estúpido emaranhado de nervos.
— Rachell, você ficou louca? — Disse Samuel, sem vacilar, apoiando as palmas abertas sobre a
mesa de vidro, inclinando seu corpo na sua direção e sentindo a crua necessidade de diminuir a
distância entre os dois, perdendo-se naqueles olhos que o capturavam, ela, com seu olhar, o fazia
prisioneiro, não deixava escapatória. Tentou sacudir o entorpecimento do seu cérebro, endurecendo
seu gesto. — Por que diabos você hipotecou o apartamento?
— Isso não é problema seu, senhor Garnett — respondeu, imediatamente, tão segura de suas
palavras, que o encarou mesmo quando se sentia aturdida pela energia que ele emanava e
mesmo quando seu corpo inteiro tremia pela grande proximidade. — Não vou discutir minhas
decisões com você, já dei o cheque, sua dívida está saldada, agora me dê o prazer de não ver
sua cara nunca mais.
Samuel sentiu uma dolorosa agulhada diante da rejeição e dos desejos de Rachell de não o ver
nunca mais. A simples ideia provocou um nó de angústia na sua garganta; porém, não desviou seu
olhar, ficou fixo nela, respirou e seu corpo se inclinou completamente em cima da mesa, deixando
seu rosto a poucos centímetros dela.
Rachell ficou firme, mas com o coração vibrando nos ouvidos.
— Já pode sair do meu escritório — Levantou uma sobrancelha depreciativa. — E da minha
vida — murmurou perto do rosto de Samuel com toda segurança que tinha, lutando, para as
lágrimas que subiam pela garganta não ganharem o jogo.
— Que cheque? — Preguntou ele, enquanto procurava o comprovante de pagamento no bolso
do terno. — Este cheque? — Estendeu o papel na sua frente, envolvendo-o entre os dedos e
rasgando em pedaços, deixando cair em cima da mesa diante do olhar atônito de Rachell.
Em um movimento desconcertantemente rápido, levou uma mão à nuca e a puxou, beijando-a
sem permissão, obrigando-a a dar espaço na sua boa, sem dar opção de rejeitar seus lábios,
enquanto, com a mão livre, sustentava seu peso sobre a mesa.
Rachell tinha perdido o sentido, ele a agarrou, pegou-a de surpresa e o traidor do seu corpo
soltou uma aleluia! Samuel começou a beijá-la, fundindo-se nela, percorrendo o interior da sua
boca com carícias precisas e escorregadias que derretiam sua consciência. O mais sensato seria
ficar com a metade da língua dele na sua boca, depois de amputar com uma mordida, mas sua
língua se abria obediente para recebê-lo. Sua língua dava a mais calorosa das boas-vindas,
enquanto sua barriga vibrava, o centro do seu prazer palpitava e, irremediavelmente, teria que ir
ao banheiro e trocar sua roupa de baixo, porque o simples contato com sua boca quente já a
fazia se molhar escandalosamente.
Maldito poder que esse homem tinha para descontrolá-la, sua língua, músculo divino que
percorria sua boca e acariciava pontos exatos que jurava, estavam conectados com seus mamilos,
que se despertavam e doíam ao encontrar a barreira do seu sutiã. Só queria abrir as pernas e
guiá-lo àquele lugar, que a fizesse sua, de todas as maneiras possíveis. Estava perdida. A ponto
de convulsionar diante da falta de oxigênio, mas não se afastava, era uma suicida, porque não se
afastaria do beijo, mesmo que morresse, disso tinha certeza.
Samuel Garnett era impetuoso, loucura e fogo, com sua boca, abria abismos nela, sua saliva era
doce mel e perigoso veneno que a deixava sem forças, dando delícias e fazendo-a delirar,
imprimindo em seus lábios a força exata para arrastá-la aos precipícios onde suplicaria por mais,
mais e mais.
Com a respiração castigando-o e fazendo eco na sua própria, ele se afastou ofegante, era
uma das facetas que mais gostava, vê-lo extasiado e saber que ela era a causa, a fazia sentir a
mulher mais poderosa do planeta. Mas deixar órfã de sua boca foi o pior erro, porque a lucidez
chegou de repente.
A consciência chegou repentinamente que estava no seu escritório, completamente exposta
através dos vitrôs, subitamente incomodada e revoltada pelo atrevimento dele ao beijá-la assim em
frente aos seus colegas, amigos e clientes, sem sequer avaliar a situação. Sua mão se mexeu quase
por vontade própria, dando um tapa tão forte que o som da palma da sua mão estalando na pele
do seu rosto silenciou completamente qualquer outro sinal de ruído no escritório. Uma estranha e
explosiva mistura de medo e excitação removeu seu interior ao ver como ele apertava a mandíbula
pela dor; seu olhar ardente e brilhante conseguiu intimidá-la, com o coração enlouquecido, tentou
se mover e estabelecer uma distância entre eles, mas ele tinha mais força e, com agilidade,
agarrou-a novamente, arrastando-a e dando outro beijo.
A pele da sua mão coçava e ardia, mas essas e outras sensações se transformaram em cinza
enquanto podia definir, com precisão, o momento em que suas pernas perdiam força e o braço
livre de Samuel se enroscava na sua cintura, atraindo-a até o seu peito através da mesa,
invadindo sua boca com vorazes, mas as penetrações especializadas da sua língua, acariciando a
sua e tocando tão profundamente para roubar inoportunos gemidos.
Aquele beijo era uma dança perfeita, chupava seus lábios, depois de mordê-los e, então, surgia
com sua língua, um passo depois do outro com uma saborosa maestria. Sua própria resposta era
equivalente em fúria e paixão. Ela era uma excelente parceira de dança e o enfrentava com sua
própria língua sem dar trégua. Este beijo era mais intenso, abrasador e exigente; a excitação e a
ira se misturaram na sua mente ao se dar conta do poder que ele tinha sobre ela.
Samuel se perdeu, fascinado pela boca de Rachell. Esquecia hora, dia, mês ou lugar onde
estava. A perturbação que o percorria era prova do desejo irrefreável que ela despertava nele,
aquele palpitar enlouquecido do seu coração que só com ela batia daquele jeito, nunca tinha
vivido um beijo de maneira tão intensa.
Na boca de outra mulher, não tinha encontrado tais sensações que o governavam e tinha uma
longa lista para comparar. Os beijos de Rachell eram diferentes, não era só como seus belos lábios
se moviam sobre os seus; era algo narcotizando no seu sabor, nas emoções viciantes por tê-la
perto de novo, que o faziam desejar ainda mais sua boca, mais dela. Seu beijo era intenso, forte,
passional, cada carícia da sua língua trazia uma nova onda de fome por ela e enlouquecia ao
sentir o desejo imenso com que ela o beijava. Não encontrava palavras para descobrir o que
Rachell fazia sentir só com um beijo. Tinha que encontrar!
Com os lábios palpitantes e úmidos, interrompeu o beijo, mas seus rostos continuavam tão perto
que ainda conseguia beber da sua respiração. Em breves segundos, e ainda sem ter conseguido
nem sequer abrir os olhos, sentiu novamente o ardor no rosto. Não se afastou, se era isso que ela
esperava. Fixou seus olhos em Rachell, ofegante, e apertando-a contra seu peito com as mãos,
lendo os sinais do seu corpo excitado. Ela, igual a ele, queria mais, seus corpos gritavam por isso,
estava tão excitada quanto ele.
— Se me beijar de novo, pode ter certeza que o golpe vai ser pior — Disse entre dentes com
voz agitada e vibrante.
Seus olhos de leão brilharam e, três segundos depois, soube que tinha sido um erro desafiá-lo
daquela maneira porque, novamente, a beijou. E se ainda fosse possível, com mais ímpeto,
obrigando-a a corresponder da maneira em que queria. Sabia perfeitamente como dominá-la e
seu corpo traiçoeiro respondia quase automaticamente, deslizando sua pele contra a dele e
arrebatando-lhe o prazer dos lábios. Acima da neblina do seu próprio ardor, sentia como ela era
totalmente pulsações rarefeitas e cálida pele palpitante.
Samuel queria eliminar a distância entre seus corpos, mas a mesa no meio o impedia de grudá-
la a ele e deixá-la sentir como o excitava, como sua ereção estava doendo e palpitando por ela,
mas tinha que retomar o controle, ela nublava sua mente e, sob todo o seu forte autocontrole, isso o
assustava. Os dois precisavam respirar normalmente de novo, por isso, outra vez, separou seus
lábios dos dela, incitou seus olhos e, prevendo sua resposta, segurou a mão pelo punho no meio do
percurso até seu rosto. Centralizou seu olhar nos brilhantes olhos violetas, mas não conseguiu
entender nada, ela se mantinha irritantemente indecifrável para ele. Recuperou o ar, erguendo-se
em frente a ela, e acomodou a gola do terno, olhou-a novamente e falou com um tom baixo, bravo
e rouco.
— Bata outra vez e não terei dúvida em transar com você aqui mesmo, não me importará quem
está ou quem possa nos ver — Inclinou a cabeça sobre seu ombro direito em um gesto
malvadamente infantil que deixou a boca seca. — Você sabe perfeitamente que não importa ter
público.
— Você não vai fazer isso — rebateu Rachell, olhando nos seus olhos e apertando os dentes.
— Não seria capaz — continuou com o peito agitado e, bem no fundo do seu cérebro, por alguma
razão, queria desafiá-lo.
— Não me desafie — respondeu em um sussurro. — Não me provoque porque sabe que eu
não falo duas vezes.
— Não vou permitir, saia agora mesmo do meu escritório ou eu chamo a polícia — exigiu
elevando a voz. — Ou, melhor ainda, arrebento sua cabeça — Pegou em sua mão a pequena
esfera de vidro pesado que tinha uma borboleta preta dentro. — E você também deveria saber
que eu não falo duas vezes.
Samuel olho divertido a escultura em suas graciosas mãos, em seguida, olhou-a com
determinação novamente.
— Por que você fez isso, Rachell? Em que estava pensando?
— Eu não vou dar nenhuma explicação — respondeu ela, friamente.
— Devolva o dinheiro ao banco, não aja como se fosse uma idiota mesquinha. Uma coisa são os
negócios e outra é o que acontece entre nós. Nossa relação não tem que afetar os negócios que
fazemos. Você pode separar uma coisa da outra?
— Deixe-me explicar, senhor Garnett — Levantou os dedos indicadores, enfatizando, enquanto
girava graciosamente os pulsos e indicava o espaço entre eles. — Esse “entre nós” não existe e
“nossa relação” muito menos — destacou com sarcasmo — Quem consegue separar as coisas aqui
é você, senhor Garnett. Eu estou pagando, exatamente como me permite o uso da minha liberdade;
em troca, você invade meu escritório com reclamações inadmissíveis — Enfiou as mãos embaixo do
cabelo, jogando-o sobre seu peito e fingindo indiferença. — A única coisa que deve interessar a
você é que devolva o dinheiro combinado, como ou quando consiga, não é de sua incumbência —
Empurrou a cadeira com as pernas, dando dois passos até um dos cabideiros, sentindo o coração
martelar no seu peito, mas com a testa em um gesto duro e inescrutável.
— Não seja idiota — Disse Samuel, perdendo a paciência. — É de minha total incumbência, não
vou permitir que, pelos nossos problemas atuais, arrisque tudo o que você tem. Eu não entrei na sua
vida para causar problemas.
— Não me interessa com quais motivos você entrou na minha vida, isso já não importa mais —
Fulminou-o com o olhar, indicando a porta. — Quero que saia do meu escritório agora — Levantou
as sobrancelhas intencionalmente, enquanto falava devagar. — Deixe a porta aberta para quem
quiser entrar.
Caralho! Por que tinha dito aquilo? Pensou depois de ter falado aquelas palavras.
Samuel a observou em silêncio, tentando se acalmar e não mandar Rachell à merda, respirando
e pensando que, com certeza, estava fazendo isso com a clara intenção de irritá-lo. Demorou um
minuto inteiro parar recuperar a calma.
— Você vai precisar mais que isso para se livrar de mim, elabore um plano melhor — garantiu,
com uma enganosa serenidade, mas o seu interior tremia de incerteza e medo; ela tinha revirado
todas as suas emoções, fazendo-o se expor, ficando vulnerável. Tinha que sair dali imediatamente.
Samuel deu meia volta e saiu de lá tentando manter a calma e se mostrar impassível.
Um turbilhão de confusão a sacudia. Rachell precisava entender Samuel, caso contrário, ficaria
louca. Ele dobrava seus pontos fortes e a deixava frágil.
Ele tinha ido embora, assim, sem se despedir, deixando uma advertência pendente, enquanto a
voz de Lykke Li no áudio fazia eco na sua cabeça com o refrão "Eu te sigo, eu te sigo". Samuel era
esse rio que corria com força, profundo e selvagem e ela era o oceano que o recebia. Como na
natureza, suas forças se chocavam inevitavelmente, abraçando-se e se tornando uma.
Ainda trêmula e excitada, sentou na cadeira, fixou seu olhar no cheque em pedaços, soltou um
pesado suspiro, exausto e temeroso. Ele chegava impetuoso, sem pedir permissão, arrebatava dela
o que queria, declarando-a como sua propriedade e, novamente a colocava em contradição com
sua essência. Não queria pertencer a nenhum homem, odiava estar em um beco sem saída. Colocou
a cabeça entre suas mãos, pressentindo as lágrimas; só chorava quando estava cheia de
impotência e agora era um desses momentos.
— Sinto muito, Rachell, você me falou que seria fácil — A voz de Sophia entrava no lugar,
resgatando-a de sucumbir ao choro. — Não foi só deixar o cheque e pronto.
— Não se preocupe Sophie, sei que não foi culpa sua... Estou cansada de tudo isso. Não quero
continuar nadando contra a corrente do rio impetuoso que é Samuel, quero me afastar
completamente... Talvez deva me dar um tempo ou pagar a hipoteca para, depois, vender tudo e
voltar para Las Vegas e começar do zero de novo.
Sophia sentou, profundamente irritada com a obstinação de Rachell em não admitir seus
próprios sentimentos. Realmente estava indo longe demais.
— Rachell, você está louca? — Disse, perdendo a paciência. — Não, não vou permitir que jogue
para o alto todo o esforço destes anos. Em Las Vegas, você não é conhecida como aqui em Nova
Iorque, agora que a butique está no seu melhor momento, sua teimosia em ir contra o que está
sentido complica tudo. Tenha coragem, de uma vez por todas, de enfrentar o que está acontecendo
e faça o esforço em entender que Samuel Garnett fugiu do seu controle e que, no fundo, não há
nada de errado nisso. Onde está toda a segurança que sempre demonstra?
As palavras da sua amiga a deixaram aturdida, mas estava muito cansada para contradizê-la.
— Não sei, não sei, Sophie, ele acaba com as minhas defesas. Talvez eu não seja tão forte
quanto aparento, porque você viu! Ele me beijou sem pedir permissão e eu consenti. Sei que, se
estivéssemos em outro lugar, eu teria me entregado sem pensar. Não é isso que eu quero, não
quero sentir que sou um objeto de sua propriedade que pode usar quando tenha vontade.
— Existem muitas maneiras de pertencer a um homem, Rachell. Não precisa ser exatamente a
que você tem medo; o seu problema é que você tem medo de se entregar e sei que, talvez seja
brega o que vou falar e que é muito cedo, mas para o amor não há tempo. Ele chega do nada,
como um meteorito e muda tudo. Observei essas mudanças, mas você se empenha em ignorá-los,
porque tem medo a essas mudanças na sua vida, nem tudo será como você planejou.
— Você não é uma grande ajuda, Sophia — sussurrou, sentindo-se perdida.
— Talvez não seja, mas sou sincera.
— Nem louca vou admitir que estou apaixonada, se é isso que está esperando... Porque não
estou, só que me envolvi demais, uma coisa levou a outra e me acostumei com sua presença e aos
seus beijos... Suas carícias. — Ia abaixando a voz cada vez mais, sem olhar para Sophia,
observando de tudo que sentia falta em Samuel, falando praticamente com ela mesma. — Suas
palavras...
— E sua maneira de transar… — interveio Sophia, completando as qualidades do rapaz.
— Também! Não tem sentido negar isso, mas não é o único homem na face da terra que tem
todas essas coisas na cama... Deve haver outros, Samuel Garnett não pode ser insuportável.
Ninguém é indispensável, isso eu sei. E você vai ver como posso esquecê-lo.
— E volta ao ponto de partida. Exige coisas que agora não pode cumprir.
— Sophia, por Deus — Exclamou exasperada. — O que você sugere? Que eu me deixe
arrastar por ele? Não, isso não vou fazer, porque Samuel não vai mudar. Sempre vai desconfiar de
mim e sua falta de respeito é injustificável e me fere profundamente.
— Eu acho que o pobre procurador é um incompreendido, um inseguro de merda que procura
alguém que dê segurança e um pouco de carinho. Não é má pessoa, se fosse, não se preocuparia
por você como faz. — Suspirou Sophia. — Procure a maneira de entendê-lo um pouco. Seja mais
flexível, mulher! Custa tanto deixar de ser hipócrita com você mesma? Seja mais amável... Só um
pouquinho assim — Separou alguns centímetros os dedos indicador e polegar. — Nada mais que
isso. Seja carinhosa, ofereça as palavras que eu sei que querem sair desse seu coraçãozinho, mas
você não deixa. Garanto que, depois de fazer isso, ele vai ficar caidinho; será mais receptivo e
mais aberto. Tenho que explicar como compreender um homem? Vamos, Rachell, você não tem só
que saber como manipulá-los, também é bom compreendê-los e sei que irá se surpreender com
tudo o que pode encontrar. Os homens são fascinantes, estranhas criaturas que vão cativar e, mais
ainda, se são tão fechados como seu procurador, porque eles são os mais vulneráveis.
Rachell a olhou com impaciência.
— Sophia, só falta você embalar em um papel celofane e colocar um laço vermelho.
— Não está muito longe de parecer um boneco — Brincou Sophia. — Estou sendo sincera
amiga. Você não pode controlar minha vista, já sabe como está sendo boba... Que bunda ele tem!
Quero uma foto, mas sem nada de roupa, para constatar que não tem enchimento.
— Não… não tem enchimento, mas se quiser averiguar você mesma, eu o apresento.
— Ah não… — Disse, levantando para sair. — Esse trauma é completamente seu.
— Viu? Nem você quer — Levantou a voz, enquanto Sophia se aproximava da porta.
— Porque eu sei que você quer — Levantou uma sobrancelha. — E muito.
— Não é igual a Richard, não é a mesma coisa.
— Richard era só um imbecil que limpava com a língua o chão por onde você passava. Tenho
certeza que fez uma Bíblia com cada uma das suas palavras. Talvez se tivesse tido um pouco de
personalidade e tivesse exigido de você o que queria, não deixando você sempre dar a última
palavra, estaria casada com ele. Porque, embora nos custe admitir, adoramos os homens que nos
desafiam, aqueles que dizem o que querem ou não — Disse, enquanto saía do escritório, deixando
Rachell novamente sozinha com seus pensamentos e suas emoções.
CAPÍTULO 4

O amplificador Marshall aumentava o som dos acordes que Samuel afinava para alcançar as
notas da música escolhida por Megan. Com frequência, desviava o olhar até onde ela estava
conversando com Thor, que estava sentando em cima do piano com um enorme sorriso de
satisfação, que o confundia e o deixava em alerta. Embora estivesse concentrado na guitarra, não
gostava da aproximação do seu primo com a garota e, muito menos, vê-la rir tanto com ele. Sem
dúvida alguma, nos dias que tinha faltado ao Central Park, eles tinham se conhecido melhor, tinham
estabelecido laços de amizade ou, pelo menos, essa teria sido a parte de Megan, já que Thor não
tinha amigas, só aqueles que concedessem direitos especiais.
— Thor, você não tem que praticar? — Perguntou Samuel, silenciando abruptamente a guitarra.
— Não, já pratiquei bastante. Só estamos esperando você, portanto, movimente esses dedos aí.
— Já estou pronto, vá para a bateria — exigiu, indicando com um movimento de cabeça o
fundo do palco.
O loiro desceu de um salto e o impacto dos seus pés sobre o piso de madeira fez eco no lugar,
enquanto ficava de cara amarrada e Megan sorria ao ver o tratamento infantil entre os primos
Garnett. Realmente, ela era mais feliz depois de ter conhecido os dois. Nunca pensou que, por estar
a ponto de ser ultrajada fora de uma boate, sua vida mudaria radicalmente. Ele continuava
demonstrando que só queria protegê-la e, embora tenha se iludido no início, ao conhecer Thor, essa
ilusão acabou e deu lugar a um sentimento mais intenso. Mal podia controlar o tremor dos seus
dedos ao ver seu namorado e se perguntava se, algum dia, deixaria de parecer uma tonta todas
as vezes que estava perto dele.
Thor ainda não tinha falado para Samuel sobre eles e ela sabia por quê. O procurador era
muito superprotetor, era aquele irmão que seus pais não deram e que, muitas vezes, desejou.
Talvez um irmão tivesse escutado seus problemas e evitado que caísse naquele escuro e doloroso
buraco.
— Pronto, polegar para cima, iniciamos — Informou Samuel, fazendo um sinal para o rapaz
que estava na cabine da parte superior, responsável pelas luzes e pelo som.
O jovem abaixou a intensidade das luzes, deixando somente as diretas sobre as três pessoas no
palco. Tinham alugado um teatro em estilo art deco no coração da Broadway para realizar a
pequena apresentação que Megan queria.
Samuel elevou o polegar e os nervos percorreram o estômago de Megan, paralisando seus
dedos sobre o teclado e fechando sua garganta. Os rapazes esperavam escutá-la cantar,
desconcertados, olharam para ela, enquanto a música saía sem uma voz para guiar, continuava
repetitiva e cacofônica.
— Megan, se não cantar, não podemos continuar — Disse Samuel, cada vez mais impaciente,
mas não porque estivesse bravo, esse era simplesmente seu caráter.
— É que não sei cantar, Samuel… Canto muito mal — Defendeu-se Megan.
— Só estamos nós, não é um show com vários espectadores. Faça de conta que está sozinha no
seu quarto, não é nada profissional, só estamos nos divertido.
— Não é tão simples, com certeza, vão tirar sarro da minha voz de Dora a exploradora —
respondeu com um nó na garganta.
— Prometo não tirar sarro e se Thor fizer isso, arrebento a cara dele — Disse, desviando o
olhar para o loiro que, nesse momento, estava totalmente concentrado nela.
— Você sabe que não vou tirar sarro, Megan — Deu um daqueles olhares risonhos que ela
adorava e que, naquela ocasião, não passou desapercebida para Samuel, mas antes que pudesse
ver a reação dela, Megan abaixou os olhos para as teclas de marfim.
— Está bem, vou cantar — Respirou fundo e, novamente, marcou a primeira nota, aproximando-
se do microfone. — Don't cry to me… — entoou. Logo parou de novo.
— Está indo bem, Megan... Vamos, outra vez — Encorajou Thor. — Pratiquei muito para você me
deixar sem tocar — Disse, dando uma piscadinha.
— Vamos, mais uma vez — Juntou-se Samuel, elevando o polegar.

—Don't cry to me, if you loved me


You would be here with me
You want me, come find me
Make up your mind

Megan se submergiu na canção, na poderosa letra e música que saíam do piano. Ao terminar a
primeira estrofe, Samuel e Thor deram vida ao recinto com a guitarra e a bateria, imprimindo
força, vitalidade e paixão impressionantes às caóticas toadas.
Os dedos de Samuel deslizavam com incrível agilidade pela guitarra, como se, de fato, estivesse
acariciando-a. Por outro lado, os braços de Thor atacavam com força a percussão, girando a cada
tanto as baquetas entre suas mãos. Eles eram destros, talentosos e malditamente sensuais ao fazer
música.
Megan interpretava o piano com doçura e acerto, alcançando as notas no momento exato,
embora precisasse da força que Amy Lee transmitia com sua voz, por outro lado, a sua saía
delicada e graciosa, entre os outros sons, contrastando lindamente com a rudeza dos acordes.
Os olhos de Thor estavam em Megan cada vez que golpeava a bateria, sorria, sentindo o
coração saltar na garganta. Ele sabia que não era consequência do esforço realizado.
Não, tudo era por contemplá-la enquanto cantava. Até o momento, não tinha compartilhado com
uma mulher tanto tempo, sem antes levá-la para a cama. Ele era daqueles que, primeiro, as
conhecia sexualmente e, depois, só depois, se não se cansasse dela, dava-se ao trabalho de
conhecer a pessoa por trás da garota que dava prazer e não tinha ficado com nenhuma delas por
mais de duas semanas.
A ternura em Megan o prendia, um desejo irrepreensível de querer passar todo o tempo com
ela estava dominando-o. Muitas vezes, era surpreendido querendo ter horário livre para poder
vê-la à tarde. As duas horas pela manhã já não eram suficiente.
Havia algo em Megan que ainda não conseguia identificar, que o fazia desejar estar ligado a
ele, fazer parte da sua vida, sentir que ela precisava dele, que ela estaria incondicionalmente
disposta para ele, para dar sua doçura, sua proteção, seus beijos, sem uma data de validade, sem
vencimento.
Megan estaria ali para ele sempre, porque ele poderia cuidar dela e ela, em troca, cuidaria
dele, como nenhuma mulher fez antes.
Megan, vacilante, fixava seu olhar em Thor, atraída pela magnética energia que ele
transbordava; porém, voltava rapidamente os olhos para as teclas do piano, não poderia errar,
queria ser perfeita para ele, cantar perfeitamente para ele e ninguém mais que ele, queria dar
tudo o que ele quisesse.
Estar com Thor significava estar em uma luta contínua contra suas inseguranças, inimigos mortais
que cercavam, sussurrando que não era adequada para ele, porque jamais seria suficientemente
linda, sensual ou experiente. Temia, principalmente, que ele o descobrisse e que, quando se desse
conta das muitas mulheres lindas e chamativas que o rodeavam, descobrira como era insignificante.
Sua terapeuta havia sugerido não se apressar em tirar conclusões, nem determinar seu valor em
função do quê ou de quem a rodeava. Tinha pedido para refletir sobre porquê Thor tinha se
aproximado dela.
Era fundamental ter plena consciência de que a tinha conhecido sem artifícios, acrescentá-los,
agora, para fazer de conta de ser alguém que não era para compensar seus conflitos de amor
próprio; poderia desmoronar o que tinham construído os dois até agora.
A voz da sua terapeuta estava ali, sussurrando, todas as manhãs, que não tinha que se definir
por nada no exterior, por isso, um vestido mais sugestivo ou uma maquiagem mais forte iriam
acabar estragando e iria mostrar a Thor uma pessoa que, na verdade, não tinha nada a ver com
ela.
Ao terminar, Samuel tirou a guitarra e deixou de lado; com um sorriso, caminhou até o piano,
sentindo-se orgulhoso de Megan, tocava maravilhosamente bem o piano e sua voz, apesar de não
ser prodigiosa, não tinha desafinado nenhuma vez.
— Foi perfeito — Disse, estendendo os braços, sorrindo e surpreendendo-a. Era a primeira vez
que o via tão efusivo; descobriu que tinha um sorriso lindo, que o fazia parecer mais jovem, mais
humano e, de alguma maneira, mais acessível.
— Obrigada! — Disse ela e, sem conseguir evitar, pulou no pescoço dele, emocionada, sentindo
como ele a levantava, segurando pela cintura.
O abraço e o entusiasmo foram interrompidos pelo som das baquetas caindo sobre um dos
tambores. Eles desviaram o olhar para Thor, que ficava de pé, mostrando-se muito sério.
Thor sentiu que suas orelhas queimavam. Com certeza, produto do calor que estava se
instalando na boca do estômago ao ver Samuel e Megan tão compenetrados. Sua reação
desconcertou tanto ele quanto os outros, tinha algo enroscado na garganta e um forte desejo de
chutar tudo. Saltou do palco, dando um pulo e, em três longas passadas, atravessou uma das
portas laterais, saindo do teatro sem falar nada. Samuel correu para alcançá-lo.
— Thor! Aonde você vai? — Samuel o segurou, confuso, enquanto Megan o seguia, ainda
dentro do teatro, sem poder decidir o que fazer ou como reagir.
— Vou buscar água! — Respondeu, com uma raiva evidente.
— Traga para nós! — Disse Samuel.
Queria rir da cara de Thor, sabia que queria Megan para ele, estava se esforçando para levá-
la à cama, mas ele não iria deixar, não iria consentir que ele a iludisse para, depois, largá-la.
Naquele momento, sentiu o iPhone vibrar no bolso da calça jeans.
— Caralho! — Exclamou ao ver a ligação que estava recebendo do procurador geral. Supunha
que era seu dia livre. — Só um minuto, Megan — Desculpou-se, afastando alguns passos —. Boa
tarde, senhor procurador — Pressionou o queixo entre o indicador e o polegar, preparando-se.
Sabia que era trabalho e estava exausto.
— Garnett…
— Um caso? — Perguntou, com um leve tom aborrecido.
— Sim e leve algo para náuseas, pode ser limão... Um corpo em decomposição dentro de um
tonel, vou passar o endereço. Faz cinco minutos que me ligou William Cooper, sei que é seu dia
livre...
— Ah, que bom! — Disse com ironia. — Pelo menos, o senhor sabe meu horário.
— Bom, não reclame, Garnett, não estão tirando sua virgindade — Disse, sarcástico, para
aliviar a tensão.
— Não, mas também é um chute no saco — Devolveu a brincadeira com sarcasmo. — Já vou
para lá.
— Meu assistente acabou de enviar um e-mail com o endereço e os detalhes do caso.
— Bem, até logo, que tenha uma boa tarde, senhor procurador — A ironia era visível na sua
voz.
— Respire, Garnett — Disse o homem, antes de desligar.
Samuel guardou o telefone no bolso e viu Megan sentada no banco do piano, digitando
rapidamente no seu iPhone. Ele se aproximou e ela parou os dedos abruptamente.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, elevando os olhos e mostrando seus lindos olhos
cinzas.
— Tenho trabalho. Thor irá levar você para casa — Respirou fundo. — Se ele disser coisas
impróprias, você me fale imediatamente.
— Entendido — interrompeu ela com um sorriso, sabia a que se referia Samuel. — Não se
preocupe, Thor é um amigo excelente.
— Está bem — Tirou as chaves do bolso e deu para ela. — Vocês podem voltar com o carro,
eu vou com um dos guarda-costas, o outro fica esperando lá fora.
— Certo... Obrigada por tudo, Samuel. Sei que você tem muito trabalho, realmente sei como seu
tempo é valioso. Obrigada por compartilhar comigo — Disse, levantando-se.
— Não é nada, eu queria ver como você tocava piano e toca muito bem, não pare as aulas —
Aproximou-se dela, passou o braço por cima dos ombros e deu um beijo na cabeça.
— Não vou parar, agora vá — Pediu Megan sorrindo
Samuel, exatamente como fez Thor, deu um pulo para descer do palco e saiu correndo. Ao
chegar à saída, Jackson e Salvatore, um dos guarda-costas de Thor, estavam esperando.
— Jackson, surgiu um caso. Você me leva e Salvatore fica com Thor.
— Sim, senhor — responderam a uníssono, o rapaz concordou e entrou no carro.
O carro já estava em movimento quando Samuel ligou para Thor. Depois de vários toques, a
chamada foi para a caixa postal; ele odiava deixar mensagem de voz, por isso, desligou e ligou
novamente.
— O que foi? — Respondeu seu primo de maneira curta e grossa.
— Thor, surgiu um caso, deixei a Megan sozinha. Por favor, leve-a para casa, mas não quero
que fique seduzindo-a, temos um pacto com ela e você deve cumprir.
— É, dá para perceber que você quer cumprir.
— O que está acontecendo? Foi só um abraço de amigos, algo muito diferente das suas
intenções. Cara, não vou transar com ela e muito menos você. Já falamos sobre isso e não vou
repetir.
— Está bem, vou buscá-la — Fugiu Thor do assunto, ainda com a raiva evidente na sua voz.
— Bem — Finalizou Samuel, de modo seco, desligando a chamada e deslizou os dedos pela
tela, verificando seu e-mail.
— Jackson, vamos até a 8ª Avenida entre as ruas 52 e 53, já falo exatamente onde.
— Sim, senhor.
— Você já comeu? — Perguntou ao guarda-costas, enquanto procurava o número do diretor da
polícia técnica.
— Sim, senhor. Comi na cafeteria do teatro.
— Não vá falar que só comeu sanduíche, porque é tudo porcaria — Os lábios de Jackson
formaram uma linha reta que deu a resposta afirmativa a Samuel, que, divertido, sacudiu a cabeça
várias vezes.
— Garnett, a que horas você vai chegar? Você está se achando a rainha do baile? — Foi esse
o cumprimento do oficial do outro lado da linha.
— Cooper, não me encha, já estou a caminho... Estou ligando porque não estou sem minha
identificação, por isso, peça minha liberação no cordão de isolamento.
— Dois tanques ilegais de nitrogênio no maldito Lamborghini e você ainda não chegou —
Samuel escutou sons irreconhecíveis de pessoas se movimentando com pressa. — Não acredito que
enfiou o cara aí! — Soltou Cooper, enojado com a putrefação que inundava suas fossas nasais.
— Espere, deixe-me pensar... Porque não estava na esquina! — Sorriu secretamente Samuel. —
Se nós o pegamos, deixo você fazê-lo pagar, tudo cabe no interrogatório, chego em uns dez
minutos.
— Bem, seja rápido Garnett.
Megan se comunicou com Thor várias vezes por mensagem instantâneo, mas não recebeu
nenhuma resposta e já começava a ficar angustiada, com vontade de chorar e sentia que o nó na
garganta a sufocava. Precisava se distrair de alguma maneira o acabaria fazendo algo que,
definitivamente, não iria beneficiar ninguém.
Ansiosa, começou a caminhar pelo recinto, observando fixamente, pela primeira vez, desde que
entrou naquela manhã, subiu as escadas centrais e entrou nas cadeiras de veludo vermelho,
sentando-se no centro do lugar, de onde podia observar tudo; tentou se concentrar nas bonitas
cornijas de madeira escura que rodeavam o teto abobadado, pintado completamente com belos
desenhos geométricos em tons granada, que se estendiam como labirintos cúbicos, dava a
impressão de estar em outro tempo, suspenso entre os anos setenta e um futuro desconhecido.
Porém, Thor voltou obsessivamente a sua cabeça e a impaciência tomava conta dela mais uma vez.
Até que o viu entrar com uma garrafa de água na mão. Seu semblante mostrava que não era o
mesmo rapaz radiante de sempre. Tinha que admitir, embora fosse estranho, que, muito no fundo,
gostou mais ainda de vê-lo com a testa franzida, aquela seriedade alterava drasticamente suas
pulsações, expandindo-se repetidamente em todo o seu corpo.
— Tome — Entregou a garrafa com indiferença e se sentou ao seu lado.
— Obrigada — sussurrou Megan, abrindo a garrafa, deu um pequeno gole e tampou
novamente. — Aconteceu alguma coisa, Thor? — Perguntou com a angústia aumentando na sua
garganta, mas como resposta, só recebeu o silêncio e ela não encontrou mais palavras, não
conseguiu fazer outra coisa a não ser ficar olhando seu lindo perfil, enquanto ele concentrava seu
olhar furioso no palco. — É pelo meu comportamento? —Tentou, novamente, mas ele continuava em
silêncio. Nem sequer se atrevia a olhar para ela e a serenidade que, em princípio a tinha cativado
agora só a machucava. Sentiu vontade de chorar, as lágrimas subiam pela sua garganta e tentou
segurar. Sabia que não conseguia continuar brigando com elas, sua única opção era fugir dali.
Sabia bem que final feliz só existia nos estúpidos contos de fadas, estava bem claro que a
felicidade não era para ela. Tinha que supor que, no seu caso, a felicidade era efêmera, que
ninguém a queria ao seu lado. Não era nada além de um estorvo para o seu pai, para sua mãe a,
agora, também para Thor.
Apoiou suas mãos no descanso de braço para se levantar, disposta a sair correndo dali; então,
sentiu a mão de Thor pegar seu pulso, segurando, mas ainda sem olhar para ela.
Tão rápido quanto um piscar de olhos, sentiu a mão de Thor se apoderar de sua cintura,
puxando-a com uma força desnecessária para perto dele; não pediu permissão, só a beijou. Não
houve preâmbulos, nada de olhares, nem sequer toque de lábios, não houve palavras carinhosas,
só ele devorando sua boca, com um desespero até então desconhecido para ela. Era realmente
difícil para ela acompanhar o ritmo do beijo, enquanto a língua dele penetrava na sua boca, com
precisão e força, abraçando-a à dela, invadindo suas próprias sensações, cada vez que a língua
de Thor empurrava a sua, roçando e remexendo. O beijo era violento e exigente, ela a estava
reclamando, marcando-a como sua.
Seus lábios doíam, sua língua ardia, mas estava adorando e também ficou desorientada,
começou a se sentir fraca, muito fraca, com medo de desmaiar pela falta de oxigênio. Sentia que
iria escorrer do assento e acabaria inconsciente no chão e, quando tudo ficou preto, estando a um
segundo de desmaiar, ele abandonou sua boca, ela, com os olhos ainda fechado, inspirou todo o
ar possível para encher seus pulmões e um sorriso que demonstrava como estava extasiada tomou
conta dos seus lábios.
— Megan, não quero que você se comporte assim de novo com Samuel... Com Samuel, não…
não quero — A voz sufocada de Thor demonstrava o esforço investido no beijo e preferiu parar
antes de dizer que não queria compartilhá-la com seu primo, que tinha encontrado a mulher que
não desejava compartilhar, aquela que queria só para ele, porque a sensação que o havia
dominado ao vê-la com outro tinha sido extremamente devastadora. — Por favor — Pediu e
novamente procurou seus lábios.
Mas antes de ele pudesse beijá-la, foi ela quem o beijou, entregando-se a ele no meio do beijo,
ficando de pé, sem separar sua boca da dele, impregnando-se com aquele desespero que também
o dominava. Mordia seus lábios e não se importava se estava bom ou não, gostava dessa sensação
dos lábios dele entre seus dentes, o simples contato primário de suas bocas, a técnica era o de
menos, só queria sentir e senti-lo.
Megan se sentou sobre as pernas de Thor, passando os braços em volta do pescoço, deixando-
se levar pelas palpitações enlouquecidas que tinham se apoderado do seu corpo, daquela
sensação indescritível que nascia no seu estômago e se expandia por todo seu ser, evadindo o
pudor que, lá no fundo da sua mente, dava sinais porque começava a umedecer sua calcinha, mas
se fez de surda, não deixaria de se entregar à loucura que a percorria, àquela adrenalina que a
enlouquecia.
Thor não conseguia se controlar ao sentir Megan tão atrevida e entregue, suas mãos não
entendiam as razões quando começou a percorrer o corpo magro da garota. Introduziu suas mãos
embaixo da blusa e sentiu a pele quente e trêmula, percorreu o abdômen e subiu, sem fazer caso
às contenções, até posar uma de suas grandes mãos sobre o peito direito. Megan estremeceu
violentamente ao senti-lo, ele fechou a mão e massageou, era pequeno, talvez o menor que já teve
na sua mão e era o corpo de Megan contra sua pele; era perfeito.
A descarga elétrica que sentiu na barriga foi mais poderosa que qualquer uma que tinha
sentido com mulheres maiores, muitas delas cheias de silicone. A pele de Megan ainda estava
coberta pelo sutiã, não queria imaginar o que sentiria ao ter entre os dedos seus mamilos, brincar
com eles, acariciá-los, levá-los à boca, profaná-los e convertê-los em um altar para ele.
Ela gritou seu nome várias vezes e ele, com sua mão livre, abriu espaço na calça jeans até tocar
a suave pele da nádega esquerda. Megan gemeu, deixando-o sedento, ele a desejava, tinha
rompido todos os seus recordes em dar tempo, mas já não aguentava mais, não conseguia, sentia
que ia explodir. Seu sangue circulava muito rápido pelas suas veias, nunca tinha desejado tanto
uma mulher, nunca tinha se sentido tão excitado.
— Megan, quero que… — interrompeu-se com a voz fragmentada pelos gemidos. — Eu desejo
você — murmurou roucamente olhando em seus lábios.
— Eu quero — gemeu Megan. — Ser sua mulher... Thor, me faz saber o que se sente — Disse,
fazendo palpitar quase dolorosamente seu pênis embaixo da calça. — Quero sentir você, não
quero esperar mais, não quero — disse sufocada, entre as milhares de sensações que borbulhava
nela, sentia sua pele extremamente quente, era como se fosse pegar fogo.
Nunca tinha imaginado perder a virgindade na cadeira de um teatro, imaginou velas, rosas...
Era uma sonhadora romântica, mas agora não queria perder tempo. As velas, as rosas e as
músicas lentas não mudariam em nada o que sentia; portanto, sem titubear, levantou a camiseta
cinza que Thor usava, roçando as costas de Thor com os dedos. A pele de Thor fervia. E pensava
que ela estava quente, ele reduzia sua temperatura a uma simples febre.
Sentou-se comodamente em cima dele, apoiando-se com seus joelhos na almofada e sentiu a
ereção, seu corpo ganhou vida e começou a dançar enquanto tirava por completo a camiseta. Ele
era maravilhoso, era aço em estado puro, loiro e lindo aço; os poucos pelos no seu peito brilhavam
na frente dela, deixando-a encantada. Um longo gemido escapou de sua boca quando ele levou
suas mãos e agarrou no seu quadril, fundindo-a contra sua pélvis, deixando-a imóvel. E foi então
que Thor começou a se esfregar nela, mordendo os lábios e, em seguida, olhando nos seus olhos
enquanto se balançavam embaixo do seu corpo.
O perturbador e desconhecido toque mandava densas ondas de prazer desde o centro de suas
pernas até o resto do corpo, gemeu alto e suas coxas ficaram tensas, apertou sua pélvis contra
Thor e algo nela explodiu, concentrando as batidas do seu coração na sua barriga. Os gemidos
foram se sucedendo, incontroláveis, dramáticos e escandalosos.
Vermelha e aturdida, voltou à excitante realidade, sendo liberada da espessa nuvem de prazer
que a tinha absorvido.
— O quê? Meu Deus! — Exclamou, com o peito a ponto de explodir e muito vermelha pela
explosão que tinha experimentado no seu interior.
— Você se molhou, Megan… é normal, é normal — Disse Thor, abraçando-a, possessivo e
deleitado no seu prazer. Ela não tinha guardado nada, absolutamente nada e isso o deixou louco.
Claro que estava molhada, não era a primeira vez que tinha um orgasmo, mas jamais tinha
experimentado com algo além da sua própria e solitária companhia e nada se comparava àquilo.
Queria mais, queria repetir aquelas vibrações que a deixaram sem ar, reviver o momento em que
tudo desapareceu e sua barriga se contraiu de modo violento, fazendo com que os dedos dos pés
ficassem tensos e seu corpo tremesse sem controle. Sentiu Thor beijando seu pescoço, os suspiros
escapavam enquanto, com as mãos trêmulas, desabotoava a blusa, esquecendo do momento de
pudor, só queria sentir, queria que ele a acariciasse sem nenhuma barreira.
No momento em que Thor pegou o botão da calça jeans, as luzes do recinto acenderam,
interrompendo o desejo dos dois, sentindo a luz como um balde de água fria e uma descarga de
adrenalina tomou conta. Com movimentos desajeitados tentaram recompor suas roupas, mas os
nervos infantis se apoderaram dos dois, deixando os dedos bobos e ineficientes.
— Esquecido engenheiro na cabine. Eles nos viram! Que vergonha! — Disse Megan com voz
vibrante e completamente vermelha.
— Garanto que não nos viram — Acalmou Thor. — Não dá para nos ver do palco, com certeza
vão pensar que fomos embora, mas não devem demorar para entrar — Disse, colocando a
camiseta cinza.
Trêmulos pela excitação que ainda os percorria, ficaram de pé e desceram as escadas, de
mãos dadas, quase correndo.
Estavam nos dois últimos degraus, quando uma das portas abriu.
— Já estamos indo, meu primo acertou o envio dos instrumentos ao apartamento — A voz de
Thor mostrava as emoções que ainda o golpeavam, tentando colocar Megan na sua frente, para
que não vissem sua ereção muito evidente.
— Sim, senhor. Na verdade, vamos levá-los imediatamente — respondeu o rapaz com
naturalidade, deixando claro que não tinha visto nada do espetáculo para adultos em terceira
dimensão.
— Bem, muito obrigado por tudo — Despediu-se, pegando Megan.
— Obrigada — Megan conseguiu articular, enquanto seu namorado a tirava dali.
Ao chegar ao corredor, começaram a correr e a rir como crianças emocionadas pelas
travessuras que tinham feito. Entreolharam-se brevemente, concordando em silêncio que iriam a
outro lado para terminar o que tinham começado. Porém, seus desejos foram freados
abruptamente quando Salvatore os esperava na entrada; entraram no Lexus e o homem os levou.
Sem fazer perguntas, nem esperar ordens, dirigiu-se até a casa de Megan Brockman, onde Thor
teve que deixá-la contra sua vontade, mas se conformou com os vários beijos castos na frente do
guarda-costas, que já tinha sido advertido para não falar nada para seu primo.
CAPÍTULO 5

"O homem saudável não tortura os outros, em geral, é o torturado que se converte em torturador."
Karl Gustav Jung

Henry Brockman estava no escritório tentando revisar as faturas dos cartões de crédito de Megan
e Morgana, mas Rachell não saía da sua cabeça e não o deixava se concentrar. Desejava a
garota cada vez com mais intensidade, sua recusa só avivava nele a vontade de possuí-la, não só
imaginava constantemente como seria tê-la embaixo do seu corpo; Rachell também tinha invadido
seus sonhos, excitando-o durante as noites e levando-o à odiosa frustração de ter que se
conformar com sua esposa.
Precisava encontrar uma maneira para ela o aceitar, que desse a oportunidade que desejava, o
único impedimento era o imbecil do procurador. Sem ele, tudo teria sido diferente, tinha certeza
disso; tudo teria sido diferente até ele aparecer em cena.
Naqueles dias, ela aceitava sua proximidade, de fato, tinha se insinuado, e ele, por querer ser
um cavalheiro, decidiu não pressionar, queria curti-la lentamente, tal como se curtem as melhores
coisas da vida. Agora ela parecia estar em algum tipo de relacionamento com o advogadinho de
quinta categoria, mas ele iria encontrar um jeito de chegar nela. Toda mulher tinha um preço ou,
pelo menos, algo por que se trocar, um ponto fraco sobre o qual exercer sua pressão. Rachell não
seria exceção. Evidentemente o dinheiro agora não estava importando, mas encontraria algo para
pressionar, deixá-la encurralada e tê-la só para ele.
Precisava começar a fuçar o seu passado. Talvez fazer uma viagem a Londres e se encontrar
com seu ex-namorado Richard Sturgess. Iria encontrar a maneira de arquitetar um plano em que o
britânico não pudesse recusar um improvisado reencontro e, se não conseguisse nenhuma
informação proveitosa, iria mais fundo, talvez averiguaria detalhes da sua família em Las Vegas.
Rachell Winstead se movia pelo mundo como se estivesse sozinha, como uma sombra sem
passado, portanto sabia que escondia algo deliberadamente e isso só significava uma coisa: esse
era seu calcanhar de Aquiles.
Naquele momento, uma soma realmente exagerada na fatura do cartão de Morgana afastou
imediatamente Rachell da sua cabeça. Desconcertado, viu como um gasto depois do outro parecia
ser mais exorbitante que o anterior. A maldita mulher estava gastando muito dinheiro.
Deixou as faturas da esposa e pegou os de Megan. Ela, ao contrário da sua mãe, parecia ter
reduzido consideravelmente os gastos, talvez estivessem saindo juntas com mais frequência. Mas
Henry Brockman não era um homem de suposições, ele sempre ia a fundo em tudo para ter
certeza, por isso, pegou o telefone e ligou para casa, no terceiro toque, Lúcia atendeu.
— Boa tarde, residência Brockman.
— Lúcia, passe para Morgana — Pediu sem nem cumprimentar a empregada.
— Desculpe senhor Brockman, a senhora Morgana não está.
— Onde ela se meteu? — Reclamou.
— Não sei senhor, só me disse que voltaria em algumas horas — respondeu a mulher com
precaução.
— Bem... Obrigado — Desligou e ligou para o celular da esposa. Ligou três vezes, mas todas
as tentativas deram direto na caixa postal.
Se tinha algo que o irritava era que não atendessem suas ligações. Soltou um forte suspiro e
desligou com mais força do que necessário, enquanto revisava cada compra que a mulher tinha
feito, três delas em lojas de roupa.
— O que tanto essa maldita mulher compra? — Renegou, esfregando a testa com uma das
mãos.
Depois de vários minutos, tentou falar de novo com sua esposa e, na segunda vez, escutou a voz
quase infantil da sua mulher.
— Onde é que você se enfiou que não atende esse maldito telefone? — Reclamou inflado.
— Ocupada, Henry, supõe-se que, se não atendo, é porque estou ocupada — respondeu com
desdém.
— Espero que sim e que não esteja esvaziando as prateleiras de outra loja... Você saiu com
Megan entre a semana passada e esta?
— Não, ela está ocupada com as provas, mal chega e já se fecha no quarto para estudar,
minha filha quer os sapatos Loubutin, Henry — Disse com voz risonha.
— Então isso quer dizer que você gastou sozinha quase uma fortuna neste mês? Estou revisando
as faturas, Morgana. Pelo amor de Deus! Não é possível. Com o que você gastou tanto? Vou ter
que limitar seu cartão.
— Henry, não seja pão-duro, só gastei um pouco mais, porque comprei alguns vestidos para a
festa do branco da Georgina. Você sabe que eu não gosto de comprar só um. Posso mudar de
ideia na última hora.
— Gastou tudo isso em alguns vestidos?
— Está bem, comprei também uma bolsa, sapatos e alguns acessórios. Satisfeito? Agora tenho
que ficar dando explicações dos meus gastos? — Perguntou, abafando a risada no telefone.
— E você fica tirando sarro de mim? — Reclamou Henry bravo.
— Não estou rindo de você... Quando você chegar em casa, conversamos melhor. Agora estou
ocupada, fazendo o pé com aqueles peixinhos que comem a pele morta e me fazem cócegas —
Sem esperar resposta, ela desligou e jogou o telefone no tapete, retomando os movimentos em
cima do seu amante, com quem tinha gasto o dinheiro renovando o guarda-roupa. O rapaz era
doze anos mais novo que ela, tinha que mantê-lo satisfeito em todos os aspectos.
Henry teve que desligar e deixar de lado as contas que estavam causando uma terrível dor de
cabeça. Estava cansado e insatisfeito com sua vida diária. Tinha que tirar algum peso de cima,
encontrar um sonho que o motivasse dia e noite e sabia que esse sonho tinha o nome de Rachell
Winstead. Entre ele e ela, parecia que algo tangível se interpunha e ele tinha a maldita solução;
faria o que fosse para ter a estilista na sua cama. Mas, de momento, precisava de uma satisfação
imediata para seu corpo. Pegou o telefone de novo e ligou para o departamento de marketing.
— Laurel, venha ao escritório.
— Já estou indo, Henry — A garota não duvidou nem um segundo em responder. Sabia para
que seu chefe estava chamando e ela simplesmente desejava passar cada minuto do dia com ele.
Tinha se apaixonado, mas era obrigada a ter uma relação clandestina. Algum dia, ele cumpriria
as promessas que faziam enquanto estavam juntos. Era o homem com quem sempre sonhou,
inteligente, seguro de si, maduro e, além de tudo, bonito. Mas a perfeição não existia, por isso, ele
tinha o pequeno defeito de ser casado. Naquele momento, não se importava, porque sabia que
Henry a amava e era a única coisa que realmente importava.
****

Samuel já estava há mais de quinze dias rastejando na escuridão, camuflando-se na penumbra


como a pantera em que praticamente se convertia. Embora sua roupa preta fosse ideal para
mantê-lo escondido, a ansiedade lutava por vencer, porque, com os irmãos, não tinha sido tão
rápido como foi com o maldito Sean Herdey, que ainda estava se recuperando no hospital.
Mas sua espera tinha valido à pena, tinha ganhado dois por um. Ao vê-los juntos, seu ódio o fez
sair do beco onde estava e enfrentar os dois ao mesmo tempo, mas a razão o advertia para não
fazer isso, não podia se expor. Mandou para o inferno o inconveniente raciocínio e se armou com
uma corrente de meia polegada de espessura e quase dois metros de comprimento. Verificou se a
Beretta 92 de nove mm estava com cartucho, pendurou-a novamente na parte de trás da calça
jeans preta e caminhou, cedendo à energia que o consumia.
O peito subia e descia visivelmente diante do influxo da respiração e a adrenalina que
percorria sem parar. Saber que estava a ponto de cobrar parte da sua dívida o satisfazia de
alguma maneira. Aquele ódio que sentia pelos homens desprezíveis que estavam a alguns passos
dele era muito forte para não curtir o fato de estar fazendo dano a eles. Eles tinham sido o centro
da sua vida, a razão pela qual era quem era hoje, eles o tinham formado, eles e as lembranças
que ainda o atormentavam, mas que também o fortaleciam.
Tinha esperado dezoito anos para chegar nesse momento. Se dissesse que se arrependia do
que tinha feito a Herdey, estaria mentindo descaradamente. Ver o sofrimento do homem deu a ele
grande satisfação e, de certa maneira, começou a temer dele mesmo, porque sabia que tinha que
se controlar para quando chegasse a hora dos irmãos Borden.
Samuel apareceu na frente deles com a balaclava preta cobrindo o rosto e a corrente de um
lado, arrastando no asfalto, fazendo um barulho metálico constante e macabro. Um deles saiu
correndo; o outro foi menos covarde e quis enfrentá-lo, mas o brasileiro não queria que nenhum
escapasse, por isso, ignorou o primeiro, soltou a corrente e começou a perseguição. Não demorou
muito para alcançá-lo, seu preparo físico e sua idade o colocavam em vantagem. Derrubou-o
rapidamente e arrastou-o a chutes até onde o outro tinha se armado com a corrente que Samuel
tinha deixado no chão.
Bruce Borden, ao ver que o homem mascarado batia no seu irmão, saiu em sua defesa e deu
uma chicotada de aço nas suas costas. Samuel gemeu de dor, mas aproveitou a oportunidade de
ter os dois no mesmo lugar. Pegou a corrente e enrolou a ponta no seu braço antes de o homem o
encontrar novamente, com agilidade puxou com força, fazendo-o cair de bruços, ele rapidamente
se levantou e correu até ele, mas antes de estar muito perto, caiu de joelhos no chão ao ver como
Samuel apontava a arma para ele.
— Se você se mexer — falou em voz baixa, inclinando a cabeça. — Você morre — advertiu,
apontando a arma para ele, enquanto chutava o irmão que tentava se levantar, deixando-o sem
ar.
Olhou para o homem que estava na sua frente, com o ódio crescendo a cada segundo,
desejava agarrá-lo e devolver todo o sofrimento, devolver o maldito golpe que acabava de dar e
que martelava penetrante no lado esquerdo das costas, dificultando a respiração. Mas isso, para
Samuel, não seria um impedimento, olhou nos olhos intensamente, fazendo que o homem se
concentrasse nele. Depois, olhou para o chão e o olhar do homem seguiu o seu. Nesse momento,
Samuel correu como uma bala e deu uma joelhada, tirando o ar e deixando-o debilitado.
Desejou triturá-lo socos até matá-lo, mas uma bofetada parecia ser muito mais pertinente em
honra às lembranças. Com a mão aberta e a parte interna das articulações de aço, partiu a boca.
O homem aturdido começou a se queixar e Samuel deu um soco igual do outro lado do rosto.
Outra vez, perdeu o controle, e foi uma bofetada atrás da outra, várias vezes, até que jatos de
sangue saíssem da boca do homem que, em uma inútil tentativa de se defender, quis chutá-lo para
afastar, mas, com isso, só conseguiu deixá-lo mais enfurecido. Samuel devolveu o chute, fazendo-o
cair de bruços no chão. As vozes de pessoas que se aproximavam deixaram-no em alerta, chutou
o homem no peito mais uma vez, pegou a corrente e correu até o beco onde tinha deixado a moto,
subiu e saiu do lugar.
Ao chegar no apartamento, já no meio da madrugada, sentia a dor nas costas torturando-o.
Entrou no banheiro enquanto tirava a roupa, sem notar o golpe, suspeitava de fratura em alguma
costela, mas não podia ir a um hospital. Por isso, teve que se conformar com uma ducha de água
quente, passou lidocaína em spray e tomou uns remédios para inflamação e dor.
Com cuidado, deitou na cama. Olhando para o teto, sabia que cada vez faltava menos, agora
tinha que esperar um pouco mais, só um pouco mais e descartar qualquer denúncia por parte dos
homens que tinha agredido. Depois agiria, esperava que não fossem necessárias mais de três
semanas para dar o primeiro golpe contundente.
Acabou dormindo, sendo novamente atormentado pelo pesadelo que sempre se repetia desde
que tinha oito anos e que, embora quisesse acordar e deixá-lo para trás, nunca conseguia, o
tormento do sonho ia até o final.

— Sam! Primo… — Escutou a voz de Thor e, em seguida a inquietação, esforçando-se para sair
daquele sonho em que se encontrava. Ficou surpreso ao abrir os olhos e ver que já era dia e os
raios de sol entravam no quarto.
— Que horas são? — Perguntou, incorporando-se quase violentamente.
— Quase meio-dia — respondeu Thor, sentando na cama e pegando o controle remoto da
televisão.
— Merda! O que você está fazendo aqui? E por que não me acordo de manhã? — Saiu
rapidamente da cama e o olhar de Thor foi direto nas suas costas. A dor repentina o fez lembrar
do golpe nas costelas.
— Hoje é sábado, você não trabalha, eu também não. Acho que você está um pouco fora de
órbita. Que porra aconteceu aí nas suas costas? — Perguntou horrorizado ao ver o hematoma que
tinha formado e que cobria sua tatuagem.
— Nada, só caí — Deu a sua melhor desculpa.
— Claro… Já que você é idiota mesmo — acusou sarcástico, sem acreditar na mentira
improvisada. Samuel não era de sair caindo por aí.
— Escorreguei, bom, se não acredita, não me importo — Defendeu-se, sentindo-se encurralado.
Saiu do quarto e foi para o banheiro, ao se olhar no espelho, entendeu a cara de Thor. — Filho da
puta — murmurou, odiando ainda mais o homem.
Entrou no chuveiro e, minutos depois, saiu em direção ao closet e procurou uma roupa informal.
— O que você vai fazer hoje? — Perguntou Thor, que mudava de um canal para outro sem
prestar atenção em nenhum programa na televisão.
— Não sei... Que planos você tem para hoje?
— Nada importante, mas com esse hematoma, não tem muita coisa que você possa fazer —
Disse, de novo, Thor. — Às 2:40, os Mets jogam contra os Royals, ligue para Collins e peça que
guarde lugar no camarote — Pegou o iPhone de Samuel, que estava em cima do criado-mudo e
jogou para ele. Samuel pegou com habilidade—. Se quiser, convidamos Megan e Rachell.
A proposta de Thor teve um olhar fixo de Samuel e parou de ligar ao gerente do Mets.
— Você acha que estamos no colégio? — Perguntou, finalmente, depois de olhar para ele por
mais de um minuto. — Claro, Rachell vai com a gente, vá sonhando.
— Você ainda não falou com ela? — perguntou Thor surpreso. — O que está acontecendo com
Samuel?
— Tentei, mas só piorei a situação... E você poderia parar de se envolver com Megan? Já falei
para você ficar longe dela, envolver-se só o estritamente necessário. Pobre de você se eu souber
que está tentando seduzi-la — advertiu, sentando na cama, enquanto colocava seus Converse.
— E você poderia parar com essa maldita obsessão com Megan? — Bufou Thor bravo. — Já
sei tudo dos seus problemas, aceite, primo, eu também posso ser seu amigo, também sei escutar...
Não penso só com a cabeça debaixo... Agora, me dê um minuto e vai ver como Rachell vem
conosco — Disse pegando o celular de Samuel.
— Você não vai ter sucesso, ela não vai atender — Disse, pois já tinha tentado várias vezes e
todas as tentativas caíam na caixa posta, deixando-o muito frustrado.
— Nesse caso, se ela odeia tanto você, é bem merecido; vou usar outro número — Girou meio
corpo e pegou o telefone fixo. — Fale o número de Rachell — Pediu fazendo cara feia, Samuel
disse, sem ter que olhar no celular. Impressionado, Thor fez uma careta fingindo surpresa ao ver
que, de fato, ele sabia o número de cor, depois, soltou uma gargalhada sarcástica e descarada. —
É ela que está deixando-o louco... Merda! Isso é amor, tem que ser amor. Samuel Garnett saber de
cor o número de telefone de uma mulher não é coisa deste mundo.
— Por que você não vai rir da sua mãe? — Disse, ficando de pé e indo até a porta do quarto.
— Porque mi mãe não me interessa... Ela não é tão divertida — Provocou e soltou outra
gargalhada. Ao ficar sozinho, ligou para Rachell, sabia perfeitamente quais métodos usar para
convencer a garota, estava começando a gostar do papel de cupido entre a estilista e seu primo.
CAPÍTULO 6

O Citi Field, estádio dos Mets de Nova Iorque estava totalmente cheio. A alegria do público era
uma amostra da adrenalina que os embargava ao ver a equipe jogar em casa e os primos
Garnett, na companhia de Megan Brockman, estavam no camarote à espera do início da partida.
A jovem de olhos cinzas, estava no meio dos rapazes com seu boné autografado e realmente
emocionada. Gostava de fugir com eles, porque nunca tinha saído com homens, seu pai não
permitia. Não era em vão que era motivo de brincadeiras na universidade e, embora não fosse
apaixonada por beisebol, pelo menos entendia e o que realmente curtia era estar ao lado do seu
namorado, que a estava enlouquecendo com sua colônia e com aquela beleza rude que tinha.
Só o olhava de canto de olho e, em alguns momentos, o tocava casualmente porque tinha que
disfarçar na frente de Samuel. Não estava gostando disso, queria poder abraçar e beijá-lo.
Inevitavelmente, mordeu o lábio inferior e abaixou os olhos aos joelhos ao lembrar que esteve a
ponto de se converter em sua mulher, sentindo como a excitação nascia nela.
Thor tinha consciência de cada movimento de Megan, por mais leve que fosse, e ele estava da
mesma maneira. Aproveitou a propaganda que ajudaria na sua tarefa, já que acabaria enchendo
os ouvidos de Samuel, por isso, aproximou-se dela e, muito perto do ouvido, sussurrou.
— Ainda estou xingando o engenheiro de som — Aproveitou e mordeu suavemente o lóbulo da
relha da garota, que vibrou integralmente.
Talvez se Samuel não tivesse ficado tão concentrado no aquecimento da equipe, teria percebido
a atitude do seu primo com Megan ou, com certeza, era o que queria fazer, já que só pensava que
Rachell não tinha ido e, pela sua visão e estado de alerta estavam vetados; sabia que Thor tinha
tentado convidá-la, tinha certeza disso e ela era tão orgulhosa que tinha recusado o convite.
Ele não era um ser inseguro, nunca tinha sido, mas esta mulher estava começando a fazê-lo
sentir o que sentia e tinha que admitir que não era nada agradável. Esse vazio, essa agonia e
esperança misturados no seu peito; emoções contraditórias que o guiavam e o faziam enfurecer
com ele mesmo.
Estou sendo um imbecil — se disse mentalmente. — Merda! Saia de uma vez por todas da minha
cabeça — Soltou um suspiro e se reclinou no assento, cruzando os braços sobre o peito, sentido a
dor bater lentamente do lado esquerdo, cada vez que respirado, instalado como Rachell na sua
cabeça, poderia dizer que ela também começava a doer.
— Primo, mexa-se… Samuel — Pediu Thor, tirando-o abruptamente dos seus pensamentos,
encontrando-se de pé e, atrás dele, estava Rachell. Ao vê-la, seu coração parecia dar um home
run fora do peito, era fodidamente linda, deixava-o louco, tinha que admitir, embora ela não
mostrasse nenhuma emoção. Sempre tinha gostado de desafios, mas Rachell começava a ser algo
quase impossível. Ou era ele que tinha perdido suas faculdades? Ela tinha tirado sua segurança e
se supunha que tinha que tirá-la do seu entorno, afastá-la dele, mas essa parte que se resistir
estava ganhando o jogo.
Já não lutaria mais, por isso, não queria se afastar, tirá-la de sua vida. Ele vai ficar com Rachell,
transará com ela todos os dias, a toda hora porque a deseja como um náufrago deseja a orla e,
se alguém chegar a tocar um fio de cabelo, terá que arcar com as consequências. Ia se arriscar,
para tê-la ao seu lado e protegê-la, só estava esperando que ela permitisse, porque o obstáculo
maior era a teimosia dela.
Só não olhe para ele, Rachell, não olhe — se dizia, enquanto cumprimentava Megan, que estava
sentada ao lado de Samuel. Algo muito estranho, realmente muito estranho formigou pelo seu
corpo; era uma sensação de incômodo e desconfiança ao ver a garota tão perto do homem que a
perturbava, lembrando quando ela disse que ele estava "Gostoso", estava claro que gostava dele.
E que não perderia a oportunidade.
Foi uma imbecil ao aceitar o pedido de Thor, mesmo quando ele disse que o fazia por ele, bem
lá no fundo, era mentira e sabia. Só queria ver Samuel, ver aqueles olhos cor de fogo que, cada
vez que olhavam para ela, incendiavam sua pele e consumiam a alma, estranhava as sensações
que seu corpo experimentava cada vez que estava perto, aquele palpitar enlouquecido, aquele
frio na barriga, sensação esta que tinha se instalado desde o momento em que o conheceu e só ele
conseguia.
Aquele quase sorriso que sempre se obrigada a controlar e como sua vagina, desde que o
sentiu entrando, irrompendo com insistência e maestria, mandava sinais de que o desejava, de que
queria sentir o toque e as diferentes texturas tocando nela com a sincronia perfeita, o peso do seu
corpo, algumas vezes divinamente sufocantes e outras, perfeitamente equilibrado. Sonhava em
sentir todas as suas carícias, as ternas, as possessivas e até as sujas, aquelas que não pediam
licença e surgiam em lugares que nunca tinha se atrevido a nem sequer se tocar, mas despertando
prazeres que deixavam lágrimas presas na garganta.
E a pele queimava de temperatura ao saber que tudo isso era o que Megan estava querendo e
ela não queria que fosse assim. Não queria uma pressão tomou conta do seu peito e que
dificultava a respiração, mas, além de todo esse desejo que a congelava e tentava governá-la,
havia o orgulho. Por isso, juntou toda sua força para se mostrar segura, impassível e que ele não
tinha o poder de descontrolá-la com seu olhar, que não estava ficando nervosa, que seus olhos não
era os do fodido Merlin para hipnotizá-la.
— Oi, Rachell — cumprimentou Samuel com um meio sorriso, só levantando o canto direito da
boca, e ela agradeceu por ter decidido ir de calça jeans e não de saia porque, se no meio do
estádio, tivesse visto sua tanga preta, ela acabaria no tornozelo.
Sim, tinha homens com esse poder. Sophia já tinha falado isso e sempre tinha falado que não.
Ela garantia que não existiam mortais que, com apenas olhares e sorrisos, poderiam fazer você
abaixar a calcinha e abrir as pernas como se fosse um feitiço... Bem, engolia suas palavras e
admitia, Samuel Garnett tinha esse maldito poder.
— Boa tarde, procurador — Sua voz estava quase rouca, por tudo o que girava dentro dela.
Um grande turbilhão de desejo que queria esconder e algo que poderia dizer era certa raiva em
vê-lo ao lado de Megan, foi o resultado para que sua atitude parecesse fria.
Thor e Megan se olharam fugazmente ao perceber a tensão entre eles. O loiro pensou que,
depois de tudo, não tinha sido boa ideia convencer Rachell, a milhas de distância se notava que
estava incomodada de estar ali e que se tinha ido era para mostrar que ter terminado a relação
com Samuel não afetada a amizade entre eles.
Rachell não tinha nada mais a dizer, por isso, sentou no meio de Megan e Thor, deixando a filha
de Brockman do lado de Samuel, como tanto desejava. E esse calor na boca do estômago,
enquanto a ideia se formava na sua cabeça, faziam sentir-se instável, tanto que fazia um esforço
extremo para não ir embora, ou melhor, ainda não, para não o socar, porque era um
descaramento total, odiava Henry, mas seduzia sua filha. Mas é muito imbecil!
— Thor, posso mandar uma mensagem? Fiquei sem bateria — Disse Megan, tentando encontrar
uma maneira de ficar mais perto do seu namorado. Além de querer evitar ser a frente de batalha
da terceira guerra mundial. Que tensão havia no ambiente.
— Sim, claro — Disse, procurando o iPhone no bolso da calça jeans.
— Rachell, desculpa, pode me dar um minuto, posso sentar no seu lugar por um segundo —
Pediu, com toda a inocência que tinha.
Não restou outra opção à estilista a não ser amável e fazer o que a garota pedia, embora
admitia que, com aquelas palavras, a sensação de incômodo diminuiu um pouco. Estar mais perto
de Samuel e não o tocar era uma tortura, mas se fosse um inquisidor da Idade Média não a
obrigaria a tocar-se.
Megan se sentou ao lado de Thor e deu uma piscada com malícia e roçava os dedos ao pegar
o celular, digitou rapidamente, deixando a mensagem para que seu namorado visse.
Ele pegou o telefone e leu: Parecem tontos, Samuel se comporta como um moleque. — Thor
não conseguiu segurar o sorriso e digitou a resposta.
Mais que isso, é um completo imbecil, não posso fazer mais nada. Não vou tirar o trabalho
do Cupido, mas eles não me interessam... estou sofrendo por você, Megan, quero beijá-la
agora mesmo, neste instante.
Os olhos da garota brilharam quando ela leu a mensagem de Thor e sua excitação a fez
queimar por dentro, queria responder, mas seus dedos tremiam muito, ela vibrava inteira, até que
conseguiu.
Bom, então vamos dar uma escapada. Quero comprar alguns beijos. —Foi a resposta que
Thor leu na tela no seu iPhone.
Para você, serão grátis. —Assim que Megan leu a resposta, a voz de Thor rompeu o silêncio.
— Rachell, quer algo? Primo, quer alguma coisa? Vou antes que comece a partida.
— Não quero nada, estou bem assim — respondeu Samuel como o olhar para frente, sentindo-
se irritado com a indiferença de Rachell.
— Obrigada, Thor, mas não quero nada agora — A voz amável de Rachell com Thor deixava
claro que era sincera.
— Precisavam de uma boa trepada para tirar a cara de bunda que dos dois — murmurou
Thor para ele mesmo, quase entre dentes. — Bom, como queiram — Disse com um sorriso e em um
tom de voz claro, agregou. — Megan, você me acompanha? — Pediu, com um sorriso, que fazia
com que seus lindos olhos azuis brilhassem.
— Sim, claro — Disse, tentando esconder sua emoção. Percebeu o olhar de advertência que
Samuel dava ao loiro e que ignorou descaradamente. Levantou-se, ela não perdeu tempo e o
seguiu e depois diriam que tinha muita fila para pagar.
— Você pagou o banco? — Perguntou Samuel, assim que Megan e Thor se foram, mas com o
olhar no telão que mostrava o público. Os segundos passavam e ela não dava nenhuma resposta,
deixando-o exasperado. Ele não conseguia ser paciente e explodia com a menor mudança de
humor; era uma mina que explodia com um simples toque, uma bomba programada com muito
pouco tempo. — Se você sente que está aqui por obrigação, é melhor ir embora — Aconselhou,
procurando com seu olhar o de Rachell, aproximando-se perigosamente dela. — Podia se
desculpar com Thor...
— Você está me mandando embora, procurador? Bom, isso não me surpreende, isso é bem
comum em você, que é um prepotente, arrogante de merda que acha que é dono do universo, mas
lamento informar que não darei o prazer de fazer isso. O estádio não é seu, é um lugar público —
Manteve o olhar, mas retrocedendo, tentando se afastar dele, que estava se aproximando
perigosamente dela.
— Não estou mandando você embora, só não quero que fique aqui se está incomodada, não
quero incomodar você. Se você vai ficar aqui, quero que seja porque quer estar ao meu lado.
— Não me incomoda; para mim, tanto faz estar aqui ou nas arquibancadas do lado de
qualquer pessoa.
— Não quero que seja a mesma coisa... Rachell, sei que não é o lugar mais indicado — Soltou
um suspiro, pela pressão em seu peito, porque não era fácil, nunca tinha sido e dobrar seu orgulho
custava muito para ele. — Sinto muito ser tão desconfiado com você.
— Está bem, não tem problema. Essa é sua maneira de ser, procurador, e eu respeito. Você não
tem que se preocupar, não por mim — Pela primeira vez, conseguia manter o olhar por tanto
tempo, mas era por uma mistura de raiva e angústia que sentia. — Você pode pensar o que quiser,
é livre para isso e saiba que não me interessa e peço que se afaste, vamos manter distância —
Praticamente, exigiu ao ver que ele se aproximava cada vez mais e adivinhava que a beijaria. As
pupilas se dilatavam muito cada vez que olhava os lábios, talvez ao ser arrastado pelo desejo e
ela queria ser beijada, mas seu orgulho a fazia atuar e não conseguia controlar.
— Não vou conseguir me manter afastado, não com você, Rachell... Não quer isso, eu desejo
você, quero transar com você — murmurava com voz rouca e passeando seu olhar dos lábios para
os olhos da garota.
Diante das palavras de Samuel, o centro de Rachell chorou e se golpeou pela abstinência em
que estava submetido e porque não conseguia fazer nada; naquele momento, não era quem
mandava, embora tentasse se impor, não conseguia controlar o cérebro.
— Para transar, é preciso que as duas partes estejam de acordo, e eu não estou... Não mais,
senhor Garnett.
— Não quer mais, ou está com uma luta campal no seu interior contra o seu estúpido orgulho?
— Perguntou. Ele, melhor que ninguém, sabia reconhecer o desejo no olhar de uma mulher e,
embora Rachell o deixasse totalmente perdido, ela queria provocá-lo, tinha certeza disso.
— Digamos que estou com uma guerra entre o meu desejo e meu estúpido orgulho, como você
diz. Pode ser que eu deseje transar com você, não vou negar, sou mulher com certos pontos fracos
pelo gênero masculino, mas penso com a cabeça e não com o meio das pernas. Existem coisas que
podem ser resolvidas com um vibrador, mas há erros que não têm solução. Não sou daquelas que
tropeça duas vezes na mesma pedra — Disse, com firmeza, mas, por dentro, era só coração
disparado, desesperado, suplicando que Samuel acalmasse com sua loucura.
O leve tremor nos lábios e cílios de Rachell, o retumbar das batidas do coração que ficaram
facilmente em evidência no espaço entre as clavículas no centro da base do pescoço, o que, em O
Paciente Inglês, Almasy chamou de Bósforo. Exatamente essa parte a delatava, ela estava tão
nervosa quanto ele, mas mostrava aquele semblante lindamente impassível. Talvez outro se
enganaria com facilidade, mas Samuel Garnett, não. Definitivamente não o enganava, tinha
aprendido a estudar as mais leves reações do ser humano, enfrentava isso quase todos os dias,
principalmente nos interrogatórios. Não queria colocá-la contra a parede, não era assim, gostava
que continuasse se mostrando seguro, isso o enlouquecia
— Está bem, senhoria Winstead — Tratou-a com distância, para o jogar o jogo que ela queria.
— Só vou advertir que existem erros insistentes — garantiu, afastando-se, cruzou os braços e
desviou o olhar para onde começavam a sair os jogadores do Royals. — E pedras inesquecíveis,
eu permito que você batize seu vibrador com o meu nome.
Rachell ficou de boca aberta e quis socá-lo, mas sabia que isso seria dar mais importância, por
isso, preparou-se para contra-atacar.
— Bem que você gostaria, senhor Garnett, estar à altura de algum dos meus vibradores —
Sentiu-se vitoriosa, mas logo caiu sua coroa, ao ver o sorriso extremamente cínico dele, enquanto a
ignorava.
— Não posso dizer que você está à altura da minha boneca inflável, porque não preciso
recorrer a elas, mas sou sincero e admito que gosto da sua maneira de transar, não tenho por que
tentar ferir seu orgulho, para ocultar meus verdadeiros desejos.
A chegada de Thor e Megan deixou Rachell sem opção para se defender, embora nem tivesse
argumento. Ela não queria deixar Samuel ganhar, não teve outra opção a não ser soltar um longo
suspiro que drenava as sensações que a percorriam.
— Está tudo bem? — Perguntou Thor, com um sorriso, estendendo uma garrafa de água para
Rachell e jogava outra para Samuel que, pelo movimento brusco em tentar pegar, reclamou do
golpe nas costas, não conseguiu esconder sua cara de dor.
Rachell percebeu o gesto do rapaz e como levou a mão ao lado esquerdo das costas, mas não
falou nada. Não encontrou palavras para perguntar, embora uma sensação de angústia tinha se
cravado no peito e não conseguiu parar de observá-lo, enquanto ele disfarçava.
Durante os nove innings da partida, o público vibrou diante da vitória dos Mets, todos se
levantavam dos assentos, pulavam e aplaudiam com emoção.
Dos quatro, Megan e Thor foram os que mais curtiram a partida. Rachell ficou de pé várias
vezes pela euforia que a contagiava, mas Samuel não se levantou em nenhum momento. Mal
conversou com seu primo sobre algumas jogadas, demonstrando que estava prestando atenção à
partida, mas não se emocionava como o resto das pessoas no local.
Ele tentou ficar o mais imóvel possível, para tentar acalmar a dor e não demonstrar para as
pessoas que o acompanhavam que tinha acontecido alguma coisa.
Inclusive quando os rapazes se ofereceram para levar Rachell, ela se negou, alegando que
tinha ido de carro e ninguém conseguiu fazê-la trocar de ideia, embora todas as tentativas tenham
sido por parte de Thor e Megan, já que Samuel não falou nada. Ele começava a conhecê-la e
sabia que passaria por ridículo ao tentar convencê-la.
A estilista entrou no seu carro, finalmente descarregou sua mistura de raiva e frustração porque
o estúpido do Garnett nem se despediu.
— Ele não passa de um prepotente de merda! — Exclamou, batendo no volante. — Mas se
você acha que vai me amargar a vida, está muito enganado, Samuel Garnett. Portanto, mesmo que
eu esteja morrendo para ficar com você, não vou fazer isso... Desejo sim, mas não estou morrendo,
você não vai fazer comigo o que quiser — dizia para ela mesma, afastando-se cada vez mais.
Thor se ofereceu para levar Megan para visitar sua avó e, embora Samuel não queria ir,
rendeu-se aos pedidos da garota para que os acompanhasse, conheceram a mulher e, assim,
dariam um pouco de distração e felicidade.
Os rapazes pensaram que o endereço em East Hampton que Megan tinha dado fosse de uma
linda e opulenta mansão como aquela em ela morava. Surpreenderam-se quando viram o letreiro
que disfarçava suavemente que era um asilo.
Estacionaram no lugar indicado e desceram. Megan entrou no grande vestíbulo, enquanto fazia
sinais para que eles a seguissem.
— Minha avó está aqui faz dez anos, não é que ela seja uma idosa... ainda está bem
conservada, mas ela tem problemas para lembrar das coisas. O médico nos falou que é princípio
de Alzheimer. Ela morava perto da minha casa, mas em duas ocasiões, saiu e esqueceu e voltar. Por
isso, meu pai decidiu interná-la aqui.
— É sua avó paterna? — Perguntou Samuel, quase interrompendo a garota e parando seu
caminhar.
— É a mãe do meu pai... Acho que isso faz dela minha avó paterna — respondeu sorridente,
tirando sarro de Samuel.
— E não tem problema? Ela pode falar para o seu pai que você veio visitá-la com homens —
aconselhou para Megan não levar uma bronca mais tarde.
— Não, isso é o de menos. Meu pai nunca vem, nunca tem tempo... Só minha mãe e isso quando
eu peço para me trazer — respondeu, dirigindo-se a uma luxuosa recepção. — Olá, Jenny, tudo
bem? — Cumprimentou com um amável sorriso a enfermeira da recepção.
— Boa tarde, senhorita Brockman. Muito bem, obrigada. E você, como está? — Perguntou,
desviando o olhar para os dois rapazes que pararam atrás de Megan.
— Muito bem, vim visitar minha avó e trouxe uns amigos... Acha que posso vê-la?
— Sim, claro. Ela está no jardim, com certeza vai ficar muito feliz em receber visita — falava,
enquanto pegava o telefone. — Alfonso, venha à recepção, por favor — Pediu a mulher e
desligou, depois continuou falando com a neta da senhora Brockman. — Ele já vem buscá-la.
— Tudo bem. Obrigada, Jenny — Deu um sorriso gentil.
Esperaram uns cinco minutos até que veio um homem vestido de branco e também a enfermeira.
Seu semblante era amável, o que para Thor e Samuel deixava a situação menos desagradável.
Seus avós, que estavam felizes na sua própria casa em Dublin, onde faziam o que queriam, e
Reinhard, que tinha o triplo de trabalho de Brockman, ligava todos os dias para eles, viajava mais
de seis vezes ao ano para visitá-los e, muitas vezes, eles o acompanhavam.
Alfonso os guiou até o grande jardim, à distância, conseguiram ver a mulher e, como Megan
tinha dito, estava elegante, ainda tinha uma aparência jovem.
A garota apressou o passo, demonstrando que queria chegar o mais rápido possível e seu
sorriso se ampliou ao fazer contato visual com a avó.
— Vó! — Cumprimentou-a entusiasmada, aproximou-se, abraçando e beijando-a.
— Minha querida, que alegria ver você. Como você está linda — A mulher deixava clara a
emoção em vê-la.
— A senhora também está muito bonita, vovó... Quero apresentar uns amigos... Este é Thor
Garnett — Mostrou o loiro que se aproximou e esticou a mão para ela.
— Muito prazer, senhora Brockman.
— Garnett? — Perguntou e desviou o olhar para Samuel, enquanto recebia o caloroso e suave
aperto de mão de Thor.
— Sim, vovó, o sobrenome dele é Garnett… — Disse Megan. — E ele é Samuel Garnett, são
primos.
— Que bom… — esticou a mão para Samuel, que duvidou alguns segundos, mas acabou
correspondendo. — Samuel — murmurou, olhando nos seus olhos e segurando com as duas mãos a
mão do rapaz.
— É... é um prazer, senhora — Estava um pouco nervoso e intimidado por como a mulher
segurava sua mão.
— Vó, já pode soltar — Pediu Megan, sorrindo docemente e segurando as mãos da mulher,
fazendo-a soltar.
— Você é alto, muito alto — Disse a mulher, sorrindo com sinceridade.
Samuel só fez uma reverência, agradecendo, e deu um meio sorriso.
— Sentem-se, rapazes; vocês não vão crescer mais — Pediu Megan, sentando-se do lado da
avó. — Vó, quer alguma coisa?
— Não, querida, estou bem. Estou é muito feliz que você tenha vindo com seus amigos... Eles
estudam com você? — Perguntou, passando os olhos de Thor para Samuel e vice-versa,
observando como eles se entreolharam e sorriram.
— Não, vó. — Disse a garota, rindo. — Eles já trabalham.
— Ah, que bom... E o que eles fazem? Você, olhos de fogo, parecem os olhos de um tigre de
bengala — Fez um elogio a Samuel, que não conseguiu evitar ficar vermelho.
— Obrigado, senhora... Sou advogado penal e trabalho para a procuradoria do distrito —
respondeu com voz amável.
— Um homem de sangue frio, um caráter que tem a ver com o físico, mas você não é assim, seus
lindos olhos refletem esse homem vulnerável que existe aí dentro.
— Ai, vó, a senhora parece cigana... Vai deixar Samuel nervoso.
— Não estou nervoso, está tudo certo, Megan — Disse o rapaz, tirando um pouco do peso de
cima de Megan.
— E você? Thor, você tem esse nome pelo Deus do Trovão? Perguntou, sentindo-se em confiança
com os rapazes.
— Sim, meu pai escolheu... Sou administrador financeiro e trabalho na empresa da família —
confessou, desviando o olhar para Megan, que o observava encantada.
A mulher percebeu a troca de olhares e deduziu que não eram só amigos, mas não quis fazer
nenhum comentário para não os deixar incomodados, porque não tinha certeza se tinham um
relacionamento ou se ainda não tinham conversado sobre os sentimentos que, claramente, saltavam
à vista.
Por isso, preferiu ser discreta e esperar que sua neta dissesse algo. Estava feliz porque, no
gesto dele, percebeu carinho e sinceridade, os olhos não podiam esconder as emoções.
— Vó, antes de vir visitar a senhora, fomos ver o jogo dos Mets e adivinha! — Perguntou com
alegria. A mulher, com um olhar e um sorriso, convidou-a a continuar. — Ganharam! Foi tão
emocionante. É a primeira vez na vida que vou a um jogo ao vivo e é melhor, muito melhor do que
ver na televisão. Você sente a adrenalina do público e, inevitavelmente, se contagia e não
consegue se segurar, pula e aplaude em cada jogada. Hoje foi um dos dias mais felizes da minha
vida — Disse emocionada, como se fosse uma menina de sete anos e se arrependeu de deixar o
boné autografado no carro, queria mostrar para a avó.
— Fico muito feliz em vê-la assim, você merece... é bom aproveitar, você sabe que não concordo
com a educação que seu pai dá. Infelizmente, esse meu filho não sabe ser pai, nunca soube —
Disse, com um toque de saudade na voz e desviou o olhar para Samuel, apreciando o perfil do
rapaz, que estava ausente, admirando a mansão usada para asilo. Seu semblante era um pouco
tenso; porém, tinha inundado a alma da senhora de tranquilidade. — Henry cometeu muitos erros,
alguns irreparáveis... Se pudesse voltar no tempo e ensinar valores a eles... Voltar naquilo que fiz
de errado e poder consertar, teria evitado muitas coisas.
— Vó, não se preocupe... Eu já me acostumei como ele é. Às vezes, não o suporto, mas não há
nada que posso fazer... Juro que estou bem, já estou bem — Disse, para tranquilizar a avó, que
sabia como ela tinha sofrido com suas depressões, aquelas que a levaram, mais de uma vez, à
beira da morte.
— Fico feliz em saber, você é linha, minha menina… — Acariciou seu cabelo e desviou o olhar
para Thor. — Não é verdade que minha neta é linda, Deus do Trovão? — Perguntou com olhos
sonhadores e sorriu ao ver como ele engolia a seco e ficava vermelho como se fosse um menino.
Para Thor, não só era linda, como também a desejava, queria estar com Megan em todos os
momentos. Nunca tinha ficado dependente de uma mulher e uma menina tinha conseguido prendê-
lo.
Ainda estava tentando formular a pergunta de 'o que foi que aconteceu?'. O que Megan tinha
que o fazia não se reconhecer? Quis ficar de pé, abraçar e beijá-la ao ver abaixar os olhos e seu
rosto ficar vermelho.
Tudo isso acelerou seu coração, mas sentia Samuel respirar na sua nuca e não queria começar
uma briga e chamar a atenção das pessoas de terceira idade. Talvez provocasse mais de um
ataque cardíaco aos pobres velhinhos que só queriam se distrair um pouco no jardim.
— Sim… Megan é linda — respondeu, procurando com seu olhar azul celeste o olhar cinza da
garota, que agradeceu de maneira audível, mas que claramente leu nos seus lábios.
— Vó... gostaria de ficar mais tempo, mas tenho que voltar, é que... Que eu dei uma fugida. Meu
pai não sabe que estou com os rapazes, mas eu queria me divertir. A senhora sabe que ele nunca
me deixa sair.
— Eu sei, fique tranquila, querida. Fiquei muito feliz que você veio e trouxe seus amigos.
Nesse momento, Thor e Samuel ficaram de pé, aproximando-se da mulher, o procurador deu a
mão para se despedir.
— Foi um prazer, senhora — Disse, olhando nos olhos e ela percebeu sinceridade e afeto no
olhar.
— Igualmente… Filho, você deve ser mais comunicativo. Você é muito sério, espero que venha
me visitar e vai ver como farei você falar mais.
— Sempre que Megan quiser vir, tanto meu primo quanto eu ficaremos muito felizes em trazê-
la... A senhora tem razão, sou pouco comunicativo.
— Então como você é advogado? — Perguntou sorrindo.
— São coisas do ofício, as palavras são apenas técnicas — respondeu e, pela primeira vez,
mostrava o que seria um ensaio de um sorriso, embora só foi um vago gesto, conseguiu que seus
olhos piscassem misteriosamente.
— Bom, comigo você vai falar por prazer... Farei umas perguntas jurídicas e aí começamos para
você ter mais confiança.
— Boa táctica. — Deu uma piscada e soltou a mão, dando a oportunidade para seu primo.
— Fico feliz em ter vindo e tido a oportunidade de conhecer a senhora — Disse de maneira
sincera e sentindo-se um tanto idiota pelo leve nervosismo que tomava conta dele.
— É o maior prazer para mim... Agradeço sua visita e todo o resto — Com essas últimas
palavras, deixava muitas coisas no ar, mas que Thor entendeu. Ele sabia a que a mulher se referia
e só concordou em silêncio para não deixar claro diante de Samuel. Não tinha medo, mas era
precavido e sabia que era melhor tratar as coisas de boas maneiras.
— Megan, nós esperamos no carro para você se despedir — Disse Samuel.
— Obrigada, Sam, não vou demorar.
— O tempo que quiser, fique tranquila — Disse Thor e a garota de olhos cinzas concordou em
silêncio.
Os primos saíram e Megan os seguiu com o olhar, sentindo o coração quase sair pela boca,
quando seu namorado deixou Samuel avançar vários passos e ele girou a cabeça para dar um
sorriso e uma olhada.
— Ele é muito bonito, se eu fosse mais jovem, também ficaria louca.
— Vó, o que está dizendo?! — Perguntou Megan alarmada e envergonhada.
— O que você gosta, a réplica do Sol de Abril… Vamos ver se começam a namorar logo.
— Vó... — Tentava falar, quando a mulher interrompeu.
— Ah, então já namoram... Mas olha como fica lindo o seu rosto vermelho... Ai minha querida,
estou tão feliz.
— Mas não fale para ninguém, muito menos para o meu pai, se ele telefonar. Tenho certeza que
não aceitará porque é mais velho — Sua voz deixava claro seu temor.
— Que mais velho nada! Se for um pequeno bonito... Só que está forte, sim, seu pai não
aceitará... E a questão da idade é o de menos. Será algo mais de peso, mas se você gosta dele e
ele de você, Megan, lute pelo que sente. Se tiver que revelar para o seu pai, faça isso; não seja
covarde. Não quero que você sofra, nem que viva arrependida por fazer a vontade de Henry. Ele
teve sua juventude e aproveitou, ficou com quem quis. Você tem o direito de escolher quem quer na
sua vida, vai ter sempre o meu apoio, quero vê-la feliz e saudável... Até acho que você está
melhor, tem cor no rosto e seu corpo está mais bonito...
— Vó, não estou me deitando com ele, se é isso que vai perguntar — interrompeu, abaixando
os olhos aos joelhos diante da vergonha e sentido a pele do rosto ferver.
— Não estava falando disso, mas se você está preparada, se gosta dele e tem certeza que
esse homem merece o seu amor e sua inocência, se quer que ele leve a menina e apresente a
mulher, pode fazer isso. É sua decisão, de ninguém mais, só precisa se cuidar...
— Vó, eu conheço os métodos anticoncepcionais, a senhora está me deixando envergonhada —
murmurou, sentindo que suas orelhas esquentavam com o calor da vergonha.
— Minha menina, não tem porquê sentir vergonha. Você é minha neta e minha amiga, gosto de
vê-la feliz e segura, sempre foi linda, parece uma boneca e mostra isso. É que você tem um homem
invejável que a olha com amor... Não precisa sacrificar sua alimentação.
— Já estou bem, Thor me ajuda com a alimentação... Vó, eu gosto tanto dele e em tão pouco
tempo. É que está sempre atento e sabe como falar comigo, acredito nas suas palavras porque
tudo o que fala ele faz com tato. Não me faz sentir mal, não me obriga a comer. Só me encoraja a
comer. A senhora pode acreditar que agora há pouco, comi uma taça de sorvete e não vomitei?
Nem me senti mal por isso, porque ele presta atenção, ele se interessa, de verdade por mim e
quero ser o que ele quer. Ele me ajuda com exercícios, treinamos juntos, ele me explica tudo o que
devo fazer e tem tanta paciência comigo que, às vezes, tenho medo que esgote, que se canse de
mim — expôs seus medos à senhora.
— Ele não vai fazer isso, tenho certeza de que não vai se cansar. Ninguém consegue se cansar
de você, porque é um ser especial, você é linda por dentro e por fora.
— Meu pai não pensa assim e minha mãe nem se importa. Como eu gostaria que a senhora
fosse morar conosco; tudo seria tão diferente.
— Seu pai, meu Henry… É meu filho e eu o amo, embora ele nem lembre que tem uma mãe. Só
Deus e ele sabem as coisas que o atormentam. Às vezes, gostaria que ele tivesse coragem para
colocar tudo para fora, deixar sair tudo isso que não o deixa ser ele mesmo. Como eu gostaria de
saber onde ficou meu filho..., mas são coisas que não se resolvem da noite para o dia e que,
talvez, você não vai entender. Só peço que tenha um pouco de paciência também... Agora sim, vá
com seu namorado, fica bonito falar assim, né?
— Sim, fica... Gosto muito de ouvir isso — Disse, abraçando-a e dando um beijo. — Prometo
voltar logo e trago amêndoas caramelizadas — Com um lindo sorriso que fazia seus olhos cinzas
brilhar. — Gosto de conversar com a senhora e que me entenda. Vó, eu não sou mais uma menina,
cresci e quero companhia masculina.
— Assim que se fala! Deus a abençoe — Deu um beijo na testa.
A garota se afastou do lugar, sentindo-se feliz por ter confiado para sua avó a situação que
estava vivendo e também compartilhar essa alegria, mas também tinha uma certa tristeza por
deixá-la sozinha naquele lugar.
Megan tinha perdido a conta de quantas vezes sonhou com uma família normal, como a das
suas amigas. Aquelas famílias que estão sempre unidas e que vão para o campo nos fins de
semana ou ficam vendo filmes em casa, talvez ir ao cinema, mas infelizmente ela nunca teve nada
disso.
CAPÍTULO 7

Na filial do grupo EMX em Nova Iorque, estava todo o pessoal preparando os detalhes para a
visita trimestral de Reinhard Garnett, em que se reunia com a alta diretoria que deveriam
apresentar os relatórios com os resultados positivos para o grupo.
Tudo estava pronto, exceto o administrador financeiro que não estava em lugar nenhum; outra
vez, seu escritório estava vazio. Algo que ultimamente acontecia com frequência.
— Onde está Thor? — Perguntou Diogo ao assistente do loiro.
— Não sei, disse que voltaria em algumas horas.
— Ele sabe que o dono vem aqui e se perde — Disse, ligando para o celular de Thor.
— Bom, o dono é seu pai… — murmurou sarcástico o rapaz.
— Isso eu sei, mas ele tem que ser responsável… — Pausou a conversa com Chad e se dirigiu
ao loiro que o atendia. — Não vá me dizer você está esperando do tio do sorvete — Disse com
sarcasmo, que se converteu em exasperação. — Merda, Thor, por que não está no grupo?
—Estou com Megan… Aproveitei as horas livres da universidade. Aconteceu alguma coisa. —
A voz do rapaz deixava clara a sua despreocupação.
— Acontece que seu pai chegou faz uma hora ao Palace e que, talvez, em uma hora mais
estará aqui, esperando a reunião que você tem que apresentar.
— Merda! Eu esqueci... Totalmente... Diogo, salve minha pele, vá preparando tudo que já estou
indo — Suplicou, sentindo-se em problemas.
— Bom, termine rápido aí, dá uma trepadinha e venha — Disse, desligando, sem dar tempo a
nenhuma resposta. Ele sabia da relação de Thor com Megan, eles estavam muito próximos e
mantinha segredo, mas não conseguia acreditar que só fossem namorados de mãos dadas, por
isso, pensava que suas fugidas à tarde não tinham outro destino que não um hotel. — O problema
é que Thor não lembra que seu pai é o dono e, muito menos, que viria hoje — Disse Diogo a Chad.
O brasileiro foi até a sala de reuniões para verificar como estava tudo e esperar que seu
amigo se apressasse em chegar.

Rachell desligou o telefone enquanto observava Sophia, que fazia careta com a boca,
deixando claro que não gostava da ideia, mas não podia se negar.
— Olhe pelo lado positivo, assim vai evitar a Susan, que tem horário para hoje; outra vez,
mandou ajustar o vestido — Disse Rachell para entusiasmá-la.
— Outra vez? Juro que vou acabar furando-a com alfinetes, deixaria como um boneco de
vodu. Você já deveria falar para ela que, ou larga essa dieta estúpida ou que venha quando falte
uma semana para a recepção, porque, de tanto ajustar, vai acabar estragando o tecido e para
que o envie da Índia novamente, será um grande processo e, com certeza, não poderá cobrar os
cinquenta por cento restante, e você vai perder seu trabalho e parte do preço do tecido. Ai, não a
suporto! — Exasperou-se, sem conseguir evitar que odiava os caprichos e as frescuras de algumas
clientes.
— Desta vez, eu vou falar... Agora vá se arrumar para que leve o vestido.
— Nem me arrumo, já que o estúpido do recepcionista é gay — murmurou, abaixando o olhar.
Rachell deu uma gargalhada ao lembrar que há algumas noites, tinham ido a um local noturno e
o viram beijando outro homem. Ela teve que segurar o queixo da pobre amiga para não cair no
chão diante da cena. Sophia sempre se interessava pelos homens errados, mas admirava que
nunca perdia o entusiasmo, nem a segurança.
— E eu que tinha vontade de transar com ele. Vou acabar ficando com teia de aranha.
— Não seja exagerada! — Disse, divertida, mostrando-se de muito bom humor naquela tarde.
— Você fala isso porque está acostumada a passar meses só em companhia dos seus
vibradores. Eu não, jamais se comparam a um homem, com as palavras roucas no ouvido, as
carícias, os beijos... Os olhares e uma boa bunda para agarrar, vou mais pela parte física, minha
imaginação não é para tanto.
— Você é uma cachorra, Sophia — Disse Rachell, sorrindo, dando um tapa no ombro em tom de
brincadeira.
— Com pedigree — se orgulhou, dando meia volta e saiu movendo os quadris
descaradamente. — Você gosta como eu mexo meu rabo? — Perguntou com malícia.
— Coloque em prática hoje e, talvez, encontre um cachorro no cio — Disse e foi procurar um
cabide para guardar o vestido que Sophia tinha que entregar.

Reinhard mal tinha se instalado, descansou por quinze minutos, tomou um banho e colocou um
terno do estilista italiano Carlo Pignatelli, que destacava o lado mais elegante e absoluto do
homem, suas energias estavam em seu ponto mais alto. Além de estar feliz, porque iria ver seus
filhos, porque considerava Samuel como tal, faria uma surpresa para eles. Tinha decidido passar o
fim de semana com eles, ia se instalar no apartamento; sabia que talvez não gostassem da ideia,
mas teriam que aceitá-lo.
Pegou seu portfólio no sofá marrom e azul marinho que decorava a sala de estar do quarto,
que estava em uma das torres do hotel Palace; ao sair, dois dos seus guarda-costas estavam
esperando na porta, caminhou por um corredor, sendo seguido pelos seus homens de confiança,
aqueles que sempre o protegiam e que o acompanhavam em todas as suas viagens de negócios.
Sentiu o celular vibrar no bolso do casaco, por isso, entregou sua maleta a um dos seus
acompanhantes e atendeu a ligação, que era do seu filho mais velho.
— Pai, como foi a viagem? — Perguntou Ian, do outro lado da linha.
— Bem, como sempre — respondeu, entrando no elevador. — Filho, lembre-se que Félix vai
ligar nesta tarde; sei que você tem alguns pedidos, mas arruma um espaço na sua agenda, precisa
desse avião, ele vai falar o modelo que deseja.
— Está bem, pai, não tem problema. Já falei para minha assistente para anotar os dados,
porque logo vou sair para a pista de controles.
— Cuidado, Ian, pare de andar fazendo manobras.
— Só vou praticar um pouco, hoje só vou quebrar gelo, nada mais — Disse sorrindo.
— Tenha cuidado da mesma maneira, sei que sempre fala que tem controle, mas tem que
prestar atenção, que revisem muito bem esse avião — falava demonstrando a preocupação que,
como pai, sempre estava presente, enquanto saía do elevador e caminhava pelo hall.

