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Entre fatos e memorias, as historias viajam como o vento em um furacão, como aves no

inverno e até como folhas em no outono. Algumas historias se tornam tão icônicas e especiais
que suas origens deixam de importar, suas especialidades e excentricidades se apoiam única e
exclusivamente no papel de importância que tal passagem tem em sua vida. Eu ouvi a historia
de uma grande fonte uma vez; contaram-me que sua beleza servia de acalanto para as almas
quebradas e perdidas na tempestade, suas águas cristalinas se inclinavam nas esculturas de
anjos renascentistas que ela dispunha aos olhos de seus visitantes e suas bordas de pedras
manualmente colocadas estavam dispostas de modo que os pássaros e os pequenos animais
terrenos se encontravam ali para acalmarem suas sedes e os corpos cansados: pássaros e
minhocas, raposas e coelhos, sapos e moscas... Todos em perfeita harmonia em torno do
momento angelical que aquela fonte servia.

Quanto tempo ela durou? Onde ela ficava? As precisões foram se perdendo a medida que a
historia se espalhava entre as diferentes tribos, isto não chega a ser triste, talvez nos mostre o
real significado de uma simples fonte de água doce no meio de um humilde bosque, o papel de
aproximação que uma simples construção exercia nas vidas daqueles ciclos. Tudo é imortal.

Procurei pela tal fonte durante grande parte de minha vida, enfrentei perigos que deixariam
os cabelos de um iniciante em pé, senti saudades que apertavam meu peito de uma forma que
até o soprar dos ventos me lembravam dos abraços sensíveis de minha mãe. Quando me vi
perdido pela fome e perdido no meio de uma montanha de gelo, onde o sofrimento era tanto
que até as memorias dos dias quentes se tornavam mais uma forma de tortura, encontrei uma
caverna quente e me detive ali por três dias, esperando a minha partida. Quando de repente,
em uma noite sofrida de sonho, pude sonhar com a fonte em um ambiente de branco infinito
e ares frescos e convidativos, vi uma pessoa de branco em meu sonho que me chamava pelo
nome que me foi dado, não me recordo do que foi dito, mas, me recordo das lagrimas pesadas
que escorriam de meus olhos quando eu a abracei e me banhei nas águas da fonte. Quando
acordei, o sol estava exibindo um brilho e seu calor havia derretido toda a neve, pude caçar
um coelho e saciar minha fome, pude voltar para casa, pude ver minha família, pude abraçar
minha mãe. Tudo é imortal.

Quando me deitei, descansado e feliz, pude formular a pergunta que talvez tenha iluminado
toda a minha visão acerca das belezas que me rodeavam: A fonte era apenas uma metáfora?

E então, adormeci.

-Matheus

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