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Direitos autorais © 2023 INDIANA MASSARDO Todos os direitos


reservados
 
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios.
Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência
e não é intencional por parte da autora.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em
um sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por
qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a
permissão expressa por escrito da autora/editora.
Revisado e preparado por Mayara Machado
Betado por Mayara Machado
Leitora Crítica Camila Rodrigues (@primaveraliteraria)
APRESENTAÇÃO
SINOPSE
ESTRUTURA BRATVA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
EPÍLOGO
PRÓLOGO
AGRADECIMENTOS
 
APRESENTAÇÃO

A HERDEIRA é o quarto livro da Série FILHOS DA BRATVA, é


uma história independente, mas está inclusa no universo de máfia da autora,
alguns dos personagens que aparecem aqui fazem parte de outros livros,
porém não é necessário ter lido os outros livros para entender esta história.
O personagem Andrei Petrov já tem sua história contada no primeiro
livro desta série O REJEITADO: UM ENEMIES TO LOVERS.
Os personagens Dimitri, Serguei e Yekaterina já tem suas histórias
contadas em O HERDEIRO: um trisal MMF.
Os personagens Alexei e Patrícia Ivanov já tem suas histórias
contadas em O INJUSTIÇADO: um casamento por contrato.
Lembrem-se de avaliar esta obra no final da leitura.
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MAFIOSAS DA INDY
Espero que goste da leitura e se divirta com meu harém mafioso.
SINOPSE

 
(Harém Reverso + Fast-Burn + Romance Dark + Melhores amigos
que se apaixonam + Mistério)
 
Yelena Petrova é a filha mais velha do Pakhan da Bratva e herdeira do
trono do seu pai, ela é uma mulher forte e decidida a ser uma líder
respeitada.
Durante seu treinamento, ela se apaixona por três homens poderosos
e... perigosos.
Agora não consegue escolher com qual ficar e, na dúvida, acaba se
envolvendo com os três em uma relação proibida e sensual.
Danila Kuznetsov é o herdeiro da sua família, um homem excêntrico
que encontrou em Yelena uma forma de controlar os seus demônios.
Ruan Smirnov é um homem quebrado pelo seu destino, o herdeiro
que nunca quis assumir seu lugar na organização e que agora se afunda na
bebida para suportar o peso da sua vida.
Bjorn Ivanov é um homem fechado, que se mantém sempre no
controle. Sempre foi apaixonado por Yelena e, nessa relação, vai encontrar
mais do que estava esperando.
Quando Yelena é sequestrada e passa cinco anos desaparecida, sua
família e seus amores não desistem de encontrá-la, até que ela retorna, mas
já não é mais a mesma e precisa lidar com todos os traumas que passou
durante todos esses anos.
Agora eles precisam resolver o mistério que ronda o sequestro de
Yelena e tentar reconquistar sua mulher.
Será que o amor que eles sentem uns pelos outros pode sobreviver aos
percalços da vida?
 
OBS: Este é um Romance Dark de Harém reverso, com temática de
máfia, em que todos os personagens principais se envolvem entre si. Os
gatilhos são: violência extrema, tortura, pensamentos suicidas, sexo
explícito, alcoolismo e transtorno de ansiedade.
ESTRUTURA BRATVA

A estruturação da organização chamada Bratva, nesta obra, foi


moldada a partir de pesquisas, porém a autora escolheu criar a própria
estrutura para essa organização, sem qualquer comprometimento com a
verdade, então atente-se às seguintes informações.
ORGANIZAÇÃO
A Bratva (usada nesta obra) é uma organização mundial, com sede
em Moscow, na Rússia, e subdividida em braços secundários por todos os
países do mundo.
O líder da Bratva é chamado de Pakhan, mas a organização possui um
Conselho formado por cinco famílias principais: Petrov, Ivanov, Kuznetsov,
Smirnov e Orlov. Cada família é representada por um chefe e as decisões
mais importantes são tomadas pelo Conselho, juntamente com o Pakhan.
Observe que essas posições nem sempre são títulos oficiais, mas são
nomes conhecidos para funções que um indivíduo desempenha.
Pakhan - Também chamado de Boss, é o líder principal da Bratva e
tem o controle de todos os braços secundários por meio do Brigadier,
Obshchak e Sovietinik.
Brigadier – É o chefe dos braços secundários da Bratva, indicado
diretamente pelo Pakhan para manter o controle de uma região específica.
Dois espiões - Vigiam a ação do Brigadier para garantir a lealdade e
para que nenhum se torne muito poderoso. Eles são Sovietinik ("Grupo de
Apoio") e Obshchak ("Grupo de Segurança").
Bratok – É um soldado da Bratva, um cargo genérico para homens
que são enviados em diversas missões e que também podem trabalhar
somente como seguranças ou equipe de apoio.
Espiãs – São as mulheres treinadas na Central como agentes
especiais, elas são enviadas em missões de diversos níveis, mas não
crescem na organização como os homens. Elas são respeitadas pelos
soldados e trabalham como infiltradas durante as missões, ou como equipe
de apoio ao Brigadier.
Na máfia russa, "Vor" é um título honorário, análogo a um homem
feito. A honra de se tornar um Vor é concedida apenas quando o recruta
mostra consideráveis ​habilidades de liderança, habilidade pessoal, intelecto
e carisma.
 
Dedico esse livro a todas que já sonharam em ser a Branca de Neve. Não
pelo príncipe, mas pelos sete anões...
Quem nunca, não é?
Dedico também a você, que busca uma história aonde a mocinha não é
salva por um príncipe e sim por ela mesma, e ainda vai atrás do amor que
ela merece.
Nesse caso, dos três amores!
PRÓLOGO

Yelena
 
Amanhã é meu aniversário de vinte e um anos e o dia que vou poder
comemorar como quiser.
Claro que não é só meu, já que eu e Adrian, meu irmão gêmeo, temos
que escolher em conjunto o que fazer no nosso aniversário.
— Vamos lá, Adrian, vai ser legal — digo com a voz chorosa, fazendo
biquinho e fingindo estar implorando por algo, quando sei que vai aceitar
minha ideia, ele sempre aceita. — Você pode trazer sua namorada e vocês
comemoram em um quarto, enquanto eu aproveito o cassino com a galera.
— Andreza não gosta de cassinos e, para falar a verdade, eu também
não — ele declara, comprimindo as sobrancelhas. — Escolhe outro lugar.
— Por favor, irmão, esse é meu sonho e você sabe disso, ano que vem
eu te deixo escolher o lugar, eu juro, farei o que você quiser, por favorzinho.
Ele para e pensa por um tempo, suas mãos passam pelos cabelos
castanhos, iguais aos de nossa mãe, seus olhos azuis me encaram,
avaliando-me, ele sabe que estou tentando manipulá-lo, mas meu irmão me
ama e sei que no final vai concordar.
— Tudo bem — ele respira profundamente e eu me jogo em seus
braços, envolvendo-o em um abraço apertado.
— Obrigada, obrigada, obrigada, irmãozinho! — Beijo seu rosto três
vezes. — Você é o melhor irmão do mundo.
— Eu sei, agora vamos lá, precisamos enfrentar nossos pais, sabe que
eles não ficarão nada contentes com sua escolha, não sabe? — ele anuncia o
óbvio, mas assim como Adrian, sei que meus dois pais vão concordar com
minha escolha e que minha mãe já está dentro, ela adora um cassino.
— Eu posso convencê-los. — Pego em sua mão e o levo até a sala do
meu pai, na Central, aonde eles estão.
Dimitri Petrov é o líder da maior organização criminosa mundial, a
Bratva. Ele é o Pakhan, o homem mais poderoso do mundo, e um dos meus
pais.
Ele está sentado atrás da grande mesa de madeira, em sua poltrona
confortável, enquanto Serguei Barkov, meu outro pai e chefe de segurança
da nossa família, está acomodado no sofá que fica do lado esquerdo da sala,
com uma xícara de café na mão.
— Eu falei que eles estavam vindo — Serguei comenta e se levanta. —
Bom dia, princesa. Imagino que conseguiu convencer seu irmão a
concordar com seus planos, sejam eles quais forem.
— Adrian também gostou da ideia, não é, irmão? — Cutuco suas
costelas e ele faz que sim com a cabeça, mas a expressão contrariada em
seu rosto não muda.
— Deveria deixá-lo escolher pelo menos um ano — Dimitri comenta,
mas faz sinal para que nós dois sentemos nas cadeiras em frente a sua mesa.
— Então, qual vai ser o pedido dessa vez?
— Vocês vão amar, tenho certeza disso porque eu quero uma festa no
cassino — anuncio e vejo meus dois pais erguendo as sobrancelhas e
olhando um para o outro. — Me escutem, tá legal?
Então passo as próximas duas horas tentando convencê-los a nos deixar
comemorar o aniversário em um dos espaços na cidade que pertence a
nossa família.
O plano inicial é chegar lá e começar a jogar, mas vejo que não vou
conseguir ganhar essa quando Serguei começa a falar sobre a segurança e
tudo mais, então digo que eles podem esvaziar o cassino e nos deixar
aproveitar os jogos somente com pessoas de confiança e, claro, todos são
soldados da Bratva.
— Por favor, pai, é só um dia e vai ser legal, você sabe que eu adoro
jogar. E sabe quem mais vai amar essa ideia? Nossa mãe! — Dou minha
cartada final, eu sei que agora eles vão aceitar, porque por Yekaterina
Petrova esses dois homens fazem tudo.
Serguei para com os braços cruzados, ele é moreno, tem olhos
castanhos, é alto e muito musculoso, como chefe de segurança precisa estar
sempre em forma, mas seu sorriso sempre é sincero e acolhedor.
Já Dimitri é mais alto do que Serguei, tem os cabelos loiros com fios
brancos, barba clara, os mesmos olhos azuis que Adrian e eu herdamos,
também é musculoso e, mesmo com sessenta e três anos, ainda mantém a
forma e está sempre treinando.
— Tudo bem, mas seu pai vai cuidar de toda a segurança — Dimitri
anuncia.
— Obrigadaaaa, pai. — Levanto e contorno sua mesa, me jogando em
seus braços para abraçá-lo e beijar seu rosto, depois faço o mesmo com
Serguei, que beija o topo da minha cabeça.
— E nada de disfarces — Serguei complementa. — A senhorita está
proibida de usar qualquer coisa que possa nos enganar.
— É meu aniversário, eu quero ser eu mesma, pai — digo, mas isso
acaba com uma parte dos meus planos, então sei que terei que pensar em
algo na hora.
— Então pode convidar seus amigos e mover tudo o que já foi
preparado na mansão para o cassino 5Stars, é o mais perto e mais luxuoso
— Dimitri ordena e concordo com a cabeça. — Adrian, se quiser mudar
algo na festa pode falar.
— Não, pai, esse ano vou deixar Yelena fazer como ela quiser, mas já
deixo claro que ano que vem vamos viajar — meu irmão anuncia e
concordo com a cabeça, sem precisar pensar nisso.
Os preparativos para a festa já foram todos levados para o cassino e,
quando acordo de manhã, sou surpreendida por toda a família dentro do
meu quarto cantando parabéns.
Adrian se joga na cama comigo, como fazemos todos os anos, e
assistimos nossos pais, nossa mãe, tio Andrei e tia Anna, tia Clayr, tio
Nathan, tia Magie e Andreza cantando e sorrindo para comemorar o nosso
aniversário.
— Parabéns, meus amores, nem acredito que faz vinte e um anos que
vocês nasceram. — Nossa mãe é a primeira a nos abraçar e rimos da sua
fala.
Depois nossos pais nos abraçam e beijam, então vem cada um dos tios
e tias para fazer o mesmo, é tão bom me sentir amada em um dia como
esse.
Andreza e Adrian se beijam enquanto eu saio da cama e dou pulinhos
de felicidade, finalmente o dia chegou e eu não vejo a hora de comemorar
com meus amigos.
Durante o dia ficamos com toda a nossa família reunida, fazemos uma
pequena festa na piscina interna, com tio Andrei na churrasqueira enquanto
tia Anna implica com ele.
Andrei é o irmão gêmeo do nosso pai, Dimitri, e também é o Brigadier
da Bratva em New York.
— Se fosse nos Estados Unidos, hoje vocês tomariam sua primeira
bebida alcoólica. — Andrei vem até nós com duas taças de champanhe e
entrega uma para cada um.
— Já passamos por esse ritual há muito tempo, tio — Adrian responde
e bate sua taça na minha. — Ao nosso aniversário.
Então o dia passa leve e feliz, com todos curtindo a piscina e a
companhia da família, mas eu estou nervosa, mais do que o normal, para a
chegada do evento principal.
Estou tão ansiosa que não consigo me manter sentada por muito tempo,
é como se as horas não passassem e, mesmo me divertindo com as pessoas
que amo, ainda tem algo lá dentro de mim que não consegue parar de
pensar em tudo o que vai acontecer.
Será que darei conta?
Será que tudo sairá como o planejado?
E se não der certo?
E se eles não quiserem?
E se…
Todas essas dúvidas e preocupações invadem minha mente, então sinto
a mão do meu irmão nas minhas costas e ele me leva para a sala da nossa
casa, eu sei que é ele sem nem precisar olhar para o lado.
— Você está bem, irmã?
— Sim, eu só… só estou ansiosa — respondo sincera, eu quase nunca
minto para Adrian, porque ele sempre sabe como estou me sentindo.
— Tomou seu remédio hoje? — ele pergunta preocupado.
— Não. — Levanto a taça com a bebida. — Eu sabia que ia beber, mas
vou ficar bem, é só por causa da festa, estou nervosa pelo cassino.
Adrian me avalia por um momento, depois respira fundo e concorda
com a cabeça.
— Tudo bem, mas se sentir que é demais me fala, eu estarei ao seu
lado. E não se force a nada, é a nossa festa e nós podemos fazer o que
quisermos, até mesmo sair de lá se não estiver bom — ele declara e beija
meu rosto, então sorrio e solto a respiração que nem sabia que estava
segurando.
— Obrigada, irmão — agradeço de verdade, Adrian sempre sabe como
me acalmar, sua presença e abraço são o suficiente para que minha mente
desacelere por um momento. — Agora vou subir e me trocar, avisa a mãe?
— Aviso sim, vai lá, eu te espero às oito horas para seguirmos juntos
para o cassino.
Subo até meu quarto e tomo um banho demorado de banheira, tentando
me acalmar, mas mesmo assim minhas mãos tremem quando volto a pensar
na festa, então coloco uma música alta e começo a cantar, isso me ajuda e
assim consigo me trocar e, quando o maquiador e o cabelereiro chegam,
estou pronta para recebê-los.
Saímos exatamente às oito horas. Adrian, Andreza e eu vamos em uma
limusine separada, aproveitando a champanhe e conversando entre nós.
Eu gosto da namorada do meu irmão, ela é uma espiã da Bratva e tem
dois anos a mais do que a gente, mas isso não parece interferir na relação
deles, sei que ele a ama e que ela corresponde a esse sentimento.
Eles estão juntos há três anos já e são felizes, é o que importa para
mim.
Quando chegamos somos recebidos por toda a nossa família, amigos e
colegas da Bratva, passo os olhos por cada um dos rostos conhecidos e
sorrio ao encontrar os três que eu estava procurando.
Bjorn Ivanov, Ruan Smirnov e Danila Kuznetsov, meus três melhores
amigos, minha equipe, meus homens.
Nós somos os herdeiros da Bratva, juntamente com Katrina Orlov, que
está do outro lado, perto do seu namorado e família.
Durante toda minha vida eu lembro de tê-los comigo, meu pai decidiu
que os herdeiros deveriam ser unidos e treinar juntos para que, quando
assumíssemos o lugar dos nossos pais, fossemos uma frente unida.
Ele só não sabia que isso iria nos aproximar tanto…
Como de costume as pessoas nos abraçam e depois cantam os
parabéns, então a diversão começa e todos aproveitam as máquinas e jogos
do cassino, Adrian e Andreza se perdem em algum canto para dar uns
amassos e eu sigo até o meu grupo de amigos.
— Você está esplêndida — Bjorn é o primeiro a me abraçar e plantar
um beijo em meu rosto. Ele é alto e tem os cabelos e a barba loiros, seus
lindos olhos verdes brilham ao me olhar. — Feliz aniversário!
— Obrigada — agradeço. — Espero que meu presente seja tão bom
quanto esse elogio.
— Você sabe que será. — Ele pisca um olho em minha direção.
— Feliz aniversário, docinho. — Danila me abraça apertado,
chamando-me pelo apelido carinhoso que me deu. O homem é o maior de
todos, tem os cabelos pretos, assim como a barba, e os olhos mais escuros
que já vi, ele é um brutamontes delicioso que, por baixo do terno luxuoso,
tem algumas tatuagens maravilhosas.
— Obrigada, lindinho — respondo com uma provocação e ele ri da
piadinha, eu não gosto que ele me chame de docinho e ele sabe disso, por
isso usa esse apelido, então eu o chamo de lindinho, bem no diminuitivo
mesmo, só para provocá-lo.
— Um ano mais velha — ele fala, então beija meu rosto e, antes de se
afastar, sussurra no meu ouvido. — E mais gostosa do que nunca.
Porra, suas palavras me fazem arrepiar e ecoam por todo meu corpo,
assim como o toque da sua mão no meu braço.
Quem está de fora não vai perceber nada, eles são só meus amigos e
estão me parabenizando, mas cada toque que trocamos, cada palavra, é tudo
especial.
— Feliz aniversário, meu amuleto. — Ruan é o último a me
parabenizar, ele tem os cabelos castanhos, assim como os olhos, sua barba
rala me pinica quando ele me puxa para um abraço carinhoso e beija meu
rosto. — Amei o vestido — ele comenta no meu ouvido.
— Você nem imagina o que tem por baixo — falo baixinho só para ele
ouvir.
— Ah, mas minha imaginação é fértil pra caralho — Ruan desafia e eu
rio sem me conter.
Então ele se afasta e o garçom nos serve champanhe, brindamos ao
meu aniversário e começamos a conversar como os bons amigos que
somos.
Conforme o tempo vai passando, aproveitamos o cassino e jogamos
alguns jogos e eles não saem do meu lado, estão sempre comigo, mesmo
quando minhas amigas chegam e entram nas brincadeiras, os três continuam
aqui.
Larissa e Vanya são duas espiãs da Bratva, Vanya é uma ruiva gostosa,
peituda, baixinha e com os olhos castanhos mais sinceros que já vi.
Larissa é mais alta, mas não tanto quanto eu, ela também é gostosa para
caralho, tem pouco peito, mas bastante bunda, olhos verdes e cabelos
escuros.
Nós nos conhecemos durante os treinamentos há mais ou menos quatro
anos, elas são um ano mais velhas do que eu, mas ainda consigo ganhar das
duas na luta corpo a corpo.
— Suas vagabundas, parem de roubar — aviso, já que Larissa ganhou
as duas últimas partidas e Vanya a anterior.
— Não estamos roubando, só somos melhores do que você — Vanya
provoca e eu solto uma gargalhada alta.
— Impossível — respondo, então mostro o Royal Flush que tenho em
minhas mãos e limpo as fichas da mesa, ganhando essa jogada.
— Vamos sair daqui mais pobres — Danila reclama, fingindo tristeza.
— Como se isso fosse possível — Ruan fala e todos rimos, então
continuamos jogando até que Bjorn troca um olhar comigo e faz sinal para
o lado com a cabeça, então eu sei que chegou a hora.
— Meninas, aproveitem a noite de vocês, eu preciso dar uma volta para
conversar com as pessoas — digo e me levanto, dando um abraço em cada
uma delas. — Obrigada por virem.
— Não perderíamos por nada, piranha — Vanya responde e elas ficam
jogando enquanto eu saio, do canto do olho vejo os rapazes se dispersarem
e cada um segue para um lado.
Bom, eles já sabem exatamente o que fazer…
CAPÍTULO 1

Bjorn
 
Quando percebo que as pessoas já não prestam mais tanta atenção em
Yelena, faço o sinal para ela, então a vejo se despedir das amigas e ir até
seus pais, enquanto eu e os rapazes vamos cada um para um lado.
Ela vai falar que está ansiosa e pedir para subir para um dos quartos,
esse é o plano, por isso nós precisamos estar lá, a esperando quando ela
chegar.
Ruan e Danila já estão na porta do quarto quando eu chego e, logo
depois, ouvimos Yelena e Serguei com seus seguranças entrando no
corredor.
— Que bom que vocês vieram — ela fala com a voz fraca, como se
estivesse fragilizada, essa mulher sabe muito bem como atuar e usar as
emoções das pessoas a seu favor. — Eu chamei os meninos, não queria ficar
sozinha — ela fala para seu pai, que nos encara desconfiado, mas por
estarmos sempre juntos ele acena com a cabeça, então manda os seguranças
fazerem uma varredura no quarto.
— Tem certeza que não quer que eu chame sua mãe? — Serguei
questiona.
— Deixa ela aproveitar a festa, e você também, foi por isso que escolhi
esse lugar — Yelena responde e abre um sorriso contido para o pai. — Eu
vou ficar bem, só precisava sair do tumulto e me distrair com meus amigos.
— Tudo bem, filha, qualquer coisa é só me mandar mensagem que eu
venho aqui — Serguei declara e beija o topo da cabeça da filha, então olha
para nós. — Cuidem dela e não bebam demais.
— Pode deixar — respondo confiante, entre nós quatro eu sou o que
eles consideram mais sério e confiável, já que sou o que menos apronta, ou
o que eles não pegaram aprontando ainda.
Então entramos todos no quarto e, assim que a porta fecha atrás de
Danila, Yelena começa a dar pulinhos de felicidade e abre o sorriso mais
lindo desse mundo.
— Agora sim a festa vai começar — declara e pega seu celular.
Conectando-o ao sistema de som no quarto, ela coloca sua playlist para
tocar.
Obviamente a suíte presidencial é toda isolada acusticamente, então os
seguranças do lado de fora não vão ouvir nada do que acontecerá aqui.
— Está pronta para receber seus presentes, docinho? — Danila se
adianta e segura a cintura de Yelena, dançando com ela no ritmo de uma
música sensual.
Ela está maravilhosa em um vestido de seda vermelho, que abraça suas
curvas e cai até seus pés, os saltos dourados combinam com as joias em seu
pescoço.
Seus lindos cabelos loiros estão soltos e caem em ondas perfeitas sobre
seus ombros, ela está com uma maquiagem marcante complementada com
um batom vermelho, que atrai minha atenção para seus lábios carnudos.
— Mais do que pronta — ela responde e olha para nós três —, mas
hoje eu não quero um presente de cada vez, eu quero todos juntos.
— Como assim? — Ruan pergunta.
— Quero foder meus três homens ao mesmo tempo — Yelena anuncia,
pegando-nos de surpresa.
Nós transamos há um ano, mas nunca fizemos isso juntos, o máximo
que rolou foi um ménage entre ela, Danila e Ruan, uma vez quando eles
estavam bebendo sozinhos.
Depois disso, nós sempre nos encontramos separadamente, mas eu
deveria imaginar que ela estava preparando algo para esta noite, ainda mais
quando nos chamou para a suíte, juntos.
— Você tem certeza? — Danila questiona, ainda segurando-a pela
cintura.
— Claro que sim, venho sonhando com esse momento há tempos —
ela declara e sorri ainda mais, então me olha e dá uma piscadinha. — O que
acha, Bjorn?
Porra, eu gosto dos seus joguinhos e não sinto ciúmes dos caras, nós
somos como irmãos, mas dividir uma mulher ao mesmo tempo com eles…
Não sei.
— Você sabe que vai dizer sim, então não enrola — Ruan me desafia
enquanto vai até o bar e serve uma dose de vodca. — O que vocês querem
beber?
— Uma cerveja — Yelena responde.
— Para mim também — Danila aceita, mas eu faço que não com a
cabeça, preciso estar com a mente sã para pensar.
— Vamos, cara, vai ser bom. — Ruan me entrega uma água depois de
levar as cervejas para eles, então volta e se serve de mais vodca, entre nós
quatro ele é o que mais consome bebidas alcoólicas.
Yelena se desvencilha dos braços de Danila e caminha em minha
direção, como uma maldita leoa encarando sua presa, ela envolve meu
pescoço com os braços e me beija.
No momento que seus lábios tocam os meus eu sei que estou perdido,
porque por ela eu faço qualquer coisa, essa mulher me tem em suas mãos.
O beijo começa delicado, seus lábios se moldando aos meus até que
sinto sua língua invadir minha boca procurando pela minha, enroscando
nela em uma batalha deliciosa, logo estamos ambos ofegantes e, quando
Yelena geme, a porra do meu pau aperta na calça social.
— Agora seja um bom garoto e venha brincar com seus amigos, eu não
vou falar duas vezes, Bjorn — ela anuncia e dá mais um beijo na minha
boca antes de me largar e andar até a cama. — Ruan, esse vestido está
apertado demais, será que você pode me ajudar a tirá-lo?
— Agora mesmo, meu amuleto — ele declara, usando o apelido
carinhoso que deu a ela anos atrás, enquanto jogávamos cartas e, assim que
Yelena chegou no jogo, Ruan começou a ganhar.
Ele vai até ela e desfaz o laço do vestido em seu pescoço, depois abre o
zíper lateral e deixa o tecido de seda vermelho cair aos seus pés.
Então vem a surpresa, por baixo do vestido ela não está usando nada,
Yelena está em nossa frente completamente nua, sua pele clara é perfeita, a
tatuagem da Bratva em cima do seu coração é a única marca em seu corpo.
Yelena não quer fazer tatuagens para não ser reconhecida nas missões
que participa quando está disfarçada.
Danila é o primeiro a se antecipar, dando um gole em sua cerveja antes
de passar a garrafa para ela, que faz o mesmo e, só depois, eles se beijam,
ele domina sua boca com vontade enquanto a segura pela cintura com uma
mão, levando-a para perto do seu corpo.
— Gostosa pra caralho — ele murmura contra seus lábios, a luxuria
que vejo nos olhos de Yelena quando eles se afastam é a única coisa que
preciso para aceitar essa proposta.
— Então, Bjorn, qual é a sua resposta? — Ruan questiona, virando a
dose de vodca na boca antes de largar o copo em cima de uma mesa.
— Vamos tentar, mas se for demais para você… — falo olhando
diretamente para Yelena.
— Não é demais, coração, é o suficiente — ela contrapõe e Danila ri,
tirando seu terno e jogando-o em cima de uma poltrona, Ruan faz o mesmo
e eles começam a se despir, cuidando para que as roupas não fiquem muito
amassadas.
Vou até eles e beijo Yelena antes de me abaixar, descendo a mão pelo
seu corpo delicioso, até pegar o seu vestido do chão, então o levo até o
closet e penduro em um cabide de veludo.
Tiro meu paletó, o colete e a gravata antes de voltar para o quarto e,
quando chego, Danila está só de cueca.
Ele tem o corpo musculoso e uma bunda invejável, as tatuagens que
cobrem parte da sua pele são lindas, ele é o maior de nós e também o mais
bruto dos três, mas com Yelena ele é calmo e carinhoso.
A primeira onda constrangedora vem quando vejo que ficaremos todos
pelados, mas Yelena percebe e por isso caminha até mim, então começa a
abrir os botões da minha camisa, passando a mão pelo meu peito enquanto
desliza o tecido pelos ombros, colocando em cima da cadeira junto com as
roupas de Ruan.
Depois ela me beija enquanto abre meu cinto, eu acaricio seu braço
com uma mão e com a outra seguro a base do seu pescoço para controlar
seus movimentos e, assim que me livra das calças, ela segura meu pau sobre
a cueca e começa a massageá-lo.
É tão bom que gemo contra sua boca, mordendo seu lábio inferior para
depois chupá-lo com carinho.
— Você gosta disso, não gosta? — ela pergunta com um tom safado na
voz.
— Sabe que sim — respondo e beijo seu pescoço, descendo até a
clavícula, então levo uma mão até seu peito e começo a chupar o outro,
fazendo-a gemer.
Yelena é tão sensível, seu corpo todo reage às carícias.
— Desce mais — ela praticamente ordena quando sua mão segura meu
cabelo e empurra levemente minha cabeça para baixo, então me ajoelho em
sua frente e aperto bem forte sua bunda gostosa com as duas mãos, antes de
trazer sua boceta até a minha boca.
Sinto o cheiro da sua excitação e inspiro profundamente antes de a
lamber, ela já está toda molhada e pronta para nós. Minha língua viaja por
seus grandes lábios até encontrar o clitóris sensível, então começo a chupá-
la como eu sei que gosta e logo Yelena está perdida em sensações.
Sua mão aperta ainda mais meu cabelo, tentando me controlar até que
sinto um dos caras se aproximar e, por um momento, penso em parar, mas
sentir Yelena se derretendo na minha boca é bom demais.
Olho para cima e vejo Danila a beijando intensamente, porra, a visão é
melhor do que a anterior, Yelena geme na boca dele e eu a chupo mais forte,
aumentando a velocidade da minha língua, que bate no seu clitóris e a faz
rebolar na minha boca.
— Chega — ela decide e paro o que estava fazendo. — Vamos para a
cama.
Então ela se vira e Danila dá um tapa forte em sua bunda, fazendo-a
pular, mas a safada olha para trás com o olhar travesso e um sorriso lindo
nos lábios vermelhos.
— Como isso vai funcionar? — Ruan pergunta e Yelena deita de costas
na cama, erguendo seu corpo ao se apoiar nos cotovelos, então ela olha para
nós três como se fossemos pedaços de carne.
Porra, essa mulher me enlouquece.
— Eu quero Bjorn na minha boca e vocês dois podem escolher suas
posições na dupla penetração — ela anuncia e a imagem mental que surge é
quase um absurdo, porém um que causa um arrepio em meu corpo. — Vem
aqui, coração — Yelena me chama e, assim que estou ao seu lado na cama,
ela leva a mão para o elástico da cueca e a abaixa, libertando meu pau.
Logo depois sinto sua língua quente e molhada lambendo a cabeça e
estremeço de prazer, ela o envolve com uma mão e o coloca na boca,
chupando e me masturbando ao mesmo tempo, me levando ao paraíso.
— Porra, visão gostosa do caralho — Danila fala e abro os olhos para
olhar para baixo e ver Yelena perdida no meu pau, a cada vez que ele entra
em sua boca eu estremeço ainda mais, então reúno seus cabelos com uma
mão e a seguro pela cabeça, sem força-la, deixo que ela controle os
movimentos.
— Caralho, amuleto, só de te ver eu já tô duro — Ruan anuncia e olho
para o lado, encontrando-o pelado e com o pau na mão enquanto se
masturba.
Ele é forte e musculoso, seu peito é cheio de tatuagens, que vão até o
seu braço direito, cobrindo-o por completo, suas pernas são tonificadas e a
direita tem uma tatuagem que ele acabou de começar.
Meu olhar para em seu pau por um tempo, avaliando-o, ele é grande e
tem veias saltadas, a cabeça rosada e a droga de um piercing brilhando
próximo da cabeça.
Preciso me controlar para não lamber meus lábios.
O que está acontecendo comigo? Eu nunca senti atração por homens.
— Não pensa, Bjorn, só se entregue — Yelena larga meu pau para
falar, então se levanta e me beija —, agora eu quero todos vocês.
Ruan entrega uma camisinha para Danila e pega uma para ele, então
eles desenrolam os preservativos nos paus enquanto Yelena volta a me
beijar.
— Se concentra em mim, isso vai ser bom, coração, eu prometo — ela
fala contra meus lábios.
Então Ruan deita na cama e a puxa para sentar na sua cara, ele a segura
com firmeza pela bunda e lambe sua boceta, fazendo Yelena jogar a cabeça
para trás e cavalgar em sua boca por um tempo, até que se contorce de
prazer, gemendo como a porra de uma cachorra.
Suas pernas tremem ao redor da cabeça dele quando atinge o primeiro
orgasmo da noite, derramando-se sobre meu amigo que continua chupando-
a até o último espasmo.
— Agora sim você está pronta para nós — Ruan anuncia, limpando a
boca com a mão, então Yelena desce por seu corpo e se coloca em cima do
seu pau, ela o provoca por um tempo, usando-o para se masturbar, até que
ele não aguenta mais e a segura pela bunda, penetrando-a de uma vez só,
fazendo-a gemer e suspirar com a sensação. — Agora cavalga no meu pau,
amuleto.
E é isso o que ela faz, subindo e descendo com agilidade, enquanto se
segura no peito de Ruan, sua bunda balança deliciosamente e só com a
visão deles fodendo meu pau pulsa e começo a me masturbar lentamente,
sentindo o prazer que os dois estão sentindo.
— Porra de boceta gostosa do caralho — Ruan geme e ela o beija,
mordendo seu lábio inferior para arrancar um gemido dele.
— Sobe na cama, Bjorn — Yelena me chama e, quando estou
ajoelhado ao lado de Ruan, ela abocanha meu pau novamente enquanto
continua montando nele.
Porra, eu posso gozar só com a visão da sua bunda, mas ainda não
acabou, Danila vem com um tubo de lubrificante e passa um pouco na
camisinha, depois lambuza seus dedos e passa na bunda de Yelena,
provocando seu cu carinhosamente, preparando-a para recebê-lo.
— Que delícia, docinho — Danila comenta. — Não vejo a hora de ter
meu pau bem fundo nesse cu apertado.
Ela diminui o ritmo dos movimentos enquanto ele a prepara, sinto seus
gemidos vibrando no meu pau até que ela o solta e segura com a mão,
continuando a me masturbar.
Danila fica de joelhos atrás dela e Ruan abre mais as pernas para dar
espaço, então meu amigo coloca a cabeça do seu pau lentamente na bunda
de Yelena, provocando-a antes de entrar, isso a faz parar de rebolar no pau
de Ruan para se acostumar com as sensações.
Yelena fecha os olhos e abre a boca, até que Danila está enterrado em
seu cu.
Ela precisa de um tempo para se acostumar com a dupla penetração.
— Respira, docinho — Danila instrui e ela o faz, relaxando um pouco,
então ele começa a sair dela e entrar de novo lentamente, até que ela volta a
se mover, empurrando contra ele ao mesmo tempo que recebe o pau de
Ruan na sua boceta.
— Me beija, Bjorn — ela pede e me abaixo para tomar a sua boca, essa
mulher, essa maldita mulher, é a porra de uma rainha.
Ela me domina com avidez, mordendo meu lábio antes de enfiar sua
língua e encontrar a minha em uma dança deliciosa, ela geme contra meus
lábios enquanto Danila entra e sai dela, assim como Ruan que empurra seu
pau e a fode com vontade.
— Porra, eu posso sentir seu pau dentro dela — Ruan anuncia e vejo
Danila sorrir, então Yelena me solta e segura meu pau com a mão, eu volto
a ficar de joelhos quando ela o leva até a boca e volta a me chupar, agora
mais forte e com mais vontade, levando-me até o fundo da sua garganta
para depois sair e voltar a fazer o mesmo.
É tudo bom demais, a visão dos meus amigos fodendo a nossa mulher,
os sons dos gemidos de quatro pessoas enlouquecidas de prazer ecoando
pelo quarto, o cheiro de suor misturado com sexo, todo esse conjunto me
faz ir aos céus de tanto prazer que estou sentindo.
— Caralho, eu vou gozar — Danila avisa e começa a foder ainda mais
rápido, enterrando-se na bunda dela até o talo, Ruan faz o mesmo e levanta
a cabeça para chupar os peitos de Yelena enquanto ela continua me
chupando, sinto minhas bolas apertarem e meu pau pulsando em sua boca,
não aguento mais.
— Eu vou gozar — aviso, dando-lhe a chance de escolher, mas ela não
para e, quando atinjo o ápice, despejo jatos de porra em sua boca, aos quais
ela engole, deliciando-se com o meu prazer.
Então Yelena me solta e começa a cavalgar ainda mais rápido nos meus
amigos, tomando-os para si.
— Eu vou… Porra, continuem assim — ela grita de prazer enquanto
eles a fodem, então Ruan para de chupar seus peitos e leva uma mão para o
meio das suas pernas, provocando seu clitóris, não leva muito tempo e ela
joga a cabeça para trás, suas pernas começam a tremer e ela geme
descontroladamente.
É lindo de assistir, porra, é a visão mais fodidamente incrível que eu já
tive o prazer de presenciar na minha vida.
— Porra, você está esmagando meu pau, amuleto — Ruan declara e
toma o controle, empurrando com mais força, e Yelena não para de gemer,
embalada pela onda do seu orgasmo.
Eu me abaixo e a beijo, então sussurro em seu ouvido:
— Goza de novo, goze para nós — peço e ela sorri, então enfia as
unhas nos ombros de Ruan e volta a ir de encontro a eles, cavalgando os
dois paus.
— Porra, docinho — Danila geme e mete com mais força.
— Ela vai ter um squirting — Ruan anuncia e volta a provocar o
clitóris de Yelena com a mão até que ela goza novamente, dessa vez
molhando tudo enquanto estremece, escuto os sons dos corpos se chocando
e, logo depois, Danila estremece e goza, sendo acompanhado por Ruan, que
entra mais algumas vezes antes de gemer alto e gozar também.
Porra, eu poderia acompanha-los só de assistir a esse show delicioso.
O que diabos acabou de acontecer aqui?
CAPÍTULO 2

Danila
 
— Você não vai conseguir me derrubar, docinho — provoco Yelena
enquanto ela se prepara para mais um round de luta livre, nós estamos
treinando juntos há mais de uma hora, mas ela é bem menor do que eu e,
apesar de ser rápida para caralho, ainda não conseguiu me derrubar. —
Vem, tenta mais uma vez.
— Cala a boca — ela fala e eu solto uma risada.
Adoro quando ela fica toda nervosa assim, seu rosto está vermelho, o
corpo torneado todo suado, as roupas coladas não deixam nada para a
imaginação.
Gostosa para caralho!
— Se continuar babando assim vai se desconcentrar — Yelena declara
com um meio sorriso, claro que ela percebeu.
— Que tal uma aposta?
— Aceito.
— Você nem ouviu o que eu tenho a propor.
— É óbvio que é sexo, e eu sempre aceito uma proposta indecente
assim com você — ela declara, me fazendo rir.
— Se você ganhar eu deixo você me amarrar na cama e fazer o que
quiser comigo.
— O que eu quiser, é? — Vejo seus olhos azuis brilhando em
antecipação, agora eu tenho sua atenção.
— O que você quiser, docinho — repito e ela morde o lábio inferior.
— E se eu perder você ganha uma foda relâmpago.
— O que isso significa?
— Que vai poder me foder a qualquer hora, em qualquer lugar, e da
forma que quiser, eu tenho que topar tudo — ela manifesta.
— Porra, só vem — aceito.
Então ela ataca, acertando um chute nas minhas costelas para me
distrair, depois tenta um soco no meu ouvido, que eu consigo desviar, só
para levar um chute no meio das pernas.
— Hey, isso não vale — aviso, sentindo a dor excruciante subir do meu
pau para todo o meu corpo.
Porra, ela acertou em cheio.
Caio de joelhos no tatame, sem conseguir me manter em pé, e a peste
começa a pular, comemorando sua vitória.
— Luta livre, querido — ela continua comemorando com tanta energia
que não parece que passamos uma hora treinando, essa mulher me
surpreende todos os dias. — Agora vem. — Ela estende a mão em minha
direção e eu aceito, me levantando.
— Você estava se contendo antes? — questiono.
— Não, mas eu deixo para usar meu golpe secreto só quando é
extremamente necessário.
— Golpe secreto, é? Sua peste. — Passo um braço pelos seus ombros e
a trago para perto de mim, então caminhamos juntos até os vestiários, mas
quando vou soltá-la, Yelena segura minha mão e me puxa para o vestiário
feminino com ela. — Yelena, tem câmeras aqui.
— Não por mais três horas — ela anuncia, pegando-me de surpresa.
— Você desligou as câmeras?
— Sim, meu pai se distraiu e eu aproveitei a oportunidade, ou você
queria que ele visse nosso treino?
— O treino eu não me importo, mas o que faremos agora sim —
respondo.
— E o que faremos agora? — ela provoca assim que entramos no
vestiário e, quando fecho a porta atrás de mim, a seguro e giro em meus
braços, batendo suas costas contra a parede fria de azulejo.
— Agora eu vou te foder, docinho — informo e tomo sua boca em um
beijo que eu queria dar há muito tempo, é difícil estar com Yelena e não
poder beijá-la toda hora, eu só quero essa mulher nos meus braços.
Sua boca se abre para me receber, seus lábios carnudos vão de encontro
aos meus enquanto minha língua viaja para encontrar a sua, Yelena morde
meu lábio inferior, provocando arrepios por todo o meu corpo, então faço o
mesmo com ela e sou recompensado com um gemido delicioso.
Eu amo quando essa mulher se entrega assim.
Yelena tira os tênis e eu abaixo suas calças, descartando-as em algum
canto, então agarro sua bunda e a levanto, fazendo com que ela entrelace as
pernas na minha cintura.
Porra, eu estou tão duro por ela que meu pau reclama por estar nas
minhas calças.
Ela se esfrega em mim, a boceta molhada me provocando, então pego
um preservativo na bolsa de academia e abaixo minha bermuda
rapidamente, liberando meu pau para encapá-lo antes de me enterrar nela,
de uma vez só, até o talo.
— Caralho — Yelena geme e eu a beijo, engolindo seu prazer enquanto
saio dela só para entrar novamente, sinto quando sua respiração começa a
ficar mais rápida e ofegante, na mesma sintonia que a minha, e começo a
aumentar a velocidade das investidas, isso vai ser rápido.
Estou há dias sem foder, desde a nossa festinha particular em seu
aniversário de vinte e um anos, quando ela marcou o treino para hoje eu
quase gozei em antecipação.
— Que boceta gostosa do caralho, docinho — falo contra seus lábios e
ela sorri, daquele jeito lindo que ela faz quando está com tesão, então seus
gemidos começam a ficar mais altos, ela até tenta se conter, mas não
consegue, quando vejo que suas pernas começam a tremer e ela fecha os
olhos, sei que vai gozar e começo a investir com movimentos curtos e
rápidos. — Goza no meu pau, goza.
E porra, é exatamente isso o que ela faz, se desfazendo em meus braços
enquanto atinge o orgasmo mais lindo desse mundo, eu amo assistir Yelena
gozar, e amo mais ainda a forma com que sua boceta aperta meu pau, me
sugando até que não consigo mais aguentar.
Mordo seu lábio inferior e, com mais duas investidas, gozo forte dentro
dela, meu pau pulsando enquanto ela me aperta até a última gota de porra
sair.
— Caralho, querido, isso foi demais — Yelena declara abrindo ainda
mais o sorriso enquanto me encara com os olhos azuis brilhando, toda
satisfeita. — Eu adoro a forma que você me faz gozar.
— Eu sei, seu corpo não mente, nem seus gemidos e a forma que a sua
boceta aperta meu pau, é delirante, sabia, docinho? — declaro e ela solta
uma gargalhada.
— Eu sei sim, agora vamos tomar um banho porque estou ainda mais
suada do que antes. — Saio de dentro dela e solto sua bunda, colocando-a
no chão só para passar uma mão por suas pernas e erguê-la novamente nos
meus braços, então corro até o chuveiro e ligo a água fria, molhando nós
dois enquanto Yelena grita e esperneia.
— O quê? Você queria um banho. — Me defendo quando ela dá um
tapa fraco no meu peito.
— Não de água gelada, puta que pariu, Danila — ela reclama, então
ligo a água morna e vou subindo a temperatura aos poucos até que uma
névoa de vapor se forma ao nosso redor.
A coloco no chão, tiro a camisinha e descarto na lixeira, depois volto
para o chuveiro.
Yelena ergue os braços e eu a ajudo a tirar o top de ginástica que está
usando, então sou agraciado com a visão dos seus peitos deliciosos e não
me aguento, me abaixo e chupo um, depois o outro, sentindo a água quente
misturada com o salgado do suor do seu corpo.
— Segundo round, já? — ela pergunta.
— Segundo, terceiro, quarto, eu quero te foder o dia todo, docinho,
preciso tirar o atraso, não aguento ficar tanto tempo sem você — explico e a
beijo com vontade, tomando sua boca só para mim.
— Desculpa, querido, entre o treinamento e meu pai me dando aulas
particulares sobre meu lugar na organização, está bem difícil conseguir um
tempo livre.
— Eu sei, tá foda pra mim também, mas sempre que quiser um
parceiro de treino, estou aqui.
— Seu safado, você só quer me foder no final.
— Óbvio, mas se não pudermos foder, eu me contento em só passar um
tempo contigo, só não acerta mais as minhas bolas, as coitadas ainda estão
reclamando — peço e ela solta uma gargalhada alta.
— O prêmio da aposta era bom demais para perder — justifica e pisca
um olho em minha direção.
— Sua safada — falo e a beijo novamente, meu pau ganhando vida e se
preparando para mais uma boa rodada de sexo no chuveiro. — Eu vou te
comer por trás agora, só para ver essa bunda deliciosa engolindo meu pau.
— Você pode me foder como quiser hoje, querido, mas não esqueça
que ainda vou cobrar o meu prêmio da nossa aposta.
— Estarei esperando ansiosamente — aviso e a viro de costas para
mim, Yelena ergue as mãos e se segura nos azulejos do banheiro,
empinando sua bunda deliciosa em minha direção, enquanto coloco uma
perna no meio das suas e a abro, passando a mão pela sua boceta molhada
até chegar na sua bunda, então introduzo um dedo em seu cu apertado e ela
geme. — Porra, eu não consigo escolher o que eu gosto mais de foder, sua
boca, sua boceta ou esse cu delicioso.
— Para que escolher se você pode ter os três? — ela provoca e eu enfio
o dedo mais fundo nela, fazendo-a rebolar contra a minha mão, então
começo a entrar e sair até que ela se acostume.
Saio e pego outro preservativo, desenrolando no meu pau antes de
voltar para ela, assim que estou no meio das suas pernas novamente,
provoco seu cu com a ponta do meu pau e ela fica tensa quando eu entro.
— Respira, docinho, já vai passar — peço e a sinto relaxar, então vou
entrando aos poucos e a deixo se acostumar com o tamanho do meu pau,
para depois começar a fodê-la com mais vontade.
Yelena e eu transamos há mais de um ano e ela nunca se conteve,
quando quis experimentar anal, ela pediu e foi assim com várias das nossas
experiências.
Eu sei que Bjorn foi quem tirou a virgindade dela e Ruan foi o segundo
a conquistá-la, mas comigo Yelena realmente se solta.
Não sinto ciúmes dos caras, a gente não divide nossa mulher, ela nos
escolheu e nós a veneramos, essa é a verdade.
Além disso, eles são meus melhores amigos, jamais sentiria ciúmes
deles.
— Me fode, Danila — Yelena pede e meu nome saindo da sua boca é a
porra da minha perdição.
Eu começo a entrar e sair mais rápido, sentindo seu cu estrangular meu
pau, então levo uma mão para o meio das suas pernas e provoco seu clitóris
inchado, é delicioso demais.
Yelena me aperta ainda mais quando começa a gemer de prazer,
rebolando, vindo de encontro as minhas investidas, eu mordo seu ombro
para conter a porra de um rosnado, mas é impossível me segurar.
O sexo é bruto e intenso, seguro seus peitos com firmeza e meto com
força até que ela começa a gritar de prazer enquanto massageio seu clitóris.
Yelena está quase, eu sinto isso, então aumento o ritmo das investidas e
sinto quando ela espreme meu pau ao gozar, coloco um dedo em sua boceta
e ela fica ainda mais molhada, mas não paro de provocar seu clitóris,
tirando tudo dela.
— Caralho, caralho, eu vou gozar de novo — ela avisa, suas pernas
tremendo descontroladamente.
— Goza, docinho, me dá mais um, vai — peço e ela faz, sinto o líquido
quente saindo da sua boceta em um squirting perfeito, que atinge as minhas
pernas e isso é a minha ruina.
Com mais algumas investidas, gozo em seu cu e mordo seu ombro, a
escuto chamar meu nome enquanto seu corpo se recupera do orgasmo que a
dominou.
— Porra… — solto entre uma respiração e outra, meu coração batendo
tão forte no peito que poderia sair pela boca agora.
Essa mulher, essa maldita mulher, é a porra de uma deusa.
***
Depois de mais uma rodada de sexo, Yelena e eu nos separamos, ela
vai religar as câmeras na sala do seu pai, enquanto eu vou encontrar o meu
para acompanha-lo em uma reunião.
Nossa família controla a produção e distribuição de farmacêuticos por
todo o mundo, o que significa que nós escolhemos os países que tem acesso
aos melhores remédios e os que irão brigar por qualquer porcaria.
Além disso, nossos negócios estão entrelaçados com a produção e
distribuição de alimentos, quais países serão os responsáveis para alimentar
o mundo e quais irão receber.
Se for pensar bem, tudo está interligado.
Temos o controle de quem vive e de quem morre no mundo todo, essa é
a nossa responsabilidade dentro da organização.
Eu acho nossos negócios fascinantes, a forma com que nossas
empresas são distribuídas estrategicamente para dominar o mundo todo,
estamos em todos os países, sem nenhuma exceção, cada um deles está em
nossas mãos.
A única coisa chata disso tudo são as intermináveis reuniões com
pessoas que se acham importantes por serem líderes de algum país.
Porra, esses homens, na maioria dos casos, só estão lá porque nós
deixamos, e se quiserem continuar no poder precisam agir de acordo com
nossas regras.
Eles sabem disso, sabem da influência da Bratva e, se tentarem
qualquer ação contra nós, serão eliminados, como já aconteceu com
diversos presidentes durante a história.
Nós temos o poder e não eles.
— Danila, presta atenção aqui — meu pai me chama e eu volto a olhar
para a grande tela de TV, aonde o presidente dos Estados Unidos discorre
sobre a necessidade de receber mais medicamentos para sua população.
— Vocês tem o suficiente para manter o sistema funcionando, pelo
menos para quem pode pagar, já que saúde pública não é o foco do seu país
— meu pai declara e vejo o presidente erguer as sobrancelhas. — Vocês já
tem o poder de escolher quem vive ou quem morre, não me venha falar em
salvar vidas agora.
Então o presidente tenta argumentar, mas meu pai o cala e encerra a
reunião sem conceder nada a ele.
— Então, o que aprendemos hoje? — ele me pergunta assim que a tela
da televisão fica preta.
— Que a porra dos Estados Unidos só salva quem tem dinheiro —
respondo entediado, isso eu já sabia.
— Está certo por um lado, mas você não prestou atenção em tudo.
— E que nosso objetivo não é salvar o mundo, mas sim manter a roda
do capitalismo girando, nós queremos lucro e poder, só isso —
complemento e vejo meu pai sorrir orgulhoso, por isso sei que foi a resposta
certa para a sua pergunta.
— Muito bem, e como foi o treino com a herdeira?
— Produtivo, ela conseguiu me derrubar uma vez.
— Sério? Você tem vinte e seis anos, meu filho, não deveria deixá-la te
derrubar — meu pai aponta e eu sorrio.
— Ela usou um golpe baixo — me defendo e aponto para o meu pau.
— Ah, entendo. — Ele faz uma careta de dor, depois solta uma
gargalhada e se levanta para pegar um copo com vodca. — Quer beber
alguma coisa? O dia foi corrido hoje.
— Não, obrigado, ainda tenho uma aula de inteligência durante a noite
e se eu dormir vou ter que correr dez quilômetros.
— Muito bem, estou orgulhoso de você, meu filho, levando o
treinamento e suas funções a sério assim — meu pai expressa com orgulho
e eu sorrio para ele —, mas sua mãe e eu estamos preocupados, você não
tem saído muito, tem alguma coisa acontecendo?
— O de sempre, pai, as obrigações com a Bratva são mais importantes
e eu e os caras não conseguimos conciliar nossos horários para sair, fora
que Bjorn é proibido de fazer qualquer coisa se não for acompanhado por
um batalhão — declaro e dou de ombros —, mas a gente ainda se diverte,
da nossa forma.
Com isso, relembro o treino com Yelena e nossa foda incrivelmente
quente.
— Entendo — meu pai fala e toma um gole da sua vodca. — E quanto
às garotas? Faz muito tempo que você não traz alguém para casa.
Droga, lá vem ele com esse assunto de novo.
Eu confesso que era galinha para caralho, até levei algumas garotas
com quem fiquei mais de um mês para casa, mas nunca passou disso.
Até Yelena...
Ela é a única que conseguiu entrar na droga do meu coração e, depois
que nos beijamos pela primeira vez, eu já estava aos seus pés e nunca mais
sequer cogitei a ideia de ficar com outra mulher.
— Ou são garotos, agora? — meu pai pergunta como quem não quer
nada, mas sei que é uma preocupação dele que eu seja homossexual, não sei
se chega a ser um preconceito, mas eu tenho que dar continuidade à família
e, bem, reproduzir.
— Não é ninguém no momento, pai, nem homens e nem mulheres, só
estou ocupado mesmo. — Olho o grande relógio que ele tem no escritório e
percebo que, por sorte, é quase hora da minha aula. — Preciso ir, pai.
Me levanto e pego a pasta com os documentos que ele pediu para eu
analisar e estudar para a reunião de amanhã.
— Vai lá, se quiser conversar estou aqui — ele complementa e eu
sorrio para ele.
— Anotado, pai — brinco e bato continência de brincadeira, só para
fazê-lo sorrir, então saio e vou para minha última aula do dia.
CAPÍTULO 3

Ruan
 
A primeira vez que ela me beijou foi para me acalmar.
Eu estava tão puto com meu pai por tudo o que ele exigia de mim que
acabei tentando fugir de casa, mas é óbvio que eles me encontraram e,
quando isso aconteceu, Yelena pediu para falar comigo.
Eu não sabia o porquê, só a deixei entrar porque ela exigiu, mas
quando ficamos sozinhos ela não perguntou o motivo para eu tentar fugir,
nem o que estava acontecendo, ela só me beijou e disse que tudo ficaria
bem, que ela faria ficar.
Desde então as coisas não melhoraram com meu pai, mas sempre que
fica pesado demais suportar o peso de ser um herdeiro, eu sei que tenho
com quem contar.
Tanto Yelena quanto Bjorn e Danila estão do meu lado, eles são meu
porto seguro.
Meus irmãos mais novos e eu não somos muito próximos, Pierre e
Pietro são completamente diferentes de mim, eles gostam dos negócios,
especialmente Pierre, que é o que nasceu antes, ele está sempre com meu
pai, tentando aprender algo a mais, já Pietro gosta mais da aventura, de
viajar e de curtir a vida.
Sirvo mais uma dose de vodca, hoje foi outro dia infernal, meu pai me
fez acompanhar diversas reuniões com bancos internacionais, são tantos
números, tantas obrigações, que na segunda reunião eu já estava com dor de
cabeça e precisando de uma bebida.
Não sei como suportei até a última, nem como cheguei em casa depois,
só sei que preciso de mais uma bebida e de um bom banho para tirar esse
dia da minha mente.
Viro a dose de vodca na boca e sinto o alívio momentâneo que o álcool
proporciona na minha mente, então sigo para o banheiro e tiro a roupa,
entrando na banheira logo em seguida, deixo meu corpo relaxar na água
morna.
Ao contrário dos meus amigos, eu nunca quis ser um herdeiro, meu
sonho era de que os gêmeos, meus irmãos, tivessem nascido antes, assim eu
não teria a obrigação de continuar com a herança da nossa família.
Eu não me importo com isso, só queria treinar como um soldado,
queria ser como Andrei Petrov e sair em missões. Mesmo sendo de uma
família principal, ele é o segundo filho do Pakhan e não teve regalias por
isso.
Andrei é uma lenda na Central, seus feitos como soldado, e depois
como Brigadier de New York, são histórias que serão contadas por gerações.
Sempre que ele vem para a Rússia, tem festa na mansão Petrov e nós
somos convidados.
Yelena, sabendo da fama do tio, o faz contar suas novas conquistas em
primeira mão.
É alguém como ele que eu queria ser, viajar o mundo, conhecer novos
lugares e dar a minha vida pela organização.
Não ficar atrás de uma mesa, decidindo se tal país terá uma crise
financeira ou não, porque é isso que meu pai faz, nossa família controla o
bem mais precioso do capitalismo, o dinheiro.
Temos o poder de decidir quais países prosperam e quais afundam,
sempre mantendo o equilíbrio para o capitalismo funcionar como queremos,
afinal, para existir países ricos, precisam ter os países pobres.
É o curso natural das coisas, mas também é chato para caralho.
Quando termino o banho, tomo mais uma dose de vodca, escovo os
dentes e me jogo na cama, mas estou sem sono, mesmo sentindo meu corpo
todo cansado não consigo dormir, por isso ligo para ela, meu amuleto da
sorte.
Os caras acham que eu dei esse apelido a Yelena por causa de um jogo
de cartas que eu estava perdendo e, quando ela chegou, comecei a ganhar,
mas não só é isso.
Ela sempre foi meu amuleto, me distraindo dos problemas da vida, me
fazendo rir quando eu estava triste e só ela percebia.
Yelena esteve lá a maior parte da minha vida, como uma amiga e,
agora, como minha namorada.
— Boa noite, meu amuleto — falo assim que ela atende o telefone.
“Boa noite, paixão” Ela diz com a voz grossa de sono, olho para o
relógio e percebo que já passa da meia noite.
— Eu te acordei, me perdoa — peço, me sentindo mal por estar
atrapalhando ela.
“Tudo bem, eu prefiro ouvir sua voz a dormir” Ela solta uma risada
preguiçosa do outro lado da linha, que faz meu peito aquecer. “ Você está
bem? Como foi o dia? ”
— Tô cansado pra caralho — confesso —, mas não consigo dormir.
“Você precisa tirar mais tempo para treinar, faz dias que não te vejo na
pista de corrida, exercício físico ajuda no sono, dizem os médicos por aí”
— Eu sei, mas meu pai está enchendo meu saco e quer que eu o
acompanhe o dia todo, só que ele não faz nada a não ser ter reuniões —
reclamo porque sei que ela se importa. — É tudo tão chato que eu poderia
dormir escorado na mesa, aí agora, quando preciso dormir, eu não consigo.
“Se quiser, posso pedir para meu pai intervir, quem sabe comentar algo
sobre os treinamentos” Ela oferece, Yelena sempre tem uma saída para
tudo, ela é astuta demais e pensa em mil formas de resolver um problema.
— Não, prefiro não envolvê-lo nisso, vou tirar tempo para treinar. Quer
ir comigo amanhã de manhã cedinho? — convido, já me sentindo animado
pela possibilidade de encontrá-la.
“É um encontro” Ela aceita e não contenho um sorriso só por saber que
amanhã vou vê-la.
— E como estão suas aulas com seu pai? — pergunto para ouvir sua
voz por mais um tempo, sei que isso a deixará animada.
“Foda pra caralho, agora ele está me ensinando sobre as rotas dos
doadores de órgãos, você não faz ideia do esquema que é, paixão, sério, é
insano.”
Então ela discorre mais um tempo sobre o que está aprendendo, Yelena
sonha com o dia que assumirá o lugar do pai, ela gosta realmente de ser a
herdeira, para ela não é um fardo ou algo que foi imposto, mesmo que tenha
sido, para ela é um privilégio.
Ela será a primeira mulher a se tornar Pakhan na história da Bratva,
assim como Katrina Orlov, que será a primeira mulher no Conselho.
Nossa geração está fazendo história e todos parecem felizes com isso,
menos eu.
“Agora vai dormir” Yelena fala quando termina de me contar sobre seu
dia. “Amanhã nos vemos na pista de corrida às seis horas em ponto.”
— Queria dormir com você — declaro antes de desligar e ela suspira
do outro lado.
“Eu também, queria muito, mas…”
— Mas não podemos, eu sei.
“Algum dia isso vai mudar, eu prometo.”
— Somos todos membros do Conselho, Yelena, nunca poderemos nos
envolver assim, eu sei que você espera mudar as leis, como seu pai fez, mas
até lá teremos que manter nosso envolvimento em segredo.
O casamento entre membros das famílias que comportam o Conselho
da Bratva é proibido, eles dizem que essa regra serve para que duas famílias
não fiquem mais poderosas que as outras e formem alianças por trás dos
panos.
Para mim é só mais uma regra ridícula, feita para nos controlar e
obrigar a casar com alguém de fora, em uniões políticas que só servem para
fortalecer a Bratva.
Casamento não deveria ser usado para isso, não deveria ser uma união
política, e sim um envolvimento por amor.
É irônico como nossas famílias controlam o mundo todo e não temos a
liberdade de escolher com quem vamos nos casar.
“Boa noite, paixão.”
— Boa noite, meu amuleto da sorte.
Então desligamos e, com isso, eu consigo pegar no sono alguns
minutos depois.
No outro dia acordo antes de o sol nascer e vou direto para a Central,
quando chego Yelena já está me esperando, ela veste um conjunto de
legging e top rosa, com um casaco preto por cima e tênis branco, os cabelos
loiros estão amarrados em um rabo de cavalo.
Ela está linda, mesmo com a cara amassada e a expressão de sono.
— Esqueci que seis horas da manhã é cedo pra caralho — ela reclama
quando chego perto e a envolvo em um abraço rápido, mas inspiro o cheiro
do seu perfume antes de soltá-la e começar a me aquecer.
— Desculpa por te acordar ontem.
— Sabe que pode sempre me ligar, eu não me importo, gosto de ouvir
sua voz antes de dormir — ela declara e abre um sorriso lindo enquanto faz
alguns polichinelos.
O clima já não está mais tão frio com a entrada do verão, por isso
podemos correr na pista externa sem tantos casacos.
— Vamos, eu quero fazer meus dez quilômetros antes de começar o dia
— Yelena anuncia e eu tiro meu casaco, ficando só de camiseta e calça de
moletom para acompanhá-la.
Corremos e conversamos por uma hora, até alcançar a marca dos dez
quilômetros, o tempo passa voando, mas com ela sempre é assim, quando
estamos reunindo nossas coisas para ir até o vestiário, o treinador de Yelena
chega e a chama.
— Droga, esqueci que tenho que praticar tiro hoje — ela fala passando
as mãos pelos cabelos. — Queria te beijar antes de continuar meu dia.
— Eu também queria, mas vai ficar para a próxima — falo
decepcionado.
— Um abraço não gera suspeitas em ninguém — ela declara e se joga
em meus braços, dessa vez envolvendo meu pescoço enquanto eu a seguro
pela cintura, então ela beija meu rosto e toca minha barba levemente antes
de se afastar.
É tão bom, mas rápido demais.
— Obrigado — agradeço, já me sentindo vazio sem ela em meus
braços.
— Tenha um bom dia, Ruan — ela fala e se vira para encontrar seu
treinador.
— Você também, amuleto.
Assim vou para o vestiário, quando termino de tomar um banho e
coloco o terno, pego meu celular e, como sempre, já está cheio de chamadas
perdidas do meu pai.
Respiro fundo algumas vezes e tiro o cantil que guardo na bolsa, tomo
um gole de vodca e engulo em seco, então escovo os dentes e respiro fundo
mais algumas vezes, tentando criar coragem para viver esse dia.
A imagem de Yelena sorrindo para mim é a única coisa que funciona, é
com isso que forço minhas pernas a andarem até o escritório.
— Aonde você estava, são sete e meia da manhã, eu te disse que hoje
começaríamos as sete, isso vai nos atrasar — Mikhail Smirnov, meu pai,
começa a falar já sem paciência.
— Eu estava correndo com Yelena, preciso treinar, pai, não quero ser
como o senhor, que fica atrás de uma mesa o dia todo — declaro e pego a
pasta com os documentos que ainda não tive tempo de analisar.
— Eu faço o que preciso fazer e um dia você terá as mesmas
responsabilidades que eu.
— Não precisa me lembrar disso, eu sei — retruco olhando para ele.
Mikhail é um homem alto, de olhos castanhos, porém está fora de
forma já que não faz nada além dessas reuniões chatas.
— Você leu os relatórios? — questiona, mesmo que ele possa ver a
resposta no meu rosto.
— É óbvio que não, quando eu teria tempo para isso, pai? —
contraponho.
— Você precisa começar a ter mais responsabilidade, eu não vou viver
para sempre, Ruan, e você é meu herdeiro, preciso saber que posso confiar
em você, filho — ele pressiona.
— Eu não pedi por nada disso e se pudesse escolher jamais escolheria
essa vida — declaro e o enfrento, me aproximando um passo dele. — Eu
não quero ser você, pai.
Vejo que isso o magoa assim que as palavras saem da minha boca, mas
já não aguento segurar toda a verdade para mim.
— Querendo ou não, esse é o meu legado e passará para você, agora eu
farei as duas primeiras reuniões com o presidente da Rússia e o banco
industrial e comercial da China enquanto você lê os relatórios — ele avisa e
sai da sala.
Eu quero quebrar tudo, acabar com esse lugar com minhas próprias
mãos, mas me controlo e me sirvo uma dose de vodca, só assim terei
coragem para viver mais um dia nesse inferno que é a minha vida.
CAPÍTULO 4

