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Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO

CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL

ALIENAÇÃO PARENTAL

Paulla Teixeira de Oliveira 1


Diógenes Faria de Carvalho 2
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Resumo: Este Artigo Científico apresenta um estudo do instituto da Alienação Parental, que ganhou sua
definição jurídica com a introdução da Lei 12.318/2010 no ordenamento jurídico brasileiro. Este estudo traz seu
conceito, identificação, causas, consequências, estágios da Síndrome da Alienação Parental, características do
cônjuge alienante, bem como os sintomas apresentados por uma criança alienada. Objetivou-se com esse estudo
fazer uma análise da Alienação Parental, discutindo seus desdobramentos. Para isso foi feita uma vasta pesquisa
em doutrinas de direito de família, direito constitucional, sites jurídicos e legislações especiais que tutelam os
direitos dos menores e da família. Como resultado constatou-se a importância de se diagnosticar o quanto antes a
ocorrência da Síndrome da Alienação parental e de combatê-la, bem como a necessidade do acompanhamento
familiar por uma equipe multidisciplinar, evolvendo psicólogos, mediadores e o poder judiciário na solução
deste grave problema que só prejudica o bem estar psíquico das crianças e adolescentes e de todas as pessoas
envolvidas neste terrível conflito.

Palavras –Chave: Alienação Parental, Família, Crianças e Adolescentes.

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1 Introdução

O presente Artigo Científico discorre sobre a Alienação Parental, fenômeno que


ganhou sua definição jurídica com a introdução da Lei 12. 318/2010. Trata-se de um assunto
bastante novo, muito comum, pouco conhecido pela população e que necessita de um estudo
cuidadoso, uma vez que a sua ocorrência provoca consequências devastadoras nas famílias
das pessoas envolvidas.
Primeiramente será abordado o conceito da Alienação sob a ótica de diversos autores,
sua definição jurídica, bem como breves comentários sobre a Lei da Alienação parental.
Em um segundo momento será abordada a necessidade de identificar a síndrome da
alienação parental e quais os critérios utilizados na identificação da mesma, mostrando como
é importante que a síndrome seja diagnosticada o quanto antes, pois quanto mais cedo
1
Discente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito da Universidade Salgado de Oliveira.
2
Docente do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito da Universidade Salgado de Oliveira.
ocorrerem as intervenções jurídicas e psicológicas, tanto menores serão os prejuízos causados
e melhor o prognóstico de tratamento para todos.
Após essa análise, serão verificadas as características, condutas clássicas e sentimentos
do genitor alienador que passa a adotar atitudes negativas usando o filho como instrumento de
vingança contra o outro genitor não detentor da guarda.
A pesquisa fará menção aos estágios da Síndrome da Alienação Parental,
identificando-se três fases bem definidas: O tipo ligeiro ou estágio I leve; o tipo moderado ou
estágio II médio; e o tipo grave ou estágio III grave. Fases estas importantes para que se
identifique a ocorrência, gravidade e progressão da Síndrome da Alienação Parental.
Serão analisadas as consequências e efeitos da Síndrome da Alienação Parental,
mostrando as terríveis sequelas que esse fenômeno pode provocar em todos, uma vez que
viola o direito fundamental que os menores têm de ter uma convivência familiar saudável,
prejudicando a realização de afeto nas relações com o grupo familiar e com o genitor,
constituindo abuso moral contra criança ou adolescente.
Serão expostas as qualidades que ajudam a superar a Síndrome da Alienação Parental
e se discutirá a importância dos profissionais da área jurídica como advogados, juízes,
psicólogos forenses, promotores, dentre outros, bem como de uma equipe multidisciplinar na
prevenção e solução da alienação, devendo esses profissionais adotarem medidas de
intervenção para evitar que os danos provocados pela síndrome tornam-se irreversíveis.

2 Alienação Parental: Conceito

O Primeira definição da Alienação Parental foi feita em 1985 por Richard Gardner,
médico e professor de psiquiatria infantil da Universidade de Colúmbia (EUA), descrevendo a
situação em que o pai ou a mãe da criança a manipula para quebrar os laços afetivos com o
outro cônjuge, gerando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.
Jorge Trindade observa que:

(...) A síndrome da Alienação Parental é um transtorno psicológico que se


caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, denominado
cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes
formas e estratégias de atuação com o objetivo de impedir, obstaculizar ou destruir
seus vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam
motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras palavras a alienação parental
é um processo que consiste em programar uma criança para odiar um de seus
genitores, sem justificativa, de modo que a própria criança ingressa na trajetória de
desconstituição desse mesmo genitor. (TRINDADE, 2010, p.196).
Ana Maria Milano Silva:
Alienação Parental é o conjunto de sintomas advindos do afastamento entre um genitor
e filhos, gerado pelo comportamento doentio e programado do outro genitor, geralmente
aquele que detêm a guarda do filho.
A alienação parental é um processo que consiste em programar a criança para que
odeie um de seus genitores sem justificativa. Quando a Síndrome se apresenta, a criança dá
sua própria contribuição na campanha para desmoralizar o genitor alienado. (SILVA, 2008,
p.154).
Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno:
Trata-se de uma campanha liderada pelo genitor detentor da guarda da prole, no
sentido de programar a criança para que odeie e repudie, sem justificativa, o outro
genitor, transformando a sua consciência mediante diferentes estratégias, com o
objetivo de obstruir, impedir ou mesmo destruir os vínculos entre o menor e o pai
não guardião, caracterizado também, pelo conjunto de sintomas dela resultantes,
causando, assim, uma forte relação de dependência e submissão do menor com o
genitor alienante. E, uma vez instaurado o assédio, a própria criança contribui para a
alienação. (MADALENO & MADALENO, 2013, p. 42).