A garota apoiada na recepção esperava que informassem em qual quarto estava a mulher
para entregar o vestido. Diante da posição, seu traseiro se destacava, ganhando os olhares de
mais de um homem que passava por ali, deixando um deles com palavras presas na garganta,
enquanto, do outro lado da linha, seu filho esperava resposta.
— Obrigada, Seth — Disse a ruiva, enquanto caminhava para trás, observando o rapaz sem
poder acreditar que tanta mistura de beleza e rudeza eram para outro homem. Seu corpo
tropeçou com algo que não devia estar ali e o sorriso se congelou para dar lugar ao assombro,
girando quase imediatamente. — Sinto muito, desculpe — Sophia estava realmente aturdida e se
olhar viajava rapidamente de um lado para o outro, onde dois homens se afastavam do seu objeto
de acidente, enquanto se abraçava no cabide preto.
— Dominic, Matthew, está bem… Deixem a senhorita — ordenou com o olhar celeste, nas
pupilas que adornavam a íris verde, que se moviam com rapidez diante do nervosismo e ele
terminou a ligação, depois continuaria falando com seu filho. — Está tudo bem? — Perguntou,
aproximando-se dela, que só concordou automaticamente, mostrando-se alarmada.
Sophia reconheceu Reinhard Garnett, pessoalmente parecia mais jovem e, se nas fotografias ou
entrevistas que tinha visto na Internet, nos jornais e revistas parecia bonito e interessante, vê-lo a
menos de um metro de distância, confirmavam o que efetivamente era.
Estava mais estilizado, os olhos mais claros e ela queria morrer porque tinha pisado com seus
saltos de agulha em um dos homens mais importantes do continente.
Tinha emudecido, definitivamente as palavras tinham se congelado. A segurança, irreverência e
confiança que a caracterizavam tinham ido por água abaixo, mas o homem a intimidava com sua
estatura, contextura e olhar.
— Tem certeza que você está bem? — Perguntou novamente ao ver que a garota ruiva muda,
que agitava nervosamente os cílios, intercalando-as na franja, enquanto olhava para o chão.
— Sim... É que estraguei os seus sapatos. São italianos, né? — Ela quis se matar pela única coisa
que conseguiu dizer.
— Sim, são italianos, mas não se preocupe — Disse sorrindo e, então, ela compreendeu de onde
Samuel Garnett tinha tirado o gesto de segurança.
— Não queria machucar você — Desviou fugazmente o olhar aos homens que tinham se
afastado alguns passos.
— Eu sei, também foi culpa minha, estava falando ao telefone. Você se hospeda aqui? —
Perguntou sem rodeios, era um homem que, quando gostava de uma mulher, ia até o fim.
— Não… Só estou aqui a trabalho, tenho que entregar este vestido —Mostrou o que estava
agarrando.
— Você tem algum compromisso hoje à noite? — Perguntou, assustando a garota com o seu
inglês perfeito.
Sophia não conseguia acreditar. O tio de Samuel a estava paquerando e parecia tão sério. Ela
não conseguia encontrar sua essência, tinha perdido e ficado boba; sabia que era pelo poder do
homem, o que ele representava.
— Desculpe, senhor...
— Garnett, Reinhard Garnett — interrompeu, esticando a mão.
— Sophia Cuthbert — respondeu e nem ela mesma conseguia acreditar que estava tremendo.
— Seria eu que teria que fazer algum tipo de convite como desculpa, mas lamentavelmente estarei
ocupada hoje à noite; mesmo assim, muito obrigada.
Na verdade, estaria mais sozinha que Rapunzel na torre, mas sabia que se saísse com aquele
homem, acabaria na cama. Conhecia aqueles olhares de lobo à presa e não conseguia negar que
gostava. Havia atração física por parte dos dois, mas isso poderia prejudicar Rachell e não queria
que sua amiga perdesse nenhuma oportunidade com Samuel, porque sabia que ele poderia causar
essa mudança, tinha certeza que a faria superar os medos que sempre teve. Logo ela encontraria
outra oportunidade, talvez outro encontro acidental com qualquer homem, em qualquer momento,
mas Rachell, não, porque era mais complicada que ciências exatas.
— Nesse caso, gostaria de receber seu convite quando estiver disponível — Fez um gesto com
a mão e, quase imediatamente, um dos guarda-costas procurou na pasta e entregou um cartão cor
champanhe. —. Não importa a hora, nem o dia — Entregou o cartão a Sophia.
— Obrigada — Disse, concordando com a cabeça.
— Foi um prazer, senhorita.
— O prazer foi meu, senhor Garnett.
Ele deu espaço para ela passar, com um sorriso de despedida. Reinhard correspondeu da
mesma maneira e continuou seu caminho.
Sophia estava aturdida e trêmula, sentia como se tivesse conhecido pessoalmente Robert Downey
Jr., seu amor platônico e ainda não conseguia assimilar; porém sua vista sempre tonta a obrigou a
virar a cabeça.
— A bunda de Samuel é hereditária — Disse para ela mesma, sentindo o coração bater contra
o peito e retumbar nas costelas. — Então por que não fui transar com ele? — Arrependeu-se,
levantando a cabeça e elevando os olhos. — É bom que Rachell aceite o procurador, senão vou
acabar matando, só eu me sacrifico assim por ela —Prosseguiu com seu monólogo, enquanto
entrava no elevador.
Reinhard saiu do hotel e, na entrada, estava esperando um Maybach Landaulet, que o próprio
hotel colocava à disposição do empresário. Ela não conseguiu deixar de olhar a ponta do seu
sapato, aquele que tinha um risco. Inevitavelmente, surgiu um sorriso nos lábios ao lembrar a cara
da mulher.
Ao chegar à filial do grupo, foi recebido por Thor, a quem deu um longo abraço. Sempre se
emocionava ao ver seu filho mais novo e demonstrava diante de todos o quanto o amava. Não
gostava de tratá-lo com distância, embora aquele encontro fosse de caráter profissional. Ao
terminar o abraço de Thor, fez o mesmo com seu afilhado Diogo.
A reunião foi realizada e, como era de se esperar, quando um negócio tinha sucesso, os
resultados sempre eram favoráveis. Contar com pessoas e de total confiança era o maior segredo
para o grupo EMX continuar sendo um dos mais importantes do mundo, impondo-se ante a
concorrência, deixando claro porque estava há quase trinta anos no topo.
Samuel estava fumando no terraço do apartamento, enquanto revisava o relatório que acabava
de terminar e tinha que apresentar em ias ao seu tutor do mestrado. Inalava suavemente e
segurava a fumaça, enquanto suas pupilas viajavam por cada uma das palavras expostas e que,
embora tivesse certeza que tinha conseguido a nota necessária, precisava se aperfeiçoar, dar um
pouco mais de convicção a sua ideia.
Não queria um trabalho simples, só para ter qualificação, desejava algo que o deixasse
plenamente satisfeito. Exalava a fumaça pelo nariz e sacudia a cinza no cinzeiro.
Escutou o toque do elevador particular abrindo e supunha que fosse Thor, só que, quando as
vozes calaram no apartamento, percebeu que não estava sozinho. O português do seu tio Reinhard
o alertou, por isso, deu uma última tragada e apagou no cinzeiro que estava na mesa ao lado do
laptop. Soltou a fumaça lentamente, deixando se dissipar no ar e entrou.
— Sam — cumprimentou Reinhard, com um sorriso e abrindo um abraço para receber o
sobrinho.
— Tio, que alegria em ver você. É uma surpresa você estar aqui — Disse, abraçando-o.
— Em menos de um minuto, já não causará nenhuma alegria — Informou Thor, tirando o casaco
e jogando em uma das poltronas, quando as portas do elevador abriram novamente e os guarda-
costas de Reinhard entraram com a pasta e a maleta na mão, deixaram em um sofá e voltaram
para o elevador e foram embora.
— E o que é isso? — Perguntou Samuel, terminando o abraço.
— Vou ficar uns dias com vocês e não quero ficar no hotel — Informou e, igual a Thor, tirou o
casaco, a gravata e o colete.
— Por mim, não há nenhum problema. Não trabalho amanhã, portanto podemos sair hoje à
noite.
— Não, não tenho vontade de sair, quero passar tempo com vocês, ver um filme, cozinhar.
— Cozinhar?! — Perguntaram, uníssonos, Samuel e Thor, olhando-se e deixando claro o medo,
como se tivessem visto algum fantasma.
— Sim, cozinhar, quero cozinhar… E mais — Disse desabotoando os punhos e arregaçando a
camisa até o cotovelo. — E como não falta muito para o horário, vamos colocar mãos à obra e não
vamos perder mais tempo... Suponho que a dispensa está cheia — Perguntou, indo para a cozinha.
— Acho que sim. Deixe-me chamar a senhora responsável pelas compras — Disse Samuel, indo
ao terraço onde tinha deixado também o celular.
— Que desastre! Como é possível que vocês não sabem o que têm na dispensa? — Disse
Reinhard, sem acreditar que para essa bobagem tinham que ligar para uma das empregadas.
Outra vez, Thor e Samuel se olharam sem saber o que fazer e só deram de ombros
despreocupadamente.
— É que nunca fomos verificar — Disse Thor, em resposta, como se o seu pai tivesse brigado.
— Tio, até onde eu sei, você não tem a menor ideia de como se cozinha qualquer coisa — Disse
Samuel.
— Sam, não sei mesmo, mas posso tentar; traz esse negócio aí e vamos procurar um tutorial, no
YouTube; deve haver algo — Pediu, referindo-se ao laptop e o rapaz foi buscar.
— Não, obrigado, eu com umas três folhas de alface e água já estou bem... — Disse Thor,
caminhando até a cozinha e abrindo a geladeira. — Sei perfeitamente que só preciso lavar com
vinagre e está pronto.
— Bom, então, preste atenção porque está pegando o vinho branco — Disse Reinhard.
Thor fixou o olhar e leu o rótulo, sabendo que claramente tinha confundido a bebida com o
vinagre, mas não perderia a pose diante do seu pai.
— Sei que é vinho.
Samuel voltou e colocou o Mac sobre a ilha da cozinha, buscando alguns vídeos para preparar
alimentos, escolheram um de frango com creme de champignon e batatas noisettes. Assistiram ao
vídeo com atenção.
— Bom, não parece algo difícil — murmurou Samuel, coçando o queixo.
— Claro que não é, Samuel. É mais difícil dirigir o grupo, isso sim é difícil, não acha que esse
homem está picando muito rápido? Com certeza o vídeo está editado e acelerado — Disse ao ver
a habilidade do chef. — Bom, não vamos perder tempo, vamos procurar os ingredientes... Thor,
veja se há batatas noisettes.
— Que batata é essa? — Perguntou, abaixando-se e procurando nas gavetas.
— São aquelas pequenas, mas, primeiro, vamos lavar as mãos — Enquanto tirava o relógio e
um anel, que não era uma aliança. Essa sim ele já tinha tirado há vinte anos, quando Thor tinha três
anos e se divorciou, ficando completamente responsável pelos seus filhos e pelo seu sobrinho.
— Acho melhor a gente fazer cachorro-quente. Pelo menos, já fizemos antes — Aconselhou
Samuel, enquanto lavava as mãos.
— Se não tentarmos, nunca vamos aprender a cozinhar... Já viram que não é tão difícil.
— Pai, não precisamos aprender a cozinhar... Para isto, temos a Sônia e há milhares de
restaurantes.
— Vamos cozinhar — ordenou. — Assim, vamos conversando.
Essa foi a última vez que pediu, porque se encarregaram de procurar todos os ingredientes e
colocá-los sobre a ilha. Alguns tiveram que ver o vídeo e pausar para identificar porque não
conheciam.
Reinhard tomou conta do fogão, enquanto que Samuel e Thor se encarregava de realizar a
odisseia de picar, soltando várias gargalhadas no meio de brincadeiras que eles mesmos criavam.
— Thor, passe o sal e a pimenta... Quanto tenho que colocar? — Perguntou, pegando o que o
loiro estava passando.
— O cara fala a quantidade necessária — Disse e continuou picando a salsinha, enquanto
Samuel, nem por erro, se aproximava muito do fogão, mesmo sendo elétrico. Só o fato de saber
que poderia se queimar já o fazia manter distância.
Os olhares de Thor e Samuel se fixaram no saleiro e no pimenteiro que estavam abaixo da
metade. Os olhos dos rapazes iam sair da órbita.
— Velho… Era a quantidade necessária — Disse, surpreso.
— Se me chamar de velho de novo, bato com a colher na sua cabeça... foi isso o que coloquei.
— Cara, ou o que é o mesmo que a gosto.
Os garotos não paravam de olhar os frascos quase vazios e deram uma gargalhada quando
viram a cara de Reinhard ao experimentar o creme.
— Vocês têm o número de alguma pizzaria? — Perguntou, desligando o fogão e dirigindo-se
até a geladeira para pegar um pouco de água.
— Sim, acho que é melhor — respondeu Samuel, limpando as mãos com um pano, e pegou o
iPhone.
Meia hora depois, chegava a pizza, levaram para a sala de estar, se acomodaram nas
grandes e confortáveis poltronas, onde curtiram um filme de ação e suspense. Ao terminar, os
rapazes instalaram Reinhard em um dos quartos e eles subiram para os seus, onde descansaram,
tomaram banho para, depois, sair no terraço e conversar até alta madrugada.
No dia seguinte, foram cedo ao polígono, onde ficaram umas quatro horas no campo aberto,
demonstrando habilidade e pontaria, para, depois, ir almoçar em um restaurante nas redondezas;
não era cinco estrelas, mas se algo tinham os Garnett era humildade.
Nunca denegriam, nem se limitavam a viver só na abundância. Isso Reinhard tinha aprendido
muito jovem por um ensinamento hindu, quando fez uma viagem à Índia com seus pais e passou
essa mesma simplicidade para seus filhos e seu sobrinho.
No dia seguinte bem cedo, Samuel levou seu tio ao aeroporto, onde seu avião particular o
esperava para levá-lo de volta ao Rio de Janeiro.
CAPÍTULO 8

Rachell sentia a água morna lavando o creme granulado que tinha usado para fazer exfoliação,
deixando a pele completamente renovada e suave. Depois de tanto trabalho, era necessário um
pouco de mimo, por isso estava em um exclusivo Spa de Manhattan aonde ia, pelo menos, uma vez
por mês, mas agora tinha adiantado a data a pedido de Sophia. Quando era para seu cuidado,
nunca poupava os gastos; já tinha se depilado, deixando-a realmente sensível a qualquer toque,
também já tinham feito uma sessão de resfriamento e oxigenação; sua amiga estava na sauna, mas
ela desistiu e preferiu uma massagem para se livrar de tanta tensão.
Ao sair da ducha, pegou uma toalha e tirou o excesso de água e colocou uma calcinha
descartável e deu nó nos quadris para segurar; colocou a bata e foi até o local de massagens,
onde já esperava Alison, que a convidou para subir na maca.
Rachell deitou de bruços, deixando-se envolver pelo aroma das essências e a relaxante
melodia; fechou os olhos e sentiu como a garota acomodava a tolha em cima das nádegas, soltou
um suspiro e relaxou completamente, esperando que as mãos de Alison fizessem o trabalho.
As mãos mornas tocaram suas costelas e se deslizaram até o centro das costas com uma pressão
maravilhosa, as carícias subiram e pararam nos ombros onde, com movimentos certeiros, a
transportavam a outro mundo em que sentia flutuar e, novamente, voltava pelas costelas.
— Gosto desta nova técnica, Alison — murmurou com os olhos fechados e absorvida pelo
prazer que as carícias proporcionavam. — Sinto que estou voando.
— Você não tinha me dado oportunidade de demonstrar como eu sou bom com as minhas
carícias — A voz com sotaque português calou no seu ouvido direito e o morno hálito a fez
estremecer, mas, diante do assombro, abriu rapidamente e se incorporou violentamente.
— Que porra você está fazendo aqui? Como você entrou? — Perguntou, descendo da maca o
mais rápido que pôde e teve consciência do olhar incendiário de Samuel em seus peitos; por isso,
dobrou-se e pegou rapidamente a toalha que tinha caído no chão, cobrindo-se para que não se
desse conta que os seus mamilos traidores se erguiam diante do seu olhar. — Alison! — Chamou a
jovem, mas ela não aparecia. — Alison! — Como ninguém chegava, foi até o cabideiro, onde
estava pendurado o roupão, mas antes de chegar, sentiu a mão de Samuel agarrar seu pulso e
puxá-la. Seu corpo, como se fosse uma marionete, se chocando contra o dele e, jurava por Deus,
que o contato criou uma descarga, faísca, uma explosão radioativa.
— Shhh, não precisa ser tão escandalosa. Você tem medo de mim? — Perguntou, olhando
fixamente nos olhos e acariciando seu rosto com a ponta dos dedos. — A sessão de massagem
ainda não terminou. Vamos, deite na maca para eu continuar.
— Medo de você?… Nem que fosse o fim do mundo ou a morte, essas são as duas únicas coisas
que tenho medo. Não vá me dizer que agora faz massagem como trabalho extra? — Perguntou
com sarcasmo, armando-se de valor e tentando demonstrar que não a descontrolava, que ela
ainda tinha controle sobre suas emoções.
— Já falei que, para mim, você não é trabalho, é prazer… — falava aproximando-se cada
vez mais e olhando nos seus lábios, enquanto sua mão livre alcançou o laço da calcinha
descartável e lentamente o desfez, sentindo como ela começou a tremer.
— Po… pode. Fique longe e me solte — Já começava a enrolar as palavras e não sabia o que
dizia, nem que ordem estava dando, porque saíam sem controle pelo nó que tinha na garganta.
— Você pode parar de me tratar com distância, Rachell... Já pedi desculpa pela minha atitude.
— Nossa! Você arrancou a alma com as mãos, ficou sem lágrimas ao pedir desculpas. Não...
Não, já deu, espero que não fique de joelhos — falava tirando sarro dele. — Você pediu
desculpas em um murmúrio que só você entendeu no meio de um jogo de beisebol. Acredite, não
dei a mínima convicção a nenhuma das suas palavras.
— Bom, como preferir, sempre tive o fetiche que me digam: Sim, senhor! Está bem, senhor! Como
o senhor deseje! Enquanto estou transando, portanto...
— Portanto nada. Você está louco? Você é um doente de merda... Você está muito seguro que
vai transar, mas está muito equivocado.
— O que você tem a perder? Eu desejo você, Rachell, muito... Não vou desistir — falava,
sentindo-se vitorioso porque tinha encontrado a maneira que não fosse tão distante.
— Você só pensa em fazer isso contra minha vontade — Disse com altivez.
— Não, você vai desejar tanto quanto eu.
— Maldito egocêntrico… Vá embora — Disse, empurrando-o, mas não conseguiu fazer com que
movesse muito mais que um passo. — Eu vou gritar — Ameaçou.
E ele não deu tempo, porque, em um piscar de olhos, estava sentindo a língua de Samuel
penetrando em sua boca e seu corpo roçando contra o dela, despertando cada nervo, o que não
foi muito difícil, porque sua pele estava muito sensível e sentia que ia explodir. Já não conseguia
mais aguentar, ele ia matá-la, não ganhava nada ao negar que o desejava, que o havia desejado
cada segundo do tempo em que estiveram afastados e, se era para ir ao inferno por vontade
própria, ainda estava em tempo de colocar suas condições.
Por isso, levou suas mãos ao rosto dele e afastou com força. Ele queria continuar beijando-a,
mas ela não permitia e encantava sentir sobre seus lábios a respiração forçada, aquele calor que
evaporava as salivas, aquele olhar entre desafiante e cheio de desejo.
— Já estou preparado, pode me bater, mas vou advertir que se fizer isso, vou derrubá-la na
maca, não darei opções, Rachell — Sua segurança desarmava a garota, aquela maneira de falar
e olhar, sem sequer piscar, a enlouquecia e excitava.
— Você quer transar? — Perguntou, pressionando com firmeza o rosto dele, sem desviar o
olhar, mesmo que custasse sua vida em tentar, não desviaria o olhar, porque queria demonstrar que
ela também podia ter o controle.
Algo que soube que poderia conseguir quando cravou as mãos no quadril e grudou-a ao seu
corpo, abaixando um pouco para roçar com sua nascente ereção o monte de Vênus e ele não
conseguiu controlar aquele gemido rouco e maravilhoso que escapou pela garganta.
— Não tem nada que eu deseje mais, Rachell, quero transar com você, vamos... Aqui, agora...
Garanto que ninguém vai entrar.
— Bem, então vamos transar, mas depois, não me enche mais... Saímos daqui e não nos
conhecemos. Nem você vai ao meu apartamento, nem eu ao seu. Nada de relacionamento além do
sexual, você segue sua vida e eu sigo a minha, separados. Só nos encontramos para ir direto ao
ponto e nada mais. Se estiver de acordo, pode continuar, senão, vá embora.
— Agora você está me colocando regras? Você não tem jeito mesmo, Rachell — Disse,
mordendo-se o lábio inferior diante da vontade que o dominava.
Ele era péssimo em cumprir regras, mas isso não iria falar. Deixaria que ela se aproveitasse da
situação, precisava dar a confiança que ela desejava.
— E você está sonhando se pensa que vai me corrigir.
— Não quero corrigir, gosto de você assim... Que me mande à merda quando der vontade... Se
quiser, trate-me com distância... Seja você mesma, enquanto eu puder transar com você, o resto não
importa. Acredite em mim, não importa — Desatou o outro laço da calcinha, que caiu nos pés da
garota e, com um puxão, arrancou a toalha, fazendo que os peitos dela vibrassem diante do
brusco movimento.
Uma rajada de fogo se concentrou na planta dos pés de Rachell e subiu rapidamente até sua
cabeça ao estar nua diante dele. Tinha passado um mês e meio sem sentir aquele olhar ardente
percorrê-la com veemência, aquela sensação que a excitava a tal ponto, despertando nela um
desejo animal; com ele, ela se convertia em uma famigerada, não se saciava do sexo que ele
oferecia, das viagens que dava.
Novamente, Samuel procurou a boca de Rachell, desenhando com sua língua os lábios,
percorrendo-os com uma lentidão que a fazia se desmanchar em suspiros, acariciando-os com seus
lábios.
— Olhe para mim — Pediu com sua voz rouca, sufocando seu hálito em sua boca.
Rachell supunha que, quando se beijavam, tinha que fechar os olhos para perceber as
sensações, mas ele gostava de admirar como suas pupilas se dilatavam ante a ponta da sua
língua, saboreando o paladar e aqueles olhos quase amarelos iam escurecendo enquanto
agarrava suas nádegas com força, presa ao seu olhar, compreendeu que fechava os olhos porque
se sentia vulnerável, muito exposta e não queria se deixar arrastar.
As mãos de Samuel apertaram sua cintura e a moldavam a seu gosto, enquanto a incitava a
retroceder, sem deixar de beijá-la, levantou e sentou-a na maca. Percorreu com seu tato as coxas
com infinita paciência, até acariciar os joelhos e, em um ataque de luxúria, abriu as pernas sem
cuidado, com uma rudeza que a desarmou, que a fez gemer. E se fosse um filme, repetiria essa
cena várias vezes, cem, mil vezes e não se cansaria.
O corpo começou a vibrar sem controle ao sentir os dedos aventureiros de Samuel caminhar
pela parte interna das suas coxas.
Ela sabia aonde queriam chegar e sua vagina já estava se preparando, gotejava ansiosa e foi
o polegar que ficou molhado. Ele parou de beijá-la e separou sua boca só um pouco; ela não teve
como não fixar seu olhar em como ele chupava o dedo molhado e depois saboreá-lo como se
fosse o mais saboroso doce, isso a deixava a mil, a ponto de explodir.
— Você não tem ideia de quanta falta senti do seu sabor e queria enlouquecer quando sabia
que o deixava perder na sua roupa íntima... Sei que se molha só de me ver, Rachell; como eu
também me excito só de ouvir sua voz, venha, me agarre… — Disse, pegando uma das mãos e
levando até a protuberância da calça jeans. — Sinta como você me deixa.
Rachell apertou e massageou como quis, sentir enchendo sua mão era uma experiência religiosa;
levou a outra mão e se deu ao trabalho de liberá-lo, para sentir sua pele suave, rígida e as veias
que transportavam aquele sangue ardente.
Ele deu um sorriso daqueles que a deixava sem fôlego e, novamente, enfiou seus dedos na sua
vagina, acariciando com a ponta os lábios vaginais, fazendo-a enlouquecer, no meio da loucura.
Rachell agarrou o que era seu, queria ser a dona completa daquele músculo, queria comprar os
direitos de propriedade do membro de Samuel e tatuar seu nome nele.
Ele gemeu quando ela o encerrou com sua mão e começou a masturbá-lo; isso a fazia se sentir
suja, mas gostava de como se sentia. Ter o poder de fazê-lo tremer e deixá-lo sem graça era
maravilhoso. Naquele momento, Samuel era uma marionete e era ela que mexia os fios.
No meio da luxúria, ele levou seu polegar molhado e introduziu na boca de Rachell, que chupou
com maestria, saboreando seus próprios sabores, até que não ficou mais nada, tirou da boca e se
uniram em um novo beijo lascivo, ardente, vulgar, que não conhecia limites.
A mão de Samuel na nuca de Rachell a deixava imóvel e o corpo dela se arqueou, quando ele
a invadiu com os dedos. Gemia ao ritmo das penetrações e gritou, rugiu quando beliscou o clitóris,
esse pequeno espaço que era consagrado só para o prazer, dando uma dor que nublava a razão,
mas que gostava muito. As oito mil terminações nervosas que tinha borbulhavam entre os dedos de
Samuel.
— Você me quer dentro? Você me deseja? — Perguntava enquanto passava a língua nos lábios
para umedecê-los.
— Sim — gritou ela no meio do tornado que a envolvia. — Entre, Samuel — Pediu, apoiando a
planta dos pés sobre a maca e abrindo-se completamente para ele.
Sem esperar um segundo convite, Samuel a pegou pela cintura e se aproximou o suficiente,
segurando a respiração enquanto penetrava nela, retendo esse gemido na sua garganta; coisa
que Rachell não conseguiu fazer, porque agarrou nos ombros dele com força e um longo rugido e
tremor demonstraram que ela estava adorando a invasão.
Ele ficou parado no lugar para tirar a camiseta, mas Rachell não podia esperar, desejava muito,
por isso, começou a chupá-lo, devorando-o, dançando como uma onda, saciando-se com ele.
Samuel, ao tirar a peça de roupa, passou um dos braços pela cintura da garota, enquanto que,
com a outra mão, se apoiou na maca e arremeteu, com rapidez, arrancando gemidos contínuos,
gemidos que pediam mais e que afirmavam que ela gostava do que ele estava fazendo; enquanto
que, com seus beijos, percorria o pescoço, os ombros e voltava a morrer na boca de Rachell, com
pressa, ardente, delirante.
Ela começou a ficar tensa nos seus braços e também a se mexer sem controle, estava buscando
seu primeiro orgasmo e ele colocou todo o seu empenho para que ela o vivenciasse plenamente;
mexia-se insistentemente dentro dela, deixando-se cobrir pelos músculos latentes.
Em Rachell, anunciava-se aquele terremoto que era produzido no seu centro, que abrangia todo
o seu órgão feminino e que explodia nos seus mamilos, sentindo as descargas como se fossem os
disparos de uma metralhadora, um atrás do outro, rápido, golpeando-a sem piedade e
arrastando-a ao mais cruel dos prazeres, suspendendo-a nesse brilho de luz que a cegava, brilho
esse que só tinha conhecido nas sessões de sexo que Samuel Garnett a oferecia, essa cegueira que
a envolvia e a separava do mundo... Convidando-a a um mundo de prazer e dor, dor essa que ela
gozava, os toques que, diante da grossura, eram delirantes, a preenchia toda, arrebatava-a por
inteiro.
Tremendo e sorridente, voltava à realidade e ele sabia perfeitamente porque reduzia a
velocidade de suas arremetidas, deixando o tempo exato para voltar à realidade.
Abandonou-a e, rapidamente, se desfez da calça jeans que estava na coxa, arrastando a cueca
vermelha e também os tênis pretos e as meias, tão rápido quanto permitia a excitação.
— Percebi que você é bem flexível — Disse, pegando uma perna e acariciando-a com pressão;
aproximou-se, buscando a boca de Rachell, ao mesmo tempo em que elevava sua perna e
colocava em cima do ombro. Ele levantou uma perna e se apoiou com a planta do pé na maca,
ficando no chão só com o pé direito.
— Não mais que você — murmurou ao ver como ele não tinha nenhum problema com a posição.
— Benefícios da capoeira… Mas, em um momento, espero que me deixe espaço na maca.
— Tem certeza que ninguém vai entrar? — Perguntou, percorrendo com a ponta dos dedos o
abdômen masculino de cima para baixo, extasiando-se com a dureza.
— Tenho tanta certeza como sei que vou fazer você ter três orgasmos — Sua voz mostrava
supremacia e isso a arrebatava.
— Já teve um — Disse, sorrindo e, com as mãos o agarrou pelo pescoço, colocou a língua para
fora e convidou a dela a se enredar no ar, uma girava em torno da outra e vice-versa. — Se não
chegar aos três, vá à merda. Não me procure mais.
— Por acaso já deixei você no meio do caminho? Sabe, quero que você cumpra uma fantasia e
que esteja disposta.
— Depende do que for — Disse, esticando-se para trás e apoiando as palmas das mãos na
maca.
— Quero que a gente transe em uma sala de interrogatório... Diga se você está disposta e eu
preparo tudo.
— Primeiro, você deverá ter alguns méritos, depois eu penso.
— Vou fazer, pode ter certeza — Agarrou seu pênis para guiá-lo até as portas do prazer,
como se fosse um pincel e a vagina fosse a tela; passou com destreza, sentindo como o seu ponto
mais vulnerável se cobria com os fluídos de Rachell, misturando-os com os dele, igualmente com os
batimentos que se uniam.
— Você tem trabalho pela frente — murmurou, sentindo-se uma depravada ao olhar fixamente
o que Samuel fazia, mas estava gostando, parecia que era algo sumamente erótico.
Com extrema lentidão, mantendo o equilíbrio perfeito, entrou em Rachell, sentindo-a mais unida
a ele, como estavam, permitia alcançar mais e se movimentar de outra maneira, que, em alguns
segundos, fez a garota gritar, que tentava afastá-lo, colocando uma mão na barriga, mas ele não
cedia. Continuava entrando nela, golpeando como uma onda na rocha, criando o maravilhoso som
dos corpos ao ocorrer a mais divina das lutas.
Ele gostava de ver como ficava vermelha, suas veias evidenciavam que o sangue viajava
rapidamente por causa da adrenalina; a boca entreaberta para liberar os gemidos e respirar, os
lábios que o incitavam a comê-los, a desgastá-los a beijos, lambidas e, para ele, o coração queria
explodir de tanta excitação, mas não parava, continuava e continuava, mordendo-se palavras pela
metade.
— Sam… Assim, continue assim — Pedia a ponto de alcançar o ápice mais uma vez, atravessar
a exosfera, explodir no universo e se derramar nele.
— Respire, Rachell… — Pediu, ao ver que ela se deixava vencer e ele segurava as
arremetidas, deixando-a à deriva. — Respire — Abaixou a perna da maca e a acomodou mais
uma vez, colocando-se no meio das coxas, conseguindo com maestria não sair dela.
— Faça isso de novo e… —falava agitada e irritada diante do orgasmo interrompido,
grudando no traseiro do rapaz e instigando-o que a penetrasse com a perfeita sincronia.
— Agora você vai gozar mais, já vai ver... Solte minha bunda — ordenou, pegando-a pelos
pulsos e deitando-a na maca. — Se você colaborar, não vamos perder tempo... E não quero
perder nada.
Naquele momento, Rachell se deixaria fazer qualquer coisa, até que a sacrificassem se pudesse
saborear o êxtase, de sentir Samuel retumbando e roçando no seu interior, deixou-se vencer.
— Quero você virada para baixo — murmurou, buscando sua boca e beijando-a com pressão,
recompensando antecipadamente o pedido.
Rachell girou sobre seu corpo e ele subiu rapidamente na maca, deixando-a no meio dos seus
joelhos, começou a beijá-la e a dar mordidinhas nas costas e nos ombros, oferecendo a textura da
sua barba quando deslizava pela coluna vertebral, chupando cada centímetro, cada poro,
roubando o sabor da pele; enquanto que, com suas mãos, tirava a presilha que prendia o cabelo,
agitou-o suavemente, para, depois, prender na sua mão aquele rabo de cavalo sedoso e ébano,
que servia como rédea para levá-lo à gloria. Enrolou o cabelo na sua mão e puxou com uma
loucura arrebatadora, fazendo-a elevar a cabeça e procurou sua boca, mordendo seus lábios,
sufocando-a com sua língua e ela gemia no meio do beijo.
Rachell jamais pensou em se ver numa situação como essa, que a submetessem de tal maneira,
mas sentir Samuel muito perto dela, seu pênis tocando entre suas nádegas, deixando seu rastro
morno e viscoso, a dor no couro cabeludo e no pescoço era tão celestial que só a excitavam cada
vez mais, seus rostos em direções diferentes se acoplavam perfeitamente para beijar-se
deliciosamente.
— Você é loucura, Rachell… Você me deixa mal, muito mal… Juro que quero estar assim as
vinte e quatro horas do dia, quero você assim — murmurava, dando vários beijos, toques suaves
que permitiam descansar as línguas doloridas e apenas preenchendo-se com a sensação dos seus
lábios inchados e palpitantes ao se unirem intermitentemente. — Você está acabando com a minha
vida.
— E como eu faço isso? — Perguntou, para depois chupar com esmero o seu queixo e morder
suavemente.
— Ainda não sei... Não sei — Sentiu uma descarga elétrica percorrer sua espinha dorsal e não
conseguia mais esperar. — Você está se cuidando? — Perguntou, decidido a se derramar dentro
dela.
— Sempre me cuido, com tudo, com qualquer coisa — Puxou suavemente com seus dentes o
lábio inferior de Samuel.
— Não de mim… — Disse com supremacia. — Agora me dê comodidade… — Pediu, dando
um beijo na ponta do nariz para, depois, incorporar-se e soltar o cabelo, pegou-a pelo quadril e
incitou-a para que oferecesse um pouco mais, que levantasse a bunda. Sem perder tempo,
penetrou e os dois soltaram um gemido de satisfação que sempre terminava ao sentir que o desejo
se saciava; vários impulsos lentos, muito lentos, que criavam a lubrificação e fricção perfeitas para,
depois, dar um golpe, desatar a loucura no ventre e nos testículos, soltando a luxúria.
Ele gemia e ela sufocava seus gritos mordendo a toalha, também não queria que todo o Spa
soubesse o que estava acontecendo naquela sala de massagens, embora o rangido da maca e
seus corpos se chocando os deixavam em evidência.
Ele se soltou em cima dela, sufocando-a com seu peso, beijando o pescoço suado, mas não
parava de levá-la à loucura, sentindo-o quente sobre o seu corpo, insano, era o melhor que podia
experimentar na sua vida. Samuel Garnett tinha chegado para demonstrar que tinha perdido
muitas coisas boas, extraordinárias e prazerosas.
Nunca na sua vida tinha gozado o sexo tão plenamente, não tinha chegado a tal ponto. Essa
mistura entre rudeza e paixão, a faziam sentir que era realmente desejada; esse desespero nele
era como se temesse que ela fosse se desintegrar nos seus braços e queria aproveitar cada
segundo. Era como se temesse que o mundo explodiria a qualquer momento e não queria perder a
oportunidade de gozar seu sexo.
— Rachell… Me aperte, me chupe — Pediu, com urgência, ela uniu mais as pernas e tentou
contrair o máximo possível os músculos internos, arrancando alaridos roubos que ela começava a
adorar, para, em alguns segundos, sentir um... Dois... Três espasmos que a encheram de calor.
Ele sabia que ela ainda não tinha alcançado o terceiro orgasmo, por isso, ficou ali, introduziu
sua mão embaixo do corpo de Rachell e tocou outra vez o clitóris, sentindo, estimulando-o para que
a fizesse chegar, e aí fez que ela alcançasse a glória pela terceira vez, já não poderia mandá-lo
à merda... Agora tinha que lidar com ele, por isso, sufocou seu riso de satisfação no pescoço dela
ao qual, depois, prendeu suavemente entre seus dentes e massageou a pele com sua língua,
saboreando o salobre resultado de uma segunda oportunidade.
Samuel ainda sem abandoná-la, sem sair dela e em cima do seu corpo, levantou com a mão que
tinha entre suas dobras, acariciou com paixão seu abdômen e se curvou em um dos seus peitos. A
mão esquerda se fez de cúmplice e subiu no outro, cobrindo os dois, apertando-os com a força
necessária para fazê-la vibrar.
— Quero que a gente continue com isto — murmurou Samuel, dando um monte de beijos úmidos
e lentos no rosto e buscando a boca feminina, abrindo um abismo no estômago de Rachell. —
Vamos para o meu apartamento ou para o seu, mas quero a noite toda, que gozemos a
madrugada e a manhã nos surpreenda.
— Hummm, parece interessante... Você pode descer, não penso em ficar todo o dia aqui —
respondeu, mexendo-se e buscando a maneira de jogá-lo para fora da maca, mas sabia que os
dois iriam parar no chão.
Samuel desceu, mas a segurou, colocando uma mão nas costas e, em um movimento rápido,
mordeu suavemente uma nádega, causando cócegas e não conseguiu segurar a gargalhada com
esse gesto, alegrando a alma de Samuel, no momento em que a liberava e se incorporava na
maca.
— Não vá reclamar quando eu morder sua bunda — Advertiu, caminhando para pegar o
roupão e ir à ducha novamente.
— Rach, você não me falou se é no seu apartamento ou no meu — Enquanto colocava a cueca
vermelha e ela amarrava a bata.
Ao escutar o diminutivo que utilizou, ela ficou toda cheia, com uma emoção que surgiu
rapidamente, pressionando o peito e teve que fazer todo o possível para não sorrir. Não tanto
quanto queria, só fez um gesto pela metade, observando como ele parecia de outro mundo com
aquela peça, como pegava tudo, fazendo-se parecer maior, com certeza, para ele era mais
cômodo assim, mas para ela, era uma visão celestial! Enquanto tentava disfarçar, arrumando seu
cabelo desordenado em um coque.
— Então me espere no estacionamento — Disse, dando uma piscadinha com malícia e saindo do
lugar.
Quando Rachell saiu e só levantou a cabeça como se nada tivesse acontecido, embora seu rosto
deixava claro, ela sabia que a garota que estava na sala de espera sabia o que tinha acontecido
na sala de massagem, mas se permitiram o acesso de Samuel, deveriam esperar isso; era só sexo,
não tinha nada do que ter vergonha.
Ao chegar na área das saunas, procurou Sophia e não a encontrou, perguntou por ela e
informaram que ela tinha ido embora.
— Traidora! Você sabia que isto estava planejado, por isso se empenhou em me trazer aqui,
mas você vai escutar, Sophia — Disse a si mesma indo até o banheiro. — Embora não me
arrependa, não era o que eu esperava, não queria voltar com Samuel..., mas você sabe que sou
fraca, que com aquele estúpido, eu sou fraca.
Samuel saiu um minuto depois de Rachell, ele não se importava com nada, só deu um meio
sorriso para a jovem e agradeceu a colaboração; ela só teve que acatar a ordem da dona do
spa, que era uma juíza amiga ele. Chegou ao estacionamento e se apoiou no carro com as pernas
esticadas e decidiu fumar um cigarro, enquanto esperava.
Rachell não deixaria Samuel com o poder absoluto sobre ela, por isso, decidiu colocá-lo no jogo
com as cartas que ela quisesse; enquanto tomava banho e se trocava, armou um plano em que
demonstraria que não precisava dele, não tanto quanto ele pensava.
Saiu pela porta traseira do spa e caminhou com cuidado entre os carros, tentando se esconder,
o viu à distância, fumando, estava forte, de morte lenta, mas devia encontrar o valor. Entrou no seu
carro e ligou, saindo do estacionamento; ao passar em frente a ele, tocou a buzina e deu
tchauzinho com a mão e um maravilhoso sorriso, que se converteu em uma gargalhada ao ver a
cara de perplexidade dele.
Pegou a avenida principal e foi até o apartamento de Oscar, pois já tinham combinado de
passar a tarde juntos vendo filmes, álibi que veio bem a calhar porque sabia que Samuel iria ao
seu apartamento.
Panic Station tocou na sua bolsa e, enquanto dirigia com uma mão, com a outra procurava o
celular, não conseguiu segurar a risada, respirou profundamente para parecer muito séria e
atendeu.
— Por que você foi embora? — Perguntou Samuel, mais surpreso que bravo.
— Porque eu já tinha terminado com o senhor, procurador — respondeu seriamente.
— Terminado comigo... Quer dizer, você me usou e, não feliz com isso, me ilude e me deixa aqui
plantado.
— Lembre-se dos termos, procurado — Disse e desligou, sentindo-se uma garota travessa,
jogou o iPhone no banco do passageiro e ligou o rádio, procurando um tema adequado, aumentou
o volume ao máximo para não escutar as ligações que sabia que fariam seu celular entrar em
colapso e começou a cantar, Problem de Natalia Kills.
— I’m your dream girl, this is real love. But you know what they say about me… That girl is a
problem, girl is a problem, and Girl is a problem, problem.
CAPÍTULO 9

As portas do elevador privado do apartamento dos primos Garnett se abriram e saiu Samuel, que
ainda tentava assimilar a situação pela qual tinha passado, jogou as chaves do carro em uma das
mesas, enquanto passava pela cozinha, onde tomou metade de um copo de água de uma vez.
O eco abafado dos tiros evidenciou a presença de Thor na sala de estar, jogando PlayStation;
antes de ir vê-lo, resolveu subir para o seu quarto e tomar um banho, para tentar espairecer um
pouco.
Esteve quarenta minutos embaixo d'água, lembrando o que aconteceu no Spa, Rachell ia deixá-
lo louco, não tinha conhecido, nem transado com outra mulher que o fizesse sentir com tanta
intensidade, essa combinação de sentimentos que o dominava enquanto a penetrava e só queria
demonstrar beijando-a, era como se quisesse adorá-la a cada segundo, olhar nos seus olhos tinha
se convertido em um fetiche, ver-se nas pupilas de Rachell que mostravam um Samuel não diferente,
mas sim, melhor, com sensações que não sabia que nome dar, mas tinha certeza que só ela as
despertava.
— Isto não é amor, ou é? Ai, merda... Merda, estou fodido — Disse com impaciência, sacudindo
os cabelos com a mão e jogando água que acabava batendo no vidro. — Vamos, Samuel, o que é
isso que está imaginando? É muito cedo... Muito, só estou muito perdido, estou confundido tudo isso,
não vou me adiantar e colocar um nome ridículo ao que não é nada além de uma obsessão, é isso
que a Rachell é, ela se converteu em uma intensa obsessão; logo chega outra que vai substituí-la,
logo — Outra vez, se animava a não deixar se arrastar ao buraco de que tanto havia fugido, ao
qual sempre tinha a maior resistência em cair.
Ao sair, vestiu uma calça de agasalho amarela com franjas verdes na lateral e, de um lado, uma
bandeira do Brasil bordada, na altura das panturrilhas. Pegou o iPhone que tinha deixado sobre a
cama. Com o torso nu e descalço, saiu do quarto e foi até a sala de estar.
Ao chegar, Thor estava no meio de um turbilhão de xingamentos contra o videogame,
expressando sua frustração por ter perdido.
— Aceite que, de vez em quando, você tem que perder — Disse, caindo sentando no sofá ao
lado do primo.
— Não contra esta coisa — Mexeu seus dedos no controle para iniciar uma nova partida. — E
aí? Conseguiu ver a Rachell? — Perguntou com o olhar celeste na tela de plasma.
— Sim, consegui vê-la e falar com ela.
— E aí? Algo me diz que ainda não resolveram as coisas, senão, não estaria aqui.
— Não sei se resolvemos ou não, mas você já sabe que "Render-me" não está no meu
vocabulário... Se a desejo, vou procurá-la uma, duas, três mil vezes, se for necessário.
— Ah, esse meu primo — Disse sorrindo e dando um tapinha nas costas sem tirar o olho do que
fazia. — Como não sabe se resolveram as coisas? Pelo menos, algum indício ela teve que dar.
— Eu a surpreendi no Spa, exatamente como tinha combinado com a Sophia, não sei por que
ela me ajuda se antes não me suportava, enfim... Cheguei, falamos um pouco. Merda, Thor, as
palavras não me saem quando estou com a Rachell, eu me bloqueio... As poucas palavras nos
levaram a outra coisa...
— Bom, pelo menos, transaram, isso dá pontos a seu favor, porque se não tivesse aberto as
pernas, aí sim, diria que está fodido, primo — Thor se adiantou em dar seu ponto de vista.
— Sim..., Mas Rachell abriu, passamos bem, convidei-a para continuarmos em outro lugar, não
tinha planejado estar aqui vendo você brigar com o videogame — Disse, mostrando a tela. — Mas
combinamos de nos encontrar no estacionamento e ela fugiu, foi embora, maldita confusão que
senti naquele momento. Senti como o maior dos idiotas.
— Transou com você e foi embora? — Perguntou Thor, tentando controlar a gargalhada que
estava presa na garganta.
— Não, quer dizer, transamos... Bom, literalmente, sim... Foi embora e me deixou com vontade —
Estava tentando compreender o que tinha acontecido horas antes.
— Então ela abusou de você — Disse o loire, imitando sofrimento.
— Mais ou menos — murmurou Samuel, ainda um pouco confuso.
—Samuel… — Largou o controle do PlayStation e ficou de pé. — O que você está esperando?
Vamos, levante... Temos que ir fazer a denúncia, você precisa denunciá-la — Sem conseguir se
controlar mais, explodiu em uma gargalhada, ganhando um chute na bunda por parte de Samuel.
— Quer parar de brincadeira.
— Rachell é minha heroína, a Mulher Maravilha não chega a seus pés, ela dominou você e não
vai largar — Assegurou, dando um soco em uma das coxas de Samuel. — E o que você vai fazer
para se vingar? Você precisa deixá-la com desejo também, não vá ser um idiota e fazê-la gozar...
Se estivesse em outro momento, até brincaria com vocês.
— Nem pensar, você fica de fora, já decidimos que não vou compartilhar a Rachell.
— Está bem! Aponte para outro lado, primo; já disse que, se estivesse em outro momento, mas
sim, quero ajudar a montar essa vingança, não desanime, Samuel, não desanime — aconselhou.
— Ajudaria a fazer qualquer coisa? — Perguntou, enquanto seu cérebro era substituído pelo
de Nicolau Maquiavel.
— Não… Eu não mato ninguém, sou um boca-grande — Disse, abrindo os braços de maneira
despreocupada e sorrindo.
— Você não vai matar ninguém, só tem que trazer a Rachell... É que eu tenho certeza que seu
pedir, ela não virá e ela não é tonta, já trocou a senha para abrir o elevador, não pude entrar no
seu apartamento.
— Ah, bom... Se é para meter a mansa pombinha na gaiola, conte comigo... Para quando quer?
— Na próxima semana, na quarta-feira, que consigo encontrar um espaço na agenda, depois
do meio-dia.
— Você só tem que limpar o sangue — Disse, estendendo a mão para fechar o pacto entre
primos.
—Não se preocupe, vou me encarregar de tudo… — Disse, elevando uma sobrancelha com
supremacia, enquanto sua cabeça forjava a maneira de se vingar de Rachell.

********

O olhar de Oscar caía sobre Rachell, que dava voltas como louca e pulava como uma mola,
entre suas mãos tinha um bilhete que ele acabava de entregar. Gostava de vê-la assim, como se
fosse uma criança, na verdade, como era mesmo, Rachell ainda era uma criança, uma criança que
ele protegia e por quem daria a vida, se fosse necessário.
Os olhos se encheram de lágrimas ao lembrar que Jordan, sua filha, teria a mesma idade, se
estivesse com ele, se ainda estivesse neste mudo, seria tão alta e magra como aquele anjo saltitante
que estava na sua frente. Não conseguiu evitar lembrar quando viu Rachell pela primeira vez,
como se fosse um raio de luz que o ajudou a seguir adiante.
Muitas vezes, doía vê-la tão retraída, desconfiada, essa força que demonstrava não era mais
que uma carcaça para esconder sua verdadeira vulnerabilidade, esconder atrás da máscara como
tinha ficado machucada, tanto física quanto emocionalmente, por aquele filho da puta que esteve a
ponto de matá-la.
— Não dá para acreditar! Está nas minhas mãos, Oscar… Só quinze dias me separam da Itália,
tudo será perfeito, seremos ela e eu, juro que vou desmaiar — dizia muito emocionada.
— Não, não vai, precisa ter cuidado.
— Já me vejo na primeira fila, admirando os desenhos de Armani, Rossella Jardini, Roberto
Cavalli, Domenico Dolce, Salvatore Ferragamo… Donatella Versace… Ai, eu vou morrer! — Disse e
as lágrimas encheram seus olhos, sem conseguir evitar, soltou um soluço.
— Por que está chorando, Rachell? Venha aqui — Pediu, abraçando-a. Ela quase nunca
chorava e, mesmo sabendo que era de felicidade, ficava com o coração apertado.
— Porque estou muito feliz... E porque tenho medo de andar de avião, com certeza, terei um
ataque de pânico... Não tenho a menor ideia de como apertar o cinto de segurança de um avião
— Disse, em meio a um choro de felicidade e preocupação, abraçando Oscar.
— Não deve ser diferente do cinto do carro — garantiu, acariciando seus cabelos, enquanto
sorria com ternura. — E, se não for, com certeza vão explicar, não acho que o seu medo de voar
vá impedi-la de conhecer a Itália e ir ao desfile.
— Não há altura suficiente que vá me impedir, você vai ver, tomo um calmante ante de entrar e
tudo certo.
— Claro que tudo vai dar certo — murmurou, beijando seus cabelos. — Amanhã tenho que ir
buscar a credencial, já falei, você vai conseguir... Tudo o que se propuser a fazer, vai conseguir,
falei para estudar e você se formou, falei que ia ter sua butique e já tem, disse que vai viajar e a
Itália está esperando; agora digo que não vai demorar muito para ver seus desenhos nas
passarelas, vai ver... Tudo, absolutamente tudo o que se propuser a fazer, vai conseguir, Rachell,
até se apaixonar e deixar que amem você.
— Não, Oscar, você sabe bem que não sou esse tipo de mulher que pode merecer ser amada,
não serei nunca.
— Você tem uma ideia muito errada do que é o amor, o verdadeiro amor, Rachell, e isso você
deve entender, já falei, não era amor... Não era.
— Não vamos mais falar disso… Por favor — suplicou com um fio de voz.
— Está bem… Prometi que nunca a pressionaria e não vou fazer isso.
— Obrigada… Quer que eu faça umas tranças enquanto a Sophia não chega? Que, com
certeza, está fugindo de mim.
— E por que ela teria que fugir? — Perguntou, dirigindo-se ao sofá no centro do pequeno
apartamento, enquanto Rachell procurava elásticos e o pente.
— Por algo que ela me fez, é uma traidora, mas logo vai saber.
A voz de Rachell não mostrava raiva e Oscar supôs que eram só as mesmas bobagens entre
elas e que terminariam como se nada tivesse acontecido.
A garota chegou e fez com que ele sentasse no sofá, ela se sentou no encosto, deixando-o entre
suas pernas, dedicou-se à tarefa de elaborar as tranças, o que levaria mais de uma hora, mas
tinha certeza que, enquanto conversavam, o tempo passaria muito rápido.
Rachell estava na metade quando a porta principal abriu; era Sophia que entrava com uma
sacola de supermercado com ingredientes para o jantar, exatamente como tinham planejado. Deu
um olhar fulminante na amiga que, em troca, deu um inocente sorriso e foi direto para a cozinha.
Sophia sabia que teria que aguentar o sermão de Rachell e tudo o mais pela ajuda que deu a
Garnett, que quase não a deixava respirar, ligando ou escrevendo toda hora, com o único objetivo
de que ela desse informações sobre Rachell.
Aquele homem estava louco pela sua amiga, embora tentasse esconder, não conseguia, estava
muito evidente, tanto quanto ela, por isso, depois de pensar muito bem, decidiu ajudar, porque
sabia que Rachell não cederia tão fácil, precisava aproximá-la do procurador e ela só foi o meio
para isso.
— Sophia Cuberth, você é a pior amiga que pode existir, é uma traidora. — A voz de Rachell a
surpreendeu enquanto tirava a compra da sacola.
— Eu? O que eu fiz agora? Não sei do que você está falando, Rachell — Disse, virando-se sem
parar o que estava fazendo, tentando parecer o mais normal possível.
— Sabe sim, claro que sabe... Como é que você vai embora e me deixa sozinha no Spa e com
Garnett. Você que falou que eu estava ali. —Acusava e apontava com o indicador.
— Eu o quê? — Perguntou, fingindo inocência e surpresa. — O procurador?... Eu nem sabia que
ele ia ao mesmo Spa — Franziu a boca em uma meia lua, enquanto negava com a cabeça.
— Não se faça de tonta, porque você sabia, sabia que ele ia me trancar no quarto de
massagem, por isso, não quis me acompanhar.
— Um momento, por favor! Você está me confundindo, eu não sabia de nada... Quando
perguntei por você, falaram que já tinha ido embora e então também fui... Só isso, não sabia nem
de Garnett, nem de ficar trancada na sala de massagem — Levou as mãos até a altura do peito,
em modo de rendição.
— Ah, sim, não sabia de nada, mas não acredito. Por que não me ligou para saber onde eu
estava? — Perguntou, tentando fazer que sua amiga confessasse a culpa.
— Porque não achei que fosse necessário, sabia que nos encontraríamos aqui... E pare de me
acusar… — mostrou um semblante mais sério, tentando ser convincente. — E todo esse drama só
porque se jogou no Samuel, que tenham protagonizado uma cena pornô contínua não é culpa
minha.
Diante das palavras de Sophia, Rachell ficou de boca aberta, ela a tinha chamado de atriz
pornô. Não dava para acreditar!
— Não foi contínua! — Exclamou em sua defesa.
— Bom, isso é você que sabe, não eu… — murmurou a garota e se virou, tentando controlar a
gargalhada. — E aí? Como ficou? Já resolveram suas diferenças? — Perguntou depois de respirar
fundo em várias oportunidades para não rir e parecer um pouco séria.
— Não sei... Bom, coloquei algumas regras que ele deve cumprir.
— Vamos, Rachell! Que regras, que raios... Deixe seu orgulho, você está estragando tudo,
amiga.
— Não, agora é como eu disser, estou cansada de Samuel ter o controle, agora sou ele, ele não
é o príncipe de Dubai, portanto, tem que se adaptar. Não sou dessas menininhas que ele está
acostumado a ter de joelhos para que o chupem quando ele quiser. Não, senhor! Sophia, algumas
vezes temos que pensar e ignorar um pouco o que está entre as pernas, embora seja difícil.
— Você tem razão, muita razão... Mostre para ele que tem o poder, do qual você pode dar a
conta-gotas, já sabe... Para não cansar... Rachell, muitas vezes você é mais inteligente que eu —
Disse Sophia, de brincadeira.
Rachell só se aproximou e a abraçou, dando um monte de beijo na bochecha esquerda.
— Não sou mais inteligente, lembre-se que tudo o que sei foi você que me ensinou.
— Agora sim, você me fez sentir vinte anos mais velha, não quatro.
— A sabedoria não é ensinada pelos anos, mas sim pela experiência.
— Obrigada, isso vai me animar... Então, conte, como foi com o procurador? — Indagou,
sorridente, cumprimentando-se internamente por ter se saído bem da situação.
— Que bom… — Levantou os ombros. — Não ganho nada em negar, se o desgraçado sabe o
que faz, tem, no mínimo, um mestrado transando e que a fama dos brasileiros é certa.
— Então o homem se mexe bem? — Perguntou com malícia a ruiva.
Rachell só levantou os olhos e soltou um longo suspiro, arrancando uma gargalhada da Sophia.
— Vou terminar as tranças de Oscar, vá adiantando o jantar, ah... Já tenho a passagem para
Itália em mãos — Disse, caminhando.
— Não perca a oportunidade de constatar agora a fama dos gigolôs... deve ser divino escutar
um Mamma Mia! No meio de um orgasmo.
Rachell soltou uma gargalhada e continuou seu caminho, enquanto negava com a cabeça, diante
das declarações de Sophia.
CAPÍTULO 10

Megan tinha aproveitado a permissão da sua mãe, ela sabia que a única coisa que queria era
ficar sozinha em casa com seu professor de Taichi que, na verdade, parecia um ator, mas já nem se
importava. Além disso, queria sair para passear com Tyrion, seu adorável hamster, quis ligar para
Thor para passarem um tempo juntos, porque seu motorista tinha ido lavar a limusine, mas sabia
que seu namorado tinha que trabalhar. Não podia ficar com ele ocupando todo o seu tempo. Como
não tinha carro, nem sequer uma bicicleta para se afastar bastante, só deu para caminhar pelas
zonas verdes perto da sua casa e chegou ao parque que estava a umas três ruas de distância.
— Tyrion, se eu tirar você daí, promete não fugir? — Falava com seu animalzinho, sentando-se
sobre o calcanhar e colocando a gaiola na grama, enquanto era coberta pela sombra de uma
frondosa árvore. — É bonito este lugar, escute o canto dos pássaros.
A garota abriu a pequena grade e pegou o animal, aproximou-o dos seus lábios e deu um
beijo. Como passava bastante tempo com ele, acabou por domá-lo completamente.
— Olha que surpresa! — Exclamou uma voz atrás dela.
Megan só colocou Tyrion de volta na gaiola e estava fechando a porta quando sentiu um puxão
no cabelo.
— Solte, Erika — exigiu, com raiva, inclusive quando as lágrimas de dor encheram seus olhos e
procurou com o olhar para pedir ajuda, mas o parque estava vazio e sabia que era por causa do
horário.
— Você está louca se acha que vou soltá-la, estava esperando por este momento... Foi por sua
culpa que me expulsaram da universidade — Disse sem soltar.
— Eu não disse nada, não fiz nada... Solte — Sem conseguir mais, soltou um soluço, enquanto
agarrava as mãos de Erika, tentando soltar.
— Sim, foi você, foi seu namorado... Ele foi com um advogado, foi a secretária da diretora que
me disse.
— Isso é mentira... Você é uma mentirosa, está inventando tudo isso.
Nesse momento, e sem a soltar, dando um nó no cabelo de Megan, deu a volta e ficou em frente
a ela.
— Não é mentira, tenho certeza. Ewin averiguou nos expedientes... enquanto transamos, ela não
mente.
Nesse momento, o estômago de Megan revirou ao escutar Erika dizer que mantinha relações
sexuais com a secretária da diretora da universidade.
— Se você tem tanta certeza que foi Thor, também tem certeza que merecia essa expulsão por
ter me agredido—Disse, buscando equilíbrio, sentindo que as lágrimas corriam pelas têmporas.
— Não merecia, eu tinha advertido, se você tivesse se comportado bem, não precisava
machucá-la.
— Eu falei que não gosto de você, não sou lésbica... Tenho nojo — Deixou claro o que sentia
nos gestos do seu rosto e começou a bater nos braços de Erika, tentando encontrar uma maneira
de alcançar o rosto, mas sua agressora mantinha a distância necessária.
— Você não pode dizer que não gosta de algo se nunca experimentou... vamos ao meu
apartamento, vamos de boa, Megan.
— Não! Você é doente... Louca, nunca irei a nenhum lugar com você.
— Bem, como quiser — Disse, chutando a gaiola, fazendo o hamster se assustar e fugir.
— Tyrion! — Chamou Megan, mas o animal fugiu e seus olhos se encheram de lágrimas.
— Ops! Seu ratinho foi embora... Megan, não quero ter que forçá-la a nada, mas encontrarei
como fazer isso, caso não colabore. Você só precisa acabar com a vontade que eu tenho, depois
não a procuro mais — Disse, soltando-a com força de dando um empurrão que a jogou na grama.
Megan se arrastou, para se afastar e ficou de pé. Saiu correndo atrás do animalzinho, mas já
não o via. Ficou com muita raiva, raiva que estava a um passo de se transformar em ódio e virou.
Viu como Erika se afastava e correu até ela, com toda aquela energia que a consumia.
Agarrou-a pelo cabelo e puxou com força, tanta força até a jogar no chão. Em um movimento
rápido, sentou-se em cima dela e começou a dar bofetadas, descarregando aquela ira que sentia.
Mas Erika era mais alta e mais forte e, em poucos minutos, os papéis se inverteram, fazendo
Megan sentir ardor e dor no rosto, diante das bofetadas. Mas Megan não se acovardou, deu o
troco, rolaram em várias oportunidades, batendo com toda a força, as duas se arranharam até
sangrar.
— Senhorita Brockman! Senhorita Brockman! Acalme-se — Pediu um homem, pegando-a pela
cintura e tirando-a de cima de Erika e rapidamente ficou entre as garotas.
As duas estavam com o cabelo completamente desarrumado, respiração agitada, vermelhas
pelos golpes e pelo sangue. Uma tinha sangue no canto direito da boca e a outra, no nariz,
enquanto se desafiavam com o olhar.
Erika aproveitou que o homem olhava fugazmente para Megan para fugir dali.
— Não a deixe ir! — Pediu, quase gritando, sentindo-se presa ao lugar, quando tentou correr
atrás de Erika e o homem a segurou. — Foi ela que começou, me agrediu.
— Isso vai ser solucionado de outra maneira, não precisa sair por aí batendo nela.
— E quem é você para me dizer o que tenho que fazer? — Disse, encaminhando-se para
buscar o hamster, tendo consciência de que não o encontraria, por isso, começou a chorar diante
da impotência e da raiva. — Tyrion! Tyrion! Venha… Não vai acontecer nada — Tentava controlar
o choro que causava saber que seu animalzinho estava perdido, isso doía mais do que qualquer
golpe ou puxão de cabelo.
Enquanto era seguida pelo homem que a fez parar de repente, escutou falar o nome do senhor
Garnett e que contava parcialmente o que tinha acontecido.
— Sim, senhor, já passo para ela… — Disse e passou o celular para Megan, que girava bem
nesse momento. — O senhor deseja falar com você.
— Megan, o que aconteceu? Você está bem? Minha vida, você está bem? — A voz de Thor
evidenciava uma grande preocupação, tanto que era a primeira vez que a chamava de 'vida'.
— Tyrion… fugiu — Disse e não conseguiu segurar o choro.
— Você está bem? Aquela louca machucou você? — Agora era raiva que expressava e que
não conseguia conter.
— Estou bem... Estou bem, mas o Tyrion não está aqui.
— Megan passe o telefone para Kevin — Pediu e ela obedeceu.
— O que aconteceu com o hamster? — Perguntou ao guarda-costas o que tinha falado a
namorada.
— Fugiu, senhor, parece que a portinha da gaiola abriu quando as garotas brigaram.
— Kevin, estou indo aí imediatamente, não deixe a Megan sozinha. Preciso que procure
pessoas, quantas forem necessárias, quem passar pela sua frente... Vinte, trinta, cem pessoas e que
comecem a procurar o hamster.
— Senhor… — Não encontrou as palavras para dizer ao seu chefe que isso era um exagero
por um animal.
— Faça isso, Kevin. Ofereça mil por pessoa, dois mil, se quiserem, mas encontrem o hamster.
— Como o senhor quiser — A voz de comando do rapaz não deixou opções à réplica, desligou
a chamada e viu dois rapazes que não tinham mais que quinze anos. Aproximou-se deles e fez a
proposta, eles aceitaram e o homem disse que, se tivessem amigos, que avisassem.
Em menos de dez minutos, já tinha mais de uma dúzia de meninos procurando o hamster,
enquanto Megan continuava revirando cada canto e o choro aumentava à medida que suas
esperanças desapareciam, era seu animal de estimação, a quem contava seus segredos e tinha
desaparecido.
— Megan! — Thor a chamou em um grito, tão logo desceu do carro e a viu lá longe, quase
jogada no chão, procurando embaixo de um banco.
Nunca na sua vida tinha vivenciado aquela sensação de pressão no peito, aquela angústia que
o fazia tremer. Tudo tinha sido tão simples, tão fácil e agora, com Megan, começava a
experimentar o medo... Medos verdadeiros, não ter medo que o Brasil perdesse um pênalti na
Copa ou que Diogo encontrasse antes dele as entradas para o Super Bowl, o que sentia calava os
ossos. Sem conseguir se segurar, correu até ela, queria ver se ela estava realmente bem.
Megan levantou os olhos diante do chamado e viu seu namorado correndo até ela. Levantou-se
e correu até ele o mais rápido que pôde, sentindo seu coração bater forte e as lágrimas presas na
garganta. Quando estiveram suficientemente perto, Thor a levantou, sem o menor esforço, para
ficar na mesma altura.
— Megan, você não está bem... Você mentiu, olha como está seu rosto, está sangrando. —
Limpou com o polegar o canto direito da boca que estava com sangue e observou seu cabelo que
mais parecia um ninho de pássaros, todo remexido.
— Eu estou bem, Thor. Só quero o Tyrion.
— Eles vão encontrar... Você vai ver, não deve ter ido muito longe, com certeza, está assustado
— garantiu, dando com cuidado e ternura um beijo nos lábios. — O que ela fez com você?
— Estava me cobrando o caso da expulsão... Disse que você fez com que ela fosse expulsa da
universidade. É verdade? —Thor só abaixou os olhos até o pescoço da garota, vendo um
arranhão.
— Ela machucou mais do que você imagina, Megan — murmurou com raiva.
— Thor, você não respondeu minha pergunta. É verdade que você fez com que a expulsassem?
— Sim, mas ela mereceu... Megan, você ia viajar, não queria deixá-la desprotegida, queria que
estivesse segura... Faço isso porque gosto de você.
— Por isso também me colocou um guarda-costas escondido? Isso não é certo, Thor... Mão sou
uma menina, não quero que me trate como meu pai... Me coloque no chão, por favor — pediu,
sentindo-se chateada e dolorida.
O loiro fez o que a garota pediu e se sentiu mal por não ter sido sincero desde o começo.
— Só faço isso para proteger você, não para sufocar... Viu só o que essa louca fez? Se o Kevin
não chegasse a tempo, teria machucado ainda mais.
— Se o Kevin não estivesse lá, eu teria arrancado os olhos dela; ele me tirou de cima dela
quando eu estava ganhando. Se eu estou ferida, você tem que ver como ela ficou. Não sei de
onde tirei forças, mas bati bastante, ela me fez perder o Tyrion. — Sua voz mostrava caráter, mas
ao falar do animal, não aguentou.
— Essa é minha namorada! Você vai ver, vou ensinar boxe para você, assim, da próxima vez, se
o Kevin não chegar em tempo, você bate de novo, dessa vez, no fígado — Tentou animá-la,
passando o braço por cima dos ombros, aproximou-a dele e deu um beijo no cabelo bagunçado.
— Vamos encontrá-lo. Quer que eu ajude a procurar?
— Sim, por favor — Pediu, aproximando-se e dando um beijo no peitoral direito, já que era até
onde alcançava.
Depois de meia hora de busca, um dos garotos se aproximou dos dois com o animal. Megan
imediatamente pegou-o nas mãos e sabia que era seu Tyrion por causa da fita vermelha no
pescoço. Beijou-o várias vezes e começou a falar com ele.
Thor pediu que o colocasse na gaiola, enquanto ele pagava pelo resgate de Tyrion, que saiu
em doze mil dólares. Tempo depois, estacionava em frente à casa de sua namorada, que estava
com a gaiola em cima das pernas.
— Vou encontrar um jeito para ela não perturbar mais... Tem que haver uma maneira, porque
ela não ataca só na universidade. Ela é louca e você deve se proteger.
— Não acho que ela vá se meter comigo de novo. Ficou bem claro que sei me defender.
— Megan, não quero assustar e sei que você é forte, mas Erika está obcecada por você e
pode ser perigosa. Não vou deixar que ela machuque e quero que saiba que eu vou agir. Não
falei sobre a expulsão, mas agora eu falo, vou afastá-la de você a qualquer custo.
— Thor, não é necessário — murmurou, porque não queria que ele tivesse problema por sua
causa.
— É sim, claro que é. E não se fala mais nisso. Sua boca está doendo? — Perguntou,
aproximando-se dela.
— Só um pouco — Disse, com meio sorriso.
— E poderia me dar um beijo?… Vi que você só dá beijos no Tyrion, vou ficar com ciúme, já
tenho suficiente em saber que ele está no seu quarto de dia e noite e que vê coisas que morro de
vontade de ver.
Megan levou as mãos no rosto de Thor e se aproximou, dando vários beijinhos. Quis dar um
beijo mais íntimo, mas sabia que a dor não deixaria.
— Se você quer me ver sem roupa, convido para vir ao meu quarto nesta noite... Diga que
pode subir à sacada, Romeu?
— Escalaria o Monte Everest por você, mas não quero que seu pai me jogue pelado na rua.
Megan, vou precisar de muito tempo, não algumas horas e também não quer ter que reprimir
minhas emoções. E, acredite, também não vai querer reprimir... Seu quarto não é o lugar mais
adequado. Não enquanto não puder se controlar. Terei a oportunidade de cumprir essa sua
fantasia... Quero que lembre que comigo vai fazer tudo o que quiser, como quiser e onde quiser. É
só pedir e eu cumpro.
— Isso é muito tentador... Está falando de fantasias sexuais? —Perguntou a garota com malícia.
— De todos tipos, minha querida namorada.
— Sabe… Eu li um livro… — Tentava explicar quando ele interveio.
— Não me fale, já sei que livro você leu… — Disse, soltando meia gargalhada.
— E vai fazer aquilo? — Perguntou sorrindo com malícia.
— Claro, tudo o que quiser, mas isso será quando estiver preparada. Portanto, vai preparando
essa bunda, porque você vai levar umas chicotadas... Isso sim, nem ouse pensar no personagem do
livro.
— Não… Não vou fazer isso, só penso em você, enquanto lia, só pensava em você. Juro que
você não sai da minha cabeça nenhum momento.
Thor não conseguiu evitar morder o lábio inferior; uma reação espontânea que enviaram as
pulsações no seu pênis, que começava a despertar. A voz de Megan era uma melodia de flauta
que fazia aquela serpente levantar.
— Se você pensa em mim... Pode ir conhecendo seu corpo. Não quero assustá-la, só quero que
você tenha confiança.
— Já fiz isso, querido namorado. Sou virgem de prática, não de teoria. — Pegou o queixo do
rapaz entre o indicador e o polegar. — Não acredito que você esperava que eu dissesse a vil
mentira que não sei o que é isso ou que nunca fiz, quando estamos em 2013 e a sexualidade está
em todas as partes.
— Acho que você é meu complemento. Algo me diz que você e eu vamos passar muito, mas
muito bem.
— Não duvido. Espero que você dance samba! Na horizontal — Deu uma piscadinha.
— Você está me assustando, Megan. E está me provocando — murmurou, aproximando a boca
e, a porto do beijo, ela abriu a porta e saiu, deixando-o desorientado.
Megan segurou com uma mão a gaiola e, com a outra, a beijou para assoprar e lançar o beijo
no ar, com destino para a boca de Thor.
— Você está se comportando mal, Megan, já ganhou algumas chicotadas — Disse, quando
ligava o carro e, embora quisesse parecer sério, não conseguiu segurar a risada.
Ela, sorridente, se despediu com um gesto da sua mão e se dirigiu ao imenso portão de ferro
forjado da mansão Brockman, que tinha três andares, com um estilo vanguardista.
O loiro começou sua viagem de volta ao grupo EMX, sem deixar de ficar surpreso com tudo o
que Megan o fazia sentir. Além de fazê-lo que se comportasse de maneira espontânea, de
esboçar palavras que nem sequer pensava, saíam à toa. Eram novas emoções que vivenciava e
que gostava bastante, ele se sentia um adolescente.
CAPÍTULO 11

Samuel e William Cooper, o diretor técnico da polícia científica, estavam em um restaurante do


distrito de Manhattan acabando de comer. O funcionário tinha aceitado o convite do procurador e,
embora fossem muito amigos e não estranhou a ação do jovem, sim achava estranha a atitude
entre taciturna e nervosa, mas também via decisão e ansiedade nos movimentos e no olhar do
rapaz.
Pegava seu vinho e, com diplomacia, olhava a pasta que estava na mesa, que Samuel mantinha
pressionada com uma mão, assegurando, protegendo, como se disso dependesse sua vida.
— E então, Garnett. Qual é o favor que quer me pedir — Perguntou, colocando com cuidado a
taça em cima da mesa e fixando o olhar em Samuel, indicando que tinha toda a sua atenção.
— Cooper, realmente estou péssimo, estou muito enrolado, não sei nem por onde começar... Mas
tenho certeza de que quero começar, isso já é uma obsessão há alguns anos, isto que tenho aqui é
um expediente, um caso que quero reabrir e preciso da sua ajuda.
— Bom, o encarregado disso é você, não eu, aqui o procurador é você.
— Sim, sei perfeitamente quais são minhas funções, só que este não é um caso qualquer — Seu
tom de voz frugal deixava clara a seriedade do assunto. — Preciso do seu respaldo, quero que
me ajude a dar veracidade.
— Conte comigo, se tiver as provas suficientes e a pessoa interessada em reabrir, não vamos
perder tempo.
— Não, esse é o problema; não tenho a pessoa interessada em reabrir o caso, aqui o
interessado sou eu.
— Se for algo do Estado, não me meta nisso, deixe com o FBI; se tiver a ver com algum político,
menos ainda — O homem tentava se proteger e, ao mesmo tempo, delegava qualquer problema a
outra entidade.
— O FBI não tem nada a ver — enfatizou para Cooper não duvidar em prestar sua ajuda. —
Não é tão complicado e quero fazer justiça. Isto aconteceu faz alguns anos, mas ficou no
esquecimento já que, em poucos dias, o caso foi arquivado, quero ordenar a reabertura porque a
resolução do juizado naquele momento foi precipitada.
Não sei se praticaram as mínimas diligências indispensáveis para tomar o completo conhecimento
da forma exata em que os fatos ocorreram.
—Entendo... E o que eu posso fazer? — Perguntou, remexendo-se no assento, procurando maior
comodidade e colando toda a atenção no seu interlocutor.
— Que me ajude a conseguir provas, todas as necessárias, não quero que aconteça a mesma
coisa. Só quero ver os culpados atrás das grades, quero de recebam a maior pena, quero que se
afoguem na sua merda até o dia em que morrerem e não vou descansar até vê-los nas celas
máximas — Suas palavras evidenciavam só a metade do ódio que surgia na alma de Samuel.
— Você está me assustando, amigo! — Exclamou um pouco alarmado Cooper. — Você sabe
que vai precisar da ordem de um juiz para poder buscar as provas?
— Isso eu consigo, todas que sejam necessárias.
— E o procurador geral sabe disso? — Perguntou com cautela.
— Não, não sabe, é que se eu apresentar o caso como está agora, ele vai me mandar enfiar
no rabo.
— Se você acha que o procurador geral não irá aceitar é porque as provas não são
suficientes.
—Fale algo que eu ainda não saiba, Cooper! Por isso, estou recorrendo a você — Exclamou, um
pouco exasperado.
— Bem, então me dê o que tem, estudo o caso e, em alguns dias, dou minha resposta, vamos ver
por onde começamos... Tem o caso em mãos?
— Sim, aqui está, não é nada tão cabeludo. Só precisa colocar interesse, ninguém se interessou,
não tinham quem exigisse justiça, mas agora não só quero que se faça justiça, como também que
pesem sobre os culpados todos estes anos de impunidade.
—Você está muito envolvido nisto, Garnett? — Perguntou com discernimento ao notar aquele
estado tão comprometido do rapaz.
— O suficiente.
— Conte comigo, sei que, agora, você não quer me contar o quanto está metido em tudo isso,
mas não precisa dizer e sabe disso.
— Sim, vou dizer o quanto estou envolvido nisto — Sua voz ficou trêmula e abaixou o olhar no
envelope, que entregou lentamente ao homem. — Como estão as coisas no trabalho? — Perguntou,
elevando o olhar e mudando o tema e o semblante.
— A mesma coisa de sempre, além de esgotado porque mal dormi, não é fácil ser pai
novamente depois de nove anos, embora as emoções sejam as mesmas da primeira vez — Sorriu
com orgulho. — E você, quando vai sossegar? Já está na hora de colocar seu grãozinho de areia
para o futuro.
— Não, nem pensar, Cooper, não consigo ligar comigo mesmo, muito menos com um filho e uma
esposa... Até me dá arrepio a palavra, posso ser responsável com meu trabalho, mas não com a
minha vida.
— Tudo é questão de se acostumar, Garnett. Todo ser humano está preparado para viver essas
experiências.
— Não, meu irmão, eu sou uma exceção. Crianças longe de mim... Não tenho paciência, sem
sequer para conviver com uma mulher, você sabe bem que minha família foi composta de homens.
Uma mulher fora da cama não serve para mim.
— Um dia, você vai encontrar uma mulher que desperte o instinto paternal — Elevou as
sobrancelhas com predomínio.
—Sou completamente sincero, não quero encontrar... Minha vida já é bastante complicada, não
tenho espaço para um filho nos meus planos; muito menos uma família para domingos com
churrasco.
— Vai chegar o dia em que vou colocar a mão no ombro e dizer "Eu falei".
— Eu me cuido muito, a menos que você seja vidente.
— Não precisa ser vidente — Nesse momento, chegou o garçom com a conta.
Samuel tirou um cartão de crédito e sua identificação e colocou no menu, para depois, em um
ato inconsciente de nervosismo, ajustar o nó da gravata e alisá-la.
Minutos depois, os dois se despediram no estacionamento, Cooper com destino ao seu trabalho e
Samuel, ao apartamento. Já tinha terminado completamente seu dia de trabalho para realizar sua
doce, porém bem elaborada, vingança, que tinha desejado cada segundo, desde que Rachell foi
embora, deixando-o sozinho no Spa.
Embora muitas vezes teve vontade de ligar para ela, para mostrar o interesse e os desejos que
tinha por ela. Não fez isso, se conformava em vê-la diariamente, a cada segundo, roubando sua
concentração no outdoor que estava colocando no fundo da torre Garnett e que podia apreciar
do seu escritório.
Ela também não tinha ligado para ele, quase nunca o fazia e era isso que ele gostava em
Rachell, essa mostra de desinteresse por sua sorte. Isso só fazia que sua vontade de a procurar
aumentasse. Nunca tinha vivido isso, pela primeira vez na vida, tinha que buscar, pedir... Sempre
tinha gostado das coisas difíceis, lutar pelo que queria, porque sentia que dava mais valor, que
tirava o sono. As coisas fáceis cansavam rapidamente e, assim, acabavam imediatamente no
esquecimento, eram como um copo descartável, que jogava fora depois de usar, porque sabia que
poderia comprar ou ter sem o menor esforço.

Rachell seguia com passo seguro Thor, que a guiava à academia para mostrar a emergência
que tinha sido apresentada, tinha aceitado acompanhá-lo porque tinha certeza que Samuel estava
trabalhando, o que foi confirmado no momento em que os dois falaram por telefone, no caminho
da butique até o apartamento.
Ao entrar, o lugar estava escuro e oferecia a transparência dos vidros que saíam da parede, já
que as luzes estavam apagadas. Porém, o lugar trazia algumas lembranças, principalmente de
Samuel com o peito nu, fazendo acrobacias e tentando ensinar capoeira para ela, sem conseguir
nenhum resultado positivo. Era impossível aprender algum passo enquanto o professor atiçava os
hormônios até não poder mais; ela sabia que ele não tinha ideia de como estava fodidamente
sensual.
— Espere um minuto, Rachell, vou acender as luzes no interruptor que fica no corredor —
Informou Thor e saiu sem esperar resposta.
— Está bem, Thor, eu espero, não vou fugir daqui… — Nem terminou de falar quando as
portas de correr se fecharam e, num ato reflexo, deu um salto. Paulatinamente, tudo começava a
ficar submerso na escuridão total quando as persianas começaram a abrir.
— Você não vai ter como fugir, desta vez, você não vai escapar — A voz de Samuel vinha de
algum lugar da academia, mas, na escuridão, não podia dizer exatamente de onde.
Rachell girou sobre os saltos, tentando ver algo, querendo se adaptar à escuridão, enquanto o
coração chegava até a boca e suas pernas começaram a tremer, excitando-se com o tom de voz,
mas também ficou brava com Thor, por ter participado da armadilha. Ficou com medo que Samuel
a surpreendesse em algum momento, por isso, começou a se mover pelo lugar, evitando qualquer
possível contato com o homem que a fazia saltar barreiras.
— Você não vai me prender a vida inteira, só um covarde faz isso, Samuel — Disse, com
segurança; porém, sua voz vibrava.
— Chame do que quiser.
— Você poderia aparecer, pelo menos; acha que é David Copperfield? — Disse com sarcasmo.
— Ele tem truques, eu tenho poder, e tenho sobre você, já sabe bem.
— Nossa! Sua humildade vai me fazer chorar — dizia caminhando entre aparelhos, que
tentava tocar para se guiar, mas, um segundo depois, descobriu que tinha sido má ideia. — Merda!
Eu mato você, Samuel — Exclamou, diante da dor que sentiu quando sua panturrilha bateu contra
algo, tinha certeza que iria sangrar. — Estou muito brava, de verdade, portanto me deixe sair ou
acenda essas malditas luzes — Passava a mão na parte atingida.
A gargalhada do rapaz só a deixou mais brava, porque se tinha algo que desse muita raiva
era ser objeto de brincadeira; caminhou até um lugar seguro, fora de qualquer equipamento que
pudesse atentar contra sua integridade. O eco dos seus saltos sobre o piso de madeira indicou que
ela tinha chegado à área que tinha reformado para a prática de capoeira.
Se, pelo menos, pudesse ver, teria se armado com um haltere; seria suficiente para nocauteá-lo,
caso se aproximasse mais do que o permitido.
Em um abrir e fechar de olhos, uma luz acendeu sobre ela que, de tão repentina, a cegou,
fazendo-a dar um passo para trás e seu corpo encontrou uma parede. Um zumbido de algo
cortando o ar calou nos seus ouvidos e, alguns segundos depois, quando quis se movimentar, não
conseguiu. Só viu uma lâmina vibrando embaixo do seu braço e sendo enfiado no tecido do sua
linda, cara e exclusiva roupa em forma de quimono.
Nem se recuperava do aturdimento, quando outra lâmina imobilizou o outro braço, talvez se
puxasse, conseguiria se liberar, mas não queria estragar ainda mais a roupa. Não conseguia
acreditar, seus olhos perdidos olhavam para as lâminas, que a mantinham imóveis, movendo a
cabeça de um lado para o outro.
Nem conseguia falar, estava a ponto de vomitar o coração e o sangue circulando com tanta
rapidez ia explodir as veias; estava assustada e enfurecida. Nunca tinha tido aquela sensação de
querer matar alguém com tanta intensidade como queria fazer com Samuel. Podia ser muito cruel,
estava se imaginando arrancando as vísceras com uma das malditas lâminas que estava
estragando uma das suas peças que mais gostava.
Sua vista se fixou em Samuel, que saída da penumbra, deixando-se admirar por ela e, ao susto
e à raiva, acrescentava-se agora a excitação. Sua barriga começou a vibrar e seus joelhos a
tremer. A boca, primeiro secou, mas depois ficou cheia de água e, mesmo que não quisesse olhar
para ele, não conseguia evitar. Era impossível desviar-se ao ver aquele homem com calça jeans
preta, só uma maldita calça jeans preta e brincava com uma das lâminas entre as mãos, parecia
um lobo... Não... Não era um lobo.
Era uma pantera, seus passos lentos, mas, ao mesmo tempo, seguros marcavam o ritmo das suas
palpitações; aquele olhar que brilhava entre as sombras era o mais próximo de um felino que
podia existir; assustava, mas, ao mesmo tempo, hipnotizava e imobilizava diante da sua perfeição,
virilidade e sexualidade, tanto que, embora as lâminas não impedissem seus movimentos, não iria se
mover para não deixar ser devorada por uma mordida dessa pantera.
Samuel sentia seu entusiasmo aumentar e a nuca começava a brilhar diante do olhar desafiador
de Rachell, demarcada pelos cabelos pretos que caíam nos dois lados do rosto; estavam mais lisos
do que nunca e divididos na metade, querendo imitar o estilo de uma japonesa. Mas aqueles olhos
grandes e sua altivez eram envolventes, definindo uma atitude que as asiáticas não tinham. Aquela
mulher o acendia como nenhuma outra, provavelmente soube desde o primeiro instante que a viu,
desde que demonstrou aquele caráter que tanto gostava, era sua essência. Gostava de discutir
pela sua profissão e, agora, com Rachell, tinha encontrado a maneira de fazer por paixão.
Aproximou-se o suficiente, tanto para sentir o calor do corpo feminino e sua respiração, embora
houvesse medo no olhar, também havia desafio e bronca que começavam a influenciar o seu pênis.
Os dois se sumiram em um duelo de olhares por amis de cinco minutos, empenhando-se somente
quando era realmente necessário. Ela tinha aprendido a não se desviar e ele não se deixaria
ganhar, por isso, em um movimento rápido, cravou a lâmina com força e precisão em um lado da
cabeça de Rachell, fazendo com que ela fechasse os olhos e desse um sobressalto. Mas foi questão
de segundos para recuperar o prumo. Uma vez mais, elevou as pálpebras e fixou nele suas
pupilas, sem falar uma única palavra, não era necessário falar e já sentia pequenas descargas
percorrer continuamente a espinha dorsal.
Samuel deu um passo para trás em um movimento estudado e separou um pouco as pernas,
colocando as mãos no quadril, como uma jarra, esperando que ela dissesse algo, que abrisse a
boca e pedisse, por favor, que a liberasse.
Rachell começava a sentir calor, muito calor, ao ver Samuel naquela posição na sua frente, a
menos de dois passos de distância e já se sentiu mórbida quando teve que controlar sua língua que
queria saltar no peito dele e roubar aquele suor que começava a deixar sua pele brilhante,
passear lentamente e saborear a parte baixa do seu umbigo, puxar com os dentes a fina linha de
pelos que se perdiam na calça, mas que sabia, que ali estavam.
Ele não conseguiu esperar mais, ela o incitava de uma maneira desconhecia, por isso, diminuiu
novamente a distância e sua mão direita voou na mandíbula de Rachell, tomando-a com firmeza.
Elevou o rosto para deixá-la na altura da sua boca, o olhar de desafio e o silêncio dela não eram
nenhuma barreira para cumprir seus desejos. Colocou a ponta da língua em um dos cantos dos
lábios da garota e deu uma mordidinha, tendo consciência de como a respiração dos dois estava
alterada, o desejo se agitava e a luxúria se avivava.
Rachell abria e fechada a boca querendo mais, muito mais. Tinha se prometido não fingir diante
de Samuel e não o faria. Ele sabia muito bem qual era a situação, de quanto o desejada e não iria
reprimir nenhum dos seus atos. Porém, pretendia demonstrar que ainda tinha o controle e que não
era o dono do seu corpo, que não tinha tanto poder sobre ela, aquele que alardeava, sabia que
se contradizia, mas ele traía sua cabeça.
Samuel foi descendo com seus beijos o pescoço feminino, aquele longo e níveo pescoço que o
enlouquecia; sentir as pulsações descontroladas da artéria carótida de Rachell contra sua língua
era algo que o deixava completamente fraco, manipulado pela excitação, afastou-se, desejando
sentir as carícias dela percorrer suas costas. Levou suas mãos às lâminas e puxou-as para baixo,
rasgando as largas mangas do vestido. Naquele momento, um golpe no nariz o cegou, foi um
golpe com punho fechado, tinha certeza disso.
— Era um Roberto Cavalli! — Exclamou Rachell, ficando em guarda; para algo tinha que servir
as aulas de boxe.
Como não ficar furiosa e baixar a excitação com um golpe se ele tinha acabado de estragar
uma peça tão cara. Ela tinha certeza de que era bastante materialista, disso dependia sua
aparência e, por consequência, seu trabalho.
Embora estivesse um pouco aturdido pelo golpe surpresa, teve que reprimir uma gargalhada ao
vê-la tão furiosa por um simples vestido. Disposta a entrar na briga, prendeu na garganta um
ronronar diante do que despertava nele. Rachell era um verdadeiro cúmulo de surpresas que o
levavam de um lado a outro em um mar furioso de emoções.
— E daí? — Perguntou ao finalizar, dando de ombros despreocupadamente.
— E daí que você estragou, imbecil — Disse com a raiva fervendo. — Abra as portas —
exigiu, com os dentes apertados, tentando conter seus impulsos de socá-lo outra vez.
—Não vou fazer isso, Rachell, já deveria saber. —Sua voz pausada demonstrava uma
tranquilidade que a deixava exasperada, não aguentava o descaramento de Samuel Garnett.
— Abra ou vai se arrepender — Ameaçou, fixando seu olhar brilhante pela ira nele.
— Quero me arrepender — Mal soltou as palavras, sentiu um empurrão e um sinal de Rachell
ao sair correndo. — Vamos, Rachell! Você não acha que é muito estúpido brincar de filme de
suspense? — Perguntou, divertindo-se cada vez mais com a situação, afastando-se do raio de luz
que vinha do refletor.
— Que se fodam, Samuel! — Enquanto procurava maneira de chegar o mais rápido possível
até a porta e estava mais que decidida a quebrar o vidro com um peso de três quilos que tinha
pegado. Dirigia-se com decisão quando as luzes acenderam e, em alguns segundos, um braço
segurava sua cintura e tirava-a do chão, no momento que arrebatava o peso.
— Sei muito bem quais são suas intenções e o que menos quero é machucar você.
— Mas está machucando ao me prender aqui.
— Que mártir! A única pessoa machucada até agora sou eu, portanto, tire essa cara de vítima
porque você não vai embora — Disse, levando-a para longe da porta.
— O que você ganha com tudo isso? — Perguntou, tentando fazer com que a soltasse.
— Lembra do que me fez na semana passada? Como me deixou? Bom, eu vou cobrar aquela
brincadeira pesada.
— Não sou um objeto para você transar sempre que dê vontade.
— Não, claro que não. Você se move muito bem para ser um simples objeto.
— Descarado — Disse, elevando as mãos por cima da sua cabeça e para trás para poder
tirar o cabelo, mas não conseguia alcançar. Samuel sabia perfeitamente como esquivá-la.
— Pare de resistir, Rachell. Você sabe o que quer, tanto quanto eu.
— E vem com o mesmo tema, claro que desejo você, que me excita e me obriga a ceder, não
sou de ferro.
A gargalhada de Samuel e o beijo repentino no pescoço fizeram que tivesse uma rápida
tremida.
— Você é de ferro, claro que é… — Disse, colocando-a na borda do ringue de boxe,
sentando-a e, com tal rudeza e sensualidade, abria as pernas dela para ficar no meio, fechando a
cintura com as mãos e começando a mordê-la, olhando-a fixamente. — Só que eu sou o fogo que
te funde.
Embora estivesse tremendo e ele a torturasse com sua maneira de olhar e achava que sua
cintura fosse um jarro de argila ao qual dava forma, fazendo com que todos os pelos do seu
corpo se arrepiassem, não conseguiu soltar uma pequena gargalhada envenenada de sarcasmo,
que ele acompanhou com gosto.
— Agora, vou chamar você de maçarico.
— Como quiser — Ao vê-la mais tranquila e disposta, começou a diminuir a distância, para
respirar na boca de Rachell, beijá-la com emoção e arrebatamento, mas, outra vez, ela o afastava
de maneira brusca.
Rachell, depois de empurrá-lo, em um movimento rápido, girou e começou a engatinhar, tentando
atravessar o ringue, empreendendo sua fuga. Ele, de um salto, ficou na beirada e separou as
cordas para entrar no quadrilátero, ela ficou de pé e tentou correr.
— Por que você está tentando inutilmente fugir? — Perguntou, pegando-a pelo pulso e evitando
que continuasse.
Rachell, em um puxão, se soltou, só queria sair dali, fugir daquele homem que tentava suprimi-la
e deixar claro que ele tinha razão e o orgulho não a permitia; não permitia que Samuel Garnett a
governasse, sem pensar, só pelo instinto, ficou prevenida; talvez se o nocauteasse como Víctor tinha
ensinado, conseguiria se livrar daquela situação.
— O que você pretende fazer? — Perguntou, levando as mãos no quadril e olhando-a de cima
abaixo.
— Se não me deixa sair por bem, vai ser por mal, você já decidiu.
— Se você acha que pode bater de frente comigo, recomendo tirar os sapatos, com esses
saltos, você só vai ganhar uma entorse — aconselhou com preponderância.
Ela sabia que Samuel tinha razão, por isso, sacudiu as pernas e mandou os sapatos para um dos
cantos, assim seria mais ágil. Começou a rodeá-lo e mantinha os punhos no alto, esperando a
aproximação para dar um de direita na mandíbula.
Samuel só a olhava sorridente e girava igual a ela para não a perder de vista, mas, em
segundos, saltava como se fosse uma cobra, que falhava de propósito a presa; adorava ver como
estava atenta e vê-la saltar com estilo para trás, tinha que admitir que mexia muito bem as
pernas.
Ela foi dar um golpe certeiro no rosto dele, mas ele segurou o punho e puxou-a até ele,
rapidamente girou ao redor dela e a colocou de costas, junto ao seu peito, passou um dos braços
pelo pescoço e, com urgência, liberou o nó do cinto que unia o vestido, abrindo-o com habilidade.
Rachell só deu um pisão para se liberar da barreira que estava no seu pescoço, conseguiu e se
afastou rapidamente, nesse momento, ficava em alerta de novo, dando uma olhada fugaz no seu
vestido aberto. Naquele momento, a rapidez de Samuel a desconcertou e, em um segundo, sentia
um puxão e sua roupa tinha ficado nas mãos dele.
Soltou um grito de irritação e frustração enquanto se girava e dava um golpe nele, mas só
alcançou o ombro e não com a força necessária.
— Você quer começar a fazer apostas? — Perguntou, jogando o vestido, que ficou preso nas
cordas.
— Eu não faço apostas com trapaceiros — alegou, aproximando-se uma vez mais, sem diminuir
a atenção, lançou outro golpe, mas, desta vez, no ar, porque ele se esquivou agilmente e, em
questão de segundos, o espaço em frente a ela ficou vazio. Estava por girar quando saltou ao
sentir o ardor, a coceira e a dor de um flagelo que fez eco no lugar.
— Sua bunda fica linda com esse fio... Pode ficar com ele e também tem pouca renda e isso
não vai me impedir de transar com você.
— Você vai se arrepender, Samuel! — Advertiu, brava, sentindo a pele da nádega direita
quente, palpitando pela dor, mas não acariciava para não mostrar fraqueza.
— Rachell, não perca as estribeiras, você precisa estar concentrada, com o olhar sobre o
objeto. Quem é que ensina boxe para você? — Perguntou em tom de brincadeira.
— Você sabe muito bem que é o Víctor.
— Ou ele ensina muito mal ou eu deixo você muito nervosa... Acho que é o segundo caso. — Em
nenhum momento, ele ficava em guarda, só esperava os ataques previsíveis de Rachell. — Pois
você tem estilo.
— Se você acha que me deixa nervosa, está muito enganado; só estou dando vantagem.
— Você está me dando vantagem? — Perguntou, fingindo surpresa e, em um passo para frente,
sumamente rápido com precisão e diante da agilidade dos seus dedos, pegou o broche do sutiã,
que estava no meio dos peitos da garota. — Touché — Disse, sentindo-se vencedor.
Rachell sentiu afrouxar e seu olhar passou de Samuel aos seus peitos expostos e vice-versa,
aumentando aquela combinação de raiva e excitação que havia dentro dela; além da impotência
por estar perdendo diante dele, talvez fosse péssima ideia acreditar que podia ganhar a briga.
— Por que você faz isso, Samuel? Por que simplesmente não me deixa ir daqui? — Perguntou,
enquanto suas mãos trêmulas tentavam abotoar o sutiã.
Quando a garota abaixou os olhos, ele aproveitou e parou atrás dela, pegando os pulsos e
evitando que o privasse do paraíso, segurando-a com intensidade, mas sem machucar. Jamais
machucaria uma mulher, não conseguia fazer isso.
— Deixe eu vê-los, não seja egoísta — murmurou em um dos seus ouvidos, sentindo o cabelo
dela fazer cócegas na sua barriga. — Faço isso porque não renuncio o que eu quero, não me
importa quanto tempo eu tenha que lutar para conseguir, não estou brincando, Rachell, não estou...
Desde que a vi, soube que não seria um jogo, me envolvi com você mais do que me permito,
porque você é o desafio que quero alcançar, as barreiras que me coloca só me excitam mais e, se
tentar se afastar, deve saber que eu sempre pisarei no seu calcanhar — assegurou deixando que
sua quente respiração atravessasse as fibras pretas, obrigando que sua respiração se agitasse e
que levantasse os olhos, tentando engolir o coração que parecia pular na garganta, para ver se
conseguia mandá-lo de volta ao seu lugar no peito.
Ele, com movimentos estudados, segurou os pulsos com uma única mão, e a que estava livre
levou-a ao peito direto, apoderando-se com cuidado, massageou-o, dando um rouco gemido, que a
fez vibrar.
Acariciava-o, evitando o mamilo e, mesmo com os cabelos que se interpunham entre sua boca e
a orelha dela; começou a mordiscar o lóbulo, sem se importar com o brinco que tinha, para depois,
abrir espaço lentamente com a língua e a introduziu no ouvido, arrancando gemidos, quando
penetrava com sintonia, entrando o máximo que podia e movimentando-a muito lentamente lá
dentro, provocando que, entre as coxas de Rachell, se desatasse uma chuva ardente.
Para Rachell, era impossível não se escravizar diante daquela maestria com que ele a excitava;
aquela rapidez em arruinar qualquer defesa sua, de mandar à merda qualquer controle, naquele
momento, ele era o dono do seu universo.
— Sam! — Exclamou enquanto seu corpo se arqueava involuntariamente ao sentir os dedos
dele explorando seu centro; era tão densa a nuvem de prazer em que estava que não havia
sentido em que momento tinha soltado seus pulsos e tinha feito espaço entre sua minúscula tanga e
conquistado aquele botão endurecido pela excitação.
Sabia utilizar perfeitamente seus dedos e, em um pequeno raio de sanidade, supôs que se devia
à prática com a guitarra, pois, com o polegar movimentou-se em seu clitóris e o dedo médio
entrava e saía dela com uma lentidão arrojada que a cegava.
— Ainda quer ir embora? Se me pedir, eu deixo você ir — Disse com a voz agitada e sensual.
Que maneira de oferecer a liberdade! Sabia perfeitamente que desejava alcançar o orgasmo
que começava a retumbar nela e preferia morrer antes de que ele a deixasse à deriva.
— Quero que você cumpra a sua palavra de me comer usando a tanga — murmurou, quase
sem fôlego.
— Só se você jurar por este orgasmo que estou retendo que não vai embora; que vai ficar
comigo esta noite e que vamos transar até não aguentar mais, que vamos curtir muito, deixando de
lado o seu maldito orgulho e os meus demônios, que só seremos você e eu, sem nada mais.
O plano era chegar neste ponto e ir embora e deixá-la, mas não conseguia, não podia fazer
isso. Para Thor, era mais fácil porque não era ele que tinha uma ereção no ponto mais alto e
dolorosa, que não seria suficiente se masturbar; por isso, abortou o plano e se deixou arrastar por
seus desejos, por essa perdição que Rachell era para ele.
— Juro... Juro que ficarei e que vamos transar até não poder mais, faremos todas as vezes que
sejam possíveis — Disse, com as veias a ponto de explodir, sentindo que ele a liberava com seus
dedos, que a elevava.
— Se este for o final de todos os nossos encontros de boxe, quero fazer isso todos os dias —
Disse, abandonando-a e girando-a rapidamente, para deixá-la em frente a ele, permitindo que
visse nos seus olhos como estava excitado, ao mesmo tempo em que terminava de tirar o sutiã e,
com agilidade, jogou-a na lona, fazendo com que seu cabelo se abrisse como um leque de veludo
preto. Rachell sentiu como se o oxigênio escapasse dos seus pulmões ante o golpe nas suas costas,
mas ele foi mais perverso e sensual que nunca.
Samuel se deslizava como felino sobre o seu corpo e começava a beijá-la como tinha vontade,
armando e desarmando-a com todos os toques que davam, com o da língua, mas mãos nas suas
coxas, o da sua ereção protegida pelo jeans no seu centro, aquela que abria cada vez mais.
As mãos dela voaram dos cabelos dele para suas barrigas unidas, procurando, entre suspiros, o
botão da calça jeans e com puxões desesperados, começou a abaixá-la.
Enquanto ele continuava beijando-a, no meio do processo de tirar a calça e sem deixar de
tocar nele, apoderou-se de uma das nádegas masculinas, apertando com força, e Samuel obrigou-
a a gemer, gemer e gemer porque estava dando mordidinhas nos seus peitos.
Ele começou a se desesperar por querer fundir-se nela, para sentir aquela umidade quente que
o absorvia, por isso, pausou os beijos e as carícias, enquanto tirava completamente a calça jeans,
regressando ao corpo feminino, puxando para um lado a tanga fio dental de Rachell e os dos
seguraram a respiração, enquanto saciavam os corpos acalorados e se fundiam em olhares,
misturando o suspiro que soltaram quando se tocaram com perfeição.
— Se você gosta tanto deste momento quanto eu, não sei por quê o evita — murmurou com os
lábios trêmulos sobre os dela.
Rachell, para não dar a resposta de que temia ser arrastada, que não queria se envolver mais
do que fisicamente, preferiu morder os lábios, aqueles lábios tão masculinos que a enlouqueciam,
para, depois, sugá-los, várias vezes, cem vezes, mil vezes, queria gastá-los de tanto chupar e um
gemido retumbou na sua garganta, quando sentiu que ele se movia muito lentamente, iniciando
aquela cerimônia em que ela morreria por segundos para, depois, como a ave fênix, renascer das
cinzas.
Samuel aumentava de velocidade suas metidas, querendo mais, muito mais, seu sangue quente
exigia mais, caindo sentando sobre sus tornozelos, agarrou-a e ela arqueou o corpo, criando uma
ponte que o levaria à gloria. A parte superior das costas servia de apoio para as coxas que
estavam sobre as de Samuel, o quadril no ar e ele a ajudava a mantê-las assim ao entrar nela.
Não havia nada mais erótico naquele momento que Samuel mordendo o lábio inferior, diante da
energia que imprima em seus movimentos sem piedade, rápidos, contundentes, retumbando nela,
submergindo-a em prazer e dor, luxúria e desenfreio.
Muitas vezes, ante os movimentos que fazia de baixo para cima, roçava aquele ponto que fazia
com que as lágrimas se aninhassem nos olhos e na garganta de tanto prazer. Um prazer que a
eletrizava por dentro, um prazer que a mataria, daria um ataque cardíaco, porque não aguentava
tantas pulsações, mas não era nem louca de pedir para parar e só queria saber como Samuel
conseguia tocar tantas fibras no seu corpo, tantos nervos que ela não sabia que existiam.
— Sim… não pare, Samuel… — Só gritava algumas palavras, o desenfreio não a deixava
falar, só sentir, experimentar essa explosão nela.
Os puxões começaram a queimar a pele no seu quadril, os puxões a faziam se elevar
involuntariamente e, ao abrir os olhos, encontrou Samuel rompendo com suas mãos a minúscula
tanga.
À merda com Victoria Secret! Depois compraria uma dúzia.
Sem a abandonar, pegou uma perna e a elevou para juntar a outra, manteve-a assim em meio
a várias arremetidas, até que a fez girar a parte inferior do seu corpo, colocando-a de quatro
com maestria. Ela estava trêmula diante da debilidade do recente orgasmo, não conseguia se
manter, suas coxas vibravam muito e suas seivas brotavam na parte interna.
— Eu estou segurando você, Rachell... Você só precisa respirar, tente se tranquilizar e respirar
— Pediu, grudando no quadril da garota, para não a deixar cair e começou a deslizar uma das
mãos debaixo para cima, pela espinha dorsal, relaxando-a assim, ajudando-a a sair do agito em
que se encontrava. Pousou a mão na nuca e a rodeou até se apoderar do seu pescoço, acoplou-se
como se fosse uma sombra sobre o corpo da garota e a fez virar um pouco a cabeça. — Você
está bem? — Perguntou, beijando seus lábios com uma ternura que, até agora, ela não tinha
experimentado, ternura essa que fez com que novas emoções surgissem no seu peito e concordou
em silêncio. — Avise quando conseguir se segurar.
— Já consigo… quero fazer isso — murmurou e, desta vez, foi ela que o beijou, fazendo-o se
incorporar mais.
Samuel ficou de joelhos e, outra vez, a penetrou, tentando conter, em certa medida, os seus
instintos, mas a cegando de prazer. Sem pedir permissão, só para surpreendê-la, enlouquecê-la e
mostrar que desejava, em um futuro não muito distante, conquistar aquele botão que começou a
acariciar com o polegar.
Ela deu um respingo ao senti-lo, mas Samuel a estimulou até que ficasse cômoda, que tivesse
acesso à suave carícia, não precisava de palavras, suas mãos eram bem claras e ela só gemia de
maneira descontrolada, enquanto ele aumentava o ritmo.
O brasileiro estava a segundos, a alguns segundos, por isso, segurou-a pela cintura e a
incorporou, ele caiu sentado sobre os calcanhares e ela ficou sentada em cima dele, conseguindo
que sua ereção inteira ficasse no interior feminino.
Os dois se movimentavam ao ritmo que o rapaz marcava e ela, outra vez mais, experimentou a
explosão de todos os átomos. Enquanto ele continuava, mais e mais, preso a ela, com firmeza,
fechando-se com força, segurando sua cintura e enterrando o rosto na sua nuca.
Em meio a gemidos desesperados, convulsionou e se unia mais ainda a ela, como se dessa força
dependesse sua vida, fazendo-a se sentir indispensável. Tinha alcançado o orgasmo, o rouco e
longo gemido era a prova fiel disso e, em alguns segundos, um, dois e três ataques a inundaram
por dentro, aqueceram o centro do seu corpo.
Tendo consciência naquele momento de que as lágrimas rodavam pelo seu rosto, tinha sido tanto
o prazer que tinha experimentado que chorou e, rapidamente, evitando por todos os meios, que
Samuel percebesse seu ponto fraco, passou as mãos pelo rosto, limpando qualquer evidência.
Uma linha de curtos e úmidos beijos se deslizava pela parte posterior da sua clavícula direita,
até o ombro e voltava até a base do pescoço.
— Você está bem? — Foi ela que murmurou a pergunta.
— Muito bem, melhor que nunca — respondeu em meio de um suspiro que explodiu contra o
pescoço feminino. — Sabe... Queria falar algo, mas não sei como fazer sem que pense que estou
ofendendo você de alguma maneira, gostaria de saber como é que ordena as ideias na sua
cabeça para sempre tirar conclusões erradas — falava, tateando o terreno, enquanto a fazia
girar, ele se sentava e ela fazia o mesmo, em frente a ele, colocando suas coxas sobre as de
Samuel no momento em que fazia um coque e deixando o espaço suficiente para que sua vagina
não tocasse no membro de Samuel, que estava com as duas mãos no pescoço e massageava com
os polegares a mandíbula, perdendo-se no seu olhar.
— Você acha que minhas conclusões são errôneas? — Perguntou, enlaçando seu olhar no dele.
— Comigo são, embora você não acredite em mim e pense que eu só falo para ganhar seu
perdão, vou dizer assim mesmo... Rachell, estou preocupado, por você, estou... Por que você
cometeu a loucura de hipotecar o apartamento?
— Porque eu tinha que pagar uma dívida.
— E eu estava cobrando? Não, claro que não estava... Eu quero que amanhã você me
acompanhe ao banco e que devolva o dinheiro.
— Eu posso ir sozinha, não vou fazer você perder seu valioso tempo comigo.
— Meu tempo é mais valioso quando estou com você — sussurrou, aproximando-se dela e
dando um beijo nos lábios, contatos que fizeram despertar os poros da garota.
— Está bem, vou deixar que me acompanhe até o banco — Disse, sorrindo, agindo por instinto,
porque o que desejava naquele momento era aproveitar a companhia de Samuel. — Só se
esfregar minhas costas e fizer uma daquelas massagens, já sabe, como no Spa — Pediu, dando
uma piscada.
— Vou fazer, mas tenho outras técnicas que tenho certeza que você vai gostar.
— Então não vamos perder mais tempo — Disse, ficando de pé e ele a seguiu.
Rachell estava a ponto de pegar o vestido que estava nas cordas e Samuel não permitiu,
agarrando-a pela mão e segurando-a. Ela adivinhou que ele queria que saíssem pelados da
academia.
— Não, Samuel, está louco? Thor pode nos ver, certamente, tenho uma conta pendente com ele.
— Thor não está, tinha que voltar ao grupo. É justo que você saiba que ele jamais estará do
seu lado.
O rapaz a guiou até o seu quarto, sem a soltar nenhum segundo. Ao entrar, estava
completamente organizado e dava para sentir o cheiro do perfume que Samuel usava em todo o
ambiente.
— Espere um segundo, vou encher a banheira — Informou e ela concordou em silêncio, quis se
sentar na cama, mas não quis umedecer os lençóis cinzas. Viu o iPhone de Samuel, que acendia a
tela com uma chamada, por curiosidade feminina, aproximou-se o bastante do criado-mudo, onde
estava, e o nome de Eric Schneiderman piscava.
— Samuel, alguém está ligando para você — Informou, ao se ver descoberta quando ele saía
do banheiro.
— Com certeza, é Thor — Disse, sem saber que ela tinha visto o nome da pessoa que ligava. —
Merda! — Exclamou quando viu que seu telefone acendia com outra ligação. Duvidou por alguns
segundos, mas, no final, jogou o celular na cama e pegou Rachell nos braços. Em um movimento
rápido que a surpreendeu, a fez sentir como recém-casada que entrava nos braços do marido na
suíte nupcial, mas seu destino era o banheiro.
Com cuidado, entrou na banheira e a sentou entre suas pernas, deixando-a de costas para ele,
que, com suas mãos, pegava água e derramava sobre as costas da garota. Repetiu este ato várias
vezes, enquanto a banheira enchia.
— Posso saber de quem era a ligação? — Perguntou ela, sem poder segurar sua curiosidade.
— Do procurador geral.
— E por que não atendeu? Com certeza, são notícias ruins.
— Sempre são más notícias... A morte não pode ser uma boa notícia, mas hoje eu disse que não
ia trabalhar e não vou — Pegou uma esponja e esfregou as costas, depois a beijou.
Rachell pegou uma das mãos de Samuel e começou a admirá-la, gostava de como eram
masculinas, mas com suave textura. Em um movimento espontâneo, colocou contra a sua e levou até
os seus lábios e deu vários beijos, fechando os olhos e vivendo essa sensação que gostava muito.
Samuel nunca tinha vivenciado essa proximidade com nenhuma outra mulher, nenhuma tinha
beijado suas mãos. Por isso, sentiu-se realmente vulnerável e, ao mesmo tempo, uma pressão no
peito que dificultava sua respiração. Era um grande cúmulo de emoções que aumentavam cada
vez mais, abrangendo tudo, despertando desejos irrefreáveis por ela, daqueles que pulavam
barreiras.
E tudo isso o instigaram a fazer dela sua mulher outra vez na banheira, das maneiras que o
lugar permitia e derramando água, sem se importar com nada. A única coisa verdadeiramente
importante eram os olhares, as carícias, os beijos e, claro, alcançar as portas do céu.
CAPÍTULO 12

O sorriso de Rachell deixava claro como estava feliz e que, em certa medida, ela realmente não
tinha consciência de tal alegria. Porém, as pessoas que a rodeavam sim; Sophia, Oscar, Silvia e
algumas clientes já tinham comentado como ela estava radiante, o que eles não sabiam era que,
por baixo dessa maquiagem perfeita estavam escondidas suas olheiras, aquelas que eram prova
de que não tinham perdoado sua noite em claro por causa da maratona de sexo, intenso e
delicioso com Samuel Garnett, tanto que teve que recorrer a anti-inflamatórios.
E o seu coração batia emocionado ao saber que, a qualquer momento, apareceria na butique
para acompanhá-la ao banco, mal pôde comer, porque a sensação de frio na barriga não
deixava fazer mais nada.
Essa sensação ficou mais intensa e sua emoção transbordou ao ver um rapaz entrar na butique
com um lindo e imenso buque de rosas vermelhas; sem dúvida, eram mais de cinquenta unidades,
seu pressentimento se converteu em realidade quando ele perguntou pela senhorita Rachell
Winstead.
— Sim, sou eu — Disse, sentindo-se idiota, sem conseguir segurar o sorriso; era mulher e, como
todas, gostava dessas demonstrações de afeto.
— Assine aqui, por favor — Pediu, estendendo a pasta que tinha uma folha de entrega.
Ela percebeu que as mãos tremiam e respirou fundo para se acalmar um pouco; era a primeira
vez que se emocionava assim, talvez porque as rosas eram de Samuel, muitos já tinham mandado
flores, mas nenhum buquê a tinha alegrado tanto. Ela o recebeu com um sorriso claro o colocou
sobre o balcão, nesse momento, Sophia se aproximou:
—Ele está a seus pés! — Disse emocionada a ruiva. — O que está esperando? Lê o que diz o
bilhete.
Rachell pegou o envelope e tirou o cartão; antes de ler, soltou um suspiro, tentando não deixar
tão claro seu nervosismo.

