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Ana Paula Santos de Paula

A “SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL” E O INSTITUTO DA GUARDA


COMPARTILHADA NO DIREITO BRASILEIRO

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso

Diamantina
UNIVESIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2
2 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA ..................................................................................... 3
3 OBJETIVOS ......................................................................................................................... 5
3.1 Objetivo Geral................................................................................................................ 5
3.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 5
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................... 5
4.1 Da Síndrome da Alienação Parental ............................................................................ 5
4.2 Da guarda compartilhada ............................................................................................. 9
4.3 Pesquisa jurisprudencial ............................................................................................. 12
5 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 17
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1 INTRODUÇÃO

As mudanças que constantemente ocorrem na sociedade trazem alterações também na


constituição da família. Nesse contexto, cada vez mais cresce o número de separações, divórcios
e disputas pela guarda dos filhos menores. No entanto, é preciso que as crianças e os
adolescentes sejam colocados como os centros das discussões, priorizando-se os seus direitos.
Isso porque a Constituição Federal (CF/1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/
1990) estabelecem a proteção prioritária das crianças e dos adolescentes, buscando garantir o
“princípio do melhor interesse” que assegura, dentre outras garantias, o direito à convivência
familiar, indispensável para o adequado desenvolvimento do indivíduo.
O fato é que uma separação ou um divórcio, geralmente, acarreta problemas para os
filhos, desde o sofrimento pela dissolução da união e o sentimento de culpa (que pode
acontecer), até a prática da “Alienação Parental”, que causa ainda mais transtornos à criança ou
ao adolescente. Nessas circunstâncias, os filhos passam a ter sentimentos negativos em relação
ao genitor alienado, além de guardar memórias exageradas, ou mesmo falsas, implantadas pelo
genitor alienante.
Os casos mais comuns de alienação parental estão associados a situações em que a
ruptura da vida conjugal gera, em um dos pais, uma tendência vingativa, em regra por não
conseguir aceitar a separação, iniciando um processo de destruição, desmoralização e
descrédito do ex-cônjuge / ex-companheiro(a), sendo que o filho se vê em meio ao conflito e
passa a ter violado seu direito fundamental à convivência familiar, bem como à dignidade
humana e ao crescimento saudável.
Nessa perspectiva, pretende-se discorrer acerca da Síndrome da Alienação Parental –
Lei 12.318/2010 – que pode ser definida como a prática da inserção de falsos sentimentos por
um dos pais, após rompimento conjugal ou a dissolução da união estável, sofrida pelos filhos,
ocasionando em consequências psicológicas negativas.
Cabe dizer que, com o fim de amenizar esses sentimentos, foi introduzido no Código
Civil Brasileiro a possibilidade da guarda compartilhada, instituto pelo qual os filhos se
beneficiam, à medida que os dois genitores/responsáveis passam a estar plenamente envolvidos
em sua criação e educação e tomam decisões de forma conjunta.
Nesse sentido, será analisado também o instituto da guarda compartilhada,
regulamentado pela Lei 13.058/2014, como uma das soluções para inibir a prática da alienação
parental, por permitir que ambos os pais participem da formação do filho, possibilitando o
convívio harmonioso com seus genitores.
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Para tanto, deve-se atentar aos princípios norteadores do Direito de Família, previstos
especialmente na Constituição Federal de 1988, bem como no Estatuto da Criança e do
Adolescentes – ECA (1990), destacando-se a proteção integral e o melhor interesse da criança
e do adolescente.

2 PROBLEMA / JUSTIFICATIVA

O Direito de Família, constantemente, tem de lidar com a questão da guarda de crianças


e adolescentes, geralmente quando ocorre a separação ou o divórcio, que acabam se tornando
uma disputa para saber quem ficará com o filho, o que ocasiona prejuízos para os ex-cônjuges
/ex-companheiros e, principalmente, para as crianças ou adolescentes que precisam enfrentar o
processo de guarda.
O Código Civil de 2002, em seu “Livro IV – Direito de Família – Capítulo XI – Da
proteção da pessoa dos filhos”, dispõe, nos artigos 1583 a 1590, as formas pelas quais as
crianças e adolescentes serão resguardados quando da dissolução da sociedade conjugal,
colocando sobre os tipos de guarda que poderão ser estabelecidos visando à sua proteção
(BRASIL, 2002). Deve sempre ser priorizado o melhor interesse das crianças e adolescentes,
que têm direito à convivência familiar com ambos os pais e suas respectivas famílias, visando
ao seu adequado desenvolvimento.
Nesse contexto, é garantido o “princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente”, assegurado pela Carta Magna (1988), bem como pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990), que estabelece como dever do Estado, da sociedade e da família o cuidado
com os indivíduos menores de idade e a garantia de seus direitos.
É sabido, nesses termos, que todas as pessoas têm direito a conviverem no seio de uma
família, adquirindo a criação e a formação necessárias para se desenvolverem e buscarem a
efetivação de seus desejos e de suas garantias. Destaca-se, nessa perspectiva, que em se tratando
de crianças e adolescentes, os familiares dirigem a educação e o cuidado necessários para sua
evolução saudável e formação integral. Os primeiros relacionamentos e aprendizados de um
indivíduo se dão na convivência familiar e são essenciais para sua socialização; a convivência
familiar seria, portanto, a efetivação do princípio da afetividade que permeia as relações,
especialmente nos dias de hoje.
No entanto, comumente, a ruptura da vida conjugal pode gerar, em uma das partes,
sentimento de abandono, traição, rejeição, surgindo uma tendência vingativa. Assim sendo, o
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guardião da criança utiliza a manipulação mental para interferir na formação psicológica do