Bjorn
 
Enquanto meu pai fala com minha mãe durante o jantar, minha mente
viaja para aquela noite.
Não sei o que deu em mim para aceitar participar de algo assim, saber
que Yelena está com Ruan e Danila nunca me incomodou, mas realmente
ver ela com eles foi diferente, no bom sentido.
Ruan, Danila e eu estivemos juntos desde a minha iniciação como
soldado da Bratva, eles já haviam sido iniciados, então treinavam juntos,
mas quando eu cheguei, foi o momento em que realmente formamos uma
equipe entre os três herdeiros.
Katrina Orlov, apesar de ser uma herdeira e ter feito sua iniciação aos
quatorze anos, nunca se importou com os treinamentos físicos, seu objetivo
é estudar para conseguir assumir o lugar do pai.
Os Orlov controlam toda a produção e distribuição de armas do mundo,
Katrina é tão inteligente que pode dizer exatamente as peças que compõem
uma Glock 9mm de cabeça.
Ela estuda para isso, se dedica todos os dias para conhecer melhor os
negócios de sua família, é por isso que não tem tempo para fazer o mesmo
treinamento que nós.
No momento que formamos uma equipe, nos tornamos melhores
amigos, é inegável nosso laço, sempre contamos tudo um para o outro, e as
coisas só melhoraram quando Yelena entrou para o time.
Ela era cinco anos mais nova que Danila e eu, mas já sabia manejar
uma arma com habilidade.
Nós a acolhemos, assim como a seu irmão, Adrian, e eles se tornaram
parte do time.
Conforme fomos crescendo, os laços foram se estreitando e, quando
eles completaram dezoito anos, Yelena passou a nos ver com outros olhos,
segundo ela as coisas mudaram quando ela viu Danila com uma mulher e
sentiu ciúmes dele.
Depois disso ela se retraiu um pouco e passava mais tempo treinando
sozinha, eu percebi sua mudança, só não sabia o motivo.
Então, em um dia em que a neve caia densa lá fora, estávamos na
biblioteca da casa dela, tomando chocolate quente e rindo de alguma coisa
qualquer quando ela me beijou primeiro.
No momento em que seus lábios tocaram os meus tudo ficou claro na
minha mente, eu sabia que era errado, mas também sabia que queria aquilo
mais do que tudo no mundo.
Yelena confessou que tinha sentimentos por mim, mas que também os
tinha por Danila e Ruan, ela os via de uma forma diferente, não só como
amigos, mas como se eles a pertencessem.
Na época eu não entendi o porquê de ela me beijar se também tinha
sentimentos por eles, foi só com o tempo e vendo a conexão dela com eles,
que tudo ficou claro.
Ela tem uma força inegável e um espírito aventureiro que eu gostaria
muito de poder seguir, enquanto ela, Danila e Ruan já participaram de
algumas missões, viajaram para outros países e conheceram lugares
diferentes, eu fiquei aqui.
Meu pai é muito protetor comigo.
Minha vida se resume a Moscow e a Central da Bratva, fora esses
lugares, eu não conheci nada do mundo lá fora.
— Bjorn, o que você acha? — meu pai pergunta, tirando-me da minha
cabeça.
— Sobre o que, pai?
— Você não ouviu nada do que falamos, não é? Aonde está sua cabeça
hoje, meu filho? — minha mãe questiona com uma expressão preocupada
no rosto.
— Só estou cansado, desculpa — respondo limpando minha boca no
guardanapo de pano. — Acho que vou subir, amanhã tenho treinamento de
força.
— Tudo bem, filho, boa noite — meu pai fala com um sorriso no rosto.
Alexei Ivanov é um homem de sessenta anos, mas não aparenta ter essa
idade porque malha todos os dias, ele tem cabelos loiros iguais aos meus e
os olhos castanhos.
Já minha mãe, Patrícia Ivanova, é uma mulher linda de pouco mais de
um metro e sessenta, tem quarenta e oito anos, cabelos claros e os olhos
verdes, iguais aos meus.
Eles se amam muito e isso é claro para qualquer um que os veja juntos,
eu cresci em um lar cheio de amor e carinho, tanto meu pai quanto minha
mãe nunca deixaram de falar que me amavam, isso me deixou familiarizado
com esse sentimento tão lindo.
Enquanto subo para o meu quarto, volto a pensar nela, Yelena, a
mulher da minha vida.
Sim, eu sei que a amo, sei disso desde o momento em que seus lábios
tocaram os meus pela primeira vez, confirmei o sentimento quando ela
entregou sua virgindade a mim.
Eu sei que a amo, é um fato, só não disse essas palavras a ela porque
nós ainda estamos decidindo o que somos uns para os outros.
Danila e Ruan também a amam, e eu posso ver o quanto ela se importa
com eles, como fica relaxada em seus braços e como ela corresponde aos
seus carinhos, ela tem sentimentos por nós três, resta saber se são os
mesmos e, caso sejam, o que faremos sobre isso.
Assim que chego em meu quarto, meu celular toca e vejo o nome dela
na tela, então atendo logo e tranco minha porta.
“Boa noite, coração, já estava dormindo?”
— Boa noite, linda — cumprimento e olho para o celular, são quase
onze horas da noite, mas não estou com sono. — Acabei de subir para o
meu quarto.
“Que bom, já tomou um banho?“ Ela pergunta com a voz safada e
escuto o barulho do vento.
— Estava indo fazer isso agora, quer me acompanhar?
“Achei que não iria convidar nunca, abre a sua janela.”
— Minha o quê?
Então escuto alguém batendo na janela do meu quarto e, quando olho
para fora, vejo uma mulher de cabelos vermelhos usando o uniforme dos
meus seguranças.
— Abre logo ou eles vão me matar — ela fala e só então reconheço a
voz de Yelena, essa peste está disfarçada de espiã.
— O que diabos… — comento ao abrir o vidro, mas não tenho tempo
de completar a frase quando ela se joga em meus braços e me beija com
carinho, a saudade que eu senti dela é o que me faz reagir imediatamente e
tomar a sua boca para mim.
— Gostou da surpresa? — ela murmura contra meus lábios, prendendo
o inferior entre seus dentes e arrancando um gemido meu. — Acho que isso
foi um sim.
— É claro que sim, mas como? — questiono, a largando tempo o
suficiente para fechar a janela e as cortinas.
Ela está com uma peruca ruiva, toda maquiada, com uma lente de
contato escura, piercing no nariz e uma tatuagem falsa no pescoço, olhando
assim ninguém jamais diria que é Yelena Petrova.
— Eu posso ter alterado uma escala na sua proteção individual e,
talvez, tenha incluído uma espiã nova na ronda noturna — ela explica e
morde o próprio lábio inferior, me encarando com os lindos olhos azuis que
me tiram do eixo.
— Você é mais esperta do que deveria ser.
— Eu queria te ver — confessa e me abraça, escondendo o rosto em
meu peito.
— O que está acontecendo? — pergunto porque Yelena não passaria
por todo esse trabalho para me dar beijos, ela tem mais alguma coisa em
mente.
— Depois a gente conversa, agora eu preciso de um banho e de alguns
orgasmos, vai me acompanhar, coração?
Com isso, ela se solta do meu abraço e caminha em direção ao
banheiro, tirando uma peça de roupa por vez e largando no chão, quando
chega na porta, Yelena já está pelada e retira a peruca ruiva, soltando seus
cabelos loiros maravilhosos, que caem em ondas pelas suas costas.
Então eu a sigo, fazendo o mesmo que ela, me livro das minhas roupas
rapidamente e pego o pacote de camisinha que tenho guardado na mesa de
cabeceira.
Quando chego no banheiro ela já está dentro da banheira, a água
coberta com espuma esconde parte do seu corpo, mas quando entro e fico
atrás dela, deixando-a sentada no meio das minhas pernas, Yelena descansa
a cabeça em meu peito enquanto eu a ensaboo, sentindo cada parte do seu
corpo em minhas mãos.
— Era isso que você queria? — pergunto quando minha mão viaja para
o meio das suas pernas, encontrando sua boceta bem aberta para mim. —
Responde, linda.
— Sim, bem isso, bem aí, coração — ela murmura enquanto se
contorce, meus dedos viajam em sua boceta, acariciando-a até parar no
clitóris inchado, assim que a toco ali ela arqueia mais as costas e morde o
lábio inferior, contendo um gemido.
— Eu quero assistir você gozar para mim — anuncio e ela faz que sim
com a cabeça. — Quero te admirar enquanto se entrega, quero ouvir você
gemendo meu nome quando gozar, entendido?
— Sim, Bjorn, é tão bom, eu preciso tanto disso — declara e eu
começo a aumentar o ritmo dos movimentos da minha mão, quanto mais
rápido, mais ela se contorce e, porra, meu pau está pulsando entre nós, eu
amo ver a minha mulher tão entregue ao prazer assim.
Quando sinto que suas pernas estão se fechando, aumento mais o ritmo
até elas começarem a tremer e Yelena arqueia mais as costas, gozando na
minha mão enquanto geme, chamando a porra do meu nome como um
mantra.
— Porra, coração, eu amo quando você me faz gozar assim — ela
confessa e se vira de frente para mim, ficando de joelhos no meio das
minhas pernas, Yelena segura meu pau bem firme com uma mão e começa a
me masturbar lentamente, só me provocando. — Agora eu quero te ver
gozar.
— Não, eu só vou gozar quando estiver dentro dessa boceta deliciosa
— aviso e ela sorri, se aproximando mais para me beijar, seus lábios se
moldam aos meus com familiaridade, sua língua abre espaço e encontra a
minha, é delicioso, Yelena é toda magnífica. — Linda, senta no meu pau.
Ela sorri contra meus lábios, então pega uma camisinha do pacote e me
levanto para que ela possa deslizar o preservativo em mim, depois sento
novamente e Yelena não perde tempo, colocando uma perna de cada lado do
meu corpo e abaixando-se calmamente no meu pau.
No instante que sua boceta me engole, eu estou nas nuvens, quando ela
começa a rebolar, subindo e descendo, eu seguro sua bunda com firmeza e
chupo seus peitos, provocando os mamilos eriçados que endurecem ao meu
toque.
— Eu amo essa sua boceta apertada, linda — declaro e mordo
levemente o mamilo direito, arrancando um gemido delicioso dela. — Amo
esses peitos perfeitos, essa bunda deliciosa, porra.
Quero complementar e falar que eu a amo por completo, mas me
seguro, ainda não é a hora, eu sei disso.
— Então me fode com vontade, coração — ela pede toda safada e é o
que eu faço, começo a ir de encontro aos seus movimentos, segurando sua
bunda eu controlo a velocidade das investidas e vou bem fundo, a fodendo
cada vez mais rápido, a água ao redor de nós balança e cai pelas bordas,
mas eu não me importo, a única coisa que consigo fazer agora é me
concentrar em nós.
— É assim que você gosta de ser fodida? — questiono, investindo mais
rápido.
— Sim, é assim que eu gosto — ela responde e me beija.
— Essa boceta deliciosa me engolindo é gostoso pra caralho, linda, eu
posso te foder assim a noite toda.
O prazer se acumula rapidamente e, quando estou quase gozando, levo
uma mão para o meio das pernas dela e massageio seu clitóris, fazendo-a
estremecer enquanto senta no meu pau, sua boceta me aperta ainda mais
quando Yelena joga a cabeça para trás e, assim que ela chama meu nome,
eu estou perdido e gozo com força enquanto ela estremece em meus braços,
no ápice do seu prazer, e quando termina, saio de dentro dela e Yelena deita
no meu peito.
Ambos estamos ofegantes e felizes ao mesmo tempo, é tão bom tê-la
assim, em meus braços, que gostaria que esse momento jamais acabasse.
— Ele não está bem — Yelena fala depois de um tempo, sua mão
acaricia meu peito, eu ainda estou dentro dela, mas o momento é carinhoso.
— Quem, linda? — questiono sem entender do que está falando.
— Ruan — ela responde com a voz preocupada.
— Por que acha isso?
— Ele está bebendo mais do que deveria e, não sei, Ruan não é feliz,
Bjorn, ele está sempre triste, cansado, quando nos encontramos eu vejo que
ele se força a sorrir, sabe? Como se pudesse colocar uma máscara e me
enganar.
— Ninguém pode te enganar, muito menos um de nós três — declaro e
ela abre um meio sorriso.
— Sim, eu conheço vocês como a palma da minha mão — ela
esclarece e ergue a mão para acariciar minha barba. — Precisamos fazer
algo.
— Você quer bolar uma intervenção?
— Não sei ainda, só sei que assim ele não pode continuar, eu quero vê-
lo feliz, quero ver todos vocês felizes.
— Ruan não quer o mesmo que nós, linda, ele está sendo obrigado a
assumir o lugar do pai, é por isso que está assim — justifico.
Ruan é o único membro que tem ressentimento por ser um herdeiro,
esse é o seu fardo mais pesado e eu gostaria muito que ele mudasse de
ideia, mas quanto mais os anos passam, mais triste ele fica.
— Nós podemos fazer algo por ele, eu me ofereci para falar com meu
pai, talvez o Pakhan consiga convencer o senhor Smirnov a diminuir um
pouco a carga de trabalho de Ruan e deixá-lo treinar mais com a gente.
— Você sabe que não vai funcionar, linda — digo não por querer
acabar com as suas esperanças, mas para ser realista. — Nossos
treinamentos físicos são importantes, mas aprender com nossos pais é
necessário para que possamos assumir seus lugares quando chegar a hora,
não adianta o senhor Smirnov pegar leve com Ruan agora e depois ele não
estar preparado para as responsabilidades.
Yelena respira fundo algumas vezes, então a sinto ficar tensa nos meus
braços.
— Eu sei, só que preciso fazer alguma coisa, está me matando vê-lo
assim — ela confessa com dor na voz.
— Eu sei, linda, eu sei... — Beijo seu rosto com carinho e a abraço
com mais força, tentando tirar um pouco da sua tristeza e pegá-la para mim.
— Eu vou pensar em algo, mas até lá, conversa mais com ele, o
convide para correr ou treinar, sei lá, Ruan te admira, talvez ele te escute, eu
estou tentando, mas não consigo fazer isso sozinha.
— Você não está sozinha, vou pensar em algo, tudo bem?
— Obrigada, coração — ela agradece e volta a deitar em meu peito,
aconchegando-se nos meus braços por um bom tempo, até que a água
começa a esfriar, nós dois sabemos que ela precisa ir, mas é sempre difícil
deixá-la partir.
Yelena é a primeira a levantar e se secar, depois ela volta a vestir as
mesmas roupas que veio e coloca a peruca ruiva, então ela tira um kit de
maquiagem do bolso e começa a se maquiar, coloca as lentes de contato
escuras e um piercing falso no nariz.
Ela é uma mestre em disfarces, disso ninguém pode duvidar.
— Como você saiu de casa? — questiono, já que ela é a herdeira, sua
segurança e proteção são altíssimas.
— Adrian me deu cobertura — ela responde piscando um olho em
minha direção, depois vem até aonde estou, passa as mãos pelos meus
braços, acariciando-me antes de se aproximar e beijar a minha boca com
carinho. — Obrigada pelo banho, coração.
— Não tem de quê, minha banheira é sua quando quiser — falo e ela
sorri, então abre a janela novamente e sai, com uma última troca de olhares
Yelena me lança um beijo sobre o ombro e desaparece na escuridão da
noite.
CAPÍTULO 5

Yelena
 
Eu amo a liberdade, mesmo sabendo que é perigosa — talvez por isso
mesmo —, adoro minhas saídas escondida à noite.
Não que eu faça isso com frequência, é difícil para caralho ter acesso
ao computador do meu pai para invadir nosso sistema de segurança, eu
preciso cronometrar tudo certinho para saber a hora exata em que as
câmeras congelam para eu sair de fininho de casa.
Venho fazendo isso há quase um ano e nunca fui pega, o disfarce é
mais para quando preciso invadir a casa de alguém, como foi o caso hoje.
Fazia muito tempo que não via Bjorn, que não passávamos um tempo
juntos, sinto tanta falta dele, assim como sinto de Danila e Ruan.
Manter esse relacionamento em segredo está me matando por dentro,
mas nós somos todos herdeiros e, dentro da Bratva, a regra absoluta é que
os herdeiros não podem se envolver, se isso acontecer um deles precisa
desistir do seu lugar no Conselho.
Eu não desistiria de algo assim, jamais.
É por isso que precisamos manter tudo às escondidas, meus pais ainda
acham que nós somos só um grupo de amigos, que se importam uns com os
outros, e é verdade, enquanto estou aqui dirigindo o carro que peguei
emprestado na nossa garagem, minha mente está com eles.
Me preocupo com Bjorn e sua falta de liberdade, entre todos os
herdeiros ele é o mais protegido, segundo meu pai Dimitri, quando Bjorn
ainda não tinha nascido, um grupo sequestrou sua mãe.
Não sabemos mais detalhes, só que no final tudo ficou bem, mas é por
causa disso que Alexei, pai de Bjorn, se preocupa tanto com ele e sua
segurança.
Bjorn só pode ficar em Moscow, ele nunca viajou, nunca saiu da
cidade, está confinado em um lugar só e eu sei que isso não é bom, ouvi as
histórias sobre meus pais e o quanto essa proteção toda afetou Dimitri, mas
não posso fazer nada, e saber disso me deixa puta.
Danila acha que é perfeito, e ele é do seu jeitinho, mas meu menino
tem problemas com a raiva, quando ele se descontrola tudo vira um caos.
É por isso que amo treinar com ele, porque comigo Danila nunca perde
o controle, ele está sempre em equilíbrio, tanto com seus sentimentos como
com seus impulsos, e claro, eu deixo ele me dominar no sexo e descontar
essa raiva toda, não me importo, gosto dele exatamente assim.
Agora, Ruan é outra história. Diferente de nós, Ruan nunca quis ser um
herdeiro, seu sonho é ser livre para escolher o que quer fazer com a sua
vida.
Acho que se ele tivesse esse poder, escolheria ser um soldado, sei que
ele admira muito meu tio Andrei e seus feitos como soldado, acho que esse
deve ser seu objetivo, e não ficar atrás de uma mesa de escritório o dia todo,
lidando com burocracia e gente falsa.
Ele gosta de treinar, da ação, de como a adrenalina age no corpo, e ele é
realmente muito bom nisso, Ruan ganha de mim nas aulas de defesa pessoal
e no tiro ao alvo, fora que ele treina todo tipo de luta e é o momento que
mais gosta.
Entre meus três homens, é com ele que mais estou preocupada, porque
Ruan está frustrado e, com isso, acaba descontando na bebida.
Ele pensa que ainda não percebi, mas não é normal alguém beber todos
os dias, mesmo que só um pouco, o que não é o caso dele.
Já encontrei o cantil de vodca dentro da sua mochila de academia e,
além desse, ele carrega um no paletó e sempre está com um copo na mão
quando nos vemos.
Ruan não está nada bem e me preocupo com até que ponto ele pode
chegar antes de entender que isso é um problema.
Já tentei conversar com ele, pedi para ele diminuir a bebida, mas ele
não admite o vício e o primeiro passo é assumir que tem algo de errado.
Por isso estou planejando uma intervenção, nós três precisamos agir
logo e ajudar nosso amigo.
Desvio a atenção da estrada por um minuto para pegar meu celular e
ligar para Danila, que atende no segundo toque.
“Boa noite, docinho” ele fala.
— Boa noite, querido.
“Seus planos deram certo?” Danila questiona, eu contei para ele hoje
de manhã quando treinamos, que iria tentar chegar até Bjorn essa noite.
— Claro que sim, meus planos sempre dão certo — respondo
convencida e escuto sua risada gostosa do outro lado da linha.
“Que bom, e ele está bem?”
— Sim, acredito que bem melhor agora.
“Safada, o que acha de desviar o caminho e vir até aqui? Também estou
triste e preciso de você, docinho.”
Agora sou eu quem solta uma gargalhada alta com sua brincadeira,
posso até imaginar o Danila fazendo beicinho ao falar essa frase.
— A gente transou hoje de manhã depois do treino, é impossível que
esteja com saudades de mim — declaro olhando para frente, a estrada está
escura, já que a lua está coberta por nuvens, vai chover ainda mais essa
noite.
“Não foi o suficiente, com você nunca é” Ele diz e eu concordo, o
tempo que passamos juntos nunca parece ser o bastante para matar a
saudade. “Está quase em casa?”
— Não, acabei de sair dos Ivanov, tenho mais alguns minutos até
chegar em casa — respondo e respiro fundo, a sensação de calmaria faz
meu peito aliviar, eu amo dirigir assim, sozinha pela noite, gostaria de poder
fazer isso mais vezes.
“E me ligou para eu te fazer companhia na estrada ou tem algo a mais?
Eu te conheço, docinho, pode falar.”
— Estou preocupada com Ruan, nós precisamos agir logo e fazer
alguma coisa, quem sabe se você o chamasse mais para treinar ou passasse
a almoçar com ele? — sugiro pensando em meios de nos aproximarmos do
nosso amigo.
“Nossos horários quase nunca batem, mas posso tentar falar com meu
pai, você pensou em uma intervenção, não foi?”
— Sim, mas para isso precisamos estar os quatro juntos e sozinhos, não
sei como conseguir algo assim de novo, já foi difícil pra caralho bolar
aquilo no meu aniversário.
“O próximo aniversário é só daqui dois meses.”
— Eu sei, precisa me ajudar a pensar em algo, querido.
“Eu amo quando me chama de querido, é tão você!” Danila comenta e
eu abro um meio sorriso, mesmo estando preocupada com eles, Danila
sempre consegue me fazer ficar mais tranquila. “Eu vou pensar em algo,
quem sabe no final de semana a gente consegue marcar um treino juntos e
dispensar os professores.”
— Esse final de semana vai ser difícil, Dimitri quer levar Adrian e eu
para acampar, ele está com essa coisa de fazer mais viagens ao ar livre em
família — comento. — Talvez no domingo, quando voltarmos, posso falar
que preciso de um tempo com meus amigos, enquanto Adrian vai encontrar
sua namorada.
“Ótimo, eu vou falar com os caras e marcar esse encontro, afinal, são
ordens do Pakhan que sejamos unidos.”
— Sim, tudo culpa do meu pai — falo e rio com a brincadeira.
“Agora volte para casa em segurança, docinho, se cuida e me avisa
quando chegar.”
— Tudo bem, obrigada , querido, nos vemos no treino amanhã.
“Mal posso esperar.”
Com isso eu desligo a chamada e me concentro na estrada em minha
frente.
***
O restante da semana passou rápido, meus dias são quase sempre os
mesmos, a primeira coisa que faço quando chego na Central de manhã é
correr, depois tenho treino de luta e de tiro ao alvo, então sigo para a sala do
meu pai e passo o dia com ele, algumas vezes almoço com algum dos
meninos, outras com meus pais, depende do dia.
Durante a tarde divido meu tempo entre meu pai e as aulas
obrigatórias, depois que tudo acaba eu volto para casa, passo um tempo
com minha mãe e irmão, e finalizo o dia só para começar tudo de novo no
próximo.
Nos finais de semana, quando meu pai Dimitri tem uma folga, nós
passamos um tempo maior em família, nesse em específico ele teimou que
queria ir acampar, faz anos que não acampamos com nossos pais, desde que
Adrian e eu éramos pequenos.
Eu amo esses programas em família, adoro ver o cuidado e carinho que
meus pais tem com minha mãe e em como ela os tem na palma das mãos.
Yekaterina Petrova foi uma bailarina de sucesso no auge da sua
carreira, mas não me engano pensando que ela é frágil e delicada, minha
mãe é uma mulher forte e determinada, tão dominante que tem meus dois
pais aos seus pés, e olha que eles são membros da Bratva.
Já meu pai Serguei é o chefe de segurança da nossa família, ele se
envolveu com meus pais quando ainda era um soldado, é o mais gentil e
protetor dos três, não só com Adrian e eu, mas com nossos pais também.
Eles formam um trisal lindo e seu amor é palpável quando estão juntos,
mesmo que Dimitri e Serguei passem mais tempo um com o outro, a
conexão dos três é tão forte que eles não amam mais um do que o outro,
eles se amam igualmente.
Acho que é assim que posso definir meu relacionamento com Ruan,
Danila e Bjorn, eu gosto dos três igualmente, jamais conseguiria escolher
entre eles e não quero fazer isso, prefiro morrer ao invés de magoá-los.
Eu quero os três só para mim.
Eu sei que eles também gostam uns dos outros, somos amigos há tanto
tempo que posso ver o quanto eles se respeitam, tanto que na noite do meu
aniversário tudo pareceu certo quando estávamos juntos.
Sempre me sinto completa quando tenho todos eles comigo, não que
não seja bom passar um tempo com cada um deles individualmente, mas
sempre parece que pode ser melhor.
E esse melhor é quando estamos os quatro juntos, porque alcançamos
um equilíbrio.
Bjorn é um príncipe, ele é o mais sensato e calmo do nosso grupo,
também é o mais lógico, foi por isso que, no nosso primeiro beijo, eu tomei
o controle e agi primeiro, se fosse deixar ele parar para pensar, jamais
teríamos chegado aonde chegamos.
Lembro até hoje desse momento, foi em um dia muito frio em que
estávamos na biblioteca da minha casa, tomando chocolate quente, por
algum motivo não conseguíamos parar de rir até que nossos olhares se
encontraram e eu simplesmente soube que aquela era a hora.
Quando o beijei, Bjorn levou alguns segundos para reagir, mas não me
afastou, logo suas mãos estavam na minha cintura e ele me puxou para
perto, correspondendo ao meu beijo, ainda posso sentir o gosto delicioso de
chocolate e lembrar daquele dia.
Ruan é o mais sentimental de nós três, ele tem um coração enorme, que
tenta esconder do mundo, mas não pode esconder de nós.
Meu menino quebrado não consegue lidar com todas as decisões
extremas que precisamos tomar durante o dia porque ele quer ser bom, quer
ajudar, Ruan é uma alma pura demais para o mundo em que vivemos.
A primeira vez que o beijei foi depois que ele fez uma loucura e tentou
fugir, eu exigi vê-lo e, quando botei os olhos nele, sabia que ele precisava
de mim, por isso o beijei, tanto para acalmá-lo quanto também meu
coração.
Por sorte, estávamos sozinhos e, depois de alguns instantes, ele não se
conteve e me beijou de volta.
Danila é o mais dominante, só ele pode me dar ordens durante o sexo,
porque eu sei que ele precisa disso, então eu deixo que me controle, mas
quando não estamos transando ele é carinhoso e protetor, tanto comigo
quanto com os outros, Danila é a cola do nosso grupo, ele está sempre
pensando em formas para nos encontrarmos.
Ele foi o último que eu conquistei, demorou um pouco mais, o que é
irônico já que ele é o mais impulsivo. Nosso primeiro beijo veio durante
uma luta livre, ele me imprensou no tatame e eu não lutei contra, quando
ele me perguntou se estava acontecendo algo entre eu e os meninos eu
confirmei, então ele falou “Agora é a minha vez, docinho” e me beijou.
Foi incrível estar em seus braços, por isso deixei que ele me dominasse,
segurando minhas mãos acima da cabeça enquanto me beijava com
intensidade, foi feral e delicioso para caralho, ainda sinto um arrepio
quando lembro daquele dia e de todos os outros que vieram depois.
Já eu tenho um pouco de cada uma das características deles, sou lógica
quando preciso ser, sentimental quando se trata da minha família e dos
meus homens, e porra, eu sou tão dominante quanto Danila, afinal, serei a
Pakhan algum dia, nasci para liderar essa organização e farei isso com
maestria.
O acampamento com meus pais foi incrível, dormimos em barracas do
lado do Rio Moscow, assamos marshmallows na fogueira, minha mãe
dançou com meus pais e Adrian, Serguei, Dimitri e eu competimos para ver
quem era melhor no tiro ao alvo.
Claro que meu pai Dimitri ganhou, mas isso é só porque ele treina há
mais tempo, eu ainda vou ganhar dele algum dia.
No domingo à tarde nós voltamos para casa e eu pedi para ver os
meninos, Danila conseguiu convencer seu pai a deixá-lo ir até a Central,
Bjorn mentiu que tinha treinamento e Ruan aproveitou que seus pais foram
viajar.
— O helicóptero está em manutenção hoje, querida, não pode deixar
para ver seus amigos outro dia? — Serguei avisa quando peço para sair.
— Por favor, eu posso ir de carro, é meia hora daqui até a Central, pai
— contraponho fazendo meu olhar de coitada.
— Não tenho nada preparado, preciso de uma hora para…
— Só coloca os seguranças comigo e está bom, não vai acontecer nada,
eu faço esse trajeto todos os dias.
— De helicóptero é mais seguro, minha filha — Dimitri intervém.
— Eu sei, eu sei, mas preciso ver meus amigos, eles estão esperando já,
por favor, papais — imploro mais uma vez, olhando de um para o outro
como fazia quando criança, porque sei que eles não vão negar meu pedido,
eles nunca conseguem.
— Tudo bem, espere quinze minutos e já terei uma equipe pronta —
Serguei avisa e dou um abraço apertado nele, sentindo o beijo que ele
sempre dá no topo da minha cabeça.
Depois de meia hora, já estou a caminho da Central, eu nunca faço esse
trajeto de carro, só de helicóptero, a não ser quando fujo de casa, mas aí
ninguém sabe sobre isso.
Quase não tem trânsito nessas estradas porque é o caminho particular
até a Central, por isso estranho quando dois caminhões vem em nossa
direção.
Um dos seguranças reporta o movimento no rádio e sinto o carro andar
mais rápido, mas só percebo o que está acontecendo quando um dos
caminhões para no meio da via e o outro continua vindo em nossa direção,
sem desviar do carro da frente ele se choca com o veículo e, logo depois,
acerta o nosso carro também.
Os gritos e o barulho são a última coisa que eu lembro de ouvir antes
de sermos arremessados no ar e tudo girar ao meu redor.
E é assim que a vida como eu conheço, acaba.
 
CAPÍTULO 6

Yelena
 
Corro o mais rápido que posso, encoberta pela noite consigo passar
pela floresta densa sem que eles me vejam, preciso sair daqui e me libertar
desse inferno.
Meu braço dói para caralho, mas não deixo que isso me pare, aquele
maldito conseguiu deslocar meu ombro antes de morrer, no final eu o
derrubei e consegui fugir de lá, mas não sem antes ele levá-la.
Cinco anos presa, cinco malditos anos e quando consigo fugir, deixo
para trás a única pessoa que me ajudou.
Consigo chegar em uma estrada e sigo na direção que Ingrid indicou,
mas continuo correndo pela floresta, não é seguro pegar carona aqui, podem
ser eles me procurando.
Vejo um carro vindo em minha direção e me escondo atrás de uma
árvore, meu coração bate forte no peito, enquanto minha respiração está
ofegante, mas nada disso me distrai e, quando o carro passa, vejo a marca
deles na lateral.
Essa foi por pouco.
Continuo correndo pelo que parecem horas, até chegar na primeira
cidade que encontro, é um povoado pequeno e com poucas casas, mas eles
tem carros.
Paro ao lado de uma casa que parece estar vazia, já que não tem carro
na garagem, consigo abrir a janela lateral e entrar nela, vou até a cozinha,
pego duas facas e uma sacola retornável, encho com comida do armário e
subo as escadas com cuidado, sem fazer barulho.
A casa tem dois quartos e ambos estão vazios, essa é a minha sorte, vou
até o closet de um deles e pego roupas limpas, são masculinas, mas vão
servir, tiro os trapos que estou usando e começo a procurar por dinheiro ou
uma arma.
Na gaveta da cômoda, que fica ao lado da cama, encontro quinhentos
dólares escondidos e uma pistola antiga com cinco balas.
Desço as escadas novamente e pego a sacola com comida que deixei
em cima da mesa, então sigo para a rua, aonde dois carros estão
estacionados, consigo abrir a porta de um deles com um ferro que encontrei
na casa e faço ligação direta no veículo, assim saio dirigindo o mais rápido
que consigo com uma mão, tentando não chamar atenção.
Preciso sair daqui, ainda não estou segura, mas antes paro na estrada e
coloco meu ombro no lugar, quase choro com a dor, mas vai funcionar até
que eu consiga ajuda médica.
Dirijo seguindo a estrada que Ingrid indicou e paro no primeiro posto
que encontro para comprar um mapa, o atendente fica desconfiado, afinal,
hoje em dia ninguém mais usa essas coisas, mas só tenho dinheiro para a
gasolina, não posso gastar com um celular.
Me localizo no mapa e encontro o caminho que preciso percorrer, estou
em Montana e preciso atravessar todo o país até New York, só assim estarei
segura.
Eu poderia encontrar um quartel general da Bratva mais próximo, mas
eles não vão me reconhecer.
Droga, espero que alguém me reconheça ou terei que atacar a Bratva
para chamar a atenção do meu tio.
Dirijo durante a noite e o dia todo, parando somente para abastecer e
comer alguma coisa, por sorte peguei cereal e água na casa que invadi,
porque a viagem até New York é longa.
Chego na cidade exausta, preciso dormir, mas não posso, não ainda, a
dor no meu ombro está me matando, mas não posso parar quando estou
quase lá.
Estou há mais de dois dias sem fechar os olhos, porém o cansaço não
vai me parar, eu preciso continuar até chegar ao meu destino.
Sei aonde fica o quartel da Bratva porque nós viemos aqui visitar meu
tio Andrei uma vez, ele e a tia Anna nos receberam em sua casa e
mostraram toda a cidade para nós.
Jamais esqueceria daquela viagem, eu tinha quinze anos e meu pai
Dimitri começava a expandir nossas aulas, para me ensinar sobre cada
braço da Bratva que existe no mundo, esse foi o primeiro que visitamos e
foi incrível ver as diferenças de como as coisas funcionam aqui e na
Central.
Que saudade daqueles dias, que saudade deles…
— Foco, Yelena, foca no presente... — falo para mim mesma e tomo
mais um gole do café frio que está ao meu lado.
Dirijo pelas estradas de New York até chegar em um bairro mais
afastado, aonde o prédio do quartel está localizado, de fora parece somente
uma construção vazia, mas é só reparar na quantidade absurda de câmeras
que cercam a região que dá para saber que tem algo a mais.
Assim que paro o carro em frente aos portões, respiro fundo e desço,
pego a arma que roubei e atiro em três das câmeras de vigilância, depois
largo ela no chão e ergo os braços quando os portões se abrem, vários
soldados saem para ver o que está acontecendo.
— No chão, no chão — um deles ordena com a arma apontada para
mim, então me ajoelho no asfalto frio e olho para cima, encarando o
soldado que comanda a operação.
— Eu exijo falar com Vor Andrei Petrov — declaro com confiança,
mas eles começam a rir das minhas palavras, é óbvio, uma mulher vestida
com roupas masculinas, que atirou no quartel e que agora exige falar com o
Brigadier, eu também riria.
— E quem você pensa que é para exigir algo? — ele pergunta.
Então abaixo uma mão com cuidado e mostro minha tatuagem da
Bratva, eles param de rir e me olham desconfiados.
— Uma espiã andando deslocada pelo nosso território, não temos
nenhum relatório sobre isso, qual é o seu nome?
— Eu não sou a porra de uma espiã, sou Yelena Petrova, a próxima
Pakhan da Bratva — declaro, me levantando assim que eles abrem os olhos
espantados e me encaram sem entender o que está acontecendo. — Agora
chamem meu tio, ou terei que ir até a casa dele e explicar por que a droga
de um soldado não me deixou entrar?
O soldado parece em transe, mas assim que consegue respirar
novamente, aponta para outros dois soldados e ordena.
— Levem-na para dentro e verifiquem suas digitais, vou acionar o
Brigadier agora mesmo.
— Finalmente — declaro aliviada e deixo que os soldados me escoltem
para dentro.
Sou revistada e eles me levam até um computador, aonde escaneiam
minhas digitais e enviam para a base de dados, mas não adianta, eles jamais
encontraram algo sobre mim, isso só vai acionar o programa do meu pai e
assim ele saberá que estou aqui.
Depois disso, eles me levam até uma sala com uma cama, aonde uma
troca de roupas está dobrada, do outro lado vejo um banheiro e eu poderia
chorar de alívio.
— Você precisa de um médico? — o soldado que está no comando
pergunta, agora ele parece mais calmo, porém ainda sinto um tom de medo
em sua voz.
— Sim, meu ombro foi deslocado e eu coloquei no lugar, mas preciso
de uma avaliação médica urgentemente — respondo segurando meu braço,
que agora, com a adrenalina baixa, voltou a doer.
O soldado pega o celular e digita algumas palavras, então ergue o olhar
e me encara novamente.
— Ele já está a caminho, assim como Vor Petrov, se quiser tomar um
banho e trocar de roupa, fique à vontade, estaremos de vigia do outro lado
— ele declara, então sai e tranca a porta atrás de si.
Claro que serei tratada como prisioneira até que eles confirmem minha
história, porém a tatuagem da Bratva me garantiu alguns privilégios, os
quais aproveito.
Tomo um banho, tirando toda a sujeira física do meu corpo, mas
mesmo limpa, me sinto suja por dentro. Pego as roupas limpas e me visto,
seco meu cabelo na toalha e escovo meus dentes.
Paro em frente ao espelho e encaro meu reflexo, fazia muito tempo que
eu não me sentia limpa, e mais tempo ainda que eu não via minha própria
imagem assim.
Meus cabelos estão compridos e caem úmidos até a cintura, encaro
meus olhos, que estão rodeados por olheiras escuras, meu nariz está torto
devido às diversas vezes que foi quebrado, meu lábio tem um corte na
lateral, aonde aquele desgraçado conseguiu me acertar.
Vejo que consegui manter meu corpo em forma com os treinamentos
diários dentro da cela em que eu fui mantida, afinal, não tinha mais nada
para fazer a não ser me movimentar e alimentar as últimas esperanças de
sair de lá.
Nos primeiros meses eu tinha certeza que logo seria resgatada, afinal,
eu sou a porra da herdeira da Bratva, ninguém sequestra alguém como eu e
não deixa rastros, mais do que isso, meu pai é Dimitri Petrov, o melhor
rastreador do mundo, ele com certeza me encontraria, mas não aconteceu.
Os meses se transformaram em anos e eu vivi no inferno, fiz coisas
terríveis, coisas que jamais poderei contar para alguém, pois, em alguns
momentos, eu não me sentia mais humana.
Com isso, as esperanças foram sendo substituídas por descrença, já não
acreditava que sairia de lá viva.
Até ela chegar...
Meu anjo da guarda, a primeira pessoa a me estender a mão naquele
inferno, ela foi minha amiga e me fez sonhar novamente.
Foi com sua ajuda que eu sai de lá, e é por ela que vou derrubar essa
maldita organização.
— Yelena… — uma voz conhecida me chama da porta do banheiro e
posso sentir todo o meu corpo arrepiar, então olho para o lado e o vejo.
Meu tio, Andrei Petrov, a imagem idêntica à figura do meu pai Dimitri,
fora as tatuagens que os diferenciam, mesmo assim seus olhos azuis me
encaram assustados.
E eu reajo, correndo até ele e diminuindo a distância entre nós, me
jogando em seus braços, que me recebem com carinho e cuidado, só então
deixo que as lágrimas escorram pelo meu rosto.
Estou aliviada, finalmente vou para casa.
— Você… como? Aonde você estava? O que aconteceu? — Tio Andrei
pergunta, sua voz grossa de emoção, mas ele não chora, sei que está se
contendo em frente aos soldados.
— Eu voltei, é só isso o que importa — respondo, me esquivando de
suas perguntas, eu não quero falar sobre isso agora, não sei se consigo,
então ele me abraça mais apertado e sinto meu ombro doer novamente. —
Aí, cuidado — falo e ele me solta. — Desculpa, eu desloquei meu ombro e
acho que está saindo do lugar novamente.
— Vor Petrov, o médico chegou — o soldado avisa e meu tio faz sinal
para o médico entrar, então ele me avalia e me coloca deitada na maca, ele
faz alguns movimentos com meu ombro e o coloca no lugar novamente,
depois imobiliza a área.
— Você vai precisar ficar algumas semanas com o braço imobilizado,
até o ombro melhorar, talvez precise de cirurgia, mas isso só saberemos
com exames de imagem — o médico avisa e concordo com a cabeça.
— Obrigada, doutor — agradeço e ele sai da sala, então fico sozinha
com meu tio novamente. — Eles estavam em Montana, em um
acampamento no norte do estado, mas não adianta ir até lá, provavelmente
já devem ter se movido.
Tio Andrei pega o celular rapidamente e faz algumas ligações, então
ele me mostra um mapa e aponto para o lugar que Ingrid me mostrou, então
ele organiza uma equipe para ir até o local ver se conseguem algo.
Eles não vão conseguir, a essa altura todos já sabem que eu consegui
fugir.
— O avião está pronto para te levar para casa — tio Andrei anuncia e
engulo em seco para não chorar novamente.
Casa, eu finalmente vou voltar para lá, para eles...
Não, Yelena, essa parte de você ficou no passado, juntamente com
quem você era.
— Obrigada, tio — agradeço e abro um meio sorriso para ele.
— Porra, garota, eu preciso saber aonde você estava, o que aconteceu?
Nós passamos cinco malditos anos te procurando por cada canto desse
mundo, seus pais…
— Eles estão bem? — questiono.
— Seus pais não deixaram de te procurar um dia sequer, eles passaram
pelo inferno sem saber aonde você estava, sem uma única pista.
Saber disso faz meu peito doer, por imaginar o inferno que eles
passaram, eu sei o quanto sofri longe deles.
— Eu voltei, é o que importa, tio — digo novamente e pego sua mão,
apertando-a com carinho. — Tudo ficará bem.
Então não consigo controlar um bocejo, afinal, estou cansada para
caralho e com muito sono.
— O avião está pronto, Vor Petrov — o soldado anuncia e meu tio
concorda com a cabeça.
— Vamos, você pode dormir no caminho, tem uma cama no avião —
Tio Andrei anuncia e se levanta, faço o mesmo que ele e o sigo até o carro,
que nos leva para o aeroporto particular.
Assim que estou dentro do avião, vou até o final e encontro a cama,
então fecho a porta e fico sozinha no escuro, escuto as turbinas do avião
serem ligadas e sinto que estamos no ar, mas assim que deito no colchão, as
lágrimas voltam a escorrer e uma sensação nova me domina.
É alívio.
Acabou, aquele inferno agora está no passado.
E assim consigo fechar os olhos e dormir, mas não sem reviver os
pesadelos de tudo o que passei lá, essas marcas foram forjadas na minha
alma e sei que vou precisar conviver com elas para sempre, assombrando
meus piores pesadelos.
Durmo praticamente a viagem toda, levanto algumas vezes para comer
e ir ao banheiro, mas estou tão cansada que não consigo manter meus olhos
abertos por muito tempo.
Assim que o avião pousa na pista do aeroporto da Central, eu os vejo
pela janela.
Todos eles vieram.
Meus pais são os que estão mais à frente na multidão, minha mãe
parece aflita e está com a mão no coração, meu pai Serguei a segura pela
cintura enquanto Dimitri está do outro lado, segurando sua outra mão.
Vê-los unidos é um alívio para mim, pelo menos eles passaram por
tudo isso e continuam juntos.
Logo atrás deles estão todos os membros do Conselho e suas esposas,
todos vieram, assim como Bjorn, Danila e Ruan.
Meu coração acelera ainda mais ao vê-los aqui, sabendo que estão
vivos.
Eles parecem iguais ao que me lembro, porém estão mais crescidos e
não são mais meus, não podem ser.
Então meu olhar encontra o dele, meu irmão Adrian, e é assim que eu
sei que cheguei em casa, levanto e caminho até a porta do avião e, assim
que as escadas encostam no chão, desço os degraus um por um, de cabeça
erguida.
Olho para meu irmão e corro em direção aos seus braços, ele me recebe
e, assim que me envolve em um abraço apertado, preciso respirar fundo,
parece a primeira vez que volto a respirar tranquilamente depois de muito
tempo.
Nossa ligação não está perdida, Adrian é meu irmão, minha metade,
uma das pessoas mais importantes da minha vida, ele está aqui e agora
posso me sentir segura novamente.
Com ele ao meu lado, eu sei que nada de mal irá acontecer.
CAPÍTULO 7

Ruan
 
Assim que vejo a mulher de cabelos loiros descendo do avião, eu sei
que é ela, Yelena está de volta e quase não consigo ficar parado enquanto
espero ela se aproximar.
Ela está usando um uniforme preto da Bratva, tênis e um casaco por
cima, porém vejo que seu braço está enfaixado e dobrado em frente ao
corpo.
Seu rosto também tem marcas roxas, quando ela se aproxima mais vejo
seu lábio inchado e quero matar quem quer que tenha feito isso a ela.
A única coisa que me segura no lugar é sentir o toque da mão de Danila
na minha, ele está ao meu lado e seus dedos roçam nos meus, como se
precisasse reafirmar que está aqui.
Isso me tranquiliza um pouco e consigo ficar parado.
Vejo Yelena correr para os braços de Adrian e, assim que eles se
abraçam, ela começa a chorar e toda a sua família corre até eles.
Quando Yelena se desvencilha dos braços do irmão, sua mãe a puxa
para um abraço e seus pais fazem o mesmo, ninguém acreditando que é
realmente ela.
Depois de cinco anos desaparecida, sem uma pista sequer sobre seu
paradeiro, Yelena simplesmente voltou para nós.
É um momento emocionante e de alívio para todos, mas nós só
podemos esperar que sua família a acolha para depois poder abraça-la,
afinal, ninguém sabe nada sobre o que éramos, mesmo sofrendo pressão
para contar cada detalhe do que vivemos com Yelena, nós nunca deixamos
eles saberem sobre nosso relacionamento.
Esse é um segredo meu, de Danila, Bjorn e Yelena, contar para todos
não altera em nada os fatos e, por isso, concordamos em manter tudo o que
vivemos só para nós.
Depois de abraçar seus pais, eles a levam até o carro e seguem com ela
para o hospital da Central, aonde ela será avaliada pelos médicos e fará
todos os exames necessários.
— Nós vamos com eles — anuncio e Danila segura minha mão,
fazendo que não com a cabeça. — Você tá brincando comigo?
— Não agora, ela precisa de um momento com a família — Danila
responde e solta minha mão para que ninguém veja, então coloca a sua no
meu ombro. — Vamos até a Central e esperamos lá, até que ela esteja
pronta.
— Precisamos voltar, o Pakhan não vai querer que ela seja interrogada
hoje — meu pai fala com o pai do Bjorn, que concorda com a cabeça. —
Aonde essa mulher esteve nesses cinco anos?
— Eu não sei, mas logo vamos descobrir — Alexei responde e eles se
viram, seguindo cada um para um carro. — Vamos, Bjorn.
— Eu vou para a Central — Bjorn declara, ele não falou nada até agora
e sua expressão é neutra, sólida como pedra, ele ficou bom em esconder
seus sentimentos durante esses anos.
Eu queria conseguir fazer o mesmo, mas sinto que vou explodir se
continuar parado por mais tempo.
— Ela não está pronta para receber visitas ainda, meu filho — Alexei
fala, preocupado.
— De qualquer forma vou até lá, se ela quiser me ver estarei por perto
— Bjorn avisa e, depois de alguns segundos, seu pai concorda com a
cabeça.
— Só não interfira em nada, se ela não estiver pronta para recebê-lo
hoje, volte para casa e tente novamente amanhã, tenho certeza que o dia foi
cansativo — Alexei diz e se vira, caminhando até seu carro.
— Vamos — chamo e sigo na direção do último veículo que nos
aguarda, então seguimos direto para a Central.
Assim que chegamos, percebemos a movimentação de pessoas ao redor
da praça central, todas as espiãs e os soldados se colocam em filas para
receber Yelena, que ainda está no carro com seus pais.
A porta deles se abre e Dimitri é o primeiro a descer, os soldados logo
batem continência como forma de respeito e, quando Yelena desce logo
atrás de seu pai, eles batem uma nova continência e pisam firme com os
pés, provocando um barulho alto.
Mesmo de longe posso ver os olhos vermelhos de Yelena e como ela
está cansada, mas logo ela ajeita a postura e caminha com firmeza,
passando pelos soldados, olhando para frente sem demonstrar sentimento
algum.
Então vejo sua mão apertar ao lado do corpo, só por um momento, e eu
sei que ela está nervosa, só isso me faz querer correr até ela e envolvê-la em
meus braços, protegendo-a do mundo, garantindo que tudo ficará bem, que
ela está bem agora e nenhum mal acontecerá novamente, mas eu não posso.
A única coisa que posso fazer é sentar e esperar, Bjorn nos leva até a
sala do seu pai e eu vou direto para o frigobar, sirvo uma dose dupla de
vodca e tomo tudo em um gole só, para depois servir outra e fazer o mesmo,
só então sinto que consigo me acalmar um pouco e respiro novamente.
— Vai com calma, Ruan — Danila pede, vindo em minha direção, ele
coloca sua mão em minha cintura e planta um beijo delicado no meu rosto.
— Ela voltou, agora só precisamos ter paciência até que Yelena esteja
pronta para nos ver.
Danila é mais alto do que eu e muito mais musculoso, ele treina pesado
todos os dias, descontando sua raiva e frustração nos pobres coitados que
aceitam entrar no ringue com ele.
— Eu quero vê-la agora, ela está nervosa e assustada com tudo isso,
sabe-se lá pelo que ela passou quando esteve fora, você leu o relatório que
Andrei Petrov enviou assim que ela chegou sozinha, em um carro roubado,
no quartel de New York — anuncio praticamente em desespero.
— Sim, eu sei, mas…
— Mas nada, como ela conseguiu chegar lá? Aonde ela estava? O que
aconteceu com ela? São tantas perguntas que eu não consigo parar de
pensar em tudo isso, não consigo tirar o amargor da minha boca por saber
que ela estava sozinha esse tempo todo e nós não conseguimos fazer nada
para resgatá-la.
— Eu sei disso, você acha que é o único que se sente impotente aqui?
— Danila questiona, sem alterar o tom de voz comigo. — Bjorn se culpa
até hoje por ter aceito o plano, eu me culpo por não estar lá com ela, os pais
dela se culpam por não tê-la protegido, mas não é nossa culpa.
Olho para Bjorn, ele é quase tão alto e forte quanto Danila, mas
mantém uma pose ereta em seu terno de três peças azul-marinho.
Ele parece muito com seu pai, mas vejo a dor em seu olhar, eu conheço
Bjorn, sei que por trás dessa fachada fria ele está sofrendo, como esteve
durante todos esses anos e, ao contrário de Danila e eu, que nos apoiamos
um no outro, Bjorn se afastou.
— Vocês sabem muito bem que a culpa é minha, ela planejou uma
intervenção para mim, ela estava vindo para a Central por minha causa, e se
não fosse isso esperaria mais um dia e viria de helicóptero, mas Yelena
havia combinado com vocês e precisava estar aqui, tudo por minha culpa —
despejo a raiva que sinto de mim mesmo nos meus amigos, Bjorn me olha
ainda sem expressar nada, enquanto Danila me encara com o olhar
preocupado, ele tenta se aproximar novamente, mas me desvencilho da sua
mão.
— Não é culpa sua, meu amor — Danila fala.
— Ele está certo, você não fez nada de erado, Ruan, não tem motivos
para voltar e lamentar um passado que não podemos mudar, o que importa é
que Yelena está aqui novamente, nossa mulher voltou e precisamos estar ao
seu lado para apoiá-la nos próximos dias — Bjorn anuncia com a voz calma
e centrada, ele parece inabalável, mas sei que por dentro está tão ansioso e
quebrado quanto eu, ele só é muito melhor em esconder seus sentimentos.
Esperamos um tempo por notícias, mas quando elas não chegam,
resolvemos ir até o hospital para saber o que está acontecendo.
Quando chegamos na sala de espera, fria e mórbida, encontramos
Yekaterina, Andrei Petrov e sua esposa, Anna Petrova, sentados nas
cadeiras desconfortáveis.
— Como ela está? — pergunto, sem conseguir me conter.
— Eles ainda estão fazendo os exames de imagem e de sangue, mas ela
está com um ombro deslocado e vários machucados pelo corpo — Andrei é
quem responde, vejo que Yekaterina derrama mais uma lágrima e é acolhida
por Anna.
Não posso nem imaginar o quanto ela está sofrendo, foram anos
difíceis para a família Petrov, para todos nós, mas a dor de uma mãe que
tem sua filha arrancada de seus braços é incomparável.
— Ela disse alguma coisa? — Bjorn questiona.
— Ainda não, Dimitri acha melhor esperar até que ela esteja bem para
perguntar sobre isso, nós não sabemos o que aconteceu, é melhor seguir
com cautela daqui para frente — Andrei responde. — Vocês podem ir, os
exames vão demorar ainda.
— Nós queremos ficar, se não for atrapalhar — digo sem conseguir
pensar em sair daqui agora.
— Deixa eles ficarem, Andrei, eles são a equipe dela — Yekaterina fala
e olha para cada um de nós, forçando um meio sorriso entre as lágrimas. —
Sei o quanto se preocupam com Yelena, mas não posso garantir que ela
estará apta a recebê-los hoje.
— Eu sei, mas não consigo pensar em sair daqui sem saber que ela está
bem, na medida do possível — Danila anuncia e Yekaterina confirma com a
cabeça, então sentamos cada um em uma cadeira e esperamos.
Os minutos se transformam em horas, até que Serguei atravessa as
portas do consultório e, quando ele aparece, Yekaterina se levanta e corre
para seus braços, sendo acolhida por ele em um abraço apertado.
— Ela está bem, tem algumas fraturas por todo o corpo que não
curaram corretamente, uma em específico em seu braço vai precisar de
cirurgia, o doutor acha melhor deixa-la internada para receber os
medicamentos e fortalecer seu corpo antes de realizar o procedimento —
Serguei fala e posso sentir a dor em sua voz.
— Podemos vê-la? — pergunto, levantando-me rapidamente.
— Vou avisá-la que estão aqui e perguntar a ela, mas já digo que
Yelena pode não querer receber visitas hoje, ela ainda está muito abalada e
cansada — Serguei anuncia e nós concordamos, mas deixo um resquício de
esperança se manter acesa dentro de mim.
A família Petrov entra e nos deixam sozinhos na sala de espera.
— Será que ela vai querer nos ver? — pergunto.
— Não sei — Danila responde e respira fundo, vejo seus olhos pretos
brilharem em antecipação, ele está tão ansioso para vê-la quanto eu.
— Acredito que ela está cansada demais para isso hoje — Bjorn fala
sem olhar em nossa direção, ele continua encarando as portas por onde os
Petrov passaram. — Se ela não quiser, teremos que respeitar sua escolha.
— Foda-se, eu preciso vê-la. — Dou dois passos em direção à porta,
mas logo sinto a mão firme de Danila em meu braço, segurando-me.
— Não assim, Ruan, Yelena passou por muita coisa que não sabemos,
ela precisa se sentir segura para tomar as próprias decisões agora e, quando
estiver pronta, ela vai nos receber — Danila explica e me viro para ele,
quando nossos olhares se encontram consigo voltar a respirar e me acalmar
por um momento.
Então Serguei volta a passar pelas portas e Danila me larga
rapidamente.
— Desculpa, ela ainda está muito cansada, foram dias sem dormir
direito, mas podemos tentar novamente amanhã — Serguei anuncia.
— Ela não quis nos ver? — pergunto.
— Hoje não — ele responde e passa as mãos pelos cabelos.
— Tudo bem, se puder nos manter informados, nós agradecemos —
Bjorn pede e Serguei concorda com a cabeça.
— Ela vai ficar bem? — pergunto sem me controlar.
— É a Yelena, ela é forte e tenho certeza que vai se recuperar logo —
Serguei responde, forçando um meio sorriso em nossa direção. — Agora se
me derem licença, preciso voltar para lá.
— Claro, muito obrigado, Vor Barkov — Bjorn agradece e, com isso,
Serguei da meia volta e some pelas portas novamente, deixando-nos
sozinhos e deslocados em um hospital frio, que consegue externar toda a
tristeza que estou sentindo.
— Vamos, agora não podemos fazer mais nada. — Danila pega minha
mão e acaricia levemente. — Eu te acompanho até em casa.
— Não precisa, eu vou dormir na Central — anuncio e começo a andar
para fora do hospital, tiro o cantil do bolso interno do meu casaco, abro e
bebo um grande gole de vodca, o que me acalma momentaneamente, depois
tomo mais um e mais um, até que começo a sentir uma leveza familiar
provocada pelo álcool.
— Não vou te deixar sozinho assim — Danila fala, vindo atrás de mim.
— Você pode ficar aqui também, mas eu não vou embora até ver
Yelena — digo com a confiança que o álcool me dá.
— Ela pode não querer nos ver amanhã também — Bjorn aponta esse
fato.
— Eu sei, tá legal? Se ela não quiser eu vou respeitar a decisão dela,
mas se quiser, estarei aqui e vou correr até ela, porque é Yelena, ela precisa
de mim, precisa de nós ao seu lado — agora que estamos do lado de fora do
hospital, eu não controlo mais o tom da minha voz.
— Você está certo, vou avisar meu pai. — Danila pega o celular e se
afasta por um momento, até que fala com seu pai, enquanto isso encaro
Bjorn.
— E você? Vai fugir de novo? — provoco meu amigo, preciso tirar
alguma reação dele, qualquer que seja.
— Eu estarei aqui por ela, Ruan, e estou aqui por vocês também — ele
anuncia e começa a caminhar em direção ao prédio principal da Central,
provavelmente vai se trancar na sala do pai como sempre faz e tentar
descobrir o que aconteceu com ela.
Bjorn nunca desistiu de Yelena, nem um dia sequer, assim como nós
nunca perdemos a esperança de encontrá-la, ele agiu sobre isso e, junto com
o Pakhan, foi atrás de cada pista inútil que surgiu em seu caminho, cada
uma delas levando a lugar nenhum, mas ele nunca desistiu.
Nós a amamos por todos os dias em que esteve fora e a procuramos em
cada canto desse mundo, Yelena sempre esteve em nossos corações e o fato
de não ter pistas sobre ela nos quebrou por dentro.
CAPÍTULO 8

Yelena
 
Eles estão fazendo todos os tipos de testes em mim, eu não me importo,
já sei o que vão encontrar: diversas fraturas que não sararam de forma
correta, provavelmente uma deficiência de vitaminas, especialmente
vitamina D, já que fiquei confinada sem pegar sol por muito tempo, fora as
cicatrizes pelo meu corpo.
Tudo isso aparecerá nos exames e os deixará tensos, o que ninguém
sabe é: como isso aconteceu e o motivo, que eu ainda não descobri qual foi.
— Como você está, princesa? — Meu pai Serguei entra no quarto, já é
noite há algum tempo e minha mãe acabou dormindo na cama de
acompanhante.
— Eu vou ficar bem — respondo e forço um sorriso —, o médico disse
que preciso operar o braço por causa de uma fratura que não cicatrizou
direito.
— Sim, eles farão isso amanhã, se você concordar.
— Quanto antes, melhor. — Ele sorri para mim, mas seus olhos estão
tristes e sei que esteve chorando, Serguei é muito sentimental e me quebra
vê-lo assim por minha causa. — Vai ficar tudo bem, pai, eu estou em casa
agora.
Estendo a mão para ele, então ele se aproxima mais da cama e a segura
entre as suas, seu toque é reconfortante e carinhoso.
— O que aconteceu durante esses cinco anos? — ele pergunta,
finalmente alguém teve coragem, desde que eu cheguei eles estão evitando
fazer esse questionamento.
— Eles me capturaram quando estava indo para a Central, não lembro
o que aconteceu porque estava sedada o tempo todo, só sei que quando
acordei não estava mais na Rússia, o clima era quente e úmido, eu não faço
ideia de onde era porque fui mantida em uma cela no subsolo por meses,
depois disso eles trocavam de lugar de tempos em tempos, nunca era fixo,
às vezes parecia que ficávamos mais tempo em um lugar do que no outro.
— Você lembra das pessoas? — questiona, mas sua voz já está
embargada de emoção.
— Não muito, tinham três pessoas que lidavam comigo e me traziam
comida, eu posso descrever eles com detalhes amanhã, mas eram só lacaios.
— Os homens no poder só apareceram muito tempo depois, mas esse
detalhe ficará comigo.
— Eles… eles fizeram alguma coisa com você?
— Você quer saber se fui torturada ou abusada? — pergunto
diretamente e ele confirma com a cabeça, engolindo em seco. — Não fui
abusada, pai, mas sim, eles me torturaram por um tempo querendo
informações.
— Eles…
— Eu não contei nada, jamais colocaria vocês em perigo, e quando
percebi que eles não iriam me matar, que só estavam tentando me assustar,
foi aí que eu mantive minha boca fechada, então com o tempo eles
desistiram de tentar tirar informações de mim. — Serguei respira aliviado
por um tempo, então passa a mão delicadamente pelo meu rosto, em uma
carícia que há muito eu não sentia e me faz engolir em seco, que saudade eu
estava do meu pai, de toda a minha família e, principalmente, do amor que
compartilhamos. — Depois disso eles partiram para a ofensiva e me
colocaram no ringue para lutar — declaro, consciente que isso irá chocá-lo,
mas eu sei que ele precisa saber como adquiri tantas fraturas. — As lutas
eram até a morte — complemento e vejo ele abrir os olhos, espantado.
— Você…
— ... ganhei todas — esclareço o obvio e pego o copo de água que está
ao meu lado, então tomo um grande gole enquanto ele absorve o que acabei
de falar. — Foram cinquenta e oito lutas, cinquenta e oito pessoas que eu
matei.
— Ah, minha filha — Serguei senta na cama e me abraça devagar para
não me machucar, então ele beija o topo da minha cabeça, como fez durante
toda a minha vida, e eu quase deixo uma lágrima escapar dos meus olhos,
dói tanto saber que preciso contar isso para eles, que preciso compartilhar
minha dor, mas não tenho opção, uma hora ou outra eles tem que saber.
— E foi assim que consegui tantos machucados, mas eu não desisti,
pai, eu prometi que voltaria para casa.
— E você voltou, agora vai ficar tudo bem, você está segura
novamente. — Ele se afasta e segura minha cabeça com as duas mãos,
olhando no fundo dos meus olhos. — Eu te amo tanto, minha filha, não teve
um dia, desses cinco anos, que eu tenha desistido de você, obrigado por não
desistir de nós e me perdoe por ter falhado em te proteger.
— Você não falhou, pai, eles iriam me pegar de qualquer forma, o
helicóptero estava dando problemas, não estava?
— Sim.
— Então você sabe que não tem culpa, qualquer pessoa que estivesse
naquele carro, naquela noite, seria capturada por eles, tive sorte de ter sido
eu — declaro e inclino minha cabeça para o lado, então ergo meu braço que
não está machucado e acaricio a barba do meu pai. — Prefiro mil vezes ter
passado por aquele inferno do que deixar que algo acontecesse com minha
família. — Quando ele vai falar algo eu o calo e continuo. — Eu aguentei,
pai, e por vocês eu aguentaria o tempo que precisasse, para mantê-los
seguros eu passaria pelo inferno e beijaria o capeta.
— Você é tão forte, minha filha, mas dói saber por tudo o que passou e
que eu não estava lá para te proteger, te garanto que qualquer um de nós
trocaria de lugar com você.
— Eles fizeram contato? — questiono, um dos meus maiores medos
enquanto estava lá era que eles quisessem me trocar pelo meu pai.
— Não, nós ficamos no escuro esse tempo todo.
— Que bom — declaro aliviada.
— Por quê?
— Porque eu sei que meu pai aceitaria trocar de lugar comigo sem nem
pensar duas vezes — respondo e Serguei confirma com a cabeça.
— Ele tentou tudo, filha, tudo o que ele poderia fazer, Dimitri fez,
preciso que saiba disso, seu pai não desistiu de você nem por um segundo.
— Eu sei, pai, eu sei.
Então ele me abraça novamente e meu coração parece que vai sair do
peito, a emoção é demais e, misturada com o cansaço, me faz chorar
novamente.
— Hey, vai ficar tudo bem... — Serguei limpa uma lágrima que escorre
pelo meu rosto.
— Eu sei que vai, agora estou com vocês — declaro e sorrio para ele.
— Sei que ainda tem muitas perguntas, mas eu estou cansada, posso
respondê-las amanhã?
— Claro, princesa. — Ele beija minha testa e se levanta, então eu volto
a me deitar e Serguei faz o mesmo que fazia quando eu era criança, puxa o
cobertor para me cobrir antes de acariciar meu rosto. — Boa noite, minha
filha.
— Boa noite, pai — respondo e me aconchego o melhor que consigo.
— Ah, pode pedir para eles aproveitarem a cirurgia para arrumar meu
nariz?
— Claro, filha, não se preocupe com isso.
— Obrigada.
Então ele sai do quarto e eu tento fechar os olhos para dormir, mas cada
vez que faço isso as imagens do que passei naquele inferno voltam a me
assombrar.
Meu coração dispara no peito e sinto como se ainda estivesse lá, presa
naquela maldita cela suja e fedorenta, sem poder fazer nada, completamente
sozinha e impotente.
Volto a abrir os olhos e encaro o teto por um tempo, essa será a minha
vida daqui para frente, espero que os médicos tenham algum remédio que
me faça esquecer, pelo menos enquanto durmo, mas por enquanto será
difícil fechar os olhos, a não ser que eu esteja muito cansada.
Quando o dia amanhece minha mãe acorda e eu fecho os olhos para
fingir que estou dormindo, quando ela levanta da cama, tentando não fazer
barulho, eu os abro e olho para o lado.
— Bom dia, mãe — digo e finjo que estou com preguiça.
— Bom dia, minha filha, desculpa se te acordei — ela fala com a voz
sonolenta e caminha em minha direção.
Yekaterina Petrova é uma mulher linda, tem cabelos escuros que caem
em ondas pelos seus ombros, os olhos azuis brilham com a preguiça de ter
acabado de acordar, mas eles estão envoltos em olheiras escuras, agora que
olho bem para a minha mãe, ela parece ter envelhecido mais do que eu
lembrava, mas continua maravilhosa.
Ela está usando uma calça de moletom e uma camiseta que meu pai
trouxe para ela dormir ontem à noite, já que ela se recusou a sair do meu
lado.
— Sabe se o café vai demorar? — pergunto e ela ergue uma
sobrancelha, admirada. — Estou morrendo de fome.
— É um bom sinal, mas você não pode comer nada antes da cirurgia —
ela avisa e concordo, eu acabei esquecendo disso.
— É verdade, mas você pode, que tal ir até a cafeteria e comer algo,
mãe? Você deve estar morrendo de fome.
Nesse momento a porta do quarto é aberta e meu pai Dimitri entra com
meu irmão Adrian logo atrás, assim que meu olhar encontra o do meu
irmão, eu sorrio para ele e ergo minha mão, chamando-o para perto de mim.
— Como você está, irmã? — ele pergunta e pega minha mão, depois
beija meu rosto e me ajuda a ficar sentada na cama, então minha mãe coloca
um travesseiro nas minhas costas para eu ficar mais confortável.
— Melhor agora — respondo e ele dá um meio sorriso, mas a
expressão em seu rosto ainda é de tristeza e cansaço. — Vocês precisam
dormir, gente, eu não quero nenhum zumbi liderando a Bratva enquanto eu
ainda não estou pronta — brinco e todos me olham, mas não riem. — Tá
bom, ou o humor de vocês mudou muito em cinco anos, ou eu perdi o jeito
de fazer uma piadinha, de qualquer forma, podem pelo menor rir por pena?
— Você não tem jeito mesmo — Adrian fala, mas vejo um resquício de
sorriso em seu rosto, daqueles sinceros que ele tanto dava antes de tudo
acontecer.
— Eles concordaram em arrumar meu nariz? Me vi no espelho ontem e
não acredito que tenho andado por aí com essa coisa torta na cara —
expresso e aponto para meu nariz, assim que me vi no espelho, em New
York, não acreditei que estava tão ruim assim.
— Só você para se preocupar com algo assim nesse momento, minha
filha — Dimitri anda em minha direção e beija meu rosto com carinho. — É
tão bom ter você de volta.
— É bom estar de volta também, morri de saudades de todos vocês —
digo e é verdade, minha única esperança naquele inferno era de reencontrá-
los, eles e os três homens nos quais eu não posso pensar agora.
Então o médico entra no quarto e avisa que a sala de cirurgia está
pronta para mim.
— Bem, vamos lá, então — digo e volto a deitar na cama. — E quando
eu voltar quero ver umas caras melhores me esperando, eu saí de lá para ver
minha família feliz, lembrem-se disso — aviso enquanto as enfermeiras
empurram minha cama pela porta. — Eu amo vocês.
— Nós também te amamos, minha filha — Dimitri responde. —
Vincent, por favor, acompanhe o procedimento.
— Sim, senhor — Vincent, o executor, como é conhecido, também é
médico de formação, seu estilo de tortura é fruto da profissão que ele
largou, ele faz parte da equipe de segurança de Alexei Ivanov, mas deve ter
sido chamado aqui pelo meu pai.
— Vamos lá, galera, consertem essa garota quebrada aqui e me deixem
novinha em folha — digo para os médicos e um deles sorri, finalmente.
Toda a equipe do hospital tem andado sobre ovos ao meu redor,
ninguém conversa comigo ou me olha diretamente nos olhos, é como se eu
tivesse uma doença super contagiosa.
Assim que a anestesia faz efeito, eu já não vejo mais nada, quando
acordo estou de volta em meu quarto, agora com um curativo enorme no
nariz, sem conseguir respirar, a não ser pela boca, quando tento me mover
sinto uma pontada no meu braço, então fico quieta, minha cabeça parece
estar pesada demais e a claridade incomoda muito.
Por isso volto a fechar os olhos e tento descansar, mesmo que os
pesadelos retornem, eu preciso dormir.
Quando acordo novamente o quarto está escuro, viro meu rosto para o
lado e não vejo ninguém na cama de acompanhante, o que me faz respirar
aliviada, finalmente minha mãe foi para casa, meus pais devem ter
convencido ela a descansar direito, ninguém merece dormir nessas camas
de hospital.
É só quando viro para o outro lado que percebo que não estou sozinha,
vejo um homem alto, de cabelo e barba loira me encarando com grandes
olhos verdes, aqueles que eu sempre amei, que me acolheram mais de uma
vez quando precisei e que já me olharam com luxúria e amor.
Bjorn está do lado da minha cama, segurando minha mão com a sua e
acariciando meus dedos. Quando nossos olhares se encontram, vejo que
seus lábios sobem momentaneamente, como se ele estivesse feliz em me
ver.
— Bjorn — falo, mas minha voz quase não sai, minha garganta está
seca demais.
— Aqui. — Ele me ajuda a ficar sentada, então pega um copo com
água e um canudo e me ajuda a beber. — Com calma, um gole de cada vez
— avisa e é o que eu faço, no começo é difícil engolir, mas depois sinto
minha garganta úmida e isso alivia muito a dor.
— Obrigada — agradeço, então olho no fundo dos seus olhos e me
preparo para o que vou dizer —, mas não quero você aqui.
— Por quê?
— Não estou pronta, Bjorn — respondo e engulo em seco. — Eu…
não consigo lidar com você agora, estou por um fio…
Ele não entende a dor que é estar aqui com ele, tão próxima, porém não
conseguir tocá-lo como tantas vezes imaginei fazer quando estava naquele
inferno.
— Eu estou aqui por você, linda — o apelido carinhoso que ele sempre
usou comigo faz meu peito apertar ainda mais, a saudade envolve todo o
meu corpo e, assim que ele volta a pegar na minha mão, sinto a eletricidade
do seu toque na minha pele.
É ele, meu primeiro amor, meu homem.
Então um sentimento de repulsa faz com que eu me sinta suja, não sou
merecedora do seu toque, não depois de tudo o que eu fiz.
— Não. — Tiro a mão da sua e vejo a expressão assustada em seu
rosto. — Você precisa ir, eu disse que não queria ver nenhum de vocês, não
agora, por favor, respeita a minha decisão.
— Por favor, linda, não me afasta, não nos afaste..
— Você não entende, eu não sou mais a mesma de antes, não sou mais
a Yelena que vocês conheciam — declaro com a voz tão firme quanto
consigo manter.
— Ninguém espera que seja, depois de tudo o que passou…
— É por isso que preciso de tempo, já está difícil o suficiente lidar com
a minha família, eu não vou suportar ver vocês também — declaro e deixo
uma lágrima cair pelo meu rosto, quando ele vai levantar a mão para secar,
eu viro o rosto. — Não, por favor, não me toque.
Seu toque dói demais, é insuportável pensar nele e saber que não é
mais meu, Bjorn sempre será meu primeiro amor, mas eu preciso esquecer
disso por enquanto e me concentrar em melhorar fisicamente.
Depois de um tempo ele abaixa a mão e me encara com os olhos verdes
repletos de tristeza.
— Tudo bem, eu vou te dar espaço por enquanto e direi aos outros para
fazerem o mesmo, mas isso não é definitivo, Yelena, você não vai nos
afastar assim — ele declara e dá um passo para trás. — Eu senti tanto a sua
falta.
Eu também, quero responder, mas não deixo as palavras saírem da
minha boca, depois de tudo o que fiz enquanto estava presa, do monstro que
me tornei, eu não sou mais digna do amor de pessoas como eles.
Na Bratva nós somos preparados para matar, mas o que eu fiz foi muito
pior do que isso, as vidas que eu tirei… eles não mereciam morrer nas
minhas mãos, mas eu fui egoísta, preferi matar cinquenta e oito pessoas a
me entregar.
Eu escolhi viver e, para isso, precisei me tornar um monstro.
CAPÍTULO 9