Você é uma mulher inesquecível, embora eu tenha tentado, não consegui tirá-la da cabeça e, muito
menos, do meu coração. Sou esse bumerangue que volta para você.

Richard Sturgess.

O sorriso de Rachell se congelou imediatamente e não conseguia definir as emoções que a


pegaram de surpresa. Não estava preparada para isso, não estava e o gesto no rosto de Sophia
indicava que ele estava parado atrás dela.
O coração ia explodir e ela se sentiu enojada, mas se ela não virasse e não confirmasse por si
mesma que Richard estava ali, ia acabar desmaiando. Girou lentamente e todos os seus momentos
vividos com aquele loiro passaram diante dos seus olhos rapidamente.
Não tinha mudado nada, estava lindo e interessante como sempre, continuava sendo aquele por
quem começou a sentir algo diferente, aquele que a introduziu no mundo do sexo e ofereceu tantos
momentos especiais, que encheram a alma em várias oportunidades.
Imóvel, muda, trêmula, estava em frente a ele, depois de um ano, Richard surgia na sua vida
com seus maravilhosos detalhes e seu magnífico sorriso.
— Você está mais linda — murmurou, em meio a um sorriso de felicidade ao vê-la, sentindo que
ainda a amava, que aquela menina que tinha roubado seu coração ainda exercia o mesmo poder
sobre ele.
— Por que não me disse que viria? O que está fazendo aqui? — Perguntou, com voz trêmula,
sem poder acreditar quem estava na sua frente. Sabia que não eram perguntas muito amáveis,
mas não conseguiu fechar a boca e pensar antes de soltar o questionário.
Sophia decidiu se afastar dali, para deixar de privacidade ao casal, por isso, foi ao lado de
Oscar.
— Queria fazer uma surpresa. Você sabe que gosto de surpreender — Seu tom de voz
continuava sendo o mesmo, aquela maneira tão sublime de tratá-la continuava igual.
— Estou feliz em vê-lo — Disse, tentando sorrir e imitar o gesto do rapaz, enquanto o coração
martelava as têmporas.
—Não parece... Rachell, sei que deve estar magoada comigo pela maneira como fui embora,
tinha que ter falado com você, mas já não dava mais... Não conseguia, todas minhas tentativas de
futuro ao seu lado recebiam uma negação por sua parte e eu queria ter você comigo, na minha
casa, na minha cama todas as noites, dormir abraçados, desejava ter filhos...
— Richard… Bem, você sabe que não é o que eu quero. O casamento não foi feito para mim,
já expliquei... Confessei por que não podia aceitar suas propostas.
— E, naquele momento, não consegui entender isso. Fui um idiota, levei muito tempo para
assimilar a situação, compreender que amo tanto você que estou disposto a fazer do jeito que você
quiser... Deixe eu dar um abraço, porque ainda não acredito que finalmente esteja aqui. — Sem
esperar uma resposta de Rachell, a abraçou. — Quero que você me dê uma segunda chance.
Os olhos verdes de Sophia se fixaram no Opel Ampera branco, que tinha na placa o emblema
de advogado e ela tinha certeza que pertencia ao escritório jurídico Garnett, atrás desse carro,
parou o dos guarda-costas.
Viu o procurador descer e ele se dirigiu à porta com passos seguros, esbanjando segurança e
sexualidade.
— Merda! Oscar, isto parece um reality show — murmurou quando Samuel entrava na butique e
seu olhar foi direto no braço entre Rachell e Richard, deixando clara a sua raiva ao deixar a
mandíbula tensa. — Acho que você vai ter que ser o árbitro.
— Na verdade, eu não vou me meter, no máximo, afastarei a Rachell —Disse sorrindo. —
Prepare-se para gravá-lo, pode ser que aproveitemos algo — Sem conseguir evitar tirar sarro.
— Boa tarde — A voz com sotaque português surgiu no local e aqueles que ainda não tinham
notado a presença do procurador, viraram o olhar automaticamente para ele.
Rachell interrompeu o abraço quase de maneira abrupta e, pela primeira vez na vida, estava
com receio do que um homem pudesse pensar dela. Sentiu como se o estômago e o coração
tivessem sido apertados em um punho. A agonia fez sua boca secar imediatamente, nesse momento,
definido os sentimentos dos dois homens em frente a ela.
Richard despertava nela carinho e lindas lembranças, também agradecimento, mas já não havia
desejo, não havia aquela sensação de tranquilidade e o querer estar ao seu lado.
Samuel explodia nela, era intensidade, era paixão quente que começou a pulsar por todo o seu
corpo e medo, sentiu medo que ele fosse embora ou interpretasse de maneira errada aquele
abraço; o olhar dele nela despertava chamas na sua pele, era uma estranha combinação de
desejo e temor.
— Desculpe um momento, Richard — murmurou olhando nos olhos verdes do homem, tentando
evitar que Samuel escutasse o nome.
O loiro desviou o olhar fugazmente para Samuel e, nesse momento, viu nos olhos de Rachell o
olhar que deu ao recém-chegado, não deu nenhuma resposta, só concordou lentamente e ela saiu.
Samuel, como o mais primitivo dos homens e marcando território inconscientemente, pouco se
importando se ela estava ou não de acordo, mal se aproximou e levou uma mão na parte lateral
do pescoço, fazendo uma sutil carícia com o polegar no rosto, fundindo o olhar de fogo nas pupilas
dilatadas de Rachell e chupou o lábio inferior para, depois, fazer com ambos e, finalmente, dar um
sutil contato de lábios.
— Vim buscar você — sussurrou, tentando controlar aquela sensação de acidez no estômago e
que sabia que não era pela comida, mas sim pela presença daquele homem.
— Já vamos... Mas, Samuel, ainda tem tempo, preciso falar algo com...
— Não sabia que Richard Sturgess estava no país — interrompeu em voz baixa para que ele
soubesse que ele tinha reconhecido.
— Eu também não sabia, ele me surpreendeu há alguns minutos — Confessou, mantendo o
mesmo tom de voz que Samuel.
— Com rosas incluídas — Disse, sem tirar os olhos dela, mal entrou e se deu conta do buquê de
flores.
— Sempre foi assim, Samuel. Tenho que esclarecer algumas coisas, serão só alguns minutos, mas
se estiver com muita pressa, eu vou sozinha, não se preocupe.
— Eu espero, não estou com pressa — Disse, esfregando com o polegar o queixo e tentando
parecer despreocupado, quando, na verdade queria tirá-la da butique e não permitir que aquele
homem se aproximasse. Nunca antes tinha experimentado aquela sensação de insegurança, ao vê-
la com Brockman era ódio, desconfiança, mas com Richard era medo.
— Obrigada — Disse, sentindo-se realmente aliviada e, em um ato reflexo, pegou sua mão,
precisando desse contato com ele, sentir a energia e o calor daquele toque; soltou lentamente e
saiu. — Richard, poderia me acompanhar até o escritório? — Pediu e o loiro estava com os olhos
fixos em Samuel, que também estava olhando para ele.
Rachell passou direito em direção às escadas e Sturgess a seguiu, enquanto tentava controlar as
emoções que surgiram no seu peito quando viu Rachell beijar aquele homem, bem na frente do seu
nariz. Ele sabia que não podia exigir nada, foi ele que a abandonou, mas não tinha como não
sofrer e enlouquecer.
— Em que momento esses dois voltaram? — Perguntou Oscar, em um sussurro a Sophia dando
uma olhada disfarçada em Samuel Garnett.
— Não vá me dizer que você acreditou na historinha de que ontem desapareceu porque estava
no depósito, verificando as confecções?
O sorriso de Oscar demonstrava que tinha acreditado, faltava um pouco de malícia para ele e
também intuição feminina.
Sophia foi até onde Samuel tinha sentado em um sofá tiziano em cor ameixa e almofadas
pretas, que dava uma decoração elegante à butique.
— Oi, Samuel, deseja algo enquanto espera? Água, suco… — Dava suas opções quando ele
interrompeu.
— Uísque — Disse, com o olhar no escritório, querendo nesse momento ter o dom de poder
escutar através das paredes.
—Bem… — Disse, segurando os lábios para não soltar uma gargalhada. — Uísque então... —
Engoliu para não falar “Para passar o gosto amargo”
Foi até o salão de lanches e, no caminho, fez um sinal para Silvia, que não tirava os olhos de
Samuel, babando pela roupa que usava, pedindo para ser mais discreta; sim, todos sabiam que o
procurador estava lindo, mas ela tinha que respeitar o namorado da chefe.
Rachell, ao chegar no escritório, convidou Richard a se sentar na sua frente e seus olhos viram
Samuel sentando e, embora quisesse disfarçar a tensão, não conseguia.
— É seu namorado? Não pensei que me esqueceria tão rápido — Disse o homem, bravo, no
meio do furacão de ciúmes que tinha surgido.
— Já passou mais de um ano, Richard. Você não pensou que eu estaria esperando no mesmo
lugar e com a mesma roupa, né?
— Você falou que não estava preparada, que nunca estaria... Que não me queria como marido
e agora dá a oportunidade a outro — Não conseguiu não repreender.
— Eu não estou dando oportunidade para ninguém, não vou me casar... Ele aceita minhas
condições, por enquanto aceita e quer o mesmo que eu.
— Você o ama? — Perguntou, olhando nos seus olhos.
— Eu não tenho por que dar nenhuma resposta, a vida é minha... Você sabe que eu nunca
gostei que se metam nela.
— Você está brava comigo? Rachell, você falou que me entenderia, que podia se colocar no
meu lugar...
— Eu não estou brava com você e, sim, entendo; entendi que você queria uma família que eu
não posso oferecer, casar, ter filhos e um 'viveram felizes para sempre' não está nos meus planos,
nem agora, nem no futuro.
— Falei várias vezes que eu podia fazê-la feliz e ainda posso.
— No tempo em que estivemos juntos, você me fez muito feliz, de verdade, mais feliz que
ninguém, mas não temos os mesmos planos.
— Eu quero me adaptar aos seus planos, quero estar na sua vida com suas regras. Desta vez,
eu faço; você poderia vir comigo para Londres e abrir a Winstead Boutique e, se perceber que as
coisas não estão como você quer, se perceber que estou sufocando, poderia voltar.
— Não é o que você merece, Richard. Você deseja uma família, quer ao seu lado uma mulher
que o espere todas as noites com o jantar pronto, tire seus sapatos s faça massagem nos seus pés,
que possa escutar como foi seu dia de trabalho.
Você sabe que eu não posso oferecer isso, não é o que não quero... é que não posso, porque
sempre vou temer e ficarei na expectativa de alguma mudança em você.
— Eu não vou mudar. Não vou fazer isso, Rachell.
— Não é o que eu acho, não sou esse tipo de mulher que você pode amar, não serei... Agora,
peço desculpas, tenho um negócio pendente, tenho que estar no banco em meia hora — Disse,
ficando de pé.
— Está bem, não vou mais tomar seu tempo, mas saiba que eu voltei com a convicção de fazer
você compreender que, sim, é a mulher que quero amar da melhor maneira. Vou fazer você
acreditar nisso, Rachell.
— Você percebeu que tenho companhia, estou saindo com ele.
— Ah, esse menino não me preocupa.
Pois deveria se preocupar. — Pensou, ao levantar e pegar sua bolsa, mas preferiu ignorar o
comentário.
— Se precisar de algo mais, peça para Sophia — Disse antes de sair, deixou a porta aberta.
Richard ficou de pé e a viu descer as escadas, com essa elegância que a caracterizava, aquela
beleza que o tinha enlouquecido desde que a viu pela primeira vez caminhando embaixo de
chuva, abraçando-se a si mesma.
— Sophie, volto quando terminar os trâmites no banco, vou cancelar a hipoteca... Diga a Silvia,
por favor, colocar as rosas em um vaso.
— Vá tranquila — Disse com emoção ao ver que Samuel a tinha convencido.
Sturgess teve que engolir a bile, quando viu que o homem guiava Rachell e colocava a mão na
parte baixa das costas, abriu a porta e saíram. Desta vez, não ia renunciar a mulher que amava,
isso já tinha decidido.
Quando se aproximaram do carro, os guarda-costas do brasileiro abriram as portas e os
convidaram a subir, para, depois de fechá-las, dirigir-se ao carro e acompanhar o sobrinho de
Reinhard Garnett.
No Open Ampera, reinava o silêncio, nenhum dos dois queria começar nenhum tema de
conversa, porque desejavam evitar uma discussão a todo custo. Porém, Rachell precisava ter
certeza de que Samuel não estava bravo com ela.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou finalmente.
— Não… Nada que eu saiba — Embora parecesse amável, seu tom de voz era retraído.
— Então por que você está tão calado?
— Estou concentrado, só isso… Estou dirigindo — respondeu, sem desviar o olhar da estrada.
Rachell sabia perfeitamente que, sim, estava bravo, sua mandíbula estava tensa e o músculo que
pulsava nela deixava isso bem claro, mas ela não era dessas mulheres que se esforçam para
agradar, não iria implorar que perdoasse algo, porque não tinha feito nada de errado.
— Bom, então não vou desviar sua atenção — Desviou o olhar para a rua e, outra vez, o
silêncio reinou por vários minutos.
— Ele quer voltar com você, por isso, sua atitude, por isso, as rosas que emocionaram você… —
Desta vez, foi Samuel que rompeu o silêncio, afirmando com suas palavras.
— Sim, ele quer voltar comigo, mas eu não quero... Não quero mais, sobre as rosas, claro que
me emocionaram; sou mulher e toda mulher gosta de rosas.
— Você não parecia tão básica.
Ai, que merda! — Pensou, ficando brava.
— Mas, sim, sou bastante "Básica" em alguns aspectos — respondeu com petulância. — Pena
que alguns homens se acham uma exclusividade.
— Se você está falando de mim, não acho que sou nenhuma exclusividade, só tenho
personalidade — garantiu, parando em um farol vermelho, repentinamente se aproximou dela e
agarrou sua mandíbula com firmeza.
— Bom, então deveria buscar uma mulher com personalidade — murmurou, olhando nos olhos e
não conseguia acreditar como ele a descontrolava diante da proximidade, deixando-a
completamente boa, conseguindo tirá-la do eixo com apenas um movimento.
— Não é necessário procurar, gosto de sentir o cheiro… — Disse, abaixando a cabeça e
enfiando o nariz no decote, cheirando o perfume que se concentrava nessa zona, obrigando-a a
levantar os olhos diante do desejo e voltou com a sua boca até os lábios dela. — Beijar —
Começou a dar beijos suaves e úmidos aos quais ela correspondia. — E transar com esta mulher
básica; você é o equilíbrio deste homem com personalidade. Depois do banco, vamos curtir
algumas horas — Não era uma pergunta, evidentemente, ele já tinha tomado a decisão.
— Tenho outros assuntos pendentes que são inadiáveis, mas, se quiser vir esta noite ao meu
apartamento, você só precisa adivinhar a senha — Embora, naquele momento, ela desejasse
transar com Samuel mais do que respirar, ela tinha que cumprir seus compromissos, senão, acabaria
com ele entre as pernas, mas iria à falência.
— Vamos ver, tentei com seus documentos, com a placa do carro, com a data de nascimento, com
o número de licença da butique... Se você quer mesmo que eu vá, terá que me dar alguma dica —
aconselhou, indicando para Rachell que ele já quis entrar no apartamento.
— Bem, eu dou, mas não agora, você vai ter que prestar atenção às minhas mensagens.
— Você está pensando em me torturar toda a tarde? Se fosse outra, já teria me dado logo —
Disse, com um meio sorriso de predomínio e sensualidade, o que o salvou de ser mandado à merda,
por estampar na cara assim as aventuras com outras mulheres.
Nesse momento, o farol ficou verde e perceberam os olhares de alguns pedestres sobre eles;
antes de enfiar o nariz nos peitos de Rachell, ele tinha que ter lembrado que o vidro era
transparente, mas já não podiam fazer mais nada.
— Bom, isso é para você ver que não sou tão básica, nem você tem tanta personalidade — Foi
sua oportunidade para mostrar suas armas.
— Não tem como você se render? — Perguntou com o olhar para frente e agarrando a coxa
com firmeza, querendo dobrar a força da garota.
— Não… Não tem — cortou a conversa ante o comentário dele e retirando a mão que tinha se
apoderado da sua coxa esquerda, que estava queimando, acendendo aquela fogueira no centro
da sua barriga. Sem permissão, ligou o rádio e continuou com a lista que Samuel estava escutando
e ela reconheceu a música Don't go away, do Oasis.
Os dois conheciam a letra e, embora não falavam nada, se sentiam plenamente identificados
com a música que dizia: — Então não se vá, diga que ficará para sempre e um dia mais, por toda a
minha vida, porque necessito de mais tempo para fazer as coisas como devem ser, amaldiçoo minha
educação, não consigo encontrar as palavras para dizer o que tenho em mente… — A música não
tinha terminado quando Samuel estacionou no banco e, como cavalheiro do século XV que, às
vezes, se incorporava, ajudou-a a descer.
Ao entrar no banco, pegou sua mão para deixar bem claro para todos os presentes que eram
um casal e ela não podia negar que se sentia muito bem. Seu coração dava pulos dentro do seu
peito de felicidade, que ela não queria sentir, não com tanta intensidade, mas também não tinha
porquê soltar a mão de Samuel.
O brasileiro se aproximou a um dos escritórios de atendimento ao cliente, onde estava uma
mulher de cabelos castanhos, olhos cor de avelã, lábios voluptuosos e o olhar que deu em Samuel,
além da atitude dele, deixaram claro que tiveram uma relação além de funcionário-cliente, aquele
sorriso irônico, enquanto olhava os dois de mãos dadas, provocou em Rachell uma raiva
desconhecida, estranho incômodo e instintos assassinos a guiavam; tentou se soltar, mas Samuel
segurou-a com firmeza, sem sequer deixar claro o que fazia.
— Boa tarde, senhor Garnett — cumprimentou, com um tom de voz que deixava claro o que ele
despertava nela. — Sente-se, por favor, vou anunciá-lo ao diretor.
A vaca me ignora totalmente — se disse Rachell mentalmente.
— Obrigado, Cameron — Concordou com a cabeça, convidando-o a sair do lugar, no momento
em que os dois sentaram; quando a garota passou do lado de Samuel, ela deu um apertão no
ombro, o que não passou desapercebido para Rachell.
Quando ficaram sozinhos, ela puxou a mão novamente, mas, desta vez, com mais ímpeto. Porém,
não conseguiu se liberar.
— Por acaso, você soldou a mão? Solte — Pediu, deixando claro que estava brava.
— Não quero — Sua voz foi firme, para que soubesse que estava falando sério e a olhou nos
olhos, mas ela desviou, virando o rosto e fixando o olhar em uma imitação de 'Déjeuner sur l'herbe'
de Picasso que decorava essa parede. — Rachell, deixe de criancice e olhe para mim.
— Se deixar de achar que somos siameses e me soltar. Não sou sua propriedade — Disse
determinante.
— Está bem, eu solto — E o fez lentamente. — Agora olhe para mim — Pediu e ela olhou para
ele, dando a oportunidade de se ver refletida naqueles olhos que lhe devolviam o melhor que tinha
sido até o momento. — O que foi?
— Agora você é um tonto. Se vamos estar juntos, respeite-me, senão vou maná-lo à merda
diretamente. Não vou ser objeto de brincadeiras; está claro que você já transou com ela — Com
essas palavras, mostrava que estava brava.
— Sim — respondeu sem piscar. — Não vou mentir, você vai encontrar com muitas mulheres com
quem eu já transei, Rachell.
— E você gostou? — Perguntou, sentindo um nó na garganta.
— Sim, mas não mais que gosto de transar com você, senão estaria com ela... Não fui um santo,
não vou listar, nem dar os nomes das mulheres com que saí, porque isso não importa para mim
agora, isso é passado e já não posso fazer mais nada; também não vou mudar nada do que fui
até agora para agradar você. Se sirvo como sou, o que sou, bem, estou aqui, mas não pense que
vou mudar...
— Você quer dizer que vai continuar transando com outras enquanto estiver comigo… —
Tentava formular uma pergunta, mas ele interrompeu.
— Não, você me dá o que preciso, me satisfaz, o que eu quero dizer é que não gosto que
queira me recriminar pelas coisas que aconteceram antes de nos conhecermos. Se você esteve com
dez, vinte, trinta homens antes de me conhecer, não vou amargar minha vida pensando nisso; só
quero estar aqui, agora e fazer a diferença.
Os dois se olharam por mais de um minuto, como se estivessem se desafiando, mas só estavam
entrando num acordo e eles faziam isso em silêncio.
— Aceito que você teve um passado, mas ponha limites para que não pulem para o presente.
Ela quer algo com você. Por acaso está morto que nem sentiu que ela tocou seu ombro? Isso é uma
insinuação!
— Mas eu não quero nada com ela, quero com você... é você que desejo na minha cama e no
meu espaço; é o seu corpo nu que quero ver passeando pelo quarto. Outro não vai me excitar, não
da mesma maneira, não com o mesmo desejo e estou tentado fazê-la se sentir segura quando seja
necessário e você deveria saber disso.
— Não me sinto insegura, não por você. Para mim, tanto faz se quer estar com ela, com a
vizinha ou com a secretária, só que não enquanto está comigo.
— Não faça drama com isso; não faça uma montanha por um grão de areia... Vamos ver, eu
não dei chilique quando cheguei e vi você abraçada com o Sturgess; não pedi explicações, porque
sei que você quer estar comigo. Quando se aproximou, seu olhar já me disse isso, antes de falar
qualquer outra coisa; eu já tinha entendido sua situação, por isso, peço que olhe para mim, que não
estou mentindo se olho nos seus olhos... — Ia falar algo mais, quando a mulher voltou.
— Desculpem… Senhor Garnett, o diretor está esperando no seu escritório, sigam-me, por favor
— Pediu, dirigindo-se a Samuel que, antes de levantar, pegou novamente a mão de Rachell.
Os dois seguiram a mulher que, ao caminhar, rebolava intencionalmente para que Samuel
fixasse os olhos nela.
— Sabe, às vezes, também, me dá uma coisa estúpida como essas mulheres básicas —
murmurou Rachell, em resposta a tudo o que Samuel tinha dito. Ele tinha razão, não podia permitir
que certas mulheres atrapalhassem sua segurança e diminuíssem sua autoestima.
Tudo era culpa do brasileiro que tinha despertado nela aquela angústia de que desse para
outra mulher tudo o que tinha dado para ela. Eram emoções que não tinha experimentado e que
não sabia lidar com elas.
Na reunião com o diretor, Rachell fez uma transferência do valor total do dinheiro, saldando a
dívida e recebendo novamente os documentos do seu apartamento, o que tirou um grande peso de
cima, soltando um suspiro.
Os dois se despediram amavelmente para voltar à butique onde Samuel deixou Rachell, depois
de comprovar que Sturgess não estava mais lá. Porém, as rosas vermelhas no balcão voltaram a
acender aquela chama na boca do seu estômago e aquela raiva que sabia disfarçar quase com
perfeição.
Antes de voltar para o carro, despediu-se com um beijo formal, embora tivesse vontade de
jogá-la no divã e arrancar sua roupa, mas o público presente não permitiria. Mal cruzou a porta
para a rua, pegou o iPhone no bolso da calça.
— Tio, preciso que me faça um favor — A conversa com Reinhard era em português. — Quero
que me envie o que vou pedir, vou passar por e-mail.
— Está bem, vou tentar, se não for complicado, Sam.
— Não, não é complicado — Disse, ao ligar o carro e sair. — Só que preciso que sejam vários
envios, um só não serve... Fico por aqui, estou dirigindo, em alguns minutos, mando o e-mail —
Desligou e encontrou uma mensagem de Rachell, quando mal tinha avançado uma rua.
Muse. — Era a única coisa que dizia e ele supôs que seriam as pistas, para a senha e não teve
como não sorrir.
Já tinha pedido duas horas do seu tempo para passar com Rachell e não restou outra opção
que voltar para a torre e adiantar o trabalho. Depois de algumas horas submerso em vários casos
e assessoria jurídica por telefone com um cliente, chegou outra pista.
Adour. — Tinha certeza que era o nome do restaurante, estudou as duas possibilidades por
vários minutos até que lembrou que era o lugar onde tinham se conhecido.
— Com certeza, é o endereço do restaurante. Ou não? É o dia que nos conhecemos, essa é a
senha... Descobri! Foi muito fácil, Rachell, mas... merda... Merda, que dia foi mesmo? — Levou a mão
à cabeça, esfregando com impaciência e soltou um suspiro pesado. — Foi março, sim, foi no mês de
março — Dizia a si mesmo, contando nos dedos e calculando o tempo que fazia que conhecia
Rachell. — Estou fodido, não lembro o dia e se tentar mais de cinco vezes, vou disparar o alarme.
E para meu azar, março tem trinta e um dias, lembro que almocei com Thor e que estava lendo o
jornal… — Mal disse isso, lembrou da nota que chamou sua atenção e foi ao site do New York
Times. Depois de vários minutos de busca, encontrou a notícia e com a data de 12 de março de
2013. Pegou o iPhone e respondeu a mensagem de Rachell.
Não preciso mais de pistas, já tenho a senha.
Tem certeza? — A resposta da garota chegou quase imediatamente.
Tão certo como quero ter você acordada toda a noite.
Enviou sua mensagem, sentindo que, a partir daquele mesmo instante, já começava a se excitar,
ao pensar na noite que estava preparada.
Você falou em algumas horas, se continuarmos assim, vou parecer um guaxinim.
Não fale assim que eu me sinto um zoofílico e não tenho vontade de cometer nenhuma
zoofilia. —Não conseguia evitar a ironia nas suas respostas.
Então, mas eu sim, já transei várias vezes com uma pantera. —Samuel, ao ler a mensagem,
não conseguiu segurar uma gargalhada que ecoou no escritório; girou na cadeira para ver Rachell
no outdoor que estava atrás dele.
Eu me rendo, você ganhou, mas isso não vai salvá-la da noite que desde agora estou
imaginando, quero que me surpreenda e não precisamente com o jantar. —Enviou a mensagem
instantânea e, arrastado pela luxúria, tocou-se por cima da calça a sua nascente ereção ao
observar fixamente a mulher que a causava no outdoor.
Tentarei fazer isso, procurador. Preciso me concentrar no meu trabalho e acho que você
deve fazer o mesmo.
Estou concentrado no que estou fazendo. Quer saber o que estou fazendo?
Samuel! Deixe de ser um pervertido e insaciável, estou ocupada e não posso acompanhá-lo
nessa viagem, portanto, não me torture... envie-me uma foto.
Mesmo estando atento ao que fazia, acabou rindo com a resposta.
Sem nem pensar, abaixou o zíper da calça, abriu um espaço na cueca e tirou seu pênis, pegou
um giz e, com um sorriso malicioso nos lábios, escreveu "Rachell" em todo o comprimento, tirou uma
foto e mandou.
Rachell, que estava atrás do balcão organizando umas faturas, ao ver a fotografia, não
conseguiu segurar o iPhone na mão e caiu no chão. Olhou a imagem novamente, babou e seu
corpo se inflamou com as pulsações, querendo sair correndo naquele momento.
Então ela percebeu que era o centro dos olhares e o seu rubor pela excitação agora era de
vergonha. Rapidamente, ficou de cócoras e pegou o telefone, fixando outra vez o olhar na imagem
e sua morbidez a obrigou a dar um zoom, admirando o membro com atenção. Ela já tinha visto de
perto, tinha tocado e saboreado, mas ver em uma tela, que não permitia sentir a suave textura, a
fazia desejar ainda mais, pensando que, nesse momento, algo inalcançável.
Não gostou? — A pergunta a pegou de surpresa, considerando que tinha entrado em um
universo onde só existia o membro de Samuel.
Adorei. À noite, vou recompensá-lo pela obra de arte. — Enviou a resposta e mordeu o lábio
inferior ao pensar o que faria com a sua boca.
Bom, vou deixá-lo trabalhar, isso sim... Se sentir calor é porque está comigo satisfazendo
minha fantasia. Você vai conhecer o banheiro do meu escritório, espero logo ter você
fisicamente sobre a pia e não só com a imaginação.
— Este homem vai me matar. O que eu fiz? Com que maníaco sexual eu me envolvi? — Disse em
um sussurro ao ler a mensagem, sendo mais um lamento por não poder participar pessoalmente da
fantasia. Sabia que deveria parar com as mensagens, senão ela também teria que se fechar no
banheiro, por isso, só respondeu: Ok.
CAPÍTULO 13

Quando Henry Brockman se propunha algo, não havia forças sobre a terra que o fizesse desistir,
por isso que, depois de várias tentativas e para a maior de suas sortes, soube que Richard
Sturgess estava, nada mais e nada menos, que em Nova Iorque, hospedado no Waldorf Astoria.
Só faltava marcar uma reunião com ele para fuçar, de modo sutil, o seu passado com Rachell e
encontrar a medida de pressão para ela ceder.
— Jéssica, preciso que programe um encontro com Richard Sturgess — Informou a sua
secretária, entregando um papel com os dados do multimilionário. — Ele está no hotel Waldorf.
— Para quando o senhor precisa? — Perguntou, enquanto deslizava e apertava com os dedos
a tela da agenda eletrônica em mãos.
— O quanto antes, passo a você a tarefa de convencê-lo. Diga que o presidente da Elitte está
interessado em alguns negócios com ele e aproveitará sua visita no país para fazer algumas
propostas.
— Bem, senhor, agora mesmo vou entrar em contato com o senhor Sturgess… Algo mais?
— Não, no momento é tudo. Tão logo tenha uma resposta, avise.
— Sim, senhor, com licença.
Henry só fez um vago gesto com a mão para que ela saísse e, novamente, voltou aos seus
pensamentos.

****

Embora, algumas vezes, Samuel parecia uma máquina sexual, definitivamente não era; não era
mais que um homem que também sentia o cansaço consumir. Na noite anterior, não conseguiram
transar como desejavam. A extenuação acabou vencedora quando, depois de alguns encontros em
que ela alcançou quatro orgasmos, acabaram dormindo às três da manhã. Ao acordar, ele não
estava ao seu lado, novamente chegava e ia embora como um ladrão, que a arrebatava a
sanidade e uma sensação de vazio surgiu no peito, porque queria acordar e encontrá-lo dormindo,
vê-lo assim era sua faceta mais vulnerável, onde parecia um menino que a invadia de ternura, mas
também era o homem que despertava os desejos mais carnais.
Depois de uma ducha com água bem fria e que tinha que suportar dando pulinhos que a
animaram continuar embaixo d'água, sabendo que o sacrifício era justo para manter a pele
tonificada. Dirigiu-se ao closet, onde colocou uma calça branca e uma blusa turquesa de seda com
umas fitas do mesmo tecido que faziam um laço no pescoço e os punhos fechados com botões de
pérola. Era um dos seus desenhos, escolheu os sapatos que mais gostava, eram os mais caros que
tinha pago, mas, desde que os viu, simplesmente ficou apaixonada por eles, eram Stuart Weitzman
pretos que deixavam seus pés maravilhosos.
Chegava à butique e descia do carro, quando Sophia e Oscar chegavam também, era como se
tivessem combinado de se encontrar naquele momento. O homem se encarregou de abrir e as
garotas entraram, acendendo as luzes e começaram a se organizar, sem perder tempo; logo
chegou a dona Amparo, encarregada da limpeza, e Sílvia.
Rachell delegou a Silvia o trabalho de procurar no depósito algumas peças e pendurá-las na
vitrine, para ir ao seu escritório e organizar a informação que deveria enviar ao contador, além
disso, fazer o pagamento pela Internet de alguns serviços públicos.
Lembrou que não tinha ligado para Samuel e ele também não, com certeza, estaria na
procuradoria e, embora desejasse escutar sua voz, não queria interromper seu horário de trabalho,
não queria sufocá-lo. Seu olhar se desviou do monitor ao ser incitada pela pessoa que estava na
porta e que Oscar atendia, ao que parece, assinou alguma coisa e o homem foi embora.
A boca de Rachell se abriu involuntariamente ao ver que um buquê com pernas se aproximava
da porta e que, desta vez, não era rosa. Ficou de pé, adivinhando que era para ela, porque se
fosse para Sophia, ela teria recebido.
Oscar carregou o imenso buquê e seguiu até as escadas, quando ela saiu e desceu
rapidamente, sem ter consciência de que se comportava como uma adolescente deslumbrada e não
era para menos, pois o buquê era o buquê mais lindo que já tinha visto; eram orquídeas exóticas e
lindas que inundavam não só o chão com a sua beleza, mas sim com seu aroma.
— Não sei o que você está fazendo com estes homens, Rachell — Disse Oscar, sorrindo,
sentindo-se orgulhoso da garota. — Porque isto, definitivamente, não é do Richard. Já sabemos
que ele gosta de rosas e as orquídeas, em geral, dão na Colômbia, Venezuela e Brasil e só
conheço uma pessoa de um desses três países.
— São lindas — Foi a única coisa que pôde dizer em meio a tanta emoção.
— Vou deixar na mesa porque você não vai aguentar... O procurador quis impressionar. Será
que ele se sentiu ameaçado com a presença de Sturgess? — Perguntou em tom de brincadeira e,
atrás dele, vinha Sophia.
— Não acho, não sei nem o que pensar... Nem sequer sei se são de Samuel.
— Bom, vou deixar aqui para você ver — Disse, colocando o buquê em cima da mesa de
Rachell.
Oscar saiu, mas Sophia se instalou no divã, nem um exército a tiraria dali.
— O que você está esperando?! Leia o cartão — Pediu com impaciência, ao ser torturada pela
curiosidade.
— Já vou, Sophie… Deixe eu respirar, assimilar — Disse, aproximando-se e sentindo o aroma
de uma das flores. — Nunca tinham me mandado orquídeas, são realmente lindas.
— E são caras.
Rachell soltou um suspiro e pegou o envelope, tirou o cartão e começou a ler.

Você se emociona com flores? Bom, quero ser aquele que faz isso todos os dias e da minha maneira,
quando eu falei que era básica, não foi por você, mas sim pelo tipo de flor tão comum.
Todos dão rosas, elas estão até nos semáforos, mas não é isso que você merece.

Samuel Garnett.

Ao terminar de ler, Rachell se jogou no sofá, sentindo o coração bater tão forte que parecia
explodir. Aquele homem estava mudando seu mundo pouco a pouco, estava arrastando-a por
emoções desconhecidas, estava derretendo, seu escudo que começava a cair, gota a gota, e o que
mais tinha impressionado era que o cartão tinha sido escrito por ele, com aquela caligrafia tão
lindamente masculina e não por alguém que trabalhava na floricultura, como tinham feito os homens
que tinham mandado flores anteriormente.
Samuel e Oscar tinham marcado a diferença, já que aquele que considerava seu pai sempre
dava margaridas em seu aniversário.
Sophia aproveitou o estado de comoção da sua amiga e praticamente arrancou o cartão das
suas mãos. Estava morrendo de curiosidade para saber o que era que ele tinha escrito para
afetar tanto assim Rachell; ao ler, não conseguiu evitar e soltou um assobio de surpresa.
— Isso é o que eu chamo de marcar território... Mas tem toda a razão — Sophia, ao ver que
sua amiga não respondia, não conseguiu e soltou uma gargalhada. — Ele deixou você passada.
— Não vou negar, como poder ver, as orquídeas são lindas e o cartão é tão encantadoramente
prepotente como ele. —Mostrou o exótico buquê.
— Eu falei, Rachell, existem homens que são únicos, que têm coisas boas para oferecer, coisas
maravilhosas, momentos extraordinários, não se cegue... Você conhece como os homens se comporta
e sabe que o procurador, embora não queira se mostrar apaixonado por você, se apaixonou,
procurou a maneira de surpreendê-la. Se não fosse por isso, não teria nem ligado para o buquê
de Richard e olhe o monumento que enviou com o único motivo de sobressaltar diante dos detalhes
desse homem, que sabe que pode virar contra o que tem.
— Não é assim, Sophia, não fale porque você não conhece Samuel. Ele só gosta de demonstrar
que tem poder, gosta de competir e jamais perder... isso é tudo — Deu sua melhor explicação,
buscando motivos para não continuar alimentando as pulsações que tinham o nome de Samuel
Garnett.
— Parece que quem não o conhece é você ou não quer conhecê-lo, se for assim, então, pare de
se envolver cada vez mais, mande-o embora.
— Não consigo, não quero... Estou bem, agora estou bem, tenho o controle, Sophia. Gosto de
estar com Samuel, mas isso não quer dizer que eu esteja apaixonada, vou ficar com ele até
encontrar alguém melhor, isso é tudo.
— Sabe o que eu tenho vontade de fazer neste exato momento? Dar uns tapas e puxar seu
cabelo, para fazer você entender. Eu já estou cansada de tentar convencê-la com palavras que o
problema é você e deve sair desse mundo paralelo e, para isso, precisa deixar que um homem
entre na sua vida — Ficou brava com Rachell e com sua teimosia.
— Se eu deixar entrar, vai acontecer a mesma coisa. Eu não cumpro os requisitos para ser
amada e você sabe disso.
— Ai, pare com isso… — Falou, levantando os olhos.
— E vou continuar com isso e você não vai me fazer mudar de ideia.
— Bom, eu não, mas o amor sim — Disse determinante; ficou de pé, deixando o cartão no divã.
— Continue lendo esses romances com final feliz e não acorde, Sophia — advertiu, deixando-se
levar pelos seus fantasmas—. Eu vivi, eu vi o que o amor verdadeiro pode fazer.
— Bom, continue acreditando que aquilo era amor e eu continuo sonhando com o meu final feliz.
Sei que encontrarei, você tem que lugar por aquilo que quer e não me refiro profissionalmente,
também é preciso apostar pelos sentimentos — Disse, saindo e batendo a porta.
Rachell sentia o coração pular na garganta e as lágrimas subirem com rapidez, fixou os olhos
no buquê. Não gostava de discutir com Sophia e algo dizia que, desta vez, tinha sido sério. Sabia
que era intransigente, que não escutava razões, mas não conseguia, simplesmente não conseguia
acreditar em palavras quando ela tinha vivido os fatos.
Sem conseguir segurar mais as lágrimas, ficou de pé e foi até o banheiro, onde se sentou na
privada e começou a chorar. Ninguém iria atrapalhar e ela sabia, pela primeira vez, que
precisava de um abraço, que alguém dissesse que tudo ficaria bem, alguém que compreendesse
seus medos.

****
Samuel teve que sair cedo do apartamento de Rachell e não queria ir sem avisar, mas também
não queria acordá-la, porque sabia que se fizesse isso, não teria tempo de enviar o buquê de
orquídeas catleya labiata em cores rosa-lilás e brancas, que tinha encomendado com seu tio; além
disso, tinha que estar nos tribunais no horário estabelecido e atender o julgamento pendente.
Caminhava pelos corredores do tribunal com o iPhone na mão, enviando uma mensagem
instantânea a Rachell.
Espero que você tenha se emocionado com o que enviei, estarei muito ocupado durante
todo o dia e hoje, como quase sempre, alguns vão agradecer meu trabalho e ouros vão me
odiar por um bom tempo, até mais, acho que pela vida inteira, quando peça 35 anos de prisão
para o caso que estou cuidando; mas são ossos do ofício, que já não me afetam. Depois tenho
que ir a Rochester para apresentar um relatório pessoalmente, de lá para a torre e, por último,
para sua cama, que irá me manter muito ocupado, mas será o que farei com o maior prazer.
Enviou a mensagem e guardou o celular no bolso da calça, enquanto se dirigia apressado até o
salão, onde prepararia o material de trabalho para apresentar.
Só faltavam uns vinte e cinco minutos e tinha que estar dez minutos antes do julgamento oral, em
frente ao estrado e ao lado direito.
CAPÍTULO 14

Thor observava divertido como Samuel mantinha uma luta com a gravata borboleta e tentava
segurar o riso, enquanto os movimentos estúpidos do seu primo começavam a deixá-lo
desesperado.
— Aonde você vai levá-la? — Perguntou, tentando desviar o olhar do nó que Samuel fazia.
— Ao Per Se — respondeu, tentando inutilmente fazer o laço. — Merda! — Exclamou, dando
um puxão e liberando o colarinho da camisa de seda branca.
— Se quiser, empresto um dos meus, que já estão prontos — Thor não era daqueles que se
complicava com essas peças, sempre procurava o mais fácil.
— Por favor, porque esta merda vai acabar me fazendo perder as estribeiras — Sentou na
cama para colocar os sapatos.
Thor saiu do quarto em busca da gravata. Voltando em alguns minutos com várias de cores
diferentes.
— Parece que a cinza é melhor, porque com a preta você vai ficar parecendo garçom —
aconselhou, entregando-a. — Então, outra noite que não espero você para dormir. Você deveria se
mudar de uma vez por todas para morar com Rachell. Quem ia imaginar que Samuel Garnett, o
presidente do escritório de advocacia mais importante de Nova Iorque e procurador do distrito de
Manhattan, acabaria como refugiado no apartamento de uma estilista — dizia em tom de
brincadeira.
— Para seu azar, hoje à noite, vou trazê-la ao apartamento. Portanto, recomendo que, antes de
dormir, coloque Vivaldi — Ajustava os botões dos punhos da camisa.
— Por que eu fui falar — murmurou arrependido.
— Bom, estou indo, não quero chegar tarde — Disse, pegando o terno, vestindo-o e dirigiu-se à
saída.
O terceiro andar do complexo Time Warner no Columbus Circle, lugar onde estava o exclusivo
restaurante de estilo francês, Per Se, dava as boas-vindas a Rachell e Samuel. Ele a guiava e,
mesmo de rabo de olho, dava olhadas fugazes à garota, que realmente o tinha impressionado. Ela
estava usando um lindo e elegante vestido de cor branca com um penteado que a fazia parecer
mais alta. Seu pescoço nu o incitava a mordê-lo suavemente, a saborear cada poro, mas tinha que
guardar seus desejos para o final da noite.
Foram levados até a mesa que tinha reservado anteriormente, onde havia uma garrafa de
champanhe gelando no balde de gelo.
Samuel, comportando-se como o mais atento dos cavaleiros, não permitiu que o maître a
ajudasse com a cadeira, foi ele mesmo que a ajudou, fez o mesmo ao servir a espumante e
dourada bebida, descobrindo no brasileiro um homem altamente prestativo.
Não sabia se a atitude tão encantadora de Samuel se dava pela presença de Richard no país
que, de certa maneira, se sentia ameaçado ou ao que Sophia tinha dito há alguns dias, de que
estava se apaixonando. Algo que ela realmente temia, porque não queria que ele começasse a
exigir coisas que ela não podia oferecer, que chegasse ao mesmo ponto em que Richard decidiu ir
embora, porque não conseguia viver com o que tinha para oferecer.
— E o que você quer brindar? — Perguntou, elevando sua taça.
— Não sei, talvez porque faz duas semanas que não discutimos — Disse, sorrindo, gesto que
fez seus olhos brilharem.
— Quem começa as discussões é você e isso que o advogado sou eu, mas quero brindar seu
sucesso no trabalho. Fico orgulhoso do que você faz, é de admirar.
— Obrigada por pensar em mim antes de você.
— Tenho que fazer isso para você me pagar o que deve… — Diante do gesto dela, não teve
como não sorrir e deixar clara sua brincadeira.
— Prometo que, nesta semana, pagarei a primeira parcela.
— Você sabe que só estou querendo encher um pouco, não falei a sério.
— Sei que não falou sério, mas eu vou sim pagar e se não quiser que acabar com o brinde que
acabamos de fazer, aceite o que eu disse.
— Nossa! Você ainda não me amarrou na cama, nem me deu chicotadas na bunda, mas falta
pouco para você fazer isso.
— Samuel, não estou tentando dominá-lo, mas pare de ser intransigente e acho que podemos
levar bem as coisas... Vamos esquecer a questão do empréstimo e fale: como foi com o trabalho?
— Se eu falar como está o trabalho, você vai acabar enfiando a cara no prato principal...
Quero conhecer um pouco mais de você, Rachell... Não a estilista, quero conhecer a mulher.
— Não estou preparada para apresentar o que sou para você… — Disse, abaixando o olhar
e, com as mãos trêmulas, tentava colocar o guardanapo no colo.
— Nem um pouquinho? Só me abra uma janela, Rachell, porque eu vou enlouquecer tentando
decifrá-la... Faça isso pela nossa amizade — Esticou sua mão em cima da mesa, ela tomou
coragem e correspondeu ao gesto, sentindo aquele calor tão reconfortante.
— Não sei até onde posso chegar. Entendo que você queira compreender certas coisas de mim,
porque acontece a mesma coisa com você, Samuel, mas não quero ir muito além.
— Arrisque-se... Você quer saber algo de mim? Eu tentarei responder suas dúvidas, mas se, de
verdade, não puder, eu falo. Você pode fazer o mesmo, serão apenas algumas coisinhas, mas que
podem ser fundamentais para nós.
— Posso fazer qualquer pergunta? E você vai responder com a verdade? — Aventurou-se,
porque ela também desejava saber coisas sobre ele e esse era o momento ideal, porque quando
estavam fechados no quarto, só falavam do quanto curtiam o sexo; ainda não tinham aprendido a
se abrir sentimentalmente na intimidade.
— Você pode perguntar e responderei com a verdade, caso contrário, simplesmente não
respondo — Desejou aprofundar-se no passado de Rachell, queria conhecê-la um pouco mais,
saber o que ela escondia por trás daqueles olhos misteriosos.
— Que significado tem sua tatuagem e quem é Elizabeth?… Tenho que confessar que ficou um
pouco incomodada cada vez que vejo isso.
— Minha tatuagem… — Disse com voz moderada. Não pensou que fosse começar
precisamente por essa parte, mas se queria saber algo de Rachell, tinha que dar essa resposta. —
Não é nada além de tinta preta e uma promessa. Elizabeth era minha mãe, fiz quando completei
quatorze anos, porque não queria esquecer que tinha que fazer algo por ela — Ao terminar de
falar, deu um gole grande na taça para engolir as lágrimas que estavam presas na garganta e
Rachell entendeu que não devia seguir alfinetando na dor que, claramente, mostrou em seus traços.
Estava morrendo de curiosidade para saber qual era a promessa e o que deveria fazer pela sua
mãe, mas preferiu guardar essas dúvidas para outra oportunidade.
— Sinto muito, não quis… — Disse, procurando o seu olhar que se esquivava dela
— Não tem que pedir desculpas... Agora você ficará mais tranquila quando me vir com o torso
nu. — Naquele momento, não podia permitir ver a alma de Rachell, porque não queria desmontar
ali e nem na frente dela.
— E seu pai? — Perguntou, sentindo-se perturbada pela situação de Samuel.
— Meus pais morreram na mesma noite, meu pai alguns minutos antes da minha mãe, ou talvez
foram algumas horas, não sei… — Não queria continuar falando sobre isso, portanto decidiu
conhecer Rachell. — Quando você decidiu ser estilista? — Perguntou e, novamente, dava um
grande gole na bebida.
— Desde que tenho uso da razão. Nunca brinquei de papai e mamãe com as minhas bonecas...
Só gostava de fazer roupinhas para elas — Disse, sorrindo sinceramente.
Naquele momento, chegou o maître para fazer o pedido e os dois perceberam que nem sequer
tinham visto o cardápio e acabaram sorrindo, ao mesmo tempo em que o pegaram.
Rachell e Samuel escolheram pratos diferentes, de acordo com seus gostos e o rapaz fez uma
pequena referência, ao fazer o pedido, para depois sair.
— Você tem uma boa pronúncia em francês — Disse Samuel.
— Isso também tem a ver com meu passado... Meus vizinhos eram canadenses e, muitas vezes,
ensinavam um pouco de francês… Samuel — tateou o terreno porque tinha chegado o momento
de contar sobre sua viagem. — Eu não sei porquê que ainda não contei para você, mas quero que
saiba que vou viajar em três dias — O gesto dele era justamente o que esperava. — Eu vou para
a Itália... Sempre quis ir, tenho credencial para assistir a um desfile de suma importância que será
realizado em Milão.
— Em três dias — murmurou, sem conseguir acreditar. E uma estranha sensação começava a
sufocar seu peito, não estava bravo, mas era outro sentimento que não conseguia definir naquele
momento.
— Sim
— E já está tudo preparado? Posso colocar o avião a sua disposição. Eu iria com você, mas não
posso, não tenho férias na procuradoria e estou no meio de um caso, não posso abandonar agora
— Sabia que era a única coisa que o prendia e pedir a Rachell para não viajar seria um ato de
egoísmo e, de certa maneira, estaria roubando seus sonhos. Não era isso que desejava, além disso,
queria que ela vivesse sua própria vida, que fosse independente. Não era do tipo que gostava de
mulheres que se escondem atrás de um homem. Rachell tinha que brilhar com luz própria.
— Já comprei a passagem, sei que você tem trabalho e que, antes do prazer, está o dever.
— Mas aí que você está enganada... Se tivesse me falado com tempo, teria mandado o caso à
merda para poder ir transar com você nos hotéis de Milão.
— Você não tem ideia do que acaba de fazer. Como você acha que vou conseguir dormir
agora? — Perguntou com um sorriso.
— Vou me encarregar para não dormir.
— Sim, definitivamente você já fez isso… — Teve que pausar a conversa, porque chegava o
jantar.
O maître deixou a comida e, novamente, deu privacidade a eles e Samuel aproveitou a
oportunidade para mudar de tema e não deixar clara a ideia que tinha surgido na cabeça.
—Quanto tempo faz que você conhece Sophia? — Perguntou, querendo descobrir um pouco
mais sobre ela.
— Bom, conheci Oscar primeiro, uns dias antes, então isso quer dizer que conheço os dois faz
oito anos e sempre fomos inseparáveis. Com Sophia, discuto o tempo todo, mas Oscar sempre nos
trata como criança e nos obriga a afazer as pazes, com abraço e tudo — Disse, mostrando a
Samuel um sorriso que a fazia brilhar como uma menina e essa ternura o invadiu, de um modo que
o deixou mudo, apenas maravilhando-se com o gesto. — Bom, eu sei que seu tio é separado. O
que aconteceu com a sua tia?
— Minha tia, bom, eu não a chamaria assim, não é nada além de uma filha da puta...
Ambiciosa, mal a conheço... Quando fui morar com meu tio, ela já não estava mais lá. Tinha ido
embora com um garoto mais novo que ela e não era amor, porque alguns meses depois, trocou por
outro e assim foi... Por isso, acho que transou com metade do Brasil. Ela era modelo e agora é atriz.
Qualquer dia, mostro para você, está trabalhando agora em uma novela do horário nobre em um
canal brasileiro.
— Bom, existem todas as classes de mulheres — Disse, elevando as duas sobrancelhas pela
surpresa. — E o que seus primos pensam dela?
— O mesmo que eu e não porque eu tenha influenciado. Quando ela abandonou meu tio, Thor
tinha sete anos e ela arrancou uma fortuna para ceder a guarda total de Ian e Thor...
Tecnicamente, ela vendeu os dois... Quando cheguei na casa, Thor ainda não tinha assimilado a
situação, não conseguia entender como sua mão não gostava dele e já tinha passado quase um
ano. Acostumou a dormir com meu tio, até uns doze anos, mais ou menos. Depois criou um escudo,
não queria nenhuma mulher por perto, não se aproximava de nenhuma porque dizia que ela ia
abandoná-lo. Meu tio o levou a um psicólogo por um tempo, isso ajudou a enfrentar o abandono
da mãe; depois disso, tornou-se o Thor que você conhece.
— Admirável o que fez o senhor Garnett.
— Reinhard Garnett é único. Todo o dinheiro que tem não é nada comparado à qualidade de
ser humano que é, e não falo isso porque é meu tio. É porque ele é assim. No Brasil, ele é
idolatrado, pouco se importar entrar nas favelas com carregamentos de comida, roupa,
medicamentos... Por que acha que ele nunca foi sequestrado?
— Não deveriam fazer isso, se ele os ajuda... Essas pessoas são vistas como se fossem anjos da
guarda, daqueles que podem estender a mão nos piores momentos. É o que Oscar é para mim, foi
meu protetor, nós nos ajudamos, mas, definitivamente, se ele não estivesse comigo, eu não estaria
aqui hoje.
— Tenho muito que agradecer a Oscar, tenho que fazer as pazes com ele.
— Tem que fazer as pazes com ele? Não entendo. Oscar não tem nada contra você —
explicou, um pouco desconcertada pelas palavras de Samuel.
— Está claro que ele não gosta de mim. Sempre que tem uma oportunidade, faz advertências...
E entendo que seja assim, já que, uma vez, tentei atropelá-lo, mas não era minha intenção.
— Você está enganado, Oscar não é uma pessoa rancorosa e ele sabe que isso foi só um
acidente.
— Vou acreditar na sua palavra, mas, sinceramente, não vejo o mínimo interesse em ele querer
ser meu amigo — Disse, para depois abaixar os olhos para sua comida e experimentar um pouco.
— E você precisa da amizade de Oscar? Não acho que seja algo a que você dê importância
— cutucou, sabendo que Samuel era de poucos amigos.
— Neste momento, é quem mais preciso como amigo — respondeu, procurando o seu olhar,
querendo demonstrar que queria estar bem com as pessoas que ela amava.
— Você quer aliados; está procurando a maneira de apoiá-lo e que de deem as costas quando
discutirmos — Disse, sorrindo.
— Se quiser pensar assim, não posso fazer nada... Você quer falar dos seus pais? — Tateou,
procurando uma maneira de continuar descobrindo a mulher que tinha roubado seu sono nos
últimos meses.
— Não é algo que gostaria de falar... Não agora.
— E de outro membro da sua família? — Insistiu de maneira sutil.
— Só sei que tenho um tio que mora aqui em Nova Iorque, mas que nunca conheci. Meu pai
vinha visitá-lo, às vezes, ficava algum tempo aqui, mas voltava para casa. Mais que isso, não posso
contar... Por favor, não quero continuar — Disse, deixando clara a súplica.
— Está bem, prometi não pressionar... Além disso, quero saber de você, não dos seus pais.
Essa foi a trégua que deu Samuel. Pelo menos, já tinha conseguido falar com ela e que ela não
tenha ficado na defensiva. Ao terminar o jantar, Rachell disse que ia ao banheiro e ele aproveitou
para ir também.
Samuel estava entrando no banheiro masculino, quando seu olhar captou Richard Sturgess
parado na frente do espelho, lavando as mãos. A comida revirou no estômago do brasileiro e foi
como se pegasse fogo. Porém, apegando-se a sua maneira de ser, decidiu ignorar o britânico.
— Boa noite... é você que está saindo com Rachell? — Cumprimentou o homem, dirigindo-se a
Samuel com o olhar através do espelho. Não havia mais ninguém, o que o convertia no alvo da
pergunta.
— Sim, sou eu que tenho uma relação com Rachell — Disse, com decisão e observando
atentamente como o homem pegava uma toalha descartável e secava as mãos e virava para
encará-lo.
— Você deveria pensar em terminar com ela, antes que ela o faça.
—Você está muito seguro que ela vai me deixar e deve pensar que é por você — Disse, de
maneira depreciativa e levando as mãos aos bolsos da calça, demonstrando predomínio e
tranquilidade.
— Não penso, isto é um fato. Eu fui o homem de Rachell...
— Ausente — interveio Samuel, com certa ironia que não agradou a Richard.
— Só demos um tempo, mas esse tempo já acabou, voltei e, desta vez, vou levá-la comigo —
Contra-atacou com suas palavras, que causaram o efeito esperado no seu oponente que,
claramente, ficou evidente no seu rosto.
— E ela já sabe disso? Porque, até agora, não vejo a mínima intenção de querer desistir do que
tem para ir embora com você — Sem se deixar intimidar pelas palavras do britânico.
Nesse momento, entrou outro homem no banheiro, mas passou direto para os cubículos.
— Ela vai fazer isso… Rachell é minha mulher, sempre foi, eu a fiz mulher — Enfatizou as
últimas palavras, que foram um soco no estômago para Samuel, que ficou louco de raiva, mas que
conseguiu esconder perfeitamente. Só se apoiou um pouco mais sobre os calcanhares, segurando a
vontade que tinha de quebrar o nariz de Surgess.
— Se você a fez mulher ou não, isso me importa muito, mas muito pouco. Qualquer um pode
fazê-la mulher, não é uma função pela qual se deva destacar como homem... No final das contas,
por experiência, sei que mulheres perdem a virgindade no meio de um erro, mas conseguir deixá-
la satisfeita é a grande travessia. Ser capaz de proporcionar o prazer que a mantenha ao seu
lado não é para qualquer um. É preciso prestar muita atenção nisso, senhor Sturgess. Pergunte-se:
por que está comigo e não com você neste momento? Por que não pulou nos seus braços quando o
viu e amavelmente o rejeitou? Rachell e eu temos uma relação em que há comunicação, com sua
licença — Disse, saindo e deixando o homem para trás, sem dar opção para se defender. Entrou
no cubículo e, antes de fechar, bateu a porta, descarregando toda sua raiva. Mas, se fizesse isso,
demonstraria que ele o tinha descontrolado com o seu estúpido comentário ao saber que ele foi o
primeiro homem na vida de Rachell.
— Ela vai acabar abandonando você e, então, vai lembrar que quem ri por último, ri melhor —
Lançou suas palavras envenenadas ao sentir seu orgulho masculino ferido e saiu.
A vontade de qualquer necessidade em Samuel desapareceu. Só queria quebrar a cara do
imbecil do Sturgess, mas se controlou com respirações profundas.
Ao chegar à mesa, Rachell já estava esperando. Sem dúvida, tinha demorado mais do que o
normal, graças ao desagradável encontro e por tentar controlar seus instintos assassinos no
banheiro.
Pagou a conta e foram até a entrada, onde entregariam o elegante casaco de Rachell. Samuel
imediatamente percebeu que não era seu dia de sorte quando seu olhar teve a desgraça de
encontrar com Henry Brockman, sentindo aquele tornado violento e poderoso fazer estragos nele
cada vez que tinha a oportunidade de vê-lo; um furacão que era quase impossível dominar. Não
estava nele, estava naquela vontade de socá-lo até matar que sempre surgia e que não podia
fazer.
Rachell apertou sua mão e isso o tirou do centro do furacão, aquele caloroso aperto de mão
mais forte que o normal indicou que ela estava ali e o estimulou a ignorar Henry e sair do
restaurante.
Porém, Brockman já tinha fixado o olhar nos dois e seu semblante demonstrava raiva ao vê-los
juntos.
Ele já tinha tirado de Samuel a mulher que mais amava na face da Terra, não estava disposto
que também tirasse Rachell. Agora, sim, o mataria; agora tinha forças e ódio suficiente para fazer
isso sem piedade.
Rachell apertou a mão de Samuel, indicando que era ele que verdadeiramente importava
naquele momento, mostrando para Henry que era seu parceiro, era quem estava ao seu lado, era
Samuel que tinha todas as oportunidades com ela.
Ninguém mais. E, então, em fração de segundos, entendeu a atitude de Samuel no banco porque
ele se insinuava descaradamente, deixava claro para ela e a todos que queria estar com ela e
com ninguém mais.
Foi decisão de Rachell começar a andar sem cumprimentar Henry, só com um leve movimento de
cabeça, o qual correspondeu, pois, da última vez que tinham se visto, não tinha acabado bem e o
homem sabia disso.
Subiram na limusine e os dois ficaram em silêncio. Samuel só estava pensando em uma coisa que
assaltou imediatamente sua razão e era subjugada pelo seu lado malicioso e desconfiado.
Ver Richard Sturgess e Henry Brockman no mesmo restaurante não era casualidade. Nunca tinha
acreditado nisso. Mas, sim, nas casualidades e isto tinha um contexto que descobriria. Agradeceu
que, naquele momento, Rachell estivesse com a viagem próxima; com ela longe, poderia investigar
por quê Henry e Richard estavam em contato e se era para prejudicar Rachell, teriam que se
preparar, pois estariam adiantando o apocalipse.
Rachell observava Samuel em silêncio, mas, sobretudo, completamente sumido nos seus
pensamentos e podia apostar que tinha a ver com Henry Brockman. Não queria que o encontro
inesperado com o homem acabasse com sua noite.
Ela mal tinha visto a limusine estacionada na frente do prédio, quando Samuel foi buscá-la e já
se excitou imediatamente, tentando usar todo o seu autocontrole para que ele não descobrisse seus
desejos e, durante o jantar, esperava ansiosa por aquele momento que, simplesmente, estava
escapando das mãos. Mas ela não ia permitir que terceiros interferissem nos seus desejos, por isso,
ela tinha que tomar a iniciativa.
A garota procurou seu iPhone na bolsa e foi direto para a pasta de música, procurou alguma
que ajudasse a ambientar o interior da limusine. Encontrou uma que serviu como uma luva,
principalmente pela sua despedida. Quis tocar, mas queria mais e sabia que a luxuosa limusine
contava com certas vantagens e estava equipado para muitas coisas, por isso, aproximou-se à
janela que comunicava com o motorista.
— Por favor, senhor, por acaso teria um adaptador para áudio? — Perguntou, mostrando o
celular, diante de um Samuel desconcertado.
— Sim, senhorita.
— O senhor poderia adaptá-lo, aumentar o volume, reproduzir a música indicada e dirigir sem
rumo? — Nunca na sua vida, tinha se comportado assim. Nunca tinha sido tão atrevida, mas com
Samuel, seu lado descarado e sexual pulsava descontroladamente.
— Sim, claro… Como deseje — O homem pegou o iPhone e Rachell fechou a janela para,
depois, sentar-se e dar uma olhada maliciosa para Samuel, no mesmo momento em que levantava
o quadril e introduzia suas mãos pelo vestido e tirava a calcinha; observando como o olhar cor de
mel se iluminava e as notas sensuais da música davam vida ao interior do veículo, onde começava
a fazer muito calor.
Antes que a melodia desse lugar à letra e de que ele reagisse, ela se sentou sobre ele,
colocando na sua cabeça a peça íntima que tinha acabado de tirar. Seu maior prêmio foi o olhar e
o sorriso cheio de luxúria dele.
Samuel automaticamente levou as mãos ao quadril, no mesmo em que o coração parecia sair
pela boca, rompia barreiras e diminuía os temores que o atormentavam.
— Quero beijá-lo em Paris — murmurou contra a boca de Samuel a letra da música e ele
estava a ponto de beijá-la, mas ela se afastou, tirando as mãos dele do seu quadril e
entrelaçando-as com as suas, levando-as ao encosto do assento, prendendo-as ali, enquanto
observada as pupilas de Samuel dilatar, o desejo aumentar progressivamente, enquanto se
deixava seduzir.
— Quero segurar sua mão em Roma — continuava com a música e a excitante sensação de
senti-lo endurecer e aquecer-se, começavam a fazer sua vagina chorar. — Quero transar com
você em um trem — Olhava fixamente para ele, indicando que se comportaria muito mal. Naquele
momento, procurou a boca de Samuel, roubando a sanidade com o beijo mais lento e sensual que
ela já tinha dado, inventando um novo beijo para ele.
E tinha certeza de que não havia homem na face da Terra que se adaptasse tão rapidamente
aos desejos de uma mulher como fazia Samuel Garnett. Ela soltou as mãos lentamente e ele, desta
vez, levou as suas às nádegas e apertou com força, provocando gemidos que puderam ser
escutados ao uníssono.
— Rachell… — murmurou com voz trêmula pelo furor que o percorria e nunca tinha escutado
tão bem seu nome.
— Sam, deixe-me controlar, dominar… — Retirou novamente suas mãos. — Quero que você
sinta o que eu sinto sempre que tem o controle, quero fazê-lo enlouquecer da mesma maneira que
você faz comigo... Dê a oportunidade para tentar, porque se você começar a tocar vai acabar me
vencendo e deixarei o mundo girar... Deixarei que conduza meu prazer e faça o que quiser
comigo, mas, desta vez, quero fazer com você — Pediu, olhando nos olhos e mantendo-se unidos
pelas pontas do nariz, respirando um único ar de paixão.
— Farei o que você pedir, o que quiser, mas quero que saiba que, com o simples fato de ter
tomado a iniciativa, já derreti. Você me surpreendeu como ninguém... E isto não estava nos planos,
não estava que agisse assim e rompesse meus esquemas. Não é o que eu esperava, Rachell, o que
quiser, como quiser — falava, enquanto a música continuava alimentando a sensualidade do
momento e ele soltou suas mãos dos dois lados do assento, vencendo-se diante dela.
Novamente, Rachell o beijou lentamente, torturando-o e afastando-se cada vez que ele queria
aumentar o ritmo que ela tinha imposto, mas ele sorria, pedindo desculpas pelos seus impulsos
incontroláveis. Ela correspondia da mesma maneira para, depois, voltar ao beijo. Aproveitou que
ele se entregou ao tango que suas línguas dançavam e levou suas mãos à gravata e a desfez.
Com a roupa não mão, Rachell pausou novamente o beijo e se afastou, dando seu olhar mais
sensual. Subiu lentamente o seu vestido, aquele que chegava até o tornozelo, com o suave tecido
que acariciava sua pele, até descobrir uma das coxas, sentindo o poder do olhar de Samuel sobre
sua pele exposta. Atento a como ela colocava a gravata na coxa, abotoou como se fosse uma cinta
liga.
— Isto é para mim — murmurou e ele ronronou como um gato sendo amansado por carícias.
Rachell levou suas mãos aos botões da camisa e começou a abrir muito lentamente, fixando seu
olhar cheio de desejos no de Samuel, cuja respiração estava cada vez mais acelerada e também a
temperatura do corpo ia aumentando. Com puxões lentos e estudados, tirou a camisa e acabou
abrindo-a, deixando o peito e o abdômen do brasileiro descoberto. Com parcimônia, aproximou-se
e, ao escutar as batidas aceleradas do coração de Samuel, a excitação de Rachell aumentava.
Com a ponta do nariz, acariciou a pele exposta, roubando o aroma do perfume dele, aquele
que fazia borbulhar a luxúria, que a converterá em uma mulher insaciável.
Samuel começou a sentir como os lentos e úmidos beijos caíam na sua pele, como flocos de neve
sobre as calçadas, arrancando tremores da sua barriga, abrindo sua boca para poder respirar
porque o desejo o estava sufocando. Seus pulmões tinham fechado quase por completo e também
gemia por uma trégua entre tanto prazer.
Rachell deslizava seus lábios lentamente até o lado esquerdo de Samuel e começou a beijar
com ternura a tatuagem, a mimar e dar um pouco de consolo naquele lugar que guardava tanta
dor, que ela pôde perceber quando ele se abriu para contar-lhe, mas que o orgulho obrigou a
esconder, obrigou a ser forte na frente dela.
Suas mãos deslizaram até a calça, discretamente, abriu o cinto e ele se comportava como o
menino mais obediente do mundo. Não a tocava, embora, em algumas ocasiões, se esfregava
contra ela, talvez para suavizar a dor da sua ereção.
Uma das mãos travessas de Rachell entrou no delicioso inferno entre as pernas de Samuel,
maravilhosa textura, suave e rígida, quente e palpitante, entre suas mãos, sentindo como o sangue
deixa as veias notórias ao tato, diante da acelerada circulação e ele se converteu em um peixe
fora d'água em algumas oportunidades, implorando oxigênio e sendo torturado pelo prazer.
— Você está como eu gosto — Disse e mordeu um dos lábios trêmulos de Samuel. — Quero que
desta vez seja você que me peça mais. Vou colocar a coleira nesta pantera — dizia, enquanto o
masturbava muito lentamente, aumentando a tortura de Samuel.
— Eu gostaria mais que você ficasse presa em uma jaula com esta pantera e estou falando
literalmente... Quando você voltar, vai saber como é excitante transar em uma jaula.
— Onde quiser e como quiser... Estou disposta a fazer isso, você pode ver que não sou covarde.
— E que tal se formos a uma sala de interrogatório?
— Será a primeira coisa que vamos fazer quando eu voltar da Itália, então deixe tudo pronto.
Agora preciso um pouco da sua colaboração — Pediu, apoiando-se sobre os joelhos e
incorporando-se e, com a ajuda dele, abaixou a calça até os pés do rapaz. — Ei… Um segundo,
não seja tão rápido, procurador — advertiu, pressionando com a mão a sua barriga, que
intentava se incorporar e penetrá-la. — Lembre-se que quem tem o controle sou eu! — Sorriu com
malícia, no mesmo momento em que se apoderava, com uma das mãos, outra vez da ereção
ansiosa e, com a outra, lutava com seu vestido para não atrapalhar.
Abaixou lentamente e só o prendeu na sua vagina, com certeza de que não escaparia. Levou as
duas mãos ao pescoço de Samuel, agarrando com força, unindo-se pela testa e pelo nariz,
sufocando o gemido de satisfação dele, olhando fixamente nos seus olhos.
— Assim… Rach, se você não se mexer, vai fazer explodir — advertiu Samuel que gritava
trêmulo, diante da necessidade que o golpeava.
— Você não vai fazer isso, sei que é muito resistente — Presa ao estranho feitiço do olhar de
Samuel, que acelerava ainda mais as batidas do seu coração.
Rachell se deixou vencer, engoliu todo o pênis delirando do brasileiro e era momento de abalar
as estruturas. De modo muito lento, começou a dançar sobre ele, ajudada pela leve vibração da
limusine, respirando o hálito, mordendo o espaço entre eles, provocando-o, enlouquecendo-o,
observando o esforço que ele fazia para não romper a regra principal daquele encontro.
Apertava seus punhos segurando o desejo de tocá-la, agarrá-la e marcar o ritmo delirante ao
qual estava acostumado, aquele que a deixava cega de prazer - dor, mas queria demonstrar que
também gostava de ter paciência, que a ternura e a paciência também podiam fazer os sentidos
explodir.
Começou a subir e descer lentamente, sentindo-o roçar suas entranhas, com aquele calor que a
fricção dava, com a viscosa umidade que excitação aumentava, criando o momento perfeito. A
música Justify My Love, da Madonna, tinha chegado ao final e agora Rachell movia seu quadril ao
ritmo de Walk Away, de Christina Aguilera.
Samuel não aguentava mais, por isso, elevou sua cabeça e procurou a boca de Rachell. Se ela
não desse de beber sua saliva, ira morrer. Necessitava diminuir a sede que o gozo despertava,
enquanto continuava tremendo sem controle, estava arrastando-o, deixando-o sem força.
O orgasmo começou a retumbar em Rachell e, para alcançá-lo, precisava de intensidade e
rapidez. Por isso, apoiou-se com as mãos nos ombros de Samuel, encontrando o impulso perfeito, a
plataforma para decolar até as portas do céu. Seu corpo, involuntariamente, arqueou-se e jogou-
se para trás, levando as mãos aos joelhos de Samuel, pressionando ainda mais, unindo-se mais a
ele. Sua pélvis oscilava lentamente, sua barriga se contraía de modo violento e as palavras se
sufocavam no meio dos gemidos, o golpe final veio quando ele a atacou.
Samuel Garnett não era feito para cumprir regras e, muito menos, no sexo que, para ele, era
algo primitivo e selvagem. Tudo, absolutamente tudo, era válido e não tinha por quê ser limitado.
Ao ver Rachell a um passo de explodir, seu instinto não permitiu que ficasse sem fazer nada, por
isso, encontrou apoio nos seus pés e nas costas, entrou nela com precisão, liberando-a daquele
orgasmo que só estava esperando que ele agisse.
— Sinto muito, Rachell, mas sou indomável, eu me comportei o suficiente — Disse, pegando-a
pelos quadris, deixando-a imóvel e elevou seu corpo, penetrando-a com rapidez, obrigando-a a
cavalgar sobre ele sem, sequer, deixar seu corpo descansar sobre o assento, sentindo o esforço ao
manter no ar o peso de Rachell, que gritava de prazer.
Sempre conseguia emudecê-la e convertê-la somente em uma fêmea, porém, ele rugia como um
animal, enquanto se entregava à cerimônia de possuí-la, aumentando o desejo nele, ao sentir como
o resultado líquido do orgasmo dela corria pela sua ereção, que surgia sem permissão e umedecia
até seus testículos que, irreverentes, chocavam-se na união dos corpos, aumentando o prazer nos
dois, dando mais intensidade ao som dos corpos que não se deixavam calar pela música que
inundava o ambiente.
Na nuvem de prazer delirante, Rachell não tinha consciência e seu corpo podia ter o equilíbrio
perfeito para explodir em milhões de pedaços em meio ao êxtase.
Mas ao recobrar o conhecimento, ficou temerosa; não sabia como Samuel tinha a resistência
para mantê-la daquele jeito e só apertava os dentes, suportando aquela dor que assaltava cada
vez que chegava longe, muito longe, mas que o prazer a fazia sentir. Não se permitia pedir que
parasse, também não queria falar por medo de morder a língua, já que ela era uma boneca de
pano sobre um touro de rodeio, tanto que teve que apoiar uma mão no teto da limusine para não
cair.
Se essa rapidez e resistência são proporcionadas pela prática da capoeira, ela tinha que
agradecer quem inventou esse esporte. Bendito seja, Brasil! Os escravos! E tudo o que estava
relacionado com a arte da combinação de dança e luta.
Samuel alcançou a glória, aproveitou o tempo que quis e caiu sentando novamente no assento,
deixando claro que suas energias tinham se esgotado. Seu peito estava a ponto de arrebentar e
precisava respirar com a boca aberta. Porém, ninguém podia apagar o sorriso de satisfação.
Pegou-a entre seus braços e trouxe-a para perto do seu corpo.
— Seu penteado... Está arruinado — Disse, sufocando meia gargalhada cansada no ouvido.
— Claro, se você achou que estávamos em um rodeio, achei que era uma cowgirl.
— Por não ser, você sabe muito bem se equilibrar sobre o touro.
— Também não é para tanto, Samuel Garnett, abaixe um pouco o ego, porque não cabemos os
três aqui — Disse, descendo de cima do rapaz e sentando do lado dele.
Samuel procurou o lenço em um dos seus bolsos e, com uma mão, aventurou-se entre as pernas
da garota, para asseá-la um pouco.
— Vamos ao apartamento… — Informou em um sussurro contra os lábios dela, que concordou
em silêncio por não encontrar palavra para se expressar, apenas aproveitando, em seu centro
trêmulo e palpitante, a sutil carícia que o lenço de seda proporcionava. Samuel se limpou um pouco
com o mesmo lenço e subiu a calça que ainda estava enrolada no tornozelo; abotoou a camisa e,
ao estar um pouco mais apresentável, abriu a janela.
— Edgar, vamos para casa — Pediu ao motorista.
— Sim, senhor — respondeu o homem quase imediatamente.
Samuel fechou a janela e sentou-se comodamente, quando a gargalhada de Rachell preencheu
o lugar e ele ficou olhando fixamente para ela, sem saber o que estava acontecendo. Só a via se
retorcer por algo que só tinha graça para ela.
— Se você me contar a piada, pode ser que eu a acompanhe nas gargalhadas — Disse
divertido, o simples fato de vê-la tão feliz o encantava.
Ela não parava de rir e apontou para a cabeça dele. Naquele momento, ele percebeu que o
motivo da graça era a tanga que estava na cabeça, como se fosse uma dessas faixas que as
mulheres colocam para fazer exercícios. Ele a tirou e guardou em um dos bolsos da calça.
— Claro que o motorista me viu assim, mas não interessa... Por acaso você acha que ele sabe o
que aconteceu? — Perguntou, levando as mãos a sua cintura, elevando-a e colocando-a sentada
nas suas pernas. — Eu poderia dizer que passei muito bem esta noite, mas ainda nos falta muito;
amanhã é nosso dia livre, portanto, vou aproveitar.
CAPÍTULO 15

Os corpos de Rachell e Samuel estavam largados e nus sobre a cama, depois de uma noite quase
interminável, onde se entregaram ao prazer, ás oportunidades que as energias permitiram. Os dois
estavam dormindo de bruços, ela com os cabelos remexidos, cobrindo o rosto e algumas mechas
nos ombros de Samuel.
Os lençóis no chão e também a roupa espalhada pelo quarto eram a mais fiel prova da
extravagância. O iPhone de Samuel começou a vibrar sobre o criado-mudo, sendo suficiente para
o zumbido incômodo despertar; mesmo com as pálpebras pesadas, pegou e olhou na tela, com um
olho só. Todo indício de sono acabou ao ver que se tratava de Cooper. Imediatamente atendeu a
ligação, quando saiu da cama e se dirigiu até um dos cantos do quarto.
— Bom dia, Cooper. O que foi? — Perguntou em voz baixa para não acordar Rachell, mas,
principalmente, para que não ouvisse a conversa.
— Bom dia? Você está em Nova Iorque? Garnett, você ainda está dormindo! — Soltou uma
gargalhada sem acreditar. — São quatro da tarde.
— Só estou um pouco desorientado, Cooper — Sua voz rouca deixava claro o sono. — Você
tem alguma notícia? — Perguntou, desviando o olhar para sua barriga e um cabelo de Rachell
estava grudado; ele tirou e ficou observando, perdendo-se no longo fio preto.
— Sim, bem, fui até o endereço onde aconteceram os fatos... Explico... Vou começar do zero.
— Acho bom, mas a casa não existe mais, eu sei — Informou, adiantando a resposta do
funcionário.
— Sim, agora é um hospital pediátrico. Porém, vou procurar o comprador do terreno.
— Você poderia ajudar com isso… — Interrompeu Samuel tentando não ficar em evidência. —
Preciso da sua ajuda com as pessoas que moram perto, muitos se mudaram do bairro, mas gostaria
que averiguasse onde moram agora, eles são testemunhas que podem servir... Principalmente, a da
senhora Illona Wagner. Sei que seu depoimento é muito importante, mas não sei nada do seu
paradeiro. A única coisa que sei é que se mudou para Califórnia; você precisa usar seus contatos
lá.
— Bem, Garnett, vou ajudá-lo em tudo o que puder, mas, primeiro, quero que você seja
completamente sincero. Não vou sujar se você não vai confiar em mim. Você sabe que isto é
praticamente extra-trabalho e que, para qualquer um, poderia ser perda de tempo. Claro que
revisei o caso e quero saber se o sobrenome da vítima não é só coincidência.
— Não… — Disse, quase em um murmúrio e soltou um pesado suspiro. Fechou os olhos,
procurando as forças necessárias para confiar a Cooper seu segredo, tinha que deixar sair. Se
queria justiça, tinha que falar ou continuaria estancado na sua dor e na sua impotência de não ter
feito nada. — A vítima é minha mãe — Disse, quase sem fôlego e o enjoo da dor se instalava na
sua garganta. — Preciso resolver o caso, Cooper, por favor... Tenho que fazer isso — Suplicava o
menino atemorizado e ferido que ainda habitava nele.
— Sinto muito, Garnett.
— Não sinta, Cooper, só trabalhe no caso... Ajude a prender os culpados. Eu não vou descansar
até que recebam prisão perpétua, quero visitá-los todos os dias, que vejam minha cara
diariamente pelas grades. Quero vê-los sendo consumidos pouco a pouco. Vou fazer isso até que
eles morram ou eu morra — Soltou todo este veneno que corria no seu ser, retendo as lágrimas de
ódio.
— Garnett, você sabe que não poderá conduzir o caso. Quando o juiz souber o grau de
parentesco, não vai permitir, não será objetivo.
— Estou pouco me importando com a objetividade. Eu vou ser o responsável pelo caso e quero
fazer tudo isso o quanto antes — falava entre os dentes para não acordar Rachell.
— Bem, como quiser. Eu ajudo com as provas necessárias e, depois, deixo-o sozinho na viagem.
Vou falar com Herán, na Califórnia, vamos procurar Illona Wagner. Gostaria de encontrar você
para falar de maneira mais ampla sobre a versão que apresenta, já que não tem nada a ver com
o relatório. Isto não vai ser fácil, é preciso reestruturar todo o caso.
— Isso porque seu antecessor não fez porra nenhuma, não investigou nada... Só quis tirar o
caso da frente, não deu a mínima importância.
— Espero que tenha razão. Até quarta-feira, então, na hora do almoço. Só me fale onde.
— Está bem, eu aviso, espere minha ligação. Obrigada por tudo, Cooper.
— De nada, cara, entendo como você se sente. Se fosse meu caso, eu não perderia tanto tempo
em encontrar provas. Se tivesse a certeza como você fala, uma bala na cabeça dos filhos da puta
e fim de papo. Assim, não corre o risco de o juiz falhar a favor do culpado.
— Isso não vai acontecer, garanto que vamos prendê-los. — Disse, com determinação. Ele não
ia renunciar à possibilidade de cumprir sua promessa, nunca faria isso.
Terminaram a ligação e Samuel colocou o celular em cima do sofá cor de vinho e seu olhar
buscou Rachell, que ainda estava dormindo placidamente. Caminhou pelo quarto e colocou sua
cueca cinza que estava na almofada.
Saiu do quarto e o silêncio reinava no apartamento, algo que estava estranhando, já que Thor
normalmente estaria na academia com a música no último volume, fazendo sua rotina dos dias
livres. Chegou até a cozinha e foi direto até a geladeira, pegou uma garrafa de água e uma
xícara de pêssego.
Rachell tinha acordado ao escutar os murmúrios de Samuel, devidos a uma conversa ao
telefone. Decidiu fingir seu estado, quando as palavras dele deixaram claro o panorama e
explicavam do que tratava o diálogo, compreendendo a dor no olhar dourado quando revelou
quem era Elizabeth.
Então começava a encontrar razão para muitas de suas atitudes, também pôde sentir em suas
palavras esse mesmo sofrimento e as lágrimas pararam na sua garganta, querendo ser, pelo
menos, um consolo e dizer-lhe que era uma idiota por tê-lo julgado sem o conhecer de verdade.
Porém, não podia fazer nada disso, porque, claro, ele queria manter em segredo.
A porta do quarto abriu novamente e ela, em um ato reflexo, fechou os olhos e continuou
fingindo estar dormindo.
Samuel colocou a taça com os pêssegos e a água no criado-mudo e pegou o controle para
abrir as persianas, já que tinha desativado para não abrir na hora programada, fazendo que a
luz da tarde inundasse de claridade o quarto. Agachou na frente da cama, com seus dedos e, com
o maior cuidado, foi descobrindo o rosto de Rachell, que estava embaixo do cabelo desordenado,
sem conseguir controlar o sorriso nos lábios diante da travessia que estava realizando.
Ao finalizar, admirou-a por vários segundos, maravilhando-se com o rosto que ainda tinha
traços de maquiagem e que, tinha que admitir, adorava vê-lo assim. Deixando-se levar pelos
impulsos, inclinou-se quando deslizava lentamente uma das mãos pelas costas da garota, parando
em uma das nádegas e acariciou e sua boca buscou a de Rachell, chupou seus lábios com doçura.
Rachell suspirou, sentindo que estava sendo acordada mil vezes melhor que a Bela Adormecida,
porque não estava acariciando a bunda da princesa com tanta paciência e ternura ao mesmo
tempo. Sem pensar, começou a corresponder o beijo.
— Bom… dia… — Disse no meio dos beijos de Samuel.
— Tarde… é… boa… tarde — Disse, entre beijos, afastando-se um pouco e olhando
sorridente para ela.
Rachell piscou várias vezes para assimilar o exemplo de perfeição masculina na sua frente,
como Samuel Garnett estava lindo com a luz da tarde acariciando seu rosto, deixando seus olhos
mais claros, de um amarelo quase transparente e, imediatamente, sentiu a necessidade de abraçá-
lo, não era desejo, nem luxúria, era ternura, como nunca tinha experimentado antes.
— Você quer sentar na cama? — Perguntou e deu um tapinha no lugar.
Ele não disse nada e ela levantou, sem pedir permissão, abraçou-o fortemente. Samuel, a
princípio, desconcertou-se um pouco pela reação de Rachell, mas, depois de alguns segundos,
correspondeu o gesto, rodeando-a entre seus braços, compartilhando um momento extraordinário,
um momento em que eram casal e amigos.
Ele sentiu que era esse o abraço que tinha necessitado toda sua vida, que a única pessoa que
tinha abraçado assim tinha sido sua mãe. Sentiu-se pequeno e vulnerável, mas também, uma paz
infinita o envolvia.
Pouco a pouco, Rachell foi soltando o abraço, porque não conseguia controlar as lágrimas na
garganta e não queria chorar na frente dele porque, com certeza, pediria explicações. Não
queria que Samuel interpretasse mal o apoio que queria dar. Não queria que visse como lástima.
Seu olhar se fixou no dele, que estava sorridente em um claro gesto de confusão, mas que não
se atrevia a perguntar o porquê de tal impulso.
— Gosto do seu rosto vermelho quando acaba de levantar — Disse, de maneira natural,
tentando voltar a sua maneira de ser, aquela que não fosse afetada por saber do passado
doloroso de Samuel.
— Gosto de você inteira — respondeu, pegando uma mecha de cabelo.
— Com certeza, está um desastre por causa do produto — Disse, tirando a mecha dos dedos
de Samuel e começou a arrumar um pouco o cabelo para fazer uma trança.
— Trouxe algo para você — Informou, pegando um pêssego e dando para ela. — Podemos
diminuir um pouco a fome com isto, tomamos um banho e vamos comer fora. As empregadas não
vêm aos domingos.
— Tomamos um banho e eu preparo algo rápido, depois volto ao apartamento... Tenho coisas
para fazer.
— Pensei que você ficaria aqui, Rachell... Quase não nos vemos, seu trabalho e o meu nos
limitam muito. Esse negócio de a gente se encontrar só às sextas ou duas vezes por semana é uma
tortura.
— Está dependendo de mim, senhor procurador? — Perguntou com malícia, levantando uma
sobrancelha.
— Sim, senhorita Winstead. Não quero transar com você só nos fins de semana... Quero transar
sempre que tiver vontade, quero convertê-la em minha escrava sexual — Disse, arrastando-a para
a cama de maneira brincalhona e colocando-se em cima dela. — Diga o que quer que eu faça?
— Esse negócio de ser sua escrava não combina comigo... Mas poderíamos ser escravos do
sexo... isso eu aceito.
— Estou de acordo — Soltou um grito de alegria. — Finalmente! Estamos de acordo em alguma
coisa... Bom, vamos ao banheiro para submetermos ao sexo, não nos resta outra opção.
— Vamos ao banheiro para tomar banho, só isso, senhor procurador. Tenho que me recompor
da noite que tivemos que, embora seu amigo não seja um canhão que espante e me faça sair
correndo, é uma Magnum 500, isto é, tamanho razoável, mas não perdoa, com a potência
suficiente para atravessar qualquer colete à prova de balas.
— Pensei que não soubesse nada de armamento — Disse, soltando uma gargalhada pelo
exemplo que ela deu para seu pênis.
— Claro que sei, ter medo é outra coisa.
— E você tem medo de mim? —Perguntou, acariciando o quadril para relaxá-la.
— Neste exato momento, sim. Não sou de ferro, já falei isso.
— Está bem… Bom — Disse abaixando os olhos. — Magnum 500, você tem que ficar
guardado, não temos festa — falou para seu pênis.
— Foi demais! Vamos editar e cortar a parte onde, em algum momento, falei algo de armas. Só
aumentou seu ego, como se isso fosse possível.
— Na verdade, eu me conformo com o que você falou, não sou convencido, poderia aspirar,
pelo menos, uma mini-uzi.
— Mas se você nem chega a vinte centímetros, Samuel! — Disse, rindo diante do assombro em
saber suas pretensões.
— Agora sim, acabou com a minha autoestima, você me jogou na lama. — Simulou sofrimento e
abaixou os olhos como um menino malcriado, gesto que fez o coração de Rachell dar uma
cambalhota dentro do peito. Por isso, levou as mãos ao rosto dele, pressionando com firmeza e
obrigou-o a encará-la.
— Odeio o que vou dizer, mas é a mais pura verdade. Se você tivesse, pelo menos, um milímetro
a mais, eu não transaria com você... Com o que tem, já me deixa louca, com um pouco a mais, me
mataria e não seria de prazer, seria tortura. — Fixou seu olhar no dele para que soubesse que
estava falando sério e fechou-o entre suas pernas.
Na sua barriga, Samuel a sentia quente e suave, abrindo-se para ele, conseguindo despertar
cada poro da sua pele, pretendendo, novamente, se afogar naquela caverna que despertava seu
lado mais selvagem, mas estava vivendo plenamente aquele momento de compenetração em que
eram amigos e amantes ao mesmo tempo.
Tinha que manter a linha, não a deixar incomodada, nem menos obrigar a responder aos seus
avanços, entregar-se mais às sensações dos corpos ao se tocar, de fundir nos olhares e alegrar a
tarde com sorrisos, o coito seria para outro momento.
— Dar prazer a você está entre as minhas possibilidades, não gosto de fazer promessas
vazias, nem oferecer algo que sei que não poderei dar. Nunca espere de mim a lua, nem as
estrelas... Você sabe que ninguém pode fazer isso, também não quero que acredite em tudo o que
eu falo. Muitas vezes, falo sem pensar ou porque estou bravo, tenho esse maldito defeito, falo as
coisas e, depois, muitas vezes, eu me arrependo.
— Você se arrependeu de ter me falado alguma coisa? — Perguntou, sem ter consciência de
que era embargada pela devoção e, com o polegar direito, acariciava a sobrancelha esquerda
de Samuel, curtindo a sensação que davam os pelos na pele.
— De muitas, de tantas que já esqueci... Isso é outra coisa, também não me peça que lembre de
datas, sou muito ruim para isso. Para poder descobrir a senha do elevador, tive que passar mais
de uma hora no site do New York Times e quero que saiba que isso não quer dizer que não esteja
interessado em você, ou que não a deseje, mas sim que, há vezes, que desejo tanto que preciso de
você assim que acordo. Esse desejo me acompanha todo o dia e não me deixa em paz, é um
verdadeiro suplício e meu humor muda drasticamente. Eu me sinto frustrado e descarrego no
primeiro que aparece na minha frente... Tudo porque meu desejo luta contra meu orgulho de não ir
atrás de você e demonstrar como estou desesperado, outras vezes são porque meu tempo não
permite. Estou interessado por você, total e completamente interessado.
O frio na barriga de Rachell ia e vinha ao escutar cada palavra de Samuel. Uma espécie de
adrenalina a embargava e só queria enchê-lo de beijos, sem reter seus impulsos, sem parar para
pensar que estava se envolvendo demais em uma relação que sabia que não podia ser eterna,
porque seus medos não permitiriam. Começou a dar sonoros e divertidos beijos no rosto.
Sempre tinha gostado de escutar elogios e desejos dos homens, pois com elogios e gestos a
enchiam de segurança, aumentavam sua autoestima e, sem saber, mostravam o poder sobre eles.
Mas com Samuel era diferente, porque cada palavra que saía da sua boca a deixava enfeitiçada,
curvada, encurralada, embora custasse muito admitir: Adorava!
— Sei que você é um homem, ocupado e orgulhoso, sei disso — Foram as palavras mais
sensatas que conseguiu falar na hora, porque se soltasse tudo o que estava sentindo, poderia se
arrepender quando a emoção diminuísse.
Nesse momento, Samuel levantou e saiu da cama, estendendo a mão para ela, foram ao
banheiro, de onde saíram uns trinta minutos depois. Rachell não tinha roupa e ele ofereceu um dos
seus conjuntos de agasalho, mas a calça ficava grande, no meio das risadas, ela parou de segurar
e caiu no chão.
Samuel jogou uma cueca boxer e foi a mesma coisa. Não teve outra opção a não ser ficar sem
nada por baixo e se conformar que o moletom que chegava até a coxa, aventurando-se a sair
sem vergonha, já que sabia que Thor não estava no apartamento.
Rachell também não era uma chef profissional, nunca tinha se destacado na cozinha, por isso, só
preparou um suco de morango, pão torrado, ovos mexidos e cream cheese. Porém, Samuel a
olhava com devoção, porque ela não deixava queimar a torrada, como ele já tinha feito várias
vezes e isso era uma grande vantagem. Esse detalhe já a convertia na melhor cozinheira.
Samuel levou as mãos à cintura e colocou-a em cima do balcão, ele sentou em um banco em
frente a ela, onde comeram já depois das seis da tarde, enquanto conversavam sobre a viagem de
Rachell. Embora ele não quisesse, tinha que falar sobre isso.
— A que horas é o seu voo? — Perguntou, com a exclusiva intenção de, pelo menos, levá-la ao
aeroporto.
— Às onze da manhã — respondeu com um entusiasmo que não conseguia esconder.
— Que droga… — Disse Samuel, fechando os olhos e soltando um suspiro.
— Você vai estar ocupado, não se preocupe, não tem nenhuma obrigação comigo — Também
não achava necessário que a levasse ou que ficasse até o último momento com ela. Era uma mulher
independente desde os quinze anos e, precisamente agora, exigiria de Samuel um tempo que sabia
que ele precisava para cumprir com suas funções como procurador.
Rachell pegou suas mãos e o fez ficar de pé, no meio das suas pernas, colocando os braços em
cima dos ombros dele.
— São dias de trabalho, portanto não vão afetar nossos encontros. Vamos fazer de conta que
não estou na Itália, mas sim trabalhando na butique e você trabalha tranquilo, não temos... —
Tentava dizer algo, mas um beijo silenciou suas palavras e não deixou outra opção para continuar
falando, porque Samuel atacou sua boca, acariciando-a com a língua, surcando no seu interior e
ela se abria para ele, entregava-se ao beijo e a intensidade que aumentava ao compasso das
respirações.
Indiscutivelmente, as mãos dele não conseguiam ficar em um só lugar e começaram a percorrer
com ávidas carícias as suas coxas, a despertar o desejo que ela quis manter atrás da barreira.
O simples fato de tê-lo tão perto já a excitava, fazia ferver, o perpétuo movimento da sua
língua a fazia rugir, desejar, querer, mas, principalmente, diminuir a distância. Por isso, no meio
dessa entrega, procurou uma maneira de se unir mais a ele, apoiou os pés sobre a barra e,
passando os braços pelo pescoço, prendendo-o, sentindo como os dedos de Samuel começavam a
caminhar pela parte interna das suas coxas e a outra mão se enredava no cabelo, obrigando-a a
sufocar um gemido de gozo na sua boca, diante das delirantes massagens que fazia no seu couro
cabeludo.
Samuel só queria oferecer esse fogo que o consumia, mostrar o desejo que o devorava cada
vez que estava com ela. Aquele desejo que só despertava com ela, foi reduzindo a intimidade do
beijo até abrir um mínimo espaço para a respiração encher seus pulmões.
Porém, ele saboreava nos seus próprios lábios o beijo dos dois, o sabor das suas salivas
misturadas, viajando com a língua pelos lábios e era maravilhoso ver como as pupilas de Rachell se
fixavam, desejando que seus lábios roçassem e ele, a um passo da loucura por fazer.
— Vou dar meu presente de despedida — Disse, quase na boca de Rachell, quando levava as
duas mãos aos joelhos e abria um pouco mais, o necessário para aproveitar a sobremesa.
A barriga de Rachell começou a tremer e suas seivas começaram a brotar em seu interior ao
adivinhar as intenções de Samuel. Aquele olhar que dava a deixava tonta. Quem conseguia negar
algo àquele homem, olhando daquele jeito? Se o gesto a deixava fraca, sem força e se entregava
toda a ele, submetia-se à vontade de Samuel Garnett.
O brasileiro passou os braços por baixo das coxas de Rachell e a empurrou um pouco para
fora para que ficasse cômoda, sem desviar o olhar, aquele que refletia seu ardor, sua avidez.
Desceu até o centro e, não precisamente da terra, mas sim ao centro da mulher que estava virando
seu mundo de cabeça para baixo.
E, por vários segundos, admirou aquela joia que evidencia os tremores de prazer, que chorava
esperando por ele, colocou a língua para fora e, com extrema lentidão, passou de baixo para
cima, com aquela segurança que seu olhar expressava, fixando-se no de Rachell.
Não precisava olhar o que estava fazendo, sabia perfeitamente como enlouquecê-la sem
desviar o olhar, repetiu a ação em três oportunidades e ela já gemida e puxava seus cabelos.
Mas, em segundos, sua língua se passeava veloz, como fera fugitiva, roubando o néctar e
oferecendo sua saliva, deleitando-se com os sabores que havia naquele lugar e que o faziam
arder de desejo. Sentia tanto prazer quanto o que ela expressava, abrindo caminho com seus
dedos, sentindo a pele suave palpitar e queria conquistar aquela colônia.
Por isso, chupou com maestria o botão que tinha a maior quantidade de terminações nervosas
em uma mulher e ele sabia brincar com toda e cada uma delas, qual intensidade colocar, quanto
puxar daquele ou, simplesmente, estimular com a ponta da língua.
— Merda! — A exclamação de Thor estourou abruptamente a bolha de prazer em que se
encontravam. Não teve que ver claramente o que estava acontecendo, mas a cabeça de Samuel
entre as coxas de Rachell deixava tudo muito claro.
Ele tinha acabado de chegar e tinha passado a tarde com Megan e Ciryl. Muitas vezes, ele se
desconhecia, porque esse negócio de fazer compras com mulheres não era a dele, mas foi a única
oportunidade que encontrou para estar com sua namorada.
— Ai, meu Deus! — Disse Rachell, no momento em que sua libido caía no chão, abaixou as
pernas e tentou se cobrir com o moletom do agasalho.
Samuel ficou de pé como uma mola, saindo do meio das coxas de Rachell.
— Eu não vi nada… Eu não vi nada — repetiu Thor, levando uma mão para cobrir o rosto e
dirigiu-se à escada. — Vocês continuam de onde pararam.
— Por que não avisou que iria voltar? — Perguntou Samuel, descendo Rachell do balcão e
deixando-a atrás dele. O que menos queria era que seu primo visse suas pernas, embora já
tivesse visto até o quadril e isso acendeu a fogueira no seu estômago.
— Porque eu não sou vidente... Já vou me trancar no quarto e você continua com... Já adiantou
o jantar, primo — Brincou e entrou no quarto.
Para Samuel e Rachell, já não era possível continuar com o que interromperam, não tiveram
outra opção a não ser ir ao quarto de Samuel e preparar-se para levá-la ao apartamento, onde
a deixou, depois de uma longa despedida de beijos e carícias, já que a vergonha tinha acabado
com o desejo, pelo menos, Rachell não ia conseguir olhar novamente na cara de Thor.
CAPÍTULO 16

Rachell tinha chegado à Itália e, depois de oito horas de voo, não se sentia esgotada, ao contrário,
estava eufórica, sem conseguir esconder seu sorriso e seu caminhar energético, mas com sua
elegância de sempre, mal pisou no aeroporto de Malpensa, localizado a 48 quilômetros de Milão,
dirigiu-se à zona de táxis que já tinha reservado um e, quando teve que falar com o motorista,
agradeceu que Samuel tivesse enviado a professora Rossellini, graças ao pouco que sabia do
idioma, conseguiu se comunicar com o homem sem nenhum problema.
Ao entrar no táxi, soltou um pouco o cachecol Louis Vuitton e soltou um suspiro para relaxar,
tinha que admitir que se sentia mais segura e que os tremores no seu corpo tinham desaparecido,
que a tinham invadido desde o momento em que entrou no avião e, pela primeira vez, agradeceu
que não ficou na janelinha.
Ao sair do aeroporto, seu olhar se fixou na paisagem, embora não havia muito o que ver nos
primeiros minutos, já que era uma estrada de mão dupla demarcada por árvores, só um ou outro
local comercial ou posto de gasolina, mas quando entraram na rodovia, era completamente
diferente, o fluxo de veículos era maior e a cidade imponente abria caminho, com suas edificações
de estilo romano, exatamente como tinha imaginado.
O tráfego começou a ficar congestionado e o táxi parou no semáforo, ao seu lado, estacionou
um garoto em uma moto e os dois cruzaram os olhares durante o tempo em que o farol mudava,
Rachell admitia que era muito bonito, cabelo preto e olhos cinzas, por cortesia, sorriu e ele piscou
um olho em um gesto muito sensual, pegando-a de surpresa, pois não esperava tal
espontaneidade.
O táxi avançou e virou à direita e o italiano continuou reto, procurou na bolsa o seu iPhone
para ver como funcionava o roaming e avisar Sophia que tinha chegado, tentou ligar para a
butique, enquanto esperava o toque, estava a uma rua do seu destino e o táxi fez uma última
parada.
Um toque na janelinha a fez voltar o olhar e era o cara da moto que batia no vidro para
chamar sua atenção, o que ela retribuiu com seu olhar e levantou a mão cumprimentando-o e ele
correspondeu com um maravilhoso sorriso e, sem aviso prévio, aproximou-se e deu um beijo no
vidro para depois fazer um gesto como se arrancasse o coração e entregasse para ela, com
aquele sorriso que, embora ela não quisesse, fazia seu coração bater mais forte, e foi embora,
deixando-a completamente desorientada. Não conseguiu fazer outra coisa, a não ser dar uma
gargalhada diante da naturalidade do moço e como ela não tinha perdido sua capacidade de
sedução, já tinha escutado algo da fama dos italianos, de serem completos sedutores, mas jamais
pensou que poderia constatar isso tão rápido.
Ninguém atendeu o telefone, então supôs que deveriam estar ocupados, por isso, deixou uma
mensagem na secretária eletrônica.
— Sophie, é para avisar que cheguei bem, estou chegando ao hotel, a primeira coisa que vou
fazer é dormir um pouco, quando acordar, ligo de novo; Milão é mais linda do que imaginei,
incluindo os italianos — Não teve como e acabou deixando o riso na mensagem, aquele que
Sophia entenderia.
Sua viagem tinha terminado e a porta giratória do hotel Príncipe de Savoia a levava a um dos
hotéis mais bonitos e luxuosos de Milão.
Os mensageiros ficaram responsáveis pela bagagem, na recepção, deram as boas-vindas e
entregaram o cartão, levaram-na até o seu quarto, onde estavam esperando morangos e
champanhe, cortesia do hotel, enquanto no banheiro, uma camareira preparava a banheira com
leite e pétalas de rosas, mais conhecido como banho de Cleópatra.
Rachell soltou um suspiro, prevendo que sua estadia no hotel seria um verdadeiro prazer.
Depois de uma hora, tinha se trocado, colocando um roupão branco de cetim e rendas que
chegava até os joelhos, não se atrevia a dormir nua em um hotel, pelo menos, não estando sozinha,
se meteu na cama, mas antes de dormir, pediu para não ser perturbada e que, por favor, a
acordassem em umas quatro horas; queria descansar e aproveitaria a tarde para conhecer um
pouco da cidade, já que o desfile seria no dia seguinte.

