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Copyright © 2023 Katarina Sanches

Design de capa: Katarina Sanches

Imagens de capa: Freepik e Canva

Ilustrações dos personagens: Carlos @carlosmiguelIL, Gislayne @lovsyne

Revisão: Amanda Mont’Alverne

Diagramação: Katarina Sanches

Leitura crítica: Aline Dantas

Obra revisada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que


entrou em vigor no Brasil em 2009.

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer forma,
seja por meio eletrônico ou mecânico, incluindo sistemas de armazenamento e
recuperação de informações, sem a permissão por escrito da autora, exceto para o
uso de breves citações em uma resenha. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal Brasileiro.
Sumário
Nota da Autora
Sinopse
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Epílogo
Ilustrações
Agradecimentos
Leia também
Onde me encontrar
Oi, oi, tudo bem?
Agradeço demais por você ter se interessado por esse conto e chegado até
aqui! Espero que você tenha uma experiência maravilhosa de leitura, mas, antes de
começar, há algumas coisas que você precisa saber:
Resgatada Pelos Vampiros é um conto de harém reverso, o que significa
que teremos uma mulher se relacionando com mais de dois homens — nesse caso,
serão três vampiros (sortuda!). E ela NÃO escolherá entre eles! Juntos, os quatro
formarão um relacionamento poliamoroso.
É importante frisar que todos os homens dessa história também se
relacionam entre si, sexual e romanticamente, ok? Os três são bissexuais.
Por aqui, nós consideramos justa toda forma de amor, então se esse tema de
alguma forma te incomoda, por favor, não leia esse conto!
Se você tem menos de 18 anos, também não prossiga com a leitura! A
história apresenta conteúdo explícito, com palavras de baixo calão e cenas de sexo.
Sobre gatilhos: a história faz menção à abuso sexual e psicológico (nada
gráfico e não acontece entre os personagens, são coisas do passado deles). Se isso te
afetar, por favor, pare a leitura. Sua saúde mental deve vir em primeiro lugar, ok?
Gostaria de lembrar também que a escrita é minha fonte de renda, então se
você está lendo esse conto por um PDF, saiba que está cometendo um crime e me
tirando a oportunidade de ganhar pelo meu trabalho.
Ademais, acho importante ressaltar que este conto foi escrito com objetivo
de entreter, não espere por grandes reviravoltas nem mergulhos profundos nas almas
dos personagens. Escrevi essa história para ser curta mesmo, mas com risadinhas,
coração quentinho e calcinha molhada :)
Boa leitura!
Kat Sanches
Kaylee Young tem dois empregos, pouco dinheiro e responsabilidades demais
para uma jovem de apenas 23 anos. Se um dia ela foi uma criança sonhadora,
atualmente tem apenas esperança de conseguir estabilidade financeira, então não lhe
sobra tempo para mais nada. Nada de diversão, muito menos paixões.
Charles McAllister, Anthony Hall e Jason Walker, por outro lado, ganham a vida
com diversão. Vampiros há mais de um século, os três namorados mantêm uma rede
de casas noturnas espalhadas pelo mundo, o que lhes rende uma conta bancária
recheada e o disfarce perfeito para seres que só podem sair de casa durante a noite. O
que eles poderiam querer mais?
Entretanto, um acidente, um resgate e uma mordida podem acabar tirando tudo
do eixo.
Agora, eles terão que dividir o mesmo teto, se adaptarem uns aos outros e
decidirem se há espaço para mais amor e luxúria dentro de um relacionamento.
Romance sobrenatural + harém reverso bissexual + dividir o mesmo teto + found family
+ leitura rápida com muito hot
À você, que ofereceria o pescoço para o Edward a qualquer momento.
E para o Carlisle também.
Talvez até para o Emmet?
Bom, divirta-se!
Aqui você terá 3 vampiros a disposição, e o melhor, não terá que escolher
.
Da laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Dos vampiros mais bonitos
Quero um beijo e três orgasmos
Enquanto a vida se esvai do meu corpo, penso em como não aproveitei nada
da minha curta estadia na Terra. Vinte e três anos de uma vida pobre, medíocre, sem
amor e sem diversão. E para completar, eu morreria em um estúpido acidente de carro
causado por mim mesma.
Era ridículo! Eu até bufaria, se não doesse tanto tentar respirar fundo.
Bom, pelo menos eu não morreria virgem.
E minha última visão ser um par de olhos esverdeados muito bonitos também
não é de todo mal.
Anthony - 34 horas antes

Das mitologias sobre os vampiros, a que mais me deixa intrigado é a de que


nossos corações não batem. Se não batesse, sangue não circularia e o pau não
subiria, simples assim.
E acredite, sexo é quase tão vital para um vampiro quanto o sangue. Sem o
prazer liberado por uma boa transa, nos tornamos ainda mais voláteis e suscetíveis à
explosões de raiva. E vampiros com raiva fazem merda, como machucar seres
humanos ou expor nossa existência por aí. É por isso que eu tenho logo dois
namorados. E de vez em quando ainda gostamos de adicionar mais gente a essa
mistura.
Charles, Jason e eu fomos transformados pela mesma vampira, em 1781. Em
uma noite, éramos 3 trabalhadores de uma fábrica, gastando o suado dinheiro com um
pouco de diversão em um bordel, e na noite seguinte acordamos no quarto de
Melisandre como vampiros.
Só de me lembrar dessa criatura odiosa já sinto a raiva tentar impregnar minha
visão, então balanço a cabeça e tento espantar essa linha de pensamento.
Nos mudamos recentemente. Fazemos isso a cada 10 anos, mais ou menos,
para que os humanos não comecem a reparar no fato de que não envelhecemos. Da
Dinamarca, viemos parar novamente nos EUA. Escolhemos Seattle dessa vez.
Trabalhamos com bares ou casas noturnas há quase um século, porque é o
disfarce perfeito para nossa preferência pela noite. Nosso esquema é bem simples:
chegamos em uma cidade, compramos umas três casas noturnas ou bares já
existentes, damos a nossa cara e passamos uma década faturando com isso. Depois
desse tempo, colocamos à venda 60% de cada lugar e deixamos tudo a cargo dos
novos sócios, que só repassam nossa parte dos lucros. Temos outras 15 boates e 19
bares espalhados pelo mundo enchendo nossa conta bancária.
Nossa programação de hoje inclui visitar a The View, uma balada no centro de
Seattle que não está mais nos seus melhores dias, mas tem potencial e estamos
considerando comprá-la. Mas hoje também é dia de diversão: quero beijar novas bocas
e provar sangue novo.
É próximo da meia-noite quando passamos pelas portas da The View. Está
quase cheia, com seres humanos jovens, cheios de energia, bebendo e dançando
conforme a batida da música. Perfeito.
Nossa chegada atrai olhares automaticamente, afinal, fomos criados para isso.
Certo que eu e meus namorados já éramos considerados bonitos mesmo enquanto
humanos: eu sou um loiro de olhos azuis bem padrão, mas a altura e os ombros largos
costumam chamar atenção. Charles tem a pele branca, cabelos castanhos que caem
sobre a testa, além de uma barba curta, olhos esverdeados e um sorriso que sempre
derrete as pessoas. Jason, por sua vez, tem um pouco mais de 1,90, pele preta, cabelo
curto e crespo, barba bem marcada e os olhos mais sedutores que você vai encontrar.
Controlo um sorrisinho quando vejo um cara tropeçar em outra pessoa
enquanto nos encarava de boca aberta. Subo as escadas atrás de Charles em direção
ao camarote que reservamos. Ergo a sobrancelha ao mesmo tempo que Jason chia
logo atrás de mim.
— Eles chamam isso de camarote? — meu namorado ecoa o que pensei
assim que bati os olhos no espaço apertado com uma mesa minúscula e um banco
acolchoado cheio de manchas.
Bufo e me resigno a sentar rapidamente.
— Fácil de melhorar. O importante é que as pessoas ainda assim gostam
daqui. Então vão amar quando a transformarmos na Vampire — digo e Jason sorri de
lado.
— Ainda acho esse nome tão sem criatividade… — começa ele, pela enésima
vez neste século. Reviro os olhos, mas sou impedido de responder quando uma
garçonete se aproxima.
— Boa noite, bem vindos a The View. Eu sou Kaylee e hoje estou atendendo
aos camarotes. Gostariam de algo para beber? — pergunta a voz doce da mulher.
Dedico alguns segundos para analisá-la. Pele em um marrom claro, cabelos escuros
presos em um rabo de cavalo, corpo esguio e olhos simpáticos, apesar de
demonstrarem também certo cansaço. A mulher entrega um cardápio simples para
cada um de nós e quando bate os olhos nos meus, sinto um leve arrepio.
Fecho a cara de imediato. Mulheres com esse efeito são perigosas e não tenho
qualquer intenção de cometer o mesmo erro do passado. Por sorte, a quantidade de
pessoas num mesmo ambiente faz com que eu não consiga sentir o cheiro dela.
— Vou querer uma dose dupla de uísque, com gelo — digo, sem nem precisar
olhar o menu e desviando os olhos dela.
— E pra nós, duas cervejas, por favor — pede Charles por ele e Jason. A
mulher anota os pedidos em um bloquinho e rapidamente se afasta em direção ao bar
que fica nesse andar.
Volto meu olhar para a pista de dança e começo a pensar nas mudanças que
eu gostaria de fazer no lugar. Talvez uma ampliação, para permitir um palco maior e
com isso alguns shows…
— Eu gostei dela — diz Charles próximo do meu ouvido.
— Eu também — concorda Jason e eu reviro os olhos.
— Não — digo, sucinto.
— E por que não? — reclama Charles, olhando de mim para a garota no bar
preparando drinks.
— Ela é uma Resistente — explico e vejo os dois desanimarem.
Nós vampiros somos um dos seres mais fracos em magia, perdendo apenas
para humanos e licantropos, mas temos nossos truques. Um dos mais úteis é nosso
poder de encantar memórias: as pessoas que escolhermos hoje não vão se lembrar de
nada. Nem dos nossos rostos, nem dos beijos, conversas, muito menos de serem
mordidas. Terão prazer em nossos braços, matarão um pouco da nossa sede e
seguirão suas vidas tranquilamente.
Existem, entretanto, alguns humanos que são mais resistentes aos
encantamentos. Ninguém sabe muito bem explicar a razão disso, mas os evitamos
sempre que possível. Não é algo que fica escrito na cara da pessoa, mas eu tenho um
certo sentido com relação a isso e dificilmente erro.
Tenho ainda mais certeza disso quando Kaylee volta a se aproximar e entrega
nossos drinks. Meus instintos dizem que essa garota tem cheiro de problema.
Praticamente viro o conteúdo todo do meu copo na boca e então aceno para
meus namorados.
— Vamos dançar e procurar outra que nos atraia.
Jason - 32 horas antes

— Se não mordermos, podemos ficar com ela? — pergunto enquanto eu e


meus namorados nos sentamos outra vez no camarote pequeno do andar de cima.
Anthony bufa e grunhe uma negativa. Mostro a língua pra ele, o que arranca
uma risada de Charlie.
Passamos duas horas na pista, dançamos, bebemos, beijamos diferentes
bocas e, discretamente claro, nos alimentamos dos que se voluntariaram para isso.
Há muito mais humanos dispostos do que se poderia imaginar e é bem menos
complicado. O jogo entre eu e meus namorados é bastante simples: nos aproximamos
de um grupo, conversamos, flertamos e então confidenciamos nosso pequeno segredo.
Se a pessoa se apavorar e surtar, apagamos a memória dela rapidamente e voltamos
ao simples bate papo. Mas, se o humano se sentir curioso, o levamos para um
banheiro ou algum outro canto discreto e o mordemos. Poucos goles são suficientes
para nos saciar e o benefício para os humanos é que a mordida desencadeia em seus
corpos um prazer parecido com um orgasmo. Uma simples lambida na ferida faz com
que ela se feche em questão de segundos e suma completamente em alguns minutos.
Depois disso, nós geralmente os beijamos, apagamos suas memórias a respeito da
mordida e nos despedimos.
Pouco dano, pouco risco.
Enquanto bebo calmamente da cerveja que peguei no bar antes de subir,
penso que há muitos mitos sobre vampiros e que a maioria está longe da verdade. Um
dos detalhes mais importantes é que nossa alimentação não se restringe a sangue
humano. Por sinal, na maior parte do tempo, nos alimentamos uns dos outros, o que é
bem mais prático. O sangue humano é apenas… muito atraente, mas não é preciso
drenar completamente uma pessoa.
Desvio os olhos de Kaylee pela enésima vez nessa noite. Por que o proibido é
sempre mais gostoso? Eu já tinha a achado incrivelmente atraente quando bati os
olhos nela, mas saber que ela era uma Resistente me fazia desejar o risco ainda mais.
E se eu não podia a morder porque ela se lembraria, qual seria o problema de
um beijinho? Poxa, uma bitoca não ia matar ninguém.
Ouço Anthony xingar em grego, uma de suas línguas favoritas e então diz:
— Tá bom, tenta a sorte. Mas ela está trabalhando, duvido que vai te dar bola.
Sorrio de orelha a orelha e me levanto antes que ele mude de ideia. Sigo
rapidamente até o bar, onde a mulher prepara um drink colorido com direito a um
pequeno guarda-chuva de enfeite. A área está bastante tranquila, já que a massa de
corpos se amontoa lá embaixo, então consigo parar no balcão bem na frente dela.
Kaylee levanta o olhar para me ver e lhe dou meu sorriso sensual. Isso a faz enrijecer
os ombros e soltar um muxoxo, o que me deixa intrigado e quando abro a boca para
falar, a garota me me atropela:
— Eu conheço esse sorriso. Vejo-o todo fim de semana. Não fico com clientes,
é contra as normas.
— Mas eu não disse nada.
— Ia dizer. Como comentei, conheço bem o seu estilo e o dos seus amigos.
Mordo meu lábio para controlar uma risada diante do olhar de resignação e
tédio que ela me lança. Meu ego está um pouco ferido, mas estou ainda mais entretido
com a moça.
— Conhece, é? E qual é o nosso estilo? — pergunto, curioso, e ela se afasta
para entregar o copo da bebida que estava preparando para o cliente na outra ponta do
bar. Quando retorna, seus olhos me escaneiam por alguns segundos e em seguida
desviam para a mesa onde Charles e Anthony estão.
— Todos têm mais de 25 anos. Dinheiro com certeza não é um problema, se
analisarmos pelo seu relógio e sapatos caros. Devem ter suas próprias empresas para
administrar, que lhes foram deixadas como herança. Trabalham demais para poder se
provar, mas aos fins de semana se dão ao luxo de sair para beber e conhecer
mulheres. São héteros, vivem de casos de uma noite e nem se lembram dos nomes
delas no dia seguinte — Kaylee declama todas as suas certezas e eu gargalho. Ela
começa a limpar o balcão de preparo, parecendo fazer tudo no automático.
— Ah, querida, você realmente só encontra desse tipo por aqui, né? —
pergunto e ela acena em concordância. Meu sorriso se alarga outra vez. — Mas dessa
vez você não poderia estar mais errada.
Isso a faz erguer a sobrancelha e jogar o pano sobre o ombro, olhando pra
mim ainda cética.
— É mesmo? Então me conta, querido, no que eu errei.
— Primeiro que: hétero? Por favor, não me ofenda. Viver nesse planeta e se
limitar a um grupo de pessoas é um desperdício de oportunidade. — Minha fala parece
a surpreender pela primeira vez e ela arregala um pouco os olhos. Comemoro
internamente e prossigo. — Somos bissexuais, e eu e aqueles dois ali temos um
relacionamento semi aberto.
Sabe o olhar de surpresa? Sumiu e foi substituído por um de total descrença
misturado com diversão quando ela explode em uma gargalhada. Me pego gostando
desse som.
— Você quase me fez acreditar. E o que raios seria um relacionamento semi
aberto? — pergunta, ainda resfolegando de tanto rir.
— Nós namoramos, mas também podemos ficar com algumas pessoas, porém
temos algumas restrições — explico calmamente.
— É mesmo? E quais são as regras do seu trisal?
— Beijos são basicamente liberados, mas seus parceiros devem ser avisados.
Qualquer coisa além disso, só se for compartilhado — conto e suas sobrancelhas
quase chegam às raízes do cabelo escuro. — Ah, e nunca repetimos, para não correr o
risco de ninguém se apegar. Por isso semi aberto. Aberto para o sexo, fechado para o
amor.
Isso a deixa de boca aberta e comemoro essa conquista.
— Você não está falando sério — duvida ela e eu sorrio de canto, divertido.
— Estou sim. — Ela me olha profundamente dessa vez, procurando sinais de
mentira, mas parece não encontrar porque suaviza a expressão.
— Mas como é que isso dá certo?
Dou de ombros.
— Simplesmente dá. Namoramos há muitos e muitos anos. — Quase 150
anos, para ser mais preciso. Penso, rindo internamente. Charlie diz que será
necessário inventar novos nomes de bodas só pra nós.
Kaylee assobia, impressionada comigo pela primeira vez. Seus olhos desviam
para os meus namorados, como se também tivesse vendo-os sob um ângulo novo.
— Se isso for mentira, você é um mentiroso excelente. Se não for, estou
realmente impressionada — confessa ela, para aumentar meu prazer. — E quanto ao
restante? O que mais eu errei?
— Hum, vejamos. Temos uma empresa em conjunto, mas nada de herança, a
construímos do zero mesmo. E eu não diria que trabalhamos demais, não. Somos
ótimos em delegar.
— Uau. Mais um ponto pra vocês. Mas pelo menos eu acertei na coisa “casos
de uma noite” — diz ela e lhe entrego meu melhor sorriso sem vergonha.
— Nisso, sim, você acertou. Mas fazemos a noite valer a pena — revelo e
pisco pra ela. Seus olhos desviam dos meus, como se ela estivesse subitamente
constrangida e ela pega o pano em seu ombro, voltando a limpar o balcão.
— Quando você disse que compartilhavam, quis dizer… — recomeça ela, os
olhos ainda baixados.
— Os três ao mesmo tempo, sim — completo por ela e sorrio. Kaylee me olha
e pisca repetidamente, e quase sou capaz de sentir suas bochechas esquentando.
— E foi pra isso que você surgiu aqui com o sorriso cafajeste?
— Do que adiantaria eu negar agora, não é? Mas eu havia pensado em beijá-
la, apenas. — Eu a vejo engolir em seco diante da minha sinceridade. — Só que você
não está pronta para isso ainda. Talvez em uma outra noite.
Kaylee cruza os braços e ergue o queixo em desafio. Fico fascinado com o
quanto suas emoções transparecem facilmente.
— O que te faz pensar que eu aceitaria numa próxima noite?
Sorrio e estreito os olhos antes de me debruçar no balcão e me aproximar bem
dela. Respondo baixinho:
— Porque você não vai esquecer dessa nossa conversa. Vai ficar pensando e
imaginando como é ser beijada por três. Tocada por três. A curiosidade vai invadir até
mesmo seus sonhos e então, você não vai mais conseguir resistir a tentação.
Eu a vejo se arrepiar sutilmente, mas se recupera rápido e volta a enrijecer os
ombros.
— Você é muito convencido, querido.
— E você muito curiosa. É uma combinação e tanto, não acha? — finalizo e
pisco para ela só mais uma vez antes de me afastar e voltar para a mesa.
Ouço o pé dela bater repetidamente no chão e sorrio. Me sento tranquilamente
e beberico um pouco do copo de uísque de Anthony, que está de cara amarrada. Sei
que eles ouviram toda a conversa, nossa audição é excelente, principalmente se
focarmos em algo ou alguém.
— Resistente ou não, essa garota vai acabar sendo nossa. Pode escrever —
afirmo, e o loiro range os dentes. Dou um beijo rápido contra seus lábios, só para irritá-
lo um pouco mais.
— Já disse que ela é um perigo para nós — insiste Anthony e eu reviro os
olhos. É Charlie que responde por mim.
— Qual seria a graça de viver para sempre sem correr alguns riscos no meio
do caminho?
Kaylee - 8 horas antes

Algumas pessoas nascem com a bunda virada pra lua, mas outras, como eu,
nascem com a bunda aberta para o sol, que é pra queimar a alma.
Bato com a cabeça contra o volante enquanto espero passar os minutos até
que eu seja realmente obrigada a entrar na The View e começar a trabalhar. Odeio
esse trabalho. Principalmente depois de já ter passado 8h na recepção de um pequeno
hotel do outro lado da cidade. Meus pés estão me matando por Gabriel, o gerente da
boate, ter me obrigado a usar saltos ontem a noite e ficar servindo os camarotes. Fui
contratada para preparar drinks atrás de um balcão, usando crocs maravilhosos e
confortáveis, mas sempre que pode, Gabriel dá um jeito de me colocar por lá porque
acha que atrai clientes.
Babaca.
Apesar de que ontem acabei atraindo algo completamente inusitado. Me
remexo no banco enquanto lembro detalhadamente das palavras do homem. O apelidei
de Sr. Convencido, já que acabei não perguntando seu nome. Só porque o maldito
disse que eu ficaria pensando neles, eu realmente me peguei lembrando de tempos em
tempos da sua fala e da aparência incrível daqueles três.
Três.
Três homens gostosos.
E juntos? Era absolutamente erótico só de imaginar, mas com certeza não era
pra mim.
Devia ser brincadeira do Sr. Convencido, de qualquer forma.
Espanto essa linha de pensamentos enquanto toco o botão do meu iphone
velho e olho as horas pela milésima vez. 19h50. Tenho exatos 10 minutos de descanso
para então começar meu segundo turno, cuja expectativa é terminar só lá pelas 3h da
manhã.
Suspiro pesadamente enquanto penso se há alguma esperança de melhora no
meu futuro.
Perdi meus pais quando criança e só tenho minha avó desde então. Ela nunca
nos deixou faltar nada, mas enquanto crescia, eu via o quanto ela precisava se matar
de trabalhar como costureira para por comida na nossa mesa toda semana. É por isso
que com 15 anos eu já estava trabalhando como repositora de um mercadinho perto de
casa. Qualquer dinheiro extra ajudava, e desde então eu não parei mais de trabalhar.
Nunca foi uma vida fácil, mas eu tinha minha avó e alguns poucos amigos e era até
feliz. Depois que me formei no ensino médio, entretanto, tudo começou a desandar.
Meus amigos foram para a faculdade, assim como meu então namorado. Logo
depois minha avó caiu e quebrou a bacia. Me vi então em um dilema terrível: se eu
passasse o tempo todo cuidando dela, não conseguiria trabalhar e nós não teríamos
nenhuma renda. A única alternativa seria colocá-la em uma casa de repouso, que
custava muito mais do que meu bolso poderia pagar. Então fiz o que foi necessário:
vendi a casa pequena que tínhamos, deixei pago três anos de mensalidade do lugar
em que ela ficaria e fui arranjar mais um emprego para juntar dinheiro.
Eu a visito todo domingo, que é meu único dia de folga. Costumamos passar a
tarde toda juntas. Ela me conta todas as fofocas dos outros moradores da Casa de
Repouso Rose Garden e eu retribuo contando todos os acontecimentos do hotel. Ela
não sabe sobre meu trabalho 4 vezes por semana na boate, porque brigaria comigo até
a eternidade.
Sorrio levemente só de pensar na bronca que eu levaria, e que ainda seria em
português, porque a imigrante brasileira que chegou aos EUA com apenas 20 anos e
um sonho sempre voltava a língua materna quando brava. Dona Maria José Garcia diz
que português tem expressões muito melhores e xingamentos também, o que tenho
que concordar.
Meu sorriso, porém, morre assim que o alarme do meu celular toca, avisando
que meu descanso acabou. Respiro fundo e saio do carro, caminhando devagar até a
entrada dos fundos.
No fim das contas, sigo sem ver uma saída no final desse túnel. Daqui a exatos
53 dias, o período pago da moradia da minha avó vai acabar e vou começar a pagar a
mensalidade sozinha.
Só me resta rezar para ganhar na loteria até lá.

