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Era uma noite como qualquer outra para a diretora da funerária Ginny

Lynn, até que o excepcionalmente bonito - e infelizmente falecido - jovem em


sua mesa de embalsamamento se sentou, abriu os olhos esmeralda e mudou o
curso de sua vida para sempre, fazendo-a se sentir bastante agitada enquanto
ele fazia isso.

Os humanos não deveriam saber que Jonas Cantrell, ou qualquer


vampiro, existe. É uma espécie de regra principal. Apesar de seu vínculo
instantâneo com Ginny perfeitamente peculiar, ele não tem escolha a não ser
apagar as memórias de seu único encontro.

Esse era o plano. Antes que um relutante Jonas possa limpar a mente de
Ginny, ela revela um segredo que traz seus mundos colidindo. Humano e
vampiro. Passado e presente. Trevas e luz. E embora seu amor seja estritamente
proibido, pode ser a única coisa que pode salvá-los...
Ele era o homem mais bonito que ela já vira.
Era uma pena que ele estivesse morto.
Ginny enfiou a mão no avental de borracha para pegar o controle remoto
da televisão e abaixou o volume em North by Northwest1, silenciando o barítono
aveludado de Cary Grant e não deixando nada além do zumbido de seu
equipamento e tique-taque do relógio de parede. Assistir a filmes clássicos era
sua norma durante o trabalho, mas o homem deitado em sua mesa de
embalsamamento de metal merecia toda a sua atenção.
Ela caminhou em um círculo medido ao redor de sua figura deitada, seus
dedos rastejando lentamente para sua garganta, tentando massagear a pressão
que se espalhava ali. A morte em uma idade tão jovem não era justa para
ninguém, mas tendo crescido em uma funerária, Ginny aprendera a
compartimentar a tristeza. Guarde para outro dia, seu pai sempre dizia. Por que
ela estava achando tão difícil rotular e armazenar a dor pela vida daquele
jovem sendo extinta?
Do que ele morreu?
Nenhum ferimento de bala era visível. Sem sinais habituais de doença de
longa duração. Seu corpo era forte e cheio de músculos. Ele parecia ter se
deitado em sua mesa e adormecido, embora, por algum motivo estranho, ele
não lhe parecesse um homem que descansava com frequência. Alguém

1North by Northwest (Intriga Internacional) é um filme estadunidense de 1959, dos gêneros suspense
e aventura.
pressionou o botão de pausa com uma força vital explosiva. Um fazedor de
reis. Um dínamo.
Um homem especial.
Como ela sentia tudo isso vindo de um cadáver estava além dela. Ela
deveria estar banhando o corpo agora e ainda assim ela hesitou em tocá-
lo. Assim que o processo de embalsamamento começasse, seria definitivo. Não
haveria mais como negar que a morte roubou este homem excepcional do
mundo.
Eu preciso saber o nome dele. Quase desajeitadamente, ela levantou uma
ponta do lençol que cobria seus pés... Mas sua busca resultou em ausência de
digitais.
— Huh —, ela murmurou, substituindo o lençol com uma carranca. —
Isso é estranho.
Apesar de um aviso de seu bom senso, a esperança floresceu em seu meio
sobre mais uma pista de que este homem não poderia realmente estar morto.
O que era outra pista em uma linha embaraçosamente longa de que
Ginny precisava de uma vida social.
Ninguém queria tomar margaritas com a Garota da Morte, como as
jovens (claramente muito imaginativas) em sua aula de costura - Abrace os
Esforços de Costura de Renda - a chamavam quando pensavam que ela não
estava ouvindo. A escuta secreta nem era necessária. O fato de elas colocarem
suas máquinas de costura o mais longe possível dela, sussurrar, olhar
fixamente e nunca convidá-la para um drinque no Dowling's depois da aula
era prova suficiente de que elas pensavam que a morte era contagiosa.
Era um equívoco com o qual ela vivia desde a pré-escola. Ela deveria
estar acostumada a isso agora, mas era em momentos como este, enquanto
lamentava em um silêncio assustador por um homem morto, que Ginny se
perguntava se o isolamento tinha cobrado seu preço.
— O que você acha, Cary? Eu fiquei louca? — ela perguntou ao homem
imortalizado em Technicolor em sua televisão. — Claro que sim, você nem
mesmo é a primeira pessoa morta com quem tentei conversar esta semana.
Sua atenção se desviou, teimosamente, de volta para o homem em sua
mesa.
— Pode muito bem fazer um truque. Como vai?
Nenhum movimento na extremidade do cadáver.
— Haverá um milhão de mulheres chorando em seu velório? — Ela bateu
um dedo nos lábios. — Haverá, tenho certeza disso. O lugar vai transbordar
de lágrimas. É melhor eu ter certeza de que nosso seguro contra inundações
está atualizado.
Quando ela começou a circundar a mesa mais uma vez, seu jaleco branco
arranhou a bainha de seu vestido xadrez verde, que caiu sensivelmente até os
joelhos. Estava frio na casa funerária, especialmente no andar de baixo, onde
os convidados da Casa Funerária P. Lynn eram mantidos em preparação para
seu último adeus, então ela colocou meias pretas grossas com um padrão de
flores antes de descer para trabalhar no turno da noite.
Vestir-se com cuidado era a maneira de Ginny mostrar respeito às
pessoas com quem trabalhava - um fato que sua madrasta e relutante parceira
de negócios muitas vezes zombava - mas uma camiseta e jeans simplesmente
não estavam à altura quando lhe confiavam o cuidado de um ente
amado. Ginny havia desenhado e costurado seu conjunto atual na aula e ela
definitivamente não deveria estar se perguntando o que o Galã aqui pensaria
sobre o corte e o tecido. Ou se ele notasse que ela ajustou um pouco mais
apertado na zona do quadril do que normalmente a deixava confortável.
— Eu preciso de ajuda. — Ela juntou seu cabelo ruivo sobre um
ombro. — Você concorda, não é? Finalmente, você obteve paz e sossego com
sua multidão de admiradoras e aqui vou eu, tentando incomodá-lo para que
eu possa descobrir a cor de seus olhos. Você deve querer morrer de novo.
Continuando sua jornada ao redor da mesa, o olhar de Ginny foi para o
relógio, lembrando-a de que ela deveria ter começado a trabalhar meia hora
atrás. Por que ela estava tão relutante em começar? Como ela experimentava o
peso da perda quando ela nunca se cruzou com esse indivíduo antes?
— De qualquer forma, eu sei o que você está pensando. Ela trouxe à tona
minha legião de fãs três vezes agora. Ela deve estar com ciúmes. — Ginny
parou ao lado do Galã e olhou para sua sobrancelha majestosa, a
masculinidade de sua mandíbula, e um terrível aperto começou em seu
peito. — Eu acho que você está certo — ela sussurrou com as bochechas
vermelhas. — Eu acho que se você tivesse sorrido para mim pelo menos uma
vez no metrô há uma década, eu estaria vingando sua morte agora. Não é uma
loucura?
Só para ter certeza de que um erro terrível (maravilhoso) não havia sido
cometido, Ginny ergueu a mão direita, deixando dois dedos pairarem sobre o
pulso do Galã. Sua frequência cardíaca disparou com a perspectiva de tocá-lo,
o que não era um bom presságio para a tarefa desta noite de encher suas veias
com formol. Como ela poderia dar a ele o devido cuidado que ele merecia se
ela não conseguia parar de tremer?
Uma respiração revigorante passou entre seus lábios.
Ela tocou o pulso dele com os dedos.
Nada.
Não houve engano.
Ele estava completamente, devastadoramente morto.
— Eu sinto muito — Ginny conseguiu dizer, suas lágrimas brotando em
um ritmo tão rápido que uma delas escapou, caindo pesadamente no torso frio
do homem.
Seus olhos se abriram.
Seus... Olhos se abriram?
O choque queimou o sangue de Ginny, a tontura a balançou. Ao redor
dela, a sala se estreitou e se expandiu como uma casa de diversões, fogos de
artifício estourando em seus ouvidos. Ela cambaleou um passo para trás e caiu
contra a parede de blocos de concreto, observando em choque penetrante
enquanto o Galã voltava à vida. Não. Não. Isso tinha que ser sua
imaginação. Ela esteve sozinha por tanto tempo, seu cérebro clamava por
interação humana e de jeito nenhum, de jeito nenhum, o cadáver estava
sentado...
Só que ele estava.
A menos que ela tivesse enlouquecido completa e totalmente,
ele estava sentado, sua musculatura deslumbrante flexionando na luz áspera e
clínica. Ela deveria ter gritado, chamado uma ambulância, dado um copo
d'água para ele. Algo. Em vez disso, ela agarrou o meio do peito e sussurrou:
— Oh, graças a Deus.
Lentamente, a cabeça do Galã se virou e olhos de um verde esmeralda
profundo encontraram os de Ginny, estreitando-se quase num
estremecimento. — N-não é fã de xadrez? — ela brincou, ridiculamente.
Sua atenção se concentrou no tecido em questão, queimando a pele
abaixo como um ferro, antes de retornar aos olhos dela. — Onde estou?
Como ela deveria responder a perguntas simples quando sua voz soava
como uma onda de fumaça? Quando ele era aproximadamente trinta vezes
mais bonito em vida? Onde seu status sem camisa era funcional antes, ele
agora estava sentado, exalando masculinidade com um lençol ao redor de seus
quadris e, portanto, seu peito nu havia se tornado um ataque sensual. Cabelo
espesso, preto como o pecado, foi penteado para longe de seu rosto, mas
algumas mechas escaparam para acariciar sua testa. Sua mandíbula flexionou
durante sua fala, mas Ginny não conseguia parar de olhar. Era como se ela
tivesse faminta por vê-lo.
A tristeza cultivada dentro dela se dissipou tão rapidamente, deixando a
leveza para trás, que ela quase se sentiu histérica. Como se ela tivesse sido
atirada em um tanque de hélio. — A melhor pergunta é: onde você esteve?
A mão de Ginny voou para a boca tentando prender a pergunta tarde
demais. De onde veio isso? Talvez ela estivesse histérica. Afinal, um cadáver
acabara de voltar à vida diante de seus olhos. Ela ganhou o direito de ficar
calada.
— Eu sinto muito. O que eu quis dizer é que você está na casa funerária
P. Lynn em Coney Island. — Ela parecia sem fôlego, mas oficial, como uma
garota do tempo relatando ao vivo na frente de um tornado. Na hora, um
estrondo começou acima e ela apontou para o teto. — Vê? Lá está o trem
Q. Você quer falar sobre isso?
— Sobre o trem Q?
Seu sotaque era difícil de localizar, mas foi revelado com sugestões do
sul. — Não. Não, quero dizer... — Ela se separou da parede e ficou se mexendo
em suas sapatilhas. — O fato de que você acabou de voltar dos mortos.
— Sim —, ele respondeu lentamente, olhando para ela de uma forma que
fez sua pele ficar quente e sensível. — Primeiro, gostaria de falar sobre por que
você não está gritando.
Honestamente, Ginny não tinha uma boa resposta para sua pergunta
razoável e direta. Então ela divagou, como sempre fazia em situações em que
sua normalidade era questionada. — Se eu gritar, posso te assustar até a morte
e acho que isso pode me tornar uma assassina. — Tornando assim óbvio que
ela era bastante anormal e tornando a conversa ainda pior para si mesma. — De
qualquer forma, é uma ocasião feliz. Você está vivo! Você está de volta. — Sua
conversa estimulante morreu em seus lábios quando algo terrível aconteceu. —
Você não ouviu nada do que eu disse antes. Você ouviu?
Uma centelha de humor iluminou seus lindos olhos. — Você estava
conversando com um homem morto?
— Que bom, você não ouviu nada. — Ela engoliu em seco. — Mas agora
você acha que sou louca, então qual é a diferença?— Ele a observou com
curiosidade enquanto ela cruzava a sala e pegava o receptor do telefone fixo. —
Nós provavelmente deveríamos chamar uma ambulância. Ou, pelo menos, a
médica legista para informá-la que ela precisa manter seu trabalho diário...
— Guarde isso.
O receptor estava de volta no lugar antes que ele terminasse de
falar. Ginny olhou para a mão que tinha movido por conta própria, arrepios
formigando seus braços. — Eu, hum... Eu possa verificar seus sinais vitais, mas
não posso tratá-lo —, disse ela, um pouco acima de um sussurro. — Você
deveria ser examinado.
Ele esfregou a fenda no queixo. — Qual é o seu nome?
— Ginny — ela murmurou, amando o ato de passar esse conhecimento
para ele. Mesmo que ele esquecesse o nome dela em cinco minutos, ele sabia
agora.
— Ginny. — Ele disse o nome dela como um pecador sussurrando seus
segredos mais sombrios para um padre em um confessionário. — Você não
parece adequada para trabalhar em uma funerária.
— Oh. — Uma onda de prazer a invadiu, até que percebeu que ele
poderia muito bem acompanhar essa afirmação com, você tem um futuro com o
circo. — Para qual linha de trabalho eu pareço mais adequada?
— Dada a sua capacidade de manter seu senso de humor sob estresse,
ser uma general de guerra ou uma comediante.
Ela riu. Seus lábios se separaram com o som e por algum motivo, ele
parecia devastado pelo som. Devastado e fascinado.
— E o seu nome, senhor?
Ele não levantou uma sobrancelha com a maneira como ela falou, o que
foi bom. Antes de aprender a encadear uma frase, ela estava assistindo a filmes
em preto e branco ao lado do pai no sofá. Combinando isso com a maneira
formal de seu pai falar - e sua idolatria pela estrela de cinema/deusa Lauren
Bacall - ela foi acusada mais vezes do que podia se lembrar de soar como uma
explosão do passado.
— Jonas —, disse ele, quase baixinho demais para entender.
Jonas. Jonas.
Era perfeito para ele. Forte, fora do comum, adorável.
Ela deve ter suspirado alto, porque a cabeça dele virou bruscamente.
— Onde estão minhas roupas, Ginny? Eu preciso sair.
— Eu... Sim. Sim, claro que você quer. — Seus dedos se mexeram
nervosamente. — Você deve ter uma família que ficará muito feliz com esta
reviravolta nos acontecimentos.
— Sem família — ele murmurou. — Apenas dois companheiros de
quarto idiotas com um chute no traseiro no futuro.
— Desculpe?
Ele desviou o olhar, sua risada sem humor pairando no ar. — Que
diabos. Você não vai se lembrar de nada do que aconteceu esta noite, de
qualquer maneira, vai?
— Oh. Eu prometo a você, eu vou lembrar.
— Sinto muito, eu não posso permitir isso. — Mais uma vez, seu olhar
curioso a varreu, como se estivesse tentando avaliá-la e incapaz de chegar a
uma conclusão direta. — Parece que nós dois fomos vítimas de uma
pegadinha. Meus colegas de quarto me deixaram aqui enquanto eu dormia. —
Ele balançou sua cabeça. — Todos os anos, no meu aniversário, eles insistem
em fazer algo perigoso e estúpido, embora eu realmente pensasse que eles
superaram isso. Sinto por qualquer angústia que isso tenha causado a
você. Eles vão pagar por isso, eu prometo.
Ginny estava incrédula. — Como você pôde dormir sendo transportado
para uma casa funerária? Eles drogaram você?
Ele parecia escolher suas palavras com cuidado. — Não durmo com
frequência, mas quando durmo, é bastante profundo.
— Oh. — Ela apontou para sua máquina de embalsamar. — Aqueles
idiotas. E se eu tivesse enchido você de produtos químicos?
— Idiotas —, ele murmurou com um meio sorriso. — Minhas roupas,
Ginny. Por favor.
— Devo falar com minha madrasta sobre nosso sistema de
segurança. Eles provavelmente se esgueiraram durante o Survivor - ela não
pisca enquanto está ligada. — Ainda perplexa com o fato de um corpo vivo ter
sido contrabandeado para a casa funerária sem ser visto, Ginny decidiu que
não havia muito que pudesse fazer sobre isso agora. Ele devia estar congelando
na mesa de metal frio, para não mencionar traumatizado. Ela não podia
simplesmente fazê-lo sentar lá enquanto ela balançava o punho contra as ações
de seus amigos imprudentes. — Roupas. Você precisa de roupas —, disse ela,
concentrando-se. — Já estou indo, Galã.
— O que é que foi isso?
Ande, por favor, abra e me coma viva. Atenciosamente, Ginny. —
Nada. Deixe-me ver se você deixou alguma coisa. — Ela avançou em direção à
mesa, a sua intenção de abrir a gaveta de armazenamento de metal embaixo
onde sua madrasta normalmente colocava a roupa de enterro. Ela não tinha
nenhuma razão para acreditar que seus amigos iriam seguir o procedimento,
mas ela estava operando fora de hábito. Quanto mais se aproximava de Jonas,
mais seu punho se fechava no lençol. Seria possível que ela agora estivesse
repelindo os meio-mortos, assim como os vivos?
Fabuloso.
Tentando não olhar para a linda espécime masculina de perto, ela se
abaixou com propósito e abriu a gaveta, um pouco surpresa ao encontrar um
par de jeans e uma camiseta enrolados. Na frente da camisa, as
palavras Aniversariante haviam sido escritas em Sharpie.
Ginny ergueu para ele inspecionar.
Ele suspirou. — Idiotas.
Ela se levantou e entregou-lhe as roupas. — Feliz aniversário. Que
idade?
Jonas fez uma pausa no ato de puxar a camisa pela cabeça. — Vinte e
cinco.
— Oh! — Ela se mexeu inquieta. Ela estava assistindo ele se vestir. — Meu
aniversário também está chegando. Logo teremos a mesma idade.
Ele ficou em branco. — Certo.
Uma vez que sua camisa estava no lugar - e ela estava tentando ao
máximo não notar como seus bíceps mal cabiam nas mangas - ela percebeu que
a etiqueta estava para fora. Sem pensar, ela estendeu a mão e enfiou-a dentro
do algodão branco, com os nós dos dedos roçando na pele dele. Jonas fez um
som áspero e ela puxou a mão de volta com uma respiração ofegante. — Jonas,
você ainda está muito frio. Tem certeza que não devo chamar um paramédico?
— Esta é minha temperatura normal, Ginny — ele murmurou, o lençol
soando como se estivesse rasgando em suas mãos. — Você, no entanto, é muito
quente. — Suas narinas dilataram-se. — Não tenho certeza de que se trata de
você, mas há uma... Diferença.
— Entre nós?
— Entre você e todos os outros. — Ele se moveu de repente e
rapidamente, tão rápido que ela mal o registrou jogando as pernas para o lado
oposto da mesa e um lampejo de nádegas firmes, antes de ele vestir os jeans. —
Eu não posso estar aqui.
Era quase alarmante como ela ficou em pânico com sua partida
iminente. Sua garganta fechou-se no tamanho de um canudo e um motor deu
a partida em sua barriga, roncando e falhando, repetidamente. — Posso te
levar a algum lugar? Eu teria que usar o carro funerário, mas...
— Você não deveria estar me oferecendo uma carona, Ginny. Eu sou um
estranho. — Ele se virou para encará-la sobre a mesa de metal, parecendo
profundamente perturbado. — Você costuma dar carona a homens sobre os
quais não tem o mínimo conhecimento?
— Sim, mas eles geralmente estão mortos. É uma espécie de acordo que
eles aceitam.
A confusão roubou sua irritação. — Quem é você?
— Você poderia descobrir — ela sussurrou, temendo ser humilhada por
isso amanhã, mas incapaz de se conter. — Você poderia ficar e descobrir.
Algo semelhante ao desejo varreu suas feições. — Não, eu... Não posso.
Qual foi a causa desses nervos estalando nas pontas dos dedos? Se ela
não encontrasse uma maneira de prolongar esse encontro, tudo estaria acabado
antes de começar e algo sobre isso parecia terrivelmente errado. — Não
precisamos ficar aqui —, disse ela. — Na verdade, estava pensando em dar um
passeio. — Antes que ele pudesse responder, Ginny tirou o avental pela cabeça,
jogou-o no balcão mais próximo e saiu correndo pela porta da sala de
embalsamamento. — Vem?
— Um passeio — ele repetiu, de alguma forma já bem atrás dela. — No
meio da noite?
— É a melhor hora para caminhar. Tudo está tão quieto.
— Como você viveu tanto tempo? — Uma batida passou. — Por favor,
eu não posso fazer isso.
— Tudo bem. — Seu sorriso era inocente. — Eu posso ir sozinha.
Com um grunhido, Jonas chegou ao lado de Ginny e ela escondeu um
sorriso aliviado.
— Uma hora — ele murmurou. — Eu tenho uma hora.
O Luna Park estava fechado durante a noite, mas alguns dos brinquedos
ainda brilhavam onde se alinhavam ao longo do calçadão de Coney
Island. Com o outono avançando gradualmente, o vento tinha uma mordida
fresca, mas o verão ainda estava presente, trazendo o cheiro de areia quente e
água salgada. Exceto por um punhado de pessoas dormindo em bancos e um
rato ocasional correndo para pegar pedaços de pipoca e crostas de pizza caídas,
o calçadão estava vazio de vida, silencioso o suficiente para ouvir as ondas
quebrando perto, o chiar da caiação.
Jonas caminhava ao lado dela com as mãos cruzadas nas costas, olhando
fixamente para a frente, ocasionalmente murmurando frases para si
mesmo. Eu não deveria estar fazendo isso parecia ser o seu favorito, com você
enlouquecendo vindo em segundo lugar.
Eu tenho uma hora.
Esse era o seu murmúrio favorito até agora.
Ele não disse: — Você tem uma hora. — Ele disse: — Eu tenho uma hora.
E talvez, apenas talvez, isso significasse que ele estava gostando de estar
com ela, mesmo que parecesse que estava sendo fervido vivo em uma cova de
óleo quente.
Uma garota poderia sonhar.
— Uma hora — ela murmurou agora. — E então eu não vou te ver de
novo?
Sulcos se formaram entre suas sobrancelhas. — Correto.
Ela ignorou a pontada em seu peito. — Esta é uma oportunidade única
então.
Ele parecia relutantemente intrigado. — Como assim?
— Desde que nós nunca vamos ver um ao outro depois desta noite,
podemos dizer as coisas mais estranhas em nossas mentes sem medo de
reviver o embaraço cada vez que nos encontramos. Talvez eu possa até mesmo
passar os segredos do sexo feminino. Você não está curioso por que as
mulheres abrem a boca quando aplicam rímel?
— Não até agora. Por que elas fazem isso?
— É reflexivo. Quando a mulher tenta não piscar, o nervo oculomotor é
ativado, disparando o nervo trigêmeo que abre a mandíbula. Boca aberta
significa não piscar - e nossos corpos fazem isso naturalmente. — Ela sorriu
para ele. — Você não está feliz por ter vindo nesta caminhada?
Ele riu, o som pleno e profundo fazendo-a pensar em adegas
subterrâneas e nas seções escuras e menos viajadas de uma biblioteca. — Vai
ser impossível esquecer —, disse ele, parecendo de repente sem palavras.
— Por quê?
— Nada —, ele respondeu, olhando para ela com curiosidade. — Eu
simplesmente não consigo me lembrar da última vez que ri... Sem me obrigar
a fazer isso por educação.
— Você é sempre educado?
— Eu não diria isso, mas sempre procuro fazer o que é apropriado. A
coisa certa. — Baixinho, ele disse: — Normalmente, de qualquer maneira.
Ginny parou, algo terrível lhe ocorrendo. — Você é casado? É por isso
que você não deveria estar fazendo isso? Você disse que tinha colegas de
quarto e eu presumi que isso significava que você era solteiro...
— Eu não estou comprometido, Ginny. — Ele parecia paralisado por seu
cabelo soprado pela brisa. — Em uma maneira de falar. — Com um esforço
visível, ele se recompôs. — E você? Você sempre faz a coisa certa?
— Estou no ramo funerário. Eu gosto de deixar espaço para uma área
cinza.
A diversão apareceu em seu rosto. — Se importa em elaborar?
Ginny cantarolou. — Nós tivemos um cliente uma vez, quando meu pai
ainda estava vivo. O falecido pediu para ser enterrado com seus relógios de
ouro. Jonas, ele tinha quatorze deles. Sete em cada braço. — Ela balançou a
cabeça com a memória. — Seus filhos não podiam pagar pelo funeral ou pelo
túmulo, então escondemos dois dos relógios dentro de uma caixa de Big Mac.
Ele deu um sorriso. — Não detectei nenhuma área cinzenta aí. De que
adiantaria quatorze relógios enterrados quase dois metros abaixo do
solo? Você não pode levá-los com você.
— Exatamente.
— Quando você está morto, não pode levantar o pulso para verificar a
hora, de qualquer maneira —, disse Jonas.
Ginny riu em sua palma - e o som o fez tropeçar e parar de andar.
— O que?
— Não sei. — Ele abriu a boca e fechou-a. — É quase como se eu sentisse
mais falta da sua risada do que da minha.
— Oh — ela sussurrou.
Quando eles começaram o caminho novamente, Jonas parecia bastante
distraído. — Tudo bem, minha vez de uma pergunta. Você é otimista ou
pessimista?
— Pessimista até os ossos. Você?
— Definitivamente otimista.
— Uma otimista que trabalha em uma funerária?
— Possuo uma casa funerária. — Ela semicerrou os olhos para ele. —
Ciúmes?
Ele passou os dedos pelo cabelo, deixando-o despenteado e sem
direção. — Jesus, Ginny, você é tão cativante, é doloroso. — Sua mandíbula
cerrada. — Vamos voltar.
Relutantemente, ela se virou e eles partiram na direção em que haviam
caminhado. — Por que um pessimista?
— Vi muitas coisas darem errado na... Minha época.
— Diga algo que você viu dar certo.
— Essa é uma técnica que os otimistas usam para trazer alguém para o
lado da luz?
— Não, eu acabei de inventar.
Seus dentes brancos brilharam, mas seu sorriso lentamente derreteu. —
O tempo acerta as coisas, suponho. As estações aparecer sem falha, ciclo após
ciclo. As pessoas colocam suas luzes de Natal na mesma época todos os anos. A
noite chega mais cedo, depois mais tarde, e mais cedo novamente. As crianças
crescem, aprendem, se casam. Tempo nunca falha, ele continua indo.
Ginny olhou para o oceano, embora sua atenção desejasse estar em
Jonas. — Não consigo decidir se isso é bonito ou assustador. Talvez sejam os
dois.
Ela sentiu seu aceno em vez de vê-lo. — Ambos estão certos —, disse ele
calmamente. — Você está gostando desta caminhada, Ginny?
— Muitíssimo.
— Bom. Saia enquanto você está ganhando, por favor. — Ele a pegou
pelo cotovelo e a empurrou. — Caminhadas à meia-noite não são seguras.
— Eu nunca as faço de qualquer maneira. — Esse fio de honestidade
quebrou a barreira do resto. — Só não queria me despedir ainda e sabia que
você não me deixaria ir sozinha.
Ele franziu a testa. — Como você pode ter certeza?
— Não sei. Eu só... Sabia. — Eles estavam fora do calçadão agora e na
calçada normal, o El e o P. Lynn aparecendo à distância. E se ela pensava que
tinha entrado em pânico antes, quando Jonas se preparava para partir, essa
sensação era sete vezes maior agora, formando um bloco de gelo em seu
estômago. — É a sua vez de fazer uma pergunta.
— A voz dela —, ele sussurrou quase inaudivelmente, fechando os
olhos. — Não consigo pensar em nenhuma.
— Tente?
Seu olhar percorreu seu rosto de uma forma quase desesperada. — O que
você mais gosta?
— Claro, deixe a mentira para o final. — Ginny engoliu em seco. — O
legado do meu pai. Pessoas pensando em mim como confiável. Não tendo
arrependimentos. Uma saia perfeitamente plissada.
Quando ele a observou em silêncio estático por um longo momento,
Ginny percebeu que eles não estavam mais andando, mas se encarando sob
um poste de luz, do lado de fora da entrada da casa funerária P. Lynn.
— Há mais, mas não consigo pensar nelas agora — ela murmurou.
Jonas estendeu a mão e alisou seu cabelo rebelde. — Oh, para estar nessa
lista. — Ele parecia se preparar - e falhar. — Me desculpe, eu tenho que fazer
isso. Eu sinto muito.
— Não entendo.
Sua voz ficou rouca. — Olhe nos meus olhos, Ginny.
— Por que?
— Você não conseguirá se lembrar disso. Não devemos nos encontrar.
O bloco de gelo em seu estômago se expandiu. — Eu quero me lembrar
disso.
— Ginny...
— Não entendo. C-como você é capaz de me fazer esquecer?
Jonas fechou os olhos brevemente. Quando ele os abriu, as brasas verdes
neles brilharam, brilhando mais forte quando ele deu um passo adiante em seu
espaço. E outro. Até que ela teve que inclinar a cabeça para trás para olhar seu
rosto magnífico. Ele ergueu a mão, estendendo-a lentamente para o lado
direito da cabeça dela, as pontas dos dedos roçando levemente o cabelo dela -
e as presas cortadas à vista entre seus lábios como adagas.
— Você entende agora?
O trem Q passou rugindo no alto, sacudindo a atmosfera, da mesma
maneira que suas entranhas começaram a tremer. O que... O que havia de
errado com seus dentes?
Não, não dentes. Não incisivos como os dela.
Essas eram... Presas?
A respiração não vinha. Ela estava enraizada no local, hipnotizada e
puxada para mais perto, apesar da voz de cautela chamando no fundo de sua
mente. Algo está errado aqui.
Algo está errado.
A compreensão a atingiu e um grito subiu por seu diafragma, parando
em sua garganta. Certamente ele não estava tentando fazê-la acreditar em algo
tão estranho.
Algo que só existia em contos de fadas e filmes.
Pele fria. Um sono profundo. Sem pulso. Presas.
— Isso é uma piada?
Ele balançou sua cabeça. — Antes fosse.
A noite toda foi uma configuração elaborada? Por que ele iria tão longe
para assustá-la? Mesmo enquanto sua mente formava as perguntas, ela não
conseguia acreditar em suas próprias suspeitas. A intuição não a deixaria. Isso
a tornava uma pessoa louca ou uma idiota?
Ambos. Definitivamente, ambos.
— Você está tentando me fazer acreditar que você é um vampiro?
— Eu sou um vampiro, Ginny. — Suas sobrancelhas escuras se
juntaram. — Nunca fiquei tão triste com isso.
Ginny se virou e se jogou na porta, mexendo nas chaves enquanto
tentava inserir a certa na fechadura. — Por que você faria isso? — ela
perguntou, sua voz vacilante.
— Não fuja de mim — ele implorou densamente.
— Por quê? — Sua visão ficou turva. — Você precisa apagar minhas
memórias?
— Eu sou obrigado. — Ela finalmente conseguiu abrir a porta, mas ele
facilmente empurrou atrás dela, fazendo os dois pararem sem fôlego no saguão
escuro. — Mas não é por isso que estou pedindo para você não
correr. Eu... Deus. — Ele beliscou a ponta do nariz entre dois dedos. — Eu
oficialmente perdi. Eu não posso suportar ter você com medo de mim, mesmo
que você vá esquecer que eu existo em um momento. — Ele avançou em sua
direção. — Acredite no que eu sou ou não. Apenas saiba disso. Se eu pudesse,
voltaria amanhã à luz do dia e tocaria a campainha. A forma como deve ser
feito. Flores e uma promessa de recebê-la em casa antes do toque de recolher.
— Eu tenho vinte e quatro anos. Não tenho toque de recolher —, disse
ela sem pensar. — Pelo menos, eu não penso assim. Além disso, esta noite, eu
não saio muito depois de escurecer.
— Bom.
Se este homem realmente estava brincando com ela, ele não teria sua
recompensa? Por que ele ainda estava parado ali? Por que ela ainda queria que
ele ficasse?
— Você pode provar que é um... Vampiro?
Um músculo estalou em sua bochecha e mais uma vez, a joia verde em
seus olhos ganhou vida, brilhante e luminosa como algo de outro mundo.
— A resposta está bem na sua frente —, ele murmurou.
Poderia estar realmente dizendo a verdade?
O coração de Ginny disparou tão rápido que ela piscou para manter o
foco e não ceder a uma crise de tontura. Este homem tinha presas e olhos
brilhantes. Sem pulso, a propósito.
Essas não eram coisas que poderiam ser falsificadas. Ela estava
simplesmente sendo humana e rejeitando o que sua mente considerava
anormal?
A verdade estava bem na sua frente.
— Você é um vampiro.
— Sim.
Ela soltou um suspiro longo e trêmulo. — Oh, senhor. — Ela pressionou
as mãos nas bochechas. Seu corpo tremia violentamente, mas ela não correu -
e não conseguia explicar por quê. Talvez fosse a maneira como ele estava
olhando para ela. Como se ele fosse desmaiar de pura miséria se ela decolasse
novamente. — Um perigoso?
— Não para você. Nunca para você. — Ele disse essas palavras com o
punho apertado no centro do peito. — De qualquer maneira, temo que você
não precise se preocupar com nada disso por muito tempo.
Ela não conseguia se lembrar de vampiros fictícios com a habilidade de
apagar memórias, mas se vampiros existissem, nada seria mais rebuscado. —
Não. Por favor, não me faça esquecer de você.
— Eu não tenho escolha. Eu sinto muito.
— Não podemos nem ser... Amigos?
— Deus, não.
Ginny se encolheu.
Jonas amaldiçoou. Ele fechou a distância entre eles, deslizando os dedos
em seus cabelos, embalando seu crânio, trazendo-a para perto até que suas
testas quase se tocassem. — Você não entende. Eu não posso ser nada para
você. E você não pode ser nada para mim. Isso colocaria você em perigo.
As memórias eram sagradas para Ginny. Memórias eram seu estoque e
comércio. Todos os dias de sua vida ela testemunhava o valor e a importância
delas. Eram tudo o que as pessoas tinham durante os momentos mais difíceis
de suas vidas. Roubar memórias parecia o pior tipo de violação. E não só isso,
um pecado. Ela as protegeria a todo custo.
Mas como?
Como?
A resposta veio a ela de uma forma óbvia, quase sinuosa. Diga a verdade.
— Você me colocaria em perigo, Jonas? — Ela balançou a cabeça. — Já
estou em perigo.
Suas palavras o feriram visivelmente. — Eu disse que não vou te
machucar.
— Você não entende. Eu não estou em perigo com você. É outra pessoa.
— Ela molhou os lábios. — Estou correndo sério perigo por outra pessoa.
O verde giratório em seus olhos pulsou e sumiu, seus músculos
afrouxando com a rápida perda de apoio invisível. Suas mãos, no entanto, a
pegaram pelos braços, segurando-a com firmeza. — Quem? Diga-me
imediatamente.
— Não.
— Não? — Sua confusão era tão óbvia quanto sua frustração. — Por que
não?
Ginny encolheu os ombros. — Volte amanhã à noite e talvez eu te conte.
— Ela estalou os dedos entre eles. — Embora se você apagar minha memória,
eu não vou reconhecê-lo. Portanto, definitivamente não vou confiar em você o
suficiente para dizer que minha vida foi ameaçada. Mas talvez... Com o tempo
você ganhe minha confiança? Eu precisaria de minha memória para isso, não
é?
Quando ela se tornou o tipo de mulher que joga jogos mentais com um
vampiro?
Esta noite, aparentemente.
Mas eles eram realmente jogos mentais se ela estivesse apenas
declarando os fatos?
Jonas não estava feliz. — Você vai me dizer neste momento quem te
ameaça e eu vou lidar com ela antes do amanhecer.
— Então é verdade, você não pode sair ao sol?
— Não sem virar pó.
— Eu não convidei você para entrar. Acho que isso é um mito?
— Sim. E, por favor, pare de mudar de assunto. Quem pretende
prejudicar você?
— Desculpa. Meus lábios estão fechados.
— Uma última chance, antes que eu faça você me dizer.
O alarme beliscou sua espinha. — Como você vai fazer isso?
Desta vez, quando seus olhos começaram a brilhar, ele parecia
relutante. — Você se lembra mais cedo esta noite quando eu fiz você desligar
o telefone em vez de chamar uma ambulância? Eu posso te dar uma sugestão
muito forte. E você será compelida a seguir.
— Por favor, não faça isso —, disse ela em uma expiração. — Você estaria
tirando minha vontade.
Seus dedos se apertaram em seus braços. — Você não está me dando
escolha.
— Sim — ela enfatizou. — Eu estou.
— Eu não posso ir embora e deixá-la em perigo. E eu não posso voltar.
— Seu olhar caiu para o pescoço dela e ele piscou várias vezes. — Você não
sabe como ou o que instiga. Já fiquei perto de você por muito tempo.
Ela se livrou de seu aperto, recuando em direção ao corredor que levava
à seção residencial da casa funerária. — Eu prefiro enfrentar a ameaça sozinha
do que ter minhas memórias adulteradas. As memórias são tudo o que uma
pessoa tem em alguns dias.
Ele inclinou a cabeça curiosamente com as palavras dela, mas
acompanhou seu recuo, passo a passo. — Diga-me agora, Ginny — ele
murmurou, suavemente, tão suavemente, e seus passos pararam, seu processo
de pensamento foi sumindo e girando em um carretel de seda. — Diga-me
quem ameaça sua vida.
O instinto a governou e o instinto ditou que ela fizesse Jonas feliz. De
repente, era o que mais importava. Dê a ele o que ele quer. Ela queria ficar de
joelhos e se curvar diante dele, na chance de que ele acariciasse seu cabelo e lhe
concedesse algum elogio - e espere, o quê? O que está acontecendo comigo?
Ele está fazendo isso.
Ele e seus hipnóticos olhos verdes.
As palavras estavam na ponta da língua. Palavras que revelariam as
informações que ela contou exatamente a ninguém. Mas se ela contasse a Jonas
sobre sua recente noite de perigo, esta seria a última vez que o veria - e não
apenas essa possibilidade era abominável... Também parecia errada.
Não devo deixá-lo ir.
— Pare —, ela ofegou, cobrindo os olhos com a mão. — Por favor, pare.
Quando longos minutos se passaram sem que ele dissesse nada, ela
espiou por entre os dedos para encontrá-lo estupefato. — Como você fez
isso? Como você lutou comigo? — Ele estudou o rosto dela. — Ninguém nunca
tentou, muito menos conseguiu.
Ginny adorou Lauren Bacall por toda a vida, mas nunca se sentiu mais
como ela do que quando colocou a mão na maçaneta do corredor, jogou o
cabelo e olhou para Jonas. — Melhor sorte da próxima vez, Galã — ela disse. —
Vejo você amanhã. Você sabe onde me encontrar.
Na tarde seguinte, as coisas ficaram estranhas.
Mais estranho, algo assim, embora a insanidade tenha demorado um
pouco para ganhar impulso.
Ginny acordou por volta das duas horas, quando o sol estava mais alto
no céu, normal para quem trabalhava no turno da noite. Sempre que seu início
tardio parecia anormal ou ela acordava sentindo como se tivesse perdido a
metade importante do dia, ela se lembrava de todos os bartenders, técnicos do
metrô e funcionários da bodega acordando no Brooklyn ao mesmo tempo - e
continuava com sua rotina normal.
Ela regou o jardim de ervas em sua escada de incêndio, acenando sua lata
de metal verde para o Sr. Jung enquanto ele regava a calçada do lado de fora
de seu mercado de peixes do outro lado da rua. Ela tirou um pouco de
manjericão entre o polegar e o indicador, levando-o para a cozinha para
polvilhar sobre os ovos. Se faltava uma faca no bloco de corte, ela não achava
estranho. Sua madrasta gostava de um queijo grelhado à meia-noite de vez em
quando e costumava deixar talheres em lugares estranhos.
Como o freezer. Ou do lado de fora, sob o tapete de boas-vindas.
Sua madrasta, Larissa, não bebia muito quando o pai de Ginny era vivo,
mas ela realmente pisava fundo no acelerador ultimamente. Ginny não a
culpavav. A ex-rainha do concurso se apaixonou por um agente funerário, mas
ela nunca esperava se tornar uma. A funerária P. Lynn contraiu muitas dívidas
sob a supervisão de seu pai, entretanto, e depois de se casar com uma mulher
com um gosto extremamente caro para joias e roupas de lazer, ele prontamente
faliu, deixando-as com duas opções.
Tentativa de vender uma funerária desatualizada (spoiler: ninguém
queria) que, infelizmente, estava localizada embaixo do trem Q, que em mais
de uma ocasião fez com que um caixão tombasse. E alguns comentários online
muito infelizes.
Ou, opção dois. Continuar, nos negócios de sempre, e tentar desenterrar
montes de empréstimos a pequenas empresas e dívidas de cartão de crédito.
Na verdade, elas só tiveram uma opção. Abaixar-se e continuar, uma
decisão que aliviou muito Ginny. A casa pode ser uma pilha, mas
era a casa dela. Uma que seu pai construiu como um marco da vizinhança e
conseguiu fazer um lugar feliz, apesar dos cadáveres no andar de baixo. Ela
não queria ver tudo pelo que ele trabalhou desmoronar quando ela era mais
do que capaz de manter as portas abertas. Devia haver uma razão para ele ter
passado horas incontáveis ensinando-lhe pacientemente o ofício da família,
certo?
Um estrondo acima da cabeça de Ginny a fez largar o garfo que estava
usando para misturar os ovos. Ela bateu os dedos no balcão por vários
segundos enquanto decidia o que fazer. Larissa não tinha acordado, não
importava a regra do horário e esperava que Ginny obedecesse. Ok, esperar era
uma maneira gentil de dizer que Larissa tendia a jogar escovas de cabelo ou
copos meio cheios de água em Ginny se ela sequer passasse pela porta de seu
quarto para chegar ao banheiro. Muitas bexigas cheias a ponto de estourar
haviam sofrido desde que ela dividia o espaço com sua madrasta.
No entanto. O silêncio que se seguiu ao estrondo convenceu Ginny a
deixar seus ovos crus no balcão e subir lentamente as escadas na ponta dos pés.
A funerária P. Lynn consistia em três andares. O necrotério subterrâneo,
o primeiro andar acima dele, que abrigava o escritório, o saguão e as áreas de
observação. No mesmo andar intermediário, inacessível ao público, ficavam a
pequena cozinha e a sala de jantar, que podiam ser acessadas por um corredor
trancado. No andar de cima, no último andar, ficavam os quartos. Três
deles. Um para Larissa, um para Ginny e um vazio que Larissa usava como
armário secundário.
Enquanto subia as escadas, Ginny flexionou os dedos ao lado do corpo,
embora nenhuma quantidade de aquecimento de seus dedos ajudasse a pegar
qualquer objeto voador. Ginny era irremediavelmente pouco atlética. Na aula
de educação física do ensino médio, ela ganhou o apelido de No Win Gin por
ser o beijo da morte para qualquer time que tivesse a infelicidade de escolhê-
la por último. Era apenas outra maneira de ela se tornar sinônimo de má sorte
na vizinhança.
Não havia sentido em ser trágica por causa disso.
Ela tinha uma legião de filmes antigos para lhe fazer companhia - To
Catch a Thief estava na agenda para esta noite - um lugar para morar e ervas
para seus ovos. Ela poderia costurar um vestido fatal. E embora sua profissão
pudesse deixar as pessoas desconfortáveis com sua própria mortalidade, ela
sentia o contrário. As pessoas vinham até ela em seus piores dias e ela as guiava
por um processo do qual muitas vezes nada sabiam. De certa forma, ela se
sentia um pouco como uma rede de segurança de pouso suave para os
enlutados que entravam pela porta da frente da Casa Funerária P. Lynn. Com
esse espírito, ela frequentemente iniciava suas reuniões com um brilhante e
alegre: — Você gostaria de comemorar a vida deles?
Uma imagem de Jonas se projetou na parte de trás de suas pálpebras e
ela deu uma piscada prolongada para absorvê-la avidamente. Jonas tinha
recebido um funeral? Tecnicamente, ele estava morto, mesmo que ela nunca
tivesse conhecido ninguém que tivesse exalado mais... Vida.
Vitalidade.
Sensualidade sexy.
Ele voltaria hoje? Ela não conseguia imaginar um mundo onde ele não o
fizesse. Onde seu único encontro mágico fosse o primeiro e o último. Ela
sonhou com seus olhos e o toque de seus dedos em seu cabelo. Repetiu suas
conversas continuamente em sua mente para que ela nunca as esquecesse. A
voz dele estava presa em sua cabeça como uma música favorita.
Era patético que ela tivesse considerado seu encontro monumental? É
assim que se sentia. Ela era como uma daquelas pessoas que afirmavam ter
visto Deus durante o coma. Ninguém acreditaria nela, mas ela mudou para
sempre, no entanto.
Volte, Jonas, ela disse em um sussurro mental, de alguma forma certa de
que ele ouviria.
Ele ouviria?
Ginny habilmente evitou o piso rangente do corredor e se aproximou do
quarto de Larissa. Os cabelos de sua nuca se arrepiaram quanto mais ela se
aproximava. A madrasta nunca deixava de dormir com a televisão ligada no
volume médio, geralmente sintonizada na rede de compras, mas o silêncio
reinava do outro lado da porta. Não houve nem um ronco ou um farfalhar de
lençóis.
— Curioso — Ginny sussurrou, seus dedões subindo um sobre o outro
no tapete. — Mmmm. — Ela se aproximou. — Larissa?
Ela se abaixou por instinto, em preparação para um guincho estridente
ou talvez a urna de latão de seu pai quebrando a porta fechada e deixando-a
inconsciente. Jogar uma urna seria definitivamente a primeira vez para
Larissa, mas totalmente de acordo com seu comportamento crescente. Melhor
estar em guarda.
Depois de mais alguns momentos de silêncio passando, Ginny se
endireitou e fechou a distância restante até a porta, enrolando a palma da mão
na maçaneta e girando. Nesse estágio, ela definitivamente estava começando a
se preocupar.
O silêncio mortal em uma casa funerária era apenas um bom sinal se
viesse de um de seus convidados no andar de baixo.
— Larissa? — Ginny chamou, abrindo a porta.
Ela parou assim que seus olhos se ajustaram à escuridão.
Lá estava sua madrasta, sua figura premiada delineada sob os
lençóis. Um braço pendurado para fora da cama, uma garrafa vazia de
Stolichniya ao alcance. Ginny apertou os olhos na escuridão, tentando
discernir as costas de Larissa se movendo para cima e para baixo em um
padrão respiratório típico, mas não tinha certeza. Abandonando o corredor, ela
entrou no cômodo lentamente, os dedos entrelaçados sob o queixo. — Larissa?
— Ela vai ficar bem.
Ginny se virou com um grito horripilante preso na garganta. Ela nunca
seria capaz de dizer com certeza por que ela não o soltou, mas suspeitava que
tinha algo a ver com a jovem sorridente de cabelos cor de lua olhando para
ela. Muito possivelmente, ela estava fascinada demais para gritar. Quem era
essa pessoa e o que ela estava fazendo em Coney Island, sem falar no quarto
de Larissa? Em suas calças de couro, botas vermelho-sangue e corpete
cravejado de tachas, ela parecia ter saído de um filme futurista dos anos
oitenta. E ela estava segurando a faca de cozinha que faltava em sua mão.
Eu ainda estou dormindo?
Talvez Ginny estivesse tendo um sonho continuamente longo sobre
vampiros e... O que quer que essa mulher fosse. Foram doze horas
extremamente bizarras.
Talvez nada disso fosse real.
Talvez a pessoa que tentou matá-la tivesse conseguido parcialmente e
este era um grande sonho insano provocado por uma febre terrível. Ela poderia
estar cercada por enfermeiras na Unidade de Terapia Intensiva neste exato
segundo.
— Você está dizendo tudo isso em voz alta —, disse a mulher, sua voz
com um leve sotaque russo. — Eu juro que você está acordada. Mas eu poderia
beliscar você, se você deseja confirmar isso?
— Não, obrigada. — Oh Deus, era esta a pessoa que estava fazendo ela
olhar por cima do ombro? Esta intrusa matou Larissa primeiro para que não
houvesse testemunhas? Ginny iria morrer sem nem mesmo descobrir por que
alguém a queria um metro e meio abaixo da terra? — Minha madrasta está
morta?
Duas sobrancelhas loiras brilhantes se juntaram. — Você estava
ouvindo? Eu apenas disse que ela ficaria bem.
— Então... Por que você está segurando uma faca?
— Estou afiando para você. A minha é feita da melhor prata. — Ela
ergueu a faca, olhando a lâmina com nojo. — Você acha que eu poderia até
mesmo romper a pele com uma lâmina cega assim? — Com isso, Cabelo Lunar
deslizou outra faca maior da parte inferior de suas costas e começou a golpear
e arrastar as duas lâminas juntas, desencadeando faíscas no quarto escuro. —
De nada.
Ginny ficou boquiaberta. — Você está deixando a faca mais afiada para
que minha morte seja mais rápida? E você quer que eu te agradeça por isso?
Cabelo Lunar não se incomodou em olhar para cima de sua tarefa. — Eu
não estou aqui para matar, mesmo que seja muito mais
interessante. Infelizmente, estou aqui para protegê-la.
— Me proteger de quê? — Ginny se virou brevemente para encontrar a
metade superior de Larissa agora caindo da cama. — O que você fez com ela?
— Uma pequena cabeçada. — Ela usou a parte plana da lâmina para
bater em si mesma no meio da testa. — Bem aqui. Apagou.
A mulher devolveu a Ginny sua faca de cozinha afiada e ela não teve
escolha a não ser pegá-la, reforçada pelo fato de que, pelo menos, seria mais
fácil cortar cenouras agora. — Você estar aqui tem alguma coisa a ver com
Jonas?
— Sim. — Cabelo Lunar encostou-se na parede, olhando Ginny com uma
especulação presunçosa. — Então você é a única, hein?
— Única…?
— Aquela que faz o príncipe arrancar seu cabelo perfeito.
— O príncipe?
— Refiro-me a Jonas, obviamente.
— Oh. — Ginny zombou para esconder seu sorriso. — Ele estava...
Falando sobre mim ou algo assim?
Cabelo Lunar soltou uma risada gutural. — É para os dois lados, eu
vejo. Isso só pode terminar em desastre. — Ela encolheu os ombros. — Pelo
menos será divertido.
— Por que você o chamou de príncipe?
— Entre sua espécie, ele é uma espécie de... Líder relutante, pode-se
dizer. — Ela estudou a ponta de sua lâmina com uma fungada. — Ele tem
moral, princípios e coisas dessa natureza. Eu não suporto ele, sério.
Essa conversa era completamente insana e Ginny não tinha escolha a não
ser continuar. Esta mulher conhecia Jonas. Ter a menor conexão com ele,
mesmo na forma dessa mulher potencialmente assassina, reabastecia seus
pulmões com oxigênio. Isso significava que ele era real. — Qual o seu nome?
— Roksana. — Ela fez uma reverência sarcástica. — A seu serviço.
Um ronco abrupto de Larissa quase fez Ginny disparar pelo telhado. Sob
o olhar afiado de Roksana, ela pressionou a mão sobre o coração acelerado e
esperou que ele voltasse ao normal. — Podemos ir a outro lugar e conversar?
— Ela mudou o peso em seus pés. — Estou me sentindo um pouco culpada
por discutir qualquer coisa além da possível concussão da minha madrasta
quando ela está bem atrás de mim.
— Isso é justo. — Roksana desencostou da parede e saiu para o
corredor. — Vamos conversar no necrotério para que você possa me mostrar
os corpos.
— Oh... Eu estava pensando que poderíamos usar meu quarto.
— Tanto faz.
Ginny correu para acompanhar Roksana de pernas compridas no
corredor, contornando a curva e entrando na segunda porta à direita. — Estou
tentando não me preocupar como você sabe exatamente onde fica o meu
quarto — Ginny disse, fechando a porta atrás dela. — Como você sabia, a
propósito?
Roksana franziu a testa como se ela tivesse feito uma pergunta
ridícula. — Eu estive aqui a noite toda. Você acha que eu não mapeei o layout?
— Estou tão confusa agora.
— Não é da minha conta. Eu só estou aqui para garantir que ninguém
assassine de você. — Roksana usou seu dedo indicador para puxar para baixo
as cortinas, o sol da manhã deixando uma faixa de luz através de seus olhos. —
Essa deve ser a única explicação necessária.
— Você aguenta a luz do sol, então não deve ser uma vampira... — Ginny
murmurou, principalmente para si mesma.
Roksana abriu as cortinas com um estalo e cuspiu no chão. — Claro que
não, eu não sou um desses parasitas pálidos. Eles são uma praga. Uma doença.
— E-eu pensei que você fosse amiga do Jonas — Ginny balbuciou.
— Não sou amiga de ninguém. — Ela ergueu o queixo. — Eu fiz um
juramento de massacrar o príncipe e seus dois companheiros de quarto de
merda em breve. Três estacas no peito - bum, bum, bum. Provavelmente
amanhã. Eu ainda não decidi.
— Oh. — Ginny massageou a pulsação em sua testa, tentando evitar a
vontade de empurrar Roksana pela janela. Ela era a coisa mais distante de uma
pessoa violenta, mas algo feroz e protetor brotou dentro dela por ter Jonas
ameaçado. — Por favor... Não faça isso.
— Se você quer gritar, por que simplesmente não grita? — Roksana
meditou, agora parada a centímetros de distância.
Ginny recuou e bateu na porta. — Uau, você se move rápido.
— Sim, eu sei. — Roksana balançou um dedo para ela, então a porta. —
Por favor, tente não dar a si mesma uma concussão. Não tenho certeza se
poderia vencer uma batalha contra Jonas se ele estiver irritado por você ter se
machucado. Em qualquer outro momento, eu o levaria sem problemas.
— Certo. — Ginny engoliu em seco, seu cérebro tentando entender a
conversa. Entender, bem... Tudo. — Então você odeia Jonas, mas ele pediu que
você me protegesse e você disse que sim? Por que ajudá-lo se você acha que ele
é parte de uma praga?
— Eu mato sua espécie. — O dedo de Roksana cutucou o ar. — É o meu
trabalho.
— Ok. Você mata vampiros. Isso é real.
— Sim, claro. Eu só estou... — Um toque de incerteza passou por suas
feições. — Estou enganando-os com uma falsa sensação de segurança. E talvez
eu esteja tirando umas férias enquanto estou nisso. Amanhã, porém... — Ela se
afastou com uma risada sombria. — Amanhã eu mato todos eles.
Senhor, esta era uma conversa pesada para se ter quando a luz do café
estava apagada. — E, enquanto isso, você vai me proteger.
Roksana colocou o punho sobre o coração e ficou brevemente séria. —
Até a morte. — Ela virou a faca e a pegou. — Podemos ver os corpos agora?
Ginny não mostrou os corpos a Roksana.
Ela fez o café da manhã da caçadora de vampiros. Com que frequência
alguém dizia isso? Roksana não ficou falante durante a refeição e comeu com
os tornozelos cruzados sobre a mesa, mas Ginny estava entusiasmada com a
companhia, mesmo assim. Ela não tinha certeza de como seu arranjo
funcionaria exatamente, mas rapidamente descobriu que a assassina estaria
acompanhando cada movimento seu.
Roksana acompanhou Ginny até a mercearia e voltou. Em seguida, foi à
loja de tecidos para comprar dois metros de chiffon de caqui para o vestido
novo inspirado no outono que ela estava planejando. Todos os que passaram
receberam uma olhada suspeita de Roksana. Para ser justo, ela recebeu
algumas tentativas em troca. Coney Island estava cheia de excentricidades e
ainda assim Roksana se destacou entre a multidão. Pode ter tido muito a ver
com a lâmina enfiada na parte de trás de sua calça de couro, mas Ginny estava
apenas especulando.
Ginny estava em seu quarto se preparando para o turno da noite no
andar de baixo quando Larissa tropeçou em sua porta. A ex-rainha do Desfile
da Sereia de Coney Island era uma das mulheres mais bonitas que Ginny já
tinha visto, mesmo em um roupão e uma cabeça com bobis.
Todos os anos, Ginny e o pai iam ver os carros alegóricos e os foliões
passarem, sempre parados no mesmo lugar fora da lanchonete
Famiglia. Naquela tarde de 2015, ele ficou em silêncio enquanto Larissa
passava sob o sol, completando sua onda de desfile e deslumbrando as
multidões com um sorriso de estrela de cinema, que ela parecia apontar
diretamente para ele.
Quando o desfile terminou, o pai de Ginny encontrou Larissa a chamou
para sair e provar pierogis, um evento que chocou Ginny, considerando que
seu pai passava seus dias tentando se misturar aos painéis de madeira que
revestiam suas salas de exibição. Ainda assim, Larissa disse que sim e uma
semana depois, ela se mudou para a funerária P. Lynn e nunca mais saiu.
— Que horas são? — Larissa indagou agora, enxugando o rímel
manchado.
Ginny verificou o relógio na mesa de cabeceira ali, notando que Roksana
estava longe de ser vista. Onde ela havia se escondido? — É 6:49.
— Eu dormi o meu turno inteiro! — Ela pressionou as costas da mão na
testa. — E eu tive um sonho estranho. Uma mulher estava em meu quarto e...
— Ela segurou o ar sobre os seios. — Ela usava um corpete de couro com
tachas.
Ginny verificou Larissa várias vezes ao longo do dia e ela não se mexeu
nenhuma vez, mesmo quando Ginny colocou uma compressa fria no infeliz
caroço em sua têmpora. O cheiro de álcool em seu hálito sugeria a
possibilidade de Larissa ter dormido durante seu turno, mesmo se Roksana não
tivesse batido na cabeça dela. — Aquilo foi um sonho louco,— Ginny disse. —
Afinal, é muito frio lá fora para um bustiê.
— Houve um tempo em que eu teria usado um em uma tempestade de
neve - e usei — Larissa disse melancolicamente. — Eu perdi alguma coisa
enquanto estava dormindo? Alguma novidade?
— Hoje não.
Sua madrasta olhou para longe. — Aqui estou eu, esperando que as
pessoas morram para que possamos manter as luzes acesas. É horrível. — Ela
beliscou a ponta de seu nariz. — Você já pensou em vender o negócio por um
preço mais baixo?
Ginny sentiu uma pontada de culpa. Houve parte dela que queria colocar
o legado de seu pai sobre o mercado e receber muito menos do que ele pagou
por ele, obrigada, Q trem. Só para estar livre de Larissa. Mas cada vez que o
agente imobiliário ligava para perguntar se elas consideravam relistar a casa a
um preço mais baixo, Ginny recusavam. Estas paredes eram as únicas
testemunhas além dela às memórias que ela fez com seu pai. Se ela vendesse a
casa e mudasse, ela seria a única com essas memórias. A cada mudança em sua
vida, elas desbotavam um pouco mais, como um jeans preto continuamente
lavado.
Além disso. Era errado dela gostar de seu trabalho?
Ela assumiu a responsabilidade e o orgulho de cuidar dos entes queridos
que partiram. Qualquer resquício de estranheza que ela experimentou quando
criança, aprendendo ao lado de seu pai, já havia passado. Agora, os falecidos
eram apenas pessoas que viveram, amaram, choraram, riram, derramaram
refrigerantes, andaram de montanhas-russas, contaram piadas, foram picadas
por mosquitos. Eles deveriam ser tratados com amor, e ela não confiava em
muitas de suas habilidades, mas ninguém poderia tratá-los com mais respeito
ou fazer um trabalho melhor. Essa era sua profissão e ela queria mantê-la.
Infelizmente, isso significava que Larissa estava bem e presa. A menos
que Ginny pudesse comprar sua metade do negócio - e isso não aconteceria tão
cedo.
— Desculpe, não pensei mais em vender — Ginny finalmente
respondeu. — Este lugar é realmente tudo que eu conheço...
— Mas você poderia mudar isso! Talvez sair de Coney Island e começar
de novo em algum lugar?
— Eu não sei — Ginny se esquivou, não querendo dar um não direto a
uma sugestão amigável. — Se o trabalho está desgastando você, Larissa, talvez
você deseje de tirar uma folga? Limpar sua cabeça...
— Não, não. Não, está bem. Amanhã chego na hora. — Ela agarrou as
laterais do robe, juntando o material na nuca. — Além disso, quem eu
visitaria? Meus pais na Flórida? Esses aposentados em sua dispersão complexa
quando me verem chegando agora... Eles achariam que eu trouxe a morte na
minha mala. — Ela estava ficando nervosa. — Não sei como você fez isso a vida
toda.
Ginny deu de ombros e pegou os brincos de pérola em sua cômoda,
colocando-os sem se olhar no espelho. — É tudo que eu sei — ela disse
simplesmente, uma pontada atingindo-a no esterno. — As pessoas não querem
precisar de nós. Ninguém nunca está pronto. Mas, no fundo, elas se sentem
confortadas em saber que estamos aqui.
— Você parece seu pai.
— Obrigada.
O sorriso de Larissa estava tenso. — Bem. Já que eu já perdi meu turno,
posso muito bem descansar para o próximo. — Sua madrasta bocejou
ruidosamente e se virou, esticando os braços acima da cabeça enquanto
caminhava pelo corredor. — Por favor, pense um pouco mais em vender este
lugar. O bem maior e tudo mais. Boa noite.
Um segundo depois, Ginny ouviu a porta de Larissa fechar, seguido pelo
som distinto de uma tampa de garrafa sendo aberta e licor enchendo um
copo. Ginny ficou parada por um tempo no corredor escuro, considerando os
repetidos pedidos de sua madrasta. Ela estava sendo egoísta em manter P.
Lynn funcionando? Esta era sua casa. A única que ela conheceu. Para onde ela
iria sem ela? O que ela faria?
O menor som de raspagem fez Ginny se virar com um suspiro.
Jonas estava em sua janela.
Jonas parecia diferente esta noite.
E a noite caiu enquanto ela falava com Larissa, mas o sol deve ter acabado
de se pôr. Ele estava esperando o momento em que afundasse no horizonte
para vir vê-la?
Não seja ridícula.
As palmas das mãos de Ginny ficaram úmidas ao vê-lo e ela tentou
passar despercebida ao enxugá-las nos quadris de seu vestido cor-de-rosa de
corte A. Seus olhos ilegíveis rastrearam o movimento, no entanto, então ela
parou e baixou as mãos, sem ideia do que fazer com elas.
A última vez que tinha visto Jonas, ele tinha estado em jeans e uma
camiseta enrugada. Embora ele ficasse bonito com as roupas, elas pareciam
deslocadas em seu corpo robusto de ferreiro. Elas quase pareciam muito
modernas em um homem cuja energia a lembrava dos filmes da Era Dourada
que ela assistia. Filmes que celebravam uma época em que os homens beijavam
as mulheres como queriam e um olhar através da sala podia falar por si. Ou
desencadear um caso de amor.
Se ao menos ela estivesse com um robe de seda, escovando o cabelo e
parecendo glamorosa quando o vampiro subiu em sua janela. Ela lançaria a ele
um olhar frio por cima do ombro à la Grace Kelly e diria a ele para voltar
quando ele trouxesse flores.
Você não é Grace Kelly.
Certo.
Ginny voltou à realidade.
Não, jeans e uma camisa rabiscada com Sharpie não faziam a Jonas uma
grama de justiça, talvez nada fizesse, mas as calças de lã cinza e a camisa de
botão preta que ele usava... Eram definitivamente um começo fantástico. Aqui
estava o príncipe de quem Roksana havia falado. Um decreto real sairia de sua
boca.
As mãos de Jonas estavam em punhos ao lado do corpo. — Olá, Ginny.
O jeito que ele disse Ginny a lembrou da nota mais grave de um piano e
fez os dedos dos pés dela enrolarem no tapete. — Olá —, ela conseguiu dizer.
Ele balançou a cabeça lentamente. — Eu não deveria estar aqui.
— E, no entanto, aqui está você.
— Sim. — Sua mandíbula flexionou. — Roksana, por favor, saia de
debaixo da cama? Eu gostaria de um relatório antes de você ir.
— Oh, eu simplesmente vivo para cumprir suas ordens, sugador de
sangue — ela disse com um bufo, rolando para fora de seu aparente
esconderijo, antes de pular e enviar a Jonas uma saudação zombeteira. — É a
madrasta que ameaça a vida dela.
— O quê? — Ginny franziu a testa, ainda absorvendo o fato de que
Roksana estivera escondida embaixo da cama dela nos últimos vinte
minutos. — O que tem minha madrasta?
Roksana a ignorou, andando na frente de Jonas - que ainda observava
Ginny como um falcão. — A madrasta quer vender este lugar, Ginny
não. Talvez ela planeje matar Ginny, vender esta pilha e tirar todo o lucro para
si mesma. É uma história tão antiga quanto o tempo. Família, ganância, blá-
blá-blá.
— Não — ela murmurou. — Não, Larissa não faria isso. Se ela estava
planejando me matar, por que ela se incomodaria em me pedir para
vender? Por que não apenas agir? E de qualquer maneira, ela não tem força
corporal para...
— Para quê? — Jonas perguntou, estreitando os olhos.
Sabendo que não poderia revelar muito ou arriscaria ter sua memória
apagada, ela fechou os lábios. — Esquece.
Uns bons dez segundos se passaram. — Só para eu entender, quem quer
que esteja te ameaçando tem uma força corporal considerável. Você está ciente
disso porque eles a usaram contra você? É isso que você está me dizendo,
Ginny?
— Não. Eu não estou te contando. De propósito.
Jonas fez um som com a garganta. — Você terá minha proteção de
qualquer maneira...
— Independentemente de você mexer ou não na minha cabeça? Isso é
enorme de qualquer maneira. — Ela cruzou os braços e perguntou o que ela
realmente queria saber. Uma pergunta a incomodou o dia todo. — Jonas. Por
que você está tão determinado a me proteger?
Sua máscara fria permaneceu no lugar. — Talvez eu não esteja te
contando. De propósito.
Ginny engasgou com as palavras jogadas de volta em seu rosto.
Jonas ergueu uma sobrancelha, como se dissesse, sua jogada.
Roksana dividiu um olhar entre eles e gargalhou. — Assistir vocês dois
é melhor do que fingir ser uma virgem perdida para atrair vampiros.
— Isso não funciona de jeito nenhum —, comentou Jonas, dando a
Roksana um breve olhar antes de colocar sua atenção de volta em Ginny. —
Você está livre para ir, Roks. Por favor, volte antes do nascer do sol para me
aliviar.
— Dasvidaniya2. — Roksana jogou uma perna pela janela aberta e
desapareceu de vista. Se foi. Bem desse jeito.
Deixando ela e Jonas sozinhos.
— Eu realmente não preciso de serviço de guarda-costas 24 horas por dia
— ela disse na imobilidade carregada. — Devo estar impedindo você de algo
importante.
Sem confirmar ou negar, Jonas deu uma volta lenta ao redor da sala,
catalogando seu pôster de filme A Beira do Abismo, a máquina de costura Singer
em cima de sua cômoda, dedais espalhados em sua base. Ele se inclinou em
direção a um de seus frascos de perfume, mas pareceu se conter antes de
cheirá-lo, lançando-lhe um olhar de soslaio ligeiramente tímido.
Jonas continuou em um arco ao redor de sua cama, as luzes de fada
penduradas em seu dossel destacando seu rico cabelo preto. Ele estava
caminhando para mais perto dela e com cada passo proposital, a vibração em
sua cintura se intensificou. Ela podia praticamente sentir o gosto dos sons, a
presença dele tornava tudo ao seu redor muito mais vibrante, do zumbido do
silêncio à nitidez das cores.
— Eu não tenho nenhum cliente esta noite — ela disse, umedecendo os
lábios secos. — Quando tenho um necrotério vazio, geralmente subo ao
telhado por um tempo antes de fazer a papelada.
Por um breve segundo, quando ele se virou, ela jurou que sua atenção se
agarrou à pulsação na parte inferior de seu pescoço. Totalmente em desacordo
com seu aceno educado. — O telhado. — Sua exalação atingiu sua pele e ela
estremeceu. — Leve-me lá

