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©2018 LilianGuedes

Capa: LA Design
Revisão Geral: Ivany Souza
Diagramação digital: Lilian Guedes

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento/e ou a


reprodução de qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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SINOPSE
Após ser demitida por ter esbarrado em um dos convidados por acidente,
Mine é surpreendida ao ser chamada para uma vaga de trabalho. O que ela
não esperava era que o local fosse na misteriosa mansão da cidade. Um lugar
isolado, de onde só se ouviu histórias urbanas sobre uma terrível tragédia no
passado.
Lá, Mine vai descobrir o que há por trás dos muros de concreto,
principalmente, quem é o homem misterioso que a salvou dos perigos desde o
primeiro momento em que a viu e o porquê de rondar seu caminho como um
protetor sombrio.
A intensa atração vai dominá-los, numa paixão intensamente perigosa capaz
de fazê-los suportar os caminhos difíceis a percorrer, mas, se depender dele,
ninguém sairá vivo se ousarem a tocá-la. Seu recado é claro:
“Não sou de dar sorrisos agradáveis, nem gestos afetivos. Tudo o que há em
mim é estratégico, falso, sem nenhuma redenção. Não me incomodo com o
que você e os outros pensam ao meu respeito. Na verdade, não dou a mínima
para sentimentalismos e muito menos para suas sensações prazerosas. Tudo
isso está perdido na minha escuridão e não pretendo trazer à tona.
Entretanto, apenas uma... Uma maldita jovem pode me fazer mudar. Apenas
ela estará perto o suficiente do perigo, e, no que depender de mim, longe o
bastante.
Lembrem-se, é apenas ela e não você. ”

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LEMBRETE
Cada momento dessa trilogia é especial e essencial.
Então, atente-se a cada detalhe, pois eles podem fazer toda a diferença e
ligar pontos inimagináveis.

Boa leitura, ferinha!

NOTA DA REVISORA

O texto segue as Normas vigentes da Língua Portuguesa, contudo


características da coloquialidade foram utilizadas para aproximar a linguagem
às falas de situações do cotidiano. Os trechos em itálico se referem a termos
técnicos, estrangeirismos e/ou gírias e termos coloquiais.

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SUMÁRIO
PRÓLOGO
1 – À PRIMEIRA VISTA
2 – PERSEGUIDA
3 – MANSÃO MAKGOLD
4 – NA MIRA
5 – ANJO NEGRO
6 – CONFRONTO
7 – PEDIDOS
8 – PESADELO REAL
9 – VISITA PETULANTE
10 – FRUSTRAÇÃO
11 – SEM FÔLEGO
12 – CONFISSÕES
13 – A PARTE DOLOROSA
14 – INVASÃO
15 – PROVOCANTE
16 – ÀS ESCONDIDAS
17 – CONFIAR
18 – COMPLICAÇÕES
19 – EM CASA
20 – NÃO TOQUE
21 – EXPOSTO
22 – FORA DE CONTROLE
23 – ALIANÇA
24 – IDENTIDADE FALSA
25 – MINHA FORÇA
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26 – PROTETOR
27 – REPAROS
28 – ME DESCULPE
29 – CONVIDADOS
30 – PONTO FRACO
31 – RESISTIR
32 – ESCOLHA
33 – O ATAQUE
34 – LADO A LADO
35 – DESPERTANDO A FERA
36 – VOCÊ É MINHA
37 – GOLPE BAIXO
38 – INDIFERENTE
39 – SEM VIDA
40 – CORAÇÕES PARTIDOS
41 – FUGIR
42 – EXPLICAÇÕES
43 – REDENÇÃO
44 – NO COMANDO
45 – POR VOCÊ
46 – DECISÃO
47 – GRITE
48 – HERÓI
49 – ATRAÍDO
50 – A ISCA PERFEITA
51 – O INIMIGO
52 – SUA BRAVURA
EPÍLOGO

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PRÓLOGO

(JOHNATAN MAKGOLD)

Hora do jantar e estou faminto. Olho para minha irmã, dando-lhe um


sorriso torto ao escutá-la cantarolar uma cantiga de ninar russa. Seus cabelos
caramelos ondulados balançam de um lado para o outro. Sua voz é suave e,
ao mesmo tempo, engraçada ao tentar imitar sons de animais selvagens.
Certo, a cantiga já está incomodando meus ouvidos!
― Thessy, sente-se! ― pede minha mãe, colocando a tigela de salada
sobre a mesa.
― Graças a Deus! ― murmuro e observo mamãe organizar a mesa
antes de chamar meu pai.
― Hey, Johnatan! Eu ouvi isso! ― minha pentelha reclama ofendida.
― Oh! Me desculpe ― digo e ela balança a cabeça. ― Não vai me
perdoar? Quanta maldade nesse pequeno coração. Mamãe sempre diz que o
perdão fortalece o coração e a alma.
― Tudo bem... Só dessa vez. ― Thessy me dá seu lindo sorriso.
Tão pequena, com covinhas e um rosto angelical. Ela pode me
aborrecer quando quiser, eu não me importo. O que seria da minha vida sem
suas peripécias?
Meu pai se junta a nós à mesa, parece mais calado. Minha mãe sorri e
se acomoda em seu lugar habitual. Seus cabelos castanhos estão presos numa

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trança frouxa e sua pele está mais corada, talvez por ter passado o dia na
estufa, mesmo assim, continua radiante. Sou pego de surpresa quando seus
olhos castanhos me notam.
― O que foi querido? ― pergunta em seu sotaque, agarrando minha
mão sobre a mesa. Franzo a testa e balanço a cabeça apertando sua mão
macia, dando-lhe conforto.
― Já podemos comer? ― indago segurando meu sorriso ao ver
Thessy fazer uma careta engraçada.
― Sim, tenho muito trabalho a fazer ― papai responde impaciente, e
dou um sorriso apertado.
― Jura, papai? Não vai me pôr para dormir de novo? ― Thessy
reclama, fazendo-me sorrir, e a vejo mostrar sua pequena língua.
― Eu prometo que, assim que terminar tudo, irei ao seu quarto ficar
um pouco com você ― ele garante acariciando seu rosto, em seguida, olha
em minha direção e ergue sua mão para apertar meu ombro. ― Johnatan
pode cantar para você.
― Ela diz que minha voz é pior do que uma gaita quebrada ―
provoco, fazendo-o rir —, mas posso contar algumas de suas histórias
preferidas, talvez, O Touro Ferdinando.
― Isso não é verdade, é pior que um piano desafinado. Papai... ―
Thessy insiste.
― Thessy, eu tenho pilhas de papéis para assinar e um contrato para
analisar... ― Minha mãe o interrompe com uma tossida ao vê-lo se alterar.
Permanecemos em silêncio e de cabeças baixas.
― Não precisamos falar sobre trabalho agora. Vamos comer! ― ela
pede com um sorriso amável, o olhar transmite seu amor.
Mamãe odeia falar sobre trabalho durante as refeições, até mesmo a
menção da palavra trabalho a desagrada.

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― Como quiser, querida ― meu pai assegura sorrindo e me olha com


seriedade. Afasto meu olhar sabendo que hoje ele não está de bom humor.
Desde que nos mudamos para a Nova Zelândia, as coisas têm ficado
cada vez mais frias por causa do excesso de trabalho do meu pai, e minha
adaptação ao lugar ainda é complicada.
Nós nos servimos em silêncio e me sinto estranho, como se escutasse
um zunido desconfortável. De repente, nós nos assustamos com um baque.
Cinco homens encapuzados e armados invadem a sala de jantar. Antes que
qualquer um de nós tenha reação, um tiro é disparado em direção ao meu pai.
Tapo meus ouvidos e me abaixo, alarmado pelo barulho da explosão da arma.
Logo, sou puxado para trás, minhas costas se chocam contra a parede
e afasto minhas mãos, vendo o terror diante dos meus olhos. A mesa de jantar
foi virada e o corpo do meu pai está caído de bruços. Arregalo os olhos e
assisto a três deles virem em minha direção. Quando ouso me levantar, sou
golpeado com força; gemo pela dor em minhas costelas, mas não tenho
tempo de senti-la, pois sou socado novamente.
― Cuidem do garoto! ― um deles ordena.
Chocado, escuto os gritos assustados de minha mãe e irmã misturados
com as risadas dos bandidos. Volto a ser golpeado sem intervalos e me
encolho no chão, perco o fôlego, sentindo o gosto de sangue na boca.
― Não, não, por favor! Deixe meus filhos em paz! Largue-a, por
favor! JOHNATAN! FILHO! ― ouço minha mãe gritar com o leve sotaque
russo, defendendo-me. Logo suas súplicas são sufocadas por alguém e a
assisto se debater.
Entro em pânico quando vejo um deles arrastarem minha irmã para o
chão e segurá-la com firmeza.
― Net! Net! NET! JOHNATAN! JOHNATAN! ― o grito apavorante
de Thessy só aumenta. O horror domina meu corpo, e desejo morrer no

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mesmo instante. Não quero ver aquilo.


Tento me levantar e empurrar meus agressores, mas sou levado ao
chão novamente. A cena à minha frente me atormenta, elas chamam por mim
e estou impotente.
― SOLTEM ELAS! DEIXEM-NAS EM PAZ! SOLTE... ― engasgo
quando sou atingido no rosto, minha cabeça se choca contra o chão.
O que um garoto fraco de 16 anos pode fazer? Sem força, sendo
torturado por três homens? Eles se revezam entre socos e chutes; tento me
erguer e sinto que sou atingido por algum objeto nas costas. Meu corpo treme
quando caio no chão novamente. Choro ao observar minha mãe e irmã sendo
abusadas na minha frente. Um deles segura meu rosto para que eu veja tal
ato, mesmo com os olhos inchados.
Eu não sei o que eles querem, mas eu só anseio que isso acabe, que
tudo seja um pesadelo. Quando um deles parece cansado, aproxima-se de
mim, tirando sua touca ninja. Eu o encaro por um momento, mas não
demoro, meus olhos procuram por minha mãe e Thessy. Elas já não têm mais
forças, estão sujas e ensanguentadas, sinto como se estivesse anestesiado,
apenas recebendo as pancadas em meu corpo.
Não satisfeitos, os monstros conseguem me chocar ainda mais,
fazendo-me sentir a dor mais profunda em meu peito ao estrangularem minha
mãe e, em seguida, minha irmã. Outro deles se aproxima — o líder da gangue
— para tirar a touca e revelar sua face num sorriso alegremente podre. Sua
glorificação me enoja, quero fugir das suas falas imundas e do que acabou de
fazer.
Aperto meus dentes, desejando morrer naquele momento. A dor
ardente me rasga por dentro, mas tudo isso se canaliza em raiva e ódio. Quero
gritar, quero que os golpes sejam mais fortes e mais doloridos do que sinto
em meu interior. Fecho os olhos com força, ao mesmo tempo em que tento

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tapar meus ouvidos para não escutar as piadas.


― CHEGA! ― ordena o líder. ― Leve o velho Makgold para a outra
sala e queime-o!
Permaneço imóvel, desejando minha morte, mas só consigo escutar
suas vozes ofegantes e sórdidas.
― E o garoto? ― um deles pergunta.
― Deixe-o aí. Não vê o estado em que se encontra? Não vai aguentar
muito tempo ― responde enquanto os ouço arrastar algo para longe.
Eles seguem para os outros cômodos e me pergunto o que tanto
procuram. Assim que sinto a casa vazia, os risos de vitória distantes, abro
meus olhos, vendo minha irmã e minha mãe mortas numa sala de jantar
destruída. Esforço-me para alcançar Thessy e estico minha mão machucada.
Quando consigo estar próximo ao seu corpo, afasto seus cabelos e
choro vendo seus olhos, sem vida, assustados... Não há mais aquele tom de
mel suave e brilhante. Sem forças para me levantar, puxo-a para mim. Depois
de abaixar suas pálpebras, arrasto-me até minha mãe. Encosto minhas costas
na parede e, com cuidado, puxo sua cabeça para o meu colo, seus olhos estão
fechados, como se estivesse dormindo e tendo um sonho ruim. Aperto-as
contra meu corpo trêmulo, suplicando a Deus que me leve junto.
De súbito, um cheiro estranho me deixa alerta, fazendo-me protegê-
las em meus braços. Logo o fogo se alastra pela sala, as janelas explodem e,
rapidamente, a fumaça toma conta do ar. Aperto minha irmã contra meu peito
e os escuto do lado de fora se divertindo com a cena. Encolho-me com o som
de outra janela estourando, mesmo assim, os risos parecem mais nítidos para
mim. Aperto meus dentes, encarando as chamas, o ódio em meu peito é
mortal, sou incapaz de perdoá-los.
Olho para minha mãe, acariciando seu rosto sem vida.
― Izvinite, mat. Não posso perdoar ― peço desculpas à minha mãe e

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me curvo dolorosamente para beijar seu rosto.


Afasto-me com dificuldade, coloco Thessy em seus braços e beijo o
rosto angelical, agora atormentado. Tusso com a fumaça e me arrasto,
olhando-as no chão pela última vez. Levanto-me com dificuldade e tento
caminhar para longe do fogo até achar uma saída. Tento acelerar meus passos
mancos, minhas pernas doem, mas sigo aos tropeços em direção à porta dos
fundos.

12 ANOS DEPOIS

Meu corpo se move de forma voraz e faminta. Por dentro, vibro numa
mistura de tremores com a tensão; o suor começar a escorrer por minha testa
e nuca. Meus gemidos são apenas grunhidos, evitando fazer qualquer tipo de
barulho que chame atenção. Sinto as mãos fracas e quentes contra meu rosto
enquanto fodo Nicole Banks. Abafo seus gemidos altos com minha mão e
continuo a me mover dentro dela de forma mais dura.
Seus olhos escuros estão cheios de desejos, ela sente como pode
aclamar as necessidades do corpo, enquanto o meu só quer se livrar daquilo
que precisa para se fortalecer. Provoco-a, chupando um dos seus seios, e
mordo o mamilo com força, fazendo-a uivar. Quando penetro mais
profundamente seu corpo, entrega-se, e seu sexo se aperta contra o meu,
permitindo que seu orgasmo seja libertado.
Com mais duas estocadas, gozo fora dela e inspiro profundamente.
Minha sensação é de vazio, ao mesmo tempo de alívio. Mesmo que eu faça
isso para o prazer delas, eu preciso para descontar meu desconforto em
alguém; depois disso, mais nada. Muitos dizem que chegam ao paraíso, só
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que, no meu caso, eu ainda estou no inferno.


― Johnatan? ― ela me chama. Vejo seus olhos fechados, o batom
vermelho está borrado, o rosto, cuidadosamente maquiado, traz uma
expressão de satisfação, e seus cabelos louros estão em todas as direções.
Repugnante.
Saio de cima de Nicole e fecho minha calça depois de me livrar do
preservativo. Abotoo minha camisa e sento-me na cama para colocar os
sapatos. Ela se arrasta para me abraçar.
― É melhor se arrumar, tenho mais uma dose de bebidas com alguns
promotores lá embaixo. ― Levanto-me e pego minha gravata borboleta,
jogada no carpete vermelho.
― Eu preferiria ficar no quarto ― reclama e me viro, vendo-a sorrir.
Ela arruma seu elegante vestido no lugar, cobrindo os seios cheios e
redondos.
― Bom, aí é com você em relação ao seu marido. Não sou eu que
terei o pescoço cortado ― digo com ironia.
― Está com medo do que possa acontecer, Makgold? ― ergue a
sobrancelha perfeita.
Aproximo-me dela e me curvo para agarrar seu queixo, fazendo-a
olhar em meus olhos sombrios.
― Não brinque com a sorte, Nicole. Se eu estivesse com medo não
flertaria com você enquanto estava com seu marido durante o jantar, muito
menos a foderia nessa cama. Então, acho melhor você reparar sua bagunça ―
falo com firmeza, apertando sua mandíbula, em seguida a solto. Coloco meu
paletó e pego minhas luvas pretas de couro.
― Estamos juntos há tanto tempo que ele nem mesmo desconfia ―
ela sorri, massageando seu rosto, e tenta arrumar a cama, mas logo
interrompe o serviço e se aproxima para acertar minha gravata. ― Aprecio

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você, querido. Um homem bilionário, dono de grandes empresas. ― Ela se


ergue para beijar meus lábios rapidamente.
Ignoro seus interesses.
― Arrume-se e saia primeiro. Não quero que me vejam por aqui ―
ordeno.
― Como quiser ― ela ri e entra no banheiro.
Olho-me no espelho, passo as mãos em meus cabelos e escondo a
marca do batom da loira com minha gravata. Em seguida, observo ao redor
para ver se não esqueci nada. Cinco minutos depois, Nicole sai do banheiro
vindo até mim para revelar suas costas nuas e lisas.
― Importa-se? ― pergunta.
Meus dedos deslizam por sua espinha até o zíper, puxando-o para
cima.
― Como estou? ― pergunta girando. Vejo a excitação em seus olhos
por causa do meu toque.
― Ótima ― respondo rudemente. ― Nós nos encontramos em breve
― sorrio, notando sua atenção em minha boca antes de suspirar. Como um
abutre.
Honestamente, mulheres como elas exalam sexo por toda parte, mas,
para mim, são apenas pretextos.
― Como quiser ― sai do quarto, colocando sua máscara delicada de
cetim, e fico ali aguardando.
Pego meu relógio de bolso e o guardo, vendo que meus dois minutos
se esgotaram, coloco minha máscara escura nos olhos e saio.
A música, antes abafada, agora ecoa alta e suave pelos corredores
cheios de tecidos pendurados, cordas firmes para enfeites e luminárias, como
no espaçoso salão do primeiro andar, cheio de convidados.
Meus passos são lentos e despreocupados, coloco as mãos nos bolsos

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num estilo descontraído. Muitos deles não sabem que meus ouvidos e olhos
estão bem atentos e que meu sexto sentido nunca falha. O corredor está vazio,
escuto vozes... capto cada instrumento tocado e passos alcançando o chão,
mas apenas um está bem nítido atrás de mim, de maneira desconfiada e, ao
mesmo tempo, hesitante. Coloco minhas luvas tranquilamente e me curvo
para o primeiro ataque.
William Houtember está nitidamente embriagado enquanto tenta me
golpear com seus socos fracos. Tenho o cuidado de não revidar — isso faz
parte do meu plano —, apenas me curvo e me afasto. Ele parece exausto,
grunhindo muito até conseguir me acertar. William não usa máscara como os
convidados, seus olhos escuros estão febris e furiosos, seus socos e chutes
são lentos enquanto os mantenho afastados de mim.
Tenho desejo de acabar com ele facilmente, mas me controlo.
Consigo pegar uma das cordas firmes, girar num movimento que o afaste e
que eu me coloque atrás de seu corpo para enroscar a corda em seu pescoço.
Ele luta com o aperto, enquanto puxo o objeto para baixo, fazendo-o ficar
pendurado. Dou um nó firme até ter a certeza de que a corda vai continuar
segura no gancho de aço da parede.
Afasto-me, parando de frente para ele, vendo-o se debater, e constato
que já esteve em dias melhores do que com essa barba podre e roupas baratas.
Afasto minha máscara e sorrio com frieza, o homem tenta dizer algo, mas sei
que, agora, sabe quem sou eu.
William tenta arrancar a corda em seu pescoço, mas é em vão. Seus
olhos esbugalhados, assim como seu rosto, estão em vermelho vivo, e sua
voz, engasgada. Então, puxo uma cadeira próxima dos seus pés e a derrubo;
depois, coloco em seu bolso uma embalagem de comprimidos
antidepressivos.
― Nós nos vemos no inferno! ― disparo e me viro quando escuto seu

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último engasgo.
Coloco minha máscara antes de atravessar para outro corredor, onde
há uma janela aberta de frente para o jardim, minha escapatória para que
ninguém desconfie.
Atravesso o gramado e entro na festa novamente. É fácil me esconder
de olhos curiosos e desconfiados. Inspiro o aroma suave e abafado do lugar e
caminho junto aos convidados, sorrindo algumas vezes.
Entre eles há políticos, condes, realezas, policiais e convidados das
mais altas sociedades. Na minha cabeça há assassinos, aproveitadores,
mafiosos, espiões e estupradores. William era um deles. Contudo, entre eles
estou eu, uma pessoa que eles próprios transformaram.
As bajulações e sorrisos lançados a mim eram entediantes, até mesmo
daquelas com quem eu fodia.
― Olá, Verônica! ― aproximo-me para beijar a mão da mulher.
― Pergunto-me onde esteve esse tempo todo ― diz sorrindo.
Seus olhos escuros são cheios de convites, os cabelos ruivos caem em
cachos perfeitos e seu vestido azul realça a cor da pele pálida.
― Está radiante ― elogio.
― Eu digo o mesmo ― pisca os olhos por trás da máscara
cristalizada. Acho que posso finalizar minha noite com ela.
― Boa noite! ― viramos ao ouvir Nicole do amplo palco com o
sorriso mais aberto do que quando cheguei. ― Agradeço mais uma vez por
todos estarem presentes na celebração da nossa nova empresa Banks
Company. Eu e meu querido marido agradecemos pelos patrocínios e a
presença de todos vocês. Muito obrigada e fiquem com nosso maestro! ― diz
e se retira graciosamente do palco, com a ajuda de Michael Banks, enquanto
a orquestra volta a dar vida ao local.
Eu os ignoro. Sinto-me entediado de ver os casais dançando de um

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lado para o outro em perfeita sincronia. Verônica está tão próxima que até
sinto seu corpo pedindo uma dança.
Olho em volta à procura de outro alvo, eu não sairia de casa se não
fosse algo importante. Passos, passos, meus ouvidos são bem atentos a isso,
assim como meus olhos para toques e gestos. Observo novamente ao redor
para ver qual deles são travados e cambaleantes. Franzo a testa encarando o
salão, há muitos bêbados perversos com algumas garçonetes.
― Algum problema, senhor Makgold? ― Verônica pergunta, fazendo
com que meus sentidos voltem para ela.
― Não ― respondo.
― Uma dança? ― pede com esperança.
― Acho que outros ficarão felizes com a honra de sua companhia ―
respondo distraído. Ignoro quando se afasta com dureza.
Os passos estão atrás de mim, posso contar quantas vezes tocam o
chão e travam. Aperto minhas mãos em frustração por isso me incomodar
tanto.
É como um flash, onde tudo acontece rápido demais. Curvo-me,
agindo conforme meus sentidos mandam. Consigo, com uma mão, pegar a
bandeja cheia de taças com champanhe antes que tudo caia no chão, e, com o
outro braço, agarro um corpo pequeno e muito quente, cheio de tremores. Se
não fosse pelo perfume intensamente suave, eu me moveria sobre esse corpo
até estar satisfeito e cansado, ela implorando para eu parar.
Inspiro, com admiração, fechando meus olhos em direção ao cheiro.
Sim, um botão fechado e vermelho que se abre sem se preocupar. É lindo,
perfumado e iluminador, suas pétalas são tão macias quanto uma seda, eu
tenho várias delas no jardim de casa, na estufa precisamente.
Abro meus olhos lentamente, vendo um rosto desconhecido com
olhos cinza arregalados, cheios de lágrimas amedrontadas. O cabelo é escuro

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e sua vestimenta é como a de todas as garçonetes da festa. Ela está agarrada


em meu paletó, e aperto sua cintura firmemente, mantendo-a imóvel.
― Você está bem? ― pergunto olhando seus olhos profundamente.
Ela inspira de maneira fraca e franze a linda testa. É inebriante. Sinto o
estranho fascínio de imediato.
― Por favor, não me deixe cair! ― sua voz é receosa, quase num
sussurro, ao mesmo tempo, firme e suave como as manhãs de um dia
ensolarado.
Inspiro seu cheiro puro mais uma vez, levanto-a, antes que a tensão
em meu corpo volte, e a deixo se ajustar em seus pés. Convidados nos olham
curiosos, mas ignoro, estando apenas preocupado com a segurança da garota
antes que caia. Ela é uma das garçonetes, usa um terninho comportado, com
os cabelos escuros presos num ridículo coque firme. Só que os saltos são um
problema, eles não a ajudam.
― Desculpe, senhor! É o primeiro dia dela. Que desastre! ― uma das
garçonetes nos interrompe, pegando a bandeja em minha mão. A garota
abaixa a cabeça. ― Isso não acontecerá novamente! Vamos... ― Puxa a
menina pelo braço para se afastar, eu a seguro.
― O único desastre foi a interrupção da sua parte, Paris. Estou me
dirigindo a ela e não a você ― eu a fito friamente, vendo seus olhos se
arregalarem ao soltar a garota, que me encara alarmada. ― E você não
respondeu minha pergunta ― disparo para a pequena garota com frieza.
― Des-desculpe, senhor, eu não me lembro ― diz embaraçada.
― Está tudo bem? ― minha pergunta não é sobre sua falta de
equilíbrio, nem quando caiu em meus braços. Quero checar se ela está em
boas mãos.
― Sim ― sua voz sai quase inaudível e ergo meus ombros
exasperados.

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― Tudo bem, pode voltar ao seu trabalho. Foi um prazer conhecê-la


― digo arrastando minha mão de seu braço até puxar a sua, delicada, para
um beijo.
O perfume em sua pele é mais intenso do que imaginei, afasto-me
embriagado. Seu rosto cora enquanto puxa a mão trêmula para o peito. Viro-
me para Paris antes de me manter obsessivo com seus gestos.
― E quanto a você... Está demitida!
Saio, deixando ambas espantadas com minhas ações. Caminho para o
mais longe possível, movendo meus dedos suavemente. Donna aparece assim
que vê o gesto em minha mão.
― Senhor? ― minha governanta se aproxima, sempre profissional.
― Descubra quem é a garota ― ordeno, pegando uma bebida de sua
bandeja. Passo a mão em meus cabelos e caminho até os Banks com um
sorriso.
Nicole me lança um olhar de dúvidas e a ignoro.
― O que aconteceu ali? ― Michael pergunta.
Balanço minha cabeça.
― Um pequeno acidente, nada demais. Então, como anda sua clínica?
Mudar o rumo da conversa é melhor, meus ouvidos podem estar em
qualquer porcaria que os empresários ao redor dizem, mas meus olhos estão
por toda parte. A garota apareceu algumas vezes no meu campo de visão, e
me concentrei nela mais do que deveria.
Sua atenção, às vezes, vasculhava os arredores também, sempre com
sua bandeja a postos. O problema de seus movimentos eram os saltos agulha,
todas as garçonetes usavam, menos minha governanta Donna, por causa da
idade, ela foi à única que permiti monitorar os atendimentos de terceiros no
buffet da festa dos Banks.
― Tenho certeza de que sua atenção não está aqui ― Nicole sussurra

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ao meu ouvido.
― Sabe o quanto isso é entediante para mim ― confesso, dando-me
conta do quão próxima está.
― Menos alguns instantes atrás ― seus olhos demonstram ainda mais
seus desejos.
― Mais tarde ― asseguro, logo noto os olhos cinzas me encararem,
cheios de segredos.
Eu não sei quanto tempo dura, mas estou preso ali sem conseguir me
desviar. Eu posso ver como a respiração está acelerada e as maçãs do rosto
cada vez mais coradas. Instantaneamente, sinto o cheiro de rosas mesmo há
metros de distância.
Escuto alguém me chamar, mas não dou ouvidos neste momento.
Ergo minha taça para cumprimentá-la e, de certa forma, é gracioso vê-la
embaraçosamente envergonhada. No entanto, o que me deixa sério, de
repente, são os olhares da ala masculina próximos a ela.
Um grito faz todas as nossas atenções se voltarem para a escadaria de
carpete vermelho. Uma das garçonetes corre desesperada para um dos
policiais, que sobe correndo ao ouvir seu relato.
― O que aconteceu? ― Nicole murmura e segue em frente com
elegância.
Continuo no meu lugar, bebendo meu champanhe.
Os múrmuros de conversa fluem com curiosidade, a música volta a
tocar para distrair os convidados, e vejo Michael correr pelas escadas,
preocupado.
Nicole retorna para conversar com um dos seus seguranças e me olha,
desculpando-se. Aceno, seguindo até a saída para pegar meu casaco. Alguns
convidados, assustados, fazem o mesmo.
― Desculpe-me Johnatan, devo ficar. Vamos dispensar os convidados

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― Nicole diz ao se aproximar.


― Aconteceu alguma coisa? ― pergunto com inocência. Ela inspira
espantada, acenando.
― William se matou ― informa. ― Teresa o encontrou enforcado.
Ela era sua acompanhante e logo a garçonete viu, eu não sei por que a maldita
estava lá em cima. Vamos tentar entender por que que ele fez isso. O policial
encontrou remédios em seu bolso ― Nicole revela, esfregando a testa.
― Tudo bem, eu já estava de saída. Ótima festa! ― elogio, apertando
meus dentes.
― Fora esse ocorrido, devo dizer o mesmo ― ela beija minhas
bochechas e sigo para o meu carro. Por um breve momento, paro para
inspirar o ar frio em conforto.
Donna aparece em seguida, e vejo meu motorista Peter ao lado do
automóvel. As mãos de minha governanta estão trêmulas, mas ela as esconde
quando noto.
― Diga ― aguardo.
― O nome dela é Mine Anne Clark, tem dezenove anos e é filha do
marceneiro Edson Clark, o senhor o conhece. Bem, é como um pacote de
emprego, ela está trabalhando em algumas casas e eventos. Hoje foi seu
primeiro dia em um evento de gala, mas será demitida ― Donna informa sem
coerência.
Viro-me para ela.
― Eu demiti Paris ― digo rispidamente.
― Isso foi ouvido, senhor, e acatado. Só que a senhora Banks não
aceitou que Mine saísse impune. ― Há preocupação em seus olhos claros.
É claro que Nicole não admite qualquer erro, assim como eu. Balanço
minha cabeça.
― Mine? ― repito. Aprecio o nome. ― Ela é filha do marceneiro? ―

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Donna acena. ― Vou visitá-lo.


Os olhos claros de Donna se arregalam.
― Senhor, estão dizendo que ele não está bem de saúde, por isso, sua
filha está trabalhando na tentativa de conseguir dinheiro para comprar os
remédios ― comenta, e volto a caminhar.
Estou acostumado com o fato de que em uma pequena cidade como
Queenstown tudo é sobre lendas e histórias.
― Não me importo. Volte e entregue à garota um cartão com o
endereço. Quero sua presença à noite, depois, leve-a para casa
em segurança com Peter ― ordeno. Donna assente, engolindo seu
nervosismo.
― Senhor? Disseram que um convidado se matou... ― Não é a
primeira morte de que ela ouviu falar desde que cheguei.
― Eu fico feliz por isso ― dou-lhe meu sorriso ameaçador.

Encaro a porta gasta de madeira no pequeno chalé dos Clark. Bato na


porta e aguardo, escutando os trincos serem destravados. O velho marceneiro
não mudou nada, apenas mais cabelos brancos, barba por fazer e, quando me
vê, olhos claros febris e alarmados.
Ele tosse antes de dizer:
― O que está fazendo aqui? ― a voz rouca é firme, demostrando sua
repreensão.
― Boa noite, senhor Clark ― entro sem ser convidado, observando o
local. Ele continua com suas madeiras, mas o pequeno lugar é limpo e
organizado.
Oh, sim! O cheiro dela está por toda a parte. E me atrai.
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― O que veio fazer aqui, Makgold? ― ele chama minha atenção.


― Passei para uma visita rápida. Um acordo, talvez.
― Não farei nenhum maldito acordo com você, Johnatan! ― tosse.
― Nem mesmo pela sua saúde? ― ergo minha sobrancelha. ―
Conheci sua filha no evento dos Banks, encantadora. Soube que ela está
procurando um bom emprego...
― Deixe minha filha fora do assunto. ― Edson está pior do que
imaginei.
― As pessoas estão certas sobre sua saúde. Bem, vejo que Mine se
preocupa com você e é por isso que estou aqui. ― O homem me olha com
desconfiança. ― Se ela trabalhar para mim, terá seus remédios garantidos e
seu negócio reaberto. O que acha? ― sugiro.
― Nem por minha alma irei aceitar isso ― revela.
― Veja que temos necessidades, preciso de alguém na casa e você
precisa dos seus negócios...
― Não troco nada disso por minha filha. Todos sabem que você tem
mais empregados do que outros da alta sociedade ― ele menospreza.
― Lendas ― estalo minha língua, observando seus artesanatos. ― É
verdade, mas como eu disse: tenho necessidades. Quanto ao que dizem,
deixo-os pensar dessa forma. Falando nisso, ela sabe sobre a mãe?
― Ela morreu quando Mine era pequena.
― Sim, ela “morreu” dentro de você, mas o “senhor” sabe que ela o
deixou por outro homem. ― Meu sorriso frio aparece.
― Como se atreve? ― ele agarra meu casaco.
― Como disse, são lendas, “senhor” Clark. Não vai querer que isso
seja realidade, vai? ― encaro-o com frieza, vendo-o soltar-me para tossir.
― Ela é a única pessoa que tenho. Mine tem bom coração, eu a amo.
Como pode vir até aqui me pedir para deixá-la ir, seu imprestável? Não vou

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aceitar, não é seguro ― ele me olha preocupado.


Aperto meus dentes.
― No evento, havia olhos nela os quais eu conheço bem. Ela foi
demitida e, provavelmente, voltará para casa a pé na rua fria e escura, mas,
com minha ajuda, estará em boas mãos. Acha que esse é o melhor modo de
mantê-la segura? Acha que ela merece pular de trabalho em trabalho atrás de
dinheiro para seus remédios? ― questiono com frieza.
Seus ombros se curvam e o olhar cai.
― Vá embora. Ela estará aqui em breve ― ele se apressa com
indiferença, puxando a porta para si.
― E o acordo?
― Não temos um acordo. Não preciso da sua ajuda, nem mesmo da
sua preocupação!
― Não é por você, e sim por ela ― corrijo-o.
― Saia!
Passo pela porta sorrindo, mas antes me viro para olhá-lo.
― Lembre-se: ela ficará mais segura comigo do que imagina.
Desço os poucos degraus de madeira e caminho pelas ruas, deixando
a garoa cair sobre mim enquanto inspiro o ar puro. O cheiro de rosas me
persegue, isso me irrita algumas vezes, mas eu a quero por perto, não com a
intenção de ter mais funcionários trabalhando para mim, e sim como uma
necessidade.
É egoísmo, eu sei. Só que eu preciso ver aqueles olhos novamente,
preciso guiá-la até mim para simplesmente me acalmar com seu perfume a
ponto de me perder na maldita intensidade pura do seu aroma penetrante.

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1 – À PRIMEIRA VISTA

O lugar é requintado, com lustres, mesas organizadas, decoradas com


tecidos claros e velas, mas o imenso salão está lotado de convidados. De certa
forma, as lentas e reconfortantes músicas clássicas aliviam um pouco minha
tensão. Não estou acostumada com saltos, se fossem baixos, eles me
ajudariam, mas não nesta noite.
Quem contratou os empregados tinha regras rígidas na maneira de se
vestir, com tudo em seus devidos lugares, e eu fazia parte da equipe
terceirizada de ajudantes. No início, ao me deparar com o serviço, pensei:
nunca pertenceria àquele lugar, cheio de luxo, com vestidos e sapatos caros.
Sentia-me desconfortável, mas tive que pensar que aquilo era pelo meu pai,
assim que ele melhorasse sua saúde, eu voltaria a me empenhar nos estudos,
na luta pela bolsa em Stanford. Essa parte me enchia de esperança.
Enquanto servia as bebidas, os saltos agulhas me matavam; se eu
soubesse, teria treinado para não envergonhar ninguém, principalmente a
mim mesma. As mulheres que se dizem finas eram grosseiras e enjoadas; eu
não podia reclamar, apenas continuar o meu trabalho, como uma boa
garçonete. Servir os homens era um trabalho torturante, os olhos e os sorrisos
lançados a mim não me agradam nem um pouco, meu estômago se embrulha
só de estar perto deles.
― Nova por aqui, meu doce? ― pergunta um deles, analisando-me.
Engulo em seco.
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― Sou apenas uma das ajudantes desta noite, senhor ― respondo sem
sorrir.
― Podemos contar com a sua ajuda mais tarde... ― diz outro e o olho
assustada.
― Com licença!
Viro-me com minha bandeja de prata e taças de champanhe ainda
cheias. Minhas pernas estão bambas e os malditos saltos não ajudam em
nada. Correr não me salvaria, e toda a postura que arrumei até estar aqui se
vai, preenchendo meus olhos com lágrimas enfurecidas. Meus pés parecem
ter vida própria e, quando travam, fazem-me tropeçar em um dos convidados
bem-arrumados.
Prevejo meu desastre numa fração de segundos: cairei com tudo e o
barulho alto da bandeja com as taças se espalharão, estragando a limpeza
brilhante do chão de mármore. Seria bom fechar os olhos e fingir que estava
morta?
Mesmo com a rapidez dos meus pensamentos e o pânico percorrendo
todo meu corpo, sinto algo me agarrando como se eu fosse uma boneca de
trapo. Quando abro os olhos, deparo-me com intensos e profundos olhos
azuis por trás de uma máscara escura de veludo.
Os traços do homem são bem másculos e firmes, uma mandíbula
muito delineada mesmo com a barba rasa. Os lábios levemente carnudos
estão entreabertos enquanto puxa uma respiração calma e profunda. Mesmo
com a máscara, ele aparenta ser bonito. Seus cabelos negros estão penteados
caprichosamente, mas com uma mecha caída em sua testa lisa, o arco do seu
pescoço parece cintilar com luzes do salão e seu perfume é uma mistura de
roupas limpas e hortelã.
Mesmo encarando os olhos penetrantes e frios ao mesmo tempo,
sinto-me uma inútil, sendo assim, seguro minhas lágrimas. Seus lábios

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esculpidos se movem, mas não consigo escutá-lo, apenas estremeço quando


seu hálito doce me atinge.
― Por favor. Não me deixe cair! ― eu imploro. Seria pior. Uma cena
em frente ao salão cheio de convidados, que provavelmente ririam, e minha
coordenadora me expulsaria por tal vergonha.
O homem me segura firme, inspirando fundo, e percebo que estou
agarrada ao seu paletó macio e possivelmente caro.
Com sua ajuda tranquila, consigo me erguer sem tirar os olhos dos
seus, agora em chamas azuis acesas. São impressionantes! Ele me analisa de
cima a baixo, erguendo seu olhar misterioso e faminto, fixo aos meus. Para
minha surpresa, conseguiu pegar a bandeja sem deixar nada cair. Isso é
chocante! Logo, Paris, uma das garçonetes, aproxima-se pegando a bandeja
da mão do homem à minha frente e lança-me um olhar de alerta.
― Desculpe, senhor! É o primeiro dia dela. Que desastre! ― abaixo
minha cabeça envergonhada com as palavras dela. ― Isso não acontecerá
novamente, vamos... ― Eu estou pronta para ir assim que ela me puxa, mas
alguém consegue agarrar meu braço, fazendo-nos travar.
Viro-me para o desconhecido assustada, mas, agora, seus olhos fixam
Paris com frieza.
― O único desastre foi a interrupção da sua parte, Paris. Estou me
dirigindo a ela e não a você ― dispara, olhando-a fixamente. Sua voz é
grossa e densa. Paris me solta imediatamente. ― E você não respondeu
minha pergunta ― a frieza se volta para mim, fazendo-me engolir em seco.
― Des-desculpe, senhor, eu não me lembro ― digo confusa, tentando
em vão lembrar o que diabos ele me perguntou.
― Está tudo bem? ― é uma pergunta simples, mas, pelo seu olhar,
quer ter alguma certeza silenciosa. Ele permanece com a mão em meu braço.
― Sim ― forço a minha voz rouca a sair. O homem se ergue como se

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estivesse satisfeito, parece mais alto, enquanto o estudo com meus olhos.
― Tudo bem, pode voltar ao seu trabalho. Foi um prazer conhecê-la.
― Arrasta sua mão em meu braço, o gesto cavalheiro me deixa surpresa, e
seguro minha respiração quando os lábios esculpidos grudam nas costas da
minha mão e ele inspira intensamente. Em seguida, ergue-se rapidamente.
Puxo minha mão, apertando-a contra meu peito. Vejo-o perder o foco
e logo se direcionar para Paris ao meu lado, que está com os olhos mais
arregalados que já vi.
― E quanto a você... Está demitida!
Minha boca se abre em choque enquanto o vejo se afastar com passos
largos, suas roupas são trabalhadas sob medidas. E devo confessar que seu
smoking preto combina perfeitamente com ele.
― Se quiser, posso conversar com ele... ― proponho ao me virar para
Paris, que me lança um olhar frio. ― Ou não ― encolho-me.
― Você já arrumou problemas demais essa noite, garota, apenas volte
para a cozinha e finja que nada aconteceu ― diz ela, seguindo para a cozinha,
assim como eu.
― Eu posso consertar isso. É minha culpa, eu não queria que fosse
assim. Apenas me deixe te ajudar, posso conversar com aquele homem, ele
pareceu-me... gentil? ― digo em dúvida assim que chegamos à ampla
cozinha com a equipe de garçonetes. Paris me encara.
― Garota, aprenda uma coisa ― suspira. ― Nenhum deles é gentil. A
única forma de serem mais educados é você aceitando estar na cama deles
esta noite, e vejo que você não tem experiência com isso ― dispara ao me
olhar de cima a baixo.
― Eu só estou querendo ajudar ― disparo ofendida, apertando meus
punhos.
― E eu estou tentando trabalhar tranquilamente e ganhar uma boa

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gorjeta para o sustento do meu filho ― sua voz é tão fria quanto a atitude.
Suspiro, sei o quanto ela precisa disso, o quanto ela tem necessidades, assim
como eu.
― Eu sinto muito...
― Algum problema por aqui? ― uma voz alta e feminina nos
interrompe. Viro-me para a esbelta mulher caminhando em nossa direção
com seu vestido colado ao corpo, muito bem-desenhado para ela. Os cabelos
louros são como ondas suaves.
― Não, senhora Banks ― Paris responde com urgência.
― Ótimo ― ela graceja de maneira ríspida, erguendo sua sobrancelha
perfeita para me olhar. ― Você também está dispensada do serviço depois
dessa noite, garotinha.
Quem era eu para protestar com ela? Sei que seu nome é Nicole
Banks, e que, por trás de tanta beleza, mesmo escondida por uma máscara
delicada de cetim, nota-se que tem um rosto perfeito, mas também a pessoa
mais ranzinza que já conheci. Aceno com a cabeça e me apresso para pegar a
próxima bandeja.
Volto ao trabalho com o humor e as forças afundadas no chão. Fico o
mais distante possível de alguns homens; meus pensamentos seguem direto
para meu pai.
Seu estado de saúde não estava nada bom, mal tínhamos dinheiro para
os remédios mais caros, muito menos para pagar uma consulta em um
hospital. Todos os meus empregos temporários ajudavam um pouco, até
mesmo com sua marcenaria dentro de casa, que não dava muito lucro.
Contudo, era o bastante para nós dois.
Balanço a cabeça voltando minha atenção para os meus pés doloridos
e a bandeja com algumas torradinhas minúsculas e estranhas. Nem tão atenta,
na verdade, minha atenção está agora pelo salão à procura dele. Eu deveria

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agradecê-lo por ter me ajudado ou dizer que sinto muito por minha falta de
cuidado... Quem sabe, até elogiar a forma como sua máscara o deixa ainda
mais intimidante.
Espere, isso não é um elogio, pisco distraída e me deparo com
incríveis olhos azuis cintilantes me observando. Meus olhos se arregalam ao
ver o homem bem-vestido, de barba baixa e, agora, com os fios dos cabelos
nos lugares certos. Viro meu rosto antes que minhas bochechas corem mais
que o necessário. Ele é brusco, isso era destacado em sua voz grossa e ríspida
com palavras firmes e pronunciadas sem hesitação. Imagino que seja alguém
muito importante no meio de muitos, já que os olhares para ele eram de
interesse.
De repente, um grito faz todos se virarem e vejo uma das garçonetes
descer as escadas correndo, em desespero, até alguns homens próximos, que
mal a escutam, correm para o local de onde ela veio. O salão é dominado por
múrmuros assustados.
― Vamos! ― uma senhora pequena de cabelos brancos bem
penteados num coque perfeito me puxa gentilmente chamando outros garçons
próximos.
Ela se chama Donna, uma chefe de cozinha, braço direito e esquerdo
do seu patrão. Bem, foi o que ouvi falar. Ela era profissional em seus
comandos e atenta aos pratos e bebidas que saíam da cozinha. Donna foi à
única que me ajudou, ela sempre tinha os olhos amorosos e um jeito
profissional. Admirei-a no primeiro momento ao ver como era respeitada por
todos ali, mas não fazia parte da equipe terceirizada. Pela exigência do seu
chefe, ela foi instruída a comandar a cozinha.
― O que está acontecendo? ― pergunto olhando em volta, assim
como os convidados curiosos.
― Quanto mais cedo estiver na cozinha, melhor ― diz gentilmente.

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― Sirva bebidas mais fortes para as pessoas no centro do salão, eles vão
precisar ― ordena, saindo do meu lado.
Pelas conversas no salão, alguém havia se matado. Isso me dava
calafrios e, aos poucos, os convidados foram sendo dispensados pela senhora
Banks. Quando minha bandeja fica vazia, sigo para a cozinha com dor em
minhas panturrilhas. Eu não sei o que aconteceu no andar de cima, apesar dos
murmúrios, a festa parece paralisada.
Donna se aproxima de mim com um sorriso terno.
― Deve ir para casa descansar.
― Com uma mão na frente e outra atrás. Não sei como vou falar com
meu pai. ― Sinto-me pior do que quando cheguei.
― Com isso não precisa se preocupar ― ela tira um cartão do bolso
de seu avental e me entrega. ― Vá amanhã às sete da noite para seu novo
emprego. O endereço é esse. ― Franzo a testa.
― Um emprego fixo? ― fico boquiaberta.
― Se tudo der certo, sim ― ela sorri. ― Não se atrase. Agora, eu lhe
darei uma carona para casa.
Encolho-me.
― Soube da morte de um dos convidados? ― sussurro. Seu sorriso
materno some aos poucos.
― É triste tudo o que aconteceu. Pegou a todos de surpresa pelo
suicídio ― ela lamenta e logo balança a cabeça, retornando seu sorriso. ―
De qualquer forma, temos que pensar em coisas boas.
― Ainda estão aqui? ― dispara a Senhora Banks ao entrar na
cozinha.
― Já estamos todos de saída ― Donna assegura.
A linda loura mascarada me parece uma mulher daquelas histórias de
contos de fadas, mas por trás é uma megera. Seus olhos de vidro voltam-se

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para mim com frieza.


― Sejam rápidos. Amanhã resolverei com a agência de vocês ― ela
encara todos na cozinha e se retira como um alerta de expulsão.
― Não gosto dela ― murmuro para Donna, que ri e passa seu braço
em meu ombro, guiando-me para fora da cozinha.
Depois de trocar minhas roupas, encontro-me com Donna na saída.
Enquanto os empregados seguem para fora rumo às suas casas, sou
conduzida direto para um elegante carro escuro, minha casa não ficava muito
longe e, de qualquer forma, dava para cortar o caminho.
Um homem alto, esguio e bem-vestido, com um terno escuro, está
aguardando com a porta aberta. O leve sorriso educado brota em seus lábios,
sua expressão, mesmo pálida e magra, é amigável.
― Peter, essa é a Mine ― Donna nos apresenta. ― Mine, Peter é o
motorista do meu chefe ― explica.
― Olá, Peter! ― cumprimento com um sorriso.
― É um prazer conhecê-la, Mine ― sua voz é calorosa e gentil.
Alguns dos garçons que saem do lugar me encaram confusos. Entre
eles está Paris, que parece querer me matar com seu olhar.
― Não se preocupe com eles, Mine ― Peter nota meu nervosismo. ―
Vou levá-la para casa.
O carro é bem-aquecido e escuro. Observando a janela, vejo tudo
passar como um borrão. Meu pai tinha uma caminhonete desgastada, eu
sempre adorei o cheiro de couro e da gasolina, era meu costume, mas aqui é
diferente, um luxo que jamais tinha tido oportunidade de experimentar; havia
o cheiro de carro novo, limpo e completamente silencioso. Viro-me para
Donna, que também parece perdida em pensamentos. Assim que me nota a
encarando, sorri.
― Quer perguntar alguma coisa, querida? ― ela é boa em ler mentes.

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― Como é o nome do seu chefe? ― pergunto, ela pisca.


― Desculpe eu não havia falado antes, é o senhor Makgold. ―
Balança a cabeça para se corrigir. ― Digo, Johnatan Makgold.
Noto os olhos de Peter pelo retrovisor me encarando, antes de voltar a
atenção para a estrada.
Meses atrás, escutei pela vizinhança sobre a chegada do morador à
mansão sombria. A lenda ressurgindo das cinzas, o famoso senhor Makgold.
Muitos juravam que ali viviam fantasmas numa casa mal-assombrada, depois
do que aconteceu anos atrás com uma família. Ninguém via seu rosto, pois
ele era um amaldiçoado. Eu nunca dei ouvidos a isso, pessoas têm costumes
de falar coisas sem ter provas.
― Não se assuste, Mine. É uma casa normal, sei que você sabe das
lendas da cidade, mas nada é real. ― Donna adivinhou meus pensamentos e
me surpreende. Eu a encarando receosa.
― Não tem corpos enterrados no quintal, não é? ― indago. Quero ter
certeza.
― Claro que não...
― Deveria ficar com medo do Ian, ele é um garoto sombrio e
atentado! ― Peter interrompe e me espanto. Para meu alívio, ele ri, e Donna
bate em sua cabeça levemente.
― Não ligue para o que Peter disse. Ian é meu filho, tem doze anos ―
Donna explica com orgulho.
Suspiro, juntando-me aos risos de Peter, e o guio para onde moro.

Assim que entro em casa, vejo meu pai sentado em sua poltrona
desgastada. Ele estava me esperando, porém eu queria que estivesse
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descansando. Tiro meus tênis, com alívio ao tocar o chão frio, e solto meus
cabelos.
― Você deveria estar dormindo ― repreendo-o e dou um beijo em
seu rosto cansado.
― Não posso ficar tranquilo sabendo que está lá fora. A violência
nessa cidade duplicou, querida ― suas palavras me fazem estremecer.
― Eu sei, pai ― suspiro, mas não quero falar do que aconteceu com
um dos convidados na festa. ― E eu perdi o emprego.
Seus olhos cinza me avaliam.
― Você sabe que eu sempre quis o melhor para você, não precisa
fazer isso por mim.
― Somos semelhantes. Temos os mesmos genes da teimosia ― eu o
lembro, caminhando até a geladeira para beber algum suco. ― Mas eu tenho
um novo emprego fixo, só tenho que ir à entrevista de amanhã na mansão
Makgold...
― Não! Você não vai! ― ele me interrompe. Viro-me chocada. ― Eu
sei o que está fazendo, Mine. Quero que você siga seus estudos, filha, eu vou
ficar bem.
Engulo o nó em minha garganta.
― Não posso te deixar sozinho, ainda mais doente como está. Pai, por
favor! Eu sei que não tem outra opção e que muitos vão falar que a casa dos
Makgold é assustadora, mas eu não acredito. Será um emprego fixo, vou
conseguir até mesmo juntar dinheiro...
― Não confio. Você sabe das histórias...
― Eu sabia que iria dizer isso ― reviro meus olhos. ― Apenas me
deixe tentar.
― Mine, não é seguro! ― implica e tosse em seguida. Não quero
discutir.

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― Nada na vida é seguro, papai. Eu te amo e preciso descansar.


Lembre-me de nunca mais usar saltos. ― Beijo sua testa e caminho
cambaleante para meu quarto.
― Não tem como fazer você desistir dessa besteira? ― escuto-o.
Sorrio, revirando meus olhos e pegando meu pijama.
― Não! ― respondo como uma criança teimosa.

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2 – PERSEGUIDA

No dia seguinte, saio mais cedo de casa indo a pé até o lugar


endereçado. Durante todo o dia o tempo esteve frio e com uma leve garoa,
então, resolvi vestir jeans, suéter, botas e uma capa com capuz estilo
“poncho”, na cor marfim, que meu pai me deu no meu aniversário.
No caminho, ao me aproximar do lugar, tudo começa a ficar deserto e
vazio, apenas a presença da natureza. A rua cada vez mais silenciosa,
somente com os ruídos dos galhos e das folhas se movendo pelo vento. A
estrada é iluminada por alguns postes, mas, ainda assim, um pouco sombria.
Ao chegar, noto o enorme portão de aço fechado à minha frente,
desgastado, seguindo com um muro alto e extenso, como se aquilo
informasse para ficar distante e fazer com que as pessoas pensassem que ali
dentro abrigava algo assombrado. Aproximo-me, tirando meu capuz, respiro
fundo ao apertar algo que imagino ser uma campainha com uma numeração
ao lado. Em seguida, a porta ao lado do portão é destrancada e me aproximo
para abri-la.
― Olá!
Um garoto alto de olhos claros, jeans e camisa xadrez aparece à
minha frente com um sorriso aberto e perfeito.
― Oi! ― respondo assustada com sua aparição.
― Acho que te assustei, me desculpe! ― ele sorri sem jeito. ― Sou
James, você deve ser, Mine ― ergue sua mão e a aperto. ― É claro que é a
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Mine, quem mais seria?


Sorrio para ele, por parecer perdido em suas palavras, e entro quando
me dá espaço.
― Sim, eu sou a Mine ― afirmo mais para mim mesma, mas paro,
assim como meus pensamentos, quando vagueio os olhos pelo interior do
lugar.
― Perfeito ― diz rapidamente. ― Pode entrar, Donna já está te
aguardando. Desculpe não poder te acompanhar, senhorita, mas meu trabalho
ainda continua. ― James é engraçado e o vejo digitar um código, fazendo
com que a porta trave. ― Nos vemos em breve, Mine.
Aceno para ele ao se afastar, bagunçando seus cabelos castanhos.
Encaro o local perplexa. Por fora não é nada comparado com o que há
por dentro. Tudo ao meu redor é iluminado com luminárias, o anoitecer
parece combinar perfeitamente com o lugar. A mansão é alta e extensa, com
grandes janelas de vidros, dando até para apreciar o interior de um salão
iluminado e vazio do primeiro andar.
De certa forma, a mansão parece antiga, num estilo clássico, e não
tem nada que aparenta ter sido queimada ou destruída. Um leve toque
moderno e um tanto rústico a deixa ainda mais bonita. Contudo, não é só a
mansão iluminada que me deixa chocada, o lugar é amplo, com um espaço
para apreciar um bom piquenique num fim de semana.
Há verde por toda parte e o frio da noite combina com o ambiente
natural. A grama parece ser macia e bem cuidada, os pinheiros e árvores
cercam o lugar com belas flores silvestres. Mesmo sendo aberto, o lugar
aparenta ser reservado, algo me diz que ali é mais extenso do que imagino.
Não é só um simples e luxuoso jardim, é um casarão no campo.
Eu inspiro, sentindo o aroma puro do ambiente. Caminho em direção
à grande casa, apreciando o local como se fosse um sonho. Se eu não me

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engano, vejo por uma das janelas do segundo andar uma sombra me espiar e
se afastar.
― Mine, venha. Entre! ― Donna abre as portas duplas da mansão
quando mal chego à entrada. ― O senhor Makgold está ocupado no momento
e me pediu para mostrar todas as instalações.
Eu a encaro chocada.
― Ele não irá me conhecer? Eu pensei que... Bem, os patrões gostam
de conhecer seus funcionários, não é mesmo?
Franzo a testa e paro de tagarelar, talvez eu esteja nervosa e
agradecida por ele não querer me conhecer agora. Donna ri e envolve seu
braço em meus ombros.
― Acredite, ele a conhece! ― diz, sorrindo, e pisco confusa.
― Espero que isso não me assuste! ― mordo minha língua.
A gentil senhora tem seus olhos em mim.
― Muitos pensam e falam que ele é a pior pessoa do mundo. São
apenas conversas, querida. Não dê ouvidos ao que o povo diz.
Eu poderia dizer que não sou assim, mas me mantenho calada e
aceno.
Se do lado de fora o portão e o muro eram intimidantes, por dentro era
fascinante. Com o verde e as luzes, nada se comparava ao ambiente do
interior da mansão.
A sala de entrada parece um salão de boas-vindas, com móveis
escuros e antigos, muito bem-cuidados e lustrados. O cheiro de limpeza me
agrada, e o ar quente é reconfortante. A escadaria é dupla, a frente é forrada
por um carpete vermelho. Tudo em madeira limpa, mármore e granito
escuros cintilantes. Há quadros de pinturas clássicas e modernas, esculturas e
vasos com alguns objetos esculpidos, que acredito valerem mais que minhas
roupas. Da mesma forma como o resto do ambiente, é clean e perfeitamente

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iluminado por candelabros de parede, assim como por um lindo lustre de


cristal, também se parece estéril e silencioso, sem nenhuma foto ou quadro de
família.
― É muito bonita ― elogio com educação.
― Sim, é ― Donna concorda sorrindo. ― Venha, vou apresentá-la
aos outros.
Outros?
Passando pela sala, caminhamos pelo corredor do lado esquerdo. Há
janelas abertas com cortinas, madeira, granito e mais escultura. Ao passar por
uma sala de jantar, a mesa extensa de vidro me fez pensar que há muitas
pessoas na casa, mas apenas um lugar está posto.
Mantendo sua atenção em mim, Donna explica calmamente o que irei
fazer, mas basicamente escuto que ajudarei alguém na arrumação da casa e
seguro minha língua ao dizer que ela estava mais limpa do que a minha.
Ao entrar na cozinha branca de mármore, meus olhos se alargam com
a imensidão, é mais espaçosa que a sala de entrada, com um extenso balcão,
uma mesa redonda no centro e móveis altos embutidos na parede. O cheiro de
legumes e carne assada invadem meu nariz, despertando meu apetite. Na
cozinha, estão presentes os outros empregados, reconheço Peter em seu terno
negro e aceno, recebendo seu sorriso amigável. Há uma garota mais nova que
eu, com os cabelos caramelos num rabo de cavalo, vestida com um uniforme
azul-escuro, seus olhos grandes e castanhos são curiosos. James também está
ali me encarando com um sorriso simpático de boas-vindas, e um garotinho
que aparenta ter mesmo doze anos tenta chamar minha atenção, jogando seus
cabelos louros para o lado, sorrindo comicamente como se estivesse me
seduzindo.
― Bem, essa é Mine Clark. Ela irá fazer parte da nossa equipe e
espero que se deem muito bem. ― Donna informa e isso significa que eu já

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estou contratada. ― Mine, essa é Jordyn, ela cuida da arrumação dos quartos,
limpeza dos móveis e do chão ― Donna nos apresenta e Jordyn se aproxima,
jogando o que sobrou da sua maçã no lixo.
― Bem-vinda ao conforto presidiário ― ela ironiza de maneira
simpática.
― Jordyn! ― Donna a repreende. ― Ela irá ajudá-la na organização e
na limpeza da casa ― explica.
― Eu agradeço por isso. Vamos nos divertir bastante ― Jordyn diz
com um leve sorriso, e vejo James revirar seus olhos.
― Mine, aquele é James...
― Já nos conhecemos ― o rapaz pisca para mim e sorrio.
― Ele cuida da parte elétrica e conserta qualquer coisa que quebre. E,
principalmente, cuida do lado de fora da casa junto com meu filho Ian ―
Donna continua a apresentação, e olho o garotinho que está sorrindo para
mim, ele é a criança mais linda que já vi e a mais engraçada também.
― Fico mais do lado de fora, não sou muito autorizado a entrar na
casa ― James me deixa confusa.
― Por quê? ― pergunto.
― Porque corto os pés dele se ousar pisar no trabalho duro que dei no
meu chão ― Jordyn explica em ameaça.
― Peter, como você bem sabe, é o motorista ― Donna sorri. ― E eu
sou a governanta, cuido da organização de vocês e da casa, e, sobretudo, da
comida e de toda a parte que se refere à cozinha. Devo dizer que o senhor
Makgold é exigente em alguns pratos ― explica me fazendo sorrir.
― E eu sou Ian, faço parte da administração da casa e sou os dois
braços do senhor Makgold ― o menino se aproxima com suas covinhas
adoráveis.
― Mais conhecido como xereta, falador, teimoso e bagunceiro ―

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James suspira e Ian o ignora.


― Este é meu filho, Mine. Como disse, ele ajuda James. Não ligue
muito para o que fala. ― Donna ri.
― A inveja consome essas pessoas ― o pequeno murmura, nos
fazendo rir e logo ergue sua mão para que eu a aperte.
― Estou honrada em te conhecer, Ian ― cumprimento-o sorrindo.
― E eu... Estou apaixonado! ― ele declara e é puxado para longe por
James. ― Poxa! Ela é uma gata! ― todos riem e eu coro.
― Vamos conhecer outros cantos da casa ― Donna me puxa, e aceno
para todos enquanto me distancio.
Donna explica cada cômodo e como o senhor Makgold gosta da
arrumação da casa. Eu me pergunto se ele tem algum tipo de TOC por querer
deixar tudo mais brilhante do que já está. A mansão é maravilhosa, espaçosa
e intimidante. Aprecio todo o espaço; no final de um dos corredores, eu me
aproximo de uma enorme escultura, perto de uma janela, trata-se de um
cavalo empinado, talhado em mármore negro. Eu encaro maravilhada a obra
de arte, sinto-me como se estivesse num museu, embora nunca tenha ido a
nada parecido, exceto nas excursões escolares.
― É um frísio ― Donna chama minha atenção, vejo-a se aproximar e
tocar no mármore.
― Eu pensei que fosse um cavalo ― pisco fazendo uma careta.
Donna ri.
― É um cavalo da raça frísio ― ela explica e a compreendo, sorrindo
timidamente. ― Tem muito deles na casa, esse é Hush.
― Hush? ― pergunto confusa, e Donna acena.
― Essas esculturas maiores são as preferidas do senhor Makgold.
Sorrio para ela e continuo minha caminhada pela luxuosa mansão.
Depois de saber as instruções, vejo que já está tarde, preciso voltar para casa.

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Mesmo que me ofereçam carona, prefiro andar e pensar ao mesmo tempo,


digerir tudo que vi até agora. Donna explica que começo às sete da manhã
para terminar de me apresentar o restante da mansão e que terei que dormir
no serviço. Essa será a parte difícil, mas darei um jeito para que tudo dê certo.
Agradeço pelas gentilezas e pelas boas-vindas e caminho para fora da
casa, despedindo-me de Donna no portão, confortando-a sobre ir sozinha para
casa. Queenstown é uma cidade inofensiva, o máximo que tínhamos ali eram
lendas e conversas. Fora isso, é um lugar seguro, então, não há nada com que
eu possa me preocupar além do frio. Cortando os caminhos, a distância para
minha casa é mínima.
Ando pelas ruas tranquilamente, inspirando o ar frio, a mansão
Makgold era um sonho, mas não poderia pensar demais sobre isso, eu sei que
o serviço não será tão fácil, mas também não será impossível.
Sigo de uma esquina para outra na intenção de me esquentar e cortar o
caminho, eu poderia chegar facilmente à minha casa, mas, ao ver um homem
cantando, conversando alto e gargalhando com outras pessoas, tenho que me
desviar do único lugar pelo qual eu poderia chegar ainda mais rápido.
Estranho, mas a sensação de ser perseguida faz os pelos da minha
nuca se eriçarem e tento avançar meus passos, quando paro abruptamente.
Um deles é alto demais e tem cheiro de bebida. Ele funga e me afasto.
― Gosto de presentes inesperados numa noite fria como esta ― diz
embriagado.
― Qual é, Tim? Devemos dividir! ― exclama o outro, e noto que três
se aproximavam jogando suas garrafas de bebidas no chão, assustando-me e
vindo em minha direção.
Tim se curva para mim com um sorriso sombrio.
― Não ouse gritar ― alerta com o hálito forte demais e a barba por
fazer.

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Meus olhos se arregalam e engulo o pânico goela abaixo, minhas


pernas ficam como geleias e lágrimas preenchem meus olhos por causa do
nervosismo.
― Ela é bonita, mas quero ver como é por baixo dessa capa horrível.
― Aperto minha capa junto ao meu corpo.
Um deles se aproxima cambaleante e rindo.
― Meu amigo Tim disse que não pode gritar, mas abrimos algumas
exceções ― eles gargalham, mas não tenho como correr. Estou cercada.
― Por-por fa-vor, me deixem ir ― meus dentes rangem e me encolho
ainda mais ao escutar as risadas zombeteiras.
― Podemos deixar você ir... ou não... ― um outro ameaça.
Outra gargalhada bêbada chama a atenção de todos e vejo outro
homem cambaleante se aproximar e jogar seu copo cheio longe. Todos eles
apreciam mais uma companhia. O homem é mais alto, e seus músculos se
destacam em suas roupas escuras, mas não vejo seu rosto, o capuz o cobre.
― Veio se divertir, irmão? ― Tim pergunta quando o outro bêbado
continua rindo e apontando para onde jogou seu copo. ― Pode ver que aqui
tem pra todo mundo. ― Todos concordaram e engulo a bile.
Os risos do homem de roupas escuras mudam para o tom mais
diabólico que já ouvi, transformando-se em um uivo saindo do fundo da
garganta.
― Isso é uma boa ideia ― aprova em tom frio. ― Mas não ousem
tocá-la ― o desconhecido não está mais cambaleante. Eu o olho fixamente,
tentando ver seu rosto.
― Não tem como. Ela parece ter os cabelos fodidamente limpos e
suaves. Imagine seus dentes. ― Tim alcança um dos meus fios para enrolá-
los nos dedos.
Eu me afasto no meu pouco espaço quando, de repente, uma mão,

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vestida com luva negra, agarra o pulso de Tim. É como um leão selvagem à
minha frente; estremeço ao escutar o grunhido de dor. O homem não deixa
nenhum deles fugirem, lutando com dois e quebrando seus ossos sem hesitar,
mas logo um deles consegue escapar assustado. Ele continua com sua luta, os
braços os mantêm fixos enquanto grunhem ou tentam golpeá-lo.
O homem de capuz age com violência, um deles já está no chão,
afasto-me, arfando e sugando o ar frio enquanto o vejo bater nos seus
oponentes com golpes firmes. É como um lutador profissional reagindo a
qualquer tentativa de ataque, até que todos estejam no chão gemendo.
De repente, um tiro é disparado por um deles, atingindo a perna do
homem de capuz, salto com o estrondo e arregalo meus olhos ao vê-lo cada
vez mais violento. Pergunto-me se é mesmo humano para agir com tanta
brutalidade. Sem tempo para coordenar meus pensamentos, giro meus
calcanhares e forço minhas pernas a correrem para longe. A adrenalina faz
meu sangue ferver, tendo mais forças para ir mais longe e seguir meu trajeto
para chegar à minha casa.
Subitamente, sou puxada para trás com força, meus cabelos se
desenrolam do coque e meu grito é sufocado por uma mão com luva de couro
perfumada e fria. Debato-me enquanto o estranho me arrasta facilmente para
um beco escuro, chocando-me contra a parede. Sinto sua respiração quente e
abafada em meu rosto. Ele diz algo em outra língua, como se amaldiçoasse,
sua voz é grossa e firme.
― Silêncio! ― sussurra para mim e percebo que estou gemendo com
meu choro sufocante.
Escuto passos e xingamentos de alguém ao longe e estremeço com um
grito agonizante que cessa rapidamente.
Tento ver o rosto do homem à minha frente, ele retira sua mão da
minha boca e se apoia na parede, cercando-me. Pela pouca claridade da rua,

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consigo ver como sua mandíbula está travada e firme com uma barba rasa,
mas seus olhos estão em mim, e posso notar sua íris azuis com uma
tonalidade em chamas. Ele se aproxima e fecho meus olhos com força,
sentindo sua respiração próxima, tensa, inspirando intensamente.
Meu subconsciente me alerta para afastá-lo e correr... Quando se
aproxima mais que o suficiente, eu o olho, encarando apenas os olhos em
chamas, sinto que os conheço de alguma forma, isso é intimidante. Continuo
afrontando, mesmo espantada, e me preparo para o ataque.
Rapidamente ergo meu joelho para atingi-lo, ele se afasta com meu
golpe e se curva. Aproveito sua distância para escapar. Devo correr para
longe, bem longe daqueles olhos azuis em chamas ou daquele... sorriso? Ao
olhar para trás, durante minha corrida, eu o vejo pela luz do poste, ele está
sorrindo em vez de se contorcer de dor. Grunho por não o ter atingido o
suficiente.
Ao chegar ao vilarejo, estou sem fôlego, mas não paro, mesmo
sentindo queimação em minhas pernas e em meus pulmões. A presença
familiar do meu lar é bem-vinda e corro em direção à minha casa, subindo os
poucos degraus de madeira, empurrando a porta e a fechando atrás de mim.
Puxo o ar, respirando com dificuldade.
E se ele estiver atrás de mim? E se eu não o despistei o suficiente?
Meus olhos se alargam e minhas costas pressionam a porta de madeira. Um
leve estalo de dedos me faz saltar e encaro meu pai vestido com seu pijama.
― Mine, está tudo bem? ― questiona. Conheço aquele olhar e não
quero preocupá-lo.
― C-claro ― pigarreio diversas vezes. ― Está tudo bem, pai. Eu
estou bem. Muito bem. Superbem. ― Afasto-me da porta como um robô
enferrujado.
― Mine ― ele me alerta.

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― Estou ótima... ― pisco. ― Veja, nem me machuquei ― mostro


meus braços.
Seus olhos cinza me analisam confusos enquanto seus dedos coçam a
barba grisalha.
― Por que você se machucaria, Mine? ― pergunta e aperto os lábios.
― Tropeçando em algum arame farpado? ― indago, encarando seus
olhos cada vez mais em alerta. ― Papai, eu estou bem! Está com fome? ―
mudo de assunto, seguindo para nossa pequena cozinha.
― Fiz carne assada com purê.
― Eu deveria ter feito o jantar antes de sair ― murmuro, já me
servindo.
― Não sou nenhuma criança, querida. ― Ele está de volta rabugento
e soando tão jovem quanto seu humor.
― Você deve descansar.
Ele faz uma careta passando os dedos em seus cabelos grisalhos e se
juntando a mim à mesa. A carne está uma delícia, se há alguém melhor na
cozinha que eu, este alguém é Edson Clark.
― Como foi? ― sua pergunta é relutante.
― Não tinha caveiras e nem nada...
― Mine! ― ele me interrompe e suspiro.
― Bem. Vou começar amanhã. Não é nada difícil e vou conseguir me
adaptar muito bem, o problema é que...
― Você irá dormir no trabalho ― adivinha de maneira áspera.
― Pai, vai ser bom, vou poder te ajudar...
― Filha, não precisa fazer isso ― suplica.
― Mas eu vou. Seu melhor amigo vai ficar aqui cuidando de você e
vou poder te visitar assim que tiver um tempo. ― Devo me certificar de que
toda a vizinhança irá ajudá-lo.

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― Acha mesmo que entrando naquela casa vai conseguir sair? ― ele
me olha em alerta, fazendo-me enrijecer.
― Posso pedir para o senhor Makgold.
― Como se isso fosse mudá-lo ― respira relutante e faço de tudo
para que não veja minha preocupação ao escutar sua tosse pesada. ― Você o
conheceu?
Pisco sem entender e logo acordo, balançando a cabeça.
― Não, ele estava ocupado ― explico.
― Tudo bem ― diz exasperado. ― Mesmo se discutir, será uma
torturante teimosia ― encaro seu rosto cansado. ― Irei visitá-la e isso é meu
dever. Quero me confirmar se estará segura.
― Pai...
― Mine! ― ele me interrompe. ― Fique longe do Makgold, ninguém
confia nele, muito menos eu. Prometa!
Eu queria perguntar sobre o que mais ele sabe sobre o senhor
Makgold, mas o que sei sobre suas histórias urbanas já é o bastante para uma
vida. E não posso acreditar que meu pai acredite nisso.
― Eu prometo ― suspiro e sorrio. ― Agora, vá descansar!
― Sempre mandona ― ele ri e tosse, aproxima-se e beija meu rosto.
― Eu te amo, querida.
― Eu também te amo, pai.
Ele se afasta e o vejo caminhar lentamente para seu quarto. Não posso
ficar longe de casa por tanto tempo, tenho que ter certeza de que ele estará
bem e tomando seus remédios, sem grandes esforços ou pegando friagem.

Nunca tive um sono profundo quando se trata de preocupações, as


tosses do meu pai estão cada vez piores. Levanto-me da cama e sigo até seu
quarto. O lugar é pequeno, assim como o meu, apenas com um armário, cama

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e um guarda-roupa. Sento-me ao seu lado e acaricio seus cabelos, vendo-o


tremer em tosses.
A maior parte da minha vida passei cuidando do meu velho Edson,
mesmo que nunca precisasse, eu sempre estive aqui para ajudá-lo com suas
madeiras, a casa e até mesmo em suas vendas. Não entendi por que vendia
tão pouco, ele era um artista. Por outro lado, papai raramente ficava doente e,
todas as vezes que isso acontecia, sentava no chão ao lado de sua cama e
esperava por sua melhora; no meio da noite ele sempre me encontrava
dormindo no local. Mesmo dizendo para ficar tranquila, eu nunca o deixei
sozinho, a verdade é que ele é a única família que tenho. Infelizmente, não
tínhamos dinheiro para fazer um exame completo e tratar da sua saúde. Tudo
parece perdido e eu sinta medo de não conseguir.
Meu coração se aperta ao olhá-lo, e lágrimas preenchem meus olhos.
― Mine? ― pergunta e o encaro, vendo seu rosto preocupado pela
luz fraca da sua luminária. Tosse me fazendo estremecer. ― Querida... Oh.
Ele logo se levanta, sentando-se e me puxando para seu peito
enquanto choro, aperta-me em seus braços quentes e beija meus cabelos.
― Não precisa fazer isso, filha ― murmura e o aperto em meus
braços. ― Eu estou bem...
Sorrio tristemente e aceno.
― Vou buscar minha coberta. É melhor tomar seu xarope, vai dormir
bem melhor ― aconselho, expulsando minhas lágrimas. Depois de dar seu
remédio, levanto-me.
Caminhando para meu quarto, acendo a luz para poder enxergar
melhor, a claridade atinge meus olhos e rastejo para pegar minha coberta. Ao
me aproximar da minha cama, minha respiração trava e meus olhos se
alargam, encarando a rosa vermelha em meu travesseiro. Pego-a assustada e
olho em volta do pequeno espaço, meu coração acelera e me pergunto quem

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deixou aquilo ali.


Com a ponta dos pés, apago a luz, meu pai deve ter voltado a dormir,
agora sem tosse, o que me parece estranho. Caminho silenciosamente até a
cozinha. Arrepio-me pelo frio do chalé, vagueio meus olhos, procurando por
algo no escuro, até mesmo nas máquinas e nas madeiras do meu pai na
pequena sala. Assusto-me segurando meu grito quando a luz do trovão
aparece num barulho estrondoso, iluminando o chalé e, principalmente, um
rosto másculo e com traços delineados e ferozes, encarando-me com olhos
azuis em chamas.
Dura apenas alguns segundos para notá-lo e entrar em choque. Sinto a
aproximação e tento enxergá-lo. Sua respiração é forte e muito mais quente,
ele inspira profundamente, murmurando algo em uma língua que ainda não
compreendo, a voz é mais áspera e grossa, ao mesmo tempo intensa e suave.
― Roza ― seu tom baixo e profundo me faz estremecer e respirar
com dificuldade.
― Como entrou aqui? ― sussurro, vendo seu rosto se iluminar com
mais outro trovão. Vejo a mandíbula firme e olhos fixos nos meus.
As luzes dos raios marcam presença, dando-me um vislumbre dele.
Eu me aproximo para encará-lo mais de perto, ele é muito mais alto e nem
mesmo se moveu com minha presença, espero por sua resposta.
Ele continua ali e quero entendê-lo. Ainda estou assustada, mas, ao
mesmo tempo, pego-me encarando seus lábios, não que eu quisesse beijar um
desconhecido, apenas tento adivinhar se ele sorri, ou se é alguma fantasia da
minha cabeça. Eu o encaro perplexa, com um olhar exigente por só manter
seus olhos e sua aproximação.
Sinto-me um pouco ofendida e, ao abrir minha boca para confrontá-
lo, fecho-a rapidamente, sentindo seus dedos quentes e macios tocarem meu
queixo levemente. Suas pupilas dilatam por causa do gesto, enquanto meu

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corpo ferve com o toque.


― Bons sonhos, Mine... ― Meu nome é pronunciado com tanta
suavidade que juro que se aproximou do meu ouvido só para me provocar.
Não demora muito e seus dedos deslizam em meu pescoço tão
lentamente que tudo que posso ver é a escuridão dos meus sonhos.

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3 – MANSÃO MAKGOLD

Desperto e encaro a cortina clara da pequena janela do quarto do meu


pai. Sento-me rapidamente ao me lembrar dos compromissos do dia, as
lembranças vêm junto com as da noite anterior. Esfrego meus olhos e balanço
a cabeça para tentar clarear meus pensamentos. Confusa, olho ao redor,
perguntando-me como parei no quarto do meu pai.
Levanto-me grogue, deparando-me com minha coberta, não me
lembro de tê-la trazido. Um arrepio me percorre, tendo certeza de que o
desconhecido me seguiu.
Assusto-me com os batuques do lado de fora da casa. Meu pai deve
estar trabalhando com suas madeiras, mesmo doente ele não descansa. Olho
para o relógio, vendo que são seis da manhã, e caminho até meu quarto para
organizar minha mochila, colocando algumas roupas. Em seguida, tomo um
banho rápido e visto um jeans, uma blusa de gola rolê e meu casaco escuro.
Ao me encarar no espelho, tenho a sensação de estar parecida com o
desconhecido. Olho-me de cara feia, pele pálida demais, olhos cinzentos e
fundos em virtude do sono. A única cor singela em meu rosto são a dos meus
lábios em tons rosados, fora isso, a minha aparência de hoje está como uma
morta-viva. Paro de enrolar e penteio os cabelos, tentando deixá-los no lugar
com minha presilha.
Antes de ver meu pai, arrumo os quartos, sempre verificando se há
algo de estranho, mas não há nenhum sinal da rosa vermelha da noite
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anterior. Sim, estou mais certa de que tudo foi um pesadelo e me sinto mais
aliviada.
Ao chegar à sala, encontro meu pai carregando as madeiras para
dentro e escuto uma voz familiar na porta. Cesar é nosso único melhor amigo
próximo à vizinhança, um senhor de cinquenta anos com uma mente de vinte.
Ele é igual ao papai, tanto em suas feições quanto em suas palavras, porém é
mais baixo e um tanto fora de si.
― Olá, Mine! ― Cesar me cumprimenta com seu sorriso cativante.
― Como está, Cesar?
― Muito bem! Estou aqui fazendo hora, pois minha linda esposa me
chutou de casa ― brinca.
― Fale a verdade, você saiu para não ter que ir ao mercado ― meu
pai zomba, voltando para pegar mais madeira e colocá-las em sua bancada.
Nosso amigo faz uma careta e me olha sorrindo, seus olhos são os
mais brilhantes que já vi, são castanhos puros e amáveis.
― Soube do novo emprego, Mine ― murmura e balança a cabeça. ―
Péssima ideia.
― Eu já imaginei que papai iria lhe contar ― reviro meus olhos e
suspiro, colocando minha mochila na cadeira.
― Eu vou te levar ― papai diz nos interrompendo.
Cesar acena concordando, e me viro para procurar alguma coisa para
comer. Na verdade, não sinto fome, apenas não quero ter que lutar com meu
querido e adorado Edson.
― Cesar, você pode cuidar dele enquanto eu estiver fora? ― pergunto
bebericando um suco de laranja.
― É claro que sim. Nada irá acontecer com este bebê ― Cesar brinca
rindo. Papai parece relutante, tosse e suspira.
Sorrio para eles. Eu os adoro... Por mais que se provoquem e adorem

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uma boa aposta com cartas e xadrez, eu os amo.


― Ficou sabendo de três mortes ontem à noite? ― a pergunta de
Cesar me faz engasgar ao me lembrar do que me ocorreu. Era um pesadelo,
não era?
A pergunta é direcionada ao meu pai, que trabalha distraído com suas
madeiras. Viro-me para lavar meu copo como disfarce para esconder meu
rosto.
― Esse vilarejo não está sendo mais seguro para ninguém ― Cesar
murmura pensativo.
― Que mortes? ― papai pergunta, fazendo meus olhos se
arregalarem.
― Pelo que escutei, foram três homens que saíram do bar e estavam
tentando roubar a loja de Kevin. Um dos deles se chamava Tim. São desses
homens que devem para gente perigosa e queriam pagar de alguma forma.
Tim? Franzo a testa com o decorrer da conversa. Kevin era um senhor
que só vendia bugigangas.
― Isso é assustador ― digo em voz alta ao me recordar da luta do
desconhecido com os bêbados.
De repente, arregalo meus olhos. Morte? Ele matou? Minha mente
confusa não consegue processar as informações. Não posso acreditar que
aquilo foi por mim e que ele havia matado aqueles homens. Na verdade, eu
não aceito justiça com as próprias mãos. Ou seria um aviso de que ele iria me
matar?
― Eu acho que não é uma boa ideia você seguir a pé até a casa do
Makgold. Como eu disse, eu vou te levar.
Olho para meu pai, seus olhos me fitam, eu não sei decifrar o que ele
está tentando me passar, quem sabe seja um alerta ou um comando para eu
não discutir. De qualquer forma, não quero preocupá-lo, nem dizer o que

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aconteceu na noite anterior e, muito menos, assustá-lo. Não desejo causar


mais cansaço, mas estou agradecida por ele estar perto de mim o tempo
necessário, ao lado dele me sinto mais segura.
Caminho até meu pai e o abraço, sentindo seus braços me apertarem.
― Cesar?
― Eu vou cuidar dele, não se preocupe. Embora eu também não
concorde... ― Cesar começa e o interrompo para abraçá-lo.
― Mine... Filha, eu sei me cuidar, mas estou preocupado com você.
― Os olhos do meu pai ainda continuam suplicantes.
― Nós estamos ― Cesar o corrige.
Bem, boa parte dessa decisão é conseguir um bom dinheiro para pagar
o tratamento completo e essa era minha razão principal.
― Não vamos discutir isso. Caso não dê certo ― mordo meu lábio
―, ainda posso voltar para casa, não posso?
― E desde quando vou deixar minha única razão de viver na rua? ―
declara com seu sorriso jovem, eu o abraço novamente e beijo seu rosto.
― Eu te amo muito ― digo sorrindo e engulo o nó em minha
garganta ao ver seus olhos brilhantes em lágrimas.
― Saiba que se não tiver uma espingarda por perto, você deve correr
― meu pai brinca e acaricia meus cabelos.
― Eu farei isso ― garanto sorrindo. Na verdade, eu sempre corro
como o Leão Covarde do Mágico de Oz.
Ao sairmos de casa me despeço de Cesar, de sua esposa e de seus dois
filhos. Eles são os mais próximos da vila e tenho certeza de que vão estar de
olho em meu pai. Entro na velha caminhonete e seguimos nosso trajeto em
silêncio, perdidos em pensamentos. Olho para o homem mais honrado que
conheço, vendo o quanto me dói ter que deixá-lo. Eu nunca fiquei longe de
casa, nunca dormi fora... Devo conversar com o Donna a respeito de visitá-lo,

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nem que isso custe meu emprego.


― Não pense muito, filha ― dispara, pegando-me de surpresa.
― Não sabe o que estou pensando ― digo com uma careta.
― Você é minha filha e te conheço como a palma da minha mão. Sei
o quanto está confusa e preocupada. Quero que saiba que vou ficar bem e vou
me cuidar, mas não quero que se sinta responsável por mim o tempo todo,
filha. ― Ele aperta minha bochecha e sorrio levemente.
― Promete que vai parar de trabalhar por muito tempo com as
madeiras e descansar? ― peço, encarando-o.
― Eu prometo ― ele ri, coçando sua barba grisalha. Seu aspecto
ainda não é cem por cento, seus olhos estão febris e a pele pálida.
Ele luta até consigo mesmo. Deus queira que não seja nada sério ou o
início de uma pneumonia! Lamento por não estar mais em casa e adormecer
ao lado de sua cama.
O pensamento melancólico me faz me lembrar dessa manhã.
― Pai..
― Sim?
― Como fui parar na sua cama? ― minha pergunta não faz sentido,
até ele fica confuso.
― Você veio e se deitou, querida. Não foi ao seu quarto para pegar
sua coberta?
― Sim ― respondo monótona. ― Você me viu?
― Não, apenas dormi novamente. Por quê?
― Eu não me lembro... ― Minhas palavras saem vagas, como se eu
não me compreendesse.
Durante o caminho, digo ao meu pai o endereço, mas nem preciso
entrar em detalhes, ele conhece a cidade de ponta a ponta. Não demora,
estaciona em frente ao imenso portão de aço, vejo sua expressão se endurecer

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ao encarar o lugar com desgosto.


― Vai ficar tudo bem ― asseguro e acaricio seus cabelos brancos.
― Eu vou ter que me acostumar com isso ― murmura. ― Venho te
ver amanhã ― diz se virando para beijar minha testa. Eu o abraço.
― Vou sentir sua falta.
― Não tanto quanto eu, querida ― sua voz sai embargada e beija
ambas as minhas bochechas. Eu não compreendo sua reação, mas me sinto da
mesma forma.
― Obrigada ― digo antes de sair do carro.
Dou-lhe um breve adeus e caminho até a porta de aço ao lado do
portão. Meu pai ainda não sai com sua caminhonete e sei que tem os olhos
em mim, seguro minhas lágrimas e toco a campainha.
Como ontem, James abre e me recebe com um largo sorriso perfeito e
olhos cativantes. Assim que entro, escuto meu pai dando a partida.
― Deixe-me ajudá-la? ― pede o jovem, roubando a mochila dos
meus ombros.
Olho em volta, adorando como a luz nublada do dia ainda combina
com a atmosfera do lugar. Acho que nunca irei me cansar de apreciar a
imensa mansão e o campo ao redor, tudo parece mais incrível.
― É bom vê-la novamente, Mine ― James continua e coloca minha
mochila em seu ombro. Ele usa botas escuras, jeans desgastado e uma camisa
de algodão.
― Obrigada, James.
― Venha, vou te levar para dentro e mostrar onde é seu quarto.
Donna está ocupada na cozinha ― explica, e o acompanho.
― Você está autorizado a entrar? ― brinco vendo seu sorriso tímido.
― Na verdade, você é minha cobaia. Jordyn me mataria se eu
entrasse na casa sem uma boa desculpa ― ele sussurra cada vez mais baixo

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ao nos aproximarmos da mansão.


― Entendi ― aceno. James é um cavalheiro de olhos claros.
A sala da entrada ainda continua iluminada. Entro observando os
arredores, tudo continua silencioso e solitário.
― Todos estão na cozinha tomando o café da manhã. Donna e Jordyn
vão te explicar o que você precisa fazer em breve ― James me explica
enquanto o acompanho por um corredor estreito.
Eu nem mesmo sei por onde ando.
― O senhor Makgold está em casa? ― pergunto e ele balança a
cabeça.
― Ele foi para uma reunião de uma das empresas. Saiu bem cedo ―
James responde.
― Ele é uma pessoa rancorosa? ― sussurro, encolhendo-me por me
sentir tão amedrontada.
― Depende do que você quer dizer ― James responde e engulo em
seco. ― Se você tiver qualquer dúvida, pergunte à Donna, ela é como porta-
voz da casa ― ele sorri.
― Obrigada!
Olho em volta, caminhando por outro corredor, o carpete é mais
escuro e as paredes cheias de pinturas; não havia passado por aqui ainda. No
final do corredor posso ver mais uma das esculturas em mármore, de outro
cavalo empinado, agora é um branco e cintilante, impressionante.
― Esse é corredor dos nossos quartos ― James me informa. ― Cada
um tem o seu, o senhor Makgold gosta de manter nossa privacidade ―
explica satisfeito.
Paramos em frente a uma porta de madeira grossa, eu deixo de
encarar a enorme escultura de cavalo para ver James mostrando-me uma
chave prata.

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Pisco ao pegá-la.
― Bem, Mine, seja bem-vinda ao seu novo lar. Este é seu quarto ―
James sorri, dando-me espaço para destrancar a porta.
Abro e entro sentindo-me atônita. O lugar é espaçoso, com carpete em
tom creme, uma cama maior que a minha, um enorme guarda-roupa branco e
uma parede de vidro muito diferente. É uma mistura de craquelado com algo
cristalizado, aquilo me faz lembrar das janelas de catedrais sem desenhos,
apenas uma mistura de brilho e cores cintilantes. As cortinas claras se
prendem de forma delicada, como se me apresentasse o lugar. Eu encaro o
quarto espaçoso com cômodas vazias e criados-mudos com abajures brancos,
assustada.
― James? ― eu o chamo fracamente e o vejo encarando o quarto
impressionado também.
― Sim?
― Tem certeza de que aqui é meu quarto? ― pergunto confusa.
― Sim. É impressionante, não é? ― diz, caminhando até colocar
minha mochila em cima da cama.
― Isso é diferente ― ainda estou perplexa.
Ele olha para mim com um sorriso zombeteiro e cruza seus braços.
― O que pensou, Mine? Que iria viver debaixo da escada feito a gata
borralheira? ― ele ri e me encolho. ― Na verdade, aquele lugar já está
reservado com algumas coisas velhas da casa ― James brinca.
― Tem certeza? Porque até mesmo você está impressionado ―
acuso.
― Privacidade, lembra? ― diz sorrindo. ― Há quartos nessa casa que
nunca vimos, principalmente no andar de cima.
― Se o meu é assim, não quero nem imaginar como são os outros ―
disparo, aproximando-me da minha mochila.

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― Vou te deixar com seu quarto, te esperamos na cozinha. ― James


sorri e sai, fechando a porta.
Retiro minhas poucas roupas, guardando-as na cômoda próxima,
temendo abrir o enorme guarda-roupa para colocar minhas poucas roupas, ao
lado dele vejo uma porta e sei que ali fica o banheiro, mas lidarei com isso
mais tarde.
Saio do quarto, deparando-me novamente com a escultura de
mármore branca. O cavalo é mais empinado, como se gloriasse alguma
vitória. Deslizo meus dedos pela pedra fria e lisa, maravilhada. Em seguida,
caminho pelo corredor apreciando os arredores, tudo em tons escuros com
detalhes claros, em uma combinação única e perfeita.
Fico confusa por não saber por onde retornar e sigo em linha reta.
Devo manter minha atenção no caminho, mas é impossível não me
impressionar com o espaço e o ambiente silencioso. Pelas janelas
envidraçadas dá para ver como a neblina da manhã cobre todo o campo.
Quando dou por mim, já estou subindo uma escadaria de carpete azul-escuro,
diferente da entrada, até mesmo as cores do lugar refletem em humores:
alguns sombrios, outros mais felizes pela luz do dia, mas a maioria se mostra
solitária.
Nos corredores, sinto-me novamente num museu de pinturas e
esculturas, mas não há nenhum sinal de fotos. Ao atravessar outro corredor,
do lado esquerdo, um lugar bloqueado apenas com uma parede escura de
vidro e portas fechadas, só que próximo a este vidro está outro cavalo
empinado, a diferença é que ele é um pouco menor que os outros e é feito de
madeira. Caminho até ele para tocá-lo, a textura macia e cuidadosamente
lixada lembra-me de meu pai, engulo o nó na garganta e admiro mais um
pouco antes de me afastar.
De repente, uma das portas grossas me chama a atenção por estar

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entreaberta. Aproximo-me curiosa para espiar.


― Nossa! ― arfo com a imensidão diante de mim.
Não resisto à tentação diante dos meus olhos e entro na espaçosa
biblioteca em forma de “U”. Os livros estão cuidadosamente organizados em
toda a estante mobiliada na parede. São fileiras extensas e altas, do chão ao
teto. Teto este que possui desenhos de folhas verdes e galhos espinhosos,
onde se instala um imenso lustre de cristal verde centralizado.
Baixo meus olhos, deparando-me, atrás da ampla mesa de mogno,
com uma extensa parede escura de vidro dando uma ampla e extraordinária
visão do campo. É maior do que imaginei e consigo ver as colinas ao
horizonte.
Na mesa, há um laptop fechado, luminária, um telefone, pilhas de
papéis organizados e livros separadamente empilhados em cores. A cadeira
escura parece ser do couro mais confortável do que ambas da frente. Eu me
aproximo de uma das estantes e analiso os livros. Os poucos que vejo são de
histórias antigas, algo como estados e teorias, mas fico curiosa ao ver uma
coleção de biologia e medicina. Coço meus dedos e me afasto.
O canto superior da parede, ao lado da mesa, é o único lugar onde não
há livros, o quadrado foi aberto para um único retrato feito à mão. Aproximo-
me da tela, encarando os olhos de uma linda garotinha que aparenta ter sete
ou oito anos, os cabelos cacheados suavemente dourados, os olhos inocentes
castanhos com lábios pequenos e rosados. Ela parece feliz, sentada com um
vestido branco e com as mãozinhas apertadas ao peito.
Talvez ela seja a filha do senhor Makgold, penso. Da forma como foi
pintada, ela parece solitária, mesmo os olhos se mostrando vivos e puros, mas
o retrato não parece ser recente, não acredito que uma criança possa viver
ainda aqui. Um arrepio involuntário me percorre ao pensar dessa maneira.
― O que você está fazendo aqui? ― pulo assustada ao escutar a

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repreensão.

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4 – NA MIRA

Mesmo com o susto, eu tenho um o alívio imediato. Sou levada para


fora rapidamente por Ian. Eu o encaro com a mão no peito sentindo meu
coração disparar.
―Você me assustou ― sussurro vendo seus cabelos louros serem
jogados para trás.
― Não pode entrar nesta sala ― ele avisa, ofegante pelo esforço. ―
Nem mesmo estar nesse corredor.
Ele agarra minha mão fria com a sua quente e me puxa para longe.
― Por quê?
― É a sala de estudos do senhor Makgold, todas as salas daquele
corredor são proibidas.
Meus olhos se abrem.
― Todas são bibliotecas?
― Não sei, nunca entrei ― responde assustado. ― Você tem sorte de
ele não estar aqui.
Ian para depois de descermos as escadas da entrada, agora familiar
para mim.
― Eu sinto muito ― murmuro.
― Mais uma sorte de me ter por perto e salvar sua vida. Será nosso
segredo de casal ― ele revela triunfante.
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― Isso é perfeito ― sorrio.


― Venha. Vamos para cozinha, você deve estar faminta. ― E volta a
me puxar.
― Com certeza ― afirmo e me deixo levar enquanto encaro o andar
de cima até que suma da minha visão.
Na cozinha, sinto o aroma de pão, café e frutas. Todos estão sentados
e, para minha surpresa, Donna me abraça calorosamente.
― Estamos felizes por tê-la conosco, sirva-se à vontade ― convida e
me sento à mesa com todos.
Eles parecem empolgados, comendo e bebendo até que o cesto de
pães frescos esteja vazio. Ian e James comentam algo sobre o campo, Peter
sai em seguida para fazer a manutenção dos carros e Donna continua sua
função de cozinhar e conversar. Jordyn me explica o que irei fazer: limpar
algumas cômodas e a escadaria, organizar as roupas, limpas e sujas, por
cores, mas nada no andar de cima é mencionado. Fora isso, tudo parece
simples, até Donna me ensinar a colher os vegetais e frutas plantadas no
campo. Jordyn me dá um avental azul-escuro e o visto rapidamente.

Limpar, organizar e cuidar me lembra de casa e, quanto mais faço,


mais me sinto confortável. James e Ian são os mais engraçados no campo e
logo se distanciam para longe. Dentro da casa, ajudo Jordyn com o chão; na
verdade, é cansativo limpar diversas vezes e dar brilho, não sei a necessidade
da higiene extrema, mas o brilho fica mais vivo do que imagino. Em poucas
horas de convívio, noto que Jordyn é persistente e divertida.
O senhor Makgold tem certas exigências com suas roupas, e Jordyn
me explica que nenhuma cor pode se misturar com a outra, isso me faz rir e
separo suas camisas brancas, deparando-me com uma mancha de batom
vermelho. Jordyn toma a camisa da minha mão, jogando-a na máquina junto

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com as outras.
― Não me faça perguntas quanto a isso ― ela cora, e seguro minha
risada.
― Tudo bem, mas o senhor Makgold é assim tão solitário? ―
questiono, voltando com meu trabalho.
― O que te faz pensar assim? ― ela me pergunta, assoprando sua
mecha ondulada.
Penso em tudo que já conheci até agora dentro da casa e olho para
Jordyn, não posso lhe dizer do quadro da criança.
― Tudo aqui parece ser harmonioso até certo ponto, mas, ao mesmo
tempo, distante e solitário ― revelo.
― Concordo com você. O senhor Makgold é um solteirão ― ri e
balança a cabeça. ― Mas não parece ser tão solteirão quanto pensamos ― ela
me dá uma piscadela e a fito surpresa.
― Ele nunca foi casado?
― Nunca ― ela responde sem me olhar.
― Não tem filhos? ― Fico ainda mais curiosa. Seus olhos se erguem
para mim surpresa.
― Nem filhos. Acho que isso também está dentro das exigências do
senhor Makgold, não acha? ― Jordyn sorri. Talvez tenha razão.
Entretanto, não faz nenhum sentido ter uma pintura de uma criança
em sua sala de estudos ou uma das salas de estudos.
Penso em como ele é fisicamente, um senhor de meia idade ranzinza e
cabelos grisalhos. Confesso que antes o imaginava barrigudo, mas, olhando
pelas suas roupas, ele é bem alto e não tem nada de barriga, quem sabe é
esguio.
Na sala de entrada termino, com Jordyn, de limpar e encerar o chão,
sobrando apenas a limpeza de alguns móveis e os vidros das janelas. Ian e

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James entram trazendo madeiras e as levando para o outro lado da casa. Em


seguida, Donna surge com algumas verduras em sua cesta.
― Eu poderia pegar para você ― digo a ela.
― Oh, querida, vejo que está muito atarefada com Jordyn ― ela sorri
se desculpando.
― Bom, pelo menos, uma parte da casa terminamos ― sorrio para
Jordyn que tem a expressão cansada e logo arruma sua postura quando a
porta da entrada é aberta. Peter entra e se coloca ao lado como um segurança.
James e Ian voltam à sala de entrada em silêncio. Donna tem os olhos
maternos para o homem alto vestido com roupas escuras e um casaco grande,
suas botas cantam sobre o piso encerado e seus cabelos estão em todas as
direções. A barba por fazer cobre seu maxilar e sua cabeça baixa faz os
cabelos médios e negros caírem à frente, impedindo-me de ver seu rosto. Ele
não é grisalho, não tem pança, mas está usando uma bengala de ouro, sua
perna esquerda parece não o ajudar enquanto ele caminha mancando até as
escadas.
Todos estamos quietos, seguro minha respiração quando ele passa por
mim. Pelas suas costas largas, imagino que não seja esguio como pensei. Na
minha cabeça, imaginei que ele tivesse sessenta anos, mas, agora, vendo-o
daquela forma, dou-lhe cerca de quarenta e cinco anos.
Entretanto, travo meus pensamentos, um arrepio me percorre quando
o vejo parar e inspirar profundamente, pendendo sua cabeça em minha
direção. Consigo ver apenas a sombra se seus cílios entre as cortinas de seus
cabelos.
― Senhorita Clark? ― ele me chama. Sua voz é rouca e grossa.
― Olá, senhor ― eu o cumprimento timidamente, sentindo os olhos
de todos em mim.
― Seja bem-vinda, Mine ― suas palavras são suaves e sinceras.

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Sorrio agradecida.
Aceno com a cabeça e logo meu sorriso some ao ver os olhos de todos
chocados.
Encaro o senhor Makgold mancar com sua bengala de ouro até as
escadas e parar.
― Mine? ― ele me chama novamente, fazendo-me piscar e manter
minha postura. ― Só não entre na minha sala de estudos, a menos que eu
ordene. ― Suas últimas palavras saem um pouco mais frias, fazendo-me
estremecer.
Aceno com a cabeça.
― Como quiser ― respondo educadamente, temendo que ele tenha
me visto mais cedo. Câmeras? Penso.
― Perfeito! ― agora o sotaque britânico soa extremamente
pronunciado, de maneira fria e afiada como gelo.
Ian está parado no primeiro degrau das escadas e sorri levemente.
― Vejo que agora conhece a minha garota ― o garoto dispara de
maneira familiar para o homem frio à nossa frente. James balança a cabeça e
ri baixinho.
― Eu não sabia que ela era sua garota. ― Senhor Makgold diz,
bagunçando os cabelos lisos e louros da criança.
Ele se afasta rindo.
― Agora que sabe, pode me dar um aumento? Estou tendo algumas
dificuldades de treinamento ― Ian parece confortável, e todos ao redor
voltam ao seu trabalho, eu os assisto.
― Eu vou ver como anda esse treinamento. Você está responsável
pelo cargo que lhe dei, Ian. Deixe-me orgulhoso. ― Ele não é frio com o
menino.
Sinto Donna tocar meu ombro e arrumo minha expressão, surpresa

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como uma tola.


― Precisa de ajuda? ― pergunto distraída, virando-me para ela.
― Só em cortar alguns legumes ― sorri com doçura.
― Donna ― o homem de preto a chama, e Donna se vira diretamente
para ele.
― Senhor? ― responde e vejo Ian correr sorrindo para fora da casa.
― Coloque mais um lugar à mesa ― eu o escuto e me viro para pegar
a flanela que deixei em cima de uma cômoda.
― Claro. E para quem seria? ― pergunta surpresa.
― Apenas faça, Donna! ― ele dispara sem humor.
― Sim, senhor! ― ela acena timidamente.
Abro minha boca horrorizada, e me viro duramente para lhe dizer o
que é respeito, mas Donna aperta meu braço enquanto encaro as costas largas
do senhor rabugento.
― Ele não pode te tratar assim ― digo irritada assim que nosso
patrão some de vista.
― Ele não está com bom humor hoje, Mine ― Donna o defende, e a
olho como se ela fosse um ser de outro planeta.
― Ele nunca está de bom humor ao que parece ― confesso, fazendo
Donna rir. ― Exceto com Ian.
― Ele adora Ian ― ela confessa com um sorriso amável.
Balanço minha cabeça, não me deixando levar pela compreensão.
― Eu só não aceito que façam isso com as pessoas ― murmuro. Ela
envolve seus braços ao meu redor, levando-me até a cozinha.
― Não se esqueça que é seu primeiro dia de trabalho. Tente deixar
isso passar, vai se acostumar com os humores dele.
Reviro meus olhos e suspiro.
― Talvez algum dia. Enquanto isso, vou ficar longe do caminho dele

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e da sala de estudos ― digo, acomodando-me na banqueta e começo a cortar


as cebolas ruidosamente, mas com cuidado.
― Acho que vamos nos divertir muito com a Mine por perto ―
escuto Peter murmurar e apertar meu ombro.
― Você escutou? ― pergunto vendo ambos rirem.
― São as regras dessa casa e em todos os lugares em que senhor
Makgold estiver. Escute e veja. O importante é fingir que nada aconteceu ―
Peter aconselha com um sorriso amigável e se afasta.
― Mine? ― Donna me chama com a atenção em sua comida e a olho
impressionada com a mistura de cheiros. ― Você não entrou na sala dele,
entrou? ― ela pergunta tranquilamente, e engulo em seco.
Curvo-me e pego outra cebola para picar, meus olhos ardem, mas
ignoro a leve irritação.
― Eu me perdi e, quando percebi, já estava lá dentro. Ian me salvou
― confesso.
Ela para na minha frente, colocando tomates e cenouras ao meu lado,
e suspira.
― Nunca mais passe por aquele corredor! ― ela alerta e vejo seus
olhos se alargarem. ― Tudo bem?
― Sim! ― dou minha palavra.
― James disse que todos temos nossa privacidade? ― Ela sorri
mudando seu humor. ― Nosso chefe gosta de se manter um pouco distante
de todos um tempo. Ali é como se fosse seu refúgio.
― E do que ele está fugindo? ― deixo minha curiosidade escapar.
― Eu não sei.
Donna retorna para seu trabalho, deixando-me com os legumes e
meus pensamentos. Eu não deveria estar sendo bisbilhoteira, devo me
preocupar com o meu trabalho e como vou conseguir o tratamento para meu

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pai, meus pensamentos passam por um ponto positivo, mantendo minha


atenção nas minhas tarefas.
Depois do nosso almoço com todos, na cozinha, voltamos para nossas
rotinas; ajudo Jordyn com a outra metade da casa, ficando cada vez mais
impressionada. Agora é o fundo, numa aérea mais aberta, dando-me uma boa
visão completa do campo. Impressiono-me vendo James e Ian saírem de uma
cabana de madeira ao longe.
O campo se estende em grama verde e pinheiros, mas com uma
divisão de uma cerca de madeira rústica. Vejo James pegar algumas caixas
que aparentam ser pesadas, Ian está dentro da extensa cerca movendo seus
braços como se chamasse alguém.
― O que eles estão fazendo? ― pergunto a Jordyn e a vejo suspirar.
Distraída, limpo a parede de vidro à minha frente, Ian me vê e acena
para mim, James imita o gesto e volta ao seu trabalho.
― James está guardando algumas compras do senhor Makgold e Ian
deve estar bagunçando como sempre ― ela ri, olhando-os pensativa. ― Ele
nunca vai aprender ― murmura e a olho confusa.
― Ian é um garotinho muito inteligente ― defendo-o sem saber do
que se trata.
― Não é disso que estou falando ― ela ri e volta ao seu trabalho.
Não tive notícias da visita do senhor Makgold, era mais fácil estar do
outro lado da casa do que ter que lidar com ele. O amplo salão, o qual vi pela
primeira vez fora da casa, é aberto e intocado. Jordyn e eu apenas enceramos
o chão e limpamos os poucos móveis. Eu me sinto exausta, mas feliz. Um
luxuoso piano de cauda negro aberto está o mais distante possível das paredes
de vidro.
― Senhor Makgold gosta de tocar? ― pergunto, passando um pano
seco no chão para dar brilho.

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― Não, ele não toca ― ela responde. ― Nunca o vi tocar. Bem,


ninguém toca naquele piano.
― Essa casa tem muitas regras ― brinco. Não imagino alguém ter um
instrumento em casa e não tocar.
― Nunca pensei nisso ― Jordyn logo se joga no chão. ― Achei que,
com você por perto, diminuiria meu cansaço.
Sua confissão me faz rir.
― É uma casa enorme. Acho que deveria ter mais empregados ―
franzo a testa ao opinar.
― O senhor Makgold tem muitos empregados, não somos só nós ―
ela revela e pisco surpresa. ― Ele tem nas empresas e em suas propriedades
particulares, mas essa é exclusiva ― murmura se levantando.
― Pensei que aqui fosse o suficiente ― confesso, fazendo-a rir.

Quando terminamos tudo, voltamos para cozinha, sendo obrigados


por Donna a comer alguma coisa antes de descansar completamente. O dia
passa rápido e já sinto falta de casa. Durante minhas limpezas, Jordyn me
ensina corretamente o caminho para meu quarto, dessa vez não vou me
perder. Com isso, despeço-me de todos na cozinha, louca por um banho. Ao
passar pela sala da entrada, escuto alguém descer as escadas com velocidade
e noto um homem negro e alto, bem-vestido com um terno cinza.
Sua expressão não é das melhores. Seus olhos escuros passam por
mim confusos e lhe dou um sorriso apertado, com educação.
― Nova por aqui? ― ele pergunta de forma gentil.
― Sim ― respondo timidamente. ― Sou Mine.
O homem de cabeça raspada olha para o andar de cima e depois para
mim.
― Seu chefe não está com bom humor hoje, Mine ― ele lamenta e

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sorri. ― E nem eu.


― Ele deve estar cansado. ― Eu não queria defendê-lo e isso o
impressiona.
― Talvez ― sorri novamente. ― É um prazer te conhecer Mine, eu
sou Matt Polosh, advogado do seu chefe ― apresenta-se e aperta minha mão.
Sorrio para ele.
― Eu sou Mine Clark, funcionária novata do senhor Makgold ―
zombo, fazendo-o rir.
― Deve estar muito cansada. Bem, não vou tomar seu tempo. Boa
noite.
Ele se afasta e aceno um breve adeus depois que o vejo passar pela
porta e volto para o meu trajeto, sentindo-me um pouco estranha, como se
alguém estivesse me observando. Rolo meus olhos com ironia.

No meu quarto, pego minhas roupas de dormir e sigo para o banheiro.


Suspiro aliviada, de certa forma, o banheiro de piso branco não é imenso
como imaginei. A água quente é melhor que a da minha casa e a deixo me
lavar por inteira, aliviando alguns pontos tensos. Ao terminar, eu me seco
com uma das toalhas macias e escovo os dentes, olhando-me no extenso
espelho.
Seco meus cabelos e os penteio enquanto sigo para o quarto descalça.
Tenho a coragem agora de abrir o guarda-roupa e encontrar muitos lençóis,
assim como aventais. Há também travesseiros e cobertas de todas as cores.
Pego um travesseiro aleatório e uma das cobertas pesadas, e começo a
arrumar minha nova cama.
Apago todas as luzes e rastejo para o colchão macio, gemendo em
conforto com meu corpo pesado e dolorido. Viro-me e encaro a parede de
vidro craquelado como um ponto para meu sono, as cores cristalizadas estão

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mais escuras e nem mesmo sei que horas são. Deixo-me levar, agarrando
minha coberta junto ao meu corpo e adormeço num sono pesado e profundo.

De repente, desperto com a garganta seca, viro-me na cama em busca


de um copo d'agua e lembro-me de que não estou em casa. Suspiro e, com um
gemido preguiçoso, levanto-me da cama. Devo me lembrar de colocar algum
relógio por perto. Saio do meu quarto passando pelo corredor um pouco
iluminado pela luz de fora e sigo para a cozinha para beber um pouco de água
gelada, o líquido é bem-vindo em meu corpo e sinto-me quente.
Não sei se é pelo ambiente da mansão, mas o lugar parece mais
aquecido. Depois de tomar minha água, faço meu caminho para meu quarto,
tudo está silencioso e escuro em algumas partes e em uma das janelas de
vidro, eu me aproximo para ver o campo escuro e quieto. As poucas
iluminações do lado de fora me faz apreciar alguns pontos.
― Mine...
Meu corpo paralisa e arregalo meus olhos. Não, isso não pode ser o
pesadelo outra vez, sua voz rouca e com um sotaque desconhecido faz os
pelos da minha nuca se levantarem. Fecho meus olhos e respiro algumas
vezes desejando que seja apenas um sonho ruim. Sem esperar, sinto uma
respiração quente próxima ao meu ouvido, meu coração acelera e fecho
minhas mãos em punho para conter o embrulho em meu estômago.
― Não tenha medo ― ele sussurra de forma sedutora, seus lábios
queimam ao roçar minha orelha.
Seu hálito quente é uma mistura de licor com alguma bebida que
desconheço. Engulo em seco me sentindo fria de repente quando se afasta.
Viro-me pronta para encará-lo, mas choco minhas costas no vidro. Não
consigo ver seu rosto direito, a sombra ultrapassa sua face. Na verdade, meus
olhos estão em seu peitoral nu e a forma como sua calça se pende em seus

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quadris. Ele tem a musculatura definida, a luz reflete em sua pele em diversas
formas enquanto ele ergue sua mão para beber alguma coisa e joga o copo em
outra direção, assustando-me.
Quando se aproxima novamente, não tenho para onde correr, vendo
os olhos em chamas em minha direção. Sua cabeça se inclina e ele inspira
profundamente, fechando seus olhos por um instante. Seu rosto se reflete
como uma sombra opaca por causa da pouca iluminação, porém posso sentir
o cheiro de barba feita, uma essência suave misturada com o cheiro da
bebida. Não me incomoda, mas me intriga.
― Fique longe de mim ― murmuro querendo soar ameaçadora.
Ele não se aproxima da luz o bastante, mas consigo notar seus lábios
se abrirem num sorriso sombrio.
Seus olhos azuis em chamas me encaram ameaçadores e rebeldes.
― Acredito que seja você que queira ficar perto demais do perigo ―
sussurra sombriamente.
― Eu não sei o que você quer de mim, mas aqui é a casa do meu
novo chefe e ele não vai gostar nem um pouco de uma visita inesperada ―
disparo em defesa, pronta para gritar.
― Ele realmente não é fã de visitas ― seu sotaque me faz estremecer.
― Quem é você? ― rebato irritada.
Seus olhos ardentes ficam frios e atentos aos meus, como se quisesse
me decifrar, mas preciso de respostas, sendo ou não um pesadelo. Eu não
quero um estranho me rondando toda noite.
― Bons sonhos...
― Não! ― digo com firmeza agarrando sua mão quente e a
empurrando para longe. Sua pele macia demais fez meus dedos formigarem e
minha atitude o impressiona.
Escuto seu grunhido rouco e seu corpo se aproxima ainda mais de

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mim, todo o peitoral e barriga definida com músculos tensos ficam à minha
frente. Ergo minha cabeça, não me intimidando, vendo seus olhos fechados
novamente. Ele inspira profundamente, como se o ato fosse uma boa forma
de mantê-lo calmo.
― Você cheira como ela ― ele sussurra dando-me aquele olhar
aquecido.
Fico confusa, mas atenta à sua intensidade.
― Ela quem? ― pergunto ofegante por sua aproximação.
Uma rosa vermelha desliza em meus lábios e se mantêm ali, inspiro o
perfume puro e fresco da flor posta em meus lábios e fecho meus olhos. A
rosa macia é pressionada ainda mais contra minha boca e o sinto inspirar
junto comigo. Como os meus, seus lábios também estão na rosa, meu coração
acelera e meus pensamentos se elevam ao imaginar que ele pode afastar a
rosa a qualquer momento entre nossos lábios. É estranho de certa forma, mas
também, tentador. Eu o espio, vendo-o relutante em se afastar.
― Você deve ficar longe do perigo ― ele sussurra em alerta com seus
lábios na rosa. Estremeço por sua voz estar tão próxima e tão suave.
― Por quê? ― sussurro e o vejo se afastar, deixando-me inebriada.
A rosa some dos meus lábios e toco com meus dedos. Tento me
aproximar e o sinto recuar.
― É hora de dormir ― ele murmura friamente, suas palavras saem
como um assovio.
Aperto meus dentes, encarando-o nervosa.
― Não!
Sou pressionada contra o vidro e apoio-me em seu peito nu e quente,
assustada por seu movimento repentino. Seus lábios estão em minha testa e
suas mãos em meu pescoço, com seus dedos tocando minha nuca numa leve
carícia ameaçadora. Sem entender, sinto-me fraca subitamente.

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― Só me diz quem é! Você matou aqueles homens? ― ofego em seu


peito, sentindo sua respiração abafada e escuto palavras em outra língua
serem sussurradas, provocando-me de alguma forma.
― Eu sinto muito...
São as últimas palavras que escuto antes de apagar de vez.

― O quê?
Abro meus olhos e encaro a parede cristalizada. O dia estava
amanhecendo e meus pesadelos ainda não foram embora. Aperto minhas
cobertas ao meu redor e sinto minha cabeça martelar. Fecho os olhos e giro
meu corpo para encarar o teto. Quando viro meu rosto, deparo-me com um
botão de rosa vermelha aberta em meu criado-mudo.
Sento-me assustada, olhando a rosa descontraída num copo com água
e um pequeno bilhete abaixo, escrito com letras elegantes. As palavras
descritas me fazem estremecer e me assustar ao pensar que aquilo é alguma
possessão.

"Mantenho-me distante o bastante,


mas perto o suficiente de você, Mine"

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5 – ANJO NEGRO

Levanto rapidamente, pego a rosa e o bilhete seguindo até porta


vendo-a trancada com minha chave em cima da cômoda. Olho a rosa e
inspiro seu perfume intenso, no bilhete, escrito com letras elegantes, sinto
como se o aviso me sondasse. Inspiro fundo, deixo tudo em cima do criado-
mudo e vou ao banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. No entanto,
para despertar por completo decido tomar um banho.
Visto uma camiseta de algodão e jeans; sei que ainda era cedo demais
para começar o trabalho, então, coloco a rosa de volta no copo e guardo o
bilhete em uma das minhas gavetas do criado-mudo.
Caminho pelo corredor em silêncio até a sala de entrada, atenta em
todas as direções. Não há copo quebrado e nem mesmo sinal de bebida,
franzo a testa procurando por qualquer coisa que esteja fora do lugar. Sigo
em direção à cozinha, observando se estou sendo seguida, mas reviro meus
olhos para mim mesma por estar agindo feito uma paranoica.
Na cozinha solitária, preparo um rápido café forte e o tomo, fazendo
uma careta. Assim que termino, volto a rondar pela casa, dessa vez,
apreciando os poucos raios de luz invadindo as janelas envidraçadas. O dia
vai parecer mais quente e alegre, penso. Decido ter uma boa visão mais
próxima do fundo da casa como anteriormente, onde o campo é mais extenso
e, de algum modo, mais bonito e aberto.
Aproximo-me da porta de vidro, assistindo como o céu parece maior
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no campo, em uma sincronia de cores entre um azul leve e do rosa para o


laranja, enquanto o sol nasce ao fundo, ainda escondido entre as montanhas,
mas quando meus olhos focalizam a cerca de madeira distante, eles se
alargam.
Há um cavalo correndo. Eu o encaro pelo vidro ainda mais perplexa.
Curiosa e espantada, sigo em frente, sentindo a leve brisa abafada em meu
rosto. A extensa varanda é cercada por flores silvestres e madeira, desço os
degraus e caminho em linha reta pelo campo, sem tirar meus olhos do cavalo
que corre brutamente em círculo em torno da cerca. Nunca poderia imaginar
que pudesse ter um desses por aqui, mas é um campo, como não? Caminho
em passos largos, respirando o ar puro do campo, enquanto afasto alguns fios
teimosos de cabelos para trás, evitando que isso atrapalhe minha visão.
Ao me aproximar, impressiono-me com o tamanho do cavalo de
pelagem negra brilhante. Ele corre com elegância e firmeza, parece
concentrado em sua corrida. Assisto fascinada e passo pela cerca vendo a
imensidão do lugar, a extensa cabana é a única coisa próxima do círculo. O
cavalo negro, que agora corre distante de mim, não usa nenhuma sela com
arreio e nem mesmo cabresto, parece livre.
Agora, seu percurso de corrida muda e vejo sua respiração abafada se
misturar com a pouca neblina no campo, porém o seu trajeto muda
completamente e o encaro assustada ao vê-lo correr brutalmente em minha
direção. Suas patas batem no chão com força, meu rosto maravilhado se
transforma em pânico ao notar o lindo animal com a respiração tensa numa
expressão sombria. Fecho meus olhos assustados, minhas pernas bambas não
ajudam a me manter equilibrada e caio para trás com meu corpo trêmulo. O
barulho de suas patas se detêm abruptamente e sufoco um grito.
Quando abro meus olhos vejo o gigante negro de quatro patas curvado
à minha frente como se me cortejasse. Mesmo amedrontada, estou

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deslumbrada. Sem pensar, eu me arrasto pelo chão e abraço sua enorme


cabeça curvada com ternura, seu pelo é macio e ele é quente, mas o gesto
carinhoso o faz recuar.
O cavalo negro se afasta me encarando com seus olhos escuros e volta
para sua corrida como se nada tivesse acontecido. Levanto-me e afasto a
grama das minhas roupas.
― Mine? ― escuto alguém me chamar e vejo James se aproximando
enquanto saio de dentro da cerca e sorrio para ele com animação.
― Oi, James!
― Você está bem? ― ele pergunta assustado, olhando para o cavalo
negro e depois para mim.
― Sim ― suspiro sentindo a adrenalina bombardear meu peito. ― Eu
estou ― afirmo.
― Não se deve ficar dentro da cerca enquanto ele estiver treinando ―
James avisa, encostando-se na madeira como eu e observo o cavalo.
― Ele está treinando? ― pergunto boquiaberta.
― Todos os dias eles treinam com ou sem o senhor Makgold ― ele
revela.
― Eles? Há mais? Onde estão? ― questiono, procurando com os
olhos.
James se diverte com a minha súbita curiosidade.
― Os outros já treinaram. Hush gosta de passar mais tempo aqui ―
James explica, e pisco atônita.
― Hush ― falo suavemente ao me lembrar do nome que Donna me
disse do cavalo esculpido de mármore na primeira vez que o vi.
Noto que, mesmo distante, o cavalo parece ter me escutado, pois sua
cabeça move-se em minha direção e logo volta à sua corrida. Escoro-me na
cerca para tentar tocá-lo assim que passa ao meu lado.

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― O que você está fazendo? ― James pergunta confuso com minha


ação.
― Quero tocá-lo ― digo, mas Hush passa longe da minha mão
estendida.
― Eu vi o que ele fez para você. Pensei que iria atacá-la ― James
parece chocado.
― Mas ele foi muito cortês comigo ― defendo-o.
James me olha confuso e se encolhe.
― Ou ele escutou algum comando do senhor Makgold ― diz e desço
da cerca à procura do nosso chefe pelo campo.
― Ele está aqui?
― Não ― balança a cabeça. ― Mas eles o escutam até dentro da
casa. ― De certa forma, James parece orgulhoso.
Olho para mansão ao longe, encarando o vidro escuro que pode ser
uma das salas de estudos do senhor Makgold, e sorrio voltando minha
atenção para Hush. Sinto-me empolgada demais só de ver um animal na casa.
― Isso é incrível ― declaro, tentando tocá-lo novamente.
― Ele não vai vir, Mine ― James ri da minha tentativa.
― Todo bichinho gosta de carinho ― digo comovente e olho para
James que me assiste e logo pisca seus olhos claros.
― Bem ― pigarreia ―, Hush não é fã de carinhos, assim como os
outros ― ele franze a testa.
― O senhor Makgold parece não ter dado muito carinho a ele ―
lamento.
― Talvez. E não adianta tentar estender sua mão...
― Ele só tem que parar de correr, me ver e vir até a mim ― disparo
confiante.
James suspira.

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― Hush é cego, Mine.


― Oh! ― sufoco, meu coração se aperta. ― Pobrezinho.
― Não precisa ficar triste. Ele é muito inteligente ― James explica.
Concordo, não poderia imaginá-lo cego, ainda mais depois que se
curvou diante de mim.
― Posso ver os outros? ― pergunto empolgada.
― Vamos ― James acena. ― Mas temos que ser breves, o chefe
gosta de vê-los todas as manhãs antes de sair.
Sorrio abertamente e o acompanho até o celeiro.
A casa de madeira é bem equipada com tudo que precisa para cuidar
do campo, dos cavalos e das verduras de Donna. Não há nada que possa
machucar um cavalo como: chicotes, cordas e nem mesmo selas para treino
de montaria. James me explica tudo que faz dentro e fora do celeiro e como
deixa os cavalos preparados para os treinos.
― Bom dia, pessoal! ― James cumprimenta, e sorrio louca para
conhecer o restante.
Os lugares onde cada cavalo deve estar estão fechados e vazios, mas
da baia próxima a James sai uma cabeça de um cavalo caramelo. Esse me
lembra uma das esculturas de madeira da casa, seus pelos claros são
brilhantes e os fios louros na crina são bagunçados. Podia ver em seus
grandes olhos negros o quanto é brincalhão ao cheirar James à procura de
algo. Em seguida, levanto minha sobrancelha para James, vendo-o acariciar a
cabeça do cavalo caramelo.
― Exceto esse, Mine. Nele você pode dar carinho, mas longe dos
olhos do senhor Makgold ― James me informa em alerta. ― Ian está
tentando treiná-lo.
― É essa a responsabilidade dele? ― pergunto e me aproximo do
cavalo não tão alto e acaricio seus pelos macios. Seu tamanho é razoável,

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então, imagino, pelo seu porte, que é como um adolescente.


― É ― James responde brincando com o cavalo.
Acaricio e o deixo cheirar minhas mãos.
― Qual o nome desse? ― pergunto rindo quando ele afunda sua
cabeça pedindo por mais carinhos.
― Nós os apelidamos de Lesado ― James ri e o cavalo solta sua
respiração áspera e brincalhona ao escutar o apelido. ― Mas na verdade, seu
nome é Lake.
― Gosto de Lake ― Aprecio o nome e rimos quando Lake empurra
James com o focinho e retorna para minhas mãos.
O celeiro é aberto, limpo e organizado. Não há odor, nem nada
nojento sobre cavalos, pelo contrário, Lake cheira perfeitamente bem e o
mimo em meus braços, abraçando sua cabeça.
De repente, somos surpreendidos por Hush que entra no celeiro
aberto, caminhando para seu lugar e fechando sua porta. Pergunto-me:
mesmo ele sendo cego como não consegue tropeçar? Eu o espio.
― Você tem razão. Ele é inteligente ― sussurro para James e me
afasto para admirá-lo, mas antes localizo outro ao lado, distante de todos eles.
É de um branco cintilante e está encarando o sol ressurgir aos poucos
em sua janela, a leve brisa faz sua crina balançar suavemente, o cavalo
branco olha em minha direção com seus olhos negros e volta-se para o
campo.
― Aquela é Sid ― James apresenta. Uau! É uma fêmea!
― Ela não gosta muito de visitas ― observo, mas, na verdade, penso
que ela não gostou de mim.
― Digamos que ela é uma égua muito reservada ― James murmura.
Olho-a paralisada e me distraio ao ver Hush ao lado comendo sua
ração. Não quero incomodá-los com minha presença e sei que Sid nem

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mesmo gostou de me ver por aqui. Retorno para Lake enquanto James me
explica como cuida deles, mas diz que, em grande parte, o senhor Makgold
está presente para vê-los em treino no campo.
― Por que o chamam de Lesado? ― pergunto, amando a maneira
brincalhona como Lake move sua cabeça em direção a James.
― Cada um aqui tem sua personalidade e são muito inteligentes ―
James explica e percebe a curiosidade em meus olhos. ― Lesado é
atrapalhado e brincalhão. Poucas vezes acerta no treino, mas é bastante
esperto. Hush é cego e nunca vi nada parecido. Ele é muito atento, forte e
veloz, mas o principal é que consegue ouvir muito bem, melhor que os
outros. Quanto a Sid, ela é como uma fêmea com sexto sentido, pode não
acreditar, mas ela é bem intuitiva, é sagaz, elegante, obediente e rápida, muito
rápida ― eu o escuto, observando todos eles maravilhada.
― O senhor Makgold os treinou? ― pisco abismada.
― Parece que sim. Estou aqui há alguns anos, já os peguei assim, mas
o Lesado ainda era filhote ― sorrimos.
― Ele é filho deles? ― indago e James nega.
― Não, não há nenhuma semelhança. O senhor Makgold os alimenta
muito bem. Quando possível, treina e os deixa à vontade. E, se vier visitá-los,
nunca dê nada além de ração ― James aconselha.
― Ele parece adorar os cavalos ― penso, deslizando minhas mãos
pelo pescoço de Lake.
― Ele os ama. ― James garante e dou um leve sorriso.
― Já montou em algum deles? ― ele nega me deixando confusa.
― Ninguém monta neles ― afirma e franzo a testa.

Não querendo tomar mais do seu tempo deixo James com seu
trabalho, penso que ele gosta de estar ali. Sigo direto para meu quarto para

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vestir meu avental e começar minha jornada. A rosa vermelha continua ali,
intacta, mas outro bilhete se pôs no lugar.

"Um lindo dia


começa com um lindo sorriso"

Franzo a testa em pavor e escondo o bilhete junto com o outro na


gaveta. Saio do quarto trancando a porta e verifico se está mesmo trancada.
Rosno para mim mesma, isso está me deixando cada vez mais louca.

A limpeza da casa retorna novamente, dessa vez, ajudo Donna a


colher os vegetais só para dar uma olhada no lado de fora. Sorrio ao ver Ian
chamar Lake para treinar.
― Eu disse, Ian não desiste ― James diz ao passar por mim
carregando madeiras.
Peter está na ampla garagem aberta cheia de carros, está sujo e feliz
ao me ver. Termino de colher as verduras para Donna e volto para casa. Meu
humor parece cada vez melhor, papai virá me visitar e estou ansiosa para lhe
dizer que tudo está bem e que tem muitas coisas boas dentro da casa, menos
em se tratando do desconhecido que vagueia pela minha vida e que está me
deixando maluca. Lembrar o homem que não me deixa em paz arruína um
pouco meu humor, nem mesmo com toda aquela virilidade esculpida se
aproximando, eu consigo ter alguma empatia no momento.

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O dia inteiro espero ansiosa por meu pai, a todo o momento que ajudo
Jordyn olho para fora da casa na esperança de James vir até a mim e dizer que
ele já chegou. A minha ansiedade é tanta que não tenho apetite, nem mesmo
de escutar as más notícias do aumento de preços em algumas lojas e mais
mortes em Queenstown mencionadas por Peter.
― Jordyn, quando temos um dia de folga? ― pergunto
distraidamente.
― Bem, naturalmente não temos folga ― Jordyn ri sem jeito. Paro,
vendo-a se encolher.
― Você não tem? Como faz para visitar sua família? ― Estou
horrorizada, observando-a se preparar para encerar o chão.
― Eu não tenho família, Mine. Está casa e todos que estão aqui são
minha família ― responde e isso aperta meu coração.
― Ninguém próximo?
― Não ― seus lábios se apertam. ― Estou aqui desde os meus
quinze anos. Eu morava com uma tia, só que ela tinha problemas com seus
homens. Eu não me lembro dos meus pais direito, fiquei com essa tia porque
a escola era próxima e vivia mais lá do que com eles. Sabia que meus pais
queriam o melhor para mim e ela tinha condições para pagar o colégio, mas,
então, ela morreu e eu não tinha mais ninguém. E nem mesmo sabia onde
meus pais estavam e percebi que eles me abandonaram. Minha mágoa
evaporou quando num belo dia apareceu um anjo que me tirou do inferno. ―
Sua voz, antes triste, ergue-se cheia de esperanças.
Não consigo imaginar a dura infância de Jordyn longe dos pais. Se
fosse no meu caso, meu pai nunca, jamais me deixaria tão sozinha e não
consigo imaginar o que Jordyn passou longe de sua família. Entretanto, o
anjo surgiu e imagino Donna acolhendo-a. Ela é carinhosa e amável com
todos, e Jordyn teve essa sorte, todos nós tínhamos.

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― Donna é um anjo e tanto ― murmuro orgulhosa, e Jordyn acena.


― Sim, ela é ― Jordyn concorda. ― Mas não foi ela quem me
salvou.
Fico confusa com suas palavras.
― Peter?
― Senhor Makgold ― fico boquiaberta. ― Ele disse que nada iria me
acontecer, que não iria mais sofrer e que me ajudaria a enfrentar meus medos.
Também disse que conhecia meus pais e que eram pessoas boas, mas
infelizmente morreram em um acidente.
Eu a escuto surpresa.
― Como ele descobriu sobre você? ― fico confusa.
― Eu não sei, mas só me importei de ir embora para bem longe de
Boston ― Jordyn revela, sorrindo amavelmente.
― E você veio para trabalhar para ele?
― Donna me acolheu, mas quando a vi trabalhando sozinha, percebi
que ela precisava de mim, assim como os outros. Então, o senhor Makgold
não achou mais do que justo me recompensar pelos meus esforços. Ele nunca
pediu nada disso, fazemos por gratidão ― ela explica. ― O chefe parece ser
mal-humorado, mas, no fundo, deve ter um coração maior que o mundo.
Aliás, nós não estamos trabalhando por algo nobre?
― Como assim? ― sua pergunta me confunde.
― Todos nós perdemos alguma coisa, seja ela pequena ou
insignificante, ou muito significante, e talvez não estamos aqui por acaso ―
ela encera o chão, deixando-me com meus pensamentos.
― Eu tenho meu pai, então, não entendo este gesto nobre ― sussurro
mais para mim mesma.
O dia vai passando e papai ainda não apareceu, minha ansiedade se
transforma em preocupação. Terminamos com a limpeza mais cedo e

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aproveito para ir ao meu quarto tomar um rápido banho e colocar um vestido


de algodão violeta da altura dos joelhos e uma sapatilha.
O sol se foi, dando-me a imagem de um leve anoitecer. Donna me
chama por algum momento para comer algo, mas não sinto fome, estou
preocupada. Papai sempre cumpre o que fala, encaro o andar de cima
relutante, sabendo que o senhor Makgold está em sua sala privada.
Subo sem pensar duas vezes, passando pelo corredor, e sorrio
tristemente ao ver o cavalo de madeira, esse pode ser Lake. Caminho
relutante até a porta e engulo meu nervosismo. A porta está entreaberta, mas
a voz grossa do lado de dentro faz meus pelos se arrepiarem.
― Eu já lhe disse o que preciso para aquela empresa se encontrar
vazia! Quero tudo desocupado! Nicole, não tenho tempo para suas queixas e
nem mesmo suas provocações! Michael sabe o que posso fazer caso não dê
continuidade ao acordo. Apenas faça o que mandei!
O baque do telefone me assusta, ele não está com bom humor e o
escuto xingar rispidamente, mas não entendo o idioma.
Respiro profundamente e ergo meu punho trêmulo para bater.
― Entre! ― dispara antes mesmo de bater e encaro a porta,
perguntando-me se é ou não comigo. ― Apenas entre, quem quer que seja!
Abro a porta segurando minha respiração e o vejo de costas,
encarando o campo pela parede de vidro, com as mãos dentro dos bolsos do
seu casaco.
― O que deseja, Mine?
Fico cada vez mais impressionada. Como ele sabe que sou eu?
Pigarreio e avanço corajosamente até sua mesa.
― É... só... para falar do meu pai ― limpo minha garganta para ser
clara.
― Do que precisa? ― pergunta sem rodeios e sem me encarar.

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― Preciso vê-lo.
Ele permanece em silêncio. Olho ao redor e noto que o retrato da
criança não está mais ali. Encaro suas costas e os cabelos cuidadosamente
penteados para trás. Engulo em seco, assustada ao notar sua bengala jogada
no chão.
― Era para ele ter vindo me visitar... ― explico com a voz falha.
― Não aceito visitas e eu nem mesmo fui informado sobre isso ― diz
num tom severo.
― Peço desculpas, mas meu pai está muito doente e preciso vê-lo.
Prometo que serei breve ― digo quase suplicante.
― Para que tanta importância?
Sua estúpida pergunta me enfurece, fazendo meus dentes se
apertarem.
― Porque ele é meu pai e preciso vê-lo. ― Tento controlar minha
voz.
― A resposta é não ― sua frieza me espanta.
Meu coração acelera em desespero.
― Senhor Makgold, eu prometo que virei o quanto antes ― asseguro,
vendo sua cabeça se mover em resposta negativa, engulo minhas lágrimas e
suplico. ― Por favor!
― Eu disse NÃO!
Seu corpo se vira e pulo ao escutar o soco estrondoso na mesa assim
como sua voz. Pela primeira vez vejo seus olhos azuis frios como gelo, a
barba cobre toda sua mandíbula e maxilar, e seus cabelos se espalham pelo
impacto. Ele me encara com uma fúria que nunca pensei que existisse.
Quebro qualquer simpatia que pensei em ter guardado e o vejo recuar,
virando sua cabeça quando ouso olhá-lo quase em reconhecimento.
― Saia! ― Ele ordena e meu ódio se aprofunda.

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Saio de sua sala, batendo a porta com força atrás de mim e corro
como se quisesse ser arrancada de tudo aquilo. Logo estou fora da casa, para
minha facilidade, vejo Peter passar com um carro prata pelo portão de aço e
forço minhas pernas a correrem para bem longe e ter forças para ir até meu
pai. Escuto alguém me chamar, mas é tarde demais e já estou correndo pela
rua pouco iluminada.
Respiro e inspiro, não me atrevo a olhar para trás, apenas corto
caminho, sentindo-me sufocada por causa das minhas emoções e não paro,
continuando meu percurso. De fato, sinto-me fraca e minha cabeça gira,
talvez pela falta de comida no estômago, mas consigo sobreviver até em casa
e apenas olho para trás para ver se estou longe o bastante.
De repente, meu corpo é lançado para trás, caio violentamente no
chão e encaro o asfalto. Pisco sentindo uma dor latejante em meu estômago e
sufoco, não conseguindo respirar, meus olhos se enchem de lágrimas, devido
ao meu esforço, e encaro os sapatos negros à minha frente. Levanto minha
cabeça com fraqueza e vejo apenas uma sombra escura. Ele se abaixa para me
ver de perto e gargalha, os faróis de um carro diante dos meus olhos me deixa
cega.
― Olá. Estou procurando seu chefe, mas você parece ter facilitado as
coisas para mim ― sua voz faz meus ouvidos zunirem.
Rastejo pelo chão e tusso pela falta de ar.
― Me deixe ir ― digo ao pensar no meu pai.
Um grunhido feroz se aproxima, cobrindo a risada do homem que me
empurra. Olho em sua direção vendo-o lutar e alguém torcer seu braço, o
grito de dor é imediato, eu me arrepio e me afasto amedrontada.
― Por favor... Não ― escuto com mais clareza o homem que me
empurrou suplicar.
― Quem te mandou aqui? ― a voz familiar com um leve sotaque me

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faz parar de rastejar e entrar em pânico. ― RESPONDA?!


Sua ordem me assombra mais que o homem suplicante, volto a
rastejar para mais longe, em direção às sombras.
― Eu não digo nem por ameaça de morte ― escuto-o rir e tossir.
Olho para eles, vendo pela luz do carro, o homem de joelhos, é baixo
e careca, parece machucado. O desconhecido segura seu braço de uma forma
estranha, como se o mobilizasse.
― E quem disse que vou te ameaçar? ― o sotaque é suave e frio.
Engulo meu soluço ao ver suas mãos habilidosas se moverem com
firmeza na cabeça do meu agressor e girá-la, os estalos do seu pescoço fazem
meus olhos se arregalarem, assim como quando seu corpo cai ao chão.
Não, não, não. Ele vem em minha direção — o estranho, o
desconhecido — e choramingo para longe com medo. O chão está frio e
quero me manter de pé, mas a fraqueza não permite. Seguro meu grito ao
sentir suas mãos fortes agarrarem meus braços e me erguerem com facilidade.
― O que eu disse a você? ― pergunta ríspido e viro minha cabeça
para não poder ver seu rosto assassino, e olho o homem caído morto no chão.
― Me-me solta...
― Mine, quando vai aprender a me escutar? ― diz friamente, ainda
firmando meus braços e quero desabar no chão, rastejar o quanto puder.
― Você é um assassino ― choro assustada.
― Mine! ― mantém sua voz suave com um perfeito sotaque que
desconheço.
Logo sou embalada num abraço quente e sinto sua respiração
ofegante em meus cabelos. Consigo empurrá-lo e fico tonta com meu esforço.
― Fique longe de mim ― soluço, encarando o homem morto atrás
dele.
― Você não está bem ― murmura preocupado.

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Puxo o ar limpo e o encaro pela primeira vez. Seus olhos estão em


chamas, mas preocupados, perfeitos azuis intensos e sei que é ele, mesmo
com a barba eu o reconheço e me afasto.
― Minha Mine ― ele se aproxima preocupado.
― Você? ― minha respiração se altera ― Não...
Vejo-o estender sua mão com seus dedos longos, viro-me pronta para
correr, deve ter alguma esquina que possa me levar a cortar caminhos. A dor
em meu abdômen é insuportável, mas consigo achar forças para
correr. Corra, Mine, apenas corra, escuto meu pai em meu subconsciente.
Olho para trás, vendo-o parado, ainda me olhando, seus olhos estão ferozes e
suas mãos apertadas, mas sua expressão é triste.
Paro abruptamente, apertando minha barriga, sufocar meu choro não
vai funcionar, mas ele continua ali parado, olhando-me e me esperando.
Estou tonta e fraca. Não vou conseguir ficar em pé por muito tempo,
ele corre até a mim como um leopardo, segurando-me antes que eu desabe no
chão.
Respiro o perfume suave de seu casaco e o encaro fracamente.
― Me desculpe por isso ― ele lamenta.
― Meu pai ― choramingo.
― Ele está bem ― garante, tocando meu rosto com seus dedos
quentes e me segurando com o outro braço, como se eu fosse um bebê de
meses.
― Preciso vê-lo. Por favor...
Fraca como estou, não consigo escutar suas palavras e fecho meus
olhos por um breve momento, sentindo-me esmorecida.

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Abro meus olhos pesados apenas para ver quem me chama ao longe,
meus olhos vagueiam pelo campo novamente e sinto meu corpo ser carregado
por alguém. A voz de James se aproxima e pisco em busca de foco.
― Mine? O que houve? Senhor, precisa de ajuda? ― a voz de James
e Peter são insistentes e um pouco próximas, sinto alguém acariciar meus
cabelos assim que entro dentro da mansão novamente.
― NÃO! ― escuto a voz firme e transtornada de Johnatan Makgold.
Meus olhos pesados tornam-se a fechar sem que eu permita.

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6 – CONFRONTO

Desperto com fraqueza e vejo uma rosa vermelha ao meu lado em


cima de um travesseiro negro e um bilhete pequeno em papel pardo, assim
como os outros que recebi nas últimas horas. Leio rapidamente:

"Tente se alimentar.
Por favor"

Vejo-me deitada numa cama dossel negra, grande e muito macia, há


vários travesseiros espalhados e estou enrolada em um lençol de cetim da
mesma cor. As paredes do espaçoso quarto são uma mistura de clássico e
moderno, com cores escuras entre vinho e marrom, o carpete combina
perfeitamente com as duas cortinas extensas e escuras das janelas. Olho para
o teto, vendo as luzes embutidas iluminarem o quarto. O aroma do ambiente é
suave ao mesmo tempo másculo e aconchegante.
Sento-me na cama observando as cômodas escuras e algumas portas
duplas da mesma cor. Tudo é luxuoso e, ao mesmo tempo, íntimo e sombrio.
No canto, há uma generosa mesa de madeira próximo a uma das janelas, está
ocupada com uma jarra de água e outra de suco. Há também um prato com
uma tampa transparente, frutas e pães. Meu estômago ainda dói e me sinto
assustada, não faço a menor ideia de onde estou.

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Rastejo pela cama escorregadia pelo cetim e vejo que estou com meu
vestido intacto. Toco minha barriga, mas a dor é suportável, não quero nem
imaginar se fiquei com algum hematoma devido ao baque.
Sigo até a mesa, vendo a sopa no prato, sei que para melhorar preciso
comer. Sento-me em uma das cadeiras estofadas e tomo dois copos de suco
de laranja, o líquido é bem-vindo, mesmo fazendo meu estômago se revirar.
Forço-me a comer um pouco de pão e frutas, devoro a sopa quente de
galinha, tendo a certeza de que foi Donna quem preparou.
Imagino que ainda estou na mansão, mas não sei onde vim parar, tudo
parece intacto e muito limpo, mas eu e Jordyn nunca limpamos esse quarto.
Termino de beber um copo d’água e me levanto para sair daqui o mais rápido
possível. Não posso contar a ninguém o que vi, e prometo a mim mesma
guardar segredo caso ele me deixe em paz.
Escolho uma das portas onde penso que seja a saída e dou de cara
com um lugar pouco iluminado com uma escadaria de aço curvada. Antes de
fechar a porta escuto alguém arfando no andar de baixo e desço as escadas
observando o lugar.
A primeira coisa que reparo é a parede do lado direito, é fumê e
envidraçada, dando uma imagem panorâmica das montanhas com os
pinheiros que cercam o campo. Assim que meus pés descalços tocam o
tatame, olho em todas as direções. É um salão escuro como a noite afora e
com poucas luzes ligadas. Há correntes, equipamentos estranhos para treinos
de musculação, esteiras, sacos de boxe de todos os tamanhos no chão, pesos,
barras de ferro, entre outras coisas que desconheço.
Caminho pelo salão aberto e o encontro, iluminado apenas por uma só
luz lâmpada acima de sua cabeça, ele se move rapidamente com seus cabelos
molhados e o suor escorrendo por suas costas nuas, largas e musculosas. Usa
apenas um moletom um pouco molhado por causa do suor; traz uma toalha

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envolvida em seu pescoço enquanto as mãos se movem freneticamente em


alguma coisa que me lembra de um cabideiro de madeira. Pergunto-me há
quanto tempo ele está lutando com aquilo, escuto-o arfar e respirar com força,
os músculos de suas costas parecem cada vez mais tensos.
É o limite para mim, caminho para trás em silêncio. Para meu espanto
e desastre, acabo esbarrando em uma barra pesada que cai ruidosamente no
chão, encaro suas costas molhadas, vendo-o parar subitamente.
― Eu espero que você tenha comido ― diz sugando sua respiração
ofegante.
Ele nem mesmo parece assustado com o barulho e se vira secando o
rosto. Eu encaro mais seu peitoral, abdômen e braços definidos do que seu
rosto. De certa forma, é intrigante e impossível não reparar em sua
musculatura definida. Está molhado, e eu o sinto quente pela atmosfera que
me envolve.
Assim que se livra da toalha vejo seu rosto limpo sem barba, as maçãs
coradas, sobrancelhas grossas, lábios carnudos e nariz dilatado pela
respiração pesada, mas seus olhos estão cautelosos, move-se até mim se
abaixando para pegar a barra de ferro e colocá-la no lugar. Sinto seu perfume
próximo, mesmo suado ele tem um cheiro suave e másculo, esse perfume me
faz lembrar algum momento, mas não consigo mudar meus pensamentos para
outras direções, sinto-me bloqueada por sua presença. Ele não chega nem
perto dos quarenta e cinco anos que havia imaginado, talvez uns vinte e seis
ou vinte e oito, pergunto-me por que ele se esconde daquela forma.
― Você se alimentou? ― agora ele pergunta encarando meus olhos
com profundidade, pisco feito idiota. ― Eu sei que está assustada, Mine, mas
quando eu lhe pedir para fazer algo, desejo ardentemente que o faça.
Ardentemente? Isso não soa bem. Eu me recomponho.
Ele inspira fazendo seu peitoral largo e definido subir. Corro meus

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olhos por seu abdômen vendo algumas marcas de cortes já cicatrizadas na


lateral de suas costelas e algumas recentes. Engulo meu pânico e olho para as
montanhas escuras através do vidro.
― Isso não lhe dá o direito de me manter longe do meu pai ―
murmuro impressionada que minha voz saia limpa e firme.
― Me dá o direito de deixar todos nessa casa protegidos. ― Seu tom
é rude e enfrento seus olhos azuis febris.
Ele é mesmo o senhor Makgold que fui ver na sua estúpida sala de
estudos, isso me enfurece.
― Você continua com sua farsa, senhor Makgold? ― disparo de
maneira bruta.
Seus olhos se esfriam.
― Não sei do que está falando ― ele se vira e fico chocada ao vê-lo
levantar um saco de pancadas pesado e o pendurar no suporte com facilidade.
― Não sabe? Me deixe lembrá-lo ― começo com ironia e logo me
surgem lembranças que fazem sentidos. ― Eu te vi na festa de máscaras dias
atrás, era você e teve uma morte. Depois vim conhecer sua casa, onde, de
alguma forma suspeita, fui quase atacada por um bando de bêbados. Você
estava lá e também teve mortes, dessa vez, três mortes muito estranhas. Em
seguida, invadiu minha casa naquela noite, e não me venha dizer que é coisa
da minha cabeça. Sem contar que me seguiu na noite passada, quase me
assustando, fazendo-me imaginar que estava ficando louca! ― minha voz se
altera a cada revelação, deixando-me sem fôlego.
À medida que minhas palavras saem, seus socos no saco de pancadas
se tornam ainda mais fortes.
― São apenas coincidência, Mine ― responde, como se nada disso
tivesse acontecido.
― Coincidências? ― disparo ríspida. ― Todos seus encontros, pelo

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que me lembre, na maioria, teve mortes, e agora estou num lugar onde você
treina para matar mais pessoas? ― pergunto de maneira óbvia, indicando seu
espaço.
Ele para de mover os punhos para me encarar.
― Está errada! ― sua voz é fria, o que aumenta ainda mais minha
fúria.
― Oh, sinto muito, mas não acredito em você! ― enfrento-o.
― Eu esperava um simples agradecimento ― seu resmungo me faz
rir sem humor.
― Perdoe-me, senhor Makgold, mas o senhor não é nenhum herói e
sim um assassino. Eu vi ― afirmo, apertando minhas mãos.
Seu olhar em chamas é disparado para mim com fúria e me encolho.
― E o que pretende fazer? ― seu tom é ameaçador e tento não
estremecer.
― Não vou contar a ninguém ― asseguro, mesmo sendo errado. ―
Mas não vou ficar aqui. Preciso voltar para casa e ter minha vida novamente.
Aqui não é meu lugar ― digo apertando meus dedos e sentindo meu coração
se apertar ao lembrar de Donna e de todos na casa.
Olho para cima, vendo seus olhos azuis distantes, logo pisca para
mim, parecendo quase assustado. Quase.
― Aprecio a primeira opção, Mine. Só que não vou aceitar você sair
daqui assim. ― Sua voz me causa calafrios e engulo em seco.
― Vai... ― gaguejo trêmula. ― Vai me matar?!
Era de se esperar e nem mesmo consigo esconder meu medo.
― É claro que não ― diz rapidamente, talvez assustado com minhas
palavras. ― Você não merece isso. ― Sua voz suave me deixa confusa.
― Então... ― respiro profundamente. ― Por que faz isso?
Seus olhos se alargam, e vejo, pela primeira vez, o medo dentro deles.

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― Não é um assunto que desejo partilhar, e quanto mais longe


estiver, será melhor. ― O sotaque suave em sua voz me faz ficar um pouco
aliviada e um tanto confusa.
― Mas você não quer me deixar ir, então, por quê?
Seus longos dedos deslizam por seus cabelos escuros e molhados.
Noto a luta em seu rosto ao soltar um ar abafado.
― Não posso deixá-la ir ― responde velozmente.
― Por quê? ― insisto, apertando meus dentes de nervoso.
Seus olhos estão fixos nos meus e sou incapaz de piscar ao sentir sua
intensidade.
― Porque você faz parte da minha vida agora. Então, não posso
deixá-la ir.
Minha respiração trava, fico perplexa vendo-o se afastar e entrar por
outra porta, deixando-me ali sozinha e atônita.

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7 – PEDIDOS

Minha boca fica seca e meus batimentos cardíacos acelerados. Ele não
pode dizer uma coisa dessas para uma pessoa despreparada, virar as costas e
deixá-la sozinha.
Tento colocar meus pensamentos em ordem, mesmo ainda com o som
da sua voz grossa, macia e suave em minha mente. Franzo a testa, encarando
a porta pela qual ele acabou de entrar, aperto meus dentes me mantendo
firme. Isso não justifica o que ele fez ou o que faz, pode até estar tentando me
manipular com suas palavras. Marcho até a porta de madeira escura e bato
freneticamente.
― Eu sei que está aí. Nossa conversa ainda não terminou! ― disparo
irritada aumentando a força do meu punho contra a madeira.
A porta se abre num puxão e dou um passo para trás ao vê-lo apenas
com uma toalha branca envolvida em sua cintura. As gotas de água
escorregando por seu bíceps e abdômen deixam minha garganta seca. Ele é
muito mais musculoso de perto, os cabelos lisos e molhados estão em todas
as direções, o cheiro que sai do banheiro evaporado atrás de si e do seu corpo
me atingem numa fragrância quente e suave.
É indiscreto estar cobiçando seu corpo, mas seus olhos estão frios. Ele
estava no banho e o interrompi, não sei se agradeço ou se fico envergonhada.
Coro em virtude dos pensamentos impróprios dos quais nunca imaginei que
pudesse ter um dia por alguém.
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― Não temos nada para conversar, Mine. Será que posso ter um
minuto de paz? ― reclama em tom brusco.
Encolho-me, ainda o encarando. Em seus olhos vejo o quanto se sente
evasivo, mordo meu lábio e engulo meu medo.
― Eu não vou dizer a ninguém, só quero que me deixe ir ― revelo
temerosa.
― Já falei sobre isso e a resposta é não ― ele sibila.
― Não posso continuar aqui. Não com você sendo assim ― defendo-
me.
― Está com medo?
Faço-me a mesma pergunta. Estou?
― Só quero seguir meus instintos.
Ele me estuda com seu olhar penetrante. Logo balança a cabeça e
esfrega as mãos em seu rosto.
― Mine, entenda que tudo que estou fazendo é para te proteger ― diz
exasperado. ― Desde quando começou a entrar em perigo sinto que é meu
dever fazê-lo e é por isso que não posso deixá-la ir. ― Sua intensidade me
deixa sem estruturas.
― Isso é...
― Amanhã vou levá-la para ver seu pai ― ele me interrompe e me
surpreendo. ― Espero que faça o que peço, mantenha-se distante.
― Estou tentando, mas você não deixa ― defendo-me, nem sei por
que ainda estou discutindo com ele.
― Estou dizendo para se prevenir dos perigos a fora, Mine. Você é
praticamente um tipo de ímã para isso ― ele me encara.
― É porque você está nos mesmos lugares que eu. Então,
tecnicamente, não sou eu o ímã para o perigo ― corrijo-o vendo seus olhos
se abrirem em advertência, mas não me encolho, ele sabe que estou certa.

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― Pense em seu pai ― ele me faz fechar a boca. ― Está doente e


você precisa do emprego. Então, pense nisso em vez dos meus problemas.
― Seus problemas são sujos ― rebato.
― Mine ― ele suspira derrotado. ― Vá para seu quarto, eu estou
cansado.
― Cansado? ― meu tom é arrogante.
― Vai continuar? ― pergunta colocando suas mãos em seus quadris.
Sua postura me faz querer rir pela primeira vez.
― Só quero te pedir uma coisa.
Ele suspira, frustrado.
― O que quer? ― noto a relutância em sua expressão.
― Se eu for continuar aqui, quero ter a liberdade de ver meu pai, seja
em qualquer dia ou hora ― proponho erguendo meu queixo como se eu
pudesse ser mais alta que ele.
Minha altura de um metro e sessenta não ajuda muito, mas é bom
imaginar acima dos seus um e oitenta e tanto. Sua sobrancelha se ergue
enquanto reflete.
― Tudo bem, Mine ― concorda e ergue suas mãos. Poxa vida!
― E também quero que...
― Você disse que era só uma coisa ― dispara, rapidamente me
interrompendo. Dou de ombros.
― Era, agora não é mais ― corrijo. ― Quero aproveitar a
oportunidade.
Sua expressão séria suaviza e o vejo tentar lutar contra um sorriso,
mas consegue se manter casual.
― Diga-me. ― O leve sotaque me faz piscar e olhá-lo como uma
idiota. ― Mine...
― Bem... É... ― gaguejo.

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― Qual seu outro pedido? ― Ele se encosta ao batente da porta me


olhando e cruzando seus braços. Seus músculos saltam para fora, firmes e
tensos sob sua pele um pouco bronzeada.
Concentro-me no que tenho a dizer.
― Quero que seja sincero ― peço relutante, seus olhos me avaliam.
― Mesmo que não queira me contar agora e que prefira se esconder por trás
de tudo isso, quero que me diga o porquê.
― Isso é algo que não posso prometer ― responde sem humor.
Suspiro sabendo que isso é um passo muito longe, não posso me
meter em sua vida, mas odeio mistérios.
― Tudo bem ― murmuro me afastando.
Sinto seus olhos em minhas costas e abraço-me. A imagem do homem
que me atacou é perturbadora. Paro ao pensar no que aconteceu com o corpo
e me viro para olhá-lo. Seus olhos estão em mim e, pela primeira vez, vejo a
mais profunda suavidade entre eles, mas logo muda em alerta quando o
encaro.
― O que aconteceu com aquele homem? ― pergunto.
Seus olhos piscam surpresos, como se não esperasse pela pergunta
repentina.
― Ele morreu.
Balanço a cabeça.
― O que fez com-com ― gaguejo ― o corpo?
― Eu não preciso fazer nada quando se trata de uma carne podre e
ossos fracos. Logo se transforma em comida para urubus ― responde mais
sombrio, e estremeço.
― E os homens bêbados? E o homem do baile? ― minha voz termina
num sussurro tenebroso.
― Não é algo que eu queria compartilhar.

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― Todos da casa sabem sobre você?


Ele parece cansado das minhas curiosidades, deslizando seus longos
dedos entre seus cabelos.
― Já foi demais por hoje, Mine. Por favor...
― Estou tentando entendê-lo ― explico. ― Eu praticamente vou
morar com um...
― Eu só quero que me deixe em paz! ― Ele me interrompe antes que
eu termine.
Sua voz firme faz meu coração saltar assustado.
― Somos dois, Johnatan ― seu nome sai com firmeza, fazendo-o
piscar em surpresa. Com mal humor, eu me afasto.
Ao retornar para o quarto, imagino que a cama deva ser a sua, encaro
tudo ao meu redor de cara feia, recolho minha rosa e meu bilhete no
travesseiro. Para minha sorte, abro a porta certa e dou de cara com seu
corredor privado.
Caminho duramente para fora do quarto e desço as escadas irritada.
Vejo James entrar na sala e me olhar preocupado.
― Mine ― ele me chama, caminhando em minha direção. ― Você
está bem?
― Sim, eu acho ― minha irritação o deixa surpreso.
― Aconteceu alguma coisa?
Eu não deveria descontar minha fúria em James, sorrio com tristeza.
― Só preciso do meu pai ― encolho-me e sinto suas mãos em meus
ombros.
― Foi por isso que saiu correndo? ― ele pergunta e aceno.
― Não gosto de me sentir presa, James, e parece que o senhor
Makgold gosta de manter todos na escuridão. ― É impossível não sentir
repulsa só em mencioná-lo.

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James suspira e me abraça. Aperto meu rosto em seu peito e sinto


seus braços gentis me acolherem.
― Onde você achou essa rosa? ― sua pergunta me pega de surpresa.
Inspiro fundo.
― Eu achei no quarto de cima e a peguei para mim. ― Não sei se
estou mentindo ou dizendo a verdade.
― É claro ― ele ri e acaricia meus cabelos.
― Parece tão óbvio assim? ― murmuro em seu peito.
― Há várias rosas no campo. Estão distantes. Qualquer dia te mostro,
é uma imensidão vermelha. Donna colhe algumas e coloca no quarto do
senhor Makgold ― revela e escuto o sorriso em sua voz.
É bom conversar com James, não pela forma de mentir, isso é algo
imperdoável, mas como ele consegue mudar o rumo da conversa sem me
deixar desconfortável, sorrio.
― James!
Nós nos assustamos ao escutar a voz grossa e irritada de Johnatan.
Quando olho para cima, ele está elegante em um terno cinza sob medida e
sem gravata. Seus olhos estão como gelo e sua mandíbula travada.
― Sim, senhor ― James se afasta de mim para observá-lo, seu olhar é
mais suave que o de Johnatan.
― Peter já preparou o carro? ― ele pergunta ainda frio, descendo as
escadas e me encarando.
― Sim, senhor, vou chamá-lo ― meu amigo responde e sai da sala.
Johnatan para à minha frente me avaliando enquanto fecha seu paletó.
― Acho que você já deve saber que namoricos em ambiente de
trabalho são inaceitáveis ― seu tom é ainda mais obscuro.
― James é só um bom amigo ― rebato.
― Que continuem assim ― ele murmura e me distraio com sua

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vestimenta formal perguntando-me onde vai.