Nas palavras de Pedro Lenza:

A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do


adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas
relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou
adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental decorrentes
de tutela ou guarda. (LENZA, 2011, p. 1115).

2.1 Definição jurídica e caracterização dos atos de alienação parental

Inicialmente, a pretensão da lei foi definir juridicamente a alienação parental. A Lei


assim definiu:

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da


criança ou adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou
pelos que tenham a criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância para
que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este.

O texto da lei tem como inspiração os elementos fornecidos pela Psicologia, porém
cria instrumento com disciplina própria para promover atuação ágil e segura do Estado em
casos de abuso assim definidos. Portanto é de extrema importância que a lei incorpore a
expressão alienação parental, para viabilizar a inibição de tal modalidade que é muito
prejudicial para os menores e também para fornecer aos operadores do direito uma segurança
maior na eventual caracterização desse fenômeno.
A lei diz que a autoria dos atos de alienação parental poderá ser de qualquer pessoa
que tenha o menor sob sua autoridade, guarda ou vigilância. Portanto a lei não restringiu a
prática da alienação parental aos genitores, para assim evitar que a intermediação de terceiros
possa mascarar a constatação de atos de alienação parental. E é necessário que haja efetivo
prejuízo a manutenção ou estabelecimento de vínculos com o genitor alienado. Portanto a
denúncia da alienação parental não pode ser dada por qualquer manifestação de repúdio da
criança ou adolescente contra um dos pais, sem exame da dinâmica que lhe dá origem.
Ainda que inconsciente e sutil é possível haver alguma contribuição dos genitores e
filhos para o aprofundamento do processo de alienação parental. Segundo Elizio Luiz Peres:

A identificação de alguma responsabilidade do genitor alvo, na dinâmica que influi


processo de alienação parental, também pode viabilizar mudança de sua posição
subjetiva (por exemplo, deixar de se ver como mera vítima), com possível indução
de dinâmica familiar mais saudável.
No entanto, embora possa cogitar-se de diversidade de responsabilidades, não é
razoável equiparar, sob a ótica do Direito, pequenas dificuldades para o exercício da
paternidade ou maternidade com atos abusivos de alienação parental.
Evidentemente, não é satisfatória a solução que, na prática, simplesmente devolve o
problema para a órbita privada ou propõe recomendações sem efetividade e, de fato,
abandona a criança ou adolescente à própria sorte, sobretudo quando houver
considerável dificuldade para que o genitor alvo ocupe nova posição, apta a inibir o
processo de alienação parental. Também é necessário admitir a existência de casos
em que a conduta isolada do genitor alvo seja pouco relevante para a reversão do
processo. A precisa intervenção externa pode, por exemplo, instrumentalizar o
genitor alvo para que assuma nova posição e contribua para induzir mudança na
dinâmica de abuso. (PERES, 2013, p. 46-47).

A definição jurídica da alienação parental faz com que o juiz possa identificá-la com
maior segurança, fazendo com que ele possa determinar os efeitos jurídicos com celeridade,
adotando medidas urgentes para a proteção da criança e do adolescente, limitando, se
necessário o exercício abusivo da autoridade parental. Junto com a definição jurídica estrita,
incluem-se algumas hipóteses de alienação parental, previstas no parágrafo único do art. 2º da
Lei, sendo o rol de tal parágrafo exemplificativo. Algumas dessas hipóteses são: dificultar o
exercício da autoridade parental, dificultar contato de criança ou adolescente com genitor,
realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade, dentre outras.
É muito importante que seja analisado o histórico de cada caso concreto. Examinar o
contexto em que foram praticados os atos é importante indicador para que não sejam
confundidos os atos de alienação parental de falhas pontuais referentes ao exercício sadio da
paternidade ou maternidade, que faz parte da formação natural do indivíduo. De igual
maneira, condutas de aparente colaboração, de cuidado aparente com os filhos ou de respeito
à vontade que lhes é atribuída ajudam a mascarar atos de alienação parental. Em uma análise
superficial, os menores podem mostrar-se aparentemente sadios, mesmo estando mal
psiquicamente. A percepção cuidadosa do juiz e o exame de tais atos, com apoio técnico, caso
necessário, são decisivos para que se evite o agravamento do processo de alienação parental.

3 Lei da Alienação Parental (Lei 12.318/1020)

A Lei sobre alienação parental teve sua aprovação em um cenário de uma procura
social por um maior equilíbrio de participação dos genitores na formação de seus filhos. A
família passa se tornar um lugar de plena realização de seus integrantes, diferenciando-se
claramente os papéis de parentalidade e conjugalidade. Assim, a família deixa de ser
considerada como mera unidade de produção e procriação. Confirma esse contexto recente
aprovação da Lei 11.698/2008, que definiu como preferencial o modelo de guarda
compartilhada, bem como a Lei 12.013/2009, que determina às instituições de ensino o envio
de informações escolares sobre filhos a pai e mãe. O conteúdo dessas leis mostram a nova
concepção social dos papéis de mãe e pai na formação de seus filhos.
Vale destacar alguns artigos da lei 12.318/2010:

Art. 3.º: A prática do ato de alienação parental fere direito fundamental da criança
ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto
nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a
criança ou adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade
parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Art. 5.º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame
de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,
cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da
forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra genitor.
§ 2º a perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigindo em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência da
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,
prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.
Art. 6.º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I- declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II- ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienador alienado;
III- estipular multa ao alienador;
IV- determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V- determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI- determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII- declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar
para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das
alternâncias dos períodos de convivência familiar.