filho, incutindo em sua mente defeitos e sentimentos negativos em relação ao outro genitor,
especialmente para dificultar a relação, surgindo, assim, a “Síndrome da Alienação Parental”.
O termo foi proposto pelo psicólogo americano Richard Gardner, em 1985, para a
situação em que a mãe ou o pai de uma criança a induz a romper os laços afetivos com o outro
genitor, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação a ele(a), consistindo em
uma forma de abuso, notadamente emocional, porque pode conduzir ao enfraquecimento
progressivo (e até mesmo à ruptura) da ligação afetiva entre a criança e um genitor.
A Síndrome da Alienação Parental provoca várias consequências; dentre elas, os
sintomas mais comuns para os filhos são: ansiedade, medo, insegurança, isolamento, depressão,
comportamento hostil, falta de organização, dificuldade na escola, dupla personalidade. Cabe
frisar que os problemas não afetam somente o filho e o genitor alienado, mas também aqueles
que participam de sua vida afetiva: colegas, professores, familiares, devido ao comportamento
abusivo ao qual a criança ou adolescente está sujeito.
Assim, com vistas a assegurar os direitos das crianças e adolescentes, existe o “poder
familiar”, entendido como um conjunto de garantias e atribuições que objetivam assistir os
filhos e seus bens. Para Lôbo (2008, p. 54), “(...) o poder familiar existe em função e no interesse
do filho”. O autor diz que:

[...] a concepção da criança como pessoa em formação e sua qualidade de sujeito de


direitos redirecionou a primazia para si, máxima por força do princípio constitucional
da prioridade absoluta de sua dignidade, de seu respeito, de sua convivência familiar
[...] (LÔBO, 2008, p. 168).

Conforme Carvalho (2005, p. 207):

O poder familiar conferido aos pais e exercido no proveito, interesse e proteção dos
filhos menores resulta da necessidade natural de que o ser humano precisa, durante
sua infância, de alguém que o crie, eduque, ampare, defenda, guarde e cuide de seus
interesses, regendo sua pessoa e seus bens, razão da intervenção do Estado para
submeter o exercício do poder familiar à sua fiscalização e controle [...]
(CARVALHO, 2005, p. 207).

Segundo o entendimento de Diniz (2007, p. 532), o poder familiar é um múnus público,


de caráter irrenunciável, inalienável, imprescritível e que se trata de relação de autoridade dos
pais sobre os filhos, com o objetivo de proteger o ser humano desde a infância, por meio do
cuidado da pessoa, de seus direitos (especialmente à dignidade humana) e de seus bens.
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Nota-se, por conseguinte, que o exercício do poder familiar é conferido a ambos aos
pais, estabelecendo direitos, dentre os quais a garantia de que eles possam dirigir a criação e
educação do filho, podendo tê-lo em sua companhia, concedendo-lhe ou negando-lhe
determinadas autorizações e obtendo deles o respeito e obediência; ademais, surgem
obrigações, como o cuidado e o zelo, a administração dos bens e a responsabilidade judicial e
extrajudicial pelos atos civis praticados pela criança ou adolescente.
Em tese, os pais possuem os mesmos direitos e deveres em relação aos filhos menores
de idade, ainda que estejam separados ou divorciados. Isso com o fim de que seja efetivada a
proteção das crianças e adolescentes de forma integral, contribuindo para seu desenvolvimento
da maneira adequada.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

 Indicar a guarda compartilhada como uma alternativa para combater a


“Síndrome da Alienação Parental”.

3.2 Objetivos Específicos

 Compreender como ocorre a Síndrome da Alienação Parental;


 Analisar os aspectos principais relativos ao instituto da guarda compartilhada;
 Defender o exercício do poder familiar, de forma conjunta, pelos responsáveis
pela criança ou adolescente.