― Vou para o meu quarto ― murmuro carrancuda.
Viro-me caminhando para bem longe dele antes que minha raiva
cresça. Nunca me senti tão nervosa como nas últimas horas e a única coisa
que quero agora é dormir e tentar apagar as imagens da minha mente.

No meu quarto, a antiga rosa está murchando e não me importo, troco


a água do copo e junto a segunda rosa. Guardo o bilhete em minha gaveta e
faço uma careta me perguntando por que guardo isso em vez de jogá-los fora,
mas os deixo ali.
Quando termino meu banho, coloco minhas roupas de dormir. Depois
de escovar os dentes e trancar bem a porta, enfio-me debaixo das minhas
cobertas encarando a parede cristalizada, concentrando meus pensamentos
em cada cor diferente que vejo na tentativa de ignorar a voz grossa com leve
sotaque em minha cabeça: Porque você faz parte da minha vida agora. Eu
não sei o porquê dessas palavras, nem do seu humor e agora não sei por que
estou com um maldito sorriso estúpido no rosto, permaneço assim até o sono
profundo me consumir.
Parece questão de segundos e abro meus olhos assustados ao escutar
um pescoço sendo quebrado. Sigo às pressas para o banheiro e lavo meu
rosto. Encaro-me no espelho, vendo-me corada com os olhos cinza febris e os
cabelos castanhos bagunçados. Ainda me sinto cansada com meus
pensamentos em Johnatan, eu preciso andar, o quarto parece sufocante para
mim e toda aquela cena parece sempre se repetir em minha mente.
Pelo relógio da sala de entrada vejo que são quase quatro da manhã, a
casa é iluminada por algumas luminárias de parede em luzes suaves. Ao
mesmo tempo, estou atenta aos lugares caso o encontre.
Reviro meus olhos pensando que ele já deva estar dormindo, quando

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saiu, acho que foi resolver alguns problemas em sua empresa. Arrepio-me ao
pensar que sejam outros problemas como assassinatos. Assustada, decido
voltar meu caminho para meu quarto, mas antes que eu vá longe demais,
escuto a porta da sala ser aberta e me escondo próximo ao corredor para
espiar.
Eu o vejo fechar a porta com o pé e caminhar exasperado em direção
às escadas com seu paletó cinza em suas mãos, ele parece cambaleante. Antes
de subir, vejo sua cabeça girar em minha direção e me escondo no escuro.
Para minha sorte, ouço seus passos pesados nos degraus e suspiro de alívio.
Ele parece cansado. Pergunto-me se bebeu demais e por onde esteve
durante toda a noite. A lembrança do tiro em sua perna dias atrás me faz
estremecer, mas ele não está tão cambaleante como antes. Volto para meu
quarto na ponta dos pés e tranco a porta. Talvez meus pensamentos dele ter
ido para mais uma de suas caçadas não estejam no caminho errado.
Choramingo. Não, eu não quero ficar aqui.
Enfio-me novamente em minhas cobertas, cobrindo-me por inteira.
Ele pode estar trabalhando para alguém, é um matador de aluguel ou um
psicopata. Meus pensamentos não me levam a lugar nenhum, minha
curiosidade está cada vez mais insuportável, mas não quero correr sem antes
saber os porquês. Fecho meus olhos e aperto a coberta em meu corpo.
E nas próximas horas é como se acordasse a cada cinco minutos. Os
sonhos ruins não facilitam, nem mesmo Johnatan Makgold com todo seu
corpo másculo quebrando meu pescoço ao disparar numa voz fria:
― Minha Mine!
Sua voz é tão sombria e tão potente que abro meus olhos em lágrimas
pela milésima vez e, em todas elas eu prometo a mim mesma que não irei
dormir, mas sou incapaz ao ser arrastada para os pesadelos novamente.
Acordo com minhas pálpebras pesadas me deparando com a leve

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claridade invadir meu quarto, levanto-me sentindo meu pescoço e costas


doloridos. Não quero retornar aos sonhos e caminho para o banheiro,
escovando meus dentes e penteando meus longos cabelos antes de prendê-los
em um coque frouxo. Pelos meus olhos preguiçosos posso ver que não tive
uma boa noite de sono e me levo a pensar que não quero ficar aqui parada
durante o pouco tempo que tenho.
Depois de lavar e secar o rosto, saio do quarto agradecendo o
amanhecer. A primeira coisa que faço é ir para os fundos da casa e caminhar
pelo campo aberto como no dia anterior.
Inspiro o ar puro como se aquilo limpasse minha alma. O dia ainda
parece adormecido e caminho em direção à cerca, a fim de ver Hush em
treinamento.
Para minha surpresa, Johnatan está lá vestido com seu jeans, botas
escuras e camiseta branca justa, que revela a maior parte de seus músculos.
Está próximo ao celeiro e me mantenho o mais distante possível, assistindo-o
abrir ainda mais as portas da cerca. Logo Hush aparece glorioso com sua
pelagem negra brilhante, ao seu lado, Sid, branca e imaculada com os olhos
negros fixos à frente, assim como Hush. Eu assisto Johnatan atento a eles e
tenho uma boa visão do seu corpo largo, de costas.
Lake surge ao lado de Sid, ele move a cabeça como se tivesse
distraído e lembro-me do que James disse sobre seus treinos. Permaneço no
meu lugar tentando me esconder atrás da cerca, apenas espiando.
Johnatan se posiciona de maneira reta com as mãos atrás das costas,
olhando-os como um domador.
Fico maravilhada quando Hush se reverencia para Johnatan como fez
comigo, mas parece ainda mais curvado. Sid faz o mesmo, de maneira mais
educada e elegante, esticando suas patas e curvando sua cabeça com
facilidade. Em seguida, Lake me faz sufocar uma risada ao se atrapalhar com

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suas patas. Johnatan passa por eles se aproximando de Hush e colocando sua
mão em sua cabeça.
Observo-o dizer algo para Hush, que logo se levanta numa postura
mais rígida e reta. Johnatan faz o mesmo a Sid, que parece se curvar ainda
mais pelo seu toque ou suas palavras, seus olhos se fecham. Sinto a agonia e
a curiosidade em meu peito para saber o que Johnatan murmura. Ele não
acaricia somente, tocam-nos.
Pisco meus olhos quando Hush move suas patas e corre em disparada
pelo campo, dessa vez mais bruto e violento. Quando Sid se levanta, eu a
encaro curiosa e ainda mais impressionada ao vê-la correr com leveza e
agilidade.
Com Lake, Johnatan afasta seus cabelos e toca sua cabeça. O cavalo
fica imóvel e solta um suspiro abafado. Quando Johnatan se afasta, seguindo
para o meio do círculo, Lake caminha ao seu lado. Todos eles parecem livres,
não tendo nada que os prendam. Quando Hush e Sid correm ao lado da cerca
onde estou, afasto-me um pouco para não os distrair.
Eu os assisto fascinada, algumas vezes Johnatan move suas mãos
como um comando para eles e tanto Sid quanto Hush mudam o percurso de
suas corridas. A leve brisa parece brincar com os cabelos escuros de
Johnatan, mas fixo em sua boca se movendo. Franzo a testa me perguntando
em como eles podem escutá-lo, imagino que seja para cada um deles, pois
logo Sid se mantém atrás de Hush, ela é muito mais rápida, em seguida, Lake
se junta a corrida.
Ao passar por mim, novamente me afasto, mas com ele não funciona.
Lake para abruptamente ao meu lado, colocando sua cabeça para fora da
cerca tentando me cheirar.
― Lake. Não. Volte ― eu tento afastá-lo sem ser vista. ― Vá para
corrida, Lake... Não ― murmuro.

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― Se quer assisti-los, não precisa se esconder, Mine ― sua voz


grossa me domina e levanto minha cabeça sem jeito.

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8 – PESADELO REAL

Johnatan está escorado na cerca, vejo a leve diversão e suavidade em


seus olhos.
― Me desculpe, não queria atrapalhar ― revelo e me levanto.
Ergo minha mão para acariciar Lake, mas logo congelo ao escutar a
voz de comando de Johnatan. Eu não entendo a palavra, mas a linguagem
grossa e potente me faz estremecer até em lugares proibidos em meu corpo.
Lake o entende e corre junto com os outros.
― Só não o distraia ― Johnatan parece de bom humor.
Escoro na cerca o vendo se abaixar e pegar uma pequena pedra ao
voltar sua posição para o centro. Ele arremessa a pedra para longe e fico
confusa. A cabeça de Hush segue em direção para onde a pedra foi jogada e
corre, saltando a cerca com agilidade, sumindo entre os arbustos. Sid olha
para Johnatan e o vejo acenar com a cabeça. Ela corre ainda mais rápido
saltando a cerca com suavidade, talvez se juntando a Hush para ele encontrar
o caminho.
Johnatan se vira me encarando e logo diz algo em outra língua para
Lake que agora corre sem hesitar. Eu não sei como ele deve estar treinando,
mas arregalo meus olhos quando vejo Lake vindo em minha direção.
Johnatan franze a testa em reprovação e me afasto rezando para que o cavalo
caramelo médio não passe da cerca, mas Lake apenas abaixa a cabeça para
cheirar algo no chão e abocanha uma pedra. Ele volta para Johnatan e coloca
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a pedra próximo aos seus pés.


Aperto meus lábios para reprimir a risada e Johnatan me encara
surpreso e fascinado com alguma coisa. Lake volta a correr saltitante e não
consigo evitar minha pequena risada. Ele realmente é lesado.
― Está achando engraçado? ― Johnatan pergunta e o assisto
deslumbrada por seu leve sorriso.
Nunca o vi sorrindo. São dentes brancos e perfeitos, aquilo parece
fazer seu rosto se iluminar. Inspiro profundamente, sentindo o ar preso em
meus pulmões. Ele se aproxima de mim se encostando na cerca e assistindo
Lake correr.
― Você os está treinando para pegarem pedrinhas? ― pergunto
analisando seu perfil sereno e másculo: nariz reto, lábios carnudos e
mandíbula perfeita coberta por uma barba rasa.
― Acha que os treino feito cachorros? ― indaga me olhando e
inclinando sua cabeça com um leve e incrível sorriso torto.
Pisco desorientada sentindo minha garganta seca.
― E o que está treinando?
― Suas audições. Quero que escutem o mais distante possível, desde
os mais altos barulhos até os mais baixos ruídos ― explica.
― E por que está fazendo isso?
― Porque sei que eles são capazes ― revela relaxado e o assisto
sussurrar para Lake em outra língua.
Lake salta a cerca e corre livremente pelo campo.
― Eles entendem ― murmuro surpresa.
― Sim. ― Vejo pelo canto do olho sua cabeça virada para mim. Coro
ao imaginar que agora ele está me estudando.
― Menos eu ― murmuro. ― Que língua é essa?
Seu sorriso torto se abre e devo me lembrar de como respirar. Encaro

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sua boca esculpida e torço meus dedos os impedindo de se levantarem para


deslizarem em sua barba rasa.
― Russo.
Pisco chocada.
― Eles entendem outra língua em vez dessa?
― Um pouco ― diz com uma careta. ― Mas o russo é o mais
apropriado.
― Onde aprendeu russo?
Seu sorriso tranquilo some e quero me chutar.
― Acho que todos já acordaram ― ele me ignora e franzo a testa. ―
Você precisa se alimentar e parece que não descansou bem.
Seus olhos penetrantes me avaliam e noto um leve corte acima de sua
sobrancelha direita.
― Você não foi a um jantar de negócios ou coisa do tipo, não foi? ―
indago antes mesmo de me deter.
― O que te faz pensar essas coisas negativas sobre mim? ― contra-
ataca mais próximo e congelo.
― Seus machucados e cicatrizes ― afirmo.
Seus olhos se suavizam, mudando para algo mais impenetrável como
chamas azuis, encaro seus lábios, sua respiração se altera.
― Você é teimosa.
― Só estou tentando te entender e está sendo bem difícil ― confesso.
― Será mais fácil você se manter distante de tantas perguntas e
imaginações. ― Suas palavras deveriam me enfurecer.
― É! Eu sou teimosa ― concordo de cara feia e me viro para não ver
seu estúpido sorriso vitorioso. ― Pode fazer uma coisa por mim?
Olho para trás o vendo me observar com cautela.
― O que quer? ― É a segunda vez que diz isso e sua maneira

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cautelosa deveria me fazer rir.


― Tente descansar.
Não sei por que eu disse isso, mas parece que ele é muito exasperado.
Não quero estar a par sobre seus ataques e seria um tormento para mim saber
que os assassinatos da cidade estão ligados a ele.

Na cozinha, fico perdida em pensamentos obscuros com relação ao


senhor Makgold. Jordyn parece preocupada comigo e asseguro que estou
pronta para o trabalho. Não quero ser a preocupação principal e, para minha
sorte, Ian nos distrai com suas brincadeiras junto com James.
Durante a limpeza da casa, mantenho-me em silêncio. Johnatan
parece querer ficar mais tempo no campo e, às vezes, eu o espio quando estou
perto das janelas, vendo-o observar Ian com Lake. Muitas vezes sério, poucas
vezes relaxado, sorrindo suavemente e apenas uma vez ele me pega
espionando. Viro e me afasto de tudo que possa tê-lo como distração.
― Mine! ― distraio-me com Jordyn correndo em minha direção.
Hoje dividimos os lugares para limpeza.
― Oi, Jordyn. Quer ajuda com o chão?
― Não, nada disso ― ela revira seus olhos. ― Seu pai está aqui ―
informa me abraçando e solto tudo que estou segurando em minhas mãos.
― Não brinca! ― empolgo-me.
― Ele está no portão, não quis entrar ― diz confusa e corro para fora
em direção ao portão de aço.
Vejo Donna conversar com ele e sorrio assim que ela me vê se
aproximando.
― Foi bom te ver, Edson ― escuto-a dizer com carinho.
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Olho por trás dela encontrando meu pai.


― Pai! ― digo e praticamente pulo em seus braços.
Como é bom vê-lo!
― Filha! Que saudade ― ele me abraça surpreso e sinto meu coração
se apertar.
― Vou deixá-los a sós ― Donna fala acariciando meu cabelo e
apertando a mão de meu pai antes de se afastar.
Acenamos para ela e olho para meu pai o achando... melhor.
― Oh, papai ― volto a abraçá-lo e toco seu rosto. ― Por que não
veio me ver ontem? Por que não apareceu? ― pergunto preocupada.
Ele balança a cabeça agarrando minhas mãos para beijá-las.
― Você me pediu para descansar, mas eu não consegui. Virei o dia
trabalhando ― confessa e o olho em reprovação. ― Eu sei! Me desculpe!
Você faz muita falta querida, estou preocupado com você nesta casa. Isso
acabou me deixando pior, pensei que se você quer me ver bem, eu devo estar
melhor e trabalhar duro.
Seus olhos cinza demonstram seus sentimentos de culpa. Beijo seu
rosto sorrindo com orgulho.
― Papai...
― Está tudo bem agora. Estou ainda melhor que nos últimos dias. ―
Seu sorriso é juvenil.
― Então, posso ficar mais tranquila ― sorrio. ― Eu iria te visitar
hoje.
Vejo sua testa se enrugar em preocupação.
― Eu ainda penso que você deve deixar tudo isso e voltar para casa
― ele diz acariciando meu rabo de cavalo.
Como me manter firme? As palavras de Johnatan sobre minha
preocupação em relação ao meu pai me cerca. Não deveria me deixar levar

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por isso, mas me mantenho ali. Não posso correr, não agora.
― Pai, está tudo bem. As pessoas aqui são maravilhosas ― revelo
sorrindo e vejo a angústia em seus olhos.
― Não posso lutar contra isso, não é mesmo? ― suspira e o olho com
amor.
― Sou igual a você ― isso o faz rir. ― Você não quer entrar?
Seus olhos cinza olham para trás de mim e vejo seu sorriso
desaparecer aos poucos. Sigo sua distração e vejo Johnatan nos observando
antes de entra dentro da casa.
― Não ― meu pai responde. ― Vim só para ver como você está.
Ainda me preocupo, não confio neste homem. Mas estou feliz que esteja
bem. Donna é uma ótima pessoa e minha cliente de muitos anos, confio nela,
pedi para cuidar bem de você.
Reviro meus olhos sorrindo para ele. Não me surpreendo que conheça
Donna, para mim seria estranho se ele não conhecesse as pessoas dessa
região.
Nós nos despedimos, e, com uma grande dor em meu peito, eu o
abraço, beijando seu rosto diversas vezes e o assisto seguir até sua
caminhonete. A preocupação continua em seus olhos, misturada com tristeza;
engulo o nó em minha garganta, não quero que ele veja a preocupação e o
medo nos meus. Com um suspiro triste, fecho o portão e sigo para dentro da
casa tentando conter minhas lágrimas.
― Como foi com seu pai? ― escuto-o atrás de mim e me viro, ele
está encostado ao lado da porta com os braços cruzados.
Ele havia trocado de roupas, agora está com uma calça de linho,
sapatos e um suéter de gola V azul-escuro, o tecido desenha seu peitoral
musculoso.
― Foi bem ― respondo. ― Mesmo assim eu preferiria vê-lo em vez

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de tê-lo aqui ― murmuro encarando meus dedos e pisco meus olhos na


intenção de afastar minhas lágrimas.
Sinto seus dedos macios tocarem meu queixo suavemente e erguer
minha cabeça para olhar seus olhos. Observo sua testa franzida e os olhos
azuis em preocupação, seu perfume suave me acalma de alguma forma.
― Ele tem telefone? ― pergunta ainda me tocando.
― Não ― respondo com uma careta.
Seu toque se vai e ele acena se aproximando de mim, sinto-me muito
pequena com sua altura.
― Prometo que da próxima vez vou levá-la ― garante encarando
meus olhos.
Fico desorientada.
― Está mesmo falando sério? Sério mesmo? ― questiono em
expectativa.
Seu sorriso suave retorna e sorrio para ele, seus olhos descem para
meus lábios, perdendo o foco por um momento e, em seguida, pisca.
― Se você parar de fazer tantas perguntas, posso fazer isso por você
― diz rouco e estremeço ao escutar o leve sotaque russo.
― Pelo meu pai, faço qualquer coisa ― afirmo.
Novamente sua mão se ergue, dessa vez, para acariciar a maçã do
meu rosto. Fico parada sentindo seus dedos suaves tocarem minha bochecha
com suavidade.
― Isso é bom ― sussurra e acho que as palavras não têm a ver com
os sacrifícios que faço por meu pai.
― Senhor Makgold ― Peter surge fazendo Johnatan se afastar.
― Peter ― responde num tom áspero.
Olho para Peter, vendo-o em suas roupas escuras e o rosto um pouco
envergonhado. Johnatan o encara de maneira superior, e até eu me encolho.

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― O carro está pronto ― Peter informa e Johnatan acena, fazendo-o


desaparecer para fora.
― Eu tenho alguns assuntos da empresa para resolver. ― Ouço-o
murmurar com sua expressão confusa por me dar informação. Eu aceno,
escutando-o murmurar algo em russo enquanto se afasta e, em seguida,
balança a cabeça.
Eu daria tudo para entender o idioma.
Pelo resto do dia meu humor melhora, ajudo Donna na cozinha com
preparos simples. Ao que parecem Johnatan vai jantar fora e afasto meus
pensamentos negativos quanto a isso. Às oito da noite eu o vejo retornar com
seu advogado, Matt Polosh. Ele acena subindo as escadas ao lado de
Johnatan, que mal me olha, ambos conversam sobre alguma fusão.
No jantar me sinto mais cansada. A falta de sono da noite anterior está
me matando. Despeço-me de todos depois de me alimentar e sigo para meu
quarto preguiçosamente.
Após o banho, visto apenas meu camisetão, escovo meus dentes e me
jogo na cama para sentir a maciez do colchão, mas acabo pegando num sono
profundo segundos depois.
Parece que dormi apenas algumas horas e desperto assustada com a
claridade, pisco meus olhos vendo a luz do banheiro ligada. Levanto-me
preguiçosa e apago. Arfo exasperada ao sentir sede e não faço a menor ideia
de que horas são. Devo me lembrar, pela milésima vez, da minha água e um
relógio.
Saio do quarto e piso em algo, abaixo-me para pegar uma rosa e
franzo a testa confusa por ele ter colocado ali. A luz da lua invade as janelas
de vidro da casa iluminando os corredores.
Sigo até a sala da entrada, que como sempre está vazia. Minha
ansiedade em vê-lo como nas outras noites é torturante.

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Depois de ficar mais alguns minutos ali cheirando a rosa, caminho


sem ânimo até a cozinha e travo meus passos ao escutar uma voz angustiada.
Um arrepio me percorre e meu coração dispara temendo que eu esteja em um
pesadelo.
A voz angustiante vem do andar de cima e subo as escadas. São
palavras que não entendo, uma voz ardente, cheia de agonia que me faz
estremecer.
Caminho à procura da sua voz russa e minha respiração se altera ao
chegar ao seu corredor privado. Sua voz está cada vez mais próxima. Sigo até
o final, abrindo uma porta silenciosamente.
O quarto não é o mesmo em que estive. Este é mais aberto com
cômodas extensas e janelas de vidro com cortinas suaves. A luz do luar
invade o quarto, deixando-o num tom acinzentado, algumas das janelas estão
abertas, vejo a brisa da noite balançar as cortinas. Mesmo assim, o quarto
parece abafado para mim, entro sentindo o carpete macio em meus pés.
Meus olhos param na enorme cama à frente: Johnatan está deitado de
bruços com suas costas largas suadas e vestido apenas com uma cueca preta
boxer. Ele se move como se sentisse dor. Seu grito de angústia e o soco no
colchão me assustam. Está tendo um pesadelo, caminho rapidamente para seu
lado, vendo-o arfar e respirar com dificuldade. Seu grito angustiado faz meu
coração se apertar, vejo seu rosto avermelhado se afundar no colchão
enquanto aperta seus dentes com força, as veias do seu pescoço ficam
expostas.
― Não! ― Ele arfa rouco como um choro suplicante.
Quando o vejo socar o colchão novamente, eu me aproximo na
expectativa de acordá-lo e toco seus cabelos úmidos pelo suor. Ele está muito
molhado.
De repente, sou puxada para a cama. O movimento me assusta e me

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vejo por baixo do seu corpo suado, sentindo uma mão em meu quadril e outra
em minha garganta. Com uma mão livre toco seu peito, sentindo seus
músculos rígidos em minha palma e seu coração acelerado. Levanto meus
olhos assustada ao ver os seus abertos e febris, encarando-me como se não
me reconhecesse, mas não sinto medo. Sufoco quando o aperto em minha
garganta se intensifica.
― Johnatan ― eu tento chamá-lo sem tirar minha mão de seu peito.
― Sou eu... Johnatan... Mine... Sua Mine.
Suplico com meu olhar, arrasto minha mão para seu rosto a fim de
afastar o suor de sua testa. Ele inclina a cabeça em minha palma e inspira o
perfume em meu pulso. Seus olhos se fecham e a mão acaricia minha
garganta, arrastando-se por meu braço até alcançar meu pulso.
― Mine ― sussurra como uma oração, fazendo-me arrepiar. Sinto
seu corpo pesado e seminu em cima de mim.
Minha respiração trava quando seu rosto, ainda angustiado, aproxima-
se do meu queixo, sentindo o cheiro do meu pescoço e plantando um beijo
ali. Seus lábios macios queimam minha pele, e sua barba rasa me causa
cócegas suaves. Permaneço parada, deslizando minha mão em seu cabelo
para confortá-lo, seguro a vontade de puxá-lo para mim. Ele volta a inspirar o
perfume em meu pescoço, despertando-me um gemido rouco, e desliza para
baixo, apoiando sua cabeça em meu peito. Seus braços me cercam num
abraço sufocante e muito quente.
Passo meus braços em volta do seu pescoço, apreciando o perfume
suave misturado com seu suor.
― Foi um pesadelo? ― sussurro com minha pergunta idiota. Ele
acena em meu peito. Pergunto-me se tem muitos pesadelos. ― Como é? ―
indago, querendo apenas escutar sua voz.
Sua respiração profunda para, seus braços parecem travarem ao meu

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redor, continuo:
― Talvez posso te ajudar. Eu também tive pesadelos nos últimos
dias...
― Mine ― escuto-o murmurar em meu peito, fazendo meu coração
disparar.
― Sim? ― ofego.
― Silêncio ― sussurra. Inspiro profundamente, um pouco aborrecida
e preocupada.
Observo as cortinas balançarem como distração, sinto-o inspirar,
lembro-me que disse que tenho o perfume de uma rosa, olho para o lado,
vendo a flor próxima a mim, eu a pego, mas também há outras nos jarros no
quarto.
― Era noite ― ele começa, paro encarando seus cabelos. ―
Estávamos todos no jantar em casa, um dia comum, uma noite comum como
todas as outras... Felizes até... Foi tudo muito rápido. Invadiram a casa, eram
cinco homens de roupas escuras e com toucas que mostravam apenas os
olhos. Lembro-me de ter sido derrubado e espancado. O primeiro tiro foi em
meu pai. Eu não pude fazer nada, três deles continuaram me espancando
como se eu fosse um saco de pancadas até pensarem que eu estava prestes a
perder minha consciência... Mas os gritos... os gritos não me deixavam fechar
os olhos, eram os gritos de minha mãe e minha irmã. Eles as machucaram, eu
juro que tentei levantar, mas me impediram. Eu as escutei gritar por mim, por
ajuda, porém não pude fazer nada enquanto era obrigado a vê-las sendo
violentadas na minha frente.
Minha respiração trava enquanto o escuto, suas mãos passam a ficar
em punhos, engulo o nó em minha garganta. Lágrimas caem dos meus olhos,
mas minha dor é incomparável à sua, eu o sinto estremecer e o conforto em
meu abraço.

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― Depois disso, mataram-nas. Um deles se aproximou de mim,


tirando a touca e pude ver seu rosto. Escutei suas falas imundas e voltaram a
me espancar, só que a dor física não chegava nem perto do que sentia por
dentro. Eu era incapaz...
― Johnatan ― arfo, segurando-o mais próximo ao meu peito e o sinto
arfar em lágrimas.
― Ela era só uma criança ― sufoca, fazendo-me chorar.
A lembrança da primeira vez que estive em sua sala de estudos invade
minha mente. Lembro-me do retrato da linda garotinha. Meu coração dói. Oh,
meu Deus!
― Eu sinto muito! ― soluço.
Quando levanta sua cabeça, vejo seus olhos azuis cheios de dor, uma
de suas mãos se ergue para secar minhas lágrimas.
― Agora pode me entender? ― sussurra ofegante. Meus lábios
tremem e balanço a cabeça. ― É por isso que sou assim, Mine. Eles me
transformaram no que sou hoje. ― Seus olhos ficam em chamas rapidamente.
― Eles pensaram que eu estava morto, mas consegui sair a tempo,
abandonando minha família morta antes do fogo tomar conta de tudo.
Respiro com dificuldade, encarando-o. Ele teve um pesadelo real, um
pesadelo que ninguém sabia.
― Pensaram que eu tinha virado cinza, mas estava vivo. Prometi para
mim mesmo que voltaria e que acharia cada um deles. Para matar! Eu queria
vingança!
Seus olhos frios me fazem estremecer.
― Você os encontrou?
― Não ― confessa, deixando-me confusa. ― Eles me encontraram...
Porque eu voltei ― ele me dá seu sorriso sombrio.
― Mesmo assim... Já matou? ― falo quase sem voz.

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― Sim, mas tem sempre alguém vindo. É algo grande que acabou se
tornando minha promessa e minha sentença para sobreviver. Não posso voltar
atrás ― diz exasperado.
― Não gosto de te ver assim ― desabafo.
― A vida me tornou assim. Não sou o mesmo de doze anos atrás. É
por isso que tem que ficar longe de mim.
Suas palavras me atingem por dentro.
― Você não vai me machucar.
― É claro que não ― sussurra.
― E por que quer que eu me afaste? ― indago, olhando em seus
olhos.
― Porque sou um monstro, Mine. Não tenho um coração, tudo foi
arrancado de mim.
― Não ― balanço minha cabeça. ― Não foi...
― Você não deveria estar aqui ― ele murmura, agora confuso. ― O
que está fazendo comigo, Mine?
Afasta-se exasperado. Olho a rosa, puxando-a para mim.
― Você disse que tenho o cheiro dela ― sussurro, colocando a rosa
em meus lábios.
Seus olhos se erguem confusos.
― Sim. Você tem ― afirma com intensidade.
Olho-o mais uma vez quando se aproxima mais. Seu corpo cobre o
meu novamente, suas mãos acariciam meu rosto. Logo o sinto beijar a rosa
em meus lábios. Fecho os olhos, inalando o perfume puro profundamente.
― Mine ― sussurra meu nome, aquecendo-me por dentro.
Suas mãos se movem deslizantes até minha cintura e me arrepio ao
sentir seu toque.
― Sim? ― murmuro em resposta.

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― Isso é errado ― ouço-o, incapaz de abrir meus olhos, envolvida


pelo seu leve sotaque. ― Você é tão linda, tão jovem e pura. Tem um
coração, não é como outra qualquer.
Abro meus olhos encarando os seus, profundos e em chamas. Não sei
o que dizer, apenas o miro com a mesma intensidade, desejando arrancar sua
dor. A rosa é afastada dos meus lábios e ele gruda sua testa contra a minha.
Sinto meu coração bater cada vez mais acelerado quando se aproxima dos
meus lábios. Minhas mãos deslizam por seus cabelos, puxando-os para mim,
noto-o se entregar à magnitude do que sentimos.
Seus lábios são macios e quentes. Seu beijo é como uma súplica
urgente, entrego-me completamente para seu gosto doce e ardente. Quando
sua língua invade minha boca, perco-me, puxando-o mais para perto. Seu
corpo cai sobre o meu e suas mãos se arrastam enquanto me beija na mesma
intensidade até o ponto de gemermos ofegantes. Quando sua boca macia e
tentadora desce para meu pescoço em mordidas leves, sinto suas mãos
apertarem meus quadris, puxando-me para ele, fazendo-me sentir a dureza de
sua masculinidade. Isso desperta o desejo desconhecido dentro de mim.
Oh, droga, não!

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9 – VISITA PETULANTE

Suas mãos fazem minha pele queimar ao senti-las rastejando até


minhas coxas, com agilidade, ele as puxa para sua cintura. Meu corpo parece
responder a todos os seus toques, fazendo minhas pernas se apertarem a seu
redor e sentir seu membro duro apertando meu sexo. Posso senti-lo pulsar lá
embaixo, dando um efeito angustiante em meu ventre, num aperto
desconfortável e doloroso. Minhas mãos deslizam por seus ombros definidos,
suas costas, seus bíceps rígidos e musculosos... Seu gemido rouco faz tudo
dentro de mim se contrair intensamente. Ofego sem conseguir respirar
enquanto ele se apossa dos meus sentidos.
Sua boca é macia e quente, mas também perversa, com sua língua
deslizando pela minha, causando um encontro perfeito. Sinto a necessidade
de desfrutar do seu beijo, já que nunca fui beijada assim, mesmo no baile da
escola, quando fui convidada, nada foi tão quente quanto esse contato, e o
desejo apenas me guia, aceitando suas carícias.
Quando sua mão escorrega por meu joelho, estremeço ao mesmo
tempo em que sua boca desliza por meu pescoço. Abro meus olhos em busca
de foco, encaro o teto acinzentado. É irracional, penso. Não posso, sei que se
eu não parar, cometerei um erro grave. Respiro, sentindo-me sufocada, com
meu corpo tenso e em alerta. A respiração de Johnatan é alta e ofegante.
O que estou fazendo?
Apoio minhas mãos em seus ombros.
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Não, não. Isso é errado, não está certo. O que está acontecendo
comigo?
Empurro-o, fazendo-o parar e se afastar automaticamente. Seus olhos
azuis me encaram confusos. Engulo em seco, alarmada comigo mesma.
Na cama com seu chefe, Mine? Que desastre!
― Mine? ― murmura como se acordasse de um sonho.
Seus cabelos úmidos estão caídos para frente. Ele se apoia no colchão
e seus olhos nebulosos analisa todo meu corpo.
Mesmo eu estando com meu camisetão, minhas pernas estão expostas.
Desgrudo minhas coxas dos seus quadris rapidamente, sentindo-me
desconfortável com o aperto e a umidade em meu sexo.
Johnatan parece confuso, olha-me diversas vezes, abrindo e fechando
sua boca sem saber o que dizer. Seus lábios estão avermelhados e inchados
por causa do nosso beijo. Encaro-o, esperando sua reação, mas parte de mim
se sente perdida, como se me perguntasse o que acabou de acontecer.
Ligeiramente e de forma desajeitada, eu me movo debaixo dele, em
choque por me deixar levar dessa forma. Ele se afasta, imediatamente pulo
para fora de sua cama a fim de ficar em pé, porém de pernas bambas. Meu
coração acelera, minhas bochechas e orelhas queimam de vergonha. Não
consigo olhá-lo nos olhos. Serei demitida, com certeza.
Sinto as lágrimas enquanto meu subconsciente me castiga por tal
comportamento inadequado. Preciso correr.
― Mine ― diz com sua voz rouca.
Eu me encolho, odiando a forma como sua voz soa ao falar meu
nome.
― Sinto muito por isso, senhor. Juro que não foi minha intenção ―
disparo quase sem fôlego, aperto meus dedos nervosamente.
― Não era para você estar aqui. ― Certo, seu tom é muito frio.

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― Me desculpe. ― Tento engolir o nó em minha garganta. ― Eu... eu


vou para o meu quarto.
Meus dentes rangem e, antes que ele possa dizer mais alguma coisa,
sigo para fora do seu quarto, praticamente correndo para o meu. Fecho a
porta atrás de mim e choco minhas costas na madeira firme até deslizar para o
chão, respirando diversas vezes.
Eu deveria me manter longe dele, manter minha curiosidade apenas
para mim. Rastejo para minha cama, assombrada com minhas atitudes, sinto
vergonha de mim mesma. Lembrar o seu tom frio de minutos atrás me faz
encolher debaixo do cobertor com meus olhos cheios de lágrimas. Sufoco um
gemido infeliz ao olhar a rosa quase murcha no copo ao lado.
Eu havia esquecido a outra em seu quarto, lamento com dor no peito e
choro ao pensar no que pode acontecer. Minha tristeza se mistura às
lembranças de seu pesadelo, da história de sua família e de seu beijo. Foi um
erro e ele estava certo, poderia me odiar por isso.

No dia seguinte, desperto deparando-me com a claridade em meu


quarto. Pisco, sentindo minhas pálpebras pesadas em virtude do choro
noturno, minha cabeça lateja quando me sento.
Levanto-me minutos depois, vou até o guarda-roupa para organizar
meu uniforme do dia, uma calça linho azul-marinho, uma camiseta branca de
algodão e minhas delicadas sapatilhas azuis. Arrumo minha cama com
esmero exagerado para que os minutos se estendam junto com minha
preguiça para o momento da minha demissão.
Vou para o banheiro, vendo o meu reflexo no espelho. Bochechas
rosadas, olhos grandes acinzentados, lábios levemente inchados... Olhar para
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meus lábios e me recordo dos seus macios, quentes e urgentes. Sinto até
mesmo a presença do hálito suave, ardente e intenso. Balanço a cabeça,
afastando-me do pensamento e do desastre.
Dispo-me e vou para meu banho a fim de descarregar todo o peso do
meu corpo.
A cascata de água quente correndo por minha pele não ajuda, lembra-
me de suas mãos deslizando pelas laterais do meu corpo até puxar minhas
coxas para seus quadris e acariciar meu joelho enquanto sua boca desliza por
meu queixo, descendo por meu pescoço. Eu me irrito comigo mesma por
deixar meus pensamentos me levarem e fazerem minhas coxas se apertarem.
Pego meu sabonete, esfrego meu corpo com força, engolindo as lágrimas de
decepção.
Depois do banho, escovo meus dentes, penteio os cabelos molhados,
prendendo-os com uma delicada presilha no alto da cabeça, deixando-os
soltos para que sequem naturalmente. Caminho para o quarto nua e visto
minhas roupas de trabalho.
Uma batida na porta faz meu coração saltar em desespero, olho para
os lados, buscando alguma forma de me esconder. As batidas são insistentes,
encolho-me. Não estou pronta para ver seu rosto logo de manhã.
Sacudo a cabeça e respiro desanimada. Abro, olhando
cuidadosamente, suspiro aliviada ao ver Jordyn sorrindo.
― Oi ― cumprimento sem jeito.
― Bom dia, Mine! ― Ela graceja. Suas roupas são quase as mesmas
que as minhas e seu cabelo caramelo está preso em um rabo de cavalo. ―
Posso entrar?
Noto que seguro a porta como uma barreira protetora.
― Claro ― aceno, deixando-a passar.
Ela assovia olhando em volta.

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― Belo espaço ― elogia, pulando para se sentar em minha cama.


― Todos já estão acordados? ― pergunto, vendo-a se distrair com a
parede de vidro cristalizado.
― Sim ― responde. ― Eu aproveitei que estava por perto e vim
chamá-la para o café da manhã.
Sorrio em agradecimento.
― Espero que tenha muito trabalho hoje ― murmuro.
― Isso nunca faltará ― ela sorri me observando. ― Você parece
cansada.
Se cansada fosse o pior dos meus problemas, eu estaria satisfeita...
― Não. Estou apenas... ― suspiro pensativa. ― Carregada.
Carregada de imagens assombrosas, revelações, e o pior,
sobrecarregada por beijar meu chefe de olhos de chamas azuis.
― Podemos sair neste fim de semana se você quiser ― ela opina.
Franzo a testa.
― Não foi você que disse que não temos folga? ― pergunto confusa.
Ela cora e me encara.
― Isso não quer dizer que não podemos dar uma escapadinha durante
a noite ― revela sussurrando. ― Nos fins de semana, o senhor Makgold não
costuma voltar para casa.
― Então, você foge para se divertir? ― pisco incrédula.
― Eu gosto de me divertir de vez em quando e sei que você também
está precisando.
Balanço minha cabeça.
― Eu não preciso disso por enquanto ― resmungo.
Ela dá de ombros.
― Tudo bem, mas se mudar de ideia... ― sorri amigavelmente.
― Obrigada ― agradeço pelo fato de tê-la como distração para os

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meus problemas.
Jordyn se levanta, puxa minha mão e me arrasta para fora do quarto.
― Agora, vamos. Estou morrendo de fome.
― O senhor Makgold já acordou? ― pergunto ao passar pela sala e
encarar o segundo andar.
― Sim ― responde. ― Treinou mais cedo os cavalos e já saiu para o
trabalho.
Franzo a testa, mas fico aliviada, sigo Jordyn até a cozinha para o café
da manhã.
― Bom dia, querida ― Donna me recebe com um abraço e me serve
um chá.
Sento-me, sorrindo para todos à mesa. Ian me olha com um sorriso
encantador, acaricio seus cabelos, fazendo-o suspirar. Damos risadas quando
James o distrai roubando uma fatia do seu bacon. Forço-me a comer para me
manter de pé até o almoço. Peter não está conosco, pois tinha saído junto com
Johnatan.

Com o chefão longe, eu posso me mover pela casa tranquilamente e


ajudar Jordyn a limpar os lindos e complicados carpetes. Nós nos dividimos
como no dia anterior, ajudo a encerar o chão em alguns cômodos. Ela parece
ter o fascínio de deixar tudo brilhante, esfregando ruidosamente até que
pudesse ver seu rosto refletido no piso.
No campo, observo James carregar algumas madeiras e caixas
pesadas para o celeiro. Lake está junto com Ian, sempre com seu jeito
brincalhão. Eu encaro o campo, perguntando-me se a família de Johnatan já
viveu naquela imensidão. Ele disse que a casa pegou fogo, estremeço com as
lembranças terríveis.
― Mine? ― pisco vendo James se aproximar com um sorriso aberto.

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― Oh... Oi, James ― respondo distraída, regando as plantas da


varanda.
― Você está bem? ― pergunta. ― Parece distraída.
― Estou bem.
― Se você quiser, pode ficar comigo no celeiro. Vou dar banho nos
cavalos ― ele ri e sorrio com carinho.
― Eu adoraria, mas tenho que ajudar Jordyn. Ela está se matando
com a limpeza da casa.
― Ela parece amar o chão que pisa ― James brinca e o cutuco com
meu cotovelo.
― Ela é uma boa amiga ― confesso com carinho. James acena.
― Bem, já que não vai me acompanhar ― ele se afasta ―, aquelas
crianças me aguardam. Espero que Hush não corra ― ele zomba, assisto-o se
afastar pelo campo.
Com um suspiro, aceno para Ian de longe, retornando para a casa.
Ao chegar à sala de entrada, encontro Jordyn trabalhando com o
carpete da escadaria.
― Como andam as coisas? ― pergunto, vendo-a sentada nos degraus.
― Essas escadas me matam. Eu limpo uma vez por semana, mesmo
assim me sinto morta ― ela diz com um suspiro cansado, assoprando a
mecha do seu cabelo que cai em seu rosto.
Ajudo-a com o pano e o aspirador.
― Você sabe que parece uma maníaca por limpeza?
Ela me olha chocada.
― É claro que não ― diz horrorizada, debruçando-se no degrau para
escovar uma pequena parte do carpete. Ela me olha quando está satisfeita. ―
O quê? Eu gosto dos carpetes cheirosos, limpos e fofinhos.
Sorrio e ajudo sua limpeza na torturante escada até chegar ao chão da

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sala de entrada.
Gosto de me ocupar esfregando com força. É como se eu descontasse
minha fúria em meus braços frenéticos.
De repente, a porta principal é aberta abruptamente, por um segundo
penso que seja ele, mas uma mulher alta com vestido branco e justo, de
cabelos loiros ondulados até os ombros finos, passa pela porta caminhando
confiante pela entrada segurando uma taça de vinho. Levanto-me, vendo-a
desfilar até as escadas com seus saltos agulha, nariz empinado e óculos de
sol. Ela é bonita, franzo a testa ao me perguntar se a conheço de algum lugar.
Olho para Jordyn ainda abaixada e a vejo se encolher. Também me pergunto
que louco desfila por aí com uma taça de vinho.
Para meu espanto, a loura deixa a taça delicada cair sobre o carpete da
escada. O vinho espalha-se por boa parte do tecido, a taça cai no chão de
mármore, transformando-se em cacos.
― Ops! ― escuto sua voz fina e vejo o quanto ela fingiu o acidente.
― Acho que estraguei o seu trabalho duro, caipirinha.
Ela se vira com elegância para Jordyn abaixada aos seus pés, olhando
o local manchado com os cacos de vidro. Os olhos de minha amiga se
levantam e os vejo cheios de lágrimas ao encarar a loira. Meu coração dói por
vê-la naquele estado. Aperto meus dentes.
― Limpe! ― a loira ordena em seu tom nada sutil, meu ódio
aumenta, fazendo meus punhos se fecharem.
Jordyn pisca, engolindo um soluço, e rasteja para pegar os cacos de
vidro. A mulher assiste sorrindo, eu a encaro chocada, vendo subir mais um
degrau para seguir aonde não é autorizada.
Contorno a sala e subo as escadas rapidamente, impedindo-a de dar
mais um passo. Ela para assustada por minha presença à sua frente, retira os
óculos me olhando de cima abaixo. Seus olhos são castanhos, nojentos e

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frios.
― Você não está autorizada a subir! ― disparo friamente, pela minha
visão periférica Jordyn me olha chocada, parando de pegar os cacos.
― E você, quem é? ― pergunta com arrogância, erguendo a
sobrancelha perfeita. ― Não, espere. Me corrijo... Quem você pensa que é
para falar assim comigo?
Tenho nojo de sua voz, é inevitável não fazer uma careta.
― Sou como ela ― eu a encaro. ― E merecemos respeito!
Agora posso ter uma visão mais clara. Ela é a mulher que me demitiu
na festa de máscaras, meu estômago se revira. Era de se esperar tamanha
petulância.
― Eu te conheço de algum lugar? ― analisa-me com decresça.
― E isso te interessa? ― desafio.
― Senhora Banks, ela é nova. ― Jordyn justifica, aperta os lábios
quando a loura se vira para encará-la, mas a mulher logo volta para mim.
Estou um degrau mais alta que ela.
― Não me interessa que essa petulante seja nova. Não esperava que
Makgold pudesse contratar alguém desse nível. ― Encara-me friamente, mas
não me intimido. ― Com certeza, seu chefe não vai gostar nem um pouco do
que está fazendo com suas visitas.
― Desde que elas não sejam mal-educadas com as pessoas dessa
casa, eu não me importo ― cruzo meus braços, bloqueando-a.
― Mine, não ― Jordyn sussurra em aviso. Ignoro.
― Saia da minha frente! ― ela ordena.
― Não! ― rebato naturalmente.
Seus olhos se abrem perplexos.
― Mine ― Jordyn sufoca, mas não tiro meus olhos da loira
perfumada até demais.

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― Só pode subir com autorização do senhor Makgold, caso contrário,


espere na sala ― disparo com ironia, gesticulando meu braço esquerdo para
onde fica a sala de visitas.
― Tenho certeza de que ele me aguarda ― seu olhar frio se torna
mortal.
― Ele não está ― aperto meus dentes. ― E você deve desculpas a ela
― aponto meu queixo para Jordyn.
A mulher se vira para olhar Jordyn e depois para mim. Seus olhos se
abrem ainda mais brilhantes com um sorriso hostil.
― Garanto que seu chefe vai gostar disso.
Seu sorriso se abre ainda mais, sinto repulsa só de olhá-lo. Acho que
por baixo de tanta beleza existe algo muito mais podre.
― O que está acontecendo aqui? ― A voz grossa e num inglês bem
pronunciado me faz congelar. Jordyn lamenta com um olhar, paraliso vendo a
vitória nos olhos da loira.

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10 – FRUSTRAÇÃO

― Acho que você deve tomar certa providência com sua nova
serviçal, Johnatan ― ela diz “toda inocente”, olhando para cima.
― Basta! ― A voz em alerta de Johnatan assusta nós duas. ― Nicole,
agradeceria se você tivesse mais respeito com as pessoas dessa casa.
Ela fica surpresa.
― Querido? Desde quando você se preocupa? ― pergunta
horrorizada.
Quem é ela para chamá-lo de querido?
― Desde que não falte com respeito com nenhum deles ― Johnatan
avisa atrás de mim. ― E foi grosseria da sua parte, senhorita Clark, tratar um
dos meus convidados dessa forma.
Encolho-me. Certo, eu tinha que levar uma bronca mesmo.
― Acho melhor demiti-la ― Nicole diz distraída com suas unhas
bem-feitas.
― Banks, aguarde-me na sala de visitas ― ele sugere, fazendo-a abrir
a boca em choque.
― Como é? ― dispara num tom ríspido.
― Jordyn? ― Johnatan a chama.
― Senhor?
― Arrume uma pá para limpar esses cacos, irá se cortar.
Francamente! ― sugere áspero, ignorando Nicole.
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― Johnatan, o que temos para conversar é urgente ― Nicole tenta


chamar sua atenção.
― Sua urgência pode esperar. A menos que queria se distrair com o
carpete da minha escadaria, fique à vontade ― dispara irônico, deixando-a
alarmada. ― Mine?
Mine? Ora! Quem é Mine?
Faço uma carranca e me viro para olhá-lo parado atrás de mim com
suas mãos nos bolsos da calça escura de linho. Ele fica lindo com o suéter
solto cinza. Seus olhos me observam em reprovação, encolho-me inutilmente.
Ele está intimidante com sua barba por fazer.
― Eu sinto muito ― sussurro. Ele inclina sua cabeça.
Adeus novo emprego.
― O que vai fazer quanto a isso, Johnatan? ― A loira continua ali?
Meus olhos se enchem de lágrimas furiosas por sua voz petulante.
― Mine, venha até minha sala. Agora! ― ordena se virando.
Subo as escadas, ignorando a vitória da mulher.
― Nicole, aguarde-me na sala! ― Johnatan repete sem se virar.
Encaro suas costas largas enquanto o sigo até sua sala de estudos e
entro, olhando os livros.
Assim que ele fecha a porta e segue para sua mesa, tomo uma
respiração profunda.
― Senhor Makgold? Eu juro que não fiz por mal. Eu sinto muito por
tudo que tenha ocorrido. Ela... ela desrespeitou Jordyn e não consegui me
segurar, não tinha como ficar calada. Eu não gosto dela...
― Mine...
― Por favor, tem que acreditar em mim. Ela foi grosseira, eu sei que
isso é imaturo, mas faltar com respeito ao próximo é horrível. Eu não poderia
deixá-la agir daquela forma, derrubando o vinho e tudo mais...

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― Mine...
― E... e-eu preciso do emprego...
― Mine! ― ele me chama com firmeza, fazendo-me calar. ―
Acalme-se. Não vou te demitir. ― Faz uma careta e franzo a testa.
― Então, por que me chamou? ― pergunto apertando minhas mãos.
Ele suspira exasperado, desliza sua mão pela lateral de sua cabeça.
Seus cabelos lisos estão bem-penteados.
― Vou resolver isso depois com Nicole ― revela e continua ― eu te
chamei por que preciso da sua ajuda.
Fico ainda mais confusa.
― Que tipo de ajuda? ― arregalo meus olhos.
Será que é para ser sua cúmplice? Oh, não, não!
― Não é muito ― ele tenta acalmar minha tensão. ― Como pode ver
ao seu redor, há vários livros. Alguns bem gastos... Estou querendo recolhê-
los para doá-los à biblioteca da cidade. Preciso que você os organize para
mim ― diz me observando com cautela.
Meus olhos percorrem a imensidão.
― E como vou saber quais o senhor não quer?
― Todos eles têm datas e autores poucos conhecidos. São livros bons,
mas quero esvaziar alguns espaços ― ele enfia as mãos nos bolsos, nunca
deixando de me olhar.
― São muitos ― murmuro.
― Sim, são dezenas.
― Você já leu todos?
― Sim.
― E qual é o seu preferido? ― questiono. Inclino a cabeça dando-lhe
um leve sorriso.
Noto seus olhos se levantarem e seu sorriso sincero aparecer um

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pouco. Por um momento, vejo-o perdido.


― Tenho alguns ― responde suavemente.
― Fala-me sobre um deles!? ― peço encarando os livros até o alto da
estante.
Ele suspira pensativo.
― O Touro Ferdinando ― murmura ainda absorto.
― Fala sobre o quê? ― observo-o fascinada.
Johnatan parece relaxado, suaviza, então, sua expressão,
acomodando-se em sua cadeira confortável.
― Conta a história de um touro que prefere a vida apreciando o
campo e as flores a ser desafiado para lutar em uma tourada. Isso se reflete no
quanto ele é forte e diferente. Ah, e o mais importante é o desejo de ser livre
― ele suspira.
― E isso qualifica você? ― pergunto admirada.
Ele balança a cabeça.
― Não ― responde e franzo a testa confusa ao encará-lo.
Logo percebo que possa se referir a sua irmã. Permaneço quieta não
querendo lhe encher de perguntas curiosas e tampouco particulares.
― Por que me escolheu para isso? ― mudo de assunto.
― Eu vi e vejo como olha para minha sala ― ele se levanta
contornando a mesa, logo se encostando a frente, cruzando os braços.
O suéter lhe cai bem, evidencia seus músculos dos braços bem-
desenhados. Pisco, olhando em outra direção.
― Na verdade, tudo aqui é incrível ― declaro com sinceridade.
― Bem ― ele me avalia com curiosidade ―, escolha um...
― O quê?
― Escolha um livro para você ― fico vermelha com seu olhar
profundo.

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Dou-lhe um sorriso sem jeito. Meus olhos focam no primeiro livro


pelo qual me interessei. Aproximo-me da estante, puxo-o, admirando a capa
azul e as letras douradas em negrito.
― Espero que não se importe.
Seus olhos estão cautelosos, ele observa minha alegria e pisca confuso
dando-me um sorriso educado.
― Não gosta de romances? ― pergunta, encarando o grosso livro de
medicina em minhas mãos.
― Gosto, mas ainda penso em conseguir ir para a faculdade, quem
sabe me formar em medicina algum dia ― sorrio e vejo seu sorriso se
espelhar no meu. Perco o fôlego ao fitar a fileira de dentes perfeitos.
― Tenho certeza de que vai ― diz. ― Faça um bom aproveito. Ele é
todo seu ― afirma e se vira, retornando para sua mesa e clicando alguma
coisa em seu laptop. ― Comece na segunda. Assim te explicarei com mais
calma como quero que organize a estante.
Abraço o livro acenando.
― Obrigada pelo livro ― sorrio agradecida, coro ainda mais vendo
seus olhos se perderem nos meus.
― Disponha ― logo viro-me para sair da sua sala. ― Mine? ― me
chama e o olho antes de chegar a porta.
― Sim?
― O que aconteceu ontem... ― ele começa lentamente e sinto minhas
pernas começarem a tremer.
― Eu sinto muito ― murmuro vendo seu cuidado.
― Aquilo não irá se repetir ― completa por fim.
Aceno automaticamente, sentindo meu peito se apertar. Abraço o
livro com força e saio de sua sala ignorando-o quando me chama mais uma
vez.

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Quando mal coloco meus pés para caminhar, Nicole surge passando
por mim como um furacão, entrando na sala batendo a porta com força. Olho
com desgosto, mas sigo em frente. Ao descer as escadas, encontro Donna e
Jordyn na sala, o carpete está molhado, mas limpo.
― Ela limpou? ― pergunto olhando o carpete.
― É claro que não ― Jordyn responde chocada. ― O que você fez?
― Querida, tem que lutar contra seus hormônios ― Donna aconselha,
mas não evita sua risada.
― Ele te demitiu ― Jordyn lamenta desanimada.
― Não ― corrijo rapidamente. ― Ele só pediu para organizar sua
sala de estudos na segunda-feira.
As duas se olham surpresas.
― Ele não brigou com você? ― Jordyn pergunta.
― Não.
― E esse livro? ― ela continua.
― Eu ganhei ― sorrio duramente.
― Isso foi sorte. Mas, querida, tente não pisar no mesmo caminho
que a senhora Banks ― Donna alerta beijando meu rosto.
― Farei o possível ― suspiro.
― Vou voltar para a cozinha. ― A gentil senhora se afasta, deixando-
me com Jordyn.
― Você está bem?
― Sim ― ela sorri, surpreendendo-me com um abraço. ― Obrigada
por me defender.
― Ninguém mexe com minha maníaca por limpeza ― brinco
retribuindo o abraço.
― Precisava ver ela esperando aqui embaixo. Foi um tormento.
― Eu sinto muito, mas você não se deve abater por pessoas amargas

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― aconselho sorrindo. ― Agora, vou guardar o livro e já volto para almoçar.

Durante as próximas horas, Donna se ocupa em servir o almoço para


o senhor Makgold e sua ousada visita na sala de jantar. Tive que engoli
minha comida à força, tentando me concentrar na conversa e nas risadas de
James e Ian enquanto Jordyn contava o ocorrido.
Na parte da tarde, encontro Nicole descendo as escadas com seu
sorriso estampado, assim que me vê, o sorriso iluminado se esfria e joga seus
cabelos loiros ruidosamente. Peter a acompanha até seu carro luxuoso, eu a
assisto partir, fazendo uma careta de desgosto. Ao voltar para meu trabalho,
ocupo minha mente com meus afazeres. Horas depois, Donna aparece quando
estou limpando uma das janelas do fundo.
― Mine? O senhor Makgold quer todos reunidos na sala de visita ―
ela informa com um sorriso.
Engulo meu nervosismo e aceno.
― Eu estou indo ― aviso, e Donna se retira.
Respiro fundo diversas vezes antes de seguir meu caminho. Qualquer
coisa que ele queira dizer me leva a pensar em algo negativo. Chegando à
sala, vejo que todos estão em pé, aguardando. Fico ao lado de Peter, dando-
lhe meu sorriso nervoso, encaro o grande sofá de marfim em forma de L
como distração.
― Bem ― escuto-o. Meu coração acelera. Johnatan entra carregando
várias caixas médias e pardas, colocando-as sobre a mesa no canto da sala.
Em seguida, vira-se para nos olhar. ― Primeiro, quero dizer que surgiu um
imprevisto de última hora e hoje à noite terei que ir a um jantar de gala. Se
bem que não é bem um jantar e sim uma reunião com alguns empresários,
então, terei que levá-los como reforços para atendê-los ― ele explica nos
olhando.

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― Como na festa da senhora Banks? ― Donna pergunta.


Johnatan coloca as mãos em seus bolsos, acenando.
― Sim ― responde. ― Mas de maneira mais tranquila, com poucos
funcionários.
― E eu? ― escutamos Ian ao lado de Donna.
Johnatan o olha, levantando sua sobrancelha.
― Você ficará encarregado de olhar os funcionários durante a
movimentação.
― Na cozinha? ― ele pergunta, vejo Jordyn revirar seus olhos e
segurar seu sorriso.
― Exatamente ― Johnatan acena. ― Cuide para que não falte
sobremesa ― ele continua, mas penso que está brincando.
― Com certeza ― Ian garante. Em parte, é bonito ver ambos tão
amigos. Johnatan parece adorá-lo.
― Fora isso, Donna vai estar encarregada das vestimentas para esta
noite e explicará como será a ordem do local. Agora, quero todos reunidos!
― diz exasperado, mas com certo tom de proteção. Em seguida, vira-se para
pegar algumas caixas.
Johnatan se aproxima, distribuindo-as para cada um, quando entrega a
minha, sinto seus dedos quentes tocarem os meus brevemente.
Olhamos confusos para as caixas em nossas mãos.
― Abram! ― ordena quando termina de entregar.
Retiro a tampa firme, dando de cara com um celular delicado, fino e
retangular junto com seus adereços. Cada um tem uma cor diferente, o meu é
branco.
― Legal! ― escuto Ian se agitar.
― Os celulares estão ligados e são de vocês ― encaramos Johnatan
surpresos. ― Tomei a liberdade de registrar alguns contatos para vocês.

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Assim, vocês podem entrar em contato com seus amigos, familiares e


comigo. ― Noto sua cautela ao se referir a si mesmo.
Pego o celular leve, apertando o único botão abaixo. A tela acende,
dando-me uma imagem perfeita de uma rosa vermelha. Eu encaro apertando
meus lábios. Ele não facilita as coisas para mim.
― Para fazer chamadas, basta segurar no número de chamadas
cadastrado. O meu número é o 1. O segundo número está registrado com seus
familiares. Mine, seu pai está registrado no número 2 ― ele me informa
como um profissional.
Fico confusa o olhando.
― Meu pai não tem telefone e nem celular.
― Agora ele tem ― dispara me chocando. ― Peter o entregou nesta
manhã. Assim, você poderá falar com ele todos os dias.
Eu não sei se agradeço ou se fico confusa, mas sabendo que poderei
falar com meu pai, já é o bastante.
― Obrigada ― sussurro embargada.
Não só eu, mas todos estão surpresos e agradecidos. Ian se diverte,
Johnatan acena com um sorriso apertado antes de se retirar da sala.
― Isso é incrível. É de última geração. Nossa! As meninas da escola
vão cair em cima de mim com um Iphone ― Ian se empolga nos fazendo rir.
― Isso foi surpreendente. Agradecemos, senhor ― Donna ri. ―
Agora, vamos voltar ao trabalho. Hoje o dia será longo!
Acenamos e voltamos para nossos afazeres. No final da tarde, Donna
me mostra, em meu quarto, minhas roupas para esta noite. Uma calça social
justa e uma blusa peplum, ambas escuras.
― Vamos usar saltos? ― pergunto, encarando as peças em minha
cama. Donna ri.
― Dessa vez não. Suas sapatilhas estão naquela caixa ― ela aponta.

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Suspiro de alívio. Pergunto-me como ela conseguiu arrumar tudo


rapidamente.
― Obrigada, Donna ― murmuro.
― Não precisa agradecer. Fique pronta antes das oito e prenda o
cabelo num rabo de cavalo.
Fico em meu quarto olhando minhas peças ao descansar minhas
pernas na cama. Pego meu novo celular, sorrindo, arriscando-me a fuçá-lo.
Penso em ligar para papai, mas decido fazer isso quando voltar depois do
jantar. Levanto-me, seguindo para o banheiro a fim de tomar um banho
rápido para tirar o restante do cansaço.
As roupas e as sapatilhas pretas me servem muito bem. Penteio meu
cabelo até o alto da cabeça, prendendo-o.
Jordyn invade meu quarto com seu kit de beleza, prefiro apenas rímel
e gloss.
― Tem razão. Você é bonita ao natural ― ela murmura, concentrada
em meus olhos. Coro. ― A cor rosada nas bochechas lhe cai bem. Eu posso
sentir inveja de você agora?
― Jordyn ― reviro meus olhos.
― Certo, mas seu bumbum fica incrível nessas calças ― ela continua.
― Jordyn?!
― O quê? ― pisca brincalhona. ― Só estou amaldiçoando.
Rimos.
Às oito estamos todos prontos e alimentados. Peter, James e Ian usam
ternos escuros.
― Prontos?
Escutamos Johnatan nas escadas, viro-me e o vejo elegante com um
certo toque despojado. Seus cabelos bem-cuidados, porém ainda úmidos,
como se acabasse de sair do banho, o rosto liso destacando sua mandíbula

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mais forte. Ele usa uma camisa branca com os dois botões de cima abertos,
um paletó escuro fechado e uma calça social escura.
Minha garganta fica seca imediatamente. Seus olhos azuis me avaliam
de cima abaixo, noto seu sorriso contido ao passar por mim. Seu perfume é
celestial, uma colônia pura e suave, misturada com o banho. Eu pisco
algumas vezes atrapalhada, vendo-o se encaminhar para fora. Peter o segue
até seu carro.
― Cavalheiro... Damas ― James pronuncia, dando espaço para mim,
Jordyn, Donna e Ian, a fim de que entremos em uma luxuosa van escura.
A viagem no carro é tranquila. Donna me explica em detalhes como
Johnatan nos chama — balançando os dedos sutilmente — e como devemos
nos comportar diante dos convidados. Eu a escuto atentamente, vendo Jordyn
reclamar com James sobre seu cabelo. Johnatan e Peter foram em outro carro.
Chegando ao lugar, aprecio a enorme e iluminada casa rústica de
concreto e madeira, num estilo clássico. O ambiente espaçoso é cercado por
carros e convidados elegantes passando pelo carpete vermelho, entregando o
convite para o segurança.
Seguimos direto para os fundos onde se encontra a cozinha mais
próxima. Lá há uma quantidade razoável de garçons. As mulheres estão
vestidas iguais e os homens com ternos escuros. Jordyn parece conhecer
alguns e me explica que a maioria trabalha para Johnatan. Fico surpresa por
suas exigências.
Donna nos instrui a organizar as bandejas com canapés, pratos
principais e bebidas. Há algumas cozinheiras, o aroma agridoce é
maravilhoso. Dessa vez, teremos que servir de acordo com os pedidos dos
convidados. Donna é ótima em montar grupos, dividindo as mesas que cada
um irá atender. Fico feliz por Jordyn estar comigo junto com mais cinco
pessoas: três homens e mais duas garotas.

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Às nove em ponto estamos prontos para começar a servir. Eu me


ocupo com a bandeja de bebidas e Jordyn com alguns canapés.
― Boa sorte! ― sussurra para mim.
Saímos juntas, empurrando as portas duplas dando de cara para um
salão extenso e iluminado. As paredes são em tons escuros de madeira
avermelhada, assim como o carpete. Meu local para atender é fácil, consigo
me mover com a bandeja tranquilamente, feliz por não estar de saltos. A
minha primeira mesa é repleta de homens bem-arrumados e educados. Eu os
sirvo anotando rapidamente os pedidos. Não parece ser difícil, não está
lotado, sinto-me cada vez mais à vontade à medida que entrego os pedidos e
os anoto, retornando para a cozinha em vez de vagar pelo salão com a
bandeja.
Os convidados são elegantes, alguns até extravagante. O múrmuro de
conversas e risos ecoa por todo lugar. Alguns dos pedidos são exigentes, mas
nada impossível de serem atendidos.
Trocamos de lugar apenas quando as bandejas estão mais lotadas,
deixando a função do peso para os homens.
― Você pode atender esta mesa para mim, Mine? ― a garota do meu
grupo pede, seu nome é Laura. ― Estou apertada.
Sorrio e aceno pegando suas anotações. A bandeja de bebidas é
entregue rapidamente, alguns copos são de bebidas tropicais.
Caminho para a mesa C ao lado esquerdo. Ela é mais extensa com
mais convidados. Aproximo-me entregando as bebidas com calma. Alguns
são de poucos sorrisos e o meu imediatamente some quando vejo a loira
sentada, olhando-me como um falcão. O homem ao seu lado tem a mão sobre
a dela, penso que possa ser seu marido por causa da aliança brilhante em seu
dedo anelar.
Eu lhe entrego sua bebida, sem lhe dar um sorriso. Ela está elegante

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pelo que posso ver, com um vestido verde-esmeralda justo, os cabelos loiros
presos num coque perfeito. Para meu alívio, ela se distrai com sua bebida e
volta para conversar em particular com o homem ao seu lado.
― Obrigado, querida ― o homem que segura a mão da loira agradece
com um sorriso bondoso e simpático. Sorrio timidamente para ele percebendo
o quão é amigável, pelo contrário de sua esposa Banks.
Evito fazer uma careta e continuo a distribuir. Meu desconforto se
torna ainda pior quando meus olhos distraídos se encontram com os azuis em
chamas. Sua bebida é um whisky, coloco à sua frente sem conseguir
desgrudar meus olhos dos seus.
― Obrigado, Mine ― diz suavemente me fazendo arrepiar.
― Desde quando você agradece a um funcionário, Makgold? ― a voz
da loira me distrai e arrumo minha postura.
― Com licença ― murmuro antes de escutar a resposta de Johnatan.
Caminho rapidamente de volta à cozinha, respirando com dificuldade.
― Como foi? ― Laura pergunta assim que apareço.
Dou de ombros e empurro a bandeja para seu peito.
― Eles são todos seus ― resmungo, retornando para minhas mesas
anteriores.
É impossível não percorrer meus olhos pelo local onde está Johnatan.
Eu nem mesmo sei direito o que anotei no meu pequeno bloco. Antes que eu
me vire para uma convidada, vejo uma mulher morena e elegante com um
vestido cor de pele apertado se aproximar de Johnatan. Ele se levanta com
um sorriso, pega sua mão para beijá-la e a olha por inteiro, como se a
devorasse, a morena não muito alta fica vermelha apenas com o gesto.
Meus dedos se apertam na caneta, meu estômago se embrulha. Em
seguida, vejo-a puxá-la para uma dança no espaço central do salão. Ela
desliza suas mãos para seu pescoço e Johnatan desliza as suas por sua coluna,

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murmurando algo que a faz sorrir feito uma idiota. A música é calma para o
ambiente, mas é gritante para meus ouvidos, junto com as conversas ao redor
e os tinir de talheres, copos e pratos.
― Moça? ― a mulher que atendo chama minha atenção, movo para
ela meus olhos febris por vê-los dançar lentamente, próximos demais.
― Sim? ― controlo minha frieza. A mulher pisca.
― Entendeu o que eu pedi? ― tenta soar gentil, mas está confusa por
eu estar parada ali.
― Perfeitamente ― luto para não olhar para a pista de dança. ― Um
coquetel de frutas ― aceno e me afasto, cerrando meus dentes.
― Mine? Você está bem? ― Jordyn me chama assim que passo por
ela duramente.
― Só preciso de um pouco de ar ― disparo.
Na cozinha, entrego as anotações e caminho até Donna.
― Mine ― ela sorri e me olha confusa. ― Você está bem?
Não!
― Sim ― minto. ― Será que posso dar uma volta? Preciso de ar
fresco. Sinto-me sufocada no salão.
― Esses convidados! ― Donna murmura como se eles fossem
culpados, apenas uma minoria. ― Vá, querida. Quando se sentir melhor,
volte.
Ela aperta meu ombro e agradeço.
Caminho para fora da cozinha como se quisesse correr. Eu não sei o
porquê do meu nervosismo, mas quanto mais me afasto, mais me sinto
melhor.
O ar frio da noite ajuda a acalmar a temperatura em meu corpo. O
lugar é mais tranquilo à medida que a música calma da festa se torna um
sussurro para meus ouvidos. Inspiro profundamente, encarando o céu escuro

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com poucas estrelas. Fecho meus olhos e me abraço distraidamente.


― O que é que deu em você? ― pergunto a mim mesma e balanço
minha cabeça afastando a imagem de Johnatan com a linda e elegante mulher
na pista de dança.
― Não! ― Um grito me faz saltar assustada e abrir meus olhos para
olhar ao redor.
Minha respiração calma se altera. Franzo a testa olhando a pouca
iluminação do lugar silencioso.
― SOCORRO!

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11 – SEM FÔLEGO

Pisco, olhando para a casa, está longe demais para alguém pedir
ajuda. Os gritos parecem ser sufocados, arrepio-me por inteira. Olho em volta
à procura de alguma coisa que me beneficie e encontro uma barra velha de
madeira jogada numa pilha de pallets. Pego-a rapidamente, segurando com
firmeza, sigo para a direita, de onde tenho certeza que o grito veio.
Tento controlar minha respiração entrando num local solitário com
muros e prédios em construção. Caminho pela sombra, observando a fraca
iluminação da rua fechada, seguro a madeira atenta ao meu redor com
cuidado. Ao virar pela próxima rua, no beco, vejo um homem de terno
deitado no chão por cima de uma mulher, cuja boca está tapada pela mão do
indivíduo. Ela geme sufocada, seu vestido está em trapos.
Fico imóvel, aterrorizada, quando o homem move seu corpo
bruscamente, machucando-a ainda mais, eu o escuto arfar e ofegar
brutalmente. Logo, a cabeça da mulher se vira em minha direção e seus olhos
claros se arregalam ao me ver, sua mão esquerda estica para mim como se
pedisse por ajuda. Engulo meu choro e agarro a madeira. Ela chora sufocada,
caminho lentamente, erguendo a barra mesmo estando fraca.
É tudo muito rápido, o homem, alto e bruto, ergue-se rapidamente,
seguro minha respiração e paro ao vê-lo agarrar os cabelos negros da mulher,
puxando-o com força, fazendo-a gritar. Em seguida, ele desliza a faca em seu
pescoço, o sangue espirra com violência. Os gritos cessam engasgados, sua
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cabeça se vira com os olhos alarmados para mim. Solto a madeira com
fraqueza e o barulho chama a atenção do estuprador, que arruma suas calças.
Ele se vira um pouco assustado, olhando-me com os olhos febris.
― Ora! Ora! Acho que minha diversão está apenas começando.
Tremo e congelo dos pés à cabeça quando se levanta, ainda agarrado
com a faca afiada, limpando o sangue em seu terno.
Eu não consigo correr. Não com minhas pernas flácidas, não com os
olhos mortos e esbugalhados de pânico da mulher em minha direção. Sinto
minhas lágrimas, avanço alguns passos para trás, trêmula, quando o vejo se
aproximar com um sorriso sombrio e um gemido de excitação.
Seus passos são largos e rápidos, antes de conseguir chegar tão perto
de mim...
― JOHNATAN!
O homem gargalha e agarra minha mandíbula com força. Aperto
meus dentes para conter a dor. Tento afastar sua mão, mas logo fico imóvel
quando a lâmina se aproxima do meu rosto, acariciando minha pele.
― Vamos ver o quanto você irá gritar ― sua voz é arrastada ―, e
ninguém irá escutar.
Seguro minha respiração quando seu rosto frio se aproxima do meu,
mas logo franze a testa, olha para trás ao escutar uma voz grossa e russa, um
tom tão sombrio quanto a noite escura.
― Está errado. Eu escuto muito bem.
Nunca me senti tão segura por vê-lo, mesmo ameaçador, intimidante e
glorioso com o olhar em chamas... Espere! Ao lado oposto vejo um vulto
negro. A sombra se aproxima, deparo-me com o mais desafiante de olhos
grandes, negros e obscuros. Hush?
O homem olha em direção ao monstro de quatro patas e me solta
assustado quando Hush se empina em suas patas traseiras, chocando-as com

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o chão num baque forte, fazendo o criminoso se afastar ainda mais com o
susto. Em seguida, Hush se coloca à minha frente, erguendo a cabeça para
enfrentar o estuprador. Johnatan permanece cauteloso, olhando as ações do
homem mais velho, que aparenta ser um dos convidados.
― Que merda é essa? Tire esse animal daqui! ― grita alarmado.
Afasto-me, ainda fraca para acompanhar tudo. Hush continua a
encarar, mesmo sendo cego, ele se aproxima em passos lentos, soltando um
ar pesado que me faz estremecer. Escuto Johnatan pronunciar algo em russo,
fazendo o cavalo se afastar brevemente e erguer seu pescoço. Arregalo meus
olhos ao ouvir um grunhido de dor e sei que não são de Johnatan. Merda, ele
está lutando! Ouço passos, socos e a tortura na voz do estuprador.
― Não se preocupe ― escuto Johnatan sufocar. ― A dor é prazerosa,
não é mesmo?
Suas palavras ofegantes são ameaçadoras, os pelos da minha nuca se
arrepiam só de escutá-lo. Caminho até Hush para ver o que acontece. Minha
aproximação chama a atenção do cavalo, sua enorme cabeça vira-se em
minha direção, empurrando-me com seu focinho para me afastar com
delicadeza. Cambaleio para trás confusa, num picar de olhos o vejo correr em
alta velocidade, inclinando seu corpo negro e atropelando o estuprador,
fazendo-o voar para o alto com violência.
Pisco surpresa com Johnatan preparado, conseguindo agarrar a camisa
do bandido antes dele cair no chão e, com habilidade, gira seu corpo e ergue
seu pescoço. O rosto do estuprador está cortado em todas as direções,
pergunto-me se Johnatan fez aquilo com a faca afiada. Para meu espanto,
Johnatan injeta uma seringa no pescoço do homem, que cai ao chão quando
meu salvador o empurra e coloca a seringa em seu paletó amarrotado. Os
gritos do estuprador ecoam, fazendo-me querer tapar meus ouvidos para não
escutar sua tortura.

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Fico paralisada, olhando tanto ele quanto a mulher jovem, a imagem


dos dois me deixa apavorada.
Após falar algo em russo para Hush, que corre para longe com o
comando, Johnatan caminha em minha direção em passos largos e duros, com
os olhos frios. Assim que se aproxima, sinto a lufada quente de sua respiração
exasperada. Eu permaneço parada, encarando os corpos, escutando os gritos
agonizantes do estuprador, que se treme em convulsão.
Johnatan puxa meu braço com força, arrastando-me para longe, olho
para trás ainda os vendo. Percebo que Johnatan usa luvas de couro, mesmo
assim, sinto suas mãos queimar.
Tropeço em meus pés sem conseguir acompanhá-lo. Quando estamos
longe o bastante, quase próximos ao evento, ele me gira bruscamente para me
olhar.
Seus olhos em chamas estão frios e suas narinas contraídas ao sugar a
respiração com força. Ele tira as luvas e me abraço, o ar frio me deixa ainda
mais trêmula.
― QUANTAS VEZES EU TENHO QUE TE PEDIR PARA FICAR
ONDE TEM QUE ESTAR?! ― indaga. Apenas o encaro. ― Mine, sabe o
que poderia ter acontecido? Eu não gosto nem de imaginar! Você nunca se
afasta do perigo e tenho que ficar feito louco por aí atrás de você! QUANDO
VAI APRENDER A ME ESCUTAR PELO MENOS UMA VEZ NA
VIDA?! ― grita livremente, encarando-me com frieza. Seu rosto está corado
pela raiva.
Sua fúria é a pior de todas que já vi, mas não consigo sentir
absolutamente nada, somente meu coração acelerado e meus olhos vidrados
para o nada.
― Vamos voltar para o maldito jantar! ― Ainda dispara nervoso e
localizo a veia pulsante em seu pescoço corado.

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Ele se vira duramente, deslizando suas mãos em seus cabelos para


colocá-los no lugar. Encaro o chão, sem conseguir me mover. Meus dentes se
batem, meus lábios tremem ruidosamente, sinto minha respiração acelerada
demais e isso não ajuda.
― MINE?! ― me chama exasperado, e levanto meus olhos, vendo-o
me encarar.
Algo em minha expressão faz seus olhos suavizarem com urgência e
se volta para mim.
Aproxima-se, inspirando desconfortavelmente. Logo abre seu paletó,
retirando-o, permaneço parada quando cobre meu corpo com sua roupa. E,
sem nenhum esforço, puxa meus braços para serem enfiados na enorme peça.
Assim que termina, inspiro a fragrância suave de sua roupa. Seus olhos me
observam preocupado.
― Está tudo bem, Mine ― garante, observando meu lábio ainda
tremer. ― Ninguém vai machucá-la.
Ele me observa por um tempo, engasgo sem conseguir dizer nada ao
sentir as lágrimas quentes escorrerem por minhas bochechas. Sua mão toca
cada lado do meu rosto para secar meus olhos.
― Tudo bem ― repete suavemente. ― Sinto muito por tudo. Eu juro
que não queria que passasse por isso.
Parece infeliz e continua a secar minhas lágrimas insistentes. Vejo a
culpa e o desespero dentro dos seus olhos. Seu polegar desliza por meu lábio
inferior trêmulo, acariciando-o. Sem notar seus atos, ele se aproxima e inspira
meu perfume.
Seus olhos fixam-se nos meus e, por um breve momento de desespero
e pavor, esqueço-me de tudo ao encará-lo com intensidade.
― Mine ― sussurra meu nome balançando a cabeça, e sou
surpreendida quando seus lábios se grudam aos meus.

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Fecho meus olhos, inspirando o perfume mais vivo em sua pele.


Desfruto de seus lábios macios e delicados sobre os meus, abrindo-os para
sua língua invadir minha boca, aquecendo meu corpo. Meu coração acelera e
tenho a reação das minhas mãos se afundando em seus cabelos. Suas mãos
acariciam meu rosto, mantendo-me próxima. Inspiro e gemo
involuntariamente no beijo intenso, o que o faz deslizar uma de suas mãos em
minhas costas, abraçando-me. Sinto seu corpo quente e forte.
Abro meus olhos vendo seu rosto terno, os olhos fechados. Ele é lindo
e está me beijando com delicadeza. Isso é...
Eu o empurro.
― Não! ― sussurro com fraqueza.
Seus olhos se abrem surpresos. A língua desliza por seu lábio inferior
com a expressão confusa... É sexy vê-lo embriagado com um simples beijo.
― Nossa! ― murmura rouco e sem fôlego, como se apreciasse o
momento.
Meu corpo volta a reagir e aponto para ele ou tento, pois, seu paletó
cobre minha mão.
― Você disse que não iria se repetir. ― Agora eu estou sem fôlego.
― Eu disse? ― dispara confuso e balança a cabeça. ― Sim, eu disse.
― E você está se aproveitando da minha fraqueza ― acuso.
Seus olhos embriagados se voltam para mim em alerta.
― Está errada, Mine ― seu tom agora é ríspido.
― É mesmo? ― falo com ironia, cruzando meus braços. Seu paletó
me faz sentir ainda menor.
― Mine, você está... Estava em choque. Eu... Eu só me deixei levar
― pisca surpreso e levemente confuso.
― Vou ser franca com você ― encaro-o. ― Eu não sou que nem as
outras como você disse e isso eu entendi. Nem mesmo sou como aquela

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morena elegante que se rende aos seus pés. Isso é completamente errado e
sabemos disso ― disparo, enfrentando-o.
― De toda a situação que é para se preocupar, você está falando sobre
isso? ― também me enfrenta com seu peito erguido. ― E é claro que você
não é igual a elas! Que inferno!
Ele está exasperado, correndo suas mãos dos seus cabelos até o rosto.
― Espero que isso esteja claro ― aviso.
― Mine... ― observa-me seriamente. ― Você é terrível ― desabafa,
e o olho incrédula.
― E você, um grosso!
Sua sobrancelha grossa se levanta.
― Eu não vou lutar com você, Mine ― diz erguendo suas mãos
rendidas.
― Ótimo ― dou de ombros. ― Porque não sei lutar ― faço uma
careta.
Ele se ergue com sua postura reta e me olha brevemente sério, mas
logo fica confuso quando movo minhas mãos tentando mostrá-las fora do
paletó, um pouco atrapalhada, e lhe dou um tapa em seu peito. O gesto é
fraco e estúpido. Sua sobrancelha se levanta.
― Isso é para você ficar longe de mim. Estou em choque com tudo
que aconteceu ― digo irritada e passo por ele sem olhar para trás.
― Mine! ― O escuto grunhir atrás de mim e aperto meus lábios me
afastando. ― MINE, SERÁ QUE DÁ PARA ME ESCUTAR?!
Sua voz firme me faz virar e encarar seus olhos azuis. Aperto meus
dentes, nervosa.
― O que você quer, Johnatan? ― questiono com raiva.
A frieza em minha voz o pega de surpresa, e espero sua resposta
enquanto seus olhos perfuram os meus.

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― Você!

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12 – CONFISSÕES

Meu coração acelera e minha respiração trava só de olhar as


profundezas dos seus olhos.
― Mine... Eu ― ele parece confuso e um pouco anestesiado, assim
como eu.
Pisco entorpecida.
― O quê? ― minha voz parece inaudível.
Ele me observa alarmado, balança a cabeça tentando afastar seus
pensamentos.
― Eu não quero machucar você ― sussurra com seus olhos em
chamas penetrantes.
Fico confusa, aproximo-me dele para fechar nossa distância.
― E de que forma me machucaria? ― pergunto vendo seu rosto
perplexo.
Ele me encara com intensidade, fazendo meus pelos se arrepiarem,
noto alguma dor obscura dentro dos seus olhos. Ele inspira profundamente.
Sua boca se abre para dizer algo, mas logo se fecha quando somos
interrompidos.
― Johnatan? ― a voz feminina faz meu sangue ferver e me afastar ao
escutar seus saltos atrás de mim.
Johnatan ainda mantém os olhos em mim. Há dor dentro deles.
― Você me deve uma dança ― Nicole Banks anuncia parando ao
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nosso lado me olhando chocada. ― O que o seu paletó está fazendo com ela?
Pisco me esquecendo desse “pequeno e grande” detalhe. Começo a
retirar a peça, mas Johnatan protesta.
― Não precisa, Mine. Fique. ― Suas palavras não parecem ser
mencionadas para a situação, mas imploram por algo a mais. Nicole franze o
cenho.
― Eu já estou melhor agora, senhor Makgold. ― Devolvo, já
sentindo saudade do seu perfume. ― Obrigada!
― Ora! Como sempre um cavalheiro ― Nicole sorri. ― Mas nunca
pensei que seria com alguns de seus funcionários, querido.
Johnatan suspira enquanto meu sangue ferve toda vez que ela o chama
de querido.
― Basta, Nicole ― ele diz firmemente, fazendo seu sorriso
desaparecer aos poucos. ― Eu já estava indo. Por que não escolhe nossa
música? ― sugere.
A simples palavra nossa fez meu estômago se embrulhar, logo o
sorriso da loira surge triunfante. Uau, ele consegue mesmo quebrar um
coração!
― Tudo bem ― ela diz me olhando com desgosto, encaro-a
seriamente. ― Você não vem? ― pergunta se virando para ele.
Johnatan se mantém cauteloso, olhando para ela com um sorriso que
não chega aos seus olhos. Nicole parece não perceber isso.
― Daqui a pouco ― acena. ― Só preciso de um minuto com a Mine.
Tento me focar em outra direção menos neles.
― Certo ― ela concorda, e escuto seus saltos se afastarem.
Suspiro aliviada, vendo-o colocar seu paletó. Johnatan se aproxima de
mim, inclinando-se junto ao meu ouvido. Sua respiração faz cócegas em
minha pele, fico paralisada com sua aproximação repentina.

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― Como vê ― ele inspira ―, posso machucá-la de todas as formas.


Meus olhos ardem em lágrimas, respiro com dificuldade quando ele
se afasta. Viro-me, vendo-o entrar novamente na casa. Aperto meus dentes ao
pensar em sua dança com a loira. Eu não deveria me sentir assim em nenhum
momento, mas sua forma intimidadora me faz querer chegar mais perto do
seu fogo, onde eu possa me queimar completamente.
― Mine? ― escuto James atrás de mim e pulo secando a única
lágrima que escorre em meu rosto antes de me virar para ele.
― Oi, James ― respondo vendo seu olhar preocupado.
― Está tudo bem?
― Sim, está ― asseguro. ― Só precisava de um pouco de ar ―
sorrio brevemente.
― Entendo ― ele sorri. ― Não deve ser fácil ficar no meio de tanta
gente assim.
― É ― sussurro mal-humorada. ― Mas tenho que entrar agora.
― Boa sorte. Infelizmente, eu vou ter que ser o chofer e levar um
casal bêbado para casa. ― Sua careta me faz rir e agradeço mentalmente por
isso.
― Boa sorte! ― retribuo.
Sigo para a cozinha olhando em todas as direções. Por mais que me
esforce para esquecer tudo sobre Johnatan, eu não tenho sucesso. As imagens
assombrosas dessa noite ainda me perseguem.
Ao chegar à cozinha, inspiro profundamente. Donna me olha
preocupada, mas lhe dou um sorriso para demonstrar que estou bem. Pego a
bandeja de bebidas e retorno ao salão de cabeça erguida. Não tenho direito de
me sentir chateada, aborrecida, ou mesmo com raiva dele. É esse o meu
pensamento para seguir com meu trabalho sem dar muita importância a seus
gestos e palavras, por mais que isso me deixe nervosa, mas me ajuda a

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manter minha postura rígida na minha tarefa. Entretanto, devo olhar em sua
direção para saber se precisa de algo com seus sinais. Donna disse que ele
gosta de seus funcionários sempre atentos.
Relutante, olho discretamente para sua mesa e lamento surpresa ao
perceber seus olhos fixos em mim enquanto toma seu whisky. Olhos azuis
selvagens e famintos que me deixam desorientada, viro-me fingindo não dar
importância já que ele não fez nenhum movimento para chamar minha
atenção, afinal, em todo caso, eu sou sua funcionária.
À medida que sirvo as mesas, meus pensamentos se voltam para os
corpos do lado de fora, arrepio-me ao me questionar o que pode acontecer.
Todos parecem tão normais, nem mesmo Johnatan parece se importar com o
ocorrido. Por outro lado, Jordyn se mostra cansada e meu coração se aperta
por seus esforços. Sorrio para ela do outro lado do salão para lhe mostrar
solidariedade.
Para nosso alívio, somos dispensados mais cedo assim que o salão
começa se esvaziar aos poucos.
― Graças a Deus! ― Jordyn glorifica se jogando no banco assim que
entramos na Van.
― Hoje foi um dia muito longo ― Donna concorda.
― Posso vigiar por mais tempo ― Ian se agita ao lado da mãe.
Sorrimos cansados.
― Quantos doces esse garoto comeu? ― James pergunta, rindo e
ligando o carro.
― O suficiente ― Donna responde beijando o filho.
Encosto-me no banco próximo à janela, pensativa. No breve
momento, desejo um bom banho e cama. Seria tarde demais ligar para papai a
essa hora da noite, tentarei amanhã de manhã.
Subitamente, a porta da van é aberta chamando nossa atenção, Peter

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entra sentando ao lado de James. Olhamos confusos para ele.


― Você não vai dirigir para o senhor Makgold? ― Jordyn pergunta,
esticando suas pernas.
― Não ― Peter responde colocando seu cinto. ― Ele ficou com o
carro.
Ninguém parece surpreso e não há nenhuma movimentação sobre o
que ocorreu até agora. Remexo-me em meu assento, olho para fora vendo
Johnatan entrar em seu carro conversível e dar partida. Giro meus olhos para
o outro lado ao pensar que deve ter mais alguém dentro do carro com ele,
balanço minha cabeça, luto para que minha atenção esteja na conversa de
todos presentes dentro da van. Sou dominada pela angústia, as lembranças...
Suas formas de me machucar parecem ter efeito, mesmo eu me recusando.
Ao chegar à mansão, sigo direto para meu quarto, acredito que assim
como todos. Ao entrar, já começo a tirar minhas roupas. A ideia de tomar um
banho me desanima, acabo vestindo minhas roupas de dormir. Estou
agradecida pelo celular me mostrar as horas, é realmente tarde demais para
ligar para meu pai, constato relutante. Apago as luzes e me deito, sentindo
meu corpo dolorido relaxar aos poucos. Minha luta em manter meus olhos
abertos é perdida, deixo o sono me dominar mesmo me sentindo amedrontada
com flashs de lembranças de um assassinato horripilante.

Estou sentada em uma mesa de mogno iluminada por velas e cheia de


comida. Sei que não estou sozinha na sala escura, pois escuto vozes ao meu
lado, mas não consigo reconhecer. Os risos e conversas parecem ecos
assustadores no fundo da minha mente. Olho para minha frente, vendo
Johnatan glorioso com seu terno sem gravata com os dois botões da camisa
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abertos. Suas mãos sobre a mesa estão apertadas em punhos firmes, sua
cabeça está abaixada com seus cabelos espalhados para frente, não consigo
ver seu rosto, procuro entender por que ele está assim. Sinto-me presa em
meu lugar quando ouso erguer minha mão para tocar a sua.
― Johnatan ― eu o chamo com esforço. Minha voz parece presa em
minha garganta.
Ele levanta sua cabeça, seus olhos se abrem alarmados e febris.
― Mine, o que está fazendo aqui? ― pergunta com angústia.
Fico confusa, sinto meu corpo pesado não ajudar a me mover. Mãos
frias tocam meus ombros, fazendo-me tentar olhar para atrás sem conseguir
ver seus rostos, todos usam toucas escuras. Olho para Johnatan, encarando
sua cabeça baixa novamente, em seguida, corro meus olhos para mim, vendo-
me num vestido de renda cor de pele com mangas delicadas. Rapidamente
sinto o pânico em meu peito.
― O que você quer, Johnatan? ― pergunto, de repente, mantendo
meu foco em sua direção.
Quando sua cabeça se levanta, vejo os cortes se abrirem em seu rosto
perfeito, seu pescoço começa a ficar arroxeado até rasgar e sangrar. Os olhos
mortos se destacam, sua boca se move deixando o sangue escuro escorrer.
― Você ― diz cuspindo o sangue.
Meu coração acelera e minha respiração se altera em pavor.
― Johnatan ― choro, sentindo uma dor em meu peito.
Estou agarrada a alguma coisa, afasto meus olhos dos seus e me vejo
segurando a faca afiada. O sangue pegajoso está em minhas mãos, choro
desesperada. Eu não fiz isso com ele, eu não sou uma assassina. Ao olhar
para meu lado, vejo o estuprador com seu rosto desfigurado. Quando me
afasto, dou de cara com a mulher que teve sua garganta cortada, os olhos
mortos com um sorriso sombrio. Tento me fixar em Johnatan, mas não

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consigo. Meu grito parece preso e sufocante.


― Mine ― Johnatan me chama e preciso vê-lo. Meus gritos são
forçados até sentir minhas veias estourarem. ― MINE!
― AH!
Abro meus olhos rapidamente quando sinto alguém me balançar.
Sento-me assustada, fazendo meu grito parar ao ver Johnatan sentado em
minha cama. Seus olhos estão preocupados. Olho para minhas mãos, vendo-
as suadas e trêmulas. Quando sinto seu toque quente em meu ombro, afasto-
me.
― Mine ― ele me chama suavemente como se eu fosse algo
quebrável. ― Foi só um pesadelo. Está tudo bem agora.
Afasto meus cabelos do meu rosto suado.
― Sai daqui. ― Não consigo olhá-lo, apenas me encolho como uma
bola.
Escuto sua respiração forte e ofegante.
― Tudo bem ― ele sussurra, e noto a leve dor em sua voz.
O peso da cama muda, logo escuto a porta ser fechada. Olho na
direção em que saiu, suspiro um pouco aliviada. Estou trêmula, amedrontada.
Seco minhas lágrimas rapidamente e vejo uma nova rosa no copo, a murcha
foi retirada.
Saio da cama chutando as cobertas, corro para o banheiro. Amarro
meus cabelos num coque frouxo, lavando em seguida meu rosto corado.
Passo água em meu pescoço, nuca e braços, sentindo-me refrescada. Após me
secar, sigo para o quarto, tirando minha camiseta suada e colocando outra
seca. Pego o celular verificando que são mais de três e meia da manhã.
Encaro a rosa mais aberta, inclino-me para sentir seu perfume puro, porém
intenso.
Com certeza, ele tem a cópia das chaves dos quartos, com essa óbvia

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constatação, pergunto-me onde está minha privacidade. Saio do quarto, tudo


está silencioso, mas a claridade do corredor oposto ao da sala de visita me
chama atenção e caminho até o local.
Johnatan está sentado, bebendo whisky, enquanto mexe em algo na
mesa. Ele está com as mesmas roupas da festa, mas sem o paletó. Sua camisa
branca está aberta e sinto o cheiro de álcool. Ao me aproximar, vejo um
algodão encharcado de sangue. Minha presença na sala chama sua atenção.
― Oi ― ele cumprimenta cuidadoso.
Seus olhos me avaliam, acabo me distraindo com seu peitoral másculo
até onde sua mão pressiona um algodão em sua costela. Fico chocada.
― Você está ferido ― aproximo-me rapidamente.
― Só foi um corte ― diz sem dar muita importância.
O corte parece profundo, questiono-me como isso aconteceu, pois não
parece ter sido provocado por uma faca. Engulo o pavor e puxo uma cadeira
para me sentar próximo a ele. Pego o álcool de sua mão, substituindo pelo
soro em seu kit de primeiros socorros. Com algodão limpo, molho-o e coloco
em sua ferida. Sua respiração altera, olho para cima vendo-o surpreso. Sinto
sua pele quente e suada em meus dedos.
― Não se deve passar álcool na ferida assim ― critico. ― Está
doendo?
Sua respiração sai como uma lufada debochada.
― Eu sei lidar com a dor ― responde. ― É com suas mãos em minha
pele que não consigo lidar. ― Suas palavras me pegam de surpresa, fazendo-
me contorcer na cadeira enquanto tento me concentrar em estancar o sangue.
― Se você puder levantar um pouco mais o braço direito ― peço
distraída. Ele obedece, engulo em seco ao encarar sua musculatura mais de
perto.
Concentro-me apenas em sua ferida, mas sinto seus olhos em mim.

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― Me desculpe ― ele começa e o encaro. ― Por entrar em seu quarto


― explica inquieto, minhas mãos tremem ao trocar de algodão.
― Tudo bem. De certa forma, eu tenho que agradecer por ter me
acordado ― digo apertando o algodão em sua pele, fazendo-o estremecer.
― Na verdade, eu fiquei te vendo dormir cerca de uma hora e meia.
Estava prestes a sair, mas você me chamou ― revela sem tirar seus olhos dos
meus. ― Pensei que estivesse acordada, mas depois vieram os gritos.
Ele parece perturbado.
― Assustei você? ― pergunto.
― Foi desesperador. Desejo que você não tenha mais isso ― ele se
move demonstrando o desconforto.
― Foi um sonho ruim. Todos nós passamos por isso ― estremeço. ―
Não quero lembrar.
― Tenho certeza disso ― fala como se me entendesse.
Evito olhar para seus olhos azuis, concentrando-me em fechar sua
ferida. Na mesa tem o que preciso, sei que ainda me observa enquanto pego
as pinças, a linha e a agulha.
― Vou ter que dar pontos ― informo mostrando.
― Fique à vontade ― sua voz suave com leve sotaque russo me causa
calafrios.
Ele parece não se incomodar quando começo a suturar sua ferida.
Suas leves cicatrizes são incomparáveis a esta, permaneço concentrada, tendo
o cuidado para não o machucar demais.
―Você é boa nisso ― elogia e o vejo sorrir. ― Onde aprendeu?
― Uma vez na aula de educação física, esbarrei numa tela de aço
velha, um aço solto cortou minha perna. Foi profundo, no hospital, eu pedi
para que a enfermeira me ensinasse a suturar. Assim, quando eu me
machucasse mais vezes, não precisaria dos seus serviços. Do jeito que sou

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desastrada, seria útil. Curiosamente, ela foi atenciosa e me ensinou.


― Você realmente é desastrada ― ele me observa. ― Uma
desastrada encantadora.
Coro com suas palavras. A ideia de lhe perguntar quantos whisky
bebeu vem à minha cabeça, aperto meus lábios para esconder o sorriso.
― Na festa, depois que conversamos, você parecia zangada ― engulo
meu nervosismo.
― Eu não devo sentir nada disso ― digo mais para mim mesma. ― O
senhor é meu chefe.
― Essa é sua melhor explicação? ― pergunta quando termino.
― Sim ― respondo limpando seus pontos. ― O senhor é meu chefe,
tem direito de estar com quem quiser. Exceto com sua funcionária. Como
você disse, é errado.
Olho para cima, vendo-o perdido em pensamentos, cubro seus pontos
com um curativo.
― Sim, é errado ― ele confirma balançando a cabeça. ― Mas é
impossível mantê-la longe, Mine ― confessa com um suspiro pesado.
― Eu sou impulsiva ― admito querendo afastar a tensão entre nós
dois e o vejo mover seus músculos assim que termino por completo.
― Você é teimosa ― observa, lançando-me um leve sorriso. ―
Obrigado.
Sorrio me levantando e colocando a cadeira no lugar. Mordo meu
lábio, olhando-o, agora em pé, tirar sua camisa um pouco ensanguentada.
― Onde esteve? ― pergunto não querendo soar curiosa. ― Isso não
parece um corte de faca.
Ele se vira e encaro seu peitoral.
― Eu não gosto de ficar muito em casa e ver a cama esperando por
mim. Não gosto de dormir, o melhor lugar para me distrair à noite são os

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exercícios ou...
― Caçando pessoas ― completo como se o acusasse, meu estômago
se embrulha.
Ele me observa, aproximando-se com um suspiro. Isso o deixa mais
alto e com os músculos tensos.
― Mine, isso faz parte de quem eu sou ― declara olhando em meus
olhos.
― E quanto aos corpos? ― Interrogo. ― O que faz com eles? Porque
parece que você não tem problema nenhum de ser um suspeito. ―
praticamente o acuso.
Seu olhar de reprovação não me intimida, logo inspira fundo.
― Exceto o mais recente, tive que fazer uma denúncia anônima. O
homem era um traficante foragido do Texas, conhecido como Black Jack e
encontrado morto por aqui ― Johnatan me informa automaticamente, como
se aquilo tivesse saído de um noticiário. ― A mulher era uma prostituta que
acompanhava um dos convidados, mas que acabou topando com ele e foi
arrastada para o beco. Odeio pensar no que poderia ter acontecido com você
se eu não chegasse a tempo ― ele murmura com frieza me fazendo arrepiar.
― Como sabia que eu estava lá? ― pergunto temerosa.
― Eu te segui ― dispara, mantendo seus olhos penetrantes em mim.
Continua: ― E aos outros mortos que caço, antes que eles me cacem, eu não
preciso fazer nada quanto a isso. No começo, pensei em me livrar, até me dar
conta de que a gangue finaliza o serviço sem deixar vestígios. Então,
significa que querem se manter longe dos problemas tanto quanto eu ―
explica e fico pensativa.
Ele percebe meu desconforto.
― Estão por toda as partes, se eu não lutar contra isso, acabarei
morto. Não quero isso no momento, não sem antes descobrir o que está

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acontecendo. É algo grande e perigoso, Mine. Estou tentando decifrar onde


estou pisando assim como o porquê de estar sendo perseguido. Não posso
confiar em justiça nenhuma se não na minha.
― Eu acho que você pode ser melhor que isso ― garanto.
― Não é tão simples quanto parece.
― Eu sei, mas tenho todo direito de dizer o que penso. Para mim, isso
é muito errado ― suspiro dando de ombros. Seus olhos azuis parecem se
iluminar.
― Aceito apenas suas opiniões ― declara com um sorriso duro.
― Fala como se eu fosse a única opção ― critico com uma careta.
Johnatan suspira.
― Mine, você é exceção de tudo ― desabafa fazendo meu coração se
aquecer.
― O que quer dizer? ― sussurro.
― Quero dizer que você consegue mover meu mundo mesmo eu
desejando que ele continue parado. ― Suas palavras fazem minha respiração
falhar.
Encaro-o enquanto sua mão se ergue para acariciar minha bochecha.
― Vejo que também está cansada, e eu tenho trabalho a fazer.
Aceno desorientada quando se afasta. Não quero incomodá-lo, não
depois do que me disse, nem mesmo com minha falta de oxigênio. Viro-me
rapidamente e sigo para meu quarto o deixando, sem olhar para trás.
Na cama, agarro as cobertas com receio do pesadelo retornar. Ao
invés disso, tenho a voz de Johnatan suave com o leve sotaque russo em
minha mente. Pego o livro de medicina e me distraio lendo-o. Até chegar a
luz do dia, eu praticamente devorei as páginas, mas não finalizei.
De manhã, a claridade surge suavemente, levanto-me para ter um
longo banho relaxante, cantarolando qualquer música que vem à cabeça na

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intenção de expulsar pensamentos assombrosos.


Visto meu uniforme substituindo minha calça por jeans, escovo meus
dentes, depois penteio meus cabelos molhados, deixando-os soltos. Minhas
pálpebras estão levemente cansadas, mas meu corpo, completamente
acordado. Arrumo minha cama e guardo minhas roupas. Em seguida, pego o
celular e disco o número gravado do meu pai.
― Mine? ― atende ao primeiro toque, sinto o alívio imediato.
― Oi, papai! ― respondo sorrindo.
― Oh, querida! Como é bom ouvir você ― dispara também aliviado.
― Como você está?
― Pai, eu estou bem ― asseguro. ― E você, está se cuidando?
― Sim e tomando os remédios que Makgold me trouxe junto com esse
celular. ― Isso me pega de surpresa.
― Que remédios?
― Os da receita, filha... Eu pensei que você soubesse. Eu... ― ele se
interrompe confuso.
― Não ― pisco. ― Isso foi muito gentil ― tento mudar o rumo da
situação antes que ele proteste.
― Não quero nada dele, mas sei que o celular é uma forma de nos
deixar mais próximos. Agora os remédios... ― eu o conheço bem quando é
teimoso.
― Papai, tenho certeza de que isso será descontado do meu salário. É
por isso que estou aqui. Por favor! Além do mais, vai poder fazer um exame
completo ― insisto.
― Os remédios já estão me fazendo ficar bem, não tem nada de grave
comigo ― reviro meus olhos. ― Eu não queria isso para você. Eu é que
devo cuidar de você ― murmura fazendo meu coração se apertar.
― Eu sei, papai, mas é meu dever neste momento. Tenho que

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agradecê-lo pelos remédios. Eu não sabia ― franzo a testa.


― Já disse que não a quero perto deste homem ― diz firmemente.
Engulo em seco.
― Pai, ele é meu chefe ― explico. ― O que ele fez tem que ser
agradecido ― escuto seu suspiro.
― Que tudo isso seja breve, querida. Assim que eu recuperar, vou
trabalhar duro e você voltará para casa com tranquilidade ― ele desabafa,
mas não quero que ele seja tão duro consigo mesmo, parte de sua saúde vem
do seu esforço.
Eu me pergunto até hoje como papai conseguiu perder tudo. Quando
eu era bebê, ele tinha até mesmo uma loja.
― Sinto sua falta.
― Eu também, papai ― meu coração dói, mas o horário me chama.
― Eu tenho que ir. Te amo muito.
― Também te amo querida, tenha um bom trabalho. Em breve irei
vê-la ― ele promete, posso sentir a tristeza em sua voz.
Desligamos depois de nos despedirmos, guardo o celular no criado-
mudo. Suspiro cada vez mais confusa com Johnatan, questiono-me como ele
sabia dos remédios.
Depois do café da manhã, retornamos para nosso trabalho. Jordyn
parece animada com a chegada do fim de semana, reviro meus olhos. Hoje
decido ajudar Donna na cozinha. Não há muito o que fazer, todos parecem
ainda cansados, menos Ian, que foi para a escola pela manhã com seu novo
celular.
No campo, estou com um cesto colhendo e plantando algumas
sementes que Donna pediu. Alguns tomates e cenouras ainda estão verdes,
pego somente os que parecem mais maduros.
Vejo Hush fora do celeiro, levanto-me encarando-o e sorrindo ao

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mesmo tempo. Parte de mim está agradecida por ele ter salvado minha vida, a
outra parte está fascinada pela forma com que consegue me chocar. Ele fareja
nos arredores, algo entre as folhas das árvores chama sua atenção. Em
seguida, volta a farejar com desconfiança. Logo levanta sua cabeça e suas
orelhas, parecendo assustado. Olho para as árvores, vendo alguns pássaros
brincarem e voarem para longe, mas Hush é diferente. Ele se afasta em
disparada para dentro dos pinheiros.
― Hush ― assusto-me largando a cesta.

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13 – A PARTE DOLOROSA

Eu o vejo correr e o sigo, chamando seu nome.


Longe do campo para dentro dos pinheiros lembra-me uma floresta
tranquila, porém intimidante.
Procuro por Hush e corro tendo certeza de que o escuto. Afasto alguns
galhos que me arranham e localizo uma trilha, sigo até ela, olhando em todas
as direções. O lugar fica mais verde e iluminado por alguns raios do sol. A
trilha dá para uma escadaria de madeira rústica, que desço, inspirando o ar
puro da floresta.
― Hush! ― eu o chamo novamente desejando saber alguma palavra
em russo para que ele me entenda.
Atento-me a um lugar mais iluminado e fico surpresa ao localizar uma
ampla tenda de tecidos brancos à minha frente cercada por árvores.
Sigo até ela tocando o tecido branco sedoso. Entro, encontrando mais
e mais tecidos. Olho para cima, perguntando-me se estão grudados em algum
fio ou se estão pendurados nos galhos das árvores. Afasto-os enquanto passo
por eles e vejo que o céu se abre livremente ao redor do lugar.
― Você nunca fica longe do perigo ― assusto-me baixando meu
olhar ao encontrá-lo.
Ele está com uma calça de linho branca, sem camisa, deitado
confortavelmente numa cama branca e redonda. A pele pouco bronzeada faz
com que seus músculos firmes se destaquem. É espaçoso, ao mesmo tempo
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em que parece pequeno com os tecidos se movendo ao nosso redor por causa
da leve brisa do dia. O chão é coberto por um carpete felpudo da mesma cor.
É como estar no céu.
Johnatan me analisa com as mãos atrás de sua cabeça numa pose
sensual e confortável.
― Eu só vim atrás do Hush. ― Devo-lhe uma explicação.
― Hush está no lago ― ele informa. Pisco confusa. Há um lago aqui?
― Mas ele saiu correndo, parecia assustado ― revelo.
― Hush me escutou, Mine. Ele é atento, não se assusta com nada ―
Johnatan garante num murmuro, noto o quão relaxado está.
― Então, aqui é um lugar para você se distrair também? ― pergunto
olhando os tecidos ao redor.
― Para meditar ― ele me corrige. ― Venha. Deite-se.
Franzo a testa sem entender, vendo sua mão bater no colchão
indicando o seu lado.
― Eu não sei meditar ― digo ainda parada.
― Não tem problema ― ele sorri. ― Eu sei.
― Você é meu chefe.
― Anda ― exige.
Aproximo-me da cama e deito ao seu lado, sentindo como a cama é
macia assim como o travesseiro.
― Isso é diferente. Não sei como ficar ao lado de alguém que medita.
O lugar é lindo, mas acho melhor eu ir. Tenho que ajudar Donna. Não é uma
boa ideia continuar aqui...
― Mine ― ele me interrompe.
― S-sim ― gaguejo encarando o céu azul.
― Silêncio ― ele pede, o espio pelo canto do olho.
É fascinante observar sua forma serena e tranquila sem rugas de

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preocupação. O branco parece combinar com ele. Sua barba está feita,
mostrando sua mandíbula quadrada assim como o queixo levemente pontudo.
Quanto aos seus lábios esculpidos? São uma distração para mim.
― Obrigada pelos remédios ― sussurro sem querer incomodar sua
meditação. ― Pode descontar do meu salário o celular e os remédios. ― É
claro que ele irá descontar. Eu não sei por que continuo falando.
― Mine, acha que me importo com tão pouco? ― dispara, encarando
o céu.
― Mas é o que deve ser feito ― rebato voltando a encarar o céu antes
que meus olhos se distraiam com seu bíceps musculosos. Pela minha visão
periférica, posso vê-lo me encarando agora.
― Isso é o que você diz ― ele fala. Viro minha cabeça, seu rosto está
a centímetros do meu.
Ele se move apoiando o cotovelo no colchão, deitando sua cabeça em
sua mão para me olhar.
― Por que tem esse lugar? Não imagino ser algo ligado a você ―
penso em voz alta.
― É onde gosto de ficar, longe de todos ― responde calmamente. ―
Mantenho minha mente distante. Ou tento.
Seus olhos estão nos meus parecendo analisar cada uma das minhas
feições. Coro.
― Fala como se fosse algo vazio.
― Porque é o que sou aqui ― ele volta a se deitar. ― O vazio ajuda.
É fácil para pensar onde será, quando e como.
Suas palavras me causam calafrios.
― Por que não deixa a justiça fazer isso? ― reclamo de repente.
― Porque a justiça nunca foi ao meu favor. ― Sua voz calma fica
mais fria.

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― O que quer dizer?


― Quero dizer que não confio, inclusive, sei que muitos deles são
culpados.
― Como sabe disso? ― fico chocada.
― Depois que escapei do fogo, fui ingênuo em procurar a polícia.
Eles me olhavam desconfiados, tive que fugir depois de escutar um deles
numa ligação escondida dizendo que tinha me encontrado e que estava vivo
― diz perdido em lembranças com olhos fixos no céu.
― Para onde você foi?
― Para a Rússia ― revela com um suspiro. ― Entrei em contato com
meu único parente vivo, um tio. Irmão do meu pai. Ele me ajudou com as
passagens.
― Você aprendeu russo por lá? ― olho-o fascinada, mas logo fico
confusa quando nega.
― Eu nasci na Rússia. Minha mãe era russa, meu pai britânico.
Viemos morar aqui depois de alguns anos por conta do trabalho dele. E só
retornei para lá ainda adolescente para escapar do pesadelo ― explica
rapidamente. Franzo a testa.
― Mas você voltou ― sussurro.
― Sim.
― Por quê?
― Eles estão por toda parte, Mine. Não tem como fugir e não quero
isso ― ele suspira.
Mordo meu lábio pensativa.
― E por que tudo isso? Por que estão atrás de você? ― engulo meu
pavor quando seus olhos fitam os meus.
― Talvez porque sou o único herdeiro da linhagem Makgold que
restou ― dispara com frieza, os olhos cheios de ódio.

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Sufoco meu pânico.


― Então, é tudo por dinheiro? ― pergunto.
― É mais que isso ― escuto a tristeza em sua voz.
― E o seu tio? ― franzo a testa. Ele é irmão do seu pai. Um
Makgold!
Eu imagino dessa forma, pois a maioria das famílias usam os nomes
paternos, mas sua mãe era russa. Isso me faz perguntar seu segundo nome
russo.
Aperto meus lábios, percebo os olhos de Johnatan congelarem.
― Eu o matei ― arregalo meus olhos, prendo a respiração. ―
Descobri que eu servia para ser sua isca e sua recompensa. Que esteve por
trás do que aconteceu com minha família. Na verdade, ele não era meu tio de
sangue. Foi tudo uma farsa. Se não tivesse feito, nó dois estaríamos mortos
de qualquer maneira.
Solto o ar e engulo o pavor.
― Você não pode parar? ― murmuro com o coração acelerado.
― Eu não posso. Não tem como parar ― dispara ríspido.
― Sei que pode ser tudo muito doloroso ― digo com cuidado. ―
Mas pense que eles podem ter famílias, filhos...
― Eu também tive uma família! ― sua fúria me cala.
― Fala como se estivesse com sede de vingança ― eu o encaro.
― Está certa. Eu estou ― concorda. ― Agora, mais do que nunca.
― Soa como um sádico. Tem que ter um jeito. ― A velha esperança
bate em meu peito.
― Mine ― ele me olha com tanta intensidade que até perco meus
sentidos por um momento. ― Não sabe o quanto é doloroso perder alguém
que você ama. Eu vejo, vivo e revivo as mesmas cenas todos os dias. Essa é a
única parte que me dói. Minha mãe e minha irmã eram tudo o que eu tinha.

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― E o seu pai. Não sente? ― pergunto o olhando compreensiva.


― Sinto o ódio ― dispara me fazendo arrepiar. ― Ódio por ele nem
ter conseguido lutar contra isso, ódio por todos os seus erros os quais não
quero mencionar.
Controlo minha respiração e seguro as lágrimas por vê-lo tão frágil e,
ao mesmo tempo, tão frio. Não quero lhe causar mais dor, isso já foi o
suficiente para mim.
Inspiro fundo.
― Pode me ensinar a meditar? ― quero mudar de assunto para não
ficarmos mais desconfortáveis.
― Se meditar mantiver sua boca fechada... ― Seu humor tranquilo
volta e sorrio. ― Tire os sapatos.
Faço o que me pede e o vejo se sentar.
― Agora, sente-se e cruze as pernas.
Faço o que me pede, sento no meio do colchão como ele, logo cruzo
minhas pernas.
― Não aperte demais ― repreende-me. Um choque me percorre
quando ele toca meu tornozelo fazendo minha perna ficar cruzada uma em
cima da outra. ― Tem que estar confortável.
Johnatan continua a me tocar, colocando minhas mãos em meus
joelhos; em seguida, alinha meus ombros para que eu fique ereta. Eu o olho
concentrada ou tentando ficar.
― Agora ― ele me olha. ― Feche os olhos ― sussurra. Obedeço. ―
Não importa o que você escute à sua volta, apenas contemple, mantendo sua
mente vazia. Concentre-se no lugar ou em qualquer outro que deseja estar,
respire e inspire com calma. Escute o som do vento nos galhos, as folhas
tremendo, os pássaros cantando. Qualquer coisa insignificante à sua volta,
apenas aprecie e relaxe.

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Respiro e inspiro calmamente. Tento manter minha cabeça vazia, mas


a visão dos cavalos correndo, tendo Johnatan os treinando, invade minha
mente. Eu aprecio o lugar onde estou, sinto-me mais leve como se estivesse
num sonho tranquilo sem pesadelos ou imagens assombrosas. Sorrio com
certo alívio. Se isso for meditação, farei todos os dias de manhã. Franzo a
testa quando não escuto mais a voz de Johnatan, logo me assusto quando
sinto seu dedo tocar minha testa franzida.
― Seja o que estiver pensando volte para onde você quer estar ―
arrepio-me pelo suave sotaque russo.
Sorrio abertamente e abro meus olhos. Seus olhos estão em mim
enquanto seu sorriso surge tranquilamente. Sua expressão é tão intensa
quanto a minha.
― Por que me olha desse jeito? ― pergunto sem jeito.
― Porque gosto do seu sorriso. É a coisa mais rara do mundo para
mim ― declara fazendo meu coração acelerar.
Sua mão se ergue para tocar seu polegar em meu lábio inferior com
delicadeza. Timidamente, levanto minha mão para alcançar seu rosto, ele
inclina a cabeça com meu toque e correr seu nariz por meu pulso para inspirar
meu perfume. Fecho os olhos quando seus dedos acariciam minha bochecha e
deslizam até minha nuca, causando-me leves arrepios.
Meu coração acelera ainda mais quando escuto palavras sussurradas
em russo, eu não entendo, mas faz a eletricidade percorrer meu corpo. Eu o
toco com as duas mãos, arrastando meus dedos até seu couro cabeludo,
fazendo-o inspirar até se aproximar mais de mim.
Sua respiração suave e quente aquece meu rosto. Eu o ouço como se
pedisse alguma permissão. Balanço minha cabeça em concordância,
embriagada por suas palavras sussurradas num hálito inebriante. Em seguida,
sinto seus lábios suaves e delicados cobrirem os meus, inspiro

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profundamente. Meu coração está cada vez mais acelerado à medida que sua
boca se move contra a minha, acompanho-o num beijo calmo e carnal.
Puxo o ar com mais força ao sentir suas mãos, agora em meu corpo,
deslizando seus dedos por minha espinha. Sua língua me invade, fazendo a
minha clamar de saudades. Pareço queimar por dentro. Trago-o mais para
mim, apertando seu pescoço num abraço colado. Suas mãos apertam meus
quadris, fazendo-me descruzar minhas pernas ao ser puxada para seu colo.
Seu corpo é forte e seus braços me cercam num abraço firme.
Acaricio seu rosto, permitindo que nosso beijo se aprofunde e que suas mãos
passeiem por minhas costas. Ambos nos sentimos excitados com a
aproximação. Seu gemido rouco me faz estremecer, minha respiração começa
a ofegar.
Suas mãos macias tocam meu rosto em uma carícia suave, afasto-me
vendo seus olhos em mim. Grandes olhos azuis líquidos que parecem
confusos e intensos. Eu o encaro ainda tocando seu rosto. Ele se afasta mais
atento, franzo a testa quando sua cabeça se inclina para a esquerda. Pergunto-
me o que está acontecendo, já sentindo falta de seus lábios em mim, mas sua
respiração suave se torna pesada, e suas mãos em meu rosto começam a ficar
tensas.
― Johnatan... ― eu o chamo rouca, mas paro quando escuto um
relinchar.
Franzo a testa.
Johnatan me olha confuso e desconfiado. Inclina-se para me beijar
novamente, afastando-me do seu corpo.
― Vá para casa ― ele sussurra ao meu ouvido.
― O quê? ― pergunto perplexa. ― Por quê?
Johnatan se levanta parecendo atento ao relincho de um dos cavalos.
Ele se abaixa para pegar e colocar sua camiseta preta de gola V. Aperto meus

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dentes em reprovação ao notar que tirou o curativo.


― Mine...
― Por que tirou o curativo? Você ainda está ferido ― digo
preocupada.
― Apenas vá para casa. ― Seu olhar é muito atento.
O relinchado continua, fico preocupada com o som estranho.
Johnatan vem até a mim para beijar meu rosto, arrastando seus lábios
até minha boca.
― Por favor, faça o que estou pedindo ― sussurra olhando em meus
olhos.
Aceno automaticamente, colocando meus sapatos. Saio da tenda ao
mesmo tempo em que o vejo se afastar para fora com urgência. Corro em
direção à grande casa, mas travo quando meu coração dispara ao escutar um
estranho som, alto e agonizante.
― Hush?

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14 – INVASÃO

Olho na direção para onde Johnatan correu e encontro apenas os


abutres se movendo descontraídos pelo vento.
Corro aos tropeços pela floresta seguindo a trilha. Ao chegar no
campo, minha respiração está sufocada, caminho até a plantação de Donna
para pegar a cesta com as verduras que colhi. Um estrondo oco do outro lado
do campo me faz paralisar e soltar a cesta de repente. Alguns pássaros se
assustam também, voando para longe, no lado oposto, como se soubessem
que a direção a seguir não é confiável. Prendo minha respiração e encaro os
troncos dos pinheiros dentro da floresta.
― Johnatan ― sussurro sufocada.
Meu corpo está em tremores, forço minha respiração a sair mesmo
puxando o ar sem conseguir soltá-lo.
― O que foi isso? ― escuto James se aproximar, mas sou incapaz de
me mover para encará-lo.
Minha língua parece dormente, recusando-me a responder.
Novamente outro estrondo, dessa vez mais alto, assustando a nós dois. Minha
cabeça se move pesadamente para James, quando vejo Lake sair do celeiro
olhando em direção à floresta. Eu nunca o vi tão sério e atento. James se
afasta e sei que sua intenção é seguir a diante.
― James... Não! ― consigo me mover e agarrar sua mão.
Ele se vira para me encarar com a testa franzida, logo se alarma.
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― Mine? Você está pálida.


― Por favor, não vá ― suplico, sentindo minhas mãos tremerem
quando ele junta a suas mãos quentes contra as minhas, apertando-as.
Seus olhos estão cravados nos meus, vejo a preocupação dentro deles
até mover sua cabeça.
― Tudo bem ― diz se aproximando para ficar ao meu lado e
envolver seu braço em torno do meu ombro. ― É melhor você entrar. Você
está gelada.
Como se isso fosse resolver! Sei que ele irá se arriscar a entrar dentro
daquela floresta, lembro-me da urgência na expressão de Johnatan. Não ouso
me mexer.
― O que foi isso? ― agora Peter se aproxima confuso.
― Eu não faço ideia ― James responde com preocupação.
Engulo o bolo dolorido em minha garganta e inspiro profundamente.
― Está tudo bem, Mine? ― Peter observa o braço de James em volta
dos meus ombros.
― Acho que ela se assustou com o barulho ― James indaga, mas não
sou capaz de responder por mim.
― Não deve ser o disjuntor? ― Peter pergunta e James acena.
Franzo a testa conseguindo alguma reação, perguntando-me se o
estrondo foi um tiro.
― Vou verificar. Peter, segure ela ― James pede me soltando,
quando Peter envolve seu braço ao meu redor. Seus olhos escuros me
encaram preocupados e eu realmente estou precisando de apoio.
Vejo James se afasta, seguindo para uma caixa de metal embutida no
muro onde há os disjuntores.
― Oh, merda! ― Ele dispara afastando sua mão para longe e a
balançando como se tivesse sido queimada.

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― O que ele está fazendo? ― encontro minha voz observando James.


Peter me aperta ao seu lado quando estremeço. Temo pelo que pode
ter acontecido com Johnatan ou Hush.
― Parece que deu algum curto em um dos interruptores ― Peter
responde com dúvida. ― Vou verificar.
Ele se afasta assim que me ponho firme, observo-o se aproximar de
James e murmurar algo, tendo o cuidado de tocar no local.
Eu me distraio com Lake se aproximando de James e Peter de
maneira curiosa. Mas, de repente, assusto-me quando ele afasta ambos com
força. O gesto espontâneo faz James cair abruptamente e Peter cambaleia
para trás.
― Lake, não é hora de brincar ― James resmunga se levantando.
O cavalo caramelo ergue suas orelhas, atento às copas das árvores, em
seguida, corre em disparada para dentro da floresta. Sid faz o mesmo, saindo
do celeiro muito mais veloz e graciosa. Meu estômago se embrulha e meu
coração dispara ao pensa no pior.
James volta a mover os interruptores e escuto Peter dizer que há algo
com a cerca elétrica que protege os arredores, apontando o local afetado.
Pisco meus olhos arregalando-os quando James ergue sua mão para tocar o
local danificado. A cerca pode ter sido desligada e religada dando algum
curto. Penso que Hush possa estar preso na cerca e Johnatan está ajudando.
― NÃO! ― corro até eles os afastando da caixa. ― Não, por favor.
Não ligue! ― falo desesperada empurrando o peito de James e Peter.
― Mine, calma ― James se afasta automaticamente, ambos vendo
minha reação descontrolada. ― O que foi?
― Mine a cerca tem que ser ligada. O senhor Makgold gosta de
proteção na casa ― Peter explica calmamente, mas também vejo a
preocupação em seus olhos.

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― A cerca se estende pela floresta, não é? ― pergunto tentando


conter minha voz.
― Sim ― James responde.
Peter acena ainda confuso.
― Os cavalos estão na floresta. Hush está por lá. ― Não consigo
controlar meu desespero só de lembrar dele.
Vejo a compaixão nos olhos de James por minha reação.
― Hush não chega e nunca chegou perto da cerca, Mine ― James me
assegura apertando minha mão em seu peito.
― Então, espera! ― suplico com lágrimas nos olhos. ― Só um
tempo. Por favor!
James e Peter se olham, voltando-se para mim.
― Tudo bem ― James suspira.
― Calma, Mine. Hush apenas gosta de correr pela floresta. ― Peter
aperta minha mão com os olhos compreensíveis. ― É impossível, mas Hush
nunca chegou perto da cerca. Mesmo sendo cego ― assegura-me.
― Eu sei, mas quero vê-lo primeiro. ― Na verdade, eu preciso de
todos no campo.
― Daremos um tempo ― Peter acena.
Inspiro profundamente e me afasto. Quando Donna nos encontra,
estamos todos observando a floresta em busca de algum sinal. Meu coração
se aperta de forma angustiante. Logo vejo uma silhueta se aproximando e
localizo Johnatan caminhando para fora dos troncos, seguindo seus passos
duros pela grama do campo.
Seu olhar está veloz, seus cabelos escuros estão em todas as direções
de maneira rebelde. Ele suga o ar e o solta com força pela boca. Assusto-me
vendo seus olhos frios em minha direção sem me enxergar. Ele se aproxima
como um leão enfurecido, engulo em seco, vendo a chamas em seus olhos

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sem nenhum tipo de reconhecimento. Sua calça está desgastada e sua


camiseta um pouco suja de terra. Arrepio-me só de vê-lo naquela situação.
Quando ele passa por mim, sinto sua indiferença perfurar meu
coração. Noto um pedaço de pano amarrotado enrolado em seu punho com
uma mancha vermelha. Ele se machucou?
Johnatan abre a caixa com um baque e liga os disjuntores sem se
importar com a quentura.
Escuto o estalo ser ativado como se tudo ali fosse ligado à carga
elétrica da cerca e um estrondo alto do outro lado da floresta assusta todos
nós. Viro-me para Johnatan, notando o quanto está nervoso e cansado
enquanto respira com força. Logo, endireita-se rigidamente para afrontar
James. Sim, ele está mais que nervoso.
― Por que isso não estava ligado?! ― pergunta ríspido enfatizando
cada palavra para James.
― Eu sempre o deixo ligado, senhor ― James explica não se
intimidando. Ao invés disso está confuso.
― Então, por que a porcaria do disjuntor está danificada?! ―
Johnatan dispara. Seu olhar feroz em James me faz encolher.
James se mantém firme.
― Dou a minha palavra que deixei tudo ligado ― James dispara
novamente, sem recuar.
Isso não é nada bom.
― Senhor, eu também verifico todas as manhãs e todas as noites. Não
tem como isso acontecer ― Peter intervém ao meu lado roubando a atenção
do chefe alfa.
Johnatan se mantém indiferente. Aperto meus dentes com fúria por
ele estar tratando todos daquela forma.
― É melhor arrumar isso e verificar a cerca mais vezes ― ordena

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com frieza.
Cruzo meus braços boquiaberta. Como ele pode falar assim com as
pessoas que realmente se importam com ele?
― Sim, senhor ― James e Peter dizem ao mesmo tempo.
Noto as mãos de Johnatan em punhos apertados.
― Peter, pode cuidar disso por enquanto ― Johnatan ordena antes
deles se afastarem. ― Preciso da maleta. Hush está ferido.
Cambaleio para trás, deixando-o passar. Meus olhos ardem em
lágrimas e meu coração palpita em preocupação com Hush. James corre para
o celeiro, posso sentir o quanto aquilo o deixou em choque. Johnatan segue
para a floresta ignorando Donna quando ela aperta seu ombro preocupada.
Eu não devo ficar furiosa com Johnatan reagindo assim com todos à
sua volta, agora minha única preocupação está em Hush. Peter segue para
dentro da casa depois de verificar a caixa e ver o que precisa. Jordyn e Ian
assistem da varanda preocupados. Sinto o aperto em meu coração ao ver as
lágrimas do garoto.
Olho em direção às árvores e caminho em passos duros.
― Onde vai querida? ― Donna pergunta e meu coração se afunda
com a tristeza em sua voz.
Olho timidamente para ela, escondendo minha fúria por Johnatan. É
melhor não me intrometer e ficar ao seu lado.
Em poucos minutos Lake e Sid retornam correndo para o campo e
meu coração se alivia por vê-los bem, mas ainda dói ao pensar em Hush. Isso
me angustia.
― Eu preciso vê-lo ― murmuro quando Jordyn e Ian entram na casa.
― Me dê notícias, querida ― Donna concorda com um aceno.
Caminho em direção à floresta, seguindo James. Nosso percurso é
longe do local de meditação. Localizo Johnatan rapidamente à frente e o

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seguimos. Com um pouco mais de caminhada vejo o lago. É tranquilo, num


azul cristalizado. Eu observo fascinada pela mistura de cores claras e o tom
esverdeado da floresta combinando perfeitamente com as rochas lisas e areia
clara que cercam as águas. Inspiro profundamente, mas é impossível me
manter tranquila sabendo que Hush não está bem e, estranhamente, o leve
cheiro de queimado invade meu nariz.
― Oh, merda! ― James exclama e me viro para ver o que lhe
aborrece.
Hush está deitado no chão ofegante. Os olhos escuros parecem
perdidos. James se apressa com a maleta e Johnatan murmura algo para ele,
mas minha atenção está no cavalo deitado, sujo de terra com a metade de uma
lança cravada próximo às suas costelas. É impossível engolir o nó em minha
garganta.
― Hush ― sussurro, sua orelha se ergue.
James amarra suas patas traseiras, em seguida, segura as dianteiras.
Hush abafa sua respiração quando Johnatan se põe a tirar a lança.
O rincho de Hush aperta meu coração, seus olhos negros se arregalam
ainda mais quando Johnatan tenta tirar a lança com cuidado. Minhas lágrimas
caem por seu sofrimento, não me contendo, corro para ele, ajoelhando-me
próximo ao seu pescoço, vendo-o tentar se afastar da mão de Johnatan em sua
ferida.
Johnatan diz algo em russo como se o tranquilizasse, eu, trêmula,
acaricio sua pelagem negra. Sua respiração está cada vez mais abafada e
quente, quando me ajusto em seu pescoço com meu corpo. Deitando minha
cabeça ali, acaricio sua cabeça, seus fios e o focinho úmido.
― Está tudo bem ― eu sussurro perto de sua orelha. ― Vai ficar tudo
bem ― choro cada vez mais quando seu relincho se torna mais intenso.
Os protestos de Hush param e continuo acariciando seu pelo,

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escutando a voz grossa e russa de Johnatan atrás de mim. Recuso-me a ver a


lança ser tirada, é doloroso demais, apenas os escuto mexerem na maleta e eu
continuo ali com ele, recitando o mantra.
Minhas lágrimas fazem meus olhos voltarem a pesar e fecho,
continuando deitada ao seu lado. O peso da preocupação está sob meu corpo,
mas me recuso a me afastar, abraçando sua cabeça de uma maneira que o
deixe confortável e que o faça se sentir protegido. Em parte, meu coração se
enche de alegria por ele não se afastar com meu abraço. Escuto sua respiração
e a voz de Johnatan pedindo algo para James, em seguida. trocando seu inglês
perfeito para um russo fluente.
Então, apenas permaneço ali por um bom tempo, acolhida e aquecida,
enquanto me encolho como uma bola em seu pescoço.
De repente, sinto algo se prender em meu corpo e me puxar
delicadamente na tentativa de me erguer. A voz russa de Johnatan ao meu
lado me faz querer abrir minhas pálpebras pesadas. Hush continua deitado,
mas eu sou levantada com cuidado. Johnatan tenta afastar minha mão da
cabeça de Hush, mas o agarro ao me deparar com os seus olhos fechados.
― Não, não, não, não ― disparo querendo agarrá-lo quando Johnatan
torna a tentar me afastar, segurando-me com um braço enquanto sua outra
mão trabalha com as minhas insistentes ao tentar me manter no lugar.
― Hey, Mine ― murmura docemente e sinto meu coração se
desesperar ao ver Hush naquele estado. ― Ele está bem ― Johnatan sussurra
ao meu ouvido e encaro seus olhos azuis cansados, assim como os meus.
O alívio me paralisa ao saber da notícia.
― Eu quero ficar com ele ― digo com urgência mesmo estando nos
braços de Johnatan com facilidade.
A lança foi retirada e seu corpo está coberto por uma capa.
Continuamos na floresta, mas onde estamos foi montada uma barraca de

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proteção com uma luminária led que clareia o local num tom alaranjado.
Franzo a testa me perguntando por quanto tempo fiquei com meus olhos
fechados. Sinto o nariz de Johnatan correr por meus cabelos e me encolho em
seu peito.
― Ele vai ficar bem? ― pergunto temerosa.
― Sim, vai ― Johnatan assegura. ― Hush é forte ― garante e sinto a
ferocidade em sua voz.
― Ele é.
Olho para cima vendo seus olhos intensos em mim, avaliando meu
rosto como, se de alguma forma, fosse a primeira vez que me visse. Ele não
parece incomodado comigo em seus braços. Pelo contrário, sou eu que me
sinto pesada.
― Você está exausta ― analisa me encarando preocupado. ― Vou
levá-la para casa e voltar para ficar com Hush ― avisa depois de beijar minha
testa.
Mudanças de humor... Eu não consigo acompanhá-lo. Horas antes ele
estava meditando, depois estressado a ponto de destratar James, agora está
calmo, mas com aparência de cansado.
― Por favor, deixe-me ficar ― imploro.
Eu também quero ficar com Hush, penso.
Estou exausta e confusa, mas não quero ficar longe do cavalo. Eu
quero vê-lo de pé, correndo com toda sua postura rígida, confiante e
desafiante.
Johnatan ignora, carregando-me para fora da barraca, logo me deparo
com a escuridão acinzentada da floresta. Quero lhe perguntar o que
aconteceu, como Hush se feriu, mas sei que não vou ter sucesso com suas
respostas.
O céu estrelado passa entre os galhos das árvores enquanto o encaro

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preguiçosamente. De certa forma, sinto-me estúpida por estar sendo


carregada por Johnatan como se fosse incapaz, mas eu nem mesmo consigo
sentir minhas pernas. Abraço seu pescoço e vejo a barraca iluminada se
afastando sobre seu ombro. Inspiro fundo, o perfume de sua pele me deixa
confortável e sonolenta.
― Por favor! ― sussurro na última tentativa, mesmo sabendo que ele
não vai aceitar.
Fecho meus olhos e derivo para um sono pesado em seus braços.

Em meio à minha sonolência sei que já estou em minha cama, mas


tenho urgência em tirar minha calça apertada, fazendo os lençóis se
enroscarem. Tenho preguiça só de abrir meus olhos, chuto minha calça para
fora das minhas pernas, sentindo-me livre instantaneamente.
Cubro meu corpo com o lençol macio, voltando ao meu sono onde
sonho com um Hush forte, correndo em seu treino matinal de forma
concentrada. A cerca onde é feita de lanças, assusto-me com o decorrer do
meu sonho. Quando Johnatan joga a pequena pedra para longe, Hush corre
para pular a cerca, desequilibrando-se e caindo. Seu rincho agonizante me faz
sobressaltar da cama e respirar com dificuldade.
Arregalo meus olhos me perguntando onde estou e pisco desorientada
olhando ao redor. Estou na tenda de meditação de Johnatan.
O céu escuro está repleto de estrelas e a lua cheia é fascinante,
iluminando o lugar de forma acolhedora.
Estou coberta por um lençol branco e vejo minha calça caída no
carpete ao meu lado. Franzo a testa me perguntando onde está Johnatan, mas,
para minha surpresa e alívio, eu o vejo surgir entre os tecidos da tenda com
algo em sua mão, guardando-o numa caixa de metal no chão.
Suas costas nuas parecem se banhar pela luz da lua, apenas usando

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uma calça escura de moletom. Quando ele se vira, vejo seu peitoral na
claridade cinza descendo como sombra até o abdômen definido. A calça se
prende perfeitamente em seus quadris, mostrando as curvas malhadas. Pisco
meus olhos em busca de foco e localizo sua ferida exposta sem curativo.
Ajoelho-me e rastejo-me até ele, tendo seus olhos em mim.
― Onde está o curativo? O que pensa que está fazendo expondo-se
dessa forma? ― repreendo olhando para cima e sento em meus calcanhares.
Seus olhos me encaram surpresos, mas um tanto fascinados. Meus
cabelos com certeza devem estar uma palha, mas não me importo, estou
aborrecida.
Ele ergue sua mão para acariciar meu rosto e inspiro seu perfume
suave em seu pulso, deitando minha cabeça na palma quente e macia.
― Você é linda! ― sussurra acariciando seu polegar em minha
bochecha.
Aperto minhas mãos em meu colo, com o coração disparado. Pânico
me invade quando percebo que estou sem a calça.
Apresso-me e me cubro com o lençol, sentindo minhas bochechas
esquentarem. Vejo a sombra do seu sorriso por minha reação. Sua mão se
abaixa e ele se aproxima para se sentar na cama. Encaro-o e localizo o soro e
as gases em cima de um banco estofado branco próximo à cama.
― Para seu alívio, já estava indo fazer isso ― ele me informa,
limpando seus pontos e os cobrindo com um curativo já pronto.
Eu não faço ideia de que horas são, porém lembro-me de Hush.
― Como ele está?
― Está bem ― Johnatan suspira e se vira para mim. ― Estava
tentando se levantar, tive que sedá-lo novamente. Ainda é cedo para ele fazer
esforços. Felizmente, a lança não foi tão profunda.
Johnatan parece mais tranquilo agora, mesmo com seus músculos

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tensos. Balanço minha cabeça e suspiro de alívio. A luz da lua me faz


apreciar a bela visão de seus bíceps, seus olhos me refletem com mais clareza
e profundidade. Por um simples vislumbre, posso ver que ele realmente está
preocupado com Hush, muito mais que eu.
― Onde aprendeu a treinar cavalos? ― pergunto fascinada por
descobrir esse lado sensível.
Johnatan inspira, olhando para longe de mim, perdido em
pensamentos.
― Aprendi com livros. Não estudei veterinária, mas sei de muitas
coisas ― responde. Pela maneira como mordo o lábio, ele percebe minha
curiosidade.
― O que aconteceu lá fora? ― pergunto inquieta. Johnatan
permanece cauteloso.
― Você deveria dormir. Vou continuar observando Hush. ― Ele se
esquiva, fazendo com que eu solte minha respiração frustrada.
― Por que você não me diz? Eu não estou com sono. Eu acordei
assustada pensando que Hush estivesse enroscado na cerca e que você
estava...
― A cerca foi sabotada ― ele me interrompe. Fecho minha boca e
meus olhos se arregalam.
― O quê? Mas... como?
― A casa foi invadida ― minha respiração trava. ― Hush encontrou
o invasor. Ele estava com a lança e a arma não era para ele, mas a usou para
se defender. Hush conseguiu bloqueá-lo. Cheguei a tempo e vi a cerca
arrebentada, com isso, tentei amarrá-lo nos fios ― ele suspira exasperado.
― Mas houve um tiro... Um estrondo ― balanço a cabeça tentando
coordenar meus pensamentos.
― Mine. ― Minha atenção volta para ele. ― Acha que mesmo eles

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me caçando eu não colocaria proteção na casa? Que uma cerca elétrica teria
uma carga tão fraca? E que um invasor sairia daqui imune?
Pisco meus olhos estremecendo com seu olhar sombrio.
― Você tem armas? ― sussurro.
― Vivemos num campo minado. Devo ter algo em minha defesa ―
ele alerta.
― Não aprecio isso. ― Um arrepio me percorre.
― E nem eu ― concorda. ― Mas eles sabem que estou atento e mais
treinado. Mesmo assim, ousam se arriscar em meu território ― sua voz
ríspida é fria como gelo.
― Quem são exatamente eles? ― pergunto por fim.
Sua expressão tensa muda para algo mais obscuro, seus olhos se
levantam em minha direção com intensidade.
― Policiais, advogados, juízes, empresários ― ele responde ríspido.
― No começo, pensei que fosse um pequeno grupo, uma gangue, mas é pior
que isso. É uma máfia no país e fora dele.
É impossível não sentir medo ao escutar sua voz carregada de ódio e
tensão.
― Você sabe o porquê? Conhece quem pode estar por trás de tudo
isso?
Bem, pelo pouco que sei, uma máfia tem alguém para dar as ordens e
Johnatan deve saber os motivos.
― É o que estou tentando descobrir há muito tempo. O motivo sobre
o ataque contra minha família eu já sei ― ele declara feroz, balançando a
cabeça tentando afastar os pensamentos. ― Mas não quero conversar sobre
isso. Nunca.
É um alerta para que eu fique em silêncio e não arranque mais nada
dele.

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― E o invasor? O que aconteceu com ele? ― pergunto incapaz de


esconder minha curiosidade.
― Eu o matei ― diz simplesmente e sinto o pânico em meu peito.
― E o corpo?
― Joguei o corpo carbonizado na rua por onde ele veio ― resume.
Remexo-me desconfortável.
― As pessoas desconfiam de você ― revelo sem querer, em seguida,
mordo minha língua.
Sua sobrancelha se ergue.
― Algumas mortes não sou eu que executo, Mine ― assegura. ―
Todos que matei foram levados por eles. Como já disse, ao que parece, eles
não gostam de deixar seus serviços expostos por aí ― ele me olha como se
isso fosse algo óbvio para mim.
― O estuprador...
― Sinto muito por ter presenciado aquilo ― diz envergonhado.
― Ele também fazia parte da máfia? ― estremeço.
― Não ― Johnatan balança a cabeça.
― Mas você não quebrou o pescoço dele. ― Lembro-me dos olhos da
mulher em minha direção e tento empurrar os pensamentos para longe.
― Eu não posso deixar rastros, Mine ― explica afastando seus
cabelos de sua testa. ― Injetei heroína alterada em sua veia. A droga leva ao
delírio, convulsão e, pôr fim, à morte.
― Devo ficar surpresa ― sussurro fugindo meus olhos dos seus ―,
mas não aprecio o que faz.
― E nem deveria ― ele acena.
― Também devo dizer que não é como eles. ― Tenho que ser
sincera.
― Mine...

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― Você é um homem bom, Johnatan. Frio, mas bom ― declaro.


Ele puxa o ar e o segura por um breve momento como se
contemplasse minha repentina declaração, mas não sei dizer se gostou ou se
achou um insulto.
― Sou assim apenas com você. Estritamente para você ― dispara
soltando o ar com força. ― Exceção, lembra? ― diz de forma áspera.
― Você protege todos nessa casa, não é apenas comigo. ― Gostaria
que ele enxergasse isso.
― Eu só os abriguei aqui, dou-lhes a liberdade de sair quando
quiserem. Ter todos eles é um incomodo, não posso me preocupar somente
comigo, mas também com eles. Estão em minha casa.
― Você se importa com eles.
― Estão na minha casa ― ele repete novamente.
― E você foi rude com James ― lembro-o.
Sua sobrancelha se ergue e seu olhar muda para mais sério com minha
ironia inesperada.
― Está defendendo-o?
― Provavelmente ― aceno e tento mudar de assunto. ― Então, como
me disse, a cerca foi sabotada...
Johnatan ignora e continua:
― Eu só descontei minha fúria no primeiro que vi ― assume em tom
rude.
― Eu fui a primeira, mesmo assim...
― Você é diferente ― ele me interrompe. ― Eu não posso e não
devo machucá-la. Morreria se isso acontecesse.
Minha respiração cessa e tusso em virtude das palpitações em meu
coração.

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15 – PROVOCANTE

― Você disse que me machucaria de todas as formas ― sussurro


incapaz de esconder a dor em minha voz.
― E é o que eu quero ― diz exasperado. ― Mas meu coração não
quer. Eu só preciso... Eu só quero e desejo você, Mine ― ele luta com as
palavras.
A forma como meu coração bate é uma mistura de dor suportável e
desconhecida, junto com um desejo consumidor. Olho Johnatan com
intensidade, apreciando suas palavras em minha mente.
― Pode entender isso? ― seus olhos estão cravados nos meus. ―
Longe dos seus olhos cinza, seu perfume e sua presença, eu me torno frio e
fechado. Mas com você é como se tudo desaparecesse, como se eu estivesse
em um mundo tranquilo. Eu posso sorrir e respirar livremente, mas juro que
quero me afastar de tudo isso.
Engulo o nó em minha garganta.
― Por quê? ― sussurro rouca. Seus olhos nunca deixam os meus.
― Por que é uma distração, Mine ― confessa cada vez mais intenso.
― Gosto de te distrair ― confesso sem querer. ― Mas é você que faz
isso na maior parte do tempo. ― Vejo a sombra do seu sorriso.
Sua sobrancelha se levanta. Aperto minhas pernas detendo a vontade
de me contorcer sob seu olhar.
― Eu? ― pergunta e balanço a cabeça com um sorriso tímido.
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Seu sorriso se abre para mim fazendo minha respiração parar. Meus
olhos fitam sua boca levemente carnuda, revelando a fileira de dentes
perfeitos e brancos. A forma como sorri o torna mais jovem e ainda mais
sexy, ao passo que seu olhar se torna feroz e observador.
― O quê? ― murmuro desorientada por causa do meu corpo
pulsante; minhas coxas se apertam.
― Estou te distraindo ― afirma, reprimo meu gemido ao escutar o
leve sotaque russo.
― Não tem como descobrir. ― Quero fugir do seu olhar predador.
― Não? ― continua desafiante. ― Estou vendo você tremer
enquanto aperta suas coxas por baixo deste lençol, mas nada é mais
encantador do que seus olhos devoradores ― sua voz rouca me arrepia.
Aperto meus lábios e sinto meu coração bater mais forte. Minhas
bochechas coram e minha garganta fica seca. Ele consegue me ler, mas é
muito mais que isso, sei que está certo.
Johnatan se aproxima fechando nosso curto espaço sem desviar seus
olhos dos meus. Sinto-me uma presa possuída pela magia do seu olhar.
Inspiro, sentindo seu perfume cada vez mais perto. Oh! Isso é uma completa
distração.
Encaro seus lábios entreabertos e fecho meus olhos quando sua boca
cobre a minha.
Deslizo minhas mãos por seu rosto, abraçando seu pescoço. Suas
mãos deslizam por minha coluna até chegarem à minha cintura, puxando-me
para ele. Arrepio-me quando sua língua invade minha boca lentamente, como
se saboreasse meus lábios, assim como meus gemidos, curvando cada vez
mais meu corpo e me deixando sem fôlego. Ele é quente, e desejo sentir sua
pele contra a minha.
A cada toque, meu corpo se arqueia contra o seu completamente

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entregue. Suas mãos deslizam por minhas costelas até minhas pernas nuas,
ergo meus joelhos automaticamente, sentindo sua palma quente em minha
pele exposta. Meu corpo pulsa violentamente com seus toques suaves e sua
boca percorrendo minha garganta com suavidade. A barba rala provoca
minha pele sensível. Quando suas mãos se tornam mais urgentes, apertam
minhas coxas com desejo, fazendo-as abraçarem seus quadris. Em seguida,
sua boca retorna para a minha. Gemo sentindo sua ereção em meu ventre.
Meu sexo se aperta dolorosamente, deixando-me cada vez mais
molhada. Nunca senti nada parecido. A excitação dentro de mim faz com que
minhas emoções sejam expostas para fora, inconscientemente. Toco seus
músculos fortes sobre a pele macia, arranhando e apertando-o. É um
sentimento misto de adoração, desejo e angústia. Gemo num sussurro quando
sua ereção está em meu sexo coberto apenas por minha calcinha,
provocando-me com movimentos fortes, mostrando-me o quanto me deseja.
― Sim, minha Mine ― ele sussurra num leve sotaque russo com sua
voz grossa e potente, fazendo-me ofegar e fechar meus olhos.
― Johnatan ― eu o chamo com desejo, empurrando meus quadris
contra o seu corpo.
Eu deveria me afastar, mas meu corpo o quer, a minha alma o deseja e
minha carne quer ser consumida por ele. Sua boca desliza provocante em
meus ouvidos, fazendo-me arrepiar ao escutar as palavras russas serem
sussurradas com perversão, gemo agarrando seu corpo possessivamente,
como se eu entendesse cada palavra que me diz.
― Deixe-me te sentir, Mine? ― pede ofegante. ― Deixe-me tirar
essa tensão de dentro de você? ― suplica mordiscando meu lóbulo.
Suas mãos fortes sobem por meu corpo, fazendo minha camiseta
subir. Fico mais ofegante.
― Mine ― ele grunhe meu nome em russo com urgência, deslizando

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sua barba rala e provocante em meu pescoço. Oh, Deus...


― Sim ― sussurro.
Ele desliza para baixo, seus lábios roçam minha barriga, provocando-
me. Aperto os lençóis à minha volta com força ao sentir seus dentes roçarem
a área da minha pele mais sensível.
Para meu tormento, suas mordidas provocantes são substituídas por
sua língua, gemo ao senti-la deslizar para cima, assim como sua mão, que
afasta minha camiseta, livrando-a do seu caminho com facilidade. Pisco meus
olhos, vendo-o se distanciar. É impossível separar minhas coxas presas em
seus quadris.
Meu rosto cora quando vejo seus olhos percorrerem todo meu corpo.
Estou apenas com o sutiã e a calcinha. Seu indicador desliza em linha reta por
minha barriga até chegar ao meu fecho. Meu corpo arqueia, respiro
profundamente sentindo seu toque me queimar por inteira. Com facilidade,
ele abre o fecho e afasta meu sutiã.
Meu corpo se ergue novamente quando sinto sua palma cobrir meu
seio direito e brincar, usando o polegar, com o mamilo duro e sensível. A
lentidão do movimento circular me faz pulsar e gemer docemente. Mordo
meu lábio me sentindo dolorida, precisando dele agora.
― Não tem ideia do quanto está linda ― seu murmuro me faz
arrepiar.
― Johnatan ― eu o chamo fechando meus olhos. ― Oh, por favor!
― peço sentindo que seus dedos apertam meu mamilo.
Quando abro meus olhos, vejo-o voltar para cima de mim e abocanhar
meu seio, sugando-o com força. Ele geme e estou sem fôlego.
― O que você quer, Mine? ― sussurra em meu seio, passando para o
outro com sua boca provocante. Meu corpo arqueia contra o seu, e sinto sua
pele quente queimar a minha, não consigo manter minha mente coerente.

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Sou possuída por sua boca e agora, com sua ereção cutucando-me
com movimentos fortes, meu ventre se contrai num aperto latejante. Quando
dou por mim, já o estou agarrando, minhas mãos seguem direto para seus
cabelos, puxando-o para mim.
― Você... Você ― repito, sentindo meu seio ser sugado cada vez
mais forte. ― Johnatan! ― suplico.
Ele desliza suas mãos pelo meu corpo, em seguida, escuto minha
calcinha ser rasgada e arrancada de mim. Minha respiração se acelera, estou
completamente nua para ele. Pisco meus olhos quando o vejo se afastar
novamente. A luz da lua banha meu corpo, vejo-o de joelhos entre minhas
pernas, olhando ferozmente para meu corpo muito exposto. Seus cabelos
estão por todas as direções e seu peitoral parece mais largo que o normal. Eu
o aprecio com toda a sua musculatura, até me distrair com suas mãos se se
movendo para sua calça. Ele me provoca com um sorriso torto enquanto o
assisto deslizar a calça para baixo.
Engulo em seco ao ver sua ereção grossa e dura apontada em minha
direção. Lambo meus lábios me perguntando como será a sensação de tê-lo
dentro de mim. Meu sexo pisca com o pensamento, mas, na verdade, eu
nunca fiz aquilo. Mesmo que o tenha desejado, o medo e a insegurança
invadem meu corpo.
― Mine? ― Johnatan me chama voltando-se para mim. O calor do
seu corpo contra o meu me conforta.
― Eu... eu nunca fiz... eu ― gaguejo, olhando em seus olhos e sua
boca próxima à minha.
― Eu sei ― ele beija meus lábios brevemente ― Mesmo eu estando
louco para estar dentro de você, se não quiser...
― Eu quero ― digo rapidamente. ― É errado, mas eu o quero ―
disparo trêmula.

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― Muitas vezes o errado pode ser bom ― ele sorri de maneira


tentadora, fazendo meu estômago se revirar como borboletas. ― Eu não vou
machucá-la. ― Sussurra mordiscando meu lábio inferior. Fecho meus olhos,
sentindo seu hálito doce em minha boca.
Beijo seus lábios com fervor, gemendo em nosso beijo quando sua
ereção se esfrega em minha vagina apertada e dolorida.
― Você está tão pronta ― sussurra inebriado. ― Quero possuí-la. ―
Sua fala se mistura a um russo fluente, fazendo minha pele se arrepiar e me
entregar completamente a ele.
Seu corpo se move contra o meu, meus gemidos se tornam mais
suplicantes e minhas mãos apertam seus músculos, fazendo-o grudar mais em
meu corpo. Pisco meus olhos quando sua boca se afasta da minha para vê-lo
erguer sua mão com um papel alumínio indo em direção à sua boca. Ele
prende o papel de camisinha em seus dentes e rasga a embalagem com
facilidade. O gesto é tão sensual!
Mordo meus lábios vendo-o colocar a camisinha em seu membro
rígido e deslizar suas mãos por minhas coxas, abrindo-as ainda mais.
Seu corpo me acolhe com cuidado, esmagando meus seios contra seu
peitoral quando sinto me provocar lá embaixo. Estou cada vez mais pulsante
apertando minhas coxas ao seu redor e deslizando minhas mãos em seus
braços fortes enquanto sua boca devora a minha num beijo intenso e urgente,
nossas línguas dançam em sincronia.
Fico cada vez mais ofegante pelo modo como ele se move em cima de
mim. Quando abro meus olhos, vejo-o me olhar atentamente. Seu olhar me
transmite sua profundidade e seu cuidado. Seus braços me cercam e seus
movimentos param. Nossas respirações altas se tornam ofegantes.
― Mine ― sussurra meu nome com devoção.
― Sim... ― gemo

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É como se fosse uma resposta para sua pergunta silenciosa, suas mãos
deslizam por meu corpo suavemente, apertando meus quadris para que pare
de se mover contra ele. Em seguida, nossos lábios grudam-se e o sinto me
penetrar. Minha carne macia pulsa com sua presença. Gemo ao sentir a leve
dor, mas ele não para, de uma forma delicada, continua a me invadir com
cuidado.
Agarro seus cabelos entre meus dedos, puxando-o para mim. Minhas
pernas o apertam com urgência. Ao mesmo tempo em que sua invasão é
dolorosa, também é prazerosa. Respiro com dificuldade, mordendo seu lábio
inferior com gemidos dolorosos quando o sinto se esforçar para me invadir.
― Mine ― ele me chama rouco e gemo em agonia, querendo acabar
com a tensão em meu corpo.
― Hum! ― ronrono sem soltar seu lábio inferior.
Suas mãos em meus quadris me abraçam. Meu corpo está trêmulo e
meu ventre contraído. Mesmo com a dor, meu corpo se esfrega contra o seu,
suplicando para que ele se mova e termine com minha tortura.
Seu grunhido faz meu corpo ficar conectado com sua voz, sinto-me
completamente inebriada. Ao abrir meus olhos, noto os seus fechados, como
se apreciasse sua invasão. Sua boca levemente aberta é uma distração carnal.
Quando levanto, meus olhos encontram os seus em chamas, fixos em mim.
Uma de suas mãos se ergue para acariciar meu rosto e deslizar seu polegar
por meu lábio inferior.
Novamente suas palavras em russo são sussurradas ao meu ouvido,
acaricio suas costas, apreciando cada momento. De repente, solto um grito
ofegante quando me invade de uma vez, sem hesitar. A reação repentina me
assusta e o vejo parado, ajustando-se para que eu me acostume com sua
presença. Depois, começo a gostar daquela forma e esfrego meu corpo contra
o seu, apreciando sua ereção dentro de mim, preenchendo-me mesmo com a

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leve dor, mas que me faz ficar ainda mais ligada a ele como nunca estive com
ninguém. Gemo em satisfação.
― Hum ― jogo minha cabeça para trás.
― Isso... Sinta-me ― eu o escuto.
E eu o sinto. Ignoro tudo ao meu redor, permitindo-me focar apenas
no ponto onde sou estimulada. Quando Johnatan se retira de dentro de mim,
lamento com um murmuro e sinto seus dedos provocarem meu clitóris, um
ponto sensível e desconhecido. Minha respiração se altera apenas com aquele
toque, fecho meus olhos intensamente. Seu dedo se arrasta para dentro de
mim com facilidade.
Meus mamilos roçam seu peitoral másculo enquanto me remexo,
querendo-o grudado em mim. Seu dedo se move enquanto eu me entrego à
deliciosa tortura. Minha vagina volta a se apertar quando ele penetra dois
dedos, movendo-os mais profundamente. A provocação parece se intensificar
ainda mais com os seus toques.
Meus quadris vão de encontro aos seus dedos, querendo-o por
completo até eu estar sem fôlego e sentir algo dentro de mim se explodir,
fazendo com que meu corpo caia de volta para o colchão. Mesmo com a
sensação estranha, meu corpo inebriado pede por mais. Abro meus olhos
preguiçosamente, vendo o sorriso de Johnatan em minha direção.
― Não sabe o quanto é fascinante ver você ter seu primeiro orgasmo
― ele murmura rouco cheio de desejos. Seus dedos continuam dentro de
mim, provocando-me.
Quero lhe dizer o quanto foi intenso, mas eu simplesmente coro. Ele
percebe minha timidez repentina, afastando, em seguida, os dedos de mim.
Inspiro profundamente.
Mas não dura muito tempo para me chocar e deixar minha garganta
mais seca, quando o vejo erguer sua mão até seus lábios para chupar o

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polegar. Ele fecha os olhos brevemente e geme em aprovação. Isso não


deveria ser tão sexy, deveria ser um pecado! Puxo minha respiração pela
boca, vendo-o me dar um sorriso lascivo, aquilo faz meu coração palpitar.
Seus dedos se aproximam do meu rosto, e os sinto úmidos. Fixo nele,
vendo-o perdido em meus lábios.
― Prove ― ele ordena com intensidade e me contorço. ― Sinta o
quanto está pronta para mim ― Abro minha boca levemente.
Seus dois dedos invadem-me e os cubro com meus lábios, sentindo o
gosto da minha excitação.
Johnatan geme.
― Não se deve provocar um homem assim, minha Mine ― ele
murmura rouco depois de afastar seus dedos para me beijar. ― Não quando
se está com fome desse seu lindo corpo.
Ele volta seu peso contra mim quando o sinto penetrar de uma vez.
Gemo alto, dessa vez ele não para. Da mesma forma que se move rápido,
move-se mais profundo. A dor não aparece tanto quanto antes, e sinto a onda
de prazer aumentar em meu interior. Seus gemidos são uma mistura de russo
com meu nome, sinto-me cada vez mais excitada só de escutá-lo. Motivada
pelo prazer desconhecido, empurro minha pélvis para senti-lo
completamente.
― Você é tão apertada ― ele geme estocando com força, eu me
contorço. ― Tão gostosa. Nunca senti nada parecido.
― Oh, por favor, Johnatan ― gemo apertando seus músculos.
Sua boca percorre minha pele até alcançar meu seio, jogo minha
cabeça para trás, estando completamente entregue a ele enquanto sua língua
brinca com meu mamilo dentro de sua boca, deixando-me em
tremores. Tanto meu corpo quanto o seu começam a suar, mas não quero que
acabe. Meu sexo pulsa dolorosamente e se aperta em torno da sua ereção.

