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1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3
2 A ALIENAÇÃO PARENTAL ................................................................................................ 3
2.1 Conceituação ........................................................................................................................ 3
2.2 A alienação parental no ordenamento jurídico brasileiro ..................................................... 5
3 RESPONSABILIDADE CIVIL .............................................................................................. 6
3.1 Considerações gerais ............................................................................................................ 6
3.2 A imputação do dever de indenizar pela prática de alienação parental ................................ 7
3.3 Posicionamento dos tribunais brasileiros ............................................................................. 8
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 11
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 13
3
1 INTRODUÇÃO
2 A ALIENAÇÃO PARENTAL
2.1 Conceituação
1
MADALENO, Ana Carolina Carpes. Indenização pela prática da alienação parental e imposição de falsa
memórias. In: MADALENO, Rolf; BARBOSA, Eduardo (coord.). Responsabilidade Civil no Direito de
Família. São Paulo: Atlas, 2015, p. 22.
2
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 5.v. 9.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 206.
3
MADALENO, op. cit., p. 17.
4
por exemplo, da infidelidade conjugal ou, até mesmo, da não aceitação do fim do casamento
por uma das partes.
Nesse contexto, comumente se observa uma tentativa de desqualificação do outro
genitor frente aos filhos, contudo, não é qualquer conduta por parte de um dos genitores que
caracteriza a alienação parental, como exemplo, a emissão de palavras e xingamentos num
momento pontual de raiva. Para a configuração da prática alienante, todavia, é necessária a
comprovação da “interferência na formação psicológica permanente da criança ou
adolescente, ou o efetivo prejuízo ao contato ou convivência com o outro genitor e seu grupo
familiar, ou às relações afetivas com estes”4.
Nesses casos, “o filho é utilizado como instrumento da agressividade, sendo induzido
a odiar um dos genitores. Trata-se de verdadeira campanha de desmoralização”5:
Para a concretização dessa “verdadeira lavagem cerebral”7 por parte do alienante, são
utilizados infinitos8 artifícios, tanto em relação ao outro genitor, como exemplo a criação de
dificuldades para a realização das visitas, como em relação ao filho, como exemplo a perigosa
e comum imposição de falsas memórias no psíquico daquela criança ou adolescente. Seja qual
for as situações criadas pelo alienador, o fato é que a prática da alienação parental pode gerar
inúmeras consequências trágicas e permanentes na vida daquelas que sofrem seus efeitos
danosos:
Não restam dúvidas do grande estrago que uma falsa denúncia e a prática da
alienação parental podem causar, não apenas da vida da criança, mas também na do
genitor alienado ou falsamente acusado que sofre grande desestrutura em todas as
esferas de sua vida, seja emocional, psicológica e mesmo social, uma vez que passa
a ser visto também com maus olhos, além de ser afastado dos filhos toda a série de
consequências experimentadas9.
4
LÔBO, op. cit., p. 206.
5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016, p. 908.
6
MADALENO, op. cit., p. 17.
7
DIAS, op. cit., 908.
8
MADALENO, op. cit., p. 17.
9
Ibid., p. 27.
5
Além de conceituar, a dita lei elenca o seguinte rol exemplificativo de ações que
caracterizam a alienação parental:
10
Ibid., p. 909.
11
LÔBO, op. cit., p. 77.
12
BRASIL. Lei n o 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei
nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 5 nov. 2020.
6
Ainda no que condiz à disposição do referido diploma legal, nota-se que, caso
configurada a prática alienante, o genitor prejudicado pode requerer, ou o juiz determinar, de
ofício, a instauração de processo autônomo para a apuração da suposta alienação parental, a
qual, se comprovada, pode gerar a imputação de diversas sanções, as quais estão elencadas no
art. 6º da referida lei. Tais sanções, possuem o escopo de inibir ou atenuar os efeitos da
alienação parental de acordo a gravidade de cada situação, isso porque, a Lei 12.318/2010 foi
instituída para, principalmente, coibir a prática da alienação parental desde o seu princípio14.
Dentre as punições, encontra-se, a advertência, o pagamento de multa ao alienador e,
até mesmo, a suspensão da autoridade parental. Contudo, tais medidas não possuem caráter
compensatório, sendo, segundo expresso posicionamento da lei, salvaguardados os direitos
das vítimas e dos alienados de pleitearem a responsabilidade civil e criminal do alienante
pelos atos de alienação praticados e comprovados.
3 RESPONSABILIDADE CIVIL
13
Ibid.
14
MADALENO, Ana Carolina Carpes; MADALENO, Rolf. Síndrome da Alienação Parental: importância da
detecção – aspetos legais e processuais. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 123.
15
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2020, p. 12.
16
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 2.v. 18.ed. São Paulo: Atlas,
2018, p. 368.
7
A indenização por dano moral ou material nos casos de danos decorrentes da prática
de alienação parental é expressamente admitida pelo ordenamento jurídico brasileiro, pois,
como já referido, a aplicação de qualquer das medidas sugeridas no art. 6º da Lei 12.318/2010
não impede o ajuizamento de ação autônoma de indenização por perdas e danos, ou mesmo, a
17
JOSSERAND, Louis. Evolução da responsabilidade civil. Revista Forense, Rio de Janeiro, 1941, p. 548.