********

Quando Samuel metia algo na cabeça, não tinha quem o fizesse mudar de ideia, pelo menos,
que as provas demonstrassem o contrário e, desta vez, o testemunho do maître do restaurante Per
Se confirmava que sua malícia, na maioria das vezes, não se enganava.
Realmente, Henry Brockman e Richard Sturgess estiveram reunidos, o que acionava um alarme
de alerta nele e não perdeu tempo para ficar atento.
— Logan, preciso que você contrate uma pessoa para seguir este homem — Pediu ao guarda-
costas, estendendo uma fotografia de Richard Sturgess. — Quero saber quantas vezes se reúne
com Henry Brockman e quais lugares visita.
— Sim, senhor, precisa de algo mais? — Perguntou, guardando a fotografia em um envelope.
— Não, isso é tudo. Quero que nesta tarde mesmo me chegue o primeiro relatório do que faz
Sturgess.
— Eu mesmo me encarregarei de entregar — Nesse momento, o telefone tocou.
— Fale, Vivian — Disse ao pegar o telefone e fazia um gesto com a mão livre para Logan
para que saísse do escritório.
— Senhor Garnett, o funcionário Cooper chegou — Informou a secretária, mal o homem chegou
ao hall, atendendo a ordem que previamente havia dado seu jovem chefe.
— Peça para entrar imediatamente, vá preparando a comida, em uns minutos, vou pedir que
leve à sala de reuniões.
— Sim, senhor.
— Obrigado, Vivian — Desligou e, com o apoio dos calcanhares, girou a cômoda e exclusiva
cadeira executiva e ficou de pé, ao mesmo tempo em que abotoava o terno. — Logan, amanhã
vamos visitar o Children Dreaming´s, a biblioteca d o distrito vai a doar uns livros e quero estar presente.
— Como está Julian? — Perguntou pelo menino que conhecia.
— Muito bem, na quinta-feira, fizeram a última cirurgia, não consegui ir visitá-lo, mas na sexta,
falei com ele por telefone; agora só falta se recuperar completamente para agilizar o processo de
adoção, gostaria de ficar com sua custódia, mas sei que não seria um bom pai, não tenho o tempo
necessário e Julian merece alguém que fique sempre com ele.
— Não sabia que pretendiam colocá-lo para adoção; ele não tem familiares? — Perguntou o
moreno, diante de uma oportunidade para ele.
— Infelizmente não, ainda não sei como vou tratar este tema com ele.
— O senhor não sabe... Sei que nem deve se interessar pela minha vida particular — Logan
precisava comunicar ao seu jovem chefe essa necessidade que tinha em ser pai.
— Continue Logan, sei que quer me falar algo — Disse amavelmente.
— Estou casado há treze anos, senhor, e já esgotei todas as minhas tentativas de ser pai,
definitivamente, o problema é meu, estamos à espera da adoção de um menino, mas em dois anos,
não recebemos resposta...
— E está interessado em adotar o Julian — interveio Samuel, adivinhando as intenções do seu
guarda-costas.
— Se houver possibilidade, eu gostaria, minha esposa é médica, sei que cuidaria muito bem do
menino, eu também, nas minhas horas livres, sei que poderia ser um bom pai. — A voz do guarda-
costas mostrava súplica e nervosismo e as mãos tremiam, demonstrando, pela primeira vez,
fraqueza diante de Samuel.
— O caso de Julian está com um juiz de menores que é conhecido, vou falar com ele, sei que
você tem capacidade de ser um bom pai, continuamos o tema depois da reunião que tenho com
Cooper.
— Obrigado, senhor — Disse, deixando clara certa emoção que, até agora, o brasileiro não
tinha percebido, era a primeira vez que o via sorrir e fazia isso com anseio. — Já vou procurar
uma pessoa para seguir o senhor Sturgess.
— Não há nada que agradecer, Julian precisa de uma família que o ajude a superar sua
perda — explicou, enquanto caminhava pelo escritório.
Logan saiu e Samuel atravessou o espaço até uma porta cromada, que se comunicava com a
sala de reuniões, antes de empurrá-la, mexeu os ombros e a cabeça de um lado para outro,
tentando relaxar um pouco e preparando-se para trazer à luz parte desse passado que tanto
doía enfrentar, concentrando-se em não demonstrar diante de Cooper tanto ódio e dor, porque se
perdesse as estribeiras, só iria perder a ajuda que o funcionário estava dando.
Deixou escapar um suspiro e empurrou a porta prateada, deixando reluzir seu melhor sorriso.
— Boa tarde, Cooper — cumprimentou, diminuindo a distância entre os dois e observava como
o homem se levantava.
— Boa tarde, Garnett, pensei que o almoço seria em um lugar melhor — Disse, em tom de
brincadeira, recebendo o aperto de mão de Samuel.
— Fico devendo, pode ver que o trabalho está acabando comigo, se não é a procuradoria, são
os tribunais, a empresa ou o mestrado, qualquer dia desses, vou desaparecer, vou me jogar em
uma ilha do Caribe e curtirei uma boa piña colada.
— E quanto tempo falta para terminar o mestrado? — Perguntou, sentando diante do gesto que
Samuel fazia, convidando-o.
— Quase nada, estou apresentando as partes finais, isso é o que leva mais tempo — Sentou-se
na cadeira da ponta da grande mesa de decoração futurista. — Bom, vamos comer — Informou,
levantando o fone.
— Não, ainda não quero comer, acho que é melhor falar primeiro sobre isto — Abriu a pasta
com o caso que Samuel tinha entregado.
— Como preferir. O que você precisa? — Perguntou, olhando nos olhos e evitando, por todos os
meios, fixar o olhar na pasta aberta para sua atitude não o delatar.
—Quem são estes três homens e que relação têm com o caso? — Perguntou de maneira
profissional.
— Nós vamos prender esses homens o mais rápido possível, eles estão fichados e sei onde
encontrá-los.
— Sim, mas só por delitos menores, como vou relacioná-los.
— Eles nos levarão ao autor intelectual e financeiro do fato, preciso que eles declarem, peço o
favor que os deixe comigo, eu irei à delegacia e farei o interrogatório, para isso é que preciso de
Illona Wagner...
— Illona Wagner é uma boa notícia, a localização e falei com ela por telefone hoje de manhã e
está disposta a depor, quando mencionei o acidente, suas palavras foram "Não foi o menino" —
Cooper fixou o olhar em Samuel, que abaixou os olhos a algum ponto imaginário na mesa. —
Quem era o menino? Segundo o relatório, Sébastien era filho de Elizabeth… Ficou sob tutela do
Estado, que o mandou para um orfanato, meus homens visitaram o lugar e o menino simplesmente
desapareceu, não existe seu histórico, perdeu-se a pista, embora esta foto do menino — Disse,
entregando-a, mas Samuel não pegou, e continuou: — Parece com o homem que está aqui na
minha frente; você sabe que somos bons para reconhecer rostos — Com essas palavras, Cooper
atacava as bases de Samuel, que jamais pensou em chegar a esse ponto tão duro para ele.
— Eu não fiz nada — murmurou sem conseguir conter suas emoções, era muito difícil respirar, o
influxo do seu peito deixava clara sua agonia, ficou tremendo e perdeu a cor no rosto. — Cooper,
eu juro que não fiz nada… Desculpa — Disse, ficando de pé. — Não posso continuar, não posso…
— murmurou, dando a batalha às lágrimas e a sua dor, voltou ao seu escritório e deixou o homem
sozinho.
Samuel, dando passos longos, saiu da sala de reuniões e foi direto ao banheiro do escritório,
onde se fechou em um canto e caiu sentado no chão, cobrindo o rosto com as mãos e voltou a ser o
menino de oito anos, envolvido em pânico e dor, sem nenhum consolo, chorou como naquela noite,
reviveu a cena diante dos seus olhos e sentia como se o coração deixasse outra vez de bater
enquanto se enchia de ódio.
Não conseguiria dizer quanto tempo passou deixando sua dor sair, uma dor que estava
adormecida no tempo, mas se a tocavam, despertava com grande intensidade, ele sentia que
aumentava com os anos, que cada vez ficava mais forte, que cada ano era mais pesado, tão
pesado que seu coração já não suportava mais.
Quando sentiu que estava um pouco mais calmo, ficou de pé e lavou o rosto com água gelada,
fez isso várias vezes e, definitivamente, seu rosto deixava claro que tinha caído de joelhos outra
vez, mas acabava de se levantar, como sempre fez.
Antes de sair do banheiro, procurou seu celular no bolso interno do paletó, a primeira coisa que
viu foram as chamadas perdidas, depois, uma mensagem de voz, além de um e-mail, este era de
Cooper e decidiu ler.

Antes de trazer Illona Wagner, preciso que consiga as ordens de um juiz, uma delas é para exumar o
cadáver da sua mãe, sei que será difícil, Garnett, mas juro que vamos acabar com esses filhos da puta,
sei que não foi você, tenho certeza. Desculpe minha indiscrição.

PS.: Aceito o almoço em outro dia, tenho que voltar ao escritório, tenho muito trabalho para fazer.

William Cooper Wesley.


Diretor da polícia técnica e científica.
Distrito Manhattan.

Tal como Cooper havia escrito, seria muito difícil, muito difícil para ele exumar o cadáver da sua
mãe, mas era algo para o qual já vinha se preparando, porque sabia que era necessário e todas
as noites perdia perdão por isso que devia fazer, se queria que sua morte não ficasse impune, que
pagaram por toda essa dor que ela passou, tanto física quanto emocionalmente, a ela que talvez
nem teve tempo de decepcionar-se, por estar aturdida e tentando mostrar firmeza para que ele
sobrevivesse.
Com certeza, a mensagem de voz era da Rachell, já tinha falado com ela em algumas ocasiões,
onde tinha informado que o hotel era perfeito para aproveitar juntos, algo que ele conseguiu
fazer pela distância, ao excitá-la com suas palavras, obrigando-a a se tocar enquanto dizia que
estaria fazendo se estivesse ali. Sem perder mais tempo, decidiu escutar a mensagem de voz.
— Estou nervosa — Escutou a voz estrangulada de Rachell, que deixava claro o eu estado e ele
não conseguiu deixar de sorrir. — Sei que nem em sonhos são meus desenhos que vão estar na
passarela, mas há muitas pessoas importantes aqui e alguns já me reconheceram, pelo menos, eles falam
em inglês, quis morrer de felicidade, sei que estou falando incoerências, mas, de verdade, estou nervosa,
vou desmaiar se eu vir o Armani. —A mensagem de voz cortava aí e Samuel esperou escutar
alguma batida, caso Armani tivesse aparecido enquanto ela falava, mas só escutou alguém
chamando. Ligou de volta, mas ela não atendeu.
— É a primeira vez na vida que deixo uma mensagem de voz, odeio fazer isso agora decidi só
para dizer que Armani é tão terreno quanto você, que os dois têm o mesmo talento, a única
diferença é que ele tem mais anos de experiência e isso é evidente e não falo por tudo o que
desenha, nem pelo prestígio, mas sim pela aparência. Quando Armani tinha sua idade, nem em
sonhos era o que você é hoje... Sei que quando tiver a idade dele, terá tanta ou mais fama, tenho
certeza disso porque sei que você é batalhadora e não vai se render até conseguir, também estou
aqui para ajudá-la e eu mudo meu nome se, em dez anos, não estiver no nível de qualquer estilista
reconhecido mundialmente... Por isso, respire fundo e orgulhe-se do que é, é sua oportunidade de
demonstrar a todos os que devem se preocupar porque será essa concorrência que devem temer,
você tem juventude e beleza, um grande gancho para as massas, se desenhasse peças masculinas,
juro que compraria tudo, só para levar seu nome comigo todos os dias. Mando um beijo e nem em
sonho pense que é um beijo casto, é um daqueles que demoram minutos e que nos deixam sem
fôlego, daqueles que nos excitam e nos obrigam a arrancar a roupa.
Samuel desligou e voltou para o escritório, onde tinha que continuar com seu trabalho, não
comeria porque não tinha apetite, talvez em algumas horas, comesse qualquer coisa.
CAPÍTULO 17

Samuel entrava na academia com uma toalha branca sobre o ombro direito, e as mixagens de
ARMIN soavam no lugar, enquanto Thor fazia exercícios com pesos em cada uma das mãos.
— O que você está fazendo, primo? — Cumprimentou Samuel, em um grito de bom ânimo,
pegando a toalha e esticando-a, soltou com força, dando uma chicotada no lado esquerdo das
costas do loiro.
— Eu quebro sua cara! — Exclamou Thor, diante da dor, no momento em que deixava cair os
pesos e levantava a camiseta preta que estava observando a marca vermelha e inchada que fez
imediatamente diante da agulhada.
— Também não é para tanto — Disse Samuel, em meio a uma gargalhada e pegando o
controle para abaixar um pouco o volume da música.
— Posso colocar um peso na cabeça e também vou dizer que não é para tanto — Disse com
tom de brincadeira, enquanto acariciava a parte afetada.
— Thor, ultimamente, quer dizer, faz alguns meses, vejo que você está um pouco diferente, mais
sério... Nem traz mais amigas ao apartamento...
— Ah, não venha com suas merdas de sexólogo, que estou bem, estou perfeitamente bem... Só
que agora vou a outro lugar.
— Será de dia… Sei que agora há um clube para reverse gangbang que abre durante o
horário comercial.
— Para sua informação, existem para as vinte e quatro horas do dia, eu procuro lugares aptos,
não como você que anda comendo em cima da bancada — Disse, dando uma indireta de tê-lo
visto com Rachell.
— Por acaso não é o lugar para comer? — Perguntou com sarcasmo. — Não acho que esteja
traumatizado por isso, portanto, pare de gracinha com o tema, tá?
— Não falo por você, mas sim pela estilista… — Deu uma gargalhada. — Quem a vê tão
elegante pelas ruas e dá tanta intensidade com os gemidos, você estava se destacando, primo —
Aproximou-se e deu um tapinha no ombro, com o olhar brilhante diante da sacanagem.
— É só o desejo que tenho — respondeu, dando uma piscadinha e dirigindo-se ao aparelho de
som. — Vai acumulando durante a semana.
— Eu tenho desejos acumulados já faz algum tempo, vou precisar de um milagre para me
comportar — Disse, sem pensar, só se deixando levar pelos seus impulsos.
— Você tem desejo por uma faz quanto tempo? Três dias? — Perguntou Samuel, com ironia,
sabendo que não havia mulher que negasse seu primo e, muito menos, que ele esperasse.
— Mais ou menos — murmurou e, nesse momento, percebeu que tinha prolongado demais a
conversa com Samuel, em que diria que estava em um namoro completamente casto com Megan,
algo que tinha certeza que não iria acreditar, por isso, nem se atrevia a contar, nunca tinha sido
tão covarde, mas temia que Samuel não entendesse e, então, acabaria brigando com seu primo,
preferia assim do que Megan saísse da sua vida, já era muito tarde, era a mulher que tinha
escolhido para que entrasse, aquela que queria que ficasse, deu a ela e a si a oportunidade. —
Bom, vou indo porque já está tarde... E hoje vamos almoçar juntos? — Perguntou, dirigindo-se à
saída.
— Sim, eu ligo para você para acertar o lugar, convide o Diogo — Pediu, enquanto procurava
uma música adequada para a capoeira.
— Pensei que iria almoçar com sua estilista — Disse em um tom adocicado, fazendo com que
Samuel soubesse que ele sabia como tratava Rachell.
— Ainda está viajando, chega amanhã.
— Está demorando, com certeza encontrou um gigolô por lá, vai mandar um postal para você
com letras maiúsculas “VAI ALLA MERDA RIMANGO A MILANO”. — Soltou uma gargalhada,
depois de ter pronunciado a frase em perfeito italiano.
— Já está tarde, Thor! Vá embora — exigiu, sentindo uma estranha pontada no centro do peito,
como seu primo com aquela brincadeira tinha incomodado e não gostou do comentário, em outras
circunstâncias, teria feito uma brincadeira, mas, desta vez, definitivamente não foi assim.
— Aff, essa doeu — continuou com a brincadeira só para ver Samuel bravo de modo tão
estúpido.
— Vai levar uma chicotada em um dos olhos — Pegou a toalha, preparando para agredir o
primo. — Ainda não decidi qual... Direito ou esquerdo? Deixo você escolher.
— Está bem, vou indo… — Disse, saindo da academia, mas quando estava no corredor,
começou a cantar. — Inveja, morro de ciúmes e inveja, pensando na forma em que o italiano acaricia
você.
Samuel deu um suspiro profundo, sabia que, se contrariasse seu primo, só iria conseguir que ele
continuasse tirando sarro dele, por isso, jogou a toalha sobre uma das máquinas e começou a
procurar a lista de reprodução que sempre usava para praticar o esporte que adorava e escolheu
a ordem aleatória.
As notas tropicais e contagiantes de Malaguenha, de Sergio Mendes, levaram o Brasil até a
academia.
Samuel correu pela zona disposta para treinar e entrou em meio a uma acrobacia que
precisava de grande altura, girando no ar e caindo de pé, claramente, parou sobre o pé direito e
elevava ao limite a perna esquerda, tomando impulso e em um movimento sumamente rápido,
mudou todo o peso do seu corpo para o pé esquerdo, para depois, girar sobre este, dando chutes
no ar e encontrando equilíbrio quando só estava apoiado, enquanto a letra da música ganhava
vida.

Vem malaguenha rojão, traz a lenha pro fogão, vem fazer armação.
hoje é um dia de sol, alegria de coió, é curtir o verão.

As portas do elevador particular do apartamento dos primos Garnett abriram, mostrando a


decoração minimalista, luxuosa e soberba que vendia esse toque masculino.
Rachell caminhou pelo lugar com a única intenção de fazer uma surpresa para Samuel, por isso,
tinha planejado dar outra data de chegada, a bagagem tinha sido enviada para o seu
apartamento com Oscar, que estava encarregado de buscá-la no aeroporto, assim que a deixou
no Upper East Side.
Sabia que era muito cedo e que Samuel estaria dormindo, mas quando escutou a música alegre
e contagiante, não teve dúvidas de que estava acordado e na academia, era uma ousadia da sua
parte, já que poderia estar com Thor, que não queria ver a cara por vergonha, mas era mais forte
o desejo que surgia nela para ver Samuel.
A música ficava mais clara à medida que seus passos a aproximavam do lugar e seu coração
batia entre o peito e as costas, enlouquecido como um cachorro quando o dono chega em caso,
tanto que colocou a mão para acalmar.
— Tranquilo, estúpido, só falta sair pela boca e lamber — murmurou ao seu coração a poucos
passos de chegar ao lugar e, então, quando o viu, não só seu coração, mas também ela quis se
jogar em cima e passar a língua em cada poro daquele corpo. — Parece Linda Blair, mas em
versão sexy — Disse, sentindo-se perdida nele.
Nesse momento, Samuel estava fazendo uma ponte para trás, para depois, se apoiar sobre
suas mãos e durar vários segundos com as pernas no ar, no momento menos esperado, girou
somente a parte inferior do seu corpo, que era a que estava mais elevada e impulsionou com as
palmas das mãos para ficar de pé.
Grande Brasil — respondeu Rachell com um suspiro revirando no peito ao vê-lo de costas e que
a calça de agasalho branco com franjas verdes laterais dizia "Brasil" na bunda.
Os aplausos explodiram no lugar e ele viu Rachell entrar com sua perfeita anatomia, iluminando
o lugar e eliminando aquele temor de que Thor com suas piadas sem graça tinha semeado nele,
seu coração bobo não ficava acelerado com os exercícios da maneira que ficava na presença de
Rachell, era como se ela desse vida ou mudasse para o ponto de quase fazê-lo explodir em
milhões de pedaços, mas não o fazia, continuava bombeando o sangue a uma velocidade que
fazia seu corpo arder e formigar.
Encaminhou-se até onde estava o controle remoto, pegou-o e abaixou o volume, tentando
manter o primo para não sorrir como um idiota, umas linhas foram suficientes para que a música
não interferisse, estendeu-lhe a mão em um gesto que poderia ser tomado como um mandato
devido à segurança e um pouco de arrogância que ele transpirava, mas também tinha um toque
de desejo e ternura, algo completamente indecifrável, como era Samuel Garnett.
Ela não tinha tanta força quanto ele e não conseguiu evitar sorrir e ficar vermelha enquanto se
aproximava, a poucos passos, estendeu a mão e agarrou-o, sentindo como o contato despertava
todos os nervos do seu corpo, era uma sensação estranha e prazerosa que a sufocava.
— Não vou perdoar por ter me tirado a oportunidade de ir buscá-la no aeroporto, você falou
que chegaria amanhã — reprovou com uma simpatia que só aumentava a vontade de querer
devorá-lo com beijos.
— Só queria fazer uma surpresa — murmurou, aproximando-se e ia dar um abraço e grudar
nele, como se sua vida dependesse disso, mas Samuel a deteve.
— Estou suado — Disse, olhando nos seus alhos diante do que era evidente.
Rachell, em um impulso, e deixando-se levar pelo seu desejo, aquele que começava a pulsar na
barriga, se aproximou e beijou seu peito, para, depois, percorrer com os lábios separados,
umedecendo com o suor que o deixava brilhante e fazia com que parecesse um deus dourado,
suportando os impulsos de passar a língua pelos Lábios; só continuou com seu sensual percurso até
o peitoral esquerdo e prendeu o mamilo entre seus dentes, mordendo suavemente e com a língua, e
foi acariciando, roubando o sabor salobre do suor, arrancando um gemido de Samuel.
— O seu suor me excita — sussurrou, parando seu queixo na pele do rapaz e elevando o olhar
para encontrar o de Samuel. — Vê-lo suado me faz reviver aquele momento em que acaba, só
falta franzir um pouco a testa — Elevou a mão e acariciou essa parte no meio das sobrancelhas,
para depois deslizar suavemente pelo septo perfeito. — E esse longo suspiro de satisfação, esse
rugido que expulsa todo esse peso, mas que se pousa sobre seus ombros — Acariciou com as
juntas dos dedos os lábios masculinos, daqueles que arrebentavam o controle.
As pupilas de Samuel se dilataram imediatamente, abrindo-se ante o desejo, escurecendo seu
olhar que gritava que podia ser perigoso, muito perigoso.
— Rachell… — Arrastou o nome da garota em uma clara advertência.
— Algum problema, procurador? — Perguntou enquanto uma de suas mãos atrevidas escapava
pelas costas de Samuel e descia, abrindo espaço entre a calça de agasalho, assaltando uma das
nádegas do brasileiro, apoderando-se dela sem permissão, como a mais descarada das ladras.
Samuel só queria jogá-la ao chão, arrancar a roupa e fazê-la sua de todas as maneiras
possíveis, mas sua cabeça começou a forjar uma ideia muito melhor e devia desviar as intenções de
Rachell; aproveitou que sua lista de reproduções de música brasileira continuava tocando e que,
embora fosse clássico, também estava a voz de Kaoma, com sua Lambada.
Pegou o controle e aumentou o volume, dando a Rachell o mais sincero e brilhante dos sorrisos,
fazendo-a dançar.
— Não tenho a menor ideia de como se dança — Disse em um turbilhão de excitação e
nervosismo.
— Só tem que sentir, mexa os quadris, de um lado para outro... Você assistiu a Dirty Dancing?
— Perguntou, movendo-se sensualmente, roçando-se contra ele, levando uma mão até a parte
baixa das costas e pegando-a pela mão.
— Sim, morria pelo traseiro de Swayze — Com esse comentário, ganhou um olhar penetrante
que fez suas pernas tremerem, um olhar que fez retumbar suas entranhas, era como se não tivesse
gostado da informação, mas isso só aumentava a sensualidade dele.
— Bom, não vamos discutir sobre o traseiro do morto, vamos dançar… São três passos, como o
inicial da dança deles... — Samuel se afastou um pouco e explicou. — Um, dois, três... Agora você.
— Bem, vou tentar — De algo tinham que valer as aulas de zumba, pelo menos podia pegar
rápido os passos.
— Muito bem, agora deixe eu guiá-la — Puxou-a novamente para o seu corpo, colocando sua
perna no meio da de Rachell e ela vibrou diante do calafrio que a percorreu por inteiro. — Mexe
a bunda, Rachell — Deu um tapa em uma nádega de maneira divertida. — Sinta a música.
— É algo difícil para mim, não pode esperar que eu faça perfeitamente — reclamou, olhando-
o nos olhos.
— Não é nada de outro mundo... Não é quizomba, só lambada.
Sim, para ele é fácil, porque tem o diabo nos quadris. — Pensou fixando o olhar no movimento, como um oito
que ele fazia.
— Mexa as pernas e apoie com a ponta dos pés… Está bem — Disse, deixando evidente a
emoção, pegando com ímpeto no seu corpo, fazendo-a girar, colocou-a de costas e pôs uma das
mãos sobre a barria e com a outra, a segurava.
Mas ao sentir pincelando com seu membro que começava a endurecer, fazendo com lentidão e
sensualidade delirante, perdeu o passo, não era fácil continuar tranquila diante dessa ameaça.
E só conseguiu que ele a afastasse do seu corpo e fizesse dar voltas, guiando-a com maestria,
como se fosse uma marionete que colocava o ritmo, para, em um movimento rápido, se unir a ela e,
outra vez, meter sua perna entre as dela, tão unida que a acariciava e excitava com o toque.
Sem esperar, sem sequer adivinhar o movimento, a fez abaixar meio corpo em algumas
oportunidades e ela não conseguiu controlar a gargalhada de emoção e a surpresa que isso
causou, que curtiu muito mais quando Samuel a beijou no pescoço e também se contagiava com sua
forma extravagante ao rir, sem tirar a boca do seu pescoço, ela ronronava, enquanto todo o
sangue subia até a cabeça e o cabelo em um rabo de cavalo varriam o parquet de madeira.
— Você fez muito bem, para ser a primeira vez, você se adapta rápido ao ritmo — Disse com
a voz um pouco agitada, quando a música tinha finalizado e a elevava, no momento em que
começava Roda da Paz. — Bom, já está tarde, vou me vestir para ir para a procuradoria —
Enquanto falava, pegava o controle remoto e desligava o aparelho, pegou a toalha e esfregou o
abdômen, retirando o suor. — Se quiser, espere aqui ou vá até a sala de estar —Aproximou-se e
deu um beijo na ponta do nariz, para depois ir sem sequer esperá-la.
Rachell não conseguia acreditar, ficou perplexa no lugar, como um peixe fora d'água e com as
mãos no quadril, envergonhada até não poder mais.
Supunha-se que ela tinha chegado para que desse as boas-vindas e não dessa maneira, não
com uma dança que só a deixou tremendo e com desejos, queria que ele estivesse nu sobre ela,
desejava que... que a comesse! E tinha ido assim, sem mais. Deixou cair os ombros diante da
desilusão que a tomou conta.
Respirou fundo em várias oportunidades para acalmar a matilha que estava desatada por
dentro, nunca tinha perdido as estribeiras assim, nem sequer tinha por que esperar fazer sexo com
Samuel, não era sexta-feira, nem sábado, somente quinta-feira... tinha que arrumar seu relógio,
porque estava se descontrolando, não podia esperar para transar com ele todos os dias.
Não ia ficar naquele lugar que trazia tantas lembranças, por isso, foi até a sala para esperá-lo.
Queria morrer, queria que o mármore embaixo dos seus pés se abrisse e algo poderoso a
engolisse para o centro da terra, pelo menos, que ficasse invisível, mas como nada disso acontecia,
não restou outra opção a não ser adotar a síndrome de avestruz e quase enfiar sua cabeça no
chão, ao ver Thor descer as escadas.
— ¡Rachell! Que alegria ver você, pensei que chegasse amanhã — Disse, com entusiasmo,
aproximando-se e dando um beijo no rosto.
— Sim… Sim, bom, não... Na verdade… — Não conseguia juntar palavras e se xingou em
silêncio, tinha certeza que seu rosto parecia um tomate.
— Tranquila, vamos, Rachell, somos da família, essas coisas acontecem… — Deu um tapinha no
rosto com carinho. — Pode ser que um dia destes, você saia do quarto de Samuel e me veja
andando por aí pelado e sei que não me preocuparia... Estamos em confiança, não sou uma
criança corrompida.
— Thor, desculpa, não era minha intenção...
— Sei que não era sua intenção, não tinha como saber que eu estava para chegar... Relaxe,
respire e não se importe com o que passou, só estava fazendo algo que normalmente acontece
entre duas pessoas que têm vontade, saciando necessidades, que isso se chama... Agora estou indo,
vou trabalhar, já Samuel estava assustado, pensando que você estava decorando sua cabeça com
um italiano — confessou, dando uma piscadinha.
— Não seria capaz, estou bem com seu primo — respondeu ao comentário do loiro.
— Bem, como você preferir, mas se algum dia se interessar por outro homem, não pense que sou
eu, desculpe, não estou disponível, veja o meu cartaz na testa, diz "Ocupado". — Mostrou sorrindo.
— Só diga isso a Samuel… Poderia entender, mente aberta — Pediu, ao entrar no elevador.
— Mente aberta — murmurou a garota, repetindo as últimas palavras de Thor, que se
encheram de curiosidade e desconcerto. — Com certeza deve pensar que não estou bem com
Samuel ou que... Não! — Exclamou ao adivinhar ao que tinha se referido. — Se só consigo ficar
com a pantera, que me deixa sem fôlego. Está louco, Thor, não me vejo em um trio e ver Samuel
com outra, que faça isso pelas costas, mas diante de mim, de jeito nenhum, é meu e sinto muito, não
vou compartilhar com outra, não conseguiria… — Falava e só de pensar, uma angústia tomava
conta do seu peito, o sexo era tema de casal, de duas pessoas, onde tudo podia ser permitido, mas
entre eles, podia admitir que outros olhassem, como foi no elevador ou na limusine, que tinha
certeza que havia gente que sabia o que estava acontecendo; isso ela aceitava, mas que outra
mulher beijasse, acariciasse e aproveitasse do sexo com Samuel, isso não, como também não ia
esconder a vontade que pudesse ter por outro homem, pedindo que Samuel fizesse um trio, isso
talvez com alguém com quem não estivesse ligada, com alguém que não a fizesse sentir daquela
maneira, porque só buscaria satisfazer as necessidades que Samuel não conseguiria e ele se
destacava em todas; ele era suficiente para satisfazê-la, para elevar e fazê-la explodir, outro
estaria demais.
Precisava limpar sua mente, por isso, foi à sala de estar, jogou-se em uma das poltronas, pegou
o controle remoto e ligou a televisão, mudava de um canal para outro, até que decidiu deixar em
um que estava passando um desfile de John Galliano.
— Estamos indo — Disse Samuel e ela pôde senti-lo chegar muito antes de falar, pelo seu
delicioso perfume que reinava no ambiente.
— Sim, estamos indo — respondeu, levantando-se.
Desceram e, pela primeira vez, entrava no Lamborghini vermelho, o carro era realmente
cômodo, não dava para ouvir o ruído do motor de dentro, admirando a destreza como Samuel
dirigia o carro esporte e que manobrava perfeitamente, em ziguezague, entre os outros carros que
faziam fila nas congestionadas ruas de Nova Iorque, quando quis ter consciência, já estavam
estacionando em frente à butique.
— Ia almoçar com você, mas já tinha planos com Thor e Diogo e sei que você não ficará à
vontade, amanhã eu passo para buscá-la; quer ir ao Webster Hall?
— Amanhã à noite? — Perguntou e não conseguia definir como se sentia; talvez um pouco
brava porque esperava que se encontrassem à noite, mas depois de pensar um pouco, expulsou a
estúpida caprichosa, cabeça oca que estava tomando conta da sua mente, claro que ele tinha
trabalho e tinha que cumprir certos compromissos, não podia ficar lidando com uma namorada
controladora que queria absorver seu valioso tempo. — Está bem — Disse sorrindo.
— Bom — Olhou-a nos olhos e pegou sua mão. — Até amanhã, qualquer coisa, me ligue —
Levou a mão aos lábios e deu um beijo, como se fosse o senhor Darcy, de Jane Austen, e ela supôs
que alguém tinha feito mudar o quente e excitante brasileiro, por um frio e respeitoso britânico do
século XIX.
— Está bem — Disse, olhando com olhos suplicantes, olhos que desejavam um beijo que a
deixasse sem fôlego, mas não chegou, não restou outra coisa a não ser descer do carro.
CAPÍTULO 18

Borboleta noturna, esta Pantera irá à fogueira que você provoca, prefere se queimar a viver na
penumbra.

Samuel Garnett.

Rachell não conseguiu esconder um grande sorriso que se apoderou dos seus lábios, quando
encontrou um novo buquê de orquídeas sobre a mesa do escritório. Sem tirar o olhar um único
instante das exóticas flores, sentou-se na sua cadeira executiva, cruzando as pernas. Emocionada
era pouco comparada a como se sentia, era uma sensação maior, era algo que se apoderava dele
e já não queria resistir, não queria continuar nadando contra a corrente, só queria se deixar levar
pelo rio apaixonado que era Samuel Garnett, viver sem pensar, sem criar teias de aranha na
cabeça.
— Em que momento fez isso?… Com certeza, quando foi ao banheiro, parece tonto… —
murmurava enfeitiçada pelo detalhe. — Nem sequer me beijou, mas me surpreende com
orquídeas... O que você está pensando em fazer comigo, Samuel Garnett? — A conversa que tinha
com ela mesma foi interrompida pela porta que abria e deixava Sophia passar.
Rachell, ao vê-la entrar, colocou o cartão em cima da mesa e pegou sua bolsa, onde estavam os
chocolates que tinha trazido para sua amiga.
— Quero que passe um trem em cima de mim, se eu não acertar que o procurador deu uma de
poeta... — Disse Sophia ao pegar o cartão e ler sem permissão.
— Largue isso, Sophie — Pediu Rachell, entregando os chocolates e arrancou o cartão das
mãos dela.
— Obrigada! Amo você, Rach… — Sentou-se na poltrona em frente, com rapidez, abriu a
embalagem e colocou um bombom inteiro na boca, saboreou com famélico desejo e suspirou diante
do prazer que dava ao seu paladar. — Vou comer todos sem perder tempo.
— E depois vai ficar chorando quando estiver com a bunda cheia de celulite — Disse Rachell,
guardando o cartão na bolsa, ação que não passou desapercebida pela ruiva.
— Com uma hora de agachamento, hoje à noite, eu elimino tudo, agora me deixe curtir esta
delícia — suplicou, abrindo outro chocolate. — Por que o procurador chama você de Borboleta?
— Ele tem uma fixação pela tatuagem, é um pouco intrometido.
— Mas você gosta, assim, intrometido e tudo deixa você de quatro.
— Mente suja! — Exclamou Rachell, em tom de brincadeira pela maneira como sua amiga se
expressava.
— Sincera, o que é bem diferente. É assim que ele deixa você ou vai negar? Conte, o que você
foi buscar tão cedo no apartamento dele?
—Fui dizer que já tinha chegado — respondeu e observou como sua amiga segurava o iPhone.
— Olá, eu sou um telefone celular, muito útil... Sabia que, com um minuto de uso, você pode
informar ao procurador que já chegou? — Disse, brincando, como se fosse o celular falando com
Rachell. — Mas não, o que você tem no meio das pernas a guiou e foi lá buscar castigo —Disse,
com segurança, mas mantendo o sarcasmo.
— Para sua informação, não aconteceu nada.
— Não aconteceu nada? — Perguntou incrédula e Rachell negou com a cabeça.
— Já era tarde, tinha que estar no tribunal logo cedo... E eu não vou mentir, sim, fui com essa
intenção, não sei que merda está acontecendo, Sophia. Só quero transar com ele a toda hora, é
como se ele me tivesse presa com correntes que não consigo, e não quero, romper. Com Richard,
nunca senti essa necessidade... Não o desejei assim e, com Samuel, fiquei tão brava porque ele não
se insinuou, comportou-se como um cavalheiro e eu não queria um fodido cavalheiro, desejava o
pervertido... Acho que tenho problemas. Acha que estou me convertendo em ninfomaníaca? —
Perguntou totalmente preocupada e aturdida.
Sophia não conseguiu segurar a gargalhada e começou a engasgar com o chocolate, que
causou um ataque de tosse.
— Está bem, pode tirar sarro do que quiser, obrigada por me compreender, Sophia — Disse,
com o queixo trêmulo, sentindo-se estúpida diante das brincadeiras da amiga.
A ruiva deu a importância que Rachell esperava do tema.
— Que ninfomaníaca, que nada... Você só está vivendo! Só isso. Quando uma mulher gosta de
um homem, os hormônios se agitam, a libido dispara e você é um vulcão em erupção, logo esses
desejos vão diminuir com os dias. Samuel não é só sexo, também é sentimento e você se nega a
admitir. Aposto que você não se comporta como na época de Richard, que tudo é mais intenso, mais
invasivo e que provoca fazer todo tipo de coisas. Para você, Samuel não tem limites.
— Não tem, eu me sinto uma estúpida porque quero compartilhar o tempo com ele e não temos,
talvez acabe sendo uma sanguessuga.
— Bom, se você vai ser uma sanguessuga, procure os lugares exatos para grudar; poderia ser
nas bolas do procurador, você dará mais prazer que agonia.
— Sophia, por favor.
— Continue se fazendo de puritana comigo e vou dar umas belas bofetadas... Só estou dando
um conselho.
— Eu não sou tonta, sei o que fazer e também como, mas você não tem que ficar falando de
intimidades.
— Eu sou coloquial, o que quer que eu faça? — Perguntou, levantando os ombros de maneira
despreocupada. — Estamos entre amigas, quase irmãs e estou falando de certos temas que
servirão para sua vida íntima, como aprender a ser bem puta com seu procurador e aí vai ficar
com ele comendo na sua mão, mas uma dama da rua, nem Kate Middleton — Ironizou, elevando as
duas sobrancelhas e levava mais um bombom à boca.
— Tentarei seguir seus conselhos. Feliz agora?
— Você não pode resistir... Por isso, é minha discípula — Disse com um grande sorriso. — Deixe
de lado os preconceitos e toda a estupidez das avós, de que se fizer sexo oral, você vai para o
inferno... Não, senhor, nada disso. Na cama e fora dela, vale tudo com o procurador. Tenho certeza
que ele tem experiência; esses olhares que dá e acaba se reprimindo com você para não a
reprimis. Deixe-se levar, guiar e aí terá que gritar: Sophie tinha razão!
— Bom... Já deu, levante-se e vamos trabalhar — Disse, ficando de pé com sua elegância
característica. Ajustou os punhos da blusa de seda verde esmeralda e alisou a saia preta larga
plissada, andou e parou atrás da amiga, dando um tapinha nas costas.
— Quando acabe com os chocolates, eu alcanço você. E já sei que perdeu a oportunidade de
transar com um italiano que tanto falava 'quando eu for a Milão...'
— Tenho certeza que o italiano não supera o brasileiro — interrompeu com malícia,
aproximando-se do ouvido de Sophia. — Quando você experimentar um, vai ficar paralisada e
vai me entender e eu vou rir até fazer xixi na calça.
Levantou-se com temperança e saiu do escritório disposta a trabalhar, deixando Sophia em um
emaranhando de pensamentos ao fazê-la lembrar que tinha dispensado um e não era qualquer
um, mas sim o tio daquele que revirava o mundo a sua amiga. Mordeu o lábio ao pensar se aquele
ditado, "filho de peixe, peixinho é", era correto. Neste caso, seria sobrinho, mas certamente ela
gostava do tigre, não do filhote.
As horas passavam na Winstead Boutique e quase não tinham descanso. As clientes passeavam
pelo luxuoso lugar, perdendo-se entre as peças exclusivas da estilista, que aproveitou alguns
minutos antes do almoço para voltar ao seu escritório outra vez e revisar os extratos de sua conta,
vendo que seu rendimento, no último mês, era realmente generoso. Depois de calcular alguns
pagamentos de impostos e compra de matéria-prima, procurou o talão e fez o cheque para,
finalmente, pagar a primeira parcela do empréstimo a Samuel.
Dois homens uniformizados entraram no local e falaram com Oscar, algo que ela nem se
importou, já que sempre faziam rodas por medida de segurança. Mas percebeu que os policiais
ficaram mais tempo que o normal e o semblante de Oscar não era favorável, por isso, levantou-se
e saiu do escritório para saber o que estava acontecendo.
— Bom dia, aconteceu algo, Oscar? — Perguntou, enquanto descia as escadas.
O moreno virou meio corpo, fixando o olhar nela, como também fizeram os policiais.
— Nada, Rachell, é só um mal-entendido; já estou explicando a situação aos guardas.
— Não, senhor, não é nenhum mal-entendido. A senhorita é Rachell Winstead? — Perguntou um
deles, dando um passo à frente.
— Sim, sou eu — Parou no último degrau, ganhando altura para olhar direto no rosto do
homem, sem ter que levantar a cabeça.
— Senhorita, precisa nos acompanhar à delegacia, houve uma denúncia.
— Desculpe, acho que é um erro… — Disse, com um sorriso nervoso e incrédulo. — Não cometi
nenhum delito, nem tenho contas pendentes, não tenho pendência com ninguém.
— Não é o que nos informaram e só seguimos ordens. Por favor, pedimos que nos acompanhe.
— O senhor está cometendo um erro, se quiser, eu posso ir e prestar contas — interveio Oscar
para proteger Rachell.
— Isto é algo legal, senhor. Não é uma transação de negócios. A senhorita deve nos
acompanhar.
— Está bem, como não tenho nenhum problema e sei que é um erro absurdo do qual, acredite,
vou ter um bom benefício por injúria, os acompanho — Disse Rachell, caminhando com altivez, ao
ver que as tentativas de Oscar foram em vão.
— Rachell, não se preocupe, vou ligar para Samuel, ele sabe o que fazer — Mediou Sophia,
sentindo-se um pouco nervosa.
— Por favor, Sophie, diga que não tenho ideia do porquê desta situação — Pediu e saiu
escoltada pelos dois policiais, um deles abriu a porta da viatura amavelmente e ela entrou.
A viatura arrancou e eles comunicaram por rádio que já estavam levando-a. Foi a única coisa
que conseguiu entender no meio da comunicação codificada.
— Desculpe, policial, sei quais são meus direitos e ainda não me falaram do que estou sendo
acusada e tenho o direito de exigir isso.
—Sinto muito, senhorita, não temos essa informação — respondeu o copiloto.
— E como é que vão me prender se não sabem o motivo? — Perguntou, brava.
— Só cumprimos ordens — Finalizou e ligou a sirene, deixando claro que não queria escutá-la.
Rachell respirou com raiva e se afundou no banco, cruzando os braços, tentando entender que
diabos estava acontecendo.
Ao chegar à delegacia, recebia olhares disfarçados dos oficiais e ela, no meio da sua raiva
que não tinha diminuído, caminhava do a cabeça empinada, evidenciando seu maior defeito.
Soberba. Seguia os homens, que a levaram a um salão que só tinha uma mesa e duas cadeiras, um
filtro de água. Admirando o lugar, observou o espelho que estava em frente e claramente aquilo
era uma sala de interrogatório.
Ainda brava, na sua cabeça, começaram a surgir ideias sexuais, ideias que a excitavam, que
aqueciam cada partícula do seu ser.
— Sente-se, por favor — Pediu um dos policiais, apoiando uma não no ombro, forçando-a a se
sentar. — Em alguns minutos, virá o oficial que fará algumas perguntas e anotará seus dados —
Com um gesto, pediu que esticasse as mãos para frente. — Com licença.
— Isto é um absurdo, não precisam me algemar, eu não sou nenhuma delinquente.
— Novamente, eu repito, só cumpro ordens, senhorita — lembrou, ajustando as algemas. —
Com sua licença.
Ela concordou em silêncio, enquanto o coração batia na garganta e estava na expectativa,
suspeitava que aquilo era coisa de Samuel e que iria surpreendê-la.
Devia ter economizado tanto realismo. — Perguntou olhando para o homem.
Os oficiais saíram e ela suspirou profundamente, controlando o desejo que começava a surgir,
esperando que Samuel entrasse de procurador para acusá-la e não conseguiu controlar o sorriso
nos lábios e abaixou a cabeça para esconder, caso alguém estivesse atrás do espelho.
O som da maçaneta girando e ver a folha de aço deslizando só aumentaram sua adrenalina e
sua emoção, mas os hormônios deram uma cambalhota e caíram desmaiados quando entrou um
homem baixinho e gordinho, fulminando seus desejos e estampando a crua realidade no rosto, de
que tudo aquilo era real e não um pervertido jogo sexual de Samuel.
— Boa tarde, senhorita Winstead — cumprimentou e Rachell elevou os olhos na direção do
relógio ovalado e cromado que estava sobre o espelho lateral que ocupava uma grande extensão
e viu que já era mais de meio-dia. — Oficial, Albert Klein.
— Boa tarde — cumprimentou com tom de voz seco, deixando clara sua decepção.
— Preciso dos seus dados e de suas digitais — Ela só esticou suas mãos algemadas sobre a
mesa de metal, que estava fria, sentindo-se uma delinquente vulgar.
O homem fez os procedimentos para pegar as digitais e estampar em um documento para,
depois, oferecer um guardanapo, que ela pegou e limpou as mãos, enquanto ditava seus dados.
— Eu poderia saber do que estou sendo acusada? — Perguntou com desdém.
— Claro que pode saber — Disse, fechando a pasta com os dados de Rachell. — Entregarei
isto ao meu superior e volto para responder suas dúvidas.
— Por favor, não demore; tenho trabalho pendente.
— É só um minuto, senhorita.
— Está bem, serei paciente — murmurou, sabendo que não teria opções.
O homem saiu e ela fixou seu olhar no espelho, supondo que atrás dele estaria algum policial,
como nos filmes.
Não tinha passado nem um minuto quando a porta que isolava a liberdade abria novamente e
seu coração, de repente, pulou na garganta. Assim como os hormônios ressuscitaram com ímpeto,
suas pernas tremeram e, embora não pudesse ver a cara do homem que entrava transbordando
sensualidade e sexualidade, podia reconhecer pela tatuagem.
Quis reprimi-lo pelo susto que a tinha feito passar, mas toda tentativa de palavra enroscava na
garganta. A boca tinha secado imediatamente, ao ver Samuel Garnett com uma calça de policial,
incluindo o cinto, o torso nu e o chapéu do uniforme que usavam os oficiais, enquanto que, na mão
direita, um cassetete dava voltas, acabando com suas expectativas de vê-lo com um dos ternos de
estilista que utilizava em seu trabalho como procurador. Definitivamente, este homem acabava com
seus esquemas, ultrapassava barreiras, com o único propósito de surpreendê-la cada vez mais.
— Fui informado que a senhorita quer saber do que está sendo acusada — Sua voz
fodidamente sexual despertou vibrações na sua barriga e a temperatura do corpo começou a
subir, sentindo como se a nuca começasse a suar, temia por esses instintos primitivos que ele
despertava nela, fazendo-a sentir uma leoa no cio. — Vamos começar — Disse, rodando a mesa.
— Você está louco, Samuel, de verdade, está louco — Mal saía um fio de voz pela garganta
quase fechada pelas emoções, observando detidamente como ele parava na sua frente no espaço
que tinha feito entre a mesa e a cadeira.
— Gostaria de lembrá-la que você está se dirigindo a um funcionário e não está fazendo isso
da melhor maneira — Informou de maneira profissional.
Jurava por Deus que tinha grandes dotes de ator, porque começava a acreditar nele. Estava
levando a sério o papel e ela estava completamente aturdida e não conseguia participar do jogo,
porque só tentava assimilar a situação.
— Os oficiais sabem com que intenção você me trouxe a este lugar? Não consigo imaginar
assim; pensei que seria à meia-noite ou que só iriamos recriar um cenário parecido — Mexeu a
cabeça de um lado para outro, admirando o lugar. — Há alguém atrás do espelho vigiando a
gente? Você poderia tirar essas algemas estúpidas?
— Senhorita Winstead, aqui quem faz as perguntas e as acusações sou eu, você só deve
responder com obediência.
— Com obediência, porra nenhuma, Samuel, não é assim... Isto é muito arriscado, muito mórbido,
eu tenho uma imagem a zelar, tenho que ter cuidado com meu comportamento — Falava, relutante
a entrar no jogo que ele estava propondo. — Estamos em uma delegacia, isto é real... Há pessoas
e policiais trabalhando fora desta sala.
— Sim, é o que parece. É de verdade e não de leigos — Deu um olhar ávido que percorreu
toda a sala, aumentando seu nervosismo. — Não gosto de surrealismo — Com passos estudados,
rodeou a cadeira e parou atrás dela, que tentava girar a cabeça para olhar para ele, mas não
conseguia. Até que sentiu, embaixo dou seu queixo, o cassetete que a forçava a levantar o rosto,
encontrando-o inclinado sobre ela e se aproximava lentamente, de modo que fazia agonizar as
batidas do seu coração.
— Sam… Se tiver alguém atrás desse vidro, eu não quero. Você tem certeza que não tem
ninguém? — Perguntou com o olhar fixo nos seus lábios e sua barriga estremecia.
— Pare de se preocupar com o que pode ou não interferir fora deste lugar... Não há nada, não
existe fora desta sala… Agora, senhorita Winstead, você foi acusada… — Rachell jurava que ele
iria beijá-la, mas só desceu um pouco mais até o seu ouvido e ela percebeu ainda mais o perfume,
aquele que estimulava sua excitação, um gemido escapou involuntariamente, da mesma maneira,
seu corpo se arqueou ao sentir a mão que Samuel tinha livre agarrar um dos seus peitos com
firmeza. — De estar malditamente boa, de ser muito pecado para minha alma, de ser um grande
abismo que se atravessa na minha segurança — Ela não conseguia reconhecê-lo pelo tom de voz
tão profundo que a fazia perder a noção do espaço, envolvendo-se no seu prazer agitado.
Quando menos esperava, os dentes dele pressionaram seu queixo, mordendo-a com a pressão
exata que fez despertar os seus mamilos para, depois, chupar em várias ocasiões, como se
quisesse gastá-lo.
Rachell levantou suas mãos algemadas e tirou o chapéu de Samuel, jogando-o no chão, para
agarrar seus cabelos e fazia a inútil tentativa de rodear sua boca, incitando seus desejos de
colocar a língua, que estava serpenteando, buscando pele para saborear.
— Como a acusada se declara? — Perguntou, fazendo mais pressão do bastão policial e
evitando que ela abaixasse a cabeça.
— Eu me declaro culpada... Sei que sou culpada — respondeu, reduzida a nada, ao sentir o
morno hálito de Samuel evaporar a saliva que tinha deixado no queixo por causa das chupadas,
admirando-o tão de perto, enchendo-se com essa beleza masculina. Samuel Garnett era tão lindo
que até doía.
— Bem — Disse, incorporando-se repentinamente e o seu tom de voz sensual desapareceu,
dando lugar ao normal. — Nesse caso, terei que fazer justiça, você vai sentir todo o peso da lei —
Ao dizer isso, ele rodeava a cadeira e sentou montado sobre as pernas dela. — A sentença será
ser torturada de prazer pela gravidade, você ficará completa e totalmente à disposição da vítima
— Começou a acariciar o rosto com o cassetete.
— Quero ser castigada o quanto antes — E ela mesma não conseguiu reconhecer sua voz ao
dizer tal coisa, enquanto suas mãos unidas pelas algemas ganharam vida própria e começaram a
desabotoar a blusa de seda verde esmeralda e ele se entregou ao menor dos movimentos, suas
pupilas dançavam ao ritmo do que faziam seus dedos. — Pensei que não me desejasse... Eu desejo
tanto você, Garnett, que acho que nunca vou me cansar de você. Esta vida é pouco para eu me
saciar.
— Merda, Rachell, não me faça isso... Não fale assim, porque sou muito jovem para morrer de
um ataque do coração, avise quando pensar em fazer isso — Soltou o cassetete, levou suas mãos
ao rosto de Rachell e tomou conta da sua boca com firmeza, impaciência, dor e prazer. — Você
não sabe o quanto eu tive que lutar para que não suspeitasse do desejo que estava me
consumindo. Cinco horas nunca passaram tão devagar, vamos transar agora. Neste instante… —
Disse, ficando de pé e puxando-a pelo braço para ela levantar também. — Não consigo esperar
mais, não dá.
Em um movimento rápido e um tanto desesperado, aproximou-a da mesa e fez com que meio
corpo repousasse em cima, em que Rachell se apoiou com os cotovelos e seu olhar impertinente
fixou-se no vidro, observando como Samuel levantava sua saia e se agachava. Lentamente
começou a abaixar a roupa interior e as pernas começaram a tremer diante da expectativa e a
fricção das mãos dele ao deslizar pelas coxas ao abaixar a calcinha até o tornozelo.
Samuel começou a abrir a pele com sua boca e com as mãos e ela levantou os olhos ao senti-lo
inalar seus cheiros, ao senti-lo submergir no seu sexo, saboreando-o desde outra perspectiva.
— Ahh — um grito sufocado escapou quando ele mordeu uma de suas nádegas e abria mais
espaço, estimulando-a a separar um pouco mais as pernas que tinham se convertido em
extremidades trêmulas sobre doze centímetros de salto.
A cara de Samuel na sua bunda era o mais sujo e erótico que já tinha experimentado e o seu
sexo começou a gotejar ainda mais ao escutar como ele abria o cinto e desabotoava a calça.
Samuel percebia o aumento da sua excitação porque passava a língua de modo faminto,
arrancando estremecimentos.
Samuel se afastou, deixando um doloroso vazio, que não durou muito tempo, porque a encheu
de golpes, sem avisar, arrancando um grito sufocado. Enfiou as unhas nas palmas das mãos ao
apertar os punhos. Foi prazer, cru e doloroso prazer que a cegou, elevou-a, envolvendo-a em
espirais de agonia.
Era lindamente agressivo, sentindo-o apertado e quente entre suas dobras, aumentando a
temperatura diante da fricção que a levava à glória.
Ele grudava no seu quadril, não permitia nenhuma distância entre eles, se o golpe da
penetração a afastava, ele a aproximava puxando pelo quadril, enfiando-a no seu pênis.
Ela, com as mãos algemadas, não conseguia e não queria detê-lo, essa dependência dócil de
prazer que a fazia estremecer e suportar as penetrações rápidas e fortes, mas, em segundos,
diminuía a intensidade e irrompia nela com suavidade, deixando-se levar como barco à deriva.
Rachell só conseguia apoiar a testa sobre o metal frio e esconder o rosto transfigurado pelo
prazer, por esse obsceno momento do qual fazia parte.
Samuel se uniu a ela deixando-se vencer sobre o corpo feminino com lentas e profundas
penetrações, levou sua mão ao rosto dela, fazendo-a elevar a cabeça.
— Olhe bem... Olhe porque você me deixa louco, como fica linda quando transamos... Você é
perfeita, sua beleza brilha, fica acentuada — sussurrava sufocado e perturbado pelo prazer. —
Esse gesto de prazer e dor no seu rosto vai acabar comigo... Diga o que quer que eu faça e eu
farei. O que quer? — Perguntava, proporcionando beijos úmidos e trêmulos no rosto, enquanto
Rachell observava a imagem dos dois no espelho.
— Que não pare… Não pare, Samuel, por favor… por favor — suplicava, presa a sua
fraqueza feminina, desejando o orgasmo, dobrando-se diante dele.
— Isso você não precisa pedir, não me suplique algo que quero dar, algo que me tira o sono —
Pegou as mãos algemadas, deslizou-as entrelaçando seus dedos com os dela, criando uma união
que impulsionava seus desejos e, novamente, caía sobre o corpo de Rachell.
Ela se sentiu derreter sobre a mesa, fazer nada e ele continuava, continuava e continuava,
estava a ponto de alcançar o segundo orgasmo, quando Samuel se deixou vencer com a
respiração agitada, respirando na sua nuca.
E ela lutou contra o desejo e não buscou uma nova explosão aos sentidos porque fugia das
possibilidades do seu procurador desfalecido. Não era um relógio que poderia programar os seus
orgasmos, não estavam sincronizados; porém, não o trocaria por outro, porque simplesmente sabia
que não existia nenhum melhor, ninguém poderia superá-lo.
Quando o ritmo dos corações retomou as batidas normais e as respirações se acalmaram, eles
perceberam que não podiam ficar mais tempo naquele lugar, por isso, decidiram dar por
terminada a fantasia de transar na sala de interrogatórios.
— Hoje de manhã, eu queria bater em você... Pensei que tinha acontecido alguma coisa, você
me ignorou, tonto — Disse ela, quando subia a calcinha.
— Tive que usar todo o meu autocontrole para não jogar você no chão e arrancar a roupa.
Tudo isso é para você saber que também posso surpreender — Deu outra mordida na nádega
esquerda, agarrou a calça e subiu, procurou no bolso a chave das algemas e retirou-as,
verificando se não tinha machucado.
— Você quer ir dormir comigo hoje à noite? — Perguntou Samuel, abotoando a blusa, sem
esperar resposta, acrescentou—. Gosto tanto de vesti-la quanto desvestir.
— Se quiser, posso levá-lo à butique para me ajudar com os manequins.
— Os manequins não me excitam e você não me respondeu à pergunta.
— Só dormir? — Perguntou, virando os olhos com desconfiança.
— Se você quiser, não me importa estar amanhã nos tribunais com uma dieta à base de café e
bebidas energéticas porque a questão do Wesbter Hall continua de pé; você vai conhecer Diogo e
sua namorada, com certeza aquela louca vai comprar metade da butique assim que a conhecê-la.
— Está bem, passe no meu apartamento lá pelas nove, mas que seja só para dormir, porque a
última coisa que quero é que seus amigos me conheçam com olheiras.
— Prometo — Disse, levantando a mão direita em sinal de juramento.
— Eu vou me encarregar para cumprir... Agora, sim, podemos ir. Com certeza, algum
delinquente deve estar esperando para ser interrogado.
— Vamos ao banheiro, primeiro tenho que me trocar — Informou arrastando-a com ele. Ao
chegar ao banheiro, ela aproveitou para se assear um pouco e Samuel colocou seu terno.
Ao sair da sala, estavam de mãos dadas. Ao parecer, não tinha ninguém no lugar, tudo estava
perfeito até chegarem à recepção e alguns oficiais não conseguiram disfarçar o olhar, mas a mão
de Samuel a encheu de valentia para enfrentar a situação.
— Até logo, Black, diga a Clayton que obrigado por tudo.
Ele se despede como se nada tivesse acontecido; é um cara-de-pau esse brasileiro. — Pensou
Rachell com olhar para frente.
—De nada, Garnett, passe muito bem — Disse com um sorriso que tentava esconder as
conclusões que tinha tirado.
No estacionamento, o carro de Samuel estava esperando e, embora o olhar que se deram antes
de sair da delegacia gritava "não voltem para o trabalho", sabiam que tinham que cumprir com
suas obrigações. Por isso, Samuel a levou até a butique, a surpresa e o mal-estar nele foi inevitável
quando encontrou Richard Sturgess ali
— ¡Rach! Você está bem? O que aconteceu? O que disseram? — Aproximou-se imediatamente
uma Sophia desesperada.
— Estou bem, foi tudo um mal-entendido — respondeu, tentando passar tranquilidade, mas
realmente, sobre ela, tinha caído um grande peso ao ver o olhar de duelo de filmes de faroeste
entre Samuel e Richard.
— Samuel, como você ficou sabendo? Cansei de telefonar e sempre caía na caixa postal —As
últimas palavras foram praticamente uma reprovação.
— Ligaram da delegacia — respondeu, desviando o olhar de Sturgess e só queria perguntar o
que aquele cara estava fazendo ali.
— Você está bem, Rachell? Estava quase indo atrás de você — Interveio Richard, desviando o
olhar de Samuel e fixando-se na garota.
— Sim, Richard, estou muito bem, obrigada... — Engoliu seco, ao sentir a mão de Samuel
deslizar suavemente pelas suas costas de cima para baixo e vice-versa, como se precisasse disso
para manter a calma.
Naquele momento, Samuel sentiu o celular vibrar no bolso da calça e tinha certeza que era a
assessoria que tinha com um cliente. Não teve oura opção a não ser xingar em silêncio.
— Perdão, não apresentei vocês — Disse Rachell, ao ver o silêncio incômodo que tomava conta
do lugar.
— Já nos conhecemos — Disseram em uníssono e Sophia reprimiu um assobio de surpresa.
Odiava ter que deixar Rachell com Sturgess, mas não tinha opção. Pelo menos, sabia que o
homem não tinha mais se encontrado com Henry Brockman e que todas suas ações eram legais. Até
o momento, tinha uma porcentagem elevada de que não pretendia fazer nada contra Rachell, pelo
menos, nada que a prejudicasse. Só queria reconquistá-la, disso não tinha a menor dúvida.
Ele teria que trabalhar arduamente porque tinha certeza que Rachell queria ficar com ele,
podia estar preso a ela, àquele magnetismo que o enfeitiçava, mas ainda tinha suas faculdades
para interpretar os desejos de uma mulher.
— Perdão — Samuel se dirigiu aos presentes e pegou a mão de Rachell e a levou para um
lugar separado, em uma das divisões da butique que permitiam privacidade. — Tenho que voltar
ao trabalho… — Tentava dizer algo mais, quando a garota o interrompeu.
— Pode ir tranquilo… Sam, Richard e eu somos só amigos, não há nada mais, ele só faz parte
do meu passado… —Um beijo terno, muito terno, só contato de lábios que durou o tempo suficiente
para que ela curtisse e correspondesse da mesma maneira. Aquele beijo silenciou suas explicações.
— Eu sei, decidimos que o passado não iria nos afetar, mas que inevitavelmente não
poderíamos apagar. Aceito você como é, com seus ex-namorados de papelão, que se relaxe um
pouco... Mas que não perca seu tempo tentando reconquistá-la, não vou ceder algo que já é meu.
— Eu não sou um objeto — refutou e só recebeu um novo beijo.
— Você é minha.
— Não sou sua propriedade — Outro beijo que fazia suas pernas tremerem.
— Você é minha — Disse, sem segurança, mas seu olhar era divertido.
— Não pertenço a ninguém.
— Você é minha, Rachell Winstead, e sabe disso, você me pertence e não como um objeto, mas
sim como um complemento... Entendeu? — Perguntou e segurou o queixo, ajudando-a a concordar.
— Tenho uma dúvida com o cartão que me enviou hoje cedo com as orquídeas, que ainda não
agradeci. Não é porque não agradeci que quero que pense que não gostei, pelo contrário, adorei.
— Talvez, algum dia, eu diga como esse cartão é importante, tudo o que significa aquele
simples bilhete.
— Já são duas coisas que você me deve, a música do Alexander… O brasileiro que também
canta em espanhol — Disse ao não lembrar o sobrenome.
— Alexandre Pires — Informou com um sorriso. — Nem lembrava mais disso.
— Mas eu sim, lembro e quero saber, agora, neste momento — exigiu divertida.
— Eu tenho que ir trabalhar, você tem que atender seu ex e, com diplomacia inglesa, mandá-lo
à merda.
— Você só quer se livrar.
— De momento, sim... Passo às nove no seu apartamento.
— Está bem — Agarrou-o pela gravata e puxou-o e deu um beijo exigente, excitante, que se
converteu em lascivo, quando a língua de Samuel começou a brincar com a dela, sem unir as bocas,
as línguas se abraçavam e sulcavam em espaço aberto.
— Se quiser, mando meu cliente à merda e transamos aqui — murmurou, com o desejo
explodindo nele outra vez.
— Não tenho tempo, senhor procurador, e não terei até me dizer o que diz a música — Disse,
saindo do lugar e, embora Samuel tenha esticado a mão, ela foi mais rápida e escapou.
Ao rapaz não restou outra alternativa a não ser sair de lá e ir embora, despedindo-se de
Oscar com um aceno, que o moreno só respondeu em silêncio e de Sophia, que, sim, correspondeu
com um efusivo aceno, igual a Sílvia.
CAPÍTULO 19

A noite no Wesbter Hall tinha sido maravilhosa. Sentiu-se viva, cheia de energia e ainda doíam os
pés do tanto que tinha dançado com Samuel, algumas danças com Thor e outra mais com Diogo
que, como os primos Garnett, era muito espontâneo e tinha que admitir que era bem bonito, cabelo
preto e olhos com uma cor diferente entre verde e avelã, mas definitivamente entregue a sua
namorada e ela a ele.
Naquela noite, foi uma garota de acordo com sua idade, que curtia bem o momento, exatamente
como tinha dito Samuel. Gina era uma aventureira, que não parava de falar, razão pela qual
soube que era a filha do dono de um importante canal de televisão do país, ela lembrava Sophia,
que não quis acompanhá-la porque disse que estava com dor de estômago.
Já de madrugada, chegaram ao apartamento e tão logo entraram no quarto, tiveram sexo
selvagem e desenfreado, deixando-se levar pela adrenalina que foi despertada pelas bebidas
alcoólicas que tomaram.
Estava começando a adorar os fins de semana que passava no apartamento com Samuel,
principalmente, quando ele ficava por cima, montado sobre sua bunda e fazia uma reconfortante
massagem, daquelas que a faziam gemer de prazer e tiravam todo o cansaço.
— Onde você aprendeu? — Perguntou Rachell, com os olhos fechados, vivenciando a delícia
que Samuel oferecia ao deslizar suas mãos pelas costas.
— Você quer saber a verdade? — Perguntou, sem deixar de acariciar com a pressão exata as
omoplatas.
— Claro — Disse, soltando um suspiro.
— Aprendi na Índia, uma amiga me ensinou…
— Você transou com ela? — Rachell não o deixou seguir ao intervir com essa pergunta.
— Eu tinha que pagar as aulas de alguma maneira — respondeu sem nenhum pudor, não
achava necessário esconder de Rachell o seu passado e muito menos se arrepender dos momentos
que curtiu.
— Você já transou com muitas? De quantas nacionalidades? —Perguntou, sentindo-se como uma
gata que não conseguia resistir à curiosidade.
— Os papéis estão invertidos, suponho que o procurador sou eu, sou eu que tenho que fazer as
perguntas — Disse, divertido, fazendo um movimento circular com os polegares nas covinhas que
tinha na parte inferior das costas, em cima do traseiro. — Mas, para que você não tenha dúvidas,
sim, tive a sorte de estar com mulheres de várias nacionalidades.
— Segundo seu critério, qual foi a pior? — Sem conseguir esconder o sorriso ao não deixar de
lado o interrogatório.
— Você está pensando em fazer uma pesquisa para aquela revista de mulheres; como é o
nome mesmo? — Perguntou, divertido, e suas mãos caminhavam com habilidade pela coluna
vertebral da estilista.
— Cosmopolitan… Não vou julgá-lo se disser que sou a pior, vou entender. Não estou
acostumada a adquirir experiência do primeiro que passe na minha frente — Elevou as pernas,
brincando com elas no ar, enquanto Samuel continuava sentado em seu traseiro.
— Na verdade, é a melhor, por isso, estou com você. Mas as piores são as alemãs, sei disso
porque fiquei seis anos estudando lá.
— Você é um adulador e sabem bem disso. Não posso ser a melhor, não tenho experiência
suficiente, mas não quero falar disso agora. Só me conte por que você acha que as alemãs são as
piores? — Perguntou com curiosidade.
— Vamos ver, senhorita Winstead, no meu critério, você é a melhor e é algo que também não
vou discutir. Tire essa ideia da cabeça de que tem que ser uma puta com a maior das experiências
para ser a melhor. Prefiro ir descobrindo você pouco a pouco, ensinando como saciar minhas
necessidades, como também aprendo a conhecer seus gostos. Não encontro nenhuma satisfação
com alguém que sabe o mesmo que eu. Agora, voltando ao tema, não gosto das alemãs porque
são de pau — Abaixou seu corpo e deixou-o descansar sobre ela, aproximando-se do ouvido e
sussurrou. — Não se movem... Isso sim, são obscenas, gostam de sado e muito, mas não preciso
infringir dor para dar prazer... Não gosto de machucar as mulheres porque, pode ser que, no
momento de ser estimuladas e sob o olhar de um homem se sintam bem, sintam prazer, mas quando
o ato acaba, a dor vai continuar dia e noite... Pulsando, não acho que verdadeiramente valha à
pena, quando é possível se satisfazer de muitas maneiras, sem precisar chegar à agressão.
— Que tipo de coisas elas gostam de fazer? — Indagava, enquanto sentia o peso divino de
Samuel sobre suas costas e os dedos percorrendo sua lateral, como se estivesse contando suas
costelas.
— Elas gostam que atravessem os mamilos com alfinetes, que as pendurem, seja com correntes
ou com cintas no teto, que bata com cinto, até sangrar. Muitas têm o corpo com marcas das feridas
e coisas piores e que não vou contar.
— E você participou disso? — Perguntou, sentindo medo, até vontade de sair correndo daquele
quarto. Seus medos cobraram vida e, sem conseguir evitar, começou a tremer.
— Tanto como participar, não. Um dia, fui com uns colegas de aula a uma boate onde
praticavam, mas consegui ficar muito tempo. Como falei, não posso ver como maltratam as
mulheres, muito menos ser o responsável por alguma agressão, mesmo que seja consentido por ela,
não consigo, porque não consigo ver dessa maneira, acaba me afetando.
— Fico tranquila em saber — sussurrou, sentindo como as batidas do coração começaram a
diminuir e escondeu seus medos ao enterrar o rosto no travesseiro.
Samuel pegou os longos cabelos pretos e colocou de lado. Com cuidado, começou a dar beijos
curtos e úmidos na parte posterior do pescoço e arrancou um suspiro, quando mordeu suavemente
a zona, colocando um pouco de intensidade àquela ternura que beijava, deixando que sua
respiração atravessasse seu cabelo e aquecesse a nuca da garota, submergindo-a em um processo
de evaporação que começava a se estender por todo o corpo.
— Tenho certeza absoluta que você não compartilha essa ideia — murmurou na orelha da
garota, pegando as mãos, entrelaçando seus dedos com os dela, estendeu aos dois lados da cama,
como se fosse crucificá-la a um prazer, apaixonado e intenso, não agressivo. — Você é uma
mandona e, muitas vezes, tem mais coragem que eu… — Deu um beijo no rosto e outro no canto
direito da boca, como antessala aos desejos que tinha de atacar sua boca.
— Você me faz perder as estribeiras, Samuel Garnett — respondeu, quase sem voz pela
excitação que começava a invadi-la.
— Sim, isso eu sei, você perde muito rápido… Gosto de fazer você perder outras coisas... —
Suas palavras lentas eram o ingrediente perfeito para temperar o desejo em Rachell.
— Quais? — Interrompeu com sua pergunta, enquanto manobrava com seu desejo que
enlouquecia as batidas do seu coração.
— As estribeiras, a segurança e a roupa... Quero fazer você perder a camiseta que está
usando neste momento — Com decisão e paciência, começou a chupar metade dos lábios de
Rachell. Era a única coisa que podia fazer pela posição em que estavam.
— Eu sei que vocês estão como dois adolescentes com os hormônios agitados, não quero ser
desmancha-prazeres, mas lembrem-se que vamos ao polígono! — A voz de Thor do outro lado da
porta interrompeu os beijos que Samuel dava em Rachell.
Mais uma vez, ela escondeu o rosto no travesseiro e sufocou uma gargalhada, por causa do
suspiro de frustração que Samuel soltou.
— Isso eu já sei, Thor! Você pode levar o cachorro para passear — Tinha que se livrar do seu
primo por alguns minutos.
— Então coloque a coleira que eu levo você para fazer xixi — respondeu, divertido, do outro
lado da porta e decidiu ir ao outro lado esperar.
— A ideia foi sua, por isso, não reclame — Lembrou Rachell. — Vamos, levante e vá tomar uma
ducha.
— Não vou mais abrir a boca — Disse Samuel, liberando-a. Desceu da cama e foi até o
banheiro, sendo assediado pelo olhar de Rachell, que percorria aquele corpo perfeito só com uma
cueca azul marinho. Tritão não fazia justiça a você!
Rachell girou sobre seu corpo e levantou. Na beirada da cama, perdeu seu olhar no Central
Park com toda aquela vegetação atraente, que podia ser vista mais além do edifício de três
andares que estava em frente e que não limitava a bela vista que tinha desde o quarto de
Samuel.
Soltou um suspiro, preparando-se para ficar de pé e ir até o closet, onde tina uma bolsa com
sua roupa e prepará-la para depois do banho.
Depois de alguns minutos, deixou seu estado de tranquilidade absoluta em que se encontrava e
chegou até o lugar, procurou sua roupa e se encontrou entre os armários que guardavam a roupa
de Samuel, que estavam separadas por estilo e cores; informal do lado esquerdo, casual à frente
e, do lado direito, as formais, que se destacavam pela quantidade de gravatas vermelhas
penduradas e sabia que isso era pelo seu uniforme. Sabia que não era ele que deixava tudo
arrumado. Arrastada pela necessidade de ser ela que escolhesse a roupa dele, optou por uma
calça jeans muito, mas muito desgastada, um suéter verde Polo de Ralph Lauren. Sabia que para o
polígono, tinha que se vestir informalmente e, mesmo que Samuel a encantasse em todas as suas
facetas, a roupa esportiva o deixava mais jovem e espontâneo.
Enquanto via uma das gavetas com roupa interior e escolhia uma cueca boxer brief branca,
escutou a campainha da porta principal; porém, não prestou atenção e continuou fazendo o que
estava fazendo.
Com as roupas não mão, saiu do closet e colocou-as sobre a cama. Assim que Samuel saiu do
banheiro, ela entrou antes que ele visse o que ela tinha feito.
— Obrigado! — Escutou a voz do brasileiro, quando fechava a porta de vidro do box e sorriu.
Rachell sabia que Thor estava esperando, por isso tentou não ficar muito tempo no chuveiro; fez
o mesmo ao se vestir diante do ávido olhar de Samuel, sentado na cama, já pronto.
Ela sabia que Samuel não tinha nenhum superpoder, mas faltava pouco para isso, porque seu
olhar despertava tremores nela; sentia que sua pele aumentava de temperatura só pelo olhar dele,
até o ponde de fazê-la se sentir incomodada muitas vezes. Essa intensidade no olhar era como se
fosse a última oportunidade de vê-la.
Ao sair do quarto, a maior surpresa de Rachell foi ver Megan Brockman com Thor sentados em
um dos sofás e pôde perceber certo nervosismo entre os dois, que se somava ainda que a garota
estava optando por aquela moda de sair despenteada.
— Olá! Samuel, Rachell… Que bom ver vocês dois juntos — cumprimentou a garota, ao se
levantar como uma mola e um sorriso que era um tanto exagerado, tentando disfarçar o
nervosismo e a agitação.
— Megan… Não sabia que você estava aqui — Disse Samuel, desviando o olhar para Thor em
um claro gesto que deixava clara a mistura de surpresa e certo incômodo com seu primo.
— Eu a convidei — respondeu Thor, mostrando segurança.
— Que bom ver você também, Megan — Mediou Rachell, aproximando-se dela e
cumprimentando com um beijo no rosto, ao notar a tensão entre Samuel e Thor.
— Eu também e, principalmente saber que você voltou com Samuel, vocês formam um belo
casal... Deveriam se casar — As palavras de inocência da garota só conseguiram fazer o rosto de
Rachell padecer por completo e congelar o sorriso, como também a rápida atenção de Samuel e
Thor. — Falei bobagem, né? — Perguntou, no meio de um risinho nervoso.
— Não… Só que você se confundiu. Eu e Samuel somos só amigos — Rachell encontrou as
palavras para sair por cima da situação que causava pânico.
— Entendo — Megan arrastou as palavras, sem conseguir esconder o sarcasmo.
— Por que não paramos de perder tempo e vamos embora — Disse o loiro, fugindo do olhar
de reprovação de Samuel.
— Podem ir na frente, Thor e eu vamos buscar as chaves — Pediu Samuel às garotas e deixou
claro para seu primo que queria ficar sozinho com ele para conversar.
— Está bem... Vamos, Rachell. Thor falou que vai me ensinar a atirar, estou emocionada… —
Megan falava e deixava claro o seu entusiasmo, enquanto arrastava a estilista para o elevador.
— O que está acontecendo aqui, Thor?! — Perguntou Samuel, liberando sua raiva quando
ficaram sozinhos. — Onde você está com a cabeça para sair com Megan? O que você quer? Eu
adverti, disse que Megan, não... Transe com meio mundo, se quiser, mas com a menina, não.
Portanto, pare de convidá-la ou de sair com ela, porque eu sei que sua intenção é desvirginá-la.
— Samuel… Não entendo você. Qual é o seu problema? Somos só amigos, gosto da Megan e é
só isso. Por acaso, você me acha tão filho da puta que não posso ter amigas? — Ao ver como o
olhar de Samuel gritava que era exatamente isso que pensava, continuou: — Então você não me
conhece, Samuel. E isso, de verdade, me deixa puto. Você acha que é o único que pode ser
honrado, impecável, perfeito... Não, eu também posso ter amigas e não acabar na cama com elas
— garantiu, sentindo-se realmente indignado com seu primo. — Não pretendo fazer a Megan
sofrer, não vou machucá-la. Será que uma única vez você poderia acreditar em mim? — Perguntou,
com raiva e olhando nos seus olhos. Queria confessar tudo o que estava acontecendo, mas sabia
que não era a hora, não com as mulheres esperando no estacionamento.
— Vou dar um voto de confiança, Thor, mas se eu souber que fez algo a Megan, nós vamos ter
problemas, muito sérios — Disse, apontando para ele, deixando sua ameaça mais louvável.
— Gostaria de saber o que a Megan tem que nenhuma outra teve? É com a primeira que você
se comporta assim e não é a única... Sabe, Samuel, algumas coisas ficam dando voltas na minha
cabeça, principalmente saber por quê está investigando Henry Brockman. Soube que você está
seguindo seus passos.
— Quem falou isso? — Perguntou e seu semblante dava um giro de 180 graus. A raiva passou
a assombro.
— Não interessa quem me contou, só sei que você defende a Megan de mim, enquanto procura
maneiras para acabar com a vida do pai dela... Eu me pergunto: quem é que vai machucá-la?
— São coisas que não penso em discutir com você, Thor. Megan é completamente diferente do
pai; ela não tem culpa do parasita que a gerou, portanto, não faça perguntas fora de contexto.
— Está bem! Se eu não posso fazer perguntas fora do contexto, então não me fode a vida.
Você não é meu pai, não deixo nem Reinhard me manipular para vir você falando o que fazer ou
com quem sair. Se quiser, acredite nas minhas palavras. Se não quiser, pare com esse papel de
anjo da guarda que não fica bem para você — Disse, saindo e deixando Samuel parado no lugar.
O procurador só soltou um suspiro, tentando fazer o sangue reduzir a velocidade da circulação,
acalmar-se e tentar acreditar nas palavras do seu primo. Queria pensar que só estava
exagerando, mas sabia que, se algo acontecesse com Megan, iria se culpar. Ela era vulnerável e
instável, não queria que ela caísse e não poder fazer nada. Aquela sensação de impotência
sempre o dominava e o peso sobre seus ombros ficava mais intenso. Naquele momento, o som do
seu iPhone com uma mensagem vibrou no lugar; quando pegou, era de Rachell.

Você não vem? Quero ter a pistola entre minhas mãos, senti-la pesada e quente.

Rachell, com seu jogo mórbido, conseguia encorajá-lo e mostrar que, muito além dos seus
demônios e medos, havia uma vida que estava esperando por ele, vida esta que não tinha por que
se alimentar de um passado que o torturava.

Já estou indo.

Respondeu, a caminho do elevador.


Ao chegar no estacionamento, todos estavam esperando no Ford Atlas, carro que utilizavam
quando saíam com mais pessoas, já que tinha mais assentos. Thor estava ao volante e Megan, no
banco do passageiro. Tinha decidido dar um voto de confiança ao seu primo, por isso, lutou contra
sua malícia, deixando-a fora do carro; foi para o banco de trás, ao lado de Rachell, que deu uma
olhada que dizia que suspeitava que algo tinha acontecido entre Thor e ele.
Queria dizer que estava tudo bem, que não tinha por que se preocupar e o único meio para
expressar isso foi aproximando e dando um beijo nos lábios, um toque que, para os espectadores,
era normal; porém, eles sabiam o que esse gesto realmente significava.
— Amigos… — murmurou Megan, sorrindo, que viu o beijo pelo espelho retrovisor. — Bem,
amigo meu — Dirigiu-se a Thor. — Não vamos perder tempo... Quero que me ensine a atirar.
— Ei, Megan, quem vai ensinar você sou eu — Disse Samuel.
O procurador roubou a emoção subitamente, porque já tinha criado a ideia de sentir Thor
pegando suas mãos e ajudando-a a atirar, experimentar a proximidade que sempre arrepiava sua
pele, mas não perderia a oportunidade de fazer isso.
Samuel podia até ensiná-la, mas iria encontrar um jeito de praticar com Thor; por isso, deu uma
olhada de canto de olho ao seu lindo e loiro namorado, tão loiro quanto o sol, que fazia seus olhos
brilharem como o céu de abril e ele pressentiu a força do seu olhar, por isso, mesmo olhando para
frente, deu um sorriso.

****

Era quase a hora do almoço na mansão Brockman Henry tinha acabado de descer, tinha
dormido até tarde, pois chegou em casa a altas horas da madrugada. Seu olhar passeou pela
elegante sala de jantar e só viu Morgana enfiada em uma revista, que anunciava o nascimento do
filho dos duques de Cambridge. Aproximou-se dela e, por costume, deu um beijo na têmpora
direita.
— Já mandou chamar Megan? — Perguntou, puxando a cadeira para sentar.
— Megan não vai almoçar conosco… — Disse, sem desviar os olhos do artigo que prendia
toda a sua atenção.
— Você sabe que ela não pode pular refeições. Vou buscá-la porque esta jovenzinha faz o
que tem vontade e você simplesmente permite. Morgana, às vezes, eu me pergunto se você
realmente se importa com sua filha.
— Henry… Henry, você, menos que ninguém, tem que me criticar pela classe de mãe que sou,
porque você nunca está, nunca esteve... Lembro que eu praticamente a trouxe sozinha ao mundo
porque você estava "viajando".
— Pode parar de me recriminar com isso. Não estava e pronto. Isso não quer dizer que eu não
ame a minha filha, pelo menos, eu me preocupo mais com ela.
— Você se preocupa para ela superar uma doença que você mesmo criou, isso é mais
arrependimento que ataca quando não tem uma amante para esquentar sua cama. Sua filha, essa
por quem você está arrancando a pele, saiu com umas amigas e está se divertindo.
— E você a deixa sair assim, sem mais nem menos? Hoje é um dia para ficar em família —
Ficou de pé para buscar o celular e telefonar para ela.
— De acordo com a sua estúpida agenda. O dia em família pode ser qualquer um. Não tem
que ser exatamente no domingo. Ela é jovem e está se divertindo.
— Sim, torrando dinheiro, pagando tudo para essas meninas aproveitadoras — soltou toda
essa desconfiança que tinha sobre as amizades da sua filha.
— Você mesmo falou que seus gastos diminuíram consideravelmente e... Isso é algo que não me
interessa. Se ela quiser gastar, que gaste no que quiser, como quiser, o dinheiro é dela... Lembre-se
que ela é a única herdeira, foi seu avô materno que deixou tudo, para seu pai administrar um
negócio que é dela. Você é que gasta o dinheiro com menininhas por aí e ela não fica pedindo
explicações. Pare de se estressar, porque ontem eu apliquei botox e não quero perder tão rápido.
— Um negócio que eu mantenho muito bem. Elitte está acima de mim.
— Henry, esse era o discurso que você fazia para o meu pai. Você sabe muito bem que a Elitte
se mantém sozinha. Se quiser, vá embora e tire o peso de cima de você. Acabe com esse mau
humor e deixe Megan e eu em paz.
— Morgana, você está acabando com a minha paciência.
— Querido, você acabou com a minha faz tempo, muito tempo... estamos juntos pela Megan e
pelo seu interesse nos negócios, não porque queremos ficar casados. Você sabe que eu me cansei
de estar apaixonada por um caipira quase, quase invisível...
— Foi sua maneira de ser que me deixou assim.
— Agora a culpa é minha... Claro, você sempre coloca a culpa em mim — Disse, fechando a
revista, colocando-a sobre a mesa e levantou. — Celia, por favor, leve meu almoço no quarto —
Pediu, dirigindo-se à mulher responsável por organizar o almoço. — Você não vai conseguir tirar
meu apetite, Henry. Essa época já passou faz tempo — Disse, caminhando e tropeçando em uma
das empregadas que entrava com um envelope não mão, deixando para seu marido na sala de
jantar.
— Desculpe, isto aqui chegou para o senhor — A voz da emprega que tinha tropeçado com
Morgana mostrou respeito ao seu chefe.
— Não estranho se forem mais contas — Disse, pegando o envelope branco, mas descartou
imediatamente que fosse isso ao ver que era de um hospital.
Ainda desconcertado, deixou-se levar pela curiosidade e abriu. Antes de retirar o conteúdo, fez
um sinal para a mulher se retirar. Ele odiava a imprudência dessas pessoas que ficavam esperando
para saber das coisas.
O conteúdo era uma folha que desdobrou e tinha uma ecografia grampeada. Imediatamente
pensou que fosse uma correspondência errada ou que Morgana estivesse grávida e preferia que
fosse qualquer coisa a essa dura realidade.
Mas, em alguns segundos, sentiu-se preparado para um novo filho com sua esposa, ao ver que
o feto parecia um grão de feijão, que tinha treze semanas de gestação e não foi isso que causou o
impacto, mas sim o nome da paciente e data em que o resultado do exame médico foi emitido.
Já tinha tomado algumas medidas sobre o assunto e tinha mandado investigar essas cartas
misteriosas, que começaram a chegar há alguns meses. Tinha certeza de que começava a ser
vítima de uma maldita chantagem, queriam arrancar dinheiro dele e ele sabia exatamente quem
era. Só que não conseguia encontrá-los e eles não tinham coragem para ir em frente e propor o
valor em dinheiro.
Henry esperava que fizessem isso, mas agora, mais do que nunca, queria encontrá-los para que
explicasse esta loucura. As fotos do menino queimado justificavam, o vídeo também, mas este teste
de gravidez o desconcertou e iria causar um infarto. Se eles não queriam dinheiro, então queriam
feri-lo e estavam conseguindo. Estavam remexendo no seu passado e fazendo-o reviver toda a
dor que tinha sofrido.
CAPÍTULO 20

"Há certas pistas na cena de um crime que, por sua natureza, ninguém pode coletar ou examinar. Como se coleta o amor, a ira, o ódio,
o medo...? São coisas que é preciso saber procurar".

Dr. James T. Reese

Era um dos lugares que mais evitava no mundo, tudo isso por causa da dor que causava. Poucas
vezes tinha ido lá e precisou de dias para se recompor, golpeava-o, destruía suas defesas,
destruía o muro que criou e ficava completamente vulnerável. Ele se convertia em um menino
trêmulo que mal conseguia respirar no meio da roupa pendurada e as fendas que não limitavam a
visão do purgatório da sua mãe.
— Garnett, você é o procurador encarregado, os forenses estão esperando, se não estiver
preparado para dar as ordens, não vão fazer nada e, já sabe, se não contar com isso, se não
fizer os exames forenses, não vai adiantar nada reabrir o caso — dizia Cooper, agachado em
frente a Samuel, que estava sentado na grama, protegendo-se embaixo de uma árvore e à
distância prudente do pessoal de segurança, criminalistas, do antropólogo forense, fotógrafo e
planimetrista que estavam dispostos para trabalhar na exumação do cadáver de Elizabeth
Garnett. — Você sabe que quero ajudá-lo, fazer justiça é a minha missão e mais, se for a favor de
alguém que eu conheço.
— Cooper, eu vou fazer isso, só me dê tempo, preciso de coragem... não é fácil, exatamente
como está no relatório que entreguei, vi tudo, é revivê-lo.... Quero fazer isso, quero prendê-los,
mas, neste momento, eu me sinto instável e transgredir na primeira vez, vão falar para o juiz e ele
vai me deixar de fora e isso eu não vou permitir. Não vou deixar que meus medos acabem comigo,
acabar com tudo o que lutei durante anos.
— Entendo, bem, você pode fechar os olhos, os óculos de sol vão ajudar — Disse, passando
uma garrafa com água, oferecendo opções e buscando, com isto, que o golpe fosse menos duro.
— O difícil não será ver, não vai ser a primeira vez. Já estive em situações como esta, o difícil é
sentir, não vai ser suficiente fechar os olhos, não vai evitar sentir... Você me entende...
— Samuel, vou falar como amigo… Não como companheiro de trabalho. Você falou disso com
alguém? Procurou alguém para ajudar a superar esta situação?
— Ninguém vai me ajudar, Cooper… Não me trate como um imbecil que precisa de um
psicólogo de merca. Eu só preciso escutar a sentença, só isso — Tirou a tampa da garrafa de
água e deu um grande gole para, depois, ficar de pé e se dirigiu com decisão.
Observou a lápide com as flores fixas, mas naquela tarde tinha um ramo de rosas brancas que,
tinha certeza, ele não tinha colocado lá. Diante da única ideia de pensar sobre quem poderia ter
deixado lá, aproximou-se e chutou para bem longe de sua mãe. Não queria nada daquele homem
perto dela, sabia que os olhares estavam sobre ele, por isso, tento disfarçar o seu estado.
— Vamos, vamos trabalhar. Não percam tempo. Nick, que não perca uma única fotografia.
Sánchez, grave tudo, os outros, mãos à obra — Samuel transbordava energia e, diante do olhar
de Cooper, tirou os óculos de sol; não queria se esconder, demonstrando que conseguia ter
controle.
O processo de escavação começou e, embora seu coração estivesse disparado e ficava
pequeno, engolia as lágrimas que subiam pela garganta, como também mantinha outras tantas nos
olhos, contraindo a mandíbula para não as derramar e vestido com o traje de desalmado, como o
procurador profissional que era.
Quando o caixão foi retirado e aberto, sentiu-se enfraquecer, ficou em pedaços, mas ninguém,
absolutamente ninguém, notou. Também não notaram como se recompôs novamente e levantou,
reforçando seu juramento.
Estava lá, como nunca quis vê-la, sempre lembrava dela linda, sorridente, enquanto preparava
sua comida favorita ou com seu rosto iluminado pela luz quando acampavam no quarto, faziam
barracas com lençóis e ela lia As Aventuras de Gulliver, das vezes que o ensinou a preparar um
sanduíche, por isso, nunca mais quis se aproximar de uma cozinha. Acha que era o lugar onde mais
sentia sua falta.
Sumido nas sus lembranças, nas vagas lembranças, aqueles que tinham acabado de deixar. O
tempo passava e só escutava os flashes das máquinas, o som dos instrumentos, as sacolas de papel
abrindo. Eram ali que guardariam os restos mortais, já que as de plástico retinham umidade e
podiam prejudicar os ossos. O antropólogo forense marcava cada osso da sua mãe o estado em
que se encontrava, enquanto o assistente anotava tudo na caderneta.
— Trate tudo com cuidado. Não quero nenhum dano post mortem, em nenhuma circunstância
quero que alterem as evidências — Pediu Samuel, no seu papel de procurador, ao pessoal que
trabalhava sob seu comando.
— Senhor, passe um dos tubos de filme fotográfico... Acho que isto vai interessar e muito —
Disse um dos médicos forenses ao encontrar um projétil.
Cooper desviou o olhar para Garnett, que estava impassível. Era um profissional em todos os
sentidos da palavra. Exigia com o afinco que precisava, sem se importar que a estrutura óssea que
estava sendo desmembrada era da sua mãe.
O processo levou um pouco mais de tempo, diante das exigências do procurador número 320
do distrito de Manhattan, que também os acompanhou até onde fariam os testes de rigor.
Já havia passado dez horas e Samuel estava sentado no corredor, esperando o relatório
preliminar do caso, olhou no relógio e eram nove e doze da noite.
— Pronto, aqui está — Disse Cooper, entrando no solitário corredor. — Vamos reconstruí-la
totalmente, não vai escapar nada.
— Porém, mandei chamar Richardson, o especialista de Las Vegas, trabalharemos em conjunto
com ele — Samuel estava decidido a chegar ao menor detalhe para que nada, absolutamente
nada, ficasse para trás.
— Isso será um alívio... Você vai fazer o teste de DNA? — Perguntou e Samuel estendeu o
braço, mostrando onde tinha sido a picada.
— Um cabelo já era suficiente — Informou que tinha sido radical ao optar por exame de
sangue.
— Quero que estejam 100% seguro.
— Bom, já não há mais nada para fazer aqui. Vá descansar um pouco, irão nos avisar em 48
horas. Eu vou para casa, tenho dois filhos que devem estar com saudade — Disse Cooper, dando
um tapinha no ombro, fazendo-o caminhar.
— Eu levo você — Disse Samuel, levantando-se, enquanto levava as mãos aos bolsos da calça.
— Não é necessário. Minha esposa está me esperando lá fora. Liguei para ela faz alguns
minutos. Você vai descansar, deve estar acabado.
— Estou bem… — Disse, olhando para frente.
O diretor da polícia científica entrou no carro de sua esposa e Samuel no Lincoln MKX.
Não tinha vontade de ir ao apartamento, só saiu dirigindo sem rumo, tentando liberar seus
pensamentos e seus sentimento, mas foi impossível quando, depois de dirigir algumas horas, um
semáforo vermelho o fez observar que estava em frente ao imponente edifício que dava vida à
agência publicitária mais importante da cidade e a segunda mais importante do país: Elitte.
Jurava que se, naquele momento, Brockman saísse pela porta, passaria com o carro por cima
dele, mas o horário estava a seu favor. Com certeza, estava dormindo tranquilamente e ele,
tentando superar a dor.
Tinha se empenhado tanto em colocar uma máscara de procurador impassível, que não se
afetava e agora que estava sozinho, não conseguia tirar a angústia do peito. Não encontrava uma
maneira de acabar com esse vazio que o dominava.
Continuou com seu percurso noturno, deixando o tempo passar, encontrando a maneira de se
esgotar e, pelo menos, conciliar o sono, sem pensar muito. Talvez por necessidade ou por
debilidade, dirigiu até aquele lugar, entrou e tudo estava escuro, caminhou até o quarto e
conseguiu vê-la dormindo. Graças aos tristes raios da lua que passavam pelas fendas das cortinas,
caminhou com cuidado e se sentou na beirada da cama, tirou os sapatos e se deitou, abraçando-a.
Rachell sentiu que alguém tinha entrado na sua cama e, como estava dormindo, não pensou que
podia ser Samuel, nem passou pela sua cabeça. O que ele fazia ali sem avisar? Embora fosse seu
costume, não o esperava tão tarde; por isso, em um ato reflexo, afastou-se, dando um golpe e
dando um grito.
— Sou eu, Rachell, fique tranquila que sou eu… — Disse, segurando-a entre seus braços até
que ela superou o susto.
— Sam… Que horas são? O que está fazendo aqui?! — Perguntou e deu um beijo nos lábios.
— Rachell… Preciso que você me abrace, por favor — Pediu com um fio de voz. — E que me
diga que tudo vai ficar bem.
— O que aconteceu, Samuel? — Perguntou, surpresa, pelo pedido.
Porém, abraçou-o e ele também retribuiu o gesto, agarrou-a e, então, o momento que tinha
evitado durante todo o dia, aquele em que, sem fazer nada, golpeava-o com força e, mesmo
tentando segurar, não conseguiu.
A avalanche de sentimentos o arrastou e os soluços saíram um atrás do outro, mostrando-se,
pela primeira vez, quebrado diante de alguém.
Rachell queria acontecer o que estava acontecendo, por quê Samuel estava chorando daquele
jeito como se fosse uma criança, como se algo de muito ruim tivesse acontecido, como se sentisse a
perda de alguém que realmente amava. Com seu estado, só a angustiava e a enchia de dor, uma
dor que nunca tinha sentido antes, por nada, nem por ninguém.
— Samuel, o que está acontecendo? Você está me assustando — Disse, esfregando as costas,
enquanto ele se sacudia entre seus braços e enterrava o rosto no seu pescoço. — Aconteceu
alguma coisa? É seu tio? Aconteceu alguma coisa com ele? — Perguntou, tentando encontrar a
resposta para aquela atitude.
— Não é o meu tio… Sou eu… Sou eu, Rachell — Disse, no meio do choro.
— O que aconteceu? Você está bem? — Afastou-se um pouco para examiná-lo, mas ele não
deixava ver seu rosto, evidenciando que não queria expressar aquela fraqueza.
Ela lutou com ele e levou as duas mãos ao rosto, obrigando-o a olhar na sua cara e o coração
de Rachell ficou pequeno ao vê-lo como se fosse um menino assustado.
Nunca imaginou vê-lo assim. Samuel Garnett era um homem forte, imponente, sarcástico,
apaixonado, era até grosseiro, mas não o imaginava em pedaços. Não conseguia dizer por que
pensava que, para ele, chorar seria impossível, que não tinha nada por que se sentir assim. Não o
imaginou como um pássaro ferido entre suas mãos, um pássaro que tinha caído do ninho.
Aproximou-se e o beijou na ponta do nariz.
— Não sei o que aconteceu, nem por que você está assim. Só quero que saiba que tudo vai
ficar bem... Samuel, tudo vai ficar bem. Conte comigo, estou aqui para ajudar no que for
necessário. Se quiser falar, fale. Se só quiser chorar e desabafar, vou escutar em silêncio,
acompanharei na solidão que precise.
Como ele não falou nada, ela entendeu que ele não queria falar, só chorar. Por isso, deu um
beijo nos lábios, tentando regatá-lo do estado em que se encontrava.
Com seus dedos, limpava suas lágrimas, os minutos passavam e ele continuava chorando. Se os
soluços diminuíram, as lágrimas não, caíam pelo seu lindo rosto; ela o abraçou novamente e deu
vários beijos ternos na clavícula, enquanto acariciava as costas.
O tempo passava e ela não se cansava de reconfortá-lo, de ser, naquele momento, mais
maternal que amante.
Através das aberturas que as cortinas deixavam, conseguiu ver como o horizonte do dia se
aproximava e percebeu que Samuel tinha dormido; acariciou o cabelo com cuidado, para não o
acordar e seu rosto deixava claro as horas de choro que tinham passado.
Estendeu a mão e pegou o iPhone no criado-mudo, enviou uma mensagem para Sophia para
que abrisse a butique. Sabia que Samuel precisava dela, que iria passar aquele dia com ele.
Estava admirando-o dormir e o acariciava, tentando curar sua alma, enquanto a grande dúvida
do que tinha acontecido ainda continuava girando na sua cabeça.
Tantas coisas na sua cabeça e no seu peito acabaram por esgotá-la e o sono tomou conta do
seu ser. Mesmo dormindo, seu subconsciente agarrava Samuel, abraçava-o para que soubesse que
ela estava ali com ele.

****

Thor saiu do banho com uma toalha preta na cintura e se dirigiu até sua cama para pegar o
celular, que estava em cima dos lençóis revirados. Repetiu a última chamada e esperou que
atendessem.
— Você ainda está dormindo? Vamos, não seja preguiçosa, Megan — Disse, um pouco entre
carinhoso e divertido.
— Já estou acordada… Estou acordada — Disse, com urgência, girando rapidamente da sua
cama e acabou caindo.
— O que aconteceu? Megan, você está bem? — Perguntou o loiro ao escutar o golpe.
— Sim, estou bem — Tirou o cabelo do rosto na hora que se levantou e saiu correndo para o
banheiro. — Chego em alguns minutos.
— Bem, então nos vemos em alguns minutos.
— Thor… — Ia dizer algo mais, mas preferiu deixar para lá.
— Fale.
— Amo, amo, amo você...
— Se eu disser que também, é muito comum; não sou bom com as palavras, Megan... Acabo me
enrolando, mas posso demonstrar com meus beijos e carícias de que estou à altura dos seus
sentimentos — Disse, com toda sinceridade.
Megan, ao escutar isso, não conseguiu fazer outra coisa a não ser bater contra o espelho de
corpo inteiro que estava à frente. Seu Deus do Trovão era perfeito, nada mais lindo que as
palavras que acabava de dizer.
— Seus beijos e suas carícias são o que mais espero — Disse, com um fio de voz e com os olhos
fechados.
— E não é só isso que merece. Sei que precisa de palavras que reafirmem minhas ações. Só
preciso de um pouco de tempo para ser mais comunicativo.
— Você tem o tempo que quiser, não tenho pressa — Disse com um sorriso que expressava sua
emoção. — Agora, sim, vou correndo tomar banho — Segurou o telefone entre o ombro e a orelha
e começou a tirar a calcinha.
— Bom, não vou ocupar mais o seu tempo. Beijos.
— Para você, todos os que queira — Disse e desligou.
Thor foi até o closet e colocou roupa esportiva. Ao descer, estranhou não escutar a música de
capoeira de Samuel. Imediatamente pensou que tinha ficado com Rachell; depois da reconciliação,
não queriam deixar passar as horas. Antes de ir ao Central Park, preparou seu imprescindível
café, já que era a única coisa que sabia fazer.

****

Rachell se mexia na cama, despertando pouco a pouco; piscou várias vezes para acostumar a
vista, retomando a consciência do que tinha acontecido antes de dormir, mas ao ver que estava
sozinha, pensou que, talvez, tivesse sido um sonho.
— Samuel! — Porém, ela o chamou porque tinha sido muito real. — Samuel! — Levantou-se e
pegou um roupão de cetim preto para vestir sua nudez.
Estava indo tomar um banho, enquanto fazia um coque de bailarina com seus longos cabelos,
quando seu olhar viu um grande bilhete que estava no cavalete, onde ela fazia seus desenhos.
Dirigiu-se até ele e não precisou pegar nas mãos porque era bem grande.

Rachell.

Obrigado pelas suas palavras e pelos seus abraços. Você não sabe a magnitude da força que me
deu. Sinto ter que escrever este bilhete e ter deixado você dormindo, mas sei que precisa de respostas
que não poderei dar. Para isso, preciso de uma coragem que não tenho.
Samuel.