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― Abra seus olhos, Mine ― eu o obedeço, deparando-me com os


seus azuis. É mais íntimo, mais excitante. Ofego grudando minha boca contra
a sua, sentindo sua língua provocar meus lábios. ― Goze para mim. Agora!
Não é um pedido, é uma ordem. Meu corpo o obedece enquanto me
deixo gozar livremente. Johnatan se move com mais força e geme olhando
em meus olhos até dar sua última estocada. Sei que ele também chegou à
libertação, caindo seu corpo suado contra o meu e inspirando o perfume em
meu pescoço.
Meu corpo sobrecarregado, de alguma forma está relaxado. Fecho
meus olhos por causa da sensação de intensidade e o sinto se retirar de dentro
de mim. Ele murmura algo, mas não entendo, pois aprecio o momento em um
lugar reconfortante, numa noite muito quente. Em seguida, percebo seus
dedos acariciarem meu rosto e afastar meus cabelos.
― Mine? ― Ele me chama e o encontro ao meu lado. É ainda mais
sexy depois do ato, com aspecto rebelde, suado e exalando sexo por todas as
partes. Suspiro. ― Como se sente?
Franzo a testa, remexo minhas pernas, sentindo o lençol em meu
corpo. Meu sexo, antes pulsante, está se recompondo do pós-coito, mas me
sinto satisfeita e um pouco...
― Dolorida e cansada ― confesso virando-me, escondo meu rosto
em seu peito nu. Pela primeira vez o escuto rir, o som me agrada muito.
― É melhor você descansar ― suspira e beija meus cabelos.
Luto contra o cansaço, mas não consigo manter meus olhos muito
tempo abertos. Se isso foi um sonho eu não sei, mas meu corpo está
conectado com ele de alguma forma.
No meu sonho eu estou ofegante. Meu sexo está pulsante em
decorrência das provocações que recebe. Meus olhos permanecem fechados,
mas deixo o som do meu gemido escapar. Agarro os lençóis com força e

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arqueio meu corpo com prazer.


Quando abro meus olhos me deparo com a claridade do céu. Ainda
estou na tenda de tecidos com meu corpo em alerta. Meu clitóris lateja e, de
alguma forma, minhas pernas estão presas por duas mãos fortes que as
afastam, não permitindo que se apertem.
Gemo sentindo meu sexo ser chupado, olho para baixo vendo uma
rosa entre meus seios e logo abaixo está Johnatan. Abro minha boca, ofego
arregalando meus olhos e gemo com espontaneidade. Meu corpo nu está à
sua mercê enquanto sinto sua língua percorrer meu sexo com desejo.
― Johnatan ― contorço-me sentindo sua língua e seus lábios.
Estou completamente molhada, meus quadris se movem em sua
direção, querendo que ele continue. A rosa me provoca, acariciando a minha
pele enquanto me movo.
― Hum? ― geme em resposta, abocanhando minha vagina como se a
degustasse. Minha respiração se altera enquanto meu corpo se arqueia em
prazer e excitação.
Em seguida, sua língua me invade e suas mãos afastam minhas coxas
teimosas. Gemo trêmula. Sua barba rala arranha minha carne macia e
sensível, provocando-me ainda mais. Jogo minha cabeça para trás, sentindo
meu orgasmo intenso explodir dentro de mim, fazendo meu corpo nu cair.
Johnatan não me devora como antes, mas sua língua parece apreciar
cada parte do meu sexo. Olho para baixo envergonhada, sem poder acreditar
no que ele está fazendo. Isso tem que ser um sonho... Mas não é, estou
eufórica, ofegante e muito, muito excitada.
Vejo sua cabeça se erguer com seus cabelos escuros bagunçados. Seus
olhos parecem me devorar daquela forma, pisco desorientada. Observo seus
lábios avermelhados e um leve sorriso surge, fazendo-me perder
completamente o fôlego.

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― Bom dia ― ele corteja num tom rouco, lambendo seus lábios
molhados com minha excitação, sem deixar de me lançar um sorriso safado.
― Café da manhã? Ou isso? ― sugere penetrando seus dois dedos.
Caio para trás me contorcendo pelo seu toque. Como ele consegue ter
esse poder sobre mim?
― Isso... ― gemo sentindo seus dedos se moverem mais
profundamente.

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16 – ÀS ESCONDIDAS

Aperto os lençóis com força, sentindo a ponta de sua língua me


provocar com suavidade até chegar ao meu umbigo e mordê-lo. Arfo com um
gemido abafado.
Sua outra mão rasteja pelo interior da minha coxa, subindo até minhas
costelas. Seus dedos lentos se movem um pouco mais urgentes e minha
respiração fica cada vez mais acelerada.
Pisco meus olhos ao sentir algo ser passado entre meus seios, num
gesto suave e provocante. Olho para baixo e Johnatan me olha com profundo
desejo, ao mesmo tempo atento às sensações que causa em meu corpo.
Percebo que ele está com a rosa, deslizando-a pelo meu corpo, um botão
muito aberto e vermelho que se destaca sobre minha pele arrepiada e
sensível.
Sinto-me apertada e dolorida, desejando-o loucamente dentro de mim
novamente, mas a sensação de ter a rosa percorrendo meu corpo é ainda mais
tentadora, perco-me na suavidade excitante das pétalas macias.
Ele continua a deslizar a flor em meu seio enrijecido, provocando
meu mamilo e me causando um aperto prazeroso. Seus dedos se intensificam,
assisto ofegante à possessão em seus olhos. Meu corpo arqueia com força e
jogo minha cabeça para traz, excitada, deixando-o seguir com a rosa para
meu outro seio até deslizar em ziguezague por minha barriga. Ao chegar ao
meu ventre, a rosa fica mais suave a ponto de nem tocar diretamente minha
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pele, seguindo seu destino até o interior das minhas coxas. Movo meus
quadris em direção à sua mão.
Abro minha boca sem emitir som pela excitação que cada toque me
desperta. Meu sexo úmido se contrai em torno de seus dedos, o aperto forte
em minhas entranhas faz meu corpo estremecer. No momento, só tenho a
consciência de seus dedos dentro de mim e seu polegar provocando meu
clitóris.
Meus gemidos se tornam intensos, preciso da minha libertação,
preciso me livrar da agonia do aperto dentro do meu corpo pulsante. O
idioma russo sussurrado de maneira provocante é como música para meus
ouvidos, como se chamasse por meu orgasmo bem no fundo do meu interior.
― Não goze! ― ouço-o em algum lugar, enquanto meus olhos se
reviram em excitação.
Sinto sede e não sei se vou aguentar segurar tendo seus dedos se
movendo tão ágeis dentro de mim.
― Johnatan, não! ― ofego querendo apertar minhas coxas. ― Por
favor...
Mordo meu lábio gemendo com intensidade.
― Minha Roza ― o sotaque dispara com devoção em tono das
palavras. ― Apenas me espere possuí-la ― diz deslizando seus lábios macios
e quentes por meu joelho erguido.
A flor volta a passear pelo meu corpo até ser depositada em minha
boca, e inspiro seu perfume puro e intenso. Quando ele aproxima seu corpo
de mim, tenho o vislumbre de sua ereção potente. Engulo meu desejo ao
lembrar que tudo aquilo já esteve dentro de mim horas atrás.
― Apreciando a vista? ― pergunta rouco. Encaro seus olhos em
chamas, mas coro por ser pega de surpresa. ― Diga-me o que pensa!
Não é uma pergunta, muito menos um pedido, é novamente uma

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ordem.
Engulo em seco e sinto seus dedos mais profundamente.
― É... ― Arfo com prazer, mordo uma das pétalas quando sinto seu
dedo se afundar ainda mais dentro de mim. Oh, Deus...
― Diga ― ele exige causando-me arrepios.
― Que você... você é... ― tento dizer com urgência ao choramingar,
mas, ao mesmo tempo, eu me seguro em tremores para não gozar enquanto
seus dedos me provocam ainda mais.
Johnatan entende o que quero dizer e continua sua perversão:
― Você o quer dentro de você, Mine? ― pergunta e aceno com a
cabeça. ― Quer tê-lo todo dentro de você?
Seu polegar em meu clitóris duro e pulsante me faz lamentar ainda
mais.
― Você não pode gozar sem antes me dizer que quer tê-lo todo
dentro de você. Te devorando... Te desejando... Te adorando... Te possuindo
tão duro e ao mesmo tempo tão forte. ― Cada frase vem com uma nova onda
de sensações provocantes, enquanto seus dedos me torturam ― Responda! ―
exige grunhindo para mim, fazendo meu corpo gritar em desejo.
― Sim ― choramingo. ― Eu o quero todo dentro de mim, Johnatan.
Agora!
― Não sabe o quão gostoso é escutar meu nome saindo de seus lábios
provocantes. Seus gemidos estão me levando à perdição, minha Mine ―
geme de forma tão sensual que me sinto sufocante.
Sua mão livre desliza com força por meu corpo até apertar um dos
meus seios. Após retirar a rosa dos meus lábios, selamos um beijo. Lamento
quando seus dedos se retiram de repente e esfrego minhas coxas ao seu redor.
Johnatan se debruça sobre mim e inspiro seu perfume inebriante, uma
mistura de sexo e rebeldia. Seus cabelos se espalham para frente e noto como

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sua pele suada e corada mantêm seus músculos mais firmes. Seus olhos azuis
em chamas me encaram com luxúria. Os tremores em meu corpo aumentam
ainda mais quando finalmente sua pele cola-se contra a minha com
suavidade, mantendo seu peitoral um pouco distante dos meus seios para
provocar meus mamilos que parecem se erguer para ele, levando meu corpo
junto até grudá-lo por completo.
Deslizo meus dedos trêmulos por seus músculos e agarro seus
cabelos, trazendo-o para mim. Nossos lábios se encontram num beijo erótico,
cheio de desejo. Sua língua saboreia minha boca e retribuo a carícia, fazendo-
o ofegar em meus lábios. Em seguida, Johnatan se afasta para olhar minha
boca com tesão. Pisco em surpresa ao ver a embalagem da camisinha ser
posta em meus lábios.
― Morda a ponta do plástico! ― ordena.
Obedeço sem perder nosso contato. Ele puxa o plástico, rasgando-o
em meus dentes e retira o pedaço que restou em minha boca. Para completar,
provoco-o alcançado a camisinha com a língua e a puxando, mantendo-a
presa em meus lábios. Seus olhos piscam surpresos com minha coragem
perversa, fazendo meu coração acelerar com seu sorriso torto arrebatador.
Ele tira o preservativo dos meus lábios e sinto o gosto doce em meu
paladar. Seus olhos se escurecem, ficando cada vez mais surpresos com
minha depravação. Sigo olhando para baixo para analisar seus músculos, suas
pernas afastam as minhas enquanto o assisto colocar o preservativo
lentamente em sua ereção, como se me mostrasse todo seu comprimento e, ao
mesmo tempo, me provocasse deslizando a camisinha sobre ele.
― Ah! ― Arfo de repente quando ele me pega de surpresa
penetrando profundamente.
Sua boca cobre a minha e ofegamos com seu movimento. Meu sexo
dolorido se aperta, sentindo-me preenchida, desejando-o mais

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profundamente.
― Mais... ― deixo escapar inebriada, apertando seus músculos com
força.
― Quanto? ― rosna voraz mordiscando meu lábio. Ofego ― Quanto
precisa dele, minha Mine? ― sussurra deslizando seus lábios até meu ouvido
enquanto se move de maneira perversa.
― Mais fundo ― quase grito quando o sinto se mover com mais
força.
Rapidamente suas mãos apertam meus quadris, puxando-me para fora
do colchão. Gemo em surpresa ao estar sentada de frente para ele, sentindo-o
inteiramente dentro de mim até alcançar o ponto mais sensível e excitante em
meu interior.
Não nos movemos, apenas apreciamos um ao outro em nossa
conexão. Ao mesmo tempo que eu o sinto fundo, também o sinto muito
pulsante.
Sua presença tão próxima junto à forma como estamos me faz sentir
desejada. Ele me abraça com força, faço o mesmo, envolvendo meus braços
em volta do seu pescoço, arqueando meu corpo para sentir sua boca sugar um
dos seus seios. Sem demora, meu orgasmo intenso explode, fazendo-me
arranhar seus ombros ao gemer livremente. Sua voz russa me faz querer
puxá-lo de volta para meu seio, mas me mantenho embriagada com a
sensação libertadora dentro do meu corpo frágil.
Ao voltar para meu estado normal, mesmo ainda o tendo dentro de
mim, pisco meus olhos desorientados. Droga, eu fiz isso sem querer, mas
toda aquela sensação intensa me fez perder o controle de segurar minhas
entranhas apertadas. Coro, vendo-o me avaliar com curiosidade.
― Desculpe ― murmuro quase sem voz.
― Do que está se desculpando, Mine? ― sussurra acariciando meus

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cabelos.
Coro ainda mais sem saber o que dizer.
― Eu... eu... ― aperto meus lábios, engolindo em seco. A inquietação
me faz remexer em seu colo.
Seu olhar curioso fica sério de repente. Johnatan agarra meus quadris,
mantendo-o parado.
― Você gozou ― ele rosna antes de ofegar. ― Apenas diga que
gozou.
Hipnotizo-me com seus olhos em chamas me encarando com
intensidade. Meus lábios tremem ao se abrirem:
― Eu gozei ― digo rouca, vendo o desejo em sua expressão
satisfeita.
― E eu ainda não ― ele ergue sua sobrancelha. ― Estou dolorido
dentro de você e essa maldita camisinha parece me matar. O que fará quanto
a isso, minha Mine? ― gemo suavemente só de escutá-lo dizer que sou dele.
Minha reação de remexer o deixou daquela forma? Mordo meu lábio
voltando a cercar seu pescoço com meus braços para aproximar meu rosto do
seu, assim como minha boca. Seus lábios se aproximam, ameaço me afastar,
provocando-o e imitando seu sorriso torto. Sua expressão me transmite seu
desejo.
Movo-me em cima dele, logo sendo surpreendida com seu gemido
repentino. Aprecio vendo o quão entregue ele está. Suas mãos me ajudam a
mover para cima e para baixo. Grudo meu corpo no seu, seguindo suas
instruções sozinha. Suas mãos deslizam por minhas costas com domínio até
seus dedos estarem enfiados entre meus cabelos, puxando-os para trás, dando
livre acesso ao meu pescoço exposto.
Eu o escuto sussurrar algo, desejo ardentemente saber o que
significam as palavras, mas, ao invés disso, meu corpo parece entendê-lo.

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Meus quadris se movem num rebolado para frente e para trás. A excitação
retorna, fazendo-me ficar cada vez mais frenética.
― Isso, Mine! ― ele murmura, completamente entregue, e gemo
apertando seus braços. ― Isso é bom, continue.
Ele está perdido com seus olhos fechados.
― Ah! ― gemo com sua boca em meu seio, sugando-o com força
enquanto sua mão volta aos meus cabelos, puxando-os para trás.
Com movimentos acelerados, gozamos juntos. Caímos de volta no
colchão com nossas respirações aceleradas e abafadas, no momento, o lugar
parece quente demais. Depois de um tempo, movi meu rosto em seu peito
másculo, inspirando seu perfume enquanto seu nariz fuça meus cabelos e
suas mãos acariciam minhas costas suavemente.
― Como se sente? ― pergunta. Não ouso abrir meus olhos.
― Bem ― respondo ainda ofegante. Na verdade, sinto-me leve. ― E
você?
Minha pergunta sai preguiçosa, abro meus olhos cansados, erguendo
minha cabeça para apoiar meu queixo em seu peito. Seus olhos encaram o
céu pensativo, assisto-o tomar uma profunda respiração antes de me encarar
com seus olhos muito brilhantes e cheios de intensidade.
― Eu me sinto vivo ― declara, afastando os fios de cabelos da minha
testa suada.
Franzo o cenho.
― Por que diz isso com desconfiança? ― pergunto vendo seu sorriso
fraco. O gesto não chega aos seus olhos.
― Porque é novo para mim. ― Ele se ajusta cobrindo nós dois com
um lençol. Continuo a observá-lo.
― Novo como?
― Eu nunca me importei tanto com isso. Eu não ligo se uma mulher

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goza ou deixa de gozar. Isso é como uma arma para saciar minha tensão ―
revela me deixando confusa. Sua mão toca meu rosto para me tranquilizar. ―
Mas não foi o mesmo com você. Digo... Foi completamente diferente. Eu me
importei com você. Eu quero ver seu corpo, desejo conhecê-lo cada vez mais
para saber as sensações que sente no momento. Eu quero senti-la por inteira
mesmo odiando essas coisas que rompe nosso contato, mas eu a sinto pulsar
em desejo. É novo para mim, me fez gostar de como isso me agrada. É como
se eu quisesse me queimar dentro de você e virar cinzas sobre seu corpo,
apreciar seu perfume... Sua excitação, principalmente quando goza, é
inebriante. Estou arrebatado.
Não posso deixar de sorrir mesmo com suas palavras um tanto
perversas. Aqueço-me de dentro para fora. Seu polegar desliza pelo meu
lábio inferior, acariciando-o presunçosamente.
― Eu sou diferente? ― murmuro sentindo meu coração se aquecer.
― Completamente ― ele me dá seu sorriso brilhante, fazendo-me
perder o fôlego. ― E inteiramente minha ― dispara de maneira possessiva.
― Mas não acha isso perigoso? O que os outros vão pensar? ― pisco
desorientada.
Será que vou ser capaz de esconder meu interesse agora por Johnatan,
mesmo ele sendo meu primeiro e talvez último homem? Meu coração acelera
com a intensidade dos meus pensamentos.
― Vamos dar um jeito ― assegura rapidamente antes de beijar meus
lábios com suavidade. ― Até lá, vou te querer mais um pouco.
Arregalo meus olhos sentindo sua ereção em meu sexo, cutucando-me
pronta para me possuir. Eu o observo trocar a camisinha rapidamente. Mesmo
com o curativo em suas costelas, ele é quente. Tudo em Johnatan Makgold
exala mistério e, ao mesmo tempo, erotismo, agora mais do que nunca.
― Você sempre é assim tão insaciável? ― indago chocada, mas já

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excitada.
Seus olhos se erguem e noto Johnatan agarrar sua ereção para ajustar
a proteção, o gesto firme me faz engolir seco. Queria saber onde ele encontra
camisinha com tanta rapidez.
― Isso também é uma novidade para mim. Estou sendo insaciável
apenas com você ― afirma abrindo minhas pernas com facilidade. ― Seu
corpo é tão delicioso, tão provocante, tão meu ― sussurra se aproximando e
logo agarra meus cabelos para fixar meus olhos nos seus, revelando sua
possessividade sexual. ― Só meu.
E novamente sou consumida por seu fogo e suas carícias provocantes,
levando-me ao êxtase, fazendo-me gemer como nunca pensei que faria um
dia. Mesmo tendo-o como minha primeira vez, eu o sinto como se
completasse meu coração e possuísse minha alma. Não tinha dúvidas, eu sou
sua Mine, ou melhor, sua Roza, pois é a palavra que mais capturo em seu
idioma sussurrado enquanto me provoca.

Desperto, de repente, apreciando os tecidos se moverem calmamente


à minha volta. Sinto a leve brisa em minhas costas nuas, dando-me um
conforto imediato. Deslizo a mão pela cama branca ao meu lado à sua
procura, mas não o encontro.
Sento-me cobrindo meu corpo com lençol. A tenda está vazia, o teto
foi coberto por um tecido fino. Há uma bandeja no banco estofado com suco
de laranja, panquecas com mel e manteiga. Sorrio me rastejando pela cama ao
localizar a rosa junto com um bilhete ao lado.

" Uma linda rosa, para uma linda mulher.


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Você é minha"

Inspiro o perfume fresco da rosa aberta, sorrindo como uma idiota


para o bilhete. Fico vagamente curiosa para saber onde ele as colhe.
Ao lado da bandeja vejo minhas roupas dobradas: um vestido de
algodão com alça, até os joelhos, e minhas rasteirinhas. Coro me deparando
com uma das minhas calcinhas de renda azul em destaque.
Depois de tomar meu café da manhã, visto-me rapidamente. Com
lembranças de momentos anteriores intactas em minha mente, olho em volta
à procura da minha peça íntima rasgada, surpreendo-me só de imaginar o que
ele pode ter feito.
Inspiro fundo ao encarar a cama, vendo os lençóis bagunçados como
uma marca da nossa primeira vez e me apresso para arrumar. Por fim, coloco
minhas rasteirinhas e pego minha rosa, guardando o bilhete no bolso do
vestido.
Sigo meu rumo para fora dali na esperança de encontrá-lo. Também
preciso de notícias sobre Hush. Lembro-me vagamente do caminho, seguindo
em frente até localizar o lindo lago azul. Olhar para a água cristalina me faz
desejar um bom banho, o sol está um pouco mais forte, aquecendo minha
pele. Rapidamente encontro a barraca de Hush, corro até ela encontrando
James com o cavalo já de pé, mas nada de Johnatan. Meu sorriso se ilumina
por ver um Hush saudável. James me lança um sorriso aberto.
― Bom dia, James!
― Boa tarde, dorminhoca ― ele me corrige zombeteiro olhando para
a rosa em minhas mãos. ― Se você roubou isso do jardim encantado, então, é
melhor esconder.
Arregalo meus olhos envergonhada.
― Eu não sabia ― digo sobressalta.

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― Não se preocupe. O senhor Makgold passou a noite cuidando de


Hush. Saiu quase agora ― ele informa. Observo-o limpar a pelagem de Hush
com uma escova e um pano úmido.
― Para onde? ― pergunto, não querendo soar interessada demais.
― Deu algum problema em uma das empresas, com isso teve que
correr para dentro a fim de resolver ― responde encarando Hush de pé sem
se mover. James balança a cabeça em reprovação. ― Hush, você é teimoso.
― Ele é forte ― defendo-o sorrindo para Hush à minha frente.
O cavalo negro se aproxima de mim para se curvar, deixando-me
fascinada. Pisco emocionada como na primeira vez em que o vi, mas sem
cair. Então, abraço sua enorme cabeça curvada para acariciar sua pelagem
negra.
― Ele está confiando em você ― James observa com satisfação.
― Estou feliz por isso ― digo contente. Hush se levanta
delicadamente para não me derrubar e continuo a acariciá-lo abraçando seu
pescoço, sua cabeça se curva como se retribuísse o abraço. James nos assiste
sorrindo.
Ao saímos da barraca, Hush nos acompanha ainda cambaleante, mas
forte o suficiente para seguir livremente.
― Jordyn deve estar nervosa por eu estar atrasada ― culpo-me pela
falta na casa.
― Pelo contrário ― James ri. ― Aquela garota está em êxtase. O
senhor Makgold deu folga para todos. Parece que ver Hush recuperado o
deixou de bom humor.
Pisco corada, olhando para o cavalo nos seguindo até chegar ao
campo.
É fácil conversar com James, ele não é tão alheio aos ocorridos,
apenas aceita de forma respeitosa.

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― Então, ela está mais que feliz. Jordyn sonhou com a chegada do
sábado a semana inteira ― rimos.
― Tenho que cuidar dos outros, mesmo com a folga, não posso
abandoná-los ― sorrio para James vendo sua preocupação com os outros
cavalos.
― Eu vou entrar. Cuide bem dele! ― acaricio o pescoço de Hush.
― Pode deixar ― James me dá sua palavra e, em seguida, segue com
ele.
Os outros estão fora do celeiro. Sid é uma égua expressiva ao me
olhar com indiferença. Sua cabeça se vira para lado vendo Hush se
aproximar, a linda égua branca não vai com a minha cara de forma alguma.
Aperto meus lábios evitando sorrir com a ideia de que ela não me aceita ao
lado de Johnatan, meu modo de pensar é comicamente estúpido.
Já Lake corre para Hush, depois saltita ao seu redor, parecendo feliz
de ter seu amigo de volta ao campo. Ian se junta a eles, pulando com Lake,
feliz ao ver Hush. Pela primeira vez vejo Hush curvar sua cabeça em direção
a Ian. O pequeno garoto louro parece surpreso com o gesto repentino do
animal, esticando sua mão para tocar o focinho dele com cuidado.
Depois de deixá-los no campo caminho para a casa. Assim que entro,
parece que tudo se tornou novo para mim, ao mesmo tempo em que me sinto
mais familiarizada com o lugar. Caminho cheirando a rosa, à procura de
Donna para lhe dizer como Hush está.
Ao caminhar pelo corredor das salas, paro abruptamente ao escutar a
voz desconhecida de uma mulher. Dessa vez mais melosa, tenho certeza de
que não é a senhora Banks. Fico na parede escondida para escutar a voz
suave e afobada de Johnatan, mas, de certa forma, aborrecido com algo.
Aproximo-me sem ser vista para conseguir escutá-lo com clareza.
― Podemos ir jantar ou para algum lugar mais calmo ― eu a escuto.

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Curvo-me na tentativa de espiá-los.


A mulher é magra e muito bonita. Usa um vestido vermelho vinho
colado, meia-calça escura e saltos pretos. Seus cabelos vermelhos intensos
caem como ondas em suas costas. Meu coração se afunda ao ver a ruiva
enroscada em seu pescoço. Johnatan apenas a olha de maneira superior sem
se mover, mas suas mãos estão em sua cintura.
― Verônica, eu já falei para não aparecer na minha casa ― dispara
com frieza, mas isso parece não amedrontar a ruiva.
― Só queria fazer uma surpresa ― explica com sua voz suave. ― E
já têm mais de uma semana que não nos encontramos. Então, acabei de
chegar de viagem e resolvi lhe fazer uma visita. Não aceito não como
resposta. Tenho algo muito especial para você ― a malícia em sua voz me
enoja. Johnatan a afasta pela cintura e a vejo se aproveitar para selar sua
audácia com um breve beijo nos lábios.
Johnatan se afasta perdido, olhando-a confuso. Escondo-me a tempo
quando sua cabeça se vira em minha direção e logo sinto as lágrimas em
meus olhos. Afasto-me, tendo o cuidado de não ser vista, apertando a rosa
contra meu peito dolorido. Refaço meu caminho para meu quarto a fim de
ficar por lá o resto do dia.
Como fui tola em me entregar tão facilmente! É claro que foi um erro,
sempre foi e sempre será. Sinto-me ingênua por me deixar alimentar dessa
forma.
Limpo minhas lágrimas estúpidas com raiva. Não tem o porquê de
chorar agora. É claro que ele se aproveitaria, que mentiria. Ele mente o tempo
inteiro. Só que a outra parte do meu subconsciente me faz lembrar de que ele
a manteve distante, contudo, isso não apaga o beijo que a ruiva deu em seus
lábios.
Assim que entro no meu quarto fecho a porta atrás de mim. Fico

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pronta para chocar minhas costas na madeira, mas me assusto ao ver Jordyn
em meu quarto com minha cama coberta de peças de roupas.
― Jordyn! ― disparo assustada. Consigo disfarçar com sucesso a dor
em meus olhos.
Aproximo-me do criado-mudo para colocar minha rosa no copo e o
bilhete na gaveta. Eu desejava ficar sozinha.
― Hoje é sábado ― ela bate palmas e me distraio com sua
empolgação. ― Vamos a uma boate.
Balanço minha cabeça incrédula, vendo a quantidade de peças em
minha cama, algumas mais curtas, outras mais longas.
― Boate? ― ela acena. ― Você tem idade para entrar em uma?
― Não e nem você, eu vi pela sua ficha na última festa de jantar a que
fomos ― diz cada vez mais que empolgada. ― Eu tenho dezoito e você
dezenove, mas nessa boate eu tenho alguns conhecidos. Às dez horas da noite
vamos ter que estar prontas. O senhor Makgold não estará em casa, talvez
sairá com aquela ruiva nojenta. Aproveitamos o horário e fugimos ― ela bate
palminhas saltando junto com seus cabelos caramelos.
Meu coração pode ficar pior?
― Como? ― pergunto rouca, mas Jordyn parece não perceber o
tremor em minha voz.
― Apenas escolha algo legal para essa noite, vamos nos divertir,
esquecer cansaço, esquecer problemas, preocupações e decepções ― dispara
me pegando de surpresa.
― Já sofreu alguma decepção? ― fico curiosa.
― Algumas, mas foram passageiras e estou vendo que você também.
Você pode achar que eu não estou percebendo, mas estou sim ― ela tagarela
me fazendo engolir seco. ― Seja lá quem fez isso com você, vamos resolver
depois.

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Franzo a testa.
― Eu não sei se é uma boa ideia ― digo preocupada.
― Não é uma boa ideia irmos ao baile ou tirarmos satisfação com
quem te deixou assim? ― pergunta em dúvida.
― O quê? Eu não tenho ninguém ― minto. ― Quer dizer, talvez, eu
não sei.
― É o James, não é? Eu sabia que aquele garoto não sabe
simplesmente esquecer seu trabalho e se concentrar em uma garota ― diz
distraída com os sapatos.
Fico alarmada.
― O quê?
― Vamos lá, Mine. Está na cara que ele gosta de você. Até que é
bonitinho ― ela sorri.
― Não, Jordyn, não! Somos apenas bons amigos ― eu a corrijo.
― Tudo bem ― ela dá de ombros.
― Eu estou querendo dizer que não é uma boa ideia irmos ao baile
assim ― informo ainda incrédula com os assuntos anteriores. ― E você tem
apenas dezessete anos, e eu, quase vinte.
Jordyn joga uma camiseta xadrez em meu rosto, fazendo-me piscar.
― Dezoito ― ela corrige como se ferisse sua alma. ― Então, vamos
comigo, senhora dois a três anos mais velha? ― ela me deixa inquieta.
― Jordyn...
― Você está parecendo nosso chefe. Só perde para ele em questão de
idade ― zomba me distraindo com uma peça decotada. Jesus, ela usa isso?
― Qual a idade dele? ― finjo desinteresse.
― Vinte e oito ― responde.
Pisco ainda encarando a roupa em minhas mãos. Sim, ele é bem mais
velho. Isso não poderia soar tão erótico para mim, nem mesmo estando

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aborrecida com ele.


― Vai querer ir com essa? Acho uma boa ideia ― Jordyn me distrai
olhando a peça em minhas mãos e a solto rapidamente.
― Não! ― faço uma careta. ― Eu não vou.
― Certo, mas eu já aviso que vai ser divertido. Vamos apenas ir para
algum lugar diferente, longe de tudo isso ― ela parece suplicar. ― Se não
for, então, eu irei sozinha.
Também preciso respirar novos ares. Na verdade, nunca fui a uma
boate, mas a curiosidade me desperta, o pior é a agonia em meu coração ao
ver Jordyn à minha frente. E se algo acontecer com ela? Eu devo estar por
perto o máximo de tempo possível.
Deixo Jordyn escolher suas peças de roupas, ligo para meu pai, ao
mesmo tempo indagando se aprovo ou não. No telefonema, meu pai parece
bem, dizendo que teve uma boa melhora e me contando sobre suas vendas.
Eu sinto sua falta, desejo vê-lo o mais rápido possível. Depois que nos
despedimos, vejo Jordyn escolher algo para mim, mesmo eu dizendo não.
Por um momento pergunto a ela sobre a ruiva, dando-lhe minha
melhor cara de desentendida, isso a faz me dar um breve relatório de que a
mulher não costuma aparecer pela casa e, quando isso acontece, Johnatan fica
mais nervoso que o normal. Parte de mim fica aliviada pela rejeição dele, mas
a outra parte do meu coração se aperta por desconfiar que eles têm algo mais
íntimo.
Jordyn acaba escolhendo um vestido strapless preto um pouco acima
dos joelhos com botas de salto da mesma cor. Ela até mesmo me obriga a pôr
as botas para desfilar como se me ensinasse a caminhar para que eu não me
desequilibre, eu desfilo várias vezes até me acostumar com o monstro. Em
parte, fico vagamente agradecida pelo salto não ser tão alto e nem mesmo
fino.

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Jordyn sai do meu quarto deixando apenas as peças emprestadas para


usar à noite junto com algumas maquiagens. Eu não me sinto animada com
isso. Durante o jantar, Donna informa sobre a saída de Johnatan, fazendo meu
estômago se embrulhar e o sorriso de Jordyn se abrir. Reviro meus olhos.
Ao retornar para em meu quarto, sinto-me cada vez pior, odeio-me
por estar sendo consumida pelo desânimo, pelas tristezas e as lembranças da
noite anterior. Sigo para o meu banho, forçando minha disposição a se erguer
junto comigo. Depois da ducha tranquilizante, passo o creme de pele antes de
vestir minhas peças íntimas, em seguida, coloco o vestido preto com esforço.
Ao me olhar no espelho, observo que a roupa aperta meus seios, dando forma
a eles.
Suspiro ao me preparar com as maquiagens sobre a pia, decidindo
passar duas camadas de rímel e um batom em tom de pele. Penteio meus
cabelos úmidos, deixando-os soltos e amasso em minhas mãos para dar forma
de cachos nas pontas. Coloco um dos brincos que Jordyn me emprestou, sem
demorar para olhar a garota enfeitada na frente do espelho. Calço as botas
rapidamente depois de verificar as horas e saio notando a casa silenciosa.
Jordyn pediu para que a esperasse no campo perto do portão e é isso
que faço assim que saio da mansão. Um minuto depois das dez da noite, vejo
um carro prata conversível saindo da casa. Fico reta, engolindo meu
nervosismo, Johnatan está aqui? Meu coração acelera em desespero junto
com a ansiedade, aperto meus lábios. Os portões se abrem, o carro passa ao
meu lado com lentidão. Eu estou ferrada! A janela escura se abaixa e os
faróis piscam. Jordyn está no volante destacando sua maquiagem pesada.
Fico chocada.
― O que você está fazendo?
― Só é uma volta. Você está linda. Agora entre ― ordena ela. Corro
para o lado do motorista e entro, não acreditando que ela pegou um dos

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carros do chefe.
― Jordyn você está louca? ― pergunto a repreendendo. Ela dirige
para longe, sorrindo.
― Eu não vou entrar numa boate sem estilo, eu gosto dessa BMW ―
ela ri empolgada.
― Se acontecer alguma coisa com esse carro, estamos fritas. Já não
basta fugir, agora isso? ― reclamo.
― Mine, vai ser divertido. ― Jordyn parece não me dar ouvidos.
Sua pisada no acelerador me faz segurar o banco, assustada com sua
direção.

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17 – CONFIAR

Assim que chegamos à boate, Jordyn estaciona o carro. Entramos com


facilidade com a ajuda de um dos seus conhecidos, um barman que a olha
feliz. Jordyn veste apenas uma camisa de linho solta, saia jeans curta e
sandálias de salto. Parece radiante enquanto me encolho ao seu lado ao entrar
numa boate movimentada.
A música eletrizante acompanhada com as luzes vibrantes contagiam
o lugar com várias pessoas se movendo ao redor. Jordyn me apresenta para
algumas delas, mas esqueço o nome de todas. Pergunto-me quantas vezes ela
já veio escondida para esse lugar. Quando as bebidas são oferecidas, ficamos
apenas com refrigerantes, pelo menos, nisso Jordyn está ciente, curtindo seu
momento. Beberico minha soda, deixando-a se divertir ao meu lado. De vez
em quando, eu me divirto a assistindo imitar alguma garota dançando na
pista.
― Vamos lá, Mine? ― ela chama, puxando meu braço.
Balanço minha cabeça.
― Eu não sou boa nessas coisas ― confesso.
― É só remexer o corpo, não é difícil. Vamos! ― cambaleio com ela
para dentro da pista movimentada.
A pista está lotada de pessoas dançando e se espremendo. Fico sem
saber o que fazer ali. Os jogos de luzes me deixam sem foco, como se todos
fossem fantasmas ao meu redor. O som das músicas remixadas explode pelos
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autofalantes como gritos. Algumas mãos abusadas cercam meu corpo, mas
me afasto olhando para Jordyn, que dança com um homem esguio
animadamente.
Questiono-me por que vim parar num lugar desses. O pressentimento
é estranho para mim, a pista se torna sufocante. Numa parte conflitante em
minha mente, sinto-me vigiada, mas devo repetir a mim mesma que estou
aqui para cuidar de Jordyn.
Balanço minha cabeça para focalizar Jordyn, querendo sentir o alívio
de tê-la por perto, só que não a encontro. As luzes começam a piscar com
frequência, interrompendo minha visão. Minha respiração abafada se altera,
meu alívio de encontrá-la dura apenas meio segundo ao ver um outro homem
a encarando de maneira fria. Pelo pouco que vejo, é o homem esguio de
mandíbula firme. Ele diz algo a ela, em seguida agarra seu braço.
A pista parece cada vez mais apertada, empurrando-me para trás
quando ouso seguir meus passos para frente.
Minhas costas batem contra um corpo causando-me um choque
instantaneamente. Viro-me para pedir desculpas erguendo minha cabeça para
o enorme homem com terno sob medida encarando-me com seus olhos em
chamas. Seu cheiro intenso faz a música gritante desaparecer da minha mente
como distração.
― Johnatan? ― eu o chamo. Tenho um leve vislumbre de conforto
em seus olhos, mas logo retornam para frios novamente.
Isso não é bom, ele está nervoso. Pior, furioso.
As pessoas dançam em volta enquanto nos olhamos. Sem que eu
espere, Johnatan se curva, aproximando-se de mim, e paraliso. Ele inspira,
fechando os olhos como se pedisse por controle, mas sua mandíbula continua
travada. Quando penso que vai me fitar, fixa sua visão para cima.
Sigo seu olhar vendo Jordyn sendo puxada pelo homem de terno

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preto. Ele deve ser algum segurança que descobriu sua idade, meu estômago
se embrulha. A música pode estar alta, mas a voz russa de Johnatan, como se
amaldiçoasse a situação, faz meus ouvidos zunirem e meus ossos tremerem.
Sua mão quente agarra meu cotovelo quando estou disposta a correr
até Jordyn. Olho para ele incrédula. Ele se curva, fuçando seu nariz em meu
cabelo até chegar ao meu ouvido, arrepio-me sentindo sua respiração quente.
― Fique aqui ― sua voz fria faz meu corpo estremecer em excitação
e medo.
Johnatan se afasta, fico surpresa ao ver Peter à minha frente com a
expressão repreensiva. Sinto-me como uma criança desobediente. Johnatan
segue até onde Jordyn foi carregada para uma sala, estremeço pelo que pode
acontecer.
Peter é gentil, conduzindo-me até uma área distante.
― Mine, o que pensam que estão fazendo? ― pergunta preocupado.
― Foi por Jordyn, eu temi que acontecesse alguma coisa com ela. Eu
juro que estava prestes a tirá-la daqui.
Peter balança a cabeça desapontado.
― E ainda roubaram o carro do senhor Makgold? ― sua expressão
lembra meu pai.
― Não, eu não sabia que ela faria isso. Peter, eu só estava querendo
protegê-la ― explico em defesa.
― Eu sei disso, Mine, mas o senhor Makgold está furioso. Seja lá o
que ele for dizer, apenas o escute sem interrompê-lo ― seu alerta faz meu
coração disparar.
Assusto-me com a chegada de Johnatan.
― Jordyn está na Mercedes ― seu tom de voz é frio e autoritário. ―
Vou levar a BMW. Aguarde meu sinal ― Johnatan informa. Peter o entende
perfeitamente.

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Em parte, fico aliviada por saber que Jordyn está bem.


― Sim senhor ― Peter se afasta.
Johnatan me fixa com frieza.
― Você vem comigo! ― ordena entredentes. Sim, estou muito
encrencada.
Ele volta a agarrar meu cotovelo, arrastando-me para longe. Peter não
está mais à vista, pergunto-me se estamos seguindo para os fundos. Alguns
seguranças de terno o reconhecem, dando um aceno antes de nos darem
espaço para passarmos. Eu praticamente tropeço em meus pés tentando
alcançar seus passos rápidos.
― Por favor, não fique bravo comigo! ― peço quando seguimos por
um corredor de poucas luzes. As batidas das músicas se tornam abafadas.
― Bravo? ― seu sorriso é frio. ― Estou muito além disso, Mine. A
palavra bravo não chega nem perto do que realmente estou sentindo.
Ele me encara como se tivesse horrorizado com a escolha da palavra.
― Eu estava tentando proteger Jordyn. Eu não queria deixá-la
sozinha, sabia que se eu não viesse, ela viria só. Temi isso ― minha voz se
sobressalta em virtude da minha inútil e trôpega corrida.
― Proteger? ― dispara ríspido. ― Você nem mesmo consegue se
manter segura ― acusa.
Freio meus pés quando sua fúria me atinge. Puxo meu braço para
longe do seu toque.
― Me solta! ― quase grito. Ele me encara em alerta. ― Eu não pedi
para você estar aqui. Você poderia estar lá jantando com sua amiga ruiva. Eu
apenas fiz isso por Jordyn. Se conseguisse ler as pessoas à sua volta, saberia
que ninguém gosta de se manter preso a você! ― explodo, seus olhos se
arregalarem.
― Não sabe o que está falando ― seu tom se torna mais afiado do

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que o meu.
― Você está certo. Eu só sei poucas coisas sobre você e sinto muito
pelo o que te aconteceu, mas não é necessário manter todos na sua escuridão
― enfrento-o com raiva sem ter medo dos seus lindos olhos gélidos.
― Vamos embora agora! ― sua voz fria faz meus dentes se
apertarem, afasto-me quando ele ousa me tocar novamente.
― Eu posso ir sem sua ajuda. É só me mostrar o caminho ― destaco
minha fúria.
Johnatan ergue sua sobrancelha antes de se afastar para que eu siga
em frente com meus passos duros.
― Devagar! ― ordena atrás de mim.
Ah, pronto! Agora ele quer que caminhemos normalmente? Vai
entender!
― Você é um controlador ambulante ― acuso resmungando.
― Por que é tão difícil manter uma pessoa em segurança hoje em dia?
― Ele pergunta agressivo.
― Preferiria ir com Peter em vez de aguentar seu humor ― viro meu
rosto para encará-lo.
― Vamos conversar quando estivermos em casa. ― Engulo em seco
ao pensar que Jordyn também está no meio.
Paro de andar para olhá-lo com petulância.
― Bem, senhor. Pode descarregar sua frustração agora, porque não
vou estar a fim de ouvi-lo mais tarde ― digo confiante. É melhor ter sua
fúria aqui do que Jordyn presenciá-la.
Sua boca se aperta numa linha firme. Travo quando vejo sua intenção
de se aproximar para tirar toda a merda do meu corpo com um olhar
censurado, mas ele para abruptamente quando nos assustamos com um grito
fino e agonizando em algum lugar.

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Os olhos de alerta de Johnatan se alargam, perdendo o foco, a ruga em


sua testa demonstra sua desconfiança ao seguir sua atenção na direção em
que o grito surgiu. Por um instante, penso que seja Jordyn.
― JOHN! ― Olho para ele vendo suas mãos se fecharem em punhos
firmes. ― JOHN!
A voz é agonizante, estremeço dos pés à cabeça.
― Thessy! ― Johnatan grita de volta, revelando o desespero em sua
voz ― Thessy! ― De repente, corre pelo corredor. Sigo-o preocupada.
A voz infantil grita por Johnatan sem parar, um som pequeno demais,
desesperado demais, inocente demais. Ele parece cego ao chegar ao
estacionamento sem movimento. Pergunto-me quem é. Arregalo meus olhos
ao me tocar quando os gritos ficam cada vez mais próximos, corro para
agarrar sua mão.
― Johnatan! ― chamo em desespero, querendo sua atenção.
― JOHN! ― os gritos passam por cima da minha voz, estremeço.
― Johnatan, não é ela ― suplico, puxando-o para longe dos gritos,
mas ele é forte o suficiente para me levar junto.
― THESSY! ― sua voz alta treme com fervor e agonia.
― Não é sua irmã. Johnatan, me escuta! ― Solto sua mão me
colocando à sua frente, impedindo-o de seguir. Agarro seu rosto, erguendo-
me na ponta dos pés na tentativa de trazer seu olhar fervente para mim. ―
NÃO É ELA! ― digo com firmeza.
Seus olhos me encaram preocupados. Vejo seus dentes à mostra se
apertarem, um grito agonizante sai entre eles. Johnatan está muito vulnerável.
A voz gritante da garota segue, mas ele não me dá ouvidos, continuando a
seguir em frente.
Entro em desespero, mas logo acompanho a direção de onde segue,
deparando-me com um minigravador sobre o chão de linóleo. Ele pisa

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duramente, quebrando o objeto em pedaços, os gritos sessam de imediato,


ficando um silêncio assustador, minha nuca pinica, sabendo que não estamos
sozinhos.
Ao olhar para meu lado esquerdo, vejo alguns vultos se moverem até
surgirem alguns homens de ternos escuros com olhos ameaçadores. No
início, são cerca de cinco, mas logo se multiplicam, dando a volta entre os
carros, aproximando-se em ameaça. Os barulhos me estremecem ao
rastejarem correntes no chão, cliques de canivetes e outros com bastões de
ferro, batendo nas mãos como aviso.
Um deles, que não tem uma das orelhas, encara Johnatan com um
ódio mortal. Fico trêmula, incapaz de sair do lugar enquanto onze dos
homens nos cercam. Olho para Johnatan, ele ainda encara o gravador
quebrado no chão. Subitamente, assusto-me com sua risada fria, ronronando
no fundo da sua garganta. Quando seus olhos em chamas se erguem em
ameaça mortal, vejo uma leve compaixão entre eles com as lágrimas presas
ao me encarar. Arfo com a intensidade perigosa.
― Confia em mim? ― sussurra apenas para que eu ouça.
Pela minha visão periférica, o grupo de preto espera que nos
movamos, como serpentes prontas para atacar suas presas.
― Sim ― respondo.
― Então, corra! ― ele aponta sua sobrancelha indicado atrás de mim,
em seguida, balança a manga de seu terno destacando a lâmina de uma faca
em sua palma.
Sem que eu espere, ele a lança por cima da minha cabeça. Giro meu
corpo automaticamente, vendo o homem que estava atrás de mim caído com
a pequena faca em formato redondo crava em seu pescoço. Ele está morto.
Rapidamente me ponho a correr enquanto os homens de preto
avançam. Escuto os grunhidos atrás de mim junto com as armas que

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carregam. Ao me virar para espiar Johnatan, vejo quatro deles caídos e o


restante lutando com brutalidade. Johnatan usa todas as armas presentes
durante a luta. Ele é rápido e, ao mesmo tempo, violento, sem dar chances
aos agressores.
De repente, um deles me distrai correndo em minha direção, ele é
veloz. Forço minhas pernas a correrem para longe do estacionamento, apenas
me viro para ver meu perseguidor, mas sou pega de surpresa quando uma
corrente é lançada em sua cintura, lançando-o para trás com força. Johnatan o
puxa para si enquanto luta com mais três, dois deles se contorcem em agonia,
tentando se levantar com os rostos ensanguentados. Os demais estão no chão,
imóveis.
Assim que Johnatan alcança o perseguidor, derruba-o de joelhos com
força, em seguida, quebra sua espinha junto com seu pescoço, sem lhe dar
tempo de respirar pela última vez.
Sigo para as portas duplas à frente, dando de cara com uma rua
deserta, pouco iluminada. Continuo a correr, sentindo a adrenalina
desesperada em minhas veias, temo que algo aconteça com Johnatan. Um
ronco me tira a atenção quando escuto motos brutas se aproximando. Paro de
correr em linha reta, sem fôlego.
― Johnatan ― eu o chamo em voz baixa, como uma inútil sem saber
para onde ir.
Percebo que não uma, mas duas motos avançam. Corro em direção a
uma esquina mais iluminada, percebendo que é um extenso estacionamento
aberto, sem carros. Não há sequer um lugar para me esconder. Escuto-os me
perseguindo, logo me curvo ao escutar os tiros. Um deles atinge o poste de
luz por onde eu passo, fazendo meus ouvidos zunirem. Mesmo sendo inútil,
protejo minha cabeça com meus braços.
Paro abruptamente quando uma moto com uma pessoa de capacete e

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roupas escuras de couro bloqueia minha saída. Sua moto fosca preta me
intimida. Ponho-me a fugir de volta quando ousa me seguir. Minha respiração
não ajuda manter meu corpo tranquilo, fico sem saída, parando no meio do
estacionamento ao ver a BMW prata de Johnatan se aproximando. O carro
veloz faz meus olhos se arregalarem, estou encurralada com as pernas
bambas.
Logo a porta do passageiro é aberta, o carro desliza em uma manobra
giratória até que vejo Johnatan se esticar para me puxar com rapidez,
fazendo-me entrar dentro do carro em movimento, como uma boneca de
trapo protegendo a cabeça. A porta se fecha com um baque firme. Com sua
ajuda, ele trava o cinto de segurança em meu corpo. Sua agilidade foi tanta,
que mal consigo respirar, imaginando que se o carro me batesse, estaria
voando a quilômetros de distância.
A respiração pesada de Johnatan preenche o ambiente. Encaro a frente
vendo a moto se aproximar. Johnatan troca a marcha dando a ré com
velocidade, meu susto sai pela boca ao ver os tiros contra o carro como
faíscas, o barulho é assustador. Muitos são atirados contra os vidros, que não
sofrem nenhuma lesão.
Johnatan acelera, passando pela rua estreita. Aperto minhas mãos no
banco com medo. Ao chegar na rua principal, Johnatan vira o carro, batendo
a traseira com força contra o motoqueiro perseguidor. Ele dirige com mais
velocidade. Noto mais duas motos nos perseguindo.
― Johnatan ― chamo-o com pavor quando ele gira o carro abrindo a
janela do seu lado.
Suas mãos apertadas no volante estão com luvas escuras. Ele saca, de
dentro do seu paletó, uma arma e atira contra os dois perseguidores. Ambos
perdem o controle, caindo brutalmente junto com suas motos. O último
disparo vai direto no primeiro motoqueiro caído, assustando-me quando vejo

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a moto explodir junto com o homem por perto.


Encaro Johnatan, vendo seus olhos ameaçadores enquanto ele recolhe
a arma antes de dirigir para longe, pisando fundo no acelerador. Minhas
costas se chocam contra o banco macio.
Quero ouvir sua voz, mas sei que se eu disser alguma coisa, só vai
piorar sua fúria. Apenas escuto sua voz fria quando liga para Peter dizendo
que está a caminho.
Ao chegar à mansão, o silêncio é perturbador. Saio do carro assim
como ele, vendo-o bater a porta com força antes de seguir em frente. Bem,
pelo menos, ele não sofreu nenhuma lesão. Peter se aproxima do carro para
colocá-lo em seu devido lugar no estacionamento da mansão, vê-lo significa
que Jordyn está segura lá dentro.
Entro, na casa adormecida, com uma parcela de culpa ao encontrar
Donna vestida com roupas de dormir. Seus olhos em mim são tristes, mas
gentis. Lamento, desculpando-me com minha expressão. Jordyn, sentada na
escada, levanta-se assim que vê o chefe. Seu rosto está pálido.
― Senhor Makgold... ― ela tenta se explicar. Johnatan levanta seu
indicador a silenciando. Seu olhar passa por nós duas.
― As duas. Na minha sala. Agora! ― seu tom frio me faz encolher.
Jordyn segura suas lágrimas.
Nós o seguimos feito crianças até a biblioteca. Assim que entramos,
fecha a porta atrás de mim antes de seguir para a sua mesa.
Ele desliza as mãos em seus cabelos com força, puxando uma
respiração profunda.
― Estou esperando ― Johnatan diz sombriamente, debruçando-se
sobre a mesa para nos encarar.
― A culpa foi toda minha, eu assumo meus erros. Juro que não farei
mais isso ― Jordyn se desculpa trêmula.

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― Ela não fez por querer. ― Tento o meu melhor.


― Vocês sabem a gravidade e os riscos que cometeram lá fora?! ―
sua voz se altera fazendo Jordyn soluçar. ― Como podem sair no meio da
noite, pegar um carro para ir para uma boate sem terem idade para isso?
Saindo sem dar satisfação? E, você, como pôde acobertar e deixar uma garota
de dezessete anos sabendo dos riscos lá fora? ― ele me encara em sua última
pergunta, engulo em seco.
― Eu sinto muito ― Jordyn lamenta.
― Deveria ter sentido antes de sair de casa e ser quase morta. Jordyn,
você acha que sou idiota? Acha que não tenho como monitorar a segurança
dessa casa? Acha que não sei que não é a primeira vez que faz isso?
Os olhos de Jordyn disparam assustados.
― Eu...
― Você não sabia, mas eu sei sobre suas saídas. Eu não me importo
desde que tenham responsabilidades. Pegar meu carro saindo com Mine não é
algo de que eu deva me orgulhar!
― Eu sei ― ela acena culpada.
― Não, você não sabe. As duas não sabem ― ele nos encara se
apoiando em sua mesa. ― Poderiam ter morrido, sido violentadas ou coisa
pior! ― seu grito assusta nós duas.
― Mas isso não aconteceu...
― MAS PODERIA TER ACONTECIDO! ― dispara sua fúria para
mim. ― Eu espero que isso sirva de lição para ambas antes de saírem de
casa. Jordyn, foi imaturo da sua parte, esperava mais de você. Levar Mine
para esses lugares também não foi uma boa ideia. ― ele a repreende,
fazendo-a soluçar ainda mais, aperto meus lábios ― Agora, saiam daqui! ―
ele ordena num tom afiado.
Jordyn praticamente corre da sala de estudo sem olhar para trás. Pisco

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chocada.
― Como pôde tratá-la dessa forma?
― Ela vive na minha casa, deve ter cuidados, mesmo eu tendo uma
equipe de segurança lá fora para cada um deles. ― avisa entredentes.
Balanço minha cabeça sem acreditar.
― Espere ― peço coordenando meus pensamentos. ― Tinha alguém
nos vigiando?
― Vigiando Jordyn e não você. Quando soube que estava junto com
ela na boate, eu queria matar quem quer que seja que a deixou entrar. ― Seu
olhar é severo.
― Queria que eu ficasse para fora? ― Veja, eu também posso ser
petulante.
― Queria que você estivesse aqui. Em segurança!
― Pode estar com raiva de mim, mas tratar Jordyn dessa forma é
exagero ― disparo.
― E o que sabe sobre exagero, Mine? Ambas quase foram mortas.
Estávamos numa elite organizada por uma máfia que sabia que uma das
minhas funcionárias estava no local com uma acompanhante que
provavelmente não sairia imune para contar história. Enquanto eu tive que me
duplicar para salvar vocês... ― A revelação me faz estremecer. ― Então... O
que sabe sobre exagero?
Inspiro profundamente, controlando meu medo.
― Ela só queria se divertir ― sussurro. ― Mas não a culpe por tudo
que aconteceu essa noite...
Eu sei que boa parte da sua fúria tem a ver com os ocorridos no
estacionamento. Seus olhos se levantam para mim friamente.
― Eu a culpo por ela arrastar você ― dispara ríspido.
― Mas em parte isso não faz diferença. Não a culpe por algo que

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aconteceu naquele maldito estacionamento. E ela não me arrastou ―


enfrento-o.
Assusto-me quando sua palma bate contra a mesa, em seguida, dá a
volta para me encarar.
― Você não sabe o que está dizendo, Mine ― seu tom é ameaçador.
― Se alguns deles saírem impune e a virem, vão caçar. Isso significa que vão
te matar.
― A morte pode chegar a qualquer momento, Johnatan. É algo
inevitável ― digo com frieza.
― NÃO PARA MIM! ― ele bate em seu peito como se ainda fosse o
dono do mundo. Seus olhos frios me encaram com uma fúria inexplicável.
― Então, por que continua aqui e não vai procurá-los? Por que não
aumenta sua sede de vingança fazendo jus a isso em vez de perder seu tempo
achando que é dono do mundo? ― cuspo as palavras para ele.
― Por quê? ― pronuncia minha pergunta incrédulo. ― PORQUE EU
JÁ PERDI MUITA COISA NA MINHA VIDA, EU ME RECUSO A
PERDER VOCÊ! ― grita como se fosse um desabafo. Dou um passo para
trás sem fôlego como se tivesse levado um tapa na cara e um chute no
estômago.
Engulo o nó em minha garganta, apertando minha boca com força.
Johnatan se afasta da nossa intensidade, segue para a parede de vidro
atrás de sua mesa para encarar a noite com as mãos em seus bolsos. Eu sei
que ele está quebrado, seja lá quem quer que tenha feito isso, sabia do seu
ponto fraco.
― Eu sinto muito ― lamento. ― O nome dela era Thessy? ―
pergunto na esperança de ouvir sua voz.
― Sim ― ele responde com tristeza. Meu coração se aperta.
― Eu queria impedi-lo de seguir em frente. Sabia que tinha algo de

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errado, mas você parecia ...


― Cego ― ele me interrompe. ― Eu sabia que alguma coisa não se
encaixava, mas aquilo é meu pesadelo, dia após dia, noite após noite. É algo
que me assusta, que me leva ao passado ― explica de forma distante.
Caminho até ele, encarando suas costas. Não hesito, envolvo meus
braços ao seu redor, apertando minha bochecha em seu paletó. Meu abraço o
pega de surpresa, como se seu corpo ficasse em alerta. Pobre Johnatan, ao
mesmo tempo que é forte, para mim demonstra ser um homem vulnerável e
infeliz. Eu lamento por seu sofrimento.
― Se eu tivesse o poder de curar sua dor. Eu o faria ― declaro com
fervor, arrastando uma das minhas mãos até seu peito.
Ele a agarra, levando-a até sua boca para beijar meus dedos. Escuto as
palavras russas sendo sussurradas com devoção, seu corpo parece relaxar,
mas não o quero soltar.
― O que isso quer dizer?
Ele inspira e acaricia minha mão com seus lábios.
― Eu disse que você é minha cura. Se você tem esse poder, pode ter
certeza de que funciona.
O significado me faz sorrir. Deslizo minha outra mão por seu
abdômen, por cima da sua camisa.
― Fico feliz por isso ― inspiro o perfume em suas costas. ― Me
desculpe por ter sido dura em algumas palavras ― digo sem jeito.
― Eu a entendo ― ele dá de ombros. ― Mas agora estou pensando...
Isso é um abuso? ― pergunta de forma duvidosa.
Encaro seus cabelos confusa.
― Como?
― Está dizendo isso para que eu me sinta melhor?
― Bem... sim ― gaguejo. ― Por quê?

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― Porque acho que suas mãos em meu corpo estão bastante abusadas
― diz se virando para mim. ― Não pode tocar em um homem tão
vulnerável, Mine ― fico pasma com a mudança do seu humor.
― Quanto à ruiva? ― questiono sem pensar. Sua sobrancelha se
ergue.
― Você a viu, sabia que estava por perto. Ela não significa nada ― a
voz tão sedutora não poderia fazer meus mamilos endurecerem.
Dou um passo para trás, sendo interrompida por sua mesa enquanto
encaro seus olhos famintos em mim.
― Ela te beijou ― digo trêmula quando seus lábios se abaixam para
meu pescoço, provocando-me.
― E eu não aceitei ― ele inspira meu perfume gemendo. ― Seu
perfume é inebriante.
― Quem é ela? ― continuo tentando coordenar meus pensamentos
com suas mãos deslizantes pela lateral do meu corpo. Isso não facilita meus
esforços.
― Mais tarde ― ele sussurra.
― Por que não agora? ― afasto-me brevemente para encará-lo.
Seus olhos me avaliam dos pés à cabeça. Suas mãos fortes se predem
em meus quadris, puxando-me para cima e me sentando em sua mesa.
― Porque estou com sede de você. Quero foder seu interior até tirar
toda merda de dentro de mim. Esse vestido está me matando desde o
momento em que pus meus olhos em você e preciso muito disso. Preciso
muito de você, da sua boca fodidamente excitante. Esse seu perfume de rosa
pura está me matando de tesão. Quero correr meu nariz por todo seu corpo,
em seguida, sentir seu gozo no meu paladar! ― a declaração me faz ofegar.
― Eu gosto da rosa... E dos bilhetes ― revelo com um suspiro, suas
mãos deslizam por minhas coxas.

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― Posso mostrá-las mais tarde, quanto aos bilhetes, escreverei o que


você quiser ― sussurra, ficando no meio das minhas pernas, deslizando suas
mãos por minhas costas até descer o meu zíper. Sinto seus dedos tocarem
minha pele com suavidade.
― Por que não agora? ― digo, inspirando profundamente.
― Porque quero te ter aqui ― ele ergue minha cabeça, vejo seu
sorriso perverso antes me beijar com desejo. Em seguida, seus lábios se
afastam dos meus até chegarem ao meu ouvido. ― E você vai ter que se tocar
para mim. Lentamente. Delicadamente. Profundamente.
Suas palavras destacadas fazem meu corpo se esquentar, mas meus
olhos se arregalam com seu pedido.
― O quê? ― ofego surpresa.
Perco os sentidos com a excitação por causa das suas mãos
deslizantes e seus dentes em meu lóbulo. Droga!

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18 – COMPLICAÇÕES

Sem demora, meu vestido já se encontra no chão. Arrepio-me com


seus lábios escorregando entre meus seios enquanto seus habilidosos dedos
tiram meu sutiã com facilidade. Sua língua provoca meu mamilo esquerdo
antes de sugar com intensidade.
Meu corpo se arqueia em desejo, com urgência. Johnatan se aproxima
sem desgrudar da minha pele, partindo para o outro seio, deitando-me sobre
sua mesa. Minhas pernas se apertam ao seu redor, puxando-o para mim
enquanto seu corpo está debruçado sobre o meu. Suas mãos deslizam por
meu tronco até minhas pernas, separando-as. Perco o fôlego quando tira
minha calcinha, deixando-me exposta. Sinto-me sozinha quando penso que
ele talvez possa tirar minhas botas. Franzo a testa por um momento antes de
olhar para baixo. Engulo em seco ao vê-lo.
― Toque-se! ― ele pede com a voz rouca, ao mesmo tempo
profunda.
Minha pele queima da cabeça aos pés. Como ele quer que eu faça
isso? Prefiro que ele me toque.
― Eu não sei como fazer ― confesso um pouco ofegante.
Johnatan se aproxima, pega uma das minhas mãos, levando-a para
seus lábios para beijá-la. Seus olhos são intensos, trazendo junto o leve
sorriso perverso em seus lábios.
Ainda com minha mão na sua, ele a segura levando-a para meu corpo.
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Deixo-o deslizar pela base do meu pescoço e percorrer pelo meu colo até
tocar meu seio enrijecido. Assisto-o curiosa vendo seus olhos famintos em
nossas mãos.
― Faça com que isso ― ele aperta minha mão em meu seio ― seja
minhas mãos sobre seu corpo ― sussurra.
Então, arrepia-me ao acariciar meu mamilo rígido com meu polegar.
― Mostre-me o quanto isso te excita, Mine. ― Seus olhos em chamas
caem sobre os meus. Agrada-me ver o quão excitado ele está.
Olho-o apoiado sobre a mesa, vendo minha mão provocar meu seio. A
sensação é excitante, mas preciso de mais. Mordo meu lábio para conter a
vergonha, levando minhas mãos para ambos os seios. Lembro-me como as
suas podem me levar ao prazer. Arqueio meu corpo excitada quando meus
dedos giram em torno dos meus mamilos rígidos, puxando-os.
Fecho meus olhos imaginando suas mãos em vez das minhas. Deslizo
minha mão esquerda por minha barriga enquanto a outra mão continua a
torturar meu seio. Meu corpo pede por suas mãos em mim, mas eu ainda o
imagino me tocando. Gemo ao sentir seus lábios roçando entre meus seios
novamente, mas dessa vez, ele sussurra palavras russas. Seus lábios começam
a percorrer todo o trajeto da minha mão, deixando-me cada vez mais
enlouquecida.
― Eu preciso de mais, Mine ― ouço-o sussurrar contra minha pele.
Seu hálito quente me provoca. ― Toque-se!
Sua voz potente é como uma descarga elétrica que percorre o meu
corpo. Minha respiração se altera quando ponho meus dedos a deslizarem
para minha intimidade. Seus lábios seguem meus toques com suavidade.
― Eu quero você ― confesso rouca. Meu corpo necessita se livrar do
desejo que o consome.
― Você me terá, minha Mine ― assegura com suavidade. Gemo ao

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sentir seu indicador me invadir, mas me abandona rapidamente. ― Está tão


pronta ― ele provoca-me novamente com seu dedo, mas eu preciso de mais.
― Johnatan ― choramingo. ― Por favor!
Entro em combustão quando sinto seus dentes mordiscarem minha
pele, meu sexo se aperta com o ataque. Pisco os olhos, abrindo-os ao sentir
que ele puxa minha mão, colocando-a sobre meu sexo molhado.
― Veja ― ele me provoca com seu sotaque. ― Sinta o quanto está
pronta para mim. ― Meus dedos se esfregam em meu clitóris.
Sinto sua mão se afastar da minha, deixando-me continuar,
lentamente, com os movimentos provocantes. Contorce-me na mesa
desejando mais que aquilo. Avanço meu dedo em meu sexo apertado até
sentir minha entrada. Eu escuto Johnatan gemer com prazer, em seguida,
agarra uma das minhas pernas para tirar minha bota. Assim que se livra do
meu calçado, desliza sua língua em minha panturrilha até o interior da minha
coxa, repetindo o processo em minha outra perna.
Seus toques me deixam cada vez mais excitada, fazendo-me penetrar
o segundo dedo profundamente. Gemo ao me tocar, sinto-me muito mais
molhada por dentro. De repente, olho para baixo, vendo-o sentado em sua
cadeira de couro se masturbando enquanto me assiste com tesão feroz. É uma
sensação íntima ao mesmo tempo excitante para ambos. Olho para seus olhos
em chamas, pausando em seu corpo musculoso e seu membro potente, que
ele segura com firmeza, movendo-o para cima e para baixo, como se
acompanhasse os movimentos dos meus dedos dentro de mim.
A intimidade faz nossos olhos se perderem um no outro enquanto
procuramos juntos nosso próprio prazer. Minha outra mão desliza por meu
corpo apertando as partes pulsantes em meus músculos. Johnatan parece se
distrair com elas como se devorasse meu corpo, aumentando o ritmo da mão
em sua ereção. Seus lábios se apertam, sua respiração se altera cada vez mais,

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um gemido explode em sua garganta. Ao mesmo tempo em que meus dedos


se movem dentro de mim, eu provoco meu clitóris com o polegar, não
estando satisfeita.
― Sente falta de algo?
Sua pergunta faz meu corpo estremecer, sim eu sinto... Eu preciso
mais que minhas mãos. Preciso das suas em meu corpo, preciso dele dentro
de mim.
― Sim ― gemo, vendo-o mover sua mão com urgência em sua
ereção.
― Do que precisa, Mine? ― sua pergunta me faz me contorcer.
― De você ― respondo ofegante, esfregando minha mão livremente
em meu corpo com urgência. ― Eu quero você!
― O que você quer de mim? ― Mordo meu lábio quando ele rasga o
plástico da camisinha com ajuda dos seus dentes.
― Eu o quero dentro de mim ― gemo exigente.
― Agora? ― ele me provoca com seu sorriso pervertido enquanto
coloca a camisinha.
― Por favor! ― suplico com urgência.
Quando se levanta, seu corpo nu banha-se pela luz florescente da sala.
Em seguida, sua mão quente agarra a minha. Engulo em seco ao assisti-lo
sugar meu indicador. Seus lábios macios e delicados fazem cócegas em
minha pele.
― Eu vou tê-la agora, minha Mine ― murmura beijando minha mão.
Abraço minhas pernas ao seu redor quando se debruça. Suas mãos
ferventes deslizam pelo meu corpo até agarrar meus quadris. Sua ereção me
invade com força, fazendo-me estremecer.
Ele move seu corpo não me dando tempo de controlar minha
respiração. Seus movimentos são profundos e acelerados. Ele sorri com

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perversão ao dizer algo em russo, eu sorrio mesmo sem entender. Deixo sua
boca cobrir um dos meus seios enquanto minhas mãos exploram suas costas
musculosas. Gememos juntos pela excitação.
Puxo-o para que seus lábios colem nos meus enquanto nos movemos
em nossa dança sincronizada, um movimento completo e cheio de prazer.
Não demora muito e gozo. Meu corpo estremece com as vibrações intensas
que me invadem. Fecho meus olhos enquanto sinto meu corpo relaxar aos
poucos.
As mãos de Johnatan se apertam em minhas coxas as mantendo em
torno do seu corpo. Ele geme intensamente estremecendo dentro de mim.
Mesmo com a camisinha, eu sei que ele também chegou ao clímax. Seu rosto
se esconde entre meus seios, inspirando meu cheiro com força. Abraço sua
cabeça, permanecendo assim por um longo tempo.
― Você está bem? ― sua pergunta me faz abrir os olhos e encarar o
teto rústico.
Sinto-me cansada e ao mesmo relaxada.
― Não ― respondo presunçosa.
Espio sua cabeça, vendo-o beija meus seios.
― Você está cansada ― adivinha. ― E está muito calada ― ele
observa olhando para meus olhos.
― Sim ― aperto meus lábios para não sorrir.
― Não sabe o quanto é excitante vê-la gozar dessa forma. Nunca
imaginei que poderia gozar vendo o prazer de alguém ― ele sorri debochado.
Coro pelo súbito elogio.
Depois de se retirar de mim, ele me ajuda a sair da mesa. Encaro a
madeira vendo alguns papéis espalhados.
Apresso-me para colocar minhas roupas, Johnatan faz o mesmo. Em
parte, meu corpo está sobrecarregado, depois de uma noite agitada desejo ir

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direto para a minha cama. Bocejo me deparando com Johnatan me assistindo


de braços cruzados. Ele parece normal com sua camisa bem-passada dobrada
até o cotovelo.
― Você está exausta ― Fico carrancuda. Ele fecha os olhos
balançando a cabeça como se quisesse afastar algum pensamento ruim. ―
Vou levá-la para seu quarto.
A princípio, penso que irá me acompanhar, mas antes que eu proteste,
estou em seus braços com facilidade.
― Eu posso ir sozinha ― digo com fraqueza, inspirando o perfume
em seu peito. ― Vão nos ver, Johnatan.
― Já estão todos dormindo. Deveria saber que não gosto de pessoas
andando pela casa no meio da noite ― ele me carrega para fora da biblioteca.
― Eu não sabia disso ― encolho-me quando beija minha testa com
carinho.
― Eu sei ― sorri.
― Tenho certeza de que tem alguma coisa perversa passando em sua
cabeça ― resmungo tentando ficar séria, mas seu sorriso contínuo me cativa.
― O que te faz pensar assim? ― ele pisca surpreso.
― Pelo pouco que sei, já conheço o suficiente ― bocejo. ― Gostaria
de saber o que você fala enquanto nós... Você e eu...
― Transamos ― ele completa rindo. O som despreocupado me
aquece por dentro.
― Transamos ― repito corando para sua diversão. ― Gostaria de
saber.
― Você pode imaginar? ― pergunta com uma piscadela. ― São
coisas perversas como você diz e ao mesmo tempo carinhosas.
― Diga-me algo pervertido ― peço já na porta do meu quarto.
― Hum ― ele pensa, mas, quando fala, sua voz parece mais grossa.

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Um russo tão potente que mesmo sendo sussurrado faz meu corpo se
arrepiar.
― O que isso quer dizer? ― pergunto com um sorriso bobo.
― Você não pode nem imaginar ― diz todo misterioso enquanto me
olha com carinho.
― Vou descobrir ― bocejo ― qualquer dia desses.
― Que monstro eu criei? ― brinca me fazendo rir.
Johnatan insiste em me levar até a cama e cobrir meu corpo. Assim
que ele se aproxima para beijar meus lábios, abraço seu pescoço, puxando
seu corpo para mim.
Eu não sei o que ele fará agora, mas sei que não pretende dormir. Sair
para sua caçada não é uma boa ideia, e imaginá-lo solitário numa academia
espaçosa bem-equipada faz meu coração se apertar.
Seus braços me cercam, acariciando minhas costas enquanto o aperto
em meus braços. Inspiro seu perfume.
― Fique ― peço fracamente. Seus braços se apertam ao meu redor.
― Mine... Eu ― sussurra relutante ao meu ouvido.
― Por favor, fique! ― peço-lhe com urgência, as lágrimas preenchem
meus olhos depois de tudo que aconteceu. ― Não quero que se afaste depois
dessa noite. Preciso de você aqui. Quero me sentir segura.
Johnatan me olha por um momento, afastando minhas lágrimas com
os dedos. Fecho meus olhos quando nossos lábios se encontram. Perco-me na
intensidade do seu beijo.
Quando abro meus olhos, vejo-o tirando a camisa e se juntando a
mim. Escondo meu rosto em seu peito nu sentindo-me cada vez mais
confortável. Seus braços cercam meu corpo, deixando-me aquecida.
Rapidamente me perco num sono profundo e ao mesmo tempo feliz por tê-lo
comigo, no meu quarto, em segurança. Isso é o paraíso.

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Desperto com a claridade. Giro meu corpo na cama não o


encontrando. Estou ainda com o vestido, gemo desconfortável e me pergunto
onde Johnatan está. Parece ser muito cedo para todos estarem acordados.
Sento-me olhando para os lados. Sorrio ao ver uma rosa em meu copo junto
com um bilhete:

"Estou no campo"

Sorrio para o simples bilhete antes de guardá-lo junto com os outros


na gaveta. Levanto-me rapidamente, pegando meu único vestido longo de
algodão. Devo pedir para meu pai trazer mais roupas, as que eu trouxe
parecem poucas. Tiro o vestido de Jordyn para colocar o meu. Corro para o
banheiro, deparando-me com uma leve marca de rímel em meus olhos ao me
encarar no espelho. Lavo meu rosto e escovo meus dentes. Depois de tomar
um banho rápido e me vestir, saio do meu quarto seguindo para os fundos da
casa.
O nascer do sol surge presunçoso entre as montanhas, o contraste do
céu azul com o leve toque alaranjado é uma perfeita vista panorâmica.
Assim que ponho meus olhos no campo, eu o encontro treinando os
cavalos.
Caminho até a cerca, vendo-o apontar para um local onde cada um
deve seguir. Ao contrário dos outros, Hush não corre, apenas caminha
tranquilamente. Por outro lado, como distração, Johnatan está de tirar o
fôlego usando apenas uma calça escura moletom. Os músculos firmes se
exibem como se dessem bom dia.
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Fico feliz ao ver seu curativo, daqui alguns dias ele já poderá se livrar
dos pontos. Admiro a leve brisa brincar com seus cabelos, e sorrio quando
seus olhos me encontram. De alguma forma, isso o faz relaxar. Johnatan sorri
de volta, estendendo a mão para que eu me junte a ele.
Faço o que me pede sem desviar meus olhos dos seus, assim que
alcanço sua mão, ele me puxa, beijando meus dedos antes de encontrar meus
lábios. Eu não deveria me sentir envergonhada por ele estar naquele estado de
espírito carinhoso.
― Bom dia ― saúdo timidamente.
― Será um lindo dia hoje ― diz apreciando o clima.
― Você dormiu bem? ― pergunto quando seu braço envolve meu
corpo.
― Mais do que bem ― dispara sorrindo todo sonhador. ― Eu
gostaria que você dormisse comigo. ― Ele mesmo se surpreende com o que
acabou de dizer.
― Gostaria? ― pergunto surpresa.
― Sim, hoje também ― franze a testa pensativo. ― Aliás, todas as
noites. É uma ordem ― ele tenta parecer severo, apertando-me ao seu lado.
― Eu também gostaria de quando acordar, vê-lo ao meu lado ―
disparo sem pensar, em seguida, aperto meus lábios por causa da exigência.
Meu pensamento alto o deixa um pouco sem jeito.
― Eu sei. Só que, em parte, assusto-me com tamanha intensidade ―
confessa. ― Mas não quer dizer que não a admiro enquanto dorme. É
fascinante e inspirador. Eu realmente quero isso todos os dias ― declara.
Suspiro pensativa com o caminho que estamos percorrendo.
― Eu sei que não está preparado para que todos saibam o que há
entre a gente ― digo de repente, vendo seus olhos pensativos.
Minha atenção vai para os cavalos: Lake parece sapatear, Hush

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continua sua caminhada devagar, talvez cansado pelos esforços, e Sid corre
livremente sem se importar comigo ali presente. Reluto, mas olho para
Johnatan, vendo-o me encarar.
― Você disse que eu mantenho todos no escuro. ― Oh, droga, agora
não! ― Mas, na verdade, mantenho apenas você. Eu gostaria de ser um
homem normal, Mine. Ter uma vida como qualquer outro cidadão dessa
cidade. Poderia te levar para um jantar, um passeio, para qualquer lugar que
desejasse ir sem me preocupar com os demais. Mas não posso. Eu sou
seguido, eles sabem meus passos e se souberem de você...
― Nada vai me acontecer. Sei que não vai permitir. ― Toco seu rosto
preocupado.
― O que estou querendo dizer é que mesmo eu evitando te expor,
eles vão descobrir. Não posso suportar outra perda, então, tenho que mantê-la
no escuro, perto de mim ― seus olhos fixam nos meus com intensidade.
― Eu só não quero me sentir sufocada com tudo isso. É assustador,
Johnatan ― confesso com preocupação. Ele toca meu rosto, beijando-me
brevemente.
― Eu sei ― suspira. ― Mas para mim, isso se tornou pior.
― Por quê? ― meu coração se aperta ao ver a dor profunda em seus
olhos.
― Porque acho que finalmente encontrei um motivo para viver e por
quem lutar. ― Sua emoção é comparável com a minha.
Acaricio sua barba macia, aproximando-me para beijar seus lábios.
Seus braços me apertam, fazendo-me sentir sua entrega em nosso beijo
profundo e cheio de paixão. Quando nos afastamos, nós nos olhamos com
intensidade, como se existisse apenas eu e ele no mundo.
― Eu quero que você continue lutando ― afirmo com um sorriso.
Johnatan parece se emocionar com minha confiança. Nós nos aconchegamos

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um no outro, assistindo os cavalos em treino.

Na volta para a mansão, tivemos que nos separar. Era impossível tirar
o sorriso do meu rosto. Retornei para meu quarto a fim de tomar um banho
relaxante antes do café da manhã com os outros.
Jordyn parecia atrasada, mas hoje o dia estava mais tranquilo. Um
domingo bem-vindo com sol forte deixando a cor verde do campo mais nítida
e harmoniosa.
Depois de comer, Johnatan aproveitou a manhã para olhar Hush e
James o ajudava. Eu os assistia de longe, sem tirar meus olhos de Johnatan,
memorizando cada movimento seu. Sua paciência com os animais é
admirável. Eu deveria perguntar qualquer dia o que ele fala para os cavalos
quando toca suas cabeças.
― Como você está? ― olho para trás vendo Donna se aproximar.
― Bem ― pigarreio para limpar minha voz. ― Me desculpe por ter
feito aquilo ontem...
― Sei que sua intenção de proteger Jordyn foi de coração, mas, Mine,
foi errado vocês duas saírem por aí sozinhas ― diz docemente. Balanço
minha cabeça concordando.
― Prometo que isso não irá se repetir ― asseguro, recebendo seu
sorriso materno.
― E a propósito ― ela começa pensativa, tendo minha atenção ―, eu
sei o que acontece dentro e fora da casa.
Ela olha para mim e atrás de mim, talvez para Johnatan no campo.
Engulo meu nervosismo, pronta para negar tudo.
― Donna...
― Eu nunca o vi assim, minha querida ― confessa encantada,
assistindo Johnatan sobre meu ombro. Surpreendo-me. ― Eu só quero ver

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esse meu grande menino feliz.


Sua expressão me transmite algo triste. Inspiro profundamente.
― Eu só... eu ― gaguejo. ― Eu não estou me sentindo confortável ―
confesso embaraçada. Ela sorri.
― Basta apenas fazê-lo feliz. Eu soube disso desde o dia em que ele a
chamou aqui ― ela sorri, mas logo fica séria. ― Ele merece o melhor.
Merece um impulso que mude sua vida.
Algo me diz que Donna sabe de muitas coisas. Franzo a testa.
― Ele parece solitário ― afirmo, mordendo meu lábio.
― E ele é. Johnatan se recusa a se aproximar, a confiar, mas sei que
com você ele é diferente. ― Por essa não esperava.
― Diferente como?
― Como quando você conversa. Quando você se move, até mesmo
quando está distante ― ela ri de si mesma. ― Ele parece senti-la em algum
lugar, era o que faltava para sua vida. É como uma conexão inexplicável. Eu
tenho bons olhos, vejo como ele reage em relação a você.
Coro com suas observações.
― Fala como se eu fosse algo especial ― faço uma careta.
― Oh, minha querida, você é e não percebe. Por favor, continue. Não
o deixe fazer nada horrível, tudo isso pode acabar o matando.
Um arrepio me percorre.
― Isso não me agrada.
― Nem a mim ― ela suspira cansada. Surpreendo-me quando
murmura algo em russo.
Franzo o cenho sem entender.
― O que isso quer dizer?
― Espero que você não se machuque. ― Suas palavras não são
diretamente para Johnatan. Olho para trás, vendo-o se divertir com algo que

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Ian faz com Lake.


Donna se afasta após alguns instantes, deixando-me pensativa. Em
seguida, decido ocupar minha mente ajudando Jordyn em algumas tarefas na
casa. Minutos depois, vejo Johnatan sair com urgência para ir a uma empresa.
Quando se aproxima do carro, seus olhos encontram os meus, dando-me uma
piscadela. Sorrio, retornando para minha distração.
Um tempo depois, Jordyn corre em minha direção quando estou
prestes a ir para a cozinha a fim de comer algo.
― Seu pai está aqui ― ela me informa sorrindo.
― Sério? ― digo surpresa. Ela acena.
― Ele está no portão, não quis entrar na casa.

Saio e vejo meu pai em pé de braços cruzados, vestido com jeans e


uma camiseta polo. Sorrio ao vê-lo, correndo em sua direção quando abre os
braços para me receber.
― Minha garotinha ― ele ofega beijando meus cabelos. ― Senti
saudade.
Meu coração se aperta.
― Ah, papai! Eu também. Como está em casa? ― pergunto olhando
seus olhos cinzas.
― Uma bagunça. Ainda não me acostumei a viver sem você ― ele
sorri parecendo radiante.
― Está se alimentando bem? E os remédios? ― seus lábios se
apertam.
― Eu estou bem pode ficar tranquila ― responde desconfortável. ―
Estou tão bem que vim te levar para sair. Minha saúde está ótima e, agora,
você pode voltar para casa ― ele toca meus ombros.
― Papai...

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― Filha, eu não quero isso para você. Eu quero que seja alguém na
vida. Sinto-me um estorvo.
― Não diga isso ― repreendo-o.
― Então, volte para casa. Não a quero aqui, nem mesmo perto deste
homem desprezível ― suas palavras brutas me surpreendem.
― Por que o odeia tanto?
― Eu não o odeio, mas não a quero perto dele. Sinto que é perigoso
demais. ― Seus olhos me avaliam. ― Vamos embora! ― insiste.
― Papai, você ainda não está cem por cento. Devo trabalhar para
pagar seus remédios e os celulares.
― Engano seu. Estou noventa e nove vírgula cinco por cento bem ―
brinca, dando-me seu sorriso jovial, mas logo sua expressão muda e seus
olhos perdem o foco.
Uma de suas mãos aperta meu ombro e a outra treme.
― Papai? ― chamo-o confusa.
Ele sufoca o ar me assustando, em seguida, cai sobre mim. Seu peso
me enfraquece e o vejo cair no chão.
― Pai! ― grito assustada, vendo-o tremer.

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19 – EM CASA

Quando ouso a chegar perto para segurá-lo, alguém me puxa para trás,
mantendo-me segura.
― Me solta! ― agito-me nos braços de quem quer que seja.
Minhas lágrimas caem ao ver meu pai tendo uma convulsão, sei que
não posso tocá-lo, mas meu desespero é agonizante.
― Mine, não pode ― escuto James atrás de mim tentando me segurar
enquanto luto em seus braços.
É a imagem mais horrível que já presenciei. O medo de perdê-lo é
angustiante. Choro enquanto James me abraça, consolando-me.
― Eu chamei a ambulância ― escuto Donna se aproximar com
urgência.
Assim que meu pai para de se debater, seus olhos ficam arregalados e
sua respiração sufocada. Corro para ele para pegar sua mão.
― Pai, vai ficar tudo bem. Respira com calma ― peço soluçando.
Peter se aproxima para tocá-lo.
― Ele pode estar em choque. Mantenha-o assim até a ambulância
chegar.
A espera por uma ambulância parece uma eternidade. Eu fico
ajoelhada ao seu lado sem me mover, assim que os paramédicos chegam,
tenho que me afastar para eles cuidarem do meu pai. No carro, sigo junto
com ele, alcançando sua mão enquanto uma enfermeira coloca uma máscara
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de oxigênio. Peter também nos acompanha até o hospital. Assim que


chegamos, papai é levado na maca, sou interrompida de entrar com ele.
― Vai ficar tudo bem, Mine ― Peter me consola. Eu o abraço
escondendo meu rosto em seu peito.
Os outros não puderam me acompanhar, talvez por Johnatan não
querer que a casa fique sozinha, mas, de vez em quando, Donna nos liga para
saber notícias. Depois de uma hora e meia de agonia, um médico aparece na
sala onde eu e Peter aguardamos. Eu o reconheço de imediato. É o homem da
festa de dias atrás, o mesmo que apertava a mão de Nicole.
― Parentes de Edson Clark? ― pergunta olhando suas anotações.
― E-eu ― gaguejo limpando meus olhos. ― Sou Mine Clark, filha
dele ― respondo trêmula.
Seus olhos castanhos gentis se levantam.
― Eu sou o Doutor Michael Banks. Seu pai estará aos meus cuidados.
Tudo vai ficar bem ― ele me dá seu sorriso branquinho. ― Ele está passando
por uma avaliação, daqui a pouco vamos coletar seu sangue para fazer alguns
exames.
― Eu posso vê-lo? ― peço suplicante.
Seus olhos piscam, dando-me um sorriso apertado.
― Eu não deveria permitir visitas agora, mas posso abrir uma
exceção ― diz com cuidado. ― Ele está no segundo andar, no quarto
quarenta e cinco, em observação. Leve minha carteira de autorização.
Ele me entrega a carteira com sua assinatura. Olho para Peter para ver
se está tudo bem, ele responde balançando a cabeça para que eu siga em
frente.
Sorrio brevemente para o Doutor Banks e me afasto em direção ao
elevador.
Assim que entro no cômodo, vejo meu pai respirar por uma máscara,

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tendo em seu braço o tubo de soro injetado. O “bip” ecoando pela sala branca
me faz abraçar meu corpo temeroso, caminho até ele e pego sua mão. Fico
um pouco aliviada por senti-lo quente novamente. Curvo-me para beijar seu
rosto.
― Está me ouvindo? ― pergunto próximo ao seu ouvido. ― Eu estou
bem aqui. Por favor, fique bom logo. Eu preciso de você ― sussurro trêmula,
encostando meu rosto em seu peito, chorando silenciosamente.
De repente, a porta é rompida. Ergo minha cabeça vendo uma
enfermeira bem-vestida me olhar confusa.
― Você tem autorização para estar aqui? ― pergunta, e sinto sua leve
irritação. Pego em meu bolso a carteira do Doutor Banks e entrego. Ela olha
surpresa antes de me devolver.
― Certo, mas não vai poder ficar muito tempo. Tenho que tirar
sangue dele agora ― explica. Aceno, sem querer discutir como meu pai deve
ser cuidado.
Afasto-me, observando meu pai dormir enquanto a enfermeira se
aproxima com sua bandeja, preparando uma seringa.
― Você não disse que ia tirar seu sangue? ― pergunto confusa.
― É um tranquilizante. Como veio na ficha, ele teve uma convulsão
― aperto meus dentes sentindo meus olhos ferverem.
― Isso é errado! ― cuspo as palavras para ela.
― Está confrontando meu lado profissional? ― diz petulante.
― Eu nem sei o porquê de estar aqui, mas deveria ser algo ilegal
contratar alguém que não sabe lidar com pacientes ― disparo incrédula.
― Se fosse tão ilegal, o Doutor Banks, sendo o dono, não me pediria
para fazer isso. ― Engulo minha fúria mesmo pensando que é errado.
Ela ousa se aproximar, mas logo nos assustamos quando a porta é
aberta.

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― O sangue já foi coletado e já estão fazendo os exames. Não


precisamos mais dos seus serviços a partir daqui. ― O homem alto fala,
verificando a ficha do meu pai com distração. Seus cabelos escuros e lisos
caem para frente.
Ele veste roupas de algodão de tom verde e usa uma máscara facial.
― Mas o Doutor Banks acabou de me pedir para fazer isso ― olho
para enfermeira espantada por ela usar um tom mais calmo com ele, talvez
por notar os músculos.
Viro meus olhos para o médico à minha frente, arregalando-os, em
seguida, quando ele levanta a cabeça para encarar a enfermeira.
― Você deveria ser mais esperta ― seus olhos são frios. ― Michael
lhe pediu para coletar sangue, não para dopar o paciente. Para uma estagiária,
você já começou errado. Portanto, está demitida ― seu tom severo me faz
estremecer. A enfermeira o encara chocada.
― E quem é o senhor para agir dessa forma? Pelo que eu saiba, o
Doutor Banks é o único que tem essa autonomia. ― Oh, merda! Não o
desafie, reflito.
― Sou o mesmo que te colocou aqui, o que paga seu salário e que
atura seus atrasos. Acredite, Banks pode estar presente neste Hospital, mas o
sócio em especial está de olho em cada movimento. ― Suas informações me
pegam de surpresa.
A enfermeira engole seu orgulho, saindo da sala deixando sua bandeja
de lado.
Ele puxa a máscara para baixo, revelando seu leve sorriso.
― Johnatan?
Estou incrédula com sua forma de demitir alguém mesmo que esse
alguém tenha me dado nos nervos. Sei que não é a primeira vez, mas mesmo
assim, impressiono-me com sua frieza.

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― Não me olha assim, precisava ver como estavam as coisas. Donna


me ligou ― explica se aproximando para afastar uma mecha do meu cabelo e
acariciar meu rosto.
Pisco meus olhos o vendo vestido daquela forma. Ele, como médico
disfarçado, é quente.
― Como conseguiu essas roupas? ― pergunto perplexa.
Johnatan se olha com uma careta.
― Eu deveria ter vestido algo melhor, para manter o estilo intocado
― brinca.
Sorrio para ele antes de olhar para meu pai deitado.
― Foi horrível. Eu tenho medo de perdê-lo ― confesso com um nó
na garganta.
Johnatan deixa a ficha de lado para me abraçar.
― Hey ― murmura baixinho. ― Ele vai ficar bem, não se preocupe.
Só vai precisar ficar internado, mas terá um excelente atendimento
profissional. Eu prometo a você ― assegura beijando meus cabelos.
― Eu não sei nem como vou pagar tudo isso ― soluço em seu peito.
Seus braços me apertam.
― Quanto a isso, não se preocupe. O importante é que ele fique bem,
não concorda? ― pergunta se afastando para olhar meus olhos.
― Concordo.
Johnatan me dá seu sorriso torto. Fecho meus olhos quando beija
minha testa com carinho e acaricia minha nuca, causando-me conforto.
― Eu tenho que ver como andam os exames do seu pai. Não posso
ficar muito tempo, por isso que me vesti assim ― explica.
Franzo a testa curiosa.
― Você sabe de muitas coisas. Esse Hospital é seu? ― indago
fascinada.

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― Sei por causa dos livros ― ele me lembra com um sorriso


presunçoso. ― O Hospital era vagabundo. Eu pesquiso o local, invisto e faço
inovações.
Sorrio ao sentir seus dedos acariciarem meu rosto.
― Obrigada por estar aqui e por ter afastado aquela mulher.
― Era o mínimo que poderia fazer ― ele sorri beijando meus lábios
brevemente. ― Não podemos fazer isso por muito tempo. Eu tenho que ir ―
ele continua com os lábios grudados nos meus, mas rapidamente se afasta.
Sorrio feito idiota até vê-lo colocar sua máscara, revirar os olhos e
sair da sala. Volto para meu pai, aguardando por informações do seu estado
de saúde.

― Você precisa comer algo. Precisa relaxar, respirar ar puro. Vai


ajudar a te manter tranquila ― Doutor Banks diz antes de encaminhar me pai
para uma segunda avaliação.
― Eu vou tomar um café. Não conseguirei comer enquanto não
souber que ele está bem.
Banks acena com a cabeça, dando-me um sorriso gentil. Pergunto-me
como ele pode ser casado com aquela mulher desprezível. De repente, olho
para os lados para ver se não a encontro, mas vejo Peter se aproximar com
uma sacola.
― O senhor Makgold pediu para lhe entregar ― diz e franzo a testa
pegando a sacola.
Peter volta para a sala para novamente conversar ao celular com
Donna. Sigo para máquina de café abrindo a sacola.
Encontro uma jaqueta de couro marrom escura, é linda. Confusa,
encontro um bilhete dentro da sacola.

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"VISTA!"

Reviro meus olhos, mas faço o que pede. De imediato, já sinto sua
fragrância. Sorrio grata, guardando o bilhete no bolso da jaqueta, franzo a
testa quando sinto algo estranho e puxo para fora. Arregalo meus olhos ao ver
a seringa no bolso. É a mesma que seria injetada em meu pai. Guardo
novamente quando sinto alguém atrás de mim.
Pelo vidro escuro da cafeteira vejo o reflexo do homem estranho de
porte militar vestido um terno sem gravata. Apresso-me trêmula para deixá-lo
passar. Olho em volta vendo o local se esvaziando.
Saio do seu caminho, deixando-o se aproximar da cafeteira
tranquilamente para pegar seu café. Ele usa um anel negro e tem uma
tatuagem nas costas da mão esquerda. É uma espécie de sinal com três pontas
formando um triângulo com um número 8 desenhado no centro.
― Hospitais me deixam nervoso ― diz ele com sua voz grossa.
Aperto meus dentes mal conseguindo segurar meu café. ― Você trabalha por
aqui ou está acompanhando alguém?
Eu devo dar o meu melhor, jamais vou dizer sobre meu pai. Olho para
o corredor, vendo-o vazio, sinto minhas pernas ficarem como geleias. Não
posso correr, não agora.
― Não. Eu só passei mal ― minto.
Ele se ergue, dando-me um sorriso. Seus caninos são cobertos de
ouro. O homem de olhos verdes me observa.
― Tenho outra pergunta ― indaga. Mantenho meu corpo firme.
― Qual?
― Trabalha para o Makgold? ― o nome é destacado em sua voz.
― Não ― respondo firmemente.
― Resposta errada.
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Meu café é derrubado com o ataque inesperado. Meu grito é sufocado


quando sou prensada contra a parede com a boca coberta por um lenço
branco com odor químico forte. O cheiro invade minhas narinas quando tento
puxar o ar com força. Meu corpo começa a enfraquecer e minha cabeça gira
enquanto encaro alarmada seus olhos frios. Mesmo lutando contra a fraqueza,
a escuridão me vence.

Abro meus olhos assustada quando sinto o cheiro forte novamente.


Levanto minha cabeça vendo que estou dentro de um carro, sentada no banco
do meio com o cinto de segurança apertado. O espaço de couro é extenso e os
vidros são escuros, estou em uma Limusine contra minha vontade. À minha
frente vejo o homem agora com seu terno escuro. Tento tirar o cinto, mas não
encontro o fecho.
― Confortável? ― pergunta, bebendo uma taça de champanhe
tranquilamente.
― Me deixe sair! ― disparo em pânico.
A rua passa como borrão. O cheiro dentro do carro faz meu estômago
se embrulhar, é uma mistura de couro e sangue.
― Não tão rápido ― ele sorri. ― Bem, eu sou Lunter e preciso de
algumas respostas.
― Eu não sei o que você quer de mim ― respondo, tentando me
soltar.
― De você mesmo, nada. Só preciso saber algumas informações do
seu chefe. Ele tem que acertar algumas coisas conosco. Então, como ele é
difícil, precisávamos de terceiros. Achar algum funcionário pertencente
àquela casa não é fácil. Meus homens poderiam fazer o serviço, mas eu gosto
quando estou no comando. Então, seja boazinha comigo e me responda tudo
que eu lhe perguntar ― tagarela com os olhos atentos.

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― O que quer saber? ― seu sorriso se abre.


― Simples. Quero saber como é a vida de Johnatan, o que ele faz nos
seus poucos tempos livres e, o mais importante... Onde fica o cofre da casa.
Preciso de pistas para fácil acesso e um breve mapa mental de onde ele deixa
alguns dos seus brinquedinhos. ― Seus olhos me avaliam.
― Tudo isso para quê?
― Seu chefe é um grande assassino que deve ser eliminado. Ele é
esperto, mas se não estivesse tão encrencado, eu o chamaria para trabalhar
comigo. Porém, aquele filho da puta ferrou a minha vida e tem uma grande
dívida com a pessoa para quem trabalho. Somos um grupo enorme, docinho,
nossa meta é pegá-lo numa emboscada ― revela. Luto para não estremecer.
― E por que está dizendo seus planos para mim? ― pergunto com
ódio.
Sou surpreendida quando ele se aproxima feito um lobo, agarra meus
cabelos, puxando-os para trás. A dor imediata faz meus olhos lacrimejarem.
Seu rosto se aproxima do meu enquanto o encaro alarmada. Tateio meus
bolsos à procura da seringa. Sua outra mão agarra meu queixo, apertando-o
com força me fazendo desistir da busca para tentar afastá-lo.
― Acha mesmo que vai sair daqui viva? ― ameaça. Meu coração
bate forte.
Sem que eu espere, ele beija meus lábios. Seu hálito de bebida me
enoja e seus lábios duros machucam os meus. Aproveito a oportunidade para
atacá-lo, mordendo seu lábio inferior com força. Ele grita de dor e se afasta
com esforço. Eu o encaro friamente, vendo o sangue escorrer em sua boca.
Novamente, ele se aproxima e estou pronta para puxar a seringa, mas
sua mão se ergue, atingindo meu rosto com força, fazendo-me morder meu
próprio lábio. O golpe forte me deixa atônita. Toco o canto da minha boca,
sentindo o sangue escorrer e choro quando a dor no local começa a pulsar.

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Minha agonia começa a transparecer.


Meus ouvidos zunem quando o escuto xingar, limpando seu sangue
com um lenço escuro.
― Pretendo matá-la lentamente, docinho. Só que antes preciso de
informações ― ele exige, olhando-me com ódio. ― Agora, pare de chorar!
Tento erguer minha cabeça, engolindo meu choro. Minha atenção vai
para trás dele quando uma janela divisora desliza para baixo.
― Senhor, estamos sendo seguidos ― informa o motorista.
Lunter verifica o que está acontecendo e se vira para mim com um
sorriso triunfante. Volta a se aproximar, mas, dessa vez, com um canivete
próximo ao meu pescoço.
― Vejo que alguém quer salvá-la. Estou me perguntando se isso é
profissional ou é algo mais pessoal. Meu chefe ficará feliz em descobrir os
interesses particulares do Makgold.
Rapidamente puxo a seringa do meu bolso para enfiar em sua
garganta, mas Lunter segura minha mão com força, empurrando-a para trás,
fazendo a seringa cair. Ele ri da minha tentativa estúpida, firmando o canivete
em meu pescoço sem me ferir. Engasgo.
De repente, escuto a explosão da porta direita ao meu lado. A parada
abrupta do carro leva Lunter para trás. A porta é arrancada com o veículo em
movimento. O motorista parece estar seguindo outro caminho. Encontro o
canivete caído no banco e o pego, com urgência, para cortar o cinto de
segurança.
Uma moto se aproxima da porta arrebentada. O motoqueiro, com
roupas escuras, jaqueta de couro, luvas e capacete, acompanha a Limusine em
alta velocidade. Lunter tenta se manter levantado para se aproximar de mim
enquanto luto desesperada para me livrar do cinto.
O motoqueiro estende sua mão para me puxar, mas é impossível ainda

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estando presa da cintura para baixo. Logo os tiros me fazem encolher e a


moto se afastar.
― Senhor, ele vai nos bloquear ― escuto o motorista.
― Faça a merda do seu trabalho. Passe por cima dele ― Lunter
dispara, conseguindo me alcançar.
― Não ― eu tento em vão afastá-lo com minhas pernas e mãos.
Subitamente, um vulto invade o carro pela porta, puxando Lunter para
longe de mim. O homem grunhe para Johnatan, que está à minha frente sem o
capacete. Suas mãos estão em punhos firmes. A risada de Lunter me faz
estremecer.
― Então, ela é a razão de estar aqui? Você é um merdinha que não
consegue esconder seus sentimentos, não é mesmo? ― zomba.
― É bom te ver de novo Lunter. Pena que será a última vez ―
Johnatan ameaça.
― Eu concordo.
Assisto horrorizada Lunter conseguir atingir, com um punho firme, o
rosto de Johnatan, que retribui, movendo seu corpo com facilidade no carro
em movimento. Encolho-me quando o motorista tenta atirar na direção dele.
Meu coração dispara ao ver a luta corpo a corpo. O carro volta a dar uma
parada, separando os dois. Johnatan para em minhas pernas me olhando
brevemente. Observo sua mandíbula avermelhada, em cima da sua
sobrancelha direita há um machucado.
Estremeço quando sua mão se ergue para meu rosto, tocando o local
onde Lunter me bateu. Seus olhos em chamas se tornam mais frios. Alarmo-
me quando o homem se aproxima. Um grunhido forte saindo da garganta de
Johnatan me distrai, sua expressão se transforma em um ódio mortal. Antes
que Lunter dê mais um passo, Johnatan gira ao escorregar para baixo
injetando a seringa na perna do homem. Rapidamente o coloca de joelhos

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girando seu corpo brutalmente para o chão, mantendo-o preso abaixo dele
enquanto atinge seu rosto com socos fortes.
― INFELIZ! VOCÊ A MACHUCOU! VOCÊ A TOCOU! VOCÊ A
DEIXOU COM MARCAS! ― Johnatan grita com ódio em sua voz, socando
o rosto de adversário freneticamente.
Lunter ri, recebendo os golpes. Seu rosto fica cada vez pior.
― Acha mesmo que eles não vão descobrir?
Ele se engasga quando Johnatan o agarra pelo pescoço com seu braço,
mantendo-o apertado. Lunter tenta se soltar em vão. Quero afastar meus
olhos da sua morte junto com seus olhos verdes sombrios em mim, mas eu
continuo assistindo paralisada até Lunter perder suas forças, parando de se
mover. Johnatan o joga no chão e ofega.
― Johnatan! ― chamo-o ao ver o motorista apontar a arma em sua
direção.
Johnatan é mais rápido, sacando sua arma e atirando de volta. Em
seguida, vem em minha direção para me abraçar, como se tentasse se segurar
em algo. Tudo é tão rápido que sinto meu corpo se mover de um lado para o
outro quando o veículo perde o controle e gira.
Tento me agarrar em seu corpo, escondendo meu rosto na curva de
seu ombro. Quando o carro para de girar, Johnatan cai grunhindo. Abro meus
olhos, vendo-me pendurada. Estico minhas mãos para tocar seu rosto, ele arfa
me olhando preocupado.
― Você está bem? ― pergunta preocupado.
Balanço minha cabeça dando um soluço.
― Eu quero sair daqui ― Meu corpo pendurado estremece.
Johnatan beija uma das minhas mãos e puxa meu cinto com
facilidade. Meu corpo se solta e ele agarra minha cintura para que eu não caia
sobre seu corpo. Choro abraçando seu pescoço assim que seus braços me

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cercam.
― Eu sinto muito ― ele lamenta beijando meu ombro e me
apertando. ― Temos que ir.
Aceno me arrastando para fora da Limusine. Estamos numa espécie
de beco sem saída. Assusto-me ao escutar mais um tiro, mas não ouso olhar
para trás, sabendo que foi Johnatan colocando um fim em tudo. Depois sai,
ajudando-me a ficar de pé, mantendo-me junto de seu corpo enquanto
seguimos para longe. Sou incapaz de manter meus pés firmes ao andar
rapidamente. Olho para trás no exato momento em que a Limusine explode,
cegando meus olhos. Assustada, escondo-me debaixo de seu braço.
Assim que viramos a esquina, Johnatan me afasta brevemente para
tirar a jaqueta, virá-la do avesso e colocar um boné cinza.
― Mantenha a cabeça baixa ― seu tom é como um aviso.
Obedeço, voltando a nos abraçar antes de entrar na avenida
movimentada. Johnatan consegue roubar um boné com agilidade, sem
ninguém perceber, e coloca na minha cabeça. A agitação me deixa fraca,
ainda estou amedrontada. Minha respiração não ajuda, muito menos minhas
pernas cambaleantes.
Sem que eu espere, Johnatan para de andar, coloca meus braços ao
redor de seu pescoço e abraça meu corpo. Seus olhos me avaliam
preocupados, mas fora isso, parecemos um simples casal no meio das
pessoas. Ele se curva e me beija. Um beijo urgente, que se transforma para
algo mais intenso. Eu o abraço fracamente, retribuindo com todo meu ser.
Não entendo, mas me sinto protegida. Assim que seus lábios se afastam, eu o
encaro, sentindo o leve toque de suas mãos em meu rosto.
― Mine? ― ele me chama preocupados quanto minha visão começa a
escurecer. ― Vamos para casa. Eu vou cuidar de você. Dou a minha palavra.
Suspiro, satisfeita apenas em escutar sua voz terna, mesmo cheia de

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medo e devoção.
― Eu já me sinto em casa.
Gostaria de apreciar seus olhos marejados, mas a escuridão não
permite.

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20 – NÃO TOQUE

Eu me recuso a abrir meus olhos cansados, estão pesados demais,


assim como meu corpo. Escuto somente vozes tendo a certeza de que estou
em um quarto, uma delas é de Johnatan. Concentro-me nele próximo a mim.
― Isso é estranho, John. Nenhum deles te caçaria em plena luz do
dia. O que deve ter mudado? ― pergunta um homem exasperado em algum
lugar, não reconheço sua voz.
Estranhamente, permaneço imóvel, sabendo que estou em uma cama
confortável.
― Eles estão se multiplicando. É isso que está acontecendo ―
Johnatan responde ao meu lado. Sinto seus dedos acariciarem meus cabelos e
seus lábios beijarem minha testa.
― E o que pretende fazer? ― pergunta o homem da voz áspera.
― Por enquanto, nada. Vou deixar que venham até a mim.
As palavras de Johnatan me causam arrepios.
― E a garota?
― Vou mantê-la longe de toda essa merda ― dispara ríspido.
― John, ela já está em perigo com você. Se eles descobrirem sobre
ela, será mais um problema ― homem alerta. ― Tem que resolver isso.
Você ao menos verificou se tinha escuta no carro?
O desconhecido me deixa curiosa ao pensar que Johnatan possa
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trabalhar para ele. Seguro minha vontade de estremecer.


― Quanto a isso, não se preocupe ― Johnatan assegura. ― O
máximo que eles tinham era um GPS.
― E como a encontrou? Como soube que ela estava com eles? ―
insiste o desconhecido.
― Eu vi um deles no hospital. São como cães farejadores. Lunter
sabia quem era Peter, mas ele tinha os olhos em Mine ― Johnatan responde.
― Tive que me antecipar e coloquei um rastreador na jaqueta da Mine. Com
isso, pedi a Peter para entregar a ela ― Sua voz transmite seu cansaço, meu
coração se aperta.
― Você a fez de cobaia? ― a pergunta chocada me chama atenção.
― Merda, é claro que não ― Johnatan dispara friamente. ― Eu os vi
antes mesmo de entrar no hospital, mas sabia que iriam direto para ela,
porque estava acompanhada de Peter.
― Como pode ter tanta certeza?
― Acredite em mim. Mine é um ímã para perigos ― Johnatan
suspira.
― E quanto a ela? O que pretende fazer?
Sinto-me sozinha, posso ouvir seus passos se afastando.
― Eu não posso deixá-la ― murmura distante.
― Tudo isso por quê?
― Porque eu preciso mais dela do que ela de mim ― Johnatan
desabafa. ― Olhe para Mine. Mesmo sendo frágil, ela é forte. Mine é capaz
de suportar toda a merda que carrego. Ao lado dela eu não sou um assassino,
nem mesmo um egoísta. Eu consigo pensar no que é melhor para ela. Isso é o
efeito de como eu me sinto vivo agora.
― É... ― o homem pigarreia ― diferente.
― É minha redenção. Mine me salva da escuridão a cada dia que

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passa. Se eu a deixar em perigo, será como quebrar uma corrente que me


ajuda a me reerguer.
― Ela sabe sobre sua família, sobre o que aconteceu depois de tudo
isso?
― O essencial... ― Johnatan responde.
Viro meu corpo me sentido dolorida, mas não quero que eles parem
de falar. Logo, dedos quentes tocam abaixo do meu pescoço e volto para meu
sono profundo.

Sinto minha cabeça pesada ser erguida. Dedos gentis acariciam meu
rosto.
― Mine? ― ele me chama, mas gemo contragosto não querendo abrir
os olhos. ― Mine, olha para mim ― sua voz é urgente. Sinto seus lábios
grudando-se aos meus.
Pisco ainda sonolenta, sentindo minhas costas protestarem de dor
quando ouso me mover. Deparo-me com sua expressão preocupada.
― Johnatan ― gemo rouca. Toco seu rosto para afastar seus cabelos.
Seus olhos se fecham num instante para inspirar o perfume em meu pulso. ―
Onde estamos?
Giro meus olhos. Estou num quarto, deitada em uma cama macia.
Meus olhos insistem em se fecharem, mas minha garganta está seca.
― Olha, estamos em um hotel. Mine, me escuta. ― Olho-o sentindo
minha respiração muito calma, mas meu coração acelerado. Não entendo. ―
Eu lhe dei um calmante, preciso que permaneça imóvel. ― Ele segura minha
cabeça.
― O que você fez? ― desejo me irritar, só que estou grogue demais
para isso.
― Eu só preciso que faça o que eu pedir. Você vai dormir por alguns

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instantes e, quando acordar, permaneça deitada ― ele explica todo mandão.


Fecho meus olhos sem esforço, o sono toma conta do meu corpo
enquanto o escuto me chamar.

De repente, um estrondo me assusta. Ao espiar, vejo que meus


cabelos estão sobre meus olhos. Quero afastá-los, mas o barulho dentro do
quarto me deixa em alerta. Mesmo estando fraca, tenho vontade de socar
Johnatan por me dopar sem dizer o motivo.
― Senhor? Trabalho feito. Pegamos ele ― escuto uma voz grossa
próxima à cama, assim como passos dentro do quarto. Johnatan, penso.
Fecho meus olhos ao ver um vulto, lembrando-me de que Johnatan
pediu para me manter imóvel.
Assim que o sinto se afastar, encaro a cômoda próximo à cama, a
claridade do dia invade o quarto. Estranhamente, estou deitada com os braços
estirados, um cheiro estranho me incomoda assim como algo pegajoso em
meu pescoço e pulsos.
Eles disseram que o pegaram, baixo meus olhos tendo um vislumbre
do corpo de Johnatan caído no chão, de bruços. Minha respiração se altera.
Espio um homem de cabelos negros presos num rabo de cavalo falando ao
celular.
― Ele veio para esse hotel, mas não foi inteligente o bastante.
Invadimos o quarto e o encontramos. A garota está morta. ― O homem ri e
se afasta de Johnatan para andar pelo quarto. ― Talvez ele a tenha matado
depois de ter o que queria. Estamos impressionados com sua criatividade.
Pisco meus olhos sem saber o que fazer até ter minha atenção na
cômoda à minha frente. Franzo a testa quando vejo um bilhete escondido
atrás do abajur com seu aviso nítido. Quero afastar meus cabelos, mas não
posso me mover. Seja lá o que Johnatan fez, eu devo obedecê-lo. Sinto-me

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esperançosa, querendo que ele se levante para acabar com tudo isso, só que
ele parece estar desmaiado. Isso não pode estar acontecendo. Fixo meus olhos
novamente no pequeno bilhete:

"Permaneça por 20 minutos"

Em parte, não consigo entender.


Noto que há mais alguém no quarto. Meu coração acelera enquanto
rezo para Johnatan se levantar.
― Tem certeza de que ela está morta? ― Um outro homem pergunta.
Prendo minha respiração quando sinto a cama se mover. Fecho meus olhos.
― Não seja idiota. Saia daí antes que a perícia veja suas digitais.
Temos pouco tempo. O chefe quer o Makgold ainda vivo e não sua prostituta
morta ― repreende o outro.
Abro meus olhos lentamente quando se afastam.
― Eu estou com nojo de estar aqui. Se pelo menos ela estivesse viva,
poderíamos até...
― Não seja um imprestável, Robson. Pegue o Makgold e vamos dar o
fora daqui antes que apareça mais alguém. Não estou a fim de começar outra
matança.
Mordo meu lábio para reprimir o susto ao ver o homem de rabo de
cavalo se aproximar de Johnatan usando um choque elétrico em sua nuca.
Depois, puxa-o para longe ainda desmaiado. Meus olhos se enchem de
lágrimas depois que escuto o clique da porta sendo fechada tranquilamente.
Olho para o bilhete mais uma vez.
Espero impaciente não sabendo se consigo permanecer muito tempo
parada naquela posição. Ao faltar alguns minutos, puxo o ar sentindo algo
agarrado em meu pescoço. Afasto meus cabelos assustada com meu pulso

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direito. É um corte artificial, próximo da realidade, está repleto de sangue,


assim como na mão esquerda.
Meu estômago se embrulha. Tento me levantar, mas a coisa em meu
pescoço me faz tossir, é um arame. Olho para o lado tentando arrancar o fio
enroscado na cabeceira da cama. Meus dedos se grudam, há mais sangue em
meu pescoço. O líquido vermelho também se espalha pelo lençol. Tiro o
arame, nada agressivo, com facilidade e saio da cama rapidamente.
É um cenário de horror, as manchas de sangue estão por toda parte e
até na camiseta que uso. Corro para o banheiro, assustada com meu reflexo.
Meu pescoço está avermelhado, mas não machucado. Sinto-me como um
cadáver, pior ainda quando empalideço. Corro para a pia, esfregando meus
braços com a água para expulsar as manchas em meu corpo. É sangue real.
Arranco a camiseta, jogando-a no lixo com pavor. Vomitar agora não vai me
ajudar, eu devo me apressar.
― Eu o mato. Eu o mato ― digo repetidas vezes enquanto esfrego
meu pescoço.
Assim que estou livre do sangue, corro para o quarto a procura das
minhas roupas. Encontro-as dobras na poltrona de couro próximo à mesa de
café da manhã, nela vejo o celular de Johnatan. Visto-me rapidamente, em
seguida, pego o aparelho, iluminando a tela com um toque. Logo aparece
uma chamada anônima. Franzo a testa atendo no segundo toque.
― John? ― a voz áspera do homem do outro lado me deixa
paralisada. Não sei se devo contar. ― Johnatan? Precisa de alguma coisa?
Ele não dá ordens, como imagino. Sinto o desespero dentro de mim.
― Ele foi sequestrado. Levaram-no ― disparo
Prendo a respiração quando a ligação é desligada.
Olho para a tela do celular me perguntando se a linha caiu, mas não
consigo retornar a ligação. Johnatan sabia o que estava prestes a acontecer.

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Ele simulou tudo isso sem me dizer saber o porquê. O medo me atinge ao
pensar que os homens podem fazer mal a ele, até mesmo matá-lo. Mesmo
sendo inútil, eu preciso ajudá-lo, começando a sair desse terrível quarto
luxuoso, ao mesmo tempo assombroso.
Pego seu bilhete de aviso, enfiando em meu bolso. A jaqueta me faz
lembrar do rastreador e a coloco rapidamente depois de guardar o celular.
Assim que estou pronta, saio do quarto, deparando-me com um corredor
extenso com carpete vermelho e quadros pintados à mão. Não faço a mínima
ideia de onde estou, mas posso pedir ajuda a Peter, indo para o hospital.
Prendo meus cabelos, seguindo em frente ao ver o elevador adiante.
Logo travo minhas pernas bambas quando vejo um homem de terno sair de
um dos quartos, falando ao telefone em outro idioma. Ele é japonês, com os
cabelos negros e espetados. Sigo meus instintos em voltar para quarto,
girando meus calcanhares, mas paro abruptamente ao me deparar com outro
japonês de terno me encarando com frieza.
― Senhorita pode nos acompanhar? ― Ele pergunta gentilmente. Seu
sorriso não chega até seus olhos.
Afasto-me tentando controlar minha respiração. Olho para trás ao ser
bloqueada, vendo o primeiro japonês me encarar seriamente.
― E se eu não quiser? ― pergunto assistindo seus sorrisos sarcásticos
antes de ser arrancada do meu lugar com facilidade enquanto me debato
assustada, meus gritos são abafados por uma mão apertada em minha boca.
― Se continuar assim, vou explodir seus miolos dentro deste
elevador. Então, contenha-se e aja de forma civilizada! ― um deles ameaça
com uma arma, paro rapidamente, sentindo as lágrimas arderem meus olhos.
Quando me soltam, fico de pé sentindo a arma ser pressionada atrás
do meu corpo. Assim que chegamos ao térreo luxuoso, vagueio meus olhos
em busca da ajuda, mas as duas recepcionistas parecem distraídas pela beleza

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do terceiro asiático. Aperto meus dentes seguindo em frente até entrar em um


SUV negro. Ambos os homens ficam ao meu lado no banco de trás enquanto
o outro bonitão toma a direção em silêncio.
Talvez eles estejam com Johnatan, eles podem me levar até ele,
mesmo que seja arriscado. Assusto-me quando eles vasculham meus bolsos e
encontram o celular, em seguida, jogam-no para fora da janela. Meu coração
acelera cada vez mais. Não tenho para quem pedir ajuda, nem mesmo pelos
vidros escuros.
Assusto-me com seus idiomas potentes. Sem que eu espere, meus
olhos são vendados, aperto meus lábios, não permitindo que o gemido
assustado me escape. O carro continua seu percurso, sinto que tudo ao meu
redor se estende de forma lenta. Desejo descansar minha mente, assim como
meu corpo sobrecarregado. Quero esfregar minhas mãos, mas não consigo
me mover, só permaneço quieta até sentir o carro parar de se mover.
De repente, sou puxada. Cambaleio, andando conforme me guiam.
Talvez seja minha morte ou meu encontro com Johnatan. Tento absorver
todos os ruídos do lugar, mas sei que é um pouco aberto ao sentir o sol em
meu rosto e a brisa suave do vento em meus cabelos. Há mais pessoas no
lugar, eu os escuto como se estivessem se cumprimentando. Assim que
chegamos ao local destinado, meus passos se acalmam.
Sou sentada a força numa cadeira, o lenço em meus olhos é retirado.
Pisco em busca de foco, olhando em volta. Estou no centro de um galpão
abandonado. Tudo está vazio, mas sei que atrás de mim tem os dois japoneses
de guarda. Eles mataram Johnatan, meu pensamento me alarma. Ele não está
em lugar algum. Distraio-me quando escuto saltos se aproximarem, aperto
minhas mãos amedrontadas.
Uma mulher alta, com roupas negras apertadas, botas agulha, cabelos
lisos e negros na altura da cintura, caminha à minha frente. Em suas costas

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carrega duas espadas afiadas. Eu a encaro sentindo meu corpo tremer.


Quando se vira, vejo seu rosto de porcelana em formato de coração, olhos
negros frios puxados e lábios levemente carnudos.
― Desculpe-me trazê-la dessa forma, mas meus homens recebem
ordens superiores então, temos que nos manter discretos. Não podemos
deixar rastros ― ela explica com sua voz aveludada, mesmo assim me causa
calafrios. ― Qual é o seu nome? ― aperto meus lábios, olhando-a com ódio.
Seu sorriso branco se abre. ― Sabe, podemos fazer da maneira fácil ou
difícil. Você que escolher.
― Quem é você? ― pergunto, usando meu ódio para afastar meu
medo.
― Que falta de educação da minha parte ― diz ríspida. ― Eu sou
Nectara Hanakuri. Estou aqui para matá-la. Você sabe de quem estou falando.
Então... Onde ele está? ― ela se aproxima para me confrontar.
Se Johnatan não está com eles, então, ele ainda pode estar vivo.
Encaro Nectara, não quero lhe dar resposta alguma.
― Vá para o inferno! ― disparo com a mesma audácia.
Rapidamente escuto a lâmina da sua espada ser arrancada de suas
costas e seguirem direto para o meu pescoço.
― Cuidado com o que deseja, Mine Clark. Saiba que eu sei que seu
pai está em um hospital quase à beira da morte. Tenho contatos para fazerem
serviços completos se não me informar onde está o maldito Makgold ― meus
olhos se arregalam e minhas lágrimas caem enquanto me desespero.
― Por favor, não. Deixe meu pai fora disso...
― Onde ele está? Eu o vi carregar você dentro daquele hotel ― sua
voz se torna mais fria.
― Pegaram-no ― alarmo ao me lembrar da ligação. E se foi um deles
que atendeu?

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― Quem o pegou? ― pergunta e me ameaça, deslizando a ponta


afiada da espada pelo meu queixo enquanto me encara.
Balanço minha cabeça em lamentação. Em seguida, seus olhos ficam
em alerta quando algo chama sua atenção. Ela se afasta, arrancando sua
segunda espada. Espio, vendo um dos japoneses sacando sua arma e seguindo
para o outro lado.
― Droga! Pegue-a e a mantenha viva ― ordena com urgência.
Encolho-me ao ser puxada.
Nectara permanece imóvel, mas sorrindo de alguma forma. Escuto
grunhidos, tiros com metralhadoras e gritos torturantes do outro lado do
galpão. Ela ergue sua sobrancelha, olhando-me de cima abaixo.
― Acho que o senhor Makgold veio buscar alguém ― engulo em
seco, escutando os barulhos com horror. ― Imaginem quando descobrirem o
motivo dele estar tão exposto por alguém?
Assim que os barulhos param, encaramos a porta ser chutada. Os
braços fortes do homem atrás de mim me apertam assim que Johnatan surge
com os olhos febris. Suas roupas estão amarrotadas, os cabelos bagunçados,
molhados por causa do suor. Seus olhos me localizam e seus lábios se
movem ao dizer meu nome, mas seu alívio dura meio segundo quando o
homem mira uma arma para minha cabeça.
― Olá, Johnatan, é um prazer conhecê-lo ― Nectara cumprimenta
roubando sua atenção. ― Sou Nectara Ha...
― Deixe-a ir! ― Sua ordem potente me faz sentir protegida.
― Para quê? Se ela é o motivo para estar aqui. Por que não a deixa?
Disseram-me que você não se relaciona com ninguém, mas eu acho que se
enganaram. Estou impressionada que conseguiu passar pelos guardas ― ela
indaga, caminhando tranquilamente em seus saltos.
― Eu estou aqui ― ele responde friamente. ― Ela não tem nada a ver

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com isso.
― Mas foi graças a ela que te encontrei. Porque eu vim exatamente
atrás do homem que matou meu pai a sangue frio ― suas palavras saem com
ódio. ― Johnatan Makgold, você é um homem morto.
― Não ― sussurro sem fôlego ao vê-la se aproximar com agilidade,
suas duas espadas batem uma na outra.
Johnatan permanece em seu lugar, sacando a arma e disparando em
minha direção. O homem atrás de mim se afasta com o impacto, ao cair me
leva junto.
Afasto-me quando vejo o tiro em sua testa. Olho para cima assistindo
Nectara e Johnatan lutarem. Ambos são ágeis com movimentos brutais. A
mulher gira suas espadas como se fossem simples baquetas. Johnatan se
mantém na defesa, protegendo-se de qualquer ataque, até agarrar uma de suas
mãos girando a espada para si.
Encaro o chão não querendo vê-lo enfiar a lâmina em direção ao
estômago da mulher, mas retorno a assisti-los e vejo Nectara se ajoelhar
diante dele com os olhos arregalados e a respiração sufocante. Com frieza,
Johnatan puxa a espada e a deixa cair no chão. Ele agarra seu queixo,
apertando seus dedos em sua pele com força, encarando-a um ódio mortal.
Nectara estremece, seus olhos puxados tentam se manter aberto.
― Eu sei uma parte sobre você, Hanakuri. A única coisa que posso
dizer com toda a certeza é que eu não matei seu pai. Seria mais justo ser mais
civilizada para conversar comigo, mas seu pior erro foi tocar em alguém que
não deve ser tocado ― Johnatan murmura com frieza, soltando-a assim que
seus olhos se fecham, deixando o corpo da mulher chocar-se com o chão sujo
violentamente.
Preciso de ar, preciso de ar com urgência. Rastejo-me pelo chão para
me manter firme. Meu corpo treme e meus dentes batem enquanto choro.

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Logo, sinto meus ombros serem agarrados. Johnatan me levanta para me


olhar com repreensão.
― O que você não entendeu sobre 20 minutos completos parada?! ―
dispara seriamente, antes de me pegar em seus braços para me carregar.
Eu deveria socá-lo depois de tudo que passei. Ele tem raiva de mim
como se eu fosse a culpada de tudo. Como posso adivinhar o que está
acontecendo?
Assim que saímos do galpão, abraço seu pescoço sentindo seu
perfume, mas a distração não dura muito tempo quando meus olhos se
alargam à medida que nos afastamos. Vejo homens caídos, já mortos no chão,
até mesmo em lugares que eu nem mesmo imaginava.
Escondo meus olhos em seu ombro, deixando-me ser carregada por
ele.
Assim que sou colocada dentro do carro, permaneço entorpecida,
incapaz de olhar para o lado, até mesmo de colocar meu cinto de segurança,
deixando esse trabalho para Johnatan fazer, assim que entra no carro e dá a
partida.

Permanecemos em silêncio, olhando para a frente. Desejo voltar para


meu pai e me certificar de que esteja bem, mas não posso deixar que me veja
dessa forma quando acordar. Ele pode notar minha face vermelha e meus
olhos amedrontados. Um banho me faria bem, descarregaria todo o estresse
emocional das últimas horas. Johnatan está estranhamente calmo, talvez
perdido em pensamentos ou ainda bravo comigo por nunca seguir suas
orientações, mesmo sendo meros minutos.
Deixar meus pensamentos divagarem dessa forma me causa uma fúria
instantânea. Por mais que ele esteja nervoso, não deve descontar sua fúria em
mim. Por Deus, eu quase fui morta nas últimas horas ou talvez nos últimos

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dias. Ele não deveria ter me tratado assim, não deveria ter me dopado, nem
mesmo me ter feito de cadáver correndo riscos.
Encaro o céu vendo a noite se aproximar, o lado do meu rosto ainda
arde, mas é uma dor superficial. Assim que estaciona, encaro o prédio de
vidro, fico feliz que não seja o hotel onde passei terror nas últimas horas. Eu
ainda tenho que confrontá-lo e perguntar para quem ele trabalha. Meus
pensamentos se diluem brevemente quando o escuto suspirar ao meu lado,
afasto-me da janela.
― Vamos ficar por aqui ― ele diz com calma, pegando-me de
surpresa por seu tom casual. ― Eu tenho um apartamento aqui. Na verdade, o
prédio é meu e são poucas as vezes que venho aqui para ter um pouco de paz
― suspira. Aperto meus dentes ao escutar seu um pouco de paz.
Antes que Johnatan explique sobre sua moradia, saio do carro
corajosamente. Sinto-me tonta só de olhar para cima, o prédio é enorme, ao
mesmo tempo peculiar e muito privado, pergunto-me se estamos fora da
cidade. A porta do carro se fechando me diz que ele também saiu. Um
homem alto de terno cinza e cabelos crespos se aproxima em reconhecimento
para Johnatan.
― Senhor ― cumprimenta o homem todo profissional. Quero revirar
meus olhos. Claro ele é Johnatan Makgold... O Poderoso Chefão, meu
pensamento é irônico.
Fora minha distração, as perguntas continuam a me atormentar e
nenhuma das respostas me levam a lugar algum, nem mesmo me ajudam a
me manter calma. Quando Johnatan fica ao meu lado, seguimos até a entrada
envidraçada do prédio. Eu o acompanho, vendo pelo canto dos meus olhos,
seu desconforto. Continuo em choque, então, não posso simplesmente sorrir
para ele dizendo que está tudo bem. Eu preciso saber mais.
Johnatan segue diretamente para o elevador, acenando para uma

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recepcionista loura. Apenas me toca para entrar primeiro, fazendo-me


estremecer e ele recuar rapidamente. Assim que as portas de aço se fecham,
ele puxa o ar. Permaneço parada, vendo seus dedos se moverem pelos botões.
Assim como na sua casa ele digita um código. Posso notar, por sua
expressão, que está desconfortável.
― Mine, você pode por favor dizer alguma coisa? Qualquer coisa?
Piscar? Se mover? ― Ele me olha angustiado. ― Eu preciso saber se você
está bem.
Que ironia, não? Sua preocupação aperta meu coração, mas ainda me
sinto magoada.
Meus lábios tremem.
― Qualquer coisa? ― pergunto receosa.
Ele acena gentilmente, sua testa franze quando vê meu olhar fixo.
Subitamente movo meus braços contra seu peito de forma histérica e
desengonçada. Para aumentar minha fúria, sua breve risada perversa me faz
querer socá-lo. Em seguida, o elevador nos dá o aviso de que já chegamos,
mas ainda não estou satisfeita. Johnatan tenta agarrar minhas mãos para me
manter presa. Sou imobilizada por seus braços fortes, sendo carregada para
fora do elevador. Tento mover com grunhidos e pontapés.
― Jesus, mulher! ― Johnatan dispara áspero quando mordo sua mão,
empurrando-o quando chegamos à porta dupla de madeira grossa.
― Você é um insensível ― digo rouca voltando a atacá-lo.
― Como é? ― pergunta tentando agarrar minhas mãos, meus cabelos
me interrompem.
― Você me dopou. Me encheu de sangue nojento. Me fez correr o
risco de ser morta! Eu tive que lidar com uma louca neurótica à procura de
vingança! ― digo pausadamente, ao mesmo tempo que aponto meu indicador
para o seu peito, recuperando o fôlego em cada frase.

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― Agora, você está viva...


― Eu pensei que estivesse morto, Johnatan! Ela sabia do meu pai! ―
praticamente grito, seu rosto se mantém sério.
― Seu pai está em segurança. Eu te garanto ― assegura.
― Também tive que lidar com um homem louco numa limusine e,
depois, com ela. Eu estou pensando que não é só uma máfia à sua procura,
Johnatan.
― Muitos deles estão com sede de vingança, Mine. ― Ele arruma seu
cabelo, puxando-o para trás. ― Nectara foi uma exceção, preciso investigar
mais sobre ela.
― Se não foi você que matou o pai dela, então, por que a matou? Por
que não explicou para ela? ― seus olhos se esfriam.
― Havia mais de cinquenta homens fora daquele galpão, você não
iria sair de lá viva, Mine ― seu tom é ríspido. ― Se ela se aproximasse de
mim ou se me machucasse, seria outra história, mas eu não posso suportar
que outra pessoa a machuque, que outra pessoa a ameace. Tudo que faço
agora é para te proteger. Não posso deixar que nenhum deles sobrevivam
sabendo que você existe! ― ele me encara em alerta. Afasto-me como se
tivesse levado outro tapa na cara, a dor é imediata.
― Então, você tem vergonha de mim? ― pergunto com o coração
apertado, meus olhos se enchem de lágrimas.
― Por Deus, não! ― responde exasperado, afastando meus cabelos
do meu rosto.
― Então, por que tudo isso? Por que toda essa matança?
― Acredite que minha cota de assassinatos aumentou nos últimos
dias, só que não posso deixar que a vejam, Mine. Eu não suportaria perder
você ― diz afastando minhas lágrimas.
― Me explique ― insisto.

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― Porque se qualquer um sobreviver para contar história, virão atrás


de você. Além de caçá-la, vão torturá-la até a morte. Se isso se espalhar, vão
saber que, neste momento, você é meu ponto mais fraco ― declara como se
estivesse sufocado.
Encaro seus olhos assustada.
― Me diz o que há por trás de tudo isso. Não tem a ver só com sua
família, existe mais coisas. Você pode confiar em mim. Eu só quero te ajudar
― acaricio seu rosto.
Seus olhos se fecham e permito que me abrace.
― Quanto menos você saber, melhor ― diz, voltando a me olhar com
intensidade. ― Mine, você foi a coisa mais preciosa que já me aconteceu. Se
a tirarem de mim, será como se eu perdesse boa parte da minha vida.
Meu coração se aperta, em seguida, beijo seu rosto diversas vezes.
― Prometa para mim que quando estiver pronto vai me dizer? ―
peço e o abraço com força.
Ele engole com dificuldade, inspirando profundamente.
― Eu não quero que você se junte com toda essa merda que carrego
comigo ― seu desabafo me deixa sem jeito.
― Isso me dá medo, Johnatan. Não sei o que pode me acontecer
amanhã ou depois...
― Nada vai lhe acontecer. Hoje foi um erro inaceitável. Eu falhei
com minhas promessas, principalmente com você, desculpe-me. Ninguém
nunca mais irá tocá-la. Não vou permitir.
― E se acontecer? ― eu o encaro. ― A morte pode chegar para
qualquer um. Seja ela inesperadamente ou de forma brutal.
― Se isso acontecer, será como se meu coração estivesse sangrando
e, enquanto ele sangrar, eu me vingarei. Depois disso, poderei morrer com a
dor por tê-la perdido. ― Mesmo suas palavras sendo ameaçadoras, meu

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coração salta. Meu sorriso surge lentamente.


― Eu sei que não está preparado para me dizer muitas coisas, mas
garanto que o pouco que me disser estará guardado. Vou estar sempre aqui
para qualquer coisa. Só não quero que se sinta sozinho. Você tem a mim e a
todos da casa. Lembre-se de que Donna o adora ― ele sorri sem jeito. ― Só
peço que, por favor, não me deixe dessa forma. Eu não sei o que devo fazer,
não sou ágil como você e preciso que me guie para o caminho certo.
Johnatan, hoje foi meu pior dia, o que mais me senti cansada. Meu desejo é
nunca passar por isso de novo ― desabafo.
Ele me abraça enquanto aperto seu pescoço num abraço forte, ao
mesmo tempo em que sinto seus braços acolhedores.
― Eu sinto muito ― murmura em meu ombro. ― Vamos entrar, você
precisa descansar ― ele beija minha testa quando nos afastamos.
― Tudo bem. ― Sorrio, deixando-o digitar o código para destravar a
porta.
O corredor extenso é único, como se fosse privado apenas para ele.
Mais à frente sorrio ao ver a escultura branca de um cavalo de mármore.
Viro-me assim que ele abre a porta permitindo que eu entre.
Antes de dar mais um passo, Johnatan me puxa para seus braços para
beijar meus lábios, acaricio seus cabelos, trazendo-o para mim. Depois de
tudo que passei nesse terrível dia, meu corpo clama por ele. Afasto-me à
procura de fôlego, encarando o luxuoso apartamento à minha frente. Uau!
Tudo é de vidro e mármore escuro.
― Bem... Digamos que essa é a primeira vez que trago alguém aqui
― diz quando vê a surpresa em minha expressão depois de travar a porta
novamente.
Olho ao redor, localizando a sala com estofados escuros, a cozinha
espaçosa e mais outra sala equipada com TV. O espaço lembra-me

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vagamente da sala de entrada da mansão, mas de uma forma ainda mais


moderna.
Johnatan me leva para um breve tour. Os lugares mais memoráveis
para mim são: um espaçoso salão com lareira e a piscina interna. Seu
escritório não é como a biblioteca, é mais aberto, com livros guardados num
armário de vidro embutido enquanto nas outras paredes se destaca a visão
panorâmica da cidade. A paisagem do lado de fora é de tirar o fôlego, o céu
escurece num contraste perfeito entre o claro e o escuro.
Sou conduzida para os quartos, apresentando-me os de hóspedes, que
nunca foram usados. Quando chego ao seu, deparo-me com um lugar
espaçoso de carpete negro, cama king-size coberta por um edredom branco,
os travesseiros negros se destacam no colchão. Pelas portas e paredes de
vidro do quarto, vejo seu enorme closet iluminado junto com uma sala
privada.
Subindo alguns degraus, próximo ao seu closet, está o banheiro,
provavelmente, um segundo andar onde se tem uma banheira extensa, ali
parece ser o único lugar privado dos vidros à mostra, mas ao entrar, eu me
encanto com o mármore creme, aços dourados e vidros cristalizados. De volta
ao quarto, Johnatan explica:
― Você pode vestir qualquer uma das minhas camisas. Eu vou tomar
um banho, depois resolver algumas coisas das empresas. Tenta descansar um
pouco ― ele pede, beijando meus lábios levemente antes de subir para o
banheiro.
Eu o assisto tirar suas peças de cima, revelando suas costas largas, em
seguida, desaparecer.
Fico parada sem saber para onde ir. Caminho até seu closet, passando
pelas deslizantes portas de vidro.
― Minha nossa! ― arfo ao ver que suas roupas são bem-organizadas.

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Dispo-me, mas não me sinto satisfeita, desejando desesperadamente


um banho. Meus pensamentos em Johnatan naquele banheiro não me ajudam
em nada.
Mordo meu lábio, na luta pelo que estou prestes a fazer. Termino de
tirar minhas roupas, guardando-as em algum lugar antes de seguir direto para
o banheiro.
Fico feliz que a porta esteja aberta. O vapor da água quente misturada
com seu perfume faz minha pele se arrepiar.
Corajosamente invado o local, escutando o barulho da água preencher
o silêncio do banheiro. Caminho até o vidro cristalino onde o encontro de
olhos fechados, deixando a água cair em seu corpo. Ele respira
profundamente como se relaxasse, assisto-o fascinada até me distrair com
seus músculos firmes.
Entro sem interromper seu momento relaxante. Sorrio ao pensar que
ele deve estar meditando. Ergo minha mão para tocar sua pele e analisar seu
corpo másculo de costas. Johnatan não se move, continuo a acariciá-lo até ter
minhas duas mãos em seu corpo. Seu peitoral parece inchar ainda mais
enquanto puxa o ar em sua boca, fazendo seu peito subir e descer
rapidamente.
Quando estou à sua frente, sorrio ao ver sua ereção pronta para mim,
mas apenas aprecio, percorrendo minhas mãos em direção ao seu membro.
Sem que eu espere, agarra minhas mãos. Olho-o como se estivesse sido
flagrada fazendo algo ilegal.
― Você não deveria distrair um homem perigoso dessa forma ― ele
sorri abertamente.
Perco o fôlego, mas tento disfarçar:
― Estou feliz que sua cicatriz esteja melhorando ― digo sorrindo,
sua sobrancelha se ergue.

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― Eu acho que tem algo a mais do que a cicatriz ― diz me puxando


para seus braços.
― Eu estou dizendo a verdade ― pisco com inocência.
Sou pega de surpresa quando ele agarra meus quadris, fazendo minhas
pernas se apertarem em sua cintura para sentir sua ereção em minha vagina já
excitada.
Enrosco meus braços em seu pescoço, deixando a água quente cair em
meu corpo. Ergo meu rosto, sorrindo como se a água limpasse minha alma.
Sinto os lábios de Johnatan beijarem meu pescoço e deslizarem por entre
meus seios como a corrente de água quente. Gemo, puxando seus cabelos
quando sua boca se fecha em um dos meus seios.
Meu corpo anseia muito mais por seus toques. Suas mãos em meus
quadris me ajudam a me mover contra ele, gememos em excitação. Nossas
mãos se movem descontroladas por causa do desejo consumido.
Quando nossos lábios se grudam, nossas línguas se encontram,
movendo-se de forma erótica, um clamando pelo outro. Arranho suas costas,
gemendo em sua boca quando sinto sua ereção esfregar meu sexo de maneira
provocante.
Meu corpo queima de dentro para fora. A água quente caindo entre
nós só aumenta o fogo que ambos consumimos. Sua boca desliza de meus
lábios para meu pescoço, e ergo minha cabeça dando-lhe fácil acesso. Em
seguida, sou afastada de seu corpo.
Minhas pernas estão doloridas em decorrência da intensidade pulsante
em meu sexo. Johnatan me olha com desejo, girando-me de costas para ele.
Brevemente ele se afasta, mas não tenho tempo de encontrá-lo, já notando
sua presença novamente. Apoio-me na parede, e sinto seus dedos deslizarem
por meu sexo.
― Está tão molhada, minha Mine ― ele aprecia atrás de mim. Seus

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dentes mordiscam minhas costas de maneira provocante até chegar à minha


nuca.
― Oh! Mais por favor! ― gemo quando seu indicador ameaça me
penetrar.
―Você precisa disso? ― pergunta provocante. Arrepio-me quando
sua ereção, já com a camisinha, esfrega-se em minha vagina.
Empino para ele, sentindo suas mãos acariciarem minhas nádegas
antes de apertarem meus quadris.
― Responda-me, Mine ― pede com um tom mais grave.
― Oh, sim, Johnatan. Eu preciso disso ― gemo querendo me agarrar
em algo.
A maneira como ele se mantém dominante atrás do meu corpo me
deixa cada vez mais excitada.
― Você me quer todo dentro de você? ― gememos juntos quando o
sinto a cabeça de sua ereção me invadir e se retirar. ― Você quer dessa
forma? ― provoca novamente, choramingo com desejo.
― Johnatan! Por favor... Sim ― Seus dedos se prendem em meus
cabelos, puxando minha cabeça gentilmente para trás.
Estou inteiramente entregue, empinada para ele, mantendo as forças
em minhas pernas para me manter de pé.
― Não faz ideia do quanto está deliciosa nesta posição, Mine. ―
Dessa vez sua ereção se esfrega em meu clitóris enquanto uma de suas mãos
mantém meus quadris firmes. ― Mine?
― Sim! ― ofego inebriada com as sensações que causa em meu
corpo.
― Afaste um pouco mais as pernas. Eu quero tê-la agora! ― seu
comando me faz arrepiar.
Gemo ao sentir seu corpo grudar-se ao meu. Suas mãos apertam meus

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mamilos enrijecidos. Seus lábios deslizam por minhas costas até chegarem às
minhas nádegas. Meus gemidos se alteram quando sua língua desliza por meu
sexo. O tamanho da excitação não me deixa sentir constrangimento. Sem
demora, ele me invade lentamente.
― Você é tão gostosa por dentro, minha Mine. Sinta o quanto lhe
completo, o quando sua carne macia e pulsante se fecha perfeitamente em
mim ― diz inebriado. Sim, eu o sinto.
Quando ele se move, gemo, sentindo-o escorregar cada vez mais
fundo.
― Mais forte! ― peço sem pudor.
Meu pedido parece enlouquecê-lo, pois se move mais rápido enquanto
fico cada vez mais empinada para ele.

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21 – EXPOSTO

Seus movimentos ficam mais fortes, atingindo o ponto mais excitante


dentro de mim enquanto me contorço com prazer. Ele estoca profundamente
até sentir meu corpo estremecer com a chegada do meu orgasmo intenso.
Com mais um impulso forte, sei que ele também chegou ao seu. Procuro
controlar minha respiração, assim como ele ainda agarrado em meu corpo.
Quando se retira, viro-me para abraçá-lo e beijar seus lábios.
Johnatan geme rouco, puxando-me novamente para o chuveiro sem
desgrudar nossos lábios.
Eu o deixo lavar meu corpo no banho, vendo seus olhos curiosos em
mim enquanto o sabonete desliza em minhas costas, ombros, seios e entre
minhas pernas. Eu faço o mesmo com ele, tocando-o como se memorizasse
cada detalhe, cada textura de sua pele.
Quando saímos do nosso banho, Johnatan demonstra seu lado
cuidadoso, secando meu corpo enquanto o admiro com a toalha enrolada em
sua cintura. Músculos poderosos, os cabelos bagunçados lhe dão um ar de
rebeldia. Assim que se ergue para secar os meus cabelos, aprecio fascinada
até as linhas perfeitas em direção ao seu quadril.
― Apreciando a vista? ― pega-me de surpresa.
― Posso dizer que sim ― sorrio sem jeito, recebendo um caloroso
beijo na bochecha. ― Acho que você malha mais que o necessário.
― Sempre curiosa ― sua risada fraca me ilumina de dentro para fora.
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― Malhar faz parte da minha rotina. Eu consigo manter o controle acelerado


da minha respiração, dos meus batimentos cardíacos e a forma como
mantenho o peso em meus músculos como equilíbrio ― explica.
Por fim, estou com uma toalha envolta do meu corpo e outra enrolada
na cabeça. Johnatan sorri com perversão.
― Você começou a malhar pesado depois do que aconteceu? ―
pergunto temerosa.
Ele se afasta, seguindo em direção à pia de mármore para se barbear.
Aproximo-me para encará-lo enquanto trabalha com a espuma e a navalha.
― Quando comecei a treinar, não foi fácil. Foi muito pesado e
cansativo. Tive que tentar lidar com limites rígidos para meu corpo. Comecei
a acordar mais cedo... Na verdade, você sabe, não costumo dormir muito―
ele me dá uma piscadela. ― Malhar ajuda a manter meu corpo alerta. No
início, doía por toda parte.
Distraio-me com suas costas, vendo algumas cicatrizes superficiais.
Bem, estamos chegando a alguma direção!
― Quem o treinou? ― insisto. Seus olhos me encararem no espelho.
― Apesar de não ter feito um curso e tudo que aprendi ter sido
através de livros, eu treinava com um bom professor na Rússia. Fiz
Kickboxing, Karatê, Judô, Kung Fu, Muay Thai e Jiu-Jitsu. Tinha que seguir
um cronograma nas artes marciais.
Pisco perplexa.
― Todos os dias?
― Sim. Às vezes, passava o dia inteiro estudando e as noites
treinando. O mais importante disso é que quando se está numa luta com
alguém, não basta apenas saber de tudo isso, você tem que avaliar seu
oponente, tem que saber seus movimentos e, principalmente, ser rápido, mais
rápido do que possa imaginar. Além de trabalhar o corpo, deve mantê-lo no

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controle. Você tem que ter sua mente sempre ligada a tudo e todos ao seu
redor. Dessa forma, seu corpo, junto com sua mente, trabalha em sincronia.
Aprender a escutar também faz parte da concentração ― ele sorri para mim,
terminando de se barbear, e eu apenas continuo interessada.
― Você já foi pego de surpresa?
Que pergunta idiota, penso.
― Sim. Duas vezes ― responde lavando o rosto. Sua barba está feita,
seu rosto liso, bem-desenhado e sem nenhuma ferida.
― Quais foram?
― Quando você caiu em meus braços a primeira vez em que a vi. Eu
não esperava e podia sentir algo estranho se aproximando, pronto para tornar
tudo uma catástrofe ― ele ri livremente. Delicio-me com o som, mas logo
fico séria.
― Isso não tem graça ― digo.
Johnatan tenta ocultar o sorriso.
―Tem toda a razão ― ele não evita o sorriso.
― E qual foi a segunda? ― cruzo meus braços o encarando.
Seus olhos azuis parecem brilhar com um humor repentino.
― Você me atacando no elevador ― ele gargalha.
― Você só pode estar de brincadeira. ― Eu tento, mas não consigo
me manter séria.
― Estou falando a verdade. Eu realmente estava nervoso com você
por não ter seguido meu aviso. Só que ver você distante de mim é
perturbador. Confesso que a prefiro falante do que calada. Parece que uma
porta se fecha e eu não consigo chegar até você ― desabafa, acariciando meu
rosto.
― Eu realmente não me arrependo de ter feito aquilo, nem mesmo da
minha reação ― digo, abraçando seu pescoço para beijar o queixo macio.

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― Eu sei. Pensei que iria dizer algo, gritar ou me tratar como se eu


fosse um lunático, mas daí você me vem com tapinhas e soquinhos, até
mesmo me mordeu ― finge estar impressionado. Faço careta.
― Você poderia me ensinar a socar com mais força ― digo com
malícia. Logo seus olhos perdem o humor, fazendo-me parar.
― Eu prefiro que você continue dessa forma. Não há nada de errado
com você para perder toda essa graça ― diz beijando minha testa.
― Você sabia que sei usar uma espingarda?
Eu também posso ficar por cima.
― Bem ― ele se afasta com humor. ― Deus me livre ficar perto de
você com uma arma de caça ― brinca me fazendo rir.
Ao voltarmos para o quarto, Johnatan me empresta uma de suas
camisetas brancas de algodão, depois me rastejo para a cama conforme ele
ordena. Ele cobre meu corpo após se juntar a mim e acaricia meus cabelos.
Eu o abraço fechando meus olhos, sentindo o peso do dia me sobrecarregar
por inteira.

Quando desperto, deparo-me com o quarto vazio. O ambiente quente


está confortável. O quarto é iluminado por luzes embutidas nas paredes
próximas aos vidros. Levanto-me disposta a procurá-lo. Desço as escadas
sentindo o cheiro de comida me invadir, fazendo meu estômago roncar.
Ao me aproximar da cozinha, escuto músicas ao fundo, tento capturar
a melodia, mas é impossível me concentrar quando vejo Johnatan se
movendo em sua cozinha, descalço e vestindo apenas uma calça de moletom
escura. Em suas mãos há uma taça de vinho e uma garrafa. Ao notar que está
perdido, encostando-me no balcão de mármore para observá-lo. Assim que se
vira, fica surpreso.
― Eu iria te acordar ― diz.

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Sua aproximação viril me provoca. Ele me entrega a taça. Pego-a sem


jeito.
― Você não estava comigo. Acho que não dormi por muito tempo.
― Duas horas e meia, mais ou menos ― informa sorrindo. ― Beba!
― ordena.
― Eu acho que não sou muito boa com bebidas ― digo, mas seus
olhos continuam mandões. ― Certo, vou beber ― sussurro bebericando.
É suavemente amargo e ao mesmo tempo doce.
Johnatan me olha fascinado, dando-me um sorriso torto.
― O que achou? ― pergunta com um sorriso perverso.
― É maravilhoso, mas não quero me embriagar ― falo rapidamente.
Minha expressão o diverte.
― Está com fome? ― seu sussurro me arrepia.
― Muita fome ― provoco-o.
― Mine Clark, não deveria flertar com um homem que está prestes a
tê-la neste balcão ― balança a cabeça, dando-me aquele sorriso torto.
― Então, pare de tentar me provocar e me alimente ― disparo,
bebericando o vinho novamente.
― Eu tenho que admitir que até mesmo bebendo um mero vinho
francês, fica ainda mais sexy. ― A palavra “sexy” saindo de seus lábios em
sotaque russo me faz suspirar. ― Venha, vamos comer!
Ele pega minha mão para me conduzir até uma sala iluminada com
velas e luzes baixas. A mesa está posta com elegância, contendo pratos com
glass cloches de inox, copos e talheres. A sala de jantar parece privada, com
espaço adequado para uma pessoa se locomover. A parede de vidro à frente
nos dá uma perfeita visão da cidade anoitecida.
― Se não podemos ir a um jantar... Ele vem até nós. ― Johnatan
puxa uma cadeira. Sento-me, envergonhada pela gentileza.

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― Bem, eu não sei se estou vestida de maneira adequada neste


momento ― murmuro olhando a sala requintada.
― Então, somos dois ― diz se sentando próximo a mim em seguida
revela nossos pratos.
O cheiro apetitoso faz minha boca se encher de água. Ainda mais com
a aproximação de Johnatan bebo água para conter o fogo dentro de mim ao
vê-lo sem camisa.
― Não sabia que cozinhava ― digo olhando o prato à minha frente,
sei que é peixe, mas nunca provei nada do tipo.
Ele dá de ombros.
― Experimente!
Vejo-o se debruçar em minha direção para me olhar com os olhos em
chamas.
Prendo minha respiração quando ergue sua mão para pegar um garfo e
espetar sua comida.
― Prove! ― o sotaque rouco faz meu coração acelerar.
Abro minha boca, deixando que me alimente sem perdermos o
contato. Apenas fecho meus olhos para apreciar o sabor da comida em meu
paladar. É cremosa, apimentada e suave. O maravilhoso sabor me faz querer
ainda mais.
Abro meus olhos vendo Johnatan me avaliar.
― Então? ― pergunta tomando meu vinho e me entregando para que
eu dê um gole. O sabor da bebida combina perfeitamente com a comida.
― Está maravilhoso ― elogio impressionada.
― Fico feliz que tenha gostado ― sorri amavelmente.
― Onde aprendeu a cozinhar? ― indago quando começo a comer por
mim mesma.
― Eu nunca cozinhei ― responde lentamente. Eu o encaro perplexa.

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― É a primeira vez que faço isso.


― Nossa! Está de parabéns ― sorrio empolgada.
― Obrigado. Na verdade, o prédio exerce um serviço de culinária
diferente. Eles separam os ingredientes e entregam, assim, seguimos a receita
no cardápio ― ele explica. ― Quando venho para cá, peço que me preparem
ou desço para o restaurante. Caso não tenha percebido, tenho um paladar
muito exigente ― coro com seu olhar fixo em meu corpo.
― Mas agora você se arriscou na cozinha.
― Não é fácil, mas também não é difícil. Minha equipe de cozinha do
prédio é excelente em marcar o tempo dos alimentos no fogo. É um serviço
diferenciado ― diz com orgulho.
― E o que seria esse prato?
Partilhamos o vinho e o deixo pegar uma das minhas pernas para
apoiar em seu colo e massagear enquanto comemos. Isso é relaxante e, ao
mesmo tempo, excitante; posso notar o quanto seus dedos deslizam por
minhas pernas perversamente.
― É algo como salmão ao molho de camarões, pimenta e abacaxi,
fora os temperos ― ele franze a testa como se tentasse se lembrar do que
usou. Sorrio.
― Fez tudo isso para mim? ― meu coração se agita ao notar seus
gestos cuidadosos.
― E acha mesmo que iria mantê-la aqui sem cuidar de você? ―
dispara em sua defesa.
Levanto-me para sentar em seu colo.
― Obrigada! ― beijo seus lábios brevemente. ― Por tudo que fez
por mim hoje, assim como nos últimos dias ― ele acaricia minhas costas,
beijando meus lábios ternamente.
― Boa parte de tudo isso é para me desculpar por tudo que tem

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ocorrido ― seus olhos ficam sérios. ― Eu ainda temo pelo pior, Mine. Não
quero que isso te atinja ― seus braços me apertam.
Fico pensativa ao acariciar seus cabelos.
― Eu tenho muitas perguntas.
― Eu sei que tem, mas, dentre elas, a maioria eu não quero responder.
― Por quê? ― franzo a testa.
― Porque pode fazê-la se afastar de mim. Por mais que eu queira
isso, meu coração não permite ― seu desabafo me faz sorrir.
― Eu já o vi matar, Johnatan, acredite, não pode ter algo pior que
isso. Dentre as muitas perguntas, a que mais me intriga é saber para quem
você trabalha.
Seus olhos ficam em alerta, noto que seu corpo relaxado fica tenso.
Eu lhe devo explicações.
― Enquanto estava no hotel, eu ouvi conversar com mais alguém.
Quando você foi levado por aqueles homens, eu vi seu celular numa ligação
automática para algum número restrito ― estremeço. ― Quando atendeu, eu
disse que te levaram, depois disso, o homem desligou. Sei que foi o mesmo
homem que estava naquele quarto. Você trabalha para ele? ― pergunto
vendo seus olhos me encararem, mas sem o foco de que estou à sua frente.
― Não ― ele responde. ― Ele trabalha para mim.
Franzo a testa.
― Então, por que ficou assim?
Finalmente seus olhos me encontram quando nota meu medo ao
pensar que a pessoa seja alguma ameaça.
― Porque não fui eu que deixei o celular em ligação automática ―
ele diz e me afasto para encará-lo.
― O quê?
Assusto-me quando ouço suas palavras russas como se amaldiçoasse

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algo.
― Colocaram uma escuta ― murmura para si mesmo. Minha
respiração se altera.
Pulo do seu colo, agarrando-o quando o telefone do apartamento toca,
deixando-nos paralisados.

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22 – FORA DE CONTROLE

Saio do seu colo para lhe dar espaço. Johnatan inspira profundamente,
levantando-se como se tivesse um peso em suas costas.
Sigo-o até a sala principal, onde atende o telefone em seu idioma
grave, mas logo se interrompe para me observar.
― Sim, ela está comigo ― informa. ― E os seguranças? Mantenha
sempre com ele. Pede para Donna voltar para casa. Avise ao James que
precisarei do carro pronto amanhã ― ele ordena, depois escuta a resposta do
outro lado. ― Ótimo! Mine precisa descansar. Amanhã vou levá-la para
visitá-lo.
Eu me aproximo dele assim que desliga, parece incomodado.
― Quem era? ― questiono, imaginando que tenha sido do hospital.
Seus olhos parecem cansados.
― Peter ― suspira. ― Seu pai acordou perguntando por você, mas
voltou a dormir por causa dos medicamentos. Donna ficou com ele esse
tempo e agora Peter passará essa noite. Amanhã a levarei para vê-lo. ― Meu
coração se aperta, logo seus braços me acolhem. ― Seu pai vai ficar bem,
não se preocupe.
― Você disse algo sobre os seguranças. O que isso quer dizer?
― Quer dizer que há dois homens fazendo a escolta no hospital ― diz
com firmeza. Aperto meus lábios.
― E como ele está? Por que não podemos ir agora?
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― Parece que ele acordou agitado. Não se preocupe, ele está em boas
mãos. Por ordens minhas, o atendimento dele está sendo exclusivo. Agora,
você precisa descansar. ― Nada o fará mudar, por isso, decido acatar sua
decisão.
Aperto meu rosto contra seu peito quando as lembranças do dia
vagueiam por minha mente.
― Quem são aqueles homens que o pegaram? ― franzo o cenho.
Escuto Johnatan suspirar enquanto acaricia minhas costas
distraidamente.
― Eles faziam parte da máfia. As tatuagens que alguns trazem nas
mãos pode ser a marca registrada que os consideram membros mais velhos.
― diz pensativo, assim como eu ao me lembrar da estranha tatuagem. ―
Quando percebi o movimento no hotel, tive que tomar providências. Aquilo
não era sangue de verdade. Era o sintético que uso para atrair as vítimas. Eu
tive que improvisar para te proteger. Não tinha muito tempo, eles estavam se
aproximando, então, tive que simular sua morte. Assim que invadiram o
quarto, deixei que me nocauteassem e usassem o choque, permaneci caído
para atraí-los apenas para mim.
― Eu os vi atingi-lo na nuca ― digo com uma careta aborrecida.
― Eu sei. Aquilo foi uma tortura aceitável ― ele vira a cabeça,
mostrando a marca vermelha em sua nuca, afastando o cabelo. ― Eu consigo
lidar com a tortura física. Onde me atingiram foi fraco ― sorri sem humor.
Pisco desorientada.
― Então, você estava acordado e não fez nada? ― questiono
horrorizada.
― Eu queria que me levassem para longe. Se começasse uma briga
ali, as coisas seriam muito piores, sobretudo com você daquela forma. Eu não
poderia me arriscar ainda mais ― explica exasperado.

