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Veridian Holly “Everleaf”

30 anos

“Minha existência se estende pelo tempo,


rivalizando com a própria antiguidade da luz,
e os significados que incorporo são tão vastos
e diversos quanto as folhas que dançam nas
incontáveis árvores do mundo.
Um Hamadríade é a personificação da própria
vida de uma árvore; somos seres únicos,
escolhidos pelo destino para assumir forma
corpórea e desempenhar papéis cruciais na teia
delicada do equilíbrio da vida. Somos filhos
da vontade de Gaia, a grande mãe Terra,
gerados com a missão sagrada de orientar as
futuras gerações por caminhos seguros e
sombreados, protegidos da ardência do sol
inclemente. Eu tenho a honra de pertencer a
uma das mais nobres linhagens de árvores: o
azevinho. Somos o pulsar da vida, a chama do
amor, o talismã da boa sorte, o escudo da
proteção; anunciamos a chegada do frio e
abraçamos a promessa da primavera. Somos
os adoradores da tempestade, os senhores do
trovejar do céu, os guardiões da floresta. Na
tapeçaria da existência, somos o fio dourado,
somos tudo e, indubitavelmente, muito mais.”

Everleaf

0 a 5 anos
A aurora da existência de um Hamadríade é marcada por uma das quatro danças das
estações, em rituais conhecidos como "florescer". Esses eventos ocorrem quando uma
nova árvore consegue germinar, empurrando uma de suas primeiras folhas através do
cobertor de terra que a esconde, sentindo assim, pela primeira vez, o carinho quente do
sol ou o suave beijo da neve.

Nasci como a última árvore a brotar, no coração da mais feroz das nevascas. A ausência
de luz e o delicado toque da neve moldaram-me de maneira frágil, mas imbuíram-se de
uma resiliência extraordinária. Fui nutrido e protegido pelos meus irmãos arbóreos, até
que a primavera chegou, agraciando-nos com nossos nomes e nossas linhagens.

Com o desabrochar da tão ansiada primavera, ganhei o apelido de Everleaf, pois contava
com entusiasmo cada nova folha que desabrochava em mim. Afinal, me foi dito que a
primavera chega quando nos perdemos na abundância de nossas próprias folhas.

Recebi o nome de Veridian Holly. Tendo sobrevivido com tão poucos recursos, precisava de apenas um pouco de sol para
revigorar-me, o que conferia à minha copa uma cor verde vibrante e uma saúde exuberante. Pequenos frutos brotavam por
todo o meu ser. Eu era a promessa da primavera e, pelo resto da minha existência, seria o farol de segurança nas profundezas
do inverno. Eu me tornaria o protetor, a essência vital da terra, o portador da fortuna. Eu me tornaria tudo.

Os primeiros anos de minha existência foram uma época de encanto sem fim e inocência deslumbrante. Como um jovem
Hamadríade, cada transição sazonal trazia uma enxurrada de novas sensações, cada uma mais fascinante do que a anterior.

Na primavera, eu sentia o despertar da vida dentro de mim. Com cada folha recém-nascida que brotava de meus galhos, uma
sensação de milagre permeava o ar. A energia vital fluía através de mim, com cada folha verde sussurrando histórias de
renovação e renascimento. A chuva da primavera, delicada e revigorante, entoava uma melodia que apenas eu podia ouvir.
Eu me deleitava com as canções dos pássaros que encontravam refúgio em meus galhos, suas melodias uma celebração
vibrante da vida.

O verão chegava como um solene maestro, com seu calor e luz inundando o grande espetáculo da vida. Eu me erguia em
direção ao céu azul, abraçando cada raio precioso de sol. A brisa de verão, dançando através de meus galhos, trazia sussurros
da floresta, contando histórias de mundos distantes. As noites de verão, em sua serenidade, revelavam um céu cintilante, uma
visão do infinito.

O outono chegava como um pintor, suas pinceladas de vermelho, laranja e dourado transformando a floresta em uma obra de
arte viva. Cada folha que caía era uma celebração da vida que ela tinha vivido. O frescor do outono no ar e o silêncio da
floresta serviam como lembretes para a chegada do inverno.

Com o inverno vinha um silêncio profundo, a floresta dormindo sob um manto de neve. Eu sentia o peso da neve em meus
galhos, cada floco um beijo frio e suave. Mesmo na escuridão do inverno, havia beleza e magia - os cristais de gelo
brilhando à luz da lua, a quietude da floresta adormecida.

Esses primeiros anos foram um tempo de descoberta e encantamento, cada dia trazendo novas experiências e ensinamentos.
E enquanto eu crescia, comecei a compreender meu papel no grande ciclo da vida, a responsabilidade que carregava como
Veridian Holly. Moldado pelas estações, fortalecido pelo inverno, renovado pela primavera, eu me encontrava em uma
constante dança com a natureza, um bailarino em um palco de maravilhas naturais. Em meio a tudo isso, comecei a perceber
que eu era mais do que apenas uma árvore, eu era uma parte vital do grande concerto da vida.

5 a 10 anos
Cresci em força e curiosidade, mergulhando destemidamente na exploração dos
meus arredores. Eu, que era a encarnação da proteção, não temia nada. O momento
da primeira grande colheita, quando nossos frutos tornam-se um banquete para os
animais e a magia surge pela primeira vez, é um rito de passagem. A mágica, como
uma onda invisível, percorre a floresta, banha nossos domínios e inunda nosso
solo. Nesse instante, sentimos uma imortalidade inebriante, um poder onipotente
que parece nos dotar da capacidade de realizar tudo.

