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ALIENAÇÃO PARENTAL
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1 Introdução
O Primeira definição da Alienação Parental foi feita em 1985 por Richard Gardner,
médico e professor de psiquiatria infantil da Universidade de Colúmbia (EUA), descrevendo a
situação em que o pai ou a mãe da criança a manipula para quebrar os laços afetivos com o
outro cônjuge, gerando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor.
Jorge Trindade observa que:
O texto da lei tem como inspiração os elementos fornecidos pela Psicologia, porém
cria instrumento com disciplina própria para promover atuação ágil e segura do Estado em
casos de abuso assim definidos. Portanto é de extrema importância que a lei incorpore a
expressão alienação parental, para viabilizar a inibição de tal modalidade que é muito
prejudicial para os menores e também para fornecer aos operadores do direito uma segurança
maior na eventual caracterização desse fenômeno.
A lei diz que a autoria dos atos de alienação parental poderá ser de qualquer pessoa
que tenha o menor sob sua autoridade, guarda ou vigilância. Portanto a lei não restringiu a
prática da alienação parental aos genitores, para assim evitar que a intermediação de terceiros
possa mascarar a constatação de atos de alienação parental. E é necessário que haja efetivo
prejuízo a manutenção ou estabelecimento de vínculos com o genitor alienado. Portanto a
denúncia da alienação parental não pode ser dada por qualquer manifestação de repúdio da
criança ou adolescente contra um dos pais, sem exame da dinâmica que lhe dá origem.
Ainda que inconsciente e sutil é possível haver alguma contribuição dos genitores e
filhos para o aprofundamento do processo de alienação parental. Segundo Elizio Luiz Peres:
A definição jurídica da alienação parental faz com que o juiz possa identificá-la com
maior segurança, fazendo com que ele possa determinar os efeitos jurídicos com celeridade,
adotando medidas urgentes para a proteção da criança e do adolescente, limitando, se
necessário o exercício abusivo da autoridade parental. Junto com a definição jurídica estrita,
incluem-se algumas hipóteses de alienação parental, previstas no parágrafo único do art. 2º da
Lei, sendo o rol de tal parágrafo exemplificativo. Algumas dessas hipóteses são: dificultar o
exercício da autoridade parental, dificultar contato de criança ou adolescente com genitor,
realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou
maternidade, dentre outras.
É muito importante que seja analisado o histórico de cada caso concreto. Examinar o
contexto em que foram praticados os atos é importante indicador para que não sejam
confundidos os atos de alienação parental de falhas pontuais referentes ao exercício sadio da
paternidade ou maternidade, que faz parte da formação natural do indivíduo. De igual
maneira, condutas de aparente colaboração, de cuidado aparente com os filhos ou de respeito
à vontade que lhes é atribuída ajudam a mascarar atos de alienação parental. Em uma análise
superficial, os menores podem mostrar-se aparentemente sadios, mesmo estando mal
psiquicamente. A percepção cuidadosa do juiz e o exame de tais atos, com apoio técnico, caso
necessário, são decisivos para que se evite o agravamento do processo de alienação parental.
A Lei sobre alienação parental teve sua aprovação em um cenário de uma procura
social por um maior equilíbrio de participação dos genitores na formação de seus filhos. A
família passa se tornar um lugar de plena realização de seus integrantes, diferenciando-se
claramente os papéis de parentalidade e conjugalidade. Assim, a família deixa de ser
considerada como mera unidade de produção e procriação. Confirma esse contexto recente
aprovação da Lei 11.698/2008, que definiu como preferencial o modelo de guarda
compartilhada, bem como a Lei 12.013/2009, que determina às instituições de ensino o envio
de informações escolares sobre filhos a pai e mãe. O conteúdo dessas leis mostram a nova
concepção social dos papéis de mãe e pai na formação de seus filhos.
Vale destacar alguns artigos da lei 12.318/2010:
Art. 3.º: A prática do ato de alienação parental fere direito fundamental da criança
ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto
nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a
criança ou adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade
parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Art. 5.º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação autônoma
ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou
biopsicossocial.
§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou biopsicossocial,
conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame
de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação,
cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da
forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação
contra genitor.
§ 2º a perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados,
exigindo em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou
acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.
§ 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência da
alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo,
prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa
circunstanciada.
Art. 6.º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que
dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso:
I- declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
II- ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienador alienado;
III- estipular multa ao alienador;
IV- determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
V- determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
VI- determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
VII- declarar a suspensão da autoridade parental.
Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar
para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das
alternâncias dos períodos de convivência familiar.
Assim, esta lei visa reforçar a importância da família e do saudável convívio entre pais
e filhos, prevendo medidas para fazer cessar os atos de alienação parental.
Para Elizio Luiz Peres:
Maria Helena Diniz, discorrendo a respeito da Lei 8.069/90, fala sobre os direitos dos
menores:
E o seu direito ao respeito consistirá na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais (art.17). E
além disso será dever de todos velar pela dignidade da criança e adolescente ( CF,
art. 1º, III), pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento,
aterrorizante, vexatório ou constrangedor (art. 18). (DINIZ, 2010, p. 694).