Rachell foi procurar seu celular, tinha que falar com ele e dizer que não iria fazer perguntas,
não se ele não estivesse preparado. Não se achava no direito de fazer isso.
Procurou o registro de chamadas e marcou a última que tinha feito para Samuel, mas foi direto
para a caixa postal. Tentou algumas vezes, mas o resultado foi o mesmo.
Supôs que estaria no apartamento, por isso, ligou no telefone fixo e a empregada atendeu e
disse que ele não estava, normalmente naquele horário, o senhor Garnett estava trabalhando.
— Talvez precise de um pouco de espaço, não vou perturbar agora... Sua atitude me preocupa,
mas sempre me disse que gosta de ter seu espaço... Merda, como você é complicado, Samuel.
Tentarei mais tarde, não vou ficar tranquila sem saber como você está — Perdeu o olhar na tela
do celular.
CAPÍTULO 21

O olhar escuro da secretária de Samuel Garnett captou a senhoria Rachell Winstead e não
conseguiu evitar o desconcerto de vê-la ali, porque seu chefe não tinha informado sobre a visita.
— Boa tarde, Vivian — cumprimentou Rachell, sendo amável com a mulher.
— Boa tarde, senhoria Winstead — respondeu, levantando-se e, em um ato reflexo que
demonstrava nervosismo, alisou a saia preta do uniforme, que fazia conjunto com uma blusa
vermelha.
— Gostaria de falar com o senhor Garnett, por favor.
— Desculpe, senhora, o senhor Garnett não está na torre, está trabalhando em um caso —
Informou e, na sua voz, sentia o pesar de não poder atendê-la.
— Entendo. Poderia dizer que eu passei por aqui? ... Ou não, por favor, não diga nada —
Disse, arrependendo-se.
— Está bem, mas pode ligar no celular dele, sempre atende as ligações — sugeriu.
— Certo, vou fazer isso. Obrigada, Vivian… — Elevou a mão direita em um gesto de
despedida e, ao mesmo tempo, pedia tranquilidade à secretária.
— De nada, senhorita. Estou aqui para melhor atendê-la — Disse com um amável sorriso que
fazia brilhar os seus olhos cor de café.
Rachell caminhava pelo corredor, sumida na mesma incerteza em que estava fazia três dias.
Definitivamente, Samuel a estava evitando; tinha desviado as chamadas, não estava na torre
Garnett, nem na procuradoria. Todo mundo falava a mesma coisa, que estava trabalhando em um
caso, mas esse caso não durava vinte e quatro horas do dia. Ele poderia ligar ou, pelo menos,
mandar uma maldita mensagem, não levaria mais que um minuto.
Sem pensar, só se deixando levar pelos impulsos que surgiam do nada, pegou o seu iPhone e
ligou para Thor, jogando seu orgulho no chão pela sexta vez.
— Aqui que fala é Thor, mas não se engane, pois não sou Chris Hemsworth, por isso, não há
autógrafos, nem fotos, nem nada desse tipo — Atendeu com o humor de sempre.
— Tudo bem, Thor? — Perguntou, sem conseguir segurar o sorriso diante das palavras do loiro.
— Você já sabe como eu sou... E, bom, estou muito bem. Poderia me dar autorização para
chamá-la de cunhada.
— Não sei, talvez se um dia seu primo aparecer. Ou será que ele foi abduzido pelos
extraterrestres e não me falou?
— Não, na verdade, eu o esquartejei e está em um congelador do sótão... Ele ainda não fala
com você?
— Não, já faz três dias. Será que ele ainda tem memória? Ou só foi a minha arte que ele
apagou do disco rígido? Diga a ele que não pretendo fazer o remake do filme "como se fosse a
primeira vez".
— Rachell, isso seria lindo. Imagine você se apaixonar por Samuel todos os dias... O que acha
de ir hoje ao apartamento e esperá-lo com um toque de malícia, champanhe e morangos, tem que
começar por algum lugar... Ah, mas não coloque velas de jeito nenhum — advertiu, mas sem deixar
de lado a brincadeira que estava fazendo com Rachell.
— Ainda não entendo por que ele não gosta de velas?
— Não é só com velas, é com fogo... Ele não gosta, tem pânico, espero que ele não entre em
crise na sua frente porque, se for assim, você sai correndo.
— Por quê? — Perguntou, um tanto surpresa. Não sabia que o medo de fogo de Samuel fosse
assim tão forte.
— Até gostaria de contar para você, mas não me diz respeito — A voz de Thor no telefone
mudou, passou da brincadeira para sério.
— Thor, gostaria de saber por quê Samuel está me evitando. Como falei, não discutimos, tudo
estava bem...
— Rachell, não pense que é algo contra você, dê um tempo... Samuel é assim, é um animal raro,
pouco a pouco, você vai conhecendo, ou melhor, se adaptando a ele. Sei que está acontecendo
alguma coisa com ele, mas nem que eu coloque máscara do tipo de Saw e o torture, vou conseguir
arrancar algo dele. Sei disso porque ele chega e se fecha no quarto, isso não é estranho, o que
realmente é estranho é que ele nem praticou capoeira nesta semana e algumas vezes, ele fica
assim. Eu o deixo sozinho, dou o seu tempo e, quando ele volta ao mundo, não pergunto nada
porque ele fica bravo, fica com um humor daqueles. Sei que não é a melhor carta de
apresentação que estou passando sobre meu primo, mas ele é assim... Não tem remédio, você
escolheu o homem mais complicado.
— Sim, sei que não é a melhor maneira, outra, no meu lugar, sairia correndo.
— Você não vai fazer isso, porque é meu primo que faz sua calcinha cair só de pensar... Dê um
tempo, você ver que ele vai aparecer quando menos esperar; ele precisa de alguém que queira
entendê-lo e você é a pessoa indicada.
— Agora você vai vendê-lo?
— Alguém tem que ser responsável pelo morto — Disse com um sorriso.
— Obrigada, Thor, então vou esperar que apareça como o cometa Halley.
— De nada, se precisar aquele lance da malícia, me avisa e ajudo a preparar.
— Não precisa — Disse sorrindo. — Vou dar o tempo que for necessário, até mais.
— Arriverderci — Thor se despediu em italiano e desligou.
Rachell se dirigiu à butique buscando sua paciência, aquela que perdia várias vezes, sentia
falta de escutar a voz de Samuel, das orquídeas que pararam de chegar, as mensagens
pervertidas que a desconcentravam do seu trabalho.
— Ia me emocionar todos os dias... Mentiroso! — Exclamou, entrando no seu Pegaso e
arrancando, precisava se distrair um pouco, tirar Samuel da cabeça, pelo menos, por cinco minutos.
Talvez se conseguisse ficar brava com ele, a situação seria completamente diferente, mas só
lembrava da última vez que o viu, tão vulnerável e aquela necessidade de saber se realmente
estava bem aumentava. Sabia que a única maneira de diminuir essa angústia era vendo-o, mas era
algo que ele não queria.
Saiu do estacionamento da torre Garnett e ligou o rádio. Talvez um pouco de música ajudaria a
engolir esse gosto amargo.

—Let's get out of this town, baby we're on fire


Everyone around here seems to be going down, down, down
If you stick with me, I can take you higher, and higher
It feels like all of our friends are lost
Nobody's found, found
I got so scared; I thought no one could save me
You came along, scooped me up like a baby…
Começou a cantar Lucky Ones de Lana del Rey, mas, ao ver que o homem em um carro ao lado
não parava de olhar para ela, parou rapidamente de cantar, fazendo-se de desentendida; porém,
queria morrer de vergonha, porque tinha certeza que era um dos advogados que trabalhava na
torre Garnett, por causa do Opel Ampera branco, que eram os carros à disposição para quem
trabalhava ali.
Olhou para ele de canto de olho e deu um deslumbrante sorriso.
— Se eu ficar ao seu lado, tenho certeza que me levará alto, muito alto… — Disse, referindo-se
à parte da música e encantado pela beleza de Rachell.
— Você está avançando sobre a faixa de pedestre. Não vá colocar a culpa em mim pela multa
— advertiu ao ver que o homem não estava prestando atenção do que fazia para continuar com
seu plano sedutor.
— Você canta muito bem… Vou levá-la a um karaokê hoje à noite... — Procurou rapidamente
um cartão de visita antes de o farol ficar verde.
— Obrigada, mas tenho pânico de palco — Disse, mas ao ver o esforço que o homem fazia
para entregar, pegou o cartão.
— Bem, não tem problema, mandamos esvaziar o local e você canta para mim.
— Pode ser. O que você acha se eu convidar meu namorado, o procurador Garnett? —
Perguntou com um sorriso ao ver o cartão que realmente dizia que ele trabalhava para Samuel.
Por alguns segundos, o advogado não conseguiu esconder a surpresa e ela teve que segurar
uma gargalhada.
— Está bem, podemos convidá-lo — Disse e o farol verde salvou-o de dar mais explicações. —
Foi um prazer.
— Igualmente — Despediu-se com um movimento de mão e arrancando com o Pegaso.
Ao chegar à butique, não estranhou encontrar Richard, já que ele ia visitá-la todos os dias, não
se irritava com sua presença, só se irritava um pouco, porque sabia quais eram suas intenções e,
lamentavelmente, não podia corresponder.
— Boa tarde — cumprimentou, entrando no lugar com seu caminhar feminino que roubava
suspiros aos homens, dirigindo-se aos presentes.
Seu olhar cruzou com o de Richard que se levantava para cumprimentá-la com seu costumeiro
beijo no rosto, mas o objetivo do homem se viu truncado quando uma cliente se aproximou.
— Tudo bem, Rachell? Estava esperando você; tenho um grande, grande problema — Disse a
garota, como se fosse o fim do mundo.
— Muito bem, obrigada. Qual é o seu problema Agatha? — Perguntou com um sorriso amável.
— Venha aqui — Disse, pegando-a pela mão e puxando-a com ela, Rachell olhou para Richard
e levantou os ombros, indicando que não podia fazer nada, primeiro tinha que atender as clientes.
Agatha a levou até a área roxa, já que a butique estava dividida por temas e cores.
— Eu amo este vestido, é maravilhoso, o corte, a cor, o decote, acho que é perfeito, mas não
tenho a mínima ideia de qual sapato coloco para combinar — Pegou o vestido da vitrine e mostrou
para Rachell. — Adoro este detalhe no quadril.
— Definitivamente, com um sapato preto, fechado, de preferência, que seja alto, mas elegante,
nada de plataforma, assim vai deixar as pernas mais estilizadas. Recomendo o cabelo preso para
que possam ver o acabamento do pescoço, sem colar, use uns brincos grandes, sem exagerar, vai
ficar perfeita... Com certeza, há uma bolsa estilo no mesmo tom, com cristais Swarovski. Peça para
a Sophia procurar.
— Obrigada! Você é a melhor em toda Nova Iorque — vibrou a garota de emoção.
Aproximou-se e deu um beijo no rosto, para sair e buscar a ruiva que ajudaria com o que
precisava.
Rachell soltou um suspiro e mexeu os ombros, tentando relaxar e tirar um pouco do estresse.
Sentiu uma mão sobre o ombro direito, reconfortando-a; sabia que era masculina porque era
grande, girou o corpo e, embora desejasse que fosse Samuel, não era ninguém mais que Richard.
— Vamos almoçar? Eu convido — Aquele sorriso que a tinha encantado florescia.
— Richard, talvez em outra ocasião, Oscar já fez um pedido e não deve demorar.
— Bom, então vou pedir alguma coisa e acompanho vocês, como nos velhos tempos. Lembra? —
Perguntou, aproximando-se e colocando as duas mãos nos ombros dela, roçando com os polegares
o pescoço de maneira terna.
— Sim, lembro, nem faz tanto tempo assim.
— Definitivamente não passou, para mim, não passou, eu ainda continuo parado no mesmo
lugar e com os mesmos sentimentos. O que aconteceu com a gente, Rachell? Éramos um casal
perfeito, ainda amo você… — Disse, aproximando-se mais e deixando-a descontrolada. Ela não
conseguiu afastá-lo e o beijo que ele desejava aconteceu, com aquela ternura característica dele,
com cuidado e adoração. — Amo você com a mesma intensidade, desejo você da mesma maneira
— murmurou contra os lábios de Rachell, que estavam úmidos pelo beijo.
A garota se afastou alguns passos, distância suficiente para evitar outro beijo. Desta vez, não
tinha causado nada, ela sempre tinha gostado dos beijos de Richard, mas não era mais a mesma
coisa. Não tiveram o mesmo afeto, não deu frio na barriga, nem excitação, tinha ficado curto, muito
curto... Desejou mais força, entrega, pressa, mais pressa, muito mais invasão e decisão.
— Não passou muito tempo, mas sim o suficiente para as coisas não serem mais as mesmas...
Richard, eu sou muito grata a você, sou quem sou graças a você, isso eu nunca vou esquecer. Mas
você foi embora e não me deixou opções, não me pediu para esperar, com certeza me sentiria
muito mal se você também não tivesse cumprido aquele pacto... você me entende — murmurou, com
as defesas pelo chão, não queria machucá-lo; ele era um bom homem que não merecia sofrer.
— Você gosta dele? Está apaixonada pelo procurador? — Perguntou, com o olhar fixo na
mulher que amava.
— Não, claro que não... Só estamos nos conhecendo, não vou mentir, gosto de estar com ele, mas
não estou apaixonada.
— Bom, vou tentar acreditar na sua palavra, já que suas atitudes e seu olhar me confundem,
por como você se comporta e como olha para ele, eu juraria que está apaixonada... Quero
continuar presente, Rachell, pelo menos, dê a oportunidade de lutar por você.
— Lutar? Eu não sou um troféu... Não sou algo que você possa obter pela força bruta ou por
méritos, isso você já tinha que saber.
— Você interpretou mal as minhas palavras, só quero estar ao seu lado, que não me afaste da
sua presença. Se quiser, podemos ser amigos, lembre-se que, primeiro, fomos amigos, depois
amantes... Agora quero ser seu amigo de novo.
— Será difícil para você enquanto tenha sentimentos mais fortes que amizade — advertiu,
querendo fazê-lo voltar à razão.
— Só me dê a oportunidade, eu decido até onde deixo meus sentimentos irem, agora só quero
ser seu amigo — Manteve a distância que ela havia estabelecido entre eles, para que visse que
ele podia manter sua palavra.
— Minha amizade você tem, nunca conseguiria ficar brava com você… — Disse, enquanto
caminhava. — Vou falar para Oscar pedir uma porção a mais de comida.
Rachell se dirigiu até onde estava o moreno no balcão, ele estava de costas falando ao
telefone.
— Veio todos os dias, não tenho essa informação, não gosto de escutar conversas alheias… —
Oscar falava ao telefone, mas parou ao sentir que Rachell tinha chegado. — Bem, não posso
continuar conversando agora, tenho outras coisas para fazer — Sem nenhum tipo de protocolo,
desligou.
— Alguém despertou o gênio — Disse a garota, sorrindo, e passando o braço pela cintura.
— Não era nada importante… O que você queria me falar? — Perguntou, dando um beijo na
cabeça.
— É para pedir uma porção a mais, Richard vai nos acompanhar.
— Lembrar dos velhos tempos.
— Sim, ele disse a mesma coisa... Não consegui falar não — Fez uma careta que deixava claro
o beco sem saída em que estava.
— Não vejo nada de errado nisso, mas você tem que deixar sempre claro quais são seus
sentimentos agora — Aconselhou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Esse é o problema, não estão claros.
— Sim, estão, você sabe perfeitamente o que sente, mas antes que você venha com a mesma
historinha de sempre, vou ligar para enviar a comida e, então, Richard possa comer pizza.
— Bem, vou colocar a mesa com a Sílvia — Dirigiu-se ao refeitório.

****

Samuel só apertou a mandíbula e ameaçou destroçar o iPhone na sua mão, contendo seus
impulsos para não explodir diante da raiva que o tomou em um golpe, e não tinha como
descarregar, porque o lugar não era o mais apropriado.
Sabia que estava se comportando como um imbecil, como o maior dos covardes e que podia
pagar muito caro por isso, mas morria de vergonha de olhar para Rachell. Realmente se sentia
envergonhado por ter sido tão fraco diante dela, por deixar que os medos e as penas do seu
passado o dominassem daquela maneira.
Rachell era a última pessoa que podia vê-lo daquele jeito, não de joelhos, nem destroçado e o
pior era que, enquanto continuasse mexendo no seu passado, continuaria se sentindo assim. Tinha
decidido não estar presente na reconstrução do corpo da sua mãe porque era quase insuportável
vê-la. Já tinha perdido a conta das vezes que as lembranças que mais temia tinham sufocando-o.
Nem sequer conseguia dormir porque os pesadelos tinham voltado todas as noites para atormentá-
lo, todo o processo emocional a que ele estava se submetendo estava acabando com ele.
— Senhor procurador — A voz do médico forense responsável pela reconstrução o tirava dos
seus pensamentos, apressou-se para diminuir a distância.
— Tenho o primeiro relatório do laboratório e para a reconstrução total do corpo e para
encontrar todas as provas de agressão a que a vítima foi submetida, é necessário trabalhar nisso
por, pelo menos, uns quinze dias, tempo estimado.
— Quinze dias! — Exclamou surpreso. — Isso é muito tempo. Tenho que solucionar esse caso,
fazer as prisões e o senhor me fala que tenho que esperar quinze dias.
— Senhor, estamos fazendo o que é humanamente possível, mas o dia só tem vinte e quatro
horas — Disse, com profissionalismo que só exasperava Samuel.
— Então façam o impossível, aumentem o dia, quero os resultados factíveis em dez dias.
— Quinze dias, procurador, não depende de nós — Embora a voz do especialista fosse serena,
não deixava opções para reprovações. — Temos que fazer no tempo necessário, reconstruir
completamente um corpo não é algo que se faça da noite para o dia. O senhor tem que fazer o
seu trabalho, nós também. Tire umas férias, está precisando — Era algo que queria falar há alguns
dias ao procurador 320, porque já estava cansado com suas exigências.
Samuel olhou fixamente para ele e jurou que, se não fosse um especialista e que precisava do
seu trabalho o quanto antes, teria dado um soco de direita para quebrar o seu nariz. Ele só
pensava em mandá-lo à merda.
— Espere minha ligação, procurador — Disse, dando meia volta e se dirigindo à área de
trabalho. Estava claro que o procurador não esperaria tanto tempo, mas não podia fazer mais
nada.
CAPÍTULO 22

Rachell não conseguia segurar a risada diante das piadas ruins, muito ruins, do seu ex, mas o que
causava graça era a maneira como ele contava, o entusiasmo que colocava nisso tudo. Tinha
prometido ser só seu amigo e, três dias depois, cumpria tal promessa, passava muito tempo na
butique e não causava problemas; ao contrário, ajudava em muitas coisas.
Sempre foi um homem realmente serviçal, atento, amável, qualidades que a cativaram no
passado e conseguiram que, entre eles, acontecesse uma relação maravilhosa. Nunca tiveram
discussões, nem mal-entendidos, a confiança sempre foi o eixo que manteve a relação. Podiam
dizer que eram feitos um para o outro.
Admirava a beleza no loiro, sua mandíbula imponente que arrancava suspiros nas mulheres, era
de fisionomia atraente, com olhos azuis deslumbrantes e um sorriso franco. Além desse ar de divina
arrogância que tinham os londrinos, mas que não era nada além de fachada, porque ele era o
homem mais amável na face da terra ou, pelo menos, que ela conhecia.
Embora estivesse perdida no oceano que eram os olhos do homem que tinha em frente, alguém
lançou um anzol vermelho, o Lamborghini a tentava a ir até a superfície. Atraía de maneira
desmedida, de um modo que não conseguia resistir e ali estava se aproximando ao que
provavelmente seria uma morte segura.
O sorriso se congelou e seu olhar se fixou no carro da prestigiada marca italiana estacionar na
sua frente. Samuel apareceu do nada, uma semana depois, chegava como se nada tivesse
acontecido, como se não a tivesse afastado, ignorando-a completamente.
Tinha se proposto a entender a situação que passava, mas ao vê-lo chegar com sua anatomia
perfeita, seu caminhar de que era o dono do universo e vestido informalmente, o panorama
mudava completamente e se sentia zangada ou doída, não sabia definir naquele momento as
emoções que a regiam.
Entrou e trocou umas palavras com Oscar e ela não conseguia desviar o olhar dele, fazendo
partícipe a Richard do seu objeto de atenção, enquanto tentava se manter impassível, não
demonstrar a onda que arrastava seus sentimentos, não sentir como as batidas do coração se
acoplavam aos passos de Samuel Garnett e que a sensação de abismo no seu estômago
ameaçava acabar com ela, diante do descontrole ao que se submetia involuntariamente. Começava
a suspeitar que o que esse homem despertava nela não era sadio, não era nada normal, porque
não entendia como podia atacar corpo e mente ao mesmo tempo.
— Bom dia — Abriu a porta sem pedir permissão e cumprimentou como se nada tivesse
acontecido, como se nada tivesse desaparecido por sete malditos dias.
— Bom dia — respondeu Richard para se fazer notar, mostrando um sorriso que refletia
supremacia, sentia que, nos últimos dias, tinha avançado com Rachell e não daria marcha à ré,
tinha notado a ausência do procurador e soube tirar vantagem disso. Não é porque surgiu do
nada que deixaria o caminho livre.
— Rachell, preciso falar com você; me acompanha? — Pediu com a mão na maçaneta e
embaixo do batente da porta.
— Agora estou ocupada, ligo mais tarde para você — respondeu e praticamente estava
mandando-o embora, mas era preciso que ele soubesse que não estaria disponível quando ele
quisesse, não dispunha do seu tempo como se ela fosse propriedade sua.
— Mais tarde não dá — alegou e com passos largos, entrava no escritório da estilista. —
Perdão — Pegou-a pelo pulso, obrigando-a a ficar de pé diante do olhar atônito de Richard
Sturgess.
Rachell ficou toda tensa e tentou cravar bem os pés no chão, fazendo-se o mais pesado
possível, com o olhar fixo em Samuel, exigindo que a soltasse, não queria fazer isso com palavras,
não em frente ao seu ex-namorado.
— Disse que agora não tem tempo para você, senhor Garnett — Disse Richard, ficando de pé.
— Não vou continuar com o diálogo pobre e desgastado de filmes, senhor Sturgess — Fez um
gesto de 'pare' com a mão, pedindo que não se metesse e, em um impulso, puxou Rachell para
junto de si, usou a força necessária e a carregou, colocando-a sobre o seu ombro.
— Samuel, me ponha no chão, não sou um saco de batatas — Tentou manter a compostura, de
não se alterar porque o que menos queria era uma briga no seu escritório.
Qualquer um poderia quebrar a mesa e não se importava se machucasse, o que se preocupava
sim era que não encontraria o mesmo desenho da exclusiva mesa de vidro.
— Você não pode se comportar como um homem das cavernas, é uma dama... Rachell, não sei
como você se envolveu com um homem tão vulgar, não é isso que você merece.
— E você, sim? Que anda por aí falando de coisas que um cavalheiro deveria esquecer e não
ficar esfregando na cara dos outros. —Provocou com um pouco de veneno para fazê-lo calar.
— Do que você está falando? — Perguntou Rachell, diante da reprovação de Samuel.
— Você não vai querer saber, não quero que deixe de tê-lo em um pedestal — Disse dando
meia volta e tirando-a do escritório.
— Você vai fraturar minhas costelas, Samuel, me ponha no chão... que vergonha! Tem clientes…
— resmungou, sentindo como se todo o seu sangue se concentrasse na cabeça pela posição e
fechou os olhos porque estava ficando enjoada.
— Sei que se eu colocar você no chão, não vai me acompanhar — Disse, descendo pelas
escadas e tendo cuidado para não a machucar. — Pela cliente, não se preocupe, estão
maravilhadas com o que estão vendo, elas acham romântico... Não era você a defensora do
romantismo?
— Imbecil… — resmungou, fechando os punhos e querendo bater nas costas. — Isto não é
romantismo, é barbárie.
— Não é o que sua clientela pensa.
— Quantas vezes eu vou ter que dizer que você não é Deus para saber o que as outras
pessoas pensam?
— Não tenho que ser Deus para saber o que as mulheres desejam.
— Pior ainda… — Podia escutar os cochichos e não se atrevia a abrir os olhos. — Você é o
cúmulo da arrogância.
— Chame do que quiser, já estou me familiarizando com suas lisonjas — Soltou uma meia
gargalhada que nela causou espasmos imperceptíveis. — Obrigado por tudo, Oscar — Empurrou
a porta e o barulho das ruas de Nova Iorque inundou seus ouvidos.
Sabia que era objeto dos olhares, dos assobios e de algumas buzinas de carro.
— Oscar… Como é que ele permite isto? Agora se converteu em Claus Von Stauffenberg —
Disse, referindo-se ao coronel que liderou parte do falido golpe de Estado chamado de Operação
Valquíria, em 1944, contra Adolf Hitler.
— Espero e não o mande fuzilar porque o que ele fez foi um ato humanitário — Disse,
colocando-a no carro sem abrir a porta, só deixando-a cair dentro. — Se você tentar sair, sabe
que vou perseguir — advertiu ao ver as intenções dela.
— Não preciso que me leve a nenhum lugar para conversar, não temos mais nada para falar,
disse que não faria perguntas, mas também não me parece justo o que você fez.
— Eu sei e ainda não vamos falar disso, sei que está brava comigo e tem toda razão.
— Você acha que tenho razões para isso? — Perguntou com sarcasmo e seu olhar captou
Sophia que saía da butique, vendo nela sua salvação, mas se foi à merda quando sua melhor
amiga, sua quase irmão, sua cúmplice, entregou sua bolsa a Samuel.
— Sim, antes que você pergunte, a resposta é sim, Sophia também me ajudou.
Rachell ficou surpresa, olhando para a ruiva, que encolheu os ombros em forma de desculpas.
— Sinto muito, Rachell, mas você vai me agradecer — Voltou à butique para não ser alvo das
reprovações da sua amiga.
— Bom, vamos... Onde paramos? — Perguntou com o olhar na garota e, porém, o Lamborghini
soava como um touro enfurecido, ela estava por responder, mas ele não deixou. — Ah, sim...
Estávamos falando que algumas vezes... Não, que na maioria do tempo, sou um idiota —
Aproximou-se e, antes que a garota pudesse reagir, deu um beijo nos lábios, só um toque de lábios,
mas foi suficiente para descontrolá-la. — Sou um imbecil, mas você vai ter que me aguentar, se eu
mudar, perderia grande parte da minha personalidade e deixaria de ser o homem que você gosta
— Roçou seu nariz contra o dela.
— Não suporto você, Samuel Garnett, é muito convencido — murmurou, sentindo que sua raiva
aumentava, mas também certo fascínio, aquele que a estava convertendo na maior das
masoquistas.
— Ah, disso você também gosta; ou vai negar? — Perguntou, afastando-se dela e saindo com o
carro, tinham avançado alguns quarteirões, quando manobrou com uma mão só o volante e
procurava na bolsa dela o celular, ao encontrar, entregou para ela. — Ligue para o seu ex e diga
para voltar para Londres, ele não tem mais nada para fazer aqui, para não perder tempo.
— Sinto muito, não vou fazer isso, não vou dar o gostinho, faça você, se quiser — Cruzou os
braços como uma menina malcriada, supondo que ele não teria coragem de ligar para Richard.
— Bom, então ligo eu — Procurou o registro de chamadas do telefone da garota, mais que
decidido a mandar o britânico à merda, seria algo que curtiria como nunca.
Rachell, ao ver que estava disposto a fazer isso, arrancou o iPhone da mão dele.
— Não vou fazer tudo o que você quer e, muito menos, vou permitir que aja em meu nome ou
que pegue as minhas coisas — Pegou a bolsa que tinha entre as coxas, mas uma péssima ideia,
porque, ao fazer isso, tocou com as pontas dos dedos na perna de Samuel e foi o suficiente para
ter descargas na barriga.
— Espere, Rachell, não tão rápido — Brincou, não podia deixar passar o pequeno acidente.
— Você acha que estou desesperada? Você não é o umbigo do mundo, Samuel, é melhor
entender logo isso.
— Sim, acredito, suas pupilas não mentem, você está desejando transar comigo — garantiu,
olhando-a fixamente, soltando malícia em suas palavras e atitude, ignorando o resto das palavras
de Rachell.
— Olhe para frente, você está dirigindo! —Fez um gesto exagerado para que prestasse
atenção no que estava fazendo.
— Não vamos bater o carro só porque olhei para você por alguns segundos… — fixou seu
olhar de fogo no decote dela—. Os seios, esse decote está bem exagerado... Fico imaginando o ex
tremendo.
— Se você vai ficar reprovando à minha maneira de vestir, vá tomar no cu... Não enche o saco
com a minha roupa, eu sei o que vestir — Disse, com decisão, odiava que alguém fizesse algum
comentário sobre a roupa que usava, talvez porque ela dependesse disso.
— Não estou reprovando, nem muito menos mudar seu estilo, só digo que você é um pouco cruel,
porque bem sabe que o pobre britânico tem ereções em seu nome e fica provocando... Isso, isso é
doloroso! — Exclamou divertido.
— É isso que faço com você? — Perguntou ela, lançando um olhar no meio das pernas do
brasileiro, com toda a intenção, levantou uma sobrancelha e umedeceu os lábios lentamente com a
língua.
— Não me provoque, Rachell, não me provoque porque quero me comportar bem — advertiu
sentido como sua glande começava a palpitar diante do seu olhar. — Estamos quase chegando —
Disse, enquanto virava à direita.
Passaram por uns três prédios e entraram no estacionamento subterrâneo de um deles, que
estava completamente escuro e, à medida que avançavam, Samuel teve que ligar o farol do carro
para se orientar, encontrou um lugar e estacionou. Rachell o viu tirar do bolso da jaqueta o que
era uma máscara noturna de veludo preto.
— Serão só alguns segundos — Disse ao sentir como ela ficou tensa quando ele se aproximou
para colocá-la. — Não vamos transar neste lugar — pronunciou em voz muito baixa, o que dava
um tom sensual que despertava o ardor na garota. — Vou cumprir sua fantasia de vendá-la em
outro lugar — Disse que sabia o porquê da sua rigidez e a deixavam completamente cega.
— Não sei o que pretende fazer, mas não é necessário, podemos falar olhando nos olhos.
— Sei que você quer falar — Disse com tranquilidade.
Rachell escutou um salto e jurava que ele não tinha aberto a porta do carro, mas sim saltado
por cima.
— Mas não vai ser agora... Não estou preparado, vai chegar o momento certo.
— Ahhh — Por instinto, soltou um grito quando a pegou de surpresa e tirou-a do carro.
Rachell agarrou no pescoço dele para não cair, embora soubesse que Samuel não deixaria, ele
caminhava e, nela, o olfato se intensificava, como também o tato. O aroma dele a enlouquecia, era
divinamente masculino, como também a textura da pele do pescoço, sentir suas veias palpitantes
contra as palmas das mãos criava nela abismos em que desejava se lançar.
— Você fumou —Não era uma pergunta, afirmava o que seu olfato sentia, era um cheiro
gostoso, com pouca nicotina.
— Faz meia hora, mais ou menos, fumo só quando estou nervoso, ansioso ou bravo — confessou
e parou. — Chegamos — Colocou-a no chão de pé e logo ela se equilibrou, nesse momento,
escutava como refletores ganhando vida, não conseguia ver nada; porém, tinha certeza de que o
lugar acabava de ser iluminado.
Samuel tirou a máscara e ela piscou várias vezes para se acostumar com a visão, ficou de boca
aberta involuntariamente diante da surpresa, que dava o maravilhoso Ford Thunderbird 1966.
— Não encontrei azul celeste, mas acho que o preto está bem bonito... Agora você decide com
qual papel vai ficar, Thelma ou Louise? Embora Geena Davis seja mais jovem e mais bonita, Susan
Sarandon é melhor atriz, então sou Louise.
Rachell não conseguia falar, estava muda, observando o clássico de um preto brilhante, mais
que preparado para uma viagem, porque no banco de trás havia várias coisas, entre elas, se
destacava a guitarra de Samuel, também havia uma bolsa que reconhecia porque era sua.
Ele foi até o conversível e pegou no banco uma câmera Polaroid, aumentando assim a surpresa
dela.
— Bom, feche a boca, que você não viu a Samara — Disse, referindo-se à menina do filme de
terror e suspense, O Chamado. — Sorria — Pediu, juntando-se ao corpo dela, deixando-a nas suas
costas e ficando na mesma altura.
Esse foi o ponto para que Rachell saísse do estado de choque em que estava; em um ato
reflexo, rodeou a cintura de Samuel com os braços e não teve que fingir o sorriso, a câmera
disparou e a foto apareceu. Ele a pegou, mas antes de que se revelasse, girou a cabeça e mordeu
suavemente o rosto, assim tirou outra foto.
Rachell não estava interessada nas fotos, não se comparado à vontade famigerada de dar um
monte de beijos nele, não o soltou; continuou agarrada a sua cintura e, com um desespero
apaixonado, deu um beijo atrás do outro no pescoço masculino, causando cócegas e excitação em
Samuel.
O brasileiro jogou a câmera e as fotos dentro do carro e se virou, levando as mãos ao rosto,
puxando-a para sua boca, com aquela rudeza ávida que nublava os sentidos da garota,
pousando seus lábios com firmeza sobre os dela.
Rachell abriu sua boca para recebê-lo, para fazer o beijo mais profundo, desejava sentir a
língua dele acariciar o interior da sua boca, senti-la enredando-se com a dela nessas tormentas
que despertavam a paixão; aquele músculo divino que penetrava nela com a sincronia perfeita
para fazê-la tremer, não só as pernas, mas todo o corpo, que a cada pulsação, a cada suspiro,
levava o nome dele. Definitivamente, tinha ficado viciada nos beijos de Samuel, no seu corpo, nele
por inteiro.
Em meio dos seus beijos e entre seus braços, perdia a noção do tempo e do espaço, ficando
presa numa bolha de prazer que não a deixava coordenar, por isso, não sabe como ele a havia
levado até o carro, até que sentiu se sentar sobre o capô do clássico.
— Não desapareça novamente… — Exigiu ela, com o peito agitado diante da respiração
forçada por causa dos beijos, aproximou-se e puxou com os dentes o lábio inferior de Samuel com
total intenção de provocá-lo.
Samuel, diante da tática dela, sorriu, ainda com o lábio prensado, atacou para beijá-la e ela se
afastou com um sorriso travesso, mas as mãos dele no seu pescoço a seguraram.
— Não fuja, covarde — Pediu, divertido, entrando no jogo dela.
Novamente se uniram em uma dança de sensualidade e sexualidade, com as respirações
alteradas e com seus corpos se aproximando cada vez mais de um estado de combustão, a força
de Rachell era menor, seu corpo era mais vulnerável, por isso, com uma das mãos, começou a subir
o tecido da saia, o quanto necessitava, expondo sua coxa direita, pegou uma das mãos de Samuel
e a guiou entre suas pernas, oferecendo-lhe o calor entre suas coxas; os dedos dele, como se
tivessem vida própria, começaram a caminhar, a se deleitar ao sentir a suave, morna e trêmula
pele contra as pontas dos dedos, querendo deixar suas impressões digitais em Rachell.
Estava morrendo por senti-lo, para que a fizesse saborear a glória e, com sutil insistência, movia
a mão dele por esse caminho perigoso, queria que chegasse àquele campo minado onde o simples
toque explodiria diante do prazer. Seu corpo se curvou involuntariamente ao sentir as pontas dos
dedos de Samuel roçar por cima do suporte, com uma paciência que começava a perturbá-la.
— Dissemos que não transaríamos aqui — lembrou, deixando o espaço necessário entre suas
bocas para separar os lábios trêmulos e esboçar as palavras.
— Isso foi você que disse, não eu — sussurrou Rachell, praticamente obrigando-o a manter a
mão de Samuel entre suas coxas ao grudar no seu antebraço.
— Eu faria, juro que faria você suar e pedir mais... Que suplique por mais, mas prefiro fazer
isso em um entardecer no Grand Canyon a céu aberto, até que a noite nos surpreenda — Disse
fixando suas pupilas nas dela.
Rachell ficou muda, não sabia o que dizer, nem sequer conseguia pensar, tentava coordenar e
esclarecer a ideia de que Samuel a estava convidando para ir ao Grand Canyon, em um carro
clássico, exatamente como era um dos seus maiores sonhos e que sabia que era impossível
conseguir. Embora ela não fosse pessimista, sim, era realista e sabia que encontrar o mesmo modelo
de carro e viajar não era um luxo que pudesse se dar.
Em um ato reflexo, levou as mãos e cobriu o rosto ao sentir as lágrimas inundarem seus olhos;
não queria derramá-las diante de Samuel. Sentia-se tonta, feliz e confusa.
O brasileiro a abraçou e ela enfiou o rosto no seu peito, enquanto tentava sufocar as lágrimas,
algo que era muito difícil porque, ao que parece, elas tinham mais força e, no meio de suas
emoções desatadas, teve consciência do que até o momento não tinha se dado conta.
— Você mexeu nas minhas coisas, você é um bisbilhoteiro — Não conseguiu segurar um soluço
que estava preso na garganta, porque não foi por casualidade que ele havia contratado uma
professora de italiano e, muito menos, o seu sonho de viajar ao Grand Canyon por conta própria
em um carro clássico.
— Foi você que me trancou no seu closet — respondeu, deixando o abraço ainda mais
confortante e dando um beijo terno no cabelo. — Não chore... Não é para tanto, Rachell.
— É que eu não posso ir, não solucionei nada. Quem vai ficar na butique? — Sabia que não
podia deixar seu negócio de uma hora para outra.
— Tudo isto já está solucionado. Portanto, não se preocupe, deste estacionamento só saímos com
um único propósito: chegar a Chicago e pegar a antiga Rota 66. Sophia e Oscar ficaram
responsáveis pela butique, há duas garotas mais que vão ajudar. Você só tem que dizer se está
disposta a cruzar desertos, parques incríveis, estradas solitárias para acabar nas praias da
Califórnia. Se discutirmos, você não vai poder voltar a pé e terá que me aguentar dia e noite.
Rachell levou as duas mãos ao rosto de Samuel e, em um movimento rápido, apoderou-se da sua
boca, tentando esconder as lágrimas de felicidade que tinha feito derramar e que, apesar do
íntimo contato entre os dois, não deixavam de brotar, tendo que suspender o beijo depois de
segundos para liberar um ou outro soluço que atravessava a garganta.
— Definitivamente isto é um sim — Disse Samuel, obrigando-a a olhar nos olhos e sorrindo
docemente, limpou as lágrimas com os polegares. — Agora pare de chorar porque já borrou sua
maquiagem, parece que foi fazer casting para um filme de terror japonês.
— Tonto! — Exclamou com um sorriso nervoso por causa das lágrimas de felicidade e batia no
ombro.
— Bom, não vamos perder mais tempo, porque vamos fazer algumas paradas.
De um salto, Rachell desceu e, antes que Samuel pudesse abrir a porta, ela o fez e subiu com o
entusiasmo que a embriagava. Seu olhar percorria o interior do carro e, como se tivesse a máscara
noturna que limitava a visão, começou a acariciar o estofamento, temendo que só fosse um sonho e
que podia acordar a qualquer momento.
Gravava cada segundo para a eternidade, enquanto, no seu peito, o coração saltava como uma
animadora de torcida. Nunca tinha tido aquela sensação de que o rosto doía por manter um
sorriso por tanto tempo.
Samuel subiu no carro e ligou-o de primeira, aumentando a emoção em Rachell, ele a admirou
por vários segundos e pegou sua mão, recebendo como resposta a energia no aperto e aquela
sensação fez o coração chegar na garganta, perdido no olhar brilhante da felicidade de Rachell,
esquecia toda a angústia e toda dor que tinha vivido nos últimos anos. Definitivamente era um
alívio a tanta tensão e que realmente precisava para poder seguir em frente.
Sem pensar, levou a mão dela aos lábios e deu vários beijos na palma da mão, sem desviar o
olhar dela, que sorria como se fosse uma menina e, certamente, isso era Rachell, com apenas 23
anos, não podia ser muito mais, só que mantinha perfeitamente a máscara de "Eu sou uma mulher
independente que pode com tudo e não preciso de mais ninguém".
— Preciso fazer umas ligações — Informou, procurando no bolso da jaqueta o celular e ela
concordou em silêncio.
Samuel ligou para um dos guarda-costas, que atendeu quase imediatamente.
— Logan, estou saindo, deixei o carro onde combinamos, em alguns minutos, pode ir buscá-lo.
— Sim, senhor. Imediatamente vou buscá-lo… — O homem titubeou um pouco porque não
achava prudente perguntar, mas, no seu caso, a necessidade falava mais alto. — Senhor, desculpe
meu atrevimento, mas conseguiu falar com o juiz?
— Sim, aconselhou que fosse visitá-lo e leve sua esposa para que o conheçam e fiquem
familiarizados com o menino, já que, em grande parte, vai depender dele quem vai ficar com sua
custódia. Aproveite estes dias livres.
— Obrigado, senhor. Muito obrigado, de verdade — Deixou claro o alívio e a emoção que o
embargava. — Nesta tarde mesmo, passarei para visitá-lo e levarei algumas coisas.
— Diga que tive que viajar — Disse Samuel, sorrindo, deixando apenas Rachell ver seu gesto.
— Com muito prazer, senhor... Boa viagem.
— Obrigada — Finalizou a chamada e procurou o registro para ligar para Thor.
— Já estão indo? — O loiro atendeu com a pergunta.
— Sim, estou saindo, espero que se comporte, Thor...
— Está bem, sim, Reinhard… Vou destruir o apartamento, é a primeira vez que se preocupa,
antes nem ligava — Disse divertido.
— Não, é só para você não ficar transando na minha cama...conheço você.
— Primo, tranquilo, inspire, expire... A próxima viagem será para a Índia, para ajudar a
canalizar esse mau humor, embora ache que Rachell vai dar conta.
— Não tenho dúvidas disso — Disse, olhando para a garota ao seu lado. — Bom, já chega,
não vou ficar perdendo tempo com você, tenho um longo caminho pela frente.
— Sei que será uma viagem no meio do pó — Disse, rindo e que Samuel entendeu a mensagem.
— Boa viagem, primo — Desligou, sem esperar nenhum comentário.
Samuel soltou Rachell e levou sua mão à nuca da garota, puxando-a até ele, deu um beijo
violento, praticamente ia comê-la com a boca e ela pretendia deixar com o maior dos prazeres.
— Não vamos discutir, porque não pretendo voltar a pé, não com estes sapatos, então prometa
ser compreensivo — Pediu, deixando sua respiração sobre os lábios de Samuel que,
imediatamente, deu uma olhada nos sapatos da garota.
— Não vou discutir, sempre e quando você não me procurar... Poderia tirar os sapatos, ninguém
perceberia que está descalça.
— Agora estou bem, mas se não arrancar logo o carro, vou assumir o volante.
— Você terá oportunidade de dirigir, mas não agora — comunicou e o carro começou a andar,
dando início à apaixonante viagem que os esperava.
CAPÍTULO 23

Depois de oito horas de viagem parando só para comer, já acontecia a primeira discussão. Rachell
falava que queria se hospedar em um motel de estrada, porque queria que tudo fosse exatamente
como tinha imaginado, e Samuel dizia que era impossível dormir naquelas camas, preferia um hotel
cinco estrelas, aproveitando que havia um a uma curta distância.
— Perfeito, quem ganhar escolhe onde ficar — Disse a garota levantando uma bandeira
branca na discussão; ela estava sentada sobre os calcanhares e descalça, tinha feito um coque no
cabelo.
— Está bem. E como vamos decidir? — Perguntou Samuel, que tinha tirado a jaqueta jeans e só
estava de camiseta branca com gola em V.
— Pedra, papel ou tesoura — Disse Rachell, com toda a seriedade que tinha.
— Pedra, papel… — Não conseguiu segurar a gargalhada.
— Você tem medo que eu ganhe? — Perguntou ela, sorrindo.
— Não, só que isso é um absurdo... Escolher um hotel por meio de um jogo tão bobo — Disse,
sorrindo.
— Não é bobo e se voltar a falar que falo bobagens, quebro seu nariz — soltou uma divertida
ameaça, enquanto batia no seu ombro.
— Está bem, vamos jogar, mas eu ganho, com certeza — Disse, colocando o punho fechado
sobre a palma da sua mão.
— Bom... Pedra, papel ou tesoura — Rachell começou o jogo. E os dois mostraram suas armas
ao mesmo tempo. — Ganhei a primeira de três — Informou, quando ela tirou papel e ele, pedra.
— Pedra, papel ou tesoura. — Desta vez, Rachell tirou pedra e Samuel, tesoura. Outra vez, a
garota ganhava. — Paramos por aqui, eu ganhei, é melhor de três.
— Não, vamos até o final. Se eu ganhar esta, fazemos a revanche.
— Está bem, você não gosta de ceder em nada... — Rachell se preparava mais uma vez. —
Pedra, papel ou tesoura.
— Caralho! Inferno! — Exclamou Samuel, quando ela tirou tesoura e ele, papel.
— Vamos ficar em um motel de estrada! — Gritou, sentindo-se ganhadora e levantando os
braços com energia, comemorando sua vitória. — Não me olhe assim porque não teremos
revanche.
— Não tenho opções? — Perguntou, soltando um suspiro e colocando o carro em movimento
para avançar as poucas ruas que os separavam do motel.
— Não, não tem — Disse, um largo sorriso.
Samuel parou no estacionamento que estava praticamente na estrada, desceram e ele fixou os
olhos em uma das letras do letreiro de neon queimada, sentindo-se completamente contra, mas não
podia fazer nada, tinha perdido. Enquanto Rachell caminhava descalça e eufórica, levando sua
bolsa em uma mão e os sapatos na outra.
Samuel levava uma mochila que tinha algumas coisas pessoais e a guitarra, pois nem era louco
de deixar dentro do carro; quando o comprou na loja de Wes Borland, já tinha o seu autógrafo
gravado.
Ao entrar na recepção, estava vazia e Rachell tocou a campainha.
— Sempre quis fazer isto — Disse, emocionada, e chamou mais uma vez. — Temos ainda uns
quinze motéis no caminho, né? Ou seja, terei quinze oportunidades para fazer isto.
— Temos uns vinte, mas você só vai ter esta oportunidade hoje, amanhã ficamos em um lugar
melhor... Olhe isto, Rachell, é um muquifo — Disse, em voz baixa, dando uma olhada geral no lugar.
— Samuel Garnett, não é para tanto. Lembre-se que eu ganhei.
— Por esta noite — Disse.
— Por toda a viagem — Disse e, novamente, tocava a campainha. — Esqueci de falar essa
parte — Virou para ele e soltou meia gargalhada ao ver como fazia uma involuntária careta. —
Não faça essa cara — Pediu e se jogou em cima dele, ficando na ponta dos pés, passou os braços
pelo pescoço, enquanto Samuel mantinha as mãos ocupadas e o beijou várias vezes, com divertidos
toques de lábios. — Prometo que farei você se sentir muito bem esta noite, vai ver que não precisa
de hotel cinco estrelas. Você vai se sentir no paraíso.
— Acho que o lugar já está ficando um pouco melhor — Disse, dando uma piscadinha e
correspondendo aos beijos dela.
O som de quando alguém limpa a garganta estourou a bolha em que se encontravam. Rachell
se afastou bruscamente de Samuel, desviando o olhar e dando um sorriso para o homem obeso, de
olhos azuis e que, em sua juventude, quando tinha cabelo, devia ser loiro; ele sorria de maneira
amável.
— Bem-vindos — Seu tom de voz inspirava confiança e amabilidade.
— Obrigada, senhor, há algum quarto de casal disponível? — Perguntou Rachell, aproximando-
se do balcão.
— Sim, senhoria, posso oferecer o melhor que tenho.
— Bem, sim, por favor… Só por esta noite, estamos de passagem.
— Então, só uma noite, o horário de saída é ao meio-dia — Informou e ela concordou
entusiasmada. — O pagamento é adiantado — Disse, quase com pena, como se não gostasse
dessa parte do trabalho.
— Sim, claro… — Disse Samuel, colocando a guitarra e a mochila sobre uma das cadeiras de
metal, para procurar sua carteira de cartões de crédito.
O homem, com um sorriso, pegou o cartão e o documento de identificação de Samuel.
— Se vocês estão pensando em fazer a Rota 66, podem pegar um dos mapas, são cortesia do
hotel — Mostrou os mapas que estavam dobrados ao lado de uma pequena estante com algumas
guloseimas.
— Obrigado, acho que nos ajudará bastante — Disse Rachell, pegando um.
— Estão indo em lua-de-mel? — Perguntou, enquanto esperava aprovação do banco.
— Não — explicou Rachell
— Somos namorados — Disse Samuel ao ver que o olhar do homem passava de Rachell para
ele.
Pela primeira vez, dava uma denominação ao que eram e não foi tão difícil quanto tinha
imaginado, foi quase espontâneo. Porém, não tinha coragem para olhar para Rachell ao seu lado
que, ao que parecia, estava na mesma situação; por isso, os dois olhavam para o homem, que deu
um sorriso e deu meia volta para pegar as chaves que estavam penduradas em um tabuleiro.
— Aqui estão as chaves, é o quarto 18, está equipado e limpo, os consumos realizados não
estão incluídos no preço do quarto — Informou, para evitar qualquer mal-entendido.
— Obrigada, o senhor é muito amável — Disse Rachell, pegando as chaves e dando um largo
sorriso para o homem. Era a maneira mais viável de expressar a emoção que tinha.
— Obrigada — Samuel estava mais sério, enquanto pegava a mochila e o guitarra.
Ao chegar no quarto, a garota acendeu as luzes e um quarto com decoração oitentista dava as
boas-vindas. Sem pensar, Rachell soltou a bolsa e os sapatos, saiu correndo e se jogou na cama.
— É espetacular. Adorei! Adorei! Exatamente como imaginei... Sempre que assistia a
Supernatural, me perguntavam se eram iguais ou tudo era cenário e são idênticas, agora me sinto
dentro da série.
— Não somos mais Thelma e Louis, agora somos caçadores com fixações sexuais por anjos e
demônios — Disse o brasileiro, jogando a mochila de lado; com cuidado, colocava a guitarra sobre
um divã e seguia até a porta que levava ao banheiro. — Não era o que esperava... Queria
chegar em um quarto que, pelo menos, tivesse uma jacuzzi, algo que nos ajudasse a relaxar um
pouco — Ao abrir a porta e ver que só tinha uma banheira de metal.
Rachell ficou de pé e encurtou a distância até ele, pegou sua mão e o arrastou para o lado da
banheira.
— Eu posso fazer o trabalho de qualquer jacuzzi — Disse e, com sua mão livre, abriu a
torneira, enfiou a mão embaixo do jato de água para ver a temperatura. — Está morna, isso vai
ajudar bastante — Com avidez, começou a subir a camiseta de Samuel e ele ajudou a tirar,
enquanto Rachell abriu a fivela do cinto, o botão e o zíper da calça jeans que o brasileiro usava,
arrastando a cueca junto.
Samuel, com a ponta dos pés no calcanhar, tirou o Converse que usava para, depois, tirar as
meias. Admirava como Rachell começava a se despir, tirando só a blusa cor ameixa que usava,
mostrando ao jovem os seus seios cobertos por um sutiã da mesma cor.
— Entre e, assim, você já vai relaxando — Pediu, tirando os acessórios e dirigindo-se à
pequena pia, deixando as coisas na bancada e verificando se o secador funcionava.
Depois de constatar que podia utilizar o secador, começou a se despir e observou pelo espelho
como Samuel, desde a banheira, não tirava os olhos do que fazia. Isso despertava nela tremores
na barriga e ansiedade entre suas coxas, sabia que era impossível esconder o poder que tinha
para excitá-la só com o olhar, quando seus impactantes mamilos se endureciam.
Mas, para não se sentir tão perdida e para ele não saber que tinha tanto controle sobre seu
corpo, cobriu os peitos com o cabelo, tentou parecer casual e girou, caminhou e, a cada passo que
dava, seu corpo aumentava de temperatura. Sabia que acabariam transando, era algo que tinham
desejado todo o dia, mas ainda custava mostrar-se vulnerável e ansiosa diante de Samuel.
Rachell se aproximou e ele, como um gato curioso, não parava de olhar para ela. Gostava de
apreciar a vista do corpo perfeito da garota, estudar cada centímetro da sua anatomia, sentindo-
se deslumbrado pela sua pele lisa e nívea, quase, quase virgem. Só a tatuagem, que o incitava e
despertava suas mais baixas paixões, decoravam o quadril, com o cabelo cobrindo seus peitos,
era sua Eva, pela qual, com gosto, pecaria; iria ao inferno sem o menor arrependimento.
A garota elevou a perna para entrar na banheira e colocar-se atrás dele, que inclinou a
cabeça para poder olhar sua pequena sorridente.
— Samuel! Não seja tão pervertido, voyerista — repreendeu em um ataque de pudor, ao ver
como ele, sem o mínimo decoro, espiava entre suas coxas; levou as mãos à cabeça e afundou para
ver se a água tirava seu lado pervertido.
— Você é arte. O que quer que eu faça? — Disse, sorrindo, ao sair à superfície.
— É melhor me passar a esponja — Pediu, sabendo que não ganharia.
Samuel pegou o pacote com a esponja e abriu para passar para Rachell, que pegou o
sabonete líquido.
Depois de alguns minutos, estava esfregando costas, ombros e braços de Samuel, tentando
eliminar o cansaço, já que tinha dirigido por oito horas, deveria estar esgotado e soube que não
estava enganada quando ele relaxou sobre seu peito e fechou os olhos.
Ela acariciava com esmero o peito e se perdia na respiração compassada dele. Nunca, em sua
vida, ela tinha se sentido tão bem, tão cheia de paz e tranquilidade, no pequeno banheiro, só se
ouvia o barulho da água e da respiração dos dois.
— Vamos dormir — Pediu ela, murmurando, fazendo-o ficar de pé.
Samuel saiu da banheira, pegou a toalha, colocou ao redor do quadril e, com a outra mão, se
aproximou de Rachell, estendeu para ela para, depois, envolvê-la no tecido de pano branco e
ajudou-a a sair.
Ao terminar de escovar os dentes e Rachell secar um pouco o cabelo, foram para a cama, que
deu as boas-vindas e os prendeu em um sono profundo.
O cansaço nos dois era mais forte que a vontade de se entregar ao prazer. Vencidos, dormiram
as horas necessárias para renovar o organismo e recuperar as forças.
O corpo de Rachell se contorcia involuntariamente e um gemido de prazer escapou da sua
boca, arrancando-a dos braços de Morfeu de modo abrupto e transportando-a à mais prazerosa
realidade, ao sentir a língua passear languidamente pela sua vagina, suas coxas sobre os ombros
de Samuel e ele, bebendo dela, levou as mãos à cabeça dele para constatar que era real e que
não estava tendo um sonho úmido.
Bendita maneira de acordá-la! Venderia sua alma ao Diabo, desde que fizesse aquilo todos os
dias.
Gemidos se desprendiam da sua garganta e sua pélvis se movimentava ao ritmo da língua de
Samuel, acoplando-se à necessidade de ser saciada, à necessidade de explodir, mal conseguia
abrir os olhos, enquanto puxava os cabelos do brasileiro ou agarrava os lençóis. Não conseguia
falar pelo gozo que dificultava a maioria das palavras.
Os dedos dele abrindo suas pétalas, abrindo espaço para beber o seu néctar só a deixavam
mais líquida; a respiração forçada e quente dele chocando e se afogando nela aumentavam o
delírio.
— Sam! — Gritou longamente, quando ele puxou com seus lábios o clitóris e, com isso, fez os
pulmões de Rachell gemer e o seu corpo estava todo tenso para suportar as sacudidas e não
acabaram por desmoroná-la. Repetia várias vezes, ia enlouquecê-la, matá-la de prazer. — Por
favor… — suplicou, sentindo que as descargas elétricas percorriam todo o seu abdômen cada vez
que puxava esse ponto tão sensível.
Estava naquele ponto de não sentir ou sentir muito, com vontade de parar de chupar daquela
maneira e a mesma vontade para que não parasse. Afastava-o, puxando pelo cabelo, mas, em
seguida, o levava novamente a sua vagina, fundindo-se nela, assim como sua pélvis parecia onda
que, iminentemente, quebrava contra a rocha, movia-se em busca do prazer.
Samuel aspirava as tremidas de Rachell, enquanto sua boca sabia o que fazia, ziguezagueava
com sua língua veloz naquele botão que a enlouquecia e deslizava uma de suas mãos pelo torso,
sentindo-a trêmula, agitada, suando, até agarrar um dos peitos, que moldava, massageava,
cobria-o por inteiro ou, simplesmente, com seus dedos, mimava o mamilo.
Rachell morria e subia ao céu, seu corpo se arqueava como se a sua alma, naquele momento, a
abandonava, a essência se desprendia da matéria, o cérebro parava de funcionar, o coração
parava as pulsações e um grito sufocado e longo retumbava no quarto, quando Samuel mordia,
com a pressão exata, o monte de Vênus, fazendo-a voltar outra vez à Terra, tendo consciência de
que já era dia, porque a luz iluminava o quarto.
Samuel subiu pelo seu corpo, roçando-a com o queixo, dando a maravilhosa sensação de
aspereza de sua barba de dois dias; passou pelo seu torso trêmulo, pelo meio dos seus seios e ela
tentava manter o olhar.
Maldito olhar felino que a enlouquecia! Fixou a vista na boca de Samuel, que deixava claro o
que tinha feito; seus lábios vermelhos e um pouco inchados pela pressão que tinha causado na sua
vagina.
— Bom dia — Disse, com um sorriso, e o tom de voz que utilizou era mais excitante que
qualquer coisa.
— Para mim, foi magnífico — confessou, sorridente, e passou seus braços pelo pescoço de
Samuel.
Elevou um pouco a cabeça e se sufocou em um beijo que não foi interrompido até que
precisaram liberar o gemido que estava preso nas gargantas quando ele a invadia, quando se
embutia nela, segurando a respiração para, depois, respirar o mesmo hálito.
Alimentando-se de gemidos e respiração ofegante, fundindo beijos e olhares, ela grudava com
força na bunda de Samuel, sentindo com mais precisão o ritmo e a velocidade de suas
penetrações. Ele se prendia no quadril dela para uni-la mais ao seu corpo, sentindo como seus
abdomes se chocavam, reproduzindo o som da luxúria e do prazer.
— Rach… Gosto de sentir você assim, tremendo entre meus braços, de prazer... De loucura...
Meu Deus! Você é perfeita em todos os sentidos — murmurava contra os lábios dela, sem deixar
de se movimentar dentro e fora e seus lábios travessos percorriam o rosto avermelhado, até
chegar ao ouvido. — Quero fazer isso o tempo todo com você... Nunca tinha desejado tanto outra
mulher… — Desceu e, com a boca, apoderou-se de um dos peitos agitados de Rachell.
Ela não encontrava palavras, não saíam, só repetia o nome dele várias vezes. Já tinha feito um
corpo no meio dos gemidos, que se intensificaram e se converteram e respiração intensa quando,
novamente, estava por entrar no Paraíso.
Segundos depois, ele se derrubou completamente em cima dela, sentindo-se satisfeito, liberado e
cansado, mas era esse desmaio que não cansava de experimentar.
Vencido, espero que o coração diminuísse a intensidade das batidas, que o seu corpo trêmulo
recobrasse um pouco de estabilidade e, embora estivesse tentando se recuperar, de vez em
quando, seus lábios buscavam os de Rachell, que correspondia; talvez sentindo o mesmo desejo
para seguir. Liberou seu peso e sentou na cama, encostando na cabeceira, pegou um dos
travesseiros e colou sobre suas coxas, convidando-a para deitar.
Rachell descansou a cabeça no travesseiro e fixou seus olhos no rosto sorridente do brasileiro e,
instintivamente, brincava com a linha de pelos que adornavam a parte baixa do umbigo, puxando-
os com parcimônia.
— Fiquei bem surpresa com essa maneira incrível de me acordar — Fixou seu olhar no dele.
— Você que me ensinou a fazer isso; lembra que uma vez você me acordou assim também?
— Pensei que tivesse esquecido. Você falou que é muito ruim para lembrar das coisas.
— Datas... Não presto atenção em datas, mas é impossível esquecer alguns presentes,
principalmente quando são feitos com tanto esmero — E, arrastado por uma ternura que nem ele
mesmo sabia que tinha, acariciava uma das sobrancelhas com o polegar.
— Você não acha que o dia está mais bonito? Está perfeito, faz calor — Percorreu o quarto
com os olhos.
— Se você está dizendo... Mas tenho que admitir que a cama não é incômoda e tudo o que
preciso está nela, o resto não importa — afirmou, admirando como Rachell estava lindo com a luz
do sol banhando seu rosto.
— Eu acho que importa sim, faz o ambiente, mas você está acostumado ao luxo, por isso, é tão
ególatra.
— Pensei que também estava acostumada ao luxo e que não gostaria daqui — Desculpou-se,
pensava que era só um capricho de Rachell.
— Pois achou errado, porque, sim, gosto e nem toda a minha vida estive acostumada ao luxo —
Antes que ele perguntasse sobre o comentário que acabava de fazer, apressou-se em mudar de
tema. — A que horas vamos sair? — Deu uma olhada fugaz ao relógio em cima da mesa e deixou
sua cômoda postura sobre as coxas de Samuel para pegar sua bolsa que estava do lado do
relógio.
— Em uma hora, mais ou menos; vamos nos recuperar um pouco e saímos — Disse, ao sair da
cama.
Rachell pegou seu iPhone e foi verificar as chamadas perdidas, mensagens instantâneas de voz
e e-mails.
Samuel foi até o frigobar que estava à disposição dos hóspedes do motel e pegou duas
garrafas de água, abriu uma e começou a beber.
A estilista aproveitava a vista do brasileiro de costas com seu maravilhoso corpo abrilhantado
pelo suor e o sol, contra a luz, deixava-o perfeito, quase dourado. Não a deixava se concentrar
no que estava fazendo com o celular; uma ideia passou pela sua cabeça e não perdeu a
oportunidade de tirar uma foto. Ele aparecia com a garrafa nos lábios, dando um grande gole.
“Não tem enchimento” Foi esse o nome que deu à foto e, sem se importar com o que as pessoas
iriam pensar, publicou no Instagram, já que tinha achado lindo o efeito da luz da manhã sobre o
corpo de Samuel. Tinha certeza que Sophia iria ver e não se enganou, quando quase
imediatamente recebeu o primeiro comentário.
Ele foi seu café-da-manhã? Que bela bunda tem o procurador. Pobrezinho, você o deixou com sede.
Não tem enchimento!
Ela não conseguiu segurar a gargalhada e girar sobre seu corpo como se fosse uma menina.
— Aconteceu alguma coisa? Qual é a piada? — Perguntou Samuel, dando volta e segurando a
garrafa com água que tinha pego para ela.
Antes que Rachell pudesse responder às perguntas de Samuel, a fotografia ganhava mais um
comentário e, desta vez, era de uma cliente com quem tinha um bom relacionamento.
Monumento!
— Só que você está causando furor no Instagram — Disse, mostrando a foto.
— Você está mostrando minha bunda para meio mundo? — Perguntou, surpreso, caindo sentado
na cama.
— Você é arte, meu amor. O que quer que eu faça? — Perguntou, sorrindo, devolvendo o que
passou na noite anterior.
Samuel só a olhou nos olhos, suas pupilas dançavam com as dela. Não conseguia evitar o
sorriso; seu coração irreverente explodiu em pulsações e em uma mistura de cócegas e vazio, que
ele considerava idiota, invadiram seu estômago, enquanto segurava um pouco mais, só um pouco
mais, o louco impulso de beijá-la e tudo isso, todo esse descontrole tinha sido causado pela
pronúncia de "meu amor".
Talvez se ela conseguisse interpretar seu olhar, conseguiria entender o que estava acontecendo.
Rachell começou a se sentir nervosa diante do olhar insistente, por isso, preferiu se afogar com a
água, enquanto pensasse em algo que a fizesse sentir mais segura e, então, lembro de algo que
esteve dando voltas na cabeça por alguns dias e, até que, em certo ponto, a fez sentir incômoda e
insegura como uma garota de dezenove anos.
— Posso fazer uma pergunta? — Perguntou, tampando a garrafa, colocando de lado e
pegando o lençol para se cobrir.
— Pode fazer, mas já sabe a regra — respondeu, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e
entrelaçando seus dedos na testa.
— Sim, sei que se não quiser, não vai responder.
— Só se não puder… — respondeu, olhando nos olhos e o coração batia forte e doído diante
da angústia, porque tinha certeza que Rachell ia perguntar pela sua atitude na noite em que foi
até o seu apartamento, perguntaria porque tinha chorado como um menino.
— O que acontece entre Megan, Thor e você? Por que você ficou bravo com o Thor quando ele
a convidou para o polígono naquele dia? — Começou seu questionário, aquele que a tranquilizaria
ou, ao contrário, a deixaria ainda mais inquieta.
— Eu não estava bravo…
— Sim, estava, Samuel — interrompeu, antes que desse uma desculpa idiota. — Deu para
perceber, você ficou bravo com seu primo por ela.
—Você tem algo contra Megan? —Perguntou ele, perdendo-se no seu olhar.
— Não sei, me fale você. Eu deveria ter algo contra Megan? — Evitou a todo custo falar o
nome de Henry Brockman.
— Não, bem, acho que não.
— Você gosta da Megan? — Perguntou à queima-roupa, olhando fixamente nos olhos, sentindo
que uma raiva inexplicável se apoderava dela.
— Não! Claro que não gosto, ela só é simpática — se contradisse quase imediatamente.
— Só é simpática?… Não sei. Você poderia ser mais específico porque, para você ter ficado
tão bravo ao vê-la com seu primo, não é um simples "Ela é simpática". Não vou ficar brava, se é o
que você pensa.
— Já está ficando brava — indicou com segurança.
— Não estou, só tenho curiosidade — Desviou o olhar para o teto, diante da mentira que
acabava de soltar. Estava brava, muito brava.
— Bem, então vou satisfazer sua curiosidade — Aproximou-se em busca de um beijo, só com a
intenção de testá-la e teve o resultado esperado, porque ela se afastou. — Não gosto da Megan...
Faz alguns minutos, enquanto transávamos, eu falei que nunca tinha desejado tanto outra mulher e
não foi no momento de excitação, enquanto acabava. Isso me acontece em cada maldito segundo
do dia, esteja embaixo ou em cima do meu corpo. Esteja ou não presente. No dia que eu não
quiser nada com você, direi na cara. Embora a veja sofrer ou chorar, farei. Porque é melhor
terminar as coisas em tempo e evitar danos maiores, mas não é isso que eu quero fazer. Quero
estar com você, comer, dormir, tomar banho, transar e até brincar com você... Você quer que eu
seja mais sincero que isso? Não... Não dá para ser mais sincero. Tenho carinho por Megan, a vejo
como uma menina. É você que vejo como mulher. Sim, fiquei bravo com Thor. Sei que Thor é meu
primo e o amo... Mas que meu primo, é meu irmão, meu cúmplice, toda a vida juntos, mas sei que é
um canalha com as mulheres e está iludindo a Megan.
— E você? — Perguntou em voz baixa.
— Eu o quê? — Questionou ao não entender a pergunta.
— Você não é um canalha com as mulheres?
— Não como Thor... Não consigo... Quando ele se cansa de uma mulher, descarta drasticamente,
não se importa... Abandona sem a menor explicação. Eu, pelo menos, trato com mais tato, faço-as
entender que não quero nada sério com ninguém. Talvez você se assuste e queira me largar agora
mesmo, mas se quiser me conhecer, vai ter que me aceitar desse jeito desgraçado que sou, caso
contrário, ainda estamos em tempo para voltar e poderia continuar com a sua vida, eu poderia
continuar como estava... tentaria, pelo menos — murmurou as últimas palavras que saíram.
Rachell o olhou em silêncio e sim, queria pedir para voltar, que ela continuaria sua vida, mas as
batidas do coração não a deixaram falar, seus nervos e músculos não respondiam.
Não conseguia ficar de pé e afastar-se de Samuel. Era como se algo a obrigasse a ficar
naquele lugar, mesmo sabendo do risco que corria, de que ele poderia deixá-la a qualquer
momento. Faria "com tato", mas faria.
— Megan não é uma menina… — Suas palavras murmuradas conseguiram sair pelo grande
redemoinho que girava na sua garganta e deixando claro que o comentário dele tinha
perturbado.
— Sei que não é, mas eu não consigo vê-la de outra maneira... Conheço as mulheres e já vi
como ela olha para ele. Está se iludindo com Thor. Ele é um lobo e pode perfeitamente se camuflar
de ovelha... Ela se apaixonaria e ele só a machucaria. Tenho medo do que possa acontecer depois.
— Ela pode tomar suas próprias decisões, sabe os riscos que corre ao estar com um homem de
vinte e seis. Talvez só queira experimentar e pronto.
— Megan é instável... é um pouco vivaz, mas não é uma garota que tem autoestima como a sua
ou de uma mulher normalmente segura. Sei quais serão as saídas que buscará se ela se apaixonar
por Thor e ele a abandonar.
— Talvez chorará alguns dias, mas não vai se suicidar, se é o que você está pensando... Acho
que está imaginando coisas, nem que fosse tirar sua virgindade — Disse, tentando fazê-lo
entender que Samuel estava exagerando.
— Isso é o que Thor quer, já é um capricho...
— Ela é virgem! — Exclamou Rachell assustada e levantando-se bruscamente, mas, depois de
um minuto para processar a informação, ela perguntou. — E como você sabe? — Deixou no ar a
desconfiança.
— Eu não toquei nela... Só disse que a vejo com uma menina, mas está claro, dá para ver à
distância... Por acaso você não vê que ela parece mais uma menina de oito do que dezenove anos.
— Seu primo é um pedófilo... Já estou com medo de me aproximar dele.
— Thor não é má pessoa.
— Sim, supõe-se que devo acreditar depois de tudo o que me disse.
— Ele só gosta de brincar, não leva nada a sério... Nem sequer sossegou quando eu falei que
Megan tentou se suicidar em duas ocasiões — Já era muito tarde para segurar as palavras.
— Caralho! Isso é grave, já é iterativo — Reagiu, depois de alguns segundos com a boca
aberta diante da notícia.
— Supõe-se que eu não tinha que ter falado isso — Disse, colocando as mãos no rosto, ao se
dar conta do que tinha falado sem pensar.
— Não penso em pegar um megafone e sair por aí contando para todo mundo... Guardarei
segredo... Talvez deveria falar com ele com modos e deixar de lado essa pantera com raiva.
— Eu já falei com boas maneiras, mas ele só me pede para confiar... E ele sabe que isso é
impossível para mim. Sou malditamente desconfiado, Rachell... Não sei confiar, não consigo, sempre
vejo o lado negativo das coisas.
— Comigo também? Você só vê meu lado negativo? — Perguntou, sentando-se sobre o
calcanhar.
Samuel lentamente abaixou as mãos diante das palavras de Rachell, dando-se conta naquele
momento de que, com ela, era diferente. Nem sequer tinha parado para pensar, não tinha feito
comparações do seu comportamento com ela.
— Não sei... Só sei que você é a única pessoa que já me viu na merda. Eu tinha vergonha,
Rachell, não tinha cara para olhar para você, por isso, me afastei, fui embora... Não quero que
pense que eu sou um boiola que chora por qualquer coisa — Disse, sem se atrever a olhar para
ela.
— Não é o que eu penso... Samuel, só me preocupei. Ainda estou preocupada, mas sei que não
quer falar sobre isso.
— Não posso.
— Está bem, não pode e eu aceito... Se, algum dia, você quiser falar sobre o que acontece, eu
vou escutar. Não vou julgá-lo porque não tenho esse direito, ninguém pode julgar..., mas, sim,
gostaria que desse esse voto de confiança para seu primo. Talvez ele realmente goste da Megan...
Você não pode saber de verdade os sentimentos dele.
— Megan não tem nada que o Thor possa querer, não tem nada para prendê-lo... A
pobrezinha é quase um esqueleto, só tem beleza e carisma, mas isso Thor não leva em conta. Para
ele, tendo uma boa bunda e dois peitões, já está ótimo.
— Sempre existe uma primeira vez. Eu não vi Thor olhando para Megan com malícia. É virgem,
algum dia vai deixar de ser. Como você viu, esteve a ponto de perdê-la da pior maneira. Se não
chegássemos a tempo naquela noite na boate, as coisas seriam diferentes. Pelo menos, seu primo
não vai forçá-la a nada, tenho certeza disso.
— Eu também. Sei que, apesar de ser tão canalha, enquanto está com uma mulher, ele é
amável, isso eu sei.
— Bom, deveria deixar assim. Megan não é uma menina... E deixe-a descobrir o que é ser
mulher; acho que você está sendo um pouco egoísta. Bom, eu, como mulher, sei que está se
privando de um dos maiores prazeres da vida.
— Que bonito o seu conselho — Disse com sarcasmo.
— Se algumas garotas já estão vivendo a vida desde os quinze anos, ela está atrasada — E,
como uma gata, se aproximou dele e deu uma mordida no ombro suavemente. Samuel, quase
imediatamente, correspondeu e, novamente, se lançou sobre Rachell, como uma pantera no cio.
— Tanto quanto você... Sei que também demorou um pouco para começar a viver a vida... Aos
20, acho — murmurou, para, depois, chupar o queixo.
Rachell estranhou o comentário de Samuel.
— Como você sabe? Quem falou isso? — Perguntava e, naquele momento, ressonaram na sua
cabeça as palavras que Samuel disse a Richard, quando a tirou do escritório. — Foi Richard?
— Isso não importa…
— Foi Richard que falou. Ah, puta que pariu! — Exclamou, ficando brava e querendo tirar
Samuel de cima, mas não conseguia, ele a fazia diminuir sua defesa com suas suaves mordidas em
toda a mandíbula, assim como as mãos agarravam as coxas e a fazia abrir as pernas.
— Tranquila, sim, foi ele..., mas só porque está com ciúme e eu entendo. Nem se importe com
isso, não foi comigo, mas deixe eu fazê-la gozar a vida, farei você recuperar o tempo perdido —
Agarrou suas mãos, imobilizando-a e abaixando para beber dos peitos da garota.
Outra vez, se entregaram à loucura dos corpos para alcançar o êxtase, em meio de gemidos,
beijos, sussurros, olhares e carícias.
****

Henry Brockman tinha preparado tudo para sua viagem a Las Vegas, ficaria o tempo
necessário, porque não voltaria sem a medida de pressão para que Rachell cedesse. Tinha se
convertido em algo difícil de alcançar, mas ele nunca renunciava o que queria e ele a queria todos
os minutos do dia. Desejava-a mais que tudo e vê-la nas propagandas só aumentava o desejo que
sentia.
Richard Sturgess foi só uma perda de tempo, o homem não tinha soltado uma única palavra e
tinha decidido não fazer nada, era astuto e tinha percebido qual foi o verdadeiro motivo por que
ele o procurou. Sempre tinha se programado para manter sua vida pessoal muito afastada dos
negócios, por isso, não iria obter o que desejava por parte dele.
Sua viagem era iminente e se despedia de sua mulher e de sua filha, com a ansiedade de
encontrar o objetivo pelo qual abandonava, por uma semana, sua família e seus negócios.
— Megan, comporte-se bem. Você sabe que sua mãe não está nem aí, mas quero que você saia
da universidade e volte direto para casa. Já sabe dos perigos que há nas ruas.
— Sim, papai, terei cuidado — Entregou o carregador do celular.
— Vou ligar três vezes por dia para saber se você está bem.
— Estarei bem... Agora vá porque já está tarde.
— Não vai sentir saudades? — Perguntou, mostrando-se saudoso com a garota.
Henry Brockman amava sua filha, era sangue do seu sangue, só que, muitas vezes, não sabia
como ser padre. Achava que superproteger em todos os aspectos iria mantê-la a salvo, evitando
que algo de mau acontecesse e não percebia que só a prejudicava, colocando-a em situações das
quais se salvou por muito pouco.
— Claro que vou sentir saudades, só não demore muito — Disse, abraçando-o. — Às vezes...
Muito poucas vezes, você é o melhor pai do mundo.
— Só quando compro coisas exclusivas.
— Não, quando você me abraça — Disse, apertando mais o abraço.
— Então vou fazer com mais frequência — prometeu, dando um beijo na testa e se separando
dela.
— Boa viagem, amor, ligue assim que chegar — Disse Morgana, no meio da conversa.
— Sim, farei — Deu um beijo fugaz nos lábios, algo que fazia por costume, não por amor,
tentando manter a inútil fachada diante da sua filha.
O homem entrou no carro em companhia do seu motorista que o levaria ao aeroporto, onde seu
avião particular estava esperando.
CAPÍTULO 24

Sophia estava no escritório de Rachell, ligando para os fornecedores e para alguns clientes, ao
mesmo tempo, digitava um e-mail no computador, em que fazia um pedido de tecidos de seda e de
outros tipos. Ao girar na cadeira, bateu com o cotovelo na sua bolsa, que caiu no chão,
derrubando tudo o que tinha dentro.
— Diabos! — Exclamou exasperada, dobrando-se para pegar as coisas que tinham caído da
bolsa. — Isso só acontece com o Coiote e comigo — Disse para si mesma e encontro o cartão
champanhe e sorriu ao lembrar do episódio da sua vida em que o tinha recebido. — Ele vai
pensar que eu sou uma mal-educada, acabei com seus sapatos e nem sequer telefonei... sei que se
fizer isso, a voz vai me trair e vou parecer um periquito, mas poderia mandar um e-mail, aí vou
poder ver várias vezes e não dar um fora... é, vou fazer isso — falou com decisão e, novamente,
se sentou na cadeira.
Sem pensar muito, entrou no seu e-mail e escreveu o endereço para depois começar a redigir a
mensagem. Escreveu algumas linhas e apagou, trocando a opinião ou desistindo de mandar algo.
No final, a mensagem ficou curta e concisa, em que se desculpava novamente por ter riscado do
sapato e que estava disposta a pagar o acidente com um jantar, quando ele pudesse. Sem pensar
muito, enviou a mensagem.
Não era uma garota virginal para ficar escondendo seus desejos. Depois do incidente e de
conhecer a Reinhard Garnett em pessoas, todas as noites, quando chegava em seu apartamento
tipo estúdio, ficava vendo fotografias na Internet, achando-o cada vez mais atraente. Seus olhos
azuis celestes tinham transparência, o que o transformava em um homem de confiança.
Sabia que era caridoso e tinha que confessar que adorava isso. A última entrevista que deu
para a revista Forbes tocou seu coração.
Depois de falar das fundações de beneficência que tinha e de todas as doações que fazia,
suas palavras foram "Não quero ser só o homem mais rico do Brasil, também quero ser o mais
humanitário".
Com certeza, nem lembraria dela, com tantas coisas na cabeça. Não devia ser fácil ter tanta
responsabilidade. A voz de Kelly Clarkson com Stronger rompeu o lugar diante da ligação que
recebia e o coração foi parar na garganta só de pensar que podia ser ele. Mas ao ver o
remetente, todos os sonhos voltaram ao poço do impossível quando viu o nome de Rachell.
— Olá! Você está viva! Achei que Garnett tinha esquartejado você — Esqueceu os extremos
que, às vezes, levavam os seus pensamentos e seus desejos de ter ao seu lado um homem que
realmente a amasse.
— Sophie, estou bem... Estamos saindo de Chicago. Isto é maravilhoso, estamos em um posto,
colocando gasolina... Bom, Samuel está fazendo umas comprinhas para o caminho.
— Suponho que estão achando que são recém-casados — Disse, sorrindo, sentindo-se feliz por
Rachell, porque ela parecia bem entusiasmada.
— Nem fale. Em todo lugar que chegamos, é a primeira coisa que falam. Às vezes, as pessoas
passam são indiscretas e impulsivas, nem olham antes que não temos nenhum tipo de aliança,
nenhuma atadura.
— É que vocês ficam muito bem juntos e, mesmo que me xingue, dá para ver o amor.
— Cafona! Você está perdendo a essência, Sophie... Ficou romântica de repente. Não é amor, é
só química, atração, desejo, sei lá... Bom, vou desligar, já temos que ir embora. Um beijo para você
e manda um abraço para o Oscar.
— Está bem, mando sim, Rachell. Não esqueça do anticoncepcional, afinal vocês devem estar
transando a cada minuto.
—Não exagere. Porém, para sua tranquilidade e para a minha também, estou controlando
muito bem. Beijos.
— Não esqueça de me trazer um presente — Pediu sorridente.
— Está bem, eu levo.
A ligação chegou ao fim e a ruiva soltou um suspiro ao ver a tela do computador. A caixa de
entrada indicava que havia uma nova mensagem; ao ver o remetente, começou a tremer sem
controle e o coração foi parar na garganta.
Com as mãos trêmulas, mal podia conduzir o cursor e abrir a mensagem. Soltou o mouse e
respirou fundo umas três vezes para se acalmar; isso ajudou bastante e conseguiu ler o conteúdo.
Ficou de boca aberta de tão nervosa e, em uma tentativa de levantar, tropeçou nos saltos e caiu
de bunda.
— Caralho! Eu sou a própria Julia Roberts em Uma Linda Mulher... onde estava Richard Gere
durante toda a minha vida? — Perguntou-se, enquanto levantava e, com uma mão, fazia um gesto
para Oscar que a olhava desde o térreo, para que soubesse que estava tudo bem e, com a outra
mão, passava a mão na bunda. — Tenho que responder para ele, não sei se devo perguntar que
roupa levar... Ai, meu Deus! Sinto muito por Samuel, mas vou transar com seu tio, o desejo que tenho
não é normal — Disse sorrindo e levou o polegar à boca para morder a unha. — A primeira coisa
que vou fazer é marcar um horário no spa, depilação total. Ele ainda não é meu, mas é melhor não
arriscar, não quero passar uma má impressão.
Sem perder mais tempo, enviou sua resposta. Era uma loucura, mas estava disposta a vivê-la;
preferia se arrepender dos erros do que se lamentar por não ter se atrevido.

****

Thor tinha chegado do grupo EMX depois das seis da tarde. Tomou um banho e colocou um
shorts branco que chegava só até a coxa. Ligou para Megan, mas não conseguiu falar com ela;
com certeza, estava em aula. Decidiu ir até a cozinha para pegar uma fruta; ao abrir a geladeira,
encontrou umas rodelas de abacaxi que tinham sido cortadas por Sônia antes de ir embora. Pegou
umas três e várias uvas, colocou em uma tigela de vidro e foi jogar PlayStation; os videogames
sempre foram seu vício. Sabia que iria fazer cinquenta anos e continuaria jogando, embora tenha
que admitir que tinha vergonha que as pessoas soubessem. Só seu irmão, seu pai e seu primo
sabiam disso.
Jogou-se no sofá de couro preto, colocou a tigela no meio das pernas, ligou a televisão e o
PlayStation; enquanto esperava carregar, comeu várias uvas e começou a primeira partida.
Ele se afundava no jogo, vivenciava plenamente, mas a campainha com seu som agudo que
tomou conta da sala de estar ameaçou desconcentrá-lo. Nem prestou a mínima atenção e continuo,
porque sabia que devia ser o concierge por alguma bobagem, iria esperar até cansar e ir
embora.
Isso não aconteceu, os toques ficaram mais insistentes, até o ponto de encher o saco. Não teve
outra opção a não ser pausar o jogo e ver o que estava acontecendo.
— Não escutei alarme, o prédio não está pegando fogo, o que quer dizer que não é nenhuma
emergência — reclamou, enquanto se dirigia até a porta principal. Por causa do seu
descontentamento, esqueceu de ver pelo olho mágico e abriu diretamente.
O coração mudou drasticamente o ritmo das batidas e a temperatura do corpo aumentou diante
da expectativa e da surpresa.
O sorriso de Megan congelou e, involuntariamente seus lábios abriram diante do assombro e
para ajudar seus pulmões a se encher de oxigênio, ao mesmo tempo em que as pulsações
aumentavam no seu corpo, toda ela estremecia e não conseguiu evitar.
Thor era perfeito, simplesmente perfeito. Sua vista se agravava, talvez porque suas pupilas
começaram a se dilatar. Diante dessa ansiedade que subia pelos pés e fazia um redemoinho em
partes específicas do corpo, como no meio das pernas, na barriga, onde se concentrava com mais
violência e também seus mamilos começaram a formigar.
Ver Thor só com um short no quadril, mostrando seu corpo de aço não era deste mundo. Como
diria Kate Perry, era sobrenatural, extraterreno e, embora tenha lutado, embora não quisesse olhar
e não morder o lábio inferior, não conseguiu. Seus impulsos eram mais fortes, porque não
entendiam de razão quando seus olhos cinzas se fixaram no V da parte baixa do seu abdômen, os
oblíquos se marcavam perfeitamente e as também as veias azuladas se destacavam. Se fosse uma
vampira, esqueceria o pescoço e ficaria de joelhos.
Era dourado! De ouro, parecia ser de ouro, não era um loiro pálido, daqueles que pareciam
transparentes. Era como se fosse filho do astro rei, sempre tinha admirado as pernas de Cristiano
Ronaldo e não é que existiam melhores.
— Você joga futebol? — Perguntou sem nem sequer cumprimentá-lo, deixando-se levar pelos
seus pensamentos que não ficaram só na sua cabeça.
— Às vezes... O que você está fazendo aqui? É uma surpresa, entre — Disse, sentindo-se
nervoso, agarrando-a pela mão para levar para dentro do apartamento, fechando a porta com a
mão livre.
Megan sentia o aperto no seu pulso e só conseguiu girar. Aproximou-se dele e deu um soco no
peito masculino, só queria constatar que não era uma visão.
— Aconteceu alguma coisa? Quer tomar algo? — Estranhou diante da atitude dela, aumentando
o nervosismo nele, que passava a mão no cabelo.
— Água — suspirou, quase sem fôlego. Precisava acalmar o calor que corria pelo seu interior e
que se propagava rapidamente.
Malditos livros eróticos! Deixaram minha mente doente. — Falou em pensamentos.
— Então, água… — Levou uma mão ao rosto, sabendo que ela o olhava, porque tinha certeza
que as batidas do seu coração retumbavam contra a testa de Megan.
Ela concordou em silêncio e entendeu que tinha que deixar espaço para caminhar, não podia
nem falar, razão pela qual não respondeu nenhuma das perguntas que tinha feito.
Thor foi até a cozinha, pegou no móvel um copo de vidro e encheu até a metade com água,
enquanto Megan colocava sua bolsa em cima de um dos bancos altos. Pegou o copo que Thor
ofereceu e tomou de um gole só.
— Quer mais? — Perguntou sorrindo docemente, sem deixar de lado a surpresa que tinha. Ela
concordou em silêncio e passou o copo para ele.
Thor encheu até um pouco mais da metade, enquanto a estudava com o olhar, aumentando as
erupções do vulcão em atividade que Megan tinha dentro.
A garota respirou fundo várias vezes para se controlar um pouco e bebeu água em pequenos
goles para, depois, colocar o copo no balcão.
— Não fui para a aula que eu tinha com Erika e não queria quebrar a cara dela — Suas
palavras foram rápidas, sem nem respirar.
— Megan, você não deve deixar que ela interfira assim na sua vida, enquanto estiver em um
ambiente seguro, não precisa ter medo.
— Eu não tenho medo dela, só estou dando uma oportunidade para ela viver — Disse, subindo
em um dos bancos. — Estou decidida, vou matá-la.
— Vai matá-la? — Perguntou, levantando uma sobrancelha diante do desconcerto.
— Sim, vou fazer isso… — Disse, com uma decisão infantil que tocou as fibras da ternura em
Thor.
— Suponho então que eu terei que visitá-la aos domingos, porque certamente irá presa.
— Não, não vão me prender. Eu tenho um plano... Sei que Samuel podem me declarar
inimputável... Vamos organizar tudo.
— Então você não conhece Samuel. Ele será o primeiro a prendê-la, para ele, está a justiça
acima de tudo.
— Sou sua amiga — indicou, com certa reprovação.
— Ele não se importa com isso, é imparcial — Disse, fazendo uma careta. — Ele é muito certinho
com seu trabalho e mandará você para a cadeia.
— Então melhor só deixá-la em coma — Mudou de parecer, soltando os ombros, em sinal de
derrota. — E... E você não terá que me visitar só aos domingos. Vou fazer tudo parecer um
acidente.
— O que você anda vendo na televisão? — Perguntou, divertido e aproximando-se dela.
— Nenhum, mas desde que a arrastei no parque, sei que não é tão forte quanto parece.
— Você não pode ficar o tempo todo brigando, existem soluções mais diplomáticas.
— Um tiro no meio da cara é mais diplomático.
— Bem, suas aulas de tiro terminaram. Não vou levá-la mais ao polígono.
— Não... não... Eu quero ir, adoro as armas. Você viu como sou boa de pontaria — Disse, no
meio de brincadeiras, pegando a mão e aproximando-o dela para, depois, fechar com seus
braços a cintura do loiro.
As partículas do seu corpo foram explodindo uma a uma diante do contato. Sem conseguir
evitar a leve sacudida que deixou claro o que estava acontecendo no seu interior; era impossível
ocultar tanta ansiedade.
Thor teve consciência disso e buscou imediatamente o seu olhar, tentando encontrar asa
respostas às perguntas que surgiram na sua cabeça: saber se era nervosismo ou desejo e o que
encontrou na íris cinza, mas mais escura do que o normal, fez com que uma rajada de fogo
percorresse sua espinha dorsal. No olhar de Megan, não havia só desejo, havia excitação e
desespero, ela ardia por ele e acabou se contagiando.
O rapaz levou suas mãos à cabeça de Megan, elevando-a um pouco para beijá-la, beber da
sua boca com aquele desejo que tinha despertado, inclinando-se para dar mais comodidade a ela
e que daria igualmente seu desejo.
Deslizou lentamente sua língua na boca de Megan várias vezes, preenchendo e enlouquecendo-
a, arrancando gemidos e forçando a respiração. Quando ela se aventurou a tatear e roçar com a
sua na dele, só se apoderou da língua da garota, chupando-a e levando a luta até sua boca.
Queria sentir que Megan o invadia, que se atrevesse a dar, que não só se limitasse a receber.
Seu ego gritava 'aleluia' cada vez que tinha certeza que gozava das primícias com Megan.
Nunca tinha curtido profanar nenhuma outra garota quanto fazia com ela; Megan despertava
emoções e medos que nunca tinha experimentado.
Ele percebeu a necessidade de respirar da sua namorada, por isso, diminuiu a intensidade e os
impulsos e, pouco a pouco, deu espaço e tempo, até converter a profunda entrega em toques de
lábios, lábios trêmulos e inchados que deixavam claro o desejo que os dominava.
— Acho...que tomei muita água… — A voz e a respiração entrecortada deixavam clara a
intensidade do beijo. — Posso ir ao banheiro? — Perguntou, com o olhar fixo nos lábios de Thor,
fazendo-o sentir que, naquele momento, ele não era mais que boca.
— Sim, claro — Esticou a mão, mostrando um corredor. — A terceira porta.
— Bem, não demoro — Disse, descendo do banco e caminhou com passos trêmulos por causa
da excitação.
Thor a viu se afastando, sem conseguir evitar olhar para o traseiro de Megan, sentindo as
pulsações torturar sua glande e seus testículos. Levou as mãos ao quadril em forma de jarra e viu
que seu pênis começava a se destacar através da bermuda branca.
— Calma... Calma, não se emocione — Conversava em voz baixa com seu pênis que parecia
não escutar, parecia que tinha vida própria.
Megan mal chegou no banheiro e abaixou rapidamente a calça jeans e quase imediatamente
sua calcinha. Sentou-se na privada e deixou sair toda a água acumulada, observando nesse
momento a umidade que impregnava sua roupa interior.
Depois de alguns minutos, saiu e seu coração ainda não tinha parado de retumbar no peito,
caminhou e o televisor ligado na sala do lado chamou a atenção pelo jogo pausado.
— Você estava jogando? — Perguntou, com voz alta, entrando na sala de estar.
Caralho! Era só o que me faltava, ela pensar que sou um retardado. — Pensou Thor, fechando os
olhos e soltando um suspiro.
— Só um pouco, estava entediado e resolvi tentar — respondeu, pegando a bolsa de Megan e
indo até a sala onde estava.
— Sempre quis jogar um desses... Só alguns jogos bobos no computador, não é a mesma coisa
que ter um PlayStation — Disse, sorrindo e pegando o comando que estava em cima do móvel,
sentindo-se atraída pelo aparelho. — Posso usar?
— Claro… — Disse, sentindo como se derretia só pelo fato de ela se interessar pelo
videogame. Já estava perdido.
— Mas me explique, porque não faço a menor ideia e se for de guerra, melhor ainda.
— Sim, é de guerra, mas você está muito sanguinária hoje... Bom, eu explico, embora eu não
saiba muito bem — Disse, perdendo a vergonha e tentando disfarçar que podia ficar horas
naquele lugar e caminhando, colocou sua bolsa no sofá, apoiou uma das mãos no encosto e saltou
por cima para cair sentado. — Venha aqui — Pediu, mostrando um lado do sofá.
— Eu me sinto melhor assim — Disse, colocando a sua mão em um dos joelhos do rapaz e
forçando-o a abrir as pernas, sentando-se no meio das fortes e grandes coxas de Thor, que
engoliu um gemido diante da tortura a que ela o submetia. — O que tenho que fazer? —
Perguntou com o controle nas mãos.
O rapaz a rodeou com seus braços, grudando seu peito nas costas da garota, colocou as mãos
em cima da garota e indicou quais botões e alavancas usar para, depois, reiniciar a partida.
Megan estava tentando jogar, pelo menos, sabia caminhar e se agachar para que não voasse a
cabeça, mas não conseguiu mais que isso, já que tinha semelhante tentação atrás e o sentia
forçado, apressado, sabia que estava tão nervoso e ansioso como ela. Então ela pausou o jogo e
pegou sua bolsa, começou a procurar seu celular.
—Quanto tempo você precisa? — Perguntou, pegando Thor de surpresa. — Quantas horas
você quer para me fazer sua mulher?
— Megan… — Disse o pobre, sentindo que não conseguia mais, tinha rompido todos os índices
de espera e estava a ponto de explodir.
Era uma necessidade que não seria suficiente se masturbar pensando nela. Enfiou sua testa nas
costas de Megan e fechou suas mãos nos quadris, tentando se controlar para não a agarrar muito
forte e não assustar. Só queria se conter, porque seu desejo ia fazer suas veias explodirem; nunca
tinha sido um homem de esperar e o voto de castidade que tinha feito estava muito pesado.
Megan esperou sua mãe atender o telefone, depois de três toques.
— Mãe, tenho que fazer um trabalho na universidade e temos que entregar na segunda... E
preciso adiantar... Por favor, deixe eu ficar na casa de Ciryl.
— Querida, você sabe o que seu pai falou — advertiu com sua voz carinhosa e infantil.
— Sim, eu sei, mãe... Mas eu preciso fazer esse trabalho. Se eu não apresentar, vou reprovar
nessa matéria e, aí sim, o papai vai ficar bravo comigo. Ele não precisa saber. Se quiser, ligue para
Ciryl e pergunte.
— Você sabe que não é necessário. Eu confio em você, minha vida.
— Obrigada, mamãe… — Teve que engolir um gemido quando Thor deslizou uma de suas
mãos do quadril até a barriga. — Com certeza, vamos dormir tarde. Pedirei que seu pai me leve
ao meio-dia, não quero abusar das horas de descanso de Ciryl.
— Está bem, querida... Isso sim, prometa que vai melhorar essa nota e que me liga antes de ir
para a cama.
— Sim, mamãe, prometo que ligo e vou me esforçar para passar nessa matéria. Tchau.
— Tchau, querida, amo você.
— Eu também — Disse e desligou para, logo, jogar o telefone na almofada e grudar suas
costas em Thor, assim como seu quadril exigia mais espaço no sofá e seu traseiro se acoplou entre
as coxas do seu namorado. — Acha que é suficiente? — Perguntou, apoiando suas mãos sobre as
dele e sua cabeça afundou no seu peito.
— Sim, é suficiente — Disse, agitado, pela excitação que corria como cavalo selvagem e pegou
sua mandíbula, ajudando-a a mexer a cabeça para olhar para ele. Os dois se perderam nos
olhares por vários segundos e o coração de Megan batia tão forte que Thor conseguia sentir. —
Você tem medo? — Perguntou em um sussurro, diminuindo a distância entre seus rostos.
— Um pouco, mas não de você... Tenho de mim, que você não goste quando eu tirar a roupa...
Eu não gosto do meu corpo — murmurou, sem conseguir esconder seus medos.
— Eu darei minha opinião, mas tem que me deixar ver… — sussurrou, olhando nos seus olhos e
acariciando com o polegar a linha da mandíbula.
— Você não vai gostar… — advertiu em um murmúrio que ele calou com seus beijos.
— Você é corcunda? — Perguntou, contra os lábios trêmulos e Megan, que negou em silêncio.
— Você tem sete dedos no pé esquerdo? — Continuou com seu interrogatório no meio de doces e
ternos toques de lábios e Megan novamente negava. — Você é hermafrodita?
— Não sou Lady Gaga… — respondeu com voz trêmula, mas divertida.
— Que bom, fico feliz em saber disso, é um alívio… — Deslizou lentamente uma de suas mãos
para baixo, pelo abdômen da garota, arrancando tremores e que seu corpo se arqueasse de
prazer, quando se apoderou do seu centro, tocando-o pela primeira vez assim e, embora fosse por
cima da calça jeans, ele mesmo sentida que estava atentando contra sua segurança. — Você tem
tentáculos devoradores como os da princesa Clara da Casa dos Desenhos? — Sem conseguir
esconder a malícia.
Megan, apesar de todos os estremecimentos de prazer agônico que tomavam conta do seu ser,
acabou rindo e negando com a cabeça.
— Então tenho certeza que vou gostar. Você me deixa tocar em você? — Perguntou, em um
gemido que deixava claro seus desejos.
— Você já está tocando — respondeu, contorcionando-se para suportar os tremores do seu
corpo que parecia gelatina.
— Vou fazer de outra maneira — advertiu. Com seus dedos polegar e indicador, apoderava-se
do botão da calça jeans, desabotoou lentamente, abaixou o zíper, abriu espaço entre a calcinha.
O corpo de Thor se sacudiu ao sentir a lisa pele do monte de Vênus de Megan, enquanto
conquistava terrenos inexplorados. Estava descobrindo a terra prometida, aquela em que só ele
habitaria.
— Thor… — gemeu, com o peito a ponto de arrebentar. Os dedos quentes, fortes e grossos do
rapaz não se comparavam aos dela.
— Você é suave, Megan… Você é muito suave — Disse, passeando-se pelos lábios vaginais
lentamente. Podia sentir palpitar contra a ponta dos seus dedos, fechando-se como um braço na
cintura para que o corpo febril dela permitisse dar-se o prazer de tocá-la e seus lábios
aventureiros se lançaram a explorar seu pescoço e ela oferecia um show de gemidos.
— Thor… Estou queimando… Estou me incendiando... Por dentro — dizia, agitada, sem
conseguir abrir os olhos, só gozando de senti-lo tocando-a.
— Você não vai explodir, só se derreter um pouco... Mas isso é bom para o organismo —
murmurou enquanto a levantava indefesa e a sentava sobre suas pernas.
Megan, em um ato reflexo por sentir mais e acalmar aquela necessidade que doía e palpitava
contra os dedos de Thor, levou sua mão à dele e estimulou-a a se aventurar um pouco mais, que
entrasse porque só o toque suave das pontas dos dedos estava deixando-a louca.
Quando ele captou a mensagem, separou as dobras com cuidado e ela voou com suas mãos nas
costas, procurando, a cegas, o torso do namorado e com as mãos desajeitadas, começou a
acariciá-lo.
O brasileiro sabia que a entrega era iminente, que o corpo de Megan deixaria de ser virgem
nas suas mãos; porém, continuaria venerando-a, tinha certeza disso. Iria fazê-la mulher, como fez
com tantas outras que passaram desapercebidas, mas ela era diferente.
Não conseguia explicar qual era a diferença, ele a sentia esquivar-se pelo corpo e não só
atacava sua anatomia, mas também suas emoções. Parou de tocá-la e tirou a mão, arrancando
protestos que não saíam da boca de Megan; foi o corpo que se revelou quando fechou as coxas e
capturou o punho.
— Temos que ir a um lugar mais cômodo. Não tenho preservativos aqui — Disse, sufocando a
respiração no ouvido.
— Perdão… — E, em um movimento abrupto, abriu as pernas e voltava à realidade, sentindo
vergonha e, embora soubesse que Thor não precisaria de nenhum método anticoncepcional,
preferiu não falar nada na hora.
— Não tenho nada que perdoar, você me deseja da mesma maneira que eu a você... Não
vamos perder mais tempo — Disse, colocando-a de pé e ele também levantou.
— Então, vamos correr — Pediu, abotoando só a calça jeans, deixando o zíper abaixado e
começou a corrida. Saiu da sala de estar, subiu as escadas, enquanto Thor a seguia.
Ao chegar na primeira porta, abriu para entrar, mas o loiro a alcançou e segurou-a pela
cintura e evitou a intromissão.
— Este quarto é de Samuel e se souber o que ficamos aqui, ele me corta o saco e você será a
mais afetada — Tirou-a do chão, levando-a com ele para o seu quarto. Outro privilégio para
Megan, ninguém mais além da sua família conhecia aquele lugar e, no meio da névoa de excitação,
entendeu que Rachell também era a mulher que marcava a diferença em Samuel. Deixá-las entrar
em seus quartos era como abrir uma porta para sua intimidade, ao que eles realmente eram, tudo
o que podiam ser, muito além de algumas horas de sexo.
— Seria excitante — Disse, com malícia, sentindo como Thor a levantava só com um braço.
— Você sabe o que é excitante? — Perguntou, abrindo a porta do seu quarto e colocando-a
sobre o tapete preto de pele.
Megan caminhou até a cama, enquanto admirava o quarto do namorado, gravando seus gostos
na memória. Sentou-se na beirada da cama e tirou os sapatos, sentindo o olhar arrasador de Thor,
que estava a poucos passos.
— Claro que sei o que é excitante, estar aqui com você — Disse, subindo na cama e ficando de
pé.
— Você está excitada? — Perguntou com tom sedutor e aproximando-se perigosamente. — Eu
excito você? — Ele se divertia fazendo esse tipo de perguntas, porque Megan ficava vermelha,
mas não envergonhada. Não era como as outras que se vestiam de ovelhas no caminho do
abatedor e olhavam para ele como se fosse um depredador.
Megan era uma loba, tinha pureza, beleza e ternura, mas também tinha segurança e
sinceridade. Isso era o que mais fazia seu coração disparar. Essa mistura de inocência e malícia.
— Desde o primeiro instante em que a vi… Por acaso não percebeu? — Perguntou, surpresa.
— Não... Não percebi. Você não me deixou notar. Nos primeiros cinco minutos, só apreciei sua
beleza, a cor dos seus olhos.
— E depois desses cinco minutos? — Perguntou, sem parar de pular em cima da cama.
— Começamos a correr — Disse, levantando os ombros.
— E enquanto você corre, não pensa?
— Não, enquanto corria, tentava olhar sua bunda — Disse com toda a sinceridade que
caracterizava os Garnett.
— Mas se eu não tenho nada — Disse, soltando uma gargalhada.
— Isso é o que você acha.
— É a verdade... Thor, sei que não sou uma mulher com um corpo estrutural, gostaria de ter o
corpo como o de Rachell.
— Você não precisa ter o corpo como o de Rachell. Gosto assim... Como você é, pelo que você
é. Não acha que estamos falando demais. Fale o que quer fazer? Acho que o fato de não
conseguir ficar quieta é porque está nervosa.
— Sim, claro que estou nervosa, mas mais que isso, estou emocionada, porque… — Sem aviso
prévio, pulou da cama em cima de Thor que, graças aos céus, tinha excelente reflexo e a pegou.
Megan passou suas pernas pela cintura dele e os braços no pescoço. — Você quer saber por que
estou emocionada? — Perguntou, olhando nos olhos e aproximando-se, deu um lento toque nos
lábios.
— Juro que não há nada mais que queira saber.
— Porque, finalmente, vou acabar com este desejo que tenho por você — murmurou e o beijou
do modo mais lascivo que sabia até o momento. Não se comparava aos beijos dele, àqueles que a
arrastavam pelas melhores emoções, mas estava se esforçando para fazer bem.
— Megan, você me desconcerta — Disse, em meio aos beijos da garota e, pouco a pouco,
levou-a para a cama, deixando-a descansar e ele se apoiou com os joelhos e mãos para não
deixar cair todo o seu peso em cima da garota, porque sabia que iria sufocá-la, liberando a
imaginação de Megan para que ela o beijasse como quisesse, dando a confiança na entrega.
Tentava não se precipitar com sua experiência, iria se converter em um porquinho-da-índia para
praticar com ele.
Rapidamente faltava oxigênio para ela e isso era por causa da excitação, não podia fazê-la
esperar muito, por isso, levantou-se e sentou sobre o calcanhar, desabotoou a calça e agarrou-se à
beirada da cama com força, segurando a calça jeans e preso ao olhar cinza, começou a abaixá-
lo, parando nas coxas, quando ela começou a tremer.
— Continue… — Pediu Megan, quase sem voz e, diante da ordem envolvida em desejo, ele
continuou. Desta vez, com um pouco mais de rapidez, conseguindo se desfazer por completo da
peça de roupa. O olhar celeste percorria lentamente as longas e finas pernas, mas não era
suficiente só ver, por isso, suas mãos fecharam os tornozelos femininos e, lentamente, começou a
descer.
À medida que suas palmas avançavam, aumentava a respiração dos dois e ela gemeu, quando
o tato aventureiro de Thor reclamava a pele da parte interna das coxas.
Passou para os quadris, evadindo tocar o triângulo de prazer que o incitava e agarrou a
calcinha; começou a abaixar quando ela segurou suas mãos e, então, ele descobriu nela, as
dúvidas, os medos daquela garota virginal que ainda resistia. Abandonou a tarefa, deixando para
depois.
Ele sabia que ela começava a dobrar-se diante do seu olhar. O crescente nervosismo era
evidente nela, por isso, preferiu não olhar para ela com tanta distância e, novamente, deitou sobre
ela, tentando manter o equilíbrio e não soltar seu peso.
— Sei que você quer continuar, mas também sei que tem medo e não quer falar.
— Não tenho medo... Só que não consigo controlar meu corpo — Disse, acariciando os ombros e
levantando a cabeça para beijá-lo.
Thor se uniu ao beijo, submergindo-a nas sensações que despertava a umidade da sua boca,
sua língua girando e deslizando-se na dela, mordendo os lábios, abrangendo tudo, como se
quisesse comê-la de uma mordida só e sua pele, em guarda, sentia as mãos deles tirando sua
roupa, tirou a camiseta ao separar suas bocas para se livrar da peça de roupa.
O brasileiro perdeu o equilíbrio e ela percebeu sua ereção, aquela protuberância que doía
diante da espera e do desejo. Megan abriu a boca, não em um gemido, mas sim bebendo da sua
respiração, roubando sua alma no meio de suspiros e seu rosto se incendiava intensamente ao
senti-lo ameaçando na sua barriga.
As mãos de Megan começaram a reclamar por sentir a pele de Thor, necessitava o toque, por
isso as carícias não esperaram, começaram pelas costas do rapaz e a pele quente e trêmula.
Despertaram um formigamento alucinante nas palmas das mãos, que começaram a ficar ávidas,
percorrendo desajeitadamente cada músculo, segurando às omoplatas com a força para diminuir
as pontadas da agonizante dor que se apoderavam do seu centro.
Thor percorria com seus lábios o pescoço, dava suaves beijos e tímidas chupadas, evitando
deixar alguma marca, colocando freio a suas ânsias e ela dava seus suspiros, que indicavam que
estava gostando da experiência que ele oferecia.
A cada segundo, as mãos de Megan ficavam mais descaradas, agarravam essa confiança que
as costas de Thor davam, ao chegar até os quadris masculinos, tropeçou com a barreira da
bermuda. Sem ter consciência, introduziu uma das mãos, aquela que estava faminta pela pele,
tocando uma das nádegas do rapaz.
Esse toque fez explodir nela um desejo animal, fazendo com que suas pernas se abrissem
involuntariamente e tentou subir um pouco mais, só um pouco, para que a ereção de Thor parasse
de torturar sua barriga e acalmar a ansiedade entre suas coxas.
O pudor sempre tomava conta quando menos esperava, um raio de prudência atravessava a
espessa folhagem do desejo e obrigou-a a tirar a mão que estava oferecendo a maior das festas.
— Não tem problema… — Murmurou no ouvido dela e, depois roçou a ponta da sua língua na
orelha e uma das mãos guiava a de Megan, novamente, até sua nádega. — Se quiser agarrar
minha bunda, eu não vou resistir.
—Posso... posso abaixar um pouco? — Perguntou ao sentir o elástico pressionando seu pulso.
— Pode tirar... Tire minha roupa, Megan — Soltou o pescoço da garota e procurou seu olhar
cinza. — Quero que você se familiarize, porque irá fazer isso... Muitas, muitas vezes — Mal
terminou de falar, desceu com sua boca até o peito da garota e, enquanto seus lábios tinham o
prazer de sentir as batidas do coração de Megan retumbando neles, suas mãos abriram espaço
entre as costas e o colchão, encontrando a cegas o fecho do sutiã e, sem dar tempo para ela se
arrepender, tirou a peça e se levantou para observá-los.
Em um ato reflexo, Megan cruzou os braços sobre seus seios nus, sentindo como a vergonha a
atacava sem aviso prévio, temerosa, porque sabia que seu peito era plano, nada atraente e, ao
vê-los, a excitação de Thor diminuiria.
Ele deu um sorriso que demonstrava a ternura que o invadiu naquele momento e levou suas
mãos para descobrir aquele tesouro agitado pela respiração, mas ela só negava com a cabeça.
— Você está com medo? Não quer continuar? — Perguntou, em voz baixa, acariciando suas
mãos.
— Eu não tenho medo... é que eu sou uma tábua... Thor, pareço um homem — Sem conseguir
evitar ser torturada pela sua baixa autoestima, que não a deixava sair do poço em que a
submergia.
— Megan… deixe que eu tire as conclusões do que você é... Você é muito dura consigo, mostre-
me essa garota maravilhosa que me deixa deslumbrado — Levou suas mãos à cintura da garota e
começou a fazer cócegas. — Dê aquele sorriso encantador. Caso você não saiba, tenho um
superpoder.
— Não acredito em você — Disse, sorrindo e apertando ainda mais os braços cruzados sobre
seus peitos. — Vamos lá, fale... — Soltou uma gargalhada pelas cócegas que Thor fazia.
— Tenho visão de raio-X, já vi você e adivinha? — Perguntou com malícia, aproximando-se
novamente ao ouvido.
— Não tenho bola de cristal, senhor com olhos de raio-X — Sem perceber como ele, mais uma
vez, a enchia de confiança.
— Você tem os peitinhos mais lindos que já vi... E sonhei muitas vezes que estava saboreando-os,
quero que meus sonhos se tornem realidade —Ele a hipnotizava e excitava com suas palavras e
Megan não percebeu como ele tirava suas mãos e as dominava, fixando-as no colchão. — Você
tem o poder neste momento, todo o poder. Vai me deixar provar? — Perguntou, no meio de uma
brincadeira e a resposta dela foi um consentimento titubeante.
— Não sou tão valente quanto pareço — murmurou, sentindo que o olhar de Thor sobre seus
peitos acendia chamas; os mamilos formigavam e seu centro se sufocava.
Os tremores aumentavam ritmicamente à medida em que ele se aproximava, quando o calor do
seu hálito se chocou contra sua pele avermelhada e pôde sentir também a respiração, os mamilos
começaram a doer e a crescer como nunca.
Não li nada sobre estas sensações em nenhum livro! Pensou, fechando os olhos e sentindo que
morria. As batidas do coração retumbavam em cada partícula do seu corpo, o oxigênio estava
quase acabando.
Thor agarrou com seus lábios a ponta que tinha ficado dura e inchada e começou a chupar com
entusiasmo. E todas as terminações nervosas que a natureza tinha a generosidade de colocar
naquele lugar responderam ao mesmo tempo, criando uma reação maravilhosa que destruía todas
as barreiras, todas as ideias pré-concebidas do que podia significar a boca de Thor sobre seu
corpo.
Enquanto se movia, arqueado as cadeiras sem ter consciência, não conseguia fazer nenhuma
comparação com o que estava acontecendo naquele momento sob a habilidade deliciosa dos
movimentos do seu namorado.
— Thor — gemeu o nome do rapaz, agarrando-se aos amplos e fortes ombros, não queria
enterrar suas unhas na pele do seu filho do sol, mas toda essa energia agitada no seu ser iria
explodir se não fizesse isso.
Quando Thor a escutou gemer, permitiu que seus dentes se fechassem gentilmente sobre o
mamilo rosado.
Em seguida, a carícia da sua língua substituiu aquele contato quase doloroso para ela, mas
também prazeroso, disso tinha certeza, e sua barriga começou a formigar diante da grandeza de
ter um dos peitos de Megan na sua boca, enquanto cobria o outro com a mão, quase... Quase não
conseguia acreditar.
Megan não conseguia respirar. Não havia mais ar no universo, ninguém tinha habitado antes
nesse mundo nem iria fazê-lo depois. Os dentes dele roçaram novamente sua carne. Desta vez,
com suavidade, tinha consciência do calor que havia entre suas pernas, ardentes e, também, úmido,
palpitante. A sensação da boca de Thor era primitiva, escura e elementar. Sabia que começaria a
depender desta dose de prazer.
Sue quadril dançava com vida própria e suas mãos atrevidas começaram a abaixar o shorts
quase com desespero; apoiava os pés no colchão e se elevava, tentando saciar as pulsações no
seu centro, enquanto a boca de Thor roubava sua razão.
Em meio a beijos, chupadas e suaves mordidas, Thor a ajudou a tirar a roupa e, com movimentos
rápidos e um tanto violentos que não conseguiu controlar, abaixou a calcinha da garota, levantou-
se e, novamente, sentou-se sobre seus calcanhares para retirar a peça de roupa. Ela já não
mostrava vergonha, o desejo era mais poderoso e borbulhante como para deixar que o pudor
tomasse conta.
— Não aguento mais, Megan. Se eu não fizer agora, vou ficar muito mal e você nunca mais vai
querer transar comigo.
— Isso é impossível — Disse, quase sem fôlego e seu olhar curioso viu a ereção, já tinha sentido,
mas ver era bem diferente.
Os poucos pênis que tinha visto na Internet não causaram a sensação agônica na sua vagina
que estava protestando, reconhecia e sabia que aquilo tudo era para ela.
Vai entrar, vai entrar. — Disse, fechando os olhos e tentando se apegar ao mantra.
— Quero saber se está pronta... Vou tocar em você — advertiu e ela concordou trêmula.
Thor levou uma das mãos e não a tocava quando seus lábios vaginais começaram a palpitar
freneticamente, quando as pontas dos dedos dele fizeram o primeiro contato, uma lágrima de
líquido a surpreendeu ao sair do seu centro. Não teve tempo de sentir vergonha porque ele nublou
toda sua consciência ao remexer na sua vagina.
— Estou pronta… — Disse, arqueando-se.
— Sim... Sim, está. Não tem volta, Megan, você vai ser minha mulher, vou fazer de você minha
mulher... Ficarei com a sua inocência e nunca terei como pagar este presente que está me dando.
— Thor… É você que vai me dar o que serei de agora em diante — murmurou, mas foi
suficiente para ele escutar e pegou suas mãos, fazendo-a levantar o torso, colocando-a sentada
sobre suas coxas, procurou a boca da garota e beijou-a mais uma vez.
O beijo foi pausado e estendeu a mão até a gaveta do criado-mudo, a cegas, procurou os
preservativos e o som da embalagem indicou que tinha encontrado. Com os dentes, rasgou o
pacote e teve consciência de como estava nervoso quando foi colocá-lo e suas mãos trêmulas
fizeram-no parecer um imbecil.
Ao conseguir, pegou o quadril de Megan e elevou um pouco, olhando nos seus olhos, perdendo-
se na sua garota lindamente despenteada.
— Você tem o controle, sabe até onde chegar.
— O que eu faço? Eu não sou idiota, sei o que fazer... Só estou nervosa... Vai doer? —
Perguntou, olhando nos seus olhos.
— Talvez, só um pouco, mas sei que você é forte — Disse, dando uma piscadinha e segurando
seu rosto com as mãos. — Prometo continuar excitando você para que seja tudo mais fácil —
Aproximou-se, buscando a boca, sufocando-se em um beijo compartilhado, as carícias de Thor não
esperaram e, em poucos segundos, percorriam as costas da garota, até tê-la em seus braços.
Megan se aventurou, vacilante, sentindo como o membro quente de Thor estava firme como
soldado e roçando a parte interna das coxas. Em um movimento involuntário da sua pélvis, teve o
primeiro contato com seu centro, que queria mais; em meio a rápidas sacudidas, segurou-o na
entrada e, pouco a pouco, começou a descender, mas o indomável escapou. Tentou novamente e
teve o mesmo resultado, enquanto Thor, com seus beijos no pescoço, estava enlouquecendo-a,
levando ao ponto de descontrole, arrastada pela luxúria que a cegava e não permitia ter
consciência no momento em que o agarrou, indicando quem tinha o controle.
Meu Deus, nada mais maravilhoso. — Um vislumbre de prudência a fez gozar do som que
escapou da garganta do seu namorado, podia compará-lo ao rugido de um animal.
Não perderia a oportunidade e apertou suavemente e soltou algumas vezes, sentindo-o duro,
quente, mas também pulsava, sentia pulsar; nunca pensou que ter um pênis em suas mãos seria algo
tão interessante.
— Se continuar fazendo isso, vou ejacular e você vai ter que esperar mais um pouco para
deixar de ser virgem — Advertiu, apertando-a em seus braços e contendo os impulsos de jogá-la
na cama e penetrá-la de uma vez por todas.
— Sinto muito... Gosto da sensação — murmurou e, novamente, fez a tentativa, desta vez, sem
soltar para não escapar. Quando o sentiu irromper nas suas entranhas, ele começou a tremer e a
respiração era como a de um animal furioso, muito evidente e ela estava sentindo, como se
estivesse abrindo espaço, deslizando, centímetro a centímetro; a pressão era cada vez mais forte,
mas não era dolorido, só um pouco incômodo.
A barreira que certificava sua pureza estava no caminho, ela podia sentir e tinha certeza de
que Thor também.
Então, ela lembrou do conselho da sua amiga Ciryl, que disse que, quando chegasse o momento,
não perdesse tempo e fosse rápido, assim evitaria a tortura, que pedisse ao namorado que não
tivesse dúvidas, mas não contava que quem teria o controle seria ela.
Fechou os olhos, soltou um suspiro e, depois, segurou a respiração, soltou-se, sem nenhum
cuidado e a pontada de dor se estendeu pela sua barriga, algo suportável e se perguntava se
era tudo ou se ainda tinha algo mais.
Thor a pegou pelos quadris e a fez dançar, despertando algo primitivo nela; o desespero se
apoderou do seu corpo, começou a mexer como pedia seu corpo, a respiração escapava enquanto
agarrava o pescoço do seu namorado.
— Você já é minha mulher... Bem-vinda — Disse, encarando e sorrindo. — Doeu muito?
— Não doeu. Estou bem... Só arde um pouco... Mas não consigo parar... Isto é muito... Prazeroso
— murmurava ela, ao ritmo da oscilação do seu quadril.
— Daqui em diante... Vamos transar com frequência, não dá mais para voltar atrás.
— Não quero parar... Quero transar todos os dias... Não sei como vamos fazer... Thor, isto é
maravilhoso — Um grito de surpresa escapou quando ele deitou na cama e a arrastou,
encostando-a sobre seu peito. — Saiu — Disse, como se Thor não tivesse percebido que seu pênis
tinha escapado.
— Você precisa domá-lo, mostre quem manda — Disse sorridente.
Megan levou uma de suas mãos e, novamente, agarrou-o e levou ao seu centro ansioso.
— Eu mando — Disse, divertida e não segurou o gemido ao sentir como ele se remexia um
pouco.
— Agora você vai saber o que é um orgasmo verdadeiro, não o que você sente quando se
toca… — Com uma das mãos no quadril da garota, segurou-a e, com a outra, aventurou-se pelo
clitóris, do qual se apoderou com o polegar.
Apoiou-se com os pés na cama e começou com suas investidas, enquanto o dedo entrava e a
vasculhava.
Megan não aguentou nem um minuto quando começou a gemer e dizer seu nome várias vezes,
com o dente apertado, que retinham, em algumas ocasiões, os gemidos de prazer.
Ele também não durou muito e era algo que já estava esperando, depois de tanta espera, o
orgasmo chegou em muito pouco tempo; porém, nenhum dos que tinha experimentado na vida se
comparava ao que tinha acabado de explodir. A razão nublou, fez que desfalecesse e se
emocionou.
Megan se soltou pesadamente sobre seu peito e tremia, como se tivesse calafrios, igual a ele;
era algo que não conseguia controlar, com as mãos trêmulas, fez carícias nas costas da garota,
que o cegava com seus cabelos.
— Você está bem? — Perguntou em um murmúrio.
— Eu vou morrer... Meu coração vai sair pela boca — respondeu, percorrendo com os dedos as
costas do loiro, dando-se o prazer de sentir cada músculo.
— Isso não vai acontecer, logo já volta ao ritmo normal.
— E se não passar? Se me der um infarto?
— Então faremos a nossa versão de Romeu e Julieta, mas recém-transados — Descobriu o rosto
de Megan, tirando os cabelos castanhos e ela riu.
— Vamos fazer mais uma vez? Ainda tenho até amanhã ao meio-dia, poderia ficar até a tarde.
— Sim, vamos transar de novo, mas antes, vamos tomar banho e descansar um pouco — Pegou-
a pela cintura, deitando-a do lado para poder tirar o preservativo que mostrava a prova de que
tinha sido dono da inocência da sua garota.
Thor ficou de pé e estendeu a mão com aquele sorriso que a enlouquecia.
Megan não conseguiu evitar observar o corpo nu de Thor e teve que confessar que estava
menos ameaçador com a rigidez quase perdida do seu membro; pegou um lençol para se cobrir,
mas Thor não deixou.
— Não me sinto cômoda — Disse, tentando pegar novamente o lençol.
— Megan, eu gosto de ver você sem roupa; esperei muito tempo para isso e não há nada mais
excitante e sensual que a tatuagem.
— Minhas pernas são muito feias.
— Suas pernas fazem parte do seu corpo e eu adoro — Pegou-a pela mão e a levou.
Entraram no banheiro e decidiram tomar uma ducha, não queriam esperar a banheira encher.
Megan só estava um pouco incomodada, eram como pontadas de vez em quando, que não
interferiam na felicidade que sentia. Nunca achou possível compartilhar a intimidade a tal ponto
com Thor, sabia que não seria mais a mesma coisa quando se tocasse.
Ele esfregava seu abdômen e ela juntava suas mãos para pegar água, que levou à boca,
sentido vontade de brincar. Espirrou a água da boca em um jato que explodiu no peito de Thor,
que olhou sorridente o que tinha feito e acabou imitando-a. Entre risos e abraços, acabaram de
tomar banho.
— Vamos ao closet e você escolhe uma das minhas camisetas — Entregou uma toalha para sua
namorada para se enrolar.
Thor colocou uma calça de agasalho azul vibrante, enquanto Megan procurava uma camiseta.
— Vou até o armário do corredor pegar lençóis — Disse.
Ela concordou em silêncio e continuou procurando.
Antes de sair do quarto, o loiro tirou os lençóis da cama e as levou até a lavanderia, jogou-os
no cesto de roupa e viu outros perfeitamente dobrados em cima da mesa de passar roupa,
aproveitou e pegou esses mesmos para não ter que procurar no armário.
Ao entrar no quarto, Thor teve que engolir seco e segurou a mandíbula não caísse no chão.
Megan pulou a barreira do previsível, emocionou-se tanto que um redemoinho de lágrimas parou
na garganta, talvez produzido pela admiração que não conseguia sair.
— Nada mais perfeito no mundo — Disse, caminhando e colocando os lençóis em cima da cama.
— Minha garota com a camiseta da minha seleção — Admirou como estava linda com a camisa da
Seleção Canarinho.
— Gostou? — Perguntou, dando uma volta.
— Não só gosto, como também me excita — Disse e correu até o criado-mudo. — Caralho! Não
temos celulares aqui, vou buscar, não vá a nenhuma parte.
— Não irei a lugar nenhum.
Thor correu, mas antes de sair, voltou até onde ela estava e deu um sonoro beijo.
— Perfeita… Perfeita — E, novamente, correu, para voltar rápido com os telefones em mão.
Perdeu as contas de quantas fotos tirou, a maioria de Megan sozinha e, em algumas, ele estava
junto.
— Vou comprar uma feminina para você... Já vou pedir para você não se comprometer com
ninguém, porque vai comigo à Copa do Mundo.
— Faltam dez meses para a Copa — Disse, beijando-o no peito.
— Bom, já estou reservando com tempo... Porque nós vamos, nem que eu tenha que sequestrar
você e tenho certeza que vamos ganhar a taça pela sexta vez e vai ser toda uma festa no Brasil.
Quero que você esteja comigo lá comemorando.
— Está bem! Irei com meu namorado pela primeira vez ao Brasil e a uma Copa do Mundo...,
mas eu não deveria torcer para o meu país? — Perguntou ao perceber o que tinha falado.
— Vamos, Megan, Estados Unidos é uma merda no futebol, só passam vergonha; beisebol eu
aceito, basquete também, mas em futebol, os brasileiros são os melhores, como também no
carnaval, ninguém ganha de nós e quero ver você de verde e amarelo — Disse emocionado.
— Você tem razão — Disse, fazendo uma careta. — Mas você me promete que vai me ensinar
a sambar.
— Prometo. E vou encontrar uma professora para você.
— Ai, que emoção, vou sambar! — Jogou-se em cima dele, passando as pernas pela cintura.
— Sim, vai ter que aprender porque quero que me faça uma demonstração; depois eu falo
como, agora você quer ver qualquer porcaria na televisão ou um filme.
— Um filme.
Depois de alguns minutos, Megan e Thor estavam na cama curtindo um filme de ação. Para
depois dormirem profundamente. Ela se abraçou a ele, descobrindo como era maravilhoso dormir
na companhia do homem que amava, do calor tão reconfortante que seu corpo oferecia e como as
batidas do seu coração a deixavam apaixonada.
CAPÍTULO 25

