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20 de Junho de 2023

ARTIGO: ALIENAÇÃO PARENTAL


SEGUNDO A LEI 12.318/2010
Publicado por Defensoria Pública do Pará há 12 anos  57,1K visualizações

INTRODUÇAO

O termo Síndrome de Alienação Parental foi delineado em


1985 pelo psiquiatra Richard Gardner, sendo descrita por
ele como um distúrbio no qual uma criança (menor) é ma-
nipulada ou condicionada, normalmente por um dos geni-
tores, para vir a romper os laços efetivos com o outro geni-
tor. Geralmente, isso acontece, quando o casamento acaba
e os filhos são usados por um dos genitores para atingir o
outro.

As causas que levam o alienador a cometer tal ato podem


ser dentre outras: inveja, ciúme, vingança ou possessivi-
dade. Em várias ocasiões o menor é usado até mesmo como
forma de chantagem contra o ex-cônjuge ou ex-compa-
nheiro, com objetivos de retomar a relação e até objetivos
financeiros, pois mantendo o genitor alimentante afastado,
este não poderá fiscalizar e opinar como o dinheiro da pen-
são alimentícia é gasto.

Como a maioria dos casos (percentual superior a 90%) são


as mães que têm a guarda dos filhos é mais comum que es-
sas manipulem as crianças e adolescentes contra o pai, su-
gerindo ao menor que o pai é pessoa perigosa ou irrespon-
sável, controlando ou dificultando os horários de visitas,
passeios e viagens e criticando as atitudes do genitor e dos
familiares ligados ao pai. Em alguns casos extremos che-
gam a fazer enganosas acusações de abuso sexual impetra-
das pelo pai ou mesmo falsas agressões físicas ou psíquicas
contra os menores. Alegam sempre que sua atitude visa
proteger a criança do pai que, na sua versão, não merece
confiança.

CONCEITO LEGAL DA LEI 12.318/2010

O Art. 2o da Lei 12.318/2010 define de forma ampla a alie-


nação parental da seguinte forma: Considera-se ato de alie-
nação parental a interferência na formação psicológica da
criança ou do adolescente promovida ou induzida por um
dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabe-
lecimento ou à manutenção de vínculos com este.

PESSOAS ENVOLVIDAS

ALIENADOR Que pode ser um dos genitores; avós; qualquer res-


ponsável pelo menor (quem tem autoridade, guarda
ou vigilância sobre a criança ou adolescente);
MENOR Criança ou adolescente que tem sua integridade psi-
ENVOLVIDO cológica atacada com o intuito de repudiar genitor;
GENITOR Pai ou mãe contra quem o ataque é direcionado.
ALIENADO

AMPLITUDE DA ALIENAÇAO PARENTAL

Tipo de conduta Quem pratica a con- A quem é dirigida


duta sujeito ativo sujeito passivo
promovida ou (alienador): (alienado):
induzida:
Dificultar a Um dos genitores Genitor (pai ou mãe).
convivência; (pai/mãe);
Repudiar genitor; Avós
(paternos/maternos);
Causar prejuízo ao Qualquer responsável
vínculo com o geni- pelo menor*;
tor alienado.

* o responsável pode ser qualquer pessoa que tenha,


mesmo temporariamente, autoridade, guarda ou vigilância
sobre a criança ou adolescente.

Conclusão: Na forma mais simples, alienação parental é a


conduta promovida pelo alienador objetivando dificultar a
convivência do menor com o genitor alienado. O exemplo
mais comum é aquele em que o pai ou a mãe usa o filho
para atingir negativamente o outro genitor.

DIREITOS PROTEGIDOS

A finalidade básica da lei 12.318/2010 é proteger os direitos


fundamentais da criança e adolescente. Por disposição do
Art. 3o da referida lei: A prática de ato de alienação paren-
tal fere direito fundamental da criança ou do adolescente
de convivência familiar saudável, prejudica a realização de
afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar,
constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e
descumprimento dos deveres inerentes à autoridade pa-
rental ou decorrentes de tutela ou guarda.

Conclui-se que a alienação parental deve ser combatida


porque:

a) fere o direito fundamental de uma convivência familiar


saudável;b) prejudica o afeto nas relações familiares;c)
constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente; d)
quem provoca descumpre os deveres inerentes ao respon-
sável pelo menor.
FORMAS DE ALIENAÇAO

Segundo o § único do art. 2º da Lei 12.318/2010 considera-


se alienação parental os atos declarados pelo juiz ou cons-
tatados por perícia além das seguintes formas exemplifica-
tivas praticadas diretamente ou com auxílio de terceiros:

a) fazer campanha para desqualificar o genitor. Exemplo:


falar para o menor que o outro genitor é pessoa que não
merece confiança, que não é responsável, que é mentiroso,
etc.;

b) dificultar o exercício da autoridade parental. Exemplo:


sujeito ativo (pai ou mãe) induz o menor a não obedecer ao
outro genitor;

c) dificultar contato de criança ou adolescente com genitor.


