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RESPONSABILIDADE CIVIL PELA PRÁTICA DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Uma análise à luz da doutrina e da jurisprudência dos tribunais estaduais brasileiros


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3
2 A ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................................................................ 3
2.1 Conceituação ........................................................................................................................ 3
2.2 A alienação parental no ordenamento jurídico brasileiro ..................................................... 5
3 RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................................................................. 6
3.1 Considerações gerais ............................................................................................................ 6
3.2 A imputação do dever de indenizar pela prática de alienação parental ................................ 7
3.3 Posicionamento dos tribunais brasileiros ............................................................................. 8
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 11
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 13
3

1 INTRODUÇÃO

A prática da “alienação parental” e suas inúmeras consequências psíquicas e sociais


são objetos de estudo de diversas áreas do saber, dentre as quais, a psicologia e o direito.
Nesse sentido, o ordenamento jurídico brasileiro se ocupa do tema, especialmente, com o fito
de proteger as crianças e os adolescentes vítimas das condutas alienantes e também, de tentar
responsabilizar os autores de tal prática. Pois, observa-se de modo crescente o aumento de
situações graves advindas da alienação parental, como por exemplo, as falsas acusações de
abuso sexual as quais, segundo estudos, alcançam os espantosos percentuais de 70% e 80%
em Varas de Família de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente1. Nesse ser assim, o
presente trabalho busca realizar uma análise sobre a alienação parental com enfoque na
responsabilização civil imputada aos autores alienantes, com base na doutrina brasileira e
também em relevantes e recentes acórdãos exarados pelos tribunais estaduais brasileiros.

2 A ALIENAÇÃO PARENTAL

2.1 Conceituação

O termo “Síndrome da Alienação Parental” (SAP) foi empregado pioneiramente em


1985 pelo eminente psiquiatra estadunidense Richard Gardner e refere-se aos sintomas
decorrentes da prática da “alienação parental” que, por sua vez, conceitua-se como sendo a
conduta pela qual um dos genitores – ou outro membro da família2 – induz psicologicamente
o filho/filha a mitigar ou romper os laços afetivos com o outro genitor/genitora.
Em que pese tal prática ocorrer por vezes ainda na constância matrimonial3, em geral,
ela aparece mais frequentemente inserida num contexto de separação conjugal litigiosa
ocorrida entre esses pais, visto que, muitas vezes a ruptura da vida conjugal faz emergir
sentimentos negativos como a raiva e a vingança, os quais, decorrem de diversas razões, como

1
MADALENO, Ana Carolina Carpes. Indenização pela prática da alienação parental e imposição de falsa
memórias. In: MADALENO, Rolf; BARBOSA, Eduardo (coord.). Responsabilidade Civil no Direito de
Família. São Paulo: Atlas, 2015, p. 22.
2
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 5.v. 9.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 206.
3
MADALENO, op. cit., p. 17.
4

por exemplo, da infidelidade conjugal ou, até mesmo, da não aceitação do fim do casamento
por uma das partes.
Nesse contexto, comumente se observa uma tentativa de desqualificação do outro
genitor frente aos filhos, contudo, não é qualquer conduta por parte de um dos genitores que
caracteriza a alienação parental, como exemplo, a emissão de palavras e xingamentos num
momento pontual de raiva. Para a configuração da prática alienante, todavia, é necessária a
comprovação da “interferência na formação psicológica permanente da criança ou
adolescente, ou o efetivo prejuízo ao contato ou convivência com o outro genitor e seu grupo
familiar, ou às relações afetivas com estes”4.
Nesses casos, “o filho é utilizado como instrumento da agressividade, sendo induzido
a odiar um dos genitores. Trata-se de verdadeira campanha de desmoralização”5:

[...] uma campanha liderada, principalmente, pelo genitor guardião em desfavor do


outro genitor, onde a criança ou adolescente é literalmente programada para odiar
sem justificativas plausíveis o alienado e/ou sua família, causando, assim, uma forte
dependência e submissão do menor com o alienante. Este processo é lento e gradual,
sendo muitas vezes tão sutil que é quase impossível detectá-lo6.

