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PROCESSO: 1012543-38.2020.8.26.0577.
contra a ação de obrigação de fazer cumulada com danos morais que lhe move FELÍCIO
RAMUTH, já qualificado nos autos, em respeito ao despacho da fls.26 e nos termos do
art. 30 e seguintes da Lei 9099/95, com base no seguintes fundamentos:
1. DOS FATOS:
Conforme o autor, o réu lhe imputou fato inverídico ao dizer que ele está
preocupado com ponte estaiada. Infere, a partir dessa fala, que o réu acusou o autor de não
se preocupar e atuar em outras áreas de sua competência. Concluindo que o autor não
apenas propagou uma mensagem desabonadora, mas também irreal e que houve, com isso,
um aniquilamento da honra do autor.
Ademais, diz que a repercussão desses fatos estão sendo apurados em sede
de Queixa-Crime. Essa é a síntese dos fatos narrados pelo autor.
“Mamot vc é um lixo, um prefeito que está preocupado com ponte estaiada vai
quer dizer o que seu lixo vagabundo imprestável e puxa saco do dória outro
lixo”.
Contudo, o Prefeito, por sua vez, usou as postagens da Maria Scamilla para
insinuar que a motivação da decisão de sua filha foi em razão de viés ideológico e não
técnico. O jornal “O Vale” reportou esse cenário e a seguinte declaração do Prefeito em
suas redes sociais:
“Mesmo assim, Felício disse no vídeo do dia 23: ‘a gente percebe aí um viés
ideológico não só na mãe, mas talvez também na Dra. Juíza. A ideologia cada
um tem a sua, o que a gente não pode é extrapolar os universos ideológicos para
a nossa profissão’, e pediu para que a juíza deixasse de analisar ações
relacionadas a seu governo. ‘Aproveite essa oportunidade para se julgar agora
impedida de qualquer ação perante a prefeitura. Acho que a partir de hoje a
situação dela para julgar ações da prefeitura é, no mínimo, antiética’1”.
“Não se pode aceitar, até como forma de garantir a segurança jurídica, que a
decisão de uma juíza, e da Magistratura como um todo, seja desqualificada
publicamente, nos termos em que fez o prefeito. Eventuais questionamentos das
decisões judiciais devem ser exclusivamente contestados por recurso e não por
meio da internet”
"’Me causa uma certa estranheza que a mesma Justiça, aliás, a mesma Juíza, 15
dias atrás concedeu para os idosos o direito de utilizarem o transporte público.
Tínhamos feito o contrário, para preservá-los em casa teríamos cancelado seus
passes nos ônibus’, disse. ‘A mesma juíza disse que não poderíamos fazer isso e
que os idosos poderiam andar por onde quisessem ao longo da cidade. Essa
1
https://www.ovale.com.br/_conteudo/nossa_regiao/2020/06/105539-mae-de-juiza-que-cha
mou-felicio-de----vagabundo----e----capacho-do-empresariado----tera-que-excluir-posts.html
mesma Justiça, mesma juíza, impede o comerciante de exercer suas atividades.
Parece um grande contrassenso’, afirmou o tucano”2.
“https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=2862715823845227&id=899
354716848024”
2
https://www.ovale.com.br/_conteudo/nossa_regiao/2020/04/102187-felicio-aponta-vies-id
eologico-em-juiza-que-barrou-reabertura-de-comercios-em-sao-jose.html
É notório o intuito do Autor em manipular a opinião pública contra a justiça,
afim de resguardar sua imagem política - em pleno ano eleitoral - em um momento de
instabilidades. Assim, o eleitor tem a impressão de que a culpa pelo desastre econômico
local não foi de responsabilidade política e administrativa do Prefeito, mas da Justiça.
Dito isto, voltemos à análise da frase. “Mamot”, o termo, por si só, solto não
quer dizer muita coisa. É fato notório que o apelido de Mamute, dado ao Felício Ramuth, é
uma sátira popular que ocorre simplesmente em razão da rima com o seu sobrenome. Isso
ocorre semelhantemente com o apelido dado ao Lula: “molusco”.