Danila
 
— Você foi ver Yelena sem a gente? Porra, Bjorn, tínhamos combinado
de ir todos juntos quando, e somente quando, ela concordasse em nos
receber — reclamo e aponto o dedo para Bjorn, que está na minha frente
com a expressão angustiada no rosto.
— Como diabos você entrou lá sozinho? — Ruan pergunta, tão
aturdido quanto eu.
— Tio Vincent me ajudou a entrar, eu só precisava falar com ela e ver
se ela estava bem.
— E o que aconteceu? Como ela está? Ela aceitou nos receber? — jogo
todas as minhas perguntas para ele responder logo, não aguento mais ficar
sem saber sobre ela, a única coisa que nos dizem é que Yelena está se
recuperando, mais nada.
— Nós conversamos, quer dizer, eu tentei conversar com ela, mas
Yelena… Ela não está nada bem, ela me mandou embora e disse que não
consegue lidar conosco agora — Bjorn explica, a dor em sua voz é
palpável.
— Eu disse para esperar. Caralho, cara, é claro que ela não tem cabeça
para lidar com a gente nesse momento, Yelena deve estar sobrecarregada
com tanta gente fazendo perguntas, imagina como está a cabeça dela agora?
— repreendo com veemência, para que ele realmente entenda a merda que
fez.
— Ele está certo, Bjorn — Ruan me apoia, pegando-me de surpresa,
achei que de nós três o primeiro que tentaria entrar escondido no hospital
seria ele.
— Até você? — Bjorn questiona. — Eu não fiz por mal, eu só… eu
precisava vê-la.
— Todos nós precisamos, só que antes temos que esperar ela passar por
isso tudo e se acostumar a estar em casa novamente — digo com mais
calma agora.
— Eu não quero esperar, quero estar ao seu lado e apoiá-la nesse
caminho, que merda somos nós se não os melhores amigos dela? Vamos
mesmo deixá-la nos afastar quando mais precisa? — Bjorn contrapõe e seus
argumentos fazem sentido.
— Não é para sempre, faz poucos dias que ela voltou, vamos dar mais
uma semana para ela colocar a cabeça no lugar e depois, se ela ainda não
quiser nos ver, a gente dá um jeito de ir até ela, mas dessa vez juntos —
proponho e Bjorn pensa por um tempo antes de concordar com a cabeça.
— Eu não quero deixa-la sozinha por todo esse tempo — Ruan fala
com a voz embargada de emoção, ele tem estado no seu limite nesses
últimos dias e não me passou despercebido o fato de estar bebendo ainda
mais.
— Ela está com a família e, se aceitar nos receber antes disso, nós
estaremos lá também, continuaremos tentando vê-la todos os dias para que
saiba que estamos aqui por ela — o tranquilizo e caminho até ele, pegando
sua mão e trazendo até meus lábios para plantar um beijo carinhoso em seus
dedos. — Vai ficar tudo bem.
— Você não sabe disso — Ruan responde, mas sinto que ele relaxa
com o meu toque.
— Não, eu não sei, mas confio que ela é forte pra caralho e vai sair
dessa antes mesmo do que imaginamos — digo e me aproximo ainda mais
dele, passando a mão em seu rosto.
Ruan inclina a cabeça em direção a minha mão e aceita o carinho, vejo
ele respirar fundo e, quando volta a abrir os olhos, está mais calmo.
— Tudo bem, eu posso esperar mais um pouco — ele declara e sinto
uma pontada de alívio.
— E você, Bjorn? — questiono nosso amigo, que senta na poltrona em
frente à mesa do meu pai e joga a cabeça para trás, massageando as
têmporas de olhos fechados.
— Prometo que vou esperar e, da próxima vez, vamos todos juntos —
ele garante e, só assim, fico mais tranquilo.
Nesse momento, Vor Ivanov entra no escritório e eu largo a mão de
Ruan rapidamente.
Alexei, Charles e Vincent param assim que nos veem, mas não parecem
desconfiar de nada.
— O que estão fazendo aqui? — Alexei questiona, indo até sua cadeira
atrás da grande mesa de madeira.
— Desculpa por não avisar, pai, só precisávamos de um lugar para
conversar, estamos preocupados com Yelena — Bjorn responde
calmamente.
— Entendo, ela ainda não aceitou ver vocês? — Alexei pergunta e vejo
que Vincent e Bjorn trocam um olhar rápido.
— Não, ainda não — respondo. — Bem, nós vamos deixá-los
trabalhar.
Ruan me segue e saímos do escritório de Alexei, seguimos juntos até o
terceiro andar, aonde encontro uma sala de reuniões vazia próxima ao
escritório do meu pai.
— Vem — chamo ele, que entra antes enquanto eu me asseguro de não
ter ninguém nos corredores. — Você está bem? — questiono assim que
fecho a porta atrás de mim.
— Claro que não, eu estou péssimo, essa situação toda é uma confusão
— ele responde passando as mãos nos cabelos castanhos que estão um
pouco mais compridos do que o normal e caem em seus olhos. — Ela
voltou, Danila, ela está aqui.
— Sim, ela está — concordo.
— Então por que não parece que aquele inferno acabou? Por que ainda
não consigo ficar feliz e aliviado por ela ter voltado?
Ruan anda de um lado para o outro, angustiado enquanto fala, ele está
desesperado, eu senti isso enquanto estávamos no escritório de Alexei, por
isso o trouxe até aqui.
— Porque é tudo muito recente, nós não tivemos tempo para absorver
os fatos, foram cinco anos de agonia, cinco malditos anos sem ela, você não
pode esperar que depois de todo esse tempo tudo volte a ser como era antes
— digo para tentar acalmá-lo.
— Mas eu quero que volte, quero que a gente esqueça esse tempo que
passamos separados e que voltemos a ser a equipe que sempre fomos, eu
não quero viver nesse inferno mais.
— Amor…
— Não, Danila, não me chama assim agora.
— Por quê?
— Eu tô confuso, tá legal? O que nós vivemos… o que sentimos um
pelo outro…
— Você ainda se culpa por ter seguido em frente enquanto ela esteve
fora?
— É claro que sim, eu não segui em frente, eu… eu não sei o que
fizemos, Danila, mas parece que a deixamos de lado para viver o nosso
amor e, enquanto isso, ela estava em algum lugar, completamente sozinha,
sofrendo sabe-se lá quantas barbaridades — Ruan explode, expondo seus
sentimentos como sei que ele precisa fazer para extravasar a dor.
— Não é porque nos aproximamos e nos amamos, que sentimos menos
por ela — declaro e caminho até ele, seguro sua mão com carinho e o faço
olhar nos meus olhos. — Nós a amamos tanto quanto amamos um ao outro,
isso não mudou e não vai mudar, nós dois termos nos apoiado nesse amor
enquanto ela estava fora não significa que não nos importamos com ela,
significa que precisávamos um do outro para suportar não tê-la aqui.
— Foi só isso, então? Uma forma de suportar a ausência de Yelena? —
ele pergunta.
— Claro que não. — Eu me aproximo mais, nossos corpos a
centímetros um do outro, posso sentir sua respiração quente no meu rosto,
então ergo a mão livre e seguro seu queixo. — O que vivemos foi real, e
continua sendo.
Depois de um tempo, ele respira fundo e me encara com o olhar
profundo.
— Eu preciso de você… — ele confessa e desvia o olhar do meu.
— Você não precisa de mim, você é forte o suficiente para aguentar
qualquer coisa sozinho, mas eu quero estar com você, mesmo quando as
coisas melhorarem, seremos sempre nós dois.
— Eu amo a Yelena.
— Eu também — concordo, então me aproximo mais e acabo com a
distância entre nós, no momento que meus lábios tocam os dele, Ruan se
entrega.
Nós dois precisamos disso agora, dessa proximidade, desse contato, de
alguma forma para extravasar os sentimentos confusos dentro de nós.
Sua boca se molda a minha com perfeição, abro caminho entre seus
lábios macios e minha língua encontra a sua, sinto o gosto da vodca que ele
tomou antes, mas nesse momento não me importo com isso, continuo
beijando Ruan como se precisasse dele para sobreviver.
Porque eu preciso!
O que Ruan não sabe é que eu me apoiei nele tanto quanto ele se
apoiou em mim durante esses cinco anos, sem ele ao meu lado eu teria
enlouquecido.
É difícil controlar meu temperamento explosivo, mas eu fiz por ele e
por Bjorn, que mesmo não querendo admitir, nos ama e também precisa de
nós.
Mordo seu lábio inferior e sou agraciado com um gemido rouco e
delicioso, ao qual meu pau responde imediatamente, Ruan é minha
perdição, ele faz com que todas as células do meu corpo reajam a ele e,
instantaneamente, estou perdido na névoa de tesão.
— Não podemos, não aqui — falo contra seus lábios, mas ele já está
com a mão no meio das minhas pernas, massageando meu pau por cima da
calça.
— Por que não? — ele questiona ofegante.
— Qualquer um pode entrar e nos ver.
— Foda-se, eu quero você agora. — Ele abre meu cinto e o zíper da
minha calça, então deixo o tecido cair pelas minhas pernas no momento que
ele coloca a mão por dentro da minha cueca e liberta meu pau. — Você
também precisa disso.
— Porra — murmuro contra sua boca, então o viro de costas para mim
e o prendo contra a parede de forma bruta. — É isso o que você quer?
— Sim, caralho, eu quero você agora — ele responde.
Seguro seus pulsos acima da cabeça só com uma mão e, com a outra
abro sua calça, a abaixando junto com a cueca, então dou um tapa estalado
em sua bunda antes de apertá-la com força.
— Você quer que eu te foda agora?
— Sim…
— Caralho, amor. — Mordo o lóbulo da sua orelha e beijo seu pescoço,
assistindo quando sua pele arrepia toda e ele prende um gemido, não que
alguém possa realmente nos ouvir, essas salas são à prova de som, mas não
trancamos a porta e qualquer um pode entrar.
Isso é excitante demais.
O solto tempo o suficiente para pegar uma camisinha do bolso da sua
calça e vestir no meu pau, então volto a segurá-lo contra a parede, abro bem
as suas pernas com a minha e me coloco entre elas, meu pau pulsando de
tesão, pronto para fodê-lo.
Assim que estou com a cabeça do meu pau em seu cu, Ruan solta um
gemido delicioso que ecoa por todo o meu corpo, então eu entro nele, sem
preparação, pouco a pouco para que se acostume comigo e, quando estou
bem fundo no seu cu, sinto ele relaxar.
— Isso, meu bem, respira fundo — digo com carinho e beijo seu
pescoço.
— Me fode, Danila, me fode agora — ele exige e, porra, eu não
aguento mais.
Começo a entrar e sair dele com movimentos curtos e vagarosos,
deixando que ele se acostume com o tamanho do meu pau, sentindo seu cu
me apertar tanto que eu posso gozar só com a sensação de estar dentro dele.
É a porra de um vício.
Ruan me esmaga enquanto entro e saio, cada vez mais rápido, tirando
meu pau até a ponta só para voltar a entrar por completo dentro dele.
Eu não consigo explicar o que esse homem faz comigo, só sei que
quando estamos juntos esqueço os problemas e o mundo lá fora, quando
somos nós dois em algum canto, fodendo dessa forma, eu sou só dele e ele é
só meu, pelo menos de corpo, porque ambos sabemos que falta algo e nós
sentimos isso.
Pelo menos quando estamos juntos, tudo parece mais fácil.
— Danila…
— Eu sei — meu nome saindo da sua boca é como um mantra, me
fazendo estremecer de tesão, eu não vou aguentar muito tempo, por isso
largo seus braços. — Quero que se masturbe enquanto eu te fodo, não vou
aguentar muito — ordeno e ele faz o que mando.
Logo estamos os dois ofegantes e perdidos, começo a foder seu cu
ainda mais rápido, arrancando gemidos altos dele enquanto se masturba,
mordo seu ombro, marcando a pele tatuada com meus dentes..
— Goza pra mim, amor — ordeno quando sinto que ele está quase e,
porra, quando ele goza eu posso sentir seu cu me apertando ainda mais.
Essa é a minha perdição, esporro com força dentro dele, sentindo cada jato
que sai do meu pau me aliviar.
É bom para caralho!
As sensações duram por alguns minutos enquanto estremecemos
juntos, eu o abraço por trás e seguro meu homem contra o peito quando ele
se inclina em minha direção, se entregando.
— Obrigado… — Ruan fala e suspira, então eu sei que ele está prestes
a chorar, ele sente tudo tão intensamente, é lindo e doloroso de ver.
— Estou aqui com você, amor, vamos passar por mais essa juntos e
reconquistar nossa mulher.
— E se ela não quiser mais ser nossa?
— Não tem chances de isso acontecer, Yelena roubou nossos corações
há muito tempo, ela sabe que seremos para sempre dela e que ela será para
sempre nossa.
Falo isso tentando manter minha voz firme e passar certeza para Ruan,
porque sei o que ele precisa ouvir, mas lá no fundo do meu peito meu
coração aperta com o pensamento de que ela pode não nos querer mais,
afinal, nosso relacionamento sempre foi uma confusão.
Vivemos tudo escondidos, já que os herdeiros são proibidos de se
envolverem dessa forma, é por isso que Ruan e eu continuamos nos
escondendo, jamais seríamos aceitos, não por sermos dois homens, mas sim
por sermos dois herdeiros.
As leis da Bratva são muito claras quanto a isso.
Imagina como eles surtariam se soubessem sobre os quatro herdeiros
que se envolveram uns com os outros?
CAPÍTULO 10

Bjorn
 
Porra, o que eles esperavam?
Eu não consigo saber que Yelena está aqui e simplesmente sentar e
esperar que ela resolva aceitar me ver.
Eu não vou deixá-la nos afastar assim, não depois de passar cinco anos
sonhando com esse momento, com ela voltando para nós.
— Como você está, filho? — meu pai questiona, sentando-se em sua
cadeira do outro lado da mesa, enquanto Charles e Vincent saem da sala,
discretamente nos deixando a sós.
— Agoniado — respondo com sinceridade.
— Ela ainda não aceitou te ver? Achei que depois da cirurgia ela se
sentiria mais confortável para receber visitas.
— Ainda não — falo e meu pai me encara preocupado. — O que o
senhor sabe? Yelena já contou alguma coisa sobre o que aconteceu com ela
nesses anos?
Meu pai respira fundo e, por isso, sei que ele tem algo para me contar,
mas ainda está criando coragem.
Alexei tira uma pasta com arquivos de dentro da sua gaveta e me
entrega, quando começo a ler não consigo acreditar no que meus olhos
veem.
Cada palavra parece uma peça do quebra-cabeça que vai se juntando e
formando uma grande imagem na minha mente.
Yelena contou sobre tudo o que passou quando esteve fora, sobre as
vezes em que foi obrigada a lutar até a morte no ringue, sobre as cinquenta
e oito pessoas que matou para sobreviver.
Como passou os primeiros meses trancada em uma cela em algum
lugar, de todas as vezes que foi sedada e movida para outros lugares, sem
saber aonde estava ou com quem.
Não consigo acreditar no que estou lendo e meu peito dói a cada
palavra, por imaginar tudo o que ela passou, sozinha naquele inferno.
Porém, quando termino, parece faltar algo.
— Como ela escapou? — questiono.
— Ela ainda não falou, Yelena será interrogada hoje à tarde por
Dimitri.
— Eu quero assistir — aviso, já sabendo que ele dirá que não, então o
corto antes mesmo de ele ter a chance. — Eu não posso ficar de mãos
atadas enquanto tudo acontece, pai.
— Os membros do Conselho concordaram em deixá-los assistirem ao
interrogatório, mas vocês estão proibidos de interferir de qualquer forma,
Yelena não saberá que estarão lá.
Ela vai saber, mesmo que não diga nada, Yelena é esperta demais para
que eles a enganem, ela saberá que tem mais de uma pessoa olhando-a
pelos vidros espelhados.
Almoço empurrando a comida para dentro, o nervosismo quase toma
conta do meu pensamento enquanto espero os minutos passarem no relógio
e, exatamente às duas da tarde, caminho até a sala de interrogatório e
encontro Danila e Ruan me esperando do lado de fora.
— Vamos — falo, mas Danila me segura pelo braço antes que eu
consiga abrir a porta.
— Eles pediram para esperar aqui por um tempo.
— Foda-se — respondo, me desvencilhando da sua mão, então abro a
porta e entro, sentindo meus dois amigos logo atrás de mim.
A sala é pequena e possui algumas cadeiras em que os membros do
Conselho, nossos pais, estão sentados de frente para uma grande janela de
vidro que nos separa da sala cinza do outro lado.
Vejo Dimitri Petrov e Serguei Barkov sentados de frente para a filha,
Dimitri segura a mão de Yelena, que está vestida com uma calça jeans e
camiseta branca, seu braço está preso com uma faixa em frente ao seu peito
e ela ainda tem o curativo no nariz, mas dessa vez seu rosto parece menos
inchado do que antes.
— Eles estão aqui, não estão? Os membros do Conselho — ela
pergunta e Dimitri concorda com a cabeça.
— Você prefere fazer isso somente conosco? — Dimitri pergunta.
— Não me importo que eles ouçam, de qualquer forma terá relatórios
sobre o que falarei hoje — ela responde com um sorriso convencido no
rosto, mas que não chega até seus lindos olhos azuis.
Então ela passa a mão boa pelo cabelo loiro, que cai solto em ondas
pelos seus ombros.
— Por onde eu começo? — Yelena pergunta.
— Do começo, por que exatamente estava indo até a Central naquele
dia? — Dimitri questiona.
— Eu havia combinado de treinar com meus colegas de equipe, fazia
muito tempo que não treinávamos juntos e aquele foi o único momento que
tínhamos livre, considerando as aulas acadêmicas e as reuniões que
acompanhávamos com nossos pais, quase não sobrava tempo para nos
vermos.
— Por que não falou sobre isso antes? — Dimitri pergunta.
— Combinamos de última hora.
— E o que aconteceu no caminho?
— Dois caminhões vieram em nossa direção, o primeiro bateu de frente
com o carro de apoio e o segundo nos acertou logo depois, a batida me
deixou inconsciente e, quando acordei, estava em uma cela escura,
amarrada e com dores por todo meu corpo.
— Você se feriu? — Dimitri pergunta e posso sentir daqui a
preocupação em sua voz.
— Quebrei o braço e acho que alguma costela, não tenho certeza, eles
me enfaixaram e me deixaram amarrada pelo que pareceram dias, três
pessoas vinham me trazer comida e água, mas não sei exatamente com que
frequência, eles me alimentavam e saiam, depois da primeira vez eles me
soltaram e trouxeram um balde para eu me aliviar.
A cada palavra que ela fala meu peito aperta um pouco mais, é
doloroso, mas necessário, e não posso nem imaginar como está sendo para
seus pais ouvirem tudo isso.
— E depois? — Dimitri pergunta, engolindo em seco.
— Depois de um tempo eles me sedaram novamente e me moveram
para outra cela, não sei se eu estava no mesmo lugar de antes, mas acredito
que não, porque a temperatura era mais baixa e eu fiquei com frio por
muitos dias.
— Durante esse tempo eles falaram algo? Usaram alguma língua
específica?
— Não, eles não conversavam nem entre si, só vinham trazer comida e
depois trancavam a cela novamente — ela conta.
— Quanto tempo isso durou?
— Não sei exatamente, mas se a comida vinha uma vez por dia,
contabilizei noventa e oito dias nessa primeira fase.
— Primeira fase? — Dimitri questiona intrigado e Yelena ri, jogando a
cabeça para o lado.
— Eu chamo de ‘As Quatro Fases do Inferno’, é como vou intitular
essa parte da minha vida em meu livro de memórias — ela brinca, mas
ninguém ri, então ela volta a ficar séria e continua sua história. — Depois
da primeira fase vieram as torturas, eles queriam detalhes sobre a Bratva,
sobre cada uma das cinco Famílias, como era a organização, o dia-a-dia,
essas coisas, nunca eram as mesmas pessoas que me torturavam e, a cada
vez, a pessoa falava um idioma diferente. — Agora Dimitri olha para
Serguei e ambos parecem querer falar alguma coisa, mas eles se contém e
deixam Yelena continuar. — Eu nunca entreguei nada, depois da primeira
vez em que o torturador foi obrigado a parar para não me matar, entendi que
eles não iriam até o fim, por isso continuei calada por todas as dezenove
vezes em que isso aconteceu — Yelena conta, então ela respira fundo antes
de continuar. — Não sofram por mim ou eu não vou ter coragem de contar
tudo.
— É difícil de ouvir — Serguei fala e segura a mão de Dimitri.
— Já passou, eu fui treinada para aguentar essas merdas, eles jamais
me quebrariam com algumas técnicas de tortura, vamos lá, pelo menos
sabemos que o treinamento funciona — ela brinca novamente e sorri. —
Olha, se ninguém rir das minhas piadas eu vou ficar triste, vocês sempre
riam antes, façam o favor de pelo menos fingir.
— Isso não é engraçado para nós, Yelena — Dimitri pontua.
— Não foi para mim também, pai, mas agora é passado e precisamos
viver no presente, eu estou contando tudo, mas vai ser uma vez só, depois
disso quero esquecer o que passei naquele inferno e voltar a ser só a Yelena,
herdeira da Bratva.
— Desculpa, filha, pode continuar quando estiver pronta — Dimitri
pede e Yelena concorda com a cabeça.
— Quando eles desistiram da tortura, passou-se um período em que eu
só era mantida em celas diferentes, sempre que iam me mover eles me
sedavam e depois me largavam em algum lugar, sozinha, então eu voltei a
treinar e me fortalecer, todos os dias mantinha minha mente sã com
meditação, depois treinava meu corpo, foi um inferno conseguir controlar a
ansiedade e tive muitas crises naquelas malditas celas, mas eu não podia
desistir, não quando tinha vocês esperando por mim aqui.
— Você é uma guerreira, minha filha — Serguei aponta.
— Acho que eles perceberam que eu estava treinando, então um dia um
senhor de idade veio me ver, ele fez várias perguntas sobre a Bratva, as
quais não respondi, então ele disse que, para cada pergunta não respondida,
eu teria que lutar até a morte com alguém que seria escolhido
aleatoriamente entre seus seguidores, foi assim que ele chamou as pessoas
que estavam lá.
— Seguidores? — Dimitri pergunta.
— Sim, como em um culto, foi então que eles começaram a me deixar
sair ao sol uma vez por dia e caminhar ao redor da minha cela, eu podia ver
algumas coisas, mas não muito, e a cada vez que mudavam de cela, o
cenário era diferente lá fora, mas as pessoas continuavam se comportando
da mesma forma.
— Porra — meu pai fala e eu o encaro, então vejo que está com as
mãos fechadas em punhos ao lado do seu corpo.
— Os homens vestiam túnicas cinzas e as mulheres, brancas, todos
eram iguais, eu via eles plantando coisas em hortas, colhendo frutos de
árvores, eles viviam  como uma comunidade, então em uma nova mudança
de lugar, eu tive um vislumbre do que parecia um altar com a imagem de
um homem de cabelos brancos e terno, não sei quem era, mas todas as
pessoas que passavam pela imagem se curvavam a ele, como se fosse um
santo ou algo do tipo.
— Você conseguiria descrever a imagem com mais detalhes? —
Serguei questiona.
— Não, desculpa, foi uma vez só e estava bem longe — Yelena
responde. — Por isso que acho que esses loucos são alguma espécie de
culto com alguma religião nova, só não sei o que eles queriam comigo, ou
com a Bratva, isso nunca ficou claro para mim
— Certo, e qual foi a terceira fase? — Dimitri pergunta.
— As lutas no ringue, eles escolhiam alguém da plateia aleatoriamente,
homens ou mulheres, até os mais jovens… — Agora ela olha para baixo,
sem coragem de encarar seus pais. — Eles me faziam lutar com aquela
pessoa até a morte, muitos não sabiam nem dar um soco direito, outros
eram profissionais, de qualquer forma eu precisei finalizar todos ou
morreria, se eu demonstrasse pena, eles apontavam suas armas para mim e
me forçavam a finalizar a luta.
Ela teve que matar tantas pessoas, justamente Yelena que, mesmo
sabendo todas as técnicas, só havia acabado com uma vida durante seus
treinamentos.
— Você fez o que precisava para sobreviver, filha. — Dimitri pega a
mão de Yelena e, com sua outra mão livre, ergue o queixo dela e a faz olhar
diretamente para seus olhos. — Não se sinta culpada…
— É claro que eu me sinto culpada, você também se sente, pai, eu sei
disso, sei também que diversos soldados nossos morrem para nos defender
a cada dia, mas é diferente quando quem tem que matar é você — ela
declara e sua voz sai embargada de dor e sofrimento, Yelena é forte, mas
isso deve estar sendo muito difícil para ela. — Era como se eles quisessem
punir seus próprios seguidores ao me colocar no ringue com eles.
— Quanto tempo isso durou? — Dimitri pergunta.
— Não sei exatamente. Anos? Não era uma constância certa, algumas
vezes eu lutava e depois passavam meses até a próxima luta, outras eram
semanas, não tem como eu saber.
— E a quarta fase? — Serguei questiona e Yelena sorri, mas dessa vez
seu sorriso chega aos seus olhos e ela solta uma lágrima.
— Foi a única fase feliz naquele inferno, foi quando eu conheci Ingrid,
minha companheira de cela.
— Companheira? Eles colocaram outra pessoa junto com você? —
Dimitri é quem faz a pergunta e todos olham com atenção para Yelena.
— Foi somente por dois meses, meus últimos lá, foi ela quem me
ajudou a sair, ela me contou aonde eu estava e o caminho que precisava
fazer para chegar até a rodovia e a cidade mais próxima, foi ela que… Ela
sacrificou a própria vida para me tirar de lá. — Agora Yelena desanda a
chorar. — E foi isso, ela me ajudou a fugir, um guarda conseguiu me
imobilizar e deslocar meu ombro, mas Ingrid o matou com a faca que ele
guardava em seu corpo, só que antes de morrer o desgraçado atirou e
acertou nela, eu não tive tempo para nada, os alarmes soaram e só vi minha
amiga caída no chão, os olhos abertos e imóveis.
— Foi assim que você fugiu então? — Serguei pergunta.
— Sim, depois disso eu corri o mais rápido que consegui, até chegar na
mata densa que rodeava o acampamento, então, quando não ouvia mais os
alertas sonoros, encontrei a rodovia, corri até a cidade mais próxima, roubei
uma casa e um carro e dirigi até New York, eu estava sendo mantida em
Montana, o restante da história vocês já sabem — ela finaliza, respirando
fundo para se acalmar. — E essas foram as quatro fases do meu inferno
pessoal, podem começar os aplausos — Yelena brinca, mas dessa vez ela
não sorri.
Dimitri se adianta e a abraça com carinho, cuidando para não machucá-
la, só então Yelena volta a chorar nos braços do pai, que a conforta e aperta
um botão, então o vidro na nossa frente fica escuro e não conseguimos mais
ver ou ouvir o que acontece lá dentro.
CAPÍTULO 11

Yelena
 
Eu contei tudo o que eles podiam saber por enquanto e foi como
reviver aquele inferno mais uma vez.
É claro que não falei sobre todas as vezes em que chorei sozinha
naquelas celas escuras e úmidas, ou como fiquei meses sem poder tomar um
banho decente, também não contei sobre os ataques de pânico e todas os
momentos que pensei em acabar com todo aquele inferno.
Eu chorei por cada vida inocente que tirei, lamentei cada pessoa que
precisou morrer para eu continuar viva, mas nem assim consegui acabar
com tudo, mesmo sabendo que mais e mais pessoas morreriam por minha
causa, eu continuei lutando para voltar para a minha família.
Depois do interrogatório terminar, meus pais me abraçaram e
acolheram enquanto eu chorava pela morte de Ingrid, minha única amiga
naquele lugar.
Ela foi sequestrada, assim como eu, ela era a filha de um senador dos
Estados Unidos e seria forçada a se casar com um mestre dessa seita.
Ingrid não sabia mais do que isso, ela foi colocada em uma cela ao lado
da minha e, todos os dias, eles a levavam para algum lugar, quando voltava,
estava sempre limpa e alimentada.
Ela não era tratada como eu, mas era mantida presa da mesma maneira,
foi em uma dessas saídas que ela conseguiu roubar um aparelho celular,
então me entregou, mas não tinha internet nem como fazer ligações, por
isso só consegui ativar a nossa localização e descobrir aonde estávamos,
mas eu não conhecia a região, por isso Ingrid me mostrou o melhor
caminho para sair dali.
Depois disso nós formulamos um plano, quando eles vieram busca-la
uma noite, para uma tal de cerimônia de purificação, eu entreguei uma
pedra para ela e Ingrid conseguiu acertar a cabeça do homem que tentava
levá-la, então ela pegou as chaves, destrancou minha cela e saímos de lá.
Como todos estavam nesse evento, a segurança era mínima e nossa cela
era bem separada do restante das construções, mas ainda havia um guarda,
um maldito desgraçado que tentou nos parar.
Eu juro que fiz de tudo para matá-lo o mais rápido possível, mas ele era
grande e conseguiu deslocar meu ombro e, antes que eu pudesse desarmá-
lo, ele atirou e… bem, o resto é história.
Durante o interrogatório, teve um momento bem especifico em que
meus pais trocaram um olhar curioso, como se soubessem de algo que não
queriam me contar.
Eu sempre achei que a Bratva não mantinha segredos dos herdeiros,
que sabíamos tudo sobre a organização e nossos inimigos, mas agora
começo a desconfiar que tem muito mais sobre essa história, e que meus
pais sabem e estão escondendo isso de mim.
Tudo bem, se eles preferem me deixar no escuro, eu vou encontrar as
respostas sozinha, nem que para isso precise reaprender a invadir o
computador do meu pai.
Droga, só de pensar nisso já fico ansiosa novamente, tudo o que eu
sabia agora é passado, as tecnologias evoluem e meu conhecimento ficou
estagnado por cinco anos.
Terei que aprender como fazer as coisas do zero, preciso retornar o
quanto antes para as aulas e treinamentos, não posso ficar parada esperando
que tudo melhore em um passe de mágica.
Só de pensar nisso sinto meu peito apertar e meu coração acelerar,
preciso respirar fundo e tirar a minha mente de todas as dúvidas que
surgem.
Será que eu consigo?
Será que ainda serei aceita?
Como as pessoas vão receber uma mulher Pakhan agora?
Eu sumi por cinco anos, e se eles esqueceram que eu existo?
E se Bjorn foi posto no meu lugar?
Segundo as leis de sucessão, se a herdeira da Família Petrov morrer
sem assumir o cargo, a herança passa para a segunda família, que seriam os
Ivanov.
Tenho tantas dúvidas que eu ainda não tive coragem de perguntar,
afinal, eles sabem tudo o que aconteceu comigo, mas eu não sei nada do
que se passou enquanto estive fora.
— Pai, eu tenho algumas perguntas — digo assim que consigo me
acalmar e levantar a cabeça do peito de Dimitri.
— Imagino que tenha, querida, mas não está cansada demais? Podemos
conversar outro dia e…
— Não, eu preciso saber a verdade — declaro com firmeza, respirando
fundo antes de continuar. — Bjorn é o novo herdeiro?
— O quê? — Serguei é quem fala primeiro, vejo suas sobrancelhas
erguerem e ele abrir os olhos, sem acreditar no que perguntei.
— Não vou me importar se a resposta for sim, só preciso saber qual é o
meu lugar aqui, eu sei que cinco anos é tempo demais e… Bem, se vocês
acharam que eu estava morta, Bjorn seria o novo herdeiro, não seria?
— Filha, nós nunca desistimos de você, nunca — Dimitri aponta com
firmeza.
— Eu sei que não, mas a Bratva vem em primeiro lugar, sei que
decisões precisavam ser tomadas e a organização não pôde ficar sem um
herdeiro legítimo, você pode me contar, pai.
Meus pais trocam um olhar preocupado entre eles e é a única resposta
que eu preciso para a minha pergunta.
— Sim, depois de dois anos Bjorn foi declarado como herdeiro do
Pakhan, mas isso foi só até você retornar, nós precisávamos de alguém
como herdeiro para manter as leis da organização, mas Bjorn nunca quis
aceitar, porque para ele isso significava que estávamos desistindo de você
— Dimitri explica e minha mente se enche de imagens de Bjorn, meu
primeiro amor, o homem a quem me entreguei primeiro.
Depois lembro dele na noite que me visitou no hospital, tão diferente
de antes, claro que está mais velho, agora ele tem trinta e um anos de idade,
mas não foram só os anos que passaram, seus lindos olhos verdes já não
brilham mais como antes.
Ele estava triste, sua expressão era dura e firme, Bjorn sempre foi mais
contido, mas pareceu pior do que antes, sei que foram só alguns minutos
que conversamos, mas o Bjorn que apareceu no hospital já não é o mesmo
homem a quem eu me entreguei.
Bem, eu não sou a mesma mulher, se for pensar bem, eu não sei mais
quem ele é ou o que aconteceu em sua vida.
Pelo que sei ele pode estar casado, namorando, comprometido com
alguém, pode já ter filhos ou estar morando sozinho como ele sempre quis,
mas pensar nisso faz com que meu estômago revire, angustiado.
Ele pode ter seguido sua vida enquanto eu estou aqui, voltando para a
vida que foi arrancada de mim há cinco anos e tentando me manter inteira,
mesmo com o coração e a alma fragmentada.
— Mas agora que você voltou, tudo isso é passado, filha. Você é a
única herdeira do Pakhan, esse sempre foi seu lugar e sempre será —
Dimitri declara e ergo meu olhar para encontrar o seu.
Meu pai está triste e posso ler isso em seus olhos, porém o azul da cor
do céu me passa uma sensação de calma e tranquilidade, como há muito
tempo eu não sentia.
— Não sei se ainda sou merecedora de tal posição, pai — confesso e
engulo em seco. — Tudo o que eu sabia, tudo o que treinei e aprendi, parei
no tempo cinco anos atrás, eu não sei mais nada sobre o que aconteceu com
a nossa organização, as tecnologias mudaram, as informações, governos
foram trocados e eu não sei de nada.
— Tudo isso pode ser aprendido, minha filha, e se tem alguém que
consegue fazer isso em tempo recorde é você — Serguei diz com um
sorriso no rosto, então ele segura minha mão e acaricia meus dedos com os
seus. — Nós estaremos aqui para te ajudar nesse caminho, você nunca mais
ficará sozinha.
— Eu não quero ser mantida em outra prisão, pai — anuncio de uma
vez, sem conseguir me segurar. — Sei que agora vocês vão ficar ainda mais
preocupados com a minha proteção, mas eu não voltei para viver em
cativeiro novamente, eu quero ter uma vida, quero voltar a ser quem eu era
antes e…
— E fugir à noite para ver seus amigos? — Serguei questiona.
Droga, como ele sabe sobre isso?
Será que os meninos contaram alguma coisa?
Porra, será que eles falaram sobre a gente?
— Nós sabemos, filha, Adrian contou que te encobriu mais de uma vez
e eu encontrei seus rastros digitais pelo meu sistema de monitoramento —
Dimitri fala e respiro aliviada, pelo menos foi o Adrian. — Seus amigos
tentaram acobertar você, mas no fim confessaram que era algo que você
fazia com certa frequência.
— Eu não tinha escolha, tinha? Vocês nunca me deixavam sair à noite e
os meninos não tinham tempo livre para nada, eu precisava vê-los de
alguma forma — declaro com a cabeça erguida, sem me arrepender do que
fiz.
— A rainha dos disfarces — Serguei fala e eu olho para ele sem
entender. — É como você ficou conhecida aqui depois que as pessoas
descobriram sobre seus feitos.
— Como assim, eu fiquei conhecida? — pergunto, sempre fui
conhecida como a herdeira dentro da Bratva, a primeira mulher a chegar em
tal posição.
— Ninguém nunca te esqueceu, filha, você é uma lenda dentro da
organização e, agora que voltou, será recebida com louvores — Dimitri
anuncia, pegando-me de surpresa.
— Ninguém vai desconfiar de mim ou achar que sou uma traidora?
— Você é? — Dimitri pergunta.
— É claro que não.
— Então ninguém irá pensar isso, e quem abrir a boca para falar algo
terá a língua extraída no mesmo momento, isso aqui não é uma democracia,
a Bratva não aceita ser contestada por ninguém, eu sou a porra do Pakhan e
minha palavra é a final.
Ver meu pai tão seguro assim me passa mais tranquilidade e posso
sentir meu coração voltar a bater normalmente.
— E Vania e Larissa? Eu ainda não as vi desde que voltei — pergunto.
— Infelizmente, Vania faleceu em uma missão três anos atrás —
Dimitri anuncia e meu peito dói com a notícia. — Larissa está infiltrada no
Canadá, ela não deve retornar pelos próximos cinco anos.
Não sei o que falar, por isso fico calada, sinto falta das minhas amigas e
saber que perdi uma delas me deixa ainda mais triste, tudo mudou e a dor
do luto começa a martelar na minha mente.
É difícil, ainda tenho tantas perguntas, mas acho que por hoje eles já
responderam a principal.
— Posso voltar para casa, então? — pergunto.
— Antes disso, Adrian gostaria de falar com você, ele tem alguém para
te apresentar — Serguei fala, então ele se levanta e abre a porta lateral para
Adrian entrar.
Só que meu irmão não está sozinho, ele carrega nos braços uma
criança, ela deve ter no máximo dois anos de idade e está agarrada no
pescoço do meu irmão.
Quando ela se vira em nossa direção, vejo que é uma menina muito
fofa, com o cabelo loiro e grandes olhos azuis, iguais aos de Adrian, iguais
aos meus.
Então tudo faz sentido.
— Você tem uma filha — concluo espantada.
— Sim, essa é Mayra. Querida, conheça sua madrinha, Yelena Petrova.
— Adrian vem até mim e eu me levanto, pegando a pequena mão da
menina.
— Oi, pequena, eu sou…sua madrinha? — as palavras saem mais
como uma pergunta.
— Desculpa não perguntar primeiro, mas você não estava aqui e eu não
aceitaria ninguém diferente para ser a madrinha da minha filha — Adrian
brinca e eu rio, finalmente alguém que não está pisando em ovos ao meu
redor.
— Obrigada — agradeço meu irmão, então dúvidas surgem em minha
mente e eu o encaro com as sobrancelhas erguidas. — Como você é pai? O
que aconteceu com a Andreza?
— A esterilização não foi definitiva, aparentemente a laqueadura se
desfez e ela acabou engravidando — Adrian responde, então vejo a tristeza
em seu olhar quando ele volta a encarar a filha. — Andreza morreu no parto
— ele anuncia e engulo em seco.
Droga, muita coisa aconteceu, imagino a dor do meu irmão por perder
a mulher que amava dessa forma e ainda ter que criar uma filha sozinho.
— Meus sentimentos, irmão. — Eu acaricio seu braço e olho para ele.
— Obrigado, mas já faz dois anos e eu tenho esse anjo para me manter
de pé, agora tenho você de volta e espero que, como madrinha, vá me
ajudar a cuidar dessa menina aqui, porque vou te contar, irmã, ninguém fala
o quão difícil é criar uma criança — ele comenta e eu rio da sua fala, então
meu irmão sorri também e começa a me contar tudo sobre sua filha.
Ele me mostra fotos de Mayra, desde o dia que nasceu até agora, ele
capturou todos os momentos mais marcantes da filha só para poder me
mostrar, também percebo que meu irmão é um puta pai babão e que meus
pais são avôs tão babões quanto.
Durante nossa conversa, Mayra passa de um colo para o outro até que
exige ir para o chão e começa a caminhar segurando a mão do meu pai
Dimitri.
Eu nunca pensei que veria meu pai, o grande Pakhan da Bratva,
sentado no chão, brincando de carrinho com a sua neta, essa visão faz meu
peito explodir de amor e carinho pela minha família.
Muito mais do que isso, fico orgulhosa e feliz por saber que eles não
ficaram parados durante esses cinco anos, eles seguiram em frente com suas
vidas, mas nunca pararam de me procurar.
CAPÍTULO 12

Ruan
 
— Eu quero falar com ela — digo, caminhando em direção à porta
lateral, mas meu pai segura meu ombro antes que eu possa colocar a mão na
fechadura.
— Temos ordens do Pakhan para não intervir — ele avisa e me viro
para encarar a todos na sala, Danila parece tão preocupado quanto eu, já
Bjorn continua com a expressão vazia no rosto, como se não se importasse,
ele é bom em manter uma fachada.
— Quando ela estiver pronta irá recebê-los — Alexei Ivanov comenta,
mas não sinto segurança em suas palavras, além disso eu reparei que,
durante todo o interrogatório, ele estava tenso para caralho.
Na verdade, todos os nossos pais estavam...
— Que maldita seita é essa que ela estava falando? — questiono sem
conseguir me segurar. — Por que a Bratva não sabia sobre eles?
— Nós vamos descobrir — Sasha Kuznetsov, pai de Danila, é quem
responde, mas novamente vejo ele trocar um olhar misterioso com meu pai.
— Agora vamos, temos muito trabalho pela frente. — Alexei indica a
saída para nós, forçando-nos a nos retirar primeiro para garantir que não
vamos tentar invadir a sala ao lado. — Vocês podem tirar o dia de folga,
acredito que precisem desse tempo para absorver o que ouviram hoje,
afinal, sua amiga passou por muita coisa traumática, ela vai precisar do
apoio de vocês quando a hora chegar.
— Obrigado, pai — Bjorn agradece, então nossos pais vão para um
lado e nós para o outro, encontramos uma sala de reuniões vazia e
entramos, sigo direto para o bar no canto direito e me sirvo de uma dose
dupla de vodca.
— Traga uma para mim também — Danila pede e olho para ele para
confirmar, ele quase nunca bebe, muito menos comigo, acredito que os
eventos de hoje tenham mexido até com ele, ainda mais por não estar me
dando um sermão quanto à bebida.
— Achei que iria me xingar — digo quando entrego o copo para ele.
— Hoje não — ele responde e vira a dose de vodca na boca. — Que
merda toda foi aquela?
— Eu não sei como ela aguentou cinco anos naquele inferno —
respondo, tomando um gole da minha vodca enquanto imagens de Yelena
trancada em uma cela escura surgem na minha mente e meu coração aperta
no peito.
Tudo o que ela passou parece um filme de terror, eu sempre soube que
Yelena era forte, mas agora ela parece um ser de outro mundo por ter
suportado tudo aquilo.
— Não me admira que ela esteja se fechando nesse momento — Danila
comenta, respirando fundo em seguida. — Vocês já ouviram falar de
alguma seita assim antes?
— Nenhuma que tenha passado despercebida pelos olhos da Bratva, e
muito menos que consiga se esconder assim de Dimitri Petrov, por cinco
anos — Bjorn responde, olhando para nós dois —, mas o interrogatório me
mostrou algo curioso.
— Curioso? Você achou aquilo curioso? — questiono sem acreditar em
suas palavras.
— Não o que Yelena contou, mas a reação dos nossos pais — ele
responde de forma séria. — Meu pai passou o tempo todo tenso, várias
vezes vi como ele arregalava os olhos quando Yelena citava algo sobre a
seita, também teve trocas de olhares suspeitos entre os outros pais.
— Eles sabem de alguma coisa — declaro, entendendo aonde ele quer
chegar.
— Sim, e por algum motivo que eu não posso imaginar qual seja, eles
não querem nos contar — Bjorn complementa.
— Porra, eles acham que somos o quê? Crianças assustadas? Temos
mais de trinta anos na cara, a Bratva não deveria manter segredos dos seus
herdeiros — digo com raiva. — Como eles esperam que possamos ajudar se
não temos todos os fatos?
Eu odeio segredos, odiei ter que manter nosso relacionamento
escondido quando Yelena estava aqui e não suporto manter o que sinto
pelos meus amigos só para mim.
— Aparentemente nem tudo está ao nosso alcance — Danila
pronuncia, levantando-se para pegar água no frigobar —, mas por que eles
manteriam algo assim escondido de nós?
— Eu não sei, só sei que deve ser algo muito importante, talvez
envolva nossa segurança, sabe como nossos pais são protetores, ainda mais
depois que eles capturaram Yelena, a porra da filha do Pakhan — respondo.
Depois que Yelena foi sequestrada, nossos pais aumentaram
drasticamente todas as medidas de segurança para as nossas famílias,
especialmente para os herdeiros, segundo eles: nós precisamos ser
protegidos para que a Bratva tenha continuidade.
Quem mais sofreu com isso foi Bjorn, ele já tinha mais seguranças e
era mantido quase em uma prisão dourada, mas depois os protocolos
mudaram e sua situação piorou, agora ele só pode sair de casa para vir até a
Central.
Danila e eu temos medidas de segurança parecidas, mas ainda
conseguimos escapar quando estamos dentro da Central e ficamos mais
livres aqui, já Bjorn tem uma escolta até mesmo quando está aqui dentro.
Tenho certeza que eles estão esperando por ele no final do corredor
nesse exato momento.
— Nós precisamos descobrir mais sobre isso, e não vai ser perguntando
para eles, já sabemos que não vão falar nada mesmo — Bjorn anuncia,
entrelaçando os dedos em frente ao corpo para depois estalá-los.
— E o que você propõe? — questiono.
— Ainda não sei, mas um bom começo seria revirar os arquivos
pessoais dos nossos pais, aqueles que não estão no sistema, mas talvez
dentro de algum cofre escondido. Eu já encontrei um desses na sala do meu
pai, mas não sei qual é a chave de acesso — Bjorn declara, pegando-me de
surpresa.
— Nós temos um desses em casa, é menor que o cofre principal e meu
pai nunca realmente me mostrou, eu encontrei quando era criança e estava
me escondendo dele — digo, me lembrando da tela que pedia uma senha de
oito dígitos.
— Eu vou procurar algo assim na minha casa e no escritório do meu
pai, talvez lá dentro nós encontraremos algumas respostas — Danila avisa,
então ele se escorra na mesa ao meu lado e passa uma mão pela minha
cintura. — Você está bem?
— Claro que não, porra, você ouviu o que ela falou, eu não consigo
pensar que nossa mulher passou por tudo aquilo sozinha e, de alguma
forma, voltou para nós — respondo e respiro fundo para me controlar e não
gritar com ele. — Não, eu não tô bem.
— Ninguém está — é Bjorn quem declara, levantando-se e
contornando a mesa, indo até a grande janela de vidro com vista para a
praça central, aonde um grupo de soldados está em treinamento —, mas
precisamos nos manter fortes por ela, mesmo que Yelena ainda não queira
nos ver, uma hora ela vai mudar de ideia e estaremos aqui para a acolher.
— Quando isso vai acontecer? Eu não aguento mais saber que ela está
aqui e que não posso tê-la em meus braços, eu só queria entrar naquela
porra daquela sala e abraçá-la enquanto ela chorava — digo e tomo o
restante da minha vodca.
— Eu não sei, quando ela estiver pronta, precisamos dar esse tempo
para ela, mas enquanto isso, você precisa se controlar, Ruan — Bjorn avisa
e se vira para me encarar. — Yelena não ficará feliz em saber que seu vício
piorou enquanto ela estava fora.
— Cala a boca, você não vai me dar sermão agora, tá legal? Eu sei a
porra que estou fazendo — jogo as palavras contra ele e dessa vez não me
dou ao trabalho de controlar meu tom de voz, não consigo. — Você se acha
tão bom por conseguir manter essa pose de herdeiro perfeito, essa fachada
fria e centrada, mas eu sei que por dentro está tão quebrado quanto nós, só é
melhor em não demonstrar.
— É claro que estou quebrado, mas preciso me controlar e descobrir o
que diabos está acontecendo, me perder na raiva ou na bebida não ajudaria
em nada, só atrapalharia — Bjorn declara com a voz calma e controlada.
Isso me deixa ainda mais irritado e caminho em sua direção, ficando
frente a frente com meu amigo, sinto a presença de Danila logo atrás de
mim, mas ele não me toca e nem tenta me parar.
— Não venha com essa pra cima de mim, eu sei o que tenho que fazer
e vou cumprir com o meu papel, mas não se ache superior a nós, Bjorn,
somos todos iguais aqui, eu posso demonstrar meus sentimentos de uma
forma, diferente de você, e talvez seja isso que te aborreça, por não
conseguir ser tão aberto com os seus — expresso com calma, pronunciando
cada palavra com certeza absoluta do que estou falando.
— Você não sabe nada sobre os meus sentimentos — Bjorn contrapõe.
— Errado, eu sei mais do que você imagina — declaro e vejo seus
olhos arregalarem por um milésimo de segundo, suas pupilas se expandem
assim que eu me aproximo mais dele, estamos a centímetros um do outro,
posso sentir sua respiração no meu rosto, o cheiro do seu perfume
amadeirado, a forma com que ele começa a ficar vermelho e como seu peito
sobe e desce mais rápido do que antes.
Bjorn reage a mim assim como a porra do meu corpo reage a ele, só
que eu sou sincero o bastante para admitir o que sinto, já ele se esconde
atrás das suas máscaras e guarda todo e qualquer sentimento no fundo de
uma caixa preta, inacessível até mesmo para ele.
Com isso, eu me afasto e saio da sala, quando Danila vai me seguir eu
o paro.
— Preciso de um tempo sozinho — falo, olhando no fundo dos seus
olhos, tão pretos quanto o céu à noite.
— Tudo bem — ele responde. — Se precisar de mim é só me chamar.
— Obrigado — agradeço.
Eu não pretendo chamá-lo, não hoje, porque o que vou fazer não será
bonito e não quero que justamente ele veja o quão arrasado eu estou.
De alguma forma eu consegui me manter mais ou menos calmo durante
todo o interrogatório, mas agora preciso extravasar.
Preciso de algo que me mantenha no controle, que me faça esquecer
tudo o que ouvi hoje, nem que seja por algumas horas.
Foda-se o amanhã, nesse momento já não consigo mais suportar as
imagens que surgem em minha mente.
Chego em casa e vou direto para o meu quarto, por sorte não encontro
minha mãe ou meus irmãos aqui, preciso ficar sozinho.
Entro e tranco a porta, sentindo o alívio familiar por estar no meu
ambiente, no meu lugar seguro.
Então vou até o bar e me sirvo de uma dose dupla de vodca, virando o
copo de uma vez só na boca, sinto o arder do álcool passando pela minha
garganta e chegando no estômago vazio.
Droga, eu não como nada desde o café da manhã.
Foda-se, assim fica mais fácil mesmo.
A cada dose de vodca que tomo, as imagens vão desaparecendo da
minha mente.
Yelena presa em uma cela, suja e sem ter o que comer, passando dias
sem poder falar com alguém...
Ela ama conversar, sempre foi extrovertida, aquilo deve ter sido um
maldito inferno para ela.
Então tomo mais uma dose e essas imagens vão se dissipando, sendo
substituídas por ela sendo torturada, eu vi as fotos das cicatrizes pelo seu
corpo, entre queimaduras e cortes mal cicatrizados, sua pele, antes tão linda
e imaculada, agora estará marcada para sempre.
Sento no chão do meu quarto, sem me dar ao trabalho de ir até uma
poltrona e pego a garrafa de vodca, virando uma dose direto na boca.
Foda-se os copos.
Foda-se o mundo todo, eu só quero esquecer.
Lembranças dos nossos treinamentos no ringue de luta quando éramos
jovens voltam a minha mente, Yelena feliz por me acertar um golpe, ela
sorrindo quando finalmente ganhava uma luta, eu nunca a deixei vencer de
propósito, mas sempre gostei quando ela conseguia.
Com isso, posso imaginar a sua tristeza por ter que tirar tantas vidas em
batalhas desiguais, ela sempre gostou de treinar com pessoas mais fortes do
que ela, soldados e espiãs do nível mais alto possível, Yelena nunca se
importou em perder, ela gostava do desafio.
E qual pode ser o desafio quando se luta contra alguém mais fraco do
que você?
É covardia e, por isso, imagino sua dor ao ter que tirar essas vidas para
poder sobreviver.
Mais alguns goles de vodca e consigo esquecer essa parte também.
Depois de meia garrafa, a única imagem que tenho em minha mente é a
da minha mulher, sorrindo para mim como ela fazia antes, me chamando de
‘paixão’.
Como sinto falta dela, dos seus abraços, dos seus beijos, da forma
carinhosa com que ela me olhava.
— Sinto sua falta, meu amuleto…
CAPÍTULO 13

Bjorn
 
Sempre achei aquele cofre estranho, um dos motivos é que está
escondido atrás de uma prateleira com livros na sala do meu pai, outro é
porque meu pai nunca falou sobre ele comigo.
Tenho trinta e um anos de idade, minha fase de treinamento já acabou,
agora lido com os negócios da nossa família lado a lado com Alexei, até
esse momento achei que não tínhamos segredos, somente os assuntos da
Bratva são feitos em segredo e, quando ele volta das reuniões, me coloca a
par do que eu posso saber.
Os membros do Conselho e o Pakhan precisam tomar decisões
importantes todos os dias, esse processo é cuidadoso e as reuniões são
longas e exaustivas, os herdeiros participam de algumas, mas não de todas.
Nós estamos em constante aprendizado e tudo, absolutamente tudo, é
uma lição para quando assumirmos o lugar dos nossos pais.
Durante a semana, Danila, Ruan e eu fomos todos os dias para o
hospital e pedimos para falar com Yelena, mas ela recusou todas as vezes.
Enquanto isso eu esperei por um momento sozinho no escritório do
meu pai para tentar abrir o cofre, como são oito dígitos imagino que seja
alguma data, mas meu aniversário ou o da minha mãe seria algo muito
óbvio.
— Estou indo para a reunião com o Conselho, enquanto isso quero que
revise esses relatórios da filial no Brasil, alguns números me pareceram
estranhos. — Meu pai me entrega o tablet e aponta para os documentos.
— Tudo bem, pai, boa reunião — digo e sento em sua cadeira do outro
lado da mesa.
— Essa cadeira ainda é minha — meu pai pontua e aponta para o lugar
em que sentei.
— Eu sei, mas se vou passar horas aqui sentado e lendo, bom, a sua
cadeira é bem mais confortável do que as outras — respondo e ele sorri,
concordando com a cabeça.
— Não se acostume, pretendo demorar um bom tempo para deixar esse
lugar para você — ele avisa.
— Quem disse que eu quero essa responsabilidade toda agora? Pode
ficar para você — brinco e então ele solta uma risada alta.
— Nos vemos depois, talvez possamos almoçar juntos no restaurante
italiano que eu adoro no centro da cidade, o que acha? — ele sugere, faz
muito tempo que não saímos para almoçar, por isso aceito, então meu pai
sai da sala e me deixa sozinho.
Os escritórios não tem câmeras de monitoramento, tudo o que acontece
aqui fica em sigilo absoluto, por isso espero alguns minutos, para garantir
que ele não vai voltar porque esqueceu algo, só então tranco a porta e vou
até o armário de livros.
Empurro o móvel para o lado e encontro o cofre logo atrás, é pequeno,
talvez uns quarenta centímetros de largura por vinte e cinco de altura,
definitivamente não serve para guardar muita coisa.
Na frente tem um painel com teclado digital e no visor vejo os oito
espaços vazios.
Minha primeira tentativa confirma que ele não usaria meu aniversário
como senha, então vejo uma luz vermelha acender embaixo do painel, logo
ao lado tem mais duas apagadas.
Droga, tenho só mais duas chances.
Então tento o dia do casamento dos meus pais, o que faz com que a
próxima luz vermelha acenda, confirmando meu erro.
Bem, é agora ou nunca, talvez não seja uma data específica, mas uma
combinação de datas, então coloco o dia do nascimento da Anna, irmã mais
nova do meu pai, depois o da minha mãe, depois o dia que eles casaram e,
por último, o dia em que nasci, fechando os oito dígitos.
Assim que termino de digitar seguro a respiração e aperto confirmar.
O que acontecerá se for o código errado? Será que alarmes irão soar,
ou meu pai vai receber uma notificação?
Droga, não pensei nisso antes, e se ele receber algum aviso de que o
cofre foi aberto?
Eu estou fodido se isso acontecer...
Agora não adianta mais e, por sorte, a última luz fica verde e escuto as
engrenagens internas do cofre trabalharem, logo depois a porta se abre,
revelando o conteúdo escondido.
São vários papéis e cadernos, que mais parecem antigos diários, pego
todos com cuidado, tiro uma foto para lembrar da ordem exata em que eles
estavam, então levo todos para cima da mesa e começo a ler o conteúdo.
São tantas informações soltas que não fazem sentido algum, detalhes
de equipes de segurança, plantas baixas de casas, lista de nomes, alguns
riscados e outros circulados, mas nada se conecta.
Então abro o primeiro caderno e começo a ler, logo percebo que é a
história da vida do meu pai, folheando o primeiro caderno percebo que é a
parte que ele era criança, suas memórias e lembranças daquela época.
É como um diário, mas não foi escrito por uma criança, parece que ele
o fez quando adulto já, narrando fatos importantes da sua história.
Por que ele precisaria fazer algo assim?
O segundo caderno começa depois da sua iniciação como soldado da
Bratva e acompanha seus anos de treinamento com Vincent e Charles até a
fase adulta.
Depois tem um caderno todo para o período em que meu avô estava
ensinando sobre os negócios da nossa família, meu pai quase nunca fala
sobre meu avô, só sei que ele foi executado por Andrei Petrov por tentar
assassinar Dimitri Petrov, isso aconteceu antes de eu nascer.
Então pego o próximo caderno, que já começa com a história de como
minha tia Anna fugiu para os Estados Unidos e o que aconteceu com ela
quando ela estava lá.
Tudo chama a minha atenção porque essas histórias parecem diferentes
das que eu ouvi, especialmente o que eles falam sobre meu avô, como ele
era um monstro e fez da vida dos dois filhos um inferno.
Assim que chego no último caderno, vejo a hora e percebo que são
quase doze horas, meu pai já deve estar voltando, por isso organizo tudo
como estava e coloco de volta no cofre, mas de última hora pego o último
caderno e guardo dentro da minha pasta junto de outros documentos.
Quando coloco a estante de volta no lugar e destranco a porta se
passam poucos minutos antes que eu escute a maçaneta girar, então meu pai
entra na sala com tio Charles e tio Vincent em seu encalço.
Eles estão conversando e rindo de alguma coisa quando entram, então
levanto da cadeira e deixo meu pai sentar em seu lugar.
— Conseguiu terminar com os relatórios? — ele pergunta.
— Não, tive que resolver umas coisas antes, mas vou continuar à tarde,
se estiver tudo bem para você?
— Claro, eu posso fazer a reunião com os chineses sozinho — meu pai
responde, então guarda sua pasta na gaveta e volta a levantar. — Vamos
almoçar? Convidei Vincent e Charles também.
— Vamos, estou morrendo de fome — respondo, eu já sabia que
Charles e Vincent iriam junto, quando saímos de casa ou da Central, eles
são os chefes da nossa segurança e são os responsáveis pelas duas equipes
que acompanham a mim e meu pai.
O almoço é normal, meu pai fala comigo sobre alguns negócios, hoje
ele terá uma reunião importante com as empresas chinesas que são as
responsáveis pela produção da maior parte das peças usadas em aparelhos
eletrônicos.
Depois os membros do Conselho irão se reunir, provavelmente para
discutir as informações do interrogatório de Yelena e saber se tem alguma
novidade.
Claro que não fui convidado para esse encontro, por isso mando uma
mensagem para Danila e Ruan e marco de nos encontrarmos.
A tarde passa se arrastando enquanto finjo ler os relatórios, mas minha
cabeça não está presente, não consigo me concentrar nos números e
informações quando estou com o caderno guardado em minha pasta.
É muito suspeito que meu pai tenha diários e que, pelo que eu li, não
sei de uma boa parte da sua história.
Eu sei que meus pais casaram sem se conhecerem porque minha mãe
foi inseminada artificialmente com o esperma do meu pai, foi um engano da
clínica de fertilização.
Sei também que quando eu estava prestes a nascer, minha mãe foi
sequestrada e, quando meu pai conseguiu salvá-la, eu já havia nascido.
Não tenho contato com a família da minha mãe, ela conta que seu pai
morreu logo depois que eu nasci, ela tinha dois irmãos, mas eles também
morreram.
Eu me lembro vagamente de um deles, mas são memórias vagas porque
minha mãe disse que eu era muito pequeno quando ele morreu.
Depois disso nossa vida foi tranquila, meu pai aumentou a segurança
por causa do sequestro e somos tão protegidos quanto o Pakhan.
É isso que eu sei sobre minha história, mas aparentemente faltam
muitas lacunas a serem preenchidas.
— Bjorn — meu pai chama minha atenção, só então percebo que
estava perdido em pensamentos e deixei o tablet em cima da mesa. — O
que está acontecendo? Você parece estranho hoje.
— Só estou cansado e preocupado com Yelena, você se importa se eu
for até o hospital novamente? Quem sabe hoje ela aceite falar comigo.
— Tudo bem, mas não force sua entrada, se ela não estiver pronta,
respeite sua decisão — ele aconselha com a voz paternal.
Eu duvido que, se fosse a minha mãe, ele simplesmente esperaria ela
estar pronta, ele já teria invadido aquele hospital e forçado sua entrada para
fazê-la cair na real.
Então reúno minhas coisas e pego a pasta com documentos, saindo da
sala do meu pai.
Não demora e já sinto a presença dos meus quatro seguranças atrás de
mim, caminho tranquilo até o hospital e, quando chego lá, vejo Danila e
Ruan me esperando.
— Vocês podem esperar aqui fora, não devo demorar muito — digo
para Carlos.
— Temos ordens para acompanhá-lo, senhor — ele responde de forma
séria.
— É a porra de um hospital, não preciso de seguranças lá dentro —
declaro e saio do carro, eles não me seguem enquanto entro com Danila e
Ruan ao meu lado.
Caminhamos pelos corredores até que encontro um quarto vazio, então
abro a porta e faço sinal para eles entrarem.
— Não temos muito tempo — aviso.
— Ela não vai querer nos ver — Ruan fala e senta na cadeira de
acompanhante, enquanto Danila se escora na parede ao seu lado. — Acho
que está na hora de invadirmos aquela merda de quarto e fazermos ela nos
escutar a força, estou cansado de esperar.
— Não chamei vocês aqui para isso, não hoje — declaro e pego minha
pasta, abro e tiro o caderno do meu pai.
Entrego para Danila, que começa a folhear as páginas da mesma forma
que eu fiz com os outros cadernos.
— Que merda é essa? Um diário? — ele pergunta.
— É o que parece — respondo e fico ao seu lado para ler as
informações junto com ele, Ruan logo levanta e nos acompanha. —
Encontrei no cofre do meu pai.
— Seu pai guarda diários da sua vida? — Ruan questiona, erguendo as
sobrancelhas.
— Parece mais um livro do que um diário — é Danila quem responde,
parando em uma página específica para ler. — Olha essa aqui, é o
casamento dele com a sua mãe, Bjorn.
Leio a história contada pelo ponto de vista do meu pai e não consigo
acreditar em tudo o que está escrito, eu sempre soube que eles se casaram
por obrigação, mas aqui ele fala que foi meu avô quem obrigou minha mãe
a ser inseminada, só para que meu pai tivesse um filho, por isso eles
casaram, para que eu fosse um herdeiro legítimo.
— Que porra é essa? — esbravejo a cada linha que leio, nada disso
bate com o que eles me contaram, não faz sentido. Então pego o caderno e
avanço algumas páginas, até encontrar o que eu estou procurando. — O
sequestro... não foi nada aleatório — digo quando paro de ler no momento
em que nasci. — Minha mãe foi capturada para que eles pudessem me
roubar.
— Eles queriam você? — Ruan pergunta e concordo com a cabeça.
— Olha, eles mencionam uma tal de Ordem dos Mestres — Danila
aponta para um parágrafo aonde essas palavras estão circuladas. — Porra,
pelo que está descrito aqui, essa tal de Ordem é como um culto e eles tem
adoração a um mestre, que nesse caso era seu avô paterno.
— Eu não posso acreditar nisso — declaro atordoado com tanta
informação nova. — Como eles puderam manter isso tudo em segredo?
— Bjorn, e se essa tal de Ordem for a mesma que capturou Yelena? Ela
mesma disse que eles pareciam um culto e que os líderes eram chamados de
mestres — Ruan conclui o que nós três estamos pensando e, nesse
momento, meu sangue congela.
Se eles tentaram capturar minha mãe para me roubar quando eu ainda
nem havia nascido, será que eles estavam tentando fazer o mesmo agora,
mas erraram o alvo?
Será que era para ter sido eu no lugar de Yelena?
Se for pensar bem, isso é totalmente possível, nós pegamos a mesma
estrada para ir de carro até a Central, eles sabiam que ela só era transportada
de helicóptero, já eu e os outros herdeiros sempre vamos de carro.
Quem sabe o helicóptero ter dado problema naquele dia foi uma
coincidência, eles poderiam estar me esperando e acabaram errando o
comboio, afinal, eu me atrasei naquele dia, lembro de ter tomado um banho
mais longo do que o normal e acabei perdendo quase meia hora, tanto que
fui o primeiro a chegar no local do acidente e encontrar os escombros dos
dois carros e caminhões, vários soldados morreram e outros estavam
feridos, mas Yelena já não estava mais lá.
Porra, será que eu sou o motivo pelo qual Yelena passou por todo
aquele inferno?
— Nós precisamos falar com ela, não podemos esperar mais — declaro
e eles concordam, então pego o caderno e coloco de volta na minha pasta.
— Vou pegar os outros documentos amanhã e fazer cópia deles, assim que
eu tiver tudo mando para vocês.
— Combinado — Danila fala, então ele se vira para Ruan. — Você
conseguiu algo na sua casa?
— Não, o cofre só tinha as joias da família, acho que nunca me
importei com elas, por isso não sabia — Ruan responde.
— E você? — pergunto para Danila.
— Não encontrei nenhum esconderijo ou cofre, fora os que já conheço
dentro da minha casa ou no escritório do meu pai — ele responde e inclina
levemente a cabeça para o lado, me encarando como se pudesse ler meus
pensamentos, mas seja lá o que ele está pensando, Danila guarda para si.
— Assim que tivermos todas as informações a gente dá um jeito de
entrar no quarto dela. Yelena vai ficar mais três dias internada, temos que
aproveitar esse tempo, porque depois ela vai para casa e lá será impossível
falar com ela sem que ela aceite nos receber — aviso e eles concordam com
a cabeça.
— Não entendo porque ela está fazendo isso, quando você foi lá, ela
disse algo? — Ruan pergunta.
— Disse que não é mais a mesma — respondo.
— Não faz sentido — Ruan reclama, passando as mãos pelos cabelos
castanhos, seus olhos encontram os meus e eu entendo sua frustração,
também estou me sentindo assim e gostaria de poder aliviar sua dor, mas é
Danila quem o conforta colocando uma mão em seu ombro.
— Nós vamos falar com ela e fazê-la nos ouvir, nem que seja a força
— Danila declara e eu concordo com a cabeça.
— De qualquer forma, precisamos contar a ela o que descobrimos,
Yelena pode ter segurado informações no interrogatório — digo e eles me
olham confusos. — Sabe como ela é, aquilo tudo foi rápido demais, faltou
algo.
— Eu também percebi, mas talvez eles estejam tentando dar espaço a
ela e queiram descobrir as coisas aos poucos, Dimitri deve estar mais
preocupado com sua saúde — Danila articula.
— Seja o que for, Yelena pode ter seus motivos para segurar
informações, talvez ela queira descobrir sozinha quem eles são, vocês a
conhecem tão bem quanto eu e sabem que ela não vai deixar essa história
para trás, nossa mulher vai procurar vingança — Ruan justifica e nós
concordamos com ele.
Yelena jamais ficaria sentada e simplesmente seguiria com sua vida, ela
tem outros planos.
— Seja lá o que ela esteja tramando, nós precisamos estar ao seu lado
quando a hora chegar — declaro com a voz firme e a certeza de que eu não
vou deixá-la sozinha nunca mais.
CAPÍTULO 14