Minha primeira colheita foi precoce e aconteceu aos dez anos, algo inusitado, uma
vez que normalmente os jovens são escolhidos aos quinze. Mas eu crescia de
maneira tão pujante durante a primavera e o verão que os anciãos decretaram que
eu estava pronto. Na minha tenra idade, ainda não compreendia totalmente o que
esperar quando a seiva mágica, tão aguardada, tocasse meus lábios. Mas ao beber, uma força colossal me inundou. Senti
como se meus galhos fossem de titânio e minha consciência se expandisse, tornando-me um com a terra ao meu redor. Sentia
tudo - os animais se aproximando para provar meus frutos, os piados distantes de pequenos pássaros clamando por comida -
e uma força titânica se aproximava.

Era um poder que vinha como um terremoto sereno, cada vez mais próximo de nossa reserva. A árvore anciã, em sua
sabedoria muda, soube que o que eu sentia não era comum. O vento, nosso mensageiro, sussurrou para toda a floresta: "Um
Guardião". Um calafrio atravessou minha espinha, apesar de não ser inverno.

O medo me tomou. Eu era tão jovem, tão fresco na vida, e ainda assim, uma responsabilidade colossal havia caído sobre
mim. Eu me sentia como uma árvore solitária em um deserto - completamente perdido.

A imensa força mágica que se aproximava dissipou-se repentinamente, como um bando de pássaros espantado. A magia que
fluía ao meu redor se esvaiu e isso me assustou. Embriagado pelo poder, minha visão embaçada começou a clarear e a árvore
anciã, que me ofereceu a seiva mágica, estava em chamas. Meus braços brilhavam como tochas e percebi que falhei na
minha missão de proteger. O que eu havia feito? Por que isso aconteceu?

Os rituais da primeira colheita são um caminho solitário. Eu


caminhei até a árvore anciã sozinho. Porém, senti-me observado por
toda a floresta. Se eu havia sido a última árvore a romper o véu da
vida, naquele momento, eu era a primeira a romper o véu da morte.

Sentia-me amaldiçoado pela morte, me via como um monstro. Eu


era uma árvore, o ser mais vulnerável ao fogo, e de alguma forma,
havia me tornado o próprio. Naquele momento, selava um
juramento solene comigo mesmo: jamais permitiria que o calor
voltasse a se manifestar em meu ser.

Tornei-me um espírito marcado pelo fogo, um sinal de destruição


que carregava com pesar. Desde aquele dia fatídico, passei a
carregar o nome
que meus irmãos
me deram. Sentia-
me indigno de
possuir um nome
dado pela
primavera, o pai
que nos traz tudo.
Agora, me via manchado pelo fogo, o elemento que apenas tira e
destrói. Havia sido escolhido pelo fogo, mas não me orgulhava disso.
Em vez disso, era um lembrete constante do perigo que eu havia
representado para aqueles que amava.

10 a 30 (Atualmente)
Passei de uma fonte de vida para um arauto de morte. Já não trazia sombra e conforto para os cansados; ao invés disso, me
encontrei refugiado em sua escuridão. Abandonei minha forma original como um ato de respeito à minha história: tornar-me
uma árvore novamente depois de ceifar a vida de uma seria desonrar aquela que se foi. Troquei os frutos doces que concedia
por uma natureza amarga e venenosa, afastando aqueles que buscavam em mim algum refúgio. Já não era um símbolo de
proteção; agora, eu era a encarnação da morte.

Onde antes eu levava encanto com meus galhos fortes e folhas vibrantes, agora espalhava medo, afastando todos da floresta
para que nenhuma outra árvore sentisse a ameaça que eu havia causado. Jurei proteger aquilo que um dia destruí,
comprometi minha vida à proteção daqueles que ainda não encontraram um destino como o meu. Prometi trazer medo aos
corações daqueles que procuram refúgio na floresta, e morte para aqueles que ameaçam a vida de meus irmãos.

Deixei de ser a vitalidade que as florestas abrigam. Agora, eu sou aquele que derrama o sangue, aquele cujas lágrimas
encharcam a terra.

Dedicado a aprender mais sobre meus poderes e tornar-me cada vez mais forte, estudei com bruxas, bruxos, magos e magas,
buscando aperfeiçoar-me todos os dias. Aspiro, um dia, sentir-me digno novamente de assumir meu posto de guardião, na
esperança de que a floresta me perdoe.

Everleaf, antes um símbolo de vida, agora é a árvore ressequida que queima a esperança dos perdidos. Sou os espinhos que
ferem a pele, sou o veneno que envenena aqueles que pensam em explorar a boa vontade da floresta. Sou fruto do desejo de
Gaia e me tornei a manifestação da raiva do fogo.

Caminho pelas sombras como um rato que foge de uma coruja, em busca de
exterminar aqueles que ganham espaço sacrificando meus irmãos. Estou no
mundo humano para compreender seus objetivos e para eliminá-los pelas
raízes.

Em minha mão, uma lança imbuída com a escuridão das sombras. Em meu
rosto, máscaras que ocultam minha dor. Em minha pele, a seiva de todas as
árvores que morreram para enriquecer os outros. O vento se calou, e agora
eu sou o sussurro que anuncia a vinda de grandes mudanças. Sou a dança
das quatro estações em um só ser.

Serei impiedoso como o inverno e queimarei os culpados como o sol do


verão. Serei a primavera no ciclo da vida, e minha chegada será anunciada
pelo sangue derramado, assim como as folhas caem no outono.

Cada folha no manto que cobre meus ombros é um tributo a alguém que
pagou pelos seus crimes contra a floresta.

Everleaf – Portador da
fortuna
Guardião Caído

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