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― Para onde te levaram?


― Eles falavam algo sobre um chamado LIGA ― franze a testa
também confuso. ― Mas antes disso acontecer, eu os ataquei no
estacionamento três quarteirões longe do hotel. Eles parecem se multiplicar,
por ironia, um deles era sócio do hotel ― Johnatan parece desconfiado.
― Você os matou?
― Sim ― confessa.
― E como conseguiu me encontrar? Eu estava com rastreador e você
sem nada ― pergunto confusa.
Ele me encara.
― Eu voltei para o hotel, subi para o quarto usando as escadas de
emergência. Quando cheguei, você não estava. A cama estava arrumada com
tudo intocado, o que me levou a achar que foram rápidos e fizeram uma
limpa no local. Deus, eu fiquei louco, pensando que um deles havia capturado
você. ― Ele fecha os olhos com horror.
― Mas aqueles homens... Nectara ― balanço a cabeça. ― Ela não
fazia parte da máfia?
― Não ― ele inspira pensativo. ― Foram ataques diferentes. Nectara
parecia agir por si só, e eu preciso investigar. Uma das coisas que sei é que
ela é filha de Nikko Hanakuzi, mas nada muito específico ― diz desconfiado.
― Quem é Nikko Hanakuzi?
― Ele foi meu antigo treinador ― ele franze a testa. ― Eu o conheci
na Rússia durante minha fuga. Saber que ele foi morto foi uma surpresa para
mim. Devo investigar isso.
Esfrego minha testa exasperada.
― Isso é tudo tão confuso ― murmuro.
― Sim, mas agora você precisa dormir e eu vou voltar para o
trabalho. Só dei uma pausa para te alimentar ― diz massageando meus

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ombros. Fecho os olhos.


― Você também tem que descansar ― sussurro, devido aos seus
dedos ágeis.
― Não acho que terei uma boa noite de sono ― seu tom firme faz
meus olhos se abrirem.
― Pelo menos tenta ― peço puxando sua mão em direção ao quarto.
Na cama, aninho-me em seus braços, deliciando-me com suas carícias
em meus cabelos. Seu nariz inspirar meu perfume como se o acalmasse.
Fecho meus olhos deixando meu corpo cair num sono profundo.

Desperto com a leve claridade do dia invadindo o quarto. Sinto os


braços de Johnatan me cercarem e seu corpo quente aquecer o meu. Olho
para cima e vejo seu rosto tranquilo, os olhos fechados e a boca levemente
aberta. Uau! Ele parece mais jovem enquanto está dormindo. Uma mecha de
seu cabelo caída sob sua testa lhe dá um certo charme sereno, bem como a
sombra da barba rala, que parece crescer tão rapidamente de um dia para
outro.
Sorrio satisfeita ao pensar que ele adormeceu comigo. Quero deixá-lo
dormir por mais alguns instantes, deixá-lo longe de problemas com
perseguições e, nesse quarto, eu sei que é um breve lugar seguro, pelo menos,
por enquanto. Em parte, imaginar que estaremos no mundo real de Johnatan
em alguns minutos me faz estremecer.
Sou pega de surpresa, gemendo assustada, quando os braços de
Johnatan me cercam com força. Ele me puxa para baixo de si, onde encaro
seu peitoral largo e me encolho como uma bola. Meu coração bate acelerado
ao notar sua reação inesperada. Olho para cima, vendo seus olhos abertos em
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alerta, assim como sua testa franzida. Seu corpo sobre o meu parece criar
alguma barreira protetora. Lamento por não ter mais sua expressão jovial.
Johnatan baixa seus olhos confusos para mim quando toco seu peito.
― O quê? ― ele pergunta, inspirando profundamente como se tivesse
levado um susto.
― Eu não sei ― respondo perturbada. ― Você acordou de repente.
Teve algum pesadelo? ― pergunto preocupada.
Johnatan balança a cabeça.
― Não. Você se assustou com algo, tremeu em meus braços e eu
acordei. Jesus, mulher, quer matar esse pobre homem? ― tenta controlar sua
respiração.
Meus olhos se arregalam.
― Você é muito ativo ― murmuro. Como eu ia adivinhar que meu
corpo trêmulo iria acordá-lo feito louco? ― Desculpe.
Estico meu corpo encolhido, deixando seu corpo se deitar sobre o
meu. Johnatan apoia os cotovelos no colchão para me olhar.
― Do que está se desculpando? ― seu sorriso torto me faz parar de
respirar.
― Por ter te acordado ― digo com inocência.
― Você disse que eu sou ativo? ― sua sobrancelha se ergue. Engulo
em seco, balançando a cabeça. ― Você mesma pode dizer sobre isso, Mine.
Quando suas pernas afastam as minhas, sinto sua ereção por baixo de
sua calça. Arregalo meus olhos. Sem que eu espere, meu corpo gruda no seu.
― O que me diz, minha Mine? ― questiona, mordiscando meu lóbulo
antes de deslizar seus lábios em meu pescoço.
― Ativo deveria ser uma palavra proibida ― gemo quando sua
ereção se aperta em meu sexo latejante.
Seu corpo treme enquanto escuto sua maravilhosa risada, meu

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coração se aquece com o som.


― Há tantas palavras proibidas, minha Roza ― provoca, movendo
seus quadris contra os meus. Minhas pernas logo se enroscam em sua cintura.
― Diga algumas ― desafio com desejo, mordendo seu lábio inferior.
Ele me beija depois do ataque provocante, ao mesmo tempo em que
sussurra algo em russo, a pronúncia faz meus pelos se arrepiarem, mesmo
não entendendo suas palavras, meu corpo responde aos seus chamados,
agarrando-o com vontade.

No banho, Johnatan me ajuda a lavar meus cabelos massageando meu


couro cabeludo por um longo tempo. Em seguida, quando termina seu banho,
fico mais alguns instantes deixando a água cair em meu corpo. Pelo vidro, eu
o observo se secar e se afastar com um sorriso aberto, talvez notando que eu
o espio. Coro por ser pega desprevenida e enfio minha cabeça debaixo do
chuveiro. Ao terminar meu banho, sigo até a pia para escovar os dentes,
usando a escova de Johnatan.
No quarto, não o encontro, mas vejo que minhas roupas estão limpas
em cima da cama, assim como minhas peças íntimas e um secador de cabelo.
Fico satisfeita quando encontro o bilhete que havia guardado no bolso, isso
irá para a coleção em minha gaveta. Por outro lado, pergunto-me quem lavou
minhas roupas, mas num lugar como esse, tenho certeza de que Johnatan tem
alguém para fazer isso.
Depois de me vestir, seco meus longos cabelos, mantendo-os soltos.
No espelho, vejo o quanto meus olhos estão dilatados e minhas bochechas
coradas. Quando saio do quarto, pego a jaqueta à procura de algum
rastreador.
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Ao me aproximar da sala, escuto a voz de Johnatan na cozinha.


― Sim, diga para me ligar mais tarde ― ordena enquanto organiza o
balcão com o café da manhã. ― Como Edson está? Certo. Estamos a
caminho. Mine precisa tomar o café da manhã primeiro.
Eu me aproximo para me sentar na banqueta, assistindo-o se mover.
Quando seus olhos se levantam, ele dá seu sorriso carinhoso, em seguida, sua
expressão se transforma em uma careta.
― Pede para Donna trazer alguma roupa confortável para ela ― pede.
Olho-me confusa. ― Mantenha-me informado de tudo. Até mais.
Ele desliga, juntando-se a mim com um sorriso.
― Era Peter?
― Sim. Seu pai pode acordar a qualquer momento, por isso, é melhor
tomar seu café o quanto antes ― diz, servindo-me com panquecas e café.
― Você gosta de café sem açúcar? ― observo com uma careta.
― É para me manter ativo ― ele sorri com perversão. Coro voltando
para meu café.
Nós nos distraímos quando seu celular toca, mas sua expressão se
torna séria ao ver o identificador.
― Cancele as reuniões. Estou ocupado ― ele atende ríspido. ― Bem,
então. a parceria está desfeita. Apenas não me atrapalhe hoje ― ele desliga
sem dizer adeus. Isso me surpreende.
― Humm ― começo comendo minha panqueca inquieta ―, com o
que você trabalha?
Johnatan me olha com seu humor de volta.
― Sou um afortunado empreendedor compulsivo. Abro um negócio,
estruturo e faço parcerias com aqueles para quem vendi a ideia, seja em
telecomunicação, alimentos ou qualquer outro ramo ― explica, dando de
ombros.

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Franzo a testa.
― E se não der certo?
― Cancelo qualquer vínculo com a parceria que não mostra interesse
em ampliar o negócio, vendo para outro interessado e continuo normalmente
― murmura enquanto come sua omelete. ― Não gosto de ficar sempre nas
mesmas coisas. Gosto de buscar novos conhecimentos para outras inovações.
― Ele se curva para beijar meu rosto delicadamente.
― As pessoas da máfia nunca tentaram entrar no meio de todo esse
trabalho? ― pergunto com cautela.
― Algumas vezes, quando descobriram meu nome por trás das
empresas de grande sucesso. Mas eu tenho regras rígidas para contratar
alguém para a minha companhia. ― Ele me olha com um sorriso torto. ―
Todos os meus funcionários são altamente qualificados. Antes de serem
contratados, são avaliados e pesquisados.
Faço uma careta.
― Você fez algo do tipo antes de me contratar? ― fico desconfiada.
― Você foi uma exceção. Eu não precisei fazer uma pesquisa
profunda para saber de você. Aliás, muitos conhecem Edson Clark. Caso não
saiba, foi ele que esculpiu meu Lake em madeira.
Sorrio interessada. Seu sorriso também se abre.
― Isso é sério? ― ele acena. ― Nunca vi meu papai esculpir aquele
cavalo ― digo pensativa.
― Foi há quase seis anos ― revela. ― Eu o encontrei na praça da
cidade vendando algumas esculturas, então, disponibilizei a madeira e me
impressionei por ele ter conseguido terminar em menos de dois dias. Eu
ofereci uma boa gorjeta, mas ele só aceitou o custo da mão de obra.
― Bem, provavelmente eu estava em época de provas e passava mais
tempo estudando do que o ajudando, caso contrário, eu teria lembrado ―

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digo reflexiva e logo balanço a cabeça. ― Papai sempre orgulhoso e gentil ―


sorrio brevemente.
Johnatan ergue meu queixo para encontrar meus olhos tristes.
― Vamos visitá-lo. Tenho certeza de que está melhor do que ontem
― assegura.
― Você vai comigo?
― Sim...
― Eu acho que ele não vai ficar muito contente ― digo mordendo
meu lábio. ― Você sabe... Sobre as histórias que contam.
Johnatan inspira, soltando o ar com força.
― Eu estou acostumado com isso, mas irei me arriscar. ― O sorriso
não chega aos seus olhos.
― As pessoas desconfiam de você. Não posso dizer se elas estão
certas ou erradas, mas alguma vez a polícia já veio te confrontar? ― pergunto
temerosa.
― Sim, mas não há provas ― diz erguendo a sobrancelha. ―
Entretanto, eles sabem que são eles mesmos os piores assassinos.
― Você quer dizer que boa parte da cidade está envolvida? ―
Assusto-me.
― Não podemos confiar em ninguém fora daquela casa ― seu tom
me faz estremecer. ― Bem, esse assunto está encerrado. Agora, vamos ao
hospital.

Johnatan dirige tranquilamente. Uma música calma toca. Meu sorriso


nunca deixa meu rosto quando o escuto cantar em russo. Sua voz grossa e
rouca parece acordar meu corpo.
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No hospital, ele me acompanha até o balcão para me apresentar à


enfermeira que está cuidando do meu pai. Por ser sua única família no local,
eu devo assinar alguns papéis, já que papai não está à disposição.
Uma das folhas Johnatan assina e nem mesmo me dá a chance de ver
o que se trata. Engulo em seco ao pensar que devem ser os custos do
tratamento. Pior ainda é saber que a causa da convulsão foi atingida ainda
mais pelo seu emocional, mas fico feliz que o início de uma possível
pneumonia esteja sendo contido.
― Eu vou ver Peter ― Johnatan sussurra para mim e aceno.
Depois que se afasta, minha atenção volta para a enfermeira que me
diz como papai passou a noite e como ele tem um humor “mortal” quando se
trata do café da manhã do hospital. Alguns instantes depois vejo Peter se
aproximar com um sorriso amigável e um abraço.
― Obrigado por ter ficado com ele ― digo sorrindo.
― Não tem que agradecer. Tanto eu quanto Donna esperamos que ele
se recupere logo.
Sorrio abertamente.
― Onde está Johnatan... Digo... O senhor Makgold? ― gaguejo ao
perguntar.
― Foi ver seu pai. ― Arregalo meus olhos.
― Oh, não... ― eu já imagino meu pai não lhe recebendo de maneira
amigável.
Afasto-me de Peter, caminhando em direção ao quarto. Abro a porta e
meu estômago se embrulha ao ver Johnatan parado em frente à cama, suas
mãos estão enfiadas nos bolsos da calça numa posição confortável. Meu pai,
deitado, encara-o friamente.
A posição de Johnatan pode parecer normal, mas seus olhos são
cautelosos. Engulo em seco ao entrar, ambos me olham surpresos. Quando

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meu pai ergue os braços em minha direção, vejo a saudades em seus olhos
cinza. Minhas lágrimas caem e corro para ele, abraçando seu corpo, deitando
minha cabeça em seu peito.
― Está tudo bem agora, querida ― ele me conforta.
― Você me assustou.
― Eu sei, sinto muito. Eu abusei dos remédios no desespero de me
recuperar logo. Isso não vai se repetir ― promete beijando meus cabelos.
― Por que fez isso? ― ergo minha cabeça.
Seus olhos demonstram arrependimento.
― Estava tentando ficar melhor para que pudesse voltar para casa. ―
Sua confissão aperta meu coração. Um suspiro pesado atrás de mim lembra-
me de que Johnatan continua ali.
― Ela está segura na mansão Clark, eu garanto ― Johnatan dispara.
Olho para trás, confusa com seu alerta; assim que vê minhas lágrimas,
seus olhos suavizam em preocupação. Meu pai se ergue para me abraçar
antes de enfrentar Johnatan.
― Não diga o que é bom ou não para minha filha ― o tom frio me
faz estremecer.
― O que estou querendo dizer é que desde o dia em que Mine entrou
naquela casa ela continua sendo uma prioridade minha. Eu lhe prometi que a
protegeria ― Johnatan assegura. Afasto-me com o coração agitado.
Meu pai o observa seriamente, como se suas palavras fossem
criminosas.
― Está dizendo que não tenho capacidade de proteger minha filha?
― meu pai se altera. Seguro seus ombros quando tenta se levantar.
― Pai ― chamo-o desesperada quando o vejo arrancar os tubos de
suas veias e me afastar para se levantar. ― Pai, não...
Papai é quase da mesma altura que Johnatan. Ele está furioso e o

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outro homem apenas o encara sem se mover. Eu tento detê-lo, mas meus
esforços são em vão quando ele agarra o pescoço de Johnatan com uma mão,
empurrando-o contra a parede com força. A cena me assusta.
― Papai... Pare! ― tento afastá-lo.
― Não venha me dizer que minha filha ou qualquer um à sua volta
estão seguros ― ele volta a empurrar Johnatan contra a parede. ― Eu a criei
depois da morte da mãe. Eu a transformei numa pessoa melhor do que muitos
que se vê por aí. Minha Mine não precisa de proteção de um assassino, um
monstro sangue frio como você, seu pedaço de merda! Não venha me dizer o
que é melhor ou não para minha filha. SE AFASTE DELA ANTES QUE O
PIOR POSSA LHE ACONTECER! ― meu pai grita, fazendo as veias de seu
pescoço saltarem.
Johnatan não luta, apenas deixa sua cabeça ser chocada a cada frase
dita de meu pai.
― Pai, está me assustando! ― digo com firmeza, fazendo-o soltar
Johnatan. Papai se vira para mim com os olhos febris. ― Você não é assim.
Não sabe o que está dizendo! ― sussurro com tristeza.
― Querida, me desculpe ― apressa-se envergonhado.
― Por favor, não acredite em tudo que dizem ― peço olhando em
seus olhos.
Johnatan me olha surpreso e desliza seus cabelos para trás.
― Eu sinto muito, não queria que visse isso. ― Papai me abraça.
Olho para Johnatan com tristeza, desculpando-me. Ele acena, não
parecendo surpreso com tudo que aconteceu.
― Agora, volta para cama, não foi nada legal se levantar desse jeito
para uma confusão ― eu o repreendo antes de voltar minha atenção para
Johnatan. ― Sinto muito por isso, senhor Makgold. Agradeço por tudo que
tem feito pelo meu pai ― digo envergonhada.

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― Eu não pedi nada desse homem ― escuto meu pai resmungar e me


viro, vendo-o se deitar.
― Deve ser a fome ― digo como desculpa. Johnatan me dá um
sorriso torto, considerando o que digo.
― Não se preocupe, eu entendo ― ele sussurra apenas para mim.
― Eu vou chamar a enfermeira, quando eu voltar, não quero me
deparar com essa cena novamente ― ordeno para ambos. ― Por favor, papai,
nada de ficar nervoso, caso contrário serei obrigada a pedir que te deem
algum calmante ― disparo exasperada.
― Farei um tedioso esforço ― responde revirando os olhos.
Sigo em busca da enfermeira simpática, mas paro abruptamente
quando dou de cara com a loura esbelta vestida com um terninho claro. Ela
me encara de cima abaixo enquanto reluto apertando meus dentes, é claro que
ela apareceria por aqui.
― Olha quem está aqui ― até mesmo a sua voz me irrita, fecho
minhas mãos. ― Veio fazer faxina no hospital? Oh, não! Espere, acabei de
encontrar o motorista, soube que seu pai está aqui ― investiga com desgosto.
― Não é da sua conta ― digo ríspida. Em seguida, afasto-me para
evitá-la.
―Tudo que acontece neste hospital é da minha conta, mocinha. ―
Seu tom se torna frio. ― Estou deixando bem claro que aqui não é um
esconderijo onde ratos se enfiam. Sei que com todo esse conforto nem você e
nem seu pai podem pagar. Segue meu conselho, criatura repugnante, o lugar
certo para morrer é no lixo onde vivem.
Meus olhos se enchem de lágrimas enraivecidas por suas palavras de
desprezo. Meu corpo treme e, junto a isso, a minha emoção fala mais alto ao
suspender minha mão para atingir seu rosto perfeito com força. Minha palma
queima devido ao contato.

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O rosto de Nicole vira com o impacto, surpreso, depois, ela se volta


para mim, avermelhada, com o olhar com furioso. Eu a encaro sem me
intimidar. Parece que tudo em volta fica em silêncio, ouço apenas minha
respiração pesada. Ódio me consome, e sua presença me causa nojo.
― Não se atreva a falar do meu pai dessa maneira ― enfrento-a com
o sentimento de antipatia que nunca imaginei sentir por alguém. ― Você não
sabe nada das nossas vidas.
Ela se mantém firme, seus olhos febris se tornam mais escuros. Um
homem alto de terno se aproxima e sei que é o segurança do hospital, mas
não desvio minha atenção dela.
― Algum problema, senhora? ― pergunta como se seu tom pudesse
me intimidar.
― Tire essa imunda desse hospital! ― ordena. ― Eu não a quero
aqui nem em nenhum lugar onde eu pise! ― ela praticamente grita.
― Eu não vou a lugar algum ― digo ao segurança mantendo minha
postura severa.
― Você não sabe onde está se metendo, imprestável ― continua com
seu orgulho intocado. ― Agora, um bom conselho? Acho melhor você sair
daquela casa e ficar bem longe de Johnatan.
Eu não posso deixar que ela cobice tudo ao meu redor. Ergo meu
queixo.
― Nunca ― rebato.
Seus olhos piscam surpresos.
― TIRE ESSA CAIPIRA DAQUI!
― Sim, senhora ― o segurança se aproxima.
Por um momento, imagino que se ele encostar em mim eu irei agredi-
lo para descontar minha fúria.
― O que está acontecendo aqui? ― viramos para a voz que se

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aproxima.

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23 – ALIANÇA

O doutor Banks olha confuso para Nicole e depois para mim. O


segurança se afasta quando recebe um olhar nada agradável.
― Eu não a quero aqui, Michael ― Nicole exige. ― Esse hospital
não deveria aceitar qualquer pessoa, ainda mais quando alguém agride um
sócio ― ela tenta contornar a situação.
― Doutor Banks, lamento por isso. Eu não estou em condições de
aturar qualquer provocação. Foi um impulso. ― Sei que ele pode ver em
meus olhos o quanto estou nervosa.
Michael toca meu ombro, dando-me sorriso gentil. Ele é
completamente diferente da mulher desprezível à minha frente.
― Querida, eu sei que tem muitos problemas para resolver, mas não
admito que desconte nem nos meus clientes ou nos pacientes. Por favor,
desculpe-se com a senhorita Clark e vamos conversar mais tarde ― Michael
pede calmamente, mas sua voz em alerta para a esposa é nítida.
― Você me conhece bem, querido ― ela sorri amavelmente,
deixando claro que não dá o braço a torcer. Não há amor em seus olhos. ―
Eu jamais faria algo do tipo. Nós nos vemos em seu escritório.
Quando se afasta com passos firmes, consigo suspirar pesadamente.
― Desculpe-me! ― murmuro sem graça para ele.
Michael continua com seu sorriso, em seguida, aperta minha mão em
conforto.
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― Minha esposa está passando por momentos difíceis com o trabalho,


isso a deixa de péssimo humor ― tenta explicar. ― Eu quem tenho que pedir
desculpas, mas o importante agora é saber se você e seu pai estão bem.
Aceno sorrindo.
― Ele gosta de café da manhã reforçado. Está com péssimo humor e
procurava a enfermeira para medicá-lo. Ele se exaltou arrancando tudo ―
digo sem dar detalhes.
― Vou vê-lo, farei o que for possível...
― Está com a mão machucada, Mine? ― a voz de Johnatan nos pega
de surpresa.
Ele se aproxima encarando a mão de Michael apertando a minha.
― Johnatan? Que surpresa ― Michael se surpreende, mas Johnatan
não retribui nem mesmo com um sorriso, apenas acena sem tirar os olhos das
nossas mãos. ― Mine só está passando por um momento difícil...
― Deve controlar os temperamentos de sua esposa ― Johnatan alerta.
Franzo o cenho, perguntando-me se ele viu tudo.
― Eu tento ― Michael suspira depois de soltar minha mão. ― Estou
feliz que esteja aqui. Isso é raro.
― Estou acompanhando Mine na recuperação de seu pai. ― Ele se
aproxima mais para o meu lado.
― Vi isso pela sua assinatura na ficha. É bom ver você aqui. Mine,
pode ficar tranquila, verei seu pai agora ― Michael aperta meu ombro
novamente, em seguida, aperta a mão de Johnatan com firmeza antes de
partir.
Viro-me para Johnatan, que ainda encara Michael se afastando.
― O que foi isso?
― Por que ele estava te tocando? ― ignora minha pergunta.
― O doutor Banks estava apenas se desculpando.

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― Não gosto disso ― sua careta de desgosto me deixa confusa.


― Do quê?
― Ver outro homem te tocando. Te dando apoio ― explica
desconfortável.
― Ele é um médico gentil, prestativo e casado ― digo como se fosse
algo muito mais óbvio.
― Eu dispenso esses elogios ― fala revirando os olhos e pega minha
mão para beijar minha palma. ― Você é fascinante quando está nervosa. Seu
corpo de descontrola com facilidade. Tem uma mão firme, gostei.
Engulo em seco observando seus olhos em chamas me encarando
intensamente enquanto deposita beijos suaves na mão com que agredi a loura.
― Você viu? ― sussurro.
Johnatan ergue sua sobrancelha.
― Algumas pessoas que viram parecem ter gostado. Eu iria evitar
tudo isso, mas é fascinante ver alguém tão doce se tornar invulnerável. Então,
preferi apenas assistir ― ele surpreso. Coro.
― Ela disse coisas horríveis.
― Eu sei. Sinto muito. Vou conversar com Nicole mais tarde, isso
não irá se repetir ― sua voz suaviza.
Meus olhos se enchem de lágrimas novamente.
― Ela pode dizer qualquer coisa de mim, pode fazer o que quiser,
mas não posso permitir que ela e nem ninguém fale daquela forma sobre meu
pai ― inspiro fundo, controlando minha respiração.
Johnatan parece se encantar ainda mais com minha reação.
― Eu sei ― sussurra beijando minha testa.
― Foi um impulso. Quando vi, já a tinha agredido. Foi um efeito
Johnatan ― explico secando minhas lágrimas.
Isso o surpreende.

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― Efeito Johnatan? ― pergunta, escondendo sua diversão.


― Você sabe... Quando você fica nervoso ― tento explicar vendo
que tenta esconder seu sorriso. ― Não é para ser engraçado.
― Não estou rindo de você. Na verdade, nunca me diverti tanto
vendo alguém como você ficar nervosa. É excitante. Sexy ― revela, dando-
me uma piscadela.
― Sinto muito pelo meu pai ― continuo sem graça.
― Não tem problema. Demonstrou que está melhorando ― ele dá de
ombros. ― E eu já apanhei mais que aquilo.
― De quem? ― pergunto surpresa.
― Minha mãe. Eu tinha quinze anos quando tentei fugir de casa para
ir ao campeonato fora da cidade. Aquilo doeu até a alma ― ele brinca.
Aperto meus lábios para não sorrir, mas nos distraímos quando vejo
Donna se aproximar carregando uma sacola. Caminho até ela para abraçá-la.
― Olá, querida, como seu pai está? ― questiona me entregando a
sacola.
― Recuperando-se ― digo, vasculhando a sacola e encontrando um
vestido de algodão.
― Vou deixá-las sozinhas, tenho algumas ligações a fazer ―
Johnatan diz depois de cumprimentar Donna e se afasta sacando o celular do
bolso.
― Eu estou bem com essas roupas ― digo a ela.
― Vamos para o banheiro. Você precisa de algo mais solto. Essas
roupas estão apertadas, parecem desconfortáveis. Comprei mais algumas
peças para você, pois vi no seu guarda-roupa que suas roupas são poucas... e
não adianta protestar. Ordens do senhor Makgold! ― ela me repreende
quando ouso abrir a boca. ― Depois de se trocar, quero ver seu pai.

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O vestido branco de algodão é simples. Donna fez questão de que eu


também usasse as rasteirinhas e ela tinha razão, pois senti meu corpo mais
relaxado com o tecido folgado. Ao retornar para meu pai, vejo seu humor
melhor. Fico ao seu lado o máximo de tempo que me permite,. Para sua
felicidade, Donna trouxe frutas e panquecas escondidas em sua bolsa.
Assim que a gentil senhora sai para procurar Johnatan, tenho meu
tempo sozinha com meu pai.
― Como você está? ― pergunta ainda preocupado.
― Vou ficar melhor quando você ficar bom ― garanto, acariciando
seus cabelos grisalhos.
― Você ainda está brava por eu ter agido daquela maneira?
Balanço a cabeça.
― Pai, eu sei o quanto se preocupa comigo, mas eu também tenho o
direito de me preocupar com você. De certa forma, eu não estou brava. É só
porque está doente ― sorrio ao vê-lo sorrir.
― Eu deveria ficar doente mais vezes ― brinca e suspira em seguida.
― Ele tem razão. ― Seu tom sério chama minha atenção.
― O quê?
― Makgold tem razão. Eu não deveria concordar com isso, mas
parece mais segura na mansão do que na Vila ― sua confissão me deixa mais
confusa.
― Por que está dizendo isso?
― Houve algumas mortes na Vila nesses últimos dias. O lugar está
perigoso, algumas mulheres foram atacadas nas últimas semanas ― arregalo
meus olhos diante da informação.
― Eu não estava sabendo ― digo preocupada.
― É por isso que você tem que ficar...
― Você pode vir comigo pai. Posso convencer o senhor Makgold...

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― ele balança a cabeça me interrompendo.


― Você sabe o quanto sou orgulhoso, filha. Não quero que você corra
ainda mais riscos trabalhando e voltando sozinha para casa. Eu queria tanto
que você estudasse longe disso tudo, mas o perigo está em todos os lugares.
Temo que algo aconteça com você ― confessa e acaricia meus cabelos.
― Eu ainda o quero por perto ― declaro.
― Você pode me ligar naquela porcaria de celular ― ele sorri com
desgosto. ― Podemos marcar de ir caçar ou pescar.
Sorrio abertamente vendo o brilho em seus olhos.
― Eu acho uma ótima ideia ― beijo seu rosto diversas vezes. ― Eu
te amo muito, pai.
― Eu também te amo muito, querida ― ele me embala em seus
braços e aperto meu rosto contra seu peito.

No final da tarde, deixo meu pai descansar, despedindo-me com meu


coração apertado. Agradeço Thea, a enfermeira, por ser prestativa e carinhosa
em todos os momentos, por isso, deixo-o em suas mãos. Johnatan me conduz
para fora do hospital até seu conversível. Assim como Donna, Peter também
preferiu continuar no hospital. Johnatan ainda fala ao celular com alguém
sobre reuniões e prédios, quando finaliza, sua atenção volta-se
completamente para mim. Ele mal encara a estrada enquanto dirige.
― Como foi?
― Odeio me despedir dele.
― Vamos voltar a amanhã ― garante.
― Você virá comigo novamente? ― pergunto esperançosa.
― Se você me quiser... ― seu sorriso se abre.
― Eu vou pensar sobre o assunto. ― Aperto meus lábios para não
sorrir.

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― Posso fazer você aceitar minha opção ― provoca cheio de


mistério.
― Como?
― Mine Clark, você é sempre curiosa ― balança a cabeça.
― Sim, mas me pergunto o que está aprontando ou o que pretende
fazer ― observo.
― Em primeiro lugar, quero tirar a dor assim como a preocupação de
seus olhos ― ele parece muito mais atento do que eu mesma. ― Você não
pode ter esse tipo de emoção. Sinto-me destruído por dentro.
― Isso é inevitável ― garanto, brincando com meus dedos.
― Não para mim ― diz com firmeza.
Assim que chegamos à mansão, tudo parece silencioso. Na espaçosa
garagem vejo, pela primeira vez, mais carros do que de costume e também
três motos. Johnatan me conduz para fora do carro, pegando minha mão e me
puxando em direção ao campo.
― Para onde vamos? ― questiono, deixando-me ser levada.
― É uma surpresa.
O vento suave brinca com seus cabelos.
― Vamos ver os cavalos? ― insisto quando passamos próximo ao
celeiro.
― Não.
Estranho, Johnatan me leva para longe. Olho para trás, vendo a
mansão distante.
― Vamos meditar?
Não queria soar perversa.
Johnatan joga sua cabeça para trás e gargalha. É como se o som rouco
se expandisse com liberdade.
― Você quer meditar? ― pergunta puxando minha mão até seus

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lábios para beijá-la.


― Talvez ― murmuro sem jeito, com seus olhos em chamas
penetrantes.
― Você está muito difícil hoje ― sorri, levando-me em direção às
árvores mais extensas.
O sol está escondido atrás das nuvens carregadas, mesmo assim
ilumina a imensidão do lugar. Por um lado, não é diretamente a floresta, tudo
parece ser construído pela própria mãe natureza, com flores silvestres e folhas
verdes cercando o lugar.
Quando chegamos a uma enorme porta dupla, Johnatan abre, dando-
me espaço para encarar a imensidão diante de mim. É a maior estufa de rosas
vermelhas que já vi, não, eu nunca vi nada do tipo. Sigo para dentro, vendo o
céu aberto e um pouco carregado, a luz do dia oferece um contraste perfeito
entre galhos, folhas verdes, botões de rosas vermelhas abertos — outros
fechados. Inspiro o perfume do lugar, completamente maravilhada.
Viro-me para Johnatan, vendo-o me observar, seu sorriso tímido me
encanta. Pulo agitada como uma criança feliz. Corro para dentro de um dos
extensos corredores de rosas deslizando minhas mãos pelas pétalas macias. O
lugar aberto é enorme e muito bem-cuidado. Johnatan me acompanha em
seus passos calmos, com um sorriso aberto. Paro para cheirar uma rosa e, sem
querer, toco em seu espinho.
― Ai! ― sorrio afastando minha mão.
Johnatan a pega, levando meu indicador até sua boca para sugar a
pequena gota de sangue.
― Lembre-se de que mesmo a rosa sendo uma flor bonita, pura,
perfumada e bastante delicada, ela tem uma forma de se defender ―
murmura, beijando meu dedo antes de arrancar a rosa aberta com facilidade,
removendo os espinhos com os dedos habilidoso. Sorrio ainda mais quando

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me entrega a rosa.
― Aqui é maravilhoso ― pego a rosa, sentindo seu perfume. ― Há
quanto tempo tem esse lugar? ― pergunto apaixonada.
― Há muito tempo ― ele sorri olhando em volta. ― Minha mãe
tinha esse lugar para suas plantações. Ela amava principalmente as flores.
Uma vez plantei semente de rosas bem ali ― aponta para o lado esquerdo ao
lado da entrada. ― Eu pensei que era semente de abóbora grande, o vendedor
me enganou. ― Rimos. ― Imaginei que teria uma halloween com a maior
abóbora do mundo, mas acabei com rosas ― ele sorri timidamente.
― Mas você começou a gostar delas ― observo. Ele acena.
― Era como fazer a primeira obra de arte. Minha mãe sempre cuidava
e adorava as amarelas ― diz perdido em lembranças. ― Depois da sua
morte, eu não podia cultivar o lugar, tudo pegou fogo. A sorte foi que os
bombeiros chegaram antes que tudo isso virasse um deserto. Durante minha
luta para reerguer — e com a herança da família —, tive que terminar de
destruir o estrago para reconstruir a casa. Aqui só sobrou uma rosa vermelha
― diz, mas não consigo imaginar o lugar destruído.
― E onde está essa rosa? ― sorrio.
― Eu a deixei no túmulo da minha mãe.
Ver seu sorriso triste machuca meu coração.
― Ela com certeza amou ― digo com carinho, colocando minha rosa
em meus cabelos.
Para nossa surpresa, uma chuva inesperada cai por todo o lugar. O
cheiro da terra e da rosa se intensificam. Levanto minha cabeça, apreciando
as gotas.
― Está ficando forte ― pisco algumas vezes para afastar a água em
meus olhos.
Johnatan continua a me observar com um sorriso sonhador. A chuva

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já começa a encharcar nossas roupas, sua camisa cola em seu corpo,


desenhando seu peitoral molhado. Uau! Ele não deveria ser tão atraente
assim!
― Dança comigo? ― pede. Os olhos azuis penetrantes reforçam.
― Aqui? ― pergunto, ele acena. ― Agora? Na chuva?
― Me dá a honra? ― sua mão se estende. Olho desconfiada.
― Por que sinto que nessa dança não há boas intenções? ― seguro o
sorriso.
― Assim você ofende meu ego.
Eu o assisto deslizar sua mão por seu abdômen até chegar ao seu
membro, apertando-o por cima de sua calça.
Minha garganta fica seca, lambo meus lábios molhados pela chuva.
Timidamente pego sua mão e sou puxada contra o corpo quente. Seu perfume
invade meu espaço, inebriando-me.
― Sem música? ― questiono, dando-lhe um sorriso.
Envolvo meu braço em seus ombros enquanto ele pega minha mão
direita para beijar meus dedos.
― Sem música ― O sorriso nunca deixa seus lábios.
Nós nos balançamos de um lado para o outro com lentidão. Deixo que
ele conduza e me gire até voltar para seus braços, onde nos movemos com
facilidade. A chuva parece não ajudar a manter a temperatura do meu corpo.
Sinto-me queimar assim que a mão livre desliza em minhas costas.
O vestido se gruda em minha pele, deixando meus mamilos
enrijecidos. Sua boca molhada me causa calafrios quando se arrasta por meu
pescoço até morder meu lóbulo antes de sussurrar palavras russas. De
imediato, percebo que ele canta uma música suave. Sua voz é como um
suspiro delicado me arrepiando por inteira. Envolvo meus braços em seu
pescoço com satisfação.

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― Eu preciso tê-la agora, Mine ― sussurra para mim. Sua boca


engole minha resposta num beijo excitante.
A chuva fica cada vez mais forte, mas não nos importamos. Agarro
seu rosto, trazendo-o para mim e aprofundo nosso beijo. Sinto sua ereção
assim que seu corpo se gruda ainda mais contra o meu. Gemo, fechando meus
olhos com excitação, deixando que sua boca percorra minha pele. Assim que
agarra meus quadris, envolvo minhas pernas em sua cintura.
Seus dedos deslizam por minha coluna até meus ombros, descendo as
alças de meu vestido e sutiã para cobrir meu seio exposto com sua boca. Seus
dedos deslizam por minhas coxas até afastar minha calcinha. Gemo alto
quando sinto seus dedos me invadirem.
― Está tão pronta, minha Roza. ― Oh! O apelido me enche ainda
mais de prazer.
― Johnatan, eu quero você agora ― gemo com desejo.
― Teremos que ser rápidos ― sussurra mordiscando meu único seio
exposto, sua língua acaricia de imediato.
Não demora muito e o vejo preparar a camisinha, dou um sorriso
lascivo por suas precauções. Jogo minha cabeça para trás quando sinto seu
sexo contra o meu. Gemo ao senti-lo me penetrar, meu interior pulsa com sua
presença, mas, quando dou por mim, noto que estamos nos fundos da estufa
numa parede de galhos com folhas molhadas. Mesmo com a tempestade,
minha concentração está em Johnatan mantendo meu corpo seguro em torno
do seu e se movendo dentro de mim com urgência.
― Você é tão gostosa ― geme. Colo minha boca contra a sua e movo
meus quadris sentindo-o cada vez mais profundo. ― Isso, bebê ― aprecia,
movendo-se com força.
O prazer dominante me faz arranhar suas costas por cima de sua
camisa. O aperto em meu ventre se intensifica, arqueio meu corpo contra ele

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quando atinjo meu orgasmo. Johnatan geme entredentes ao gozar em seguida.


Eu o abraço e o beijo com intensidade, como se fosse meu coração
acolhendo algo que deseja manter seguro.
Ele me olha com um sorriso provocante. Tiro seu cabelo molhado do
rosto antes de beijar suas pálpebras. Johnatan se afasta, mantendo-me de pé
para eu colocar minhas roupas no lugar enquanto ele arruma sua calça.
― Bem... Agora que a tomei da melhor forma possível, é melhor
entrarmos antes que você fique doente ― diz beijando meus lábios trêmulos.
O frio já começa a tomar conta do meu corpo.
― Você planejou isso? ― finjo estar horrorizada.
― Oh, senhorita Clark! Há muitas coisas que você precisa saber sobre
esse Makgold planejar algo ― sorri perversamente antes de me pegar pelas
pernas e jogar meu corpo sobre seu ombro.
― JOHNATAN! ― grito surpresa batendo em suas costas, mas rindo
em diversão. ― Ponha-me no chão!
A chuva me molha ainda mais naquela posição.
― Como quiser ― brinca, e volto para o chão enquanto ele fecha as
portas duplas.
― Eu adorei vir aqui.
― Esse é um dos meus esforços para te fazer sorrir ― murmura
beijando meus lábios.
Nosso beijo se transforma em algo mais íntimo que carnal, meu
coração dói ao sentir tamanha emoção de um contato tão delicado e cheio de
ternura.
― Eu agradeço por isso ― sorrio ainda mais quando seus lábios
beijam minha boca diversas vezes.
― Temos que entrar ―
,,,,,,,ri quando mordo seu queixo.

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Quando chegamos à mansão, não vemos ninguém. Jordyn, James e


Ian devem estar na cozinha. Com um último beijo escondido em Johnatan,
corro para meu quarto a fim de tomar um banho quente. Ao abrir o guarda-
roupa, arregalo meus olhos ao ver peças com etiquetas. Algumas delas tenho
certeza de que foram escolha de Jordyn.
Fecho o móvel rapidamente depois de achar minha calça flanela cinza
e uma camiseta regata branca, eu poderia muito bem pegar mais roupas em
casa. Termino de secar meus cabelos e vou para a cama vendo que a noite se
aproxima. Penso que Johnatan deve ter voltado para seu trabalho.
Deito pegando o livro de medicina, mas é impossível me concentrar
em células enquanto penso nele, assim como no sexo na chuva onde
estávamos cercados por rosas. Não consigo imaginar outro cenário mais
excitante.
Por outro lado, Johnatan queria me manter longe de tudo, vi em seus
olhos o quanto estava confortável com nosso dia. Eu desejaria estar com ele
todos os dias na estufa, assim como na tenda. Só que, mesmo com toda
tranquilidade, sabia que a realidade era bem diferente.
Aquelas pessoas continuariam atrás dele, que lutaria. Eu tinha a
confiança de que não se deixaria enfraquecer por nenhum deles. Por mais que
sua vida fosse diferente da minha, eu me sentia ligada a ele de alguma forma
e ainda mais protegida. Johnatan teve uma vida difícil, mas também sabia que
havia algo a mais. Balanço minha cabeça para afastar os maus pensamentos,
seguindo com minha leitura sobre células.
Quando paro de ler e verifico as horas, vejo que passou das 10h.
Minha mente só pensa em como células se englobam em uma partícula.
Esfrego meus olhos pesados, mas logo pisco em alerta.
― Englobar ― digo de repente.

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Corro para fora do quarto. A casa continua tranquila, mas minha


busca está em Johnatan. Subo as escadas seguindo direto para a biblioteca.
Não o encontro. Penso que ele provavelmente deva estar malhando. Caminho
até o quarto em que estive pela primeira vez e desço as escadas para a
academia.
De cara, a noite no campo completa a extensa parede de vidro, logo
escuto Johnatan se mover ofegante enquanto luta com duas barras de ferro.
Aproximo-me, vendo-o com moletom e sem camisa. Suas costas suadas me
fazem perguntar quanto tempo esteve treinando.
Assim que nota minha presença seus movimentos param. Ele respira
profundamente, vindo em minha direção, solta as barras e seca seu peito
suado com uma toalha branca. Seus olhos em chamas me encaram com
desejo e, antes que eu diga alguma coisa, sou surpreendida com um beijo
molhado.
― Johnatan ― tento me manter coerente quando sua boca quente
desliza por meu pescoço.
― Sim? ― murmura mordiscando minha pele. ― Veio dormir
comigo?
― Bem... Eu não sei ― ofego quando seus lábios deslizam por minha
clavícula.
― Então...
― Johnatan, não é isso ― suspiro. ― Você é insaciável ― ele
estremece e solta uma risada rouca e sexy.
― Só com você. Acredite, estou amando isso ― suas palavras me
fazem arrepiar, mas devo detê-lo.
― Eu estava lendo sobre células ― começo, mesmo com suas mãos
provocantes em meu corpo.
― Interessante ― ele dá de ombros, voltando a me beijar.

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― Células se unem...
― Podemos nos unir perfeitamente em meu quarto.
Johnatan volta a provocar minha pele. Suas mãos ousam levantar
minha camiseta para acariciar minha pele por baixo do tecido. Coerência, eu
devo me manter atenta antes que dê por vencidas as minhas fraquezas.
― O que estou querendo dizer é sobre aquelas tatuagens. Alguns têm,
outro não... ― Seu corpo congela. ― Você disse que eles são muitos, mas há
outros, assim como foi com Nectara. Eu não sei o que causa a ira deles contra
você, mas já pensou na hipótese de eles estarem se unido?
Johnatan se afasta, sinto um frio em minha espinha ao ver seus olhos
perdidos.
― Isso é impossível ― ele murmura, mas está desconfiado.
― Como você pode saber se todos eles estão atrás de você? ―
pergunto temerosa por sua expressão conturbada. ― Johnatan, o que tanto
eles querem de verdade?
Meu coração dispara quando seus olhos azuis profundos e obscuros
me encaram em alerta.
― Meu sangue.

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24 – IDENTIDADE FALSA

Olho para Johnatan confusa ao mesmo tempo sentindo meu coração


se apertar ao escutar seu tom sombrio.
― O que você quer dizer com sangue? ― seu olhar se torna distante.
― Eles querem que eu me alie a eles ― revela com a testa franzida.
Engulo meu pavor com força e respiro profundamente.
― O quê?
― Se eles quisessem me matar, já teriam feito. Provavelmente,
querem sugerir alguma proposta. ― Johnatan expira pesadamente.
Ele se afasta esfregando a toalha em seus cabelos e rosto, jogando-a
num banco próximo.
― Que tipo de proposta? ― pergunto impaciente quando o sigo.
― Estou tentando descobrir ― sua voz se torna mais carregada. ―
Passei anos tentando achar o motivo para tudo isso ― diz perdido em seus
próprios pensamentos.
Seguimos em passos rápidos até a biblioteca. Johnatan fecha a porta
atrás de mim e caminha até sua mesa. Franzo a testa quando ele se vira para a
estante, tirando alguns livros do lugar, localizo a bengala fixa no centro de
modo que se pareça com uma maçaneta, que ao ser girada, revela um painel
onde digita alguma senha de um pequeno cofre.
Arregalo meus olhos quando escuto algo ser destravado. Abro a boca
em choque ao ver a estante se abrir deslizante.
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― Você só pode estar brincando ― murmuro encarando a sala


secreta. Johnatan, familiarizado, entra.
A sala fechada é extensa, branca e iluminada com luzes florescentes
embutidas em cada prateleira que cercam todas as paredes. Entro
timidamente, observando o contraste do carpete vermelho, mas me assusto ao
ver variedades de armas organizadas desde pequenas até as maiores. Há
aparelhos que nunca vi na vida, inclusive, espadas organizadas uma em cima
da outra, assim como bastões de aço retrátil. Sinto-me em um museu luxuoso,
porém extremamente intimidante.
― Você pode ser preso por ter armas desse tipo, sabia disso? ― digo
chocada com tudo à minha volta. Há também uma espécie de guarda-roupa
envidraçado com ternos e roupas comuns.
― Eu não saio por aí com uma bazuca, Mine ― diz caminhando
tranquilamente pela sala. ― Tudo isso serve mais para invasores. Todas as
armas têm minhas digitais ― ele explica como se isso me impressionasse.
Ok, me impressiona.
Olho para Johnatan se aproximando até a parede a frente. Ela é a
única que não possui armas, nem prateleiras iluminadas com armas, mas sim
uma espécie de mini cofres.
― Para que essas roupas? ― aponto sem deixar de olhá-lo escolher
um cofre e pegar alguns papéis velhos, colocando-os em cima de uma mesa
de vidro.
― Todas essas roupas possuem armas. Para mim fica mais fácil,
apenas visto ― explica distraído com os papéis.
― Prevenido ― disparo com desgosto, abrindo um dos paletós, mas
me afasto ao me deparar com facas, fios e dois revólveres.
Caminho até ele para ver o que tem na mesa.
― O que é isso? ― indago sem entender.

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― Alguns documentos de umas das empresas Makgold ― responde.


― O que isso tem a ver com seu sangue? ― estremeço quando seus
ombros nus ficam tensos.
Johnatan se apoia na mesa com o olhar exasperado, sua mandíbula
está travada.
― É complicado.
― Você pode me dizer qualquer coisa ― asseguro. ― Confie em
mim.
Johnatan suspira ao acenar, mostrando-me a planta de um prédio
inacabado e alguns documentos assinados e com fotos. Bem... fotos de
homens assassinados. Engulo em seco.
― Seis anos atrás eu encontrei um deles. Eu o mantive como refém
por três dias e, nesse período, eu o torturei para saber a verdade ― diz
cuidadosamente. ― Permaneceu em um quarto escuro, mas não foi fácil
arrancar qualquer informação dele. Até que comecei a mexer com seu
psicológico. Eu havia pesquisado sobre sua vida dupla, sua amante e os filhos
que teve com ela ― ele explica.
― E o que aconteceu? ― abraço-me para não estremecer.
Johnatan me olha com seus olhos azuis febris enquanto eu seguro
minha respiração, já esperando pelo pior.
― Eu o matei quando disse o nome da minha irmã ― sua voz fria me
faz apertar os braços ao meu redor.
― Quem era ele?
― Uma das poucas coisas que consegui descobrir foi que ele era
sócio de uma tal Sociedade que possuía muito dinheiro. ― Pisco tão
pensativa quanto ele.
― Não há nada mais? ― Johnatan balança a cabeça exasperado.
― Ele sabia que já estava morto. Perguntei-lhe de onde vinha tanto

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poder. Ele disse que, para alcançar tudo isso, teria que correr atrás dos
comandos daqueles que o enviaram. ― Seu tom se torna cada vez mais duro.
― E o que isso tem a ver com você? O que é essa Sociedade? Não faz
o menor sentido! ― desespero-me por ver a luta em seus olhos.
Johnatan puxa o ar entre os dentes, esfregando seu rosto com força.
Quando seus olhos param nos meus, vejo a mistura de ódio com dor, tenho
que me segurar para não me afastar da expressão sombria.
― Sociedade pode ser o grupo que me persegue. Meu pai era um
deles. ― A revelação cheia de repulsa me alarma. ― Numa Sociedade
Criminosa como essa, você não sai imune. Ou você entra vivo e aceita as
condições propostas num contrato dando para eles total controle de sua vida,
sua família, seus bens e até sua alma. Ou você sai morto sem história para
contar. Eles sabem sobre você, sabem o que você faz ou deixa de fazer, sabe
sua classe social, te manipulam e, quando conseguem, a pessoa passa por um
ritual de aliança, esse ritual vem junto com o contrato. Meu pai assinou um
contrato com seu sangue, aceitando todas as propostas deles. Ele pôs em risco
a vida de todos na casa, quando o seu serviço não foi concluído no prazo
destinado, invadiram minha casa, torturaram e mataram a minha família na
minha frente!
Agora posso reconhecer a fúria contra seu pai.
Johnatan suga o ar como se precisasse se acalmar, mas seu rosto
vermelho e seus olhos em chamas ainda mergulham em ódio.
Engulo meu choro, respirando profundamente.
― E por que você? Mesmo com esse contrato, seu pai está morto
agora ― estremeço, já sabendo o caminho que isso o levará.
― Não vê? Isso é para que eu termine o serviço que ele começou ―
dispara com fervor.
Um arrepio frio percorre todo o meu corpo. Johnatan volta a encarar

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os papéis na mesa, como se quisesse fugir seus olhos dos meus.


― Você não pensa em fazer isso, não é mesmo? Você não pode se
aliar a eles. Vão te usar como fizeram com seu pai! ― digo temerosa.
― É claro que não. Foi culpa dele tudo que aconteceu com minha
família. Eu o odeio por tudo isso, Mine, e nunca vou ser capaz de perdoá-lo,
nem mesmo morto ― ele me olha em alerta, e engulo meu medo. ― Não
posso fazer nada disso. Não posso falhar com a promessa que fiz para minha
mãe e minha irmã diante de seus túmulos. Não posso ser como ele, não posso
colocar em risco a vida de todos à minha volta. Posso ter me tornado pior
com o tempo, mas não ouso fazer algo tão errado na minha vida sem pensar
nas consequências ― desabafa.
― Mas seu pai tinha algum motivo para ter entrado nessa Sociedade?
Talvez tenha alguma explicação para ele ter feito o que fez.
― Meu pai sempre quis mais do que já tinha, Mine. Eu nem mesmo
sei ao que se refere boa parte desse contrato. Estou tentando descobrir, mas a
Sociedade tem regras rígidas, mesmo sendo torturados para revelarem
respostas, dizem apenas o essencial ― revela.
― Acha que a morte do seu pai tem algo a ver com algo mais do que
o trabalho sujo que estava fazendo? ― pergunto pensativa.
― Eu não sei, mas se for mais que isso, deve ser algo muito pior. De
qualquer forma, ele matou duas pessoas importantes na minha vida ― Isso é
o mais imperdoável para ele.
Sinto-me desconfortável com toda a situação.
― Você disse sobre túmulos ― começo cuidadosamente. ― Fez para
seu pai também?
Ele suspira, acenando duramente, apertando seus lábios.
― No começo eu fiz. Por sorte, conseguiram os restos mortais de
todos, Donna os manteve com ela. Não sabia da verdade, fui ingênuo. Até

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que começaram as perseguições. O homem que torturei só revelou sobre meu


pai assim como parte do contrato. Depois disso, pedi para que desfizessem a
lápide, joguei as cinzas numa caçamba de lixo e ateei fogo.
Pisco surpresa por sua frieza.
― Eu sinto muito ― meu coração se aperta.
― Peço que não sinta nada por ele.
Aperto meus lábios trêmulos encarando a mesa a nossa frente.
― E o que significa tudo sobre o prédio e as fotos?
― Eram do meu pai, encontrei em seu antigo escritório na Rússia.
Alguns contratos, assinaturas desconhecidas, mas tudo se refere à venda
desse prédio. Parece algo semelhante a um leilão ― explica.
― E o que há nesse prédio?
― Penso que seja um lugar para eles continuarem seus negócios,
trazendo mais homens para se aliarem. Possivelmente, meu pai estava criando
isso ― analisa.
― Já está construído?
― Não ― responde. ― Mas nunca fui lá para conferir. ― Fico
surpresa.
― O nome do seu pai era Charlie Makgold? ― observo os contratos
assinados.
― Sim.
― Como se chamava sua mãe?
― Helina Grekov. ― O leve sorriso não dura muito tempo, sua
expressão torna a ficar séria.
Pisco surpresa.
― Seu nome é Johnatan Makgold Grekov? ― pergunto tentando
pronunciar o sobrenome russo.
Johnatan balança a cabeça.

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― Grekov é meu segundo nome. Johnatan Grekov Makgold ― ele


me dá seu sorriso torto, a pronúncia é melhor vinda dele.
― E por que usa Makgold?
― Não quero que saibam da minha mãe. Ela também usava o nome
Makgold por respeito ao meu pai. Por outro lado, com a vida que levo, seria
uma desonra da minha parte fazer isso com seu nome ― Até mesmo seu tom
transmite o respeito por sua mãe.
Suspiro.
― Gosto de Grekov ― sorrio vendo seu sorriso tímido.
Em seguida, Johnatan pega os papéis para analisar, olho em volta da
sua sala equipada e caminho curiosa sem tocar em nada. Observo um enorme
tabuleiro de dardos na parede, curiosa, aproximo-me de uma prateleira para
pegar um dardo de prata afiado.
Caminho um pouco mais, mantendo meu corpo reto, posiciono meu
pé direito à frente, mirando no ponto acima do centro. Arremesso o dardo,
acertando minha pontaria. Sorrio empolgada, pegando mais e volto para a
mesma posição. Em parte, divirto-me os fixando em pontos seguidos, um
embaixo do outro.
― Legal ― murmuro empolgada.
De maneira mais radical, arremesso três dardos juntos no centro do
tabuleiro. Quando olho para trás, Johnatan observa surpreso. Coloco minhas
mãos para trás e mordo meu lábio, como se fosse pega desprevenida.
― Onde aprendeu? ― parece em choque. Sorrio timidamente.
― Bem, quando ia caçar com meu pai, eu tinha um estilingue, não é a
mesma coisa, mas um Clark tem uma boa mira. Eu sempre acertava alguns
passarinhos ― pisco confusa. ― É claro que eu não os matava, fazia isso
para levar para casa, cuidar e depois soltar. E também não atirava com força.
Papai me ensinou a ter uma boa mira e a usar a espingarda, mas essa parte da

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caça eu deixava com ele ― explico embaraçada, para o seu divertimento.


― Você fala como se fosse culpada ― ele ri. Fico feliz ao ver seu
humor de volta.
― Juro que não faço mais isso ― Johnatan gargalha.
― Certo ― ele acena pensativo se afastando. ― Vamos testar suas
habilidades em arremessar facas ― Johnatan me surpreende, puxando uma
enorme parede de madeira. Em seguida, aponta para uma prateleira de vidro
cheia de facas ao meu lado.
― Está me treinando? ― pergunto surpresa. Sua expressão se torna
séria.
― Não. Estou te aquecendo... ― Ele sorri.
― O quê? ― arregalo meus olhos. ― Não é melhor com aquela
bazuca? ― aponto para a enorme arma em cima da estante.
― Aquilo é um fuzil ― Johnatan me corrige. ― Certo... Se afaste!
Dou passos para trás.
― Não é uma boa ideia você ficar na minha frente ― digo
amedrontada. Ele se diverte.
― Tem toda razão ― fala de forma sarcástica e caminha em minha
direção para ficar ao meu lado.
Sinto suas mãos em minha cintura para me afastar ainda mais.
― Assim está melhor ― murmura.
― Está distante demais ― reclamo, mantendo minha postura, ou
tentando.
― A distância não importa, Mine, mas sim o foco ― explica. Mordo
minha língua a fim de mostrá-la para ele, como uma criança birrenta. ― Foca
no ponto onde quer acertar, como no tabuleiro ― Faço careta.
Seguro a faca leve e afiada.
― Isso não é a mesma coisa de dardos ― continuo reclamando.

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― Não foi você que disse que um Clark tem uma boa mira? ―
Johnatan me provoca beijando meu rosto. Afasto-me.
Jogo a faca com força. O cabo preto bate pesadamente na madeira
firme. Tento mais uma vez, duas, três, sem sucesso.
Olho para Johnatan, vendo-o me observar, apertando a mão em sua
boca para esconder sua diversão.
― Acho melhor você se concentrar em sua pesquisa, John ― digo
usando seu apelido para provocá-lo, mas a única coisa que consigo é um
sorriso largo.
― Gostei de ser chamado assim por você, mas te corrigindo, isso está
mais divertido que aquilo ― afirma.
Rosno arremessando a oitava faca. Suspiro e vou até a madeira para
pegar as que estão no chão.
― Isso não é tão divertido quanto aquela bazuca ― murmuro
retornando para o lugar.
― Fuzil ― corrige novamente. Aperto meus lábios para esconder
minha diversão. ― Agora, mantenha as pernas firmes, o corpo reto, os pulsos
relaxados e seu braço direito firme quando for arremessar. ― Que maravilha,
agora ele está me ensinando!
Esforço-me o quanto posso e não consigo até a terceira tentativa.
― Foco ― lembra-me.
Viro para ele, movendo meu braço cansado.
― Fala como se fosse fácil ― Minha descrença o faz levantar a
sobrancelha.
Ele se aproxima para pegar as cinco facas das minhas mãos. Ao
contrário de mim, não segura nos cabos, mas sim nas lâminas. Num
movimento rápido e de perfil, ele arremessa as cinco. Pisco meus olhos
surpresa, vendo as facas pregadas na madeira de forma horizontal.

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― Certo ― engulo meu orgulho. ― Você é bom nisso ― disparo


impressionada.
Johnatan sorri, parecendo tranquilo enquanto gira outra faca em sua
mão antes de me entregar. Pego-a, mas nos distraímos quando seu celular
começa a tocar. Seus olhos me observam quando atende. Seja lá quem for,
não esperava, por isso, eu me distraio tentando girar a faca em minhas mãos
como ele fez, paro sabendo que vou me ferir se continuar tentando e volto
minha atenção para a madeira, focando meu ponto.
― Nicole ― Johnatan murmura ao celular.
De imediato, meu corpo ferve. Seguro a lâmina da faca, arremessando
com força. Aperto meus dentes só por escutá-lo falar o nome da loura. Encaro
Johnatan, ele pisca afastando o celular, surpreso ao ver que meu arremesso
foi um sucesso.
Também fico da mesma forma, corro até a madeira, notando que
minha faca ultrapassou até mesmo o outro lado. Johnatan volta à conversa
com a mulher ao mesmo tempo em que me olha chocado.
― O que você quer? ― seu humor frio me deixa contente. ― Não
tenho tempo para falar sobre suas fusões a essa hora da noite. Amanhã irei
para a empresa finalizar alguns assuntos inacabados ― olha-me revirando os
olhos. ― Deixe-a em paz, Nicole... Isso não é da sua conta ― dispara
ríspido.
Tenho certeza de que estão falando de mim. Tiro as facas da madeira
e as coloco de volta na prateleira de vidro. Saio da sala secreta à procura de
distração enquanto o deixo conversar com a loura.
Na biblioteca, observo os livros, pegando alguns. São livros bons,
além de estudos, há romances. Eu vou organizar este lugar em breve, mas
olhando a imensidão, não sei quanto tempo levarei para terminar.
Impressiono-me ao pensar que Johnatan leu tudo isso. Quando escuto a sala

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ser travada atrás de mim, meu corpo fica rígido.


― O que foi aquilo? ― escuto-o se aproximar.
― Acho que um pouco de raiva ajuda ― murmuro tentando ignorá-
lo.
Johnatan me observa com curiosidade.
― Algo me diz que não tem nada a ver com raiva ― ele sorri, mas
muda sua expressão quando continuo séria. ― Tudo bem. O que foi?
― Ela gosta de você ― digo como se o acusasse.
― É um sentimento mútuo, Mine ― suspira. ― Somos apenas sócios
de duas empresas de cosméticos. Ela administra tudo ― explica com uma
careta.
― Não estou falando disso, Johnatan ― Aperto meus dentes. Ele fica
confuso.
― Gosto quando me chama de John ― diz brevemente, mas logo fica
embaraçado. ― Você está brava. Eu sei ― murmura sem olhar nos meus
olhos.
Abro minha boca com o rumo dos meus pensamentos.
― Eu não acredito que vocês dois... ― Não consigo terminar.
― Isso não significa nada ― diz em sua defesa.
― Me diga que vocês ficaram juntos antes dela se casar ― peço não
tendo nenhuma resposta.
― Não...
― Meu Deus, Johnatan! ― exclamo. ― O Doutor Banks não merece
isso.
― Mine, isso faz parte do que sou ― encaro-o severamente. ― Do
que fui melhor dizendo, mas depois que você apareceu. Quer dizer...
aconteceu uma vez depois que te conheci, porque queria te tirar da minha
cabeça ― ele revela com desconforto.

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― Eu quero vomitar ― faço uma careta de nojo.


― Mine, ela não significa nada para mim. Nenhuma delas. ― Fico
ainda mais chocada.
― Oh, claro! Me esqueci da ruiva e da morena ― aceno para mim
mesma, prendendo minha respiração. ― Há mais?
― Sim...
― Casadas? ― empalideço.
― Algumas ― ele se remexe desconfortável.
― Você é um gigolô ― acuso-o.
― Não é bem assim ― ele se defende, mas o ignoro.
― E nem vem me dizer que fazia parte de seu disfarce ― Levanto a
sobrancelha. Ele fecha os olhos exasperado.
― É como uma carga. Uma adrenalina. Sexo e adrenalina sempre
correram junto comigo, enquanto eu não colocasse tudo para fora, ainda me
sentia sufocado. Eu sei que é uma explicação ridícula, mas é a verdade. Foi o
que sempre senti. Nunca me importei com as sensações, nem mesmo com a
forma com que meu corpo reagia com tudo aquilo. Eu só queria pensar com
tranquilidade depois do ato ― ele parece confuso enquanto cruzo meus
braços, encarando-o.
― Engraçado, você nunca teve esses ataques comigo ― digo
emburrada.
― Você é diferente ― ele me corrige.
― Isso é ótimo ― disparo, mas logo me surpreendo. ― Você não
sente... Nada? ― engulo em seco.
― Não sentia com elas ― ele corrige e sorri. ― Mas é diferente
quando se trata de você.
― Como?
― Você me faz sentir tudo, Mine. Eu me preocupo em lhe dar seu

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prazer, em te deixar cada vez mais enlouquecida, muito mais do que eu.
Aprecio suas sensações, seus gemidos, seu corpo se entregando
completamente a mim. ― Ele sorri enquanto eu coro. ― Nunca pensei que
tamanha sensação existisse. Quando estou dentro de você, tudo desaparece.
Não há problemas, sacrifícios, preocupações. Somos somente eu e você.
Apenas sinto a possessividade do momento, de como você me pertence, de
como nasceu exclusivamente para mim. ― Seu olhar profundo acelera meu
coração.
― Eu sou a sua Mine ― digo com fervor, observando seu sorriso
perfeito se abrir de forma provocante.
― Sim, você é a minha Roza ― declara com intensidade.
Ele se aproxima me puxando para seus braços e me beija com
carinho. Acaricio seu rosto enquanto sinto suas mãos em meu corpo me
impedindo de me afastar; aprofunda nosso beijo.
― Hum... ― gemo. ― Eu tenho que ir ― ofego com sua boca
deslizando em meu pescoço.
― Podemos terminar isso no meu quarto ― murmura rouco,
mordiscando minha pele.
― Mas eu preciso mesmo ir para o meu quarto ― digo fracamente.
Ele se afasta para me olhar com seus lindos olhos em chamas, cheios
de desejos.
― Está me dispensando? ― sua sobrancelha se ergue.
― Pense como um castigo. ― Afasto-me com um sorriso malicioso.
― Castigo? Por causa disso? Mine, você é importante demais ― ele
se preocupa. Sorrio.
― Fico muito feliz em escutar isso. E sim, é um castigo, mas também
porque preciso descansar um pouco mais. Amanhã, depois de ver meu pai,
voltarei à rotina da casa. ― Sorrio.

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― Está demitida ― dispara tentando agarrar meu corpo.


― O quê?
― Na verdade, está efetivada agora para ficar apenas aqui na
biblioteca, sem folga, somente servindo as necessidades do seu chefe ― ele
beija meu rosto. ― Tenho que me lembrar de lhe comprar um uniforme curto
para que eu possa me distrair quando for subir as escadas das estantes. Não se
preocupe, eu seguro você ― diz pensativo, olhando em volta.
― Eu gosto de trabalhar aqui... na casa ― corrijo.
― Você poderia vir trabalhar para mim na empresa, mas não seria
uma boa ideia ― seus olhos escurecem.
― Não mesmo ― murmuro mordendo meu lábio. ― Eu não sou boa
em nada disso. Nunca trabalhei num ramo tão importante ― desabafo. ―
Não é algo que quero no momento.
― Você pode se ocupar aqui. Estudar com os livros, atender ao
telefone para dizer que estou ocupado, sendo que na verdade, estou te
fodendo com minha boca sobre minha mesa.
― Oh, Meu Deus! Johnatan! ― coro escondendo meu rosto em seu
peito nu. Ele gargalha. ― Você está sonhando com isso não está? ―
murmuro em seu peito.
― Acredite. Desde que você veio para essa casa ― ele confessa e o
olho, vendo seu sorriso aberto, seus olhos brilham em excitação.
― Você é um pervertido ― digo rindo.
― Eu sou ― confirma. ― Aceita a proposta?
― Vou pensar ― afasto-me depois de dar-lhe um breve beijo.
― Senhorita Clark, devo lembrá-la de que seu chefe gosta de
respostas diretas? ― pergunta como um profissional, mesmo sem camisa e
mantendo suas mãos nos bolsos da calça de moletom.
― Quer uma resposta direta? ― questiono me aproximando da porta.

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― Sim ― acena.
― Boa noite, Johnatan ― jogo um beijo e caminho rebolando até a
saída.
― Qualquer dia você vai me matar ― murmura. Quando olho para
trás, vejo-o apreciar minha bunda.
― Não é você mesmo que diz que eu tenho que ficar longe do perigo?
― finjo inocência, vendo sua expressão se tornar selvagem.
― Mine ― grunhe.
Abandono a sala com uma risadinha maliciosa.

Na manhã seguinte, eu me espreguiço vendo, no meu criado-mudo,


outra rosa vermelha aberta no meu copo, junto com mais um bilhete de
Johnatan.

"Bom dia. Tenho boas lembranças da estufa.


Voltarei mais tarde para casa.
Fui resolver alguns problemas na empresa."

Sorrio feito uma boba por seu bilhete, guardo-o em minha gaveta
junto com os outros e cheiro a rosa antes de beijá-la, lembrando-me dos
momentos na estufa.
Depois de um banho relaxante, visto meu jeans e uma camiseta com
detalhes de renda branca. No caminho para a cozinha, encontro James saindo
de seu quarto.
― Oi ― cumprimenta, surpreso ao me ver. Sorrio.

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― Oi, James.
― Como está seu pai? ― pergunta.
― Está se recuperando. O senhor Makgold vai me levar para vê-lo
mais tarde ― eu me animo. James aprecia.
― Vocês parecem próximos ― seguro minha respiração por seu
comentário.
― Ele está me ajudando muito, assim como você, Peter e Donna ―
Tento contornar a situação.
― Estou falando de outra forma ― ele coça sua nuca. ― Eu vejo
como ele olha para você, Mine.
― O que está querendo dizer, James? ― sufoco meu nervosismo com
uma risada. Volto a caminhar sem sentir minhas pernas.
― O senhor Makgold pode ter suas exigências com todos aqui, mas
quando se trata de você...
― James... ― interrompo.
― Eu vejo isso em você também ― ele me olha com seus doces
olhos tristes e acaricia meu rosto. ― Só peço que tome cuidado. Fique longe
dele, é o melhor que você pode fazer. Antes que se machuque ― aconselha
com preocupação.
Suspiro com força.
― Eu estou bem ― asseguro com um sorriso. ― Obrigada por se
preocupar comigo.
― Não precisa agradecer ― acena.
No café da manhã, Donna diz que Peter continua no hospital com meu
pai. Devo agradecer de alguma forma o seu apoio. Jordyn me faz sorrir a
maior parte do tempo ao dizer que a deixei na mão nos últimos dias, com
isso, penso em aproveitar o tempo e ajudá-la. Ian se diverte por não ter aula,
correndo para o celeiro. James está quieto, sinto-me desconfortável por vê-lo

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tão preocupado.
― James está assim há muito tempo ― Jordyn comenta assim que ele
se afasta ― Vai passar.
― Ele parece infeliz ― murmuro.
― Talvez porque você não estava aqui nos últimos dias ― ela ri,
Donna bate em seu braço.
― Querida, James é apegado com todos na casa ― Donna a corrige
com um sorriso amoroso.
― Ele gosta dela, Donna. ― Jordyn revira os olhos e se levanta para
lavar a louça, assim como eu.
― James tem um grande coração ― a senhora pisca para mim.
― Com isso tenho que concordar ― Jordyn gargalha nos fazendo rir.
Depois de sair da cozinha, nós nos ocupamos na sala da entrada. Hoje
Jordyn insiste em trocar alguns móveis de lugar.
Somos interrompidas quando James aparece sorrindo para nós duas e,
em seguida, um homem de estatura média, de terno e com uma pasta de
couro, aparece observando tudo na casa.
― Olá, meninas ― James cumprimenta, fico feliz por seu humor
estar de volta. ― Esse senhor está à procura do senhor Makgold, mas eu não
posso atendê-lo agora, tenho que ir para o campo ― James se desculpa
saindo da casa quando acenamos.
O homem sorri com simpatia e estende a mão para nos cumprimentar.
― Olá! No que podemos ajudar? ― Jordyn pergunta.
― O Makgold está? Sou Garimi Leto ― ele se apresenta.
― Eu vou informá-lo...
― Ele não está ― interrompo Jordyn. ― O senhor Makgold foi
resolver alguns assuntos da empresa.
Jordyn pisca surpresa.

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― Que pena. Ele pediu que eu viesse. Sou o detetive contratado por
ele para falar sobre o incêndio que ocorreu está manhã em uma das empresas.
Arregalo meus olhos preocupada.
― Meu Deus ― Jordyn exclama ― Onde foi isso?
― Na companhia de transportes no centro da cidade, felizmente,
ninguém se feriu. ― O homem comunica para meu breve alívio. ― Mas já
que ele não se encontra, vou procurá-lo na MK Enterprise.
― É claro ― Jordyn concorda me olhando. ― Mine, pode
acompanhá-lo até a saída? ― Jordyn diz, demostrando que suas roupas
amarrotadas não estão nada adequadas para o momento. Aceno.
― C-claro ― gaguejo. Em seguida, sorrio para ele, caminhando até a
saída.
― Aqui é enorme ― Garimi observa com simpatia.
― Sim, é ― respondo por educação.
― Um bom lugar para o chefe relaxar ― continua apreciando.
Aceno o guiando para o portão, mas somos distraídos por Hush que
aparece todo glorioso. Garimi se vira surpreso.
― Minha nossa ― ele murmura olhando para Hush ao meu lado
como se o encarasse. ― Nunca vi um...
― Sim, ele é enorme ― eu sorrio ao ver seu choque, mas logo fico
confusa quando Hush fica imóvel.
Em instantes, Lake aparece, como sempre, curioso, e caminha mais
próximo de mim. Faço carinho em sua cabeça, querendo rir da expressão de
Garimi.
― Nunca pensei que Johnatan tivesse cavalos ― ele murmura.
― Eu também não ― confesso.
Gerimi olha impressionado para os dois cavalos e sorri. Lake me
empurra gentilmente com sua cabeça.

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― Eles são perigosos? ― pergunta o homem assustado quando Lake


começa a farejar suas roupas.
― Não... Ele é brincalhão. Acho que ele só está querendo te conhecer
― eu também estranho seu comportamento.
― Oh! ― ele tenta se afastar nervosamente, mas antes de dar mais
um passo para trás, é bloqueado por Hush. ― Eles são muito amigáveis, não?
― escuto a ironia em sua voz.
Lake parece deixar algo cair no chão e o vejo farejar a carteira do
homem.
― Lake ― repreendo, abaixando-me para pegar, mas Garimi a pega
antes de mim, com um sorriso. ― Desculpe. Eles são mesmo brincalhões.
Hush se afasta e volta para o meu lado, sua atitude me deixa confusa.
― Não tem problema ― ele sorri, ocultando seu tremor. ― Eu vou
ver o senhor Makgold, não posso me atrasar.
― Claro ― sorrio vendo sua mão estendida.
― Foi bom conhecê-la ― diz, mas antes que eu aperte sua mão, Hush
se coloca à minha frente para encarar Garimi como se pudesse vê-lo. O
homem se afasta com uma risada nervosa.
― Acho que este é bem ciumento ― observa.
― Ele é protetor e inteligente ― corrijo desconfiada.
― Eu vou indo. Adeus ― acena, seguindo para fora da casa.
Travo o portão depois de sua saída e me viro para os cavalos com a
mão na cintura. Hush segue de volta para o campo, deixando Lake comigo.
― O que foi isso? ― pergunto com carinho, não conseguindo
repreendê-los.
Lake fareja minhas mãos, abro minhas palmas para revelar que não
tenho nada. Franzo a testa quando sinto um cartão em minha mão, arregalo
meus olhos ao ver a carteira de motorista de Garimi ali.

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― Como você fez isso ― pergunto surpresa para Lake. ― Devon


Gilbert? ― murmuro lendo o nome junto com a fotografia do homem que
acabou de sair.

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25 – MINHA FORÇA

Corro para dentro da casa seguindo direto para o meu quarto. Procuro
o celular na cômoda e ligo para Johnatan. Temo pelo pior quando cai direto
na caixa postal. Impaciente, guardo a carteira em meu bolso, voltando para a
sala, na tentativa de me concentrar nas ordens de Jordyn com os móveis, mas
novamente tento ligar para Johnatan.
À tarde, quando escuto o portão se abrindo, corro para fora vendo o
conversível entrar. Sigo até Johnatan, aproveitando sua parada para entrar no
carro. Sugo o ar com força.
― Minha nossa, isso é tudo para me ver? Ou ver seu pai? ― sorri
humorado, mas logo fica sério ao ver a preocupação em meu rosto. ― O que
aconteceu?
― Pensei que tivesse acontecido alguma coisa com você ― disparo
preocupada. Fecho meus olhos brevemente quando seus dedos acariciam meu
rosto.
― Eu estou aqui ― diz com cuidado.
― Tentei te ligar ― reclamo.
Ele franze a testa e procura seu celular no bolso. Ao olhar a tela,
revira os olhos.
― Eu o deixo no silencioso quando estou em reunião. Desculpe ―
verifica novamente. ― Certo... Treze ligações da Roza ― ele murmura, pisco
pegando o celular de sua mão para ver o nome destacado. Sorrio brevemente,
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em seguida, balanço a cabeça.


― Um homem apareceu aqui chamado Garimi Leto ― aviso.
Johnatan franze a testa.
― Sim, eu pedi para ele me encontrar, mas não aqui e sim na
empresa. Ele é um contador ― a informação em surpreende ainda mais.
― Ele disse que era um detetive ― murmuro roubando sua atenção.
― Só que esse Garimi não é Garimi ― pego a carteira de motorista do meu
bolso e entrego. ― Você pediu para esse homem vir dizendo que estava
investigando uma das suas empresas no centro da cidade que sofreu
incêndio? ― pergunto sem hesitar.
― Não ― Johnatan diz pensativo. ― Eu só tenho uma empresa no
centro da cidade.
― Então, ele mentiu ― engulo meu pânico. Johnatan volta para a
direção, ligando o carro.
― Filho da mãe! ― murmura encarando a carteira.
Ele dá a ré e sai com o carro. Coloco o cinto de segurança, assustada,
vendo seus olhos encararem a estrada fixamente.
― Você o conhece? ― pergunto.
― Sim ― responde com frieza.
― Quem é ele?
― Um dos homens que matou minha família. Na verdade, o último
que sobrou. ― Johnatan acelera. Aperto o banco assustada com sua
expressão obscura.
― O que pretende fazer? Para onde vamos? ― questiono querendo
escutar sua voz.
― Depois de deixá-la no hospital, irei para o prédio inacabado. Se ele
está por aqui, tenho certeza de que deve estar nesse local ― meu coração fica
em pânico.

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― Eu não vou te deixar ― disparo, vendo sua mandíbula perfeita se


apertar.
― Não é hora para isso, Mine ― seu tom se torna cada vez mais
obscuro.
Aperto meus dentes vendo-o vejo pegar o celular e enviar alguma
mensagem para alguém.
― Eu já disse que não vou deixá-lo sozinho... E se for uma
armadilha? ― temo.
― É por isso que a quero distante ― rosna.
― Não...
― Mine! ― ele me chama em alerta.
― Johnatan, não faz isso. Por favor, eu não vou suportar ― digo,
sentindo a dor em meu coração.
Ele inspira fundo e solta o ar com força. Quando acelera ainda mais,
vejo suas mãos apertando o volante, destacando seus tendões brancos. Sei
que não vou conseguir nada dele. Assim que chegamos ao centro, observo os
imensos prédios e as ruas movimentadas, a atmosfera do lugar é mais agitada.
Suspiro aliviada por estarmos juntos ali e não seguindo direto para o hospital.
Tudo passa como um borrão, nem mesmo tenho certeza se Johnatan está
respeitando as leis de trânsitos.
Franzo a testa quando chegamos a um terreno escondido. Johnatan
estaciona e tira seu paletó.
― Fique aqui ― pede saindo antes que eu proteste e bate a porta.
Vejo-o se afastar e sumir ao passar por um muro de madeira. Estamos
em um lugar estranho e, ao mesmo tempo, perigoso. Sinto-me completamente
sozinha, movo minhas pernas impacientes para tentar controlar o nervosismo
em meu corpo.
Olho em todas as direções. Aqui, provavelmente, seria um

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estacionamento, mas tudo é sujo e abandonado. Engulo em seco no aguardo


de Johnatan aparecer. Olho para o relógio do carro, vendo que se passou mais
de dez minutos. Baixo meu vidro e nem mesmo o leve vento alivia meu
desconforto. Volto a fechar a janela ao escutar o estrondo do outro lado, salto
em meu assento com o coração disparado.
― Johnatan ― assusto-me tirando meu cinto. Encaro a frente à sua
espera.
Angustiada, saio do carro e caminho até o muro de madeira. Ao me
virar, dou de cara com o prédio inacabado. Tudo está completamente
abandonado. O prédio de concreto de cinco andares é enorme e intimidador.
Vejo uma moto escura próxima ao local e corro para dentro à procura dele,
escondendo-me nas paredes próximas enquanto vasculho o lugar.
Um grunhido oco me faz estremecer. O lugar sujo me lembra
vagamente o galpão, estremeço apertando meus lábios. Mais três tiros são
disparados, curvo-me em uma parede para me proteger, sabendo que estou
próxima. Enquanto espio o local, eu me assusto. Pouco tempo depois, meu
grito é sufocado por uma mão quando sou pega de surpresa.
― Eu disse para ficar no carro ― Johnatan rosna. Meu alívio não
dura muito tempo quando o vejo com uma arma em sua mão.
Outro tiro é disparado em nossa direção. Johnatan me abaixa, mirando
para algum lugar e atirar. Meu coração dispara frenético. Johnatan toca meu
rosto preocupado, sua respiração está acelerada.
― Você está bem? ― pergunta, e aceno assustada. ― Por que não
ficou no carro? ― olha-me em reprovação.
― Eu não quero perder você ― sinto as lágrimas arderem em meus
olhos.
Sua expressão intensa suaviza e sua mão livre acaricia meu rosto. Ele
inspira fundo quando gruda sua testa suada contra a minha.

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― Eu prometo... ― ele olha em meus olhos, mas é interrompido por


uma gargalhada sombria.
― Eu sei que está aí, seu merdinha. Vai passar a vida se escondendo?
Não se preocupe, há mais de nós atrás de você ― reconheço a voz do
homem. ― Sabe? Estou feliz por tê-lo aqui. Você tem uma bela casa agora.
Johnatan atira e se volta para beijar minha testa.
― Fique aqui ― ele pede. Estremeço só de escutar as risadas
zombeteiras do homem.
― Sou melhor que você, Makgold. Se arriscou muito em ter voltado
para a cidade depois de tantos anos ― continua o homem.
Johnatan me olha com seus olhos distantes. Não o quero daquela
forma.
― Johnatan... Vamos ― sussurro suplicando, querendo-o de volta
novamente.
― Sabe, rapaz? Eu ainda me lembro daquela noite. Foi divertido. Eu
me lembro também do medo nos rostos de cada um...
As mãos de Johnatan tremem, assim como seu corpo, desespero-me.
― Johnatan, não lhe dê ouvidos. Ele quer te machucar ― sussurro
com o coração apertado. Toco seu rosto para ter sua atenção de volta.
― Makgold, seu pai foi um grande merda. Foi fácil matá-lo, mas me
diverti bastante estando dentro da sua mãe. Qual era mesmo o nome dela? ―
arregalo meus olhos a revelação cruel do homem.
― Johnatan ― chamo-o, mas é tarde demais quando ele se levanta e
segue para fora do nosso esconderijo, atirando descontroladamente.
Continuo encolhida. A única coisa que quero é tirá-lo dali e expulsar a
dor em seus olhos.
Os tiros continuam sem pausa até acabar a munição. O homem volta a
rir a fecho minhas mãos querendo socá-lo por estar fazendo aquilo com

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Johnatan, mas nada é pior do que quando estremeço Johnatan rosnar, numa
mistura de dor e ódio.
― Quando soube que estava vivo, contei os dias por esse momento,
mas não sabia que aquele garoto fraco se transformaria tão rapidamente. A
vida dá voltas, merdinha, mas sua ferida continua intocada ― dispara o falso
Garimi.
― Só se esqueceu de nunca subestimar a ira de uma fera ― a voz
sombria de Johnatan me faz arrepiar.
Escuto os passos pesados seguidos de socos. O homem parece
apreciar os esforços com algumas risadas. Espio, Johnatan encarar seu
inimigo com ódio e me surpreendo quando o homem me encontra espiando
sorrindo em ameaçada.
― Então, trouxe uma garota? ― o corpo de Johnatan fica rígido e me
olha em alerta, como se dissesse para que o obedeça. ― Tenho certeza de que
assim que matá-lo. Vou me divertir com sua vadia, assim como fiz com sua
mãe. Oh, e também com sua irmã ― meu estômago se embrulha. Johnatan
avança feito um leão para Devon.
Ambos lutam com agilidade. Johnatan lança socos fortes, cada vez
mais enfurecidos, a veia nítida em sua testa demonstra sua aflição. Em um
dos seus movimentos, ele chuta o joelho do seu oponente, fazendo-o se
curvar de dor, escuto até mesmo o osso da mesma perna ser quebrado com
mais outro golpe brutal. Eu nunca o vi tão descontrolado, nem mesmo o olhar
tão febril.
Sufoco meu soluço por ele estar brutalmente ameaçador, atingindo e
quebrando mais ossos do homem sem piedade. Rastejo pelo chão, querendo
que aquilo acabe, que os grunhidos de dor, assim como risadas forçadas,
cessem. De repente, alguém me puxa de volta para meu esconderijo, debato-
me quando tapam a minha boca, mas paro ao ver Matt Polosh, o advogado de

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Johnatan ali, pedindo-me silêncio com seu indicador próximo aos lábios.
― Fique aqui ― ele pede calmamente antes de espiar.
Escutamos Devon grunhir ainda mais, e Johnatan arfa parecendo
sufocado. Meu coração se aperta quando vejo curvar o corpo de Devon em
seu joelho. O homem estremece assustado. Respiro com dificuldade por ouvir
algo sendo estralado, tendo a certeza de que foi a coluna do falso detetive.
Em seguida, Johnatan arremessa o corpo do homem contra o
concreto, como se fosse um saco de pancadas. Devon não se move, tem um
dos olhos inchados e o nariz quebrado, mas Johnatan não para, continuando
acertando seu rosto com punhos firmes, freneticamente, mesmo o homem não
estando mais consciente. Engulo o nó na garganta e ouso ir até Johnatan, mas
Matt me segura, mantendo-me no lugar.
― Mine, não ― ele pede. Reconheço sua voz. Era ele que esteve no
quarto do hotel. Pisco encarando seus olhos negros.
― Me solta ― puxo meu braço e corro até Johnatan.
Sua respiração está ofegante enquanto ele continua a socar. Encolho-
me por nem mesmo ver direito o rosto do homem devido ao excesso de
sangue, mas quero tirar Johnatan dali.
― Johnatan ― eu o chamo, seus punhos se tornam mais fortes. ―
Para ― suplico trêmula, sentindo minhas lágrimas ao notar seu cansaço.
Com desespero por sua fúria inacabada, abraço suas costas, puxando-
o com todas as minhas forças para longe do cadáver, sem querer, consigo ver
até mesmo o braço deslocado do homem. Aquilo é demais para mim.
Johnatan parece não se conter, querendo continuar. Seu corpo ferve
por baixo de sua camisa, minhas forças são em vão. Por sorte, Matt aparece o
puxando de volta e tenta imobilizá-lo. Vejo a dor em seus olhos vermelhos
cheios de lágrimas. O suor escorre dos seus cabelos até o rosto.
― Johnatan, acabou ― eu tento fazê-lo me olhar, ficando à sua frente

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de joelhos como ele está. ― Volta para mim... por favor, Johnatan ― suplico,
acariciando seu rosto suado.
Ele tenta se soltar de Matt, mas este o segura com mais força.
― John... ― Matt grunhe.
― Johnatan, pare! ― digo com firmeza mesmo com a dor em meu
peito.
Seus olhos obscuros me encaram e um grito doloroso escapa de sua
garganta com força, fazendo as veias de seu pescoço e sua testa saltarem. Eu
o abraço por vê-lo tão fragilizado.
― Solte-o ― peço, Matt me olha em dúvida. ― Por favor.
Ele se afasta. O corpo trêmulo de Johnatan cai sobre mim, mantenho-
o em meus braços enquanto os seus me cercam com força e seu rosto se
esconde na curva de meu pescoço, sugando o ar com força. Aperto-o ainda
mais.
― Temos que sair daqui― Johnatan arfa poucos minutos depois de
tentar se recuperar.
Levanto-me com sua ajuda querendo ver seus olhos, mas tenho sua
rejeição. Ele me puxa e seguindo para o carro.
― Você tem ideia da merda que acabou de fazer? ― Matt dispara.
― Eu o matei ― Johnatan não parece nada arrependido.
― John, isso só piora tudo...
Johnatan solta meu braço para encarar Matt.
― Então, tente fazer melhor ― ameaça.
― Eu sou seu advogado, Johnatan. Eu não posso encobrir isso. Segui
suas pesquisas para ajudá-lo, mas aquilo, aquilo que vi é demais ― Matt
aponta.
― Eu te pago para trabalhar para mim e não para ter suas opiniões
sentimentais ― Johnatan continua furioso, Matt não se afasta.

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― Eu faço meu trabalho não pelo dinheiro, mas pela segurança, pela
razão, confiança e dignidade com meu cliente. Matar um homem a sangue
frio...
― ELE MATOU MINHA MÃE, MINHA IRMÃ! ELE AS
TORTUROU E QUER QUE EU ME SINTA ARREPENDIDO?! ― o grito
brutal de Johnatan nos assusta. ― Devon Gilbert já estava morto desde o dia
em que coloquei meus olhos nele. Entretanto, se mais deles aparecerem eu
não vou hesitar, Matt, jamais! ― inspira entredentes.
― Pensa que é fácil lidar com tudo isso também, Johnatan? Está
botando a vida de todos em risco, imaginem se virem Mine ― Matt dispara,
fazendo Johnatan se virar para mim com os olhos em chamas.
― Eu pedi para você ficar na droga do carro! ― repreende-me com
os olhos frios e a voz firme. Engulo meu medo.
― Ela não tem culpa se você a deixou sozinha, John. ― Eu não
consigo dar atenção a Matt me defendendo, meus olhos estão presos aos de
Johnatan.
― Não pedi sua maldita opinião ― dispara.
Matt suspira.
― Sei sobre sua história e sobre eles, Johnatan. Não é fácil. São mais
que poderosos no mundo inteiro ― Matt continua, encolho-me na porta do
carro.
― Você sabe a gravidade do que estava fazendo. Sabe onde estava se
metendo. ― Johnatan continua me encarando e ignorando Matt.
― Se eles souberem dela, irão caçá-la para matar. Está lidando com
uma máfia criminosa, Johnatan. Eles não vão parar, nunca param! ― As
palavras do advogado me aterrorizam.
― Há escolhas! ― Johnatan se exalta.
― Não há escolhas! ― Matt rebate.

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De repente, Johnatan se move para longe de mim e arremessa Matt


contra o carro, segurando seu pescoço com um braço. Noto suas mãos e seus
braços com sangue.
― O que está dizendo? ― Johnatan ameaça, não ouso interromper,
sabendo que ele também está furioso comigo.
― Somos amigos, Johnatan. Você sabe que se souberem sobre a
Mine, ela correrá mais riscos que você.
Estremeço. Johnatan se afasta, soltando Matt, que tosse e arruma suas
roupas.
― Me encontre daqui a duas horas ― Johnatan ordena, abrindo
minha porta.
Entro no carro sem hesitar. Matt se desculpa com seus olhos
preocupados, e tento lhe dar meu melhor sorriso. Coloco meu cinto enquanto
Johnatan sai com o carro como um furacão. Ele limpa suas mãos com um
lenço, calado. Faço o mesmo com minha roupa, tirando a poeira da minha
calça. Assim que chegamos ao hospital, engulo em seco tendo que lidar com
seu silêncio. Ele encara a frente e o observo com tristeza.
― Peter irá levá-la de volta, depois voltará para ficar com seu pai ―
Johnatan comunica sem me olhar.
Não quero sair do carro sem pelo menos ver seus olhos azuis. Sinto-
me sufocada.
― Eu sinto muito. Pensei que tinha acontecido alguma coisa com
você, Johnatan. Matt só queria te ajudar, e eu quero tirar a dor dentro de você
― digo com fervor.
― Isso não tem cura. Tê-la por perto também foi um grande risco ―
ele murmura.
― Me desculpe por não ter escutado, mas eu tenho meus medos.
Você é importante para mim, agora, mais do que nunca. Dói-me muito vê-lo

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assim sem poder fazer nada ― desabafo.


Enfim seus olhos fixam nos meus.
― Vá ver seu pai. Eu preciso ficar sozinho ― escutar seu pedido
abatido aperta meu peito.
Depois de tirar meu cinto, eu me aproximo para beijar seu rosto, em
seguida, apoio meu queixo em seu ombro.
― Você me disse que não suportaria se me perdesse ― ele me olha
novamente com nossos rostos próximos, mantenho nossa intensidade. ― Eu
não suportaria se te perdesse também.
Engulo o grande nó em minha garanta e me afasto, saindo do carro.
Entro no hospital, lutando com minhas lágrimas para que meu pai não
perceba meu sofrimento.

Fico com meu pai o máximo de tempo possível, mas meus


pensamentos estão em Johnatan. Os seguranças na porta do quarto são sérios
e fico aliviada por eles estarem aqui. Meu pai parece se divertir assistindo a
um jogo de Hockey na televisão, deixa-me feliz ao ver sua distração. Quando
a noite chega, Peter já está à minha disposição para voltar para casa. Suspiro.
― Obrigada novamente pelo o que está fazendo pelo meu pai. Não sei
como lhe agradecer de verdade ― digo assim que entramos no carro.
― É uma honra, não precisa agradecer ― ele ri enquanto dirige ―
Nós nos divertimos bastante jogando baralho.
― Por favor, vocês não bebem, não é mesmo? ― sorrio brevemente.
― O hospital é rígido. Não permite. Não se preocupe ― ele brinca.
― Peter?
― Sim?
― Desde quando você conhece o senhor Makgold? ― pergunto
curiosa.

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― Desde quando ele tinha sete anos ― responde com carinho.


Pisco surpresa.
― Como ele era nessa fase?
― Um garoto amoroso. Era mais feliz, divertido e um verdadeiro
pestinha. Praticamente todos os dias sua professora ligava para contar o que
ele havia aprontado na escola ― Peter sorri com a lembrança, tento
acompanhá-lo, imaginando Johnatan diferente de tudo em que ele se
transformou.
― Mas ele não parece ser mais assim ― digo em voz alta e tento
esconder a dor em minha voz.
― Depois da tragédia... Todos o culparam pela morte da família
Makgold, menos eu e Donna, que trabalhávamos na casa. Ele sumiu, virando
uma lenda na cidade com histórias bizarras entre tantas outras estranhas. No
dia da tragédia, pensamos que estivesse morto, mas no dia seguinte
descobrimos que estava vivo. Nós não o encontramos, até que nunca mais
ouvimos falar dele. Quando voltou, foi um choque para todos. Eu estava
trabalhando como motorista em uma empresa de transportes e nem imaginava
que ele era o dono do lugar. Aquele garoto se transformou da água para o
vinho. Eu não via mais o brilho alegre em seus olhos. Tudo nele ficou frio ―
Peter revela, vejo o quanto sente falta de Johnatan, assim como Donna.
― É triste ― suspiro. ― Seria bom esquecer tudo isso ― penso.
― Esquecer não, mas fazer alguém enxergar que a vida continua, é
possível sim ― ele sorri.
Assim que chegamos à mansão, seguimos direto para a cozinha.
Donna preparou um maravilhoso banquete. Eu me deliciei com o frango
assado e verduras refogadas. Não sabia se Johnatan estava em casa, mas tinha
quase certeza de que ele estava na tenda de meditação. Não queria atrapalhar
seu momento solitário, sabendo que minha cota de erro “já tinha dado” por

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hoje. Atormentá-lo nem que fosse por uma ligação seria mais uma
desobediência.
Para me distrair, comuniquei a todo o estado de melhora do meu pai,
recebendo o alívio em troca. Depois do jantar, segui para o meu quarto, mais
uma vez agradecida por Peter voltar para o hospital levando algumas frutas,
sopa e verduras para meu pai. Uma coisa recompensada desse dia tortuoso foi
saber que amanhã papai receberá alta, Cesar, nosso velho amigo, estará por lá
para nos acompanhar.
No meu quarto, tomo um banho rápido e sigo para o guarda-roupa,
olhando as camisolas novas que Donna comprou. Sorrio com tristeza,
vestindo uma de seda vermelha, que me lembra o tom das rosas vermelhas.
Aproximo-me da linda flor ainda em meu copo, pegando-a para sentir seu
perfume intenso e profundo. Deito em minha cama, apertando suas pétalas
contra meu peito como se aquilo pudesse diminuir minha saudade. Inspiro
seu perfume mais uma vez e adormeço, mesmo com o coração apertado.

Abro meus olhos pesados quando senti a presença de alguém.


Johnatan está deitado ao meu lado virado para mim, todo glorioso sem
camisa. Seus dedos acariciam meus cabelos com distração, pergunto-me há
quanto tempo estava ali.
A luz da lua ilumina meu quarto em cores cristalizadas. Vejo em meu
criado-mudo um enorme buquê de rosas numa jarra. Pisco surpresa para ele,
que me olha intensamente.
― Oi ― ele sussurra.
Inspiro seu hálito doce e confortante.
― Oi ― respondo timidamente. ― Você está bem?
― Agora estou ― ele sorri brevemente, em seguida, puxa uma mecha
do meu cabelo para inspirar. ― Você tem noção de como é linda dormindo?

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― o elogio me faz corar. ― Eu te devo desculpas por essa tarde. Fui imaturo,
não te enxerguei quando deveria...
― Não precisa... ― ele me silencia.
― Mine, você é minha força. Escutar aquele homem imundo me fez
perder completamente o controle. Se você não tivesse me tirado dali eu o
estaria socando até agora ― sussurra, apertando seus dentes.
― Eu não sou tão forte como deveria ― lamento.
― Você é. Age por impulso, mas sei que é com as melhores
intenções. Eu tenho que me acostumar com sua teimosia, sei que você é
impossível, mas parte disso é uma das coisas que adoro em você. ― Ele sorri
com carinho. ― Você é esperta, rápida e inteligente. Apenas não quero que,
com isso, acabe se machucando por minha causa. Você é meu ponto fraco e
eu preciso de você, preciso que tire toda essa merda para fora de mim, só
você consegue fazer isso.
Choro silenciosamente e acaricio seu rosto enquanto ele afasta minhas
lágrimas.
― Você parecia perdido ― aproximo meu corpo do seu. Seu braço
me envolve, puxando-me mais para ele.
― Eu estava cego com as lembranças, mas você estava ali. Aquilo me
assustou. Não posso imaginar nada disso acontecendo com você ― respira
profundamente. ― Até que você me chamou... Eu não sei como consegui
deixar aquele homem para trás e te arrastar para fora dali. Na porta do
hospital, eu vi o medo em seus olhos, nunca pensei que me importaria tanto
com alguém sofrendo por mim. Foi como se eu tivesse esmagado seu
coração. Na verdade, esmaguei o meu coração e nem mesmo quis perceber
isso ― sua voz está carregada de culpa, minhas lágrimas caem sem parar.
― Eu só queria fazê-lo esquecer tudo. Só por um momento ― digo
trêmula, olhando em seus olhos.

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― Você fez ― ele me abraça ainda mais. ― Você faz o tempo todo.
Me desculpe por não ter lhe dado ouvidos ― pede, assim como seus olhos
azuis suplicantes.
― Então, somos dois ― sorrio abraçando seu pescoço.
― Não. Você agiu certo saindo do carro. ― Franzo a testa. ― Havia
mais um deles do lado de fora, mas ele escapou. Isso é um problema ―
segura-me em seus braços quando estremeço.
― Matt? ― pergunto preocupada.
― Ele está bem. Matt é temperamental ― dá de ombros.
Levanto minha sobrancelha.
― Ele sabe sobre você? A vida que leva?
― Sim ― responde, afastando minhas lágrimas.
― Você deve se desculpar. Ele parecia assustado.
― Farei isso amanhã ― sussurra cansado.
Olho para as rosas e sorrio para ele.
― As rosas são parte das desculpas? ― pergunto mordendo meu
lábio.
Ele sorri sem tirar os olhos de mim.
― Também ― confessa.
Ele se levanta para afastar o lençol de meu corpo, sinto sede assim
que noto sua cueca boxer branca. Seus olhos me observam com a camisola de
seda vermelha acima dos joelhos, sem disfarçar, ele sorri pegando cinco rosas
do meu buquê. Coro.
― Perfeita ― ele murmura. Fecho a cara, ele arranca as pétalas das
rosas.
― Por que fez isso? ― reclamo, vendo-o colocar o caule no meu
criado-mudo.
― Faz parte da minha redenção ― murmura.

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Sorrio quando espalha as pétalas em meu corpo até meu rosto. Inspiro
o perfume das pétalas e sinto a suavidade. Pego minha rosa ao lado,
colocando-a em meus lábios. Fecho meus olhos assim que seus lábios
também se grudam na rosa e inspiramos profundamente. Em seguida, afasto-
a da minha boca para beijá-lo com todo meu amor.
Abraço seu pescoço, deixando seu corpo grudar-se ao meu. Minha
boca é invadia por sua língua de encontro à minha enquanto sua mão
escorrega por meu corpo. Agarro-o com minhas pernas, já sentindo sua
ereção pronta para mim. Com um impulso de desejo para tê-lo, viro-o para a
cama e monto em seu corpo. Seus olhos se abrem em surpresa.
Sorrindo, curvo-me para ele, deslizando meus lábios por seu pescoço
até o peitoral másculo e perfumado. É inebriante escutar sua respiração cada
vez mais acelerada. Quando deslizo minha língua por seu abdômen, ele ofega
da mesma forma que percorro minhas unhas por sua pele quente.
― Era para eu me redimir ― ele geme.
Ergo-me para colocar meu indicador em seus lábios. Rebolo em sua
ereção e aprecio seus olhos se revirando em excitação.
― Silêncio! ― provoco, vendo seus olhos cheios de desejos. ― Eu
estou no comando, senhor Grekov. ― Ele sorri de maneira safada ao escutar
o nome.
Deslizo minha outra mão por seu abdômen definido, seguindo direto
para dentro da sua cueca boxer e alcançando seu membro pulsante. Lambo
meus lábios com sede. Seus olhos em chamas me observam em excitação.
― Oh! Minha Roza.

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26 – PROTETOR

Inclino-me para sentir o gosto do seu leve suor em meu paladar. A


respiração de Johnatan acelera, escuto-o gemer quando aperto sua ereção com
desejo, movendo para cima e para baixo.
― Mine ― sussurra meu nome numa mistura de prazer e urgência.
Seu sotaque me faz arrepiar, assim como aprecio sentir a firmeza dos
seus músculos macios em meus dedos.
Tiro sua cueca com facilidade, percorrendo minha boca até sua
virilha. Beijo sua pele exposta, embriagando-o com seu cheiro.
― Oh... Você... Não... ― escuto Johnatan completamente excitado e
embaraçado. Antes que ele termine suas pronúncias, trago sua ereção até
minha boca, deslizando minha língua em sua cabeça molhada.
Meu gesto inocente o faz contorcer, seu gemido sai mais alto. Sinto-
me cada vez mais pervertida e, ao mesmo tempo, corajosa, tomo-o em minha
boca.
― Oh, Deus... ― Johnatan ofega. Seus gemidos são uma mistura de
idiomas fluentes em extrema excitação.
Estou cada vez mais molhada, sentindo meus mamilos se enrijecerem
contra o tecido da minha camisola. Provoco-o com meus lábios e minha
língua, sugando-o com intensidade. Olho para cima vendo seus olhos febris
fixos em mim. Sua boca entreaberta me revela a expressão de surpresa e
prazer. Suas mãos afastam alguns fios dos meus cabelos e os puxa. Gemo
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com sua ereção em minha boca, deslizando minhas mãos em seus músculos
enquanto o escuto gemer enlouquecido.
― Mine ― ele me chama com a voz rouca, mas não posso voltar a
olhá-lo agora, estou ocupada em provocá-lo com minha boca. ― Mine... Eu...
Mine ― ele estremece com seus gemidos, como se estivesse lutando para
segurar seu prazer.
Sugo, querendo agora o jato quente jorrando em minha boca. Eu me
afasto ofegante, engolindo sua excitação. Fecho meus olhos, lambendo meus
lábios e degustando seu sabor.
Depois de alguns minutos, abro meus olhos e observo os seus em
chamas que piscam para mim de maneira intensa. Seu peito sobe e desce com
força devido à respiração descontrolada. Suas mãos se erguem para esfregar
seus olhos e afastar seus cabelos, o sorriso perverso surge de forma
inesperada.
― Você acabou... Você me... Eu... Estou sem palavras ― ele ofega a
cada palavra embasbacada parecendo confuso. ― Droga, você estava tão
linda...
Sorrio com seu elogio.
― Você tem um gosto maravilhoso ― digo suavemente, sentando-me
em seu colo. Sinto sua ereção ainda pulsante em meu sexo apertado.
― Não tanto quanto você, minha Mine ― ele murmura, logo seu
olhar desce para baixo. Eu sei que ele sente o quanto estou molhada. ― Você
quer matar esse homem? ― mordo meu lábio.
― Do que está falando? ― inclino minha cabeça fingindo inocência.
― Não adianta fazer essa cara de anjo ― ele sorri com perversão. ―
Está sem calcinha ― ele esfrega sua ereção e gemo suavemente. ― Sabe o
quanto me excitou? ― ergue-se para me beijar com ansiedade. ― Sinto meu
gosto ainda em sua boca ― murmura em meus lábios.

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Agarro seus cabelos, trazendo-o para mim, aprofundando nosso beijo.


Em seguida, arqueio sentindo suas mãos em meu corpo, deslizando por
minha camisola até apertar a bunda nua com força. Gemo jogando minha
cabeça para trás, dando-lhe acesso ao meu pescoço. Seus lábios queimam
minha pele, aquecendo-me por inteira.
Meu corpo se move contra ele, esfregando-se em sua ereção sem
piedade. Arrepio-me só de escutá-lo me desejar em as palavras abafadas ao
meu ouvido. Assim que se livra da minha camisola, seus olhos devoram meu
corpo à sua frente. Aperto seus ombros com força e gemo quando sua boca
alcança um dos meus seios, provocando meu mamilo enrijecido com sua
língua. Johnatan geme, sugando meus seios sem pressa. Arranho sua pele,
meu corpo pulsa num prazer lascivo.
Ele volta a se deitar com a atenção em mim. Não consigo me mover
ao ter seus olhos intensos nos meus. Meu corpo se arrepia pela intensidade
que nos cerca. Assim que alcança um preservativo debaixo do travesseiro,
rasga-o em seus dentes perfeitos, como sempre provocante. Afasto-me um
pouco, vendo-o deslizar a camisinha em seu membro rígido e estremeço de
paixão quando suas mãos voltam para minha pele.
Sigo seus toques me aproximando dele novamente, sentindo-o
deslizar lentamente dentro de mim. Gemo inebriada ao senti-lo me preencher
por inteira. Logo meus quadris se movem devagar para tê-lo cada vez mais
profundo até atingir um ponto excitante. Minhas entranhas se apertam
deliciosamente.
Seus toques estimulantes continuam, uma de suas mãos segue
tranquilamente pelo meu corpo até apertar meu seio e provocar meu mamilo
com seus dedos. Saio do controle, movendo-me com mais velocidade,
quando sinto sua outra mão abaixo do meu ventre, seu polegar provoca meu
clitóris.

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― Johnatan ― chamo-o, revirando meus olhos e os fechando apenas


para sentir as sensações prazerosas que causa em mim.
Meu corpo sua, aquecendo ainda mais enquanto movo meus quadris
para nos aproximar ainda mais. Quando o encaro, vejo Johnatan analisar meu
corpo se movendo contra ele. Seu gemido me faz estremecer. Apoio-me em
seu peito, sentindo meu corpo trêmulo, movo-me cada vez mais rápido.
Meu sexo se aperta, pulsando em torno de sua ereção, deixando-me
cada vez mais ansiosa pelo orgasmo. Deito em seu corpo e beijo seus lábios,
apoiando meus cotovelos no colchão. Suas mãos deslizam por minhas costas
suadas, parando em meus quadris, segurando com firmeza. Gemo cada vez
mais alto enquanto Johnatan se move embaixo de mim com força, meu corpo
pula a cada estocada.
― Vamos, minha Mine ― ele geme em meu ouvido ― Dê-me o que
precisa ― murmura mordendo meu lóbulo, afasto-me para olhar seus lindos
olhos azuis em chamas.
Deliro pela profundidade do contato e a chegada da minha excitação.
Arqueio meu corpo, jogando minha cabeça para trás. Fecho os olhos ao sentir
cada músculo dentro de mim se esticar e relaxar. Sei que Johnatan também
chegou a seu ápice, pois o sinto da mesma forma, com as mãos apertando
minhas coxas.
Deito sobre seu corpo, saciada, inspirando profundamente o perfume
em seu peito enquanto tento controlar minha respiração. Seus braços
reconfortantes me envolvem protetores.
― Ainda estou fascinado, um pouco espantado, mas muito surpreso
― escuto-o de repente. Escondo-me em seu peito sem jeito. ― Alguém está
com vergonha aqui? ― murmura divertido, depois beija meus cabelos
apertando seus braços com firmeza ao meu redor, antes de me girar de volta
para a cama.

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Sorrio feito boba só de ver seus olhos brilhantes, bem como o leve
sorriso perfeito em seus lábios.
― Eu gostei ― confesso, acariciando seu rosto. Ele inspira o perfume
em meu pulso. ― Acho que me empolguei um pouco.
Sua sobrancelha se ergue por um momento e logo ri em silêncio.
― Um pouco? ― coro. ― Eu senti isso. Acho que tê-la na biblioteca
à minha mercê pode incluir um oral também. ― Ele reflete em voz alta me
fazendo rir. Pior, fico cada vez mais envergonhada.
― Você está sonhando com isso, não é mesmo? ― pergunto,
afastando os cabelos de sua testa suada.
― Desde que a ideia surgiu na minha cabeça, está difícil de tirá-la ―
sorri com perversão.
― Oh, meu Deus ― escondo o rosto em minhas mãos.
― Eu tenho que ir ― diz ao afastar minhas mãos para beijar meus
lábios.
Fico surpresa, ele se levanta indo para o banheiro. Quando retorna
para apanhar suas roupas, eu o seguro comigo.
― Não, não vai ― peço com urgência agarrando seu pescoço. ― Eu
sei que não vai dormir agora. Vai ficar naquela academia e...
― Você me quer aqui? ― sua pergunta sai um pouco esperançosa.
Como posso dizer, em uma única palavra ou uma pequena frase, que
o quero mais que qualquer coisa? Engulo minha vontade, talvez não seja o
momento.
― Quero muito ― confesso.
Ele inspira e beija minha boca delicadamente.
― A academia me afasta de pensamentos desagradáveis e ajuda a
canalizar meu corpo, mas desde a primeira vez que dormi com você, sinto-me
mais leve. Fico lutando para não me acostumar com isso. ― Ele sorri sem

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jeito retornando ao seu lugar


― Por quê? ― pergunto confusa.
― Porque se eu viver assim, vou ter que te sequestrar para torturar
esse seu corpo todas as noites por longas e longas horas ― murmura em
meus lábios com seu sotaque russo. Sorrio, abraçando-o ainda mais.
― Não vou reclamar ― pisco perplexa com a possibilidade de ele me
torturar com toda excitação sem intervalos para respirar. ― Eu acho...
― Cuidado com o que deseja, senhorita Clark ― sorri perversamente.
― Já que me quer aqui, você me terá ― murmura puxando minhas pernas
para ele. ― Vou devorá-la com minha boca. ― Engulo em seco quando se
move para baixo, abrindo minhas pernas e arrancando um gemido intenso da
minha boca quando sua língua percorre em meu sexo.

Desperto presunçosamente com lábios macios e suaves em minha


boca. Sorrio ao ver Johnatan inclinado em minha direção, espreguiço-me,
girando meu corpo para abraçá-lo. Noto que já está vestindo um terno azul-
marinho com gravata escura, cabelos úmidos bem-penteados e barba feita.
Ele está pronto para o trabalho enquanto eu estou nua e preguiçosa em cima
da cama.
― Bom dia ― saúda beijando meu pescoço.
A leve luz do dia ilumina meu quarto.
― Aonde pensa que vai? ― pergunto me espreguiçando novamente.
Sinto meus músculos internos estremecerem.
― Tenho uma reunião esta manhã ― explica com um leve sorriso nos
lábios. ― Assim que voltar, eu te levarei para ver seu pai.
― Ele recebe alta hoje ― digo apertando seu rosto.
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― Então, acho melhor levá-la até sua casa para visitá-lo mais tarde.
― Sorri, beijando meus lábios docemente. ― Eu preciso ir.
― Hum ― faço bico.
― Sabia que você ronrona bem baixinho quando dorme? ― Johnatan
revela.
Surpreendo-me.
― Andou me assistindo?
― Depois do nosso segundo round foi impossível pregar meus olhos
ao vê-la dormir tão serena ― diz, beijando a ponta do meu nariz.
― Eu estava muito cansada ― coro quando seu sorriso se abre um
pouco mais. ― E como você dormiu?
― Vamos dizer que tenho as melhores noites ao seu lado ― seu
sorriso nunca deixa seus lábios. Seus olhos brilhantes revelam que teve uma
boa noite de sono. Sorrio timidamente.
― Fico feliz em ouvir isso ― inspiro o leve perfume do seu rosto
recém-barbeado. ― Agora vá trabalhar ― Tento empurrá-lo.
Ele fica surpreso.
― Está me expulsando?
― Sim.
― Sabia que posso tê-la agora?
Seu olhar voraz me sobressalta.
― Eu não teria tanta certeza. Posso ser muito difícil ― asseguro.
― Gosto de desafios ― continua, provocando meus lábios com os
seus.
― E eu posso controlar você ― rebato com perversão. Ele me olha
em surpresa.
― Tem razão ― concorda. Confesso que amo ver seu bom humor
pela manhã.

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Johnatan se afasta e me sento na cama cobrindo meus seios com o


lençol. Na cama ainda há pétalas espalhadas, sorrio com a lembrança da noite
anterior.
― Tenha um bom trabalho.
― Obrigado. Nós nos vemos mais tarde. ― O sorriso perfeito me faz
perder o fôlego assim como sua piscadela.

Depois de verificar as horas, sigo para o banheiro para um rápido


banho.
Na cozinha, encontro Donna e Ian no café da manhã. Eu fiquei um
bom tempo no quarto arrumando minha cama e apreciando minhas rosas,
mesmo assim, ainda estava cedo para começar o dia, por isso, optei em
aparecer quase na hora exata.
― Olá, amor. Bom dia ― Ian me cumprimenta beijando meu rosto.
Sorrio.
― Querida, acordou cedo ― Donna sorri, acariciando meus cabelos.
― Sente-se, estou preparando panquecas.
― As melhores panquecas ― Ian se alegra.
― E o que vai fazer hoje, Ian? ― pergunto, vendo-o me servir suco
de maça.
― Ir para a escola ― responde com uma careta.
― Não deve ser tão ruim assim ― digo, bagunçando seus cabelos
louros.
― Prefiro ficar e treinar Lake ― seu sorriso é algo adorável.
― O que está ensinando agora?
Ele se inclina na minha direção.
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― Estou ensinando a dar saltos mortais ― sussurra empolgado.


Aperto meus lábios para não rir.
― Ele já está progredindo?
― Infelizmente não, minha linda donzela. Ele parece achar engraçado
quando eu tento fazer. Sai como uma cambalhota ― ele lamenta. Bagunço
seus cabelos macios mais uma vez.
Assim que Donna coloca o café da manhã na mesa, belisco algumas
coisas até todos estarmos juntos. James chega já vestido com seu uniforme
habitual e, antes de começar seu dia no campo, irá levar Ian até a escola.
Minutos depois, Jordyn aparece na cozinha com os cabelos bagunçados de
forma cômica.
― Eu quase perdi a hora ― reclama se jogando na cadeira.
― Vimos pelos seus cabelos ― James gargalha. Ela acerta um
guardanapo amassado em seu peito.
― Não diga só isso, James. Você esqueceu dos olhos inchados e do
pé de galinha ― Ian acrescenta, Jordyn rosna, fazendo-o correr.
― Ok! Vamos, pestinha ― James se despede e sai com Ian aos risos.
Donna se ocupa atrás de Jordyn para trançar seus cabelos.
― Jordyn, você não pensa em estudar? ― pergunto comendo uma
banana.
Ela faz uma careta. Donna balança a cabeça parecendo inconformada.
― Já conclui meus estudos por causa da insistência do senhor
Makgold. Depois, ele me propôs faculdade com tudo pago. Claro que recusei
por ser fora da cidade. Eu me sentiria muito deslocada ― confessa sem jeito.
― Bem, até hoje ele pede por isso, mas eu não quero. Eu gosto daqui.
Levanto minha sobrancelha.
― Não tem nada mais que deseja ser? ― questiono com carinho.
Ela pensa e suspira.

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― A Feiticeira ― reviro meus olhos sorrindo. ― Imagina você


querendo tudo que quer só movendo sua boca de um lado para o outro ― ela
imita o gesto da personagem do seriado ― Olha... Bacons...
Donna e eu rimos com sua diversão.

Ajudo Jordyn em algumas tarefas na casa, principalmente a limpar


vidros. O dia do lado de fora parece triste com nuvens muito carregadas. O
céu escuro oferece um ar solitário e suspiro ao pensar na falta que Johnatan
me faz.
No segundo andar, vejo pelas montanhas o trovão caindo com força,
provável tempestade. Retorno ao centro da casa para ajudar na insistência de
Jordyn com alguns móveis. Lamentamos a queda de energia.
― Se o senhor Makgold estivesse aqui, estaria xingando em plenos
pulmões pela falta de luz, assim como o maldito gerador ― Jordyn dispara.
Franzo a testa.
― Deve ser por causa do tempo. Por que ele ficaria assim? ―
pergunto curiosa.
― Olha a casa, Mine. Todos esses vidros ― murmura. ― Acha que o
chefe gosta de escuridão? ― fala como se fosse óbvio.
Arrepio-me por seu comentário.
― Tem razão.
― A casa pode parecer solitária. Donna disse que, antigamente, aqui
era tudo muito reservado, não havia vidros extensos, apenas janelas. O senhor
Makgold reformou tudo assim que retornou. Lembro que quando cheguei me
encantei pelo lugar. ― Não vou tirar sua razão, também me senti da mesma
forma.
Horas depois, Donna aparece na sala de espera secando suas mãos em
seu avental.

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― James vai se atrasar ― ela comunica. ― Parece que uma árvore


caiu na estrada e Ian está feliz em perder um dia de aula ― sua lamentação
nos faz rir.
― A senhora pode dar aulas para ele ― Jordyn diz para minha
surpresa.
― Donna, você é professora? ― indago. Ela sorri docemente,
negando com a cabeça.
― Não minha, querida. Meu falecido marido era professor. Eu
aprendi um pouco do seu conhecimento ― pela primeira vez vejo seus olhos
profundos em tristeza.
― Bem, eu vou ficar por aqui ― Jordyn chama minha atenção. ―
Mine ficará com os fundos da casa ― ela ordena dando de ombros.
― Sim, senhorita ― provoco-a. Donna ri e lhe dou um beijo no rosto.
― Você é a mulher mais inteligente, mais forte e mais carinhosa que já
conheci. ― Seus olhos se enchem de lágrimas, trazendo junto seu sorriso
amoroso.
Sigo em direção aos fundos da casa. Jordyn odeia essa parte,
reclamando que é o lugar onde mais tem pó. Ao contrário de mim, que acha o
lugar muito aberto com paisagens incríveis. Reviro meus olhos divertida por
achá-la mesmo uma maníaca por limpeza.
A chuva forte já toma conta do campo. Os pontos quentes do solo
parecem esfumaçar com o contato da chuva, deixando o lugar um pouco
nubloso. Assusto-me ao ver o brilho forte repentino do raio e encaro o campo
vendo um dos cavalos correr em círculos dentro da cerca.
Aproximo-me do vidro. Sid corre de maneira estranha. A chuva a
deixa encharcada e outro trovão assustador cai num estrondo alto. Observo-a
descontrolada. Deixo minha flanela e o borrifador no canto antes de sair. A
chuva forte me atinge imediatamente assim que saio da casa.

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Escutar os raios fora é ainda mais tenebroso, Sid relincha alto,


assustando-me. Ela não deveria estar correndo daquela forma, mas sim no
celeiro, principalmente na chuva. A proveito para procurar, às cegas, por
Lake e Hush, mas não encontro nenhum deles. A chuva forte me faz
estremecer, mesmo assim, continuo seguindo até a cerca. Ao me aproximar,
sinto como sua corrida está mais bruta e a respiração pesada. Quando ela
ergue a cabeça, parecem que seus olhos negros estão sem foco.
― SID! ― grito, mas ela não me escuta. Não sei se está mais
assustada com a chuva ou com os raios. ― SID, VOLTA! VOLTA PARA O
CELEIRO! ― ela relincha, assustando-me. Meu coração se aperta por ela
não entender minha língua. ― SID! PARE! ― continuo.
Olho para trás na esperança de ver James, mas ele ainda não chegou.
Afasto meus cabelos encharcados do meu rosto e me escoro na madeira a fim
de tocá-la, talvez meu gesto a impeça de continuar.
Assim que passa por mim, seu corpo bate com força contra a cerca,
desequilibro-me e caio para trás.
No chão, assisto-a correr como se estivesse desesperada. Meu coração
acelera ao lembrar que James disse uma vez sobre seu sexto sentido.
― Por favor, pare ― sussurro preocupada.
Meu peito dói por saber que ela está assustada e minhas lágrimas
caem ao me sentir uma inútil por não conseguir fazer nada.
― Mine! ― escuto uma voz firme me chamar por cima do barulho da
chuva.
Olho para trás vendo Johnatan encharcado caminhando em minha
direção. Ele havia tirado a grava e o paletó, ficando apenas com a camisa
branca. O tecido molhado gruda em seu corpo, mostrando sua musculatura
robusta.
Seus olhos me encaram preocupados, mas logo ficam confusos ao ver

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Sid correndo e relinchando como se estivesse com dor. Ele corre em minha
direção, ajudando-me a me levantar, em seguida, segura meu rosto para me
analisar.
― Eu estou bem ― asseguro com meus lábios trêmulos. ― Sid está
assustada, ela não quer sair da chuva ― explico.
Quando volta sua atenção para Sid, seus olhos se arregalam.
― Não é isso ― murmura. Fico confusa.
Johnatan me deixa em meu lugar, pulando a cerca com facilidade.
Volto a me aproximar da cerca, escutando Johnatan murmurar algo em russo,
em seguida, tanto Hush quanto Lake disparam para fora do celeiro em
direção à Sid. Ambos a prendem em seus corpos enquanto ela luta para
continuar correndo, tentando se erguer por cima deles, mas ambos os cavalos
parecem não facilitar, como se tivessem impedindo-a de persistir. Desta
forma, consigo ver seus olhos negros mais atentamente. Eu nunca os vi tão
tristes, nem mesmo tão devastada. Mesmo enfraquecida, ela continua a lutar
contra os cavalos prensados ao seu redor.
Johnatan se aproxima de Sid para tocar sua cabeça branca. Observo-o
dizer algo para ela, fazendo-a se curvar. A égua relincha, deitando no chão.
Sua pelagem branca está suja pela lama. Lake e Hush se afastam, voltando
para o celeiro com a respiração pesada, como se tivessem feito um grande
esforço. Entro no cercado e corro em direção à Sid.
Johnatan está abaixado, deslizando seus dedos por seu pelo branco
molhado.
― Eu sinto muito ― escuto Johnatan murmurar para ela enquanto a
égua puxa o ar com força.
― O que ela tem? ― pergunto preocupada.
Ela é maior de perto, embora nunca tenha me aproximado o suficiente
dela.

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― Assim como muitos nessa casa, Sid também teve suas perdas ―
Johnatan explica com tristeza. O nó em minha garganta é imediato.
Johnatan pronuncia algo em russo e se levanta quando Sid se ergue
também. Seus olhos negros lançados em minha direção são os mais dolorosos
que já vi. Quando ouso tocar seu corpo, ela se afasta em direção ao celeiro.
Nós a acompanhamos até entrar em sua cela e deitar-se no feno.
Sid parece observar a chuva cair como se estivesse solitária. Distraio-
me quando Johnatan se aproxima, entregando-me uma toalha. Tento me
secar, mesmo com as roupas encharcada. Sentamos nos fenos do celeiro,
observo-o tirar sua camisa para secar o corpo e os cabelos com outra toalha.
― O que aconteceu com ela? ― indago. Sua atenção se volta para
mim.
Ele se levanta, pegando um cobertor para envolver em meus ombros,
aproveito a toalha para enrolar meus cabelos.
― Cada um deles tem uma perda ― observo-o atentamente. ― Hush
foi meu primeiro cavalo. Ele foi criado por um adestrador rígido. Todos os
seus animais eram tratados por números e não por nomes, Hush era o Vinte.
Ele estava muito doente e isso piorou o humor do dono. Hush era um cavalo
de corrida, mas nunca ganhou. Era fraco por ser mal alimentado.
― Que tipo de adestrador faz isso com um animal? ― disparo
enfurecida. Johnatan concorda. ― Onde você o conheceu? ― pergunto em
relação a Hush.
― Em um evento fora da cidade, encantei-me logo que o vi. Na
verdade, estava atrás de um filhote, mas ver Hush me fez enxergar como ele
sofria tanto quanto eu.
Engulo o nó em minha garganta.
― Ele já era cego?
― Começou por um olho. O adestrador queria sacrificá-lo a sangue

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frio, dizia que o cavalo não prestava. Hush estava muito magro, malcuidado,
com feridas de gancho e o pelo não tinha brilho ― Johnatan relembra,
também enfurecido.
Seco minhas lágrimas com o cobertor. Pobre Hush!
― Mas você o salvou mesmo ele estando doente ― digo com um leve
sorriso emocionado.
― Sim, sabia que iria se curar rápido mesmo ficando cego. Ele seria o
melhor de todos. Agora veja, ele é ― seus olhos brilham ao falar sobre Hush.
― Depois de um tempo, eu retornei com Hush ao lugar de onde ele veio,
pensei que ele ficaria assustado, mas com os treinos, ele parecia cada vez
mais forte. Eu o fiz correr, sem ninguém montar, e ganhamos. Não seria legal
se o mantivesse longe, eu queria mostrar a todos o que aquele cavalo era
capaz.
― O adestrador o viu?
― Sim e o queria de volta ― ele sorri com a lembrança. Pisco
surpresa.
― E o que você fez?
― Eu quebrei o braço dele quando tentou pegar Hush com uma corda
― Johnatan revela com orgulho. ― Eu gosto de deixá-los livres. O celeiro é
aberto para eles correrem por aí e aproveitarem o dia. Não tenho
equipamentos para montaria, nem lanças. Nada que os agridam, apenas tenho
equipamentos para mantê-los fortes, saudáveis e seguros. Aquela arma ali é
para James afastar os pombos que invadem a ração. ― Johnatan faz careta.
Olho para a espingarda pregada na parede do celeiro.
― Lake?
Johnatan sorri.
― Lake foi o último deles. Encontrei-o em uma feira. Uma senhora o
estava vendendo a troco de bebida. Lake era um filhote frágil, foi separado

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dos pais assim que nasceu. Como todo animal frágil, ele tinha seus receios.
Perdi a conta de quantas noites tive que passar com ele aqui ― a revelação
me encanta. Imagino-o cuidando do filhote.
― Eles são de raças... E são tão sofridos ― eu imagino e aperto o
cobertor ao meu redor.
― Mais ou menos. Hush é Frísio, Sid é Lusitano e Lake é uma
mistura de Palomino com outra raça. Se eles valessem o quanto pesassem, eu
pagaria o dobro sem me arrepender ― desabafa.
― Você os ama ― digo deslumbrada.
― Eles fazem parte de tudo aqui. O campo seria muito vazio sem eles
― murmura.
― E Sid? Como a conseguiu? E o que ela perdeu? ― pergunto
curiosa.
― Eu a encontrei na estrada. Sid foi a segunda a chegar. Fiquei
surpreso quando a vi. Parecia perdida com toda aquela chuva. Eu parei o
carro para ajudá-la, pensei que estivesse ferida, mas não estava. Alguém
havia atropelado seu filhote e ela o protegia com seu corpo. O filhote já
estava morto.
Cubro minha boca em espanto. Meu coração se aperta intensamente.
― O que você fez? ― Johnatan sorri como se estivesse relembrando.
― Eu não podia tirar o filhote ou levá-la para longe. Acho que Sid
estava fugindo, então, fiquei com ela na estrada por um longo tempo.
Pisco surpresa.
― E depois? ― continuo curiosa.
― Eu vim para casa ― ele sorri. ― No dia seguinte, quando estava
saindo para trabalhar, eu a vi no portão.
― Ela seguiu você.
― Acho que sim. Talvez por entender que aqui ela poderia ser livre.

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Quando a vi, estava com marcas no dorso do pescoço, contratei um


veterinário na época. Fazia uma semana que ela tinha tido o filhote e pareceu
que foi um parto complicado. Se ela ficasse prenha novamente, seria muito
pior, por isso, pedi para castrá-la. ― Ele suspira com tristeza ― Quando
cheguei com Lake, filhote, ela o adotou, mas não me ajudou nas noites em
que ele relinchava e fazia escândalo pelo celeiro. ― A careta de Johnatan me
faz ri.
― Então, foi por Hush que surgiu a ideia de ter um cavalo e não um
cachorro ― observo, mas Johnatan balança a cabeça em negação.
― Foi por minha irmã ― revela.
― Oh!
― Meu pai deu a Thessy um pônei no seu aniversário de quatro anos.
Ele era uma mistura de caramelo com branco e preto. Eu nunca me esqueci
daquele sorriso doce e feliz. Não me esqueço da forma como ela pulava
abraçando o animal. Ela não me deixava chegar perto, mas fui eu que dei o
nome a ele: Anão. Um mês depois, ele morreu. Thessy ficou muito triste e,
quando já estava conformada com a morte repentina do animal, ela me fez
prometer que eu lhe daria um enorme unicórnio com asas brilhantes. ―
Rimos, e seco minhas lágrimas que insistem em cair. ― Ela também fez uma
seleção de nomes. Sid, por causa do nome da sua boneca preferida, segundo
ela, era diferente. Hush, porque era o título de todos os seus desenhos, pois
gostava do som da palavra, e Lake por causa do lago perto de casa, ela só
exigiu que Lake fosse azul como o lago ― ele sorri fazendo seus olhos
marejarem.
― E você tem os três agora, com ou sem as exigências dela. Eles são
mais que unicórnios ― digo com fervor. Johnatan acena com a cabeça.
― É também uma forma de ainda tê-la viva aqui ― ele aperta os
lábios. Eu me aproximo para sentar em seu colo.

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― Tenho certeza de que ela está muito feliz por isso ― sorrio e beijo
seus lábios.
Seus braços me apertam num abraço quente.
― Você tem que entrar. Não quero que fique doente ― murmura
beijando meus cabelos.
Inspiro profundamente ao concordar. Levanto-me, entregando o
cobertor e a toalha.
― Você não vem? ― pergunto olhando a chuva agora mais calma.
― Vou ficar um pouco mais ― diz se levantando.
Pisco confusa, mas logo me dou conta do que acontece.
― Hoje é o dia da morte do filhote de Sid? ― indago chocada e
Johnatan confirma.
― Sim. Esses animais não são incríveis? Ela sente isso.
― Oh! Eu ficaria, mas acho que Sid não gosta muito da minha
presença ― lamento.
― Sid tem uma maneira difícil de se aproximar das pessoas. Ela não é
uma égua maldosa, apenas se mantêm reservada― explica com gentileza,
fazendo-me sorrir.
De repente, minha curiosidade retorna mais aguçada.
― Quando você os treina... O que você diz a eles antes de
começarem?
― Digo que eu sinto muito por suas perdas ― Johnatan revela.
A frase me faz sorrir devido ao seu respeito pelos cavalos.
― Eles têm sorte de ter você.
― E eu tenho sorte de tê-los também. Assim como você ― meu
sorriso se abre ainda mais, mas logo se desfaz e vejo seus olhos sérios. ―
Agora, volte para casa, tome um banho, coloque roupas secas e peça para
Donna lhe dar algum comprimido.

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― Sim, senhor ― provoco-o e corro para a casa.


Assim que entro, sigo direto para a sala de entrada encontrando
Jordyn. Ela me olha de cima abaixo como se eu fosse um alienígena. Fico
feliz pela energia estar de volta.
― Onde diabos você estava? ― questiona.
― Sid estava fora de controle. Corri pelo campo na chuva para tentar
ajudá-la. A sorte é que o senhor Makgold chegou a tempo e a fez retornar
para o celeiro.
― Oh... Pobre Sid ― ela murmura.
Franzo a testa ao lembrar das palavras de Johnatan, algo como todos
já tiveram perdas.
― Eu vou tomar banho e vestir roupas secas ― digo, começando a
tremer de frio.
― Vá mesmo porque você está molhando meu chão. Está criando
uma poça d'água. Depois que terminar, leve esse envelope para a sala do
senhor Makgold, acabei de pegar da caixa de correio, estou ocupada com a
máquina de lavar ― ela sorri, mostrando-me um envelope pardo, aceno e
corro para meu quarto quando ela tenta me ameaçar com um cabo de
vassoura.
Não sei por quanto tempo fiquei debaixo do chuveiro quente. Depois
do banho, visto meu jeans com uma blusa de manga comprida azul. Seco
meus cabelos, os mantendo soltos.
Quando saio do meu quarto, levo o envelope para a sala de estudos.
Franzo a testa ao ver apenas o endereço da casa. Ao entrar na biblioteca,
sorrio ao lembrar das palavras pervertidas de Johnatan da noite anterior, eu
adoro vê-lo naquele estado de espírito, parece deixá-lo mais relaxado e
jovem.
Ao colocar o envelope sobre a mesa, um papel cartão escapa, pego-o

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para colocá-lo de volta, estranhando que o envelope não esteja lacrado.


Quando viro, solto o envelope na mesa observando o cartão, não, na verdade,
é uma foto. Uma foto da ruiva.
Ela aparenta estar nua com o lençol branco cobrindo suas partes
íntimas enquanto o restante da sua pele está arroxeado com marcas vermelhas
de tortura. Sua boca foi costurada, o pescoço está num ângulo estranho, mas,
ao olhar de perto, percebo que foi deslocado. A foto do cadáver me assombra,
os cabelos vermelhos estão espalhados pelo travesseiro, seus olhos fechados
destacam suas pálpebras escuras. Encaro a foto espantada, sinto que todo meu
sangue desaparece da minha face.
Quando a porta da biblioteca é aberta, tenho um sobressalto. Johnatan
surge vestido uma camiseta preta de gola V e calça jeans.
― Mine? ― me chama, mas minha língua parece dormente para
respondê-lo.
Encaro a mesa horrorizada ao ver mais fotos espalhadas com outras
mulheres mortas com marcas de torturas, há também outras delas vivas, que
foram capturadas. Pego outra foto que me chama atenção assustada.
― Mine? O que foi... ― Johnatan se aproxima, pegando a foto da
ruiva da minha mão. ― Verônica? ― escuto sua voz em choque, mas não
consigo desviar meus olhos diante de todo aquele horror.
― Essas mulheres ― inspiro profundamente antes de continuar,
mesmo com minha voz trêmula. ― Elas são... Você... Você já...
― Sim... Mais ou menos ― Johnatan responde, embaraçado devido
ao choque.
Pela minha visão periférica, noto que olha rapidamente as imagens
sobre a mesa. Elas eram suas amantes, eu tenho certeza. Seguro minha
respiração.
― Eu estou na lista ― murmuro quase sem voz antes de me virar

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para ele.
Johnatan me observa confuso.
― O quê? Não, Mine. É claro que não! ― dispara com firmeza,
encarando meus olhos.
Mostro a minha foto que foi tirada na avenida quando tínhamos
escapado de Lunter. Tentaram focar meu rosto, mas uma parte da minha face
está escondida atrás do ombro de Johnatan, revelando apenas meus olhos,
minha testa e meus cabelos.
Minhas pernas tremem ao ver que há mais fotos minhas desse mesmo
dia sobre a mesa e todas elas tentando focar em meu rosto até no momento
em que Johnatan me pegou em seus braços. Caio em sua cadeira de couro
assim que ele pega a foto da minha mão.
― Não ― o rosnado faz meus pelos se arrepiarem. ― Ninguém vai
tocar em você. Não vou permitir! Ninguém vai tirá-la de mim! ― Johnatan
dispara a plenos pulmões.
Assusto-me ainda mais com o soco estrondoso que dá na madeira.
Sua expressão destaca o ódio mortal e a agressividade, bem como seus olhos
febris.
Engulo o pânico, encarando-o atentamente.
― O que você pretende fazer?
― O mais importante. Te proteger ― a firmeza sombria em sua voz é
como um gelo afiado que me arrepia dos pés à cabeça.

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27 – REPAROS

Engulo meu medo e tento controlar minha respiração. Meu coração


disparado me dá a sensação de angústia.
― Johnatan, você me protege o tempo todo ― asseguro. ― O que
estou querendo dizer, é como vamos lidar com tudo isso? E se alguém me
reconheceu? ― meu pavor se altera à medida que meus pensamentos
seguem.
Seus olhos azuis disparam para mim. Encolho-me com seu olhar
obscuro.
― A minha maneira de te proteger será triplicada, não se fala mais
nisso ― ele ergue seu indicador quando ouso protestar. ― Não vai durar
muito tempo. Vou encontrar quem está por trás disso. Pelas fotos, as chances
de reconhecimento são mínimas, não devem ir muito longe com isso ― diz
encarando a mesa.
― E como pensa fazer? Não parece ser tão fácil assim, Johnatan ―
digo desesperada.
Ele se aproxima para tocar meu rosto. Minha cabeça se inclina com
seu toque.
― Não precisa ter medo. Nada vai te acontecer, não vou permitir ―
ele tenta me tranquilizar. Suspiro.
― Não estou com medo por causa disso. Temo o que possa acontecer
com você ― exalto.
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Seus braços me cercam em conforto.


― Eu não sei o que pode acontecer comigo se algo acontecer com
você ― ele suspira, beijando meus cabelos. ― Não irei suportar.
Levanto minha cabeça para olhá-lo e deixo seus lábios macios
tocarem os meus. Aperto meus braços ao seu redor, sentindo seus braços me
envolverem com força. Quando me afasto, respiro fundo encarando a mesa
novamente.
― Essas mulheres... A ruiva, Verônica. Elas estão mesmo mortas?
Apesar das fotografias de cadáveres, há também outras de mulheres
que seguem numa provável lista de matança.
― Eu vou descobrir. Tenho que conversar com Matt sobre isso. ―
Johnatan murmura sem me soltar de seus braços.
― Essas outras mulheres também estão em perigo ― sussurro e
balanço minha cabeça ― Você conhece todas elas?
Fico horrorizada quando recua. Na mesa contabilizo mais de vinte,
fora as mortas. Ele se encolhe quando volto a encará-lo desconfiada.
― Não tive nada mais que uma ou duas noites ― confessa. A
revelação não me agrada nem um pouco.
― Isso é loucura ― disparo e me afasto pensativa. ― Eu também
quero saber do seu advogado sobre tudo isso ― digo por fim.
― Mine... ― ele me chama em alerta, mas é minha vez de erguer
meu dedo para que ele se cale, incluindo meu olhar frio.
― Não me venha com essa, Johnatan. Estamos por um triz, por isso,
se quer me proteger, terá que confiar em mim...
― Eu confio em você ― rebate me interrompendo.
Suspiro ao ver seus olhos intensos.
― Vai ter que me deixar ajudá-lo. Sei que quer me proteger,
agradeço imensamente, mas tenho que saber o que se passa ao meu redor.

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Tenho que ficar atenta a tudo e a todos. Se algo me acontecer, como vou estar
preparada?
Inspiro fundo olhando-o com carinho.
― Da mesma forma que você quer me manter distante, eu também
quero isso longe de você. Isso só te faz mal.
Johnatan inspira e expira exasperado. Ele encara as fotos como se
estivesse lutando para considerar o que lhe peço. Fico parada, aguardando sua
resposta, esperançosa.
― Tudo bem ― sua voz se torna mais grossa, como se fosse difícil
para ele aceitar os fatos. ― Não vou dizer que vai ser fácil para mim mantê-la
perto disso, mas concordo que saiba quando estiver em perigo ― Seus olhos
azuis penetrantes me encaram como um aviso.
― Posso aceitar isso, por enquanto ― contesto, reprimindo uma
careta. Por que isso é tão difícil para ele?
Johnatan solta sua respiração e senta em sua cadeira. Eu o observo
inquieta.
― Vou fazer algumas ligações ― informa guardando as fotografias
de volta no envelope. ― Pode esperar um pouco para ver seu pai? Estarei
livre mais tarde ― pede cansado.
― Está me expulsando da sua sala? ― pergunto escondendo meu
sorriso.
Johnatan fica surpreso.
― Não, é claro que não. Eu apenas... Mine, você me deixa
descoordenado ― ele me dá seu breve sorriso torto.
― Eu?
― Sim, você ― responde ligando seu laptop. ― Eu tenho que
aprender a não cair em suas tentações. Não posso dar meu braço a torcer tão
facilmente, principalmente quando seus olhos cinza me encaram desse jeito

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― ele finge estar decepcionado consigo mesmo.


Sorrio para ele, assentindo, e me aproximo de sua mesa para beijar
seu queixo erguido. Quando sua boca desce para a minha, sou puxada para
seu colo, derretendo-me com seu beijo intenso e urgente.
― Me chame quando estiver pronto ― sussurro em seus lábios.
― Com toda certeza.
Depois que inspira o perfume em meus cabelos, levanto-me de seu
colo, deixando-o fazer suas investigações. Pelos corredores, ajo como uma
estúpida olhando todas as direções com a ideia de alguém me seguindo. Meu
coração se aperta ao lembrar da aflição de Johnatan. Não posso deixá-lo agir
sozinho. Preciso proteger o que há entre a gente, proteger nós dois. Talvez os
homens que o procuram estejam tentando suborná-lo, mas não posso permitir
que o machuquem, não posso vê-lo fora de controle novamente.
Sigo à procura de Jordyn, encontrando-a no espaçoso salão
trabalhando no piso de mármore. Em silêncio, caminho até o piano de calda e
aperto as teclas ruidosamente, fazendo-a saltar de susto.
― Mine! ― diz e lança sua mão no peito. Oh! Eu precisava de uma
distração para aliviar meu humor!
― Qualquer dia desses você vai ficar louca com tanta limpeza ―
crítico, rindo, e me aproximo para ajudá-la.
― Vocês têm muita sorte que não limpo o quarto de vocês.
Principalmente os dos meninos. Já imagino cuecas e meias fedorentas
jogadas debaixo da cama. Por outro lado, ainda bem que Donna fica com o
quarto do senhor Makgold, segundo ela, ele não é tão bagunceiro assim ―
diz com uma careta. ― Você já almoçou?
― Não ― balanço a cabeça.
― Você deveria ir comer. Está meio pálida ― ela percebe. ― James
e Ian já chegaram, comeram e agora estão no celeiro.

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Olho para fora, vendo a chuva fraca.


― Não estou com fome ― suspiro.
― Você precisa se alimentar...
― É claro que ela vai ― ambas viramos para Johnatan parado com o
olhar de reprovação. Ele franze a testa quando vê o piano.
Olho para Jordyn, como se tivesse feito algo ilegal.
― Mine esbarrou no piano, senhor ― Jordyn explica rapidamente.
Franzo a testa.
― Eu escutei ― ele murmura e me olha curioso, enfiando suas mãos
em seu bolso. ― Sabe tocar, Mine?
― Não.
Sua atenção se volta para Jordyn.
― Jordyn sabe tocar ― ele afirma, viro-me para ela vendo seus olhos
se arregalarem. ― Por que não toca algo para nós?
Ela engole em seco e aperta o pano em suas mãos.
― Você sabe? ― pergunto, vendo seus ombros se encolherem.
― Vamos ― Johnatan pede, estendendo sua mão para a banqueta
estofada.
― O senhor não vai brigar, vai? Porque se for, eu prefiro ficar com
meu chão. ― Fico surpresa por sua insegurança, algo me diz que já fez
aquilo.
― Se você preferir o chão ao invés do piano, tenha certeza que sim ―
Johnatan alerta, escondendo seu sorriso.
Jordyn solta o que tem em mãos, marchando até a banqueta do piano.
Eu me aproximo para vê-la tocar e Johnatan fica ao meu lado. Minha amiga
olha em nossa direção, parecendo desconfiada de que Johnatan possa lhe dar
uma bronca a qualquer momento, em seguida, respira fundo tocando um solo
suave.

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Sorrio levemente, escutando a leveza das teclas enquanto ela toca.


Jordyn olha novamente para o chefe, que assente com a cabeça. Então, sua
voz ecoa pelo salão acompanhando as notas em seus dedos. A melodia é
triste e ao mesmo tempo libertadora. Fico surpresa quando Johnatan pega
minha mão e me puxa para uma valsa tranquila.
Meus olhos automaticamente encaram seus lábios quando sua
segunda voz acompanha a de Jordyn, numa sincronia perfeita. Quando a
música termina, ele se afasta para beijar as costas da minha mão com carinho,
seus olhos nunca deixam os meus, quando finaliza a reverência, coro com sua
piscadela sutil.
Viramos para Jordyn, que parece inquieta ao se aproximar com um
leve sorriso satisfeito nos lábios.
― Ótima escolha, Jordyn, obrigado! ― Johnatan agradece retribuindo
o sorriso. Ela fica em choque.
― O senhor não vai brigar como da outra vez? Quer dizer, o senhor
está me agradecendo? Espere, posso tocar novamente? ― Ela fica cada vez
mais atrapalhada. Tento apertar meus lábios para não sorrir.
― Eu vou pensar sobre o assunto ― Johnatan responde antes de se
virar para mim. ― Você precisa comer ― ele ordena e eu apenas aceno.
Olho para Jordyn, vendo-a tentar fechar os lábios para não gritar, seus
olhos parecem brilhar.
― Eu adorei, Jordyn ― elogio.
― Tudo bem. Vocês estão tentando me persuadir. Fico feliz por ter
tocado, mas vocês dançaram em meu piso encerado com seus sapatos,
prevejo que está tudo riscado ― ela volta para seu trabalho.
― Você precisa de ajuda?
― Pode ir comer, Mine. Eu fico aqui ― diz com um sorriso discreto.
― E você, Jordyn, já se alimentou? ― Johnatan a observa.

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― Sim, senhor ― ela balança a cabeça de maneira exagerada.


― Ótimo. Termine isso e vá descansar. Por favor, não haja como uma
louca por limpeza ― ele murmura.
Seguro minha risada quando vejo Jordyn fazer uma careta, voltando
para o chão carrancuda. Franzo a testa ao seguir com Johnatan para fora do
salão.
― Por que ela ficou daquele jeito? ― pergunto olhando para trás.
Johnatan suspira.
― Talvez esteja pensando que eu fique aborrecido a qualquer
momento. Na primeira vez em que ela viu o piano, tocou e eu não gostei. A
única pessoa que tocava naquele instrumento era minha mãe. Ele foi um dos
objetos que conseguiram salvar do incêndio, Peter o restaurou para mim.
Quando escutei, desci as escadas como louco e briguei com ela. Jordyn
explicou que só estava tentando afastar o silêncio da casa ― parece
arrependido.
― Você se desculpou com ela?
― Acho que me desculpei poucos minutos atrás ― diz sem jeito.
Sorrio, Johnatan não parece acostumado com esse tipo de afeto.
Logo, fico confusa por ele não seguir direto para a sala de jantar, em
vez disso, acompanha-me até a cozinha.
Na bancada, noto dois lugares reservados.
― Junta-se a mim? ― sussurra puxando a banqueta ao lado.
Donna aparece na cozinha com um sorriso amplo enquanto nos
sentamos. Ela nos serve pimentões recheados com carne desfiada.
― Escutei Jordyn no salão ― Donna diz com alegria.
― Eu a deixei tocar dessa vez ― Johnatan explica.
― Isso é maravilhoso ― os olhos de Donna brilham. ― Há quanto
tempo não o vejo comer aqui! ― murmura o servindo com vinho.

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Surpreendo-me quando ela me serve, dando-me uma piscadela.


― É. Acho que senti falta disso ― ele parece envergonhado.
Delicio-me provando meu almoço. Donna é a melhor cozinheira que
já conheci.
― O senhor vai querer algo diferente para o jantar? ― pergunta.
Johnatan degusta seu vinho e sua comida.
― Não. Irei com a Mine ver Edson, mais tarde me viro com algum
lanche ― comunica.
Provo o vinho suave, escutando-os atentamente.
― Mesmo assim, prepararei algo ― Donna informa, virando-se para
se ocupar com seus serviços. ― Nunca se sabe quando o senhor vem assaltar
a geladeira.
Johnatan ri, fico feliz por vê-lo tão tranquilo.
― Ele faz isso? ― pergunto.
― De vez em quando... Quando vou a restaurantes, mas não gosto da
comida. É por isso que, na maioria das vezes, levo Donna aos eventos, não
consigo comer nada se não for preparado por ela ― Johnatan resmunga.
― Obrigada por apreciar, querido ― Donna diz amavelmente.
― Disponha ― Johnatan sorri para ela. ― E onde está Peter?
― Ele já fez alguns ajustes no carro. Já está pronto para o senhor.
Pisco surpresa.
― Peter chegou? ― engulo minha comida de uma vez.
― Sim. Seu pai já está em casa. Dei a Peter o dia de folga ―
Johnatan termina seu prato bebericando seu vinho.
Meu estômago se agita em alegria por saber que todos estão bem e
que verei meu pai em breve. Bebo um gole do vinho para conter a agitação.
Johnatan me observa, deixando-me confusa.
― O quê? ― pergunto.

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― Só vamos sair daqui quando terminar seu prato ― ele diz.


Olho o pouco do que sobrou, depois observo Donna, que também
concorda. Viro-me para meu prato, praticamente devorando o restante.
Assim que termino, corro para meu quarto para escovar os dentes,
vestir um casaco e colocar minhas botas. Volto encontrando Johnatan na sala
de entrada conversando com Donna.
― Se alguém ligar, peça para retornar amanhã, a menos que seja
urgente ― ele comunica.
― Sim, senhor ― ela acena e sorri para mim. ― Dê um olá para seu
pai, querida ― ela acaricia meus cabelos.
― Pode deixar ― Abraço-a antes de sair.
A tarde está mais fria e com uma leve garoa. Assim que Johnatan se
junta a mim no carro, liga o aquecedor. Sorrio em antecipação.
― Não sabe o quanto me deixa feliz vê-la assim ― ele toca meus
lábios com seu polegar. Aproximo-me para beijá-lo.
― Hum ― gemo em seus lábios com um sorriso.
Johnatan me retribui, mostrando seus dentes perfeitos, em seguida me
ajuda com o cinto antes de dar a partida.
― Pensei que você iria demorar em sua sala ― indago.
― Não poderia deixá-la esperando, sei o quanto quer ver seu pai ―
observa.
― Obrigada! ― abraço seu braço quando ele aperta meu joelho em
conforto e retorna para o volante.

Quando chego à vila vejo que nada mudou. A casa continua a mesma
com a aparência de uma cabana. Saio do carro rapidamente, nem mesmo
espero Johnatan abrir a porta, e corro para dentro. Dou um breve olá para
Cesar, assim que o vejo na pequena cozinha, e sigo para o quarto encontrando

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meu pai deitado, parecendo entediado. Assim que me vê na porta, ergue seus
braços, corro para eles, deitando-me ao seu lado para abraçá-lo melhor.
― Que surpresa maravilhosa! ― diz beijando minha testa.
― Como se sente?
Ele tem os olhos cansados, mas sei que pode ser efeito dos remédios.
― Me sinto um nada nessa cama. Na semana que vem tenho certeza
de que estarei bem melhor para trabalhar com minhas madeiras ― fala cheio
de esperança.
― Tenta não exagerar demais, papai ― peço, beijando seu rosto e
acariciando sua barba grisalha.
― Eu prometo que tentarei ― sorri.
Somos distraídos quando Johnatan surge na porta do quarto. Ele nos
observa de braços cruzados.
― Você ― meu pai dispara com desgosto, eu cutuco ―, obrigado por
trazer minha filha! ― murmura relutante.
― Não tem de quê! ― Johnatan responde com educação. Sorrio para
ele vendo seu sorriso leve. ― Vou deixá-los sozinhos. Melhoras, Edson.
Johnatan se vira, dando de cara com Cesar, que se assusta, mas
também lhe dá espaço para que siga seu caminho.
― Esse homem me dá medo ― revela assim que Johnatan se afasta.
Depois, coloca dois copos de sucos de laranja na cômoda.
― Ele não é tão assustador assim ― digo me aninhando ao meu pai.
Cesar faz uma careta rimos quando segue para fora do quarto,
olhando ambos os lados para ver se Johnatan não está por perto.
― E como andam as coisas? ― meu pai pergunta.
Não posso demonstrar, muito menos lhe contar dos últimos ocorridos.
― Bem ― asseguro e olho para frente do quarto em busca de
distração. ― Vejo que tem uma TV e das boas ― elogio.

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― Adivinha... ― papai murmura com desgosto, não é preciso


perguntar, sei que foi Johnatan que lhe deu, reviro meus olhos. ― Ele não vai
descontar do seu salário. Teve que ser obrigado a me dar por ter que aceitar
você naquela casa ― ele faz uma careta enquanto eu finjo estar chocada.
― Me trocou por uma TV de plasma?
― Isso nunca! ― defende-se entrando na minha diversão.

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28 – ME DESCULPE

Não sei por quanto tempo fiquei com papai lhe contando sobre a casa,
a vida e, principalmente, sobre os cavalos. Em parte, ele ficou impressionado
com eles, dizendo que jamais imaginaria Johnatan com um animal. Quando
dei por mim, já começava a escurecer, e tive, como sempre, dificuldade de
me despedir.
Ao encontrar Cesar, dei-lhe mais instruções de cuidados, assim como
dos medicamentos, adoraria que papai viesse comigo, mas seu orgulho nunca
será quebrado.
Minutos depois, surpreendo-me ao encontrar Peter na sala, apreciando
as obras inacabadas de meu pai.
― Peter? Pensei que estivesse de folga. Onde está o senhor Makgold?
― Ele teve que voltar para casa para atender um cliente. Algo
relacionado com uma nova empresa ― comunica-me. Suspiro.
― Parece ser importante ― sussurro.
― Sim, o homem parecia bem insistente ― Peter revira os olhos, o
gesto me faz ri. ― Pronta?
― Sim.
Depois de nos despedirmos de Cesar, seguimos para o carro, o tempo
está mais frio. Lamento por Johnatan não estar comigo, mas sei o quanto é
ocupado em seu trabalho a ponto de não ter um tempo livre quando
necessário.
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Ao chegar à mansão, agradeço Peter e corro para a entrada. Vejo


Donna descer as escadas com um leve sorriso.
― Como foi com seu pai, querida? ― pergunta gentilmente.
― Está teimoso como sempre ― resmungo sem perder o sorriso. ―
Estou feliz que esteja melhor. No próximo fim de semana, vamos pescar ―
empolgo-me.
― Espero que ele se recupere logo, pois quero alguns artesanatos. ―
Ela ri se aproximando para me abraçar. ― É muito bom tê-la de volta. Agora,
preciso que vá à sala de espera. O senhor Makgold quer conversar com todos.
Franzo a testa seguindo para o local. Jordyn e Ian estão presentes,
ambos se implicam.
Sorrio ao sentar-me no sofá aconchegante.
― É bom tê-la de volta, Mine. Espero que seu pai esteja bem ― Ian
diz com um leve sorriso.
― Ele está ― asseguro.
― Que estranho ― Jordyn murmura olhando Ian ao seu lado. ― O
que é todo esse interesse com a saúde do pai da Mine?
Ian balança os ombros todo galanteador.
― É para ele não ter um enfarte depois que pedir a mão de sua filha
em casamento ― Ian dispara.
― Ian? ― Jordyn o repreende, empurrando-o, caio na risada.
― Está tudo bem ― digo controlando meu ataque.
James chega logo em seguida junto com Peter. Ambos nos olham
confusos.
― Qual é a graça? ― James pergunta.
― É o Ian sonhando em se casar ― Jordyn ironiza.
― Não me diga ― Peter se senta ao meu lado. ― E quem é a
felizarda?

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Olhamos Ian com seu sorriso triunfante.


― Meu caro Peter... Meu caro James. É nada mais e nada menos que
Mine Clark ― Ian sorri para mim com os olhos brilhantes. ― Vejam como
estamos apaixonados.
Ele pisca seus olhos de um jeito angelical. Rimos sem parar.
― Eu mereço ― James diz antes de se sentar ao meu lado, Ian corre
para roubar seu lugar.
― Nem pensar. Afaste-se da minha futura esposa!
― Quem irá casar? ― escutamos Johnatan e nos viramos. Donna o
acompanha.
― Ian! ― falamos em uníssono.
Johnatan levanta a sobrancelha.
― Inacreditável! Sendo assim, poderei cortar sua mesada? ―
Johnatan pergunta. Ian recua.
― Amor, acho que o casamento pode ficar para segundo plano ― Ian
me comunica enquanto rimos cada vez mais.
― Ok! ― Johnatan cessa, tendo nossa atenção. ― Neste fim de
semana teremos um evento. Preciso de todos vocês presentes. É a
inauguração da abertura de uma empresa australiana em parceria com a MK e
será fora da cidade ― Johnatan informa me olhando, mas volta sua atenção
para Jordyn quando ela ergue a mão para falar, ela cora. ― Jordyn?
― Vamos nos juntar com outros funcionários ou será apenas... Equipe
Makgold? ― pergunta envergonhada com o nome que inventou. Johnatan
tenta esconder sua diversão.
― Pelo contrário. Vocês estão sendo convidados... Por mim.
A notícia deixa todos chocados.
― Quer-quer dizer que vamos-vamos participar da-da festa? ―
Jordyn gagueja por nós.

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― Sim ― Johnatan assente. ― Donna vai ajudá-los com os trajes,


será tudo por minha conta. Quero todos impecáveis. ― Quando sua atenção
volta para mim, fico vermelha igual a um tomate maduro.
― Isso é sério? ― até mesmo James não esconde seu espanto.
― Sim, quero que aproveitem a ocasião para se divertirem, sem
exageros ― encara Jordyn, que se encolhe em seu assento.
― Que legal! ― Ian pula empolgado.
― Fico feliz por terem gostado. Agora, tenho trabalho a fazer ―
Johnatan se vira para Donna. ― Ajude-os no que for preciso ― eu o escuto
murmurar.
― É claro, senhor ― ela acena sorrindo, dando-lhe espaço para
passar.
Todos nós suspiramos surpresos e, ao mesmo tempo, chocados.
― Isso é bem diferente do que estamos acostumados ― Peter
sussurra.
― Nem me fale ― James dispara automaticamente.
― Eu não sei o que deu nele, mas acho que gosto mais desse
Makgold do que o de antigamente. ― Jordyn desabafa batendo palmas.
― Crianças, não se esqueçam de agradecê-lo ― Donna nos lembra.
― Isso é demais ― Ian corre até Donna para abraçar sua cintura. ―
Mãe, quero estar perfeito para as garotas.
― Oh... Ian? ― finjo estar horrorizada com sua traição, fazendo todos
rirem.

Johnatan não desce para o jantar, mas pede sua refeição em sua sala.
Fico apreensiva por ele não aparecer nas últimas horas. Na cozinha, todos
estão empolgados, eu também desejo estar, mas é impossível fazer meus
pensamentos pararem de se preocupar com meu russo misterioso.