Assim, esta lei visa reforçar a importância da família e do saudável convívio entre pais
e filhos, prevendo medidas para fazer cessar os atos de alienação parental.
Para Elizio Luiz Peres:

Não se espera da lei, evidentemente, o efeito de remédio que leve à mágica


transformação de costumes ou eliminação de dificuldades inerentes a complexos
processos de alienação parental. Razoável é considerá-la como mais um ingrediente
no contexto de redefinição de papéis parentais, mais uma ferramenta para assegurar
maior expectativa de efetividade na eventual busca de adequada atuação do Poder
Judiciário, em casos envolvendo alienação parental. Nessa posição, parece que o
melhor efeito que se pode esperar não deve surgir apenas da relevância do
posicionamento da Lei, pelos Tribunais, mas de seu consequente caráter indutor de
dinâmica familiar mais saudável, ao lado, por exemplo da nova legislação sobre
guarda compartilhada, que marca inflexão do ordenamento jurídico no sentido de
reconhecer a parentalidade em dimensão mais ampla. (PERES, 2013, p. 43-44).

4 Necessidade de Identificar a Síndrome da Alienação Parental

Primeiramente a Síndrome da Alienação Parental deve ser identificada. Para isso, é


necessário informação. Posteriormente é importante ter em mente de que a Síndrome da
Alienação Parental necessita de tratamento especial e intervenção imediata, sendo a mesma
uma condição psicológica.
É preciso que cada uma das pessoas envolvidas (criança, alienador e alienado)
realizem uma abordagem terapêutica específica.
É necessário que a Síndrome seja diagnosticada o quanto antes, tendo em vista que
quanto mais cedo ocorrerem as intervenções jurídicas e psicológicas, tanto menores serão os
prejuízos causados e serão identificadas quais as melhores possibilidades terapêuticas para
todos.
Com a identificação da Síndrome e seu tratamento, os menores têm protegidos os seus
direitos fundamentais constitucionalmente previstos no art. 227 da CF e a proteção integral
dos mesmos disposta nos arts. 3º e 18 da Lei 8.069/1990, bem como preservados os princípios
da afetividade e da dignidade da pessoa humana.
Segundo Alexandre de Moraes:

É dever constitucional da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (MORAES, 2012, p.889).

Roberto João Elias, em sua obra Comentários ao Estatuto da Criança e adolescente,


comenta sobre o artigo 3º da Lei 8069/90:

É evidente, e nem precisaria ser expresso, que a criança e o adolescente, somente


pelo fato de serem pessoas, gozam de todos os direitos fundamentais do ser humano,
mas é claro que, devido à sua qualidade, gozam de direitos especiais. Além deste
Estatuto, outras leis, já existentes ou por vir, acrescidas de outras providências,
deverão ser propícias ao desenvolvimento do menor, em todo o sentido. Não
somente sua vida deve ser preservada, mas há de se envidar esforços para um pleno
desenvolvimento, inclusive espiritual. (ELIAS, 2008, p.4).

João Benedito de Azevedo Marques, comentando o art. 18 do Estatuto da Criança e do


Adolescente:
É forçoso reconhecer, contudo, que a regra do art. 18 é específica, repetindo a norma
do art. 227 da CF, que reconheceu um direito à dignidade da criança e do
adolescente e veio a preencher uma lacuna, protegendo o menor de “qualquer
tratamento desumano”, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor, sendo,
por isso, um notável avanço, pois demonstra claramente a preocupação do legislador
quanto à necessidade de se defender o status dignitatis do menor. (MARQUES,
2010, p.102).

Maria Helena Diniz, discorrendo a respeito da Lei 8.069/90, fala sobre os direitos dos
menores:
E o seu direito ao respeito consistirá na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais (art.17). E
além disso será dever de todos velar pela dignidade da criança e adolescente ( CF,
art. 1º, III), pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor (art. 18). (DINIZ, 2010, p. 694).
Caio Mário da Silva Pereira em seu livro de Direito de Família, falando sobre os
Princípios Norteadores do Direito de Família, cita o princípio jurídico da afetividade:

Todo ser humano, desde sua infância, precisa receber e dar afeto para se tornar
integral. No seu processo de amadurecimento, seja na escola ou na família, ou
mesmo em seu grupo de amizade, apelar aos seus sentimentos é, muitas vezes, mais
convincente que apelar por argumentos racionais. Tratada com afeto, responderá,
afetuosamente. (PEREIRA, 2009, p.56).