Não sei se fervo de ódio ou se me encosto na primeira parede que eu


encontrar e durmo. Exausta nem começa a descrever.
Gabriel me fez ficar no camarote, usando saltos, de novo. Não satisfeito, ele
aceitou que um grupo de uns 30 caras fizessem a despedida de solteiro de um deles
depois do horário em que deveríamos fechar.
Passa das 4h da manhã quando eu finalmente me arrasto até meu carro.
Agradeço a Deus por ser domingo e que poderei dormir umas 12h seguidas, porque só
assim para o meu corpo se recuperar. Entro no carro e dou a partida, saindo do
estacionamento da boate.
Tenho certa consciência do meu nível de sono e é por isso que guio o carro
mais depressa do que o normal. Preciso muito, muito chegar na minha cama.
O hotel onde trabalho das 8h às 17h, de segunda à sábado, também é o lugar
que moro. A Sra. Francis, dona do lugar, não me paga um bom salário, mas me deixa
ficar em uma pequena suíte nos fundos do hotel e também posso tomar café e almoçar
por lá. Considerando tudo, é um arranjo muito bom pra mim.
Dou tapinhas no meu próprio rosto quando sinto o sono pesar ainda mais. Saio
da avenida e pego a rodovia que contorna a cidade. Como a via está vazia a essa hora,
aproveito para acelerar um pouco mais.
Eu só preciso chegar e dormir.
Só.
Preciso.
Chegar…
Não tenho consciência de como acontece. Só abro os olhos quando já é tarde
demais. O mundo parece ficar em câmera lenta quando me vejo indo em direção a uma
árvore enorme na beira da estrada. Tenho consciência de que não terei tempo de fazer
nada, nem puxar o volante, nem tentar frear, e é completamente aterrador.
Meu velho Chevrolet se choca contra a árvore com toda a força. Apesar do
corpo ser jogado pra frente, sou segurada pelo cinto, mas consigo sentir quando o
motor do carro esmaga minhas pernas.
Acho que grito, mas sei que não há ninguém para me ouvir.
Me sinto bêbada. Adrenalina corre pelo meu corpo, mas não sou capaz de me
mexer, e as coisas seguem em câmera lenta. Uma luz estranha e forte surge em algum
momento depois, seguida por uma voz masculina. Não consigo ver a pessoa direito,
mas tenho certeza de que grito quando ele me puxa de dentro do carro.
O homem diz alguma coisa, parecendo nervoso, mas não absorvo nada do que
diz, estou com muita dor para prestar atenção.
Enquanto a vida se esvai do meu corpo, penso em como não aproveitei nada
da minha curta estadia na Terra. Vinte e três anos de uma vida pobre, medíocre, sem
amor, sem diversão. E para completar, eu morreria em um estúpido acidente de carro
causado por mim mesma.
Era ridículo! Eu até bufaria, se não doesse tanto tentar respirar fundo.
Bom, pelo menos eu não morreria virgem.
E minha última visão ser um par de olhos esverdeados muito bonitos também
não é de todo mal.
Charles

Se alguém me perguntar nesse instante porque decidi cortar meu próprio pulso
e forçar meu sangue pela boca da mulher à minha frente, eu realmente não vou saber
responder.
Eu vi o acidente dela acontecer: o carro perder o controle e então bater. E juro
que eu só pretendia parar e chamar o socorro. Mas aí eu a vi.
Kaylee.
A garota da boate que me deixou intrigado desde o instante em que bati meus
olhos nela. A Resistente que Jason afirmou que uma hora seria nossa.
Juro que até cheguei a pegar meu celular no bolso, mas antes de começar a
discar, um estalar alto foi seguido por uma fumaça saindo do motor. Aquela lata velha
ia explodir e eu não podia deixar aquela mulher morrer, então simplesmente parei de
racionalizar e corri até a porta do passageiro e a arranquei com um puxão rápido.
Tentar tirar ela das ferragens foi um pouco mais difícil, mas deu certo e eu corri com
Kaylee no colo até uma distância mais segura, atrás do meu próprio carro.
A lata velha explodiu logo depois e quase me senti aliviado, se ao olhar para
ela não tivesse finalmente reparado na quantidade de sangue se derramando ao seu
redor.
Prendi a respiração por instinto. Posso não ser mais um vampiro recém criado
e com frenesi de sangue, mas essa situação é sempre parecida com alguém te
oferecer água quando você passou horas no deserto. É difícil de resistir.
Tirei minha camisa e tentei estancar o sangue do principal corte em sua perna,
mas se eu me lembrava corretamente da faculdade de medicina que fiz há algumas
décadas, o motor do carro pode ter cortado a artéria femoral. Ela ia morrer em
segundos. E foi assim que acabei desse jeito: alongando minhas presas, mordendo
meu próprio pulso e deixando meu sangue escorrer pelos lábios dela.
Nunca transformei ninguém, mas sei que é assim que funciona. Anthony,
Jason e eu prometemos nunca fazer isso, pois nos tornamos vampiros contra nossa
vontade.
Minha consciência pesa assim que me lembro disso. Só espero que entre
morrer ou viver para sempre como vampira, a garota não me odeie muito por tomar a
decisão por ela.
Seus olhos escuros se fecham e por um instante penso que tentei agir tarde
demais e que a garota já está morta, mas então enfim consigo escutá-la engolir. Três
longos goles do meu sangue depois, a mulher morena abre os olhos e agarra meu
braço com força, sugando com verdadeira ânsia.
Ainda bem que tenho de sobra.
O processo dura apenas mais alguns segundos e então me assusto quando
ela de repente me solta e seu corpo todo fica rígido e frio sob meu toque. A
transformação completa vai demorar mais algumas horas, mas acompanho meio
fascinado os machucados no corpo dela se curarem um a um.
Ciente de que alguém nas redondezas pode ter ouvido a explosão, sei que
preciso sair desse lugar o quanto antes, então pego-a no colo outra vez e a coloco
deitada no banco traseiro. Volto para a rodovia e me apresso a ir para casa enquanto
penso o que fazer.
Anthony vai querer me matar.

— Se isso aí nos seus braços for um ser humano, vou arrancar sua cabeça,
Charles McAllister — avisa Anthony assim que passo pela soleira da porta.
Droga, não achei que o encontraria logo na entrada, o que me daria mais
tempo para preparar o terreno. Suspiro alto e caminho até o sofá onde meu namorado
está sentado, bebericando do copo de uísque em sua mão. Tiro a garota dos meus
ombros e a deposito cuidadosamente na outra ponta do móvel. Anthony nem se digna
a olhar para ela, continua me encarando com a mandíbula travada e os olhos
transmitindo toda a raiva que sente.
— Desculpa, eu simplesmente não podia deixar ela lá — explico e o loiro bufa.
— Lá aonde, criatura? Você saiu daqui para buscar comida, não uma mulher!
Passo a mão no cabelo e decido me sentar na poltrona ao lado enquanto
escolho a maneira mais lógica de explicar o que acabei de fazer.
Relato todo o acontecido, mas assim que chego na parte onde dou meu
sangue à moça, o som do copo de vidro estilhaçando contra a parede interrompe minha
fala. No mesmo segundo, sinto a mão de Anthony me agarrar pelo colarinho e me
levantar.
— Me diga que não fez isso! Você não pode ter sido burro a esse ponto! —
exclama, agora realmente transtornado. Engulo em seco.
— O que ele não pode ter feito? — interrompe Jason, com sua voz baixa e
melodiosa enquanto entra na sala. — Ei, essa é a garota da boate?
Anthony o ignora e me chacoalha.
— Estou esperando uma resposta, Charles! Diga que você não transformou
essa mulher em vampira! — Fazia muito tempo que eu não via meu namorado com
tanta raiva. Eu sabia que tinha feito uma merda das grandes, mas não estava
arrependido.
Por enquanto.
— Ela estava morrendo nos meus braços e eu podia curá-la. O que você
queria que eu fizesse? — devolvo e vejo quando ele alonga as presas na minha
direção, tamanho o ódio que está sentindo. Eu entendo a frustração dele, mas
realmente não havia escolha.
Anthony me larga de supetão e começa a andar apressado de um lado para o
outro enquanto xinga em todas as línguas que ele conhece. Enquanto isso, Jason se
aproxima de Kaylee e olha de mim para ela com um ar chocado.
— Quando eu disse que a garota seria nossa, não era desse jeito! O que você
fez, porra?
Contenho a vontade de revirar os olhos e explico tudo pela segunda vez. Ao
contrário de Anthony, a expressão de Jason se suaviza depois que conto.
— Bom, ela ia morrer. Você realmente não tinha opção — diz meu outro
namorado e olho pra ele agradecido, mas Anthony se aproxima exaltado.
— Não tinha opção? Desde quando nos tornamos salvadores? Humanos
morrem todos os dias e Charlie não está indo aos hospitais dar o sangue dele para
todos por lá, né? E nós juramos, juramos nunca fazer isso! — diz, indignado e eu
esfrego o rosto em frustração. Levanto-me e coloco as mãos nos ombros do loiro.
— Eu sei, mas foi diferente. Eu não sequestrei a garota, ela ia morrer e eu não
consegui deixar ela lá. Não sei dizer o porquê, mas simplesmente não parecia certo. E
o que está feito, está feito, não adianta você surtar, xingar e tentar arrancar minha
cabeça. Eu preciso que me ajude. — Levo minhas mãos ao seu rosto com carinho, do
jeito que sei que o amolece. Seus olhos me encaram com uma mistura de raiva, medo
e dor, mas por fim, ele parece chegar a resignação, porque solta o ar devagar e deixa a
cabeça pender para o lado.
— Ajudar com o quê? — questiona o loiro. Solto o rosto dele devagar e me viro
para olhar para Kaylee.
— Daqui há algumas horas ela vai entrar na fase dos ossos. Precisaremos da
poção para dor.
Isso faz Anthony grunhir de novo. Jason vem parar do meu lado em 1 segundo
e os dois dizem em uníssono:
— Você não vai ver o Rafael! — Não resisto a sorrir diante da demonstração
de posse dos dois. Rafael é um bruxo poderoso que conhecemos há uns 50 anos. O
homem nunca escondeu que é afim de mim e vive dizendo pelos círculos que ainda vai
me roubar dos meus namorados, o que fez os dois pegarem um ódio verdadeiro dele.
Nós gostamos de compartilhar, não de dividir.
— Bom, então parece que vocês terão que ir enquanto eu fico aqui com a
Kaylee né? — determino e ambos me olham com raiva. Dou um beijo rápido em cada
um. — Andem logo, temos apenas 5h para isso.
— Ainda vou arrancar sua cabeça, Charles Mcallister — declara o loiro.
— E eu vou ajudar — apoia Jason.
Sorrio abertamente.
— Vão nada, vocês não vivem sem meu rosto bonito — afirmo, tranquilo.
Jason bufa e Anthony range os dentes enquanto eu apenas dou de ombros,
porque sei que estou certo.
Me afasto e vou até a mulher, pegando-a no colo outra vez.
— Vou levá-la para o quarto de visitas. Ah, e tragam comida quando voltarem!
Eu não tive tempo — peço enquanto saio da sala. Ouço os xingamentos, mas apenas
sorrio e ignoro. Meu foco agora é a morena em meus braços.
Kaylee

Não sei onde estou, se estou consciente, se é um maldito pesadelo ou se morri


e fui para o inferno. Tudo o que sei é que sinto dor. Muita dor. Como se todos os meus
ossos estivessem se quebrando em diversas partes.
Sei que grito, choro, aperto a mão de alguém e que um líquido grosso é
forçado em minha garganta. A dor diminui muito depois disso, mas não cessa
totalmente. Não faço ideia de quanto tempo fico assim, entre picos de dor e novas
doses do que imagino ser um remédio. Perco a consciência várias vezes e quase choro
de alívio quando toda a dor passa. Deixo que meu corpo descanse e quando finalmente
abro os olhos, encaro um teto cinza claro. Pela maciez do lugar onde estou deitada,
isso deve ser uma cama, mas com toda certeza não é a minha.
Pisco diversas vezes e tento me localizar, mas não lembro de quase nada
depois que comecei meu turno na The View. Faço menção de me sentar, e o
movimento acontece tão rápido que me assusto e quase caio para o lado.
— Opa. Calma, vá devagar — diz uma voz masculina logo à minha direita.
Ergo os olhos, mais espantada ainda, e dou de cara com um homem de barba, cabelos
castanhos e olhos cálidos que reconheço com facilidade. Não sei seu nome, mas
pensei muito nele e nos seus parceiros no dia seguinte ao encontro na boate.
Ao me lembrar dos outros dois, um medo gélido percorre minha espinha.
— O que fez comigo? — é a primeira coisa que pergunto. O moreno arregala
um pouco os olhos e balança as mãos em sinal de negativa.
— Eu vou te explicar tudo, mas saiba de antemão que nenhum homem dessa
casa te tocou indevidamente, ok? Eu tive que pegá-la no colo para trazê-la aqui, mas
foi só isso. Quem trocou sua roupa foi a nossa diarista, Sra Ruiz. Ela pode te confirmar
isso, se quiser ligar para ela depois — explica e algo em seu rosto e em sua voz me faz
acreditar nele. Fico um pouquinho mais tranquila e ele continua. — Meu nome é
Charles. Nos vimos na The View na sexta, lembra? Eu estava com meus namorados,
um negro sorrindente e um loiro carrancudo. Jason e Anthony.
— Sim, eu me lembro — respondo rapidamente.
— Certo. O que você se lembra da noite de sábado?
— Me lembro de ir trabalhar, xingar mentalmente meu chefe — confesso e isso
arranca uma risadinha de Charles. Desvio meus olhos para o teto e tento forçar minhas
memórias a fazerem sentido. — Depois não sei muito bem. Eu sei que trabalhamos até
mais tarde do que o normal e que eu estava exausta, mas depois disso… Não sei —
confesso, preocupada e ele me olha com compreensão.
— Você sofreu um acidente de carro — revela e minha sobrancelhas se
erguem ainda mais de espanto. Imediatamente olho para o meu corpo, que está
coberto por um pijama de algodão bastante largo, e tateio minha pele à procura de
ferimentos.
— Como assim acidente? Onde é que eu estou? Onde está meu carro? Por
que não estou no hospital? — disparo a perguntar, hiperventilando. Charles balança a
cabeça, se aproxima e se senta na ponta da cama.
— Você bateu contra uma árvore depois de perder o controle do carro na
rodovia. Fui eu quem te socorreu. Eu estava na estrada logo atrás de você e acabei
presenciando tudo. — Charles respira fundo e me olha com receio antes de continuar.
— Eu te tirei das ferragens, mas havia um corte profundo na sua perna e você estava
perdendo sangue muito rápido então eu…
Ele olha para baixo, parecendo envergonhado. Minha pele se arrepia
instintivamente.
— Você o que?
— Eu não podia te deixar morrer na minha frente, então fiz a única coisa ao
meu alcance: te transformei em uma de nós — conta depois de alguns segundos de
hesitação. Franzo o cenho, mais confusa do que antes.
— Como assim me transformou?
— Te dei o meu sangue e te transformei em vampira — explica e em seguida
abre um pouco a boca. Assisto, em choque, quando os olhos dele escurecem e seus
caninos se alongam, se tornando presas.
Desmaio em seguida.

Acordo com diversas vozes ao meu redor e abro os olhos assustada. Ao dar de
cara com os três homens próximos da cama onde estou, fico ainda mais apavorada,
me encolho toda e abraço os joelhos. Imediatamente procuro com os olhos pelas
saídas do quarto.
— Nem adianta querer fugir, você não vai a lugar algum — diz a voz rígida do
loiro. Ele está com os braços cruzados diante do tronco e me encara com um misto de
raiva e tédio. Engulo em seco. O homem ao lado dele, que deve ser Jason, desfere
uma cotovelada rápida no outro, que resmunga de dor. Charles apenas revira os olhos.
— Isso é jeito de começar a falar? Não tá vendo que ela está em pânico? —
reclama Jason com seu namorado antes de virar os olhos simpáticos pra mim.
— Desculpa por isso. Eu posso imaginar que não está entendendo nada, mas
vamos te explicar tudo, ok? Só preciso que se acalme, não vamos machucá-la —
informa ele, mas não relaxo nem um pouquinho. Não sei que tipo de jogo esses caras
estão fazendo com essa história de acidentes, vampiros e dentes falsos, eu só quero ir
embora daqui.
Fito os três cuidadosamente enquanto reúno toda a minha calma e coragem,
mas decido me focar em Jason, que é o único com quem conversei antes dessa
loucura toda.
— O que vocês querem? Por que estão me prendendo aqui? — consigo então
perguntar e o homem pisca repetidamente, parecendo desconfortável.
— Não estamos te prendendo, é que… Charles te explicou o que aconteceu,
né?
— Ele disse uma baboseira sobre eu sofrer um acidente de carro e que, por
conta disso, havia me transformado em “vampira” — ironizo, bufando. A brincadeirinha
dele de alongar os dentes me deu medo? Sim, mas porque foi algo que eu não
esperava e meu corpo com certeza não estava funcionando direito, então desmaiar foi
uma reação instintiva, não uma confirmação de que eu tinha acreditado naquilo.
— Querida, ele te falou a verdade. Nós três aqui somos vampiros há mais de
um século e, para salvar sua vida, Charles te transformou em uma — diz Jason, da
forma mais suave que consegue. É a minha vez de revirar os olhos.
— Isso é algum tipo de pegadinha? Se estamos sendo filmados eu vou querer
dinheiro pelo meu direito de imagem, ok? — aviso e o homem franze a testa.
— O que? Não, não é uma pegadinha e não há câmera nenhuma. Eu sei que é
esquisito e totalmente fora do normal, mas todo mito tem algum fundo de verdade, né?
Evitamos ao máximo nos expor, mas somos bem reais.
Não consigo conter a risada diante disso.
— Claro, claro. Chama o Jacob em forma de lobo aqui pra mim, então, que aí
eu acredito — digo, ainda rindo. Os três me olham confusos. O loiro, que se eu não me
engano se chama Anthony, solta o ar com força antes de dizer.
— Vou te fazer acreditar em um instante — informa ele antes de eu ver seus
olhos escurecerem e presas surgirem em sua boca. Ele sorri diabolicamente diante da
minha cara de espanto e em seguida, morde o próprio braço.
Permaneço confusa por apenas mais um segundo, pois ao mesmo tempo que
Anthony levanta a cabeça e me mostra o sangue escorrendo de seus lábios, o cheiro
me atinge em cheio.
Perco o controle sobre meu corpo. Não tenho muita consciência da rapidez
com que me levanto e avanço sobre o loiro, tentando pegar seu braço, mas não chego
a alcançá-lo, pois sou segurada por dois pares de mãos. Grito e tento sair do aperto
deles, minha mente focada na necessidade daquele sangue. Me debato, xingo e tenho
quase certeza que arranho Charles e Jason, mas nada adianta.
Eles não entendem que eu preciso daquilo para viver? Minha boca está
salivando, meu coração bate tão desesperadamente que parece querer sair e meus
únicos pensamentos são em quanto aquilo parece delicioso. O quanto quero afundar
meus dentes em sua pele também.
Anthony sorri pra mim e lambe os lábios lentamente, impedindo que qualquer
gota do sangue dele caia. Em seguida, assisto quando ele lambe também seu pulso,
fechando os furos da própria mordida num instante. Protesto por mais alguns
segundos, mas é só quando o cheiro do sangue perde a força, é que eu começo a
recobrar minha consciência.
Passo a língua por meus dentes e encontro os caninos alongados.
Meu Deus.
Meu Deus.
Meu Deus.
Eu tenho presas.
Tenho sede de sangue.
Sou realmente uma vampira.
Tal qual a Bella em crepúsculo, agora sou um deles e não sei o que fazer.
Anthony

A garota levou horas para se acalmar. Depois daquela fase de descrença, ela
foi direto para a negação e depois às lágrimas. Depois de nos fazer repetir diversas
vezes tudo o que acontecera, agora ela está sentada em uma das poltronas da sala,
agarrada a um copo de chocolate quente que Charles fez pra ela. Ainda fungava de vez
em quando, mas finalmente havia parado de chorar, para o meu imenso alívio. Eu me
compadecia dela, um pouco, afinal também foi um susto pra mim acordar como uma
criatura diferente, mas ainda sim era irritante de se lidar.
— O que acontece comigo agora? O que significa ser… isso, no fim das
contas? — pergunta finalmente, olhando para Charlie logo a sua frente.
— Não muda tanta coisa assim. Nós vamos te ajudar nessa fase de adaptação,
explicar como sua nova vida funciona, ok? Só peço que fique aqui conosco até
aprender a controlar sua sede de sangue, isso leva pelo menos uns 6 meses.
Aperto o copo da bebida em minha mão e olho para Charles com
ressentimento. Havíamos discutido sobre isso enquanto a mulher dormia e, apesar de
não gostar nada disso, fui obrigado a concordar que a garota teria que ficar conosco
por um tempo. Não dá pra soltar uma vampira novata no mundo, por isso, ficaríamos
de babá até ela aprender a se controlar perto de humanos.
— Seis meses? Não, não, não! Eu preciso trabalhar, preciso pagar pelo lar
onde minha avó mora — diz Kaylee, voltando a hiperventilar de nervoso. Controlo a
vontade de bufar, então apenas largo meu copo e cruzo os braços, olhando-a com
seriedade.
— Não seja ridícula. Sabe a sede que você sentiu com o cheiro do meu
sangue? Quando você sentir o cheiro do primeiro humano que passar na sua frente,
será 5 vezes pior — alerto e a garota me olha com desespero. Ela enxuga rapidamente
uma nova lágrima que escorre pela bochecha. Engulo em seco, subitamente
incomodado com seu desalento.
— Não tenho opção. Preciso do dinheiro, vou ter que dar um jeito de controlar
essa merda, não vou abandonar minha avó, ela é tudo que me resta — afirma ela,
soando o mais firme que consegue. — Ela é a única razão pela qual posso ficar
agradecida por vocês não terem me deixado morrer dentro daquele carro. Mesmo que
isso tenha me transformado numa coisa sugadora de sangue, pensei que ao menos
poderia ficar com minha avó até o fim dos dias dela!
Meu peito se aperta por um instante quando lembro da família que fui obrigado
a abandonar. Eu era o mais novo de 9 irmãos. Meus pais eram arrendatários de terras
no interior da Inglaterra, mas acho que nem se eles fossem os donos não dariam conta
de sustentar todos nós, então cada um dos irmãos Jones teve que correr atrás do
próprio dinheiro desde muito cedo. Eu acabei em uma fábrica de tecidos nos arredores
de Londres.
Pisco e volto a me focar no presente quando vejo Jason se aproximar e sentar
no braço do sofá onde estou.
— É impossível, querida, mas se essa é sua única preocupação, nós podemos
pagar — sugere o meu namorado. — Onde ela está morando?
— No Rose Garden. Mas não, obrigada, mas não posso permitir que paguem,
eu…
— Por que não? — Charlie a corta, com um ar meio indignado. — Você é
nossa responsabilidade. E isso não seria problema nenhum, nós temos mais de 150
anos de poupança, sabe.
Isso a faz erguer as sobrancelhas pela centésima vez. É um pouco engraçado
o quanto os humanos se espantam com tudo. Ela ainda não sabe de um terço dos
mistérios que tem nessa terra.
— Cento e cinquenta anos? Essa é a idade de vocês? — pergunta ela, olhando
de um para o outro, chocada.
— Tenho cento e oitenta e três, se quiser saber com exatidão. Fui
transformado com 31 anos. Charlie aqui tem 182 e Jason é o mais novinho, com 179 —
conto e ela me olha intensamente, como se procurando pelas rugas que eu deveria ter.
— Então a parte dos vampiros não envelhecerem é verdade? Viver para
sempre, com a mesma aparência?
— Sim. Você ficará para sempre com esse ar de quem acabou de sair da
faculdade — confirmo e a garota deixa a cabeça cair para o lado enquanto pisca
repetidamente, processando a informação.
— Ok… Esquisito, mas acho que não posso reclamar — diz depois de alguns
segundos.
— Jovem e linda para sempre — reafirma Jason, sorrindo para Kaylee, que fica
envergonhada por um instante. Controlo a vontade de ranger os dentes, incomodado.
Se eles já a desejavam quando era uma humana Resistente, imagine agora. Concordo
que a mulher é linda e que parte de mim também se sente atraído por ela,
principalmente que o sangue vampiro realçou ainda mais suas feições, mas não quero
mais ninguém fixo no meio do nosso relacionamento. Funcionamos muito bem assim.
Pigarreio e volto para o tópico anterior.
— Enfim, custear as despesas da sua avó não será problema. É só me passar
as datas de vencimento e o valor depois, que deixo tudo organizado — confirmo com
tranquilidade. Kaylee me olha com cautela e ajeita o cabelo atrás da orelha.
— Tem certeza?
— Sim — respondo em uníssono com meus namorados. Isso parece
tranquilizá-la.
— Certo. Serão poucos meses, depois vou poder assumir as coisas de novo.
Agradeço muito.
Apenas balanço a cabeça em resposta. Ela toma o restante do chocolate
quente e depois se deixa encostar na poltrona, parecendo bem mais relaxada. É
engraçado ver o esforço dela para se movimentar lentamente enquanto coloca a xícara
na mesinha com cuidado.
— Enfim… O que mais preciso saber para viver nesse novo jeito? — pergunta
e Charlie se adianta para responder.
— Bom, começando pelo mais importante: você realmente precisa de sangue
para viver, mas também vai precisar de comida, como qualquer pessoa. O sangue
necessário não é muito, nos alimentamos uma vez por semana e já é suficiente.
Podemos beber uns dos outros também, o que é mais prático, mas às vezes enjoa.
Kaylee franze o nariz, numa óbvia cara de nojo e eu deixo escapar um
pequeno sorriso de canto.
— Sangue uma vez por semana. Ok. O que mais?
— Nas próximas semanas, além de aprender a controlar sua sede, você
também vai precisar controlar a velocidade com que se move e sua força. Os humanos
reparariam em pessoas quase voando de um canto da sala a outro, ou então
esmagando a maçaneta de uma porta — é a vez de Jason explicar. A garota apenas
acena em concordância.
— Ah, e você terá que se adaptar a uma vida noturna. O sol não nos queima
instantaneamente, mas incomoda muito e poucos minutos de exposição já causam
uma dor infernal — explica Charlie e os ombros de Kaylee caem de desânimo.
— Droga, estava na expectativa de ser algo mais Edward Cullen e que eu
fosse só brilhar — revela ela e eu realmente bufo agora. Maldito filme. — Vou sentir
falta do sol. —
Charlie e Jay riem levemente.
— Você se acostuma — afirma o moreno antes de esticar a mão e tocar o
braço dela, numa forma de consolo que finjo não ver. A garota aquiesce.
— Eu ia perguntar o que mais preciso saber, mas acho que esse é o limite do
que consigo digerir em um dia. Posso buscar minhas coisas no hotel? Acho que vou
me sentir melhor depois de um banho e então vestindo minhas próprias roupas — pede
ela e fico receoso.
— Você mora em um hotel? — pergunto e ela confirma.
— Num quarto nos fundos de um hotel, mas sim.
— Arriscado demais, você seria atingida por muitos cheiros. Teremos que
buscar pra você, me diga o endereço — afirmo e ela solta uma lamúria.
— Durmo no volante por um segundo e ganho como castigo vampiros indo
mexer na minha gaveta de calcinhas. O que eu fiz pra merecer, Deus? — resmunga ela
em português, enquanto esconde o rosto entre as mãos. Eu e meus parceiros não
resistimos a dar risada, o que a faz erguer a cabeça num rompante. — Ah, fala sério.
Eu não vou poder nem me lamentar em português que vocês vão entender?
— Sim — respondo no mesmo idioma e ela bufa.
— Quantas línguas vocês sabem?
— Muitas. Quase dois séculos perambulando pelo mundo tinham que servir
para algo — digo, dando de ombros. Isso a deixa ainda mais revoltada.
— Malditos vampiros de 180 anos — reclama, voltando para o inglês e nós
rimos ainda mais.
A garota pode ser um verdadeiro incômodo, mas pelo menos está se
mostrando… interessante.
Kaylee