Caio Mário da Silva Pereira em seu livro de Direito de Família, falando sobre os
Princípios Norteadores do Direito de Família, cita o princípio jurídico da afetividade:
Todo ser humano, desde sua infância, precisa receber e dar afeto para se tornar
integral. No seu processo de amadurecimento, seja na escola ou na família, ou
mesmo em seu grupo de amizade, apelar aos seus sentimentos é, muitas vezes, mais
convincente que apelar por argumentos racionais. Tratada com afeto, responderá,
afetuosamente. (PEREIRA, 2009, p.56).
Embora não existam dados absolutamente seguros, pode-se supor que a implantação
de falsas memórias e a criação de memórias distorcidas, pela maneira como um
cônjuge pronuncia o nome do outro, encontrem maior oportunidade de ocorrer
quando a criança já é vítima da Síndrome da Alienação Parental.
Nesses casos, recomenda-se maior cuidado, pois a síndrome de Alienação Parental
pode estar favorecendo a denúncia de outro abuso, que poderá ser verdadeiro, por
parte de qualquer um dos cônjuges, ou falso.
Segundo Aguilar Cuenca, “em algumas ocasiões podem surgir falsas denúncias de
abuso sexual ou de maus tratos, que buscam interromper por via judicial os contatos
do progenitor com a criança. Durante esse tempo, o progenitor alienador leva a cabo
sua campanha de injúrias e desacreditação, para que, seja como seja a forma em que
conclua o processo penal, os menores já expressem seu rechaço contra o progenitor
alienado. (TRINDADE, 2013, p 26-27).
1) O tipo ligeiro ou estágio I leve – A visitação acontece quase sem problemas, com
alguma dificuldade somente quando ocorre a troca entre os genitores. O menor
demonstra-se afetivo com o genitor alienado.
Nesta fase, já existe a campanha de difamações - o alienante escolhe um tema ou
um motivo que o menor começa a assimilar -, mas, com pouca frequência a criança
demonstra que se sente mal em relação ao alienante por ser afetuoso com o outro.
Mas na falta do genitor alienante, a criança o defende e o apoia pontualmente,
sendo também baixa a presença de encenações e situações emprestadas.
As ligações emocionais ainda são fortes com ambos os pais, como eram durante a
convivência familiar e a animosidade ainda não se estende à família do genitor
alienado. As crianças demonstram desejo de ver o conflito solucionado, enxergam
o genitor alienante apenas como seu principal prestador de cuidados, ainda sem
traços patológicos de dependência.
Nesse período os processos judiciais como difamação da imagem do outro, não são
utilizados. Os pais até reconhecem que o conflito prejudica sua prole, mas os atos
pontuais de difamação são vistos como naturais.
Existe a possibilidade de uma decisão judicial solucionar o conflito, geralmente
essa fase é característica do início da etapa processual, o que pode tanto promover
o apaziguamento dos ânimos quanto seu acirramento, passando então ao estágio
seguinte:
3) O Tipo grave ou estágio III grave- As visitas tornam-se muito difíceis ou não
ocorrem porque os menores encontram-se muito perturbados. Quando ocorre a
visitação, ela é cheia de ódio, difamações, provocações, ou pode acontecer de as
crianças emudecerem, ficam como entorpecidas ou tentam fugir. O pânico, as
crises de choro, explosões de violência e gritos do menor impedem a continuidade
do regime de visitas.
O ódio em relação ao genitor alienado é extremo e o diálogo com as crianças
tornam-se quase impossíveis, tendo em vista que não há possibilidade de uma
conclusão razoável ou de que o menor entenda seu ponto de vista, bem como
qualquer conversa será utilizada para a obtenção de informações para um novo
ataque de difamações
O vínculo entre o pai alienado e o filho é totalmente cortado. A criança se torna
independente, a síndrome alcança seu grau máximo, tendo em vista que agora ele é
capaz de, sem qualquer auxílio do genitor alienante (que passa a transmitir a
imagem de que tem boas intenções e nada pode fazer com relação aos ataques do
filho) empenhar sua própria campanha de hostilidades para o genitor não guardião
- que é visto como uma ameaça - e sua família.
É demonstrada uma visão obsessiva pelo progenitor guardião, tudo gira ao redor
da proteção de seus filhos, que devem ser protegidos do mal que o outro genitor
possa fazer, sendo elevadas suas qualidades negativas e, ainda, recebe a projeção
dos medos e fantasias do próprio alienador, que se sente a vítima da situação. De
igual maneira acontece com os menores, que passam a ter conduta paranoica
parecida com a do genitor alienante. Sendo que nesse estágio o menor apresenta-se
claramente programado a odiar, tem comportamentos de negação e é
incessantemente testado pelo alienador acerca de sua lealdade.