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1 Da Síndrome da Alienação Parental

Em 1985, Richard Gardner denominou de “Síndrome da Alienação Parental” – SAP –


ou apenas alienação parental, a situação em que a mãe ou o pai de uma criança a “treina” para
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romper os laços afetivos com o outro genitor, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor
em relação a ele. Isso porque ocorre a “implantação de falsas memórias”, uma vez que a criança
ou o adolescente são induzidos a crer em certas situações graves, como o abandono afetivo, a
prática de agressões, e mesmo de abusos sexuais e outros desvios de conduta, que lhes
prejudicam o relacionamento com o pai excluído (OLIVEIRA, 2010).
De acordo com Vieira (2014, p. 1) “a síndrome da Alienação Parental vislumbra as
ações, atitudes e reações de distúrbios repugnantes do genitor alienador em relação ao genitor
alienado”.
Os sinais que caracterizam a alienação são ligados a fatores psiquiátricos, e tornam os
filhos emocionalmente perturbados, comportando-se de maneira negativa em relação ao pai
alienado (OLIVEIRA, 2010). Em outras palavras:

[...] a alienação parental revela-se por um conjunto de sintomas em atos praticados


por um dos genitores ou por terceiros, formando a mencionada “síndrome”, tanto pela
ação destrutiva do alienador como pela consequência causada ao próprio filho:
campanha contra o genitor alienado; racionalizações fracas, absurdas ou frívolas para
a depreciação; falta de ambivalência no tratamento familiar; apoio do filho ao genitor
alienante no conflito parental; ausência de culpa sobre a crueldade e/ou a exploração
contra o genitor alienado; encenações “encomendadas”; propagação de animosidade
aos amigos e/ou à família extensa do genitor alienado (OLIVEIRA, 2010, p. 239).

Ressalta-se, nessa perspectiva, que a “síndrome da alienação parental”, além de


prejudicar o relacionamento dos filhos com um dos pais e, consequentemente, o direito à
convivência familiar, traz prejuízos às próprias crianças ou adolescentes, à medida que
desenvolvem sentimentos de repulsa e podem se sentir culpados pela separação ou divórcio,
apresentando sérios problemas emocionais. A principal causa incidente da alienação parental é
o desejo de vingança de um dos ex-cônjuges, que usa o filho para depreciar a imagem do outro.
Nesses termos:

A Síndrome da Alienação Parental está associada a situações em que o fim do


relacionamento conjugal, gera em um dos genitores um sentimento de vingança, e este
tenta de forma abusiva afastar o filho do relacionamento com o outro genitor e sua
família (VIEIRA, 2014, p. 1).

Quando o casamento se desfaz, pode acontecer de um dos cônjuges não conseguir


vivenciar tranquilamente a separação, sentindo-se rejeitado e traído; consequentemente, adquire
o desejo de vingança, por meio do qual se pretende destruir e desmoralizar o outro (TARTUCE,
2014, p. 1294), negativando a imagem do genitor, inclusive narrando fatos que não ocorreram:
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Assim, o infante passa aos poucos a se convencer da versão que lhe foi implantada,
gerando a nítida sensação de que essas lembranças de fato aconteceram. Isso gera
contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre o genitor e o filho. Restando
órfão do genitor alienado, acaba se identificando o genitor patológico, passando a
aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado (DIAS, 2009, p. 418 apud
TARTUCE, 2014, p. 1294).

O cônjuge alienador transforma a consciência do filho, tentando impedir seu vínculo


com o cônjuge alienado, apesar de não existirem motivos reais para tanto. A criança,
acreditando nas justificativas que lhe são dadas, inicia o processo de desmoralização de um dos
seus pais, passando a odiá-lo e, por conseguinte, o genitor alienado se torna o centro das
atenções do filho, de forma que passam a manter uma relação mais forte, sobretudo porque a
criança acredita que não sobreviverá longe dele (VIEIRA, 2014). Vieira explica que:

A criança vai “ingerindo” tudo o que o alienador diz, e perderá a admiração e o


respeito pelo genitor alienante, desenvolvendo temor e raiva do genitor. Com o tempo,
a criança não conseguirá discernir realidade e fantasia e manipulação e acabará
acreditando em tudo e, consciente ou inconscientemente, passará a colaborar com essa
finalidade, situação altamente destrutiva para ela e, talvez, neste caso especifico de
rejeição, ainda maior para o pai (VIEIRA, 2014, p. 1).