Depois de um longo e gostoso banho de banheira do quarto de visitas, me


sinto com a cabeça um pouco mais no lugar, mas só um pouco. Depois de secar meu
corpo, finalmente paro na frente do espelho do quarto e absorvo as mudanças
causadas pelo vampirismo. Meus olhos não estão vermelho vivo, outra coisa que Bella
Swan mentiu pra mim, mas parecem um pouco maiores e a cor da íris assumiu um tom
de chocolate mais bonito. Não tenho mais as olheiras de cansaço e minha pele está
completamente livre das marcas de espinha que eu tinha. Segundo Charles, o sangue
vampiro aperfeiçoa as características que eu já tinha como humana. Meus lábios
parecem mais cheios e meu cabelo definitivamente está mais suave. Não vejo muitas
mudanças pelo meu corpo além da pele perfeita. Sigo magra, com seios e bunda de
tamanho médio, como sempre gostei. Aperto minha coxa por um instante e sorrio ao
ver que não tenho mais nenhuma celulite. Não que elas me incomodassem, afinal todo
mundo tem, mas é ainda melhor não ter.
Me aproximo do espelho e abro a boca, minhas presas se alongando. É
assustador e me deixa com uma expressão selvagem no rosto. Tento fazer os dentes
se retrairem, o que acontece instantaneamente e fico um pouco fascinada, passando
alguns minutos brincando de mostrar e esconder. Estou rindo da minha própria bobeira
quando alguém bate à porta.
Retraio as presas e aperto o laço do roupão antes de indicar que entre. É
Jason quem passa a cabeça pela soleira.
— Oi, só vim ver como você está. Anthony e Charlie logo chegarão com suas
coisas — diz ele com gentileza. Aquiesço e me sento na beirada da cama. Jason
entende isso como um convite e passa para dentro do cômodo. Mais cedo eu havia
explicado a eles como acessar meu quarto no hotel sem serem vistos. Minha chave
havia ficado no carro destruído, assim como meu celular, que era o que eu mais estava
sentindo falta, mas Anthony disse que entrar e sair não seria nenhum problema pra
eles.
— Obrigada. E estou bem, na medida do possível — respondo finalmente.
Jason se senta ao meu lado.
— Tem algo que eu possa fazer por você?
Olho para ele de canto, contendo um suspiro diante da beleza do homem que
meus olhos aprimorados agora veem com perfeição.
— Que horas são?
Jason confere seu relógio de pulso antes de responder.
— Seis e meia da tarde.
— Então ainda dá tempo de ligar pra minha avó, me empresta um telefone? —
peço e ele imediatamente tira seu celular do bolso e desbloqueia antes de me entregar.
— O que vai dizer pra ela?
Respiro fundo e encaro a parede, me sentindo desanimada outra vez.
— Pensei em dizer que consegui uma oportunidade de emprego como
tradutora de uma mulher rica que quer passear pela américa do sul. Eu falo espanhol,
além de português — explico e ele acena em entendimento. — E que como foi algo de
última hora, não pude me despedir dela, mas vou ligar toda semana.
— Parece uma ótima opção. Vai explicar todo o seu tempo sem visitá-la.
— É. E ela vive bem lá, tem diversos amigos e é bem cuidada, então não me
preocupo. Só vai mesmo doer ficar sem vê-la toda semana — digo e Jason esfrega
minhas costas delicadamente, me confortando. É estranho que eu me sinta tão
tranquila na presença de vampiros, mas até o momento não tive nenhum motivo para
me incomodar. Charles salvou minha vida, os três nem dormiram para cuidarem de
mim durante toda a transformação e desde então têm feito de tudo para facilitar minha
vida. Anthony é o mais sério dentre eles e embora eu sinta que ele não é meu maior fã,
não foi mal educado ou ruim comigo em nenhum momento.
— Mas você ainda vai poder fazer ligações de vídeo com ela, né? — pergunta
Jason e eu pisco, surpresa com a solução simples que eu não havia pensado. Já que
eles se comprometeram a pagar o Lar dela pelos próximos meses, eu poderia muito
bem gastar um pouquinho do dinheiro que vim guardando durante todo esse tempo e
comprar um aparelho moderno para ela.
— Seria uma boa opção. Posso comprar um celular pela internet e mandar
direto para o Lar. Eu teria que pedir para a ensinarem a mexer, mas não seria
impossível — conjecturo, me sentindo muito mais animada agora.
— Perfeito — comenta Jason, me dando um sorrisinho de canto. Sorrio de
volta e então finalmente digito o número da Rose Garden.
Convencer minha avó não foi nem um pouco fácil. A velhinha tinha um
verdadeiro instinto para descobrir minhas mentiras, mas depois que Jason se meteu na
ligação dizendo ser o segurança da mulher que eu acompanharia e que tudo era a mais
pura verdade, Dona Maria pareceu aceitar. Por incrível que pareça, o que ela mais
detestou de tudo isso é ter que “usar esses celulares ridículos, barulhentos e sem
botões”. Eu e Jason tivemos que cobrir a boca para não rir quando ela disse isso.
Depois de mais alguns sermões e orientações de que eu tomasse cuidado na
viagem, finalmente desligo e entrego o celular de volta para o dono. Suspiro e deixo
meu corpo cair de costas na cama macia. Encaro o teto enquanto sinto Jason se deitar
ao meu lado.
— Ela parece incrível — começa ele e eu balanço a cabeça em concordância.
— Ela é — confirmo e ficamos em silêncio por alguns instantes. Penso na
reviravolta que minha vida teve e em como eu não faço ideia do que o futuro
aparentemente infinito me reserva, mas sou salva de entrar numa espiral de ansiedade
quando ouço o som de passos no corredor. Sento bem a tempo de ver Charles e
Anthony passarem pela porta do meu quarto carregando duas bolsas grandes cada.
— Alguém pediu uma entrega de calcinhas? — pergunta Charlie em seu
português perfeito e me dirigindo um grande sorriso sem vergonha. Escondo o rosto
com as mãos enquanto eles riem.
Maldito vampiro de rosto perfeito e com a cara de sem vergonha.
Charles

— Eu ainda vou poder comer alho? — é uma das primeiras perguntas que
Kaylee nos lança assim que acordamos.
Depois de buscarmos as coisas dela, nós a deixamos sozinha e passamos
várias horas no escritório lidando com nossos negócios e também pesquisando outras
possibilidades de casas noturnas além da The View. Entretanto, acabamos indo dormir
bem cedo, pois estávamos exaustos. Vampiros também precisam do seu sono da
beleza, afinal.
O relógio da cozinha me indica que passa um pouco da uma hora da tarde e
Kaylee está sentada no sofá da sala de TV com as pernas dobradas. Na tela está
pausado um filme de vampiro antigo e em preto e branco que tenho quase certeza que
se trata de Nosferatu. Contenho uma risada e dou uma cotovelada leve em Anthony por
não fazer o mesmo. Jason apenas revira os olhos para nós dois e se senta ao lado da
mulher. Eu o imito, enquanto meu outro namorado apenas apoia o corpo no braço do
sofá.
— Até puro, se você quiser — respondo finalmente, e a expressão no rosto de
Kaylee é de alívio.
— Graças a Deus, não sei cozinhar sem alho e cebola, seria muito sem graça
— responde e eu sorrio.
— Gosta de cozinhar? — pergunto, verdadeiramente curioso para saber mais
coisas sobre a garota que passaria os próximos meses conosco.
— Adoro, minha vó me ensinou tudo, então sou muito boa, diga-se de
passagem — afirma, convencida e ergo uma sobrancelha, impressionado.
— Só vou poder confirmar se cozinhar para nós — sugiro e ela dá de ombros.
— Tá, mas talvez vocês tenham que fazer compras. Eu já vasculhei sua
dispensa e geladeira e não tem muita coisa. E o que tem, é industrializado. Uma
frutinha não mata ninguém, sabe? — acusa ela, séria. Jason é o primeiro a dar risada.
— Pior que você tem razão, mas mesmo juntando nós 3, não dá um cozinheiro
inteiro. Normalmente pedimos comida e algumas vezes por semana temos uma
cozinheira que deixa várias coisas preparadas, mas como você está aqui, nós a
dispensamos ela e a diarista por um tempo — explica ele e Kaylee não esconde sua
cara de julgamento.
— Mas pode deixar, faremos compras hoje mesmo e você poderá se divertir
cozinhando — afirmo e a garota me presenteia com um sorriso grande.
— Obrigada.
— Agora… o que está fazendo aqui assistindo um filme antigo com um dos
vampiros mais feios da história do cinema? — pergunto e isso a faz desviar os olhos de
volta para a TV, parecendo um pouco envergonhada.
— Bom, eu precisava saber mais sobre minha nova vida, né? Decidi começar
pelos clássicos — conta e ouço Anthony bufar, mas o ignoro.
— Esse não é o melhor jeito, querida. Por que não nos pergunta o que gostaria
de saber? — ofereço e isso capta sua atenção de volta para mim.
— Posso mesmo? Vale qualquer coisa? — pergunta, olhando de um para o
outro. Aceno em confirmação.
— Claro, manda — Jason reforça e acompanho sua boca formar um biquinho
fofo enquanto ela parece pensar.
— Tá, vou pontuando as coisas e vocês respondem se verdadeiro ou falso,
pode ser? — determina ela, continuando a falar quando nos vê concordar. — Dormir
em caixões?
— Falso — respondo, fazendo o meu melhor para não rir para que ela não se
sinta mal.
— Transformar em morcego?
— Falso — diz Anthony pela primeira vez nesta tarde. Ele particularmente
odeia essa invenção.
— Estaca de madeira?
— Vai doer pra caralho, mas não mata — digo, honesto e ela solta uma risada
curta.
— Bala de prata?
— Mesma coisa.
— Água benta?
— Falso — é a vez de Jason responder, encarando Kaylee calmamente.
— Para entrar na casa de alguém, precisa ser convidado?
Isso me faz franzir o cenho enquanto tento me lembrar de onde saiu essa
teoria maluca.
— Ela está falando da “barreira invisível” que tem naquela série Diários de um
vampiro — explica Anthony para mim antes de voltar os olhos para a garota. — E não,
não precisamos.
— Poderes especiais?
— Verdadeiro, mas depende. Se a pessoa for descendente de alguém que
possui magia, como bruxos ou sereianos, aí pode ser que quando se transforme em
vampiro, acabe adquirindo alguma nova habilidade, mas é bem raro — explico e Kaylee
arregala os olhos.
— Bruxas e sereias existem? — questiona ela, parecendo chocada.
— Sim. Há também licantropos, fantasmas e mais alguns seres diferentes,
porém não vou assustá-la com isso por enquanto.
Kaylee pisca repetidamente e me olha de boca aberta por alguns segundos,
mas logo balança a cabeça e volta a sua expressão normal.
— Ceeeerto. Vou abstrair isso, vamos continuar. Mulheres vampiras
engravidam? Aliás, humanas engravidam de vampiros? Vocês tem nadadores de 180
anos? — desata ela a perguntar e dessa vez não consigo me segurar e gargalho,
acompanhado dos outros dois. A garota cruza os braços e nos lança um olhar
enviesado.
— Não, não e não — respondo quando consigo parar de rir para respirar. Isso
faz os ombros dela relaxarem visivelmente.
— Ai, graças a Deus, eu tenho pesadelos com aquela bebê da Bella toda vez
que assisto crepúsculo — diz ela em tom de confissão e eu desato a rir de novo.

Depois de matar toda a curiosidade de Kaylee sobre vampiros, Anthony quis


logo começar o treino de controle dela, porque para ele “quanto antes isso acontecer,
mais rápido ficaremos livres dela”. Reviro os olhos diante da implicância dele. Eu tenho
achado-a uma companhia divertida e que tem nos tirado da monotonia.
Desço tranquilamente pela escadaria que leva ao andar de baixo. Escolhemos
essa casa justamente porque ela é grande, tem blackout completo em todas as janelas
e porque tem todo tipo de diversão: sala de jogos, sala de cinema, academia e uma
quadra de tênis coberta, que é pra onde nos dirigimos agora.
— Ok, e o que vamos fazer aqui? — pergunta Kaylee quando já estamos todos
do lado de dentro da quadra e Jason acende as luzes do lugar.
— Vamos te treinar para resistir ao sangue — é Anthony quem responde,
cruzando os braços.
— E como é isso?
— Parecido com o que fiz com você ontem. Um de nós vai se cortar, deixar o
cheiro de sangue te atingir e os outros dois vão te segurar até que consiga se controlar
sozinha — diz o loiro e vejo a mulher engolir em seco.
— Não vai ser muito divertido, tá? Nós vamos te segurar como for preciso, mas
não vamos te machucar — explico para tranquilizá-la. Ela me encara com certo temor,
mas assente em concordância. — Vai dar certo, a prática leva a perfeição.
Kaylee suspira e em seguida ajusta a postura, se preparando. Sorrio em ver
sua determinação.
— Certo, vamos lá — diz com a voz mais confiante.
Pena que qualquer racionalidade vai abandoná-la assim que o cheiro de uma
gota de sangue atingir o ar.
— Charlie, você vai primeiro — determina Anthony e olho para ele de cara feia.
— Por que eu? — reclamo
— Porque ela é sua cria, não é? Assuma a responsabilidade — responde
simplesmente e me lança seu melhor sorriso cínico. Estreito os olhos para ele e lhe
mostro a língua, mas obedeço. Ando até o outro lado da quadra, conforme havíamos
combinado e alongo minhas presas. Kaylee está parada há vários metros de mim, mas
consigo ver plenamente sua expressão de receio. Anthony e Jason se posicionam ao
redor dela. Respiro fundo e então mordo meu próprio pulso.
Jason

A reação dela é imediata. Assim que vê o sangue escorrer dos lábios de


Charlie, os olhos de Kaylee escurecem e ela se lança na direção dele sem qualquer
controle. Não tenho tempo nem de piscar antes de ter que segurá-la pela cintura
enquanto meu namorado prende seus braços. Kaylee grita, briga, esperneia e me vejo
fazendo um esforço verdadeiro para contê-la. Havia esquecido o quanto os recém
criados são fortes. Charlie deixa seu sangue escorrer por um minuto inteiro, para só
depois lamber a ferida e então limpar os lábios com o lenço que sempre carrega no
bolso. Kaylee ainda leva alguns minutos para sair do frenesi e quando o faz, Anthony a
solta devagar, parando na frente dela, mas eu permaneço segurando-a pela cintura,
sem usar força dessa vez.
A mulher treme e solta o peso do corpo contra mim.
— Isso foi horrível! Eu não conseguia ver mais nada além do pulso dele —
murmura e eu sinto muito por ela. A sede é realmente dolorosa no começo, é ter que
lutar contra todos os seus instintos, e com humanos é ainda pior, você nem precisa de
uma ferida aberta para querer saltar no pescoço da pessoa.
— Fica melhor com o tempo, prometo — asseguro a ela. Anthony me olha por
um instante e depois escaneia o rosto de Kaylee com seriedade.
— Vamos de novo — determina ele e eu respiro fundo. Pelo visto ele não vai
deixar a coitada ter muito descanso. Kaylee resmunga, mas se endireita e todo o corpo
volta a ficar tenso. Nem preciso olhar para saber que Charlie já está mordendo o braço
outra vez, porque Kaylee perde o controle. Seguro-a com determinação e apesar de
sentir pena da dor que ela vai sentir nesses treinos, ainda é uma forma muito melhor do
que o jeito como fomos treinados.

Depois de duas horas daquele exercício, Kaylee está apenas exausta e nem
perto de conseguir se controlar, mas não esperávamos avanço nenhum nos primeiros
dias. Na realidade, nem no primeiro mês.
Nós nos separamos dela para que pudéssemos tomar banho e, enquanto
Anthony saiu para fazer compras e abastecer a dispensa, eu decidi ir comprar um novo
telefone para Kaylee, outro para sua avó, e também um computador. Charlie veio
comigo a reboque.
Não levamos muito tempo para comprar tudo, já que o shopping estava bem
vazio em plena quarta-feira à noite e quando voltamos, encontro Kaylee na cozinha,
lavando a geladeira com sabão e tudo. Troco um olhar de curiosidade com Charlie
antes de decidir perguntar.
— Querida, o que está fazendo?
Ela vira a cabeça em nossa direção rapidamente, mas não para de esfregar as
laterais do eletrodoméstico.
— Estou limpando antes que o mal humorado chegue com as compras —
explica e eu controlo uma risada à menção de Anthony.
— Estava tão suja assim? — é a vez de Charlie questionar, apesar de nós
sabermos que não.
— Aparentemente não, mas os americanos têm esse costume nojentinho de só
passar pano nas coisas. Fui criada por brasileira e só confio em água, sabão e bucha
— afirma, voltando sua atenção para a tarefa e esfregando com força alguma mancha
invisível.
— Ok… Mas achei que estivesse cansada, podia ter deixado para depois, ou
nos pedido para fazer, se estava te incomodando — explico e a mulher bufa.
— Cansada eu estava era de ficar parada! Eu tinha dois empregos, sabe?
Estou acostumada a fazer algo o tempo todo. Eu até estava cansada depois daquele
treino infernal, mas parece que esse novo corpo se renova em poucos minutos e se eu
tivesse que encarar o teto do meu quarto por mais algum instante, enlouqueceria —
desabafa ela, se levantando num estalo para pegar uma jarra, encher de água da pia e
voltar para seu posto na geladeira.
Compreensão me invade e, apesar de ter vivido uma juventude extenuante
também, fico com certa pena por ela não se permitir relaxar. Como isso não vai mudar
do dia para a noite, decido ajudá-la.
— Água e sabão, hum? O que mais você quer lavar? Charlie e eu podemos te
ajudar — pergunto e meu namorado me olha surpreso.
— Podemos? — questiona, mas a cotovelada rápida que dou nele faz a função
que eu queria e ele logo acena em concordância. — Podemos! Diga, óh Kaylee,
senhora da faxina, o que quer que façamos?
Isso arranca uma risadinha dela, que se levanta e nos encara por alguns
segundos, parecendo considerar.
— Charlie pode ficar com o fogão e você — diz, apontando para mim — ,
pegue um balde e vassoura, vamos lavar esse chão de verdade. Mas os dois deveriam
trocar de roupa antes, jeans e faxina não combinam.
Dou risada, assim como meu namorado.
— Sim, senhorita. Voltamos em um instante — concordo e ganho um lindo
sorriso de contentamento dela. Se esse for meu prêmio todas as vezes, posso começar
a amar fazer limpeza. — Mas vamos aproveitar para que você treine o controle da
força, ok? Porque se você apertar essa jarra mais um pouquinho, o vidro vai se
estraçalhar na sua mão
Meu aviso a faz afrouxar o aperto, mas ela me olha meio emburrada agora.
— Maldita força vampira — reclama e eu e Charlie rimos discretamente. Se ela
soubesse o quanto essa força é útil em outros momentos…
Anthony nos encontra na cozinha meia hora depois. Charlie está com metade
da roupa molhada pois escorregou no chão que eu estava lavando e caiu de bunda, o
que nos rendeu muita risada, mas agora ele segue limpando tranquilamente os balcões
conforme Kaylee pediu, enquanto eu termino de limpar o exaustor. A morena, por sua
vez, está em cima da ilha da cozinha, usando de toda a delicadeza que consegue para
passar pano no lustre da cozinha sem quebrá-lo.
— Que porra está acontecendo aqui? — pergunta o loiro, espantado, enquanto
larga no chão as diversas sacolas de mercado que carregava nos braços. Olho para ele
de cara feia quando vejo que seu sapato está deixando marcas no chão que acabei de
secar.
— Kay está tendo um pico de energia, resolvemos ser solidários — explico e
meu namorado me encara de volta como se eu tivesse enlouquecido. Dou de ombros.
— Aproveite e já guarde as compras nos lugares certos.
Anthony bufa, mas ignoro completamente. Não é como se não fizéssemos
nada, afinal não gostamos muito de ter estranhos dentro de casa o tempo todo, então a
diarista vem apenas duas vezes por semana. Na maior parte do tempo bastava não
sermos completamente desleixados que a casa já se mantinha em ordem, porém
também nunca fomos do tipo “mestres da limpeza”, então entendo a confusão de
Anthony.
— Ah não ser que queira que mostremos a ela outras formas de gastar
energia… — insinuo, erguendo uma sobrancelha na direção dele, que trava o maxilar e
me olha com raiva redobrada. Nem preciso ler mentes para saber o quanto Anthony
está me xingando dentro daquela cabecinha raivosa. Mando um beijinho em sua
direção e volto a atenção à minha tarefa. Ouço quando o vampiro começa a se
movimentar pela cozinha, guardando as coisas nos armários e tenho que controlar o
riso.
Anthony

O som me atinge segundos antes do cheiro.