Depois de algumas horas de solitária estrada, entraram na cidade de Oklahoma, onde fariam uma
parada de umas três horas, para descansar um pouco, comer, tomar banho, colocar gasolina e
continuar.
Samuel já estava resignado a ficar em motéis de estrada e não perguntava para Rachell;
simplesmente chegava e descia com a bagagem de mão.
Era a primeira vez na vida que passava tanto tempo com uma mulher. Estava com ela dia e
noite, conversavam por horas e horas sobre qualquer bobagem porque não podiam falar do
passado.
Algumas vezes, ela dormia enquanto ele dirigia; outras vezes, era Rachell que dirigia devido às
exigências e, embora Samuel se sentisse cansado, não podia pregar o olho. Só admirava o caminho
ou perdia o seu olhar no perfil feminino, sentindo-se feliz, pleno, sem preocupações.
Tinha dado um tempo aos seus fantasmas, tinha deixado trancados, pelo menos, durante o
tempo que durasse a viagem, depois retomaria sua vingança.
Discutiam, era impossível não discutir quando os pontos de vistas eram sempre tão diferentes,
principalmente os gostos musicais. Com a mesma frequência dos desacordos, tinham relações
sexuais e acabavam com essas pequenas discussões.
Rachell era menos intransigente que Samuel e procurava soluções para os desacordos, como
criar uma lista com os gostos musicais dos dois, ter uma instalação de iPod no clássico ajudou
bastante, porque seria realmente criar uma lista de reprodução em um cassete. Santa tecnologia!
Naquele momento, a música Bitter Sweet Sinfony amenizava a viagem e Rachell aproveitou a
oportunidade para fazer caretas, ajudada pelas mãos, chamando a atenção de Samuel, que
estava com o olhar no caminho. Ele, ao vê-la, soltou uma gargalhada e levou a mão à cabeça de
Rachell, obrigando-a a abaixar, quase enterrando no piso do carro.
— Você está tão ridícula quanto Reese Witherspoon — Disse, sem evitar rir.
— Melhor eu economizar, afinal você não é Ryan Phillippe — Disse, cruzando os braços e
fingindo-se de brava.
— Tudo bem, só estava brincando um pouco — Tentou emendar o erro.
— Já disse que você não é o Ryan Phillippe e não estou brincando. Melhor eu ir para o banco
de trás — Disse, incorporando-se e, com a precaução necessária porque o carro estava em
movimento, passou para seu lugar de descanso, que sempre ocupava quando estava brava.
— Já estamos chegando e se continuar com essas brincadeiras, vou pegar um quarto individual
— ameaçou, olhando pelo retrovisor.
— Você vai dormir no chão, porque um cavalheiro não deixaria uma dama dormir no chão.
— Ah, que bobagem essa de cavalheiros! — Exclamou de maneira exagerada. — Sou do
século XXI, se quiser um cavalheiro, procure uma brecha no tempo. Duvido que goste de algum
porque realmente não eram como se apresentam nas séries da BBC... Vai se ferrar com isso!
Quando estiver rodeada de barrigudos que não conseguem vê-la e com hálito dos diabos... Mas,
para não dizer que são tão desgraçados, deixaria você dormir embaixo do meu corpo... Você
decide.
— Permitiria com a única condição que esteja pelado. Caso contrário, prefiro ficar no carro e
me asfixiar com o monóxido de carbono.
— Nesse caso, nesta noite, pegamos um quarto individual. Talvez deva fazer isso com o resto
dos motéis que faltam ainda... Agora venha aqui — Pediu, estendendo a mão, no momento em que
reduzia um pouco a velocidade.
Rachell agarrou a mão e, outra vez, passou para o banco da frente. Ao se sentar, Samuel
pegou sua mão e deu vários beijos na palma.
— Você gosta de discutir comigo.
— Você acaba me divertindo — Disse sorrindo e amordaçando-o em tom de brincadeira.
Depois de alguns minutos, chegaram ao Motel Skyliner e Rachell desceu em pulinhos, como se
fosse uma menina realmente emocionada ao saber que se hospedariam em um dos motéis mais
famosos dos Estados Unidos, pela quantidade de vezes que apareceu nos filmes.
— Samuel, traga a câmera, quero uma fotografia no letreiro — Pediu, parando ao lado de um
grande painel de luz de neon.
O brasileiro adorava vê-la tão emocionada e não podia negar nenhum pedido, ela estava
vivendo um dos seus grandes sonhos. Decidiu-se pela câmera profissional, já que a Polaroid era
mais apropriada para outros momentos.
— Você está muito bem pela objetiva… — Disse, antes de fazer a primeira foto, das três que
ela quis embaixo do letreiro.
Algumas pessoas chegavam ao caro do lado e Rachell não perdeu a oportunidade de pedir um
favor, já que queria fotografias com Samuel, o pai da família se ofereceu amavelmente. Supôs que
não sairia muito bem naquela foto quando Samuel a pegou de surpresa e a carregou, capturando
o momento do seu assombro.
Agradeceram a colaboração do homem e se dirigiram ao interior do motel, onde reservaram
um quarto de casal. Precisavam descansar nessas duas horas e uma cama de solteiro não era a
melhor opção para isso.
Foram para um quarto com papel de parede florido em bege e rosa antigo, que combinava
com os lençóis e as cortinas.
O lugar estava limpo e organizado, a cama era ampla e cômoda, tomaram um banho e, antes
de dormir, Samuel ativou o despertador para não dormir mais de duas horas.
Era normal que caíssem rendidos, dirigir por horas e horas esgotava, mas paravam o tempo
necessário para descansar e não se expor na estrada. Talvez se tivessem um pouco mais de tempo,
poderiam ficar, pelo menos, um dia em cada lugar que chegavam e assim conhecer um pouco. Mas
Samuel tinha que voltar aos seus deveres na procuradoria, não adiantou muito antecipar as férias.
O despertador ressoou no quarto, acordando-os abruptamente e, em um ato reflexo, Samuel o
silenciou.
— Vá primeiro, você demora mais que eu no banheiro — Disse com a voz rouca de sono e
virou meio de lado, dando as costas para Rachell para dormir mais alguns minutos.
Ela não disse nada, só se incorporou e sentou na cama. Alongou-se, tentando espreguiçar, antes
de ficar de pé, deu uma olhada por cima do ombro ao rapaz dormindo nas suas costas e freou os
impulsos em beijar seus ombros. Samuel era um cúmulo de pontos fracos, ele tinha se convertido em
uma espécie de droga da qual não conseguia cortar a dependência.
Soltou um suspiro e foi ao banheiro, dando-se o tempo necessário. Decidiu fazer duas tranças,
uma de cada lado, seu cabelo chegava abaixo dos seus peitos e dava um toque virginal. Não
conseguiu segurar o riso ao ver no espelho o resultado.
Ao sair do banheiro com calça jeans no quadril e uma camiseta justa vermelha, seu olhar parou
em Samuel, que ainda não continuava dormindo, tinha mudado a posição e agora estava de
bruços.
Involuntariamente, mordeu o lábio inferior ao ficar abobada com a bunda do rapaz. Seus
impulsos arrebatados surgiram e, como uma menina travessa, dirigiu-se com cuidado e subiu na
cama. Com precaução, tirou o lençol que amarrava na cintura, uma das grandes vantagens de
dormir pelado era que não tinha que brigar com o tecido atrapalhando.
As nádegas descobertas só a incitavam de maneira desmedida, por isso, deixou suas mãos
caírem sobre elas e apertou com força, como se estivesse prendendo com os seus dentes,
despertando-o assim de um modo alarmado.
— ¡Rachell! Caralho! — Exclamou, diante do assombro e a pressão na bunda. — Solte... Solte
— Pedia e ela não soltava, só arrancava gargalhadas que eram interrompidas por gemidos de
dor.
— Você tem uma bunda provocante — Acariciou a mordida com beijos para, depois, se
incorporar e sentar-se em cima.
Samuel aproveitou e esticou um dos braços para trás, rodeando a cintura dela e a jogou na
cama. Em um movimento veloz, a cobriu com seu corpo.
— Sua bunda também é provocante... Quero para mim — Lançou a proposta, mordendo o
lábio inferior diante do desejo, o que fez Rachell engolir seco. — Vai me dar? — Perguntou como
um menino que pede um presente por bom comportamento, tentando convencer a mãe com um
olhar angelical.
— Não! Você está louco — respondeu, quase imediatamente, sentindo-se, de cara, muito
nervosa.
— Você tem medo? — Encostou lentamente seus lábios nos de Rachell.
— Não… Bom, sim, claro que sim — Sem conseguir manter o olhar. — Deve doer.
— Podemos ir de pouco em pouco, não será na primeira, posso ser um cavalheiro com isso...
Diga que sim, minha Lolita — Disse, agarrando uma trança.
— Lolita? Espero que, pelas suas bolas, que estão a um toque do meu joelho esquerdo não seja
a raposa.
Samuel desceu uma das mãos e segurou a perna, evitando qualquer movimento.
— Lamentavelmente, não conheço outra Lolita — Deu um beijo na testa dela. — Agora sim, vou
tomar banho, senão fica tarde — Saltou da cama com uma habilidade que congelou qualquer
movimento de Rachell; porém, ela saiu da cama e correu, mas Samuel foi mais rápido e se fechou
no banheiro.
— Você é um covarde! — Ao verificar que tinha trancado a porta.
— Só que eu gosto muito das minhas bolas, me fizeram muito feliz até o momento — Disse,
entrando no chuveiro.
— Se não fosse pelo fato de que também me fazem feliz, não perdoaria por ter me
comparado com a Lolita.
— Espero chegar aos meus 40 para realizar essa fantasia, mas se quiser realizá-la antes do
tempo, não vou negar... Com certeza, ficaria muito bem deitada na grama, lendo, enquanto os
chafarizes do jardim molham você.
— Melhor chegar aos 40 e procurar sua Lolita... Velho verde! Bem, antes de ir, temos que
passar em uma loja, tenho que comprar roupa interior e, quando chegarmos a Amarillo, temos que
ir a uma lavanderia porque quase não temos roupa limpa.
— Se tivéssemos ficado em bons hotéis, não teria roupa suja e nem sonha que não vou lavar,
nunca fiz isso na vida — Elevou um pouco a voz para que o escutasse.
— Sempre há uma primeira vez para tudo, procurador — Imitou o tom de voz de Samuel.
— Por lá, não passo, prefiro jogar fora a roupa suja e comprar nova, mas não vou lavar —
Disse determinante.
— Bom, está bem… — Disse como se estivesse de acordo e saiu para, depois, sussurrar para
ela mesma. — Isso vamos ver.
CAPÍTULO 26

Thor fazia manobras com a bandeja para não derramar nada e acabar causando um desastre;
caminhava lentamente, o que de certa maneira o exasperava. Definitivamente, não servia para
aquilo e não sabia de onde tinha tirava essas ideias que não conseguia evitar ultimamente.
— Pareço um velho com artrite — resmungou, subindo o último degrau de vidro da escada
aérea.
Ao entrar no corredor, encheu-se um pouco mais de confiança e caminhou com mais segurança,
chegou à porta do seu quarto e abriu, encontrou Megan ainda dormindo embaixo dos lençóis,
como se fosse uma borboleta no casulo. Não teve como evitar sorrir ao ver a maneira tão peculiar
como dormia.
Com cuidado, colocou a bandeja sobre a escrivaninha e, como um tigre que se aproxima da sua
presa, com sutil maestria, subiu na cama e, pouco a pouco, foi tirando a coberta dela.
— Como está acordando, minha garota? — Perguntou com voz em um tom brincalhão e, ao
mesmo tempo, terno. — Acorde, dorminhoca, pensei que ninguém conseguia ganhar de mim, só os
coalas.
Megan acordou aturdida, não sabia onde estava, durante segundos, pensou que estava
sonhando, mas ao ver seu namorado muito perto do seu rosto e a dor do seu corpo que se revelou
quando se mexeu, soube que era a mais bela realidade. Sentia-se como se tivesse corrido por dias
sem descanso e os músculos da parte interna das coxas eram os que mais doíam.
Não era uma dor insuportável, era como se fosse produto do cansaço; porém, não teve como
não sorrir ao ver o céu brilhante, tão, mas tão perto, que dava para se ver refletida nele, aquela
íris celeste, era o mais lindo que já tinha visto e, então, as lembranças de tudo o que tinha vivido
passou como uma avalanche, garantindo que era real.
— Você está bem? — Perguntou um pouco desconcertado ao vê-la aturdida.
Megan concordou em silêncio, ampliando seu sorriso para acreditar no gesto.
— Dói algo? — Ele sabia que devia estar doendo e que estaria inflamada, mas queria saber
até que ponto.
A garota negou com a cabeça, mentindo para o namorado porque, claro que estava doendo,
era lógico depois que o acordou de madrugada para confirmar o que era ser mulher, que a
fizesse viver todas essas sensações que a golpeavam enquanto ele a penetrava.
— E você quer me dar bom dia ou repetir que me deseja tantas vezes como fez de
madrugada? — Continuou suas perguntas, perdendo-se no cândido rosto de Megan, que estava
sem maquiagem e a fazia brilhar como a menina que alterava as batidas do seu coração.
— Thor… — murmurou, levando a mão para cobrir a boca. — Já vou dizer, mas primeiro tenho
que ir ao banheiro… — Não queria falar de perto depois de ter dormido por várias horas, sue
hálito não seria de flores.
— Tonta — Disse, retirando com uma mão a dela e, com a outra, pegou-a pela nuca e
aproximou-se, dando um beijo arrebatador de bom dia, um beijo que despertava as pulsações no
corpo dolorido de Megan e que aviva a fonte dos seus fluídos. — Veja como são divinos os beijos
assim — Disse ele, saboreando seus lábios e ela só concordava, tentando encontrar o hálito e
encher seus pulmões.
— Bom dia, meu namorado — murmurou, colocando suas mãos nos lados do pescoço do loiro e
sentindo que o frio tomava conta dos seus mamilos, o que a advertiu que estava nua, o lençol tinha
descido durante o beijo.
— Bom dia, minha namorada… — Abaixou um pouco a cabeça e parou o rosto em frente ao
peito da garota. — Meus peitinhos preferidos estão ansiosos — Chupou cada mamilo com
gentileza, arrancando gemidos de Megan. — Esperem alguns minutos, porque primeiro vamos
repor as energias — falou aos peitos em meio a gestos infantis, para logo ficar de pé e buscar a
bandeja.
— Café da manhã! — Exclamou realmente emocionada com a surpresa.
— Almoço, já passou de meio-dia — Sentou-se na cama, colocando a bandeja no meio dos
dois, pegou a rosa branca que decorava e acariciou o rosto com a flor, para, logo, entregar a ela.
— Obrigada, ai, Thor, você é tão lindo... Foi você que fez? — Sentia-se realmente especial ao
ver a bandeja que tinha tortinhas com carinha feliz, morango, pão torrado e geleia de morango e
pêssego, café, leite, água, suco de laranja, ovos, bacon... E não conseguia ver tudo o que tinha na
bandeja quando pensou que seria comida para um batalhão.
Era uma tonta romântica e tinha sonhado que sua primeira vez fosse com velas, rosas vermelhas,
lençol de seda, mas ela não deu opções para Thor, chegou de repente, deixando-se levar pelo
desejo que a consumia; porém, tinha encontrado a oportunidade de tornar tudo especial, com um
café da manhã perfeito e preparado por ele.
— Bom… Este, Megan — Não sabia o que dizer, talvez devesse mentir, mas sabia que, em
qualquer momento, poderia se entregar e era melhor ser sincero, que a única coisa que tinha feito
era passar geleia nas torradas. — Eh... Não fui eu que fiz, Megan, não sei cozinhar... Foi a senhora
que mantém Samuel e eu vivos — Disse com timidez.
Seu namorado não era perfeito, mesmo que não soubesse cozinhar, não deixaria de gostar
dele, enfim, ela também mal pisava na cozinha, então entendia muito bem.
— Só o fato de você ter trazido é muito especial, adorei a rosa — Disse, pegando sua mão e
entrelaçando seus dedos nos dele. — Sabe de uma coisa? — Fez a pergunta sabendo que
gostaria da resposta que daria.
— O que foi? — Perguntou em voz baixa e sorridente.
— Tenho muita fome, acho que não vou deixar nada.
— Isto é para nós dois — Disse, rindo, sentindo-se realmente emocionado ao ver, pela primeira
vez nela, a disposição para comer e queria acompanhá-la. — Precisamos repor as energias que
gastamos — Pegou uma torrada. — Pêssego ou morango? — Perguntou, indicando com uma faca
as geleias.
— Pêssego — respondeu e observava como Thor passava a geleia, fixando seu olhar nas
mãos grandes e como a enlouqueceram com as carícias, tinham o poder para nublar a razão.
São mágicas! — Pensou e seu corpo reagia, criando ansiedade, algo que ela nunca tinha vivido,
assim como na sua cabeça se formavam cenas onde as mãos de Thor percorriam seu corpo com
delicadeza e outras tantas, com intensidade, levando o tempo necessário nesses pontos exatos que
naquele momento estavam pulsando desenfreados.
— Gostaria que ficasse mais um dia… — propôs, deixando seus desejos à mostra, enquanto a
entregava um pão com geleia de pêssego e a olhava nos olhos.
— Talvez, se você ligar para a minha mãe e se passar pelo pai de Ciryl… — A malícia saltava
em cada uma das suas palavras, enquanto se movia sentada sobre seus calcanhares, procurando
mais comodidade. — Não tenho aulas importantes hoje — Disse, piscando um olho.
— E seu pai?
Megan deu uma mordida no pão e mastigava, enquanto segurava o riso; porém, seu olhar
sobre Thor deixava claro o que sentia.
— Agora que você pergunta? — Disse, depois de engolir o pão.
— Pensei que ele tivesse concordado que você dormisse na casa de Ciryl, mas duas noites e
com o pouco que o conheço, com certeza, é só eu me passar pelo pai da sua amiga, que em dez
minutos a Swat aparecerá na casa da coitada; o senhor Brockman é paranoico. Não é?
— Um pouco, mas minha avó diz que não foi sempre assim — comentou, pegando o copo com
suco de laranja e dando um gole. — Não se preocupe, ele foi para Las Vegas, está em uma
viagem de negócios e não voltará até a próxima semana. Por isso, falei que se ligar para minha
mãe, tenho certeza que vai concordar, ela prefere estar sozinha em casa — Disse, olhando o
bacon que parecia estar bem torradas, ia pegar porque estavam com uma cara muito boa, mas
desistiu e preferiu um morango, sabendo aquela única tira tinha muita caloria.
— Então vou ligar para sua mãe, Megan… Acho que agora que teremos relações sexuais com
bastante frequência, é necessário fazer um controle, procurar métodos anticoncepcionais — Thor
falava com precaução cada uma de suas palavras, caso Megan não estivesse de acordo.
— Pílulas, não; poderiam descobrir e aí eu teria um grave problema com meu pai — interveio,
embora ela soubesse que para poder engravidar, teria que fazer um tratamento, já que sua
doença tinha ido muito longe e fazia pouco mais de um ano que tinha voltado a menstruar depois
de um período de oito meses e isso tinha afetado seu órgão reprodutor.
Isso foi o que os médicos disseram, mas não queria contar agora para Thor, porque talvez a
abandonaria ao pensar que não poderia ter filhos, embora, nunca antes tinha tido relações e não
sabia realmente se a ciência podia estar tão certa, o melhor era mesmo prevenir e não lamentar.
— Tenho um amigo. O que você acha se aplicamos injeções? Eu poderia ligar para ele,
marcaria uma consulta nesta tarde mesmo, ele explicaria tudo, mas se você quiser só usar a
camisinha, por mim, tudo bem.
— Como você prefere? — Perguntou, envergonhada, já que era a primeira vez que falava
abertamente com alguém sobre métodos anticoncepcionais.
— Não me pergunte para me agradar, para mim, tanto faz... Com camisinha, sem camisinha, só
que, talvez... Surjam situações em que queremos transar e não teremos preservativo e aí teríamos
que nos conter e isso eu não gosto, gosto de fazer onde me dê vontade.
— Em qualquer lugar — Sua voz evidenciou a malícia, mas a vergonha aumentou no seu rosto.
— Também não é em qualquer lugar, poderiam ser lugares específicos, nem todo o tempo será
na cama, nem neste quarto, também teremos momentos em que não teremos muito tempo.
— Bom, então aplicamos as injeções, vamos acabar de tomar café e ligamos para a minha
mãe... Quero estar preparada para esses lugares específicos — garantiu, abaixando os olhos
para a comida e sorrindo diante da astúcia que surgia.
— Você é a melhor pessoa que já conheci — Soltou, sem querer, sem nem analisar, deixando-se
levar pelo momento, nem se arrependeu porque não teve consciência do que falou.
— Vou ligar para Ciryl para ela me emprestar uma roupa. Você pode trazer? — Perguntou,
pegando o celular.
— Sim, claro.
— Thor, você não foi trabalhar! Como vai fazer se eu ficar até amanhã? — Tinha acabado de
se dar conta de que seu namorado tinha faltado no trabalho.
— Não se preocupe com isso, o grupo não vai falir porque eu me ausentei alguns dias —
confessou, dando uma piscadinha para que soubesse que não tinha que se importar com isso.
Megan ligou para Ciryl e a garota do outro lado da linha adivinhou que sua amiga já não era
mais virgem, na hora que disse que estava no apartamento do namorado e pelo seu tom de voz e
ficou feliz por ela.
Depois de alguns minutos, terminaram de comer e, como a garota imaginava, sua mão não
colocou nenhum empecilho para que ela ficasse mais um dia na casa da amiga; aproveitava que
Henry não estava para dar a sua filha a liberdade que precisava, assim como ela também teria.
CAPÍTULO 27

A pequena loja com decoração texana deixava Rachell deslumbrada, por isso, não comprou só
roupas íntimas, mas sim que estava no provador, olhando-se no espelho com a roupa que, segundo
ela, seria perfeita para a viagem e escutava atenta a música country de Faith Hill, que amenizava
o lugar e que vinha de um rádio pequeno que tinha a dona em cima do balcão.
— De alguma maneira, sei que meu coração está despertando, como se todas as paredes
estivessem caindo… — Em voz muito baixa e de maneira inconsciente, acompanhava a letra da
música, enquanto terminava de arrumar a camisa.
Estava com uma minissaia jeans desgastada, desfiada, que dava um toque muito sensual e
também com botas texanas que chegavam até a panturrilha, com um salto moderado e esporas
douradas, uma blusa xadrez vermelha, preta e branca, amarrada embaixo do peito, deixando
descoberta sua pequena cintura e seu abdômen marcado. Para completar o figurino, colocou um
chapéu de caubói, que dava um toque de rudeza ao seu penteado com tranças.
Satisfeita, deu meia volta e abriu a porta do provador, procurou Samuel com os olhos e parecia
que estava se preparando para jogar roupa fora e não lavar nada, porque estava com várias
calças jeans penduradas no braço. Com cara de teimoso, observa as peças e ela não teve como
não sorrir, porque, com certeza, nunca teve que escolher roupa. Provavelmente as lojas a que ia, se
é que ia a alguma, já o atendiam.
Adorava quando fixava seu olhar nas peças e o músculo da mandíbula pulsava, como também
notava na têmpora, a testa franzida, os lábios formando uma linha reta. Não havia nada mais
sexy que o seu procurador egocêntrico concentrado.
— O que achou?! — Perguntou, levando as mãos à cintura e parando como se fosse ser
fotografada.
Quando a viu, Samuel perdeu o sentido e jamais poderia dizer que movimento fez que
derrubou a vitrine das camisas.
— Caralho! — Exclamou diante do estrondo que o tirou daquele estado em que Rachell o
colocou só com o olhar.
Dizer que estava perfeita era pouco, que despertou suas mais baixas paixões também.
Descontrolar cada um dos seus nervos e batidas do coração só com um olhar era algo, de certa
maneira, irracional e ela tinha conseguido. Agachou-se para tentar levantar as roupas que tinha
derrubado, enquanto sentia os olhares sobre ele. Bom, pelo menos, da dona da loja que estava no
caixa.
Porém, toda a sua atenção era roubada por um par de devastadoras pernas que se
aproximavam e a única coisa que conseguia escutar eram as esporas que ressoavam na sua
cabeça a cada passo que dava. O coração estava na garganta e, mesmo que engolisse a seco,
não conseguia fazê-lo descer.
Já tinha visto Rachell nua, tinha transado com ela em todas as posições que tinha permitido até o
momento. Não havia nada naquele corpo que não conhecesse; podia indicar cada uma das suas
pintas com os olhos vendados e, incrivelmente, um pouco de roupa a reinventava para ele,
deixava-o descontrolado e ele ficava um tonto. Agora sim, tinha acabado com ele. Nenhuma
mulher o tinha feito tremer como ela fazia.
— Samuel… — O nome do rapaz escapava entre risos.
A primeira coisa que fez ao ver o desastre foi levar as mãos à cabeça para, depois, correr até
ele e, ao ficar ao seu lado, não conseguiu segurar o ataque de riso. Tanto que caiu sentada no
chão e levava as mãos à barriga.
Ele não conseguia se defender, estava perdido, fora do que era e, se fosse outra situação, teria
ficado bravo e dito cobras e lagartos, só se contagiou, embora seu riso fosse contido e ainda não
conseguia levantar a maldita vitrine.
— Rachell, chega… Vão nos colocar para fora... A dona tem cara de poucos amigos —
murmurou entre risos.
— Está bem, eu paro… — Tentava, mas as gargalhadas a interrompiam quando tentava
respirar fundo. — Eu fico quieta, minha barriga está doendo... Você gostou?
— Não sei. O que você acha? — Fez perguntas sarcásticas diante do que era óbvio.
Finalmente conseguiu levantar as roupas e, ao ver a cara de descontentamento da mulher, agachou
novamente. — Perdemos o desconto para turistas.
— Leve esta, ficará bem em você o xadrez verde e branco — Estendeu uma das camisas que
ainda estava no chão. — E esta você pode colocar por cima, é igual a minha.
— Eu não uso xadrez, não gosto. E muito menos destas cores.
— Fica muito bem em você.
— Não gosto.
— Você pode fazer isso por mim? — Perguntou, levantando-se e dobrando-se para pegar uma
das camisas com toda a intenção de colocar a bunda na cara de Samuel, que apreciou em todo o
seu esplendor, já que Rachell estava de fio dental e a minissaia não foi nenhum obstáculo.
Ele engoliu seco e as pulsações do seu pênis ganharam vida, assim como o suor na nuca.
— Bom, vou levá-las, mas não tenho certeza de que vou usar, nenhuma das duas — enfatizou
as últimas palavras para que ela entendesse que era um "não vou usar".
— Bom, não sei... Estive pensando, falando comigo mesma, dar o cu para Samuel não deve ser
tão grave, nem tão doloroso. Ele vai ser um cavalheiro, será cuidadoso, quem sabe, se ele se
comportar direitinho... Se não for tão canalha como sempre, pode ser que ganhe o prêmio... —
Falava quando ele a interrompeu.
— Maldita manipuladora — Disse, em meio a uma brincadeira, como se fosse um menino e, no
seu peito, a pressão aumentava, como também sua ereção começava a ganhar vida. — Você está
jogando sujo, Rachell.
— Não, não estou jogando... Você é um pouco escuro, essas cores combinam com você. Portanto,
você decide se começa a ganhar seus méritos — Pegou um chapéu de caubói e colocou no rapaz.
Samuel se recompôs e pegou as camisas, pendurando-as e tentando deixá-las ordenadas para
ficar com as duas que Rachell tinha escolhido e também com as três calças jeans que ele pegou.
Também estava levando roupa interior. Colocou tudo isso na cesta que entregaram na porta de
entrada.
Rachell foi buscar sua cesta no provador. Ela comprou outra minissaia e um shorts jeans, mais
duas blusas e algumas camisetas sem manga de algodão.
Ao chegar no balcão, a mulher já estava cobrando a roupa de Samuel e ela colocou a cesta
perto da caixa registradora.
— Tudo na mesma conta? — Perguntou com o melhor semblante ao ver a compra que estavam
fazendo.
— Não — Adiantou-se Rachell. — Isto eu pago.
— Tudo na mesma conta, senhora — Disse Samuel.
— Não, termine de cobrar o dele, são contas separadas — Disse a garota, entregando as
etiquetas com os preços do que estava já vestindo. Samuel ia protestar, mas ela, em um movimento
rápido e que a senhora não percebeu, agarrou seu pênis e podia apertar mais forte, deixando-o
com desejo.
Embora Samuel tenha tentado disfarçar, não conseguiu evitar que seus olhos mostrassem o susto
e não restou outra alternativa, a não ser concordar em silêncio para fazer as coisas como Rachell
pedia. Ela o pegou desprevenido, mas logo teria a oportunidade de dar o troco.
A mulher seguiu as instruções e estava cobrando as coisas de Rachell quando parou e aumentou
o volume do rádio, que dava um alerta de temporal e possíveis tornados na região, dizendo para
todos os moradores tomarem as devidas precauções.
O alerta se refletiu imediatamente nos olhos de Rachell e engoliu seco, sentindo como o coração
parava na garganta e o corpo ficou trêmulo e a nuca começava a suar.
— Vocês estão fazendo a Rota 66? — Perguntou a mulher, um pouco nervosa.
— Sim, na verdade, já estamos de partida, nossa próxima parada será Amarillo — respondeu
Samuel, enquanto Rachell procurava seu cartão de crédito e o documento de identidade para
entregar à mulher, tentando disfarçar o tremor de medo nas mãos.
—Desculpe, mas deveriam esperar até amanhã, quando passar o alerta. É um pouco perigoso
continuar a viagem — aconselhou a mulher, temendo pela segurança dos turistas.
— Acho que podemos chegar antes que a tempestade nos surpreenda e também fugimos dela
— Samuel, que quase não tolerava conselhos, não conseguiu segurar sua resposta.
— Você decide — Disse, cobrando a conta de Rachell, que estava muda.
Os dois saíram da loja com as sacolas marrons que tinha um logotipo no centro, era uma
ferradura de cavalo. O carro preto estava esperando estacionado em frente à loja. Samuel
colocou as sacolas no banco de trás, entrou no lado do motorista e Rachell, no banco do
passageiro.
— Você está muito calada. Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, quando ligou o carro.
— Eu acho que a mulher da loja tem razão. Deveríamos voltar ao hotel, talvez seja mais seguro
do que estar na estrada — murmurou com coração pulando na garganta.
— Rachell, é só um alarme falso. Olhe o céu, não tem como estar mais aberto, esse povo de
meteorologia sempre erra. Você tem medo? — Perguntou, ao ver que o semblante dela mudou.
— Um pouco, não quero morrer no meio de um tornado — Disse, tentando manter a voz rouca
pelo pânico e com o olhar fixo nos seus joelhos.
— Bom, dificilmente você pode morrer no meio de um tornado, você morre muito antes. Pode ser
que uma vaca atinja primeiro — Disse, rindo.
— Palhaço... Não tem graça, Samuel. Os tornados são reais, passam e destroem todo o caminho.
— Isso eu sei, mas não vai acontecer bem agora, que estamos cumprindo seu sonho, vai ter que
esperar — Disse, aproximando-se dela. Levou uma das mãos na nuca para aproximá-la e beijou-a
nos lábios. — Tudo vai ficar bem. Não tenha medo, você está comigo — Com um tom de voz que
fez diminuir o medo dentro ela, ele passou tanta segurança que só pôde agradecer devolvendo o
beijo.
— Você não vai conseguir conter um tornado... é muito arrogante da sua parte pensar isso —
Disse, admirando os olhos dourados e maravilhosamente varonil e lindo como estava com aquele
chapéu de caubói.
— Quem disse que não... Você ainda não me viu fazer esta beleza rugir — Disse, batendo
gentilmente no volante do clássico. — Sou amante do perigo e da velocidade e vamos chegar a
Amarillo em menos tempo do que o previsto.
— Não seja Michael Schumacher. Lembre-se que você tem companhia no carro.
— Não preciso lembrar… — Uma de suas mãos insolente pousou em um dos joelhos da garota
e começou a subir até a coxa. — Se a minha cowgirl está me deixando louco. Você é o maior
motivo pelo qual quero chegar logo em Amarillo.
— Mas você não está parecendo um cowboy — Disse, parando a mão dele.
— Está bem, vou colocar essa bendita camisa xadrez — Tirou o chapéu e a camiseta cinza que
estava usando, procurou no banco de trás a camisa que estava na sacola, pegou a xadrez igual à
dela e, com certa irritação, colocou. — Contente agora? — Perguntou, depois de colocar a camisa.
Rachell fez uma careta com a boca, enquanto olhava para ele, aí arregaçou os punhos até o
cotovelo e colocou o chapéu.
— Agora sim, você é um caubói completo — Deu um sonoro beijo nos lábios. — Não vamos
perder mais tempo, não quero que a tempestade nos pegue no caminho, pois se for de granizo,
duvido que a capota aguente.
— Bom, sinto informar, mas a capota não funciona. Por que você acha que aguentei tanto sol?
Rachell abriu e fechou a boca, sem encontrar palavras que pudessem expressar como se sentia.
Soltou a cabeça sobre os joelhos e começou a negar com a cabeça.
— Isto é um desastre, é um verdadeiro desastre — repetia com um fio de voz.
Samuel deu uma gargalhada, procurou no iPod e tocou Route 66, interpretada pelos Rolling
Stones para, depois, ligar o Ford Thunderbird, saiu do estacionamento e pegou a estrada,
dirigindo a uma velocidade extralimitada.
— Acho que não é a melhor música — Disse Rachell, elevando a cabeça e observando que
Samuel estava indo realmente rápido.
Ele desviou o olhar da estrada e olhou sério para, depois, dar aquele sorriso cínico que saía do
nada e que criava um abismo no seu estômago. Era uma sensação que a deixava sem nenhum
argumento e dava um frio na barriga.
— Pare de ser pessimista, Rachell, curta a viagem e a minha companhia — Disse com voz alta
para escutar através das notas do rock.
A garota só fez uma careta com um sorriso brincalhão, já que definitivamente não conseguia
lutar contra o ego de Samuel Garnett e isso era uma tapa com luva de pelica para a autoestima
dela.
O brasileiro começou a cantar a todo pulmão, sabendo o que tinha causado em Rachell.
Enquanto se deslocava pela estrada a uma velocidade que estimulava sua adrenalina e sabia que
dirigir o Lamborghini naquela estrada seria algo quase orgásmico.
O tempo na estrada passava e eles procuravam a melhor maneira de se entreter, por isso,
Rachell tinha não mão um pacote de 500 gramas de M&M's, que ela comia e jogava para Samuel,
que continua dirigindo e desviava o olhar por alguns segundos da estrada, só para pegar com a
boca os doces de chocolate e amêndoa. Na maioria das vezes, acabaram na estrada ou perdidos
no carro e não conseguia evitar a gargalhada diante da má pontaria de Rachell ou aquelas que
Samuel não conseguia pegar. A música que tocava era Don't Tell Me, da Madonna, uma das
músicas que a garota não conseguia deixar de cantar.
Não tinham chegado a Amarillo, quando o céu ficou um cinza quase preto e tiveram que tirar os
chapéus por causa das fortes rajadas de vento. No horizonte, apareciam raios, o que indicava que
a tempestade se aproximava e pegaria uma grande parte da zona de onde Samuel não
escaparia, por mais que fosse em alta velocidade.
Novamente, o medo tomou conta de Rachell e ia aumentando à medida em que via os raios e
suas fossas nasais se inundavam com o cheiro da chuva e também quando a corrente de ar frio
batia no seu rosto.
— Samuel, acho que o pessoal da meteorologia tinha razão. Meu Deus! Vou morrer... Não temos
capota. Pelo menos, se tivéssemos uma, não sairia voando pelos aires logo de cara — falava
realmente nervosa.
— Nunca na vida, tinha escutado que alguém tivesse tanto medo da morte — Disse Samuel,
tentando fazer uma brincadeira, mas ele também estava nervoso.
— Não tenho medo da morte, mas sim da forma de morrer.
— De todas as maneiras, tem medo da morte... Está bem, de acordo com o mapa, estamos perto
de um motel, ficamos até passar a tempestade.
—Por favor, é que em um quarto, eu me sinto um pouco mais segura.
Quando chegaram ao motel, agradeceram que tinha um estacionamento coberto, que
protegeria o carro e não inundaria, porque, então, teriam que esperar mais tempos e não teriam
muita sorte com o quarto, já que a brincadeira que Samuel tinha feito com Rachell de dormir em
uma cama individual tinha se tornado realidade.
— Pelo menos, encontramos um quarto individual desocupado — Disse a garota, admirando o
lugar.
— Não vou conseguir dormir nesse sofá — Balbuciou Samuel, aterrorizado, diante do sofá de
um só lugar em cor verde maçã, mas que deixava claro há quantos anos estava ali.
— Eu poderia deitar embaixo do seu corpo, não sou tão malvada assim. — Colocou em cima da
mesa a pasta com o laptop de Samuel e com a máquina fotográfica profissional, além de umas
malas de mão.
Ele colocou no chão sua inseparável guitarra e que sabia que tinha sido uma má ideia levá-lo
na viagem, porque ainda não tinha usado nenhuma vez. Também deixou as sacolas da loja que
tinham a roupa interior dos dois. A fraca e amarelada luz das luminárias nas paredes laterais mal
iluminavam o ambiente.
Alguns trovões mais próximos fizeram retumbar as paredes do esquálido quarto, acabando com
a tranquilidade de Rachell e, diante de uma agilidade impressionante por causa do medo, deu um
pulo em cima da cama, o que arrancou gargalhadas de Samuel.
— Pare de brincadeira e suba na cama... Minha avó falava que, quando os raios caem muito
perto, a corrente se espalha pela terra e você pode morrer eletrocutado.
— Bom, então vamos seguir o conselho da sua avó — Pulou em cima da cama e ranger
seguinte não foi produto de um trovão, mas sim porque a pequena cama tinha terminado sua longa
existência naquele lugar no meio de um grito de Rachell.
— Samuel, você é um desastre! Você vai arrasando tudo por onde passa. Acho que tenho a
tempestade do meu lado e não tinha me dado conta — reprovou, sentindo os braços dele amarrar
sua cintura, em um ato reflexo para não cair.
O brasileiro não conseguia falar, teve um ataque de riso e ela nunca o tinha visto rir com tanta
vontade. Era impossível não se contagiar.
— Com certeza, vão pensar que quebramos a cama transando... Que vergonha! — Disse
Rachell, cobrindo o rosto com as mãos.
— É verdade... Com certeza, jamais vão pensar que foi porque estávamos evitando morrer
eletrocutados, mas se vão falar algo, vamos dar motivo para que seja com propriedade —
propôs, caindo sentado com ela.
— Samuel, não é o mais apropriado, não agora... Você parece um animal no cio... Vá para lá
— Empurrou-o em tom de brincadeira. — Estamos a ponto de morrer no meio do nada e você só
quer saber de transar.
— Só aproveitar o tempo que nos resta — explicou, puxando-a novamente para seu peito.
— Não, Samuel, de verdade, tenho medo — A voz trêmula deixava bem claro e abraçou-se a
ele quando as rajadas indomáveis de vento assobiavam fora do lugar, fazendo as portas de
madeira da janela tremerem.
— Nunca pensei escutar isso... Você parece tão independente e tão "eu posso tudo" que me
surpreende que tenha medo de uma tempestade.
— A natureza é implacável, por isso, tenho respeito — Sentia-se pequena entre os braços de
Samuel e seu corpo morno, sentados na cama, ele a protegia no meio das suas pernas.
Um novo trovão retumbou no lugar e, do nada, as gotas de chuva ameaçavam passar pelo
telhado, assim como o vento que continuava soprando. A força da natureza deixava claro que eles
eram insignificantes.
Samuel abraçava mais forte; porém, o corpo de Rachell tremia por causa do estrondo de outro
trovão. O serviço elétrico foi interrompido e os deixou completamente no escuro.
— Samuel, vá buscar umas velas... Não podemos ficar no escuro — Pediu Rachell, mas ao estar
submersa no peito masculino, pôde sentir como as batidas do coração estavam disparadas. Nunca
tinha escutado tão alterados, nem sequer durante ou depois das relações sexuais.
— Com certeza, a luz volta em alguns minutos... Não vamos precisar de velas — Disse, com voz
sufocada.
— Mas não conseguimos ver nada... Nem sequer posso ver seu rosto.
— Estou aqui.
— Você tem medo de velas? Isso é tão absurdo quanto como quem tem medo de palhaço.
— Não, não tenho medo, só não gosto... Não gosto de nada que tenha a ver como fogo — A
vibração da sua voz denotava o poder que podia exercer essa questão nele.
— Nem lareiras? — Perguntou com um fio de voz.
— Nem lareiras — Limitou-se a responder só isso. Na achava o momento propício para contar
para Rachell.
— Nem elétricas.
— São fogo do mesmo jeito. Para os dias de frio, prefiro aquecimento ou o corpo quente de
uma mulher.
— Como agora? — Perguntou e Samuel apertava com força protetora sua cintura.
— Exatamente como agora. Não preciso de nada mais. Você me dá o calor que preciso —
sussurrou, beijando-a lentamente no cabelo.
— Se você não tolera, então é medo... Saiba que o dia que quiser falar sobre isso... Eu vou
entender, não vou julgar — Disse, tendo cuidado com cada uma das palavras para que soubesse
que podia confiar nela.
— Isso eu sei, embora você acabou de dizer que é tão absurdo quanto quem tem medo de
palhaço.
— Falei isso porque eu tenho pânico de palhaço.
— E eu que pensava em dar de presente para você uma apresentação com uma dúzia de
palhaços — Disse sorrindo, entrando em uma conversa mais segura. — Mas sei que também tem
medo de tempestades.
— Normal, seria horrível ser arrastada por uma... Caso nos surpreendesse neste momento... —
falava quando Samuel interrompeu.
— Se uma dessas nos surpreender agora, juro que não solto você, irá arrastar os dois juntos —
Desta vez, beijando um ombro.
— Fico feliz em saber disso, o único problema é que não preparei meu testamento… — Disse
para deixar o medo que os calava um pouco mais leve.
— Eu também não, bom não tenho ninguém para quem deixar minhas coisas... Com certeza, Thor
não vai querer... — Ia falar algo mais, mas ela o interrompeu.
— Antes de sermos surpreendido por uma tempestade, quero que saiba que estou muito
agradecida a você… — Buscou uma das mãos de Samuel e a entrelaçou com a dela, dando um
beijo no dorso. — Obrigada por tudo, nem todo o tempo você é mal-educado, nem grosseiro... É
quem me surpreendeu verdadeiramente, embora jogue a seu favor que tenha lido minha lista de
metas e desejos, podia ter esquecido.
— Você já sabe que sou ruim para datas e, como me deram as férias, estava entre ficar no
apartamento ou fazer esta viagem. Sabia que não seria tão ruim. Sempre existe a possibilidade de
que, quando você fique muito chata, eu a amarre, amordace e coloque na mala do carro, para
viajar em paz.
— Imbecil! — Bateu em uma das coxas e só arrancou uma gargalhada, que sufocava no seu
cabelo. — Por que você não fala que fez isso porque ver Richard no meu escritório deixou-o com
raiva.
— Que nada! Por favor, esse senhor não é uma ameaça. Sei que você quer que alimente sua
autoestima… — Ela gargalhou ao não encontrar base nas palavras de Samuel. — Bom, se está
bem… Eu ficava puto de ver a cara amarela de Sturgess. Não permito que tentem arrebatar o
que é meu.
Ela ia protestar, mas Samuel foi mais rápido e a amordaçou, descendo sua boca até o ouvido
de Rachell, deixando que seu quente hálito atravessasse as mechas negras que escaparam das
quase inexistentes tranças, despertando o desejo nela.
— Você é minha, Rachell — Disse com voz profunda e sedutora. — Só minha... Quer que eu
demonstre? Quer que eu faça você mesma confirmar? Você sabe que eu tenho o poder para fazer
que me diga isso, que externa lize o que sente de verdade e que só quer reter.
A garota respirou fundo e fechou os olhos, sentindo o coração bater e seu corpo se derreter.
Samuel não gostava de fogo, mas ele estava como uma vela, ela bem poderia ser um pedaço de
cera que derreteria com seu calor.
— Mas não vou fazer isso, vou esperar que você mesma me diga, por sua conta, quando já não
aguentar mais... Só deixo de tarefa uma pergunta: Richard tinha o mesmo poder? —Deixou a
dúvida e tirou a mordaça.
— Não… — Ia falar algo, mas voltou a cobrir a sua boca.
—Não agora... Não quero uma resposta assim rápida, tome seu tempo... E não me venha com
essa de que uma tempestade vai nos levar porque isso não vai acontecer. Ainda temos que transar
no Grand Canyon e nas praias da Califórnia..., portanto, pare de drama... Tente dormir um pouco.
Como se fosse assim tão fácil: Depois de me excitar, você me manda dormir. Canalha! — Pensou a
garota e sentia como ele, novamente destampava sua boca, mas tinha certeza que, se o buscasse,
que se tomasse a iniciativa, estaria demonstrando que ele tinha razão e que exercia um grande
poder sobre ela. Embora fosse assim mesmo, não iria demonstrar. Nem morta!
CAPÍTULO 28

Com uma lentidão sensual, da qual a ruiva não era consciente, deslizava pela panturrilha uma das
meias negras com borda de renda, até levá-la à coxa, onde prendeu à liga, enquanto sorria feliz
e ansiosa. O lugar era ambientado por Pretty Woman, a um volume moderado porque tinha que
prestar atenção ao telefone.
Ao terminar com as meias, deu uma volta em frente ao espelho de corpo inteiro, observando
como estava bonito o conjunto de lingerie, fixado seu olhar em certas partes do seu corpo, pelo
menos, naquelas que a preocupavam, por isso, pegou uma parte das coxas na mão e apertou.
— Graças a Deus, zero de celulite! — Exclamou emocionada. — Seria inaceitável, Reinhard me
chutaria a bunda se me visse como um queijo.
Escolheu um vestido cruzado, que marcava provocantemente a cintura e dava uma linda forma
aos seus seios. Sorriu satisfeita e se penteou com os dedos a franja; a maquiagem utilizada foi bem
simples e à prova d'água, porque a última coisa que queria era parecer um transformista na
frente de um dos homens mais influentes do continente e, cada vez que fala isso, não conseguia
acreditar.
— Definitivamente, é seu dia de sorte, Sophia, minha mãe sentiria orgulho de mim.
Dirigiu-se até o móvel onde estavam suas joias, pensando qual seria a perfeita para combinar.
Quando o telefone tocou, ela correu até o aparelho de som e pausou a música.
— É ele, bom, são eles… — Disse, correndo até o telefone, atendeu e cumprimentou. — Bom
dia.
— Bom dia, senhorita Cuthbert, somos os guarda-costas do senhor Garnett.
— Pois não… — Segurou um grito de felicidade, mas não teve como não pular. — Desço em
alguns minutos — Assumiu o controle da situação, ao respirar profundamente para não parecer
uma adolescente histérica.
— Obrigada, senhorita.
— De nada, podem esperar na recepção, sentem-se, por favor — Disse e desligou, para ligar
rapidamente para o ramal do recepcionista, que atendeu quase imediatamente. — Giacomo, há
dois senhores na recepção, não são terroristas, são meus amigos. Por favor, ofereça algo para
eles.
— Bene… bem. — Corrigiu o italiano—. Obrigado por avisar, Sophia.
— Obrigada você — Desligou e voltou correndo para o seu quarto, onde escolheu os brincos e
as pulseiras.
Não achou conveniente nenhum tipo de colar. Colocou os sapatos de salto, que fizeram-na
parecer mais alta e estilizada. Passou um pouco de perfume e olhou-se mais uma vez no espelho.
Desligou o som e apagou as luzes, saiu do quarto e caminhou até a pequena sala onde tinha
uma mala preparada, a qual pegou e deu uma última olhada no pequeno apartamento tipo
estúdio, de onde saiu, fechando muito bem a porta. Ao entrar no elevador, o coração foi parar na
garganta, batendo descontroladamente e sabia que não era medo, era só ansiedade.
Quando as portas do elevador abriram no térreo, viu os dois homens sentados no sofá de couro
marrom. Reconhecia um deles, que estava com o senhor Garnett naquele dia do hotel e que tinha
entregado o cartão. O outro... O outro, com certeza, seria um dos vários homens que trabalhavam
para o magnata.
— Desculpem a demora — Disse para se fazer notar, embora eles já a tivessem visto e ficaram
de pé.
— Não precisa se desculpar, senhorita, venha conosco, por favor — Pediu, fazendo um gesto
com a mão para que ela passasse na frente.
— Sim, já os acompanho, vou deixar as chaves com o concierge — Agitou sutilmente o molho de
chaves. Eles concordaram em silêncio e ela se dirigiu à porta de vidro.
— Giacomo, não estarei neste fim de semana. Por favor, preste atenção, tenho certeza que
desliguei tudo, mas, se precisar, as chaves estão aqui.
— Você tem problema com a justiça? Parecem do FBI — Olhou para os homens.
— Não, são os guarda-costas de um amigo — Disse, sorrindo com cumplicidade.
— Se os guarda-costas estão assim, não quero nem imaginar seu amigo. Poderia dar o meu
número a qualquer um deles, mas prefiro o moreno, deve medir como um metro — Disse, com
malícia, o rapaz que tinha muito clara sua homossexualidade.
— Você é um puto viciado! — Bateu no seu ombro e os dois riram. — Bom, estou indo. Já sabe,
cuide das minhas coisas.
— Com muito carinho. Agora vá e não perca tempo... Transe dia e noite, dia e noite e não dê
trégua ao seu amigo.
— Com o desejo que tenho, nem que me tire a bandeira branca — Disse, dando uma
piscadinha e voltou para onde estavam os guarda-costas. — Estou pronta — Deu um sorriso para
os homens.
Eles a escoltaram até um luxuoso carro que estava esperando em frente ao prédio, abriram a
porta e ela entrou. Sentia-se nervosa, não conseguia evitar, embora tentasse se distrair,
observando as ruas que já conhecia de cor e que eram exatamente iguais todos os dias.
Pessoas de um lado para outro, com andar apressado, atropelando-se entre eles mesmos.
Alguns pediam desculpas, outros simplesmente ignoravam e só continuavam seu caminho, falando
por telefone, com pressa para chegar a algum lugar. Os carros, em ziguezague, tentando
ultrapassar, principalmente os taxistas, que já tinham grande experiência nas ruas de Manhattan.
Poucos passeavam com seus cães, outros corriam, talvez em direção ao Central Park.
Pouco a pouco, a aglomerada cidade foi ficando para trás e as ruas mais vazias permitiam ao
motorista dirigir mais depressa. Quando chegaram ao aeroporto, lembrou-se que era a primeira
vez que andaria de avião e seu coração novamente começou a bater mais forte.
Entraram em uma suntuosa e solitária sala de espera, onde seus saltos faziam eco no mármore,
enquanto seguia um dos homens e o outro ia atrás dela e amavelmente levava a bagagem.
Estava louca! Na sua pobre vida, tinha imaginado vivenciar este episódio. Não tinha cabimento
e ainda não acreditava. Chegaram a um túnel de vidro desde onde pôde observar a pista. Havia
três aviões! Três putos aviões!... Engoliu seco para fazer descer o nó de assombro que tinha na
garganta e não queria parecer caipira. Não conhecia marcas de avião, mas deviam ser modelos
bem atuais.
Não eram tão grandes como um avião comercial, mas o estilo pontiagudo da parte dianteira
dava um toque sofisticado, a cor branca predominante e, na cauda, as faixas verdes e amarelas
brilhavam ao sol.
Ao entrar no avião, foi pega em uma bolha ao ver a ostentação do interior. Havia umas doze
poltronas em cor branca, cada uma tinha, no descanso de braço, mantas em cor verde, no tom da
bandeira do Brasil.
Nas poltronas da esquerda, havia duas que ficavam de frente e tinham uma mesa no centro. Um
telão ficava bem em cima da sua cabeça, que viu por estar observando o teto.
— Senhorita, acomode-se — Disse um dos homens, enquanto caminhava pelo amplo corredor,
chegando até uma porta, que indicou. — Aqui está o banheiro e, se quiser descansar, esta porta
irá levá-la ao dormitório.
¡Mamma Mia! Isto é um luxo — Pensou a ruiva, sorrindo e concordando com a cabeça.
— Se precisar de algo, qualquer coisa, bebida ou comida, cada poltrona em um botão para se
comunicar com a cabine de serviço e, com muito prazer, taremos o que desejar, agora, há água
mineral e com gás... Não conhecemos seus gostos. Em dez minutos, decolamos. Voltarei para fazer
companhia durante a decolagem — Disse de maneira cordial.
— Obrigada, o senhor é muito amável — Mal podia falar diante das emoções explodindo no
peito.
O homem concordou em silêncio e saiu, deixando-a sozinha na cabine. Sophia sentou-se em uma
das confortáveis e amplas poltronas, acariciando com uma das mãos a suave manta verde selva.
— A rainha Elizabeth e eu! — Exclamou. Tinha vontade de chorar de tanta felicidade, sentindo-
se a própria Cinderela. — Claro, isto aqui é cem vezes melhor que uma carruagem... Ganhei na
loteria... Não posso acreditar que vou conhecer o Brasil! Obrigada, Deus. Você é muito generoso
comigo, eu sabia que tantas decepções era porque estava me guardando algo muito bom e veja
como me surpreendeu — Tinha vontade de subir na poltrona e pular, mas, com certeza, tinha
câmeras, por isso, preferiu se acalmar e parar de vibrar com a emoção.

*****

Rachell sentia as pálpebras bem pesadas, por isso, decidiu deixar os olhos fechados e esticar
seu corpo, como se fosse uma gata. Girou na cama algumas vezes, sem ter consciência de onde
estava. A preguiça foi abandonando pouco a pouco o seu corpo e o sono sumiu completamente.
Abriu os olhos e viu o quarto iluminado pela luz da manhã que entrava através das cortinas
brancas, que se agitavam docilmente, já que a janela estava aberta.
— Estou viva! Obrigada, Deus, por não enviar nenhuma tempestade — Disse a ela mesma ao
lembrar do dia anterior, sem saber em que momento adormeceu nem quantas horas dormiu. A única
coisa que lembrava era que sentia o corpo leve e completamente relaxado, todo o cansaço
acumulado pela viagem dos últimos dias tinha acabado e aquelas horas de descanso tinham sido
um grande respiro para poder continuar o caminho.
Levantou e seus pés tocaram o chão. Não conseguiu segurar o riso ao lembrar da cama
quebrado. Observou uma das barras por fora do colchão e ficou vermelha, só de pensar na
vergonha que sentiria na hora de informar o incidente na recepção.
Com certeza, Samuel estava no banho, mas não escutou a água. Levantou-se e foi até o
banheiro para chamar à porta quando, através das cortinas, viu que ele estava no jardim do motel
praticando capoeira. Definitivamente, ela adorava aquele esporte e ela ficava excitada; vê-lo se
contorcer e fazer acrobacias ativava nela os sensores do desejo e o anil da luxúria começava a
rugir no seu interior, ao ver o sol acariciá-lo com seus raios alegres, dando brilho na pele
bronzeada, principalmente nos ombros, que estavam vermelhos pelo sol dos últimos dias. Aquela
cor a incitava a morder, saborear e acariciá-los.
Sua língua grudou no palato diante do desejo de prová-lo que a dominou, querendo pular a
janela e correr até ele, derrubá-lo e ter relações sexuais, mesmo contra sua vontade, no meio
daquele jardim.
Mas, ao parecer, não era a única quando, e um vislumbre de prudência, desviou o olhar do seu
objeto de desejo e viu que, no quarto do fundo, havia três garotas disfrutando da apresentação
de capoeira do seu homem. Os sorrisos e os cochichos das garotas deixavam claro que o
desejavam, que estavam excitadas como ela.
— Malditas fofoqueiras — murmurou, sentindo o sangue ferver. Se tivesse o poder de estar os
dedos e transformá-las em pó, não teria um pingo de dúvidas em fazer isso. — Vocês vão ver...
Lamentavelmente, esse brasileiro é meu — Apoiou as mãos no beiral da janela para chamar a
atenção. — Bom dia! — Cumprimentou e Samuel deu uma estrela para cair de pé em um
movimento limpo.
Rachell deu o seu melhor sorriso e ele também, ao mesmo tempo em que corria para a janela.
Mal diminuiu a distância, levou as duas mãos ao rosto suado e vermelho do rapaz e, sem deixar
respirar, beijou. Foi um beijo com uma intensidade desconhecida, com certa raiva das mulheres que
estavam espiando e com uma veemência que os olhares das espectadoras tinham despertado nela.
— Você vai me matar… — disse, com o peito agitado, pelo esforço realizado na capoeira,
estava sem fôlego e Rachell não deu tempo para recuperar.
— Venha aqui… —P egou-o pelos ombros, fazendo-o entrar pela janela.
Samuel a olhou, um pouco divertido e um pouco surpreso pela atitude que demonstrava; porém,
não conseguiu negar o pedido e apoio suas mãos no beiral da janela e entrou em um salto.
Ao tê-lo mais perto, a garota ficou na ponta dos pés e beijou-o novamente com força, com a
necessidade de confirmar que Samuel era dela e que, embora outras estivessem olhando, elas não
teriam o prêmio, não poderiam confirmar que transar com ele era tão fantástico quanto dizia sua
aparência.
Sua paixão a levou até o pescoço e, ainda na ponta dos pés, colocou a língua para fora. Ela a
passava, chupava e cavalgava com seus lábios pela pele bronzeada, sem deixar respirar,
viajando até os ombros que havia desejado e dando suaves mordidas.
— Rachell… Rach… Estou suado... — Advertia, ronronando diante do desejo que ela
despertava e estava na eterna batalha entre pará-la ou não.
— À merda com essa de 'estou suado', Samuel... Quero prová-lo, quero beber seu suor, desejo
fazer isso... cale-se, se não vai colaborar — Pediu, levando suas mãos ao quadril dele e
abaixando a calça de agasalho branca.
Com beijos e suaves mordidas, instalou-se nos bicos de Samuel e apertava com os dentes ante o
desejo que despertava. Da mesma maneira, desceu pelo abdômen, passando languidamente a
língua pelo caminho feliz. Ficou de joelhos, encontrando-se com a ereção nascente de Samuel.
Antes de agarrar o membro, cravou as mãos no quadril e soprou a glande que estava ficando
vermelha e ele estremeceu. Ela se mordeu o lábio com malícia e repetiu mais uma vez, atenta às
pulsações do pênis que aumentavam ritmicamente.
Agarrou com suas mãos e o tirou, deixou-o exposto para ela, roçando-o lentamente. Sentia-o
cobrar vida, pousou sua língua entre os testículos e o nascimento do pênis e o acariciava em
subida, sentindo como as veias palpitavam contra suas papilas gustativas. Chegou ao ponto mais
sensível e meteu na boca só aquela parte para, depois, chupá-la de modo agônico.
— Rach… Você aprende rápido, como você faz bem… assim boneca… assim — pedia com a
cabeça para o teto do quarto e com os olhos fechados.
— Olhe para mim — Pediu, no meio das sucções. — Olhe como estou gozando... Gosto do seu
sabor, mesmo que esteja suando, vamos ver se este revólver se carrega rápido — Sorriu
maliciosamente e o agitava com uma das mãos, de baixo para cima e vice-versa, imprimindo
rapidez e força, enquanto mordia o lábio inferior para conter seus desejos, aqueles que faziam
palpitar suas dobras.
O olhar dourado de Samuel sobre ela eram duas chamas que se estendiam, aumentando a
excitação, convertendo-a em uma mulher insaciável e primitiva. Não considerava sujo o que estava
fazendo, era o mais erótico que já tinha experimentado, era luxúria total, era desejo que não tinha
por quê ser reprimido, era a ansiedade que Samuel despertava nela.
— Quer que eu coloque tudo na boca? — Perguntou com uma voz entre sensual e maliciosa,
como uma menina que estava a ponto de cometer uma travessura e passava a língua pelos lábios,
saboreando.
— Quero ver até onde você chega, lembre-se de respirar pelo nariz… — aconselhou, fundindo
seu olhar ardente nela.
Rachell respirou profundamente, abriu a boca e só introduziu a metade para, depois, retirar
suavemente, acariciando com os lábios, evitando usar os dentes.
A pele de Samuel era muito sensível, era suave e ela gostava disso, de sentir a suavidade
reinar na sua boca, assim como era quente e as veias suportando o sangue que circulava a toda
velocidade, textura que não encontrava em nenhum alimento, sabores que não eram os mais
deliciosos, mas que ela gostava e a incitavam a continuar provando.
Engoliu a mistura de saliva e seiva, para repetir a ação de comê-lo só até a metade, agarrou-
se com uma das mãos em uma das coxas de Samuel e sentiu que estava tremendo.
Novamente, respirou fundo e foi até o fundo, respirou pelo nariz, retendo a mistura que
formava na sua boca, para utilizá-la em seu favor e dar a ele mais lubrificação, retirou lentamente,
saboreando e engolindo.
— Assim, parece um canhão — Disse, sorrindo porque não conseguiu com tudo; porém, tentou
novamente, mas não reteve, deslizou pela sua boca, por fora, por dentro, movendo a cabeça com
a velocidade necessária. Samuel estava se desestabilizando e só gemia como um animal ferido.
Não queria retirá-lo porque estava gozando do seu café-da-manhã rico em proteínas, por isso,
agarrou com as mãos a bunda do brasileiro, observando como ele apertava para se conter e não
penetrar, só se deixar levar pelo ritmo que ela impunha.
— Rachell, pare… já, pare... Vou ejacular na sua boca — avisou, puxando pelo cabelo, para
retirá-la um pouco.
— Quero que faça isso — Disse e, novamente, atacava.
Samuel não deixou que o fizesse, com uma mão no cabelo e com a outra em um braço,
levantou-a e olhou bem nos seus olhos.
— Quero transar primeiro... E não só com a boca — Levou-a até a cama, mas como ele estava
com a calça de agasalho enrolada nos pés, tropeçou e caiu no colchão, que era o mesmo que o
chão.
Os dois riram e, embora estivessem um pouco doloridos pela batida, era mais forte a luxúria
que cavalgada pelo seu ser. O nó da camisa de Rachell tinha se desfeito enquanto dormia, por
isso, faltavam só três botões, que explodiram, quando finalmente Samuel abriu com um puxão a
peça, fazendo os botões voar pelo quarto, em um movimento mestre, abriu o fecho dianteiro do
sutiã. Benditas peças de roupa que facilitavam todo o trabalho! Expôs os peitos para ele e jogou-
se sobre eles com a mesma crueldade sexual que Rachell tinha contagiado.
Não estava sendo cuidadoso, só queria comê-los, devorá-los completamente e ela não se
queixava. Só pedia que não parasse. Gostava de senti-lo faminto por ela.
Mudou-se para a boca e introduzia sua língua de modo urgente, enquanto sua ereção
naufragava na barriga da garota para, novamente, voltar aos peitos com urgência, com deleite.
Como se tivesse poucos segundos de vida e não queria perder nada.
As mãos escorregadias escaparam por baixo da minissaia jeans e tirou a calcinha fio-dental.
Incorporou-se e, com a ajuda dela, terminou de tirar a peça de roupa e seus olhos de fogo a
percorriam de maneira perversa. Elevou a saia até a cintura e segurou as pernas bem em cima
dos joelhos a uniu e colocou-as em cima de um ombro, segurando com um dos braços, elevando a
parte inferior do corpo.
Mordeu o lábio inferior e a penetrou de maneira contundente, o que fez o corpo de Rachell se
arquear e soltar um grito de prazer, deixando-a suspensa naquela sensação por vários segundos,
enquanto seus fluídos corriam no meio de suas nádegas.
Rachell sentia que estava fora do colchão e tinha acabado de se dar conta de que sua cabeça
estava fora da pequena cama e podia acabar se batendo, quando Samuel começasse a se mover
dentro dela. Ao estar com as pernas elevadas e fechadas, podia senti-lo muito mais, cravando-se
mais ainda nela.
Samuel desceu do colchão e se colocou no chão, que estava a menos de um palmo. A diferença
de espaço criou uma ponte perfeita e Rachell se unia ainda mais, entrava todo nela, entrava por
completo e era a loucura, cada milímetro do seu pênis dentro dela, gozando do mar ardente que o
fazia palpitar desenfreado.
Começou a mexer-se dentro, de baixo para cima, repetindo várias vezes, lentamente, dando a
experiência do toque, da mais mínima pulsação o seu interior, sentir o sangue circulando pelas
veias, os tremores que o sacudiam cada vez que chegava ao limite, como suas carnes ansiosas se
fechavam quando ele se retirava, mas, em segundos, voltavam a abrir espaço para deixá-lo
entrar. Cada vez que entrava, seu corpo se elevava pelo impacto e um gemido vibrava no
ambiente.
A garota ia enlouquecer, agarrava os lençóis e não conseguia fechar a boca, não dava, nem
sequer conseguia se mexer porque ele a mantinha as pernas em cima do seu ombro. O movimento
que fazia com sua pélvis só podia ser comparado às ondas que criava uma serpente se
arrastando. Samuel Garnett a impressionava e enlouquecia, só ele podia se mover daquela
maneira, alcançando todos os pontos do seu interior e ameaçando fazê-la explodir.
— Chega! Por favor… Samuel — Explodiria em milhões de pedaços se não parasse, precisava
de trégua para respirar. — Não... Não, continue... Continue — Pedia quando ele reduzia suas
investidas e deixava de sentir com a mesma intensidade.
O poderoso orgasmo estava dando sinais quando começou a viver os espasmos que se
apoderaram da sua barriga; os pulmões se fechavam e ele o pressentia porque mudou o
movimento e ritmo de suas investidas, entrando e saindo dela com uma rapidez que a fazia
alucinar, obrigando-a a morder o lençol e explodiu em milhões de partículas que se dispersaram no
quarto e caíram no chão, onde derreteram.
Fluídos como nunca tinha sentido brotar do seu interior, recobrava a consciência e sentia certa
vergonha porque achava que tinha feito xixi, mas tinha experimentado, pela primeira vez, a
potente ejaculação feminina.
Ele a deixou descansar por alguns segundos para, depois, ejacular novamente dentro dela,
vivendo plenamente o prazer de fazê-la sua mulher. Cada movimento confirmava que aquilo que
sentia ao se deslizar no interior de Rachell nunca tinha sentido com outra. Era físico, sensorial e
sentimental, os roucos gemidos diante do orgasmo não esperaram. Aquela maravilhosa descarga
elétrica que o percorria por inteiro, fazia-o morrer e reviver, fazia se perder naquela luz intensa
que nublava a visão.
— Você vai me provar? — Perguntou, de maneira urgente, porque seus testículos já se
contraíam ante a iminente descarga.
— Não só quero provar, quero também beber — Disse e não o viu sair em um movimento
rápido; Samuel colocou cada joelho por cima dos seus ombros, deixando o pescoço dela no meio
das suas coxas e, com uma mão, agitava seu pênis.
— Abre a boca, aqui vai o aviãozinho — Disse, sorrindo, referindo-se a como os pais fazem
para os filhos comerem.
Rachell obedeceu, porém, socou uma de suas coxas por causa da palhaçada. A primeira
descarga foi até o final da garganta, onde a segurou. A segundo foi contra seu lábio superior e a
terceira caiu no queixo. Respirou fundo e engoliu, passando a língua pelo lábio superior para
saborear o sêmen do brasileiro e era um sabor salobre com um toque adocicado, que já tinha
provado quando fazia sexo oral, mas mais intenso.
Passou um dos dedos pelo queixo e retirou o resto, levando-o à boca de Samuel. Ele o
observou, como se estivesse tomando coragem, mas, diante do olhar de Rachell, chupou seu dedo,
experimentando seu próprio sêmen.
— Gostou? — Perguntou em tom de brincadeira.
— Não é ruim... Bom, é meu sêmen, então não esperava menos — Disse com supremacia e levou
outro soco na coxa.
— Quando fizeram os arrogantes, egocêntricos, você já tinha montado uma monarquia — Disse
ela, rindo.
— Você gosta, isso eu sei. Mas vou confessar algo — Olhou bem nos olhos enquanto abaixava
seu corpo para estar mais próximo. — Gosto mais do seu sabor — murmurou contra os lábios dela
para, depois, unir em um beijo, que ele mesmo interrompeu. — Vamos tomar banho, já está tarde...
Acabamos nos atrasando muito por causa da tempestade.
Depois de um reconfortante banho e de guardar as poucas coisas que tinham utilizado, estavam
na recepção do motel, só tinham que entregar a chave e ir embora, pois já tinham pago
adiantado. Mas o senso de dever de Samuel esteve presente e não o deixou ir sem pagar o dano
ocasionado.
— Senhor, por favor, cobre a cama — Entregou seu cartão. Houve um pequeno acidente. Pode
cobrar uma de casal.
O homem não tinha entendido, estava um pouco aturdido pela notícia. Não passou pela cabeça
dele a ideia completa e seu olhar de desconcerto fez com que Samuel passasse um dos braços
pelos ombros de Rachell e a puxasse para o seu corpo.
— É que estamos recém-casados — Disse com um largo sorriso.
— Ah… — Disse o homem concordando com certo assombro, deixando claro que tinha
entendido a situação.
Os olhos de Rachell estavam a ponto de sair de órbita diante do comentário de Samuel e
surgiram alguns instintos assassinos quase incontroláveis e só se conformou em passar o braço pela
cintura e ameaçar fraturar suas costelas. Ao mesmo tempo, tentava sorrir, assim como sua testa
brilhava com o suor frio diante do pânico que a expressão "recém-casados" provocava nela.
O diretor do motel sabia que a cama já era velha, por isso, foi generoso com a cobrança. Na
sua época dourada, não teria dado importância, mas lamentavelmente o fluxo de clientes tinha
diminuído consideravelmente e os poucos quartos que alugava, mal dava para manter o lugar. Sem
dúvida, era mais uma vítima da globalização.
Agradeceram e saíram em direção ao estacionamento para retomar novamente a viagem.
— Estamos recém-casados — Zombou Rachell das palavras que Samuel tinha utilizado. — Não
tinha nada melhor para dizer?
— Como o quê? — Perguntou divertido.
— A verdade! — Exclamou, andando vários passos à frente de Samuel que não teve como não
fixar o olhar na bunda de Rachell e como estava provocante com aquele shorts jeans, enquanto as
esporas das botas tilintavam com os passos energéticos da garota. — Só faltou dizer que
quebramos a cama porque estávamos transando como selvagens.
— E foi o que fizemos, não foi? — Perguntou, tentando segurar o riso. Adorava vê-la brava
por tal bobagem.
— Está bem, fizemos, mas a cama já estava quebrada, não quebramos quando transamos...
Não na mesma ordem.
— A matemática me ensinou que a ordem dos fatores não altera o produto. Se foi antes,
durante ou depois de transar, deu no mesmo, a cama quebrou.
— Sim, mas afeta para mim — Disse, colocando no banco traseiro a bolsa e as sacolas da loja
que estavam na sua mão.
— Afeta em quê? — Perguntou, engolindo seco ao ver como ela, ao colocar as coisas no banco,
inclinava a bunda.
— Em não poder dizer a todo o mundo que estamos transando, assim, como se não fosse nada
— Abriu a porta do Ford e entrou, no lado do passageiro, enquanto Samuel colocava a guitarra e
a sua bolsa, que estava com o laptop, ao lado do que Rachell tinha deixado.
— Transar é menos absurdo do que pular em cima da cama porque um raio caiu perto...
Quando tal proximidade foi de uns dois quilômetros e você garantia que a descarga elétrica iria
se dissipar pela terra e morreria eletrocutada — Pegou a câmera que estava pendurada no
pescoço para tirar uma foto com aquela braveza que ele adorava, depois de imortalizar a testa
franzida, aproximou-se e, por cima da porta, deu um beijo e acariciou o rosto com o polegar da
mão direita. — Você tem que se arriscar mais, Rachell. Viva a vida como quiser, sem se importar
com o que os outros vão dizer. Se essas pessoas não vão colaborar com a sua felicidade, que se
fodam, pense em você, não no que vão dizer... Transamos, quebramos a cama e daí? Não somos os
primeiros nem seremos os últimos... Você está parecendo a minha avó. Bem, minha avó ainda vai à
praia de nudismo e tem setenta anos. Isso a deixa feliz e não importa expor sua nudez diante de
meninas de vinte só pelo que vão falar.
— Sua avó é de pedra — Disse em tom de brincadeira que ainda deixava clara aquela
bronca quase infantil.
— Não, ela não é de pedra. Ela só faz o que gosta e não fica pensando no que os outros vão
falar. Isso é o que acaba com você, Rachell. Não pense no que os outros vão pensar de você.
— Está bem, vou fazer isso, mas não vá reclamar depois.
— Não vou... Se fizer você feliz, que se danem minhas reclamações. Aproveite esta viagem
para colocar em prática. Você não vai ver mais essas pessoas ou, pelo menos, por um bom tempo
— Deu um outro beijo, que durou mais, enquanto tirou uma foto que os retratou unidos pelas suas
bocas e, ao fundo, ficou o letreiro do motel. Depois disso, Samuel rodeou o carro e entrou, ligou e
saíram de lá, pegando a estrada.
— Bom, serei feliz sem me importar com o que os outros pensem e colocarei a música que só eu
gosto. Portanto, esse rock dos Rolling Stones até o metal de Sepultura fica de fora — Disse,
procurando sua lista de reprodução.
— Não, já tínhamos feito um trato, há uma lista compartilhada... é muito diferente, eu expliquei a
cláusula onde especifica que tem que ser feliz, mas também fazer feliz o seu companheiro, você só
deve se importar com isso.
— Samuel Garnett — Deixou o iPod para procurar os óculos de sol no porta-luvas. Escolheu
para os dois os de estilo aviador polarizado. Colocou os dela e passou os dele, já que o sol
daquela manhã era intenso. — Você não gosta de perder, ajusta tudo a suas necessidades.
— Não são minhas necessidades. É ser imparcial, equitativo, igualdade... Cinquenta-cinquenta.
Se só você me saturar com a sua música, teremos o final de Thelma e Louise. Juro que iremos nos
jogar do Grand Canyon e não sobrará nada nem para comida de necrófagos.
— Está bem, continuarei me sentindo uma estrela de rock frustrada! — Exclamou, reproduzindo
a música de primeira.
— Prefiro ser uma estrela de rock frustrado e não uma diva do pop que engorda na primeira
— contra-atacou o brasileiro.
— Não vou discutir com você sobre música e eu não gosto só de pop.
— É melhor não discutir porque não tem argumentos e eu não gosto só de rock.
— Não, não consigo ganhar uma de você — Disse, pegando o seu iPhone e aproveitou que
tinha sinal para ligar para Sophia.
Ligou e a operadora anunciou que o número do celular estava fora de cobertura; tentou
novamente e recebeu a mesma mensagem.
— O que foi? — Perguntou Samuel ao ver que Rachell não conseguia fazer a ligação.
— Não consigo falar com a Sophia... Falam que está fora de cobertura.
— Com certeza, é o seu telefone. Espere até chegarmos a Amarillo, lá tem mais cobertura.
— Acho que é melhor... Estou entediada — Disse, colocando os pés no painel, para que Samuel
não percebesse que só estava tentando encher o saco.
— E o que você quer fazer? Você pode passar as fotos da câmera ao laptop — Deu opções
para entretenimento.
— Não, mas tudo bem — Pegou a câmera que estava entre as coxas de Samuel. — Vou tirar
fotos da paisagem — Fixou a objetiva na paisagem, capturando em várias ocasiões para, depois,
deleitar-se com o perfil preciosamente varonil do brasileiro, captando-o várias vezes com o olhar
na estrada. Ele sabia que ela estava fotografando, mas continuava com o olhar impassível à
frente.
Rachell, naquele momento, através da objetiva, descobriu que sentia algo por Samuel que não
conseguia definir, algo realmente intenso. Ela o admirava, apreciava, desejava, queria ser sua
amante e sua amiga, mais que sua amiga, queria ser sua confidente.
Ele grudava no seu coração e na sua cabeça, as pulsações tinham o seu nome, os pensamentos
também. Era algo intenso e lindo, realmente era bonito o que sentia e que não conseguia definir.
Nem sequer era amor, porque o conceito que tinha do sentimento não se aproximava do que
estava vivenciando.
Sentiu impotência, depois veio uma vontade de chorar porque estava se envolvendo, algo
estava acontecendo e ela não tinha a menor ideia do que era.
Samuel estava atento ao menor movimento de Rachell, a cada uma das fotos que tinha tirado e
também que estava observando-o fixamente por vários minutos, encantada com seu perfil e, de
certa maneira, atacava as bases da sua segurança.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou, sem desviar o olhar da estrada.
— Não… Nada, só estou esperando mudar um pouco a paisagem — Pelo menos, conseguiu
uma explicação coerente para sair do seu hipnotismo. — Mas como falta muito, melhor fazer outra
coisa — Colocou a câmera de lado, ficou de joelho no banco e procurou, na parte de trás, duas
garrafas de água, que segurou com uma mão, querendo retomar o controle da situação, mas, ao
mesmo tempo, querendo curtir Samuel, tanto quanto queria. Com cuidado, ficou de pé, segurando
na frente, e o brasileiro, ao ver o que ela estava fazendo, decidiu reduzir a velocidade.
Rachell passou uma perna por trás do pescoço de Samuel e sentou no encosto do assento do
motorista, colocando as duas coxas em cima dos ombros do brasileiro, que ficou deslumbrado com
a iniciativa da garota. Agarrou o volante com uma mão só e a outra passou por trás do joelho,
abraçando-se à perna e beijou.
Daquela altura, o cabelo de Rachell se agitava ainda mais e era como fitas de seda pretas que
se batiam com força com o vento, sendo, de momento, os únicos habitantes na longa estrada,
enquanto o sol brilhava forte nos óculos dos dois.
As notas da bateria e os solos de guitarra de uma das músicas de Maroon 5, favoritos de
Rachell, mas com a interpretação de Evro, tocou e ela não conseguiu não se emocionar e cantar.

—How dare you say that my behaviour is unacceptable


So condescending unnecessarily critical
I have the tendency of getting very physical
So watch your step cause if I do you'll need a miracle.

