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CASTANHAL,
2023.
ALIENAÇÃO PARENTAL: CONCEITO E PRENVEÇÃO ATRAVÉS DA GUARDA
COMPARTILHADA.
RESUMO
INTRODUÇÃO
A família tem especial proteção do Estado, uma vez que constitui a base de nossa
sociedade, de forma que seu reconhecimento, manutenção, desenvolvimento e dissolução
devem ter especial atenção da figura estatal, com a devida regulação de forma a preservar a
própria instituição. Com a evolução da sociedade, é incontestável o surgimento de novas
formas familiares além das tradicionalmente reconhecidas pelo casamento, como o núcleo
familiar advindo de uma união estável, a denominada família monoparental e a família
homoafetiva.
Desta especial proteção do Estado quanto à família, nasceu o chamado poder familiar em
nosso ordenamento jurídico, conceituado por Maria Helena Dinizcomo:
Enquanto menores – não tendo atingido a maioridade e, portanto, a capacidade civil plena
–, os filhos estarão sujeitos ao poder familiar alhures conceituado, o qual, segundo Lisboa é
“a autorização legal para atuar segundo os fins de preservação da unidade familiar e do
desenvolvimento biopsíquico de seus integrantes”. Cristalino, assim, que os pais sirvam de
guias para o desenvolvimento e orientação da vida do menor, desde o seu nascimento até a
maioridade civil – que em nosso país se dá aos 18 anos.
Segundo a legislação cível pátria, compete a ambos os pais o exercício do poder familiar,
ainda que estes não desfrutem de uma vida conjugal. Destaque-se, que, via de regra o término
do relacionamento amoroso entre genitores não altera a relação existente entre pais e filhos,
apesar de o fim do vínculo matrimonial trazer, na maioria das vezes, o efetivo poder familiar
por um dos genitores, enquanto o outro – afastado do lar – passa a exercer o chamado direito
de convivência.
É nesta dinâmica de dissolução do vínculo matrimonial ou da união estável que,
frequentemente, se observa a instalação da alienação parental, passando a haver entre os
genitores uma disputa pela guarda dos filhos. Antes, naturalizava-se que os filhos ficassem
sob a guarda da mãe e, ao pai restava, basicamente, o direito de visitas em dias
predeterminados, normalmente em finais de semana alternados. Como encontros impostos de
modo tarifado não alimentam o estreitamento dos vínculos afetivos, a tendência é o
arrefecimento da cumplicidade que só a convivência traz. Afrouxando-se os elos de
afetividade, ocorre o distanciamento, tornando as visitas rarefeitas. Com isso, os encontros
acabam protocolares: uma obrigação para o pai e, muitas vezes, um suplício para os filhos. De
acordo com o entendimento de Dias: “muitas vezes a ruptura da vida conjugal gera na mãe
sentimento de abandono, de rejeição, de traição, surgindo uma tendência vingativa muito
grande”.
Conforme as palavras de Duarte, a alienação parental se refere a uma condição
psicológica que emerge como resultado do exercício excessivo do poder sobre a criança, no
qual um dos genitores obstaculiza a convivência da criança com o outro genitor. De acordo
com a autora, essa prática constitui uma forma de maltrato ou abuso, na qual um dos genitores
manipula a consciência dos filhos com o propósito de inibir, dificultar ou aniquilar os laços
que conectam os filhos ao outro genitor. Ao se manifestar nas crianças, induzida, conforme
ditado alhures, a alienação parental ocasiona comportamentos, sentimentos e pensamentos
diversos, levando o menor a denegrir sistematicamente o genitor alienado, recusando a
presença deste último, sem conseguir explicar o motivo de tal aversão.
Assim, a alienação parental pode ocasionar prejuízos incalculáveis e muitas vezes
irreversíveis, dentre eles a extinção de laços emocionais básicos entre pais e filhos. Isso se dá,
principalmente, através de campanhas de degradação empreendidas pelo genitor alienador,
que, o faz sem medir o prejuízo gerado à criança – que pode desenvolver um quadro de
negação, vergonha, ansiedade, depressão e culpa, segundo estudiosos da psicologia.
A Lei n.º 12.318/2010 conceitua juridicamente a alienação parental como atos e não como
uma síndrome propriamente dita, como ocorre pela psicologia. “Assim, no texto legislativo, a
lei não trata do processo de alienação parental, necessariamente, como patologia, mas como
conduta que merece intervenção judicial, sem cristalizar única solução para o controvertido
debate acerca de sua natureza”. Não obstante isto, frequentemente os magistrados
responsáveis por julgar casos em que há a incidência da alienação parental, entendem tais atos
como os chamados atos ilícitos, previstos nos arts. 186 e 187 do Código Civil de 2002.
O parágrafo único do artigo 2º traz um rol exemplificativo dos atos de alienação parental,
conforma abaixo relacionado:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além
dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:
I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício
da paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de
endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou
contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.