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Depois que comemos, ajudo Donna com a louça enquanto escutamos


Jordyn falar de como quer seu vestido. Sinto-me cansada física e
mentalmente, preciso ir para o meu quarto. Antes de seguir pelo corredor,
aproveito para olhar os cavalos correndo pelo campo iluminado pelos postes
do jardim.
Caminho presunçosamente para o meu quarto, tomo um banho rápido,
coloco minhas roupas de dormir e me rastejo para a cama. A coberta grossa e
macia me aquece rapidamente. Observo o buquê de rosas na minha cômoda
por um longo tempo até sentir minhas pálpebras pesarem, fechar meus olhos
e cair num sono profundo.

Acordo com um espasmo. Pisco meus olhos a fim de clarear meus


pensamentos. Inspiro profundamente e me sento na cama sentindo o suor em
minha nuca. Prendo meus cabelos num coque quando me levanto para ir ao
banheiro lavar meu rosto, no espelho, vejo meus olhos ainda cansados.
Pelas janelas, vejo as sombras da noite invadirem minha parede de
cristal. Pego o celular para ver as horas, soltando uma respiração pesada por
ser duas da manhã. Encaro meu quarto com a ideia de ver Johnatan. Saio para
fora sem deixar que meu subconsciente me leve até outra direção.
Assim que chego à entrada principal escuto o barulho de um carro.
Corro até uma das janelas, vendo o conversível de Johnatan sair. Engulo em
seco por pensar que ele possa estar voltando a caçar. Ele nem ao menos veio
me ver! Meu coração se aperta devido às ocorrências das últimas horas.
Se ele estiver inseguro e fora de controle, será culpa minha, mesmo eu
não estando completamente ciente do que está acontecendo, mas não posso
deixá-lo cair. Eu tenho que tê-lo comigo. Caminho até a cozinha para
preparar um chocolate quente. Não ouso ligar as luzes, tendo a iluminação do
lado de fora que invade como sombras pela cozinha.

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Perco a conta de quantas vezes olhei para o relógio enquanto


bebericava minha bebida e, assim que termino, volto para a entrada a fim de
me sentar nas escadas e aguardá-lo. Minha impaciência começa a tomar conta
de mim quando vejo que já são quase quatro da manhã.
Aperto meus braços em volta do meu corpo ao pensar que ele pode
estar em perigo. E se os homens o pegaram? E se algo aconteceu com ele? Se
ele se machucou? Meu coração dispara quando toda minha aflição chega ao
ápice. Engulo o nó na garganta, expulsando as lágrimas do meu rosto.
Levanto-me, sentindo minhas pernas bambas, arfo com a angústia e o
desespero.
Depois de um longo tempo, escuto o portão destravar, aproximo-me
da janela para ver seu carro entrando. Suspiro aliviada, mas não o suficiente
para a raiva não tomar conta de mim. Saio da casa, caminhando em passos
firmes até a garagem enquanto encaro seu carro prata reluzente.
Quando Johnatan sai do carro, eu o vejo vestido com jeans e camisa
cor de marfim com mangas. Paro no meio da imensa garagem de granito,
cruzando meus braços para encará-lo. Na verdade, encaro seus cabelos
rebeldes. Assim que vira seu corpo, para abruptamente, como se tivesse
levado um susto.
Seus olhos estão febris e a mandíbula travada. Eu conheço aquele
lado sombrio, meu coração dói ao notar o leve corte acima da sua
sobrancelha esquerda.
― Mine ― ele me observa surpreso enquanto permaneço séria.
― Encontrou o que procurava? ― pergunto com ironia, sentindo
meus olhos arderem com as lágrimas.
― Mine... ― reluta balançando a cabeça. ― Você sabe que estou
fazendo isso para mantê-la segura...
― E você não pensa em si mesmo? Johnatan, você está fora do

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controle...
Seus olhos se tornam frios.
― Eu estou no devido controle, acredite. Não posso pensar em mim
sabendo que tem alguém querendo tirá-la de mim. Como vou viver em paz
com isso, Mine? ― sua respiração ofegante se altera.
― Você poderia ter me avisado ― engulo em seco.
― Para quê? ― ele pergunta com rispidez.
Fico surpresa por sua fúria e fecho minhas mãos.
― Eu acordei e o vi sair. Fiquei te esperando, louca de preocupação,
pensando no pior. Eu não sabia onde você estava... Você nem ao menos foi
me ver essa noite ― lamento, sentindo as estúpidas lágrimas caírem.
Johnatan me olha surpreso. Sua expressão dura suaviza em apreensão
ao ver meu desespero.
― Mine... Me... Me perdoe ― ele caminha em minha direção.
Afasto-me secando meus olhos.
― Você pensa que ninguém se preocupa com você, mas eu estou
aqui. Eu me preocupo e me importo com você. Tenho medo de que algo lhe
aconteça. Eu tenho medo de não o ter por perto, tenho medo de me sentir
sozinha e não quero isso. Dói muito ― aperto meu peito, querendo afastar a
angústia dentro de mim.
― Mine, eu não queria causar isso em você...
― Mas está causando ― choro.
― Por favor, não chore ― ele se aproxima para me abraçar, mas
recuso.
Preciso de espaço para respirar.
― Preciso ficar sozinha ― digo soltando minha respiração pesada ao
me afastar.

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No meu quarto, rodo a chave duas vezes, sigo para debaixo da minha
coberta a fim de me enterrar em meu colchão e chorar pelos meus medos.
Uma parte de mim sente-se forte o bastante para tê-lo ao meu lado, eu me
sinto mais viva quando o tenho comigo em todos os momentos. A outra parte
está fraca ao pensar no que pode lhe acontecer se houver descuido.
Eu não posso me afastar. Não posso deixá-lo sozinho mesmo com o
mundo caindo em nossas cabeças. Devo ser cuidadosa, devo protegê-lo
mesmo que tudo que eu faça seja inútil, mas tudo isso me leva pensar que
aguentaria suas dores e o aceitaria da maneira que é.
Seco minhas lágrimas, fechando meus olhos em busca de conforto,
meu coração continua dolorido, mesmo assim, adormeço ainda mais cansada.
Desperto com a claridade em meu quarto. Vejo uma rosa em meu
travesseiro, estico minha mão para pegá-la, mas estranho quando noto um
papel em minha palma. Pisco para focalizar minha visão embaraçada e
observo as letras de Johnatan no pequeno bilhete.

"Me desculpe"

Pego a rosa dando um leve sorriso. Surpreendo-me com mais um


bilhete ao lado, pego-o, lendo a mesma frase. Apoio-me em meu cotovelo e
me surpreendo com a cama cheia de bilhetes espalhados. Sento-me
recolhendo todos, lendo suas desculpas incansavelmente. Abro ainda mais
meus olhos ao encontrar também pelo chão. Todos eles se espalham até o
banheiro. Rastejo para recolhê-los.
― Oh, meu Deus! ― Meu sorriso se abre quando encaro meu espelho
escrito com letras gritantes em batom vermelho: "ME DESCULPE".
Aproximo-me maravilhada com a perfeita rosa que ele desenhou com
o batom. Eu nem mesmo vou ter coragem de limpar sua obra de arte, mas

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será preciso. Faço bico de volta ao meu quarto para guardar meus bilhetes.
Pego meu celular e fico pasma com a quantidade de mensagens de Johnatan,
mas me assusto ainda mais com as horas.
― Droga ― murmuro vendo o quanto estou atrasada.
Corro para o banheiro, arrancando minha roupa antes de entrar
debaixo do chuveiro.
Chego à cozinha como um flash. Donna está guardando a louça.
― Olá, Mine!
― Eu estou duas horas atrasada ― informo, sem mencionar que
passei a última meia hora limpando o espelho.
― Não precisa se preocupar, está tudo tranquilo na casa. Sente-se
para tomar seu café da manhã.
Faço isso obediente, servindo-me com chá e torradas.
― O senhor Makgold está? Preciso falar com ele ― digo com
urgência de boca cheia.
― Ele teve que sair para trabalhar ― Donna me informa.
Forço a comida a descer. Eu preciso falar com ele, me desculpar
talvez. Isso não deve ser dito ao telefone.
― Tudo bem... ― murmuro.
Assim que Jordyn aparece saltitante na cozinha, olha-me erguendo
sua sobrancelha.
― Olha quem se atrasou hoje ― ela zomba. Donna ri da minha
careta. ― Você tem dois quartos para arrumar. Uma sala para limpar e os
fundos da casa.
Pisco para ela horrorizada.
― Jordyn, tenho certeza de que estão limpos ― resmungo, fazendo-a
ri.
― Eu estou brincando. Hoje vamos sair para fazer compras ― ela

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bate suas mãos, empolgada.


― Hã? Os vestidos para a festa?
― Sim, mas você não vai ― ela se empolga.
― Hã?! ― fico perplexa.
― Jordyn! ― Donna a repreende.
― Vamos fazer surpresa, Donna. Mine, você precisa ficar aqui,
prometo comprar o vestido mais lindo da loja.
― Como você vai saber minhas medidas? ― finjo implicar. Ela
mostra sua língua ― Tudo bem, confio em você. De qualquer forma, eu não
queria ir mesmo ― digo com um suspiro desanimado.
― Ótimo ― ela salta. ― Vamos, Donna!
― Querida, você tem certeza de que não quer ir? ― Donna se
aproxima para acariciar meus cabelos.
― Sim, eu tenho ― asseguro. ― Vou ficar um pouco com os cavalos.
Donna se despede seguindo uma Jordyn saltitante.
Quando termino de comer, arrumo tudo e volto para o meu quarto
para verificar as mensagens. Todas elas estão escritas: "Me desculpe". São
mais de quarenta mensagens, quando passo para a última, sorrio com
seu "POR FAVOR!". Se ele soasse dessa forma junto ao meu ouvido, eu não
deixaria que repetisse mais de três vezes, mas saber o quanto está angustiado
parte meu coração.
Sem conseguir me conter, aperto a tecla do celular que traz seu
número registrado.
― Mine? ― ele atende na metade do primeiro toque, surpreendo-me.
Sua voz pelo telefone é mais potente, mas também preocupada. Faço
beicinho.
― Oi ― respondo timidamente.
― Oi ― ele parece mais aliviado ao me ouvir. ― Você está bem?

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Suspiro com sua voz profunda.


― Sim. Está muito ocupado?
― Não muito, mas estarei mais tarde ― ele parece cansado.
― Eu queria te ver ― digo, jogando-me na cama e encarando o teto.
― Eu também queria continuar com você assim que acordasse ―
franzo o cenho ao escutá-lo.
― Você passou a noite no meu quarto? ― pergunto chocada.
― Eu já não consigo dormir direito devido aos pesadelos. Deitar na
minha cama sabendo que eu magoei a pessoa com quem mais me importo
nesse mundo é imperdoável. ― Seu desabafo faz meu coração se apertar.
― Você poderia ter me acordado ― digo mais suave.
― Você é linda dormindo. Eu não queria atrapalhar seu sono, por
isso, fiquei escrevendo minhas desculpas sem tirar meus olhos de você. ―
Posso escutar seu sorriso.
― Eu ronquei? ― brinco. Ele ri.
― Como um leitão ― responde.
― Hey! ― protesto.
Sua risada rouca é contagiante.
― Eu estou brincando.
Mesmo que o queira presente, meu coração disparado ainda está
agoniado.
― Eu também tenho que pedir desculpas. Só estava preocupada com
você, mas acabei me descontrolando. Eu não sou assim... Me desculpe ―
lamento com cuidado.
― Você não tem que se desculpar por isso. Eu deveria estar com
você como prometido, mas meu desespero falou mais alto. Eu não a coloquei
em primeiro lugar ― a voz baixa me revela sua angústia. ― Fiquei louco ao
pensar no pior.

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― Você pode conversar comigo quando se sentir angustiado ―


aconselho enquanto seco minhas lágrimas.
― Eu prometo que farei isso ― sua voz firme me aquece de dentro
para fora.
― Você também tem seus medos, não é? ― murmuro escutando sua
respiração.
― Mine, não posso ter perder. Não vou suportar que algo te
aconteça. Eu preciso protegê-la de tudo, mas, agora, pela primeira vez eu
não tenho soluções. Não sei se a notícia se espalhou, não sei se é uma ou
mais pessoas querendo me chantagear. Eu não posso falhar ― ele inspira
sobrecarregado. Quero abraçá-lo para tirar toda a sua agonia. ― Você é tudo
para mim. É tudo que eu tenho nessa minha vida miserável.
― Oh... Johnatan ― sufoco com a emoção em meu peito.
Minha respiração se corta quando uma nova onda de choro me
consome.
― Por favor, não chore ― ele implora com carinho. ― Eu não posso
sair correndo daqui agora para te ter em meus braços ― lamenta. Tento
controlar minhas emoções.
― Não quero interromper seu trabalho ― digo puxando o ar com
força.
― Você pode me ligar o quanto quiser. Eu pararei tudo que estiver
fazendo só para ter minha atenção apenas em você ― ele me conforta.
― Você está no seu escritório?
― Na sala de reuniões, alguns assessores me esperam ― responde.
― Pensei que essas pessoas o esperassem na sala e não você ―
brinco com a voz rouca.
― Como é bom ouvir seu sorriso ― ele glorifica apaixonado, coro
maravilhada. ― Mas é exatamente isso que acontece. Eu os expulsei para

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falar com você.


― O quê? Eu vou desligar, vou deixar você trabalhar ― disparo com
pressa.
― Não precisa se sentir culpada. Como disse, você pode me ligar o
quanto quiser. ― Seu conforto me faz sorrir sem jeito.
― Certo! Tenha um bom trabalho ― digo ao me despedir.
― Obrigado. Até mais tarde ― despede-se, e suspiro ao desligar.

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29 – CONVIDADOS

Depois de falar com meu pai e saber como ele está, sigo para fora do
quarto a fim de me encontrar com os cavalos.
No celeiro, escuto Ian tentar treinar Lake, mas ele apenas caminha ao
redor do garoto. Sorrio me sentando no feno. Hush passa por mim virando
sua cabeça em minha direção como se me desse bom dia, deslizo minha mão
em seu pelo negro quando ele se afasta. Observo Sid caminhar para fora
tranquilamente e, em seguida, correr com toda sua elegância. Suspiro aliviada
por ela estar bem, adoraria poder acariciar seu pelo branco, mas ela é a única
que não deixa que eu me aproxime.
― Olá, dorminhoca ― escuto James atrás de mim carregando os
fenos para dentro do celeiro.
― Olá, James ― sorrio para ele.
James me olha desconfiado, afastando o suor de sua testa com a mão.
― Me deixa adivinhar. Jordyn saiu e não te levou ― cogita.
― Como sabe?
― Ela ficou o café da manhã todo falando em comprar isso e aquilo
― diz com uma careta. ― E você está aqui... então, é meio óbvio.
― Ela disse que vai me fazer uma surpresa. Espero que me agrade ―
digo rindo.
― Ela e Donna vão escolher nossas vestimentas. Eu gosto das minhas
roupas, o que há de mal nelas? ― dispara arregalando seus olhos claros.
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― James... James ― escutamos Ian se aproximar balançando sua


cabeça. ― O mal em suas roupas são o cheiro. Aprenda comigo, eu sou
cheiroso e você não. ― Ian olha para si mesmo, depois para o amigo.
Dou risada quando James o fuzila com seus olhos, ameaçando correr
atrás para pegá-lo. Ian escapa gargalhando para longe. Eu o observo tropeçar
em seus pés e cair na grama próximo à Sid. James zomba, mas assisto
impressionada quando a égua se abaixa em direção ao garoto, fazendo-o
segurar sua cabeça para ajudá-lo a se levantar com facilidade. Em seguida,
corre de volta para Lake nada surpreso.
― Sid gosta de Ian ― disparo sem pensar.
― Todos eles gostam de Ian. Eles o conhecem desde que era
praticamente um bebê. ― James revela. Impressiono-me ainda mais.
Retorno a olhar Sid caminhar calmamente pelo campo como se
apreciasse o sol da manhã.
― Acho que ela não vai com a minha cara ― lamento mais uma vez
em voz alta.
― Ela é uma égua boa. Não se sinta tão triste. No começo, ela
também não gostava de mim ― James ri, mas logo volto minha atenção para
ele.
― James, onde está sua família? ― minha pergunta o pega de
surpresa.
― Meus pais faleceram quando eu tinha dez anos. Eu estava morando
com meus avós fazia um ano. Eu não me lembro do que aconteceu. Foi
durante uma viagem... Acidente de avião, eu acho ― James revela com a
mandíbula apertada. Lamento por ter lhe perguntado algo tão pessoal.
― Me desculpe, eu não queria chateá-lo ― murmuro.
― Está tudo bem. Eu não me lembro de muita coisa, só queria
entender como tudo aconteceu. Na época parecia tudo tão estranho ― ele

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suspira. ― Isso é bom, de certa forma. Foi melhor eu não saber os detalhes.
Balanço minha cabeça concordando.
― Eu também perdi minha mãe quando era muito pequena, nem
mesmo a conheci. Mas papai preencheu todo o vazio do meu coração ― digo
com um leve sorriso.
― Você nunca sentiu falta dela? ― sua pergunta me faz pensar.
― Algumas vezes. Nas comemorações, no meu aniversário, no dia
das mães e quando comecei a me tornar mocinha ― coro o fazendo rir. ―
Papai sempre foi paciente, mas, às vezes, ele parecia muito inseguro.
― É uma forma de te proteger ― James me assegura e franze a testa.
― Eu não quero ser um pai viúvo com uma filha adolescente tendo seus
hormônios florescendo. Com todo respeito, acho que foi difícil para seu pai
lhe dizer algo sobre menstruação. ― O horror de James me faz rir.

Fico no campo com James e Ian enquanto os assisto se provocar.


Minutos depois, somos distraídos com a chegada de Jordyn e Donna no carro,
junto com Peter.
Jordyn corre para dentro da casa com várias sacolas, deixando Donna
e Peter com o restante.
― Você não quer ver o que ela trouxe? ― Pergunto olhando para
James.
― Nem pensar, ela vai ficar soltando aqueles gritinhos empolgados
― James faz uma careta.
Levanto-me num pulo.
― Vou ver o que ela aprontou dessa vez ― resmungo.
― Boa sorte ― James sorri.
Sigo preguiçosa até a casa, vendo Peter seguir para a garagem. Assim
que ponho meus pés na casa, encolho-me com o jeito empolgado de Jordyn.

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Ela corre para me abraçar, parecendo radiante. Nunca a vi tão feliz.


― Comprei seu vestido! ― ela pula ainda com os braços ao meu
redor.
― Espero que sirva ― provoco-a.
― Eu sou especialista em questão de roupas sob medida ― ela sorri.
― Temos que nos aprontar.
Arregalo meus olhos.
― Jordyn, ainda é cedo. A festa só será à noite ― explico, vendo seus
olhos se revirarem.
― É uma grande festa, Mine. Isso leva horas de preparo para uma
mulher. Temos que estar fascinantes ― seu tom ameaçador bizarro me
assusta.
Em seguida, Donna surge na sala com um sorriso carinhoso, ela
parece mais jovem com roupas simples, sem aquele avental.
― Fala para mim que a pilha dela vai descarregar daqui alguns
minutos ― peço à Donna, suplicante.
― Vamos ter que aturar essa bateria até o final da festa ― ela balança
a cabeça fingindo lamentar. ― Vão se aprontar enquanto eu preparo alguma
coisa para comer.
― Ótimo! ― Jordyn exclama. ― Donna, vou precisar de você para
cuidar dos meus cabelos e dos da Mine ― ela olha meus fios com uma
careta.

Hoje, minha tortura na produção com Jordyn será um tormento. Sou


levada para seu quarto aos empurrões. O ambiente é amplo, com tons suaves
de rosa e azul bebê. Sua janela aberta oferece uma linda vista para o campo.
Pisco meus olhos para seu banheiro. Na pia, há muitos produtos de beleza,
maquiagem e escovas.

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― Você tem uma banheira? ― digo encarando seu banheiro branco.


― Sim ― ela sorri antes de se aproximar para ligar a água e jogar
alguns produtos. ― Eu pedi para o senhor Makgold.
― Pediu?
Eu ainda estou chocada com a quantidade de objetos em seu banheiro.
― Sim, no meu aniversário ― revela.
― Uma banheira de aniversário... ― Ok, estou sendo idiota.
― Mine, para de ser boba. Aliás, banheiras são chiques. Cada um tem
o que deseja ter ― ela me explica ao se defender. Quero rir da sua expressão
sonhadora.
― Isso foi muito gentil ― digo pegando um creme de pele para dar
uma olhada.
― Eu pensei que não conseguiria, mas o chefe me surpreendeu ― ela
sorri brevemente, mas logo fica séria. ― Agora, entre nessa banheira e
relaxa. Vou buscar um roupão.
Jordyn é exigente, não tenho como protestar. Faço uma careta assim
que ela sai do banheiro. Tiro minhas roupas, encarando a banheira com
espuma. Ao entrar na água, relaxo, recostando-me na borda. Isso é bom, isso
é muito bom! Fecho meus olhos, apreciando a água quente e perfumada.
Escuto a porta bater assim como o assovio de Jordyn ao invadir o local, não
ouso abrir meus olhos até sentir algo gelado em minhas pálpebras.
― O que é isso? ― assusto-me, tirando a coisa gelada dos meus
olhos.
― Pepino. O quê? Eu vejo isso em filmes. Mine, entra no espírito de
festa ― ela se aproxima para tirar as duas rodelas de pepinos das minhas
mãos, voltando a colocar sobre os meus olhos.
― Você está ficando louca.
Novamente estranho ao sentir algo cair na água, intensificando o

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cheiro de flores.
― Nada como pétalas de rosa ― eu a escuto. Automaticamente, tiro
os pepinos dos olhos e a vejo jogar as pétalas na banheira.
― Onde você achou isso? ― pergunto desconfiada.
― No seu quarto. Fui pegar algumas toalhas e encontrei várias delas.
Anda pegando as rosas do Poderoso Chefão, não é?
Seria cômico se não fosse desconfortável.
Balanço minha cabeça rapidamente.
― O quê?... Não... Sim... O quê? ― disparo confusa.
― Eu guardarei seu segredo, mas se o chefe vir aquilo no seu quarto,
vai te matar. Temos sorte que ele não entra em nossos quartos ― ela diz
fazendo meus olhos se arregalarem. Tento disfarçar para parecer chocada. ―
Uma vez, eu peguei duas rosas da estufa escondida, mas não tive sorte, ele
me pegou no meio do caminho. Não queira nem imaginar sua reação.
Fico surpresa.
― Ele brigou com você? ― pergunto curiosa.
Jordyn se afasta para separar alguns produtos na sua pia.
― Eu preferiria levar uma surra do que escutá-lo nervoso. Às vezes,
ele me dá medo quando está muito bravo ― Jordyn desabafa. Encolho-me na
banheira.
― Espero que ele não veja ― aperto meus lábios. Não posso dizer
que Johnatan deixou o buquê em meu quarto. ― Aliás, não toque em minhas
rosas novamente. ― Eu declaro como aviso.
― Se continuar sendo malcriada, vou dizer ao senhor Makgold que
pegou uma dúzia delas ― ela desafia com suas mãos na cintura.
― Você é impossível, Jordyn ― jogo minhas mãos para cima
exasperada.
Ela gargalha com minha derrota e me entrega um roupão médio

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branco.
Depois que saio da banheira, Jordyn exige que eu use um creme
corporal, não posso lutar contra ela. O creme com um aroma floral refresca
minha pele; assim que termino, sou obrigada a sentar na cadeira para deixá-la
trabalhar com meus cabelos. Eu nem mesmo tenho o direito de me olhar no
espelho, nem quando ela corta minhas pontas, desfiando alguns fios, mas já
deixo avisado que não o quero curto.
Não sei por quanto tempo ela fica modelando e escovando meus
cabelos. Os cheiros dos cremes são maravilhosos. Depois de estar satisfeita,
Jordyn trabalha com meu rosto, fico em silêncio enquanto se ocupa com as
maquiagens. Quando me sinto livre de sua produção, Donna aparece no
quarto com um leve sorriso.
― Bem, Donna, esse cabelo é todo seu ― Jordyn anuncia.
Fico carrancuda. Juro que meu bumbum está dolorido.
Meus cabelos nunca foram tão bem-cuidados. Donna trabalha numa
trança cascata, deixando o restante dos meus cabelos soltos com cachos
modelados. Jordyn se ocupa em pintar as unhas dos meus pés e das minhas
mãos num tom claro. Quando finalmente consigo me livrar do dia de beleza,
Jordyn permite que eu me olhe no espelho.
Pisco os olhos para focalizar meu reflexo. Meus cabelos continuam
longos, estão comportados, modelando meu rosto de forma levemente
repicada. Na maquiagem, Jordyn não exagerou, ao mesmo tempo que parece
suave, é marcante, principalmente nos olhos. O rímel dá formas mais longas
aos meus cílios, e o lápis escuro destaca meus olhos cinza. A sombra em
minhas pálpebras é uma mistura de dourado com preto esfumado muito
suave. Até mesmo minha sobrancelha está bem-feita.
Jordyn sorri ao ver meu reflexo. Quando terminou de pintar minhas
unhas, minutos atrás, ela começou a se arrumar. Sua maquiagem é mais leve

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que a minha, no entanto seus olhos se destacam num esfumado escuro.


― O que achou? ― pergunta sorrindo.
― Acho que dessa vez você se superou ― aprovo tendo suas palmas
empolgadas.
― Eu sabia disso, sou boa no que faço. Espere até ver seu vestido.
Aliás, ele está na caixa em cima da minha cama junto com seu sapato numa
caixa preta ― informa, sentando-se na cadeira enquanto Donna volta a
trabalhar com os cabelos.
― Eu vou para meu quarto ― murmuro. ― Obrigada pelo penteado,
Donna. Ficou lindo ― digo beijando seu rosto.
― Não precisa agradecer, querida. Vocês vão ficar maravilhosas. Nós
nos vemos mais tarde ― ela sorri com carinho.
― Até mais ― digo roubando um creme corporal do estoque de
Jordyn. Saio correndo quando ela tenta tomá-lo de mim. Donna ri de nossa
infantilidade.
Pego as duas caixas em cima da cama de Jordyn e sigo para o meu
aposento.
Ao olhar as horas, pisco surpresa por ser muito tarde, em breve
estaremos a caminho da festa. No meu celular não tenho ligações de
Johnatan, suspiro com saudades.
Decido me distrair com as caixas. Minha primeira opção é a caixa
menor. Assim que a abro, arregalo meus olhos para o salto. Eu não quero cair
com isso. A sandália dourada é delicada demais com pedrinhas nas correntes.
Não vou resmungar, por isso, decido colocá-la, agradecendo por minhas
unhas estarem “feitas”.
Ao me levantar, caminho tranquilamente pelo quarto. Algumas vezes,
meus pés desacostumados, perdem o equilíbrio. Respiro profundamente e
mantenho minha postura reta, caminhando pelo meu quarto devagar, mas de

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forma confiante. A sandália não é desconfortável, apenas o salto me faz sentir


impotente. Tento me lembrar da vez em que Jordyn me ajudou com uma
bota, mas os saltos eram fáceis, nada comparado a esses. Suspiro, girando
meus calcanhares voltando a caminhar, dessa vez, sem fazer meus pés
entortarem.
― Isso é ridículo! ― reclamo para mim mesma por estar andando
como uma tola a fim de ter um pouco de sucesso com a minha pouca
confiança com os sapatos.
― É sensual e não ridículo ― escuto a voz grossa e familiar atrás de
mim. Viro-me devagar para ele.
Johnatan está glorioso como sempre, com uma camisa branca
enrolada até o cotovelo, calça social escura e sapatos bem-engraxados. Ele
está encostado em minha porta de braços cruzados, expondo seus músculos
por baixo da camisa. Pergunto-me quantos minutos ele esteve ali me
assistindo desfilar. Seus olhos azuis em chamas percorrem por todo meu
corpo até chegar aos meus saltos. Eu ainda estou com o roupão, mas seu
olhar devorador faz minhas pernas se apertarem e meu coração acelerar
― Eu não esperava você aqui ― digo sem jeito.
― Nem eu esperava entrar em seu quarto e encontrá-la apenas com
um roupão e de saltos ― ele inclina sua cabeça, levanta sua sobrancelha e
morde o lábio.
Seguro meu gemido por ele parecer extremamente sexy daquela
forma.
― Você parece incrível. Jordyn fez um ótimo trabalho. Está usando
algo por baixo? ― pergunta sem tirar seus olhos dos meus.
Sua pergunta repentina me pega de surpresa.
― Não ― minha voz sai trêmula e sou incapaz de respirar. ― O que
você está fazendo aqui?

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Seu sorriso surge de forma descarada. Assisto-o fascinada, meu corpo


parece reagir com o seu simples gesto perverso.
― Se você puder adivinhar... ― seu sorriso se abre ainda mais. Meus
olhos se alargam.
― Eu acabei de fazer o cabelo... ― Tento me afastar, mas, para
minha surpresa, ele dá sua risada. Meu coração se agita, sorrio só de escutar
como sua risada rouca sai livremente.
― Por mais que eu queira me enterrar em você neste momento, sei
que vamos nos atrasar, mas estou aqui por outra coisa.
Johnatan se afasta da porta para se aproximar de mim. Noto em suas
mãos uma caixa retangular de veludo preta, franzo a testa vendo seu sorriso
se tornar mais suave, assim como seus olhos mais brilhantes. Ele estende a
caixa em minha direção.
― O que é isso? ― pergunto com um leve sorriso.
Johnatan abre a caixa, surpreendendo-me com um lindo colar
delicado, junto dele há um bilhete.
― Minha redenção, meu ponto fraco. ― Johnatan sussurra lendo o
que está escrito no papel. Fixo meus olhos nos seus intensos, mas logo volto
a atenção para o colar.
A corrente fina dourada me apresenta em destaque uma linda pedra
vermelha em forma de coração. A pedra brilhante parece delicada e, ao
mesmo tempo, forte. Eu não esperava por algo assim.
― É muito lindo ― elogio com emoção em minha voz. Seus olhos
azuis brilham em excitação.
― É seu ― ele sorri retirando o colar da caixa. Antes que ele a feche,
pego o bilhete. Minha reação o deixa confuso.
― Eu guardo seus bilhetes. Gosto deles. Faço coleção ― confesso
timidamente. Johnatan abre seu sorriso de tirar o fôlego.

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― Vire-se ― ele ordena.


― Diga-me que isso é só um colar barato ― peço.
Johnatan parece manter sua na pose defensiva e suspira.
― É um colar barato ― ele murmura.
Viro-me em seguida, afasto meus cabelos e o deixo colocar o lindo
colar em meu pescoço.
― Ouro e rubi.
Arregalo meus olhos quando termina de colocar o colar em meu
pescoço. De repente, sinto sua respiração em minha nuca. Arrepio-me quando
seus lábios quentes beijam minha pele exposta, seus braços me apertam junto
ao seu corpo. O gesto doce me deixa encantada.
― Eu não posso aceitar, Johnatan ― sussurro suavemente ao sentir
seus lábios roçando minha nuca até chegar ao meu ouvido. Ele inspira meu
perfume e geme.
― Não estou lhe dando opções de aceitar ou não ― murmura
mordendo meu lóbulo, contorço-me em seus braços e fecho meus olhos. ―
Esse colar é seu e vai continuar com você. Eu não quero que o tire. Nunca.
Posso sentir a força em sua voz, assim como sua ereção em meu
traseiro quando ele me puxa mais para perto de seu corpo.
― Promete? ― pede e gira meu corpo com facilidade para ficar de
frente para ele.
Vejo seus olhos arderem para mim e escorregarem para meu colo
onde o rubi está localizado. Fico cada vez mais ofegante quando suas mãos
deslizam por meu corpo me fazendo grudar mais nele e sentir seu perfume
másculo.
Não posso resistir a ele, tendo seu total poder em meu corpo com
apenas seus olhos cheios de desejo em mim. Meu peito se enche de
ansiedade.

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― Eu prometo ― minha voz sai rouca sem conseguir lutar contra


aquilo. É uma forma automática do meu ser, permitir que tudo que Johnatan
faz tome conta do meu corpo.
Ele não sorri, apenas mantém a intensidade, acariciando meu rosto
com suas mãos.
― Mine ― ele murmura meu nome suavemente, aproximando seus
lábios dos meus. Fecho meus olhos em antecipação, inebriada com seus
toques e seu perfume. ― Minha Roza.
Seus lábios grudam-se nos meus, aquecendo meu corpo
completamente. Abraço seu pescoço, trazendo-o para mim, aprofundando
nosso beijo, deixando nossas línguas explorarem uma a outra. Enrosco meus
dedos em seus cabelos macios e acaricio sua nuca com a outra mão. Johnatan
me beija delicadamente.
Cada pressão em seus lábios contra os meus me faz desejá-lo ainda
mais. Puxo a ar em meus lábios quando sua boca se desgruda da minha,
deslizando por meu pescoço para pressionar a pedra. Arrepio-me por inteira
ao sentir-me tão sensível ao toque suave, é como se estivesse beijando meu
coração.
Em seguida, seus lábios retornam para os meus, e agarro seu corpo
quando suga minha língua. Sinto minhas costas contra a parede e suas mãos
deslizando por meu corpo. Johnatan abre meu roupão, fazendo-me gemer em
seus lábios quando toca minha pele nua. Ele se afasta para deslizar o nariz
por meu pescoço, seguindo em direção aos meus seios.
― Eu amo seu cheiro ― arrepio-me quando sussurra junto à minha
pele exposta.
Agarro sua cabeça, enroscando meus dedos em seu cabelo ao sentir
sua língua provocar meu mamilo enrijecido. Sua boca cobre meu seio,
sugando-o com intensidade. Gemo arqueando meu corpo contra o seu. Suas

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mãos provocam cada parte sensível da minha pele, fazendo minhas pernas
esfregam-se contra as suas.
Ao se afastar, vejo o olhar faminto em meu corpo. Fico ofegante,
observando-o me analisar e estremeço quando escuto suas palavras russas
saírem ofegantes, meu sexo se aperta dolorosamente. Ele sabe que quero
entender as palavras, mas apenas sorri, assentindo como se lesse meus
pensamentos.
― Você não faz ideia do quando está gostosa. ― Meu corpo vibra
com a provocação. ― Está tão linda.
Sua mão se ergue para tocar meu rosto, deslizando seu polegar por
meu lábio inferior. Encaro seus olhos com luxúria, alcançando seu dedo e o
sugando suavemente.
― Mine ― seu sotaque russo me chama em alerta. De imediato,
agarra meu corpo e levanta minhas pernas até a altura de seus quadris.
Sua boca volta a cobrir a minha, num beijo urgente cheio de desejos
silenciosos. Envolvo meus braços em seu pescoço, grudando meu corpo
contra o seu ao sentir sua ereção por baixo de sua calça, mas ele recua. Gemo
quando o sinto fechar meu roupão. Tento protestar em seus braços, fazendo-o
sorrir, meus lábios são incapazes de deixá-lo.
Quando ele se afasta para me olhar, abro meus olhos me sentindo
completamente inebriada, seus braços me seguram no lugar sem nenhum
esforço, eu o abraço, inspirando o perfume em seu pescoço.
― Se ficarmos assim, iremos nos atrasar. Eu tenho que tomar um
banho e sei que você precisa de tempo para terminar de se arrumar ―
murmura em meus cabelos.
― Eu me sinto dolorida ― esfrego-me em seu corpo o fazendo sorrir
perversamente.
― Gosto de saber disso. Aumenta meu tesão por você ― dispara

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enquanto eu coro.
― Eu não me importo se nos atrasarmos ― murmuro, apertando-o
em meus braços.
― Mine, Mine ― ele balança sua cabeça com um leve sorriso, mas
me afasta de seu corpo gentilmente. ― É uma festa importante, de negócios.
Eu não a quero vestida só com um roupão ― sussurra depois de beijar minha
testa.
Levanto minha cabeça para encará-lo.
― O que te faz pensar assim? ― pergunto chocada.
Seus olhos parecem sem foco, como se estivesse perdido em
pensamentos.
― Eu a quero linda essa noite. Aqui você parece sensual, mas
podemos dar um jeito em tudo isso mais tarde. Eu só quero fazer as breves
reuniões da festa olhando para você ― declara acariciando meus cabelos.
Franzo a testa e sorrio.
― Serei como uma distração? ― pergunto desconfiada.
― Completamente ― aprecia beijando meus lábios brevemente.
― Então, irei com esse roupão ― disparo.
Seu sorriso desaparece e seus olhos me encaram alertas.
― Nem pensar! Essa visão será s apreciada apena por mim ―
arrepio-me excitada por seu tom exigente.
― Quem sabe mais tarde ― mordo meu lábio.
Seu sorriso surgir novamente.
― Vou esperá-la ansiosamente ― ele se inclina para beijar meus
lábios e se afasta. ― Estarei te esperando na festa, infelizmente, tenho que
receber alguns empresários da Europa mais cedo. Até lá, não se atrase.
Levanto minha sobrancelha ao ver sua piscadela em minha direção
antes dele sair do quarto. Assim que a porta se fecha, caminho até o banheiro.

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Vejo pelo espelho meu rosto corado realçar ainda mais meus olhos, assim
como o rubi delicado que se destaca em minha pele.
Sorrio para mim mesma por tê-lo comigo, não tivemos nem tempo
para conversar, foi tudo tão intenso... e lindo... e dolorido... Eu ainda o quero
desesperadamente. Volto para o quarto e pego seu bilhete que havia deixado
cair no chão assim que ele me beijou, guarda-o junto com os outros.
Caminho pelo quarto, sorrindo com os saltos, acho que consigo me
acostumar com isso por algumas horas. Tiro para descansar meus pés
enquanto verifico a caixa principal em minha cama.
Assim que a abro, pego o vestido que Jordyn escolheu para mim.
Analiso cada detalhe do tecido em minhas mãos. A peça sem alça é longa e
dourada, numa mistura de pequenas pedras de cores cintilantes, que variam
entre as mais escuras até as mais claras, seguindo a cintura até se espalharem
pelo tecido chiffon da saia. Nunca usei nada parecido!
Vou até meu guarda-roupa pegar uma calcinha e sutiã sem alça de
tons claros. Em parte, devo agradecer a Jordyn e Donna pelas compras extras.
Coloco minhas roupas íntimas, e, em seguida, visto o vestido com cuidado.
Para minha sorte, o fecho fica na lateral, puxo o zíper e termino de ajustar o
tecido em meu corpo.
Parece que a roupa gruda como uma segunda pele. Mesmo suave, sua
firmeza me faz ter uma postura mais reta, com um corpo mais empinado,
tanto na frente como atrás. No espelho, vejo-me totalmente transformada.
O vestido justo dá formas aos meus seios, assim como destaca a pedra
rubi em meu pescoço. Por um momento, eu não sei como será essa festa, nem
mesmo como devo me portar; engulo o pânico dentro de mim, voltando para
meu quarto para colocar os saltos dourados.
Minutos depois, escuto alguém bater na porta, abro me deparando
com Jordyn. Seus cabelos caramelos estão numa linda trança embutida,

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alguns fios que escapam realçam seu rosto. O vestido de cetim azul com alça
cruzada a deixa mais radiante.
― Esqueci dos seus brincos ― ela sorri me olhando dos pés à cabeça
até parar em meu colar ― Mine, o seu é lindo ― murmura.
Franzo a testa ao ver o seu colar de cristal em forma de gota.
― Você ganhou? ― pergunto pegando os brincos de suas mãos e
colocando em minhas orelhas.
―O senhor Makgold está cheio de surpresas. Acho que eu posso me
acostumar ― ela pula empolgada. ― Até Donna ganhou um... De esmeralda
― sussurra para mim como se me contasse um segredo, mas logo se choca.
― Ele não viu as rosas, viu?
― Eu as escondi quando o escutei me chamar ― minto. ― Isso é
impressionante ― mudo o rumo da conversa para ela. Seus olhos brilham
com relação ao colar.
― Eu devo dizer que o seu é perfeito com o vestido. Está linda, mas,
agora, vamos! Todos estão prontos.
― Só não me faça correr ― peço indicando minhas pernas. Jordyn
sorri, revirando seus olhos enquanto me puxa.
Quando chegamos à sala de entrada, todos nos aguardam, exceto
Donna. Ian, Peter e James estão fascinantes em seus smokings com gravata
borboleta.
― Poxa vida! Quanta beleza ― Ian elogia com um lindo sorriso. Ele
está cheio de empolgação.
― Obrigada, Ian ― Jordyn agradece.
― Não é com você, mas sim com minha futura esposa ― Ian dispara,
fazendo-nos rir.
― As duas estão maravilhosas ― Peter diz com educação. Sorrio
agradecida.

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― Estão perfeitas ― James dispara chamando nossa atenção. Coro


com seus olhos claros apenas para mim.
― Acho que ele quis dizer isso para você ― Jordyn murmura ao meu
lado e a cutuco.
― Todos estão prontos?
Viramos para ver Donna em seu vestido rosa claro com detalhes
pratas da cintura para cima, seus cabelos grisalhos da altura do ombro estão
levemente cacheados. Seu colar é quase parecido com de Jordyn, mas, em
vez de cristal, é esmeralda.
― Donna... A senhora está incrível ― Jordyn tira as palavras da
minha boca.
― Crianças, não me olhem como se eu fosse diferente ― ela pede
sem jeito.
Ian se aproxima da mãe para olhá-la de perto.
― Mãe, você está uma gata! ― Ian a elogia, fazendo meu coração se
derreter. ― Acho que vou ter que cuidar de três mulheres maravilhosas nesta
festa.
Sorrimos para Ian, e Jordyn o olha impressionada.
― Quer dizer que estou incluída? ― pergunta quando Ian passa à
nossa frente para beijar nossas mãos.
― Não se acostume. Muitas vezes posso ser um homem bem difícil...
― O carro nos espera ― Peter anuncia. Rapidamente Ian solta nossas
mãos, correndo para fora da casa.
― Isso que quer dizer homem difícil? ― James brinca.
Dentro do carro, sinto-me ansiosa, beliscando meu colar à medida que
vejo a rua passar como borrão para fora da janela. Todos parecem animados e
James não para de reclamar da gravata borboleta. Quando o celular de Peter
começa a tocar, ele reduz sua direção atendendo no segundo toque.

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― Senhor? ― ficamos em silêncio. Peter olha para o retrovisor


brevemente. ― Sim senhor... Estamos de smoking... B-bem, Donna está com
um vestido rosa cor de pele, Jordyn está com um vestido azul e Mine... ―
Peter parece confuso como todos ao encarar meu vestido. ― Dourado... Sim,
senhor, estou com os convites. Até mais.
Peter desliga enquanto todos nós o olhamos em expectativa.
― O que foi isso? ― Jordyn pergunta.
― Eu não sei, ele só queria saber como estávamos vestidos ― Peter
explica.
― Que estranho ― James murmura.
Espio Ian ao meu lado tentando disfarçar o sorriso. James também
percebe.
― Ian, você sabe de alguma coisa? ― James pergunta. Todos nos
viramos para encarar Ian.
Ele fica surpresos.
― Eu não sei de nada ― Ian se defende, fazendo Peter rir enquanto
dirige.
Logo, todos voltam a conversar mais empolgados. Noto que já
estamos fora da cidade, e a noite parece longa para mim. Encaro os prédios
impressionada, as ruas ficam mais lindas iluminadas durante a noite. Quando
nos aproximamos de um portão, observamos Peter conversar com um guarda.
Depois que entrega um cartão, o portão é aberto, outros carros luxuosos que
se aproximam fazem o mesmo.
Peter dirige tranquilamente até estarmos próximos a um prédio, ele
não é tão alto como os da cidade, mas é mais amplo. Quando nos
aproximamos da entrada, fico impressionada com a imensidão do lugar. Há
seguranças e mulheres de terninho recebendo os convidados educadamente.
Assim que Peter para o carro, sai e dá a volta para abrir a nossa porta.

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Saio com cuidado, olhando em volta, sinto-me pequena ao ver muitos


convidados se aproximando com seus trajes elegantes. Jordyn está
impressionada, assim como Ian, ao encarar o lugar iluminado. Em seguida,
Peter entrega as chaves para um manobrista e nos guia até a entrada.
Aproximamo-nos de um homem pequeno com um terno cinza. Ele sorri
gentilmente.
― Boa noite. Sou Dylan, sejam bem-vindos. Os convites? ― Peter
lhe entrega os cartões.
Dylan verifica todos em seu notebook antes de devolver a Peter.
― Senhor Makgold os colocou na ala principal da festa, peguem o
elevador e sigam para o segundo andar, mas antes, vão até Karen para receber
seus acessórios ― informa com casualidade. Franzo a testa.
Seguimos mais à frente até uma mulher simpática de terninho e
cabelos curtos. Ela pede os convites verificando os nomes, depois entrega
caixas escuras de veludos para cada um, menos para mim.
― Mine Clark? ― diz meu nome e vai até sua prateleira à procura da
minha caixa. Quando retorna, entrega-me uma da cor vermelha.
Acima da caixa vejo meu nome numa caligrafia perfeita. Olho para
todos confusa, vendo-os tirar uma máscara, quando abro a minha, deparo-me
com uma máscara delicada e dourada, há detalhes suaves com pequenas
pedras de cristal. Eu a pego vendo que é de metal. Observo todos à minha
volta, a máscara de Jordyn é prata cintilante com leves detalhes, a de Donna
parece delicada com pequenas pedras. As dos meninos são máscaras negras e
cintilantes.
― Isso vai ser divertido ― Jordyn se empolga me ajudando a colocar
a minha.
― Como estou? ― pergunto quando todos me olham. Eles estão
elegantes, mas irreconhecíveis.

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― Está incrível ― Donna elogia. Coro com o cumprimento.

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30 – PONTO FRACO

Peter nos guia para o elevador para seguirmos até o local indicado.
Meu coração bate acelerado. Quando as portas se abrem, seguimos por um
corredor aberto em tom madeira e tecidos vermelhos.
O lugar é ainda mais elegante, caminhamos até uma entrada aberta,
deparando-nos com um espaçoso salão cheio de convidados com trajes
elegantes e máscaras perfeitas. O espaço tem as mesas bem-organizadas, com
uma decoração impecável, as mesas também parecem oferecer bastante
espaço para uma pista de dança. Uma banda de jazz canta ao fundo num
ritmo suave.
Olho ao redor à procura de Johnatan, mas não o encontro. Não sei
como está vestido e nem mesmo se sua máscara é diferente. Peter conversa
com o maître, que nos guia até um local reservado. Eu os sigo tranquilamente
em meus saltos, só levantando minha cabeça quando me deparo com olhos
azuis em chamas fixos em mim. Paro abruptamente com a simples
intensidade. Johnatan está incrivelmente selvagem, posso ver pelos seus
olhos.
Ele não usa smoking como os demais presentes, mas sim um terno
escuto fechado sem gravata, com os dois botões da camisa branca abertos.
Sua máscara destaca as linhas perfeitas de sua face, mas, principalmente, seus
olhos. Johnatan toma seu whisky e se aproxima de mim, mantendo a
intensidade.
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Não consigo sentir minhas pernas, nem mesmo escutar as pessoas em


volta. Ele caminha calmamente, analisando meu corpo com desejo. Se
pudesse me despir apenas com aquele olhar, eu já estaria nua. Minha pele se
arrepia com o pensamento, sinto-me intimidada, ele parece um predador. Um
homem muito intimidante e perigoso.
― Senhorita Mine Clark ― sussurra meu nome. Quero gemer com
sua voz profunda. Seus olhos percorrem novamente meu corpo, como se
admirasse a vista. ― Não consigo achar as palavras certas para dizer o
quanto você está incrível neste vestido.
― Eu não pensei que você ficaria tão à vontade ― encaro o pouco da
sua pele exposta por trás da camisa. Lambo meus lábios com sede.
― Eu me sinto mais à vontade com você aqui ― diz com o sorriso
torto. Estremeço quando alcança minha mão e a beija.
Seus lábios em minha pele fazem meu sexo se apertar, tenho que me
segurar para não o agarrar, por sorte, seu gesto me faz recordar a primeira vez
que o vi.
― Estou feliz em vê-lo também, senhor Makgold ― sorrio,
mordendo meu lábio.
― Eu vejo o quanto você está ardendo por dentro desse vestido ― ele
provoca. Minha mão quente aperta a sua. ― Está maravilhosa. Eu a quero só
para mim depois que tudo isso acabar.
Suas palavras intensas fazem meu coração disparar. Só dou por mim
quando Peter e James se aproximam. Johnatan solta minha mão para
cumprimentá-los e elogiar a vestimenta de todos. Ian parecem fascinado com
tudo à sua volta. Seguimos para nossa mesa reservada, Jordyn balança seu
corpo em ritmo da música, minutos depois, somos servidos com bebidas sem
álcool.
― Sintam-se à vontade, eu tenho uma breve reunião ― Johnatan não

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tira seus olhos dos meus.


Assisto-o se afastar cumprimentando alguns homens, a outros nem
mesmo dá ouvidos quando estendem a mão. Aquele Johnatan está em
trabalho e é curioso vê-lo tão sério em volta de outros homens importantes.
Sou distraída quando algumas comidas leves com legumes são
servidas em nossos pratos, a fome me domina e as provo maravilhada. Ao
contrário de mim, Jordyn se empolga quando a banda toca uma música mais
agitada. Muitos convidados invadem a pista, dançando em sincronia.
― Eu adoro essa música ― Jordyn se empolga. Sorrio para ela. ―
Vamos dançar?
Nós nos encaramos confusos, eu não me arriscaria, não com esses
saltos.
― James, convide-me para dançar ― Jordyn ordena para ele.
James faz uma careta.
― Eu tenho dois pés esquerdos, esqueceu? ― James murmura
carrancudo.
― Não tem problema ― ela se levanta, sabemos o quanto é
insistente. ― Eu te ensino.
Jordyn puxa James com força, arrastando-o para o meio da pista. Ian
sorri para mim, mas se levanta e chama Donna para dançar. Sorrio com
carinho, vendo-os acompanhar a dança.
― Mine ― Peter chama ao meu lado com sua mão estendida.
Arregalo meus olhos.
― Eu não sou boa dançando com esses saltos ― explico.
― Eu insisto ― Peter pede com um sorriso simpático. É difícil
resistir.
Pego sua mão e sigo com ele até a pista de dança, sinto-me insegura
quando vejo um casal dançando com tanta facilidade. Peter me conduz a

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dançar como todos.


― É só se manter relaxada. Deixe que seu corpo te leva no ritmo,
como um jogo de dança ― Peter explica enquanto o acompanho lentamente.
É como passos de valsa, mas estranho por todos seguirem a mesma dança.
Jordyn está distante, mas noto James tentar provocá-la ao pisar em
seu pé.
― Jogo de dança? ― pergunto confusa.
Sou surpreendida quando ele gira meu corpo e volto para seus braços,
dançando calmamente. Todas as mulheres fazem o mesmo movimento.
― Sim ― Peter me olha sorrindo, a máscara parece deixá-lo mais
jovem. ― Você dança com seu par e, com a mudança das batidas, os casais
são trocados.
― O quê? ― disparo confusa.
― Agora ― anuncia girando meu corpo. De repente, sou conduzida
para um homem de meia idade.
O homem com sua máscara metade branca sorri para mim.
Acompanho seus passos sem lhe dar atenção direito, apenas procuro por
Peter, vendo-o dançar com uma senhora. A batida das músicas parece se
elevar e, novamente, meu corpo gira para a troca. Fico aliviada por estar com
Ian, ele é pequeno, mas um completo cavalheiro. Sorrio para ele.
― Está linda, amor ― ele elogia com seu lindo sorriso, mas não
tenho tempo nem de lhe dizer obrigada, tendo que girar e parar nos braços de
um homem negro, alto e forte, que usa uma máscara branca até a metade do
nariz. Reconheço, o rosto é marcante.
― Senhor Polosh? ― murmuro vendo a surpresa em seus olhos.
― Mine? Olá... Você está incrível ― impressiono-me com sua
cortesia. ― Me chame de Matt, por favor ― ele pede com um leve sorriso.
― Matt... ― Quero lhe perguntar onde está Johnatan, mas é tarde

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demais e temos que nos separar.


Eu quero matar Jordyn. Ficarei tonta só de girar em círculos no meio
desse salão. Assim que estou em outra companhia, procuro por Donna,
vendo-a acompanhada de James. Não encontro Ian, mas vejo Jordyn com
Matt.
― Seus passos estão errados ― meu par me chama atenção e aperto
meus lábios.
― Desculpe ― lamento vendo sua máscara prata e seus olhos
simpáticos. ― Doutor Banks! ― eu o reconheço surpresa.
Michael Banks para, confuso por um momento.
― Oh! Mine Clark, como está seu pai? ― pergunta surpreso.
― Ele está se recuperando muito bem ― digo com um sorriso.
― Você está fascinante, eu nem te reconheci ― ele retorna, beijando
minha mão e voltando a dançar, acompanho seus passos.
― Obrigada ― murmuro sem jeito, mas fico em alerta ao pensar que
sua esposa possa estar na festa. Quando olho para o lado, vejo Johnatan.
Ele não está sozinho, está acompanhado por uma mulher alta, com um
vestido deslumbrante. Ela está enroscada em seu pescoço e tem seus lábios a
centímetros dos dele, mas parece ser afastada quando Johnatan toca seu rosto.
― Mine, precisamos trocar ― escuto Banks murmurar sorrindo.
Pisco desorientada. ― Está tudo bem? ― pergunta me segurando para que eu
não me atrapalhe em meus pés.
― Claro ― pigarreio. ― Só preciso me sentar ― digo cansada,
afastando-me dele.
Passo pelas pessoas que se movem ao meu redor até encontrar nossa
mesa. Meu coração parece esmagado, encaro o chão querendo me afundar.
Antes que eu dê mais um passo, vejo sapatos bem-cuidados me bloquearem,
dou passos para trás quando o homem à minha frente me persegue para me

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segurar, temendo que eu não tropece em meus saltos.


Seu perfume másculo e suave invade meu curto espaço, levanto meus
olhos fitando Johnatan. Da maneira que estamos, meu corpo se encaixa
perfeitamente no seu. Para minha surpresa, ele me gira no meio do salão,
tendo-me em seus braços, agarrando meu corpo ferozmente. Seus olhos
fixam nos meus com intensidade. Engulo o nó que se forma em minha
garganta.
― Devo alertá-la que minhas mãos são as únicas que podem tocar
esse corpo? ― Johnatan dispara apertando minha cintura com possessão.
Meu coração acelera.
Quero afastá-lo, mas o aperto do seu corpo contra o meu só me faz
desejá-lo. Levanto minha sobrancelha para ele.
― Faço a mesma pergunta com relação à sua boca ― disparo
rispidamente.
Seus olhos se abrem surpresos. A música se altera e os casais giram,
quando um homem se aproxima, Johnatan me desvia, empurrando-o para
outra mulher. Quando seus braços voltam para mim, fico surpresa com a
rapidez de seus movimentos.
― Eu sinto muito por você ter visto aquilo, mas eu não beijei
ninguém. Eu só a afastei ― ele se explica.
― Ela está na lista das amantes? ― pergunto irônica.
Sua expressão se torna fria.
― Não há lista ― responde, mas me distraio piscando quando uma
luz passa em meus olhos.
― E quem era ela? Parecia muito íntima ― seus braços apertam meu
corpo e minhas mãos apertam seus ombros com força.
― Ela é a organizadora da festa, mas quando tentou levar por um lado
pessoal, eu a coloquei em seu lugar. Acredite em mim, eu só tenho olhos para

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você desde que apareceu nessa festa entediante. Eu não queria que fosse
assim, só queria que fosse... normal... eu e você. Apenas nós dois ― ele
parece cansado e meu coração se aperta.
A música se altera para casais trocarem. Johnatan volta a fazer seu
malabarismo com o outro homem, empurrando-o para outra parceira, quero
rir da sua agilidade.
― Então, fez tudo isso para me ter ao seu lado? ― pergunto toda
manhosa em seus braços.
― Eu só quero um momento de paz. Quero ter um tempo para
apreciá-la, mas parece cada vez mais difícil. Eu ainda não consegui me
desculpar inteiramente ― Johnatan faz meu coração disparar, balanço a
cabeça.
― Eu amei os bilhetes e o desenho no espelho, que infelizmente teve
que ser apagado. Eu sei o quanto deve ser difícil para você, mas tem que
resolver isso. Há outras pessoas correndo risco, precisa achar um jeito. Você
não está sozinho, eu estou bem aqui ― eu o conforto, querendo abraçá-lo e
mantê-lo comigo.
Seu sorriso surge todo tímido, brevemente perde o foco com a
iluminação em seus olhos. O jogo de luzes no salão, mesmo sendo suaves,
estão começando a ser irritantes.
― Eu quero beijar você ― sussurra acariciando meu rosto, seu
polegar desliza em meus lábios e me aqueço com sua aproximação. ― Ainda
estou sem palavras para dizer o quanto está linda.
Eu o desejo nesse momento, quero-o agora sem nem mesmo me
importar com todos em volta. Apenas fecho meus olhos, pronta para ter seus
lábios nos meus.
― Beije-me? ― murmuro suplicante. Sinto sua respiração próxima,
assim como suas mãos acariciando minha face.

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― Mine... Eu... ― ele sussurra e abro meus olhos. Fico confusa


quando suas mãos paralisam e seus olhos perdem o foco.
― Johnatan? ― chamo-o de volta para mim, mas é tarde demais, seu
corpo se ergue em alerta e seu olhar desconfiado vasculha em volta do salão.
― O que foi?
― Lasers ― ele murmura atento.
Tento acompanhar seus olhos, mas não sei do que ele está falando.
Estamos parados no meio da pista, toda a intensidade se foi em
questão de segundos. Seus olhos voltam para os meus, preocupados. Eu não o
quero daquela forma. Aperto meus lábios.
Seus braços me cercam brevemente, sinto sua respiração próxima ao
meu ouvido.
― Vá ver como os outros estão. Eu voltarei em breve ― ele pede.
Eu o assisto caminhar na multidão, olhando em todos os lugares. Isso
não deve ser bom sinal, caminho rapidamente de volta a mesa vendo Donna e
Peter.
Donna parece impaciente.
― Oi! ― digo de repente, pegando-os de surpresa.
― Como foi a dança, Mine? ― Peter pergunta. Donna sorri
arrumando uma mecha do meu cabelo.
― Ótima ― sobressalto-me. Johnatan pediu para ver como todos
estão. Eu os procuro com meus olhos pela pista de dança e não encontro
James, Jordyn e Ian. ― Onde estão os outros? ― pergunto.
Donna suspira, sentando-se.
― Jordyn obrigou James a dançar mais uma música ― Peter
responde se divertindo.
― Ian foi ao banheiro e não voltou até agora. Não era para ele
exagerar tanto nos sucos ― Donna lamenta cansada. ― Eu vou atrás dele.

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― Eu vou ― digo rapidamente. ― Descansa um pouco ― peço.


― Obrigada, querida ― Donna me dá seu olhar de gratidão. ― Os
banheiros ficam atrás da parede mármore ― ela aponta.
Aceno me afastando. Olho em volta em busca de Johnatan, mas não o
encontro. Sinto-me muito solitária mesmo com convidados por toda parte.
Arrepio-me violentamente, Johnatan voltou ao seu lado obscuro. E se eles
tiverem aqui? Se os homens estiverem à sua procura? O medo me invade. Por
precaução, eu me aproximo discretamente em uma das mesas vazias para
pegar uma faca prata.
Olho em todas as direções para ver se alguém me viu e sigo em busca
de Ian, escondendo a faca em minha mão, mantendo-a próxima do meu
corpo, todos nós temos que estar juntos. Ao me aproximar da parede de
mármore, sigo para o corredor dos banheiros até chegar ao masculino.
― Ian? ― eu o chamo. A música atrás da parede parece distante ―
Ian? ― chamo novamente, apertando o cabo da faca.
Os banheiros parecem ser pouco usados.
― ME SOLTA! ― escuto alguém gritar. ― ME SOLTA! ―
reconheço a voz de Ian.
Sigo pelo corredor, encontrando uma escadaria com luzes fracas.
Subo à procura do garoto tomando cuidado conforme me movo.
― Eu estou com um garoto... Sim. Faz parte da casa ― escuto a voz
de um homem se distanciar e, em seguida, Ian pedir para que o solte. Quando
me aproximo do corredor pouco iluminado, espio e vejo Ian tentar se soltar
do homem.
Atento-me para enxergar seu rosto reconhecendo Dylan, ele desliga o
celular arrastando Ian para longe.
― ME SOLTA! EU QUERO VOLTAR! ― o medo na voz de Ian me
assusta. Inspiro fundo, aperto a faca em minha mão e caminho pelo corredor

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em passos duros.
― HEY! ― grito, fazendo o indivíduo parar.
Ian me olha assustado. Dylan ergue sua sobrancelha.
― Solta ele! ― disparo com firmeza vendo Dylan segurar o braço de
Ian com força.
O homem sorri de forma sombria.
― E o que você vai fazer? Sinto muito, minha jovem, mas tenho
trabalho a fazer. ― Noto a arma em sua cintura, mas antes que ele dê mais
um passo, arremesso a faca em sua direção.
O pânico me invade quando a faça passa por cima de sua cabeça,
chocando-se contra a parede e caindo ao chão. Dylan ri da minha tentativa
inútil, derrubando Ian no chão com um empurrão para apontar a arma em
minha direção. Engulo meu pavor.
― Você está se metendo com a pessoa errada, docinho ― Dylan
ameaça em alerta.
Vejo Ian rastejar, alcançando a faca e cravando-a em sua perna. Dylan
grunhe com o ataque se curvando para puxar a faca fora.
― CORRE, MINE, CORRE! ― Ian corre em minha em direção e
pego sua mão.
Curvo-me para o chão junto com Ian ao ver Dylan arremessar a faca
em nossa direção. Ele está pronto para atirar, mas é interrompido por um
vulto à sua frente. Ian se encolhe em meus braços e o mantenho protegido.
Meu coração se enche de alívio quando percebo que é Johnatan, ele
desarma Dylan com facilidade, empurrando seu corpo; em seguida, bate duas
vezes sua cabeça contra a parede brutalmente. Observo Dylan no chão antes
de voltar minha atenção para Johnatan. Seu rosto mascarado aparece como
uma sombra. Ele olha em minha direção, movendo sua cabeça para sairmos
dali.

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― Ian, vamos! ― sussurro para ele com urgência.


― O quê? ― Ian parece confuso.
De repente, grito quando um homem alto surge atrás de Johnatan,
sufocando-o com os braços. Johnatan soca as costelas do homem tentando se
soltar.
― NÃO! ― grito avançando em sua direção, mas sou interrompida
quando Ian agarra minha mão.
― Mine, fica aqui. ― Ian pede.
― Vai matar ele! ― disparo em desespero escutando Johnatan tossir.
― SAIAM! ― escuto a voz potente de Johnatan.
Em seguida, ele se move com facilidade, afastando um dos braços do
adversário para torcê-lo num giro feroz. Depois soca o pescoço do
desconhecido, fazendo o homem arfar cambaleante.
Pego a mão de Ian, levando-o para longe dali. Assim que chegamos
ao corredor dos banheiros, respiro profundamente, sentindo minhas pernas
bambas.
― Nossa! Você viu aquilo? Quem é ele? Ele é melhor do que nos
meus games! Eu quero um autógrafo... ― Ian parece impressionado. Pode ser
o choque momentâneo. Agarro seus ombros o interrompendo de voltar para
lá.
― Ian, não.
― Mine, você viu? Ele defendeu a gente! E ele luta! Minha nossa...
― Ian parece desesperado com seu fascínio. ― Todos têm que saber disso...
Oh, não! Eu o olho assustada. Seguro seus ombros o fazendo olhar
para mim.
― Ian, me escuta ― peço firmemente. ― Prometa para mim que não
vai dizer isso a ninguém. É muito perigoso, não devemos nos arriscar.
Promete? Por favor! ― imploro vendo seus olhos relutantes.

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― Mas, Mine, você viu... ― ele insiste


― Ian, promete? ― peço suplicante.
Seus ombros caem e seu sorriso empolgado desaparece. Vejo a
compreensão em seus olhos.
― Eu prometo. Prometo qualquer coisa por você ― ele diz
docemente. Sorrio para demonstrar conforto.
― Obrigada ― digo, recebendo seu beijo em meu rosto. ― Agora,
vai com sua mãe, ela está preocupada. Não diga nada do que aconteceu.
Ele assente confuso.
― E você?
― Eu já vou. Não consigo sentir minhas pernas direito ― confesso.
― Deve ser o efeito do meu beijo ― ele abre seu sorriso convencido.
― Não demore, vem correndo. Vou pedir para Peter e James buscá-la.
― Não será necessário, agora vá ver sua mãe. Anda ― ordeno o
empurrando.
Assim que Ian retorna para o salão, corro desesperada para Johnatan.
O homem que o pegou desprevenido tem a sua altura, mas é um troglodita.
Desespero invade meu corpo ao pensar no pior. Subo as escadas e encaro o
corredor. Respiro com dificuldade quando não vejo mais ninguém ali, nem
mesmo Dylan. Eles pegaram Johnatan. Sinto as lágrimas em meus olhos.
Subitamente, uma mão quente toca meu braço, pulo assustada pronta
para gritar, mas logo sinto alívio vendo Johnatan atrás de mim. Abraço-o
rapidamente.
― Eu pensei que haviam pegado você ― minha voz treme em
desespero.
Seus braços me envolvem.
― Está tudo bem agora ― Johnatan assegura.
― Onde eles estão? ― pergunto olhando o corredor vazio.

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― É uma longa história ― diz cansado. Acaricio seu rosto.


― Vamos embora ― suplico o abraçando.
Ele me aperta em seus braços e beija meus lábios. Abraço-o com mais
força.
― Vamos para casa ― ele murmura beijando minha pele com
saudades até inspirar o perfume em meu pescoço.
Assusto-me com a aproximação de Matt. Johnatan se vira em alerta,
mas logo relaxa.
― Eu recebi sua mensagem. O que aconteceu? ― Matt nos olhando
confuso.
― A segurança da festa não foi o suficiente ― Johnatan sibila me
fazendo estremecer.
― Como não? Sugeri os melhores ― Matt assegura.
― Quase atacaram Ian. Mine por pouco não foi ferida ― Johnatan
dispara seu ódio.
Ambos se encaram, sinto-me incomoda só de assisti-los, por isso,
tento manter um pouco de distância.
― Eu vou ver o que aconteceu ― Matt dispara surpreso.
― Tente pegar a ficha de todos da festa. Eu os quero para amanhã! ―
Johnatan ordena.
― John, tente se acalmar, vá para casa descansar...
― Como vou ficar tranquilo sabendo que tem alguém atrás de mim?!
― assusto-me com a voz potente de Johnatan, mas me distraio com a luz em
meus olhos.
Estranhamente é a maldita luz que me incomodou desde quando
estava na pista de dança, mas agora a percebo em minha pele. Franzo a testa,
o ponto se instala em direção ao meu rubi, fazendo a luz se intensificar no
colar, criando um aspecto vermelho intenso, lembro de Johnatan falando

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sobre laser. Paraliso em meu lugar olhando para ambos à minha frente.
― Johnatan? ― chamo-o quase sem voz.
Seus olhos são disparados para os meus e logo deslizam direto para
meu colar.
― Meu Deus ― Matt murmura chocado.
― Não. Se. Mova ― Johnatan ordena pausadamente com seus olhos
atentos em mim.

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31 – RESISTIR

Meu coração dispara. O laser vermelho continua centralizado em meu


colar. Permanecemos paralisados enquanto encaro o pavor nos olhos de
Johnatan. De repente, ele agarra minha mão, gira meu corpo, grudando-me ao
seu, e caímos no chão. Escuto o seu grunhido em meu pescoço assim como
um vidro quebrando. Seu corpo parece uma barreira de proteção contra mim.
Tento me virar com esforço, e Johnatan permite que eu me mova de frente
para ele.
― Vocês estão bem? ― escuto Matt ao lado. Espio, encontrando-o no
chão, também se protegendo.
As mãos de Johnatan checam meu rosto. Seus olhos, preocupados,
seguem até meu peito. Seus dedos quentes deslizam em minha pele com
urgência até afastar o rubi para acariciar meu colo.
― Estamos ― Johnatan responde com esforço. Sua respiração
acelerada aquece meu rosto. Ergo minhas mãos trêmulas para acariciar sua
face.
Ele agarra uma delas para beijar minha palma, parece muito
assustado.
― Eu estou bem ― asseguro agarrando seu rosto e beijando seus
lábios.
― Minha Mine ― respira em meus lábios aliviado. ― Isso foi
arriscado. Eu não sei o que faria se o tiro chegasse em você.
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― Eu estou bem ― repito abraçando seu pescoço. ― Sem nenhum


arranhão. ― Sorrio para confortá-lo.
Seus lábios voltam a cobrir os meus. Uma tossida faz com que nos
afastemos, Matt já está de pé.
― Desculpe atrapalhar o momento romântico de vocês, mas temos
que dar o fora daqui ― anuncia olhando para os lados.
Johnatan se levanta com cuidado, ajudando-me a ficar de pé. Olho
para os lados, vendo uma das janelas de vidro quebrada e um vaso de
porcelana em pedaços.
― Matt, você está bem?
― Já tive momentos melhores ― tenta brincar. Procuro retribuir com
um sorriso, mesmo estando com meu corpo feito geleia.
― Onde estão aqueles homens? ― pergunto para Johnatan.
― Em um dos quartos. Mortos ― responde com frieza.
O advogado tenta não se manter chocado, assim como eu.
― Eu não sei quando vou conseguir me acostumar com isso ― Matt
murmura.
― Temos que sair daqui. Os outros sempre chegam minutos depois
para ver como está o serviço. Vamos. ― O aviso de Johnatan me faz
estremecer dos pés à cabeça.
Ele agarra minha mão, guiando-me pelo corredor. Franzo a testa
quando ele pega a faca no chão arremessando-a contra uma caixa preta.
Assusto-me com o curto-circuito; algumas luzes do corredor são apagadas.
Johnatan ilumina nosso caminho com o celular enquanto o vejo digitar uma
mensagem para alguém. Matt nos segue, sempre atento ao nosso redor.
Quando chegamos à escadaria Johnatan vira-me para ele. A luz do
andar de baixo me permite ver seu rosto suado e seus olhos febris. Ele não
usa mais a máscara, seus cabelos, antes arrumados, estão em todas as

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direções.
― Junte-se aos outros. Enviei uma mensagem a Peter dizendo que já
estávamos de saída ― ele explica ofegante. Franzo a testa.
― E quanto a vocês? ― indago, olhando para ambos.
― Vou ficar mais um tempo ― diz rapidamente.
― Eu não quero te deixar ― falo assustada.
― Eu vou estar bem atrás de vocês ― assegura, acariciando meu
rosto.
Johnatan se despede com um beijo terno, seus braços apertam meu
corpo.
― Não demora ― murmuro em seus lábios e beijo seu leve sorriso.
― Encontre-me na tenda ― sussurra para mim. Meu corpo estremece
com a intensidade do seu pedido.
― Como quiser. ― Sorrio e me afasto. Coro vendo Matt nos observar
contendo seu sorriso. ― Adeus, Matt! ― aceno.
― Até logo, Mine! ― responde.
Desço as escadas sentindo que eles me seguem com o olhar. Minhas
pernas continuam flácidas pelo o susto. Aperto a pedra do meu colar em
minha mão enquanto inspiro profundamente.
― Onde você estava? ― assusto-me com a voz de James assim que
chego ao andar principal.
Viro meu corpo, arregalando meus olhos. Pela minha visão periférica
vejo Johnatan e Matt parados nas escadas como estátuas. Pisco meus olhos
focando em James, Peter está logo atrás dele.
― Eu só estava querendo conhecer o lugar ― minto. James fica cada
vez mais confuso.
― Ian disse que sentiu alguém te perseguindo, por isso, viemos
buscá-la. ― Arregalo meus olhos com a informação.

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― Ian é um garoto superprotetor. Eu sinto muito pela demora ―


engulo meu nervosismo.
― Mesmo assim, é perigoso andar por aí sozinha ― repreende-me o
rapaz. ― O lugar é muito grande, você poderia se perder...
― E os próximos andares não estão disponíveis. O senhor Makgold
pediu para irmos. ― Peter completa.
Balanço a cabeça fingindo olhar para cima como se apreciasse a
escadaria, mas vejo os olhos de Johnatan em alerta para mim. Ele acena.
― É claro ― concordo por fim.
Caminho até eles e me encolho quando James alcança minha mão.
― Você está gelada ― ele repara rindo. Fico surpresa lhe dando um
sorriso sincero.
― Deve ser o ar-condicionado. ― Na verdade era meu medo mesmo.
Peter segue a nossa frente. Olho para trás, vendo Johnatan descer as
escadas e olhar friamente a mão de James agarrada à minha. Reviro os olhos,
com toda a situação que nos ocorreu, ele ainda mostra seu ciúme intacto. Na
verdade, estou agradecida por James estar me mantendo segura, juro que
posso cair nesses saltos a qualquer momento.
Ao nos aproximarmos da mesa, Ian corre em minha direção para
abraçar minha cintura. Retribuo o gesto, dando-lhe conforto.
― Você não contou nada a ninguém, não é mesmo? ― sussurro junto
aos seus cabelos.
― Não, mas nunca mais demore tanto no banheiro. Tive que pedir
para James e Peter irem buscá-la ― diz preocupado. Acaricio suas
bochechas.
― Está tudo bem ― asseguro e beijo sua testa.
Olho para Donna, que tem os olhos preocupados em minha direção,
conforto-a com um leve sorriso. Jordyn está corada, com seu sorriso sempre

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aberto.
― Eu não acredito que o senhor Makgold já vai ― lamenta. ― Logo
agora que tudo começou a ficar divertido ― reclama, abraçando Donna.
― Ela bebeu? ― James pergunta, aproximando-se para pegar sua
taça.
Sinto minha garganta seca, roubo o coquetel sem álcool, engolindo de
uma vez. O líquido gelado é bem-vindo ao meu corpo.
― Ela só está agitada. ― Peter sorri para Jordyn antes de verificar
seu celular. ― O senhor Makgold terá só mais uma reunião e voltará para
casa em breve.
― Isso quer dizer que a festa acabou. ― Minha amiga festeira faz
uma careta.
― Eu acho que todos nós estamos cansados, mas se lembrem de
agradecer ao senhor Makgold ― Donna diz, arrumando os cabelos de Jordyn
no lugar.
Quando seguimos para fora do prédio, arrepio-me ao ver o lugar de
Dylan vazio, a moça que nos entregou as máscaras ficou em seu lugar
atendendo os clientes que insistem em entrar na festa.
O carro está à nossa espera, Peter segue para agradecer ao manobrista
e pegar as chaves. Olho para trás, encarando a entrada na esperança de ver
Johnatan. Pânico me invade ao pensar na possibilidade de ele estar com
Dylan, e com o outro homem que o havia atacado.
― Mine... ― escuto Jordyn me chamar.
Viro-me, vendo-a se aproximar do carro junto com os outros.
Caminho sem vontade até eles, mas sou distraída quando um carro luxuoso e
escuro para em frente à entrada.
Quatro homens de terno e máscaras escuras saem como se fizessem a
segurança do local. O manobrista segue rapidamente até eles. Um outro

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homem alto, de terno escuro com gravata preta sob medida, sai do carro
abotoando seu paletó. Seus cabelos estão penteados para trás, a máscara
negra cobre até abaixo do seu nariz, deixando exposto apenas sua mandíbula
e seus lábios. Seus olhos permanecem fixos na entrada.
Um dos seguranças vai até a moça para lhe dar os convites antes de
voltar ao seu posto. Quando passa por mim, sinto o frio na barriga ao pensar
que aquilo não é um bom sinal. O desconhecido vira sua cabeça em minha
direção, noto seus olhos cor de gelo me observar friamente. Sua cabeça se
move como se me cumprimentasse e volta sua atenção até a entrada. Eu os
assisto entrarem no elevador e desaparecerem atrás da porta de metal. Meu
estômago se embrulha com o desconforto.
― Quem é ele? ― Jordyn pergunta de repente ao meu lado,
assustando-me.
― Eu não sei. ― Esfrego meu peito angustiada.
― Parece ser alguém muito importante ― repara e me viro para ela.
― Vamos embora ― digo, puxando-a comigo até o carro.

Na mansão, sigo direto para o meu quarto. Tiro os saltos que me


maltratam, aliviando a tensão em meus pés. Preocupada, sento-me na cama
para pegar meu celular e ligar para Johnatan. Ele atende no primeiro toque.
― Minha Roza ― sussurra. Meu coração se enche de emoção ao
escutar sua voz. Sinto-me aliviada.
― Oi! ― respondo timidamente. ― Diga que você já está voltando!
― Acabei de entrar no carro. Em breve estarei com você. ― Sua
resposta de conforto me faz sorrir.
― Eu ficarei te esperando ― informo suspirando.
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― Você ainda está preocupada ― adivinha.


Aperto meus lábios
― Eu pensei que tinha acontecido algo com você. ― Arrepio-me.
― Eu estou bem! ― assegura, sua voz suave tenta me acalmar.
― Mas entraram alguns homens estranhos na festa. ― Balanço minha
cabeça. Em seguida, dou uma risada abafada. ― Talvez seja coisa da minha
cabeça.
Johnatan permanece em silêncio. Se sua respiração não estivesse tão
alta, eu diria que estava desligado.
― Como eles eram? ― pergunta. Sua voz, antes suave, tornou-se
mais rígida.
Aperto meus dentes por deixá-lo daquela forma.
― Johnatan, é coisa da minha cabeça ― tento contornar a situação.
― Apenas me diga ― dispara friamente.
― Eram cinco, todos usavam ternos, mas um deles parecia o chefe.
Usavam máscaras escuras ― explico relutante.
Meu coração dispara ao escutar o grunhido do outro lado da linha.
― Eles viram você? ― estremeço com seu tom duro.
― O homem que seguia à frente. ― Balanço a cabeça, como se ele
pudesse me ver. ― O-o chefe, mas eu estava de máscara ― digo em minha
defesa.
― Ótimo. ― Johnatan responde. ― Vou chegar mais tarde...
Oh, não! Ele vai voltar para lá. Meu coração se aperta em desespero.
― Johnatan, por favor, não vá para lá! Isso não é nada importante ―
suplico.
O escuto soltar sua respiração.
― Primeiro, eu não confio na segurança do prédio. Segundo, as
máscaras são oferecidas antes de entrar na festa. E terceiro, todos eles andam

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em bando. Um deles pode ser o suspeito que estava com uma arma apontada
para você ― fala com firmeza, fazendo meu corpo estremecer.
― Johnatan, não vai ― imploro.
― Você sabe que nenhum deles pode saber de você. E se o homem
que a olhou for o mesmo que estava apontando o laser? Não posso correr esse
risco. Eu nunca deixei trabalho para trás, Mine, e não vai ser dessa vez ― seu
tom continua ríspido.
Sua raiva desperta a minha. Eu não posso permitir que ele volte para a
festa. Tento controlar a angústia.
― Johnatan! ― chamo-o tentando controlar a tensão em minha voz.
― Mine, eu sempre estive bem. Não precisa se preocupar quanto a
isso. ― Ele parece me ignorar. Meu sangue ferve.
― Volta para casa agora! ― digo com frieza. Sinto vontade de socá-
lo pelo telefone.
― Eu tenho que ir ― ele me ignora novamente.
Levanto-me da cama pronta para lutar mesmo que seja pelo telefone.
― Não. Você não vai! ― disparo.
― Mine...
― Se você voltar para esse prédio, eu juro que sairei dessa casa à sua
procura. Então, é melhor você me escutar quando eu digo para voltar! ―
praticamente grito com o telefone.
― Você não ousaria. ― Agora sua tensão se volta para mim.
― Então, não me teste, Makgold! ― disparo com frieza, escutando
seu silêncio do outro lado. ― Vou te esperar na tenda. Se dentro de meia hora
você não estiver aqui, eu mesma vou atrás de você.
Corajosamente, desligo meu celular, jogando-o na cama. Meu corpo
vibra com meus nervos à flor da pele. Depois de tirar o vestido, guardo-o. No
banheiro, tiro a maquiagem e tomo um banho rápido.

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Assim que termino, sinto-me mais leve. Seco meu corpo,


aproveitando para passar o hidratante de Jordyn. Escuto meu celular tocar e
caminho nua pelo quarto vendo o nome de Johnatan na tela. Aperto ignorar,
em seguida, retorno para o banheiro.
Sei o quanto isso é frustrante, mas não estou em condições de me
enfurecer novamente. Faço minha atenção se voltar para o hidratante,
espalhando o líquido cremoso em meu corpo. O cheiro doce me acalma.
Depois de hidratar minha pele, visto meu roupão médio. Volto ao quarto para
pegar minhas roupas íntimas, um jeans, uma camiseta regata branca e botas
sem salto. Empilho tudo, alcançando meu celular para conferir as horas.
Antes de sair, observo os corredores. Tudo está em silêncio, mesmo
com as poucas luzes ainda ligadas. Caminho para os fundos da casa, seguindo
em direção ao campo. Novamente, meu celular toca, e, mais uma vez, ignoro
o russo.
A noite parece tranquila, inspiro o ar puro do campo caminhando
tranquilamente para dentro da floresta. Tudo parece escuro ao mesmo tempo
iluminado pela lua cheia. Sigo a trilha até encontrar a tenda. Johnatan insiste
com a ligação. Olho para o meu celular tocando, vendo novamente o nome de
Johnatan, quando estou prestes a atender, a ligação é interrompida. Para
minha surpresa, ele torna a ligar, sinto o quanto está ansioso. Em seguida,
uma mensagem me pega de surpresa, abro-a para ler:

"MINE! ATENDA A PORCARIA DO CELULAR OU EU JURO...!"

Ameaça com letras gritantes para mim? Respiro fundo, caminhando


até a tenda iluminada pela lua, os tecidos balançam tranquilamente. Deixo
minhas roupas no banco estofado e subo na cama, olhando a mensagem
novamente. Ele não me dá medo, mas não quero discutir. Eu o quero comigo.

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Quando retorna a ligação, atendo no primeiro toque.


― Onde é que você está?! ― pergunta friamente.
― E isso importa?! Johnatan, eu não quero discutir. Só o quero de
volta em casa! ― exijo.
― Me responda! ― sua voz fria me faz estremecer. Certo, talvez eu
tenha um pouco de medo dele, mas posso ignorá-lo.
― Onde você está? ― rebato.
― No inferno por não ter notícias suas ― responde com raiva.
Aperto meus dentes.
― Você pode fazer isso da maneira fácil ou difícil. Já vai dar mais de
uma hora e estou pronta para te procurar. Então, pare de ser teimoso, diga-me
onde é que você está! Eu não posso dormir tranquila sabendo que talvez
esteja em perigo. Você pode saber lutar, pode ser o homem mais esperto,
inteligente, bonito, sensual... e tudo para mim, mas, por favor, não vai. Por
favor, diga-me onde está! ― imploro. Minha respiração fica cada vez mais
acelerada quando termino minhas súplicas.
― Eu estou bem aqui. ― Viro-me assustada com sua presença.
Johnatan tem os cabelos revoltados e as roupas amarrotadas.
Realmente perece que esteve no inferno, mas está quente com a camisa
entreaberta. Ele solta o paletó no chão e me encara.
Encolho-me ao ver sua expressão fria. Mesmo estando daquela forma,
sinto-me aliviada.
― Oi! ― cumprimento timidamente. Sua sobrancelha se ergue. ―
Você me escutou ― escondo meu sorriso de satisfação.
Seu corpo tenso se curva para a cama. Vejo-o apoiar suas mãos no
colchão em cada lado do meu corpo. Seus olhos em chamas se prendem aos
meus, sua respiração aquece meu rosto.
― Primeiro, da próxima vez que ignorar minhas ligações, eu vou tirar

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toda a merda fora de você! ― diz pausadamente. Encolho-me com sua voz
firme.
― Eu não tenho medo de você...
― Segundo! ― dispara me fazendo saltar. ― Se você disser mais
uma vez que sairá dessa casa, eu juro que te tranco no quarto por uma
semana. ― Engulo meu pavor.
― Terceiro? ― pergunto com minha voz trêmula.
Seus olhos avaliam meu corpo. Sua intensidade se transforma da água
para o vinho.
― Você está quente nesse roupão ― ele completa. Mordo meu lábio.
Suspiro aliviada quando se afasta e tira sua camisa. Meus olhos
percorrem todo seu corpo banhado pela luz da lua.
― Então, essas opções... Você não estava falando sério, não é
mesmo? ― certifico-me.
Johnatan suspira.
― Não pense que não fiquei nervoso. Acabei de descobri que umas
das coisas que mais odeio no momento é discutir com você. ― Ele se senta
me olhando com preocupação. ― Eu adoro a forma com que se preocupa
comigo. Sinto-me alguém em seu mundo, sinto-me importante.
Acaricio seus cabelos sorrindo.
― Você é importante para mim, mas depois dessa noite, eu só o quero
ao meu lado. Desculpe, mas não tive outra escolha. Eu iria mesmo atrás de
você ― confesso.
― Nunca faça isso! ― pede rapidamente, pegando minha mão e a
beijando.
― Você sabe que eu nunca te escuto. São minhas emoções, Johnatan,
tudo isso me leva a fazer coisas erradas. Eu nem mesmo consegui arremessar
uma faca ― lamento.

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― Você salvou Ian ― Johnatan me lembra com carinho. ― E isso eu


não posso discutir. Nem mesmo brigar com você, mas tem que ter certos
cuidados, não era para você ter voltado. ― Sua mão se ergue para acariciar
meu rosto.
― Minhas emoções ― recordo, fazendo-o sorrir.
― Você é uma coisinha pequena e teimosa ― murmura balançando
sua cabeça.
― E você, um grande homem rabugento ― disparo rindo.
― Você brigou comigo pelo telefone ― diz surpreso.
― Isso te assustou? ― pergunto esperançosa.
― Um pouco ― assente enquanto sorrio. ― Eu fiquei chocado, mas,
em seguida, você desligou. Nunca mais desligue na minha cara ― pede.
― Eu juro que queria socá-lo ― confesso, lembrando-me da sua
arrogância.
Ele fica chocado depois abre seu sorriso torto.
― Eu tenho um metro e noventa. ― Ele se convence.
Ergo minha sobrancelha.
― Pois bem, bato em você até chegar a um e sessenta! ― afronto.
Johnatan sorri e se aproxima de mim como um felino faminto.
― Valentona ― diz rouco. A aproximação faz meu corpo despertar.
Seu nariz percorre meu pescoço, arrepiando-me com sua respiração
profunda em minha pele. Seus lábios deslizam por minha garganta e beija
minha pele exposta com ternura. Minha garganta queima com o simples
toque.
Olho para ele, surpresa ao perceber como nosso humor mudou para
algo mais intenso. Meu corpo o deseja de todas as formas. Acaricio seus
cabelos, deslizando meus dedos da sua nuca até seu ombro. Pisco surpresa
com a textura de sua pele em meus dedos, afasto-me para olhar seu ombro em

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choque.
Johnatan puxa meu corpo, deitando-me no colchão enquanto continua
com sua boca provocante em minha pele. Sinto-o desamarrar meu roupão,
mas meus olhos estão na ferida em seu ombro esquerdo.
―Você está ferido! ― tento conter minha preocupação.
― Isso não é nada ― sussurra em meu peito e beija meu colar.
Sua boca desliza para cima até chegar a meus lábios, dando-me um
beijo molhado. Gemo em sua boca com suas mãos percorrendo meu corpo,
afastando o roupão e me deixando exposta. Minha respiração fica cada vez
mais ofegante ao senti-lo provocar cada parte sensível da minha pele com
seus dedos deslizantes.
Quando sua boca se afasta da minha, sugo o ar quente para tentar
manter meus pensamentos focalizados, mas é impossível quando meu corpo
se curva contra o seu sem que eu permita. Gemo com sua boca sugando meu
seio.
― Johnatan! ― ofego. ― Seu machucado... ― Mordo o lábio
sentindo seus dedos descerem por meu ventre até acariciarem meu clitóris.
― Eu estou aqui, minha Mine ― responde, sungando meus bicos
duros um de cada vez. ― Não há nada com o que se preocupar ― diz
ofegante.
Gemo, sentindo meu sexo pulsar enquanto seu indicador provoca meu
clitóris lentamente. Deslizo minhas mãos em seus ombros com prazer.
Johnatan geme quando meu corpo se ergue para ele, facilitando sua mão livre
a esfregar-se em meu corpo.
Pisco os olhos encarando o céu, isso não está me levando a lugar
nenhum. Eu preciso de mais. Agarro sua cabeça, puxando-o para mim. Seus
olhos me encaram com uma malícia cheia de desejo. Beijo seus lábios com
carinho, mas logo me afasto da tentação.

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― Onde você se machucou? ― pergunto suavemente, acariciando


seus cabelos macios.
Seu corpo gruda-se ainda mais ao meu, porém seus dedos me
abandonam. Engulo em seco quando sinto sua ereção dura em meu ventre.
― Foi o tiro ― confessa ofegante. Balança a cabeça como se quisesse
afastar os pensamentos. ― Só pegou de raspão. Isso vai passar.
― Oh! ― exclamo e arregalo meus olhos.
Seus dedos acariciam meu rosto.
― Não fique assustada! ― pede beijando meus lábios.
― Isso poderia ter ferido você gravemente. E se não fosse de raspão?
― pergunto chocada.
― Mine, eu sempre vou me colocar à sua frente quando estiver em
perigo. Independentemente do que for, até mesmo de uma bala. Eu prometi a
mim mesmo que te protegeria. Não posso permitir que nada de ruim lhe
aconteça. Para chegarem perto de você terão que passar por mim primeiro.
Pisco olhando para ele, meu coração acelera com a intensidade de
seus olhos e sua voz, contudo, a ameaça está carregada em seu tom. Olho-o
com carinho, acariciando seu rosto, desejando poder fazer algo por ele.
― Vamos cuidar do seu machucado ― sussurro, beijando-o
suavemente. ― Vou pegar o kit de primeiros socorros.
Ouso me levantar, mas seus braços me cercam.
― Eu tenho um aqui ― sussurra em meu ouvido.
― Ótimo! Onde está? ― pergunto.
Johnatan volta a deitar meu corpo para beijar meus lábios, assim
como eu a acariciar seu rosto, sentindo sua barba rasa em minhas mãos.
― Eu tenho um kit completo bem aqui na minha frente ― responde
em meus lábios.
Gemo ao sentir seu dedo me penetrar. Fecho os olhos inebriados e o

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beijo, deslizando minhas mãos por seu corpo até chegar à sua calça.
Johnatan me ajuda a afastá-la arrepiando-me com seus gemidos em
minha boca. Toco em sua ereção com vontade.
― Mine ― meu nome sai como uma oração cheia de prazer.
― Eu o quero dentro de mim. Agora! ― ordeno aos gemidos.
― Exigente ― murmura provocante, em seguida, sua boca volta a
devorar a minha.
Assim que nos livramos de sua calça, suas mãos deslizam em minhas
coxas quando as prendo ao redor de sua cintura. Escuto o plástico da
camisinha ser rasgado apressadamente até eu sentir sua ereção provocar meu
sexo molhado, fazendo meus quadris se moverem contra ele.
Ofegado com sua boca em minha pele sensível. Arrepio-me só de
escutá-lo me provocar com palavras russas. Com um desejo incontrolável,
puxo-o para mim, invadindo minha língua em sua boca, dando-lhe um beijo
cheio de tesão.
Johnatan penetra lentamente. Meu sexo aperta o seu com intensidade.
Gememos juntos enquanto nos mexemos. Johnatan se move devagar,
fazendo-me apreciar cada movimento prazeroso dentro de mim.
Somos apenas línguas, toques, beijos e respirações abafadas. Nossos
gemidos são suaves e ofegantes. Quando perdemos o controle, suas estocadas
se tornam mais profundas. Meu corpo vibrante gruda-se ao seu com desejo.
Minhas mãos arranham seu corpo com prazer. Suas mãos fortes esfregam-se
em meu corpo suado com força e possessividade. Quando atinjo meu
orgasmo intenso, gemo suavemente com o prazer. Johnatan estoca mais duas
vezes até gozar. Eu adoraria senti-lo me completar com seu prazer, mas
temos que ter precauções.
― Eu preciso ir ao médico ― digo rapidamente.
Eu o espio se levantar para tirar a camisinha e se limpar.

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― Eu concordo. Você é deliciosa por dentro, mas gostaria de provar


sem nada disso. Nunca senti nada parecido. Percebi agora que usar essas
porcarias só me faz sentir sufocado ― confessa sorrindo.
Depois de me limpar, jogo meu roupão no chão para me recostar nos
travesseiros. Johnatan se junta a mim, puxando meu corpo para o seu.
― Você sempre usou camisinhas? ― coro ao perguntar.
Pensar em Johnatan com outras mulheres me deixa nervosa, mas
estou curiosa para saber mais dele.
― Eu nunca deixei de usar ― responde com sinceridade e me olha
com um leve sorriso. ― Só que não quero mais usar com você ― empolga-
se, apertando meu corpo.
― Sinto-me lisonjeada. Espero que seja apenas comigo por muito
tempo. ― Beijo seus lábios.
Ele franze o cenho.
― Você é minha exceção. A única em minha vida. Meu futuro
existencial. Não se preocupe, meus olhos, meu corpo, meus pensamentos e
meu coração pertencem somente a você! ― declara, fazendo-me derreter em
seus braços.
Eu o monto para beijá-lo. Suas mãos deslizam por minhas costas nuas
até meus quadris.
― Eu também sou completamente sua ― digo, espalhando beijos
suaves em seu rosto. ― Mas agora...
Ergo meu corpo e rebolo meus quadris, sentindo meu sexo se apertar
contra o seu. Minhas mãos deslizam por seu peitoral másculo.
― Por Deus, mulher! Está cada vez insaciável ― Johnatan ofega com
meus movimentos. Sorrio com malícia.
― Estarei ainda mais depois que cuidar de você... Então, o kit? ―
exijo.

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― Ficarei curado depois de uma segunda rodada ― provoca.


Reviro meus olhos sorrindo.
― Eu quero cuidar de você ― beijo seu peito, olhando-o com súplica.
― Esse olhar deveria ser proibido ― murmura se rendendo.
Deixo que se afaste para pegar o kit de primeiros socorros. Sento-me
na cama, puxando o lençol para meu corpo antes de pegar a maleta das suas
mãos. Umedeço o algodão com água, vendo Johnatan se sentar à minha
frente. Aproveito para enroscar minhas pernas em seu corpo enquanto
trabalho em seu machucado.
Aperto meus lábios para não sorrir ao ver meus arranhões em sua
pele. Sinto seus dedos acariciarem meu joelho enquanto limpo sua ferida com
água e soro, Johnatan nem mesmo se encolhe; mesmo sendo uma ferida
superficial, parece tranquilo. Beijo suas costas.
― Não precisa de pontos. Só um curativo ― analiso, assim como sua
ferida antiga nas costelas já cicatrizadas.
― Eu disse que não era nada demais ― sorri.
Olho para algumas cicatrizes em suas costas.
― Onde conseguiu essas? ― pergunto deslizando meus dedos em
cada uma delas.
― Algumas foram em brigas, outras, em anos de treinamento rígido
― responde rapidamente, e sinto seu corpo ficar tenso.
― Parece que foi cortado por navalhas ― disparo ao voltar a atenção
para seu machucado, preparando um curativo.
― Já me feri com tudo, mas aprendi a lidar com a dor ― suspira.
Aperto minhas pernas em seu corpo.
― Você sempre lida com a dor, Johnatan. ― Eu beijo seu ombro
assim que termino o curativo. ― Isso parece triste, angustiante.
― A dor ajuda a nos mantermos fortes ― afirma.

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Afasto-me, permitindo que se vire e beije meus lábios com urgência.


― Eu não o quero infeliz. Vamos descansar. Foi um longo dia. ―
Beijo suas pálpebras.
― E a segunda rodada? ― sua pergunta me choca.
― Hum... estou com uma dor de cabeça ― brinco escutando sua
risada.
― Sexo é o melhor remédio.
Solto um leve grito agudo quando Johnatan puxa meus quadris e beija
meu corpo, causando-me cócegas. Assim que seus lábios se grudam aos
meus, voltamos à nossa intensidade.

Abro meus olhos confusa com a parede de cristal em meu quarto.


Giro meu corpo e sou surpreendida com um par de olhos azuis intensos.
― Bom dia! ― murmura beijando minha testa.
― Por que não estamos na tenda? ― resmungo preguiçosa,
escondendo meu rosto em seu pescoço. Seus braços se apertam ao meu redor.
― Ficamos um bom tempo por lá ― sussurra beijando meus cabelos.
― Eu a trouxe antes do amanhecer.
―Por quê? ― lamento, fazendo-o rir.
― Eu tenho que subir. O trabalho me chama ― afasto para ver seu
rosto.
― Em pleno domingo? ― pergunto fazendo uma careta.
― Só vou verificar alguns e-mails. Depois disso, vou ao apartamento
de Matt levar as fotos.
Estremeço.
― Eu quero ir com você ― digo sem pensar.
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― Você não precisa se preocupar com isso ― assegura.


― Eu disse a você que quero informações. Preciso ficar alerta ―
lembro-o.
― Ninguém vai chegar perto de você ― ele continua firme. Seus
olhos suaves ficam sérios.
― E eu quero estar informada quando alguém ousar chegar perto de
mim. ― Posso encará-lo dessa forma o dia inteiro.
Seus olhos me avaliam, e vejo sua mandíbula se mover nervosamente.
Johnatan solta a respiração presa, esfregando seu rosto com uma das mãos.
― Eu não quero discutir sobre isso na cama ― diz derrotado. ―
Você nunca vai aprender a me ouvir, não é? ― Johnatan parece lamentar.
― Fala como se isso fosse uma regra para você. ― Sorrio mordendo
meu lábio.
― E é ― afirma.
― Bem ― sento-me para me espreguiçar, sinto seus olhos em minhas
costas nuas ―, regras foram feitas para serem quebradas.
Levanto-me nua, caminhando para o banheiro sinuosamente.
Espio atrás de mim, vendo Johnatan, com seus braços atrás de sua
cabeça, olhar meu corpo descaradamente.
― Os e-mails podem esperar por algumas horas ― diz todo perverso
e se levanta. Lambo meus lábios vendo sua ereção exposta. ― Admirando?
Pisco desorientada, mas prendo a respiração ao observá-lo agarrar seu
membro firmemente enquanto já prepara a camisinha num passe de mágica.
― Oh, Deus! ― sussurro ofegante por sua prevenção.
Johnatan sorri. Seus cabelos rebeldes, assim como seu corpo
musculoso à minha frente me fazem perder os sentidos, pior ainda é encarar
sua mão agarrada ao seu membro.
― Você o quer, minha Mine?

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Há malícia em seu tom. Gemo só de escutar seu suave sotaque.


― Sim ― respondo quase sem ar.
Johnatan me dá seu sorriso torto provocante, fazendo meu sexo
pulsar. Arrepio-me completamente, sentindo meus mamilos enrijecerem
quando escuto suas palavras russas serem pronunciadas de forma ofegante e
tentadora.
― O que isso quer dizer? ― pergunto ofegante.
Johnatan me lança seu olhar avassalador. O sorriso perverso faz
minha pele se arrepiar violentamente. Seus cabelos se espalham quando
inclina sua cabeça para me avaliar atentamente. Meus dedos coçam loucos
para tocar sua barba de um dia.
― Eu disse que vou devorá-la de todas as formas debaixo daquele
chuveiro ― Oh, Bom Deus! Assim fica difícil respirar. ― Com isso e isso.
― Engulo em seco encarando sua ereção e seu indicador apontado para seus
lábios.

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32 – ESCOLHA

Depois de um banho erótico de despedida, Johnatan segue para seu


trabalho enquanto eu me preparo para o dia, vestindo minha calça skinny
preta, uma regata branca com um cardigã cinza, coloco meu par de botas de
salto baixo, arrumo minha cama e saio do quarto depois de verificar as horas.
Já passa das 8h. Caminho até a cozinha, ouvindo as vozes de todos.
Ao entrar no grande espaço, vejo o maravilhoso café da manhã de
Donna na mesa com todos reunidos, exceto Ian. Sento em meu lugar habitual,
dando-lhes bom dia. Todos ali parecem cansados, mas também tranquilos.
Estranho Jordyn com a cabeça deitada na mesa e uma bolsa de gelo em cima.
— O que ela tem? — pergunto quando Donna me serve café.
— Dor de cabeça. — Donna diz revirando os olhos.
— Que mal-estar, Jesus! Por favor, falem mais baixo! — ouvimos
Jordyn murmurar em tom grogue.
— E olha que ela nem bebeu, mas ficou a festa inteira pulando de um
lado para o outro, comendo tudo que via pela frente! — James a repreende
enquanto serve um café.
Minha amiga levanta a cabeça, dando-me um sorriso preguiçoso.
Seus cabelos já tiveram dias melhores. Quando toma seu café, quase cospe.
— James? — chama horrorizada. Jordyn parece gripada.
— O quê? — ele pisca surpreso. — Beba logo isso!
Jordyn volta a colocar sua cabeça sobre a mesa, assim como sua
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bolsa de gelo.
— BOM DIA! — Ian saúda com alegria e se aproxima para me dar
um beijo no rosto. Sorrio para ele acariciando seus cabelos. — Olá, meu
amor! — diz de maneira encantadora para mim.
— Bom dia, Ian! — cumprimento sorrindo, vendo-o se sentar em seu
lugar habitual. Em suas mãos, noto uma espécie de álbum.
Ian olha para o lado e vê Jordyn de cabeça baixa. Todos na mesa
assistem.
— Está com dor de cabeça, Jordyn? — pergunta tranquilamente.
— Não sabe o quanto... — murmura toda doente.
— Que pena... — Ian dispara soltando seu álbum pesado na mesa.
Jordyn salta com o barulho.
James gargalha enquanto Peter e eu apertamos nossos lábios para não
rir das implicâncias dos dois.
— Seu pestinha! — ela o olha em ameaça.
— Você está horrível! — Ian ri. — Me desculpe Jordyn, volte para
sua soneca — diz empurrando a cabeça de Jordyn contra a mesa e colocando
a bolsa de gelo de volta em sua cabeça.
— O que é isso? — Peter pergunta.
Surpreendo-me ao notar que é um álbum de moedas antigas.
— São minhas relíquias — o garoto responde, agrupando suas
moedas organizadamente.
— Eram do meu marido. Ian adora. — Donna explica, beijando a
testa do filho com ternura depois de servi-lo com pão fresco e leite.
— Algumas parecem tão velhas... — James vê mais de perto.
— Elas são bem-cuidadas — Ian defende com seu sorriso
encantador. — O senhor Makgold disse que muitas delas são raras, podem
valer milhões! — diz, apresentando-nos algumas com orgulho.

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— É sério? — James arregala os olhos, curvando-se para pegar o


álbum de Ian, mas ele bate em sua mão antes que toque em suas relíquias.
— Fique longe, James!
Rimos livremente, mas paramos aos poucos quando escutamos
Jordyn gemer. Depois de alguns minutos, nossas conversas param
rapidamente quando Johnatan aparece na cozinha. Ficamos quietos, tomando
nosso café da manhã. Eu praticamente queimo a língua com o café quente só
em vê-lo de jeans, botas e um suéter de malha cinza-escura. O tecido gruda
perfeitamente em seu corpo, revelando-me seus músculos.
Ele tem as mãos nos bolsos, esbanjando charme e sensualidade. Seus
cabelos cuidadosamente penteados espalham-se para trás como se fizesse
aquilo a cada cinco minutos com seus dedos longos. Forço-me a engolir
minha panqueca por vê-lo de barba feita, o que destaca sua mandíbula e
desenha perfeitamente seus lábios. Seus olhos me encontram, lindos globos
azuis profundos, porém perversos. Em seguida, ele franze a testa distraindo-
se ao ver Jordyn. Donna se aproxima para lhe entregar uma xícara de café,
sempre com seu sorriso materno. Ela o adora.
Johnatan ergue seu dedo para que todos façam silêncio antes que
alguém o cumprimente com um bom dia, seguindo silenciosamente até
Jordyn. Eu sinto seu perfume ao passar atrás de mim, mas logo me distraio,
vendo-o se curvar para minha amiga.
Olho para todos na mesa, James parece engolir seu café com esforço
e Peter permanece tranquilo. Com Ian, vejo seu sorriso sabendo o que está
por vir. Meu estômago se embrulha ao pensar que Johnatan poderá
repreender Jordyn.
— JORDYN! — Johnatan fala com firmeza perto de seu ouvido,
assustando todos nós, principalmente ela, que ergue a cabeça, derrubando
tudo à sua volta com o susto seguido por um xingamento.

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Quando olha Johnatan curvado ao seu lado, sua expressão fica cada
vez mais pálida.
— Senhor? — responde trêmula. Ian gargalha livremente. —
Desculpe... O senhor precisa de alguma coisa? Oh, por favor, diga que não...
por favor, eu não estou bem, chefe...
Johnatan se ergue, cruzando seus braços, assistindo-a, seus músculos
parecem saltar quando fica daquela forma.
— Ficar com uma bolsa de gelo na cabeça não vai melhorar nada,
muito menos o esmorecimento em seu corpo — ele informa. Jordyn se
encolhe, afastando a bolsa de gelo.
— Eu disse para ela tomar o remédio — Donna suspira como se
estivesse cansada de dizer aquilo.
Johnatan tira uma pequena caixa do bolso e o coloca à sua frente.
Jordyn encara o remédio fazendo uma careta.
— Tome! — ordena seriamente, fazendo-a encolher com seu olhar
mandão. Rapidamente ela engole o que tem no pequeno frasco. — Não
preciso de seus serviços. Vá descansar, aliás, quando eu precisar de vocês, eu
os chamarei — Johnatan diz me olhando com intensidade, aperto minhas
pernas. — Mine, acompanhe-me até minha sala.
Arregalo os olhos com seu pedido. Depois que termino meu café,
sigo-o até a biblioteca. Pela janela de vidro atrás de sua mesa, vejo o tempo
nublado, mesmo assim, o contraste não perde a beleza das montanhas.
Ao fechar a porta, eu o observo se mover ao redor para se acomodar
confortavelmente em sua cadeira e colocar sua xícara de café em cima da
madeira. Noto alguns papéis empilhados, assim como o envelope pardo.
Mantenho minha atenção nele ao me aproximar.
— Você vai começar a ficar aqui na biblioteca. Precisarei de tudo
isso organizado o quanto antes — diz todo profissional, curvando-se para

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conferir algo em seu laptop. — Andei vendo alguns uniformes para você.
Balanço minha cabeça para coordenar meus pensamentos. Johnatan
ergue sua sobrancelha me revelando a sombra de um sorriso se formando em
seu rosto.
— Você não... — Engulo minhas palavras.
Caminho apressadamente até ele para ver o que tem em seu
computador. Johnatan aproveita para me puxar para seu colo e beijar meu
rosto.
Olho-o chocada depois de me deparar com um site de lingeries.
— Tem algumas muito tentadoras... — ele provoca e se curva para
rolar a página para baixo me mostrando alguns modelos.
Coro só de ver uma calcinha fio dental muito transparente.
— Você só pode estar brincando comigo! — disparo o fazendo rir.
— São boas opções, eu tenho até uma escada específica para você
subir e descer enquanto eu a assisto. — Johnatan aponta para uma prateleira.
Ergo minha sobrancelha por sua perversão.
— Tenho certeza de que Jordyn e Donna compraram algumas peças
muito sensuais para mim no dia das compras — minto, mas na verdade são
apenas naturais, nada muito fora do comum, embora algumas calcinhas sejam
realmente pequenas.
Os olhos de Johnatan se arregalam.
— Isso é maravilhoso! — comemora.
Eu o empurro rindo, levantando-me de seu colo.
— Você é um pervertido! — comento e caminho até a frente de sua
mesa. Johnatan me assiste.
— Somente com você — diz com um leve sorriso.
Inclino minha cabeça toda presunçosa.
— Você não me chamou até aqui para isso, não foi? — questiono,

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apontando meu queixo para seu computador.


Johnatan suspira deslizando seus dedos pelos cabelos. Como pode
parecer ainda mais sexy agindo daquela forma?
— Talvez — acena com um sorriso largo. — Mas é para informá-la
de que a levarei novamente para ver seu pai hoje.
Eu me animo com a notícia.
— Isso é sério? — indago impressionada, sentindo meu coração
explodir de alegria.
— Só se você usar uma dessas peças que irei escolher — fala como
se quisesse negociar.
— Nem pensar — murmuro, fazendo-o rir.
— Eu costumo ser muito insistente quando quero, minha Mine —
sussurra, encarando meus olhos com intensidade.
— E eu posso ser muito difícil, meu Grekov — provoco-o. Johnatan
aprecia seu nome saindo dos meus lábios.
— Isso é sexy. Qualquer dia iremos negociar — murmura com
desejo, mas logo se mantém sério. — Depois do seu pai, iremos para o
apartamento de Matt. Preciso levar essa papelada e as fotos para ele.
Arrepio-me com mudança de assunto.
— Fico feliz por não me deixar de fora dos assuntos — agradeço
com um leve sorriso.
Johnatan me avalia com cuidado.
— Acredite — suspira, puxando seus cabelos para trás novamente.
— Estou numa luta interna contra isso, só que eu não quero deixá-la para trás
— desabafa.
— Obrigada! — Sorrio para ele, vendo seus olhos brilharem ao me
fitar.
— Não sorria para mim dessa forma. Eu posso jogar tudo para o ar só

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para satisfazer você. — Ele ri todo exasperado.


Meu coração bate forte contra meu peito.
— Por que não faz isso? — pergunto, ele parece se abrir ainda mais.
— Porque se eu fizer muitas coisas por você, acabarei perdendo o
controle de tudo à minha volta. É como se eu estivesse com a cabeça fora do
lugar — confessa sem jeito.
— Soa tentador... — provoco-o.
— Mine... — seu grunhido me faz sorrir ainda mais.
— Então, senhor Makgold, se é só isso... vou me retirar — digo toda
profissional, assentindo e me virando.
— Tem certeza de que não vai querer a lingerie? Tem uma peça que
custa cem mil dólares, ficaria perfeita em você... — fala atrás de mim
enquanto me afasto.
Sorrio revirando meus olhos.
— Não! — digo próximo da porta.
— Há uma chamada Calada da Noite... — continua.
— Nem pensar, Johnatan! — nego.
— Sabe? Eu detesto quando as pessoas viram as costas para mim
quando eu não termino o assunto! — reclama. Viro-me antes de sair.
— É mesmo? Que pena — falo com falsa inocência, inclinando
minha cabeça para o lado.
— Você gosta de fazer isso, não é? — sorri. — Tem sorte de que, no
seu caso, eu aprecio sua linda bunda rebolando de um lado para outro. É uma
bela distração — beberica seu café como se dissesse algo comum. Tento
controlar minha risada.
— Tenha um bom trabalho! — viro-me e saio.

Depois do almoço, cada um segue para seus aposentos, exceto James,

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que prefere cuidar dos cavalos. Penso em ir até o quarto de Jordyn, mas
desisto imaginando que ela já deve estar no vigésimo sono.
No meu quarto, folheio o livro de medicina, mas uma página é o
suficiente para fazer minhas pálpebras pesarem.
Desperto quando sinto lábios quentes em minha bochecha. Viro meu
rosto vendo Johnatan curvado à minha frente.
— Desculpe a demora — sussurra, beijando meus lábios levemente.
— Que horas são? — pergunto me espreguiçando.
— Duas da tarde — responde, fico surpresa. — Vista uma blusa, vou
te esperar no carro.
Aceno e me levanto assim que Johnatan sai do quarto. Pego meu
casaco, vestindo-o rapidamente.
Caminho para fora da casa, escondendo minhas mãos em meus
bolsos. O ar frio faz meu nariz arder. O conversível de Johnatan está parado
em frente à imensa casa, entro, já puxando o cinto de segurança. Sorrio com o
cuidado de Johnatan, ele já havia ligado o aquecedor para me amenizar o frio
dentro do veículo, em seguida, entrega-me um par de luvas, eu as coloco sem
hesitar.
No caminho até a casa de meu pai, nós nos mantemos em silêncio,
meu corpo ainda anseia por descanso. Johnatan dirige tranquilamente,
acariciando meu joelho. Envolvo seu braço, inspirando o perfume suave de
sua roupa.
Quando chegamos, saio do carro às pressas. Corro para dentro, vendo
César e meu pai sentados à mesa. Seus olhos se erguem surpresos ao me ver.
— Surpresa! — corro até meu pai, sentando ao seu lado e o abraço.
— Isso é maravilhoso! — aperta-me em seus braços.
O aroma de espaguete me distrai.
— Isso parece bom — pego um prato e me sirvo.

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— Como chegou até aqui? Peter te trouxe? — pergunta.


— Não — balanço a cabeça. — O senhor Makgold... — franzo a testa
olhado para a entrada da casa, não o encontrando. — Acho que ele está no
carro...
— Então, como está o emprego, Mine? — Cesar rouba minha
atenção, mudando de assunto. Fico agradecida por isso.
Permanecemos conversando enquanto comemos, mas em nenhum
momento Johnatan entra. Fico com meu pai até ele tomar seu remédio e
voltar a se deitar. Percebo o quanto aquela rotina o deixa nervoso, mas tanto
eu quanto ele sabemos que está melhorando cada vez mais. Permaneço ao seu
lado até fazê-lo dormir, acaricio seus cabelos grisalhos e beijo seu rosto
ternamente. Vejo seu rosto relaxado enquanto ele dorme tranquilamente, um
tempo depois me afasto.
Encontro Cesar ainda na cozinha, e, para minha surpresa, Johnatan
está na sala olhando algumas madeiras de meu pai. O vizinho prestativo
parece espiá-lo.
— Obrigada, Cesar. Dê os remédios dele certinho — peço, fazendo-o
sorrir.
— Como quiser — ele acena.
Johnatan se vira para mim. Caminho até ele com um leve sorriso.
— Pronta?
— Sim — respondo timidamente. — Desculpe por demorar um
pouco. Você podia entrar.
— Já estou dentro — suspira antes de olhar em direção ao outro
homem na cozinha. — Como eu disse, qualquer coisa, ligue-me! — Johnatan
parece ordenar. Cesar assente.
Pergunto-me o que eles conversaram enquanto estive com meu pai no
quarto.

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— C-claro — ele gagueja. Sorrio para ele, despedindo-me com um


aceno.
De volta ao carro, sinto-me mais aquecida.
— Como foi com seu pai? — Johnatan indaga, mantendo seus olhos
na estrada.
— Foi bem. Ele parece melhor. Já havíamos combinados de ir pescar
no próximo final de semana. Tudo bem para você? — sondo esperançosa.
— Qualquer coisa por você — diz tocando meu rosto. Aperto sua mão
em minha bochecha.
Seu trajeto com o carro não é para sua casa, sei que estamos indo
encontrar Matt. De algum modo, Johnatan permanece relutante.
Assim que chegamos ao centro da cidade, Johnatan estaciona em
frente a um prédio luxuoso. Saio do carro, dessa vez, quando ele abre a porta
para mim.
— Matt mora aqui? — pergunto.
— Sim — Johnatan responde.
Somos distraídos por um dos seguranças.
— O senhor quer que guarde seu carro?
O homem possui um porte forte e cabeça raspada.
Johnatan entrega a chave sem lhe dar um simples “obrigado”.
Seguimos para dentro do prédio, direto para o elevador. Johnatan
mantém sua postura reta e rígida, pergunto-me por que ele parece tão
relutante.
Quando chegamos ao andar de Matt, sou conduzida até seu
apartamento. Johnatan toca a campainha enquanto eu fico ao seu lado.
Matt abre a porta, parecendo que acabou de chegar depois de um
trabalho exaustivo.
— Olá — ele nos cumprimenta apertando nossas mãos. — Entrem!

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Quando entro nem me surpreendo com a imensidão de riqueza. Tudo


é uma mistura harmoniosa entre clássico e moderno.
— Querem beber algo? — pergunta nosso anfitrião.
Johnatan suspira, entregando-lhe dois envelopes. Estremeço.
— Whisky duplo — Johnatan pede.
Desconfiado, Matt nos olha com os envelopes em mãos.
— E você, Mine? — Ele me encara com seus olhos escuros.
— Pode ser um suco? — indago. Sinto-me nervosa.
Matt levanta sua sobrancelha.
— Acompanhem-me até meu escritório — suspira.
Nós o seguimos até um corredor extenso cheio de pinturas. Assim que
chegamos ao local, aprecio uma estante de pastas e livros cuidadosamente
organizados. Em uma cômoda, vejo que Matt tem seu próprio minibar.
Depois que coloca os envelopes em sua mesa, segue para o bar e prepara a
bebida de Johnatan.
Sento em uma das cadeiras estofadas, vendo Johnatan ainda de pé.
Quando Matt se aproxima, entrega-nos nossas bebidas. Franzo a testa
pegando o copo médio.
— É apenas vinho branco — Matt explica. Olho para Johnatan,
vendo-o acenar positivamente. Tomo um gole, sentindo o líquido refrescar
meu corpo quente. — O que temos aqui...
Ele vai até sua mesa para pegar os envelopes. Tanto eu quanto
Johnatan ficamos calados. Matt analisa as fotografias em choque.
— Eu não faço a mínima ideia de quem está fazendo isso — Johnatan
desabafa bebendo seu whisky.
O advogado espalha as imagens em sua mesa horrorizado.
— Isso vem das pessoas que te procuram, John — diz, separando as
fotografias em que estou.

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— Isso é de segunda mão. Se eles estão atrás de mim, por que


chegariam perto delas? — aponta para as imagens das mulheres mortas.
Estremeço.
— Talvez seja um alerta — Matt murmura pensativo. Beberico meu
vinho sem sentir o gosto. — Você soube se essas mortes são verdadeiras? —
pergunta.
Johnatan acena com os lábios apertados.
— A família de Verônica confirmou a morte. Ela estava em Chicago
na semana passada. — A revelação me pega de surpresa.
— Então, isso é verdade? — digo atônita.
Johnatan pisca, dando-se conta de que continuo ali.
— Ninguém vai tocar em você — assegura com firmeza, apertando o
copo em sua mão. Deixo o meu vinho sobre a mesa, eu não consigo engolir
mais nada.
— Como pode ter tanta certeza disso, John? Se até nas fotos eles
tentam focar em Mine?
Encolho-me em meu assento ao escutar a respiração pesada de
Johnatan.
— O que está mencionando? — indaga friamente.
— Estou dizendo que é um passo grande para eles. Essas mortes estão
sendo reais e, pelo que consta, estão seguindo um trajeto até descobrir o
ponto onde mais lhe dói. Isso tudo levará a ela — Matt aponta em minha
direção.
— Não se eu impedir — Johnatan rebate ríspido.
— Eles são muitos espalhados por aí, Johnatan!
Estremeço com a informação de Matt.
— Estou investigando dia após dia. Você se meteu num campo
perigoso, o qual eu jamais imaginaria. Agora, pense que tudo isso possa te

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levar a uma escolha. — Matt engrossa a voz à medida que se irrita.


Arregalo meus olhos vendo os dois se encararem com frieza.
— Que tipo de escolha? — Johnatan pergunta entredentes.
— Ou ela ou você.

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33 – O ATAQUE

Levanto-me da minha cadeira para encará-lo friamente. Matt se afasta


surpreso com minha reação.
— Eu não preciso de escolhas — Johnatan dispara. Escuto o fervor se
mesclar com a raiva em sua voz.
— O que está querendo dizer? — surpreendo-me com o fato de que
minha voz saia tão firme. Encaro Matt, ignorando a fúria de Johnatan ao meu
lado.
— O que quero dizer é bem simples, mas complicado para ambos. Ou
você morre ou ele morre — Matt senta em sua cadeira exasperado.
Meu coração acelera em choque, sinto todo o sangue em meu rosto
drenar. Sento-me rapidamente, sentindo minhas pernas bambas.
— Isso não vai acontecer — Johnatan sussurra quando vê o pânico
em meus olhos.
— Eu disse que está lidando com um grupo criminoso, John. Eles
estão atrás de você por algum motivo, não sabemos a extensão disso. Nunca
vão descansar até pôr as mãos em você, mas, agora, estão mais espertos em
procurar algo que te motiva a se aproximar, e será Mine — pisco surpresa.
— Ninguém vai tocá-la. Se chegar a acontecer, irei caçá-los até no
inferno — a voz sombria de Johnatan me faz estremecer.
— Seu namorado é impossível quando está exaltado — Matt reclama
olhando para mim.
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— E você ainda nem me viu nervosa — digo com desdém e suspiro.


— Isso é loucura, Johnatan — lamento, sentindo minhas lágrimas. — Eles
não vão parar — engulo o nó em minha garganta.
— Tudo tem uma solução — Johnatan inspira profundamente, como
se buscasse por controle.
— O que está pensando em fazer? — Matt pergunta, inclinando-se em
sua cadeira.
Johnatan dispara seus olhos ferventes para o advogado.
— Vou terminar a obra que meu pai estava tentando criar — Johnatan
anuncia, fazendo-nos saltar de nossos acentos.
— Você vai o quê? — Matt tira a pergunta chocada da minha boca.
— Eu lhe trouxe os relatórios com as assinaturas. Eles querem aquele
prédio para se aliarem ainda mais, só que eu não vou permitir. Abrirei
qualquer negócio em cima disso — Johnatan anuncia dando de ombros.
— Você não está pensando da maneira correta! — digo, tentando me
livrar do tormento dentro de mim.
— Escute sua namorada — Matt apoia.
— Eu não devo pensar, Mine, mas sim agir. Não posso cruzar os
braços sabendo que você está correndo riscos — Johnatan me olha exausto.
— Eu não sou nada sem você.
— Eu ficarei mais em risco se você se arriscar dessa maneira —
exaspero-me.
— Por quê? Estou fazendo isso para encontrá-los. O prédio é um bom
ponto para começar — ele franze a testa confuso.
— Você está se ouvindo? — pergunto rispidamente, caminhando em
sua direção para encará-lo de perto. — Como pode pensar em criar algo
perigoso assim? Você viu o que aconteceu naquele prédio dias atrás.
Johnatan, eles estão atrás de você, não vão descansar até encontrá-lo. Usando

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aquele prédio ou não, as coisas só vão piorar.


— É melhor você escutá-la — escuto Matt atrás de mim.
— Você me prometeu que não se aliaria a eles — minhas palavras
pegam Johnatan de surpresa.
— Não estou me aliando — ele rebate, mas não me intimido.
— Terminando aquele prédio pode ser o começo. Eu não posso
permitir que faça isso — digo com lágrimas em meus olhos. — Você vai
resolver da maneira certa, tem que resolver...
— Eu estou tentando, Mine — ele me interrompe com frieza. Inspiro
profundamente em busca de controle, mas minha expressão de raiva o faz
recuar.
— Você vai ligar para essas mulheres para descobrir se estão
realmente mortas. Verônica já foi confirmada e as outras? Se todas estiverem
mesmo mortas, as outras com quem você já se envolveu podem estar iludidas
à sua espera, podendo cair em uma emboscada. Você deve terminar, tem que
acabar com isso. Querendo ou não, são mulheres inocentes — minha frieza
faz seus os olhos se arregalarem.
Uma tossida de Matt nos distrai. Viro-me, vendo-o me encarar com
diversão.
— Eu sei que não é o momento para brincadeiras, desculpe-me por
meter a colher na discussão de vocês, mas eu concordo com a Mine. Sugiro
que faça um contrato de confidencialidade para as mulheres — Matt sugere
cruzando seus braços.
Balanço minha cabeça.
— Ótimo! — Viro-me dando um tapa no peito duro de Johnatan,
como se lhe desejasse “boa sorte” de forma mais agressiva.
Johnatan desliza as mãos em seus cabelos com força.
— Eu odeio discutir com você, mas nada não vai mudar minha

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opinião de finalizar aquele prédio. — Sua atenção volta-se para Matt. —


Verifique os documentos e me passe as informações necessárias o quanto
antes para prosseguir com o processo.
Reviro meus olhos para Matt.
— Não olhe para mim. Quando ele coloca uma coisa na cabeça é
difícil tirar. — Matt ergue suas mãos se defendendo.
— E todas as coisas inclui você — Johnatan diz me surpreendendo
com um beijo rápido.
Os dois continuam conversando, mas não quero dar ouvidos ao novo
projeto.
Quando retornamos ao carro, Johnatan dirige silenciosamente
enquanto eu apenas observo as ruas pela janela.
— Peter irá te levar de volta para casa. Terei que ir até a empresa para
assinar alguns papéis — Johnatan informa.
Viro-me vendo-o digitar alguma mensagem rápida em seu celular.
Estranho seu semblante sério com olhar fixo na estrada.
— Esses papéis têm a ver com a construção? — indago, respirando
com dificuldade.
— Uma parte — responde. Arrepio-me.
— Matt tem razão. Isso é muito arriscado — digo, engolindo o nó em
minha garganta.
— Entendo que esteja preocupada, mas estou fazendo isso para detê-
los. De qualquer forma, eles irão saber sobre o prédio— tenta explicar
calmamente. — Também saberão que para ter qualquer posse da minha
família, terão que passar por cima de mim primeiro — sua voz se torna mais
dura.
— É perigoso — insisto. — E se o prédio for mesmo o lugar que seu
pai devia para essas pessoas?

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— Então, é mais um motivo para descobrirem. É minha isca, Mine.


Eu não posso continuar vivendo dessa forma, mesmo sabendo que meu pai
estava envolvido — diz pensativo.
— Também há outra hipótese. Eles estão matando pessoas próximas
de você. Talvez seja o motivo de impulsioná-lo a se aliar... — meus
pensamentos se perdem devido à tensão em meu corpo.
— As únicas pessoas próximas de mim se foram. Eu só tenho você —
dispara, apertando suas mãos no volante. — E, como já disse, ninguém vai
tocar em você. Para isso, estou tendo uma segunda opção ao construir esse
prédio.
— O que está querendo dizer?
— Eu farei uma troca — Johnatan revela fazendo meus olhos se
arregalarem. — Se foi esse o serviço que meu pai propôs a fazer, finalizarei.
— A troco de quê? — pergunto seriamente.
— Que me deixem em paz. — Encolho-me com seu ódio intenso.
— Não parece ser tão fácil quanto pensa — afirmo.
— E não é — murmura, tendo sua mandíbula apertada. — Saber que
darei a chance de vitória para as pessoas que mataram minha família não é
fácil, mas não vou me arriscar e colocá-la em perigo.
Seus olhos azuis me encaram intensamente. Acaricio seu rosto,
vendo-o se inclinar até minha mão, inspirando o perfume em meu pulso.
— Acha que eles vão concordar? — pergunto quando se afasta,
voltando sua atenção para a estrada.
— Devem... — murmura confuso, encarando o painel do carro.
Franzo a testa quando muda o percurso rapidamente, acelerando e
diminuindo a velocidade em seguida.
— Para onde estamos indo?
Encaro os prédios de tijolos antigos à nossa volta. A rua parece um

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beco sem saída.


— Saia do carro — ordena de repente.
Assusto-me.
— O quê?
— Agora! — Johnatan pede com pressa, tirando seu cinto de
segurança e se curvando para afastar o meu.
O carro está lento demais. Sou surpreendida quando Johnatan me
puxa para seu colo com facilidade. Ele abre a porta e, num impulso simples,
sai do carro me levando junto.
O conversível segue o percurso tranquilamente. Johnatan tem seus
braços enroscados em minha cintura. Viro-me para encará-lo.
— O que foi isso? — disparo confusa.
Encaro o carro, seguindo em frente lentamente.
— Temos que ir — ele agarra minha mão, afastando-me para longe.
— Mas Johnatan... O carro — digo tentando acompanhar seus passos.
Ele me ignora ao fazer uma ligação.
— Peter... Rastreie meu celular — escuto-o ordenar e desliga em
seguida.
Sou puxada como um saco de batata, sem deixar de olhar para trás
confusa. O carro de Johnatan só para quando bate contra uma parede distante
e explode. Assusto-me com o estrondo, o carro luxuoso é consumido pelo
fogo.
— Seu carro explodiu? — digo quase sem voz.
Johnatan enrosca seu braço firmemente em meu corpo num aperto
reconfortante. Me seguro em seu corpo forçando minhas pernas a seguirem
em frente.
— Colocaram uma bomba. A gasolina estava vazando, uma provável
bomba montada que suga o combustível do carro — ele diz pensativo, mas

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não entendo nada do que está dizendo, apenas me concentro na palavra


“bomba”. — Acho que vou ter que agilizar a construção daquele prédio o
mais rápido possível.
Olho para trás, vendo o carro em chamas. Johnatan continua me
levando até a cena desaparecer das minhas vistas.
— Droga — distraio-me com o som de alerta em sua voz.
Arregalo meus olhos quando o vejo arrancar algo de seu pescoço e
olhar para sua palma, há um dardo de metal. À nossa frente, observo uma
moto negra se aproximar. O barulho é assustador, como se nos avisasse que
sua chegada tem um propósito.
Johnatan me mantém atrás de seu corpo, jogando a seringa no chão.
Ele saca uma arma do seu paletó, destrava-a e a aponta para o motoqueiro. A
moto acelera em nossa direção, Johnatan dispara, assustando-me ao errar o
alvo. Ele grunhe, noto, então, sua luta para manter os olhos abertos.
O motoqueiro é ágil, desviando-se de mais um tiro. Johnatan me
afasta, preparando-se para derrubar o indivíduo.
Tudo é muito rápido, sua arma cai quando o motoqueiro o alcança e
agarra o seu braço estendido. O impulso faz com que seu corpo gire no ar
violentamente. Vejo-o, horrorizada, cair brutalmente no chão.
— Não! — grito, correndo até ele e caindo de joelhos. — Johnatan!
Johnatan!
Toco seu rosto pálido, desesperada. Ele luta para se manter acordado.
Pela primeira vez, vejo meu Johnatan fraco.
— Mine — sussurra meu nome fracamente. Seguro sua cabeça com
cuidado.
Escuto a moto voltar a ameaçar. Ajusto-me para abraçar o corpo frágil
de Johnatan.
— Por favor, acorda! — imploro vendo suas pálpebras se fecharem.

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— Johnatan, não fecha os olhos! Por favor, acorde!


Olho para trás desesperada. Estremeço quando o homem de roupas
escuras desce da moto, arrancando seu capacete. Ele usa uma touca ninja,
revelando apenas seus olhos. Sacudo o corpo de Johnatan com urgência.
Choro por tê-lo caído em meus braços, meu coração dói por vê-lo daquela
forma. Encosto meu rosto contra o seu, sentindo sua respiração fraca, mas
quando examino seus batimentos cardíacos em seu pescoço, percebo que está
acelerado.
Olho novamente para trás, reconhecendo os olhos cor de gelo do
homem, fixos em Johnatan, ele mal nota minha presença.
Não posso deixá-lo tocar Johnatan. Deito-o com cuidado e me rastejo
rapidamente no chão para pegar a arma. Em seguida, levanto-me mirando no
homem.
Ele não hesita, nem mesmo com a arma apontada em sua direção.
Mesmo com minhas mãos trêmulas, tento segurá-la com firmeza. Mantenho
Johnatan caído atrás de mim e inspiro profundamente.
— Fique longe dele. AGORA! — grito friamente, sentindo minhas
lágrimas caírem sem que eu as permita.
O homem para abruptamente, percebendo finalmente minha presença.
Seu olhar gélido de assassino faz minhas pernas tremerem. Percebo que ele
tem uma faca enroscada em sua cintura. Ele mantém sua postura avançando
mais um passo, mas me mantenho firme em meu lugar
— Mine?! — arregalo meus olhos me distraindo com a chegada de
Peter.
Ele se assusta ao ver Johnatan caído. O homem de preto rapidamente
arremessa sua faca na direção de Peter. Minha respiração trava ao ver meu
amigo se curvar contra o ataque.
Engulo em seco quando Peter avança para o homem sem se intimidar.

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Vejo-o golpear o rosto coberto do homem com um soco forte. Surpreendo-me


vendo ambos lutando com agilidade. Peter se move com inteligência e
rapidez. O homem se move de forma bruta e estratégica.
Assusto-me quando o motoqueiro consegue torcer o braço de Peter,
fazendo-o grunhir, mas ele não parece se importar, continuando a avançar
contra o homem. Olho atrás de mim, vendo o rosto de Johnatan cada vez
mais pálido.
— Mine, saia! — ouço Peter pedir com urgência.
Balanço minha cabeça, incapaz de deixar Johnatan para trás. Com a
distração, o homem aproveita para atingir Peter, fazendo-o cair de joelhos
para manter seu braço enroscado em seu pescoço. Peter fica vermelho e
engasga. O homem está pronto para girar sua cabeça, mas ergo a arma
novamente, mirando.
— SOLTA ELE! — grito para o bandido. Peter me encara com os
olhos vermelhos e arregalados.
— Mine, não! — Peter pede sufocado. — Corra...
O homem parece se divertir com a luta exposta em minha expressão,
mas principalmente se deliciar com o meu espanto ao vê-lo preparado para
matar Peter.
Atiro contra uma parede o distraindo.
— EU FALEI PARA SOLTÁ-LO! — digo com firmeza, voltando
minha mira para sua direção. — Eu não quero atirar em você, então, peço que
o solte e nos deixe em paz — aviso com a voz embargada. — Por favor...
Os olhos cor de gelo me encaram surpresos, mesmo assim, sufoca
Peter ainda mais. Seus lábios começam a ficar arroxeados.
— Por favor! — suplico chorando.
Pela primeira vez o escuto, não sua voz, mas sim sua risada sombria e
abafada por causa da touca que cobre sua boca. A risada é grossa, mas

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assustadora.
Em seguida, disparo acertando seu joelho. O homem grunhe e se
afasta de Peter. Deixo a arma cair, sentindo-me chocada com o que fiz. Peter
se mantém firme, acertando-o com um golpe forte o fazendo cair e desmaiar
no chão.
Rapidamente Peter inspira e expira o ar com dificuldade ao se
aproximar de mim.
Viro-me voltado para Johnatan no chão.
— O que aconteceu? — Peter pergunta quase sem fôlego tocando o
pescoço de Johnatan para sentir sua pulsação.
— Foi uma seringa — respondo em pânico acariciando os cabelos de
Johnatan. — Ele não acorda — choro.
Peter olha para trás e depois para mim.
— Vamos sair daqui!
Engulo minhas lágrimas acenando.
— Vamos para a casa de Matt — digo sem pensar, é o primeiro lugar
que sugiro por ser o mais próximo.
Peter acena antes de se abaixar para puxar o corpo de Johnatan para
seus ombros.
— Você o matou? — pergunto olhando o homem desacordado no
chão.
— Não. Ele foi nocauteado, mas preciso tirar vocês daqui — Peter diz
com urgência.
Ele se ergue com esforço, segurando o corpo pesado de Johnatan.
— Você recolheu a arma e a seringa? — digo e procuro no chão.
— Sim. Vamos — pede.
— Espere! — falo e caminho até o homem caído.
De perto, ele é mais alto e mais forte, mesmo com as roupas negras de

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couro. Vejo a mancha de sangue no asfalto, bem como em seu jeans.


— Mine — Peter me chama quando ouso tirar a touca do
desconhecido.
O homem move sua cabeça lentamente, assustando-me. Num
impulso, chuto suas costelas. Corro até Peter, e caminhamos para longe.
Quando nos aproximamos de seu carro, ajudo-o com Johnatan assim que
entro, puxando-o para mim. Em seguida, Peter se move, saindo com o carro
acelerado.
— Senhor Polosh? Precisamos da sua ajuda — noto Peter falando ao
celular.

Na volta para o prédio de Matt mantenho Johnatan protegido em meus


braços. Seu corpo é pesado, mas não me importo. Assim que Peter estaciona,
sai do carro com presa.
— Empurre-o — ele pede puxando Johnatan para seus ombros
novamente enquanto o ajudo.
Olho para os lados a fim de ter certeza de que ninguém nos observa
antes de seguirmos para o elevador.
Ao chegar no andar de Matt, ele abre a porta rapidamente.
— Mas... O quê? — tem seus olhos negros arregalados.
— Senhor. Com licença — Peter invade o apartamento, e entro em
seguida.
Peter deixa Johnatan em cima do balcão de madeira na sala e respira
com dificuldade devido aos seus esforços.
— Tudo bem — Matt balança a cabeça. — O que aconteceu?
— Fomos atacados. O homem usou essa seringa no senhor Makgold
— Peter entrega o objeto a Matt.
Permaneço ao lado de Johnatan, acariciando seu rosto.

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— Não podemos levá-lo ao hospital. — Meu coração se aperta


intensamente com a preocupação.
— Eu posso ter estudado Direito, mas também passei uns dois anos
estudando Bioquímica. Minha esposa era doutora nessa área — Matt revela
com um suspiro carregado. — Vou dar uma verificada nisso. Ele teve alguma
vertigem?
— Um pouco, foi de imediato. Johnatan estava tentando se manter de
pé depois que foi atacado. Por favor, façam alguma coisa — imploro com
lágrimas nos olhos, vendo seus lábios pálidos.
— Vamos tirar esse casaco para deixá-lo mais confortável. — Peter
sugere.
Eu os ajudo puxando a blusa de Johnatan e livrando-o de seus sapatos.
Peter verifica sua temperatura, agarro uma de suas mãos, sentindo-a gelada.
Matt tira a trava de êmbolo da seringa para cheirá-la.
— Isso é forte — murmura quase tossindo.
De repente, nós nos assustamos quando a mão de Johnatan voa em
direção ao pescoço de Matt, apertando-o.
Johnatan se ergue ainda fraco, apoiando-se em seu cotovelo. Matt
engasga.
— John... Sou eu — ele diz sufocante.
— Onde ela está? ONDE ESTÁ MINE?!
Sua voz potente cheia de ódio assusta todos nós. Me curvo para tocar
seu ombro.
— Eu estou aqui. Está tudo bem — acalmo-o com urgência.
De imediato, ele solta Matt para se virar em minha direção, sentando-
se com esforço e me puxando para seus braços.
— Graças a Deus! — murmura em meus cabelos.
Abraço-o, escondendo-me em seus braços fortes. Dessa forma me

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sinto mais aquecida.


— Dá próxima, vez irei te amarrar — escuto Matt reclamar tossindo.
Aperto Johnatan em meus braços. Inspiro o perfume suave em seu
peito com alívio, mesmo ele ainda estando grogue.
— Alguém a viu? — permanecemos em silêncio com sua pergunta.
Sinto sua respiração se alterar. Seus braços me apertam, fazendo-me sentir
seu corpo ficar tenso. — Alguém a viu? — pergunta novamente, dessa vez
mais ameaçador, e escondo meu rosto em seu peito, desejando tirar a angústia
de seu coração acelerado. — RESPONDAM!

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34 – LADO A LADO

Sua respiração parece carregada como se ele tivesse corrido uma


maratona três vezes seguidas.
Afasto-me, vendo seu olhar fixos tanto em Matt quanto em Peter.
— Johnatan — eu o chamo agarrando seu rosto. Seus olhos se
prendem aos meus, permitindo-me ver a fúria feroz entre eles.
— Senhor, não tínhamos muito tempo. Eu apenas o nocauteei.
Tivemos que sair de lá o mais rápido possível — Peter explica.
Seguro minha respiração quando Johnatan volta a encará-lo friamente.
— NOCAUTE?! — Johnatan grita irritado assustando todos nós.
Quero mantê-lo ainda sentado, mas suas mãos me afastam de forma
gentil. Ele sai do balcão ainda fraco, recusando qualquer ajuda.
Engulo em seco quando Johnatan se aproxima de Peter para afrontá-lo
de perto.
— Johnatan, acho melhor você ir descansar. Tudo isso está sendo
difícil para vocês. — Matt tenta detê-lo, mas é ignorado.
— Eu te dou a droga de um serviço, para ser deixado para trás? POR
QUE NÃO O MATOU?! — Johnatan dispara cada vez mais irritado, as veias
de seu pescoço saltam, revelando seu humor no momento.
Fico cada vez mais chocada ao vê-lo tratar Peter friamente.
— Johnatan, não precisa falar assim. Se não fosse por ele, estaríamos
em perigo — eu tento confortá-lo sem recuar. Quando me olha em alerta,
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ergue seu dedo para que eu não me aproxime ou dê qualquer palavra.


— Já estamos correndo perigo — ele diz friamente, erguendo sua
sobrancelha com descrença. Fecho a cara.
— Eu fiz o que tinha que ser feito. Como disse, não tínhamos muito
tempo, mas meu trabalho não inclui matar pessoas. — Peter se defende sem
se encolher com o olhar ameaçador do chefe à sua frente. Em parte, eu
admiro isso.
Johnatan se afasta para espalhar seus cabelos para trás, de maneira
exasperada, soltando a respiração com força. Ele cambaleia e balança a
cabeça para livrar-se da tontura.
— John, é melhor você descansar. Amanhã poderá pensar com mais
clareza. — Matt pede cuidadosamente.
— Não me peça para descansar — sibila virando-se para ele. —
Como posso me tranquilizar sabendo que Mine corre risco? E tudo por minha
causa?
Não quero pensar no pior agora, só desejo um pouco de tranquilidade.
— Johnatan, escute Matt. Você está muito fraco. Por favor — peço
com cuidado, encolhendo-me com seu olhar febril.
— Estou perfeitamente bem — ele murmura ríspido.
Nós o assistimos colocar seus sapatos e, em seguida, afastar-se. Todos
o seguimos rapidamente para tentar detê-lo. Johnatan caminha em passos
duros até a saída.
— John... — Matt o chama.
— NÃO! — Ele se vira erguendo seu indicador novamente,
interrompendo-nos de seguir em frente. — Não venham me deter. Já
cometemos erros demais por hoje — dispara olhando Peter ao meu lado.
Meu estômago se embrulha com seu olhar em chamas cheios de ódio.
— O que você vai fazer? — Matt pergunta.

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— Matar o segurança do seu prédio — escutamos Johnatan murmurar


sombriamente.
Pulo assustada quando a porta se fecha ruidosamente com sua saída.
Ficamos paralisados encarando a porta. Sinto vontade de correr até ele para
arrastá-lo de volta para dentro do apartamento, mas sei o quanto está nervoso
e fora de controle, meus esforços só iriam piorar a sua situação. Meu coração
se aperta voltando a se preocupar com a distância de Johnatan.
— Venha, Mine — ouço Peter me chamar, puxando-me gentilmente
para a sala.
— Ele vai ficar bem — Matt murmura exasperado. — Vou aproveitar
esse tempo para dar uma olhada nessa seringa. Sintam-se à vontade. — Sorri
com tristeza e o assisto se afastar.
Sento-me no sofá. Apreensiva, viro-me para Peter.
— E se acontecer alguma coisa com ele? E Se aquele homem voltar a
procurá-lo? — Murmuro preocupada, sentindo a dor em meu coração retornar
aos poucos.
Encaro o corredor na esperança de ver Johnatan de volta.
— Provavelmente não — Peter suspira com um sorriso simpático. —
Você atirou nele. Acho muito difícil que consiga andar com uma bala no
joelho — Peter reflete em voz alta, arrepio-me com a lembrança.
— Eu não teria a mesma coragem que Johnatan — confesso,
engolindo o nó em minha garganta.
Meu amigo me olha com seus olhos gentis.
— Você me salvou, foi mais que coragem, Mine. Eu devo agradecê-la
— Peter diz com um sorriso.
Balanço a cabeça.
— Aquilo não foi nada — faço uma careta querendo afastar a
lembrança do ocorrido. — Por que ele é assim? Só estamos tentando ajudá-lo

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— pergunto temerosa, ainda espiando o corredor.


Peter me dá seu sorriso apertado.
— O senhor Makgold sempre foi teimoso — desabafa.
— Ele não deveria ter gritado com você daquele jeito — lamento.
— Já passei por momentos bem piores do que este — Peter ri sem
humor.
Suas palavras despertam minhas curiosidades e o olho em
expectativa.
— Onde você aprendeu a lutar? — indago interessada.
Peter sorri ao ver a curiosidade exposta em meu rosto.
— Eu já servi o exército. Tive treinos difíceis, fui me acostumando e
aprendendo com o tempo. Recebi ofertas de trabalho no ramo, tentei me
adaptar, mas saí depois de alguns anos. Eu só queria uma vida tranquila com
um bom emprego. Foi então que me tornei motorista dos Makgold — ele
revela com simpatia.
— Você e Donna o conhecem desde de criança. Deve ter sido uma
mudança e tanta com o passar dos anos — murmuro, apertando meus dedos
nervosamente.
Peter assente.
— Sim, mas posso entendê-lo.
— Você o descobriu? Viu o chefe matando alguém? — pergunto aos
sussurros.
— Não. Ele mesmo disse.
Franzo a testa confusa. Peter explica:
— Donna também sabe. No início, não aprovamos, mas depois das
tentativas de invasão na casa, descobrimos que estávamos mais seguros com
ele do que sem ele — desabafa, perdido em lembranças.
— Tentaram invadir a mansão? — fico chocada.

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— Várias vezes depois que descobriram que o herdeiro Makgold


estava vivo e de volta à cidade — Peter revela. Estremeço.
— No dia do incêndio na casa... Você se lembra? Você estava lá? —
pergunto temerosa, não querendo soar tão invasiva.
— Não — responde com tristeza. — Nem eu e nem Donna. Nesse
dia, eu havia saído para pegar alguns documentos a pedido do senhor
Makgold, o pai de Johnatan. — Peter explica. — Donna tinha recebido o dia
de folga e levou Ian, ainda bebê, para a casa de uma amiga. Além do
Johnatan e sua família, os que estavam na casa naquela noite eram minha
esposa, os pais de James, o marido de Donna e a mãe de Jordyn...
Arregalo meus olhos.
— Oh, meu Deus! — disparo em choque.
— Foi a primeira vez que invadiram. Parecia que a cidade havia
morrido. A notícia se espalhou como vento. Na mesma noite que voltei, vi
tudo bloqueado com carros de bombeiros e policias. Eu lutei para entrar, para
salvar as pessoas, mesmo sabendo que já estavam mortas. Todos trabalhavam
ali e estavam dentro da casa, foram golpeados de surpresa. A única pessoa
que estava fora era Simon Collins, o pai de James. Ele foi esfaqueado, lutou
até o último segundo, mas não resistiu. Foi um verdadeiro massacre.
Tento engolir o bolo em minha garganta ao ver a tristeza nos olhos de
Peter.
— James disse que seus pais morreram em um acidente... — paro sem
conseguir respirar.
— Ninguém queria assustá-lo com uma notícia tão trágica. Mônica
Cherry, a mãe de Jordyn, deixou-a aos cuidados de uma mulher depois de
perder o marido em um acidente, todo o seu salário ela depositava para a
filha. Mônica nunca teve condições de criá-la sozinha, trabalhar na casa
Makgold a fazia acreditar que poderia um dia trazer a filha de volta. Ela não

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conseguiu realizar isso, e penso que foi o melhor.


Minhas lágrimas acumulam-se em meus olhos ao escutar o relato, o
nó em minha garganta é sufocante, soluço sentindo meu coração apertado.
— Eles não sabem da verdade — digo com minha voz trêmula.
— Se eles soubessem, isso os mataria por dentro. É algo triste e
trágico. Ninguém fora daquela casa sabe o que realmente aconteceu — Peter
lamenta.
— Eu era muito pequena, mas meu pai nunca me deixou saber muito
sobre a casa dos Makgold, eu nunca os conheci. — Lembro-me da tragédia
na cidade, mas era muito nova, apenas escutei algumas conversas. Com o
passar do tempo, transformaram-se em lendas e mitos. — Todas as histórias,
culpavam um garoto rebelde que decidiu matar os pais... — engulo meu
medo por continuar as estranhas histórias da cidade contadas até hoje.
Peter balança a cabeça completamente horrorizado.
— Depois daquela noite, tudo se transformou em pesadelo. Perdemos
contatos e amigos. Eu pensei que o garoto Johnatan também estivesse morto,
mas ele não estava. Três anos depois do ocorrido, eu e Donna voltamos a
trabalhar juntos. Como eu havia dito, não sabíamos que era para ele — Peter
me lembra.
— Por quanto tempo ficaram sem vê-lo?
— Por quase cinco anos. Não tínhamos muito contatos, mas a casa foi
reformada muito rápido na época. Eu e Donna ficamos cuidando dela até sua
chegada. Nós nos comunicávamos por telefone, ele soava pontual e disposto.
Tanto eu quanto Donna sabíamos que ele tinha mudado, mas não
imaginávamos o quanto. — Peter me olha surpreso. — Quando houve o
massacre, foi como se boa parte de nossas vidas fossem tiradas. Soube o que
aconteceu naquela noite, mas não quis escutar Johnatan relatar, foi algo
horrível! Confesso que mesmo eu perdendo minha esposa, agradeci por não

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ter assistido a toda aquela tortura como ele, me mataria por dentro. — As
lágrimas preenchem seus olhos.
— Eu sinto muito — aperto sua mão em conforto.
— Isso não melhora com o passar dos anos, a cena do fogo é
inesquecível. Até mesmo para Donna, que voltou no dia seguinte e encontrou
apenas cinzas. Seu marido dava aulas para Johnatan — Peter diz com tristeza,
fazendo meu coração se apertar ainda mais.
— Eu sabia que ele era professor, mas não sabia que dava aulas para
Johnatan. Donna o amava, eu podia ver em seus olhos quando a vi comentar
sobre o marido. Tenho que concordar com você sobre não querer ver a
tragédia com sua esposa e nem com nenhum deles... Pobre Johnatan! —
suspiro.
— Ele tinha um amor incomparável pela sua mãe e sua irmã. Era um
garoto de coração aberto, fazia tudo por elas, se sua pequena irmã lhe pedisse
qualquer coisa, eu o via fazer o impossível para conseguir — o sorriso de
Peter me faz sorrir também.
— Como ela era?
Seco as lágrimas nos cantos dos meus olhos.
— Como era a irmã de Johnatan?
Peter sorri abertamente.
— Era muito pequena, doce, muito esperta, e hiperativa — revela,
sorrindo ainda mais. — Ela adorava correr e se esconder. Teve uma vez em
que ela se escondeu e todos saímos de casa preocupados. Nós a encontramos
em cima de uma árvore. Ela dizia que queria um lugar seguro para se
esconder, mas não pensou que seria tão alto. Apesar do medo, só sairia dali
quando Johnatan a pegasse — sorrio criando uma imagem da cena em minha
mente. — Depois de tudo o que aconteceu, Johnatan se fechou. Não tinha
mais aquele brilho nos olhos, o sorriso, a vontade de voltar para casa e ver

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sua família... Ele se transformou em um homem quebrado.


— Ele sofreu mais do que imaginamos, não é? — digo tristemente,
sentindo meu coração rasgar pela tristeza de Johnatan. — Eu adoraria tê-lo
conhecido assim, sem problemas, com o brilho no olhar...
— Eu acho que ele se sente bem quando está com você — Peter me
interrompe, e engulo em seco. — Não se assuste, mas Johnatan está
descobrindo como é ter sentimentos puros e inocentes por alguém. O amor
pode chegar para qualquer um sem pedir licença.
Respiro profundamente, ouvindo suas palavras sinceras e verdadeiras.
Meu amigo se levanta.
— Eu só o quero bem. Não o quero bravo — aperto minhas mãos. —
Isso me preocupa a cada dia, eu tenho medo de perdê-lo assim.
— Todos nos preocupamos — Peter suspira.
Nós nos assustamos com a chegada repentina de Matt.
— Desculpe-me assustá-los, mas estou preocupado — diz com uma
expressão alarmada.
— Não deveríamos procurá-lo? — pergunto rapidamente, encarando-
o.
— Sim, mas vamos esperar três minutos — Matt pede. Pisco para ele
confusa.
— Viu a seringa? — Peter pergunta.
— Sim. É uma droga. Digamos que o efeito é como uma mistura entre
calmante e energético. Um sedativo que provoca o sistema nervoso central —
Matt nos informa com uma careta.
— Eu que não vou ficar aqui sentada esperando três minutos enquanto
ele está sem forças. O que você tem na cabeça?! — digo irritada para Matt.
Levanto-me pronta para seguir em frente, mas somos surpreendidos
com a chegada de Johnatan.

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Ele cambaleia ofegante, encostando-se na cômoda próxima.


— Olha o drogado aí — Matt dispara. Ignoro-o correndo até
Johnatan. Afasto seus cabelos da testa suada.
Ele parece mais cansado do que o normal, seus lábios ainda estão
pálidos e seus olhos, sem brilho. Noto um pequeno corte acima de sua
sobrancelha direita.
— Matt, arrume um quarto para Mine — Johnatan pede sem fôlego
depois de tocar meu rosto. — Peter, vá para casa, amanhã cedo venha nos
buscar. — O homem sai seguindo seu comando, dando-me um leve sorriso e
entregando a arma de Johnatan. — Estarei em seu escritório — Johnatan
informa a Matt, afastando-me cambaleante.
Pisco confusa quando vejo Matt revirar os olhos e me conduzir para
algum lugar.
— Não — esquivo-me para me aproximar de Johnatan. — O que está
acontecendo? Por onde andou? E por que está distante? — questiono e o
encaro seriamente.
— Mine, apenas faça o que peço — ofega com os olhos cansados.
— Fazer o que você... — controlo minha fúria, fechando meus olhos
por um instante antes de prosseguir: — Eu só estou tentando cuidar de você,
não está em boas condições, te drogaram Johnatan. Você apagou, Peter nos
salvou e eu até dei um tiro no joelho de alguém para nos salvar. Agora, você
me fala para que eu faça o que pede e acha que está tudo bem?! — Enfrento-
o, tendo seus olhos ferventes em mim.
— Você atirou... — Johnatan balança a cabeça confuso.
Fecha os olhos assim como eu, inspirando e soltando sua respiração
pesadamente, toco seu rosto pálido vendo sua expressão se tranquilizar.
Quando seus olhos se abrem, eu o tenho mais calmo.
— Não quero assustar você, apenas vá para o quarto. Eu estarei com

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você em breve.
Aperto meus lábios por sua teimosia. Viro-me para Matt, que acena.
Sigo-o pelo corredor silenciosamente até chegar num quarto amplo de
hóspedes, com uma cama de casal, cortinas escuras e cômodas organizadas.
— Por que ele tem que ser tão... — aperto meus dentes para conter
minha irritação.
— Acredite em mim — Matt suspira sorrindo —, você consegue
controlá-lo — encaro-o confusa.
— Não está parecendo — disparo.
— Tudo em Johnatan parece ser difícil de ser domado. — Matt sorri
enquanto suspiro exasperada. — Mas você consegue, de alguma forma,
deixá-lo no controle. Precisa ver quando ele está negociando ou querendo
fechar um acordo complicado. É um inferno, na verdade, é melhor você nem
presenciar isso, seria muito estressante...
— Isso não está ajudando, Matt — olho para ele cansada. Ele sorri
sem jeito.
— Não sou a melhor pessoa para confortar alguém, principalmente
agora — balança a cabeça, sorrindo com simpatia. — Fique à vontade.
Aceno quando se retira. Olho ao redor do quarto moderno sem ânimo.
Sento-me na cama, sentindo o peso em minha cabeça.
Johnatan tem seus medos, todos eles relacionados a mim. É
impossível não me preocupar sabendo que a máfia deve estar sabendo sobre
nós dois. Não posso ficar parada enquanto o vejo sofrer.
Meu coração parece pequeno, sinto-me impotente por não poder
ajudar, mas preciso dele, preciso que fique comigo para me sentir completa
novamente. Abraço-me, sentindo a solidão à minha volta. Não o quero
distante, apenas desejo poder ajudar de alguma forma.
Levanto-me, inspirando profundamente antes de sair do quarto.

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Caminho pelo corredor observando alguns quadros de Matt, bem


como fotografias na parede, paro apenas para observar um porta-retrato com
uma mulher morena, trazendo um sorriso simpático e olhos castanhos
brilhantes. Seus cabelos negros são crespos, na altura dos ombros, ela
aparenta ser jovem e simpática. Tenho certeza de que é a esposa de Matt.
Logo sou distraída por vozes abafadas, deixo a fotografia na cômoda para
seguir até a parede do escritório de Matt. Aproximo-me da porta a fim de
escutar melhor.
— Precisarei de um bom arquiteto. Tenho algumas ideias para aquele
prédio, mas preciso descobrir qual era a estrutura que meu pai pretendia criar
— escuto Johnatan murmurar pensativo. — Preciso que verifique esses
documentos assinados, descubra com seus sócios a assinatura de cada um...
— Eu já estou fazendo isso — Matt o interrompe. — Por que você
não vai vê-la?
Engulo em seco sabendo agora que estão falando de mim. Johnatan
suspira pesadamente.
— Eu só quero acabar logo com isso... — responde.
— Você não vai conseguir tudo isso da noite para o dia. Preciso
descansar, é muito coisa para um dia só — o advogado desabafa.
— Sabe o risco que estamos correndo... principalmente ela se for
exposta? Se eles ficarem sabendo dela, Matt...
— John, eles ficariam sabendo de qualquer jeito, não se pode
esconder algo assim por tanto tempo. Veja que eles são muito insistentes, isso
iria acontecer a qualquer momento — Matt comenta.
— Eu não sei o que faria se algo acontecesse com ela hoje —
Johnatan suspira.
— Mas não aconteceu. Peter chegou a tempo — Matt diz com
firmeza.

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— Mas deixou rastros para trás — Johnatan disparo ríspido.


— Peter não é um assassino, Johnatan, sua raiva não é nada
relacionada a ele, nem mesmo com Mine. É como as coisas estão caindo
sobre sua cabeça. O que está acontecendo então? — Matt se irrita, encosto-
me na parede para ouvir mais de perto.
— O cara era bom. — Johnatan parece relutar com a afirmação.
— Como assim “bom”? — Matt pergunta sem entender. Também fico
confusa.
— O segurança do prédio parecia aliado dele, montou uma bomba em
meu carro. Desconfiei de que estávamos sendo seguidos, mas ele soube
disfarçar a perseguição até nos encurralar. — Johnatan explica irritado.
— E o que isso tem haver em ser bom? — Matt pergunta ainda
confuso.
— Quer dizer que a máfia contratou alguém eficiente, perseguidor,
atento, forte, inteligente... Eles o estão treinando e não vão parar...
— Até colocar as mãos em você? — o advogado pergunta
desconfiado, fazendo-me estremecer.
— Até colocar as mãos em Mine — Johnatan dispara, fazendo meus
olhos se arregalarem.
— E por que ela? — Matt pergunta.
— Para me fazer ir até eles, me torturar ao torturá-la — Johnatan
suspira exasperado. — Deus! Eu não sei o que faria se ela estivesse em
perigo depois de tudo, foi uma distração — Johnatan murmura angustiado.
Meu coração se apertar ainda mais.
— Mine soube se defender, você a ouviu. Ela até mesmo atirou no
homem, no joelho, mas atirou — o homem parece orgulhoso.
— Isso foi arriscado — Johnatan murmura. Encosto-me na parede,
ouvindo sua voz grossa solitária.

