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FAMÍLIAS MONOPARENTAIS E SEUS

REFLEXOS PSICOLÓGICOS SOB


ALIENAÇÃO PARENTAL

Salvador-Ba
Resumo
As transformações sociais geraram novos formas de construção família e a
partir disto surge a necessidade do Direito contemplar juridicamente essas
novas formas de ser/fazer família, esses novos modelos têm seus próprios
desafios e complexidades, e dentro desse escopo temos a alienação parental.
Este texto busca analisar a alienação parental em famílias monoparentais e os
impactos desta prática no núcleo familiar.

Palavras-chave: Família Monoparental; Patriarcado; Direito de Família;


Alienação Parental.

Introdução

Alienação parental é um tema complexo e preocupante que afeta diretamente a vida


de milhares de crianças e suas famílias em todo o mundo. Trata-se de um fenômeno
psicossocial em que um dos genitores ou responsáveis manipula emocionalmente a
criança, com o intuito de afastá-la do outro genitor. Esse tipo de comportamento
prejudicial pode ter sérias consequências para o desenvolvimento emocional e
psicológico da criança, além de afetar negativamente o relacionamento com ambos os
pais. Neste artigo, exploraremos os diferentes aspectos da alienação parental, suas
causas, impactos e possíveis abordagens para prevenção e intervenção, com o
objetivo de promover uma maior compreensão sobre esse problema e buscar soluções
para proteger o bem-estar das crianças envolvidas.

Alienação Parental

A alienação parental é regulamentada no Brasil pela lei nº 12.318, de 26 de agosto de


2010, popularmente conhecida como a "Lei da Alienação Parental ". A lei define
alienação parental como:
Art. 2° Considera-se ato de alienação parental a interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a
criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância
para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento
ou à manutenção de vínculos com este.
A lei ainda nos oferece um rol exemplificativo acerca de possíveis condutas que
configurem alienação parental, a saber:
Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental,
além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia,
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no


exercício da paternidade ou maternidade;
II - Dificultar o exercício da autoridade parental;
III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;
IV - Dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência
familiar;
V - Omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes
sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e
alterações de endereço;
VI - Apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste
ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a
criança ou adolescente;
VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a
dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor,
com familiares deste ou com avós.

A pratica de alienação parental causa um impacto gigantesco na família e


especialmente nas crianças, como efeito a criança pode desenvolver diversos
problemas psicológicos, segundo Lopez Sanches em um artigo para a Lex
Nova, os efeitos frequentes são distúrbio do sono, mudança de hábitos
alimentares, culpa, depressão, baixa autoestima, masturbação compulsiva,
angustia, agressões e conduta antissociais. Além disto, a alienação parental
pode causar, a Síndrome de Alienação Parental (SAP), sobre isso Gardner
(2002, p.95) esclarece que,
Um distúrbio da infância que aparece quase exclusivamente no
contexto de disputas de custódia de crianças. Sua manifestação
preliminar é a campanha denegritória contra um dos genitores, uma
campanha feita pela própria criança e que não tenha nenhuma
justificação. Resulta da combinação das instruções de um genitor (o
que faz a “lavagem cerebral, programação, doutrinação”) e
contribuições da própria criança para caluniar o genitor-alvo. Quando
o abuso e/ou a negligência parentais verdadeiros estão presentes, a
animosidade da criança pode ser justificada, e assim a explicação de

Síndrome de Alienação Parental para a hostilidade da criança não é


aplicável. (GARDNER, 2002, p.95)

Neste sentido, Madaleno esclarece,


Trata-se de uma campanha liderada pelo genitor detentor da guarda
da prole, no sentido de programar a criança para que odeie e repudie,
sem justificativa, o outro genitor, transformando a sua consciência
mediante diferentes estratégias, com o objetivo de obstruir, impedir ou
mesmo destruir os vínculos entre o menor e o pai não guardião,
caracterizado, também, pelo conjunto de sintomas dela resultantes,
causando assim, uma forte relação de dependência e submissão do
menor com o genitor alienante.

Os motivos para a pratica desta violência geralmente estão associados a


instrumentalização da criança como objeto de vingança contra o outro genitor,
sobre isso, Dias (2015, p. 445) expõe,
Muitas vezes, quando da ruptura da vida conjugal, um dos cônjuges
não consegue elaborar adequadamente o luto da separação e o
sentimento de rejeição, de traição, o que faz surgir um desejo de
vingança: desencadeia um processo de destruição, de
desmoralização, de descrédito do ex-parceiro. O filho é utilizado como
instrumento da agressividade – é induzido a odiar o outro genitor.
Trata-se de verdadeira campanha de desmoralização. A criança é
induzida a afastar-se de quem ama e quem também a ama. Isso gera
contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos.

A partir desses pressupostos podemos analisar a alienação parental em famílias


monoparentais e como esta forma de violência se relaciona com as especificidades
desta entidade familiar.
Alienação parental em famílias monoparentais.

A sociedade do Brasil experimentou diversas mudanças ao longo dos últimos séculos.


Os valores éticos, as tradições culturais e as condições financeiras foram os principais
elementos que impactaram a dinâmica social no país. A organização familiar também
sofreu transformações significativas. Hoje em dia, existem diferentes formatos
familiares, desafiando o conceito tradicional da família brasileira, que era baseada na
estrutura biparental, como por exemplo a família monoparental.

A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a família monoparental


recebeu reconhecimento como uma forma de família. O artigo 226, parágrafo 4º,
descreve que também é considerada entidade familiar a comunidade formada por um
dos pais e seus descendentes. As famílias monoparentais podem incluir pais que
perderam o cônjuge, pais solteiros que assumem a responsabilidade de criar seus
próprios filhos ou filhos adotados, mulheres que optam por métodos de reprodução
assistida e, por último, pais que se separaram ou divorciaram. Neste sentido,
esclarece Madaleno (2013, p. 9),
Famílias monoparentais são usualmente aquelas em que um
progenitor convive e é exclusivamente responsável por seus filhos
biológicos ou adotivos. Tecnicamente são mencionados os núcleos
monoparentais formados pelo pai ou pela mãe e seus filhos, mesmo
que o outro genitor esteja vivo, ou tenha falecido, ou que seja
desconhecido porque a prole provenha de uma mãe solteira, sendo
bastante frequente que os filhos mantenham relação com o progenitor
com o qual não vivam cotidianamente (…)

Considerações Finais

Referências
PLANALTO. Decreto-lei n° 12.318/2010, 26 de agosto de 2010. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12318.htm >. Acesso dia 22
mai. 2020.

GARDNER, Richard A. O DSM-IV tem equivalente para o diagnóstico de Síndrome da Alienação


Parental SAP-2002. Disponível em: < http://www.alienacaoparental.com.br/textossobre-sap->
Acesso em: 26 mai. 2020.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10ª edição revista, atualizada e ampliada,
2015. Disponível em: < https://pt.slideshare.net/julysousa/manual-de-direito-dasfami-lias-
maria-berenice-dias-2015>. Acesso em: 21 mai. 2020.,

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5a. Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense,
2013, p. 9

MADALENO, ANA CAROLINA CARPES. DIREITO SISTÊMICO E ALIENAÇÃO PARENTAL. [S. l.],
Disponível em: https://rolfmadaleno.com.br/web/artigo/direito-sistemico-e-alienacao-
parental-ana-carolina-carpes-madaleno#:~:text=A%20Aliena%C3%A7%C3%A3o%20Parental
%20%C3%A9%20uma,submiss%C3%A3o%20do%20menor%20com%20o. Acesso em: 21 maio
2023.

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