A situação é complicada sobretudo porque a criança e o adolescente são seres em


formação que, no geral, depositam sua confiança em quem está próximo; principalmente em se
tratando de crianças, as quais passam a acreditar em tudo o que lhes é dito, inclusive quando os
fatos não são reais, mas são a todo momento enfantizados, o que pode desencadear transtornos
psicológicos.
O filho passa a se sentir órfão do genitor alienado, e o outro assume o controle total,
tornando-se inseparável da criança. O genitor alienador se atenta somente para seu sentimento
de raiva e desejo de vingança, sem se preocupar, de fato, com a situação do filho, que por meio
da alienação parental tem seu direito à convivência familiar violado, além de desenvolver
problemas emocionais.
Constantemente o Judiciário recebe casos de problemas relacionados ao Direito de
Família, após o divórcio de um casal e a consequente disputa de guarda dos filhos, envolvendo
violência, abuso e alienação que envolvam crianças e adolescentes. Se houver indícios de maus-
tratos por um dos genitores, faz-se necessário que o juiz suspenda o direito de visitas e realize
estudos psicossociais para analisar se os fatos narrados são verídicos. Dessa maneira, cessa-se
a convivência do pai com o filho, podendo-se advir consequências danosas, tanto para a criança
quanto para o genitor, com inúmeros constrangimentos (DIAS, 2010).
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Contudo, muitas vezes, a existência do que foi afirmado contra um dos genitores não é
real. Por esse motivo, se houver indícios da prática de alienação parental, existe a previsão legal
de processo autônomo, com tramitação prioritária e perícia psicológica, com medidas de
preservação à integridade do filho, bem como aplicação de penalidades ao alienador, podendo
ocorrer, inclusive, a mudança da guarda (DIAS, 2010). Nas palavras de Dias:

Assim, flagrada a ocorrência de alienação parental, necessário que haja a


responsabilização do genitor que assim atua por saber da dificuldade de ser aferida a
veracidade dos fatos. Mister que sinta que há o risco, por exemplo, de perda da guarda,
caso reste evidenciada a falsidade da denúncia levada a efeito. Sem haver punição a
posturas que comprometem o sadio desenvolvimento do filho e colocam em risco seu
equilíbrio emocional, certamente continuará aumentando esta onda de denúncias
envolvendo casos de falsos incestos (DIAS, 2010, p. 4).

Nos casos comprovados da existência de alienação parental, o genitor alienador precisa


ser punido, devido aos problemas que causou a seu filho e ao outro genitor, especialmente de
cunho emocional. Algumas crianças, com o tempo, percebem que tudo que vivenciaram foi
fantasioso e por interesse do alienador, mas sentem dificuldade em retomar o vínculo de
afetividade com o genitor.
Uma criança vítima de alienação parental pode apresentar problemas emocionais para o
resto da vida, tais como depressão crônica, incapacidade de adaptação em ambiente psicossocial
normal, transtornos de identidade e imagem, desespero, sentimento incontrolável de culpa,
sentimento de isolamento, comportamento hostil, falta de organização, dupla personalidade e
às vezes, chegam até a tentarem ou consumarem um suicídio (DIAS, 2011).
Em 2010, foi sancionada a Lei número 12.318, que dispõe acerca da alienação parental
e tem como finalidade proteger o melhor interesse da criança e do adolescente, sobretudo a
garantia à convivência familiar, reafirmando os preceitos da Constituição Federal (1988) e do
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).
Nesse sentido, o artigo 2º da referida lei define a alienação parental como a interferência
na formação psicológica do filho realizada por um dos genitores ou quem o tenha sob sua
guarda, com o fim de que ele repudie o outro genitor, prejudicando os vínculos entre eles.
(BRASIL, 2010). O parágrafo único do artigo 2º estabelece como ações exemplificativas que
caracterizam a síndrome:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da


paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III -
dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício
do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a
genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive
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escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa denúncia contra


genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência
deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem
justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro
genitor, com familiares deste ou com avós. (BRASIL, 2010).

Infere-se, portanto, que o objetivo do genitor alienador é “manchar” a imagem do outro,


afastando-o do convívio com o filho e fazendo com que qualquer laço entre eles existente seja
extinto. O artigo 3º esclarece que qualquer uma dessas ações fere os direitos fundamentais da
criança ou do adolescente, notadamente o da convivência familiar saudável, além de constituir
abuso moral (BRASIL, 2010).
Devido ao fato de tais condutas contrariarem os direitos da criança e do adolescente, o
artigo 4º coloca que se houver indício de alienação parental, deve ser instaurada ação como
tramitação prioritária e com medidas urgentes que preservem a integridade psicológica do filho,
inclusive reaproximando-o do genitor alienado, quando for o caso, após realizada perícia (artigo
5º) (BRASIL, 2010). Desse modo, confirmada a alienação parental, o juiz poderá, de acordo
com o artigo 6º:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o


regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao
alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V -
determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI -
determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a
suspensão da autoridade parental. (BRASIL, 2010).