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— Por que não a ensina a lutar? Por que não a treina? — Matt
comenta, tendo meu interesse.
Arregalo meus olhos e me aproximo quase perto da porta para escutar
a resposta de Johnatan.
— Está louco?! — sibila fazendo com que eu me encolha. — Isso
arriscaria sua vida.
— Mas ela saberia se defender. É uma forma errada de pensar, mas
por que não tentar? — Matt diz com urgência.
— Eu disse não! — Johnatan dispara enfurecido, assusto-me quando
escuto um baque forte dentro da sala.
Meu coração acelerado está dolorido. Meus olhos se enchem de
lágrimas pela rejeição. Afasto-me da parede e sigo correndo pelo corredor,
esfregando meus olhos com força para afastar as lágrimas.
Ao chegar so quarto, sento-me na cama, puxando o ar para conseguir
respirar. Seria tão mais fácil, eu poderia não ser igual a ele, mas se pelo
menos pudesse me ensinar, eu poderia defendê-lo, poderia ajudá-lo de
alguma forma.
Eu não conseguiria golpear alguém sem treinar, até mesmo teria
coragem de acertar o homem novamente caso acontecesse o pior. Lamento
por Johnatan ser mais complicado do que imaginei. De repente, assusto-me
quando a porta é aberta e vejo Johnatan entrar no quarto.
Afasto minhas lágrimas, vendo seus olhos me observarem assustados.
— Mine... — ele se aproxima.
Levanto-me e me afasto, preciso de ar, ficar perto dele não ajudará.
— Ouvi você e Matt — confesso com minha voz embargada. — Por
que não me ensina a lutar? — pergunto tristemente, vendo seus olhos azuis
arregalados.
— Mine, não — responde balançando sua cabeça.

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— Mas eu poderia ajudá-lo. Eu juro que posso me empenhar! —


suplico.
— A resposta é não.
Aperto meus dentes, irritada.
— Por quê? — cruzo meus braços o enfrentando. — Já pensou que
isso mudaria tudo? — insisto firmemente.
— Mudaria você — ele dispara, espalhando seus cabelos para trás. —
Eu não quero que você mude.
— Essa não é sua melhor explicação. Poderíamos conseguir juntos,
lado a lado — comento.
— Não vou me arriscar — diz ríspido, mas não recuo.
— Por que você é tão difícil em relação a tudo isso, Johnatan? Eu
quero fazer algo, mas você não permite. Você me mantém distante, sendo que
o que mais quero é ficar perto de você — digo com fervor, sentindo minhas
lágrimas retornarem aos meus olhos.
— É difícil para você entender, pois não passou pelo o que passei,
você nunca sofreu como eu sofri. E, neste momento, eu não posso perder meu
coração, eu não posso arriscar e perder você! — aproxima-se para fitar meus
olhos seriamente. — Estou tentando, Mine, estou tentando protegê-la. Por
que é tão difícil para você entender isso?! — diz. Seu desabafo ofegante
transmite frieza e, ao mesmo tempo, preocupação.
Engulo o nó em minha garganta.
— Porque eu te amo — digo trêmula, sentindo meu peito ferver ao
revelar meus sentimentos para ele.
Meus olhos ardem ao encarar os seus azuis intensos. Aproximo-me de
seu corpo paralisado, Johnatan parece segurar sua respiração.
— Eu quase perdi meu coração quando o vi no chão, não quero
perdê-lo. Pode tentar entender o que estou sentindo? Johnatan, eu te amo de

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qualquer jeito, eu não me importo se você é forte ou fraco, certo ou errado,


bom ou ruim. Mas é o melhor homem que já conheci, é o homem certo para
mim. Posso suportar qualquer coisa, menos perder você. Eu não quero me
machucar quanto a essa situação. Me dói pensar em algo de ruim acontecendo
com você, assim como você sente que possa acontecer comigo, pois eu sinto
o mesmo, só que estou impotente.
Olho em seu rosto e o vejo calado. Seus olhos estão arregalados,
como se estivesse em choque. Ergo minha mão para tocar seu rosto e sou
surpreendida com um beijo doce. Seus lábios macios abrem os meus, derreto-
me em seus braços quando sinto sua língua invadir minha boca, causando-me
calafrios. Abraço-o com força, puxando-o para mim.
Suas mãos percorrem meu corpo, apertando-me com força. Ele
respira, suga e solta a respiração ofegante, sei que ainda não está cem por
cento, mas somos incapazes de deixar um ao outro. Gemo, afastamos nossas
bocas apenas para deixar seus lábios percorrerem meu queixo e pescoço. Sua
voz russa em minha pele faz minhas mãos apertarem seus bíceps firmes com
desejo.
— Mine — sussurra em minha pele e abro meus olhos para fitar os
seus em chamas. Suas mãos tocam meu rosto com carinho, fazendo minha
cabeça se inclinar. — Como você consegue? — sua pergunta ofegante me
deixa confusa. Meu corpo anseia por ele.
— Sobre o quê? — pergunto suavemente pela intensidade dos seus
olhos.
— Você consegue me desarmar sem eu nem mesmo esperar. Você é
como inferno de tão quente quando está nervosa — ofega, roçando seus
lábios nos meus. — Ninguém nunca disse que me ama da mesma forma que
você disse. Eu me sinto embaraçado — sorrimos ofegantes. — Foram as
palavras mais lindas que já ouvi...

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— Eu te amo — sussurro em sua boca, em seguida, mordo seu lábio


inferior, puxando-o com meus dentes.
Seu gemido rouco faz meu corpo despertar e meu sexo pulsar ainda
mais.
— Eu a quero agora — diz firmemente com olhar mandão.
De repente, sou surpreendida quando ele se afasta um pouco para
pegar algo de seu paletó e apontar a arma para a porta onde Matt abre sem
bater. O advogado trava seus pés, olhando-nos espantado, arregalo meus
olhos vendo Johnatan o encarar seriamente.
— Eu-eu interrompi... alguma coisa? — Matt gagueja.
— Estou tentando me reconciliar com minha namorada, saia! —
Johnatan ordena fazendo meu coração acelerar. Meu corpo pulsa ainda mais
com sua voz potente.
— Na minha própria casa? — Matt pergunta chocado.
— Saia! — Johnatan ameaça pronto para destravar a arma.
— Antes de vocês seguirem em frente e fazerem as pazes, vou
precisar mostrar algo. Agora — Matt pede delicadamente, olhando-me sem
jeito.
Afasto-me de Johnatan, sabendo que deve ser algo importante. Ele
coloca sua arma de volta no paletó.
— Fale — Johnatan pede bruscamente. Coro, apertando meus lábios
pelo desconforto.
— No meu escritório — Matt faz um leve careta. — Por favor, não
façam nada depois, tudo bem? Pela memória de minha esposa — Matt pede
se virando e saindo.
Arregalo meus olhos surpresa.
— A esposa dele faleceu? — sussurro para Johnatan, chocada.
Johnatan balança a cabeça desconfortável.

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— Sim — confessa me puxando. — Vamos.


— Agora você me quer junto? — provoco-o, sua sobrancelha se
ergue.
— Você não faz ideia do quão junto a quero perto de mim. Mine,
apenas não me provoque agora, só mais tarde — pede, aperto meus lábios
para não sorrir.
Ao chegarmos ao escritório de Matt, vejo sua mesa cheia de papéis.
Reconheço os contratos assinados da empresa que Johnatan já havia me
mostrado e a planta do prédio inacabado. Há outra mesa no centro da sala
com um mapa e outra planta do mesmo prédio.
— O que é? — Johnatan segue para o bar a fim de preparar uma
bebida.
Meu Deus! Ele acabou de ser drogado! Sigo até ele, roubando seu
copo e o deixando confuso.
— Nada disso — ordeno, bebendo o whisky forte. Faço uma careta
com o líquido amargo e logo entrego para Matt.
— Fiz algumas ligações e recebi alguns e-mails. Um amigo meu da
Polônia é investigador, está buscando mais informações. Contudo, ele
descobriu algumas informações de seu interesse, Johnatan — Matt informa,
franzo a testa com a notícia.
Johnatan o olha rapidamente, analisando a segunda mesa no centro da
sala.
— Que tipo de informações? — Johnatan pergunta focado.
Em parte, quero perguntar a Matt se ele é polonês, mas permaneço
calada, querendo saber ainda mais das notícias.
— O prédio que você quer construir para fazer algum tipo de negócio
é de interesse da tal máfia. — Matt mostra a planta para Johnatan.
— Disso eu sei, não está me dando muito — Johnatan dispara

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duramente.
— O problema é que esse prédio não é o único — Matt revela,
roubando nossa atenção. — Há outros fora do país. O problema maior é que
não conseguimos identificar onde eles ficam, quantos são e nem mesmo o
registro deles — prendo minha respiração quando Johnatan xinga algo em
russo.
— Seu amigo investigador ainda está à procura? — pergunto para
Matt tendo sua atenção.
— Sim, ele está trabalhando para isso — Matt assegura.
— Ele não tem nenhuma ideia de quais países possam estar
envolvidos? Se já estão terminados? — Johnatan pergunta.
— Contando com esse prédio, Colton optou apenas pelo continente
americano, mas para administrar mais, já que começaram a criar, eles devem
ter algum em progresso — Matt opina pensativo.
— Como o prédio central dos negócios — Johnatan reflete.
— Exatamente, pense nele como o coração — Matt acena.
Afasto-me deles para analisar o mapa na mesa. Franzo a testa cada
vez mais confusa pela quantidade de papéis, na tentativa de achar alguma
ligação com a máfia. Afasto as anotações de Matt para analisar a planta do
prédio inacabado da Nova Zelândia. Encaro o mapa, lendo os países do
continente americano. Deixo ambos discutirem entre eles para fazer mais
ligações até escutar Johnatan praguejar em russo. Ele está cansado e não o
quero pior.
Inclino minha cabeça sem sucesso, encarando o mapa como distração
até encontrar o país, Rússia. Johnatan nasceu ali, sorrio levemente ao olhar o
mapa, mas logo meu sorriso desaparece, dando lugar ao choque enquanto
encaro as investigações de Matt. Apanho um lápis próximo, riscando alguns
pontos no mapa. Curvo-me sobre a mesa para alcançar uma régua e risco

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minhas próprias ligações.


— A tatuagem — sussurro diante do mapa à minha frente.
— Mine? — escuto Johnatan me chamar. Viro-me para ele assustada.
— O prédio central está na Rússia — digo sem fôlego, vendo-o se
aproximar e encarar o mapa que eu risquei. Matt fica ao meu lado,
observando.
— Filhos da puta! — Johnatan dispara com os olhos ferventes.

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35 – DESPERTANDO A FERA

— E agora? Você faz ideia de onde esse prédio está? — Matt


pergunta atento ao Johnatan.
Ele fecha os olhos brevemente, respirando fundo antes de se inclinar
sobre a mesa.
— Tenho minhas desconfianças — Johnatan responde. — Meu pai
também tinha negócios na Rússia, uma rede de telecomunicações, era muito
recente e ele acabou vendendo as ações — explica.
— Provavelmente, ele não vendeu para qualquer um — Matt
murmura.
— De qualquer jeito, não está sob meu controle e nem mesmo no
nome de minha família, precisamos verificar mais afundo — Johnatan se
afasta da mesa exasperado.
— Você precisa dormir — sussurro preocupada, tocando seu braço.
— Todos nós precisamos — Matt murmura ao meu lado, guardando
os papéis. — Amanhã podemos ver tudo isso com calma.
Aceno para ele concordando e me viro para Johnatan.
— Vamos? — pergunto com um sorriso aberto. Seus olhos cansados
caem em meus lábios e logo vejo seu sorriso presunçoso.
Ele ergue sua mão para acariciar meu rosto, deslizando seu polegar
em meu lábio inferior.
— Como posso resistir a você, minha Roza? — Johnatan parece fazer
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a pergunta para si mesmo, olhando-me intensamente.


— Caso vocês não percebam, continuo aqui — escutamos Matt
enquanto enrola seu mapa.
Coro com seu desconforto.
— Eu vou descansar. Tudo isso está fazendo minha cabeça explodir
— Johnatan murmura. De repente, estou em seus braços.
— Johnatan — protesto o encarando. — Você está fraco — toco seu
rosto quando seus braços apertam meu corpo.
— Estou forte o suficiente — afirma, beijando o meu rosto. Sorrio
para ele maravilhada. — Matt, arrume essa bagunça! — Johnatan ordena,
levando-me para fora do escritório.
— Essa é boa. Dando-me ordens até na minha casa! — ouço Matt
murmurar enquanto nos afastamos, eu o assisto organizar sua mesa até
desaparecer do meu campo de visão.
Envolvo meus braços no pescoço do incrível homem que tanto me
encanta e beijo seu queixo.
— Isso é estranho — Johnatan murmura, deixando-me confusa.
— O que é estranho? — acaricio seus cabelos distraída.
— De uma hora para outra você está muito brava comigo, mas depois
você está toda cheia de carinho — franze o cenho como se eu fosse difícil de
entender. Sorrio com suas palavras.
— Porque você muitas vezes é complicado — confesso, beijando seus
lábios.
— Muitas? — pergunta confuso.
— Até parece que não conhece a si mesmo — murmuro.
— Bem, saiba que sou rendido apenas por seus encantos — sussurra,
beijando meus lábios novamente. — Um homem pode se acostumar com
isso.

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— Então, gosta de ver meu lado nervoso e apaixonado ao mesmo


tempo?
Johnatan abre seu sorriso presunçoso, em seguida, geme pensativo.
— Nervosa ou não, você é quente do mesmo jeito — confessa.
Ao chegarmos à porta, Johnatan a empurra com seu pé e a fecha da
mesma forma.
— Está tentando me levar para cama falando sobre minhas mudanças
de humor? — provoco-o.
Suas sobrancelhas se erguem em surpresa.
— Estou? — finge estar confuso. — Na verdade, gosto da versão
brava.
— Muito brava? — pergunto enquanto ele volta a me colocar no chão
e se ergue para agarrar meu rosto.
— Bem vulnerável — sussurra, roçando seus lábios nos meus.
— Devo ficar brava com você mais vezes? — agarro sua blusa para
puxá-lo para mim. Mordo seu lábio inferior com desejo.
— Como uma leoa — murmura, deslizando suas mãos em meu corpo
até me livrar da minha blusa enquanto o ajudo a tirar o paletó.
Assim que volta a grudar meu corpo no seu, sinto-o duro, deslizo
minhas mãos em seu peitoral até seu abdômen a fim de arrancar sua camisa e
sentir sua pele contra a minha. Ele nota minha urgência e me ajuda a tirar a
camisa, jogando-a no chão. Aprecio seu peito musculoso, deslizando meu
indicador em sua pele. Quando meus olhos se erguem, vejo os seus em
chamas. São olhos sérios, profundos e cheios de desejos.
— Eu também gosto quando está bravo — revelo ofegante.
Sua sobrancelha se ergue assim como seu olhar.
— É mesmo?
Quero gemer com seu sotaque russo provocante. Inspiro

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profundamente.
— Sim — confesso ofegante, vendo seu corpo másculo se aproximar
cada vez mais, aquecendo meu espaço.
— De que forma? — pergunta com sua voz rouca.
Meu corpo está em tremores. Gemo quando sinto seus dedos
delicados deslizarem em meus ombros, percorrem minha nuca e descerem
suavemente por minha espinha, causando-me arrepios.
— Como uma fera — murmuro quase sem voz. Sua outra mão toca
meu rosto, deslizando seu polegar em meus lábios, dessa vez, mais
provocante.
Mordo seu polegar suavemente, lambendo seu dedo enquanto encaro
seus olhos sérios e cheios de desejos intensos. Seu gemido rouco faz meu
sexo se apertar.
— Você quer a fera agora? — seu sussurro me faz arrepiar. — Quer
despertá-la?
Mordo meu lábio, aproximando-me de sua boca. Deslizo minhas
mãos em seu peito até chegar à sua nuca e agarrar seus cabelos, trazendo-o
para mim.
— Eu acho... — mordisco seu lábio inferior, provocando-o. — Que já
despertei — sussurro, colando minha boca na sua, beijando-o com
ferocidade.
Johnatan agarra meu corpo com força, aprofundando nosso beijo.
Nossas línguas se encontram, saboreando uma a outra. Seu hálito doce me
inebria e o sugo com prazer. Ele geme em meus lábios, puxando a respiração
com força. Suas mãos fortes deslizam por minhas costelas, prendendo-se em
meus quadris.
Meu corpo é suspendido para cima e minhas pernas abraçam sua
cintura enquanto meus braços se apoiam em seus ombros. Quando sua boca

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escapa da minha, desce em direção ao meu pescoço. Ergo minha cabeça,


saboreando suas carícias enquanto me arrepio com suas palavras russas. Em
seguida, ele retira meu sutiã, cobrindo um dos meus seios com sua boca
quente e sua língua perversa.
— Você. É. Minha. Mine! — sentencia junto à minha pele, roçando
seus lábios em meu mamilo sensível, percorrendo sua boca até encontrar a
minha. — Minha redenção!
Beijo-o com amor, puxando seu corpo para o meu. Johnatan me
conduz até a cama, deitando-me e deslizando suas mãos por meu corpo até
livrar-se da minha calça juntamente com minha calcinha. Gemo com seus
lábios roçando em minhas coxas suavemente; sua língua volta a provocar
minha pele sensível, fazendo com que eu me contorça ao senti-la em meu
sexo.
Perco completamente o fôlego quando começa a me devorar
ferozmente. Meu corpo se arqueia com a intensidade de prazer e desejo,
fazendo-me agarrar os lençóis com força. Seus dedos provocantes dão lugar à
sua língua em meu clitóris, sinto-o penetrar seu indicador lentamente, numa
tortura doce e dolorosa.
Gemo ofegante, fechando meus olhos, deixando-me levar pelas
sensações intensas em meu corpo. Arrepio-me, contorcendo ainda mais ao
escutar sua voz russa sussurrante. Sua língua volta a provocar meu sexo
enquanto seu dedo entra e sai dentro de mim, fazendo minhas entranhas se
apertarem; meu sexo pulsa com o ataque estimulante.
De repente, sinto seus dentes mordiscarem a carne macia e sensível de
meu sexo fazendo meus gemidos se tornarem mais altos. Meus quadris se
movem em direção a ele o querendo dentro de mim com urgência.
— Johnatan! — chamo-o trêmula, sentindo minha garganta seca.
Choramingo quando sinto novamente seus dentes em meu clitóris.

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— Hum — geme rouco sem parar de me torturar, sua voz parece não
ajudar a intensidade do meu sexo pulsante.
— Eu quero você — choramingo, arqueando ainda mais e esfregando
minhas pernas em seu corpo. Quando os movimentos de seu dedo começam a
acelerar, suas mordidas são ainda mais provocantes.
— Como uma fera? — escuto-o com sua boca ainda próxima ao meu
sexo. Se isso não fosse tão excitante, seria constrangedor.
Meu corpo tem fome, preciso dele dentro de mim.
— Sim! — gemo, contorcendo-me.
Rapidamente ,sua mão se afasta, assim como seu corpo. Pisco meus
olhos, vendo-o tirar suas calças junto com a cueca e, em seguida, colocar a
camisinha. Mordo meu lábio ao ver seu membro duro e seu corpo másculo à
minha frente, tento fechar minhas pernas para esfregá-las quando meu sexo
lateja ainda mais. Suas mãos seguram meus joelhos para impedir meus
movimentos. Minha respiração acelera ao vê-lo se curvar, voltando a roçar
seus lábios em minha pele.
Assim que seu corpo se une ao meu, sinto-me queimar. Seus lábios
nunca deixam meu corpo, provocando meus seios até beijar o rubi em meu
peito. Envolvo meus braços em seu corpo, deslizando minhas mãos em suas
costas. Movo meus quadris de encontro a ele ao sentir sua ereção em meu
sexo, esfregando-se lentamente, fazendo-me querê-lo ainda mais.
Ofego quando sua língua quente contorna meus lábios de forma
provocante até sua língua deslizar para dentro da minha boca, gemo me
perdendo em seu beijo intenso. Sua ereção esfrega-se cada vez mais forte,
fazendo-me agarrá-lo.
Suas mãos deslizam em mim com mais força, assim como seus
movimentos; meu corpo parece carregado e dolorido. Quando me penetra,
sou pega de surpresa com sua profundidade, fazendo-me gritar ofegante de

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prazer no meio do nosso beijo.


Sinto sua ereção sair e entra com força, fazendo meu corpo arquear
contra o seu. Sua boca se afasta da minha, deixando meus gemidos saírem
livremente enquanto jogo minha cabeça para trás, tendo seus lábios
deslizando em meu pescoço até sugarem meus seios. Minha respiração trava
quando ele volta a se mover provocante, meu sexo se aperta cada vez mais.
— Isso é tortura. Ah! — gemo ao senti-lo me penetrar novamente,
com força. Pisco meus olhos, vendo-o assistir minha entrega, lançando-me
um sorriso pervertido.
— Você não sabe o quanto está gostosa — diz se movendo, quero
revirar meus olhos tendo-o completamente dentro de mim, mas é impossível
desgrudar da intensidade de seus olhos. — Eu vou tê-la agora — diz com sua
voz potente, fazendo-me arrepiar.
— Oh, meu...
Meu grito é engolido pelo seu beijo quando o sinto se mover sobre
mim como um leão faminto, meu sexo se contrai contra o seu. Suas estocadas
são fortes e profundas, atingindo o ponto mais excitante dentro de mim.
Minhas mãos perdem o controle, arranhando suas costas com força enquanto
ele se move cada vez mais rápido. Meu corpo parece frenético e me contorço
de prazer embaixo dele.
Meu suor se mescla com o seu. Nossos gemidos são misturados com
nossos beijos, nossas respirações ficam cada vez mais ofegantes. Assim como
suas mãos fortes apertam minhas coxas, minhas unhas deslizam por seu
peitoral másculo. Johnatan arfa movendo seus quadris contra os meus cada
vez mais forte.
Encaro-o, vendo seus lábios trêmulos entreabertos, sua expressão lhe
dá um ar selvagem... Ele pode ainda estar com efeito da droga, meu coração
se sente culpado. Quando seus olhos se abrem, vejo-o me encarar com fervor.

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— Comigo, Mine! — pede ofegante, curvando-se para morder meu


lábio inferior, abrindo minhas pernas.
Grudo meus lábios nos seus, voltando para o nosso prazer. Meu corpo
estremece e fecho meus olhos, pronta para a chegada do meu orgasmo, mas
me sinto abandonada quando Johnatan se retira de mim. Abro meus olhos em
choque.
— Johnatan Makgold! — praticamente o xingo apenas com seu nome.
Seu sorriso perverso me deixa irritada.
— Eu sei que é frustrante, mas você pediu isso — acusa-me,
deixando-me confusa.
— O quê? — pergunto com dificuldade para respirar. De repente, sou
virada de bruços.
Surpreendo-me, vendo-o pegar um dos travesseiros para colocá-lo
embaixo dos meus quadris, deixando-me empinada. Prendo minha respiração
quando minhas pernas são afastadas. Estou completamente exposta naquela
posição.
— Você pediu uma fera — ouço-o provocar atrás de mim. Engulo em
seco.
Escuto outro plástico sendo resgado, ouso olhar para trás, mas sou
surpreendida com sua língua pervertida deslizando por meu sexo. Suas mãos
fortes apertam minha bunda exposta, e o sinto morder minha pele nua,
voltando a percorrer sua língua em meu sexo novamente, subindo em linha
reta até chegar às minhas costas.
Sei o quanto estou corada com sua perversão, mas meu corpo está
completamente entregue a ele. Quando sua boca se aproxima da minha nuca,
afasta meus cabelos, dando-me sua mordida maliciosa, voltando a me
penetrar em seguida. Gemo em surpresa, empinando-me ainda mais enquanto
ele volta a se mover.

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Seu peitoral gruda-se em minhas costas e suas mordidas voltam a


provocar minha pele enquanto agarro os lençóis com força ao sentir meu
corpo estremecer. Johnatan se move mais rápido, fazendo-me perder o
fôlego. Fecho os olhos quando sinto meu orgasmo chegar intenso. Com mais
um movimento profundo, Johnatan também chega ao ápice, ofegante. Meu
corpo vibrante relaxando, aos poucos, numa sensação saciada e cansada ao
mesmo tempo.
— Como se sente? — escuto Johnatan perguntar, mas nem tenho
forças para abrir os olhos.
— Hum! Bem cansada — murmuro ainda mais sonolenta ao sentir
seus beijos suaves em minhas costas.
— Eu ainda não acabei com você — suas palavras me despertam.
Chocada, viro-me rapidamente para ele.
— Isso-isso é efeito da droga?
Johnatan gargalha.
— Não — balança a cabeça e afasta seus cabelos molhados. — É
efeito Mine.
Eu me alarmo, divertindo-o ainda mais.
— Isso não é engraçado — digo, mas é impossível ficar séria ao vê-lo
sorrir tão tranquilamente.
— É sim, mas estou brincando — murmura, beijando meus lábios
suavemente.
— Eu te amo! — sussurro. Logo seu beijo se intensifica e seus braços
cercam meu corpo, num abraço apertado, deixando-me sem fôlego.
— É melhor você dormir ou então... — sussurra junto aos meus
lábios.
Sorrio.
— Então? — provoco, sugando seu lábio inferior sem perder nosso

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contato.
— Mine... — ele grunhe. — Boa noite, querida!
Suspiro sorrindo com seus beijos em meu rosto. Johnatan se levanta
para cobrir meu corpo com o lençol, depois, segue para o banheiro. Nem
mesmo o vejo voltar, meu sono chega de imediato.

Estou de volta à rua sem saída aos choros. Johnatan está caído atrás
de mim. O desespero voltar com força, fazendo meu corpo tremer. Aponto a
arma para um homem frio com os olhos azuis em chamas me encarando em
ameaça. Ele usa a mesma touca ninja.
— Você não é o Johnatan. Não! — estremeço sem forças para soltar a
arma, meu dedo está preparado para puxar o gatilho.
— O QUE ESTÁ ESPERANDO?!
Olho para trás, vendo meu Johnatan caído e o outro me encarando
pronto para atacar.
— Por favor, não! — peço trêmula.
— Você não pode atirar em mim, Mine! — afirma com firmeza, sua
voz é desconhecida para mim. — Você me ama, é incapaz de fazer isso.
Ele caminha em minha direção lentamente, soluço quando o vejo tirar
a touca. Minha mente me deixa confusa ao pensar em qual Johnatan devo
confiar. Quero acordar, sair desse pesadelo horrível. Meu corpo parece
sobrecarregado, como se afundasse ainda mais no sono profundo. Sua risada
sombria me assusta, olho para seus olhos obscuros, procurando pelo
reconhecimento.
— Ele está morto — O Johnatan ameaçador diz com satisfação.
— Não. Não... — balanço minha cabeça para meu verdadeiro
Johnatan atrás de mim.
— Seu amor está morto — murmura, fazendo meu coração rasgar.

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Choro.
— É mentira — digo aos soluços.
— Você o matou — acusa, fazendo meus olhos se arregalarem e o
pânico tomar conta do meu corpo.
— Eu não o matei, você o matou. Você tirou ele de mim — choro,
dessa vez, seguro a arma com firmeza.
— Não — o Johnatan sombrio responde confuso, seus olhos
nebulosos se suavizam, sei que é para me confundir. — Você tem a mim
agora. Não precisa ser assim...
— Fique longe de mim — digo quando ousa se aproximar.
— Mine? Sou eu... esse sou eu, você não pode fugir desse pesadelo.
Eu não posso fugir desse pesadelo... Venha comigo! — pede, estendendo sua
mão.
Balanço minha cabeça.
— Não. Não... — digo desesperada.
— Venha comigo. Agora! — avança em minha direção.
Sem querer, disparo em sua direção três vezes seguidas sem hesitar.
Os tiros atingem seu peito, logo ele cai de joelhos à minha frente, seus olhos
me encaram horrorizados.
— Mine? — ele se esforça para me chamar. — Roza?
— O quê? — arregalo os olhos quando o vejo assustado e olho para
trás desesperada.
A rua parece estendida agora, o corpo atrás de mim não é mais de
Johnatan, e sim de Peter; em seguida, vejo caídos James, Jordyn, Donna e
Ian, já mortos. Ao lado, o corpo de Matt está debruçado na calçada. Pior
ainda é ver o corpo de meu pai sem vida.
— Pai... — solto a arma. Viro-me para encarar Johnatan, vendo-o
caído diante de mim com seus olhos arregalados, numa expressão sem vida.

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— Johnatan... Não, não me deixe, por favor! Johnatan! Não, não. NÃO!
— MINE! — abro meus olhos com o grito. Sento-me inquieta,
empurrando quem quer que seja. — MINE, PARA!
Meus braços frenéticos param ao escutar sua voz no escuro, sinto
meus olhos arderem em lágrimas. A luz do abajur é ligada, pisco contra a
claridade. Johnatan segura minhas mãos, beijando-as.
— Você está vivo — ofego o abraçando desesperada.
— Eu estou aqui. Hey, calma! Foi só um pesadelo — diz de forma
cansada como se estivesse lutado comigo por um bom tempo.
— E matei você — soluço, seus braços me apertam em conforto. —
Eu matei todos vocês...
— Mine, só foi um pesadelo, eu estou aqui. Está tudo bem —
tranquiliza-me, afastando minhas lágrimas, assim como meus cabelos do meu
rosto suado.
— Você tem razão — digo rapidamente, acariciando seu rosto.
Seus olhos preocupados me observam confusos.
— Sobre o quê? — pergunta.
— Sobre a ideia de treinar — engulo meu choro.
— Mine...
— Não... Eu não quero viver assim. Terei pesadelos. Eu não quero
mudar — digo sem fôlego.
Johnatan inspira antes de beijar meus lábios brevemente.
— Eu não quero que você mude. Não precisa ser assim — diz
afastando minhas insistentes lágrimas. — Você é perfeita, não se pode mudar
o que já é perfeito, a menos que tenha um motivo. Mesmo assim, você não
precisa disso.
Choro, dando-lhe um beijo. Meu coração dispara angustiado.
— Eu só pensei em ser mais forte na intenção de te ajudar, mas acho

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que não vou conseguir — lamento.


— Hey — pega meu queixo para que eu olhe em seus olhos. — Não
se menospreze. Você é forte, é corajosa, é a mulher mais inteligente que já
conheci. Mine, tive uma vida difícil, treinei muito para me controlar. Toda
essa porcaria vem de mim, do que me tornaram, nada na minha vida foi fácil,
tenho que conviver com isso dia após dia. Não quero que você passe pelo o
que eu passei, não quero que se machuque, muito menos que tenha pesadelos
sombrios do que acontece no seu dia-a-dia. — diz, acariciando meu rosto.
Seus olhos me observam com intensidade.
— Eu queria poder tirar esse tormento de você — toco seu peito.
Johnatan puxa minha mão para beijar meus dedos.
— Você faz todos meus tormentos desaparecerem — sussurra. Reviro
meus olhos, e sua sobrancelha se ergue em surpresa, eu ainda estou
desapontada e amedrontada. — Bem, você pode achar que não é forte o
suficiente, mas, aos meus olhos, é perfeita, eu não mudaria nada. Eu gosto de
tudo o que há em você.
— Gosta? — pergunto feito uma idiota.
Seu sorriso torto me faz parar de respirar.
— Adoro quando você está zangada comigo, eu apenas me concentro
na melhor forma de você me perdoar, acho muita coragem sua de me
enfrentar.
Suspiro.
— Está dizendo isso para tentar melhorar minha situação —
resmungo.
— Não. Estou dizendo o quanto você é importante para mim, o
quanto me sinto vivo perto de você. Não estou dizendo isso para se sentir
melhor, talvez um pouco, mas a verdade é que nenhuma mulher me chamou
tanta atenção. Nunca nenhuma me fez lutar por ela feito um lunático, nem

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mesmo conseguiu fazer meus nervos ficarem contraídos quando ela está me
enfrentando. Acredite, é muita coragem sua fazer algo assim — ele elogia.
Olho-o sem recuar, apertando meus lábios para não sorrir. — Mine,
você pertence a minha vida agora. Quero mantê-la comigo para sempre.
Meu coração dispara com seu jeito terno. Num impulso, puxo-o para
mim a fim de beijá-lo com todo meu amor.
— Sinto-me um pouco melhor agora — digo, dando-lhe leves beijos
seguidos.
— Um pouco?
Seus olhos se erguem em surpresa.
— Sim — respondo, envolvendo uma das minhas pernas em sua
cintura. — Tem algum remédio para que eu me sinta melhor? — Finjo
inocência esfregando seus quadris contra os seus.
— Acho que tenho um remédio perfeito pós-pesadelo.
Assusto-me com seu tapa forte em minha bunda.
— Isso foi pelo tapa que você deu na minha cara.
Pisco chocada.
— Eu te bati?
— Sim, bem aqui — murmura rouco, apontando para sua face
esquerda sem deixar de esfregar sua ereção em meu sexo. Mordo meu lábio
reprimindo um gemido. — Está molhada, pronta para mim... Vire-se!
Pisco meus olhos com sua ordem. Todo meu ser aprecia seu olhar
mandão.
— O que vai fazer comigo? — pergunto excitada.
— Não faz ideia do que que quero fazer com você nesse momento. —
Seu sotaque rouco faz minhas entranhas se apertarem.
— Cite — provoco-o mordiscando seu lábio e rebolando lentamente
em seu colo.

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— Primeiro... — ele me dá seu sorriso pervertido. — Vou fazer seu


corpo relaxar...
— E depois? — contorço-me em seus braços.
Sou surpreendida quando meu corpo gira, ficando de costas para ele,
sua mão desliza por meus seios, passando por minha barriga até chegar ao
meu sexo. Gemo ao sentir seu indicador provocar meu clitóris.
— Eu vou devorá-la — sussurra ofegante ao meu ouvido. Gemo
inebriada. — Com força!

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36 – VOCÊ É MINHA

Desperto ao sentir um perfume suave próximo aos meus lábios.


Gemo, abraçando seu pescoço enquanto beijamos a rosa. Abro meus olhos,
vendo-o suado, seus cabelos lisos estão úmidos e rebeldes. Sorrio pegando a
flor, Johnatan me dá um sorriso confortante, curvando-se ainda mais para
beijar minha testa. Sento assim que se afasta para tirar sua camiseta. Ele
parece radiante, ao contrário de mim. Sei que meus cabelos estão como
palhas, ignoro-os voltando minha atenção na rosa vermelha.
— Você saiu? — pergunto rouca.
— Só fui dar uma corrida — responde enquanto encaro seu corpo
seminu. — Aproveitei para comprar algumas coisas para você — diz me
entregando algumas sacolas.
Franzo a testa ao verificar o conteúdo e ergo minha sobrancelha para
ele.
— Comprou lingerie para mim? — choco-me ao encarar as etiquetas
— Você viu o preço disso?
Johnatan se aproxima confuso, olhando a etiqueta.
— Droga, peguei a mais barata — resmunga confuso, fazendo minha
boca se abrir em surpresa. — A vendedora me disse que as francesas são as
melhores — diz pensativo, logo sorri abertamente para mim.
— Johnatan, é mais que o meu salário! — protesto.
— Apenas use — pede revirando os olhos. — E não estou cobrando
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nada.
— E a rosa? — inspiro o perfume puro da flor, como se o aroma me
acalmasse.
— Eu roubei — confessa, dando de ombros.
— Johnatan, você compra roupas íntimas caras, mas rouba uma rosa?
Ele acena com seu sorriso travesso. Seu humor matinal me
surpreende.
— Por que está com esse gênio todo? — pergunto desconfiada.
— Porque estou feliz — responde tirando seus sapatos. Franzo a testa.
Olho para os lados antes de olhá-lo por inteiro e para nos incríveis
olhos.
— Você abusou de mim?
Lembro que, depois da nossa madrugada erótica, ele mencionou, de
maneira muito perversa, que faria isso antes que eu pegasse no sono.
Ele joga sua cabeça para trás para gargalhar livremente. Escutá-lo
naquele estado preenche meu coração. Sorrio, pegando a última sacola.
Minha boca se abre em choque ao pegar uma caixinha.
— Certo — engulo em seco.
— Antes que entre em pânico, não se preocupe, o médico me receitou
— explica, desabotoando a calça.
Pisco surpresa.
— Em primeiro lugar, eu não estava em pânico e sim chocada, em
segundo lugar, eu estou em pânico agora. Espere... — ergo meu indicador —,
você foi ao...
— Não, eu liguei para o médico do centro. É de confiança — ele me
interrompe.
Arregalo meus olhos.
— Você contou a esse médico a nossa rotina? — envergonho-me.

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Seu sorriso perverso se abre ainda mais.


— Já viu como fica linda envergonhada? — diz fascinado.
— Não desvia da pergunta — aponto para ele.
— Mine, eu conversei sobre tudo enquanto corria. Conheço esse
corpo muito bem — afirma com confiança.
— Esse médico não é o Banks, certo? — pergunto temerosa.
— Michael não é ginecologista. Não se preocupe, até mesmo Donna
passa com ele. — Sua sobrancelha se ergue. Aperto meus lábios, calando-me.
— Eu preciso explicar para você sobre o medicamento...
— Tudo bem. Eu já sei... — interrompo-o constrangida. — Vou
começar a tomar durante meu período — murmuro. Oh, dou graças aos
livros! Suspiro.
— Exatamente — Johnatan concorda como se fosse um médico. —
Vai demorar?
— Johnatan? — repreendo-o chocada.
— Ok — ergue as mãos em defesa.
— Obrigada por cuidar de mim. Agora... vou tomar um banho —
Levantando-me, caminhando em sua direção para abraçá-lo. Seus olhos
devoram meu corpo nu, beijo seus lábios macios. — Acompanha-me?
— Com todo meu prazer — sussurra rouco, agarrando-me.

Mesmo sendo um absurdo de cara, a lingerie é confortável. Johnatan


me assiste enquanto me visto. No café da manhã, ele me guia até a cozinha
onde encontramos Matt preparando omelete. Sento-me em uma das
banquetas, sorrindo ao ser servida por meu amado.
— Bom dia! — dizemos juntos ao Matt.
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Ele se vira surpreso com nossa chegada.


— Bom dia! — cumprimenta-nos, engolindo seu café. — Como
passou a noite, Mine?
— Bem — respondo sem jeito, tomando meu café.
— E você, Johnatan, está melhor?
— A cama é péssima, mas sua sorte é que todas as minhas noites são
prazerosas ao lado de Mine — Johnatan responde, servindo-me com
panquecas.
Matt ergue a sobrancelha. Coro, apertando o ombro de Johnatan.
— Agradecemos a hospedagem, Matt — digo educadamente.
— A minha sorte é que dormi com tampões de ouvido. Estou
brincando, eu juro que não escutei nada, graças a Deus! — Matt murmura
enquanto come sua omelete. Johnatan sorri maldosamente. Quero enfiar
minha cara em algum lugar. — E isso é nojento para quem está de fora — ele
resmunga nos fazendo rir.
— E como estão as coisas por aqui? — Johnatan pergunta, vendo os
envelopes empilhados sobre o balcão.
Pego o envelope das fotos, vendo as fotografias que Matt organizou.
Faço uma careta quando meu estômago se embrulha ao ver as imagens
desagradáveis. Johnatan as toma da minha mão, apontando para meu prato, e
eu volto a comer.
— Estou sem sucesso com essas fotos, mas o relatório das empresas
chegará à tarde, fiz algumas ligações e peguei o telefone do prédio que seu
pai possuía na Rússia — comunica o advogado. Encolho-me.
— Mande-me por e-mail — Johnatan ordena, sentando-se ao meu
lado.
— Mesmo assim vai querer terminar o prédio daqui? — pergunto.
— Sim — responde com desdém. — Depois que eu conferir esses

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relatórios junto com as assinaturas desconhecidas, darei início aos meus


planos — comunica-nos sem dar detalhes.
Olho para Matt, que balança a cabeça descontente.
— Já deve ter uma previsão — Matt suspira.
— Amanhã — Johnatan dispara, fazendo-me engasgar com o café. —
Liguei para um arquiteto, vou encontrá-lo na MK para lhe passar algumas
coordenadas. Em seguida, já começa a construir.
— É muito arriscado, mesmo sem saber o que há por trás disso —
Matt argumenta. Concordo com ele.
— Sendo arriscado ou não, o prédio ficará pronto dentro de um a dois
meses. Não posso cruzar meus braços sem agir, tenho que mostrar o quanto
estou disposto. Gostando ou não — Johnatan suspira exasperado. — Querem
saber? Eu não quero estragar meu humor com esse assunto.
— Está de bom humor? — o amigo pergunta impressionado.
Johnatan lança seu olhar em chamas em minha direção, segundos
atrás, eu adoraria socá-lo por suas ideias insistentes, mas, agora, sua
intensidade me faz corar.
— Não sabe o quanto — murmura rouco. Cruzo as pernas ao sentir
minhas entranhas se apertarem.
— Posso pedir um aumento? Estou fazendo horas extras, caso não
tenha percebido — Matt opina. Johnatan o encara. — Tudo bem, o salário
está ótimo — ergue as mãos, fazendo-me rir.
Somos interrompidos quando o celular de Johnatan toca, ele o atende
rapidamente.
— Já estamos descendo — informa, desligando em seguida. — Peter
chegou.
Levanto-me, seguindo para o quarto de hóspedes a fim de arrumar a
cama e pegar a sacola. Quando retorno para a cozinha, escuto Matt e

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Johnatan discutirem sobre o assunto do prédio.


— Estou pronta — informo.
— Ótimo! — Johnatan diz, vindo em minha direção para beijar minha
testa e envolver seu braço ao meu redor.
— Obrigada novamente pela hospedagem, Matt — agradeço com um
sorriso sincero.
— Não tem de quê — sorri. — Vou acompanhá-los.
Ao chegarmos ao térreo, Johnatan toma minha mão e saímos juntos
com Matt. Do lado de fora, Peter nos aguardar em frente ao carro.
— Você deve pedir desculpas a ele — sussurro para Johnatan.
— O quê? Quem? — pergunta confuso.
— Peter — respondo.
— Eu nunca precisei pedir desculpas aos meus funcionários —
Johnatan resmunga. Paro meus passos assim que Matt se afasta para falar
com a recepcionista.
Ergo minha sobrancelha incrédula.
— E você deve agradecê-lo também — ordeno.
— Já são duas coisas — resmunga novamente.
— Se não fosse por Peter, não estaríamos aqui. Deve pedir desculpas
sim e agradecê-lo. — Insisto, pois é o correto, ele parece uma criança
teimosa.
Johnatan me lança seu olhar em chamas. Seu humor parece evaporar,
mas recuo.
— Vou pensar sobre o seu pedido — fala ríspido.
Cruzo os braços.
— Pensar? — ironizo. — Isso não é um pedido, Johnatan — digo em
alerta, fazendo seus olhos se abrirem em surpresa.
— Mine... — ele me encara da mesma forma, talvez por não gostar de

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ser subestimado.
Uma risada arrogante e muito conhecida nos chama a atenção, assim
como o aplauso irônico. Sinto meu café da manhã querer sair ao notar Nicole,
a loura impecável.
— A realeza com uma plebeia — ela sorri com arrogância. —
Inacreditável — diz enojada, olhando-me de cima abaixo.
Aperto meus dentes.
— Nicole, o que faz aqui? — Johnatan pergunta. Fico feliz por sua
frieza.
— Reunião de última hora com a equipe técnica — explica,
encarando-o com um sorriso hostil. — Por isso, eu me hospedei por aqui.
Tenho tentado ligar para você nesses últimos dias...
— Estive ocupado — ele a interrompe sem lhe dar detalhes.
— Entendo — Nicole me olha. — Mas agora que está aqui, podemos
conversar? — pede, olhando-o intensamente.
Engulo minha fúria por ela tentar flertar com Johnatan na minha
frente. Aperto a mão do meu homem assim que ele ousa se afastar. Nicole
encara nossas mãos entrelaçadas e ergue sua sobrancelha com ironia.
— Me dê um minuto, Nicole — Johnatan pede.
A risada da loura imprestável me enfurece.
— Não me diga que vocês... — engole sua ira e acena, erguendo seu
indicador — Um minuto — exige, em seguida se afasta.
— Mine, não precisa ficar assim — Johnatan se explica, tocando em
meu rosto.
— Eu não confio nela — eu encaro as costas da loura como se
pudesse furá-la com meus olhos.
— Somos parceiros de negócios — insiste.
— Parceiros que já tiveram um caso, mesmo a parceira estando

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casada com outro — acuso.


— Isso já acabou — diz ríspido. — Estou com você agora e só tenho
olhos para você.
Vejo Matt se aproximar desconfiado ao ver minha postura rígida.
— Algum problema por aqui? — pergunta.
Aproximo-me de Johnatan para enfrentá-lo de perto.
— É melhor ficar longe dela. Não vai querer um dardo cravado em
seu olho — ameaço, sentindo a angústia e a raiva dentro de mim.
Johnatan se ergue com a ameaça explícita em meus olhos ferventes,
mantenho minha postura. Ele está surpreso olhando para Matt ao lado depois
para mim novamente. Seu sorriso torto surge, iluminando seu rosto.
— Acho que você está andando demais comigo — murmura,
acariciando meus lábios com o polegar.
— Está achando engraçado? — pergunto seriamente. Escuto Matt
sufocar sua risada.
— Que monstrinho eu criei? — Johnatan sorri e beija meus lábios
brevemente. — Eu já volto.
Ele se afasta, deixando-me ali com minha fúria. Observo-o caminhar
até onde Nicole conversa ao celular, seus olhos frios são disparados em
minha direção. Franzo a testa ao vê-la acariciar os ombros e o peito de
Johnatan com um sorriso malicioso. Ele se afasta desconfortável. Logo,
ambos me olham e meu estômago se embrulha ao ter certeza de que estão
falando de mim.
— O que eu perdi? — Matt murmura. Nesse momento, lembro-me da
sua presença.
Viro-me para ele pensativa.
— Johnatan e Nicole já... Eles já tiveram um caso — digo
rapidamente, fazendo uma careta de desgosto.

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Matt abre seus olhos surpreso.


— Não me diga, mas... — ele aperta os lábios. Aceno.
— Mesmo ela estando casada? — completo sua desconfiança. —
Sim.
— Estou chocado — suspira.
— Bem, fique ainda mais chocado — sussurro. — Eu não confio nela.
Estou me perguntando neste exato momento por que não há fotos dela junto
com as outras amantes de Johnatan — digo rispidamente.
Os olhos de Matt se arregalam. Observamos Nicole e Johnatan
discutindo amigavelmente. A mulher olha em nossa direção ainda me
provocando ao tocar o rosto dele. Viro-me novamente para Matt.
— Agora que você falou, pretendo me certificar disso também —
Matt assegura, mas não lhe dou ouvidos.
— Eu vou para o carro — Na verdade, quero fugir dali, fugir do
sentimento de angústia em meu peito.
— Você está bem? — pergunta, segurando meus ombros.
— Eu só preciso bater em algo — confesso nervosa. — Adeus, Matt.
Afasto-me em passos duros até o carro, onde Peter nos aguarda.
— Bom dia, Peter — forço minha voz a sair.
— Bom dia, Mine — responde, pegando a sacola da minha mão e
abrindo a porta do carro.
Entro sem vontade e me encolho em meu acento, aguardando a
chegada de Johnatan, pensativa. E se ela for a causadora de tudo isso? E se
Nicole estiver envolvida em tudo o que está acontecendo ao nosso redor?
Minhas desconfianças com essa mulher são fortes. Por outro lado, sinto uma
profunda compaixão pelo médico Banks, ele é um homem bom, não merece
ter uma mulher como ela.
De súbito a lembrança de Johnatan com ela retorna em minha mente.

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Ele não pode ser tão cego de não perceber o que está acontecendo. Como não
desconfia dela? Como pôde continuar sendo parceiro de trabalho daquela
megera? Meu coração se aperta.
Uma batida na porta ao meu lado me faz sobressaltar, mas continuo a
encarar a janela, não querendo dar atenção a ele.
— Para onde senhor? — Peter pergunta assim que o russo teimoso
entra no carro.
— Para casa — Johnatan ordena, movendo-se em seu assento.
Sinto seus dedos deslizarem em minha mão até alcançá-la. Afasto-me,
recusando seu toque. A única coisa que quero no momento é gritar em meu
travesseiro ou jogar vidros contra a parede. O sentimento de tormento e raiva
parecem andar de mãos dadas dentro de mim. Escuto Johnatan suspirar
irritado enquanto encaro as ruas passarem como um borrão.
— Peter? — escuto-o. Sua voz grossa está relutante. — Sobre
ontem... Eu agi por impulso, peço desculpas pelos meus erros. Também tenho
que agradecê-lo pelo o que tem feito por mim e pela Mine — parece sincero.
Ouço Peter pigarrear surpreso pelo ato inesperado.
— Está-está tudo bem, senhor — gagueja.
Quero me sentir aliviada por sua atitude, mas é impossível. Eu posso
sentir seus olhos em mim e ouvir sua respiração pesada.
— Feliz? — escuto Johnatan murmurar em minha direção e aperto
minhas mãos.
— Não fez mais que sua obrigação — digo friamente.
Peter me olhar pelo retrovisor, depois volta a sua atenção para a
estrada como se não sentisse o clima pesado no ar.
Escuto Johnatan grunhir, murmurando algo em russo. Volto meus
pensamentos para as ruas, apreciando os prédios da cidade.

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Assim que chegamos à mansão, saio do carro batendo a porta com


força. Sid e Hush se aproximam e acaricio o pelo negro de Hush. Sid segue
direto para Johnatan assim que ele sai do carro. Ela parece farejá-lo como se
estivesse preocupada, Johnatan suspira, tocando sua cabeça e dizendo algo
em russo. Logo a égua se afasta de sua mão e volta a cheirar seus cabelos, seu
rosto e suas roupas, relinchando suavemente.
— Eu estou bem — Johnatan assegura a ela.
Hush se afasta depois de cheirar meu rosto e se aproxima de Johnatan.
É como se eles soubessem de tudo que passamos no dia anterior.
— Lake... LESADO! — Escuto James gritar. Lake corre em nossa
direção, todo molhado.
Ele se sacode brincalhão, fazendo-me encolher, mas logo se junta aos
amigos para farejar Johnatan. Todos eles bloqueiam sua passagem. Os
cavalos os amam, posso sentir naquele momento, tanto suas conexões quanto
suas inteligências. São animais incríveis!
Afasto-me, deixando-os a sós. Caminho para dentro de casa já
encontrando Jordyn com sua enceradeira.
— Mine — sorri brevemente, mas se surpreende com minha carranca.
— Você está bem?
— Sim, estou — minto, sorrindo forçadamente. — Você pode deixar
o chão do salão para mim?
— C-claro — ela gagueja estranhando.
— Vou trocar de roupa — digo, seguindo para meu quarto.
As rosas já estão murchas, pego-as, jogando no lixo com aperto no
coração. Elas deveriam durar para sempre. Visto meu velho jeans e uma blusa
fina de algodão.
Assim que volto para a sala, escuto Jordyn falar algo com Johnatan.
— A senhora Banks ligou esta manhã para o senhor e...

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— Eu sei — responde a interrompendo. Passo por eles seguindo


direto para o salão.
Só de ouvir falar daquela mulher, sinto meu humor piorar ainda mais.
Agradeço por Jordyn ter deixado o que preciso para encerar o chão.
Começo meu trabalho duro, esfregando a enceradeira no mármore com força.
A raiva dentro de mim ajuda a manter meu serviço rígido, deixando o chão
mais brilhante. Logo, uma tosse proposital me deixa entorpecida, mas não me
viro.
— Pensei que seu serviço fosse em minha biblioteca — escuto seu
tom arrogante.
Aperto meus dentes, forçando meus braços com o aparelho.
— Jordyn precisa de ajuda. Se eu tiver tempo, poderei me ocupar com
sua biblioteca mais tarde, senhor — respondo rispidamente.
— A forma como está reagindo não tem nada a ver com seu trabalho
— sua voz se torna fria. — Para minha sala. Agora! — ordena.
Ergo minha cabeça. Sua expressão está séria, com seus olhos
disparados em mim. Olho para seus sapatos seriamente, agora posso entender
Jordyn quando se trata de limpeza pesada.
— Eu já vou... Senhor — Jordyn aparece ao lado, assustada com
nossa reação. — Agora, se me der licença, essa área eu já limpei — encaro
seus pés.
Ele cruza seus braços incrédulo.
— E-eu vou ajudá-la. Em breve ela estará em sua sala — Jordyn tenta
interceder, correndo até mim para ajudar a encerar o chão.
Volto para meu trabalho duro e só me viro quando o escuto se afastar.
— Para minha sala. Agora! — imito com ironia. — Vai esperando —
murmuro.
— Você está ficando louca? Enfrentar o chefe dessa forma? — minha

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amiga dispara chocada.


— Eu só quero me distrair um pouco, Jordyn — dou de ombros.
Jordyn permanece calada ao me ajudar. Depois, passamos a organizar
algumas cômodas. Durante o almoço, todos estão em silêncio, Donna serviu
Johnatan em sua sala, forço a minha comida a descer.
Em alguns comentários durante a refeição, escuto Jordyn apenas
comentar sobre a arrogância de Nicole ao ligar nesta manhã. Assim que
termino de comer, deixo-os na cozinha para voltar ao meu serviço.
Eu me ocupo a maior parte do dia organizando e limpando a minha
área, conseguindo me manter equilibrada com meus afazeres. No fim da
tarde, resolvo ir para o meu quarto a fim de organizá-lo, depois tomo um
banho demorado.
Penso em ligar para meu pai, mas me recuso a fazer isso estando
estressada. Visto minha calça de moletom escura e uma regata branca. Por
fim, saio do quarto pronta para encarar a fera. Reviro meus olhos para mim
mesma ao subir as escadas em passos lentos.
Quando chego ao corredor, deslizo meus dedos no cavalo de madeira,
em seguida, sou distraída com as portas ao lado. Isso me leva à ideia de ir até
sua academia.
Entro no quarto, seguindo direto para a sala de treino. Ao descer as
escadas, espio com cuidado para ver se ele não está por perto.
Quando ligo as luzes, observo a noite pela parede de vidro, as
montanhas parecem distantes, talvez seja por causa da neblina fria. Caminho
pela academia, vendo os equipamentos de treino, deslizando meus dedos nas
barras de ferros e pesos organizados.
Aproximo-me de um equipamento que sempre me lembra um
cabideiro, eu já vi o teimoso treinar nisso, comicamente, ouso tentar imitá-lo,
enroscando meus braços no equipamento. Eu tento me lembrar do que ele

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fazia, mas seus braços eram mais rápidos.


Afasto-me, voltando a caminhar pela sala, tocando tudo à minha
volta. Sou distraída com um saco de pancadas pendurado. Caminho até ele
tocando no couro, relaxo meus ombros e o encaro. Soco o saco, em seguida
sacudo minha mão por ter feito de mal jeito. Novamente, volto a fechar meus
punhos, socando.
— Isso é bom — murmuro para mim mesma, olhando em volta para
ter certeza de que estou sozinha.
Volto a bater como se ele fosse o rosto perfeito da loura à minha
frente. Pensar nela com Johnatan novamente me deixa cada vez mais
eufórica... até sentir o suor escorrer em minha têmpora. Meus punhos doem
com a força que uso, mas não me importo.
Soco com rapidez, como se eu me achasse “a” profissional. Não
demora, meus socos são substituídos por tapas fortes e estalados no couro
firme, minhas palmas ardem, mas estou me sentindo livre cercando o saco de
pancadas com meus golpes.
— Está vendo... isso, senhor Makgold? — falo ofegante, afrontando o
saco de pancadas. — Me dê um minuto... Para minha sala. Agora! — zombo
sem fôlego, dando tapas no saco. — Eu... adoraria fazer... isso.... isso com...
com você... Mak-Makgold.
Meus tapas são misturados com punhos de tal forma, que nem eu
mesma entendo o que estou fazendo, apenas giro em torno do saco e o agrido.
— AH! — grito de susto ao ver Johnatan encostado, vestido apenas
sua calça de moletom. Os braços cruzados realçam seus músculos.
Pergunto-me há quanto tempo estava ali. Eu me afasto ofegante,
fazendo um coque em meus cabelos rebeldes.
— Você está muito nervosa — reflete em voz alta. — O que estava
tentando fazer ali? — aponta para o saco de pancadas com deboche.

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— O que está fazendo aqui? — retruco ofegante.


— Te procurando. A porta do quarto estava aberta. Para minha
surpresa, eu te encontrei entre tapas e socos por aqui. Sem contar que sua
imitação é péssima — avalia-me zombeteiro.
Aperto meus lábios.
— Vá embora — disparo, levantando minha regata até minha cintura
para aliviar o calor em meu corpo.
Johnatan ignora meu estresse.
— Você quer fazer isso comigo? — pergunta. Recuo quanto ousa se
aproximar. — Eu odeio quando se afasta — grunhe ríspido.
— É a mesma coisa que sinto quando está com aquela mulher —
praticamente o acuso.
— Mine...
— Já parou para pensar que ela pode estar por trás de tudo isso? —
desabafo com frieza.
Johnatan pisca surpreso com meu ataque.
— Impossível — responde.
— E por que seria impossível? Não há fotos dela, Johnatan.
— Assim como também não há fotos de outras — confessa.
— Há mais? — pergunto alarmada.
— Mine, elas não significam nada para mim. Não precisa sentir
ciúmes — diz exasperado.
Volto a bater no saco, mas paro com um sorriso hostil.
— Vamos fazer uma simulação — indago ofegante. — Digamos que
eu tivesse um caso com a metade dos homens da cidade e que um deles me
procurasse, me tocasse, e que, mesmo assim, eu tivesse com alguns
problemas difíceis no momento, o que você faria?
Johnatan me encara seriamente, suas narinas ficam rígidas ao puxar o

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ar.
— Ninguém toca em você — sua frieza é pior que a minha.
— E por que não? — disparo furiosa, sentindo meu corpo ferver.
— Porque você é minha! — responde com firmeza, mas logo noto a
confusão em sua expressão, talvez, perdido em pensamentos.
— Bem-vindo ao meu mundo! — rebato, voltando minha atenção
para o saco.
— Eu sinto muito, tudo bem? Eu vou investigar sobre isso, mas não
tem que ter motivos para sentir ciúmes. Mine, você tem meu coração — ele
suspira. Continuo a trabalhar meus socos. — Será que dá para você voltar sua
atenção para mim em vez da merda desse saco de pancadas?!
— É melhor ter minhas mãos bem longe de você neste momento —
murmuro com raiva.
— Você quer me bater? — a confissão o deixa perplexo.
Sorrio com frieza.
— Pela primeira vez no dia você não está sendo cego. Estou me
segurando, acredite — resmungo.
Sou pega de surpresa quando meu corpo é virado para ele, o saco de
pancadas é afastado de mim.
— Eu estou bem aqui — murmura, usando toda a potência de sua voz
próximo ao meu ouvido. Tento me afastar. — Me bata. Desconte sua fúria em
mim, e depois vou tentar controlá-la — pede. Aperto meus dentes frustrada.
— Eu quero ficar sozinha — sinto meus olhos febris.
— Não. Você quer ficar comigo, precisa de mim. Você está com o
corpo fervendo, sua cabeça está pesada e a angústia dentro de você está te
deixando sufocada. — Ele me olha enquanto tento recuar. — Vamos lá,
mostre-me o que há dentro de você — aproxima-se enquanto encaro seu
peitoral.

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— Fique longe de mim! — resmungo apertando meus braços ao meu


redor.
— Tudo bem — ele solta sua respiração abafada. — Então, vou para
um jantar que combinei com Nicole enquanto você fica discutindo relações
com o saco de pancadas...
— Você... — engulo minha fúria.
Meus olhos ferventes disparam para ele, logo, vejo-me avançar para
bater em seu peitoral com força, deixando a marca da minha palma em sua
pele. Rosno quando sigo com socos em seus ombros.
— Isso — aprecia o que faço, impressiono-me por não se afastar.
Rapidamente, seus braços fortes se movem, cercando-me num abraço
apertado, mantendo-me imobilizada... Tento me mover. Sinto o aperto
começar a me sufocar, grito para ele, sentindo minhas veias saltarem. Aquilo
é um alívio, e Johnatan me olha sem demonstrar frieza, apenas serenidade.
— Sente-se melhor? — pergunta com tranquilidade.
— Não — balanço minha cabeça.
Ele recua, soltando-me. Puxo o ar com força.
— Venha comigo. Vamos resolver isso no tatame — chama.
Sigo-o pela academia até chegar na área onde tem um carpete escuro
parecendo mais um colchão fino, porém firme.
Johnatan tira seus tênis e faço o mesmo. Caminho com ele até o
centro do carpete, olhando ao redor confusa preferindo mais o saco de
pancadas.
— O que vamos fazer aqui? Oh!
Sou surpreendida quando meu corpo é puxado e girado até sentir
minhas costas se chocarem no tapete macio.
Olho para Johnatan incrédula com seu ataque inesperado. Tento me
mover, mas suas mãos e pernas me seguram no lugar.

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— Estou tentando aliviar sua fúria — informa.


— Jura? Atacando-me dessa forma? — rebato e tento me soltar.
Johnatan parece se divertir com o meu fracasso.
— Está pronta? — pergunta, relaxando um de seus braços.
Quando consigo me libertar, avanço sobre ele, tentando agarrar suas
pernas com as minhas ao mesmo tempo em que tento afastar suas mãos do
meu corpo.
— Eu vou... Você vai ver — tento mantê-lo no chão.
— Resistência, Mine — pede, mas não lhe dou ouvidos, jogando meu
corpo em cima do seu.
Estamos numa luta atrapalhada, apenas eu... Johnatan tenta agarrar
minhas mãos frenéticas, mas as movo em todas as direções. Empurro seu
peito com força, fazendo-o deitar para montar em cima dele.
De repente, pego-me rindo quando suas mãos deslizam em minha
cintura, fazendo-me saltar com as cócegas. Empurro suas mãos para longe,
mantendo-o preso no chão. Eu me sinto poderosa por tê-lo dessa forma, com
suas mãos acima de sua cabeça. Eu o escuto ofegar e sorrio com a vitória.
— Eu ganhei — digo sem fôlego.
Seus olhos azuis estão cheios de desejos.
— Como pode ter tanta certeza? — sou pega se surpresa quando ele
ergue sua cabeça para lamber o suor em meu pescoço.
Recuo, ignorando sua provocação.
— Não estrague meu momento — peço, engolindo em seco ao sentir
seu membro duro. — Eu quero aprender. Saiba que ainda estou brava com
você — ofego, olhando em seus olhos.
— Está? Bem, teremos essa luta mais tarde — fico confusa.
— Por que não agora?
Subitamente, assusto-me quando meu corpo gira, minhas costas

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voltam a se chocar contra o carpete.


— Porque vou tirar essa fúria por completo agora — murmura
agarrando minhas calças, tirando-as com força.
— Você... Não — ofego tentando afastá-lo.
Johnatan agarra minhas mãos, mantendo-as presas acima da minha
cabeça com uma das suas. Em seguida, alcança algo em seu bolso, colocando
o alumínio entre seus dentes até puxar a camisinha e colocá-la em seu
membro ereto.
— Você não venceu ainda — declara rouco, roçando os lábios em
meu pescoço.
Gemo ao sentir sua mão livre deslizar por minha barriga, afastando
minha camiseta até apertar um dos meus seios. Sua língua volta a deslizar por
meu pescoço, seguindo para minha boca, deixando-me ofegante ao sentir
molhar meus lábios e invadir minha boca num beijo ardente.
Tento me soltar como uma inútil. Sua mão em meu seio volta a
percorrer minha barriga até meu ventre. Gemo em sua boca quando sua
ereção roça contra a minha carne macia, provocando-me. Johnatan me tortura
com seu beijo, mordendo meu lábio enquanto seu pênis me invade com força
me fazendo gemer alto.
Quero soltar minhas mãos, mas meu corpo parece lutar contra ele,
arqueando-se e esfregando minhas pernas em sua cintura até afastar sua calça
por completo. Ofego completamente entregue ao senti-lo cada vez mais
profundo, numa dança íntima e carnal. Meus quadris se movem contra ele e
suas mãos entrelaçam as minhas com força, mantendo-as presa.
— Johnatan — clamo aos gemidos, sentindo sua boca alcançar meu
seio e sugá-lo com força.
Ele geme em minha pele sensível, dizendo algo em russo enquanto
deliro com suas estocadas. Meu corpo parece mais fervente, suando mais que

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o normal. Sinto meu sexo pulsar dolorosamente com a força de seus


movimentos. Mordo meu lábio, piscando os olhos para ver seu rosto grudado
no meu.
Sua respiração aquece minha pele, mas seus olhos estão fixos nos
meus, cheios de desejos e excitação. Gemo, mordendo seu lábio e o puxando
para mim. Aperto suas mãos com força ao sentir de imediato a vibração
intensa em seu corpo.
— Pronta? — Johnatan ofega, beijando meus lábios com ternura.
Sua ereção pulsante me invade com mais força, atingindo
profundamente enquanto explodo por dentro em um orgasmo intenso. Em
seguida, Johnatan atinge seu prazer. É único, completo e inebriante, fecho
meus olhos, sentindo-me saciada.
Quando minhas mãos são livres agarro seu rosto para beijá-lo com
todo o meu amor. Johnatan geme suavemente em meus lábios, aprofundando
nosso beijo e abraçando meu corpo com força.
— Eu quero mais — digo suavemente sem conseguir afastar meus
lábios dos seus.
— Sério? — murmura rouco com seu sotaque russo.
Suspiro em contentamento.
— Eu acho que ainda estou brava com você — beijo-o novamente.
— Cuidado, pode ser perigoso... — alerta em excitação.
— Eu gosto do perigo — cochicho sorrindo.
— Você nunca fica longe do perigo — provoca, aprofundando nosso
beijo.

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37 – GOLPE BAIXO

Jogo-me no tatame ofegante. Meu corpo está em tremores, suado e


febril. Sinto as mãos quentes de Johnatan escorregarem por minha pele
molhada com suavidade. Pisco meus olhos em busca de foco, encontrando-o
sentado entre minhas pernas.
Seus cabelos estão mais molhados devido ao suor, o tom corado de
sua pele é adorável, mas seus olhos febris encaram meu corpo nu exposto à
sua frente. Gemo, mordendo meu lábio quando ele sai dentro de mim.
Adoraria sentir pele contra pele, mas para isso teremos tempo.
― Satisfeita? ― pergunta.
― Talvez ― murmuro sorrindo ainda mais ao ver seus olhos se
arregalarem. ― Por enquanto ― digo num tom exigente.
Johnatan abre seu sorriso torto.
― Eu poderia passar a noite toda assistindo você assim ― diz rouco,
percorrendo seus dedos em minha pele com suavidade.
― Mas eu não ― balanço a cabeça sem perdermos o contato. ― Não
posso ficar a noite inteira aqui à sua mercê.
― Não? ― levanta sua sobrancelha.
― Não no momento ― corrijo-me.
Ofego quando seu corpo robusto se curva para beijar minha barriga.
Ele arrasta seus lábios macios para meus seios, percorrendo sua língua em
meus mamilos, um de cada vez, calmamente.
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― E o que quer fazer? ― pergunta ainda provocando meu seio.


Contorço-me.
― Já é tarde ― sussurro com cuidado. ― Por que não me ensina
alguns truques? ― peço, em seguida mordo meu lábio inferior.
Vejo seu corpo ficar tenso, sua língua se afasta da minha pele
imediatamente. Droga! Observo-o prender a respiração por alguns segundos,
soltando-a como uma lufada suave entre meus seios. Engulo em seco quando
se move para cima até encarar meus olhos atentamente. Acaricio seu rosto,
afastando alguns fios molhados de sua testa.
Subitamente, seus lábios grudam-se aos meus num beijo intenso,
abraço-o, acariciando sua nuca. Todos os meus pensamentos do momento
evaporam assim que o beijo se torna mais urgente. Suas mãos deslizam por
meu corpo até puxar minhas pernas, já arqueadas, para seus quadris,
mantendo-as presas no lugar. Isso é distração. Afasto seu rosto para encarar
seus olhos em chamas.
― Mine... ― ele vê a luta em meu rosto.
― Não quero que me distraia. Sei o que está tentando fazer ― digo
com tristeza.
Johnatan volta a se sentar entre minhas pernas, dando um suspiro
pesado.
― Por que está fazendo isso comigo? ― resmunga, esfregando suas
mãos em seu rosto.
Apoio-me em meus cotovelos para olhá-lo melhor, mas acabo
apreciando seu corpo nu diante de mim. Ele é como uma escultura muito
bem-esculpida.
― Qual é? Não deve ser tão ruim assim ― abro meu melhor sorriso e
suspiro ao ver seus olhos disparados em minha direção.
Estamos nus e discutindo, isso deveria ser constrangedor, mas não me

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importo.
― Não é tão simples quanto pensa ― ele informa friamente.
Surpreendo-me com sua seriedade.
Penso que talvez ele não queira me passar tudo que aprendeu, talvez
por ser difícil demais para ter que lidar com isso e acabar me ensinando de
forma errada, mas não o quero dessa forma. Solto um suspiro relutante.
― Não precisa me mostrar o que há de pior. Apenas... autodefesa? ―
peço sem jeito, olhando suas feições.
Sua cabeça se ergue para me encarar atentamente.
― Autodefesa ― repete, erguendo uma sobrancelha com ironia.
― É ― confirmo com a cabeça na esperança de que ele aceite.
Seus olhos azuis me avaliam, sei que há uma luta interna.
― Vista-se! ― ordena, levantando-se e já vestindo suas calças.
― Podemos fazer sem roupa ― provoco-o. Ele tenta conter seu
sorriso.
― Seria interessante, mas seria uma distração ― confessa, fazendo-
me sorrir.
Pego minhas roupas antes que ele volte à estaca zero. Quero tomar um
banho antes, mas algo me diz para me manter suada. Enquanto me visto,
Johnatan se afasta, deixando-me sozinha no tatame. Volto a deixar minha
regata até a cintura, prendo meus cabelos num coque e o aguardo retornar
com duas barras.
Sinto-me empolgada, mas disfarço meu sorriso apertando os lábios.
Assim que meu russo temperamental se aproxima, vejo as barras de madeira
girarem entre seus dedos rapidamente, criando um som suave no ar. Certo, eu
quero aprender isso também!
Ele me entrega uma barra, e encaro o objeto liso maravilhada, como
se fosse minha primeira arma de combate. É bambu, mas não me importo, é

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minha arma.
― Não se empolgue, só vou te mostrar o essencial ― Johnatan
dispara, mas ignoro sua hostilidade. ― É um bastão de bambu.
― O que vamos fazer? ― indago agitada.
Johnatan suspira caminhando até o centro do tatame, acompanho-o.
― Vou mostrar como se afastar de alguns golpes ― franzo a testa,
encarando meu bastão.
― Como? ― pergunto um pouco apreensiva. Boa parte de mim quer
aprender a dar uma surra com um bastão, seja ele de bambu ou o meu
preferido, o de ferro.
― Mine, você precisa de mais do que isso ― olho-o, agora atenta. ―
Externamente, você deve manter seu corpo tenso, mas seu interior tem que
estar relaxado. Você não pode hesitar, não pode se afastar e nem mesmo se
desviar. Seus olhos têm que estar sempre fixos em seu oponente, tantos nos
olhos dele quanto nos movimentos. No momento em que seu interior está
relaxado a sua mente se mantém atenta ― explica com confiança, como se
fosse um professor.
Escuto com atenção enquanto ele gira em torno de mim para arrumar
minha postura com seu bastão. Mantenho a coluna mais reta, a cabeça
erguida e minhas pernas um pouco afastadas. Quando está satisfeito com
minha postura, noto-o segurando o bastão com firmeza com uma mão, no
meu caso, prefiro segurar o meu com as duas. Sigo as instruções, forçando
meu corpo a relaxar internamente e me manter rígida externamente.
― Como estou?
Johnatan me observa com atenção, ajudando-me a arrumar o
posicionamento do bastão em minhas mãos, afastando-as um pouco mais e
fazendo-me segurar com firmeza.
― Ótimo ― seu tom se torna mais grosso. ― Eu vou atacá-la em

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quatro pontos. Aqui... Aqui... E aqui ― ele aponta com seu bastão, tocando
em meu ombro esquerdo, minha costela direita e minha coxa esquerda.
Franzo a testa.
― E o último ponto? ― pergunto confusa.
Pela primeira vez em meio a toda sua tensão, vejo seu sorriso
perverso. Seu bastão segue em direção às minhas costas até tocar minha
bunda.
Levanto meus olhos para ele.
― É uma parte da diversão ― informa, dando-me uma piscadela. ―
É melhor não errar seus movimentos.
― E como vou saber usar meu bastão corretamente?
― Eu disse, observe seu oponente. Você precisa de foco, força,
atenção e atitude ― comenta com seus olhos fixos nos meus. ― Preparada?
Inspiro profundamente, mantendo minha posição firme.
― Sim ― digo sem coragem.
― Mine ― chama minha atenção. ― Mantenha-se firme! ― ordena.
Aceno, querendo mostrar minha língua para ele por seu jeito mandão.
Vejo seu bastão vindo em minha direção, afasto-o com o meu quando
ele ousa se aproximar do meu ombro. Seu ataque não é ofensivo como
imaginei que seria, é como um aviso de onde pretende se aproximar para que
eu empurre seu bastão com o meu.
Ele faz o mesmo movimento em outros pontos, atacando-me, exceto
em minha bunda. Eu os afasto até notar que seus movimentos começam a se
tornar mais rápidos. Confesso que isso é muito emocionante para mim!
― Mantenha seus joelhos um pouco flexionados. Isso ajudará a
impulsar seu corpo. ― Faço o que me pede até seus movimentos cessarem.
― Agora, não avisarei onde vou atingi-la.
Franzo a testa.

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― Como é? ― afasto-me quando seu bastão toca minha costela. Não


dói, mas me pega de surpresa, em seguida, sinto o bastão tocar meu traseiro
como se me desse um tapa.
― Não hesite, Mine! ― ordena, voltando a me atacar. Felizmente,
consigo afastá-lo quando vem em direção à minha costela.
Agora, Johnatan se move ao meu redor, fazendo com que eu me mova
com ele, que se movimenta com rapidez e agilidade. Quando perco a linha de
direção do seu ataque em meu ombro, recebo o golpe no traseiro.
― Eu prefiro o saco de pancadas ― protesto, tentando inutilmente me
defender com meu bastão do meu jeito.
― Foco, Mine! ― ordena, atacando meu traseiro.
― Johnatan...
Encaro-o seriamente, segurando meu bastão com firmeza, mas seus
ataques são mais rápidos, irritando-me quando não consigo afastá-lo, sendo
atingida na bunda diversas vezes.
― Seu oponente não vai esperar enquanto você hesita ― parece
tranquilo enquanto me ataca. Rosno.
― Não estou hesitando! ― digo nervosa e pulo irritada quando volto
a ser atingida na coxa. Coitada da minha pobre bunda!
― Crie estratégias, querida ― opina de forma provocante, sem me
dar sorrisos. Aperto meus dentes frustrada.
Sinto raiva de mim mesma por deixá-lo me atingir. Nas poucas vezes
que acerto, minha alegria acaba rapidamente, pois logo chega outro golpe
seguindo direto para o meu traseiro. Seus movimentos são muito mais
rápidos do que o esperado, é difícil acompanhá-lo e devo concordar que o
homem é muito bom.
― Pare! ― protesto, usando meu bastão para afastá-lo ruidosamente.
― Seu oponente não pode parar até que esteja satisfeito ― ele é

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irritante e me golpeia novamente. ― Acredite, estou me divertindo com sua


linda bunda.
― Você é irritante! ― disparo e pulo com mais golpes. ― Johnatan!
― Atenção!
Quando o vejo se mover para me atingir, consigo afastá-lo em dois
pontos, mas erro no terceiro, recebendo o castigo novamente.
― Eu estou tentando! ― rosno.
― Está hesitando ― acusa.
Estamos girando pelo tatame, ele me perseguindo enquanto eu fujo.
Certo, Johnatan é intimidante e profissional, não posso ser melhor que ele.
Com atenção, mantenho minha mente vazia e meus olhos focados em
seus movimentos, conseguindo afastá-lo nos três pontos, minha bunda
agradece meus esforços. Seguro meu bastão com mais força, não me
deixando levar por seus lindos olhos, impressionados com minha postura.
― Bem ― suspira. Ergo meu braço direito no bastão para obter um
bom posicionamento. ― Vamos ver com mais rapidez.
O quê? Não consigo acompanhar seus movimentos, é como se me
atacasse em mais de três pontos. Sinto-o me acertar nos quatro pontos e luto
para tentar controlá-lo. Afasto-me para respirar. Meus esforços me fazem
suar ainda mais.
― Mine ― chama minha atenção. Como ele não pode estar cansado?
Irrito-me.
― Isso não é justo. Estou tentando acompanhá-lo!
Meu nervosismo o surpreende.
― Seu oponente não pensa da mesma forma...
― Dane-se o meu oponente ― rosno, apontando meu bastão para ele
e voltando para o centro do tatame.
Sou acertada no traseiro novamente. Se meus olhos febris tivessem

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poderes, ele já estava morto.


― Não se fala palavras feias aqui! ― tenta se manter sério, mas sei
que está se divertindo com meu fracasso.
― Você vai ver o feio daqui a pouco ― rebato seriamente.
Não tenho tempo de arrumar melhor meu posicionamento, pois
Johnatan me acerta novamente. Suspiro exasperada.
― Seja rápida, Mine! ― atinge minha bunda.
― Eu conseguiria me defender se você parasse de espancar meu
traseiro! ― praticamente grito, irritada.
Novamente o bastão atinge minha bunda e rosno para ao ver seu
sorriso irônico.
― Está achando engraçado? Está... achando... engraçado?! ― disparo
enquanto o ataco com meu bastão de bambu. Johnatan se afasta dos meus
ataques com facilidade.
― É fascinante vê-la vulnerável ― sua risada libertadora acende
minha fúria. Atinjo seu traseiro, fazendo-o me encarar surpreso.
― Está vendo? Posso ser melhor que você. Vamos lá, bonitão. Estou
pronta para a segunda rodada ― digo ofegante, segurando meu bastão. Sua
testa franze.
― Tem certeza? ― pergunta desconfiado.
― Está com medo? ― ironizo, levantando minha sobrancelha e lhe
dando um sorriso desafiador.
Estar em posição de ataque é o melhor. Avanço para ele, tentando
golpeá-lo sem hesitar. Johnatan afasta meu bastão com o seu em todas as
direções que tento acertá-lo, eu deveria ser mais razoável com meus ataques,
principalmente em direção à sua cabeça, mas a força em meus braços me faz
sentir livre.
Estamos numa luta de verdade. Agora, eu sou sua oponente, uma

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oponente muito irritada que consegue despistar meus movimentos e acertá-lo


em suas pernas algumas vezes. Quando o vejo se posicionar para me atacar,
consigo afastá-lo com facilidade. É empolgante e ao mesmo tempo cansativo,
sem ter tempo de manter uma posição correta.
Logo, estamos numa mistura de contra-ataque. Eu consigo me
esquivar e afastá-lo quando tenta atingir meu traseiro. Sorrio com malícia ao
ver seus olhos observadores, volto a atacá-lo, mas dessa vez, giro meu corpo
para acertar seu ombro.
― O que é isso? ― Johnatan pergunta aos risos.
― Improviso ― digo empolgada, voltando a atacá-lo.
Dessa vez, finjo atingi-lo com meu bastão, em seguida, curvo-me para
agarrar uma de suas pernas flexionadas e derrubá-lo. Ele é pesado, mas
consigo com meus esforços. Sinto-me no poder mesmo também caída.
Levanto-me rapidamente, agarrando meu bastão e apontando para ele. Seu
peito sobe e desce com força por causa da respiração acelerada.
― Xeque-Mate! ― finalizo a luta com minha respiração abafada.
Johnatan se diverte com minha postura rígida ao mesmo tempo
vitoriosa. De repente, sinto o bastão golpear atrás dos meus joelhos, fazendo
meu corpo cair ao seu lado. O braço de Johnatan enrosca-se em meu bastão,
quebrando-o com facilidade. Arregalo meus olhos para o pedaço que restou
em minha mão.
― Nunca derrube alguém ainda armado ― Johnatan ofega enquanto
ainda olho para o pedaço do bastão.
― Você quebrou ― digo quase sem voz.
Pego seu bastão e tento quebrá-lo com minhas mãos, mas é inútil, só
conseguindo com a ajuda do meu joelho.
― Você acabou de quebrar meu bastão japonês. Eu briguei no leilão
para conseguir essa relíquia ― murmura, pegando os pedações de minhas

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mãos.
Arregalo meus olhos quando me mostra um símbolo japonês no canto
do bastão.
― Está brincando comigo ― digo chocada.
― Não ― sorri.
― Oh! Me desculpe. Eu não, eu não sabia ― lamento desesperada.
Johnatan sorri e se apoia em seu cotovelo para me olhar.
― Não se preocupe. Não é de grande valor ― beija minha testa.
― Como não? Estava em leilão ― digo horrorizada. Johnatan faz
uma careta e acaricia meus cabelos.
― É só um objeto, Mine. Vem, vamos ― ergue-se, puxando minhas
mãos estendidas para me ajudar a se levantar.
― Para onde vamos? ― pergunto, seguindo-o pela academia.
― Treinar seus socos ― murmura.
Corro até ele empolgada.
― Jura?
Johnatan puxa o saco de pancadas e o encaro atentamente.
― Você deve manter sempre a postura firme, mas os ombros e braços
relaxados, assim como o resto do corpo. Contudo, seus braços e punhos
devem estar firmes para ter golpes rígidos. Nada de tapas ― ele alerta,
fazendo-me corar. ― Mostre-me.
― Certo ― aceno, mantendo minha posição para o primeiro soco.
Distraio-me com Johnatan atento em mim, mas logo arrumo a
postura.
― Seja mais firme!
Encaro o saco de pancadas, voltando a socá-lo com força. Johnatan
permanece parado ao meu lado, de braços cruzados, observando-me com uma
de suas mãos coçando seu queixo. Seria mais fácil se ele colocasse uma

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camiseta.
― Assim está bom? ― pergunto esperançosa.
Sua expressão séria está atenta ao meu corpo.
― Novamente ― ele pede, e faço. ― De novo! Mais forte! Mantenha
os braços um pouco mais levantados e firmes!
Eu faço como pede.
― Estou fazendo certo? ― É chato tê-lo só assistindo.
Johnatan se move para trás de mim a fim de prender meus cabelos no
coque. Em seguida, sinto-o deslizar seus polegares em minha nuca, tocando
no primeiro osso da minha espinha como se massageasse o local. Seus dedos
deslizam por meus ombros, puxando-os para uma postura correta,
percorrendo suas mãos fortes por minha cintura e posicionando meus pés um
na frente do outro.
― Não ― responde a minha pergunta próximo ao meu ouvido antes
de voltar para meu lado novamente.
Olho-o com sede. Tento me controlar para não o agarrar.
― O que preciso fazer? ― indago. Seus olhos me avaliam.
― Mantenha o punho direito quase próximo de sua mandíbula. Você
usa bem a esquerda, tente dar dois socos com a ela e um com a direita.
Aceno, fazendo o que me pede. Johnatan me observa caminhando ao
meu redor até ficar do outro lado. Sigo meus movimentos mais rígidos e
muito mais fortes contra o saco. É um alívio e, ao mesmo tempo, um
desconforto tê-lo ali como um falcão.
― Diga... alguma... coisa ― peço enquanto soco.
― Foco! ― ordena, reviro meus olhos. ― Fisicamente, você já está
relaxada, mas preciso que você imagine algo que te incomode, que te deixe
irritada.
Ele tem razão. Isso é fácil quando a imagem de Nicole volta à minha

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mente, meus socos se tornam cada vez mais forte e eufóricos, fazendo-me
esquecer que Johnatan está comigo.
De repente, sou interrompida por uma mão forte que agarra meu
punho antes mesmo de acertar o saco. Estou cansada e suada. Encaro
Johnatan, empurrando o saco de pancadas para se colocar à minha frente.
― O que está fazendo? ― pergunto, puxando o ar para meus
pulmões.
Suas mãos levantadas me deixam ainda mais confusa.
― Soque ― ele pede indicando suas mãos, eu o obedeço. ― Mais
forte, como estava segundos atrás.
― Não vou conseguir assim ― resmungo.
― Tente ― pede.
Observo suas mãos e volto à posição para socar novamente.
Nos meus primeiros golpes, Johnatan agarra minhas mãos para acertar
meus punhos.
Deixo-me levar pelos meus impulsos, voltando a golpear suas palmas.
Johnatan não parece se importar com isso, deixando-me com meus socos
rígidos até agarrar minhas mãos para puxar meu corpo para ele.
― Chega. Você não precisa ficar tão nervosa ― murmura, beijando
minha testa enquanto ofego em seu peito.
― Acho que sempre irei me sentir assim só de ver ou me lembrar
daquela mulher ― confesso encarando seus olhos.
― Vou me certificar de que tudo está bem. Nicole não é uma ameaça
― tenta me tranquilizar, mas não quero lhe dar ouvidos.
― E se não for?
― Darei um jeito ― responde com um suspiro.
― Ou eu darei um jeito ― digo seriamente, vendo seus olhos atentos
em mim.

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― Mine... ― suspira segurando meu rosto ―, não... não vamos


discutir sobre isso. Você é a única com quem me importo, a única que invade
meus pensamentos todas as manhãs e a única que os domina todas as noites.
― E os pesadelos?
Seus braços cercam meu corpo, apertando-me num abraço acolhedor.
― Eles não existem quando estou ao seu lado ― confessa, abraço-o,
beijando seu peito nu.
― Acho que vou dormir com você essa noite. Como um
agradecimento por me ensinar algumas coisas ― falo baixinho, recostando
meu rosto em seu peito.
― Acho que ganhei um ponto com isso ― murmura junto aos meus
cabelos. Sorrio.
― Você ganhará ainda mais se me der um bom banho ― aperto-o em
meus braços.
― Seu pedido é uma ordem ― ele se anima, voltando a acariciar meu
rosto e beijando meus lábios com carinho.
Abraço-o com força, puxando-o para mim e deslizando meus dedos
por seus cabelos. Suas mãos se movem pelo meu corpo, livrando-se das
minhas roupas assim como eu faço com sua calça. Sua mão me toca com
carinho, como se estivesse desenhando minhas curvas com os dedos, até
pretenderem em meus quadris, erguendo-me para que eu me enrosque em seu
corpo enquanto ele caminha para algum lugar.
Sou incapaz de deixar seus lábios, apenas me afasto para abrir os
olhos e me deparar com o banheiro da academia. Tudo é aberto, em mármore
branco e aço. O lugar é todo muito masculino, com armários de vidros, onde
há muitas toalhas cuidadosamente organizadas e uma pia extensa.
― Lembro-me de você saindo daqui só com uma toalha ― digo,
corando.

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Ele segue comigo até o armário, no qual vejo seu estoque de


camisinhas na gaveta, dou-lhe uma piscadela por sua prevenção enquanto sou
carregada até o chuveiro, o local do banho não é fechado com box, mas
aberto.
Johnatan liga o chuveiro, deixando a água quente percorrer por nossos
corpos.
― E eu me lembro dos seus olhos me devorando ― diz com um
sorriso cafajeste. Roubo um beijo para fugir do constrangimento.
Suas mãos escorregam por meu corpo molhado. Ofego quando sua
língua desliza direto para meu seio, sugando-o com força. Seguro-me em seu
pescoço, deixando-me ser domada por suas mãos e boca. Gemo ofegante,
fechando meus olhos ao sentir sua ereção em meu sexo, atiçando-me, pronto
para me consumir. Movo meus quadris contra seu corpo, provocando-o. Seus
gemidos invadem meus ouvidos, murmurando palavras em russo, causando-
me arrepios.
Puxo seus cabelos ao sentir a leve mordida em meu mamilo
enrijecido, suas mãos apertarem minha bunda com força, seguindo as palmas
fortes por minhas coxas enquanto suga meus seios com desejo. Excitada,
arranho suas costas devido ao prazer que me consome. Johnatan geme
percorrendo seus lábios de volta para os meus.
Quando penetra, sinto-o profundo. Mais uma vez, adoraria senti-lo
sem a camisinha entre nós, mesmo assim, eu me inebrio com seus
movimentos, gemendo em seus lábios enquanto agarro seu corpo. Minhas
costas são pressionadas contra a parede de mármore fria, ajudando-nos a nos
mover com mais facilidade.
Sorrio ao ver seus olhos em mim, contemplando o meu desejo. Arfo
quando suas estocadas se intensificam e o abraço com força, movendo meus
quadris contra ele. Escuto Johnatan chama por mim, arrepiando-me com seu

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sotaque russo junto ao meu ouvido. Mordo meu lábio ao encarar, por sobre
seu ombro, o espelho extenso da pia a frente.
Ver o reflexo de Johnatan se mover é excitante, eu me inebrio sem
perder o foco de seu corpo forte e sua bela bunda. Sorrio perversamente,
deslizando minhas mãos em sua pele até alcançar suas nádegas, apertando-as
com tesão. Johnatan afasta seu rosto do meu pescoço para me encarar com
um sorriso malicioso.
― Você está gostando disso, não está? ― engulo em seco, apertando
meus lábios para não sorrir.
Gemo alto quando o sinto me atingir com força, aperto sua bunda
devido à sensação intensa. Suas estocadas fazem meu corpo subir e descer
contra a parede, beijo-o ofegante quando sinto seu tapa forte em minha
bunda.
Minha pele se arrepia com o contato e meu sexo se aperta contra o
seu. A sensação excitante se intensifica ainda mais com meu orgasmo se
aproximando. Fecho meus olhos brevemente até senti-lo se retirar de dentro
de mim. Pisco confusa.
― Johnatan? Eu estava... Eu ia... Johnatan?
Choramingo ainda mais quando seu corpo se afasta do meu,
deixando-me em pé.
― Eu senti que estava se aproximando. Eu amo quando fazemos isso
juntos, mas eu preciso de mais ― Johnatan aprecia. Meus olhos estão em sua
ereção.
― O que você está pensando em fazer? ― pergunto com malícia.
― Você pediu um banho ― ergue sua sobrancelha, ofego quando o
vejo segurar sua ereção com firmeza. ― E eu devo obedecer essa ordem com
prazer ― seu sotaque rouco e suave faz meu sexo se apertar.
― Eu quero você ― suplico, lambendo meus lábios ao encarar sua

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ereção.
― E me terá ― provoca com um sorriso perverso. ― Vire-se! ―
ordena.
Fico de frente para a parede. O vapor quente do banheiro não ajuda a
melhorar a temperatura febril do meu corpo. Logo me distraio com suas mãos
nas minhas, ajudando-me a me apoiar contra a parede, em seguida, desliza as
suas palmas por meu corpo até eu ficar empinada para ele. Quando afasta
minhas pernas, gemo sentindo seu indicador provocar meu clitóris.
― Johnatan ― choramingo, mas sou dominada por sua mão em meu
sexo e seus lábios em minhas costas molhadas.
― Eu sei que estava espiando pelo espelho ― arregalo meus olhos.
― Eu não... Ah! ― engasgo quando sinto seu tapa forte em minha
bunda. Minha pele se arrepia ruidosamente, e meu sexo pulsa com uma dor
prazerosa.
Gemo, ao ser dominada por sua língua em minha coxa, seguindo em
direção à minha vagina. Encosto meu rosto na parede e mantenho minhas
mãos no lugar, em busca de equilíbrio. Minhas pernas estão trêmulas, sei o
quanto estou exposta naquela posição, principalmente quando está abaixado
aos meus pés.
― Hora do banho, minha Roza. Não sem mova! ― ordena, dando-me
outro tapa forte.
Meu corpo estremece de prazer e meus gemidos se tornam cada vez
mais altos.

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38 – INDIFERENTE

Assim que me recomponho depois do sexo intenso, Johnatan se afasta


sem desgrudar as mãos do meu corpo, puxando-me para a ducha quente.
Viro-me para ele, vendo seu leve sorriso.
― Isso foi um castigo bom ― confesso, impressionando-me com o
cansaço em minha voz.
Vejo seu sorriso mais amplo.
― Então, você admite que estava espiando? ― continua desconfiado.
Pisco com inocência.
― Eu-eu não. Estava me referindo à sua derrota no tatame ― sorrio.
Seu olhar se torna mais escuro, a expressão séria faz meus olhos se
arregalarem e meu sorriso sumir aos poucos.
― Eu acho que seu castigo ainda não acabou ― dispara a voz rouca.
Engulo em seco em choque.
― Você não...
― Vire-se! ― ordena me deixando perplexa.
― Mas, Johnatan...
― Eu a tenho aqui de todas as formas, por isso, vou devorá-la o
quanto eu quiser ― diz como se estivesse realmente faminto.
― Você só pode estar de brincadeira ― encaro seus olhos azuis.
― De volta para parede ― ordena, indicando a parede atrás de mim.
― Mas eu estou cansada ― resmungo carrancuda.
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Seus lábios se apertam para conter o sorriso, mas seu esforço é


fracassado. Encanto-me só de ver esse homem incrível rir livremente.
― Estou brincando, mas se tivesse se virado...
― Engraçadinho ― ralho e volto para seus braços.
Estou cada vez mais encantada com seus cuidados no banho. Johnatan
esfrega minhas costas como se massageasse cada músculo tenso, suas mãos
deslizam em minha pele molhada enquanto ele se ocupa em lavar meu corpo.
Depois do banho, enrola-me em uma toalha. Eu o observo secar seu
corpo e, em seguida, envolver a toalha em seus quadris. Mordo meu lábio,
observando como o tecido preso o deixa mais exuberante.
― Espiando novamente? ― pergunta, fazendo-me olhar para seus
olhos.
― Eu posso. Tive magnificas visões minutos atrás ― confesso
convincente.
Seu sorriso se abre ainda mais.
― Não posso reclamar, também tive ― sua piscadela me faz corar.
Aperto meus lábios ao ver sua língua deslizar pelo lábio inferior. O
gesto simples é muito sensual, meu sexo se aperta com a visão.
― É melhor eu ir para o meu quarto ― digo, saindo duramente do
banheiro.
― Pensei que passaria a noite comigo.
Tento disfarçar meu sorriso.
― Eu disse? ― finjo.
De repente, sinto seu braço se enroscar em meu corpo até que eu fique
de frente para ele. Seus lábios cobrem os meus, e o abraço, derretendo-me em
seu beijo terno.
― Você vai ficar? ― murmura rouco em meus lábios, voltando a me
beijar docemente.

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― Eu preciso pegar meu pijama e levar essas roupas... ― seu beijo


me interrompe.
― Deixa. Eu cuido disso amanhã ― diz revirando os olhos
Surpreendo-me quando sou erguida em seus braços antes de
seguirmos em frente.
Ao chegar ao seu quarto, a luz da lua refletida nas cortinas claras
ilumina o lugar cujo cinza prevalece. Johnatan me coloca de pé para arrancar
minha toalha, sorrio ao ser beijada. Aproveito também para tirar a sua,
deslizando minhas mãos por sua cintura e jogando-a depois no chão.
Deixo que me guie até sua cama, vendo-o erguer sua coberta para que
eu me deite, faço sem hesitar, meu corpo relaxa na cama macia
instantaneamente. Em seguida, ele se junta a mim, puxando-me para um
abraço apertado. Aconchego minha cabeça em seu peito e inspiro seu
perfume suave.
― Você viu os e-mails de Matt? ― pergunto de repente.
― Sim ― responde, beijando minha testa.
― Vai mesmo construir aquele prédio? ― indago. Seus braços me
confortam.
― Não há por que ter medo. Por enquanto, aquele prédio ficará sob
meus cuidados ― ele murmura. Suspiro com seus dedos roçando minhas
costas.
Não quero ficar tensa, muito menos preocupada com tudo que possa
acontecer. Os homens que o procuram têm interesse nesse prédio, como ele
disse, são muitos deles querendo governar o mundo, por mais que isso o
deixe aborrecido, as peças do quebra cabeça em minha mente continuam
faltando.
― O que você vai fazer amanhã? ― mudo de assunto.
― Antes de ir para a empresa, vou correr.

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Afasto-me de seu peito para olhá-lo.


― Você não tira um dia de folga desses exercícios? ― pergunto,
acariciando seu rosto.
Johnatan inclina sua cabeça em minha mão para inspirar o perfume
em meu pulso.
― Não ― sorri como um adolescente.
― Eu posso correr com você? ― seus olhos me observam confusos.
― Você não está acostumada com isso ― reviro meus olhos antes de
voltar a repousar minha cabeça em seu peito.
― É só uma corrida... ― bocejo.
― Você é impossível ― ri, e o abraço.
― Então, isso é um sim? ― beijo seu peito na tentativa de persuadi-
lo.
― Boa noite, Mine! ― diz ainda rindo.
― Estarei pronta às seis da manhã ― murmuro sonolenta.
Aconchegada do jeito que estou, não demora muito para que eu caia
em um sono profundo.

Faz pouco ou muito tempo? Eu não sei, mas quando abro meus olhos
pesados, deparo-me com o quarto espaçoso de Johnatan. A fraca luz do dia
me faz ter certeza de que o tempo lá fora está frio. Tateio a cama atrás de
mim à procura dele e não o encontro. Giro sorrindo ao ver uma rosa em seu
travesseiro. Pego-a, inspirando seu perfume e apreciando suas pétalas abertas
como se me dessem um bom dia, só que depois de alguns segundos, arregalo
meus olhos, sentando-me na cama em busca de um relógio.
Para meu desespero, Johnatan não tem um relógio em seus criados-
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mudos, nem mesmo nas paredes do quarto. Levanto-me encontrando sua


camiseta estendida na poltrona, sem me importar, visto-a imediatamente. Saio
do quarto olhando em todas as direções para ver se não tem ninguém, xingo-
me mentalmente por ter esquecido a rosa em seu quarto, mas sou distraída
com o relógio da sala de entrada indicando que são seis e meia da manhã.
― Droga! ― sibilo, correndo para o meu quarto a fim de escovar
meus dentes, vestir um moletom cinza, tênis e amarrar meus cabelos num
rabo de cavalo.
Sigo para fora da casa, inspirando o ar frio.
― Bom dia, dorminhoca ― assusto-me com Johnatan se
aproximando. Ele está lindo com um conjunto de moletom e tênis.
― Eu pensei que você já tivesse ido ― resmungo, abraçando-o.
― Eu estava com os cavalos ― sorri.
― Por que não me acordou?
― Porque você disse que estaria pronta às seis ― provoca com um
sorriso presunçoso.
― Espere. Você estava treinando os cavalos? ― pergunto
desconfiada.
― Sim.
― Desde que horas?
― Desde às quatro da manhã ― arregalo meus olhos. ― Desci, fiquei
com eles, depois voltei para quarto, vi você dormir, deixei a rosa e desci para
o celeiro ― explica com toda tranquilidade enquanto o encaro horrorizada.
― E você nem me acordou! ― acuso-o.
Johnatan balança a cabeça.
― Você estava tão tranquila, mas agora que está aqui, podemos ir ―
sorri se curvando para me beijar.
― Teve pesadelos? ― questiono depois de passarmos pelo portão de

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aço.
Suas mãos tocam meu rosto, acariciando minha pele.
― Eles nunca se aproximam quando você está por perto ― sussurra,
beijando minha têmpora.
― Acho que posso me acostumar com isso ― ri do meu jeito
angelical.
― Vamos correr, super-heroína antipesadelos, antes que seu ego afete
sua cabeça ― diz, fazendo-me rir, e o empurro com o ombro.
Corremos tranquilamente lado a lado. Seguimos direto para a parte
principal da cidade, tudo está calmo e tranquilo. Depois de alguns minutos,
sinto o suor em minha testa, minha respiração começa a ficar mais ofegante e
minhas bochechas latejam.
Olho para o lado, já vendo o suor de Johnatan escorrendo por sua
face. Ele parece rebelde, exalando masculinidade até mesmo daquela forma.
Seus olhos percorrem todas as direções até encontrar os meus.
― Todo mundo que corre escuta músicas ― digo ofegante, vendo sua
testa franzir.
― Música serve como distração ― explica, virando-se para correr de
costas, não ouso a imitá-lo sabendo que vou cair. ― Cansada?
Sua pergunta me deixa confusa, minha garganta está seca e minha
respiração alta parece me entregar.
― Não ― franzo a testa ao ver seu sorriso.
Seus olhos percorrer por meu corpo enquanto corro.
― Flexione os joelhos enquanto corre ― pede, e obedeço.
Depois de longos minutos de corrida, sinto minhas pernas queimarem
com o esforço.
― Podemos parar um pouco? ― peço ofegante, parando de correr e
me apoiando em meus joelhos.

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― Eu sabia que você não iria aguentar muito tempo ― Johnatan ri,
correndo ao meu redor.
Ergo meu corpo duramente.
― Eu posso aguentar ― defendo-me e o olho por alguns instantes. ―
Mas preciso comer alguma coisa ― minha reclamação o faz parar
preocupado.
― Você não comeu...
― E nem bebi água ― completo com sede.
― Venha, vamos comer alguma coisa ― estende sua mão e a
alcanço, entrelaçando nossos dedos.
Caminhamos tranquilamente. Apesar do meu corpo está latejante e
minhas pernas doloridas, sinto-me mais acordada.
Ao atravessarmos a rua, damos de cara com a loja de café Starbucks
de Queenstown. Sorrio empolgada, sempre que acompanhava meu pai para ir
ao centro da cidade nas entregas de suas madeiras, passávamos no café.
Johnatan observa minha empolgação, abraçando meu corpo e beijando minha
testa.
― Eu pensei que você fosse exigente ao se tratar de seu paladar ―
provoco-o ao entrar no estabelecimento um pouco vazio pelo horário.
Johnatan me guia até uma mesa distante, próxima a uma janela de
vidro.
― E sou ― pisca para mim, fazendo-me corar. ― Mas posso abrir
algumas exceções por você.
― Estou lisonjeada ― digo de forma casual, pegando o cardápio. ―
Eu vou querer um cappuccino cremoso e uma rosquinha ― meu estômago
ronca.
Johnatan ergue uma sobrancelha, analisando-me.
― Rosquinha? ― reprova com uma careta, dou de ombros.

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― Estou com fome ― sorrio.


Acena e se levanta. Ergo meu olhar para ele, vendo algumas pessoas
curiosas nos olharem. Sim, eles sabem quem é Johnatan. Eu o observo se
aproximar do balcão para fazer os pedidos. Há poucas pessoas trabalhando
nessa manhã e outras tomando seus cafés ou buscando uma encomenda a fim
de levarem para o trabalho.
Com a aproximação de Johnatan, eu posso ver o quanto é intimidante
para todos à sua volta. Sorrio ao ver a balconista lhe atender sem jeito. Ele
pode ser intimidador, mas ao mesmo tempo deixa qualquer mulher
embaraçada. Reviro meus olhos, resolvendo me distrair com o movimento
calmo da rua pela parede de vidro. Poucos minutos depois, Johnatan aparece
com nosso café e minha água. Ufa! Tomo sem hesitar.
― Quanta sede ― provoca com sua voz rouca.
Olho para ele diante de mim, vendo seus olhos observarem o lugar,
sua testa franze à medida que observa tudo. Toco em sua mão preocupada.
― O que foi? ― pergunto carinhosamente. Johnatan se vira para mim
com um sorriso que não chega aos seus olhos.
― Não sei... ― volta a olhar para trás, até mesmo para a rua. ― Tudo
parece tranquilo demais.
Meu estômago se embrulha com seus pensamentos, quero afastá-lo da
escuridão.
― Não pense nisso agora ― tranquilizo, querendo sua atenção. ―
Estamos bem e em paz ― digo, apertando sua mão.
Johnatan se vira para mim suspirando, dando-me um leve sorriso.
Aprecio o brilho que tanto amo em seus olhos.
― Eu sempre estou em paz quando estou com você ― sua
intensidade faz meu coração acelerar.
― Fico feliz por isso ― sorrio abertamente, logo mudo para uma

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careta devido à fome. ― Vamos comer logo...


Na mesa está meu cappuccino, seu café puro, minha rosquinha e
panquecas. Comemos tranquilamente, muitas vezes o pego me observando
com interesse.
― Está me olhando como se eu fosse uma alienígena ― digo rindo.
― Tenho que concordar que você parece ser de outro mundo ―
brinca.
Inclino-me para tocar seu rosto.
― Obrigada por me deixar correr com você ― digo, deixando-o
beijar minha palma.
― Eu nunca corri com ninguém ao meu lado. Você é uma ótima
companhia.
― Então, todas as vezes que você for correr eu posso acompanhá-lo?
― pergunto, vendo seus olhos me avaliar. ― Você sabe, eu comecei hoje e
preciso trabalhar a flexão com os joelhos...
― Se eu disser que não, você não vai parar de insistir, não é mesmo?
― adivinha, dando-me seu sorriso torto.
― Você me conhece muito bem ― abro o meu sorriso.
Johnatan balança a cabeça.
― Você é a mulher mais teimosa que já conheci ― murmura,
esfregando minha mão em seu rosto. Sinto sua barba rasa em minha palma e
acaricio seu queixo.
― O que seria da sua vida sem minha teimosia? ― provoco,
inclinando minha cabeça com ar inocente.
Johnatan fixa seus olhos em meus lábios e suspira.
― Entediante ― confessa com uma careta. ― Principalmente durante
a noite ― seus olhos em chamas me fazem corar.
― São as melhores noites ― afirmo, bebericando meu cappuccino.

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Johnatan acena com um leve sorriso.


― Sim, são. Agora, vamos terminar de tomar nosso café da manhã e
voltar para casa, preciso completar minha rotina matinal com sua companhia
antes do trabalho...
― Você é insaciável ― interrompo-o, voltando a comer o que há em
meu prato.
― Só com você ― seu sussurro discreto me arrepia.
Depois de tomarmos nosso café e Johnatan pagar a conta, saímos do
Starbucks e voltamos para nossa corrida. Dessa vez, ele não me pede para
flexionar os joelhos, mas eu o faço, dando apenas alguns intervalos para
aliviar a queimação em meus nervos antes de continuar.
Puxo o ar com força e o solto conforme corro, Johnatan faz o mesmo.
O suor em meu corpo me incomoda, afasto meus fios que insistem em grudar
em meu rosto, em seguida, decido apenas caminhar enquanto Johnatan corre
tranquilamente.
― Preciso de um bom banho ― digo, puxando minha blusa até meus
cotovelos.
Johnatan se vira correndo de costas para me olhar. Seu suor começa a
encharcar sua blusa, mas seus cabelos molhados o deixam muito mais sexy,
suas bochechas estão mais coradas e seus lábios mais carnudos. Vê-lo
daquela forma para mim é uma obra divina numa corrida, apenas um homem
adorável com um ar descontraído.
― Não tão depressa ― diz ofegante. Observo seu olhar em meu
corpo como se quisesse me despir nessa rua tranquila e deserta. ― Eu a quero
toda para mim. Completamente suada ― pisca, virando-se novamente.
Distraio-me com sua bunda, mas logo balanço minha cabeça
constrangida.
― Isso parece um tanto sujo não acha, senhor Makgold? ― digo um

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pouco alto e escuto sua risada.


― Há tantas coisas sujas que desejo fazer com você neste momento.
Meu corpo frenético parece ainda mais pulsante só de escutar sua
provocação. Bem, estamos prestes a chegar à mansão. Mordo meu lábio ao
ter a ideia de uma peripécia, corro até ele, montando em suas costas.
Johnatan agarra minhas pernas, rindo ofegante. Abraço seu pescoço,
beijando sua nuca suada, seu perfume continua intacto.
― Eu deveria impor regras. Agora, vou ter que te carregar assim? ―
finge estar horrorizado.
― Eu estou... cansada ― retruco, apertando-o com meus braços e
pernas. ― E você é forte o suficiente para me carregar.
― Se aproveitando de um homem...
Pisco meus olhos, esperando que ele me provoque, mas seu corpo
parece começar a ficar tenso. Tento controlar minha respiração para saber o
que o fez parar de correr e olhar para trás. De longe, escuto um carro se
aproximando, encolho-me.
― Droga... ― escuto-o murmurar e praguejar em russo.
Olho para trás assim como ele faz, vendo um carro preto, em seguida,
tiros em nossa direção. Johnatan é mais rápido, arrancando-me de suas costas
e me levando em seus braços para uma parede oposta. Os tiros continuam a
ser disparados enquanto o conversível acelera pela rua.
Johnatan me mantêm no chão com o seu corpo por cima do meu,
protegendo-me. Sua respiração acelerada faz meu coração bater angustiado.
Os tiros continuam a ser disparados, fazendo-me encolher cada vez mais
embaixo dele.
― Fique aqui ― pede com frieza, saindo do nosso esconderijo.
Levanto a cabeça, vendo-o arrancar a arma de dentro de sua blusa e
atirar contra o carro. Em seguida, abaixa-se ao meu lado em defesa. Tento me

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sentar ofegante, protegendo-me na parede enquanto abraço minha cintura


com desconforto. Johnatan volta a atirar e retorna para o lugar a fim de
colocar outro cartucho em sua arma.
― Temos que correr. Você vai na frente, eu te darei cobertura. Vai
ficar tudo bem, nada vai te acontecer. Confia em mim? ― pergunta com os
olhos fixo.
Lá se foi todo aquele encanto jovial.
― Sim ― aceno trêmula pela adrenalina. Meu corpo pulsa dolorido.
O carro escuro volta a correr pela rua com seus disparos. Johnatan não
tem tempo de permanecer comigo, voltando à sua posição de defesa.
Quando tento me levantar, sinto uma pontada angustiante em minha
costela. Ao tocar o local dolorido, afasto minha mão em choque. Meu
coração dispara, notando o que há em minha mão, assim como a mancha
vermelha em minha blusa. Quando Johnatan volta para sua posição, sei que
espera que eu corra.
― Vamos ― pede observando a rua enquanto o carro se afasta num
tempo suficiente para o seu retorno.
― Johnatan ― chamo com fraqueza.
Por um momento, ele me encara confuso e arregala os olhos ao notar
o sangue em minha blusa. O pânico o invade por completo.
― Não, não. Não ― repete, tocando meu rosto.
― Eu acho que consigo... correr ― ofego.
― Não, você não ― guarda a arma para abraçar meu corpo e beijar
meus lábios. Eu nunca o vi tão desesperado. ― Eu vou te levar para casa,
você não pode ficar ferida. Eles não podem tirar você de mim ― dispara sem
fôlego enquanto toco seu rosto para tentar confortá-lo.
Johnatan me ergue em seus braços, mas não entendo por que estou tão
frágil. Eu não sinto dor imediata, apenas uma pontada desconfortável.

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― Está quente ― digo trêmula, apertando minha ferida. ― Uma


queimação.
― Vamos sair daqui ― murmura ao meu ouvido junto com sua
respiração ofegante. ― Por favor, mantenha seus olhos abertos para mim.
Permaneça comigo!
Abro meus olhos mais do que o necessário vendo seu rosto
preocupado. Sinto o frio em minha espinha ao ouvi-lo ordenar algo em russo.
Johnatan sai do nosso esconderijo comigo em seus braços.
Eu encaro, por cima do seu ombro, o carro se aproximando e um
homem mascarado aponta a arma em nossa direção. Sei que ele sorri para
mim, seus olhos transmitem isso, como se vangloriando pelo o que acabou de
fazer, sinto as lágrimas preencher meus olhos por esse fim.
Na minha visão periférica, um vulto branco e um preto chamam
minha atenção, de algum modo, aquilo me faz sentir protegida. De repente,
Hush e Sid saem das árvores, correndo feito um furacão em direção ao carro.
O homem parece confuso, sem saber em quem atirar. Sid está mais bruta que
o normal, relinchando e correndo até a ameaça.
O carro freia, dando a ré e atirando para qualquer outro lugar com
desespero. Conforme nos afastamos, consigo ver Hush correr pela lateral do
carro, atingindo seu corpo com violência para alcançar a mão estendida do
homem velozmente e desarmá-lo.
Quando vejo Lake sair da floresta, não consigo assisti-lo em ação
depois que passamos pelo portão. Johnatan me carrega para dentro de sua
casa.
― Meu Deus ― escuto alguém dizer e vejo Peter assustado.
― Peter, para a sala. AGORA! ― Johnatan ordena.
Franzo a testa quando me carrega para os fundos da casa, subindo
uma escada até seu corredor. Peter nos acompanha, sabendo o que deve fazer,

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franzo a testa, vendo-o digitar algum código. Arregalo meus olhos ao entrar
numa sala de aço equipada com medicamentos.
O lugar me lembra uma sala de cirurgia. Johnatan deita-me em uma
espécie de maca enquanto observo assustada. É tudo organizado com luzes
embutidas em prateleiras com remédios entre outros equipamentos cirúrgicos
e de pesquisas.
― Como se sente? ― pergunta, levantando minha blusa para ver a
ferida. Dou um tapa em sua mão quando ele toca.
― Confusa. Está começando a doer ― digo, tentando ser firme. ―
Sinto sono.
― Eles devem ter usado alguma bala com efeitos colaterais. Peter,
limpe o local ― Johnatan diz sem ao menos me escutar.
― Como ela foi atingida, senhor? ― Peter pergunta, ocupando-se
com seus afazeres.
― Enquanto estava nas minhas costas. Apenas limpe isso. Deus
queira que não tenha uma bala alojada ― Johnatan diz com firmeza.
Por um momento, permito-me fechar meus olhos pesados, mas logo
sinto uma mão quente tocar minha testa. Tento piscar e me manter acordada.
Ao observar seu rosto, vejo Johnatan apavorado.
― Não feche os olhos ― pede rispidamente.
― Mas estou com sono ― estremeço ao sentir Peter limpar a ferida
em minha costela direita e escuto seu pedido de desculpa.
― Apenas os mantenha abertos até eu ter certeza de que está tudo
bem com você ― ordena se afastando. Tento assisti-lo preparar uma injeção.
― Senhor, precisa da amostra de sangue ― Peter lhe entrega o
algodão com meu sangue.
Exatamente! Isso é um laboratório! Meus olhos piscam iluminados
com o lugar.

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― Sim ― Johnatan diz pegando o algodão. Ambos usam luvas.


― Peter ― estremeço ao sentir como se tivessem abrindo meu
machucado.
― Desculpe, Mine, só estou tentando ver se está muito profundo ―
explica, em seguida Johnatan retorna para analisar minha ferida. Eu também
quero olhar, mas é impossível.
― Foi de raspão ― escuto Johnatan murmurar um pouco aliviado.
― Precisará de pontos, senhor ― Peter se afasta.
Johnatan acaricia meus cabelos, olhando-me atentamente.
― Ainda está fraca? ― pergunta suavemente. Aceno com a cabeça.
Peter retorna com os instrumentos para fazer meus pontos.
― Não sabia dessa parte da casa. Eu gostei do laboratório ― digo,
tentando sorrir. Johnatan revira os olhos.
― De todas as coisas para se preocupar, você está dizendo isso ―
murmura decepcionado.
― Estou tentando me distrair com você enquanto... Peter está me
dando pontos ― inspiro fundo.
― Senhor, posso começar? ― Peter pede.
Johnatan se afasta para checar alguma coisa.
― Sim. O sangue dela está limpo ― franzo a testa e estremeço
quando Peter volta a limpar minha ferida.
― Se você quiser, posso te dar uma anestesia, Mine ― escuto Peter
murmurar, mas minha atenção está em Johnatan com seu celular telefonando
para alguém, talvez para Matt.
― Não precisa, eu aguento ― respondo sem desviar minha atenção.
Ele poderia aparentar que estava calmo ao meu lado no intuito de me
tranquilizar. Mesmo estando grogue eu consigo manter meus olhos muito
bem abertos.

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Sinto a agulha entrar em minha pele e a linha ser puxada. A dor na


carne viva se mescla com a ferida, mas não me incomoda, apenas me dá
agonia. Por outro lado, Johnatan parece sussurrar ameaçadoramente para
alguém, como se desse ordens, finalizando a conversa por ali.
Depois de alguns segundos, suspira, voltando para mim com seu
sorriso disfarçado. Meu estômago se embrulha com aquela reação que nem
mesmo chega aos seus olhos. Eu o encaro perplexa.
Quando Peter termina com os pontos, prepara-se para fazer um
curativo. Johnatan se curva para beijar minha testa.
― Você pode fechar os olhos agora ― sinto a sinceridade em sua
voz, mas algo me intriga. ― Eu vou ter que dar uma saída. Fique aqui!
Não tenho como protestar, franzo a testa ao vê-lo sair do laboratório
de aço com rapidez, deixando-me embaraçada. Eu permaneço ali por alguns
instantes. Quando Peter se aproxima para colocar a gazes, seguro sua mão,
afastando-o.
― Mine. Preciso... ― Peter reluta assim que me sento na maca.
Tudo parece girar, mas consigo me equilibrar.
― Para onde ele vai? ― pergunto.
― Para a empresa. Sempre que aparece uma ligação ou uma
mensagem de última hora, ele sai assim ― tenta explicar, mas aquilo não me
convence.
― Ele fez a ligação, Peter. Fomos atacados minutos atrás, acha
mesmo que ele iria sair assim para ir à empresa? ― digo friamente,
surpreendendo-o.
― Mine, é melhor você se deitar.
― Vocês mentem tão mal ― levanto-me cambaleante, baixando
minha blusa ainda manchada de sangue para tampar meus pontos e caminho
até a porta de aço à minha frente. ― Diga o código...

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Peter permanece em silêncio.


― Mine, não torne as coisas difíceis ― implora. Por um momento,
sinto compaixão por sua súplica, mas não posso deixar que Johnatan faça
qualquer loucura.
― Diga o código, Peter ― peço, olhando-o fixamente.
Ele suspira, sabendo que já foi derrotado.
― 315 - 456 - 99 ― informa até mesmo dizendo os traços
pausadamente.
Quando a porta destrava, caminho pelo corredor descendo as escadas.
Escuto a porta da frente se fechando e sigo em frente com uma careta ao
sentir o local da minha ferida ser repuxado com os pontos conforme me
movo.
Passo pela porta da entrada, vendo Hush sair pelo portão em
disparada. Arregalo meus olhos ao me deparar com Johnatan seguindo para o
seu carro. Ele veste uma blusa branca de algodão, jeans e tênis, não é um
homem que está prestes a fechar qualquer negócio em uma empresa.
― Johnatan! ― chamo-o encarando suas costas largas.
Ele se vira para mim. Seus olhos observam a mancha de sangue em
minha blusa.
― Volte! ― ordena com indiferença.
― O que pensa que está fazendo? Está levando Hush com você ―
repreendo.
― Ele vai ficar bem ― garante dando de ombros e se virando para
seguir em direção ao carro. Eu o sigo cambaleante.
― Você não pode deixar isso para depois? Johnatan, eu estou falando
com você! ― Tento manter minha voz firme.
Seu corpo vira duramente para me encarar. Dou um passo para trás
diante de sua rigidez.

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― Como posso deixar pra lá sabendo que alguém acabou de ferir


você? Acha que vou suportar vê-la nessas condições? Acha que vou ficar
aqui sem poder fazer nada? ― encara-me com os olhos febris.
Engulo o nó em minha garganta.
― Johnatan, por favor! ― suplico.
Ele volta a seguir em frente e o sigo, rapidamente seu corpo gira em
minha direção, fazendo meus passos pararem abruptamente.
― EU MANDEI VOCÊ FICAR! ― o grito espontâneo me faz
estremecer por inteira.

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39 – SEM VIDA

Recuo trêmula. O frio da manhã toma conta do meu corpo.


― Eu só quero que você fique ― peço encolhida.
Johnatan inspira.
― Eu não posso. Eu preciso encontrá-lo, preciso descontar minha
fúria nele. Ele machucou parte de mim, feriu você ― dispara, olhando-me
profundamente.
Aproximo-me dele para tocar seu rosto e puxá-lo para beijar seus
lábios.
― Eu continuo aqui ― sussurro em sua boca, voltando a beijá-lo
intensamente.
Suas mãos tocam meu rosto, aprofundando nosso beijo. Quando seus
lábios se afastam, já sinto sua falta.
― Então, fique aqui ― pede olhando em meus olhos. Aceno
fracamente. ― Peter vai te ajudar.
Atrás de mim, o outro homem, está parado na porta com o olhar
preocupado. Suspiro.
― Só tenha cuidado tudo bem? E, por favor, traga Hush! ― peço
vendo seu sorriso sincero.
Johnatan se aproxima para beijar minha tesa em despedida antes de
entrar no carro. Suspiro com sua partida, meu coração parece mais apertado
que o normal. Se eu estivesse ilesa, não conseguiria descansar, mas o sono
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pesado parece me dominar, quando dou por mim, vejo Peter ao meu lado me
ajudando a seguir para o meu quarto.
Após colocar sobre a cama o curativo já preparado, ele me deixa
sozinha. Caminho para o banheiro afim de tomar um banho rápido e jogar
minha blusa suja no lixo. Depois que termino, aplico o curativo sem muito
ânimo, em seguida, rastejo-me para a cama e fecho meus olhos pesados,
pegando no sono rapidamente.
Desperto ao escutar uma porta se fechando. Olho para meu quarto,
deparando-me com a escuridão, ligo o abajur desorientada. Toco minha testa
ainda me sentindo grogue enquanto me levanto com preguiça. A dor agora
está pulsante, mas suportável. Saio do meu quarto, percebendo que já
anoiteceu. Penso se Johnatan já está em casa, mas decido ir até a cozinha a
fim de ver todos.
Escutar as conversas próximas me faz sentir um pouco mais tranquila.
Quando apareço na cozinha, todos me olham preocupados.
― Você parece horrível ― Jordyn diz colocando meu cabelo
bagunçado atrás da minha orelha.
― Querida, acabei de sair do seu quarto, havia deixado algo para
comer desde o almoço, mas vi que você não tinha acordado ainda ― Donna
revela, dou-lhe um sorrio.
― Você parece mesmo gripada ― Ian observa assim que me sento ao
seu lado.
― Eu vou ficar bem ― digo sem jeito.
― Eu gostaria de estar gripado ― James murmura cansado, franzo a
testa por seu comentário.
― Por que isso, filho? ― Donna pergunta, colocando a sopa quente
em meu prato.
― Eu procurei por Hush em todos os lugares. Ele nunca fugiu de um

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banho...
A informação desperta minha curiosidade.
― Conseguiu encontrá-lo? ― pergunto preocupada.
― Sim, no fim da tarde. Foi uma busca e tanto. Ele estava correndo e,
para piorar minha situação, sujou-se todo de lama ― engulo minha sopa
quente rapidamente.
― O senhor Makgold está em casa? ― minha pergunta chama a
atenção de todos ― Para explicar minha ausência ao longo do dia ― minto.
― Ele já está ciente, Mine ― Peter diz ao meu lado.
Aceno relutante.
― Não precisa se desesperar, hoje o dia foi tranquilo. ― Pobre
Jordyn, para ela tem sido mesmo tranquilo. ― Mas ele ainda não chegou ―
a informação me angustia.
Não devo demonstrar tamanho desconforto. Volto minha atenção para
a sopa, repetindo o prato duas vezes por causa da fome. Quando termino,
tento ajudar Donna a lavar a louça, mas sou dispensada depois que deixo um
copo cair acidentalmente.
― Você parece muito indisposta, querida, vá descansar ― a doce
senhora pede, guiando-me até meu quarto.
Eu realmente me sinto fraca, só que não queria me sentir tão
impotente. Precisava saber de Johnatan... Parte de mim está aliviada pela
volta do cavalo, mas, por outro lado, Johnatan não me deu nenhum sinal.
No meu quarto, verifico meu celular na esperança de ter alguma
ligação perdida dele. Ansiosa como estou, tento ligar para o seu, minha
preocupação me sufoca quando cai direto na caixa postal. Suspiro, relutante,
voltando para a cama, depois de tirar o roupão. Meu corpo parece derivar
pela fraqueza até o sono me dominar novamente.
Luto para abrir os olhos, meu corpo despertado traz uma sensação de

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formigamento, tenho certeza de que tive um pesadelo, mas não lembro como
foi e isso é um alívio. Alcanço meu celular, esfregando meus olhos para ver
as horas atentamente, são quase duas da manhã. Levanto-me da cama
ligeiramente e saio do meu quarto, vendo a casa adormecida.
Na sala de entrada, observo pela janela o carro de Johnatan
estacionado. Suspiro aliviada, mas logo estranho por ele ter deixado o carro
ali e não na garagem.
Saio da casa estremecendo com o vento frio, a temperatura faz a dor
em minha ferida ficar mais pulsante, arrependo-me por não ter pegado o
roupão, a fina camisola que uso não ajuda em nada. Abraço-me com cuidado
enquanto o procuro pelo campo. Mesmo as luzes iluminando o lugar, a noite
pode parecer tranquila, mas também solitária.
Meus passos me levam em direção a tenda. A floresta deveria me
intimidar, porém me sinto mais segura ali. Sigo pela trilha um pouco surpresa
de ver algumas luzes fracas no local, talvez Johnatan esteja na tenda.
Chegando lá, afasto os tecidos até encontrá-lo no meu campo de
visão. Vejo-o sem camisa, sentado na beira da cama, brincando com uma
rosa, tirando suas pétalas tranquilamente como distração para seus
pensamentos. Eu o assisto imóvel, parece preocupado e sozinho, meu coração
se aperta por vê-lo naquela situação. Aproximo-me, sentando-me na cama
lentamente.
Abro minha boca para chamá-lo, mas logo a fecho, vendo-o absorto
enquanto ele continua a arrancar as pétalas. Rastejo-me na cama,
aproximando-me de seu corpo e o noto só de cueca. Eu o abraço, beijando
seu ombro. Johnatan ergue a cabeça, inspirando profundamente.
― Você deveria estar dormindo. Está muito frio para estar aqui ―
murmura em tom de tristeza.
― Meu lugar é ao seu lado ― sussurro junto à sua pele.

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Eu me afasto para que se vire para mim, seus olhos em chamas me


observam com saudade.
― Como se sente? ― franzo a testa sentindo sua mão trêmula ao
tocar meu rosto com ternura.
― Me sinto melhor com você aqui ― digo aliviada. ― O que
aconteceu? Você não conseguiu achá-lo? ― vejo seu sorriso passageiro.
― É claro que sim ― diz cansado. ― Lake me entregou a arma com
que o homem atirou. Foi fácil encontrá-lo depois disso ― revela.
Arrepio-me
― Então, por que está aqui? ― acaricio seus cabelos.
― Eu precisava pensar ― confessa relutante.
― Sobre o quê?
Johnatan me puxa para seu colo delicadamente.
― Sobre... ― vejo a luta em seus olhos, espero pacientemente. ―
Sobre meus medos.
Meu coração se aperta, logo o beijo com amor.
― Todos nós temos medos ― conforto-o com um leve sorriso.
― Eu pensei que poderia ter mais que isso depois da morte da minha
família, mas eu só tenho o ódio, lembranças que... O medo não estava
incluído ali, não estava nas lembranças, nem em tudo que passei ― revela
cabisbaixo. Meu peito se aperta por sua angústia.
― E qual é seu maior medo? ― sussurro com doçura.
Johnatan ergue os olhos, fixos em mim. Entre eles, vejo a
profundidade dos seus sentimentos angustiantes, eles parecem claros como se
sua alma fosse exposta apenas para mim, revelando o quanto pode ser frágil
ao meu lado.
Sou surpreendida quando seus lábios macios cobrem os meus num
beijo calmo e intenso, em seguida, sua boca se afasta para deslizar em meu

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decote. Fecho os olhos inebriada com seus toques suaves em minha pele.
Meus seios enrijecem contra o tecido fino da camisola, meu sexo
pulsa assim que sinto sua mão se aproximar, apertando contra a calcinha.
Gemo, retornando para seus lábios, deixando-o me guiar até a cama,
deitando-me e se colocando com cuidado por cima do meu corpo.
Johnatan geme quando minhas mãos deslizam em seu abdômen até
invadir sua cueca, apertando sua ereção com excitação. Ele faz o mesmo com
seus dedos provocantes em meu clitóris, ofego, mordendo seu lábio inferior e
o puxando para mim.
― Mine... ― sussurra meu nome em meus lábios, para então devorar
minha boca num beijo fervente.
Sua língua, deslizando por minha boca, faz minha pele se arrepiar.
Depois que se livra da minha calcinha, ajudo-o a afastar sua cueca, enquanto
ele coloca a camisinha. Logo, suas mãos deslizam por meu corpo, levantando
minha camisola, tendo o cuidado de não tocar minhas costelas, e somente
desgrudamos nossos lábios para nos livrar da seda.
Nossas respirações ofegantes se misturam, ficando cada vez mais
altas ao nos provocarmos com desejo. Quando penetra com força, gemo alto
em sua boca pela invasão. Apesar do prazer que nos consome, seus gemidos
parecem de alguma forma angustiados.
Arranho suas costas, puxando-o para mim, sentindo seu corpo se
mover contra o meu profundamente. Meu sexo pulsante se aperta, deixando-o
cada vez mais louco. Ele sussurra meu nome em meus lábios enquanto eu
clamo por mais. Meu coração bate forte contra meu peito, como se ele já
completasse ainda mais meu espaço.
Johnatan parece cada vez mais profundo atingindo meu ponto
excitante até fazer minhas entranhas se apertarem dolorosamente, a
intensidade do nosso prazer faz nossos corpos estremecerem com a chegada

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do clímax. Meu corpo arqueado relaxa-se aos poucos.


Pouco tempo depois, abro meus olhos piscando algumas vezes até
encontrar os dele, eu o abraço, sentindo seus beijos leves em minha pele.
Meu corpo parece não ajudar muito por causa das sensações intensas dentro
de mim, fazendo meus olhos se fecharem e adormecer com ele em meus
braços.

Gemo com um sorriso, procurando-o com minha mão. De repente,


sento na cama e me deparo com meu quarto. Observo-me vestida com minha
camisola e a levanto, observando um novo curativo. Franzo a testa confusa,
olho para meu criado-mudo e encontro um comprimido e um copo d’água,
abaixo está um bilhete escrito:

"Para a dor.
Beba"

Ergo minha sobrancelha por sua ordem um tanto rude, mas não reluto,
bebendo com desgosto. Pergunto-me por que não me deixou na tenda e por
que não está comigo já que trocou meu curativo. Olho novamente para o
criado-mudo depois de deixar meu copo d'água no lugar, meu coração se
aperta por não ter uma rosa, a última que ganhei foi a roubada e está ali com
um ar de tristeza assim como eu.
Levanto-me, sentindo minha cabeça bem melhor, caminho até o
banheiro, tirando minha camisola e meu curativo, deixando-o de lado para
tomar meu banho. Depois que termino, torno a pôr o curativo e sigo para o

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quarto na intenção de me vestir.


Sinto-me estranha por não o ter por perto. Saio do meu quarto
seguindo direto para a cozinha. O frio do dia continua intacto, faço uma
careta ao encarar, pelas janelas, o céu acinzentado. Na cozinha, vejo todos
reunidos, menos Ian e James.
― Bom dia, como se sente? ― Peter cumprimenta.
Sorrio.
― Muito melhor.
― Ótimo, porque temos muitas coisas para fazer ― Jordyn diz de
boca cheia.
― Eu acho que vou me ocupar na biblioteca do senhor Makgold hoje
― informo, vendo seus olhos dispararem em minha direção. ― Ele me pediu
ajuda para separar alguns livros velhos para doação ― explico.
― Isso é maravilhoso, os livros dele são muito bons. Acho ótimo
querer doar para a biblioteca da cidade. Johnatan sempre faz isso ― Donna
diz com orgulho, juntando-se para tomar seu café conosco.
Jordyn suspira um pouco decepcionada
― Mas assim que eu terminar, prometo ajudá-la ― dou uma
piscadela.
― Sem muitos esforços, Mine. Acho que você não está cem por cento
bem ― Peter alerta.
― Certo ― aceno, engolindo meu suco. ― O senhor Makgold está na
biblioteca? ― Pergunto sem demonstrar interesse.
Jordyn balança a cabeça, fazendo uma careta.
― Está de péssimo humor. Saiu logo cedo ― inspiro inquieta.
― Mesmo assim, vou me adiantar por lá. ― Levanto-me rapidamente
depois de comer uma torrada.
― Mas você precisa se alimentar bem! ― Donna se preocupa.

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― Acho que meu estômago não está aceitando alimentos no


momento, mas prometo que vou me alimentar bem melhor no almoço ―
digo, beijando seus cabelos grisalhos.
― Desse jeito, vai parecer uma lombriga ― Jordyn provoca me
fazendo rir. ― Você está cheia de promessas! Olha, vamos cobrar! ― grita
enquanto me afasto.

Na biblioteca, encaro os livros em volta. Posso separar por edições,


para depois ter sua autorização. Começo tranquilamente, interessando-me por
alguns exemplares, até mesmo por alguns livros sobre tecnologia. Na mesa,
noto que o laptop está ligado e o deixo ali enquanto empilho alguns livros da
estante da parte esquerda.
Um barulho em seu laptop me chama atenção, como um clique. Não
querendo ser intrometida, apenas me aproximo para ver o que está
acontecendo. Sento-me em sua cadeira, aproximando-me mais atentamente.
Noto que a máquina não é como as outras que costumo ver. O
negócio parece mais avançado do que imagino. Franzo a testa ao encarar uma
janela indicando uma mensagem de e-mail, meu interesse se aguça com o
nome de Nicole.
Balanço a cabeça, talvez seja apenas algo relacionado ao trabalho.
Enquanto isso, tento mexer no equipamento a fim de desligá-lo. Sem querer,
abro uma página, mas, antes de fechá-la, percebo que é uma espécie de
sistema de rastreamento, não só monitora como também registra.
Fico confusa com os pontos vermelhos no mapa. Assim que abro a
próxima página, vejo a foto de um edifício negro, o prédio parece intimidante
e penso que seja dos e-mails mandados por Matt. Em seguida, clico no ícone
seguinte, dando de cara com o mapa da Rússia, logo me assusto com slides
da empresa, mostrando a área interna.

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Arregalo meus olhos com a quantidade de informações. Matt


conseguiu tudo nos mínimos detalhes, até mesmo um relatório num idioma
diferente. Observo, tentando entender, mas me sinto um fracasso.
Estou tão atenta ao mapa de rastreamento e às imagens diante de mim,
que me assusto com outra mensagem de Nicole. Fuzilo a janelinha com seu
nome à minha frente, decidindo abri-la com assunto: "Compromissos".

"Eu adorei passar a noite ao seu lado. O jantar foi maravilhoso em


sua companhia. Vou te visitar em breve.
SUA AMADA NICOLE."

Eu encaro a mensagem horrorizada. Fecho as páginas que abri e me


afasto da mesa, sentindo a pontada dolorida em meu coração. Engulo o nó em
minha garganta, balançando minha cabeça, não posso me deixar levar pelos
ciúmes. Eles podem ter saído para jantar juntos, para negócios, tento repetir
isso diversas vezes em minha cabeça.
Volto para meus serviços com os livros, perdendo-me dentro deles.
Quando a porta se abre, pulo assustada ao ver Johnatan invadir a sala feito
um furacão, ele para abruptamente quando me nota. Seus olhos me avaliam
surpresos.
― Mine?
― Oi... Eu... Eu só estou me ocupando com seus livros, como eu
aceitei ajudá-lo... ― gaguejo e volto minha atenção para os objetos.
Depois de fechar a porta, ele segue para sua mesa silencioso,
ocupando-se em seu laptop.
― Eu não esperava você aqui. Pensei que estivesse descansando. ― É
como se nada tivesse acontecido conosco na noite passada.
Sinto seus olhos em mim e sou incapaz de encará-lo.

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― Eu trabalho aqui, esqueceu? ― tento sorrir.


― Está aqui há muito tempo? ― balanço a cabeça.
― Cheguei faz poucos minutos. Eu vou arrumar a bagunça... Prometo
― mordo minha língua por mais uma promessa.
― Mas acho que não pedi para você vir até aqui. Eu disse que iria te
dizer como deve ser feito ― encolho-me sem ânimo.
― Se não quiser mais, eu posso guardar. ― Relutante, volto a colocar
os livros nos lugares.
― Certo ― escuto a frieza em sua voz e aperto meus dentes antes de
me virar em sua direção.
Ele está com suas roupas formais: blazer escuro, camisa branca com
dois botões abertos, barba feita e cabelos cuidadosamente penteados. De
algum modo, analiso-o como se fosse um desconhecido.
― Johnatan? ― chamo-o temerosa, mas ele não me olha, tendo sua
atenção naquela maldita máquina.
― Sim...
― Depois que você foi atrás daquele homem... Você voltou para casa
e se isolou na tenda? ― pergunto em dúvida, aproximando-me de sua mesa.
Seus olhos azuis me encaram confusos.
― Sim ― responde de imediato.
Nós nos olhamos por longos minutos, ainda sinto a pontada
perturbadora em meu coração.
― Pensei que tivesse ido a um jantar com Nicole. ― Não consigo me
conter, muito menos minha frieza.
Seus olhos azuis piscam surpresos e logo esfrega o rosto exasperado.
― Mine... Eu... ― ele se levanta.
― Então, você estava com ela ― afirmo em choque.
O homem que eu amo está na minha frente cauteloso, confuso para

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pensar.
― Andou fuçando nas minhas coisas? ― pergunta, olhando para seu
laptop e depois para mim.
― Você faz pior do que eu ― acuso-o mencionando seu programa de
rastreamento.
― Eu fui verificar se ela tinha algum envolvimento em tudo o que
está acontecendo. Você não queria ter certeza disso? ― dispara com os olhos
fixos em mim.
― Certo. Conseguiu alguma coisa? ― questiono com ironia.
― Ela não tem nada a ver com os ocorridos ― assegura. ― Só foi um
jantar...
Cruzo meus braços ruidosamente, não me importando com a dor em
meu peito.
― Só um jantar?
― Mine... Por favor ― implora.
― Você tem alguma ideia do quanto fiquei preocupada com você?
Pensei que tivesse acontecido alguma coisa depois que James disse que Hush
apareceu e fiquei sabendo que você ainda não tinha voltado para casa ― digo
sem fôlego, encarando-o.
― Eu estava muito ocupado para dar qualquer tipo de informação. Eu
não podia me arriscar ― defende-se.
― Por que sinto que está escondendo alguma coisa de mim? ―
rebato, sentindo meu coração se apertar, meus olhos se enchem de lágrimas.
― PORQUE EU NÃO POSSO CONFIAR EM NINGUÉM! ―
encaro seu rosto avermelhado, assim como a veia pulsante em seu pescoço.
― E quanto a mim? ― insisto, vendo-o lutar para interromper a
conversa.
― Mine, eu não estou no momento pra discutir. Tenho que resolver

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alguns problemas da empresa ― estremeço com sua rejeição.


― É tudo mais importante do que falarmos de nós? Quando tivemos
um tempo para nos impedir de manter um jogo aberto? ― sussurro quase sem
voz. ― Eu nunca escondi nada de você, não tenho segredos. Johnatan, eu não
passei pelo o que você passou, mas eu estou aqui para ajudar você...
― Mine, saia! ― ele me interrompe, fechando seus olhos relutante.
― Você sempre me afasta quando está acontecendo alguma coisa ―
aproximo-me de seu corpo tenso. ― Eu não quero você assim...
― Eu não quero discutir. Não agora, nem mais tarde ― dispara
olhando em meus olhos.
― Johnatan... ― inspiro com a dor em meu peito. ― Eu amo você,
deixe-me te ajudar. Diga o que te deixou assim ― imploro com a voz
embargada.
Brevemente vejo seus olhos rendidos a mim, mas isso dura apenas
meio segundo até a escuridão tomar conta deles.
― Eu não amo você.
Não é algo que eu esperava, minha respiração trava. Sinto-me afundar
no chão, suas palavras fixas e frias atingem meu peito como se arrancasse
meu coração e o jogasse para longe. Sinto o sangue drenar em meu rosto,
meus olhos buscam um foco.
É como um impacto inesperado, um chute no estômago ou pior. Ouvi-
lo tão firme, tão sincero em suas palavras me atinge como uma bola de
canhão. Tento engolir meu nervosismo, esforçando-me a segurar minhas
lágrimas. Ao voltar a encará-lo, vejo seus olhos frios em mim.
― Você nunca disse que me ama ― murmuro quase sem fôlego, seus
olhos se alargam. ― Que diferença isso faz?
Johnatan perde o foco, olhando em todas as direções enquanto se
afasta, ouço-o puxar o ar e soltar com força.

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― Mas agora está explícito ― diz indiferente, incapaz de olhar em


meus olhos.
Mesmo engolindo o nó em minha garganta, minhas lágrimas caem.
― Então, eu fui uma das suas... ― paro trêmula, não conseguindo
continuar.
Johnatan volta a me olhar com seus olhos febris.
― Nã... ― ele engole suas palavras e inspira. ― Sim...
― Eu fui uma diversão pra você? Uma das suas amantes? ― soluço
me abraçando. ― Você aproveitou bastante então ― digo quase sem voz.
― Mine... Eu preciso ficar sozinho. ― É como se suplicasse para
mim.
― Foi para a cama com ela? Ontem à noite? Com a Nicole? ―
pergunto aos soluços. Johnatan balança a cabeça, sinto a raiva ferver junto
com minha angústia. ― OLHA PRA MIM! ― grito, ordenando que olhe em
meus olhos pelo menos uma última vez.
Seus olhos se erguem chocados com minha reação, mas, no meu caso,
sou incapaz de encará-lo por muito tempo.
― É complicado ― sussurra. Ignoro a dor em sua voz.
― Eu vou deixar o senhor sozinho.
Tento me manter profissional, girando meu corpo para sair de sua sala
como um lixo.
― Mine... ― eu o escuto atrás de mim se aproximando, no meio do
caminho, apanho os livros que empilhei e os jogo em sua direção com fúria.
Johnatan se defende com os braços.
― Não chegue perto de mim ― digo firme, mas ofegante pelo
esforço.
Ele observa em choque os livros no chão e, depois, o meu rosto.
Saio da biblioteca batendo a porta, sem forças, ponho-me a chorar

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enquanto desço as escadas.


Vejo Jordyn no chão da sala de entrada, mas nem lhe dou ouvidos.
Eu não tenho um coração. Tenho um buraco no peito onde sinto dor,
vazio e angústia. Corro pelo campo, completamente desorientada à procura
de ar ou algo que me salve. Ao virar para os fundos dou cara com James, caio
no chão sem forças.
― Mine, o que aconteceu? ― pergunta, soltando os baldes de sua
mão e me ajudando a levantar.
― Eu preciso achar o Peter ― digo trêmula, afastando as lágrimas
dos meus olhos com raiva.
― Ele foi à cidade ― James explica, tocando meu rosto. ― O que
aconteceu? Por que está chorando?
Agarro sua mão ,como se ela fosse meu amuleto da sorte.
― Me leva embora daqui. Por favor, James. Me leva embora daqui ―
suplico aos prantos. Minha reação o assusta.
― Por quê? ― pergunta preocupado. ― Você não quer tomar uma
água primeiro, para tentar se acalmar? ― tenta entender a luta que há em
mim.
― Eu não quero nada daqui. Nada dele. Eu só quero voltar pra casa.
Agora! ― estremeço.
― Tudo bem ― sibila, olhando para casa, e me abraça,
acompanhando-me até a garagem.
Meu amigo abre a porta do carro para que eu entre com cuidado,
como se eu fosse algo quebrável. Prefiro estar no banco de trás para me
encolher. Logo James entra no veículo e sai com o carro com cuidado.
― Você pode mostrar o caminho? ― sussurra assim que passamos
pelo portão da casa.
Na frente da mansão, Jordyn está parada com Donna ao seu lado,

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olhando o carro se afastar. Vejo lágrimas em seus olhos e me encolho em


meu lugar.
― Sim ― respondo aos soluços, olhando-o pelo retrovisor.
Quando olho para trás, vejo Johnatan aparecer no meio da rua
horrorizado.
Ele parece perdido, seus olhos estão avermelhados e arregalados. Eu
choro, sem acreditar que o homem que tanto amo foi apenas aquele Johnatan
Makgold dos meus sonhos.
― MINE! ― eu o escuto gritar com todas as suas forças, em
desespero.
Meu corpo estremece e me encolho ainda mais ao vê-lo se afastar. De
repente, vejo um vulto correr entre as árvores até Lake aparecer. Ele para na
rua, olhando o carro se afastando, choro como um bebê ao vê-lo se curvar
para mim, em seguida, Hush aparece ao seu lado, fazendo o mesmo.
― James, acelera! ― peço, querendo expulsar a dor em meu peito
pela despedida.
― Eu sabia que ele a machucaria. Eu sinto muito, Mine ― lamenta.
Balanço minha cabeça esmorecida.
― Eu não me sinto machucada. Eu me sinto sem vida.

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40 – CORAÇÕES PARTIDOS

Aponto o caminho para James silenciosamente. Permaneço encolhida


com o vazio no peito. Fixo em um ponto na janela sem nem mesmo perceber.
Cada inspiração profunda me causa uma dor profunda. Uma das minhas mãos
trêmulas agarra-se nervosamente ao colar de rubi. Eu deveria arrancar, jogá-
lo longe, mas é a única parte onde sinto o coração, um duro e pequeno
coração frio.
Quando James estaciona o carro em frente à minha casa, sinto a
saudade aumentar, a vontade de correr para o conforto do meu antigo lar se
torna angustiante.
― Você tem certeza disso, Mine? ― James pergunta depois de uma
viagem em silêncio.
Olho-o pronta para sair, vendo seus olhos tristes.
― Sim ― digo sentindo minha garganta seca.
― Você quer que eu traga suas roupas? ― pisco surpresa.
― Só as que levei. Jordyn sabe quais são ― informo, mas de alguma
forma, eu o sinto inquieto.
― Posso vir te visitar? Para ver como você está? ― pede com um
leve sorriso.
Aceno com a cabeça, tentando lhe dar meu melhor sorriso.
― Eu iria adorar ― engulo o nó em minha garganta. ― Pode dizer a
todos que vou sentir muita saudade? ― peço, vendo sua sobrancelha se
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levantar. ― Exceto a ele ― digo rapidamente.


― Eu entendi. Vou dar o recado.
Suspiro.
― Adeus, James!
― Adeus, Mine! ― ouço a tristeza em sua voz.
Saio do carro, esperando que ele dê a partida. Olho em volta para as
casas familiares, aperto meus lábios e me viro para apreciar meu lar
acolhedor.
Sigo até a entrada, escutando o martelar dentro de casa, papai está
trabalhando em suas madeiras. Escutar o barulho faz minhas lágrimas
retornarem com força.
Avanço meus passos, encontrando meu pai em seu trabalho. As
madeiras o cercam com seu talento em esculturas. Ele tem alguns pacotes já
embrulhados, prontos para entrega. Eu encaro suas costas, observando-o
mover suas mãos com seus equipamentos ao esculpir uma madeira.
Suspiro trêmula quando ele se ergue, parando seus movimentos.
Caminho até ele, vendo sua cabeça se mover em minha direção. Noto a
confusão em sua expressão e a preocupação em seus olhos cinza. Ele solta
suas ferramentas, abrindo os braços para me receber.
Aperto meu rosto contra seu peito, seus braços me rodeiam enquanto
beija minha cabeça. Sentir seu carinho me faz chorar em seus braços. Fecho
meus olhos com força, desejando expulsar toda a dor dentro de mim. Escuto
seu celular tocar em algum lugar, mas o ignoramos. Meu pai continua a me
acolher com mais força, incapaz de me soltar.
― O que aconteceu com a minha linda garotinha? ― pergunta, posso
sentir a dor em sua voz por me ver assim. ― Mine, o que aconteceu? ―
afasto-me para encarar seus olhos.
Ele seca seu rosto e beija minha testa. Inspiro profundamente,

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sentindo-me envergonhada.
― Eu voltei... Pra casa ― digo trêmula.
Seus olhos se erguem, assim como seu corpo.
― Você sempre pode voltar. Estou feliz por vê-la de volta, mas não
nesse estado. O que aconteceu, filha? O que aquele maldito fez com você? ―
vejo a raiva o transformar.
Seguro minhas lágrimas. Meu pai me encara horrorizado, ele nunca
permitiu que eu chorasse, sei o quanto isso o corta por dentro, seu amor por
mim é incondicional.
― Você tinha razão...
Ele me observa, tocando meu rosto e afastando as lágrimas que
insistem em cair.
― Sobre o quê?
― De ficar longe daquela casa. Eu não pensei nas consequências. Me
desculpe, papai. Eu só não quero que me julgue pelos meus erros, por favor!
― peço aos soluços, vendo seus olhos se arregalarem.
― Seja o que for, por mais que erramos ou por mais que você erre, eu
jamais vou te julgar, filha. Você é e sempre será minha menina, minha doce
Mine. Eu nunca vou deixá-la sozinha ― puxa-me novamente para seus
braços, acolhendo-me. ― Não sabe o quanto meu coração sangra por te ver
assim, mas você precisa me dizer o que acontece, eu preciso resolver isso.
Arregalo meus olhos ao escutá-lo, não quero dizer, nem mesmo
imaginá-lo pegar sua arma de caça e ir atrás de Johnatan.
― Isso vai passar, papai ― beijo seu peito.
Ele toca meu rosto para encarar meus olhos.
― Mine, precisa me dizer o porquê de estar assim.
Balanço minha cabeça, dando-lhe um sorriso triste.
― Eu vou ficar bem, não é nada demais, só foram umas discussões na

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mansão do senhor Mak-Makgold ― é horrível dizer seu nome com clareza,


pigarreio. ― Eu apenas não aceitei algumas atitudes dele durante esses
últimos dias.
― Que tipo de atitudes? ― pergunta preocupado. Pisco meus olhos
em busca de foco.
― Organizações da casa... Ele é frio, arrogante, estúpido e muito
exigente ― digo com ódio. Meu pai se surpreende com meu repentino
ataque.
― Eu sabia que aquele homem era um imprestável. Me sinto aliviado
por sair daquela casa. Não é um lugar bom para você, nem para ninguém.
Johnatan Makgold merece ser um homem solitário. Todos daquela casa
deveriam sair. Fico feliz que você tenha feito isso antes ― olha-me,
acariciando meus cabelos, e me encolho, engolindo o nó em minha garganta.
― Eu também. Posso ir para o meu quarto? ― quero simplesmente
fugir.
― Mine, aqui continua sendo sua casa, não precisa pedir permissão
― diz, dando-me um leve sorriso.
― Eu sei ― sorrio e me estico para beijar seu rosto. ― Vou tomar
um banho.
― E descanse um pouco, tudo bem?
― Você vai entregar alguma coisa hoje? ― observo os embrulhos.
― Daqui alguns dias, mas quero entregar o quanto antes e aproveitar
para comprar mais madeiras. Os pedidos aumentaram ― seu entusiasmo me
deixa um pouco feliz.
― Isso é ótimo, papai. Eu vou ajudá-lo mais tarde ― aviso me
afastando.
― Primeiro descanse, querida, depois pensamos nisso.
Novamente, seu celular toca.

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― Pai, atende. Podem ser clientes.


Ele recusa, sem ao menos ver quem é.
― Estou atolado de trabalho, depois atendo.

Em meu quarto, sinto-me no meu refúgio, nada mudou e sei que papai
não tirou nada do lugar, tudo está intacto. Depois de escolher meu antigo
conjunto de moletom, sigo para o único banheiro da casa, escutando meu pai
falar ao celular com algum cliente sobre as entregas.
No banho, mantenho-me imóvel, deixando a água cair em meu corpo.
A dor continua em meu peito como se me rasgasse ainda mais só de me
lembrar de seus olhos nos meus e das palavras frias ditas.
Desejo apagar sua voz, que ronda minha mente centenas de vezes. A
dor parece se intensificar, tomando parte em cada lugar do meu corpo e
impedindo minhas lágrimas de caírem, mas essa não é a melhor forma de me
sentir bem, de me sentir aliviada para respirar mais profundamente.
Eu me sinto presa em meu próprio corpo, como se tudo em meu ser
fosse trancado com vários cadeados de aço enquanto tento me mover para me
soltar. Saio do banho, secando meu corpo com força, não quero imaginar
suas mãos em mim, nem sua boca, nem nada, tudo isso me causa angústia.
Depois de me vestir, procuro a pequena caixa de primeiros socorros
no armário do banheiro para fazer outro curativo tendo o cuidado para que
meu pai não perceba. Ao olhar no espelho, vejo-me como um fantasma
pálido, as bolsas dos meus olhos estão inchadas, apenas minha boca está
avermelhada.
Permaneço ali vendo meu reflexo por um bom tempo, não
conseguindo me enxergar ou saber onde a verdadeira parte de Mine se
encontra. Com um suspiro pesado, decido voltar para meu quarto. Em minha
cama, encolho-me como uma bola até fechar meus olhos pesados.

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Acordo de repente, escutando a voz alta de meu pai vindo na sala.


Pisco desorientada, em busca de foco, enquanto o escuto nervoso.
― Eu a deixei ir por livre e espontânea vontade. Minha filha estava
bem, sem lágrimas, sem dor, sem tristeza alguma. Agora ela volta como se
tivesse sido esmagada! Foi entregue a mim como um vaso quebrado! ―
arregalo meus olhos com sua voz firme. ― É melhor você não aparecer na
minha frente. Tenho certeza de que Mine não quer vê-lo, muito menos falar
com você, Makgold, então, pare de ligar!
Sento-me rapidamente ao escutar o nome. Ouço algo ser batido contra
a mesa, o celular talvez, em seguida, meu pai volta para seu trabalho, batendo
o martelo com mais força que o normal.
Pergunto-me por quanto tempo ele estava discutindo pelo telefone.
Volto a me deitar encolhida. Eu nunca serei capaz de olhar seu rosto
novamente? Agarro meu pequeno coração de rubi e o aperto com força
enquanto a dor volta a me consumir, deixando-me desconfortável.
Depois de alguns instantes, pisco meus olhos quando a luz é acessa.
Eu não faço ideia de que horas são, mas não estou preparada para ter uma
conversa séria com meu pai. Quando se aproxima, senta-se do meu lado para
acariciar meus cabelos.
― Como você está? ― pergunta preocupado.
Nunca quis deixá-lo daquele jeito, eu não deveria demonstrar o
quanto estou em pedaços.
― Pai, eu estou bem ― minto, ainda agarrada em meu colar debaixo
da coberta.
― Mine, eu te conheço muito bem, sei quando está mentindo e
quando seus olhos me transmitem a verdade. Você não está me dizendo tudo,
sinto que há mais do que isso.
Encolho-me ainda mais.

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― Só não quero conversar sobre isso ― sussurro.


― Eu respeito seu espaço, querida. Aceito que não queira dizer nada
agora, mas me dói vê-la dessa forma. ― Fecho meus olhos brevemente.
― Vai ficar tudo bem ― murmuro mais para mim mesma. ― Isso vai
passar, pai, não precisa se preocupar...
― Mine, eu sou seu pai, não um amigo. Estou querendo te proteger
― inspiro profundamente.
― Ele ligou? ― sua sobrancelha se ergue.
― Está querendo dizer seu antigo chefe? Makgold? ― aceno incapaz
de olhar em seus olhos. ― Sim, ligou a tarde toda. Estava me dando nos
nervos e, assim que atendi, ele ordenou que passasse para você ― revela com
raiva.
― Poderia ter simplesmente desligado ― digo rapidamente.
― Eu fiz isso nas últimas duzentas ligações que recebi, mas, dessa
vez, eu queria saber o que ele tanto queria ― suspira. ― Você pode me
explicar essa insistência?
Movo-me na cama desconfortável até sentar novamente.
― Papai...
― Seja clara ― ele me interrompe, fazendo-me encarar seus olhos
atentos. ― Mine, eu não quero nem pensar no que possa estar acontecendo
ou no que aconteceu, mas espero que minhas hipóteses sejam apenas coisas
da minha cabeça ― encaro meus dedos.
― Eu sei ― digo quieta, concordando com sua fúria.
― Eu disse a você para não ficar perto desse homem desprezível,
Mine. Filha, por que não me escutou?
Sua voz me entristece, fazendo minhas lágrimas voltarem.
― Eu havia alertado tanto, querida. Você já ouviu o que as pessoas
falam sobre os Makgold... todas as histórias, mesmo sendo lendas verdadeiras

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ou falsas. Eles não eram como você imagina, gente desse tipo são incapazes
de ter sentimentos por alguém.
― Eu pensei que ele fosse diferente ― confesso trêmula.
― Mine, você tem um coração tão bom, tão puro, que não enxerga
maldade em nas pessoas ― diz, acariciando meus cabelos. ― Ele a
machucou?
― E isso importa? ― sinto o buraco se intensificar.
Seus olhos se fecham, logo balança a cabeça para afastar seus
pensamentos.
― Qualquer linhagem Makgold é um monstro, mas se tornou ainda
pior por ferir você. Eu o odeio neste momento, como nunca odiei outro ser
humano. Você esperava que ele tivesse um mínimo de sentimento? Alguma
recompensa por um sorriso seu? ― abre os olhos, encarando-me seriamente.
― Eu sei que ele é um assassino. Desde que chegou à cidade não se fala de
outra coisa senão mortes, estupros e fatos misteriosos. Esse homem não
merece ter a vida que tem e sair ileso.
― Pai, você sabe que tudo isso são fofoca movidas pelas histórias
passadas. ― Encolho-me com seus olhos disparados em mim.
― Eu sei o que um Makgold é capaz de fazer. Confesso que fiquei
feliz ao saber da morte do pai, um homem sem escrúpulos, sem caráter, mas,
de fato, lamentei por sua mãe e por sua irmã. Só que nenhum homem daquela
casa era digno para viver, muito menos ele. ― Sua voz enraivecida me faz
estremecer. ― Era um garoto quando disseram que matou a família e eu não
duvidei disso. Depois circulavam por aí que ele estava morto. Passaram-se
anos, as histórias foram sendo recriadas como contos de terror, você cresceu
escutando muitas delas. Então, meses atrás, ele volta trazendo toda a conversa
bizarra à tona, assim como casos misteriosos. É um monstro de sangue frio,
você não poderia esperar que viesse mais dele ― seu ódio é explícito.