2 Despedida em russo
Ela se virou e saiu lentamente do quarto, suas costas formigando com
Jonas seguindo atrás dela. O quarto de Ginny estava localizado no centro do
corredor do andar de cima, com Larissa em uma extremidade perto do
banheiro. Perto do terceiro quarto/armário havia uma escada estreita que
levava ao telhado. — Então, hum... — Seja legal. Seja interessante. — Eu percebi
que você respira.
— Força do hábito. Embora eu tenha dito que o desejo eventualmente vai
embora.
— Não é bom ter algo pelo qual ansiar? — Ela se virou bem a tempo de
perceber seus lábios se contraindo. — Hum. — Ela olhou para a frente a tempo
de esconder seu sorriso delirante. — Isso não vai ser uma revelação absoluta
de que você não é humano?
— Sorte dos mortos —, ele riu baixinho. — Não passo muito tempo com
os vivos, então me revelar não é realmente uma preocupação minha.
Ginny abriu a porta que dava para a escada e acendeu a luz do teto,
lembrando-se tarde demais que a lâmpada havia queimado um ano
antes. Certo. Apenas uma noite normal, subindo uma escada escura como breu
com um vampiro em seus calcanhares. Nada para ver aqui.
— Então... — ela começou a engolir em seco, subindo as escadas
barulhentas, uma de cada vez. — Por que você não passa muito tempo com os
vivos?
Jonas não respondeu imediatamente, mas quando o fez, seu toque
esfumaçado da voz do sul estava perto, tão perto, no escuro. — Existem regras
pelas quais vivemos, Ginny — ele disse, rispidamente. — Nenhuma delas
proíbe expressamente estar perto de humanos, mas cada uma delas foi
planejada para garantir que nunca sejamos descobertos. Ao permitir que você
tenha consciência de mim, posso muito bem estar quebrando-as.
— O que acontece quando você as quebra?
— Excomunhão. Morte. Misericórdia ocasional. Depende do humor em
que a Alta Ordem se encontra em um determinado dia.
— Oh. — Ao ouvir a palavra morte, Ginny parou e se virou tão rápido
que perdeu o equilíbrio, o calcanhar escorregando no carpete velho e
gasto. Seus pés balançaram embaixo dela, mas antes que ela pudesse se
preparar para pousar com força, seguida pela inevitável queda de bunda, ela
se viu no telhado ao luar, embalada no peito de Jonas.. — O que acabou de
acontecer? Como chegamos aqui tão rápido?
— Eu peguei você. — Esmeraldas cintilaram em seus olhos. — Seria
sensato da sua parte se lembrar com que facilidade.
Seu pulso bateu em seus ouvidos. — O que isso significa?
— Significa... — Ele parou com um som frustrado, colocando Ginny de
pé, mas parecendo relutante em se afastar completamente. — Isso significa que
existem razões pelas quais vivemos de acordo com um conjunto de
regras. Estão escritas em pedra porque mantêm pessoas como você seguras e
evitam que sejamos descobertos.
Ela balançou a cabeça. — Estou segura com você, não estou?
Uma pausa se seguiu. — O que a trouxe a essa conclusão?
— Se você quisesse me machucar, você teria feito isso na noite passada.
A resposta dela o surpreendeu, mas apenas momentaneamente. —
Talvez eu tenha uma força de vontade mais forte do que a maioria. — Ele deu
um passo mais para mais perto do espaço dela, dando a Ginny uma dose de
seu cheiro viciante. Cravo e hortelã. — Você já considerou que pode haver um
limite para isso?
Não, ela não tinha considerado isso e francamente, ela estava começando
a questionar sua convicção quando se tratava de Jonas. Ela era realmente tão
imprudente a ponto de se colocar em lugares escuros e privados com um
homem que poderia claramente dominá-la e matá-la? Ou havia algo
quase... Familiar sobre Jonas que a tornava tão confiante em suas intenções? —
Por que você precisa de tanta força de vontade? — Ginny murmurou. — O que
você está se impedindo de fazer?
— Oh, Ginny. — Ele segurou o queixo dela, estudando sua boca com...
Fascinação? Fome? Antes de virar a cabeça para a direita e expor o pescoço ao
luar. — O que não estou me impedindo de fazer?
A velocidade com que seus mamilos endureceram fez Ginny piscar
rapidamente. Ela já estava bastante ciente de sua atração por Jonas, mas ele
tinha apenas insinuado que queria seu sangue? Ela não imaginou, certo? E em
vez de recuar como deveria, uma chama lambeu suas veias como a língua de
um dragão. Inesperado, isso.
Muito inesperado.
Ela gostava de membros do sexo oposto antes. Ela até deixou Gordon
Collingsworth levá-la ao cinema uma vez - um evento que ele estava ansioso
para repetir desde então - mas ela só experimentou uma leve curiosidade
quando se tratou de beijar Gordon. Tipo, seria tão pegajoso e úmido quanto as
palmas das mãos? Por quanto tempo isso iria continuar? Se ela o deixasse beijá-
la na França, ele pararia de implorar para que ela fosse ao jantar de domingo
com sua mãe?
Coisas assim.
Não foi uma noite estranha com Gordon. Ela estava em um telhado ao
luar com Jonas elevando-se acima dela e a implicação de que ele queria algo
dela ainda pairava no ar. Ela vibrou da cabeça aos pés, seus lábios e pescoço
formigando sob sua atenção extasiada - e mesmo em seu estado de excitação
hormonal, havia uma sensação de finalmente. Finalmente, ela estava lá com ele.
Jonas inclinou ligeiramente a cabeça. — Sobre o que você pensa?
— Principalmente que... Isso não é nada como meu encontro com Gordon
— Ginny murmurou.
Ele já estava tão quieto em virtude de sua natureza, mas ficou ainda mais
imóvel de alguma forma, seu olho esquerdo se contraindo. — Gordon?
Ela acenou com a mão. — Ele não está nem aqui nem lá.
— Oh? Então onde ele está?
— Aqui não. Nem lá.
— Bem, ele tem que estar em algum lugar.
— Eu só estava pensando... Bem, eu nunca o beijei. Mas eu nunca quis
que ele me beijasse, do jeito... — As palavras dela perderam força quando a
expressão dele se fechou. — Do jeito que eu acho que você me beijaria.
— Eu não vou beijar você —, ele murmurou, inclinando-se para falar a
centímetros de seu rosto. — Você não vai descobrir.
Sua rejeição a envergonhou. O fato de que seus mamilos ainda estavam
enrijecidos não ajudava. Ela tinha presumido muito? Ela tinha estado em torno
de tão poucos homens de sua idade que ela se agarrou ao menor sinal de
interesse?
Ele não é um homem.
Ele é um vampiro.
Seu corpo e coração claramente não estavam fazendo essa distinção, não
importa o quanto ela tentasse fazê-los. No entanto, seu coração estava batendo
forte como um balão de festa de cinco dias que alguém finalmente conseguiu
estourar e espremer o ar escasso. Ginny se virou e caminhou para o outro lado
do telhado, esperando por alguns segundos preciosos se recompor antes de
fazer mais perguntas.
Jonas suspirou enquanto ela se afastava. — Ginny...
— Então, quais são as outras regras? — ela perguntou animada,
estabelecendo seus antebraços na parede de pedra fria do perímetro. Jonas
surgiu ao lado dela, apoiando o quadril contra a barreira com os braços
cruzados, a uma distância saudável. Ela ansiava por olhar para ele, por ver seu
rosto lindo cercado pela luz das estrelas e o parque de diversões do calçadão
brilhante à distância. Em vez disso, ela rastreou a silhueta dos prédios do outro
lado da rua e deixou o vento de outono esfriar seu rosto corado.
Sua resposta veio depois de um tempo, sua voz mais suave do que
antes. — Existem três regras, embora quebrar uma geralmente signifique que
você quebrou todas as três. — Em sua visão periférica, ela podia vê-lo contar
os itens em seus dedos. — Um, nenhum relacionamento de qualquer tipo com
humanos. Dois, nada de tirar vidas humanas. E três...
Finalmente, ela julgou que seu rosto havia perdido cor o suficiente para
olhar para ele. — Sim?
— Não beba de humanos. — Ele colocou a mão na parede do perímetro,
parecendo segurá-la com força. — Não diretamente, pelo menos.
Sua mente disparou com o conhecimento incomum. — E se você usasse
um canudo?
A expressão tensa de Jonas deu lugar ao espanto. Lentamente, ele se
virou e olhou para a costa. — Como eu poderia não querer te proteger,
Ginny? Como alguém poderia não querer? — Seu queixo caiu em direção ao
peito. — Você é engraçada e corajosa e linda pra caralho e Deus, eu realmente
não deveria estar aqui.
O órgão em seu peito inchou e dançou tão inesperadamente que ela
quase caiu na parede. — Mas... Eu pensei que você não queria me beijar.
Ele se moveu mais rápido que um piscar, sua imagem borrou até que de
repente suas costas foram pressionadas contra a parede, o nariz de Jonas a um
centímetro de distância dela. — Você ouviu o que eu disse sobre as três
regras? Quebrar uma leva à quebra de todas as três. — Seus lábios roçaram e
ambos oscilaram, os dedos se torcendo nas roupas um do outro. — Pense nisso,
Ginny. Eu não posso olhar para o seu rosto confiante e soletrar.
— Tudo bem... — Ela estendeu a mão com sua mente, tentando agarrar
os fios de informação, mas balões estavam flutuando com eles. Como ela
poderia pensar quando seus olhos brilhavam para ela com uma trifeta de
fascinação, dor e necessidade? — Você não pode estar em um relacionamento
comigo porque você quebrará a regra número três. Eu acho, certo? Bebendo?
— Sim — ele sibilou, colocando a boca no pescoço de Ginny e inspirando
profundamente, aquelas mãos fortes puxando-a para mais perto da cintura de
seu vestido. — Eu falei sério na noite passada. Existe uma diferença entre você
e todas as outras. É como se eu já soubesse qual é o seu sabor. Eu te reconheço.
— Seus lábios roçaram seu pulso. — Eu reconheço isso como se estivesse me
dando boas-vindas em casa.
Se seus pensamentos não estivessem espalhados por migalhas, devido à
proximidade escaldante e ao corpo dele, oh Senhor, o corpo dele, ela poderia ter
se lembrado de sua sensação anterior de déjà vu. De confiar nele sem razão ou
causa porque ela sabia, sem dúvida, que ele nunca a machucaria.
Jonas ergueu o queixo e pressionou suas testas juntas. — Você está
esquecendo a segunda regra, Ginny.
— Sem matar humanos — ela sussurrou. — Eu lembro.
Arrependimento atou seu tom quando ele falou. — Quebre uma, quebre
três.
— Não. Isso soa como algo que foi feito para controlar seu
comportamento. Tipo, “uma maçã por dia mantém o médico
longe”. Claramente, um fazendeiro de maçãs pensou nisso. Ninguém nunca
para para pensar na origem de... De... Por que você está rindo?
— Você. — Seus lábios roçaram seu cabelo. — Você se recusa a parar de
me fazer rir. E...
— E você não deveria estar aqui.
— Isso já está ficando velho, não é? É a verdade. — Seu olhar mapeou
seu rosto. — Minha força seria um coringa se eu cedesse a isso. Eu não posso
prever como eu reagiria ao beijar você - ou mais, quando eu mal entendo o que
você está fazendo comigo sem jogar... Mais na mistura. — Ele fez uma
pausa. — Isso é incomum, Ginny.
Mais.
Essa palavra roucamente falada fez com que suas coxas quisessem se
abrir. Ele pressionaria contra ela com força e ela os envolveria...
— Pare — ele respirou. — Você é um desastre tentador.
— Talvez um beijo?
Ele riu sem humor. — Não iria parar por aí —, disse ele com voz rouca,
apoiando as mãos na parede de cada lado de Ginny. — Teria que ser tudo ou
nada com você.
Jonas lançou-lhe um olhar ardente e ela viu o que ele quis dizer. Oh, ela
certamente viu. Uma imagem em movimento correspondente ganhou vida em
sua mente. Jonas movendo-se bruscamente em cima dela, sua saia ao redor de
sua cintura... Seus dentes se cravaram em seu pescoço. Seus pensamentos
devem ter se traduzido em seu rosto porque Jonas se turvou com uma
maldição, deixando-a perto de uma poça contra a parede.
— Só mais onze horas e dezessete minutos para o nascer do sol — ele
murmurou. — Lá embaixo, por favor, Ginny.
— Sim, Galã — ela brincou, antes de corar até a raiz do cabelo. Evitando
seu olhar questionador, ela passou por ele descendo as escadas.
— Eu sabia que tinha ouvido você me chamar assim ontem à noite. —
Sua voz era enérgica - e diretamente atrás dela. — Você tem um apelido para
Gordon?
— Não tenho certeza se isso é da sua conta.
— Você queria que fosse da minha conta, ou não o teria mencionado.
— Fiquei confusa quando fiz isso.
Jonas cantarolou um som cético. — Como você o conhece?
— Estou... Colocando o bem-estar dele em risco ao contar a você?
— Não. Lembre-se das regras.
Ginny parou e se virou no final da escada. — As regras são praticamente
a única coisa em que estou pensando agora.
Ele tocou a ponta da língua no lábio superior. — Eu também.
Eles realizaram um aquecido mini concurso de encarar. — O que
acontece quando você encontrar a pessoa que estava me ameaçando? Você vai
dar um tapa no pulso dela e pedir com educação que pare? Qualquer outra
coisa seria contra as regras.
— Você não acha que eu considerei isso?
— O que você descobriu?
Ele pegou Ginny pelo pulso e a guiou na direção de seu escritório. —
Você mudou de assunto sobre Gordon. Como você o conhece?
— A mãe dele é a fundadora do meu clube de confecção de roupas. Ela
prefere uma mistura de poliéster.
— Coça.
— Sim —, ela concordou com fervor. — E não é respirável de forma
alguma.
Um canto de sua boca saltou. — Então você está em um clube de
confecção de vestidos. Suponho que você não tenha feito muitos inimigos lá.
— Não... — ela se esquivou, seguindo-o até o escritório e acendendo a
luminária da mesa, lançando um brilho escuro no pequeno cômodo. — Sem
inimigos, digamos...
— Seja menos convincente.
— Bem, eu também não diria que fiz amigos. — Ela passou o dedo
indicador pela velha escrivaninha de mogno de seu pai e pelas iniciais que
rabiscou ali com um transferidor quando tinha onze anos. Seu pai a
repreendeu por isso, então a levou para um sorvete de casquinha por culpa. —
Eles me chamam de Garota da Morte, então não conversamos muito durante o
café.
A expressão de Jonas se tornou dura.
— Você está bravo por mim — ela respirou. — Tem certeza que não
podemos nos beijar?
— Se houvesse um jeito, eu já o teria feito. Várias centenas de vezes. —
Ele fechou os olhos brevemente. Quando ele os abriu, eles estavam
examinando o escritório e o estômago de Ginny ainda estava no meio de uma
cambalhota. — E quanto aos clientes insatisfeitos? Alguém que se destaca?
Ela se sentou atrás da mesa, espalhando as palmas das mãos na papelada
espalhada. — Todo mundo que vem aqui está infeliz. É difícil escolher apenas
um.
Um lampejo de dentes brancos. — Eu vejo seu ponto. Isso não vai ser
fácil. — Ele se sentou na cadeira em frente à mesa dela. Com um braço envolto
nas costas da cadeira e seu cabelo caindo sobre a testa, ele saiu direto de um de
seus filmes. Ele só precisava de um cigarro e calças masculinas de cintura alta.
Pensando bem, risque o último.
Algumas coisas eram melhores na era moderna.
— Ajudaria se você me contasse como foi ameaçada, Ginny. Ajudaria se
você me contasse alguma coisa.
— Eu não sei de nada. Eu só sei... O que aconteceu.
Houve um vinco em sua têmpora. — Comece por aí.
Ela balançou a cabeça. — Conte-me sobre seus colegas de quarto.
Desta vez, Jonas balançou a cabeça. — Uma coisa é arriscar a exposição
sozinho, mas não posso prejudicá-los também.
— Você não confia em mim.
— Eu não confio no meu desejo de confiar em você. Não faz sentido
quando nos conhecemos ontem à noite.
— O mesmo aqui — ela sussurrou, um pouco abalada com o quão
perfeitamente seus sentimentos estavam alinhados. — Eu entendo o seu desejo
de protegê-los. Você não precisa me dizer nada. — Ela tirou uma chave da
gaveta de cima da mesa e a usou para destrancar a de baixo, puxando seu
laptop e ligando-o. — Vou apenas retornar alguns e-mails de clientes...
— Eu os conheci através do meu trabalho — ele grunhiu. — Meus colegas
de quarto.
— Oh. — Ela fechou o laptop. — Por que você decidiu falar sobre eles?
— Talvez se eu confiar em você, você faça o mesmo comigo.
— Não, a menos que de repente eu ganhe a habilidade de fugir com suas
memórias. — Ela engoliu em seco. — Ainda está pensando em fazer isso?
Ele não disse nada, mas um músculo saltou em sua bochecha.
Em outras palavras, sim. Assim que o mistério fosse resolvido.
Ela acordaria uma manhã e nem mesmo saberia da existência dele.
Tentando se livrar do desconforto em sua garganta, ela pigarreou. —
Conte-me sobre seus colegas de quarto, de qualquer forma?
Ele olhou para ela com firmeza, parecendo querer abordar o comentário
dela sobre as memórias, mas no final das contas ele deixou isso ficar entre eles
como um gorila de novecentos quilos. — Um é muito sério. O outro não leva
nada a sério. — Ele mudou de posição na cadeira, inclinando-se para a frente
e cruzando as mãos frouxamente entre os joelhos. — Como eu disse, eu os
conheci no trabalho. Muito se passa em manter nossa cobertura. A maioria de
nós não tem problemas em seguir as regras estabelecidas pela Alta Ordem, mas
novos vampiros... Bem, eles têm dificuldade em se ajustar. — Ele fez uma
pausa. — Um momento muito difícil. E eu os ajudo.
— Você ajudou seus colegas de quarto quando eles eram...
— Silenciados. É assim que nos referimos aos recém-transformados...
Porque seus corações foram silenciados. E sim, eu os treinei, ajudei-os a se
adaptar quando não tinham certeza de como se defenderem sozinhos.
— Ginny tinha pelo menos quarenta e cinco perguntas de
acompanhamento. Por exemplo, como os humanos eram transformados? O
que os novos vampiros fazem que constitui um “momento difícil de
ajuste”? Como Jonas encontrava novos vampiros para ajudar? Mas suas
perguntas urgentes foram colocadas em espera quando Jonas balançou a
cabeça. — Você já sabe mais do que deveria.
Relutantemente, Ginny assentiu.
Jonas esperou, observando, obviamente esperando que houvesse alguma
compensação pelo que ele disse a ela sobre um aparente submundo que
operava sem conhecimento humano. Quando ela não disse nada, ele se
levantou e foi até a porta. — Estarei do lado de fora da porta enquanto você
trabalha.
— Ok.
O escritório parecia vazia sem a presença intensa de Jonas e era difícil se
concentrar em qualquer coisa sabendo que ele estava a poucos metros de
distância, mas ela conseguiu responder a todos os e-mails de seus clientes e até
fazer alguns ajustes no AdWords que estava usando para cortejar clientes por
meio do Google. Larissa não ficaria feliz em saber que mantinha um orçamento
reservado para publicidade, mas era impossível hoje em dia administrar um
negócio sem algum tipo de marketing. Seu pai acreditava muito no boca a boca
e, sinceramente, é por isso que a maioria das pessoas fechavam as portas, mas
não havia motivo para Ginny não poder adicionar alguns toques modernos.
Seu pai ficaria orgulhoso de como ela dirigia o negócio?
Era algo que ela se perguntava todos os dias. Às vezes, ela até levantava
os olhos da mesa e esperava vê-lo mexendo nos catálogos ou aparando cordas
perdidas no carpete do saguão. Às vezes, ele até usava uma lupa e ficava tão
perdido na atividade que os clientes tinham que passar por cima de sua forma
rastejante enquanto Ginny os cumprimentava e os conduzia para o escritório.
Com um suspiro, ela colocou o laptop de volta na gaveta e se levantou,
confiante de que amanhã seria um dia melhor para os negócios. Sim, isso
significava que as pessoas tinham que morrer, mas enquanto estivessem
fazendo isso de qualquer maneira, seu desejo não faria mal nenhum, faria?
Abrir a porta do escritório e encontrar Jonas encostado na parede oposta
tirou seu fôlego. Parecia que ele estava contando os segundos até ela aparecer
novamente. Ou ela estava lendo muito sobre a maneira como seu punho se
cerrou enquanto seus ombros relaxavam ao mesmo tempo?
— Quantos anos você tem, Jonas?
— Vinte e cinco.
O relógio do avô bateu no saguão. — Quantos anos você realmente tem?
Ela apenas teve um vislumbre da qualidade assombrada que passou por
seus olhos antes que ele transferisse sua atenção para o chão. — Tenho vinte e
cinco anos desde mil novecentos e cinquenta e seis.
— Ohh —, ela ofegou, desejando uma calculadora.
Ele olhou para ela. Esperando por uma reação oficial?
Possivelmente até nervosa com isso?
— Muitos filmes bons foram lançados naquele ano —, disse ela
finalmente, umedecendo os lábios secos. — Você quer ir assistir um?
Ele pareceu surpreso com seu próprio aceno de cabeça.
— Eu não deveria estar aqui — Jonas murmurou, pegando a mão de
Ginny e caminhando ao seu lado de volta para seu quarto. — Você não vai se
lembrar disso.
Desta vez, seu tom continha muito menos convicção.
— Você realmente não viu este filme? — Ginny contou nos dedos. —
Você teria vinte e um quando foi lançado.
Jonas se acomodou no lado oposto do sofá de Ginny - e ainda parecia
muito perto para seu conforto. — Não, acho que não.
— Talvez seja melhor se você não tivesse visto. — Ela apertou uma série
de botões em seu controle remoto. — Eu ficaria com ciúmes se você visse O
Homem Silencioso em um teatro.
Seus olhos foram para o pôster do filme em preto e branco pendurado na
parede. — Por que você tem tal fascínio por filmes de antes de seu tempo?
Ginny encolheu os ombros. — Não sei. Meu pai também achava
estranho. Que eu preferia o canal Turner Classic Movies em vez da
Disney. Mas acabei por convertê-lo. Depois disso, nós assistíamos juntos o
tempo todo.
Uma batida passou. — O que aconteceu com ele, Ginny?
— Ataque cardíaco. — Ela disse as palavras simplesmente, mas um raio
invisível se torceu em seu pescoço, como sempre acontecia. — Ele trabalhava
lá embaixo à noite e eu estava dormindo, então não sabia. Eu sempre penso, se
tivesse sido apenas uma hora diferente do dia, ele ainda estaria aqui. Eu teria
chamado o paramédico para salvá-lo. Ele estaria em uma dieta rigorosa agora,
mas totalmente a burlando nas minhas costas. — Ela balançou a cabeça. —
Pensamentos inúteis.
— Eles são impossíveis de não ter.
— Você os tem sobre alguém?
Em vez de responder, ele acenou com a cabeça para a televisão. — Sobre
o que é o filme?
— Oh, é maravilhoso. É sobre um homem que viaja para a Irlanda para
comprar a casa onde sua mãe cresceu. Ele se apaixona por Maureen O'Hara - à
primeira vista. Ela mora ao lado. Vou apenas avançar para a parte. Estou
muito animada. — Ginny apertou o botão adequado, tentando não pular nas
almofadas do sofá. Fazia muito tempo desde que ela assistia a um filme com
alguém, muito menos com um homem lindo. — Aqui. É aqui que ele a vê no
campo... — Ela levou a mão ao peito. — Olhe para o rosto dele. Ele sabe que
está acabado.
Quando Jonas não tinha nada a dizer sobre a cena incrível, ela olhou e o
encontrou olhando para ela, os lábios ligeiramente entreabertos.
Um arrepio percorreu sua espinha. O momento se estendeu, este homem
atemporal de um lado dela, a televisão moderna do outro. — O romance entre
duas pessoas normais parece sem sentido quando elas vivem pouco tempo e
os vampiros têm a eternidade?
— Não. — Ele gesticulou distraidamente para a tela. — Normal é como
deve ser. O pouco tempo que os humanos têm é precioso. É viver para a
eternidade que não é natural.
— Você não escolheu ser um vampiro?
— Sim, na verdade. — Seus dedos se curvaram em suas palmas. — Todos
deveriam ter uma escolha. Embora escolher se tornar um vampiro seja sempre
a decisão errada.
Sua desolação a fez desejar dar-lhe um abraço, mas desconfiava que não
seria bem recebido. — Certamente há algumas vantagens. Quando você tem
todo o tempo do mundo, não está sob as pressões humanas. Arrumar um
emprego, casar-se, economizar para a aposentadoria, começar um podcast...
— Você diz essas coisas como se fossem terríveis. Você não quer... Casar?
— Claro. Algum dia. — Intrigada com sua carranca repentina, ela
suspirou sobre a bela vegetação na televisão. — Eu prefiro viajar, no
entanto. Você já foi para a Irlanda?
— Sim.
Ginny engasgou e derreteu contra o braço do sofá. — Diga as primeiras
cinco palavras que vêm à mente quando você pensa sobre isso.
— Úmido. Amigável. Lareira. Cerveja. Lã.
Ela riu. — Onde é o melhor lugar que você já esteve?
— Nós só estamos em Coney Island há algumas semanas — ele disse
baixinho, seu olhar varrendo ela. — Mas é definitivamente promissor.
Porque ela estava lá? Certamente não. Embora seus olhos sugerissem
que era exatamente o que ele queria dizer. Mesmo assim... Não. Não poderia
ser. — Sim, o calçadão é muito bom, mesmo no outono —, disse ela com pressa,
resistindo por pouco à vontade de brincar com seu cabelo. — Você está
planejando ficar muito tempo?
— Eu não sei — Jonas murmurou, uma linha se formando entre suas
sobrancelhas.
Espere. Ele tinha se aproximado?
Ginny olhou para baixo para descobrir que era ela quem se arrastava até
a metade do sofá. Ruborizando até a linha do cabelo, ela inverteu até que suas
costas encontrassem o braço do sofá.
Jonas deu uma risadinha.
Desesperada para tirar o foco de seu comportamento, Ginny voltou a
assistir ao filme, embora fosse impossível não sentir a atenção de Jonas presa
nela. — Minha frase favorita está chegando.
— Não me diga. Eu quero adivinhar.
Um sorriso esticou sua boca. — Ok.
Eles assistiram em silêncio por um minuto e como sempre, Ginny se
perdeu no romance da cena. A chuva que açoitava as janelas da pequena
cabana, a música que aumentava enquanto o herói procurava o intruso em sua
casa. Como ele puxou sua futura esposa contra seu peito. — Você é ousado —
Ginny sussurrou, no ritmo de Maureen O'Hara. — 'Quem deu permissão para
você me beijar?'
Várias linhas se seguiram no argumento dos personagens.
Então, — 'Você vai superar isso.' — Ela baixou a voz várias oitavas. —
'Bem, algumas coisas que um homem não supera tão facilmente.'
— É essa mesmo —, disse Jonas.
Sua boca se abriu. — Como você sabia?
— Eu tenho meus caminhos. — Ele ergueu uma sobrancelha. — Por que
essa frase é sua favorita?
Ginny parou por um momento para pensar. — É bom, não é? Pessoas
reconhecendo que alguém as afeta, face a face, em vez de deixá-las adivinhar.
— Amaldiçoando sua capacidade de tornar qualquer situação estranha, ela
molhou os lábios e voltou a citar o filme. — 'Como o quê, suponho?'
— 'Como uma garota vinda pelos campos com o sol nos cabelos...
Ajoelhada na igreja com um rosto de santa...'
Ginny soltou uma risada. — Você já viu este filme!
Ele piscou para ela. — No fim de semana de abertura.
Pensando nele em um teatro antigo com cortinas de veludo vermelho,
ela fez um som melancólico. — Por que você fingiu que não tinha?
— Para que eu pudesse ouvir você falar sobre isso.
Um peso vibrante caiu em sua barriga - e mais uma vez, ela estava no
meio do sofá antes de perceber que havia se movido. Atraída por ele de uma
forma que não poderia ser negada ou explicada. Lentamente, como uma aluna
do ensino médio faria, ela deslizou a palma da mão aberta sobre a almofada
do sofá em direção a Jonas, com medo de respirar, com medo que ele achasse
que era uma má ideia.
Quando ele lentamente baixou a mão para a de Ginny e entrelaçou seus
dedos, o frio entrelaçado com o calor, a eletricidade subiu pelo braço dela e as
narinas de Jonas dilataram-se. Mas ele não tirou a mão - e eles permaneceram
assim até que o sono se infiltrou como um bandido e a reivindicou.

Ginny acordou assustada na tarde seguinte e encontrou Roksana


fazendo uma posição de parada de mão andando de uma ponta a outra de seu
quarto. A noite anterior voltou para ela em uma corrente estrondosa e ela
saltou para uma posição sentada, procurando pela sala - futilmente - por
Jonas. Claro que ele ainda não estaria lá em plena luz do dia, mas a lembrança
de sua alergia à luz do sol não fez nada para impedir que uma vala se abrisse
em seu estômago e se enchesse de decepção.
A última coisa que ela lembrava antes de o sono reivindicá-la por volta
das duas horas da manhã foi acordar inclinada contra o ombro duro, mas
acolhedor de Jonas. Ela se lembrou de tentar se sentar, limpar as teias de sono
de seu cérebro e voltar a se concentrar em O Homem Quieto, sem sucesso.
Algum tempo depois, ela acordou novamente enquanto era carregada
em seus braços da área de estar até a cama. Houve momentos que ela lembrou
da infância de ser carregada assim, mas isso tinha sido diferente. Seu corpo era
mais leve que o ar, mais ou menos como ela imaginava que seria flutuar na
água salgada em uma câmara de privação sensorial. Ela manteve a respiração
regular e fingiu estar dormindo, profundamente ciente da falta de batimentos
cardíacos de Jonas ao lado de sua orelha. Em vez de deitá-la na cama
imediatamente, ele caminhou por um tempo ao pé de sua cama. Sem ele dizer
uma palavra, Ginny poderia decifrar seus murmúrios internos. Eles poderiam
muito bem ter sido falados em voz alta. Eu não deveria estar aqui. Ela não se
lembrará de nada disso.
Finalmente, ele a deitou na cama - totalmente vestida. Depois de sacudir
a maçaneta para ter certeza de que a porta do quarto dela estava trancada, ele
se sentou na janela olhando para Coney Island. Quando ela adormeceu, ela
sentiu seu olhar queimando sobre ela uma e outra vez, até que ela perdeu a
batalha não só com a exaustão, mas também com a segurança que sentia na
presença de Jonas. Render-se à inconsciência nunca foi tão fácil com ele
cuidando dela.
— Ei! — Roksana pulou no pé da cama e bateu palmas duas vezes. —
Você não é uma princesa vitoriana. Levante-se e brilhe.
— Eu trabalho à noite — Ginny reclamou. — Meio-dia é cedo para mim.
Ela esfregou a barriga, que estava decididamente nua entre um sutiã com
tachas e jeans baixos. — Disseram-me que este trabalho incluía refeições.
Reprimindo um sorriso, Ginny saiu da cama. — Você quer que eu
prepare algo para você ou devemos ir buscar bagels e cream cheese?
— Opção dois. E café. — Roksana saltou da cama, fazendo shadowbox
assim que seus pés tocaram o solo. — Talvez possamos ter alguma ação hoje,
sim?
Ginny parou no ato de escolher um vestido de seu armário para sorrir
por cima do ombro. — Sim, quase posso garantir isso.
A caçadora parecia estar prendendo a respiração. — Sério?
— Oh sim. Meu clube de confecção de vestidos está sempre cheio de
ação. Haverá pespontos, bainhas, talvez até alguns enfeites de babados.
— Muito engraçado. — Ela flexionou os dedos. — Clube de confecção de
vestidos. Isso é realmente uma coisa? Você pode comprar roupas na internet.
— É onde você compra a sua?
— Ocasionalmente. — Ela tocou a alça do sutiã. — Tenho que separar
muitas mordaças e trajes de látex para encontrar o que procuro, mas está lá.
Ginny riu. — Eu simplesmente nunca imaginei uma caçadora de
vampiros com um cartão de crédito.
— Eu não tenho um. Eu roubo o de Elias...
Quando a caçadora se interrompeu abruptamente, Ginny ergueu os
olhos do vestido verde menta que escolhera para o dia. — Quem é Elias?
Roksana esfregou sua nuca. — Esqueça que eu disse isso. Ele não é
ninguém.
— Ele é um dos companheiros de quarto de Jonas?
A outra mulher se aproximou com o que poderia ter sido uma expressão
ameaçadora, se ela não tivesse duas manchas coloridas em suas bochechas. —
Eu não te disse nada. Você nunca ouviu esse nome.
— Que nome?
— Boa menina.
— Elias?
— Ginny!
Ela riu da indignação da assassina. — Você pode relaxar. Não vou dizer
nada. — Seu polegar traçou a parte superior curva do cabide. — Talvez o
próprio Jonas me diga um dia.
— Não tenha muitas esperanças. Ele é o seguidor mais estrito das regras.
— Eu acho que ele tem que ser, certo? — Ginny passou por Roksana e
colocou o vestido em sua cama. — Já que ele ensina aos Silenciados como
segui-las.
Roksana ficou em silêncio por longos momentos. — Ele te disse isso?
Ginny assentiu, silenciosamente cheia de prazer por ele ter confidenciado
algo importante a ela e jurando que nunca, jamais o faria se arrepender. — Vou
tomar um banho rápido. Então vamos comprar bagels.
Ela saiu do quarto antes que a assassina pudesse responder, embora ela
pudesse sentir o olhar interessado de Roksana seguindo-a para fora. Em meia
hora, Ginny havia tomado banho, secado o cabelo e colocado o vestido verde,
recebendo uma aprovação grunhida de Roksana. Ela ligou para o escritório do
andar de baixo para ter certeza de que Larissa havia acordado para o turno,
dando um suspiro de alívio quando sua madrasta atendeu o telefone, embora
em um tom cansado. Depois de um lembrete a Larissa de que ela estaria em
seu clube de confecção de vestidos naquela tarde, ela esgueirou Roksana
escada abaixo e saiu pela entrada dos fundos da casa.
Roksana havia bebido um café extragrande, comido seu bagel e
começado a segunda metade do café da manhã de Ginny quando chegaram ao
clube.
Abrace os Esforços de Costura de Renda se reuniam uma vez por semana
no porão da Igreja Católica Nossa Senhora do Solace. Cheirava a café velho,
poeira e havia uma nítida falta de ar fresco, mas Ginny achava toda a operação
gloriosa. Se ela pudesse escolher um som para ouvir pelo resto de sua vida,
seria o de máquinas de costura cantando contra o corte de tecido. Mulheres
com alfinetes na boca e cadernos de desenho prontos? Era o paraíso. Talvez as
membros do clube não a tivessem recebido de braços abertos, mas porque essa
era a norma para Ginny, ela foi capaz de deixar de lado o desconforto com sua
presença e aproveitar a atmosfera.
Ginny não conseguia se lembrar de uma época em que não fosse
fascinada por vestidos. Não tanto o ato de parecer bonita quanto a sensação de
se sentir feminina. Talvez até um toque dramático. Não se podia sair da sala
depois de uma réplica espirituosa em um par de jeans. Vestidos - brilhantes,
especificamente - eram uma história para contar. Em tule rosa pregueado, ela
poderia ser delicada, como Audrey Hepburn. No laranja do sol, ela poderia ser
ousada, como Sophia Loren.
Ginny não conseguia se lembrar muito sobre sua mãe, principalmente
eram apenas memórias borradas, sons abafados e as poucas histórias que seu
pai contara. A favorita dela era que sua mãe costumava dançar ao redor da
cozinha com os Foo Fighters e Ginny em seu quadril. A história que menos
gostava era a da mãe comprar fraldas e nunca mais voltar para casa. Mais de
uma vez, ela pegou seu pai lendo o bilhete que a mãe de Ginny havia deixado
para trás, dobrado sob a lata de creme de barbear, mas ela nunca perguntou o
conteúdo.
Quando a puberdade apareceu aos doze anos e Ginny não tinha ninguém
com quem falar sobre as mudanças que aconteciam em seu corpo, ela
expressou essas mudanças de humor selvagens com vestidos. O ato de fazer
os vestidos e concentrar aquela energia confusa teve o maior impacto
inicialmente, mas conforme ela crescia, eles se tornaram seu escudo. Sophia
Loren não ligava para sussurros nas costas, e nem Ginny, contanto que ela
estivesse usando laranja-sol com bordas recortadas.
Agora, enquanto Ginny e Roksana entravam no porão - alguns minutos
atrasadas, graças a Roksana tendo problemas para escolher entre semente de
papoula e simples - a cacofonia favorito de Ginny cessou. Essa era a reação
normal quando Ginny chegava às reuniões do clube, no entanto, os sussurros
normalmente se seguiam em uma ordem curta. Não dessa vez. Elas olharam
boquiabertos para Roksana como uma fileira de bacalhau ao longo da parede
posterior do porão.
— Olá — Ginny chamou, sua voz ecoando nas paredes. — Eu trouxe uma
amiga.
— Amigas não são permitidas —, disse uma voz cantante. Pertencia a
Galina, uma das gêmeas russas de meia-idade que dominavam o clube quando
a fundadora, Ruth, não estava presente, o que parecia ser o caso esta
manhã. Entre elas estavam Mercedes, uma negra nobre e dona de casa que
trabalhava principalmente em vestidos de festa para suas filhas e Tina, uma
oriunda da Flórida que não falava de nada além de como ganhar dinheiro na
Disneyworld. — Elas têm que se cadastrar com antecedência e pagar a taxa —
, finalizou Galina.
Ginny sorriu. — Podemos abrir uma exceção apenas desta vez?
Galina semicerrou os olhos em vez de sorrir. — Receio que não.
Roksana caminhou até a mesa mais próxima, chutou uma cadeira de
metal - squeeeeeal - e sentou-se de costas. — Que tal minha taxa será não chutar
seu...
— Ela pode ficar — Galina deixou escapar, seu sorriso à beira de
estilhaçar. — Mas Ruth estará aqui em breve e como fundadora, ela não terá
escolha a não ser fazer cumprir as regras.
— Sim, claro, Galina — Ginny disse, sentando-se em seu lugar de
costume em sua máquina de costura favorita, arrumando o tecido que
comprara no dia anterior.
— Essas mulheres levam o clube de vestir muito a sério.
Ginny apertou os lábios. — Eu levo isso a sério.
— Você não seria indelicada sobre isso.
— Não, eu não seria. — Ginny mexeu em seu chiffon. — Olha, eu sei que
você provavelmente pensa que agi como uma molenga, mas descobri que é
mais fácil não envolvê-las.
Roksana deu um zumbido exagerado. — É mais fácil?
Ginny hesitou. — Sim.
Embora... Ela não estivesse tão segura nessa filosofia como costumava
estar. Fingir ser Lauren Bacall tinha sido mais fácil quando ela não tinha uma
caçadora de vampiros e seres imortais povoando sua vida. Roksana era tão
corajosa, tão ousada, tão assertiva. Pela primeira vez em muito, muito tempo,
Ginny reconheceu o desejo secreto de ser melhor em se defender.
Ela engoliu em seco. — Espero que você não fique entediada enquanto
eu trabalho.
— Eh, eu acho que tudo é chato. Eu mato... — ela baixou a voz para um
sussurro. — Eu mato vampiros para viver. Muito difícil superar isso.
— Eu vejo seu ponto. — Ginny mordeu o lábio enquanto as
palavras Garota da Morte vinham de seu pequeno grupo de mulheres. A
assassina também ouviu, franzindo a testa, e Ginny correu para preencher o
silêncio resultante para que elas não tivessem que falar sobre o apelido. Ou o
fato de que ela nunca fez nada para impedir que fosse falado em voz alta. —
Falando em vampiros, você estaria disposta a me contar mais sobre... Você
sabe, o mundo de Jonas?
— Uh-uh. — Roksana fez um gesto cortante em seu pescoço. — Eu jurei
segredo.
— Para Jonas.
A expressão da assassina tornou-se suspeita. — Sim…
Ginny carregou um carretel de linha branca em sua Singer,
distraidamente notando que os sussurros começaram do outro lado da sala. —
Você não estava programada para massacrar ele e seus companheiros de
quarto hoje?
Ela estudou suas unhas. — Você está se perguntando por que eu
mantenho seus segredos quando vou matá-los?
— Você não se perguntaria?
— Talvez eu esteja sendo bem paga por minha discrição.
— Oh. — Ginny se animou. — Você está? Porque isso pode fazer sentido.
Roksana recostou-se na cadeira com os braços cruzados. — Talvez você
não seja tão ingênua, afinal. No fundo, você é Ginny, a Não Tão Dócil.
Ela engasgou. — Vou costurar isso em um vestido.
— Viva para você. — Roksana se virou ligeiramente em sua cadeira para
olhar por cima do ombro. — Elas não servem álcool neste clube?
— Receio que não — Ginny respondeu, escondendo o sorriso. — Você
precisaria estar bêbada para me deixar usá-la como modelo de vestido?
— Nyet. Você é mais louca do que eu se acha que isso vai acontecer.
Vinte minutos depois, Roksana estava no pedestal redondo e elevado em
frente ao espelho de vaidade triplo usado pelo clube, envolta em chiffon de
caqui, suas botas de combate aparecendo por baixo da bainha irregular.
— Eu vou me vingar de você por isso — Roksana ameaçou.
Ginny alisou e dobrou o material, tirando um alfinete de sua boca para
garantir o ajuste na cintura de Roksana. — É uma honra ser anotada em sua
programação de abate. — Ela deu um passo para trás e cruzou as mãos com
força sob o queixo. — Esta cor de caqui fica incrível em você.
Ela zombou. — Você está perdendo tempo fazendo um vestido para
mim. Eu não vou usar.
— Nenhuma ocasião especial chegando? Ou talvez alguém especial...?
Essas manchas gêmeas de cor apareceram nas bochechas de Roksana. —
Não. E não. Não há ninguém. Você está quase terminando?
— Sim. — Enquanto Ginny ajudava Roksana a tirar a roupa, a culpa a
cutucou no lado. — Desculpe, acho que estou forçando você a uma conversa
de garotas porque nunca tive a chance de ter isso. Não precisa haver alguém
especial para se vestir também. Certo? Portanto, estou fazendo um vestido
para você.
Roksana parecia querer protestar, mas estendeu a mão e esfregou o
material entre dois dedos, em vez disso. — O sangue se misturaria muito bem
com essa cor, eu suponho.
— Esse é o espírito!
Ruth, fundadora da Abrace os Esforços de Costura em Renda, entrou no
porão da igreja com um braço cheio de cadernos de amostra de tecido. Seu
filho, Gordon, e o único par de Ginny, vinha atrás dela com um carrinho
vermelho carregado com um kit de costura e rolos intermináveis de tecido.
— Senhoras, sinto muito pelo atraso. Por favor me perdoem. — Ruth
deslizou os dedos por baixo dos óculos e esfregou os olhos. — Eu vim até aqui
e percebi que tinha esquecido tudo, incluindo Gordon.
O filho em questão fez uma careta e acenou, seu olhar procurando
Ginny. Quando ele a viu, sua coluna se endireitou e ele largou a alça do
carrinho. Clank.
— Outro homem apaixonado, hein, Ginny? — Roksana disse com o canto
da boca. — Quando chove transborda.
Ginny começou a dizer a Roksana que este era definitivamente seu
primeiro aguaceiro, mas ela se acalmou quando Galina marchou na direção de
Ruth. No caminho, a gêmea lançou um olhar penetrante para Ginny,
claramente com a intenção de fazer uma reclamação. — Uh-oh.
Roksana suspirou. — Eu realmente não gosto dessa vadia.
Ginny suspirou. — Pelo menos ela é firme.
— Ginny — Gordon chamou, aproximando-se com sua carroça mais uma
vez a reboque. — Você trouxe uma amiga.
— Oi Gordon. Sim, esta é Roksana.
Roksana estendeu a mão para ele apertar. — Vagão legal.
— Oh, uh... Obrigado. — Ele esfregou o topo da cabeça, bagunçando o
cabelo ruivo. — Então ouça. Ginny, eu estava me perguntando...
— Sim, sim, Galina. Sim. Alguns lembretes, senhoras! — A voz de Ruth
soou, sem saber, cortando seu filho. — A exposição de vestidos está quase
chegando. Agora, estamos nos preparando para esta noite pelo que parece
uma eternidade! Tenho certeza que vocês estão muito animadas para mostrar
suas criações para amigos e entes queridos. Mas tenho guardado um pequeno
segredo. — Ruth mexeu os quadris, os dedos apertados contra a boca. — A
feira de vestidos também será um leilão silencioso! Todos os presentes terão a
chance de dar um lance em seus vestidos - não é emocionante?
Os membros explodiram em gritos e suspiros.
Da parte de Ginny, seu estômago se contraiu. Ruth estava planejando
esta exposição de vestidos durante a maior parte do ano. Ginny estava
apreensiva em exibir seus projetos no início, mas se acostumou com a
ideia. Agora ela estaria disputando lances?
— Mais uma coisa. — Ruth lançou a Ginny um olhar genuinamente
apologético. — Por favor, lembrem-se, se vocês forem levar um convidado, me
avisem com antecedência para que eu possa planejar a pessoa extra. Gostamos
que os hóspedes paguem com antecedência e, claro, temos espaço limitado.
Um vazamento gotejava nas proximidades, ecoando no porão mal
cheio. Roksana fez um grande show girando em círculo e apontando todas as
cadeiras vazias, parando apenas quando Ginny a cutucou nas costelas.
— Oh, uh. Mãe. — Gordon pigarreou. — Eu esqueci de te dizer, Gina
mencionou para mim na semana passada que ela traria uma amiga esta
noite. Ela já pagou a taxa também. Não acredito que esqueci de mencionar isso.
— Oh! — Ruth parecia aliviada. — Crise evitada.
— Não acho que ela saiba o que significa crise —, murmurou Roksana,
voltando-se para Gordon. — Obrigada pela gentileza, meu cara. No entanto,
vejo que seu motivo são pontos de brownie 3com minha amiga. E, embora
Ginny não esteja tecnicamente namorando alguém, você corre um grande
perigo só de ficar tão perto dela...
— Roksana! — Ginny interrompeu, com uma risada aguda. — Ela está
brincando.
A assassina zombou. — Eu garanto a você, eu não estou...
— Acho que é hora de ir. — Ginny arrastou Roksana para longe de
Gordon. — Vejo você na exposição, ok, Gordon?
— Na verdade, estava pensando em passar por aqui para uma visita.
— Claro, claro — Ginny disse, sem realmente registrar o que ele disse. O
mais rápido possível, Ginny empacotou seu material e ferramentas, colocando-
as em sua bolsa de estopa. Reunindo coragem, ela se despediu das senhoras do
outro lado do porão, sem esperar uma resposta e tampouco receber uma.
Ela encolheu os ombros para Roksana. — Ah bem. Talvez na próxima
vez.

3Moeda social imaginária, que pode ser adquirida fazendo boas ações ou ganhando favores aos olhos
de outra pessoa (ele querendo favores sexuais kakaka)
Roksana começou a seguir Ginny para fora da sala, mas parou na porta
e se virou para encarar o quarteto. — Boa sorte em costurar uma personalidade
para vocês —, disse ela, acenando com o dedo médio para elas.
— Roksana — Ginny a repreendeu sem entusiasmo, enquanto tentava não
rir - pelo menos até que estivessem fora do alcance da voz. — Eu não posso
acreditar que você fez isso.
Ela dispensou Ginny. — Eu deveria ter pensado em algo melhor.
— Não, eu adorei. Foi perfeito.
Roksana esboçou um sorriso e lançou a Ginny um olhar de lado
orgulhoso. — Eu acho que sim.