Sentindo-se eufórica, amava a letra dessa música e estava fazendo o que queria, como queria
e sentir os suaves lábios de Samuel ao dar beijos intermitentes na perna que estava abraçando
enviava uma espécie de descarga elétrica pela parte interna da coxa e a sua vagina,
concentrando-se principalmente no seu clitóris. Mas era uma sensação que podia gozar se precisar
de nenhuma penetração, pelo menos, podia esperar até chegar a Amarillo. Enquanto continuava
cantando, abriu uma das garrafas de água.
E aproveitou que o coro da música deu tempo para falar.
— Abre a boca! — Pediu a Samuel que, para fazer isso, precisou reduzir consideravelmente a
velocidade. Ele levantou a cabeça e abriu a boca e Rachell, a certa distância, deixou cair um jato
do líquido vital. — Quer mais? — Perguntou, já que só queria saciar a sede naquele homem que a
fazia sentir aquele algo que ainda não conseguia definir.
— Mais um pouco — Pediu, vivendo o momento mais erótico que alguma vez tenha
experimentado e tinha vários para comparar, mas nenhum estava perto.
Rachell deu um gole de água e segurou na boca; dobrou-se um pouco, agarrando com uma das
mãos a mandíbula de Samuel e, da sua boca, deu água para ele beber.
— Mais um pouco?
— Se for assim, quero tudo e me converto em camelo — Disse, mordendo o lábio inferior de
maneira provocativa.
— Você vai fazer xixi — Disse, divertida e repetiu a ação e sua maneira particular de saciar a
sede de Samuel. Ela o viu engolir e, novamente, encheu a boca, mas ele não engoliu, só cuspiu,
dando um banho no rosto de Rachell, pegando-a de surpresa. Seus instintos normais gritavam para
que ela batesse nele, mas sua luxúria se impôs e obrigou-a a beijá-lo com arrebatamento, um beijo
furioso.
Essa foi sua maneira de castigá-lo, um castigo que, sem dúvida, ele curtia, quando os lábios
palpitavam e doíam diante da intensidade do beijo, eles se separaram e ela pegou a garrafa e
jogou em cima dele, dando um banho. Abriu a outra garrafa e não derramou em Samuel, mas sim
nela mesma, refrescando-se um pouco a pele acalorada pela intensidade do sol e do beijo.
— Não temos a vida toda para chegar a Amarillo — Disse, para aumentar a velocidade.
Foi o que Samuel fez e podia sentir o vento secar o rosto; porém, sua roupa continuava
molhada e ele feliz, pleno, nunca iria esquecer aquela viagem. Cada minuto que passava ficava
mais especial, principalmente a voz de Rachell cantando com entusiasmo, sentada praticamente
sobre seus ombros.
A garota curtia a velocidade que Samuel estava porque seu cabelo ficava mais agitado, a
camiseta branca molhada grudava no corpo, deixando claro que não estava usando sutiã,
enquanto não só tentava cantar em português, também dançava da cintura para cima. Embora não
soubesse como fazer, só se deixava levar pelo ritmo do samba, aquele que tinha feito dar a volta
ao mundo no começo do ano.
O olhar de Rachell captou, à distância, vários raios, que se aproximavam cada vez mais, dando
a oportunidade de apreciar a roupa preta de couro e mais de trinta clássicas Harley Davidson
chegando mais perto. A emoção que a embargou foi total; jamais pensou que teria a sorte de os
encontrar no caminho. Era demais para ela.
— São os motoqueiros! — Exclamou, quase gritando, o que deixou clara a sua felicidade.
— Estão se aproximando — Disse Samuel, sorrindo diante da emoção de Rachell.
— Sempre quis fazer isto! — Logo que acabou de falar isso, tirou a camiseta regata, quando
os motoristas estavam bem perto, todos fizeram um concerto de buzinas ao vê-la com os seios de
fora e agitando a peça de roupa. Um deles, passou muito perto do carro, reduzindo um pouco a
velocidade.
— Sortudo! — Gritou para Samuel e Rachell deu a camiseta para ele, que retribuiu com um
beijo.
A caravana de homens vestindo de calças e coletes de couro, lenço na cabeça, óculos de sol e
tatuagem não pararam de assobiar nem de buzinar até desaparecer na distância.
— Você está louca! — Disse Samuel, rindo ao vê-la de topless.
— Para você ver que não é só sua avó que anda com os peitos para fora — Disse, rindo
diante da euforia que sentia. Pegou-o pela mandíbula, dobrou-se e deu um beijo na cabeça,
arrancando uma gargalhada do brasileiro.
CAPÍTULO 29

Sophia estava deitada de bruços na imensa e prazerosa cama, com seu corpo relaxado depois de
passar uma noite inesquecível, completamente satisfeita com a experiência vivida. Abriu os olhos
lentamente e as pupilas, fechando-se ante a claridade do quarto, avistaram, em primeiro plano, a
bunda de Reinhard Garnett entrado no banheiro, um sorriso tomou conta do seu rosto sonolento. Em
meio de um suspiro, fechou os olhos e decidiu reviver em pensamentos tudo, uma vez mais.
Quando o avião particular de Garnett aterrissou na pista, as pernas começaram a tremer e o
coração a ponto de vomitar, durante a viagem, tinha se sentido como uma rainha, os guarda-costas
tinham dado todo tipo de atenção, mas quando se dirigiu à porta da aeronave, duvidou, pelo
menos, por alguns minutos, enquanto assimilava que ao descer as escadas, um tapete vermelho, um
maldito tapete vermelho! A estava esperando, teve que respirar profundamente e parecer
tranquila quando só queria chorar de felicidade, armou-se de segurança para não cair pelas
escadas e fazer de conta que essas coisas não a surpreendiam, senão sairia a provinciana ou a
garçonete do restaurante de estrada.
Odiava ter que se controlar, mas com um homem tão importante, tinha que fazer isso, cada
molécula do seu corpo deu voltas e desmaiou diante do assombro, quando um dos homens mais
importantes do continente e o mais influente do Brasil se aproximava sorridente com um smoking e
um imenso buquê de rosas vermelhas.
Tinha dito que tinha trabalho pendente e que, por isso, não podia ir buscá-la, mas que se
encarregaria que seu traslado fosse agradável, isso tinha cumprido, mas não pensou que estaria
esperando na chegada.
— Bem-vinda, é minha maneira de pedir desculpas por não ir buscá-la pessoalmente — A voz
do segurança do brasileiro entrava nos nervos e teve que se obrigar a manter o autocontrole para
não tremer.
— Obrigada… Não precisava ter se preocupado, entendo que é um homem muito ocupado —
Cumprimentou-se mentalmente porque só titubeou um pouco, enquanto recebia o buquê, que devia
ter umas cinquenta rosas.
— Suponho que sentiu a mudança do clima, por favor, vamos a um lugar mais fresco. —Com
uma mão nas costas, guiou-a até um carro de luxo, com tudo o que havia preparado, esperava
uma limusine, mas uma não chegava aos pés da maravilha que tinha a dois passos.
É o clima, pensei que fosse a temperatura do meu corpo e tudo o que este homem me provoca. —
Ponderou a ruiva, enquanto sorria amavelmente.
Entraram no carro e, ao sair do aeroporto, a visão de Sophia passeava do homem ao seu lado
à paisagem que se apresentava, assim como percebia os carros que o seguiam e os que iam à
frente, nem o chefe de Estado tinha tanta segurança.
— É a primeira vez que vem ao Brasil? — Perguntou, ao ver como a garota olhava atenta tudo
ao seu redor.
— Sim, senhor… É tão alegre como sempre imaginei.
— Reinhard, por favor, me chame de Reinhard — Pediu amavelmente.
— Está bem, Reinhard, poderia me chamar de Sophia? — Pediu, olhando os bonitos olhos azuis
do homem e como estava interessante com as linhas de expressão na testa e ao redor dos olhos,
também os cabelos brancos que adornavam sutilmente seu cabelo claro.
— Claro, Sophia… — segurou sua mão com cortesia. — Como vão suas coisas? — Perguntou,
interessando-se por ela, outro simplesmente teria começado a falar de tudo o que tinha, ponto a
favor do brasileiro.
— Bem, muito bem... Trabalho todos os dias, vou à academia... Não tenho muitas coisas do que
falar — Disse, sorrindo nervosa.
— Acho que tem sim, só que não tem confiança em mim e entendo, mas se quiser contar em que
trabalha, pequenas coisas que nos ajudem a nos conhecermos melhor... de mim, talvez saiba
algumas coisas pelos jornais, mas nem sempre falam a verdade.
— Trabalho em uma butique na Quinta Avenida, é da minha melhor amiga, de você só sei que
tem dois filhos e é divorciado, também sei do seu sobrinho, o assistente procurador, ele eu conheço
pessoalmente.
— Você se meteu em problemas? — Perguntou sorridente. — Assim espero e que Sam não
tenha feito você passar por uma má situação, ele tem caráter forte, mas...
— Não… não — Interrompeu-o. — Conheço-o por acaso, não por assuntos legais.
— Você já saiu com ele? Ou está com alguém? — Sua maneira de perguntar era sutil, ela, em
nenhum momento, sentiu-se intimidada.
— Se tivesse alguém, não teria aceitado o convite e, não, não saí com Samuel — Respirou fundo
e piscou para ter mais força, porque sentia que devia fazer isso, devia dizer a Reinhard como era
que conhecia seu sobrinho. — Ele está com a minha amiga — Disse, sem respirar, disse sem pausa
e com pressa.
— Sua amiga é Rachell Winstead? A estilista? Aquela com quem ele está viajando? Quer dizer,
a mesma das orquídeas — perguntava com um sorriso de surpresa.
— Sim — Disse timidamente. — Como você sabe de tudo isso? — Perguntou, sem conseguir
esconder sua curiosidade.
— Tenho alguns informantes, Sam não me contou… Acho que em situações de mulheres, ele
perde a confiança no tio… Pode ser algo controlador da minha parte, mas sei cada movimento dos
meus filhos e do meu sobrinho… quem se empenha em fazer a diferença é Samuel, mas para mim,
é meu filho também, é filho da minha única irmã… — A voz do homem ao falar as últimas
palavras deixou clara a saudade.
— Só conheço ele, nem sequer vi seu filho... E me surpreendo como o mundo pode ser tão
pequeno — Perdida nos seus olhos azuis.
— Poderia ser menor ainda — murmurou deslumbrado na beleza da ruiva. — Chegamos —
Avisou na hora em que os carros pararam, ela deu um sorriso.
Um dos guarda-costas abriu a porta do reluzente veículo, ele desceu e estendeu a mão,
dirigindo-a por um túnel de cristal, que os levou às portas de um amplo elevador, ela se sentia
nervosa e, com certeza, ele tinha consciência dos seus tremores.
— Não quis levá-la a um restaurante porque os olhares dos curiosos iriam fazê-la se sentir
incomodada e me atrevi fazer algo mais íntimo — Disse, quando estavam sozinhos no elevador.
— Obrigada por pensar na minha comodidade.
— Antes de tudo, sua comodidade.
As portas cromadas se abriram no último andar e os recebeu um hall extremamente luxuoso, com
tapetes de veludo vermelho, disfarçou e acariciou o queixo com os dedos, segurando a mandíbula
para não cair no chão.
Ao chegar ao final do corredor, abriu-se uma imensa sala que, diante da sua surpresa, não
conseguiu memorizar completamente, só conseguia dizer que era incrível.
— Bem-vindo, senhor Garnett, bem-vinda, senhorita — cumprimentou uma mulher vestida com
um elegante terno preto.
— Obrigada — Disse Sophia, sorrindo.
— Obrigado, Jennifer — Disse Reinhard, com um sorriso de confiança e seguiu o gesto da
mulher, que os conduziu a um salão, que saída do edifício e era de vidro, mostrando toda a cidade
para Sophia, o sol no horizonte quase apagado com uma luz laranja incrível, parecia estar
submergindo na água, que pintava com sua cor.
No grande salão, havia só uma mesa redonda com velas que davam intimidade ao lugar e, num
canto, um grande piano de cauda, em um preto brilhante e um homem sentado no banquinho os
presentava com embriagantes e maravilhosas notas.
— Desculpe — Disse a mulher, estendendo as mãos, para entregar o buquê de rosas, Sophia o
entregou de maneira dura, na sua havia, nunca tinha recebido um presente tão lindo. — Vou
colocá-las na água — Deu um sorriso, evidenciando que tinha se dado conta do receito dela em
soltar.
— É muito amável da sua parte — Disse, escolhendo primeiro, na mente, quais palavras utilizar,
percebendo nesse momento que todos os funcionários de Reinhard Garnett falavam perfeitamente
em inglês.
A mulher se afastou e Reinhard colocou uma mão nas costas, guiando-a até o centro do salão,
onde estava a mesa, ajudou-a com cadeira, deixando-a em frente à exótica paisagem do Rio de
Janeiro.
— É incrível — murmurou maravilhada.
Reinhard também fixou seu olhar na baía e soltou um pesado suspiro.
— Não há nada igual no mundo, dei várias voltas ao mundo e tive a tentação de me
estabelecer em outro lugar, talvez na Irlanda com meus pais, infelizmente a situação econômica do
Brasil está muito mal distribuída e isso afeta, mas não trocaria por nada. O Brasil é mágico, isto
que você vê não é nada com tudo o que este país tem... Suas paisagens são extraordinárias, o
povo é alegre, há um calor humano que causa inveja no resto do mundo, tem futebol, samba,
carnaval... é um tesouro, só que está nas mãos de algumas pessoas ambiciosas.
— E você se encarrega de polir, pelo menos, uma parte deste tesouro — Disse, desviando o
olhar da paisagem e fixando-o no homem em frente.
— Eu tento, é o mínimo que posso fazer, me deu tanto e tento retribuir de certa maneira o que
minha terra me dá, embora só seja brasileiro de nascimento, sinto como se todos os meus
antepassados tivessem nascido neste país.
— É admirável.
— Obrigado...Você é alérgica a algum alimento? — Perguntou, explicando o que seria o jantar.
— Não… Bem, não que eu saiba, sempre existe a possibilidade de ir ao hospital antes de
morrer por intoxicação — Disse, sorrindo, e o gesto se congelou ao escutar a meia gargalhada do
homem, era realmente varonil e, embora as linhas de expressão se intensificaram mais, só o
deixaram mais atraente.
Ela ia aproveitar bastante, tinha certeza, só a presença do homem já a excitava, estava ansiosa.
O jantar chegou e, como era de se esperar, estava à altura do que o magnata podia oferecer;
primeiro, fizeram um brinde e depois, jantaram, enquanto conversavam e se conheciam um pouco
melhor, percebendo que o lugar onde estavam era dele e que visitava muito pouco, já que morava
em uma casa com seu filho, nora e neto, por isso, deduziu que se encontrava no ninho de conquistas
do homem.
Ela contou que era apaixonada pelo mundo da moda tanto quanto sua amiga, só que era mais
ágil na administração, por isso, estava plenamente feliz com o trabalho que realizava.
Contou um pouco dos seus pais, que morreram quando ela tinha doze anos e, desde então, viveu
com sua avó, que morreu seis anos mais tarde e, aos 18 anos, já era independente, porque não
quis morar com nenhum outro familiar.
Ao finalizar o jantar, Reinhard a convidou para dançar uma música lenta e sensual, olhavam-se
nos olhos e continuavam conversando, mas iminentemente aconteceu o primeiro beijo, que não
conheceu outro final, que não fosse a cama onde se encontrava.
Sophia abriu os olhos outra vez, voltando ao presente e mordeu o lábio inferior ao lembrar a
noite de luxúria que tinha passado, que mesmo sendo cinquentão se defendia como um cara de
trinta e cinco, o homem tinha um corpo atlético e, o melhor de tudo, a bunda ainda estava no lugar
certo, não tinha caído com os anos.
Funcionou perfeitamente nas duas ocasiões, não tinha nada do que se queixar quando tinha
experimentado vários orgasmos, demonstrando que tinha experiência e, então, deu razão a
Rachell, a desenvoltura de um brasileiro na cama não se comparava a nenhuma outra
nacionalidade.
CAPÍTULO 30

O calor era sufocante, o sol estava cada vez mais intenso, mas isso não diminuiu a emoção, quando
chegaram ao Rancho Cadillac. Rachell desceu rapidamente do carro e saiu correndo pelo deserto
onde estavam entre oito e dez Cadillacs enterrados até a metade, o tanto de grafite que os
decoravam era a mostra da quantidade incalculável de pessoas que tinham visitado aquele lugar.
Samuel se limitou a tirar as fotografias de diferentes ângulos, capturando o sonho de Rachell para
que ela revivesse sempre por meio das imagens.
— Sam, venha aqui... Olhe, tem spray — Disse Rachell, pegando dois frascos metálicos.
O brasileiro correu até onde estava a garota, sentindo como o vapor do deserto subia pelos
pés e aquecia todo o corpo. Ao chegar ao monumento dos carros, entrou debaixo de um para
aproveitar a sombra.
— Faça seu grafite — Pediu e o suor corria pelas têmporas, que pulsavam diante do calor. —
Enquanto você faz o seu, eu tiro fotos.
— Está bem, mas você tem que fazer o seu também.
— Claro que vou fazer, mas não sou bom para desenhar. Deve ser por isso que estudei Direito.
— Bom, eu faço o desenho e você escreve — Disse, agitando as latas com energia, quando
Samuel levantava o polegar, indicando que estava de acordo.
Rachell se esmerou em fazer tudo perfeito, além de estar sumamente inspirada, enquanto o
rapaz continuava agachado embaixo do Cadillac e, de vez em quando, tirava fotos.
Foram uns trinta e cinco minutos para criar o desenho, que ofuscava os outros; desenhou o
momento, ela desenhando no carro e, embaixo, Samuel tirando suas fotos e deu o nome de "Rota
66".
— Pronto, já pode sair da toca, agora você escreve — Disse, passando o spray amarelo.
Samuel saiu e, ao ver, ficou pasmo. Tinha ficado perfeito e não conseguiu controlar seus impulsos
de beijar uma das têmporas de Rachell, ela sorriu satisfeita.
— Fique um pouco na sombra — Pediu, entregando a câmera e pegando a lata de tinta
amarela.
— Não demore — Disse, protegendo-se embaixo do carro. — Isso pode cair e me esmagar —
Disse, admirando a carroceria em cima.
— Está uns sessenta por cento enterrado, isto é, as probabilidades de esmagar você de zero
vírgula um por cento — Disse e começou a escrever, criando um fundo preto.
Samuel sorria enquanto escrevia e se deixava levar pelo que sentia naquele momento. Eram
coisas que queria dizer a Rachell, mas ainda não tinha coragem.
— Falta muito? — Perguntou a garota, impulsionando com a ponta dos pés e abaixando,
fazendo flexões para não perder o costume, como dizia.
— Está quase pronto… — respondeu, terminando a última palavra. — Pronto!
Rachell saiu correndo com um amplo sorriso, ficando de pé ao lado de Samuel. O gesto no seu
rosto congelou ao não entender uma única palavra do quase testamento que ele tinha escrito.
— Isto está em português? — Perguntou sem conseguir acreditar.
— Totalmente em português — Disse, passando um braço pelo pescoço e trazendo para perto
dele.
— Quer dar uma de espertinho, Garnett. Como você acha que vou entender o que diz? —
Perguntou com vontade de socá-lo.
— Algum dia, você vai saber; agora temos que ir… — Pegou-a pela mão e quase a arrastava.
— Isso não é justo — reclamou, mas logo lembrou que estava com a câmera e tirou uma
fotografia.
— Ei, dê aqui, isso não vale — Pegou a máquina, mas Rachell conseguiu tirar outra.
— Se você apagar, vai continuar a viagem sozinho porque volto daqui mesmo para Nova
Iorque — Ameaçou.
— Sim, quero ver você ir a pé — Samuel não era daqueles que se deixava intimidar.
— Não vou andando, posso ir pedindo carona; me excita a simples ideia de subir em um
caminhão de carga pesada.
Rachell não teve que falar muito para Samuel imaginar a cena. Ela de copiloto de um
caminhoneiro e como ele não conseguiria parar de olhar para as pernas. Isso fez que, nele, a
temperatura do corpo aumentasse e ultrapassasse a do deserto; não falou nada, só retraiu a
mandíbula para controlar aquele animal que surgia no seu interior. Não conseguiu contra-atacar
com cinismo, como era de costume.
Só entregou a câmera e adiantou vários passos, bravo, não com ela, mas com ele mesmo, por
ser tão idiota e subestimar a astúcia de Rachell.
Ela apertou o passo para alcançá-lo. Samuel chegou antes que ela no carro, subiu e ligou, sem
esperar a garota, que correu para entrar.
Nenhum dos dois falava, nem sequer colocaram música. Rachell se sentou, dando as costas para
ele, com o olhar fixo na paisagem e sentia raiva e também vontade de chorar.
Vontade essa que não conseguia entender e não conseguiu lutar contra as lágrimas, o que só a
enchia de impotência e aumentava sua ira, com raiva, limpava as lágrimas, mas elas não paravam
de sair, ao contrário, o sentimento no seu peito aumentava e mais suspiros escaparam, sem
conseguir evitar.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou Samuel ao supor que Rachell estava chorando e esse
era um golpe baixo para ele, qualquer raiva se desmoronava diante das lágrimas de uma mulher.
— Rachell, por que você está chorando? — Perguntou, parando o carro no acostamento e
colocando uma mão no ombro.
— Não toque em mim — Tirou a mão de Samuel com essa raiva que a consumia, não queria
mostrar suas lágrimas para ele. — Não é nada.
— E por nada chora e não quer que eu toque em você?
— Só quero que me leve à primeira rodoviária, vou voltar para Nova Iorque. Não quero
continuar com esta viagem, pode continuar sozinho, se é o que realmente você quer — Sem virar,
mas o sentimento se intensificava e o choro ficava mais forte, sem poder controlar.
— Bom, se é isso que você quer, voltamos... Seguir viagem não tem sentido se não for com você.
— Você pode voltar sozinho, eu vou de ônibus.
— Rachell, olhe para mim… — Não conseguia evitar o sentimento de impotente — Olhe para
mim.
— O que foi?! Para que você quer que eu faça isso?! — Perguntou, ficando brava com as
lágrimas caindo pelo seu rosto; ela as enxugou, o que deixou seu rosto ainda mais vermelho. —
Não sei que porra está acontecendo. Não é culpa minha que você fique brava à toa e desconte
em mim, ignorando-me como uma merda.
— Não ignorei.
— Não? Deu um fogo no rabo e quase me deixa para trás.
— Eu não ia fazer isso.
— Não me venha com essa. Você ligou o carro e, se eu não corresse, tinha me largado aqui. Por
acaso sou culpada por você ter escrito em maldito português? Supõe-se que era algo para nós
dois, que eu também pudesse entender o que tinha escrito no Cadillac.
— Eu demonstrei o que escrevi… — falava, quando ela interrompeu.
— Charada é um personagem fictício, não me venha com essa.
Samuel vislumbrava pelas lágrimas como Rachell estava brava e ele se sentia entre a cruz e a
espada, xingando-se por ser tão espontâneo e também tão estúpido.
— Não estou exagerando, então não tem que estragar o momento... Por algum motivo eu fiz
isso, controle sua curiosidade e não faça todo esse drama.
— Um momento que eu ignoro totalmente. Não sei por que você faz tanto mistério, tudo em você
é um maldito mistério.
— Eu sou assim, não gosto das coisas fáceis. Agora pare de chorar... venha aqui, Rachell —
Pegou-a pela mão e puxou para perto do seu corpo.
Rachell não queria, mas definitivamente ele era mais forte e, em muito pouco tempo, estava com
o rosto no peito de Samuel, sentindo que as batidas do coração masculino estavam muito, mas muito
alteradas.
Samuel a abraçou com força, apoiando o queixo na cabeça da garota.
— Sinto muito... Só posso dizer que o que escrevi é muito importante para mim. Sim, fiquei
bravo, admito, mas não com você, mas com um cara que nem conheço, com aquele motorista do
caminhão.
— Que motorista? De que caminhão você está falando? — Perguntou desconcertada.
— Aquele que você ia pedir carona para voltar a Nova Iorque.
As palavras de Samuel pareciam estúpidas e adoráveis, por isso, não conseguiu evitar sorrir e
entender que, justamente quando ela falou do caminhão, foi quando ele mudou de atitude.
— Eu perdoo você, mas com uma condição — murmurou, embriagando-se com o seu aroma,
que era a mistura do seu perfume com o suor, deixando sua exaltação feminina em alerta.
— Qual? — Perguntou sem soltar o abraço.
— Que me leve para comer no Dunkin’ Donuts e depois me ajude a lavar a roupa.
— Levarei para comer no Dunkin’ Donuts, mas não sei lavar roupa.
— Samuel, não é nada complicado.
— Vou lavar, por você eu faço isso para ver que não sou tão intransigente como você acha —
Pegou o rosto de Rachell, perdendo-se novamente naquele olhar, como tanto gostava de fazer. A
luz intensa mostrava a íris com a cor dos bosques da Suíça na primavera, quase absolutos, já que
as pupilas mal podiam ser apreciadas.
Rachell o viu se aproximando cada vez mais, sabia que estava buscando um beijo, por isso,
fechou os olhos e os lábios de Samuel não pousaram nos seus, como esperava.
Beijou suas pálpebras caídas com uma ternura desconhecida até o momento. Era como se, com o
gesto, pedisse para não chorar mais, depois na testa e, por último, nos lábios, com um beijo tão
inocente como o de um menino de cinco anos.
— Vamos nos fartar de porcaria — Disse, afastando-se um pouco, mas passando um dos braços
sobre os ombros de Rachell, trazendo-a para seu corpo e, com a mão livre, arrancou o carro de
novo.
Ao chegar à famosa parada de comida, sentaram-se em uma mesa e aproveitaram a
especialidade da casa. Rachell, que estava acostumada a comer muito pouco, só conseguiu comer
metade do prato. Entretidos na conversa, não prestavam atenção aos olhares sobre eles; os dois
levantavam paixões por onde passavam. Os homens desejavam Rachell e as mulheres suspiravam
por Samuel.
Saíram do local com a parede frontal de vidro transparente e luzes de neon, com copos de chá
gelado nas mãos e foram até o motel, onde tomaram banho juntos. Samuel saiu do banho com a
toalha enrolada no quadril e se jogou na cama, ali ficou jogado, de bruços; enquanto Rachell
colocou a única saia jeans que ainda estava limpa e uma camiseta preta da banda Metallica, que
era de Samuel, e fez um nó de lado para ficar mais justa e não chegar até as coxas.
Abriu as mochilas e começou a tirar todas as roupas sujas, que ia jogando sobre a cama e, com
a intenção de deixar o momento divertido, enterrava o brasileiro entre as peças.
— Pare de fingir que está dormindo só para fugir das suas responsabilidades — Disse, quando
terminou de tirar tudo, colocando em uma sacola grande.
O leve estremecimento dele indicava que estava rindo, por isso, se jogou em cima e não tinha
nada mais bonito que o rosto dele rindo diante da malícia.
— Vamos, Samuel… Vai ficar tarde — Deu um beijo no seu rosto. — Já está tudo pronto, não
quero que fechem a lavanderia.
— Está bem... Está bem, já me levanto — Ela girou sobre o corpo dele e caiu na cama, dando
espaço para se levantar.
Samuel colocou uma bermuda cargo bege até o joelho, com bolsos laterais, uma camiseta sem
mangas preta e um boné da mesma cor; decidiu colocar chinelos de dedo, igual Rachell.
Pegou a sacola e jogou no ombro, saíram do quarto e subiram no carro; em menos de dez
minutos, chegaram na lavanderia, onde só estava a dona, os dois deduziram que não era dia de
lavagem em Amarillo e foram até as lavadoras ao fundo.
Rachell se encarregou de comprar no local ao lado o que utilizaria, além de uma revista de
modas e outra de finanças para Samuel e assim tinham com o quê passar o tempo, enquanto as
lavadoras faziam o trabalho. O brasileiro ficou separando as peças por cores, como ela tinha
pedido.
— Nunca tinha feito isto na vida — reclamava Samuel enquanto empilhava as calças jeans. —
Não sei o que está acontecendo comigo. Eu, um procurador do distrito de Manhattan, lavando... É
um absurdo! Se meu tio ou meus primos me vissem assim, iria morrer de rir... Thor iria gravar e
colocar na internet; só falta eu ter que colocar um mandril e ter que cozinhar. Vou esclarecer alguns
pontos com a Rachell, em que será totalmente proibido o uso de lavadoras, cozinhas, fogões...
Nada disso, não sou dona de casa.
— Pronto! Encontrei tudo o que vamos utilizar. Muito bem! Você fez tudo direitinho — Colocou
uma mão no pescoço, obrigando-o a abaixar para ela dar um beijo de parabéns.
Samuel correspondeu ao toque casual de lábios que Rachell oferecia.
— Não quero fazer isto — reclamou mais uma vez. — A loja ali na frente tem todas essas
roupas texanas que você gosta, poderia usar camisa xadrez todos os dias, só para não ter que
lavar.
— Samuel, eu também não quero ficar fazendo isso. Por acaso, tenho cara de quem lava roupa
com frequência? Não, né? Na verdade, faz mais de três anos que não uso uma lavadora… — Ao
ver como Samuel abria os olhos, deixando claro o seu temor. — Tranquilo, isso não se esquece... O
que quero dizer é que uma coisa é não querer fazer, outra é ter que fazer; são nossos deveres,
pelo menos, durante a viagem. Quando voltarmos a Nova Iorque, teremos as pessoas responsáveis
por tudo isso. Odeio ser dona de casa, você nunca vai me ver em uma casa cuidando dos filhos e
engordando, já que minha paixão é ver meus desenhos nas passarelas mais prestigiadas do
planeta.
— Suponho que você não me deixou outras opções e que tenho que cumprir meu dever —
Disse e sua voz demonstrava que não estava totalmente de acordo.
— Você não vai fazer sozinho. Não faça drama! — Ficou na ponta dos pés e girou o boné
para trás. — Até trouxe uma revista para você passar o tempo enquanto esta maravilhosa
máquina faz o dever — Bateu suavemente na lavadora e Samuel fixou os olhos na revista de
finanças.
Merda, finanças... Definitivamente, Rachell não conhece meus gostos, entre finanças e leis há uma
grande diferença. — Pensou quando pegou a revista e fazia uma careta parecida com um sorriso.
— Sei que não é sobre leis, mas era o mais chato que tinha na loja e falei 'esta é para Samuel'
— Disse sorrindo.
— Está me chamando de chato? — Perguntou, jogando a revista sobre um dos bancos de
espera.
— Não, só pensei que finanças se encaixavam nos seus gostos — Continuava com sua sutil
brincadeira.
— Você sabe o que eu gosto? — Perguntou, observando como ela levantava a tampa da
lavadora. — Uma revista Penthouse.
— Que pena, não tem mulheres loiras, com peitos de silicone, frígidas e escandalosas
exageradas, você vai ter que se conformar comigo, por isso, sorria — falou, enquanto Samuel
colocava a roupa branca, quando terminou, ela fechou a tampa com uma força desnecessária.
Utilizaram outra para as peças de cor clara, enquanto que, em outra lavadora, algumas peças
jeans e, em outra, roupa íntima. Decidiram utilizar várias para terminar o mais rápido possível.
— Não falei que não estou satisfeito, só que podia ter uma vista melhor, alimentar a
imaginação... Você não gosta? — Perguntou, caindo sentando em uma espreguiçadeira de vime
que estava no local e pegando a revista que estava no bando do lado.
— Se você acha que para alimentar a imaginação, eu tenho que ver pênis de vinte e dois
centímetros e até mais, na sua maioria aumentados com Photoshop, não... Não alimento a
imaginação — Pegou a revista de modas e se sentou no banco com as pernas cruzadas,
mantendo-se elegantemente erguida.
— Bem, como quiser… — Enfiou-se na entrevista que tinham feito com um famoso empresário
norte-americano, ao não ter nada para argumentar com Rachell, mas depois de um minuto e, como
uma agulhada, algo não caiu bem. — Como é que você sabe que são aumentados por Photoshop?
— Perguntou, descobrindo que Rachell via homens pelados.
— É... é... É que fazem, ou não? Quer dizer, é uma suposição — Seu nervosismo a deixava em
evidência diante de Samuel.
— Faminta! — Exclamou divertido. — E você me trata como se eu fosse um pervertido, é normal
ser curiosa — falou e viu como ela ficava vermelha e queria enfiar a cabeça na revista. —
Rachell, você não é uma menina, é uma mulher... Acho que tem algo invertido por aí; às vezes, você
se acha mais mulher do que realmente é, pelo menos, na maturidade e na obstinação, mas falar de
sexualidade com seu parceiro dá vergonha.
— É melhor eu ver como está a roupa — Disse, ficando de pé e caminhando até as lavadoras.
Burra, sou uma burra, não tenho por que ter vergonha de ver David Gandy pelado. — Falava-se
em pensamentos, apoiando as duas mãos sobre a lavadora, fechando os olhos e soltando um
suspiro, tentando encontrar coragem, mas, principalmente, o descaramento para contra-atacar.
Sentiu as mãos de Samuel pousando no quadril e se acoplar por trás, grudando-a na lavadora,
sem ter deixado espaço, nem temo para, pelo menos, sobressaltar diante da presença inesperada
de ele.
Inevitavelmente, seu corpo começou a tremer ao sentir o hálito aquecer a sua nuca, essa parte
tão sensível nela e ficava mais fácil debilitá-la ao ter a área livre dos cabelos por estar com um
coque muito alto, evitando as altas temperaturas de Amarillo.
A respiração de Samuel percorria sua nuca e as partes laterais do pescoço, não a tocava, não
falava nada e, muito menos, deixava se mexer. Ele tinha o controle, ele mexia os fios da marionete
em que se convertia e só movia a cabeça para o lado contrário de onde ele respirava, para
oferecer em uma bandeja de prata o seu pescoço, levantando os olhos, com o coração acelerado
e os mamilos roçando a camiseta do Metallica, isso acontecia por não usar sutiã.
— O que você está fazendo? — Perguntou, com um fio de voz, ao sentir como Samuel
começava a se excitar, seu pênis endurecendo com cada pulsação, podia sentir, mesmo através da
minissaia jeans.
— Acabar com nossa fome — murmurou, com aquela voz tão profunda e lenta que a deixava
molhada.
— Não vamos transar aqui, Samuel... Atrás dessas secadoras, está uma mulher que merece
respeito — Isso foi o que saiu da sua boca, mas o seu traseiro tentava sentir a rigidez do seu
pênis.
— Não vamos faltar com respeito, ela não tem por que saber o que acontece aqui — Ele tirou
uma das mãos do quadril e a introduziu embaixo da saia, acariciando uma das nádegas com
suavidade e, no momento menos esperado, agarrou com firmeza, arrancando um gemido da
garota.
— Se nos flagram, vão chamar a polícia e acabaremos presos.
— Se a polícia vier, terá que esperar eu terminar e, depois, poderão me sentenciar à prisão
perpétua, se quiserem — murmurou, deixando seu morno hálito no pescoço de Rachell.
— Só… Viemos lavar roupa… — Tentava falar, mas com Samuel agarrando sua bunda, era
quase impossível.
— E é o que estamos fazendo. Olhe lá a roupa está se lavando, só que transar parece mais
interessante que ler uma revista de finanças — Pegou o fio da tanga, puxando para um lado.
— Não… isto não está certo, Samuel, não é lugar nem hora mais apropriada — Disse
inevitavelmente com seus olhos cheios pelo desejo.
— Para nos saciar, não precisamos de horários, nem lugar, só vontade — assegurou, sentindo as
maravilhosas sacudidas de Rachell, quando ele deslizava seu dedo médio entre as dobras que
mostravam como estava cheia de desejos. — O corpo não entende nada disso, excita-se só por eu
tocá-la e essa adrenalina de saber que podem flagrá-la aqui acaba fazendo você se excitar
muito mais rápido, isso não é perversão... Você não está doente, Rachell, assim é a natureza do ser
humano.
— Não… É você... é sua culpa... Você provoca em mim o imprevisível na minha conduta... Eu não
sou assim — falou com o coração na boca.
— Assim somos todos, boneca, eu já estou pronto — Disse, pegando uma mão e levando-a para
trás, fazendo-a tocar sua ereção no ponto mais alto.
No meio do desenfreio dos sentidos, Rachell apertou, tateando, sentindo-o duro, muito duro e ela
não conseguia resistir, mal retinha o orgasmo que ele estava provocando nela com o dedo no seu
interior.
— Bem… Não demore, rápido Samuel… — Pediu urgente.
— É esse apetite sexual que eu gosto — sussurrou seu gozo.
Não retirou o dedo, só deslizou pelo meio das nádegas da garota, parando naquele lugar
específico que desejava. Ela ficou tensa imediatamente.
— Tranquila, sei que ainda não consegui os méritos suficientes, só estou tocando, familiarizando
um pouco — falava, apenas pressionando um pouco e a garota se relaxava um pouco e ele notou
facilmente.
Rachell sentiu como retirou o dedo e, nesse momento, descobriu que a pressão que exercia no
seu ânus era magnífica, mas sabia que, mais que isso, doeria, enquanto lambia os lábios diante da
paixão.
Seus sentidos em guarda eram partícipes do momento, escutando perfeitamente quando
abaixava o zíper da bermuda, depois disso, abaixou a calcinha e ela ajudou levantando os pés.
— Esta você já pode lavar. Viu? Assim não levamos roupa suja — Disse, abrindo a tampa da
lavadora e jogando a peça íntima.
Rachell, por instinto, por desejo e excitação, abriu um pouco as pernas e empinou a bunda,
enquanto Samuel levantava a saia, engolindo um gemido e fechando os olhos, ao mesmo tempo em
que seu corpo estremeceu quando ele a penetrou.
O brasileiro a agarrou novamente pelos quadris, entrando e saindo dela com rapidez e
precisão; seu lábio inferior trêmulo diante do prazer que dava seu pênis, a fricção da vagina de
Rachell, aquela sensação que se expandia por todo o corpo e o envolvia, apoderando-se de tudo
o que era.
Abandonou seu corpo por alguns segundos e a girou, segurando-a pela cintura, levantou e
colocou-a sentada na lavadora; com as mãos rápidas, abaixou a bermuda, esse negócio de só
tirar pelo zíper era muito incômodo para ele.
Ela estava esperando ansiosa, por isso, mais uma vez, submergiu-se na garota, fazendo-a
delirar com suas arremetidas, enquanto o corpo trêmulo dela se unia às vibrações da lavadora e
ele podia senti-la cada vez que irrompia nas suas entranhas, proporcionando mais prazer.
— Não pare... Leve-me com você ao abismo onde eu grito e imploro por mais — Pediu Rachell,
segurando a bunda com força. — Não pare agora — suplicou, quando começava a alcançar a
luz que a cegava no meio do orgasmo.
— Nem penso nisso… É assim que você quer? — Perguntava e era mais contundente com suas
penetrações.
— Sim… sim, assim, Sam... — Arqueou-se, ficando tensa na sua decolagem até os céus.
Ele buscava a maneira de satisfazê-la, de não a deixar pela metade; talvez, por isso, primeiro
esquentava muito bem a zona de trabalho, para não se derramar sem ter a convicção de que
Rachell já tinha chegado ao seu ápice.
Segundos depois, ele enfiou a cabeça no peito de Rachell, sentido como as batidas do coração
dela retumbavam, com seus braços, envolvia sua cintura e dava beijos curtos nos peitos cobertos
pela camiseta, esperando que sua respiração normalizasse.
— Se é assim que você vai me entreter, quer lavar roupa todos os dias.
— Eu falei que não era tão ruim — Disse a garota, pegando o rosto e fazendo-o levantar a
cabeça para olhar nos olhos e beijar algumas vezes nos lábios que, ainda entreabertos, buscavam
oxigênio.
— Preciso que pare de me beijar para eu poder subir a bermuda; não quero mostrar minha
bunda para a dona da lavanderia.
Rachell não conseguiu segurar a risada e observar como ele tirava a camiseta sem manga e se
limpava, colocou em cima da lavadora e subiu a bermuda. A garota aproveitou a peça de roupa e
se limpou entre as coxas para, depois, abrir a tampa e jogar lá dentro.
— Você pode voltar sem camisa para o motel — Desceu rapidamente e foi até onde tinham
colocado a roupa branca, que já estava pronta, trocou a água algumas vezes e Samuel se
encarregou de colocar as roupas na secadora, enquanto ela via as outras.
CAPÍTULO 31

Depois de um extenuante dia de lavagem, Rachell estava sentada sobre as pernas no centro da
cama, vendo um capítulo de Supernatural e comendo iogurte, enquanto Samuel estava entretido no
seu laptop, revisando alguns e-mails que tinham chegado da procuradoria. Embora tivesse
adiantado as férias, o trabalho não o abandonava, eram algumas assessorias de companheiros,
assim como outro pedia ajuda em um caso.
Outro e-mail era de Smith, que o notificava sobre o caso do banco Wester. O dono declarou
falência no começo do ano, deixando seus funcionários e clientes à deriva. Tinham certeza de que
esse negócio de falência não era mais que uma desculpa para fugir do país, quem poderia saber
para qual banco suíço tinha transferido tudo.
O juiz tinha determinado a prisão preventiva de Jacob Roberts. Isso era uma boa notícia!
Mas não tinha nenhuma mensagem de Cooper e precisava saber dele. Ele tinha dito que tão
logo tivesse notícias, entraria em contato e estava demorando mais do que o normal.
Sumido em parte do seu trabalho, as horas passavam se perceber. Chegou uma mensagem
instantânea e era do seu primo Thor; estranhou vê-lo conectado porque normalmente estaria
treinando ou dormindo.

Que porra, primo! A esta hora, deveria estar transando e não conectado.

Samuel acabou rindo e, ao procurar Rachell com o olhar, viu que estava dormindo; foi nesse
momento que se deu conta que eram 22h45.

Só estou trabalhando um pouco; já transei durante a tarde. E o que você faz conectado a
esta hora? — Digitou sua resposta e enviou.
Quase na mesma hora, Thor respondeu.

Supõe-se que está de férias, só tem que fazer Rachell feliz, esqueça por um tempo que é
advogado. Estava um pouco entediado, não tenho quem atormentar, então decidi me distrair
um pouco... Que saco! Não vou ficar dando explicações.

Samuel tentou não gargalhar para não acordar a Rachell, sabendo que nunca conseguiria
ganhar de Thor, que não se deixava encurralar nem pelas coisas boas.

Está bem, não vou fazer mais perguntas. Como estão as coisas por aí?

Samuel esperava a resposta, mas não chegava, estava quase desconectando e indo dormir
quando recebeu a mensagem de Thor.

Está tudo bem, pelo menos, o apartamento continua de pé. Não tenho necessidade de me
masturbar. Onde você está?

Samuel começou a digitar sua resposta e a despedida.


Estamos em Amarillo, de manhã, saímos para Albuquerque, isso me faz lembrar que tenho
que dormir.
Ligo durante a tarde, espero, e agora, sim, atenda minhas ligações.
Desta vez, a resposta de Thor não demorou tanto.

Sim, é melhor descansar, já falei que não respondi porque estava ocupado. Você não é o
único que tem obrigações, nem mulheres.
Espero sua ligação.

Samuel leu a mensagem de Thor e desconectou, fechou os programas abertos e desligou o


laptop. Soltou um suspiro e levou as mãos entrelaçadas à nuca, segurando ao encosto da cadeira,
enquanto observava Rachell dormindo.
Depois de um minuto, ficou de pé e se aproximou da cama, pegou o lençol e a cobriu, já que
ela estava só com um camisão. De perto, observou o lindo rosto relaxado, sentindo uma ternura
que o calava por dentro, uma sensação que embargava o seu peito. Só em Rachell tinha
descoberto essa combinação que abrange tudo. Ela era desejo, paixão, luxúria, felicidade, raiva,
ternura... E tinha certeza que havia mais emoções, mas que ainda não conseguia definir.
Deu um beijo na cabeça dele e foi ao banheiro, de onde voltou em alguns minutos para deitar
atrás da garota, protegendo-a entre seus braços, dando outro beijo na cabeça, sentindo-se
protetor, sentindo-a pequena nos seus braços.
Rachell teve vontade de ir ao banheiro de madrugada, ainda meio sonolenta, sentiu o corpo
quente de Samuel nas suas costas, que tinha uma das mãos sobre o peito esquerdo. Não teve como
não sorrir e tirar com cuidado para não o despertar.
Ao entrar no banheiro, percebeu que estava menstruando, era algo que já esperava.
— Merda, não dava para me liberar pelo menos neste período, tem que chegar para ferrar
minha viagem — Disse para si e se levantou brava, compreendendo porque tinha se comportado
de modo tão estúpido no dia anterior ao chorar por uma bobagem.
Voltou ao quarto e procurou os tampões na bolsa de mão para voltar ao banheiro, onde fez o
necessário para não manchar os lençóis.
Porém, tinha perdido o sono e Samuel estava dormindo profundamente. Sabia que se fosse
para a cama, ficaria dando voltas e o incomodaria.
Viu sobre o criado-mudo a câmera e lembrou das fotos dos Cadillacs e sabia que era o melhor
momento para verificar o que Samuel tinha escrito. Como ele estava dormindo, não poderia
impedi-la.
Antes de pegar o laptop, não resistiu a tirar uma foto, que saiu com a linda luz do abajur sobre
o seu rosto.
Depois de alguns minutos, estava digitando no tradutor as palavras que Samuel tinha escrito em
português, com um único clique o coração quase saiu pela boca, quis sair correndo para abraçar e
beijá-lo, mas não queria acordá-lo.

Tenho ao meu lado a mulher que me pediu confiança, algo que, em mim, é impossível. Pelo
menos, era antes de conhecê-la, porque, pouco a pouco, está me roubando, não estou dando a
ele, e isso torna tudo mais fácil. Com Rachell é tudo mais fácil.

Então, na sua memória, saltaram também as palavras expostas em um dos bilhetes que
acompanhavam as orquídeas que tinha dado de presente, que dizia: Que era uma Pantera e que
estava disposto a se queimar como tal por estar ao seu lado porque, sem dúvida, a Borboleta era
ela.
Samuel tinha medo do fogo e estava disposto a vencer seus medos por ela. Era isso que dizia o
bilhete? Ou simplesmente estava tirando conclusões precipitadas.
— Sim, estou só fazendo um filme com tudo isto, são coisas sem sentido, estou vendo fantasmas
onde não existem. O que há entre Samuel e eu é simplesmente química, amizade... Passamos muito
bem transando, só isso — Fechou a página e resolve passar as fotografias para o laptop, mas sua
curiosidade feminina veio à tona ao ter acesso a algo de Samuel. Era privado, não pensava em
procurar conversas com outras mulheres, nem pornografia, nada disso, só queria conhecê-lo um
pouco mais por meio de um aparelho eletrônico.
Entrou em documentos e só encontrou dezenas de pastas, passou os olhos de cima abaixo.

* Teoria do Caso: Justin Adams


* Teoria do Caso: Dana Bruner
* Teoria do Caso: Jonathan Bratt
* Teoria do Caso: David Haythe.

Todas as pastas eram, sem dúvida, parte do seu trabalho; lia cada nome, até que um captou
completamente a sua atenção.

* Teoria do Caso: Elizabeth Garnett.

Seus dedos vibravam diante a vontade que tinha em abrir a pasta e saber o que era que
escondia Samuel. Ainda lembrava da conversa que teve com alguém por telefone, quando esteve
no seu apartamento e achava que ela estava dormindo; também o significado da tatuagem, esse
juramento, era fazer justiça por sua mãe, mas o que tinha acontecido?
Fechou os olhos e clicou na pasta, ao abrir, só encontrou um campo que pedia senha.
— Devia ter imaginado — murmurou, soltando um suspiro e dando uma olhada para comprovar
que Samuel continuava dormindo profundamente.
Quis saber se era só a pasta de Elizabeth Garnett que estava bloqueada, mas todas as outras
também pediam senha, sem dúvida alguma, protegia seu trabalho.
Sabendo que não encontraria nada fuçando entre os documentos de Samuel, decidiu ver as
fotografias que ele já tinha descarregado.
Mas, nas imagens, encontrou outra pasta de Elizabeth Garnett e, entre parênteses (mamãe), isso
a encheu de ternura e de certa tristeza, porque saber que a levava com ele era uma mostra fiel
de que sentia sua falta.
Sem nem pensar, clicou e esta sim abriu. A simples vista, era possível ver que eram imagens
escaneadas, era uma jovem de cabelo loiro escuro, olhos cor de avelã e o sorriso era igual ao de
Samuel, ele tinha herdado dela. Era linda, parecia bem espontânea, mas também elegante e tinha
certeza que não tinha chegado aos vinte anos.
Se ela era a mãe de Samuel, ele não parecia muito com ela, só o nariz e o sorriso; o resto
devia ser parecido com o pai. Em uma das fotografias, estava de braços dados com um rapaz e
reconheceu o senhor Reinhard Garnett, que era muito parecido com Thor, só que com menos massa
muscular.
— Que inveja do corpo! — Exclamou bem baixinho ao vê-la no que parecia ser o carnaval do
Rio.
Em outra, estava em uma praia, ela junto com dois jovens; um era o tio de Samuel e podia jurar
que o outro era o pai, pela forma de passar o braço pela cintura de maneira mais íntima.
Era muito bonito, olhos azuis e cabelo escuro. Havia várias fotografias com o mesmo rapaz e
não tinha dúvida, era o pai de Samuel e ficavam muito bem juntos.
Em outra, estava a mesma garota, a fotografia a mostrava muito jovem e tinha uma orquídea
roxa nas mãos; parecia ser uma foto profissional, como se fosse para um book de modelos.
Continuou revisando as fotografias, até que também conheceu os avós de Samuel, senhores
muito elegantes que não parecia que fossem a praias nudistas.
O canto de um galo próximo a fez olhar a hora e quase saltou da cadeira, quando viu que
eram 5h20 da manhã. Rapidamente fechou a pasta e desligou o laptop, deixando-o exatamente
como estava; não queria que Samuel interpretasse mal essa pequena olhada na sua intimidade.
Dirigiu-se à cama e, com cuidado, deitou-se atrás dele, já que tinha roubado seu lado da cama;
passou o seu braço pela cintura e procurou uma das mãos, entrelaçando-a a sua, dando vários
beijos nas costas pela tentação causada pela suavidade e pelo calor da pele.
— Está com vontade de transar? — Perguntou com a voz roupa, deixando claro que estava
mais dormindo que acordado.
— Sim, estou, mas vou deixar você descansar, além do mais, não posso... Declaro-me fora de
serviço pelos próximos quatro dias; pelo menos, até chegarmos a Flagstaff.
Ele se virou na cama, ficando de frente e juntando sua testa na dela, com os olhos fechados.
— Quem disse que estou cansado? E por que vai fazer greve por tanto tempo? — Murmurou e,
a cegas, acariciava o cabelo de Rachell.
— Você pode até não estar cansado, mas tem que estar relaxado... E, bom, minha condição
como mulher me impôs isso, veio minha menstruação.
— Caralho, nunca fiquei com uma mulher menstruada... Mas isso não é inconveniente, podemos
transar da mesma maneira. Enquanto já desejo, o resto não importa... Mas, me fale, é verdade esse
negócio de mudança de humor nas mulheres ou é tudo mito?
— São mitos... Não, mentira, é verdade sim... Por isso, vou advertir se vir que me comporto como
uma estúpida chorona ou se fico insuportável, não é por minha culpa, é por causa dos hormônios.
— Bom, fico feliz em saber disso. Assim sei que, quando chorar quando nos despedirmos de
Santa Fé ou de qualquer outro lugar, só vou abraçá-la e prometerei trazê-la de volta. Quando
ficar brava porque acabou a água, só vou deixá-la sozinha, que acabe com o lugar e, quando
voltar, traria a água... Acha que essa é a maneira de lidar com seus estados de ânimo?
— Melhor que qualquer um. Oscar já sabe, porque me irrito por qualquer coisa… — Não teve
como não sorrir. — Bom, já está avisado.
— Você gosta muito do Oscar?
— É o homem que mais amo, já falei que foi meu suporte e sei que também me ama, ele vai
comigo a todos os lugares.
— Então terei que dar uma olhada no porta-malas do carro, pode ser que Oscar esteja
escondido lá e não vimos.
— Não é para tanto; ele sabe me dar o meu espaço... Agora continue dormindo que falta muito
pouco para amanhecer e irmos embora de Amarillo. Você terá que me abraçar e prometer que me
trará de volta, se não quiser que eu desidrate de tanto chorar.
— Voltamos quantas vezes quiser — Ainda com os olhos fechados, procurou os lábios de
Rachell e deu ternos beijos.
Não disseram nada mais, só ficaram em silêncio, já que também não dormiram de novo. Samuel
abriu os olhos e olhou nos de Rachell por muito, muito tempo. Ela fazia o mesmo, não precisavam de
palavras, seus olhares expressavam esse sentimento que nenhum dos dois se atrevia a pronunciar.
CAPÍTULO 32

William Cooper estava em seu escritório, curtindo um café russo, bem carregado com o seu jato de
uísque, para entrar no calor e acordar completamente, enquanto se atualizava com as notícias no
New York Times.
Um estagiário bateu à porta e ele fez um gesto para que o jovem entrasse.
— Bom dia, detetive, enviaram o relatório do necrotério com o caso de Elizabeth Garnett —
Entregou a pasta para ele.
Cooper ficou de pé para recebê-la, deixando claro que realmente estava interessado pela
correspondência.
— Obrigado, Mark, deixe-me sozinho, por favor.
— Sim, senhor, se precisar de algo, já sabe, estou...
— Sim, meu caro, já sei que você está disponível, mas pare de parecer puta em quinzena, pare
de se oferecer para todo mundo, precisamos de homens fortes, ser o estagiário não faz de você
menos do que os que estão lá fora, você está capacitado para fazer o mesmo trabalho —
aconselhou com sua maneira rude de ser, mas fazia assim para que o rapaz aprendesse, de uma
vez por todas, porque já tinha falado de modo mais aceitável que não fosse tão submisso e
parecia que não tinha entendido.
— Sim, senhor — Disse e saiu, quase apavorado do escritório.
Cooper só negou com a cabeça, o rapaz era inteligente, mas muito covarde. Deixou de lado
essa história do estagiário e passou à correspondência que estava nas suas mãos, rasgou a
etiqueta de informação classificada e tirou a pasta do envelope, ao mesmo tempo em que, com
uma mão, colocava seus óculos.
Abriu a pasta e pulou todo o protocolo de abertura, foi diretamente ao que interessava, um
resumo feito pelos dois, assinado pelo especialista de Nova Iorque e que trabalhava para a
unidade policial e o de Las Vegas, que Garnett tinha mandado buscar.
Era um relatório parcial da reconstrução do corpo de Elizabeth Garnett, que fazia parte da
segunda fase, das três que estavam previstas.
Lia atentamente o que enunciava e quando estava na metade, caiu sentado na sua cadeira,
sentindo uma grande pressão tomar conta do seu peito e que aumentava a cada parágrafo.
— Meu Deus do Céu! — Exclamou horrorizado.
Não conseguia entender Garnett, como tinha suportado aquilo? Como, mesmo depois de tantos
anos, ainda guardava tudo isso? Ele mesmo procuraria aqueles filhos da puta e poderia entregar
as cabeças em uma bandeja de prata e evitaria todo o processo de levá-los a processo.
Só podia imaginar seu filho mais velho, que tinha nove anos em uma situação como essa,
presenciando tais atrocidade que o deixariam marcado pelo resto da vida e o coração batia
disparado no peito.
Agora dava para entender a atitude de Garnett ao sair correndo da sala de reuniões,
entendia esse medo e a dor que viu nos seus olhos no dia da exumação do cadáver, não era uma
simples obsessão, não era só fazer justiça pela sua mãe, precisa disso para poder superar esse
episódio da sua vida em que estava preso.
Revisou por cima as fotografias forenses de como estava a reconstrução do cadáver e leu a
conclusão onde informavam que, em dez dias, enviariam a última fase, que o que foi encontrado
até agora era só ao que se poderia chegar com mais facilidade e, segundo o que podia oferecer
o estado da estrutura óssea, também deixavam claro que havia lesões impossíveis de recuperar no
processo, mas com o que tinha sido encontrado até agora, já dava para continuar trabalhando
sobre o caso.
Cooper jogou a pasta sobre a mesa e teve consciência do tremor nas suas mãos e daquele
grande nó na garganta, Deus o livrou de passar por semelhante situação, porque enlouqueceria,
seu perfil psicológico iria à merda, mas não descansaria até mandar todos para o inferno.
Sem conseguir segurar, as lágrimas inundaram os olhos azuis e, antes que derramassem, ele as
secou, respirou fundo em várias oportunidades, para se acalmar, não podia deixar que um caso o
afetasse dessa maneira, mas não tinha como evitar, porque tinha a versão dos fatos de Garnett e
era o que até agora estava de acordo com o relatório forense.
Sem pensar muito, só arrastado por uma necessidade que não conseguia compreender, pela
qual não conseguia se desligar do caso, pegou o telefone e ligou para casa.
— Alô, meu amor — cumprimentou a mulher que atendeu a ligação. — Tudo bem? E as
crianças?
— Estou bem, Dilan acaba de dormir, como chegou ao trabalho?
— Bem, estou me atualizando com um caso, lembra, aquele do Garnett.
— Sim, claro, o do procurador, aquele que fala que não está pronto para domingos familiares.
— Ele mesmo… Meu amor, Willy está aí perto? — Perguntou, tentando esconder as emoções na
sua voz.
— Está enfiado no X-box, Willy! — Disse ao marido o que o menino estava fazendo e o
chamou. — Papai está no telefone!
— Oi, papai — cumprimentou o menino, evidenciando que tinha corrido para chegar ao
telefone.
— Oi, campeão, sua mãe me falou que você está jogando X-Box… Está ganhando?
— Ainda não consegui superar seus pontos, papai — dizia emocionado.
— Bom, nesta tarde, quando eu chegar, vou confessar uns truques, amo você, filho.
— Eu também, papai, vou falar para a mamãe preparar milho para o jantar para você.
— Esse é o meu filho, pensando no que seu pai gosta... Lembre-se de fazer sua tarefa, agora
tenho que desligar.
— Tchau, papai.
— Tchau, filho — William Cooper terminou a ligação e tentou se concentrar no trabalho,
esperaria Garnett voltar de férias, o que menos queria era estragar um momento em que deveria
deixar tudo para fora e aproveitar.
CAPÍTULO 33

Quando Thor falou para Megan que precisavam recorrer o quanto antes a um método
anticoncepcional seguro porque havia momentos em que não teria camisinha à mão, ela só pensou
que seu namorado tinha desejos muito frequentes, mas jamais pensou que seria ela que não
conseguiria se controlar. Toda vez que ele estava perto, sua pele queimava e o desejo começava a
devorá-la por dentro.
Tinha passado muitos poucos dias desde que tinha deixado de ser virgem e, depois de passar
dois dias com ele no seu apartamento, não tinham tido a oportunidade de poder estar sozinhos
durante o tempo necessário. Tinham que se conformar em se tocar em alguns lugares afastados do
Central Park, durante a rotina de corrida diário e isso só piorava as coisas.
Mal escutou a buzina do Lexus, deu um pulo do banco e deu um beijo na sua amiga Ciryl, que
fez um gesto vulgar com a mão perto da boca e com a língua na parte inferior da bochecha,
como se estivesse proporcionando sexo oral.
— Ainda não chegamos nessa parte — Disse, com o olhar brilhante pela emoção e excitação
que a tomava.
— Bom, não demore... Embora ainda não tenha feito, vai ficar muito mal, eu vou ensinar como
fazer para que tenha esse cara na palma da mão.
— Anote na agenda — Pediu, com aquela malícia característica sua.
Ciryl pegou uma agenda rosa e roxo de Barbie.
— Isso não se enquadra nesta agenda, mas tudo bem, vou encaixar na aula de quinta-feira, às
sete... Vamos ver, sim, aqui... Ensinar a Megan como dar uma boa chupada — dizia enquanto
escrevia. — Se quiser, não volte para a aula, eu empresto minhas anotações e, se conseguir, gravo
um pouco da aula.
— Obrigada, Ciryl! Não tenho como pagar por isso.
— Não precisa me pagar nada. Adoro ver você tão bem, era isso que estava faltando. Um
homem que distraísse das bobagens de não comer e do 'sou horrível'.
— Já sei que não sou. Thor me fala o tempo todo que gosta de mim, adora meus peitinhos —
Disse com emoção, agarrando-os, quando escutou novamente a buzina do Lexus.
— Bom, não o deixe esperando mais, dá para ver que está ansioso para transar.
— Não mais que eu, amiga — Deu outro beijo nela e saiu correndo.
O coração parou na garganta ao ver o carro, mas não parou de correr, até chegar e entrar.
— Vamos logo que estou morrendo de vontade de beijar você e as câmeras não podem ver,
não quero me ser advertida por ser imoral — Disse com voz urgente.
Thor deu um sorriso e pegou sua mão, entrelaçando seus dedos com os dela, sentindo como
aquela mão tão pequena tinha o poder para descontrolá-lo.
Mal tinham avançado uma rua, quando o primeiro semáforo ficou vermelho; Megan não
conseguiu segurar, vê-lo vestido com aquele cinza chumbo, calça de linho, colete e terno de lã,
camisa branca e gravata preta com linhas cinza e prateada.
Ele estava de morrer e ela não aguentava a tortura. Por isso, em um impulso e como um raio,
montou no meio das pernas do namorado; com desespero, levou as mãos ao rosto e o beijou com o
desejo que a consumia.
— Megan… Megan — Disse, afastando-a um pouco. — Estamos em plena via pública, um
segundo mais e não vão multá-la por ser imoral, vão nos levar presos.— Pegou-a pela cintura e a
colocou de volta no banco do passageiro.
— Procure um lugar seguro o quanto antes — Disse, metendo as mãos por baixo da saia
quadriculada que usava e que chegava até o joelho, tirando a calcinha roxa de renda que tinha
comprado para mostrar ao seu noivo.
Ela já não queria nada de ursinhos, nem maçãs ou morangos. Continuaria usando cores de tom
pastel, mas com um modelo mais atraente, tinha certeza que as transparências causariam ereções
que as frutas não fariam, com certeza.
— Vamos ao apartamento — Disse, quando o farol ficou verde, mas sua vez indicava a
urgência que também reinava nele.
— Não! Vamos demorar para chegar lá, quero ter você já.
— Ai, Megan… ai, Megan — Sem saber o que fazer, porque supunha que ela devia ser a mais
razoável da relação, pelo menos, no sexo.
Sem pensar muito, Thor virou à direita e entrou no primeiro estacionamento que encontrou, a
uma velocidade que ganharia uma multa altíssima se algum policial visse. Subiu até o terceiro
andar, já que nos dois primeiros tinha muito carro e não queria expor Megan ou ter que parar no
momento menos esperado.
Estacionou e, outra vez, Megan o surpreendeu com sua agilidade. Em um piscar de olhos, estava
em cima dele, beijando-o com desespero; ele só colocou as mãos embaixo da saia e agarrou a
bunda da garota, compartilhando gemidos.
Megan, enquanto o beijava, sentia-o sufocado, talvez fosse a roupa; por isso, levou as mãos à
gravata do rapaz e, com lentos puxões, desfez o nó, dando um pouco mais de comodidade.
Desabotoou o colete e a camisa, passando suas mãos trêmulas pelo abdômen, deleitando-se
com a firmeza de cada músculo e a ereção começava a ser tangível pela calça de linho e pôde
senti-la mais quando ele levou as mãos ao quadril e a fez sentar, roçando-se contra o centro
ansioso.
— Você não saiu da minha cabeça nenhum instante, desejava este momento... Você me deixou
doente, Thor... Fiquei dependente do sexo... eu não era assim, não era — falava, puxando a
gravata e tirando do pescoço.
— É bom, o sexo é bom… — Disse com um sorriso malicioso. — Você não acha?
— Sim, gosto muito... Gosto de sentir cada segundo quando me toca, não há nada melhor na
Terra, nem no Céu, que quando me torna sua mulher... Ser sua mulher é o melhor que me aconteceu
na vida — murmurava, tremendo de excitação. Agarrou uma das mãos de Thor e amarrou uma
das pontas da gravata no pulso do rapaz, puxou e passou por trás do seu corpo e através do
volante para amarrar a outra ponta no outro pulso.
Thor não conseguia assimilar que Megan tinha prendido ao volante do carro, tirava seu controle
e, pela primeira vez, se sentia indefeso.
— O que você fez, Megan? — Perguntou, puxando as mãos, mas não conseguia se livrar e seu
olhar fixou na garota, desabotoando lentamente a blusa, enquanto lambia os lábios, mostrando-se
ansiosa, fazendo as pulsações que provocavam sua ereção explodir.
— Lembra que você me deu o controle, pela primeira vez na vida, tenho o controle... Não
dependo dos meus medos, posso fazer o que quiser e não o que me impõem — falava, tirando a
camiseta que vestia e, sem perder tempo, tirou o sutiã, apoiando-se de joelhos, incorporou-se, ao
mesmo tempo em que agarrava o cabelo de Thor. — Meus peitinhos estão ansiosos — murmurou,
roçando seus mamilos contra os lábios do loiro e um gemido irrompeu na sua garganta ao sentir a
poderosa e dolorosa sucção, mas era uma dor que provocava pulsações de prazer no seu centro.
O peito ia arrebentar por causa do influxo da sua respiração e se convertia em um cúmulo de
tremores, ao sentir como Thor brincava com seus peitos, de um passava ao outro e os beijava ou
puxava os mamilos e não aguentava mais, não conseguia suportar as exigências da sua vagina.
Soltou um pouco os cabelos loiros e deslizou suas mãos lentamente, ao mesmo tempo que
afastava seus peitos da boca de Thor, segurou seu rosto e elevou a cabeça, encontrando-o suado
e com os lábios inchados e vermelhos pela tarefa realizada com seus peitos. Eles se olharam por
vários segundos e ele deu uma mordida no ar, tentando alcançar a boca.
— Quero beijar você, deixe eu beijar você, se não me beijar, vou esticar a gravata até
estourar e vou tomar o controle.
— Está ansioso, meu Deus do Trovão? Sim… sim, está — Disse, sorrindo com malícia. — Posso
sentir, porque já começou a chover entre as minhas coxas.
— Megan… Venha aqui, me dê sua boca… — Pediu, piscando um olho com sedução.
— Você só quer a minha boca? — Segurou sua cabeça com uma mão de cada lado,
percebendo que ela adorava a sensação das orelhas de Thor entre seu dedo indicador e o
médio.
— Quero você inteira… Quero beijá-la e transar com você — Estava a ponto de dizer algo
mais, mas ela o beijou e, então, se descontrolou, ele a fez gemer e suplicar entre beijos vorazes.
Megan deslizou as mãos pelo pescoço, peito e abdômen até chegar à fivela da correia, que
abriu, e também desabotoou a calça e abaixou o zíper, mal colocou a mão entre o elástico da
cueca e o membro de Thor saltou, estava tão duro que mal o tecido segurou.
O loiro ansioso começou a gritar na boca de Megan, contendo seus impulsos, para não estragar
a gravata e penetrá-la de uma vez por todas, quando ela, finalmente, saciou essa necessidade, ao
se deixar vencer pouco a pouco, oferecendo o desejado coito e ele suspirou aliviado.
Megan começou a se mover como seus instintos indicavam, ia de cima para baixo, apoiando-se
nos ombros do seu namorado.
— Mais rápido, um pouco mais rápido — pedia Thor, com a respiração acelerada e seu olhar
ia dos olhos da garota para a boca e chegava às oscilações nos seus pequenos peitos por causa
daquele movimento que intensificava pelo pedido.
Sabendo que eram desajeitados, mas se empenhava em melhorar; porém, no momento em que o
prazer a dominava, fazia as coisas da sua maneira. Deixou-se cair, apertando suas coxas contra
as do seu namorado, balançou de trás para frente, agarrando-se com força nas abas do terno,
ameaçando desintegrá-las e enfiou sua testa no peito de Thor, movendo-se mais rápido em busca
do êxtase.
Fechou os olhos e os gemidos saíam sem parar, respirando com a boca aberta e nem conseguia
falar, os pulmões pediam oxigênio, o coração iria explodir, mas, mesmo assim, não parava,
continuava forçando o corpo para dar mais.
Estava muito difícil respirar e o ambiente era mais úmido, sabia que era por causa do lugar
onde estavam, era mais reduzido, mas tudo era diferente, era mais selvagem. Ela se desconhecia,
nunca tinha sido tão lasciva, nem em seus pensamentos tinha imaginado agir daquela maneira.
Gritou e seu corpo ficou tenso, tudo, absolutamente tudo desapareceu do seu redor. Não
escutava nada, não via nada, só tinha consciência dos seus tremores intermitentes que se
apoderavam do seu corpo, sem conseguir evitar.
Voltou à realidade leve, trêmula, suada e sorridente, querendo dar por terminado seu momento;
ia se levantar, para se acomodar novamente e continuar com seu namorado, quando ele percebeu.
— Não faça isso, Megan… Um pouco mais, só um pouco mais, faça isso por mim, para mim —
Disse ele com voz urgente.
— Sinto muito… Perdão... — Disse, movendo-se de novo.
— Não há nada para perdoar... Entendo que você esteja aturdida e queira deixar o trabalho
pela metade... É normal que alcance primeiro que eu.
— Não pensava em deixar você no meio, isso nunca... Não vou deixar de nenhuma maneira —
Palavras-chave de Megan para que o coração de Thor batesse mais rápido e mais intensamente.
Sentia as mãos dormentes, talvez a gravata amarrando os pulsos estivesse cortando a
circulação, por isso, segurou o volante, sentindo como Megan, com seus movimentos, arrancava
aquele orgasmo. Estava fazendo-o delirar de prazer, sentia-a tão estreita, tão acoplada ao seu
pênis que glorificava cada toque dela, longos gemidos escapavam da sua garganta, som que
expressava quando chegava aos céus. Para, depois de segundos, se descarregar.
Era a primeira vez que Thor ejaculava dentro dela sem nenhum tipo de proteção e, ao sentir a
primeira descarga, deu um respingo e não conseguiu segurar a gargalhada, que se intensificou
com a segundo, mas com a terceira e a quarta, só ria.
— Faz cócegas... Senti quando você ejaculou, quente e me fez cócegas — Sem parar de rir e
contagiando-o com sua risada, mas a dele era mais cansada. — Gostou?
— Você me surpreendeu, não esperava que agisse assim... Megan, eu sou um caso perdido.
Poderia transar até em uma igreja, se me desse vontade, mas você não tem porquê fazer isso...
Não se não se sentir cômoda.
— Passei a impressão de estar incômoda? — Perguntou, apoiando-se sobre seus joelhos,
elevando-se e oferecendo novamente seus peitos a ele. Enlouquecia de prazer cada vez que Thor
deslizava sua língua sobre eles, era uma sensação que a descontrolava, mas, ao mesmo tempo,
relaxava. — Se fosse por mim, poderíamos ficar aqui e fazer mais uma vez.
— Se me der dez minutos, estarei pronto novamente — Disse, passando languidamente a língua
no meio dos peitos e com o olhar fixo nela.
— Darei o tempo que precisar, mesmo passando bem... Um confessionário deve ser emocionante
— Elevou uma sobrancelha com malícia.
— Megan! — A voz de Thor foi um doce gemido que ela adorou. — Foi só uma brincadeira,
não é sério esse lance do confessionário.
— Bom, está bem, vamos para sua casa... Tenho até às nove porque Ciryl vai gravar as aulas
para mim.
— Acho que serei sua perdição. Se antes você ia mal nos estudos, agora vai reprovar por
minha causa.
— Prometo melhorar nos estudos, mas hoje não quero ir à aula, quero ficar do seu lado, ficar
na sua cama e aproveitar o dia com você... Gosto de sentir como você me queima com seus lábios.
— Merda… — murmurou. — Não consigo ficar sério ou colocar limites porque odiava que
fizessem isso comigo e odeio ter que fazer isso com você.
— Não faça, já tenho meu pai para me dar broncas, quero você para me fazer voar… —
Disse, movendo-se de um lado para outro como se estivesse deixando se levar pelo vento. — Hoje,
quero sentir seu peso, sei que posso, não quero ficar todo o tempo por cima. Se eu busquei você
assim tão alto e tão forte é porque eu quero senti-lo sobre o meu corpo. Você terá a oportunidade
de se levantar se achar que não estou respirando.
Ele não conseguiu segurar a gargalhada.
— Você vai me deixar louco! Você é uma jovenzinha maravilhosa, então, não vamos perder mais
tempo para me sentir completamente nu e excitado em cima de você.
Megan soltou um grito de emoção e, com agilidade, começou a desamarrar a gravata,
liberando-o. Deu um beijo e passou para o banco do passageiro, enquanto Thor guardou seu pênis
e também abotoou sua camisa.
Ligou o carro e abaixou os vidros para entrar um pouco de ar e que o cheiro de sexo
diminuísse.
Outra vez, Thor pegou a mão e entrelaçou os dedos com o de Megan, beijando-a por vários
segundos. Nunca na sua vida tinha estado tão entregue ou sido tão carinhoso. Era algo que saída
do nada, era uma necessidade de dar carinho a Megan e que o fazia se sentir pleno.
De repente, Megan se jogou bruscamente para baixo, quase se escondendo embaixo do porta-
luvas.
— O que aconteceu? — Perguntou desconcertado.
— Minha mãe! — Exclamou em voz baixa, como se ela pudesse escutar, enquanto os carros
estavam parados em um sinal vermelho.
— Onde?
— No carro ao lado, a loira — respondeu, mantendo o mesmo tom.
Thor olhou de canto de olho no carro preto ao lado e viu a mulher que não chegava aos
cinquenta, mas que se conservava muito bem, passando os braços pelo pescoço de um rapaz que
podia jurar ter a mesma idade que ele, e se beijavam, parecia mais que o homem estava
revisando as amídalas.
— Com… seu pai? — Arrastou lentamente a pergunta, porque não batia com as aparências,
talvez pelos traços asiáticos do acompanhante.
— Não! Lembra que meu pai volta amanhã... É seu amante.
— Ah… — Concordou lentamente, tentando processar a informação. — É verdade — Disse
sorridente. — Arriscada minha sogra, já sei a quem você puxou — Abriu o sorriso, arrancando o
carro, na rua seguinte, o carro em que estava a mãe de Megan cruzou e eles continuaram em
frente.
CAPÍTULO 34

Samuel e Rachell se olhavam sorridentes enquanto tentavam comer os hambúrgueres que tinham
sido servidos e que tinham certeza que não conseguiriam comer tudo.
— Isto vai me deixar com uma barriga enorme — murmurou divertida, agarrando a jarra de
cerveja. — Não é o que estou acostumada a jantar.
— Aproveite, quando voltar a Nova Iorque, poderá se enviar na academia — Disse Samuel,
levantando sua jarra e tocando na dela. — Só aproveite o momento.
— Estou aproveitando, adoro este lugar... Se não fosse mulher de cidade e não adorasse
desenhar, poderia morar aqui. É muito lindo, tanta natureza, tudo longe dos barulhos, parece ter
ficado parado no tempo — Percorreu com os olhos o local onde estavam, que era de madeira,
com janelas de vidro e cheio a carvalho.
— Sem dúvida alguma, mais especificamente nos anos 80, achava que essas coisas já não
existiam mais — Virou a cabeça sutilmente, mostrando a jukebox de um lado da porta de entrada.
— Eu disse que deveríamos trazer a máquina, perdemos a oportunidade de fotografá-la. Será
que funciona ou é só para decoração? — Acabou de falar e levou o hambúrguer à boca, tendo
que a abrir bastante para morder. Com isso, o molho caiu pelo canto da boca e mal conseguia
mastigar e sorria.
Em um impulso, Samuel ficou de pé e se inclinou, passando a língua, e retirou o fio de molho
branco e sentou novamente.
Rachell pegou o guardanapo e agitou na frente dele, enquanto continuava mastigando, depois
de engolir, falou.
— Eu tenho guardanapo.
— Eu quero ser seu guardanapo — Disse, mordendo o lábio inferior, provocando nela o desejo.
— Tem gente aqui, Samuel... O lugar está cheio e não vão gostar do que você faz.
— Se prestar atenção, ninguém se virou para olhar, todo mundo está entretido na sua própria
conversa e são pessoas adultas, com camisas xadrez e calças jeans — Disse, sorrindo, e seu olhar
foi captado pelo pingente de uma águia na pulseira de Rachell para, depois olhar a dele, que era
um falcão. Queria saber qual era o significado e por quê a vendedora de artesanato indígena
não quis cobrar nada por elas.
Rachell ficou olhando para ele enquanto mastigava e podia jurar que conseguia ler seus
pensamentos.
Por isso, tentou disfarçar tomando um grande gole de cerveja e, depois, deu outra mordida no
hambúrguer, engasgando, enquanto espantava seus pensamentos e, ao mesmo tempo, inventando
um tema de conversa que a levasse para longe dos pingentes pendurados nos pulsos.
— Você sabe jogar bilhar? — Perguntou Rachell, desviando o olhar para a mesa ao fundo.
— Um pouco... Nunca me chamou a atenção, mas se quiser, posso explicar, espero, e que você
entenda a técnica mais rápido que o esqui aquático — Disse, sorrindo.
— Não me lembre disso, ainda me dói a bunda — Fez uma brincadeira e sorriu, lembrando da
sua aventura durante a tarde no lago, onde Samuel a surpreendeu ao esquiar perfeitamente na
água e que tinha dito que gostava bastante dos esportes aquáticos. Tinha crescido na praia, no
Brasil quase todo mundo sabe esquiar ou surfar. — Mas aceito que você me ensine a jogar bilhar.
— Depois do jantar, jogamos. Se quiser, podemos ficar um dia mais.
— Adoraria. Gostei bastante de Flagstaff, mas já estamos bem perto do Grand Canyon...
Prefiro ficar mais tempo no parque. Há tanto para ver, sei que sim. Faz alguns anos, estava
decidida a fazer esta viagem e estudei todos os guias turísticos — Deu um sorriso para a senhora
que retirava os pratos com metade dos hambúrgueres.
Samuel a admirava em silêncio e, embora não fosse matemático, sabia fazer contas, dois anos
atrás, ela estava com Sturgess e não conseguiu evitar que, no seu estômago, surgisse uma fogueira
ao imaginá-la com Richard vivenciando cada momento, cada minuto que eles tinham compartilhado
durante a viagem, torturando-se, mas, ao mesmo tempo, sentindo alívio ao saber que isso não
aconteceu.
— Querem mais cerveja? — Perguntou a mulher amavelmente e os dois se olharam para entrar
num acordo.
— Sim, mais duas, por favor — Pediu, Samuel. A mulher concordou e saiu sem tirar o sorriso que
dava para os turistas.
— Eu não estou pensando em ficar bêbada aqui, não quero passar por ridículo aqui — Disse a
garota, rindo.
— Nós não vamos ficar bêbados, não vou deixar..., Mas, com certeza, já se embebedou alguma
vez? — Perguntou, esticando a mão em cima da mesa e só tocava com as pontas os dedos de
Rachell. Com aquele simples toque, interrompendo a respiração e roubando a concentração.
Ela negou com a cabeça, muito antes de responder.
— Não, nunca... Não sei como é. Sempre paro quando começo a ficar enjoada... E você?
Embora não devesse nem perguntar.
— Muitas vezes, principalmente na adolescência. Houve uma época em que ficava bêbado
todos os finais de semana, quando entrei na universidade também, mas não com tanta frequência.
Quando me formei e recebi o cargo de assistente de procurador geral, muito menos, devo dar o
exemplo e blábláblá… — A mulher chegou com as cervejas e eles deram o primeiro gole,
aproveitando que estava bem gelada.
— E você quer ficar bêbado hoje? Eu poderia ficar sóbria e cuidar de você, aqui ninguém vai
julgar o procurador.
— Não, não quero ficar bêbado. Seria muito desagradável vomitar os restos mal digeridos do
meu hambúrguer em cima das suas botas... Se em ficar bêbado, vai ser com você, sozinho.
— Prometo que faremos isso antes de voltar a Nova Iorque... — Ia falar algo mais, mas o
microfone interrompeu a conversa.
— Boa noite, sejam todos muito bem-vindos, damas e cavalheiros — Começou a falar um homem
com calça jeans e um bigode engraçado, que estava atrás do balcão com luzes diretas de várias
cores sobre ele. — Hoje é quinta-feira, alguns de vocês já conhecem a tradição, mas, como
sabemos que sempre há turistas, vamos explicar o que é nossa quinta-feira noturna. Nossa
principal missão é manter viva a crença dos nossos antepassados, os índios. Por isso, contamos as
lendas, aquelas que passaram de geração em geração e que guardamos porque são sinônimos de
sabedoria.
Rachell e Samuel prestaram muita atenção no homem, como todos os presentes.
— Hoje vou contar duas lendas, a primeira é dos Cherokees — Anunciou e começou a contar.
— Um menino estava com seu avô, em uma noite de lua cheia, mas o avô via que o menino estava
um pouco angustiado e decidiu perguntar o que estava acontecendo. O pequeno respondeu.
— É que tenho um dilema, vovô... Sinto que tenho no meu interior dois lobos lutando
constantemente... Um deles está cheio de raiva, ódio, ira, com vontade de destruir tudo ao seu redor;
por outro lado, o outro está cheio de amor, luz e generosidade. Gostaria de saber qual dos dois vai
ganhar.
O avô meditou por alguns minutos. Quando encontrou a resposta correta, colocou uma mão no
peito do seu pequeno neto e, olhando nos seus olhos, disse: "Ganhará aquele que você alimentar".
Samuel se sentiu plenamente identificado com a lenda, sentindo como, no seu interior, tudo era
um completo caos; só abaixou os olhos para sua mão direita que, inconscientemente, empunhava o
guardanapo.
Quem dera que fosse tão fácil como diz a lenda. Como não alimentar também o ódio?; como
deixá-lo no esquecimento? Como não fazer nada? Não é isso que você merece, mãe. Não vou desistir
do juramento que fiz. — Falou para si, meditando.
Enquanto Samuel estava sumido em seus pensamentos, o homem continuava explicando e dado
exemplos sobre a lenda para, depois, contar a próxima.
— Quantos casais temos aqui hoje? — Perguntou e várias pessoas levantaram a mão.
Samuel pegou a de Rachell e levantou. Tinha certeza que eram um casal; todo este tempo tinha
confirmado isso, pelo menos, enquanto viajavam se comportavam assim. Ela só olhou para ele de
canto de olho e deu um sorriso.
— Alguns apaixonados — Disse o homem, sorridente. — A lenda seguinte é dos Sioux, que nos
mostra que o amor não é uma atadura. Vamos l. — Limpou a garganta e começou. — Alguns
jovens apaixonados chegaram, de mãos dadas, até a cabana do velho bruxo da tribo. Touro
Bravo, o mais valente e honrado dos jovens guerreiros, junto com sua amada Nuvem Azul, filha do
cacique e uma das mulheres mais belas da tribo.
— Nós nos amamos… — Começou o jovem guerreiro .
— E vamos nos casar — Disse ela.
— Nós nos amamos tanto que temos medo... Queremos um feitiço, uma magia ou um
talismã, algo que garanta que podemos ficar sempre juntos, que garanta que estaremos um
ao lado do outro, até a morte. — Era o que Touro Bravo mais desejava.
— Por favor, existe algo que podemos fazer? — Perguntou a linda filha do cacique.
O velho olhou para eles e se emocionou ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos,
enquanto pensavam em suas sábias palavras.
— Existe algo — Disse finalmente o velho. — Mas não sei... É uma tarefa muito difícil e
sacrificante... Nuvem Azul — Disse à jovem índia. — Está vendo o monte ao norte da nossa aldeia?
Você deverá escalar sozinha e só com uma rede em mãos, terá que caçar o falcão mais forte e mais
bonito desse monte... Se conseguir, deverá trazê-lo aqui com vida, no terceiro dia depois da lua cheia.
Entendeu? — Perguntou e, como ela desejava ter o jovem guerreiro até a morte, aceitou o desafio.
— E você, Touro Bravo — Agora se dirigindo ao jovem índio. — Você terá que escalar a
montanha do trovão, quando chegar ao topo, irá encontrar a mais brava de todas as águias...
Nesse momento, Samuel entendeu que essa lenda tinha a ver com os pingentes que estavam
pendurados nas suas pulseiras e Rachell pensou a mesma coisa, por isso, os dois cruzaram seus
olhares, mas, muito rapidamente, voltaram para o homem que continuava contando a história.
— E, somente, com suas mãos e uma rede, deverá pegá-la sem ferir. Preciso tê-la na minha frente,
viva, e terá que estar aqui no mesmo dia que Nuvem Azul. Se estão de acordo, saiam agora.
Os jovens se abraçaram com ternura e, em seguida, partiram para cumprir a missão
encomendada... Ela para o norte e ele para o sul. No dia estabelecido, em frente à tenda do
bruxo, os dois jovens esperavam com as bolsas com as aves solicitadas. O velho pediu que, com
muito cuidado, tirassem as aves das bolsas, eram exemplares verdadeiramente lindos.
— E o que vamos fazer agora? — Perguntou o jovem. — Vamos matá-las e beberemos em honra
do seu sangue?
— Não — Disse o bruxo.
— Vamos cozinhar e comer a coragem da sua carne — Propôs a jovem.
— Não — repetiu o velho. — Vocês vão fazer o que eu disser: peguem as aves e prendam entre
elas, pelas patas, com estas tiras de couro... Depois de amarrar, soltem as duas e deixem-nas voar livres.
O guerreiro e a jovem fizeram o que foi pedido e soltaram os pássaros. A águia e o falcão
tentaram levantar voo, mas só conseguiram se virar. Alguns minutos depois, irritadas pela
incapacidade, as aves começaram a se atacar e bicar, até se machucarem.
— Esta é a magia. Jamais esqueçam do que viram. Vocês são como a águia e o falcão... Se ficarem
presos um ao outro, mesmo sendo por amor, não só viverão se arrastando, mas também, cedo ou tarde,
vão começar a se machucar... Se quiserem que o amor de vocês perdure... "voem juntos, mas jamais
presos" e poderão conhecer o amor mais além da morte.

Samuel e Rachell tentavam assimilar a lenda; Sem dúvida alguma, tinham gostado, mas não se
atreviam a se olhar, por medo que seu olhar e entusiasmo delatassem os sentimentos que os
dominavam.
Os aplausos dos presentes tomaram conta do lugar e eles se uniram ao barulho. As mulheres
que faziam o serviço saíram dali. E uma delas parou do lado da mesa onde estavam, como as
outras pararam nas outras.
O homem ficou do lado do jukebox, chamando a atenção dos rapazes que responderam que
ainda funcionava, colocou uma moeda que deu vida ao acendê-la.
—A gora, os casais que nos acompanham nesta noite, sim, aqueles mesmos que levantaram as
mãos. Convidamos vocês para que voem juntos e que continuem se apaixonando sem necessidade
de se prender — Disse estas palavras e o som de um piano saiu do jukebox.
As mulheres pediram que ficassem de pé e pegaram pelas mãos, levando-os até o centro do
salão, que diminuiu a intensidade da luz.
Samuel e Rachell estavam relutantes em caminhar, além de confusos, por um lado, não queria
continuar porque se sentiam vulneráveis e, por outro, sim, queriam, nunca tinham dançado aquele
gênero musical.
Os dois riram nervosos e retraídos, a música que tinham que dançar era tão velha quanto a
jukebox, mas que os dois conheciam; porém, nunca antes tinham prestado atenção à letra.
— Não vá pisar no meu pé — Disse Rachell, com aquele sorriso nervoso que dançava nos seus
lábios.
— Eu não sei só dançar música eletrônica e ritmos tropicais... Não me subestime, Rach… —
Disse, rindo também diante da música que começaram a dançar.
Arrancou uma risada energética de Rachell, tentando distrair sua atenção em outra coisa e
afastar-se completamente daquele momento tão romântico que compartilhavam.
Samuel observou que havia vários olhares sobre eles e não queria que interpretassem mal suas
risadas nervosas como descaso, por isso, apoiou a testa no ombro de Rachell e continuou rindo,
algo que não conseguia esconder no movimento dos seus ombros.
Ao não estar amparado pelo olhar da garota, a estupidez que tinha se apoderado dele foi
diminuindo pouco a pouco, enquanto continuava guiando-a na suave melodia. Era a primeira vez
que prestava a atenção de verdade à letra, jurava que até sabia, mas eram dessas músicas que
se memorizava sem dar muita importância.
E a música só dizia como se sentia, tudo o que vinha do passado já fazia algum tempo, talvez
desde o mesmo momento em que conheceu Rachell e não se afastou mais dela, mas sim que a
procurou, tentando brincar com fogo, mesmo sendo este seu maior medo.
Por instinto e por desejo, levou a mão à nuca e, sem aviso prévio, levantou a cabeça e a beijou.
Sem dar tempo para ela reagir, sem deixar outras opções a não ser responder ao intenso gesto,
grudando-a ao seu corpo, querendo fundi-la nele.
Rachell se deixou levar por Samuel e por aquela sensação extraordinária que ele provocava
nele, fechando com seus braços e se pendurando no pescoço masculino, sufocou-se no beijo, que
fazia seu coração bater mais forte, fazendo-a se sentir mais viva que nunca.
Os aplausos romperam a bolha em que se encontravam, indicando que a música tinha chegado
ao fim. Samuel pegou a mão e a levou até o fundo, onde estavam duas mesas de bilhar.
Escolheram uma e Samuel pegou um dos tacos, o que mais podia se adequar às mãos de
Rachell. Explicou como era e o mais básico ou, pelo menos, o que ele sabia.
Rachell estava se preparando para retirar o triângulo que segurava as bolas no centro da
mesa, quando uma das atendentes colocou na mesa ao lado uma bandeja com duas jarras de
cerveja, sabia que não iria tomar porque a anterior ficou pela metade.
Samuel pegou sua jarra e deu um gole para, depois, fazer um gesto para ela se aproximar, o
que fez rapidamente. Ele explicou como usar o giz e Rachell tentou, não era nada de outro mundo.
Depois de vários minutos, pela primeira vez, conseguiu bater com o taco na bola preta, de
número 8. Fez bater nas outras, mas não conseguiu que nenhuma entrasse em uma das seis
caçapas.
Um homem mais velho se juntou a eles, deixando os dois de boca aberta pela sua habilidade e,
amavelmente, explicou que tinham que se concentrar mais na precisão da batida e também marcar
o objetivo, podia haver muitas bolas, mas só escolher uma e, assim, teriam o resultado esperado.
Quando se deram conta, já era mais de meia-noite. Por isso, decidiram voltar para o quarto que
era um conjunto de cabanas e, como estava a uns dez minutos, voltaram a pé.
Ao saírem do local, todos se despediram amavelmente, como se fossem velhos conhecidos,
desejando uma feliz viagem, mas, principalmente, tê-los de volta.
— Parece que as estrelas estão bem perto — Disse Rachell respirando fundo, roubando o cheio
dos bosques e soltando o ar em um suspiro. — Há muitas, em Nova Iorque não vemos o céu assim.
—Achava que o céu iria cair em cima dela ou que se esticasse a mão, conseguiria tocá-lo.
— Em Nova Iorque nem dá para ver — Disse Samuel com os olhos para o céu, enquanto
caminhavam pela rua solitária adornada com pinheiros.
— Algum dia, eu volto para este lugar, adorei.
— Eu venho junto.
— Pode esquecer! — Exclamou com meia gargalhada. — Lembre-se que parei de menstruar
ontem.
— Bom, eu também quero voltar, então se você não quiser que eu a acompanhe, volto sozinho.
— Não haveria ninguém melhor para vir — Pegou-a pela mão, que Samuel apertou com
carinho para, depois, entrelaçar seus dedos com os dela. Era a primeira vez que fazia isso,
quando pegava sua mão, não tinha um contato tão íntimo.
— Ainda temos muitos lugares para visitar.
— Sabe o que eu quero fazer em Los Angeles? — Perguntou, emocionada como uma menina.
— Não sei, mas, com certeza, vamos fazer.
— Você terá que fazer mesmo... Quero ir a um karaokê.
— Bem, então iremos. Com certeza não voltaremos a esse local e podemos passar por ridículo.
— Ah, que bom! Quero me vestir toda de couro preto...
— Não falei isso que acaba colocando ideias muito... Muito lascivas na minha cabeça —
Interrompeu o que ela ia dizer.
— Não é pelo que você está pensando, é para cantar I love Rock and Roll — cantarolou o
nome da música.
— Ah, então quer dizer que você gosta de rock.
— Claro que gosto de rock, adoro, só que também gosto de escutar outro tipo de música,
principalmente, atuais. Você parece um velho escutando esses grupos dos anos 80, aceito Bon Jovi.
— O rock de hoje é uma merda. Aceite, por algum motivo prefiro o que meu tio gosta.
— Às vezes, não consigo saber quem você é de verdade. Se é o menino extrovertido que gosta
de música eletrônica, incluindo os festivais, se é o mítico velho que gosta do rock anos 80 ou o que
tem o perfil de um assassino em série que recria cenas de crimes com música clássica.
— Qual você gosta mais? — Perguntou, dando dois passos e parando em frente a ela,
pegando a outra mão. — Diga qual você gosta mais e eu serei ele quando estiver com você.
Rachell deu graças a Deus por ter colocado calça jeans e não saia, porque, com certeza,
Samuel perceberia que, com essas palavras, teria abaixado a calcinha, que tudo parou por
segundos: sangue, coração, cérebro, tempo, absolutamente tudo tinha ficado suspenso naquele
preciso momento.
Por ela, não queria outro, queria ele com todos os seus gostos musicais, seus demônios, seus
medos, com sua arrogância e seu maldito ego; queria o brasileiro e procurador, dominante e
submisso, compreensivo e cabeça dura, tudo o que criva aquela personalidade que tinha formado
nela uma teia de confusões, mas que estava gostando.
— Quero que seja Samuel Garnett. Não quero que se limite, você me falou que não mudaria,
mesmo que pedisse.
— E não penso em fazer isso, serei o mesmo desgraçado hoje, amanhã, em vinte anos... Só que
poderia oferecer a parte de mim que você mais gosta.
— Quero discutir com você... Que não dê o braço a torcer, que me irrite e desperte em mim
instintos assassinos. Se eu pedir para você me oferecer só as facetas que eu mais gosto da sua
personalidade, não seria a mesma coisa — Sumida no olhar dele que podia até a iluminar, era
duas chamas que brilhavam na escuridão que os rodeava, só acompanhados pelo som dos grilos.
— Então você me provoca por gosto? — Perguntou, com dentes apertados e brincalhão, levou
as mãos ao quadril e a fez retorcer.
— Samuel, aonde vamos? — Perguntou, sorridente, mas não parou de caminhar, até que a
grama que rodeava o caminho chegou ao meio das pernas.
— Quero ver você perder a razão. Já estou com saudades de ver como saboreia a glória que
eu ofereço.
— Aqui, não, Samuel.
— Não, aqui não... Será bem atrás daquele pinheiro — Agarrou-a por uma mão, entrando no
bosque.
— Mas é melhor ir para a cabana... Já estamos perto.
— Você sabe que sou um tanto impaciente... Espero que também goste disso em mim, porque
você fez cinco dias de greve e isso... Isso não se faz, portanto não me peça para esperar mais um
minuto — Encostou-a ao grande tronco, colocando-a de costas para a estrada e de frente para as
montanhas com picos nevadas, que brilhavam na escuridão, como também o rosto de Rachell era
iluminado pelos raios da lua, dando uma bonita cor prata a sua pele.
Samuel levou as mãos ao rosto feminino, elevando-o para dar lentos e suaves beijos, escondidos
atrás do pinheiro, pareciam dois adolescentes se beijando pela primeira vez. Ele admirou o rosto
dela e entendeu porque os índios chamavam suas mulheres e Lua.
Naquele momento, Rachell era sua Lua terrestre, aquela que podia tocar, olhar, beijar, era
realmente linda, como nenhuma outra, aquela que estava no céu não conseguiria ocultá-la, nem
poderia arranchar os mesmos olhares, nem provocar as mesmas emoções.
— Você é linda, Rachell, verdadeiramente linda — Não conseguiu conter seus pensamentos e as
palavras saíram em murmúrios que se chocaram com os lábios meio abertos da garota.
— Sabia que era o que estava pensando… — sussurrou com um sorriso extasiado, sentindo-se
a mulher de mais sorte no mundo.
— Você tinha que falar que eu também... Que sou lindo, varonil, que deixo você louca —Sua
voz profunda tinha um pouco de malícia que fazia seus joelhos tremerem. — Por que custa tanto
para você fazer um elogio?
—Porque não é necessário eu falar... Você já sabe — Nunca gostou de dizer a um homem
sobre suas qualidades, estava acostumada que eles a elogiassem e, com Samuel, não fazia por
medo, tinha que admitir. Tinha medo de dizer como ele era lindo e, algum dia, ele utilizasse suas
próprias palavras contra ela.
— Você está muito enganada — Disse, desabotoando sua calça jeans. — Quero escutar o que
você gosta em mim... Minha certeza não é nada, comparado ao que posso escutar da sua boca...
Você nem sequer falou que gosta dos meus beijos — Sugou os lábios e, depois, chupou a boca com
ímpeto. — Se você gosta de tudo, absolutamente tudo o que fazemos... Sei que gosta, mas quero
que você me fale, suas palavras podem... Poderiam ter um grande poder sobre mim.
— Sam… — gemeu, quando ele mordeu suavemente o queixo e se dirigiu à orelha. — Sam…
— Diga — sussurrou muito lentamente no seu ouvido.
— Eu gosto quando você me beija... às vezes, você para e eu não quero parar... Eu busco mais,
outras vezes, não consigo. Você sabe que gosto da sua bunda, das suas pernas... Sua boca, gosto
da sua boca e tudo o que você faz com ela em mim.
— Vou fazer não só você gostar, mas que não consiga mais viver sem ela... Precisará da minha
boca — Aproximou-se roçando com seus lábios os trêmulos de Rachell, sem chegar a beijá-la e
deixando o desejo pulsando nos lábios. — Vai imaginar, sonhar com ela — Pouco a pouco, foi
descendo, até ficar de joelhos, levantou a camiseta que estava usando e deu suaves beijos sobre o
abdômen da garota, pressionando-a mais entre o tronco do pinheiro e sua boca.
Colocou sua língua para fora e passou pelo umbigo em várias oportunidades até introduzi-la e
fazer espirais no pequeno buraquinho, arrancando gemidos que podiam ser escutados através do
canto dos grilos.
Desceu lentamente a calça jeans até as coxas e só a parte da frente da calcinha, acariciou com
a ponta do nariz a suavidade que oferecia o monte de Vênus, que sempre estava totalmente
depilado.
— Algum dia, gostaria de vê-lo ao estilo brasileiro — Acariciou com os lábios, fazendo que o
suave toque enlouquecesse e umedecesse Rachell.
— Vou mostrar como quiser... Você o terá como quiser — E sentia que o peito ia arrebentar
quando ele começou a passar a língua com lentas e suaves lambidas, fazendo que a pele no seu
monte de Vênus arrepiasse e apertava suas coxas, retendo a seiva que começava a brotar da sua
vagina.
O brasileiro dava lentos e úmidos beijos, intercalados com suaves mordias, que criavam vazios
intermitentes no estômago de Rachell, fazendo-a a se agarrar inconscientemente ao cabelo de
Samuel.
O corpo de Rachell deu um respingo abruptamente, fazendo com que Samuel caísse sentado no
chão. Não conseguiu evitar, quando sentiu uma picada na nádega direta.
— Uma cobra! Fui picada por uma cobra — Disse, afastando-se do tronco como se fosse um
ferro quente.
— Como que uma cobra picou você? Elas mordem, não picam — Disse, ficando de pé e
pegando o celular no bolso para observar a picada ou mordida, ainda não sabia dizer do que se
tratava.
— Bom, não sei se foi uma cobra, mas algo me picou — Disse, coçando a bunda.
— Não coce, deixe ver, só ver — Agachou atrás dela.
— Com certeza, deformou minha nádega — murmurou, com vontade de chorar por causa do
ardor.
Samuel, com a luz do celular, conseguiu ver o calombo vermelho que fez quase imediatamente.
Com certeza, era picada de formiga ou escorpião, rapidamente, levou sua boca e chupou com
força a parte afetada, repetiu várias vezes.
— Agora que vai acabar de deformar minha bunda.
— Não vai deformar nada, não é nada grave... Vamos para a cabana e vou colocar um pouco
de gelo. Se tiver febre, vamos ao médico — Ajudou a subir sua calça jeans.
— E se eu morrer? Não posso morrer agora, estamos a 110 quilômetros do Grand Canyon.
— Rachell, esse seu medo de morte enche o saco... Você não vai morrer porque foi picada por
um escorpião ou outro inseto.
— E se foi uma aranha Armadeira? — Perguntou e observava como ele ficava de pé.
— Se fosse uma Armadeira, você já estaria vomitando ou com taquicardia… — Franziu a testa
diante da situação. — Além do mais, essa aranha só tem no Brasil; a única coisa de nacionalidade
brasileira que esteve a ponto de picar você está dizendo que não foi nada grave... Vamos até a
cabana — Disse, pegando a mão e guiando-a. Ao sair na estrada, passou um dos braços por cima
dos ombros de Rachell e puxou-a para seu corpo. Ela o abraçou na cintura.
— Quando você já viu a morte de perto, quando já esteve a uma respiração de morrer,
aprende a dar valor à vida, sabe como é maravilhosa e, então, tem medo da morte — murmurou
Rachell, com a cabeça no ombro esquerdo de Samuel.
O brasileiro sentiu que o coração se contraía e o oxigênio nos seus pulmões desaparecia, só a
protegeu mais perto de seu corpo e um nó se formou na garganta só de pensar que Rachell esteve
a ponto de morrer. Ela não disse nada e ele precisava saber, mas não iria pressionar, sabia como
era difícil, para não dizer impossível, que era se abrir com alguém.
— Você quer falar sobre isso? — Perguntou Samuel depois de vários minutos.
— Não... Não consigo... Já estamos chegando — Disse, ao ver as fracas luzes do conjunto de
cabanas do motel.
— Está bem, entendo... Ainda dó muito? — Perguntou e sua voz mostrava preocupação.
— Só um pouco, na verdade, nunca doeu tanto... Tenho certeza que não era uma Armadeira.
Entraram na propriedade que estava cercada por meio muro de pedra.
— Se quiser, pode ir na frente, coloque um pouco de gelo, ou melhor, espere por mim no
chuveiro, tenho que pegar algo no carro — Deu um beijo na testa.
— Vou esperar no chuveiro para você continuar com o que esse bicho intrometido interrompeu
— disse sorridente, mudando o semblante fechado que tinha se apoderado dela, no momento em
que confessou a Samuel porquê tem medo de morrer. — Portanto, não demore — Ficou na ponta
dos pés para dar um beijo.
— Não vou demorar — Correspondeu o beijo. — Vou guardar minha vontade de dar umas
chicotadas.
— Por favor — Disse ela, dando uma piscadinha e indo para a cabana.
Samuel foi até o carro e pegou, no porta-luvas, a caixa de cigarros e o isqueiro, sentou-se
sobre o porta-malas e começou a fumar, tentando acalmar os nervos e a ansiedade que o
corroíam. Estava decidido.
Iria dizer a Rachell o que sentia, diria que gostava dela, não a queria só para transar, iria
confessar que, cada vez que está com ela, também envolve sentimentos, esse sentimento novo que
descobriu, essa diferença que ela marcava.
Tinha tido a oportunidade de compará-la e diferenciar uma trepada para relaxar... Que
merda! Parecia tão ridículo, mas era assim... Com Rachell, ele fazia amor, podia ser algo tão voraz,
com tanto desejo, com toda a experiência que tinha, experimentar com ela todas as posições, ser
lascivos, sujos... Mas era magnífico, com ela não encontrava limites, gostava de vê-la rir, escutar sua
voz, vê-la dormir, gostava do ritmo que ela dava às batidas do seu coração.
Nunca tinha se comportado assim antes e sentia medo. Era algo parecido a quando ainda era
criança e teve nas mãos uma pomba e não queria apertá-la para não a machucar, porém, tinha
que segurá-la para não fugir, aquela sensação de felicidade e de não saber o que fazer, era isso
que estava acontecendo com Rachell.
Terminou o cigarro e expulsou a última baforada de fumaça em um suspiro, enchendo-se de
coragem. Precisava encontrar a maneira mais fácil de dizer tudo isso para ela, porque se sentia
como o caçador caçado, ela tinha advertido, mas tinha certeza que Rachell correspondia da mesma
maneira.
Ela também sentia a mesma coisa, dava para ver nos seus olhos, sentia nas suas carícias e na
maneira como se entregava. Então não tinha por quê perder tanto tempo, embora, claro, isso era o
que estava dizendo, mas seu estúpido corpo não se importava com seus pensamentos e continuava
tremendo como se estivesse indo para um paredão de fuzilamento.
Lembrou de uma maneira mais fácil de fazer isso, por isso, desceu em um pulo de cima do
porta-malas e abriu. Pegou o amplificador e não se importava se algum hóspede fosse reclamar.
Levou o amplificador até a cabana, ali estava a guitarra, porque nunca deixava no carro, ao
chegar, pegou a guitarra e, sem conectar ainda, tentou afiná-la rapidamente às notas que
utilizaria, testando com os dedos trêmulos, enquanto que, mentalmente, acompanhava a melodia.
Quando estava afinada, conectou em um volume baixo no amplificador e fez um solo de
guitarra imitado o piano e o coração foi parar na garganta. Era a primeira vez que sentia tanto
medo, um medo tão maravilhoso, era um medo bonito.
Rachell estava terminando de tomar banho, quando escutou o solo de guitarra, pegou a toalha
e se enrolou, deixando o cabelo curto e molhado, porque tinha certeza que isso era dentro da sua
cabana. Abriu a porta do banheiro e encontrou Samuel em primeiro plano, na beirada da cama e
começou a cantar.

— I can´t fight this — Não consigo mais


feeling any longer lutar contra este
And yet I’m still afraid sentimento.
to let it flow E, porém, ainda tenho
What started out as medo de deixá-lo fluir.
friendship has grown O que começou como
stronger amizade ficou mais forte.
I only wish I had the Só queria ter força
strength to let it show. para mostrar.

Rachell simplesmente se congelou e as batidas do coração retumbavam no peito, as lágrimas


criavam redemoinho na garganta. Era algo tão lindo, tão terno e romântico; a voz de Samuel não
era maravilhosa, mas, para ela, era perfeita. Notar o nervosismo nele só dava vontade de correr
e abraçá-lo, enquanto se obrigava a morder o lábio inferior para não derramar as lágrimas.

— I tell myself that I — Eu falo para mim


can´t hold out forever mesmo que não posso
I say there is no reason suportar para sempre
for my fear Falo que não há razão
Cause I feel so secure para o meu medo
when were together Porque eu me sinto
You give my life tão seguro quando
direction you make estamos juntos
everything so clear Você dá sentido à
minha vida, faz que tudo
fique mais claro.

Os dedos trêmulos de Samuel mal conseguiam manter as notas da música, a voz vibrava e
sentia uma vontade estúpida de chorar. Se alguém o visse, diria que era uma bicha, mas nunca
tinha feito nada na vida com tanto sentimento; nunca antes tinha feito algo de coração, para ele o
que estava fazendo não era brega, nem ridículo, ele só estava tentando expressar o que sentia.

— And even as I — E ao mesmo tempo


wonder I´m keeping you que vago por aí,
in sight mantenho você em vista.
You´re a candle in the Você é uma vela na
window on a cold dark janela em uma escura e
winter´s night fria noite de inverno.
And I´m getting closer E estou me
than I ever thought I might. aproximando mais do que
jamais pensei que
poderia.

Rachell estava morrendo de vontade de olhar diretamente nos seus olhos, mas ele, com seu
nervosismo, esquivava do olhar, tentando marcas as notas na guitarra. Era um momento perfeito, um
momento lindo, maravilhoso.

— And I can´t fight this — E não posso mais


feeling anymore lutar contra este
I´ve forgotten what I sentimento.
started fighting for Esqueci aquilo pelo
It´s time to bring this qual comecei a lutar
ship into the shore É hora de levar este
And throw away the barco até a costa
cars forever e jogar fora os remos
Cause I can´t fight this para sempre
feeling anymore Porque não posso mais
I´ve forgotten what I lutar contra este
started fighting for sentimento.
And if I have to crawl Esqueci aquilo pelo
upon the floor qual comecei a lutar
Come crashing through E se tiver que me
your door arrastar pelo chão
Baby I can´t fight this Virei e derrubarei a
feeling anymore. porta
Já não posso lutar
contra este sentimento.