Danila
 
Bjorn conseguiu abrir o cofre novamente e fazer a cópia dos
documentos e cadernos que estavam lá, a cada linha que líamos sobre o
passado da sua família ele parecia mais descrente em relação ao que estava
em sua frente.
Por toda sua vida seus pais mentiram para ele, esconderam informações
importantes sobre o seu passado e o que realmente aconteceu com sua
família.
Não consigo nem imaginar o baque que isso está sendo para Bjorn,
descobrir tudo a essa altura do campeonato, ainda mais sabendo que Yelena
foi capturada pelas mesmas pessoas que estão atrás dele.
Talvez seja por isso que eles não tentaram contatar a Bratva em cinco
anos, pegaram a pessoa errada, quem sabe eles a torturaram para conseguir
informações sobre a família Ivanov.
Nada disso é culpa dele, é obvio, mas é por saber que ele chegará a
essas mesmas conclusões que estou indo direto para a sua casa depois de ter
treinado com meu professor de jiu-jitsu.
Sinto falta de lutar com ela, de fazê-la se esquivar dos meus golpes, de
força-la a ser melhor a cada dia, Yelena e eu tínhamos uma conexão, só
espero que ela ainda exista do lado dela, porque para mim nada mudou.
Chego na casa de Bjorn e sou recebido por Charles, seu chefe de
segurança.
— Kuznetsov, não estávamos esperando sua visita — ele fala, abrindo
a porta do carro para mim, sei que é só uma medida de segurança, por isso
abro um sorriso tranquilo e saio do carro.
— Só vim falar com Bjorn, temos alguns assuntos a resolver
pessoalmente — aviso, já caminhando para a entrada, então vejo Bjorn
aparecer na porta, o olhar preocupado encontra o meu, mas ele logo
disfarça. — Aí está você.
— Danila, pode entrar. — Bjorn faz sinal para eu passar por ele. —
Obrigada, Charles, qualquer coisa estaremos na biblioteca.
Então seguimos pelo hall de entrada até o espaço imenso, eu já estive
aqui várias vezes, mas sempre me surpreendo com a quantidade de livros
que os Ivanov possuem.
Na era da tecnologia todos leem livros digitais, mas a mãe de Bjorn
ainda gosta de ter as versões físicas.
— O que aconteceu? — Bjorn questiona.
— Só vim ver como você está — respondo, me virando para encará-lo,
eu posso ver por trás da sua máscara, sei que ele está travando uma batalha
interna. — E não adianta falar que está bem, eu sei o que se passa nessa
cabecinha.
— Se sabe, por que não me fala?
— Você está aí, se martirizando porque acha que foi sua culpa Yelena
ter sido capturada, não está?
Ele me encara por um momento, sua boca entreaberta, mas logo desvia
o olhar e o vejo travar a mandíbula, sei que está tentando se controlar e se
recompor.
Bjorn sempre foi mais quieto, retraído, ele não é de falar muito sobre
seus sentimentos, mas depois que Yelena foi capturada isso se intensificou
de uma forma absurda.
— Fala comigo, Bjorn — exijo e me aproximo mais dele, coloco uma
mão em seu ombro e o faço se virar para me encarar. — Eu estou aqui por
você, sabe disso, não sabe?
Bjorn respira fundo, então seu olhar caí para o chão e vejo um lampejo
de tristeza em seu rosto.
— É claro que me sinto culpado, porque foi minha culpa, porra, eles
estão atrás de mim, Danila, minha mãe foi inseminada para que eu fosse o
herdeiro dessa organização, para que eu seguisse os passos do meu avô.
— Nada disso é sua culpa, você nem existia naquela época —
contraponho com razão, tentando fazer com que ele me escute.
— Mas foi minha culpa ela ter sido sequestrada, era para ser eu,
Danila, eu queria que tivesse sido eu…
— Você não acha que eu também preferiria que tivesse sido eu no lugar
dela? Que o Pakhan não estava pronto para se entregar em troca da filha, se
eles tivessem proposto? Que qualquer pessoa que conhece Yelena queria
estar no lugar dela, só para ela não sofrer?
— Não é a mesma coisa.
— É sim, eu já estou cansado de pensar em “e se tal coisa fosse
diferente” quando nada pode ser mudado, Ruan passou cinco anos se
culpando, eu passei esse tempo todo me martirizando por ter pensado junto
com ela naquela intervenção, mas de que adianta? Aconteceu e precisamos
seguir em frente para ajudá-la a voltar para nós.
Ele me encara sem falar nada, então pego sua mão e entrelaço nossos
dedos por um momento, sentindo seu toque e a eletricidade que percorre
meu braço e me faz estremecer.
— Não se feche para nós, não deixe esse sentimento de culpa
infundado te consumir a ponto de te machucar, não vale a pena, Bjorn.
— Eu não sei o que fazer — ele confessa, olhando no fundo dos meus
olhos. — Só quero ela de volta, Danila.
— Ela está aqui, isso já é meio caminho andado, agora só precisamos
reconquistá-la e fazer com que nossa Yelena volte a confiar em nós, como
ela confiava antes — declaro e aperto um pouco mais sua mão, acariciando
seu dedo com o meu.
— Não consigo engolir esse sentimento amargo de culpa — ele
confessa sua dor.
— Eu sei, mas não deixe que ele te consuma e, se precisar, eu sempre
estarei aqui por você.
Ele inspira profundamente e posso sentir seu corpo relaxar um pouco,
então calmamente ele solta a minha mão e se afasta para se escorar na mesa
de madeira que fica de frente para uma grande janela com vista para os
jardins.
Nós não falamos nada por alguns minutos, ele absorvendo o que eu
acabei de pronunciar enquanto penso em nossos próximos passos.
— Precisamos do restante dos documentos da sala do seu pai, você
consegue pegar eles amanhã? — pergunto e isso chama sua atenção.
— Sim, vou providenciar tudo e aviso vocês quando conseguir — ele
responde confiante, então cruza os braços em frente ao peito. — Tio
Vincent concordou em nos ajudar, mas é só uma vez e se causarmos algum
alvoroço ele disse que vai me fazer pagar em uma luta com ele.
— Você não quer isso, então é melhor que Yelena nos receba sem fazer
um escândalo.
— Ela não faria isso, o máximo que pode acontecer é ela nos mandar
embora — ele declara.
— O caralho que eu saio de lá antes de forçar essa mulher a nos ouvir,
se ela acha que pode nos manter longe para sempre está muito enganada —
digo e vou até ele, me escorando na mesa ao seu lado.
— Concordo, vamos fazer ela nos ouvir, pelo menos as informações
que temos sobre essa Ordem dos Mestres, sei que isso vai chamar sua
atenção.
— Sim, depois a gente pensa no que fazer para reconquistá-la. —
Sorrio para ele e vejo seu lábio erguer minimamente em um meio sorriso,
me contento com isso por enquanto. — Promete falar comigo se estiver se
sentindo mal de novo?
— Sabe que não faço esse tipo de promessa.
— Eu sei, mas só dessa vez quero que faça, porque não vou sair daqui
sem um sim como resposta — digo e cruzo os braços, fingindo teimosia.
— Por que está insistindo tanto nisso? Eu não sou o Ruan, não vou me
afundar em uma garrafa de vodca para esquecer meus problemas, só preciso
processar tudo o que acabei de descobrir.
— Eu me importo com você, Bjorn, você é um dos meus melhores
amigos — declaro, mantendo minha voz calma e verdadeira, ele é um dos
meus melhores amigos mesmo, mas também tem mais motivos para eu me
preocupar com ele. — Leve o tempo que precisar, mas não se feche para
nós. Sobre o Ruan, eu achei que quando Yelena voltasse ele iria melhorar,
mas está ainda pior.
— Você precisa fazer algo, Danila.
— Não adianta, eu já tentei de tudo, ele não me escuta, talvez se você
falar com ele, sabe que ele te respeita — sugiro e olho para Bjorn, ele sabe
que é verdade.
— Eu vou tentar, mas depois que falarmos com Yelena, ele está ansioso
por isso, o que só piora seu estado — ele declara e concordo com a cabeça.
— Vocês estão namorando, não estão?
Essa é a primeira vez que Bjorn questiona algo sobre meu
relacionamento com Ruan, ele nunca pareceu se incomodar com isso,
portanto imagino que seja só curiosidade.
— Nós acabamos nos envolvendo mais depois que Yelena foi
sequestrada, nos apoiamos um no outro para aguentar a dor de não tê-la
entre nós — respondo com sinceridade.
— Isso é bom, fico feliz por vocês.
— Nós teríamos feito o mesmo por você, Bjorn, mas você decidiu nos
afastar ao invés de aceitar a nossa ajuda.
— Eu sei, foi difícil demais suportar tudo aquilo, eu só queria ficar
sozinho.
— Você não queria demonstrar fraqueza — digo e com isso ele me
encara com uma expressão de surpresa nos lindos olhos verdes. — Eu já
disse que te conheço, foi por isso que deixei que tivesse seu espaço, mas
agora sei que foi um erro, eu não deveria ter deixado que se afastasse de
nós.
— Não sei se teria feito alguma diferença, Danila.
— Mas pelo menos eu teria tentado, mas agora não adianta pensar
nisso, só saiba que não vou mais deixar que se afaste de nós, tanto Ruan
quanto eu estamos aqui por você.
— Obrigado — ele agradece e posso sentir a sinceridade em suas
palavras.
Sinto que ter vindo aqui foi a melhor decisão que tomei nesses últimos
dias, ter Bjorn finalmente me ouvindo e relaxando um pouco me deixa feliz
e realizado.
Eu sei que sou bruto por fora, mas com meus amigos eu preciso ser
sensato, eles contam comigo tanto quanto eu conto com eles, somos como
um organismo vivo, que só funciona quando está completo e, por muito
tempo, uma parte importante de nós não esteve presente, isso nos quebrou e
nos afastou, mas agora ela está de volta e precisa da gente para se recompor.
Eu farei de tudo para que Yelena volte para nós, farei com que Bjorn se
reaproxime dos seus amigos e com que Ruan saia do fundo do poço aonde
ele se colocou, preciso ser forte por eles, alguém precisa ser.
Depois que saio da casa de Bjorn, penso em ir para casa, mas sinto que
preciso extravasar um pouco todos os sentimentos acumulados em meu
peito, a frustração, a agonia, tudo que estou sentindo e não posso expressar
em palavras, porque preciso ser forte por eles.
Encontro meu treinador na Central, ele está surpreso por me ver aqui a
essa hora, mas aceita treinar comigo.
Escolhemos MMA como o estilo de luta da vez e, a cada soco, cada
chute, cada golpe que trocamos, me sinto mais leve, extravaso tudo o que
me sufoca até ficar tão exausto que preciso parar ou não conseguirei
levantar da cama amanhã.
Toda essa luta me faz pensar nela, em quantas vezes ela precisou
batalhar em um ringue, mas ao contrário de mim, que posso simplesmente
parar quando a luta fica agressiva demais, Yelena precisava ir até o fim.
Será que eu seria forte o suficiente para aguentar tudo o que ela
aguentou?
Será que se fosse eu, teria desistido antes de matar tantas pessoas?
Nunca saberei a resposta para minhas perguntas, mas sei que, de
qualquer forma, eu preferia que fosse eu no lugar dela, só para não precisar
vê-la sofrer tanto agora.
Yelena, meu docinho, a mulher mais forte e maravilhosa que eu já
conheci nessa vida, ela precisa de mim agora e eu estarei lá por ela, mesmo
que ela não queira, vou fazê-la lembrar de como tudo começou.
Da forma que ela me beijou depois de uma luta insana no ringue, de
como tudo pareceu verdadeiro e real desde a primeira vez que ficamos
juntos, de como nossas bocas e nossos corpos se conectavam tão bem que
era como se pertencêssemos um ao outro, porque era exatamente isso o que
tínhamos.
Eu vou fazê-la se lembrar do porquê ela lutou por mim, do porquê eu
jamais resisti as suas investidas, nós fomos feitos um para o outro e eu
soube disso desde o começo.
Já sabia que ela e Bjorn estavam se encontrando, eu sempre a admirei
com respeito, é claro, mas ela é minha melhor amiga, por isso nunca passei
da linha e deixei que ela tomasse a iniciativa.
Deixei que fosse ela a me mostrar que me queria tanto quanto queria
Bjorn, e depois Ruan.
Por algum motivo nunca senti ciúmes deles, acho que somos tão
amigos que isso nem passou pela minha cabeça, pensar nela com eles me
deixa feliz, porque sei que eles a fazem bem também.
Agora pensar em algum deles com qualquer outra pessoa não é a
mesma coisa.
O que temos é entre nós quatro e mais ninguém.
Eu posso ter tido um passado com outras mulheres e homens, nunca
escondi minha bissexualidade de ninguém, mas depois que Yelena entrou na
minha vida, eu só quis ela, quando nos envolvemos os quatro naquela noite,
eu soube que aquilo era o que eu realmente queria, ter todos eles comigo.
Agora eu preciso consertar o que o destino estragou e fazer com que
tudo volte a ser como antes, ou pelo menos que voltemos a nos amar
novamente.
CAPÍTULO 15

Yelena
 
Estou presa nesse hospital há dias já, caminhando somente nos
corredores com um braço imobilizado e o nariz cheio de curativos.
— Por favor, pai, pede para eles me deixarem ir para casa, os médicos
podem ir até lá — peço para Dimitri, que está sentado na poltrona de
acompanhante, ele ergue o olhar para mim e sorri.
— Desculpa, minha filha, mas são só mais dois dias, logo estaremos
todos em casa — ele responde.
— Você não tem pena da mãe? Ela odeia hospitais, mas não saiu do
meu lado — tento apelar para o seu ponto fraco, mas nessa mesma hora
Yekaterina entra no quarto, caminha até a minha cama e beija meu rosto,
acariciando minha bochecha logo depois, então vai até o meu pai e senta no
braço da poltrona.
— Não fale por mim, eu ficarei aqui até que você esteja pronta para ir
para casa — ela declara.
Eu sei que minha mãe tem pavor de hospitais, por isso, ela estar aqui ao
meu lado significa muito para mim.
— Eu só quero minha cama — declaro, jogando a cabeça para trás,
mas o movimento faz com que uma pontada de dor passe pelos meus
ombros, o que eu escondo para que ninguém perceba.
— Nós mantivemos seu quarto como estava, mas vamos precisar
comprar roupas novas para você — minha mãe avisa, então fecha as duas
mãos em frente ao corpo e me olha com um enorme sorriso no rosto, não
preciso nem ouvir o que ela vai falar para saber o que é. — O que significa
que podemos fazer umas comprinhas, só nós duas.
— E os milhares de seguranças — complemento e meu pai Dimitri faz
que sim com a cabeça.
— Vai ser divertido, você não acha? — ela pergunta animada.
— Sim — respondo simplesmente, mas na minha mente a ideia de
estar no meio de muitas pessoas não é nada atrativa, para falar a verdade,
sinto meu coração acelerar só de pensar nisso, na multidão, nas incontáveis
pessoas andando em um shopping, passando ao meu lado, circulando como
se a vida fosse só compras.
Esse pensamento me faz ficar ansiosa e preciso sair dele para não
perder o controle.
O que diabos está acontecendo? Depois de anos presa em uma cela eu
deveria estar feliz em poder sair e ver pessoas, por que só de imaginar isso
já sinto que estou tendo uma crise?
Eu aprendi a identificar minhas crises enquanto estava confinada,
sempre que minha mente divagava para algum cenário que me fazia ficar
aflita, meu coração disparava e eu só conseguia pensar em tudo o que podia
dar errado, nas mil e uma possibilidades daquilo me atingir, quando isso
acontecia eu precisava voltar ao presente e tentar me acalmar.
Se eu percebo logo os sinais, eu consigo me controlar, mas se já estou
em uma crise, o que me resta é esperar passar, e isso pode demorar, pode até
evoluir para uma crise de pânico, em que fico imobilizada por um tempo,
perdida em pensamentos negativos e pensando que vou morrer.
É como ter um inferno dentro da minha própria mente, uma masmorra
que aprisiona os pensamentos bons e só deixa os negativos.
Eu queria ser diferente, queria ser como Bjorn, que está sempre calmo
e controlado, ou como Danila, que mesmo quando perde o controle, ainda
consegue recuperá-lo.
Agora entendo Ruan e seu vício em bebidas, porque às vezes eu daria
tudo para ter algo que me acalmasse, qualquer coisa, um remédio, uma
garrafa de vodca, qualquer droga que exista por aí e que me tire daquela
realidade.
Eu sonhei com isso por diversas vezes e sabe-se lá o que teria
acontecido se eu tivesse acesso a elas como Ruan tem.
Ele usa a bebida para aliviar o peso da sua existência, na hora funciona,
acalma os pensamentos e a vida parece mais leve, suportável, mas depois
tudo volta a ser como era antes.
De tarde tenho consulta com o médico e ele troca os curativos do meu
nariz, agora estou com um menor do que antes, o que é um alívio, mas
ainda não consigo respirar direito, somente pela boca, e vai ser assim por
mais alguns dias ele falou, depois tenho consulta com o psiquiatra e já é
noite quando tudo termina.
— Pai, leva a mãe para casa, ela não dorme bem aqui — falo para
Serguei, que está escorado na cama enquanto minha mãe tenta se aninhar
para dormir.
— Não se preocupe comigo, filha, eu só preciso de um tempo — ela
comenta.
— Não, eu posso ficar sozinha até amanhã, eles vão me dar o remédio
e logo estarei dormindo feito um anjo, se você ficar eu vou me preocupar e
não vou dormir bem — aponto e vejo que isso faz efeito nela. — Por favor,
mãe.
— Tudo bem, tudo bem, mas vou pedir para seu irmão passar a noite
com você — Serguei avisa.
— Não precisa, ele tem a Mayra e imagino que deva ser um trabalhão
cuidar daquela pequena, eu posso ficar sozinha por uma noite, pai.
Eles trocam um olhar por um tempo enquanto minha mãe levanta da
cama, depois ela concorda com a cabeça e vai até o banheiro se trocar.
— Tem certeza disso? — Serguei me pergunta, pegando minha mão.
— Claro que sim, eu sou bem grandinha já para dormir sem meu papai
do lado — digo brincando e ele sorri daquela forma genuína que eu me
lembro bem. — Saudades de ver você sorrir, pai, sei que deve ter passado
por um período bem difícil.
— Foi um inferno, princesa.
— Eu sei, mas agora acabou, eu estou aqui, não quero mais ver você
triste, isso só faz eu me sentir culpada por ter causado essa dor em todos
vocês.
— Nunca mais fale isso, está entendendo?
— Mas…
— Nada do que aconteceu foi culpa sua, nem as consequências disso, a
única coisa que importa é que você voltou para nós — ele declara com a
voz grossa e cheia de emoções.
— Estou pronta — minha mãe avisa, saindo do banheiro. — Tem
certeza que vai ficar bem sozinha?
— Cinco anos me prepararam para esse momento — tento brincar de
novo, mas isso os deixa mais tristes e sei que foi errado. — Cedo demais
para piada, não é?
— Um pouco — minha mãe responde, vindo até a minha cama, ela
beija meu rosto com carinho e acaricia meus cabelos. — Dorme bem,
minha menina.
— Dorme bem, mãe, nos vemos amanhã — respondo.
Serguei vem até mim e beija o topo da minha cabeça com carinho e,
sem falar nada, se afasta com uma mão na base das costas da minha mãe.
Eu amo a forma com que meus pais cuidam dela, quando estão juntos
eles estão sempre se tocando de forma carinhosa, meus pais também são
assim um com o outro, às vezes sinto inveja da relação deles, é tão sólida e
bonita, eu queria algo assim.
Cheguei bem perto disso…
Exceto que a nossa relação nunca seria aceita como a deles, sempre
teríamos que manter as coisas no escuro, viver escondidos e nos amar pela
metade, não é isso que eu quero e sei que só nos machucaríamos se
continuássemos assim.
Pensar neles dói, sabendo que estão próximos, mas que eu não posso
deixar que se aproximem mais, machuca muito.
Eu me sinto suja, mesmo tomando diversos banhos, parece que tem
algo sobre a minha pele que coça, uma sujeira que não é vista, só sentida,
como se o sangue que derramei tivesse sido absorvido pelo meu corpo e
agora vivesse dentro de mim.
Tudo isso me aflige, assim como a culpa pela morte de Ingrid, se eu
tivesse sido mais rápida ela ainda estaria viva, quem sabe estaria aqui
comigo nesse exato momento.
É por isso que não sou mais a Yelena de antes, a que os amou
intensamente, a que se entregou aos três de corpo e alma, aquela mulher já
não existe mais.
Hoje eu sou esse monstro que não os merece, mesmo que eu ainda os
ame, que tudo o que vivemos não saia da minha cabeça, eu não sou mais
boa o suficiente para receber aquele amor puro que eles me deram.
Nós somos soldados e sei que não somos inocentes, todos matamos
mais de uma vez por ordens da Bratva, mas nada do que eles já fizeram
chega perto do que eu fiz.
Foi um ano com eles, mas parece que foi uma vida toda, a intensidade
do que tínhamos ainda me faz estremecer quando lembro dos nossos beijos,
das nossas conversas, do sexo sem pudores.
Nada era proibido para nós.
Escuto o barulho da porta se abrindo, então me preparo para ver a
enfermeira e tomar meu remédio para dormir.
Será um alívio para um dia como esse, mesmo que os pesadelos me
assombrem, eu ainda prefiro adormecer a lembrar de tudo o que não posso
ter, mas não é a enfermeira que passa pela porta.
Bjorn, Danila e Ruan entram no meu quarto e trancam a porta atrás
deles, as três pessoas que estavam agora há pouco em meus pensamentos
caminham em minha direção e eu só posso ficar parada e encará-los.
Bjorn está ainda mais lindo do que eu me lembro, neste mesmo quarto
quando as luzes estavam desligadas, por isso não consegui analisa-lo
direito, seus cabelos loiros estão mais compridos no topo da cabeça e mais
curto nas laterais, ele está usando uma camisa polo azul-marinho e calça
jeans preta, mas o que chama atenção são seus lindos olhos verdes, que me
encaram da mesma forma que faziam há cinco anos, cheios de emoções.
Danila vem logo atrás, ele está ainda mais forte e musculoso, seus
cabelos pretos estão mais curtos e combinam com a barba rala em seu rosto,
ele fica lindo de barba, sempre disse isso.
Está usando uma camiseta preta, que deixa as tatuagens em seus braços
à mostra, e calça de moletom cinza, caminhando em minha direção com
uma mão no bolso enquanto a outra está entrelaçada com a de Ruan.
Meu menino, meu homem mais quebrado, Ruan vem por último e,
assim que seus olhos castanhos encontram os meus, eles se enchem de
lágrimas que não deixa escorrer, seus cabelos escuros estão mais compridos
e despojados, a barba rala o deixa mais masculino, eu não lembro de ele
usá-la assim antes.
Ruan está vestindo uma camisa social branca e calça social preta, ele
parece tão crescido que preciso me lembrar que agora eles já tem mais de
trinta anos.
— Yelena… — é Ruan quem cria coragem para falar primeiro e se
aproximar da minha cama, ele tenta colocar a mão na minha, mas eu me
afasto do seu toque, sentindo-me suja demais para recebê-lo.
— O que… — começo a falar, mas Bjorn me corta.
— Estamos aqui para te contar algo importante sobre seu sequestro —
ele fala de uma vez, só então percebo que está segurando uma pasta de
couro preta, como se estivesse indo trabalhar. — Nós descobrimos algumas
informações sobre a organização que a sequestrou.
Fico sem palavras, eu não estou entendendo mais nada.
— Como você está, docinho? — Danila pergunta, o tom de voz doce e
preocupado me faz olhar para seus olhos pretos, sentindo um aperto em
meu peito quando ele levanta a mão para tentar me tocar, mas desiste no
meio do caminho.
— Eu… eu não quero vocês aqui — falo, mas minha voz sai engasgada
de emoção.
Eles estão aqui, os homens a quem a porra do meu coração pertence.
Eu só posso estar sonhando…
— Não adianta nos afastar, nós te demos espaço, mas agora você vai
nos ouvir, querendo ou não — Ruan cria coragem e declara, sua voz ainda
está fraca e a mão livre treme ao lado de seu corpo, indicando o nervosismo
que está sentindo.
Olho novamente para o local aonde ele e Danila estão unidos e fico
feliz por saber que eles não se separaram, eu sempre achei que havia algo a
mais entre eles, mais do que só amizade, e saber que isso se desenvolveu
enquanto eu estava fora me deixa mais calma e aliviada, pelo menos eles
tinham um ao outro para se apoiar.
— O que… você descobriu? — pergunto, tentando me recompor e
encaro Bjorn, que é o mais sério e controlado do grupo, sua postura e a
forma com que ele fala com segurança me acalma e me passa confiança.
— Nossos pais mentiram para nós durante a vida toda — ele declara
sem rodeios.
— Como assim? — questiono.
— Eles sempre souberam qual a organização que a sequestrou, porque
isso já aconteceu antes, com a minha mãe enquanto ela estava grávida de
mim, eu sou o motivo de eles terem te levado, Yelena, era para ser eu
naquela noite, se não tivesse me atrasado alguns minutos — Bjorn explica e
a confusão toma conta da minha mente.
— Isso não faz sentido — falo, então eles me contam tudo sobre os
cadernos e documentos que descobriram e toda a história da mãe de Bjorn e
do pai de Alexei, de como seu avô planejou tudo e montou a seita chamada
Ordem dos Mestres para derrubar a Bratva.
— Calma, nossos pais sabiam de tudo isso? — pergunto sem acreditar.
— Sim, mas todas as informações foram apagadas, acredito que eles
tenham mantido o segredo somente entre os membros do Conselho, para
não nos alarmar — Danila fala.
— Mas se isso tudo aconteceu, teriam histórias rolando por aí, um
segredo assim não fica escondido dos soldados por muito tempo — eu
aponto o óbvio.
— Foi há trinta e um anos, eles podem ter proibido que se falasse sobre
isso, então com o tempo a história se perdeu e somente os soldados mais
velhos se lembram, mas não podem comentar nada, especialmente para nós
— Ruan explica e trava a mandíbula.
— Não posso acreditar nisso, meu pai mentiu para mim, meus dois pais
— então lembro do que Bjorn falou e o encaro, em uma troca de olhares ele
logo vira o rosto e vejo sua pose controlada mudar, os ombros tensionam e
sua voz sai mais fraca do que antes.
— Me perdoa, Yelena — ele fala sem olhar para mim.
— Pelo quê? — questiono, precisando que ele externalize as palavras.
— É minha culpa, tudo o que você passou… era para ser eu no seu
lugar, inferno, eu queria que tivesse sido eu…
— Pare com isso agora mesmo, nunca mais repita essas palavras,
entendeu? — rebato com a voz mais alta e decidida, então por um reflexo,
seguro sua mão e isso faz com que ele volte a me olhar. — Eu passaria por
todo aquele inferno novamente só para não ter nenhum de vocês lá, então
jamais repita o que você falou, entendeu? Nada disso é sua culpa, nem de
nenhum de vocês. — Olho para Ruan, que parece querer chorar novamente,
eu pensei tanto nisso quando fui capturada, em como ele deveria estar se
sentindo por saber que eu estava a caminho de uma intervenção para ele. —
Eu não quero que pensem em mim como uma incapaz, nós treinamos
juntos, lutamos todos os dias para nos fortalecermos, me deixa triste saber
que todo esse tempo vocês pensaram que eu não aguentaria seja lá o que
acontecesse comigo — declaro olhando para eles. — Eu aguentei e voltei,
agora o que eu quero é descobrir mais sobre essa Ordem e matar todos os
desgraçados que estão tentando atacar a porra da minha organização.
— E nós vamos te ajudar — Bjorn fala, apertando minha mão antes de
largá-la.
— Eu não quero envolvê-los nisso…
— Não adianta, nós já estamos envolvidos, e isso não é só sobre você,
é sobre a minha família e a nossa organização — Bjorn explica seu ponto.
— Mesmo que você não queira, nós vamos ajudá-la a descobrir tudo e
acabar com cada um deles.
CAPÍTULO 16

Yelena
 
Eu não posso fazer nada até sair desse hospital e me recuperar, e o
principal, precisamos de acesso ao computador do meu pai na Central.
Se ele tiver qualquer informação sobre essa organização, estará lá, mas
para isso eu preciso aprender novamente como invadi-lo, afinal, fiquei
cinco anos fora.
— Eu vou aceitar a ajuda de vocês — digo, assumindo minha derrota.
— Você não tem outra opção — Danila complementa com um sorriso
orgulhoso no rosto.
— Mas isso não muda nada, eu não vou voltar a ser a mesma de antes,
aquela vida acabou — declaro com o máximo de confiança que consigo,
para que eles entendam o que isso significa.
— Ninguém espera que você seja a mesma — Bjorn fala e contorna a
cama, ficando do outro lado, então ele se abaixa e tenta beijar meu rosto,
mas eu esquivo e com isso ele só fala no meu ouvido —, mas você será
sempre a nossa Yelena.
Uma onda de calor e arrepios percorre todo o meu corpo, “a nossa
Yelena” ele disse, porque eu fui deles, de corpo e alma, saber que não serei
mais faz meu peito apertar.
— Acho melhor vocês saírem — aviso e percebo que minha voz sai
mais fraca do que o esperado, portanto limpo a garganta antes de falar
novamente. — Eu preciso de tempo para melhorar e acessar o computador
do meu pai.
— Nós podemos te ajudar e… — Danila começa a falar, mas ergo a
mão para que se cale.
— Não quero a ajuda de vocês para isso, preciso de um tempo,
entendem? Por favor — peço olhando para cada um deles, vejo Bjorn se
fechar novamente, os olhos de Ruan se enchem de lágrimas, que ele não
deixa escorrer, e Danila tem uma expressão triste no rosto, mas todos
concordam com a cabeça.
— Vamos te dar o tempo que precisar, Yelena — Bjorn anuncia.
— Prometem? — questiono.
— Sim — Danila responde, Bjorn acena com a cabeça e Ruan fica
parado, sem falar nada, tenho certeza que está lutando para não me
contradizer.
— Obrigada, agora vão, eu preciso descansar.
Por mais que eu queira que eles me deixem sozinha, uma parte de mim,
uma que estava adormecida há muito tempo, chama por eles, pelo seus
toques, seus carinhos, o calor dos seus braços, mas essa parte logo é
suprimida pela consciência de que não os mereço mais, não depois de tudo
o que fiz.
Eles saem do quarto, um por vez, mas não antes de me lançarem
olhares significativos demais, como se não quisessem sair daqui, mas eles
precisam ir embora ou eu não vou mais conseguir segurar as emoções que
batalham dentro de mim.
Depois que eles saem, vou para o banheiro e ligo o chuveiro, deixo que
a água morna caia sobre o meu corpo enquanto sento no piso frio e permito
que as lágrimas escorram.
Meu peito dói, a pele da minha mão que Bjorn tocou parece em chamas
e tenho a familiar sensação de estar suja novamente, de ter algo por baixo
da minha pele que corre por todo o meu corpo.
Por que eles tinham que vir até aqui?
Por que não podem me deixar em paz?
Eu não posso mais pertencer a eles, não depois de tudo o que fiz, as
pessoas que matei, não depois de ser a responsável por Ingrid ter morrido.
Eles não eram soldados treinados pela organização, eram pessoas
normais, eu via o pavor em seus olhos ao me enfrentar, até mesmo os que
tinham alguma experiência de luta estavam com medo.
Isso não é atitude de soldado treinado.
Sei que cresci e treinei a vida toda para matar, minha iniciação foi
tranquila, o Pakhan dá a ordem e nós matamos, seja lá quem for que esteja
do outro lado daquele campo, merece morrer porque assim foi dito pelo
nosso líder.
As pessoas que matei enquanto estava presa não foram por ordens do
meu líder ou para cumprir uma missão da organização, foi por puro
egoísmo para continuar viva.
Além disso, Ingrid também está morta por minha culpa, ela morreu me
ajudando a sair daquele inferno e, por isso, eu jamais vou me perdoar, eu
deveria tê-la protegido, deveria ter matado o soldado mais rápido, mas não
consegui, esse foi o meu maior fracasso.
Agora, sabendo tudo o que Bjorn me contou sobre os documentos e
cadernos do seu pai e a história da sua família, as peças do quebra-cabeça
começam a se encaixar melhor, apesar de eu ter visto poucos homens
armados, eu não estava solta por lá, era mantida em celas separadas do
restante da população, portanto não sei se eles tem um exército ou se
realmente são um perigo para a Bratva, só sei que, seja como for, eles
conseguiram ficar fora dos nossos radares por mais de trinta anos.
Também deixei algumas informações de fora no dia do meu
interrogatório, coisas que somente eu sei e que, agora que descobri que
meus pais esconderam tudo isso de mim, manterei guardado até que esse
enigma faça sentido.
Respiro fundo e sinto meu corpo relaxar um pouco, pensar logicamente
ajuda a me acalmar, a água morna esquenta meu corpo e dá a sensação de
bem estar que eu tanto preciso agora.
Nesse momento agradeço por estar sozinha, por não ter ninguém da
minha família me vendo quebrar assim, eu preciso ser forte na frente deles
para que eles não saibam o quanto estou destruída por dentro.
Ninguém pode saber, não se eu quiser continuar sendo a herdeira, e eu
lutei muito para voltar e garantir meu lugar nessa organização, não são
alguns traumas que vão me tirar do jogo.
No outro dia recebo alta do hospital e vou para casa acompanhada da
minha mãe e dos meus pais, lá sou recebida por Adrian, com sua filha
Mayra nos braços, ela estende as mãozinhas em minha direção, mas não
posso pegá-la, por isso só beijo seu rostinho.
Meu irmão me abraça e me sinto feliz, porém seu toque também
provoca uma repulsa em mim, como se fosse errado receber o carinho dele,
do meu próprio irmão, mas empurro esse pensamento para longe e engulo a
agonia que isso traz.
Quando o abracei a primeira vez estava tão desesperada por senti-lo
que não pensei nisso, mas agora tudo parece diferente.
— Seja bem-vinda de volta, minha irmã — Adrian fala e beija meu
rosto, então se afasta para que eu possa cumprimentar o tio Andrei, que
também me abraça com cuidado, mas por menos tempo, o que eu agradeço.
— É bom te ver de novo, pestinha — Andrei fala e vejo seus olhos se
encherem de lágrimas.
— Para com isso, você me viu ontem no hospital — brinco com ele e
dou um soco leve em seu braço. — Está ficando mole demais, tio, talvez
seja hora de trocarmos de Brigadier em New York.
— E quem vai dar a ordem? O panda de braço quebrado que está na
minha frente? — ele debocha, finalmente voltando a ser o tio Andrei que
me lembro.
— Esse panda aqui ainda pode te derrotar facilmente, velhote — brinco
e dou um soco um pouco mais forte, dessa vez em seu peito, o que faz meu
tio rir alto.
— Vai nessa, pirralha — ele responde.
— Chega vocês dois ou ela vai se machucar ainda mais — Anna vem
até mim e pega minha mão, ela não me abraça, o que eu agradeço, mas seu
olhar é carinhoso. — Fico feliz que esteja de volta.
— Obrigada, tia — agradeço e ela sorri, com isso toda nossa família
mais próxima se reúne na sala de jantar para o almoço.
Como meu braço está imobilizado, eu preciso de ajuda para cortar os
alimentos e minha mãe faz isso, ela brinca que é como se eu fosse criança
novamente e todos riem.
O clima é gostoso e acolhedor e me faz sentir bem, muito bem, eu amo
minha família, cada um deles é especial de sua forma e sei que eles também
me amam.
Quando olho para Dimitri e Serguei, sentimentos conflitantes me
invadem, eu amo meus pais, mais do que tudo nesse mundo, mas saber que
eles esconderam algo tão grande de mim por todo esse tempo me deixa
ressentida.
Se eu sou a herdeira, preciso saber de tudo o que acontece na Bratva,
especialmente a história completa da organização, e eles esconderam isso
de mim, me deixaram no escuro, até entendo não querer que essa parte da
história seja de conhecimento público por ser um indício de fracasso da
Bratva, mas não é desculpa para manter segredo dos herdeiros.
Afinal, uma organização que foi criada por um ex membro do
Conselho, bem embaixo do nariz do meu avô e que ainda consegue se
manter ativa hoje em dia, sem ser detectada pela Bratva, é a porra de um
fracasso.
Nós nos vangloriamos por controlar tudo o que acontece no mundo,
cada parte importante do capitalismo, e não conseguimos acabar com a
droga de uma seita?
Porque é isso o que eles são, uma seita religiosa que segue um mestre
há muito tempo morto.
Seu objetivo? Derrubar a Bratva e assumir o nosso lugar.
Como eles pretendem fazer isso? Esse é o grande mistério.
Depois de alguns dias em casa me sinto bem melhor, especialmente
tendo a minha família comigo.
O melhor de tudo isso é saber que eles não ficaram parados no tempo
por cinco anos, especialmente Adrian.
— Você vai me contar como aconteceu? — questiono meu irmão, que
está brincando com Mayra no chão da sala.
Ela usa um vestidinho rosa de bailarina e está com uma varinha com a
ponta de coração, brincando com os ursos espalhados pelo chão enquanto
meu irmão está de calça de moletom e camiseta branca, deitado ao lado
dela.
— Não tem muito o que contar, Andreza descobriu a gravidez quando
já estava com cinco meses, nós achávamos que era impossível, por isso
nunca nos protegemos.
— Sim, é quase irreversível a esterilização das espiãs, mas acontece —
digo e ele concorda com a cabeça. — Vocês casaram?
— Sim, foi logo depois de ela descobrir a gravidez, sabe que para
Mayra ser minha filha legítima nós precisávamos casar, mas foi uma
cerimônia simples.
— Tem fotos? — pergunto e ele levanta, pega o tablet ao lado da TV e
me mostra a pasta de fotos.
Foi realmente simples, vejo só os membros do Conselho, reconheço
algumas espiãs amigas de Andreza, alguns soldados e a nossa família.
A cerimônia foi no jardim da nossa casa, decorado com rosas brancas,
a barriga dela já estava bem grande então imagino que estivesse próximo do
final da gestação.
Abro o vídeo e começo a assistir à cerimônia.
Meu irmão estava feliz, com um sorriso enorme no rosto, enquanto ela
andava até o altar acompanhada de um soldado, a cerimônia foi rápida, os
votos foram lindos e tudo pareceu perfeito, mas por mais alegre que eu
esteja que eles seguiram em frente, uma pontada de tristeza se faz presente
quando lembro que eu não estava lá.
— Um mês depois começaram as contrações, ela foi direto para o
hospital e precisou de uma cesárea, nossa filha nasceu saudável, só que logo
depois Andreza teve uma hemorragia, eles me tiraram da sala de cirurgia às
pressas. Os médicos fizeram tudo o que podiam, mas ela perdeu muito
sangue e não suportou — meu irmão conta com dor e pesar na voz.
— Sinto muito, Adrian — falo com carinho, estou sentada do outro
lado de Mayra, então passo as mãos pelos lindos cabelos loiros dela e a
menina sorri para mim.
— Tia Yenaa, qué chá? — ela oferece e pega o pequeno bule rosa que
está em sua frente, me oferecendo o chá imaginário.
— Mas é claro — respondo pegando a xícara rosa minúscula e deixo
que ela me sirva, então finjo tomar enquanto ela faz o mesmo com Adrian,
depois oferece para seus ursos. — Ela é um anjo, Adrian.
— É sim, foi só por ela que eu me mantive firme, irmã, não sei o que
seria de mim se não tivesse Mayra — Adrian declara e engole em seco. —
Quando você foi sequestrada meu mundo ruiu, eu tentei de tudo para te
encontrar, todos nós tentamos, mas não tínhamos uma pista sequer, você
não faz ideia de como foi frustrante.
— Eu imagino — respondo e penso se devo contar a ele o que sei, mas
e se Adrian acabar falando com nossos pais sobre isso? Ele é um soldado
leal, não esconderia nosso segredo assim, e ele pode pensar que estaria me
protegendo ao contar aos nossos pais, não posso confiar algo assim a ele,
não agora.
— Quando Andreza faleceu eu perdi tudo, mas tinha Mayra e não
podia me abalar, por sorte nossos pais me ajudaram muito, e ainda ajudam,
eles me ensinaram como cuidar dela, o que fazer, e estavam lá para me
apoiar em cada dificuldade — ele conta e fico feliz pelo meu irmão ter tido
apoio.
— Nós temos sorte de ter pais incríveis assim, não temos?
— Muita sorte — ele responde, então continuamos brincando com
Mayra até ela estar cansada e pedir colo, nesse momento Adrian a leva para
o quarto e eu organizo a bagunça na sala.
Muita coisa mudou enquanto estive fora, especialmente a vida de quem
eu amo, preciso focar nisso e absorver essas mudanças sem pensar em tudo
o que eu perdi, seguir em frente é difícil quando o passado é tão sombrio
quanto o meu.
CAPÍTULO 17

Bjorn
6 meses depois
 
Yelena está recuperada, seu braço melhorou 100% e ela está fazendo
fisioterapia, nós acompanhamos de longe sua evolução, dando-lhe o espaço
que ela pediu, mas qualquer oportunidade que tínhamos para falar com ela,
nós aproveitamos.
Seja um ‘bom dia’ ao passarmos pelo corredor, ou um ‘oi’ durante o
almoço, cada interação, por menor que seja, é importante para que ela saiba
que estamos aqui.
Mesmo que esses meses tenham sido difíceis, por saber que ela está
aqui e não poder realmente tocar nela ou estar ao seu lado, sei que foi a
melhor decisão para ela.
Não consigo nem imaginar a confusão que Yelena estava sentindo
assim que retornou, tudo é novo e diferente, foram cinco anos fora e,
durante esse tempo, as coisas mudaram.
Tecnologias evoluem, governos trocam seus líderes, guerras começam
e terminam, cinco anos é muito tempo.
Só não é tempo o suficiente para diminuir o que sinto por ela.
Enquanto esperamos por ela, Danila, Ruan e eu nos aproximamos ainda
mais.
Eu deixei de afastá-los para que pudéssemos estudar as pistas que
temos e tentar descobrir alguma localização possível, porque esse é o único
assunto que Yelena aceita conversar com a gente.
Hoje combinei um treino de luta livre com Danila, ele é maior e mais
experiente do que eu, adora lutas e faz isso todos os dias, já eu prefiro
correr ou treinar tiro ao alvo, porém também preciso estar preparado para
tudo.
— E aí, está pronto? — Danila entra no vestiário enquanto estou me
trocando e não consigo não notar o olhar avaliador que ele dá sobre meu
corpo, provocando algo estranho no meu estômago.
— Quase — respondo e ele coloca sua mala ao lado da minha, então
começa a tirar a roupa.
Agora sou eu quem encara seu corpo e preciso disfarçar assim que ele
tira a camiseta e a calça, trocando por uma bermuda de treino.
Danila tem um corpo maravilhoso, músculos bem definidos, braços e
pernas grandes, ele é todo…
Sai dessa, Bjorn!
Termino de me vestir e decido treinar só de bermuda, assim como ele,
então enfaixo meus pulsos e ajudo Danila com suas faixas, depois seguimos
juntos para o ringue.
— Seu treinador vai participar? — pergunto já que Danila tem um
treinador pessoal que o acompanha todos os dias.
— Não, eu dei um dia de folga para o coitado, ele estava precisando —
Danila responde com um sorriso convencido no rosto. — Somos somente
você e eu hoje.
Por algum motivo suas palavras fazem algo remexer no meu estômago,
não é novidade ficarmos a sós, não sei porque estou reagindo assim hoje.
— Tudo bem, assim podemos conversar mais livremente — comento e
ele concorda com a cabeça. — Como está Ruan?
— Nada bem, ele não é bom em esperar e seu pai o está pressionando
para tomar mais decisões nas empresas, o velho quer que Ruan o substitua
logo.
— Droga, isso deve estar acabando com ele — pondero, lembrando do
peso que é para Ruan ser um herdeiro, ele nunca quis isso, sempre deixou
claro que, se pudesse escolher, jamais escolheria esse caminho. — Ele
voltou a beber?
— Voltou? Ruan nunca parou, Bjorn — Danila explica e vejo seu olhar
preocupado enquanto caminhamos até o ringue. — Eu já tentei de tudo, mas
nada funciona, ele precisa decidir parar por conta própria, só assim vai
conseguir.
— Vou conversar com ele, quem sabe ajude — digo e Danila me
encara com apreensão. — Mal não vai fazer.
— Obrigado — ele agradece, então subimos no ringue, colocamos os
protetores bucais e começamos o treino.
Danila luta muito bem e é um oponente difícil de ganhar, fora que ele
usa esse momento para extravasar, se não fosse isso, acredito que ele seria
uma pessoa mais explosiva, mas no momento ele é o mais controlado de
nós três.
Pode-se dizer que Danila é a cola do grupo, ele é quem acalma Ruan
nos seus períodos sombrios e também me faz pensar mais claramente sobre
as coisas.
A cada golpe trocado sinto meus pulmões queimarem, o exercício é
ótimo e consigo acertá-lo algumas vezes, mas sei que ele está se contendo,
caso o contrário eu já estaria todo machucado.
Seguimos assim por quase uma hora antes de cairmos exaustos no
ringue, estamos os dois suados e felizes, cheios de endorfina.
Adoro essa sensação que somente um bom treino é capaz de trazer,
quando trabalho demais eu também me sinto exausto, mas é um cansaço
mental, não me deixa animado como um exercício físico deixa.
Sinto que posso realmente fazer qualquer coisa agora.
— Foi uma boa luta — uma voz feminina fala e faz com que Danila e
eu nos levantemos, encontrando Yelena escorada na porta do ginásio,
sozinha com sua sacola, ela está usando um conjunto de legging e top azul-
escuro que abraça suas curvas e não deixa nada para a imaginação.
Yelena é gostosa para caralho.
— Obrigado, docinho — Danila agradece, levantando-se primeiro, ele
se escora no poste do ringue enquanto toma um gole de água, deixando que
o líquido escorra pelo seu peito suado.
— Uma pena que você tenha ficado mole, Danila — Yelena comenta,
pegando-nos de surpresa. — Bjorn quase conseguiu te derrubar — ela
complementa e Danila quase cospe a água.
— Vai sonhando — Danila responde e me encara.
— Então você estava pegando leve com ele por pena? Que feio, Danila
— Yelena provoca, então vejo um meio sorriso em seu rosto quando ela
caminha.
Não, ela parece estar desfilando em uma passarela enquanto anda em
nossa direção.
— Se acha que eu estava dando mole, então te convido a subir aqui —
Danila indica o ringue com a mão. — Vem me mostrar o que é ter um
adversário à altura.
— Hey — reclamo porque sei que foi uma indireta para mim.
— Relaxa, você foi bem, quase conseguiu me fazer cansar de verdade
— Danila declara e eu ergo as sobrancelhas para ele, mas então percebo
que, enquanto estou ofegante e quase não consigo falar, Danila está
tranquilo e recuperado.
— Isso foi um desafio? — Yelena questiona, mordendo levemente o
lábio inferior, seus olhos azuis brilhando de expectativas.
— Com certeza — Danila responde e abre as cordas para que ela entre
no ringue. — Vem, docinho, me mostra o que você aprendeu.
— Não vai se arrepender depois que eu acabar com você — ela avisa e
Danila solta uma gargalhada alta.
— Você não conseguia isso antes, acha mesmo que vai conseguir
agora? — ele pergunta provocando-a.
— Acho que você fala demais — ela responde, então olha para mim e,
por um momento, seu olhar percorre meu corpo e a vejo lamber os lábios
antes de se recompor. — Vai participar também, Bjorn?
— Não, eu prefiro só assistir — respondo e saio do ringue, deixando os
dois lá.
Yelena deixa sua bolsa no canto esquerdo e pega a garrafa de água,
tomando um gole antes de voltar a encarar Danila com um sorriso
convencido no rosto.
— Pronto? — ela questiona.
— Para você, sempre, docinho — Danila declara e, por um momento,
vejo um  brilho no olhar de Yelena que é logo substituído por tristeza.
— Vem, então. — Ela se coloca em posição de combate, chamando por
Danila que logo avança, dando os primeiros golpes, mas Yelena desvia de
todos com uma agilidade absurda, ela parece que está adivinhando cada
movimento de Danila e se esquivando na hora certa.
Isso deixa ele nervoso, logo Danila está realmente lutando e tenta
segurar Yelena, mas ela se desvencilha das suas mãos e acerta um soco em
seu rosto, o que faz Danila dar dois passos para o lado e passar a mão na
boca, que agora tem um fio de sangue escorrendo.
Então ele a encara com seus olhos escuros brilhando com o que eu só
posso dizer ser admiração, porque é o mesmo que estou sentindo agora.
Nessa hora Danila parte com tudo para cima dela, sem se segurar ele
deixa que toda a sua raiva acumulada se liberte, acertando alguns golpes em
Yelena, mas nada forte o suficiente para ela desistir.
Enquanto eles lutam, Yelena demonstra tudo o que aprendeu durante
esses anos, ela está em forma e ainda mais astuta, para cada golpe desviado,
ela o acerta com outro e logo Danila está cansado enquanto ela respira
rápido, mas não ofegante.
— Acho que podemos parar aqui, não é justo continuar — Yelena
declara.
— O quê? Está com medo de perder? — Danila provoca passando a
mão na boca para limpar o sangue.
— Eu já ganhei pela somatória de pontos, não vou até o fim, não com
você — ela declara e assim entendo o que ela quer dizer.
Essa não é uma luta de vida ou morte, é uma batalha entre dois amigos,
dois companheiros que se respeitam e sabem quando parar.
Yelena desce do ringue com sua sacola e a água na mão, ela está toda
suada, o cabelo preso em um coque bagunçado na cabeça, mas é a mulher
mais linda do mundo.
Penso que ela vai simplesmente sair, mas surpreendentemente ela senta
na beirada do ringue e me encara com seus lindos olhos azuis.
— O que achou da luta? Pronto para ser o próximo? — ela questiona
com um sorriso convencido no rosto.
— Nem pensar, Danila já acabou comigo antes, nem fodendo eu entro
em um ringue com você — respondo e ela solta uma gargalhada alta e
gostosa demais, olho para Danila e sei que ele está sentindo o mesmo que
eu, essa leveza por ter Yelena por perto.
— Você precisa treinar mais, se até o Danila conseguiu te derrubar —
ela brinca.
— Hey, docinho, eu sou bem mais forte do que esse aí — Danila se
defende e se escora no ringue ao lado dela.
— Vamos no tiro ao alvo? — sugiro em um desafio.
— Sabe que perde pra mim lá também, não sabe? — Yelena responde
com uma pergunta que me faz rir.
— Antigamente, sim, mas hoje em dia? Tenho minhas dúvidas — falo,
mas quando as palavras saem da minha boca me arrependo e olho para ela,
porém Yelena continua tranquila tomando um gole da sua água.
— Relaxa, a gente pode brincar com isso, eu até prefiro, já basta minha
família andando em ovos ao meu redor, ninguém comenta nada ou fala
sobre esses anos que passaram, é como se eu fosse começar a chorar por
isso, sei lá — ela reclama e com razão.
— O que você quer saber? — Danila questiona.
— Você e Ruan? — ela pergunta olhando para ele.
— Estamos juntos, foram alguns meses depois que você desapareceu,
nos apoiamos um no outro e, com isso, surgiu um sentimento enorme entre
nós dois — Danila explica calmamente. — Ninguém sabe sobre isso.
— Dois herdeiros namorando, imagino que não será bem aceito — ela
comenta e Danila dá de ombros.
— Não me importo, o que importa é o que sentimos e não as regras
criadas por outras pessoas — ele se defende e eu concordo com a cabeça.
— Fico feliz por vocês, mais tranquila por terem se apoiado um no
outro e por não ficarem sozinhos, enquanto eu estava lá, só pensava em
como vocês estavam lidando com tudo — ela conta com a voz tranquila,
mas cheia de emoção. — E você, Bjorn, tem alguém especial?
— Não — respondo rapidamente.
— Por quê? — ela pergunta e vejo Danila me olhar, curioso.
— Sabe que sempre foi você, e sempre será — digo com confiança e
isso a faz respirar fundo.
— Você passou cinco anos me esperando?
— Sim — sou sincero.
— Isso me deixa triste, deveria ter seguido com a sua vida e não parado
no tempo — ela diz.
— Não parei no tempo, só nunca conseguiria te esquecer — declaro e
engulo em seco com a vontade de me aproximar dela e beijá-la para fazer
com que ela saiba o tanto que eu a amo, mas me controlo, ainda não é a
hora.
Yelena desvia o olhar do meu e encara o chão por um tempo, então ela
respira fundo e olha para Danila.
— Como o Ruan está com a bebida? Ele conseguiu parar? — ela
pergunta.
— Não, está ainda pior do que antes e não sei se ele percebe isso —
Danila responde com a voz triste. — Estávamos falando sobre isso antes,
acho que está na hora de conversar com ele, quem sabe todos juntos como
era para ser.
Yelena pensa por um tempo e olha de Danila para mim, então levanta
do ringue, limpa sua calça com a mão, pega a bolsa e joga a alça no ombro,
virando-se para a porta, mas antes de sair ela fala:
— Amanhã, às dezenove horas, estejam aqui e vamos conversar — ela
avisa, então sai e nos deixa sozinhos.
Sinto falta dela no mesmo momento que ela passa pela porta, então
Danila coloca a mão no meu ombro e seu toque me acalma.
— Ela está nos dando uma chance — ele comenta.
— Não sei se é isso, mas espero que sim.
CAPÍTULO 18

Ruan
 
Hoje foi mais um dia estressante ao lado do meu pai, por sorte meu
irmão Pierre nos acompanhou e ficou fazendo perguntas, o que desviou a
atenção de mim para ele.
Pierre é o mais interessado nos nossos negócios, ele é mais novo do
que eu, mas tem uma mente rápida e assertiva nas decisões.
Enquanto eu não aguento mais esse inferno diário, eu não queria ser a
porra de um herdeiro, só queria viver a minha vida como eu bem
entendesse, é pedir muito?
De que adianta ter todo o dinheiro do mundo se sou proibido de
aproveitar?
É como ter vida eterna e decidir morrer com vinte anos de idade.
Aproveitei a distração de Pierre para beber um pouco mais, a cada copo
de vodca que eu tomava meu humor melhorava um pouco, até que precisei
parar ou eles iriam perceber que algo estava errado.
No final do dia, quando já estava me preparando para ir embora, recebo
uma mensagem de Danila.
“Me encontre no centro de treinamento, preciso falar com você, é
urgente.”
Droga, justo hoje? Ele vai saber que bebi demais.
“Me dá meia hora e eu já vou, estou preso aqui ainda.” Respondo sua
mensagem e ele manda um emoji de ok como resposta.
Por isso vou até o banheiro antes, tomo um banho, troco de roupa e
escovo bem os dentes, aproveito para tomar uma coca gelada e coloco um
chiclete na boca, não vai disfarçar o hálito por muito tempo, especialmente
se ele me beijar, mas talvez funcione.
Quem eu quero enganar? Danila vai perceber de cara que eu bebi.
Quando termino vou até o centro de treinamento e, assim que chego lá,
tenho uma surpresa: Danila não está sozinho, ao seu lado vejo Bjorn
escorado na parede e parece que eles acabaram de sair do escritório, e
Yelena, um pouco mais afastada, com os braços cruzados em frente ao
corpo, ela está linda em uma calça jeans e camiseta branca, como eu lembro
dela antigamente, com seus tênis Converse azuis e o cabelo loiro preso em
um rabo de cavalo.
— O que está acontecendo aqui? — questiono Danila quando ele
caminha em minha direção e beija minha boca rapidamente, então olho para
os lados para garantir que estamos mesmo sozinhos, mas não vejo ninguém.
Geralmente ele é mais cuidadoso em demonstrar carinho quando
estamos em público, especialmente com beijos.
— Nós precisamos conversar — ele fala com um tom de voz suave
demais, por isso sei que está planejando algo, então ele afaga
carinhosamente o meu rosto com a mão e depois se afasta para eu olhar
para os outros.
Danila está vestindo seu terno preto completo, que o deixa ainda mais
bonito, a camisa azul-escuro por baixo combina com ele, assim como a
gravata azul-claro.
— Descobriram mais alguma coisa? — pergunto já imaginando que
eles encontraram algo. — Temos novas informações sobre a Ordem dos
Mestres?
— Não é sobre isso que precisamos conversar — Bjorn é quem
responde e caminho até eles, olho para Yelena, que sorri para mim.
— Como você está, Ruan? — ela pergunta com a voz preocupada.
— Eu tô bem, só quero saber o que está acontecendo aqui — respondo
e ela concorda com a cabeça, então vem em minha direção e fica a poucos
centímetros de mim, posso sentir o cheiro de lavanda do seu shampoo e é
delicioso, quero tanto abraça-la, sentir seu corpo no meu, tê-la novamente
em meus braços.
— Quanto você bebeu hoje? — ela questiona diretamente, pegando-me
de surpresa.
— O quê? — respondo com uma pergunta, sem entender porque ela
está fazendo isso.
— Quanto você bebeu hoje? — ela repete a pergunta e, só então,
percebo o que eles estão fazendo.
Então olho para Bjorn e Danila, suas poses tensas confirmam minhas
suspeitas.
— Isso é a porra de uma intervenção? — questiono me afastando dela,
Danila tenta pegar minha mão, mas me desvencilho do seu toque e dou três
passos para trás, encarando o rosto dos meus melhores amigos.
— Estamos fazendo o que deveríamos ter feito há muito tempo —
Yelena responde com a voz calma.
— Você não está bem, Ruan — Bjorn comenta e se junta ao grupo, os
três ficam em minha frente, unidos contra mim —, e nós estamos
preocupados — ele complementa.
— Eu tô bem, tá legal? Não preciso de mais gente controlando o que
eu faço ou deixo de fazer, já tenho meu pai para isso — aumento o tom de
voz ao falar, indignado com essa situação. — Deveriam estar mais
preocupados com a Ordem do que comigo, eu só tomei algumas doses de
vodca, pelo amor de Deus, não é nada absurdo.
— Quantas doses? — Yelena questiona e, quando fico calado, ela volta
a falar. — Você não lembra, não é mesmo?
— Eu não devo satisfações, especialmente para você — ataco
chegando mais próximo dela. — O que aconteceu? Agora você está
preocupada comigo? Depois de seis meses me mantendo afastado, agora
quer me controlar?
— Ninguém está tentando te controlar, amor — Danila intervém,
colocando a mão no meu ombro para me afastar de Yelena, mas mais uma
vez eu o afasto e encaro meu namorado de frente.
— Você planejou tudo isso? — questiono magoado, justo ele que
esteve ao meu lado esse tempo todo, me trair assim, machuca demais.
— Não fale como se fosse algo ruim, nós estamos preocupados com
você porque queremos o seu bem — Bjorn declara e se aproxima ainda
mais, pegando minha mão. Ele nunca fez isso, portanto encaro seus olhos
verdes quando ele volta a falar. — Somos seus melhores amigos, pode nos
ouvir por um momento?
Sua voz calma e controlada consegue me acalmar, então paro e decido
dar a eles um minuto para se explicarem, preciso respirar fundo algumas
vezes e engolir em seco para me manter aqui.
— Você está bebendo todos os dias, carrega um cantil de vodca com
você, não tem comido direito ou treinado com constância, se seguir assim
vai acabar com a sua saúde — Danila fala preocupado.
— Não adianta esconder seus problemas em um copo de bebida, Ruan,
uma hora ou outra você precisa encará-los de frente, encarar seu pai, falar
para ele tudo que está guardado aí dentro e que te faz sofrer dia após dia —
Yelena dá a sua opinião, fazendo eu olhar para a mulher que tanto admiro,
ela parece genuinamente preocupada comigo.
— Você não entende — digo com uma dor no peito. — Nenhum de
vocês entendem, vocês nasceram para serem líderes e gostam disso, porra,
essa é a sua paixão, e eu sei que a cada dia que acordam ficam felizes por
irem trabalhar com seus pais. Eu não sou assim, eu não quero isso, eu
acordo remoendo a vida que tenho, odiando cada parte do meu dia até que
ele finalmente acabe e eu possa ir para casa dormir, só para no outro dia ter
a mesma merda de problema novamente, nunca acaba e nunca vai acabar.
Descarrego minhas frustrações neles para que entendam que eu preciso
de mais do que força de vontade para encarar a droga da minha vida, sei
que sou fodido da cabeça, que deveria agradecer por ser a porra de um
herdeiro, mas eu não quero nada disso e nunca vou querer.
— Usar a bebida para melhorar o seu dia não vai adiantar, amor, você
precisa enfrentar seus problemas ou eles nunca vão desaparecer — Danila
diz e Bjorn aperta a minha mão.
— E lembre-se que nós estamos aqui por você, quando se sentir
frustrado, nos chame e vamos te ajudar a esquecer o dia, podemos treinar
juntos como fazíamos antigamente, almoçar na mesma hora, diminuir um
pouco a carga de trabalho e compartilhar o peso do seu dia — Bjorn avisa
com a voz calma.
— Estamos aqui por você — Yelena fala, então ela se aproxima, mas
não me toca.
É tudo muito comovente, eu sei que eles são meus melhores amigos e
que estão aqui por mim, quando estamos juntos tudo parece menos pesado e
tenho um resquício de felicidade na minha vida, mas quando fico sozinho
novamente tudo desanda e é impossível suportar.
— Eu sei que vocês só querem ajudar, mas não posso simplesmente
acabar com a única coisa que funciona quando estou sozinho, vocês não
podem ficar comigo o dia todo e eu não aguento sem a bebida — confesso.
Assim que as palavras saem da minha boca, sinto o gosto amargo da
verdade, porque sim, eu sou um alcoólatra, e admitir isso para mim mesmo
dói como a porra de uma pedrada na cabeça.
Saber que me apoio na bebida todos os dias para conseguir viver me
faz sentir fraco por não aguentar sozinho, por precisar me embebedar para
simplesmente seguir meu dia, a droga do meu dia solitário e pesado demais.
Eu não suporto a vida, ela me esmaga quando estou sóbrio, é como se
eu fosse uma formiga tentando carregar uma pedra, mas sendo vencido pela
força da gravidade.
— Chega disso, nada vai mudar e vocês sabem, eu não posso negar
meu legado, meu pai jamais aceitaria isso, sou o filho mais velho e preciso
seguir seus passos. — Me desvencilho do toque de Bjorn e dou meia volta,
caminhando rápido em direção à saída.
— Ruan, volta aqui — Danila me chama, mas eu ergo a mão e os deixo
lá, não suporto mais isso, não consigo mais olhar para eles e saber que sou
uma decepção até mesmo para meus melhores amigos.
Entro rápido no meu carro e dou a ordem para os seguranças partirem
logo, não quero mais ficar aqui, a Central não é meu lugar de paz, preciso ir
para casa e esquecer tudo o que ouvi hoje, tudo o que estou sentindo
esmagar meu coração e fazer meu peito doer.
Pego o cantil do bolso e o esvazio em grandes goles, sentindo o ardor
da vodca e a forma com que cai pesada em meu estômago.
Assim que chego em casa minha mãe avisa que o jantar está servido,
mas eu digo que não estou com fome e subo direto para meu quarto, não
consigo fingir que está tudo bem nesse momento e simplesmente jantar com
a minha família.
Não lembro qual foi a última refeição que fiz, nem se comi algo hoje,
mas não importa, o que eu preciso é de um bom banho e uma dose de
vodca.
Foda-se a vida, foda-se os compromissos e a merda da ressaca amanhã,
só quero fazer com que essa dor no peito passe e eu sei exatamente o que
vai ajudar.
Pego a garrafa que tenho em meu quarto e me sirvo de uma dose dupla,
não me dou ao trabalho de colocar gelo ou qualquer outra coisa, deixo que o
gosto amargo desça pela minha garganta, como um liquido feito pelos
deuses.
Só que dessa vez ela cai como um peso no meu estômago, minha
consciência batalhando com meus pensamentos, dizendo que sou fraco por
não conseguir me controlar, que eu deveria ser adulto e fazer o que Yelena
falou, enfrentar meu pai e meus problemas de frente, mas eu não consigo.
A cada gole de bebida sinto meu mundo ruir um pouco mais, meu peito
aperta e a dor é externalizada pelos meus olhos quando sinto as lágrimas
escorrerem, então jogo o copo com toda a força na parede e me escoro na
cama, passando as mãos pelo meu cabelo, puxo com força para sentir algo
além da dor em meu peito.
Por que eu tenho que ser tão fraco assim?
Por que não posso ser como eles e gostar do que faço, de todas as
oportunidades que tenho?
Por que não posso mudar minha vida?
É tudo o que eu mais queria, ser um ninguém, um simples soldado que
segue ordens e não se preocupa com as consequências, porque quem tem
que se preocupar com isso são os líderes, eles carregam consigo o peso de
tomar as decisões.
Eu não quero ser um líder, só quero ter a liberdade para descobrir quem
eu sou e o que quero fazer da minha vida, porque no momento eu sei o que
não quero, mas qual seria a alternativa?
Agarro a garrafa de vodca que está ao meu lado e tomo no gargalo
mesmo.
Um gole… dois… três… perco a conta depois de um tempo e sinto
minha cabeça girando, ficando cada vez mais confuso, sinto minha
consciência se esvair no mesmo momento que braços fortes me seguram, a
última coisa que vejo são olhos verdes me encarando com preocupação.
Então eu sei que tudo ficará bem, ele está aqui…
CAPÍTULO 19

Bjorn
 
Olho para Ruan se afastando e encaro Danila, que não se move.
— Você não vai atrás dele? — questiono e ele faz que não com a
cabeça, olhando diretamente para mim.
— Sabe que não vai adiantar, ele não me escuta, se funcionasse Ruan
não estaria nessa agora, eu já tentei conversar com ele várias vezes e não
surtiu efeito — Danila se defende.
— Então vamos deixar ele simplesmente sair e se afogar na bebida de
novo? Porque é isso que ele vai fazer assim que chegar em casa e você sabe
— aviso com seriedade, sem entender como ele pode simplesmente deixar
Ruan se afastar assim.
— Vá atrás dele, Bjorn, você é o único que ele vai escutar agora —
Yelena fala e olho em sua direção, ela está séria e voltou a se escorar na
parede.
— Se o Danila, que é o namorado dele, ele não escuta, por que acha
que vai me ouvir? — questiono tentando fazê-los entender.
— Porque Ruan te respeita, ele te admira mais do que a Danila ou a
mim. Ele te escuta, você só precisa dar o primeiro passo e falar com ele —
Yelena declara me encarando com seus lindos olhos azuis e, lá no fundo, eu
sei que é verdade.
Ruan é o mais velho entre nós, mas ele sempre disse o quanto me
admira, que gostaria de ser como eu e manter a calma e o controle da vida,
mal sabe ele que, por dentro, eu também sou um amontoado de confusão e
não sei o que estou fazendo na maior parte do tempo.
Por isso decido agir e vou atrás dele, peço para que meus seguranças
sigam para a mansão dos Smirnov, não fica longe daqui, então chegamos
logo depois dele, mas quando vou descer sou recebido primeiro pelo senhor
Mikhail Smirnov.
— Bjorn, que surpresa recebê-lo, Ruan não falou que você viria — ele
comenta, me parando na porta.
— Ele não sabe que vim, mas preciso falar sobre alguns assuntos
importantes com ele e não posso esperar até amanhã — declaro tentando
fazê-lo entender que é uma emergência, sem comprometer Ruan nisso.
— Claro, ele já deve estar descendo para jantar, não é mesmo, Violet?
— ele pergunta para a mulher.
— Ruan avisou que não está com fome, gostaria que eu fosse chamá-lo
novamente, amor? — ela questiona.
— Eu posso subir, já sei o caminho — digo e eles me olham. — Sei
que faz tempo que não venho aqui, mas o quarto dele é o mesmo, não é?
— É sim, querido, pode subir, tente fazê-lo descer para o jantar, você
também está convidado a se unir a nós — a senhora Smirnov convida e faço
que sim com a cabeça.
— Obrigado — agradeço e passo por eles, tentando não correr pelas
escadas que dão no segundo andar da casa, meu coração quase saltando pela
boca de aflição.
Assim que abro a porta do seu quarto, sei que tem algo de errado, vejo
vidro quebrado no chão e varro o local com o olhar até encontrar Ruan, ao
lado da sua cama, sentado com a garrafa de vodca em uma mão e o rosto no
meio das pernas.
Escuto os sons do seu choro, o que faz meu peito apertar e meu coração
quebrar em mil pedaços.
Então a garrafa cai da sua mão e rola pelo chão no mesmo momento
que vou até ele, quando percebo que está caindo para o lado, o seguro pelos
braços e tento fazê-lo me olhar.
— Ruan, sou eu, Bjorn, você está bem? — questiono, mas é óbvio que
a resposta é não, ele não consegue nem erguer a cabeça. — Ruan, olha para
mim.
Com isso ele levanta o olhar rapidamente e vejo que a situação não é
nada boa quando ele tenta falar, mas logo perde a consciência.
Droga, ele deve ter bebido bem mais do que imaginamos durante o dia.
— Acorda, Ruan, por favor, acorda — peço e dou dois tapas em seu
rosto, então ele volta a abrir os olhos lentamente, mas parece não conseguir
me olhar direito.
Levanto Ruan como consigo e o carrego até o banheiro bem na hora
que ele está prestes a vomitar, por sorte chegamos no vaso antes que ele
despeje todo o conteúdo do seu estômago, consigo erguer a tampa e ele
vomita.
Isso vai ajudar na ressaca de amanhã.
O ajudo a se manter sentado e acordado por um tempo, depois ligo o
chuveiro na água morna e o coloco embaixo, isso o faz acordar mais e me
olhar com atenção.
— Bjorn… o que… — ele tenta perguntar enquanto a água cai sobre
seu corpo ainda vestido e molha o terno cinza, fazendo o mesmo com as
minhas roupas enquanto tento segurá-lo sentado no piso do chuveiro.
— Só fica acordado, por favor, eu vou te ajudar a tirar essas roupas e
tomar um banho, depois você pode dormir, tudo bem?
Ele faz que sim com a cabeça, mas não tira os olhos dos meus enquanto
eu tiro sua roupa, começando pelo terno, depois a gravata, então desabotoo
os botões da camisa branca e tiro tudo, jogando no canto do banheiro.
Quando chega na calça, eu olho para ele, pedindo permissão, e Ruan
faz que sim com a cabeça, então o ajudo a levantar e tiro sua calça, sapato e
meia, deixando-o somente com a cueca branca ensopada.
— Você vai ficar bem — digo mais para mim do que para ele.
Porra, que susto esse desgraçado me deu.
— Não me dá sermão, tá legal?
— Escuta, eu não queria precisar colocar juízo na sua cabeça, mas o
fato é que isso aqui não pode continuar assim, Ruan, você está acabando
com a sua vida e machucando as pessoas que se importam com você.
— Como assim? — ele questiona e volta a sentar no piso do banheiro,
agora ele parece mais alerta do que antes, por isso continuo falando para
mantê-lo acordado.
— Você acha mesmo que nós não estamos sofrendo por você? Vê-lo
assim, se destruindo, é difícil demais, Ruan. Porra, você não entende
mesmo o quanto a gente te ama — anuncio, pegando-me de surpresa, mas é
a verdade, mesmo que eu nunca tenha parado para dar nome a qualquer
sentimento, eu amo Ruan assim como amo Danila e Yelena, eles são meus
melhores amigos, afinal.
— Eu nunca quis machucar ninguém — ele desabafa e respira fundo.
— Eu só não sei como viver de outra forma.
— Sei que sua situação é foda, e sei também que as coisas com o seu
pai e a organização não vão mudar, por isso você precisa de algo saudável
para extravasar suas frustrações.
— O que você faz quando está frustrado? — ele questiona com a voz
arrastada, mas logo abre um meio sorriso e balança a cabeça de um lado
para o outro. — O que eu estou falando? Bjorn Ivanov nunca fica frustrado.
— Por que pensa isso?
— Porque você é perfeito, está sempre controlado, sabe o que fazer e o
que falar na hora certa, você é perfeito, Bjorn.
— Perfeito? Ninguém é perfeito, Ruan — declaro e abaixo a tampa do
vaso sanitário antes de sentar de frente para Ruan. — Quando Yelena
desapareceu, meu mundo todo caiu em ruinas, eu não tinha mais controle
sobre nada, a cada pista que tínhamos sobre ela e que se provava falsa, eu
entrava mais em desespero.
— Não parecia, você estava sempre tão calmo e lidava com a situação
muito melhor do que Danila e eu.
— Por dentro eu estava morrendo, o desespero de não saber aonde ela
estava me consumiu e, por isso, eu os afastei, para que não percebessem o
meu fracasso em encontrar nossa mulher — admito para ele minha maior
falha. — Eu tentei de tudo, Ruan, até pensei em fugir e procurar por ela
sozinho, mas se a Bratva não estava conseguindo nenhuma pista, o que eu
poderia fazer?
— Não adiantaria de nada e você só se colocaria em perigo — Ruan
diz, então ele estende a mão para mim e eu a pego. — Nós tentamos cuidar
de você, tentamos nos aproximar, mas você estava sempre ocupado,
trabalhando.
— Eu sei, eu me afundei no trabalho, que era algo que eu conseguia
controlar, ao contrário das buscas por Yelena — digo e preciso respirar
fundo, lembrar daquela época abre feridas que ainda não foram cicatrizadas.
— Me perdoa por ter me afastado, eu deveria ter ficado ao seu lado, assim
como Danila fez, eu sabia que você não estava bem e mesmo assim fugi.
— Não sei se ia adiantar, Bjorn, eu seria somente mais um problema na
sua vida.
— Não, você nunca será um problema, Ruan, você é um de nós e
precisa de ajuda, nós estamos aqui para ajudá-lo, eu estou aqui agora e não
vou te deixar cair, está entendendo? — declaro com confiança, olhando bem
no fundo dos seus lindos olhos castanhos, seu cabelo molhado quase os
esconde, mas vejo o brilho das lágrimas que se formam e começam a cair.
— Desculpa… — ele pede e eu não aguento mais, vou até ele e me
abaixo, segurando-o em meus braços embaixo da água, Ruan entrelaça seus
braços no meu corpo e começa a chorar, sem conseguir controlar as
lágrimas.
— Eu estou aqui por você, vai ficar tudo bem, vamos passar por essa
juntos, entendeu? — declaro e afago seus cabelos molhados, então beijo o
topo da sua cabeça quando ele se esconde em meu peito, aninhando-se em
meu corpo como se precisasse de proteção do mundo lá fora, e eu deixo,
porque vou protegê-lo de tudo, até dele mesmo.
Depois de um tempo, Ruan para de chorar e relaxa um pouco, então
desligo a água do chuveiro, pego uma toalha de banho e começo a secá-lo.
Nós fizemos uma bagunça no banheiro, eu estou enxarcado, mas foda-
se, nada disso importa, a única coisa em que me concentro é em fazê-lo
melhorar.
— Vou pegar um pijama seco para você, consegue chegar até a cama?
— pergunto.
— Sim, mas é melhor você se trocar também ou vai molhar todo o meu
quarto — ele avisa e olho para as minhas roupas, realmente estou pingando
e não posso andar por aí assim, por isso as tiro e fico só de cueca preta,
então me seco com outra toalha e vou até o closet de Ruan.
Encontro seus pijamas e uma cueca seca e levo para ele, fecho a porta
do banheiro e deixo que se vista.
Quando ele sai, Ruan me olha e engole em seco, então desvia o olhar e
senta na cama.
— Você vai ficar aqui hoje? — ele pergunta, mas parece mais um
convite.
— Não sei, seus pais não vão estranhar?
— Meu pai te adora, mas tem razão, eles podem estranhar — ele
concorda, então volta a me olhar. — Pode pegar a roupa que quiser, acho
que vestimos o mesmo número, eu devo ter um terno parecido com o seu
por aí.
— Obrigado — agradeço e vou para o seu closet, encontro um terno
azul-escuro, uma gravata da mesma cor e uma camisa branca, então pego
uma cueca, meias e sapatos e me visto no closet mesmo, quando saio para o
quarto Ruan está sentado na cama com vários travesseiros atrás das suas
costas e as cobertas cobrindo suas pernas.
— Bjorn… eu não sei como agradecer…
— Não precisa agradecer, estarei aqui por você sempre que precisar.
— O que eu faço agora? — ele pergunta com a voz baixa e olhando
para as mãos.
— Primeiro, joga aquele cantil fora e tira toda a vodca do escritório do
seu pai, ele não bebe de qualquer forma — indico e Ruan concorda com a
cabeça. — Depois a gente conversa sobre formas mais saudáveis de lidar
com tudo isso, tá bom?
— Tudo bem — ele concorda, então Ruan desvia o olhar do meu e
começa a mexer na coberta, ansioso. — Você pode ficar só mais um pouco?
— Claro que sim, eu te espero dormir — digo e vou até sua cama,
sento em cima das cobertas ao seu lado e seguro sua mão com carinho. —
Pode dormir, amanhã é um novo dia e você vai estar de ressaca.
— Eu sei, isso já é uma constante na minha vida.
— Então que seja a última, tudo bem?
— Eu vou tentar — ele fala e vira o rosto em minha direção, com isso
meu coração acelera no peito e meu estômago parece estranho.
Então, em um impulso, Ruan me beija, seus lábios macios tocam os
meus até ele perceber o que está fazendo e se afastar, mas nesse tempo eu
sinto algo diferente, algo que nunca senti antes.
— Desculpa — Ruan pede.
— Tudo bem, não precisa se desculpar — digo e acaricio seu rosto com
uma mão, ele deve estar confuso, só isso, fora a quantidade de álcool que
bebeu.
Depois disso não falamos mais nada, ele escora a cabeça no meu
ombro e eu fico aqui, escutando sua respiração até que ela fique calma e
constante, então me levanto e o coloco de lado na cama, tiro alguns
travesseiros para deixá-lo mais confortável e o cubro para que fique
aquecido.
Antes de sair, passo a mão pelo seu rosto e sinto a barba pinicar meus
dedos.
Ruan está tão quebrado quanto eu estive por um bom tempo, ele
precisa da minha ajuda, precisa de mim, e é isso que eu vou fazer, vou ficar
ao seu lado.
Quando saio do quarto encontro a mãe de Ruan na escada.
— Ele está bem? — ela questiona preocupada.
— Sim, desculpa o horário, senhora Smirnov — digo e abro um sorriso
para ela, mas ela continua me olhando nervosa.
— Eu sei que ele bebe demais, mas não sei o que fazer, ele… ele não
me escuta.
É claro que ela sabe, uma mãe sempre presta atenção em seus filhos.
— Ele vai ficar bem, só faça com que coma algo pela manhã, eu
prometo que vou ajuda-lo a sair dessa — digo com confiança para que ela
saiba que estarei ao lado do seu filho, cuidando dele.
— Obrigada, Bjorn, você sempre foi um bom amigo para Ruan.
— Não precisa agradecer — digo e pego meu celular, vejo a hora e as
ligações perdidas do meu pai. — Desculpa, senhora Smirnov, mas preciso
ir, já está tarde.
— Claro, meu bem, obrigada por tudo — ela agradece e aceno com a
cabeça, então saio e entro no meu carro, seguindo diretamente para casa.
CAPÍTULO 20