Naquela noite, elas comeram cachorros-quentes de um carrinho no


calçadão no jantar. Enquanto Ginny tentava o seu melhor para descobrir mais
sobre Roksana, ela veio com o mais básico dos detalhes. Ela se mudou da
Rússia para Boston quando criança e fez seu caminho pelas grandes cidades,
onde ela alegou que os vampiros gostavam de se reunir. Sua música preferida
era pop sintético, ela foi uma ginasta competitiva na adolescência e sofria de
alergias sazonais. Essa última ela estava mais relutante em revelar porque
expunha uma fraqueza.
O pôr do sol sinalizou a mudança de turno entre Larissa e Ginny na casa
funerária e esse tempo estava se aproximando rapidamente. Não querendo
correr o risco de ser pega com a caçadora, por mais ágil e perita em se esconder,
elas se separaram no final do quarteirão. Ginny entrou pela porta da frente,
acenando para Larissa em seu caminho para as escadas, antes de desviar e
deixar Roksana pelos fundos.
Faltando uma hora para o pôr do sol - e o início de seu turno - Ginny
deixou Roksana afiando sua faca na saída de incêndio e ligou o final de O
Homem Silencioso, já que ela o havia perdido na noite anterior. Talvez fosse o
belo cenário verde e os acentos musicais do filme. Ou talvez fosse a lembrança
de adormecer contra Jonas durante a mesma cena na noite anterior. Seja qual
for o motivo, Ginny se sentiu embalada pelo sono, seu rosto se aninhando em
uma das almofadas do sofá.
O sonho que surgiu era desconhecido, como se ela nunca tivesse tido
antes, mas de alguma forma ela sabia os passos exatos a tomar. Sabia o que
estava por vir antes de acontecer. Lá estava ela, caminhando pela feira do
condado, a bainha do vestido balançando na brisa noturna. Ao seu redor, as
luzes piscavam, os jogos soavam e as pessoas riam. Havia um cheiro de
castanhas assadas flutuando e uma sensação de admiração no ar. O ruído
metálico de um trombone solitário baixava e se erguia, vindo da direção do
coreto. A felicidade borbulhava em sua barriga, antecipação, embora ela não
pudesse dizer porquê.
Ela só sabia que se virasse a esquina da barraca de algodão doce e saísse
da rua principal, ela o veria. É onde ele tinha estado na noite anterior. Parado
sob o salgueiro nas sombras, com seu boné e suspensórios de jornaleiro,
observando-a. Não fazendo nenhuma tentativa de atraí-la para mais perto,
mas a atraia mesmo assim com a promessa de... O quê?
O mistério que ele representava a excitava. Isso a deixou animada na
primeira noite da feira, mas ela foi cautelosa como se tivesse sido ensinada e se
agarrou à multidão. O que ela faria esta noite? Ela iria jogar pelo seguro e
passar outra noite sem dormir se perguntando e se? Ou ela iria descobrir por
que, a tal distância, este homem desconhecido poderia ter uma atração tão
selvagem em seu ser?
Ela deu um passo para fora do caminho e seu corpo ficou em alerta,
separando-se da árvore. Ele balançou a cabeça para ela. — Não —, ele
murmurou. — Por favor, não.
Seu aviso apenas a deixou mais determinada. Mais curiosa.
Outro passo foi dado...
E então o sonho mudou. Mudou como areia.
Em um momento ela estava à beira da animada feira e no próximo, ela
estava flutuando. Flutuando, como na noite anterior, quando Jonas a carregou
para a cama. A névoa branca passou por ela como mortalhas rasgadas e ela as
deixou se retorcendo em seu rastro. Ela estava se movendo? Pontos brilhantes
de luz pairavam acima dela e abaixo, havia um som de movimento. Grande
movimento. Ar rápido e música abafada. E estava se aproximando. Ou talvez
ela estivesse se aproximando dos sons?
Ginny tentou abrir os olhos e descobrir a origem do barulho, mas sua
cabeça estava confusa de uma forma que ela só experimentava depois de uma
abundância de remédios para resfriado. Despertar era repugnante quando ela
podia apenas flutuar e dormir...
De repente, seus pés tocaram em algo duro, sacudindo-a, e a letargia se
dissipou como se nunca tivesse existido.
Quando ela abriu os olhos, ela estava parada na pista central de uma
rodovia com um semirreboque vindo em sua direção.
Era o tipo de medo que não podia ser descrito.
Não havia escapatória, apenas um corte preciso direto no corpo de Ginny
- uma certeza horripilante de que sua vida terminaria ali. Agora. No meio de
uma rodovia de três pistas.
Eu vou ser assassinada na estrada.
Seria doloroso?
Por favor, não deixe ser doloroso.
A pior parte é que ela nunca saberia como isso aconteceu. Como ela havia
chegado lá. Oh, algo semelhante a isso aconteceu uma vez antes. Ela teve sorte
de escapar. Mas ela não escaparia disso. Os freios do semirreboque rangiam e
o motorista gritava atrás do para-brisa, mas estava vindo rápido demais, certo?
Certo.
Ginny fechou os olhos e seguiu o instinto de seu corpo de se agachar.
A queimadura de metal quente parou tão perto de seu rosto que ela
podia sentir o gosto de escapamento e óleo de motor em sua boca. Ela abriu os
olhos para encontrar seu rosto pálido e petrificado olhando para trás no para-
choque dianteiro do automóvel e um soluço chocado saiu de sua boca, arrepios
se transformando em tremores violentos enquanto o inferno desabava ao seu
redor.
— Que porra você está fazendo? — gritou o motorista do caminhão,
contornando a lateral do veículo. Ele bateu com o punho na grelha. — Você
poderia ter causado um engarrafamento...
O homem continuou a criticá-la, mas sua respiração áspera e seus
batimentos cardíacos acelerados o afogaram. Eu tenho que sair daqui. Ela não
sabia de onde vinha a intuição e não a questionou. Ginny ficou de pé,
cambaleando para trás graças aos joelhos trêmulos, e procurou freneticamente
por uma saída.
Os carros foram parados um atrás do outro, as pessoas saindo para olhar
boquiabertas para ela. Outros motoristas colocaram a cabeça para fora das
janelas, alguns perguntando se ela estava bem, outros xingando-a por
atrapalhar o trânsito. Ah, meu Deus, o cheiro de borracha queimada e o
caleidoscópio de cores a estavam deixando nauseada.
Mova-se.
Vá para casa.
— Vou chamar a polícia —, disse o motorista do caminhão, tirando-a
totalmente de seu estupor. Grata por ter calçado os sapatos de trabalho antes
de adormecer no sofá, Ginny passou pelos veículos parados e chegou ao
acostamento, correndo para a saída à frente. Era a saída dela, Ocean
Parkway. Ela estava perto de casa.
Buzinas e gritos seguiram atrás dela, mas ela não se virou e rezou para
que ninguém a perseguisse e a segurasse até que os policiais chegassem. O que
ela diria? Ela acordou no meio da Belt Parkway? Eles pensariam que ela era
louca ou suicida. Eles a trancariam em uma cela acolchoada em algum lugar...
E além de sua madrasta, não havia ninguém para atestar sua sanidade.
Em outras palavras, ninguém. Larissa tinha muito a ganhar com sua
partida. Ela nunca considerou sua madrasta uma pessoa malévola. Elas até
formaram um vínculo estranho, mas confortável, desde que seu pai
faleceu. Mas em seu momento de crise, a suspeita apareceu.
Por um breve momento, enquanto virava no final da rampa de saída e
corria pela avenida, ela considerou a possibilidade de que precisava de ajuda
mental. Talvez ela precisasse de medicação? Terapia? Talvez estar perto da
morte com tanta frequência e por tanto tempo a tivesse afetado, como as
pessoas presumiam que sim.
O som de sirenes invadiu seus pensamentos e ela desviou para a direita,
cortando entre dois prédios de apartamentos altos, esquivando-se de
transeuntes assustados no pátio árido.
— Onde estou? Onde estou? — Ela nasceu e foi criada neste bairro, mas
manteve sua rotina e seguiu os mesmos caminhos. — Vá em direção à água...
Ela dobrou à direita e pousou em outra avenida menos congestionada,
sentindo o cheiro do ar salgado à frente. A escuridão havia caído e faróis
passavam rodando, televisores piscavam nas salas de estar das casas. Ela
estava fora de si, existindo em algum pesadelo perturbador, governada pela
adrenalina. Mas ela continuou e finalmente, finalmente, reconheceu a loja de
bagels a alguns quarteirões da P. Lynn. As sirenes continuaram a retumbar na
direção de onde tinha vindo, incitando suas pernas a bombear mais rápido,
embora seu coração estivesse definitivamente prestes a sair do peito.
Senhor, ela nunca foi mais grata por ver a casa funerária. Lindo, lindo
lugar. Ela quase desmaiou ao vê-lo embaixo do El. Sabendo que ela nunca seria
capaz de se explicar para Larissa, ela se esgueirou pela porta dos fundos e
correu em direção às escadas...
Gritos vindos do quarto de Ginny interromperam seu progresso.
Jonas.
Roksana.
Eles estavam discutindo alto o suficiente para acordar os mortos... E
agora que ela vivia conscientemente em um mundo onde os mortos-vivos
tinham seu próprio governo, ela realmente precisava encontrar uma frase
melhor para descrever algo improvável.
Ginny havia acabado de pisar na primeira escada que rangia quando a
porta de seu quarto se abriu para revelar Jonas em grande angústia. Ela teve
apenas o mais breve dos olhares em seu cabelo rebelde e expressão preocupada
antes que ele se movesse em um turbilhão de cores descendo as escadas,
recolhendo-a e fechando-os de volta dentro de seu quarto um segundo depois.
— Onde... — ele murmurou, prendendo-a contra a porta, — você estava?
Ela não conseguiu responder. Por um lado, seu equilíbrio tinha sido
comprometido pela subida das escadas com divisão de átomos. Dois, ela não
tinha ideia se Jonas acreditaria em sua história. E três, se ela contasse a verdade
sobre o que aconteceu esta noite, ela teria que confessar o que aconteceu antes e
o encontro deles estaria muito mais perto de terminar. Não é? Assim que
descobrisse onde estava o perigo, seria sayonara, Ginny.
— Eu... Eu... — Buscando uma tábua de salvação, Ginny avistou Roksana
por cima do ombro de Jonas e notou pela primeira vez que a caçadora esperta
tinha uma toalha pressionada contra a têmpora, tentando conter o fluxo de
sangue de um ferimento aparente. — O que aconteceu com Roksana? — Ginny
engasgou.
— Não se preocupe com ela agora. Olhe para mim — Jonas ordenou, e o
queixo de Ginny se moveu uns cinco centímetros para a esquerda para
obedecê-lo.
Um fogo acendeu em sua barriga. — Não me comande assim. E
mantenha sua voz baixa. Larissa vai te ouvir.
— Ela está dormindo. Profundamente. — Enquanto Ginny processava o
fato de que sua madrasta havia sido apanhada novamente ou forçada a dormir
por Jonas, ele visivelmente se controlou. Quando voltou a falar, entretanto, seu
tom permaneceu frágil, pronto para explodir. — Quando cheguei, Roks estava
inconsciente no chão e você tinha ido embora. O que aconteceu, Ginny? Você
está machucada?
— Não.
Jonas ergueu o rosto dela, examinando cada característica. — Você está
apenas meio mentindo.
— Como você sabe?
— Seu pulso. Muda quando você não é sincera ou fica animada. Foi
assim que conheci sua fala favorita em O Homem Silencioso. — Seu peito subia
e descia rapidamente. — Uma explicação. Agora. Ou não terei escolha a não
ser dar o comando.
— Não se atreva. Ontem à noite, você falou sobre a importância das
escolhas. Bem, você não pode mudar sua opinião, Jonas. Pregar sobre escolhas
enquanto rouba meu livre arbítrio.
Ele se encolheu. — Isto é diferente. Seu silêncio me impede de protegê-
la.
— Prometa nunca mais me obrigar e eu conversarei.
Seguiu-se um pequeno impasse. — Feito.
O calor subiu para a parte de trás de suas pálpebras, o pânico crescendo
em seu meio como um gêiser. Era isso. Uma vez que ela desse a informação
que ela estava escondendo de Jonas, ela daria a única moeda de troca que tinha
para manter suas memórias. Mas se esta noite tinha provado uma coisa, era
que ela não podia se proteger contra uma força invisível que poderia pegá-la
em um local e soltá-la em outro. Ela não podia se defender contra algo que ela
não podia ver, mas Jonas poderia. Suas opções se esgotaram.
Em pouco tempo, o mesmo aconteceria com seu tempo com ele.
— Há duas semanas, acordei no oceano —, sussurrou ela, lembrando-se
do frio da água negra e sem fundo, do gosto de sal em sua língua. — Estava
escuro como breu, mas eu podia ver as luzes à distância e nadei na direção
delas. Levei... Horas, parecia. E não tenho ideia de como cheguei lá. Só que
dormi profundamente antes de acontecer, quase como se estivesse em
transe. Algo ou alguém me levantou e me levou até lá.
Jonas ficou imóvel como uma estátua de mármore, suas mãos indo de
frias a geladas onde seguravam seu rosto.
— E esta noite, a mesma coisa aconteceu, exceto...
— Diga-me.
— Quando acordei, estava na faixa do meio da Belt Parkway.
Um som sufocado o deixou.
Suas mãos caíram de seu rosto.
— Desta vez, eu me lembro... Flutuando. Eu estava flutuando. Não
consigo me lembrar disso na noite em que acabei no oceano.
— Vampiro — ele rosnou.
— Um poderoso — Roksana acrescentou, parecendo temeroso pela
primeira vez desde que Ginny a conheceu. — Que diabos, Jonas?
Ginny saiu pela porta. — Um vampiro é quem está fazendo isso comigo?
— Não faz sentido — Jonas murmurou, os dedos passando por seu
cabelo escuro. — Eu poderia entender se eu tivesse feito dela um alvo, mas eu
só a conheço há dois dias. O primeiro incidente foi semanas atrás.
Ginny acenou com as mãos. — Podemos começar do início? Vampiros
podem fazer as pessoas voarem?
Roksana baixou a toalha da cabeça e Ginny deu uma olhada no
gigantesco caroço vermelho. — Você obviamente notou que Jonas pode
obrigar suas ações. Ele provavelmente não seria capaz de levitar você, no
entanto. — Cautelosamente, ela cutucou o nó em sua cabeça e estremeceu. —
Essa é uma habilidade reservada para sugadores de sangue mais velhos e
experientes.
— Mas... — Ginny tentou agarrar as peças que faltavam. — Eu pensei
que era contra as regras um vampiro matar um humano.
— Eles não mataram você —, disse Jonas, tom sinistro. — Eles a
colocatam em uma situação em que é provável que... — Ele passou a mão pelo
rosto. — Não é uma violação direta da regra, mas alguém está definitivamente
sendo desonesto. Por quê? — Ele compassou por um momento. — Eu sou o
primeiro vampiro com quem você teve contato — Jonas perguntou a Ginny,
embora ele não tenha feito exatamente uma pergunta.
— Sim. Que eu estou ciente.
Ele acenou com a cabeça, satisfeito com a resposta dela.
— Não estou encantada pelo fato de você ser um detector de mentiras
humano.
— Não minta para mim e você não tem nada com que se preocupar.
— Eu raramente minto.
— Eu sei. Apenas por omissão - e você reluta em fazer até isso. Sua
honestidade é uma das razões pelas quais eu...
— O que?
Ele parecia estar julgando a sabedoria de continuar. — Uma das razões
pelas quais eu não suporto ficar longe de você — Jonas disse, logo acima de
um sussurro, antes de se aproximar, o rosto torturado. — Tem certeza de que
não está ferida?
Ele não pode ficar longe de mim. A omissão a fez querer ser sincera. — Eu
acho que posso ter forçado meu Aquiles fugindo da polícia.
O olho direito de Jonas piscou. Duas vezes. — Cristo.
A próxima coisa que Ginny soube foi que ela estava sendo acomodada
na beira da cama com Jonas ajoelhado na frente dela. Ele começou a enrolar a
perna da calça dela, mas parou, seu olhar fixando-se no dela. — Sem sangue
em lugar nenhum?
— Não. — Ela revirou os lábios para dentro. — Você não... Sentiria o
cheiro?
Resumidamente, seu aperto aumentou em sua panturrilha. — Sinto o
cheiro do seu sangue o tempo todo, mas considerando...
A boca de Ginny ficou seca com o jeito que Jonas a encarou, como se
precisasse de toda sua força interior para não pressioná-la de costas na
cama. Oh meu.
— Adeus, pombinhos. Venho por este meio me demitir do meu posto —
, Roksana anunciou dramaticamente de sua posição na janela. — Eu me
desculpo por ter falhado com você esta noite, Ginny. Você poderia ter sido uma
panqueca e tudo porque algum parasita me atingiu.
— Roksana, não. — Ginny estendeu a mão na direção de sua amiga. —
Se este vampiro é tão poderoso quanto você diz, o que você poderia ter feito
para-
— Deixe-a ir — Jonas interrompeu, nunca tirando sua atenção de
Ginny. — Roksana está certa. Ela não fez seu trabalho.
— Vou levar algum tempo para treinar e mais uma vez me tornarei
imparável. — Roksana se virou e deu a eles um último olhar angustiado. —
Dasvidaniya.
Com isso, a cabeça loira da assassina sumiu de vista, deixando Ginny e
Jonas sozinhos no quarto. Abalada com a perda repentina de sua amiga depois
de tudo que ela já havia passado naquela noite, Ginny deu um tapa na mão de
Jonas de sua perna. — Por que você não a fez ficar?
— Esta noite você poderia ter... — Ele se interrompeu, as narinas
dilatadas. — Inferno, duas semanas atrás, você poderia ter ido embora e eu
nunca teria te conhecido.
— Isso também não teria sido culpa dela.
A mão dele pousou de volta em seu joelho e alisou, ao redor de sua
panturrilha, massageando ali. — Estou bem ciente de que não estou sendo
racional sobre nada a seu respeito, Ginny.
Senhor, era difícil argumentar quando ele a tocava. Ela nunca teve esse
tipo de contato pele a pele com um homem e só poderia compará-lo a ser
abraçada por uma toalha recém tirada da secadora. Ou mergulhando em um
banho quente. A temperatura fria de sua pele não fez nada para impedir que
seus braços se arrepiassem ou a pequena chave inglesa que se retorcesse sob
seu umbigo.
Lute contra a distração. Ela precisava lutar. Jonas sabia que havia um
vampiro que a colocava propositalmente em situações perigosas e ela não tinha
nenhuma informação para reter. Esta poderia ser a última vez que ela olhava
em seus olhos e o reconhecia.
Mas então, seu polegar encontrou seu Aquiles, pressionando e varrendo
o tendão dolorido - e Ginny gemeu.
A boca aberta de Jonas subiu por sua coxa nua, queimando sua pele,
parando um pouco antes da bainha. — Isso é loucura. Como você me puxa
para baixo assim?
— Você faz o mesmo comigo — ela conseguiu dizer, sem fôlego,
deslizando os dedos em seu cabelo. — Não faça isso acabar. Por favor.
Sua mão apertou sua perna. — Quanto mais eu deixar você guardar suas
memórias de mim, Ginny, mais difícil será quando elas forem embora. — Ele
pressionou o rosto em seu estômago, usando seu controle sobre sua
panturrilha para puxá-la para mais perto. Até que ela pudesse sentir o
contorno de suas feições contra sua barriga. — Você perderá dias, semanas, em
vez de horas.
— E uma vez que eu esquecer que você existe, você vai ficar longe,
simples assim?
Os ombros de Jonas ficaram tensos, seus dedos em sua pele. — Teremos
que esperar um pouco mais para descobrir —, disse ele com voz rouca. —
Saber que é um vampiro tentando te machucar, e não um humano facilmente
superável, muda tudo. Preciso de você alerta e preciso que você confie em mim
implicitamente. Sem Roksana para vigiá-la durante o dia, tenho que levá-la a
algum lugar sem luz solar. Para protegê-la até que isso acabe.
O oxigênio se prendeu em seus pulmões. — Isso significa?
Jonas se inclinou para longe, as faíscas verdes disparando em seus olhos,
dizendo a Ginny o quanto a proximidade deles o estava afetando.
— Faça as malas. — ele disse, condenando seu tom. — Você vem comigo.
— Desculpe, o que você disse?
— Você vem comigo. — Jonas deu às pernas de Ginny um último olhar
ansioso e se levantou. — Não posso e não vou deixá-la aqui sozinha enquanto
sua segurança estiver em risco - e não posso ficar.
— Não há janelas no porão. Você poderia ficar lá.
— Com os outros cadáveres, você quer dizer? — ele falou lentamente. —
Acho que poderia ficar lá durante o dia, mas você terá que ficar lá comigo, onde
eu possa protegê-la.
— O dia é o turno de Larissa.
— Você pode trocar?
— Não, ela vai recusar. Ela acha que o necrotério é mais assustador à
noite, o que realmente não faz sentido, porque não há janelas. Pode ser meio-
dia ou meia-noite e você nunca saberia dizer.
— Então nós temos nossa resposta. — Ele caminhou até a janela, abrindo
e fechando as mãos enquanto examinava a rua abaixo. — Por favor, faça as
malas.
Ginny se levantou e se virou, estremecendo por dentro quando seu
Aquiles protestou. — Quem exatamente você acha que vai administrar este
lugar?
Ele se virou com uma sobrancelha majestosa levantada. — Há algum
corpo lá embaixo esperando por você?
— Tem sido uma semana lenta —, ela respondeu, sentindo-se um pouco
na defensiva. — A queda está sobre nós. As pessoas tendem a tentar resistir
durante as férias.
O suspiro de Jonas foi cansado e divertido ao mesmo tempo. — Deus me
ajude, Ginny... — Sua garganta tremia. — Será para sempre um dos maiores
mistérios do universo que você permaneceu aqui por vinte e quatro anos sem
transformar cada homem que você encontra em um idiota apaixonado que a
adora a seus pés.
— Isso parece horrível —, ela sussurrou, abalada. — Eu odeio desordem.
Sua risada era de alguma forma adorável e triste ao mesmo tempo.
Ginny olhou para suas mãos. O que ela deveria estar fazendo de novo?
Embalando. Saindo. Para ir morar com os vampiros. Certo.
— Hum. Posso deixar um recado para Larissa sobre passar a noite com
um amigo. Ela não vai acreditar. É apenas um pouco mais plausível do que ser
alvo de morte por um vampiro formidável. Mas terá que servir. — Ela se virou
em um círculo, tentando lembrar onde ela guardava sua mala. Ela pelo menos
tinha uma? — Vou precisar voltar amanhã à noite e trabalhar, no entanto. Não
posso negligenciar este lugar.
— Eu sei que o legado do seu pai é importante para você, Ginny.
Saber que ele ouviu e guardou suas preocupações na memória fez asas
baterem sob seu esterno. — Sim. É. — Ela desenterrou uma pequena mala
empoeirada do fundo do armário e empilhou o essencial dentro, incluindo um
vestido para amanhã, sua escova de cabelo e um frasco de perfume. Antes de
abrir a gaveta de roupas íntimas, ela deu a Jonas um olhar penetrante e ele
virou as costas como um cavalheiro.
Satisfeita de que ele não a estivesse observando vasculhar sua
abundância de calcinhas sensatas e totalmente cobertas, Ginny começou a
vasculhar. Em vez de tirar um par de algodão branco perfeitamente funcional,
algo rebelde se acendeu dentro dela - provavelmente provocado por Roksana
- e ela abriu um pacote de calcinhas azul meia-noite que ela nunca tinha
usado. Algumas tinham estrelas e luas cintilantes por toda parte, outras eram
raios de sol e nuvens. Ela as comprou à venda no Kohl's depois de muito café
e estava grata por elas agora. Jonas poderia nunca colocar os olhos nelas, mas
talvez elas a fizessem se sentir mais no controle, do jeito que seus vestidos
faziam.
Sentindo-se enrubescer, ela rapidamente os enfiou na mala. — Vou pegar
minha escova de dente...
Um ruído surdo de ar soprou cabelo em seu rosto e então Jonas estava
de pé na frente dela com a escova de dentes na mão. — Eu realmente gostaria
de levar você a um lugar seguro — ele disse, colocando o item em sua bolsa. —
Rapidamente.
— Como você sabe que é minha e não de Larissa?
— A outra era elétrica, você nunca usaria uma desses.
— Não usaria?
— A garota que adora filmes antigos, fala com cadáveres e não quer que
eu veja suas calcinhas? Não, eu não acho.
— Isso significa que você me acha chata?
Seus lábios se torceram. — Isso significa que eu acho que você é
original. E que você provavelmente gosta de sonhar acordada enquanto escova
os dentes e que o zumbido a deteria.
O prazer a atingiu. — Você pensou um pouco sobre isso.
— Sim. — Ele deu a ela seu perfil principesco enquanto fechava o zíper
de sua mala e a pegava pela alça. — Mais do que deveria.
Ginny o seguiu até a porta de seu quarto e saiu para o corredor. — Onde
você vive?
Ele suspirou. — Eu não posso te dizer isso, Ginny.
Eles pararam lado a lado no patamar da escada. — Como você vai me
levar lá sem me dizer... — Ela parou quando ele tirou algo do bolso. — Isso é
uma venda? Você não pode estar falando sério.
— É para sua própria segurança. O mundo em que vivo é um lugar
volátil. Saber onde vivem três vampiros a torna vulnerável.
— Você está planejando apagar essa informação da minha cabeça,
lembra?
— Lembrar? Eu penso nisso constantemente, — ele enunciou, se
aproximando. — Como eu disse, quanto mais eu permitir que você mantenha
suas memórias, mais difícil será apagá-las com precisão. Eu não quero arriscar.
Ginny jogou os ombros para trás e desceu as escadas, deixando Jonas
atrás dela com a mala. Por um momento fantástico, ela fingiu ser Grace Kelly
em Ladrão de Casaca. Uma rica debutante com um belo criado, preparando-se
para partir para Paris. Ela desejou desesperadamente por um par de luvas
brancas de seda para que ela pudesse sacá-las e colocá-las enquanto parecia
irritada. — Agora então — ela murmurou quando Jonas parou ao lado dela na
parte inferior da escada. — Peça ao motorista para trazer meu carro.
— O que é que foi isso? — Jonas perguntou, seu tom beirando a diversão.
— N-nada.
Ele declarou ironicamente e conduziu-a pelo corredor, em direção à porta
dos fundos. — Por sorte, temos um motorista.
— Quem será?
Jonas hesitou com a mão na maçaneta. — Um dos meus companheiros
de quarto, Tucker. Se prepare.
— Para que?
Ele abriu a boca para responder, fechou-a e empurrou a porta. Ela ouviu
a batida baixa do baixo antes que o Impala preto aparecesse no meio-fio,
parando por um momento, antes que a janela do passageiro rolasse - e a
fumaça subisse no ar noturno. Ela clareou para revelar um sorriso de Cheshire
com um charuto preso em algum lugar no meio. O sorriso pertencia a um
homem que mais parecia uma montanha, uma corrente de ouro enrolada em
seu pescoço grosso.
Tatuagens de cores vivas eram a única coisa que o cobria, já que ele
estava decididamente sem camisa, sua coloração lembrando Ginny de um
irlandês ligeiramente queimado de sol com quem ela trabalhou no necrotério
e que morreu durante as férias.
— Jonas —, chamou Tucker, tirando o charuto da boca lentamente. —
Essa é uma garota humana.
— Estou bem ciente do que ela é. Apague o charuto.
Tucker não parecia feliz em apagar o charuto em seu cinzeiro. — Vamos
levá-la para o jantar? — ele falou lentamente. — Ou convidá-la para jantar?
Jonas a deixou cambaleando após sua rápida partida. Num segundo ele
estava parado ao lado dela, no próximo ele estava falando com Tucker em um
tom baixo e ininteligível através da janela do lado do motorista.
Depois de ouvir por um momento, Tucker jogou a cabeça para trás e
riu. — O próprio príncipe está quebrando as regras. Puta merda, cara, isso vai
ser interessante.
Ginny estava no banco de trás do carro antes que ela pudesse recuperar
o fôlego, Jonas pressionou-se ao lado dela. — O que você disse a ele?
— Só que ele teria uma estaca para o jantar se ele se aproximasse um
metro e meio de você.
— Bife4? Achei que você não comesse comida.

4 Steak = bife; quase a mesma pronúncia


— Estaca.
— Oh. — Assim que ela absorveu aquela implicação violenta, ela se
inclinou para frente. — É um prazer conhecê-lo, Tucker. Você é o brincalhão,
não é?
— A seu serviço.
— Lamento que Jonas já tenha ameaçado sua vida em meu nome, mas
você tem que admitir que é bem merecido depois de deixá-lo para ser
embalsamado.
Olhos cheios de humor encontraram os dela no espelho retrovisor. —
Ameaças à minha vida estão todas no trabalho de um dia.
— O dia de trabalho de um vampiro?
— Não. — Ele apontou para o adesivo circular em sua janela da frente. —
Um motorista do Uber.
Ginny deu uma risadinha. — Eu vejo.
— Não me julgue muito duramente pela brincadeira, querida —,
continuou Tucker. — Brincar de vez em quando, nos mantém humanos. Tanto
quanto possível, de qualquer maneira. Pense nisso como se eu estivesse
fazendo um favor a ele.
— Eu nunca vou entender como você consegue que Elias concorde com
essas pegadinhas — Jonas murmurou. — Não é exatamente o estilo dele.
— Eu o peguei com uma foto de Roksana. Prometi não contar a ninguém
se ele me ajudasse a executar a pegadinha. — Ele deu um estremecimento
exagerado. — Opa.
— Dirija o carro —, disse Jonas suavemente. — E não chame Ginny de
'querida'.
Jonas estava estendendo a mão com a fina faixa preta de tecido,
preparando-se para amarrá-la ao redor dos olhos de Ginny, quando um
pensamento ocorreu. — Jonas, como vou saber se não é você que está me
jogando nos oceanos e nas rodovias?
Suas mãos caíram como pedras no assento. Vários segundos se
passaram. — Como você pode me perguntar isso?
Ela esperou.
— Eu já expliquei para você que seria necessário alguém mais velho e
mais poderoso para transportá-la assim.
— Como posso saber se isso é verdade? — Sem quebrar a intensidade de
seu olhar, ela se abaixou e tocou o material da venda. — Você está pedindo
minha confiança absoluta e não me dando nenhuma em troca, Galã.
— Ela o chamou de Galã! — Mais risadas estridentes de Tucker. — Sim,
de fato. Isso vai ser muito interessante.
A expressão torturada de Jonas foi a última coisa que ela viu antes que a
venda tornasse seu mundo negro.

Ginny contou mentalmente a terceira à direita que eles pegaram desde


que saíram da Funerária P. Lynn, embora ela não pudesse ter certeza de que
eles não haviam dobrado de volta ou feito uma rota sinuosa para despistá-
la. Cada vez que eles tomavam uma reta, ela contava os segundos até a
próxima curva e gravava as instruções na memória, apenas para o caso de
precisar delas. Como residente de Coney Island por toda a vida, Ginny
conhecia pelo menos quatro maneiras de chegar ao calçadão. Se ela não estava
enganada, eles não estavam muito longe das ruas mundialmente famosas
quando Tucker puxou o freio de mão.
— Eu estacionarei e encontrarei você lá dentro — o colega de quarto de
Jonas chamou. — Não diga ou faça nada que valha a pena fofocar até eu voltar.
Jonas cantarolava distraidamente. — Ela vai precisar de comida e
água. Você pode comprar mantimentos? Ovos, pão, leite...
Tucker fez um som. — Brutal.
— Pegue um cobertor para ela também.
— Sim, príncipe todo-poderoso.
A porta traseira do lado de Jonas se abriu e então ele estava entrelaçando
seus dedos, enviando uma explosão de poeira estelar por seu braço. Ele a
ajudou a sair do carro, embora Ginny sentisse sua hesitação antes que ele
colocasse um braço em volta de suas costas, puxando-a para frente. Uma porta
se abriu e o ar frio saiu, envolvendo Ginny até que ela estivesse totalmente
acomodada dentro dela. A mesma porta se fechou atrás dela, deixando-os
totalmente sem som. Os sons do tráfego, gaivotas e rádios de carros foram
cortados abruptamente e tudo o que ela podia ouvir eram os passos dela e de
Jonas.
— Estamos entrando em um elevador agora — ele murmurou perto de
sua orelha, conduzindo-a para a esquerda. — Vou tirar a venda em breve.
Ela cruzou os braços sobre o peito, sentindo a caixa de metal cair, seguida
pelo gemido mecânico familiar de um elevador em movimento.
— Você está me dando o tratamento do silêncio?
Ginny manteve os lábios pressionados em uma linha reta, porque sim,
ela estava bastante irritada e se ela começasse a falar, todo tipo de comentário
inteligente provavelmente sairia de sua boca. Ainda esta noite, ela quase foi
atropelada por um caminhão. Agora ela estava sendo arrastada por um
vampiro autoritário que ainda tinha planos de deixar em branco o seu banco
de memória e não queria que Ginny soubesse onde ele morava. Ele estava
limitando suas opções sobre ela quando ela não tinha a opção de fazer o
mesmo.
— Lamento que você não concorde com meus métodos, Ginny — ele
disse em voz baixa. — Eu só quero mantê-la segura.
Ok. Ela definitivamente não foi feita para administrar o tratamento de
silêncio. As palavras estavam saltando umas sobre as outras para sair de sua
garganta. — Por que você se importa com o que acontece comigo?
A veia em sua têmpora pulsou. — Há uma resposta complicada para essa
pergunta.
Ela tirou a venda, ignorando seu olhar de censura. — Experimente.
Jonas olhou fixamente para as portas de metal do elevador. Quando
Ginny seguiu seu olhar, o único rosto olhando de volta na superfície reflexiva
era o dela. Um arrepio percorreu sua espinha. Ela olhou para trás para
encontrar Jonas estudando sua reação de perto. — Se alguém colocasse um
único arranhão em sua pele, eu ficaria totalmente louco, Ginny, e ainda assim
desejo afundar meus dentes em seu pescoço a cada segundo do dia. Eu não sei
como descomplicar isso para você. — As portas do elevador se abriram. —
Bem-vinda à casa.
Sua expiração emergiu tão trêmula quanto suas pernas. — O que
aconteceria se você fizesse? — ela proferiu. — Beber meu sangue, quero dizer.
Cinzas verdes chicotearam seus olhos, sua mão enrolando em torno do
corrimão do elevador. — Posso ter problemas para parar.
— Você acha que vai me matar, não é? Quebre uma regra, quebre todas
elas. — Ela deu um passo à frente. — Mas eu sei que você não faria.
— Você tem tanta certeza, não é? — Sua atenção se desviou para o
pescoço dela. — Terminamos de falar sobre isso — ele falou, abaixando-se e
pegando Ginny pelo pulso, levando-a para fora do elevador, em um corredor
de cimento com uma única lâmpada zumbindo na frente de outra porta. — Eu
vou mantê-la segura de mim e de quem está tentando machucar você. Isso é
uma promessa.
— Será que seus colegas de quarto... — Ela apontou para o pescoço. —
Será que eles vão se sentir como você sobre o afundamento dos dentes?
Ele seguiu a ação de sua mão com interesse extasiado. — Eu reagir dessa
maneira a você é incomum o suficiente. Dois de nós seria algo inédito. — Jonas
tirou um molho de chaves do bolso do paletó. — Ainda assim, não vou correr
riscos com você, então eu considerei isso. Se Tucker sentisse este nível de... —
Ele soltou um suspiro. — ...fome, nós já saberíamos, uma vez que você esteve
no mesmo carro. Se Elias sentir um décimo da minha sede por você, eu a
levarei para outro lugar. Ele é mais jovem e não tem a mesma força de vontade
para abster-se —, disse ele, cortando-lhe um olhar de soslaio. — Se a minha
fome está testando seus limites, alguém sem a mesma força não seria capaz de
resistir.
— Oh. — Ela engoliu em seco. — Ótimo.
— Ginny — ele disse, passando os nós dos dedos pela bochecha dela. —
Você está segura. Eu nunca teria trazido você aqui de outra forma.
Ela acenou com a cabeça.
Ele destrancou a porta e ela o seguiu para... Que lugar era este?
Eles perambularam no azul. Parecia o fundo do oceano.
— Desculpe pela escuridão. Vemos tão bem na escuridão quanto vemos
na luz. — Ele caminhou até a arandela mais próxima e girou uma maçaneta,
lançando um brilho fraco. — Vou garantir que as manteremos ligadas
enquanto você estiver aqui.
Ginny acenou com a cabeça. — Obrigada.
A ampla sala de teto baixo foi pintada com um brilho azul, cortesia de
um aquário iluminado por trás disposto contra a parede oposta. À direita havia
uma mesa de jantar cercada por estantes e um balcão que ocupava toda a
extensão da parede, à esquerda uma sala de estar, com sofás de veludo cinza e
uma televisão de nove mil polegadas. Um apartamento de solteiro ao extremo,
embora não tivesse a forma de um típico apartamento. Algo no layout e na
falta de calor sugeria que ele tinha sido usado comercialmente.
O papel de parede preto texturizado decorava as paredes, salpicadas de
arandelas de ouro e vidro fosco. Acessórios vintage estavam por toda parte,
até a grade embelezada nas aberturas de aquecimento e molduras em coroa
elaboradas. Embora não estivessem ligadas, havia luminárias em forma de
porta-retratos em alguns pontos - o tipo que lembrava uma penteadeira
antiquada. Grandes lâmpadas cercadas onde antes ficavam os
espelhos. Lauren Bacall teria se sentado na frente de uma delas em um roupão
de seda, lendo a nota sobre uma dúzia de rosas de Bogart.
— Não há realmente peixes naquele tanque. Nós nos mudamos muito
para ter animais de estimação, mas Tucker acha que isso dá atmosfera ao lugar,
— Jonas disse secamente. — Não há cozinha —, disse Jonas ao lado dela,
gesticulando para o lado esquerdo da sala, onde um aparelho de aço inoxidável
zumbia. — Nós temos uma geladeira, então podemos evitar que sua comida
estrague.
— Como vou cozinhar os ovos?
— Huh. — Ele deu a ela um meio sorriso infantil. — Eu não pensei
nisso. Já faz um tempo que não preciso me preocupar com os preparativos das
refeições.
— Tudo bem. Não vou ficar aqui por muito tempo, certo?
— Certo. — Seu sorriso se desvaneceu. — Assim que eu eliminar o perigo
em que você está... Vou levá-la para casa, onde você pertence.
Ginny entrou na sala, preocupada com o vazio em seu peito. Se ela já
estava triste por ir embora, como se sentiria quando realmente chegasse a
hora? E muito mais importante, Jonas acabava de admitir que tinha sede de
seu sangue a cada segundo do dia. Por que ela não estava gritando por ajuda?
Por que ela queria se encostar em seu peito sólido e existir em silêncio
dentro do vínculo silencioso e inexplicável entre eles?
— Você vai fazer um tour?
— Algo assim. — Jonas apareceu ao lado Ginny, pegando sua mão
quente na sua mão fria, guiando-a através do apartamento e em um largo
corredor. — Eu não tenho certeza de que quer ver mais do que Tucker
considera escolhas de design. E Elias é extremamente privado. Vou dar-lhe o
meu quarto enquanto você está aqui, então eu vou levá-la lá.
— Onde você vai dormir -— Ginny se conteve. — Quero dizer... Com que
frequência você dorme?
— A cada duas semanas. — Seu polegar traçou as veias no dorso da
mão. — Eu não vou dormir até que esta situação seja resolvida e você estiver
segura, por isso a minha cama está livre.
— Está sempre livre?
Sua sobrancelha se ergueu. — O que você quer dizer?
— O que? — Ela virou a cabeça para que Jonas não a visse revirar os
olhos. O que há de errado com você? — Não estou nem um pouco curiosa sobre a
sua vida amorosa.
— Não está? — Jonas voltou para sua linha de visão. — Eu
definitivamente queria saber sobre a sua.
— Você não quer mais saber?
— Você nunca beijou... — Seu lábio superior se curvou com desgosto. —
… Gordon e ele é o único encontro em que você esteve. Você não é do tipo
casual. Acho que já descobri.
Ele sabe que sou virgem. Ótimo.
A diversão se espalhou por seu rosto, que estava meio iluminado pelo
brilho azul do aquário. — Você está falando alto de novo, Ginny.
— Oh. — Ela mudou. — Bem, você quer me falar sobre sua...
— Vida amorosa. — Ele enfiou a língua na bochecha. — Melhor não.
— Por quê?
Ele parecia estar pensando muito sobre sua resposta. — Eu senti algo
como amor uma vez, muito, muito tempo atrás. Provavelmente antes de seus
pais nasceram. Entre então e agora... — Ele procurou as palavras. — Eu
definitivamente não usaria 'amor' para descrever nada disso.
Um choque desagradável a percorreu. — Oh meu Deus. Você é um
jogador, Jonas?
— O quê? Não. — Ele passou os dedos impacientes pelos cabelos. — Não,
Ginny. Eu não sou isso. De jeito nenhum. Só estou achando difícil admitir que
estive com alguém. Quando você está perto de mim, eu só quero desfazer tudo.
O choque se reduziu a um leve beliscão. Honestamente, Ginny. Ela estava
realmente com ciúmes? Seria ridículo esperar que um homem que se parecia
com Jonas fosse celibatário, especialmente considerando que ele viveu quase
noventa anos. — Elas eram... Outras vampiras?
O aceno de Jonas foi quase inexistente quando ele a pressionou contra a
parede do corredor. — Mesmo que eu não possa ter você, Deus me ajude... —
As palmas das mãos moldaram em seus quadris. — Se eu soubesse que você
estava lá, teria me abstido facilmente...
Uma porta se abriu logo à frente no corredor e Ginny foi levada pelas
costas de Jonas em um piscar de olhos. — Meus sentidos me enganam? — disse
uma voz rouca. — Ou esta é a humana?
A humana?
— Elias — Jonas disse em um tom contido, como se medindo a reação do
outro vampiro a ela. — Esta é Ginny. Parece que você já sabia que Roksana e
eu a protegemos.
— Roksana? — Lentamente, passos rangeram mais perto. — Não, eu
estive cheirando esta em você toda vez que você entra pela porta. O que quer
que você faça em seu tempo livre não é da minha conta, mas nunca imaginei
que você a traria aqui. — Os passos pararam. — O que diabos Roksana tem a
ver com ela?
Ginny tentou espiar por trás de Jonas, mas ele evitou, impedindo-a.
— Ela está enfrentando uma ameaça - e não há dúvida de que é um de
nossa espécie. Uma pessoa idosa. Eu incumbi Roksana de mantê-la segura. —
Jonas fez uma pausa. — Ela não teve sucesso, então eu trouxe Ginny aqui.
— Roksana não teve sucesso? — Todo o comportamento de Elias tinha
sido quase entediado até agora. Sua energia ficou instantaneamente alerta. —
Onde ela está agora?
— Aparentemente treinando —, disse Jonas. — Eu não sei onde.
Ginny estava apoiada contra a parede quando Elias passou trovejando,
suas botas batendo no chão. Ela só conseguiu captar um lampejo de raiva acima
da gola do sobretudo virada, antes de Elias escancarar a porta da frente do
apartamento.
Tucker estava parado na soleira com sacos de papel pardo nos braços, o
charuto preso no canto da boca. — Aw, querido. — Uma nuvem de fumaça
subiu. — Você veio me ajudar a carregar os mantimentos?
— Posso sentir o cheiro de podre —, Elias resmungou. — Isso vai ser uma
coisa normal?
— Foi legal brincar de humano —, disse Tucker, entrando na sala e
colocando as sacolas no sofá. — Onde você está indo, El?
— Roksana — ele rosnou.
A porta bateu atrás de Elias um segundo depois.
— Ele está ainda mais animado do que o normal —, comentou Tucker,
movendo os itens dentro das sacolas com as mãos. — Ei, príncipe. Olha essa
merda. — Ele ergueu um biscoito redondo embrulhado em plástico. — Eles
fazem crostas de torta de Nilla Wafers agora. Onde estava esse tipo de coisa
quando tínhamos um sistema digestivo funcionando, certo?
Jonas lentamente a deixou sair de trás dele, mas a manteve juntamente
ao seu lado. — Você conseguiu algo prático?
— Manteiga de amendoim e biscoitos Ritz. Isso é tudo que me lembro de
comer quando era humano. — Ele pegou um pacote de seis de Miller Light. —
E cerveja para acompanhar.
Ginny se animou. — Eu nunca bebi cerveja.
Tucker girou os quadris, aparentemente dançando ao som de uma
música que só ele podia ouvir. — Bem quente, caramba. Isso pede uma festa,
querida.
— Eu também nunca dei uma festa!
— Chame-a de querida novamente. Atreva-se. — Jonas a jogou por cima
do ombro e continuou pelo corredor. — Ninguém entra no meu quarto em
nenhuma circunstância enquanto ela está aqui.
— Desmancha-prazeres —, gritou Tucker, depois para si mesmo, —
Massa de torta de wafer Nilla. A raça humana pode conseguir, afinal.
Um sorriso floresceu no rosto de Ginny - e apenas parcialmente porque
ela estava no nível dos olhos com as costas flexionadas de Jonas. — Eu gosto
de Tucker.
Ele grunhiu.
Seu mundo virou do lado certo novamente quando ele colocou os pés
dela no chão. Uma luz se acendeu - a lâmpada de cabeceira.
O quarto de Jonas não era nada como ela esperava. Seu porte real a fez
imaginar roupas de cama caras, grossos tapetes orientais e possivelmente um
mordomo. O que ela viu em vez disso foi esparso, funcional. Quase vazio.
Havia uma pequena cama, sem nada além de um lençol. Uma cômoda
antiga com puxadores de vidro. As paredes foram pintadas de um azul
prateado melancólico e ela quase podia imaginá-lo segurando o pincel,
acariciando a parede em um silêncio solitário. Uma cadeira ficava no canto ao
lado da porta fechada de um armário e havia uma única prateleira pendurada
no centro da parede maior, pequena e fora do lugar como uma única sarda no
centro de suas costas pálidas...
Nela havia uma moldura de ouro.
Ela estava muito longe para ver a foto, então ela se aventurou mais perto,
sentindo em vez de ver a tensão de Jonas crescendo.
Ginny diminuiu seu progresso e lançou a Jonas um olhar
questionador. — Posso?
— Sim, claro.
Dentro do porta-retratos havia uma fotografia em sépia desbotada de
duas pessoas que pareciam estar na casa dos cinquenta anos, sentadas a uma
mesa com um bolo de aniversário meio comido na frente delas. Jonas estava
atrás de suas cadeiras, sorrindo. — Esta é a sua família?
Seu aceno foi irregular. — Por sangue, sim.
— O que você quer dizer com sangue?
Ele se sentou na beirada da cama, os dedos frouxamente entrelaçados. —
Esses são meus pais. — Seu olhar estava distante. — Uma vez que eu me
tornei... Assim, eu não poderia ter nenhum contato com eles. Depois de
machucá-los tanto, não tenho certeza se mereço chamá-los de minha mãe e
meu pai.
Ginny largou a foto e sentou-se ao lado dele na cama, notando a forma
como suas narinas dilataram com a proximidade dela. A forma como todo o
seu corpo parecia se contrair. — Você não parece o tipo que machuca se puder
evitar.
— Na época, parecia que não havia como evitar. Você sabe o que dizem
sobre a retrospectiva, no entanto. — Ele olhou para suas mãos frouxamente
entrelaçadas. — Em outra vida, eu era um empresário que procurava um
investidor para minha invenção.
— Que invenção?
Seus lábios saltaram. — Super cola.
Ela bateu no ombro dele. — Sem chance. Você inventou a super cola?
Jonas balançou a cabeça lentamente.
— Então, obviamente, você encontrou o investidor.
— Se eu soubesse que viveria para sempre. — Ele piscou. — Eu teria
negociado um acordo de royalties.
— Que loucura. — Ela enterrou o rosto nas mãos, deixando-as cair. — O
que isso tem a ver com você se tornar um vampiro?
Com base em sua expressão facial, ela podia ver que ele estava
relembrando memórias e as reproduzindo. — Eu não estava chegando a lugar
nenhum. O aço era a grande indústria. Carros. Os fabricantes não queriam
ouvir sobre uma versão diferente de algo que já existia. O nome sozinho soava
como um truque. Tive de encontrar uma maneira de produzir e comercializar
sozinho. Isso custou dinheiro que eu não tinha. — Ele ficou quieto por um
instante. — Meu pai não conseguia trabalhar depois de um acidente de
fábrica. Minha mãe estava... Entretendo homens para sobreviver. Eu precisava
ajudar, Ginny. Achei que estava ajudando. Mas procurei capital nos lugares
errados. Um agiota me encaminhou para outro e outro até que eu estivesse cara
a cara com ele.
— Ele?
— Meu senhor, Clarence. O homem que criou o que sou. Eu o
impressionei com minha tenacidade, creio que ele chamou assim. Ele... — Sua
risada carecia de humor. — Ele gostou de mim. O que é muito irônico quando
você pensa sobre isso. Gostar tanto de alguém que troca dinheiro por sua
humanidade.
Ginny engoliu o nó na garganta. — Você fez isso por sua família.
— Na maioria das vezes. Eu também gostava de alguém me dizendo que
eu era bom em alguma coisa. Eu nunca... Tive isso. Quando percebi que vendi
minha alma ao diabo, era tarde demais para recuperá-la.
— Não — ela sussurrou, doendo no centro de sua barriga pelo que ele
deve ter passado. — Você ainda tem.
Seu olhar disparou para o dela. — Eu aprendi algumas lições difíceis
sobre ser egoísta, Ginny. Eu não vou repeti-las.
Mesmo enquanto ele dizia as palavras que ela tinha certeza eram um
lembrete para manter uma distância perigosa, o corpo de Jonas gravitou
levemente em sua direção, empurrando uma onda de cravo e hortelã em sua
direção e confundindo seu cérebro. Seus lábios se separaram em resposta,
pequenas explosões saindo em cada ponto do pulso. Ele iria beijá-la, apesar de
sua força de vontade de ferro e do que ele revelou sobre o passado?
Senhor, ela queria tanto isso. Quando o rosto dele estava bem na frente
do dela, cravo e hortelã flutuando ao redor deles como fumaça, ela só
conseguia pensar em termos de momentos, não antecipações ou consequências
ou certo e errado. Só que seus sentidos, e talvez até sua alma, diziam a ela para
se aproximar e se segurar para salvar sua vida.
— Ginny? — ele sussurrou.
Ela praticamente podia ouvir a música jazzística do boudoir fervendo ao
fundo, do jeito que ouviria antes de os dois protagonistas na tela darem seu
primeiro beijo dramático. — Sim, Jonas?— ela quase choramingou.
Suas pálpebras caíram e de repente a cama atrás deles era um lugar
gigante e magnético, apesar da falta de edredom ou almofadas
decorativas. Como seria ter Jonas em cima dela quando o último de seu
autocontrole desmoronasse?
Divino.
Movendo a Terra.
Inevitável.
— Sim? — ela perguntou novamente, inclinando-se mais perto.
Uma maldição escapou dele. — Vou pegar alguns biscoitos e manteiga
de amendoim.
Ele estava fora da cama e a meio caminho da porta antes que ela
processasse sua primeira onda de decepção. Ela caiu para trás no colchão e
jogou o cotovelo sobre os olhos. — Traga Nilla também, por favor.
Jonas voltou dentro de instantes, com a caixa Ritz em uma mão, manteiga
de amendoim na outra e a torta debaixo do braço. Ele chutou a única cadeira
do canto do quarto para uma posição perfeita na frente da cama e se sentou.
Ginny se sentou, ignorando a diversão de Jonas quando seu estômago
roncou. — É contra as regras usar sua velocidade a seu favor?
— Está implícito, uma vez que pode levar à descoberta.
— Alguém já ficou embaçado e foi pego?
— Ficou embaçado. — Rindo, ele tirou uma faca do bolso e a colocou na
coxa, indo trabalhar na abertura da pasta de amendoim — Você deve sempre
suspeitar quando ouvir sobre uma série de assaltos a bancos noturnos ou um
grande desastre natural que ceifa apenas uma vida. Muitas vezes, alguém
quebra as regras e... Fica embaçado. — Ele espalhou manteiga de amendoim
em um biscoito e entregou a ela, observando de perto enquanto ela
mastigava. — A Alta Ordem trata a ofensa da mesma forma, seja ela usada
para o bem ou para o mal.
— Mesmo se vidas fossem salvas e ninguém visse?
— Não fomos feitos para ser heróis, Ginny. Às vezes, somos o oposto.
Perdida em pensamentos, ela comeu seu biscoito. — Você disse que
ajuda novos vampiros - os Silenciados. Alguns deles acabam sendo... O oposto
de um herói?
— Frequentemente. — Ele fez uma pausa no ato de fazer um sanduíche
de dois biscoitos com uma camada de manteiga de amendoim no meio. — É aí
que pretendo começar a fazer perguntas sobre quem está caçando você. Entre
os vampiros que ajudei. Se houver um maligno próximo, seria difícil para eles
evitarem completamente a detecção. Alguém precisa saber de alguma coisa.
Sua boca seca não tinha nada a ver com o lanche que ela estava
comendo. — Você estará seguro, Galã?
Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas. — Alguém colocou você
em perigo. Eles devem se preocupar sobre serem salvos de mim.
— Você é um pouquinho arrogante, não é? — Ela tentou esconder sua
reação fangirl por trás de um sorriso. — É por isso que o chamam de príncipe.
— Essa é uma das razões — ele murmurou.
Ginny queria cutucar essa afirmação, mas ele colocou um Ritz em sua
boca e lançou-lhe um olhar penetrante. Em outras palavras, não vá lá. Ela
torceu o nariz para ele enquanto mastigava. — Com que frequência as pessoas
são... Silenciadas? Deve ser muito se você está continuamente treinando novos
vampiros.
— Sim. E essa é minha principal objeção com a Alta Ordem - eles gostam
de brechas tanto quanto seu governo humano. — Uma batida se passou. —
Você vê, matar um humano imediatamente não é permitido. É uma das
regras. Mas silenciá-los é permitido. — Cada linha de seu corpo rígido vibrou
com irritação. Sim, ela definitivamente encontrou um ponto dolorido. — Não
há orientação para os recém-silenciados. Sem recursos ou educação. Eles são
jogados nas ruas e espera-se que se adaptem a um estilo de vida totalmente
novo por conta própria.
— Você acha que os vampiros deveriam ter permissão para silenciar os
humanos?
— Nunca. — Ele sustentou seu olhar. — É equivalente a assassinato.
Ginny não disse nada.
Lentamente, ele voltou a ficar relaxado. — Você quer mais?
— O que quer que o mantenha sentado ao meu lado. — Ela cobriu o rosto
com as mãos, mas não antes de observar a esmeralda brilhar em seus olhos. —
Isso deveria estar dentro da minha cabeça.
A risada dele fez seu coração bater tão forte que ela teve que apertar o
peito. E ele obviamente ouviu, porque ele se acalmou, sua expressão ao mesmo
tempo triste e satisfeita.
— Vou deixar tudo aqui —, disse Jonas, levantando-se e colocando a
comida na cadeira que havia desocupado. — Durma agora, Ginny. Você estará
segura aqui esta noite.
— Ok. — Ela acenou com a cabeça. — Eu sei.
Jonas começou a recuar em direção à porta, mas desviou para seu
armário em vez disso, tirando uma braçada de jaquetas. Ele voltou para Ginny
e as colocou no colchão, coçando o queixo com uma carranca. — Tucker
esqueceu um cobertor, um fato que não surpreende ninguém. Você vai se
aquecer sob minhas roupas?
Ela se forçou a não mergulhar de nariz na pilha. — Eu suponho.
Torcendo os lábios, ele se inclinou e falou ao lado de sua cabeça. —
Lembre-se, posso ouvir seu pulso.
— Altamente inconveniente.
— Não é para mim —, disse ele, ao sair pela porta. — Boa noite, Ginny.
— Boa noite, Jonas.
Talvez fosse a sensação absoluta de segurança. Ou talvez tenha sido o
fato de ela ter comido uma parte inteira de torta sem respirar. Mas Ginny caiu
no sono como uma pedra no rio. Ela não poderia dizer com certeza o que a
acordou horas depois em alerta máximo. Ela também não conseguia parar de
se levantar para investigar.
— Oh, abra a porta. — Ainda em choque por se encontrar trancada no
quarto de Jonas, Ginny balançou a maçaneta da porta. — Eu tenho que usar o
banheiro.
Tucker gemeu. — Vamos, Ginny. Jonas estará de volta em quinze
minutos. Disseram-me que só poderia abrir essa porta no caso de um
apocalipse. Isso pode esperar?
— Receio que não. Para onde foi Jonas?
— Comprar um fogão elétrico, eu acho. Para cozinhar ovos.
— Eu queria que você não tivesse me contado isso — Ginny resmungou,
tirando o cabelo dos olhos. — Estou tentando ficar com raiva por ter sido feita
prisioneira. E suspeito também. Por que essa porta trava do lado de fora?
— Desculpe, o que foi isso? — Tucker fez um ruído crepitante que era
claramente apenas ele emitindo sons do Pato Donald com as mãos em
concha. — Você está acabando comigo...
— Oh, pare com isso. Abra essa porta. Ou você não está ofendido por
Jonas não confiar em você para me proteger enquanto ele está fora?
— Muito inteligente nos jogar um contra o outro, querida. Eu não vou
cair nessa.
Ginny se mexeu na ponta dos pés. — Eu não aguento mais. Por favor. —
Houve um clique e então a porta se abriu, revelando Tucker com uma nuvem
de fumaça obscurecendo seu rosto. Ginny desviou dele para o corredor. —
Você caiu nessa, não é?
Tucker piscou. — Você não precisa fazer xixi?
Ela torceu o nariz para ele. — Desculpe.
Sua risada ecoou pelas paredes do corredor. — Mulheres. Mortas ou
vivas, vocês são uma raça complicada. — Ele passou por ela em direção à frente
do apartamento. — Já que estou cortejando a ira do príncipe, você quer aquela
cerveja?
— Sim, por favor — Ginny falou depois de Tucker. Em vez de segui-lo,
entretanto, ela se virou e caminhou na ponta dos pés pelo corredor escuro,
parando na frente da porta do outro lado do corredor e abrindo-a. Claramente
este era o quarto de Tucker. O cheiro pungente de fumaça de charuto pairava
no ar, halteres do tamanho de Ginny estavam situados no canto e vinis de
álbum de rap empilhados em cima de um aparelho de som de última geração.
Ela fechou a porta rapidamente atrás dela e seguiu em frente.
A próxima porta estava trancada. O quarto de Elias, talvez? Ele tinha
vindo desta direção geral antes, mas ela não podia ter certeza de onde.
O barulho de uma tampa de garrafa sendo arrancada quase fez Ginny
abandonar sua investigação de Scooby Doo. O que ela estava procurando? Ela
não tinha certeza. Mas havia uma necessidade urgente de reunir
conhecimento, de lembrar os menores detalhes sobre seu tempo com Jonas. Se
ela reunisse informações suficientes sem que ele soubesse, menos provável
seria que ele a fizesse esquecer cada pequena coisa, se apagasse sua memória.
Ela queria pelo menos ter a opção de remendar esses momentos no
tempo se acordasse uma manhã com lacunas em sua linha do tempo.
Havia uma última porta no final do corredor e ela caminhou até ela
agora, um arrepio subindo por seu braço assim que ela enrolou a mão em torno
da maçaneta. Uma sensação de mau presságio a fez hesitar, mas ela a enxotou
para o lado e abriu a porta. Ela apenas teve um vislumbre de algemas de metal
presas a uma parede de tijolos imundos antes de uma mão disparar acima de
sua cabeça, batendo a porta.
Tucker suspirou. — Jonas nunca vai me deixar com um ser humano de
novo.
Ginny se virou para o vampiro atarracado com os olhos arregalados. —
Por que existem algemas e correntes aí?
— Você acredita que Elias é um bastardo pervertido?
Ela corou, incapaz de encontrar seu olhar. — E-eu... Bem, eu ...
Tucker soltou uma risada e ficou em silêncio. — Então você é corajosa o
suficiente para investigar uma colisão de vampiros, mas piadas sujas a deixam
vermelho. — Ele entregou-lhe uma cerveja e gesticulou para que ela o
precedesse em direção à sala de estar. — Faz cada vez mais sentido por que
meu colega de quarto está tentando encontrar um prato quente às três da
manhã.
Sem saber o que ele queria dizer, Ginny franziu a testa e tomou um gole
ausente de sua cerveja - e prontamente engasgou com o amargor. — Talvez eu
goste de bebidas de frutas —, disse ela, seguindo Tucker até a sala de estar. —
Isso é terrível.
— Se estou me lembrando da minha juventude debochada corretamente,
a cerveja tem um gosto melhor toda vez que você toma outro gole. Melhor
continuar.
Ginny deu outro gole cauteloso. — Oh! Você tem razão. Não é tão ruim
dessa vez.
Tucker fez uma reverência.
— Agora você pode me falar sobre as algemas?
— Não é muito para conversa fiada, não é, querida? — Ele apoiou um
cotovelo musculoso no manto sob a televisão. — Não tenho certeza do que
devo dizer a você.
Ela encolheu os ombros e tomou outro longo gole de cerveja. — Vou
esquecer tudo isso, certo?
— Certo — ele falou, suspirando. — De vez em quando, Jonas encontra
um recém-silenciado e eles precisam de algum... Tempo para se ajustar. Onde
eles não podem prejudicar nenhum ser humano frágil, como você. Jonas os
mantém presos em correntes de prata. Elas são impossíveis para a nossa
espécie se libertar. — Seu sorriso a lembrou de uma lanterna de abóbora. —
Ter um novato raivoso e sanguinário acorrentado no corredor cria algumas
condições de vida interessantes. Você é uma hóspede muito melhor.
— Obrigada.
Ele tirou o charuto do canto da boca, gesticulando para ela. — Você
terminou sua cerveja.
— Eu terminei? — Ginny cobriu a boca para evitar que um soluço
escapasse. — Eu terminei.
— Quero outra?
Ela avaliou a sensação de luz efervescente em sua cabeça e nas pontas
dos dedos. — Sim, acho que sim.
Rindo baixinho, Tucker foi até a geladeira e abriu a porta, olhando por
cima do ombro para Ginny. Provavelmente para avaliar sua reação diante da
abundância de bolsas plásticas cheias de sangue. Um dedo de descrença subiu
e desceu por suas costas e tudo que ela podia fazer era olhar, tentando imaginar
Jonas bebendo de uma bolsa de plástico.
— Oh, ele não bebe —, disse Tucker, endireitando-se com a cerveja dela
na mão. — Ele derrama em um copo, como um idiota chique.
— Não percebi que estava pensando em voz alta. Eu faço isso às vezes.
— Percebi. Provavelmente é outro motivo pelo qual você o deixa louco.
Ginny esfregou a sensação estranha em seu peito e lançou um olhar para
a porta, desejando que Jonas entrasse. Sua presença era tão densa no
apartamento, como uma capa pesada enrolada em volta dela, tornando a
necessidade de vê-lo severa e inevitável. — Ele está seguro onde quer que vá?
Tucker destampou a garrafa e fez uma pausa. — Jonas? Claro que sim,
ele está seguro. O cara pode ser um menino bonito, mas ele briga com novatos
semanalmente sem piscar. Leva eles para baixo.— Ele entregou Ginny a
cerveja. — Você está em boas mãos. Jonas Cantrell é um filho da puta ruim.
— Cantrell — sussurrou ela, valorizando o conhecimento de seu
sobrenome.
O vampiro ficou surpreso, amaldiçoado. — Eu tenho uma boca grande.
— Tudo vai ser apagado — ela murmurou, começando sua segunda
bebida.
— Uh-huh. — Tucker recuou para o manto em um borrão. — Então, o
que você faz para se divertir, Ginny? — Seu sorriso estava cheio de
travessura. — Além de tentar o príncipe a quebrar as regras, certo?
Sua respiração gaguejou em seus pulmões com a realidade de que ela
poderia ser ruim para Jonas. Muito ruim. Ela tinha ficado tão envolvida na
realização de vampiros que existiam e que possivelmente um estava tentando
matá-la por uma razão desconhecida que ela não teve tempo para pensar sobre
as implicações para Jonas. Ao protegê-la, ele estava se colocando em perigo. —
Hum — ela administrou. — Estou em um clube de confecção de
vestidos. Abrace os Esforços de Costura em Renda. Temos uma exposição
chegando, na verdade. Com um leilão silencioso e tudo...
A porta da frente se abriu e Elias entrou no apartamento, o sobretudo
girando em volta dos joelhos, a gola ainda protegendo seu rosto da vista, como
antes.
— Ei, amigo — Tucker chamou, bem-humorado. — Estávamos
conversando sobre o bastardo pervertido que você é.
Nenhuma resposta, apenas uma tensão em seus ombros.
— Não estávamos realmente — Ginny interrompeu rapidamente,
lançando a Tucker um olhar severo. — Você encontrou Roksana?
— Não, eu não encontrei —, ele murmurou por trás de seu colarinho. —
A pirralha imprudente.
A espinha de Ginny estalou com o xingamento infundado de sua
amiga. Sua única amiga, para ser exata. — Como você sabe que ela está sendo
imprudente?
Elias se virou ligeiramente, sem revelar o rosto. — Você a conheceu?
A ameaça na voz de Elias confundiu temporariamente seus pensamentos
- junto com a cerveja - e ela se viu dizendo, um tanto estupidamente: — Ela
mencionou você para mim.
Uma onda muito sutil passou por ele. — Ela mencionou.
Ginny assentiu, embora ele não estivesse olhando para ela. — De uma
forma afetuosa.
Elias voltou para a porta da frente com uma maldição.
Jonas agarrou a porta antes que pudesse fechar, seus olhos brilhando
com o verde e penetrando diretamente nela.
As luzes piscaram no apartamento, transformando a cerveja no estômago
de Ginny em lama azeda. Ele estava manipulando a eletricidade? Ou foi
apenas uma coincidência?
— Querido, não é o que parece —, gritou Tucker. — Nós pensamos em
você o tempo todo.
Jonas pousou a sacola de compras em sua mão e flexionou os dedos. —
Você não conseguiu seguir as instruções por quinze minutos?
— Ela me enganou.
— Quase não foi preciso esforço. — Ela olhou para a garrafa, surpresa ao
descobrir que estava vazia - e por que ela estava segurando duas delas? Espere,
não. Uma. Não duas. — Eu tenho que usar o banheiro agora.
Tucker riu. — Cerveja vai fazer isso com você.
— Isso é muito aconchegante — Jonas falou lentamente, embora sua
expressão fosse tensa e concentrada em Ginny. — De volta ao meu quarto, por
favor.
Ela pousou a garrafa de cerveja vazia na mesa de centro. — Se vou ficar
aqui por qualquer período de tempo, tenho que ter permissão para vagar
livremente.
— Ela quer ser uma humana livre, príncipe,— Tucker traduziu.
A mandíbula de Jonas estalou. — Falaremos sobre isso quando
estivermos sozinhos.
Um ding disparou em algum lugar do apartamento. Ginny girou em um
círculo, procurando pela fonte do som familiar. Levou uns bons quinze
segundos para perceber que vinha do celular ainda guardado no bolso do
vestido. Ela o usava tão raramente que tinha esquecido que estava lá, mas o
tirou agora e apertou o botão para abrir seu e-mail. — Oh! — A umidade
quente se acumulou em seus olhos. — Boas notícias! Temos um corpo sendo
levado ao necrotério amanhã.
— Ela é uma carcereira —, disse Tucker sem perder o ritmo.
Antes que Ginny pudesse responder, ela se viu sendo carregada pelo
corredor aninhada contra o peito de Jonas, movendo-se em algum lugar entre
uma caminhada tranquila e um trote. — Acho que devo agradecê-lo por não
me colocar algemas.
Ele diminuiu a velocidade fora de uma porta, medindo-a com um
olhar. — Explorou um pouco, não é?
— Mais como reunião de memória. Você não vai conseguir todas
elas. Será como jogar uma toupeira de golpe.
Com uma sobrancelha preocupada, ele abriu uma porta com o ombro e
acendeu a luz para revelar um banheiro pequeno, limpo e com ladrilhos
brancos. Sem espelhos, é claro. Ele a colocou no centro do chão, mas a manteve
perto. — Eu não queria fazer você se sentir uma prisioneira. — Seu estrabismo
tímido e caolho o tornava tão bonito que ela se aproximou por pura
necessidade. — Tecnicamente, você não deveria saber que estava trancada.
Você deveria estar dormindo.
— Lamento não poder cooperar.
— Não, você foi e deu uma festinha, não foi? — Ele traçou a linha do
cabelo dela com o polegar. — Estou sendo irracional, não estou? Isso é o oposto
de mim. Nunca tive dificuldade em controlar meus impulsos.
— Que impulsos você está tendo?
— Querendo cegar qualquer um que olhe para você — Jonas murmurou,
seu polegar viajando em círculos no oco de sua garganta agora. — Querer
ensurdecer quem te ouve falar, por isso serei o único a experimentar a música
da tua voz. Você sabe, impulsos normais e bem ajustados.
Ginny não conseguiu recuperar o fôlego o suficiente para rir. — Achei
que não poderíamos ficar juntos.
A expressão de Jonas brilhou com pesar, mas não era menos
possessiva. — Vou protegê-la enquanto você dorme e fazer ovos pela
manhã. Isso é o que eu sei. — Seus lábios roçaram sua testa. — Quando penso
muito no futuro, não consigo me concentrar na sua segurança. Apenas aqui e
agora.
— Aqui e agora apenas — ela repetiu. — Acho que essa é a nossa única
escolha. — O corpo de Jonas vibrou contra o dela, aqueles olhos verdes
brilhantes captando suas feições, as pontas dos dedos movendo-se em seu
rosto, pescoço, queixo. Mesmo preso em sua escravidão, porém, algo ocorreu
a ela. — Se você pode ouvir meu batimento cardíaco, provavelmente pode me
ouvir... Usando o banheiro feminino para a função pretendida... Em qualquer
lugar neste apartamento.
A sobrancelha de Jonas se ergueu. — Isso te incomoda?
— Eu acho que sim.
Sua risada era quente quando ele a empurrou suavemente em direção ao
banheiro. — Eu cuido de você.
Assim que a porta do banheiro se fechou atrás de Jonas, ela recolheu a
saia nas mãos e se sentou no vaso sanitário. Segundos depois, o metal pesado
retumbou da sala de estar e ela riu com as mãos em concha, finalmente
aliviando sua bexiga cheia.
Ele estava esperando no corredor quando ela emergiu, parecendo
pecaminosamente atraente com a cabeça ligeiramente inclinada para frente,
mechas de cabelo escuro roçando sua testa, a língua enfiada em sua
bochecha. Ele sinalizou pelo corredor para Tucker e a música foi cortada, então
ele inclinou a cabeça na direção de seu quarto. — Preparada?
Pode ter sido a cerveja, a situação estranha - ela estava vivendo entre
vampiros? - ou apenas o efeito Jonas, mas ela jurou que eles deslizaram para
dentro de seu quarto, do jeito que a seda pode se mover na água. Sem esforço
e sensualmente, seus dedos se roçando, cada olhar passado entre eles
aumentando o apego dos sentidos, a fome, a antecipação do desconhecido,
embora pudesse nunca acontecer.
A mão de Jonas deslizou em seu ombro, guiando-a para a beira da cama
e ela foi, apreciando a maneira como ele a viu aninhada em sua pilha de
suéteres e jaquetas, sua mandíbula cerrada deixando claro que ele queria se
juntar a ela, mas se conteve.
— Durma o máximo que puder, Ginny — ele murmurou. — Temos uma
longa noite amanhã.
— Boa noite. — Ela bocejou e viu seus olhos suavizarem. — Quero
dizer... Dia. Bom dia.
A última coisa que ela se lembrou antes de cair em um sono profundo foi
Jonas arrastando a única cadeira do quarto para o corredor e assumindo seu
posto.
Então ele fechou a porta sem tocá-la.
Ao chegar a P. Lynn na noite seguinte, Ginny abriu seu calendário digital
e seu queixo caiu quando um lembrete apareceu.
O aniversário de Ginny!
Amanhã?
Aparentemente, a data iminente havia sido esquecida entre os eventos
dramáticos dos últimos dias, mas amanhã ela faria 25 anos.
Com a idade de Jonas, porém, tecnicamente ele era muito mais velho.
Velho o suficiente para ser seu avô, na verdade.
Melhor não pensar muito.
Afinal, ela tinha trabalho a fazer. O convidado delas havia chegado
durante o dia e, felizmente, Larissa havia feito a papelada de admissão e
consultado a família sobre seus desejos. Agora, enquanto Ginny fazia a
lavagem química em Kristof, dono de uma loja de ferragens com uma
tatuagem de sereia no centro do peito, Jonas estava sentado próximo ao
necrotério lendo uma cópia esfarrapada de O Conde de Monte Cristo.
Ele estava lendo, entretanto?
Cada vez que ela olhava, ele parecia estar olhando para ela por cima da
capa preta e bege do livro. Também não houve muitos sons de virada de
página. Suas bochechas esquentaram quando ela o pegou novamente, antes
que seus olhos voltassem para o texto. Toda a metade posterior de seu corpo
estava viva agora, formigando e faiscando sob seu olhar. Seu foco estava em
noventa lugares ao mesmo tempo, quando precisava estar em Kristof.
Foco.
As funerárias costumavam ser vistas como frias e
clínicas. Arrepiantes. Mas havia uma arte na prática que a maioria das pessoas
desconhecia. Ou melhor, não queria conhecer. Ela foi ensinada por seu pai a
fazer amizade com o falecido. Para tentar entender quem eles foram e de onde
vieram. Agora que ela havia feito o enxágue químico e rompido a rigidez
cadavérica por meio de uma massagem cuidadosa no corpo, era hora de ajustar
as feições de seu convidado, já que o caixão seria aberto no momento de seu
despertar.
Cantarolando para si mesma, Ginny se inclinou e consultou a imagem
fornecida por uma família sentada em sua mesa de instrumentos. Nele, Kristof
tinha um braço apoiado na proa de um barco, a outra mão enfiada em uma
capa de chuva. Um dilúvio caía em torno dele sem ser notado. Kristof tinha
sido um homem estoico, ao que parecia. Não havia muitos sorrisos ou linhas
de riso ao redor de seu rosto e olhos, então não seria bom formar seus lábios
em um sorriso sutil, mas pacífico, como ela sempre fazia. Não, eles estariam
mandando um pescador obstinado e, além disso, isso seria o que Kristof
gostaria que os deixados para trás vissem. O verdadeiro ele.
Ginny estava apenas começando a se perder no cenário de suas feições
quando Larissa apareceu na porta do necrotério, segurando uma taça de
martini. — Oh, você está aqui. Bom. Eu não tinha certeza se estaria
administrando este lugar sozinha agora.
O mais discretamente possível, Ginny olhou por cima do ombro para ver
que Jonas não estava à vista. Ela não tinha sequer ouvido ele se
mover. Voltando-se para Larissa com contrição genuína, Ginny tirou as luvas
e colocou-se ao lado da cabeça de Kristof. — Sinto muito sobre a noite
passada. Espero que não tenha havido muito trabalho extra.
— Não. Não, deixei tudo para você. — Ela pressionou o polegar no
centro da testa. — Eu posso gerenciar meus próprios turnos sem assumir os
seus também. Quem é esse amigo com quem você estava desde a noite
passada?
— Alguém do meu clube de confecção de vestidos — Ginny disse, muito
rápido e pouco convincente. Apenas não adicione nenhuma informação
desnecessária. É um clássico dizer quando alguém está mentindo. — Ela é
morena. Franja. Ela tem franja... E adora uma linha A.
Larissa deu um gole em seu martini. — Hum.
Ginny traçou um círculo na mesa de metal com o dedo. — A questão é
que posso estar passando mais tempo com ela. Estamos trabalhando em um
projeto juntas... Para o leilão de vestidos que está chegando. Caso você esteja
se perguntando onde estou.
Sua madrasta gesticulou para Kristof com sua taça de martini. —
Suponho que vou lidar com as tarefas de anfitriã para o velório?
— Sim. Se você pudesse apenas desta vez. Vou ligar para a igreja e
marcar o motorista. Assim que terminar aqui, vou enviar os cartões de oração
para as impressoras.
— Flores?
— Chegando amanhã de manhã, a primeira coisa.
— Hum. — Ela esvaziou o copo. — Então é melhor eu ir para a cama. Eu
tenho outro dia deprimente pela frente, não tenho?
— Eu não sei — Ginny murmurou. — Há alguma felicidade a ser
encontrada em se reunir e compartilhar memórias, também, não é? Garantir
que esses momentos não morram com seus entes queridos. Reviver os tempos
em voz alta não precisa ser encorajado, é apenas uma reação humana. É lindo
de certa forma.
Nem um único membro da família permaneceu ao lado de seu pai. Sem
o lado da mãe para reforçar a lista de convidados do funeral, o
comparecimento foi muito escasso. Larissa tinha família na Flórida, mas ela
nunca os trouxe para uma visita, raramente falava deles e eles não estavam
presentes.
Estranhamente, acabou sendo o barbeiro de seu pai quem salvou o
dia. Sentado à esquerda de Ginny na primeira fila, ele a ouviu recontar
memórias de seu pai, até mesmo adicionando algumas das suas próprias. Até
o dia de seu funeral, Ginny não sabia que seu pai costumava ler epitáfios de
celebridades em voz alta na barbearia e comprar café para quem adivinhava
suas identidades corretamente.
Era totalmente mórbido, exatamente como ele e a história a fazia se sentir
em paz quando ela achava que nada poderia acontecer.
Ginny percebeu com um choque que, enquanto ela estava imersa em
pensamentos, Larissa havia parado na porta. — Você disse alguma coisa?
Ela balançou a cabeça. — Não foi nada. Durma bem.
— Oh! — A madrasta apontou com o queixo para o saguão. — Esqueci
de mencionar que Gordon está aqui para ver você.
As luzes do teto piscaram.
Ela engoliu em seco. — Oh. Você poderia avisá-lo que já sairei?
Larissa revirou os olhos e desapareceu de vista, deixando o cheiro do
perfume Dior em seu rastro. Ginny se virou e olhou para Jonas, esperando que
ele voltasse agora que Larissa havia partido, mas sua cadeira permaneceu
vazia.
Depois de tirar o avental de borracha sobre a cabeça, Ginny lavou as
mãos e caminhou até o saguão, que estava vazio, exceto por um Gordon
andando de um lado para o outro.
— Oi, Gordon. — Ginny parou a cerca de três metros de distância,
entrelaçando os dedos no colo. — Larissa disse que você queria me ver?
Ele coçou atrás da orelha. — Sim, mas podemos trabalhar no motivo?
— Certo. — Ela deu uma risada. — Estamos tendo um clima de outono
adorável, não é?
— Estamos. Eu finalmente tirei os suéteres de inverno. — Ele gesticulou
para o suéter de lã com nervuras que usava. — Pode ter sido um erro, porque
estou definitivamente suando e a transpiração definitivamente não combina
bem com lã... Em termos de odor. — Finalmente, ele parou de andar. — Por
que estou lhe contando isso?
— Nenhum julgamento aqui. Eu cheiro um pouco a fluido de
embalsamamento.
Um sorriso sonhador quebrou no rosto de Gordon. — Você é tão
gentil. Quase ninguém é mais gentil. — Ele puxou a gola da camisola. — E eu
acho que você cheira incrível.
Mais uma vez, as luzes piscaram, escurecendo a sala, antes de iluminá-la
ao extremo e deixá-la como uma gigantesca máquina de raios-x brilhante.
Ginny riu nervosamente.
— Há algo errado com a fiação? — Gordon girou em um círculo
observador. — Eu tenho um tio que poderia dar uma olhada.
— Isso não será necessário, mas obrigada.
Na verdade, ela estava ficando meio irritada com a ousadia da parte de
Jonas em mexer em sua eletricidade, o que ela estava rapidamente começando
a suspeitar que se traduzia em um acesso de ciúme.
Se ele queria tanto Ginny, tinha um jeito engraçado de demonstrar,
considerando que planejava fugir com as lembranças dela e seguir em frente,
assim que ela estivesse livre do perigo. Uma vez que ela não conhecesse Jonas,
ela poderia escolher namorar e não havia nada que ele pudesse fazer sobre
isso. Nada que ele faria a respeito. Essas palhaçadas bruxuleantes eram um
exemplo clássico de não querer alguém, mas também de não querer
que ninguém os tivesse?
Talvez os homens fossem iguais, humanos ou vampiros.
Ginny cruzou os braços e olhou para uma arandela trêmula.
Irritado ou não, talvez fosse melhor tirar Gordon do caminho do perigo.
— Gordon, estou tão feliz por você ter passado por aqui, mas estou no
meio de um embalsamamento...
— Seu aniversário é amanhã —, ele deixou escapar, interrompendo-a. —
Eu… Isso é tão constrangedor, mas você tem um perfil no Facebook e nunca
posta lá. Ou quase nada.— Ele soltou um suspiro. — Mas tem uma foto
borrada de você e sua data de nascimento, então foi assim que eu soube. Eu
não contratei um investigador ou... Qualquer coisa assim.
— Claro que não.
— Estou apenas explicando como eu sabia. — Ele murmurou por um
momento sob sua respiração sobre soar como um psicopata. — Longa história
curta. Vim ver se, hum... Você tem planos para o seu aniversário?
A porta da frente da P. Lynn se abriu, permitindo uma forte rajada de
vento carregando folhas, Metrocards abandonados e umidade sabe Deus de
onde. Ginny saltou para fora da linha de fogo, levando Gordon com ela. —
Uau — ela chamou por cima do barulho. — O tempo realmente mudou. Você
deve chegar em casa antes que piore.
— Sim — Gordon se esquivou. — Sobre o seu aniversário...
A porta bateu com força e, uma a uma, as tomadas de luz começaram a
explodir no saguão, pop pop pop.
— Gordon, você precisa ir — ela pediu, empurrando-o em direção à
porta.
— De jeito nenhum, Ginny — ele balbuciou. — E-eu não posso deixar
você aqui. Não é seguro.
A porta da frente de P. Lynn abriu uma última vez e o corpo de Gordon
se moveu para trás, aparentemente por conta própria - embora, Ginny
soubesse a razão - e em segundos, ele estava na escada da casa funerária, a
porta se fechando em sua expressão atordoada.
— Jonas Cantrell — ela engasgou, procurando o saguão escuro por sua
figura e não encontrando nada na escuridão. — Espero que você planeje limpar
essa bagunça e substituir essas luzes. O velório de Kristof é pela manhã...
Os pés de Ginny foram varridos por baixo dela e então ela estava de
bruços, jogada sobre o ombro agora familiar de Jonas. — Ela fala comigo
de luzes — ele rosnou.
Por mais descoordenados que seus movimentos possam ter sido, ela
tentou lutar para se livrar de seu ombro e talvez pela primeira vez, ela percebeu
o quão verdadeiramente, desumanamente forte Jonas era. Fazer o esforço para
quebrar seu aperto a deixou sem fôlego em segundos. — Para onde você está
me levando? — ela perguntou, ouvindo atentamente seus passos nítidos para
determinar se eles estavam em madeira ou carpete. — Você deve ter
mencionado de antemão que pode mover objetos e explodir coisas.
Sem resposta.
Uma porta se fechou com força.
O mundo de Ginny virou do lado certo novamente, seu traseiro
pousando em algo duro e ela piscou na escuridão. Ela sentiu a madeira sob a
ponta dos dedos e teria reconhecido a mesa do escritório mesmo se a luz da
lâmpada não brilhasse à sua esquerda. Jonas estava diante dela com um
semblante frio e indecifrável, obviamente tendo acendido a luz sem o uso das
mãos.
E ela queria respostas.
— Você só... fez tudo isso —, foi tudo o que ela conseguiu dizer.
Esforço admirável, Ginny.
Jonas agarrou a borda da mesa, as mãos em cada lado de suas coxas. —
Você está interessada nessa criança?
— Oh, não estou respondendo a isso.
— Por que não?
— Vários motivos, o primeiro deles é como você expressou isso. Gordon
tem a mesma idade que eu, mas isso não vem ao caso. Você quis ser
condescendente. — Ela se inclinou perto o suficiente para contar as centelhas
verdes individuais em seus olhos. Quatorze. — Pelo menos ele não causou
estragos no meu saguão.
— Foi involuntário —, disse ele entre dentes. — Essas habilidades
geralmente são ativadas em um vampiro quando ele ou ela passa por algo
angustiante. Cada vez mais. E você, amor, definitivamente se encaixa nessa
descrição.
— Eu sou angustiante?
— Sua segurança sendo comprometida é angustiante. Assim como outro
homem querendo te levar para um aniversário. Ou ouvi-lo elogiar seu
perfume. Angustiante.
Ginny ergueu o queixo. — Ele estava apenas sendo legal.
— Sim, os homens geralmente procuram mulheres no Facebook e coisas
do gênero porque planejam ser legais. Eu podia ouvir o pulso dele, lembra?
O que lembrou Ginny, Jonas podia ouvir a dela agora também. Podia
ouvi-lo correndo como se ela tivesse corrido para casa novamente da Belt
Parkway. Pena que ela pouco pudesse fazer a respeito. — Talvez ele goste de
mim. Isso é bom, não é? Terei outros cinquenta a setenta anos restantes nesta
terra, uma vez que você se livrar de mim. — Ela ignorou seu olhar de
advertência. — Quem sabe? Posso até namorar uma ou duas vezes.
Um som de corte rasgou o ar.
As presas de Jonas estavam para fora.
Os ouvidos de Ginny começaram a zumbir e ela ficou paralisada, incapaz
de se mover. Ela estava quase hipnotizada ao vê-las. A nitidez, a maneira como
a luz da lâmpada lhes dava um brilho quase lindo. A madeira rangeu embaixo
dela, um sinal revelador de que o aperto de Jonas estava forte a ponto de quase
quebrar a mesa. Seu instinto de luta ou fuga acelerou como um motor, mas seu
bom senso lhe disse que seria inútil correr quando Jonas pudesse quebrar a
barreira do som.
E talvez estupidamente, ela ainda acreditava firmemente que ele
colocaria uma estaca em seu próprio coração antes de machucá-la.
Como ela podia acreditar nisso com tanta insistência?
— Sinto muito —, disse ele com voz rouca, nojo de si mesmo passando
por suas feições. — Eu pensei que essa parte animal de mim estivesse morta
há muito tempo, mas não está, Ginny. Cada vez que penso que estou
controlando minha necessidade de...
— De quê?
— Possuir você — ele rosnou, deixando cair a boca aberta em seu pescoço,
as mãos deslizando sob seus joelhos e puxando-a para mais perto. — Cada vez
que faço isso, provo que estou terrivelmente errado. Quase me enganei ao
acreditar que era quase humano. Então eu te encontro, eu sinto seu cheiro e me
lembro que sou uma besta. O homem sabe que não pode e não deve ter você,
mas o animal se recusa a compartilhar.
Oh uau. — Não é compartilhar se você não... Comeu ainda — ela
sussurrou, mal conseguindo evitar que seu pescoço perdesse o poder na
presença de tal sensualidade honesta. Me morda, ela queria dizer. Quão ruim
poderia ser se isso lhe desse tanto prazer?
Sem aviso, Jonas a puxou para a borda mais nua da mesa, acomodando
sua parte interna das coxas em seus quadris. — Compartilhar — ele repetiu,
inalando contra seu pescoço. — Você tem alguma ideia do que isso significa?
O espesso cume pressionando entre suas pernas deu-lhe uma ideia. Mas
foi só isso. Uma ideia. Ela nunca tinha estado com um homem e conhecia
apenas a mecânica do que acontecia na cama. Estar com um
vampiro? Ela não sabia de nada disso.
Era mesmo fisicamente seguro, considerando que ele era muito mais
forte?
Quanto a bebida influenciaria?
Por que ela teve uma sensação quase tonta quando pensou nele usando
suas presas nela? Sustentando-se com o sangue vital que corria em suas veias?
— Seu entusiasmo está tornando muito difícil conseguir o controle de
mim mesmo.
— Uhm, sim — ela sussurrou. — Na verdade, estou um pouco
preocupada que o que todos acreditam sobre mim seja verdade.
Jonas ergueu a cabeça e a imobilizou com preocupação. — E o que todos
acreditam sobre você?
— Que estou muito confortável com morte, sangue e coisas esquisitas.
Ele fez um som divertido. — Eu sou uma coisa esquisita?
— Não — ela murmurou, incapaz de mentir enquanto olhava em seus
olhos. — Você é uma coisa linda. Quando você não está danificando minha
propriedade.
Suas presas cortaram de volta, seguidas por uma pausa triste. — Como
posso querer devorar você em um momento e embalá-la em meus braços no
outro? — Resumidamente, ele olhou para baixo. — Eu não deveria te
perguntar isso, mas estou começando a sentir que já estou em um riacho de
merda sem um remo. — Uma batida passou. — Você está preocupada porque
a ideia de eu ter você - toda você - corpo e sangue... Te excita?
— Sim.
As narinas de Jonas dilataram-se e ele demorou muito para falar
novamente. — Cada coisa sobre você é perfeita, natural e certa. Nunca
questione isso.
— Você é um adulador, além de ser um destruidor de propriedades.
Jonas prendeu uma mecha de seu cabelo entre os dedos e a estudou. —
Termine com Kristof enquanto eu conserto o dano. — A inquietação parecia
tomar conta dele. — Temos outra parada antes do nascer do sol.
Tucker os pegou do lado de fora da entrada dos fundos da P. Lynn, os
dois vampiros a flanqueando e examinando os telhados iluminados pela lua
enquanto a empurravam para o banco de trás. Ela já estava nervosa só de saber
que algum ser de outro mundo a queria morta, mas a natureza superprotetora
de Tucker e Jonas realmente trouxe isso para outro nível.
Alguém me quer morta.
Eles poderiam fazer isso e ela talvez nunca soubesse o motivo.
Claro, eles não podiam matá-la imediatamente, mas o melhor cenário era
cair em um local perigoso e ser obrigada a usar sua inteligência para sobreviver
- e esse não era o melhor caso de qualquer forma. Era assustador.
Jonas deve ter percebido que ela estava assustada, porque ele a puxou
para seu lado e a balançou suavemente, sua boca passando sobre seu
cabelo. Eles andaram em silêncio por um momento, antes de Jonas suspirar e
tirar a venda do bolso, amarrando-a sobre os olhos dela.
— Para sua proteção — ele murmurou perto de sua orelha.
Ginny não respondeu.
Para ser honesta, ela acreditou nele desta vez. Havia uma tensão
incomum entre Jonas e Tucker, uma quietude quase predatória, como se eles
estivessem se preparando para uma batalha que se aproximava. Uma batalha
em seu nome.
E se algo acontecesse com eles enquanto a protegiam?
O carro parou, interrompendo sua preocupação e tensionando seus
músculos. A porta do lado do passageiro da frente se abriu, o veículo cedeu
sob o peso de um quarto ocupante.
— Elias —, Jonas cumprimentou o recém-chegado, antes de baixar a voz
para se dirigir a ela. — Eu não tenho escolha a não ser lavá-la comigo esta noite,
mas você estará protegida. Você sabe disso, certo? Não há nada a temer.
O pulso de Ginny disparou. — Onde estamos indo?
— Tenho uma reunião com um recém-silenciado.
— Oh. — Ela se mexeu no banco. — Certo.
— Você vai ficar bem, Ginny — Tucker chamou do banco da frente. —
Você tem três filhos da puta ruins como guarda-costas.
— Poderia ter sido quatro guarda-costas se Jonas não tivesse afugentado
a assassina.
— Ela foi jogada no meio de uma rodovia movimentada — Jonas
respondeu laconicamente. — Eu falei apenas a verdade.
Elias não respondeu por um segundo. — Se ela saiu meio armada para
se vingar de quem quer que tenha feito isso, vou colocá-la sobre os meus
joelhos.
— O que eu lhe disse? — Tucker falou lentamente. — Excêntrica como
ela é.
— Ela vai voltar —, Jonas suspirou. — Ela nunca fica longe por muito
tempo.
Ginny tinha a nítida sensação de que Roksana voltaria graças à óbvia
conexão entre ela e Elias, mas agora não parecia ser o momento de mencioná-
la. Talvez nunca houvesse um bom momento, realmente, já que ela achava
Elias extremamente intimidante e ela nunca tinha visto seu rosto. — Como os
recém-silenciados sabem que podem vir até você, Jonas?
— Ele é altamente recomendado em um site de vampiros. — Disse
Tucker.
— Sério? — Ginny engasgou. — Isso está na dark web ou algo assim?
— Ele está brincando —, disse Jonas - e ela o sentiu batendo na parte de
trás do encosto de cabeça de Tucker. — Os novatos são fáceis de
identificar. Muitas vezes, um de nossos conhecidos nos coloca em
contato. Desta vez, Elias aconteceu de... Tropeçar nele enquanto ele estava
procurando por Roksana.
— Ele estava se banqueteando com um pombo sob o calçadão —, disse
Elias. — Barulhento.
O queixo de Ginny caiu. — Pobre pombinho. — Ela se virou no aperto
protetor de Jonas. — Você disse que conhecidos às vezes colocam você em
contato. Exatamente quantos vampiros existem na área?
Nenhum deles respondeu.
— Uau. Tantos, hein?
Jonas passou o polegar nas costas da mão dela. — Eles podem ser um
pouco... Turbulentos, então farei com que você fique no carro. É um pouco
confuso para eles no início.
— Sim —, concorda Tucker. — De repente, você está pegando fogo no
seu caminho para pegar o jornal e sua cerveja da manhã tem gosto de mijo.
— Sim, a experiência quintessencial —, disse Elias secamente. — Eu
suponho que estamos esperando no carro com a humana? Afinal, não seria
sábio para um vampiro fora de nosso círculo imediato saber que estamos
confraternizando com ela. Essa informação pode ser usada contra nós com a
Alta Ordem.
Os segundos se passaram. — Estou achando difícil tê-la fora da minha
vista — Jonas disse de forma distinta.
Tucker assobiou por entre os dentes.
Elias não disse nada, mas Ginny podia sentir seu... Pavor, talvez?
Ela não conseguia se relacionar. Talvez ela devesse estar sentindo medo,
mas a admissão de Jonas só a fez se sentir leve e agitada como um beija-flor. —
Eu também não gosto de ter você fora da minha vista — ela sussurrou.
— Bem, é uma coisa boa que ela se esqueça de você em breve. — O banco
do passageiro da frente rangeu. — Não é, Jonas?
— Chegamos —, disse Jonas abruptamente. — Se algum mal acontecer a
ela...
— Tem minha palavra, ela ainda será tão fofa quanto um botão quando
você voltar —, Tucker falou por cima do ombro.
— Não consigo entender por que você continua fazendo essas reuniões
clandestinas —, Elias reclamou. — Os recém-silenciados não são de sua
responsabilidade.
— Alguém tem que assumir a responsabilidade por eles — Jonas disse
calmamente. — Do contrário, o ciclo continua. Pessoas inocentes são
transformadas. Sem qualquer orientação oficial ou a quem recorrer, eles
matam um humano em uma sede de sangue cega e são condenados à morte
pela Alta Ordem.
— Como temos dito a você há anos — Tucker começou, parecendo sério
pela primeira vez. — Você é o único em posição de desafiar o Rei...
— Basta.
O silêncio caiu como uma cortina no carro. Depois de um momento, ela
sentiu a palma da mão de Jonas deslizar sobre sua bochecha e se inclinou
avidamente. — Ficarei muito chateada se algo acontecer com você tão perto do
meu aniversário —, disse ela.
— Minha única preocupação é com você, amor — ele murmurou, seus
lábios roçando sua boca. — Deixe a venda e fique parada, não importa o que
você ouça.
Ginny não concordou em voz alta porque não queria ser pega mentindo,
graças a um pulso instável. Então ela cruzou os dedos nas dobras da saia.