Dessa maneira, atribuir-se-á a guarda àquele genitor que “[...] viabilizar a efetiva
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável
a guarda compartilhada” (artigo 6º) (BRASIL, 2010).
A Lei 12.318/2010 é um importante instrumento para reduzir o número de abuso do
poder familiar por um dos pais e os casos de alienação parental, constituindo-se em mais um
meio, aliado à Constituição Federal/1988 e ao Estatuto da Criança e do Adolescente/1990, para
proteger o melhor interesse das crianças e dos adolescentes e lhes assegurar todos os direitos,
como a garantia à convivência familiar.

4.2 – Da guarda compartilhada

A alienação parental causa danos tanto à criança quanto ao genitor alienado. Por esse
motivo, torna-se necessário a existência de um processo judicial julgado com prioridade e de
maneira célere, bem como é importante a atuação de um psicólogo que acompanhe todo o
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processo e busque amenizar as consequências negativas à criança. Nesse sentido, o psicólogo


deve colocar seus conhecimentos à disposição do juiz, demonstrando aspectos que vão à frente
do que trata a lei, visto que além da exposição dos fatos, há de se investigar os problemas
psicológicos desencadeados com a prática da alienação. De acordo com Serafim e Saffi:

Nas disputas familiares, é de suma importância a presença do psicólogo, pois se está


lidando com um ponto muito delicado do ser humano, representado pelo seu universo
de relações mais íntimas. O psicólogo na Vara de Família pode atuar como perito ou
assistente técnico, além de mediador (SERAFIM; SAFFI, 2012, p. 87).

A atuação do psicólogo está legalmente prevista e é necessária para realizar as perícias


psicossociais, que contribuirão para solucionar os processos que envolvem crianças e
adolescentes, visando a sua máxima proteção. Além dos processos judicial, com apoio do
psicólogo e responsabilidade do juiz, há outras possíveis medidas que podem ser empregadas
para solucionar os casos de alienação parental, corroborando, inclusive, para evitar sua
ocorrência.
Entre essas medidas, cita-se a proposição da guarda compartilhada, que segundo o
parágrafo 1º do artigo 1.583 do Código Civil/2002, com redação dada pela Lei 11.698/2008,
pode ser definida como “a responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai
e da mãe que não vivem sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns”.
(BRASIL, 2002).
A guarda compartilhada é priorizada no ordenamento jurídico brasileiro, desde 2008,
com a promulgação da Lei 11.698/2008, recebendo maior ênfase após a efetivação da Lei
13.058/2014, objetivando que os pais dividam igualmente a responsabilidade em relação aos
filhos, que podem conviver com ambos os genitores da mesma maneira, embora vivam na
residência de um deles.
Os operadores do Direito, assim como psicólogos, assistentes sociais, pedagogos e
outros profissionais que atendem crianças e adolescentes concordam que a melhor opção para
o filho menor que possui pais separados é a guarda compartilhada, seja do ponto de vista do
bem-estar, seja em relação à divisão de tarefas dos pais. (BRUNO, 2010, p. 223) Isso porque,
muitas vezes, a guarda unilateral não atende aos interesses do filho, que necessita da presença
conjunta de seus pais no seu dia-a-dia, para se desenvolver de maneira saudável e feliz.
O exercício da guarda por apenas um dos pais não é impossível; contudo, pode
desencadear consequências negativas, de cunho emocional e social, às crianças, que perdem o
referencial de um dos genitores. Assim sendo, para que a convivência entre os filhos e seus pais
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não seja insatisfatória e frustrante, de modo que se perca a naturalidade e a relação se torne
indiferente, o mais adequando é compartilhar a guarda, garantindo a segurança e conforto dos
filhos menores, que se sentirão mais protegidos.
Esse modelo “é um avanço porquanto favorece o desenvolvimento das crianças com
menos traumas, propiciando a continuidade da relação dos filhos com seus dois genitores e
retirando da guarda a ideia de posse”. (DIAS, 2008, p. 26 apud GONÇALVES, 2011, p. 299).
Segundo Gonçalves (2011), na guarda compartilhada a criança mora com um dos genitores,
contudo o outro pode conviver rotineiramente com ele, facultando a visita a qualquer tempo, de
forma que a relação entre ambos os pais e os filhos é permanente. No mesmo sentido:

A guarda compartilhada é caracterizada pela manutenção responsável e solidária dos


direitos e deveres inerentes ao poder familiar, minimizando-se os efeitos da separação
dos pais. Assim, preferencialmente, os pais permanecem com as mesmas divisões de
tarefas que mantinham quando conviviam, acompanhando conjuntamente a formação
e o desenvolvimento do filho. (...) O ponto mais importante é a convivência
compartilhada, pois o filho deve sentir-se “em casa” tanto na residência de um quanto
na do outro (LÕBO, 2008, p. 176).

