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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

HILDA OLIVEIRA DE ARAUJO LEAL

Alienação parental: conceito e prevenção através da guarda compartilhada.

CASTANHAL,
2023.
ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO E PRENVEÇÃO ATRAVÉS DA GUARDA
COMPARTILHADA.

Hilda Oliveira de Araujo Leal

RESUMO

O trabalho em tela tem o condão de conceituar a alienação parental, fazendo uma


análise bibliográfica e legislativa do instituto. Ainda, busca-se, por intermédio da pesquisa
acadêmica sob exame, verificar a possibilidade de fixação de guarda compartilhada nos casos
em que se constata a existência de contendas familiares, precipuamente que há comprovada
incidência dos chamados atos de alienação parental. Ademais, este estudo traz como questões
norteadoras as seguintes: “A guarda compartilhada quando há alienação parental atende ao
melhor interesse da criança?”; “De que forma a guarda compartilhada pode prevenir a
alienação parental?” e “Quais os atos da alienação parental e como isso interfere na vida
social do infante?”.
No que concerne ao objetivo geral deste trabalho, almeja-se compreender os limites e
admissões da guarda compartilhada nas questões de alienação parental no Direito de Família,
buscando-se esclarecer, através da pesquisa bibliográfica, o que se entende por alienação
parental, analisando situações em que essa violência pode ser verificada e responder ao
problema científico do presente trabalho de conclusão de curso: “A guarda compartilhada
pode inibir os atos da alienação parental?”

Palavras-chave: alienação parental; guarda compartilhada; poder familiar; atos de alienação


parental; lei n.º 12.318/2010.

SUMÁRIO. Introdução. 1. Da alienação parental a visão conceitual da síndrome 2. A


alienação parental segundo a Lei 12.318/2010 3. Da guarda compartilhada no
ordenamento jurídico, da possibilidade ou não da sua fixação em casos de incidência da
síndrome de alienação parental e seus efeitos 4. Conclusão 5. Referrências.

INTRODUÇÃO

É sabido que ao homem tornou-se impossível viver isolado, surgindo as chamadas


aldeias ou tribos na antiguidade, que a posteriori vieram a desembocar nos núcleos familiares
no formato hodierno. Tal qual como ocorre na sociedade como um todo, as relações familiares
também podem ocasionar contendas entre os envolvidos, desencadeando, inclusive,
violências no âmbito das relações interpessoais. Um exemplo de tal dinâmica reside na
alienação parental, fenômeno que surge precipuamente quando da separação de genitores
responsáveis pela guarda e sustento de filhos menores, passando a haver, com a nova
condição familiar, uma verdadeira disputa pela guarda e afeto dos infantes.
De acordo com estudiosos da seara da família, sua origem está ligada à intensificação
das estruturas de convivência familiar, com maior aproximação entre pais e filhos, sendo
aqueles primeiros, com a separação do casal, surpreendidos com a quebra de uma realidade
com a qual se acostumara. Ocorre, porém, que nesta verdadeira “guerra de braços”, restam os
filhos menores, os quais uma vez que ainda não tenham atingido a capacidade civil plena
estão sujeitos ao poder familiar dos genitores. Assim, submetido, enquanto incapaz, ao jogo
de manipulações dos genitores recém-separados, é sabido que a alienação parental se externa
de diversas formas, inclusive, sobre a assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual.
São diversas as situações em que, visando dificultar ao máximo ou mesmo impedir o
acesso do ex-cônjuge não detentor da guarda com o fito único de destruir o ex-cônjuge e a
relação genitor-filho, o genitor detentor da guarda, submete a criança ou o adolescente a
sofrer alienação parental. Neste caso, independentemente de gênero do alienante, pode-se
caracterizar a síndrome de alienação parental. Segundo o psiquiatra Richard Gardner, tal
síndrome se consubstancia em uma lavagem cerebral, em programar uma criança ou
adolescente para que venha a odiar ou até mesmo a esquecer seu genitor (mãe ou pai,
conforme o caso concreto) sem qualquer justificativa.
No presente trabalho, visando explicar a síndrome retro mencionada, far-se-á, na
primeira seção, a conceituação da alienação parental, pretendendo, demonstrar como ela se
externaliza e quais suas práticas mais frequentes. No item “2”, passa-se a uma análise da Lei
de Alienação Parental (Lei n.º 12.318/2010), com o fim precípuo de explicar quais condutas
ou ações foram entendidas como atos de alientação parental pelo legislador pátrio.
Outrossim, na seção “3”, se buscará demonstrar a possibilidade (ou não) do
estabelecimento da guarda compartilhada entre os genitores nos casos em que há sabidamente
a ocorrência de atos que possam ensejar tal síndrome, verificando-se, por fim, se a adoção do
modelo de guarda compartilhada configura um meio eficaz de se coibir a prática da violência.
Já na seção subsequente esta autora apresenta as conclusões as quais se pode depreender do
estudo colacionado.
Trata-se, portanto, de pesquisa bibliográfica que, utilizando o método dedutivo (no
qual através de teorias e leis analisa-se casos particulares) e abordagem a qualitativa, se
encontra calcada fundamentalmente em livros doutrinários e artigos acadêmicos, além de se
lastrear, no que couber ao assunto, nos termos da Lei de Alienação Parental (Lei n.º
12.318/2010), da e entendimentos jurisprudenciais atinentes ao tema, visando, assim,
responder à problemática do presente trabalho de conclusão de curso: “a guarda
compartilhada pode inibir os atos da alienação parental?”