Não.
Não.
Não!
Isso não pode estar acontecendo! Eu não posso ter acabado de ouvir o gemido
baixinho de Kaylee e o cheiro suave no ar não pode ser da excitação dela.
Meu corpo todo fica rígido enquanto assisto meus namorados também
registrarem o acontecimento e arregalarem os olhos.
Já haviam se passado alguns dias desde que fui obrigado a acolher a recém
criada em nossa casa e apesar de eu resmungar menos a respeito disso agora, ainda
sim não estava 100% convencido de que essa garota não se transformaria em um
grande problema para nós três. A presença dela me enervava, principalmente porque
ela não sabia simplesmente relaxar e ficava o tempo todo procurando coisas para
fazer. Essa noite ela quis aprender a jogar poker e depois de conquistar mais da
metade das minhas fichas – por uma sorte de principiante, claro – Kaylee foi se deitar e
nós continuamos a jogar. Eu estava contente pois havia voltado a ganhar, mas minha
felicidade acabou assim que ouvi o gemido.
Jason, Charles e eu ficamos paralisados por vários segundos. Enquanto
engulo em seco e torço para que tenha sido um caso isolado, outro gemido vem do
andar de cima e parece ecoar diretamente para o meu pau.
— Mas que porra? — reclamo, olhando para o teto com verdadeiro ódio, como
se ele fosse o culpado por meu desconforto. O pior de tudo é que, desde que a garota
chegou, eu e meus namorados haviamos diminuido nossa atividade sexual, porque era
estranho saber que ela ouviria tudo. Há mais de uma semana que eu sobrevivia de
boquetes e rapidinhas no carro, o que só continha metade da minha libido.
— Ela está… se tocando? — questiona Charlie, com a respiração pesada.
— Ou isso, ou está tendo um sonho muito, muito interessante — diz Jason,
com um sorrisinho malicioso. Como ele pode estar tão tranquilo enquanto meu pau
começa a doer por ter que ficar contido dentro da calça?
Dirijo meu olhar de raiva para ele, que apenas dá de ombros.
— Que foi? Até que demorou para acontecer, ela é uma mulher com sangue
vampiro correndo nas veias — justifica ele. O fato dele estar certo não me deixa menos
irritado, principalmente quando mais uma onda do cheiro da excitação dela chega até
nós. Aperto os braços da cadeira com tanta força que o quebro sob meus dedos e me
levanto, passando a andar de um lado para o outro.
— Pois ela que aprenda a se conter, assim como nós! — esbravejo e Charlie
solta uma risada.
— Não temos nos contido tanto assim, só arranjamos lugares alternativos.
Você quer o que, pedir que ela nos avise quando vai se masturbar para que saiamos
de casa? E como vamos proibir sonhos eróticos? — debocha o moreno, também se
levantando e vindo parar na minha frente. Ranjo os dentes e não respondo. Charlie
passa uma mão por minha nuca, me puxando para mais perto.
— Não há nada que possamos fazer além de aliviar nossa tensão também,
amor — determina, me lançando seu sorriso sedutor.
Levo menos de um segundo para definir que ele está certo. E daí que foram os
gemidos de uma outra pessoa que nos deixou assim, tremendo de tesão reprimido? E
daí que foram os gemidos dela? Éramos plenamente capazes de nos satisfazer. E
maravilhosamente bem. Deixo minhas presas se alongarem e a luxúria tomar conta de
todo o meu corpo enquanto me lanço para os lábios do meu namorado. O beijo é uma
batalha de desejos. Intenso, duro e quente como o inferno.
Perfeito.
Gemo quando sua língua desliza pela minha e grudo nossos corpos, sentindo
imediatamente sua ereção dura contra a minha. Mordo o lábio inferior de Charlie e me
delicio quando o sabor do seu sangue se espalha e ele grunhe de volta, me beijando
com ainda mais força. Sinto quando Jason se aproxima de nós pela esquerda e paro o
beijo apenas para olhar para ele rapidamente. Jason sorri diabolicamente antes de
roubar um beijo rápido de mim e em seguida se posicionar atrás de Charlie e enfiar
suas presas no pescoço dele. Charlie geme alto, deixando a cabeça pender para o lado
e eu me delicio com a cena.
Aproveito para me ocupar em tirar a roupa de Charlie e rasgo sua camiseta
com um puxão rápido, fazendo o mesmo com a minha logo em seguida. Apesar da
minha pressa em nos livrar da roupa, passo os minutos seguintes torturando meu
namorado com beijos e chupões lentos para só então me abaixar e abrir sua calça.
Sinto vontade de rasgar a peça toda também, mas estou gostando mais de provocá-lo
agora, então faço a tarefa bem lentamente. Quando tiro sua calça, mas o deixo ainda
com a cueca, Charlie finalmente atinge seu limite.
— Porra, Anthony! Eu quero sua boca e quero agora — reclama, exasperado.
Jason se soltou dele há alguns instantes para também se despir e agora volta a colar o
corpo nas costas do mais novo, arrancado dele mais um gemido. Sorrio e finalmente
faço o que ele quer, tirando seu pau da cueca e colocando-o na minha boca o máximo
que consigo. Charlie grunhe e segura meu cabelo com força.
Me dedico à tarefa, tirando seu pau da minha boca apenas para lamber da
base até a ponta. Passo a língua na glande do jeito que sei que meu namorado gosta e
sou presenteado com seu gemido longo. Estava pronto para deixar que ele fodesse
minha boca até gozar, mas Jason tem outros planos e afasta Charlie de mim. Olho para
cima em questionamento.
— Preciso dele no meu pau, aí você poderá voltar a se divertir — explica e eu
sorrio, me levantando em seguida. Aproveito para tirar o restante da minha roupa e
deslizo a mão pelo meu pau enquanto assisto Jason se sentar no sofá e Charlie sentar
na ereção poderosa com cuidado. Me aproximo e beijo Charlie com ânsia. Ele geme na
minha boca e assume a punheta no meu pau. Nosso beijo é interrompido quando
Charlie começa a se mover no colo de Jason e me afasto um pouco para apreciar a
visão: Charlie completamente nu, gotas de sangue escorrendo pelo pescoço e peito
onde havia sido mordido minutos antes, sua expressão mista de dor e prazer. Jason
também é incrível de se olhar: a cabeça jogada para trás, os olhos fechados e as mãos
grandes segurando a cintura do outro com força enquanto comanda o ritmo. Me ajoelho
no sofá ao lado deles e mordo o ombro de Jason, gemendo junto com ele quando o
sabor atinge minha língua. Entre nós, a mordida tem um efeito menor que o dos
humanos, mas ainda sim é extremamente gostoso. Quando me dou por satisfeito, solto
sua pele, mas não me afasto, apenas passo uma mão por seu pescoço e aperto da
forma que sei que é prazerosa. Sorrio quando Jason arfa.
— Como ele está se saindo, Jay? — pergunto com a voz rouca. Meu namorado
abre os olhos para me encarar.
— Mais apertado do que nunca. Gostoso pra caralho — diz e nem preciso
olhar para saber que Charlie está sorrindo.
— Alguns dias sem ser fodido e ele já desacostumou com seu tamanho? —
continuo e Jason ri levemente.
— Deve ser isso.
— Não podemos deixar isso acontecer, né?
— Não.
— Então por que você não para de brincar e o fode de verdade? — provoco e
seus olhos transbordam ainda mais luxúria. Jason dá um tapa estalado na bunda de
Charlie e manda que ele se levante, o que ele faz sem pestanejar. Jay o posiciona
como quer, colocando o outro de quatro no sofá antes de voltar a se afundar na sua
bunda com força renovada. Sorrio diante da cena e emito ainda mais sons de prazer
quando Charlie agarra meu pau e o coloca na boca.
O som dos gemidos – que incluem os de Kaylee no andar de cima, que
parecem nos acompanhar perfeitamente – e dos corpos colidindo junto da sensação
quente e maravilhosa da boca de Charles me levam ao limite, mas só me entrego ao
orgasmo quando Jay e Charlie também o fazem.
Apesar da sensação de prazer extremo que percorre todo o meu sangue, meu
pau não faz menção de se abaixar. Me largo no sofá e olho para meus homens ainda
recuperando o fôlego.
— Vamos precisar de uma segunda rodada — aviso e não ganho nenhum
protesto.
Charles

Anthony acha que está sendo super discreto ao tentar evitar Kaylee desde que
nós transamos ao som dos gemidos dela, mas na realidade está fazendo um péssimo
trabalho. Quando ela lhe perguntava algo, ele respondia da forma mais curta e seca
possível. E o único momento em que ele conseguia passar mais de 2 minutos no
mesmo ambiente que ela era nos treinamentos. Eu achava isso particularmente
engraçado, porque antes de fugir, ele sempre acabava encarando-a por alguns
segundos e seus olhos indicavam sua vontade de saber qual era o gosto dela. Fosse
do beijo, do sangue ou da sua excitação, eu tinha certeza que ele queria todos. Não
que eu também não quisesse, mas eu conseguia me comportar direito.
Eu adoraria poder flertar com Kaylee, mas a garota estava presa a nós pelos
próximos meses e eu não queria iniciar algo que poderia deixar todos nós
desconfortáveis depois. Porém, o comportamento de Anthony já estava deixando a
pobre mulher desconfortável e eu estava pronto para recriminá-lo por isso quando ela
se adiantou.
Faziam exatos 2 minutos desde que Kaylee se juntara a nós no deque elevado
atrás da casa quando meu namorado se levantou.
— Bom, eu vou tomar um banho em… — começa ele, mas é interrompido pelo
grunhido da Kay.
— Ah, pelo amor de Deus! O que é que eu te fiz para você fugir de mim feito o
diabo da cruz? — questiona ela, indignada. Contenho um sorriso diante da cara de
susto de Anthony.
— Não sei do que está falando, eu só estava indo… — tenta ele, mas Kaylee já
se levantou e está parada na frente dele com as mãos na cintura.
— Me poupe, você não consegue ficar 5 minutos no mesmo ambiente que eu.
Por acaso eu carrego algum cheiro repulsivo? Atropelei seu cachorro numa vida
passada? Risquei seu carro favorito? Comi a última bolacha do pacote que você
queria? É só falar que a gente resolve e você não precisa ficar me olhando com cara de
bunda o tempo todo! — acusa ela, num fôlego só. Assisto Anthony cerrar os punhos até
deixar os nós dos dedos esbranquiçados.
— Você apareceu! É isso que me incomoda. Tem algum jeito mágico de
consertar isso? Porque estávamos muito bem antes de você dormir no volante e
precisar ser salva, e agora sou obrigada a dividir o teto com uma completa estranha! —
exclama Anthony e sou obrigado a engolir em seco.
— Eu não pedi para ser resgatada! E você acha que está sendo divertido pra
mim? Eu morri e virei um ser chupador de sangue que não pode nem visitar a própria
avó, vim parar na mansão de 3 vampiros desconhecidos de mais de 100 anos, sou
torturada todos os dias com aquela droga de treinamentos e ainda por cima ainda não
me adaptei a esse corpo maldito. Parece que sinto tudo ampliado, inclusive a vontade
que estou agora de arrancar sua cabeça! — desabafa ela de uma vez só e pressiona o
indicador no peito de Anthony. — Mas você não me vê de cara feia por aí, nem
reclamando, né? Eu estou me adaptando. Cresça e se adapte também, porque não vou
pôr em risco a vida de pessoas lá fora só por conta do seu humor do cão.
A pele marrom clara do rosto de Kaylee assume um tom avermelhado,
tamanha a raiva e ela empurra o peito dele com a mão inteira dessa vez. Troco um
olhar com Jason e nós dois nos levantamos para separá-los quando Anthony chia e
parece a ponto de explodir.
— Sou obrigado a te tolerar, não a ser simpático com você. Aliás, com mulher
nenhuma, porque vocês só trazem problemas! — devolve ele e se aproxima
perigosamente de Kaylee, mas é contido por Jason que o empurra firmemente para
trás.
— Chega, Anthony. Não é dela que você está com raiva e você sabe. Vamos
sair para você esfriar a cabeça — determina Jay e eu aceno em concordância. Mesmo
com raiva nos olhos ainda, o loiro se deixa ser levado para longe. Solto um longo
suspiro de frustração. Até que demorou para Anthony deixar que o passado o fizesse
perder as estribeiras outra vez.
— Sigo sem entender porque ele me detesta tanto — diz Kay depois de alguns
minutos de silêncio. Encontro seus olhos marejados e me sinto ainda mais culpado por
colocá-la nessa situação.
— Não é você que ele odeia, Kay. Vem, vamos entrar e pegar uma bebida
enquanto te explico — peço, esticando a mão para a mulher. Ela respira fundo, mas
acena e me segue em silêncio.
Acabamos na cozinha, comigo tomando um longo gole de uísque e ela de
vinho antes de eu tentar resumir nossa história.
— Nós fomos transformados no fim do século 19. Éramos amigos porque
trabalhávamos juntos em uma fábrica e morávamos na mesma pensão. Depois de uma
semana infernal de trabalho, decidimos gastar nosso suado dinheiro com um pouco de
diversão, então fomos a um bordel. Bebemos, transamos com diferentes garotas e
estávamos para ir embora quando uma mulher usando uma máscara se aproximou de
Anthony no salão do bordel e lhe fez uma proposta. Ela era obviamente diferente das
pessoas ao nosso redor, vestia roupas mais caras e tinha a pele sedosa e sem
manchas de quem nunca precisava pegar sol. Ficamos curiosos, principalmente
quando Anthony nos disse que ela nos queria em sua cama, e que pagaria bem por
isso, mas só se fossem os três juntos. — Kaylee acompanhava a história com o cenho
franzido, mas sem me interromper em nenhum momento. Bebi mais um pouco do
líquido âmbar em meu copo e continuei. — Não era algo usual para a época, mas 3
jovens pobres recebendo uma oferta para ganhar dinheiro transando? Aceitamos de
imediato. Fomos para o quarto com ela e depois disso… bom, as memórias são um
pouco confusas.
— Como assim?
— Melisandre, a mulher em questão, era uma bruxa de linhagem fraca,
entretanto quando foi transformada em vampira, adquiriu mais poder e habilidade.
Lembra da nossa conversa sobre vampiros que podem encantar memórias humanas?
— pergunto, me referindo a uma noite de treinamento não muito distante em que
explicamos essa habilidade que em breve ela aprenderia a usar.
— Sim. Para apagar as memórias e evitar nossa exposição — confirma ela
rapidamente.
— Isso, mas o que deveria funcionar só com humanos, graças a magia no
sangue de Melisandre, se transformou em uma habilidade de encantar qualquer ser,
inclusive outros vampiros — conto e isso faz Kaylee arregalar os olhos.
— Ela encantou vocês?
— Sim, mas foi muito além disso. Melisandre era gananciosa, egocêntrica e
havia visto em nós algo que ela queria e não mediu esforços para ter. Ela nos
convenceu a ir para a casa dela, nos transformou e basicamente nos fez de seus
fantoches. Fomos seus amantes, seus capangas, e tudo mais que ela quis que
fossemos — admito, com a dor oca voltando ao meu peito por reviver isso.
— Ai meu Deus! Isso é horrível! Absurdo! Me diz que essa mulher está morta
ou pelo menos presa!
Solto uma risada fraca com a indignação de Kay.
— Sim, está morta. Mas já chego nessa parte — digo e ela acena em
concordância. — Enfim, ela conseguia nos manipular, apagar as memórias quando
bem entendia e nos manter ao seu bel prazer. Ela nos fez acreditar que estávamos
apaixonados por ela.
— E quanto tempo isso durou?
Solto um longo suspiro diante da pergunta.
— Treze anos — confesso e o queixo de Kay vai no chão.
— Cacete — exclama ela, em choque.
— Pois é.
— E como vocês conseguiram se libertar dela?
— Ao longo dos anos ela foi abaixando a guarda e mexendo menos com
nossas memórias, acreditando que já éramos naturalmente fiéis a ela, mas na
realidade isso nos permitiu ir retomando o controle. O estopim foi quando Melisandre
trouxe uma mulher para casa, para que nos alimentássemos dela e… — tomo outro
gole de uísque antes de prosseguir — Anthony a reconheceu como uma de suas irmãs,
Penélope. Ele contou isso à vampira assim que bateu os olhos em Penélope, só que
Melisandre achou a coincidência ainda mais divertida. Ela tentou encantá-lo para que
matasse a irmã, mas pela primeira vez, não funcionou. Não sei se pela ligação entre
irmãos, se por Anthony estar tomado pela raiva ou por que os poderes dela foram
perdendo efeito conosco, mas ele se virou contra Melisandre e atacou. Ela não
esperava por isso, claro, então nem teve tempo de reagir. Em segundos, Tony já havia
arrancado a cabeça dela.
— Bem feito. Foi até pouco — diz Kay, cruzando os braços com raiva
verdadeira. Sorri levemente.
— É, e foi sorte Penélope estar desacordada para não ter que presenciar nada
disso. Nós a levamos para uma igreja, onde sabíamos que ela ficaria segura até
acordar e poder ir para casa. Arrumamos nossas coisas, pegamos todo o dinheiro e
joias de Melisandre e ateamos fogo a casa. Partimos de trem na mesma noite e nunca
mais voltamos a Londres — termino minha história, preferindo evitar contar para ela
que boa parte de nossas memórias voltaram com o passar dos anos e tínhamos uma
boa noção das coisas ruins que fizemos. Disfarço um arrepio involuntário.
Kaylee não diz nada por alguns instantes, apenas me olha com pesar. A garota
então dá a volta na ilha da cozinha até parar na minha frente e me envolver em um
abraço.
— Eu sinto muito que vocês tenham tido que passar por isso — diz ela
baixinho e eu retribuo o abraço, apertando-a mais forte.
— Obrigada. Mas está tudo bem agora, é só que sua presença despertou em
Anthony essas memórias e ele se culpa por muita coisa, então…
— Eu entendo. Faz um pouco mais de sentido agora, obrigada por me contar.
Deixa ele esfriar a cabeça e amanhã tento conversar de novo — decide ela enquanto
se separa de mim, depositando um beijo rápido em minha bochecha. Sinto falta do seu
calor imediatamente e o lugar do beijo parece formigar, mas tento ignorar essa linha de
pensamento e balanço a cabeça. A vida já está complicada o suficiente.
Kaylee

Quando eu era pequena, minha mãe dizia que minha curiosidade ainda me
faria chegar à lua. Eu gostava de perguntar sobre tudo, desmontar coisas para ver o
que tinha dentro e colocar meus olhos sobre tudo que era diferente e interessante. Não
cheguei nem perto da lua, mas de fato nunca deixei de ser curiosa e havia dias que eu
queria explorar a única parte da casa que eu ainda não tinha visto: o estúdio de arte de
Anthony. Quando ele não estava fora ou enfurnado em seu escritório, sempre estava
por aqui. Eu achava interessante que cada um deles tinha um hobby diferente: Jason
toca tantos instrumentos que alguns eu nem conhecia; Charles é viciado em livros e em
aprender coisas diferentes, já tendo feito diversas faculdades ao longo da vida, e eu
sabia que Anthony gostava de pintar, mas até esse momento eu não tinha visto
nenhuma obra dele, então aproveitei que os três haviam saído para resolver coisas de
negócios e vim até aqui espiar.
Subo as escadas que levam ao sótão, abro a porta e assim que acendo a luz,
sou surpreendida com um quarto abarrotado de pinturas. Além de dezenas de quadros
enfileirados nas paredes, há três cavaletes com obras que imagino serem as mais
recentes. Uma mostra uma casa grande em tons de cinza escuro e branco e, apesar de
ainda não ter ido lá fora, imagino que seja esta casa aqui. A segunda pintura são de
rosas vermelhas intensas, de diferentes tamanhos e posições, mas ocupando toda a
tela. A cor das pétalas me lembram sangue e engulo em seco. Faz uns dois dias que
tenho me sentido meio estranha, como se estivesse sempre vazia por dentro. Deve ser
a sede vampírica, com certeza, mas ainda não me sinto pronta para grudar no pescoço
de alguém, então vou aguentar mais um tempinho.
Desvio minha atenção para o terceiro cavalete, que ostenta uma pintura em
andamento e por enquanto parece se tratar de uma mulher de costas, olhando a
paisagem. Não sou nenhuma especialista em arte, mas tenho certeza do quanto o
trabalho de Anthony é bem feito. Eu adoraria ter um desses quadros enfeitando meu
quarto.
Passo os próximos minutos tão entretida olhando cada um dos quadros que só
percebo a presença de alguém quando já é tarde demais.
— Gostando do que vê? — A voz grossa do vampiro loiro me atinge e eu dou
um pulo tão grande para trás que acerto um dos cavaletes e o derrubo, fazendo um
grande estrondo. Me encolho toda, ainda mais envergonhada do que antes e me
apresso a levantar a peça e o quadro.
— Desculpa, eu… Eu não pretendia derrubar nada, mas você me assustou.
Desculpa mesmo, mas acho que não borrou nada, já devia estar seco. E eu não quis
invadir seu espaço, só estava curiosa, mas já estou de saída — me justifico,
gaguejando um pouco sob o escrutínio de Anthony. Ele cruza os braços e se encosta
no batente da porta, impedindo minha passagem.
— Fique. Quero conversar com você. E não tem problema vir aqui, não
escondo nenhum segredo, é só algo que faço para relaxar — diz ele e eu pisco
repetidamente, um pouco espantada ao ouvi-lo soltar frases inteiras para mim,
principalmente depois de ontem.
— Ok… — digo, também cruzando os braços. Anthony solta um longo suspiro
antes de começar a falar.
— Eu te devo desculpas, principalmente por ontem, mas também por todos os
outros dias. Charlie me contou que te explicou sobre Melisandre, então… Bom, não vou
dizer que é fácil para mim, minha única constante sempre foram aqueles dois e eu não
me sinto à vontade trazendo mais uma pessoa para nossa vida. Só que você realmente
não tem culpa nisso e não posso ficar descontando minhas frustrações em seus
ombros. Tive tempo de esfriar a cabeça ontem, conversar bastante com meus
namorados, e te prometo que vou tentar melhorar, me adaptar.
Encaro seus olhos por alguns instantes e, apesar de não conseguir identificar
todas as emoções emanando dali, sei que está sendo sincero. Esboço um meio sorriso.
— Obrigada. Eu acho mesmo que podemos nos dar bem se tentarmos. E
serão só por mais alguns meses, logo você se verá livre de mim — lembro-o ao
descruzar os braços e caminhar em direção a saída, afinal não há motivo para
prolongarmos esse momento um tanto quanto constrangedor.
Meus pés, entretanto, não parecem receber o memorando de que eu queria
sair dali sem mais nenhum embaraço e é por isso que me vejo tropeçando em um
pincel no chão. Não chego nem perto de cair, porque dois braços largos me seguram
em questão de segundos. Ofego, tanto pelo toque quanto pela proximidade repentina e
sinto minhas bochechas esquentarem de vergonha. Levanto os olhos, pronta para
agradecer e então fugir, mas meu olhar recai sobre a curva do pescoço de Anthony.
Fico vidrada na pele branca que imagino ser muito macia, na veia pulsando logo ali e
na marca de mordida na curva do ombro que só pode ter sido adquirida muito
recentemente, ou já teria desaparecido. Sinto minha garganta ficar ainda mais seca.
Não é a mesma necessidade furiosa de quando eu sinto o cheiro do sangue, mas é
bem parecida.
— Você está com sede — diz Anthony, interrompendo meu fascínio por seu
pescoço. — Eu deveria ter imaginado. Vem comigo — determina enquanto me solta e
dá a volta, descendo as escadas. Eu o sigo até pararmos dentro do escritório deles,
onde Jason e Charlie estão compenetrados em seus notebooks.
— Kaylee está com sede — anuncia Anthony assim que entramos, o que faz
os outros dois levantarem a cabeça de imediato.
Jason sorri suavemente, compreensivo.
— Parece que alguém vai finalmente passar por sua iniciação vampira, hein?
— diz e eu estremeço. — O sangue humano é mais gostoso, mas você sentiria vontade
de drenar uma pessoa inteira, então vai ter que se contentar conosco. Quem você quer
morder, querida?
Arregalo os olhos.
— Tem que ser com um de vocês? Não dá tipo, para roubarmos um banco de
sangue? — pergunto, esperançosa, mas isso só faz os três darem risada.
— Seria como beber leite estragado, não recomendo nem um pouco. Venha
aqui, serei seu voluntário — pede Jason, afastando sua cadeira da mesa e olhando
para mim com uma mão estendida. Caminho até ele lentamente. — Não se preocupe,
apesar da ânsia insana que você terá assim que morder, isso passa rapidamente
porque nosso corpo entende que estamos matando essa necessidade.
— Tem certeza que não vou te machucar? — pergunto, ainda incerta.
— Não vai. E aqueles dois ficarão aqui por perto, em todo caso — afirma,
enquanto se levanta da cadeira e depois afasta o notebook e vários papéis para o
canto oposto da mesa. — Sente-se na mesa, vai te deixar numa altura melhor e fica
mais fácil.
Sem saída, faço o que ele manda e Jason se posiciona entre minhas pernas.
Ele abre os primeiros botões da camisa e deixa o pescoço mais à mostra. Passo a
língua sobre os lábios, sedenta diante da visão.
Encaro o vampiro nos olhos por alguns segundos e ele está tão relaxado que
decido esquecer meus receios bobos. Se essa é minha vida nova, preciso me adaptar
a ela. Paro de tentar racionalizar e estendo minhas presas.
Jason

Kaylee me puxa pelo pescoço e crava as presas com força. Solto um chiado,
não pela dor, mas pelo que a mordida faz com meu corpo, liberando ondas de prazer
para todos os lados. Dou tudo de mim para controlar minha ereção enquanto Kaylee
emite sons de contentamento e toma longos goles do meu sangue. Não ajuda que
meus namorados estejam nos encarando com verdadeira fome no olhar.
Em um estalo, Anthony se apressa a caminhar até sua mesa e se sentar,
escondendo a potente ereção e eu quase não consigo controlar a risada diante da
cena. O posicionamento estratégico do notebook no colo de Charlie também não me
engana.
Não leva muito tempo para que a garota se sinta satisfeita e me solte,
lambendo a ferida em seguida. A sensação de sua língua em mim faz minha pele
estremecer levemente e eu suspiro. Kaylee se afasta um pouco e me encara. As
pupilas dilatadas, o rosto corado e os lábios ainda cobertos de sangue me fazem
querer beijá-la com força.
Ela tinha que ser linda pra caralho desse jeito? Tenha dó!
Afasto meu corpo antes que eu ceda ao desejo e lhe ofereço um pequeno
sorriso.
— Sente-se melhor agora? — pergunto enquanto ela lambe os lábios. Puxo um
lenço que sempre levo no bolso e entrego a ela, que o usa para limpar o queixo.
— Bastante. É diferente, mas gostoso. E os humanos são ainda melhores? —
questiona ela. Sorrio ainda mais e limpo com o dedo uma gotinha que escapou por seu
pescoço. Seu tremor sob meu toque não passa despercebido.
— Muito melhores, em breve você verá — conto, ainda preso pelo olhar dela.
O pigarreio de Anthony é a única coisa que me faz sair do transe. Saio do meio das
pernas de Kaylee e me sento na cadeira de escritório.
— Obrigada por… isso — diz ela com certa timidez enquanto desce do tampo
da mesa. Aceno com a cabeça em sinal de que não foi nada demais. — Eu vou… para
o meu quarto assistir um pouco de TV. Vejo vocês no jantar.
A morena praticamente corre porta a fora e eu dou risada. Meu sangue fresco
em seu organismo também deve ter provocado muitas reações, principalmente
excitação.
Olho para meus namorados, considerando se posso debruça-los sobre a minha
mesa agora mesmo, mas Charlie se adianta.
— A casa da piscina vai emitir um pouco menos de som. Vamos. Agora —
determina ao se levantar e caminhar para fora. Troco um olhar malicioso com Anthony
e não levamos mais nem um segundo para seguir Charles.