Sem o som de sua respiração, Jonas ficou instantaneamente vazio.


As fibras que permaneceram funcionando em seus braços e pescoço se
torceram como barbante em torno de um taco de beisebol quanto mais ele se
afastava do Impala contendo Ginny. Ele só deu dois passos antes de se virar
para lembrar a si mesmo que ela estava segura e inteira. Embora, Cristo,
olhasse para ela pela janela traseira. Em sua venda, ela parecia uma vítima de
sequestro.
O lado de sua boca puxou. Não havia nenhuma maneira no inferno que
ela manteria aquela venda por muito mais tempo. Essa lembrança de seu
espírito deu-lhe paz e o devastou ao mesmo tempo. Ele não conseguia parar
de memorizar cada faceta de sua personalidade, mesmo que elas, sem dúvida,
o assombrassem para sempre.
Deixe-a segura antes de se tornar uma praga em sua vida.
Ele iria.
Essa era sua missão e ele precisava voltar a pensar nisso
imediatamente. Precisava parar de ansiar por algo que não poderia ter, como
algum tipo de jovem imaturo. Um relacionamento entre eles não poderia
existir.
Não poderia existir.
Claro, esse lembrete não o impediu de se virar para ver como ela estava
mais três vezes antes de chegar à porta dos fundos do estabelecimento. Ela já
estava ficando impaciente. Sem ver suas mãos, ele sabia que seus dedos
brincavam com a bainha do vestido, escolhendo uma seção do tecido para
esfregar em seu joelho. Jonas sabia porque toda vez que ela executava o hábito
adorável, o deixava louco com a necessidade de afastar o material e beijar a
pele esfolada.
Ou possivelmente ajeitar os joelhos dela de forma que ficassem
abraçando a cintura dele e, portanto, ela não seria capaz de alcançá-los.
Ele estava olhando para o carro novamente. Em seus lábios entreabertos
e seus cabelos ruivos despenteados pelo vento, o suave subir e descer de seus
seios. Era um crime cobrir aqueles olhos castanhos ingênuos mesmo por um
segundo. Eles eram o epicentro da vida, do espírito e da esperança.
Linda, linda garota.
Mesmo a esta distância, o cheiro de seu sangue pairava no fundo de sua
garganta. Uma sede como qualquer outra que plantou raízes tão profundas
que permaneceriam muito depois que ele fizesse o que precisava ser feito -
deixá-la em paz.
Como vou fazer isso?
Ele mal conseguia atravessar o beco até a porta, muito menos mover-se
para um novo lugar onde ela estaria fora de seu alcance. Livre para namorar,
livre para casar...
Jonas quase arrancou a porta da entrada de Haven. Desde que conheceu
Ginny, ele se perguntava frequentemente se uma certa quantidade de sangue
ainda corria em suas veias, porque as passagens estreitas que cruzavam seu
corpo tinham a capacidade de derreter, como se ele tivesse engolido prata
liquefeita. A imagem de uma mão sobre a pele dela que não era dele
desencadeou um enxame de gafanhotos em seus ouvidos, peito, estômago, o
desejo de matar colocando o gosto de podridão em sua boca.
Ele trabalhou tão duro para se livrar da violência inerente aos
vampiros. Mas parecia vir como parte integrante com a alegria desenfreada
que Ginny o fazia sentir. Ele poderia vacilar entre os dois em um estalar de
dedos. Sentir tanto, tão imensamente, era viciante. Ela era viciante.
E carinhosamente gentil. Engraçada. Linda. Sonhadora. Corajosa,
embora um pouco triste.
Suave. A pele de seu pescoço era tão lisa e quente.
Ele vibrou com um toque mais insistente quando ela disse o nome dele.
Jonas parou na entrada de Haven e agarrou sua garganta, ordenando que
sua sede por Ginny voltasse ao controle.
Quem ele estava enganando? Nunca estaria sob controle. Ela o
atravessou agora como um jaguar com um veado em sua mira, descobrindo
Jonas e estrangulando sua garganta, queimando seus olhos e fazendo suas
mãos tremerem.
Foco. Você precisa se concentrar.
Jonas chamou sua determinação, rolando um ombro para trás e
avançando para Haven. A pequena taverna fora assim chamada por Jonas
porque era isso que este lugar representava. Um lugar para se reunir sem
julgamento ou medo. Um lugar para discutir recursos para sua espécie e criar
sistemas de apoio. A missão que Jonas havia designado para si mesmo deveria
ser responsabilidade da Alta Ordem, mas eles optaram por deixar sua
população administrar sozinha - até que chegasse a hora de punir. Eles
certamente amavam esse aspecto de estar no poder, mas se recusavam a fazer
qualquer trabalho árduo que seria necessário para evitar executar os seus
próprios ou mesmo ajudar os Silenciados a encontrar alguma aparência de paz.
Jonas não havia retornado a Haven desde a sua abertura uma década
antes, pois ele estava viajando, encontrando e ajudando tantos os Recém-
Silenciados quanto podia, mas desde que voltou para Coney Island, ele fez
muitas paradas lá.
Muitas.
Ele parou dentro da pequena sala de jantar mal iluminada e acenou com
a cabeça para o gerente, que imediatamente foi para trás do bar para pegar
sangue para Jonas. Como se ele pudesse se divertir. Agora tudo tinha gosto de
refugo.
Jonas se sentou junto à parede e reprimiu a vontade de voltar ao beco,
dar uma última olhada em Ginny. Lembrar Tucker e Elias que ele os queimaria
vivos se um fio de cabelo de sua cabeça estivesse fora do lugar quando ele
voltasse.
Sua mão flexionou sobre a mesa, desejando a suavidade de sua pele.
Fique onde está.
Jonas alcançou profundamente e se centrou, examinando o bar. Haven
consistia em oito mesas e todas estavam ocupadas agora. O silêncio desceu
como pano assim que ele entrou e agora, um por um, os vampiros presentes
colocaram as mãos sobre seus corações mortos. Jurando fidelidade a Jonas que
ele não pediu, nem esperava. Ele apenas estava feliz que eles sabiam que ele
estava lá para ajudar, não intimidar ou fazer desta vida ainda mais difícil.
A Alta Ordem fez mais do que o suficiente para todos.
Uma cadeira arrastou-se para trás e um jovem se levantou, girando um
boné nas mãos. Vários dos vampiros deram tapinhas nas costas dele enquanto
ele cruzava a taverna em direção a Jonas. Pouco antes de se sentar no lado
oposto da mesa, Jonas notou que uma de suas pernas era uma prótese, embora
mancasse o mínimo possível.
— Olá. — Ele assentiu. — Eu sou Jonas.
— Dobby — disse o vampiro, pendurando seu boné na parte de trás da
cadeira. — Eles disseram que você poderia ajudar, mas eu tenho que ser
honesto, homem, não tenho certeza que algo vai ajudar. Eu já estive neste lugar
toda a minha vida e sempre parecia que está em construção. Agora eu estou
aqui bebendo sangue.— Ele engasgou com a respiração. — Eu acho que ele
bate pombos.
— Sinto que isso aconteceu com você —, disse Jonas, vivamente. — Vou
sugerir alguns próximos passos e então eu vou responder a quaisquer
perguntas que você pode ter.
Sempre havia o desejo de se lamentar com os recém-silenciados, de
compartilhar sua própria experiência confusa, mas Jonas nunca se permitiu
fazê-lo. Eles estavam em um mundo mais sombrio e cruel agora e dar-lhes um
ombro para chorar só lhes dava falsas expectativas sobre a vida. Era difícil,
solitário e eterno.
Sua mente voltou para Ginny no carro e ele podia sentir a marca do corpo
dela pressionado ao seu lado, tão confiante. Deus, mas ela tornou a vida muito
menos solitária.
Não posso tê-la.
Jonas enfiou a mão vacilante em seu casaco e tirou uma bolsa de couro,
colocando-a sobre a mesa e deslizando-a em direção a Dobby.
— Existem três regras que você deve obedecer, se quiser continuar
vivendo.
Dobby olhou para seu peito morto. — Isso é viver?
O gerente colocou um copo cheio de sangue na frente de Jonas e
enquanto agradecia ao vampiro, ele não fez nenhum movimento para pegá-lo,
embora um gole pudesse tê-lo ajudado a engolir o desejo de se desculpar com
Dobby pelo que estava passando. Contar a ele enquanto não ficava mais fácil,
poderia se tornar intencional.
— Regra um: Sem relacionamentos com humanos. Dois: não beba de
humanos. Três: Não mate humanos. Quebre uma delas, você corre o risco de
quebrar todas as três. Quebre-as e a Alta Ordem será alertada para distribuir
sua punição.
Dobby enterrou a cabeça nas mãos.
Jonas fechou os olhos brevemente, brutalmente consciente de sua própria
hipocrisia, já que ele tinha um ser humano esperando por ele no corredor, nem
a cem jardas de onde ele estava sentado. Mais uma razão para vê-la segura e
afastar-se de sua órbita perfeita. — Você precisa deixar a cidade o mais rápido
possível, eu temo. Inicialmente, ficando em torno de seus entes queridos pode
parecer administrável, mas você também vai se cansar de ter apenas sua sede
meio saciada e beber deles. Ou você vai se convencer de que você está fazendo
um favor, silenciando-os, também, a forma como alguém fez para você. Não é
um favor. A vida eterna pode parecer atraente, mas é...
— Assustador.
— Isso é para dizer o mínimo. — Especialmente quando ele não podia
estar com quem ele precisava além da medida. — Há uma sensação constante
de retrocesso quando você acorda, repetidamente, mas nunca envelhece.
Nunca cessa ou... — Percebendo que tinha saído do caminho, Jonas alcançou o
outro lado da mesa e bateu na bolsa de couro. — Há dinheiro suficiente aqui
para você começar. Incluí informações de contato de várias cidades nos EUA e
no México.
— Tem que ser uma cidade? — Dobby perguntou rigidamente.
— É mais fácil se misturar. — Jonas gesticulou para o interior de
Haven. — Em cada uma dessas cidades, estabeleci um lugar como este. Você
pode consultar os gerentes sobre as fontes de sangue locais e perguntar sobre
as vagas de emprego. Não se arrisque com o sol e não se precipite se houver
chance de ser visto. E somos vistos em todos os lugares agora, o tempo todo,
então, novamente, não corra riscos.
Dobby olhou fixamente para a mesa. — Por que não quebrar as regras e
deixar a Alta Ordem acabar com isso? Por que viver neste ciclo miserável e sem
fim?
— Eu não tenho uma resposta para isso. Certamente muitos seguiram
esse caminho.
Ele considerou a si mesmo muitas vezes, após o desaparecimento de sua
companheira, a morte de seus pais. A única coisa que o impediu foi saber que
ninguém ficaria para trás para ajudar os Dobbys do mundo. E agora? Agora
Jonas não tinha certeza se poderia cortejar a morte sabendo que Ginny estava
viva e respirando em algum lugar. Viver em um mundo onde ela existia
tornava a escuridão suportável e insuportável ao mesmo tempo.
— Como isso pode ser permitido? — Dobby resmungou, pegando o copo
de sangue de Jonas e drenando-o, surpreendendo uma risada baixa de
Jonas. — Como a Alta Ordem pode nos punir por beber de humanos, mas não
pune que os silenciados também?
A raiva familiarizado feita mandíbula de Jonas apertar. — Para garantir
a nossa existência continuada —, ele rosnou. — Silenciando um ser humano
nem sempre funciona, mas o desejo... Ele está sempre lá dentro de nós. Muitas
vezes, um novo vampiro não pode ajudar a si mesmo e a sede recai sobre o
silenciado de uma maneira imprudente, levando a seres humanos mortos e os
vampiros deixados para enfrentar o castigo. Muito mais os seres humanos são
silenciados, no entanto, que os vampiros extintos, levando a um maior número
de nossa espécie. Números que aprendem através do exemplo a temer a Alta
Ordem. Suas regras contraditórias levaram a nada, mas um fodido ciclo, e eu
sinto muito... — Jonas empurrou para trás da mesa, irritado consigo mesmo
por sair personagem. — Lamento que isso tenha acontecido com você.
— Obrigado —, disse Dobby, colocando a mão na bolsa, visivelmente
desconfortável por mostrar gratidão. — Eu não tenho certeza... O que eu teria
feito sem você.
Jonas acenou com a cabeça. — Não é nada. — Ele hesitou antes de se
levantar. — Quem foi que te silenciou?
— Não sei —, sussurrou Dobby. — Não me lembro de nada depois de
voltar do meu turno para casa na lanchonete.
Em outras palavras, suas memórias foram apagadas.
Reprimindo um segundo pedido de desculpas - aparentemente a
natureza doce e sincera de Ginny estava passando para ele - Jonas se levantou
e encarou a taverna, esperando que todos lhe dessem atenção. A maioria dos
rostos que ele reconheceu, se não de recentemente, então da última vez que
esteve em Nova York. Alguns deles pareciam ter se saído bem, outros estavam
carrancudos, seus olhares vazios e fixos em nada. Com o estômago pesado, ele
se perguntou quantos moradores foram extintos pela Alta Ordem por quebrar
as regras, seus assentos agora vagos.
— Preciso saber se alguém entrou em contato com alguém novo na
cidade —, disse ele, em voz clara, observando as reações. — Um Ancião.
Os murmúrios começaram, junto com alguma mudança nervosa.
Afinal, não havia regra contra matar uns aos outros e ninguém em Haven
era páreo para um vampiro com as habilidades que um Ancião
possuía. Habilidades que foram adquiridas ao passar por situações de alto
estresse, repetidas vezes, ano após ano. Guerras, batalhas de rua, mortes de
queridos entes humanos, perda de uma companheira de vampiro. Cada um
deles aumentava o estoque de energia dentro do ser, culminando como um
campo de força pronto para ser liberado a qualquer momento.
Em sua vigilância da sala, Jonas notou apenas um vampiro presente que
não pareceu surpreso com sua pergunta.
O vampiro esperou até que Jonas fizesse contato visual, então ele lenta e
significativamente olhou para o teto.
Um baque forte no alto fez Jonas recuar o mais rápido possível para o
beco.

A pele de Ginny parecia coberta de gelo sem Jonas no carro. Momentos


atrás, ela estava segura e contente em seu abraço, agora ela estava sentada
tremendo no fundo de um poço. Desesperada por uma distração, ela ouviu
atentamente qualquer coisa além de sua própria respiração e o tamborilar dos
dedos de Tucker no volante.
Pelo menos dez minutos se passaram quando uma porta se abriu e
fechou do lado de fora do carro, depois nada, exceto o som da água pingando,
o zumbido distante do tráfego, um avião voando acima. Tucker ligou o rádio
e Elias desligou, levando a uma discussão. As mães foram insultadas de forma
bastante ofensiva.
Jonas tinha saído há cerca de vinte minutos quando uma porta se abriu e
fechou com um rangido. Ela desejava arrancar a venda e ver se Jonas se
aproximava - para não mencionar onde ele estava, mas ela forçou suas mãos a
permanecerem ao seu lado.
Em um piscar de olhos, a energia do carro mudou.
Ginny sentiu e se inclinou para frente.
— O que diabos está acontecendo? — Elias rosnou.
Ela arrancou a venda, piscando duas vezes sob o brilho de um poste de
luz, antes de abrir caminho em direção à porta por onde Jonas havia saído,
pressionando a testa contra o vidro frio.
Lá em um beco iluminado pela lua estava Jonas.
Outro vampiro se juntou a ele. Pelo menos, essa era uma maneira de
colocar as coisas.
Ela estava sonhando? Ela tinha que estar. De jeito nenhum um dos seres
mais terríveis que Ginny já vira estava flutuando do telhado do prédio. Como se
ele estivesse amarrado a um arnês invisível. A pele da garganta e das mãos era
de um branco azulado e raiada de veias, embora a maior parte dele estivesse
escondida sob um chapéu de aba larga e capa de chuva. Uma trança cinza de
cabelo penteada de um lado para o outro em suas costas, lembrando Ginny de
um metrônomo. Ele se movia em um ritmo calmo, a expressão presunçosa.
Jonas permaneceu totalmente imóvel e o observou pousar.
— Sempre o príncipe imperturbável —, murmurou Tucker. — Devíamos
sair daqui.
— Espere —, disse Elias. — Nós esperamos. Pode ser um movimento
para nos afastar dela.
Um arrepio percorreu a espinha de Ginny. — Vocês acham que esse é o
vampiro poderoso que está me movendo durante o sono.
— A questão é: por quê? — Perguntou Tucker. — Apenas para fazer
cumprir a regra sobre relacionamentos humanos-vampiros ou há outra
razão? Tudo é possível.
Tucker poderia dizer isso novamente. Havia tantas possibilidades neste
mundo em que ela vivia agora. Ela foi abaixada na parte de trás de um carro,
vampiros bons protegendo-a de outros vampiros do mal. E por quê? Ela não
tinha ideia. Mas a vida que ela conhecera parecia nada mais do que um prólogo
desinformado.
— Permaneça abaixada, Ginny — Tucker instruiu.
Ela obedeceu, mas lentamente voltou a subir para observar a ação, a voz
de Jonas alcançando seus ouvidos através da janela, abafada, mas afiada. Real.
— Presumo que não seja um encontro acidental. O que você quer de
mim?
O vampiro sorriu para revelar uma fileira de dentes longos e afiados. —
Seymour Blithe ao seu serviço. — Ele inclinou a cabeça para a direita. — Você
gostou de ter a perda de um ente querido balançando na sua frente como uma
cenoura?
Dizer que Jonas se irritou seria um eufemismo. Seus músculos pareceram
se expandir e lançar sombras maiores, e mesmo através da janela do carro,
Ginny podia ouvir o corte de suas presas descendo. — Você tentou matar
Ginny — ele murmurou, sua voz nada mais do que uma onda ondulante de
violência.
— Eu meramente apontei a humana dispensável na direção de sua morte.
— Por quê? — Jonas gritou.
— Nós realmente precisamos sair e ajudar —, retrucou Tucker.
Elias fez um som de desacordo. — Ele não terá chance de derrotar um ser
tão poderoso a menos que a esteja protegendo. Nós ficamos.
— Eu sou a motivação? — Ginny pressionou as mãos no vidro, doendo
para abrir a porta e gritar para Jonas voltar para dentro. — Certo. Bom. Eu não
iria embora de qualquer maneira, por favor, vão ajudar...
Antes que ela pudesse terminar, Seymour sacudiu um pulso e enviou
Jonas como uma catapulta para a extremidade oposta do beco. Ginny engoliu
um grito ao ver seu corpo forte se chocando contra uma fileira de latas de
lixo. Antes que ela pudesse respirar novamente, ele estava de pé, um tom de
verde mais escuro do que o habitual em seus olhos. Sua mandíbula estava
apertada o suficiente para quebrar - e quase o fez quando Seymour cortou o ar
com a mão e a cabeça de Jonas foi para trás como se tivesse levado um soco,
fazendo-o tropeçar.
— Façam alguma coisa — Ginny implorou.
Elias se inclinou para a frente no banco do passageiro. — Espere por isso.
Na verdade, parecia haver uma mudança sobre Jonas. A malícia em seus
olhos por si só o transformou, e Ginny se lembrou do que ele disse a ela no
escritório da casa funerária naquela noite. Essas habilidades geralmente são
ativadas em um vampiro quando ele passa por algo terrível. Cada vez mais. E você,
amor, definitivamente se encaixa nessa descrição.
Em um borrão de movimento, Jonas arrancou seu casaco, deixando-o em
calças sociais, suspensórios e uma camisa cinza de botão. Déjà vu beliscou sua
consciência, mas ela estava muito focada em orar pela sobrevivência de Jonas,
que ela só poderia desconsiderar e sussurrar uma série de palavras contra o
vidro, embaçando-o ligeiramente.
— Por favor por favor por favor…
O tempo pareceu desacelerar enquanto ela fixava os olhos em Jonas
através do vidro. O mais leve tremor de sua íris fez Ginny se agitar sem hesitar
- e o corpo de Seymour foi jogado contra o carro. Bateu.
— Filho da puta — Tucker respirou.
Ginny se endireitou e observou Jonas puxar Seymour para fora do carro,
usando apenas a mão estendida, e lançá-lo contra a lateral do prédio. Ela quase
aplaudiu. Começou, na verdade, mas Seymour escolheu aquele momento para
se recompor, explodindo Jonas com fitas onduladas de energia límpida,
jogando-o no chão e de costas.
Deixando-o vulnerável.
— Não — Ginny respirou.
Uma bola de ar crepitante pairava sobre a palma da mão do vampiro
mais velho e ele estava a segundos de atingir Jonas com ela. Enquanto ele
estava caído.
Não, ela não podia deixar isso acontecer.
Se ela fosse o catalisador para as habilidades dele se firmando, então ela
faria seu trabalho. Ela o ajudaria, em vez de ficar parada como uma peça
sobressalente.
Seymour recuou, preparando-se para explodir Jonas.
Ela teria que cavar fundo para essa quantidade de coragem. Nenhuma
de suas heroínas usuais a impulsionaria desta vez - desculpe, Elizabeth, Lauren
e Grace. Desta vez, ela estava indo totalmente como uma Garota
Bond. Respirando fundo, Ginny abriu a porta do carro e saiu.
— Não! — Jonas rugiu, rolando e se levantando.
Seymour virou com um sorriso bestial e mudou seu objetivo para Ginny
em seu lugar. — Infelizmente, ela torna a minha tarefa ainda mais fácil. — Seus
pés levantou palmo a palmo do chão, a sensação de flutuação
desconcertantemente familiar. — Onde eu vou pousar o passarinho desta
vez? Um arranha-céus, talvez?
Os olhos sem fundo de Seymour ficaram em branco quando seu pescoço
estalou. Ele desabou no chão, jogando Ginny de volta no concreto.
Os vampiros não podiam morrer de pescoço quebrado, não é?
Sua pergunta foi respondida quando Seymour estremeceu e começou a
se levantar, apesar dos ferimentos que causavam náusea em sua pessoa.
Jonas sentou-se escarranchado no peito do homem com o que parecia ser
uma perna de cadeira quebrada agarrada com força em sua mão. Uma estaca
improvisada? Jonas estava dizendo algo, mas ela mal conseguia entender. Ela
começou a dar um passo hesitante para frente quando um braço envolveu sua
cintura, puxando-a para trás até que ela encontrou a lateral do carro com
Tucker e Elias bloqueando sua visão.
— Esse foi um movimento louco, querida —, disse Tucker por cima do
ombro. — Ela tomou algumas cervejas, de repente ela está vivendo no limite.
— Eu não posso acreditar que um humano está me passando — Elias
murmurou por trás de seu colarinho levantado.
Ela não podia perder tempo sendo lisonjeada. Não quando ela estava
muito ansiosa para ouvir a conversa entre Jonas e Seymour. Segurando a
manga da jaqueta de Tucker, ela inseriu o rosto entre seu escudo de vampiro
particular e ouviu.
— Por que você veio por ela? — Jonas gritou para o vampiro abatido. —
Diga-me.
— Por que mais? — A risada do velho vampiro estalou como um motor,
mas continha um toque de tristeza. — Seu pai.
A cabeça de Seymour tinha sido inclinada em um ângulo não natural,
mas seu pescoço mudou lentamente agora ao som de tendões se
esticando. Tucker e Elias ficaram tensos de cada lado de Ginny, uma fração de
segundo antes de Seymour se levantar e tentar agarrar a estaca - mas era tarde
demais. Jonas arqueou a arma para baixo com força considerável e penetrou o
lado direito do peito de Seymour, resultando em um som de assobio alto - e
pop.
As cinzas flutuaram onde o velho vampiro estivera.
Jonas caiu de joelhos nos escombros flutuantes e baixou a cabeça. —
Droga. — Um arrepio percorreu os músculos de seus ombros e então ele ficou
de pé, borrando o local bem na frente dela. Tucker e Elias foram separados,
deixando-a agachada de lado como a bisbilhoteira mais óbvia do mundo. —
Ginny — ele disse, sua voz letalmente baixa. — Você. Saiu. Do carro.
Ela se endireitou e alisou a saia, relutante em testemunhar a acusação e
indignação em seu olhar. — Eu estava tentando motivar você.
— Você concordou em ficar parada — ele rangeu, agarrando seus
ombros.
— Eu cruzei meus dedos — ela sussurrou, o calor subindo por seu
pescoço. — Por favor, tente lembrar que estamos muito perto do meu
aniversário.
Ele fez um som sufocado. — Não faça piadas quando eu acabei de estar
perto de perder você. — Faíscas gêmeas lançaram-se em seus olhos. — Você é
uma ameaça para a minha sanidade.
A indignação a cutucou na lateral do corpo como um espinho. — Você
acha que foi fácil sentar aqui e assistir você lutar por sua vida?
— Perdoe-me se não estou preparado para ser razoável sobre você tentar
se matar — Jonas rosnou, alcançando atrás dela e abrindo a porta, instando-a
para o banco de trás enquanto Tucker e Elias recuperavam seus lugares na
frente.
O silêncio estalou no carro escuro como um chicote.
— Mais uma vez, o ódio de um vampiro por seu senhor e suas políticas
agressivas colocam você - e desta vez, ela - no fogo cruzado — Elias disse
finalmente. — Por quanto tempo você vai fingir que sua conexão com ele é
irrelevante?
A mandíbula de Jonas estalou em resposta. — Existem muito mais
vampiros que me apoiam do que me querem morto por causa de alguma
conexão percebida com ele que não existe mais. — Ele fez uma pausa. — A
ameaça tem sido tratada. Isso é o que é importante agora. — Ele franziu a testa
para fora da janela do carro. — Clarence me contou histórias de Anciões
desenvolvendo vidência. Seymour deve ter sido um deles. De que outra forma
ele saberia sobre Ginny antes de eu conhecê-la?
A pergunta ficou no ar, até que Tucker deu um tapa no ombro de Elias. —
Vamos apenas fingir que ele não tem habilidades idiotas agora, ou... —
Quando ele não obteve resposta do passageiro, ele se virou em seu assento. —
Você acabou de estacar um vampiro de bilhões de anos de idade como se
estivesse espalhando maionese em uma fatia de Pão Milagroso. Você não quer
conversar sobre isso?
— Ela estava em perigo —, disse Elias. — Sua com...
— Isso é impossível e você sabe disso —, interrompeu Jonas, prendendo
o cinto de segurança de Ginny como se ela fosse uma criança de três anos. —
Leve-nos para a casa funerária.
Com um guincho de pneus, Tucker acelerou o carro e saiu para a rua,
ligando o som e batendo no volante junto com o baixo estrondoso. Jonas
encontrou a venda no assento, mas antes que pudesse amarrá-la sobre os olhos
de Ginny, ela os fechou e virou o rosto para o peito dele.
Seus braços a envolveram lentamente, a pressão aumentando até que ele
a apertou com força.
— Alguém tentou matar você, amor. Por causa de quem eu sou. Quem
eu era. E ainda assim você confia em mim, assume riscos por mim... Você se
apega a mim de qualquer maneira. — Ele mapeou sua testa com beijos. — Eu
deveria estar sacudindo sentido em você. Em vez disso, quero me ajoelhar e
agradecer ao destino.
O coração de Ginny se torceu com tanta força que ela teve que respirar
fundo. — Parece que você quer me dar mais tempo com você. E minhas
memórias.
Ele balançou a cabeça tristemente. — A ameaça foi eliminada,
amor. Minha proteção não é mais necessária — ele disse desigualmente, antes
de lançar um olhar taciturno para fora da janela. — Além disso, você acha que
poderíamos nos enganar pensando que qualquer quantidade de tempo juntos
é o suficiente?
Não. Claro que a resposta a essa pergunta foi um não veemente.
Arrepios a dominaram. Eles chegaram ao fim da estrada.
Amanhã de manhã, quando acordasse, não se lembraria mais de Jonas
Cantrell ou dos últimos dias. O fogo selvagem dentro dela seria apagado e
havia uma chance extremamente boa de que ela nunca experimentaria uma
fração disso novamente.
A menos que ela pudesse ser muito persuasiva esta noite.
Ginny sentou-se na beira da cama, observando Jonas andar.
Se ela apertasse os olhos, ela poderia imaginá-lo caminhando para frente
e para trás no chão de pedra em frente a uma lareira acesa, um manto
ondulando atrás dele. Os criados pairavam nas sombras, aguardando ordens.
Tudo nele era inegavelmente controlado e confiante, mesmo que agora
ele parecesse estar em um turbilhão mental, resmungando para si mesmo,
como vinha fazendo nos últimos quinze minutos.
Ele a trouxe para casa com a intenção de apagar suas memórias, mas até
agora ele havia sido incapaz de fazê-lo, o que lhe deu esperança. Eu estou na
luta da minha vida. É assim que se sentia. A batalha para acordar amanhã e
ainda saber o que era viver com esta profundidade de sentimento por outra
pessoa. Como ela poderia viver sem ele?
Faça-o falar. Não é isso que os especialistas sugeriam que os reféns
fizessem em uma situação de sequestro? Estabelecer um
relacionamento. Personalizar a si mesmo para uma melhor chance de
sobrevivência. E era por isso que ela lutava, não era? Sobrevivência?
— Então. — ela lambeu os lábios. — Você é tão poderoso agora quanto o
vampiro que está me deixando nos oceanos e nas estradas. Como você faz
isso? Qual é a sensação?
Ele parou de andar e olhou para as mãos. — Normalmente, a minha visão
pode escolher as menores coisas. Partículas de poeira, um inseto a vários
metros de distância. Mas isso... — Ele bufou um som. — Esta noite, quando
você saiu do carro, foi como se meu medo cristalizasse tudo. Eu pude ver
moléculas no ar, escolhê-las e manipulá-las. Objetos não eram mais que
objetos. Eles eram apenas massas de átomos a serem quebrados ou
movidos. É... Difícil de descrever.
— Eu diria que você fez um trabalho muito bom —, disse ela. Mantenha
ele falando. Cause atraso. — Você pode explicar por que alguém teria como alvo
você... E em troca a mim, por causa de Clarence?
Dedos agitados percorreram seu cabelo. — Ginny, eu não posso confiar
isso a você apenas para apagar o conhecimento... Isso me torna um bastardo
ainda pior.
— Eu não vou saber que você é um bastardo. Eu não vou te conhecer de
jeito nenhum.
A tortura distorceu sua expressão. — Amor.
Ela espalmou as palmas das mãos na colcha e tentou manter a voz calma
e nada suplicante. — Apenas fale comigo. Por um tempinho. Por favor?
Depois de algum debate visível, ele falou em um tom abafado. —
Clarence, meu senhor, é o Rei da Alta Ordem. Ele detém o maior poder entre
os vampiros. Esta noite não foi a primeira vez que alguém descobriu minha
conexão com ele e tentou me eliminar. Embora seja a primeira vez que alguém
fica vulnerável por causa de sua conexão comigo. Lamento não ter previsto
isso.
— Não se desculpe. Você me protegeu.
Ele bufou e começou a andar novamente. — Não rápido o bastante. Eu
ainda poderia estar em uma reunião com o novato quando ele chegou ao
beco. Ele podia ter…
— Mas ele não fez isso.
— Não, graças a você. — Ele ergueu uma sobrancelha alta. —
Abandonadora de carro.
Um sorriso surgiu em seus lábios.
— Você vai contar a seu pai... Seu senhor sobre o ataque?
— Tento não me associar a ele, mas ele me contata ocasionalmente,
quando consegue identificar minha localização antes de eu seguir em frente.
— Ele passou num borrão por Ginny, terminando na janela da escada de
incêndio. — Nosso relacionamento é complicado. Quando fui silenciado
recentemente, ele pretendia que eu seguisse seus passos.
— Ele queria que você liderasse a Alta Ordem?
— Deus, não. Ele nunca abriria mão do poder. Não voluntariamente, de
qualquer maneira —, disse Jonas. — Ele quer um segundo em comando para
cumprir suas ordens. Eu não concordo com a forma como ele governa,
permitindo que os humanos sejam silenciados e, em seguida, punindo aqueles
que não podem controlar a natureza vampírica infligida a eles. É bárbaro. —
Ele apertou a língua na bochecha. — Depois de muitas discussões, eu fui
embora. Clarence deixou claro muitas vezes que deseja que eu volte e tome
meu assento na Ordem. Veja, eu sou sua única descendência. Uma vez que um
vampiro atinge uma certa idade, seu veneno seca e ele não pode mais Silenciar
um humano. — Ele riu sem humor. — É mais provável que ele queira que eu
volte e lhe dê um voto de fidelidade, para que eu nunca possa desafiar sua
dominação, não porque ele tenha algum parentesco aparente comigo. Mas eu
nunca vou voltar.
— Nem mesmo para o jantar de Ação de Graças?
Jonas mostrou apenas um breve lampejo de diversão, mas desvaneceu-
se rapidamente. — Ficar longe da única família que tenho é fácil em
comparação com o que será manter distância de você. — Ele passou as mãos
pelo rosto. — Cristo, amor. Não sei se vou aguentar.
— Não descubra — ela sussurrou. — Podemos ter cuidado...
— Não. Não, Ginny, — ele ladrou vigorosamente, seus olhos bem
fechados. — Você já testemunhou em primeira mão o perigo que eu trago para
sua vida. O Rei fez inúmeros inimigos e por isso sou um alvo. Eu não vou fazer
um para você também.
Ela engoliu em seco, um tremor passando por seus joelhos. — Então
faça. Apague-se da minha mente. O que você está esperando?
Em meio segundo, ele estava parado na frente dela. Ele soltou um som
miserável, verde começando a estalar em seus olhos. Hora de ir.
— É meia-noite — Ginny deixou escapar.
Ele começou, parecendo quase grato pela interrupção dela. — O que?
— É oficialmente meu aniversário.
Jonas caiu de joelhos e caminhou para frente, pressionando o rosto em
seu estômago, as mãos em punhos nas laterais de seu vestido. — Me
perdoe. Me perdoe.
Ginny não hesitou em enredar os dedos no cabelo dele, coçando círculos
em seu couro cabeludo. — Só se você me der um presente antes... Antes de
fazer isso.
Quando ele ergueu a cabeça, sua expressão era cautelosa, mas ansiosa. —
O que você pediria de mim, amor?
— Um beijo — ela sussurrou, quase tonta graças a sua proximidade e a
intensidade que ele irradiava. — Apenas um.
A atmosfera ao redor deles ficou pesada, como uma nuvem de chuva
quente. Um filete de algo predatório percorreu as feições de Jonas e, por sua
vez, suas coxas se contraíram. A luz baixa do abajur os envolveu em um brilho
nebuloso e o tempo tornou-se lânguido. Ela se sentou em sua cama com este
ser lindo e eterno ajoelhado entre seus joelhos trêmulos e a posição deles fez o
desejo lamber seus sentidos. A deixou tão animada, seus mamilos frisaram
dentro do sutiã e o vestido que ela usava de repente parecia um filme plástico
que ela precisava tirar.
— Apenas um —, Jonas repetiu com voz rouca. Ela prendeu a respiração
quando ele levantou sua saia, expondo-a até o meio da coxa. As palmas das
mãos moldaram-se aos joelhos dela e deslizaram para a bainha levantada. Seu
toque sozinho teria sido o suficiente para enviar seu pulso às alturas, mas então
ele ergueu sua perna esquerda, inclinando-se para beijar sua coxa com a boca
aberta. — Onde você quer seu beijo? Aqui?
— Eu quero dizer, isso é muito, muito bom. Mas, hum... — O que eram
palavras? — Eu meio que esperava algo mais alto.
Com os lábios ainda queimando sua coxa, ele lançou-lhe um sorriso
malicioso.
— Oh, Senhor — ela correu para dizer, com o rosto vermelho. — Não. Eu
quis dizer minha boca.
Sua língua escapou e se arrastou em um círculo. — O que eu não daria
pela capacidade de dizer que da próxima vez seremos muito mais
aventureiros.
Seu coração gaguejou. E se ela não pudesse convencê-lo a desistir de tirar
suas memórias? A possibilidade de falhar a atingiu com tal impacto que ela
caiu de costas na cama, presa entre o desespero e a excitação. O peso de Jonas
mergulhando no colchão a guiou mais uma vez em direção ao desejo, no
entanto. Especialmente quando seu rosto apareceu acima dela, seu olhar se
fixou em seus lábios.
— Ela não vai se lembrar de nada disso — ele sussurrou para si mesmo,
sua boca descendo. Mais perto. Mais perto. Enviando suas terminações
nervosas ao caos.
— Você vai, no entanto — ela choramingou.
Sua respiração se misturou com a de Ginny. — Sim. Eu vou. Sempre, —
ele murmurou. — Com este beijo, eu de bom grado me condeno a uma vida
inteira de sofrimento. Feliz aniversário, amor.
O que se seguiu desafiou quaisquer noções preconcebidas que ela possa
ter tido sobre beijos. O contato dos lábios não era apenas algo que parecia
bonito na televisão ou na tela do cinema. Era o que acontecia por dentro que
contava.
Ele começou inclinando a cabeça, saboreando-a com uma gemida
sucção. Continuou e continuou, ele absorvendo aquele primeiro gosto - e
ela sendo absorvida. Avidamente. Absolutamente. Seu corpo duro se
acomodou em cima do dela, a pressão momentosa fazendo-a ofegar quando a
língua de Jonas varreu sua boca. Ohhh.
Suas línguas se cumprimentaram como amantes perdidos, exigentes e
desolados por sua separação. Os olhos de Ginny se abriram para encontrar a
mesma maravilha resplandecente nos de Jonas, antes que suas pálpebras
caíssem junto com as dela, o beijo assumindo, as sensações fazendo exigências
e a fome afundando em suas garras.
No próximo deslizar de suas línguas, os joelhos de Ginny se dobraram
involuntariamente e Jonas rolou para frente com um grunhido, travando seus
corpos juntos. Pressionando. Tensionando. A vasta diferença em sua força era
óbvia. Como também era óbvio que ele tentou corajosamente se conter, seu
corpo tremendo com o esforço.
Infelizmente, o corpo de Ginny não conseguia parar de tentar aquela
força desumana. A parte interna de suas coxas subia e descia em seus quadris
e coxas, soluços presos em sua garganta, liberando em sua boca quente e
buscadora. Senhor, sua boca. Era ao mesmo tempo habilidosa e frenética, como
se ele soubesse muito bem o que estava fazendo, mas não pudesse acompanhar
o ataque de luxúria.
Sim. Deus, isso era luxúria.
Uma inundação épica que exigiu uma arca para sobreviver.
Suas mãos lutaram acima de sua cabeça, apenas para serem presas por
Jonas. Seus quadris balançaram, o cume duro de seu sexo cavalgando para o
início de sua carne feminina - e pressionando para baixo. Ali. Mesmo através
do material de seu vestido, ela pegou atrito suficiente para gritar - e o som
surrado fez algo para Jonas.
Ele se inclinou com mais força para o beijo, confundindo seus sentidos
com longos e sensuais lábios duros sobre suaves gemidos animalescos
acendendo em seu peito forte, seus dedos travados com tanta força nos de
Ginny acima de sua cabeça que ela sabia que sua força de vontade diminuía.
Bom.
Mais.
Bom.
Nunca pare.
A vida não seria possível sem isso. Não seria. Ela tinha acabado de estar
em um estado de existência sem a pilhagem sensual de sua língua, o peso de
seu corpo. Tudo isso estava faltando. Perdido para ela.
Ginny cruzou os tornozelos no cós da calça dele e arqueou as costas,
arfando animadamente quando ele se lançou para frente, segurando-a com
ainda mais intenção. Ainda mais urgência. Voracidade.
— Ginny —, disse Jonas com voz rouca. — Estou perdido.
— Não. Você foi encontrado. Fique comigo.
Fique comigo.
Essas palavras ecoaram como um grito em uma caverna.
Uma imagem cintilou na frente do olho da sua mente. Jonas ainda estava
em cima dela, mas seus arredores eram uma névoa em movimento. Luzes
multicoloridas e sons de carros zumbiam na distância, altos e desarticulados,
mas ela ignorou-os como irrelevantes. Nada importava, exceto o homem e a
maneira como sua essência prometia não só prazer, mas uma fonte inesgotável
dele.
Tão rápido quanto o ambiente mudou, eles estavam de volta em seu
quarto e Jonas estava soltando seus pulsos presos para desabotoar os botões
que corriam pela frente de seu vestido. Quando ela assumiu a tarefa, ele a
olhou bem nos olhos e puxou a bainha da roupa até a cintura. — Lembre-me
que eu poderia te machucar se eu te levar. Lembre-me de que existem regras
e consequências.
A umidade correu para a junção de suas coxas nas asas de um desejo tão
selvagem que não tinha nome. Ela balançou a cabeça em um teimoso não ao
seu comando e abriu o corpete de seu vestido, revelando a renda pura de
pêssego de seu sutiã, os seios que inchavam fora de suas taças.
As presas de Jonas surgiram à vista, seu olhar escurecendo para um
perigoso verde escuro. — Não, Ginny — ele murmurou. — Não, amor. Não.
Não transforme sua beleza em minha inimiga.
— Você não tem que lutar a batalha sozinho —, disse ela, enfiando os
dedos pelos cabelos dele e puxando-o para um beijo suave. — Você não precisa
ficar sozinho. Dê-nos uma chance. Estou reconhecendo o
risco. Estou escolhendo isso.
Um arrepio percorreu Jonas. Uma rendição. Seus lábios se separaram de
seus dentes e ele lentamente baixou a boca para seus seios, esfregando os lábios
sobre o bico de seu mamilo duro. Ele fez um som gutural e empurrou os
quadris, absorvendo o gemido de Ginny com aquela intensidade
esmeralda. Ele parecia impotente para fazer qualquer coisa, exceto beijá-la e
ele o fez. Duro. Selvagem. Eles mergulharam de volta na contorção faminta de
lábios como se nunca tivessem parado por um momento, e o ritmo acelerou
rapidamente, fazendo seus corpos se esticarem mais perto, as pernas dela
envolvendo com mais força em torno de seus quadris.
Jonas se separou para deixá-la respirar, observando seu pulso enquanto
se aproximava, como se atraído pela hipnose. Ele roçou a vibração da vida com
os lábios e suas mãos agarraram as coxas dela em um aperto contundente,
enviando uma emoção por Ginny, todo o caminho até os dedos dos pés. Sua
força de vontade estava em plena exibição enquanto ele beijava seu pescoço
com reverência, mas quando sua língua saiu e lambeu todo o comprimento de
seu tendão flexionado, Ginny não estava esperando o dilúvio de luxúria - e ela
estremeceu.
Sua presa prendeu em sua pele, causando a Ginny um lampejo de dor.
Jonas recuou com horror, o fogo verde flamejante paralisado por seu
pescoço. Refletida em seu olhar, ela observou o filete vermelho escorrer pela
palidez de sua pele e não conseguiu se mover. Não conseguia respirar.
O que ele faria?
Muitas vezes, ele alertou sobre as três regras e como elas poderiam ser
facilmente quebradas. Um relacionamento levava a beber seu sangue levando
a uma morte potencial. E se ele não pudesse evitar? Ela o empurrou longe
demais?
Com um grunhido de pura fome, Jonas abaixou a cabeça e lambeu o filete
de sangue de seu pescoço, levando-o à boca e engolindo como alguém faria
com um bom vinho. Quase imediatamente, seu corpo caiu em cima dela. Ele
se segurou com os braços trêmulos antes que pudesse esmagá-la.
Uma versão estrangulada de seu nome o deixou. Que som foi esse?
Havia uma pulsação abafada entre eles e a princípio ela pensou que
viesse de seus próprios batimentos cardíacos agitados, mas não... Não, vinha
de Jonas.
Ele se equilibrou em uma mão, rasgando o lado esquerdo de seu peito
com a outra.
Seu coração estava batendo?
— Companheira — ele engasgou, as presas alongando outra fração de
polegada. — Companheira.
Antes que ela pudesse responder, Jonas se jogou da cama e caiu de
pé. Seus punhos cerraram-se ao lado do corpo por um momento pesado, como
se ele estivesse pensando em se lançar sobre ela, prendendo-a, mas no espaço
de um segundo, ele saiu pela janela, deixando-a sozinha e ofegante na cama.
Companheira?
Ginny estava tão confusa com o que tinha acontecido que levou quase
uma hora olhando para o nada e repassando a cena para perceber... Ela ainda
tinha suas memórias.
Ginny teve o sonho de novo naquela noite.
Ela estava avançando pela periferia da feira luminosa, atraída por seus
próprios ossos para a escuridão. Atraída pela árvore onde o homem estava de
chapéu e suspensórios, olhando para ela como se estivesse esperando por
ela. Como se ele a estivesse observando por um tempo e memorizado a
maneira como ela se movia. O que não fazia sentido, já que ela tinha certeza de
que nunca o tinha visto antes. Ela teria se lembrado de ser magnetizada, quente
e trêmula apenas por estar em sua presença.
Não tendo escolha a não ser se aproximar, ela saiu da luz e o observou
empurrar a árvore e ficar rígido. — Não — ele disse, embora sua voz não a
alcançasse. Seus lábios soletraram as palavras. — Por favor, não.
Por alguma razão, com aquelas palavras do estranho, ela esperava que o
momento se dissolvesse. Para que a noite desbotasse e desvanecesse como um
desenho a lápis submerso na água. Mas não foi o que aconteceu. Outra
presença puxou sua atenção para a esquerda, longe de onde realmente queria
estar - no estranho debaixo da árvore. Alguém mais estava lá com eles, no
entanto.
A estática subiu pelo braço de Ginny. Sua cabeça se virou para a outra
presença letargicamente, mas havia apenas o contorno de uma figura escura
cercada pelas luzes da feira.
Uma figura com um capuz vermelho.
Ginny se endireitou na cama, um soluço preso na garganta.
Seus dedos rasgaram os lençóis da cama, torcendo-os em seu aperto para
mantê-la presa ao presente. Em vigília também. A última vez que ela teve o
sonho, ela acordou na pista do meio do parque. Não desta vez, graças a
Deus. Ela estava em seu quarto, mesmo que não conseguisse se livrar da
gravidade do sonho. Parte dela até desejou que ela ainda estivesse dormindo,
para que ela soubesse o que aconteceu. Por que o estranho debaixo da árvore
estava preocupado?
E como poderia cada segundo parecer tão vívido, até o cascalho e a
grama sendo esmagada sob seus pés com o cheiro de castanhas assadas?
A névoa persistente do sonho se dissipou e os eventos da noite anterior
voltaram. Automaticamente, os dedos de Ginny foram para seu pescoço, para
o local onde os dentes de Jonas acidentalmente a cortaram e tiraram
sangue. Não houve nenhum corte, nenhuma dor, nada para provar que tinha
acontecido.
Um peso de chumbo afundou em seu estômago.
Companheira.
O que ele quis dizer com isso?
Companheira.
— Algum corpo fresco para eu ver hoje?
Um choque de prazer percorreu Ginny e ela se arrastou até a beira da
cama para encontrar Roksana caída casualmente no chão.
— Você está de volta — Ginny soltou, a umidade correndo para seus
olhos. Antes que ela pudesse se conter, ela rolou para fora da cama e pousou
ao lado da assassina, prontamente jogando uma perna sobre seu corpo e
puxando-a para um abraço de urso. — Onde você foi?
— Eu não aprecio essa demonstração de emoção — Roksana disse, uma
risada contraditória em sua voz. — Isso me faz sentir irregular.
— Irregular?
— Foi o que eu disse. Sai fora, seu animal louco.
— Certo, tudo bem. — Ginny largou Roksana e se afastou, vibrando de
empolgação por ter sua amiga de volta. Desde que a assassina partiu, ela estava
mais preocupada em permanecer viva, mas ver Roksana em pessoa agora fez
Ginny perceber que ela precisava desesperadamente de sua amiga. — Você
não me respondeu. Onde você foi?
— Acima. Abaixo. — Roksana estudou suas unhas. — Aqui e ali.
— O que te fez voltar?
— O príncipe. — Ela bufou. — Quem mais?
As sobrancelhas de Ginny se franziram. — Não entendo. Ele cuidou da
ameaça na noite passada. Não estou mais em perigo.
— Hmmm. — Foi sua imaginação ou a atenção de Roksana deslizou para
seu pescoço. — Talvez seja verdade. Talvez ele tenha pensado que você não
deveria estar sozinha no seu aniversário.
Quando ela deveria ter experimentado calor ou prazer pela consideração
de Jonas, houve apenas uma sensação escaldante e melosa de mau
presságio. — Ele não vai voltar, vai?
Roksana evitou seu olhar. — Este drama de vampiro não me
preocupa. Estou aqui apenas para festejar.
— Roksana, por favor — ela sussurrou. — Algo aconteceu ontem à
noite...
— Segure esse pensamento — a assassina disse rapidamente, rolando
para debaixo da cama. — Temos companhia.
Assim que Roksana sumiu de vista, Larissa tropeçou no quarto com uma
garrafa de NyQuil agarrada ao peito e um lenço de papel enrolado saindo de
uma narina. — O que diabos você está fazendo no chão?
— Oh, hum. Procurando um brinco.
— Tanto faz. — Ela acenou com a garrafa de líquido azul. — Eu peguei
um resfriado. É por isso que odeio fazer as recepções. Cada avó na casa quer
choramingar por todo o meu ombro ou me faz mexer suas mãos em respostas
monossilábicas. Deus. — Ela estremeceu e tomou um gole da medicina fria. —
Segunda visão de Kristof é hoje. Eu não tenho ideia por que eles queriam duas
quando quase ninguém mostrou-se ontem, mas enquanto eles estão pagando,
eu não estou questionando isso.— Ela fez uma pausa para soltar um espirro
alto e estremeceu. — Você pode lidar com a segunda visão, bem como a sua
mudança hoje à noite? São quatro a seis pessoas.
— Sim, eu posso fazer isso.
Qualquer coisa para tirar Larissa do quarto. Sem contar que, caso faltasse
convidados no velório, ela gostaria de dar um apoio à família enlutada. É o que
seu pai teria feito.
— Ótimo. — Larissa sorriu e inclinou a cabeça, mas com seu nariz
vermelho e olhos inchados, ela meio que parecia o palhaço do pesadelo de
todas as crianças. — Você já pensou em vender?
— Ainda não, desculpe. Tenho estado um pouco distraída ultimamente.
O sorriso ficou tenso. — Há um grande mundo lá fora, você sabe. Muito
maior que Coney Island, Ginny. Você precisa sair e ver.
Ginny não sabia como responder a isso. Coney Island parecia muito
maior e mais louco do que antes.
— Bem — Larissa disse hesitante no silêncio. — Estou indo para a cama.
— Melhoras, Larissa.
Sua madrasta se virou para sair, mas enfiou a cabeça para trás no último
segundo. — Oh e... — Ela mordeu o lábio, parecendo em conflito. — Feliz
aniversário.
A porta se fechou.
Ginny suspirou e se sentou, observando enquanto Roksana rolava para
fora da cama. — Eu poderia matá-la? — Roksana sugeriu. — Ela já está
apodrecendo por dentro. Eu estaria fazendo um favor a ela.
— Você não matará a minha madrasta.
— Ótimo. Agora tenho que arranjar um presente de aniversário
diferente.
Uma risada borbulhou na garganta de Ginny, seu olhar vagando para o
relógio. — Como eu dormi até tão tarde? — Ela se levantou de um salto e se
lançou para o armário. — Tenho que me vestir e preparar a sala de
visitação. Dispor as flores e os cartões de oração...
— Já que você pediu com educação, vou ajudá-la.
Ginny ergueu uma sobrancelha para o assassino. — Você só quer ver um
corpo.
— Não é justo — Roksana lamentou. — Quando você mata um vampiro,
não sobra nada além de poeira. Muito anticlimático.
Ginny selecionou aquele vestido preto em seu armário, que ela tinha
comprado na Macy, em seguida, levado para casa e acrescentou um grande
cinto de cetim e uma flor no lado direito da gola. — Falando de vampiros, Elias
foi procurá-la.
— Eu não me importo — Roksana estalou, apertando seu rabo de cavalo
loiro. — Quando? O que ele disse exatamente?
Sentindo que havia tropeçado em uma oportunidade, Ginny bateu em
seu queixo. — Não tenho certeza se consigo lembrar exatamente...
— O que é isto? — A outra mulher estreitou os olhos. — Você está
mantendo informação de mim para ser cautelosa?
Ginny tirou o vestido da noite anterior e colocou o preto, muito
consciente de que precisava de um banho assim que o velório terminasse. —
Vou lhe contar o que Elias fez e disse... — Com algumas
modificações. Provavelmente era melhor não repetir o termo pirralha
imprudente. — Se você explicar por que está realmente aqui.
Roksana inclinou a cabeça, visivelmente impressionada. — Essa sua
técnica poderia ter funcionado se eu me importasse com o sugador de sangue
procurando por mim. — Ela tirou um objeto retangular de ouro do bolso e
abanou o rosto com ele. — Ele provavelmente só queria seu cartão de crédito
de volta. Minhas novas botas excederam seu limite de gastos.
Ginny terminou de amarrar o laço nas costas do vestido e engoliu em
seco, dando a assassina um olhar significativo. — Por favor, eu preciso saber
que Jonas está bem. Nós... Houve um acidente na noite passada e estou
preocupada com ele. — Seus dedos tremeram, desejando sentir sua pele fria. —
Estou preocupada com ele nunca mais voltar.
A assassina olhou para o chão, mas não antes de Ginny perceber sua
expressão preocupada. — Ginny, meu chamado é proteger os humanos. E eu
não consigo isso dando a você o que você quer. Não dessa vez.
— Ele disse companheira. Acho que ele me chamou de sua
companheira. O que isso significa?
— Desculpe, não posso te ajudar nisso. — Roksana contornou a cama e
empoleirou-se no parapeito da janela, jogando as pernas para o lado e
dançando graciosamente na escada de incêndio. — Eu te encontro lá embaixo.
Ela se levantou e olhou para a silhueta desbotada que sua amiga deixou
para trás, o pressentimento em seu estômago queimando mais quente. Algo
estava errado. O que aconteceu em seu quarto na noite passada tinha sido
significativo e ela precisava descobrir o que era. Mas como? Ela tinha estado
com os olhos vendados durante a viagem para o apartamento de Jonas. Havia
uma chance de que ela pudesse refazer as voltas e descobrir como chegar lá,
mas a intuição lhe disse que ela teria que pressionar Roksana, a fim de fazê-lo.
Sua palma em forma de concha ao redor do local em seu pescoço onde
Jonas tinha lambido o fluxo de sangue, não deixando nenhum ferimento para
trás. Ele estava se afastando porque tinha gostado muito?
Uma onda involuntária de prazer fez com que os pelos finos de seu corpo
se arrepiassem, os dedos dos pés se enrolando no tapete. Faria sentido que ele
tivesse gostado de seu gosto e estivesse sendo nobre ao interrompê-la. Ele disse
a ela desde o início que seu cheiro, seu sangue, era diferente, não era? Se alguém
colocasse um único arranhão em sua pele, eu ficaria completamente louco, Ginny, e
ainda assim eu queimaria para afundar meus dentes em seu pescoço a cada segundo do
dia. Não sei como descomplicar isso para você.
Ginny caminhou em estado de transe até sua cômoda, pegando sua
escova de cabelo e passando-a distraidamente pelo cabelo. Até que ela deu um
grunhido que despertou uma sensação de indignação.
Desde que conheceu Jonas, ele tinha feito todas as regras. Atribuição de
guarda-costas. Vendar os olhos dela. Trancá-la nos quartos. Se ela continuasse
a deixá-lo ditar seu relacionamento e não houvesse nenhum outro descritor
para o que eles tinham, para melhor ou pior, ela acabaria sem ele. Ele só tinha
ido há uma questão de horas e ela já sabia que viver na sua ausência era um
lugar muito frio.
Ginny não escapou de uma vida inteira morando em uma casa funerária
sem aprender o valor de viver como se cada dia fosse o
último. Arrependimentos eram um veneno de longa duração e se ela morresse
amanhã, ela se recusaria a deixar para trás.
Aliviada por ter um senso de propósito, ela começou a sair do quarto, já
criando uma lista mental das tarefas à frente...
A dor cresceu em seu lado, como uma faca sendo inserida sob sua caixa
torácica. Um grito de agonia ficou preso em sua garganta e ela tropeçou,
correndo para a porta, as mãos agarrando o local do impacto, procurando
freneticamente por um ferimento e encontrando o vazio. Não havia nada
ali. Não havia nada ali. Por que doeu tanto?
Tão rápido quanto a dor atingiu, ela desapareceu, deixando-a mole e
ofegante.
Ela se virou para encontrar o quarto vazio, o único som que ela inalou
roucamente.
Arrepios percorreram seu corpo, da ponta da cabeça aos pés e, embora a
dor tivesse passado, a sensação de condenação iminente permaneceu.
Algo estava errado. O universo se inclinou. Chega de esperar ser
embaralhada e se permitir ser protegida sem explicações detalhadas sobre o
que ela estava enfrentando. Ela pretendia obter respostas.
Esta noite.
Ginny sentou-se lado a lado com Roksana na última fileira da sala de
exibição.
Kristof estava deitado em seu caixão, seu rosto organizado em uma
indiferença pacífica. Havia apenas uma enlutada presente e ela estava imóvel
na primeira fila, as mãos cruzadas no colo com um rosário enrolado nos nós
dos dedos. Ginny fez uma tentativa de confortar a mulher, mas como seu
marido, ela tinha sido um tanto quanto reservada - e isso estava certo. Cada
um chorava à sua maneira.
Faltando vinte minutos para o fim, Ginny esticou o pescoço, esperando
que alguém entrasse pela porta, mas o saguão permaneceu em silêncio.
— Eu não entendo esse ritual — Roksana murmurou, falando com Ginny
pela primeira vez desde que se encontraram no andar de baixo, estranha após
a conversa no quarto de Ginny. — Aquele homem não está deitado naquela
caixa. Ele está em outro lugar.
Um sorriso triste curvou os lábios de Ginny. — Isso não é para ele.
— E isso significa?
— Eu nunca tive que colocar isso em palavras antes. — Ginny pensou
por alguns momentos. — Todo mundo tem vários cartões para cada pessoa
que ama. Você tem seus cartões de arrependimento, seus cartões de boas
memória, cartões de memória ruins. Quando um de seu povo morre, os cartões
são jogados para o alto e se espalham por todos os lados. Os velórios e funerais
tratam de colocá-los em uma nova ordem. Você precisa. Metade de cada
memória que você tinha com eles se foi. Você tem que descobrir como viver
apenas com sua metade. É muito mais difícil do que parece.
Roksana empurrou sua perna vestida de couro. — Parece complicado,
Ginny. Talvez seja melhor não ter entes queridos.
Antes que Ginny pudesse responder, houve um grande estrondo no
saguão. Segundos depois, uma mulher entrou correndo na sala com uma mala
de rodinhas atrás dela. Ela a deixou cair na porta e parou, como se tivesse
batido em uma parede de vidro. Suas mãos cobriram a boca e ela avançou
lentamente. A mulher na primeira fila se virou e sua expressão vazia se
transformou em alívio, seguida por uma onda de pesar. A recém-chegada
agitou o ar ao passar por Ginny e Roksana, abaixando-se para abraçar a mulher
na frente agora e uma sensação de finalidade surgiu no lugar.
— Esqueça o que eu disse sobre os cartões — Ginny suspirou. — É disso
que trata o ritual.
Roksana fungou deselegantemente. — Estou ficando bêbada esta noite e
você também.
— Minha única experiência com o álcool é minha madrasta. Oh! E duas
cervejas recentes. E se eu for uma bêbada terrível que estraga a noite de todo
mundo dançando nas mesas e vomita nas pessoas?
— Isso soa como uma festa para mim, mas não vamos sair. Não dessa
vez. — Ela balançou o pulso. — Vou roubar uma garrafa de vodka da loja de
bebidas e vamos fazer a noite com as garotas. Vou até assistir a um de seus
filmes antigos.
— Parece que há um motivo para você me querer dentro de casa.
— Não interprete minhas ações — Roksana resmungou. — É muito rude.
Ginny olhou para frente, observando a cena na frente da sala. As
mulheres ficaram em frente ao caixão, fechadas em um abraço. Elas se
arrependiam? Talvez um telefonema que elas ignoraram de Kristof ou uma
discussão sobre política que resultou em semanas de silêncio? Ela sempre se
perguntou o que as pessoas fariam com o dom da visão. Como elas mudariam
as coisas se soubessem de antemão o que o futuro traria?
Ela sabia.
Ela se sentou naquela mesma cadeira e assistiu a um desfile de
arrependimentos, dia após dia, pela maior parte de sua vida. Ela não tinha
desculpa para sentar e assistir a vida acontecer ao seu redor. Por muito tempo,
era isso que ela vinha fazendo. Após a morte repentina de seu pai, ela pode ter
criado padrões que a distraíram da dor, mas esses padrões se tornaram uma
forma de se esconder. Eles não a abriram para novas experiências. Aquelas que
permitiriam que ela sentisse coisas novas.
A partir de agora, Ginny estava assumindo o controle de seu próprio
destino. Ela não queria agir da maneira esperada. Não haveria mais padrões
seguros e mecanismos de enfrentamento.
Ginny pigarreou delicadamente. — Eu vou sair.
— Tive a sensação de que você ia dizer isso. — Roksana tamborilou com
os dedos no joelho. — Eu poderia amarrá-la a uma cadeira.
— Você não vai, no entanto. Não no meu aniversário.
— Você é uma dessas pessoas nojentas que chamam de semana de
aniversário, Ginny? Eu não posso aguentar isso.
— Não, não sou — Ginny disse com uma risada baixa. — Mas não tenho
outro meio para negociar por uma noite de diversão e liberdade. Eu não sou
imortal. Eu não tenho sua habilidade incrível...
— Diga mais.
— No momento, tudo o que tenho é a data em um calendário.
E o desejo de atrair um certo alguém para fora da toca, mesmo
que isso inclua dança sobre uma mesa. Não que ela tivesse planos de dizer tal
coisa em voz alta. Seu plano parecia meio sem inspiração, mas o que ela faria
sem nenhum poder e nenhuma maneira de alcançar Jonas?
Além disso, era seu vigésimo quinto aniversário e talvez isso fosse
motivo suficiente para ficar um pouco selvagem. Enquanto crescia, seus
aniversários consistiam em um bolo de sorvete na sala de descanso de um
necrotério, enquanto seu pai cantava uma versão bem intencionada, mas
extremamente desafinada de Feliz Aniversário.
Pela primeira vez em... Bem, sempre... Ela tinha uma amiga com quem
festejar. Se Roksana estava lá porque Ginny ainda estava em perigo por algum
motivo, Ginny tinha plena confiança de que Roksana não deixaria nada
acontecer com ela uma segunda vez. Elas poderiam até se divertir.
— Você está me colocando em uma posição difícil, Ginny — Roksana
disse, levantando-se. — Mas nós vamos sair. Até porque me tornei uma idiota
que negligencia o álcool e uma dança porque um sugador de sangue me pediu
isso. — Seu lábio se curvou. — Todos deveriam ser massacrados agora.
Ginny assentiu com firmeza. — Amanhã.
— Sim, amanhã. Esta noite nós fodemos com a merda. — A assassina
apontou um dedo para o traje de Ginny, travessura escorrendo em sua
expressão. — Mas, primeiro, encontramos algo um pouco mais empolgante
para vestir. Você parece uma boneca gótica.