Para a concretização dessa “verdadeira lavagem cerebral”7 por parte do alienante, são
utilizados infinitos8 artifícios, tanto em relação ao outro genitor, como exemplo a criação de
dificuldades para a realização das visitas, como em relação ao filho, como exemplo a perigosa
e comum imposição de falsas memórias no psíquico daquela criança ou adolescente. Seja qual
for as situações criadas pelo alienador, o fato é que a prática da alienação parental pode gerar
inúmeras consequências trágicas e permanentes na vida daquelas que sofrem seus efeitos
danosos:

Não restam dúvidas do grande estrago que uma falsa denúncia e a prática da
alienação parental podem causar, não apenas da vida da criança, mas também na do
genitor alienado ou falsamente acusado que sofre grande desestrutura em todas as
esferas de sua vida, seja emocional, psicológica e mesmo social, uma vez que passa
a ser visto também com maus olhos, além de ser afastado dos filhos toda a série de
consequências experimentadas9.

4
LÔBO, op. cit., p. 206.
5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016, p. 908.
6
MADALENO, op. cit., p. 17.
7
DIAS, op. cit., 908.
8
MADALENO, op. cit., p. 17.
9
Ibid., p. 27.
5

Assim, tem-se, de um lado, a criança/adolescente que inicia um processo de


afastamento do genitor alienado e, consequentemente, também de sua família, cortando assim,
importantes laços de amor. Além disso, é cientificamente comprovado que as pessoas
submetidas à alienação parental se mostram propensas a atitudes antissociais, violentas ou
criminosas, à depressão e até mesmo ao suicídio10. De outro lado, tem-se o genitor alienado, o
qual encontra-se impedido de poder conviver com seus filhos e, muitas vezes, envolve-se em
situações delicadíssimas e vexatórias, como a já citada situação de falta acusação do
cometimento de crimes, como o abuso sexual.

2.1 A alienação parental no ordenamento jurídico brasileiro

O ordenamento jurídico brasileiro dá total proteção às crianças e aos adolescentes,


com espeque na própria Constituição Federal de 1988, no Código Civil Brasileiro de 2002, e
em demais leis, dentre as quais, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 9.069 de 1990).
Observando-se, assim, dentre os princípios norteadores do Direito de Família, o princípio do
melhor interesse da criança, o qual imputa como prioritários dentro do ordenamento jurídico
brasileiro, os interesses das crianças e dos adolescentes11. No que se refere à alienação
o
parental, encontra-se disciplina específica na Lei n 12.318 de 2010, a qual em seu art. 2º
define a referida prática como sendo:

[...] a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida


ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou
que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.12

Além de conceituar, a dita lei elenca o seguinte rol exemplificativo de ações que
caracterizam a alienação parental:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da


paternidade ou maternidade;
II - dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

10
Ibid., p. 909.
11
LÔBO, op. cit., p. 77.
12
BRASIL. Lei n o 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 5 nov. 2020.
6

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança


ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós,
para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou
com avós13.

Ainda no que condiz à disposição do referido diploma legal, nota-se que, caso
configurada a prática alienante, o genitor prejudicado pode requerer, ou o juiz determinar, de
ofício, a instauração de processo autônomo para a apuração da suposta alienação parental, a
qual, se comprovada, pode gerar a imputação de diversas sanções, as quais estão elencadas no
art. 6º da referida lei. Tais sanções, possuem o escopo de inibir ou atenuar os efeitos da
alienação parental de acordo a gravidade de cada situação, isso porque, a Lei 12.318/2010 foi
instituída para, principalmente, coibir a prática da alienação parental desde o seu princípio14.
Dentre as punições, encontra-se, a advertência, o pagamento de multa ao alienador e,
até mesmo, a suspensão da autoridade parental. Contudo, tais medidas não possuem caráter
compensatório, sendo, segundo expresso posicionamento da lei, salvaguardados os direitos
das vítimas e dos alienados de pleitearem a responsabilidade civil e criminal do alienante
pelos atos de alienação praticados e comprovados.