Kaylee

O jornal de amanhã vai noticiar: “Garota que deveria ter morrido em acidente
de carro, falece de combustão espontânea alguns dias depois. A polícia investiga os
motivos, mas segue a pista do envolvimento de três empresários gostosos que
elevaram a temperatura da pobre mulher”.
Que inferno, viu. Não que eu não estivesse com a libido alta desde que fui
transformada, mas parece que depois de beber o sangue de Jason, a coisa triplicou. A
experiência de mordê-lo foi erótica por si só e já faziam algumas horas que eu estava
queimando por dentro. Já havia tomado banho e o chuveirinho havia me aliviado um
pouquinho, mas nem perto de me satisfazer.
Faz meia hora que estou andando de um lado para o outro dentro do meu
quarto já que não consigo dormir, pois além da frustração sexual, ainda não me
acostumei plenamente a essa coisa de trocar o dia pela noite. Meu celular indica que já
são 13h e eu queria era estar lá fora no sol e não aqui dentro desse quarto com um
blackout potente.
Bufo mais uma vez, parecendo uma criança fazendo birra. Eu nunca tive uma
vida sexual super ativa, já que quase não tinha tempo, mas ela também não era nula.
Depois que terminei meu namoro, tive vários casinhos de uma noite, só para matar a
vontade mesmo.
— Agora como faço para ter orgasmos se eu não posso ver pessoas? —
pergunto em voz alta, só para expressar minha frustração. Mas então como uma
iluminação, a resposta me vem à cabeça. — Um vibrador!
Sorrio diante da ideia perfeita e me apresso a pegar o notebook que os
meninos me deram. Fazia muito tempo que eu queria alguns brinquedinhos, mas não
me dava ao luxo de gastar com isso. Só que isso não era mais um grande problema.
Busco rapidamente por lojas próximas, que entreguem em casa e com
embalagens discretas, obviamente. Não quero nenhum vampiro tendo que abrir a porta
e pegar um pau de borracha embalado para presente.
Não demoro para encontrar o que preciso e fico fascinada com tantas opções.
Decidindo provar vários, termino comprando um sugador de clitóris, um vibrador do tipo
bullet e um rabbit que se movimenta sozinho. Opto por pagar mais por uma entrega
rápida e deixo como instrução que a encomenda seja deixada na porta.
Umas duas horas depois, ouço a campainha tocar e tenho que me controlar
para não sair correndo e ir lá pegar minha compra. Abro o aplicativo das câmeras da
casa que os meninos instalaram para mim e acompanho o entregador ir embora depois
de deixar o pacote. Passado alguns minutos, eu me apresso até a porta e a abro com
cuidado. O sol brilha forte lá fora e meu olhos doem um pouco, mas graças a cobertura
da varanda, a luz não me atinge, nem a caixinha deixada na soleira. Animada, pego
meus novos brinquedos e fecho a porta correndo, porém assim que me viro, dou de
cara com uma pilha de músculos.
— Wow, onde vai com tanta pressa a essa hora, pequena Kaylee? — Charlie
indaga, me olhando com curiosidade. Engulo em seco, sentindo meu rosto esquentar e
aperto a caixa contra o meu peito.
— E-eu pedi um negócio pela internet e…e... acabou de chegar — gaguejo, o
que faz com que o moreno levante uma sobrancelha, ainda mais curioso.
— É mesmo? Posso saber o que?
— São… é… são itens pessoais! Nada demais — digo, sabendo que deve
estar estampado na minha cara o fato de que estou mentindo, então opto pela fuga. —
Vou para o meu quarto tentar dormir mais um pouquinho. Vejo vocês depois!
Desvio do corpo de Charlie e saio apressada. Ouço a risada dele ao fundo,
mas ignoro. Tenho uma missão mais importante agora do que focar na minha
vergonha. Um compromisso inadiável com a minha vagina.
Kaylee

Acordo muito mais animada várias horas depois. Nada como orgasmos para
fazer uma mulher dormir como uma princesa, e meus brinquedinhos novos fizeram
milagres. Assobio a melodia de uma música que ouvi ontem enquanto me encaminho
para a cozinha, onde encontro os três vampiros comendo hambúrgueres.
— Olá! Como vocês estão? — pergunto animada, parando de frente para eles
na ponta da mesa da cozinha. Três reações completamente diferentes se seguem:
Antony fica vermelho como um pimentão, Jason se engasga com a bebida e Charles
tenta abafar a risada por trás da mão.
Mas que porra?
— Perdi alguma coisa? — pergunto com a sobrancelha levantada e eles olham
de um para o outro, me deixando ainda mais intrigada com a situação.
— Não, Kay. É que… — começa Jason, mas é interrompido pela cotovelada de
Anthony.
— Fique quieto! — ordena o loiro enquanto Jason reclama de dor. Cruzo os
braços, ficando irritada.
— Ah, mas não fica mesmo! Vocês estão com algum segredinho aí que me
envolve, então tenho direito de saber. Desembuchem!
— É justo. E talvez já tenha dado a hora de deixarmos pra lá algumas coisas
— começa Charlie e só não é interrompido porque Anthony não consegue alcançá-lo.
— Você sabe que nossos quartos não são muito distantes, né?
— Sim…E o que tem?
— E você consegue nos ouvir de lá, certo?
— Sim, se eu focar nisso, mas não faço porque seria esquisito — respondo,
ainda sem saber onde ele quer chegar.
— E agradeço por isso, mas mesmo assim nós três temos evitado nos divertir
— diz ele, a entonação deixava claro que estávamos falando de diversão sem roupa —
por lá para não deixá-la constrangida com o barulho.
— Ah céus, agora além de hóspede não planejada eu virei empata foda de
vocês? — constato horrorizada e escondo o rosto com as mãos enquanto ouço a risada
leve de Charlie e Jason.
— Tudo bem, mas esse não é o ponto. O que acontece é que, assim como
você consegue nos ouvir do seu quarto, nós também podemos ouví-la do nosso… —
explica o vampiro e eu retiro a mãos do rosto para olhar para ele, mas me arrependo
quando me deparo com seu olhar malicioso e entendo perfeitamente o que ele quer
dizer.
— Não!
Não.
Não pode ser.
Simplesmente, não.
Eu não posso ter me masturbado enquanto três vampiros gostosos de ouvido
biônico ouviam tudo!
— Sim! Não foi por querer, juro — ele se apressa em dizer. Eu sigo estática no
meu lugar, piscando repetidamente e considerando se tem algum buraco aqui para eu
me enfiar, mas Charles prossegue. — E também não é nada demais, acho que
podemos estabelecer isso entre nós: você se diverte com seu vibrador e nós transamos
no nosso quarto com tranquilidade. Aposto que depois das primeiras vezes nem vamos
mais ligar para nada disso. É só passar esse constrangimento inicial.
— Concordo, logo aprenderemos a abstrair o som e o cheiro — Jason
concorda. Anthony mal reage e olha fixamente para o lanche em suas mãos. Eu ainda
estou assimilando o fato de que eles me ouviram gozar e…
— Espera, cheiro? Que cheiro?
Jason arregala os olhos, visivelmente se assustando com o que deixou
escapar.
— Hã… nós meio que conseguimos sentir seu cheiro, sabe, de excitação —
explica ele e eu me vejo sem opção além de puxar a cadeira, me jogar sobre ela e
baixar minha cabeça contra o tampo da mesa.
— Jesus, em qual cruz eu taquei pedra para merecer isso? — balbucio para
mim mesma. Mas a vozinha no fundo do meu cérebro está rindo e dizendo “é karma,
querida, quem mandou você pensar neles enquanto usava um sugador? Agora
aguenta.”
Algumas horas se passaram até que eu fosse capaz de encarar qualquer um
deles nos olhos. Porém, depois de Jason me tranquilizar e Charles não desistir até me
fazer rir do assunto, eu finalmente consegui deixar o assunto para lá. Até mesmo
Anthony abriu a boca para dizer “É normal, todo mundo faz”.
Cozinhar para me distrair também me ajudou a relaxar e é por isso que agora
bato na porta do escritório deles e entro com minha bandeja de pães de queijo. Quase
beijei Anthony de tanta felicidade quando ele foi ao mercado ontem e conseguiu
encontrar polvilho.
— Os empresários fazem pausa para o lanche? — pergunto enquanto coloco a
bandeja na mesa de Charlie. O escritório deles é um ambiente pequeno demais para
acomodar corretamente 3 mesas e 3 cadeiras, mas eles disseram não gostar de ficar
separados quando perguntei a respeito.
— Eu paro qualquer coisa para o que tiver cheirando bem assim — diz Charlie,
esticando a mão para pegar uma das bolinhas. O vampiro leva o pão de queijo à boca
e solta um gemido alto de satisfação.
— Caramba, que coisa deliciosa! Por que estava escondendo essa
preciosidade de mim? — reclama ele ainda de boca cheia e dou risada. Os outros dois
logo se levantam de suas mesas e se empoleiram atrás de mim para poderem alcançar
a comida, também emitindo sons de satisfação assim que mordem o pãozinho. Se uma
partezinha de mim se arrepiou pensando se eles fazem sons parecidos quando
transam foi por puro acidente.
— Porque eu não tinha os ingredientes certos, mas Anthony conseguiu ontem
— explico, animada de vê-los gostando.
— Foi aquele negócio que parece farinha que eu trouxe ontem? — pergunta o
loiro e aceno em concordância. — Vou encomendar mais um 10 pacotes.
Solto uma risada e afasto um pouco as coisas na mesa de Charlie para que eu
possa me sentar no tampo.
— Mas e aí, o que estão fazendo desde cedo? — pergunto, curiosa. Sei muito
pouco sobre o que eles fazem, apenas que possuem diversos bares e casas noturnas
espalhadas pelo mundo.
— Estamos finalizando o contrato de compra do seu antigo local de trabalho —
conta Jason e olho para ele surpresa.
— Compraram a The View? Por quê? Contaram para vocês sobre o problema
no encanamento do prédio todo? Qualquer hora aqueles canos velhos vão estourar —
desato a falar e Jason sorri tranquilo.
— Sim, nós sabemos. Pedimos uma inspeção antes de fechar o negócio. Mas
não importa muito porque vamos botar quase tudo abaixo. Para a The View se tornar
uma Vampire precisará de uma grande reforma.
— Caramba, que demais! O que planejaram?
— Mandamos fazer o projeto com uma arquiteta, mas o que pedimos para que
ela desse prioridade foi na construção de um novo mezanino, maior e que dê a volta
completa no espaço — conta Charlie e começo imaginar isso na minha cabeça.
— Isso, e aquele espaço aberto na parte de trás dará lugar a uma extensão
com um palco — revela Anthony e eu balanço a cabeça em satisfação.
— Vai ficar super legal. Vocês podem considerar ampliar os banheiros
também, era o que os clientes mais reclamavam. Talvez adicionar um terceiro andar?
Um espaço para festas particulares! — começo a sugerir e só depois percebo que os
três estão parados me encarando. — Olha eu me metendo no que não fui chamada,
desculpa, podem me ignorar.
Insiro um pão de queijo inteiro na boca para me forçar a parar de falar.
— Não, não. Adoraríamos que você participasse, você tem a visão de dentro
do lugar e acho que pode nos ajudar muito — retruca Jason de imediato e me
surpreendo quando os outros dois concordam com ele. Uma onda de animação
percorre todo o meu corpo e quando enfim paro de mastigar, bato palmas e abro um
grande sorriso.
— Ah, isso será tão divertido!
Anthony

— Continuo achando arriscado — digo pela vigésima vez enquanto dirijo pelas
ruas escuras de Seattle.
Quase dois meses se passaram desde a chegada de Kaylee em nossas vidas.
Meu esforço para parar de compará-la com Melisandre acabou valendo a pena e
conseguiamos conviver de maneira tranquila. Ou o mais tranquilo possível que alguém
pode ficar dividindo o teto com uma tentação ambulante.
Não é que eu não soubesse o quanto a garota era atraente desde o primeiro
momento, só era mais fácil ignorar o fato diante do meu receio de me aproximar dela.
Entretanto, quanto mais eu baixava minha guarda, mais eu queria provar daquela boca
maldita.
Balanço a cabeça e tento afastar esses pensamentos prestando atenção na
avenida.
Estamos saindo de casa com Kaylee pela primeira vez, mas eu ainda tenho
minhas dúvidas se ela está pronta. Apesar de já conseguir se controlar diante de
sangue vampiro e de bolsas de sangue humano, não faço ideia de como ela vai reagir
ao sentir o cheiro doce e fresco vindo direto da fonte.
— Ah, qual é. Estamos em três, se não formos capazes de dar conta de uma
vampira pequena, podemos abandonar a carreira agora mesmo — diz Charlie e nem
preciso estar olhando para ele para saber que revirou os olhos.
— Sim. E será que dá para você não me deixar ainda mais nervosa? Finja que
tem fé no meu autocontrole, por favor — reclama Kaylee, me dando um soco fraco na
coxa. Ela está sentada no banco do carona depois de convencer meus namorados de
que ela merecia ir vendo a cidade toda depois de ficar tanto tempo trancada em casa.
— Tá bom, tá bom, eu me rendo. Só depois não digam que eu não avisei —
replico e ganho mais um soco, dessa vez no ombro, o que apenas me faz rir.
Chegamos à praia poucos minutos depois e Kaylee salta correndo como se
fosse uma criança indo à Disney. Jason se apressa a seguí-la, mas como não sinto
cheiro nem vejo nenhum humano por perto, acho que ficaremos bem. As praias de
Seattle não são nem de longe as coisas mais populares da cidade, então vir para cá no
meio da madrugada pareceu a opção mais segura.
Caminho com Charlie até alcançarmos os outros dois. Kaylee está parada
olhando para o mar com verdadeiro fascínio.
— Eu achei que não teria muita graça ver esse lugar à noite, mas esses meus
novos olhos de lince são realmente incríveis. E o som! Olha esse som maravilhoso da
água! Eu poderia ficar aqui para sempre — revela ela, parecendo até um pouco
emocionada e meu peito se aquece.
Desvio meus olhos dela para encarar as ondas à nossa frente.
Jason se senta na areia e nos puxa com ele. Aproveito a deixa para me sentar
entre suas pernas e apoiar minhas costas em seu tronco. Charlie deita a cabeça em
meu ombro e ficamos os três conectados.
— Vocês são tão fofos juntos — comenta a mulher com um sorriso pequeno.
— Somos mesmo — concorda Charlie de pronto, todo convencido. Mas seu
sorriso logo esmorece um bom tanto quando ele volta a falar. — Não faz muito tempo
desde que nos acostumamos a trocar carinho, porque fomos ensinados a esconder. A
sociedade parecia ter mais ódio de um ser com uma sexualidade que foge do “padrão”,
do que por sermos vampiros.
— Não posso nem imaginar, mas sinto muito que tenham tido de passar por
isso — responde Kaylee, esfregando o ombro do meu namorado num gesto de
conforto.
— Sim. Mas enfim, não viemos aqui falar de coisas tristes. Viemos para que
você pudesse respirar o ar puro que tanto queria. — A resposta a faz sorrir de novo e
voltar a olhar para o mar.
— Devíamos entrar na água — sugere ela de repente.
— Deve estar gelada pra caramba — informo o detalhe óbvio.
— E daí? Não é como se fossemos morrer de hipotermia — retruca ela, o que
faz meus namorados rirem.
— Não trouxemos roupa de banho — insisto, mas ganho somente um dar de
ombros dela.
— Desde quando você é todo certinho? — provoca ao se levantar e retirar a
blusa rapidamente. Engulo em seco e sinto o corpo de Jason e Charlie enrijecerem
junto com o meu enquanto vemos Kaylee remover o jeans e ficar só de calcinha e sutiã.
— Vocês vem ou não?
A garota corre em direção ao mar, nos deixando na areia ainda sem muita
reação além de observá-la. Jason grunhe e esconde o rosto na minha nuca.
— Melhor a gente ir logo, vamos precisar da água gelada — aconselha Charlie
e eu concordo com um resmungo. Meu pau acordou assim que tive o primeiro
vislumbre dos seios bonitos dela cobertos apenas pelo sutiã preto. Nos levantamos de
um salto e não leva mais do que um minuto para estarmos só de cueca e seguindo
Kaylee para dentro d'água.
— Fria pra caralho — reclamo e a vampira dá risada.
Mergulho assim que chego em uma profundidade adequada e emerjo perto
dela.
— Se mexa mais que logo acostuma. Aliás… — diz, com um sorriso travesso
surgindo no rosto. Meus namorados também já estão do nosso lado.
— O que? — pergunta Charles e vejo Kaylee dar alguns passos para trás.
— Desafio vocês a me pegarem! — A fala é seguida por um giro rápido e um
mergulho. Meu sangue esquenta e minhas presas se esticam por instinto. Vampiros
são basicamente predadores e adoramos uma perseguição. Troco um olhar rápido com
Jay e Charlie e em seguida disparamos atrás dela.
A garota se mostra surpreendentemente rápida. Claro que estávamos dando
uma colher de chá à ela, mas era divertido vê-la escorregar por entre nossos dedos e
gargalhar ao fugir. Charlie quase consegue segurá-la, mas Kaylee descobre em poucos
segundos um lugar onde o moreno sente cócegas e assim é capaz de se soltar.
Aproveito sua distração para me aproximar silenciosamente por trás e a agarro
pela cintura. Kaylee grita de surpresa.
— Você é uma gatinha fujona, mas ainda sou melhor — provoco-a e não deixo
que se vire para não cair na mesma cilada de Charlie.
— Não vale, são três contra uma e eu me distraí com os outros dois.
— Foi você que nos desafiou, querida — replico e a garota ri, mas continua se
debatendo para tentar se soltar. Agradeço a água congelante estar fazendo um bom
trabalho de evitar minha ereção.
Meus namorados nos cercam, os olhos brilhando em um misto de diversão e
excitação.
— Ora, ora… acho que é a minha vez de descobrir onde a Srta. Young sente
cócegas — determina Charlie sorrindo.
— Não, não, não! Não vale com Anthony me segurando! — tenta argumentar,
mas meu namorado já alcançou sua perna direita e puxou em sua direção.
— Não lembro de termos definido regras. Você só nos desafiou a te pegar —
devolve Charlie e dou risada. Principalmente quando o vampiro começa a fazer
cócegas na planta do pé dela. Kaylee grita e se debate contra mim. Afrouxo o aperto
para não machucá-la, mas não a solto. Jason acompanha tudo ao meu lado, também
rindo.
— Para, para, por favor — pede ela, ofegante, mas Charlie balança a cabeça.
— Só se disser que nós somos os maiorais — determina Charlie.
— Vocês são os maiorais — repete ela rapidamente.
— E que se rende aos vampiros — complemento.
— Eu me rendo!
— E prometer fazer mais brigadeiro amanhã — pede Jason e rio ainda mais.
Ele estava viciado no doce brasileiro.
— Prometo! Prometo! — diz, pedindo clemência e Charlie finalmente para a
pequena tortura. A garota se põe de pé e eu a solto, mesmo que a contragosto. Gostei
muito mais do que deveria da sensação da sua pele contra a minha.
— Vocês são umas pestes — acusa ela quando recupera o fôlego.
— Nunca prometemos sermos bonzinhos — devolvo, divertido. Kaylee não se
afasta muito de mim e me distraio por alguns segundos olhando para sua nuca. O que
eu não daria por uma mordida…
A linha de pensamentos é interrompida quando sinto o cheiro de algum
humano um segundo depois de Kaylee, o que é a sorte, pois rapidamente a envolvo
pela cintura com força. Charlie e Jay no mesmo instante se juntam ao nosso redor.
Kaylee se debate e chia enquanto assistimos um grupo de jovens andar pela
orla da praia.
— Prenda a respiração, como te ensinamos. Vai ajudar. E pare de olhar —
oriento e a garota abana a cabeça, presa entre sua sede e a tentativa de se controlar.
Eu a giro de frente para mim. — Me morda.
Isso chama a atenção dela de verdade agora.
— O que?
— Me morda. Vai ajudar a passar — afirmo, mas ela ainda parece indecisa. O
grupo está cada vez mais perto, o que me preocupa, então ordeno. — Agora, Kaylee.
Morda!
Em um instante suas presas se alongam e a vampira se agarra ao meu
pescoço. Me xingo mentalmente em todos os idiomas que conheço porque nem a água
do alasca conteria a reação do meu corpo a isso. A ela.
Kaylee

Com o passar dos dias, nós entramos mesmo em um acordo tácito de ignorar a
vida sexual uns dos outros. Mas com o sabor do sangue de Anthony ainda na minha
língua e a lembrança da sensação da sua ereção potente contra minha barriga, nosso
arranjo estava se tornando particularmente difícil agora.
Estamos todos inquietos dentro do carro no caminho de volta para casa. Dá
para sentir a tensão no ar, mas não falamos sobre isso. Aperto minhas pernas com
força uma contra a outra e agradeço a todos os santos quando finalmente
estacionamos na enorme casa deles.
A tensão segue até chegarmos a sala, mas então finalmente explode quando
Anthony anuncia:
— Foda-se, esse era o máximo que eu podia aguentar. — E em seguida puxa
o rosto de Charlie contra o seu em um beijo esmagador. Jason se posiciona atrás do
loiro e me lança uma piscadinha sem vergonha antes de deslizar as duas mãos por
baixo da camiseta do namorado. Engulo em seco e me apoio no braço do sofá para
não derreter ali mesmo.
É sério que eles vão se pegar aqui? Agora? Eu já os vi trocar beijos e carinhos
muitas vezes, mas nunca com essa luxúria desenfreada.
Eu deveria sair dali imediatamente, mas me sinto incapaz. Anthony agora beija
Jason enquanto Charles morde o ombro do loiro, o fazendo gemer baixinho. Meu
coração bate frenético e minha calcinha não está mais só molhada de água do mar
enquanto os assisto. É muito melhor do que qualquer sonho erótico que já tive e meu
corpo treme de vontade de participar. De beijar aquelas bocas também, uma a uma.
Quando a blusa dos três vai parar no chão e encaro o físico de deuses gregos,
meus seios já estão pesados e doloridos, quase implorando por um toque. Eles olham
para mim de vez em quando, como se me desafiassem a fazer algo: correr ou me
juntar a eles.
Escolho correr. Se por medo de ser invasiva ou por medo de não dar conta dos
três não sei dizer, mas só volto a respirar ao entrar no meu quarto, fechar a porta e me
encostar nela. Me livro das roupas rapidamente e deito na minha cama, mas não sem
antes alcançar o pequeno bullet na gaveta da mesa de cabeceira. Fecho os olhos e
repasso as cenas deles juntos na minha cabeça.
Os toques, os beijos, as mãos grandes percorrendo todos os lugares
possíveis…
Contenho um grito ao ligar o bullet e levá-lo até minha boceta. Estou ensopada
e uso o bullet para espalhar minha lubrificação ainda mais. Aperto um seio com a mão
livre e gemo.
A mordida de Charlie, o sangue escorrendo, as ereções marcando o tecido das
calças. Os gemidos.
Porra, consigo ouvir os gemidos deles daqui! Prendo meu lábio entre os dentes
e finalmente levo o bullet ao clitóris, tocando de leve, mas o suficiente para me fazer
curvar os dedos dos pés. Me perco por alguns instantes nas sensações e só percebo
que os gemidos pararam quando são substituídos pelo som de respirações ofegantes.
E muito próximas.
Me sento na cama num salto e encaro a porta. Apesar de continuar fechada,
ouço perfeitamente a voz de Charlie vir do outro lado.
— Kay… Nós podemos ir embora se você quiser. Ou você pode abrir essa
porta e finalmente nos deixar dar vazão a esse desejo que temos cozinhado dia após
dia.
Desligo o bullet e fico de pé, a cabeça fervendo enquanto penso no que fazer.
— Mas não vai ficar estranho? Sabe, depois de tudo? — pergunto e é Jason
quem solta uma risada curta no corredor.
— Só se permitirmos. Pode ser só uma noite de diversão ou… — diz ele, mas
deixa o resto da frase no ar e quase me mata de ansiedade.
— O que? — questiono, então.
— Ou podemos nos divertir por todo o tempo que você ficar com a gente —
completa e eu ofego.
— E-eu, não sei. Não quero me meter no relacionamento de vocês só porque
estou subindo pelas paredes.
— Abra a porta, Kaylee. Você pode pensar nisso depois. Nesse momento nós
vamos enlouquecer se não a tocarmos — é Anthony quem confessa e eu arregalo os
olhos.
Ah, céus. Acho que eu também vou enlouquecer se não puder senti-los.
Umedeço os lábios com a língua enquanto caminho devagar até a porta e a
abro.
Charlie
Kaylee está nua na nossa frente e tenho certeza que meu cérebro para de
funcionar por alguns instantes, mas me recupero a tempo de avançar para cima dela e
prender o corpo delicioso contra o meu. Kaylee dá um gritinho e sua respiração está
pesada. Me sinto hipnotizado por cada reação dela.
— Eu vou te beijar, Srta. Young. Então essa é a sua última chance de fugir —
aviso, a boca quase colada na dela.
— Não quero fugir — diz baixinho e eu sorrio antes de finalmente fazer o que
eu queria desde a primeira vez que a vi: beijar seus lábios doces.
Emito um som de satisfação verdadeira e mordo seu lábio inferior levemente
antes de pedir passagem com minha língua. Seu gosto é ainda melhor do que sonhei e
quando ela passa os braços por meus ombros e entremeia os dedos no meu cabelo,
me vejo completamente rendido. A beijo com mais força, tocando sua língua com a
minha em uma dança perfeita até que não nos reste mais fôlego.
Antes de soltá-la, porém, mordo seu lábio inferior outra vez, mas agora com
uma das minhas presas e lambo a gotinha que escapa.
— Garota deliciosa — afirmo ao nos afastarmos. Kaylee me olha de volta com
pura luxúria estampada no rosto e eu sorrio. Quero beijá-la de novo, mas não sou
egoísta e a giro até entregar a morena para os braços de Jason à minha direita.
Assisto ao beijo dos dois e parece que queimo de desejo ainda mais, e nem
esperava ser possível. Anthony também perde a capacidade de se controlar e agora
passa as mãos pela cintura e costas de Kaylee, além de ir distribuindo beijos suaves
pela região.
Ouço Kay gemer na boca de Jason e mordo meu próprio lábio enquanto vejo
meu namorado segurá-la pela nuca e apertar um pouco. Ele já fez isso comigo
inúmeras vezes e é sempre delicioso.
Aprecio a cena toda e aproveito para remover o restante das minhas roupas,
que consiste apenas na calça jeans e na cueca ainda um pouco molhada da água do
mar. Kaylee parece lânguida quando descola os lábios de Jay e ele ri antes de mandar
que Anthony se sente na cama para só então lhe entregar a garota. Anthony a puxa
pela mão até tê-la ajoelhada na cama com as pernas ao seu redor e só então a beija.
Sei exatamente como ela se sente agora, uma vez que Anthony beija como se
quisesse devorar a pessoa. A mão que ele insere no cabelo dela ajuda a controlar cada
movimento e é erótico pra caramba.
Jason me abraça por trás e sentir seu corpo agora nu contra mim me faz
arrepiar. Meu namorado desliza as mãos por todo o meu tronco até descer e agarrar
meu pau. Chio de prazer quando ele espalha a lubrificação da ponta para o meu
comprimento e começa a me masturbar devagar.
Quando Anthony finalmente dá abertura para que Kaylee respire, descolando
os lábios dos dela, decido que já chega dessa brincadeira de só beijá-la.
— Coloque-a deitada no centro da cama. Kaylee será nosso próximo banquete
— ordeno e Anthony lambe o pescoço dela mais uma vez antes de olhar para mim e
sorrir diabolicamente.
Kaylee

Tenho certeza que a qualquer momento irei acordar desse sonho.