4.1 Critérios de identificação

Um dos primeiros sintomas da alienação parental se apresenta quando o menor


absorve a campanha do genitor alienante e ele mesmo passa a desempenhar o papel de atacar
o pai alienado com agressões, depreciações, injúrias, interrupção da convivência e várias
outras desaprovações em relação ao alienado. Este passa a ser tratado como um estranho pelo
menor. O filho passa a se sentir ameaçado com a presença do alienado, embora intimamente
ame esse pai como o outro genitor.
É um choque muito grande para o genitor alienado, presenciar a situação na qual seu
filho lhe dirige palavras de ódio antes escutadas do outro cônjuge, o que pode provocar
inclusive, diante da sensação de impotência, o seu afastamento da criança – como planejou e
quis o alienador.
Geralmente as ofensas são falsas e infundadas, mas quando são reais são exacerbadas,
afastadas do contexto, como, por exemplo, falar que não gosta do genitor alienado porque é
controlador demais, sendo que na realidade ele não deixa sair tarde da noite.
Os filhos incorporam argumentos sem lógica para explicar o fato de não mais
gostarem da companhia do genitor, incluídos de episódios passados, exageros ou ocorrências
negativas que passaram juntos. Os filhos desenvolvem uma linguagem não verbal muito clara:
falta de contato visual, manutenção de uma distância excessiva do pai alienado, a ausência de
diálogo é uma constante, bem como uma conversação circular, onde as crianças respondem as
perguntas com outras perguntas, interrompem o alienado com queixas sobre o seu tom de voz,
do calor ou do frio, mudam o sentido do seu diálogo, aproveitando-se literalmente de suas
palavras.
Outro fator de verificação da instalação da síndrome é a ausência de ambivalência no
ódio dirigido ao progenitor, tendo em vista que todo ser humano é ambivalente por natureza,
com a experiência adquirida, é construída a idéia de que nem tudo é sempre ruim, ou sempre
bom, e que nenhuma pessoa é totalmente boa que não tenha uma parte má, porque todas as
situações têm dois lados. O menor portador da Síndrome da Alienação Parental (SAP) só
enxerga coisas ruins no genitor, não sendo capaz de reconhecer que ama o genitor alienado. O
filho vê o genitor alienador como uma pessoa totalmente boa, sem defeitos, enquanto o ódio
demonstrado ao pai alienado é comparado ao fanatismo terrorista, não há brechas, não existe
espaço para diálogo ou concessões.
Outra maneira de verificar a SAP é detectar a existência de encenações, cenas e
conversas que ele atribui como vivências suas, mas que não são, pois contam histórias que
não condiz com sua idade ou falam de lugares onde nunca estiveram. Neste ponto faz-se
necessário bastante atenção para as entrevistas feitas pelos psicólogos com a presença de
irmãos ou do alienador, uma vez que geralmente, quando o menor fica na dúvida ao responder
uma pergunta, o outro logo complementa, auxiliando-o na resposta, em um indício obvio de
que não vivenciou a situação.
As ofensas feitas ao genitor alienado se estende a toda sua família, atingindo primos,
tios, avós, tendo em vista que todos são vítimas do desprezo e do ódio do menor.
O menor fica com medo de desagradar o genitor guardião e se transformar em objeto
de ira dele, bem como o temor do genitor que não tem a custódia, outro sintoma criado pelo
alienador, que o mostra como um monstro, falando para a criança ter cuidado em sua
companhia e que somente na sua volta é que tudo estará bem.

5 Características e condutas clássicas do alienador

O perfil de um genitor alienador não é fácil de ser identificado e caracterizado. Para


Jorge Trindade:

Alguns tipos de comportamento e traços de personalidade são denotativos de alienação:


- dependência;
- baixa autoestima;
- condutas de desrespeito a regras;
- hábito contumaz de atacar as decisões judiciais;
- litigância como forma de manter aceso o conflito familiar e de negar a perda;
- sedução e manipulação;
- dominância e imposição;
- queixumes;
- histórias de desamparo ou, ao contrário, de vitórias afetivas;
- resistência a ser avaliado;
- resistência, recusa, ou falso interesse pelo tratamento. (TRINDADE, 2013, p. 25).
Algumas condutas do alienador são muito conhecidas:

 Apresentar o novo cônjuge como novo pai ou nova mãe;


 Interceptar emails, pacotes destinados aos filhos, recados e cartas;
 Desmoralizar o outro cônjuge perante terceiros;
 Desqualificar o outro cônjuge para os filhos;
 Recusa em fornecer informações em relação aos filhos, como por exemplo,
escola, passeios, festas, aniversários etc.
 Impedir a visitação
 Envolver terceiros na lavagem emocional dos filhos
 Ameaçar punir os filhos caso eles tentem se aproximar do outro cônjuge;
 Ocupar os filhos no horário destinado a ficarem com o outro;
 Sair de férias e deixar os filhos com outras pessoas;
 Afirmar que o outro cônjuge não tem disponibilidade para os filhos;
 Proibir os filhos de usarem as roupas que o outro cônjuge comprou para
eles;
 Falar que a culpa pelo comportamento dos filhos é do outro cônjuge;
 Falar de modo descortês do novo cônjuge do outro genitor;
 Esquecer de transmitir avisos importantes e compromissos, por exemplo:
Médicos, escolares, etc.
 Impedir o outro cônjuge de receber informações sobre os filhos.
 Tomar decisões importantes sobre os filhos sem consultar o outro.
 Trocar nomes (atos falhos) ou sobrenomes.
 Outros comportamentos podem ser citados, como:
 Obstrução a todo contato;
 Deterioração da relação após a separação
 Reação de medo por parte dos filhos
 Falsas denúncias de abuso físico, sexual e emocional.

Para Jorge Trindade:

Embora não existam dados absolutamente seguros, pode-se supor que a implantação
de falsas memórias e a criação de memórias distorcidas, pela maneira como um
cônjuge pronuncia o nome do outro, encontrem maior oportunidade de ocorrer
quando a criança já é vítima da Síndrome da Alienação Parental.
Nesses casos, recomenda-se maior cuidado, pois a síndrome de Alienação Parental
pode estar favorecendo a denúncia de outro abuso, que poderá ser verdadeiro, por
parte de qualquer um dos cônjuges, ou falso.
Segundo Aguilar Cuenca, “em algumas ocasiões podem surgir falsas denúncias de
abuso sexual ou de maus tratos, que buscam interromper por via judicial os contatos
do progenitor com a criança. Durante esse tempo, o progenitor alienador leva a cabo
sua campanha de injúrias e desacreditação, para que, seja como seja a forma em que
conclua o processo penal, os menores já expressem seu rechaço contra o progenitor
alienado. (TRINDADE, 2013, p 26-27).

5.1 Sentimentos do genitor alienador

Conhecer todos os sentimentos se um alienador parental é uma missão praticamente


impossível. Porém, os sentimentos do alienador possuem um denominador comum, que, num
entendimento psicodinâmico, organiza-se pela prevalência dos sentimentos de ódio sobre os
sentimentos de amor e gratidão.
Em resumo, é possível apontar alguns sentimentos típicos do genitor alienador: inveja,
ciúmes, destruição, ódio, raiva, superproteção dos filhos, incapacidade de gratidão, desejos (e
comportamentos) de mudanças súbitas ou radicais ( hábitos, cidade, país ), sensação de
incapacidade e medo perante a vida.