Danila
 
Assim que Bjorn vai atrás de Ruan, fico sozinho com Yelena no centro
de treinamento.
Ela está apoiada na parede com os braços cruzados em frente ao peito e
uma perna dobrada com o pé na parede.
— Eu sei o que você está fazendo — Yelena comenta e me encara com
os lindos olhos azuis e um meio sorriso no rosto.
— Não sei do que você está falando — respondo e me controlo para
não sorrir.
— Do Bjorn e do Ruan, você está tentando reaproximar os dois — ela
comenta com a voz cheia de certeza. — Por quê?
— Você sabe o porquê, Bjorn se fechou muito depois que você foi
sequestrada e se afastou de nós, eu só estou dando um empurrãozinho no
destino para fazê-lo voltar a confiar na gente.
— O problema não é confiança, Bjorn tem medo.
— Do quê? — questiono franzindo as sobrancelhas.
— Do que ele sente por vocês — ela responde, pegando-me de
surpresa. — Ele gosta de vocês e é mais do que amizade.
— Como você sabe?
— Eu vejo a forma como ele olha para você e Ruan, especialmente
quando vocês trocam alguma carícia, seguram as mãos, se beijam... Bjorn
está sempre de olho — ela comenta.
Porra, será que é verdade? Será que Bjorn tem sentimentos por mim e
por Ruan esse tempo todo e nunca disse nada?
Não consigo acreditar, e se for verdade? E se ele realmente sente algo
por nós?
O que eu sinto por ele sempre foi bem claro para mim, mas Bjorn
nunca deu abertura a isso, então eu nunca ultrapassei seu limite.
Agora, se ele está correndo dos seus sentimentos, aí é outro assunto.
— Você sempre o amou — Yelena declara como se não fosse nada. —
Relaxa, eu não tenho ciúmes de vocês, de nenhum de vocês — ela
complementa deixando claro o que sente.
— Sabe de uma coisa, eu já estou cansado disso — digo e caminho até
ela, mas quanto mais perto eu chego, mais seus olhos se abrem e ela me
encara com surpresa, é quando eu coloco uma mão na parede ao lado da sua
cabeça, deixando nossos rostos a centímetros um do outro, e levanto a outra
mão para segurar seu queixo, que eu vejo uma fagulha de medo em seu
olhar.
— Não me toca — ela pede com a voz engasgada, então engole em
seco e pisca algumas vezes, tentando se controlar.
— Por quê? Já que você sabe tudo sobre nós, eu quero saber o motivo
de você estar se esquivando tanto dos nossos toques — declaro, fazendo-a
estremecer.
— Eu não tenho que te falar nada. — Ela batalha contra mim, mas
continua parada, eu espero que ela me dê um soco ou me empurre para
longe, mas Yelena não faz nenhuma dessas coisas.
— Você pode me dizer, pode confiar em mim, sou eu aqui, docinho.
— Não me chama assim.
— Eu vou te chamar da forma que eu quiser — aviso, porque dessa vez
eu não vou deixar ela se afastar de novo. — E sabe de uma coisa, eu tô
cansado desse seu joguinho.
Então em um impulso incontrolável eu me abaixo e acabo com a
distância entre nós dois, tomo sua boca na minha com todo o amor que
guardei somente para ela, então devoro seus lábios como se eu precisasse
dos seus beijos para sobreviver.
Quando seus lábios tocam os meus eu sinto uma parte da minha vida
retornando ao meu corpo, e é assim, sentindo seus lábios quentes e macios
se moldarem aos meus, em um beijo que logo se intensifica, que eu sei que
ela voltou.
Yelena não me empurra, ao contrário, ela passa as mãos pelo meu
pescoço e eu a seguro pela cintura, aproximando seu corpo todo do meu,
acolhendo-a em meus braços para continuar beijando-a, nossas línguas
batalham por controle, nossas respirações são rápidas e ofegantes e a porra
do meu coração parece que vai saltar no peito.
É o beijo perfeito, um que eu esperei anos para ter novamente e que
finalmente recebi como um presente, Yelena se entrega por alguns minutos
que parecem voar e eu só quero que o relógio pare nesse exato momento,
enquanto estamos juntos, mas logo sinto seus movimentos mais lentos,
então ela tira os braços do meu pescoço, colocando-os em meu peito, e me
afasta.
Eu respiro fundo e sinto como se essa fosse a primeira respiração
aliviada que dou em um longo tempo.
O gesto é calmo, mas eu não me oponho a ele, largo sua boca e sua
cintura, mas continuo com uma mão na parede ao lado da sua cabeça, olho
para ela, para seu lindo rosto, o nariz arrebitado, as bochechas vermelhas,
os lábios carnudos, esses olhos azuis maravilhosos, que agora brilham
confusos, encarando-me.
— Eu não posso… — ela fala, mas a sua voz falha.
— Pode sim, tanto pode quanto deve, docinho, se entregue ao que você
sente, para de correr de mim, de nós.
— Eu não sinto que os mereço, não depois de tudo o que eu fiz — ela
confessa, então eu entendo tudo, seus motivos para nos afastar, a forma com
que ela não nos deixa tocá-la, é como se ela estivesse nos protegendo dela
mesma.
— Você é a nossa Yelena e eu te amo do jeito que você é — anuncio,
então ela arregala os olhos em minha direção, sua boca abre por um
momento, fechando-se logo depois quando ela engole em seco o que ia
falar. — É claro que te amo, docinho — repito as palavras que a deixaram
confusa. — Sei que nunca te falei isso e me arrependi muito por ter
guardado essas palavras para mim esse tempo todo, mas agora não vou mais
esconder o que sinto por você.
— Não, Danila… — ela tenta discordar, mas eu ergo a mão e coloco
um dedo em sua boca.
— Não adianta debater, eu sei o que sinto por você, desde a primeira
vez que nos beijamos, sempre foi amor, com uma boa quantidade de tesão
— brinco e ela finalmente abre um meio sorriso, aqueles lindos olhos azuis
penetrando os meus parece menos com conforto e mais com conexão. —
Porra, docinho.
Então eu a beijo novamente, sem me conter, e dessa vez ela derrete em
meus braços, sua boca entregando-se a minha como ela fazia antes,
entregando-me o controle, mas deixando claro que quem manda aqui é ela.
Por isso tomo meu tempo, deliciando-me com o seu gosto, com o toque
da sua língua na minha, com a forma que seus lábios ficam sensíveis depois
que eu mordo com carinho o lábio inferior, como ela chega mais perto de
mim quando eu coloco uma mão em sua nuca e controlo o ritmo dos
movimentos.
Nossos corpos voltam a se encaixar um no outro com familiaridade,
porque mesmo depois de tantos anos, ela é minha mulher e seu lugar é em
meus braços.
— Danila, eu… não estou pronta — ela sussurra contra os meus lábios
e eu entendo sobre o que ela está falando.
— Eu sei — respondo e beijo sua boca delicadamente, depois afrouxo
o aperto da minha mão e transformo em um carinho em seu lindo rosto, a
pele macia sobre os meus dedos provoca um choque elétrico por todo o meu
corpo.
— Desculpa — ela pede com a voz fraca.
— Nunca peça desculpas para mim, entendeu? Eu te amo, Yelena, e
vou dar tempo para você se acostumar a ter a sua vida de volta, mas não
vou deixar que se afaste de novo, está entendendo?
Ela não responde, só me encara com o olhar cheio de sentimentos,
então balança seu rosto para cima e para baixo.
Depois disso eu a solto e ela escorrega pela parede, sentando-se no
chão, então sento ao seu lado e ficamos assim por um bom tempo, calados,
absorvendo o que acabou de acontecer.
Até que meu telefone toca e vejo o nome de Bjorn no visor.
— Como ele está? — pergunto assim que atendo e coloco no viva voz
para Yelena ouvir.
“Nada bem, Danila, quando cheguei aqui ele estava transtornado com
uma garrafa de vodca na mão, eu consegui levá-lo ao banheiro e ele
vomitou tudo o que tomou” Bjorn anuncia e Yelena me encara, preocupada.
— Os pais dele sabem? — Yelena pergunta.
“A mãe dele sim, não sei sobre seu pai, eu o ajudei a tomar banho e o
coloquei para dormir, acabei de sair de lá.”
— Obrigado, Bjorn — agradeço meu amigo.
“Eu vou falar com ele amanhã de novo e vamos dar um jeito nisso,
precisamos estar mais presentes, por Ruan, ele não pode ficar sozinho, não
agora, ou terá uma recaída.”
— Sim, nós estaremos lá por ele, todos nós. — Olho para Yelena que
concorda com a cabeça.
“Eu tenho que ir, meu pai está me ligando de novo” Bjorn declara e
sinto um toque de frustração em sua voz. “Nos falamos amanhã na
Central.”
— Até mais — digo e ele desliga.
— O que vamos fazer agora? — Yelena questiona preocupada.
— Você ainda gosta de correr, não gosta? — pergunto, mesmo já
sabendo a resposta, e ela confirma com a cabeça. — Então você vai correr
com ele todas as manhãs, criar uma rotina de exercícios é importante.
— Sim — ela concorda —, podemos almoçar todos juntos também,
assim ele não precisa passar mais tempo que o necessário com o pai dele.
— Ótima ideia, só será difícil conciliar nossos horários — aviso.
— Caso não possamos ir todos, a gente reveza, o importante é não
deixa-lo sozinho, e eu tenho carta branca com meu pai. — Ela dá de
ombros, convencida, e eu sorrio porque esse é um resquício da Yelena de
antes, despreocupada e contando vantagem.
— O escritório do meu pai é o mais perto do dele, então vou tentar
passar lá durante a tarde e convidá-lo para treinar comigo à noite, assim seu
pai não pode recusar.
— Se ele recusar você me chama e eu falo com meu pai — Yelena
complementa e eu concordo. — Agora, sobre a Ordem.
— O que você descobriu? — pergunto e ela respira fundo.
— Ainda não consegui me infiltrar direito no computador do meu pai,
mas preciso confessar uma coisa.
— O quê?
— Eu não fui exatamente honesta no meu interrogatório — ela fala,
pegando-me de surpresa.
— Como assim?
— Eu não menti, só escondi algumas informações — ela declara.
— Por quê? — questiono sem saber o que falar.
— Porque era óbvio que eles sabiam de algo e não estavam me
contando, além do mais, essa vingança é minha, eu vou descobrir quem são
os envolvidos nessa Ordem, depois a Bratva pode acabar com eles.
— Não acha melhor falar tudo o que você sabe e deixar que a nossa
organização resolva, você não confia neles, no seu pai?
— Claro que sim, mas se eu fizer eles vão nos deixar de fora de novo,
vão esconder tudo o que sabem da gente, mentir mais uma vez para nós
como fizeram nossa vida toda — ela fala com amargura. — Eu quero
vingança, eu mereço isso depois de tudo o que passei.
— E o que você sabe? — pergunto intrigado.
— Você tem tempo? — ela questiona com um meio sorriso no rosto.
— Para você, docinho, tenho todo o tempo do mundo.
Então avisamos nossos pais que vamos ficar treinando na Central e,
nesse tempo, ela me conta tudo o que escondeu durante o interrogatório, o
que me deixa ainda mais abismado por ela ter feito algo assim, mas quando
ela termina eu entendo seus motivos.
Yelena tem muito mais do que somente algumas informações, ela tem
um plano formado para conseguir sua vingança e nada, nem ninguém,
poderá impedir que ela tente.
Por isso eu aviso que não importa o dia, a hora ou o lugar, nós
estaremos com ela e vamos ajuda-la nessa missão, afinal, Ruan, Bjorn,
Yelena e eu somos uma equipe, somos a porra dos filhos da Bratva.
Só precisamos da ajuda de uma pessoa, alguém que geralmente não
está muito disposta a quebrar as regras, mas que é essencial para que nossos
planos deem certo.
 
CAPÍTULO 21

Yelena
 
Para que meu plano dê certo eu preciso da colaboração de Katrina
Orlova, a herdeira da quinta família que compõe o Conselho.
O único problema é que ela não é... Como posso falar?
Uma pessoa que goste de trabalhar em grupo.
Katrina é uma mulher incrivelmente inteligente, ela tem a mesma idade
de Ruan, trinta e três anos, mas sua cabeça é a de alguém muito mais
evoluído.
A loira de olhos verdes me encara assim que passo pela porta da sua
sala e faz meu corpo todo estremecer, seu olhar me avalia como se eu
estivesse passando por uma máquina de detector de metais, checando cada
centímetro para ver se eu não carrego nada.
Ela é linda, seus cabelos estão amarrados em um coque perfeito no
topo da cabeça, Katrina usa um conjunto social preto que deixa as curvas do
seu corpo acentuadas.
Apesar de ser uma herdeira, ela nunca se importou com o treinamento
físico, o que ela realmente gosta é de informações.
Katrina também foi abençoada com memória eidética, que a faz
lembrar de tudo o que já viu, tudo mesmo, sem esforço algum.
— Olá, Katrina — cumprimento assim que entro em sua sala e ela se
levanta, estendendo a mão em cima da mesa como sempre faz para me
receber, então eu a pego e solto antes de me sentar na cadeira em frente a
sua mesa.
A sala dela é bem decorada, tem várias fotos da sua família, algumas
dos seus gatos e outras dela quando criança em uma parede verde, do outro
lado fica uma janela com vista para os jardins, que ilumina o ambiente, logo
embaixo vejo um sofá branco, que parece muito confortável.
— Yelena Petrova, a que devo a honra da sua visita? — ela questiona,
nós nos vimos algumas vezes desde que eu voltei e Katrina sempre agiu
formalmente, tal qual agora, sua postura é firme, mas respeitosa.
— Vou direto ao assunto, porque sei que o seu dia é corrido — digo e
respiro fundo. — Eu preciso de um favor e estou disposta a fazer uma troca
para que isso aconteça.
— Você veio prevenida — ela comenta e eu concordo com a cabeça. —
Antes de saber qual é o favor que você quer, gostaria que me dissesse o que
ganharei com isso.
— Eu te dou passe livre para me pedir qualquer coisa no futuro,
qualquer coisa mesmo, não importa o que seja — ofereço, ela sabe o que
isso significa, afinal, eu serei a próxima Pakhan e ter uma carta na manga
comigo é uma moeda preciosa.
— Interessante — ela comenta com um meio sorriso no rosto. —
Acredito que com algo assim, o favor que irá pedir será proibido, certo?
— Sim, você estará quebrando várias regras da organização e terá que
manter segredo sobre isso — respondo com a verdade.
Katrina para por um tempo e pensa no que eu acabei de falar, ela se
escora em sua cadeira branca e respira fundo algumas vezes, me encarando
novamente como se pudesse ler minha mente.
— Ter uma vantagem com a herdeira do Pakhan é sempre importante,
mas eu não gosto de quebrar as regras, elas foram feitas para a nossa
segurança e a da organização, então por que você acha que eu vou te
ajudar? — ela questiona.
— Porque você também faz parte da equipe — respondo confiante.
— Sério mesmo? Porque para mim parece que eu só faço parte dessa
equipe quando lhes convém — ela responde.
— E de quem é a culpa? Você nunca gostou de trabalhar com a gente,
seja em missões ou aqui na Central — digo e ela ergue a sobrancelha. —
Olha, Katrina, eu sei que não somos melhores amigas e que você não me
deve nada, mas no futuro teremos que trabalhar juntas, somos herdeiras e
isso não vai mudar, podemos aprender a confiar uma na outra agora ou criar
atritos futuros, que não ajudarão em nada a manter a organização
funcionando.
— Você é boa com política, assim como seu pai — ela comenta e sinto
um orgulho por receber um elogio dela. — Eu quero algo a mais. Já que
vou estar ajudando todos vocês, quero um passe livre de cada um, o que
acha?
— Eu não posso falar por eles.
— Pode sim, você é a líder desse grupo e sei que tem cada um daqueles
homens na palma da sua mão, ou acha que o caso de vocês passou tão
despercebido assim?
— Como você…
— Eu sei de tudo, já vi homens sofrendo por amigos que foram mortos,
ou agoniados pelos capturados, mas aqueles três estavam completamente
perdidos sem você, e não esqueça que, como você mesma disse, eu faço
parte dessa equipe.
Katrina é muito boa em ler as pessoas, suas observações astutas
atingem o ponto certo.
— Tudo bem, eu farei com que cada um deles lhe deva um favor e você
pode cobrar quando quiser, não sendo nada sexual — complemento e ela dá
risada, como se minha observação fosse um absurdo.
— Certo, estamos entendidas, agora qual é esse favor tão urgente que
você precisou vir até mim para conseguir?
— Preciso de armas indetectáveis e uma forma de desativar qualquer
aparelho eletrônico em um raio de cem metros por uma hora, no mínimo,
mas sem deixar pistas, também preciso do seu novo localizador, aquele que
vai embaixo da pele.
— Para que você precisa de tudo isso?
— Você quer mesmo saber? — questiono e ela faz que não com a
cabeça. — Imaginei mesmo, agora você consegue o que eu pedi, mas sem
alertar nossos pais ou deixar qualquer rastro?
— É obvio que sim, para quando você precisa desses equipamentos? —
ela pergunta minimamente ofendida.
— Mês que vem — respondo e ela concorda com a cabeça. —
Obrigada, Katrina.
— São somente negócios, não precisa me agradecer — Ela estende a
mão novamente e eu a pego, cumprimentando-a —, só prometa que vai se
cuidar e proteger aqueles homens? Não quero um problema em minhas
mãos.
— Prometo que ficaremos vivos — digo com confiança, é o máximo
que posso fazer.
— Tudo bem — ela responde.
Saio da sua sala e vou para o escritório do meu pai, por sorte ele não
está aqui, então começo a mexer no seu computador, tentando decifrar os
novos programas como venho fazendo nos últimos meses, mas é
complicado, parece que cada passo na direção certa eu dou cinco para trás,
me sinto uma burra cada vez que fico em frente a esse computador.
Antes eu navegava pelos programas de reconhecimento facial como se
fossem simples códigos a serem decifrados, mas hoje até eles mudaram e
não preciso nem falar sobre o sistema de segurança da Central.
Vai ser foda para caralho conseguir desligar tudo pelo caminho para
que a gente consiga completar a primeira fase do plano.
Passo meia hora mexendo em tudo e tentando me habituar com as
novas informações, até que escuto a porta ser aberta, então mudo de tela
rapidamente para os relatórios que eu deveria estar lendo sobre as rotas do
tráfico de órgãos da nossa família.
— Já está trabalhando assim tão cedo? — meu pai questiona já que
ainda são sete e meia da manhã, eu saí bem antes dele de casa e vim correr
na pista da Central para aliviar a minha mente.
— Não consegui dormir direito então resolvi começar logo o dia —
respondo e vejo um lapso de tristeza em seu olhar, o que ele logo tenta
esconder com um sorriso.
— Vai melhorar, fale com seu psiquiatra para ele reajustar os
medicamentos — ele comenta e eu concordo com a cabeça, mesmo sabendo
que não vou fazer isso, não quero depender de remédios para dormir tanto
quanto dependo deles para me manter acordada e menos ansiosa.
Sem o tratamento minha mente é um turbilhão de desastres, estou
sempre pensando em tudo o que tenho para fazer, no que pode acontecer
caso algo dê errado ou eu me atrase, ou alguma coisa da qual eu não tenha
controle fique no caminho, talvez um desastre natural aconteça ou eu falhe
na missão e…
Bem, essa é a minha mente, preciso parar de pensar em tudo o que
pode dar errado e me concentrar no agora.
Esfrego uma mão na outra, olho para meu pai desfazendo sua pasta e
pegando seu tablet, depois respiro fundo, tomo um gole de água e
finalmente consigo me acalmar.
Os remédios ajudam a me manter controlada, mas não fazem milagre.
— O que faremos hoje? — questiono me escorando na cadeira e
olhando para Dimitri.
— O que fazemos todos os dias, tentar conquistar o mundo — ele
responde, usando uma frase de um dos seus desenhos animados favoritos,
um que ele fez Adrian e eu assistirmos quando éramos crianças, então nós
rimos da piada. — Você terminou o relatório?
— Ainda não.
— Não tem problema, eu tenho uma reunião com o Conselho agora,
você pode terminar até eu voltar — ele comenta, então meu outro pai entra
na sala, eles trocam um beijo rápido e Serguei fala algo para Dimitri. —
Preciso ir, eles estão me esperando.
— Boa reunião, pai.
— Se eu não voltar a tempo, você pode começar a reunião com o chefe
do grupo extremista do Afeganistão, eles estão esperando uma resposta
sobre o carregamento de drogas em troca de doadores de órgãos — o
Pakhan pede.
— Claro, e o que eu devo responder? — pergunto, já sabendo sua
resposta.
— Leia os relatórios e tire suas próprias conclusões, está na hora de
começar a tratar desses assuntos pessoalmente, minha filha.
— Eles não vão escutar uma mulher — aviso porque esses grupos são
totalmente misóginos e não dão moral para mulheres no poder.
— Então os faça te escutar — Dimitri comenta com um sorriso
convencido no rosto. — Lembre-se, você é a minha herdeira.
— Eu nunca esqueço disso.
Com isso eles saem da sala e fico novamente sozinha, mas dessa vez
realmente leio os relatórios e, com as informações listadas, resolvo aceitar a
troca de doadores por drogas, com a condição de que eles dominem a área
que ainda está sendo invadida em menos de um mês, assim terão que
adquirir mais armas com os nossos fornecedores e continuarão em nossas
mãos.
No começo da reunião é bem difícil fazer com que o líder dos
extremistas me escute, ele até ameaça desligar a chamada se eu não sair e
chamar meu pai, porém deixo clara a minha posição e aviso que qualquer
decisão tomada aqui hoje será feita por mim, ele aceitando ou não.
Esses homens pensam que podem mandar em nós, mulheres, só porque
em seus países as leis são rígidas e extremas contra o sexo feminino, mas
não aqui, esse é o meu território e eles são obrigados a seguir as minhas
leis.
Por isso minha palavra é a final e, quando desligo a chamada, sinto um
gostinho de felicidade que há muito tempo não sentia, é aquela voz que fala
na minha mente e me parabeniza pelo trabalho bem feito.
Quando meu pai volta da reunião com o Conselho, ele está com a
expressão tensa e, durante as próximas reuniões, vejo que ele continua
estranho, parece preocupado com algo, mas quando pergunto o que é ele
desvia e só fala que está cansado.
Quando chega o meio dia, desço para almoçar com os meninos, que
conseguiram sair dos escritórios no mesmo horário, e todos esperamos
Ruan.
Ele parece bem abatido quando aparece, e com certeza está de ressaca,
mas fora a dor de cabeça que fala estar sentindo, ele nos agradece pela
intervenção e promete que vai parar de beber, dessa vez de verdade.
— Eu sei que você vai conseguir, paixão — digo e o apelido que uso
para ele simplesmente sai pela minha boca sem que eu consiga segurar,
então vejo os três homens me encarando e desvio do olhar deles, focando
no prato de salmão grelhado em minha frente. — Amanhã às seis horas eu
quero ver você na pista de corrida, combinado?
— Combinado — ele responde, então vejo eles se entreolharem, mas
ninguém fala nada.
Só terminamos o almoço, depois conversamos sobre o nosso dia e
depois seguimos cada um para o seu escritório, é estranho voltar a ter essa
rotina com eles, parece que os cinco anos que ficamos separados não
mudaram nada, mas infelizmente tudo mudou.
CAPÍTULO 22

 Ruan
 
Preciso confessar que os dias ficaram melhores desde que meus amigos
interviram, claro que os primeiros foram muito difíceis, especialmente a
desintoxicação do álcool.
Por sorte, minha mãe me ajudou e meu pai não descobriu nada, ela
disse que eu estava com gripe e ficou por isso mesmo, mas a vontade de
beber estava lá todo o tempo, porém não deixei ela me vencer e passei por
tudo isso com o pensamento nos meus amigos.
Depois comecei a ter uma rotina melhor, todos os dias eu corro com
Yelena de manhã e, algumas vezes, Bjorn se junta a nós, almoçamos junto
com Danila e, no final do dia, eu treino com meu namorado.
Sinto que isso tem nos aproximado ainda mais a cada dia que passa,
especialmente Yelena e Bjorn, que estavam mais afastados, agora eles
parecem mais tranquilos e acessíveis.
A pior parte continua sendo o trabalho com meu pai, todas as decisões
que precisam ser tomadas durante o dia sobre o sistema financeiro mundial,
eu não quero lidar com isso, mas dei o braço a torcer e agora estou
engolindo minhas reclamações e fazendo tudo o que ele manda.
Pierre continua com a gente no escritório, ele ama o trabalho do nosso
pai e vai me ajudar quando eu assumir meu lugar no Conselho, por isso ele
também está aprendendo tudo comigo.
Foi difícil fazer meu pai concordar em me dar algum tempo livre, mas
minha mãe me ajudou a persuadi-lo e Pierre aceitou estar no escritório mais
tempo para cobrir a minha falta.
Mesmo assim tivemos algumas brigas, ele me chamou de
irresponsável, como já fez várias vezes, e eu fiquei quieto, porque não vale
a pena discutir com meu pai, ele não vai mudar de opinião e vai acabar me
enfiando mais trabalho, somente para me punir.
Eu aprendi cedo a não bater de frente com ele, mas antes eu bebia para
me acalmar, agora que não tenho mais a bebida, eu tomo muita água e
desconto minhas frustrações no ringue com Danila.
— Aquele desgraçado me fez assumir cinco reuniões hoje, duas com os
chineses, você sabe que eu odeio eles, e ainda me deixou lá, só com Pierre,
e foi jogar golfe — reclamo para Danila, que me acerta um golpe na lateral
do corpo sem que eu tenha tempo de me defender.
— Mas você conseguiu se virar — ele conclui e eu concordo. — Isso
aí, esse é o meu garoto.
— Vai se foder — digo e tento acertá-lo, mas ele é mais rápido e segura
meu braço, virando-o atrás das minhas costas, ele me imobiliza e cola seu
corpo no meu.
— Vou foder você, isso sim — ele fala no meu ouvido e depois beija
meu rosto, sinto sua barba pinicando minha pele e um arrepio passa por
todo o meu corpo.
— Seu treinador não está aqui? — questiono, olhando para todos os
lados.
— Não, eu dei folga para ele hoje, somos somente eu e você nesse
ginásio todo — ele declara afrouxando o aperto no meu braço, então eu
abaixo a mão, apertando seu pau por cima da bermuda, e o desgraçado já
está duro para caralho.
— Achei que o intuito desses encontros fosse treinar e desabafar —
brinco e o aperto um pouco mais, sentindo a respiração de Danila ficar mais
forte no meu pescoço.
— Eu sei de um esporte diferente para a gente treinar, e você pode até
continuar reclamando depois.
— E qual seria? — questiono.
— Esse eu te mostro no banheiro.
Então meu dia fica mil vezes melhor quando Danila e eu saímos
correndo do ringue e nos trancamos no banheiro.
Eu tiro minha roupa e vou direto para o chuveiro, quando a água cai
quente sobre meus ombros, sinto o corpo grande de Danila nas minhas
costas, só que agora ele está pelado e seu pau duro roça na minha bunda.
— Vire de frente — ele ordena e assim eu faço. — Porra, Ruan, seu
pau já está prontinho para mim.
— Sempre está, agora o que você vai fazer com ele? — provoco e
Danila me segura com uma mão, masturbando-me lentamente antes de me
beijar com intensidade.
Sua boca me domina, sua mão me enlouquece e, pouco tempo depois,
eu estou a sua mercê.
Ele pode fazer o que quiser comigo, porra, eu sou dele.
Danila morde meu lábio inferior antes de chupá-lo, então sua língua me
invade e sinto seu gosto delicioso, que me faz soltar um gemido.
— Isso mesmo, geme pra mim — ele provoca e eu sorrio.
— Você me deixa louco — aviso e ele morde meu lábio novamente,
depois beija meu rosto, descendo pelo meu pescoço, passando a boca pelas
tatuagens do meu peito até chegar nos mamilos sensíveis.
Danila para ali e começa a chupar o esquerdo enquanto provoca o
direito com a mão e eu vou às alturas.
Esse desgraçado sabe muito bem o que faz, então ele volta a descer e se
ajoelha em minha frente, bloqueio a água do chuveiro com as costas para
que ele não se molhe e assisto esse homem delicioso colocando meu pau na
boca e engolindo cada centímetro dele.
Sua língua rodeia a ponta e provoca meu piercing e eu estremeço de
prazer.
Porra, as sensações são boas demais, Danila é perfeito para caralho.
Ele começa a chupar meu pau com mais intensidade, trabalhando na
ponta para depois colocá-lo inteiro na boca, até o fundo da sua garganta, e
logo eu já não consigo mais me controlar, seguro seus cabelos com uma
mão e espero ele me dar o sinal, quando seus olhos encontram os meus e ele
sorri eu sei que é a minha vez.
Por isso fodo a sua boca com vontade e ele me dá o controle, entro e
saio socando fundo na sua garganta, até ele quase engasgar, então tiro e
volto a socar mais uma vez, estou a ponto de gozar quando ele segura
minhas bolas com uma mão, massageando-as, e com a outra ele enfia um
dedo no meu cu.
As sensações são demais e eu aperto seus cabelos, avisando que vou
gozar, mas ele continua com meu pau na boca e não se afasta.
— Seu safado, eu vou gozar na sua boca — aviso e, mais uma vez,
Danila não se afasta, então não aguento mais e deixo que o orgasmo me
domine, despejando jatos de porra em sua garganta, os quais ele engole tudo
com vontade, deliciando-se.
Porra, esse homem é foda demais.
Quando termino, me escoro na parede com os olhos fechados e um
sorriso no rosto, enquanto Danila levanta e me beija, fazendo-me provar do
meu próprio sabor em seus lábios, então meu corpo todo congela quando
escuto alguém batendo palmas no banheiro.
— Isso sim foi um show de respeito — uma voz feminina fala e
imediatamente meu corpo relaxa, assim que abro os olhos vejo Yelena
escorada na porta do banheiro.
— Tira a roupa e vem participar, docinho — Danila fala e me beija
mais uma vez, olhando no fundo dos meus olhos antes de se virar para ela.
— Temos tempo para mais uma rodada.
— A porta estava trancada — comento com a respiração ofegante e
Yelena solta uma risada alta.
— Claro que sim — ela responde, então ergue as ferramentas de metal
que usou para destrancar a porta.
— O que você está fazendo aqui? — questiono e ela morde o lábio
inferior quando Danila saí da minha frente e pega uma toalha para se secar,
então Yelena percorre todo o meu corpo com o olhar devasso antes de
engolir em seco e voltar a falar.
— Você tem tatuagens novas — ela aponta e eu não sei o que falar
sobre isso. Sim, nos últimos anos fechei o outro braço e comecei a tatuar a
perna que faltava. — Gostei.
Então caminho até ela e, com toda a coragem do mundo, esperando que
ela não me afaste, eu pego a sua mão e coloco no meu peito.
— Essas aqui são para você. — Mostro os trevos de quatro folhas que
fiz logo depois que ela desapareceu, os desenhos estão espalhados pelo meu
corpo todo e representam o meu amuleto, a mulher da minha vida.
Yelena percorre cara um deles com a mão, avaliando-os com o olhar
admirado, quando chega em um muito próximo do meu pau, vejo ela
hesitar, só então ela para de me tocar e se afasta.
— Vistam-se, Bjorn está esperando do lado de fora, nós precisamos
conversar — ela avisa e sai do banheiro, deixando-nos sozinhos novamente.
Então Danila e eu terminamos o banho e nos vestimos rapidamente
para encontrar Bjorn e Yelena, ele com um terno todo preto e Yelena com
uma calça social azul, camisa branca e tênis branco, ela está com os cabelos
soltos hoje, que caem em ondas pelos seus ombros, e uma maquiagem
básica no rosto.
— Está tudo pronto — Yelena fala diretamente —, saímos semana que
vem, na terça-feira de madrugada. Vocês precisam sair pela saída de
emergência, todos temos uma em casa com túneis subterrâneos, nos
encontraremos aqui. — Ela entrega um mapa para cada um de nós, com um
ponto marcado. — Venham caminhando, não dá mais de dez quilômetros de
corrida pela mata, não peguem estrada ou algum veículo, só corram.
— E depois? — Bjorn questiona.
— Eu estarei lá com um carro e com todos os equipamentos
necessários — ela explica.
— Como você vai conseguir isso? — Danila pergunta.
— Eu sou muito boa com disfarces, ou vocês não lembram disso? —
ela declara com um sorriso convencido no rosto.
— E depois? — questiono.
— Depois vocês seguirão meu plano e vamos ter que improvisar
algumas coisas pelo caminho — ela fala. — Eu já consegui os passaportes
falsos, não peguem os de vocês, e tragam dinheiro vivo, a quantidade que
conseguirem carregar, preparem uma mochila com itens importantes, nada
muito grande, se algum alarme soar precisaremos correr e nos esconder por
um tempo, então tragam comida também.
— Eu consigo um cartão que não será rastreado — aviso e ela
concorda com a cabeça.
— Bjorn, eu preciso de celulares com comunicadores, mas sem
qualquer escuta ou ligação com os principais satélites — ela pede.
— Eu consigo, nossa empresa da Rússia estava trabalhando em algo
assim para os nossos soldados — Bjorn responde e Yelena concorda com a
cabeça.
Cada ordem que ela nos dá é o indício de como será nessa busca,
Yelena tem tudo planejado.
— Aqui, espero que dê tudo certo. — Ela entrega outro papel com
algumas instruções escritas, locais que iremos seguir, e depois explica seu
plano detalhadamente, para que nos preparemos para tudo.
O plano é incrível, cada detalhe foi pensado com antecedência e
precisará ser executado com perfeição para dar certo, confesso que o mais
difícil será realmente conseguir fugir sem que ninguém perceba, ainda mais
quatro herdeiros juntos, especialmente Yelena que está sendo ainda mais
vigiada depois que voltou, mas confio que ela conseguirá fazer a sua parte.
Essa mulher é a rainha dos disfarces.
— Vocês entenderam tudo? — ela questiona com a voz baixa.
— Sim — respondemos juntos, então ela pega os papéis que nos
entregou e usa um isqueiro para queimá-los bem na nossa frente, dentro de
uma lixeira de metal.
— Nem uma palavra sobre isso para ninguém, entendido? — ela
ordena.
— Você acha que somos burros? — Danila questiona ofendido.
— É só para garantir — Yelena responde com um meio sorriso. —
Agora vamos, continuem com as suas rotinas normais e não deem bobeira,
nossos pais estão cada vez mais cautelosos e preocupados.
— Relaxa, docinho, vai dar tudo certo — Danila a tranquiliza e pega
sua mão, mas assim que ele a aperta, Yelena se esquiva do contato e volta a
nos olhar com preocupação.
— Quem não estiver no ponto de encontro até a meia noite ficará para
trás, entendido? — ela questiona.
— Sim, senhora — Danila responde brincando, Bjorn acena com a
cabeça e eu sorrio para ela.
— Estaremos lá por você, amuleto — respondo com o apelido
carinhoso e vejo um brilho momentâneo em seu olhar, que faz meu coração
acelerar com a possibilidade de ela voltar para os meus braços algum dia.
Depois disso, seguimos cada um para o seu caminho, mas eu não
consigo parar de pensar em todo o plano e me preocupar se vai dar certo.
E se eu estou me sentindo assim, posso imaginar que Yelena esteja
ainda mais ansiosa do que o normal, só queria poder acolhê-la em meus
braços e acalmá-la.
Yelena sempre sofreu com ansiedade, ela já teve vários ataques de
pânico durante sua vida e toma medicamentos para controlar suas crises, é
algo que somente nós sabemos, não é um fato público porque uma líder não
pode demonstrar um ponto fraco.
Eu só queria estar ao seu lado agora.
CAPÍTULO 23

Yelena
 
Preciso me concentrar em fazer tudo conforme o plano, porque só
assim conseguiremos escapar.
Quatro herdeiros fugindo durante a noite, ao mesmo tempo, isso vai
soar alarmes pelo mundo todo.
É por isso que, enquanto me visto com a roupa que roubei de uma das
espiãs que trabalham aqui em casa e coloco tudo o que vou precisar na
mochila preta, repasso o plano na minha cabeça mais uma vez.
Preciso estar cem por cento preparada para tudo, nada pode dar errado,
nada.
São tantas variáveis, meu maior medo é que algum dos meninos não
consiga sair e tenhamos que seguir sem um de nós.
Confesso que não quero fazer isso sozinha, preciso deles ao meu lado,
preciso da minha equipe.
Termino de organizar tudo e vejo que já são onze horas da noite, abro o
tablet e checo as câmeras da propriedade, depois de muito tempo consegui
hackear o computador do meu pai e obtive acesso remoto ao nosso sistema
de segurança.
Então planto as imagens coletadas da noite anterior e deixo rodando,
programo para ficar quinze minutos assim, com isso deixo o aparelho em
casa, pego somente o celular que Alexei conseguiu e vejo as imagens reais.
O caminho está livre até a saída de emergência, eu mudei o turno de
dois guardas internos da casa e não preenchi com mais ninguém, então
coloco minha mochila nas costas e deixo um bilhete em cima da cama, para
quando meus pais perceberem o que está acontecendo eles não pensarem
que fomos capturados.
As coisas poderiam ser diferentes, eu poderia contar tudo o que sei e
entregar nas mãos do meu pai as informações para ele fazer o que quiser
com elas, eu ia fazer isso, juro que ia, se ele tivesse aberto o jogo comigo.
Sete meses, eu esperei por sete meses para ele me contar que sabia qual
era a organização e que sempre soube sobre eles, mas ele decidiu me manter
no escuro, justo eu, que vivi o inferno por causa daqueles malditos.
Eu tinha o direito de saber o que estava acontecendo, como herdeira da
Bratva eu deveria saber, ele deveria ter me contado, mas agora que ficou
claro que ele nunca abriria o jogo, resolvi parar de me martirizar e seguir
em frente com o plano.
Desço as escadas para o primeiro andar com cuidado, sem fazer
barulho, então sigo direto para o escritório de Dimitri, a porta está trancada,
mas eu tenho acesso pela digital.
Assim que estou dentro do cômodo, ligo o computador e faço as
câmeras voltarem ao normal, deixo as filmagens corretas rodando e sigo
para a passagem secreta atrás da nossa pintura em família.
Olho para o quadro que foi feito há muitos anos, Adrian e eu éramos
adolescentes naquela época, tínhamos doze anos e foi difícil nos manter
parados para um pintor fazer o quadro.
Até hoje não entendo porque o cara não tirou uma foto e usou ela para
pintar, mas minha mãe insistiu que fosse assim, para que nossa família
passasse um tempo a mais juntos.
Foi assim que ficamos seis horas parados, mais o menos, para o pintor
capturar nossas poses e, quando não aguentamos mais, aí sim ele tirou a
foto para pegar as cores e detalhes.
Agora vejo a pintura pronta, aonde Dimitri e Serguei estão de pé
usando ternos azul-marinho iguais, minha mãe está sentada em um banco
alto com um vestido laranja e longo maravilhoso, Adrian e eu estamos de
pé, cada um de um lado dela, eu tenho a mão de Dimitri no meu ombro e
Adrian a de Serguei.
Lembro até hoje que lutei para usar o vestido branco que minha mãe
escolheu, porque eu achei o terno cinza do Adrian mais bonito, então ela
mandou fazer um terno feminino igual ao do meu irmão, e é assim que
estamos na foto.
Passo a mão na moldura e um painel de acesso aparece, então me
aproximo e deixo que leia a minha retina, logo depois o quadro todo se
move para dar acesso a um corredor atrás dele.
Passo pela porta e digito a senha para fechá-la novamente sem soar
alarmes, essa saída é totalmente segura e somente meus pais, minha mãe,
Adrian e eu temos acesso.
Então corro o mais rápido que consigo pelo corredor que vai se
tornando uma rampa e passa por baixo de toda a nossa propriedade, são
quase quinhentos metros de corrida até chegar em uma sala, as luzes vão se
acendendo conforme eu passo e vejo o carro estacionado, logo ao lado
temos um arsenal de armas e itens de sobrevivência.
Eu pego duas pistolas e munição e coloco na minha mochila, depois
entro no carro e abro o portão com o controle remoto, saindo em disparada
pela noite até o ponto de encontro.
Dirijo o caminho todo ansiosa, pensando em tudo o que pode dar
errado, e isso faz meu coração acelerar ainda mais, preciso controlar a
respiração para não me perder em minha própria mente.
Será que eles conseguiram sair?
Será que alguém descobriu meu plano?
E se Katrina contou algo para seu pai?
Ela prometeu que tudo o que eu pedi estaria no ponto de encontro na
hora marcada, estou contando com aqueles equipamentos para que a
próxima fase do meu plano dê certo.
Assim que chego no ponto de encontro, vejo Bjorn parado com a arma
em mãos e o olhar tenso em seu rosto, logo que saio do veículo ele relaxa
ao me ver.
— E os outros? — questiono.
— Sou o único aqui, por enquanto — ele responde, mas logo depois
escutamos passos e erguemos as armas, prontos para atirar assim que a
pessoa aparecer, mas Ruan corre até nós com uma mochila e roupas pretas,
ele está com um casaco confortável, mas com a arma em mãos.
— Desculpa, vim o mais rápido que pude, mas meu pai estava no
escritório resolvendo problemas até tarde, achei que não conseguiria sair —
ele declara sem fôlego depois de correr da sua casa até aqui.
Então falta Danila, eu não tenho como ligar para ele porque mandei
que deixassem seus telefones em casa, então só nos resta esperar.
Faltando cinco minutos para a meia noite, escutamos passos na floresta
e, logo depois, Danila aparece correndo com uma mochila nas costas e a
arma em mãos, pronto para a batalha.
— Finalmente — Ruan expressa e o vejo respirar aliviado.
— Estamos todos aqui, e agora? — Bjorn pergunta.
— Peguem. — Entrego um celular para cada um e vou até uma árvore,
a maior delas à vista, procuro pelo buraco no tronco e, quando encontro,
coloco a mão dentro e tiro os dispositivos que Katrina deixou escondidos.
— Dispositivos de corte de comunicação — Danila declara assim que
lhe passo um deles.
— Sim, vamos precisar — digo, depois tiro os passaportes falsos que
consegui fazer para cada um de nós e entrego a eles. — Na primeira parte
do plano precisaremos passar por soldados da Bratva no transporte de
doadores de órgãos, por isso vamos seguir agora até o Cazaquistão de carro,
quando chegarmos na capital, usem boné e óculos de sol o tempo todo para
não sermos reconhecidos nas câmeras, também não fiquem juntos e não
deem as mãos — instruo e eles concordam. — Prontos?
— Para tudo — eles respondem juntos e eu sorrio sabendo que eles
estarão ao meu lado, aconteça o que acontecer.
Seguimos a viagem de quase dois dias até a capital do Cazaquistão,
trocando de motorista de tempos em tempos para que possamos dormir e
chegar descansados no nosso destino, Astana.
Lá abandono o veículo e alugo um novo em uma concessionária, com o
passaporte falso em mãos e o cartão de crédito que Ruan conseguiu
elaborar, estamos irrastreáveis, já que a essa altura toda a organização deve
estar nos procurando.
Assim que chegamos no aeroporto, os nervos ficam a flor da pele,
agora é o momento da verdade, meu pai deve estar com todos os programas
de rastreamento facial ativos pelo mundo todo, por isso, antes de entrar,
coloco uma peruca com cabelos pretos e faço uma maquiagem
envelhecedora em mim e nos meninos, deixando-nos com mais rugas de
expressão e características diferentes, claro que ainda precisaremos usar o
boné e óculos de grau dentro do aeroporto, mas isso vai ajudar a não sermos
reconhecidos.
Afinal, todos os alertas mundiais devem estar soando nas agências
federais.
Assim que termino os disfarces pego uma mala especial que pode
passar pelo detector de metais e pelo scanner sem identificar as armas que
estarão dentro, então coloco nossas quatro mochilas e entrego uma mala
com roupas normais para cada um dos meninos, eu troco de roupa e visto as
tradicionais pretas com um hijab azul, enquanto eles ficam de camisa social
branca e calça preta.
Assim seguimos para o aeroporto separados, primeiro eu vou
carregando a mala indetectável, quando passo pela inspeção e eles conferem
meus documentos, liberando-me para entrar, respiro mais aliviada.
Depois vejo cada um dos homens fazendo o mesmo, mas diferente de
mim eles são revistados e depois seguem para os bancos na sala de espera.
Nós não trocamos olhares e nem falamos uns com os outros, a não ser
pelos telefones.
Yelena: Nossos assentos são separados, vão ao banheiro e ajam
normalmente, aceitem tomar algo e comam quando chegar a hora, não
pareçam nervosos e nem tensos, se alguém puxar assunto respondam como
se estivessem em uma viagem de negócios.
Ruan: Tudo bem, mais alguma coisa?
Yelena: Assim que chegarmos, seguiremos em caminhos separados até
a base da Bratva, ali teremos que nos infiltrar, eu já tenho o número de série
que irá nos identificar como soldados.
Passo um número de doze dígitos para cada um deles.
Danila: Eles devem estar nos procurando, não vai ficar na cara quatro
soldados novos?
Yelena: Não, eu dei a ordem de transferência há cinco dias, eles estarão
nos esperando, depois disso nós vamos seguir com o grupo de transporte de
doadores de órgãos até a Sicília.
Bjorn: A terra dos italianos, como vamos passar despercebidos por
Ricardo Moretti? Ele nos conhece, esteve na Rússia ano passado com seu
Consigliere, Gian Carlo Moretti.
Yelena: Digamos que eles estarão resolvendo um probleminha mais
sério do outro lado da ilha e não vão nos encontrar pessoalmente.
Eu armei um ataque da máfia de Roma para tentar invadir a Sicília,
nada muito complicado, tenho certeza que os Moretti dão conta, mas eu
precisava da distração.
Danila: Você pensou em tudo, docinho.
Yelena: Óbvio que sim, agora vamos que eles estão embarcando já.
Sigo primeiro para o avião, depois cada um deles vem separadamente
com a sua mala de mão e entramos, eu estou na primeira classe junto com
Bjorn, já Danila e Ruan ficaram no comercial para não levantar suspeitas.
Danila: Espertinha, vocês dois viajam confortáveis de primeira classe e
nós sofremos aqui no comercial.
Bjorn: Se quiser, podemos trocar.
Yelena: Não, não podemos, e se aquietem aí que o voo é longo.
Danila: Sim, docinho.
Depois de um tempo no ar a comissária nos oferece o jantar e pego o
celular novamente para conversar com eles.
Yelena: Como está o voo, Bjorn?
Essa é a primeira vez que ele anda de avião, já que era proibido de sair
de Moscow.
Bjorn: É vergonhoso dizer, mas senti um pouco de medo quando a
aeronave saiu do chão.
Danila: Vergonha nenhuma, cara, eu fico com frio na barriga e vontade
de vomitar toda vez que aterrizamos.
Ruan: Espero que não passemos por nenhuma turbulência.
Danila: Nem brinca com isso.
Bjorn: Pelo menos a comida é boa.
Vejo que ele recebeu seu jantar e está se deliciando com o salmão
grelhado, o mesmo prato que eu pedi.
Ruan: Só se for a de vocês, isso aqui está com uma cara suspeita.
Danila: Para de fazer nojinho, só engolir sem mastigar que não dá nem
pra sentir o gosto.
Ruan: Sabe que eu engulo tudo mesmo.
Danila: Eu sei.. e como sei!
Yelena: Hahahahaha... Seus safados, não está na hora de brincadeiras.
Danila: Só está com ciúmes porque você também engole tudo sem
reclamar, docinho.
Não respondo imediatamente a sua provocação, mesmo querendo
muito entrar na brincadeira, não posso dar mais esperanças a ele, aquele
beijo já foi mais do que eu deveria ter entregue, especialmente a Danila.
Yelena: Comam e durmam bem, os próximos dias não serão tão
confortáveis.
Com isso, desligo o celular e termino meu jantar, depois vou ao
banheiro e, quando volto, deito a poltrona e durmo até de manhã.
CAPÍTULO 24

Bjorn
 
No dia seguinte, seguimos as instruções de Yelena até chegarmos na
Central da Bratva em Trípoli, na Líbia.
Assim que encosto o carro alugado, sou recebido por três soldados.
— Número de identificação? — um deles pede e eu informo os
números que Yelena me passou no avião. — Correto, seja bem-vindo,
soldado, estávamos a sua espera.
Ele abre o portão de ferro que dá acesso a entrada de uma mansão, a
luz do dia ilumina o local, dando-me a visão de vários carros parados em
frente à casa, de longe reconheço o que Yelena alugou e, logo atrás, o de
Ruan e Danila, que vieram juntos.
Sigo e paro atrás deles, então outro soldado vem e me acompanha até
uma sala na entrada da mansão, aonde uma reunião está acontecendo.
— Nós temos ordens para continuar com o transporte dos doadores,
portanto se preparem para a missão, o barco sairá em seis horas, não quero
que nada dê errado, estão ouvindo? — o Brigadier, Salas Saad, é quem dá
as instruções, ele é um homem baixinho, de quase cinquenta anos, mas que
sabe liderar sua equipe. — Os novos soldados chegaram?
— Sim, senhor — um homem ao seu lado responde.
— Certo, sigam para a minha sala imediatamente —  Salas ordena e eu
concordo com a cabeça, do outro lado da sala vejo Yelena, Danila e Ruan
fazerem o mesmo, porém quando vamos segui-lo, mais dois soldados nos
acompanham.
Entramos em uma sala cheia de livros, que mais parece uma grande
biblioteca, então Salas se dirige até a sua mesa e nós ficamos todos de pé
em sua frente.
A essa hora ele já deve ter recebido a notificação sobre a procura pelos
herdeiros e nossas fotos devem estar em toda a sua base de dados, mesmo
com a maquiagem que Yelena fez e as lentes de contato, ele ainda pode nos
reconhecer.
A sorte é que o homem não levanta a cabeça dos papéis enquanto fala,
ele não se dá ao trabalho de nos olhar atentamente.
— Vejo nas fichas de vocês que são soldados experientes, essa missão
será fácil, é só acompanhar a carga e garantir que chegue em segurança até
os Estados Unidos, lá vocês seguirão para New York e servirão por dois
meses sob as ordens de Vor Andrei Petrov, tudo entendido? — Salas
questiona.
— Sim, senhor — respondemos juntos.
— Agora vão, eu tenho problemas maiores para resolver — ele ordena,
então nos encaminhamos para a saída, mas antes posso ouvi-lo falar com
um dos seus soldados. — Eles fugiram mesmo?
— Sim, senhor, as ordens são para capturá-los, mas não fazer mal
algum, são quatro herdeiros.
— Porra, espero que não venham para os nossos lados, de qualquer
forma espalhe a notícia pela nossa equipe de inteligência.
— Sim, senhor.
Depois disso a porta se fecha atrás de mim e não escuto mais nada.
— Vocês podem tomar um banho e se trocar no alojamento — um
soldado explica e indica o andar de cima, então seguimos para lá e entramos
em um quarto com duas beliches.
Yelena coloca a mala em cima da cama e Danila fecha a porta logo
depois que eu entro, então ela abre a mala e tira nossas mochilas de dentro,
entregando-as para nós.
— Tomem banho se quiserem, mas não estraguem a maquiagem, ainda
precisamos sair daqui sem que ninguém nos reconheça — Yelena fala, mas
sua voz não parece nada calma.
— Eles acabaram de receber a informação — digo e ela confirma com
a cabeça.
— Eu ouvi, vamos fingir que estamos dormindo até chegar a hora de
descer, depois disso já será noite e a missão terá começado — Yelena
comenta. — Essa primeira parte não é a mais difícil, mas a mais importante,
assim que pisarmos nos Estados Unidos teremos que fugir do meu tio
Andrei, e isso sim vai ser foda.
— E de lá nós vamos para onde? — Ruan questiona, Yelena nos passou
partes dos planos, mas só ela sabe exatamente cada passo que daremos.
— Voltaremos ao local de onde eu fugi — ela declara, pegando-me de
surpresa.
— Mas eles não estavam mais lá quando a Bratva fez uma varredura
— digo, ao lembrar do que meu pai contou.
— Claro que não, eles não são tão idiotas assim, mas eu sei aonde eles
estão agora, só preciso voltar lá e encontrar o caderno que Ingrid escondeu
— ela explica e, quando não perguntamos nada, Yelena continua. — Antes
de sair de lá, Ingrid conseguiu roubar um caderno cheio de informações de
um dos Mestres, eles não usavam nada tecnológico, tudo era escrito à mão,
ela o escondeu antes de tentarmos fugir e não conseguiu pegá-lo a tempo.
Sinto a dor em sua voz quando Yelena fala sobre sua amiga que morreu
ao ajudá-la a escapar, uma coisa dessas deixa marcas em uma pessoa, e
posso imaginar o quanto ela esteja sofrendo agora por lembrar desse
episódio.
— Bem, eu preciso de um banho, alguém vai me acompanhar? —
Danila questiona quebrando o clima tenso.
— Ela disse sem borrar a maquiagem — Ruan responde dando de
ombros e Danila solta uma gargalhada.
— Droga, achei que um de vocês gostaria de relaxar um pouco, mas
tudo bem, eu me viro sozinho. — Danila pisca o olho e vejo que isso faz
Yelena relaxar os ombros. — Docinho, vai ficar tudo bem, eu garanto.
— Como você sabe? — Yelena pergunta.
— Porque o plano é seu, e seus planos sempre funcionam — ele
responde com confiança, então vejo Yelena abrir um meio sorriso.
— Obrigada — ela agradece, então tira a mala de cima da cama e deita
de costas, encarando a cama de cima, perdida em pensamentos.
Depois de Danila, cada um de nós toma um banho, então dormimos o
restante do tempo, nos revezando para ter alguém sempre acordado de vigia
caso algo aconteça.
Nós treinamos isso na Central, mas eu nunca pude realmente por em
prática todos os ensinamentos teóricos, portanto é tudo novo para mim, a
missão, os disfarces, essa tensão de não saber o que acontecerá a seguir, se
conseguiremos seguir os planos de Yelena ou chegará uma hora que
teremos que simplesmente improvisar.
Quando falta apenas uma hora para a partida, alguém bate na nossa
porta e avisa que o jantar está sendo servido, então seguimos para a sala de
jantar aonde todos os outros soldados já estão fazendo suas refeições.
A comida é boa, mas não consigo comer muito, meu estômago está
enrolado com a ansiedade do que virá a seguir.
Olhando para frente percebo que Yelena mal tocou na sua comida, já
Danila e Ruan conseguiram devorar o prato todo.
— Está tudo bem? — pergunto para ela, que encara o prato como se
estivesse no mundo da lua.
— Ah, sim, só não estou com fome — ela responde.
— Precisa comer, docinho, vamos precisar de energia para continuar —
Danila fala do seu lado e bate seu ombro no dela. — Vamos lá, só algumas
garfadas, está bem bom, eu garanto.
Com isso, Yelena pega o garfo e come um pedaço da carne com arroz e
um molho diferente, engolindo aos poucos a comida, depois de um tempo
ela come o que consegue e diz que está satisfeita.
— Muito bem, agora vamos que está na hora — Ruan comenta ao meu
lado e vejo que faltam quinze minutos para sairmos para a missão.
Com isso, subimos para o quarto e pegamos nossas mochilas, ao descer
um soldado nos entrega as armas de fogo necessárias e um colete à prova de
balas para cada um.
— A segurança é feita em turnos no navio, estejam sempre atentos
mesmo que não pareça ter perigo algum, de forma alguma abram o
compartimento dos doadores de órgãos, eles tem alimento e água suficiente
para a viagem toda, entendido? — O soldado nos dá as ordens e nós
concordamos. — Boa sorte.
— Valeu, cara — um soldado atrás de nós é quem responde e eles
trocam um aperto de mãos antes de seguirmos em grupo para o porto.
Assim que chegamos, vejo um grande navio sendo carregado com
containers pretos e vermelhos, consigo contar a quantidade e vejo que são
vinte e dois containers, doze pretos e dez vermelhos.
— Os pretos são os doadores do sexo masculino, os vermelhos do
feminino, é importante distingui-los e separá-los para não dar briga ou
confusão lá dentro — um soldado explica ao ver que estou encarando a
carga. — Primeira vez na missão de transporte?
— Sim — respondo e ele sorri.
— Relaxa, é bem tranquilo, essa já é minha décima viagem e nunca
fomos atacados, o caminho é limpo até a Europa e, de lá, a carga é separada
e enviada para outros países, para onde você vai?
— Estados Unidos — respondo.
— Ah, é legal para caralho lá, e o Vor Andrei Petrov é um líder muito
foda, você vai curtir trabalhar para ele — o soldado comenta, então alguém
o chama. — Preciso ir, é melhor você entrar e fazer a varredura do convés,
eles não gostam quando ficamos parados.
— Obrigado — digo e vou até Yelena. — Vamos nos dispersar e andar
por aí, esperando ordens.
— Sim — ela aceita, então Danila e Yelena vão para um lado enquanto
Ruan e eu seguimos para o convés.
Com as armas em mãos caminhamos de um lado ao outro, atentos a
qualquer possível ameaça, mas nada acontece e, duas horas depois, o navio
está carregado e pronto para partir.
A viagem até a Sicília não é demorada, lá os containers são
descarregados no porto Empédocles, então seguem em caminhões até o
porto de Palermo, aonde são novamente carregados em um navio, assim que
está tudo pronto e estamos quase embarcando, um grupo de italianos chega
no porto e os vejo cumprimentar o líder da missão.
— Droga — Yelena reclama e caminha para se esconder atrás de uma
empilhadeira quando vê Ricardo Moretti conversando com o nosso líder. —
Escondam-se, mas sem parecer suspeito.
Então nós fazemos o mesmo e ficamos de costas para eles, fingindo
olhar para o navio enquanto Ricardo Moretti conversa com o líder da
missão, eles trocam algumas palavras, mas não consigo escutar sobre o que
estão falando.
Por sorte, logo depois disso os Italianos simplesmente dão a volta e
saem do porto.
— Algum problema? — um soldado pergunta para o líder.
— Aparentemente eles estão tendo problemas com os romanos, mas já
conseguiram resolver e estamos livres para seguir viagem — o líder
responde então ordena que todos embarquem no navio.
Depois de algumas horas de viagem, Yelena vem até mim no convés.
— Como você está? — ela pergunta.
— Nervoso — respondo sinceramente. — E você?
— Ansiosa pra caralho — ela fala e engole em seco. — Se algo
acontecer com um de vocês…
— Nada vai acontecer, somos uma equipe e protegemos uns aos outros,
entendido? — digo com convicção.
— Eu jamais me perdoaria, Bjorn, estou começando a repensar esse
plano todo, talvez deveríamos ter contado aos nossos pais e deixado que
eles resolvessem tudo, afinal, quem sou eu para liderar algo assim? — ela
fala e percebo que está realmente preocupada.
— Você é a porra da herdeira da Bratva — digo com a voz baixa para
que somente ela escute. — Nunca duvide de si mesma, todos nós
escolhemos estar aqui, Yelena, porque concordamos com você e vamos te
seguir até o inferno, se for preciso.
Então pego sua mão e aperto, sinto algo como um choque elétrico
quando nossos dedos se tocam e tenho certeza que ela também sente, mas
Yelena não solta minha mão imediatamente, ela recebe o carinho e me
encara com seus lindos olhos azuis.
— Obrigada, eu estava começando a pirar aqui — ela fala, só então
aperta a minha mão e a solta.
Cada troca de qualquer carinho com Yelena é uma vitória, uma batalha
vencida no caminho de reconquistar sua confiança.
— Você não está sozinha, Yelena — complemento mais uma vez, para
que ela tenha certeza disso. — Danila, Ruan e eu faremos de tudo por você,
entende isso?
Ela inclina a cabeça para o lado ainda me olhando e então sorri de
forma triste, depois dá meia volta e continua a patrulha pelo convés.
O restante da viagem é tranquilo, vejo o líder conferir os containers
duas vezes e entregar comida aos doadores de órgãos, depois ele fecha as
portas novamente e os deixa lá.
Cada um desses containers possui pessoas presas lá dentro, homens,
mulheres e crianças, que serão mortos para terem seus órgãos coletados e
vendidos pelo maior preço.
É assim que funciona o mercado de tráfico de órgãos pelo mundo e
todo esse comércio é controlado pela família Petrov.
Quando chegamos no porto, os containers são separados e enviados
para os seus destinos, nós acompanhamos quatro caminhões que seguirão
para os Estados Unidos de barco, saindo do porto de Nantes, na França.
— Mais uma viagem de barco — Ruan reclama com o olhar triste. —
Eles não podiam enviar essas coisas de avião, não?
— Você está bem? — questiono e ele faz que não com a cabeça.
— Acho que só estou enjoado, mas vai passar — Ruan reclama e posso
ver que ele parece pálido.
— Temos remédio para enjoo. — Um soldado oferece e Ruan pega o
comprimido que ele entrega.
— Obrigado, ele não está muito acostumado com tantas viagens de
barco — Danila agradece e o soldado ri.
— Sei como é, passei mal na minha primeira viagem todinha, foi foda,
por isso carrego esses comprimidos comigo, ajuda de verdade.
— Valeu, cara — Ruan agradece e engole um dos comprimidos.
A viagem dura sete dias em alto mar, cruzando todo o oceano atlântico,
e é um inferno, especialmente para Ruan, que passou mal grande parte do
tempo.
CAPÍTULO 25