18
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 4.v. 14. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019, p. 62-66.
8
ação de responsabilidade criminal, tendo em vista, o caráter não compensatório das medidas
da Lei específica.
De modo resumido, entende-se por dano moral aquela violação a um direito ou
atributo de personalidade19. No caso da prática de alienação, mostra-se indenizável tal dano
tendo em vista “o sofrimento psíquico ou a frustração pela incerteza anímica do progenitor
não guardião pela perda da relação paterno-filial”20 e até mesmo, os inúmeros, já comentados,
sofrimentos causados à criança/adolescente vítima da alienação. Sendo, para isso, necessária a
demonstração do nexo de causalidade entre a conduta do alienante e o abalo psíquico sofrido
pelo genitor alienado ou pela criança/adolescente.
De outro lado, tem-se os danos materiais ou patrimoniais, os quais atingem os bens
integrantes do patrimônio da vítima21. De igual modo a infinidade de situações que podem
configurar a prática da alienação, os motivos que podem ensejar a indenização por danos
materiais também são incontáveis. Cita-se, a título exemplificativo, o possível dispêndio com
advogado e as demais despesas processuais resultantes de ação de execução forçosa de visitas
movida pelo alienado para acessar aquele filho, devido a criação de obstáculos pelo genitor
guardião para a realização das visitas. Outro exemplo, seriam as despesas com o
deslocamento geográfico – combustível, táxi e até mesmo passagens aéreas – em razão de
abusiva mudança de domicílio do filho para outra cidade ou estado22.
Por fim, cita-se ainda no que tange à responsabilidade civil por atos de alienação
parental, a invocação do instituto do abuso de direito23, o qual, visa impedir que o titular de
um direito utilize seu poder com finalidade distinta daquela a que se destina24. Sendo
perceptível, assim, que o genitor alienador pratica o abuso de direito ao passo que tenta
excluir o outro genitor e sua família da vida do filho e vice-versa.
19
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 103.
20
MADALENO; MADALENO, op. cit., p. 123.
21
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 90.
22
MADALENO; MADALENO, op. cit., p. 123.
23
MADALENO, op. cit., p. 29.
24
CAVALIERI FILHO, op. cit., p. 220.
9
Um segundo caso, julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, refere-se ao pleito de
danos morais realizado por um pai que, segundo a relatoria do desembargador do caso, tinha
reiteradas vezes seu direito de visita ao filho cerceado pela genitora da criança, motivo o qual
induziu genitor a prestar inúmeros boletins de ocorrência:
25
RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Apelação nº 0277562-
11.2014.8.19.0001. Rel. Adriano Celso Guimarães, julgado em 05/05/2020. Disponível
http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=4103203&PageSeq=1. Acesso em: 5 nov.
2020.
10
26
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado do São Paulo. Apelação nº 1034983-26.2015.8.26.0602. Rel.
Alexandre Marcondes, julgado em 10/12/2019. Disponível
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=13168769&cdForo=0. Acesso em: 5 nov. 2020.
11
Segundo os fatos narrados, após a separação do casal, o genitor sempre promovia rixas
com a mãe, tendo chegado a realizar vários boletins de ocorrência contra a ela, sem qualquer
comprovação dos fatos alegados. A seguir um trecho do voto do relator:
Por fim, colaciona-se um julgado referente a atos de alienação parental praticados pela
mãe, os quais causaram comprovado abalo moral no genitor, fato que fora reconhecido em
pelo juízo de primeiro grau e confirmado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.
Dentre as condutas apresentadas no acórdão, aponta-se a desqualificação do pai no exercício
da paternidade, a criação de dificuldade para o exercício da autoridade parental e para o
estabelecimento de contato da criança com o pai, além, da falsa denúncia de abuso sexual
contra o genitor da menor, o qual tinha o fito de obstar a convivência dele com a criança:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
27
MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul. Apelação nº 0827299-
18.2014.8.12.0001. Rel. João Maria Lós, julgado em 03/04/2018. Disponível
https://esaj.tjms.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=760646&cdForo=0. Acesso em: 5 nov. 2020.
28
Ibid.
29
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação nº 70073665267.
Rel. Jorge Luiz Dall’Agnol, julgado em 20/07/2017. Disponível https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-
solr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa. Acesso em: 5 nov. 2020.
12
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 5 nov.
2020.
BRASIL. Lei n o 12.318, de 26 de agosto de 2010. Dispõe sobre a alienação parental e altera
o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm. Acesso em: 5 nov.
2020.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 14. ed. São Paulo:
Atlas, 2020.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4.ed. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2016.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. 4.v. 14. ed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 5.v. 9.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
MATO GROSSO DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul. Apelação
nº 0827299-18.2014.8.12.0001. Rel. João Maria Lós, julgado em 03/04/2018. Disponível
https://esaj.tjms.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=760646&cdForo=0. Acesso em: 5 nov.
2020.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Apelação nº
70073665267. Rel. Jorge Luiz Dall’Agnol, julgado em 20/07/2017. Disponível
https://www.tjrs.jus.br/novo/buscas-
solr/?aba=jurisprudencia&q=&conteudo_busca=ementa_completa. Acesso em: 5 nov. 2020.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Obrigações e Responsabilidade Civil. 2.v. 18.ed.
São Paulo: Atlas, 2018.