6 Estágios da síndrome da alienação parental

A Síndrome da Alienação Parental é definida em três níveis. Os especialistas apontam


diferentes estágios que identificam a ocorrência, progressão e gravidade desse transtorno:

1) O tipo ligeiro ou estágio I leve – A visitação acontece quase sem problemas, com
alguma dificuldade somente quando ocorre a troca entre os genitores. O menor
demonstra-se afetivo com o genitor alienado.
Nesta fase, já existe a campanha de difamações - o alienante escolhe um tema ou
um motivo que o menor começa a assimilar -, mas, com pouca frequência a criança
demonstra que se sente mal em relação ao alienante por ser afetuoso com o outro.
Mas na falta do genitor alienante, a criança o defende e o apoia pontualmente,
sendo também baixa a presença de encenações e situações emprestadas.
As ligações emocionais ainda são fortes com ambos os pais, como eram durante a
convivência familiar e a animosidade ainda não se estende à família do genitor
alienado. As crianças demonstram desejo de ver o conflito solucionado, enxergam
o genitor alienante apenas como seu principal prestador de cuidados, ainda sem
traços patológicos de dependência.
Nesse período os processos judiciais como difamação da imagem do outro, não são
utilizados. Os pais até reconhecem que o conflito prejudica sua prole, mas os atos
pontuais de difamação são vistos como naturais.
Existe a possibilidade de uma decisão judicial solucionar o conflito, geralmente
essa fase é característica do início da etapa processual, o que pode tanto promover
o apaziguamento dos ânimos quanto seu acirramento, passando então ao estágio
seguinte:

2) O tipo moderado ou estágio II médio – O genitor alienante e o menor tornam-se


cúmplices, na medida em que cria-se uma relação particular entre eles, uma vez
que o motivo ou tema das agressões torna-se consistente e reúne os sentimentos e
desejos do menor e do genitor alienante.
A campanha de difamação é intensificada, atingindo esferas que antes não
atingiam e os conflitos na entrega do menor antes ou após as visitas são habituais.
Nesse estágio, é comum que as acusações acabem após o genitor alienado dar suas
explicações, bem como o afastamento do genitor alienador, fazendo com que o
decorrer do período da visitação seja normal.
O menor defende o progenitor alienante, e algumas vezes pode ainda apoiar o
alienado. A criança tem pensamento dependente e surgem os primeiros sintomas
de que um genitor é bom e o outro é mau. O menor começa a demonstrar que tem
inclinação para um genitor, provocando frustração no outro. Passam a ser
frequentes os assuntos processuais. As visitas começam a ser interrompidas por
denúncias ou fatores como doenças, atividades escolares, festas, entre outros que
coincidem sempre com os dias de visitação.
O vínculo afetivo começa a ser destruído e começa haver o distanciamento
qualitativo em relação ao genitor alienado e toda sua família. As crianças
começam a ver o retorno à casa do guardião como a solução dos problemas.

Em seguinte surge a terceira fase:

3) O Tipo grave ou estágio III grave- As visitas tornam-se muito difíceis ou não
ocorrem porque os menores encontram-se muito perturbados. Quando ocorre a
visitação, ela é cheia de ódio, difamações, provocações, ou pode acontecer de as
crianças emudecerem, ficam como entorpecidas ou tentam fugir. O pânico, as
crises de choro, explosões de violência e gritos do menor impedem a continuidade
do regime de visitas.
O ódio em relação ao genitor alienado é extremo e o diálogo com as crianças
tornam-se quase impossíveis, tendo em vista que não há possibilidade de uma
conclusão razoável ou de que o menor entenda seu ponto de vista, bem como
qualquer conversa será utilizada para a obtenção de informações para um novo
ataque de difamações
O vínculo entre o pai alienado e o filho é totalmente cortado. A criança se torna
independente, a síndrome alcança seu grau máximo, tendo em vista que agora ele é
capaz de, sem qualquer auxílio do genitor alienante (que passa a transmitir a
imagem de que tem boas intenções e nada pode fazer com relação aos ataques do
filho) empenhar sua própria campanha de hostilidades para o genitor não guardião
- que é visto como uma ameaça - e sua família.
É demonstrada uma visão obsessiva pelo progenitor guardião, tudo gira ao redor
da proteção de seus filhos, que devem ser protegidos do mal que o outro genitor
possa fazer, sendo elevadas suas qualidades negativas e, ainda, recebe a projeção
dos medos e fantasias do próprio alienador, que se sente a vítima da situação. De
igual maneira acontece com os menores, que passam a ter conduta paranoica
parecida com a do genitor alienante. Sendo que nesse estágio o menor apresenta-se
claramente programado a odiar, tem comportamentos de negação e é
incessantemente testado pelo alienador acerca de sua lealdade.

Segundo Rodrigo da Cunha Pereira:

O criador da expressão alienação parental, Richard Gardner, por entendê-la como uma
síndrome e, portanto, no campo das ciências médicas, classificou-a em três níveis ou
estágios. Além disso, lembra Gardner que a criança ao estreitar os laços de dependência
com o alienador, ela mesma passa a contribuir para a campanha de desmoralização do
genitor alienado, começando a odiar e ter repulsa àquele que até há pouco tempo era
incentivado a amar e respeitar, bem como toda a sua família e amigos; No primeiro
estágio, o leve, é quando a campanha de desmoralização é discreta e rara; No médio, os
filhos sabem o que o alienador quer escutar e colaboram com a campanha de denegrir a
imagem do alienado; grave, quando os filhos já entram em pânico por terem que
conviver com o outro genitor e evitam qualquer contato. (PEREIRA, 2013, p. 37).
7 Qualidades que ajudam a superar a Síndrome da Alienação Parental

Qualidade como estas ajudam a superar a Síndrome da Alienação Parental: equilíbrio


emocional, amor incondicionado aos filhos, suporte financeiro, assistência jurídica e
psicológica, diagnóstico precoce da SAP, assertividade para a tomada de decisões,
cooperatividade para com autoridades, capacidade para respeitar acordos e decisões, empatia,
estratégias de coping, resiliência, criatividade, esperança e visão de futuro.
Percebe-se que essas qualidades são as mesmas que auxiliam a na superação de
qualquer outro tipo de perda ou conflito emocional.