Simplesmente não é possível que receber tanto prazer assim seja real. Anthony
manipulou meu corpo como se eu não pesasse nada até me deixar no centro da minha
cama. Me apoiando nos cotovelos, ergo um pouco meu tronco para poder observá-lo
tirando a roupa e então apreciar os três cuidadosamente. Os corpos esculpidos me
fazem babar, e como é possível que até o pau deles seja bonito? Jason é o maior e
mais grosso, mas os outros dois não ficam muito atrás.
Será que minha vagina vampírica também é aprimorada para aguentar tudo?
Porque senão, amanhã eu não vou nem andar.
Só que no momento não me importo nem um pouquinho com isso,
principalmente porque eles me cercam e sou agarrada por três pares de mãos. Anthony
à minha direita, Charlie à esquerda e Jason entre as minhas pernas.
O vampiro de cabelos castanhos e olhos verdes volta a me beijar e uma das
suas mãos agarra meu seio esquerdo com força. Anthony se abaixa e dá uma lambida
rápida no meu mamilo, só para me fazer arrepiar, mas logo o coloca quase todo na
boca, arrancando de mim um gemido baixo. Minha perdição, porém, é quando Jason
insere um dedo em minha boceta de uma só vez. Arquejo e Charlie para o beijo. Nós
dois encaramos Jason, que ostenta seu melhor ar provocativo.
— Tão molhada… tudo isso por nós, Kaylee? — pergunta ele antes de inserir
um segundo dedo.
— S-sim — confesso e Jason sorri.
— Então vou ter que te mostrar que somos melhores do que qualquer vibrador,
não é mesmo? — diz e curva os dedos dentro de mim até atingir meu ponto G e me
fazer arquear as costas de tanto prazer. Mas o verdadeiro paraíso é quando o vampiro
começa a mexer a ponta dos dedos numa velocidade sobre-humana.
Cacete, muito melhor que qualquer brinquedinho existente.
Penso, com os olhos fechados para absorver todas as sensações. Só quando
ouço a risada leve deles é que percebo que disse isso em voz alta, mas não me
importo.
Charlie e Tony se revezam entre me beijar, lamber e apertar meus seios e
passar as mãos por todo o meu corpo. Junte isso a mão de Jay dentro de mim e fico à
beira do paraíso muito rápido.
— Porra, porra, eu vou gozar — aviso enquanto arqueio as costas na cama. O
grito que solto a seguir é tanto do orgasmo quanto do fato de que levo uma mordida no
seio e outra no braço. As ondas de prazer dentro de mim triplicam assim que as presas
atingem minha pele e é a sensação mais incrível que já senti.
Quando volto da montanha russa de sensações, abro os olhos e encontro os
vampiros me olhando com fascínio.
— Isso… isso… foi incrível — digo entre arquejos e os três sorriem.
— Bem vinda ao sexo dos vampiros, querida. Esse é só o começo — afirma
Jason enquanto retira os dedos da minha boceta e os lambe devagar, me deixando
hipnotizada.
Uma mão me pega pelo pescoço e move minha cabeça até que eu esteja cara
a cara com Anthony.
— Agora, Schatz,1 eu vou te dar duas opções: minha boca ou o meu pau —
determina ele e estou tão zonza de desejo que opto por perguntar sobre o apelido
depois.
— Seu pau — decido rapidamente e o loiro sorri enquanto invade meu cabelo
com uma mão e o segura com firmeza, do jeitinho que eu mais gosto.
— Boa garota. Fique de joelhos, de costas para mim.
Obedeço em um instante e só então percebo que a posição me deixa
ajoelhada na cama e bem de frente com o espelho do quarto. Assisto ao mesmo tempo
que sinto o vampiro parar atrás de mim e me enlaçar pela cintura até colar o pau contra
a minha bunda. Sua mão escorrega até alcançar meu clitóris e rodeá-lo lentamente,
enquanto com a outra ele enrola todo o meu cabelo em seu pulso e puxa. Gemo
baixinho.
Jay e Charlie consomem os lábios um do outro enquanto isso, tornando tudo
ainda mais erótico.
— Agora empina essa bunda gostosa pra mim, Kay — pede o vampiro e eu o
faço, sentindo em seguida seu pau pincelar a entrada da minha boceta e então entrar
devagar.
— Caralho, por que tinha que ser tão gostosa? — reclama ele contra o meu
ouvido e eu sorrio. Quando Anthony me penetra por completo, nós dois soltamos o ar
com força e acho que o restinho do controle dele se esvai, porque o loiro xinga e me dá
um belo tapa na bunda antes de finalmente começar a me foder. Grito, extasiada e me
vejo tendo que esticar uma mão para me segurar em algo e não cair, tamanha a
intensidade das suas estocadas. Meu apoio acaba sendo um peito musculoso e abro
os olhos para encontrar as íris verdes de Charlie. Jay está bem ao seu lado, para quem
Charles toca uma punheta lenta.
Passo a língua pelos lábios e não resisto a levar minha mão livre até o pau do
moreno e fazer o mesmo com ele. O vampiro geme e me rouba um beijo rápido. Finco
as unhas em seu peito quando Anthony acelera as estocadas, assim como a mão que
bolina meu clitóris. Fecho os olhos e sinto que o êxtase se aproxima. Perco a noção do
quanto gemo, grito e choramingo pelos próximos minutos até gozar. Aperto o pau de
Anthony dentro de mim instintivamente e ele xinga ao se entregar também e me
preencher com sua porra.
É tão gostoso que nem sei explicar.
— Eu sabia que você seria uma visão incrível ao gozar, Kay — afirma a voz
grossa de Jason e abro os olhos para poder olhar para ele e sorrir. — Mas que tal
agora eu provar dessa sua boca tentadora?
Aceno em concordância e me desencaixo de Anthony. Recebo olhares
curiosos enquanto me deito de costas na cama, mas deixo a cabeça pender para fora
dela. Jay não leva mais do que dois segundos para entender e posso jurar que
praticamente ruge enquanto se levanta e se posiciona na minha frente. Lambo os
lábios e o vampiro se aproxima, levando o pau grosso e cheio de veias direto para a
minha boca. Essa posição não é a mais confortável do mundo, mas é a melhor para
que eu aguente a grossura dele.
Lambo a cabeça e fico contente de descobrir que o sabor dele é mais cítrico do
que salgado, o que torna esse boquete ainda melhor. Jason grunhe quando eu tomo
todo o seu contorno com os lábios. Não sou capaz de engolir seu comprimento inteiro,
mas deixo que ele entre até o limite e quando me sinto confortável, dou duas batidinhas
em sua perna esquerda, o que funciona para que o vampiro entenda que pode se
mover.
Me sinto incrível quando Jay começa a realmente foder minha boca e joga a
cabeça para trás, completamente perdido de prazer. Minha atenção, entretanto, fica
dividida quando sinto um par de mãos abrir minhas pernas e alguém se posicionar no
meio delas. Nem preciso olhar para saber que o toque suave é de Charles. O homem
distribui beijos desde o meu pé direito até o interior da coxa e então me morde.
Choramingo com o prazer do ato súbito, mas não paro de chupar Jason.
Charles solta os dentes da minha pele apenas para fazer o mesmo processo
pela outra perna. O próximo toque que me pega de surpresa é um beliscar forte nos
mamilos, seguidos do abocanhar faminto de Anthony e como se sincronizados, o loiro
morde meu seio ao mesmo tempo que Charles ataca minha outra coxa. Perco o
restante do controle que eu tinha sobre meu corpo e passo a ser inteirinha deles.
E nem ouso reclamar.
— Que visão do caralho! Porra, eu vou gozar, Kay — avisa Jason e faz
menção de se retirar da minha boca, mas não deixo, apertando os lábios contra seu
pau com um pouquinho de força. O vampiro ofega e usa uma mão para agarra meu
cabelo. — Você quer a minha porra, Kaylee? Então é exatamente isso que vai ter, sua
safada perfeita.
Sorrio internamente e não demora para que ele faça o que prometeu, se
derramando na minha garganta. Aguardo enquanto seu corpo para de ter espasmos e
só então o retiro da boca. Um segundo depois sou puxada de volta para o meio da
cama e Charlie cobre meu corpo todo com o seu enquanto me beija. O gosto de Jay na
minha língua parece deixá-lo ainda mais excitado e Charles não larga meus lábios
enquanto se afunda em mim em uma só estocada. Meu gemido de surpresa é abafado
pelo beijo.
Charlie rompe o contato e passa a me foder com força. Eu o sinto ir muito
fundo dentro de mim, principalmente quando ergue meus joelhos e me faz cruzar as
pernas ao redor da sua cintura.
— Gostosa do cacete! Você vai nos viciar nessa boceta apertada, Kaylee —
diz ele com a voz grossa de tesão e sorrio satisfeita. Jason ocupa o lugar ao meu lado
e toma para si a missão de acariciar e chupar meus seios. Anthony por sua vez assiste
a tudo vidrado enquanto toca o próprio pau.
Não sei como faço para coordenar tudo, mas me vejo esticando uma mão até o
pau dele assim como ao de Jason e masturbo os dois, sendo presentada por gemidos
sofridos.
O tapa que Charlie desfere contra meu clitóris faz com que eu me contraia toda
e erga os quadris por instinto, choques deliciosos se espalhando da minha boceta para
todo o corpo e um orgasmo arrasador o segue. Charlie acelera, batendo o quadril
contra o meu com tanta força que eu tenho certeza que se ainda fosse humano, ele
teria me partido ao meio, mas no caso só prolonga ainda mais meu êxtase. Travo as
pernas ao redor dele com força e me contraio tanto ao redor do seu pau que o vampiro
finalmente se rende e goza. Seu orgasmo parece desencadear o dos namorados, que
se derramam em minhas mãos e barriga, o que me deixa fascinada.
Exaustos, Jay e Tony basicamente se jogam ao meu lado na cama e Charlie se
retira de mim apenas para fazer o mesmo, deitando com a cabeça apoiada nas minhas
coxas.
Fecho os olhos e sou engolida pela languidez que se segue a um orgasmo,
mas multiplicado por dez. Sorrio mesmo enquanto o sono me invade, mais satisfeita do
que jamais sonhei estar.
Charles

A possibilidade de pararmos de transar nem chegou a ser cogitada depois


daquela noite. Principalmente porque poucas horas depois nós começamos tudo de
novo. E desde então estabelecemos uma rotina tão natural e gostosa que eu mal
percebi acontecendo.
Kaylee passou a dormir na nossa cama enorme todos dias. Por ela sempre
acordar antes de nós, costumávamos encontrá-la já na cozinha preparando algo
diferente. Sua mais recente obsessão era com comida italiana.
Depois de comer, passávamos algum tempo juntos. Às vezes marotando
alguma série, às vezes competindo na sala de jogos e muitas vezes nos agarrando em
qualquer canto da casa.
A mulher se tornou parte do nosso dia a dia dentro do escritório também, nos
ajudando com os planos da reforma da The View ou analisando conosco os lugares
que estávamos interessados em comprar.
E foi assim que seis semanas se passaram num piscar de olhos e eu evitava
pensar quanto tempo ainda tínhamos juntos. Saíamos de casa com ela pelo menos
uma vez por semana, testando seus limites e Kay já estava se saindo muito bem. Eram
raras as vezes em que ainda se descontrolava próxima de humanos. Tanto que dessa
vez ela queria visitar a avó.
Planejamos tudo da melhor forma possível. Conseguimos que o lar abrisse
uma exceção e nos permitisse visitá-la à noite, com a desculpa de que Kaylee chegaria
tarde de viagem, e a vampira se alimentou de mim antes de sairmos.
Sentada comigo no banco de trás do carro enquanto nos dirigiamos para lá, a
garota balança a perna incessantemente e rói as unhas. Sem entender a razão de tanto
nervosismo, seguro as mãos dela nas minhas e faço com que me olhe.
— O que está se passando por essa cabecinha para você estar tão nervosa?
Os ombros antes rígidos dela caem e a morena se encosta no banco.
— Ela vai saber que tem algo de diferente. Por ligações de vídeo durante todo
esse tempo foi fácil não chamar atenção dela para as mudanças em mim, mas minha
avó me conhece mais do que ninguém. Ela vai saber assim que colocar os olhos em
mim — desabafa e acaricio sua pele, tentando confortá-la.
— Mas você não mudou tanto assim ao se transformar em vampira —
argumento, mas Kay balança a cabeça, discordando.
— Mudei sim. Meus olhos ficaram um pouco maiores, assim como meus lábios.
Minha pele não tem mais nenhuma das marquinhas de espinha que eu tinha e meu
cabelo nunca foi tão brilhante e denso. Parece mínimo, mas se juntar isso com minha
cara de quem está obviamente escondendo algo, ela vai saber — afirma, desanimada e
eu a puxo para mim, passando um braço por seus ombros.
— Então conte a verdade a ela — sugere Jason do banco da frente. Virando o
rosto para olhar para nós.
— Sobre ser uma vampira? Isso vai fazê-la rir da minha cara e depois me
chamar de doida ou então provocar um infarto.
— Se ela reagir mal, podemos apagar essas memórias. Mas concordo que
você deveria tentar, te deixaria mais tranquila para o futuro — indico, mas vejo que ela
ainda está bastante hesitante.
— É, talvez. Acho que vou ter que decidir na hora o melhor a fazer.
— Vai dar tudo certo, Süsse — afirmo, usando um dos apelidos em alemão
que demos a ela. Anthony que começou com isso, chamando-a de Schatz, então eu
adotei Süsse2 e Jason usa Häschen3 com frequência também. Se ela havia pesquisado
pelos significados eu não sabia, mas parecia gostar, então mantivemos. — E se não
der, estaremos aqui.
Ao chegarmos no lar, Kay ainda estava nervosa, mas sorriu e cumprimentou a
funcionária na entrada. Ela ter apertado meu braço com toda a força assim que os
cheiros do lugar a atingiram foi um detalhe sutil. A mulher ruiva conversou sobre
amenidades com a vampira enquanto nos levava até o quarto da avó dela.
— Sra. Garcia? Sua visita chegou — avisa a funcionária logo depois de bater e
abrir a porta. Kaylee corre até a avó quase rápido demais, mas por sorte a outra mulher
já estava se afastando para nos dar privacidade.
O abraço é longo e cheio de saudade. As duas choram e trocam palavras de
carinho em português que deixam até eu um pouco emocionado. Fiquei órfão muito
cedo e nem ao menos me lembro de como é ser amado assim por uma pessoa da
família.
Pelo que posso ver, a Sra. Garcia devia ser bastante parecida com Kay quando
jovem. A pele marrom era um pouco mais escura, os cabelos num misto de branco e
castanho estavam presos em um coque, mas eu podia ver que eram lisos. Os olhos
amendoados me confirmam que ela possivelmente tem ascendência indígena.
Passada a emoção inicial, a Sra. Garcia segura o rosto da neta entra as mãos
e pergunta:
— Agora me conte o que realmente tem aprontado, menina, e porquê há 3
homens enormes e lindos dentro do meu quarto.
Kaylee se solta das mãos dela para olhar para nós e a avó a imita.
— Esses são Charles, Jason e Anthony e foram eles que me salvaram quando
eu… quase morri — ela hesita, mas confessa, o que faz a avó estremecer e arregalar
os olhos.
— O que?? — pergunta apavorada e percorre os olhos por todo o corpo de
Kaylee, como se conferindo o que tem de errado.
— Sente-se, eu vou tentar te explicar tudo.
A senhora obedece, sentando na cama com a vampira logo ao seu lado. Eu e
meus namorados permanecemos parados e em silêncio. Não estaríamos aqui
invadindo esse momento delas se não fosse pela segurança da mulher humana.
Kaylee conta a história desde o começo, como dormiu ao volante, o acidente e
meu resgate.
— Eu estava morrendo rapidamente, então Charles fez o que estava ao seu
alcance. Me transformou em um deles — diz a morena com calma. A mulher ao seu
lado se retesa e desvia os olhos até nós por um segundo.
— O que quer dizer com isso?
Kaylee engole em seco e respira fundo.
— Ele me transformou em vampira — confessa ela num fôlego só. A avó pisca
repetidamente, sem dizer nada, apenas franze a testa e observa o rosto da neta ainda
mais atentamente.
— Abra a boca — demanda e a garota obedece, alongando as presas logo em
seguida. A Sra. Garcia arfa e cobre a boca com as mãos.
— Deus de misericórdia — é a única coisa que diz. Considerando tudo, sua
reação está sendo muito tranquila.
— Desculpe, vovó — pede a garota, os olhos cheios d'água, mas a mulher
abana a cabeça e segura o rosto da outra mais uma vez.
— Está tudo bem, minha querida. Estou um pouco chocada, claro, mas passei
muito tempo nesse mundo para não acreditar que havia por aí muito mais do que nós
sabíamos. E se isso foi o necessário para te salvar, eu fico feliz — conclui a senhora e
Kaylee finalmente desata a chorar novamente. A avó a abraça ternamente enquanto
olha para nós por cima do ombro da neta.
— Então vocês são todos…vampiros? — pergunta ela, falando em inglês pela
primeira vez.
— Sim, senhora — respondo na mesma língua, porque não sei se ela se
sentiria desconfortável de saber que nós entendemos toda a conversa anterior.
— Ela precisará matar pessoas para viver assim? — questiona o que deve ser
seu maior receio. Me apresso em negar com a cabeça, mas Anthony responde.
— Não senhora. Só é necessário um pouco por vez, e passamos os últimos
meses ensinando ela se controlar.
— Sim, e por isso que só agora consegui vir te ver — complementa a morena,
se desprendendo do abraço. A Sra. enxuga o rastro de lágrimas dela com cuidado e lhe
oferece um sorriso tranquilo.
— Vai ficar tudo bem, minha querida. Vamos tomar uma água e então você vai
me contar tudo sobre essa nova vida, sim? — pede e Kaylee acena com a cabeça. — E
vocês três sentem-se, pelo amor de Deus, está me dando agonia vê-los aí parados
como postes.
A ordem nos faz rir e me apresso a obedecer. Me sento no sofá pequeno junto
com Anthony, enquanto Jason se senta no braço do móvel. A mulher sorri em
aprovação e se vira de volta para a neta, que alcançou a jarra de água na mesa de
cabeceira do quarto e serviu um copo para si mesma e para a avó.
— Sou toda ouvidos.
Jason

Kaylee parecia dez vezes mais feliz depois de rever a avó ontem e poder
contar a ela toda a verdade. Após absorver a transformação da neta, a Sra. Garcia fez
praticamente um interrogatório comigo e meus namorados, querendo saber de onde
vinhamos e o que fazíamos da vida, o que achei particularmente adorável, porque dava
para sentir o amor e o instinto de proteção imenso entre elas. Omitimos a parte sobre
sermos um trisal, que muito recentemente havia adicionado também a neta dela. Não
era necessário testar o coração da senhora duas vezes na mesma noite.
Kaylee havia combinado com a avó de visitá-la umas duas vezes por semana,
mas sem ter que passar pelo saguão, para não ter que viver explicando o motivo de só
vir à noite. Sempre que a vampira pudesse ir, avisaria a avó por telefone e então a
mulher deixaria sua janela aberta, o que era muito mais prático.
De tanta animação, Kaylee estava na cozinha desde que levantou, fazendo
diferentes receitas de cupcake e não pude resistir a passar um tempo observando-a. A
garota usava shorts jeans e uma camiseta curta por baixo de um avental azul e já todo
cheio de farinha. Para falar a verdade, daqui eu podia ver que havia pó branco até no
cabelo dela e tive que conter uma risada.
Kay havia também conectado seu celular ao nosso sistema de som e dançava
por toda a cozinha, o que era bastante divertido de assistir. Eu não pretendia
interrompê-la, mas ao tirar uma fornada de bolinhos do forno, a garota rodopiou toda
animada e me pegou em flagrante parado na porta e pulando de susto. Por sorte, a
forma em suas mãos não saem voando.
— Ave! Por que tava parando aí feito uma assombração? — reclama ao
colocar a forma sobre a ilha e retirar as luvas de proteção.
— Eu estava apreciando o show — digo, lhe lançando meu sorriso travesso.
Ganho de volta sua cara de “sério mesmo?” e dou risada enquanto me aproximo. Puxo-
a pela cintura até encostá-la no meu peito e deposito um beijo suave em seu pescoço.
— Aliás, fantasmas também existem, né? Você já viu algum? — pergunta ela
de repente.
— Sim, mas eu mesmo nunca vi um, até onde sei são bem raros.
— Hmm. Espero um dia ver, deve ser interessante. Ah, quero conhecer um
licantropo também! — afirma e me reteso um pouco. Giro Kay pela cintura até que olhe
para mim.
— Algumas coisas da mitologia são verdade, sabe? E o fato de que nós e os
lobinhos não nos damos muito bem é uma dessas coisas. Não sei dizer porque, acho
que é instintivo o desejo de se afastar — explico e os lábios que Kaylee formam um
bico fofo.
— Que chato. Mas quem sabe um dia as coisas não mudem, né? Agora que
vou viver pra caramba, não tenho pressa de nada — diz, dando de ombros e sorrio
antes de lhe roubar um beijo.
— Eu tinha certeza que os encontraria assim — acusa a voz de Charlie e nos
viramos para olhar para ele.
— Não fique com ciúmes, querido, venha até aqui que eu beijo você também
— digo e ganho uma revirada de olhos do moreno, mas ele realmente anda até nós.
— Te mandamos aqui para chamar a Kay, não para se agarrar com ela. Já
explicou o que programamos? — reclama, mas ele mesmo se debruça para beijar os
lábios dela e depois os meus.
— Ainda não. O que é? — pergunta a vampira.
— Finalmente temos a licença para reformar a The View e podemos começar a
demolição. Adoramos fazer nós mesmos essa parte, quer vir com a gente? — explica
Charlie e os olhos de Kaylee brilham.
— Destruir tudo o que quisermos?
— Bom, tudo que tiver no plano da arquiteta, o que é bastante coisa.
A mulher morena em meus braços praticamente saltita de animação e abre um
sorriso enorme.
— Isso vai ser incrível! Em vinte minutos sai a última fornada de cupcakes e aí
só vou precisar me trocar. Podemos sair em meia hora?
— Eu espero o quanto você quiser se significar que vou ganhar mais um beijo
e um cupcake daqueles de chocolate ali — afirma Charles e Kaylee dá risada antes de
puxá-lo pela gola da camisa até grudar seus lábios. Como ela ainda me segurava com
um dos braços, permaneci ali tendo uma visão privilegiada do beijo intenso, que só
terminou quando ambos precisaram respirar. Meu pau e eu concordávamos que era
excitante pra cacete.
— Minha vez — determino e passo minha mão por debaixo dos cabelos de
Kay, puxando sua cabeça levemente para trás. Aprecio os lábios vermelhos e
inchados, as pupilas dilatadas de desejo, mas no último segundo não encosto minha
boca na dela, mas sim puxo Charlie com a outra mão e o beijo. Ouço Kaylee arquejar e
depois dar risada. Até mesmo meu namorado riu levemente antes de aprofundar o
beijo.
Não solto o cabelo de Kay e amo a sensação de ter os dois à minha
disposição. Leva algum tempo para que eu me sacie de Charlie antes de parar o beijo e
finalmente atacar os lábios da vampira, que geme baixinho.
Mordo seu lábio inferior antes de encerrar o contato, o que parece fazer Kaylee
despertar e ela empurra nós dois para longe dela.
— Saiam antes que me distraiam e eu acabe queimando aqueles cupcakes —
determina e eu mordo os lábios para não rir.
— Ok, Häschen. Estaremos na sala te esperando — concordo e passo um
braço pelos ombros de Charlie para puxá-lo junto comigo.
— Vou cobrar meu bolinho mais tarde. E a compensação por vocês terem me
deixado de pau duro também — anuncia Charlie e caio na risada junto com Kay.
Não faço ideia de como foi que nossa convivência se tornou assim, tão íntima,
natural, gostosa. Só sei que posso acabar me viciando nisso e na ideia de nós quatro
juntos por muito, muito tempo.
Kaylee