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― Você disse que não iria me julgar ― digo trêmula, vendo-o se


levantar.
― Eu não estou te julgando, filha, estou tentando fazê-la perceber que
ele não é quem você pensa, que não é homem para você.
― Mas eu o amo ― digo quase sem ar. As palavras queimam meu
peito.
Meu pai me olha assustado, como se tivesse levado um golpe, todo o
sangue de seu rosto some, deixando-o pálido.
― Ele não deveria receber isso. Ele não merece! ― dispara quase
sem voz.
― Me desculpe, pai ― seco minhas lágrimas.
Ele suspira e esfrega seu rosto, exasperado.
― Eu não sei o que pensar no momento, mas estou mais aliviado com
você aqui do que com ele ― confessa rouco. Logo seu celular no bolso toca
novamente.
Ele verifica a ligação, em seguida estende seu celular para mim.
Encaro a tela, vendo o nome de Johnatan piscando.
― Não ― digo friamente.
Ele desliga a chamada e volta a guardar o aparelho.
― Eu fiz espaguete ― tenta me alegrar, curvando-se para beijar meu
rosto. ― Querida, eu te amo tanto, não quero vê-la assim. Por favor, não
fique perto daquele homem, ele só irá te fazer mal! ― pede.
Abraço seu pescoço.
― Eu te amo, papai!
― E eu, muito mais. Venha, vamos comer alguma coisa.
Levanto-me e o sigo até a cozinha, o cheiro da comida faz meu
estômago roncar. Dormi mais tempo do que eu esperava. Depois do jantar,
lavo a louça e ajudo meu pai a embrulhar alguns quadros de madeira,

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colocando-os na caminhonete para serem entregues na manhã seguinte.


Como estava cansado, deixo-o ir para seu quarto enquanto me ocupo em
limpar as serragens na sala.
Parte de mim está feliz pela sua recuperação, eu o mimo levando um
copo de leite para que tome antes de dormir. Ele sorri sem graça, revirando os
olhos, beijo sua testa, esperando que pegue no sono.
Sigo para o meu quarto depois de tomar um comprimido para dor de
cabeça e volto a me deitar. Deixo meu abajur ligado, encarando a claridade
até sentir meus olhos pesarem.
Em meu sonho, os olhos azuis me perseguem, quero correr para
longe, mas mesmo assim ele está ali, mantendo-me pressa. Sinto meu coração
bater novamente em agonia assim que me afasta de seus braços. De algum
modo, fujo, ele continua atrás de mim, mas se detém quando atravesso uma
cerca.
Ali é o limite para ele, os olhos azuis ferventes estão com lágrimas.
Seu grito agonizante chamando meu nome me faz parar de correr, quando
tento voltar, vejo meus pés presos em uma lama movediça. Desesperada, não
consigo gritar por ajuda. Johnatan não se move, está preso em seu lugar
enquanto sou sugada pela lama até sufocar.
Tudo gira à minha volta quando me sento assustada, deparando-me
com meu quarto. Afasto o suor com minhas mãos trêmulas enquanto puxo a
respiração com força. Ao me virar para levantar, surpreendo-me com a rosa
em meu criado-mudo. Olho assustada em todas as direções. Ele esteve aqui?
Continua aqui?
Levanto-me, caminhando com cautela. Tudo está tranquilo e escuro,
na sala eu não o encontro, mas me certifico se a porta está aberta. Destranco,
indo para fora e me encolhendo com o frio da noite, abraço meu corpo e sigo
até a frente da casa, olhando em todas as direções. A neblina faz meu nariz

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arder, encaro a rua, vendo uma silhueta alta se afastar tranquilamente.


― Johnatan? ― sussurro seu nome, sentindo minha garganta doer.
A pessoa para de andar e vejo sua cabeça se mover em minha direção.
Aperto meus dentes por ter certeza de que é ele, afasto-me, encarando-o com
fúria. Seus olhos se surpreendem, há uma leve esperança em sua expressão
que logo é substituída por sua tristeza.
Ele assente uma vez, retornando ao seu caminho. Giro meu corpo
duramente e entro em casa, trancando a porta com todas as fechaduras.
Caminho silenciosamente para o meu quarto e caio próximo à cama ao sentir
minhas pernas trêmulas.
Eu não consigo chorar, nem respirar direito, apenas estremeço, ao
mesmo tempo em que tento controlar o grito agonizante que quer sair do
fundo de minha garganta. Encaro a rosa na minha cômoda, ela parece feliz
por estar ali, toda aberta e com a cor mais viva que já vi.
Permaneço no chão por um bom tempo, encarando minha janela até
ver o céu escuro mudar para um tom mais claro. Levanto-me, sentindo meu
corpo dolorido por permanecer imóvel por tanto tempo, e resolvo preparar o
café da manhã.
Assusto-me quando o celular volta a tocar, atendo para não acordar
meu pai. Antes de levar o aparelho até o ouvido, encaro o nome de Johnatan
na tela.
― Preciso falar com Mine ― ordena com frieza assim que o escuto.
Eu não posso permitir que a voz do outro lado me cause qualquer tipo
de emoção.
― Sou eu ― impressiono-me por minha voz sair firme.
Escuto sua respiração ofegante travar.
― Acho que meu pai não deixou claro, senhor Makgold, que eu,
Mine Clark, não quero falar ou vê-lo no momento, nem hoje, nem amanhã e

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nem nunca. Se isso facilita para o senhor, eu estou dizendo por mim mesma
que não quero nenhum tipo de contato. Espero que esteja claro agora, eu não
quero nada vindo de você, não o quero me ligando e muito menos vindo à
minha casa. Passar bem!
Desligo o celular, deixando-o na caixa postal. Suspiro, retornando aos
meus afazeres. Depois de arrumar a mesa para o café, sigo para o banheiro a
fim de fazer minhas necessidades matinais e trocar o curativo. Voltando para
a cozinha, ocupo-me com algumas ferramentas do meu pai. Sento-me na pia
e começo a fazer meu trabalho com a janela, batendo o martelo contra o
prego.
― Mine?!
Eu não sei quantas vezes meu pai me chamou, mas me viro para ele,
encarando meu trabalho de carpinteira.
― O que está fazendo?
Encaro as três madeiras pregadas na janela como bloqueio para
qualquer passagem, eu pretendo pôr mais.
― Protegendo a casa ― digo, voltando para meu trabalho.
― Querida, a janela pode ser trancada por dentro ― diz, tomando seu
café e se aproximando, espantado com a força com que bato o martelo.
― Eu acho que segurança é tudo. Estou fazendo isso para proteger
você ― inspiro. ― Vou precisar de mais madeiras para pôr na porta à noite,
essas são para as janelas dos nossos quartos ― digo apontando com o martelo
para uma pilha que eu já havia separado.
― Tudo bem, tudo bem ― repete, tirando o martelo da minha mão e
puxando meu corpo para fora da pia, colocando-me no chão. ― Isso é falta
do que fazer?
Fico feliz que esteja se divertindo.
― Não. Nunca se sabe quando um estranho pode entrar.

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― Mine, ninguém vai entrar aqui e, se chegar a acontecer algo, minha


espingarda estará preparada ― ri. ― Por falar nisso, não quer ir caçar ou
pescar? ― faço uma careta.
― Você não tem entregas para fazer? ― pergunto, sentando-me para
tomar meu café da manhã tranquilamente.
― Podemos ir depois que eu entregar tudo isso ― noto o brilho em
seus olhos.
― Você caça e eu pesco ― sugiro, fazendo-o ri. ― Vou me vestir.
Dizem que tristeza faz perder qualquer tipo de apetite, mas eu me
sinto necessitada nesse momento enquanto como alguns bacons. Em meu
quarto, pego a rosa e corro para minha janela, vendo que ela permanece
trancada. Cheiro a flor, sentindo seu perfume puro.
― Você não tem culpa, não é mesmo? ― sussurro, encarando-a.
Guardo a rosa em minha gaveta para que meu pai não a veja. Depois
de me vestir, amarro meus cabelos num coque, ao olhar para meu reflexo no
espelho, sinto-me como um zumbi, faço uma careta para mim mesma e me
assusto quando meu pai aparece em meu quarto.
― Chegou visita ― meu estômago se embrulha.

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41 – FUGIR

― Não é ele ― papai assegura, vendo o espanto em meu rosto.


Suspiro mais aliviada e volto para a sala, vendo Jordyn parada
próximo à porta com uma sacola nas mãos. Ela olha em volta com
curiosidade, dando-me um sorriso triste. Assim que me aproximo, vem me
abraçar.
― Oi, Jordyn! ― digo, abraçando-a também. ― Você veio com
Peter?
― Não, aproveitei que James levou Ian para a escola e vim com ele
escondida ― confessa e se afasta.
― Não deveria fazer isso. O senhor Makgold vai ficar louco quando
descobrir. ― Nunca pensei que mencioná-lo diretamente seria tão
agonizante.
Minha amiga balança os ombros como se não se importasse. Eu a
convido para sentar em uma das cadeiras enquanto arrumo a mesa. Fico feliz
por meu pai não estar por perto.
― Se ele louco resolvesse o problema, as coisas em casa ficariam
bem melhores ― ela diz, encolhendo-se, eu a olho confusa. ― Depois que
você saiu, o chefe se transformou. Eu preferiria você lá com ele de bom
humor do que você aqui e ele de péssimo humor. Não entendo, deve ter
acontecido algo na empresa, pois muitas pessoas estava m ligando. Nem
mesmo o senhor Polosh conseguiu aguentar o inferno ali presente quando
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apareceu nesta manhã.


Jordyn parece triste, encolho-me por não poder fazer nada por ela.
― Ele quebrou muitos pratos? ― tento amenizar o humor entre nós
com esforço.
― Se quebrar objetos fosse a solução, estaríamos mais que felizes,
mas o humor piorou quando James voltou depois de te trazer. Pensamos que
o Makgold fosse avançar em seu pescoço a qualquer momento. Acredite,
quebrar as coisas seria muito mais fácil do que aguentá-lo daquela forma. ―
Jordyn critica, fazendo meus olhos se arregalarem.
― Não queria que James tivesse problema ― murmuro perplexa.
― Isso é o de menos ― dá de ombros. ― Os dois se enfrentaram,
mas não saíram no soco. Peter estava pronto para interromper a briga, mas o
senhor Makgold insistia em ligar para alguém. É como se voltássemos à
estaca zero. Depois que você partiu, a frieza veio novamente... a solidão na
casa. James disse que você saiu porque ele a maltratou ― encara-me com
tristeza.
― Eu não aguentei algumas exigências, foi melhor assim, Jordyn ―
digo rapidamente, sentindo minha garganta se fechar.
― Mas você não deve baixar a cabeça para isso. Eu mesma já levei
altas broncas dele, mas entendia que o mal humor era por conta do trabalho.
Donna diz que ele tem muitas responsabilidades em suas costas ― Jordyn
reclama como um bebê, sinto uma leve compaixão por ela.
― Você sabe lidar bem com isso ― brinco, apertando uma de suas
mãos sobre a mesa. Ela me dá seu sorriso leve.
― Eu apenas me desacostumei nos últimos dias. É raro vê-lo de bom
humor e sem gritar pelas quatro paredes ou se trancar na sala de estudos.
― É só uma fase ― sorrio.
Jordyn suspira e pega a sacola.

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― Trouxe suas roupas. Donna as pegou essa manhã. Eu vasculhei


suas coisas, você trouxe poucas roupas ― diz, abrindo a sacola para pegar
uma embalagem. ― E eu encontrei isso ― ela ergue a cartela, fazendo meus
olhos piscarem.
Tomo de sua mão rapidamente.
― É para regular minha menstruação, que muitas vezes desce
atrasada. Obrigada ― falo, pegando a cartela e enfiando no bolso.
― Sei como é, cólicas terríveis. Donna já me deu uma cartela dessas,
mas parei. Odeio qualquer tipo de remédio ― faz uma careta.
Sorrio
― Você parece cansada ― digo, pegando minha sacola.
― Eu estou cansada. Depois de ontem, eu só quero dormir ―
resmunga.
Somos surpreendidas quando meu pai aparece na sala pronto para
sair.
― Pai, essa é a Jordyn, ela trabalha na casa do Makgold ― apresento-
os num sussurro. ― Jordyn, esse e meu pai, Edson Clark.
― Olá, senhor Clark! ― minha amiga o cumprimenta com um leve
sorriso.
― Como vai, Jordyn? ― meu pai diz num sorriso amigável. ― Não
quer se juntar a nós para um trabalho artesanal? ― brinca, fazendo os olhos
de Jordyn se arregalarem.
― Não, obrigada. Estou correndo de trabalho ― sorri.
Meu pai se aproxima de sua espingarda, olhando-a.
― Como está seu chefe? ― pergunta, mexendo na sua arma.
Arregalo meus olhos.
― Pior impossível ― Jordyn diz com um leve sarcasmo.
Uma buzina chama nossa atenção e Jordyn salta da cadeira, pronta

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para ir. Abraço-a em despedida, sentindo a dor em meu peito.


― Obrigada por vir.
― Não pense que vai se livrar de mim. O senhor Makgold pode soltar
fogo pelas orelhas, mas sempre vou dar uma escapadinha para ver você ―
sua promessa me faz rir.
Acompanho-a até a saída acenando para James, que está dentro do
carro. Quando partem, dou um suspiro profundo.
― Está tudo bem? ― ouço meu pai atrás de mim.
Viro-me para ajudá-lo a pegar os equipamentos de pesca.
― Sim. Tranque a porta ― peço, colocando os equipamentos na
caminhonete.
O caminho até a cidade é tranquilo. Papai me diz como conseguiu
mais clientes nesses últimos dias e como as madeiras estão acabando mais
rápido do que o esperado, devido à quantidade dos pedidos. Eu fico feliz ao
ouvir suas propostas para criar algo maior do que simples esculturas. Por
sorte, durante as entregas, papai sempre consegue mais alguns clientes.
Depois do almoço, seguimos para a diversão. Assim que estaciona em
frente ao Parque Nacional Fiordland, ele verifica sua espingarda enquanto
coloco meu casaco e pego meu equipamento para pesca.
― Acha mesmo que vai conseguir caçar com esse tempo? ―
pergunto, olhando as nuvens carregadas.
― Não pense negativo, querida. Na verdade, vou explorar os
arredores à procura de pequenos troncos, já que um dos clientes exigentes
deseja uma mesa de centro exótica, mas é melhor eu me prevenir quanto a
qualquer animal selvagem ― explica carregando sua arma.
Depois que pegamos a autorização do parque, seguimos pela trilha da
floresta, tudo num verde intenso com ar limpo, em época de caça ou outras
atividades do gênero, o lugar é mais lotado, mas, hoje, o dia parece tranquilo

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com poucas pessoas.


Ao me aproximar do rio, escolho um lugar mais calmo e preparo
minha isca.
― Eu vou ficar por aqui, não demore muito ― digo, vendo meu pai
me ajudar com minha maleta de pesca.
― Me espere aqui, vou trazer um cervo ― brinca.
― Espero que não encontre ― murmuro, vendo-o se afastar.
Mesmo não sendo expert, preparo minha vara e me mantendo quieta.
Aprecio o lugar, o rio extenso e minha tranquilidade. Algumas pessoas ao
longe fazem o mesmo, poucos chegam do outro lado do rio para ver se tem
mais sucesso com a pesca, no meu caso, permaneço o mais longe possível.
Encolho-me com o vento frio aguardando, embora isso para mim aparente ser
um pouco tedioso, fico surpresa quando o objeto em minhas mãos se agita.
― Consegui ― digo puxando a linha e já vendo o pequeno peixe se
debater.
Tento pegá-lo para tirar a isca de sua boca. Oh, não! Curvo-me para o
rio, voltando a colocá-lo de volta na água. Reviro os olhos para mim mesma
por ter um coração tão mole. Tento de novo, mesmo sabendo que vou
devolver o que fisgar ao rio.
Olho para trás, para ver se meu pai chega com seus troncos ou com o
cervo. Novamente, minha vara volta a se agitar e a puxo, dessa vez é um
peixe um pouco maior. Eu o pego com firmeza para tirar o gancho, o peixe
parece me olhar em pânico.
Não, não dá! Eu não tenho coragem! Curvo-me outra vez para o rio,
devolvendo o animal para a água. Eu o assisto se afastar para longe,
assustado, e sorrio, mas meu sorriso dura apenas meio segundo ao ver um
reflexo na água atrás de mim. A água agitada me impede de ver o rosto
perfeitamente, antes que eu possa me virar, a pessoa agarra meus cabelos e

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empurra minha cabeça para dentro da água.


É repentino, sinto-me sufocada enquanto me debato. A água entra em
meu nariz e boca quando busco inutilmente por ar. O homem forte me
mantém firme enquanto tento em vão gritar por meu pai na água. Quando
meu corpo é puxado para fora, tusso com força. Puxo o ar para meus
pulmões, sentindo minha garganta arder.
O homem agarra meus cabelos molhados com violência, fazendo-me
olhar para ele, meus olhos fervem com a agressão. Ele é careca, usa roupas
pretas e tem os olhos castanhos mais frios que já vi. Atrás dele, vejo outro de
cabeça raspada com roupas escuras, brincando com seu canivete enquanto me
assiste com indiferença.
― Agora você vai facilitar a vinda do Makgold até nós ― o homem
que segura meus cabelos ameaça, encarando meu rosto. ― Vai nos dizer
como entrar naquela casa?
Arregalo meus olhos.
― Nunca ― disparo sem fôlego.
― Winner, afogue-a ― o homem atrás do meu agressor ordena.
Mais uma vez, sou jogada violentamente no rio enquanto me debato.
A água parece me torturar ainda mais, meus músculos doem com os
meus esforços. Winner me segura por mais tempo, eu preciso de ar. Quando
sou puxada de volta, meu corpo é jogado para longe do rio, minhas costas
machucam em contato com as pedras, arrasto-me pelo chão completamente
atônita.
― Eu acho que ele está com ela, Loy ― Winner cogita em voz alta.
Arrasto-me para longe, buscando ar e tossindo ao mesmo tempo. ― Então, o
que faremos com ela? ― questiona, perseguindo-me enquanto tento me
manter de pé.
Sinto um chute brutal atingir minha ferida. Tusso pela falta de ar e

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arfo com a dor.


― Mate-a, não temos muito tempo ― escuto a frieza de Loy.
Viro-me, apertando o local da dor e vejo o sangue escorrer em minha
mão. Winner me encara faminto, sem nem ao menos perceber que estou
ferida ou de fato se importar.
― Não podemos nos divertir antes? ― diz com um sorriso sombrio,
em seguida, começa a desabotoar sua calça.
― Pai ― sussurro para mim mesma, procurando-o com os olhos.
Uma das minhas pernas é puxada, assusto-me com Winner me
arrastando para ele como uma boneca maltrapilha. Quando se curva em
ameaça, chuto seu rosto com força, fazendo-o cambalear para trás, cobrindo a
área atingida com uma das mãos.
― Ela quebrou meu nariz! ― cospe o sangue que desce de seu nariz
arrebentado.
Loy o encara com raiva antes de se aproximar de mim.
― Era para você acabar logo com isso, seu infeliz ― o mandante
puxa meu braço enquanto tento acertá-lo com um soco.
― MINE! ― escuto o grito de meu pai assim como sua espingarda
sendo carregada ao mirar em Loy. ― SOLTE MINHA FILHA!
Encaro ao redor sem encontrar ninguém por perto, nem mesmo as
outras pessoas do outro lado do rio.
― Calma, senhor, apenas queríamos algumas informações da sua
querida filha ― Loy explica tranquilamente, ao mesmo tempo em que
ameaça seu canivete em meu pescoço.
― Acho que já pediram informação demais. SOLTE-A! ― meu pai
rebate, não se intimidando.
― É melhor baixar a arma, senhor ― Loy aproxima ainda mais a
lâmina fria de minha pele.

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Winner, mesmo machucado, saca sua arma e mira em meu pai, o


pavor toma conta do meu corpo.
― Pai, por favor! ― peço, olhando em seus olhos espantados.
Relutante, meu pai solta sua arma no chão, chutando-a e levantando
suas mãos.
― Agora solte-a! ― pede encarando ambos.
Winner gargalha de forma sombria e pega a espingarda, meu pai
aproveita sua aproximação golpeando-o nas costelas com um chute direto, em
seguida, atinge-o no rosto machucado.
Com a distração de Loy, reajo da mesma forma, afasto sua mão com
esforço, dou-lhe uma cotovelada no estômago, fazendo-o se curvar pela falta
de ar e soco seu olho com todas as minhas forças. O sangue escorre de
imediato, logo ele avança em mim.
Pulo para trás, surpreendida pelo meu pai o derrubando com um golpe
bruto em suas pernas e em um seus joelhos até escutar seus ossos estralarem.
Apresso-me, pegando a espingarda no chão quando os dois homens, mesmo
cambaleantes, tentam agarrar meu pai. Destravo a arma, dando um tiro para o
alto, todos se curvam com o estrondo.
― Fiquem longe de nós ― digo com firmeza, fazendo ambos rirem
da minha ameaça enquanto miro.
Meu pai se move com facilidade e, impressiono-me com sua agilidade
brutal ao agredir os homens, eu nunca o vi daquela forma. Quando Loy
consegue mantê-lo imobilizado, com o braço firme em seu pescoço, miro a
arma no pé de Winner ao vê-lo pronto para socar meu pai e atiro. Ele se
afasta mancando.
― Filha da puta!
Loy tenta enforcar meu pai, miro a espingarda em seu braço, mas vê-
los se mover perde minha linha de acerto.

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― Mine, não! ― meu pai grunhe, acertando o rosto do agressor com


um soco rápido, em seguida, derruba-o no chão e, para o meu espanto, quebra
seu braço esquerdo.
Não satisfeito, papai aproveita para encher seu rosto de golpes.
De repente, apresso-me quando Winner volta a mirar em direção ao
meu pai, mas logo é desarmado, tendo seu braço torcido para trás de suas
costas e sendo golpeado com força na lateral do pescoço, o homem fecha os
olhos imediatamente.
Meu pai se afasta ofegante, deixando Winner no chão assim como
Loy. Ao se aproximar de mim, percebe o sangue em minha blusa.
― Mine, você está ferida! ― ele se assusta.
― Isso não é nada ― digo ofegante, incapaz de largar a arma.
― Filha, está tudo bem ― nota meu choque enquanto tenta tirar a
espingarda das minhas mãos. ― Devemos ligar para a polícia.
Arfo assustada.
― Oh, papai. Você está bem? Você os matou? ― pergunto
horrorizada.
― Não, estão desacordados. Com certeza, vão acordar na cadeia ―
observa-me. ― Eles machucaram você, temos que dar queixa disso, mas
antes temos que ir ao hospital.
Arregalo os olhos. Eles não são quaisquer bandidos que pegam uma
pessoa desprevenida, são outro tipo de pessoas, fazem parte da máfia. Temo
por mais deles e desejo sair daqui o quanto antes.
― Pai, vamos embora! Você pode chamar a polícia, mas eu não quero
ficar aqui. Por favor, vamos embora! ― imploro chorando.
― Filha, não fique assim, está tudo bem. Leve essas coisas para a
caminhonete o mais rápido possível, por favor! ― pede com cuidado,
arrumando os equipamentos e me entregando, exceto a espingarda.

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― Você não vem? ― pergunto confusa ao ver uma corda em sua


mão.
― Sim. Vou apenas amarrá-los para ter certeza de que não fujam ―
esclarece, pegando seu celular, pronto para chamar a polícia. ― Mine, vá
para a caminhonete!
Obedeço sem protestar. A dor em minhas costelas é torturante, meu
corpo parece sem vida e minhas pernas, geleias. Forço minha corrida a se
manter mais firme até chegar no carro sem fôlego.
Entro na caminhonete e espero por meu pai preocupada. O curativo
arranha meu machucado, levanto minha blusa vendo a gaze ensopada de
sangue, o pior é que meus pontos se abriram. Espio para ver se meu pai se
aproxima, procuro por alguma tesoura na maleta de pesca, corto os pontos,
apertando meus dentes ao tirar com cuidado, depois junto a linha com o
curativo, enfiando-os dentro da minha jaqueta para que meu pai não veja.
Na minha blusa, faço um rasgo superficial no local. Poucos minutos
depois, suspiro aliviada ao vê-lo se aproximar, assim como a viatura que
chega com a sirene ligada, meu pai se aproxima dos dois policiais armados.
Assisto-o discutir e apontar para mim; rapidamente, alguns funcionários do
parque se juntam a eles. Os policiais me olham espantados com o relato de
meu pai e um deles corre para onde Winner e Loy se encontram.
O outro policial se aproxima da caminhonete. Eu ainda escuto meu
pai discutir pela falta de segurança do local e pela agressão que sofri.
― Senhorita Clark, como se sente? ― pergunta o policial de meia
idade assim que abaixo o vidro.
Eu o fuzilo com os olhos ardentes. Minha reação o faz recuar da
janela.
― Como acha que me sinto? ― disparo, não me importando se ele é
um oficial da polícia.

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― Está vendo? Ela está ferida! ― meu pai diz irritado. Não quero que
tenha outro ataque naquele estado.
― Senhorita Clark, você e seu pai devem nos acompanhar até a
delegacia para prestarem queixa...
― Eu só quero ir embora ― digo sem paciência.
― Eles atiraram? ― escuto o policial perguntar para meu pai.
Eu me remexo em meu assento por causa das dores musculares.
― Não. Um deles me acertou com um canivete ― respondo antes do
meu pai. ― Não quero estar aqui caso eles acordem, nem mesmo estando
presos ― reclamo angustiada.
O policial acena.
― De qualquer forma, vão ter que prestar queixa. No momento, vejo
que você precisa de atendimento médico. Peço que, assim que estiver bem,
apareça na delegacia ― pede. ― Vou ajudar meu companheiro com os
delinquentes. Estamos à disposição para o que precisar.
― Obrigado! ― meu pai agradece.
Logo, para nosso espanto, um conversível escuro freia abruptamente
até cantarem os pneus.
Eu sinto meu coração acelerar quando vejo Johnatan sair do carro
como um furacão, batendo a porta com força. Ele já teve dias melhores, sua
barba está por fazer, seus cabelos estão espalhados como se tivessem sido
movidos por suas mãos durante todo o caminho.
Antes de avançar em direção à caminhonete, seus olhos me observam
assustados. Ele usa jeans e um casaco preto aberto com uma camisa escura.
Não deveria ser tão lindo, mesmo estando tão sombrio.
― Era só o que me faltava ― murmura o policial com ódio.
― Mine ― escuto meu pai próximo à janela.
― Pai... Eu quero ir... ― gaguejo vendo Johnatan se aproximar como

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uma fera enraivecida.


― Vá! ― meu pai concorda.
Pisco meus olhos, não sabendo o que fazer, pulo para o lado do
motorista ligando a caminhonete. Johnatan para confuso e preocupado
quando decido sair com o carro. Olhar em seus olhos me lembra de sua
traição... de suas palavras frias.
Palavras essas que não saem da minha mente. Com o sangue quente, a
fúria se descontrola. Piso no acelerador, aproximando a caminhonete de seu
conversível, acerto sua traseira com força fazendo a caminhonete estragar um
pouco a estrutura e a pintura de seu carro. Depois de dar a ré, sigo meu
caminho enquanto assisto, pelo retrovisor, o policial tentar reprimir uma
risada e meu pai cruzar os braços satisfeito.
Eu aprendi a dirigir desde os quinze anos, nunca me interessei em
pegar um carro, mas agora era necessário para fugir do homem que amo, para
fugir dos seus olhos azuis tristes e gritantes, para fugir das palavras cruéis
que atormentam minha cabeça, e, acima de tudo, para fugir do meu coração.

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42 – EXPLICAÇÕES

Dirijo às cegas ao tentar segurar minhas lágrimas, mas meus esforços


são em vão. Eu não sei para onde estou seguindo, apenas dirijo para longe,
tentando encontrar algum refúgio.
Quando paro no semáforo, verifico minha ferida, a dor suportável está
latejante e o local começa a arroxear. Inspiro profundamente, voltando a
dirigir, sempre olhando o retrovisor em alerta para o caso de eu estar sendo
seguida.
Lembro-me dos homens que queriam saber de Johnatan, esse inferno
nunca vai acabar. Pergunto-me como me encontraram, minhas desconfianças
me deixam cada vez mais confusa. Por outro lado, também fico perplexa com
o fato de o próprio Johnatan conseguir me encontrar, talvez Jordyn tivesse
dito alguma coisa, mas ela não sabia para onde iríamos.
Assustada, engulo meu pavor ao pensar que muitos deles podem estar
em todos os lugares, monitorando tudo e todos. As lembranças dos ocorridos
se juntam com as dos olhos intensos de Johnatan, seu olhar surpreso ao ver o
que fiz com seu carro poderia soar cômica se não tivesse boa parte da tristeza.
Expulso as lágrimas de meus olhos, acelerando minha direção de volta para
casa.
Assim que chego, saio do carro e me deparo com Cesar assustado. Ele
me olha de cima abaixo.
― Mine, o que aconteceu com você?
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Minhas roupas estão como trapos, eu estou um desastre. Para piorar


ainda mais minha aparência, meus olhos, com certeza, estão inchados.
― Eu caí ― minto, mas não o convenço.
― Você está ferida...
― Isso não é nada. Estou bem ― interrompo-o, pegando minha
jaqueta no carro e sigo para casa.
Minhas mãos tremem enquanto luto com a fechadura da porta. Dentro
do meu lar, tento respirar com mais tranquilidade e corro para o banheiro.
Possivelmente, papai vai demorar. Certamente, deve estar brigando
com os policiais ou Johnatan, mas pensar em Edson me deixa surpresa, eu
jamais o vi lutar, jamais o imaginaria daquela forma. Oh, não, não quero
pensar, só quero relaxar... Minha cabeça já começa a latejar com todos esses
pensamentos se misturando.
Depois de trancar a porta do banheiro, enfio-me no chuveiro quente
com a roupa no corpo. Encolho-me no chão, desejando que a dor insuportável
em meu peito desapareça e que minhas lágrimas cessem.
Depois de um tempo imóvel, assusto-me ao escutar uma batida na
porta. Arregalo meus olhos, encarando a madeira.
― Mine? Filha? Você está aí? ― noto a preocupação na voz de meu
pai.
Sinto-me levemente aliviada por ele estar de volta, mas logo vem a
ideia de lhe perguntar onde aprendeu a lutar.
― Sim, pai ― pigarreio. ― Eu-eu estou bem ― forço minha voz a
sair nítida.
― Filha, você não está bem. Cesar acabou de me dizer que te viu.
Vou te levar ao hospital. O médico tem que ver essa ferida.
Engulo em seco, sentindo o desespero em meu peito.
― Não, pai, não é nada demais ― levanto-me para tirar minhas

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roupas.
Boa parte do meu corpo está dolorido, bem provável que terei alguns
hematomas. Aperto meus lábios ao lavar minha ferida, com cuidado até
estancar o sangue.
― Filha, não seja teimosa ― implora.
― Pai, não é tão grave, nada que um curativo não resolva ― tento
amenizar sua inquietação.
― Mine? ― sei que ele continua angustiado do outro lado da porta.
― Sim, pai ― respondo, não querendo que minha voz soasse tão
triste.
― Ele foi atrás de você? ― sua pergunta me pega de surpresa,
abrindo ainda mais o buraco vazio em meu peito.
Tusso com o bolo em minha garganta.
― N-não ― engasgo e lavo meu rosto enquanto choro em silêncio.
― Querida, eu estou aqui. Você pode conversar comigo ― escuto a
ansiedade em sua voz, tento controlar a respiração para lhe responder.
― Obrigada, pai ― falo quase sem fôlego e volto para meu banho.
Assim que saio, seco meu corpo, encarando-me no espelho. Pego a
caixinha de primeiros socorros para fazer um curativo. Suspiro ao pensar que
terei que ir ao hospital para que me deem pontos. No meu quarto, visto meu
moletom, olho o relógio e me impressiono pelas horas passarem tão rápido.
Caminho em silêncio até a cozinha a fim de preparar algo para comer.
Meu pai parece distraído nas suas madeiras, sinto-me inquieta com seu
silêncio enquanto pego ingredientes para cozinhar.
― Eu ainda acho que você deve ir ao hospital ― meu pai diz, sem
parar de batucar com seu martelo.
― Eu estou bem ― asseguro, distraindo-me ao cortar os legumes.
― Você não está nada bem ― suspiro.

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― Pai, onde aprendeu a lutar daquele jeito? ― não consigo me


segurar.
Seu martelo para de bater, posso escutar sua respiração pesar.
― Quando um homem vê alguém tocar em algo mais importante que
sua própria vida, perde todos os sentidos ― explica ríspido.
Engulo o nó em minha garganta.
― Mas você parecia saber o que estava fazendo.
― E você atirou no pé de um ― tenta se esquivar.
Largo a faca, recostando-me na pia para encarar suas costas enquanto
está atento em sua escultura.
― Não queria que nada te acontecesse ― defendo-me.
― Acha que eu queria que acontecesse alguma coisa com você?
Ele solta suas ferramentas se virando para mim frustrado.
― Quando eu vi aquilo, foi como se eu estivesse em um pesadelo.
Jamais imaginei que algo assim pudesse acontecer com você, filha. Qualquer
pai faria o que eu fiz ― suspira exasperado, e continuo a encará-lo de braços
cruzados. ― Eu era muito jovem quando entrei em uma academia militar.
Aprendi alguns golpes, fui me aprimorando com o tempo, permaneci no
curso por alguns anos até ser um voluntário para os treinos durante quinze
anos, foi quando conheci sua mãe em um baile. Era a mulher mais linda da
noite, dois anos depois ela estava grávida de você, foi quando resolvi
abandonar os treinos para me dedicar a vocês e aos meus hobbies.
Fico surpresa ao escutá-lo falar de mamãe com tanto carinho. Inspiro
profundamente, segurando as lágrimas com esforço.
― Você nunca falou tanto da mamãe ― suspiro. ― Nem mesmo que
treinava para ganhar músculos ― tento brincar, arrancando um sorriso de
seus lábios.
― Eu até que era o mais bonito da turma ― ri brevemente.

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― Com esses olhos cinzas e toda essa proteção equipada, eu não


duvido de nada ― elogio.
― Fico feliz por isso, sinto-me mais importante agora.
Observo-o orgulhosa e ao mesmo tempo agoniada.
― Pai... ― engulo minhas palavras, encarando seus olhos.
― Quando está com essa cara... ― desconfia, voltando com seu
trabalho.
― Eu agradeço o que fez por mim hoje ― murmuro com carinho.
― Faço qualquer coisa por você ― declara com fervor.
― Poderia me ensinar alguns golpes ou truques. Sabe, como lutou
hoje com aqueles homens com tanta força ― recordo-me do seu chute bruto
nas costelas e no joelho de um deles.
Pisco meus olhos distraídos, focalizando em papai quando o escuto
soltar suas ferramentas novamente.
― Não ― encolho-me. ― Aquilo que eu fiz hoje foi para te defender,
não quer dizer que vou sair por aí batendo em todo mundo, Mine...
― Não é isso que estou querendo dizer...
― Mas o que eu estou falando é que, para fazer isso, precisa de tudo
que há em você. Tem que se manter no controle o tempo todo, é como um
treinamento psicológico ― explica sem vontade.
― E se isso chegar a acontecer novamente? E se eu estiver sozinha? E
se você não estiver por perto? ― digo, e seus olhos se arregalam.
― Mine, não complica as coisas ― balança a cabeça para clarear seus
pensamentos ― Diga-me, aqueles homens queriam alguma coisa? ― a
pergunta me pega de surpresa.
Penso no que responder, engolindo meu nervosismo.
― Eles não falaram nada, só queriam... ― engulo novamente, vejo
seus olhos se fecharem brevemente.

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― Eu já dei meu depoimento para os policiais, pedi que não te


incomodassem, mas se tiver alguma coisa grave... ― seu alerta me faz
encolher.
― Não quero depor para ninguém. Eu não sei o que eles queriam,
quando vi, já estava sendo atacada.
― Bando de infelizes. Graças a Deus não aconteceu o pior. Espero
que eles paguem muito caro ― diz em tom frio.
― Então, vai me ensinar? Só alguns chutes e socos, eu prometo não
me revoltar com o mundo. Por favor, pai! ― suplico vendo seus olhos
relutante.
― Mine... ― engole fundo, olhando-me atentamente e esfregando o
rosto em seguida. ― Você não vai deixar isso passar, não é mesmo?
― Podem ser só alguns truques ― peço com um leve sorriso.
Ele me observa pensativo.
― Tenho que me lembrar de que você é sangue do meu sangue ―
murmura. ― Eu só vou ensinar apenas dois agora.
― A-agora? ― gaguejo. ― Quais são?
Ele ergue seu dedo.
― Primeiro, você tem que andar com um celular. Segundo, grite por
socorro ― fecho a cara com sua risada.
― Isso não é engraçado ― resmungo.
― Eu já te ensinei a atirar o que mais quer saber? E ... ― ele para ao
encarar minhas costelas, sua expressão se torna tensa.
― O quê? ― observo-me, vendo a mancha de sangue em minha
blusa. ― Eu vou me trocar ― murmuro, afastando-me.
― Vamos ao hospital ― diz apressadamente.
― Pai, não...
― Não me venha com essa.

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Somos interrompidos quando a porta é aberta abruptamente.


Assusto-me ao encarar Johnatan. Seus olhos febris estão cheios de
tensão, assim como seu corpo.
― Mas que merda é essa? ― meu pai murmura nervoso.
Minha cabeça parece pesada, meu corpo fica tenso com a mudança do
ambiente.
― Mine ― Johnatan sussurra meu nome.
Engulo em seco.
― É melhor você ficar bem longe dela ― meu pai ameaça quando
Johnatan ousa se aproximar de mim.
― O que está fazendo aqui, Johnatan? ― pergunto friamente.
Ele me avalia e se assusta ao ver a mancha em minha roupa.
― Vim cuidar de você ― Johnatan responde preocupado.
― Ela não precisa dos seus cuidados. Saia da minha casa e fique
longe da minha filha agora! ― Edson se coloca em sua frente para que ele
não dê mais nenhum passo.
Johnatan parece perceber que meu pai está entre nós.
― Clark, eu não estou aqui para pedir sua permissão. Eu vim por
causa dela ― Johnatan diz sem se intimidar.
― Ela não precisa de você, Makgold, ela tem um pai ― ambos se
enfrentam.
Johnatan se esquiva para se aproximar de mim e não consigo me
afastar, tendo as pernas travadas.
― Mine, me escuta, deixa eu cuidar de você ― Johnatan suplica.
Afasto suas mãos quando ousam me tocar. ― Por favor! ― posso ver a dor
em seus olhos.
― Fique longe de mim! ― ordeno.
― Você a ouviu, Makgold ― meu pai continua furioso atrás dele,

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mas Johnatan não lhe dá ouvidos.


― Vá embora ― sussurro, sentindo a dor voltar com força. Sou
incapaz de olhar em seus olhos.
― Mine, deixa eu cuidar de você ― Johnatan implora novamente.
― Você teve a chance de cuidar da minha filha quando estava
naquela casa. Ela confiou em você, pensou que seria um lugar bom ou até
mesmo seguro. Hoje vi dois homens a atacando e não pensa que sou idiota,
pois sei que isso tem a ver com você. ― A acusação faz meus olhos se
arregalarem. ― Eu a deixei ir completamente ilesa e minha filha voltou em
um estado lastimável, Makgold ― continua fazendo meus olhos se encherem
de lágrimas.
Inspiro profundamente, sentindo o perfume suave e marcante.
Johnatan fecha os olhos com as palavras de meu pai.
― Eu não queria que você fosse embora ― Johnatan sussurra.
Puxo o ar sentindo minha respiração cada vez mais travada.
― Estou dando graças a Deus que minha filha saiu daquela casa. Ali
não é lugar para ela, nem para nenhum deles. Desde que você voltou à
cidade, tudo virou um inferno!
Esfrego meu peito, sentindo a agonia tomar conta do meu corpo.
― A cidade já estava um inferno com ou sem mim, Clark ― Johnatan
revida friamente e abre os olhos suplicantes para mim.
― Acho que você deveria voltar para onde veio. Ou melhor, acho que
deveria mesmo morrer como naquela época, ser enterrado ao lado de sua
mãe, sua irmã e seu pai, sofrendo as mesmas consequências ou ainda pior ―
meu pai esbraveja. Cambaleio para trás ao encarar Johnatan com a expressão
mais fria que já vi.
Ele se vira duramente para meu pai. Ambos estão cara a cara,
olhando-se com ódio explícito. Fico em desespero vendo a tensão no lugar

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pesar.
― Eu não me importo com o que você pensa ou deixa de pensar, mas,
a partir do momento que falar da minha mãe e minha irmã, pode acreditar que
as consequências por aqui serão bem piores do que você imagina ― a ameaça
de Johnatan faz os cabelos da minha nuca eriçarem.
― Minhas consequências já pioraram quando soube que você feriu
minha filha. O que aconteceu com você no passado não me importa, não sou
obrigado a ter piedade! ― Oh, isso é o inferno para mim.
Vejo a mandíbula de Johnatan se apertar, suas mãos se fecham em
punhos firmes. Meu estômago se embrulha em desconforto.
― Você não sabe nada sobre mim, nem mesmo sobre o que sinto por
Mine. ― Meu coração dispara.
― Sentir? ― papai testa a palavra com desgosto. ― Se sentisse
alguma coisa, minha filha não estaria assim. Você merece ficar sozinho,
Johnatan, as pessoas boas que ficam à sua volta sempre acabam se
machucando e uma delas foi minha filha...
― Pai! ― interrompo-o, incapaz de ouvir aquilo. ― Já chega, os
dois... PAREM! ― ambos recuam de imediato.
Olho para Edson com censura, escutar toda sua frieza me deixou
chocada, papai nem mesmo consegue me olhar por muito tempo, sabendo
como me sinto no momento. Quando me viro para Johnatan, vejo seus olhos
em desespero.
― Vou pegar o carro para te levar ao hospital ― escuto meu pai.
― Eu posso cuidar dela ― Johnatan intervém.
― Não ouse tocar em um único fio de cabelo dela ― eles continuam
a se enfrentar.
Sinto a fúria ferver meu sangue.
― Vocês podem parar! ― digo cortando as farpas. ― Pai, eu estou

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bem, só vou trocar meu curativo, e, Johnatan... Vá embora!


― Mine, eu não vou a lugar algum ― suplica.
Preciso de espaço, preciso me afastar de tanta tensão. Se eles
quiserem se matar na sala, que façam longe de mim. Sigo meu caminho o
para meu quarto, fechando a porta, completamente desorientada. Esfrego meu
rosto trêmulo ainda escutando meu pai pedir para Johnatan sair. Sento-me na
cama e puxo o ar com força enquanto choro sufocada.
De repente, a porta é aberta com força. Encaro Johnatan se aproximar
como um leão, mas me surpreendo quando cai de joelhos diante de mim.
Seguro minha respiração ao ver a agonia em seus olhos.
― Deixa eu cuidar de você. Mine, você está ferida e é por minha
culpa ― implora querendo me tocar. ― Por favor, não se afaste!
― Johnatan, não torne as coisas mais difíceis ― peço aos soluços.
Olho para cima, vendo meu pai na porta fuzilando Johnatan.
― Será que vou ter que pegar minha espingarda? ― a ameaça me
assusta.
Lutar com Johnatan para se afastar não vai funcionar. Tento controlar
a dor em meu peito.
― Está tudo bem, pai.
― Mine...
― Confie em mim ― asseguro a ele, vendo-o relutante, em seguida,
desiste e sai da porta.
Assim que papai nos deixa a sós, Johnatan tira algo de seu casaco.
Ergo minha sobrancelha, ele trouxe um nécessaire de primeiros socorros para
refazer meus pontos.
― Deite-se ― pede sem olhar em meus olhos.
― Johnatan, por favor... ― suplico. ― Eu posso fazer isso sozinha,
acredite, eu tenho feridas bem piores para cuidar ― disparo, vendo-o se

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curvar.
Seus olhos se erguem e me encolho ao ver a tristeza dentro deles.
― Só quero fazer alguma coisa por você ― seu tom solitário faz
minhas lágrimas voltarem. ― Mine, eu estou no inferno sem você...
― Talvez Nicole possa resolver seus problemas ― sussurro,
respirando com dificuldade.
― Eu não quero ela, e sim você ― diz entredentes.
― Não foi o que pareceu ― falo sem ver seus olhos.
Quando ergue minha blusa, deixo-o cuidar de minha ferida, sabendo
que ele não vai sair dali sem fazer aquilo. Ao retirar meu curativo, escuto-o
gemer.
― Você pensa que eu tenho algum interesse por outra mulher a não
ser você? ― estremeço quando o sinto limpar minha ferida. ― Deveria
colocar gelo, vai ficar pior amanhã ― finjo não o escutar.
― Já acabou? ― pergunto, quando ele mal prepara a agulha.
― Está querendo fugir? ― apertos os lábios.
― Não. Só quero que você termine com isso e volte para a mansão.
Meu pai já está nervoso o bastante com toda essa situação, não quero afetar
sua saúde ― digo preocupada.
― Ele vai ficar bem ― murmura inquieto. ― Vai doer um pouco ―
avisa. Mordo meu lábio, sentindo a agulha em minha pele ser puxada junto
com a linha.
Assim que Johnatan termina, abaixa minha blusa. Eu deveria trocá-la,
mas não será na frente dele.
Desconfortável com sua atenção em mim, encaro minhas mãos. Ele
ainda continua de joelhos.
― Agora pode ir, Johnatan ― digo com esforço.
Engulo em seco quando não o vejo se mover.

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Quando ergo a cabeça, deparo-me com lindos olhos azuis


observadores.
― Você está linda ― as palavras me pegam de surpresa.
Reviro meus olhos.
― Eu estou com a rosto inchado, cabelos sem pentear direito,
moletom velho e uma blusa com mancha de sangue. Não estou no meu
melhor dia, aliás, os últimos dias não foram os melhores ― confesso.
Johnatan ainda me observa com intensidade, e luto para não me
perder com ele.
― Estou querendo dizer que você está linda a todo o momento.
Quando está dormindo, quando está zangada, quando está estressada, quando
está triste e, principalmente, quando está feliz. Eu não vejo qualquer defeito
em você. Gosto da sua teimosia, aprecio quando mete os pés pelas mãos,
quando está confusa e nervosa... Tudo isso a torna ainda mais linda. ―
declara com fervor.
― Por que está dizendo isso? Veio até aqui depois de saber que quase
fui morta? ― pergunto, querendo me afastar das profundezas de seus olhos.
― Isso foi minha culpa, eu não deveria tê-la deixado ir ― diz
envergonhado.
― Não precisa se lamentar. Eu não pertenço àquela casa, nem a você.
Não quero me machucar de novo, Johnatan, muito menos me sentir assim. Eu
só quero arrancar toda dor de dentro de mim para voltar a como eu era antes
de te conhecer. ― O buraco em meu peito parece não ter fim, a dor se
intensifica ainda mais.
― Eu errei. Não pensei na gravidade, estava cego ― sussurra
relutante.
― O que está querendo dizer? ― afasto minhas lágrimas.
― Quero dizer que não fui sincero com você. Eu me senti fraco e

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impotente. Na verdade, ainda me sinto dessa forma, mas sou forte o bastante
para defendê-la, é algo que está presente no meu ser. ― Franzo a testa o
vendo pensativo. ― Quando saí de casa para ir atrás do atirador, Hush me
guiou até ele. Eu o encontrei e o torturei, tentando arrancar informações. Agi
feito um monstro toda vez que lembrava que ele feriu você. Quando voltei
para casa, eu me isolei, envergonhado demais para procurá-la. Eu não queria
ver você.
Engulo minhas lágrimas.
― Porque você foi se encontrar com ela depois de perseguir aquele
homem e eu, tola, fui atrás de você na tenda, deixei que me tocasse. Se
soubesse que não queria me ver, eu não teria ido procurá-lo ― afirmo. ―
Isso já basta para mim.
― Não ― ele nega rapidamente. ― Eu não encontrei Nicole, não
tocaria em você se eu estivesse sujo.
― Ela te mandou uma mensagem quando eu estava na biblioteca, eu
vi.
― Apena me escuta ― implora e fico em silêncio. ― Eu não seria
capaz de olhar para você, porque me sentiria pior do que já estava. Quando
apareceu na tenda, foi como se eu estivesse me despedindo de algo que eu
não queria perder. Enquanto você dormia em meus braços, não conseguia
pensar em nenhuma solução, apenas queria afastá-la de mim...
― Por quê? ― sussurro.
― Por medo! ― dispara com seus olhos em chamas. ― Você é meu
único medo, Mine. Quando te levei para seu quarto troquei seu curativo,
pensando que dali para frente deveria voltar a ser o que eu era antes. Eu não
queria vê-la, não queria suportar a angústia, mas sabia que você viria atrás,
então, eu deveria dar um basta, foi quando te vi entrar na biblioteca. ― Pisco
confusa. ― Eu tenho câmeras pela casa, todas elas estão conectadas ao meu

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celular. Naquele momento, tive que agir. Sabia que você iria vasculhar
alguma coisa, nem que fosse um barulho de alerta, por isso, usei uma
mensagem que Nicole me mandou tempos atrás e enviei duas vezes. Você
abriu uma delas. Acredite, me doeu fazer aquilo com você e dizer coisas que
não eram verdades. Eu não fiquei com Nicole nem com nenhuma outra
mulher depois de você, não te usei como as outras com quem já convivi, mas
o mais importante de tudo foi que menti ao dizer que não te amava.
Soluço, apertando minhas mãos.
― Ou seja, você queria me machucar de alguma forma ― ofego,
vendo-o acenar tristemente. ― Pra que fez tudo isso? Por que queria e quer
me afastar de você?
Pela primeira vez eu o vejo quebrado, com seus olhos presos em
lágrimas.
― Porque eu não quero perder você. Não posso perder meu coração.
Eu preciso dele para seguir vivendo ― seu sussurro rouco me faz chorar
ainda mais. ― Não queria que nada te acontecesse, mas não pensei que você
iria embora. Fiquei louco sabendo que eles viriam atrás de você,
principalmente, se não estivesse comigo. Eu fui o errado, só pensei em meu
desespero sem prestar atenção nas consequências ― escuto a dor em sua voz.
― Por que tudo isso te faz pensar assim, Johnatan? Achou que a
melhor forma de ficar segura é estar longe de você, mas continuar naquela
casa aceitando sua arrogância e seu desprezo? Você foi frio agindo daquela
forma sem nem mesmo me dizer o porquê. Me comparou com suas outras
amantes e me fez acreditar que continuava tendo algo a mais com Nicole.
Dizer que não me amava não era algo que eu estivesse esperando. Estou me
perguntando por que fez tudo isso ― digo com firmeza, mesmo num estado
depressivo.
― Eles sabem sobre você ― perco o fôlego imediatamente. ― O

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homem que a acertou confessou que todos eles sabem de você. Agora a
querem como cobaia. ― A revelação me deixa arrepiada.
― O quê? ― pergunto quase sem voz. ― Para quê?
Johnatan suspira exasperado, esfregando seu rosto com força.
― Para me guiar até você, só que seria a base da tortura. Eu sofreria
ao escutá-la sendo ferida e sofreria ainda mais ao vê-la morta à minha frente
depois de te encontrar. ― Johnatan dispara com frieza, fazendo-me olhar
para ele alarmada. ― Eles sabem o quanto você significa para mim, e se isso
não tiver um fim, eles vão continuar te perseguindo, a menos que eu os
encontre por mim mesmo e aceite qualquer proposta que têm a me oferecer.
― Você prometeu para mim que não se envolveria com nenhum deles
― digo assustada.
― E não quero ― Johnatan responde. ― É isso que temo. Se algo te
acontecer, é por minha causa, e não estou preparado para lidar com isso. Eu
fiquei cego ao saber que a máfia sabe quase tudo sobre você.
― Acha que, com o prédio construído, eles vão nos deixar em paz?
― pergunto com medo da resposta.
― Estou achando que eles querem mais do que isso, Mine ―
estremeço.
Permanecemos pensativos. O quebra-cabeça em minha mente volta a
se formar, mas ainda está bagunçado. Esfrego minha testa devido à dor de
cabeça e o observo ajoelhado.
― Não se sente desconfortável ficando assim? ― seu sorriso torto é
triste.
― Não me importo em ficar rendido aos seus pés. Posso permanecer
assim até o fim da minha vida... Até você me aceitar. Até você me perdoar ―
sinto a batida distante do meu coração esquecido.
Engulo em seco.

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― Ainda me sinto insegura com tudo isso ― digo quase sem voz.
― Você acreditou mesmo em minhas palavras? ― pergunta fitando
meus olhos. ― Mine, eu já tentei diversas vezes dizer o que sentir por você,
como no baile, nas vezes em que ficávamos juntos, nos momentos em que a
tinha em meus braços. Acredite em mim, o que sinto por você é maior que
qualquer outra coisa que já senti em toda minha vida. Só que sempre que eu
quero colocar para fora o que sinto, acontece alguma coisa. É como se me
interrompessem, e cheguei à conclusão de que quero fazer em um momento
certo, sem que ninguém nos interrompa, o momento em que eu a torne única
e somente minha ― declara com ternura.
― Você pode me dizer agora ― digo aos soluços, fazendo-o sorrir.
― Não quando a vejo tão quebrada ― ele afasta uma mecha do meu
cabelo. ― Eu só quero me sentir livre para dizer isso, quero me sentir bem e
tranquilo ao confessar o que sinto por você e o quanto a quero para mim.
Aperto meus lábios, sentindo minhas bochechas latejarem enquanto
coro com seu olhar penetrante. Seus dedos acariciam meu rosto, afastando
minhas lágrimas.
― Eu ainda estou chateada com você ― inspiro fundo.
― Eu sei, mas não quero me levantar daqui e ficar longe de você ―
sinto seu polegar deslizar em meus lábios.
― Johnatan... ― chamo sua atenção, mas seus olhos estão cravados
em minha boca.
― Eu estou louco para beijar você ― arrepio-me.
― Você sabe que eu não vou deixar ― digo, vendo seus olhos nos
meus. ― Não agora. Ainda me sinto insegura ― repito com um suspiro.
Ele me observa, acenando desolado.
― Eu entendo, mas isso não muda o desejo que tenho por você.
Suspiro relutante.

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― Acho que já está na hora de você ir ― indico a porta com a


cabeça.
Sua sobrancelha se ergue.
― E se eu não quiser? ― desafia.
― Posso usar a espingarda no lugar do meu pai ― informo meu
pensamento em voz alta.
― Faria isso? ― pergunta surpreso.
― Nesses últimos dias, estive em momentos de tensão. Hoje, fui
atacada por dois homens da máfia e atirei no pé de um deles. Ele deve estar
praguejando meu nome até agora ― reflito.
― Com toda certeza, no inferno ― assusto-me com seu comentário.
― Eu disse uma vez que ninguém toca em você e, se isso acontecer, eu mato.
Engulo em seco ao pensar que isso pode vir de qualquer namorado
ciumento, porém, nesse caso, como se trata de Johnatan Makgold é ainda
mais assustador.
― Mas a polícia os pegou.
― E você acredita? Alguém sempre paga a fiança, Mine ― revela.
― É melhor eu não saber do resto ― murmuro, sabendo que há muito
“dedo podre” nessa situação.
Johnatan aproveita para tocar em meu pequeno rubi.
― Você não o tirou ― parece encantado.
Olho-o hipnotizada.
― É meu ― puxo meu colar de volta para dentro da minha blusa.
Ele aperta os lábios para não sorrir.
― Eu vou ter que ir, não é mesmo? ― aceno. ― Deus me livre
enfrentá-la com uma espingarda ― Johnatan se levanta duramente.
Eu o observo para ver se esfrega seus joelhos pelo desconforto, mas
sou surpreendida com um beijo terno em minha testa.

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― Adeus, Johnatan! ― digo com nó em minha garganta.


Ele levanta meu queixo com o olhar fixo nos meus.
― Adeus? Quem disse que vou me afastar? Mine, no momento, eu
posso estar no inferno, mas não pense que vou estar tão longe de você. ―
Nada mudou. O suave sotaque russo ainda me faz estremecer.
― É melhor você ir ― sussurro quando vejo seus lábios a centímetros
dos meus.
Ele concorda e se afasta.
― Só tenho uma pergunta para você ― pisco atônita.
― O quê? ― observo-o guardar seu nécessaire e colocar uma cartela
de remédio em minha cômoda.
― Quero te levar para jantar amanhã ― as batidas do meu coração
voltam com força.
Perco o fôlego.
― Isso não é uma pergunta ― digo um pouco exigente, vendo seu
sorriso leve.
― Tem razão ― suspira. ― Quer jantar comigo amanhã à noite?
Seus olhos parecem implorar por aquilo, observo-o por longos
minutos.
― Eu vou pensar ― respondo, surpreendendo-o.
― Eu estarei às oito na porta de sua casa te esperando. ― É uma
promessa.
― Se eu não aparecer?
― Você terá a noite toda para sair por aquela porta e me ver te
esperando para um jantar. Só eu e você, como um encontro. Boa noite, minha
Roza. ― Tenho que me lembrar de como se respira.
Quando sai do meu quarto, toco meu peito sentindo meu coração
disparado. Uau! Um encontro? Onde? Ele está seguro disso? Seja o que for,

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não faço ideia do que Johnatan está tramando, penso confusa. Depois de um
bom tempo, levanto-me para trocar minha blusa e volto para a cozinha, vendo
meu pai com suas madeiras. Fico feliz que a noite já tenha chegado, hoje foi
um dia e tanto.
― Ele não vai parar, não é mesmo? ― escuto meu pai.
― Eu não sei ― murmuro, voltando para os legumes.
― Continuo não confiando nele, mesmo ele querendo te levar para
um jantar ― diz com desgosto.
Surpreendo-me.
― Ele te falou?
Edson continua com seus resmungos:
― Tenho a leve impressão de que esse garoto quer me provocar. Só te
peço para ter cuidado.
― Mas eu ainda não aceitei ― revelo, voltando a cozinhar.
― Ótimo! Espero que não aceite ― suspiro.
― O que disse para ele foi rude, papai ― repreendo-o. ― Você não
sabe o quanto ele sofreu por causa de sua família, principalmente a mãe e a
irmã.
― Eu não me importo com sentimentos dele ― aperto meus dentes.
― Como se sentiria se tivesse acontecido o mesmo comigo e com a
mamãe? Mesmo ela não estando aqui, pense em como seria se estivesse no
lugar dele ― ele solta sua respiração com força.
― Está querendo me fazer sentir culpado?
― Estou querendo que você veja que mexer com a dor das outras
pessoas é pior do que podemos imaginar ― digo distraída com meus
afazeres.
Sinto suas mãos tocarem meus ombros, viro-me, olhando em seus
olhos. Eu o abraço com força, tendo seus braços me apertando em conforto.

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― Eu posso me desculpar com você por ter presenciado tudo isso. Me


desculpe? ― pede com tristeza.
Sorrio, apertando meu rosto contra seu peito e fechando meus olhos
ao sentir seus beijos em meus cabelos.
― Fala como se eu ainda tivesse sete anos ― reclamo.
― Mesmo quando você estiver com os seus cinquenta anos, sempre
será minha garotinha. Eu te amo, querida!
Eu me animo com o mimo.
― Eu também te amo, pai!
Ele se afasta para beijar meu rosto.
― Não aceite o convite dele ― sussurra, virando-se de forma cômica
e voltando para o seu trabalho. Reviro meus olhos rindo.

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43 – REDENÇÃO

No dia seguinte, fico inquieta; durante a noite, rolei pela cama


desconfortável, nem mesmo os comprimidos para dor que Johnatan deixou
me fizeram sentir melhor. Pela manhã, tomei novamente antes de começar a
rotina de arrumar a casa e ajudar meu pai com algumas coisas leves. Minhas
costas e costelas estão um caos, mas nada que alguns movimentos não
melhorem.
À tarde recebo a visita de James e Ian, nada me deixava mais contente
do que ver as farpas trocadas entre ambos, junto com a diversão de Ian ao
aprender a entalhar com meu pai. Apenas em um momento meu coração se
aperta, quando Ian pergunta sobre minha volta, o assunto é mudado
rapidamente por James, que fala dos cavalos. Sorrio ao saber que tanto Hush
quanto Lake não obedeciam mais nenhum comando de Johnatan.
Às cinco da tarde já me sinto nervosa com a proposta do russo
teimoso, ao mesmo tempo reflito se devo ir ou não. Em meu quarto, encaro
minhas roupas, perguntando-me qual delas é a mais adequada para a
ocasião... Vindo de Johnatan não seria nada simples. Apanho alguns vestidos,
mas nenhum deles me agrada, minha última opção é um vestido que ganhei
da esposa de Cesar para usar no baile da escola, eu nunca usei por ser um
tanto chamativo.
Pego a peça pensativa, é de um vermelho escuro intenso, sem alça,
com pequenas pedras na base do decote justo, é daqueles modelos em que é
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mais curto na frente. A saia é solta e longa na parte de trás, num corte em U.
Pego meu único salto prateado, eu só o usei uma vez, prometendo nunca mais
usá-lo, mas cá estou eu.
― Lá vamos nós! ― digo com um suspiro.
Verifico as horas, vendo que passa um pouco das seis.
Sigo para o banheiro a fim de tomar um banho relaxante, resolvo não
molhar muito meu cabelo. Depois que termino hidrato, minha pele e faço
outro curativo. Caminho de volta para o meu quarto, pegando uma das
minhas poucas maquiagens, confesso que sinto falta do kit completo de
Jordyn.
Apenas passo um lápis de olho, uma boa camada de rímel e um
batom, dando cor aos meus lábios. Minhas bochechas já estão coradas só de
lembrar do pedido de Johnatan. Em seguida, ocupo-me com os meus cabelos,
no final, prefiro um penteado mais simples, deixando-os um pouco rebeldes.
Então, começo a me vestir.
Na última vez em que experimentei o vestido, ele parecia mais solto.
Olho-me no espelho, encarando a mulher voluptuosa à minha frente. O
vestido grudou-se em mim completamente, deixando meu busto mais
marcante e meu corpo mais desenhado, a cor de fato realça minha pele, e
sorrio ao encarar a rosa em meu guarda-roupa, sua cor é semelhante à do
vestido.
Minutos depois, escuto uma batida na porta.
― Entre ― pigarreio.
Vejo meu pai pôr a cabeça para dentro e me olhar impressionado.
― Oh, Mine... ― Coro.
― Ele não chegou, não é? ― olho para o relógio, faltam alguns
minutos.
― Não, o imprestável não chegou ― responde com uma careta. ―

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Você está muito bonita, querida.


― Obrigada, pai ― sento inquieta.
Ele entra em meu quarto e se senta do meu lado. Pisco confusa ao vê-
lo tocar brevemente em meu pequeno rubi, aperto meus lábios.
― Você vai mesmo?
― Eu ainda não me decidi. ― Sua sobrancelha se ergue.
― Mas você está vestida!
― Eu posso mudar de ideia.
― Se sente nervosa? ― pergunta. Encolho-me.
― Um pouco ― suspiro. ― Johnatan é um tanto difícil de desvendar.
Ele pode não aparecer. ― Meu estômago se embrulha com o pensamento.
― Não faça nada contra sua vontade. Se não quiser ir, pelo que torço
muito no momento, eu estarei aqui, e podemos ir até a casa de Cesar nos
divertir jogando um bom xadrez ― diz, fazendo-me rir. ― No entanto, se
quiser ... Só peço que tenha cuidado, ontem foi um tremendo pesadelo para
mim, mas só quero vê-la feliz novamente.
Fecho meus olhos quando beija minha testa com carinho.
― O que aconteceu ontem não vai se repetir, pai, aquilo poderia
acontecer com qualquer pessoa ― digo, engolindo meu nervosismo.
― Qualquer pessoa que estiver no caminho dele ― estremeço.
― Não vamos pensar nisso agora, tudo bem? ― Beijo seu rosto.
― Você é a filha mais linda do mundo ― elogia com orgulho.
― Papai! ― fico sem jeito.
― Ele já deve estar lá fora ― murmura, encarando o relógio em
minha cômoda com desgosto. ― Quer que eu diga que você não vai?
― Não ― respondo rapidamente. ― Estou pensando ainda. Ele pode
esperar.
― Tudo bem, vou trabalhar ― levanta-se com um suspiro.

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Franzo a testa ao vê-lo mancar.


― Papai, você machucou a perna?
Isso o pega de surpresa.
― Oh, não! Eu dormi de mal jeito, acho que foi o esforço que fiz
ontem. Estou muito velho para me mover daquele jeito ― explica, curvando-
se para massagear o joelho esquerdo.
― Pois é, eu disse para me ensinar alguns golpes fatais ― brinco,
dando de ombros.
― Mine ― repreende-me sorrindo enquanto volta para a sala.
Continuo sentada, encarando o relógio, já se passaram dez minutos,
mas ainda assim não estou pronta. Em meu peito ainda há a dor da rejeição
misturada com a insegura se devo ou não seguir com ele, apesar de tudo,
Johnatan mentiu para mim como uma forma de me proteger... Acho que ele
está mais no escuro do que eu, tendo que lidar com essas pessoas.
Pergunto-me se fosse comigo, o que eu faria para tentar mantê-lo
protegido e perto de mim para que ninguém o tocasse. Todas as minhas
respostas para esse tormento vão para o fato de que eu não faço ideia a não
ser me entregar para eles, dando um fim a toda essa situação. Só que não
quero que isso aconteça com Johnatan, ele é um homem bom e está
protegendo todos à sua volta.
Com um suspiro me levanto, seguindo para fora do quarto. Quando
passo pela sala, dou um beijo no rosto de meu pai e um até logo. Ao sair de
casa, arrepio-me, não de frio, mas sim de calor ao vê-lo ali parado, com terno
escuro sem gravata, os dois botões da camisa branca abertos, os cabelos bem
penteados e barba feita, destacando sua mandíbula assim como sua boca
esculpida. Em sua mão há um buquê com quatro rosas vermelhas.
Eu me aproximo sem tirar os olhos dos seus, ele parece hipnotizado.
Coro quando o vejo me observar dos pés à cabeça, sua boca abre e fecha

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diversas vezes. Sorrio ao vê-lo puxar a respiração, soltando-a com


dificuldade. Por um momento, surpreendo-me que seu conversível é o mesmo
que bati. Analiso a traseira, vendo-a consertada, parte de mim está aborrecida
com isso.
Quando estou próxima o suficiente dele, já sinto seu perfume suave
invadir meu espaço, além de tudo, sua beleza máscula e poderosa exala por
todo o lugar. Seus olhos me avaliam surpresos.
― Está linda! ― diz quase sem fôlego.
Meu sague ferve ainda mais.
― Eu já ouvi isso em algum lugar ― dou um leve sorriso.
― O vermelho combina perfeitamente com sua pele. Você está
maravilhosa ― parece perdido.
Aperto meus lábios para não gargalhar com o seu nervosismo, é algo
adorável.
― Você também não está nada mal ― observo.
De fato, seus olhos parecem devorar meu corpo, fico um pouco sem
jeito e ao mesmo tempo deslumbrada. Quando me entrega as rosas, inspiro
seu perfume intenso. Fecho meus olhos por um instante e, quando abro, eu o
vejo me avaliar com fascínio, lambendo os lábios com desejo. Junto minhas
pernas ao sentir meu sexo se apertar com aquele simples gesto.
― Eu quero beijar você ― sussurra com anseio.
Controlo as sensações do meu corpo tentado me distrair com as rosas.
― Não tão rápido ― digo apertando meus lábios. ― As rosas são
lindas ― elogio, vendo seus olhos brilharem.
― Não tanto quanto você ― diz com fervor. Meu coração parece
saltitar em meu peito.
Logo o observo se afastar para abrir a porta, entro no carro, colocando
o cinto de segurança rapidamente. Assim que Johnatan se junta a mim, dá a

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partida.
Noto sua atenção em minhas pernas, analisando com possessão.
― Deus, dai-me o controle! ― eu o escuto murmurar para si e
reprimo minha risada.
― Aonde vamos? ― pergunto, observando-o dirigir.
Seu sorriso presunçoso se abre.
― É surpresa ― responde rouco.
Aceno, voltando a encarar a estrada. Ao nos aproximarmos de um
lugar conhecido na cidade, arregalo meus olhos e me viro para ele
rapidamente. Papai nunca teve condições de me trazer ao restaurante da
Skyline, e eu sempre quis apreciar a vista da cidade, nem que fosse para fazer
uma visita ao local.
― É aqui? ― pergunto impressionada.
Johnatan sorri, em seguida sai do carro para abrir a porta para mim.
Deixo as rosas no veículo e saio com sua ajuda. Fecho meus olhos
quando sinto seus lábios em meu rosto, assim como seus braços me cercando
num abraço reconfortante.
― Vai ficar maravilhada quando estiver lá dentro ― seu sussurro
cálido faz minha pele se arrepiar.

No restaurante, Johnatan já havia reservado nossa mesa, mas nem


presto atenção no assunto, apenas no lugar iluminado. É amplo, luxuoso e
lotado. Ao fundo, há uma banda tocando jazz suavemente. Meu fascínio se
acende ainda mais com a vista, aperto a mão de Johnatan empolgada.
A paisagem é uma das coisas mais linda que já vi, a iluminação da
cidade extensa dá um contraste enriquecido nas montanhas ao fundo, que
parecem cobertas por uma simples camada de neve, também é uma
combinação perfeita em harmonia com o lago Wakatipu.

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A vista parece um quadro de arte muito bem desenhado. Sento-me na


cadeira assim que Johnatan a puxa e sorrio encantada para ele, incapaz de
desviar meus olhos da vista panorâmica.
― Johnatan, aqui é maravilhoso!
Viro-me para ele à minha frente, vendo seu sorriso.
― Fico feliz por ter gostado ― diz com orgulho, tocando minha mão
sobre a mesa para entrelaçar nossos dedos. Eu me aqueço com seu toque.
― Boa noite! Vocês desejam alguma bebida? ― o garçom simpático
aparece tendo nossa atenção.
Pisco pra Johnatan, não sabendo o que escolher.
― Sancerre ― Johnatan pede.
― O que é isso? ― sussurro só para ele, fazendo-o sorrir.
― Vinho ― aceno envergonhada.
― Mas a minha idade...
― Não se preocupe ― É claro, sei que ele deu um jeito na situação.
Sorrio.
Rapidamente somos atendidos por um outro garçom, que anota o
prato escolhido por meu acompanhante. Quando o nosso vinho chega, o
garçom é dispensado e o próprio Johnatan serve nossas taças. Brindamos e
bebemos.
― Soube que os cavalos não estão te obedecendo ― murmuro.
Ele franze a testa confuso.
― Como soube disso? ― arregalo meus olhos, esquecendo-me de que
os garotos deram uma escapada nessa tarde.
― Bem... Eu sonhei ― beberico meu vinho.
― Eu sei que eles foram te visitar.
Quase engasgo.
― Eles quem? Os cavalos? ― finjo-me de desentendida. ― Vinho?

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Johnatan franze a testa e aperta seus lábios para não sorrir. Ele me
serve mais vinho e mantenho-me reta em minha cadeira.
― Você não precisa ficar nervosa quanto a isso, está tudo bem ―
assegura.
― Obrigada! ― murmuro sem graça. ― Mas não brigue por eles
fazerem isso.
― Pedido aceito ― ele afirma com a cabeça
Abro meu sorriso ao vê-lo confortável.
― Obrigada também por me trazer a um jantar.
― Você é a primeira garota que levo para jantar. ― Sua confissão me
pega de surpresa.
― Primeira? ― desconfio.
― Sim, primeira e única ― meu coração dispara. ― Nunca chamei
nenhuma mulher para um encontro. Nenhum jantar a dois.
Meu peito se aquece.
― É nosso primeiro jantar ― sussurro, sentindo as lágrimas em meus
olhos. ― Uma vez você disse que não poderia me levar para um jantar.
― Agora estamos aqui ― sussurra, puxando minha mão e a beijando.
Sorrio, afastando minhas lágrimas nos cantos dos olhos.
― Se essa é uma forma de se desculpar, pode ter certeza de que ainda
não estou cem por cento confiante ― digo engolindo meu nervosismo.
Ele solta um suspiro com tristeza.
― Eu sei que o que fiz não tem perdão, nem com minhas explicações
pela a forma que escolhi para mantê-la protegida, mas estou tentando me
redimir de alguma forma. Se eu puder fazer qualquer coisa que desejar, eu
faço. Por você eu tento me esforçar, por você quero dar o meu melhor ―
declara com fervor.
Tento não me manter embaraçada com sua intensidade. Olho para a

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vista panorâmica, sorrindo para ele.


― Está fazendo um bom trabalho ― elogio.
― Ponto para mim ― diz satisfeito.
Uma música um pouco mais agitada começa a tocar. Johnatan
mantém os olhos em chamas, observando-me. Eu o encaro desconfiada do
que possa estar tramando.
― Não venha me dizer que está louco para me beijar ― indago.
― Eu estou louco para te beijar ― sua voz é carregada de excitação.
Contorço-me em minha cadeira. ― Mas tem algo um pouco melhor.
― O quê?
Franzo a testa quando se levanta e estende a mão em minha direção.
Pego confusa.
― Dance comigo!
Olho em volta, vendo as pessoas sentadas comendo, conversando e se
divertindo.
― Eu acho que aqui não é lugar para isso ― murmuro.
― Eu insisto ― diz, ajudando-me a levantar.
Arregalo os olhos, completamente envergonhada.
― Johnatan... Não ― digo tarde demais, sendo levada até uma parte
mais vazia do salão, próximo aos músicos.
Fico ainda mais sem jeito com as pessoas nos olhando. Johnatan
envolve um de seus braços em minha cintura e me puxa para seu corpo,
grudando-me a ele com firmeza. Meu coração bate forte contra meu peito,
tenho certeza de que ele pode sentir.
Com uma das minhas mãos erguida, ele a beija, em seguida, nós nos
movemos de acordo com a música dançante e um pouco latina. Sorrio, ele
realmente sabe dançar de acordo com o ritmo. Logo, suas mãos deslizam por
meu corpo; perco completamente os sentidos, encarando seus olhos e sua

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boca a centímetros da minha.


Surpreendo-me quando alguns casais, até mesmo de terceira idade,
juntam-se a nós no pequeno espaço, outros batem palmas curtindo a música
em seus lugares. Johnatan girar meu corpo, deixando-me de costas para ele.
Arrepio-me quando sinto seus lábios deslizarem do meu pescoço até meu
ombro nu enquanto suas mãos escorregam pelas laterais do meu corpo.
Quando sou girada novamente, gargalho por quase tropeçar, mas suas
mãos firmes me seguram. Passo meus braços em volta de seu pescoço... Nós
nos movemos em sincronia. Ele sorri ao sentir os movimentos em meus
quadris e morde o lábio em excitação. Seus olhos azuis em chamas nunca
perdem a intensidade, mas há algo que faz meu coração se apertar e minhas
lágrimas surgirem.
Anseio por seu beijo, por sua boca em meu corpo... Neste momento,
ele é a única pessoa em meu campo de visão, como se estivéssemos sozinhos;
seu sorriso aberto faz minha respiração travar por alguns instantes. Deslizo
minhas mãos por sua nuca, acariciando seus cabelos, ele fecha os olhos e se
curva para beijar o canto da minha boca. Fecho os meus por causa da ternura
e de seu jeito de me fazer sentir especial nesta noite.
Quando volto a encará-lo, acaricio sua face com amor enquanto ele
desliza seu nariz por minha pele, sentindo o perfume em meu pulso. Seus
braços me apertam e colo meu rosto contra o seu, incapaz de sair dali.
Mesmo estando insegura com tudo que tenho passado, há algo em mim, algo
em meu peito que me impede de correr para longe.
― Johnatan! ― chamo-o num sussurro rouco.
― O que foi, minha Roza ― fala ofegante, sua voz está carregada de
emoção.
Por um momento fujo do assunto
― Por que me chama de Roza? ― pergunto, mesmo sabendo que,

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para ele, eu cheiro como uma rosa. Só que ainda assim quero a sua
explicação.
Seu sorriso me acalma.
― Não somente Roza, mas sim, minha Roza ― aprecia o apelido
assim como eu. ― Acho que não preciso explicar o motivo de te chamar
assim. O momento certo lembra? ― inspira fundo, apreciando meu perfume e
lembrando-me de sua declaração no tempo certo e no momento certo. Por
que não agora? Penso.
Sinto as lágrimas preencherem meus olhos.
― Por que está agindo assim? Por que está se expondo dessa maneira,
sabendo que podemos correr riscos? ― É impossível esconder minha
preocupação.
Johnatan debruça meu corpo e me arrepio quando sinto seu nariz
percorrer meu pescoço, inspirando meu perfume profundamente. Fecho os
olhos, entregue a ele.
― Para que se preocupar com isso agora?
Ele me olha, ainda me mantendo debruçada em seus braços.
― Isso é por você, meu amor, não por mim. Você é única, é minha
redenção.
― Oh! ― engasgo com os olhos fixos nos seus. ― Amor? ― repito a
palavra como uma pergunta, sentindo-me privilegiada em seus braços, nem
mesmo me toco de que temos uma plateia à nossa volta.
― Sim ― ele cochicha. ― E agora? Ainda se sente insegura, amor?
― diz, aproximando-se dos meus lábios.
― Um pouco ― respondo ofegante.
― Isso é bom, porque estamos sendo vigiados ― murmura, sem
perder o brilho em seus olhos dilatados.
― O quê? ― agarro-me em seu paletó.

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― Não se preocupe, você é minha parceira essa noite ― ele se


debruça para roçar seus lábios nos meus, beijando o canto da minha boca
com doçura.
A adrenalina invade meu corpo imediatamente.
― Estou começando a gostar disso ― gemo baixinho com seu beijo
delicado. ― Quando começamos?

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44 – NO COMANDO

Envolvo meus braços em seu pescoço novamente ao ser puxada para


cima. Quando a música termina, somos aplaudidos. Coro, vendo-o sorrir e
aplaudir em minha direção com os olhos empolgados. Quero me esconder em
algum lugar, mas sou puxada por ele, e voltamos para nossa mesa.
Quando pego minha taça de vinho, Johnatan me interrompe.
― O quê? ― pergunto confusa.
― Não beba ― ele ordena, olhando em meus olhos.
Obediente e desconfiada, largo a taça. Quando Johnatan chama o
garçom, noto que não é o mesmo que nos atendeu.
― Senhor ― um garçom um pouco mais rústico se aproxima.
― Traga-me outro vinho, de preferência, gelado e lacrado ―
Johnatan exige.
O homem pisca confuso com a garrafa em nossa mesa ainda cheia.
― Algum problema com o vinho, senhor? ― pergunta, pegando a
garrafa. ― Para mim parece perfeito.
Escondo uma das minhas mãos embaixo da mesa e aperto meus dedos
nervosamente ao ver o olhar frio de uma fera.
― Se está tão bom, então, por que não prova? ― digo de repente,
empurrando minha taça para ele.
Johnatan me olha surpreso, ao mesmo tempo em que aperta seus
lábios para não sorrir.
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O homem de olhos verdes encara minha taça, dando-me um sorriso


nervoso.
― Minha namorada tem o paladar exigente ― Johnatan explica um
pouco possessivo. Isso faz com que me contorça em meu assento.
― Eu aprendi com o melhor ― flerto com ele, que me olha
impressionado.
O garçom pigarreia, parecendo desconfortável.
― Mais alguma coisa?
― Não.
― Sim ― digo, interrompendo Johnatan, e ambos me aguardam. ―
Leve as taças também ― deixo-o mais confuso, para a diversão de Johnatan.
― Como quiser ― o homem acena com a cabeça.
― Pensei que o outro garçom iria nos atender ― digo, fingindo
procurá-lo com os olhos.
― Ele teve seu horário de trabalho concluído, eu estou em seu lugar
agora ― responde o garçom muito educadamente com seu sotaque
americano.
― E você é? ― pergunto, observando-o olhar tanto para mim quanto
para Johnatan, que o analisa curioso.
― Desculpe-me não me apresentar, podem me chamar de Dinka ―
fala com um leve sorriso.
Dinka parece mais jovem quando sorri e menos intimidante. Quando
se afasta, viro-me para Johnatan.
― Isso foi muito bom, mas lembre-se de nunca prolongar uma
conversa com alguém de quem você desconfia ― Johnatan ensina.
Eu me curvo para sussurrar.
― É ele? ― como se aquilo fosse um segredo.
Ele sorri e toca meu rosto, fazendo-me inclinar a cabeça.

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― Ele pode fazer parte de um deles ― murmura.


― Há mais? ― disparo alarmada.
― Sempre há ― afirma com um suspiro.
― Então, isso significa que iremos embora em breve ― suspiro
também, voltando para o meu lugar. Olho para a vista do lado de fora.
Adoraria dar uma volta pelo lugar.
― Neste momento, só desejo apreciar o momento, o vinho e o jantar
ao seu lado ― Johnatan sussurra, e encaro seus olhos intensos.
― Eu também ― confesso com um sorriso tímido.
Nosso pedido chega em seguida, os legumes refogados e o cheiro do
molho sobre o salmão com purê fazem meu estômago roncar. Olho para
Johnatan curiosamente, ele franze a testa e acena com um leve sorriso. O
vinho e as taças chegam como pedido. Dinka abre a garrafa sem muito
esforço. Johnatan parece atento a mim, mas também em alerta ao garçom em
nossa mesa. Quando Dinka ousa colocar o vinho em nossas taças, Johnatan o
interrompe.
― Isso é tudo. Pode deixar que eu sirvo ― ordena.
O homem acena, parecendo tenso.
― Sim, senhor ― diz, obedecendo à ordem, e se afasta.
Eu o observo atender outras mesas, ainda desconfiada.
― Ele me parece muito estranho ― comento depois de engolir meu
delicioso salmão.
― Você precisa disfarçar ao tentar analisar um inimigo. ― Minha
atenção se volta para meu acompanhante.
― Pensei que eu estava indo bem. ― Bebo o vinho, apreciando a
temperatura, gelado como eu gosto.
― Como estamos no começo, você está excelente. Só não fique
tentando decifrar se ele é ou não um alienígena ― Johnatan brinca. ― Use

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sua visão periférica, relaxe o corpo e aprecie o jantar. Acredite, qualquer


olhar, um movimento sinuoso ou nervosismo, eles conseguem capturar.
Olho para ele atentamente, que parece normal e muito relaxado.
― Você é bom nisso ― elogio, tendo o seu olhar penetrante sobre
mim, mas agora sei que além de me ver à sua frente, pode observar os
arredores.
― Eu sou bom em outras coisas também ― provoca, dando-me uma
piscadela. Quase me engasgo com a comida.

Quando terminamos o jantar, Johnatan sugere sobremesa, mas recuso,


sentindo-me entristecer por nossa noite estar prestes a terminar. Encaro a
linda vista panorâmica, despedindo-me em pensamentos.
― Então, temos que ir? ― pergunto depois de finalizar minha taça.
Por incrível que pareça, não me sinto embriagada, talvez seja porque
eu comi mais do que bebi.
― Você deveria voltar. ― Fico com confusa com suas palavras.
― O quê?
― Para casa ― diz com intensidade.
Aperto meus lábios ao me encolher.
― Johnatan, aconteceram tantas coisas. Não é por medo, mas depois
de tudo que aconteceu, sinto que algo pode mudar em relação a tudo isso ―
confesso, sentindo-me sufocada.
― Eu sei que errei. Estou pronto para me redimir com você. Posso
entender o quanto sofreu com tudo o que aconteceu, como se seu coração
fosse arrancado de dentro para fora sem nenhuma piedade. Eu fui frio, pensei
só em mim e me esqueci do que era mais importante na vida... ― Não sou
capaz de olhar em seus olhos ao tentar segurar minhas lágrimas. ― Mas tente
entender que, se você estiver longe dali, a situação só vai piorar. Eu estive no

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inferno sem saber de você. Ainda estou nele sem você ao meu lado.
Encaro a paisagem e suspiro, fechando meus olhos, quando os abro,
observo-o com um sorriso triste.
― Isso nunca vai mudar, não é? ― questiono. Ele fica pensativo.
Suspiro. ― Eles não vão parar até pôr as mãos em você. Há alguém nos
vigiando aqui e, mesmo assim, você está se expondo ao perigo...
― Não me importo. Não posso ficar preso por aí, escondendo-me
deles. Eu gostaria muito de ter uma vida normal, gostaria de sair de casa com
tédio para passear tranquilamente. Eu era um jovem comum até perder minha
família a sangue frio, eles me tornaram assim e eu tenho que lutar dia após
dia para sobreviver, mostrar a eles que não os temo. Essas pessoas podem me
atacar em bando, mas eu vou continuar lutando. ― Sinto a ferocidade e a
força murmuradas e cada palavra. Arrepio-me com a profundidade em seu
olhar.
Estendo minhas mãos para agarrar as suas e sorrio ao vê-lo beijar
cada uma.
― Tenho orgulho de você, não por aceitar que mate pessoas, mas se
isso é para manter seus inimigos afastados, eu o apoio. Não posso julgá-lo
nem mesmo impedi-lo. Quero que lute por você, por mim e por nós. Só peço
que, quando chegar ao seu limite, apenas pare. Isso vai acabar atingindo você
de alguma forma e a mim também. Não quero que se machuque mais, não
quero mais esses homens atrás de você, por isso, dê a eles o prédio, deixe-os
seguir em frente com uma proposta de te deixarem em paz ― digo com
carinho, acariciando seu rosto.
― Mine Anne Clark, como pode ser tão forte a ponto de suportar toda
a merda que carrego? ― diz me olhando intensamente.
― Eu sou forte o suficiente para aguentar muitas coisas. ― Sorrio,
sentindo minhas lágrimas caírem, Johnatan as afasta com carinho. ― Dê a

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eles o prédio, Johnatan, eu sei que você consegue localizá-los pelo seu
rastreador. Quando tudo terminar, fique longe o suficiente de todo esse
inferno.
Ele fica surpreso.
― O rastreador, eu uso para me encontrar com eles ― afirma.
Fico confusa enquanto ele explica:
― Eu pesquiso os lugares que frequentam e faço uma breve amizade,
eles são homens de negócios, nada como a facilidade em manipular uma
mente humana. Logo depois, rastreio. ― A revelação me deixa perplexa.
― Mas eles não o conhecem?
― Sim, com um disfarce, porém, eu pego muitos desprevenidos.
Frequento o lugar e observo minha vítima ― arrepio-me ao escutar a ameaça
em sua voz.
― Acho que esse assunto não deveria ser tocado em um jantar a dois
― repreendo-o com um leve sorriso ao me afastar.
― Peço desculpas ― diz como um cavalheiro. ― Pronta para ir?
― Vai me deixar na porta de casa?
― Com toda certeza ― a voz rouca faz meu corpo se contorcer.
Quando Johnatan paga a conta, observo o lugar com cuidado, não
vejo sinal de Dinka. Sinto meu estômago se revirar quando meus
pensamentos começam a seguir por um lado negativo.
Do lado de fora, inspiro o ar frio. Johnatan entrelaça seus dedos nos
meus, levando-me em direção à área dada para a vista das montanhas.
― O que está fazendo?
― Vamos apreciar a vista ― responde com um sorriso aberto.
― Mas não temos tempo. Com certeza, tem alguém nos
perseguindo... ― insisto, mas logo paro quando Johnatan gira meu corpo e
abraça minha cintura.

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― Eu tenho todo tempo do mundo. Aprecie!


Perco o fôlego, se dentro do restaurante é lindo, não há nada
comparado com o lado de fora, todo amplo e aberto como num cartão-postal.
Arrepio-me ao sentir seus lábios em minha nuca.
― Johnatan, aqui é maravilhoso ― digo emocionada, sentindo meu
corpo relaxar aos poucos quando seus braços me apertam.
― Estou feliz que tenha gostado ― ele beija meu rosto com
delicadeza.
Permanecemos ali por um bom tempo, até mesmo nos divertimos
definindo onde estão nossas casas.
Viro-me para ele, deparando-me com seus olhos azuis. Johnatan
permanece imóvel, como se quisesse memorizar meu rosto enquanto me
acaricia com cuidado, sorrio docemente.
― Você não vai deixar mesmo eu te beijar, não é? ― pergunta com
um sorriso torto. Seus lábios ameaçam se aproximar dos meus.
― Não posso ceder ― provoco-o.
― Posso ser bastante insistente ― sua voz rouca me faz estremecer,
mas meu sorriso desaparece rapidamente
Engulo em seco.
― É melhor não tentar me provocar ― sussurro e ergo minha
sobrancelha.
Ele sorri, o seu sorriso perfeito e convencido.
― Eu gosto quando me desafia ― aprecia. ― Combina com você,
torna-a ainda mais sexy ― insinua, deslizando suas mãos por minhas costas.
― Acho que o vinho subiu demais pra sua cabeça ― brinco. ― É
melhor irmos.
Johnatan puxa mais meu corpo contra o seu quando ouso me afastar.
Ok! Ele está duro, muito duro. Arregalo meus olhos.

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― Você tem que voltar para casa ― diz num tom mais sério e
potente.
― É isso mesmo que estou tentando fazer ― digo nervosamente
quando seu corpo se aperta mais contra o meu.
― Estou dizendo para minha casa ― Johnatan deseja mesmo aquilo.
Tento não esfregar minhas pernas com desejo.
― Johnatan... ― engulo.
― Mine, por favor, seu lugar é lá ― insiste. ― Por favor! ― suplica.
Ofego quando sua boca se aproxima para deslizar por meu ombro.
Inclino minha cabeça para trás, como se eu estivesse completamente rendida
a ele. Gemo suavemente ao sentir sua leve mordida em minha pele e aperto
seus braços com ardor.
― Eu posso pensar sobre o assunto ― murmuro gemendo.
Fecho meus olhos assim que seu nariz percorre minha pele,
inspirando meu perfume.
― Não há o que pensar. ― O leve sotaque faz minhas entranhas
clamarem.
Sinto minhas pernas feito geleias.
― Eu pensaria com mais clareza se você parasse de me provocar ―
confesso, quase sem fôlego, sentindo seu membro rígido em meu ventre.
Sua risada faz seu corpo tremer, essa é uma das suas reações que mais
aprecio, Johnatan parece mais jovem e mais vivo quando está sorrindo.
― Eu juro que não era essa a minha intenção ― encaro-o
desconfiada. ― Talvez um pouco.
Empurro seu ombro delicadamente, fazendo-o se afastar.
― Tenho certeza disso. Agora, vamos, senhor Makgold! Não
devemos ficar muito tempo aqui ― digo querendo fugir dele antes que me
puxe para seus braços.

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Quando seguimos para o estacionamento de mãos dadas, sinto como


se estivesse com um peso em minhas costas, olho para trás desconfiada para
ver se alguém nos persegue e estremeço.
― Com frio? ― pergunta preocupado.
― Não ― na verdade já estou devidamente aquecida só de estar ao
seu lado. Aperto sua mão quente, sentindo seu polegar acariciar minha mão.
― Você parece nervosa ― analisa. Observo seu carro enquanto nos
aproximamos.
― Sinto como se alguém tivesse nos olhando ― confesso.
Assim que chegamos ao seu conversível, Johnatan vira-se para mim
para beijar meu rosto com carinho, fazendo-me derreter.
― Não há o que temer, eu protejo você ― sussurra, fazendo-me sorrir
levemente. ― E sim, estamos sendo vigiados. O tempo todo ― revela.
Fico perplexa.
― Como pode falar tão tranquilamente? ― pergunto, tentando
engolir meu nervosismo.
― Porque ficar nervoso numa hora dessas não ajuda. Tem que manter
a calma. ― Johnatan beija minha testa antes de se afastar.
Em seguida, tira a chave do seu carro do bolso e coloca em minha
palma. Franzo a testa confusa.
― Para que isso?
― Você vai me dar cobertura. Já dirigiu um Aston Martin? ―
pergunta, abrindo a porta para mim.
― Vai me deixar dirigir mesmo eu tendo bebido vinho?
Johnatan pensa um pouco antes de responder.
― É uma má influência. Não aconselharia, mas, nesse caso, preciso
de você, por isso, não se preocupe, sei que você está mais sã do que nunca.
― Sua confiança em mim me impressiona.

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Balanço minha cabeça automaticamente, ainda encarando a chave em


minha mão. Olho para a porta aberta como uma idiota.
― Você disse que ia me proteger ― resmungo, parece que meu
sangue esfriou em questão de segundos.
Johnatan sorri e belisca meu queixo.
― Mas agora você será minha parceira, estamos juntos nessa. Sua
ajuda vai ser importante ― pisca para mim descaradamente.
Há algo em sua expressão que me diverte, logo entro no carro e fecho
a porta. Coloco o cinto de segurança empolgada e sorrio assim que ele entra,
pronto para que eu dê a partida. Fuzilo-o com meu olhar.
― Johnatan? ― repreendo-o.
― O quê? ― pergunta confuso.
― Pode, por favor, colocar o cinto de segurança? ― ordeno.
― Eu não preciso disso ― dispara incomodado.
Levanto a sobrancelha cruzando meus braços.
― Não sairei desse estacionamento enquanto não fizer isso. Se vamos
ser parceiros, aprenda as regras que irei sugerir ― digo rispidamente. Uh! Eu
gosto disso!
Johnatan me olha desafiante, assim como eu, no entanto, ele segura o
sorriso.
― E qual seriam essas regras. Diga-me uma delas por enquanto! ―
desafia, erguendo sua sobrancelha e se curvando para mim.
Eu sei que está louco para me beijar, mas não posso ceder aos seus
encantos provocantes. Afasto-o com meu indicador em seus lábios.
― Você me obedece ― digo minha primeira regra, deixando-o
desconcertado. ― Agora, ponha a porcaria do cinto|! ― repito, fazendo-o se
remexer no acento e revirar os olhos ao colocar o cinto.
― Isso não será necessário ― resmunga.

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― Veremos ― digo satisfeita e ligo o carro, sentindo-me poderosa no


volante.
Saio do estacionamento com sucesso, dirigindo tranquilamente.
Johnatan observa com um sorriso, parecendo gostar da forma como me
mantenho atenta.
― Você dirige bem ― elogia, um pouco intrigado.
― Diga isso ao meu pai, ele que me ensinou. ― Certo, meu ego se
elevou um pouco mais.
Pela minha visão periférica, vejo Johnatan sorri e gemer, meu sexo
pulsa só de ouvir a simples provocação.
― Vamos um pouco mais longe ― murmura num sotaque rouco.
Sem que eu espere, sua mão toca minha coxa, a palma quente acaricia
minha pele suavemente, aperto o volante na luta de descer minha mão e
abaixar minha saia, que sobe quando ele ousa deslizar sua mão perversa para
cima.
― É melhor você tirar sua mãozinha daí ― digo firmemente.
― Isso é uma ordem, senhorita Clark? ― provoca.
Ofego.
― Sim ― respondo relutante.
― Então, terei que te fazer avançar ― diz voltando a deslizar sua
mão, só que, dessa vez, até o joelho.
Quando aperta, parece ser algo automático, como se meu corpo
impulsionasse uma carga elétrica com seu toque provocante, fazendo meu pé
pisar fundo no acelerador enquanto o carro corre em alta velocidade.
― Johnatan ― assusto-me sentindo a adrenalina e o nervosismo
tomarem conta do meu corpo. Tento controlar minha inútil direção.
― Continue assim ― seu tom se torna mais potente.
Minha confusão só dura meio segundo ao olhar pelo retrovisor e

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constatar que um motoqueiro nos persegue. Logo, Johnatan afasta sua mão
para pegar suas luvas de couro no porta-luvas, vestindo-as tranquilamente.
Olho novamente o retrovisor quando o farol alto de um SUV acende
atrás do motoqueiro. Ele não está sozinho! Assim que a luz reflete no
motoqueiro com roupas de couro, reconheço Dinka sem capacete na moto.
Piso fundo no acelerador e grudo minhas costas no banco, tentando controlar
minha respiração.
― O motoqueiro é o Dinka ― digo quase sem voz. ― E há um carro
atrás dele.
Johnatan acena, observando a movimentação atrás de nós.
― Temos convidados ― anuncia, tirando também uma pequena
maleta do porta-luvas. Em seguida, começa a montar sua arma.
― Essa é uma daquelas armas que não fazem barulho? ― pergunto
ao vê-lo fixar o objeto no cano de metal.
― Sim ― responde todo sereno. ― Está pronta?
― O que tenho que fazer? ― falo e engulo em seco.
― Apenas o que eu pedir ― Johnatan fica atento, olhando pelo
retrovisor.
Tanto o motoqueiro Dinka quanto o carro negro se separam, talvez na
tentativa de nos encurralarem. Agradeço pelas ruas estarem tranquilas e
pouco iluminadas.
― Johnatan, eles devem estar combinando algo ― digo em pânico.
― É claro que sim. ― Assusto-me quando um tiro é disparado contra
o carro. ― Não precisa ter medo, o carro é blindado.
― Como se isso fosse aliviar meu desespero. Juro que estou com
vontade de bater em você ― disparo nervosa.
― Vire à direita ― ordena ao sermos atingidos mais vezes.
Faço o que me pede sem hesitar, Johnatan abre sua janela e atira em

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direção a eles. A rua pela qual sigo é apertada, dando apenas para carros
pequenos; vejo o motoqueiro acelerar e o SUV passar direto, sabendo que o
espaço não é adequado. Com certeza, ele irá achar um atalho para voltar a nos
perseguir ou até mesmo encurralar. Johnatan volta a atirar, dessa vez, contra
Dinka, mas desvia, voltando para sua posição.
― Quantas pessoas será que tem no outro carro? ― preocupo-me.
― Talvez cinco deles, eu desconfiei de alguns no jantar. Vire à direita
novamente ― ordena enquanto atira.
Assusto-me quando vejo Dinka mirar sua arma em direção a
Johnatan.
― Não! ― Entrar em pânico agora não é o momento, viro à esquerda,
escutando os pneus cantarem.
― Mine, eu pedi para você virar a... ― Antes que ele termine sua
fúria vemos o SUV sair à direita e voltar a percorrer junto com o motoqueiro.
― Isso foi bom. Continue assim ― reviro meus olhos.
Quando passamos pelo semáforo, nem mesmo respeito as regras de
trânsito, escutando buzinas e protestos de alguns motoristas. Enquanto dirijo
para longe, as ruas começam a ficar mais iluminadas. Concentro-me tanto na
minha direção quanto no retrovisor. Agora, Dinka está sozinho, avançando
com uma habilidade incrível de mirar a arma em nossa direção e atirar, aperto
meus dentes por ele tentar acertar Johnatan.
― Onde está o SUV? ― pergunto mais para mim mesma.
Sigo para uma rua mais tranquila mesmo já chamando atenção com a
velocidade do carro.
― Com certeza, eles querem nos encurralar ― Johnatan diz
estressado, pegando outra arma e montando.
― Isso não é bom...
Meu coração se desespera ao pensar que não sairemos bem dessa.

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Freio o carro, jogando Johnatan para frente e para trás. Agradeço por ele estar
de cinto.
― Mine, continue! ― ordena ríspido, mas nos surpreendemos quando
o SUV atravessa a rua à frente.
Dou a ré, entrando na próxima esquina antes que o carro negro e a
moto nos alcancem. Encaro ambos à minha frente em ameaça, mas há algo na
moto de Dinka que me intriga. Acelero na ré, notando Johnatan tirar seu cinto
e colocar um pouco do seu corpo para fora da janela a fim de conseguir uma
boa mira.
― Atire nos faróis ― ordeno. A luz forte me atrapalha.
― O quê? ― Johnatan pergunta, não escutando enquanto dispara em
Dinka, que desvia e prepara sua arma para revidar.
― ATIRA NA PORCARIA DOS FARÓIS DO SUV! ― grito
estressada. Eles brincam de abaixar e aumentar aquilo para me cegar.
Ele acerta os faróis da SUV com sucesso, fazendo-a frear, mas Dinka
continua sua caçada. Assim que chego à rodovia, viro o carro saindo em
disparada, o motoqueiro curva sua moto quase conseguindo nos alcançar.
― Mine, continue ― Johnatan pede com urgência.
Arregalo meus olhos quando vejo Dinka com um armamento mais
pesado em seu ombro. Oh, aquela coisa! Aquela coisa que me intrigou em
sua moto!
― Aquilo é uma bazuca? ― pergunto em choque.
― É um RPG, um lançador de granada ― Johnatan explica.
Balanço minha cabeça como se estivesse confusa.
― Cadê a sua? ― Posso estar correndo a mil por hora, mas minha
cabeça fica momentaneamente desequilibrada.
― Era nosso jantar, acha que vou andar com uma coisa daquelas para
assustar você? ― Johnatan dispara furioso. ― Continue acelerando.

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― Olha como você fala comigo, Makgold! Cadê a porcaria da sua


bazuca quando precisamos dela?
Vejo Dinka mirar enquanto tento tirá-lo de seu foco com o carro, em
seguida, curvo-me para bater em Johnatan ao meu lado. ― ONDE. ESTÁ. A.
DROGA. DA. SUA. BAZUCA? ― Cada palavra é seguida por tapas fortes
que dou em seu ombro e em seu braço.
― Mine, não está ajudando! ― diz se afastando das agressões para
voltar a atirar.
― Uma arma dessa não vai destruir uma moto, Johnatan! ― falo
furiosa.
― Continue ― pede, deixando-me confusa, mas sinto meu coração
sair pela boca quando o vejo abrir a porta do carro e saltar para fora.
Alarmada, observo pelo retrovisor seu corpo rolar no chão e levantar-
se rapidamente, preparando sua mira no motoqueiro. Freio o carro, dando a ré
até chegar a ele. Ao longe vejo a SUV se aproximar do lado oposto.
― Droga! ― praguejo em desespero.
Paro o carro ao seu lado enquanto ele atira, fazendo Dinka se desviar
com sua moto.
― Entra no carro! ― ordeno sentindo minha raiva aumentar.
― Mine apenas saia daqui! ― discute, carregando sua arma como um
flash e atirando.
O SUV acelera em nossa direção pela rua solitária e só temos aquela
saída. Tiro meu cinto, saindo do carro furiosa para afrontar Johnatan.
― Johnatan Grekov Makgold, entre neste carro agora ou seguirei com
ele até a frente e darei a ré passando por cima de você! ― ameaço, fazendo-o
parar de atirar e olhar em minha direção.
― Entre no carro ― Ergo minha sobrancelha para ele. Escuto seu
rosnado de protesto, vendo-o entrar no carro assim como eu. ― Só acelere!

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― diz ríspido.
Engulo meu pânico com o SUV se aproximando, mas Dinka insiste
em nos perseguir com sua bazuca pronta para atirar. Sim, ele consegue
manobrar a moto com aquilo, com certeza, deve ser um atirador profissional.
― Ele vai atirar... Nós vamos bater! ― constato desesperada. Sinto
como se minha alma estivesse saindo do meu corpo.
― Mantenha a calma e continue, querida ― Johnatan pede, apertando
meu joelho em conforto.
Quando estamos próximos de nos chocarmos contra o outro carro,
viro o volante para a esquerda ao mesmo tempo em que Dinka dispara a arma
potente em nossa direção, mas acerta o SUV, que explode num estrondo
ensurdecedor.
O cretino freia sua moto a tempo e quase cai ao ver o estrago que fez
quando atingiu seus companheiros. Rapidamente dou a ré, passando ao lado
dele, querendo sair dali o mais rápido possível. Johnatan aproveita a
oportunidade para disparar contra alguma parte da moto, a fazendo explodir,
Dinka salta para o chão a tempo. Giro o carro, não querendo ver o fogo se
alastrando com mais uma explosão, mas vejo o homem robusto se levantar e
encarar nosso veículo fixamente.
Acelero para cada vez mais longe, sentindo as lágrimas caírem de
meus olhos devido à quantidade de emoções em meu corpo. Johnatan toca
meu ombro.
― Não encoste em mim ― digo com fúria, fazendo-o recuar.
― Mine, eu...
― Você, cala a boca! ― digo e com meus tapas. ― Está ficando
louco? Quer morrer se arriscando daquele jeito? ― esbravejo e o soco com
força enquanto ele se encolhe rindo. ― Não acho graça, Johnatan. Não.
Estou. Achando. Graça! Se quer morrer, posso te ajudar, o que acha? Que

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mal tem eu jogar seu corpo de um penhasco? ― digo com ironia.


Inspiro profundamente para controlar a fúria explosiva dentro de
mim.
― Você está me assustando nessas últimas horas.
Como ele pode se divertir com o que acabamos de passar?
Rosno, fazendo-o recuar. Ele segura sua risada.
― Nunca mais faça isso, Johnatan. Estamos entendidos?
Aponto o dedo para ele em ameaça, vendo-o morder o lábio. Aperto
meus dentes, dando-lhe tapas.
― Nunca. Mais. Faça. Isso!
― Certo, certo. Tudo bem, pare de me bater. Acredite, suas ameaças
estão boas, mas seus tapas doem pra caramba ― inspira profundamente e
ergo minha mão, batendo atrás da sua cabeça e fazendo seus cabelos irem
para frente. ― Ah!
― Isso não tem graça! Aquele Dinka pode voltar a nos perseguir e
você está aí dando risadas. E sabe qual é o pior? ― digo olhando em sua
direção, acelerando ainda mais.
― Querida, pode voltar ao limite normal ― observa confuso. ― Qual
é o pior?
― Eu não consigo parar. ― Entro em pânico, sentindo minha perna
endurecida.
Seu sorriso desaparece ao notar meu estado.
― Tudo bem, relaxa a perna e pisa no freio ― pede calmamente,
acariciando meu joelho.
― Eu não consigo. Estou em choque com tudo isso. Estamos bem,
mas mesmo assim não estamos bem ― falo incoerente.
― Mine, relaxa a perna e pise no freio. Calma... ― Johnatan tenta me
tranquilizar.

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― O jantar foi tão lindo, menos essas últimas horas, mas sinto que eu
arrebentei ― tagarelo, tendo um ataque de risos.
Ele parece chocado com minha reação.
― Mine, encoste o carro! A estrada aqui já é um pouco mais
movimentada...
― Está certo ― inspiro fundo. Mesmo acelerando, eu tento encostar.
― Mine, você vai bater! ― Johnatan dispara assustado e desce seu
braço em minhas pernas.
Ele afasta meu pé do acelerador, freando com sua mão. O carro para
abruptamente, levando meu corpo para frente e para trás. Toco meu peito,
sentindo meu coração bater com força.
― Graças a Deus ― fecho meus olhos, tentando controlar meus
nervos.
Abro meus olhos em alerta quando sinto lábios roçarem minha perna,
sua mão afasta meu vestido e me contorço sentindo uma mordida provocante
em minha coxa.
― Sinto falta desse perfume. ― Sua língua parece queimar minha
pele ao lamber.
Mordo meu lábio, tentando resistir a qualquer tentação. Olho para
baixo, excitada com sua mão se enfiando no interior das minhas coxas.
Toco em seus cabelos macios, puxando-o com suavidade. Quando
sinto seus dedos se aproximarem do meu sexo pulsante, ofego. Aperto o
banco com um prazer lascivo enquanto com uso a outra mão para percorrer
seus cabelos até suas costas, alcançando o que quero. Quando o sinto tentar
afastar minha calcinha para invadir meu sexo úmido com seus dedos, aponto
a arma para sua cabeça, deixando-o imóvel.
― É melhor tirar suas coisinhas pervertidas daí. ― A arma pesada
está travada, logo, não temos nenhum perigo.

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Sinto seu sorriso no interior da minha coxa, próxima ao meu sexo. Ele
inspira profundamente, seguro-me para não me contorcer com o arrepio.
― Você tem certeza, minha Roza? ― pergunta o descarado rouco. ―
Não sabe a sede que sinto para degustar seu prazer em meu paladar. Eu posso
devorá-la só com minha boca, sei que você quer isso. Está tão pronta para
mim ― ele se atreve a tocar em meu sexo. Mordo meu lábio e finjo destravar
a arma, fazendo-o parar. ― Se atirar agora eu juro que morrerei feliz.
― Afaste-se agora ― ordeno.
Johnatan levanta relutante e miro a arma em sua direção. Ele me olha
com a sobrancelha erguida, levantando suas mãos em gesto de redenção. Dou
uma piscadela, assoprando o cano da arma e a entregando em seguida.
― Bem, a partir daqui você assume a direção ― digo saindo do carro.
Sinto minhas pernas doloridas por causa do tesão em meu corpo.
Johnatan também sai me olhando, corro para o outro lado do carro, sabendo
que se eu for pelo mesmo que ele, posso correr o risco de ser agarrada a
qualquer momento. Nós nos encaramos enquanto damos a volta em lados
opostos.
― Como se sente?
― Bem ― minto engolindo seco. ― E você? ― pergunto
casualmente.
― Duro e dolorido ― afirma. Aperto minhas coxas inquietas.
― Sinto muito ― soo como se não me importasse.
Entro no carro, sentindo meu corpo pesado, volto a colocar meu cinto
toda atrapalhada.
― Precisa de ajuda? ― questiona. Sinto a atmosfera mudar
novamente.
― Sei o que vai querer fazer ― sorrio ironicamente, vendo-o reprimir
uma risada.

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Seus olhos apreciam meu vestido e o arrumo em seu devido lugar.


― Deus, dai-me o controle! ― ele repete a prece, ajustando sua
ereção de mão cheia, como se tivesse incomodado, e agarra o volante para se
controlar.
Aperto meus lábios para não sorrir. Distraio-me à procura das minhas
rosas, encontrando-as no banco de trás e as cheiro, olhando para frente
envergonhada.

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45 – POR VOCÊ

Quando Johnatan estaciona em minha casa, já sinto a saudade tomar


conta de mim e a lembrança da linda visão panorâmica que apreciamos juntos
horas atrás.
― Obrigada pelo jantar, foi maravilhoso ― digo, tirando meu cinto
antes de me virar para ele.
― Eu é que agradeço por sua companhia e por sua ajuda ― sussurra.
Suspiro.
― Sou uma boa parceira? ― indago. Seu sorriso se abre.
― Completamente. Você é muito esperta, exceto quanto está nervosa
e me bate ― rimos.
― Doeu?
― Um pouco ― dá de ombros como se não se importasse,
continuamos rindo.
― Eu adorei essa noite, com ou sem todo esse ocorrido ― lamento
um pouco. ― Amei cada momento com você ― sorrio com carinho.
Johnatan me observa com intensidade e ergue sua mão para tocar meu
rosto. Inclino minha cabeça, fechando os olhos brevemente.
― Todos os momentos ao seu lado são os melhores possíveis ―
sussurra e beijo sua palma. ― Volta para casa? ― suplica novamente.
Fico pensativa.
― Eu prometo pensar com carinho ― asseguro com um leve sorriso.
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― Eu espero quanto tempo você precisar ― declara com fervor,


fazendo meu coração se aquecer e doer quando meus sentimentos profundos
tomam conta de mim.
― Ainda sinto a dor ― desabafo. Respiro fundo para conter minhas
lágrimas.
― Eu sou o único que pode tirá-la de você ― seu polegar acariciar
meu rosto.
Só de tê-lo comigo sinto forças para suportar qualquer dificuldade,
desde que nunca desapareça aquele sorriso jovem despreocupado.
― Tenho que entrar ― sussurro sonhadora.
Johnatan acena um pouco, divertido.
― Tirando essas últimas horas de terror... Sabia que os casais, após o
jantar, eles se beijam depois de dizer palavras melosas? ― diz. Gargalho com
a chantagem.
― Onde você viu isso? Em filmes? ― pergunto, quase chorando de
tanto rir.
Johnatan inclina sua cabeça, como se estivesse pensando.
― Hum! Talvez ― rimos ainda mais.
― Boa tentativa, senhor Makgold. Agora, eu preciso mesmo entrar,
mas antes... ― tiro uma rosa do buquê, beijando-a antes de aproximá-la de
seus lábios.
Johnatan aprecia o aroma das pétalas de olhos fechados. Desejo ir até
ele para me juntar à sua intensidade e completar aquele selo. Quando abre os
olhos, recebe a rosa como meu presente. Sorrio sem jeito e saio do carro para
não perder o controle.
Distraio-me com a luz da cozinha ainda acessa, com certeza, papai
continua acordado.
― Parece estar correndo de mim.

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Viro-me, vendo que abriu a janela para me analisar. Impressiono-me


ainda mais pelo carro não estar com nenhum defeito, nenhum arranhão.
Balanço minha cabeça tentando, por enquanto, não me lembrar do ocorrido.
― Boa noite, Makgold. Obrigada por tudo. ― Aceno com a mão em
um breve adeus.
Seguro minha risada devido à expressão desconfortável. Certo, sua
ereção deve estar matando-o até agora.
― Posso pedi-la em casamento qualquer dia desses ― meu sorriso dá
lugar ao choque.
― E para quê?
Seu sorriso se abre em ameaça. Engulo em seco.
― Para que, assim, eu a leve comigo de volta para casa ou a qualquer
lugar que eu deseje ― escuto o ardor em suas palavras e vejo a possessão em
seus olhos.
― Você não precisa se casar comigo para fazer isso. E eu sou muito
nova para casar, então, de qualquer jeito, sua batalha está perdida ― giro,
seguindo para minha casa.
― Você é minha ― paro de andar como se o sussurro fosse dito
próximo ao meu ouvido.
Volto minha atenção para ele, que continua no carro com seu olhar de
admiração. Puxo o ar com força, mas sou incapaz de soltá-lo. Quando
Johnatan sai, parece disposto e rendido.
― É minha desde o momento que a vi pela primeira vez. Prometi,
naquele momento, cuidar de você, me arriscar, dar tudo de mim para que
nada lhe aconteça ― sorri brevemente e inspira o ar frio. ― Você me ensinou
como a vida é valiosa, deu um sentindo real à minha vida, ensinou-me a lutar
pelo o que quero. Me fez enxergar o mundo como é, em como as pessoas são
à nossa volta. Você me aguentou todo esse tempo, sabendo o que passei e o

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que estou passando. Aceitou-me como sou, sem se importar com o que as
pessoas pensam ao meu respeito, sem interesse, sem repulsa, sem receios.
Então, eu cheguei à conclusão de que eu tenho alguém mais forte que eu para
aguentar qualquer desafio na vida. Alguém que não se importa de ficar no
lado escuro comigo, mas que tenta me puxar para a claridade. Agora eu sei,
que quando eu luto, não é só por mim, também é por você. Eu não posso
mudar quem eu sou, mas, por você, posso dar o meu melhor, porque você me
tornou assim diante dos seus olhos e eu não quero afastar esse fascínio, pois
me ajuda a ser firme, me faz querer viver ao seu lado. Eu pertenço a você,
Mine, assim como você pertence a mim.
Minhas lágrimas caem, meu coração bate com tanta força que chega a
doer. Puxo o ar e sigo até ele, sentindo minhas pernas bambas. Há tanta coisa
para dizer, tantos sentimentos fortes dentro de mim, loucos para se soltarem,
mas minha única reação no momento é chorar sorrindo. Suas mãos se erguem
para tocar meu rosto e afastar minhas lágrimas. Ele também está cheio de
emoções.
― Oh... John... ― toco seu rosto o trazendo para mim. ― Eu te amo
tanto ― beijo-o com todo meu amor.
Seu gemido rouco em meus lábios me faz arrepiar. Seus braços me
cercam em conforto enquanto sua língua invade minha boca num beijo terno,
ao mesmo tempo prazeroso. Agarro seu corpo, intensificando nosso contato
cheio de amor e saudades. Envolvo meus braços em seu pescoço, desejando
não sair dali nunca mais. Quando afastamos nossas bocas, permanecemos
com os rostos colados. Sorrio, entorpecida com aquele precioso momento.
― Consegui. ― O comentário vitorioso me faz rir.
― Sente-se feliz agora com o beijo? ― sussurro, beijando seus lábios
macios.
― Extremamente ― torna a me beijar, dessa vez com mais urgência,

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fazendo ambos perdermos o fôlego.


― Eu preciso entrar ― acaricio seus cabelos.
Seus beijos seguem pelos cantos da minha boca.
― Tudo bem ― aceita, afastando-se depois de roubar um beijo.
― Eu não sei o que dizer, mas me sinto completa desde que chegou
aqui ― confesso com um leve sorriso. ― Eu amo tudo o que há em você,
sem me importar com nada. Deus sabe o quanto desejo todos os dias que esse
pesadelo acabe ― digo com fervor.
― Eu sei ― beija minha testa. ― É o que eu mais desejo também.
― Tudo vai ficar bem. Vamos passar por muita coisa, mas, no final,
vamos ver que valeu a pena e eu vou estar sempre aqui para o que precisar.
― Tento transmitir minha positividade. ― Agora, tenho que entrar,
definitivamente.
Johnatan sorri e se afasta acenando.
― Com certeza, seu pai está nos espiando. Devo correr, não é
mesmo? ― brinca.
― Sim ― aceno rindo.
Afasto-me sem vontade, colocando minhas rosas contra meu peito
enquanto o assisto entrar em seu carro.
― Boa noite, minha Roza. ― Coro, mas fico desconfiada por sua
tranquilidade.
― Por que sinto que você não vai a lugar algum?
― Porque você está certa ― sorri abertamente, saindo com seu carro.
Sorrio balançando a cabeça como uma tola apaixonada. Cheiro
minhas rosas, sentindo-me viva novamente. Eu suportaria qualquer coisa ao
seu lado e sei que tenho forças para lutar com isso, seja como for. Pensar
dessa forma faz meu coração bater cada vez mais e aquele que foi um buraco
profundo em meu peito acaba se preenchendo ao ter certeza de que o homem

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que eu amo sente o mesmo por mim.

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46 – DECISÃO

Quando entro em casa, não fico surpresa de ver meu pai sentado em
sua poltrona tomando café. Sinto seus olhos me avaliando. Suspiro, sentindo-
me desconfortável com sua atenção.
― Como foi? ― indaga. Parece intrigado.
Aperto meus lábios para não sorrir.
― Bem ― respondo rapidamente. Eu não posso dizer a ele que quase
fomos atingidos por uma bazuca, muito menos que eu dirigi em alta
velocidade. ― Você está aí há muito tempo?
― Mais ou menos ― ele se remexe em seu assento. ― Não precisa se
preocupar, pois não vi vocês dois se beijando.
― Pai!
― Acha mesmo que eu ia ficar sentado a noite toda nessa poltrona?
Assim que você chegou eu fui conferir e voltei para cá, como vi que você
demorou, peguei a parte do... Você sabe... Eu não demorei ― revela com
desgosto.
― Papai, eu sei que você não aprova Johnatan...
― Eu nunca vou aprovar ― dispara, levantando-se duramente e
colocando sua caneca na pia.
Suspiro.
― Por que o odeia tanto?
― Eu não o odeio, Mine, apenas não confio nele perto de você. Filha,
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só quero te proteger ― diz exasperado, mas balança a cabeça em seguida. ―


Ele machucou você uma vez, pode fazer isso de novo e, se fizer, eu juro que
dessa vez não vou ficar quieto.
Caminho em sua direção para abraçá-lo.
― Não precisa se preocupar quanto a isso, papai. Eu estou bem,
acredite. Sobre as decepções, eu consigo lidar ― afirmo, apertando meu rosto
contra seu peito.
Seus braços me envolvem com força.
― Só não quero te ver infeliz. Eu sei o quanto um coração pode ser
ferido, não quero que esse sentimento chegue até você ― beija meus cabelos.
Afasto-me para olhar seus olhos cinza.
― Você já sofreu por amor?
― Acha que foi fácil ficar com sua mãe? ― Ele ri sem jeito,
revirando seus olhos. ― Os falecidos avós dela não me aceitavam.
Os pais da minha mãe morreram muito cedo, ficando ela aos cuidados
dos meus bisavôs, segundo meu pai, eles eram muito rígidos.
Volto a abraçá-lo.
― Mas vocês ficaram juntos e me tiveram ― suspiro feliz.
― Na verdade, fugimos ― fico chocada.
― Papai? ― finjo repreendê-lo.
Rimos.
― Já é hora de criança ir dormir ― afasto-me concordando. ― Você
vai voltar, não vai?
Paro no meio do caminho com sua pergunta.
― Ainda não sei ― respondo pensativa.
Meu pai me olha absorto, parecendo cansado de lutar contra seus
pensamentos.
― Se isso acontecer, não vou poder te segurar da forma como queria.

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Filha, estou tentando entender seu lado, como também seu coração. Sei que
você não tem culpa dos seus sentimentos, mas peço que tenha cuidado. E, se
você voltar, eu vou te visitar quase todo dia, com ou sem a permissão daquele
homem. ― sorrio vendo seu esforço.
― Obrigada, pai. Eu ainda vou pensar sobre isso ― assinto, ainda
pensativa.
― Boa noite, querida.
― Boa noite, pai.

Depois de vestir meu pijama, trago o pequeno buquê comigo para a


cama, apertando-o contra meu peito. Mesmo passando pelas últimas horas de
puro terror, ainda não consigo tirar o sorriso bobo dos lábios ao relembrar
toda dedicação e romantismo do Johnatan, nem mesmo quando bati em seu
braço para que me obedecesse. Fico um bom tempo recordando das suas
declarações até pegar no sono, onde eu poderei sonhar com ele. Um sonho
sem perseguições, tendo apenas meu russo com seus braços estendidos para
me aconchegar entre eles.
Quando abro meus olhos, vejo o pouco da claridade acinzentada do
dia. Preguiçosamente puxo mais a coberta para meu corpo ao sentir o frio.
Tenho certeza de que o tempo do lado de fora não é dos melhores.
Franzo a testa e tateio minha cama à procura das minhas rosas,
quando giro meu corpo, encontro outra rosa vermelha aberta em um copo
com água, logo abaixo, um bilhete. Esfrego meu rosto antes de esticar a mão
para pegar o cartão. Sorrio com a única palavra escrita:

"Volte!"

― Como é que você consegue entrar aqui? ― pergunto sozinha. Mas,

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em se tratando de Johnatan, pode-se esperar tudo.


Guardo o bilhete em minha gaveta e volto a me encolher na cama.
Ainda é cedo para levantar, prefiro ficar aquecida nas cobertas, admirando a
rosa por longas horas. Pergunto-me se Johnatan ficou no meu quarto por
muito tempo durante a noite, e é quando percebo que tem uma coberta a mais
em cima de mim. Por um momento, penso preocupada que ele esteve de
guarda em minha casa. Sinto-me culpada por isso.
Quando escuto meu pai se mover na cozinha, o cheiro do café me
invade. É hora de levantar.
Depois de fazer minhas necessidades matinais e tomar um banho
quente, visto minhas roupas de frio como um flash. Na cozinha, apareço
secando os cabelos com uma toalha.
― Você não deveria molhar o cabelo nessa manhã tão fria ― meu pai
me repreende colocando as panquecas no prato.
Meu estômago ronca.
― E deixá-lo como palha mesmo penteando? ― critico com uma
careta.
― É, devia estar assustador ― brinca.
Observo o café da manhã com alegria.
― Isso está bom ― digo provando minha panqueca. ― Tem mais
entregas hoje?
― Sim, mas Cesar irá entregar. ― Franzo a testa.
― Eu escutei meu nome ― viramos em direção à porta. Cesar se
aproxima ainda mais empolgado ao ver a comida. ― O cheiro está
maravilhoso. Dá para sentir até do outro lado da Vila.
― Ele sempre aparece nessas horas. Inacreditável! ― meu pai finge
estar aborrecido, mas logo se levanta para preparar mais um prato.
― Bom dia, Mine! ― Cesar cumprimenta, beijando meus cabelos e

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se sentando no lugar do meu pai para roubar seu café.


Papai pisca surpresa com seu amigo.
― Bom dia, Cesar! ― digo rindo.
― Vocês souberam das notícias está manhã? ― Cesar pergunta de
boca cheia.
Tanto eu quanto meu pai o encaramos.
― Qual notícia dessa vez, CNN? ― Meu pai comenta enquanto dou
risada com o novo apelido de Cesar.
― Arrombamento em um cofre no banco e um carro explodido na
avenida. ― Engulo minha omelete com força ao escutar a última informação.
Meu pai se senta ao meu lado para voltar a comer.
― Cada dia que passa o mundo fica pior ― resmunga.
― E já pegaram os culpados pelo arrombamento do cofre? ―
pergunta. Finjo não me importar.
― Parece que não, mas desconfiam de que sejam as mesmas pessoas
que morreram carbonizadas numa SUV na avenida. Segundo o jornal, a
polícia encontrou alguns vestígios de bombas no carro, praticamente as
mesmas que acharam no cofre do banco ― Cesar diz suspirando.
― Também há câmeras de segurança. Eles não viram ainda? ― papai
questiona. Engasgo-me com o café.
― Eu-estou. Estou bem ― tusso enquanto meu pai dá tapinhas em
minhas costas.
― Sim. Eles analisaram, mas não encontraram nada ― Cesar
responde.
― Talvez a polícia não queira soltar nada muito escandaloso para não
assustar as pessoas ― papai diz pensativo.
― Pode até ser ― Cesar replica, dou-lhe um sorriso apertado quando
ele me olha com simpatia.

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― Cesar, já pensou em virar jornalista da cidade?


Agradeço mentalmente por meu pai mudar o rumo da conversa.
― Já tentei entrar nessa área, mas a verdade é que eu combino mais
em ficar nos bastidores comendo rosquinhas ― nosso melhor amigo brinca.
― Vou te dar alguns pacotes para as entregas de hoje, são poucas. As
outras só tenho que dar acabamento para a entrega de amanhã ― meu pai
informa, terminando seu café, assim como Cesar, e seguindo até as madeiras
para pegar os pacotes.
Com eles distantes, consigo respirar com mais facilidade. Começo a
arrumar a cozinha calmamente como distração. Pergunto-me se tudo isso é
plano da máfia ou apenas coincidência, Johnatan sempre disse que eles não
gostam de deixar rastros para trás para não serem expostos.
Meu estômago se embrulha ao ter certeza de que esses homens não se
preocupam com os outros, se não com eles mesmos. Pode ser uma
organização enorme, mas, no fundo, penso que eles podem ter uma família
fora dali ou até mesmo serem submetidos através de ameaças. Balanço minha
cabeça, não deixando que a compaixão tome conta de mim, eles são ruins e
de sangue frio, querendo atingir Johnatan de alguma forma.
Durante a manhã decido ajudar meu pai com suas madeiras para que
ele consiga terminar o quanto antes. À tarde, sou surpreendida com a chegada
de Peter trazendo-me um buquê de rosas. Meu pai o cumprimenta e me olha
com sua sobrancelha erguida quando recebo minhas flores preferidas.
― O senhor Makgold pediu para lhe entregar pessoalmente ― Peter
avisa enquanto tento segurar meu sorriso.
― Obrigada, Peter, são lindas ― elogio maravilhada. ― Você quer
algo para beber?
― Não, obrigado. Passei no mercado e vim apenas visitar vocês antes
de ir para casa, Donna está louca pelos temperos dela ― explica rindo.

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― Como estão as coisas na casa, Peter? ― afasto-me para colocar


minhas rosas numa jarra enquanto deixo Edson e Peter conversando
brevemente.
― Estão bem, senhor Clark, fora alguns problemas que o senhor
Makgold está tendo com o trabalho. ― A informação me chama a atenção.
― Ele está com problemas? ― Peter se vira para mim.
― Trabalhar para uma grande corporação é complicado, Mine. São
apenas algumas desavenças com funcionários. Johnatan conseguirá resolver
isso ― Peter diz apertando seus lábios.
― É claro que consegue ― meu pai murmura, em seguida puxa Peter
para outro assunto.
Enquanto eu os deixo conversando sobre jogo de futebol, distraio-me
com minhas lindas rosas. Logo, encontro entra elas outro bilhete de Johnatan.

"Eu preciso de você"

Meu coração se aperta com a mensagem. Franzo a testa me


perguntando se os problemas são com os funcionários ou com o tal prédio.
Sinto os cabelos da minha nuca se eriçarem pelo súbito calafrio. Observo o
bilhete, como se sentisse sua necessidade, é desconfortável não o ter por
perto para saber como se sente em relação a tudo isso.
Meu desejo de estar ao seu lado se torna cada vez maior. Caminho
apressadamente até meu quarto para pegar minha mochila, enfiando minhas
roupas com urgência, assim como me ocupo com um papel e uma caneta.
Quando apareço na sala, ambos me olham confusos.
― Pai, preciso que você termine seu serviço, mas que descanse.
Tome seus remédios no horário certo e não se esforce muito. Escrevi uma
lista para Cesar de como cuidar de você enquanto eu estiver fora. Eu sei que

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não precisa, mas é para eu me sentir menos preocupada. E, pai, por favor,
quando for dormir, tranque a porta e as janelas ― digo lhe entregando a lista,
deixando-o mais confuso. ― Eu estou voltando para casa do Makgold, mas,
dessa vez, será diferente, você pode ir me visitar todos os dias e me ligar a
qualquer hora. Pai, apenas se cuide como eu também vou me cuidar ―
asseguro, acariciando seu rosto.
Meu pai pisca surpreso ao ver minha urgência.
― Tem certeza de que é isso mesmo que quer, querida? Não prefere
pensar melhor? ― pergunta e o aperto em meu coração se intensifica.
― Ele precisa de mim, como eu preciso dele ― desabafo, sentindo as
lágrimas em meus olhos. ― Eu prometo que vou me cuidar, mas também
quero que você se cuide.
Seus olhos cinza me encaram com tristeza.
― Eu não sou nenhuma criança, filha ― tenta sorrir quando me
abraça. ― Mas já vou deixar claro que se ele voltar a machucar você...
― Você pode caçá-lo com sua espingarda ― beijo seu rosto
ternamente. ― Eu te amo muito, papai!
― Eu também te amo, querida, mais do que imagina. Se cuide!
― Eu prometo ― asseguro.
Meu pai se afasta para olhar Peter.
― Cuide dela, por favor. Sei que tanto você quanto Donna podem
fazer isso pela minha menina ― reviro os olhos enquanto acaricio seus
cabelos grisalhos.
Peter abre um sorriso e vejo seus olhos brilharem determinados.
― Não se preocupe, Edson, vamos cuidar muito bem dela ―
assegura, em seguida ambos apertam as mãos.
Beijo o rosto de meu pai diversas vezes antes de sair. Encolho-me
com o vento gelado e encaro o céu acinzentado, o dia está mais frio do que o

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normal. Caminho apressadamente para entrar no carro, deixando minha


mochila com Peter. Agradeço pelo aquecedor estar ligado, aliviando a
temperatura.
Esfrego minhas mãos geladas e encaro, pelo vidro, meu pai na porta
de casa com um leve sorriso nos lábios. Eu sei que ele sabe se cuidar, sei que
Cesar irá cumprir com a lista que lhe deixei. Tenho que exigir a Johnatan
proteção absoluta para meu pai, pois temo que algum deles saibam ainda
mais sobre mim e chegam até minha casa.
Quando enfim Peter dá partida, parece orgulhoso. Lembro-me das
minhas rosas em casa, refletindo que elas podem fazer companhia para meu
pai por enquanto. Sorrio e mordo meu lábio, encarando o bilhete urgente de
Johnatan ainda em minha mão.
― Todos vão ficar felizes com sua volta. ― Peter chama minha
atenção.
Retribuo o sorriso.
― Eu também sinto saudades de todos, até mesmo dos cavalos. ― Já
me sinto ansiosa.
― Com certeza, eles também sentem sua falta.
― Exceto Sid ― completo.
― Bem, ela não conta. Sid também não vai muito com minha cara.
Acho que ela é mais simpática com o senhor Makgold e com Ian ― brinca.
― Peter?
― Sim?
― Sobre os problemas de Johnatan no trabalho... Não tem nada a ver
com funcionários, não é mesmo? ― pergunto desconfiada. ― É com a
reforma do prédio?
Vejo Peter me olhar pelo retrovisor e sua mandíbula travar revelando
sua forma tensa.

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― O senhor Makgold está passando por uma reforma na sua empresa,


admitindo e demitindo alguns funcionários. Ele sempre fez isso,
principalmente com a equipe de segurança. Sobre a reforma do prédio? Bem,
já começou. Parece que daqui a dois meses já estará tudo pronto ― explica
com cuidado.
― E isso está atrapalhando de alguma forma?
― Tudo parece pesado para ele no momento, mas Johnatan consegue
resolver seus problemas. Sobre aquele prédio, já sabíamos que não seria fácil
― suspira.
― Você sabe a história daquele edifício? Tem alguma pista dos
ocorridos até hoje?
― Só uma parte. Eu procuro não me meter nesses assuntos, mas tudo
parece como fantasmas em nossas vidas. Espero que ele consiga concluir essa
etapa para viver em paz ― reflete, fazendo-me concordar.
― É tudo o que mais quero no momento ― murmuro me encostando
em meu assento.
Encaro a rua passar como um borrão pela janela. Se Johnatan terminar
com esse maldito prédio e o entregar para a máfia, poderá ficar livre. Eu até
mesmo posso sentir a necessidade na voz de Peter, sua preocupação com
Johnatan é adorável e fiel. Meus pensamentos são distraídos quando seu
celular toca, ele atende sem perder o foco na estrada.
― Sim, Jordyn? Diga a Donna que já estou levando as mercadorias e
que deixei Ian na escola... O senhor Makgold já chegou?... Certo, obrigado.
Peter desliga.
― Jordyn continua controlando as coisas? ― pergunto e sorrio.
― Depois que Donna a ensinou a fazer uma boa carne cozida, ela não
para... Mas não deixa de ser exigente na limpeza.
― Eu imagino ― concordo e observo Peter discar para outro número.

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Franzo a testa quando ele me olha pelo retrovisor.


― Senhor? ― Peter fala todo profissional. Engulo em seco, sabendo
que é Johnatan do outro lado. ― Ela está voltando.
Quando Peter desliga sem dizer adeus, pisco meus olhos confusos.
― Ele está no trabalho? ― sussurro.
― Não, está em casa. Achei mais correto informá-lo primeiro que
você está de volta ― Peter me dá um sorriso educado.
Aceno, cada vez mais esperançosa em encontrar todos. Quando
entramos na rua da mansão, vejo as árvores e a estrada vazia, e, quanto mais
nos aproximamos do portão de aço, mais sinto meu coração bater acelerado.
Quando os portões se abrem, fico surpresa ao ver todos fora da
mansão, até mesmo Johnatan, que parece estar andando de um lado para
outro, parando no meio do caminho ao ver o carro. Donna, Jordyn e James
também estão na varanda da entrada, observando o carro cheios de
expectativas. Meu coração acelera ainda mais com os cavalos também
presentes. Quando ouso abrir a porta, Peter me interrompe.
― Deixe que eu abro para você, Mine ― pede sorrindo. ― Bem-
vinda de volta!
Sorrio para ele, deixando-o sair do carro para dar a volta e abrir a
porta. Sinto-me sem jeito com todo o seu cavalheirismo.
Inspiro profundamente, olhando para todos com um sorriso leve.
Jordyn saltita, abraçando o braço de James empolgada. Vejo Donna com a
mão em seu peito parecendo aliviada, seus olhos brilham de felicidades, mas
eu não tenho tempo para prestar atenção neles e sim em Johnatan, que sai da
varanda caminhando em minha direção como um predador.
Engulo em seco com seus olhos em chamas lançados em minha
direção. Perco meu fôlego com toda aquela vulnerabilidade.
― Você voltou ― ele diz, alcançando meu rosto e acariciando meu

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lábio inferior com seu polegar. Sua aproximação faz meu coração bater mais
forte. ― Você voltou para mim.
Sou surpreendida ao ser puxada para seu corpo, tendo seus lábios
quentes e macios grudados nos meus. Perco completamente os sentidos,
agarrando seu rosto, retribuindo o beijo com todo meu amor e saudade.
Minhas mãos se movem para os cabelos em sua nuca, puxando-o para
mim. Gemo em seus lábios, sentindo sua língua invadir minha boca,
intensificando nosso beijo. Eu o abraço com força, incapaz de desgrudar-me
dele, posso sentir, neste momento, o quanto ele sente minha falta, posso
sentir em nosso beijo o quanto ele precisa de mim.
Quando se afasta abro meus olhos inteiramente inebriada. Seu sorriso
aberto parece iluminar sua face cansada. Inspiro fundo sem conseguir soltar o
ar dos meus pulmões. Sinto minhas pernas fracas e me agarro em seu casaco
preto o impedindo que me solte. Johnatan me prende em seus braços sem me
perder de vista. Sorrio um pouco confusa e inebriada.
― Bem-vinda à nossa casa, minha Roza ― Meu coração se agita com
seu sotaque russo.
Ele, com certeza, sabe como seu timbre de voz me provoca. Inclino
minha cabeça para o lado e admiro seu sorriso feliz, desejando tirar uma
fotografia.
― Obrigada por me aceitar de volta ― sou surpreendida com um
beijo terno.

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47 – GRITE

Acaricio seu rosto.


― Não sabe o quanto senti sua falta aqui ― sussurra ainda com seus
lábios grudados nos meus.
Sorrio corada, mas meu sorriso congela e meus olhos se arregalam ao
lembrar que não estamos sozinhos.
Quando olho atrás dele, vejo Donna emocionada e James, mesmo
com uma carranca, parece segurar sua risada devido à expressão boquiaberta
de Jordyn, cuja reação me lembra do quadro O grito. Volto minha atenção
para Johnatan assustada, havia me esquecido deles assim que ele me beijou.
Johnatan não parece estar chocado ou surpreso. Seus olhos continuam
em mim numa intensidade que nunca vi antes, fazendo meu coração bater
cada vez mais forte e meu corpo se aquecer em seus braços. Pigarreio sem
jeito.
― Joh-Johnatan ― gaguejo, mas ele volta a me beijar novamente. ―
Espere, temos plateia. ― Tento disfarçar o afastando.
Seus lábios grudam-se em minha bochecha num beijo carinhoso e
macio. Fecho meus olhos brevemente com sua delicadeza.
― Eu não me importo ― sussurra ao meu ouvido.
― Não se importa?
― Nem um pouco ― assume, soltando sua respiração em
contentamento, logo se aproxima para me beijar. Coloco meu indicador em
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seus lábios o interrompendo.


― Eu preciso dar um “oi” para o pessoal ― pisco.
― Como quiser ― acena. Coro quando entrelaçamos nossos dedos
Com toda a gentileza, Hush e Lake se curvam. Solto a mão de
Johnatan para abraçá-los assim que se levantam, não ligo se Johnatan reprova
meu gesto carinhoso. Dou uma breve risada quando Lake fuça meu rosto com
seu focinho e bagunça meus cabelos. Atrás deles, vejo Sid me encarar ainda
sem perder sua postura elegante, ela parece manear a cabeça sem se
aproximar, sorrio para a égua, mesmo ela se afastando tranquilamente.
Ao me aproximar de Donna, eu a abraço com carinho escutando suas
palavras de boas-vindas. Do outro lado, Jordyn ainda mantém a pintura
intacta. Cumprimento James com um abraço breve, recebendo também
palavras carinhosas. Quando me viro para Jordyn, não sei se fico assustada
ou se dou uma boa gargalhada por sua expressão chocada.
― Olá, Jordyn.
― Oi?! ― responde colocando suas mãos na cintura toda petulante,
mas logo fica sem jeito quando Johnatan se coloca ao meu lado. Aperto meus
lábios. ― Quer dizer... Eu senti... Muito sua falta, Mine... Quer dizer... Bem-
vinda... É isso?... Eu estou confusa, não sei o que dizer ― gagueja
desconfortável.
Aceno para ela, sabendo que não estou livre de suas perguntas.
Engulo em seco.
― Não precisa dizer nada, Jordyn ― Johnatan diz e me encolho
quando sinto seu braço envolver minha cintura.
Jordyn observa alarmada.
― Um abraço? ― Jordyn diz abrindo os braços. Franzo a testa e me
afasto de Johnatan para abraçá-la. ― Eu senti tanto sua falta... Você vai me
contar tudo. Oh! Que bom que está de volta, Mine ― disfarça em meu

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ouvido.
Conhecendo Jordyn, isso não vai ficar impune.
― Vamos entrar ― Donna nos guia para dentro da casa. ― Com
fome, Mine?
― Não ― respondo.
― Sim, Donna. Pode preparar algo para todos comerem. Eu vou
voltar para meu trabalho. Por favor, acomodem minha Mine. ― Mesmo com
todos presentes, Johnatan não deixa de ser possessivo.
Aperto meus lábios para não sorrir, mesmo estando vermelha feito um
tomate.
― É claro ― Donna assente com um sorriso aberto e se afasta.
― Mine, já coloquei suas coisas em seu quarto ― Peter informa,
encontrando-nos na sala de entrada pouco tempo depois.
― Obrigada, Peter ― ele sorri, voltando para o seu trabalho.
Johnatan acaricia minhas costas, sentindo minha tensão, e ergue meu
queixo com a ponta de seus dedos.
― Só vou terminar de organizar algumas coisas na biblioteca. Suba
depois de desfazer sua... Mochila ― ele diz, fazendo uma careta.
― Está bem ― forço minha voz trêmula a sair
Antes que se afaste, beija meus lábios novamente.
― Sinta-se à vontade. ― Observo-o subir as escadas mais animado.
Viro-me para Jordyn e James parados na entrada da sala.
― Que bom que você voltou, Mine, Ian vai ficar feliz, menos quando
descobrir que está se relacionando com o senhor Makgold. ― O comentário
de James me deixa vermelha, mas sei que é para fazer Jordyn ficar cada vez
mais chocada.
― James, por que você não vai cuidar do campo e me deixe
acomodar a Mine? ― Jordyn pede em tom de ameaça.

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Ele me olha parecendo se divertir.


― Mine, você precisa de ajuda quanto a isso? ― pergunta.
Encaro Jordyn pensativa.
― Eu acho que-que não ― gaguejo. ― Eu conheço o caminho do
meu antigo quarto. ― Fujo em passos largos.
Quando estou livre da presença deles, fecho a porta e vou até minha
mochila para desfazê-la. Nada mudou aqui, tudo parece intacto como deixei,
assim como as roupas que Donna e Jordyn compraram para mim. Eu volto a
organizar minhas gavetas tranquilamente, mas me assusto ao invadirem o
quarto. Encaro Jordyn com as mãos na cintura.
― Sou toda ouvidos...
― Sua égua do deserto do Saara, como pôde? ― dispara sem fôlego,
aperto meus lábios para não sorrir. ― Mine, por que não me contou que tinha
um caso com nosso patrão?
― Jordyn...
― Não, você nem mesmo me disse nada. Eu pensei que fosse sua
amiga, e amigas contam coisas uma para outra. Parece que todos na casa
sabiam menos eu. Você viu como fiquei? Você deveria ter me dito, eu tinha
que me preparar ― desabafa parecendo ofendida. Meu coração se aperta.
― Jordyn, me desculpe por não contar isso antes. Quer dizer, para
eles não foi dito diretamente, mas eu e Johnatan... apenas... aconteceu, eu não
consigo explicar ― confesso sem jeito, tentando amenizar seu
desapontamento.
― Você podia confiar em mim. Poxa! Eu sempre quis ter uma amiga
que pudesse me contar todos os segredos e tudo mais, pode até parecer idiota,
mas pense em estar trancada nessa casa sem ter uma amiga para contar
segredos ou essas coisas? ― cruza os braços aborrecida, e vejo as lágrimas
em seus olhos.

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― Jordyn, desculpe-me. Eu não queria me arriscar desse jeito... ―


pisco meus olhos não sabendo o que fazer.
― Grande amiga você é ― diz fazendo minha boca se abrir e se
fechar com sua decepção. Choco-me quando sai do meu quarto sem olhar
para trás
― Jordyn...
Esfrego minha testa pensando numa maneira de me desculpar com
ela, sei que não vai ser fácil. Assusto-me novamente quando a porta é aberta
e minha amiga a fecha atrás de si. Arregalo meus olhos esperando que ela
diga o quanto está aborrecida, mas, ao invés disso, senta-se em minha cama
com as pernas cruzadas.
― Tá! Eu não consigo ficar com raiva ― pisca seus olhos para mim,
não há mais lágrimas ali. ― Ele beija bem?
― O quê? ― gargalho de nervoso.
― Será que você é minha chefe agora? Por favor, não seja tão rígida.
Meu Deus, mas é claro... Como eu pude ser tão burra. As rosas, é claro, você
não roubava coisa nenhuma. Eu sei que sou atrasada às vezes, só que... Como
eu não pude notar isso? O senhor Makgold mudou muito quando você
chegou... ― tagarela
― Jordyn ― chamo-a.
― Meu Deus! Quando você estava fora era de você que ele
perguntava. E quando você não estava por perto... Mas é claro! ― ela bate na
própria testa. ― Coitado do James, ele gosta muito de você, eu acho, mas
você tem olhos para outro homem e esse homem só tem olhos para você.
Também tem a maneira com que o chefe olha para você, sempre com aquele
jeito estranho, eu sei lá, tinha medo. Vê como ele olha para você? É meio
assim ― tenta imitar a expressão, mas parece como uma louca vesga, é
impossível não rir. ― Ah, eu me esqueci! Você também está apaixonada por

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ele, apaixonados tapados se olham assim mesmo sem perceber. É estranho


para quem está de fora, mas... Uh-Uh, Mine pegando o patrão ― ela zomba.
― Jordyn, você, com certeza, está em choque ― digo voltando a
organizar minhas roupas.
― Vocês já transaram? ― sua pergunta faz meu corpo se erguer e
bater minha cabeça no guarda-roupa.
― Jordyn? ― repreendo-a. ― Isso é pergunta que se faça?
― Eu estou em choque, então, sim, é pergunta. Vocês dois já...
Teremos “minis” Johnatans pela casa? Não, espere, um Johnatan é demais na
minha vida de doméstica, por isso, aceito “minis” Mines pela casa ― fico
cada vez mais alarmada.
― Jordyn, fique calma e respire fundo. Isso ainda não é possível, tudo
bem? ― digo tranquilamente fazendo sua empolgação cessar.
― É claro, você está tomando aqueles remédios. Mentiu pra mim que
era para regular a menstruarão ― ela dispara cruzando os braços.
― Não foi completamente mentira... Jordyn, quer parar? ― sinto-me
desconfortável.
― Não, você tem que me dizer como são essas coisas ― pergunta
curiosa, deixando-me cada vez mais vermelha. ― Você bebeu o remédio
hoje?
Suas perguntas deixam minha cabeça a mil.
― Jordyn! ― falo. Agora é minha vez de colocar as mãos na cintura.
― O quê? ― pergunta. A garota tomou algum energético? Balanço a
cabeça
Sinto meus ombros caírem ao encará-la vendo a curiosidade em seus
olhos cor de mel.
― Olha, quando você achar um homem de que realmente goste, vai
saber que tudo à sua volta são apenas detalhes e que ele é muito importante.

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Quando isso é correspondido, vai ver que tudo muda. Você vai aceitá-lo do
jeito que é, assim como ele vai te aceitar do jeito que você é, e ambos verão a
conexão da intensidade do relacionamento ― digo com um suspiro ao me
lembrar de Johnatan, mas rapidamente volto minha atenção para ela.
Jordyn faz uma careta, parecendo absorver o que acabei de dizer.
― Ok, mas... O que isso tem a ver com sexo?
Oh, meu Deus!
― Por que tem que ser tão direta? ― digo constrangida.
― Porque estou curiosa ― rebate.
― O que quero dizer é que, quando for achar seu parceiro ideal, vai
sentir as necessidades que há em sua mente e em seu corpo. ― Tento explicar
da melhor forma possível.
Jordyn sorri, vendo meu rosto e suspirando em seguida. Pergunto-me
se a Jordyn energética já se foi.
― Vocês parecem apaixonados, dá para sentir ― suspira sonhadora.
― Isso é tão romântico. Claro que o senhor Makgold não é um homem que
eu imaginava ser tão intenso, mas convenhamos, é gostoso pra caramba.
Nunca o vi sem roupa, só algumas vezes sem camisa quando estava no
campo. Confesso que já tive uma paixonite por ele, mas depois fui vendo o
quanto era severo, por isso, acabaram meus encantos. ― Eu a encaro com a
testa franzida, fazendo-a gargalhar. ― É brincadeira, só para te causar
ciúmes.
― E não conseguiu ― digo sentando ao seu lado. ― Só quando
aquela Nicole está por perto ― confesso carrancuda.
― Eca, aquela mulher! Sempre desconfiei de que eles tivessem um
caso ― murmura.
Suspiro.
― Já tiveram ― digo com uma careta. ― Mas não conta nada para

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ele.
― Segredo guardado. Sabe? Depois que você chegou, tudo mudou, eu
não notei isso antes, mas agora estou percebendo. Fico feliz por vocês de
verdade. Agora, espero que o chefe perca a postura severa e melhore ainda
mais, e isso vai precisar da sua força de vontade ― fico confusa. ― Sabe, eu
ainda sinto falta das minhas baladinhas...
― Quer que eu alivie esse lado para você dar suas fugidas?
Francamente, Jordyn! Eu vou continuar sendo a Mine Clark de sempre ―
levanto-me, amarrando meu cabelo num coque.
― Estou achando que isso vai ser difícil. Você está roubando os
genes dele... Foi pela saliva ou outra coisa? ― murmura apertando seus
lábios para não rir.
― Engraçadinha ― tento não rir também. ― Agora, vou subir para
saber o que o senhor Makgold quer comigo.
― Vão transar?
― Jordyn! ― repreendo-a, chocada, fazendo-a gargalhar até cair da
cama.
― Eu estou brincando. Por outro lado, imagine como vai quebrar o
coraçãozinho do Ian ― Jordyn é diabólica, nem uma criança ela perdoa.
― Eu também sinto falta dele ― sorrio para ela com carinho, em
seguida, somos surpreendidas com a entrada repentina de Johnatan em meu
quarto.
Ele olha para Jordyn em minha cama, confuso, depois para mim, vejo
em suas mãos um envelope pardo. Jordyn se levanta rapidamente.
― Eu já estou de saída ― diz apressada, caminhando rapidamente e
encarando seus pés até se topar com Johnatan.
Johnatan a segura antes que caia.
― Cuidado, Jordyn.

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― Desculpe ― diz embaraçada. ― O senhor é tão... Tão romântico


― eu luto para não rir da sua expressão vesga.
Ele a encara confuso e um pouco sem jeito.
― Isso é encantador vindo da sua parte, Jordyn. Obrigado ―
agradece envergonhado. É adorável.
Jordyn gira seus pés para me olhar toda sonhadora.
― Eu o ouvi dizer “obrigado”? ― Oh, céus! Eu tenho que colocar
meus dedos na frente da boca para não gargalhar dessa garota.
― Uhum ― aceno para ela, relutante.
― Mas eu estava à sua procura Jordyn ― Johnatan diz, voltando a
atenção dela para ele.
― Me procurando?
Sei que ela está fazendo isso para ter meus ciúmes.
― Sim, isso é para você ― diz colocando o envelope em suas mãos.
― Fichas para serem preenchidas. Resumindo... faculdade, mocinha.
Sua postura de garota abobada se endireita para rígida.
― De novo com isso? Pensei que já tinha esquecido ― ela dispara
encarando o envelope com desgosto.
― Eu sou muito insistente, Jordyn Cherry, e não desisto tão
facilmente. Preencha! ― Johnatan ordena a ela enquanto sua carranca
intensificar ainda mais.
― Mas eu não quero fazer faculdade ― resmunga, abrindo o
envelope sem ânimo.
― Mas eu quero que você faça. Apenas preencha e me entregue ―
Johnatan continua.
Minha amiga se afasta até a porta com uma careta.
― Está bem ― resmunga.
― E nem pense em tacar fogo como da última vez, pois pedi fichas

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antecipadas ― Johnatan diz, sorrindo para mim e piscando seus olhos.


Olho para Jordyn parada na porta com os olhos arregalados.
― Droga! ― ela sai do quarto em passos firmes.
Sorrio para Johnatan, vendo-o se aproximar de mim com todo seu
perfume másculo cheio de excitação.
― Acho que ela não está muito contente em preencher aquilo ― digo
acariciando seu rosto quando seus lábios retornam a grudarem-se nos meus.
― Ela não tem que gostar, você também terá isso. Irá fazer seu curso
de Medicina ― morde meu lábio inferior.
Franzo a testa ao pensar sobre isso.
― No momento, não sei o que quero fazer ― confesso com um
suspiro, sentindo-me confusa.
Antes de encontrar Johnatan, eu sempre pensei em seguir meus
estudos e correr atrás de uma bolsa em uma Universidade, mas, depois dele,
simplesmente me perdi no meio dos meus sonhos, não descobrindo meus
verdadeiros interesses. No entanto, seus livros sempre me chamaram atenção.
― E o que você quer no momento? ― ele pergunta rouco e fecho
meus olhos quando seus lábios se arrastam para meu pescoço causando-me
calafrio.
― Eu ainda não sei ― suspiro abraçando seu corpo.
Sinto sua ereção assim que me aperta em seus braços, penso em
descer minhas mãos maliciosas, mas me surpreendo ao ser jogada na cama.
Ofego e o observo se curvar sobre mim, como um selvagem pronto para
atacar. Meu corpo vibra e meu coração acelera com sua intensidade. Quando
nossos lábios se encontram, nós nos beijamos numa excitação avassaladora.
Suas mãos fortes seguem até minhas pernas arqueadas, apertando
minhas coxas. Sua ereção me provoca, fazendo meu sexo se contrair com
prazer. Assim que sua boca se afasta, deposita beijos abaixo do meu pescoço

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com suavidade. Uma de suas mãos se ergue para apalpar um dos meus seios e
engasgo com meu gemido quando sua boca morde meu mamilo por cima da
roupa, meu sexo lateja.
― Eu pensei que iria me encontrar com você na biblioteca ― ofego
tentando não me contorcer embaixo dele.
Johnatan sobe para beijar meus lábios e sugar minha língua com
desejo. Oh, bom Deus, ajude-me a controlar a euforia dentro do meu corpo!
― Não consegui ficar muito tempo. Na verdade, não me concentrei
direito no trabalho sabendo que você estava de volta. Então, resolvi procurá-
la primeiro para dar-lhe sugestões. ― Em seguida, move sua ereção me
pegando de surpresa.
― Que tipo de sugestões? ― pergunto confusa.
― Mais tarde. Primeiro eu preciso dar as boas-vindas por completo
― murmura enfiando suas mãos por baixo da minha blusa para acariciar
meus seios.
Meu corpo fica cada vez mais quente com seu toque. Balanço minha
cabeça e tento afastá-lo. Seu corpo é pesado e insistente.
― Nem pensar! ― digo rindo.
Ele beija meu rosto até mordiscar meu lóbulo.
― Não seja difícil, minha Roza. Eu quero você agora. ― Novamente
empurra sua ereção contra mim.
Mordo meu lábio, mas, com esforço, consigo afastá-lo e me levantar
rapidamente. É libertador saber que todos da casa sabem sobre nós, mas
também é desconfortável imaginar que pensam estarmos aprontando.
Johnatan gira em minha cama e senta de pernas abertas. Arrumo
minha blusa no devido lugar, depois cruzo meus braços.
― Que sugestões? ― pergunto. Tento me manter centrada.
― Jura que vai me deixar assim? ― foge da pergunta apontando o

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volume em sua calça. Ergo a sobrancelha. ― Sabe o quanto isso é


desconfortável?
― Está dolorido? ― aproximo-me provocante para beijar seus lábios.
― Posso torná-lo ainda mais dolorido dentro de você.
Antes que tente me agarrar, eu me afasto. Johnatan suspira
pesadamente, afastando seus cabelos frustrado.
― Sugestões, senhor Makgold ― repito esperando por sua resposta.
― Só com sua hospedagem aqui... Quero que se mude para o quarto
de cima. Perto de mim ― revela parecendo incomodado.
― Isso não é uma sugestão ― pisco confusa.
― Tem razão. É uma exigência ― aponta para mim, apoiando seus
braços em suas coxas. Ele não deveria parecer tão sensual naquela postura.
― E por que a exigência?
― Porque eu quero você por perto. Quero fácil acesso todas as
manhãs e todas as noites ― sorri descaradamente.
Tento controlar minha surpresa, mas tento fugir da última parte.
― Eu gosto desse quarto. É tranquilo ― insisto.
― Mine, você vai gostar ainda mais de me ter ao seu lado ― mesmo
provocante, meu coração dispara com sua intensidade.
― A ereção está subindo sua cabeça ― digo, fazendo-o rir e apalpo
seu membro por cima da sua calça.
― Pode ter razão ― balanço minha cabeça, desviando meus olhos da
tentação.
― Eu não quero sair daqui... Mas você pode vir dormir comigo? Na
verdade, não quero que pensem que vou mudar alguma coisa. Quero
continuar sendo a mesma de sempre. Quero arrumar, organizar, ajudar...
― Não quero que você mude ― interrompe-me com um leve sorriso.
― Se você não quer deixar de fazer suas coisas, eu vou entender e procurar

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me acostumar, porém eu não quero que você se sinta como uma...


― Uma empregada? ― completo. ― Eu não me envergonho do meu
serviço, Johnatan, assim como ninguém dessa casa, mas, por enquanto, eu
prefiro ficar aqui no meu cantinho confortavelmente. Quem sabe um dia eu
possa aceitar essa sua sugestão exigida ― digo me sentando do seu lado e
beijando seu rosto.
― Vai mesmo me fazer descer as escadas no meio da noite pelado só
para te foder aqui? ― finge reclamar.
― Quer saber? Vamos sair desse quarto ― levanto-me aos risos para
abrir a porta.
Sua sobrancelha se ergue em surpresa. Ele se levanta duramente e o
acompanho pelo corredor. Quando chegamos à sala da entrada, encontramos
James segurando uma maleta, e Donna ao lado nos avisando que o almoço
está pronto.
― Eu terei que ir à cidade para trocar essas ferramentas. Depois
buscarei Ian ― informa com um suspiro.
― Peter verificou mesmo? ― Johnatan pergunta sobre algum assunto
sobre o qual eles já conversaram.
― Sim, ao que parece, o vendedor me entregou algumas peças
erradas ― James explica parecendo cansado.
― Tudo bem ― Johnatan acena.
― Eu posso ir? ― falo de repente, roubando a atenção de ambos. ―
Quero fazer uma surpresa a Ian.
― Ele vai adorar ― Donna sorri empolgada.
Johnatan franze a testa pensativo. James nos encara em dúvida.
― Eu não sei se é uma boa ideia ― Johnatan murmura, mas suplico
com um olhar.
― James, será rápido? ― meu amigo pisca para mim, confuso pela

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pergunta inesperada.
― Sim, eu acho ― responde sem jeito.
― Então... ― digo sorrindo para Johnatan. ― Por favor! Quero ver a
cara do Ian quando me vir ― digo empolgada. Seu sorriso se abre apenas
para mim e sua mão se ergue para acariciar meu rosto.
― Leve o celular ― diz se aproximando para beijar minha testa.
Corro de volta para o meu quarto, encontrando meu celular na gaveta
e verificando a bateria, está cheia com várias mensagens de Jordyn e
Johnatan. Provavelmente, eles pensaram, no começo, que o celular estivesse
comigo, porém alguém o colocou para carregar enquanto eu estive fora e
tenho certeza de que foi Johnatan.
De volta para a sala, Johnatan está verificando as ferramentas na
maleta de James e retorna a fechá-la. Enfio o celular em meu casaco.
― Estou pronta ― sorrio.
Ele beija meus lábios levemente.
― Não demore. Qualquer coisa me ligue, tudo bem? ― pede
olhando-me atentamente.
― Com certeza farei isso ― aceno depois de abraçar Donna.
Quando James dá a partida, observo Johnatan, como um falcão, olhar
o carro se afastar.
No caminho, conversamos sobre os cavalos, revelando as brincadeiras
de desobediência, principalmente da parte de Lake, enquanto estive fora.
James também me conta que Johnatan lhe deu o mesmo envelope para
preencher, sinto meu amor aumentar ainda mais por ele ao saber que se
importa com os outros à sua volta sem ao menos perceber.
Quando chegamos à loja, James troca rapidamente algumas
ferramentas e retorna para o carro a caminho da escola de Ian. Também fico
sabendo por ele que o jovenzinho estuda em uma escola particular paga por

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Johnatan.
Assim que estacionamos, espero Ian do lado de fora. Eu o assisto se
despedir de alguns colegas e, em seguida, seus olhos se arregalarem,
chocados ao me ver. Aceno sorrindo ainda mais quando ele corre em minha
direção.
― MINE! ― grita de felicidade e me abraça.
Eu o envolvo em meus braços, beijando seus cabelos louros.
― Olá, Ian!
― Mas como? Você veio me ver? Nossa! Eu preciso te apresentar
para meus amigos. Eles vão morrer de inveja quando conhecerem a mulher
da minha vida. ― Sua empolgação me faz rir, assim como James dentro do
carro.
― Ela voltou para casa, Ian ― James dá a notícia, fazendo-o se
afastar para me olhar.
― Sabia que você voltaria para mim, meu amor. ― É impossível
ficar séria com Ian. Gargalho do seu jeito convencido.
― Mas ela já está namorando, Ian ― James quebra o espírito de
alegria, e paro de sorrir encarando Ian à minha frente.
Seus olhos piscam alarmados.
― Como assim? Namorando? Eu fui traído?
― E não faz ideia com quem ― James gargalha.
Curvo-me para encará-lo, suas risadas param aos poucos.
― James! ― eu o repreendo.
― O quê? Eu quero ver a cara dele ― diz sem perder a diversão.
― Não ligue para ele, Ian ― acaricio seus cabelos.
― Tem toda razão, vamos embora ― o garoto diz abrindo a porta
traseira para que eu entre primeiro. Em seguida, coloca seu cinto de
segurança. ― Está cada dia mais linda, meu amor ― Ian sorri todo sonhador.