8 Consequências e efeitos

A forma como os pais encaram a dissolução de uma união ou um processo de divórcio


é fundamental para determinar o modo como os filhos se comportarão futuramente em suas
próprias relações pessoais. Se os pais tiverem maturidade suficiente e conseguirem aceitar da
melhor maneira a ruptura afetiva, a ansiedade e angústia que os menores sofrem tendem a
desaparecer. Mas, caso os pais não consigam superar seus conflitos ou que iniciam a prática
de atos que caracterizem a alienação parental, tendem a estabelecer péssimas rotinas com seus
filhos e estes passam a ter uma visão distorcida do mundo, pois a convivência com
experiências ruins, mudanças imprevisíveis e ambiente instável gera uma interrupção no
processo normal de desenvolvimento dos filhos. Tais fatos fazem com que os filhos sintam
um frequente medo do abandono, ansiedade, e angústia, que podem gerar diversas fobias na
fase adulta.
Para o alienador, que jamais consegue se defrontar com sua própria derrota, o corpo de
amor transforma-se em corpo de dor, surgindo uma senda infinita de sentimento aos filhos e
ao cônjuge alienado, ainda que o final dessa trajetória possa significar a autoaniquilação:
amargura existencial, solidão, sentimento de vazio, conduta poliqueixosa, depressão, abuso e
dependência de substâncias como álcool e drogas, ideias de abandono e de prejuízo, jogo
compulsivo e ideação suicida, esta geralmente acompanhada de uma tonalidade acusatória e
culpabilizadora.
As consequências desta terrível forma de violência e abuso contra os filhos são
devastadoras. A consequência mais evidente é a ruptura da relação com um dos pais. As
crianças crescem com o sentimento de ausência, vazio, e ainda perdem todas as interações de
aprendizagem, apoio e de modelo. Essa realidade deve ser observada com muito cuidado
pelos operadores do Direito, que ao visualizarem os elementos que indiquem algum ato de
alienação parental, devem buscar na interdisciplinaridade, reportar a violência sofrida pelas
crianças e adolescentes.
Com essa situação a criança tem sua infância roubada, uma vez que não tem tempo
para se ocupar com as preocupações típicas da idade. Elas aprendem a falar apenas meias
verdades, a expressar falsas emoções e a manipular, tornando-se prematuramente espertas
para decifrar o ambiente emocional.
Os efeitos que a Síndrome da Alienação Parental pode causar nos filhos são muito
prejudiciais para o desenvolvimento deles e variam de acordo com a idade, características da
criança, com o tipo de vínculo anteriormente estabelecido e com a capacidade de resiliência
da criança e do cônjuge alienado, além de muitos outros fatores.
Os conflitos emocionais podem surgir nos filhos sob forma de medo, isolamento,
insegurança, ansiedade, depressão, falta de organização, irritabilidade, comportamento hostil,
dificuldades escolares, enurese, baixa tolerância a frustração, transtorno de identidade ou de
imagem, dupla personalidade, culpa, sentimento de desespero, vulnerabilidade ao álcool e as
drogas, e, em casos mais extremos, ideias ou comportamentos suicidas.
Segundo Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno:

Por ter sido acostumado a afastar uma parte da realidade, a do genitor alienado, essa
criança, na idade adulta, apresentará uma visão dicotômica do mundo, ou todos
estão contra ou a favor dele, sem meio-termo.
Os filhos de pais superprotetores, como é comum no comportamento do genitor
alienante, tornam-se inseguros, ansiosos e dependentes, isto sem esquecer as
consequências físicas dessa característica de abuso emocional, tais como alterações
no padrão do sono, com a alimentação e condutas regressivas, e das acadêmicas e
sociais falta de atenção e concentração, com condutas revoltosas e empobrecimento
da interação social.
Em longo prazo ocorre um irremediável sentimento de culpa, em que o menor, na
época, se vê cúmplice dessa campanha contra quem ele igualmente amava.
(MADALENO & MADALENO 2013, p. 54-55).

9 O Papel dos Advogados e do Poder Judiciário na Prevenção, na Solução e


no fomento da Alienação

Por ser uma forma de abuso do poder parental, e gerar drásticas consequências ao
menor, e ainda desrespeitar o princípio da proteção integral do menor, previsto no art. 1º do
Estatuto da Criança e do Adolescente, e o direito fundamental à dignidade, cláusula pétrea da
Constituição, bem como seu art. 227, a SAP necessita de efetiva e imediata intervenção, assim
que os indícios de sua ocorrência forem detectados, e nisto reside a efetiva e pontual atuação
do Poder Judiciário no objetivo de evitar que a síndrome da alienação crie corpo com a
involuntária colaboração judicial.
Apresentando ao Poder Judiciário um caso de Alienação Parental pela incapacidade de
uma ou ambas as partes resolverem o problema por meio do diálogo e concessões mútuas,
tendo como objetivo o bem estar de seus filhos, entram em cena outros profissionais:
advogados, juízes, psicólogos forenses, dentre outros. A atuação desses profissionais é de
extrema importância para o arrefecimento dos ânimos, prevenção dos problemas futuros e
solução dos problemas presentes.
É de grande importância a atuação dos advogados, que ao invés de simplesmente
buscar a vitória sobre o advogado oponente, deve observar os princípios éticos que norteiam
sua profissão.
Após conquistar a confiança do seu cliente, o advogado deverá (com o apoio dos
profissionais da psicologia) identificar as falhas que seu clientes estão cometendo e ajudá-los
a resolver seus problemas, e ainda, fazer com seu cliente pare com os atos caracterizadores da
alienação parental.
Segundo Cristian Fetter Mold:

Deve haver sempre uma constante disposição para o consenso, para a efetivação de
acordos justos, em contrapartida ao sentimento de competitividade que atrapalha a
atuação ética do advogado e que deve sempre ser evitado. O advogado de família
deve ser um conciliador nato, atingindo o ápice de um aprimoramento técnico
profissional, quando ele consegue estabelecer um maior número de conciliações,
especialmente quando estas representarem a observância dos Princípios do Melhor
Interesse e da Proteção Integral das crianças e adolescentes. Um processo que
termine empatado pode trazer às partes envolvidas as melhores soluções, sem que
isso represente qualquer desdouro ou constrangimento aos advogados que as
representaram. (MOLD, 2013, p. 127-128).