Quem nunca desejou destruir seu lugar de trabalho até virar pó que atire a
primeira pedra.
Tudo bem que todas as paredes externas e a fundação devem ser mantidas,
mas todo o resto? Ah, eu vou arrancar com tanto gosto!
Chegamos à antiga The View à poucos minutos e absorvo todo o ambiente
vazio. Sem mesas, sem cadeiras, sem clientes sem noção reclamando do mesmo
pedido 5 vezes! Que sonho!
Como o lugar tem bloqueio acústico, derrubar paredes durante a noite não será
um problema.
Anthony me entrega luvas de proteção e eu as visto rapidamente. Tenho
certeza que pareço uma criança à espera do presente de natal, mas é que além de
tudo, finalmente vou poder testar minha verdadeira força com esse corpinho de chupa-
sangue.
— Por onde você quer começar? — pergunta o loiro e não levo mais do que
um segundo para decidir.
— Pelo camarote. — Isso os faz rir, mas todos acenam em concordância e nós
subimos para o mezanino.
— Faça as honras então, querida — incentiva Charlie e abro um sorriso de
orelha a orelha. Agarro o tampo de madeira do do bar e o arranco com um puxão.
Assustada com meus próprios movimentos, acabo soltando a peça rápido demais e ela
acerta um painel de vidro, quebrando-o também em pedaços.
— Bom, dois coelhos numa tacada só — digo, dando de ombros e rindo
sozinha. Depois que dou abertura aos estragos, meus vampiros se juntam a mim.
Anthony arranca prateleiras da parede como se fossem de papel, Charles se diverte
destruindo o drywall e Jason arranca as grades da beirada.
Uma energia absurda percorre meu corpo enquanto me movo, quebro, soco e
chuto coisas para longe. É como extravasar todos os meus demônios de uma vez só. O
processo todo acaba se tornando uma brincadeira entre nós também, competindo para
ver quem destruía paredes mais rápido, ou arremessava pedaços de madeira mais
longe.
Não demora para destruirmos tudo daquele andar e voltarmos ao térreo.
E então, nem sei como explicar o que acontece.
Em um minuto estou rindo de ganhar de Anthony no arremesso, no outro ele
está me agarrando pela cintura e girando comigo no meio de todo aquele caos
enquanto os outros dois também dão risada. Assim que meus pés voltam ao chão, toda
a alegria e energia que estou sentindo decidem se manifestar de outra forma.
Pulo no colo do vampiro e o beijo com toda força.

Anthony
Kaylee não me beija, ela me toma para ela. É intenso, obsceno e
absolutamente delicioso. Ao juntar o beijo com o fato de que meu corpo está lotado da
energia caótica que usei para destruir a casa noturna, perco completamente o controle.
Quase voo com a vampira no colo até chocá-la com a parede mais próxima. O
drywall racha de cima a baixo. A mulher arfa e desprende os lábios dos meus, mas só
para respirar e não protestar pelo impacto. Seus olhos praticamente derramam desejo.
Alongo minhas presas e a mordo com força no ombro. Kaylee geme e
rapidamente começa a se esfregar em mim. Assim que o sangue dela atinge minha
língua, uma descarga elétrica me percorre dos pés à cabeça.
Uso meu último fio de racionalidade para soltar a mordida e segurar seu
pescoço com uma mão.
— Ou você me para agora, ou vou te foder aqui no meio desse caos e não
serei gentil — aviso e a garota apenas ergue o queixo e me dá um meio sorriso
malicioso.
— Ótimo. Eu quero o caos, o tesão, a loucura. E quero os três.
Praticamente rujo com sua fala e a tiro do meu colo. Viro-a para o meio da
antiga pista de dança de modo que nós dois possamos olhar para Charlie e Jason, que
acompanham vidrados cada um dos nossos movimentos.
Kaylee usa uma regata preta que eu destruo com um puxão. O sutiã
desaparece também no próximo segundo e eu a abraço pelas costas, levando minhas
mãos até seus seios e os apertando.
— Você sabe o significado dos seus apelidos, Srta. Young? — pergunto com a
voz rouca bem próxima do seu ouvido.
— N-não.
— São todos em alemão. Schatz significa tesouro — explico, ao mesmo tempo
em que belisco seus mamilos com meus dedos e ela se arrepia. Jay e Charlie estão
quase colocados em nós agora. — Süsse é docinho e Häschen seria algo como
coelhinha. Mas acho que nenhum desses é adequado pra você. Não quando você está
aqui, molhada e pedindo para ser devorada por três vampiros que te veneram…
Enquanto digo isso, minhas mãos já se ocuparam de abrir seu shorts e deixá-lo
cair no chão e apenas afasto um pouco a calcinha para poder tocar sua boceta. Kaylee
geme baixinho e se agarra ao meu braço, tentando fazer com que eu intensifique o
toque, mas sigo apenas espalhando sua lubrificação por toda a boceta.
— Talvez devêssemos chamá-la apenas de nossa safada. O que acha? —
finalizo, finalmente tocando seu clitóris e fazendo Kaylee choramingar.
— Sim! Porra, sim. Posso ser tudo o que vocês quiserem.
Sorrio e lambo seu pescoço devagar. Retiro a mão de sua boceta e levo os
dedos molhados até a boca de Jason, que lambe até não deixar mais nenhum rastro do
sabor de Kay. Seguro o queixo dele por um instante.
— Quero ver o Charlie te comer, enquanto eu fodo a Kay — peço e meu
namorado sorri em aprovação. — Mas primeiro, ela vai tirar nossas roupas.
Kaylee nem hesita e dá um passo a frente, agarrando a camisa de Jason e
fazendo o mesmo que fiz com a dela antes: rasgar em pedaços. A garota então puxa o
vampiro pela nuca e o beija ao mesmo tempo que crava as unhas afiadas nele,
arranhando do peito até a barriga, fazendo Jason gemer baixinho.
Kaylee abaixa a calça de moletom dele com agilidade logo depois, levando a
cueca junto.
O processo se repete com Charlie e depois comigo. A expectativa é gostosa,
mas também quase nos mata.
Em um estalo, a tensão explode comigo pressionando Kaylee na parede mais
próxima e meus namorados se chocam com tanta força que, pelo som, sei que foram
parar no chão.
Beijo nossa garota ao mesmo tempo em que me livro de sua calcinha. Pego-a
no colo, apertando a bunda gostosa e então finalmente me enterro nela de uma vez só.
Nós dois gritamos e quando eu jogo a cabeça para trás, Kay afunda seus
dentes no meu pescoço.
— Porra, isso — é só o que consigo dizer enquanto estoco enlouquecido e
Kaylee me toma com longos goles. Quando ela se dá por satisfeita, é a minha vez.
Nos perdemos um no outro por vários minutos, entre gemidos, gritos, mordidas
e sua boceta deliciosa deslizando pelo meu pau. Estou perto de gozar, mas só vou
fazer isso depois dela e também há outra coisa que quero ver. Inverto nossas posições
e escorrego pela parede até parar sentado no chão. Dou um tapa estalado na bunda
dela.
— Vire-se, minha safada. Você não vai querer perder o show — demando e ela
obedece. Quando se vira e finalmente vê Jason deitado no chão, recebendo o pau de
Charlie com brutalidade, posso jurar que ela quase entra em combustão porque assiste
vidrada, mordendo o lábio e escorregando uma mão até o clitóris. Dou mais um tapa
forte na outra nádega.
— Sente-se para poder ver melhor, Schatz — peço e ela mal desvia os olhos
enquanto se agacha e desliza outra vez no meu pau. Xingo alto, tentando extravasar o
prazer. Kaylee rebola com pressa e desespero em cima de mim, buscando seu
orgasmo.
Levo uma mão até seu clitóris e passo o dedo em círculos sobre ele como sei que ela
gosta, enquanto com a outra mão agarro seu cabelo e puxo.
— Eles são deliciosos, né? — digo contra sua orelha.
— Sim. Sim. Demais, porra.
— Você sabe como é o impacto das arremetidas de Charlie quando ele está
desesperado assim, não é? Consegue imaginar o prazer que Jason está sentindo? —
continuo, para atiçá-la mais. Tudo fica ainda melhor quando Charlie passa também a
masturbar o outro. Kaylee arfa e senta em mim com ainda mais força. Sua mão se junta
a minha em sua boceta, me mostrando o ritmo que precisa para chegar lá.
E de fato não demora. Kaylee grita e goza, me apertando feito um torno e
arrancando de mim um orgasmo arrebatador. Mordo seu ombro, para que as
sensações prazerosas se prolonguem nela e em mim, e acompanhamos quando
Charlie e Jay também atingem o céu, rugindo um contra a boca do outro.
Quando os espasmos no corpo da vampira terminam, me retiro de dentro dela
e deixo que solte o corpo contra o meu, exausta. Assim como meus namorados se
derretem no chão à nossa frente.
Olho ao redor. O andar de cima destruído, os entulhos espalhados por todo
canto, as diversas paredes abertas e nós no meio do caos completo.
— Não acredito que inauguramos esse lugar assim — digo quando consigo
recuperar o fôlego e rio suavemente.
— Bom, vai se chamar Vampire, não vai? Achei muito apropriado batizá-lo com
sexo de vampiros — é a resposta esperta de Charlie, que nos leva à gargalhadas e me
obrigada a concordar. Era totalmente doido, mas de certa forma, perfeito.
Charles

Eu não estava com ciúmes.


De jeito nenhum.
Impossível.
Porém, mesmo enquanto repito isso dentro da minha cabeça, meus dentes
estão rangendo de raiva uma vez que caminho com Kaylee pelo clube que viemos
conhecer e basicamente todo ser humano vira a cabeça para olhar para ela.
Olham para os meus namorados também, mas com essa parte eu já estava
meio acostumado. Já com Kaylee, nem deveria estar acontecendo! Temos um maldito
prazo de validade, e que está muito perto de se esgotar.
Inferno! Não gosto nem de lembrar disso.
Olho de cara feia para um ruivo baixinho que que praticamente vira a cabeça
feito uma coruja para poder olhar para as pernas da morena.
É nossa morena, caralho!
Tenho que respirar fundo enquanto caminho pelo lugar.
O Hathor é um clube de sexo. Conhecemos a sede de Portland há alguns anos
e adoramos, então estava ansioso para visitar essa nova filial em Seattle. A mulher da
entrada nos informou que a configuração do clube era bem parecida: havia um lounge
mais tranquilo, com o bar e apresentações sensuais, mas ninguém ficava nú nesse
espaço. Havia então a sala escura e a de voyeurismo, além dos quartos temáticos. O
mais interessante, e que foi um dos grandes motivos para virmos hoje aqui, é que
nessa sala de entrada também haviam alguns “cantinhos privados”. Portas espalhadas
por todas as paredes da sala e que continham pequenos espaços para onde você
podia arrastar alguém e ter uma rapidinha. Ou, no nosso caso, dar uma mordidinha no
pescoço.
Kaylee havia ficado animada para conhecer o Hathor, mas avisou que nessa
primeira vez preferia ficar no básico: conhecer o lounge, assistir a alguns shows e
depois pegar um quarto, o que eu concordava totalmente. Eu não me sentia muito
aberto a compartilhar nenhum dos três hoje.
Nos sentamos na área vip que havíamos reservado e eu puxo Kaylee para o
meu colo. Ela vem de bom grado, o que ajuda a me acalmar um pouco.
Não falávamos sobre o prazo de 6 meses que tínhamos definido para que a
vampira novata ficasse conosco. Mas o quinto mês já estava na metade e hoje era
basicamente um dos últimos conhecimentos que Kaylee precisava adquirir para seguir
como vampira com tranquilidade: encantar humanos.
Ela já conseguia se controlar muito bem perto dos mais diversos cheiros e por
isso escolhemos finalmente trazê-la aqui. Era um ambiente mais tranquilo e ainda sim
fácil para que ela atraísse alguns humanos. Ainda sim, essa seria a primeira vez que
ela provaria sangue humano e eu estava um pouco preocupado.
— Gostei desse espaço. Do sofá, principalmente. É algo que poderia ser
colocado na área vip da Vampire — diz Kay, observando todos os detalhes. Concordo
com a cabeça.
— É uma boa. Você vai se divertir na fase da decoração, não é? — afirma
Jason sentado ao nosso lado e puxando a mão da vampira na direção dele para fazer
um carinho suave. Sinto o corpo da garota se enrijecer um pouco e franzo a testa.
— Não sei se estarei aqui quando vocês chegarem nessa parte, mas posso dar
pitacos até mesmo por mensagem — responde ela, com um pequeno levantar de
ombros. Ranjo os dentes outra vez, Jason fecha a cara e Anthony esmaga o assento
do sofá com os dedos.
— O que você quer dizer com isso? — retruca Jay na mesma hora.
— Bom… combinamos que vocês me aguentariam por 6 meses, né? Então…
faltam só duas semanas para se verem livres de mim — explica ela, para em seguida
ficar de pé e gesticular na direção do bar. — Vou buscar uma bebida, vocês querem
algo?
Ela tenta desviar do assunto, mas estou cansado de fugir e seguro seu braço,
trazendo-a de volta para nós.
— É isso que você quer? Quer ir embora? — pergunta Anthony.
— Não… Não sei — é a resposta incerta dela, o que não me tranquiliza nem
um pouco. Kaylee não olha nos olhos de nenhum de nós e vejo que praticamente se
força a encarar o teto e respirar fundo. — Mas sei que não quero falar sobre isso essa
noite, ok? Vim para me divertir e aprender com vocês. Vou pegar nossas bebidas.
Dessa vez, deixo que ela escorregue por entre meus dedos e a assisto se
afastar. Quando vejo que está longe e distraída o suficiente falando com o bartender,
olho para meus namorados e confesso baixinho:
— Não quero que ela vá embora.
— Também não estou pronto para isso. Ela já faz parte do nosso dia a dia —
concorda Jay.
— Exato. Mas acho que ela também não quer ir, só está preocupada de estar
“se intrometendo” no meio de nós — afirma Anthony e tenho a mesma impressão.
Jason esfrega a barba enquanto pondera.
— Vamos ter que mostrar para ela que não é nada disso.
— Mostrar que agora ela é nossa — adiciono, adorando colocar isso em
palavras. Meus dois homens acenam em concordância.
— Quatro pode ser muito melhor do que três, no fim das contas — finaliza
Anthony e meu coração se agita de felicidade.
Vamos fazer dar certo.

Se mais cedo nessa noite eu achei que estava com ciúmes, não foi nada perto
de ter que assistir e ajudar Kaylee atrair e morder outro cara. Com os meninos eu sabia
que nada disso importava, eles podiam beijar várias bocas, morder uma dúzia de
pessoas e ainda sim, no fim do dia, sempre voltariam para mim, enquanto que com
Kaylee a situação ainda era toda instável. E ela podia muito bem acabar preferindo os
humanos para se relacionar, né?
Aperto as mãos em punho diante desse pensamento enquanto saímos do
espaço reservado que usamos com o humano em questão. Não quis nem aprender o
nome dele, só fiquei feliz de ver Kaylee apagar sua memória e dispensá-lo.
— Nosso quarto. Agora — demando e caminhei a passos rápidos na direção
correta. Os três me seguem sem pestanejar.
Passamos por diversos quartos no caminho, inclusive alguns com faixas de
vidro que nos permitia observar a diversão rolando lá dentro. Era o caso do quarto do
lado do nosso, que até paramos para observar por alguns segundinhos porque, bom…
era meio que a versão humana de nós. Três homens: um todo tatuado, um loiro e um
moreno que pareciam venerar uma garota de cabelos pretos, tocando e beijando seu
corpo todo.
— Nós não vimos eles em Portland uma vez? — pergunta Anthony ao meu
lado.
— Acho que sim, mas só os três. A garota parece ser adição nova.
— Uma adição maravilhosa. O que será que estão fazendo por aqui? — Jason
pergunta, curioso, mas nenhum de nós tem a resposta, então apenas dou de ombros.
Kaylee por sua vez está olhando tudo tão vidrada que quase não pisca, o que
me faz rir e aproximo a boca de sua orelha.
— Você quer aquilo, Susse?
— Sim — confessa num sussurro, mas ainda focada no quadrisal. Abro um
sorriso malicioso e agarro sua cintura, a levantando com facilidade.
— Então venha, querida. Você também tem três só para você — relembro-a
disso enquanto dou os últimos passos até nosso quarto e passo pela porta assim que
Anthony desliza o cartão pela fechadura.
Kaylee

Não tenho tempo nem de observar o quarto em que entramos, pois Charles já
está roubando meu fôlego em um beijo descontrolado que combina com meu ritmo
atual. Beber do humano foi como tomar um enorme energético, me deixando inquieta e
ainda mais excitada que o normal.
Apesar de ser algo vital e muito gostoso, sei que só consegui fazer aquilo
porque meus 3 vampiros estavam bem ali do lado. Do contrário, seria muito estranho e
até um pouco íntimo demais.
Quando ele me coloca no chão e separamos nossos lábios, sinto um par de
mãos fortes vindas de trás erguerem meu vestido devagar. Ao me livrar da peça, os
vampiros têm a visão da lingerie especial que escolhi para hoje, que é toda preta e
inclui cinta liga, meias finas que vão até minha coxa, e calcinha e sutiã de renda preta
que não faz questão de esconder nada. Grunhidos e palavrões se seguem e sou
jogada na cama macia.
— Você é uma visão do caralho, Häschen — elogia Jason, os olhos brilhando.
Ele desabotoa a camisa devagar, enquanto Charlie e Anthony não têm a mesma
paciência e vejo vários botões pularem das casas. As calças dos três não demoram
nada a desaparecem de seus corpos também e os três avançam para cima da cama
como os verdadeiros predadores que eram, o que só me deixava ainda mais excitada.
— Sente-se — é a ordem curta e direta de Charlie. Obedeço e minha
respiração se descontrola, tamanha minha expectativa enquanto acompanho o loiro
sentar logo atrás de mim e me colar em seu peito. Jason se posiciona entre minhas
pernas, passando as mãos pelas coxas e apertando-as com gosto. Charlie está do meu
lado esquerdo, observando tudo com o lábio inferior preso entre os dentes.
Ofego quando sinto uma das mãos de Anthony circular meu pescoço enquanto
a outra desce até apertar meu seio por cima da lingerie. Charlie segue a deixa e se
ocupa do meu outro seio, mas opta por puxar a peça para baixo até expor meu mamilo,
que ele belisca e eu resfolego.
— Diga, Kaylee. Ainda está com inveja do pessoal do quarto ao lado? Queria
outras pessoas te tocando assim? — questiona o moreno e balanço a cabeça em
negativa.
— Não. Não quero mais ninguém, só vocês — confesso e tanto ele quanto
Jason sorriem. A mordida leve que Anthony dá em minha orelha me indica que ele
aprovou a resposta também.
— É bom mesmo, docinho. Porque você é nossa, todinha nossa — afirma e
torce meu mamilo entre os dedos. Jay afasta minha calcinha para o lado e passa o
dedo por meu clitóris tão de leve que me arrepia inteira.
— Nossa para beijar. Nossa para lamber. Nossa para foder — completa o
vampiro e em seguida cai de boca em minha boceta. Grito de surpresa e ergo o quadril
por instinto, mas Jason espalma a mão grande em minha barriga e me faz voltar para o
lugar. Sua língua percorre cada cantinho, espalhando minha lubrificação e sua saliva
por toda a região e me enlouquecendo no processo.
Como se iniciando uma sincronia mágica, Charlie abaixa o outro lado do sutiã e
coloca meu seio quase todo na boca. Anthony aperta os dedos em volta do meu
pescoço e sussurra:
— Ninguém mais vai conseguir te fazer sentir assim, sabia? Tão excitada que
encharca a calcinha.
— Eu sei — sussurro de volta e de fato acredito nisso. Nada nunca será tão
bom quanto é com eles.
— Ninguém mais vai te venerar e te devorar dessa forma. Ninguém mais dará
conta da safada insaciável que existe dentro de você, Kaylee — continua ele e fecho os
olhos enquanto absorvo a fala e todas as sensações.
— Não, ninguém mais…
— Então aproveite. Podemos realizar todos os seus desejos. O que você quer,
Kaylee?
— Quero dois ao mesmo tempo — digo de súbito e os três param de se mexer,
surpresos. Em todos esses meses eu tinha negado a vontade de fazer isso. De fazer
anal no geral, pra falar a verdade, mas no fim das contas acho que eu realmente queria
provar tudo com eles.
Despertando do instante de choque, Anthony tira a mão do meu pescoço para
em seguida cravar os dentes nele. Jay volta a me chupar com esforço redobrado e
Charlie faz meu sutiã desaparecer para também morder meu seio.
Ondas de prazer intenso percorrem meu corpo todo e eu agarro o cabelo de
Jay, forçando-o ainda mais contra a minha boceta. Jason sorri maliciosamente e faz o
que eu quero. As mordidas fazem então o restante do estrago e eu grito alto enquanto
gozo.
Mal termino de descer do céu e meu corpo é manipulado até que eu me veja
de joelhos em cima de Jason e assisto Charlie o beijar com sofreguidão.
Anthony, que saíra da cama por um instante, retorna com um vibrador estreito
e um tubo de lubrificante.
— Eu quero vê-la cavalgar no pau do Jay enquanto eu te preparo para receber
meu pau, Schatz — avisa o loiro às minhas costas. Ele me dá dois tapas fortes na
bunda antes de acariciar o local e em seguida puxar minha calcinha até destruí-la.
Era incrível a quantidade de peças de roupa que destruímos nesses meses,
mas eu não podia me importar menos. Minha concentração agora era toda em me
levantar um pouquinho e enfim deslizar pelo pau de Jason. Gemo alto e o vampiro
embaixo de mim até se separa dos lábios do outro para fazer o mesmo.
Rebolo devagar do jeito que eu sei que ele gosta, apertando seu pau dentro de
mim a cada subida. Ouço o vibrador ser ligado e Anthony o pressiona contra meu
períneo primeiro. A sensação é gostosa e fica ainda melhor quando o aparelho se fixa
na minha entrada e a provoca pouco a pouco. Relaxo mais depressa do que havia
imaginado e logo estou sendo fodida pelo vibrador também.
E porra, como é gostoso!
Charlie segura meu queixo e me beija ao mesmo tempo em que pega uma das
minhas mãos e a coloca em seu pau, duro feito aço. Abro um sorriso devasso para ele
ao movimentar a mão para cima e para baixo em sua extensão.
Fecho os olhos quando o pau de Jason acerta um ponto delicioso dentro de
mim e o prazer se intensifica quando ele desliza um dedo sobre meu clitóris inchado.
Estou prontíssima para gozar de novo, mas o tapa forte de Charles no meu seio me faz
ofegar e voltar a fitá-lo.
— Você só vai gozar com 2 paus dentro de você, Srta. Young — determina ele
e eu solto uma lamúria, fazendo de tudo para obedecer e frear meu ápice.
— E acho que está pronta. Deite sobre o Jason e relaxe — comanda Anthony
às minhas costas e eu o faço, com Jay tomando meus lábios para si no mesmo
instante. O vibrador é retirado e sinto mais lubrificante sendo espalhado na minha
entrada antes do pau de Anthony se posicionar e forçar a entrada. Dói, devido a
grossura e meu instinto é me retesar inteira.
— Me morda, vai te ajudar a relaxar — orienta Jason ao parar de me beijar.
Alongo minhas presas e então as cravo em seu ombro no instante seguinte. Seu gosto
delicioso em minha língua realmente ajuda e Anthony consegue avançar dentro de mim
centímetro a centímetro. Leva um tempo até ele me preencher por completo e Anthony
xinga alto quando isso acontece.
— Porra! Inferno de mulher gostosa! Diz que eu posso me mexer, minha
safada, por favor — implora ele e me arrepio inteira de satisfação. Sangue escorre do
meu queixo quando levanto a cabeça. Jason parece torturado tendo que ficar parado
também e eu sorrio antes de sussurrar uma concordância.
Os próximos minutos são de puro delírio. Anthony e Jay me fodem devagar e
em sincronia, de forma perfeita. Charles se ocupou de enrolar meu cabelo inteiro em
sua mão e dizer todo tipo de safadeza em meu ouvido.
Perco o controle sobre meu corpo, tamanho prazer que sinto. São eles que
definem o ritmo, me ajudando com as mãos fortes por todo meu corpo, porque tudo que
eu sou capaz de fazer é gemer, gritar seus nomes e implorar que eles não parem. Não
parem nunca.
Sinto Jason perder a batalha contra o orgasmo e também gritar enquanto goza
dentro de mim. Anthony nos movimenta no pau do outro vampiro enquanto os
espasmos em seu corpo terminam. Quando isso acontece, o loiro me faz desencaixar
de ambos e fica de pé do lado de fora da cama, me puxando junto com ele.
Se guiado por alguma comunicação telepática ou não, Charles nos segue no
mesmo instante. O moreno me pega no colo e me penetra de uma vez só. Choramingo
de prazer e beijo sua boca gostosa enquanto passo as duas mãos por trás de sua nuca
e puxo seus cabelos curtos. Anthony se junta a brincadeira, voltando para seu lugar na
minha bunda. Com os dois pares de mãos me segurando pelos joelhos, eles me
movimentam de cima para baixo e não sou capaz mais de me controlar. Gozo
desesperada e o líquido quente que desce por minhas pernas indica que tive um
squirting no processo. Meus vampiros rugem de satisfação e mordem cada um, um
lado do meu ombro.
É tão incrível que nem sou capaz de pensar em mais nada além disso. Além da
sensação deles dentro de mim, tanto com os dentes quanto com os paus. Só sei que
não quero que isso tudo acabe.
Não quero que acabe nunca.
Kaylee