3 RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 Conceituações gerais

Enquanto que a obrigação corresponde ao dever jurídico originário, a responsabilidade


condiz ao dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação
daquele dever jurídico originário, ou seja, da obrigação15. Assim, intuitivamente se conclui
que a responsabilidade civil surge quando uma obrigação não é cumprida em sua
completude/perfeição. Por isso, os princípios norteadores da responsabilidade civil buscam
restaurar o equilíbrio patrimonial e moral violados16.

13
Ibid.
14
MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: importância da
detecção – aspetos legais e processuais. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 123.
15
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 12.
16
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 2.v. 18.ed. São Paulo: Atlas,
2018, p. 368.
7

O Século XX é considerado o período em que o instituto da responsabilidade civil


evoluiu de modo expressivo no campo jurídico e social a nível mundial. Na verdade,
parafraseando o ilustre jurista Louis Josserand: mais que uma evolução, surgiu uma
‘revolução’, tão rápida e fulminante que levou a teoria da responsabilidade a novos destinos,
sendo a verdade de ontem não mais a de hoje, e a de hoje, cedendo lugar para a de amanhã17.
Assim, a responsabilidade civil percorreu intensos caminhos dentro dos ordenamentos
jurídicos até chegar tal qual conhecemos hoje. No Brasil, por exemplo, o Código Civil de
1916 o qual era mais subjetivista, cedeu lugar para o Código Civil de 2002 o qual, apesar de
conter a cláusula geral de responsabilidade subjetiva, demonstra uma postura objetivista mais
prevalente.
Dentre as inúmeras classificações que permeiam o instituto, destaca-se a divisão da
responsabilidade civil em contratual (negocial ou relativa) e extracontratual (aquiliana ou
absoluta). Na primeira situação, preexiste um vínculo obrigacional e o dever de indenizar
seria consequência desse inadimplemento. Por outro lado, tem-se a situação em que o dever
surge em virtude de lesão a direito subjetivo, sem que preexista qualquer relação jurídica entre
o ofensor e a vítima. Tal divisão, contudo, recebe bastante crítica, sendo adotada por parte da
doutrina a chamada teoria monista ou unitária, para a qual pouco importa a referida
classificação, tendo em vista os efeitos de “ambas as responsabilidades” serem uniformes.
Para finalizar este curto apanhado geral, tem-que a responsabilidade civil é composta
de alguns elementos essenciais, os quais variam de acordo com a doutrina estudada, mas, em
regra são eles: (i) a ação ou a omissão, (ii) a culpa ou o dolo do agente, (iii) a relação de
causalidade e (d) o dano18.

3.2 A imputação do dever de indenizar pela prática de alienação parental

A indenização por dano moral ou material nos casos de danos decorrentes da prática
de alienação parental é expressamente admitida pelo ordenamento jurídico brasileiro, pois,
como já referido, a aplicação de qualquer das medidas sugeridas no art. 6º da Lei 12.318/2010
não impede o ajuizamento de ação autônoma de indenização por perdas e danos, ou mesmo, a

17
JOSSERAND, Louis. Evolução da responsabilidade civil. Revista Forense, Rio de Janeiro, 1941, p. 548.
18
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 4.v. 14. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019, p. 62-66.
8

ação de responsabilidade criminal, tendo em vista, o caráter não compensatório das medidas
da Lei específica.
De modo resumido, entende-se por dano moral aquela violação a um direito ou
atributo de personalidade19. No caso da prática de alienação, mostra-se indenizável tal dano
tendo em vista “o sofrimento psíquico ou a frustração pela incerteza anímica do progenitor
não guardião pela perda da relação paterno-filial”20 e até mesmo, os inúmeros, já comentados,
sofrimentos causados à criança/adolescente vítima da alienação. Sendo, para isso, necessária a
demonstração do nexo de causalidade entre a conduta do alienante e o abalo psíquico sofrido
pelo genitor alienado ou pela criança/adolescente.
De outro lado, tem-se os danos materiais ou patrimoniais, os quais atingem os bens
integrantes do patrimônio da vítima21. De igual modo a infinidade de situações que podem
configurar a prática da alienação, os motivos que podem ensejar a indenização por danos
materiais também são incontáveis. Cita-se, a título exemplificativo, o possível dispêndio com
advogado e as demais despesas processuais resultantes de ação de execução forçosa de visitas
movida pelo alienado para acessar aquele filho, devido a criação de obstáculos pelo genitor
guardião para a realização das visitas. Outro exemplo, seriam as despesas com o
deslocamento geográfico – combustível, táxi e até mesmo passagens aéreas – em razão de
abusiva mudança de domicílio do filho para outra cidade ou estado22.
Por fim, cita-se ainda no que tange à responsabilidade civil por atos de alienação
parental, a invocação do instituto do abuso de direito23, o qual, visa impedir que o titular de
um direito utilize seu poder com finalidade distinta daquela a que se destina24. Sendo
perceptível, assim, que o genitor alienador pratica o abuso de direito ao passo que tenta
excluir o outro genitor e sua família da vida do filho e vice-versa.