Quando o réu diz “você é um lixo”, temos que ter em mente a comunicação
confusa de uma pessoa sem instrução e fazer a interpretação segundo o contexto geral e
específico em que o comentário foi realizado. Se olharmos a expressão diante do contexto,
experimentamos a vontade que o réu tem de dizer que a administração e a postura do
Prefeito diante da Justiça não tem valor e, por isso, deve ser descartada. Não ânimo de
causar dor, sofrimento ou humilhação, mas de realizar juízo de valor sobre aqueles
acontecimentos.
No que diz respeito à ponte estaiada, vem sendo ventilado nas redes sociais
notícias de super-aditamento da obra, uma delas é a página “Sou Mais São José. E a
relação utilidade/custo, ela é muito baixa, mostrando-se basicamente inútil, conforme visão
do Ministério Público noticiada pelo jornal “O Vale” , conforme trecho a seguir:
Queiroz Galvão pela Prefeitura de São José mostra que as empresas envolvidas
na Lava Jato continuam atuando livremente no país. É preciso dar um basta nesta
3
https://www.ovale.com.br/_conteudo/_conteudo/politica/2020/07/109335-prefeitura-e-mp-divergem-sobre-a
-pericia-do-arco-da-inovacao.html
farra com o dinheiro público, punindo corruptos e corruptores”, afirma o
Polêmica
A ponte estaiada gerou polêmica na cidade por ser um projeto caro e não
dos Campos, o engenheiro civil Ronaldo Garcia, afirmou que, apesar de seu alto
Ramuth privilegia uma região nobre com uma obra que toda população terá
4
https://www.sindmetalsjc.org.br/noticias/n/3839/prefeitura-do-psdb-contrata-empresa-corr
upta-para-construcao-de-ponte
COVID-19, tema das postagem da Sra. Maria. Diante de todo o conjunto, conseguimos
compreender que o réu quis dizer que o Felício ao se alinhar com a política do Dória, vem
administrando a cidade mal, e que suas ações são inúteis e não trazem proveito à
comunidade. Por isso, o Felício não tem condições de questionar a decisão da justiça e nem
Por fim, vale mostrar que o Felício vem usando o judiciário para censurar as
opiniões contrárias ao seu governo, conforme pode ser visto a seguir:
prefeito Felício Ramuth (PSDB) para que fosse excluída uma postagem na
página ‘Sou Mais São José’, no Facebook, com trechos de uma entrevista de
Protocolada em agosto pelo tucano, a ação tem como base uma entrevista
concedida por Oliveira a uma rádio comunitária da cidade em julho – alguns dos
imobiliário”.
6ª Vara Cível, apontou que “o pano de fundo dos autos parece ser de cunho
eminentemente político”, e afirmou que, ao menos nessa fase do processo, não é
PROCESSO.
Após apresentação da defesa dos citados, a Justiça irá analisar o mérito da ação.
Nele, Felicio pede que Oliveira e os dois administradores da página paguem a ele
2. DO DIREITO:
O réu declara não possuir meios suficientes para suportar as custas desse
processo sem comprometer o seu sustento e de sua família, conforme declaração em anexo.
Assim, requer o benefício da justiça gratuita nos termos dos artigos 98 e seguintes.
5
https://www.ovale.com.br/_conteudo/politica/2020/10/114899-justica-nega-liminar-pedida
-por-felicio-para-excluir-trechos-de-entrevista-de-candidato-ao-paco.html
Em respeito à decisão da fl. 23, item 8, oferece como proposta de acordo o
(duzentos reais).
2.4. DO MÉRITO:
manifestação de opinião do réu em rede social: o facebook. E pressupõe que esse dano é in
re ipsa.
veículo, sendo vedado o anonimato (art. 5º, IV) e toda e qualquer censura de
6
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 5ª edição, Ed.: Juspodivm,
Salvador, 2011, p. 684.