Desperta a atenção, por outro lado, a escolha do legislador ao estipular que a prática da
alienação parental acarreta uma violação de um direito fundamental da criança sujeita ao ato,
de acordo com o artigo 3º da Lei de Alienação Parental. Nesse sentido, é importante ressaltar
que o maior prejudicado é, na realidade, o menor sob a guarda do genitor alienador, em
contraste com o genitor alvo dessas ações, como aparentemente defendido por aqueles que
perpetuam tais condutas. De acordo com o art. 2º da lei retrocitado, considera-se ato de
alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente
promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Como suscitado acima, uma vez violado o cuidado inerente dos pais quanto aos filhos
menores por intermédio da prática de atos de alienação parental, cabe ao Estado-Juiz à
tramitação prioritária das ações judiciais diante da declaração da ocorrência de atos de
alienação parental. Tal medida, segundo o art. 4º da legislação em pauta, tem como finalidade
a preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive, para
assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se
for o caso.
A lei trata ainda, do procedimento a ser adotada pelo magistrado que, diante de indício de
prática de ato de alienação parental, determinará a realização de perícia psicológica ou
biopsicossocial (art. 5º), em ações autônomas e incidentais, visando proteger a criança ou
adolescente submetido a alienação, bem como verifica a efetiva ocorrência dos atos.
A título de responsabilização a ser imposta frente ao genitor alienador, o art. 6º dita que,
uma vez caracterizados os atos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a
convivência de criança ou adolescente com genitor, caberá ao Estado-juiz repelir tal conduta,
conforme dispositivo abaixo transcrito:
o
Art. 6 Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
III - estipular multa ao alienador;
IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
§ 1º Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à
convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou
retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias
dos períodos de convivência familiar.
§ 2º O acompanhamento psicológico ou o biopsicossocial deve ser submetido a
avaliações periódicas, com a emissão, pelo menos, de um laudo inicial, que contenha
a avaliação do caso e o indicativo da metodologia a ser empregada, e de um laudo
final, ao término do acompanhamento.
Não obstante isto, sabe-se que existem contendas, inclusive, nas relações familiares,
podendo ocasionar a própria alienação parental. Com o fito de coibir a ocorrência de tais atos,
o magistrado atuante no caso concreto, observa os aspectos positivos e negativos da guarda
disposta no Código Civil, sobrepesando aquela que mais for benéfica ao menor no caso
concreto.
Nos casos de incidência de atos de alienação parental, por seu turno, para que a
fixação da guarda compartilhada seja viável e tenha sua eficácia atingida (assegurando, assim,
o bom convívio dos genitores para juntos assegurarem o bem-estar do filho menor) se faz
necessária análise criteriosa, ultrapassando a teoria e verificando o que de fato é benéfico à
criança ou adolescente do caso concreto. Assim, o juiz não deve afastar do entendimento de
que a formação moral, social e psicológica do menor é o principal foco e objetivo a ser
alcançado.
Apesar de ter sido criada para assegurar o bom convívio da família que recentemente
passou por um processo de dissolução matrimonial:
(...) a guarda compartilhada pode ter aspectos tanto positivos quanto negativos, deste
modo, alguns autores aduzem que os malefícios que podem ser causados pela guarda
compartilhada, são concretizados pelo sentimento de culpa e angústia que ainda
podem existir, acarretando em uma possível alienação parental, na qual um dos ex-
cônjuges utiliza o(s) filho(s) para atacar o outro, tanto emocional quanto
psicologicamente.
Na maioria dos casos trata-se de uma disputa narcísica entre eles, que atribuem ao
judiciário o poder de decidir quem é o competente o suficiente para incumbir-se dos cuidados
da criança. É, portanto, uma questão que envolve angústias depressivas associadas à
dependência e à culpa. A dependência é negada inconscientemente, uma vez que se acredita
que a criança pode prescindir dos cuidados da outra parte, quando, na verdade, está sendo
usada pelos pais como uma arma para ferir o narcisismo um do outro como troféu que garanta
a suposta completude do vencedor como figura parental.
Assim, inconteste que, diante de uma análise minuciosa dos casos concretos a ser feito
pelo magistrado, a utilização correta da Lei n.º 12.318/2010 e a guarda compartilhada, em
conjunto, possuem o fito de assegurar o melhor interesse da criança, mormente o fato deste
último instituto assegurar o convívio igualitário a ambos os genitores na vida do menor. Cabe,
portanto, educar a sociedade civil, coibir os atos de alienação parental desde o seu nascedouro
e visar a proteção integral da criança, possibilitando, desta forma, o desenvolvimento
saudável das relações familiares e do próprio menor.
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Eduardo Ponte; AZEVEDO, Luciana Jaramillo Caruso, 2023. Poder, Norma e
Ideário na Lei da Alienação Parental. Psicologia: Ciência e Profissão 2023 v. 43, e249888,
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https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1682647&
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L10406compilada (planalto.gov.br).
Lei n. 12.318, de 26 de agosto de 2010. (27 ago. 2010). Dispõe sobre a alienação parental e
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Disponível em: L12318 (planalto.gov.br).