Percebe-se, por conseguinte, a importância da guarda compartilhada para manter os


direitos da criança e dos genitores à convivência familiar e ao exercício do poder familiar,
respectivamente, haja vista que dessa maneira são mantidos os referenciais do filho e ele se
sente protegido em todos os aspectos, sem comprometimento do seu desenvolvimento,
especialmente psicossocial.
A continuidade do convívio da criança com seus pais é requisito para seu
desenvolvimento saudável, de forma que a guarda compartilhada é a que mais preserva seus
interesses, uma vez que, para compartilhar, é necessário participar, tomar parte, associar; assim,
ambos os genitores participarão em igualdade de condições da criação e do desenvolvimento
de seus filhos. Nesse sentido, Oliveira (2010) acredita que a guarda compartilhada é a melhor
alternativa para cumprir conjuntamente os direitos e deveres inerentes ao poder familiar.
Segundo a opinião de Pinto, por sua vez:

Os fundamentos constitucionais para a concessão dessa modalidade fundam-se


basicamente visando a garantir o interesse do menor. O intuito é manter os laços de
afetividade, de forma a diminuir os efeitos que a separação acarreta nos filhos,
garantindo também o exercício do poder familiar de forma igualitária. (PINTO, 2013,
p. 12).

Assim sendo, acredita-se que por meio da guarda compartilhada diminuem-se as


chances de ocorrer a alienação parental, além de se preservar o exercício do poder familiar a
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ambos os pais, que querem ter um convívio satisfatório e consistente com os filhos, sem que
sua relação perca a naturalidade, e de modo que eles possam participar de tudo aquilo que fará
parte do crescimento e amadurecimento da criança ou adolescente. Do mesmo modo, os filhos
poderão manter a relação afetuosa com seus genitores, desenvolvendo-se da maneira adequada
e mantendo seus vínculos familiares, importantes para a sua formação e proteção, bem como
para efetivação do direito à convivência familiar.

4.3 Pesquisa jurisprudencial

Com o objetivo exemplificar e embasar o presente trabalho foram analisadas decisões


do Tribunal de Justiça de Minas Gerais – TJMG – acerca da alienação parental e os prejuízos
que pode causar à criança ou adolescente, sendo necessário, assim, buscar meios de coibir a sua
prática.
Inicialmente, averiguar-se-á o Agravo de Instrumento número 1.0034.15.003925-2/001,
da Comarca de Araçuaí, julgado pela Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, em 2016:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE MODIFICAÇÃO


DE VISITA. ALIENAÇÃO PARENTAL. PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA. CONCESSÃO. PROIBIÇÃO DO GENITOR DE FICAR A
SÓS EM COMPANHIA DA FILHA MENOR. RECURSO A QUE SE NEGA
PROVIMENTO "IN SPECIE".
Se a convivência do pai com a filha menor é mais prejudicial do que benéfica,
realizando o genitor alienação parental que se traduz no manejo da criança
por um parente com propósito de criar animosidade da criança em relação ao
outro, prejudicando deste modo as relações da menor com a mãe, e estando
presentes os requisitos autorizadores da tutela antecipada, justo se faz a
concessão da mesma para que o genitor não fique a sós em companhia da
infante (MINAS GERAIS, 2016).

Trata-se de recurso de Agravo de Instrumento interposto pelo pai da criança contra


decisão proferida pelo Juiz de Direito da 2ª Vara Cível e da Infância e Juventude da Comarca
de Araçuaí, que deferiu liminar determinando que as visitas dele à filha menor sejam
acompanhadas por pessoa indicada pela genitora, haja vista a alegação de possível prática de
alienação parental. O genitor alega que, como não houve comprovação da alienação parental, a
decisão deveria ser revisada.
O Desembargador Relator expõe a definição de alienação parental proposta pela Lei
12.318, de 2010, bem a forma como ela pode ocorrer, expondo que: “A alienação parental viola
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o direito fundamental da criança, bem como do adolescente a uma convivência familiar


saudável, constituindo abuso moral.” (MINAS GERAIS, TJMG, 2016, p. 4).
Ademais, o Relator exemplificou, por meio de outras jurisprudências daquele Tribunal,
os prejuízos que podem ser causados à criança ou adolescente, caso se comprove a alienação
parental. Assim, embora ainda não restasse confirmada a ocorrência da síndrome no caso, o
Desembargador Relator votou negando provimento ao recurso, decisão seguida pelos demais
Desembargadores, tendo em vista que qualquer indício de alienação parental deve ser levado
em consideração, comprovando-o ou não por meio de posterior perícia biopsicossocial. A
preservação do bem-estar do menor e sua segurança devem ser priorizadas até prova em
contrário, de forma que, assim, foi mantida a decisão de primeiro grau.
Na sequência, a Apelação Cível número 1.0024.11.205247-7/001, da Comarca de Belo
Horizonte, julgada pela Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em 2015:

EMENTA: AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE ALIENAÇÃO PARENTAL -


ATOS DE ALIENAÇÃO CONFIGURADOS - IMPOSIÇÃO DE ÓBICES
À VISITAÇÃO E DENEGRIÇÃO DA FIGURA PATERNA JUNTO AO
FILHO - ADVERTÊNCIA E IMPOSIÇÃO DE ACOMPANHAMENTO
BIOPSICOSSOCIAL À ALIENANTE.
- A alienação parental caracteriza-se pela interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
- A denegrição da figura paterna junto ao filho, bem como a imposição de
óbices à visitação e convivência familiar entre pai e filho, configuram atos
de alienação parental praticados pela mãe.
- Para cessar a prática de alienação parental, deve o julgador impor medidas
eficazes e que visem o melhor interesse do menor.
- Preliminar rejeitada.
- Apelos não providos (MINAS GERAIS, 2015).

O segundo acórdão trata-se de Apelações interpostas contra decisão de Primeiro Grau,


que julgou procedente o pedido para declarar atos de alienação parental e determinou o
acompanhamento biopsicossocial da genitora, além de multa. A requerida alegou que não se
observaram a ampla defesa e o contraditório.
Contudo, a Desembargadora Relatora declarou que as medidas adotadas pelo Juiz de
Direito visaram a preservar a integridade da criança, inclusive com a determinação do estudo
psicossocial. Além disso, após a contestação, houve estudo psicológico, com participação das
partes, existindo, por conseguinte, o contraditório e a ampla defesa. Por outro lado, o genitor
14

também buscou alteração da sentença, pretendendo que se alterasse, em seu favor, a guarda do
filho menor, decretando-se a perda da autoridade parental da requerida.
Como foi comprovada a prática da alienação parental pela genitora, por meio de provas
que demonstraram que ela dificultava a convivência do filho com o pai, impondo obstáculos ao
direito de visita, bem como incutindo na criança relatos de agressões sofridas quando ele era
menor, a Relatora citou os artigos essenciais da Lei 12.318/10, bem como colocações da autora
Maria Berenice Dias sobre o assunto, dizendo, ainda:

A alienação parental, nesse contexto, traz prejuízos irreparáveis aos filhos,


violando o direito fundamental da criança e do adolescente à convivência
familiar saudável, além de prejudicar a realização de afeto nas relações com o
grupo familiar, constituir abuso moral contra o infante e afronta aos deveres
inerentes à autoridade parental. Assim, a prática deve ser coibida com rigor e
severidade pelo Poder Judiciário, dadas as consequências deletérias e
irreparáveis que podem causar aos filhos menores envolvidos nessa situação.
(MINAS GERAIS, TJMG, 2015, p. 9).

Constatou-se, por meio de provas testemunhais e da perícia, existência da prática de


alienação parental pela genitora. O estudo social concluiu que o menino se sentia desgastado,
ansioso e sempre se posicionava favoravelmente à mãe. Observaram-se também divergências
no discurso da genitora em relação à convivência do filho com o pai.
A Relatora observou que, apesar da comprovação da alienação parental praticada pela
genitora, em prol do melhor interesse da criança, que mantinha fortes laços afetivos com a mãe,
e, por outro lado, possuía vínculos enfraquecidos com o pai, ainda que devido à alienação
parental, o ideal seria que ele continuasse sobre a guarda materna, segundo a decisão de
Primeiro Grau, aumentando-se os dias de visita do genitor. Analisou-se que a criança estava
sendo atendida em suas necessidades e para a garantia de sua proteção, os apelos foram
negados, decisão seguida pelos demais Desembargadores.
Com a análise dos acórdãos, percebeu-se que os Tribunais Superiores, assim como a
Justiça de Primeiro Grau, levam em consideração todos os fatores que podem indicar indícios
de alienação parental, de forma a coibi-los e se garantir a máxima proteção à criança. Na
primeira jurisprudência, apesar de a prática da “síndrome” não ter sido comprovada até o
momento do julgamento, a decisão que permitiu um acompanhante às visitas do genitor foi
mantida, para que o filho tivesse seus interesses resguardados, enquanto criança. O segundo
acórdão, por sua vez, demonstrou a real existência da alienação parental, que ocasionou
prejuízos na relação entre pai e filho. Assim, foram atribuídas medidas para que a genitora
15