O réu, neste caso, se expressou sem esconder no viés do anonimato e não
usou do seu direito para fins de vindita ou perseguição, mas tão somente, ainda que de
forma imprecisa, para se manifestar o seu juízo sobre temas da atualidade que envolve o
autor.
pelo direito à privacidade, mas devem ser expostas em razão do princípio da publicidade
que envolve os atos administrativos, justamente para que estejam sujeitos à fiscalização do
povo.
jurídica. É uma maneira de demonstrar que está insatisfeito com o governo do Prefeito,
formando juízo de reprovação sobre suas ações. O réu não faz comentário sobre atributos
O autor alega que sofreu dano moral subjetivo, objetivo e in re ipsa. Dirley
Por honra deve-se entender “não só a consideração social, o bom nome e a boa
(...)
Por óbvio, dano à integridade física não houve, assim como à sua imagem.
Já afirmamos que o réu não se dirigiu aos atributos pessoais do autor, mas à
sua governança. No entanto, se vossa excelência entender que houve ato ilícito, isso não
exime o autor da prova do dano e a sua extensão, inclusive para que Vossa Excelência
Se ele é objetivo, é necessário que ele prove a mácula à sua reputação e não
apenas o ato ilícito em si, ainda que seja uma situação de presunção do dano. Por exemplo,
uma pessoa que teve o nome inscrito em órgãos de proteção ao crédito de forma indevida,
presume-se o dano moral, no entanto, se a “vítima” tiver seu nome inscrito, antes da
A prova da dor deve, por óbvio, ser dispensada, mas isso não
7
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional. 5ª edição, Ed.: Juspodivm,
Salvador, 2011, p. 702-703.
atinente à personalidade humana. Quem alega o dano moral deve demonstrar
a ocorrência da lesão, tal como ocorre no dano patrimonial. Assim como para
haver dano patrimonial não basta à vítima demonstrar que o réu agiu de
(...)
aliás, que a exige o dano patrimonial, como lesão ao patrimônio. (...). Lá, como
outro lado, impede uma excessiva abertura que o mito da prova in re ipsa traz ao
campo dos danos morais. Com efeito, não pode haver maior estímulo à
integridade física. Quanto à honra - seja ela objetiva ou subjetiva-, também podemos
8
SCHREIDER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 628-629
verificar que não houve, uma vez que ele se utilizou delas para modificar a opinião pública
curtida no comentário do réu, presume-se que não teve alcance por capacidade própria,
mas pela politização e publicidade que o próprio autor deu em suas redes social. E o vídeo
demonstra que o autor tratou com cinismo as supostas ofensas e, portanto, há ausência de
Civil afirma, de fato, no caput d o art. 944 que “a indenização mede-se pela
forma: “(i) Na primeira etapa, deve-se estabelecer uma valor básico para
depois do comentário, se for verificado, como dito na tese, que o autor conseguiu se
beneficiar, não há sequer motivo para indenização, mas bonificação. Por outro lado, se for
consideração, quantas pessoas fizeram isso, com base nas visualizações, antes da
publicidade que o autor deu ao post. Conquanto, haja ato ilícito, mas a opinião não tenha
sido capaz de modificar a forma que as pessoas vêem o autor, não há razão para
noticiados ao seu respeito, principalmente aquelas que geram dúvidas sobre a licitude e a
moralidade de seus atos, tais como a escolha de empresa para a construção da ponte
irregularidades etc.
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SCHREIDER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. São Paulo: Saraiva,
2018, p. 629-630.
Se houver o entendimento que a ilicitude é culposa, foi um descuido, isso
3. DOS PEDIDOS:
outro;
iii. se houver condenação, que o quantum seja calculado pelo critério bifásico do
STJ, e que seja diminuído o valor pedido ao patamar máximo de R$ 1.000,00 (mil
reais);
inclusiva testemunhal.