Fechando a jaqueta para esconder o decote, Ginny correu para


acompanhar Roksana na calçada. Ao redor delas, o céu estava listrado de roxo
e laranja, um lindo céu crepuscular que parecia lançar um brilho sobre os
prédios de apartamentos e lojas de alimentos que ladeavam a Avenida
Mermaid. O cheiro de curry e tempero jerk carregado na brisa noturna do
restaurante caribenho da esquina, lembrando Ginny que entre encerrar a
sessão de Kristof, tomar banho, secar seu cabelo e modelar roupas para
Roksana, ela havia se esquecido de jantar.
— Onde estamos indo?
— Um lugar que você não encontrará no Yelp. — Um homem que
passava olhou duas vezes para Roksana e ela mostrou os dentes para ele. —
Você pensaria que ele nunca viu alguém com um macacão de látex vermelho
antes.
Ginny desejou que elas ainda estivessem em casa para que ela pudesse
ajustar a calcinha fio dental emprestada no momento tentando subir em um
lugar que não era bem-vinda. — Esse macacão é mais ou menos desconfortável
do que o que estou vestindo?
Roksana não pareceu ouvi-la. Ela estava ocupada esquadrinhando a rua
e os telhados - procurando o quê? Ginny não sabia. E sua amiga não estava
dizendo. — Ouça-me, Ginny. Se eu disser para você fazer algo esta noite, me
obedeça sem questionar. Se você puder fazer isso, talvez, possivelmente,
tenhamos um tempo agradável. Nós temos um acordo?
— Estou ouvindo em alto e bom som.
— Fabuloso. — Ela enganchou um cotovelo no de Ginny e fez uma curva
fechada à direita, mandando-as por uma rua estreita ladeada por garagens
fechadas e um riacho raso de esgoto correndo no meio. — Acho que estou me
sentindo culpado por chamá-la de boneca gótica mais cedo. Por favor, diga
algo insultuoso para mim, para que eu possa seguir em frente.
— Oh não, eu não quero...
— Eu insisto.
Ginny inflou uma de suas bochechas e deixou o ar sair lentamente. —
Você é assustadoramente violenta?
— Eu pedi um insulto. Não um elogio. — Roksana estalou sua língua. —
Não importa, estamos quase lá. Resumo rápido, o dono é um ex-namorado e
ele ainda acha que há uma chance. Não há. Não mencione Jonas, Elias ou
Tucker. Não diga nada sobre os vampiros ou você vai fazer com que nós duas
morramos.
— Devemos ir às sextas-feiras?
— Este é um bar matador. — Algo instável perambulou por seu rosto. —
Estamos mais seguras aqui. A não ser que...
— A menos que eu mencione nosso principal motivo para nos
conhecermos. Entendi.
— Atrevida. Eu gosto disso. — Ela guiou Ginny entre duas garagens e
desceu um lance de escadas íngremes. — Essas roupas já estão fazendo o seu
trabalho.
Elas pararam do lado de fora de uma porta de metal no final da
escada. Era uma velha porta normal que ninguém olharia duas vezes. Pode-se
presumir que levava a um lugar ao qual apenas a companhia elétrica tem
acesso. Nenhum som pode ser ouvido do outro lado. Na verdade, Ginny
estava se preparando para perguntar a Roksana se elas estavam no lugar certo
quando o metal se abriu - e a explosão de hip hop quase a deixou surda.
Por reflexo, Ginny cobriu ambas as orelhas, então ela só podia ouvir
parcialmente a conversa entre Roksana e o homem careca de pele morena em
um colete de couro branco que estava na frente delas, o topo de sua cabeça
roçando o batente da porta.
— Sabia que você voltaria — ele gritou, dando a assassina um olhar
apreciativo. — Não vejo o lança-chamas que você roubou da última vez que
saímos.
— Estou lavando a seco.
Ele soltou uma risada, antes de deslizar sua atenção para Ginny. — Você
geralmente viaja sozinha. Quem é a carne fresca?
— A carne dela está fora dos limites, Luther. Estamos aqui apenas para
beber. Isso é permitido?
— Suponho que isso possa ser arranjado. — Ele se moveu para o lado e
apontou com o queixo para o aparente caos que estava do outro lado da
porta. — Bem-vindas ao Enders. Salve-me uma dança, Roks.
— Não.
Luther jogou a cabeça para trás e riu.
A assassina revirou os olhos, pegou a mão de Ginny e a levou para
dentro. Com tantas luzes piscando em sincronia com o baixo, era impossível
distinguir tudo enquanto era arrastado por uma Roksana protetora, mas ela
viu o suficiente para saber que o lugar estava lotado até as guelras de pessoas
em forma que pareciam competir com uns aos outros para manter as costas
mais perto da parede. Símbolos que Ginny não reconheceu foram pintados
com spray em verdes brilhantes e brancos em tijolos, lâmpadas de luz negra
penduradas no teto, homens e mulheres dançavam em plataformas elevadas
quase sem nada.
— Eu não me sinto tão mal vestida com minha saia e camiseta agora.
— Oh bom. Eu estava tão preocupada — Roksana brincou, situando
Ginny bem no canto do bar. — Fique parada até que eu faça uma lista mental
de todos aqui.
— Você disse que estávamos seguras neste lugar. Com o que você está
preocupada?
— Ginny, você precisa aprender que ninguém é seguro. Em lugar
nenhum. A qualquer momento.
Ginny levou as palavras a sério. Não era verdade que ela vivia em uma
dimensão deste mundo que na verdade tinha duas dimensões? Talvez
mais? Várias vezes hoje, quando ela fechou os olhos, ela pensou em Seymour
flutuando do telhado para o beco. Seu corpo sendo transportado pelo céu
noturno. Era possível que a segurança não fosse nada mais do que uma noção
risível.
Especialmente para humanos como ela.
— Quer uma bebida?
Ginny estava tirando a jaqueta quando o barman se aproximou. Agora,
ela girou em seu banquinho para encará-lo, tirando sua jaqueta no mesmo
momento - e imediatamente caiu na pele de uma de suas estrelas de
cinema. Elizabeth Taylor, talvez, em Um Lugar ao Sol. Sim. Ginny podia vê-la
agora, a maneira como ela entrou na festa chamativa e inclinou o quadril na
mesa de sinuca com um copo na mão. — Vou querer champanhe.
O barman olhou de volta sem expressão.
Roksana tossiu. — Duas cervejas. — Quando o barman estava fora de
vista, ela se virou para Ginny. — Se eles têm champanhe neste lugar, tem gosto
de mijo.
— Outra hora, então.
Os lábios da assassina saltaram em uma extremidade. — Certo.
Ginny aninhou-se em seu banquinho e examinou a boate, desviando o
olhar quando fez contato visual com os lábios de dois clientes. — Então o que
aconteceu entre você e Luther? Ele parece legal.
— Sim, esse era o problema. — Roksana colocou dinheiro no bar em troca
de suas cervejas e esvaziou metade de sua garrafa. — Ele queria nos colocar
em encontros duplos e coisas assim. Eu prefiro me matar.
Ginny deu um gole em sua bebida e suspirou com a amargura gelada em
sua garganta. — Eu acho que esta é a mesma cerveja que Tucker me deu. Ou
talvez todas tenham o mesmo gosto.
— Tucker te deu cerveja? E Jonas permitiu que ele mantivesse a cabeça?
— Jonas sabe... — Ela parou, tentando encontrar as palavras certas. — É
um pouco estranho agora que penso nisso, mas Jonas sabe que eu não poderia
ter um interesse em qualquer outra pessoa, desde que ele existe. Ou enquanto
eu estou ciente de que ele exista, de qualquer maneira. E eu sei que o mesmo
vale sobre ele. Mesmo que isso não tenha sido dito.
Uma veia pulsou na têmpora de Roksana. — Dã, é assim que seria — ela
disse, baixo o suficiente para que Ginny se perguntasse se ela tinha ouvido
direito. — E antes de você conhecer seu... Jonas? Havia namorados?
— Não. Tive um encontro com Gordon e acho que... mas...
— Recuse-o. — Ela encolheu os ombros. — Se você gostaria que ele
vivesse, claro.
— Eu gostaria — Ginny disse rapidamente. — Você não está dizendo que
Jonas iria...
— Estou dizendo isso.
— É uma coisa boa a se fazer. Matar meu único pretendente em potencial
quando ele está tão determinado a tirar minhas memórias e bater nos tijolos.
— Matar um homem por chegar muito perto de você seria uma coisa
involuntária, Ginny — Roksana parou, tomando um longo gole de sua
cerveja. — A cerveja me deixa com a língua solta.
Relutante em atormentar Roksana em sua noite fora, Ginny se virou em
seu banquinho para ficar de frente para a boate, notando a pista de dança pela
primeira vez, onde ela estava escondida no canto de trás sob um lustre amarelo
neon. Corpos se moviam com fluidez, juntos e separados, quadris balançando,
mãos procurando. Como seria dançar com Jonas assim? Com sua boca em seu
cabelo e sua perna pressionada entre suas coxas?
O barman completou um pedido com o grupo à direita de Roksana e
antes que ele pudesse sair para atender outro cliente, Roksana bateu em seu
cotovelo. — Duas doses, por favor. Patrón.
— Sim — ele grunhiu, se esquivando.
Ginny respirou fundo, preparando-se para sua primeira dose de álcool
de verdade e sentiu uma confusão se aproximando, devido aos seus nervos. —
Como os caçadores encontram este lugar?
— Enders está aqui há um século. Eu acho que a notícia se espalhou. Para
mim, encontrei Luther quando estávamos perseguindo o mesmo vampiro em
Gravesend. Ele é uma espécie de gerente não oficial. Ninguém nunca conheceu
a proprietária, mas há rumores.
— Que tipo?
— Dizem que ela é selvagem. Que, em seu escritório, ela exibe as cabeças
dos assassinos que não pagaram a sua guia do bar. Alguns dizem que ela é
uma princesa da máfia. Ninguém sabe a verdade. — Suas doses foram
estabelecidas na frente deles. Roksana deslizou uma na frente de Ginny antes
de içar a sua. — Saúde.
A tequila queimou ao descer.. Senhor, queimou. Ginny não achou
desagradável, no entanto. Espalhou-se em um lago de calor em sua barriga e
deu-lhe uma sensação relaxante do otimismo. — Vamos dançar.
Roksana estremeceu. — Posso te convencer a dançar em sua cadeira?
Ginny deu a ela um sinal de desculpas, Charlie. — Eu nem sei dançar,
então isso deve ser divertido.
— Copie-me, apenas. Não os que transam.
— Combinado.
Elas pularam de seus banquinhos e começaram a tecer através das mesas
altas e grupos de pessoas. Um passo de distância da pista de dança, a visão de
Ginny dobrou. A música expandido, as palavras estendendo
interminavelmente, como seus passos. Ela estava mesmo em
movimento? Foram as luzes ficando mais brilhante?
Foi quando a dor apareceu.
— Oh — ela soltou, seus joelhos pousando no chão, enviando dor
subindo por suas coxas. Mas não era nada comparado à agonia aguda em seu
estômago. Uma torção brusca que ela só poderia comparar a um atiçador de
lareira quente batendo em seu intestino a fez cair para o lado e se enrolar na
posição fetal. Ela se apertou em uma bola, mas isso só piorou a dor. Nada
ajudava. Nada ajudava.
Oh Senhor, faça isso parar.
— Ginny! — Roksana estava ao lado dela, passando as mãos por todo o
corpo, seu toque deixando fogo em seu rastro. — O que aconteceu? O que está
errado?
— Eu não sei —, ela suspirou, um terrível pulsar começando na
garganta. Havia a sensação de que ela precisava de algo. Uma cura. Agora agora
agora. O que estava acontecendo com ela? Ela não podia suportar a tortura
muito mais tempo e tudo o que podia pensar era Jonas. Ela precisava dele
lá. Ele iria parar a dor.
À distância, ela percebeu que as pessoas estavam se reunindo ao redor
delas. Banquetas de bar foram colocadas de lado e a música foi
interrompida. A voz de Roksana a alcançou, junto com uma pequena, mas
familiar. Como se fosse pelo telefone.
— Me escuta, porra —, Roksana gritou. — Há algo de errado com ela...
Eu não sei! Se eu soubesse, não estaria ligando para você. Ela está com dor, mas
não há ferimentos. Deus, ela está. É como ela estivesse morrendo. Me diga o que
fazer! Não. Ele me fez prometer que não o faria. — Houve uma pausa
pesada. — N-não, você não pode vir aqui. Você não pode...
A dor de Ginny finalmente diminuiu, deixando-a ofegante e fraca no
chão pegajoso, tremendo violentamente. Ela não conseguia nem falar para
dizer a Roksana que ela estava bem. Ela não teria tido tempo de dizer uma
palavra, de qualquer maneira, porque foi quando a porta do bar se abriu e o
pandemônio se seguiu.
— Que par de idiotas malditos — Roksana murmurou.
Ginny lutou para se sentar e só teve um vislumbre de Elias e Tucker na
entrada do bar quando Roksana a arrastou para um canto e ordenou que ela
não se movesse. Com sua mandíbula perto de seu colo, ela assistiu cada
assassino no estabelecimento sacar uma estaca.
— Oh, querido — Ginny sussurrou. — Essas são probabilidades terríveis.
Elias e Tucker tinham vindo para Enders por causa dela? O que eles
poderiam fazer para aliviar o que havia de errado com ela? Certamente ela
precisava de um médico humano e não de dois vampiros. Mesmo enquanto o
pensamento corria por sua mente, ela estava se levantando para ver a porta,
esperando que Jonas entrasse atrás deles. Implorando por ele.
Ele não fez isso.
Ela ignorou a onda de decepção e se concentrou no aqui e agora - e na
possibilidade muito real de que algo horrível estava para acontecer. Seus
amigos poderiam se machucar por causa dela. Certamente eles não poderiam
enfrentar uma sala inteira de caçadores de vampiros profissionais entre os
dois.
A boate estava dividida em duas.
Vampiros de um lado, assassinos do outro.
Roksana parou entre os dois lados e hesitou, seu olhar indo do par para
seus colegas. Por assim dizer.
— Vá —, Elias murmurou, seu rosto parcialmente escondido por um
boné de beisebol de aba baixa. Ficou claro para Ginny que ele estava falando
com Roksana, mas os assassinos ao redor dela murmuraram suas
especulações. — Vá!
Roksana permaneceu congelada.
Um assassino com uma miríade de perfurações na primeira fila avançou,
sua estaca erguida bem acima de sua cabeça e um grito de guerra perfurou o
ar. Ele estava indo direto para Elias quando Roksana o pegou de surpresa com
um chute, fazendo-o bater em uma fileira de mesas, jogando garrafas e velas
no chão.
Roksana olhou para o assassino atordoado com uma expressão rasgada,
lentamente mudando sua atenção para a multidão de assassinos nojentos.
Luther saiu da formação, traição gravada em suas feições. — Estou lendo
isso corretamente? Você protege... Um vampiro?
Indo de perplexa para aborrecida, ela deu de ombros. — Apenas
tentando equilibrar as chances. Ninguém gosta de um jogo desequilibrado.
— Você não é bem-vinda aqui nunca mais — Luther cuspiu.
Roksana suspirou. — Isso significa que a oferta para conhecer seus pais
está fora de questão?
Elias soltou um rosnado baixo e deu um passo na frente de Roksana.
Os assassinos se eriçaram.
Ginny lentamente se levantou e fez contato visual com Tucker. Ele
balançou a cabeça para ela quase imperceptivelmente, então ela ficou onde
estava, embora seu instinto fosse correr para a saída. Dessa forma, eles
poderiam segui-la e evitar o que tinha a certeza de ser uma briga mortal. Se
alguma coisa acontecesse com seus amigos por causa dela, ela não seria capaz
de viver com a tristeza ou culpa.
O que ela poderia fazer? Ela não tinha capacidades sobre-humanas e
provavelmente não poderia derrotar alguém cujo cargo profissional
era caçadora de vampiros em seu pior dia, a menos que talvez estivessem
jogando damas. Ela não teve escolha a não ser esperar e assistir.
Luther apontou em sua direção. — Aquela chegou com Roksana. Traga-
a para a sala dos fundos.
Mudança de planos.
Ginny não teve tempo para pensar quando dois assassinos carrancudos
começaram a se aproximar imediatamente. Ela nunca ansiou o atletismo tão
forte em sua vida como quando deu um salto com corrida antes, saltou para o
banquinho vazio e correu para o outro lado do bar. Ela só deu cinco passadas
antes de seu tornozelo ser capturado. Ela estava se preparando para chutar o
rosto do agressor - provavelmente enquanto se desculpava - quando um
borrão de cor a arrebatou do bar e a transportou para a saída.
— Espere, querida.
Tucker.
Ele a colocou de pé e a empurrou em direção à porta. — Vá. Corra para
casa. Nos encontraremos lá.
Sem esperar pela resposta dela, ele arregaçou as mangas de sua camisa e
se posicionou ao lado de Elias e Roksana prontos para a batalha. — Já faz um
tempo que não tenho uma briga de bar decente —, ele falou lentamente. —
Quem eu fodo primeiro?
O mundo desabou.
A explosão da batalha jogou as costas de Ginny contra a parede e, por
um momento, ela só poderia bocejar e se maravilhar com a habilidade de
Roksana. Ela assumiu assassinos dois de cada vez, lutando de volta para trás
com Elias, seus membros movendo-se em borrões graciosos e mortais. Tucker
gritou seu caminho através de uma série de clientes do bar, torcendo e
esquivando-se com a velocidade de um furacão. Ele arrancou estacas de suas
mãos e lançou-as para o teto, onde ficaram presas, enfurecendo os assassinos.
Eu devo ir.
Tucker disse a ela para ir, mas ela não conseguia se mover. Todos os três
amigos dela estavam lá por causa dela. Roksana tinha vindo para comemorar
o aniversário de Ginny e os amigos de Jonas estavam lá por causa de sua
doença misteriosa. Ela não podia simplesmente deixá-los entregues ao seu
destino. Não sem tentar ajudar.
Mesmo agora, o círculo de assassinos em torno de Elias e Roksana estava
se fechando. Eles estavam em vantagem por enquanto, mas por quanto
tempo? Cada vez que derrubavam um de seus oponentes, outro entrava em
seu lugar.
Mordendo o lábio inferior, Ginny examinou a boate. As
chances não estavam a seu favor, mas talvez ela pudesse fazer algo para
equilibrá-los.
Criar uma distração. Isso sempre funcionou no cinema, não é?
Vemos tão bem na escuridão quanto na luz.
Assim que as palavras de Jonas voltaram para Ginny, ela estava
deslizando ao longo da parede em direção ao bar, esperando que seus
movimentos não fossem detectados. Felizmente, o barman havia entrado na
briga, então não havia ninguém para impedi-la de ir para trás do bar e procurar
os interruptores de luz. Lá. Eles estavam bem atrás da caixa registradora, ao
lado do alarme de incêndio.
Ginny apagou as luzes e imediatamente, rugidos de consternação a
alcançaram do chão do bar. Esperando que seus amigos usassem a confusão
como uma chance de sair, ela se virou para sair, mas mudou de ideia e acionou
o alarme de incêndio para garantir. Um estalo líquido precedeu um dilúvio de
água chovendo do teto - e então a sirene estridente começou, abafando as
exclamações e corpos se chocando.
Ela não perdeu mais tempo correndo até a escotilha aberta do bar e
enganchando uma direita rápida, rezando para não tropeçar na escuridão em
seu caminho para a porta - e ela não o fez. Porque alguém a pegou e quebrou
recordes de terra no caminho para fora do bar, subindo a escada e indo para a
rua. Ela estava presumindo que essa era a rota escolhida, de qualquer
maneira. Ginny não viu nada além de cores chicoteando até que eles estavam
sob um poste de luz tremeluzente no lado oposto do beco.
Tentando se recuperar da rajada de vento em seus ouvidos, Ginny
apoiou as mãos nos joelhos e fez uma contagem de cabeças sem fôlego. Todos
eles estavam lá e, apesar de um arranhão na bochecha de Roksana,
ilesos. Graças a Deus.
— Boa assistência, querida — Tucker riu, dando a Ginny um high five. —
Você tem alguns problemas no sangue, não é?
— Falando em sangue… — Elias disse da sombra do lado de fora do
círculo de luz lançado pelo poste de luz. — Devemos nos mover agora.
Roksana praguejou em russo. — Não vamos levá-la lá. Eu prometi a ele.
— Se ele soubesse que a separação causaria dor a ela também, você
realmente acha que ele gostaria que você cumprisse essa promessa?
A boca da assassina formou uma linha sombria.
— Exatamente. — Elias fez uma pausa, antes de voltar com um conciso:
— Você vai consertar aquele corte na bochecha ou apenas ficar aí e sangrar até
a morte?
— Eu não tenho exatamente um kit de primeiros socorros à mão.
— Talvez seu namorado no bar tenha um.
Sem perder o ritmo, Roksana marchou na direção que eles vieram. —
Talvez ele tenha.
Elias a agarrou pelo cotovelo a meio passo. — Nem tente.
Ginny olhou entre eles. — O que vocês querem dizer? — ela respirava,
seu pulso disparando. — O que você quis dizer, causar a dor dela também?
Jonas está com dor?
— Agora, há um eufemismo — Elias murmurou, soltando o braço de
Roksana.
Ele começou a dizer mais, mas os assassinos correram para o beco a
cinquenta metros de distância, claramente procurando por seu quarteto para
continuar a batalha. — Lá estão eles —, alguém gritou.
— Mais cinco minutos, mãe? — Tucker choramingou, estalando os nós
dos dedos.
— Por favor — Ginny implorou. — Eu preciso de respostas.
Elias suspirou. — Vamos conversar quando chegarmos lá. — Ele deu as
costas para Roksana e ela subiu com um revirar de olhos. Ginny fez o mesmo
com Tucker. — Fiquem nos becos. A última coisa que precisamos é sermos
pegos correndo.
Eles dispararam noite adentro, viajando em uma velocidade tão alta que,
desta vez, Ginny definitivamente nem precisou de uma venda. Seus olhos não
puderam se fixar em um marco antes que ele desaparecesse. Um segundo eles
estavam descendo a rua e no próximo, ela estava sendo colocada no elevador
do prédio de Jonas, cercada protetoramente por Roksana, Elias e Tucker. Todos
os três observaram a fenda das portas de metal com cautela, equilibrando-se
nas pontas dos pés.
Por quê?
A respiração de Ginny começou a ficar cada vez mais rápida, os pelos de
sua nuca se arrepiando. Um ding os deixou saber que haviam chegado ao
porão quando um berro ensurdecedor de negação rasgou o ar.
Jonas?

Todo o ser de Ginny simplesmente exigia ser levado na direção do uivo


de Jonas. Ele está sofrendo, ele está sofrendo, ele está sofrendo. Seu cérebro não fazia
parte da operação. Seu coração e possivelmente algo mais básico e elementar a
sacudiu em direção à porta do apartamento, seus dedos envolvendo a
maçaneta da porta. Ela só teve a oportunidade de puxar uma vez e encontrá-
la trancada antes que Roksana lutasse contra ela. Longe do lugar que ela
precisava estar.
Um soluço brotou dentro dela, se libertando enquanto ela lutava nos
braços de sua amiga. Sua garganta inchou até que ela não conseguiu respirar,
uma corrente magnética puxando-a de volta para a porta e ela não queria
resistir. Ela queria entrar. Entrar agora. Ir até ele. Sua visão mudou para um
vermelho raivoso e seus dedos se transformaram em garras.
— Me solta — Ginny gritou. — Por favor.
Era essa a voz dela?
Ela parecia quase possuída, mas se importar estava além dela naquele
momento. Quem se importava com qualquer coisa quando seu coração estava
sendo puxado até a jugular, uma e outra vez? Ele está lá. Ele precisa de mim.
— Jonas!
As luzes chiavam no corredor, diminuindo, brilhando, como uma
pulsação. E então veio outro rugido, desta vez com o nome dela.
Seus pulmões paralisaram, sua pele parecia encolher em seus ossos.
Com um gemido agonizante, Ginny se retorceu no aperto de Roksana,
percebendo que Tucker e Elias também a seguravam - e isso os tornava
inimigos.
— Deixem-me entrar —, ela implorou, olhando para a porta do
apartamento como se fossem os portões do paraíso.
— Não até que você ouça — Elias estalou, a faixa de aço de seu braço
envolvendo a largura de seus ombros por trás. — Acredite em mim, estou do
seu lado. Eu sei que você ir lá é inevitável, mas precisamos prepará-la primeiro.
Roksana pressionou a mão fria no rosto de Ginny e acenou com a cabeça
lentamente. — Ele está bem. Ele vai ficar bem.
Aparentemente, era exatamente o que ela precisava ouvir, porque ela
caiu como uma marionete com as cordas cortadas, Elias e Roksana a abaixando
o resto do caminho até o chão. — Por que ele soa assim? O que está errado?
A assassina sentou-se na frente dela no chão, de pernas cruzadas, e pegou
as mãos de Ginny. — Isso pode ser um pouco assustador. Devíamos ter bebido
mais tequila. — Ela se moveu. — Ontem à noite, quando Jonas provou seu
sangue, tornou-se óbvio para ele que você é sua companheira.
Um prazer caloroso invadiu os sentidos de Ginny com a palavra e ela
olhou ansiosamente para a porta. — O que exatamente isso significa? Sua
companheira?
E por que eu gosto tanto disso?
Roksana hesitou. — Nós vamos…
— Tive uma ideia quando vi a maneira como ele se comportava perto de
você — Elias disse baixinho atrás dela. — Mas não deveria ser possível para
nossa espécie ter uma companheira... Duas vezes.
As palavras de Jonas, ditas dias antes, voltaram para ela. Eu senti algo
como amor uma vez, muito, muito tempo atrás. Provavelmente antes de seus pais
nascerem.
— Ele já teve uma companheira antes — Ginny empurrou seus lábios
sem sangue.
— Resumidamente — Tucker confirmou. — Muito brevemente. Mas a
extensão de tempo não importa. É o destino. Uma conexão. Para Jonas, em
ambas as vezes sua companheira foi humana.
— O que não é apenas muito incomum, Ginny — Roksana disse
lentamente, seu olhar estranhamente simpático. — Isso vem com algumas...
Dificuldades.
— Que são?— De repente, nenhum deles olhou para ela. Nem mesmo
Elias, que não parecia o tipo de hesitar em dar más notícias. —
Apenas me digam.
— Um vampiro sente sua companheira, mas até que ele prove o sangue
dela, ele permanece Silenciado — Roksana explicou. — Ontem à noite... Você
fez o coração dele bater de novo.
A alegria pura fez com que seus pulmões paralisassem. — Como pode
ser uma coisa ruim? — Ginny choramingou. — Ele é... Humano agora?
Tucker se agachou ao lado dela, simpatia gravada em suas feições. —
Longe disso. Ainda não pode ser exposto ao sol, ainda tem suas habilidades e
precisa de sangue para se sustentar. Ele está realmente mais vampírico do que
antes - e Roksana está certa. Isso vem com muitas complicações. — Ele
suspirou. — Agora que ele provou o sangue de sua companheira humana, ele
não pode beber de ninguém ou de qualquer outro lugar. — Ele esfregou a
nuca. — Ou ele pode... Mas não vai fazer a menor diferença na sede. Não vai
alimentá-lo e ele vai...
— Enfraquecer — Elias disse sucintamente. — Morrer.
As costelas de Ginny cederam. — Não. — Ela balançou a cabeça e tentou
se levantar mais uma vez, empurrando as mãos traidoras de Roksana. — Você
não ia me dizer isso? Você pensou que eu o deixaria morrer?
— Ele me fez prometer — ela disse, pondo-se de pé entre Ginny e a porta,
afastando-a com as mãos estendidas. — Coloque-se na posição dele. Ele não
quer que você passe sua vida como um... Como um...
— Lanche — Elias pronunciou. — Um permanente. Todos os dias da sua
vida.
O chão tremeu sob a intensidade do próximo berro de Jonas. A poeira
caiu do teto, distraindo seus três amigos por tempo suficiente para permitir
que Ginny corresse para a porta, sacudindo a maçaneta. — Abram. Deixem-
me ir até ele.
— Pense primeiro, querida —, disse Tucker, oh-tão-casualmente
colocando a mão na porta para mantê-la fechada. — Ele é nosso amigo. Ele
salvou nossas vidas, uma vez. Não queremos vê-lo morrer mais do que
você. Mas ele deixou seus desejos claros.
A mente de Ginny voltou para a conversa no beco do lado de fora do
bar. Antes que ela realmente soubesse do que eles estavam falando. — Elias
disse que não iria querer me manter longe se soubesse que a separação estava
me causando dor.
— Dor que vai diminuir se ele... — Elias caminhou pelo corredor e parou,
com as mãos na cintura. — Quando ele finalmente for embora.
Cada terminação nervosa em seu corpo gritava para ela entrar no
apartamento, mas ela se abateu sobre o impulso, tentando romper o domínio
que o desespero tinha sobre ela. Algo dentro dela estava vivo, como uma
corrente. E corr diiaretamente para Jonas. Mas ela era sua própria pessoa. Ela
era uma mulher solteira e solitária e, naquele momento, uma trilha divergia à
sua frente.
Se ela fosse em uma direção, sua vida adiante seria um mistério
completo. O que significava ser a companheira de um vampiro? Para saciar
sua sede a cada dia.
Ela ignorou a excitação e satisfação que tentaram fazê-la correr. Em vez
disso, ela imaginou as consequências de abraçar esta vida.
— Vou continuar a envelhecer? — ela sussurrou.
Tucker olhou para o chão e acenou com a cabeça.
Ela absorveu isso. — O que acontecerá com ele quando eu morrer?
— Não sabemos —, disse Elias, ainda se virando. — As poucas vezes no
passado, um vampiro acasalou-se com um humano... Eles foram executados
pelo Rei ou...
— Ou?
— Ou a tentativa de silenciá-los não funcionou.
As têmporas de Ginny batiam pesadamente, deixando-a tonta. Ela
fechou os olhos e sentiu a presença de Jonas dentro do apartamento, taciturna,
triste e miserável. — Eu também, Galã — ela sussurrou, espalhando a palma
da mão na porta.
E se ela tomasse o outro caminho?
Aquele com um futuro muito mais claro?
Ela continuaria a trabalhar na funerária, rodeada de lembranças de
momentos felizes com seu pai, mas nunca guardaria
lembranças mais felizes. Dela mesma.
A própria ideia de acordar em sua cama todas as manhãs e saber que
Jonas não andava mais pela terra a inundou com ácido ardente. Ela caiu contra
a porta e respirou fundo - e ela sabia. Ela sabia que a agonia lancinante nunca
iria embora. Não iria desaparecer como os restos de alguma paixão. Duas
vezes agora ela experimentou sua dor. Não foi? Sim. Uma conexão assim não
morre. Deixá-lo morrer sem lutar seria uma farsa.
Além disso, ela não tinha certeza se poderia viver sem ele.
Chame de intuição, mas ela já não era simplesmente ela mesma. Não
apenas Ginny. Ela tinha a marca invisível deste vampiro em sua alma. De
estarem juntos. Era suposto estarem. Ficar sem ele não era uma opção de
qualquer forma. Era cortar fita eterna do destino.
Na voz mais firme que conseguiu reunir, Ginny disse: — Eu entendo o
que estou fazendo. Abram a porta.
Sem se virar, ela podia sentir Elias, Tucker e Roksana trocando
olhares. Isso não a preocupava. Ela estava focada no homem do outro lado da
porta. Agora que ela tomou a decisão de viver como sua companheira, venha
o inferno ou alto mar, a justiça se estabeleceu em seus ombros e levantou seu
queixo. Quaisquer que fossem os obstáculos que viessem, eles estariam
juntos. E eles fariam um ao outro inteiros.
Elias inseriu uma chave na fechadura, girou e empurrou a porta.
Jonas não estava à vista, mas seu cheiro deslizou por sua garganta como
chocolate quente e mentolado, doce e bem-vindo. O instinto disse a ela onde
ele estava - e a realização fez seus olhos inundarem de umidade.
— Ele está acorrentado naquela sala, não é? Com a prata?
— Por ordem dele —, disse Roksana. — Precisamos deixá-lo
acorrentado, Ginny. Até que ele se controle. Ele... Não é ele mesmo agora.
— O controle que ele deve ter exercido... — Tucker assobiou baixinho. —
Para saborear sua companheira e não só negar mais a si mesmo, mas chegar
em casa e se trancar. Deve ter quase matado ele.
O coração de Ginny torceu dolorosamente. — Bem, o sofrimento dele
acaba agora. — Ela endireitou os ombros e caminhou na direção da sala dos
fundos...
Apenas para ser abatida por uma onda de dor tão astronômica, que fez
os dois primeiros episódios parecerem um espirro. No centro da sala de estar,
ela se dobrou e caiu com força sobre o ombro direito, gritando
lamentavelmente a plenos pulmões. Navalhas cortaram suas entranhas e o
fogo subiu por sua garganta, precisando, precisando, precisando...
Ao longe, ela ouviu correntes chacoalhando e Jonas gritando seu nome.
Roksana se abaixou ao lado de Ginny, sua expressão torturada. — O que
nós fazemos?
Nada. Não havia nada que eles pudessem fazer.
Ela tinha que fazer isso.
Ela tinha que chegar até Jonas.
Agora. Ou algo disse a Ginny que a dor iria dominá-la.
Lutando contra as ondas escaldantes que viajavam por sua cintura,
Ginny se posicionou de bruços e rastejou sobre as mãos e joelhos pelo
corredor. Em algum momento, Elias correu na frente e abriu a porta - e revelou
Jonas.
Ou o que costumava ser Jonas, de qualquer maneira.
Não era mais o príncipe dela.
Em seu lugar estava a personificação da fome de olhos fundos. Seus
pulsos algemados estavam ensanguentados e devastados, o cabelo suado e
emaranhado na testa. Ele estava sem camisa pela primeira vez desde que Gina
o conheceu, mas sua leitura dele não rendeu nenhum prazer. Senhor, não. Ele
estava magro, seus músculos tensos sob a pele cerosa.
O olhar selvagem em seus olhos parou Ginny no meio do rastejamento,
embora doesse colocar qualquer tipo de obstáculo em seu impulso. Como ela
iria se mexer de novo? Porque não importava o quão selvagem Jonas
parecesse, ela continuaria. Ela iria para ele. Na verdade, sua aparência tornava
a viagem mais urgente.
Mova-se.
Ginny deslizou um joelho para frente no chão de madeira do corredor,
batendo a palma da mão e puxando seu corpo latejante para mais perto. Ela
completou o movimento mais duas vezes antes de perceber que Jonas havia
parado de sacudir suas correntes. Um olhar em sua direção o mostrou de
joelhos, olhando para ela com horror.
— O que há de errado com ela? — Jonas explodiu, fazendo as tábuas do
assoalho tremerem. Ele puxou as correntes com um som desesperado. —
Ginny!
— Achamos que ela está sentindo sua dor.
Sua respiração o deixou com um estremecimento. — Não. — Lentamente,
sua cabeça começou a tremer em negação veemente. — Não, ela não pode estar
sentindo isso. Eu não posso deixar isso continuar. Elias, traga-me uma
estaca. Passe na porra do meu coração.
— Não me peça isso —, disse Elias, fervendo de raiva.
Os olhos verdes de Jonas brilharam sobre Ginny, seus pulsos inquietos
em suas correntes. — Ela vai sofrer até que eu vá de outra forma. Não. Não,
Deus. Isso pode levar semanas. Você não entende?
— Você não vai a lugar nenhum — Ginny conseguiu dizer, quase no
limiar da sala onde Jonas se aprisionou.
— Pare onde você está — Jonas ordenou, mesmo quando suas presas
cortaram à vista. — Elias. Tucker. Parem-na imediatamente.
— Eu tomei minha decisão. — A dor começou a diminuir gradualmente
e ela mal se impediu de cair no chão. — Você é minha decisão, Jonas.
— Você não sabe o que está dizendo — ele resmungou, uma dica de seu
eu régio habitual aparecendo. — Pegue a saída. Agora. Caso contrário, é para
sempre, Ginny.
Ele não achava que ela considerou isso? Ele não achava que ela pesou o
medo do desconhecido contra uma vida sem ele?
A dor a deixou tão fraca que era impossível formar palavras e respirar ao
mesmo tempo, então ela simplesmente continuou. Ele não seria capaz de negar
uma vez que eles estivessem se tocando, então esse era o objetivo dela.
Quando ela o alcançou, a presença principesca de Jonas foi mais uma vez
eclipsada pelo vampiro faminto. Ele empurrou em direção a ela com um
grunhido, os dentes à mostra, seu peito nu arfando. — Saia.
— Não.
As tábuas do piso tremeram sob seus joelhos, as luzes piscando no
corredor. — Saia.
Em vez de responder - obviamente ele não ia ouvir ou dar crédito a ela
por conhecer o que pensava - Ginny estendeu a mão e moldou a bochecha de
Jonas. Um estremecimento passou por ele, suas pálpebras ficando pesadas. Ele
apoiou o rosto na palma da mão dela, sussurrando o nome dela. —
Ginny. Amor, meu amor, meu amor...
— Vai ficar tudo bem agora — ela disse suavemente, afastando seu
cabelo caótico. — Você não pode tomar decisões como essa sem mim. Você
sabe o que teria feito comigo se você tivesse morrido? Por minha causa?
— Você estaria mais segura — ele murmurou densamente. — Mais feliz.
— Não mais feliz. Isso nunca.
Seu corpo ainda estava tenso, mas o ar de violência pairando ao redor
dele havia diminuído. Agora ele balançou em direção a ela com uma
mandíbula cerrada, como se castigando por precisar se aproximar. Bem, Ginny
não aceitaria isso.
Ela olhou por cima do ombro para seus três amigos. Elias estava de
costas, Tucker parecia fascinado ao ver Ginny e Jonas no chão. Roksana olhou
com medo por ela, então Ginny tentou tranquilizá-la com um pequeno
sorriso. — Feche a porta por favor.
— Tem certeza? — Roksana perguntou.
— Completamente.
— Pendure a chave na porta —, Jonas murmurou. — Onde eu não
consigo alcançá-la.
Elias resmungou concordando e prendeu a chave em um prego que havia
sido cravado na parede perto da entrada. Segundos depois, eles estavam
sozinhos. Jonas foi esticado o mais perto de Ginny que pôde enquanto estava
preso às correntes e seu corpo estava começando a tremer. — Nem sempre será
assim, amor. Não vou murchar depois de um único dia sem o seu...
— Meu sangue.
Seu engolir foi audível. — Tenho negligenciado meu apetite. Alguma
parte de mim soube no minuto em que nos conhecemos, nada jamais teria o
mesmo gosto novamente. — Ele se esforçou contra suas amarras, enviando
uma onda através dos músculos de seu abdômen. — Jesus Cristo. Estou com
tanto medo de machucar você, Ginny. Por favor, Deus, não me deixe machucar
você.
— Você não vai. Se você se trancou para não me machucar, se
você morreria voluntariamente por mim, como posso não estar segura?
— Não me reconheci nas últimas vinte e quatro horas. Eu nunca bebi
diretamente de um humano antes e meu primeiro humano é minha companheira
— ele disse com voz rouca. — Você não pode saber o que vou fazer.
Ela respirou fundo para acalmar a vibração de seu pulso. — Acho que é
por isso que temos as correntes.
Seu ceticismo não fez nada para reprimir o jeito faminto com que a
olhava. Como se a chamasse para mais perto com seu rosto lindo e olhos
verdes sedutores, enquanto se preocupava ao mesmo tempo que ela realmente
obedeceria. Essa preocupação diminuiu e desapareceu, abrindo caminho para
um temor lascivo, quando Ginny colocou a mão em seu peito e o empurrou
para se sentar. Acalmando-o com movimentos suaves das pontas dos dedos,
ela subiu em seu colo e montou nele.
Um gemido animal explodiu de Jonas, seus quadris movendo-se sob ela,
os elos das correntes tilintando juntos.
— Eu fiz seu coração bater — ela sussurrou, pressionando o ouvido no
centro do peito dele, ouvindo em silêncio pasmo o tamborilar agitado. — É
lindo.
— Não. Não, dói. Queima. É pesado de desejo por você, mas também
precisa do seu sangue para continuar batendo e isso faz... Isso torna o
desejo selvagem. Você tem que ficar longe de mim.
— Não — Ginny sussurrou. Ela esperou pacientemente que ele se
acomodasse, antes de deslizar para mais perto em seu colo. Até que o tecido
apertado de sua saia a impediu de abrir as pernas para acomodar seus quadris
que se moviam.
Mantendo seu contato visual intenso, ela se abaixou e puxou a saia cada
vez mais alto, sua energia se tornando mais e mais carregada a cada
centímetro. Ela pretendia parar uma vez que suas coxas pudessem abraçá-lo
com força, mas algo se rebelou dentro dela e antes que ela percebesse, a saia
inteira estava dobrada em torno de sua cintura e ela estava colocando a
calcinha no topo da calça jeans dele.
Ambos testaram o atrito e gemeram.
Jonas inclinou a cabeça e lambeu sua boca lentamente, ameaçando
corroer sua compostura. — Que roupa é essa que você está vestindo, amor? —
ele murmurou, deixando sua língua descansar em seu lábio
inferior. Arrastando-o de um lado para o outro. — Você acha que, olhando
como parte de um sacrifício, pode ajudar a me persuadir a aceitá-la?
— Eu não sou um sacrifício. — Ela balançou a cabeça. — Eu não posso
explicar como eu sei disso, mas esta noite parece... Inevitável. Você não sente
isso?
— Sim —, ele sussurrou, seu rosto bonito se contorcendo de dor. — Eu
odeio que você tenha sentido um grama dessa dor. Isso vai me assombrar para
sempre.
Houve uma agitação dolorosa dentro de Ginny, dizendo-lhe que outro
episódio estava se aproximando e, embora ela quisesse evitar isso, ela queria
aliviar a agonia de Jonas tanto quanto. Ela se inclinou e beijou-o suavemente,
odiando os tremores que passavam por ele, sabendo em primeira mão que
eram insuportáveis.
— Ginny, não posso ter você tão perto por muito mais tempo sem...
— Eu sei. — Ela acariciou seu rosto. — Isso não vai... Me tornar uma
vampira?
— Há um veneno dentro de nós que só é liberado quando a vítima está
perto de... — Seus olhos se fecharam com força. — Morrer. É involuntário, um
produto da nossa verdadeira natureza de predadores e é a única coisa que
pode transformar um ser humano... Deus me ajude, não vou deixar chegar tão
longe. Eu nunca faria você como eu.
Encantada com as presas que ele expôs a ela com sua veemência, Ginny
prendeu seus longos cabelos em um punho e os arrumou de lado. — Eu confio
em você.
E então ela ofereceu-lhe o pescoço.