Exemplo: genitor que tem a guarda não permite que o ou-
tro veja o menor, não permitindo o acesso a sua residência
ou escondendo o filho; Não permitir contato telefônico do
pai com o filho, proibindo até mesmo que o filho ligue para
ele;

d) dificultar o exercício da convivência familiar regulamen-


tada. Exemplo: mãe que tem a guarda do filho e não obe-
dece ou dificulta o horário de visitas regulamentado judici-
almente programando, por exemplo, atividades maravilho-
sas para o dia em que a criança estará com o alienado;

e) omitir deliberadamente a genitor informações pessoais


relevantes sobre a criança ou adolescente, com a intenção
de dificultar a convivência com o menor. Exemplo: pai que
tem a guarda do filho e não comunica à mãe informações
importantes sobre a saúde da criança, sua situação escolar
ou muda de endereço sem comunicar a mãe;
f) apresentar falsa denúncia contra genitor ou familiares
deste objetivando atrapalhar a convivência deles com o
menor. Exemplo: genitor que acusa falsamente o outro de
crime tais como abuso sexual ou maus tratos com o intuito
de afastá-lo do filho;

g) mudar o domicílio para dificultar a convivência do me-


nor com o outro genitor ou familiares deste. Exemplo: mãe
que se muda para outra cidade ou estado objetivando tor-
nar difícil o contato do menor com o pai.

Na alienação parental são comuns as seguintes frases: Seu


pai é um vagabundo e irresponsável, Eu me separei de seu
pai porque ele me batia, Seu pai vive me perseguindo, Seu
pai não dá dinheiro suficiente para manter vocês, Seu pai
abandonou a família por causa de outra mulher, Sua mãe
gasta com ela o dinheiro que eu mando para vocês, Sua
mãe não cuida bem de vocês, Sua mãe não trabalha porque
é preguiçosa, Sua mãe não gosta de vocês.

TIPOS DE PENALIDADES APLICADAS AO ALIENADOR

Conforme disposição do Art. 6º da Lei 12.318/2010:

01. Advertência, como medida para prevenir ampliação dos


atos de alienação. Essa penalidade deve ser usada, por
exemplo, nos casos mais brandos;

02. Alterar o regime de convivência em favor do genitor ali-


enado, como por exemplo, ampliar os dias e horários de vi-
sita em favor do alienado;

03. Multa, como forma de penalizar, por exemplo, o aliena-


dor financeiramente mais forte ou que usa o poder econô-
mico para influenciar negativamente a criança ou
adolescente;

04. Determinar acompanhamento psicológico ou biopsicos-


social do menor com a finalidade de corrigir os ataques à
integridade psicológica sofrida;

05. Alterar o regime de guarda como, por exemplo, de


guarda unilateral para guarda compartilhada ou o contrá-
rio em favor do alienado;

06. Fixar cautelarmente o domicílio do menor quando o ali-


enador tenta mudança de domicílio para afastar a criança
ou adolescente do genitor alienado;

07. Suspensão da autoridade parental. Medida extrema


para retirar do genitor ou responsável alienador a capaci-
dade de exercer influência sobre o menor.

IMPORTANTE: Conforme a gravidade do caso o juiz poderá


aplicar, cumulativamente ou não, as penalidades acima
sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou cri-
minal. Também poderá utilizar amplamente, instrumentos
processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da
alienação.

PROCESSO

O Art. 4o da lei 12.318/2010 dispõe: Declarado indício de ato


de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em
qualquer momento processual, em ação autônoma ou inci-
dentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz
determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as
medidas provisórias necessárias para preservação da inte-
gridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive
para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a
efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Conclusão:

a) o processo terá tramitação prioritária;

b) poderá ser iniciado a requerimento ou de ofício;

c) poderá ocorrer em ação autônoma ou de forma inciden-


tal em qualquer momento processual;

d) o juiz poderá determinar, com urgência, ouvido o Minis-


tério Público, as medidas provisórias necessárias para pre-
servação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente.

IMPORTANTE: A mudança de domicílio da criança e do


adolescente, em regra, não altera a competência relacio-
nada às ações fundadas em direito de convivência familiar.
A alteração só ocorrerá se decorrente de consenso entre os
genitores ou de decisão judicial.

PERÍCIA PSICOLÓGICA OU BIOPSICOSSOCIAL

Afirma o Art. 5o da lei 12.318/2010 Havendo indício da prá-


tica de ato de alienação parental, em ação autônoma ou in-
cidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicoló-
gica ou biopsicossocial. O exame pericial terá base em am-
pla avaliação psicológica ou biopsicossocial e deverá
conter:

a) entrevista pessoal com as partes;


b) exame de documentos dos autos;

c) histórico do relacionamento do casal e da separação;

d) cronologia de incidentes;

e) avaliação da personalidade dos envolvidos;

f) exame da forma como a criança ou adolescente se mani-


festa acerca de eventual acusação contra genitor.

IMPORTANTE: O laudo pericial será amplo e realizado por


profissional ou equipe multidisciplinar habilitados. Será
apresentado no prazo de 90 (noventa) dias, acompanhado
da indicação de eventuais medidas necessárias à preserva-
ção da integridade psicológica da criança ou adolescente
podendo ser prorrogado por autorização judicial baseada
em justificativa circunstanciada.

CONCLUSAO

A Lei 12.318/2010 vem preencher uma lacuna referente à


proteção psicológica do menor, pois ao dispor sobre a alie-
nação parental vem coibir esse tipo de comportamento tão
prejudicial à formação da criança e adolescente e ampliar a
proteção integral ofertada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. Não devemos esquecer que a Constituição Fe-
deral dispõe como dever da família, da sociedade e do Es-
tado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimenta-
ção, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, cruel-
dade e opressão.
Autor: Joaquim Azevedo Lima Filho - Defensor Público
Titular de São Domingos do Araguaia, cumulando com o
município de Marabá. Pós-Graduado em Direito Constituci-
onal e Direito Privado, pela Universidade do Ceará. Autor
de algumas obras: Direito Civil para Concurso Público; Con-
domínio: Administração&Legislação.

Fonte: Centro de Estudos.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/artigo-alienacao-parental-segundo-a-lei-


12318-2010/2957478

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