1. DA ALIENAÇÃO PARENTAL: A VISÃO CONCEITUAL DA SÍNDROME

A família tem especial proteção do Estado, uma vez que constitui a base de nossa
sociedade, de forma que seu reconhecimento, manutenção, desenvolvimento e dissolução
devem ter especial atenção da figura estatal, com a devida regulação de forma a preservar a
própria instituição. Com a evolução da sociedade, é incontestável o surgimento de novas
formas familiares além das tradicionalmente reconhecidas pelo casamento, como o núcleo
familiar advindo de uma união estável, a denominada família monoparental e a família
homoafetiva.
Desta especial proteção do Estado quanto à família, nasceu o chamado poder familiar em
nosso ordenamento jurídico, conceituado por Maria Helena Dinizcomo:

“Um conjunto de direitos e obrigações, quanto à


pessoa e bens do filho menor não emancipado,
exercido, em igualdade de condições, por ambos
os pais, para que possam desempenhar os encargos
que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista o
interesse e a proteção do filho.”

Enquanto menores – não tendo atingido a maioridade e, portanto, a capacidade civil plena
–, os filhos estarão sujeitos ao poder familiar alhures conceituado, o qual, segundo Lisboa é
“a autorização legal para atuar segundo os fins de preservação da unidade familiar e do
desenvolvimento biopsíquico de seus integrantes”. Cristalino, assim, que os pais sirvam de
guias para o desenvolvimento e orientação da vida do menor, desde o seu nascimento até a
maioridade civil – que em nosso país se dá aos 18 anos.
Segundo a legislação cível pátria, compete a ambos os pais o exercício do poder familiar,
ainda que estes não desfrutem de uma vida conjugal. Destaque-se, que, via de regra o término
do relacionamento amoroso entre genitores não altera a relação existente entre pais e filhos,
apesar de o fim do vínculo matrimonial trazer, na maioria das vezes, o efetivo poder familiar
por um dos genitores, enquanto o outro – afastado do lar – passa a exercer o chamado direito
de convivência.
É nesta dinâmica de dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável que,
frequentemente, se observa a instalação da alienação parental, passando a haver entre os
genitores uma disputa pela guarda dos filhos. Antes, naturalizava-se que os filhos ficassem
sob a guarda da mãe e, ao pai restava, basicamente, o direito de visitas em dias
predeterminados, normalmente em finais de semana alternados. Como encontros impostos de
modo tarifado não alimentam o estreitamento dos vínculos afetivos, a tendência é o
arrefecimento da cumplicidade que só a convivência traz. Afrouxando-se os elos de
afetividade, ocorre o distanciamento, tornando as visitas rarefeitas. Com isso, os encontros
acabam protocolares: uma obrigação para o pai e, muitas vezes, um suplício para os filhos. De
acordo com o entendimento de Dias: “muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe
sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito
grande”.
Conforme as palavras de Duarte, a alienação parental se refere a uma condição
psicológica que emerge como resultado do exercício excessivo do poder sobre a criança, no
qual um dos genitores obstaculiza a convivência da criança com o outro genitor. De acordo
com a autora, essa prática constitui uma forma de maltrato ou abuso, na qual um dos genitores
manipula a consciência dos filhos com o propósito de inibir, dificultar ou aniquilar os laços
que conectam os filhos ao outro genitor. Ao se manifestar nas crianças, induzida, conforme
ditado alhures, a alienação parental ocasiona comportamentos, sentimentos e pensamentos
diversos, levando o menor a denegrir sistematicamente o genitor alienado, recusando a
presença deste último, sem conseguir explicar o motivo de tal aversão.
Assim, a alienação parental pode ocasionar prejuízos incalculáveis e muitas vezes
irreversíveis, dentre eles a extinção de laços emocionais básicos entre pais e filhos. Isso se dá,
principalmente, através de campanhas de degradação empreendidas pelo genitor alienador,
que, o faz sem medir o prejuízo gerado à criança – que pode desenvolver um quadro de
negação, vergonha, ansiedade, depressão e culpa, segundo estudiosos da psicologia.