Brasas verdes brotaram dos olhos de Jonas. Ele ainda parecia


determinado a lutar contra sua óbvia sede por ela. Para Ginny, sua luxúria era
inebriante. Não era apenas por seu sangue também. Com o pescoço exposto e
vulnerável, ela sentiu o eixo dele engrossar entre suas pernas e seus mamilos
endurecerem em resposta. Suas inspirações e expirações tornaram-se agudas,
irregulares, e ela não podia mais evitar balançar em seu colo do que ela poderia
atirar lasers com a ponta dos dedos.
— Você me faz desejar desesperadamente o uso de minhas mãos —, ele
murmurou.
— O que você faria com elas?
— Manter sua bunda quieta antes que cause muitos problemas.
Oh meu. Ele definitivamente não parecia mais um príncipe - e ela se
importava muito menos com isso do que poderia ter imaginado. — Que
problema isso está causando?
— Eu anseio por minha companheira de várias maneiras, amor — Jonas
disse, erguendo seus quadris junto com Ginny, que só podia agarrar seus
ombros e choramingar. — E eu ansiei constantemente por dias, embora eu
pudesse jurar que foram décadas.
Suas bocas se juntaram em um beijo que foi ao mesmo tempo áspero e
reverente. Estar posicionada no colo de Jonas colocava suas bocas no nível e
eles não podiam chegar perto o suficiente. Ele transferiu grunhidos baixos para
sua boca, lambendo-os com a língua, seus lábios exigentes, sedutores e
intuitivos. Quando ele se afastou e ordenou que Ginny respirasse, ela estava
tonta e excitada. Tão excitada. As mãos dela acariciaram seu peito para cima e
para baixo em adoração, a palavra por favor caindo de seus lábios inchados
repetidamente.
Embora ela implorasse por Jonas para dar-lhe o que eles tanto
precisavam, ela ainda engasgou em choque quando ele agarrou seu cabelo com
força, sua expressão nada menos do predatória. Nada menos do que elétrica e
emocionante.
Ele se inclinou e lambeu o lado de seu pescoço, longa e lentamente. —
Minha — ele murmurou, plantando um beijo quente de boca aberta em seu
pulso. — Inevitavelmente, inegavelmente minha. Que Deus ajude a todos nós.
Ginny se preparou para a dor - e ela conseguiu. A picada chocante fez
seu corpo estremecer e torcer, mas uma onda de calor entorpecente se seguiu
tão rapidamente depois que ela se acalmou. Como se estivesse sob
comando. Paralisada e sentiu as presas afiadas afundando nela. Ouviu a
exclamação abafada de Jonas contra sua pele, seguida por um gemido
exultante.
Ela foi pega.
Possuída.
Ela pertencia bem ali, em seu colo, presa a seu corpo e aceitando sua
mordida, incapaz de se mover. Mesmo se ela pudesse, ela não faria. Essa
verdade cantou em seu sangue quando Jonas a levou à boca com avidez, a
carne entre suas pernas subindo ainda mais para encontrá-la. Precisando dela.
As coxas de Ginny começaram a tremer em torno de seus quadris e ela
desejou esfregar-se descaradamente em sua ereção. Preciso me mover. Preciso me
mover. O calor a inundou, fazendo sua pele ficar vermelha, sua feminilidade
inquieta. Se ela pudesse apenas torcer um pouco, ela poderia esfregar os
mamilos contra o peito dele e talvez obter algum alívio, porque parecia estar
tão perto.
Tão perto.
Seus pensamentos começaram a confusão e sua visão da parede piscou
dentro e para fora. Demais? Jonas estava tomando muito sangue? Seu poder
de expressão estava ausente, para que ela não pudesse avisá-lo. Em algum
nível, ela ainda tinha aversão de pará-lo. Ele era insaciável para o gosto dela,
ainda gemendo com tanta satisfação como ele tinha nos primeiros segundos,
sua boca aspirado para o seu pescoço como ele poderia desaparecer. E agora
fazia... Há quanto tempo eles estavam... Fazendo isso...?
Jonas se afastou de Ginny com dificuldade óbvia, passando seu olhar
brilhante e em tom de joia pelo rosto dela, parecendo um homem que vendeu
sua alma ao diabo e não a aceitaria de volta por nada no mundo. Suas presas
ainda estavam fora e ele as lambeu agora, um estremecimento o destruindo. —
Meu Deus é o seu doce sustento. — Ele depositou beijos na linha do cabelo dela,
suas bochechas, terminando com um puxão forte de sua boca. — Diga-me que
você está bem, amor. Diga-me que não fui muito longe. Ginny.
— Estou bem. — Ela afundou os dedos em seu cabelo. — Estou bem.
Ele pressionou suas testas juntas. — Se você soubesse... Se você soubesse
o que seu gosto faz comigo. Você é um banquete depois da fome. — Ele
balançou a cabeça lentamente e sussurrou: — Obrigado.
Seu tom de adoração não fez nada para dissipar a fome que ele
persuadiu. De jeito nenhum. Ela finalmente foi capaz de se mover e ela saltou
do corpo em ação, tentando compensar o tempo que ela tinha ficado
imóvel. Subiu as pontas dos dedos em seu corpo duro, unhas cravadas em seus
ombros, seus quadris começando uma oscilação lenta que ela não parecia estar
no controle. Isso não era mero desejo, havia algo sobre a mordida que tornava
cada sensação mais completa, fez seus membros lânguida e luz.
— Bom —, disse ele com voz rouca. — Pegue o que você precisa de mim
agora. Se minhas mãos não estivessem acorrentadas, eu te deitaria e daria a
você um orgasmo bom pra caralho.
Desde quando epítetos a excitavam? Talvez uma vez que eles foram
entregues em um grunhido gutural e cada puxão de seus quadris pareciam
fazê-lo... Inchar. Endurecer. Ela estava realmente fazendo isso? Buscando o
alívio com Jonas veio naturalmente, embora ela nunca tenha estado lá em sua
vida. Não com ele ou qualquer outra pessoa. E, no entanto, seu corpo sabia
exatamente onde ela precisava ir e pediu a ela para montar, chegar lá, se
esfregar, chegar lá.
— Você veio aqui tão linda e corajosa — ele rangeu, inclinando-se para
trás para observar o ponto onde a parte inferior de seus corpos estava criando
a fricção mais frenética, sua calcinha de algodão se movendo em cima de jeans
esticados. — Levantou sua saia para mim e me ofereceu seu pescoço lindo, não
foi?
— Sim — ela soluçou.
— Minha mordida te deixou molhada — ele enunciou. — Não deixou?
Ela assentiu com a cabeça bruscamente e apressou o ritmo, sentindo o
fim de sua frustração se aproximando. Finalmente. Finalmente.
Em resposta à sua confissão silenciosa, a cabeça de Jonas caiu para trás
em um gemido. — Pode ser hora de conseguir alguns espelhos. Eu daria
qualquer coisa para ver suas nádegas apertadas bombeando no meu colo
agora.
Um vulcão de felicidade irrompeu dentro dela, prendendo um suspiro
em sua garganta. Suas palavras apunhalaram sua compostura como pequenas
adagas e ela se abateu, prolongando a onda de alívio ao esfregar para cima e
para trás em sua espessura. — Oh Senhor, oh Senhor, oh Senhor — ela
choramingou, passando as unhas pelas costas dele. — Isso é tão bom.
— Lembre-se dessa sensação — ele disse, pressionando os dentes à
mostra em sua bochecha. — Você só consegue isso de seu companheiro. Apenas
dele.
A satisfação dele ronronou em seu ouvido, mas ela ainda podia sentir
aquela parte dura de Jonas cutucando sua calcinha - e foi puro instinto que fez
Ginny rastejar para trás e se ajoelhar entre suas pernas estendidas, embora as
dela ainda estivessem tremendo. Ela alcançou o zíper de sua calça jeans e fez
uma pausa, não apenas em sua maldição afiada, mas porque ela foi dominada
por vê-lo.
Jonas Cantrell esparramado em nada além de jeans e músculos
permanentemente flexionados, braços suspensos no ar em correntes, seu
cabelo escuro bagunçado pelos dedos dela? Ele poderia ter sido um presente
de Deus para as mulheres se não estivesse olhando para Ginny com adoração
total e absoluta. O tipo que a deixava saber de propósito que só seria ela. E ela
estava absolutamente certa de que olhava para ele da mesma maneira. Sua
pura idolatria era em ambos os sentidos.
Sua atenção de adoração deu confiança a Ginny, fazendo-a se sentir
sexy. Talvez pela primeira vez em toda sua vida. Jonas poderia ter feito ela se
sentir desejada como o inferno antes, mas isso era diferente. Ela acabara de ter um
orgasmo em seu colo depois que ele bebeu seu sangue.
Limites? Que limites?
Antes que a liberdade inebriante pudesse se dissipar, Ginny se abaixou e
agarrou a bainha de sua blusa, puxando-a sobre a cabeça, deixando-se vestida
com nada além de uma saia alta, fio dental e um sutiã rendado.
— Doce Jesus — ele sussurrou. — Você é um anjo.
Seus dedos patinaram por suas coxas cobertas por jeans e baixaram o
zíper de sua calça jeans. As palavras que ela queria dizer saltaram em sua
garganta até que ela superou seu vestígio final de timidez. — Eu sou seu anjo.
A posse açoitou seus olhos. — Oh sim, você é. Mesmo quando você está
pensando em fazer algo exatamente o oposto de angelical.
Ela se inclinou e beijou a trilha de pelos escuros em sua barriga. — Você
quer que eu pare? — ela perguntou, explorando o contorno dele com a ponta
dos dedos.
Em resposta, uma arandela na parede explodiu e morreu.
— Eu preciso ser um cavalheiro — ele ralou.
Seus lábios se curvaram contra sua pele. — Com essa boca?
— Isso... Ofende você?
— Não. — Ela agarrou seu comprimento em sua mão, maravilhada com
a textura, lisa sobre a dura. Tão dura. E longa. — Eu gosto —, ela sussurrou.
— Estamos falando sobre minha boca ou meu... — Ele se interrompeu
com um gemido quando Ginny deu-lhe um golpe de teste, amando a maneira
como seus quadris se erguiam como se impulsionados, seu abdômen
flexionando quase violentamente. — Cristo. Vai me matar se você parar.
— Por que você quer me impedir?
— Querer? Não. — Ele puxou as correntes uma vez, então se acalmou
visivelmente. Seus olhos permaneceram fechados por vários segundos. — Eu
nunca... Me liberei, Ginny. Não desde que fui silenciado.
Sua sobrancelha se franziu. — Você me disse que tinha estado com...
— Prazer é uma coisa, mas sem minha companheira... Sem você, não há
nada para soltar. — Sua expressão era uma mistura de humor e fome. — Por
assim dizer.
— Oh.
— Eu estarei dentro de você quando isso acontecer pela primeira vez. E
antes de chegarmos lá, vou precisar de uso total de minhas mãos e boca.
Imagens perversas dançaram em sua mente. — Oh.
Seus lábios se contraíram, como se ele pudesse ler seus pensamentos. —
Já estou preocupado em controlar minhas forças com você, Ginny. — Esses
olhos caíram e percorreram suas coxas. — Eu não quero você nada menos do
que pronta em cima disso.
Seus mamilos formigaram. — Oh — ela sussurrou novamente, como
uma simplória. — Quando nós... Você vai... Me engravidar?
— Não. — O arrependimento brilhou em seu rosto. — Não, não posso. Se
eu tivesse essa habilidade, você sabe que eu...
Ela o parou com um beijo. Sua resposta não inspirou um sentimento de
perda ou a fez questionar a decisão que ela tomou ao entrar no
apartamento. Ela nunca teria filhos. Era um fato a ser absorvido e não um
golpe para o sistema. Sua vida poderia ainda estar cheia, mesmo assim, sem
essa parte da vida que ela nunca tinha considerado fortemente para começar.
— Tudo bem —, disse ela calmamente, esfregando suas testas. — Os.
— Os? — ele sussurrou.
— Sim.
Sua garganta funcionou. — Mais uma coisa, Ginny?
— Sim?
— Eu obtenho mais prazer em segurar sua mão do que eu tive em toda a
minha maldita vida combinada. Só para esclarecermos.
Uma pressão que ela não tinha consciência de viver em seu peito
evaporou como se nunca tivesse existido, deixando calor e desejo para trás. —
Posso soltar você agora?
Suas narinas dilataram-se. — Acho que sim.
Ginny apertou o zíper de Jonas entre os dedos e puxou-o devagar,
observando o movimento dos músculos em seu estômago. Mesmo assim, a
energia que Jonas liberava era elétrica. Urgente. Focada nela. Ela quase
tropeçou quando se levantou e se virou para pegar as chaves. O rosnado de
Jonas e o barulho das correntes a lembraram de que a saia ainda estava
levantada em torno de seus quadris - e que ela não estava usando uma blusa.
Murmurando desculpas, ela puxou para baixo a saia e puxou a blusa pela
cabeça. Começando a perder a paciência por tê-lo em cativeiro como um
animal, ela agarrou apressadamente as chaves. Ela permaneceu de pé
enquanto liberava sua mão direita da primeira algema, sua respiração
prendendo quando ele imediatamente colocou um braço em volta de seus
quadris e a puxou para perto, beijando sua barriga com a boca aberta, sugando-
a avidamente como se fosse sua boca.
— Devo continuar?
Ele afastou a boca, rolando a testa de um lado para o outro contra o
estômago dela, antes de se retirar completamente. — Sim. — Aqueles olhos a
encontraram e seguraram. — Estou com tanto controle quanto estarei perto de
você.
Com um clique, ela abriu a segunda algema e imediatamente se
encontrou do outro lado da pequena sala, presa entre seu vampiro e a porta. —
Assim que eu conseguir me controlar no que diz respeito a você, Ginny — ele
gemeu em seu pescoço. — Eu vou te foder indefinidamente.
Tudo ao sul de seu umbigo se apertou. — Aí está essa boca de novo.
Seu sorriso era tão promissor que quase a fez chorar. Recuando um
pouco, ele ergueu Ginny nos braços e abriu a porta sem colocar um dedo na
maçaneta. Um olhar para Roksana onde ela estava no final do corredor e Ginny
sabia que ela tinha ouvido um pouco do que aconteceu na sala.
Elias e Tucker apareceram em cada lado dela, seus ombros relaxando
quando deduziram que tudo estava bem. — Está com bom aspecto, príncipe
— gritou Tucker, com bom humor. — Você cortou o cabelo ou algo assim?
— Engraçado —, Jonas falou lentamente.
Olhando para ele com o rosto contra seu ombro, Ginny teve que admitir
que ele parecia incrível. Ainda melhor do que da primeira vez que o conheceu,
o que dizia algo, considerando que o homem estava oito degraus acima de sua
beleza. Seus olhos estavam claros agora, sua pele brilhando com saúde. Claro,
seu cabelo ainda estava desgrenhado das últimas vinte e quatro horas, mas
estava visivelmente mais rico em cores. Ela realmente foi responsável pela
transformação? Tal coisa parecia impossível.
O que não parecia mais impossível?
Jonas a carregou para seu quarto, deixando a porta aberta atrás deles. Ele
a deitou em sua cama e deu um beijo suave em sua boca. — Durma.
A sonolência a alcançou com a expressão daquela única palavra e suas
pálpebras ficaram pesadas. — Jonas? — perguntou ela, observando as feridas
nos pulsos causados pela prata já parecia menos dolorosa. — O que acontece
agora que nós estamos quebrando duas das regras?
O silêncio passou. — Minha sanidade, minha alma, minha existência,
depende de você ser minha. — Ele apertou o punho contra o peito, bem acima
do coração. — Isso não pode ser regido por regras. Eu fui um tolo em pensar
que isso poderia acontecer. — Com um beijo final prolongado em seus lábios,
ele se levantou e saiu da sala.
A porta se fechou, sem deixar nenhum som para trás, exceto o pulso
acelerado de Ginny.
Ginny acordou ao som da discussão.
Na ausência de janelas, ela não tinha como avaliar a hora do dia. Até que
começou a procurar seu celular, ela não percebeu que ainda estava em
Enders. Junto com sua bolsa. Com um gemido, ela saiu da cama, os eventos da
noite anterior voltando para ela em um rio de cores e sensações.
Ela era a companheira de Jonas agora. Para a vida.
Um arrepio quente dançou em sua nuca.
Sua nova realidade parecia tudo menos realidade, especialmente porque
suas antigas responsabilidades permaneceram. Ela ainda precisava ligar para
Larissa e verificar se elas haviam recebido novas perguntas de clientes. Em
seguida, havia a questão da exposição de vestidos de hoje à noite e os retoques
finais que ela ainda precisava para colocar em sua coleção. Coisas normais - ela
estava realmente grata por elas, embora ela se perguntasse se realizar suas
rotinas usuais algum dia pareceria remotamente o mesmo novamente, quando
essa necessidade dolorosa por Jonas agora era uma parte dela.
Como ela poderia sentir falta dele a ponto de doer quando ele estava na
sala ao lado?
Colocando a mão no coração gaguejante, Ginny saiu para o corredor.
A discussão cessou abruptamente.
Ela virou a esquina para a cozinha, encontrando três vampiros e uma
assassina em um estado de animação suspensa.
Seu olhar procurou Jonas imediatamente. Ele estava com as palmas das
mãos espalmadas na mesa da cozinha de frente para Roksana, a agitação
persistente em seu rosto. Ele desapareceu quando ele viu Ginny. — Bom dia
— ele murmurou, examinando sua cabeça aos pés, seus dedos curvando-se
sobre a mesa.
— Bom dia — ela murmurou, formigamentos estourando ao longo de
seus membros. Existem outras pessoas ao redor. Sacudindo-se mentalmente, ela
colocou um pouco de cabelo atrás da orelha, com certeza parecia que ela tinha
dormido em um arbusto durante uma tempestade de vento. — Você tem um
espelho, Roksana?
— Eu não — ela disse, estendendo o telefone para Ginny. — Use minha
câmera.
— Vou economizar seu tempo —, disse Jonas em um tom áspero. — Você
está maravilhosa.
— Maldito. Vocês dois poderiam diminuir um nível? — Elias perguntou,
com o rosto enterrado na geladeira. — É desconfortável.
— Não para mim —, disse Tucker, recostando-se na cadeira. — Assistirei
a qualquer hora. Me convidem.
Jonas olhou de soslaio para ele. — Não em seus sonhos mais selvagens.
Tucker encolheu os ombros. — Vale a pena tentar.
Ginny ergueu a câmera reversa e estremeceu ao ver sua aparência de
vítima de tornado, abaixando rapidamente o telefone. — Sobre o que todo
mundo estava discutindo antes?
Todos olharam para Jonas.
Ele se afastou da mesa. Começou a responder e parou. — Estamos
discutindo a melhor forma de proceder com segurança. Agora que você e eu
somos... — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça. — Agora que estamos
juntos. — Olhos intensos fixaram-se nos dela. — Indefinidamente.
Seu abdômen apertou. — Você quer dizer como proceder com segurança
para não sermos descobertos?
— Tome seu assento na Ordem e mude as leis. — Elias fechou a geladeira
com força, mas continuou de costas. — Você recusa uma posição que muitos
cobiçam.
— Clarence nunca mudará as leis —, entoou Jonas. — Ao tentar
convencê-lo a fazê-lo para o meu próprio ganho, eu só a coloco em perigo.
— Eu não me importo com o que vocês sugadores de sangue decidam
fazer — Roksana suspirou. — Estou aqui apenas para proteger a humana.
Jonas balançou a cabeça. — Sim, você fez um bom trabalho ao
levar minha companheira para um bar de caça. Você não percebeu o quão valiosa
ela seria para eles? Para me atrair?
— Não é algo que um humano poderia sentir — Roksana fervia. — Ela
estava segura.
— Parem todos — Ginny disse, indo até Jonas e colocando a mão em seu
braço. — Não adianta brigar por isso agora. Estou bem.
Jonas estremeceu com seu toque. — Ginny...
— Você estava acorrentado em uma sala planejando se matar — ela disse
desigualmente. — E você tem coragem de gritar sobre eu sair para tomar uma
cerveja?
— Ahhh. — Tucker riu e deu um tapa na mesa. — Mulheres humanas
não perdem discussões, cara. Elas têm um sistema de arquivamento de merdas
que você errou. É melhor você reconhecer.
— Isso é verdade? — Jonas perguntou, diversão suavizando sua
expressão.
— Não sei. — Seu nariz enrugou. — Nunca ganhei uma discussão,
porque nunca estive em um relacionamento.
— Graças a Deus por isso — ele murmurou, inclinando-se para olhar
para a boca dela.
Ela recuou rapidamente. — Eu não tenho uma escova de dente aqui —
ela deixou escapar, cobrindo a boca. — Isso não fui eu pedindo uma,
também. Eu sei que é apenas minha segunda vez.
— E?
— E... Eu não sei. — O calor subiu por seu pescoço. — Eu não quero que
você pense que estou presumindo alguma coisa.
Jonas olhou para Roksana. — O que estou perdendo?
— Não pergunte à assassina — Elias falou lentamente. — Ela não sabe
como as mulheres normais pensam.
— Ela está preocupada que você pense que ela é uma vigarista. —
Roksana mostrou a Elias seu dedo médio. — Eu geralmente me preocupo mais
com os homens que namoro ficando pegajosos. Tão chato quando isso acontece.
— Com um som agudo de irritação, Elias saiu da cozinha tão rápido que
deixou o cabelo de uma presunçosa Roksana flutuando no ar. — Tão sensível.
— Por que eu não gostaria que você se apegue a mim? — Jonas
perguntou, ignorando a cena. — Eu espero que você se apegue, Ginny.
— É que não conversamos sobre... Logística. Quando nos veremos e
onde. Você só vai aparecer no meu quarto à noite? Ainda vou ficar com os
olhos vendados em todos os lugares que formos? Eu sou...
— Ela está se sentindo insegura, Jonas — Tucker chamou. — Conserte
isso.
— Oh, eu vou —, disse ele lentamente, estudando-a com mais
intensidade do que o normal. — Assim que eu descobrir a maneira mais
eficaz. Embora eu não tenha certeza de que algo diga 'Estou comprometido'
mais do que fazer de uma mulher a força vital de sustentação.
— Você está pensando como um vampiro —, disse Tucker. — Ela é uma
humana. Ela precisa de gestos humanos.
— Ei. — Ginny cruzou os braços. — Pare de falar de mim como se eu não
estivesse aqui.
Os lábios de Jonas se contraíram. — Desculpa amor. Está com fome?
— Sim. — Ela definiu sua voz para um sussurro. — Você está?
— Sempre —, ele respirou, as pálpebras fechando. — Eu posso esperar,
no entanto.
— Você pode?
— Vou exercer moderação desde o início. — Jonas circulou o polegar no
oco de sua garganta. — Eu não vou sobrecarregar você.
Ele se virou e foi até o balcão antes que ela pudesse responder,
permanecendo equilibrado com os punhos no balcão por um momento, antes
de pegar a caixa de ovos no balcão. Qual teria sido sua resposta? Que,
estranhamente, ela gostou de como se sentiu quando ele se encheu? Que
parecia alívio e volta ao lar, tudo em um? Isso a tornava envergonhada ou
estranha?
Ginny se sacudiu. — Roksana, posso usar seu telefone para ligar para
Larissa? Deixei minhas coisas no bar.
Roksana revirou os olhos sobre o rosnado de Jonas. — Claro, senhora.
Ela levou o telefone para a sala e sentou-se no sofá, digitando o número
da funerária de memória. A madrasta de Ginny atendeu no segundo toque. —
P. Casa funerária Lynn.
— Larissa. Oi, é a Ginny.
— Ginny. Onde você está? Vim buscar uma caixa de lenços de papel
porque ainda me sinto uma merda e havia cinco mensagens de um homem
querendo marcar os serviços de seu filho. Eu não posso me encontrar com
ele. Eu sou como uma zumbi.
Ela manteve a paciência. — Quando ele quer se encontrar?
— Esta noite. Seis horas. Eu sei que seu turno não começa até mais tarde,
mas...
— Oh, Larissa. Eu faria isso, mas minha exposição de vestidos é hoje à
noite...
— Sua o quê?
Ginny fechou os olhos. — Nada. Vou apenas sair tarde. Você pode
confirmar o encontro e avisá-lo que estarei lá?
— Sim. Certo. — Ela parecia uma jangada murchando. — Ginny, temos
que vender este lugar, mesmo que tenhamos prejuízo. Isso é como o Dia da
Marmota infernal. Não fui feita para estar rodeada de mortes e pessoas
tristes. Eu juro que acho que está me deixando doente.
— Ok, Larissa — Ginny empurrou seus lábios entorpecidos. — Eu
realmente vou sentar e considerar isso esta semana. Eu quero dizer isso. Eu
não quero que você seja miserável.
— Você não está infeliz também? Você não quer tentar algo novo? Nós
poderíamos... Eu não sei. Podemos tentar algo novo juntas, sabe? Eu não sou
tão ruim assim, sou? — Sua madrasta mordeu uma maldição. — Ouça-me
divagar. Estou apenas estressada.
— Está bem. — Ginny apertou os lábios. — Tchau, Larissa.
A linha já estava morta.
Ginny deixou o telefone cair em seu colo, começando quando encontrou
Jonas parado no final do sofá, olhando para ela com preocupação.
— Você ouviu tudo isso? — ela perguntou.
Equações se resolvendo por trás de seus olhos dourados. — Sim.
Ela acenou com a cabeça, grata quando ele não pressionou. — Eu tenho
que ir para casa.
— Eu sei. — Estava claro que ele também não gostava. — Esta noite é
importante para você. Roksana ficará com você até que eu possa...
— Sair?
Jonas permaneceu imóvel. Mas, pela primeira vez, as diferenças entre
eles eram um problema de longo prazo. Não eram apenas detalhes que não
importariam mais uma vez que sua memória fosse apagada. Jonas não podia
sair ao sol. Eles nunca poderiam caminhar juntos ao longo do calçadão, ou
mesmo deitar na cama em uma manhã de domingo com a luz entrando pela
janela.
Quando ela fez essas coisas?
De certa forma, ela já mantinha as horas de uma vampira, dormindo a
maior parte do dia e trabalhando no turno da noite. Ficar dentro de casa
durante o dia nem seria um grande ajuste para ela, mas Jonas parecia
preocupado, no entanto.
— Está tudo bem —, disse ela. — Sentirei sua falta até esta noite, mas está
tudo bem.
— Eu irei sentir sua falta também. Impiedosamente. — A veia em sua
têmpora pulsou quando ele estendeu a mão. — Venha tomar café da manhã.
Foi definitivamente uma nova experiência, tomar café da manhã sentada
no colo de Jonas, seu polegar roçando para frente e para trás contra a parte
inferior de suas costas. Ela estava grata por Roksana ter alguns dos ovos
também, então ela não tinha que ser a única comendo. Assim que terminaram
e todos começaram a limpar os pratos, seu estômago começou a latejar de
nervosismo. Porque ela estava deixando Jonas?
É assim que parecia. Como se estivessem em lados opostos do país, em
vez de extremidades opostas de Coney Island.
— Eu posso ouvir seu pulso batendo rápido, amor — ele sussurrou em
seu ouvido. — Vai dar tudo certo.
Ginny abanou o rosto. — Por que me sinto assim?
— Eu odeio deixar você ir, também, mas não sei se nossos motivos
combinam. — Ele enfiou a cabeça dela embaixo do queixo. — Talvez você
esteja preocupada que a dor volte se você me deixar. Não vai. Não antes de te
ver de novo.
— Eu ficaria mais preocupada com a dor voltando para você... Mas eu
não acho que seja isso. — Ela tentou encontrar uma maneira de expressar sua
ansiedade em palavras. — Tudo parece tão frágil. Assim... nós... Podemos ser
levados embora a qualquer minuto.
Ele beijou sua testa com força. — Somos o oposto de frágeis, você e eu.
Ainda andando sobre alfinetes e agulhas, Ginny assentiu. Junte-se a
isso. Eles não podiam ficar juntos vinte e quatro horas por dia. Ambos tinham
responsabilidades. Eles eram pessoas independentes. Ela tinha que trabalhar
na funerária e manter seus interesses. Ele tinha os novatos para treinar. Se ela
fosse vítima agora do impulso de nunca sair do lado de Jonas, ela nunca o
superaria no futuro.
— Por que você está preocupado em me deixar sair?
— Embora não sejamos frágeis, amor... Você é. Você não pode resistir a
um acidente ou uma longa queda ou... — Ele se interrompeu com uma exalação
áspera. — Roksana, por favor.
— Eu irei protegê-la com minha vida — a assassina disse enquanto
esperava na porta. — Com o melhor de minha capacidade. Você sabe que eu
vou.
— Eu sei que temos que nos preocupar com a Alta Ordem descobrir sobre
nós agora, mas Seymour se foi. Você cuidou da ameaça imediata ontem à noite
— Ginny o lembrou, levantando-se de seu colo. — Vejo você quando o sol se
por.
— Eu estarei observando o relógio — ele murmurou, pegando sua mão
e passando os lábios em seus nós dos dedos. — Tchau, Ginny. — Ela estava
quase na porta quando Jonas apareceu entre ela e a porta com uma expressão
determinada em sua mandíbula. — Minha companheira não vai me dar um
beijo de despedida?
As flores desabrocharam no solo de suas terminações nervosas, brotando
como margaridas na primavera. — Tem certeza de que é um bom...
A boca de Jonas já estava na dela, esgotando seus pulmões de ar. Ele o
pegou e o devolveu a ela em uma troca gananciosa. Os dedos de sua mão
direita moldaram-se na nuca dela, deslizando-se em seu cabelo e agarrando-o,
sua língua viajando em sua boca para tocar suas línguas juntas. Apenas uma
dica. E outra. Essa fricção suave em comparação com seu aperto, que poderia
muito bem ser feito de barras de aço. As coxas de Ginny coçaram para pousar
em seus quadris, mas ele a deixou tonta demais para seguir em frente, mais
uma vez puxando o ar de seu corpo e respirando-o mais uma vez.
— Eu carrego você em minhas veias, você me carrega em seus pulmões.
Atordoada, ela acenou com a cabeça.
Com um sorriso satisfeito, ele a virou para a porta onde Roksana ainda
estava esperando com os olhos desviados. — Esta noite, Ginny.
Ela saiu tão atordoada que não percebeu até que estavam do lado de fora
na calçada que Jonas não a vendou. Virando-se para encarar o prédio, ela
percebeu que estava dormindo no porão do abandonado Teatro Shore o tempo
todo. O apartamento dos homens era uma série de camarins, não era? É daí
que vêm aquelas armações de grande bulbo.
— Nada me surpreende mais —, ela murmurou, olhando para os arcos
fechados com tábuas e pedras vintage.
— Não? — Roksana disse, dando uma piscadela para ela. — Neste
mundo, quando as coisas param de surpreendê-la, espere cinco minutos.
Naquele momento, Ginny não sabia o suficiente para reconhecer a
verdade nas palavras de sua amiga. Ela o faria em breve.
Ginny afastou-se para evitar ser atropelada por Larissa e sua mala.
— O que você quer dizer com você está fora daqui?
— Vou explicar mais uma vez — sua madrasta gritou por cima do
ombro. — Um investidor ligou e perguntou se o negócio estava à venda. Eu
disse a ele, sim, claro. Que ele devia entrar em contato com você para fazer
uma oferta. Mas ele só estava interessado na minha parte.
Larissa subiu correndo as escadas, emergindo um momento depois com
outra mala, esta estourando pelas costuras com roupas íntimas.
— Não sei por que nunca pensei nesse ângulo antes, mas o testamento
de seu pai afirma que a empresa seria dividida meio a meio no caso de sua
morte. Não há linguagem que me impeça de transferir minha parte para outra
pessoa. E está feito. — Ela ergueu os braços em um sinal de touchdown. —
Aleluia. Estou fora.
— Mas... — Ginny pressionou as costas do pulso na testa. — Você acabou
de vender metade do negócio sem falar comigo?
— Falei com o meu advogado.
Ginny se sentou na escada por necessidade. Suas pernas não a
sustentariam mais. — Mas eu nem mesmo conheço essa pessoa.
— Sinto muito, querida, mas isso não é mais problema meu. — Larissa
diminuiu a velocidade em sua terceira subida as escadas, suspirando ao passar
por Ginny. — Olha, você é uma boa menina. Meio estranha, mas ninguém é
perfeito. Eu tentei a velha faculdade, querida. — Ela ergueu a mão e a deixou
cair. — Este lugar me dá arrepios de merda.
— Você realmente amava meu pai? — Ginny deixou escapar a pergunta,
sem saber que ela ficou em sua língua por anos sem ser dita. Mais do que isso,
isso a estava consumindo, perguntando-se se aquela mulher que absorveu
tanto do legado de Peter Lynn jamais soubera como ele era um ser humano
silenciosamente extraordinário. — Você amou, Larissa? Porque este lugar que
você tanto detesta... É ele. É tudo ele.
— Sim — sua madrasta sussurrou trêmula, seus olhos se voltando para
duas piscinas perfeitas de vidro. — Eu o amei. Por que você acha que fiquei
tanto tempo? Por que você acha que tenho tentado tanto... — Ela se
interrompeu com um aceno de cabeça. — Sim, eu amei Peter Lynn, até sua
barba irregular e meias que não combinavam.
Ginny fechou os olhos. — Obrigada.
Luto genuíno brilhou nos olhos de sua madrasta. — Uma última chance
de vir comigo. — Larissa deu um soco de brincadeira no ombro de Ginny. —
Faça um começo limpo em algum lugar.
— Eu tenho que ficar.
Larissa acenou com a cabeça. — É isso, então, eu acho. — Parecia que ela
queria dizer mais, mas se levantou mais uma vez, como se o momento
comovente nunca tivesse acontecido. — O investidor me ofereceu o dobro do
preço pedido por cinquenta por cento de P. Lynn. A única condição era eu sair
hoje.
— O quê? Eles estão planejando se mudar para cá?
Roksana pigarreou alto de seu esconderijo no quarto de Ginny.
Larissa se virou. — Você ouviu isso?
— Não. — Larissa começou a fluência ao longo do pouso na direção do
barulho e Ginny entrou em pânico. — Você sabe como às vezes cadáveres
expelem o ar. Deve ter sido isso.
— Não há corpos para falar.
— Oh, eu não mencionei — Ginny disse, coçando a sobrancelha. —
Chegou um novo convidado exatamente como eu. Tinha tudo arranjado. Eu
não te disse?
— Não... — Larissa fez uma pausa. — Oh, quem se importa
mais? Terminei. Deixe os cadáveres fazerem o que quiserem.
Ginny esperou até que Larissa desaparecesse de volta em seu quarto
antes de caminhar rapidamente para seu próprio quarto e fechar a porta. — O
que é que foi isso?
Roksana rolou de debaixo da cama. — Pergunte o nome do investidor.
Com isso, ela rolou de volta para fora de vista.
Uma maldição nada feminina pairou sobre os lábios de Ginny enquanto
ela caminhava de volta para o corredor, chamando, — Larissa. Qual você disse
que era o nome dessa pessoa?
— Oh, hum... O que era... — Ela enfiou a cabeça pelo batente da porta. —
J. Cantrell. Parecia fofo também. Talvez você tenha sorte.
A mandíbula de Ginny caiu perto dos joelhos. Debaixo de sua cama, ela
podia ouvir Roksana rindo. Ela não sabia se ficava aliviada ou lívida.
Lívida. Definitivamente lívida.
Esta era a segunda vez em vinte e quatro horas que Jonas tomava uma
grande decisão sem nem mesmo mandar um e-mail para ela. E isso foi na
esteira de uma série de decisões que ele fez em seu nome desde o primeiro
dia. Oh, ela entrou neste relacionamento com os olhos bem abertos. Menos de
um dia depois, entretanto, ela já estava questionando sua sanidade.
— Como ele pôde fazer algo assim sem nem mesmo pedir? — Ginny
sussurrou, caminhando de volta para seu quarto em estupor. — Eu nunca teria
concordado em deixá-lo pagar a fiança. Eu estava descobrindo o que fazer
sozinha.
— Você pediu gestos humanos.
— Não, eu não pedi. Você e Tucker decidiram que eu precisava de gestos
humanos.
— Você está realmente tão chateada com isso? — Roksana perguntou,
ainda debaixo da cama por algum motivo. — Jonas está sobrecarregado. Ele
nem vai sentir e agora não temos que nocautear a velha Larissa toda vez que
viermos. É bom para todos.
— Ele não pode tomar decisões tão grandes quando elas afetam a nós
dois. Como você se sentiria se Elias...
— Não, não, não. — O dedo indicador balançando de Roksana emergiu
primeiro, seguido pelo resto dela. — Não fale sobre ele e acabe com meu
humor animado.
— O que aconteceu entre vocês dois? — Ginny perguntou, sendo mais
áspera do que o normal porque aquela coisa louca e enorme acabou de
acontecer e Roksana estava agindo de forma cavalheiresca. Eles veriam como
ela seria arrogante quando alguém cutucasse seu ponto dolorido. — Ele é a
razão pela qual você não pode abatê-los, não é?
Roksana bateu no chão. — Vou fazer isso amanhã!
Ginny bufou.
Larissa apareceu na porta, olhando para Roksana e seu corpete de couro
como se fossem uma ofensa pessoal. — Quem é você?
— Morte. Estou aqui para coletar — Roksana disse, desembainhando
uma faca de dentro de sua bota. — Vá agora e posso deixá-la viver.
Larissa desceu correndo as escadas gritando, como se javalis estivessem
mordendo seus calcanhares.
— Bem, isso era desnecessário.
Roksana virou sua faca e a pegou. — Ela mereceu.
Uma risada fez cócegas dentro da garganta de Ginny, então ela colocou
a mão sobre os lábios para prendê-la. Essa seria sua vida agora? Balançando
entre o perturbador, o chocante e o absurdo a cada tique do relógio?
— Relógio — ela respirou. — Que horas são? Tenho que terminar meus
vestidos antes desta noite e tem o encontro com aquele homem sobre o filho
dele...
— Eu estarei aqui embaixo — Roksana entoou, desaparecendo mais uma
vez sob a cama queen-size de Ginny. — Me acorde se eles trouxerem o carrinho
de lanches.
Balançando a cabeça, Ginny começou a trabalhar. Ela empurrou a
prateleira de roupas que rangia até sua área de estar e ligou a máquina de
costura. Felizmente, não havia muitas coisas deixadas por fazer. Ela poliu a
bainha de seu bordado verde de lã, que se inspirou em uma árvore de Natal,
depois costurou o enfeite de azevinho vermelho no bolso do peito.
O vestido formal de seda branca exigia limpeza a vapor, junto com a pele
falsa fixada na gola. E talvez ela precisasse de um rastro de strass descendo
entre os seios e se espalhando ao longo dos quadris?
Com uma agulha e linha permanentemente presas entre os lábios, ela
nunca trabalhou mais rápido em sua vida e quando o final da tarde chegou,
ela tinha uma coleção completa e acabada, contra todas as probabilidades.
Ginny olhou ansiosamente para o sofá que dormia, mas não havia tempo
para descansar. Ela correu no banho, secando o cabelo e aplicando brilho
labial, rímel e um pouco de blush. Quando sua visita habitual para qualquer
coisa extravagante - que não era um funeral - teria sido brilhante e tamborilada,
ela se pegou pegando o pedaço de chiffon vermelho e leve no fundo de seu
armário. Um cinto preto prendia o material flutuante na cintura, camadas de
vermelho rubi caindo em cascata até o meio da coxa.
E pela primeira vez, ao colocar um vestido, ela se sentiu exatamente
como ela mesma. Não Elizabeth Taylor, Lauren Bacall ou mesmo Grace Kelly.
Apenas Ginny.
— Eu acredito que eles chamam isso de brilho — Roksana murmurou,
chegando ao lado dela. — Terminamos nossa briga?
— Não foi realmente uma briga — Ginny suspirou.
— Ahhh. Você está guardando sua ira para Jonas.
Ginny endireitou os ombros. — Como eu disse, ele não pode tomar
grandes decisões que afetam a nós dois sem algum tipo de comunicação. Não
é justo. — Ela balançou a cabeça. — Meu coração já confia nele, mas minha
mente é outra história. Eu preciso de ambos a bordo. Ambos são importantes
para mim.
— Ele está acostumado a ser o príncipe. Ele faz um decreto, outros
obedecem.
— Por que?
Roksana encolheu os ombros. — Ele inspira lealdade. Até em mim.
— Tem algo a ver com o fato de que Jonas ajudou Elias quando ele foi
silenciado recentemente?
— Achei que nossa rixa tivesse acabado —, fungou a assassina.
Ginny escondeu um sorriso. — Eu tenho que ir para a minha
reunião. Você poderia me fazer um grande favor e colocar esses vestidos em
bolsas de roupas? Isso vai me poupar tempo quando tivermos que sair para a
exposição.
— Nyet. — Ela passou a mão pelo pescoço. — Eu não devo deixá-la
sozinha. O Ancião pode ter sido eliminado, mas agora temos que nos
preocupar com a Alta Ordem, já que você julgou sábio se entregar a um
sugador de sangue.
— Cinco minutos. Por favor?— Ginny já estava saindo da sala. — Eu vou
estar atrasada desse jeito. E, de qualquer maneira, o sol não se põe por mais
meia hora. É o repelente de vampiros da natureza.
— Vou acompanhá-la até o escritório e me certificar de que não haja
intrusos. Ou aranhas. Ou arestas vivas. Não vou arriscar com sua frágil
humanidade.
Ginny revirou os olhos, mas não protestou quando Roksana a seguiu
escada abaixo. — Talvez eu esteja melhor se... — Ela observou atentamente a
reação da assassina. — Se Jonas me fizer uma vampira.
Ela não quis dizer isso necessariamente. Ainda não. Perder sua
humanidade não era algo que ela poderia levar tão levianamente. Mas ela
queria saber se era possível. Ela queria saber o que seria necessário. E o mais
importante, as consequências. Ginny estava mais interessada em satisfazer sua
natureza curiosa do que em imaginar a possibilidade.
O rosto de Roksana permaneceu impassível, mas seus passos
vacilaram. — Você não seria mais capaz de sustentá-lo.
Uma pontada a atingiu na garganta, a memória dele pálido e fora de sua
mente com a fome correndo à tona. — Alguma coisa o sustentaria se eu fosse
silenciada?
— Não houve nenhum caso como o seu. Vampiro se acasala com uma
garota, a garota se torna única fonte de alimento para um vampiro, a garota se
transforma em vampira... Eu não sei o que acontece depois disso.
Ginny processou isso, o medo do desconhecido pesando em seu
estômago como uma pedra. Ela ficou no meio do saguão enquanto Roksana
verificava todas as sombras e esconderijos, pisando forte no carpete cor de
vinho com um senso de propósito, até que finalmente deu a Ginny tudo limpo.
— Não saia deste cômodo —, disse Roksana, socando o ar com o dedo. —
Eu voltarei. Logo depois de colocar esses vestidos como se eu fosse alguém que
ganha um salário mínimo e diz coisas como 'Vou tentar arrumar uma babá'.
— Você é a melhor — Ginny respondeu, já pegando seus livros de
amostra e papelada em preparação para a reunião. Ela pegou o laptop e abriu
seu confiável - e frequentemente com defeito - banco de dados para ler as
informações que Larissa deveria ter inserido para a reunião desta noite. Não
havia nada lá, no entanto. Simplesmente a inicial “C”, um número de telefone
e o horário do compromisso. — Acho que Larissa já teve um pé fora da porta
— Ginny murmurou.
Um trovão levantou a cabeça de Ginny.
Era para chover? Da última vez que ela verificou, o céu estava claro.
Não havia janelas em seu escritório pequeno e abafado, mas quando o
saguão escureceu consideravelmente, ela se levantou. As luzes ainda estavam
acesas, mas as janelas estavam quase pretas por causa da tempestade
repentina. Ela deu a volta na mesa e parou na porta, seu coração voando em
sua garganta quando um trovão rolou, imediatamente seguido por um estalo
de um raio, iluminando brevemente o saguão vazio.
Lá. Na outra extremidade, perto da sala de visitação.
Ela tinha visto o contorno de alguém ou seus olhos estavam pregando
uma peça nela?
Tudo o que ela podia ouvir na quietude muda era o som de sua própria
respiração. Dentro fora, dentro fora. Faltava alguma coisa. O tique-taque suave
do relógio de pêndulo. Parou de funcionar? Na ausência de luz suficiente, ela
não conseguia ver a hora indicada pelos dois ponteiros. O som da chuva se
intrometeu, atingindo as janelas como tique taques caindo do céu e o trovão
estrondou novamente, seguido por outra explosão de relâmpago.
Um movimento ocorreu em sua periferia e ela virou a cabeça naquela
direção. Nada. Apenas o movimento da sombra, com certeza.
Os cabelos da nuca de Ginny se arrepiaram.
Lentamente, ela voltou para o escritório e fechou a porta, girando a
fechadura. Roksana estaria lá embaixo a qualquer minuto. Claro que Ginny
estava assustada. Sua vida havia se tornado um desfile do incomum. Coisas
que nunca existiram antes eram seu novo normal. Uma vez que um vampiro
faz um atentado contra a sua vida, ela poderia nunca mais se sentir
verdadeiramente segura novamente. Não era uma verdade universal?
Alguém bateu na porta do escritório.
Uma vez.
Pausa.
Duas vezes.
Pausa.
Uma terceira vez.
Roksana não bateria.
Ginny se esticou e agarrou a mesa, permanecendo o mais imóvel
possível. Quem estava do outro lado da porta? Se fosse um vampiro que queria
fazer mal a ela, não haveria nada que ela pudesse fazer para detê-lo. Mesmo se
ela tivesse uma grande estaca nojenta, ela não tinha a habilidade ou velocidade
para acertá-la.
Outra batida, mais forte, a fez pular, sua mão voando para cobrir a
boca. — Ginny?
Sua mão caiu. — Tucker?
— O que foi, querida?
Ela soltou uma risada agitada e destrancou a porta, abrindo-a para
encontrar Tucker em uma capa de chuva e botas de borracha. Corrente de
ouro. Sem camisa. — Estamos tendo um clima louco.
— Sim, não é sempre que eu saio antes das seis horas no outono. Eu me
sinto como uma criança de novo. — Mesmo enquanto ele fazia a piada, Ginny
podia ver a preocupação espreitando nos cantos de sua boca voltada para
baixo. — Onde está Roks?
— Preparando meus vestidos para esta noite.
— Estou bem aqui —, disse a caçadora, entrando na sala com a estaca de
madeira ao lado. — O que diabos está acontecendo com essa tempestade?
— Você se importa em guardar essa coisa? — Tucker esperou que ela
enfiasse a arma na bota. — Não sei. Veio muito rápido.
— Muito rápido — Roksana murmurou. — Onde está o príncipe?
— Ele vai se atrasar. Aquele novato com quem ele se encontrou outro dia
está tendo uma crise existencial. Ele vai nos encontrar lá. — Ele pulou na mesa
e deu uma piscadela para Ginny. — Até então, vou incorporar novamente o
guarda-costas.
Lutando contra um sorriso, Ginny verificou a hora em seu laptop. —
Minha reunião está atrasada. Vou ligar para ele para ter certeza de que ele
ainda está vindo.
Ela pegou o telefone do escritório e discou, recebendo uma série de bipes
no ouvido. — O número que você discou não está mais em serviço — ela
murmurou, repetindo após a voz robótica. — Vamos dar a ele mais cinco
minutos.
Seu encontro nunca chegou.
Um tempo depois, enquanto ela, Roksana e Tucker carregavam seus
vestidos e os colocavam no carro que os esperava, Ginny olhou para o céu e
não conseguiu encontrar o mais leve sussurro de uma nuvem.
Uma coisa era ser a pária do Abrace a Renda. Outra bem diferente era ter
tantas pessoas testemunhando o óbvio afastamento.
Ginny tinha sido designada para uma mesa de exposição no canto mais
escuro e úmido do porão da igreja, completa com teias de aranha e radiador
barulhento. O painel de luz acima não funcionava mais, deixando-a nas
sombras. Havia uma divisão clara entre ela e todos os outros, as outras mesas
banhadas em luz e rodeadas por amigos e familiares, que vieram ver o trabalho
árduo de seus entes queridos e dar lances nos vestidos acabados.
Ginny tinha Roksana e Tucker.
Eles basicamente entraram valsando, caíram nas duas cadeiras dobráveis
de metal que ela havia recebido e olharam carrancudos para todos que
consideravam uma visita à geleira distante que era sua mesa.
Com um ajuste final, Ginny afastou-se do manequim no qual prendeu o
vestido de Natal e tirou o alfinete da boca. — Eu mencionei o quanto estou feliz
por vocês dois estarem aqui?
O par grunhiu e continuou seu escrutínio duro de cada alma viva no
porão.
— Dito isso, se vocês pudessem tentar e parecerem apenas
um pouquinho menos ameaçadores, isso poderia ajudar a aumentar o tráfego
para minha mesa.
— Este é apenas o meu rosto — Roksana falou lentamente.
— Este porão é uma armadilha de incêndio e o beco dos fundos não dá
para uma rua. Coincidentemente, se algo acontecer com você, Jonas vai colocar
fogo em minhas entranhas. — Tucker ergueu as mãos, com as palmas para
fora. — Palavras dele, não minhas.
— Como vou leiloar meus vestidos se vocês estão assustando todo
mundo?
Roksana encolheu os ombros. — Nós poderíamos dar um lance.
Tucker bateu os cílios. — Você tem alguma coisa em turquesa?
Ginny desabou. Ela não nutria ilusões de que chegaria esta noite e de
repente seria a bela do baile. Mas ela esperava, no mínimo, que seus vestidos
falassem por si. Ao contrário das reuniões, a exposição colocaria os membros
em um campo de jogo equilibrado. Nem todos na sala sabiam que ela era a
Garota da Morte, não é?
Determinada a manter seu otimismo, Ginny tirou seu próximo vestido
da sacola e o arrumou sobre o manequim. Enquanto ela fazia isso, alguém
chamou seu nome do outro lado da sala e ela se virou para acenar para
Gordon. Ele estava com sua mãe na mesa de centro com os biscoitos e de terno
e gravata. E não era legal da parte dele se vestir para o clube de vestidos de sua
mãe, mesmo que parecesse claramente desconfortável mexendo no colarinho?
Sim, era bom. Muito melhor do que comprar metade de sua casa
funerária sem contar a ela primeiro e depois cercá-la de pessoas repelentes à la
Tucker e Roksana.
Senhor, isso soou mesquinho da parte dela. Ela estava grata pela
proteção de seus amigos, mas Jonas sendo arrogante e principesco só iria
funcionar se ela tivesse alguma contribuição nas decisões que a afetavam.
Um sentimento quente cutucou Ginny no esterno.
Raiva?
Sim, isso era raiva.
Na verdade, ela mal podia esperar a chegada de Jonas para que ela
pudesse expressar isso. Assim que ele entrasse, ela iria marchar até ele e...
Pedir para falar com ele em particular! Afinal, ela não queria fazer
uma cena. Ela só precisava que ele percebesse que ela não viveria sua vida
como o osso favorito de um cachorro, constantemente sendo enterrada para
sua própria proteção - e sem seu consentimento!
Uma senhora idosa com um sorriso doce se aproximou da mesa. Ginny
lançou a Roksana e Tucker um olhar de advertência por cima do ombro antes
de dar as boas-vindas à cliente em potencial. Uma cliente de vestido, não uma
cliente de uma funerária, embora sua idade avançada a qualificasse
tecnicamente para ambos. Não fique mórbida. Você está vendendo vestidos esta
noite, não caixões. — Olá — Ginny disse alegremente. — Você está se
divertindo?
— Sim eu estou. Obrigada. — A mulher colocou a bolsa no ombro e se
inclinou para admirar o vestido de Natal de Ginny. — Este chamou minha
atenção do outro lado da sala. Veja o detalhe do azevinho - adorei!
— Menos conversa, mais lances — Roksana chamou, batendo em seu
chiclete.
Ginny brandiu um alfinete para a assassina e o colocou na mesa, no V
entre o indicador e o dedo médio.
Roksana parecia impressionada. — Apenas tentando ajudar.
— Eu gostaria de fazer um lance, na verdade. — A mulher parecia
cautelosa ao se aproximar da mesa. Alguém poderia culpá-la? Ela tinha
acabado de pegar a pequena folha quadrada de lances quando uma voz cortou
o ar.
— Eu não faria um lance por esse —, Galina cantou. — Foi fabricado em
uma casa funerária. Quem sabe que tipo de doenças desagradáveis ele
carrega. Honestamente, deveria haver uma regra contra ela vendê-los.
Todo o movimento cessou no porão da igreja. Se Ginny sentiu frio na
esquina antes, ela estava congelando agora, dentro e fora, mas seu rosto
queimava de calor. Como ela podia ouvir tais comentários dela toda a vida e
ainda senti-los como punhais em seu peito estava além dela. Ela deveria ter sido
uma profissional experiente. Mas, na sequência das palavras de Galina, ela
cambaleou. Suas mãos tremeram. Todos os olhos na sala estavam sobre ela e
levou toda a sua força interior para não fugir do quarto.
Uma cadeira foi arrastada para trás.
— Você pode, por favor, cuidar das costas de Ginny enquanto eu mato a
vadia burra? — Roksana perguntou em um tom estranhamente formal,
recebendo um imediato - e assustadoramente entediado, “claro” de Tucker,
tirando Ginny de seu estupor.
— Não — ela murmurou para Roksana, embora ela até achasse difícil
olhar até mesmo sua amiga nos olhos depois de seu constrangimento. — Eu
acho... Que posso fazer isso.
Até recentemente, ela poderia ter sorrido e sussurrado algum sentimento
altruísta sobre matar pessoas com gentileza. Agora não. Deixar que as pessoas
pisassem nela para se elevarem a tinha fundido ao solo por muito tempo. E
agora que ela sabia o que era ser levantada por amigos, de propósito, ela não
queria ficar para baixo.
Roksana franziu os lábios e sentou-se novamente.
— Galina. — Ginny chamou, voltando-se para a sala novamente. —
Como você está tão preocupada com as regras, elas afirmam que você deve ser
uma residente de Coney Island para ser admitida no clube e tenho quase
certeza de que mora em Gerritsen Beach.
Galina engasgou e deixou cair a bolsa que estava segurando em sua mesa
dobrável com um baque dramático. Os convidados se viraram para olhar para
ela e ela soltou uma risada estridente. — Sim, mas… Muito, muito perto da
fronteira. E não importa onde eu moro, meus vestidos não estão manchados,
Garota da Morte.
A compostura de Ginny vacilou quando a mulher largou seu formulário
de licitação e correu de volta para o lado luminoso da sala. Ela podia sentir a
rachadura correndo da testa à barriga, mas ela enfrentou o porão e manteve o
queixo erguido, ignorando a pressão quente crescendo atrás de seus olhos. Ela
não choraria. Ela não iria chorar...
O ar na sala mudou.
Agitado, levantando o cabelo como se fosse uma brisa.
Ela não foi a única que sentiu a mudança. Todos nas proximidades
procuraram a fonte de energia renovada, algumas pessoas esfregando os
braços, outras sussurrando entre si. Até Gordon parou de puxar a gola de sua
camisa social e ficou de frente para a entrada, bem a tempo de Jonas entrar.
O tempo diminuiu e Ginny... Ela simplesmente parou de respirar.
Lembre-se de que você está brava com ele.
Como diabos ela poderia fazer isso quando ele caminhou
propositalmente na direção de Ginny, através de um mar de convidados
estupefatos, olhando para ela como se ela tivesse acabado de terminar o
trabalho na Capela Sistina? Ou talvez transformado água em vinho. E
realmente, a maneira como ele a olhava com tal reverência teria sido suficiente
para derrubar sua torre de raiva, mas ele parecia...
Totalmente sexy.
Descuidado, cabelo preto. Olhos que mantinham o peso de
conhecimento perigoso. Um ar de comando total - essa era a parte pela qual ela
estava louca. Ou deveria estar com raiva. O que estava acontecendo com
ela? Ela estava derretendo?
Ele sempre foi assim?
Sim. Sim, mas... Em uma sala cheia de humanos comuns e normais, ele
transcendia. Ele deixava cair o queixo de todos por quem passava, uma pessoa
deixando cair sua xícara de ponche de frutas também.
Ele usava jeans. Escuros, muito mais bonitos do que o par que ele vestiu
na noite em que se conheceram. Junto com as botas, uma camisa branca e um
sobretudo marrom-chocolate macio.
Flores. Havia flores em sua mão.
Para ela.
— Ginny — ele respirou, parando na frente dela. — Desculpa, estou
atrasado.
Ela acenou com a cabeça. Ou sacudiu a cabeça. Difícil ter certeza.
Ele entregou-lhe as flores, em seguida, segurou seu rosto com as mãos,
roçando as maçãs do rosto com movimentos adoráveis de seus polegares. Seus
lábios se encontraram e ambos estremeceram, o celofane enrugando-se sob
seus dedos. Ginny não teve que olhar ao redor da sala para saber que eles eram
o centro das atenções e ela não poderia ter se importado menos de qualquer
maneira. Ela só via Jonas.
— Por que você está aqui no escuro, amor?
— Estou no escuro? — ela sussurrou, os olhos verdes dele imbuindo-a
com uma espécie de delírio apaixonado. — Parece que não estou mais.
Sua expressão se suavizou. — Vou fazer você se mudar.
— Não —, ela deixou escapar, saindo de sua hipnose de Jonas. — A
maneira correta de formular essa pergunta era: devo fazer você se mudar? Ou
melhor ainda, vamos ver se você pode ser movida?
Cautelosamente, ele tirou o buquê de suas mãos e o colocou sobre a
mesa. — Eu não estou entendendo.
— Você comprou metade da minha casa funerária, Jonas.
— Sim — ele disse lentamente. — Possuir propriedade juntos é uma
forma de os humanos expressarem compromisso uns com os outros, não
é? Achei que você ficaria satisfeita.
O fato de Jonas parecer perplexo com sua raiva atenuou
consideravelmente sua irritação. Ele realmente pensou que ela ficaria
emocionada com suas ações. Ainda assim, ela não podia simplesmente deixar
sua arrogância ir embora tão facilmente, não é? Não, a menos que ela quisesse
que esse tipo de comportamento se tornasse a norma.
— Acho que estou satisfeita por você ter pensado em mim...
— Eu nunca paro de pensar em você — ele murmurou, colocando a mão
em seu quadril e apertando. — Nunca, Ginny.
Ela perdeu mais força. — Eu também nunca paro de pensar em você.
Sua testa franzida. — Então não fique zangada comigo.
— Eu não quero ficar, mas até muito recentemente, você estava
planejando roubar minhas memórias contra a minha vontade. Estou cheia
entre os guarda-costas e... E eu tenho que descobrir por acaso que você vai se
matar. Então hoje, você compra a casa funerária. Você tem que me dar uma
dica ou vou me sentir como se estivesse no escuro. — Ela escovou seus dedos
juntos e ele imediatamente agarrou, trazendo a mão à boca e esmagou os nós
dos dedos sobre os lábios. — Mais de parceria, menos príncipe e súdita,
Jonas. Por favor?
Os pensamentos agitaram-se por trás de seus olhos. — Eu farei o meu
melhor para discutir certos assuntos com você. Se eu sentir que é possível
chegar a um acordo aceitável.
— Você quer dizer chegar a um acordo que você goste.
Sua mandíbula apertou. — Cada decisão que tomo é com a intenção de
mantê-la segura e perto de mim. Eu me recuso a parar de fazer isso.
— Não estou pedindo que pare, estou pedindo que confie em mim. Estou
pedindo para fazer parte dessas decisões.
— E se você discordar do meu julgamento?
— Então, trabalhamos em um novo juntos.
Ele bufou com um hálito de hortelã e começou a responder com algo que
ela quase certamente não iria gostar, mas seus ombros enrijeceram.
Uma ligeira virada da cabeça de Jonas e ele estava cara a cara com
Gordon.
Bem. Queixo voltado para o rosto. Jonas era pelo menos cinco
centímetros mais alto do que o ruivo que puxava a gola.
— O-oi, eu sou Gordon — ele disse, se afastando da intensidade de Jonas.
As luzes do porão piscaram.
Com uma sensação de desgraça iminente, Ginny tentou se inserir entre o
homem e o vampiro, mas Jonas a surpreendeu estendendo a mão para
Gordon. — Prazer em conhecê-lo, Gordon. Eu entendo que você é um amigo de
Ginny.
— Sim. — Ele soltou uma risada leve. — Do tipo de...
Os olhos de Jonas estremeceram. — Tipo de?
Gordon se endireitou, como se estivesse ganhando coragem. Ele não
tinha seu senso de autopreservação? — Nós saímos em um encontro... E eu
estava esperando que talvez voltássemos...
Um barulho de estouro soou acima de suas cabeças. Fagulhas caíram do
teto e o radiador atrás da mesa de Ginny começou a assobiar, lançando vapor
em três direções. As esmeraldas nos olhos de Jonas explodiram em chamas e o
chão começou a tremer.
Murmúrios de alarme soaram em torno do porão da igreja.
— Ginny — Jonas disse, soando como se ele estivesse sendo
estrangulado. — Posso falar com você em particular?
Ao longe, Ginny pensou ter ouvido Tucker e Roksana rindo como hienas,
mas não se atreveu a confirmar. Não, ela entrelaçou os dedos com os de Jonas
e o empurrou vinte metros até a porta de saída dos fundos para o beco,
fechando-a firmemente atrás deles.
Jonas foi direto para a parede em frente à igreja e arrancou dois punhados
de tijolos com as próprias mãos, quebrando-os a pó a seus pés. — Gina —, ele
mordeu. — Podemos concordar em matá-lo?
— Não.
— Aí está. — Ele arrancou um arco de tijolos com a mesma facilidade
com que se abate uma mosca, deixando-os em pedaços espalhados pelo
chão. — Debates para escolher as demonstrações não funcionam.
— Não estou discutindo se você pode ou não matar alguém
simplesmente por gostar de mim. Nós tivemos um encontro, antes de eu te
conhecer — Ginny disse. — Além disso, eu não sou a primeira garota
com quem você está.
Ele se virou para ela com uma expressão incrédula. — Você é
meu banquete. Não se preocupe com migalhas de pão.
— Eu não me preocupo. Porque eu posso ver que é inútil lutar contra...
Jonas se aproximou mais. — O que?
— O que nós temos.
Ele continuou vindo até que ele a apoiou contra a parede. — O que nós
temos? Eu preciso ouvir você dizer isso. Ter você com raiva de mim já foi uma
tortura o suficiente, então este homem pensa que pode chegar a três metros
da minha companheira. — Ele enterrou o rosto em seu pescoço, inalando
profundamente. Capturando seus pulsos e prendendo-os acima de sua
cabeça. — Você não sabe, amor. Você não entende o que acontece dentro de
mim quando há atrito entre nós. É como queimar no inferno.
— Eu também não gosto. — Pequenos arrepios picantes percorreram sua
pele, acumulando nos lugares onde seus corpos fizeram contato. Peito, barriga,
coxas, colo. — Mas estou feliz que você me pediu para vir para fora em vez de
agir de acordo com o que você queria fazer.
Sua risada era desprovida de humor. — Rasgar sua garganta com meus
dentes, foda-se as regras?
— Sim. — Ela puxou o rosto dele de seu pescoço e deslizou seus lábios
juntos, de um lado para o outro, provocando um profundo gemido
masculino. — E o que nós temos? É para sempre. Nada chega perto disso,
especialmente não um encontro ruim.
Os quadris e o peito de Jonas se aproximaram, achatando-a ainda mais
contra a parede, quase a ponto de não ser capaz de respirar. Sua inquietação e
agressividade chamaram algo dentro de Ginny. A intuição a invadiu, crua,
honesta e nova. Exclusivo para os dois. — Você precisa se alimentar — ela
sussurrou.
Jonas fez um som quebrado e a girou para ficar de frente para a parede,
alinhando seu corpo firmemente com o dela. — Diga-me novamente o que
temos — ele rosnou, segurando seu cabelo em um punho. — Diga-me, amor.
— Para sempre — ela respirou. — E quando entrarmos, eu direi a ele
também, se isso fizer você se sentir melhor.
Ele fez uma pausa com os lábios em seu pescoço. — Eu gosto disso. Não
tanto quanto gosto da ideia de matá-lo, mas gosto disso.
— Isso é um compromisso —, disse ela, sorrindo para ele. — Isso foi tão
ruim?
Por vários segundos, ele não fez nada além de olhar para ela, parecendo
quase hipnotizado. — Nada que te faça sorrir tão bem poderia ser ruim. —
Com um olhar final e desejoso para o pulso dela, ele soltou seu cabelo e se
afastou. — Vamos levá-la de volta para dentro. Não terei sua reputação
prejudicada porque não consigo me controlar perto de você.
Voltando-se, Ginny deu uma risada. — Eu não me importaria em mudar
minha reputação.
Suas sobrancelhas se juntaram. — O que isso significa?
Era pedir muito que este homem que parecia acreditar que ela era
maravilhosa continuasse a acreditar? — Elas me tem no canto empoeirado pelo
radiador, porque eu sou a Garota da Morte. Eu sou apenas a estranha. — Ela
ergueu um ombro e deixou-os cair. — Elas acham que há algo de errado
comigo por querer trabalhar com os mortos. Estou acostumada com isso. Ou
talvez... Eu pensei que eu estivesse.
Vários outros tijolos pularam do prédio do outro lado do beco. — Idiotas
cegas — ele disse, sua têmpora visivelmente latejando. — Para dentro,
amor. Você está prestes a vender tudo.
— Ah não. — Ela agarrou seu braço antes que ele pudesse abrir a porta
do porão da igreja. — Jonas, você não pode obrigar as pessoas a licitarem pelos
meus vestidos.
Sua mão se fechou em um punho na porta. — Compromisso,
compromisso — ele resmungou infeliz. — Não vou obrigar ninguém a fazer
um lance, mas vou... Podemos equilibrar as probabilidades?
O sorriso quase sumiu de seu rosto. — Sim.
Em relação a sua proximidade, seus lábios se separaram em uma
oração. — Pessoas que são boas e gentis, por dentro e por fora, erguem
espelhos para a malevolência que as cerca. Eu tenho caminhado por esta terra
por quase noventa anos e nunca conheci ninguém que exemplifique essa
verdade mais plenamente do que você, Ginny. Você é boa em todos os sentidos
da palavra. E o mal odeia lembretes do que eles são incapazes de ser. — Ele
beijou sua boca suavemente. — Deixe-as se debater em sua inferioridade. Você
é uma deusa entre as moscas das frutas.
Ele teve que puxar a mão de Ginny para fazê-la se mover.
Quando o fez, teve o desejo de se imaginar como uma de suas estrelas de
cinema para aumentar sua confiança. Mas depois de enfrentar Galina antes, e
agora com as palavras de Jonas soando em sua cabeça, ela não precisava dessas
ilusões. Não essa noite.
Talvez nunca mais.
Ela caminhou de mãos dadas com Jonas através do mar de rostos
curiosos, parando quando chegaram a Ruth.
Jonas olhou para ela e piscou.
— Ruth — Ginny disse, limpando a garganta. — Eu gostaria que você
conhecesse meu namorado, Jonas. — Ela olhou Gordon nos olhos. — Ele é meu
namorado. Desculpa.
— Ela não está arrependida —, Jonas falou lentamente, sorrindo para
Ruth.
— Não, não estou — Ginny se apressou em continuar, sentindo a
multidão se aproximando deles para ouvir melhor. — E, de qualquer forma,
estou me perguntando, se não for muito problema, se poderíamos mover
minha mesa para uma das áreas mais bem iluminadas?
Ruth não respondeu. Ela estava muito ocupada olhando um buraco em
Jonas.
Ginny fez uma verificação rápida para ter certeza de que ele não a estava
persuadindo e relaxou quando seus olhos estavam em seu tom normal de
verde sedutor.
— Mãe — Gordon incitou, exasperado com o olhar desavergonhado de
sua mãe. — Sério.
A fundadora do clube de vestidos estremeceu. — Oh, me desculpe... Eu...
Sim, sim, claro. — Ela agitou uma mão perto de seu decote, o rosto ficando um
tom claro de rosa. — Gordon, você ajudaria Ginny a mover a mesa...
— Isso não será necessário — interrompeu Jonas. — Obrigado,
Ruth. Você obviamente é uma líder justa e razoável.
Rindo, ela se abanou. — Bem, eu tento o meu melhor.
Jonas colocou um braço em volta de Ginny e a levou embora. Eles só
tinham percorrido cerca de um metro e meio quando Galina gritou de sua
mesa, onde estava cercada por seu grupo de vestidos. — Ginny! — Seu sorriso
era quase selvagem. — Você não vai nos apresentar ao seu amigo?
— Namorado — Jonas corrigiu Galina, colocando uma mecha de cabelo
atrás da orelha de Ginny. — Do tipo eterno. Se você nos der licença. — Ele a
guiou além da mesa, inclinando-se para murmurar em seu ouvido: — Moscas
de fruta.
Cinco minutos depois, com a ajuda de Roksana, Tucker e, claro, Jonas,
sua mesa não estava apenas na luz, mas no centro da sala.
Ginny se mexeu. — Não podemos empurrá-la um pouco em direção à
parede...
Jonas a acalmou com um beijo. — É aqui que você pertence. — Em
seguida, ele roçou os lábios em sua testa, parecendo fascinado por seu pico de
viúva. — Você quer minha ajuda?
— Você fez mais do que o suficiente. — As pontas dos dedos dela
deslizaram sobre sua caixa torácica e ele soltou um gemido baixo, acalmando
sua mão em um aperto firme. — Eu tenho que fazer o resto sozinha.
Ele parecia relutante em deixar ir sua mão, mas acabou
fazendo. Mantendo Ginny em vista, ele deu a volta na mesa dela e caiu em uma
cadeira dobrável de metal da mesma forma que a realeza cai em um trono, um
tornozelo cruzado sobre o joelho oposto.
Ginny respirou fundo e encarou a sala, o que ela tinha que admitir, era
muito mais fácil com a adição de Jonas em suas costas. Metade dos convidados
ainda estava boquiaberta para ele... E ainda assim, ele estava boquiaberto
para ela. Antes de Jonas, ela tinha pequenas sementes de engenhosidade
dentro dela que não podiam crescer sem a luz do sol. Mas eles estiveram lá
mesmo assim. Eles eram produtos de Ginny. Talvez eles apenas precisassem
de algum incentivo para florescer.
Ela endireitou os ombros e respirou fundo, dolorosamente ciente das
pessoas em volta de sua mesa, examinando seus meses de trabalho e sem parar.
Sem parar.
Até que alguém parou.
— Oi —, sussurrou a jovem com um broche em forma de estrela, o
ponche preso entre as luvas sem dedos. — Todo mundo está falando sobre o
vestido de Natal e eu adorei isso. Eu amei — ela assegurou Ginny com um
sotaque áspero do Brooklyn. — Mas... Eu estou de olho na seda branca. Essa
gola de pele falsa é de morrer. Posso dar um lance?
— Sim — Ginny exalou, dando um passo para o lado. — Por favor.
Enquanto a mulher se agachava à mesa e rabiscava seu número no
quadrado de papel branco, Ginny se virou e encontrou os olhos de Jonas por
cima do ombro.
Ele piscou e murmurou as palavras: — Essa é minha garota.
Ela sorriu, mais forte do que ela jamais poderia se lembrar de ter
feito. Alcançou todo o caminho até seu coração batendo forte - e ela soube
naquele momento, ela nunca amaria ninguém ou nada mais do que Jonas
Cantrell.
Jonas carregava uma Ginny risonha para o quarto por cima do
ombro. Ela ficou tentada a repreendê-lo por tratá-la como um saco de batatas,
mas estava de bom humor. O melhor humor do século. Do milênio.
— Eu não posso acreditar —, disse ela, diretamente para o traseiro
dele. — O lance mais alto da noite.
— Eu não estou surpreso — ele fungou, sempre o príncipe. — Não sei
nada sobre vestidos, mas sei que gostaria muito de ver você com os que você
fez.
Seu rosto queimou de prazer. — É assim que você julga, não é?
— Sim.
— Acho que a única desvantagem de vendê-los todos é que você nunca
me verá neles.
— Isso é lamentável. — Gentilmente, ele levantou Ginny de seu ombro e
a colocou de pé, mantendo as mãos firmes em sua cintura. Ela engasgou