O criador da expressão alienação parental, Richard Gardner, por entendê-la como uma
síndrome e, portanto, no campo das ciências médicas, classificou-a em três níveis ou
estágios. Além disso, lembra Gardner que a criança ao estreitar os laços de dependência
com o alienador, ela mesma passa a contribuir para a campanha de desmoralização do
genitor alienado, começando a odiar e ter repulsa àquele que até há pouco tempo era
incentivado a amar e respeitar, bem como toda a sua família e amigos; No primeiro
estágio, o leve, é quando a campanha de desmoralização é discreta e rara; No médio, os
filhos sabem o que o alienador quer escutar e colaboram com a campanha de denegrir a
imagem do alienado; grave, quando os filhos já entram em pânico por terem que
conviver com o outro genitor e evitam qualquer contato. (PEREIRA, 2013, p. 37).
7 Qualidades que ajudam a superar a Síndrome da Alienação Parental
8 Consequências e efeitos
Por ter sido acostumado a afastar uma parte da realidade, a do genitor alienado, essa
criança, na idade adulta, apresentará uma visão dicotômica do mundo, ou todos
estão contra ou a favor dele, sem meio-termo.
Os filhos de pais superprotetores, como é comum no comportamento do genitor
alienante, tornam-se inseguros, ansiosos e dependentes, isto sem esquecer as
consequências físicas dessa característica de abuso emocional, tais como alterações
no padrão do sono, com a alimentação e condutas regressivas, e das acadêmicas e
sociais falta de atenção e concentração, com condutas revoltosas e empobrecimento
da interação social.
Em longo prazo ocorre um irremediável sentimento de culpa, em que o menor, na
época, se vê cúmplice dessa campanha contra quem ele igualmente amava.
(MADALENO & MADALENO 2013, p. 54-55).
Por ser uma forma de abuso do poder parental, e gerar drásticas consequências ao
menor, e ainda desrespeitar o princípio da proteção integral do menor, previsto no art. 1º do
Estatuto da Criança e do Adolescente, e o direito fundamental à dignidade, cláusula pétrea da
Constituição, bem como seu art. 227, a SAP necessita de efetiva e imediata intervenção, assim
que os indícios de sua ocorrência forem detectados, e nisto reside a efetiva e pontual atuação
do Poder Judiciário no objetivo de evitar que a síndrome da alienação crie corpo com a
involuntária colaboração judicial.
Apresentando ao Poder Judiciário um caso de Alienação Parental pela incapacidade de
uma ou ambas as partes resolverem o problema por meio do diálogo e concessões mútuas,
tendo como objetivo o bem estar de seus filhos, entram em cena outros profissionais:
advogados, juízes, psicólogos forenses, dentre outros. A atuação desses profissionais é de
extrema importância para o arrefecimento dos ânimos, prevenção dos problemas futuros e
solução dos problemas presentes.
É de grande importância a atuação dos advogados, que ao invés de simplesmente
buscar a vitória sobre o advogado oponente, deve observar os princípios éticos que norteiam
sua profissão.
Após conquistar a confiança do seu cliente, o advogado deverá (com o apoio dos
profissionais da psicologia) identificar as falhas que seu clientes estão cometendo e ajudá-los
a resolver seus problemas, e ainda, fazer com seu cliente pare com os atos caracterizadores da
alienação parental.
Segundo Cristian Fetter Mold:
Deve haver sempre uma constante disposição para o consenso, para a efetivação de
acordos justos, em contrapartida ao sentimento de competitividade que atrapalha a
atuação ética do advogado e que deve sempre ser evitado. O advogado de família
deve ser um conciliador nato, atingindo o ápice de um aprimoramento técnico
profissional, quando ele consegue estabelecer um maior número de conciliações,
especialmente quando estas representarem a observância dos Princípios do Melhor
Interesse e da Proteção Integral das crianças e adolescentes. Um processo que
termine empatado pode trazer às partes envolvidas as melhores soluções, sem que
isso represente qualquer desdouro ou constrangimento aos advogados que as
representaram. (MOLD, 2013, p. 127-128).
11 Referências
DIAS, Maria Berenice (Coord). Incesto e alienação parental- De acordo com a Lei
12.318/2010 (Lei da Alienação Parental). 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 5-Direito de família. 25ª Ed.
São Paulo: Saraiva,2010.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
MOLD, Cristian Fetter. Breves comentários acerca da Lei da Alienação Parental (Lei
12.318/10). In: DIAS, Maria Berenice. (coord). Incesto e Alienação Parental de acordo com a
Lei 12.318/2010 (lei de alienação parental). 3.ed. ver.,atual.e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2013.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 28 ed. São Paulo: Atlas, 2012.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. V- Direito de Família.
17ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
PERES, Elízio Luiz. Breves comentários acerca da Lei da Alienação Parental (Lei
12.318/10). In: DIAS, Maria Berenice. (coord). Incesto e Alienação Parental de acordo com a
Lei 12.318/2010 (lei de alienação parental). 3. ed. ver.,atual.e ampl. São Paulo: Ed. RT, 2013.
SILVA, Ana Maria Milano. A Lei sobre Guarda Compartilhada. São Paulo: J.H Mizuno,
2008.