3.3 Posicionamento dos tribunais brasileiros

19
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 103.
20
MADALENO; MADALENO, op. cit., p. 123.
21
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 90.
22
MADALENO; MADALENO, op. cit., p. 123.
23
MADALENO, op. cit., p. 29.
24
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 220.
9

Tendo em vista todo o conteúdo explanado até o momento, passa-se, doravante, a


suscita análise de alguns julgados provenientes de tribunais estaduais brasileiros, os quais,
deferiram ou confirmaram o pleito de responsabilização civil para casos de danos decorrentes
da prática da alienação parental.
De início colaciona-se um julgado que se refere, dentre outros atos, a situação de falsa
acusação de abuso sexual. Por motivos de sigilo processual, o acórdão não se encontra
disponível no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro fato que impossibilita a
completa análise do caso. Contudo, pelos indicativos ementados abaixo, observa-se que foi
comprovada ser falsa a alegação de abuso sexual que supostamente teria sido praticado pelo
pai contra sua filha menor, sendo imputado à genitora o pagamento de indenização por danos
morais:

RESPONSABILIDADE CIVIL - CAUSA DE PEDIR FUNDADA NA PRÁTICA,


PELA RÉ, DE ATOS DE ALIENAÇÃO PARENTAL CONSISTENTES,
DENTRE OUTROS, EM ACUSAÇÕES DE ABUSO SEXUAL CONTRA A SUA
FILHA MENOR - PEDIDO JULGADO PROCEDENTE APENAS EM RELAÇÃO
AOS PRIMEIRO E TERCEIRO AUTORES - ELEMENTOS DE PROVA
CONTIDOS NOS AUTOS QUE DEMONSTRAM QUE A RÉ PROCEDEU À
ACUSAÇÃO FORMAL DOS REFERIDOS AUTORES QUANTO À PRÁTICA
DE ABUSO SEXUAL, SUSPEITA QUE NÃO SE COMPROVOU SER
VERDADEIRA, ALÉM DE AUSENTE INDICATIVO CONTUNDENTE DE
AUTORIA - DANO MORAL CONFIGURADO - REDUÇÃO DA VERBA
INDENIZATÓRIA QUE SE JUSTIFICA POR TER O IMBRÓGLIO
NASCEDOURO EM CONFLITOS DECORRENTES DA SEPARAÇÃO ENTRE
A RÉ E SEU EX-COMPANHEIRO, DO QUAL SÃO OS AUTORES
FAMILIARES, TENDO COMO PONTO CENTRAL A FILHA MENOR DO
CASAL - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO (TJRJ, Apelação nº 0277562-
11.2014.8.19.0001, Rel. Des. Adriano Celso Guimarães, Oitava câmara cível, Data
do Julgamento: 05/05/2020, Data de Publicação: 14/05/2020) (Grifou-se)25.

Um segundo caso, julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, refere-se ao pleito de
danos morais realizado por um pai que, segundo a relatoria do desembargador do caso, tinha
reiteradas vezes seu direito de visita ao filho cerceado pela genitora da criança, motivo o qual
induziu genitor a prestar inúmeros boletins de ocorrência:

Responsabilidade civil. Ação de indenização. Alienação parental. Ré condenada ao


pagamento de indenização fixada em R$ 5.000,00 a título de reparação por danos
morais. Boletins de ocorrência que revelam patente recalcitrância da ré em
permitir que o autor exercesse seu regular direito de visitação ao filho comum