Ruan
 
Droga de navio que não para de balançar por um momento sequer.
Nos primeiros dias o remédio até que ajudou e eu achei que iria
normalizar e me acostumar, mas hoje estou quebrado, vomitei desde o
momento que acordei até o almoço, não comi nada por medo de vomitar
mais ainda e estou me sentindo muito fraco.
— Você precisa comer algo — Yelena fala, ela está sentada na cama ao
lado da minha, com uma expressão preocupada no rosto.
— É melhor não — digo e engulo em seco uma onda de enjoo. —
Promete que não vamos voltar de barco?
Ela fica em silêncio, o que só confirma que provavelmente esses são os
seus planos.
— Desculpa, paixão — ela pede e, depois de alguns segundos, seus
olhos se abrem e ela percebe que usou o apelido carinhoso que antes me era
tão familiar. — Desculpa.
— Por quê?
— Você sabe.
— Por me chamar de paixão?
— Sim, eu não quero alimentar esperanças em ninguém — ela vai
direto ao ponto e isso faz meu peito apertar.
— Yelena, você pode lutar contra o que sente, pode pensar que vai
conseguir nos esquecer e seguir em frente, mas isso não vai acontecer —
digo com confiança e, com muito esforço, consigo sentar na cama sem ficar
enjoado. — Por que você está nos afastando?
— Eu não sou mais a mesma — ela repete a desculpa que vem usando
desde que chegou.
— Isso não importa, nenhum de nós é o mesmo daquela época, muita
coisa aconteceu, nós crescemos e mudamos também.
— Não é a mesma coisa…
— Eu sei que nossos caminhos foram diferentes, que você passou pelo
inferno e voltou, mas não consigo entender porque não nos deixa chegar
perto de você, por que nos afasta assim?
Yelena levanta como se fosse sair do pequeno quarto, mas então ela só
fecha a porta e se escora nela, para depois me encarar com seus lindos olhos
azuis, cheios de dor e sofrimento.
— Eu me sinto suja — ela confessa com a voz baixa —, todo o tempo,
é como se tivesse algo por baixo da minha pele, algo nojento e que eu não
consigo lavar, é como se o sangue das minhas vítimas corresse pelo meu
corpo…
Porra, a dor na sua voz faz a droga do meu peito apertar ainda mais.
Yelena se sente culpada por ter matado aquelas pessoas, mas por quê?
Eles eram os inimigos, não faz sentido.
— Você fez o que precisava ser feito para sobreviver — repito o que já
foi dito antes.
— Matar pessoas inocentes?
— Eles não eram inocentes, eles estavam lá por livre e espontânea
vontade, seguindo sabe-se lá quais regras de uma seita louca, com líderes
mais loucos ainda. Eles te capturaram, torturaram, te quebraram, Yelena,
seja lá quem esteve no ringue com você, mereceu o seu destino.
— É isso que vocês não entendem, eu não sei se aquelas pessoas
realmente mereceram — ela declara. — Era estranho, em alguns lugares eu
via a imagem que agora sei ser do avô do Bjorn, mas em outros eram
imagens diferentes, outras pessoas sendo exaltadas como deuses.
— Você acha que era mais do que uma seita?
— Sim, tenho quase certeza disso, ou uma tão poderosa que tem o
domínio de outras, sabe? Estive pensando nisso, nas diferenças entre elas e
em como nunca eram as mesmas pessoas, sempre mudavam os guardas,
alguns pareciam soldados treinados, outros crianças com arminhas de
plástico.
— Crianças? — questiono sem entender direito.
— Sim, malditos adolescentes armados, fazendo a guarda do local, esse
quebra-cabeça só ficava ainda mais confuso enquanto eu estava lá e,
quando eles me torturaram, foram pessoas treinadas em alojamentos de
guerra, ali eu tenho certeza que eram soldados, mas depois que viram que
eu não daria informações a eles, tudo mudou.
— Eles perceberam que não conseguiriam nada seu, então
simplesmente desistiram? Se foi isso, por que mantê-la viva? — questiono.
— Eu não sei o que eles queriam me mantendo viva, talvez mostrar que
eles tinham o controle da situação ou me usar como macaco de circo — ela
responde angustiada, então me levanto e vou até ela, pego a sua mão e
seguro com firmeza para que ela não se solte, mas vejo o que meu toque
provoca nela quando seu olhar encontra o meu.
— Você não está suja, Yelena.
— Estou sim, eu matei tanta gente, Ruan, alguns eram soldados, mas a
maioria não, e… caralho, eu matei até adolescentes que foram postos no
ringue comigo, eles não deveriam ter dezoito anos ainda, eram muito
inexperientes e…
Yelena desvia o olhar do meu quando uma lágrima escorre pelo seu
rosto, então ergo a mão e a capturo antes que caia no chão.
— Não chora, meu amuleto — falo e aperto sua mão com carinho. —
Olha pra mim. — Seguro seu queixo e a faço erguer o rosto. — Eu não
posso imaginar como foi passar por tudo o que você passou, mas você
precisa seguir em frente, o passado ficou lá, no passado, deixe-o lá junto
com toda essa dor e sofrimento que você guarda dentro de si.
— Não é assim tão fácil — ela contrapõe.
— Eu sei que não, por isso estou aqui para aliviar um pouco o seu
fardo, por favor, não me afaste, eu te amo Yelena, sempre te amei e sempre
vou te amar. — Com isso eu a puxo para perto e a envolvo em meus braços,
segurando-a contra o meu peito como fiz muitas vezes no passado e como
sonhei em fazer desde que ela voltou.
Yelena pertence aqui, abraçada a mim, protegida.
Depois de alguns segundos eu sinto ela relaxar e suas mãos envolvem a
minha cintura, puxando-me para mais perto, então ela descansa a cabeça no
meu peito, enquanto eu acaricio seus cabelos com uma mão e as suas costas
com a outra, inspirando profundamente o cheiro dos seus cabelos, o cheiro
de Yelena.
— Estou aqui por você — digo sem ter coragem de soltá-la.
— Obrigada, paixão — Yelena responde e o apelido carinhoso faz meu
coração acelerar de felicidade, especialmente porque agora ela não se
arrependeu por tê-lo usado —, mas agora você precisa descansar,
chegaremos em algumas horas nos Estados Unidos e você tem que estar
cem por cento para quando desembarcarmos.
— Só mais um pouco — falo e a abraço mais apertado antes de soltá-la
a contragosto, assim que me afasto sinto a falta que ela faz, meu corpo
parece gelado sem o seu calor. — Obrigado por cuidar de mim.
— Não precisa agradecer. — Yelena abre um meio sorriso e inclina a
cabeça para o lado, então abre a porta e sai, deixando-me sozinho com meus
pensamentos.
Cinco horas depois Bjorn me avisa que estamos quase chegando, então
reúno minhas coisas na mochila, pego a de Yelena e saio do quarto.
O plano é complicado e depende de várias coisas para dar certo, a
primeira parte é garantir que Andrei Petrov não nos veja, já que ele
geralmente confere as cargas de doadores de órgãos pessoalmente, depois
disso precisamos encontrar uma forma de despistar os soldados e fugir sem
sermos notados.
— Vocês quatro, façam a patrulha na rua lateral e nos avisem caso
avistem algo suspeito — o líder fala para nós, que seguimos até uma rua ao
lado do barco, o que é perfeito para o nosso plano.
— Droga, meu tio está aqui — Yelena avisa assim que passamos pelo
tumulto de pessoas chegando em carros pretos, Andrei é o primeiro a
descer, mas por sorte é de madrugada já e a iluminação no porto não é das
melhores.
— Fiquem de costas — digo para eles enquanto fingimos patrulhar a
rua com nossas armas em mãos e as mochilas nas costas, já que deveríamos
seguir junto com os soldados de New York para servir a Bratva aqui por um
tempo.
Acompanhamos a movimentação de longe por um tempo, ficando cada
vez mais afastados do grupo até que chegamos no limite da rua, olho para
trás e percebo que ninguém está prestando atenção na gente, então faço
sinal.
— Agora é a hora — digo e Yelena concorda, nesse momento
caminhamos rapidamente pela rua até chegarmos em um posto policial, os
dois agentes nos encaram desconfiados, mas assim que nos aproximamos,
Yelena tira uma arma com silenciador do cós da calça e atira na cabeça dos
dois.
— Hora e lugar errados — ela fala quando passa pelos corpos
sangrando no chão. — Vamos escondê-los para não gerar suspeitas.
Puxamos os dois corpos para dentro da casinha de patrulha e fechamos
a porta, deixando-os lá, depois disso avistamos o carro da polícia e é
exatamente com ele que sairemos daqui.
Yelena se adianta e entra no banco do motorista, Danila senta ao seu
lado e Bjorn e eu seguimos no banco de trás, ela liga a chave que já estava
na ignição e dá a partida, dirigindo devagar até sairmos do porto, então
acelera pelas ruas de New York.
O carro da polícia não gera suspeitas enquanto passamos, mas logo que
entramos em um bairro mais residencial, Yelena para o veículo em um beco
vazio.
— Agora vamos trocar de carro — ela avisa, descendo e seguindo até
um Citroën C4 preto, ela consegue abrir o carro com uma chave especial,
depois faz ligação direta e assim seguimos para fora de New York em
direção a Montana. — A viagem será longa e precisaremos trocar de carro
mais algumas vezes, então fiquem confortáveis, durmam um pouco e
quando eu estiver cansada eu aviso.
Depois de algumas horas de silêncio e sem ninguém conseguir dormir,
a viagem mais parece uma tortura.
— Nós podemos jogar algum jogo de viagem para mantê-la acordada
— Danila dá a ideia.
— Qual jogo? — Bjorn pergunta.
Todos pensam por um momento em algum jogo que possamos jogar.
— Continuando a história — Danila sugere.
— Como joga? — pergunto, já que nunca ouvi falar desse jogo.
— É bem fácil, uma pessoa começa uma história com “Era uma vez…”
e as outras vão continuando a narrativa, cada um em sua vez com uma frase
— ele explica.
— E quem ganha? — Yelena questiona, interessada.
— Não tem vencedor, a intenção é deixar a mente fluir e ver no que vai
dar — Danila responde com um sorriso no rosto.
— Tudo bem, eu começo — Yelena avisa. — Era uma vez quatro
amigos que estavam viajando juntos…
— … eles estavam em três homens e uma mulher… — Danila fala.
— … e fugiam de uma organização poderosa… — Bjorn continua.
— … eles precisavam se esconder em algum lugar… — digo quando
chega minha vez.
— … e a mulher, mais esperta do que os homens, sugere uma casa
abandonada… — Yelena fala, com um sorriso safado no rosto.
— … eles concordam com o plano… — Danila diz.
— … assim que encontram a casa… — Bjorn complementa.
— … percebem que está completamente deserta… — falo.
— … então eles vão embora e completam sua missão. — Yelena
finaliza.
— Poxa, docinho, agora que ia vir a parte boa — Danila reclama e
todos rimos.
— O que você ia fazer em uma casa abandonada? — Bjorn questiona.
— Muitas coisas, meu amado Bjorn, muitas coisas! — Danila responde
e todos soltam uma gargalhada.
Então a viagem continua e jogamos mais alguns joguinhos até o dia
clarear e Yelena avisar que está cansada, então Danila assume o seu lugar
no volante e eu sento no lugar dele, deixando que Yelena vá atrás com
Bjorn.
Não leva muito tempo para ela pegar no solo e cair deitada no ombro
dele, nós olhamos a cena pelo retrovisor e sorrimos, ela parece estar
voltando a confiar em nós, ou pelo menos a aceitar nosso toque.
— Vocês conversaram no barco? — Danila questiona com a voz baixa.
— Sim, ela me contou o motivo de ter se afastado — respondo, então
conto tudo o que Yelena me falou quando estávamos sozinhos, deixando
meus dois amigos em choque assim que termino.
— Porra, adolescentes? Não me surpreende ela estar se sentindo assim
— Danila declara e eu engulo em seco.
— Sim, agora eu entendo seus motivos — digo e sinto meu peito
apertar pela dor que ela sentiu por tanto tempo.
— O que nós podemos fazer para ajudá-la? — Bjorn questiona.
— Vocês já estão fazendo — Yelena fala e arruma sua postura,
sentando-se ereta no banco. — Só me ajudem a conseguir vingança.
— Desculpa, amuleto, mas eles precisavam saber — eu digo e olho
para ela, mas Yelena não parece magoada por eu ter contado da nossa
conversa para eles, ela parece mais aliviada.
— Eu sei, vocês tem sido pacientes e me dado espaço para lidar com os
meus sentimentos, por isso agradeço a cada um de vocês — ela declara e
engole em seco logo depois, posso jurar que seus olhos brilham com as
lágrimas que ela não deixa escorrer. — Só me ajudem a desvendar esse
mistério e conseguir vingança, depois disso poderei seguir a minha vida em
paz.
CAPÍTULO 26

Yelena
 
A viagem é longa e trocamos de carro duas vezes antes de chegar em
Montana, assim que reconheço a estrada que percorri a pé pelas matas, ando
mais devagar à procura da entrada para o acampamento.
Quando encontro, sigo com o veículo por uma estrada de terra estreita,
o dia já está chegando ao fim quando uma clareira aparece em frente.
Como esperado, o local está vazio e somente algumas construções de
concreto permanecem, mas não vejo nem pessoas e nem os guardas que
antes estavam aqui.
— Tudo limpo — aviso quando paro o carro e desço, então sigo a pé
até o local que era a minha prisão pelo tempo que estive aqui.
Danila, Bjorn e Ruan me seguem de perto, olhando para tudo com
atenção.
— Era aqui que eles mantinham você? — Bjorn questiona.
— Sim, Ingrid ficava na cela ao lado. — Aponto para o local fechado,
que ainda tem uma cama arrumada, a minha cela só tem um colchão sujo
jogado em um canto.
Caminho até a cela dela, o portão não tem mais cadeado, então entro e
vou até sua cama, consigo lembrar exatamente do dia que eles a trouxeram,
ela estava chorando muito, Ingrid era mais nova do que eu, havia
completado vinte e um anos fazia pouco tempo, ela estava apavorada.
Ela chorou por uma noite toda, abraçando as próprias pernas, os sons
que ela produzia ainda assombram meus pesadelos.
Eu lembro de ter chorado algumas vezes quando percebi que não seria
resgatada, outras depois de matar algum jovem inocente, mas a pior de
todas foi logo depois que Ingrid foi morta bem na minha frente, mas dessa
vez eu não deixei as lágrimas escorrerem, só corri para longe dela com meu
coração estraçalhado no peito.
— Yelena — a voz de Bjorn me tira das minhas lembranças —, você
está bem?
— Sim, só preciso encontrar o caderno — falo e engulo em seco as
lágrimas que querem sair, não é hora para isso. — Me ajudem a procurar,
façam uma varredura pela propriedade, qualquer buraco ou local que possa
ser guardado um caderno pequeno.
Então eles saem e eu fico sozinha na cela, pensando aonde ela pode ter
escondido o diário que não tivemos tempo de pegar antes de sair.
Refaço os últimos passos de Ingrid naquele dia, sei que ela foi levada
para os aposentos do Mestre durante o dia, então sigo para a construção
maior, e que mais parece uma casa, do outro lado da clareira.
O lugar está mobiliado, mesmo que algumas cadeiras e mesas estejam
caídas e quebradas, como se as pessoas tivessem saído às pressas, o que
provavelmente aconteceu, mas não tenho esperança de encontrar qualquer
informação aqui, a Bratva já fez uma varredura no local e, se encontraram
algo, somente meu pai e o Conselho sabem.
Vou até um dos quartos, mas me parece simples demais, então sigo
para o próximo e esse sim tem uma cama de casal grande e outra porta, que
presumo ser o banheiro.
Ingrid sempre falava que eles a levavam para um quarto com cortinas
vermelhas e, quando vejo as mesmas cortinas, uma fagulha de esperança
aparece.
Olho para a cama, que já foi toda revirada, mas não encontro nenhuma
abertura no colchão ou algo embaixo dele, então sigo para o guarda roupa,
que está todo aberto e fora do lugar, indicando que os soldados já olharam
por tudo.
A cada lugar que procuro a esperança diminui, então vou até o
banheiro e paro para pensar.
Aonde eu esconderia um caderno para que ninguém o encontrasse?
Ingrid era esperta, mas não era uma espiã treinada, então ela esconderia
em algum lugar óbvio, só espero que ninguém tenha olhado ali antes.
Vou até o vaso sanitário e abro a caixa de descarga, olhando para dentro
encontro o que parece ser um livreto envolvido em plástico no fundo da
água.
Enfio a mão e tiro de lá, meu coração acelerado e a ansiedade batendo
forte para saber o que está escrito.
Tiro o caderno de dentro das várias sacolas plásticas que Ingrid o
envolveu, como ela conseguiu isso eu nunca saberei, mas por sorte ele não
está úmido ou molhado.
Abro a primeira página e vejo que tudo foi escrito à mão, é como um
diário de operações, cada passo dado foi marcado aqui.
Vejo a data da primeira página, são duas semanas antes de eu fugir,
então começo a ler tentando absorver todas as informações que estão
escritas.
As primeiras páginas são somente operações diárias, troca de turno dos
guardas, informações sobre as pessoas que estavam aqui, sobre o trabalho
dentro da seita, orações anotadas em algum canto da página, até que paro
em uma parte importante:
“Segundo ordens recebidas do alto escalão, seguiremos para o Brasil
assim que a cerimônia de casamento for concluída, a prisioneira deve ser
encaminhada para a Rússia com uma carga de armamento e soldados
suficientes para fazer a travessia sem maiores problemas.”
Droga, eles iam me levar para a Rússia depois daqui, o que significa
que os desgraçados tem pessoas infiltradas em nosso próprio país.
O alto escalão é citado mais algumas vezes nas próximas páginas, mas
somente um nome é mencionado: James Van Welshen.
— Esse nome não é estranho — digo assim que vejo Bjorn e Danila.
— James Van Welshen — Bjorn lê em voz alta. — Ele é a mão direita
do presidente dos Estados Unidos, já tive reuniões com ele.
— Eu também — Danila comenta.
— Eu sabia que reconhecia o nome, mas por que ele está sendo citado
logo aqui? — questiono quando termino de ler o caderno.
— Talvez ele esteja envolvido com essa seita, não é incomum que
pessoas do alto escalão do governo financiem coisas assim, inclusive o
governo tem dinheiro envolvido em seitas religiosas — Bjorn conclui.
— Você acha que eles sabiam que eu estava aqui? — pergunto, então
Bjorn e Danila se olham.
— Não sei, docinho, nós reviramos todos os líderes mundiais de ponta
cabeça quando você desapareceu, mas não encontramos nada suspeito —
Danila comenta.
— Vocês não encontraram ou só não ficaram sabendo? — pergunto
assim que Ruan se junta a nós.
— Tem isso, depois de saber que nossos pais esconderam informações
de nós, fica difícil confiar no que sabemos ou não — Bjorn conclui —, mas
se eles soubessem de algo envolvendo o presidente dos Estados Unidos, ou
de alguém tão próximo a ele, teriam agido.
— Ou eles ficaram com medo que algo acontecesse a Yelena — Danila
aponta. — Olha, não vale a pena ficarmos teorizando o que pode ou não ter
acontecido. Nós temos um nome e duas localizações, o que você quer fazer,
docinho?
— Um dos primeiros lugares aonde fui levada tinha como língua nativa
o português e, pelo sotaque, era o do Brasil e não o de Portugal — explico
ao lembrar da primeira tortura que sofri, eles falavam um inglês muito
carregado comigo, tentando encobrir sua língua, mas quando achavam que
eu havia apagado eles mudavam para o português.
— Diz alguma coisa sobre uma localização mais precisa nesse diário?
O Brasil é enorme — Danila questiona, então folheio as páginas do diário e,
lá no final, encontro um mapa desenhado a mão do estado do Acre, com um
X marcando uma cidade chamada Jordão.
— Parece pequeno demais para ser uma cidade — Bjorn comenta
assim que puxamos o mapa completo na internet —, mas é o lugar perfeito
para esconder uma seita ou um pequeno exército.
— Sim, especialmente com uma reserva extrativista logo ao lado. —
Danila aponta para o local aonde uma grande área de terra é demarcada. —
Ainda é muita área para cobrir, Yelena, como vamos encontrá-los assim?
— Vamos para o carro, vocês dirigem em direção à fronteira do
México enquanto eu dou um jeito nisso — digo e, assim que entramos no
carro de novo, eu pego um computador que comprei na estrada e conecto na
internet do celular, deixando-o impossível de ser rastreado.
Assim, depois de um tempo, consigo hackear um dos nossos
programas de reconhecimento de terreno, esse tem fotos atualizadas de todo
o mapa mundial, especialmente de áreas protegidas, como é o caso da
floresta Amazônica.
Durante o caminho, nós paramos em alguns restaurantes de estrada
para comer e em um banheiro público para tomar banho, mas quando o dia
vira noite, todos estão cansados demais para continuar dirigindo.
— Podemos parar para dormir? Deve ter algum hotel que não possua
câmeras — Danila pede coçando os olhos.
— Difícil, mas podemos encontrar algum outro lugar que não seja
dentro de alguma cidade — respondo.
Qualquer cidade, por menor que seja, possui câmeras de segurança que
fazem parte de um sistema de monitoramento e assim podem ser rastreadas
pelo meu pai.
Ao longe eu avisto uma construção pequena, com um sino no topo, é
uma igreja, mas quanto mais nos aproximamos mais percebo que ela deve
estar abandonada pelo estado de preservação ruim.
— Aqui — aponto para a igreja —, podemos dormir aqui hoje.
— Uma igreja, docinho? — Danila questiona com uma sobrancelha
erguida e um sorriso safado no rosto.
— Parece bom para mim — Bjorn responde e Ruan concorda com a
cabeça.
Paramos o carro nos fundos e tiramos nossas mochilas para pegamos as
armas, só para garantir, mas o local parece mesmo abandonado, o chão está
sujo e tem poeira acumulada em todos os móveis.
— Pelo menos podemos dormir nesses bancos super confortáveis. —
Danila brinca, passando a mão por um dos bancos para tirar a poeira antes
de sentar.
— Prefere dormir sentado no carro? — questiono.
— Olha, acho que sim — ele responde e solta uma gargalhada, então
levanta e caminha em minha direção com o olhar afiado, eu dou um passo
para trás quando ele se aproxima demais, mas Danila segura minha mão
antes que eu possa me afastar e seu toque provoca uma onda de choque por
meu corpo.
Tenho a mesma sensação de estar suja por baixo da minha pele e,
quando vou pedir para ele se afastar, Danila segura meu queixo com uma
mão e se aproxima ainda mais, beijando meu rosto com carinho.
— Você não está suja, docinho — ele comenta e minha pele arrepia. —
Você está bem, está com a gente, seus homens, seus amores. Relaxa ,
Yelena, aceite meu carinho.
— Danila, eu…
Tento falar, mas ele não deixa, logo depois sua boca está na minha e eu
perco todo o controle do meu corpo, lutando uma batalha interna entre
sentir que eu não os mereço, mas querer ser deles da mesma forma.
Então decido me entregar, foda-se a hesitação e o medo, eu sou deles,
sempre fui e sempre serei, lutar contra isso só tem me deixado infeliz, lutar
contra nós é impossível porque somos inevitáveis, o que sentimos uns pelos
outros é tão forte quanto a atração entre dois polos magnéticos.
— Se entregue, docinho, se entregue para nós — Danila pede no meu
ouvido e eu faço que sim com a cabeça, então ele volta a me beijar, agora
com mais intensidade, sua boca dominando a minha como fazíamos antes,
como sempre foi entre nós, e eu o deixo ter o controle.
Seus lábios abrem os meus para das passagem a sua língua, que se
enrosca na minha, seu sabor é delicioso, assim como sentir seu corpo no
meu.
Danila segura minha bunda com as duas mãos e me levanta do chão,
sem parar de me beijar ele me leva até o altar e me coloca sentada na mesa
com as pernas enroscadas na sua cintura, posso sentir sua ereção dura
contra minha boceta.
Porra, faz tanto tempo que eu não transo que estou subindo pelas
paredes só com o pensamento de ter ele dentro de mim.
— Caralho, amuleto — Ruan fala ao meu lado, então Danila para de
me beijar e eu abro os olhos, vendo Ruan muito próximo a mim, logo sua
boca está na minha, enquanto Danila beija meu pescoço e desce pelo meu
ombro.
— Posso tirar a sua roupa, docinho? — Danila pede.
— Sim — respondo sem pensar, então ele coloca a mão na borda da
minha camiseta e Ruan para de me beijar por tempo o suficiente para que
eu erga os braços e deixe que ele arraste o tecido preto pela minha cabeça,
outras mãos habilidosas abrem meu sutiã e, assim que estou sem nada, sinto
uma boca no meu mamilo esquerdo enquanto Ruan volta a me beijar.
— Senti tanta falta de você, meu amuleto — Ruan murmura contra
minha boca e eu mordo seu lábio inferior, ouvindo-o gemer baixinho, o que
faz com que meu coração acelere ainda mais no peito.
Ergo minha mão e procuro pelo quarto elemento dessa equação, então
sinto dedos entrelaçando-se nos meus e logo sei que é Bjorn que está do
meu outro lado.
Danila se ajoelha em minha frente, tirando minhas botas, logo depois
ele abaixa minha calça junto com a calcinha, sem demorar ou pedir
permissão, assim que estou nua e à mercê dos três homens mais
maravilhosos desse mundo, sinto beijos subindo pela minha perna, no
interior da minha coxa.
Danila morde algumas partes da minha pele e lambe logo depois,
provocando um arrepio pelo meu corpo todo.
Enquanto isso, Ruan esmaga meu seio com uma mão, largando minha
boca por tempo o suficiente para Bjorn segurar o meu pescoço e me beijar
intensamente, seus lábios se moldam aos meus com carinho, ele morde meu
lábio inferior, depois lambe o local e sua língua pede acesso a minha boca e,
quando elas se encostam, sinto seu gosto e sei que não tem mais volta.
Assim que a boca de Danila encontra a minha boceta eu gemo de
prazer contra a boca de Bjorn, então Ruan morde levemente meu mamilo e
eu já nem sei definir o que estou sentindo.
A língua de Danila passa pelo meu clitóris com maestria, batendo e
lambendo enquanto beija minha boceta como se fosse minha boca.
É fodidamente delicioso tê-lo entre as minhas pernas e só melhora
quando ele coloca dois dedos na minha boceta, fazendo movimentos de vai
e vem enquanto chupa meu clitóris.
— Goza, linda, goza na boca dele — Bjorn sussurra no meu ouvido e
volta a me beijar enquanto eu jogo a cabeça para trás e só consigo sentir
todo o prazer que eles me proporcionam.
Não leva muito tempo para que minha perna esteja tremendo ao redor
da cabeça de Danila, quando um orgasmo potente me domina e eu gozo
com força em sua boca, subindo ao paraíso quando sinto meu corpo todo
vibrar e meu coração bater mais rápido.
— Eu quero mais — digo assim que encontro a minha voz —, quero
todos vocês, quero meus homens.
— Você já tem, linda — Bjorn fala —, agora vira — ele pede e Danila
sai do meio das minhas pernas para eu me virar e colocar as mãos na mesa,
arqueando minhas costas e me empinando, então Bjorn se coloca atrás de
mim e dá um tapa na minha bunda. — Isso é por você nos afastar — diz e
eu solto um gemido.
Então vejo Danila e Ruan se despirem também, ficando completamente
nus, seus paus duros e prontos para tudo.
— Alguém trouxe camisinha? — pergunto.
— É óbvio que sim — Danila responde e pega um pacote de
preservativo na sua mochila.
— Óbvio que foi você — digo quando ele pisca para mim e entrega um
preservativo para Ruan e outro para Bjorn.
— Eu sempre estou preparado, docinho — Danila comenta e eu sorrio,
me escorando na mesa quando Bjorn passa uma mão pela minha coluna e
abre as minhas pernas com a sua coxa, afastando-as e me deixando
completamente exposta.
— É isso que você quer? — ele pergunta e desliza o preservativo em
sua ereção, depois pincela o pau na minha boceta, então faço que sim com a
cabeça. — Você está tão molhada, tão pronta para mim.
— Sim, estou pronta — digo e ele me provoca com o pau, passando
por fora da minha boceta, rodeando o clitóris que continua sensível do
último orgasmo. — Vamos, me fode.
— Paciência, eu quero saborear tudo o que essa boceta tem para me
oferecer — ele fala e segura minha cintura com as duas mãos, então sinto
cada centímetro do seu pau entrando lentamente e jogo a cabeça para trás,
mordendo meu lábio inferior para conter um gemido. — Caralho, eu senti
tanta falta de você, linda, tanta falta dessa boceta deliciosa engolindo o meu
pau.
— Porra, que visão do caralho — Danila fala e olho para o lado para
vê-lo envolver o próprio pau com a mão e começar a se masturbar.
— Nem me fala — Ruan comenta, fazendo o mesmo do seu lado, então
eles se olham e lambem os lábios pouco antes de Ruan se aproximar de
Danila e começar a beijá-lo com vontade, enquanto Bjorn me fode,
entrando e saindo da minha boceta, me fazendo contrair ao seu redor.
Porra, é tão bom estarmos os quatro juntos...
A visão de Danila e Ruan se beijando faz meu corpo queimar de prazer,
então sinto a mão de Bjorn segurando meu cabelo enquanto ele me fode.
Eu esperei tanto tempo para ter meus três homens de volta que não sei
como explicar o que estou sentindo agora.
Danila segura seu pau e o de Ruan com a mão e começa a masturba-los
juntos, eles ainda estão sem camisinha, então os movimentos são pele
contra pele.
— Caralho — Ruan geme contra os lábios de Danila.
— Continuem assim — digo, olhando para os dois. — Eu quero ver
vocês gozarem.
— Porra, docinho — Danila geme e move sua mão mais rápido
enquanto sinto Bjorn me foder na mesma velocidade, é como se
estivéssemos os quatro conectados em uma sintonia deliciosamente perfeita.
CAPÍTULO 27

Danila
 
Estou perdido em sensações enquanto escuto Yelena gemendo com
Bjorn fodendo a sua boceta, eu seguro meu pau e o de Ruan com mais
força, apertando-os um contra o outro e fazendo movimentos de sobe e
desce com a mão.
— Goza comigo, Ruan — digo e volto a beijá-lo, dominando sua boca
e sentindo a barba rala raspando na minha quando seus dentes se fecham
contra meu lábio inferior.
— Eu vou… — ele responde, mas não tem tempo de terminar a frase
quando sinto seu pau contraindo na minha mão, o piercing brilhando na
ponta fica todo melado do gozo do meu homem e é com essa visão que
gozo também, juntando nossas porras em uma mistura deliciosa que nos
lambuza inteiros.
— Isso foi foda — Bjorn fala e só agora percebo a forma que ele está
nos olhando, com uma intensidade que grita desejo, ele para de foder
Yelena e a vira de frente para ele, beijando-a.
Só de ver eles assim meu pau já está pronto para a próxima, então vou
até eles e seguro Yelena por trás, beijando seu ombro, mordendo sua pele
até chegar no pescoço.
Bjorn faz o mesmo e beija sua clavícula, descendo até os peitos dela
para chupá-los enquanto ela se vira para o lado e beija a minha boca.
Yelena tem o gosto deles, de tesão, de proibido, de tudo o que eu mais
quero na vida.
— Me fode, querido — Yelena pede para mim e, com um movimento
rápido, pego a camisinha de cima da mesa, abro o pacote e deslizo o
preservativo no meu pau, logo depois estou dentro dela, sendo abraçado
pela sua boceta quente e apertada para caralho.
Porra, é como estar em casa novamente.
— Caralho, docinho, eu senti tanta falta dessa boceta deliciosa —
sussurro em seu ouvido.
— E eu do seu pau, porra, como senti sua falta — ela reponde e eu
sorrio fazendo sua pele arrepiar.
— Quero gozar bem fundo na sua boceta — digo enquanto meto meu
pau mais fundo, sentindo-a contrair ao redor dele, para depois tirar até a
borda e meter de novo.
— Eu quero que o Ruan te foda, da mesma forma que você está
fazendo comigo — ela pede, como a safada que é.
— É isso que você quer? — pergunto, olhando para o lado para ver
Ruan já pronto com o preservativo em mãos e um sorriso safado no rosto.
— Sim, é isso o que quero — ela responde e Bjorn volta a beijar sua
boca, engolindo seus gemidos enquanto Ruan se coloca atrás de mim.
Seu pau provoca meu cu e me faz estremecer de prazer, assim que ele
encaixa a cabeça grossa, paro de foder Yelena para me acostumar com o seu
tamanho e as sensações incríveis que estou sentindo.
Porra, é um prazer inexplicável.
— Isso, relaxa pra mim, amor — Ruan pede atrás de mim e beija meu
ombro.
Segurando minha cintura com as duas mãos ele vai entrando conforme
eu relaxo, deixando eu me acostumar.
Enquanto isso, Yelena segura o pau de Bjorn e começa a masturbá-lo,
eles se beijam e eu posso sentir sua boceta me apertando, contraindo de
tesão, então, quando Ruan está completamente enterrado no meu cu, eu
respiro fundo e relaxo para voltar a me mexer, a cada investida que dou em
Yelena sinto Ruan atrás de mim.
Logo somos quatro pessoas gemendo, quatro amantes perdidos na
névoa do prazer, suados e ofegantes, enquanto nos entregamos uns aos
outros.
Não vejo a igreja ao nosso redor, nem a grande estátua de um homem
pregado na cruz, a única coisa que consigo ver são meus três amores.
Finalmente, depois de tantos anos, estamos juntos novamente, e agora
ninguém mais poderá nos separar.
Mordo o pescoço de Yelena enquanto Bjorn a beija, mas quando ela
afasta levemente o rosto para o lado, a boca dele escorrega para o meu lado
e nossos olhares se encontram, eu engulo em seco, mas quando vou me
afastar ele se aproxima e me beija sobre o ombro de Yelena, sua boca macia
toca a minha e provoca arrepios por todo o meu corpo.
Eu nunca o beijei, mas sempre quis saber como era.
E porra, é ainda melhor do que eu poderia ter sonhado...
Bjorn abre os lábios e eu gemo contra a sua boca enquanto Ruan me
fode, estou pronto para gozar de novo, sentir a boceta de Yelena se contrair
ao meu redor e o pau de Ruan chegando naquele ponto sensível dentro de
mim é demais, adicione a tudo isso a sensação de ser beijado por Bjorn e eu
estou nas alturas.
— Porra, eu vou gozar — aviso e Bjorn sorri contra meus lábios. —
Faz ela gozar comigo — peço e ele concorda, então nos afastamos quando
ele volta a beijar Yelena, levando sua mão para o meio das pernas dela,
massageando seu clitóris.
Eu sinto o exato momento que ela chega lá, porque ela solta um
gemido agudo delicioso e eu a fodo com mais velocidade.
Entro e saio da sua boceta, sentindo o pau de Ruan me fodendo na
mesma velocidade, suas mãos seguram minha cintura com mais firmeza,
mas sou eu quem controla os movimentos, eu quem domino a situação toda.
— Danila, eu vou gozar — Ruan confessa e morde meu ombro de tanto
prazer que está sentindo.
— Goza, amor — digo e, pouco depois sinto ele estremecer atrás de
mim, então eu fodo a boceta de Yelena com investidas mais rápidas e mais
fortes, tomando-a para mim e marcando-a como minha, enquanto ela grita
de prazer, jogando sua cabeça para trás e aproveitando as sensações, eu
afasto suas pernas, indo ainda mais fundo na sua boceta.
— Porra, docinho — digo enquanto Bjorn e Yelena se masturbam, vejo
as mãos dos dois por cima do ombro e assisto o momento que Bjorn tira o
preservativo e goza na mão dela, despejando sua porra sobre ela.
Então somos só nós dois, eu a jogo contra a mesa do altar, seguro seus
cabelos e abro bem as suas pernas, investindo com mais velocidade e força,
fodendo-a como sempre fiz.
Yelena grita de prazer.
— Se toca pra mim, docinho, eu quero ver você gozar — ordeno e ela
o faz, levando uma mão para o meio das pernas, ela começa a se masturbar
e, pouco tempo depois, sinto suas pernas tremendo e todo o seu corpo
contraindo quando ela goza, gemendo feito a porra de uma cachorra com
meu pau socado fundo na sua boceta.
É só assim que deixo meu prazer me dominar e gozo junto com ela,
enchendo o preservativo com jatos de porra que me levam à loucura.
Quando volto da onda do orgasmo estou ofegante, suado e feliz para
caralho ao ver que todos estamos iguais.
Ruan está com um sorriso lindo no rosto enquanto recupera o fôlego,
sentado em um dos bancos em frente ao altar.
Bjorn vem até nós e ergue Yelena em seus braços, sentando com ela no
banco, ele acaricia seus cabelos e beija sua testa enquanto ela se recupera
dos orgasmos.
Já eu tiro o preservativo e dou um nó na ponta, depois me escoro na
mesa do altar e jogo a cabeça para trás, sem conter o sorriso enorme que
domina meu rosto.
— Isso foi perfeito — digo o que todos estamos pensando.
— Perfeito é apelido, foi sensacional — Ruan complementa e vejo seu
sorriso ficar ainda maior quando ele olha para Yelena nos braços de Bjorn.
— Você está bem, amuleto?
— Sim, pela primeira vez em anos, eu estou bem — ela responde
erguendo a cabeça para nos olhar. — Eu amo vocês — Yelena declara com
a voz confiante e cheia de emoção. — Desculpa por tê-los afastado, eu só…
precisava de espaço.
— Nós estamos juntos agora, é o que importa — Bjorn declara e eu
concordo com a cabeça. — Agora precisamos encontrar um lugar para
tomar um banho e depois dormir um pouco.
Ando até uma sala pequena e vejo o que parece ser um banheiro, não
tem chuveiro, mas assim que olho para o lado de fora vejo um poço com
um balde ao lado.
— Já volto — aviso e saio pela porta lateral, vou até o poço e jogo o
balde lá dentro, ouvindo o barulho de água quando ele chega ao fundo,
então puxo pela corda para descobrir que temos água, pelo menos isso. —
Não é um chuveiro e está fria, mas podemos nos limpar com a água do poço
— falo e pego um pano e o sabonete da mochila, então levo o balde até o
banheiro. — Vem aqui, docinho, você primeiro — digo e pego ela no colo,
então a deixo de pé no chão, molho a toalha na água fria e depois passo
sabonete em seu corpo, para então lavar toda a espuma.
Yelena é maravilhosa, sua pele, mesmo cheia de marcas das torturas
que ela sofreu, é clara e macia, ela estremece de frio assim que jogo a água
para enxaguá-la, mas não se mexe.
Ela me olha com carinho e admiração por todo o processo e, no final,
eu a beijo novamente, unindo nossas testas e encarando seus lindos olhos
azuis.
— Eu te amo, docinho — declaro baixinho para que somente ela
escute.
— Também te amo, querido — ela responde e planta um beijo
carinhoso na minha boca.
Depois disso pego mais água no poço e me lavo, então Ruan e Bjorn
fazem o mesmo e, no fim, estamos os quatro limpos e prontos para dormir.
— Eu assumo o primeiro turno da vigia — aviso e pego minha arma.
— Vou ficar com você um tempo, estou sem sono. — Bjorn faz o
mesmo e caminha até a porta da igreja comigo.
Ruan e Yelena encontram uma manta dentro do porta-malas do carro
que roubamos e jogam ela no chão, depois deitam e se abraçam, pegando no
sono logo em seguida.
Bjorn e eu ficamos em silêncio por um tempo, mas eu sei que ele quer
falar algo, seu olhar volta e meia encontra o meu e ele desvia a atenção,
fingindo que não estava me olhando, por isso caminho até ele e sento do seu
lado.
A luz da lua ilumina seus cabelos loiros e os olhos tão verdes quanto as
árvores durante o dia.
— Você está bem? — pergunto.
— Sim, eu só… estou confuso, eu acho — ele confessa com a voz
baixa.
— Por ter me beijado? — pergunto diretamente.
Bjorn me encara com as sobrancelhas erguidas por um momento,
depois desvia o olhar e faz que sim com a cabeça, inspirando
profundamente antes de responder.
— Eu nunca pensei que sentiria algo assim por você — ele confessa.
— Não tem nada de errado nisso — digo com firmeza.
— Eu sei, só que sempre vi você e Ruan apenas como amigos, nunca
imaginei que sentiria vontade de beijá-los, até hoje... Aquilo me deixou em
chamas, Danila.
— E você está assustado com o que sentiu?
— Sim, eu não sei o que significa — ele fala e volta a me encarar,
então seu olhar cai para a minha boca e Bjorn engole em seco.
— Significa que você é livre para fazer o que quiser, Bjorn, não tem
nada demais nisso — declaro e me aproximo um pouco mais dele, vendo
sua reação, mas Bjorn não se afasta, ele vem de encontro a mim e, quando
estamos a centímetros um do outro, ele fala.
— Eu quero tanto te beijar de novo — Bjorn confessa.
— Então me beija — peço e ele acaba com a distância entre nós.
No momento que seus lábios tocam os meus eu me perco em sensações
novamente, sempre imaginei como seria beijá-lo, sempre sonhei com esse
momento, mas nunca poderia imaginar que fosse assim, com ele tão
entregue e ávido por mim quanto estou por ele.
Seus lábios se moldam aos meus como se sempre fizéssemos isso, não
sinto hesitação dele, somente entrega, por isso tomo a frente da situação e
seguro sua nuca com uma mão, dominando seus movimentos  enquanto o
beijo.
É bom demais, ainda melhor do que antes, e logo estamos ambos
ofegantes e perdidos um no outro.
Bjorn é o primeiro a se afastar, com os olhos fechados e um meio
sorriso no rosto, ele está lindo demais.
— Isso foi… — ele fala.
— Inesperado — complemento e ele ergue os olhos para me encarar.
— Sim — ele declara —, mas bom.
Meu coração pula no peito ao ouvir essas palavras e sinto uma
inquietação no meu estômago, é como se a última peça do quebra-cabeça
estivesse finalmente em seu lugar e tudo ficasse completo.
Depois disso, continuamos a patrulha, mas agora conversando sobre a
vida e os sentimentos que escondemos por tanto tempo, Bjorn finalmente se
abre para mim e eu não consigo me controlar de tão feliz que fico com isso.
Ele está completamente envolvido conosco.
CAPÍTULO 28

Bjorn
 
Não consigo acreditar no que eu fiz, eu beijei Danila duas vezes e
gostei.
Não é como se eu já não houvesse pensado nisso, mas nunca coloquei
realmente em prática, foi espontâneo e inesperadamente bom.
Depois de trocar a vigília com Yelena e Ruan, Danila e eu dormimos
algumas horas até o dia amanhecer e nosso grupo seguir caminho de carro
até a fronteira com o México, aonde conseguimos entrar sem nenhum
problema.
Do Aeroporto Del Sur, em Chihuahua, no México, nós seguimos
diretamente para Rondônia, no Brasil, aonde Yelena alugou um carro que
irá nos levar para o Acre.
As estradas não estão boas, por isso a viagem demora bastante, no
caminho conversamos e jogamos alguns jogos no carro, principalmente
para matar o tempo e nos reconectar.
O clima está agradável e parecemos a mesma equipe unida que sempre
fomos, os quatro melhores amigos que se amam e estão sempre prontos
para salvar uns aos outros.
Paramos em alguns postos de gasolina para abastecer e comer, depois
Yelena encontra um hotel caindo aos pedaços no meio da estrada, aonde
paramos para tomar banho e dormir.
No outro dia acordamos cedo, Yelena já está de pé com o computador
nos braços, então lhe entrego um chocolate e um copo com água.
— Conseguiu algo? — questiono.
— Sim — ela responde —, se as fotos estão corretas, eles estão nessa
comunidade aqui. — Então ela aponta para uma foto aérea no computador,
aonde várias barracas foram armadas no meio da floresta.
Na imagem pode-se ver pessoas trabalhando em algumas lavouras
pequenas, mas também é possível ver soldados armados fazendo a vigília,
como se precisassem manter essas pessoas presas.
— É o mais próximo de um alojamento que temos — Danila comenta.
Seguimos diretamente para o local marcado no mapa, mas quando a
estrada fica ruim demais para andar de carro, nós o deixamos escondido em
uma construção abandonada e seguimos a pé até o local do suposto
alojamento.
— Qual é o plano? — questiono enquanto andamos, falta em torno de
dois quilômetros para chegarmos lá.
— Recuperar informações, nós estamos em menor número para um
confronto armado e não podemos levantar suspeitas ou eles podem soar
algum alerta e avisar aos outros — ela explica.
Assim que chegamos próximos o suficiente, já é de noite e somos
acobertados pela escuridão da floresta densa que nos rodeia.
Yelena é a primeira a se adiantar e chegar mais perto do acampamento
que conta com várias barracas e algumas tendas maiores mais afastadas,
também vemos uma construção precária de tijolos mais ao sul.
— É esse o lugar — Yelena comenta com a voz baixa —, eu reconheço
a forma com que eles se organizam, lá seria a cela que eu ficaria presa. —
Ela aponta para a construção de tijolos. — Essa tenda maior é aonde os
mestres dormem e a segunda, logo ao lado, é aonde eles fazem suas
reuniões, acredito que seja lá que encontraremos alguma informação.
— Será que eles tem algum sistema de segurança? — Ruan questiona,
então olho em volta e consigo ver duas câmeras que apontam para as
barracas e uma que aponta para a entrada.
— Sim, avistei três câmeras, mas precisamos supor que tem mais do
que isso — digo e já preparo a minha arma com o silenciador.
— Não importa, vamos usar o dispositivo que Katrina conseguiu e…
— Yelena para de falar abruptamente enquanto olha para o acampamento,
então seus olhos arregalam e a boca abre por um momento quando ela
encara uma pessoa. — É ele, eu não acredito, esse desgraçado está aqui.
Seu comentário faz todos nós olharmos na direção de um homem alto,
moreno, todo tatuado e com uma arma na cintura, ele está escorado em uma
árvore com um cigarro na boca e uma expressão de poucos amigos.
— Quem é ele, docinho? — Danila questiona.
— Ele… ele foi o meu primeiro torturador — Yelena explica e todos
olhamos novamente para o homem, mas agora meu sangue ferve em meu
corpo.
Esse maldito, desgraçado, colocou as mãos na minha mulher.
— Ele vai pagar pelo que fez. — Danila é o primeiro a se adiantar,
quando estou indo atrás dele, Yelena segura sua mão.
— Não, precisamos manter o foco na missão — ela fala, mas sua voz
sai fraca.
— Nem fodendo eu vou deixar esse bastardo vivo — Danila responde.
— Eu não falei isso — Yelena contrapõe, abrindo um sorriso macabro
enquanto nos conta o plano que ela acabou de formar.
Depois de alguns minutos, Ruan e eu seguimos até a tenda que Yelena
falou ser a de reuniões, então usamos o dispositivo de Katrina para desligar
qualquer comunicador ou sistema de monitoramento em um raio de cem
metros, somente para entrarmos sem sermos percebidos.
Por sorte não tem ninguém aqui dentro, então eu e ele começamos a
procurar por pistas até que encontro um notebook em uma gaveta.
— Aqui — aponto e Ruan corre em minha direção —, eles não seriam
burros a ponto de usar um computador nos seus planos.
— Nunca subestime a burrice de alguém — Ruan fala, pegando o
notebook e colocando na sua mochila, então, quando vou fechar a gaveta
vejo um caderno com a capa marrom, é parecido com o que Yelena
recuperou, por isso pego ele também e saímos dali sem levantar suspeitas.
Assim que chegamos no ponto de encontro, Yelena e Danila já estão lá,
mas dessa vez eles não estão sozinhos.
Danila carrega o corpo do homem que torturou Yelena em seu ombro,
enquanto ela caminha ao seu lado com um sorriso enorme nos lábios.
— Vocês conseguiram algo? — Yelena pergunta.
— A porra de um computador — Ruan responde e ela só falta dar
pulinhos de alegria.
— Agora vamos nos divertir um pouco com esse bastardo aqui, não
vejo a hora de usar algumas técnicas que ele me ensinou, agora contra ele
mesmo — ela fala e assim seguimos de volta ao local aonde deixamos o
carro.
A pequena construção de madeira abandonada não tem muita coisa,
mas vai servir para o que pretendemos fazer.
Encontro algumas cordas do lado de fora e uso para amarrar as mãos e
os pés do homem, depois o ergo em uma viga de madeira no teto e o deixo
pendurado pelos pulsos.
Ele começa a acordar alguns minutos depois, então Yelena assume a
liderança, afinal, essa é sua vingança pessoal, nós estamos aqui para dar
suporte a ela.
Nós não temos as ferramentas necessárias para uma boa tortura, mas
temos facas e é exatamente isso que Yelena irá usar.
— Bjorn, consegue fazer uma pequena fogueira? — ela questiona.
— Sim — respondo, então encontro algumas madeiras do lado de fora
da casa e sei que vai servir, nós não precisamos de muito fogo, só o
suficiente para esquentar a lâmina da faca.
Quando volto, Yelena já está separando os materiais que irá usar,
Danila está escorado em uma das paredes com um sorriso enorme no rosto,
assistindo Yelena trabalhar enquanto Ruan a ajuda tirando as facas das
mochilas.
Nosso kit de sobrevivência conta com duas facas cada, uma curta e um
canivete, Yelena não precisa de mais do que isso para fazer alguém sofrer,
seu irmão, Adrian, é um mestre com as lâminas, mas ela não fica muito
atrás.
— Você lembra de mim? — Yelena pergunta para o homem.
Ele cospe no chão antes de falar.
— A vadia russa — o desgraçado responde e Danila se adianta, em
dois passos ele está na frente do homem e o acerta com um soco na cara,
abrindo o lábio dele, de onde o sangue começa a jorrar.
— Mais respeito com a herdeira — Danila fala e cospe na cara dele.
— Calma, querido. — Yelena pega na mão de Danila antes que ele dê
outro soco na cara do desgraçado, então eles se encaram por alguns
segundos até que Danila se acalma e se afasta. — Muito bem, já que você
lembra de mim já deve saber o que vai acontecer aqui, não é mesmo?
— Foda-se, pode me matar logo, eu não vou falar porra nenhuma — o
homem declara com mais coragem do que deveria ter.
— Ah, mas eu não espero que você fale algo assim tão facilmente,
lembra quando a situação era contrária? — Yelena questiona, mas não
espera por uma resposta. — Você estava desse lado, com tantas facas e
instrumentos ao seu dispor, tudo para tentar me fazer trair minha
organização.
— Eu lembro, você foi uma vadia resistente — ele declara e Yelena
sorri.
— Eu fui o seu fracasso — ela diz e, com isso, o bastardo a encara com
raiva no olhar.
— Só porque eles me obrigaram a parar — ele responde.
— Relaxa, você não foi o único a falhar — Yelena avisa, então ela
ergue a camiseta e mostra as marcas em seu corpo. — Essa aqui foi dois
meses depois que você falhou. — Ela aponta para uma cicatriz, depois vira
de costas e mostra as marcas de cortes longos. — Esse tentou conseguir as
informações me açoitando — ela explica, nos pegando de surpresa. —
Doeu pra caralho, mas ele também falhou. Ah, teve uma mulher que usava
água que foi sensacional.
A cada história que ela conta e mostra as marcas no corpo, meu
coração se quebra em mil pedaços por imaginar tudo o que ela passou
nesses cinco anos, por não ter estado lá com ela, por não tê-la salvado antes.
Deveria ser eu em seu lugar, era para ser eu…
Será que eles fariam o mesmo comigo?
Segundo os planos do meu avô, eles me queriam vivo para ser algo
como um líder, mas eu jamais trairia minha família, nem a organização em
que fui criado.
— Você sabe quem eu sou? — pergunto para o homem, que faz que
não com a cabeça. — Eu sou o messias, aquele que eles procuram para
assumir o lugar do meu avô.
— Eu não dou a mínima para o que eles procuram ou os motivos
daquela merda estar acontecendo, eu só estou nessa pelo dinheiro — o
desgraçado tem a coragem de responder.
Então Yelena pega um canivete do chão e corta a camisa preta do
homem, deixando seu peito a mostra.
— Uma tela em branco, isso será divertido. — Yelena comenta.
— O desgraçado não tem uma única marca de batalha — Ruan aponta.
— Digamos que o serviço dele é tranquilo, afinal, suas vítimas já
chegam para ele imobilizadas, o trabalho pesado é feito pelos outros, por
isso me admirei ao vê-lo com uma arma em mãos em uma simples patrulha
— Yelena aponta e o homem desvia o olhar momentaneamente. — Está
envergonhado?
— Cala a boca — ele responde e Yelena solta uma gargalhada alta.
— O executor foi rebaixado para soldadinho — ela anuncia e o homem
vira a cara, indicando que ela está certa. — Tadinho, meninos, vejam isso, é
a face do fracasso.
— Você o tirou dos negócios, docinho — Danila comenta e ambos riem
da cara do homem.
— Agora vamos lá que não temos a noite toda — ela declara e volta a
segurar o canivete, mas dessa vez é com firmeza e enfia no joelho do
homem, fazendo-o urrar de dor, então ela movimenta o canivete e corta os
ligamentos, fazendo-o gritar ainda mais alto. — Bom garoto, isso mesmo,
grite feito a putinha que você é — Yelena provoca, assistindo-o se debater.
— Muito bom, eu adoro essa parte, especialmente com homens que tem um
ego igual ao seu, apesar de que o seu já foi ferido antes, mas será divertido
de qualquer forma.
Ela deixa o canivete enfiado no joelho dele e pega uma faca curta,
vindo em minha direção para deixar a lâmina esquentar no fogo que eu
acendi e me encara, seu olhar ardendo de excitação me faz sorrir, ela está
gostando disso, é a sua vingança.
Depois que a lâmina esquenta, Yelena vai até o homem e, sem falar
nada, arrasta o ferro pelo mamilo dele, derretendo a pele pelo caminho,
fazendo com que um cheiro de carne queimada inunde o ambiente.
— Vamos lá, grite mais, filho da puta — Yelena pede e faz o mesmo
com o outro mamilo, quando a faca esfria ela faz dois cortes superficiais na
costela dele, arrancando um pedaço da pele e o fazendo sangrar. — Sabe, a
última coisa que eu vou tirar de você é o seu pau.
— Caralho, amuleto — Ruan fala e ela dá risada.
— Relaxa, paixão, eu só faço isso com quem merece, o seu eu ainda
quero usar muito — Yelena comenta.
— Ele está sempre a sua disposição — Ruan responde e eles trocam
um olhar carinhoso antes de ela voltar sua atenção ao homem.
— Sabe, eu não preciso de muitas informações, afinal, alguém tão
baixo como você não deve ter nada importante mesmo — ela comenta
girando a faca na mão.
— Você que pensa — o homem responde e assim sabemos que ele tem
algo que nós queremos.
Com isso, Yelena começa a levar a tortura mais a sério, aos poucos ela
tira fatias de pele do homem e pergunta sobre a organização, leva um bom
tempo para o bastardo quebrar, mas quando Yelena tira a sua calça e
começa a atacar suas pernas, próximo demais da virilha, ele desanda a falar.
Segundo ele, as ordens eram para reunir o máximo de informações e
não matá-la, ela seria usada como barriga de aluguel quando o herdeiro
verdadeiro assumisse o poder, por isso eles não podiam acertar nenhum
órgão vital.
Ter um herdeiro da família Petrov e da família Ivanov seria perfeito
para assumir como Pakhan algum dia, já que o objetivo maior da
organização sempre foi derrubar o Conselho e assumir o lugar na liderança
da Bratva.
— Porra, eles queriam capturar Bjorn e forçar Yelena a ter um filho
dele? — Danila questiona e acerta um soco na boca do homem. —
Responde, filho da puta.
A única coisa que o homem consegue fazer é acenar com a cabeça,
confirmando a teoria.
Que merda é essa? Esse é um plano tão idiota, eu jamais concordaria
com isso, jamais.
— Quando… quando eles erraram o alvo, tudo mudou — o homem
confessa —, era para ser o Ivanov, mas eles capturaram a vadia Petrova no
lugar.
Danila acerta outro soco nele e um chute no meio das pernas do
bastardo, que o faz gritar de dor, dessa vez ele não sorri mais e cospe um
dente no chão.
— É por isso que eles não pediram resgate e nem tentaram te usar
como moeda de troca, eles queriam você viva e presa a eles, se eu fosse
capturado e nós tivessem um filho, a criança seria usada para nos forçar a
aceitar qualquer coisa — digo olhando para Yelena.
— Então por que colocar ela para lutar até a morte? — Danila
questiona.
— Para me controlar, foi por isso que eles não colocaram nenhum
adversário forte o suficiente para me matar e usaram as pessoas comuns da
seita, era uma afirmação para eles de que ninguém está acima do poder
deles e que qualquer um poderia cair em minhas mãos — Yelena esclarece.
— Agora vamos acabar com isso, se alguém perceber que ele ou o
computador sumiram, eles podem vir nos procurar e estamos em menor
número.
Com isso, ela pega a faca e, sem pensar duas vezes, enfia na barriga do
homem, abrindo um corte profundo que faz com que todas as suas tripas
caiam no chão e ele morra pouco tempo depois, gritando como a porra de
um animal no abate.
Nós recolhemos todas as facas e o deixamos lá, estamos longe demais
da civilização para alguém encontrá-lo por acaso e, se os seus
companheiros encontrarem esse lugar, não saberão o que aconteceu.
Depois disso nós seguimos viagem até um motel no meio da estrada,
que não parece ter câmeras de segurança, a mulher da recepção não
questiona o fato de estarmos em quatro pessoas, Ruan paga uma taxa extra
e entramos no maior quarto que eles tem.
Assim que pisamos no cômodo, Yelena começa a rir, pegando-nos de
surpresa, então ela nos encara com a expressão feliz e mais relaxada do que
eu lembro de ter visto em um bom tempo.
Ela está aliviada.
Yelena finalmente está de volta.
CAPÍTULO 29

Ruan
 
Quando Yelena começou a contar tudo o que passou durante as
torturas, eu senti vontade de beber para conseguir engolir a dor que me
consumiu por não estar lá por ela, por alguém ter feito tudo o que fez com
minha mulher, por ser um fraco e não ter conseguido salvá-la antes.
Só que eu não era o único a me sentir assim, Danila e Bjorn estavam
iguais e então percebi que não valia a pena pensar nisso. O que passou,
passou.
Desde a intervenção eu consegui me controlar, não parei de vez, é
óbvio, tive algumas recaídas e acabei bebendo, mas depois consegui me
segurar e, com a ajuda dos meus amigos, voltei do fundo do poço e me
reergui.
Agora, vendo a felicidade estampada no rosto de Yelena, eu sei que vou
conseguir suportar qualquer coisa por ela, Bjorn e Danila, por tudo o que
eles representam na minha vida e o amor que sinto por todos eles.
É estranho saber o quanto nossas vidas mudaram nessa viagem, quando
saímos de lá ainda éramos um grupo deslocado de quatro pessoas que,
mesmo se amando, ainda estavam afastadas.
Agora, conforme saímos da casa abandonada, Yelena pega na minha
mão pela primeira vez e meu coração parece que vai sair pela boca.
Não me importo com o sangue entre seus dedos ou nas roupas, só
consigo pensar que ela está me tocando por livre e espontânea vontade.
— Amuleto, você está melhor? — questiono quando entramos no
banco de trás, enquanto Danila e Bjorn entram na frente.
— Estou me sentindo ótima, é como se estivesse finalmente livre,
sabe? Não sei como explicar, mas parece que um peso enorme saiu das
minhas costas — ela responde com um sorriso largo no rosto. — Vamos
voltar para o motel, eu preciso de um banho.
Então seguimos de volta para o lugar que passamos a noite e, quando
chegamos, Yelena vai direto até o chuveiro, mas antes de entrar ela abre a
porta e fala.
— Não vai me acompanhar, paixão? — ela me chama e eu encaro os
outros dois homens.
— Vai lá, ela quer comemorar — Danila comenta.
— Faça a nossa mulher gozar — Bjorn complementa e eu abro um
sorriso enorme enquanto entro no banheiro, mas não fecho a porta, deixo
uma fresta para que os outros escutem tudo o que faremos aqui.
— Em que posso servi-la, meu amuleto da sorte? — questiono, tirando
minha roupa. Yelena já está completamente nua debaixo do chuveiro
elétrico.
— Ah, eu não sei, quem sabe me dando alguns orgasmos.
— Sim, podemos começar com isso mesmo — digo e ela abre um
sorriso safado com os olhos brilhando em antecipação, o que só faz meu
pau endurecer ainda mais.
— Alguém está pronto — ela fala.
— E morrendo de saudades — digo e ela olha diretamente para o meu
pau, lambendo os lábios logo depois. — Porra, amuleto, vem aqui.
Entro no chuveiro e elimino a distância entre nós quando a beijo com
vontade, sentindo sua boca deliciosa dominando a minha da forma que ela
sempre fez.
Yelena é uma força da natureza que não pode ser contida.
Eu seguro sua nuca com uma mão e com a outra trago a sua cintura
mais próxima do meu corpo, fazendo meu pau se esfregar em sua barriga, a
sensação de tê-la só para mim é boa pra caralho.
Então pego o sabonete e passo por todo o seu corpo e, sem parar de
beijá-la, eu a lavo com cuidado e carinho, tirando toda a sujeira que a cobre,
depois ela faz o mesmo comigo e, quando nos enxaguamos, eu não aguento
mais e preciso entrar nela.
— Droga, esqueci a camisinha — digo quando lembro do preservativo.
— Danila, pode trazer uma camisinha pra gente? — Yelena pede com a
voz alta e logo depois Danila aparece com um preservativo em mãos.
— Vai lá, campeão — ele fala com um sorriso lindo no rosto, então
abro o pacote com os dentes e deslizo a camisinha no meu pau, depois disso
seguro Yelena pela bunda e a ergo, ela entrelaça as pernas na minha cintura
na mesma hora que meu pau encontra o caminho para a sua boceta.
— Porra — murmuro contra seus lábios quando a ponta do meu pau
entra nela.
— Soca tudo, paixão, eu quero te sentir inteiro dentro de mim — seu
pedido é minha ruina, com um movimento rápido entro completamente
nela, afundando na sua boceta até estar somente com as bolas para fora.
Yelena solta um gemido estrangulado de prazer enquanto eu começo a
sair bem devagar, só para socar novamente e fazê-la gemer de novo, e de
novo, e de novo…
É um ciclo vicioso que faz meu pau estremecer dentro dela, a porra do
meu piercing aumenta as sensações de prazer enquanto eu a fodo com
vontade, tirando tudo de nós dois, seus beijos começam a ficar mais
intensos, desesperados, enquanto sua boca domina a minha.
Yelena morde meu lábio inferior e depois o chupa, só para me fazer
gemer, então ela sorri como uma safada quando me afundo nela novamente,
fodendo feito um desesperado, porque é isso que estou sentindo agora,
desespero por tê-la em meus braços, alívio por finalmente estar dentro dela
de novo, Yelena é a porra da minha casa, com ela tudo fica completo.
— Vai, Ruan, mais rápido — ela exige e assim eu faço, entrando e
saindo mais rápido da sua boceta quente e apertada, ela estrangula meu pau,
sugando tudo de mim, e preciso de cada gota de autocontrole para não
gozar rápido feito a porra de um virgem.
— É assim que você gosta, não é, safada? — falo em seu ouvido e ela
geme mais alto, não posso nem imaginar como os caras estão do outro lado
da porta, ouvindo nosso show. — Geme mais alto, amuleto, mostra para o
Danila e o Bjorn o quanto você gosta de ter a porra do meu pau socando
fundo nessa boceta.
— Eu gosto muito, paixão…
Yelena não se aguenta, seus gemidos misturados aos meus e aos sons
dos nossos corpos se chocando embaixo da água produzem uma sinfonia
deliciosamente excitante.
— Porra, paixão, eu vou gozar — Yelena avisa e se segura com mais
força nas minhas costas, arranhando minha pele com as unhas afiadas.
— Eu quero te sentir gozando, amuleto, gritando a porra do meu nome
quando o orgasmo te dominar, vai, goza no meu pau — digo com tanto
tesão por ela que minha voz sai estrangulada de prazer.
Eu aumento ainda mais a velocidade, entrando e saindo bem fundo dela
até sentir suas pernas tremendo ao redor da minha cintura, só então Yelena
solta um gemido alto de prazer e, quando sinto suas paredes apertando a
porra do meu pau, eu sei que ela está gozando, ainda mais quando ela grita
o meu nome.
— Ruan, eu…
— Eu quero tudo, amuleto, goza com força nesse pau que é seu —
exijo e a solto, virando-a de costas para mim antes de entrar de novo nela e
voltar a foder a sua boceta.
Yelena se segura na parede fria de azulejo quando levo uma mão para o
meio das suas pernas e provoco seu clitóris inchado, ela volta a gritar de
prazer com as sensações.
— Ruan, caralho…
— Eu quero mais, amuleto, quero tudo o que você tem pra me dar —
exijo e a imprenso contra a parede, entrando e saindo mais fundo em sua
boceta molhada, meu pau desliza sem dificuldade alguma enquanto minha
mão trabalha no meio das suas pernas.
Eu sei que ela ama essa posição, sei que a provocação dupla a faz
estremecer quando seus gemidos já não são mais coerentes, Yelena não
consegue mais formular palavras enquanto está perdida em sensações.
Ela joga a cabeça para trás e seus cabelos loiros e molhados escorrem
com a água do chuveiro pelas suas costas.
Eu assisto meu pau sumir na sua boceta para depois reaparecer, e a
visão da sua bunda redonda e firme é a porra do meu paraíso particular.
— Continua assim, paixão, me fode desse jeito, eu vou gozar de novo
— ela avisa e eu mantenho as investidas, esfregando seu clitóris sem parar
até que ela estremece novamente em minha mão, sinto suas paredes
contraindo e agora é a porra da minha perdição.
Não aguento mais e deixo que o meu orgasmo me domine, esporrando
na camisinha enquanto entro e saio dela mais algumas vezes, solto um urro
de prazer e mordo o seu ombro para me conter, depois a seguro pela cintura
e a trago para que suas costas encostem em meu peito, abraçando-a por trás.
Estamos ambos ofegantes em uma névoa deliciosa de prazer, eu beijo
seu pescoço com carinho, depois vou subindo até chegar em seu rosto, ela
tomba a cabeça para o lado, dando-me acesso e eu sorrio, ter Yelena tão
entregue assim é delicioso demais.
— Porra, amuleto, você não sabe quantas vezes eu sonhei com esse
momento — confesso baixinho em seu ouvido.
— Eu também — ela fala, aconchegando-se mais em meu abraço. —
Eu também, paixão.
Nós terminamos o banho lavando um ao outro novamente e, quando
abro a porta do banheiro, vejo Bjorn e Danila aos beijos em uma das camas.
Bjorn está por cima de Danila, com uma perna de cada lado do seu
corpo enquanto Danila o segura pela cintura e se esfrega nele.
Eles continuam de roupa, mas a pegação para assim que entramos no
quarto, mas não sem antes Danila dar um beijo na boca de Bjorn, para
depois me olhar e sorrir.
— Porra de show gostoso do caralho — Danila comenta quando Bjorn
sai de cima dele e arruma o pau dentro da calça, posso ver o contorno e o
quanto ele está duro.
— Vocês podem continuar de onde pararam, o chuveiro está livre —
Yelena comenta, mas Danila solta uma risada e se acomoda melhor na
cama, então estende a mão em minha direção enquanto Bjorn passa por nós
e vai até o banheiro.
— Você está bem, amor? — ele me pergunta quando sento na cama ao
seu lado e seguro sua mão.
— Mais do que bem — respondo, porque é verdade, a cena deles se
beijando deixou meu pau duro de novo, é tão excitante saber que finalmente
estamos os quatro juntos, realmente juntos. — Isso foi gostoso pra caralho
de assistir.
— Gostoso foram os gemidos de vocês dois, agora vem aqui e me beija
— Danila pede e eu me abaixo, plantando um beijo carinhoso em sua boca.
— Eu te amo — ele declara.
— Também te amo — respondo e sorrio.
— Vem aqui, docinho, eu quero um beijo seu também — Danila pede,
mas Yelena só ri e tira a toalha, pegando suas roupas da mochila.
— Se quiser um beijo, levanta e vem pegar — ela provoca e Danila
solta uma gargalhada, mas faz o que ela pede e se levanta, virando-a para
ele.
Danila segura seu queixo com carinho para depois beijar a boca de
Yelena, saboreando cada centímetro dela por alguns segundos antes de
plantar beijinhos carinhosos em seu rosto e a abraçar.
— Porra, mulher, senti tanto a falta do seu jeitinho desaforado — ele
declara.
— Também senti sua falta — Yelena responde e me encara com o olhar
emocionado. — Agora vou me trocar e dormir um pouco, estou exausta.
O quarto tem duas camas de casal, portanto Yelena e Bjorn dormem em
uma delas enquanto eu durmo na outra e Danila fica de vigia, no meio da
madrugada eu acordo e troco de lugar com ele.
Vejo meus amigos dormindo tranquilamente e meu peito fica quente de
emoção, eu quero protegê-los, quero que tudo fique bem logo para
podermos viver o nosso amor e paz.
Mesmo que para isso precisemos enfrentar nossos pais e as leis rígidas
da Bratva.
Foda-se, eu sei agora que nada nem ninguém pode nos separar.
CAPÍTULO 30