Aos Promotores e Magistrados, recomenda-se o maior conhecimento possível sobre o


tema alienação parental, além de extremo cuidado e senso de justiça. Os juízes de família
devem ter informação suficiente acerca dos elementos que identificam a síndrome, para,
assim que surgirem os sintomas, ordenarem rigorosa e compulsória perícia psicossocial.
No caso de falsas denúncias de abuso sexual, deve haver uma investigação
extremamente cuidadosa, tendo em vista que, geralmente o juiz ao não encontrar outra
solução, acaba suspendendo de imediato as visitas, o que provoca o agravamento da SAP,
pois o genitor alienante passa a contar com todo o tempo da criança e sem bloqueios para
programá-la.
Ao magistrado, compete apurar, por meio de laudos periciais, a verdadeira intenção do
genitor alienador, e, uma vez verificados indícios da SAP, devem ser adotadas medidas de
aproximação do menor com o cônjuge alienado.
O Poder Judiciário deverá obrigar o cumprimento do regime de visitas usando todos os
meios para isso e de preferências as astreintes, consistente em uma multa diária caso o genitor
alienante não queira entregar a criança. Dependendo da gravidade do comportamento do
alienador o magistrado ordenará a busca e apreensão do menor e, ainda, a respectiva prisão do
alienador, além de optar em provimento judicial complementar pelo alargamento das visitas
do pai alienado. No âmbito penal, o alienador pode ser indiciado por apresentação de falso
testemunho à autoridade pública- no caso de falsas denúncias de abuso-, bem como por
obstrução ilegal do convívio do filho com o outro genitor.
Para Ana Carolina Carpes Madaleno e Rolf Madaleno:

Nos casos mais graves de SAP, a substituição ou troca da guarda tornam-se as


únicas alternativas a preservar a higidez psíquica do menor, definindo Gardner três
níveis residenciais, ou seja, para o menor é mais prejudicial que ele, de uma hora
para outra, passe a viver com o pai que foi programado a odiar, totalmente isolado
de seu, até então, cúmplice o genitor alienante, com quem mantinha contato
exclusivo, devendo assim, ser encaminhado por alguns dias para a casa de um
parente ou de um amigo de sua confiança; não sendo isso possível, o segundo nível
residencial seria um abrigo; e o terceiro uma instalação hospitalar. Nesses níveis
residenciais o menor passaria por seis fases de transição: A primeira fase determina
que, nessa nova residência temporária , todos os contatos com o genitor
programador sejam interrompidos e , depois de alguns dias, receba a visita do
genitor alienado. Na segunda fase estão as visitas à casa do pai excluído, ainda sem
contato com o alienador. Numa terceira etapa, ocorre a transferência para o lar do
genitor alienado, onde o menor tomará consciência de que as terríveis ameaças do
genitor alienante não se concretizarão. A quarta fase já permite a retomada do
contato com o progenitor alienante, apenas por telefone ou correio eletrônico, com
monitoramento profissional. As visitas do alienador se dão na quinta fase, também
com supervisão e por tempo determinado. Na sexta e última fase, com apoio
judicial, podem ocorrer visitas vigiadas à casa do pai alienante, mas apenas nos
casos em que a animosidade está sob controle e não se faz expressa na presença do
menor. (MADALENO & MADALENO, 2013, p. 58).

Elizio Luiz Peres mostra que:

A certeza inicial, ingênua, de que o Poder Judiciário não permitiria, em abstrato, o


uso de criança ou adolescente como arma em dissenso entre seus pais, foi aos
poucos substituída pela convicção de que o Estado não está preparado ou aparelhado
para lidar com esse grave problema. (...) Muitas vezes a alienação parental é
simplesmente negada, como se fosse uma questão menor, desprezível, ou mero
efeito de desentendimento passageiro entre ex-casal. Há também preconceito velado
no sentido de que se um pai ou mãe está passando por algo próximo a isso que se
denomina alienação parental é porque, de alguma forma, é merecedor. ( PERES,
2009, p. 3-5).
É dessa forma que Elizio Luiz Peres, por sinal, o inspirado idealizador do Projeto de
Lei 4.053/2008, que no Congresso Nacional ingressou no dia 7 de outubro de 2008 (pela
tutoria do deputado Regis de Oliveira – PSC/SP e emendada pelo deputado Pastor Pedro
Ribeiro – PMDB/CE), justificou a criação de uma lei que preserve a integridade emocional de
crianças e adolescentes e sirva de subsídio para os operadores do Direito e que restou
idealizada na Lei 12.328, de 27 de agosto de 2010, conhecida como a Lei da Alienação
Parental.
Para Maria Berenice Dias, Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito
de Família – IBDFAM:

Com a edição da lei, é imperioso identificar de forma rápida e segura a presença de


outros sintomas que permitam reconhecer que se está frente a um caso de alienação
parental levada a efeito por espírito de vingança para acabar com o relacionamento
do filho com o genitor. Para tal, é indispensável não só a participação de psicólogos,
psiquiatras e assistentes sociais, com seus laudos, estudos e testes. Também é
necessário que o juiz se capacite para poder distinguir o sentimento de ódio
exacerbado do genitor que leva ao desejo de vingança a ponto de programar o filho
para reproduzir falsas denúncias com o só intuito de afastá-lo do outro. (DIAS,
2013, p. 18).