Depois de mais uma rodada de sexo no clube, nós voltamos para casa e fomos
direto para a cama, verdadeiramente cansados. Me aconchego no peito de Jason e
fecho os olhos, prontíssima para me entregar aos sonhos quando a voz dele me
interrompe.
— Kay?
— Hmm?
— Nós não queremos que você vá embora.
— Hoje não vou a lugar algum, vocês acabaram comigo — é minha resposta
sonolenta, que faz os três rirem de leve.
— Não queremos que você vá embora nem hoje, nem nunca — é Charlie
quem complementa e isso sim faz meu corpo despertar. Me sento no meio da cama em
um salto.
— Como é? — pergunto com os olhos arregalados na direção dele. Charlie
também se senta e pega minha mão entre as suas.
— Cento e oitenta anos nessa terra e achávamos que nada mais nos
surpreenderia. Mas aí você chegou. Com suas teorias vampíricas baseadas em
Crepúsculo…
— Seu apego à água e sabão… — complementa Jay rindo.
— E sua curiosidade animada e sem fim. Você foi como um sopro de vida
totalmente novo para nós três — Anthony diz e meu queixo vai no chão. Eles estão
todos ao meu redor agora, com as mãos firmes fazendo carinho na minha pele.
— O-o que…O que vocês querem dizer com tudo isso? — gaguejo ao
perguntar, com a respiração desregulada, sentindo meu cérebro falhar e meu coração
bater rápido demais.
— Que nos apaixonamos por você, Kay. E podemos ter demorado para
perceber isso, mas assim que você comentou sobre ir embora, acho que finalmente a
ficha caiu. Para nós três — explica Jason. Os lindos olhos castanhos grudados nos
meus. Os mesmo olhos que eu sabia identificar como honestos desde aquela primeira
noite. Ainda sim, estou tão assustada que me desvencilho deles e levanto, passando a
andar pelo quarto de um lado para o outro.
— Impossível. Impossível! Vocês não se apaixonam por ninguém de fora.
Vocês amam um ao outro e pronto, estava claro isso para mim desde o primeiro dia. Eu
não vou me meter no meio disso — digo, minha voz saindo mais fina e tremida do que
o normal.
— Häschen, você já está no nosso meio — afirma Jason e eu me encolho toda,
lágrimas ameaçando cair. Eu não pretendia nada disso quando começamos a transar.
Era para ser só isso: sexo. Sexo e diversão entre pessoas sob o mesmo teto. Eu nunca
quis atrapalhar o relacionamento deles de quase dois séculos. — Pare de surtar! Isso
não é algo ruim, Kay. Muito pelo contrário, você está atrelada a nós da forma mais
perfeita.
Isso me faz parar de andar e volto meu olhar para os três.
— De uma forma que nem sabíamos que precisávamos — complementa
Anthony e eu o encaro, tentando ver qualquer dúvida ali, qualquer sinal de que na
verdade ele quer correr disso tudo. Ele nunca quis outra mulher na vida deles depois
daquela bruxa! Porém, mesmo após alguns segundos, não consigo identificar nada
além de segurança e tranquilidade no rosto dos três homens.
Fecho os olhos, quando algumas lágrimas escapam e rolam por minhas
bochechas.
Não preciso olhar para saber que foi Charlie quem me puxou pela mão e me trouxe
para o seu colo. Escondo meu rosto em seu pescoço.
— Vocês são tudo que eu sempre quis e não sabia também — confesso
baixinho, e ouço o coração do vampiro moreno acelerar. — Mas não vejo como
daríamos certo a longo prazo.
— Por quê? — questiona Charlie. Abro os olhos e levanto a cabeça para poder
encará-lo.
— Primeiro porque vocês têm um relacionamento “semi-aberto” — respondo,
trazendo à tona o mesmo termo que Jason havia me dito antes. — E não acho que
essa seja a minha praia. Vê-los morder humanos já não é uma experiência muito
agradável, imagine ter que dividi-los com ainda mais gente! Eu não aguentaria, tenho
uma veia bem ciumenta lá no fundo.
Charlie ri, mas é Anthony que intervém na mesma hora.
— Não precisamos de mais ninguém além de você. — Isso faz com que eu me
vire para ele, meio cética.
— Você não tem como saber disso. Nem pode falar por todos.
— Ah, mas eu posso, porque os conheço a tempo demais — afirma, um pouco
presunçoso, e o pior é que os outros dois não negam. — E não há como eu te provar
que só queremos você além de você ficar e ver, não é?
Abro a boca para argumentar, mas acabo sem saber o que dizer. Abano a
cabeça, tentando me concentrar nos outros motivos e não na esperança se irradiando
em meu peito.
— Tá, mas eu tenho minha avó também. Preciso voltar a trabalhar para
assumir as contas dela. Preciso arranjar onde morar e trazê-la para viver comigo.
Anthony dá de ombros.
— Traga ela pra cá. Podemos transformar a casa da piscina em um
apartamento para ela, e contratarmos cuidadores para ajudá-la se necessário.
— Acho perfeito. Ela já sabe o que somos, creio que não se assustaria —
concorda Jason.
— Não. Não. Isso seria demais, ela não é responsabilidade de vocês. É minha
— justifico, o que só faz Charlie bufar e apertar as mãos em minha cintura.
— Süsse, pare de tentar achar motivos para fugir. Tudo que te envolve passa a
fazer parte do nosso mundo também. Faríamos qualquer coisa por você.
— Exatamente.
— Qualquer coisa — dizem junto os outros dois e mais lágrimas escorrem dos
meus olhos.
Olho de um para o outro, o amor e carinho exalando deles com tanta facilidade
que finalmente me rendo.
— Eu me apaixonei por vocês também.
— Então fique — pede Anthony.
— Seja nossa e de ninguém mais, porque também seremos seus — oferece
Jason.
— Fique e nos deixe te mostrar o infinito. Finaliza Charlie e eu soluço antes de me
agarrar a ele.
— Eu fico. Para sempre — é minha resposta, enfim. Charlie me abraça
apertado e logo há mais dois pares de braços ao nosso redor. Sou cercada de amor e
nunca me senti mais feliz.
Kaylee

Dona Maria José Garcia faleceu tranquila aos 90 anos, exatos 20 anos depois
de vir morar comigo e com os meninos. Apesar de sofrer muito com sua partida, o que
me confortava é que realmente pudemos aproveitar esses anos. Viajamos, conhecendo
vários pontos do país e até mesmo uma parte da América do Sul, incluindo o Brasil. Ela
foi minha melhor amiga até o final, e até mesmo quando confessei a ela que namorava
os três vampiros, minha vó apenas rezou uma ave maria pela minha alma pecadora e
logo depois me chamou de garota esperta.
Sorrio diante da lembrança.
Era em homenagem a ela que eu e os amores da minha vida
desembarcávamos agora em São Paulo com planos de passar a próxima década por
aqui. Ainda não havíamos definido uma cidade para morar, viajariamos um pouco pelo
país antes de nos decidirmos.
Volto meus pensamentos ao momento presente quando sinto a mão de
Anthony segurar minha coxa. Ele está dirigindo nosso carro alugado em direção ao
hotel.
— O que vai querer fazer primeiro, Schatz? — pergunta ele e mordo o lábio
inferior enquanto penso. Era começo da madrugada, mas São Paulo era a cidade que
nunca dormia, né? Deve haver um monte de coisas que podemos fazer.
Entretanto, acho que não quero me aventurar por nada hoje. Quero algo
melhor.
— Quero ir para o nosso hotel, pedir o jantar no quarto, tomar banho com meus
vampiros favoritos e depois deixar que façam amor comigo a madrugada toda — digo,
e me viro no banco para poder olhar para os três ao mesmo tempo.
— Eu não poderia escolher nada mais perfeito — diz Charlie, abrindo seu
sorriso doce para mim.
— Humm, parece incrível, mas e se adicionarmos vocês desfilando pra gente
naquelas lingeries novas que comprou e tem escondido há alguns dias? — sugere
Jason, malicioso e eu dou risada.
— Você é um belo de um curioso, né, meu amor? Um desfile eu não prometo,
mas posso colocar uma delas sim.
— Fechado! — concorda ele antes de piscar pra mim.
Anthony aproveita a pausa no semáforo para me olhar e esticar uma mão para
acariciar minha bochecha.
— Não há nada que eu queira mais do passar uma noite relaxante e gostosa
com vocês três — afirma o loiro, desviando o rosto para trás para olhar carinhosamente
nossos namorados.
Uma buzina alta interrompe nosso momento fofo e Anthony se apressa a
avançar com o carro pela avenida. Mas nada seria capaz de abalar a felicidade doce
dentro de mim.
Não faz muito tempo que só o que eu conseguia imaginar para o meu futuro
era continuar trabalhando muito, dormindo pouco e perdendo o juízo preocupada com
as contas e também pelo medo de me ver completamente sozinha quando minha avó
se fosse.
E agora o meu futuro são esses três. Minha perspectiva é conhecer o mundo
com a certeza de que nunca mais ficarei sozinha. Fui resgatada pelos vampiros e
pretendo amá-los e ser amada até o fim dos tempos.
Para ver a ilustração sem tarjas, clique aqui.
Cara leitora, quando você estiver lendo isso essa autora estará quase doida
pelo processo de botar esse livro no mundo. Mas quem mandou eu me enrolar e depois
querer colocar tudo nos 45 do segundo tempo, né? kkkk
Ainda sim, estou muito feliz de ter conseguido, principalmente porque essa
história foi escrita enquanto minha vida estava uma bagunça e minha ansiedade lá no
alto. Então no fim, considero uma grande vitória.
Agradeço muuuuuito a minhas amigas, que brigaram, me apoiaram e surtaram
junto comigo durante esse processo: Ray, Aline e Berta, vocês seguem sendo
perfeitas!
Amandinha, minha revisora maravilhosa! Obrigada por seu trabalho, suas dicas
e surtos, e por não me bater por te fazer trabalhar na última semana do ano kkk
Um abraço enorme também para as minhas betas: Anny, Ayumi, Flávia, Lilian,
Maieli e Mys. Vocês me deram gás para continuar a escrever quando eu mais
precisava disso.
E por fim, muito obrigada a você, leitora. Obrigada por serem essas
maravilhosas que me acompanham, pedem livros, ilustrações, surtam na minha dm e
me fazem chorar de felicidade com as avaliações. Sem vocês nada disso faria sentido,
então muito, muito obrigada mesmo por gastar um tempinho com os personagens que
vivem na minha cabeça e eu espero que vocês tenham gostado.
Vejo vocês na próxima história!
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Alex

Quando minha cara atinge o chão do ringue, eu sei que estou completamente
na merda. É como se o mundo parasse por alguns segundos enquanto entendo as
consequências disso. Perder uma luta não seria um grande problema. A verdadeira
razão pela qual eu sei que tudo deu errado é a dor excruciante que sinto no ombro
esquerdo.
Só o que consigo fazer é gritar. Tanto de aflição, quanto de desespero,
porque conheço essa dor, já a tive antes e sei que é aquela que indica que o
ligamento do meu ombro se rompeu. É a dor que indica que, por mais que as
Olimpíadas aconteçam daqui 30 dias, eu não vou me recuperar a tempo de competir.
A angústia do sonho escapando pelos meus dedos dói muito mais que essa
lesão. Fecho os olhos e permito que as lágrimas escorram até o chão junto com todo
o futuro que planejei.
— Irmãzinha, agora que você tem seu velho da lancha, quando vai me levar
pra passear? — provoco Melissa, lhe lançando meu melhor sorriso descarado.
— Ele não é o velho da lancha — responde, e mesmo de canto de olho, vejo
quando ela revira os olhos. Ela está dirigindo, concentrada, me levando para o
apartamento pequeno que aluguei aqui no Rio de Janeiro.
— Prefere sugar daddy, então? — continuo, porque encher o saco da
Melissa - que era a irmã certinha e agora é a escandalosa que namora o pai do ex - é
simplesmente uma das minhas atividades favoritas.
— Com certeza doce, principalmente quando eu dou abacaxi pra ele comer
— diz, aproveitando o sinal fechado para olhar na minha direção e ostentar um
sorrisinho de lado. Meu queixo vai no chão.
— Melissa Alencar, você acaba de fazer uma brincadeira sobre porra? —
pergunto, chocada e ela apenas ri, voltando a olhar para frente.
— Mas é verdade. Já provou com abacaxi?
— Sim, melhora mesmo. Dizem que melão também, mas ainda não testei
— Hmm, essa eu não sabia, vou ter que testar — finaliza, e eu gargalho
diante da situação.
— Quem é você e o que fez com a minha irmã?
— Continua aqui, ela só está… mais bem servida — responde ela e não
resiste a dar risada também.
— Bem servida? Bem comida, isso sim. Vai, Romeu! — comemoro, e nós
duas rimos até as bochechas doerem.
Céus, como senti falta de ter Melissa por perto. Nem acredito que depois de
4 longos anos, finalmente voltamos a morar na mesma cidade.
— Estou é com inveja, confesso. Preciso transar pra desestressar, tomara
que tenha algum gatinho no barzinho no próximo sábado. Por sinal, vocês vão, né?
— pergunto.
— Vamos aonde?
— No meu primeiro showzinho aqui no Rio. Eu não tinha te falado ainda?
— Claro que não, sua doida. Explica isso direito.
— Devo ter esquecido, foi mal. Então, lembra da Vitória, nossa antiga
vizinha? — Melissa acena em concordância e eu prossigo. — Então, a namorada
dela tem um barzinho na Lapa. Elas viram meus vídeos e me convidaram para um
espécie de teste. Nesse primeiro dia vou ganhar um cachê pequeno, porém se a
galera gostar, vamos fazer sempre e aí cobrar o couvert — explico, animada.
Ter recebido esse convite enquanto eu me mudava pra cá foi mais um golpe
de sorte maravilhoso. Preciso muito de dinheiro, e também conquistar contatos.
Cantar não é minha profissão oficial, infelizmente. Canto desde que me entendo por
gente e amo fazer isso, mas por mais que eu tenha tentado, nunca fui além de
apresentações em bares, festas e festivais pequenos. Ainda sim a música ainda me
ajuda muito, tanto para manter minha sanidade, enquanto escrevo canções, toco e
canto, além de financeiramente com esses bicos que sempre arranjo por aí. Isso,
juntamente com meu trabalho como garçonete, foi o que me sustentou no começo da
faculdade em Curitiba. Me formei em Educação Física no fim do ano passado e
agora estou no Rio em busca de uma oportunidade. Enquanto o sonho de viver de
música não rola, estou correndo atrás do meu outro objetivo: ser preparadora
esportiva. A melhor de todas. Acompanhar atletas a conquistarem seus objetivos,
atingirem o máximo do próprio corpo em busca de seus sonhos também me motiva
dia após dia. E se eles forem bonitos e eu puder apreciar a vista enquanto trabalho,
melhor ainda.
Será bem difícil e é provável que primeiro eu só consiga um emprego em
uma academia, ganhando pouco, mas todo mundo tem que começar de algum lugar,
não é?
— Que coisa boa, maninha! Já chegar aqui com uma porta aberta para a
música. Vou ver se o Romeu tem algum compromisso ou se pode ir, mas já pode
confirmar minha presença. Me manda o endereço certinho depois — afirma,
verdadeiramente animada e eu sorrio, também contente por sempre ter o apoio da
Mel.
— Mando sim. Hey, aquela placa dizia UFRJ à direita, o prédio que aluguei
não é para aquele lado? — Aponto para a avenida que acabamos de passar. Não sou
a melhor com localização, afinal o Rio de Janeiro é muito grande, só que eu
pesquisei a região antes. Não vi o lugar pessoalmente, fiz todos os procedimentos do
aluguel online, mas Mel passou no apartamento para dar uma olhada e confirmar
que era realmente bom. Sei que é um prédio simples, de 6 andares e kitnets
ocupadas basicamente por estudantes, já que fica a poucas quadras da UFRJ. Essa
era a região com os menores apartamentos, mas também os mais em conta. Como
em Curitiba eu dividia um apartamento que ficava no quarto andar, morar sozinha e
esse prédio ter elevador já é um luxo e tanto.
Observo Mel tentar conter um sorriso enquanto vira na próxima rua à
esquerda. Estreito os olhos, desconfiada.
— Melissa Alencar, para onde estamos indo? — Ela dá uma olhada rápida
para mim antes de deixar a risada escapar.
— É surpresa. Aguenta aí só mais cinco minutos!
Arregalo os olhos.
— Melissa, eu juro que se você estiver me levando para uma festa depois de
eu ter passado 13h em um ônibus, estar descabelada, suada e cansada, eu vou te
bater! — protesto, indignada. Ela ri ainda mais.
— Relaxa, eu não te levaria para uma festa estando assim toda acabadinha.
Bufo e lhe dou um peteleco no braço, ganhando um "Hey!" de protesto dela.
— Acabadinha é sua vó! Eu só preciso de um banho, uma muda de roupa e
uma escova de cabelo, e volto a ser a irmã Alencar mais bonita — afirmo, mas ela
apenas balança a cabeça e vira em mais uma rua. Não faço a menor ideia de onde
estamos. — Agora desembucha logo! Para onde estamos indo?
— Para o seu apartamento.
— Qual? Porque eu tenho 99% de certeza de que viemos para o lado
contrário de onde devíamos. Eu olhei no Google Maps antes de sair da rodoviária.
Se você fosse um uber, eu já teria me jogado pela janela do carro — reclamo e
minha irmã solta outra risada.
Eu tinha um carrinho velho, que eu já havia comprado no fim da vida dele,
até alguns meses atrás. Infelizmente, no mês passado ele finalmente desistiu desse
mundo e fundiu o motor. Trocar de motor era mais caro do que ele inteiro, então
acabei vendendo o coitado para um ferro velho mesmo. Estou guardando dinheiro
para poder comprar outro em breve, e de preferência, um que não seja mais velho
que eu. Enquanto isso, eu vou me virar de ônibus, Uber, e caronas com a minha
irmã.
— Relaxa, já explico. É logo ali — responde apenas, e eu esfrego o rosto em
frustração. E realmente não leva mais do que um minuto para ver ela parando na
frente de um prédio cinza enorme. Melissa pega um controle no console, que eu
nem tinha reparado, e abre o portão, entrando logo em seguida. Tenho quase certeza
que minhas sobrancelhas estão chegando nas raízes do meu cabelo, de tanto que eu
arregalo os olhos em confusão.
— Melissa, que porra é essa? — digo, enquanto ela para em uma vaga e
solta seu cinto.
— Xiu, apenas desça. Lá em cima te explico tudo. Vamos deixar as coisas
aqui no carro por enquanto. — Bufo mais uma vez, mas faço o que ela pede.
Na garagem, rapidamente seguimos para o elevador. Nas mãos, Melissa
carrega um molho de chaves e aperta o botão do sétimo andar.
Cruzo os braços e olho para ela fixamente, só para ver se a deixo
desconfortável também.
— Para com a encarada maníaca! — protesta, passando a mão pelo meu
rosto para me fazer desviar os olhos. Mostro a língua para ela, mas o elevador para
no andar, então ela nem devolve a ofensa, apenas corre para fora.
Ela para em um apartamento logo a frente e gira a chave na maçaneta. Passo
minha mão no cabelo, numa última tentativa de me arrumar, caso isso realmente
seja uma festa.
Minha irmã abre a porta e em seguida estende os braços.
— Tã-rã! Bem vinda ao seu novo apartamento!
Dou um passo para dentro, vendo a sala bonita com um sofá pequeno de cor
creme, uma TV grande na parede, cercado por prateleiras com alguns livros e
decorações.
— Isso é algum dos lugares que você foi paga pra decorar? Não tinha outra
hora pra me mostrar não? — digo, porque é a única coisa que faz sentido. Mel revira
os olhos.
— Não, bobinha. É seu. Bom, na verdade é do Romeu, mas é aqui que você
vai morar — revela, praticamente saltitando de animação e me puxando mais para
dentro do local.
Meu queixo vai no chão.
— Como é que é?
— É isso aí. Eu fui visitar aquele apartamento que você queria morar e
fiquei horrorizada. Lugar ruim, prédio ruim, móveis caindo aos pedaços. Não tinha
qualquer condição de eu te deixar ficar lá. Queria muito que você ficasse no meu
antigo apartamento, porém como eu já tinha alugado ele antes de você confirmar
que viria pra cá e o contrato é de um ano… — ela explica, enquanto anda pela sala.
— Fiquei pensando no que fazer, até que Romeu disse que um dos apartamentos que
ele tem estava sem inquilino. Ele avisou que era pequeno, mas que você poderia
ficar se quisesse. Como eu sabia que você não aceitaria se eu dissesse, fiz tudo como
surpresa.
— Mas… mas… eu não posso pagar por um lugar bonito assim, Melissa!
Eu sou uma jovem adulta desempregada e uma cantora falida! — digo quase
chorando, porque realmente tudo o que eu queria era me jogar no sofá com cara de
super confortável agora mesmo. Mas conheço bem minha realidade.
Melissa se aproxima e põe as mãos em meu rosto, me forçando a encará-la
nos olhos, como fazia desde que éramos crianças e eu não queria prestar atenção
nela. Ela sorri para mim, de forma tranquila.
— Já está tudo certo, Ali. Romeu não quis aceitar que você pagasse aluguel,
mas como eu sabia que você protestaria, ele aceitou que você pagasse o condomínio
e o IPTU daqui. Vai dar praticamente o valor que você pagaria de aluguel naquela
espelunca. Ele disponibilizou o lugar e eu decorei tudo pra você. Você vai morar
aqui, e esse é nosso presente de boas vindas.
— Melissa! Você não podia ter feito isso! Olha esse gasto! — digo,
consternada.
— Não só posso, como fiz. Muitas dessas coisas eu até já tinha aqui. Só
comprei uma cama nova e refiz a decoração, claro — explica, toda contente.
Lágrimas realmente rolam pelo meu rosto agora, e eu sigo com dificuldade
de assimilar a situação.
— Mas… tem certeza? O Romeu, ele… não vai precisar daqui? —
pergunto, ainda insegura. Mel passa os dedos pelas minhas bochechas, secando as
lágrimas.
— Ele pode não ter lancha, mas tem um iate e continua sendo meu boy rico,
sabe? — diz, e me arranca uma risadinha. — Ele mal lembrava que tinha esse
apartamento, não há com o que se preocupar, juro. Agora deixa de besteira e deixa
eu te mostrar o resto.
Afirma, e me pega pela mão, me puxando em direção a cozinha. Respiro
fundo e me permito sentir o quentinho da felicidade em meu peito.
Nova casa.
Novas oportunidades.
E o apoio da minha irmã.
É, parece que vai dar tudo certo.
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