2. A ALIENAÇÃO PARENTAL SEGUNDO A LEI N.º 12.318/2010

A Lei n.º 12.318/2010 conceitua juridicamente a alienação parental como atos e não como
uma síndrome propriamente dita, como ocorre pela psicologia. “Assim, no texto legislativo, a
lei não trata do processo de alienação parental, necessariamente, como patologia, mas como
conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar única solução para o controvertido
debate acerca de sua natureza”. Não obstante isto, frequentemente os magistrados
responsáveis por julgar casos em que há a incidência da alienação parental, entendem tais atos
como os chamados atos ilícitos, previstos nos arts. 186 e 187 do Código Civil de 2002.
O parágrafo único do artigo 2º traz um rol exemplificativo dos atos de alienação parental,
conforma abaixo relacionado:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.
Desperta a atenção, por outro lado, a escolha do legislador ao estipular que a prática da
alienação parental acarreta uma violação de um direito fundamental da criança sujeita ao ato,
de acordo com o artigo 3º da Lei de Alienação Parental. Nesse sentido, é importante ressaltar
que o maior prejudicado é, na realidade, o menor sob a guarda do genitor alienador, em
contraste com o genitor alvo dessas ações, como aparentemente defendido por aqueles que
perpetuam tais condutas. De acordo com o art. 2º da lei retrocitado, considera-se ato de
alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente
promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Como suscitado acima, uma vez violado o cuidado inerente dos pais quanto aos filhos
menores por intermédio da prática de atos de alienação parental, cabe ao Estado-Juiz à
tramitação prioritária das ações judiciais diante da declaração da ocorrência de atos de
alienação parental. Tal medida, segundo o art. 4º da legislação em pauta, tem como finalidade
a preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive, para
assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se
for o caso.
A lei trata ainda, do procedimento a ser adotada pelo magistrado que, diante de indício de
prática de ato de alienação parental, determinará a realização de perícia psicológica ou
biopsicossocial (art. 5º), em ações autônomas e incidentais, visando proteger a criança ou
adolescente submetido a alienação, bem como verifica a efetiva ocorrência dos atos.
A título de responsabilização a ser imposta frente ao genitor alienador, o art. 6º dita que,
uma vez caracterizados os atos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a
convivência de criança ou adolescente com genitor, caberá ao Estado-juiz repelir tal conduta,
conforme dispositivo abaixo transcrito:
o
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
§ 1º Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à
convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias
dos períodos de convivência familiar.
§ 2º O acompanhamento psicológico ou o biopsicossocial deve ser submetido a
avaliações periódicas, com a emissão, pelo menos, de um laudo inicial, que contenha
a avaliação do caso e o indicativo da metodologia a ser empregada, e de um laudo
final, ao término do acompanhamento.

A lei assevera, por fim, que, a atribuição ou alteração da guarda do menor é


preferencialmente fixada em favor do genitor que viabiliza a efetiva convivência do menor
com o outro genitor, nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada (art. 7º).

3. DA GUARDA COMPARTILHADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO, DA


POSSIBILIDADE (OU NÃO) DA SUA FIXAÇÃO EM CASOS DE INCIDÊNCIA DA
SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS EFEITOS
Segundo Alecrim, a guarda compartilhada surgiu na Inglaterra, na década de 60,
expandindo-se posteriormente pela Europa, Canadá e Estados Unidos. É somente em meados
de 2008 que, segundo o autor, o modelo de guarda chega ao Brasil.
Segundo Perez, com a Revolução Industrial, a guarda dos filhos passou a pertencer à mãe,
pois, os homens diante deste panorama passavam maior tempo fora de casa, com a criação da
guarda repartida, quebrou-se a tradição de somente um dos genitores manter a guarda do
menor no sistema jurídico inglês, influenciando outras nações posto que na guarda
compartilhada ou repartida ambos os pais desempenham seus deveres inerentes ao poder
familiar.
Neste sentido, dita Perez:

Na Inglaterra, o sistema da Common law teve a iniciativa de romper com o


tradicional deferimento da guarda única que sempre teve tendência para a figura
materna, passando assim os tribunais a adotarem a conhecida solo ordem, que
significa repartir, dividir, os deveres e obrigações de ambos os cônjuges sobre seu
filho. Dessa maneira, as decisões dos tribunais ingleses passaram a beneficiar
sempre o interesse do menor e a igualdade parental, abolindo definitivamente a
expressão direito de visita, possibilitando assim maior contato entre pai/mãe e filho.
Tal instituto aos poucos foi ganhando repercussão na Europa, e aproximadamente no
ano de 1976 foi profundamente assimilado pelo direito Francês, com a mesma
intenção da guarda compartilhada criada no direito inglês; ou seja; dirimir as
malécias que a guarda única provoca para os cônjuges e seus filhos. Assim, o
ordenamento jurídico francês, após a introdução da Lei 87.570, ratificou o
posicionamento dos tribunais, passando no seu art. 378-2 a mencionar que todos os
direitos inerentes dos país sobre seus filhos irão continuar após o divórcio.
Tal qual como ocorrido no país europeu de origem, a guarda compartilhada desembocou
no território brasileiro em um período de grande estímulo à entrada e permanência das
mulheres no mercado do trabalho formal, ocasionando mudanças significativas nas relações
interpessoais, inclusive, as familiares. Diante disso, recepcionou-se em nosso ordenamento
jurídico a modalidade de guarda dos filhos menores em análise, a qual passou a ser prevista
nos artigos. 1.583, 1.585 e 1.634 do Código Civil Brasileiro.
Na modalidade em análise, resguarda-se o direito de todos os filhos e genitores à
convivência familiar, independentemente da situação conjugal ou vínculo existente entre os
pais. Desta feita, na guarda compartilhada, segundo o art. 1.583, §1º do CC/2002, tem-se “a
responsabilização conjunta e o exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam
sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos filhos comuns”.
No ordenamento jurídico pátrio, a fixação da guarda compartilhada é regra, havendo,
inclusive, a previsão de que a fixação do modelo de guarda ocorre ainda que não haja acordo
entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho menor, com exceção dos casos em que um dos
genitores expressamente declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor, vide art.
1.584, II, §2º, abaixo colacionado:
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: (Redação dada pela
Lei nº 11.698, de 2008).
§ 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho,
encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será
aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao
magistrado que não deseja a guarda do menor. (Redação dada pela Lei nº
13.058, de 2014)

Portanto, a legislação conceitua a guarda compartilhada como verdadeiro sistema de


corresponsabilidade no exercício do poder parental, com ambos os genitores participando
ativamente da vida dos filhos nos deveres de cuidado e no crescimento destes últimos.
Destaque-se, ainda, que segundo Alecrim, o relacionamento dos genitores após o fim da união
conjugal é o principal fator para tornar possível a aplicação da guarda compartilhada, posto
que mãe e pai assumem, em comum acordo, a função de continuarem no pleno exercício do
poder familiar conjuntamente.

Não obstante isto, sabe-se que existem contendas, inclusive, nas relações familiares,
podendo ocasionar a própria alienação parental. Com o fito de coibir a ocorrência de tais atos,
o magistrado atuante no caso concreto, observa os aspectos positivos e negativos da guarda
disposta no Código Civil, sobrepesando aquela que mais for benéfica ao menor no caso
concreto.

Nos casos de incidência de atos de alienação parental, por seu turno, para que a
fixação da guarda compartilhada seja viável e tenha sua eficácia atingida (assegurando, assim,
o bom convívio dos genitores para juntos assegurarem o bem-estar do filho menor) se faz
necessária análise criteriosa, ultrapassando a teoria e verificando o que de fato é benéfico à
criança ou adolescente do caso concreto. Assim, o juiz não deve afastar do entendimento de
que a formação moral, social e psicológica do menor é o principal foco e objetivo a ser
alcançado.