coibisse a prática, conquanto se notou que o melhor para o filho era ficar sob sua guarda,
fazendo visitas ao pai.
O próximo acórdão refere-se à guarda compartilhada. Trata-se de Agravo de
Instrumento (número 1.0702.14.001707-1/001) interposto pelo genitor e julgado em setembro
de 2014, pela Quarta Câmara Cível do TJMG, contra decisão de primeira instância que
concedeu a permanência da guarda unilateral com a genitora. Inconformado e alegando que a
saúde e o bem-estar de seu filho estavam prejudicados, o pai interpôs recurso, requerendo a
modificação da guarda unilateral para si. (MINAS GERAIS, TJM, /2014, Agravo de
Instrumento nº 1.0702.14.001707-1/001)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - DIREITO DE FAMÍLIA -


MODIFICAÇÃO DA GUARDA DE MENOR - MELHOR INTERESS DA
CRIANÇA - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - DEFERIMENTO PARCIAL-
GUARDA COMPARTILHADA
- Na guarda compartilhada pai e mãe participam efetivamente da educação e
formação de seus filhos. - Considerando que no caso em apreço, ambos os
genitores são aptos a receber a guarda do filho, e que a divisão de decisões e
tarefas entre eles possibilitará um melhor aporte de estrutura para a criação da
criança, ao possibilitar acompanhamento escolar mais intenso e o tratamento
de saúde necessário, impõe-se como melhor solução não o deferimento de
guarda unilateral, mas da guarda compartilhada. (MINAS GERAIS, TJMG,
2014, Agravo de Instrumento nº 1.0702.14.001707-1/001).

Não obstante o pedido do agravante tenha sido pela concessão da guarda unilateral para
ele, os desembargadores decidiram, unanimemente, que o correto seria aplicar a guarda
compartilhada, tendo em vista que ambos os pais estavam aptos a exercer a guarda; assim, o
menino poderia prosseguir com o tratamento médico ao lado do pai, sem deixar de conviver
com a família da mãe, o que era a decisão mais benéfica. Por conseguinte, foi dado parcial
provimento ao Agravo, deferindo em parte a antecipação de tutela requerida e determinando a
guarda compartilhada, de forma que os genitores passassem a tomar as decisões conjuntamente
e de forma harmoniosa, considerando o melhor para a criança. (MINAS GERAIS, TJMG, 2014,
Agravo de Instrumento nº 1.0702.14.001707-1/001)
Esta decisão revela a prioridade que deve ser dada ao compartilhamento visando à
proteção do menor, bem como a importância de os julgadores analisarem minuciosamente o
caso para garantirem o cumprimento dos interesses da criança. Acredita-se que os
Desembargadores decidiram acertadamente e, em vez de apenas modificarem a guarda
unilateral do pai para a mãe, definiram a guarda compartilhada, para que ambos se
responsabilizassem pelo filho, de forma que ele pudesse conviver igualmente com os dois.
16

Em todas as decisões, deve-se preservar o interesse e a proteção da criança ou


adolescente, de forma que ele se sinta seguro e equilibrado emocionalmente. Caso se comprove
a alienação parental, deve-se buscar as melhores medidas para que a prática seja restringida e
para que a criança volte a se sentir confortável e ter seus direitos assegurados, sobretudo à
convivência familiar.
A evolução jurídica dos direitos da criança e do adolescente permitiram o seu
atendimento de forma completa, protegendo todos as garantias que são essenciais a qualquer
indivíduo, o que deve ser realizado por meio das políticas públicas, mas também de ações não
governamentais, respeitando-se os princípios e obrigações presentes no Estatuto da Criança e
do Adolescente. Nessa perspectiva, o artigo 3º da Lei 8.069/1990 preconiza:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-
se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade (BRASIL, 1990).

Dessa forma, é notável que o fundamento principal do Estatuto é a proteção integral da


criança e do adolescente, confirmando o dispositivo constitucional, com o fim de conceder o
desenvolvimento da criança e do adolescente em todos os seus aspectos, para que se atinjam os
princípios da igualdade, liberdade e dignidade, bem como os demais direitos humanos
fundamentais inerentes a todos os cidadãos.
17

5 REFERÊNCIAS

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DF, 2002.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,


2002.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Lei 8.069, de 13 jul. 1990: dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF, 2002.

BRASIL. Lei 12.318, 26 ago. 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm>.

BRASIL. Lei nº 13.058, 22 dez. 2014: altera os arts. 1.583, 1.584, 1.585 e 1.634 da Lei no
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para estabelecer o significado da expressão
“guarda compartilhada” e dispor sobre sua aplicação. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13058.htm>.

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