Diminuiu a distância e ficou em pé em frente a ele e abriu a toalha, mostrando seu corpo nu e
úmido. Deixou cair a toalha atrás dos seus pés e Samuel se confundiu um pouco com o solo de
guitarra e seu olhar de fogo queimava seus peitos. Ela sentia que a água que escorria do seu
cabelo deslizava pela sua bunda. Com uma das mãos, pegou o braço da guitarra e tirou, colocou
de um lado da cama e se ajoelhou sobre o colchão, deixando as pernas de Samuel no meio.
— Rachell, eu…
— Shhh — Ela levou a ponta dos dedos à boca, pedindo para calar, não queria escutar, não
queria escutar o que Samuel queria dizer porque acabaria com a magia, mudaria drasticamente
na frente dela e não queria, não queria que Samuel mudasse.
Pegou pelo rosto e o beijou, tanto quanto conseguiu, o máximo de tempo possível para ele não
falar. Beijava com arrebatamento e com ternura e seu corpo iniciou as vibrações que Samuel
despertava com suas carícias. Ele começava a percorrê-la toda com suas mãos, passeava pelas
coxas, escalava pelas suas costelas, agarrava às costas e aos peitos, incendiando cada poro que
tocava.
A boca de Rachell foi em busca do pescoço de Samuel, enquanto ele remexia seu cabelo
molhado.
— Rach… Eu preciso dizer uma coisa… — Soltava o quente hálito na orelha, deixando clara a
respiração forçada pelo desejo e nervosismo.
— Não fale nada… Por favor… — Suplicou uma vez mais, amordaçando-o a beijos. — Não é
preciso... Só… — Mordeu os lábios do brasileiro. — Só me dê a glória, aquela que sempre coloca
aos meus pés... Só isso.
Samuel a pegou pela cintura e a colocou sobre a cama e, com energia e rapidez, tirou sua
roupa, beijando cada centímetro do corpo de Rachell, sentindo sua pele palmo a palmo, sentindo-a
se entregar por inteiro. Embora não tivesse deixado falar, ele podia demonstrar, tinha a
oportunidade de demonstrar cada vez que irrompia nela o que não conseguiu fazer com
palavras.
Beijou-a toda e beijou tanto que seus lábios formigavam e, mesmo assim, não parava. Entrou em
Rachell lentamente e não afastou o seu corpo do ela nem um único centímetro, pele a pele,
cobrindo seu corpo, olhando-a nos olhos todo o tempo, beijando-a a cada momento, acariciando
seu rosto e também os cabelos, entrelaçando suas mãos, movendo-se dentro e fora, sendo invasivo
e cuidadoso.
Samuel transferiu as estrelas para o quarto, estrelas que a cegaram, assim como uma explosão
no seu peito, como se tivesse explodido o coração em milhões de pedaços e, quando voltou a bater,
era outro. Já não era o mesmo coração, ao parecer, aquele que explodiu não conseguiu se
reconstruir e sabia que não seria mais a mesma.
Ele continuava oferecendo o movimento dos seus quadris, continuava escalando até o topo do
prazer, pegou-a pelo rosto e se perdeu no olhar brilhante de Rachell, beijou-a várias vezes,
sufocou seus roucos gemidos nela e misturaram as respirações, ejaculando dentro e mantendo-a
abraçada.
Rachell sentiu como se fosse uma represa explodindo no seu peito e não conseguiu segurar a
força das lágrimas, que saíram acompanhadas por um soluço, sentindo-se triste e impotente, porque
não conseguia definir o que sentia e não queria que Samuel a ajudasse a dar um significado
porque sabia que a palavra que talvez usasse era a que mais a aborrecia.
Samuel só desceu de cima do seu corpo e deitou de um lado, abraçando-a entre seus braços,
mas ela se afastou. Não queria que a visse chorando, não daquela maneira. Deitou-se de costas
para ele.
Ele não se rendeu, abraçou-a com força e deu vários beijos no cabelo, aproximou-se do seu
ouvido.
— Tudo vai ficar bem... Tudo vai ficar bem, Rach — Beijou seu ombro e ela só continuava
chorando.
Samuel entendia que era um momento em que ela só precisava desabafar, que chorar era a
única maneira de evitar que essa pressão no peito a consumisse.
Sabia que Rachell tinha problemas, que tinha medos e que precisava encontrar a maneira de
ajudá-la, queria resgatá-la, arrancar esses fantasmas do passado que a mantinham com medo. Ele
conseguia identificar os problemas em Rachell, era só uma menina assustada, era um cordeiro
tentando se disfarçar de lobo e não precisava ser assim. Ela tinha que brilhar com luz própria, sem
medos, para as preocupações, ele estaria ali e, sem duvidar, levaria também os medos de Rachell,
embora não conseguisse lidar nem com os seus próprios, mas iria fazer por ela.
— Vou estar aqui, não vou a nenhum lugar e não vou permitir que vá também... Pode chorar o
quanto quiser, quando sair o sol, vou fazer de conta que isso não aconteceu, agora só deixe toda
sua dor sair. Com o sol no horizonte, voltamos a ser os mesmos.
Rachell não disse nada, só pegou sua mão e deu um beijo, para continuar chorando, talvez
xingando seu passado, aquele que a tinha marcado e não a permitia se entregar por completo,
fixando seu olhar borrado pelas lágrimas nos pingentes do falcão e da água que tintilavam ao se
chocar.
CAPÍTULO 35

O ritmo tropical com notas sensuais da Bossa Nova entretinham as mulheres que passeavam pelos
desenhos exclusivos de Rachell Winstead e conversavam sobre qual peça levar e que cor escolher.
— Sophie… Sophie — Uma cliente, fiel admiradora dos desenhos da Winstead Boutique,
chamava a ruiva que passava perto com algumas bolsas de estilo em cor mostarda.
— Oi, Mary! — Cumprimentou com entusiasmo e com um beijo no rosto, ao ver a jovem mulher
tão loira como uma Barbie.
— Olá, divina, preciso de uma reunião com Rachell, é que meu irmão vai casar e serei dama de
honra, gostaria que Rach fizesse nossas roupas.
— Tenho certeza que Rachell vai adorar; que tal se marcamos a reunião para daqui duas
semanas? — Perguntou, colocando as bolsas em uma vitrine de vidro transparente com os degraus
acolchoados de veludo preto e decorado com cristais Swarovski que davam um ar distinto ao
móvel.
— Duas semanas! Acho que é muito tempo; meu irmão se casa em três meses... Você não
consegue um intervalo na agenda antes? — Quase suplicou.
— Mary, ela não tem… É que Rachell não está em Nova Iorque, está viajando.
— Não vá me dizer que ela já tem algo concreto na Europa? Espero que não se esqueça de
mim quanto tiver celebridades do mundo inteiro vestindo seus desenhos... É que são tão lindos —
Disse emocionada.
— Essa é a meta de Rachell e sei que vai conseguir, mas a viagem não é de negócios, é
pessoal... Está viajando com seu namorado.
— Ah, que bom! Um momento... Não vá me dizer que a bunda perfeita e as costas alucinantes
no Instagram são do seu namorado? Pensei que fosse uma propaganda ou algo assim.
— É o namorado dela — Disse Sophia sorridente.
— É gostoso mesmo! E a Rach merece tudo isso, ela é uma boneca.
— Você tem razão... Com relação ao seu trabalho, acho que posso ajudar, vou dar um catálogo
de desenhos que ela ainda não confeccionou e guarda para ocasiões especiais; assim, você vê se
há algum modelo que goste. Também entrego amostras dos tecidos e, quando Rachell voltar, você
já tem uma ideia do que quer. O que acha? — Perguntou amavelmente.
— Sim, acho perfeito... Sei que vou encontrar algo que goste, bom, gosto de tudo o que a Rach
desenha, mas preciso que as outras garotas entrem num acordo para algum modelo.
— Bom, então venha comigo — Disse, enquanto andava e a loira a seguiu.
Sophia a guiou ao salão onde estavam os blogs e as amostras de tecidos, a mulher admirou um
manequim que tinha um vestido de noiva.
— Ainda não terminou, quer fazer alguns detalhes na parte inferior da saia e o V do decote
nas costas — Informou a ruiva ao ver como a garota tinha ficado interessada no desenho.
— É lindo e muito, muito sensual... Com certeza, o noivo vai ficar de boca aberta ao ver a noiva.
— É o que se espera... Olhe, aqui está, eu ligo em alguns dias para você me dizer se precisa de
mais coisas.
— Obrigada, Sophie, isto vai me ajudar bastante... Ah, adoro seu bronzeado, em que terraço
foi? Ao de Trump?
— Obrigada, Mary, é que meu bronzeado é natural... Tudo isso devo ao maravilhoso sol que
faz no Brasil — Disse, com um grande sorriso.
— Brasil… Brasil maravilhosa? — Perguntou, sorridente, diante da surpresa.
—Sim, passei o fim de semana no Rio de Janeiro — Evitou dizer que o título de “Maravilhosa”
era só para a cidade e não para o país.
— E vocês viajam, viajam e não convidam.
— Não era algo que estava nos meus planos, foi o convite de um amigo e só me deu tempo de
levar algumas coisas.
— Quem é? Conheço? Vamos, fale, Sophie, fale.
— Não, tenho certeza que não conhece — Com um sorriso que não escondia sua emoção. —
Mas prometo apresentá-lo quando tiver oportunidade.
— Está bem, só por isso, eu perdoo... — A garota foi interrompida pelo celular com uma
mensagem, que ela revisou. — Bom, tenho que ir embora. Prometi levar minha irmã ao dentista e
ela já está me esperando.
— Vá, então, já sabe, eu ligo para você em alguns dias.
— Esperarei sua ligação, mas se as garotas decidirem antes, eu ligo… — Aproximou-se e deu
um beijo no rosto dela. — Se falar com Rach, diga a ela que morro de inveja, mas da boa... é um
gato mesmo que ela está ficando.
— Vou falar para ela — Disse Sophia, sorridente e a loira saiu.
Aproveitou esse momento sozinha para lembrar do seu dia maravilhoso no luxuoso iate de
Reinhard, tudo ainda parecia um sonho, tudo, absolutamente tudo, até o homem com quem transou
no teto do iate com o sol a pino, e que agora era difícil vinculá-lo ao empresário respeitável e
poderoso.
Soltou um grande suspiro, porque já tinha acordado, ela estava novamente na cinzenta Nova
Iorque e ele só ligou para ela na segunda e na terça-feira, já era sexta e não tinha recebido
nenhuma mensagem. Sabia que era um homem ocupado e que, talvez, a aventura fosse só para um
fim de semana, mas ela estava se matando em repetir isso.
Não podia se deixar entristecer porque sabia muito bem qual era sua situação, assim que,
endireitou as costas, levantou-se e saiu caminhando elegantemente e um sorriso para continuar com
seu trabalho, que perdeu o entusiasmo ao ver Henry Brockman falando com Oscar.
O dono da Elitte desviou o olhar para ela e Oscar fez o mesmo, trocaram algumas palavras e
Henry se dirigiu, sem nenhuma dúvida, até ela.
— Bom dia, senhorita Cuthbert — cumprimentou-a, estendendo a mão.
— Bom dia, senhor Brockman, tudo bem? — Perguntou, por educação.
— Bem, muito bem, obrigado... Mas preciso urgentemente falar com Rachell, tentei, mas o
número está fora de cobertura e só consegui ficar ainda mais preocupada.
— Não precisa se preocupar, senhor, Rachell está muito bem.
— Sim, Oscar me falou que está fora do estado, mas gostaria de saber se tenho como me
comunicar com ela de alguma maneira.
— Algum problema com a publicidade? Pensei que o dinheiro combinado era o total, mas, se for
o caso, poderia colocá-lo em contato com o advogado de Rachell.
— Não… não é necessária a intervenção de nenhum advogado, só preciso que ela me dê
alguns dados; perguntei para Oscar, mas ele disse que não faz ideia e nem você.
— Se Oscar falou isso é porque é assim, perdão, deseja tomar algo? Como sou mal-educada.
— Não dei importância, só deixei você falar, mas gostaria de um pouco de água, por favor.
— Já trago, pode sentar-se, se quiser.
— Obrigado, estou bem assim — Disse levando as mãos aos bolsos.
Sophia saiu e pôde observar pelos espelhos como Henry Brockman fixava o olhar na sua bunda
e não se importou. Já estava acostumada com isso, ele não conseguiria nada só olhando, os homens
dificilmente conseguiam controlar o olhar.
Brockman admirava o lugar, era exclusivo em todos os sentidos e um sorriso cínico se desenhou
nos seus lábios.
— Aqui está — A ruiva estendeu uma bandeja com o copo de água, ele pegou e deu um gole
e soltou um suspiro. — Você sabe quando a Rachell vai chegar?
— Na verdade, não sei, não. Acho que em duas semanas; nunca se sabe quanto tempo um
casal quer ficar junto — Disse essa porque queria que aquele homem saísse de uma vez por todas
da vida da sua amiga. Algo nele não caía bem e ela já tinha advertido a Rachell, mas ninguém
ganhava dela em questão de ser cabeça-dura.
— Desculpe? — Perguntou, sem disfarçar seu incômodo.
— É que a Rachell está viajando com seu namorado — Disse sorrindo e levantando as
sobrancelhas.
— Com… Com o procurador? — Perguntou, sentindo como se tivesse levado um soco no
estômago, perdendo o ar.
— Sim, com o procurador Garnett — Foi bem clara para que não houvesse dúvidas.
— Garnett? — Perguntou, mais desconcertado ainda. Aquele sobrenome despertou muitas,
muitas emoções, desde tristeza até ódio.
Parece estúpido este cara ou definitivamente a velhice já está deixando-o surdo. — Pensou Sophia,
vendo como o homem tinha perdido a compostura.
— Samuel Garnett é o nome do procurador; pensei que soubesse, senhor Brockman — Disse,
fingindo inocência.
— Sim, sim, sabia, mas não lembrava — Tentando esconder como estava afetado. — Já sabe,
senhorita Cuthbert, às vezes, a gente tem muita coisa na cabeça.
— Sim, imagino, o senhor é um homem muito ocupado... Sei que não posso ajudá-lo, mas se
Rachell entrar em contato comigo, direi que precisa falar com ela e sei que ela dará um jeito de
entrar em contato.
— Por favor, senhorita, é que preciso falar com ela sobre um pedido que me fizeram —
Colocou o copo em cima de uma mesa. — Tenho que voltar para a Elitte, obrigado por tudo.
— Sempre um prazer, senhor Brockman — Despediu-se com um amplo sorriso fingido.
Henry saiu da butique com uma grande confusão na cabeça e o ódio consumindo o peito; o
motorista abriu a porta e ele entrou no carro.
Lembrando de quando o imbecil do procurador deu uma carteirada nele no hospital, nem se
preocupou em olhar o nome; agora tinha certeza que era filho do maldito Reinhard Garnett. Seu
ódio pelo brasileiro não tinha limites, aumentava com os anos, nunca cedeu, nunca quis ajudá-lo, se
só tivesse demonstrado um pouco de apoio, nada teria acontecido, ela continuaria com vida, mas
sempre preferiu Marlon Ribeiro, que era seu amigo, claro.
Só conhecia o que trabalhava no grupo EMX, por alguns jornais e revistas, mas não tinha ideia
que o outro fosse procurador do distrito.
Agora outro Garnett cruzava seu caminho, outro maldito Garnett queria arrancar a mulher que
roubava o sono, mas, desta vez, não perderia. Rachell seria sua mulher, gostava muito dela como
para deixá-la com o filho da puta do procurador.
CAPÍTULO 36

O olhar de Rachell que, naquele momento era de um lindo violeta claro, brilhava diante da emoção
que a embargava, enquanto as frenéticas batidas do seu coração estavam em festa. A excitação
não a deixou esperar Samuel e, como uma menina curiosa, correu ao lindo helicóptero nas cores
roxo e branco que os esperava.
Não se segurou e passou a mão, elevando a cabeça para observar as pás e sorriu.
— Gostou? — Perguntou Samuel e, sem perder tempo nem esperar poses de Rachell, tirou
várias fotos.
— É maravilhoso… — E mordeu a língua antes de dizer que era a primeira vez que via um
helicóptero de perto. — Mas não vamos perder mais tempo, temos que seguir viagem… — Disse,
enquanto ia até o carro. — Venha, Samuel, ali vêm os donos — Disse, ao ver que os homens saíam
do pequeno edifício que parecia ser uma central, mas não pôde avançar muito, porque o
brasileiro, em um movimento rápido, segurou-a para o braço.
— Aonde você vai? Esse helicóptero é para nós.
— O que foi? Não! Não acredito! Agora sim, você ficou louco, Samuel — Disse e o pânico se
instalou nos seus olhos. — Eu não vou subir nesse negócio. Assim está ótimo, voando também, mas
não comigo lá dentro... Tenho medo de avião.
— Ah, não, Rachell, pare de ser tão medrosa... Pensei que tivesse mais ovários.
— E tenho, mas também quero continuar tendo... — Aproximou-se dele, ao ver que os homens
estavam perto e falou em voz baixa. — Você sabe quantos helicópteros têm problemas enquanto
voam sobre o Grand Canyon? Dezenas por ano... E eu, sinceramente, não confio nesses senhores.
Talvez nem sejam pilotos certificados.
— Não tem problema você não confiar neles porque sou eu quem vai pilotar.
— Você! — Soltou uma gargalhada nervosa. — Você ficou louco. Definitivamente, o sol que
você tomou nestes dias queimou seus miolos.
— E derreteu sua coragem... Vamos, Rachell, quero que deixe reluzir seu espírito de aventura.
— Aventura, uma merda. Eu não vou entrar nessa coisa aí com você de piloto, você não é
certificado.
— E nem preciso, mas eu sei pilotar; se não soubesse, nem tentaria. Não vou nos expor...
Lembre-se que meu primo tem uma empresa aeronáutica e praticamente vivíamos nas pistas de
controle de voo. Um helicóptero não é nada, se comparado aos aviões militares que já pilotei.
— Bom, eu não quero testar. Meu sonho é só ver o entardecer de uma planície, não precisa me
matar na tentativa...
— Boa tarde, senhor Garnett — Cumprimentaram os homens que estavam chegando.
— Boa tarde, senhores. Apresento minha namorada.
— Muito prazer, senhorita, Steve Garson — cumprimentou um deles, estendendo a mão
amavelmente.
— Muito prazer, senhor Garson.
— Ronald Heinz — Apresentou-se o outro homem para Rachell.
— Rachell Winstead — Disse sorrindo, mas o nervosismo estava claro.
— Então, está pronto, senhor Garnett? — Perguntou Heinz, com um franco sorriso.
— Tudo pronto — garantiu, seguindo os homens que se dirigiram ao helicóptero, enquanto
agarrava Rachell pela mão e a arrastava com ele.
A garota sentia que o coração estava na garganta e não conseguia respirar. Suas mãos
começaram a suar muito e sua vista ficou borrada, sumindo-se em uma nuvem de medo que não
deixou ter consciência de nada ao seu redor.
Completamente aturdida, ela mal via a boca de Samuel e dos homens se mexerem, mas não
conseguia escutá-los; nem sequer reagiu quando seu namorado a carregou e colocou-a dentro do
helicóptero.
Os nervos não davam opções para resistir. Quando as hélices do helicóptero começaram a
girar, seus ouvidos começaram a assobiar diante do som, mas, antes que pudesse tapá-los com as
mãos, tudo ficou em silêncio.
Mal sentiu a vibração do aparelho se elevar, ela se agarrou à barra ao lado e fechou bem os
olhos e tentava engolir as batidas do coração que retumbavam na sua garganta. Não conseguia
dizer exatamente quanto tempo passou até que a voz de Samuel calou em seus ouvidos.
— Abra os olhos, não seja covarde... Você está perdendo tudo — Nesse momento, percebeu
que estava com os fones e que era por aí que escutava Samuel.
— Você está louco... Você é um louco de merda… — Disse e suas mãos não largavam a barra.
— O que eu fiz, meu Deus?
— Nada, neste momento, você não está fazendo nada e, se batermos, você vai morrer sem ver
como o Grand Canyon é lindo daqui de cima. E tudo isso porque deixa que esse medo idiota a
manipule... Abra os olhos, Rachell, senão vou fazer o helicóptero bater. Não vi aqui para você não
apreciar a paisagem — Tentava convencê-la de alguma maneira.
— Preciso de tempo! Preciso de tempo! — Gritou colérica e respirou fundo em várias ocasiões,
enquanto Samuel tirava sarro dela, algo que não tinha consciência, por estar com os olhos
fechados.
Rachell soltou lentamente o ar pela boca e, primeiro, abriu um olho e, depois o outro para,
depois, abrir a boca diante do que estava vendo. A cor terracota reinava na paisagem, os
desfiladeiros dos dois lados e eles voando pelo meio da maior e mais profunda brecha do
planeta. Algumas planícies se impunham mais que outras e o sol calava com seus raios, criando um
espetáculo único no mundo.
Sem perceber, as lágrimas caíam pelo seu rosto e não conseguia fechar a boca diante da
impressão, não conseguia nem assimilar. Tinha passado tanto tempo imaginando a ideia e, agora,
que podia apreciar em todo o seu esplendor, não acreditava.
— O que está achando? — Perguntou Samuel, ao ver que ela não dizia uma única palavra.
— É… é magnífico… Obrigada, Sam, obrigada — Sem poder desviar os olhos da paisagem e
sentia que toda a sua vida se reduzia àquele momento assombroso.
— Hoje vamos sobrevoar, amanhã desceremos ao rio. Há muitas coisas para fazer. Falei que
seriam dois dias, mas, na verdade, serão três.
— Ahhhh — Olhou para Samuel, que franzia a testa e a careta no seu rosto mostrava que tinha
calado com seu grito nele. — Você é genial — Disse, levantando o dedo polegar e ele respondeu
da mesma maneira e um amplo sorriso, maravilhando-a com esse gesto que era magnífico, gesto
que roubava seu oxigênio.
— Vamos nos divertir; a adrenalina chegará ao ponto mais alto.
— Não gosto muito desse negócio de que a adrenalina vai me chegar ao ponto mais alto, não
faça loucuras com esse troço aqui.
— Não penso em fazer manobras com o helicóptero, não quero que morra de um ataque do
coração. Estou falando do rafting que faremos nas corredeiras, talvez não vai gostar muito da
aparência, mas sim, como se sente — Disse, com um amplo sorriso. — Hoje à noite, acamparemos
em um lugar seguro.
O corpo de Rachell ficou tenso diante das palavras de Samuel e teve que se agarrar à barra,
quando o helicóptero virou de lado para entrar em um dos labirintos, que realmente era incrível o
contraste do tom vermelho das terras e o verde da vegetação que coroava aquela zona.
A tarde se mostrava quando toda a paisagem se cobria de laranja, inclusive o céu com o sol
imenso, decorado pelas nuvens que adotavam a mesma coloração. Ninguém podia discutir que era
um dos mistérios mais maravilhosos do planeta.
— Vamos descer sobre aquela planície e, depois, iremos ao povoado Supai, que é habitado
pelos índios Havasupai, passaremos a noite em uma das suas barracas — Disse, para não fazer
surpresas que, talvez, não gostasse, mas ela concordou com entusiasmo.
Samuel fez a descida com a maior precaução possível. Tinha sido informado que o clima estaria
a seu favor, mas nunca gostou muito de confiar nos "especialistas em meteorologia".
Inconscientemente, Rachell se agarrou outra vez à barra, quando o helicóptero começou a tocar
o chão e sacudia de um lado para o outro, até que parou e, então, conseguiu respirar com
tranquilamente.
Depois de alguns minutos, Samuel abriu a porta e ajudou-a a tirar o cinto de segurança, pegou-
a pela cintura e ajudou a descer.
— Você está preparada para isto? — Perguntou, colocando-a no chão.
— Desde que nasci — Disse, com emoção, ficando em pé para sentir debaixo das suas botas no
chão firme da planície.
— Isso você deveria dizer ao subir em um helicóptero — Disse sorridente.
— Isso é outra coisa. Não gosto de aviões, mas tenho que admitir que a viagem foi divertida.
Samuel procurou no assento traseiro as mantas que tinha levado, caso esfriasse e para sentar à
beira do mudo, e também a câmera fotográfica para reviver aquele momento para sempre. Pegou
a mão de Rachell e se aproximaram o máximo possível, mas mantendo a distância prudente.
Rachell se encarregou de tirar as mantas e colocá-las no chão e se sentaram. Ela se colocou no
meio das pernas de Samuel, que a grudou ao seu corpo e a abraçou pela cintura.
— Sua magnitude e beleza são perfeitas — murmurou Rachell, sem palavras diante da
paisagem. — Minha imaginação nunca chegou a fazer justiça. Obrigada por me trazer aqui,
Samuel, é algo que nunca vou esquecer.
— Portanto, nunca vai me esquecer — Disse, beijando-a no rosto de maneira brincalhona.
— Lembro que, no banco, quando me comportei como uma ciumenta louca, você me falou que só
se importava o presente e marcar a diferença... você conseguiu e sei que, com isto, seu ego vai
alcançar a magnitude do Grand Canyon — Confessou, acariciando os braços do rapaz com
energia, que a embriagava.
— Se é você que está dizendo, não fique com a menor dúvida — Apertou-a um pouco mais
entre seus braços e apoiando o queixo sobre o ombro direito de Rachell.
A garota queria imortalizar o momento, por isso, pegou a câmera e começou a tirar fotos. À
medida que capturava a paisagem para a eternidade, pensou em fazer uma colagem e mandar
fazer um mural para o seu apartamento e viver todos os dias aqueles momentos que Samuel tinha
dado para ela.
— Você pode me fazer uma sequência? — Perguntou, virando meio corpo e entregando a
câmera a Samuel.
— Claro! — Exclamou, agarrando o aparelho e, então, viu como Rachell deu meia volta e ficou
de joelhos na frente dele.
Samuel começou a fotografá-la, extasiado, como estava perfeita com a paisagem atrás,
mostrando-se sensual e exótica.
Com cuidado, Rachell tirou o elástico que prendia o cabelo e começou a agitá-lo ao ar livre e
Samuel não perdia tempo.
— Não quero de pare de fazer a sequência — Disse e começou a tirar a camiseta regata que
estava usando, era branca com a águia americana estampada na frente.
Lentamente e com toda a sensualidade que tinha, tirou o sutiã e escutava sempre o som da
câmera ao capturar a série de fotografia. Levou uma das mãos e desabotoou o short de tecido
cáqui, parou para que captasse o momento com o botão entre seus dedos, enquanto ela dava um
olhar sugestivo e mordia o lábio inferior para, depois, sorrir com malícia.
O coração de Samuel estava na garganta ao vê-la tão perfeita, dando seu sorriso, sua
sensualidade e beleza, sentindo que a calça jeans começava a incomodá-lo e o fazia sofrer com
aquele desejo que despertava nele.
Os mutantes jogos de luz e sombras pousavam sobre o corpo nu de Rachell, que ficava laranja,
vermelho, amarelo escuro e era algo fora deste mundo.
No momento menos esperado por Samuel, ela levou a mão ao zoom da câmera e a agarrou.
Engatinhou até ele e montou em cima, pegando seu rosto com as duas mãos, pressionando-o,
somente para constatar que aquele momento era real.
— Essa sequência é meu presente para você, ficará com ela, mas quero que você me dê uma
também — Teve que apertar os dentes, retendo assim o gemido que ficou preso na garganta,
quando sentiu as mãos quentes de Samuel cobrir seus peitos.
— Darei tudo o que quiser, contanto que, em alguns minutos, você mate esse desejo que fez
nascer em mim — Colocou uma das mãos na nuca de Rachell e aproximou-a para puxar
suavemente o lábio inferior da garota, algo que sugestivamente ela tinha convidado-o a fazer,
enquanto a outra mais prendia um pouco mais o peito que estava agarrado.
— Tínhamos combinado que transaríamos neste lugar... Estamos perdendo tempo — Roçou a
ponta do nariz contra o dele.
— Então, não vamos perder tempo, já estou dolorido. Esta maldita calça jeans está me matando.
Rachell deu espaço para ele, observando como Samuel ficava de joelhos e começava a tirar a
roupa, então, ela descobriu nele uma sensualidade impressionante, criava um abismo no seu
estômago e mal podia segurar a câmera nas mãos e fazer a sequência fotográfica de um Samuel
dourado, pintado pela luz do sol, despindo-se diante dela.
A ereção era ameaçadora, tanto quanto aquele olhar que desmoronava qualquer ponto forte.
Não deixou passar nenhum momento, capturou-o todas as vezes que pôde, porque isso seria para
ela.
Quando os dois já estavam nus como a natureza, Samuel estendeu a mão quando se sentou com
as pernas cruzadas e Rachell se sentou em cima dele. O simples fato de retratá-lo tinha se
excitado ao ponto de que ela mesma recorreu à penetração ao primeiro contato, embora tenha
feito lentamente para que a lubrificação dos dois ajudasse a fricção e a delirar de prazer.
Ela colocou a câmera de lado e passou seus braços pelo pescoço de Samuel, que começou a
enlouquecê-la com as carícias nas suas costas e as línguas se procuraram, encontraram e se
enredaram em uma luta íntima em que as duas foram ganhadoras.
— Quero que saiba que você também criou uma grande diferença em mim e sabe disso, tenho
certeza que sabe — murmurou profundamente, puxando o cabelo de Rachell. — Mexa-se,
boneca... Não me faça sofrer — Suplicou, beijando a ponta do nariz.
Essas palavras de Samuel a cegaram, despertando no seu interior um furacão de ansiedade e
começou a se mover lenta e constantemente, fazendo-o tremer entre seus braços e se sentia
poderosa, única, arrasadora. Sua segurança aumentava diante de cada beijo e carícia que ele
dava nela.
O brasileiro a pegou pela bunda e estimulou-a a fazer os movimentos mais rápidos e intensos,
marcando suas mãos diante da pressão com que a agarrava, fazendo-a dançar com intensidade
ou leveza, dependendo do que o seu prazer pedia.
Ela gostava muito daquela maneira de Samuel dominar a situação, mesmo estando embaixo
dela; senti-lo se deslizar dentro e fora dela. Era uma sensação que marcaria sua vida, ninguém
tinha se compenetrado da mesma maneira. Não era só algo físico e prazeroso, era também
espiritual, porque podia sentir.
— Assim, Sam… Está muito bom… — dizia, em meio a gemidos sufocados. — Você me faz
flutuar... Isto é só uma pequena parte do que me faz sentir... Cada vez que entra em mim, você me
leva até o universo, em segundos... Em segundos.
A conexão existente entre todos os elementos da natureza e eles os enchia de energia. A
amplitude do céu, que estava mais perto que nunca e, a poucos metros, um abismo pelo qual
sentiriam cair em uns minutos e saberiam que não os faria dano nenhum. A grandeza e a
eternidade do lugar contrastavam inevitavelmente com a existência humana que eles se davam.
Samuel sentia o peito agitado de Rachell contra o seu e só a abraçava mais entre seus braços
com uma enorme necessidade de fundir sua pele à dela, enquanto sua boca não parava,
arrebatando com seus beijos. Nenhuma outra mulher tinha despertado tal necessidade de beijar, de
querer comê-la pouco a pouco, enlouquecer ao sentir a pele de Rachell estremecer diante das suas
carícias só acendia mais a chama do desejo que existia nele.
Sem poder evitar, o corpo de Samuel se revelava e também participava, movimentando-se,
irrompendo com a força que tinha o momento e na sua barriga e nos testículos, o orgasmo se
agitava, como também manobrava com o corpo tenso de Rachell vivendo no topo do prazer e ele
se apressava para chegar e explodir, para alcançá-la no ritual e recobrar, pouco a pouco, a
calma.
Ele queria ficar naquele lugar, continuar abandonados no prazer, mas ele sabia bem que não
podiam fazer isso. Tiveram que se vestir e ir embora daquele lugar mágico, não sem antes tirar
uma foto nus, em que seus corpos saíram contraluz em uma paisagem avermelhada e vetada pelas
sombras pretas das nuvens.
CAPÍTULO 37

Passaram a noite em uma bonita cabana pitoresca e, no dia seguinte, muito cedo, saíram em
companhia de um índio que serviu de guia para levá-los à cachoeira de Havasu, que, segundo os
habitantes, que segundo os habitantes, era um espetáculo, não pela quantidade de água ou pela
magnitude, mas sim pela paisagem mágica que oferecia, com suas terras avermelhadas e suas
águas azuis esverdeadas que escapavam da imaginação humana.
— O nome do povoado se deve a estas cachoeiras, Havasupai, significa “O povoado da água
azul esverdeada”, a característica de tonalidades se deve à alta concentração de carbonato de
cálcio — dizia o homem que os guiava.
— E podemos tomar banho? — Perguntou Rachell, que estava de mãos dadas com Samuel e
tentavam seguir o passo do habitante. — É que eu trouxe roupa de banho.
— Claro que pode, senhora; as piscinas naturais são muito bonitas e os minerais ajudam na
pele.
Já tinham dito ao homem que não eram casados, mas não havia como ele desistir e tudo era
por causa das pulseiras com os dois pingentes de falcão e águia.
— As três quedas d'água principais e as mais atrativas são, cascata Havasu, cascata Mooney e
cascata Navajo; primeiro vamos à Havasu, para se refrescar um pouco, senhora.
Caminharam uns dois quilômetros, algo que Rachell agradeceu, porque ultimamente tinha comido
de tudo e não tinha se exercitado o suficiente, como apresentação à chegada de sua primeira
parada, escutaram a água cair e isso fez com que seu coração saltasse diante da expectativa e,
quando, finalmente, seu olhar captou o lugar, sua boca abriu involuntariamente e o assombro se
converteu em um sorriso, ante a emoção, só se pendurou no pescoço de Samuel e deu um monte de
beijos.
— É maravilhoso, incrível — Deixou de abraçá-lo e começou a tirar o short e as botas, fazia
tudo tão rápido até ficar com um biquíni com flores roxas e fundo preto, a parte superior era em
forma de triângulo com partes que davam mais volume aos seus seios.
Samuel a admirava divertido; Rachell se mostrava como a garota que era, deslumbrada diante
das belezas que a natureza oferecia, sem poder controlar sua euforia, viu dar um mergulho e sair
depois como uma sereia que o encantava com sua beleza e sensualidade.
— Sam, o que você está esperando? — Perguntou, esticando os braços para frente e fazendo
um claro gesto para que entrasse, mostrando-se realmente entusiasmada.
— Precisa? — Perguntou, divertido.
— É obrigatório; se não entrar, vou sair para buscar você — advertiu, brincando.
— Está bem, estou indo — Disse, tirando a camiseta, as botas e a calça jeans, ficando com uma
sunga preta e turquesa.
Em um minuto, os dois estavam abraçados e afundando nas águas azuis esverdeadas, sem
perder a oportunidade de demonstrar, em meio a beijos, como estavam felizes por estar ali.
Rachell, abraçada ao pescoço de Samuel, enquanto ele se abraçava em seus quadris,
mantendo-a flutuando, beijando sua clavícula esquerda e sugando as gotas de água que vibravam
na sua pele.
— Seria maravilhoso transar aqui — murmurou a garota no ouvido do brasileiro.
— Pervertida… Aqui não podemos, você não quer dar um show pornô ao pobre homem.
— Ultimamente, me dei conta de que você pode fazer qualquer coisa e sei que consegue me
comer sem que o homem perceba.
— Será rápido… Maldita seja, não sei por que não consigo negar nada para você —
resmungou, puxando-a para seu corpo.
— Porque você está comendo na palma da minha mão, procurador.
— Se me ter comendo na palma da sua mão se reduz a transar todo o tempo, pode ter certeza
que terá por muito tempo... Rach, morro por transar com você, farei sempre que tenha
oportunidade e não quero que esta vontade prejudique, que isso nunca aconteça — Falava
seriamente, olhando nos seus olhos, afogando-se naquele mar que se abria no olhar de Rachell.
— Não, não vão, vou me encarregar disso, vou seduzir você todos os dias — prometeu,
percorrendo com lentidão a mandíbula com a ponta de um dos dedos, sentindo a deliciosa
aspereza da sua barba.
— Comece tirando o biquíni — Pediu e ficou sério e ela começava a sentir a nascente ereção
ameaçar contra o seu abdômen.
— Você vai ver o homem que vou ser — murmurou, sem poder acreditar que ele tinha levado a
sério.
— Tire o biquíni — Exigiu de uma maneira que Rachell não pôde negar. — Agora, me dê —
Ela colocou nas mãos de Samuel. — Se quiser de volta, vai ter que me seguir — E afundou,
nadando até a cascata de 37 metros e entrando na pequena caverna atrás dela, onde a queda
d'água não seria um perigo.
Rachell fechou os olhos e soltou um suspiro, arrependendo-se de ter feito a proposta, não restou
outra solução a não ser tomar coragem e respirar fundo, tentando nadar rápido para que o
homem não visse suas lindas partes, a força da queda d'água só deixava se aproximar e
perguntava como Samuel tinha feito para passar para o outro lado; depois de observar por
alguns minutos; viu que no lado direito, havia um espaço, já que a pedra acima dividia a queda
d'água e foi por ali que encontrou a maneira de entrar.
Samuel estava esperando sorridente com o biquíni na cabeça.
— Se você demorasse mais um minuto, ia recorrer a minha amiga de adolescência — Disse,
agitando a mão direita.
— Sua amiga não é tão boa como a que tenho entre as pernas — Disse, demostrando graça
com a voz.
— O que você tem entre as pernas não é uma amiga, é o paraíso — declarou, aproximando-se
dela e passando um braço pela cintura, grudou-a ao seu corpo, pegando uma das coxas com a
outra mão e, então, ela se agarrou com suas pernas ao quadril do brasileiro, tateando sua ereção
e sem perder tempo para não fazer o guia esperar muito, se entregaram à tarefa de satisfazer a
necessidade o mais rápido possível.
Nesse mesmo dia, visitaram as duas cascatas restantes e que eram igualmente maravilhosas, em
medidas diferentes, com estilos únicos que chamavam a atenção dos visitantes.
Voltaram à barraca indígena para passar a noite e foram convidados para uma noite de
fogueira e lendas, que Samuel não foi, mas não impediu Rachell de ir, seu medo ao fogo não tinha
por quê interferir nas atividades da garota.
Qual ela voltou, surpreendeu-o ao trazer gravadas no celular as lendas e, então, escutaram
juntos, deitados e abraçados, fazendo mimos de modo inconsciente, enquanto observavam a lua
pela janela, com esse gesto, Rachell conseguiu ganhar mais terreno no coração de Samuel.
Como planejado, à primeira hora, saíram para o norte, sobrevoaram outra vez mais até chegar
à área de rafting rápido; a angústia em Rachell não esperou. Samuel estava acostumado a esses
esportes radicais, mas ela não. O mais radical que tinha feito na vida era atravessar correndo a
Quinta Avenida de salto alto de quinze centímetros.
Subir naquele barco inflável, sobre águas tão turbulentas era uma morte segura, se caísse, a
corrente a arrastaria e os choques que daria nas pedras seriam bem doloridos, mas não se atrevia
a dizer não a Samuel; estava colocando o colete salva-vidas, enquanto estava a ponto de vomitar
o coração.
Ao subir e sentir os primeiros movimentos, só se agarrava à corda com todas suas forças e
enfiava as unhas no antebraço do seu acompanhante, com os olhos fechados, escutava como as
águas bravas batiam contra o barco e também sentia a água fria salpicar contra seu rosto.
Pouco a pouco, foi tomando confiança e abrindo os olhos por alguns segundos, curtindo as
sacudidas, sentia-se como uma boneca de pano nos braços de uma menina inquieta, era uma
espécie de tortura divertida; sem dúvida alguma, a adrenalina chegava ao ponto mais alto, era
provocar a morte, burlar dela a cada segundo.
Nem no seu sonho mais louco, imaginou fazer isso; Samuel a estava levando para um mundo
arriscado e excitante, era sinônimo do que era sua personalidade, talvez, por isso, demonstrasse
tanta força, porque não tinha medo de nada, bom, só de fogo, e, então, compensava esse medo
provocando a água.
Depois de três horas, já gritava eufórica e entendeu por que tinha que ser algo para fazer em
jejum, ainda faltavam duas horas, um total de cinco horas, sendo arrastados pela maior força e
rudeza das águas do rio Colorado fariam qualquer um vomitar. Naquela tarde, visitaram a
plataforma Skywalk, que ficava 1200 metros no vazio e era de vidro, dava a sensação de estar
de pé em cima do nada.
Naquele lugar, chegou ao fim sua travessia no Grand Canyon, uma experiência inesquecível
para os dois, principalmente para Rachell, que foi mais, muito mais do que sonhou, porque nunca
imaginou fazer isso com um homem que despertasse tantas emoções e a fizesse viver tantas
experiências, tinha certeza que a única pessoa, além de Samuel, que teria realizado esse sonho
teria sido Richard Sturgess e não teriam feito totalmente sozinhos, com certeza, teriam guias o
tempo todo; lamentavelmente não era tão arriscado, nem tão apaixonado, por isso, só tinham
sobrevoado o parque e, se ela tivesse negado, ele não teria insistido; não a obrigaria a vencer
seus estúpidos medos e fazê-la viver cada momento, colocá-la a um passo da morte para brincar
com ela.
CAPÍTULO 38

O próximo destino foi Las Vegas, depois de três anos, Rachell regressava ao lugar que a ajudou
crescer, que forjou sua personalidade. Ao ver os luminosos letreiros que começavam a acender um
a um conforme a noite caía, percebeu que sentia falta daquele lugar.
Percebeu também que Samuel tinha feito uma trapaça com o hotel, quando, diante deles,
aparecia a iluminada pirâmide do hotel Luxor.
— Depois de tudo o que vivemos no Grand Canyon, merecemos um pouco de comodidade...
Estão esperando você no spa — Disse, colocando uma mão no joelho direito.
— E o carro? — Perguntou, já que tinham deixado ao sul do Grand Canyon.
— Já está a nossa espera no estacionamento do Luxor.
— Então, vamos tomar um banho, eu vou ao spa, você vai dormir um pouco e, quando voltar,
faço uma massagem.
— Merda... Então tenho que cancelar o horário com a japonesa que ia me fazer uma sessão de
relaxamento total.
— Se não quiser que eu dê um chute na bunda dessa japonesa para ela ir parar lá no
continente dela, é melhor você cancelar... Eu me encarrego de fazer a sessão de relaxamento total.
— Está com ciúme? — Perguntou, elevando uma sobrancelha com malícia.
— Sim — Disse, determinante, e olhando nos seus olhos, pegando Samuel de surpresa, que
esperava que ela negasse. E escutar isso fez sua emoção aumentar, tanto que podia ultrapassar os
limites que o táxi que os transportava impunha. — Não vou permitir que apalpem meu guia.
— Mais? Você já apagou os poros — Disse divertido, sem conseguir esconder sua emoção.
— E deixarei minhas impressões digitais tatuadas na sua pele — Aproximou-se do ouvido,
mordendo o lóbulo da orelha para, depois, sussurrar. — Se você deixar que outra toque em você,
já pode ir se despedindo do prêmio. Hoje à noite, eu ia deixar que começasse a trabalhar nisso,
mas se outra tocar em você, poderá se despedir definitivamente do tanto que deseja.
— Rach… — murmurou o diminutivo com voz trêmula diante do que despertava nele a
expectativa. — Acho que poderíamos começar assim que chegarmos e, depois, fazer todo o resto.
— Não… Não, senhor. Primeiro quero estar relaxada e hidratada, o sol me deixou com a pele
nojenta. Se valer à pena, espere. Portanto, você terá que esperar mais algumas horas e aí sim...
Quero você, no mínimo, como o senhor Darcy.
— Como um britânico arrojado, não, por favor — resmungou, em meio a uma brincadeira.
— Você tem algo contra os britânicos? — Perguntou, levantando uma sobrancelha e, nesse
momento, o táxi parou em frente à entrada do Luxor.
Abriram as portas e eles desceram, foram até a recepção e, dali, foram conduzidos até o
quarto. No elevador, Rachell retomou a conversa.
— Você não respondeu, Sam.
— O que eu não respondi? — Perguntou, fazendo-se de desentendido.
— Você não me falou. O que você tem contra os britânicos?
— Eu — Disse apontando para o peito. — Nada — Elevou os ombros e sentando
despreocupadamente. — É porque você falou como Darcy... E a mulher... Qual era o nome da
famosa autora?
— Jane Austen — Disse, sorrindo e olhando com entusiasmo.
—Bem, essa Austen não escreveu — Aproximou-se para murmurar e evitar que o mensageiro
em frente a eles escutasse. — Ao Darcy pedindo a bunda da personagem feminina... Como você
supõe que vou fazer com ele? Você terá que se conformar com um carioca cuidadoso, que sabe
perfeitamente como fazer o trabalho.
— Então terei que confiar em um carioca “cuidadoso” — respondeu, sentindo como a conversa
começava a excitá-la.
— É disso que se trata, que você confie em mim. Então, tomamos um banho, você vai para o spa
e eu vou sair para fazer algumas compras de última hora.
As portas do elevador abriram e o mensageiro os levou até o quarto.
Ao chegar, Rachell viu que a bagagem estava no lugar, sem perder tempo, entrou no banheiro e
tirou a roupa. Estava entrando no chuveiro quando Samuel a alcançou; os dois aproveitaram um
banho combinando temperaturas diferentes de água, que ajudava a diminuir o cansaço no corpo e
tirar o mormaço do sol.
Rachell secou um pouco o cabelo com o secador, para não perder tempo e colocou um vestido
azul celeste com flores brancas de estilo silvestre, enquanto Samuel colocou uma calça jeans e uma
camisa preta, que arregaçou até o cotovelo e deixou os três primeiros botões abertos.
Os dois saíram do quarto e ele a deixou no spa.
— Com certeza, eu chego antes de você terminar. Estarei esperando no quarto — Levou as
mãos aos quadris, grudou-a ao seu corpo e combinou beijos e suaves mordidas nos lábios da
garota.
— Está certo. De todas as maneiras, estou com o telefone e assim ficamos em contato.
— Perfeito… Agora sim, vou indo... Porque este lugar me traz lembranças que...
— Chega! Não diga nada... Fora daqui — Empurrou-o de brincadeira e deu meia volta,
entrando no lugar onde a mimariam um pouco.
O cheiro de rosas e mel inundou seu nariz e uma mulher a levou aos banhos, onde tirou a roupa
e colocou uma calcinha descartável e o roupão, com o telefone e vestido em mãos, acompanhou a
massagista até o quarto que estava com iluminação tênue, ajudado pelas velas aromáticas, deitou-
se na maca e a mulher explicou como seria a sessão que estava preparada para ela.
Começou com compressas de leite e mel, que ficariam uns vinte minutos, para refrescar um
pouco a pele que ficou exposta ao sol forte.
— Posso fazer uma ligação? — Perguntou, dirigindo-se à mulher que tinha terminado.
— Claro, senhorita — respondeu a massagista e foi pegar o iPhone de Rachell e entregou para
ela. — Voltarei em alguns minutos.
— Obrigada — Viu a mulher sair e ligou para Sophia; depois de três tentativas, escutou a voz
da amiga.
— Você está viva! Pensei que Garnett tinha esquartejado você e lançado no poço do mundo —
Disse com sua característica forma de ser.
— Oi, Sophie, não, para seu azar, ainda continuo viva. Está tudo maravilhoso! Fiz tantas coisas
que você não vai acreditar quando eu contar, mas tenho foto de tudo.
— De tudo? — Perguntou a garota com malícia.
— Não, disso eu não tenho, sua pervertida! Bom, sim, há algumas, mas não vou mostrar —
falava mais emocionada que uma menina com sua primeira boneca. — Não liguei antes porque
não tinha conexão, agora, estou no Luxor, fazendo massagem para tirar o cansaço do corpo, mas
me fale, e você, como está? — Perguntou, querendo saber como estavam seus amigos.
— Ou seja, você está em Las Vegas… Você vai lá falar um oi? Nós estamos muito bem, portanto
pode continuar transando como uma coelha.
— Sophie, acho que não vou lá, você sabe que estou com Samuel e...
— Está bem, entendo perfeitamente — interveio, antes de colocar sua amiga entre a cruz e a
espada.
— Como estão as coisas na butique?
— Tudo maravilhoso e em dia, fiz os pagamentos e pedidos, Mary Wild quer mandar desenhar
alguns vestidos de damas de honra, eu mostrei o catálogo de emergências e as amostras de
tecidos, portanto não precisa se preocupar.
— Sophie… O que aconteceu com Richard? Estranhei que ele não me ligou... Não quero — Não
encontrava as palavras exatas para não parecer uma desgraçada. — Você sabe que é um bom
homem e que tenho um grande apreço por ele, não quero que sofra... Pelo menos, não por minha
culpa.
— Divina, isso é inevitável, porque não pode mandar nos sentimentos. Ele voltou para Londres,
deixou uma carta... Você terá tempo de ler quando voltar, já sabe, tão antigo e protocolar como
sempre.
— Fico com pena — murmurou, sendo como um lamento escapasse.
— Logo ele encontrará uma mulher que o ame exatamente como ele é. Ele é um homem muito
bonito, que representa, mas a falta de espírito ninguém tira. Por isso, afaste esses fantasmas e
aproveite. Por que não me conta o que estão fazendo? — Perguntou, tentando fazer Rachell
esquecer qualquer peso na consciência por Sturgess. Ele teve sua oportunidade e desperdiçou por
ser imbecil.
— Estão me colocando umas compressas com leite e mel para a insolação, embora eu não
esteja carbonizada e, depois, farão uma hidratação.
— Isso está me cheirando a uma noite especial. E onde está Garnett? Espero que esteja se
comportando bem, senão Oscar irá castrá-lo, já avisei.
— Sim, soube disso, traidores, mas não me queixo, se está se comportando bem, me
impressionou e não para, embora esteja louco. Saiu para fazer umas compras... Com relação à
noite especial, espero que sim. Estou um pouco nervosa, ou melhor, muito nervosa.
— Ai, Rach, não exagere, parece que vai perder a virgindade. Você já passou por isso faz
tempo e Garnett deve conhecer até sua última pinta.
— Mais ou menos... Eu o conheço perfeitamente, pelo menos, por fora e, bem, Sophie — Sua
voz vibrava diante do nervosismo, mas precisava de conselhos.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou com astúcia ao escutar o tom de voz da amiga.
— Vou tentar.
— Tentar o quê? Ai, Rachell, fale logo, está me deixando desesperada — Disse.
— Samuel vai me desvirginar hoje à noite… O que me resta — Disse, com precaução e
engolindo seco.
— Caralho! Você vai dar o cu para o Samuel… Então o procurador realmente se comportou à
altura — Disse, soltando uma sonora gargalhada.
— Não, se quiser, publique nas redes sociais... Sophie, é sério, preciso que me diga, dói muito?
— Só estou impressionada! Quem poderia imaginar que Rachell Winstead acabaria dando o
cu… — Disse sem conseguir segurar a risada. — Isso só se faz por amor... Tem que ter muito amor
no meio.
— Que amor, nem merda nenhuma, só que tenho vontade. Quero experimentar e só. Dói ou
não? De um a dez, que nota você dá?
— Rach, não posso dar uma pontuação nisso, tudo depende do homem e que dê o que você
não tem, pouco a pouco... Garnett deve ter experiência nisso, já que ele não é santo. Está escrito
na sua testa "venho desvirginando cu desde que tenho quinze anos". Portanto, sempre dói, mas não
desista. Só precisa relaxar e enfrentar a situação, também não vá deixar meter tudo de uma vez
hoje.
— Com certeza. Você está sozinha?
— Claro! Estou no seu escritório, registrando as vendas. Eu não sou tão indiscreta, né?
— Então, é melhor não tentar? Espero um pouco mais?
— Que você quer, não há dúvidas. O que eu aconselho é não queimar todas as munições hoje,
porque você vai passar três dias sem conseguir sentar... Diga "Procurador, só a ponta" — Nas
últimas palavras, imitou a voz de Rachell.
— Bom, vou fazer isso — Disse, gargalhando. — Sophie, tenho que desligar — Disse, ao
escutar a porta abrindo.
— Amanhã você me liga e me conta... Depois você fala que o procurador não causa nada e
está fazendo de você uma puta. Primeiro a boca, agora o cu... Isso não se dá a um homem que só
tem desejos.
— Chega, Sophia! Você é mais romântica que eu, mas é que estou quase com 24 anos e não
quero chegar aos 25 sendo uma menininha.
— Está bem, como você quiser — Deixou uma risada no ar. — Amo você, sua feia.
— Eu também — Com essas últimas palavras, terminou a chamada.
Entregou o celular para a mulher, que o colocou sobre a mesa e começou a massagear os pés
até o tornozelo, fez o mesmo com as mãos, arrancando suspiros de satisfação de Rachell,
colocando-a em um estado de relaxamento total, que a isolou completamente do mundo, enquanto
que as mãos se deslizavam pelo corpo da garota com maestria, fazendo-a perder a noção do
tempo, quando a mulher terminou, já tinha passado uma hora e meia.
Voltou à ducha e tirou o resto dos cremes utilizados, sentindo a pele realmente renovada, nua e
molhada, olhou-se no espelho por um bom tempo, observando que tinha clareado um pouco a pele,
já não estava tão queimada de sol.
Sem parar de se observar, levou as mãos aos quadris como uma jarra, inspirando e expirando
profundamente, pensando que Sophia tinha razão, tinha estado relutante, e mais ainda, era contra
o sexo anal, mas com Samuel, ela se desconhecia, com ele, queria experimentar tudo.
Nesses seis meses que estavam juntos, claro, sem contar o tempo que estiveram separados, tinha
conseguido dar mais confiança do que Richard em dois anos.
Com ele, tudo era mais espontâneo e sabia que não estava cedendo por pedido de Samuel, era
assim que o desejava, cada vez que tocava com seus dedos nessa zona, despertava novas
sensações e sabia que podia intensificá-las, caso se atrevesse a ir mais além dos toques.
— Bom, só não posso desistir — Soltou um suspiro, pegou a toalha e se secou para, depois, se
vestir de novo.
Dirigiu-se de volta ao quarto e, durante o percurso, observou como o hotel era bonito e que,
embora tivesse morado muitos anos em Las Vegas, nunca tinha estado ali.
Sentia o coração bater forte, tanto que jurava que cada batida retumbava nas costelas. Sabia
que Samuel já estaria no quarto e não tinha ideia de como reagiria ao vê-lo, não queria sair
correndo.
Respirou fundo outra vez e se deu uma bronca mentalmente. Não tinha que ter medo, porque
tinha certeza que Samuel não a forçaria, então estava se comportando como uma tonta.
Sem pensar mais, passou o cartão e abriu a porta do quarto, que estava na penumbra e não
teve como não se sentir surpresa ao ver um caminho de estrelas fluorescentes no tapete. Seguiu o
caminho, enquanto sorria, as estrelas a levaram ao banheiro e, embaixo de uma das luzes laterais,
estava pendurado o roupão de seda cinza perolado.
Era claro que não queria que acendesse a luz, por isso, não acendeu. Colocou o telefone em
cima da pia, tirou o vestido e a roupa íntima, colocou o roupão e, então, o dilema se soltava o
cabelo ou deixava o coque como estava.
No final, achou que era mais erótico ficar com o cabelo solto, que caiu como uma queda d'água
ébano até a cintura. Economizando tempo e ansiedade, voltou para o quarto, seguindo as estrelas,
assustou-se ao sentir as mãos de Samuel pegando-a pela cintura e grudando em seu corpo.
— Você quer dançar? — Perguntou, roçando com os lábios uma das orelhas da garota.
— Mas não tem música — Pousou suas mãos sobre as de Samuel.
— Tem sim, é só dar um passo para a direita — Pediu, guiando-a e a soltou.
Samuel puxou o lençol que estava cobrindo as outras estrelas e um espetáculo de estrelas
fluorescentes vestiu o chão do quarto, uma metáfora um pouco infantil e romântica do que seria
estar no céu.
Rachell abriu a boca diante da surpresa e não conseguiu segurar, levou as mãos ao rosto pela
emoção. Era maravilhoso! Não conseguia nem sequer ver a cara de Samuel, só via as estrelas
embaixo dos seus pés. Tecnicamente se sentia no céu.
Depois disso, a maravilhosa, sensual e potente voz de Barry White ecoava no quarto. Ele a
pegou pela mão e a levou até a metade do céu que Samuel tinha criado para ela, abraçou-a e a
fez seguir as notas do tema, mostrando que era um dançarino extraordinário e, através da canção,
pedia que não mudasse, tentando agradá-lo e que nunca antes tinha decepcionado, mas,
principalmente, dizia que não a deixaria em tempos difíceis.
Abraçou-se a ele, sentindo-o com o tórax nu, por isso, suas mãos delicadas se deleitaram,
acariciando suas costas, tateando cada músculo, a suave textura da sua pele, aquela que a tinha
deixado viciada e sabia que cortar essa dependência não seria uma tarefa fácil. Sua boca
procurou a de Samuel e ele a beijou ao ritmo das notas musicais, lenta e sensualmente, sua língua
entrando e enredando-se, fazendo espirais que a enlouqueciam e roubava, pouco a pouco, o
oxigênio.
No meio do alucinante beijo, a música acabou e ele a levou, como uma pantera se adaptava
rapidamente à escuridão, enquanto que ela arrastava os pés para não cair de cara e arruinar
com a magia do momento. Sabia que seria um repertório de Barry White, quando a voz do homem
continuava animando a festa e, naquele momento, Samuel era seu princípio, seu fim, seu tudo.
Uma suave e fria textura delineava seus lábios e o olfato se intensificou, percebendo o cheio de
morangos, enquanto Samuel passava a fruta pelos lábios entreabertos, ela saboreou com a ponta
da língua, serpenteando sempre que tinha oportunidade, até que ele permitiu que a mordesse.
— Obrigada — Disse, ao terminar de mastigar e engolir a fruta.
— Shhh… Não agradeça, você não tem nada que agradecer — Pegou seu rosto e beijou-a
novamente para, depois, oferecer outro morango.
As luzes acenderam e Rachell se viu novamente na Terra, mais especificamente no quarto do
hotel Luxor de Las Vegas, enquanto Samuel servia champanhe, em duas taças pela metade e
colocou um morango em cada, entregando uma das taças com a bebida dourada e espumante e
ele pegou a sua.
— Por que estamos brindando? — Perguntou, navegando no olhar de Samuel, que tinha brilho
da mesma cor da bebida.
— Por este momento… Para coisas futuras, teremos mais champanhe — Continuou olhando
para Rachell e, sentia-se como nunca antes se sentiu, nunca tinha se preocupado em fazer algo
especial com uma mulher e se sentia estupidamente nervoso.
— Então, por este momento e pelo céu particular que colocou a meus pés — Tocaram sutilmente
as taças e deram um gole nas bebidas, sem desviar o olhar, criando uma conexão extraordinária.
Samuel a pegou pela mão para guiá-la à ampla cama e jurava que Rachell conseguia sentir
como tremia e isso aumentava seu nervosismo, queria que ela não tivesse tanto poder sobre ele,
que não o descontrolasse daquela maneira, porque era algo totalmente novo e não tinha dado
tempo para se adaptar e a aprender a lidar com emoções que não conseguia esconder, não
conseguia ocultá-las e isso o deixava realmente vulnerável, era uma maldita pantera domada.
Sentaram na beirada da cama e, novamente, saborearam o borbulhante líquido, encontrando o
sutil sabor que o morango destilava. Uma caixa média retangular, de veludo vermelho, que estava
em cima da cama, chamou a atenção da Rachell.
— É só algo que deixará as coisas mais fáceis — Disse Samuel ao ver a interrogação no olhar
de Rachell. — Você quer saber o que é? — Perguntou, tentando recuperar sua segurança.
— Sim, gostaria de saber o que é — respondeu, acariciando os lençóis com uma das mãos em
uma tentativa de ocultar a tolice, porque as palavras tinham se escondido e não queriam sair.
— Não é um anel de compromisso — Disse, em tom de brincadeira, colocando a taça em cima
do criado-mudo.
— Tenho certeza que não é isso e não se preocupe, não vai tirar meu sono.
— Isso eu sei — Disse Samuel, com toda segurança. Rachell não queria nenhum compromisso, já
tinha deixado isso bem claro de várias maneiras. Samuel pegou a caixa e abriu na frente de
Rachell.
— Que bonito… — Disse, pegando o objeto. — É terno — Soltou uma pequena gargalhada.
— É um iniciador, isto eu não posso fazer sozinho — Disse, sentindo que o peso no peito
diminuía, tinha medo que Rachell negasse o vibrador.
Rachell observava o iniciador anal vermelho granada, o estojo trazia um estimulante sexual e
lubrificante à base de água. Não podia se fazer de ofendida porque tinha certeza que Samuel
tinha visto sua coleção de brinquedos sexuais no seu closet.
— Tenho certeza que o senhor Darcy não tinha um destes — Disse, sorrindo.
— Já voltou ao senhor Darcy… Embora se quiser que seja à moda antiga, também estou
disposto.
— E se eu disser que quero que todos os créditos sejam seus? Não quero usar o iniciador,
podemos ir pouco a pouco, mas não quero sentir este negócio, quero sentir você.
— Bem, como você quiser, faremos as coisas como você quiser — Colocou a caixa sobre o
criado-mudo, ao lado da taça. — Você gosta dessa música? Se quiser, podemos trocar e colocamos
Pitbull — Lançou a malícia no ar.
— Adoro Barry White — Soltou uma gargalhada diante da brincadeira. — Não me imagino
transando com Pitbull de fundo — Sem parar de gargalhar. — Não conseguiria alcançar o
orgasmo.
Samuel pegou a mão de Rachell e puxou-a para perto dele, fazendo a champanhe da garota
derramar, mas isso não foi empecilho para beijá-la com o desejo que tinha despertado nele suas
gargalhadas.
Levou uma das mãos à nuca de Rachell e acariciava com o polegar o rosto, tentando descobrir
nos seus olhos aquele mistério que o hipnotizava.
Ela se sentiu vulnerável diante do olhar de Samuel, por isso, lançou-se em busca de um beijo,
mas ele se afastou sem que suas pupilas se desviassem do alvo; ficou olhando para ela o tempo
que quis; porém, não encontrou uma única razão, nenhuma prova que indicasse que tipo de feitiço
tinha feito com ele.
Então, como não tinha opção, não restava mais nada a não ser continuar fundindo-se mais e
mais naquele mar de emoções que Rachell oferecia. Segurou seu rosto com as mãos e a beijou com
força, descontrole, sem deixar de beijá-la, chupando a língua de Rachell, instigando-a a remexer
na sua boca que, não só se apoderava do seu hálito, mas também da sua razão, enquanto suas
mãos começavam a desatar o nó do roupão de seda e os dedos de Rachell foram tateando sua
barriga em busca do botão da calça, fazendo que tremores intermitentes se apoderassem do seu
abdômen.
Abriu a bata e, então, interrompeu o beijo, afastou-se um pouco e levou a mão ao monte de
Vênus e pousou a parte posterior dos dedos. Começou a subir com uma carícia lenta e
prazerosamente tortuosa, com o dedo indicador rodeou o umbigo e ela estremecia de modo sutil e
tinha a incrível alucinante e maravilhosa oportunidade de observar como a pele se arrepiava por
onde ele acariciava.
Para Rachell, parecia uma eternidade desde que Samuel iniciou a carícia com seus dedos,
roçando-a com os nós que a obrigavam levantar os olhos diante da sensação, passando pelo vale
no meio dos seus seios, até chegar aos lábios, que roçava lentamente, mas com uma propriedade
que a enlouquecia.
Sem conseguir evitar, inclinou-se sobre ele, arrastada pelos impulsos que despertavam nela e
percorreu com os lábios e dentes o pescoço masculino, enquanto dava uns puxões para tirar o
roupão e jogá-lo no chão.
— Não consigo mais, meu peito vai explodir… — murmurava ajudando Samuel tirar a calça. —
Estou ansiosa, quero que me faça suplicar por mais... Sam, não me faça esperar — Sentia como se
sua respiração se interrompesse.
— Não vou fazê-la esperar, mãos à obra — Disse, girando-a e colocando virada para baixo e
se deitou sobre a garota que gemeu diante da expectativa.
Samuel agarrou a mandíbula feminina e a ajudou a girar a cabeça e, novamente, atacou sua
boca. Enquanto sua língua lasciva penetrava na boca de Rachell, seu pênis tocava no centro da
bunda, fazendo-a vibrar completamente, criando nela ansiedade que, diante da expectativa e do
desejo, o músculo foi relaxando.
— Espere uns segundos — murmurou contra os lábios inchados da garota e se virou para
pegar o lubrificante que usou para impregnar seus dedos, o suficiente para não machucar e caiu
novamente sobre o corpo de Rachell, beijando-a uma das têmporas, sentindo as pulsações
retumbar nos seus lábios. Sua mão se aventurou e se deslizou até chegar ao ponto exato e ela se
contraiu, sabia que era pelo contraste do calor e do frio, mas, em alguns segundos, relaxou e ele
continuou acariciando o lugar com a ponta do dedo médio. — Preciso de mais espaço... Assim está
muito difícil — sussurrou e deu outro beijo.
Ficou de joelhos e a pegou pelos quadris, para que ficasse de quatro, então ele aproveitou os
líquidos brotavam da sua vagina palpitante e os arrastou até o ânus, enquanto acariciava as
nádegas com a mão livre.
— Como você se sente? — Perguntou, introduzindo o dedo muito lentamente.
Rachell sentia a pressão e suas pernas tremiam, não era doloroso, só uma mistura de incômodo
e ansiedade, além do alvoroço que sua vagina fazia, pedindo atenção.
— Bem, está bem... Mas quero mais, Sam, mais… — falou, quando o iniciador caiu perto dela e
chamou sua atenção.
— Sei o que você precisa, use-o, isso vai ajudar nós dois.
Ela não tinha muita confiança para usar, não na frente de Samuel, mas o desejo que a percorria
era mais poderoso.
Aquela rajada de fogo percorrendo sua espinha dorsal e as pulsações doloridas que criavam
um vazio retumbante no seu centro a empurrou a fazer e, em segundos, as vibrações do iniciador
estremeciam seu clitóris, obrigando-a a gemer e conseguia sentir o dedo de Samuel tocando,
entrando e saindo lentamente. Era tanto prazer que a cegava e seus lábios davam beijos nas suas
nádegas.
Ele não aguentaria, ver Rachell entregue a tanto prazer ia fazê-lo ejacular. Por isso, abandonou
a tarefa e, com uma das mãos, pegou sua ereção e a guiou até o ânus.
Um gemido ecoou no ambiente ao senti-lo, fez um pouco de pressão, sabia que ainda não podia
entrar e essa pressão foi suficiente para que todo o seu corpo tremesse e, antes que perdesse os
estribos, guiou seu ansioso amigo até a vagina e liberou um gemido que saciava essa ansiedade
que fazia seu sangue ferver e teve a tarefa de virar o mundo de cabeça para baixo.
Não permitiu que Rachell parasse de se estimular com o iniciador, enquanto ele, em alguns
segundos, utilizava um dos seus polegares para acostumar o músculo que tinha começado a
conquistar.
O estouro dos sentidos chegou rapidamente, pelo estímulo que tinham recebido. Rachell sensorial
e Samuel, visual, caíram extasiados na cama, esperando que as pulsações voltassem ao ritmo
normal, enquanto faziam cansadas e ternas carícias e os dois descobriam que seus olhares
gritavam o que, por orgulho, suas bocas calavam.
CAPÍTULO 39

Os dias de liberdade de Megan tinham terminado com a chegada do seu pai, já não podia passar
tanto tempo com Thor e isso a deixava de mau humor, o que para Henry Brockman era apenas
frescura de adolescente.
Não tinha dado permissão para ir ao parque que estava perto, por isso, o martirizava com
música no último volume que, embora estivesse no seu quarto, fazia vibrar os vidros da casa.
Era sábado, se seu pai não estivesse em casa, estaria neste precioso momento no polígono
disparando a Walther P99 de Thor, competindo com ele a pontaria, embora nunca ganhasse, isso a
fazia drenar a energia e não se enchia de ansiedade.
Estava brava, muito brava, queria chutar qualquer coisa, quebrar a primeira coisa que
aparecesse na frente, além dessa sensação no meio das pernas de desejar seu namorado, era
algo que Dimitri Vegas & Like Mike a todo volume não conseguia acalmar.
Estava deitada, com as pernas elevadas na parede, nem sequer tinha tirado o pijama de
camiseta e culote, enquanto com a planta do pé batia no ritmo da eletrônica na parede que sabia
que seu pai estava do outro ela, se ela não teria paz, ele muito menos.
Não entendia porque custava tanto deixar sair, e também nunca prestava atenção nela, só se
animava em mantê-la fechada em casa e, o pior de tudo, era que ainda não tinha elaborado um
plano suficientemente convincente para fugir com Thor para o TomorrowWorld, mas iria, mesmo que
morresse, iria fugir.
Henry Brockman sentia que a cabeça ia estourar e não conseguia se concentrar no filme que
estava assistindo, tanto que teve que colocar legendas para entender os diálogos.
— Morgana, você pode dizer para sua filha abaixar o volume? — Pediu à mulher que estava
ao seu lado enfiada no celular.
— É justo que você também seja responsável por ela algumas vezes, só para lembrar, querido,
que eu não a fiz sozinha com o dedo — Mostrou o dedo do meio e continuou digitando no
telefone.
Bravo, levantou-se da cama e foi até o quarto ao lado, bateu na porta como de costume e, ao
saber que seria impossível que sua filha o escutasse, abriu, passou direto pelo iPod e tirou do
amplificador.
— Você pode me dar um pouco de paz? Estou tentando ver um filme, passo dois dias em casa e
você torna minha vida impossível.
Megan, ao ver que seu pai abaixava a música, não fez nada, só ficou na mesma posição,
esperando que saísse para voltar a ligar o iPod, mas decidiu falar.
— Então devo ficar aqui, de saco cheio, durante todo o dia enquanto você vê seus filmes, dá
para ver que não há igualdade nesta casa; o que custa deixar eu ir ao parque? Tenho que levar o
Tyrion.
— Está bem, Megan, pode levar esse animal para passear — Cedeu diante das insistências da
sua filha. — Mas esteja de volta em duas horas, um minuto mais e ficará de castigo por muito
tempo.
Nesse momento, a garota girou sobre a cama e saltou diante da emoção, saiu correndo e
lançou-se nos braços de Henry.
— Obrigada, papai, prometo que estarei de volta em duas horas, nem um minuto menos — Deu
um beijo no seu rosto.
— E nem um minuto mais, agora vá se trocar porque não pode sair assim, já é uma moça —
Estava impressionado com a euforia da sua filha.
— Sim, sim, já vou correndo tomar banho, agora você pode ver seus filmes tranquilo — Pegou o
telefone e correu para o banheiro com ele.
Henry só negou com a cabeça e saiu do quarto da sua filha, com a esperança de poder
entender a trama do filme, ao chegar no seu quarto, colocou o alarme e umas 1:58 para que
avisasse se Megan estava em casa no tempo estipulado.
Desde o banheiro, a garota ligou para Thor e avisou onde se encontrar, marcaram em meia
hora, perto da casa de Megan.
Ao tomar banho, procurou a roupa que não dificultasse a tarefa das mãos de Thor de esquivar-
se dentro e que acariciasse aquelas partes que nesse preciso momento estavam desejando tudo
isso. Fez um rabo de cavalo de lado, na base da nuca, e se maquilou um pouco, pegou Tyrion e
saiu de casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível e que, assim, seu pai não se desse conta
da hora exata em que saiu.
Enquanto caminhava, falava para Tyrion como estava emocionada, como seu namorado a fazia
feliz e, então sentiu um carro se aproximando atrás, mas ela não o conhecia, sem dúvida, era um
carrão de luxo, mas não era Thor, por isso, continuou caminhando e o carro a seguiu, quem dirigia
só avançava para manter o ritmo, ela ficou nervosa e caminhou mais rápido, mantendo o olhar
para frente.
— Senhorita, posso levá-la ao céu? — Ofereceu-se e abaixou o vidro do lado do copiloto,
enquanto continuava dirigindo; então ela olhou para o motorista com o rabo de olho, não conseguiu
evitar o sorriso e que o medo fosse embora de uma vez; porém, as batidas do coração ficaram
mais fortes.
— Sinto muito, senhor, não o conheço — Disse, sem olhar novamente e continuou caminhando
pela rua com a gaiola de Tyrion nos braços.
— E eu que pensava em deixar você dirigir — Disse e, então, Megan não conseguiu dar mais
nenhum passo, parou com um sorriso aberto e entrou no carro.
Como já tinha planejado, Thor tinha conseguido vender o Acura NSX e tinha comprado um
Bugatti Veyron azul e preto e estava feliz com o seu novo brinquedo.
— É incrível! Adorei... Adorei, lindo — Passou a mão no estofamento do carro.
O loiro pegou a gaiola e levantou, observando o hamster que o reconhecia.
— Tyrion, somos invisíveis — Disse, para que Megan se desse conta de quem nem tinha
cumprimentado.
— Sinto muito, sinto muito, meu namorado — Disse ela, inclinando-se sobre ele e deixando cair
uma chuva de beijos no rosto, evitando a boca, essa seria a sobremesa. — Ainda estou perto de
casa, aonde vamos, poderia dirigir até o seu apartamento.
— As faxineiras estão lá, podemos procurar um lugar afastado e estrear esta beleza — Bateu
no volante.
— Mas vamos fazer na frente de Tyrion? — Perguntou olhando para o animal. — Vamos
pervertê-lo, vai ficar perturbado.
— Ele não precisa ver, colocamos minha camiseta em cima e assunto encerrado.
Megan gargalhou, enquanto concordava com entusiasmo.
— Então encontre esse lugar afastado, posso dirigir na volta?
— Depende de como você se mover — manifestou, piscando um olho com malícia e arrancando
com o carro.
Thor encontrou o lugar apropriado para não serem descobertos e, sem perder tempo,
começaram a tarefa de se entregar ao prazer que um dava ao outro, em meio de gemidos,
grunhidos, suores, sussurros, fricções e beijos. Explodiram e alcançaram a plenitude do momento,
enquanto Tyrion, na sua gaiola, coberto pela camiseta de Thor, se exercitava na roda.
CAPÍTULO 40

O carro clássico preto se deslocava no limite da velocidade permitida pela panorâmica estrada
que vai pela costa da Califórnia, enfeitiçando com sua beleza quem tivesse a oportunidade de
fazer o trajeto; a brisa batia contra o rosto de Samuel, enquanto que o intenso sol fazia um clarão
nos óculos, com seus dedos, acompanhava o ritmo com os dedos no volante, seguindo a bateria de
Time is Running Out, do Muse, e cantava em voz baixa para não acordar Rachell, que estava
dormindo no bando traseiro do carro.
Na noite anterior, tinham visitado um local em Los Angeles e, embora tenham passado muito bem,
teve que controlar o impulso de quebrar a cara de dois homens que tentaram seduzir Rachell,
enquanto estava no palco cantando o tema que tanto queria e estava vestida de couro, lembrar
como estava, era muito para ele.
Aquela mulher era a definição de sensualidade e ia acabar matando-o de um ataque do
coração e, como se fosse pouco sua roupa, brilhou no palco, não mostrou nervosismo em nenhum
momento, aquela mistura de segurança e erotismo, conseguiram que sua sede por ela o petrificava,
por isso, só desceu, pegou sua mão e, no banheiro feminino, fizeram sexo, como se fossem
adolescentes que não conseguiam controlar o arrebatamento sexual e, no meio de arremetidas e
beijos vorazes, parabenizou-a pela apresentação e pelo aniversário.
Ela se surpreendeu porque pensava que tinha esquecido e, embora não tenha feito o presente
oficial, sim, pensava em fazer; só estava esperando o momento apropriado para entregar, ainda
tinha toda a tarde para isso.
Estavam a caminho da praia Rincón em Santa Bárbara, que também tinha ondas perfeitas, já
que, ao chegar na praia de Malibu, em Los Angeles, estavam quebrando, pensava em ensinar
Rachell a surfar e, com tanta gente em volta, não conseguiria se concentrar.
Estavam para chegar e olhou Rachell pelo retrovisor, ela estava de costas e um sorriso curvou
seus lábios ao ver que sua minissaia jeans tinha subido, deixando descoberto o traseiro apenas
com a tanga fúcsia do biquíni.
Esticou a mão e pegou a câmera que estava no banco do passageiro, onde Rachell tinha
deixado antes de decidir dormir alguns minutos, sem focar, só pegando como podia, já que não
parou o carro, tirou algumas fotos da bunda de Rachell, para depois colocar a câmera de volta no
banco.
— Acorde, Scarlet, não estamos em Tóquio — Disse, batendo nela suavemente, referindo-se à
tomada do traseiro da atriz Scarlet Johansson no filme Encontros e Desencontros (Lost in
Translation), que a lançou para a fama.
— Só um pouco mais, Sam — suplicou, remexendo-se no assento.
— Acorde e pare de sonhar que estamos transando, até dormindo você me pede mais, vai
acabar com a minha vida.
— Não estou sonhando que estamos transando... Só quero dormir mais um minuto — murmurou,
sentindo as pálpebras bem pesadas.
— Estamos quase chegando, primeiro vamos alugar as pranchas e as roupas — Informou,
olhando para ela e para o caminho, de maneira intermitente.
— Está bem… Como você quiser.
— Certo, continue dormindo mais um minuto — Permitiu e continuou dirigindo.
Quando finalmente chegaram ao lugar onde alugaram as pranchas de surfe e todo o
equipamento, Rachell prestou atenção nas instruções dadas por alguns surfistas e também recebia
cada folheto que entregavam, enquanto Samuel falava com o dono do local e, também, a olhava
de canto de olho, mas sua mandíbula ficava tensa e o músculo vibrava.
Era a prova fiel de que não gostava da proximidade de homens; porém, ela se fazia de
desentendida porque não fazia nada de mau, só agradecia e recebia o que entregavam, mas ao
ver que nenhum dos três ia embora e que começaram a puxar conversa que não vinha ao caso,
resolver cortar o assunto.
— Obrigada por tudo, rapazes, vocês são muito amáveis. Mas eu vou ver qual prancha eu
quero.
— Se quiser, posso recomendar uma — interveio o moreno alto e forte, de olhos cinzas, que
parecia ser havaiano.
— Obrigada, mas já tenho quem me ajude.
— Bom, se você vai passar a noite aqui, há alguns pubs em que pode se divertir, poderíamos
levá-la.
— Não, à tarde, vamos a São Francisco, é que vamos ver as ondas de Maverick.
— Nem pense em entrar nessa praia, poderia se matar, é só para profissionais — advertiu um
pouco alarmado, um loiro quase dourado pelo seu magnífico bronzeado e olhos verdes
impactantes.
— Obrigada pela advertência, mas só vamos ver as ondas; meu namorado me falou que
chegam a até 15 metros e quero ver se é verdade.
— Você tem razão, elas podem chegar a 18 metros, quando há tempestade próxima.
— Bom, obrigada por tudo... Vou procurar minha prancha — Disse, dando a volta e indo até
onde estava Samuel, de costas, e sem poder evitar, talvez porque seu subconsciente quis assim,
colocou a mão por dentro da camiseta e começou a acariciar suas costas, desfrutando da quente e
suave pele, assim como sua dureza e formação.
— Que cor você prefere a prancha? — Perguntou em voz baixa, mantendo essa conexão e
intimidade entre eles e, enquanto falava, olhava nos lábios, já sabia ela que quando Samuel fazia
isso era porque queria um beijo, um que não se atrevia a pedir ou dar.
— Quero cores brilhantes, que destaquem — respondeu ela e ficou na ponta dos pés, dando
alguns toques de lábios, mas ele sugou com ternura e ela sentiu um frio na barriga.
— Tenho várias e algumas leves para mulheres — Disse o dono do local. — Acompanhe-me,
por favor.
Rachell e Samuel o seguiram a um local contíguo que se comunicava por uma porta de vidro
dupla e estava rodeado por centenas de pranchas, tornando a decisão de Rachell mais difícil.
Samuel sim foi mais rápido e pegou uma que tinha as cores da bandeira do Brasil, enquanto
Rachell escolheu uma fúcsia com umas borboletas azul metálico, com borda preta.
Os dois pegaram as roupas de neoprene, o de Samuel tinha franjas verdes e o dela, franjas
fúcsia; assinaram o contrato e foram para a praia.
Diante deles, estava a praia Rincón, com suas lindas tonalidades de azul e suas ondas perfeitas,
se bem não estava solitária, tinha menos gente que em Malibu e Samuel podia explicar a Rachell.
Ao entrar, a água não estava tão fria quanto esperavam, era bem quente, o que ajudaria
bastante as práticas.
— Tem certeza que sabe surfar? É que não quero passar por ridícula — Disse Rachell,
deixando a prancha cair na orla.
— Não tenho que mentir sobre esportes que pratico para tentar impressionar você, como
estavam fazendo os garotos na loja, se eu quero impressionar você, prefiro agir e não falar.
— Sabia que você tinha ficado com ciúme ao me ver com os surfistas — Disse de brincadeira.
Samuel deu uma bufada.
— Você está errada, em nenhum momento fiquei com ciúme — Disse olhando para a praia.
— Olhe nos meus olhos e negue.
— Está vindo uma onda, vou aproveitar... — fugiu, sabendo que não daria tempo, mas não ia
dar explicações para Rachell, já vinha outra enquanto entrava na água.
— Está bem, prefiro ver uma demonstração primeiro... Essa é sua maneira de fugir! — Disse em
voz alta ao ver que Samuel se afastava.
Depois de uns minutos, o sorriso congelou ao ver que Samuel estava na altura de qualquer dos
outros surfistas que o acompanhavam e só se perguntava em pensamentos.
O que é que Samuel não sabe fazer?
Estava voltando com a prancha embaixo do braço, enquanto sacudia com a mão livre o excesso
de água do cabelo e estava lindamente agitado; ela não conseguiu evitar aplaudir emocionada e
correu até ele que, ao vê-la ir a toda velocidade, soltou a prancha para segurá-la, mas perdeu o
equilíbrio e caíram na água.
Sabiam que tinham muitos olhares e não sobrou outra alternativa a não ser rir deles mesmos e
beijar-se, enquanto seus corpos serviam de quebra-ondas.
— Tem alguma coisa que você não sabe fazer? — Perguntou em meio a úmidos e salgados
beijos pelas ondas que os haviam banhado.
— Sim, não sei fazer fogueira, também não toco piano, nem cozinho.
— Então você não é perfeito — murmurou enfeitiçada pela beleza de Samuel.
— A perfeição não existe, vamos, suba nesta prancha — Girou-a, ficando em cima, deu dois
beijos e se levantou, pegando-a pela mão, ajudou-a a ficar de pé.
Cada um pegou sua prancha e Samuel explicou como fazer e encostar em cima dela, como
movimentar braços e pernas.
— Agora, Rachell, reme… Reme — indicava para remar com os braços. — Quando vier uma
onda, pare de remar e segure na borda da prancha, depois que passar, continue remando,
entendeu? — Perguntou e ela concordou em silêncio. — Muito bem, então continue remando, não
fique me olhando — Disse com um maravilhoso sorriso.
Rachell remava e remava e os ombros doíam, até que chegaram onde já não alcançava o
fundo; sabia nadar, senão teria dado um ataque de pânico.
— E agora? O que eu faço? — Perguntou ao ver que não faziam nada.
— Vamos esperar que venha outra onda e deixe-a levar você, mas antes que a outra
surpreenda, leve as mãos à borda da prancha e vai pegar impulso com os braços e vai ficar
agachada, com os pés como expliquei. Depois vai se levantar, faça isso sem medo, lembre-se que é
água e não vai machucar, se chegar a cair, pegue na prancha, ela mesma vai trazê-la à
superfície.
— Certo, entendido.
Rachell esperou a onda e fez tudo o que Samuel disse, mas não conseguiu se levantar. Antes de
conseguir ganhar impulso, acabou na água, repetiu várias vezes e já estava sem fôlego. Era muito
cansativo, mas quando se dava por vencida, na última tentativa, conseguiu, pelo menos, ficar
agachada.
O vento estava cada vez mais forte e as ondas mais agressivas, por isso, decidiram voltar para
a praia, não quiseram ficar muito tempo, porque Samuel ainda tinha que dirigir até São Francisco.
Devolveram as pranchas e o equipamento no local do aluguel e foram continuar a viagem,
durante o caminho, pararam para comer e experimentaram uma enorme lagosta acompanhada
com vinho branco.
Já caía a tarde quando chegaram aos altos precipícios que bordeavam a praia de Maverick; o
trajeto demorou quase cinco horas, mas valia muito à pena ao sentir a fria brisa roçando os rostos
e se sentiam pequenos e insignificantes ao ver a altura das ondas e a força com que batiam contra
os penhascos e também como tantas outras morriam na orla, perdendo completamente a potência
com que eram criadas.
Rachell estava sentada no meio das pernas de Samuel, que a abraçava protegendo do frio. Ela
não conseguia evitar sentir saudade porque sabia que no dia seguinte tinham que voltar a Los
Angeles, onde deixariam o carro e voltariam de avião para Nova Iorque e, novamente, as
responsabilidades absorveriam o tempo dos dois. Tinha certeza de que a magia iria diminuir e se
perguntava: como faria para dormir sem Samuel? Tinha se acostumado a dormir entre seus braços,
a conversar até altas horas da madrugada, a ver sua cara todo o dia, com seus diferentes estados
de ânimo.
Voltar à rotina de só se ver nos finais de semana não parecia nada atraente, o sonho tinha
chegado ao fim e ela não estava preparada para acordar. Nunca tinha se sentido dependente de
um homem, mas com Samuel era tudo absolutamente diferente.
— Em que você está pensando? — Perguntou em um sussurro no seu ouvido, intensificando essa
sensação que estava sufocando.
— Em que tudo isto é tão maravilhoso, tão imenso... Não tem fim, somos tão pequenos e estou
me despedindo, embora não queira que a viagem termine, foi maravilhoso, passei muito bem...
Nunca na minha vida tinha curtido tanto, tudo isso foge da minha imaginação.
— E isso é muito porque sua imaginação é única, você tem uma grande invenção, também não
quero voltar, ficaria aqui, porque me sinto bem, feliz... Não, na verdade me sinto plenamente feliz
— Apertou mais o abraço. — Só penso em voltar a Nova Iorque e estar novamente cheio de
tantas coisas que, às vezes, gostaria de esquecer, mas não posso fazer isso, não até conseguir
solucionar um assunto pendente; porém, ainda temos uma última parada — Procurou no bolso da
jaqueta que estava vestindo, pegou a folha que tinha imprimido e colocou na frente da Rachell,
segurando com força para que o vento não arrancasse da sua mão. — Feliz aniversário!
— Tomorrow World Chattahoochee Hills — Rachell lia em voz alta o que dizia a folha com o
indiscutível logotipo do festival, que Samuel apresentava para ela.
— Estou devendo a experiência de viver um festival de música eletrônica. Da última vez, me
comportei como um imbecil, é que sempre vejo fantasmas onde não existem e acabo me rendendo
à desconfiança, me encho de raiva e faço coisas das quais me arrependo...
— Entendo, sei que você é um esquizofrênico de merda, mas eu gosto assim.
— Sério que você gosta de mim? — Perguntou, emocionando-se como uma criança.
Sentiu necessidade de dizer o que tinha feito na Bélgica, enquanto esteve brigado, mas tinha
sido algo sem importância, em nenhum momento, sentiu que aquela mulher poderia ofuscar as
emoções que Rachell começava a fazer explodir dentro dele naquele momento, mesmo se tivesse a
oportunidade de voltar no tempo, não o teria feito, nem sequer teria desconfiado dela, mas já não
podia fazer nada; cada experiência vivida era uma aprendizagem.
— Supõe-se que, se estou aqui com você e se transamos sempre, é porque gosto de você.
— Eu sabia! Sei que deixo você louca.
— Não se emocione, eu só gosto de você, não me deixa louca nem que fosse temporada de
ofertas — Tentava esconder com brincadeiras a felicidade que sentia, não se mostrar tão eufórica
diante de Samuel, mas não conseguiu conter os seus impulsos em beijá-lo. — Não vá jogar fora a
folha — advertiu, enquanto mordia os lábios.
Samuel dobrou e guardou a folha na jaqueta e se dispôs a corresponder com insaciável
vontade o beijo.
Em meio de risos, conversas e beijos, chegou a fria noite, mas só se envolveram em uma manta
e ficaram ali, observando a lua cheia, que os iluminava e se equilibrava sobre o Oceano Pacífico.
CAPÍTULO 41

Sophia voltava do ateliê com cinco vestidos e outras três peças mais, mal conseguia sair do táxi
com tanta coisa e começou a xingar Oscar que não aparecia para ajudá-la, sem parar para
pensar que ele poderia estar ocupado.
— Deixe-me ajudá-la, Sophia.
A voz com sotaque português e as mãos na sua cintura fizeram do interior da ruiva uma
montanha russa de emoções, perdendo o senso de orientação por segundos e não teve consciência
em que momento tinha ajudado com o peso das peças.
— Reinhard! O que está fazendo aqui?! — Perguntou desconcertada e emocionada, realmente
emocionada.
— Vim visitar você, perdão por não ter avisado antes, estava um pouco ocupado — Agarrou o
braço da moça que estendia com uma nota para pagar o taxista e, então, Sophia teve consciência
que os guarda-costas estavam a um passo, diante do sinal que ele havia feito a um deles, que se
aproximou do carro e pagou o serviço.
— Obrigada — Disse sorridente.
Dirigiu-se até a butique, enquanto o magnata brasileiro caminhava a seu lado e se sentia muito
importante, mas, principalmente, feliz, embora essa felicidade se congelou quando seus passos
estavam a ponto de entrar.
Merda… Merda, Oscar vai reconhecê-lo e vai falar para Rachell; tenho que dar um jeito de me
livrar de Reinhard. — Estava com o semblante um pouco alterado.
Estava armando seu plano para despedir o empresário e marcar um encontro, porque estava
ansiosa para estar sozinha com ele, já que sua proximidade despertava as pulsações de todo o
seu corpo, mas não deu tempo de despedir dele, quando Oscar os surpreendeu na porta.
— Obrigada, senhor Garnett, é muito amável — Disse o homem, encarregando-se de pegar as
peças e, então, o olhar que deu em Sophia indicou que já sabia.
A garota quis que uma cratera se abrisse embaixo dos seus pés para ela sumir, mas isso não
aconteceu; não sobrou outra alternativa que ser forte, respirar fundo e entrar.
— Oscar, vou por um momento com o senhor Garnett até o escritório — Disse, passando por ele,
enquanto era seguida pelo brasileiro. Ao subir as escadas, podia sentir o olhar do homem acender
seu traseiro e isso a excitou de uma maneira que nunca tinha experimentado, tanto que transaria
com ele no escritório de Rachell, se não fosse transparente, o que a fazia a lembrar de se
comportar.
— Sente-se, por favor — Pediu e ela se sentou ao seu lado e não na cadeira da sua amiga.
— Sophia, desculpe ter vindo sem avisar e, principalmente pelo atrevimento de vir até o seu
trabalho, mas queria almoçar com você, volto hoje à noite para o Brasil — Pegou sua mão,
enquanto olhava nos seus olhos... Olhos cor de mar em que queria se afogar.
— Não se preocupe, Reinhard, fico feliz que está aqui. Eu já tinha combinado de almoçar com
Oscar, mas acho que ele não vai ficar bravo se eu o deixo plantado e peço o resto da tarde livre
— Sua vontade saltava pela boca sem conseguir evitar, estava muito contida diante daquele
homem.

Megan havia comentado com Thor, de que não conhecia a loja de Rachell, conversa que saiu
quando perguntou por ela e Samuel, para saber quando pensavam voltar.
Seu namorado a surpreendeu quando já estavam na frente da Winstead Boutique, ele também
não conhecia, mas sim sabia onde era. Depois de deixar o carro em um estacionamento próximo,
foram de mãos dados, ganhando os olhares de muitas pessoas, já era comum a indiscrição das
pessoas e eles sabiam que devia ser a grande diferença de altura e contextura entre os dois, mas
isso não era empecilho para os sentimentos e a atração física que existia entre eles.
— Bom dia — cumprimentaram ao entrar e viram um homem afro americano de olhos cinzas
que os recebia.
— Bom dia, bem-vindos a Winstead Boutique, logo serão atendidos — Informou-lhes e uma
garota, que devorava Thor com o olhar, se aproximou sorridente.
— Bom dia, meu nome é Silvia, espero poder ajudá-los. Procuram algo em particular ou querem
dar uma volta pela loja? — Perguntou amavelmente, sendo profissional.
— Uma olhada na loja, é a primeira vez que venho aqui — respondeu Megan, sem soltar a
mão de Thor, marcando território, aquele grandalhão era dela e seria melhor que Silvia olhasse
para outra direção.
— Bem, sigam-me, começaremos pelas peças casuais… — A garota falava com
profissionalismo, enquanto caminhava, explicando cada peça que mostrava.
— Não imaginei que fosse tão grande, nem tão elegante... É linda a butique da Rachell —
murmurou Megan para seu namorado, enquanto sentia a textura de uma calça de caxemira de
corte reto.
— Parece com ela, tem seu estilo — Seus dedos inquietos saltaram na nuca de Megan e
acariciou-a com as pontas até a base do pescoço, disfarçando a carícia diante da garota que os
atendia e não conseguiu deixar de sorrir pelo sutil estremecimento que Megan deu.
— Vai levar? — Perguntou ao ver a garota interessada na calça.
— Vou experimentar.
— Os provadores estão do outro lado, deixe-me ajudá-la — Pediu Silvia, pegando a calça e
levando-a, servindo de guia aos clientes até os provadores.
Passavam em frente as escadas, quando as pessoas que estavam descendo chamaram sua
atenção e Thor ficou paralisado, igual a Reinhard.
— Pai, o que você está fazendo aqui? — Perguntou, surpreso com o encontro. — Você não
avisou que vinha, deveria estar no Brasil — Não conseguiu esconder o nervosismo.
— E você deveria estar no grupo, Thor — Disse o homem que não levou um minuto para
retomar o controle do casual e surpreendente encontro com seu filho mais novo.
— É que estou acompanhando minha namorada… — Pegou novamente a mão de Megan.
— Sua namorada? — Agora sim, estava surpreso por conhecer, pela primeira vez, uma
namorada do seu filho e, principalmente, porque era uma menina.
— Sim, minha namorada.
— Muito prazer, senhor Garnett, Megan Brockman… O senhor é mais jovem pessoalmente —
Sem poder engolir as palavras diante da emoção.
— É um prazer, Megan… Primeira namorada do meu filho que conheço, obrigado pelo elogio
— Recebeu o cumprimento da garota.
— Desculpe que Thor tenha deixado o trabalho, pedi que me acompanhasse, é culpa minha,
senhor.
— Não se preocupe — falou o senhor Garnett com um franco sorriso.
— O que você está fazendo aqui, pai? — Perguntou olhando para a ruiva ao seu lado e
supondo que era a amiga de Rachell, fisicamente era como Samuel tinha definido e que queria que
conhecesse —. Aconteceu alguma coisa?
— Estou visitando Sophia… É minha amiga.
Reinhard não teve que dizer nada mais para que Thor tirasse as conclusões e soubesse que
estava transando com a amiga de Rachell e tudo era muito complicado para ele, porque não
entendia como era que tinham se enrolando, até onde sabia, seu pai nem sequer conhecia Rachell.
— Um prazer, Sophia, já tinham me falado de você — O loiro não quis ser mais específico.
— Igualmente, Thor, também já ouvi falar de você e Megan.
Megan olhou para a garota e deu um sorriso, ela sim não tinha ideia de quem era, mas deduziu
que fosse amiga de Rachell e estava saindo com o pai do seu namorado; seu sogro era todo
Casanova.
— Nós vamos comer, à tarde, passarei pelo apartamento para me despedir... Quando o Samuel
chega?
— Na próxima semana, ontem me falou que vai ao TomorrowWorld e não me lembre que não
posso ir.
— Você tem suas responsabilidades, Thor, isso foge das minhas mãos, você tem que cuidar das
pessoas que vêm da Grécia, depois poderá ir a qualquer festiva desses, todos são iguais — A voz
do seu pai deixava claro que tinha autoridade sobre seus filhos, mas sem parecer imponente ou
grosseiro.
— Não são iguais, não é o mesmo, mas, bem, já que não tenho outra opção — Tentou evitar as
crises de malcriação que tinha com seu pai.
— Vão os mesmos loucos, é a mesma coisa... Agora sim, estou indo, não abandone tanto seu
posto de trabalho — Disse dando um tapinha no ombro. — Adeus, Megan, foi um verdadeiro
prazer conhecer finalmente uma namorada de Thor.
— O prazer é meu, senhor, prometo não tirar novamente Thor do seu trabalho — Disse com um
pouco de pena.
— Sem problemas, pode tirá-lo de vez em quando, não pense que sou um tirano.
— Obrigada, senhor.
— Até logo, pai; um prazer, Sophia.
— Igualmente garotos — Disse e continuaram seu caminho, mas a ruiva parou para falar com
Oscar, dizendo que iria almoçar e que não voltaria para trabalhar, depois explicaria a situação.
Oscar concordou e entendeu Sophia, recebeu e correspondeu ao beijo e ao abraço de
despedida de sua louca ruiva, estava feliz e isso era o mais importante.
CAPÍTULO 42

Bandeiras de todas as nações do mundo se agitavam freneticamente, em um mar excitado de


pessoas com a adrenalina no ponto mais alto, que se movimentavam ao ritmo da música eletrônica,
que não parava, enquanto esperavam a saída de outro DJ, que se encarregaria de animar a
tumultuada festa que era transmitida ao vivo, além de vários meios de comunicação concentrados
no lugar, por ser a primeira sede do famoso festival em nível mundial.
Rachell, nunca na sua vida, tinha visto tanta gente curtindo um estilo de música em um só lugar;
admitia que era completamente chata e que nunca tinha ido a shows ao vivo, apesar de adorar a
música, particularmente a eletrônica, gostava porque a enchia de energia, mas nem sequer sabia
distinguir entre os gêneros.
Seu olhar surpreso se fixava nas pessoas eufóricas lá embaixo, enquanto eles estavam em uma
plataforma em frente ao palco, que estava menos lotado.
Durante a tarde, tinham caminhado pelos bosques que faziam um lindo espetáculo, quando o sol
passava com seus raios pela folhagem e ficaram sentados na beira do lago, também pintaram nas
costas asas de borboleta em preto e fúcsia. Era um evento para se divertir, passar bem e não
pensar que o mundo continuava girando fora da vila dos sonhos, como tinha chamado aquele
lugar.
E, embora tudo fosse incrivelmente mágico como em um conto de fadas, também estavam
incluídas as bruxas de calcinhas leves, não teve como não ficar incomodada, quando ela deixou
Samuel sozinho alguns minutos para lavar os pés no lago e duas garotas se aproximaram e
pediram para tirar uma foto com ele.
Não foi isso que a deixou irritada, o que mais incomodou foi o gesto dele, de dar beijos como
se fossem de sua propriedade.
Deixou-o largado lá, foi embora com rapidez entre as árvores e estava pouco se importando
se iria se perder, só queria se afastar, porque senão, poderia acabar afogando-o no lago. Ele
percebeu sua quase fuga e a seguiu; sua melhor maneira de ganhar seu perdão não foi com
palavras, mas sim colocando-a contra uma árvore.
Voltando ao presente, a emoção a embriagava e o seu corpo se movia sozinho, era como se
estivesse possuído e não conseguia controlá-lo e agitava sua bandeira dos Estados Unidos,
sentindo-se mais patriota que um Quatro de Julho.
Estava com um short jeans e, na parte de cima, o biquíni em forma triangular com a bandeira do
seu país, enquanto que Samuel estava de bermuda branca e uma camiseta sem mangas da seleção
brasileira de futebol e também com a sua bandeira, que adquiriram na entrada do evento e não
eram tão grandes quanto as outras, mas podiam agitá-las sem nenhum problema ou pendurar em
um bolso.
Tudo era muito colorido, como tinham ambientado, o lugar era maravilhoso, paria um bosque
encantado, era como um jardim da infância em que todos os sonhos podiam ser realidade.
Mas havia perversão e excitação por todos os lados; ao que parece, a música, as bebidas e
algumas drogas estimulavam os hormônios ao ponto de que, se não encontrasse maneira de saciar
as baixas paixões, explodiriam.
Samuel curtia com ela o festival, parecendo um moleque de merda, emocionado com a música,
pulando e cantando, mas gostava dessa parte tão juvenil e irreverente dele, logo depois chegaria
em Nova Iorque e teria que ser o procurador com cara de bunda.
— Samuel! Garnett! — Um rapaz chegava, tinha cabelo castanho com alguns reflexos loiros e
estava eufórico e sem camiseta, logo se juntou a eles uma garota de pele bem escura, mas com
olhos âmbar brilhantes e cílios impressionantes, além de um corpo estonteante.
Samuel, ao vê-los, abraçou-os com euforia, demonstrando a emoção que o encontro causava.
Antes que pudessem falar, ela já tinha se dado conta de que eram brasileiros pelas bandeiras,
trocaram algumas palavras em português.
Era a primeira vez que escutava Samuel falar em seu idioma nativo com outra pessoa e o tom
de voz mudava para outro mais grave e era sumamente excitante, sendo só consciente da fluência
com que falava inglês, porque fazia como qualquer norte-americano.
Enquanto conversavam, os rapazes olhavam para ele e o homem não conseguiu esconder certo
assombro diante de algumas palavras de Samuel que, logo, a apresentou.
— Noah, apresento minha namorada — Disse, colocando a mão na parte baixa das costas.
— Muito prazer, Noah Lazzini.
— Igualmente, Rachell Winstead — Só conseguiam trocar algumas palavras por causa do
barulho da música.
Apresentaram as garotas e depois os brasileiros se despediram para voltar ao grupo em que
estavam.
— Noah é um grande amigo, também gosta de capoeira, foi ele que me levou até as favelas
para ter melhores adversários, seu pai trabalha com cavalos — Explicou quando estavam sozinhos
e entregava uma garrafa de água, que os dois tomaram um pouco.
Era possível escutar a voz misteriosa e histórica que amenizava o evento anunciando um novo DJ
e o público delirou, sem nem ter escutado o nome de quem animaria a festa.
Sebastian Ingrosso! — Foi anunciado e todo mundo começou a pular e, no estômago de
Rachell, se abriu um abismo. Ela conhecia perfeitamente aquele DJ, ficando ainda mais animada e
aproveitando cada mixagem do homem e também gritava eufórica toda vez que ele
cumprimentava e agitava sua bandeira, embora estivessem nos Estados Unidos, queria marcar
presença.
Samuel também agitava a bandeira do Brasil, enquanto colocava uma de suas mãos na barriga
de Rachell, mantendo-a junto a ele, embora soubesse que nenhum homem se meteria com ela,
muitos, bastante mesmo, não conseguiam controlar o olhar e o alvo era a sua Rach.
Não queria ter problema com nenhum bêbado nem drogada, por isso, marcava território,
mantendo-a com ele o tempo todo. Já tinha ido a vários festivais de música eletrônica, mas nenhum
tinha estado tão bem, mas também não tinha sentido essa estranha sensação de angústia por
querer desviar os olhares de todos os outros homens do corpo da sua mulher.
A introdução de uma música que tinha importância incalculável para eles e sabiam acabou por
surpreendê-los. Samuel enrolou a bandeira do Brasil nas mãos até deixá-la bem fina e vendou
Rachell com ela; então, não conseguiu se controlar mais, beijou-a com a mesma vontade da
primeira vez, a mesma intensidade do primeiro beijo, aquilo que foi amenizado pela mesma música
e não soltava sua boca, introduzia sua boca com ímpeto e Rachell o recebia com gosto, sugando-a
com a sua.
Já tinham perdido a cabeça fazia muito tempo, não tinham conseguido lutar contra a atração
física que surgiu entre eles desde o primeiro momento, para depois abrir caminho para o
sentimento, que ainda não se expressava com palavras.
Samuel tirou a venda e segurou seu rosto, se olharam por alguns segundo e voltaram com tudo,
a roubar o oxigênio com beijos, que foram mantidos durante toda a música, assim como foram, em
várias ocasiões, o alvo da câmera, que os colocou nos telões gigantes, sendo Samuel reconhecido
por alguns meios de comunicação nacionais e internacionais, como o filho do magnata brasileiro da
indústria petrolífera, de mineração e energia, Reinhard Garnett, muito entusiasmado com uma jovem
que, em alguns dias, reconheceriam como a nova estilista que começava a obter fama com seus
desenhos no mercado anglo-saxão, graças a uma excelente publicidade patrocinada pela empresa
Elitte.
Playlist Book

Portishead - Glory Box

Lykke Li - I Follow Rivers

Evanescence - Call Me When You're Sober

Natalia Kills - Problem

Oasis - Don´t Go away

Madonna - Justify my love

Christina Aguilera - Walk away

Armin van Buuren feat. Trevor Guthrie - This Is What It Feels Like

Sergio Mendes - Vem Magalenha

Kamoa – Lambada.

Lana del Rey - Lucky ones

The Verve - Bitter Sweet Symphony

Faith Hill – Breathe

Rolling Stone - Route 66

Madonna - Don´t tell me

Roy Orbison - Pretty Woman

Maroon 5 - Harder to breathe (Cover Evro)

Reo Speedwagon - I Can't fight this Feeling Anymore

Barry White - Just the way you are.

Dimitri Vegas & Like Mike – Wakanda

Muse - Time is running out.


Ingrosso & Alesso ft. Ryan Tedder - Calling (Lose My Mi
Não deixe de ler o desenrolar desta história.

Doces Mentiras
AMARGAS VERDADES
DECISÕES
ENTRE EM CONTATO COM A AUTORA VENEZUELANA

LILY PEROZO

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