Apesar de ter sido criada para assegurar o bom convívio da família que recentemente
passou por um processo de dissolução matrimonial:
(...) a guarda compartilhada pode ter aspectos tanto positivos quanto negativos, deste
modo, alguns autores aduzem que os malefícios que podem ser causados pela guarda
compartilhada, são concretizados pelo sentimento de culpa e angústia que ainda
podem existir, acarretando em uma possível alienação parental, na qual um dos ex-
cônjuges utiliza o(s) filho(s) para atacar o outro, tanto emocional quanto
psicologicamente.
Na maioria dos casos trata-se de uma disputa narcísica entre eles, que atribuem ao
judiciário o poder de decidir quem é o competente o suficiente para incumbir-se dos cuidados
da criança. É, portanto, uma questão que envolve angústias depressivas associadas à
dependência e à culpa. A dependência é negada inconscientemente, uma vez que se acredita
que a criança pode prescindir dos cuidados da outra parte, quando, na verdade, está sendo
usada pelos pais como uma arma para ferir o narcisismo um do outro como troféu que garanta
a suposta completude do vencedor como figura parental.

Apesar das vantagens da guarda compartilhada, importa esclarecer que as


problemáticas enfrentadas em decorrência de atos de alienação parental e constantes
desavenças podem inviabilizar a fixação do modelo de guarda em estudo, caso em que,
segundo Tudela e Fernandes, deve-se dar guarda única ao cônjuge que demonstrar maior
aptidão em garantir o bom e sadio desenvolvimento dos filhos.

De modo diverso é o entendimento de Tudela e Fernandes, os quais versam sobre a


necessidade de convivência dos filhos menores com ambos os genitores, de forma a assegurar
o estreitamento de laços afetivos. De acordo com os autores, a guarda compartilhada atuaria,
portanto, como mecanismo capaz de proteger a criança e o adolescente dos possíveis
prejuízos decorrentes da fixação da guarda unilateral, que, segundo os estudiosos, facilitam a
ocorrência dos atos de alienação parental.

Como já explicitado anteriormente, a regra de fixação de guarda de filhos menores no


ordenamento jurídico é a guarda compartilhada, aplicando a guarda unilateral apenas quando
da impossibilidade acordo entre os pais. A guarda compartilhada visa justamente evitar
disputas, preterir a criança de sujeitar-se a manipulações psicológicas, fazer valer o superior
interesse da criança e os seus demais direitos resguardados em lei.

Assim, inconteste que, diante de uma análise minuciosa dos casos concretos a ser feito
pelo magistrado, a utilização correta da Lei n.º 12.318/2010 e a guarda compartilhada, em
conjunto, possuem o fito de assegurar o melhor interesse da criança, mormente o fato deste
último instituto assegurar o convívio igualitário a ambos os genitores na vida do menor. Cabe,
portanto, educar a sociedade civil, coibir os atos de alienação parental desde o seu nascedouro
e visar a proteção integral da criança, possibilitando, desta forma, o desenvolvimento
saudável das relações familiares e do próprio menor.
4. CONCLUSÃO

Diante do exposto ao longo presente trabalho, verificou-se que a alienação parental


configura, sob o viés psicológico da problemática, como espécie de abuso ou maltrato
infringido ao filho menor, que, é submetido a tal violência por seu genitor (mãe ou pai) em
detrimento de seu ex-cônjuge ou companheiro. É, por meio de tal violência que o genitor
alienador causa sofrimento ao menor, fazendo-o acreditar estar em perigo com o genitor
alienado, vindo a recusá-lo sem saber sequer justificar.
Diante do entendimento legal da alienação parental, fora explanado que, a alienação
parental não foi descrita em sua lei como uma síndrome psicológica, mas sim atos que
demonstram a tentativa de fazer com que o menor venha a preterir o genitor alienado. No
tópico inerente aos aspectos legais, viu-se, ainda, que a Lei da Alienação Parental visa atribuir
a responsabilidade ao genitor alienador de formas diversas, conforme a gravidade do ato de
alienação parental, podendo culminar na advertência, fixação de multa ou alteração da guarda
previamente fixada em favor do genitor alienado.
Adiante, buscou-se conceituar o instituto da guarda compartilhada, demonstrar quando a
mesma fora recepcionada no ordenamento jurídico brasileiro e se é possível a aplicabilidade
do modelo de guarda com o fito de coibir a prática dos atos de alienação parental. Na
oportunidade, mediante a pesquisa bibliográfica, a pesquisa acadêmica demonstrou a
possibilidade de fixação da guarda compartilhada mesmo nos casos de incidência de atos de
alienação parental.
Neste sentido, importa destacar que a guarda compartilhada é tida, inclusive, como regra,
uma vez que possibilita a coparticipação de ambos os genitores na formação,
desenvolvimento do filho menor e tomada de decisões no que concerne ao melhor interesse
deste último. Detectou-se, assim, que a comunidade acadêmica enxerga o instituto como meio
eficaz de coibir a prática dos atos de alienação justamente por prever este sistema de
coparticipação.

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