quando ele usou o cinto para puxá-la contra seu corpo, beliscando sua boca. —
Falando em vestidos, amor. Este pequenino vermelho...
Seus joelhos se transformaram em borracha. — O que tem ele?
— Você sabe. — Usando o cinto, ele a girou em um círculo lento,
olhando-a com olhos ardentes o tempo todo. — Sim, você sabia quando o
vestiu que eu ficaria obcecado em tirá-lo de você.
— Obcecado?
— Ginny, não questione minha obsessão por toda e qualquer parte de
você. — Virando-a para encará-lo mais uma vez, ele desatou o cinto e o deixou
cair no chão. — Basta começar a supor.
Se ao menos seus pulmões estivessem funcionando corretamente. —
Você vai passar a noite?
Seus dedos pararam. — Você gostaria disso?
Ela assentiu, tendo certeza mais do que nunca. Nunca querendo nada
mais do que ela queria forjar aquela conexão final com Jonas. — Na minha
cama.
Jonas pareceu se controlar com uma respiração profunda e trêmula. —
Nós iremos devagar — ele disse, densamente. — Deus, estou morrendo de
medo de machucar você.
— Aquela coisa toda sobre as regras? Quebrar um significa quebrar todas
elas? Isso não pode se aplicar a nós — Ginny disse, tirando a jaqueta de seus
ombros e passando as palmas das mãos pelo algodão frio de sua camisa branca
de mangas compridas, sentindo seus músculos se tensionarem e flexionarem
ao seu toque. — Nada mais parece se aplicar. Eu sou sua segunda companheira
em toda a vida. Eu sinto sua dor. Até que alguém possa me explicar qualquer
coisa, estou agindo como se esta fosse uma... Situação totalmente única.
— Nós não somos nada senão isso — ele concordou desigualmente,
observando as mãos dela moldarem sobre seu corpo. — Você pensou um
pouco sobre isso.
— Um pouco —, ela admitiu, em um grande eufemismo. — Você já
pensou?
Jonas soltou uma risada dolorida. — Já pensei em levar você para a
cama? — Ele baixou a boca para o vale de seus seios, beijando-os com uma
boca aberta e gananciosa. — Quase tanto quanto eu pensei em levá-la até o
altar.
As pernas de Ginny se transformaram em névoa. — O que você disse?
Ele se endireitou e a olhou bem nos olhos, a intensidade irradiando de
cada centímetro de seu corpo poderoso. — Você me ouviu.
Sua mente se estendeu em uma pista de obstáculos e ela não tinha ideia
de por onde começar a vencê-la. Ele estava falando sério? Casar? No entanto,
mesmo quando os buracos em seu plano se apresentaram, ela se encheu de
uma esperança efervescente que poderia tê-la levado às estrelas. — Jonas...
Nosso relacionamento é um segredo — ela disse, o bom senso
prevalecendo. Por enquanto. Segurar sua felicidade era como tentar tapar uma
represa com um galho. — Nós nem deveríamos estar juntos.
— Você pode ser minha esposa secreta com a mesma facilidade com que
pode ser minha namorada secreta —, disse ele em voz baixa e decidida, indo
passo a passo em direção à cama. — Tudo o que você precisa fazer é dizer sim.
Antes que ela pudesse dizer uma palavra, tirou a camisa e a jogou de
lado, deixando-o com todo o seu brilho, de cabelos desgrenhados e glória
musculosa. O sangue dela tinha virado para cima o volume de cada parte de
Jonas, até os dentes e aroma de hortelã, a suave masculinidade de seus lábios,
a intensidade com que ele devorou a visão dela. Ele queimava brilhante com
fome, beleza e possessividade. As pontas dos dedos escovando para baixo a
trilha de pelo escuro debaixo de seu umbigo, distraído, chamando a atenção
para a carne que subiu abaixo.
— Hum... — ela começou, uma sensação de cócegas agitando-se nos
recessos mais profundos de seu estômago. Isso tudo estava acontecendo muito
rapidamente. Ela ainda estava se acostumando a ser companheira de um
vampiro. Certamente eles poderiam espaçar as surpresas aqui e ali? — Quero
dizer, provavelmente deveríamos morar juntos por um tempo primeiro. Para
ver se somos... Compatíveis? Você é dono de metade deste lugar agora,
lembra? Você poderia se mudar por um tempo e...
— Compatíveis? — Parecendo mais do que um pouco irritado, Jonas se
aproximou, dando a Ginny nenhuma escolha a não ser cair de costas na
cama. Ele se inclinou sobre ela, apoiando as mãos em cada lado de sua
cabeça. — Eu vivo para você. Eu desejo você sem cessar. Sua beleza, seu sangue
e seu espírito me sustentam. Ainda assim, você questiona nossa
compatibilidade?
— Não — ela sussurrou. — Não, isso foi uma coisa estúpida de se
dizer. Estou apenas tentando acompanhar as rápidas mudanças. Eu preciso de
você. Eu também te desejo. — Ela fechou os olhos com força, sentindo cada
palavra como uma torção em seu peito. — Constantemente.
Quando ela abriu os olhos, ela viu que o temperamento havia diminuído
de seu rosto. Sua possessividade aberta permaneceu, embora fosse temperada
com adoração. — Compromisso — ele disse para si mesmo. — Mudar para cá
poderia atrair mais atenção indesejada para nós. Mas que inferno se eu vou
conseguir ficar longe. Ou negar tudo o que você pedir.
— Nós vamos ter cuidado.
— Ah, amor. Não há nada de cuidadoso sobre nós. — Jonas a examinou
pensativo, faminto. — Você sabe exatamente o que deseja de mim, Ginny? —
Ele se abaixou e puxou o vestido dela, prendendo-o na cintura. — É hora de eu
mostrar a você?
Sua barriga estremeceu sob seu olhar extasiado. — Sim.
Ele bateu nela com um contato visual intenso enquanto abaixava a boca
em seu estômago, lambendo um círculo lento com a ponta da língua. — Abra
suas pernas.
O núcleo feminino de Ginny se contraiu com tanta intensidade que doeu
seguir sua ordem, mas ela conseguiu, com o peito já ofegante, tentando
respirar. Simplesmente por estar em exibição na frente de Jonas, seu vestido
em volta da cintura, coxas abertas, sua calcinha de lua e estrelas esticada sobre
um lugar que ela nunca tinha mostrado a ninguém.
— Uma bela oferta — ele gemeu, passando a boca como um fantasma
sobre o cós da calcinha dela, então mais abaixo, cutucando seu monte com os
lábios. — Você se dá a mim livremente, Ginny Lynn?
Suas mãos voaram e agarraram as roupas de cama. — Sim.
O calor de sua boca a aqueceu, cobrindo-a de arrepios. Através do
material tenso, ele pressionou a língua em sua protuberância sensível de carne
e faíscas dançaram na frente de seus olhos. Senhor Senhor Senhor, já demorou
muito. O som áspero de suas mãos trêmulas em seus joelhos, a flexão de seus
ombros, o retrato perverso que ele fazia emoldurado entre suas coxas tensas.
Você sabe exatamente o que deseja de mim, Ginny?
Até que ele puxou sua calcinha para um lado, em seguida, arrancou-a
inteiramente, ela não tinha entendido. Não completamente. A necessidade de
ser reivindicada por ele já estava inundando seus sentidos e a atormentando
com uma sensação pesada e dolorida bem no centro de sua barriga. Isso era
muito mais do que desejo, no entanto. Ela o desejou desde o momento em que
ele se sentou em sua mesa.
Não, isso era mais profundo. Como se ela estivesse esperando, sofrendo
sem o peso dele em cima dela. Sem sua boca, carne e respiração.
Ela precisava até o ponto da dor.
A língua dele enrolou em torno de seu botão de carne inchado e ela
rasgou o edredom. — Jonas —, ela gemeu. — Somos compatíveis. Somos
compatíveis.
Uma risada masculina vibrou em suas terminações nervosas até os dedos
dos pés. Ele montou sua língua pela divisão de seu sexo e fez um som gutural
de satisfação, antes de golpear seu clitóris como um predador com sua presa
encurralada. — Ainda mais doce do que parece — ele murmurou roucamente,
puxando seus quadris mais perto e lambendo-a com a parte plana de sua
língua, para cima e para trás até que sua cabeça se agitou na cama. — Ginny —
ele rosnou, apertando os joelhos dela com as mãos flexionadas. — Tente ficar
calma. Estou ficando muito... Animado.
A maneira como ele disse animado deixou óbvio que ele estava
subestimando bastante a verdade, assim como seus olhos. Eles brilhavam tão
quentes, a pele de seu estômago e coxas estava banhada em verde. — É tão
bom —, ela engasgou. — Por favor, não pare.
Ele gemeu em sua próxima lambida, usando seus lábios para desenhar
em seu cerne suavemente, entre golpes de sua língua. Ela sentiu a ponta do
dedo médio dele em sua entrada e prendeu a respiração, a promessa de ser
preenchida fazendo-a perceber o quanto ela desejava que isso acontecesse. E
quando o fez, quando o dedo de Jonas afundou, os quadris de Ginny se
sacudiram descontroladamente e Jonas visivelmente perdeu a batalha com seu
controle.
Seus músculos se contraíram ao ouvir o nome dela, suas presas cortando.
— Necessito.
Sabendo exatamente o que ele quis dizer, ela largou a mão direita sobre
a roupa de cama, afundou em seu cabelo e instintivamente o puxou para sua
coxa. — Seu. É seu. Eu sou sua.
Com uma expressão repleta de posse e sede profana, Jonas pressionou
um segundo dedo em seu corpo e mordeu com força a parte interna de sua
coxa, gemendo entrecortadamente com o gosto dela.
Ginny atingiu o orgasmo de cabeça.
Era ainda mais brutal e belo por ser inesperado.
Seu ser não sabia a que reagir. Seus dedos deslizando dentro e fora de
sua umidade tão habilmente ou o prazer/dor de suas presas onde perfuraram
sua perna, tirando sangue para Jonas devorar. Um segundo o local doía, no
próximo latejava como uma extensão de seu sexo, enviando fitas pulsantes de
calor à junção de suas coxas. E então apenas o prazer permaneceu, crescendo e
crescendo como uma pira funerária até que ela gritou, a felicidade quase a
esmagando em sua intensidade.
— Jonas —, ela gritou, seu corpo arqueado em um ataque de prazer. —
Jonas!
Quando sua cabeça se ergueu, ela esperava que ele estivesse saciado, sua
fome satisfeita. Ela nunca esperou que ele parecesse ter sido
provocado. Lentamente, ele deslizou seus dedos de dentro de Ginny, olhando
para eles por um momento como se tivessem sido mergulhados em ouro, antes
de sugá-los em sua boca.
Suas mãos se moveram sozinhas, tentando desesperadamente tirar o
vestido. Ela não tinha certeza de onde o impulso veio, apenas que ela precisava
segui-lo. Precisava sentir o peito dele em seus seios, seu estômago no dela.
Ela precisava dele dentro dela.
Agora.
O vazio era implacável. Senhor. Era para ser assim? Como se ela morresse
a menos que ele tomasse posse de seu corpo e alma e nunca a deixasse ir? Ela
podia ver que já possuía sua alma, corpo. Sim, ele estava projetando essa
verdade em termos inequívocos enquanto rondava mais alto, batendo de lado
suas mãos onde tentaram remover o vestido e rasgando-o bem no meio, em
vez disso.
— Cada pensamento em sua linda cabeça é traduzido por este doce
corpo, amor. Eu pedi para você ficar calma, — ele murmurou, torcendo o fecho
do meio de seu sutiã até que ele se rompeu, então caindo sobre seus seios como
se fossem sua última refeição. — Quando você insiste em esfregar sua boceta
contra minha boca, você deixa claro que ficará ansiosa quando eu colocar você
debaixo de mim e não terei escolha a não ser, ser áspero. — Ele sugou seus
mamilos por sua vez com uma boca desesperada e quando ele terminou, as
pernas dela estavam em volta de seus quadris e ela estava implorando por
mais, tudo dele, tudo. — Por favor, Ginny, fique calma.
— Eu não posso.
Um violento estremecimento percorreu seu corpo, seus músculos
parecendo como se pudessem se libertar de sua pele. — Foda-se. Eu tenho que
parar.
— Não.
O pânico transformou seus olhos em musgo. — Eu poderia te matar assim.
— Você não vai. — Ginny se forçou a relaxar e perder o fôlego. Ordenou
que suas coxas parassem de apertar seus quadris, seus quadris parassem de se
mover. Provocar a braguilha distendida de sua calça jeans e tentá-lo a pegá-lo
não ajudava em seu estado de espírito. — Beije-me —, ela murmurou em seus
lábios. — Vamos desacelerar.
Sua risada era dolorosa. — Beijar você não vai me inspirar a ir devagar.
— Olhe para mim. — Ela acariciou o lado de seu rosto. — Olhe para mim.
Ele pressionou suas testas juntas e deu um gole em sua boca com
cautela. Suas línguas se encontraram em uma carícia fugaz, apenas um toque,
mas ele gemeu como se tivesse sido queimado. Ginny deslizou os dedos pelo
cabelo dele, arranhando seu couro cabeludo com as unhas e deixando suas
bocas se acasalarem de uma forma lenta e rítmica que deixou seu sexo quente
e carente. Mas ela permaneceu quieta, sendo seduzida novamente pela paixão
contida de seu beijo, até que ela foi finalmente recompensada por Jonas
soltando seus quadris no berço de suas coxas, a fricção do jeans a forçando a
prender um grito na garganta.
Jonas manteve a boca equilibrada no meio do beijo e se abaixou para abrir
o zíper das calças, tudo, tudo equilibrado no fio da navalha. Seus olhos se
encontraram e permaneceram assim enquanto ele puxava seu eixo em um
punho, amaldiçoando enquanto roçava sua feminilidade úmida. — Eu quero
saber se você está sofrendo, amor... — Sua mandíbula apertou a ponto de quase
quebrar. — Mas também me preocupo se você gritar de dor, minha alma vai
deixar a porra do meu corpo.
Ela balançou a cabeça. — Isso é inevitável, lembra?
— Sim.
— Então confie.
Afeição, rendição, luxúria, movendo-se em ondas em suas feições. Ele
fundiu suas bocas e arrastou uma mão para baixo, entre seus corpos,
segurando-se e arrastando a cabeça grossa de um lado para o outro em sua
entrada. — Cristo esteja comigo, por favor. Segure-me — ele rangeu, antes de
mover seus quadris para frente e plantar cada centímetro duro de si mesmo
dentro dela.
Seu rosnado animal quase ensurdeceu Ginny, mas ela estava grata por
isso, porque abafou seu gemido de choque.
A dor formou buracos na euforia que sua boca havia proporcionado. Mas
o zumbido de embalar seu sexo dentro de seu corpo era uma emoção que
entorpecia as bordas de sua dor. Ela deixou os músculos do pescoço
afrouxarem, deixou suas pálpebras caírem e se deleitou com o conhecimento
de como ele se sentia dentro dela, enorme e intransigente. Masculino.
— Companheiro — ela sussurrou.
Os olhos nublados de luxúria de Jonas encontraram os de Ginny e ela o
deixou ver sua compreensão total de cada faceta daquela palavra. Ela não
apenas sustentaria sua vida, mas alimentaria sua alma - e ele faria o mesmo
por ela. Infinitamente.
A comunicação sem palavras passou entre eles nas asas de veludo,
selando seu destino nos livros de história e Jonas começou a balançar, os dentes
à mostra, os músculos do pescoço tensos. E a dor não existia mais, comparada
às boas-vindas encharcadas da carne deste homem. Este homem a quem ela
amava.
— Companheira — ele resmungou em seu pescoço, seus movimentos se
tornando mais e mais frenéticos, seus quadris bombeando e colidindo com os
ansiosos dela. — Minha única. Minha única. Leve-me o mais fundo que puder.
— Me dê isto. Eu aguento tudo.
— Ginny — ele avisou, então, entrecortado. — Oh, merda, Ginny.
A lâmpada em sua mesa de cabeceira estourou e chiou. Em sua visão
periférica, ela jurou que as luzes no horizonte de Coney Island escureceram e
brilharam para um cenário mais brilhante, mas ela não conseguia compreender
nada mais do que isso. Não com a boca de Jonas apertando-se sobre a dela em
posse, suas mãos cavando embaixo de seu traseiro e segurando-o firmemente
no lugar enquanto seu ritmo se transformava em um frenesi.
— Você se contorce tanto. Mantenha sua boceta apertada onde está, amor,
ou pensarei que você está tentando tirá-la de mim. Não podemos ter isso.
Oh senhor. Oh senhor.
A conclusão a convocou para mais perto, provocada pela falta de
controle de Jonas. Ela gostou. Não, ela adorou. A velocidade vertiginosa dele
acasalando-se com ela, seus grunhidos em seu nome, o suor bom e honesto que
ele construiu em seu corpo.
Ela adaptou o arco de seus pés aos quadris dele e ouviu a sequência de
palavrões em seu cabelo. Eram um hino glorioso e ela queria memorizá-los e
cantá-los em voz alta, o dia todo, todos os dias, uma prova de que era a
salvação e o veneno desse homem em igual medida.
— Olhe para você, gemendo e tentando deixar suas pernas mais abertas
para mim quando você deveria estar apavorada. Garota linda e imprudente.
Jonas mudou os ângulos, caindo em seu clitóris com ruídos ásperos de
seu eixo e a névoa romântica de Ginny foi destruída pela luxúria total. Suas
costas se arquearam com um gemido e o verde nos olhos de Jonas chicoteou,
segurando-a como escrava. Ela não pensou, ela simplesmente seguiu os
impulsos de seu corpo e se abaixou para agarrar seu traseiro, encorajando-o a
ir mais rápido, entoando: — Não pare, não pare, não pare...
Tudo aconteceu tão rápido depois disso.
Rápido e glorioso.
— Se o seu sangue não pudesse me sustentar, Ginny — ele rosnou,
puxando os joelhos dela para o alto e jogando-os sobre os ombros. — Eu juro
que essa buceta faria.
Ele a acariciou profundamente, o novo ângulo permitiu que aquela parte
grossa e lisa dele tivesse acesso irrestrito àquele local - e ela não podia mover
seus quadris para encontrá-lo ou se esfregar, ela simplesmente tinha que
tomar. Houve um som alto vindo de uma terra distante e levou vários palpites
antes que ela percebesse que era a cama inteira ricocheteando na parede.
A selvageria disso era sua ruína.
Ou talvez fosse assistir Jonas afundar suas presas na parte interna de seu
pulso, seguido por mais inchaço e espasmos de sua carne dentro dela. Saber
que ele estava perto de encontrar um prazer inimaginável depois de uma vida
inteira sem ele. Seu corpo enrijeceu ao mesmo tempo que o dela, sua boca
soltou seu pulso e os dedos agarraram a pele ansiosamente, puxando os corpos
um do outro para mais perto de qualquer maneira que pudessem.
Calor derretido derramou dentro de Ginny, misturando-se magicamente
e de forma viciante com sua própria liberação e ela se viu achatada no colchão,
sob um vampiro em agonia - e foi uma visão que ela lembraria pelo resto de
sua vida. Seus olhos cegos e presas expostas, sua cabeça jogada para trás. Seu
gemido repetido de seu nome.
— Ginny. Droga. — Ele se lançou para a boca dela como se estivesse com
medo do que poderia acontecer se ele não a beijasse. — Você se sente tão
bem. É tão bom.
Quando ele desmaiou um momento depois, ela nunca tinha ficado mais
grata por seu coração batendo porque podia ouvi-lo revoltar-se fora de
controle, combinando com seu ritmo perfeitamente, e ela o amava tanto então
que as lágrimas obstruíram sua garganta.
Ele ergueu a cabeça, a preocupação com uma coisa viva em seu rosto. —
Você está machucada?
— Não, Galã — ela administrou entre respirações rasas, permitindo que
ele a puxasse protetoramente para seu lado. — Não, estou perfeita.
— Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas —, disse ele com voz
rouca em seu pescoço, respirando-a como se já estivesse faminto por outro
curso dela. — Você está satisfeita, companheira?
— Sim. Demais.
Sua exalação de alívio agitou seu cabelo. — Enquanto você dorme esta
noite, tentarei encontrar as palavras adequadas para descrever o que fizemos,
se essas palavras existirem. — Ele a envolveu com força em seu abraço,
colocando sua cabeça sob seu queixo, seu coração batendo descontroladamente
em seu ouvido. — Por enquanto... Basta dizer, você é mágica. Meu Deus,
Ginny. Você é... Minha magia.
Ginny nunca teve medo enquanto estava dentro do sonho.
Desta vez, porém, ela tremia ao percorrer o caminho nos arredores da
feira. Os sons da casa de diversões estavam distorcidos agora e ela podia sentir
o suor agarrando-se às palmas das mãos, escorrendo por sua espinha rígida.
Ele estava debaixo da árvore. O homem de boné e suspensórios de
jornaleiro. Mais do que nunca, ela queria desesperadamente alcançá-lo. Havia
uma urgência de estar com ele que antes só estivera presente em tons mais
claros. Agora, ela pegou a saia para correr em sua direção. Chegar até ele por
todos os meios possíveis.
— Não —, ele murmurou, endurecendo e se separando da árvore. — Por
favor, não.
A figura carmesim encapuzada moveu-se em sua periferia e ela começou
a correr, desesperada para alcançar o homem debaixo da árvore. Se ela pudesse
alcançá-lo, nenhum mal lhe aconteceria. Seu protecionismo era
importante. Estava subentendido, embora eles nunca tivessem tido uma
conversa. Quanto mais perto ela chegava de alcançá-lo, mais a presença
sinistra a arrastava de volta, tornando impossível correr tão rápido quanto
necessário.
O vento sacudiu seu chapéu e, pela primeira vez, ela viu o rosto do
homem que esperava por ela noite após noite sob a árvore.
— Jonas — ela sussurrou, estendendo sua mão, sabendo que ele pegaria
se pudesse.
De alguma forma, ela já sabia que era ele quem esperava, não é?
Sim. É claro. Ela sempre soube.
Tudo ficou em silêncio.
Silencioso e... Vasto.
Ainda sonhando, mas ela não conseguia ver.
Só podia sentir a brisa deslizando em torno de suas pernas nuas, terreno
irregular sob seus pés. E, Senhor, ela estava com frio. Um arrepio a pegou e
não a soltou, seus dentes batendo. Suas mãos ergueram-se para o rosto e
encontraram uma venda nos olhos. Quem a colocou lá?
Onde estava Jonas?
Ela choramingou seu nome enquanto tirava a venda, o ar deixando seus
pulmões em um suspiro aterrorizado. Não houve tempo para se preparar ou
encontrar o equilíbrio. Ela oscilou no pequeno afloramento que se projetava da
lateral do penhasco e escorregou, caindo... Nas rochas abaixo, seus gritos
rasgando o vento atrás dela.
Ginny se preparou para o impacto que nunca veio.
Nunca veio, mas ela estava cega de novo. De volta ao terreno instável, o
ar interminável e barulhento ao seu redor. Barulhento. Isso era diferente. Ela
não poderia estar de volta ao penhasco. Não querendo se assustar e cair uma
segunda vez, ela lentamente estendeu a mão e tirou a venda - e prendeu um
grito de horror em sua garganta.
Lágrimas escaldaram seus olhos, seus joelhos tremendo violentamente.
— Não, não, não, não — ela soluçou, seus lábios dormentes de choque.
Um corpo d'água se espalhou à sua frente, aparentemente se estendendo
por quilômetros, pontilhado intermitentemente por barcos. E eles eram tão
pequenos. Senhor, eles eram tão pequenos, o que significava que ela estava
extremamente no alto. O tráfego corria atrás dela. O vento agitou e emaranhou
seu cabelo. Terra à sua direita e esquerda. Ponte. Ela estava em uma ponte.
Na borda de uma ponte.
Ginny ficou muito quieta, com medo até mesmo de se virar e encontrar
um caminho para fora da borda. O vento estava tão forte que qualquer
mudança em seu equilíbrio poderia desequilibrá-la e mergulhá-la na água
abaixo. Água que nada mais era do que uma escuridão horrível e muda.
Meu coração vai me matar.
Ele bombeava com tanta força que seu corpo se moveu junto com as
batidas frenéticas.
— Jonas — ela sussurrou, lágrimas chovendo por seu rosto. — Jonas.
Algo estava errado. Muito errado, ou ele estaria lá. Ele nunca a teria
deixado chegar à ponte em primeiro lugar. Ela teria que se salvar. Não só
porque ela queria viver desesperadamente, mas porque Jonas poderia morrer
sem ela e a mera possibilidade quase a rasgou ao meio.
Ela poderia morrer sem dizer a ele que o amava.
Não.
Não, ela devia isso a ambos para não perder as esperanças. Se ele estava
em perigo, ela muito bem esperava que ele vivesse. Para voltar para ela.
Não havia como ela ficar ali por muito mais tempo sem fazer um
movimento. Isso era certo. Suas pernas já estavam tremendo por manter a
quietude total na saliência minúscula - e sim, ela sabia sem olhar para baixo
que era minúscula, porque os dedos dos pés pendiam sobre a borda.
O pânico brotou em sua garganta e a condensação de sua respiração
trêmula flutuou em torno de seu rosto. A raiva rompeu o solo de seu medo
como um pequeno broto verde, crescendo cada vez mais. Alguém a colocou
aqui. Alguém que a queria prejudicar. Morta. Seymour pode ter sido morto,
mas obviamente havia outro vampiro que queria lhe fazer mal. Seymour
realmente tinha sido a ameaça para começar? Quem quer que a tenha colocado
nesta ponte estava seguindo o mesmo padrão de não matá-la abertamente, mas
desrespeitar as regras ao colocá-la em posição de fazê-lo sozinha. E isso...
Assim como sua viagem para Belt Parkway, pareceria um suicídio, não
parecia?
Quem quer que a quisesse morta poderia escapar impune.
Não, ela não podia deixar isso acontecer.
Com uma inspiração longa e lenta, Ginny virou a cabeça para a esquerda,
procurando um apoio para as mãos. Qualquer coisa que ela pudesse alcançar
e agarrar, para evitar cair para a frente na escuridão gelada. Não havia
nada. Apenas uma parede plana e azul clara de aço pintado. Azul claro. Devo
estar no Verrazano, pensou ela vagamente, tentando não sucumbir ao desespero
de não encontrar âncora.
Com cuidado, ela colocou as palmas das mãos na superfície irregular
atrás dela, inspirando e expirando. Dentro e fora. Ela fechou os olhos e tentou
encontrar seu centro, encontrar qualquer coisa que a ajudasse a manter a
imobilidade.
Ela poderia ter sido capaz de ficar assim tempo suficiente para que Jonas
a encontrasse, se não fosse pelo acidente. De uma forma estranha, ela sentiu
que ia acontecer. Talvez por causa do sonho em que ela despencou do
penhasco nas rochas irregulares abaixo.
Isso era inevitável, não era?
Os pneus guincharam no alto e Ginny se preparou, os dentes tirando
sangue do lábio inferior. O metal se partiu e a ponte vibrou sob seus
pés. Bastou uma pequena sacudida e ela tropeçou para frente, seu pé pegando
nada além de ar. Não aconteceu em câmera lenta, a queda. Foi uma queda a
cem quilômetros por hora sem controle de seu corpo, membros girando, um
grito rompendo suas cordas vocais. Ginny fechou os olhos com força e, nos
segundos finais, pensou em lindos olhos esmeralda...
Imponderabilidade.
Seu pulso disparou em seus ouvidos. Uma buzina de nevoeiro soou ao
longe.
Sem impacto.
Nada.
Outro sonho?
Ela estava tendo outro sonho?
Cautelosamente, Ginny abriu os olhos para encontrar Jonas acima dela,
no meio de um salto. Saltando da ponte, suas mãos estendidas para baixo em
direção a ela. Quando ele se aproximou, tornou-se óbvio que ela não estava se
movendo. Ela estava pairando? Uma olhada ao lado disse a Ginny que ela
havia parado vários metros acima da água negra e sinistra.
— Eu tenho você — ele gritou, voz rouca, comandando. — Eu peguei
você, Ginny.
Ele a alcançou então, passou os dois braços em volta da cintura dela e
torceu, virando suas posições para que suas costas batessem na água primeiro,
e tudo acelerou. Eles caíram com um respingo, afundando no líquido em uma
fileira de bolhas, a temperatura gelada esfolando sua pele. Pareceu levar uma
eternidade para eles emergirem, quando na realidade foram provavelmente
apenas alguns segundos. Jonas tomou o rosto dela entre as mãos e a examinou
atentamente, murmurando palavras indecifráveis para si mesmo, parecendo à
beira da loucura total.
— Você caiu. Cristo, você caiu. Você caiu. Você caiu.
Ginny respirou fundo, com um som histérico, sua adrenalina
mergulhando com força e ela começou a chorar, uma onda se movendo por
seu corpo antes de agarrá-la em violentos tremores, agitando a água onde
balançava como boias.
— Oh, Ginny. Amor, sem lágrimas. Por favor, por favor. — Ele beijou sua
boca com força, seguida por suas bochechas, testa e nariz. Toques ásperos de
sua boca que a fizeram chorar ainda mais por algum motivo. — Você acabou
de fazer meu coração começar a bater de novo, baby, agora você está
arrancando-o.
— C-como eu cheguei lá? Eu só... E então... Eu pensei que ia...
Ele a parou com outro beijo áspero, suas mãos trêmulas acariciando seu
cabelo molhado. — Eu acordei com prata no meu peito e você estava na metade
do caminho para fora da janela. Fodidamente se foi e eu não conseguia me
mover. Eu não conseguia me mover.
— Como você tirou?
— Não sei. Eu não sabia que era possível, mas você estava se movendo
para fora do meu alcance e eu só... Eu explodi. Não teve nenhum controle sobre
mim.
Involuntariamente, a mão dela tocou seu peito, como se para arrancar o
metal após o fato. Ela encontrou uma trincheira profunda de pele vermelha
com marcas de raiva, em vez disso. — Jonas. Por que não está cicatrizando
mais rápido?
— Você se preocupa com um ferimento superficial ao cair de uma ponte?
— ele rangeu, apertando os ombros dela. — Jesus Cristo, eu tenho que tirar
você daqui. Eu tenho que te levar para um lugar seguro.
Ginny estava muito esgotada para protestar quando Jonas a jogou de
costas e começou a nadar. A cabeça dela pendeu em seu ombro e ela observou
a água passar voando em um ritmo rápido.
— Fale comigo, amor — ele sussurrou melancolicamente. — Eu continuo
vendo você cair.
Falar? Ela mal conseguia manter os olhos abertos. Aparentemente, seu
cérebro estava lidando com o estresse de cair para a morte encerrando o dia. —
Eu sonhei com você — ela murmurou, atordoada. — Eu estava sonhando com
você o tempo todo.
— Sonhando comigo?
Ela cantarolou, esfregando o rosto em seu ombro molhado. — Fora da
feira. Você estava esperando por mim debaixo da árvore em seu chapéu e
suspensórios. — Distraidamente, ela notou os músculos das costas de Jonas se
contraindo, o ritmo de seus golpes vacilando. — Eu tentei ir até você, mas a
pessoa do capuz vermelho estragou tudo.
— Ginny — ele murmurou, tirando-a da água para uma doca e escalando
ao lado dela. Ela começou a se deitar nas pranchas de madeira, mas ele a pegou
nos braços, erguendo-a contra o peito. — Fique acordada. — Ele a sacudiu
levemente. — Termine o resto.
— Você me disse para voltar, mas eu não dei ouvidos. Eu precisava de
você. — Ela enfiou a cabeça sob o queixo dele e deixou a sonolência se
aproximar. — Precisávamos um do outro.
A última coisa que ela lembrou antes de o sono reivindicá-la foi Jonas
olhando para ela em estado de choque. E estranhamente... Reconhecimento.
Ginny acordou em lençóis suaves e celestiais por um trio de vozes
masculinas raivosas.
Ela abriu uma pálpebra, esperando encontrar Jonas, Tucker e Elias no
mesmo cômodo com ela, mas ela foi saudada por nada além de
escuridão. Cautelosamente, ela percorreu com os dedos num travesseiro fofo e
encontrou algo duro. Uma mesa lateral? Ela avançou mais alguns centímetros,
levantou a alavanca e acendeu uma lâmpada, encontrando-se em algum lugar
desconhecido.
Um quarto de hotel?
Memórias forjadas em sua mente nebulosa. Seu corpo inteiro estremeceu
quando a queda do Verrazano voltou com força total, colocando-a de volta no
centro de sua queda livre. Ela respirou fundo e inspirou mais oxigênio,
ironicamente desejando um pouco de água.
Jonas irrompeu no quarto por uma porta adjacente vestindo nada além
de calças de moletom pretas. Seu cabelo ainda estava molhado, o que
significava que ele havia tomado banho ou ainda estava úmido do mergulho
improvisado. Ela esperava que fosse o último, porque isso significaria que ela
não tinha ficado fora por muito tempo.
— Você está acordada —, Jonas sentou-se no lado da cama, o seu peso no
colchão fazendo-a rolar na direção dele. Automaticamente, o dedo enfiado em
seu cabelo, seu polegar massageando círculos em sua testa. — Como você está
se sentindo?
Ela deitou a cabeça na coxa dele. — Estou bem.
Ele a observou em silêncio, as sobrancelhas unidas.
— Estou feliz que a ferida em seu peito esteja desaparecendo. Não gostei
de pensar no quanto deve ter doído.
— Hmmm.
Era sua imaginação ou ele estava agindo de forma estranha? — O que
está errado?
— Nada —, disse ele calmamente. — Tudo.
— Oh, isso é?
Nenhuma sugestão de sorriso de Jonas.
— Sobre o que vocês estavam discutindo?
— Agora, não estávamos discutindo —, disse Tucker, entrando no quarto
com um sorriso forçado no rosto. — Suas mamães e papai estavam apenas
tendo uma discussão.
Ginny sentou-se com as costas apoiadas na cabeceira da cama,
percebendo tarde demais que estava usando um robe branco sem cinto de
hotel. Felizmente, Jonas fechou as laterais e prendeu o cinto em volta de sua
cintura antes que ela pudesse mostrar a Tucker. Ela olhou para a porta ao lado,
esperando Elias se juntar a eles na sala, mas a entrada permaneceu vazia. —
Quanto tempo eu dormi?
— Duas horas —, respondeu Jonas. — Estamos em um Hilton na Staten
Island. Foi o lugar mais próximo que consegui encontrar.
Tucker soltou uma risada. — Ouça a repulsa em sua voz sobre a
classificação de três estrelas.
Jonas ainda estava olhando para ela estranhamente. — Vai servir para a
noite, mas você deve sempre esperar melhor.
— O que esta acontecendo com você?— ela sussurrou, alcançando para
coçar o queixo dele. — Você está olhando para mim como se tivesse crescido
um chifre de unicórnio. — Seus olhos se arregalaram em falsa preocupação. —
Meu Deus. Cresceu um em mim?
— Não. — Seu sorriso estava torto, olhos intensos. — Você está perfeita
como sempre.
Ela deve ter deixado sua vergonha flutuando no porto de Nova York,
porque mesmo com Tucker no quarto, seus mamilos se transformaram em
picos sensíveis dentro de seu robe e ela contemplou puxar Jonas para baixo em
cima dela na cama. Só para se lembrar da deliciosa pressão de seu peso. Oh
uau. Como ela sentia falta de seu peso.
— Meu Deus. Essa sua pulsação acelerada... — Seu olhar caiu para a boca
dela e faiscou. — Fique calma para mim, amor. — Ginny controlou sua libido
galopante com as duas mãos. Ou tentou, de qualquer maneira. Jonas arruinou
seu progresso inclinando-se e falando bem em cima de sua orelha. — Você se
lembra do que me disse antes de adormecer?
Ginny vasculhou sua memória, mas não conseguia se lembrar de nada
depois de subir nas costas de Jonas na água. — Não.
— Mmmm.
— O que significa mmmm?
— Elias — Tucker gritou para o outro cômodo. — Eles estão me
ignorando.
Com as bochechas aquecidas, Ginny se esquivou de Jonas. — Desculpa.
— Foi difícil se concentrar quando Jonas se recusou a parar de considerá-la
como uma espécie de enigma que estava tentando decifrar. — Hum. Sobre o
que estamos discutindo?
— Você não está discutindo sobre nada —, enfatizou Jonas. — Você está
descansando.
Elias entrou no quarto, com o capuz levantado, mais uma vez protegendo
o rosto da vista. — Ela tem o direito de saber que você está partindo — ele
disse, a voz casual.
Jonas fechou os olhos. — Foda-se, Elias.
— Já ouvi muito isso. — O recém-chegado no quarto se esparramou em
um sofá em um canto escuro do quarto . — Não muda os fatos.
Ginny se sentiu como se estivesse se levantando na borda do
Verrazano. Sem fôlego, desequilibrada e se preparando para cair de ponta-
cabeça. — O que ele quis dizer com você está indo embora? — Sua boca estava
seca como poeira. — Onde você está indo?
— Eu ia te contar uma vez que você dormisse um pouco mais. — Uma
linha flexionou em sua bochecha. — Vou abordar a Alta Ordem. Sobre
você. Sobre nós.
Seu sangue gelou. — Não. Por quê?
O silêncio passou. — Há quanto tempo você tem sonhos, Ginny?
Ele voltou para ela então. Agarrando-se às costas de Jonas enquanto ele
cortava a água e contava a ele sobre o homem debaixo da árvore. Ele. — Desde
que te conheci.
— Me conheceu. — Sua risada foi plana. — Você me conhece há muito
mais tempo do que pensa. — Havia muito peso em seus olhos enquanto a
estudava, ela só poderia existir em sua linha de fogo. — Ou talvez não. Não
falamos da primeira vez. Na verdade.
— Do que você está falando, príncipe? — Tucker perguntou lentamente.
— É isso que gostaria de saber —, acrescentou Elias.
Sua voz estava vacilante quando ele falou. — Minha companheira. Ela
desapareceu sem deixar vestígios e eu nunca poderia encontrá-la
novamente. Eu a vi pela primeira vez fora de uma escola de dança. Ela tinha
apenas dezoito e humana. Fiquei longe. Eu tentei ficar longe, apenas olhando
por ela, até a noite na feira.
O coração de Ginny bateu contra seus tímpanos. Ela poderia provar as
castanhas assadas no ar, sentir o cheiro do algodão doce, ouvir as notas tilintar
dos passeios. Acima de tudo, ela podia sentir Jonas debaixo da árvore. O clique
atmosférico de estar exatamente onde ela deveria estar, com ele, a mão do
destino varrendo-a mais perto.
— Eu juro que ela me conheceu —, Jonas murmurou agora. — Eu
juro... Você me conhecia.
— Eu conhecia. Eu estava esperando.
A emoção invadiu seu rosto. — Eu não tenho duas companheiras. Eu
simplesmente te encontrei de novo. — Sua voz tremia enquanto acariciava sua
bochecha. — Onde você foi?
O vento gelado do passado esfriou sua pele. — Caí de um penhasco —
ela sussurrou, entorpecida.
Momentos pesados se passaram enquanto eles se encaravam.
Lentamente, Jonas se levantou da cama, os punhos pressionados contra
as têmporas. Ele caminhou em uma direção, mudou e parou, dobrando-se e
soltando um rugido ensurdecedor. Ginny correu para cobrir os ouvidos com
as duas mãos, abaixando-se em direção ao edredom enquanto faíscas voavam
de todas as fontes de luz e tomadas do quarto do hotel, chamuscando o tapete
com pequenos assobios.
— É meu senhor quem faz isso? — Ele puxou o cabelo. — Meu senhor
tentaria tirar você de mim duas vezes?
— Claro que sim — murmurou Elias. — Ele é um bastardo implacável.
— Eu não entendo — Ginny disse, trocando um olhar entre os homens.
Jonas fez uma pausa, olhando para o espaço. — Ele é o denominador
comum. Quando eu a encontrei pela primeira vez, eu estava recém-
Silenciado. Ninguém mais sabia sobre mim. Eu não tinha assumido nenhuma
responsabilidade ainda sob seu comando, então ninguém teria me atacado
para irritá-lo. E é o mesmo padrão. Colocá-la em perigo com apenas espaço
suficiente para falhar sozinha. — Ele passou a mão pelo rosto. — Um
penhasco. Uma ponte. Meu Deus, ele está por trás disso, não é?
— Ele é poderoso o suficiente —, disse Tucker.
Ginny piscou. — Ele me quer morta para que você não quebre as regras
e tenha um relacionamento com uma humana?
— Ele controla todos ao seu redor, como fantoches em cordas. Encontrar
a minha companheira traria minha devoção para outros lugares. — Jonas
amaldiçoou. — Mas por que vir atrás de você de novo agora, quando deixei
claro que não terei nada a ver com ele, de qualquer maneira? E como ele
encontrou você pela segunda vez antes mesmo de nos conhecermos?
— Você não pode simplesmente marchar lá e exigir respostas para suas
perguntas — ela disse, sua voz rouca. — Certo? É muito perigoso.
Por favor, não vá.
Como se ela tivesse falado em voz alta, seus olhos imploram por sua
compreensão. — Ele quer o juramento de fidelidade que eu me recusei a dar a
ele. Fazer esse juramento significaria que eu nunca poderia desafiar sua
cadeira, algo que só eu posso fazer. Vou oferecer o juramento agora em troca
de clemência. E acima de tudo, sua segurança.
Ginny alcançou sua garganta fechada. — E se ele disser não?
— Eu não posso viver para sempre com medo de você ser tirada de
mim. Se ele quer me colocar de volta na linha machucando você, não posso
ignorar o problema. Eu tenho que enfrentar isso de frente. Por favor, entenda.
— Ele poderia matá-lo por quebrar as regras — ela disse entrecortada,
levantando-se e puxando-o pela frente de sua camisa. — Não faça isso. Por
favor, não.
— Ginny... — ele disse miseravelmente contra a testa dela.
Uma compreensão a ocorreu e ela se agarrou a isso como um salva-
vidas. — Como você vai sobreviver? Se você for, você tem que me levar com
você.
— Nunca. — Nunca uma palavra mais firme foi dita. Seus olhos
brilhantes o acompanharam em uma nuvem de fagulhas verdes. — Você vai
ficar aqui com Elias e Tucker. Farei tudo ao meu alcance para voltar para você.
— Ele fez uma pausa, desviando o olhar. — E se eu não puder, sua vida será
muito mais segura. Acredite em mim, amor.
— Tanto para se comprometer — ela engasgou, fugindo para o banheiro
e trancando a porta atrás dela. Nada estava sob seu controle.
Nada.
Depois de experimentar a sensação de queda livre naquela noite, ela
precisava desesperadamente do oposto. Terra firme. Um plano claro. Esperar
e torcer para que as coisas dessem certo pode ser a maneira como ela operava
no passado, mas não agora. Este era seu futuro em jogo e ela não queria esperar
e ser guiada por um caminho predeterminado pelas mãos do destino, ela
queria esculpir o maldito caminho sozinha. A frágil humana teve que ficar para
trás e...
Frágil humana.
Ela tinha acabado de se sentar na borda da banheira quando alguém
bateu três vezes na porta do banheiro. Sua mente ainda estava girando com
possibilidades - ela estava realmente considerando isso? - então ela ignorou a
batida e continuou a pensar.
A fechadura da maçaneta de metal se abriu e Jonas deu um passo rápido
para dentro, fechando a porta atrás dele. — Eu não posso sair com você com
raiva de mim.
Ela enxugou uma lágrima antes que caísse. — Talvez eu fique com raiva
para sempre, então você tem que ficar.
— Ah, Ginny. Não quebre meu coração.
— Não quebre o meu — ela sussurrou. — Eu estou apaixonada por
você. E você pode ir esta noite e nunca mais voltar. Por minha causa.
Ignorando claramente cada palavra que saía de sua boca, ele veio em sua
direção enquanto ela falava e se ajoelhou a seus pés, reunindo seu corpo
resistente e puxando-a para perto, apesar de seus protestos. — Não se atreva a
dizer que me ama e me afaste.
— Você não pode se comprometer apenas quando é conveniente, Jonas.
— Ela se retorceu em seus braços e ele perdeu o equilíbrio de propósito. Ginny
acabou no chão em seu colo, os braços dele ao redor dela como faixas de aço. —
Não é assim que funciona.
— Eu também estou apaixonado por você — ele disse rispidamente em
seu cabelo. — E agora eu sei por que isso me oprime a cada passo, esse amor
que eu tenho por você. Foi dobrado pra caralho. Fui abatido duas vezes pela
mesma linda alma.
— É a minha alma que você mais ama?
Ele pegou seu queixo, levantando-o para que eles fizessem contato
visual. — É tudo de você —, respondeu ele, quase com raiva. — Sua alma, seu
coração, seu corpo. Eu disse tudo.
— Essas coisas vão mudar se eu me tornar como você?
Jonas recuou como se tivesse sido atingido. — O que você disse?
Ela não disse nada por um momento, simplesmente deixando-o ver que
ela estava falando sério. Fez um esforço para se livrar de seus braços, mas ela
conseguiu e se levantou. — Minha vida vai passar em um piscar de olhos para
você. E a cada segundo disso, estaremos nos preocupando com a possibilidade
de ser interrompida cedo demais.
— Ginny, pare com isso — ele respirou, levantando-se. — Vire-se e olhe
no espelho.
Engolindo em seco, ela olhou para trás por cima do ombro, encontrando-
se sozinha no banheiro, embora soubesse que não estava. Nunca poderia
confundir estar sozinha com estar ao lado da força magnética de vida que era
Jonas. — Se o seu argumento é que não vou conseguir me olhar no espelho,
você vai ter que fazer melhor.
Ele agarrou seus ombros. — Eu vou te adorar, não importa em que forma
você esteja, mas você pode se odiar como eu. Não serei responsável por
extinguir sua humanidade. Por torná-la dependente de sangue. Eu não vou.
— Você irá. Porque eu não vou viver sem você. E me mudar irá protegê-
lo contra a Alta Ordem. Não me deixe para trás sabendo que sou a razão pela
qual você foi condenado à morte.
— Se a escolha é entre eu morrer e você morrer, não há escolha.
— Você acha que vou ficar melhor, não é? — Ginny disse lentamente. —
Você ainda está acorrentado naquela sala, condenando-se à morte, então não
terei que passar minha vida mantendo você vivo. — Sua mandíbula flexionada
disse a ela que ela estava pelo menos parcialmente correta. — Droga, Jonas. Eu
mesma tomei essa decisão e você não está respeitando isso. Você não está me
respeitando.
Parecendo agoniado, ele virou Ginny e pressionou-a contra a porta,
plantando um punho com força acima de sua cabeça. — Eu reverencio você —
ele disse, a boca contra o ouvido dela. — Mas eu não vou fazer isso. Não
quando há uma chance de que eu possa nos salvar com meu voto de fidelidade
e deixá-la humana.
Sua firmeza disse a Ginny que ela havia sido derrotada. E essa derrota
permitiu que o medo iminente de perdê-lo penetrasse. Isso sacudiu o chão sob
seus pés e a fez doer. Se esta fosse a última vez que ela visse Jonas, ela não
perderia um único segundo. Erguendo um pouco o queixo, ela alcançou entre
eles e desamarrou o manto, movendo os ombros até que ele caísse de seu corpo
e se acumulasse no chão. — Se essa for sua decisão, então faça amor comigo
como se fosse a última vez. Pode ser.
Jonas endureceu contra ela, suas mãos caindo para seus quadris,
hesitando antes de embalá-los. — É sua intenção me quebrar?
— Não, é minha intenção nos fazer sentir inteiros — ela proferiu, seus
ossos já se liquefazendo com um simples toque. — Dê-me algo para lembrar
de você.
— Ginny.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, ela puxou seu rosto para
um beijo. Seus lábios estavam rígidos no início, mas ela fez um som suplicante
em sua garganta e ele estremeceu em resposta, achatando seu corpo entre ele
e a porta, sua boca inclinando-se sobre a dela com um gemido irregular. Sua
rendição junto com o desespero de Ginny foi um fósforo sendo jogado em um
barril de pólvora. Eles explodiram em movimento, os dedos dele retorcendo-
se nas laterais de sua calcinha, puxando-a e empurrando-a para
baixo. Escorregou-a por seus tornozelos e ela a chutou, nunca interrompendo
o beijo.
Ela não conseguiria.
Ele estava consumindo, e ele consumiu. Roubando seu fôlego e
armazenando-o avidamente dentro de seu corpo, mantendo-a viva com golpes
de sua língua e massageando as mãos que pareciam pousar em todos os
lugares. Seus quadris, sua cintura, seus seios nus.
Quando os polegares dele acariciaram seus mamilos eretos, ela soltou um
gemido, apenas dando uma fração de segundo para sugar o oxigênio antes que
ele a beijasse furiosamente de novo. — Isso não é calmo — ele rosnou,
pressionando suas testas juntas. — Eu não estou calmo.
— Se eu fosse como você —, ela sussurrou contra sua boca, — você
poderia me tomar tão forte quanto você quisesse.
Olhos brilhando como joias polidas, ele a cortou com a boca, varrendo a
língua dentro de sua boca como se memorizando cada canto. As chamas
beijaram cada ponto sensível de seu corpo, as terminações nervosas
chiando. Mesmo com os olhos fechados, ela podia sentir as luzes no banheiro
diminuindo e aumentando e a prova de Jonas sendo afetado aumentava sua
necessidade. Tornou-o selvagem.
Desejando ainda mais demonstrações, do tipo físico, ela arrastou uma
mão pelo peito nu dele, encontrando seu eixo rígido onde se inchou fora da
cintura de sua calça de moletom, forçando contra seu estômago. Através do
material macio, ela o moldou em sua mão. Seus quadris empurraram em
resposta, jogando-a com força contra a porta e deixando-a sem fôlego. E pela
primeira vez, ela levou a sério a ameaça de sua força física ter a capacidade de
feri-la.
— Cristo — ele disse densamente, liberando sua boca, mas ainda
ondulando a parte inferior de seu corpo em direção ao seu toque, como se
compelido. — Eu machuquei você?
— Não. — Ela balançou a cabeça enquanto empurrava a calça de
moletom para baixo em seus quadris, seu corpo dolorido sem ele o mais perto
possível. O mais próximo possível. — Não, mas provavelmente deveríamos ir
mais devagar — ela disse em uma pressa ofegante de palavras emaranhadas.
— Você está dizendo uma coisa e encorajando outra — ele murmurou,
empurrando-a contra a porta, deixando seus pés vários centímetros acima do
solo. Ele baixou a boca para seus seios, lambendo um caminho entre seus
mamilos antes de chupar cada um profundamente, suas bochechas cavando de
uma forma que a deixou instantaneamente molhada. Preparada. Carente.
As coxas dela envolveram seus quadris automaticamente, os dedos dos
pés cavando em seu traseiro tenso. Nenhuma escolha a não ser agarrar-se,
apertá-lo entre as pernas. Seu núcleo estava tão sensível, tão exposto. — Jonas,
Jonas, Jonas.
— Você não quer fazer amor, Ginny. — Seus dentes arranharam seu
mamilo, lambendo a picada enquanto ele fazia contato visual intenso. — Você
quer foder, não é?
Essa palavra vinda de seus lábios perfeitos explodiu luxuriosas faíscas
em sua fome já opressora. — Eu penso que sim. Sim?
— Você está um pouco furiosa comigo, é por isso? — Ele trabalhou seu
sexo duro contra a junção úmida de suas coxas, sua mandíbula afrouxando
com a fricção. Ela sabia, porque sentiu o incrível deslizar e moer disso
também. — Você quer me mandar embora sabendo que está com raiva, então
vou tentar com mais força voltar e fazer as pazes.
A umidade subiu para seus olhos. — Pode ser.
Seu aceno foi resignado, mas seus olhos permaneceram derretidos. — Eu
sou incapaz de te negar qualquer coisa. Qualquer coisa. — Ele se abaixou e
agarrou sua grossura, entalhando a cabeça lisa dentro dela - e batendo em casa
com a melodia do grito estrangulado de Ginny. Por um momento, Jonas não
disse nada, sua boca aberta contra seu ouvido. Então, — Você fica ainda mais
apertada quando está chateada.
Um comichão rugiu para baixo em sua barriga, suas coxas sacudindo
violentamente enquanto o orgasmo chicoteava por ela. — Meu Deus. — Ela se
contorceu, desesperada por uma âncora, um galho para se agarrar enquanto
era atirada pelas corredeiras furiosas. — Oh meu Deus.
— Diga-me que você ama minha boca — ele disse por entre os dentes,
movendo seus quadris em um círculo lento embaixo dela. — A obscenidade
que eu digo para você. Me diga que você ama meu pau. Seu corpo já está se
confessando.
— Eu amo isso! — Ela gritou em sua garganta, alarmada, encantada,
dominada por quanto tempo ela estava sendo lançada incontrolavelmente no
auge do prazer. — É muito bom. Eu não posso. Eu não posso.
— Você sabe o esforço que estou fazendo para controlar o monstro dentro
de mim, Ginny? Se a coleira quebrar, vou te foder contra esta porta, que Deus
me ajude.
Então ajude seu Deus, ela quase o encorajou. Disse a ele para fazer
isso. Para dar a ela o seu pior. Porque ela odiava qualquer parte de Jonas sendo
mantida refém, mantida longe dela. Ela queria cada peça, cada faceta deste
homem que amava. Mas ele nunca se perdoaria se ela se machucasse e isso -
surpreendentemente não era autopreservação - fez Ginny beijá-lo
suavemente. — Calma, Jonas. — Ela acariciou o lado de seu rosto. — Calma.
— Droga. Tarde demais — ele murmurou, balançando a cabeça e
começando a dirigir-se para dentro dela, deslizando-a para cima e para baixo
na porta em um ritmo chocante. — Tarde demais.
Ginny tentou falar e não conseguiu. Não com os dentes de trás batendo
juntos e a pressão de seu tamanho enchendo-a uma e outra vez, seus tornozelos
tremendo com o impacto onde eles pendiam impotentes em cada lado de seus
quadris. Suas mãos estavam machucando seu traseiro, segurando-a no lugar
para suas bombeadas poderosas. Atrás dela, a porta protestou contra o abuso
contínuo de suas dobradiças, a maçaneta chacoalhando ruidosamente.
— Eu não quero fazer doer, amor. Eu não quis dizer isso. Eu não quis
dizer isso.
Ela foi puxada para trás do precipício de alarme quando seu corpo
começou a responder ao ritmo perverso e à intensidade de Jonas dentro dela,
perseguindo sua liberação em um frenesi. Seu próprio monstro acordou onde
estava adormecido dentro dela e ela fechou os olhos, ouvindo o
repetitivo slap de seus sexos se encontrando. Ela se emocionou com o aperto de
suas mãos, a possessividade de seus dedos cavando em sua carne. A alegria
dançou por sua espinha com os grunhidos famintos que ele fez em seu pescoço,
o som de suas presas cortando.
— Eu seguro meu mundo inteiro nestas mãos — ele disse com voz rouca,
lambendo a pulsação na base de seu pescoço. — Eu bebo de você com gratidão
e adoro cada batida do seu coração.
E quando ele afundou suas presas em seu pescoço, rosnando
entrecortadamente, a culminação de seus prazeres derivados colidiu e ela foi
vencida. Por longos e arrebatadores momentos, ela não conseguia se mover. Só
podia ouvi-lo se alimentar de seu pescoço e extrair força, seu corpo pulsando
com vida renovada bem na frente de seus olhos. Suas zonas erógenas se
apertaram, estremeceram e acenderam, sua boca festejando tecendo uma
sensação emocional de completude dentro dela, especialmente quando ele
liberou suas presas, a curou com uma lambida e a considerou como uma
espécie de anjo.
Ela não era. Agora não.
Aas unhas de uma mão arranharam seus ombros, a outra puxou seu
cabelo e ela começou a cavalgar, tanto quanto podia com movimentos
limitados, seu corpo pressionando-a com tanta força contra a porta, os
movimentos de seus quadris eram quase inúteis, mas eles eram alguma
coisa. Eles eram algo e ela precisava se mover. Para passar pela borda do
penhasco se aproximando cada vez mais.
— Venha comigo — ela pediu, choramingando quando suas investidas
ásperas recomeçaram, seus corpos se movendo como uma máquina sensual. —
Eu te amo, eu te amo, fica comigo. Não se afaste de mim.
Ele bateu sua boca em cima da dela, beijando-a com a brutalidade
apaixonada pela qual ela estava faminta, a porta ricocheteando com força no
batente atrás dela. Bambambambambam. — Sinto muito, meu amor —, disse ele
com voz rouca. — Minha fodida vida.
Ginny caiu sobre a borda tão rápido e tão forte que seu clímax foi quase
doloroso. Suas coxas tremeram ao redor dos quadris de Jonas, seu corpo
arqueando-se na porta, seu grito ecoando nas paredes do banheiro. Ele
pressionou sua testa na dela, olhando-a nos olhos enquanto a seguia para fora
do penhasco, quadris sacudindo descontroladamente, Ginny em seus
lábios. Atrás dele, as lâmpadas do banheiro soltaram faíscas e se apagaram,
deixando-os sob a luz mais fraca por onde passavam por baixo da porta.
— Envie-me com seu amor, não sua raiva —, disse ele, uma vez que a
onda mais tremenda de paixão passou, seus dedos acariciando seu cabelo para
trás. — Diga-me que você vai se casar comigo quando e se eu voltar para
você. Dê ao meu coração uma razão para continuar batendo. Por favor.
— Faça-me como você e eu me casarei com você agora — ela disse com
uma voz suplicante, disposta a implorar com tudo que ela tinha para mantê-lo
vivo. — Agora. Hoje.
A agonia sangrava por todos os poros, mas suas palavras eram retorcidas
de aço. — Eu não vou fazer isso.
A necessidade de lançar seus braços ao redor de Jonas era feroz. Para
dizer a ele que o amava e o perdoaria até mesmo das piores transgressões. Mas
o medo no centro de seu peito não a deixaria mentir. E de qualquer maneira,
ele saberia por seu pulso se ela não fosse verdadeira. A voz dela tremeu ao
responder. — Eu envio você com meu amor e minha raiva.
Os olhos de Jonas queimaram dentro dela, cheios de miséria, mas ela se
manteve firme.
Depois do que pareceu uma eternidade, ele se abaixou e pegou o manto
dela, envolvendo-a e prendendo-a dentro dele, junto com o silêncio
pesado. Uma vez que suas calças estavam de volta no lugar, ele olhou
fixamente para o nada, vendo o quê? Ela não sabia. As palavras não ditas
criaram uma pressão terrível em sua garganta, mas ela não as disse em voz
alta. Sua raiva a impediu. Como ele ousava rejeitar a única solução que os
manteria juntos? Como ele ousa tomar decisões por ela?
Lágrimas queimaram seus olhos quando ela se afastou da porta do
banheiro e a abriu, permitindo que ele passasse. A perspectiva de sua ausência
permanente transformou suas pernas em geleia e ela caiu no chão, agarrando
o robe em torno de si, as lágrimas escaldando suas bochechas. Ela o ouviu abrir
a porta do quarto do hotel e sair com o coração ocupando tanto sua garganta
que ela mal conseguia respirar.
— Espere — ela sussurrou. — Espere.
Mais uma vez a porta se abriu e ela ficou de pé, com a intenção de retirar
toda a sua raiva. Para enviá-lo com amor. O que ela estava pensando? Ele iria
enfrentar o pelotão de fuzilamento e ela o teria seguro de como se sentia, não
arrasado com a briga. Mas quando ela correu para a sala, foi Elias que a saudou
das sombras, não Jonas.
— Nós podemos salvá-lo, você sabe — disse Elias.
A esperança cresceu, aliviando um pouco do peso terrível em seu
estômago. — Podemos?
— Ele vai me odiar por isso. Mas não posso deixá-lo fazer o sacrifício.
— Eu também não quero isso.
— Bom. — Elias deu um passo em sua direção, e outro, causando
arrepios em seus braços, revelando pela primeira vez a cicatriz de raiva que
cortava sua boca. — Então, nós damos você a eles.
Cada centímetro que Jonas seguia na direção oposta de Ginny era um
novo prego sendo cravado em seu peito. Com as mãos estrangulando o volante
do carro que pegara emprestado de Tucker, ele respirou fundo, limitando a
frequência com que engolia para não perder o sabor dela tão cedo e
enlouquecer.
Ela tinha todo o direito de odiá-lo.
Ele a transformou em uma serva. Não podia nem mesmo fazer amor com
ela sem perfurar a porra de sua pele perfeita e sugar a substância que a
mantinha viva. E o que eles fizeram no banheiro do hotel esta noite não foi
fazer amor. Ele tinha sido muito duro. Deus, e se ela estivesse dolorida? E se
ela precisasse dele?
Levou cada grama de seu autocontrole para não virar o carro em uma
curva em U na rodovia de duas pistas, mas de alguma forma ele manteve o
curso, já quebrando sua própria regra e engolindo avidamente. Ele nunca
voltaria para Staten Island antes do amanhecer, de qualquer maneira. Sua
única opção era manter o pisar no acelerador e chegar a New Hampshire antes
que o amanhecer surgisse no horizonte.
Mas não resolveria tudo se ele simplesmente se deitasse em um campo
em algum lugar e se deixasse queimar? Se ele deixasse de existir nesta terra,
Ginny não seria forçada a agir como sua refeição perpétua. Ela andaria pela
rua sem medo da violência dos monstros que ele trouxe para sua vida,
simplesmente por ser seu companheiro.
Seu companheiro em duas vidas.
Ele mal conseguia entender, mas em outro nível, ele não podia acreditar
que demorou tanto para perceber que ela era seu primeiro amor
reencarnado. Quando ele se sentou na mesa de embalsamamento e a viu do
outro lado da sala, ele sentiu uma profunda sensação de reconhecimento. Mas
aquele chamado do passado foi rapidamente abafado pelo presente. Sua
paixão avassaladora por Ginny - e tentar como o inferno não agir sobre isso -
exigia sua concentração total. Aquele reconhecimento inicial tinha caído no
esquecimento, embora ele tivesse continuado a experimentá-lo a cada passo,
sem reconhecê-la totalmente.
O coração de Jonas batia rápido e pesado em seu peito. O ritmo fora do
compasso do órgão recém-despertado martelou sua angústia em código
Morse. Volte, eu sinto falta dela, volte, eu preciso dela. Por que por que por que? Por
que eles estavam fugindo de sua razão de viver? Da mulher cuja extraordinária
essência se entrelaçou de um século a outro e caiu de novo em seu colo? Se isso
não fosse um decreto do destino que eles tinham uma conexão que não poderia
ser cortada por lugar, tempo ou circunstância, nada seria.
E porque ele amava Ginny, ele se colocaria entre ela e o mal.
Ele tinha sido muito imaturo na primeira vez para salvá-la de cair de um
penhasco, mas ele não iria falhar com ela desta vez. Ela seria deixada a salvo,
se fosse seu ato final nesta terra. Não havia dúvida de que seu rosto seria a
última imagem impressa em seu cérebro e ele estava feliz por isso. Seu coração
ainda estaria clamando, implorando para voltar para o lado dela, mas sua
mente estaria em repouso, sabendo que ele havia removido a ameaça de dano
de sua vida.
Atualmente, sua mente estava longe de estar pacífica, no
entanto. Continuava a reproduzir um filme de terror granulado no qual Ginny
caía da ponte Verazzano enquanto gritava seu nome e ele ainda estava na
rampa de acesso, a quatrocentos metros do centro da ponte onde ela caiu. Esse
medo de não ser capaz de alcançá-la a tempo nunca iria embora, nunca
desapareceria, assim como seu amor por ela.
A imagem mudou e agora ela caiu de um penhasco, enquanto ele não
sabia, perguntando-se para onde ela tinha ido. Desistindo de sua busca
exaustiva e lamentando-a enquanto servia de mão direita do homem que
potencialmente a matou.
Ele não estaria cego desta vez.
Não com Ginny.
Jonas forçou seu aperto no volante, para não arrancá-lo.
Eu amo você. Por favor, me perdoe por ir embora.
Havia uma chance de que ela não o perdoasse e ele considerou isso em
sua decisão. Parecia ser a única opção. Faça qualquer coisa para mantê-la
respirando. Mas agora, quando ele se aproximou da saída que o levaria para a
residência da Alta Ordem, um buraco abriu em seu estômago. Todo o
progresso que eles fizeram no compromisso, eliminado com um toque de sua
mão no tabuleiro. Cada segundo de seu relacionamento ficaria para sempre
azedado em sua memória por sua arrogância?
A saída que ele pegou era estreita e fechada para reparos, como havia
sido por décadas, e ele teceu o veículo através de cones de trânsito e bloqueios
de estradas, antes de virar à esquerda em uma estrada densamente arborizada
em ambos os lados. Ele dirigiu por dez minutos, a memória muscular o fez
diminuir a velocidade do carro na décima terceira curva e encostar. Ele cruzou
a estrada para puxar uma série de galhos de árvore para o lado, revelando um
caminho coberto de mato, grande o suficiente para um carro caber. Depois de
passar pela abertura, ele saiu e recolocou os galhos antes de continuar seu
caminho. Vários minutos turbulentos depois, ele chegou a um desvio
abreviado que conduzia a nada além de uma cabana de má qualidade.
Jonas permaneceu no carro olhando para a cabana decadente, as
memórias voltando da primeira vez que ele entrou pela porta enferrujada. Um
jovem mergulhado em tristeza e confusão pelo desaparecimento de sua
companheira. Precisando de uma âncora, qualquer coisa para impedi-lo de ser
arrancado da terra para a atmosfera.
Naquela época, ele confiava em seu senhor - e ele não cometeria esse erro
novamente.
Seu instinto o incentivou a derrubar as árvores ao redor, derrubá-las na
cabana e despedaçá-la. Ir para baixo e causar estragos em todos que residiam
na Alta Ordem. Para ele, todos eram cúmplices na tentativa de ferir seu
amor. A vida dele.
Volte.
Volte, peça desculpas e faça concessões.
Se você sobreviver a isso, você a perdeu.
A mão de Jonas voou para seu peito, onde seu coração continuava
batendo pela metade em protesto por estar separado de Ginny. Ele bateu um
punho ali para começar a bombear corretamente novamente, seu corpo caindo
de alívio quando estalou e funcionou mais uma vez, embora estupidamente.
Ele fechou os olhos e pensou nela antes de sair do carro. Da empolgação
em seu lindo rosto quando alguém deu um lance em seu vestido branco de
seda. Sua bravura subindo em seu colo e oferecendo seu pescoço enquanto ele
sacudia as correntes de prata como uma besta. Sua tranquilidade quando ela
dormia, sua voz recitando palavras de um filme junto com Maureen O'Hara. A
sensação das palmas das mãos em seu rosto, em seu cabelo, em seus ombros.
Com um som miserável, ele se impulsionou para fora do carro e se
aproximou da cabana, olhando para a câmera do tamanho de um furo de
alfinete no alto até ouvir o clique. Ele abriu a porta e cruzou para outra,
passando e descendo um lance de escadas que levava às portas de aço do
elevador.
Andar após andar passava tiquetaqueando enquanto ele trabalhava para
manter sua ira ardente sob controle. Estranhamente, ele não senta nenhuma
apreensão em ver seu senhor novamente depois de tanto tempo, como ele
sempre imaginou que sentiria. Ele não era mais um jovem mal orientado. Ele
tinha estado pelo mundo limpando a destruição causada pela liderança
malévola e cada grama de adoração ao herói que ele uma vez tinha para o rei
estava agora extinta. Tudo o que restava, era uma demanda por respostas e a
motivação urgente para manter Ginny segura.
As portas do elevador se separaram, revelando um vampiro de terno, as
mãos cruzadas na cintura. Seus olhos podiam muito bem ser de vidro, apesar
de tudo o que eles revelavam. Ele simplesmente inclinou a cabeça para Jonas,
girou por cima de uma ala e se afastou pelo saguão de teto alto. Jonas o seguiu,
sem se intimidar com a falta de saudação. Afinal, ele conhecia bem o
processo. Qualquer pessoa que precisasse de uma audiência com o rei era
primeiro feita a entender que era insignificante, não importa quão jovem ou
velho. Bem como ele tratava seu público.
O som de seus passos foi abafado pelo carpete azul royal. Luzes piscaram
na parede e criaram sombras que mudaram conforme eles
caminhavam. Escadas de pedra cruzavam no alto, levando a salas de estar e
quartos de dormir. Em algum lugar, um único violino tocava uma melodia
assustadora e Jonas revirou os olhos porque era tudo tão dramático.
Uma de suas razões menos importantes para deixar a Alta Ordem foi a
recusa em atualizar sua existência antiquada. Os membros do sindicato e suas
groupies assombravam este lugar como espectros, suas vestes arrastando atrás
delas enquanto bebiam sangue de cálices de ouro e similares. Francamente, os
cálices de ouro eram a parte mais embaraçosa. Mostre a ele a regra que diz que
os vampiros não podem fazer compras na Bed Bath & Beyond.
Apesar de todo o seu exibicionismo, no entanto, a Alta Ordem era
perigosa. Cada um deles possuía força sobre-humana e conhecimento que só
foi conquistado por séculos de vida. Ele poderia achá-los e suas fantasias um
tanto ridículos, mas não baixaria a guarda ou os subestimaria.
Só um tolo faria isso.
O homem de terno conduziu Jonas pelo corredor da extrema direita e
desceu um conjunto de escadas que se expandia em direção ao fundo,
desembocando no Salão Principal.
E lá estavam eles, exatamente onde ele os havia deixado, quatro dos
vampiros mais antigos da terra sentados em tronos de encosto alto com
incrustações de veludo revestindo a parede do fundo. Jonas ficou surpreso ao
descobrir que a cadeira ao lado do rei - sua cadeira - ainda permanecia vazia,
mas ele não mostrou nenhuma reação externa.
Eles estavam antecipando sua chegada, isso era óbvio.
A Alta Ordem não se reunia no Salão Principal a menos que houvesse
um assunto importante em questão, mas aqui estavam eles, observando Jonas
com um ar de expectativa.
O senhor de Jonas era calado e impassível, seu cabelo grisalho em ondas
ao redor de seus ombros, embora seus olhos fossem afiados com humor. Como
sempre. Observando, medindo, decidindo a melhor forma de se divertir. Se
houve uma centelha fugaz de afeto nos olhos de seu senhor, ele imaginou ou
não se importou.
As outras três cadeiras estavam ocupadas por rostos que ele
reconheceu. Rostos que não envelheceram um dia ao longo de um século ou
mais, em alguns casos. Havia Griselda, uma mulher alemã que havia sido
silenciada durante a Segunda Guerra Mundial. David, um escocês cuja esposa
ficou tão perturbada quando ele adoeceu, ela caçou e barganhou com um
vampiro para silenciá-lo, para que ele vivesse para sempre. Infelizmente,
aquele mesmo vampiro falhou em silenciá-la com sucesso, também. Por fim,
havia Devon, um homem negro de olhos de aço de Chicago que já foi roadie
5do cantor de blues Robert Johnson.
Finalmente, seu senhor se inclinou para frente, apenas um centímetro. —
Talvez com seu novo batimento cardíaco extravagante, você começou a se
comportar como um ser humano de fato, ousando se dirigir a este conselho de
moletom?
— Tive uma noite ocupada —, respondeu Jonas, sem hesitar um
segundo. — Como eu suspeito que você bem sabe.
Clarence inclinou lentamente a cabeça. — Por que, o que você quer dizer?
A memória esmagadora de sua Ginny caindo para frente da ponte o
atingiu com uma raiva incandescente. Embora fizesse o possível para controlar
sua indignação, porque perder a compostura não serviria a ninguém,
ele não jogaria a porra do jogo. Não depois de três atentados contra a vida de
Ginny. — Você sabe muito bem do que estou falando. Você estava esperando
que eu descobrisse.