Yelena
 
Quando acordo pego o notebook que eles roubaram da seita e começo a
hackear o sistema, o aparelho parece que nunca foi conectado na internet,
talvez seja assim que eles o usavam sem provocar suspeitas.
Enquanto procuro as pastas de arquivos, Bjorn lê o caderno, que mais
parece um diário contando o dia a dia deles na seita.
“Enquanto não recebemos ordens do alto escalão, continuamos os
afazeres diários, mantendo o povo trabalhando e os ensinando a usar as
armas que temos disponíveis.
Cada homem e mulher aqui são possíveis soldados para quando a
guerra santa estourar.”
— Que porra de guerra é essa? — Danila questiona.
— Não sei, talvez eles estejam se preparando para lutar contra a
Bratva, pelo que parece cada seita é um ponto de treinamento, mesmo que
pareçam só religiosos fanáticos, eles estão treinando como soldados —
respondo.
“Todos os planos deram errado, a prisioneira escapou um dia antes da
sua transferência. Segundo informações, o alto escalão e os mestres estão
coordenando um novo ataque, agora diretamente á base operacional da
organização.”
Bjorn lê em voz alta e todos ficamos em silêncio por um tempo.
— Porra, eles vão atacar nossa base de operações? — Danila questiona.
— Droga, precisamos voltar e avisar nossos pais o quanto antes —
digo e volto a minha atenção ao notebook, então abro várias pastas com
arquivos de transações financeiras, recibos, ordens de ação, tudo está aqui.
— Conseguimos, temos os rastros digitais dos desgraçados.
Então um barulho de carro freando abruptamente do lado de fora
chama atenção, Ruan vai até a janela e olha pela fresta da cortina, então ele
se vira para nós, espantado.
— Eles estão aqui — ele avisa.
— Bjorn, roteia a internet do seu celular para mim, agora — digo e
assim que ele consegue rotear, eu conecto o computador e começo a enviar
os arquivos para o meu pai. — Droga, é muita coisa, precisamos enrolar
eles até que a operação seja concluída.
Então pego meu telefone e disco o número de Dimitri, no segundo
toque ele atende.
“Yelena, aonde diabos vocês estão?” Meu pai pergunta desesperado.
— No Brasil, estou te mandando a localização agora mesmo e um e-
mail com arquivos que recuperamos sobre a Ordem dos Mestres — falo e
envio nossa localização. — Estamos sendo atacados, pai, provavelmente
irão nos levar, mas eu tenho um localizador indetectável, fale com Katrina e
ela lhe dará acesso.
“Nossa base de operações mais próxima fica a três horas da sua
localização” Dimitri avisa.
— Eu sei, mas não importa, nós seremos levados, por isso estou te
ligando, sei que vai nos salvar, pai, eu te amo. — Com isso desligo e vejo
que falta oitenta por cento para terminar o envio dos arquivos.
Do lado de fora mais sons de carros chegando tomam conta do
ambiente, nós pegamos nossas armas e nos preparamos para o confronto.
— Eles estão em maior número — Ruan avisa enquanto carrega sua
Glock. — O que vamos fazer?
— Vamos enrolar até que os arquivos sejam enviados, depois Bjorn e
eu vamos nos entregar enquanto vocês dois fogem, sigam pela mata e
esperem os reforços que estão a caminho — respondo com calma.
— Nem fodendo vamos deixar vocês dois para trás — Danila é quem
discorda primeiro.
— Eles querem Bjorn e eu, vocês não tem valor para esses
desgraçados, assim que os virem irão mata-los, está entendendo? — digo e
caminho até Danila, pegando sua mão, então eu planto um beijo em seus
lábios. — Cuidem um do outro e nós faremos o mesmo.
— Yelena… — Danila tenta falar, mas eu o calo com mais um beijo,
depois vou até Ruan e faço o mesmo, então entrego o caderno para eles.
— Levem isso para o meu pai, aqui tem as provas que ele precisa para
agir e derrubar essa maldita ordem.
Olho para o computador e vejo que falta cinquenta por cento ainda.
Do lado de fora os soldados descem dos carros e começam a correr
para abrir as portas dos quartos a força.
— Saiam pela janela do banheiro, agora — ordeno e Danila e Ruan
fazem o que falo, por sorte a janela é grande e dá para uma mata fechada
nos fundos do motel, os soldados inimigos ainda não tiveram tempo de
cercar todo o lugar, então eles conseguirão fugir antes que seja tarde
demais.
— Yelena... — Bjorn fala, preocupado.
— Eu sei, mas ficaremos bem, eles querem nós dois.
— Vai com eles, é a mim que eles procuram e…
— Nem fodendo, eu não vou te deixar sozinho, agora prepara a sua
arma e me dê cobertura — digo quando um soldado bate na porta.
— Saiam já daí — o soldado grita em português do lado de fora, então
ele atira contra a porta e preciso me jogar para o lado para não ser atingida.
Olho para o computador e ainda falta trinta e dois por cento para enviar
todos os arquivos, a internet aqui é muito ruim.
— Precisamos de mais alguns minutos — digo para Bjorn, então ele
concorda com a cabeça quando mais tiros irrompem pela porta.
— Não atirem, seus idiotas, nós os queremos vivos — alguém fala em
português, então os tiros param. — Saiam agora ou os tiraremos daí a força.
— Acho que preferimos a segunda opção — grito de volta e atiro pela
janela, acertando um soldado do lado de fora bem na cabeça, do meu lado
Bjorn mira e abate mais dois soldados.
Olho novamente para o computador e vejo que falta vinte por cento
para o download ser concluído.
— Nós não queremos machucar ninguém, nossas ordens são para levá-
los vivos — o soldado explica e olho para fora, estamos completamente
cercados e não tem como sair daqui ou enfrentá-los, mas continuo atirando
para ganhar tempo.
Bjorn me dá cobertura, abatendo alguns soldados, mas eles procuram
se esconder atrás dos veículos quando percebem que não tem autorização
para atirar.
— Vocês vão ficar sem munição logo — o soldado grita em nossa
direção. — Só se entreguem e não iremos feri-los.
— Até lá vocês vão sofrer algumas baixas — respondo e atiro contra
uma mulher que tenta correr de um carro para o outro, acertando-a na perna.
— Já chega — o soldado fala, então o vejo preparar o que parece ser
uma bomba.
— Nós nos entregamos — falo antes que ele jogue o objeto em nossa
direção. — Nós nos entregamos — repito e olho pela janela, fazendo
contato visual com ele.
Na minha mente, conto os segundos que faltam para terminar o
download, sem precisar olhar para trás, sei que falta pouco.
— Então saiam com as mãos para o alto, sem atirar — o soldado
ordena, mas assim que abaixa a guarda eu ergo a arma e atiro na sua cabeça,
o objeto em sua mão cai no chão e uma fumaça começa a sair de dentro
dele.
O desgraçado ia soltar uma bomba de fumaça para nos tirar daqui.
Agora sim eu olho para o computador e, quando vejo que o download
foi concluído com sucesso, abaixo a arma e olho para Bjorn.
— Eu vou na frente, desliga o computador — ordeno e ele corre até lá
para fazer o que pedi.
Saio pela porta e vejo o caos que foi instaurado do lado de fora, mas
nada mais importa, coloco os braços acima da cabeça e largo minha arma
no chão, logo atrás de mim Bjorn faz o mesmo, mas eu me coloco em sua
frente, protegendo-o.
Somos amarrados e levados de carro para o mesmo acampamento que
saqueamos antes, mas agora, quando chegamos lá, eles já estão se
preparando para sair.
Tem dois helicópteros prontos e ligados, os soldados nos levam para
um deles, aonde outras duas pessoas já estão esperando.
— Finalmente, senhor Ivanov, seja bem-vindo — um homem com a
barba branca e sem cabelos cumprimenta Bjorn, falando em português, ele
estende a mão para ele, depois dá risada ao ver que estamos amarrados. —
Desculpa por isso, é mais para a sua proteção, e claro, a nossa.
— Quem são vocês? — Bjorn questiona em português.
— Somos os mestres do grupo doze — o velho responde com um
sorriso convencido no rosto. — É uma honra que tenham escolhido
justamente o nosso grupo para se aventurarem, mas como sabiam sobre esse
lugar?
— A Bratva sabe tudo — respondo, me intrometendo, então, sem que
eu possa me defender, o velho desgraçado me dá um tapa forte no rosto, que
me faz cair para o lado de Bjorn.
— Calada, vadia inútil — ele fala.
— Não se atreva a encostar um dedo nela — Bjorn ameaça.
— Ora, ora, parece que temos um casal aqui — o velho debocha e olha
para o outro homem ao seu lado, esse é mais novo e não falou nada até
agora. — Isso vai ser mais fácil do que antecipamos.
— Você que pensa — interrompo e cuspo o sangue que está na minha
boca na direção do velho, mas ele esquiva bem na hora e o cuspe atinge só a
sua camisa branca.
— Droga, mulher nojenta, olha a sujeira que você fez? — ele reclama,
o outro homem entrega um lenço para o velho, que tenta limpar o sangue,
mas com certeza a camisa está arruinada e eu sorrio com isso.
Quando o helicóptero é ligado, eles colocam protetores de ouvido em
Bjorn e em mim, depois disso ficamos em silêncio durante a viagem, não
sei exatamente para onde estamos indo, mas demoram horas até pousarmos
e, quando chegamos ao nosso destino, as pessoas estão falando em
espanhol.
— O avião está pronto, senhor — o soldado avisa quando pousamos
em um aeroporto.
— Ótimo — o velho comenta, depois desce do helicóptero com o outro
homem logo atrás dele e dois soldados vem até nós dois, nos arrastando
para fora, um deles segura meu braço com força enquanto me leva até o
jatinho particular.
— Para onde vocês estão nos levando? — Bjorn questiona.
Os homens trocam um olhar entre si antes de responder em um russo
fluente.
— Para casa — o velho fala e entra na aeronave.
Nós continuamos amarrados por um tempo, com seis soldados ao nosso
redor, mas quando o jantar é servido eles desamaram Bjorn para que ele
possa comer.
— Acredito que você consiga dar comida para a sua namorada — um
dos soldados fala para Bjorn, obviamente eles não seriam loucos de nos
soltar ao mesmo tempo, especialmente eu, que já tenho fama dentro do
grupo, eles ainda não sabem sobre as habilidades de Bjorn.
Não que faça diferença, estamos em menor número e, antes que
pudéssemos realmente abater os seis soldados, todos estão com armas de
choque prontas para nos acertar, fora os tranquilizantes que eu vi um deles
carregando.
Se é realmente para a Rússia que estão nos levando, isso será ainda
mais divertido e rápido do que imaginei, afinal, até agora eles nos
revistaram uma vez e foi um serviço muito mal feito, pois eu ainda tenho o
localizador subcutâneo aplicado na minha coxa.
Bjorn me dá a comida na boca e come a sua parte em seguida, depois
de jantar somos levados para os fundos da aeronave, aonde os dois mestres
estão sentados em poltronas confortáveis.
— Acredito que vocês estejam acostumados com jatinhos de luxo,
portanto sentem-se e fiquem à vontade. — O velho aponta para duas
poltronas em sua frente, Bjorn e eu sentamos, então o homem coloca os
cotovelos na mesa que nos separa e apoia a cabeça em uma das mãos. —
Vamos, perguntem o que querem saber.
— E devemos confiar nas suas respostas? — questiono.
— Agora não tenho motivos para mentir, finalmente recuperamos o
herdeiro da Ordem e podemos seguir com nossos planos — ele responde.
— E quais são esses planos? — Bjorn pergunta.
— Vamos atacar o Conselho da Bratva e assumir o seu lugar — ele
responde como se fosse algo simples.
— E como você fará isso? — questiono.
— Nós temos nossos meios de atrair os membros mais altos da sua
organização. — Então ele olha diretamente para mim e abre um sorriso
amarelo, que faz meu corpo estremecer ao entender o que ele quer dizer. —
Afinal, eles farão qualquer coisa para recuperar sua preciosa herdeira, até
entregar os membros do Conselho em uma troca.
— Não — grito e avanço conta ele, mas assim que o faço um soldado
se adianta e me segura com força contra a poltrona.
— Deveria controlar melhor a sua namoradinha, senhor Ivanov — o
velho comenta debochado, então, quando me acalmo, ele faz sinal para o
soldado me largar. — Assim que chegarmos na Rússia, o alto escalão será
revelado e fará a oferta.
— Mas vocês não pretendem cumprir com sua palavra, não é mesmo?
— questiono, porque se eles me devolverem para a Bratva, no minuto que
meu pai for entregue eu serei a Pakhan e o Conselho continuará.
— Ela é esperta — ele fala para Bjorn como se fossem amigos. — Os
herdeiros serão assassinados e não haverá mais linhagem de sucessão, vocês
são tradicionais demais para uma organização tão poderosa, somente
herdeiros de sangue podem assumir o lugar dos pais, isso é ridículo.
— Ridículo é criar uma organização em cima de seitas religiosas para
tentar derrubar a Bratva, você acha mesmo que não sabíamos sobre vocês?
— Bjorn fala, atiçando o homem.
— Sabe, enquanto nós brincávamos com a sua namoradinha por cinco
anos, não recebemos uma oferta direta de resgate, somente ameaças e
ataques isolados aos nossos grupos menores, o que não adiantou de nada —
ele comenta com orgulho. — Foram cinco anos com a herdeira em nossas
mãos e mais de trinta anos de formação da Ordem dos Mestres, por que
você acha que, justo agora, vocês conseguiriam nos derrubar?
Quando Bjorn vai responder, eu bato meu ombro no dele para que fique
calado.
Seria fácil entrar na provocação do velho, afinal, ele está praticamente
nos interrogando para saber o que nós temos de informações sobre eles, mas
o mais sensato a fazer é fingir que não sabemos de nada e parecermos
surpresos com todo esse plano maluco.
Eles realmente acham que podem nos derrubar assim?
Pois esses desgraçados não sabem com quem estão se metendo.
CAPÍTULO 31

Danila
 
Ruan e eu conseguimos nos esconder na mata fechada até que o grupo
de soldados da Ordem saiu com Yelena e Bjorn.
Eles até fizeram a ronda na propriedade, mas pelo que pareceu eles não
sabiam que estávamos aqui, por sorte Ruan e eu pegamos nossas mochilas
antes de sairmos e não deixamos pistas.
— O que faremos agora? — Ruan questiona ao meu lado assim que o
último carro com soldados sai pelo portão do motel.
— Agora só podemos esperar — respondo e é isso que fazemos.
A base mais próxima da Bratva fica a três horas de carro daqui e, pelo
que Yelena falou, os soldados já estão a caminho, então pego meu telefone e
ligo para meu pai.
“O que está acontecendo, Danila?” Ele questiona assim que atende o
telefone.
— Bjorn e Yelena se entregaram, mas Ruan e eu estamos a salvo —
respondo. — Yelena está com um localizador em seu corpo, vocês devem
ter acesso a toda a movimentação deles.
“Sim, o Pakhan já está monitorando, mas o que diabos vocês tinham na
cabeça ao fugirem assim?”
— Eu é que pergunto, o que diabos vocês tinham na cabeça ao
mentirem para nós? Vocês sabiam quem havia capturado Yelena e mesmo
assim nos deixaram no escuro, fora que essa maldita organização já é
conhecida pela Bratva há mais de trinta anos e vocês esconderam esse
pequeno detalhe da gente.
“Nós fizemos isso para protegê-los.”
— É claro, sempre a mesma desculpa, nós somos adultos, pai, e
seremos os seus sucessores, como podem ter escondido algo tão importante
da gente? Especialmente de Bjorn, ele tinha o direito de saber que foi um
alvo da Ordem a sua vida toda.
“Essa foi uma decisão que o pai dele tomou.”
— Foi uma decisão burra — contraponho como um pirralho, mas não
consigo me segurar, agora não é hora de resolver isso formalmente, eles
precisam saber que fizeram merda.
“Nós vamos salvá-los.” Meu pai informa “E vocês precisam esperar
aonde estão até que os reforços cheguem aí.”
— Sim, vamos ficar de braços cruzados enquanto nossos amigos são
levados sabe-se lá para onde — respondo com deboche, mas na real eu sei
que é realmente isso que precisaremos fazer.
“Não se preocupem, nós iremos recuperá-los e, depois disso, teremos
uma conversa séria com todos vocês.”
— Vão finalmente abrir o jogo ou dar um sermão na gente? Porque se
for a segunda opção, eu passo.
“Agora não é hora para isso, meu filho, você sabe o quanto estávamos
preocupados com vocês? Sua mãe não para de chorar, Dimitri colocou a
Bratva toda em alerta vermelho novamente. Porra, Danila, eu não sabia
aonde você estava.”
Eu entendo o desespero do meu pai, depois que Yelena foi sequestrada
ele passou a ficar em alerta sempre que saíamos da Central, ou quando eu ia
para alguma reunião sozinho, na verdade, todos os nossos pais ficaram
inseguros.
Acredito que, se algum dia eu tiver filhos, eu irei entendê-los, mas
agora não tem a menor chance de compreender seus motivos para
esconderem tudo de nós.
Mais ou menos três horas depois um comboio de carros da Bratva
chega na nossa localização e seguimos diretamente para o aeroporto mais
próximo.
***
Assim que chegamos na Central, todo o exército da Bratva está em
ação, soldados e espiãs se preparam para uma possível batalha, todos estão
em movimento e, quando descemos do avião, minha mãe é a primeira a me
abraçar, assim como a mãe de Ruan, que corre até o filho.
— Vocês nos assustaram — minha mãe fala assim que me solta, depois
da um tapa forte no meu braço. — Nunca mais faça isso de novo, está me
entendendo, Danila?
— Desculpa, mãe — peço, porque não importa que eu tenha trinta e
um anos, ela é a minha mãe e tem o direito de me dar bronca.
— Vamos, vocês vão nos contar tudo no caminho — meu pai chama e
se vira, caminhando em direção ao prédio principal da Central, assim que
chegamos na sala de reuniões todo o Conselho já está na ativa.
Dimitri e Serguei monitoram o localizador de Yelena em uma tela tripla
na parede, Alexei Ivanov e Pyotr Orlov conversam sobre a melhor
estratégia, quando entramos todos nos olham e posso sentir a reprovação no
ambiente.
— Finalmente — Katrina Orlov é a primeira a falar. — Agora podem
explicar que eu não tive nada a ver com isso?
— Ela só nos ajudou com as armas — digo e Katrina concorda com a
cabeça.
— Eu não sabia o que eles iam fazer, Yelena me pediu para manter
segredo e foi isso que eu fiz — Katrina comenta.
— Da mesma forma que vocês nos mantiveram no escuro — Ruan fala
diretamente e o clima na sala fica ainda mais pesado. — Agora alguém vai
falar alguma coisa sobre o paradeiro da nossa equipe, ou teremos que
descobrir tudo sozinhos novamente?
Vejo a forma com que ele usa a palavra equipe para não chamar
atenção para o fato de sermos amantes, afinal, para qualquer pessoa aqui,
somos somente colegas de equipe.
— Yelena está vindo para a Rússia, seu localizador avisa que ela estará
entrando em solo russo em menos de uma hora, só podemos esperar que
Bjorn esteja com ela e que isso não seja a porra de uma emboscada —
Dimitri é quem esclarece os fatos.
— Já sabemos aonde eles irão pousar? — questiono.
— Ainda não, mas temos equipes prontas para recebê-los em todos os
aeroportos comerciais e privados, acreditamos que eles não serão estúpidos
o suficiente para pousarem diretamente em Moscow ou alguma cidade
maior, mas estamos preparados para tudo — Serguei complementa.
— E vocês vão ficar aqui esperando? — Ruan questiona, incrédulo.
— O que você sugere que façamos? Não sabemos aonde eles vão
pousar e, até lá, não podemos nos deslocar para um lugar qualquer sem ter a
certeza de que é o ponto certo — Alexei responde, ele parece estar
desesperado e entendo seu sentimento, também não consigo ficar aqui sem
fazer absolutamente nada, só esperando.
— Enquanto esperamos, que tal vocês nos contarem tudo o que sabem
sobre essa Ordem dos Mestres? — peço e eles se entreolham, mas então
meu pai caminha até nós e começa a explicar a situação, alguns dos fatos
nós já temos graças aos cadernos de Alexei, mas outros são novidade.
Aparentemente essa organização está ativa há mais de quarenta anos,
foi criada com a ajuda do avô de Bjorn, Nikolai Ivanov, mas com os
documentos que recuperamos no computador encontrado no Brasil, eles
descobriram que Nikolai não trabalhava sozinho, ele fazia parte de uma
cúpula que reunia os principais líderes mundiais.
Dentre eles estão os presidentes dos maiores países do mundo e líderes
de organizações criminosas que tem interesse em derrubar a Bratva, claro
que todos eles já estão sendo caçados pelos nossos soldados e espiãs e serão
julgados e condenados em pouco tempo, mas ninguém sabe sobre isso
ainda, por isso é importante que recuperemos Yelena e Bjorn logo.
A ordem para sequestrar os líderes da organização será dada assim que
ela e Bjorn estiverem a salvo, até lá eles precisam acreditar que seus planos
estão dando certo, que eles finalmente conseguiram o que queriam e estão
com Bjorn em suas mãos, eles pretendem usá-lo como mascote para fingir
que a Bratva tem um líder legítimo quando o restante do Conselho for
assassinado.
Assim eles teriam o controle de Bjorn e, por tabela, de toda a Bratva, já
que ele não teria poder algum em suas mãos.
Agora Yelena é uma incógnita, eles não precisam dela, a não ser que
queiram usá-la como refém se algo der errado.
— Eles pousaram — Dimitri avisa algumas horas depois. — Porra, eles
estão em Moscow.
— Equipe quatro, fiquem a postos — Serguei fala no comunicador. —
Vamos.
Ele se levanta com Dimitri logo atrás dele, então nossos pais todos se
organizam para segui-los, mas quando Ruan e eu fazemos o mesmo, somos
interrompidos pelo meu pai.
— Vocês ficam aqui — meu pai fala.
— Nem fodendo, não vou deixar nossos amo… não vou deixá-los
sozinhos — Ruan se interrompe, então todos nos olham, desconfiados.
— O que você disse, Ruan? — Mikhail Smirnov pergunta ao filho. —
O que mais está acontecendo aqui?
Droga, eles nos pegaram, e agora?
— Nós estamos todos apaixonados, tá legal? — Ruan declara, jogando
as mãos para o alto. — Não nos olhem assim, nós nos amamos e é isso,
foda-se, já não aguento mais me esconder.
— Como assim “nós”? — Dimitri questiona, caminhando até Ruan
com Serguei logo atrás dele, eu faço o mesmo e seguro a mão do meu
namorado, enfrentando-os.
— Nós... Ruan, Bjorn, Yelena e eu — declaro com toda a coragem que
consigo reunir e encaro o Pakhan de frente. — Nós nos amamos, e é por
isso que não vamos ficar aqui de mãos atadas enquanto eles estão lá.
— Porra, o que diabos… — Dimitri começa a falar, mas Alexei Ivanov
segura seu braço.
— Agora não é hora, lidamos com isso depois, precisamos resgatar
nossos filhos — Alexei declara e troca um olhar significativo com Dimitri
que, depois de alguns segundos, concorda com a cabeça.
— Vamos, mas fiquem na retaguarda, deixem os soldados agirem e não
se coloquem em perigo, já basta dois herdeiros capturados, não precisamos
de mais dois — Serguei avisa e Ruan e eu concordamos.
— Tudo bem — respondo e Ruan concorda comigo, então seguimos
todos para os veículos que já estão nos esperando.
A viagem até o aeroporto particular, aonde o localizador de Yelena
está, dura somente alguns minutos, que mais parecem horas.
— Eles estão cercados — Serguei avisa no comunicador —, mas ainda
não saíram da aeronave.
— Não deixem eles decolarem, atirem nos pneus — Dimitri ordena.
Assim que chegamos, o avião continua fechado e parado na pista de
pouso, três equipes de soldados estão a postos cercando a aeronave
enquanto outras equipes seguram os inimigos capturados que estão sendo
interrogados nesse exato momento pelos nossos executores.
— O que vocês descobriram? — Serguei questiona assim que
chegamos em uma sala segura dentro do aeroporto, mas ainda temos a visão
do avião do lado de fora por uma grande janela.
— Eles estavam esperando o avião pousar para moverem os alvos até
Novosibirsk — Vincent relata, ele é o chefe dos executores e está com as
mãos sujas de sangue.
— Equipe trinta e dois — Serguei chama no comunicador —, capturar
Boris Medvev e Vladmir Nalvany — ele ordena, Bóris é o Presidente da
Rússia e Vladmir o primeiro ministro.
— Ordem de execução número cento e noventa e cinco — Dimitri fala
e Serguei repassa o recado para os soldados em ação. — Nós já temos o que
queríamos, Yelena e Bjorn em solo russo, agora precisamos salvá-los antes
que os desgraçados que estão no avião descubram que eu acabei de mandar
prender todos os presidentes e seus associados.
Serguei chama os soldados que trazem coletes a prova de balas para
nós, só depois de vesti-los caminhamos em direção à pista de pouso,
cercados por soldados altamente armados e treinados para nos protegerem,
todos os membros do Conselho se fazem presente.
Se não fosse por nós termos conseguido as provas no Brasil, a Bratva
não saberia sobre os mandantes e isso poderia ser uma emboscada para o
Conselho se render.
Dimitri como Pakhan vai na frente, então esperamos um tempo até que
a porta do avião é aberta e os soldados levam as escadas até a aeronave.
Quando isso acontece, dois homens aparecem na porta, um deles tem
uma arma apontada para a cabeça de Yelena e o outro, o mais velho com
barba branca e careca, tem uma arma apontada para Bjorn.
Assim que os vejo meu coração aperta no peito e quero correr até eles e
acabar com a vida desses malditos, mas então sinto a mão de Ruan na
minha e lembro que preciso me controlar para não fazer merda e colocar a
vida dos nossos amores em risco.
— Vocês estão cercados — Dimitri avisa em voz alta para que os
homens escutem.
— É o que parece — o mais velho responde, então ele dá um passo em
direção à escada com Bjorn em sua frente, enquanto o outro homem fica
com Yelena dentro da aeronave, protegido.
Nossos atiradores de elite estão a postos, mas eles não podem fazer
nada até que Yelena e Bjorn estejam a salvo, ou corremos o risco de um
deles se machucar.
— Soltem eles e vocês sofrerão menos antes de morrer — Alexei
propõe, ficando ao lado de Dimitri, ambos estão nervosos com a situação
assim como todos nós. — Bjorn, você está bem?
Bjorn não responde, só confirma com a cabeça, mas o velho o segura
com mais firmeza e aperta a arma na cabeça dele, ameaçando-o.
— Agora não é hora de falar com o papai, ou quer que sua
namoradinha morra? — o velho ameaça e todos paramos de respirar por um
momento quando ouvimos um tiro dentro do avião, logo depois o velho
olha para trás e Bjorn tem sua chance.
Assisto quando ele se esquiva da arma e joga a cabeça para trás,
acertando o velho, que perde o equilíbrio e cai no chão, ainda com a arma
em mãos ele aponta direto para Bjorn e atira.
Dentro do avião Yelena consegue se soltar e está em uma luta corpo a
corpo com os soldados, derrubando um deles para fora da aeronave.
— Invadam o avião, salvem a herdeira — Serguei ordena e corre na
direção da aeronave enquanto todos nós os seguimos.
Alexei, que já está ao lado de Bjorn, segura o filho que caiu no chão,
meu coração para de bater por um momento quando vejo a marca de tiro na
lateral da barriga de Bjorn, então Alexei coloca a mão no local para
estancar o sangue.
— Vincent — Alexei chama e um momento depois o executor, que tem
treinamento médico, já está ao lado de Bjorn com gazes para estancar o
sangramento.
— Precisamos levá-lo ao hospital agora — Vincent avisa.
— Bjorn, seu desgraçado. — Vou até ele e pego sua mão, Bjorn me
olha com uma expressão de dor que tenta esconder, mas não consegue.
— Eu… eu vou ficar bem, salve nossa mulher — ele pede e aperta
minha mão, então, antes que a equipe possa levá-lo eu me abaixo e beijo
sua testa.
— Eu prometo — digo quando quatro soldados trazem uma maca e o
colocam em cima, então eles seguem para o helicóptero que já está
aguardando próximo da pista de pouso, Alexei e Vincent vão com ele e nós
ficamos para trás.
Os soldados conseguem entrar no avião e ouvimos muitos tiros até que
tudo se acalma e, finalmente, Yelena sai do avião segurando o braço
esquerdo com uma mão e mancando.
Faço uma avaliação em seu corpo quando Ruan corre até ela e a pega
nos braços, descendo até que outra maca é trazida e ele a coloca em cima
dela.
Yelena levou um tiro na perna e outro no braço esquerdo, mas ela não
se rende e abre um sorriso convencido, mesmo em meio a dor, quando olha
para mim e Ruan.
— Eu voltei — ela avisa, então Ruan se abaixa e a beija e eu sei que
ele precisa disso mais do que eu, por isso, assim que eles se soltam, eu a
abraço com cuidado.
— Porra, docinho, podia ter esperado — digo e ela dá de ombros.
— Esperar nunca foi meu forte — ela responde e eu preciso rir da sua
coragem, essa é Yelena. — Pai, não precisa ficar assim — Yelena fala e dou
espaço para Dimitri, que segura a mão da filha enquanto um médico estanca
a ferida em sua coxa.
— Você vai parar de me dar sustos algum dia nessa vida? — Dimitri
questiona e posso ver seus olhos brilhando com as lágrimas que ele não
deixa cair.
— Princesa, você está bem? — Serguei se aproxima preocupado e
coloca a mão no ombro de Dimitri para confortá-lo.
— Claro que sim, agora me levem para o hospital logo, levar um tiro
dói pra caralho — ela brinca e eu rio da sua coragem, trocando um olhar
com Ruan.
Sei que ele está pensando o mesmo, essa é nossa Yelena.
CAPÍTULO 32

Bjorn
 
Tem algo sobre hospitais que sempre me deixa inquieto, não sei
realmente explicar o que é, mas o cheiro e o frio desse lugar remetem à
morte.
Sempre odiei ficar doente, quando tinha doze anos quebrei o braço no
treinamento e tive que passar um dia todo fazendo exames, foi um inferno.
A única coisa que ajudava a manter o clima mais leve naquela época
era quando meus amigos visitavam.
É por isso que, ao abrir os olhos ao acordar da anestesia, procuro por
eles, viro de um lado para o outro com muito esforço, mas não os encontro
em lugar algum.
Por que eles não estão aqui?
Será que aconteceu alguma coisa?
Nesse momento olho para a porta e vejo minha mãe e meu pai
entrando, ela traz um buquê de flores e coloca o vaso no canto do quarto
mais próximo da janela, enquanto meu pai vem diretamente em minha
direção.
— Você está acordado — ele declara e vejo seus ombros relaxarem
pelo alívio. — Foi tudo bem na cirurgia, você só precisará passar um tempo
no hospital até se recuperar.
— Aonde… aonde eles estão? — questiono, sentindo minha garganta
arranhar de tão seca, então minha mãe pega o copo com água da mesa ao
meu lado e me ajuda a tomar alguns goles.
— Agora não é hora para isso, meu filho, quando você estiver melhor a
gente conversa e… — meu pai fala.
— Não, eu quero vê-los — declaro com a voz mais firme agora. — O
que aconteceu? — Meus pais trocam um olhar significativo, que faz meu
coração parar por um momento. O que diabos está acontecendo aqui? —
Pai, alguém se machucou? Yelena está bem? Ela estava dentro do avião
quando eu fui baleado e não a vi sair de lá.
— Eles estão bem, Yelena levou um tiro na perna e outro passou de
raspão no braço, mas ela já fez cirurgia e está se recuperando — Alexei
explica.
— Eu quero vê-la agora! — exijo, tentando ficar sentado, mas sinto
uma pontada muito forte de dor na barriga e desisto.
— Para com isso, Bjorn, quando você estiver melhor nós vamos
resolver isso, agora não é a hora — meu pai avisa.
— Ela está bem, filho, não precisa se preocupar — Patrícia fala, com a
voz calma e tranquilizadora de uma mãe.
— Eu quero meu telefone — exijo.
— Filho, você precisa descansar e… — meu pai começa a falar, então
olho diretamente para ele, incrédulo com o que está acontecendo.
— Você não pode fazer isso, não pode me afastar deles assim — digo
com firmeza e sinto meus olhos arderem, mas não deixo que as lágrimas
escorram. — Pai, por favor.
Alexei me encara por um tempo, depois respira fundo e me entrega o
celular que estava em seu bolso.
Ligo para Ruan e, no segundo toque, ele atende.
“Alô, quem está falando?”
— Ruan, sou eu, Bjorn.
“Bjorn, porra, você tá bem?” Ele pergunta.
— Sim, acabei de acordar da cirurgia, como você está?
“Surtando, eles praticamente nos isolaram fora do hospital.”
— E o Danila?
“Ele tentou de tudo para entrar aí, mas eles não deixam, e também
proibiram a gente de se ver.”
— Como assim?
“Danila e eu também não podemos nos ver, nós estamos falando só por
mensagens, eles querem nos separar, Bjorn.” Ouço o desespero na voz de
Ruan enquanto ele fala e meu coração aperta no peito, então olho de canto
para o meu pai.
— Eles não vão conseguir nos separar — declaro com firmeza. — Você
sabe algo da Yelena?
“Yekaterina deu um celular para ela e ela me ligou. Yelena surtou
quando o Pakhan a proibiu de nos ver até que eles pensem em como vão
resolver essa situação, porque aparentemente agora nós somos uma situação
a ser resolvida.”
— Porra, fodam-se eles — cuspo as palavras e meu pai me olha com as
sobrancelhas erguidas. — Nada e nem ninguém pode nos separar,
entendeu?
“Bjorn, eu não sei, eu…”
— Ruan, confia em mim e, por favor, não faça nada que vá se
arrepender depois — peço e espero ele me responder, escuto Ruan respirar
fundo do outro lado da linha. — Promete que não vai fazer nada?
“Tudo bem, eu prometo.”
Assim fico mais aliviado, meu maior medo é que ele volte a beber por
não conseguir lidar com tudo isso sem estarmos ao seu lado.
— Como estão as coisas com o seu pai?
“Ele está pirando, todos eles estão. Danila tentou entrar à força no
hospital e levou um soco de Serguei quando chegou próximo do quarto de
Yelena, Dimitri parecia querer me matar quando me viu na porta do
hospital, eles estão afastando ela de nós.”
— Droga, eles sempre foram super protetores — comento e respiro
fundo, preciso de um tempo para pensar em uma saída. — Ruan, eu vou
pensar em algo e nós ficaremos bem, está ouvindo?
“Não sei como sairemos dessa situação.”
— Vai dar tudo certo, ninguém pode nos separar, nós nos amamos e
isso é tudo o que importa.
Meu pai me olha com atenção quando digo isso e minha mãe segura a
minha mão em um gesto de conforto.
“Eu te amo, Bjorn.”
— Também te amo, agora se cuida, logo estaremos juntos novamente,
todos nós. — Com isso, desligamos o telefone e eu volto a encarar meu pai.
— Espero que saiba que não vai adiantar de nada nos separar fisicamente
— declaro.
— Bjorn…
— Não, me escuta, se alguém tentasse te afastar da minha mãe, você
aceitaria? Eu duvido muito, então pense nisso quando estiver na reunião do
Conselho, porque nada e nem ninguém vai apagar o amor que sentimos —
aviso com a voz firme e o encarando bem nos olhos.
— Vocês são quatro membros do Conselho. Quatro! Não sei como isso
foi acontecer, mas não pode continuar, para assumir como Pakhan, Yelena
precisa casar com alguém, e não pode ser nenhum de vocês.
— Foda-se o casamento, e se ela não quiser casar? Essas leis da Bratva
são antigas e antiquadas demais para a nossa época.
— Todos temos que segui-las, meu filho, é assim que mantemos um
sistema funcional na organização — meu pai explica com a voz calma.
— Não me importo, porra, leis já foram alteradas antes, quando Dimitri
assumiu, ele fez questão de mudar a lei sobre mulheres fazerem parte do
Conselho, só para que Yelena tivesse a mesma oportunidade que o irmão
caso ela nascesse primeiro, e olha só, foi exatamente o que aconteceu, agora
temos duas mulheres na linha de sucessão — digo com confiança e, quando
termino, meu pai engole em seco.
— Entendo seu ponto de vista, meu filho, mas é impossível que quatro
herdeiros do Conselho se relacionem, e quando vocês precisarem produzir
herdeiros, como será? — ele questiona.
Eu não tenho resposta para isso, por isso fico calado por um tempo.
— Eu sei que temos muitas coisas para resolver, pai, e muitas delas
envolvem o Conselho e as leis da Bratva, mas o que ninguém vai conseguir
fazer é acabar com o amor que sentimos, e se tivermos que lutar para viver
esse amor, é exatamente isso o que faremos — declaro.
— Como isso aconteceu, meu filho? — minha mãe pergunta.
— Nós nos envolvemos um ano antes da Yelena ser sequestrada, ela foi
a primeira a entender que o que sentíamos uns pelos outros era muito maior
do que amizade — conto e não contenho um meio sorriso.
— Você não pensou em mencionar esse fato quando ela foi
sequestrada? — meu pai questiona.
— Não era relevante para vocês e não faria diferença alguma nas
buscas — respondo olhando-o de canto —, e não vamos falar nada sobre
esconder coisas aqui, o senhor e a minha mãe ainda tem muito o que
explicar.
Ele não me contradiz mais e ficamos em silêncio depois disso, mas não
consigo parar de pensar no que ele falou, realmente temos muitas coisas
para resolver se quisermos viver o nosso amor e como faremos isso eu
ainda não sei.
Depois de um tempo, meu pai é chamado para uma reunião do
Conselho e fico sozinho com a minha mãe.
— Você precisa pegar leve com ele, Bjorn, seu pai e eu nos
desesperamos quando você fugiu, aquele sentimento ainda não passou e nós
só queremos o melhor para você — ela fala com a voz carinhosa, enquanto
senta na poltrona ao lado da minha cama.
— Desculpa, mãe, mas nós precisávamos lidar com aquilo — respondo
e ela concorda com a cabeça, mas continua me encarando com os olhos
tristes. — Eu só não entendo o porquê de esconder a história sobre a Ordem
e, especialmente, a minha história. Quando li os cadernos que encontrei no
cofre do pai, não consegui acreditar em tudo o que você passou, mãe.
— Não foi fácil, mas nós já superamos aquela época e nosso maior
tesouro veio por causa disso, você é tudo para nós, Bjorn — ela declara e
vejo seus olhos se encherem de lágrimas.
— Eu entendo, mesmo assim eu tinha o direito de saber de tudo, não
uma mentira, mas a história real.
— Nós não queríamos que você sofresse, então seu pai e o Pakhan
colocaram em votação para que somente o Conselho tivesse acesso às
informações sobre a Ordem, eles todos aceitaram, não culpe seu pai por
tentar fazer o que ele achava que fosse o melhor para você.
— Estou tentando não culpar ninguém, mas fica difícil quando sei de
tudo, especialmente agora que, mais uma vez, eles estão tentando controlar
a minha vida — declaro e respiro fundo. — Não vai adiantar, mãe,
ninguém, nem mesmo todos os membros do Conselho juntos vão conseguir
nos separar agora, nós nos amamos e vamos lutar por isso.
Com isso, ela se levanta e caminha até a minha cama, então pega a
minha mão e a acaricia levemente.
— Eu sei que vocês vão lutar, meu filho, e não espero menos do que
isso — ela fala e meu coração bate forte no peito. — Eu estou do seu lado
— Patrícia confessa com um sorriso lindo no rosto.
— Obrigado, mãe — eu agradeço, então ela se abaixa e eu a abraço.
É tão bom sentir o calor da minha mãe e o seu carinho, me sinto muito
melhor depois disso.
Depois de algumas horas, meu pai volta da reunião com o semblante
preocupado e cansado.
— O que vocês decidiram? — pergunto, sem conseguir me segurar.
— Nada foi decidido por enquanto, pelo menos não sobre vocês, a
reunião foi para falar sobre a Ordem e o que faremos a seguir — meu pai
fala, então explica todas as decisões que foram tomadas pelo Conselho e
como eles irão agir.
Já que a Ordem dos Mestres foi criada pelos líderes dos maiores países
mundiais, a Bratva irá derrubar cada um deles e mudar todo o sistema
político desses países para termos total controle novamente.
No entanto, isso levará algum tempo, afinal, não podemos
simplesmente assassinar todos os líderes mundiais de uma vez, porém eles
ficarão nas nossas mãos, sabendo que sua hora está próxima.
Equipes da Bratva já agiram e dominaram os envolvidos que estão sob
nossa custódia e farão tudo o que mandarmos até que seu mandato acabe,
assim como sua vida.
O primeiro que servirá de exemplo aos outros será o presidente da
Rússia, já que a ordem para me sequestrar foi dada por ele. Dimitri
descobriu arquivos comprometedores em seus pertences, que o
incriminaram e o colocaram como mandante do sequestro, agora ele pagará
por tudo o que fez, afinal, a Bratva não perdoa ninguém.
CAPÍTULO 33

Yelena
 
Uma semana no hospital e duas semanas presa em casa, literalmente
presa.
Meus pais não me deixam sair e também sou proibida de receber
visitas, a única que está ao meu lado nessa confusão toda é minha mãe, que
me empresta o celular para eu falar com meus homens.
Por isso sei que Bjorn já está em casa se recuperando, Danila e Ruan
também estão em suas residências e não podem se ver, é como se todos
estivessem trancando os herdeiros para tentar nos afastar.
Como se isso fosse possível.
Estou quase terminando meu disfarce quando escuto passos do outro
lado da porta.
— Droga, droga, droga. — Tento tirar a peruca morena rápido, mas não
tem como esconder a maquiagem quando Dimitri entra no quarto e me
encara com o olhar surpreso.
— Sério que você ia tentar fugir, senhorita? — ele questiona e fecha a
porta atrás de si.
Meu pai parece cansado, tem marcas escuras ao redor dos olhos e o
paletó está amassado, ele nunca está com as roupas amassadas, deve ter
passado o dia todo na Central.
— Eu tenho que fazer alguma coisa, afinal, estou presa nessa casa.
— Você não está presa, Yelena — ele responde, respirando fundo,
então se senta na poltrona rosa do meu quarto.
— Como você define alguém que não tem permissão de sair de um
local específico, está rodeada de seguranças e foi proibida de usar o celular?
— Alguém que está de castigo — Dimitri responde com um sorriso
brincalhão.
— Eu tenho vinte e seis anos, pai, você não pode mais me colocar de
castigo como fazia quando eu era criança — declaro e caminho até minha
cama, me jogando de costas nela, para depois sentar e olhar para ele. —
Sabe que não vai funcionar, não sabe?
— O quê?
— Me afastar deles, não vai funcionar — respondo convencida.
— Yelena, você precisa entender que essa situação toda não é tão
simples assim.
— Claro que é, a gente se ama, é isso, ponto final — digo o óbvio.
— Não é só por vocês serem quatro pessoas…
— Você não tem nem como falar algo sobre isso, pai — jogo na cara
dele, afinal, ele, a mãe e Serguei são um trisal, é só adicionar mais uma
pessoa e dá na mesma.
— Filha, você é especial, é a minha herdeira.
— Eu sei disso, mas eu também sou uma mulher apaixonada e não vou
deixar que você, ou qualquer outra pessoa, interfira no que sinto por eles.
— E como você propõe que tudo se resolva? Vocês serão membros do
Conselho, Yelena! Bjorn e Danila não podem simplesmente desistir, eles
não tem irmãos para substituí-los.
— Eu sei disso e não quero que eles desistam de nada.
— Então o que você propõe?
— É bem simples, pai, eu vou me casar com o Ruan, ficaremos todos
juntos e teremos quantos filhos nós quisermos, com o sobrenome de cada
um de nós, ou podemos adotar duas crianças e colocar o sobrenome deles
— exponho o óbvio, porque não vejo como ninguém pensou nisso antes.
— Seus filhos com Danila e Bjorn não serão legítimos e Ruan precisará
desistir da sua cadeira no Conselho para casar com você — Dimitri
contrapõe.
— Mas isso é fácil de remediar, é só tirar a parte que os filhos precisam
ser legítimos e vir de um casamento e pronto, uma modificação minúscula
em uma cláusula resolve tudo, pai.
— Yelena…
— Você sabe que não tem outra saída, os membros do Conselho
também sabem, afinal, não estaríamos separados por três semanas se vocês
já tivessem pensado em algo — declaro com confiança, porque andei
pensando muito nisso.
— Não significa que eles irão aceitar isso e estamos falando em
casamento e filhos, você tem vinte e seis anos, é nova demais para isso.
— Exatamente, você não vai se aposentar agora e nada precisa
acontecer de uma hora para a outra, nós temos tempo e podemos fazer isso
tudo com calma. — Vou até meu pai, sentindo minha perna doer um pouco
aonde levei o tiro, mas já está quase curada. — Deixe a gente apresentar
essa proposta ao Conselho e aí vocês decidem se colocam em votação ou
não. Só lembre-se que, caso não seja aprovado, teremos quatro membros do
Conselho que nunca vão se casar, e isso colocaria toda a Bratva em risco.
— Você não está deixando muitas alternativas abertas para negociação
— meu pai aponta.
— Não — respondo. — É simples, pai, ou vocês aceitam ou teremos
uma crise futura dentro da Bratva.
— Droga, você daria uma ótima advogada, sabia?
— Fui treinada pelo melhor — respondo e sento em seu colo,
abraçando meu pai. — Eu te amo, pai.
— Eu também te amo, filha — ele responde e respira fundo. — Eu
sempre soube que você seria extraordinária, só não sabia que me daria tanto
trabalho assim.
— Eu? Dando trabalho? Que calúnia, pai.
Com isso, nós dois rimos por um tempo.
— E três namorados, filha? Serguei está puto por não ter percebido
nada antes. Por ele, socaríamos cada um deles até desistirem de você —
meu pai comenta e eu solto uma gargalhada.
— Nós não escolhemos a quem nosso coração pertence, acontece que o
meu sempre foi deles e, quando percebi isso, eu fui atrás do que era meu.
— É claro que foi, você sempre foi decidida, é por isso que será a
melhor Pakhan que a Bratva já teve.
— Você é o melhor, pai, eu só quero ser tão boa quanto você e já
estarei muito feliz.
***
Uma semana depois os membros do Conselho aceitaram nos ouvir,
finalmente.
Assim que chego na Central vejo Bjorn, Danila e Ruan, todos de terno
preto, me esperando na entrada do prédio principal.
Não perco tempo e me jogo neles, abraçando e beijando cada um dos
meus homens.
Um mês todo afastados é tempo demais, jamais quero fazer isso de
novo.
— Eu senti tanta saudade — digo quando finalmente nos separamos,
Bjorn segura a minha mão enquanto Ruan passa o braço pela cintura de
Bjorn e Danila fica do meu outro lado. — Agora vamos, temos que
convencer cinco membros do Conselho a nos deixar viver nosso amor.
— Vai ser fácil — Danila brinca.
— Você está bem, Ruan? — pergunto e olho diretamente para seus
olhos, mas ele não parece preocupado ou tenso, ao contrário disso, seu
sorriso é leve e ele parece mais tranquilo do que nunca.
— Mais do que bem, amuleto, eu estou pronto — ele declara e eu
planto um beijo rápido em seus lábios.
— Então, vamos. — Bjorn puxa a frente e nós o seguimos até a sala de
reuniões principal, aonde todos os membros do Conselho já estão nos
esperando.
Do lado direito da mesa estão Alexei Ivanov e Mikhail Smirnov, do
lado direito fica Pyotr Orlov e Sacha Kuznetsov, já meu pai, Dimitri, está na
cabeceira da mesa.
Todos nos encaram de forma séria quando entramos e ficamos de pé do
outro lado da mesa.
— Já que estão todos aqui, vamos começar — Sacha é o primeiro a
falar.
— Nós vamos ouvir seus pontos e debater a melhor decisão com base
nas leis da Bratva, vocês entendem isso? — Alexei questiona.
— Sim — respondemos em coro.
— Então podem começar — meu pai pede e Bjorn se antecipa,
explicando os motivos pelo qual seria benéfico alterar a lei de sucessão,
especialmente caso algum membro, no futuro, não consiga ter herdeiros
legítimos, garantindo que ele possa adotar uma criança que precise de um
lar e criá-lo como seu herdeiro legítimo.
Depois Ruan entra em ação e fala todos os motivos pelos quais ele não
quer assumir o lugar do pai, o senhor Smirnov escuta tudo calado, mas
posso ver em seu olhar que não está surpreso, ao contrário disso, ele parece
até aliviado.
Então Danila conta toda a nossa história, como começamos a nos
envolver e como isso virou uma história de amor entre quatro pessoas que
não vão se abandonar.
Ele também garante que construiremos uma casa e que vamos morar
juntos o quanto antes, já não faz mais sentido continuar na casa dos nossos
pais.
Depois é a minha vez e não tem muito o que falar, além de apontar que,
caso eles não aceitem as alterações, o Conselho da Bratva estará ameaçado
de acabar e tudo o que foi construído até agora pode entrar em colapso.
— Nós nos comprometemos a seguir todas as outras leis da Bratva, eu
me casarei com Ruan, nós teremos um filho que carregará o meu
sobrenome e será o herdeiro da Pakhan, enquanto Bjorn e Danila não irão
se casar.
— E quanto aos herdeiros das famílias Ivanov e Kuznetsov? — o pai
de Danila questiona.
— Nós podemos optar por eu ter mais filhos com eles, ou adotaremos
crianças que precisam de um lar e daremos a eles o sobrenome de cada um,
garantindo a continuidade das famílias principais — explico e o senhor
Kuznetsov ergue as sobrancelhas em resposta, mas não fala nada.
— Parece que vocês pensaram em tudo mesmo — Pyotr Orlov é quem
fala —, mas isso vai contra várias leis da Bratva que precisariam ser
alteradas, e nós já fizemos isso quando Dimitri assumiu, não podemos
simplesmente ficar mudando nossas leis toda vez que haja um embate
assim.
— Se me lembro bem, as leis foram alteradas para que nossas duas
filhas tivessem as mesmas chances que os homens das famílias principais, e
olha o que isso nos deu, duas mulheres extraordinárias, que nos deixam
orgulhosos — meu pai aponta e o senhor Orlov concorda, porém ele ainda
não parece completamente convencido.
— Olha, eu sei que pode parecer difícil para vocês aceitarem tudo isso
agora, mas vamos pensar logicamente, essa é a melhor opção, a única na
verdade, porque nós não vamos nos afastar e vocês não podem fazer nada
contra isso, então vamos lá, só digam sim e podemos seguir em paz —
declaro e abro um sorriso para convencê-los. — Nós só queremos nossa
felicidade e não queremos prejudicar a Bratva.
— A garota é boa — o senhor Orlov comenta depois de um tempo. —
Vocês já apresentaram seu caso, agora nos deem licença para que possamos
decidir qual será a melhor opção para a Bratva.
— Sim, senhor — respondo e nós saímos da sala, do lado de fora
encontramos Katrina escorada na parede.
— Como foi? — ela pergunta, então conto tudo para ela e, quando
termino, ela parece admirada. — Vocês realmente propuseram que as
crianças pudessem ser adotadas?
— Sim — respondo e ela ergue uma sobrancelha, mas não muda sua
expressão mais do que isso.
— Muito bem, Yelena — ela elogia, descruzando os braços da frente
do corpo.
Katrina está usando um conjunto de saia social azul-marinho e camisa
social branca com um terninho por cima, ela sempre está bem vestida.
— Espero que seu pai não se oponha a essas mudanças — digo e ela
abre um meio sorriso.
— Ele não fará isso, meu pai gosta de parecer durão e tudo, mas no
fundo ele sabe quando não tem outra opção — ela responde e fico mais
aliviada com isso.
— Obrigada pela ajuda, Katrina, não sei se te agradeci o suficiente por
isso — digo e ela dá de ombros.
— Lembra do nosso acordo, eu ainda vou cobrar aqueles favores — ela
diz e eu sorrio para ela, então meu irmão aparece e Katrina imediatamente
arruma sua postura e fecha o sorriso, ficando séria. — Tudo pronto, Petrov?
— Sim, senhorita Orlov — meu irmão responde e posso sentir um ar
pesado no ambiente quando eles trocam um olhar, que poderia soltar faíscas
de algo que parece com raiva.
Não estou entendendo o que está acontecendo aqui.
— Adrian, aonde você vai? — pergunto.
— Estou encarregado da segurança da senhorita Orlov por um tempo,
irmã — Adrian responde. — Serguei pode te explicar depois.
Com isso, Katrina sai com meu irmão logo atrás dela e um bando de
seguranças os seguem logo depois.
— O que diabos eu perdi? — questiono.
— Não sei, docinho, mas que tem algo aí, tem — Danila responde. —
Viu a forma que eles se olharam?
— Como se pudessem se matar? — Ruan complementa.
— A linha entre o tesão e o ódio é bem fina — Danila brinca.
— Acho que o ditado fala de amor — Bjorn contrapõe.
— Pode ser também, mas no geral o tesão acontece antes — Danila diz
e solta uma gargalhada que contagia a todos nós.
— Bem, vou perguntar para meus pais o que está acontecendo ali, acho
que estive perdida nos meus próprios problemas e não percebi os do meu
irmão.
— Relaxa, seja o que for ele já é grandinho e pode resolver sozinho —
Danila fala e me abraça por trás, beijando meu rosto logo depois. — Agora,
o que acharam do meu plano de construirmos uma casa enorme só para
nós?
— Perfeito demais — Bjorn responde.
— Teremos uma casa todinha só para a gente… Não vejo a hora de isso
acontecer — Ruan complementa.
— Até lá precisaremos pensar em como vamos nos ver, porque minhas
bolas estão roxas já — Danila brinca e todos rimos.
— Amanhã à tarde tem a execução na praça principal, podemos
comemorar logo depois — digo e eles me encaram. — Vamos lá, eu
finalmente poderei matar alguém na frente de todo mundo, vou estar com a
adrenalina lá em cima logo depois disso, eu precisarei de alguns bons
orgasmos.
— Como quiser, amuleto, seu pedido é uma ordem. — Ruan planta um
beijo rápido em meus lábios e Bjorn segura minha mão.
— Estaremos lá com você, linda — Bjorn declara.
— Eu sei, coração — digo e ele sorri.
Amanhã será o dia que eu conseguirei a minha vingança pelos cinco
anos de cativeiro, por tudo o que passei nas mãos daqueles desgraçados e
pelo o que eles fizeram com o Bjorn e a sua família..
CAPÍTULO 34

Ruan
 
Não consigo explicar o quanto estou feliz e aliviado por saber que,
finalmente, tudo o que eu sempre quis está acontecendo.
O Conselho decidiu aceitar as nossas propostas e alterar as leis de
sucessão para que filhos adotados ou nascidos fora do casamento também
sejam considerados herdeiros.
Além disso, e o que é a melhor parte, meu casamento com Yelena
garante que eu possa renunciar meu lugar na mesa do Conselho e me tornar
somente um soldado da Bratva.
Meu pai ficou desapontado no começo, mas até ele sabe que é o melhor
a se fazer, eu nunca quis ser um herdeiro, nunca quis substitui-lo e também
não fui feito para esse trabalho.
Pensar em tomar decisões nesse nível me consumiu por anos, me
adoeceu tanto que eu precisei beber para conseguir suportar minha vida,
mas não mais.
Meu irmão, Pierre, por outro lado, ficou mais do que feliz em assumir
meu lugar, ele sempre gostou de trabalhar com nosso pai e é poucos anos
mais novo do que eu, ele vai me substituir com louvor.
Hoje teremos a cerimônia de execução em praça pública do presidente
da Rússia, Boris Medyev, e do primeiro ministro, Vladmir Nalvany,
juntamente com todos os associados que se provaram traidores.
Todos eles já foram torturados por mais informações e agora estão
prontos para serem executados.
Como vítima das ações da Ordem, Yelena terá a honra de ser a pessoa
que fará as execuções e por isso ela está bem animada.
Depois que convencemos o Conselho a aceitar as mudanças propostas
nas leis da Bratva, nossos pais acabaram aceitando nosso relacionamento,
mas não antes de Serguei e Dimitri nos forçarem a uma sessão nada
amigável de luta livre.
É claro que nenhum de nós três sonharia em tentar ganhar do Pakhan,
então aceitamos apanhar um pouco para que ele liberasse a raiva nos três
homens que, segundo ele, corromperam sua menina.
Se alguém foi corrompido aqui fomos nós, mas eu não disse isso a eles,
mesmo porque lá no fundo eles bem sabem a filha que tem.
Serguei é outro que ainda nos olha como se pudesse nos matar, ele é
tão protetor com os filhos, até posso entender o que está sentindo agora,
especialmente nesse momento, quando estamos planejando morar juntos.
— Você está pronta, docinho? — Danila pergunta para Yelena quando
estamos todos juntos esperando sermos chamados para a cerimônia.
— Mais do que pronta, querido — ela responde e dá um beijo nele, que
a abraça, e ambos sorriem para Bjorn e eu. — E o que vocês vão ficar
fazendo enquanto eu faço todo o serviço sujo?
— Nós vamos assistir nossa mulher assassinar dois homens em frente a
toda Bratva — Bjorn responde e todos nós rimos.
— Até meu tio Andrei veio para ver isso, vai ser uma cerimônia grande
— ela comenta e posso jurar que está um pouco nervosa.
— Não precisa se preocupar, você vai brilhar, meu amuleto — digo e
dou um beijo em seu rosto, antes de pegar sua mão e fazer o mesmo.
Desde que nosso relacionamento veio à tona, não precisamos mais
esconder as trocas de carinho e isso é maravilhoso demais.
Ter o nosso amor livre é uma sensação incrível de realização, lutamos
tanto para isso que às vezes não parece real.
— Senhor Ivanov e senhor Kuznetsov, favor me acompanhar — um
soldado chama Danila e Bjorn.
Cada um deles dá um beijo em Yelena e depois em mim, então saem e
vão se juntar aos nossos pais.
Como eu não sou mais um herdeiro, não ficarei com eles e sim com os
soldados.
— Senhor Smirnov, favor me acompanhar — uma espiã me chama.
— Chegou a hora, amuleto, você está pronta? — pergunto.
— Com certeza — ela responde, então a abraço apertado e beijo seu
rosto.
— Vai lá, mostrar para toda a Bratva quem é Yelena Petrova, a próxima
Pakhan da organização.
— Obrigada, paixão — ela agradece.
Eu sigo o soldado até o pátio e fico ao lado de Andrei Petrov, o lugar
está cheio de soldados e espiãs, todos vieram prestigiar o grande evento.
A praça principal é um lugar aberto com um palco de dois andares,
aonde os membros do Conselho e seus herdeiros ficam.
Abaixo deles estão o alto escalão da Bratva. Os soldados ficam em
posição de sentido nas laterais da praça, deixando o centro livre para a
cerimônia.
No centro já estão colocadas as estruturas que serão usadas para
enforcar todos os associados do presidente, são doze lugares disponíveis.
Logo a frente, vemos duas almofadas vermelhas no chão, ali será o
local aonde Boris e Vladmir serão executados com uma arma da escolha de
Yelena.
Os primeiros a entrarem são as doze pessoas que serão enforcadas, eles
estão vestidas com as roupas cinza dos prisioneiros, estão encapuzados e
são conduzidos em fila até as forcas, assim que chegam nos lugares certos
os soldados colocam as cordas em seus pescoços e deixam lá.
Depois disso, dois soldados trazem Boris e Vladmir, eles não estão
vendados, mas suas mãos estão amarradas nas costas, eles vestem as
mesmas roupas cinzas e caminham lentamente até cada um ficar de frente
para uma almofada.
O que é bem irônico pensar, já que as almofadas são usadas para
proteger seus joelhos, quando logo eles serão mortos, eu gosto dessa ironia.
Então é a vez de ela entrar, acompanhada de duas espiãs.
Yelena caminha em direção ao centro da praça, ela está vestida com
uma camisa vermelha com o símbolo da Bratva estampado nas costas e o
símbolo dos herdeiros estampado na frente, a calça do uniforme também é
vermelha, mas seus tênis são brancos, ela está linda e poderosa com o
cabelo preso em um rabo de cavalo alto e sem nenhuma maquiagem, Yelena
não precisa disso para brilhar.
Todos os soldados e espiãs dão três batidas com o pé no chão quando
ela entra.
Ela para atrás de Boris e Vladmir, então todos ficam em silêncio a
espera do julgamento.
— Herdeira Yelena Petrova, filha de Vor Dimitri Petrov, Yekaterina
Petrova e Vor Serguei Barkov — Alexei é quem conduz a cerimônia. —,
estando ciente do juramento de lealdade feito à Bratva, você confirma a
veracidade das palavras aqui ditas no dia de hoje?
— Sim, eu confirmo — ela responde em voz alta, confiante.
— Ainda sob juramento, confirma que foi você, juntamente com os
herdeiros: Bjorn Ivanov, Danila Kuznetsov e Ruan Smirnov, quem coletou a
prova da traição do acusado?
— Sim, eu confirmo.
No telão atrás de Yelena, vários documentos que encontramos no Brasil
são mostrados, e Alexei fala sobre cada uma das provas que incriminam os
homens que serão executados hoje, além desses documentos, outros que
foram descobertos depois também são mostrados como evidências.
Eles não tem para onde correr, as provas são irrefutáveis.
Depois os vídeos das confissões dos acusados, quando estavam sendo
torturados, passam no telão, confirmando que eles fazem parte do alto
escalão da Ordem dos Mestres e que planejavam derrubar a Bratva.
— Sob juramento, você confirma que esses documentos são
verdadeiros e acurados? — Alexei questiona.
— Sim, eu confirmo — Yelena responde.
— Diante dos fatos e da confissão dos acusados, o Conselho, formado
pelos líderes das famílias principais, declara que todos os acusados são
culpados pelos seguintes crimes: traição à Bratva, conspiração para
derrubar a organização e o sequestro de Patrícia Ivanova e Yelena Petrova
— Alexei declara com a voz firme e absoluta. — Segundo as leis da Bratva,
esses crimes são punidos com pena de morte, a sentença será executada
imediatamente.
Então um soldado puxa a alavanca das forcas e uma porta se abre
embaixo dos pés dos traidores, seus corpos caem até que as cordas os
segurem pelo pescoço e eles morram pendurados.
Demora alguns minutos até que o último corpo para de se mexer e
ninguém fala nada durante esse tempo.
Depois disso, todos voltam sua atenção à Yelena, uma espiã caminha
até ela com uma almofada vermelha em mãos e, em cima dela, uma adaga
com o cabo vermelho e a lâmina afiada que brilha com a luz do sol.
Assim que a espiã chega perto de Yelena, elas se viram novamente de
frente para o Conselho e esperam suas ordens.
— Yelena Petrova, um passo à frente — Alexei fala e Yelena faz o que
ele pediu. — Para honrar os serviços prestados a essa organização, os
membros desse Conselho decidiram conceder-lhe o título honorário de Vor
Yelena Petrova.
Com isso, uma salva de palmas é executada por todos os soldados e
espiãs da Bratva e, ao meu lado. Andrei fala:
— Essa pestinha é a pessoa mais jovem a conseguir o título de Vor de
toda a Bratva — ele comenta e sorri, todo orgulhoso. — Meu irmão só foi
condecorado quando tinha trinta e um anos e o mais jovem antes dele tinha
sido nosso pai, que conseguiu o título com vinte e nove anos, agora Yelena,
com apenas vinte e seis, está no topo da lista.
— Porra, meu amuleto é foda mesmo — digo, batendo palmas ainda
mais forte e com meu peito explodindo de orgulho dela.
— Seu o quê? — Andrei questiona.
— Meu amuleto da sorte — respondo e sorrio para ele, que bate no
meu braço enquanto dá risada.
— Vocês realmente estão de quatro por ela — ele aponta e eu faço que
sim com a cabeça, então Alexei ergue as mãos e todos param de bater
palmas para continuar com a cerimônia.
— Como tradição dessa organização, a pessoa que foi mais lesada pelo
traidor tem o direito de executar a pena dada pelo Conselho, portanto, Vor
Yelena Petrova é convocada para aplicar a punição máxima por traição às
leis absolutas da Bratva.
Com a sentença declarada, Yelena pega a adaga que está na almofada
vermelha e se coloca atrás dos dois homens, então coloca a mão no ombro
de Boris, forçando-o a se ajoelhar, depois faz o mesmo com Vladmir e,
quando os dois estão ajoelhados em sua frente, Yelena se aproxima e, com
um movimento preciso, leva a faca até o pescoço de Vladmir, abrindo um
corte profundo que o faz cair para frente, engasgando-se com o próprio
sangue enquanto morre lentamente.
Ao lado, Boris começa a chorar e pedir por perdão, mas ele sabe que
isso não vai adiantar, a sentença foi dada e ele só tem a si mesmo para
culpar pelos crimes que cometeu.
Yelena segura seus cabelos e coloca a adaga em seu pescoço e arrasta a
lâmina de um lado até o outro, abrindo sua carne, que logo jorra sangue
enquanto ela o segura sua cabeça, não deixando que caia para frente.
Yelena se abaixa e fala algo no ouvido do traidor antes de soltá-lo e
descartar a adaga ensanguentada na almofada vermelha que a espiã está
segurando ao seu lado.
Mais uma vez os soldados e espiãs batem os pés no chão para enaltecer
a execução perfeita. Ao meu lado, Andrei olha para a sobrinha com
orgulho, então vejo Danila e Bjorn encarando nossa mulher, cada um com
um sorriso mais lindo do que o outro, ao lado deles todos os membros do
Conselho parecem orgulhosos.
E quem não estaria?
Como eu presumi antecipadamente, meu amuleto brilhou mais uma
vez.
Depois da cerimônia, os membros do Conselho combinaram uma
comemoração na casa dos Petrov, eu sigo junto com Andrei até lá e, assim
que chego, Yelena corre até mim e se joga em meus braços para que eu a
parabenize.
— Eu disse que ia ser incrível, amuleto — digo e ela abre um sorriso
lindo demais. — Estou orgulhoso de você.
— Parabéns, pestinha — Andrei fala e Yelena o abraça também. — A
primeira mulher a conquistar o título honorário de Vor de toda a Bratva,
mais do que merecido, preciso acrescentar.
— E a pessoa mais jovem da história — Dimitri complementa, vindo
até nós. — Estou orgulhoso, filha, mesmo não concordando com as
circunstâncias que a levaram a isso, você mereceu.
— Eu sei, pai — ela responde convencida.
— O ego de milhões — Andrei brinca e dá uma gargalhada.
— Puxei ao meu tio — Yelena responde.
Depois disso, Yelena e eu vamos até Bjorn e Danila, que entregam uma
taça de champanhe para ela, já eu pego um copo com água e assim
brindamos nossa mulher.
— Então, amuleto, o que você quer de presente? — pergunto baixinho
em seu ouvido e a abraço por trás.
— Eu quero meus três homens daqui duas horas, no meu quarto — ela
responde e faz uma cara safada olhando para todos nós.
— Seu pedido é uma ordem, docinho — Danila responde e bate a taça
na de Bjorn.
***
Exatamente duas horas depois, estamos no quarto de Yelena, as roupas
descartadas em um canto enquanto a adoramos.
Ela está deitada na cama, com Bjorn no meio das suas pernas,
chupando sua boceta deliciosa enquanto ela geme de prazer.
Danila segura meu pescoço e me beija, então eu pego seu pau duro na
mão e começo a masturbá-lo, logo ele está gemendo deliciosamente
enquanto o beijo intensamente, engolindo cada som de prazer que sai da sua
boca.
— Porra, eu vou gozar se você continuar — Danila avisa, então eu
paro, porque sei que ainda não é a hora. — Bjorn — Danila chama e Bjorn
se levanta, então eu me antecipo e o beijo, sentindo o gosto da nossa mulher
em seus lábios.
Nesse momento Yelena levanta e se ajoelha em frente a Bjorn,
segurando seu pau duro com uma mão, ela lambe a ponta antes de leva-lo a
boca e começar a chupar com vontade, Bjorn geme contra a minha boca
enquanto ela o enlouquece.
Danila vai até a mesa de cabeceira e pega um pacote de camisinhas,
deixando duas em cima da mesa, ele desenrola uma em seu pau e deita na
cama.
Yelena se levanta logo depois e monta nele, sua boceta engole o pau de
Danila de uma vez só, então ela começa a cavalgá-lo com vontade, seus
gemidos ecoam pelo quarto enquanto Bjorn e eu paramos para ver o show.
— Você quer isso, Bjorn? — pergunto quando ele segura meu pau e
começa a me masturbar.
— Eu quero você — ele responde.
Bjorn ainda não se entregou para mim ou Danila, nós temos brincado e
o preparado, mas ele ainda não foi além de alguns toques, só que agora ele
parece querer mais, vejo um fogo em seu olhar e o sorriso torto em seus
lábios.
Porra, ele é gostoso demais, Bjorn me provoca de uma forma diferente,
ele é tão controlado e tudo o que eu mais quero é fazê-lo perder esse
controle todo e gemer com meu pau enterrado em seu cu.
Vou até a mesinha de cabeceira e pego as duas camisinhas e um tubo de
lubrificante, entrego uma para Bjorn e visto a outra no meu pau.
— Está pronta para ter os seus três homens só para você, amuleto? —
pergunto para Yelena.
— Mais do que pronta — ela responde enquanto cavalga Danila e me
encara com o olhar safado. — Agora vem me foder, Bjorn.
CAPÍTULO 35

Bjorn
 
Assim que Yelena pede para eu fodê-la meu pau fica ainda mais duro e
posso sentir meu coração batendo mais rápido no peito, então vejo Ruan ao
meu lado, ele segura a minha mão e me olha.
— Você não precisa fazer isso se não quiser, está tudo bem — me
reassegura, Ruan é tão carinhoso e preocupado que só com seu toque eu já
consigo relaxar.
— Eu sei, mas eu quero, agora me fode logo — digo e abro um sorriso
para ele, que logo é respondido com um beijo delicioso.
No momento que sua boca encosta na minha, eu sei que vai ser bom,
afinal, tudo com eles é maravilhoso.
Visto a camisinha e me aproximo da cama aonde Danila e Yelena estão
fodendo, a visão é deliciosa, ela sobe e desce em seu pau rapidamente,
cavalgando como a porra da vadia mais gostosa desse mundo.
Yelena para quando me sente chegando e olha sobre o ombro com um
sorriso safado, confirmando que quer isso, então eu passo lubrificante em sua
bunda e enfio um dedo no seu cu, preparando-a para me receber.
Yelena joga a cabeça para trás e geme de prazer quando introduzo outro
dedo, então começa a se mover contra minha mão e o pau de Danila.
— Porra, docinho, assim você me enlouquece — Danila comenta e a puxa
para um beijo, enquanto tiro os meus dedos do seu cu e coloco a ponta do meu
pau no lugar, Yelena para de se mover quando entro, então eu deixo que ela se
acostume antes de voltar a penetrá-la, pouco a pouco vou mais fundo até estar
enterrado na sua bunda deliciosa.
— Apertada pra caralho — digo quando sinto meu pau ser esmagado por
ela, suas paredes me apertam de uma forma tão deliciosa que eu poderia gozar
parado.
Então sinto Ruan atrás de mim, logo seus dedos abrem a minha bunda e ele
passa o lubrificante, da mesma forma que fiz com Yelena, mas com a outra mão
ele acaricia meu braço enquanto introduz um dedo em mim, a sensação no
começo é estranha.
— Logo vai passar. Isso, relaxa para mim, Bjorn — Ruan fala no meu
ouvido e eu obedeço, então ele coloca mais um dedo e começa a entrar e sair, a
cada vez que sinto seus dedos irem mais fundo, atingindo um ponto específico
dentro de mim, sou carregado por uma onda de prazer, que me faz esquecer da
dor e só pensar no quanto isso é bom.
Ele continua até que estou rebolando em sua mão, meu pau entrando e
saindo do cu de Yelena enquanto ele faz o mesmo comigo.
Ele tira os dedos e, pouco tempo depois, coloca a cabeça do seu pau, me
alargando, posso sentir seu piercing quando ele vai entrando aos poucos.
— Relaxa pra mim, amor — Ruan pede e eu o faço, respiro fundo e
aproveito a sensação enquanto ele entra completamente em mim, deixo um
gemido estrangulado sair pelos meus lábios.
— Porra, isso é bom pra caralho — digo, fechando os olhos e me
entregando.
— Só se entregue — Danila fala, então começamos a nos mover em
sincronia, Ruan me fodendo enquanto meu pau e o de Danila fodem Yelena,
somos quatro pessoas conectadas, transando, fodendo, se amando.
— Porra, docinho, olha o que você faz com a gente — Danila praticamente
rosna as palavras de tanto tesão. — Você nos deixa loucos.
Logo estamos perdidos em uma onda de prazer que nos afunda cada vez
mais, é tudo tão intenso, ouvir meus amores gemendo faz meu coração bater
tão rápido que poderia sair pela boca e eu estou tão feliz, estamos todos tão
entregues ao nosso amor que tudo parece certo, porque é exatamente aqui que
devemos estar.
— Caralho — Yelena geme e joga a cabeça para trás, então eu beijo seu
ombro e a fodo com mais força, sentindo o pau de Ruan me fodendo na mesma
intensidade, enquanto Danila faz o mesmo.
A sensação de estar enterrado em Yelena e ser fodido por Ruan ao mesmo
tempo é inebriante. Ruan segura minha cintura com mais força, controlando
meus movimentos.
Nossos gritos e gemidos, misturados com os sons dos nossos corpos
batendo uns contra os outros é a música mais bonita que eu já ouvi na vida.
Yelena está quase gozando, vejo os músculos das suas pernas tensionados e
seus dedos dos pés dobrados, bem no momento que sinto seu cu me apertar
ainda mais.
— Goza pra nós, amor — peço e Yelena se entrega, então levo uma mão
para o meio das suas pernas e massageio seu clitóris, fazendo-a gozar
intensamente, molhando o pau de Danila em um squirting delicioso, enquanto
isso ela me aperta e eu já não consigo mais aguentar.
— Porra, porra, porra! — falo e fecho os olhos, sinto minhas bolas
comprimindo e meu pau quase explodindo, então eu pego firme na bunda de
Yelena e deixo que meu próprio orgasmo me domine.
Esporro com força no cu de Yelena, só então sinto Ruan me foder mais
rápido, à procura do próprio orgasmo, enquanto Danila faz o mesmo com
Yelena e logo depois eles gozam, gemendo enlouquecidamente.
Essa foi a foda mais louca e intensa que eu já tive na minha vida, eles me
fizeram repensar tudo o que eu achei que soubesse sobre mim.
Então sinto Ruan saindo devagar de dentro de mim e faço o mesmo com
Yelena, que deita no peito de Danila enquanto nos jogamos em sua cama, os
quatro suados e ofegantes depois do sexo mais louco que já tivemos, e nos
abraçamos.
— Isso foi… — Ruan fala.
— Louco…  — Yelena responde.
— Incrível pra caralho…  — Danila complementa.
— Perfeito — digo.
— Eu amo vocês — Yelena declara, então se ergue e fica sentada em cima
de Danila. — Amo cada um dos meus homens, meu corpo e meu coração
pertencem a vocês, cuidem bem dele.
— Nós também te amamos, docinho — Danila declara, logo depois olha
para Ruan e para mim. — E eu amo vocês, nós quatro somos parte de um
mesmo coração.
— Eu também amo vocês — Ruan complementa, então me abraça por trás
e eu sinto meus olhos arderem.
— Vocês são tudo para mim, não poderia escolher pessoas mais
importantes do que meus melhores amigos para entregar meu coração — digo e
Yelena se abaixa para me beijar, então faz o mesmo com Ruan e Danila.
— Agora vamos tomar um banho e voltar para a festa, porque minha mãe
prometeu que conseguiria enrolar todo mundo por uma hora, e já se passaram
quarenta minutos — Yelena avisa e todos rimos, então tomamos um banho
rápido, colocamos nossas roupas e voltamos para a festa, mas agora meu peito
parece mais leve e estou mais feliz.
Nós sempre fomos uma equipe unida, essa é a nossa força, mas agora, com
o amor que sentimos uns pelos outros, estamos mais fortes do que nunca.
Arte por llibarts