25
RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Apelação nº 0277562-
11.2014.8.19.0001. Rel. Adriano Celso Guimarães, julgado em 05/05/2020. Disponível
http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=4103203&PageSeq=1. Acesso em: 5 nov.
2020.
10

das partes, chegando inclusive a ponto de levar terceiro à residência paterna


para desempenhar função de segurança durante as visitas. Conduta da ré que
justificou o arbitramento de astreintes com o fim de preservar o vínculo entre pai e
filho, bem como a extração de cópias dos autos para a instauração de inquérito
policial a fim de apurar crime de desobediência, medidas de ultima ratio em ações
desta natureza. Alienação parental reconhecida pelo Ministério Público e por
profissionais responsáveis pela elaboração de estudo social e laudo psicológico.
Alienação parental caracterizada, nos termos do art. 2º, caput e par. único, I a IV da
Lei nº 12.318/2010. Dano moral configurado. Indenização mantida em R$
5.000,00. Sentença preservada (art. 252 do RITJSP). Recursos desprovidos (TJSP,
Apelação Cível nº 1034983-26.2015.8.26.0602, Rel. Des. Alexandre Marcondes, 3 ª
Câmara de Direito Privado, Data do Julgamento: 10/12/2019, Data de Publicação:
11/12/2019) (Grifou-se)26.

Um fato interessante e impressionante do julgado do TJSP acima colacionado, é que a


genitora chegou ao ponto de levar terceira pessoa para desempenhar o papel de “segurança”
da criança, durante a visitação paterna, quando, segundo a relatoria, inexistia indícios de
periculosidade por parte do genitor. O relator do caso entendeu pela clara configuração dos
danos morais haja vista a prática de alienação parental por parte da genitora apelada e os
danos sofridos pelo genitor.
Em outra situação judicializada, desta vez no Tribunal de Justiça do Mato Grosso do
Sul, o alienador é o genitor da criança:

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS – ALIENAÇÃO PARENTAL PRATICADA PELO PAI EM
RELAÇÃO À GENITORA – PRESCRIÇÃO AFASTADA – MATÉRIA
PRECLUSA – EX-MARIDO QUE REALIZOU VÁRIOS BOLETINS DE
OCORRÊNCIA SEM FUNDAMENTAÇÃO CONTRA A GENITORA –
PROVAS CONTUNDENTES NOS AUTOS – DANOS CAUSADOS À
GENITORA E À FILHA – QUANTUM INDENIZATÓRIO – FIXADO EM R$
50.000,00 (CINQUENTA MIL REAIS) – INVERSÃO DOS ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA – APELO PROVIDO.
A prescrição foi matéria objeto de decisão saneadora nos autos do processo, contra a
qual não houve interposição de recurso por nenhuma das partes, de modo que se
operou a preclusão consumativa quanto a tal ponto, não cabendo mais ao magistrado
pronunciar-se quanto ao tema em nenhum grau de jurisdição, sob pena de ferir-se o
princípio da segurança jurídica.
Verificada a prática de atos de alienação parental pelo apelado, os quais
geraram prejuízos de grande monta a filha e danos morais à sua genitora,
verificam-se os danos morais.
In casu, tem-se que R$ 50.000,00 constitui "quantum" capaz de compensar os
efeitos do prejuízo moral sofrido, bem como de inibir que o requerido torne-se
reincidente, atendendo aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Prescrição afastada.

26
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado do São Paulo. Apelação nº 1034983-26.2015.8.26.0602. Rel.
Alexandre Marcondes, julgado em 10/12/2019. Disponível
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=13168769&cdForo=0. Acesso em: 5 nov. 2020.
11

Recurso provido (TJMS, Apelação nº 0827299-18.2014.8.12.000, Rel. Des. João


Maria Lós, 1ª Câmara Cível, Data do julgamento: 03/04/2018, Data de publicação:
05/04/2018) (Grifou-se)27.