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Rimos da sua reação.


― Obrigada, querido ― digo colocando meu cinto.
James dá a partida enquanto conversamos sobre os cavalos e a
insistência de Ian em ensinar truques para Lake e Hush durante minha
ausência. Ian confessa que parte da desobediência dos cavalos veio por culpa
dele.
Eu aprovo as partes em que eles desobedeciam Johnatan durante o
treinamento, mas sinto meu coração completamente apertado quando Ian diz
que nem mesmo Johnatan teve ânimo para treiná-los, muito menos humor
para aturar qualquer um na casa. Durante nossa conversa, somos distraídos
com meu celular, e vejo na tela o nome de Johnatan.
― Olá! ― escuto seu suspiro de alívio do outro lado.
― Minha Roza... ― Sorrio. ― Como foi?
― Ian ficou muito feliz em me ver e está se declarando para mim
neste momento ― digo, rindo enquanto Ian pega minha mão para beijá-la.
― Imagino que ele não sabe sobre nós.
― Não mesmo ― concordo sorrindo. ― Já estamos voltando.
― James conseguiu trocar as ferramentas? ― pergunta.
― Sim ― afirmo.
― Ótimos, nós nos vemos em casa. Já estou com saudades. ― Meu
coração se agita ao escutar seu resmungo.
― E eu com fome ― brinco, fazendo-o rir.
James me encara pelo retrovisor confuso, mas logo revira seus olhos
sabendo com quem estou falando e, mesmo dirigindo, atormenta Ian. Bato
em seu ombro para que pare.
― Mande James prestar atenção na estrada e voltar logo ― Johnatan
ordena.
Aperto meus lábios.

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― Pode deixar que eu aviso ― digo beliscando James, Ian gargalha.


― Nós nos vemos em breve.
― Volte inteira.
― Tudo bem... ― Ian me encara confuso. Quando olho para a janela
ao seu lado, assusto-me com uma caminhonete em alta velocidade. ― Ian!
O carro se choca contra o nosso num impacto forte. Só tenho tempo
de soltar o celular e puxar Ian para mim enquanto James perde o controle do
veículo. A caminhonete volta a bater contra nós, fazendo nosso carro rolar
pela estrada. Fecho meus olhos, tentando abraçar Ian com força, agradecendo
por estarmos de cinto.
Quando o carro para de rolar, sinto minhas costas doerem e meu
corpo preso pelo cinto. Olho para Ian ao lado preocupada, mesmo estando de
ponta a cabeça, nada o machucou. Ian agarra meu braço com força devido ao
susto, seu corpo pequeno treme.
Toco em minha testa, sentindo um leve corte, em seguida, vejo o
sangue escorrer em meus dedos. Assusto-me com seus braços esparramados
e, pelo retrovisor, vejo seu rosto ensanguentado, meu celular está próximo a
ele.
― James ― chamo-o num sussurro, mas ele não se move. Ian vibra,
começando a gemer em seu choro, tapo sua boca com minha mão. ―
Silêncio, Ian, eu preciso da sua ajuda ― o garoto balança a cabeça com os
olhos alarmados.
Nós nos endurecemos imóveis ao escutar alguém se aproximar com
passos duros e barulhentos sobre os cacos de vidros na estrada.
Olho pela janela quebrada o sapato negro de um homem com calças
escuras. Para completar meu pavor, vejo-o jogar algum líquido no chão,
caminhando em volta do carro. O cheiro forte me faz ter certeza de que é
gasolina.

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Afasto minha mão de Ian, vendo seu rosto corado.


― Mine, o que faremos? Tem alguém aqui... O cheiro... ― Ian
sussurra em choque.
Olho envolta do carro completamente destruído, as ferramentas de
James estão espalhadas, uma delas me chama atenção e tento alcançá-la.
James ainda continua desacordado, mas sei que não estamos tão longe da
vizinhança.
― Ian... Grite bem alto ― Ian olha espantado quando consigo
alcançar uma chave inglesa grande. ― Grite o mais alto que conseguir.

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48 – HERÓI

Respiro fundo, segurando a chave inglesa com firmeza.


― SOCORRO! SOCORRO! ― Ian grita a plenos pulmões.
Vejo, pela janela, o inimigo se aproximar, preparo-me, sabendo o irá
fazer. Tanto eu quanto Ian nos assustamos quando um homem forte de roupas
escuras, olhos negros sombrios e cabelos louros raspados entra com a metade
do corpo pela janela. Bato com força a chave em sua cabeça, fazendo-o
grunhir. Ele tenta me agarrar e consigo chutar seus braços.
Ian continua a gritar enquanto bato com a ferramenta contra o homem
que pragueja em outra língua. Quando consegue agarrar uma de minhas
mãos, acerto-o novamente em sua cabeça. Seu rosto vermelho e machucado
não parece incomodá-lo. Mesmo lutando, fico apavorada, assustada que algo
aconteça com Ian e James.
― SOLTA ELA! ― o garoto tenta me defender com chutes.
O homem consegue acertar uma de suas pernas, fazendo-o gemer de
dor. Meu sangue ferve por ele machucar uma criança, minha mão livre com a
chave se move contra o agressor, meu grunhido de ódio parece fazê-lo recuar,
mas não o intimidar. Quando estou prestes a acertar seu rosto ensanguentado
mais uma vez, escuto-o dar um gemido sufocado, ao mesmo tempo que solta
meu pulso espontaneamente.
Tanto eu quanto Ian seguramos nossa respiração, encarando o homem
deitado à nossa frente com os olhos vermelhos esbugalhados. Ele parece
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asfixiado ao tentar tossir, as veias de seu pescoço e sua testa surgem com seu
esforço. Puxa o ar, mas não consegue soltar. Assisto seus lábios começarem a
ficar arroxeados e, seu rosto, vermelho vivo.
― Mine? ― Ian sussurra meu nome, agarrando meu braço. Tapo seus
olhos.
Assusto-me quando o homem é arrancado para fora do carro com num
filme de terror, Ian estremece em meus braços. Do lado de fora, escutamos o
homem gritar de dor e se engasgar com algo. Engulo meu pânico quando
mais alguém se aproxima, Ian e eu nos encolhemos. Escuto a porta do carro
ser aberta com força.
Inspiro fundo e aperto a chave ainda em minha mão, sabendo que ela
é a única arma que tenho. Subitamente, atiro meu braço em direção ao
invasor e acerto sua cabeça, ele recua um pouco, praguejando em russo.
Assusto-me e vejo Johnatan socar o carro.
― Mine ― grunhe, parecendo irritado com meu ato inesperado.
O sangue desce do seu rosto, fazendo-me soltar a chave desesperada.
― Johnatan? Oh, meu Deus. O que eu fiz? ― desespero-me. Quando
seus olhos se abrem, ele me encara em reprovação. ― Desculpe...
Johnatan suspira, afastando o sangue de sua testa antes de entrar no
carro com esforço.
― Vocês estão bem? ― pergunta, verificando o rosto de Ian e
soltando seu cinto com cuidado.
― Eu acho que sim, mas James não. Aquele homem iria nos matar,
Mine pediu para que eu gritasse e eu... ― o garoto continua amedrontado.
― Está tudo bem agora, Ian ― Johnatan tenta tranquilizá-lo. ― Me
espere do lado de fora e não olhe para trás ― Johnatan ordena ofegante.
Ian acena, saindo do carro engatinhando de cabeça baixa.
― O homem está lá fora? ― sussurro.

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― Está na caminhonete dele, mas há vestígios de sangue ― Johnatan


diz num tom sério, ajudando-me com o cinto e me segurando com firmeza.
― Me desculpe por acertar você ― digo sem jeito, tocando seu rosto
assim como ele faz no meu.
Estremeço quando toca o machucado em minha testa.
― Acho que qualquer arma perto de você é um perigo ― murmura
me fazendo rir de nervoso.
― Meu pescoço dói ― reclamo.
― Vamos cuidar disso depois. Temos que sair, preciso tirar James ―
diz sem sorriso, aperto meus lábios acenando, mas torno a agarrar a chave
inglesa.
Enquanto Johnatan tira James com cuidado, observo a estrada
tranquila e me arrepio ao ver a caminhonete. Deparo-me com poças de
sangue no chão num rastro assustador. Ian permanece o tempo todo sentado,
observando Johnatan retirar James do carro.
Depois que Johnatan verifica a pulsação do rapaz, coloca-o em seus
ombros com esforço. Localizo seu carro do lado oposto do capotado, puxo
Ian para mim e caminhamos em silêncio sem olhar para trás.
― Eu ajudo ― digo olhando para Johnatan.
Entro no banco de trás, ajudando-o a colocar James deitado com a
cabeça em meu colo. Depois que termina, Johnatan olha nós com sua
mandíbula travada.
― Só por alguns minutos ― murmura para si mesmo, relutante, como
se tentasse se controlar. Depois, ajuda Ian a entrar no carro no banco da
frente.
O caminho de volta não é longo, mas o silêncio é insuportável. Assim
que entramos, Johnatan estaciona, saindo do carro para tirar James.
― Oh, meu Deus ― escuto Donna correr em nossa direção assustada.

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Meu coração se aperta ao ver sua preocupação, suas mãos movem


frenéticas ao tocar o rosto de Ian.
― Eu estou bem, mãe ― Ian a acalma.
Peter chega logo atrás, assustado, assim como Jordyn.
― O que aconteceu? ― Jordyn pergunta alarmada.
― Acidente de carro, James perdeu o controle da direção ― Johnatan
diz num tom frio e segue para casa com o rapaz em seus ombros. ― Peter,
me ajude com ele, Mine também precisa de cuidados.
Peter segue as ordens em silêncio, aperto a chave em meu peito e sigo
ao lado deles.
― Não acha melhor chamar um médico? ― Escuto Jordyn atrás de
mim assim que entramos na casa.
― Não será necessário ― Johnatan diz subindo as escadas. ― Donna,
deixe Ian de repouso, depois dou uma olhada nele ― pede.
Ela concorda, levando Ian para o quarto. Jordyn aperta os lábios e
segue Donna.
No corredor de Johnatan, seguimos direto para a porta com código.
Assim que Peter destrava, Johnatan chuta a porta, colocando James na maca.
Sua distância me incomoda, não pelo fato de me sentir sozinha, mas
sim por saber o quanto está tenso tentando manter o controle dentro de si.
Peter o ajuda a afrouxar as roupas de James e verificar sua pulsação. Eu os
vejo trabalharem juntos, enquanto Johnatan prepara o soro, Peter se aproxima
do balcão de metal, onde estou, para pegar o kit de primeiros socorros e
limpar a ferida no rosto de James.
― Ele vai acordar daqui algumas horas. Vai ficar bem ― murmura ao
meu lado.
Preocupada, encaro James na maca. Engulo em seco com Johnatan
concentrado em procurar a veia no braço de James. Suspiro, desviando minha

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atenção para minhas mãos.


― Toma ― entrego a Peter a chave inglesa. ― Foi à única coisa que
consegui usar em defesa, foi muito útil ― mordo meu lábio ao lembrar que
acertei Johnatan sem querer.
Peter coloca a chave sobre o balcão, balançando a cabeça.
― Isso não é importante. Graças a Deus vocês estão bem ― fala
aliviado.
Algo me diz que Peter desconfia do que pode ter acontecido, com
certeza deve ter visto Johnatan sair de casa como um louco.
― Tivemos sorte...
― Peter ― Johnatan o chama me fazendo recuar.
Ele se afasta para continuar com os cuidados em James. Peter informa
que precisará dar pontos e o observo fechar a ferida acima da sobrancelha de
James. Minha atenção muda de direção quando Johnatan se aproxima e, com
agilidade, prende suas mãos em minha cintura, levantando-me para que eu
sente no balcão. Pisco surpresa enquanto ele pega o algodão umedecido com
soro.
Johnatan se posiciona entre minhas pernas, analisando minha ferida
com a testa franzida. O toque de sua mão me acalma, mas não tenho seus
olhos em mim, somente quando estremeço com o contato do algodão em
minha pele.
― Você não vai precisar de pontos ― murmura rouco. ― Como está
seu pescoço?
Arqueio minha sobrancelha com ironia.
― Vai continuar assim?
Depois que termina, coloca um pequeno band-aid redondo.
― Até eu escutar James? Sim ― responde cético.
― Johnatan, ele não teve nada a ver com isso. Foi tudo muito rápido

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― defendo-o
― Eu deveria ter impedido ― cisma com um suspiro pesado.
Balanço minha cabeça latejante, ocupando-me com o algodão e o
soro. Johnatan me observa confuso quando puxo seu rosto para limpar sua
ferida, aperto meus lábios devido ao pequeno calo avermelhado.
― Veja por outro lado, temos quase a mesma ferida no mesmo lugar
― tento brincar, mas parece não funcionar, suspiro. ― Johnatan, eu sei que
você está um pouco nervoso com tudo...
― Um pouco? ― ironiza franzindo o cenho para mim.
Tento me tranquilizar para não ficar tão séria quanto ele.
― Estamos bem, é isso que importa no momento ― aperto meus
dentes.
― Então, diga-me que se eu não tivesse chegado a tempo vocês
estariam bem? ― Acusa, e afasto minhas mãos por sua frieza. ― Por mais
que esteja bem agora, não quer dizer que possa ficar bem depois.
Sua raiva canaliza a minha enquanto o encaro sem acreditar.
― Você poderia estar aliviado de ainda estarmos vivos, Johnatan.
Pare de se culpar por tudo, pelo menos uma vez, ou subjugar qualquer coisa
que apareça na sua frente! ― afronto sem recuar.
― Não estou no meu melhor momento ― afasta-se de maneira
arrogante
Pulo do balcão fechando meus olhos devido à pulsação na cabeça e
em meu corpo, mas consigo aguentar a dor muscular.
― É claro que você não está ― murmuro encarando suas costas
enquanto ele mexe em outras coisas no balcão oposto.
― James deveria ter acelerado assim que a caminhonete se
aproximou.
― Está jogando a culpa em James agora? ― digo, incrédula com sua

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postura.
Pela minha visão periférica, Peter tenta se manter afastado.
― Se ele tivesse dado mais atenção, nada disso teria acontecido ―
Johnatan retruca.
― Ele é inocente.
Johnatan se vira para mim com seus olhos em chamas. Poderia
amedrontar qualquer um com toda sua tensão, exceto eu.
― Está defendendo-o? ― Seu tom é como uma acusação grave.
― Você o conhece melhor que eu. Está deixando a loucura dominar
sua mente e desconfiar até de quem é próximo a você ― rebato.
― Confiar é a última coisa que penso no momento. E sim, eu o culpo
por não estar atento à estrada, culpo-o pelo acidente que machucou todos
vocês. Então, ele não é a melhor pessoa em quem eu possa confiar perto de
você no momento ― dispara com toda sua fúria.
Fecho minhas mãos em punho e inspiro profundamente.
― Eu acho que uma pesada chave inglesa grande na sua cabeça não
foi o suficiente. ― É impossível evitar minha raiva também.
― Ele tem razão. ― Nós recuamos quando escutamos James na
maca.
Eu não sei se ele acabou de acordar ou se ficou em silêncio nos
escutando. Peter parece desconfortável, olhando em outra direção, menos
para nós.
― James ― chamo-o aliviada.
― O senhor Makgold tem razão. Quando levei Ian para a escola e
voltei com as ferramentas erradas de Peter, percebi que alguém estava me
seguindo.
Todos nós ficamos surpresos.
― E por que não disse antes? ― Johnatan se irrita ainda mais.

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Tento não me importar com seu humor no momento.


― Eu não tinha certeza, tinha muitos carros fazendo o mesmo trajeto,
só que essa caminhonete, em nenhum momento, parecia ofensiva ― James
diz pensativo.
― Deveria ter dito antes, James. ― Peter adverte calmamente.
― Pensei que fosse coisa da minha cabeça ― revela confuso.
― Pensou errado ― Johnatan ferve.
― Quer parar? ― digo nervosa.
― Só me lembro da primeira batida, foi então que percebi a
caminhonete. Eu tentei acelerar, mas depois só ouvi os gritos de Ian ― o
rapaz fala preocupado.
Abro minha boca para lhe dizer que estamos bem, mas Johnatan me
interrompe.
― Deveria ter se mantido firme e atento ― Johnatan o repreende.
― Me desculpe, Mine ― James sussurra, sentindo-se culpado.
― James, está tudo bem, não precisa se desculpar... A culpa não é sua
― gaguejo na busca de controlar minhas emoções. ― Eu preciso sair daqui...
Digito o código e saio da sala, sentindo minha cabeça pesar.
― Mine...
― Não! ― Viro-me para Johnatan nervosa. Seus olhos sérios ficam
chocados quando o interrompo. ― Você deve desculpas a ele.
― Não vou fazer isso...
― Está fazendo James se sentir pior. Você sabe que ele não teve
culpa. Se essa caminhonete estava mesmo nos seguindo, esses homens
podem estar de escolta para qualquer movimento fora dessa casa. Eles
querem se programar, Johnatan. Não está vendo? Estão procurando alguma
brecha até chegar a você. Hoje eles mandaram um. Amanhã, podem ser dois!
― disparo sufocada, deixando Johnatan perdido em pensamentos.

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― Eles souberam que você voltou ― pondera, meus olhos se abrem


assustados. ― Eles podem ter visto você...
― Eu saí do carro para receber Ian na escola ― reflito trêmula.
Johnatan permanece ainda mais tenso.
― Preciso ligar para Matt, saber mais informação daqueles
documentos ― diz pronto para ir à biblioteca, eu o detenho com minha palma
em seu peito.
― Você vai voltar para aquele laboratório e pedir desculpas ao
James...
― Mine... ― grunhe em alerta.
― Não me interessa o que você irá fazer por enquanto, apenas dê
meia volta e vá. Agora! ― ordeno firmemente.
― Eu juro que se não o considerasse tanto... ― ele se interrompe,
engolindo suas palavras.
Agora, posso entender parte do seu tormento raivoso.
― Está com ciúmes? ― Johnatan me olha com cautela. ― Então,
essa fúria toda é por causa de James...
― Parte dela ― interrompe-me entredentes. ― Boa parte é por todo
esse ocorrido ― admite.
Reviro meus olhos.
― Johnatan Makgold com ciúmes de Mine Clark com James ―
murmuro pensativa.
Ele me observa seriamente.
― Eu vejo a forma como olha para você. ― Suas palavras rudes me
pegam de surpresa.
― Ele se tornou um amigo para mim.
― Um que está louco para ter o que já é meu ― diz com
possessividade.

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Sinto o sangue em minhas veias ferver.


― Então, me responde, se não tivesse consideração por ele, se ele
fosse como qualquer outro rapaz... O que você faria exatamente? ― pergunto
curiosa.
Johnatan inspira fundo.
― Se te tocasse? ― pergunta.
― Sim, da mesma forma como você me toca. ― Vejo sua mandíbula
cada vez mais travada.
Ele balança a cabeça assentindo como se tentasse imaginar aquilo.
― Quer os detalhes? ― impressiono-me com a força que faz para sua
voz sair.
― Por favor ― aceno para que prossiga.
Johnatan abre seu sorrio sombrio.
― Primeiro, eu te trancaria em qualquer lugar que eu achasse seguro.
Depois, eu o seguiria, usaria uma das minhas melhores armas para tortura.
Então, picaria os dedos, em seguida, arrancaria os dentes com um alicate,
lembrando que é sem anestesia, e também usaria uma boa furadeira para
perfurar seus joelhos. Faria questão de cortar suas genitais e dar para os
tubarões comerem, depois usaria uma das minhas espadas para cortar o meio
de sua barriga até as tripas ficarem expostas e, depois, comeria seu fígado...
― Chega! ― digo sentindo meu estômago embrulhar. Johnatan pisca
com sua atenção de volta a mim, ele estava apreciando aquela imaginação. ―
Já entendi o quanto seu ciúme é sombrio.
Ele se aproxima para erguer meu rosto e beijar meus lábios
brevemente.
― Ninguém toca no que já é meu ― diz com seus olhos penetrantes.
― E essa sempre será minha forma de pensar ao torturar alguém que se
colocar em meu caminho, principalmente se tocar você.

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Estremeço.
― Diga-me que você nunca faria isso ― engulo meu pavor.
Ele acaricia meu rosto, olhando-me atento.
― Nunca diga nunca ― sorri em ameaça. ― Não se pode tirar a
fantasia de um homem.
Arregalo meus olho e balanço minha cabeça não querendo imaginar a
cena.
― Estou chegando à conclusão de que a fúria que tem dessa máfia
não chega nem perto do que sente por seu ciúme ― suspiro.
Johnatan arqueia sua sobrancelha.
― Ambas estão no mesmo patamar ― seus olhos se tornam cada vez
mais febris.
Balanço a cabeça ainda entorpecida.
― É melhor eu descer e ver como Ian está, enquanto você se desculpa
com James ― digo vendo sua testa franzir. ― Agora! ― ordeno novamente,
dando as costas para ele.

No quarto de Ian, encontro-o deitado com uma bolsa de gelo em sua


coxa. Donna serviu sua comida na cama, e Jordyn parecia insistir para que ele
lhe contasse o que aconteceu.
― Ele só precisa descansar Jordyn ― digo quando ela volta a
perguntar sobre o ocorrido.
― Mine tem razão ― Donna concorda, sorrio ao vê-la beijar a testa
do filho ternamente.
Eu permaneço ao seu lado com as mãos segurando a sua. Ian apenas
esfrega a testa, parecendo desconfortável.
― Você se sente melhor? ― pergunto quando Donna e Jordyn saem.
― Um pouco confuso. Eu nunca vi aquele homem. O que ele queria?

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Por que fez aquilo com a gente? ― suas perguntas me deixam tensa.
― Ele pode ter nos confundido ― murmuro.
― Ele não parecia confuso. Você viu o que ele estava fazendo, eu vi
o que ele estava fazendo, mas depois foi puxado...
― Ian ― interrompo-o, tocando seu rosto. ― Estamos bem agora,
tente não pensar mais nisso ― peço.
Somos distraídos quando escutamos a porta de seu quarto ser aberta,
revelando Johnatan. Ele fica surpreso por me encontrar ali e sorri para Ian.
― James está descansando. Agora, vamos ver você ― aproxima-se e
se senta ao lado de Ian.
Eu me afasto cruzando os braços.
― Eu sou um homem forte, vou ficar bem ― Ian se defende.
Sorrio.
― Sei disso ― Johnatan concorda. ― Sente alguma dor? Precisa me
dizer, Ian. Soube que foi atingido na perna.
O garoto faz uma careta.
― Aquele homem me acertou. ― Minha respiração para brevemente.
― Você estava lá, viu ele. O que aconteceu com ele? ― pergunta, não
deixando esconder sua curiosidade.
― Não há com que se preocupar, Ian ― Johnatan tenta confortá-lo,
vendo a marca um pouco arroxeada em sua coxa, ele estremece.
― Não estou preocupado. Foi o senhor que fez aquilo com ele? Eu o
ouvir gritar... De dor ― sua voz se torna mais baixa.
Todo o sangue do meu rosto desaparece. Johnatan parece travar. Fico
cautelosa, abro minha boca para dizer algo, mas logo a fecho.
― Sim ― confessa com sua voz grossa carregada de tensão.
Observo a reação de Ian, seus olhos castanhos o encaram atentamente.
― Ele morreu? ― murmura.

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A mandíbula de Johnatan se aperta enquanto escolhe o que dizer.


― Sim, eu o matei ― revela. Engulo em seco amedrontada.
Permaneço eu meu lugar sem reação. Controlo minha respiração,
sentindo meu coração acelerar em meu peito.
― Eu não consigo te imaginar desse jeito, senhor Makgold ― Ian diz
pensativo. ― O senhor não é um homem mal.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas com a pura inocência do
garoto. Johnatan aperta seus lábios com a expressão confusa, mas assente.
― Ian, eu não tive outra opção. Não posso esconder a verdade de
você, mas deve manter-se em silêncio para não assustar todos na casa. Você
sabe que fiz isso por uma escolha, não sabe? ― Johnatan o observa
atentamente.
Ian balança a cabeça.
― O senhor escolheu nos proteger. Não tem nada mais heroico do
que isso ― afirma. Em seguida, abraça Johnatan, arrancando um leve sorriso
dos meus lábios. ― Obrigado, senhor Makgold!
No começo, Johnatan fica surpreso, mas logo cede ao abraço,
apertando o garoto em seus braços.
― Um herói obscuro ― murmura sem emoção.
Suspiro ainda sorrindo e relaxo meu corpo.
― Acha que ele já está bem? Ou teremos que levá-lo ao hospital? ―
brinco assustando Ian.
― Eu estou ótimo, só preciso dormir ― resmunga puxando suas
cobertas.
Rimos da sua reação.
― Mais tarde pedirei para Donna colocar mais gelo em sua perna ―
Johnatan bagunça seus cabelos louros.
― Eu aceito leite quente na cama também ― boceja e me aproximo

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para beijar suas bochechas coradas.


― Tenho que subir para falar com Peter sobre o carro na pista. Nós
nos encontramos no almoço ― Johnatan diz me olhando nos olhos. Aceno,
sentando ao lado de Ian.
Assim que Johnatan sai do quarto, retorno minha atenção para o
garoto incrível, dando um suspiro.
― Promete para mim que não vai contar a ninguém? ― peço.
― A polícia vai descobrir que o senhor Makgold matou aquele
homem? ― ele se preocupa.
Engulo meu nervosismo, tenho certeza de que nem mesmo a polícia
saberia sobre aquele corpo. Ou sim, se fossem aliados dos criminosos?
Balanço minha cabeça.
― O senhor Makgold dará um jeito, não se preocupe ― tranquilizo-o.
Ian acena, mas logo seus olhos brilham.
― Então, é ele ― sussurra, como se tivesse mais alguém no quarto.
Franzo a testa confusa.
― Ele quem?
― O homem daquela noite na festa. Aquele que bateu a cabeça do
cara bem assim na parede... ― Ian diz empolgado, imitando o gesto.
Arregalo meus olhos.
― Não sei do que está falando ― minto.
― Depois você me pediu para não contar a ninguém ― relembra,
olhando-me com carinho. ― Eu prometo não contar a ninguém.
Sorrio para ele, beijando seu rosto novamente.
― Obrigada! ― sussurro.
― Qualquer coisa por você, amor. ― Suas carícias em meus cabelos,
numa expressão cômica e apaixonada, me fazem rir.
― Vou deixá-lo descansar ― beijo sua testa.

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Levanto-me e sigo para a porta.


― Mine? ― olho para trás. ― Eu sei.
― Sabe do quê? ― pergunto confusa.
― Você e o senhor Makgold. Jordyn me contou tudo ― aperto meus
lábios.
― Ela fez isso?
― Sim, mas a verdade é que sei que ela sempre foi caidinha por mim,
está fazendo isso para afetar nosso relacionamento, só que não vai conseguir
― seu comentário me faz rir ainda mais enquanto saio do quarto.

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49 – ATRAÍDO

Na cozinha, Donna prepara uma leve refeição para James e leva ao


seu quarto. Peter, Jordyn e eu comemos em silêncio, minha cabeça continua a
latejar.
― Você viu o carro, Peter? Como está? ― Jordyn começa. Não sabia
que ele foi até lá.
― Está muito destruído. Tiveram sorte de sobreviver, mas tudo está
resolvido ― responde desconfortável.
― Conseguiu salvar as ferramentas? ― brinco para melhorar o
humor.
― Recolhi algumas ― ele sorri.
Somos surpreendidos com a chegada de Johnatan na cozinha, todos
ficam em silêncio e o espio fazer seu prato. Impressiono-me quando ele se
junta a nós na mesa, Jordyn volta a ter a cara do quadro O grito. Johnatan
franze a testa confuso até seus olhos se prenderem intensos aos meus.
― Você deveria estar descansando ― repreende com sua voz grossa.
― Farei isso depois de comer ― falo fazendo uma careta, na verdade,
eu queria um bom remédio para dor no corpo também.
― Boa menina ― Johnatan aprecia com um leve sorriso e volta a
comer.
Pisco meus olhos, voltando a atenção para meu prato. Logo Donna
aparece na cozinha também surpresa com Johnatan.
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― Oh! Eu já ia levar seu prato à sala, senhor ― Donna parece se


desculpar.
Johnatan estala sua língua.
― Não se preocupe com isso, Donna, apenas termine o que tem para
fazer e vá ficar com Ian. ― Aperto meus olhos quando ele rouba meu suco de
maça.
― Sim, senhor ― acena com um sorriso amável para ele.
Franzo a testa pelo humor suave e repentino de Johnatan, olho para
meu lado, vendo Jordyn observá-lo como se fosse alguém de outro planeta.
― Peter, vou precisar que me leve à empresa, tenho uma reunião de
urgência marcada hoje ― Johnatan pede.
― Claro, senhor ― Peter maneia a cabeça.
Viro-me para Johnatan, uma leve mancha de molho no canto de seus
lábios chama minha atenção, automaticamente, ergo minha mão para limpar o
local com meu polegar. Johnatan se surpreende, pegando minha mão e a
beijando, sorrio com sua delicadeza. O suspiro de Jordyn chama nossa
atenção, Peter segura sua risada.
― Algum problema, Jordyn? ― Johnatan pergunta, também
percebendo a expressão abobada de Jordyn.
Rapidamente, ela arruma sua postura.
― N-não ― pigarreia. ― Claro que não. Eu vou voltar para meu
trabalho ― levanta-se, colocando o prato na pia, pronta para fugir dali.
― Tire o dia de folga, Jordyn, descanse. ― Seus passos param
abruptamente quando ela escuta Johnatan.
Mais uma vez, minha amiga se espanta.
― Isso é... Sério? ― Johnatan assente com a cabeça. ― Santa Mine!
― ela roga, olhando em minha direção, puxo minha mão de Johnatan
envergonhada.

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― O quê? ― fica sem entender.


― Nã-não, quero dizer... Obrigada, chefe ― ela pula e segue até ele,
surpreendendo-o com um abraço apertado.
Jordyn se afasta aos pulos, quase tropeçando, seguro minha risada.
Johnatan fica sem jeito, com a testa franzida e as bochechas coradas. É
adorável quando está envergonhado, além de suas bochechas corarem, a
ponta de seu nariz também cria um rosado suave e seus lábios carnudos ficam
num tom vermelho suave.
― Acho que hoje é dia de “abraçar Johnatan” ― suspira
desconfortável. ― Eu deixei um comprimido em seu quarto, tome ― mesmo
continuando sem jeito, não perde a pose de um mandão cuidadoso.
― Tudo bem ― aceno. — Obrigada!
Assim que Johnatan sai para trabalhar, nós nos despedimos com um
beijo, e, com sua ordem, vou até meu quarto tomar o comprimido. Fico
surpresa por meu celular estar em meu criado-mudo, fico em dúvida se foi
Johnatan ou Peter que o deixou ali. Pensar em Peter me faz perguntar como
foi para ele ir até o local onde o carro estava, e, também, se a caminhonete
continua por lá.
Sento-me na cama me sentindo entediada, o livro de medicina de
Johnatan continua onde deixei, folheio, lendo algumas páginas até bocejar.
Não sinto vontade de dormir nem mesmo fazer nada do tipo, alcanço meu
celular a fim de ligar para o meu pai. Eu não deveria demonstrar preocupação
nem mesmo medo ao falar com ele por telefone, se soubesse o que houve, ele
me arrastaria de volta para casa. Por outro lado, tinha que pedir a Johnatan
segurança para Edson, ele pode estar longe de mim agora, mas temo que algo
lhe aconteça por minha causa.
No fim da tarde, não tive notícias de Johnatan, e nem mesmo de Peter.
Na hora do jantar, tentamos ficar em silêncio, mas era impossível não rir da

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postura de Ian com os mimos que Donna lhe fazia. James parecia mais
cansado devido ao soro e aos remédios. Jordyn, como sempre, estava
inquieta, dizendo que deveríamos todos ir para o hospital, mas pouco de nós
sabemos o quanto isso seria arriscado, até mesmo para Johnatan.
Depois do jantar, deixo que Donna ajude Ian enquanto me encarrego
de limpar a cozinha com Jordyn, pela primeira vez, eu a vejo um pouco
calada, talvez perdida em pensamentos.
― Você está bem?
― Sim. É que não estou acostumada com folga, nem com
preocupação. Um acidente assim? James nunca perdeu o controle na direção
― reflete enquanto guarda a louça.
Engulo em seco.
― Foi de repente, mas agora está tudo bem ― aperto seu ombro em
conforto.
― Sim, que bom! ― concorda com um leve sorriso.
Quando terminamos, seguimos para nossos quartos. Tomo meu banho
tranquilamente, sem molhar meus cabelos, o remédio funcionou para o meu
corpo e minha cabeça, apenas sinto a leve dor irritante do machucado.
Depois, visto uma das camisolas de seda preta, o tecido solto me dá
conforto. Penteio meus cabelos com os dedos, encarando minha testa no
espelho do banheiro. Com um suspiro, volto para o quarto desanimada, sento-
me na cama e pego o celular novamente, deslizando meus dedos na tela
rachada para fazer uma ligação. Johnatan atende no primeiro toque.
― Mine? ― relaxo só de ouvir a sua voz.
― Onde você está? ― sinto-me ansiosa.
― Estou na tenda ― responde tranquilamente.
Sinto meu coração bater devagar, a última vez em que ele esteve na
tenda, as coisas não ficaram nada boas.

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― Está tudo bem? ― pergunto por precaução.


Escuto sua respiração e aperto meus lábios em agonia.
― Você parece com medo ― adivinha, mas, para meu alívio, escuto
seu riso do outro lado.
― Da última vez em que esteve aí, eu o vi perdido em pensamentos
― mordo minha língua por ser direta demais.
― Bem, pelo que lembro da última vez, nós ficamos bastante
próximos nessa tenda. Essa é uma das únicas partes que não quero esquecer.
― Será que um dia vou me enjoar do seu jeito descarado? Espero que nunca.
― Acho melhor eu desligar e voltar a descansar. Sonhe com mil e
uma noites comigo, senhor Makgold ― provoco-o, desligando na sua cara.
Sorrio para a tela quebrada do meu celular, colocando-o na cômoda.
Lembro-me de quando fizemos amor pela última vez, lembro-me de
suas mãos em meu corpo e da sua boca em minha pele, assim como sua voz
sussurrada em meu ouvido, num sotaque suave, causando-me calafrios.
Suspiro com saudades, meu sexo se aperta em excitação.
Imediatamente visto um hobby antes de sair do quarto. Olho em todas
as direções enquanto caminho pelo corredor em silêncio até chegar aos
fundos da casa.
Do lado de fora, o frio me faz estremecer, cruzo meus braços e me
dirijo até as árvores. Na floresta escura, sigo a trilha iluminada em direção à
tenda. Caminho silenciosamente até tocar os tecidos ao vento para afastá-los.
Encontro Johnatan apenas de calça moletom, sentado no meio da
cama de pernas cruzadas. Suas mãos estão apoiadas em seus joelhos e os
olhos fechados. O leve vento frio brinca com seus cabelos enquanto medita.
Ele inspira e expira profundamente, aproximo-me da cama cada vez mais
fascinada com sua serenidade confortável, mesmo com a brisa fria. Johnatan
não se move, é como uma estátua perfeita. Curvo-me em direção à cama,

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engatinhando até ele, devagar, para não o tirar de sua concentração.


― Mine? ― sua voz grossa me faz travar como uma estátua cômica.
Que horror!
― Eu? ― digo como se tivesse sido pega fazendo algo ilegal.
― Você não consegue mesmo ficar em silêncio ― abre seus olhos
tranquilamente, deparando-se com minha posição. ― Que bela visão! ―
observa meu traseiro empinado.
― Que bela visão! ― devolvo ao encarar o volume em sua calça. ―
Não me diga que em vez de meditar estava pensando em outras coisas.
Seu sorriso malicioso me faz corar, imediatamente arrumo minha
posição. Surpreendo-me quando Johnatan me puxa para o seu colo, fazendo-
me ficar sentada de frente para ele até sentir sua ereção em meu sexo. Perco o
fôlego ao sentir suas mãos escorregarem das minhas costas até minha bunda.
Envolvo meus braços em seu pescoço e colo meu rosto contra o seu,
suas palmas voltam a acariciar meu corpo, fazendo a camisola escorregar por
minha pele ao tirar o hobby com delicadeza. Respiro fundo, jogando minha
cabeça para trás quando seus lábios roçam entre meus seios até minha
clavícula, inspirando meu perfume. Quando se afasta, seus olhos em chamas
analisam meu corpo com desejo.
― Minha meditação foi tomada por pensamentos de noites quentes
com você, mas vendo-a aqui agora, vestida assim, só está fazendo aumentar
meu tesão. ― Meu sangue ferve com toda sua potência, toda sua
sensualidade.
― E o que pretende fazer agora? ― provoco-o, sem esconder minha
excitação avassaladora.
Seu olhar é carnal e intenso. Arrepio-me quando uma de suas mãos se
prendem em meus cabelos, puxando-me para ele, deslizando sua boca abaixo
da minha mandíbula até chegar ao meu ouvido, causando-me cócegas

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estimulantes.
― Não tem ideia do quanto quero tê-la aqui em todas as posições
possíveis ― estremeço, envolvida com suas provocações.
Afasto-me para encarar seus olhos e deslizar minhas mãos por seu
peitoral até chegar à sua ereção, apertando-a com gosto. Ele empurra sua
pélvis de forma descarada para que eu sinta o quanto me deseja, umedeço
meus lábios secos com sede.
― Eu quero que você me tenha aqui e agora! ― exijo, aproximando-
me de sua boca e roçando meus lábios nos seus.
Johnatan desliza suas mãos até meus seios enrijecidos, apertando-os
com suavidade. Deixo-me levar pelos seus toques, meu corpo fala por mim o
quanto o quero enquanto movo meus quadris em seu colo. Johnatan ofega,
deslizando uma das alças da camisola e percorrendo seus lábios em minha
pele até tomar meu seio exposto em sua boca, gemo quando suga com força,
fazendo meu corpo arquear.
Em seguida, abaixa a outra alça, provocando meu outro seio, assim
como suas mãos tentadoras em minhas coxas. Olho para ele vendo seus olhos
observadores em mim e na forma como meu corpo se move contra ele. Seu
sorriso cafajeste faz meu coração acelerar, deixando minha respiração e meus
movimentos cada vez mais frenéticos.
― Então... O que me pede é uma ordem, querida? ― sua voz grossa
faz minha garganta secar ainda mais, molho meus lábios com a língua
novamente.
Johnatan observa minha boca com luxúria.
― Você tem que me obedecer, lembra?
Puxo seu lábio inferior com os dentes até invadir sua boca com minha
língua, num beijo sensual repleto de excitação e desejo.
― Se é o que me pede ― murmura rouco, molhando meus lábios com

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sua língua. ― Farei com todo prazer ― destaca seu tesão num leve sotaque
russo.
Em seguida, surpreendo-me quando rasga a seda com facilidade,
jogando a peça para o lado.
― Você... rasgou... ― gemo, arqueando meu corpo assim que sua
boca volta para meu ele, dando mordidas leves em minha pele.
Ofego pela inesperada palmada que atinge meu traseiro com força,
minha pele formiga com o contato, mas logo é massageada com um estímulo
tentador.
― Sem calcinha ― geme entre meus seios. ― Sua fera aprecia isso
― o rouco rosnado faz meu sexo se apertar dolorosamente.
― Minha o quê? ― pergunto inebriada.
Johnatan gira meu corpo para a cama, abrindo minhas pernas,
deixando-me exposta. Olho-o ajoelhado de frente para mim, apreciando seu
corpo vigoroso. Admiro a ereção em sua calça e o assisto se despir sem tirar
os olhos de mim.
Meu peito sobe e desce em euforia ao vê-lo tocar seu membro
potente, movendo sua mão enquanto a outra desliza pelo interior das minhas
coxas até chegar ao meu sexo pulsante e penetrando dois dedos em mim.
Meu corpo arqueia com desejo e gemo, querendo-o dentro de mim com
urgência. Meus quadris se movem contra sua mão, sendo completamente
consumida por seu toque e gemidos.
Perco o fôlego assim como minha voz quando sua língua se esfrega
em meu clitóris uma vez, Johnatan geme como se apreciasse o sabor, e sou
tomada novamente pela tortura com a retirada de seus dedos, tendo sua boca
e sua língua no lugar. É uma explosão de emoções em meu corpo, que se
arqueia ainda mais cada vez que chupa com força.
Gemo mais alto com sua língua na entrada do meu sexo, meus quadris

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se movem em direção à sua cabeça e sinto minhas pernas imobilizadas por


suas mãos quando ouso fechar minhas coxas em torno de sua cabeça. Seus
dentes mordiscam levemente meus lábios internos depilados, levando-me à
loucura.
Ao sentir seus dentes se fecharem em meu clitóris, sinto a leve dor em
sua mordida, fazendo minhas mãos deslizarem até seus cabelos, já molhados
pelo suor, e puxá-los enquanto grito em protesto seu nome, mas o aperto em
minhas entranhas se intensifica, fazendo-me explodir com a chegada do meu
orgasmo intenso. Johnatan engole meu prazer com um gemido selvagem.
― Deliciosa ― saboreia.
Abro minha boca em surpresa. Minhas costas caem de volta para o
colchão e o vejo lamber seus lábios como se acabasse de provar uma boa
refeição. Tento controlar minha respiração ofegante enquanto ele coloca a
camisinha, mas não tenho tempo de pôr meus pensamentos em ordem quando
o tenho curvado sobre mim já penetrando com força.
Ele geme alto, e agarro seu corpo arranhando suas costas com tesão.
Seus movimentos se tornam mais profundos, fazendo meu sexo se fechar
contra o seu, aceitando suas estocadas intensas. Meu corpo volta a se entregar
a ele por completo, num ritmo selvagem cheio de prazer.
Eu me sinto queimar por dentro com suas investidas fortes, suas mãos
firmes, sua boca provocante e seus gemidos roucos. Agarro seu rosto com
minhas mãos para beijá-lo enquanto nos movemos sem controle.
Quando abro os olhos, fito os seus, intensos e apaixonados. Gememos
ofegantes, de lábios colados, admirando-nos com amor. O seu sorriso
perverso me faz corar sem saber o que quer aprontar... Até que sua última
estocada profunda atinge meu ponto excitante, e, em seguida, ele se retira.
Não tenho tempo de protestar, nem mesmo ficar confusa ao ser virada
na cama de bruços e puxada pelos quadris, tendo os joelhos e cotovelos

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apoiados na cama. Engulo em seco ao sentir seu indicador deslizar por minha
espinha em linha reta até chegar ao meu traseiro. Gemo em surpresa quando
afasta meus joelhos e empina-me cada vez mais para ele.
― Johnatan, eu preciso...
Sou interrompida por meu gemido assim que seu dedo se esfrega em
meu sexo exposto.
― Eu sei, minha Roza. Eu também preciso gozar, mas não sabe o
quanto quero aproveitar esta noite.
Sua ereção se aproxima, esfregando-se contra mim e me fazendo
agarrar os lençóis em excitação.
Uma de suas mãos desliza por minhas costas até agarrar meus
cabelos, meu corpo vibra pela sua selvageria, e sou surpreendida com outro
tapa em minha bunda, mas dessa vez é mais forte, fazendo-me empinar cada
vez mais até tê-lo dentro de mim outra vez.
― Ah... Johnatan... ― gemo com mais um tapa. Minha pele arde e
formiga.
― Gosta disso? ― pergunta. Não consigo responder tendo sua ereção
esfregando em meu sexo com força. Novamente sou atacada por sua
palmada.
― Johnatan ― choramingo, mordendo meu lábio. Meu corpo
fervente clama por ele.
Johnatan também sente o desejo ardente de me possuir, voltando a
penetrar com suas estocadas mais fortes e mais intensas. Suas unhas
arranham minha pele suada e, com um puxão em meus cabelos, levanta meu
corpo até ele, grudando minhas costas contra seu peitoral vigoroso.
Ergo minhas mãos para também puxar seus cabelos ao ser dominada
pelo prazer selvagem. Aprecio sua palma deslizar por meu ventre até esfregar
seus dedos em meu clitóris inchado, acompanhando seus movimentos

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profundos dentro de mim enquanto sua outra mão brinca com um dos meus
seios.
Viro meu rosto para encontrar sua boca e o beijo com intensidade,
sentindo meu corpo estremecer assim como ele ao gozarmos juntos num
prazer lascivo. Gemo em sua boca sem conseguir parar de rebolar fracamente
em seu colo. Seus braços fortes me envolvem num abraço confortável, e
permanecemos parados daquela forma por um bom tempo até nossa pulsação
se acalmar.
― Como se sente? ― sussurra próximo ao meu ouvido, seguindo
uma trilha de beijos da minha nuca até meus ombros.
― Uma presa atacada por uma fera selvagem e estimulante. Eu gosto
disso, eu gosto muito disso ― meu tom depravado o faz rir.
Quando Johnatan se afasta, ajuda-me a deitar na cama. Oh, eu não
tenho forças! O pensamento de não conseguir andar direito amanhã me deixa
corada.
― Se bem me lembro, a senhorita pediu isso ― diz, massageando
minhas costas.
Sinto-me ainda mais relaxada com seus dedos ágeis desfazendo
qualquer tensão que encontrem em minha pele. Gemo apreciando.
― Você é fera ― murmuro, dando uma risada cansada.
Escuto seu riso atrás de mim. Eu o deixo massagear-me por inteira,
impressionada com sua agilidade.
― Bem, foi um prazer te servir ― diz como um cavalheiro, e sinto
seus beijos em minhas costas. ― Mais alguma coisa que eu possa fazer por
você?
Pisco os olhos encarando os lençóis presunçosa. O frio me refresca
aos poucos, mas, mesmo depois que o calor deixe meu corpo, eu não quero
sair daqui.

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― Sim... Quero dormir aqui com você ― cochicho e aperto meus


lábios, esperando sua resposta.
― Como quiser ― imita meu cochicho.
Sorrio feliz.
― Tem mais outra coisa.
Tento de forma inútil não rir.
― Qual? ― pergunta. Seus dedos delicados nunca deixam meu
corpo.
― Exijo um café da manhã caprichado, de preferência na cama ―
gemo apreciando meu pedido. ― Uma mulher pode se acostumar com isso
― penso alto com empolgação.
Johnatan apoia-se em seu cotovelo para me olhar, o sorriso aberto
ilumina seus olhos.
― Tão exigente. Sinto-me cada vez mais atraído ― ele se curva para
me beijar.
Chupo seu lábio e o encaro com um sorriso malicioso.
― Eu estou pronta para a próxima rodada ― espreguiço-me sentindo
meus músculos bem mais leves.
Seus olhos se arregalam em surpresa.
― Jesus! Mine?
― Eu fiquei um bom tempo sem você e você sem mim. Qual é?
Vamos pôr isso em dia ― pulo em seu corpo.
Johnatan curva sua cabeça para gargalhar livremente. Seus risos
fazem meu coração acelerar, eu o amo ver daquela forma, tão despreocupado,
tão jovem, tão... único.
― Você tem toda razão. Eu me senti muito impotente esses últimos
dias ― confessa deslizando suas mãos entre meus seios.
― Então, já que é nossa noite, onde podemos investir nossas

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posições? Que tal pormos em prática uma outra? ― apoio-me em seu peitoral
pensativa.
Seus olhos brilham em admiração por me ver tão descontraída.
― É mesmo? Qual? ― pergunta, beijando meus lábios suavemente.
Dou-lhe um sorriso perverso, o gesto parece desligá-lo mantendo sua
atenção apenas em meus lábios e em meus olhos sedutores. Aproximo-me,
espalhando beijos até chegar ao seu ouvido.
― Hum, não sei, mas acho que você deve ter algum livro de Kama
Sutra ― sussurro, não conseguindo segurar minha risada.
Johnatan gargalha ainda mais, fazendo-me esconder meu rosto corado
na curva de seu pescoço. Seu corpo treme, assim como o meu, enquanto
rimos livremente.

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50 – A ISCA PERFEITA

Abro meus olhos me deparando com a tenda aquecida, mas um pouco


escura. Contorço-me na cama, confusa pelos tecidos parados, a fraca
iluminação alaranjada vem de uma luz embutida ao redor do chão da tenda.
Puxo o lençol para meus seios e tateio o colchão a procura dele. Sento-me,
afastando meus cabelos rebeldes e me surpreendo com a entrada de Johnatan
carregando uma bandeja de café da manhã. Ele está lindo, vestido um roupão
preto e calça moletom.
― Bom dia, dorminhoca ― cumprimenta colocando a bandeja na
cama antes de se curvar para beijar meus lábios.
O café da manhã caprichado faz meu estômago roncar. Sorrio ao ver a
rosa ao lado.
― Você trouxe mesmo ― impressiono-me.
― Seu pedido é uma ordem.
Observo-o tirar seu roupão, meu campo de visão é glorificado por
seus músculos tonificados. Seu sorriso malicioso me faz corar por ser pega o
cobiçando.
― O que aconteceu aqui? ― indico ao redor da tenda.
― Proteção ― Johnatan responde.
Franzo a testa.
― Proteção?
― Sim, é uma cúpula protetora ― ele se estica para afastar os tecidos
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e bater o indicador na parede de metal. Encaro o teto um pouco aborrecida


por não ver o céu. ― É de titânio e temos aquecedor aqui dentro.
― Para que tudo isso? ― desconfio de que possa estar ficando
paranoico. Ou será que temos algum atirador do lado de fora?
Arregalo meus olhos.
Johnatan caminha pela tenda até uma certa entrada para afastar os
tecidos e me mostrar algo. Imediatamente fico surpresa ao ver a neve cobrir o
chão do lado de fora, não pensei que ela chegaria tão cedo, eu sempre gostei
de vê-la cair tranquilamente pela janela de casa. Logo, Johnatan se senta à
minha frente a fim de me servir panquecas na boca. Está maravilhoso, gemo
apreciando o sabor.
― Gostou? ― empolga-se, comendo também.
― Está deliciosa ― elogio maravilhada.
Na bandeja, além das panquecas, há frutas cortadas, suco e torradas.
― Que bom que gostou, eu que fiz. ― O orgulho está estampado em
seus olhos.
Finjo não acreditar.
― Não foi Donna? ― recebo outro pedaço de panqueca na boca.
― Ela só me ajudou em algumas coisas ― Johnatan beija a ponta do
meu nariz.
― Estou impressionada. Já cozinhou antes?
― Não ― faz uma careta. ― E isso é somente para você.
Sorrio sem jeito por seu gesto romântico enquanto o deixo me
alimentar à vontade, sem tirar meus olhos dos seus.
― De onde surgiu tudo isso? ― refiro-me ao metal aquecido que nos
cerca.
― Eu instalei há muito tempo. Em épocas assim, protejo o local ―
explica dando de ombros.

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― Bem inteligente ― beberico meu suco. ― O que pretende fazer


hoje?
― Terei que voltar à empresa para outra reunião. Essa semana não
será nada fácil por causa de alguns cortes.
― Esses cortes que está fazendo têm a ver com tudo que está
acontecendo? ― pergunto enquanto o observo comer sua torrada.
― Tenho sempre que manter a segurança, tanto do meu trabalho
quanto da minha casa. Veja, eu me dou com muitas pessoas, por isso, sempre
averiguo sobre elas. Esses cortes são para me beneficiar, não quero qualquer
um por perto e nem mesmo colocar outras pessoas ou projetos em riscos ―
explica com casualidade.
― E quanto ao prédio? ― roubo sua torrada, fazendo-o sorrir.
― Está sendo construído, daqui alguns meses o teremos pronto ―
parece satisfeito.
Suspiro acenando.
― Os cortes também têm a ver com o prédio? Digo, para conseguir
mais dinheiro em vez de mais gastos?
Johnatan sorri com carinho.
― Não, isso é o de menos. Eu tenho muito dinheiro, os cortes não têm
nada a ver com custos, isso eu garanto ― assegura-me, dando-me uma
piscadela.
― Nada convencido, não é, senhor Makgold? ― zombo com um
sorriso e o vejo pegar a bandeja, colocando-a no chão.
― Na verdade, nem um pouco. Esbanjar dinheiro não é algo que me
agrade. ― Sua sinceridade me comove, mas apenas por poucos segundos até
roubar meu suco para tomá-lo de vez.
― Hey! ― Protesto rindo, vendo-o se curvar para mim em seguida.
Coloco minha rosa em frente aos meus lábios e fecho os olhos.

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Johnatan inspira a rosa como eu e a beija, pressionando-a em meus lábios.


Afasto a flor de nossas bocas para grudar meus lábios contra os seus com
suavidade. Ele geme, dando-me beijos leves e provocantes.
― Assim fica meio difícil me afastar de você ― murmura rouco.
Dou-lhe um beijo colado e o puxo junto comigo para a cama. Acaricio
seu rosto, afastando algumas mechas de seus cabelos escuros enquanto olho
em seus olhos em chamas.
― Dá próxima vez que eu acordar e você não estiver comigo, eu juro
que te torturo pelo resto do dia ― minha ameaça o diverte.
Eu nunca vou me cansar de admirar seu jeito relaxado, a forma como
sua expressão se ilumina quando aprecia o nosso momento.
― Pode ser tortura sexual? ― pergunta, fingindo estar confuso. ―
Devo deixar que James treine os cavalos todas as manhãs? Não, espere... Se
vou ser torturado, posso abusar disso. Lembro-me muito bem da noite
passada e... ― interrompo sua fala perversa com um beijo envergonhado.
― Acho que vou ter que abrir uma exceção para os cavalos ― sorrio.
Johnatan me enche de beijos.
― Eu tenho que ir ― murmura em meu pescoço, descendo seus
lábios para os meus seios.
― Hum! Não vai ― fecho meus olhos e me contorço quando sua
língua roça meu mamilo.
― Você é uma tentação, mas eu preciso trabalhar ― sua respiração
quente faz cócegas em minha pele.
Puxo-o de volta para minha boca, aprofundando nosso beijo com
prazer. Não estou pronta para me desgrudar dele, nem hoje, nem nunca. Ele
geme em meus lábios e acaricia meu rosto, o pequeno gesto faz meu coração
acelerar, e meu corpo anseia por ele numa angústia profunda. Ao nos
afastarmos, ficamos sem fôlego.

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― Não vai. Fica aqui comigo ― choramingo.


― Tentarei voltar o mais rápido possível ― promete, provocando
meus lábios com os seus.
Eu não quero que ele se afaste, ontem ficamos tão distantes devido ao
ocorrido, poderíamos ter um dia de paz em nossa tenda aquecida. Acaricio
seus cabelos, observando-o.
― Vou ajudar Jordyn e Donna... Além de passar um tempo com os
cavalos. Assim, a hora passará mais rápido ― tento soar animada.
― Isso parece perfeito ― diz, beijando-me novamente.
Abraço seu pescoço, arrastando meus lábios para seu queixo,
descendo um pouco mais até inspirar seu perfume suave.
― Vou sentir sua falta ― digo, apertando-o em meus braços.
Johnatan me abraça com força.
― Eu vou sentir muito mais.
― Só tenha cuidado, tudo bem? ― peço. Não posso evitar minha
preocupação.
― Vou me cuidar ― sinto seu sorriso em meu pescoço e arrepio-me
quando inspira meu perfume.
― Isso é sério, Johnatan ― sorrio me afastando.
Sua expressão presunçosa o torna ainda mais lindo.
― Prometo que, se eu não me cuidar, gritarei por você para me ajudar
com uma chave inglesa. ― Reviro os olhos quando indica seu pequeno corte
na testa.
― Eu já pedi desculpas ― resmungo.
― E eu aceitei ― diz rindo.
― É melhor mesmo você ir trabalhar ― balanço minha cabeça.
Levanto-me, não me surpreendendo que eu tenha roupas para vestir.
Fora da tenda, o frio me faz estremecer, a cúpula de metal é

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surpreendentemente reforçada e alta, pergunto-me de onde aquilo saiu,


encarando a neve ao redor.
Em casa, Johnatan segue direto para o seu quarto enquanto eu levo a
bandeja para a cozinha.
Encontro Jordyn sentada, tomando seu café da manhã e conversando
com Donna sobre um sonho que teve com um ator de cinema.
― Bom dia, Mine, como foi a noite? ― fala sem pudor. Pisco
chocada.
― Jordyn, deixe Mine em paz! ― Donna ordena.
Jordyn ri do meu desconforto.
― Tudo bem, Donna ― coloco a bandeja na pia. ― Onde está Ian?
― Não o deixei ir para a escola, queria que estivesse descansando,
mas quando soube que James não conseguiria ficar com os cavalos essa
manhã, fez questão de ajudar ― diz com orgulho.
― James ainda está fraco? ― pergunto.
― Aposto que está se aproveitando da situação. Só porque levei café
da manhã na cama para ele, não quer dizer que tenho que servi-lo o tempo
todo ― Jordyn reclama.
― Querida, ele ainda está indisposto ― Donna beija seus cabelos.
Sorrio com sua careta.
― Indisposta estou eu. Quem vai querer arrumar a casa nesse frio? ―
Tanto eu quanto Donna concordamos com ela.
― Não se preocupe, eu vou te ajudar ― asseguro.
― Mas é claro que você vai. Assim que o senhor Makgold sair vou te
torturar, chefinha ― Jordyn adverte.
Donna ri do meu choque.
― Vou ter que lidar com isso pelo resto da minha vida, não é? ―
viro-me para Donna, fazendo-a rir ainda mais.

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Imediatamente congelamos com a entrada de Johnatan na cozinha. No


meu caso, eu o analiso por inteiro até os mínimos detalhes, o suéter grosso de
gola parece tonificar ainda mais seus músculos.
― Pararam de rir porque eu cheguei?! ― fala se aproximando para
beijar minha testa. Jordyn fica envergonhada.
― Oh, não, querido, só estamos surpresas ― Donna responde,
secando o canto de seus olhos devido às lágrimas da diversão. ― Peter já está
pronto para levá-lo ― informa.
― Obrigado, mas só vim me despedir ― parece confuso até para si
mesmo.
Jordyn o olha impressionada e sei que Johnatan nunca disse adeus
antes de sair.
― Eu te acompanho até a porta. ― Levanto-me, vendo seu sorriso se
abrir.
― Não seria nada mal se eu e Donna ganhássemos um beijinho de até
logo ― Jordyn dispara, fingindo estar desinteressada. Eu a encaro
desconfiada e seguro meu sorriso.
Vejo a sobrancelha de Johnatan se erguer em surpresa. Ele se afasta
de mim para ir até Jordyn, que levanta a cabeça com os olhos arregalados.
Johnatan toca em seu rosto e se curva para beijar sua bochecha avermelhada.
― Até logo, Jordyn.
Quando Johnatan se afasta, minha amiga parece flácida com seus
braços sobre a mesa, encarando-me abobada e murmurando apenas para
mim: "ele me beijou?". Reviro meus olhos e observo Johnatan se despedir de
Donna, surpreendendo-a com um abraço. Os olhos da amável governanta se
enchem de lágrimas, emocionada.
― Vá com Deus, querido ― sua voz sai embargada.
Acompanho Johnatan até a saída, vendo Peter à sua espera, dou um

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aceno para ele antes de me virar para meu russo amado e arrumar a gola de
sua linda blusa.
― Volta logo! ― ordeno, erguendo-me na ponta dos pés para beijar
seus lábios.
― Com certeza! ― promete, abraçando minha cintura e me apertando
junto ao seu corpo. Deito minha cabeça em seu peito. ― Seu pai me ligou,
disse que virá te visitar.
Pisco surpresa e olho para cima.
― Ele disse que viria me visitar praticamente todos os dias ―
informo em seguida, balanço a cabeça. ― Com tudo que aconteceu, eu me
esqueci de te pedir uma coisa ― mordo meu lábio, tendo sua total atenção.
― O que você quiser ― seu olhar profundo me faz sentir segura.
― Quero pedir para achar alguma forma de proteger minha casa,
proteger meu pai. Eles podem chegar perto dele e temo que algo ruim possa
acontecer. Não sei como, pelo menos um segurança... ― peço trêmula.
Johnatan me aperta em seus braços, deixando-me mais aquecida.
― Eu já fiz isso e são de confiança, não se preocupe ― assegura,
beijando meus cabelos.
― Obrigada! ― murmura aliviada.
Quando se afasta, aguardo-o entrar no carro e Peter dar a partida.
Aceno em adeus, vendo-o abaixar o vidro e me dar seu sorriso encantador ao
passar pelos portões. Suspiro, fazendo uma carranca e me assusto quando
Jordyn toca meus ombros curvados para me chacoalhar.
― Hora da tortura ― ela se empolga, fazendo-me rir ao me entregar
um balde com produtos de limpeza.
― Eu também te amo, Jordyn, mas pare de pedir ao meu namorado
que te beije ― finjo estar enciumada. Jordyn gargalha.
Antes de começar meus afazeres, resolvo tomar um rápido banho e

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me agasalhar. Depois, visito James, ele parece bem melhor, mesmo com
algumas dores na coluna.
Durante a faxina da casa, sou torturada por Jordyn em questão de
encerar o chão e afastar a neve da varanda. Mais à frente, vejo Ian, com
agilidade, carregar fenos leves em um carrinho para dentro do celeiro, sorrio
para ele, recebendo seus beijos no ar.
Vejo os cavalos correrem pelo campo, Lake brinca com a neve,
parecendo feliz. É impressionante como o branco destaca ainda mais o lugar,
num aspecto ainda mais vivo. Sid parece agitada e ao mesmo tempo satisfeita
com o tempo, correndo em círculos largos, assim como Hush.
Dentro da casa, também passo o aspirador nos carpetes, lavo as
roupas, ajudo Donna na cozinha e Jordyn no salão. Quando James se levanta
para almoçar, ficamos felizes ao vê-lo na cozinha. Ian chega em seguida,
coberto de neve.
― Como está sendo seu dia, garotão? ― James pergunta, tomando
sua sopa.
― Amor, o que aconteceu? ― Donna ri da situação do filho.
― Lake me derrubou e começamos uma guerra de neve. ― Ian se
sacode.
Jordyn o fuzila com os olhos.
― Moleque, você sabe quem limpou esse chão? ― reclama, fazendo-
o sorrir de maneira travessa.
― Você? ― Ian provoca saltitante até se sentar.
― E como está sendo o trabalho com os fenos? ― James chama sua
atenção.
― Qual a parte de guerra na neve você não entendeu? ― Ian o olha,
como se ele fosse um idiota.
O rapaz o encara com uma careta.

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― Mais tarde verei seu trabalho.


― Acho melhor você ir descansar ― aconselho, mas James balança a
cabeça em negação.
― Mofar naquela cama? Já me cansei. Preciso fazer meus serviços,
vai me ajudar na recuperação.
Olho para Jordyn, que revira os olhos com descrença.
― Ele sempre foi teimoso, não adianta ― diz contragosto.
Depois de comermos, sigo para o campo, brincando brevemente com
Ian na neve. A leve luz do sol ilumina o lugar, mas o frio continua intacto.
Logo, nós nos juntamos — Jordyn, James, Ian e eu — para afastarmos o gelo,
mesmo ele começando a derreter em algumas partes. Sorrio por Lake se
divertir com o montinho e limpo seu focinho cheio de neve quando me fareja,
Hush também se aproxima, fazendo-me acariciá-lo.
No celeiro, James tentar organizar o feno com esforço e dar vitamina
para os cavalos.
― O que faz com essa corda? ― pergunto ao encontrar o objeto no
chão.
― Apenas enrole e a pendure, não deixe Lake ver. ― A incredulidade
de James me faz rir.
― Por quê?
― Ele sempre as joga no chão, mas se nos vê com uma na mão, fica
agitado ― James diz com esforço ao pegar mais um feno e empilhá-lo.
― Será que ele tem algum trauma com cordas? ― pergunto,
enrolando-a e pendurando. ― Johnatan diz que o pegou ainda filhote.
― Sim, provavelmente deve ter algum trauma com isso.
Nós nos surpreendemos ao ver Jordyn no celeiro cheia de neve. Ian
aparece ao seu lado gargalhando enquanto Lake se diverte, esfregando seu
focinho gelado em seu pescoço, fazendo-a se encolher.

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― Eu mais campo é igual a não combinamos... Lake! ― ela


repreende o cavalo brincalhão.
― Deixe o Lesado se divertir, Jordyn ― James ri da situação. A
cabeça de Lake se levanta com o apelido.
Distraio-me com a entrada de Sid, que passa por nós com elegância e
segue para seu espaço. Eu a observo maravilhada, seu tamanho é
praticamente quase igual ao de Hush.
Quando terminamos nossos trabalhos, ficamos conversando por um
bom tempo. Somente entro na casa para pegar meu celular, verificando se há
chamadas, e volto para o celeiro a fim de ficar com os cavalos.
As horas parecem se arrastarem, penso em ligar para Johnatan, mas
lembro-me de que está em reunião e não quero interromper. Retorno para
casa assim que começa a nevar. Peter já havia chegado, revelando que
Johnatan comprou outro carro, eu não deveria ficar impressionada, mas sua
empolgação me faz refletir entre homens e seus hobbies.
― James, acho que por hoje chega, querido ― Donna sugere
acariciando seus cabelos depois de servir o chá.
Olho para ele, vendo-o um pouco abatido.
― Preciso dar um pouco mais de ração para os cavalos...
― Eu faço isso, James, não se preocupe ― interrompo-o.
Ele sorri agradecido.
― Também poderia fazer isso, mas estou morto ― Ian pondera,
deitando sua cabeça na mesa.
― Vão descansar, crianças ― Peter pede.
― Vou ligar para o meu pai, ele disse que virá me ver hoje. E, depois,
vou alimentar os cavalos ― informo sorrindo.
James aperta meu ombro antes de sair da cozinha. Por outro lado,
Jordyn parece concentrada num de jogo em seu celular.

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No meu quarto, ligo para papai com mais privacidade. Ele atende no
segundo toque.
― Mine ― seu tom de alívio me faz rir.
― Oi, papai, como está?
― Bem melhor agora, filha ― percebo a alegria em sua voz assim
como algo batendo. Com certeza está trabalhando em suas madeiras.
― Pensei que já estivesse a caminho para me visitar ― comento.
― Gostaria muito, mas decidi fazer isso depois de entregar algumas
madeiras para a loja. Algumas vieram em péssimas condições.
Suspiro por sua teimosia.
― Espero que não esteja se esforçando tanto. ― Não posso deixar de
me preocupar.
― Você sabe como sou. Trabalho pra mim não é problema. Agora,
estou de saída para ir até a cidade. Logo nos vemos, querida ― despede-se
com urgência.
― Dirija com cuidado. Colocou correntes nos pneus? ― pergunto
desconfiada.
― Sim, senhorita ― responde rindo, como se eu fosse a capitã de um
esquadrão.
― Nós nos vemos em breve ― despeço-me e desligo.
Franzo a testa ao ver as horas no celular, passei meu dia ocupada e
agora, no final da tarde, não tive uma ligação de Johnatan. Ligo para ele
imediatamente, sem me importar que esteja numa reunião.
― Roza ― ele atende no meio do primeiro toque, suspiro aliviada.
― Oi! ― cumprimento timidamente e o escuto afastar o telefone e
ordenar, num tom irritado, para que alguém espere um segundo. ― Eu
interrompi, não foi? Só estou preocupada com você...
― Eu aprecio muito sua preocupação, minha Roza. Está tudo bem

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por aqui, são só algumas complicações na reunião. Estou tentando desfazer


uma parceria, mas o financiador não está colaborando. ― Mesmo irritado,
seu tom me revela seu cansaço. Meu coração se aperta por tê-lo assim.
― Você quer que eu vá até aí para arrancar a língua dele? ― ameaço
escutando os resmungos.
― Eu adoraria. ― Sorrio com sua ironia obscura.
― Resolva logo esse assunto e volte para casa. ― Esfrego meu peito
e aperto meu rubi em agonia.
― Farei isso, eu prometo. Daqui alguns minutos estarei saindo ―
garante, mas é interrompido novamente com resmungos.
Assusto-me ao escutá-lo rosnar para alguém ao dizer o quanto está
insatisfeito com o trabalho e pedir, num tom brusco, que não o interrompa.
Engulo a saliva com força, não só com o súbito silêncio, como
também pela tensão que carrega até mesmo pelo telefone, eu realmente não
queria estar no lugar de quem quer que esteja com ele neste momento.
― Vou deixá-lo trabalhar, qualquer coisa, ligue-me ― digo
rapidamente.
― Oh! Minha Roza, eu não falei isso para você ― ele se desculpa
assustado até consigo mesmo.
― Eu sei ― conforto-o sorrindo.
Ele suspira, posso até imaginar seu sorriso torto do outro lado
enquanto me derreto.
― Só você para me acalmar. Obrigado por me ligar e por se
preocupar. Isso é fascinante. ― Ele consegue ser amável mesmo estando
furioso.
― Sempre vou me preocupar com você ― mordo meu lábio,
sentindo-me inquieta com nossa breve conversa. ― Johnatan?
― Sim, minha Roza ― sua voz cheia de carinho faz meu coração

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acelerar.
― Eu te amo e... volta logo para casa, amor ― sussurro para ele e
desligo em seguida, não querendo atrasá-lo com sua reunião.
Encaro a tela do meu celular deprimida, enfio o aparelho em minha
bota e caminho presunçosamente até a cozinha para ajudar Donna com os
pratos e a picar alguns alimentos, mesmo que ela proteste, pois necessito
ocupar minha mente. Depois retorno para o campo, inspiro o ar frio e esfrego
minhas mãos para aquecê-las.
No celeiro, Lake praticamente devora sua comida enquanto os outros
ainda aproveitam a neve. Com suas vasilhas cheias de ração, aproveito para
me encostar na cerca e assisti-los farejar, caminhar e correr. A luz do dia
começa a cair, deixando o lugar acinzentado, a neve cai tranquilamente e eu
não sei por quanto tempo permaneci ali parada, admirada, sem me importar
com o frio.
Hush parece cansado de ficar na neve e caminha para dentro do
celeiro tranquilamente, Sid também o segue, e Lake permanece no campo até
se entediar e se juntar a eles. Agora sozinha, eu posso voltar para casa
tranquilamente, não deixando de olhar para o portão de aço na esperança de
ver Johnatan em breve.
Ao me virar, sinto a agonia tomar conta do meu corpo por completo.
Meus joelhos travam assim que escuto um grito distante agonizante, meu
sangue se esfria dos pés à cabeça. Minha respiração trava enquanto olho ao
redor, assustada.
Permaneço em silêncio, na tentativa de escutar com mais clareza,
mesmo que talvez isso seja coisa da minha cabeça, mas o grito retorna alto e
embargado, vem do lado de fora e faz meu coração disparar.
― MINE! ― o grito cada vez mais alto me assombra.
― Johnatan? ― sussurro trêmula

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Não! Corro até o portão em desespero.


Eu penso em chamar todos na casa, mas sei que seria arriscado
demais colocá-los em risco. Assim que passo pelo portão, observo a rua
alarmada. O grito agonizante vem de dentro da floresta à frente, em seguida,
ele me chama novamente, fazendo-me arrepiar por inteiro.
― MINE! MINE!
Minhas lágrimas caem e forço minhas pernas a seguirem em frente
enquanto corro entre as árvores invadindo a floresta.
― JOHNATAN! ― Eu não posso enfraquecer, não devo. ―
JOHNATAN! AQUI!
O grito arrepiante fica mais contínuo e torturante. Corro no sentido
norte, sem nem mesmo encontrar no caminho qualquer objeto que sirva de
arma para que possa me ajudar a defendê-lo, se necessário.
Sinto todo meu corpo esfriar, estremecendo com minha respiração
ofegante, não tenho fôlego, e escutar seus gritos, deixa-me cada vez mais em
pânico. Olho ao redor, não sabendo onde encontrá-lo, tudo que vejo é neve,
troncos, copas de árvores e galhos traiçoeiros. A fraca luz do dia não ajuda
em nada, tornando tudo mais acinzentado, tudo mais sombrio. Puxo a
respiração e engulo em seco.
Eu não conseguirei ir muito longe sozinha, mesmo meu coração
estando apertado, mesmo sendo torturada pelos seus gritos, choro por não
conseguir chegar até ele. Imediatamente giro meu corpo a fim de voltar para
casa e pedir ajuda. Corro o mais rápido que posso, sempre olhando para trás
na esperança de encontrá-lo, em breve irá escurecer e perderemos essa
chance.
Subitamente, sofro um baque ao me topar contra alguém. As mãos
fortes me seguram a tempo, encaro-o, chocada e ao mesmo tempo aliviada.
― Johnatan, Johnatan ― choro tocando seu rosto com aflição. ―

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Você está bem? ― Checo seu corpo com minhas mãos agitadas.
― O que está acontecendo aqui? ― pergunta confuso, mantendo seus
olhos intensos em mim.
Não consigo segurar minhas lágrimas de alívio.
― Ouvi você gritando por mim. Parecia que estava sendo... torturado
― soluço, sentindo suas mãos quentes em meu rosto.
― Mine, amor eu não fiz nada disso ― meu coração se derrete por
ele, mas logo fico chocada quando o grito volta a me assombrar.
― Então... Johnatan, o que está acontecendo?
Olho em todas as direções e o abraço com força enquanto me encolho
com os gritos, às vezes distantes, às vezes próximos.
Johnatan me aperta em seus braços de maneira protetora.
― Eles usaram um gravador... Usaram você. Estão jogando ―
murmura em meus cabelos, parece dizer mais para si mesmo do que para
mim. Escuto seu coração acelerado.
Franzo a testa.
― O quê? ― não consigo raciocinar direito.
Confusa. Johnatan me afasta, protegendo-me atrás de seu corpo.
É quando vejo quatro deles se aproximando, todos vestidos de preto e
encapuzados com uma toca ninja. Um outro homem alto, e muito mais forte
que todos, também se aproxima em ameaça, seus olhos são sombrios e
perigosos. Agarro a mão de Johnatan assustada.
Os quatros fecham suas mãos em punhos firmes, estralando seus
ossos, como se preparando para a luta. O mais alto observa principalmente
Johnatan como seu alvo principal. Olho para trás em busca de uma trilha
como refúgio, mas, então, localizo outros dois escondidos atrás das árvores,
eles trouxeram mais reforços e sei que não são só aqueles, há mais
escondidos.

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― Johnatan? ― sussurro em choque. ― Há mais.


― Trouxeram as tropas ― diz apenas para mim sem deixar de perder
o contato com seus inimigos.
Assusto-me quando um deles se aproxima. Johnatan me empurra,
fazendo-me cair no chão para se proteger do ataque repentino. Logo, os
quatro homens se juntam numa luta frenética contra ele. Eu os assisto
tentando agarrá-lo para acertá-lo com golpes rígidos. Johnatan luta com eles
com agilidade e leveza, mas seus ataques são brutos como um leão.
Estranhamente, o homem alto continua atento.
― Johnatan! ― assusto-me quando seu rosto é atingido com
brutalidade.
Com seu rosto virado, vejo o sangue escorrer do seu nariz de
imediato, Johnatan limpa e rosna voltando a se defender, cada vez mais
violento. Levanto-me do chão com as pernas bambas ao notar os dois
escondidos se aproximando com cautela. Dessa vez, o homem mais forte
segue para a luta e é atingido com um chute no peito dado por Johnatan.
Entendo que está usando todas as suas forças para manter todos
afastados de mim, os homens são ágeis e tentam agarrá-lo até fazê-lo cair de
joelhos. Observo alarmada enquanto Johnatan lança seus olhos em chamas
febris em minha direção e me assusto com a expressão mais sombria que já
vi.
― Corre. AGORA! ― seu grito faz meu corpo congelar e minha
respiração acelerar.
Johnatan se levanta, acertando seus oponentes, mantendo-os longe de
mim quando ousam me tocar. Giro meus calcanhares e forço minhas pernas a
correrem. Evito olhar para trás, mesmo escutando os rosnados e grunhidos
por causa de seus esforços. Eu devo buscar ajuda, chamar Peter e pedir para
Donna acionar a polícia. De relance, noto um deles me seguindo, e corro o

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mais rápido que posso.


De repente, caio no chão junto com outro deles, que agarra minha
perna e me arrasta com violência. Ajo com desespero, conseguindo chutar
seu rosto com meu pé livre diversas vezes até mantê-lo afastado. Em seguida,
levanto-me com esforço, correndo para longe. Não tenho muito tempo, não
pode anoitecer, não aqui e não agora.
Percebo que não são apenas seis, ou sete, mas sim muitos, em grupos,
enquanto fujo dos que surgem em meu caminho. Ao me desvencilhar de
outro deles, um repentino impacto brutal em minha garganta me faz cair para
trás. Logo, eu me contorço na neve tentado tossir sem fôlego.
Minha respiração parece presa quando tento soltar ou puxar a ar.
Enfraquecida, sinto alguém puxar minha jaqueta para cima e tocar meu
pescoço, seguindo em direção ao meu colo. Quero golpeá-lo, mas a sensação
em minha garganta é tão agonizante que até posso escutar meus próprios
batimentos cardíacos.
― Como vai, Mine? ― a voz grossa faz meus olhos lacrimosos
piscarem assustados na tentativa inútil de enxergar a sombra escura à minha
frente.
― N-ão ― digo com esforço quando ele arranca meu colar com
força, jogando-o no chão.
Tento me debater mesmo com a dor em meu pescoço, mas sou
golpeada por um tapa forte no rosto, que me faz embarcar numa escuridão
profunda.

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51 – O INIMIGO

Desperto fracamente, encarando o piso de madeira gasta. A dor na


minha garganta é pulsante, mas dessa vez consigo inspirar o ar, tossindo, em
seguida, devido à ardência. Tento puxar minhas mãos para esfregar meu
pescoço, e as sinto presas atrás de mim. Olho para meu colo, percebendo que
estou sentada e amarrada.
O pânico volta a tomar conta de mim quando me dou conta de que
estou numa cabana de madeira velha e abandonada. Fico ainda mais
assustada ao ver um homem alto de costas vestido com roupas escuras,
acendendo um charuto sem pressa. Minha cabeça começa a latejar, logo me
pergunto onde está Johnatan, seguro minhas lágrimas e encaro o indivíduo à
minha frente.
― Que bom que acordou, Mine ― sua voz é informal e potente. ―
Pensei que iria me divertir com você desacordada ― suga seu charuto.
O cheiro faz meu estômago dolorido se embrulhar.
― Quem... é você? ― engulo em seco o vendo mexer em alguns
galões.
― Alguém que nem mesmo você imagina. É um prazer te conhecer
pessoalmente e tê-la aqui comigo. É muito difícil eu me encontrar com
alguém ou pedirem para vir até a mim, só em último caso. Bem, meu tempo é
muito precioso, por isso, durante toda essa... como posso dizer... Trajetória?
Hum, eu estive muito ocupado para resolver as coisas por mim mesmo. ―
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Não entendo sua explicação.


― Onde está Johnatan? ― estremeço ao pensar no pior. ― O que
fizeram com ele?
A risada sombria me faz encolher.
― Ele teve que lidar com meus homens ― sua tranquilidade não me
acalma.
― Deixe-o em paz ― peço em meio as minhas lágrimas, tusso com
meus esforços. ― Por favor!
O homem fuma seu charuto como se apreciasse o momento.
― Mine Anne Clark ― parece testar meu nome num sotaque
britânico. ― Vejo por que Johnatan se encantou por você a ponto de se
arriscar tanto. Vamos ver... Filha do marceneiro Edson Clark e a garçonete
Judith Clark. Certo, órfã de mãe desde muito nova. Também vejo que herdou
os genes do seu pai como curiosa, gentil, teimosa e idiota. ― Tento não
demonstrar meu pavor.
― De onde conhece meu pai? Deixo-o fora disso ― disparo ríspida.
― Eu conheço seu pai há muito tempo, mas não se preocupe, não é
ele quem me interessa no momento ― o homem finalmente se vira,
disparando seus olhos azuis em minha direção.
Eu o olho pela primeira vez assombrada. Ele tem todo o perfil de um
empresário arrogante, que esconde atrás de uma máscara um lado mais
sombrio. Mesmo sendo um pouco rechonchudo e de meia-idade, só pela
altura exala poder, assim como seu olhar frio.
Numa expressão assustadora, destaca-se em ameaça sem ao menos
precisar falar. Arregalo meus olhos ao enxergar a pouca semelhança familiar,
mesmo sendo mais velho, ele me lembra alguém de alguma forma. Balanço
minha cabeça sem poder acreditar.
― Você ― engasgo com minhas palavras. ― Não pode ser.

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Minha respiração acelera enquanto o homem caminha de um lado


para outro, apreciando seu charuto.
― Por favor, termine? Eu odeio ver minhas vítimas travarem ― diz
sem tirar sua atenção de mim.
Aperto meus lábios trêmulos e o encaro com ódio.
― Você é Charlie Makgold, pai de Johnatan. Você é o culpado de
todo esse tormento. ― Não consigo segurar a raiva, movendo-me da cadeira
inutilmente.
Meu desejo é de me soltar para socá-lo até a morte. Sua gargalhada
sombria me deixa paralisada.
― Você é boa nisso, menina. ― Mesmo tentando evitar tal feição,
seu sorriso lembra-me um pouco de Johnatan. ― É um prazer conhecê-la...
― Por quê? Para que tudo isso? Você matou sua esposa, sua filha!
Johnatan sofreu com todas essas desgraças, ele disse que te viu morrer. Por
que fez isso? ― pergunto sem fôlego e ao mesmo tempo pensativa.
― Um homem tem que fazer certos sacrifícios, Mine ― sua lógica
me dá asco.
― Matando a própria família, assim como outras pessoas inocentes?
― acuso-o.
― Pouco me importei! ― cospe sua fúria.
― Em troca do quê? ― pergunto desafiante, mas quem sabe com o
tempo que tenho posso trazer Johnatan até a mim. Embora, por algum
motivo, Charlie também não aparenta ter pressa. Por outro lado, sinto que
Johnatan pode me encontrar, mesmo não sabendo onde estou.
― A ambição, Mine, é um sentimento fascinante. Eu tive que
sacrificar muitas coisas na vida, e quando se tem a chance de ser um líder de
algo que tende a mudar o mundo, é um sentimento sem igual. Eu tive que
matar, lutar, me erguer para chegar onde estou. A base das minhas

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construções não estava agradando algumas partes, então, classifiquei mais


tarde como ameaças, e, quando dei por mim, estava quase à beira da morte,
se não fosse com ajuda de alguns companheiros “imprestáveis” que me
livraram de todo o prejuízo para recomeçar de novo. A regra era simples:
nunca deixar rastros para trás. Era um plano perfeito, mas o maior erro deles
foi deixar Johnatan sobreviver. Agora, se me perguntar se os amei, a minha
família, diria que um dia sim, mas, depois, foi tudo questão de negócios. ―
Seu ar superiormente orgulhoso me deixa ainda mais alarmada.
― Johnatan sofreu essa perda durante anos! Você diz que é questão
de negócio como se isso importasse mais que sua própria vida, mais do que
foi sua família. Então, você é o cabeça, é o que manda seus capangas o
seguirem enquanto está preocupado com tais negócios! ― acuso. Meu sangue
ferve por causa da minha raiva por esse ser imprestável.
Não, não... Imprestável seria elogio para uma mente tão psicopata.
― Johnatan tinha e deve ser morto, foi uma peça fora do quebra-
cabeça que eu não esperava. Todos os homens que mandei, os quais não
conseguiam capturá-lo, foram mortos pelo mesmo. Exceto um, o que você
atirou no joelho, lembra? Esse custou-me muito caro. Entretanto, Johnatan se
tornou ainda mais esperto, dificultando as coisas, tornando tudo muito
complicado. Ele me surpreendeu, mas acabou entrando em coisas que não
deveria, denegrindo tudo que há ao meu redor e destruindo o que estou
tentando conquistar durante anos. ― Ele me encara seriamente.
― Se é o prédio que tanto quer, por que não fica com ele e o deixe em
paz? ― jogo a isca dando-lhe a proposta.
Charlie acena sorrindo.
― É uma tentativa muito boa de persuadir. Nós da LIGA sempre
desejamos mais do que já temos, é esse o propósito de tudo. Mas se um dos
meus homens falharem, serão mortos a sangue frio. O prédio não é a única

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coisa que quero no momento, claro que me tornaria ainda mais poderoso do
que já sou, mais conhecido no mundo daqueles que querem partilhar comigo
suas conquistas. Homens têm pretensões, querida Mine. Um prédio seria
como me entregar uma folha de papel onde eu possa desenhar e dar formas
de como quero. ― Charlie diz com ironia.
― E o que você quer? ― disparo sem qualquer empatia.
― Tudo. A casa, as empresas, suas parcerias, o cofre de milhões de
dinheiro que eu sei que ele possui. Johnatan se tornou um homem de grande
prestígio, está no sangue, claro. Se ele pudesse trocar toda sua vida para se
juntar a mim, eu poderia fazer isso tranquilamente, mas conheço meu filho,
sei como é um Makgold...
― Johnatan não é como você ― interrompo enraivecida, o
surpreendendo.
― Vejo a imagem de uma garota ridiculamente apaixonada. Ora,
Mine! Não seja estúpida ― ele se vira para pegar um galão e espalhar o
líquido em círculos. ― Johnatan pode se apaixonar, ficar cego também, só
que um dia vai perceber que isso não é tudo, vai perceber que sempre irá
buscar mais e eliminar aquilo que já teve. É desgastante. Se bem que, até o
momento, vejo que você não significa tanto assim. Estou um pouco
desapontado. Por que acha que a estou mantendo aqui comigo? Eu adoraria
ver os olhos dele para ver o que está prestes a acontecer.
O cheiro de gasolina faz meu estômago se revirar. Choro ao sentir
meu celular vibrar em minha bota sem poder alcançá-lo.
― Você é um monstro! ― engulo meu pavor para me manter firme.
― Obrigado. Saiba que Johnatan também herdou essa genética ― diz
caminhando ao meu redor enquanto joga a gasolina. ― Ele mata e vive uma
vida, como posso dizer... Quase normal.
Seu comentário acende minha fúria.

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― Matando homens inúteis, sem capacidade para derrotá-lo ―


defendo-o com orgulho. ― Johnatan jamais seria como você, ele nunca foi.
Faz isso para proteger a si próprio e a todos à sua volta.
― É um dos fatos pelo qual devo matá-lo também, mesmo me
entregando tudo que tem, merece a morte. Um Makgold nunca agiria tão
emocionalmente. Eu não sei se, nesse sentido de emoção, eu fico agradecido
ou furioso com sua aparição na vida dele. Você facilitou muito para mim ―
Charlie encosta-se em minha cadeira para me encarar de perto enquanto eu
me afasto o quanto posso. ― Se você não agisse com tanta persuasão, não
estaria aqui. Saiba que meus planos são cuidadosamente calculados, pois se
não apareceu aqui até agora é porque é um incapaz ou não se importa com o
que você acredita que ele sinta. Agora mesmo, seu Johnatan deve estar tendo
que lidar com meu bando até ser capturado como um animal enraivecido,
cansado de tanto se esforçar por nada. E eu mesmo o matarei, pior do que foi
com minha imprestável esposa e minha irritante filha. Acredite, é prazeroso
enfim me livrar de tudo. ― Sua frieza obscura me faz estremecer dos pés à
cabeça.
Johnatan tem que saber quem é o responsável de todo seu tomento,
tem que saber que seu pai é o pior monstro psicótico que existe, mas não de
uma maneira que o deixe impotente, sem ter uma justiça em troca.
― Por favor, deixe-nos em paz ― peço enquanto o assisto voltar ao
seu serviço com a gasolina.
― Sou um homem que só admite erro uma vez e, com Johnatan, vi
que se tornou um costume. Estou cansado, tenho coisas mais importantes
para fazer, mas preciso dar um basta de uma vez por todas ― murmura como
se estivesse em uma conversa casual.
Esse homem é assustadoramente doente.
― E se ele entregar tudo que tem? Eu posso pedir para que faça isso

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― apelo para o suborno.


Assusto-me com sua risada grotesca.
― Sei o que está tentando fazer jovem ― seu sorriso desaparece,
tornando sua expressão ainda mais sombria. ― Mas me manipular é
inaceitável, e, como disse, ele me entregando ou não seus bens, estará morto
da mesma forma. Assim como você, por aparecer em sua vida e estragar
meus planos. Imagine, isso pode tornar tudo mais difícil mais tarde, claro,
afinal, se houver vínculo, terá bens a ser repartidos. Oh, não, isso não! ―
Charlie parece alarmado com seus próprios pensamentos altos. ― Não,
acalme-se. Sua morte não será tão dolorosa como eu gostaria. Mas se
sobreviver, esteja preparada para ser a próxima da minha lista de caça.
Ele joga o galão me espantando. Arregalo meus olhos horrorizada
quando o vejo acender seu isqueiro em ameaça.
― Por favor, Johnatan vai sofrer ― imploro, tentando engolir meu
choro.
― Como nos velhos tempos ― Charlie aprecia com os olhos azuis
ferventes cheios de prazer, jogando seu isqueiro nos rastros de gasolina.
O fogo se espalha por toda parte enquanto o vejo brevemente sair,
fechando a porta com tranquilidade. Choro, tentando me soltar, movendo-me
com urgência até a cadeira se desequilibrar, o que me faz cair no chão, meu
ombro dói devido à queda. O fogo me aterroriza, assim como a fumaça que
me sufoca. Grito alarmada ao escutar algumas madeiras caírem quando o
fogo começa a subir ainda mais e tusso quase a ponto de vomitar.
No meu pouco espaço, tento me afastar o quanto posso das chamas
que se aproximam. Choro pela minha impotência e luto com a cadeira
desesperada. Eu devo sair daqui, devo encontrar Johnatan, Charlie não pode
fazer isso com ele, não vou permitir. Quando escuto um estrondo forte em
direção à porta, luto ainda mais contra a corda que machuca meus pulsos e

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tornozelos.
― MINE! ― a voz de Johnatan me surpreende, num alívio sufocante
em meio a fumaça. ― NÃO! NÃO! MINE! CADÊ VOCÊ?!
― Johnatan ― tusso, não conseguindo gritar, sinto que quero colocar
tudo que comi para fora. Pior, meus olhos lacrimejam com ardor,
interrompendo-me de enxergar direito. ― Me tira daqui! ― peço aos choros.
Outro baque forte faz a porta se abrir, eu não consigo vê-lo, as chamas
estão altas, acabando com a estrutura da cabana. Minhas narinas ardem ao
tentar inspirar profundamente e meu abdômen dói pelas tossidas forçadas.
Quando consigo vislumbrar vagamente, surpreendo-me ao ver Johnatan
passar pelo fogo com um cobertor. Pisco para clarear minha visão irritada,
vendo seu rosto corado e levemente machucado. Ele me olha em pânico e
corre até a mim se encolhendo quando algumas madeiras do teto começam a
cair.
― Temos que sair daqui ― dispara ofegante, com urgência, enquanto
afasta as cordas do meu corpo.
Levanto rapidamente, sentindo-me dolorida. Johnatan envolve o
cobertor úmido em nós dois e sigo seus passos para onde me guia, sinto o
calor fora da coberta ao passarmos pelas chamas. Quando saímos, caio de
joelhos, inspirando o ar frio como se eu precisasse dele mais que tudo na
vida.
― Graças a Deus! ― mal agradeço a Deus e sou puxada por
Johnatan.
― Bomba ― ele anuncia. Olho chocada para uma espécie de relógio
fixado próximo à porta destruída.
Sobressalto com o estouro da janela devido ao fogo e sou carregada
por ele para o mais distante possível. Em poucos segundos, a cabana em
chamas explode enquanto Johnatan corre comigo para dentro da floresta.

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Abraço seu pescoço com força, sentindo como se meu coração estivesse
preso na garganta. Meu Deus, eu estaria morta se ele não chegasse, eu
estaria...
― Shhh... ― seu sussurro suave me faz perceber que estou tremendo
junto com meu choro.
― Há mais deles. Onde estão? ― soluço.
Observo a floresta pouco iluminada pela lua cheia, sua luz passa entre
as copas de árvores refletindo entre sombras escuras e prateadas, dando um
contraste obscuro e ao mesmo tempo desconfiado.
― Eles tentaram me cercar, mas mesmo eu conseguindo me despistar,
não devem estar muito longe. Minha única preocupação é te levar para longe
daqui ― diz sem fôlego, não permitindo me soltar de seus braços.
Quando estamos o mais distante possível, Johnatan me coloca no chão
para examinar meu rosto preocupado. A fúria passa pelos seus olhos quando
me afasto surpresa ao tocar em minha face dolorida, assim como também o
canto da minha boca. Eu também toco o seu, vendo a marca de um soco em
sua bochecha, além de febril, ele está muito suado.
― Temos que ir para casa. Eles podem te encontrar ― engulo meu
pavor. ― Como conseguiu chegar até a mim?
Por um lado, fico confusa, já que a distância de onde estávamos para
onde nos encontramos no momento é enorme, mesmo não sabendo nossa
localização, aqui é um pouco mais rochoso do que plano.
― Seu celular ― responde exasperado, esfregando seu rosto em
frustração. Vejo meu colar enroscado em sua mão. ― Liguei para Peter assim
que consegui me afastar a tempo para me certificar sobre você, foi quando vi
seu colar na neve... ― mesmo passando por todo aquele pesadelo, aquilo
ainda o enfraquece. ― Depois tentei te ligar, mas o maldito sinal caiu, por
sorte, o sistema de rastreio do seu aparelho estava ativado no meu celular.

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Naquele momento, não sabe o quanto me deixou apavorado, fiquei feito


louco matando tudo que via pela frente só para encontrar você! ― confessa.
Seguro seu rosto para acalmá-lo.
Abraço seu corpo quente, apertando meu rosto contra seu peito até
sentir seus braços me cercarem, transmitindo seu alívio. Escutar seu coração
muito acelerado me faz lamentar todos seus esforços, toda sua luta.
― Isso tudo vai acabar, você vai ver. Agora, precisamos voltar para
casa. Tenho que te contar muitas coisas ― beijo seu peito como se tentasse
acalmar seu coração.
Johnatan inspira fundo e me olha com intensidade. Seu toque delicado
em meu rosto me faz inclinar a cabeça sem me importar com a ardência em
minha pele.
― Quem bateu em você? Quem a machucou? Oh, me perdoe ―
lamenta mais para si mesmo. ― Eu pensei que iria perder você. Eu não posso
perder você. ― Escutar a tristeza em sua voz me destrói.
Acaricio seu rosto afastando seus cabelos curtos.
― Eu estou bem aqui. Vamos ficar bem ― sussurro, não querendo
demonstrar fraqueza, mas sim minhas forças para tê-lo de volta comigo.
― Minha Roza, minha Mine ― murmura como uma oração,
puxando-me para seus braços e colando seus lábios nos meus.
Eu o beijo com todo meu amor, com toda minha paixão. Seu abraço
apertado me faz sentir segura. Ali, junto com ele, não há dor nem desespero e
não me sinto preparada para me afastar de seu beijo terno cheio de doçura,
muito menos de seus braços protetores. Contudo, o que me força a me separar
dele é um barulho de tiro ao longe. Não temos tempo, a ameaça se aproxima
ou Charlie...
― Precisamos sair daqui, agora ― olho ao redor. ― Eles estão se
aproximando.

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Quando volto minha atenção para ele, seus olhos continuam ternos.
Acaricio seus cabelos, deslizando minhas mãos por seus ombros largos,
adoraria, mas naquele momento, não posso me perder na sua intensidade.
― Você é tão forte, minha Roza. Eu não sei o que seria de mim sem
você. Obrigado por ser a coisa mais importante que apareceu na minha vida.
― Eu me derreto por sua declaração estranhamente suave e cheia de carinho.
― Tenho que me manter firme por nós ― sorrio com ternura. ―
Mas, por favor, vamos sair daqui, amor. Agora...
Quando arrasto minha mão direita para acariciar sua mandíbula, paro-
a no ar, incrédula, há sangue, e ele escorre em minha palma. Encaro meu
corpo horrorizada antes de checar Johnatan. Abro a boca sem saber o que
dizer.
― Não! ― perco o fôlego. Johnatan perde a força de suas pernas. ―
Não, não, não ― caio de joelhos desesperada.
O sangue se espalha imediatamente por sua blusa. Dependendo de
onde foi atingido, tenho medo de movê-lo para tentar encontrar a ferida e
controlar o sangramento. Tento segurar meu choro agonizante.
― Mine... ― ele respira com dificuldade e afasta sua jaqueta, como
se tentasse ver sua ferida.
Johnatan ofega.
― Johnatan, olhe para mim, olhe para mim. Respira, respira. Amor,
eu estou aqui. Não feche os olhos ― imploro para que ele continue fixo em
mim.
Rapidamente, alcanço meu celular de dentro da minha bota e seco o
sangue em minha blusa enquanto tento ligar para emergência.
― Mine... Vai. Ficar. Tudo bem ― seu esforço me faz chorar ainda
mais.
Mesmo com a pouca iluminação vejo seus lábios perderem a cor de

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imediato, suas pálpebras começam a se mover com lentidão. Sua mão se


ergue e a pego apertando contra meu rosto.
― Vai sim. Apenas não feche seus olhos, está bem? Eu estou bem
aqui...
Minha paciência e meu desespero não me ajudam, desligo retornando
a ligar novamente.
― Tudo bem, minha Roza ― tenta dar seu melhor sorriso. Solto sua
mão trêmula para cariciar seu rosto.
Quando a emergência me atende, tento lhe dar a localização da casa
Makgold, mas nem mesmo consigo escutá-la. Johnatan acaricia meu rosto
sem tirar os olhos de mim. Em seguida, tento ligar para Peter.
― Eles estão chegando, aguenta mais um pouco ― digo tocando seu
peito quando vejo sua respiração cada vez mais acelerada.
― Eu estou aguentando ― ele tenta me tranquilizar, mesmo
aparentando estar com dor.
O celular de Peter está fora de serviço e praguejo, tentando o celular
de James. Choro ao ver suas lágrimas, balanço minha cabeça me recusando
que ele fique assim. Enquanto aguardo James me atender, escuto Johnatan
dizer algo em russo, franzo a testa querendo entender.
― O quê? ― minha voz nem consegue sair direito.
Johnatan me olha com seus olhos embargados e um leve sorriso nos
lábios. Sua mão ainda acaricia meu rosto presunçosamente.
― Mine... Eu. Eu... ― ele pisca seus olhos fracos na tentativa de se
manter firme. ― Eu...
Sua voz está muito sobrecarregada, não quero que se esforce ainda
mais, mesmo assim, choro ao seu lado sabendo o que irá me dizer. Beijo sua
mão, grudando-a em meu rosto novamente.
― Eu sei ― sussurro estremecida. ― Eu também amo você. Amo

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tanto que vou esperar você dizer na hora certa, no momento certo.
Ele acena sorrindo e me olhando com amor, mas, naquele momento,
seu olhar congela no mesmo instante em que sua respiração para, sua
expressão se torna vazia, deixando uma lágrima escorrer no canto do seu
olho. O celular em minha mão cai, mesmo escutando a voz de James,
enquanto o choque me atinge por completo.
― Johnatan? Fala comigo! Por favor... Não faz isso. Eu preciso de
você ― peço encarando seus olhos azuis sem vida. ― Respira, por favor...
Johnatan...
De repente, a dor angustiante me atinge com força, meu coração
parece rasgar de dentro para fora. É como se a escuridão me consumisse num
milésimo de segundos sem nem ao menos notar sua presença. Eu não posso
imaginá-lo daquela forma, só posso estar em um pesadelo, quero acordar,
mas não posso carregar aquela imagem de Johnatan comigo.
O pavor toma conta do meu peito enquanto tento inutilmente fazê-lo
acordar. Meu choro inconsolável me deixa sem ar, meu corpo não consegue
se manter firme vendo-o daquela forma. Abraço seu corpo implorando para
que respire, para que seu coração volte a bater, pois só escuto o silêncio em
seu peito.
Quando ouço passos brutos e firmes se aproximando, esforço-me para
levantar e proteger seu corpo de qualquer ameaça. Eu não sairei de perto
enquanto ele não estiver a salvo. Porém, uma sombra reluzente me chama
atenção, e logo me assusto ao ver Sid correr em minha direção.
Encaro Johnatan ainda com seus olhos abertos, percebendo que suas
palavras em russo foram de comando. Ergo minha palma em direção à Sid,
que corre sem hesitar.
― Sid... Não! ― balanço minha cabeça em negação. ― NÃO!
Sid abaixa-se próximo a mim em sua corrida, curvando sua enorme

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cabeça em direção à minha cintura. O impacto me pega desprevenida ao ser


arremessada para cima, fazendo-me cair em suas costas e agarrar sua crina
enquanto ela continua a correr.
― SID, VOLTA! ― Puxo sua crina para que ela volte para Johnatan,
mas apenas recebo seu relincho assim como sua corrida mais bruta.
Forço meu corpo a descer, mesmo em movimento, mas sou
empurrada por Hush que surge de algum lugar, ajustando-me de volta com a
ajuda de sua cabeça. Olho para trás, chorando na tentativa de ver o corpo de
Johnatan através dos meus cabelos.
― Por favor, volta! ― peço trêmula até não o ter mais em meu campo
de visão.
Seguro-me em Sid com firmeza, apertando meu rosto contra sua
pelagem branca. Ambos os cavalos estão ofegantes, correndo lado a lado sem
nenhuma intenção de retorno, a escuridão da noite já toma conta da floresta,
assim como me sinto por dentro, por outro lado, reflito se o bando já se
recolheu depois do atentado, foram atacados pelos próprios cavalos ou
continuam escondido.
Eu não posso acreditar no que está acontecendo, meu coração dói com
o sentimento atormentado. Pisco meus olhos lacrimosos por causa da
repentina iluminação da casa se aproximando, em seguida, vejo a
caminhonete de meu pai estacionada ao meio-fio. Estranho, não há
movimentações. Com os portões abertos, Sid e Hush entram comigo.
Quando Sid se curva, escorrego pelo seu corpo, forçando minhas
pernas a correrem até Peter, que está prestes a seguir para a entrada da
mansão. Seus olhos se erguem assustados, encarando o sangue que há mim.
― Mine?
― Peter, tem que ajudá-lo, por favor, Peter... ― desespero puxando
seu casaco. ― Ele está lá, foi atingido e tem vários deles querendo pegá-lo.

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Peter, ajude-o! ― imploro aos prantos.


Todo o sangue de seu rosto desaparece ao encarar a floresta à frente.
Sid e Hush parecem agitados, como se avisassem do perigo, minhas mãos
mancharam a pelagem de Sid de sangue, Hush parece um pouco manco.
Logo, James sai da casa confuso e me olha assustado.
― James, precisamos seguir os cavalos. Vamos! ― Peter ordena,
jogando seu celular no chão e correndo em direção aos cavalos que entram
para dentro da floresta novamente.
― Ele está lá ― aponto para James, vendo seus olhos se arregalarem.
― Meu Deus! ― James se espanta, seguindo Peter com urgência.
― MINE! ― Viro-me vendo meu pai sair da casa, seus olhos se
arregalam ao ver o sangue em minha roupa. ― O que aconteceu? Onde você
estava? ― pergunta, correndo até a mim e segurando meu rosto.
― Johnatan... Pai, precisamos ajudá-lo. ― Choro me afastando dele
para seguir os outros.
Seus braços me cercam rapidamente.
― Não, Mine, você não pode! ― meu pai me prende em seus braços
com força.
― Pai, ele precisa de mim! Há vários homens na floresta querendo
matá-lo, um deles atingiu Johnatan. Sid e Hush me trouxeram para cá porque
Johnatan os chamou... ― eu mal consigo falar com a voz embargada.
― E é por isso mesmo que você deve ficar aqui! ― repreende-me
apertando seus braços com mais firmeza quando ouso me contorcer para me
livrar do aperto a fim de correr até a floresta. ― Filha, me escute, se Johnatan
fez isso, foi porque ele não quer que você corra perigo. Então, permaneça
aqui, vamos esperar até os outros voltarem.
Soluço e deixo meu corpo cair em seus braços enquanto desabo no
chão, sem forças para lutar contra ele.

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― A polícia já está a caminho. Bem... já era para estar ― escuto


Jordyn confusa, o mesmo me pergunto eu. ― Eu escutei tiros, em seguida,
um estrondo e tive que ligar. Onde está o senhor Makgold? ― pergunta. Olho
para cima vendo as lágrimas em seus olhos.
Tento engolir o nó em minha garganta.
― Chama a ambulância também, Jordyn. Eu tentei ligar, mas podem
ter pensado que era algum trote ― lamento sem forças. Jordyn consente
rapidamente, já discando no telefone.
Meu pai permanece comigo enquanto aguardamos, ainda tenho a
esperança de ver Johnatan saindo da floresta a salvo. Só me dou conta de
Donna diante de mim quando ela começa a limpar minhas mãos com um
pano úmido, seus olhos estão tristes e opacos. Ian fica com Jordyn minutos
depois que ela termina de chamar uma ambulância. Quando Donna limpa
meu rosto, olha-me com carinho e preocupação.
― Seu rosto está um pouco machucado e sujo de cinzas, querida ―
seu comentário faz meu pai me olhar assustado.
― Alguém tocou em você? ― pergunta, abaixando-se para olhar em
meus olhos, algo em minha expressão o deixa derrotado. ― Está com cheiro
de queimado ― murmura quando beija meus cabelos.
― Pai, isso não é importante agora... ― sou interrompida ao escutar
as sirenes.
O carro passa pelos portões e estaciona. Os dois policiais, um ruivo e
outro louro, saem do carro encarando a casa um pouco intimidados. Levanto-
me do chão e fico ao lado de Donna quando meu pai se aproxima deles para
contar o que está acontecendo. Os policiais me olham um pouco assustados,
dando um breve aceno.
― Eu não deveria ter me afastado dele ― sussurro para Donna, quase
sem voz.

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Sua mão se ergue para acariciar meus cabelos.


― Se os cavalos te trouxeram até aqui é porque fizeram a coisa certa.
Agora é só esperar que Johnatan esteja bem ― ela tenta me confortar.
Balanço minha cabeça chorando.
― Ele não... Os olhos dele, a respiração, o coração... Eu só quero
acordar desse pesadelo ― estremeço abraçando-me com força.
Donna cerca seus braços ao meu redor, buscando me dar algum
conforto, mas sinto o vazio dentro de mim. O frio ainda domina meu corpo, o
sentimento de agonia me deixa sem saída. Assisto um dos policiais sacar sua
arma antes de entrar na floresta, deixando seu companheiro passar as
informações pelo rádio. Meu pai deixa os homens fazerem seu serviço,
tornando a ficar do meu lado.
― Um deles vai ver como está a situação caso precise de reforço ―
meu pai informa um pouco aborrecido.
Isso acende minha fúria.
― Reforço? Há vários homens dentro daquela floresta, eles precisam
mais do que dois policiais ― critico entredentes.
― Mine, eu não posso fazer nada quanto a isso querida, devemos
esperar por notícias...
Nós nos assustamos quando o rádio do policial toca para saber se a
ambulância já está a caminho. O policial confirma e escuta o comando do seu
companheiro. Encolho-me em meu lugar, na expectativa de ver Johnatan
ileso, a esperança continua em mim, pronta para correr para seus braços.
Poucos minutos depois a ambulância chega, assim como outros
veículos, assisto atentamente ao policial se aproximando da equipe para
informar a situação. Eles seguem em frente com seus equipamentos com
urgência, mas o eco de um tiro vindo de dentro da floresta nos assusta.
Apavoro-me, enterrando meu rosto no peito de meu pai para ocultar meu

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grito.
Depois de longos minutos, talvez horas, escuto Jordyn murmurar
temerosa:
― James... ― Desgrudo-me de Edson para olhar na mesma direção.
James sai entre as árvores mancando, as lágrimas preenchem seus
olhos. Ele caminha em nossa direção, dispensando ajuda médica. Os ombros
curvados demonstram sua derrota. Forço minhas pernas a darem alguns
passos e paro quando ele passa por mim sem conseguir me olhar. Minhas
lágrimas retornam com força enquanto encaro a floresta à frente, não me
permitindo acreditar que o pesadelo continue diante dos meus olhos.
― Mine, fique aqui! ― meu pai agarra meus ombros.
Respiro com mais dificuldade quando Peter surge de cabeça baixa, em
seguida, os policiais, assim como a equipe médica que carrega em uma maca
um corpo dentro de um saco preto. Balanço minha cabeça enquanto puxo o ar
com força.
― Eu sinto muito ― Peter lamenta quando passa por mim para ficar
ao lado de Donna.
Naquele momento, eu me dou conta de que meu mundo desaba em
pedaços.
― Não... ― balanço minha cabeça. ― NÃO É ELE, NÃO É! ― grito
forçando minhas pernas a correrem.
Meu pai me interrompe, segurando-me enquanto tento lutar em seus
braços.
― Mine, por favor, filha! ― pede com força, tentando me manter
imobilizada, de repente, sinto mais pessoas me segurando.
Sinto o buraco perfurar meu peito e a dor consumir cada parte do meu
corpo. Paro, sem forças de lutar contra aqueles que me seguram, o sentimento
é tão sufocante que deixo o grito agonizante escapar da minha boca,

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assustando a todos.
Sem perder o foco do horror à minha frente, assisto à equipe colocar a
maca dentro do veículo, um dos profissionais se dirige a um policial,
enquanto me olha com tristeza, como se lamentasse por mim.
― Fala para mim que não é ele. Peter, tire ele de lá, agora! ―
imploro. Tento me manter forte, mas uma parte de mim parece entorpecida.
― O que aconteceu? ― meu pai pergunta a alguém, ainda mantendo
seus braços em torno de mim.
― Os cavalos nos levaram até ele. Depois, o policial disse que estava
no controle, apenas atirou em um sujeito próximo, que parecia estar de vigia,
só não conseguiu pegá-lo devido à escuridão. Quando chegamos ao local,
vimos o fogo. Nos aproximamos e vimos um corpo ser queimado. Peter e eu
abafamos as chamas com nossos casacos, e aguardamos o socorro. ― Encaro
James alarmada com a informação, ele tenta ter todo o cuidado para falar em
minha presença. ― O corpo estava carbonizado, tínhamos chegado tarde
demais, não conseguimos reconhecer. Somente o relógio no pulso e as
abotoaduras, que pertenciam ao senhor Makgold... e isso ― James tira de seu
bolso meu colar de rubi. ― Estava ao lado.
Quanto a algum incêndio em uma cabana, nada é mencionado. Claro,
Charlie deve ter seus meios de ocultar seus podres. Pego meu colar trêmula,
apertando a pedra fria em minha palma com força. Balanço a cabeça, sem
conseguir acreditar.
― Mesmo assim vão ter que fazer exames para reconhecimento do
corpo. Eu não queria acreditar, mas quando vi... ― Peter engole sua tristeza
com dificuldade.
Sinto-me estremecer por inteira, o zunido do meu ouvido me deixa
atônica até minha ficha começar a cair, trazendo-me para a realidade. Não
estou em um pesadelo, estou vivendo o pior inferno da minha vida tendo nele

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Charlie Makgold vivo.


― Ele levou um tiro, depois o coração dele parou, e mesmo assim o
queimou? Que espécie de monstro ele é? Todos, todos eles mataram
Johnatan. Eu não deveria ter me afastado, não deveria tê-lo deixado sozinho
― reflito desesperada, encarando meu colar com pavor. ― Mataram meu
Johnatan... E-e ninguém fez nada? DEIXARAM UM DELES ESCAPAR! ―
disparo minha fúria para os policiais sem qualquer piedade.
― Mine, fizemos o possível ― Peter tenta me acalmar. Eu não devo
culpá-lo, nem ele, nem ninguém da casa, mas como Johnatan disse uma vez:
não se deve confiar em ninguém fora dali.
Fecho meus olhos e tento controlar minha respiração por alguns
instantes. Quando os abro, vejo os veículos da ambulância, assim como do
IML, darem a partida depois de um dos médicos conversarem com Peter.
Depois, volto minha atenção ao meu redor, vendo um dos policiais continuar
com seu trabalho, informando seus outros companheiros distantes a busca
pela quadrilha que estava na floresta, se é que já não estão bem longe.
Pela minha visão periférica, noto meu pai me observar preocupado,
como se a qualquer momento eu estivesse a ponto de surtar. Cambaleio para
frente, sentindo meu corpo tremer. Então, percebo a choradeira, Jordyn
lamenta nos braços de James, assim como Ian faz nos braços da mãe, que luta
para se manter firme, não só pelo filho como por todos nós.
― E agora, o que será da gente? ― Jordyn lamenta em seu choro
fazendo James apertá-la em seus braços e afastar suas lágrimas.
O mundo não pode desabar da noite para o dia, sei que para eles
aquela casa é sua família, foi onde Johnatan a reconstruiu e os manteve
seguros. Sinto-me sufocada a ponto de explodir por causa de suas emoções,
preciso de espaço. Por outro lado, também preciso me certificar de que os
cavalos voltaram e que estão seguros. Afasto-me, seguindo para o campo em

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silêncio, a mão de meu pai alcança meu ombro curvado, fazendo-me parar.
― Eu só quero ficar sozinha ― peço trêmula, incapaz de encará-lo.
― Tudo bem ― ele me permite seguir meu caminho.
Esfrego meu rosto para expulsar minhas lágrimas e sigo para o celeiro
pouco iluminado. Logo estranho quando escuto um relinchar afobado. Olho
em volta com cuidado, caminhando devagar até entrar no celeiro e me
esconder na sombra.
― Hey! Shhh! Está tudo bem garoto. Que tal darmos uma volta? ―
escuto uma voz grossa.
Percebo que é Lake que relincha, espio atrás dos fenos o policial
tentar se aproximar de Lake com uma corda na mão. Johnatan não permitiria
isso com seus cavalos, muito menos eu. O homem continua a insistir em se
aproximar de Lake, que parece temer a corda. Meu sangue ferve quando o
policial perde a paciência e atinge Lake com o objeto como se fosse um
chicote, Lake se assusta amedrontado. Atrás de mim, vejo a arma pendurada
que James usa para assustar os pombos. Vou até ela em silêncio, tirando-a do
lugar sem fazer barulho.
Escutar o pequeno relinchar agonizante de Lake me faz perder o
controle e caminhar em passos duros até o meio do celeiro para que o policial
possa me ver. Escondo a grande arma atrás de mim sem que ele perceba, o
homem se assusta a me ver e vejo seu sorriso brilhar com a luz da lua.
― Oh! Olá ― diz surpreso com minha chegada. ― Ele é lindo, estou
tentando ser simpático, mas ele não parece feliz...
― Você deveria estar com seu companheiro, ajudando-o com o seu
trabalho. Então, afaste-se do cavalo e corra! ― impressiono-me quando
minha voz saia tão limpa e fria.
― Mas é que o lugar sempre me chamou muito a atenção. Eu não
pensei que o falecido Johnatan Makgold possuía cavalos. Qual o nome desse?

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― pergunta tentando acariciar Lake, mas ele se afasta.


Eu o fuzilo com meu olhar por mencionar Johnatan e também por
tentar se aproximar de Lake ainda com a corda em sua mão. Inspiro fundo
antes de revelar a arma, mirando em sua direção. Sua expressão congela
rapidamente.
― Vou repetir novamente. Corra ― digo em tom de ameaça,
segurando a arma com firmeza.
― Senhorita, eu sei que está em um momento difícil, mas não se deve
perder a cabeça. Você não sabe manusear essa arma, ela é muito pesada. ― É
como se ele estivesse falando com uma criancinha. ― Você tem que aceitar o
fato de que seu namorado está morto.
Ergo minha sobrancelha desconfiada. Bingo.
― Bem, em nenhum momento lhe disse que ele era meu namorado,
mas já que parece bem-informado, eu mandei você correr! ― ordeno.
Destravo a arma pesada e atiro atrás dele, atingindo uma das madeiras do
celeiro. Ele salta assustado ― FORA DAQUI!

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52 – SUA BRAVURA

― Senhorita... ― eu não tenho tempo para suas conversas.


Carrego a arma, fazendo-o cair para trás e se rastejar no chão
enquanto caminho em passos duros até tê-lo fora do celeiro, seguindo-o com
a arma.
Atiro novamente, mantendo meus braços firmes para que não me
empurre para trás. O medo nos olhos do policial me faz seguir em frente e
atirar em pontos cegos para que ele se afaste. Minha fúria se altera ainda mais
quando noto a tatuagem em sua mão, rosno para ele, assustando a todos
quando aparecemos em frente a mansão, onde ele deveria estar.
― Mine? ― meu pai me chama, mas não recuo. Miro a arma para os
policiais, deixando transparecer meu ódio.
― SAIAM DAQUI! ― ambos os policiais recuam.
― Está apontando a arma para as pessoas erradas, senhorita. Não
pode passar por cima da lei ― seu companheiro alerta, carrego minha arma
pronta para puxar o gatilho.
― Eu quero que vocês saiam daqui! ― minhas palavras duras os
deixam perplexos.
O policial que estava de patrulha pega sua arma e aponta para mim,
seu parceiro fica em pé tentando recuperar o fôlego.
― É melhor abaixar a arma, mocinha. Não queremos causar nenhum
transtorno, nem espantar as pessoas presentes ― o homem destaca seu tom
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de aviso e superioridade.
― Há coisas que não sabem sobre mim. Mas já alerto que eu não
tenho medo de vocês ― disparo sabendo que eles entendem minhas palavras.
― E outra! Nenhum de vocês é ou será como Johnatan. Portanto, não
coloquem ordem onde não devem, muito menos toquem nos cavalos, e se
isso chegar a acontecer, eu mesmo estourarei seus miolos sem misericórdia. É
melhor saírem dessa casa sem olhar para trás e nunca mais colocarem os pés
aqui. ― O outro policial imediatamente solta a corda de sua mão.
― Acho que a senhorita vai ter que nos acompanhar ― o policial com
a arma apontada para mim ameaça. Olho para a tatuagem nas costas de sua
mão com a sobrancelha erguida.
Para minha surpresa, escuto outra arma ser destravada. Pela minha
visão periférica vejo meu pai apontar sua espingarda para ambos.
― É melhor afastar essa arma para bem longe da minha filha, infeliz!
― meu pai grunhe num tom autoritário.
― Senhor Clark, deveria saber educar sua filha, não sabe dos riscos
que ela pode estar causando neste momento. ― Observo seu companheiro
pegar sua arma e apontar em minha direção com um sorriso irônico.
― Somos dois contra dois. É melhor soltarem as armas, fazendo isso
pelo o bem de todos.
Fico prestes a ordenar para que todos entrem na casa, mas pisco
brevemente confusa quando Ian se coloca à nossa frente. Os policiais também
têm a mesma reação, porém o encaram como se ele fosse sua primeira vítima.
Aperto meus dentes e respiro fundo. De repente, escuto o garoto pronunciar
frases russas.
Suas falas fervem em comando, em seguida, Hush e Sid surgem do
lado oposto, juntando-se a nós. Sid se põe ao meu lado, encarando os
policiais, sua pelagem branca está ainda mais suja de terra e manchas de

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sangue. Em seus olhos escuros, consigo ver a sua frieza como também sua
vulnerabilidade, basta uma palavra de Ian e, com toda certeza, ela avança.
Do meu lado oposto, não tão distante, Hush se mantém como vigia
pronto para qualquer movimento que possa bloqueá-los. Ele está sujo como
Sid, porém um pouco machucado, sua respiração é mais ofegante, como se
tivesse lutado contra um batalhão, o que era um fato. Em seguida, Lake se
põe à frente de Ian, surpreendo-me pela quantidade de sangue seco em seu
focinho, embora não tenha como enxergá-lo direito no celeiro.
É bem provável que ele tenha ido ajudar na floresta e retornou sendo
surpreendido pelo policial, agora que a corda estava fora de seu caminho, o
cavalo caramelo joga um pano escuro à sua frente, antes de curvar seu corpo
à espera da ordem de ataque. Quando observo o lenço escuro mais atenta,
percebo que é uma touca ninja, a mesma que o bando usava na floresta. Os
policias, surpreendidos, não abaixam suas armas, mas são nítidos seus
semblantes amedrontados, principalmente com a presença de Sid.
― Eu acho que vocês não são bem-vindos aqui, senhores! ― escuto
Jordyn atrás de mim.
― Um bando de animais e pessoas mal preparadas não nos
amedrontam ― o policial a responde grosseiramente.
― Alguém mais pode nos deter? ― o outro zomba com sarcasmo,
fazendo seu colega ri.
De repente, eu me distraio com o som de algo se movimentando. Por
cima dos muros que cercam o campo, vejo armas potentes surgirem, estilo
metralhadoras, e se colocarem em suas posições. São uma seguida das outras,
destravando-se em sincronia e mirando nos alvos.
Atrás de mim observo armas ainda maiores acima da casa. Choco-me
cada vez mais com o jardim, outras armas de fogo surgem por debaixo da
grama, essas são mais robustas que os fuzis, possuindo até uma lente com

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mira automática.
Uma delas brota próximo a mim, apontada para os policiais e percebo
que ela tem uma lente avermelhada. Sou novamente surpreendida quando
lasers de neon vermelho circulam pelo campo até pararem próximo a nós, um
dos policiais estica seu braço para tocar e afasta a mão de repente, como se
acabasse de ser queimado.
― Não pensaram que o senhor Makgold deixaria a casa desprotegida,
pensaram? ― escuto Peter dizer e olho para trás, vendo-o encarar os policias.
― Também já aviso que é melhor vocês saberem onde pisam. ― Nos pés dos
policiais, surpreendo-me com pontos avermelhados abaixo de seus sapatos.
Eles se mantêm imóveis.
― Mine ― James chama minha atenção com seu sussurro. Jordyn me
olha amedrontada e vejo um minúsculo controle em sua mão.
― Não atire! ― Jordyn alerta me deixando confusa. ― Se fizer isso,
as armas podem ser apontadas para você.
Aceno, abaixando minha arma antes de me virar para frente. Os
cavalos continuam em suas posições, e me surpreendo vendo Hush
completamente imóvel entre os lasers.
― Agora, não são mais dois contra dois, mas sim uns oitenta contra
dois ― meu pai destaca com ironia.
Os policias olham em volta.
― Seu chefe tinha autorização para possuir esse tipo de armamento?
― um dos policiais pergunta. ― Makgold deveria ser preso ― ele diz
rispidamente.
― O senhor Makgold tem a autorização até das mais pesadas. Aliás,
não é ilegal possuí-las e também nunca foram comprovadas as acusações para
que ele não tivesse o direito de tê-las. Seu advogado Matt Polosh fez o seu
trabalho, apresentou sua inocência e de tudo que foi comentado contra ele

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pela morte de sua família anos atrás. Mas se quiserem entrar nessa briga,
garanto a vocês que devem procurar também por algumas autoridades
importantes no governo. Johnatan Makgold fez questão de mandar seus
registros até mesmo para o Presidente ― a revelação de Peter me surpreende.
Os policias mafiosos abaixam suas armas, sem saída, e se olham,
parecendo desconfortáveis. As luzes abaixo dos seus pés somem, deixando
que se movam.
― Não precisamos mais dos seus serviços, podem sair daqui! ― meu
pai ordena.
Ambos esperam que as armas equipadas ao redor da casa voltem para
seus lugares, porém elas continuam paradas.
― Isso não vai parar por aqui, estão sabendo disso? ― o policial
ruivo, que estava no celeiro, diz ao guardar sua arma.
― Já perderam seu tempo. Vão embora, por favor! ― Donna pede
com firmeza, sem deixar a dor dominar sua voz.
― Nós nos veremos em breve, senhores. ― O outro recua, mantendo
seus olhos desafiantes em mim.
Sinto James afastar a arma da minha mão e caminho mais para frente
sem perder meu contato com os policias. Assim que eles entram no carro e
dão a partida, vejo as armas em cima do muro os acompanharem enquanto as
do jardim voltam para debaixo da terra e outras para seus devidos lugar na
casa. O laser desaparece, fazendo Hush se mover até ficar ao lado de Sid.
Alguns minutos depois, o silêncio nos domina, o lugar parece um
buraco onde só há um zunido. Peter é o primeiro a se mover, cabisbaixo, ele é
incapaz de nos encarar, então, fixa sua atenção para seu celular, que vibra em
sua mão. Engulo o nó em minha garganta.
― É o IML, não se preocupem, a equipe que levou o corpo é de
confiança. Eu tenho que ir para saber as notícias e acompanhar todo o

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processo ― Peter é cuidadoso, mas não demora muito para entrar na mansão,
pegar um casaco e sair com o carro em disparada.
Viro-me encarando todos, sem conseguir segurar minha emoção.
Choro quando Lake caminha até a mim para se curvar, Hush segue o
exemplo e me surpreendo quando Sid caminha calmamente à minha frente e
se curva.
Jordyn desaba nos braços de James e Donna, meu pai me olha com
tristeza, vendo a dor em meus olhos. Ian chora em silêncio, observando os
cavalos curvados ao meu redor.
Eu sinto a dor envolver todos, sinto a falta que Johnatan nos faz nesse
momento, e, de alguma forma, olhar para a floresta à frente me faz sentir que
ele não vai voltar, mas uma coisa que não posso permitir é que tomem tudo
aquilo que conquistou. Encaro os cavalos curvados como se esperassem por
algo. Controlo minha respiração e me curvo para acariciar a cabeça de cada
um, como Johnatan fazia.
― Eu sinto muito ― digo a eles com a voz embargada, pois sei que
Johnatan faria o mesmo em seu idioma russo.
Sid curva sua cabeça como se contorcendo com a dor, e me curvo
ainda mais próximo para sussurrar em sua orelha:
― Acabem com eles!
Afasto-me quando a vejo disparar para fora da casa assim como Hush
e Lake. Todos me encaram como se houvesse alguma esperança. Balanço
minha cabeça, querendo uma resposta, um minuto de paz, essa casa pertence
a Johnatan, mas sem ele, o preço que tomaram é procurar outro lugar para
ficar enquanto a casa fica à venda, isso é o que pode acontecer. Corro para
dentro, seguindo em direção a biblioteca.
Em meio à minha aflição ao passar pela porta, sigo até a mesa e giro
sua cadeira estofada, o vazio não é bem-vindo. Ele não está mais ali comigo,

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não está mais ali para me guiar. Observo seu espaço silencioso, em sua mesa
vejo papéis listando regiões próximas de cursos de medicina junto com meus
dados.
Pisco perplexa, ele estava preparando para mim. Choro desejando,
mais uma vez, que tudo isso seja um pesadelo. Encaro a vista noturna lá fora,
sabendo que todas essas noites serão meu tormento, meu inferno, minhas
lembranças arrancadas.
Caminho pela biblioteca, tocando em cada parte que me aproximo,
nos estofados, nas cômodas, nas cadeiras, e em seus livros. Livros esses que
me fazem parar de respirar ao notar que alguns deles estão afastados, puxo
alguns para o lado, deparando-me com uma máquina. É onde está sua sala
secreta com armamentos, abaixo, fixa como uma maçaneta, está a bengala de
ouro.
Afasto minhas lágrimas e me aproximo para enxergar as teclas. São
números e letras, ouso digitar o mesmo código da sala de laboratório, mas
não se abre. Fecho meus olhos, lutando comigo mesma para controlar minhas
emoções. Eu sei que ele esteve nessa sala, os livros não ficariam bagunçados
e sinto a necessidade de entrar nela. Abro meus olhos rapidamente, encarando
o aparelho diante de mim.
― Roza ― sussurro rouca, logo me assusto quando escuto a parede
ser destravada.
Afasto a estante de livros e entro na sala iluminada. As armas ainda
estão organizadas no mesmo lugar desde a última vez em que estive aqui.
Aperto meus lábios, encarando tudo ao meu redor até ver uma rosa na mesa
de vidro perto dos cofres. Caminho até ela, pegando-a.
Tento conter minhas lágrimas ao cheirá-la. Lembrar-me de seus olhos
em mim e de suas palavras na tentativa de dizer que me amava faz com que
eu sinta pior, mas não consigo segurar por muito tempo, pois desabo quando

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leio o pequeno bilhete acima da mesa ao lado do copo onde estava a rosa.

"Eu te amo"

Sinto o vazio em meu peito se aprofundar ainda mais. Aperto a rosa


perfumada em meus lábios enquanto fecho meus olhos, ansiando que ele
venha até a mim para selarmos nosso beijo junto à flor. Ao abrir meus olhos,
pego o seu bilhete, admirando-o como se ele estivesse diante de mim dizendo
aquilo. Beijo o cartão e o levo até meu peito, desejando estar com ele nesse
momento. Eu sei que não vou sobreviver a isso, como também sei que não
vou permitir que me digam que está morto.
Olho para a parede de cofres, apertando meus lábios, pronta para
desabar no chão, mas, distraidamente, noto um deles entreabertos. Deixo o
que tenho em mãos na mesa e caminho até o cofre, deparando-me com um
livro grosso.
Pego-o, confusa, encarando o livro de capa parda desgastada. Coloco-
o sobre a mesa e o abro. Afasto as lágrimas dos meus olhos enquanto folheio
as páginas. Eu não sei se Johnatan se esqueceu de fechar o cofre, mas o livro
me impressiona e as assinaturas em cada página me fazem reconhecê-las.
O livro contém desenhos explicativos como também imagens
demonstrativas de combate, lutas e como funciona o posicionamento durante
o treino. Folheio as folhas velhas atentamente. É como uma enciclopédia
onde se passa os conhecimentos das fases iniciantes até as mais experientes,
porém não parecem ser suficientes, não para mim.
Meu surto retorna enquanto passo as folhas com impaciência. Logo,
fecho-o inspirando profundamente. Encaro minha rosa pensativa, dando-me
algum sentido de como me encontro, se o vazio me acompanha e sempre vai
me acompanhar, não há sentido ter qualquer tipo emoção sem Johnatan

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comigo.
― Eles tiraram você de mim ― murmuro, a dor em meu peito se
intensifica. ― Seu pai vai ter que pagar por isso, Johnatan, por você, eu não
vou descansar até vê-lo pagar por tudo que te fez. Eu não posso e não quero
ser a mesma Mine, não sem você.
Inspiro profundamente e caminho até a parede de madeira. As marcas
da faca continuam ali, puxo as mangas da minha blusa até o cotovelo e sigo
em direção às facas.
Eu as pego com firmeza, mantendo-me em minha posição. As
lágrimas continuam a cair, mas a lembrança de seus olhos sem vida são a
causa do meu tormento, assim como a dor em meu corpo e a fúria em meu
peito quando me lembro de Charlie com toda a sua ganância de desejar a
morte do próprio filho ao imaginar se apoderar de tudo que ele já conquistou.
Arremesso a faca contra a madeira com força arfando em seguida.
A primeira faca fica presa à madeira e continuo a arremessar as outras
cada vez mais forte até me lembrar de deixar Johnatan sozinho na floresta e
do corpo dentro de um saco preto. No sétimo arremesso, rosno com fúria até
que a faca atravesse a madeira e caia no chão, fazendo-me encarar o buraco
que provoquei. Arfo, sentindo o calor dominar meu corpo e minha cabeça.
Isso ajuda a canalizar meus sentimentos.
― Mine? ― a voz de meu pai não me surpreende e o olho fixamente.
Seus olhos cinza observam assustados o estrago que fiz na madeira. ― Filha,
você deve descansar, tudo isso irá fazer mal a você...
― O que pede não vai resolver o que estou sentindo por dentro ―
disparo rouca e me aproximo dele. ― Foi você, não foi?
― O quê? ― pergunta confuso, afastando minhas lágrimas.
― Você ensinou Johnatan. Você o ensinou a lutar ― soluço.
Ele parece alarmado.

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― Mine...
― O livro sobre a mesa, possui sua assinatura. Você deu aquele livro
a ele ― digo, vendo seus olhos observarem a mesa.
Ele finge dar de ombros.
― Foi um tempo difícil, não pensei que aquele garoto se tornaria um
assassino ― Edson tenta contornar a situação, ergo minha sobrancelha com
descrença. ― Estou querendo dizer que não pensei que ele se rebelaria tanto.
― Aqueles homens o perseguiam, pai. Eles o querem morto ― Tento
não mencionar Charlie Makgold.
― Ele está morto, Mine! ― meu pai diz com frieza.
― NÃO PARA MIM! ― inspiro fundo na tentativa de me controlar.
― Ainda faltam sair os resultados dos exames. ― Balanço minha cabeça,
afastando-me dele.
― Mine... Você está me preocupando, filha. Descanse um pouco ―
ele implora.
― Como você quer que eu descanse assim, pai? Olhe para mim? Eu
não o tenho comigo, mas eu não quero chegar à hipótese de que o vi morrer
em meus braços. Que vi seus olhos se esforçarem para se manterem abertos
por mim, quando lutou para tentar dizer que me amava e, em seguida, tudo
parou naquele momento. Então, eu o deixei sozinho para que os outros
terminassem o serviço. Eu não vou conseguir seguir em frente tendo essa
lembrança, não posso dormir sabendo que o pesadelo vai continuar a me
atormentar dia após dia ― choro.
― De qualquer forma, nós vamos dar um jeito ― ele tenta me
acalmar.
― Ensine-me a lutar. Aqueles homens não vão parar até conseguirem
tudo que Johnatan conquistou. Pode ser o começo de um grande inferno sem
ele aqui, e não posso permitir. Todos nessa casa vão perder tudo que têm,

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pai...
― Você não tem e não deve ser como ele ― sua voz soa firme.
― Eu não posso ser, porque ele é o melhor ― choro, fazendo-o
suspirar em derrota.
― Bem, provavelmente, ele soube de mim antes de trabalhar como
marceneiro, por isso, procurou-me para saber sobre técnicas de defesa. Vi o
quanto estava vulnerável e resolvi ajudá-lo sem qualquer tipo de ligação,
muito menos envolvimento, fui muito cuidadoso em relação a ele. Por outro
lado, pensei que, com os treinos, ele conseguisse dispersar a raiva e a
controlasse. Eu não podia dominar a mente de um adolescente.
Fico confusa com a informação, logo ele explica:
― Johnatan ia para a Rússia, mas voltava algumas vezes. Então, eu
conseguia um tempo, enquanto você estava na escola, para... treiná-lo. E foi
daí que perdi a empatia pelo garoto quando me confessou o que estava
acontecendo. Não o estava treinando para matar, mas sim para se defender.
Com isso, resolvi não me colocar em risco, muito menos você.
Eu o escuto atentamente tendo outra revelação.
― Por quanto tento o treinou?
Ele cruza seus braços de maneira desconfortável.
― Desde o momento que aceitei ajudá-lo foram entre três a quatro
anos, se não me engano. Mine, para que isso importa agora?
― Você conheceu o pai dele? ― pergunto sem hesitar.
Eu o assisto engolir seco.
― Sim, infelizmente ― responde exasperado. ― A verdade é que
Charlie Makgold foi um tormento na minha vida. Por causa dele perdi todos
os direitos de conseguir um bom emprego. Vender minhas madeiras nas ruas
foi um sacrifício, por mais humilde que meu trabalho seja, o Makgold
conseguiu sujar meu nome, acusando-me de coisas absurdas... Eu-eu não

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quero tocar nesse assunto ― esfrega seu rosto exasperado.


Pisco surpresa.
― Você sabe sobre a máfia? Sabia que o pai de Johnatan estava
envolvido? ― indago, tendo cuidado para não o assustar.
― Se eu não fosse esperto o bastante, já estaríamos mortos há muito
tempo. O que o Johnatan Makgold deveria ter feito era ter ficado quieto ―
critica, já respondendo minha Eles o queriam como aliado, assim como foi
com seu pai. Johnatan tem bons investimentos herdados por ele e por sua
família, mas eles não vão descansar até ter essa dívida paga ― explico
pensativa com tudo que ocorreu assim como o que está por vir.
― O que está querendo dizer?
Sua pergunta me deixa desconectada. Viro-me para pegar minha rosa,
o livro e meu bilhete antes de encará-lo.
― Estou dizendo que, sem Johnatan, eles vão continuar matando tudo
que virem pela frente, e adivinha? Eu posso ser o próximo alvo. Eles me
viram, pai, eu sou a única que sabe quem está por trás disso ― ignoro sua
expressão alarmada enquanto passo por ele, seguindo em direção a biblioteca.
― O que pretende fazer, Mine? ― exige saber, fazendo-me parar
abruptamente.
Engulo o nó em minha garganta.
― Treinar ― revelo com dureza.
― Filha ― escuto o fervor em sua voz, mas, se ele não pode me
treinar, eu posso fazer isso sozinha e com muito esforço. ― Eles são muitos...
Penso na quantidade que vi na floresta, no pai de Johnatan me
mantendo como refém, em todos os homens que Johnatan matou até ser
derrotado, tudo isso não chega nem perto do ódio que sinto ao me lembrar
dos seus olhos sem vida e, principalmente, de seu pai, que é o culpado de
todo o seu tormento, eu devo isso a Johnatan. Mesmo não sendo tão boa

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quanto ele, sei que sou capaz de me esforçar, sei que posso defender todos à
minha volta até a minha morte. Então...
― Que tragam a tropa inteira! ― desafio, expulsando as lágrimas que
caem dos meus olhos enquanto fixo meus olhos em um ponto cego.
Sigo meu caminho para onde eu possa descontar minha fúria e buscar
controle, equilíbrio, força, atenção e agilidade. Johnatan disse uma vez que eu
deveria ter um propósito para tudo isso, e agora eu tenho o meu: lutar por ele,
por mim e por todos nós.
Na academia, olho em volta, deixando meus pertences no degrau da
escada, incluindo o laptop que peguei da sala. Encaro as montanhas e o
campo, sabendo que tem movimentação do lado de fora, mas, no momento,
tempo para mim significa trabalho duro. Com meu reflexo na parede de
vidro, encaro meus olhos ardentes sem qualquer compaixão.
― Que a guerra comece!

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EPÍLOGO
(JOHNATAN MAKGOLD)

Observo a movimentação de longe, parte de mim se incomoda com


profissionais entrando e saindo. Eu não deixaria qualquer um entrar na minha
casa daquela forma, por desconfiança, um deles pode fazer parte daqueles
que me perseguem. Mesmo podendo confiar em Peter e em Edson presentes
ali ou até mesmo em meus cavalos, para mim não parece ser suficiente.
― Como se sente? ― escuto Matt atrás de mim e me viro ainda
cambaleante devido ao efeito da droga injetada em minha veia horas atrás.
Eu não estava preparado para isso, mas sabia que se não agisse, eles
continuariam com sua caçada. Minha aflição aumentou quando encontrei o
colar de rubi no chão, aquilo era a porta para meu encontro, ao mesmo tempo,
para o meu tormento.
Por sorte, Matt atendeu ao meu sinal com um toque do celular,
chegando a tempo e distraindo boa parte deles. Assim que nos encontramos,
permiti que injetasse a droga em minha veia, mas só tinha alguns minutos
para fazer efeito.
No meu percurso torturante de encontrar Mine, tendo sua localização
em meu celular, dando graças que ela estava com o seu, segui rapidamente na
direção onde se encontrava, em uma velha cabana abandonada. Seria meu
completo alívio se não fossem pelas chamas que me aterrorizaram, mas eu
não podia me permitir passar por isso novamente.
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Eu a salvei e a levei comigo, mas a dor insuportável em meu peito de


ter de deixá-la foi a mais agonizante. Tudo parecia no controle até me
acertarem. O tiro me pegou de surpresa, assim como o efeito da droga que me
deixaria morto por alguns instantes. Entretanto, meu único medo no momento
foi ter de deixá-la e não ver mais seu rosto, seus olhos cinza e seu sorriso
doce.
Eu deveria dizer o quanto a amava, o quanto sentia muito por tudo
isso e levá-la embora comigo para longe, só que continuaria sendo arriscado
demais para os meus planos. Em seguida, tudo parecia preso dentro de mim,
meu corpo adormecia enquanto eu lutava para manter meus olhos focados
nos dela, assistindo-a chorar, preocupar-se e ficar desesperada. Então,
naquele breve momento, chamei Sid. Ela era esperta, eu a treinei para manter
sua atenção e seu faro para o perigo.
Ver os olhos de Mine, o desespero em suas lágrimas e o fato de dizer
que me ama, me fez lutar em vão para tentar manter minha respiração estável,
mesmo sentindo meu coração bater lentamente. Eu jurava, naquele momento,
que nunca mais veria aqueles olhos cinza, nunca mais veria minha Roza.
Fecho meus olhos inspirando fundo, faço uma careta ao sentir a dor
em minhas costelas. Eu não vi o atirador, mas tinha certeza de que era a
mesma sombra que vi quando me aproximei da cabana em chamas, mas eu
não podia persegui-lo e deixar Mine para trás.
Enquanto estive inconsciente, Matt arrastou-me para longe antes de
preparar a emboscada com um deles que se aproximava, com isso, meu
amigo o queimou, deixando alguns dos meus pertences no local, assim como
o colar. Acordei sobressalto, como se tivesse sofrido um impacto em meu
peito ao sugar o ar com força.
― Eu já estive... pior ― respondo com esforço depois de me encostar
no tronco de uma árvore.

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― O efeito vai passar daqui algumas horas ― Matt diz, observando a


movimentação da equipe de perícia na minha casa. ― Podia ter sido pior se
eu não tivesse tirado a bala de você, ela continha alguma substância química.
Esse queria mesmo te matar. Consegui controlar o sangramento, mas você vai
precisar de uma transfusão de sangue ― ignoro-o em agonia.
― Estou pensando se eu era realmente o seu alvo ― aperto meus
dentes.
― Johnatan, os homens que estavam aqui atraíram Mine para cá. Eles
sabiam que você a perseguiria, e essa outra pessoa que pegou Mine sabia que
o colar era um fácil acesso de você rastreá-la. ― Matt murmura pensativo.
― Não gosto nem de imaginar o que poderia ter acontecido se eu não
chegasse a tempo. ― Olho a lua cheia na tentativa de não pensar no pior.
― Mas você a salvou ― seu comentário me faz lembrar a dor que vi
em seus olhos.
― Eu preciso voltar para ela ― forço-me a seguir em frente.
Sinto sua mão se aproximar para me impedir, giro meu corpo,
agarrando seu pescoço, chocando-o contra o tronco da árvore.
― John ― ele grunhe, sufocado com meu aperto em seu pescoço.
― Eu posso estar um pouco imobilizado, mas meus instintos
continuam perfeitamente bem ― disparo com frieza.
― Vai ser melhor você se manter afastado, amigo. Deixe o boato de
sua morte se espalhar, os exames vão confirmar daqui alguns dias ― Matt
aconselha, lutando contra o sufoco.
― E deixá-la sofrer? ― pergunto ríspido. Deus, onde eu estava com a
cabeça?
― O plano era seu. ― Encaro-o com fúria.
― Não seria dessa forma, não a fazendo sofrer. Você não viu os olhos
dela, não sentiu como doía escutá-la dizer que me amava e eu não poder

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retribuir. ― O ódio não é por ele, é por mim mesmo.


― John, eu sei que você quer o melhor para Mine, sei que está
buscando informações. Temos que despistar essa máfia para chegarmos ao
verdadeiro inimigo ― ele tenta paziguar me fazendo grunhir e soltá-lo.
Matt tosse inspirando o ar frio para tentar controlar meu corpo.
― Sabemos que o prédio não é suficiente e que eles estão criando
algo no subterrâneo. Por algum motivo, usaram sua esposa como cobaia por
ser uma das melhores profissionais na área da Bioquímica do país e também
tiveram essa ideia vinda por parte de Judith Clark, a mãe de Mine. Só não sei
dizer se ela continua viva para contar história ― penso em mil e uma
possibilidades.
― Provavelmente, mas seu pai entregou essa ideia para o mandante
da máfia, depois disso, a história começou a se intensificar quando houve
uma certa rivalidade entre as partes. Ao que parece, o mandante foi morto
assim como outros membros principais...
― Líderes ― completo esperando por mais.
― Sim. Alguém se pôs no lugar e conseguiu juntar as máfias,
chamando-as de LIGA. Essa Liga procura riquezas, pessoas com bens
promissores e melhores investimentos ― Matt explica me encarando. ― Eles
querem liderar, mesmo prometendo mundos e fundos. E, se não conseguem,
o preço disso é o sofrimento de uma tortura levada à morte. Eles querem
muito mais do que já tem, inclusive, a inteligência das pessoas. Um deles até
mesmo está se candidatando nas próximas eleições.
― Na tentativa de começar uma nova Era ― imagino com ironia.
― Exatamente ― Matt concorda. ― Mas as coisas não podem ser tão
fáceis assim.
Eu o escuto pensativo, o prédio não é suficiente. Com o andamento da
obra, descobri uma entrada para o subterrâneo e a mantive intacta. Com essa

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informação, acabamos descobrindo que um dos prédios que a máfia possui


funciona no subterrâneo.
― Querem governar tudo. Parece que atormentar a vida de um
homem bem-sucedido não é o suficiente, por isso, estão querendo criar
alguma coisa. Talvez uma caixa operacional ilegal ― aperto minha têmpora,
exasperado.
― É aí que você entra ― Matt destaca. ― Tudo porque seu pai
deixou dívidas. Agora, você é o herdeiro que possui uma enorme fortuna, um
dos homens mais bem-sucedidos da atualidade ― ele inspira inquieto. ―
Mesmo você querendo consertar tudo, não será o bastante. Eles sempre vão
buscar mais, até tê-lo como aliado ou morto como hipoteticamente está agora.
Nós nos distraímos com o toque de mensagem em seu celular. Eu o
espero visualizar, em seguida, olha-me perturbado.
― O que é?
― Você não vai acreditar...
― Tente ― pondero sem paciência.
― Parece que temos um morto vivo por aí ― ergue seu celular para
me mostrar uma imagem. Balanço minha cabeça para a imagem da pessoa à
minha frente.
― Ele está morto. ― Fervo, encarando a foto de Charlie Makgold
saindo de uma boate em plena luz do dia. É impossível. Pode ser uma captura
de quando ele ainda estava vivo.
― Não é o que parece. A foto é recente, um dos detetives que
contratei conseguiu isso, não pensei que seria tão importante ― Matt afasta o
celular.
Sua perseverança me enfurece.
― Eu o vi morrer, Matt! ― assobio entredentes.
― Tem certeza? Você disse que os homens que invadiram a casa na

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época o levaram para longe. ― Quando vê o humor negro em minha


expressão, afasta-se brevemente com as mãos erguidas, por um lado, fico
refletindo sua teoria. ― Johnatan, pense! Há possibilidades das quais
precisamos saber. Se te procuram esse tempo todo é por algum motivo, talvez
queriam mesmo tê-lo como um aliado. Aliás, querendo ou não, você é o filho
dele.
― Não faz o menor sentido e isso nunca irá acontecer. Ele me queria
morto, Matt ― balanço minha cabeça novamente para evitar que ele possa
estar certo. ― Matar a própria família e sair impune? O quão cruel isso pode
ser? Não, isso não.
― Johnatan, sei o quanto sente ódio por todos que te atingiram,
acredite, eu também. Mas se voltar para casa agora, eles vão vir com tudo.
Você viu o que acabou de acontecer. Eles vão procurar tocar e ferir onde
mais te dói. Seu foco agora tem que ser outro, como combinado, para mantê-
los ocupados enquanto completamos a nossa própria caçada. ― Meu corpo
vibra com violência.
― Só tocam nela se passarem por mim. É por isso que preciso de
mais proteção na casa, isso pode sair do controle em breve caso não
arrumemos um jeito. Por mais que eu esteja longe, tendo o foco deles na
ameaça que está por vir ― ordeno rispidamente.
― Peter e Edson podem cuidar disso. Você não os informou? ― Matt
desconfia.
Cambaleio até me encostar em outra árvore, a raiva me faz sentir cada
vez mais esmorecido e enojado.
― Sim, mas não quer dizer que seja o suficiente. ― Afasto minha
camisa para ver minha ferida. Sufoco um gemido.
― Então, o que quer mais? ― olho-o fixamente.
― Ligue para Nectara, diga a ela que seus dias de repouso já

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acabaram e que comece a treinar James e Jordyn ― Matt se surpreende.


― John, não. Não sabe o que está fazendo. Eles são jovens,
praticamente crianças...
― Crianças que precisam crescer e saber da verdade! Estou cansado
de tudo, Matt, e eu vou acabar de uma vez por todas. Se ele estiver mesmo
vivo. Pior, se foi ele mesmo que tentou matar Mine, eu vou caçá-lo até o fim
do mundo ― disparo com frieza, encarando as sombras da floresta à minha
frente ao me lembrar da silhueta se afastando da cabana.
― Colocar James e Jordyn nisso será arriscado. Eu te conheço há
anos, desde que me juntei a você, eu estive do seu lado te ajudando nos
rastreamentos e fingindo que não sabia da sua vida, assim como você não
sabia da minha. Mas, John, colocar essas pessoas...
Ergo meu dedo o calando.
― Isso é para manter Mine segura ― aperto meus dentes em
frustração. ― Eu não quero nenhum deles por perto. Tenho certeza de que
Charlie pode persegui-la, principalmente depois da leitura do testamento.
Então, operando de longe, nós o manteremos ocupado na tentativa de
proteger seus bens.
Matt me observa balançando sua cabeça.
― Isso está completamente errado...
― Será que eu devo lembrá-lo de como sua esposa grávida morreu?
― pergunto, desafiando-o. Seus olhos se erguem enraivecidos ao tocar na sua
ferida mais profunda.
― Não comece...
― Dentro de um carro desesperada para escapar enquanto um deles
estava empurrando seu veículo sem freio em direção a um penhasco. No dia
seguinte lhe deram a notícia de que ela cometeu suicídio...
― Basta! A morte dela não deveria ser tocada! ― sua raiva é mais

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potente agora.
― Eu sei que não, mas se imagine estando em meu lugar. Se ela
estivesse viva, você a colocaria nessa situação? ― pergunto.
― Eu a manteria segura ― consente engolindo com força.
― É o que estou tentando fazer por Mine. Jordyn e James são minhas
únicas opções naquela casa. Eles tiveram suas perdas, merecem saber a
verdade. James sempre buscou isso e Jordyn nunca se mantém quieta quando
está curiosa. Eu não posso segurá-los por muito tempo, Matt, mais cedo ou
mais tarde, a verdade virá à tona quando descobrirem a forma brutal como
suas famílias morreram. ― Controlo minha irritação.
― Tudo bem ― Matt acena relutante. ― Pensei que Nectara
estivesse mesmo morta ― ele saca seu celular de seu bolso.
Eu não a matei, sabia que um dia precisaria da sua ajuda. Quando a
feri com a espada, tive o cuidado de não atingir nenhum dos seus órgãos. Por
outro lado, aquilo serviu de aviso, deixando bem claro que era para ficar o
suficientemente longe de Mine.
― Eu sabia que um dia precisaria dela ― informo.
― E depois, quais são seus planos? ― Matt diz.
No começo, queria levar Mine comigo, mas tudo saiu do controle,
ficando cada vez mais arriscado. Principalmente agora, ao descobrir que o
desgraçado que está causando todo esse inferno na minha vida pode estar
realmente vivo, e eu não posso permitir que ele continue, pois sei que nunca
vai parar.
Observo de longe minha casa, na esperança de ver Mine do lado de
fora, mas agradeço por ela não aparecer com toda aquela movimentação. Meu
coração se sente solitário sem ela, incompleto, como se tivesse algo faltando.
Eu sinto sua falta, sinto a ansiedade urgente de dizer o quanto a amo e o
quanto ela significa para mim. Eu deveria voltar rastejando-me até ela,

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implorar seu perdão pela dor que eu possa estar lhe causando.
Quando descobri que realmente a amava, queria um longo momento
de paz, sem preocupações, para declarar meus verdadeiros sentimentos, para
que ficássemos ainda mais unidos. Só que todas as minhas tentativas foram
interrompidas por todo esse inferno.
Eu não podia deixá-la sem resposta, mesmo eu dizendo em russo o
quanto a amava, o quanto adorava tê-la em meus braços na tenda, eu devia
isso à minha Mine. Devia ter lhe dito casualmente o quanto me sentia
completo ao seu lado.
Fecho meus olhos para me lembrar do seu rosto, seu alívio ao me ver
salvando-a daquele fogo e toda a confiança colocada em mim fazem meu
amor por aquela mulher aumentar cada vez mais. Pensar em todos os
ocorridos tenebrosos os quais a envolviam faz meus punhos se fecharem com
firmeza até estalarem meus tendões.
― Eu tenho três ― informo a Matt trazendo meu foco novamente.
― Diga-me.
― O primeiro é dizer a ela que a amo. Mesmo estando impotente no
momento, é uma parte muito importante para mim. Está no topo das minhas
metas a serem atingidas ― digo de maneira exigente.
― Sabia que você não iria deixá-la de qualquer forma ― Matt dá de
ombros.
― Eu jamais vou deixar para trás o que já é meu ― a fervura em
minhas palavras o surpreende.
― Entendido. E quais são as outras duas? ― pergunta curioso
― Me infiltrar numa máfia ― respondo o espantando.
― Espere. Não será tão fácil, ainda mais sendo o falecido Johnatan
Makgold ― reflete confuso. ― E você havia me dito que Mine não queria
isso para você.

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Aceno, eu jamais a desapontaria.


― E quem disse que serei Johnatan Makgold dentro da máfia? Se
meu pai estiver mesmo vivo, eu quero ter pelo menos a certeza. Esses
membros fazem parte da tal LIGA, através de manipulações, eu posso
conseguir informações exatas ― explico, escorando-me em seu ombro ao
seguirmos para longe até encontrar seu carro.
― Isso é loucura ― Matt murmura ao meu lado enquanto cambaleio
para frente. ― Agora, me diga a última opção.
― Ligue para Dinka e informe que temos muito trabalho pela frente
― murmuro de mal humor.
― Como o quê? ― Matt pergunta sobressalto.
Viro-me para ele e ergo minha sobrancelha.
― Vamos dar início à Colmeia ― seus olhos se arregalam.
― Você só pode estar de brincadeira.
― Não. Vou criar meu próprio exército.
Viro-me e sigo meu caminho cambaleante, perdido em pensamentos.
Se eu vou acabar com um batalhão, precisarei de aliados. E será com ajuda
deles que conseguirei destruir tudo que Charlie está tentando construir até
agora. Será com minhas mãos que irei socá-lo até a morte por ter aterrorizado
minha vida durante anos, e, principalmente, por ousar tocar Mine, isso eu não
permito e não permitirei. A partir do momento que atravessarem o seu
caminho, seus destinos estavam traçados: não deixarei que nenhum deles
sobreviva!

FIM DA PRIMEIRA PARTE

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A FERA – O RETORNO
Você percebe o quanto a vida te transforma? O quanto você aprende
pouco a pouco tudo aquilo que presenciou? Isso é para, no final de tudo, você
usar como técnicas para futuros aprendizados. Entretanto, há pequenas coisas
que não se podem mudar, e são com elas que devemos exercer o controle.
Principalmente, quando sente que perdeu alguém, sendo que esse alguém é
aquele que você mais amou e ainda ama. Amor! O sentimento mais forte que
alguém pode ter, eu poderia explicá-lo de muitas formas por horas. Só que
não me sinto a mesma em relembrar esse sentimento, não sem ele. Então, o
meu foco é outro, é nas forças que devo carregar até que se faça justiça, é o
meu propósito, minha meta para a destruição do inimigo. Essa é a nova forma
de decifrar meu verdadeiro eu.
E que fique bem claro, estou fazendo isso por ele e não por você.

*Não perca a segunda parte. Em breve na Amazon!

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SINOPSE: Ele odeia garotas exibidas.
Ela odeia homens arrogantes.
À primeira vista, David Foster é apenas um marrento bad boy e um mecânico
de tirar o fôlego, mas quem realmente o conhece, sabe que apesar da casca
dura, David é capaz de lutar com unhas e dentes por todos aqueles que ama.
Além de ser um homem responsável, é desejado pelas mulheres, em todos os
sentidos.
Por outro lado, Natalie Scott aparenta ser apenas mais uma garota rica e
mimada, que ainda vive à custa do pai. As aparências enganam e assim como
David, por trás de toda a pose, existe uma jovem sonhadora que busca apenas
amar a ser amada.
Por ironia do destino os dois se veem frente a frente e apesar de, inicialmente,
soltarem faíscas, ambos sentem algo tão forte um pelo outro que serão
capazes de derrubar as barreiras e mostrar o verdadeiro significado do amor.
Opa! Será que eles foram feitos um para o outro?

VINGANÇA OBSESSIVA

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SINOPSE: Por um momento Elizabeth pensou que estivesse livre de um
marido agressivo e conturbado. O que ela não esperava era que fosse acusada
injustamente por sua morte.
Depois de passar anos numa prisão por um crime que não cometeu, ela
retorna com um nome falso para se proteger de ameaças e começar suas
buscas pela verdade, a fim de expor o verdadeiro assassino, Robert Harrison.
Mas sua sede de vingança dá lugar a atração ao se deparar com o filho do seu
inimigo.
Eric Harrison é um empresário bem-sucedido e arrogante, mas por trás de
toda sua bravura existe um homem intenso e apaixonado que se encontrará
atraído pela nova funcionária misteriosa.
A obsessão se torna algo íntimo e ardente, mas por trás de tantos mistérios a
verdadeira vingança chega onde menos se espera.

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