 
1 ano depois
 
Finalmente chegou o dia que iremos nos mudar para a nossa casa. Todas as
nossas coisas já foram levadas para lá, mas nós decidimos que faríamos o dia
da mudança e comemoraríamos esse dia todos os anos das nossas vidas.
— Vocês estão prontos para ver como ficou? — Yelena questiona.
Ela foi a única que viu a casa depois de pronta e nos proibiu de fazer o
mesmo, segundo ela, é bom ter uma surpresa de vez em quando.
— Vamos logo, docinho, eu estou curioso para ver o que você aprontou —
Danila fala e a agarra por trás, beijando seu pescoço, o que faz Yelena sorrir e
sua pele arrepiar.
— Contanto que a casa não esteja toda pintada em tons de rosa, tenho
certeza que vamos amar o que quer que você esteja escondendo da gente —
digo e ela me encara com o olhar travesso.
— Eu não faria isso — Yelena comenta, então para e coloca uma mão no
queixo, dobrando o outro braço em frente ao corpo, ela pensa por um momento,
depois dá de ombros. — Eu faria, mas não fiz.
— Ufa — Ruan deixa escapar e todos nós rimos dele.
Estamos parados em frente à mansão — É tão estranho pensar que essa é
nossa casa — que foi construída com todo o luxo que o dinheiro poderia
comprar.
A entrada possui dois pilares que sustentam uma viga alta, a porta de
entrada tem quase três metros de altura e é de madeira, combinando com as
grandes janelas nas laterais.
No segundo andar, temos as sacada dos quartos de visita, a pintura em
concreto aparente deixa tudo ainda mais bonito, com os detalhes em pedra e
madeira.
— Vamos entrar — Yelena fala e segura a minha mão e a de Danila, que
segura a de Ruan, e assim entramos todos juntos.
Assim que passamos pela grande porta, chegamos no hall de entrada, o
piso de porcelanato branco e as paredes em um tom claro de cinza, assim como
as grandes janelas laterais, deixam o ambiente iluminado e bonito.
Vários vasos de flores foram estrategicamente posicionados para dar mais
vida ao ambiente, assim como os móveis.
De um lado temos a sala de estar com uma TV gigante e três sofás em
couro preto, mais a frente vejo um piano de calda preto e olho para Yelena.
— É claro que eu sei tocar, mas comprei para quando Dimitri vier visitar
— ela explica e eu concordo, ele é um ótimo pianista, sempre toca algumas
músicas durante as festas na mansão Petrov, obviamente ele ensinou essa arte
para os filhos.
Do outro lado, temos a sala de jantar com uma mesa enorme de vidro e
cadeiras pretas, em cima vejo dois vasos com orquídeas brancas decorando o
ambiente e na parede tem um espelho grande e mais flores logo abaixo.
Sei que nos fundos fica a cozinha, mas essa não é a prioridade agora.
No centro temos as escadas duplas de madeira, elas sobem até o primeiro
patamar e depois se separam em duas, uma para cada lado.
— Vamos subir — Yelena pede e se adianta, correndo escada acima, então
nós fazemos o mesmo.
Primeiro visitamos os quatro quartos de visita e depois o escritório, a
biblioteca e a sala de jogos, tudo segue o mesmo padrão de decoração do
primeiro andar.
— Agora vem a melhor parte — Yelena avisa e meu coração acelera. —
Nosso quarto — ela fala enquanto abre a última porta do corredor aos fundos.
O cômodo é imenso e a primeira coisa que vejo é uma cama enorme, que
foi feita sob medida para quatro pessoas caberem confortavelmente, e não vejo
a hora de testar esse colchão com eles.
— Porra, amuleto, você arrasou demais — Ruan elogia.
— Eu amei essa cama — Danila fala.
— Cada um de nós tem seu closet, eu não sei como vocês são com as suas
roupas, mas não quero ninguém mexendo nas minhas — Yelena explica e
mostra as portas com os nossos nomes escritos em uma plaquinha dourada. —
E aqui é a joia do ambiente todo.
Com isso, ela pega um tablet e dá um comando, as cortinas atrás da cama
são abertas e nos dá a visão maravilhosa dos jardins nos fundos da propriedade,
mas não é só isso, as portas de vidro se abrem e, para a nossa surpresa, temos
uma piscina com borda infinita logo depois de um deck de madeira.
— Eu pensei que se ficar muito quente aqui dentro, podemos nos refrescar
ali fora — ela comenta, então Yelena se vira para nós com um sorriso lindo no
rosto. — Então, o que acharam? Ainda falta vocês conhecerem os jardins e a
área de festas, mas…
Me adianto e a seguro em meus braços para plantar um beijo delicioso em
sua boca, no momento que seus lábios tocam os meus ela sorri e eu também.
— Eu amei, linda — digo e me afasto, dando um último beijo em seu
rosto. — Está tudo perfeito.
— Agora acho que já podemos apreciar melhor essa vista, o que acham?
— Danila pergunta, então tira a camiseta vermelha que está usando e começa a
abrir o zíper da calça jeans preta.
— O que você está fazendo? — Yelena pergunta.
— Eu vou estrear a nossa piscina, espero que me acompanhem — ele
responde e não precisa falar mais nada, logo Ruan e eu também tiramos a
roupa, seguidos por Yelena e, juntos, nós quatro damos as mãos e corremos,
nos jogando na água morna e deixando espirrar por tudo o que é lado.
Porra, é tão bom estar com eles, tudo vale a pena quando tenho meus
amores comigo, quero guardar cada momento feliz que compartilhamos, cada
sorriso, cada olhar brilhando de felicidade, pelo resto das nossas vidas.
CAPÍTULO 36

Danila
5 anos depois
 
Hoje é um dia especial para todos nós. Enquanto assisto Ruan colocar o
seu terno, sinto um orgulho imenso do caminho que percorremos até agora.
Nesses cinco anos, meu pai e Pyotr Orlov se aposentaram, então
Katrina e eu assumimos seus lugares no Conselho, Bjorn ainda acompanha
seu pai, mas Alexei o deixa fazer a maior parte do trabalho agora, já que
pretende se aposentar logo para curtir a vida com a esposa.
Ruan assumiu como nosso chefe de segurança e lidera as equipes que
nos protegem, ele aprendeu tudo o que sabe com a ajuda do nosso sogro,
Serguei, mas o mais importante é que ele está feliz com isso.
E nós estamos mais unidos do que nunca, mesmo trabalhando todo dia
juntos, não enjoamos uns dos outros e, quando acontece alguma briga,
temos a regra de sempre resolver antes de dormir.
Já aconteceu de duas pessoas, ou seja, Yelena e Bjorn, brigarem por
coisas bobas e ficarem uma noite toda sem dormir? Já aconteceu, mas foi
um caso isolado.
— Danila, pode me ajudar com as abotoaduras? — Ruan pede, tirando-
me dos meus devaneios.
— Claro, meu amor — digo e caminho até ele, então pego as duas da
caixa e prendo uma em cada manga da camisa branca.
Ele está lindo em um smoking completo cinza-claro, hoje o dia é todo
nosso, mas Ruan e Yelena são as peças principais, porque é o dia do
casamento deles.
Como combinado, Yelena precisa casar com um de nós e Ruan é a
melhor pessoa para assumir esse compromisso, é claro que um papel não
vai mudar nosso relacionamento, mas a união deles é importante para a
Bratva.
— Será que ela está nervosa? — Bjorn questiona, colocando um
smoking preto igual ao meu, eu já estou pronto há horas, mas eles parecem
duas noivas de tanto que demoram para se arrumar.
— Ela deve estar pirando — respondo e eles concordam.
Então a porta se abre e vejo Dimitri, Serguei e Andrei entrando.
— Podemos falar com vocês por um momento? — Dimitri pede.
— Claro, sogrinho — eu respondo desaforado e Andrei não esconde o
sorriso debochado, mas os outros dois nem se movem. — Desculpa.
— Vou ignorar a brincadeira e continuar — Dimitri fala e se aproxima
de nós —, só viemos garantir que está tudo certo e pedir…
— Exigir — Andrei o interrompe.
— Isso, exigir algumas coisas — Dimitri finaliza.
— Primeiro que vocês sejam maridos exemplares e tratem a nossa
princesa com amor e respeito — Serguei fala com a voz ameaçadora e o
olhar indicando que ele pode matar qualquer um de nós nesse exato
momento.
— Segundo, se nós sequer desconfiarmos que Yelena está triste por
causa de vocês, ou que vocês fizeram algo contra ela, Deus me ajude, mas
eu juro que mato os três e faço parecer que foi por causas naturais —
Dimitri ameaça com a voz calma, porém fria e certeira.
— E terceiro… — agora é Andrei quem fala, dando um passo à frente
e erguendo um dedo. — Brincadeira, não tem terceiro, só façam ela feliz e
nós não iremos nos meter na relação de vocês, certo, irmão?
— Exatamente — Dimitri responde, então Andrei dá três tapas nas
costas do Pakhan e sorri para nós.
— A única coisa que queremos é fazê-la feliz, isso nós podemos
garantir — Bjorn responde com calma.
— Yelena estará em boas mãos, eu prometo — digo.
Então Ruan se aproxima deles, ficando a alguns passos de distância.
— Eu prometo amá-la e respeitá-la para sempre, assim como eles
também prometem. Yelena é parte do nosso amor e será a nossa rainha,
posso garantir isso — Ruan declara e, com isso, eles parecem relaxar um
pouco.
Então se viram para sair, mas não sem antes Andrei bater com o ombro
no do irmão e falar.
— Você achou que ia ter um genro só para se preocupar e agora tem
três — Andrei debocha e solta uma gargalhada alta e nós começamos a rir.
— Cala a boca — Dimitri pede.
— Ele tem razão — Serguei fala agora mais alto. — E eles serão três
homens mortos se não pararem de rir.
Então seguramos o riso até que eles saem e fecham a porta.
— Yelena vai morrer de rir quando contarmos isso para ela — declaro
e eles concordam, então terminam de se arrumar e logo a mãe e o pai de
Ruan entram, já que o casamento irá começar.
— Boa sorte, amor — Bjorn fala para Ruan e dá um beijo em seu rosto.
— Fica tranquilo, nós estaremos lá com você.
— Eu te amo — me aproximo dele e beijo delicadamente seus lábios,
então me afasto. — Vai lá casar com a nossa garota.
— Obrigado — ele agradece e sorri nervoso para nós.
Bjorn e eu somos os primeiros a entrar, junto com Katrina e Larissa, as
duas madrinhas que Yelena escolheu. Elas estão com vestidos rosa-claro e
estão maravilhosas.
O casamento será realizado em uma das maiores e mais antigas igrejas
de Moscow, o lugar está abarrotado de pessoas importantes, todos os novos
líderes mundiais foram convidados, assim como figuras de poder de todo o
mundo, que estão aqui para assistir a herdeira do Pakhan em seu
casamento.
A decoração é toda em branco e rosa-claro, as orquídeas se mesclam
nos arranjos postos em pontos estratégicos e, no chão, um tapete rosa
acompanha o caminho até o altar.
Nós entramos com as madrinhas e ficamos em nossos lugares no altar,
esperando a cerimônia começar.
Na primeira fileira estão nossos pais e a mãe de Yelena, acompanhada
por Adrian, Andrei e Anna, então tem dois lugares vazios para Serguei e
Dimitri.
Na outra fileira estão Pyotr Orlov e sua mulher, com os tios e avós de
Ruan, e dois lugares livres para os pais dele.
O padre está atrás de nós e pronto para começar o casamento.
Então uma música suave começa a tocar e vejo, lá na porta da igreja,
Ruan entrando com seus pais, no primeiro sinal todos se levantam enquanto
ele caminha até o altar.
Posso ver que ele está nervoso e é normal, mas quando chega até nós
eu estendo a mão e o ajudo a subir, isso parece acalmá-lo e ele me encara
com um meio sorriso de agradecimento.
Depois disso seus pais ocupam seus lugares na primeira fileira, até que
uma canção mais alta e bonita é tocada pela orquestra, indicando a entrada
de Yelena.
Assim que ela aponta na porta de entrada, o silêncio de todos é
ensurdecedor, parece que estão segurando a respiração, e não é para menos,
já que no momento que bato os olhos em Yelena não consigo pensar em
mais nada.
Ela está magnifica!
Seu vestido branco é um modelo sereia que abraça suas curvas com
perfeição, a calda longa a acompanha em cada passo que ela dá em nossa
direção, Dimitri e Serguei estão cada um em um lado dela, que segura os
braços dos pais e, com uma mão, Yelena segura um buquê de orquídeas
rosa-claro.
O decote em V deixa seus ombros à mostra, suas mãos estão cobertas
com luvas de cetim, que vão até a metade dos seus braços, e um véu
transparente foi colocado com uma coroa em seus cabelos presos em uma
trança lateral caindo sobre seus ombros.
Assim que ela se aproxima mais, posso ver seu rosto, a maquiagem
realça ainda mais sua beleza, deixando-a perfeita, mas o que faz meu
coração bater ainda mais rápido no peito é a forma como ela está calma, seu
olhar passa de mim, para Bjorn e para Ruan, nos assegurando de que está
bem.
No momento que Yelena chega até nós, Ruan se antecipa e desce os
dois degraus do altar, estendendo a mão para ajudá-la a subir, antes disso
Yelena se vira para Serguei e beija seu rosto, depois faz o mesmo com
Dimitri e, só então os solta e pega a mão de Ruan.
Ambos sobem juntos até o altar, e eu poderia chorar de felicidade com
esse momento, mas engulo as lágrimas e coloco uma mão nas costas de
Bjorn, precisando do seu contato para me acalmar.
— Estamos todos aqui reunidos para a união de Yelena Petrova e Ruan
Smirnov — o padre começa a celebração e continua falando, mas eu não
presto muita atenção nele, só consigo olhar para os meus amores, de mãos
dadas, durante todo o tempo.
Eles estão tranquilos agora, como sempre acontece quando estamos
todos juntos, porque pode até ser que o casamento e os papéis sejam
somente de Yelena e Ruan, que escolheram o sobrenome Petrov como o
principal, mas esse casamento é nosso, é a união definitiva entre quatro
corações que se completam quando estão juntos, quatro pessoas que se
amaram incondicionalmente para o resto das vidas.
Acordo dos meus devaneios quando a orquestra volta a tocar uma
música, então vejo Mayra, a afilhada de Yelena e filha do Adrian, entrando
com as alianças, ela já tem oito anos e está linda em um vestido rosa-claro.
A pequena caminha com segurança e um sorriso firme até o altar, então
entrega as duas alianças para o padre.
— Agora, Yelena, repita depois de mim: Ruan, o recebo por meu
esposo e prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos
separe — o padre fala enquanto Yelena repete.
Eles optaram por não fazer votos de casamento separados, então ontem
a noite nós celebramos o pré-casamento somente nós quatro, e juramos
amor incondicional uns aos outros, até que a morte nos separe.
— Ruan, repita depois de mim: Yelena, a recebo por minha esposa e
prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te na alegria e na tristeza, na saúde e na
doença, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe — o
padre fala enquanto Ruan repete. — Pode pegar as alianças.
Cada um deles pega uma aliança e coloca no dedo um do outro, então
Yelena chama Mayra e a menina entrega mais duas alianças para ela,
andando até onde Bjorn e eu estamos com o olhar carinhoso, Yelena pega a
mão dele primeiro e coloca uma das alianças, depois faz o mesmo comigo,
antes de voltar para o seu lugar.
Meu coração parece que vai sair pela boca de tão rápido que está
batendo e posso ver que Bjorn está tão aturdido quanto eu, não esperava por
isso, mas tudo com Yelena é uma surpresa, dessa vez não seria diferente.
— Yelena Petrova, você aceita Ruan Smirnov como seu legítimo
esposo? — o padre pergunta.
— Eu aceito — Yelena responde.
— Ruan Smirnov, você aceita Yelena Petrova como sua legítima
esposa?
— Eu aceito — Ruan responde e Yelena abre um sorriso ainda mais
lindo.
— Pelo poder a mim investido, eu vos declaro marido e mulher, pode
beijar a noiva — o padre declara e com isso Yelena se adianta e puxa Ruan,
tomando sua boca em um beijo intenso, que leva os convidados a se
levantarem e baterem uma salva de palmas em comemoração.
Esse foi um lindo casamento e deu início a uma nova fase em nossas
vidas.
Depois de receber as felicitações dos convidados, nós tiramos as fotos
oficiais e esperamos a limusine que vai nos levar até a mansão Petrov para a
festa de casamento, enquanto esperamos, vejo que Yelena está se movendo
de um lado para o outro, ansiosa, então vou até ela e a seguro em meus
braços.
— O que está acontecendo, docinho? — pergunto, com isso Ruan e
Bjorn também se aproximam, preocupados.
— Eu tenho uma coisa para contar para vocês, ia esperar até a noite de
núpcias, mas eu não vou aguentar — ela fala e se abaixa, erguendo o
vestido e tirando da barra um papel preso com alguns alfinetes.
— O que é isso? — Bjorn pergunta, então Yelena respira fundo e dá um
passo para trás, deixando-nos lado a lado e curiosos.
— Parabéns, papais — ela fala e vira o papel, do outro lado está a
imagem de uma ultrassonografia, que claramente mostra o que só pode ser
um bebê.
— Você… — começo a falar, mas as palavras não saem.
— Yelena… — Ruan parece tão aturdido quanto eu.
— Você está gravida? — é Bjorn quem finalmente consegue perguntar,
então Yelena confirma com a cabeça e abre um sorriso largo, se jogando em
nossos braços e beijando cada um de nós.
— Três meses e meio — ela explica. — Eu comecei a ter enjoos e ficar
tonta, então fui ao médico essa semana e ele confirmou a gravidez, aqui
dentro — Ela acaricia a própria barriga — tem a próxima, ou o próximo,
Pakhan da Bratva, depois de mim, é claro.
— Porra, docinho, eu não poderia estar mais feliz — digo e a seguro
em meus braços, então sinto Ruan e Bjorn nos abraçando também e tudo
fica completo.
Nossa felicidade só aumenta a cada dia, a cada momento, a cada
sorriso, por isso tenho a certeza de que seremos imensamente felizes para
sempre.
EPÍLOGO

Yelena
3 anos depois
 
É a quarta vez que estou visitando o mesmo orfanato e o motivo fica
cada vez mais claro em minha mente quando vejo os dois meninos
caminhando a passos curtos em minha direção.
James é o primeiro a chegar, ele tem dois anos de idade e ficou órfão
depois que os pais morreram em um conflito armado com a polícia, o
pequeno tem cabelos loiros, bem parecidos com os meus, e os olhos verdes
mais lindos que já vi.
Eu o pego no colo enquanto Bryan, de apenas um ano, anda com a
ajuda da cuidadora, ele  é irmão mais novo de James, o menino tem cabelos
pretos e olhos azuis, que brilham por causa do sorriso lindo que dá quando
me vê.
— Vem, pequeno, você consegue — chamo e ele solta uma risadinha
fofa ao ouvir minha voz.
— Pequeno — James repete e faz sinal com as mãozinhas, chamando
Bryan e, quando o outro se junta a nós, eu sento no chão e seguro os dois.
— Muito bem! Oi, meus amores — converso com eles e beijo a
cabecinha de cada um deles.
Sim, eu já estou apegada, só espero que meus maridos reajam com o
mesmo amor a eles, porque eu não consigo mais pensar em deixá-los aqui.
Desde a primeira vez que vim, apenas para visitar nosso orfanato, bati
o olho nesses dois e meu coração apertou no peito, foi amor à primeira
vista, não consigo negar.
— Como vocês cresceram — digo e James dá risadinhas quando as
mulheres do orfanato trazem alguns brinquedos para nós.
— Qué o calinho? — Bryan me pergunta, oferecendo o carrinho de
brinquedo que está em suas mãos.
— Mas é claro, eu sou uma ótima motorista — respondo e começo a
brincar com ele, então James se interessa pelo brinquedo e pega da minha
mão, só para fazer o mesmo que Bryan e brincar no chão.
Eles falam o tempo todo, é lindo de ver, e também percebo como são
unidos nas brincadeiras.
Bryan é cuidadoso com James, que é o mais novo e às vezes não sabe
conter sua força.
— Senhora Petrova, seus maridos estão aqui para vê-la — meu
segurança pessoal avisa.
— Deixe-os entrar — aceito e logo depois vejo Danila, Bjorn e Ruan
entrando na sala de brinquedos.
— Docinho, o que você está aprontando aí? — Danila pergunta e se
abaixa para me dar um beijo, então olha curioso para os meninos e depois
para mim, logo arqueia as sobrancelhas, com uma expressão questionadora.
— Sentem-se — peço e aponto o tapete no chão, quando eles estão
sentados, Bryan chega mais próximo de mim e me abraça, olhando
desconfiado para os três homens que acabaram de chegar. — James, Bryan,
esses são meus três maridos, Danila, Bjorn e Ruan — apresento os meninos
e Bryan olha para cada um deles ainda agarrado no meu braço, então sorri
para os homens daquele jeitinho fofo que só ele sabe fazer.
— O que você está aprontando, linda? — Bjorn questiona e bate
palmas levemente, chamando a atenção de James, que o olha logo em
seguida e caminha até ele, se jogando em seus braços com um sorriso no
rosto, então Bjorn pega um urso do chão e começa a brincar com ele.
— Então… eu não tinha como explicar isso para vocês, a não ser
mostrando, mas não sei o que aconteceu comigo, se são hormônios ou o
que, só sei que, desde a primeira vez que bati os olhos nesses dois, eu sabia
que tinha algo a mais — explico sem realmente conseguir entender o que eu
sinto.
— Algo a mais? — Ruan questiona e faz carinho na cabeça de James,
que agora está sentado no colo de Bjorn, todo entretido com o urso.
— Vocês sabem o que eu quero, conversamos há um tempo sobre isso e
acho que chegou a hora, Angélica já está bem grandinha e ia adorar ter dois
irmãozinhos para brincar, pensem nisso, eles tem quase a mesma idade e
tenho certeza que se dariam bem — faço meu apelo e olho para cada um
deles.
Danila está do meu lado e tenta chamar a atenção de Bryan, que se
encolhe nos meus braços, mas encara o homem curioso, então pego um
carrinho e dou para Danila, que começa a brincar na mesma hora, e isso
chama a atenção de Bryan, que desce do meu colo para pegar outro carrinho
e correr com ele no chão.
Do outro lado, Ruan e Bjorn brincam com James, que solta gargalhadas
com o urso e as caras que Ruan faz para ele.
— O que vocês acham? Sei que não precisamos decidir nada agora,
mas eu queria que vocês conhecessem eles e, quem sabe, começassem a
pensar nisso — pergunto angustiada. Por que eles não estão falando nada?
— Aí, chega disso, me falem o que estão pensando.
— Amuleto, eu só estou pensando que vou amar ser o pai desses dois e,
se você os ama, é o que importa — Ruan comenta e me encara com o olhar
calmo e feliz no rosto.
— É claro que nós queremos, linda, eles são dois anjos e Angelica vai
adorar ter dois irmãozinhos — Bjorn complementa e não consigo conter a
emoção, estou tão feliz que sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Sério? — pergunto mais uma vez, então Danila me abraça e beija
meu rosto, envolvendo-me em seus braços acolhedores.
— Claro que sim, docinho — ele fala e abre um sorriso lindo. — Nós
vamos ser pais mais uma vez — Danila anuncia e todos sorriem com a
notícia.
Sim, nós seremos pais mais uma vez, e eu não poderia estar mais feliz.
***
Algumas semanas depois
 
— Meus pais já devem estar chegando — aviso e termino de vestir
James, que está uma fofura de camiseta branca e calça azul, eu ainda não
consigo acreditar que eles estão na nossa casa e vamos finalmente poder
apresentá-los para as nossas famílias.
Danila se ocupa com Bryan e Ruan com Angelica, nós decidimos que
cada um deles teria um sobrenome e é por isso que ,na certidão de
nascimento, consta James Ivanov e Bryan Kuznetsov, assim como
Angelica, que recebeu o meu sobrenome e será a minha herdeira.
— Vamos com o papai ver os vovôs? — Danila pega Bryan no colo e
ele faz que sim com a cabeça, já acostumado com seu colo. — Vocês são
sortudos, sabiam? Vão ter cinco vovôs e quatro vovós, todos babões, que
vão mimar vocês com um monte de presentes.
— Nem me fale — digo e Ruan dá risada do outro lado.
— Nossos filhos merecem — Ruan comenta e pega Angelica no colo,
ela está com um vestido azul que deixa seus olhos ainda mais destacados,
assim como os lindos cabelos loiros.
Minha filha é a minha cara e, apesar do DNA ter apontado que Ruan é
o pai biológico, ela é a nossa filha, de todos nós.
Quando descemos, todos os convidados já estão esperando na sala,
Bjorn ficou encarregado de recebê-los, mas assim que aparecemos na
escada, ele vem até nós e dá um beijo em Angelica, que rapidamente pede
para trocar de colo e se joga em seus braços.
Quando trouxemos Bryan e James para casa, ela logo começou a
brincar com os meninos, ela tem quase a mesma idade de Bryan, é alguns
meses mais velha só, então eles se deram muito bem.
Claro que rola uns desentendimentos e algumas crises de ciúmes, mas
nada anormal para crianças da idade deles.
— Pessoal — chamo a atenção de todos, vejo meus pais ansiosos me
olhando, minha mãe sorri em minha direção e segura a mão de Dimitri e de
Serguei, ao lado deles estão Alexei e Patrícia Ivanov, assim como Kerol e
Sacha Kuznetsov, Violet e Mikhail Smirnov.
Logo ao lado deles, vejo meu irmão acompanhado de Katrina Orlov e
Mayra, ela já está enorme, com onze anos de idade, e já começou seu
treinamento na Bratva, o que deixou meu irmão preocupado, mas ele sabe
como funcionam as coisas.
Atrás deles estão Pierre e Pietro, os irmãos de Ruan, que também
trouxeram suas esposas e filhos.
Do outro lado, vejo meu tio Andrei e a tia Anna, segurando três ursos
enormes, eles parecem que vão chorar de tão emocionados.
A família toda se completa com meus tios Nathan, Magie, Clayr e seus
companheiros, assim como minha amiga Larissa e sua esposa Carla.
— Esses são Bryan Kuznetsov — Vou até Danila e beijo o topo da
cabeça do meu filho, como Serguei sempre fez comigo —, e esse é James
Ivanov, nossos filhos — apresento a todos, que soltam um “own” em coro.
Então descemos as escadas e todos vêm nos cumprimentar, conhecendo
nossos filhos que, no primeiro momento ficam tímidos, mas assim que os
presentes são apresentados já se animam e começam a passar de um colo ao
outro sem se importar mais.
É lindo ver a nossa grande família reunida e tão unida assim, nem em
um milhão de anos eu poderia pensar em uma felicidade tão grande quanto
essa, porque não é possível que exista alguém no mundo mais feliz do que
eu estou nesse momento.
Eu amo meus maridos, amo meus filhos e toda a minha família, eles
são meu mundo e vou protegê-los de tudo e de todos, custe o que custar.
 
4 anos depois
 
Hoje faz um ano que meu pai Dimitri se aposentou e eu assumi seu
lugar como Pakhan da Bratva, junto de todas as suas responsabilidades, que
passaram a ser minhas, mas eu jamais poderia reclamar, afinal, estou
preparada para tudo isso.
Meus pais decidiram tirar dois anos para viajar pelo mundo, agora
mesmo estão no Brasil, aproveitando as praias quentes e gostosas daquele
país.
— Senhores, se estamos de acordo, acredito que devemos intervir na
guerra entre a China e o Japão, já lucramos o máximo que poderíamos com
isso e, com esses países quebrados, poderemos coletar o que quisermos
deles, até ajuda-los a se reerguerem aos poucos — falo e olho para os
membros do Conselho, Danila, Bjorn, Pierre e Katrina, que concordam com
minha posição.
— É o melhor a se fazer nesse momento — Katrina complementa.
— Então finalizamos por hoje? — Pierre pergunta e eu faço que sim
com a cabeça. — Ótimo, minha esposa está me esperando para sairmos para
jantar, hoje é nosso aniversário de casamento.
— Aproveitem as comemorações — Danila fala e Pierre concorda.
Então, quando ele abre a porta, vejo três cabecinhas entrando na sala de
reuniões, com Ruan logo atrás.
Angélica, Bryan e James correm pela sala, ela vem direto até mim e se
joga nos meus braços para que eu a pegue no colo antes dos meninos.
Angélica está enorme, com seis anos de idade ela é uma menina muito
esperta e adora brincar na Central, assim como as aulas na escola, minha
filha será uma grande líder, ela já demonstra isso dando ordens para os
irmãos e para os pais também.
E quem pode negar algo para essa menina? Ninguém!
— E o que vocês estão aprontando aqui? — pergunto.
— O papai disse que era surpresa para vocês, já que estavam
trabalhando muito, aí a gente veio até aqui só para dar um abraço apertado
em vocês — ela explica.
— E tomar sorvete — James complementa.
— É claro que tem sorvete por trás disso — Danila brinca e todos nós
sorrimos.
— Vamos tomar sorvete, mamãe? — Angélica questiona e eu beijo seu
rostinho fofo, o que faz ela se contorcer nos meus braços, mas não deixo
que se afaste.
— Claro que sim, eu adoraria um milkshake agora — comento e, com
isso, todos saímos e vamos para a cantina, tomar sorvete em família.
A nossa grande e perfeita família!
 
FIM.
Gostou da leitura e quer conhecer os outros personagens que
apareceram durante a história?
Venha ler os outros livros da série.
Andrei e Anna: O REJEITADO: UM ENEMIES TO LOVERS
Yekaterina, Dimitri e Serguei: O HERDEIRO: UM TRISAL MMF
Alexei e Patrícia: O INJUSTIÇADO: UM CASAMENTO POR
OBRIGAÇÃO
Vincent e Charles: POR AMAR VOCÊ
 
Fique agora com o prólogo de O HERDEIRO e tenha um gostinho do
que você vai encontrar no livro.
PRÓLOGO

YEKATERINA
Rússia, 2024
Eu atingi o ápice em minha carreira aos dezenove anos, quando fui
selecionada, entre outras quatro colegas, para ser a bailarina principal na
turnê internacional da peça “O Lago dos Cisnes”.
Sim, essa é a maior conquista na carreira de uma bailarina, ainda mais
em uma escola tão prestigiada quanto a Bolshoi Ballet Academy. É o sonho
de muitas, que venderiam a alma em troca dessa honra, mas não o meu.
É por isso que hoje, aos vinte e quatro anos de idade, estou
comemorando minha última turnê como bailarina principal. Fui selecionada
novamente, mas o aviso de que esse será meu último ano veio
acompanhando a notícia, portanto preciso me esforçar ainda mais e finalizar
minha carreira com chave de ouro. Foi isso o que a diretora disse e precisei
esconder meu sorriso para fingir tristeza.
Saí do ensaio e fui direto para o apartamento que comprei com o
dinheiro suado de tantos anos de trabalho, tomei um banho, soltei meus
cabelos do coque cheio de spray fixador e grampos, sentindo o delicioso
formigamento de alívio no couro cabeludo, lavei duas vezes os fios longos e
castanhos para tirar todo o produto, hidratei e deixei secar naturalmente,
agora os fios caem em ondas nas minhas costas.
Coloquei um vestido longo, preto e cheio de pedrarias, que há muito
tempo não usava, foi um presente que ganhei de um admirador com quem
dividi a cama certa noite.
Na Rússia, homens poderosos adoram foder com as bailarinas depois
das apresentações e pagam muito bem para isso. Eu não me importo,
contanto que o cara saiba o que está fazendo e não seja um escroto, um
dinheiro extra é sempre bem-vindo.
O par de sapatos dourados foram comprados para o último encontro
que tive com minha ex-namorada, terminamos logo em seguida já que
nosso relacionamento não estava dando certo há algum tempo. Ela
trabalhava com finanças e eu vivia viajando em turnê ou ensaiando para as
apresentações, nós praticamente não tínhamos tempo juntas.
Ser bailarina exige todo o meu tempo livre e, quando tenho algumas
horas de descanso, preciso parar e realmente descansar, senão meu corpo
não aguenta a rotina do próximo dia e o maior medo de qualquer dançarina
é ter uma lesão provocada por desatenção devido ao cansaço.
Termino a maquiagem pesada nos olhos, finalizando com um batom
vermelho cereja, calço o sapato, pego meu casaco e chamo um taxi, que não
demora a chegar e me leva até o bar de um hotel de luxo, onde diversos
homens e mulheres aproveitam a noite de sexta-feira para caçar a próxima
conquista.
É exatamente isso que estou fazendo aqui e não tenho vergonha
alguma em admitir, mas uma hora passou e continuo sozinha, dispensei dois
homens que estavam mais bêbados do que o aceitável, até que uma mulher
de pele clara e cabelo preto, preso em um rabo de cavalo firme no topo da
cabeça, usando um vestido vinho muito elegante, que abraça as curvas do
seu corpo malhado, caminha em minha direção.
Eu já havia percebido seu olhar em mim, mas tinha algo de diferente
na forma com que ela esperava para se aproximar e uma familiaridade, que
plantou dúvidas em minha mente.
— Você está seletiva hoje, Yekaterina — a mulher fala com um
sorriso cúmplice no rosto, seus olhos azuis encontram os meus, então ela
chama o garçom e pede mais duas bebidas.
— Como você… — Paro a frase assim que minha memória resolve
voltar a funcionar e a imagem dessa mesma mulher, porém com os cabelos
raspados e mais jovem, aparece em minha mente. — Yelena.
— Estou tão diferente assim? — questiona, dando uma volta
completa para exibir o corpo.
— Acho que é o cabelo e a idade — respondo, dando de ombros. —,
mas você continua maravilhosa.
— Vou considerar a menção a minha idade como um elogio, assim
como o restante da sua frase, porque agora você tem idade suficiente para
me acompanhar até um lugar muito melhor que esse aqui. — Ela pega as
bebidas e me entrega um dos copos com Martini, então vira o outro e faz
uma careta com o gosto. — Eu prefiro vodca.
— E por que não pediu? — implico e viro minha bebida também, mas
para mim o sabor está excelente.
— Porque, no lugar aonde vamos, teremos a melhor vodca que existe.
— Yelena enrosca seu braço no meu e indica a saída, dando-me a opção de
desistir ou acompanhar e, como não tenho nada a perder, escolho a segunda
opção.
Pego meu casaco na chapelaria e a sigo até um carro preto, e muito
luxuoso, que nos espera na entrada do hotel. Uma hora – e muita conversa
sobre o passado – depois o carro para em um portão grande, preto e
luxuoso, aonde dois homens armados checam os passageiros, mas ao
notarem Yelena deixam o carro seguir.
— Só preciso garantir que você não tenha nenhuma arma, ou
qualquer coisa assim, na sua bolsa — Yelena avisa e abro a pequena bolsa
preta, que contém meu celular, cartão de crédito e a chave de casa. —
Perfeito, gata, você pode deixar tudo na entrada junto com o seu casaco, é
proibido o uso de aparelhos eletrônicos.
— Estou começando a desconfiar do lugar para onde me trouxe —
respondo com uma pontada real de medo, mas a ansiedade é maior e eu
amo uma aventura cheia de mistérios.
— É meio que minha festa de despedida, vou viajar por um tempo a
trabalho e alguns amigos estão reunidos lá dentro, mas eu deveria ter
chegado aqui há três horas, então não se assuste se eles já estiverem
alterados — fala com a voz baixa em tom brincalhão, então ela pega uma
caixa que estava no banco da frente. — Ah, eu já falei que é uma festa de
máscaras?
Yelena me entrega uma máscara preta muito bonita, cheia de detalhes
imitando renda e alguns brilhos, ela amarra as fitas de cetim em volta da
minha cabeça, depois tira outra, idêntica a minha, e eu ajudo a prender.
Assim que o carro para e o motorista abre a porta para eu descer,
preciso controlar o som de surpresa que tenta escapar da minha boca com a
visão da mansão mais luxuosa que já vi na vida. É como aquelas que
passam nos documentários sobre a vida de gente muito, muito rica.
Yelena volta a enroscar o braço ao meu e me acompanha até a
entrada, não deixo de perceber a quantidade de seguranças no local, são
mais de oito à vista e, passando a mão por todo o meu corpo, uma mulher
me revista antes de nos deixar passar.
Minha companheira caminha pelos corredores com facilidade, até
chegarmos a uma porta dupla de madeira, aonde já consigo ouvir o som da
música clássica tocada com perfeição por algum pianista.
— Cheguei, meus amores! — Yelena anuncia ao abrir as portas e
várias pessoas erguem o copo na direção dela, mas consigo ver que a festa
já não está mais no ápice pelo nível alcoólico dos convidados, alguns a
chamam para conversar e ela os segue, cumprimentando as pessoas de
forma animada, Yelena me lança um olhar, mas indico o bar e nos
separamos.
O local é tão luxuoso quanto o exterior da mansão e foi decorado com
vários balões nas cores vinho, preto e prata, que combinam com o vestido
de Yelena. As luzes baixas dão um ar místico e me sinto confortável em
andar sozinha até o bar, estou acostumada com festas privadas de pessoas
muito ricas, há muito tempo isso não tem o poder de me intimidar.
Como todos estão usando máscaras não reconheço ninguém, e duvido
que reconheceria, mesmo sem. Peço uma vodca com gelo para o garçom,
que me serve uma dose dupla antes de se afastar e, ao levar a bebida à boca,
confirmo o que Yelena falou: esta é a melhor vodca que já tomei na vida.
Percebo que a música não parou e encaro o homem atrás do piano, só
com um olhar consigo ver que ele não é um simples músico, o loiro olha
para as próprias mãos, concentrado no movimento dos dedos que tocam
uma melodia triste demais para uma festa, porém ninguém está reclamando,
o que indica que ele é respeitado aqui, talvez o dono da mansão.
O terno cinza-escuro é sofisticado e, com certeza, foi feito sob medida
por um alfaiate experiente, abraça cada músculo daqueles braços
maravilhosos e deixa um ar de mistério sobre o que tem por baixo da
camisa social branca, ele usa uma máscara prateada simples e a barba bem
feita contorna o queixo quadrado.
Eu amo música clássica, na verdade, qualquer música que faça as
batidas do meu coração entrarem no ritmo ganha minha apreciação, e essa,
com certeza, surte este efeito.
Admiro o loiro por um tempo, até sentir que alguém está me
observando e nem preciso buscar muito, só viro para encarar um homem de
cabelos pretos e barba cerrada, com uma máscara azul-escura e um terno
simples, que me avalia dos pés à cabeça, mas quando percebe que o peguei
no flagra, sorri de forma tímida e dá de ombros.
É por causa do vermelho que toma conta das suas bochechas que
caminho até ele, mantendo a pose ereta e o copo em minhas mãos, dou um
meio sorriso e ele passa a mão nos cabelos, disfarçando a timidez.
Não falo nada, gosto de esperar que o outro faça o primeiro
movimento quando sinto que a pessoa é tímida, é como um desafio, então
me escoro no bar ao lado dele, tão próximo que nossos braços quase se
encostam, enquanto levo o copo até os lábios e admiro o pianista.
— Você gosta de música clássica? — ele pergunta e controlo um
sorriso.
— Eu amo música — respondo de forma simples, mas ainda sem
olhar diretamente para ele —, e você?
— Não entendo nada sobre música, na verdade, mas essa é legal.
— Para gostar de algo não é preciso entender sobre aquilo, é só
prestar atenção em como aquilo faz você se sentir — explico e só então
volto a olhar para o moreno, que agora tem os olhos fixos no pianista, e
vejo algo diferente na sua expressão, um brilho a mais por trás da máscara.
— Pare por um momento e concentre-se no que está ouvindo, cada nota
tocada forma uma melodia única e intensa, o que você sente com isso?
Ele respira profundamente por um tempo, realmente apreciando a
música como falei e vejo sua expressão confusa mudar ao chegar na
resposta.
— Tristeza, solidão… — Fechando os olhos ele se concentra ainda
mais para decifrar a última palavra. — Controle.
— É assim que sabemos quando um pianista é bom, ele consegue te
fazer sentir muitas coisas ao mesmo tempo e só com uma música, e esse
está se superando. Você o conhece?
— Só de vista — A resposta sai evasiva e logo depois ele desvia o
olhar do piano para me encarar —, e você?
— Só conheço aquela morena, que está agarrada em uma loira neste
exato momento. — Aponto para o outro lado da sala, aonde Yelena
praticamente engole uma loira de vestido vermelho, ela não demorou para
encontrar alguém e isso me faz lembrar de como nos conhecemos, porque
algumas coisas nunca mudam.
— Yelena te deixou sozinha em um lugar que você não conhece
ninguém? — Ele balança a cabeça de um lado para o outro, mas não
consegue esconder o meio sorriso em seu rosto. — Uma péssima amiga.
— Estamos mais para conhecidas — retruco e ele sorri ainda mais, só
então percebo que, acima da barba bem feita, se formam duas malditas
covinhas conforme seus lábios se abrem —, mas eu não vim aqui para ficar
com ela.
— E qual é seu objetivo essa noite, senhorita?
— Ter uma última noite de liberdade e prazer, antes de voltar para
minha rotina. — Sou mais sincera do que ele está acostumado, vejo a
surpresa se formando em seu rosto e posso jurar que, por baixo da máscara
azul, suas sobrancelhas estão erguidas.
Então ele desvia o olhar para o pianista mais uma vez, parece ser algo
inconsciente, como uma resposta para minha sinceridade, e percebo que
talvez minha noite seja ainda melhor do que eu antecipei.
— Você está interessado nele? — pergunto sem fazer rodeios ou
joguinhos, gosto de ser direta com essas coisas e, se o moreno gostar de
homens e não de mulheres, não perco meu tempo flertando.
— Você é bem direta — aponta, mas não respondo e deixo que tome
seu tempo. — Eu não tenho chance com alguém como ele — fala sem
desviar o olhar do pianista, que não parou de tocar por todo este tempo,
transitando lindamente entre uma música e outra. — E também não tenho
chance com alguém como você.
— Não com esse pensamento — respondo quando ele volta a me
encarar, agora com mais intensidade. — Desde o momento que entrei aqui
eu soube que o pianista não era só um músico contratado.
— Posso saber como?
— É uma festa e as pessoas estão animadas, mas a música é lenta e
triste, o que, em qualquer outro lugar, faria com que diversas reclamações
chegassem aos ouvidos do pianista, mas ninguém se atreveu a reclamar.
— Muito bem observado — pontua, chegando mais próximo de mim
para que nossos braços se toquem. — Continue, por favor.
— Percebe como todos se movem ao redor dele, cada pessoa aqui está
se atentando ao mesmo lugar, inclusive você e eu.
— Você está certa, ele é a pessoa mais importante daqui, agora
entende por que não tenho chance?
— Se quiser ser notado por um homem como ele, precisa pensar que
vocês são iguais e não se rebaixar — murmuro baixinho bem próximo de
seu ouvido e ele solta a respiração, balançando a cabeça de um lado para o
outro, negando minha afirmação. — Eu já conheci muitos homens
poderosos e todos eles possuem uma característica em comum, eles sabem
quem são e o poder que controlam, e não gostam de perder tempo com
pessoas que não estão a sua altura.
— E você gosta de pessoas assim?
— Gosto de coloca-los de joelho — comento e ele abre um sorriso
lindo que chega até seus olhos escuros. — O segredo é saber que, não
importa o poder que um homem tenha, ele ainda é um simples ser humano
e, se não temos o dinheiro que eles têm, precisamos encontrar algo em
comum.
— E o que você tem em comum com o pianista, fora a capacidade de
me deixar com medo e encantando ao mesmo tempo?
Quase solto um “Bom garoto” pela confiança com que ele faz a sua
primeira jogada, mas me controlo.
— Não precisa ter medo de mim, eu só mordo se me atacar, ou se
pedir — brinco e molho meus lábios com a língua, o que chama sua atenção
para a minha boca e sei que estou quase lá. — O que eu e você temos em
comum com o loiro poderoso é o tempo limitado neste planeta, e é esse
tempo que pessoas como ele prezam, por isso não o perdem com os que não
garantem que valha a moeda de troca mais preciosa que existe.
— São palavras bem sábias para alguém tão nova quanto você — ele
responde com uma pontada de admiração na voz.
— Maquiagem e cremes caros, mas não sou tão nova quanto pareço e,
com certeza, tenho mais idade que você — pontuo, fazendo-o sorrir e dar de
ombros.
— E o que eu preciso fazer para que você gaste um pouco do seu
tempo comigo? — O moreno faz a sua investida, agora com um pouco mais
de confiança, virando de frente para mim, tão próximo que consigo sentir
seu perfume cítrico, o braço, que antes tocava o meu, é erguido e ele afasta
uma mecha de cabelo do meu rosto com delicadeza, prendendo-a atrás da
minha orelha e me fazendo segurar a respiração com o choque que o toque
de seus dedos na minha pele produz.
— Eu já estou aqui. — Consigo encontrar minha voz e manter a
confiança, vejo sua pose mudar e ele sorri de canto, é fácil fazê-lo sorrir e
eu gosto disso. — Se você quiser, podemos chamar o loiro gostoso, e muito
habilidoso com as mãos, que está nos olhando por cima do piano neste
exato momento, para nos acompanhar.
— Como você sabe que ele está olhando para nós? — ele pergunta, a
confiança vacilando enquanto tenta manter o olhar em mim.
— Porque ele não tirou os olhos de você desde que cheguei aqui.
Com isso nós dois viramos em direção ao piano, que agora não
reproduz mais nenhuma nota, a música clássica fora substituída pelo som
ambiente dos alto-falantes do local e o loiro caminha, com toda a sua altura
e poder, em nossa direção.
DIMITRI
 
Desde que Yelena chegou com uma mulher ao lado, não consegui
parar de olhar em sua direção. Então ela caminhou com confiança até o bar,
não parecia conhecer ninguém, mas mesmo assim não se intimidou e, para a
minha surpresa, pediu uma vodca enquanto avaliava o local.
É claro que percebi o olhar atento de Serguei nela, essa é a primeira
vez que ele participa de uma de nossas festas privadas, o soldado foi
convidado por Yelena, mas chegou com meu irmão, que já tentou de tudo
para leva-lo para a cama, mas não conseguiu.
Serguei é jovem, tem vinte anos de idade e está começando agora a
ganhar visibilidade dentro da organização, mas ele é bonito, tem um sorriso
fácil e que forma covinhas encantadoras em suas bochechas, e é óbvio que
eu já estou de olho no soldado.
Quando a morena misteriosa foi até ele, fiquei atento à interação dos
dois, avaliando a reação do soldado que, segundo as informações que obtive
na Central, já se envolveu com homens e mulheres.
Não que eu seja fofoqueiro nem nada, mas sou bom em reunir
informações sobre pessoas. Eu faço isso com todos os soldados? É obvio
que não, mas quando percebi o interesse de Andrei nele, fiz minhas
pesquisas e, quando meu irmão tentou algo hoje, o soldado não pareceu
corresponder. Andrei se deu por vencido rápido e a última vez que o vi
estava saindo de fininho da festa com Klaus em sua cola.
Para minha felicidade, Serguei correspondeu às investidas da mulher,
que não poupou olhares, gestos, sorrisos e toques. Assistir a dança deles me
deixou mais animado do que deveria, mas essa também é uma noite para
descontrair, por este exato motivo paro de tocar piano e levanto,
caminhando até os dois que olham em minha direção.
Ela é intensa, altiva, exala poder e confiança, mesmo parecendo ser
tão jovem quanto Serguei.
Ele parece estar se controlando para não abaixar a cabeça assim que
me aproximo, o que me deixa aliviado e curioso sobre o que eles estavam
conversando.
— Boa noite — cumprimento os dois e faço sinal para o garçom, que
prontamente me entrega um copo com vodca pura —, estão aproveitando a
festa?
— Não tanto quanto gostaria — a mulher responde e Serguei toma
um gole da sua bebida para esconder a surpresa.
— Como anfitrião, me recuso a ouvir algo assim e não fazer nada
para remediar a situação. Diga-me, o que posso fazer para melhorar sua
noite? — Sem desviar o olhar da mulher, levo a bebida aos lábios e vejo
Serguei me admirando, o interesse óbvio do soldado quase me faz sorrir,
quase.
— Acredito que, em algum lugar dessa enorme mansão, tenha um
quarto — ela responde com a voz baixa o suficiente para que ninguém mais
a escute além de nós dois, largando o copo vazio, ela se coloca no espaço
entre Serguei e eu, com as costas escoradas no balcão. A mulher olha
primeiro para ele, depois para mim, então se vira e fala por cima do ombro
—, e que nós possamos usá-lo.
Olho para Serguei e vejo que ele está parado, claramente esperando
pela minha reação, então faço sinal positivo e coloco uma mão nas costas
da mulher, guiando-a para fora da sala com o soldado nos acompanhando de
perto.
Levo os dois até o quarto que geralmente uso para esses encontros, a
cama com lençóis pretos já está pronta para o que irá acontecer, só espero
que eles também estejam. Ligo o som, criando um clima com as luzes
baixas, e coloco as duas mãos na cintura dela, colando suas costas em meu
peito.
— Qual é seu nome? — pergunto beijando o pescoço delicado dela e
assisto sua pele arrepiar quando passo a barba ali.
— Yekaterina — ela responde, pendendo a cabeça para o lado, mas
não pergunta quem somos.
— Um nome lindo, significa pureza — murmuro enquanto beijo sua
pele delicada sentindo o perfume doce que me faz inspirar ainda mais
profundamente, começo a subir minhas mãos pela frente do seu corpo,
acariciando a barriga lisa até chegar nos peitos pequenos. — Você é pura,
Yekaterina?
— Nem um pouco — ela responde. Então estende a mão direita para
Serguei, que se aproxima lentamente, ficando em nossa frente com os olhos
escuros concentrados no local onde estou beijando —, especialmente hoje.
— E o que você pretende fazer conosco? — questiono e beijo seu
rosto, descendo uma mão pela lateral de seu corpo até chegar na fenda
lateral do vestido.
— Tudo o que tivermos vontade, sem restrições, sem amarras, o que
você me diz? — Yekaterina acaricia o rosto de Serguei e se inclina para
beijá-lo, provando os lábios dele com delicadeza. — Porém não estou aqui
para ser dividida — ela anuncia e dá um passo para o lado, me deixando de
frente para Serguei, que me olha com expectativa brilhando em seus olhos
escuros, vejo sua boca, agora com uma leve cor graças ao batom que ela
deixou em seus lábios e, quando ele prende o lábio inferior entre os dentes,
é meu sinal.
— Você quer me beijar, Serguei? — pergunto porque não é meu estilo
forçar soldados, se ele quiser participar tem que ser por vontade própria.
— Sim, porra! — Serguei responde, me surpreendendo ao envolver
minha nuca com uma mão e me puxar para seus lábios, em um beijo
intenso. Sua boca se molda a minha, abrindo-se para que nossas línguas se
encontrem, e tenho a confirmação de que ele não está brincando.
Paro o beijo para atrair a mulher, que vejo ter tirado a máscara preta
do rosto, revelando os olhos azuis contornados com um delineado preto
marcante na parte de cima, os cílios longos a deixam ainda mais poderosa,
assim como as sobrancelhas bem feitas e delineadas.
Roço meus lábios nos dela, provocando-a, testando seu controle já
que a presença de Yekaterina é tão dominante quanto a minha. Ela entra na
minha provocação, passando a língua em meu lábio inferior para depois
mordê-lo, antes de abrir minha boca com a sua e me invadir, com um beijo
sensual que parece ter sido feito especialmente para mim.
Yekaterina desfaz o nó das fitas que prendem minha máscara, tirando-
a do caminho, então ela se afasta tempo o suficiente para me observar com
atenção e, logo atrás de mim, sinto o corpo grande de Serguei, sua mão
agarra minha cintura e eu faço o mesmo com a mulher. É como uma dança
a três, ele começa a beijar meu pescoço enquanto ela volta a tomar a minha
boca, o tecido fino do vestido não esconde os mamilos intumescidos da
mulher que se esfrega contra meu peito.
— Eu quero ver você ajoelhar — sussurra contra meus lábios, como
uma ordem ou um desafio, o que me faz sorrir pelo atrevimento e sinto
Serguei ficar tenso atrás de mim.
— Você quer ficar no controle, Yekaterina? — pergunto, dando um
passo para trás, criando espaço para me abaixar com um joelho no chão e o
outro dobrado, passo as mãos pela fenda do seu vestido e ergo sua perna,
descansando o salto dourado no meu joelho. — Fique à vontade, seremos
seus hoje.
Tiro seu salto, depois faço o mesmo com a outra perna, sem desviar
meus olhos dos dela, a visão é maravilhosa demais para me distrair.
Serguei não perde tempo e contorna Yekaterina, abrindo os botões do
vestido dela, despindo a mulher que nos tem em suas mãos. Assim que o
tecido cai em seus pés, ele oferece a mão para ela sair e ambos admiramos a
deusa em nossa frente.
Yekaterina não está usando nada, nem calcinha e, assim que meu
olhar cai para o meio das suas pernas, vejo um ponto brilhante. Porra, ela
tem um piercing na boceta.
— Vocês vão ficar só olhando, ou vão se juntar a mim? — Yekaterina
provoca, nos dando as costas para caminhar até a cama. Ela deita de costas
nos lençóis pretos de seda, sem tirar os olhos de nós, leva dois dedos à boca
chupando de forma provocativa.
— Não ouse se tocar quando tem dois homens para fazer isso por
você — aviso e ela para a mão no meio do caminho, abrindo ainda mais as
pernas para nos mostrar a boceta deliciosa que já está brilhando com sua
excitação.
Viro para Serguei, que já está tirando a gravata e abrindo os botões da
camisa com ansiedade, então seguro sua mão e ele desvia o olhar da
morena.
— Calma, temos a noite toda — anuncio e termino de abrir os botões
da camisa, empurrando o tecido junto com o paletó de segunda mão que ele
está usando, jogando tudo no chão para encarar o peito firme e musculoso
em minha frente, acaricio cada um dos gominhos em seu abdômen,
descendo as mãos até a calça sem tirar os olhos dele, vejo sua boca
entreabrir quando passo a mão com firmeza pelo seu membro, por cima da
calça consigo senti-lo grande e duro, pronto para o que está por vir.
Ele solta um gemido quando tomo sua boca em um beijo intenso, suas
mãos viajam para o meu terno e deixo que faça o que quiser comigo
enquanto abro sua calça e o ajudo a se livrar do restante de suas roupas,
assim que a cueca preta é tirada, admiro o pau delicioso que pesa em minha
mão, a ponta rosada brilha com o pré-gozo que ele não consegue controlar.
Envolvo seu pau na minha mão e começo a masturba-lo, sentindo seu
corpo todo estremecer com o meu toque, o beijo fica mais intenso conforme
movo minha mão com mais firmeza e ele solta gemidos deliciosos contra
meus lábios. Porra, o soldado está entregue e isso me deixa ainda mais
excitado.
Por isso solto sua boca, sem desviar de seus olhos, me abaixo em sua
frente, seguro seu pau com as duas mãos e, sem pensar duas vezes, passo a
língua pela ponta rosada, sentindo o gosto salgado e delicioso do homem
que geme incontrolavelmente quando levo todo o seu comprimento para
dentro da minha boca, lambendo a extensão do seu pau para depois chupá-
lo com vontade.
Não demora muito antes dele agarrar meus cabelos com mais força e
começar a empurrar seu pau contra minha boca, completamente perdido no
prazer que lhe proporciono, mas Serguei tenta se afastar quando está quase
gozando, o que eu não deixo que aconteça, chupo com ainda mais vontade,
levando-o até o fundo da minha garganta, até que sinto a porra quente e
deliciosa na minha língua.
— Caralho, Dimitri… — Serguei choraminga enquanto goza e meu
pau aperta ainda mais na calça, eu já sabia que ia gostar de tê-lo na minha
cama, mas não poderia imaginar que seria tão bom assim ouvi-lo gemer
meu nome.
Quando lambo todo o seu comprimento, me levanto e planto um beijo
em seus lábios, testando seus limites, mas ele corresponde ao meu beijo,
ainda ofegante do orgasmo e com a porra de um sorriso satisfeito no rosto.
— Esse foi o melhor show que uma mulher como eu poderia pedir —
Yekaterina fala, sua voz embargada de tesão e, quando olho em sua direção,
ela está com a mão na boceta, esfregando calmamente seu clitóris, o lábio
inferior preso entre os dentes e o olhar intenso em nossa direção.
Sorrio com o atrevimento e volto a beijar Serguei, dando mais alguns
segundos para ele se recuperar antes de me afastar.
— Leva essa boca deliciosa até a cama, quero assistir você chupando
nossa mulher — ordeno e Serguei se afasta com a respiração ofegante,
caminha até a cama e ele ajoelha, puxando o corpo de Yekaterina até a
beirada, ela abraça o pescoço dele com as pernas no momento que ele passa
a língua nos lábios dela, se jogando para trás e soltando um gemido
delicioso.
— Chupa com gosto — Yekaterina exige segurando os fios do cabelo
de Serguei com uma mão, ela começa a rebolar assim que ele aumenta a
intensidade, vejo a língua batendo diretamente no clitóris, subindo até o
piercing e voltando.
Caminho pela lateral da cama, tirando minha roupa com calma,
assistindo a tudo, me deliciando com cada gemido que ela solta, cada som
que ele produz ao grunhir contra sua boceta, o olhar concentrado no rosto
da mulher que me olha com expectativa a cada peça de roupa que tiro, até
sobrar somente a cueca.
— Coloca dois dedos dentro dela — ordeno e é o que Serguei faz
enquanto continua lambendo e chupando com vontade, ele começa a entrar
e sair com os dedos até que ela se contorce na cama, arqueando as costas e
vejo a hora exata em que Yekaterina tem o seu primeiro orgasmo, suas
pernas tremem e ela rebola descontroladamente na boca de Serguei, que não
para o que está fazendo até que ela amoleça em sua mão.
Pego o pacote fechado de preservativos da gaveta e o tubo de
lubrificante, deixando tudo em cima da mesa de cabeceira, Serguei se
levanta com Yekaterina em seus braços, deitando-a no centro da cama, ele
traça um caminho de beijos no corpo da mulher, subindo da virilha,
passando pela barriga até chegar aos seios, onde se delicia com cada um,
dando tempo para ela se recuperar do orgasmo, o que não demora muito e
logo ela está olhando em minha direção.
— Está na hora de você participar — avisa e Serguei se afasta quando
ela engatinha em minha direção, o olhar selvagem não sai do meu rosto,
prometendo tudo e entregando ainda mais, ela pega uma das camisinhas e
entrega para Serguei, então envolve o elástico da minha cueca com as duas
mãos e liberta meu pau, sem perder tempo sua língua passa pela cabeça,
umedecendo essa parte, então segura o comprimento com a mão e coloca
tudo na boca, como fiz com Serguei.
— Porra, que boquinha gostosa — elogio e ela tira tudo, lambendo o
comprimento com o olhar no meu, a visão me faz tremer de tesão e preciso
me controlar para não segurar seus cabelos e foder sua boca, mas deixo que
ela tenha o controle, é fodidamente sexy de assistir.
Atrás dela Serguei se posiciona, deslizando o preservativo no pau
com habilidade, ele olha diretamente em meus olhos quando entra nela, tão
devagar que posso sentir como se fosse em mim, ainda mais quando
Yekaterina geme com o meu pau na boca, me levando até o fundo de sua
garganta para depois sair, ela aumenta a intensidade e chupa com mais
força, sua mão acompanha os movimentos e já posso sentir o orgasmo se
formando.
Serguei começa a penetrá-la no mesmo ritmo que ela me chupa, suas
mãos firmes seguram a cintura fina da mulher enquanto fode sua boceta,
mordendo o lábio para controlar os gemidos que eu já não me importo em
soltar.
— Eu quero vocês dois, juntos — Yekaterina anuncia, largando meu
pau para pegar o preservativo e Serguei me olha, confuso, procurando
orientação enquanto ela desliza a camisinha no meu pau com agilidade e se
levanta para beijar a minha boca.
— Tem certeza? — pergunto contra seus lábios, mas ela não
responde, só me beija com mais vontade, descendo a mão até meu pau e me
masturbando para provar que sim, ela quer isso. — Senta na cama, com as
costas escoradas na cabeceira, Serguei.
Tomo o controle e Yekaterina sorri, safada, sabendo que terá o que ela
quer. De costas para Serguei, que a segura pela cintura, ela desce em seu
pau, tomando-o por completo, soltando um gemido delicioso através dos
lábios vermelhos.
— Vem, me fode junto com ele — ela me chama, subindo e descendo
devagar no pau de Serguei enquanto ele beija seu pescoço, reunindo os fios
de cabelo castanho dela com a mão, tirando-os do caminho para que não
grudem em nossos corpos suados.
Subo na cama, sem quebrar o contato visual, admiro a mulher
entregue a nós, uma desconhecida que não parece saber quem somos, o que
fazemos ou a quantidade de sangue que temos em nossas mãos.
Yekaterina se entregou a dois homens com o único pedido de receber
prazer por uma noite e é nisso que me concentro quando fico na frente dela
e levo uma mão para o meio das suas pernas.
— Você já fez isso? — pergunto e provoco seu clitóris inchado
enquanto ela cavalga no pau de Serguei, posso senti-lo contra minha mão,
entrando e saindo dela em um ritmo lento.
— Sim — ela confessa com um sorriso convencido no rosto tão
jovem, mas que de inocente não tem nada.
Pego o lubrificante e lambuzo ainda mais a camisinha e meus dedos,
que são os primeiros a entrar nela, alargando sua boceta, preparando-a para
receber meu pau.
Yekaterina para um segundo, acostumando-se com eles, ela geme e
Serguei beija seu pescoço, olhando sobre os ombros da morena.
— Relaxa para mim, Yekaterina — murmuro e beijo seus lábios, aos
poucos começo a movimentar meus dedos e ela relaxa, abrindo-se para nós.
— Porra, você tem certeza?
— Só continua, eu não vou implorar — ela responde e morde o lábio
inferior, fechando os olhos ao voltar a subir e descer, movendo-se contra
nós, provando que é realmente o que ela quer.
Então me aproximo mais, segurando-a pela cintura, parada na altura
certa para que Serguei continue dentro dela, mas que eu consiga me
posicionar na sua boceta. A ponta do meu pau entra estrangulada nela,
batalhando com o pau de Serguei por espaço, ambos sendo comprimidos
pelas paredes quentes e, muito lentamente, Yekaterina vai se alargando para
nos receber.
Eu consigo senti-lo dentro dela e é bom pra caralho.
— Caralho — Serguei expressa em um gemido e Yekaterina sorri, a
desgraçada sorri quando estamos os dois dentro dela, tenho a visão
privilegiada da sua expressão de dor misturada com prazer e da forma com
que Serguei me olha, tão entregue quanto ela.
Yekaterina passa os braços pelo meu pescoço e me beija, moldando
sua boca na minha em um pedido para continuarmos e é isso que faço,
movendo seu corpo lentamente para cima, depois para baixo e ela geme
contra meus lábios.
— Porra de boceta perfeita do caralho, Yekaterina – Serguei solta
entre gemidos.
–– Você tomando nós dois juntos, é tão gostoso — elogio, porque a
cada palavra minha, sua expressão alivia e sua boceta contrai — Você é tão
linda, tão fodidamente perfeita, Yekaterina.
Ela volta a se mover, mas tomo o controle e dito o ritmo das
investidas, eu não vou demorar a gozar e, pela expressão de Serguei, ele já
está pronto, quando Yekaterina joga a cabeça para trás eu tomo seus peitos
em minha boca, sentindo o gosto do suor nos seus mamilos, fazendo-a
gemer ainda mais descontroladamente enquanto entramos e saímos dela, em
um ritmo lento e delicioso, então sinto sua boceta se contraindo e suas
pernas começando a tremer, volto a esfregar seu clitóris, sentindo o piercing
nos meus dedos, até que ela grita de prazer e sinto o liquido escorrer da sua
boceta, em um squirting potente.
— Porra, eu não vou aguentar muito mais — Serguei avisa.
— Goza comigo — dou a ordem antes de senti-lo estremecer,
mordendo o ombro dela para controlar o gemido enquanto entro mais uma
vez, liberando meu próprio orgasmo em jatos de porra absurdos que
preenchem a camisinha.
Estamos os três suados, ofegantes, entregues em uma névoa de prazer
que eu nunca senti antes, parece diferente, porra, é diferente. Quando saio
dela, seguro o corpo amolecido de Yekaterina e a deito na cama com
cuidado e carinho, plantando um beijo em sua boca que se abre em um
sorriso sincero e satisfeito.
Serguei também sorri, encarando-a com os olhos brilhando enquanto
seu peito sobe e desce, rápido e ofegante, passando os dedos pelo cabelo
dela, acariciando o topo da cabeça da mulher deitada ao seu lado.
Depois disso Serguei e eu nos levantamos para ir até o banheiro
descartar os preservativos, na volta pego três águas do frigobar e Yekaterina
agradece quando sentamos na cama, um em cada lado dela para nos
recuperar.
— Isso foi… — Serguei é o primeiro a falar, mas não completa a
frase.
— Foda pra caralho — Yekaterina continua e todos rimos do seu
linguajar.
Serguei passa um braço atrás dela e descansa a mão na minha cabeça,
Yekaterina se escora nele enquanto acaricio seus cabelos, posso ver o olhar
cansado dela e a forma com que Serguei também está relaxado, a música
agora é lenta e calma.
Não leva muito tempo até os dois caírem em um sono profundo
enquanto eu fico acordado, ela rolou para o meu lado e abraçou meu peito,
logo depois Serguei a abraçou por trás, a mão grande cobrindo a dela e, por
impulso, juntei a minha mão na deles, respirando fundo, querendo desligar
a minha mente e dormir como eles, mas sem conseguir.
Andrei irá partir em mais uma missão disfarçado, colocando-se em
perigo novamente por sabe-se lá quanto tempo, enquanto eu continuo aqui,
preso no mesmo lugar, acompanhando tudo de longe. Esses períodos em
que ficamos afastados são angustiantes.
Eu também não consigo dormir com pessoas na minha cama, o certo
seria levantar e deixar os dois aqui, descansando até amanhã de manhã, é o
que sempre faço com minhas fodas ocasionais, mas dessa vez não tenho
coragem de sair daqui, estou tão confortável com eles em meus braços.
Algumas horas depois sinto Yekaterina acordar, o dia ainda não
amanheceu, posso ver pela janela que o céu continua escuro.
— Pode dormir, ainda é cedo — sussurro baixinho, mas ela sorri e
abre os olhos mesmo assim.
— Preciso ir — avisa, se desvencilhando do corpo de Serguei com
tanta calma que ele não acorda, ela passa por cima de mim e levanta, indo
até o banheiro enquanto o homem ao meu lado se aproxima e ocupa o lugar
dela no meu peito.
— Pode ficar aqui, o motorista te leva de manhã — falo assim que ela
sai do banheiro e começa a se vestir.
— Ele sente algo a mais por você — anuncia, desviando da minha
oferta ao falar de Serguei —, também vi como você o olhou, não tem nada
de errado nisso.
— Você realmente não sabe quem somos, não é mesmo?
— Não importa, o amor é o mesmo em todas as pessoas — ela dá de
ombros, recolhendo os saltos do chão, sem calçá-los. — Cuide dele.
— E quem cuidará de você? — pergunto, já sentindo um aperto em
meu peito com a antecipação da despedida.
— Eu sei cuidar de mim mesma — ela responde, mas antes de sair,
caminha em nossa direção e beija o topo da cabeça de Serguei, depois seus
lábios encontram os meus em um beijo calmo, mas que consegue fazer meu
coração acelerar e apertar ao mesmo tempo.
Com isso ela sai, sem olhar para trás, nos deixando sozinhos na
mesma cama que dividimos e que agora parece grande demais para duas
pessoas.
Espero, de coração, que tenha gostado da leitura, deixe a sua avaliação
e compartilhe com suas amigas.
Sobre outros livros da autora que estão combinados no mesmo
universo de máfia:
SÉRIE CAMINHOS DE UM CAMPO:
Livro 1: NASCIDA PARA PROTEGER (Daniele Corleone e Lucas
Costello)
Livro 2: NASCIDO PARA LIDERAR (Alphonse Corleone e Amélia
Bianchi)
Livro 3: NASCIDO PARA AMAR (Ricardo Moretti e Gian Carlo
Stewart, Giulia e Ivan)
Spin-off: A PSICÓLOGA DA MÁFIA (Luana e Yuri)
LIVROS DA MÁFIA DE BOSTON
MALÍCIA: UM TRISAL MAFIOSO (Alícia, Gabriel e Chace)
MALÍCIA: UM NATAL MAFIOSO
 
Livros únicos
SEM TEMPO PARA O AMOR
O CEO DESILUDIDO
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer do fundo do coração aos meus amigos que me apoiam


a continuar escrevendo, sem julgamentos, e sempre com uma palavra de
carinho.
À minha mãe, que me incentivou a ler e que comprou Harry Potter para
uma menina que acabou se apaixonando pelos livros por causa daquele
mundo encantado. Obrigada, mãe, sei que se estivesse viva estaria
comemorando comigo e com orgulho de mais esta conquista.
Quero deixar um agradecimento amplo e especial a todas as autoras
que conversam comigo, trocam experiências e publicam suas histórias, ler
livros nacionais é o que me dá força e confiança para publicar.
Às bookstan maravilhosas que me apoiam e às parceiras lindas que
foram incríveis neste lançamento.
Agora às minhas MAFIOSAS, que estão no grupo do whats e surtam
comigo todos os dias esperando por cada lançamento, vocês não têm ideia
do quanto são importantes na minha vida e de como me motivam a
continuar.
A beta e revisora mais incrível e surtada que já tive, May obrigada por
fazer do livro do Dimitri uma experiência única, por abraçar cada um dos
personagens e surtar comigo em cada plot.
A leitora crítica mais fofa, obrigada por essa parceria Camis
(@primaveraliterária) foi incrível trabalhar com você.
E agora quero agradecer a você, que deu uma chance ao meu livro e se
aventurou nesta nova leitura, obrigada de coração.
Indiana Massardo é uma libriana romântica, leitora voraz de
romances e tem 28 anos. Formada em Engenharia Civil, não segue a
profissão, é artista há mais de 5 anos. Trabalhando com arte realista em
aquarela no perfil oficial @indymassardo, agora também segue na carreira
de escritora no perfil @autoraindymassardo.
Atualmente vive sozinha com seus gatos e cachorros, sonha em ter
uma estabilidade financeira para poder viver mais tranquilamente.
Este é seu oitavo livro publicado e está muito orgulhosa do mundo
que criou e dos personagens fortes que nasceram disso.
Promete muitos lançamentos dentro deste universo, especialmente
com personagens femininas fortes e muito clichê invertido.
 

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