A Lei 12.318/2010, em seu art. 6º autoriza o Magistrado, além do uso cumulativo ou


não das próprias medidas previstas neste dispositivo, a adotar amplamente os instrumentos
processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da Alienação segundo a gravidade do caso.
Desta forma, pode-se concluir que todos os envolvidos podem ser punidos, na medida
das condutas alienantes praticadas por cada um, com mais de uma sanção prevista no
supracitado artigo, podendo o magistrado utilizar-se ainda de outras medidas que entenda
necessárias.
Caso as medidas adotadas não sejam suficientes para proteger os menores envolvidos,
o magistrado pode e deve adotar medidas mais graves, chegando-se até mesmo à perda
definitiva da autoridade parental (arts. 1637 e 1638 do CC/2002).
Antes de adotar medida tão gravosa, o juiz, ouvido o representante do Ministério
Público, poderá utilizar-se por exemplo, dos parágrafos quarto e quinto do art. 1584, bem
como o art. 1586 do CC/02, podendo até determinar a entrega das crianças vítimas de
Alienação Parental Recíproca (quando ambos os pais praticam os atos de alienação), a outras
pessoas, ainda que temporariamente.
Caso os pais percam ainda que temporariamente a guarda dos filhos, a Lei determina a
possibilidade de visitas assistidas, conforme diz o parágrafo único do art. 4º da Lei
12.318/2010.
Há que se atentar ao disposto nos arts. 5.º e 6.º, IV, da Lei, os quais podem gerar certa
confusão entre aqueles que atuam na área.
O art. 5.º estabelece, caso o magistrado julgue necessário a formação de sua convicção
sobre a ocorrência ou não de posturas alienantes, a produção de perícia psicológica ou
biopsicossocial.
O art. 6.º, IV, elenca entre as medidas inibidoras ou atenuantes da Alienação parental o
acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial.
São dois momentos processuais bem diferentes. A perícia estabelecida no art. 5.º trará
ao juiz mais um elemento probatório, apto a influir na tomada de decisões.
Já o acompanhamento do art. 6.º é medida final, tomada após a instrução do processo,
podendo constar inclusive da sentença, sendo aplicável até mesmo a ambos os pais e a outras
pessoas que estejam praticando atos e falas alienantes, sendo possível que seus efeitos
protraiam-se para além da duração do processo.
É certo que a mera participação do Poder Judiciário não é suficiente para resolver a
situação de crise que se instaura com a Alienação Parental, sendo reconhecido que este é um
campo em que o Direito e as ciências “Psi” devem dialogar fortemente.
Por conseguinte, é certo considerar que uma das soluções mais adequadas frente à
Alienação Parental, Recíproca ou não, é determinar que os alienadores se submetam a
tratamento psicológico e/ou biopsicossocial, para que seja possível a readequação de seus
comportamentos.
Após o laudo pericial produzido dentro dos autos, caso fique demonstrado que a
criança ou adolescente já tenha sido muito afetada pelas práticas alienantes, nada impede que
o juiz determine que o menor seja igualmente acompanhado por profissionais da área de
psicologia e/ou biopsicossocial, sob pena de perda de guarda ou aplicação de astreintes, por
exemplo.
Neste caso, talvez até fosse recomendável a suspensão do feito enquanto durasse o
aludido tratamento, sendo as partes trazidas futuramente à presença do juiz, para que este
então verifique qual a medida mais acertada, dentro dos mesmos autos, evitando-se novas
ações e desgastes desnecessários.
A SAP não pode ser vista por uma abordagem unicamente judicial, o que pode
inclusive, piorar o problema, pois deve ser feita uma abordagem multidisciplinar, em que
sejam aplicadas as medidas legais juntamente com terapia e mediação interligadas, bem como
os Conselhos Tutelares, que, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, estariam
aptos a atuar nos casos de abuso de poder parental.
10 Conclusão

Conclui-se que a prática da alienação parental prejudica o desenvolvimento saudável


de crianças e adolescentes que viram objeto de vingança do genitor alienador que não se
conforma com o fim do relacionamento conjugal. Assim os menores são usados como armas
de defesa, principalmente pelo genitor que tem a guarda da criança.
Muitas vezes, após o fim da união conjugal, os pais não entendem que os filhos não
fazem parte da separação, confundindo a relação conjugal com a relação familiar. Os
genitores precisam entender que os filhos são para sempre e que acima de tudo deve-se
preservar o bem estar dos menores, principalmente no que diz respeito ao psicológico.
Assim, ao ser identificada uma conduta caracterizadora de alienação parental faz-se
necessária a intervenção de profissionais para evitar ou fazer cessar os atos caracterizadores
da Alienação Parental.
Deste modo, o papel de uma equipe multidisciplinar com psicólogos, mediadores,
advogados, promotores e juízes são de extrema importância, vez que esses profissionais
sabem lidar com a questão, de modo a se buscar as melhores e mais rápidas soluções, para que
assim se evite trágicas consequências que deixam sequelas eternas na vida das crianças e
adolescentes vítimas da alienação parental.
Por fim, a Lei 12.318/ 2010 representa um marco histórico que introduz na legislação
nacional um mecanismo jurídico de eficiente combate à Síndrome da Alienação Parental,
tendo em vista que ao ser definida juridicamente a expressão Alienação Parental, os
operadores do direito encontram uma maior segurança na eventual caracterização desse
fenômeno, protegendo os menores e seus direitos fundamentais.

11 Referências

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Jurídicos e Sociais. 10ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

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