5técnico de apoio que viaja com uma banda em turnê, encarregado de lidar com as produções de
shows
O silêncio passou, seguido por uma risada baixa do rei. — Qual é a
sensação de ser um hipócrita, filho? Um idealista e seguidor de regras, não
é? Viajar pelo país, virando meus constituintes contra mim com seu coração
sangrando. — Ele tamborilou os dedos no apoio de braço, o movimento muito
preciso, um vislumbre da irritação que ele tentava tanto esconder. — Até que
um rosto bonito - uma humana - apareça e as regras se tornem
inconvenientes. Não tão nobre agora, não é?
— Um rosto bonito? — Jonas deu um passo involuntário em direção ao
quarteto. — Você fala da minha companheira. Minha devoção a ela não é um
capricho. Eu não poderia ficar longe dela mais do que poderia me tornar
humano novamente.
O silêncio caiu. — Ela ainda está viva então?
Eles não tinham ideia, não é? Eles não tinham ideia de que ele nunca
poderia estar lá e formando palavras se ela estivesse morta. Ele não seria nada
mais do que partículas de poeira transportadas pela brisa. Além disso, eles não
tinham ideia de que ele a salvou. Ou como. E ele se agarraria a qualquer
vantagem potencial. — Sim. Ela está viva — Jonas respondeu, a voz clara.
O olho do rei estremeceu. — Uma regra foi quebrada. Você ousadamente
entrou em um relacionamento com uma humana. Quer que ignoremos sua
insubordinação?
— Quem vai decidir o que você fez? — Jonas gritou. — Deixá-la em
posição de morrer é o mesmo que matá-la. Assim como enviar outro vampiro
para colocá-la em perigo.
— Ah sim, Seymour. Ele concordou com a missão em troca da liberdade
de sua companheira. Quando ele não relatou seu progresso, presumi que ele
falhou e a executou pelo crime de se alimentar de um humano. — Ele bateu
nos lábios. — Embora eu não possa imaginar o que aconteceu com
Seymour. Quer me informar?
Jonas o encarou de volta com firmeza, a intuição lhe dizendo para deixar
a pergunta sem resposta. Quanto mais ele pudesse manter suas novas
habilidades para si mesmo, melhor seria se precisasse lutar. — Não se distraia
do problema. Você tentou matar minha companheira também. Duas vezes.
O menor traço de arrependimento floresceu nos olhos de Clarence, mas
foi mascarado imediatamente. — Eu me perguntei se você descobriria. Bom
trabalho.
— Por quê? — Jonas trabalhou para firmar sua voz. Quão facilmente seu
senhor admitiu submetê-lo a uma dor inimaginável. — Por que matá-la e não
a mim?
— É tão estranho eu desejar que meu único filho reine ao meu lado? —
gritou o rei. — Que você cobiçaria o elogio pelo qual tantos matariam?
Jonas escondeu seu choque com a veemência de Clarence. — Se for
assim, se você está sendo sincero e se importa comigo, por favor, aceite meu
voto de fidelidade em troca de... Uma vida com ela. Uma vida fora do alcance
desta Ordem.
Os olhos do rei se arregalaram ligeiramente, o suficiente para deixar
Jonas saber que ele o surpreendeu. — Primeiro você escolhe sua consciência
preciosa ao invés da vida que eu lhe ofereci. Agora você escolhe uma garota
humana em vez da honra de se sentar na Alta Ordem? Quantas vezes você
acha que vou permitir que você me humilhe?
— Não procuro humilhar.
— Não importa. Talvez eu lhe dê o que você quer, meu filho. Talvez eu
o condene à morte. Uma vez que você se for, eu não tenho uma razão para
temer um desafio. — Ele lançou um olhar além do ombro de Jonas. — Não é
verdade, Larissa?
Jonas cambaleou com o choque da madrasta de Ginny valsando por ele
em uma túnica carmesim, seus movimentos tão suaves que ela não parecia
tocar o chão. Ela fez uma reverência à Alta Ordem e cruzou as mãos na
cintura. Ela tinha acabado de abrir a boca para falar quando o vampiro de terno
que cumprimentou Jonas no elevador entrou novamente na sala. — Rei, temos
visitantes.
A boca do rei baixou nos cantos. Ele acenou para o servo de terno
avançar, gesticulando para que ele se aproximasse. O vampiro sussurrou no
ouvido de Clarence e ele começou a rir, baixinho a princípio, depois cada vez
mais alto.
O medo arrepiou a pele de Jonas pela primeira vez. Ele observou a escada
com a ansiedade se contorcendo em seus ossos. Não poderia ser Ginny. Não
poderia ser. Mas ele não gostou da maneira como seu senhor assistiu e esperou
por sua reação, quase alegre em sua antecipação.
Deus não. O que foi isso?
O cheiro puro de Ginny o alcançou e uma negação gritada saiu de sua
garganta com tanta força que ele sentiu o gosto de sangue. E quando ela
apareceu, ele mal pôde registrar o que seus olhos estavam lhe dizendo, a cena
era uma abominação para seus sentidos. Elias arrastou - arrastou - sua Ginny
para o gigantesco corredor pelos cabelos.
— Meu Deus. O que é isto? — gritou ela, torcendo-se no aperto de
Elias. — Por que você está fazendo isso? Por favor, deixe-me ir, deixe-me ir,
deixe-me ir. Eu só quero ir para casa.
A visão de Jonas triplicou e voltou a se agrupar, seu equilíbrio diminuiu
quase totalmente. De alguma forma, ele permaneceu sob o peso da
negação. Ginny neste lugar. Sua companheira cercada por seres que poderiam
quebrar seu pescoço com um estalar de dedos. Vulnerável. Assustada. Trazida
aqui por um homem que ele considerava seu melhor amigo. Não, não.
Ela estava machucada? Jesus Cristo. Essa traição não poderia estar
acontecendo.
Ele estava preparado para trocar sua vida por sua segurança e agora ela
estava no meio de lobos. Exposta. Não. Por favor, Deus, não.
— Elias —, gritou Jonas, parecendo e sentindo-se como um animal
ferido. — O que é que você fez? — Elias jogou Ginny no chão e ela olhou para
Jonas...
...Como se ela não o conhecesse. Nunca o conheceu em sua vida. Seu
olhar o atravessou como uma espada cortando a água, seu pulso irregular e
selvagem, como quando ela caiu da ponte. — Ginny? — Com uma mão
trêmula estendida, ele foi em direção a ela, com a intenção de pegá-la, embalá-
la, encontrar os ferimentos e tentar curá-los . Agora, agora, agora . Era seu dever
e ele os desejava, mesmo em meio a seu terror absoluto. — Venha para mim,
amor. Vou consertar tudo. Eu não vou deixar eles te machucar.
— Como você sabe meu nome? — Ginny respirou, rastejando para trás,
para longe dele. Longe. Longe dele. Dele? — Não entendo porque estou
aqui! O que está acontecendo?
Jonas correu para uma barreira invisível, o gelo formando uma camada
gelada em sua pele. Sua voz saiu soando como um chiado. — O que você quer
dizer com eu sei o seu nome?
A risada sombria de Elias ecoou. — Eu fiz o que você estava muito fraco
para fazer. Ela não se lembra de nada de Jonas Cantrell. — Com um sorriso
malicioso na direção de Jonas, ele se virou para encarar a Alta Ordem e
executou uma ampla reverência. — Durante anos, insisti com ele para retomar
suas funções e ele se recusa. Ele não merece a honra - uma honra que cobiço
acima de tudo — Ele balançou o pulso na direção de Ginny. — Considere isso
como uma demonstração de boa fé. Em vez disso, considere-me como assento
no conselho. Vou gastar todo o meu fôlego desfazendo o dano que ele fez à sua
reputação - de uma forma que só eu posso. Eu conheço cada lugar que ele
esteve, cada vampiro que ele encontrou, cada porto seguro que ele estabeleceu.
O tormento queimou as entranhas de Jonas.
Ele foi jogado no inferno para ser torrado entre os pecadores.
Um zumbido violento começou em seus ouvidos e vibrou por sua
espinha e se ele tivesse um estômago funcionando, ele o teria esvaziado no
chão naquele momento.
Não.
Não.
Não.
Sim, a traição era equivalente a um espinho sendo cravado em seu
estômago, mas ele não conseguia se concentrar em nada além de Ginny. Seu
amor olhou através dele como se ela nunca o tivesse conhecido. Nem passou
horas falando com ele, nunca o beijado ou o arrebatado com sua risada. Cada
minuto mágico desde que ele acordou em sua mesa... Se foi? Como poderia
ser? Como essas horas valiosas e perfeitas poderiam deixar de existir? Sua
companheira não conhecia seu toque. Ela não sabia que ele iria mantê-la
segura. Não o conhecia de todo. Essas percepções o atingiram rápido e forte,
deixando-o desolado, cambaleando de lado na frente da Ordem e quase
caindo.
— Olhe para ele —, maravilhou-se o rei. — Como o inferno. Por causa de
uma humana inconsequente.
— Eu vou matar você, Elias — Jonas engasgou, dobrando-se, apoiando
as mãos nos joelhos. — Como você pôde fazer isso?
Não só por ele. Mas por Ginny.
Quantas vezes ela implorou a ele para deixar sua mente intacta? Uma
vez, ele realmente considerou apagar-se de suas memórias? A dor de não
ocupar nenhum lugar em sua mente - e, portanto, em seu coração - era
insondável. Seus ossos estavam virando pó onde ele estava.
— Estou entretido — murmurou o rei, juntando os dedos sob o queixo. —
Alguém mais?
A Alta Ordem murmurou seu acordo.
Clarence ficou mais confortável em seu trono. — Você quer saber por que
coloquei a Srta. Lynn em situações tão perigosas?— Ele acenou para alguém
ou algo, Jonas não tinha certeza, não conseguia sentir ou deduzir nada. —
Larissa, por favor, chegue mais perto.
Jonas observou os olhos de Ginny se arregalarem, apenas uma fração,
sua atenção voltada para Larissa. Sua pele ficou um pouco mais clara, como se
um pouco de sangue tivesse deixado seu
rosto. Reconhecimento? Choque? Tudo aconteceu em uma fração de segundo
antes que ela voltasse a parecer confusa e com medo.
Isso foi estranho.
— A pobrezinha está tão confusa —, murmurou o rei.
— Ela não se lembra de mim? — Larissa perguntou, tirando o capuz
vermelho de seu rosto. — Jesus. Qua-quanto tempo ele apagou as memórias
dela?
— Muito. Anos —, Elias forneceu rapidamente.
Tão rápido?
O que você está procurando? Esperança no vazio?
Pare.
Elias o traiu.
Sua única missão nesta vida era tirar Ginny daquele lugar ilesa. Ele seria
condenado à morte e, portanto, ela não seria mais um canal para suas dores de
fome. Não havia outras opções. Nenhuma. Ele não poderia se sustentar com o
sangue dela quando ela nem mesmo o conhecia. Seria contra a vontade dela e
ele morreria primeiro. Ele iria morrer primeiro.
— Larissa é uma vidente. Uma imortal como nós —, disse o rei. — Ela
veio até mim na época em que eu gerei você, negociando nossa proteção em
troca de uma visão que ela teve. Sempre procurando seu próximo pagamento,
minha querida vidente. — Ele considerou Larissa com carinho, mas sua
expressão rapidamente azedou. — Ela me disse que um dia você me desafiaria
pelo trono - e venceria. — Ele desenrolou o dedo indicador e apontou para
Ginny. — Mas isso só aconteceria se e quando você encontrasse sua
companheira.
— Companheira? — Ginny repetiu, olhando para ele com terror
renovado. — O que você está falando? Quem são vocês?
Suas palavras foram um golpe no peito de Jonas e ele fechou os olhos
para absorver o choque, tentando absorver o que Clarence tinha revelado ao
mesmo tempo. — É por isso que você tentou matar Ginny antes mesmo de eu
conhecê-la. Você não queria que nos encontrássemos. — Ele voltou seu foco
para Larissa. — Todo esse tempo, a ameaça estava bem no final do corredor.
Larissa parecia estar tendo dificuldade em tirar os olhos de Ginny. — Fui
contratada para manter o controle sobre a garota. Matá-la não me pareceu
necessário até que você chegou em Coney Island. — Seu queixo subiu um
pouco. — Depois disso, eu não tive escolha a não ser alertar o rei. A profecia
estava em andamento.
— Mas as profecias podem ser mudadas —, enfatizou Clarence, olhando
para a vidente. — Agora que eu condenei Jonas à morte, você me prevê como
rei indefinidamente.
Após a mínima hesitação, Larissa inclinou a cabeça e o rei parecia
satisfeito. — Eu teria encontrado a pobre criatura em sua próxima vida
também, graças a Larissa, e feito o que precisava ser feito — disse o rei. —
Muitas vezes, as regras devem ser ligeiramente alteradas para preservar a
integridade da Ordem.
A madrasta de Ginny estava observando Ginny com uma expressão
desconfortável, mas começou com a menção de seu nome. — Sim —, disse ela,
a voz rouca. — Demorou um pouco, desta vez. Mas se ela voltasse em outra
forma, os padrões deixados por sua alma seriam mais fáceis de seguir.
— Por favor, não —, Jonas murmurou, inclinando a cabeça em
contrição. — Por favor, me leve agora e deixe-a viver sua vida. Se eu for
embora e não puder tomar seu trono, você não precisará machucá-la. A
profecia será nula.
— Inacreditável — murmurou o rei. — Você veio aqui preparado para se
sacrificar de boa vontade para salvar a humanidade dela. A separação dela é
tão melhor que silenciá-la?
Jonas achava que sabia a resposta para isso. Se alguém tivesse
perguntado a ele ontem, ele teria dado um sim inequívoco. Nada valia a pena
parar seu coração primoroso de bater. Mas agora ele podia ouvi-la implorando
para que a calasse. Podia ouvir a bravura em sua voz e ele não tinha tanta
certeza de ter feito a coisa certa ao negá-la. Um futuro juntos. Um futuro sem
fim com seu amor. Ele honestamente rejeitou um sem nem mesmo considerar
os desejos de Ginny?
As palavras arranharam sua garganta. — Eu... Recusei-me a tirar dela o
que eu desisti sem saber o que diabos se seguiria.
Mais uma vez, Clarence pareceu empalidecer antes de se retirar para sua
concha de ódio. — Nós vamos. — Seu rosto se arrumou em uma expressão de
escárnio. — Estou com um humor magnânimo. Jonas, já que você está tão
apaixonado pela humanidade, por que não imitar uma de suas práticas mais
ridículas, certo? — Ele encontrou os olhos de cada membro da Ordem. — É
justo que Jonas tenha permissão para uma última refeição.
O sorriso de Clarence era sinistro quando ele gesticulou para o servo de
terno.
— Traga a ele sua companheira.
— Não — Jonas rugiu, mesmo enquanto suas presas desciam, seu apetite
crescendo como nuvens de furacão. Ele observou com horror quando o servo
agarrou Ginny pelos braços e começou a carregá-la em direção a Jonas. Com
os olhos arregalados de medo, ela lutou - e ele não conseguia se mover. Sua
boca salivava de fome, já sentindo o sabor puro e perfeito dela. O sabor que
ele precisava. O animal dentro dele ganhou vida, exigindo
satisfação. Minha. Minha. Minha. Ele já podia sentir a suavidade dela cedendo
em deferência à sua mordida e o ímpeto da vida em sua língua. Ginny. Minha
companheira.
O desejo de toda uma vida aconteceu em uma fração de segundo e então
tudo o que ele pôde ver foi a dor dela. Outro vampiro ousando colocar um
dedo em seu amor? As luzes no grande salão diminuíram e
tremeluziram. Mantenha sob controle. Segure.
Jonas pegou Ginny antes que sua súbita falta de equilíbrio a fizesse cair
no chão. Ele a puxou para perto, gemendo ao senti-la em seus braços. Ela lutou
contra ele e seu cérebro exigia que ele a deixasse ir, a deixasse ir agora, mas ele
não podia.
Oh Deus, ele não podia.
A Alta Ordem riu de sua fraqueza, mas ele ignorou o som áspero e se
concentrou nas batidas preciosas de seu coração. Só mais um segundo. Mais
um segundo e ele a deixaria ir. A boca de Jonas se moveu em seu cabelo,
inalando seu perfume como um avarento ganancioso, suas mãos traçando cada
centímetro de suas costas. — Você não sabe disso, amor, mas eu mataria,
roubaria e morreria por você. Não há nada a temer.
Ginny se afastou apenas o suficiente para fazer contato visual e o que ele
viu em suas belas profundezas fez seu mundo voltar à cor. Além disso, seu
pulso bateu forte mais uma vez. Confiante e firme.
Ela... O conhecia.
Ela o conhecia e o amava.
Suas memórias estavam intactas.
— Eu sei —, ela sussurrou. — Eu não tenho medo, Galã.
Então, no mais sutil dos movimentos, a razão de sua existência inclinou
a cabeça para a esquerda, expondo seu pescoço.
Eles realmente, realmente não tiveram tempo para uma reunião.
Ginny desejou que o oposto fosse verdade. Que ela tivesse horas
intermináveis para se aquecer no retorno de Jonas, porque ele tinha sumido no
momento em que ela fingia não conhecê-lo, perdido na dor, a luz se apagando
em seus olhos. Ela teria pesadelos sobre os últimos dez minutos para sempre,
eles tinham sido terrivelmente horríveis, mas ela seguiu o plano de Elias
perfeitamente. Se Jonas parasse de olhar para ela como se ela tivesse voltado
dos mortos, poderia funcionar.
Não, iria funcionar.
— Eu te amo —, ela murmurou, ainda tentando se libertar de suas garras
e, felizmente, sem sucesso. — Agora se comprometa.
O fantasma de um som soprou para fora dele, tanto amor brilhando para
ela que teria se dobrado sob o peso disso se ele não a estivesse
segurando. Muito lentamente, sua atenção mudou-se para o pescoço dela e ele
engoliu em seco, o medo apertando suas feições - e ela se lembrou do que ele
disse a ela sobre o Silenciamento.
Há um veneno dentro de nós que só é liberado quando a vítima está perto de...
Morrer. É involuntário, um produto da nossa verdadeira natureza de predadores e é a
única coisa que pode transformar um ser humano...
Essas circunstâncias estavam longe de ser as ideais, com a quase morte
em jogo, mas que escolha eles tinham?
Ginny resistiu e se contorceu em seus braços, arrancando mais risadas da
Alta Ordem. Elias avançou, como se quisesse ver melhor Ginny e Jonas, mas
foi puxado por três guardas. Depois de Larissa.
Larissa.
Não parecia possível que sua avoada madrasta fosse a figura com o
manto carmesim que aparecia em seus sonhos e agora estava trabalhando para
a Alta Ordem. Que sua visão quase foi o catalisador para o assassinato de
Ginny.
Em dobro.
Fazia sentido agora, porque Larissa nunca parecia envelhecer. Embora...
Por que ela tentou tanto convencer Ginny a deixar Coney Island com ela? Para
mantê-la longe de Jonas e, portanto, da ira da Alta Ordem? Larissa tinha sido
sincera sobre amar Peter Lynn? Ginny esperava que sim. Seriamente. A venda
sendo puxada sobre seus próprios olhos era uma coisa, mas Larissa enganando
seu doce pai era inaceitável. Ginny não conseguia pensar nisso agora,
entretanto. Havia muito em jogo. Seu futuro com Jonas. A vida dele. Dela. E
ela só conseguiu manter a pretensão de luta por um certo tempo antes que a
Alta Ordem percebesse que ela estava agindo.
— Olhe para ele. De repente, de volta a ser tão nobre. — O desgosto do
rei era palpável. — Graças a Deus a profecia se alterou. Este conselho nunca
teria sobrevivido sob sua liderança fraca.
— Você é mais forte do que qualquer pessoa que eu já conheci — Ginny
sussurrou, se levantando para falar bem no ouvido de Jonas. — Jonas. Agora
ou nunca.
Eles se olharam brevemente e ela tentou o seu melhor para comunicar
sua total confiança nele. Como era sólida como uma rocha. Quanto ela o
amava. Ele deve ter traduzido o olhar dela corretamente, porque respirou
estremecendo e fechou os olhos, como se estivesse absorvendo as palavras dela
o mais profundamente que podia.
Quando ele os abriu novamente, eles brilhavam como esmeraldas.
Enquanto minutos atrás ele estava pálido, mal conseguindo ficar de pé,
ele parecia um guerreiro determinado agora. Feroz. Imbatível.
Ele inclinou a cabeça de Ginny para um lado e se abaixou, parando com
suas presas a uma polegada de seu pescoço. — Por favor, me perdoe pela
dor. Fique comigo durante tudo isso. Fique comigo.
— Eternamente.
Suas presas deslizaram para a veia grossa do pescoço de Ginny e seus
membros ficaram moles. Ela arfou para o teto, reconhecendo a diferença
instantaneamente na forma como Jonas tomava seu sangue. Foi rápido, feroz e
proposital. Ele tinha medo de matá-la antes, mas agora... De certa forma, matá-
la era o ponto.
A tontura assolou Ginny, suas pálpebras ficando pesadas. A mão de
Jonas se torceu no tecido do uniforme de empregada do hotel que Elias roubara
para ela vestir, puxando-a cada vez mais para perto, seus sons ásperos de
satisfação se transformando em rosnados desesperados. Era isso. A mudança
que ele disse a ela viria sobre ele - sua verdadeira natureza como um
predador. Ela não estaria por perto por muito mais tempo, porque sua visão já
estava escurecendo e ela não conseguia sentir seus pés, suas mãos, seus lábios.
Sua cabeça pendeu para trás e ela avistou Larissa rastejando para trás nas
sombras, puxando o capuz sobre sua cabeça. Talvez a falta de sangue de Ginny
a fizesse imaginar coisas, mas ela jurou que a vidente assentiu baixinho.
— Basta —, disse o rei, mas é claro, Jonas não deu ouvidos. Ao ser
ignorado, o punho de Clarence bateu no trono e fez a cabeça de Ginny
latejar. — Chega.
Sussurros aumentaram como uma nuvem em funil no corredor.
Ele está transformando ela.
Ele a está transformando para contornar a regra.
Uma dor lancinante atingiu seu pescoço e Ginny mordeu um gemido,
mas não foi contido e se transformou em um grito completo. Jonas quase se
separou então, mas de alguma forma ela encontrou forças para alcançá-lo e
segurá-lo com força. Com um som agitado de alarme, atado com fome
definitiva, ele puxou profundamente o sangue dela, levando-a até o chão e
simplesmente atacando-a, seu peso total prendendo-a no tapete.
A dor em seu pescoço diminuiu.
Tudo entorpeceu.
Uma luz apareceu na frente de seus olhos e, impotente, Ginny a seguiu...
O peso de Jonas a deixou de repente e na distância nebulosa, ela ouviu
um estrondo alto. Alguém a levantou e o vento lambeu sua pele, antes que ela
fosse colocada no chão mais uma vez. Quando ela conseguiu abrir uma
pálpebra, ela se viu no final da ampla escadaria que ela havia descido... Horas
atrás? Minutos?
A dormência dentro dela caiu e a dor voltou, mantendo seus órgãos
como reféns em um punho cerrado. Sua boca se abriu em um grito silencioso e
ela começou a tremer. Era isso? Isso estava acontecendo?
— Jonas — ela choramingou lamentavelmente. — Jonas.
Ginny agarrou seu peito, pronta para rasgá-lo e atingir a agonia em seu
coração e parecia durar para sempre, estalando como um chicote em seu
interior, causando danos - e ela experimentou cada segundo brutal disso. Sem
saída, não havia saída e a humana dentro dela procurou por ajuda por instinto,
virando-se para o lado dela e tentando gritar.
Ninguém a ouviu. Não com a batalha ocorrendo.
A Alta Ordem já não se sentava em seus tronos. Eles cercaram Jonas em
um círculo, suas vestes em farrapos. E Jonas... Ela nunca o tinha visto como ele
era. Como um Deus. Ele se defendia dos ataques que eles lançavam em sua
direção, capturando sua energia e enviando-a de volta com o dobro de
poder. Derrubando-os um por um.
Mas eles continuaram a subir, reagrupando, atacando
novamente. Imperturbáveis.
— Você não deveria ser capaz de durar um minuto contra nós —, disse
Clarence, pasmo. — Onde você ganhou esse poder?
Elias apareceu ao lado de Jonas, seu olhar repleto de significado e
emoção. — Ameace a companheira de um vampiro uma vez, ele fica mais forte
para protegê-la. Tire a vida dela? Ameaçe-a de novo e de novo? Você criou seu
pior pesadelo.
— Não temos mais pesadelos —, disse monotonamente o senhor de
Jonas. — Nós não dormimos.
Não reconhecendo o comentário de Clarence, Elias em vez disso acenou
com a cabeça para Jonas. — Está na hora. Você consegue. Eu protejo suas
costas.
— Que comovente — o pai de Jonas zombou, navegando um raio de ar
opaco na direção de Elias. Elias rolou para o lado, mas não antes de ser parado
pelo campo de força móvel. Com os dentes cerrados, ele se levantou e começou
a se juntar a Jonas no meio do círculo, mas algo chamou sua atenção e o fez
sorrir. Não demorou muito para Ginny perceber o que era. Tucker.
Tucker... E um exército. Centenas de homens e mulheres.
Eles desceram as escadas ao redor dela com um grito de guerra
ensurdecedor, correndo de cabeça para a luta com Tucker na liderança. O
exército se movia em alta velocidade, não havia como confundi-los como
vampiros. Um homem em particular lutava equilibrado em uma perna
protética, um boné de beisebol puxado para baixo na testa. Vários deles foram
derrubados ao chão antes que pudessem alcançar a Alta Ordem - que agora era
inequivocamente o inimigo - mas era impossível deter todos.
Apesar do estado miserável de seu corpo, Ginny não pôde deixar de
assistir em triunfo sem fôlego enquanto a Alta Ordem era capturada, um por
um, contidos e subjugados pelo exército improvisado. Era isso. O começo
correto do governo de Jonas. Tudo começava aqui e ela estava orgulhosa
dele. Tão orgulhosa.
Jonas estava sobre Clarence, seus ombros ondulando com ferocidade. —
Você morre agora em nome dela — ele murmurou, levantando sua mão direita,
agarrando-a até que seu senhor começasse a sufocar, coçando as mãos
invisíveis ao redor de sua garganta.
— Você não vê que ela está morrendo? — O rei engasgou com uma
risada. — Ela está morrendo.
O punho de Jonas caiu para o lado. Ele enrijeceu e se virou, seu olhar
pousando nela imediatamente. — Não — ele sussurrou, alcançando seu lado
em um instante. — Você... — Ele freneticamente correu as mãos sobre o corpo
dela, as sobrancelhas franzidas em confusão. — Você não deveria estar
consciente. Ginny.
Ela tentou falar. Não saiu nada.
— Elias —, Jonas rugiu, seus olhos selvagens. — Que porra está
acontecendo?
A luz para a qual ela estava tentando caminhar parecia mais brilhante,
engolindo-a, mas ela só conseguiu atravessá-la na metade, a escuridão
esmagando de um lado, o calor abrasador do outro. Ela estava sendo partida
em dois.
— O seu veneno foi liberado? — Elias gritou.
— Sim.
— Todo?
Suas vozes foram sumindo aos poucos quando Ginny começou a se
afastar de seu corpo, como uma névoa saindo de uma baía. A angústia de Jonas
abaixo a fez lutar. Ela agarrou seu caminho de volta à vigília completa, embora
fosse onde residisse a dor. Melhor estar em agonia do que separada de Jonas
no final.
— Eu não entendo — Jonas murmurou, inclinando seu rosto para
cima. — Seu batimento cardíaco é forte, mas sua pele está esfriando muito
rapidamente.
Ginny tentou comunicar com os olhos que nada era culpa dele. Que ela
o encontraria novamente na próxima vida e na outra... Mas um movimento
logo além do ombro dele chamou sua atenção. Jonas estava se afogando muito
profundamente em sua miséria para notar que Clarence havia se libertado dos
vampiros que o seguravam. O rei se desvencilhou, girou a tempo suficiente
para agarrar uma estaca e voar na direção de Jonas, a arma
erguida. Vagamente, Ginny se perguntou se os movimentos do rei
normalmente pareceriam um borrão para ela e nada mais, mas agora? Ela
podia identificar cada passo, podia ver a chama da vingança em seus olhos,
ouvir as fibras do tapete se movendo sob seus pés.
E com Jonas em perigo, seu corpo assumiu.
O poder rasgou as teias de aranha de dor e cravou em seu estômago,
atingindo as pontas dos dedos, pernas e folículos capilares. Seguiu-se a
negação. O peso da responsabilidade. Sem um comando formal de seu cérebro,
Ginny se levantou e se jogou entre o rei e Jonas.
— Ginny! — Jonas explodiu. — Não.
Sim.
A surpresa estava do seu lado ou ela teria sido torrada.
Seu punho arrancou a estaca das mãos do rei e ela caiu no chão, a seus
pés. O rei olhou para Ginny em estado de choque por um milésimo de
segundo, antes de pular para frente - se lançando direto na estaca que ela
pegou em um ritmo insondável e agora estava com o punho fechado. O ar
deixou sua boca aberta como uma bola murcha, seus olhos fixos em Jonas,
segurando, e ele se tornou nada além de brasas, depois cinzas.
Os membros restantes da Alta Ordem gritaram, o som ecoando no teto
alto do salão. Ginny caiu como uma pedra, sua reserva final de energia gasta.
Não mais.
Ela não podia ficar mais um segundo. O entorpecimento a invadiu e ela
caiu de costas em um acesso de tremor.
A expressão frenética de Jonas encheu o espaço acima dela. — Elias, me
dê sua lâmina.
— O que você vai fazer?
Distantemente, Ginny sentiu a troca acontecendo. — O que meu instinto
me diz —, disse Jonas asperamente. — Eu não tenho escolha. Eu me recuso a
andar nesta terra sem ela.
Ela abriu um único olho a tempo de ver a lâmina de Elias cortar
diagonalmente o pulso de Jonas, sangue jorrando no corte - e algo dentro dela
inchou ansiosamente. Ele segurou a ferida acima de sua boca, deixando várias
gotas caírem antes de levá-la aos lábios. Uma gota desceu por sua garganta e
as costas de Ginny se arquearam do chão. Um momento atrás, suas mãos
estavam sem força, mas se agarraram ao pulso de Jonas agora, segurando sua
mão imóvel enquanto mais e mais sangue gotejava em sua boca.
Seu coração disparou, batendo mais forte e... Mais alto do que ela
conseguia se lembrar, como se estivesse ouvindo um ultrassom no volume
máximo.
O sabor era o paraíso.
Era parcialmente seu próprio sangue, sim, mas carregava Jonas
também. De alguma forma, suas papilas gustativas podiam escolher as
moléculas individuais que continham sua essência e ela as saboreou acima de
tudo, gemendo enquanto deslizavam por sua garganta.
— É isso. Volte para mim, amor. — Lágrimas obstruíram seu tom. —
Ginny, por favor.
Suas pálpebras tremeram e ela entrou em cena de seu sonho recorrente,
mas a perspectiva mudou. Ela agora era Jonas de pé sob a árvore, observando
a si mesma se aproximando. Uma versão diferente de si mesma, mas ela
mesma, no entanto. O anseio profundo, a fome, a obsessão eram de
Jonas. Tudo por ela. Ela tremeu diante disso.
Em seguida, ela se viu na sala de embalsamamento, vestida com seu
vestido xadrez verde e jaleco branco. A sede envolveu sua garganta e a
apertou, a força de vontade interna lutando contra o desejo de atacar, subjugar
e conquistar. Afirmação. Ele realmente lutou contra tais impulsos ferozes na
presença dela? Como ele conseguiu isso todo esse tempo?
Implacável tinha sido sua dor. Não tocá-la tinha sido quase insuportável
para ele. Deixá-la antes do nascer do sol o deixara desolado, uma e outra vez,
ao ponto do desespero. Esse desespero se infiltrou nela agora e ela entendeu
isso.
Agora ela estava vivendo sua realidade, seu amor humano colidindo
com algo elementar, algo animal e irreversível. Explodindo.
Ela soltou o pulso de Jonas, ficando sem ossos no chão, as mãos caídas
ao lado do corpo, mas ela tinha que tranquilizá-lo. Ansiava tanto por sua
servidão que ela sorriu. — Oh, graças a Deus —, disse ele, caindo para frente
para contorcer a testa em sua barriga. — Eu quase perdi você. Eu quase perdi
você, porra.
Você não perdeu, ela quis sussurrar, mas não conseguiu localizar suas
habilidades vocais.
— Escute o coração dela. Nunca parou totalmente. — Jonas ergueu a
cabeça, parecendo pasmo. — Isso significa... Eu sou... Seu companheiro,
também. O vínculo já estava estabelecido. Mesmo quando ela ainda era
humana?
— Deve ser por isso que ela sentiu sua dor.
— Nós podemos sustentar um ao outro — Jonas sussurrou.
— Ela não terá que ser acordada por seu companheiro — Elias disse,
agachando-se ao lado de seu amigo. — O coração dela nunca dormia.
Jonas se inclinou e beijou sua boca suavemente. — Eu nunca vou deixar
isso ficar em silêncio.
Ginny olhou nos olhos do homem que ele amava, notando quatro tons
diferentes de verde pela primeira vez. Sua respiração acariciou seus
tímpanos. Ela podia sentir a curvatura de seus músculos através de dois
conjuntos de roupas, ouvir a fricção das roupas em sua pele - e ela teve que
cravar os dedos no tapete para não puxar Jonas para cima dela, desejando a
pressão de seu corpo , sua boca na dela.
A boca de Jonas se curvou contra a dela. — Ainda vai ter problemas para
ficar calma, não é?
Oh Senhor, o som de sua voz. Isso a desembrulhou como um presente. —
Fui levada a acreditar que não precisaríamos mais ficar... Calmos.
As pontas de suas línguas se encontraram com o menor golpe. — Estou
realmente ansioso por isso
— Eu também. — Uma pulsação aterrissou em sua garganta. — Eu sinto
muito... Sobre Clarence. Ele era seu pai, de certa forma...
Ele a interrompeu com um som incrédulo, seus olhos chicoteando com
intensidade. — Eu preciso de você e de mais ninguém. — As mãos de Jonas
tremeram quando ele segurou seu rosto. — Algumas coisas que um homem
não supera tão facilmente —, disse ele, citando O Homem Silencioso e fazendo
seu coração disparar. — Amar você é um delas. Eu farei isso eternamente,
Ginny. Mas se você se colocar em perigo novamente...
— Sem consultar você primeiro?
— Sim…
— Parece familiar, não é?
A emoção varreu suas feições. — Quem diria que eu ficaria tão grato
sabendo que terei a mesma discussão sobre concessões por milhares de anos?
Jonas pegou Ginny e aninhou-a contra o peito. Ele não tirou sua atenção
dela nenhuma vez enquanto cruzava o corredor e se acomodava no trono onde
Clarence havia se sentado. Então ele olhou para a reunião de vampiros que ele
ajudou em seu momento de necessidade, seu rosto impassível enquanto cada
um deles ajoelhava e pressionava o punho contra o peito.
Suas vozes soaram em uníssono. — Pelo rei.
Jonas puxou Ginny para mais perto. — E sua rainha — ele disse.
Ginny olhou para baixo para o buquê de rosas apertado com força em
suas mãos. Em uma palavra, elas eram rosa, para combinar com seu vestido de
noiva. Mas elas eram muito mais. Minúsculas gotas de orvalho grudaram nos
botões. As folhas verdes estavam salpicadas de veias minúsculas e intrincadas
de tamanhos variados. Se ela escutasse com atenção, ela poderia ouvir a
umidade sendo carregada por elas para hidratar as rosas.
Ela curvou seus lábios maravilhada e abraçou o buquê contra o peito.
Seus pés estavam plantados no telhado da casa funerária, mas ela
poderia estar levitando, por toda a esperança e otimismo em seu coração.
Hoje ela se casaria com seu amor.
Seu companheiro, seu melhor amigo, o rei de sua rainha.
Ginny estava atrás de um véu de flores, esperando para caminhar pelo
corredor, e mesmo que ela estivesse doendo por estar separada de Jonas -
mesmo por meros metros - ela precisava saborear o momento. Para reconhecer
a jornada para alcançar tal... Conclusão.
Havia um zumbido baixo de conversa vindo dos convidados no telhado
e ela podia distinguir cada voz individualmente. Elias e Tucker estavam
sentados na primeira fila, sob uma cachoeira de luzes mágicas e rosas, Tucker,
sem dúvida, extremamente desconfortável em seu terno. O resto das vozes
eram mais novas para Ginny, mas estavam ficando cada vez mais
familiares. Elas pertenciam aos Silenciados que Jonas aconselhou ao longo dos
anos, agora membros de sua corte real. Jonas dirigia seu reino da maneira que
fazia com todo o resto. Com coração, justiça e sabedoria, os vampiros que o
serviam eram leais, não apenas a Jonas, mas a Ginny.
Quando Jonas assumiu o trono, ele imediatamente começou a fazer
mudanças nas políticas da Alta Ordem e estava em processo de enviar
embaixadores a todas as principais cidades para guiar os vampiros em sua
transição de humano para imortal. Alimentar-se de humanos ainda era
ilegal. E agora silenciar os humanos à vontade e, portanto, deixá-los sem
orientação também não era mais permitido. Mas com a insistência de Ginny,
Jonas havia se conformado e decidido decidir sobre o Silenciamento caso a
caso.
Afinal, eles não eram à prova de que um vampiro e uma humana
poderiam se apaixonar e escolher passar a eternidade juntos?
Ceder com o noivo era uma coisa linda... Embora às vezes um pouco
desafiador.
Por exemplo, Jonas tinha sido inflexível para que Ginny permanecesse
com ele no palácio subterrâneo da Alta Ordem, que eles estavam em processo
de reformar. Mas ela o lembrou da importância do legado de seu pai. Além
disso, embora sua localização preferida fosse ao lado do futuro marido, ela não
era o tipo de pessoa que se recostava e deixava todo mundo fazer o trabalho.
A funerária P. Lynn não era mais uma agência funerária.
Eles lacraram as janelas, transformaram o necrotério em uma série de
quartos e agora era uma casa de recuperação para vampiros recém-silenciados.
No início, Ginny ficou preocupada em sentir terrivelmente a falta de ser
uma agente funerária. Receber a importante tarefa de enviar o falecido com
cuidado e respeito. Mas, de uma forma estranha, ela ainda estava fazendo
relativamente a mesma coisa, não estava? Os vampiros vinham até ela e Jonas,
confusos e sozinhos. Através de aconselhamento e doação de recursos, eles
foram capazes de enviar os mortos-vivos para uma nova vida, armados com o
apoio de que precisavam. Seu novo empreendimento até a satisfazia com um
senso de família que faltava em sua linha de trabalho anterior. Agora ela tinha
amigos e um propósito.
Da parte de Ginny, ela exigiu pouca orientação para a transição para o
estilo de vida de vampiro. Ela e Jonas haviam passado muito tempo
especulando o porquê, geralmente entre episódios de amor apaixonado que
frequentemente resultava em móveis quebrados.
Jonas tinha uma teoria que era a seguinte. O destino os selecionou como
companheiros, vampiros ou não. E assim, o corpo de Ginny tinha sido
preparado, mesmo em sua humanidade, para assumir o papel, não importava
o que custasse. Foi por isso que ela experimentou sua dor. Por que sua alma
viajou através do tempo e o encontrou novamente. O destino tinha decidido
assim - e a consumação desse destino mudaria o curso do mundo dos vampiros
para sempre.
Ginny olhou para as luzes de Coney Island, sua atenção se demorando
no Shore Theatre, onde Tucker e Elias ainda se hospedavam de vez em quando,
quando não estavam no palácio. Eles receberam o trabalho de procurar Larissa
- e eles procuraram. Em toda parte, sem sorte. No começo, Ginny se sentiu
traída pela madrasta. Como se ela tivesse passado anos tendo sua privacidade
invadida. Mas agora…
Quanto mais ela repassava a noite em que Jonas assumiu o trono, mais
ela se lembrava. Quando Clarence perguntou a Larissa se a profecia havia
mudado, ela disse que sim. Quando claramente não tinha. Se Larissa não
tivesse mentido em nome deles, a noite poderia ter terminado de maneira bem
diferente. De uma forma estranha, Ginny agora se sentia em dívida com a
vidente. E se seu pai ainda estivesse vivo - e Senhor, ela desejava que ele
estivesse lá para testemunhar seu casamento esta noite - ele iria querer que
Ginny perdoasse Larissa e ela perdoou. O perdão era muito fácil com o amor
ocupando cada centímetro de seu coração e alma.
Um violino solitário começou a tocar e os dedos de Ginny se apertaram
ao redor dos caules da rosa, seu corpo fazendo movimentos para respirar
fundo, embora dificilmente fosse necessário. Jonas estava esperando por ela e
ela já podia detectar seu pulso entre dezenas, verdadeira e fortemente
ansioso. Suas presas quase caíram em resposta, mas ela pressionou a língua
com força nos incisivos, acalmando-se com a promessa de mais tarde.
Mais tarde, Jonas a pressionaria em um canto silencioso e seguraria com
força seu traseiro, levantando-a para que ela pudesse alcançar seu pescoço - e
quando ela rompesse sua pele e tomasse, seus gemidos sacudiriam as vigas.
— Calma aí, tigre — veio uma voz levemente com sotaque russo. — Você
dará um novo significado ao termo 'noiva corada'6.
— Roksana? — Ginny murmurou, girando. E havia sua amiga, que
estava desaparecida em ação há mais de três meses, de pé ao luar. Em um
vestido caqui. — Você está usando o vestido que eu fiz para você.
— Eu estou. — Ela pegou a saia e a levantou, revelando uma série de
estacas amarradas às coxas. — Muito conveniente para esconder armas.
— Você vai reclamar se eu te abraçar?
Roksana fungou. — Vou aguentar no dia do seu casamento. Mesmo que
você seja uma sugadora de sangue agora.

6 Uma noiva modesta e virtuosa – piadinha já que a ginny é tudo menos isso kkk
Ginny jogou os braços em volta do pescoço de Roksana, surpresa quando
a assassina devolveu o abraço. — Eu acho que isso significa que você terá que
me massacrar agora — Ginny sussurrou.
— Sim. Amanhã.
A emoção pesou no peito de Ginny enquanto ela recuava. — Me leva até
o altar?
Roksana zombou, mas seus olhos ficaram suspeitamente úmidos. —
Você quer que uma assassina leve você até o altar em um casamento de
vampiros?
— Sim. Por favor?
A amiga começou a responder, mas ficou tensa quando Elias se juntou a
elas atrás do véu de flores, enchendo o ar de eletricidade. — O rei está ficando
impaciente por sua noiva... — Ele parou quando viu Roksana, seu olhar
lentamente passando de cima para baixo. — Você está aqui. Em um vestido. —
Sua cicatriz ficou totalmente branca, a raiva acendendo seus profundos olhos
castanhos. — Onde diabos você estava?
— Onde eu queria estar.
— Você... — Um músculo deslizou em sua bochecha. — Você deixou
meu cartão de crédito para trás de propósito para que eu não pudesse rastreá-
la.
A voz de Roksana estava sem fôlego. — Acostume-se. Vou embora assim
que levar Ginny até o altar.
Ele entrou no espaço de Roksana. — Onde você está indo?
Isso era medo nos olhos da assassina? — Rússia. Fui chamada de volta e
com razão.
Elias engasgou com um som.
— Sim. Até mais. — A assassina forçou um sorriso e contornou um Elias
rígido, enganchando seu cotovelo no de Ginny. — Nós podemos?
Ginny queria questionar sua amiga - e ela questionaria. O que quer que
houvesse na Rússia não era bom. Nada bom. Ela descobriria o que era e usaria
seu novo poder como rainha da Alta Ordem para ajudar, por todos os meios
possíveis. Roksana a protegeu quando ela mais precisava e ela retribuiria o
favor.
Naquele momento, porém, Jonas apareceu entre as duas seções
permanentes de convidados do casamento e tudo o mais deixou de existir.
Se ela tivesse fôlego, a visão de seu noivo em um smoking teria batido
para fora dela. O coração de Ginny parou, martelando violentamente em sua
garganta. Companheiro. Meu companheiro. Deus a ajudasse, ela quase pegou a
bainha do vestido e correu pelo corredor repleto de flores para encontrá-lo.
Jonas parecia estar contemplando o mesmo - uma corrida até o altar para
tomá-la em seus braços. Sua expressão mudou entre impaciência e espanto, o
verde de seus olhos se iluminou como chamas gêmeas. — Meu amor — ele
murmurou, agarrando seu coração. — Venha até mim.
Ao lado dela, Roksana riu e deslizou seu braço livre do de Ginny. — Vá
em frente.
Com um som entre um gemido e um soluço, Ginny jogou o buquê para
a amiga. Então ela pegou a bainha de seu vestido de noiva e correu em direção
a um Jonas que esperava.
Para os braços da felicidade eterna, duas vidas se tornando uma.

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