Segundo os fatos narrados, após a separação do casal, o genitor sempre promovia rixas
com a mãe, tendo chegado a realizar vários boletins de ocorrência contra a ela, sem qualquer
comprovação dos fatos alegados. A seguir um trecho do voto do relator:

Claramente, portanto, identificados os atos de alienação parental e a nítida intenção


de constantemente atingir a autora a ocorrência de dano moral ao revés do alegado
pelo apelado, que sempre buscou desqualificar a conduta da genitora no exercício da
maternidade, dificultando o exercício da autoridade parental, o que fica bem exposto
no depoimento da menina, apresentado na peça recursal (f. 528/529), quando ela diz
que o pai falava para os amigos na frente dela, que a mãe "era desequilibrada, que
ela era frustada, que só queria atingi-lo e causar desaforo na vida dele" .
[...]
Assim, quem age dessa forma deve ser devidamente responsabilizado, justamente
porque sabe que a pior forma de atingir a ex-mulher é através do filho, e o pior
efeito a ser arraigado é aquele ali firmado, porque dificilmente será recuperado. Os
efeitos que são gerados por tal conduta, nunca mais serão apagados28.

Por fim, colaciona-se um julgado referente a atos de alienação parental praticados pela
mãe, os quais causaram comprovado abalo moral no genitor, fato que fora reconhecido em
pelo juízo de primeiro grau e confirmado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
Dentre as condutas apresentadas no acórdão, aponta-se a desqualificação do pai no exercício
da paternidade, a criação de dificuldade para o exercício da autoridade parental e para o
estabelecimento de contato da criança com o pai, além, da falsa denúncia de abuso sexual
contra o genitor da menor, o qual tinha o fito de obstar a convivência dele com a criança:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ALIENAÇÃO PARENTAL.


DANOS MORAIS. Merece mantida a sentença que determina o pagamento de
indenização por danos morais da apelante em relação ao autor, comprovada a
prática de alienação parental. Manutenção do quantum indenizatório, uma vez que
fixado em respeito aos critérios da razoabilidade e proporcionalidade. Apelação
cível desprovida (TJRS, Apelação Cível nº 70073665267, Oitava Câmara Cível, Rel.
Des. Jorge Luís Dall’Agnol, Data de julgamento: 20/07/2017) (Grifou-se)29.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

27
MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul. Apelação nº 0827299-
18.2014.8.12.0001. Rel. João Maria Lós, julgado em 03/04/2018. Disponível
https://esaj.tjms.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=760646&cdForo=0. Acesso em: 5 nov. 2020.
28
Ibid.
29
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação nº 70073665267.
Rel. Jorge Luiz Dall’Agnol, julgado em 20/07/2017. Disponível https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-
solr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa. Acesso em: 5 nov. 2020.
12

Diante do estudo acima apresentado, observa-se que o tema da alienação parental


recebe especial atenção da doutrina e jurisprudência pátria. Pois, trata-se de uma prática
imensamente nociva não apenas para a vida daqueles que sofrem diretamente os efeitos da
alienação, mas também, para toda a sociedade, pois, os efeitos danosos da prática repercutem
para todos que convivem com as vítimas e com os alienados.
Foi possível observar também, que os tribunais estaduais brasileiros, em consonância
com o disposto na legislação pátria, aceitam os pleitos de responsabilidade civil pelos danos
decorrentes da alienação parental, em especial os danos morais, quando comprovada a relação
de causalidade entre os atos praticados pelo sujeito alienado e os danos sofridos pelas vítimas.
Essencial se mostra, assim, o estudo aprofundado dos operadores do direito e demais
profissionais, como exemplo, psicólogos, assistentes sociais e policiais, sobre o tema da
alienação parental. Pois, o ordenamento jurídico brasileiro, possui o escopo maior de proteção
integral da criança e do adolescente e, de modo corolário, a responsabilização, punitiva e
também compensatória, dos agentes causadores dos danos.
13

REFERÊNCIAS

A MORTE inventada: alienação parental. Direção: Alan Minas. Produção: Caraminhola


Produções. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=wHfB5k-kBrg. Acesso em: 5 nov. 2020.

BRASIL. Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 5 nov.
2020.

BRASIL. Lei n o 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera
o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 5 nov.
2020.

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo:
Atlas, 2020.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4.ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 4.v. 14. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

JOSSERAND, Louis. Evolução da responsabilidade civil. Revista Forense, Rio de


Janeiro, 1941.

LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 5.v. 9.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

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