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CONTOS, POESIAS & PENSAMENTOS

Clavio J. Jacinto

PROIBIDO A REPRODUÇÃO SEM A AUTORIZAÇÃO DO AUTOR

1
CONTOS:

Prisioneiro dos Sonhos

Era um entardecer chuvoso, da janela podia ver o dia


mergulhar na noite, uma sensação nostálgica, comum nos dias
de chuvas. O cheiro da umidade, um aroma próprio das
tempestades, uma tonalidade de cinza e névoa, o calor da
lareira, o ambiente penetrante, como um mundo antigo
percorrendo a senda das horas frias.

Fui dormir cedo, eram 19:00, lá fora o reino da noite chorava e


eu ouvia as lágrimas caírem do telhado, elas caíam sobre a
terra e a relva, e eu fechei meus olhos, para entrar no meu
descanso profundo.

Adormeci para o mundo antigo e acordei para um mundo novo.


Estava diante de uma praia de areias brancas e águas
tranqüilas, um barquinho de papel e mais além, uma ilha,
chamada de Calvária.

Embarquei no barquinho de papel e segui rumo æ Ilha.


Algumas horas depois cheguei lá, como era linda toda aquela
cena! Um paraíso adequado para ser chamado de sonho, mas
aos olhos da alma parecia tão real, um sonho bom é uma vida
dentro de uma vida.

Deixe-me dar uma descrição da ilha, Calvária tinha muitas


árvores, todas eram floridas, muito parecidas com manacás,
mas as flores eram vermelhas, havia também campos de rosas
sem espinhos e lavandas tão azuis, que pareciam espelhos do
céu.

Essa é uma imagem fiel do que observava. Havia uma trilha, e


eu comecei a caminhar para o interior, precisava achar uma
fonte de águas, subi um pequeno monte elevado e logo depois
um vale, um pequeno lago e uma vila, pequenas casas
douradas e chaminés de barro vermelho, quando cheguei
perto, um portal anunciava boas vindas, e o nome da cidade

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Sarõnica.
Havia uma praça em forma de cubo de cristal e refletia para o
oriente um prisma de cores muito vivas. A cidade estava vazia,
por intuição percebi que não havia ninguém na ilha.
As ruas de Sarõnica eram de um material desconhecido e
muito vermelho. Sai da cidade e fui até o pontal do norte, onde
havia um farol, uma torre e uma lâmpada em formato de
coração que emitia uma luz azul flamejante e muito intensa.
Tão magnífica era aquela ilha, oferecia uma majestosa
tranqüilidade, voltei para a cidade, logo percebi, que uma
espécie de névoa chegava a cidade, também um vento suave,
porém muito forte. Lembrei-me que o barquinho de papel
estava na praia, corri até lá e percebi que as águas agitadas
desmancharam meu barco e o papel se despedaçou.
Como poderia retornar à praia de onde parti? Como poderia
voltar ao meu mundo real? Calculei a distância e julguei quase
impossível retornar nadando. Sentei-me na praia, a névoa
cobria a ilha, mas de tal modo as partículas brilhavam, que as
noites eram bem iluminadas. A razão das névoas serem
brilhantes era a praça em forma de cubo que emitia aquele
prisma.
Eu precisava encontrar uma folha de papel, construir um novo
barco para voltar pra casa, resolvi voltar para Sarõnica, ali
talvez encontrasse o papel.

Entrei na cidade, estava disposto a procurar um livro, entrei em


uma das casas, na porta havia uma descrição: "biblioteca".
Dentro, havia muitos livros, todos de capas metálicas, de cores
variadas. Tomei um dos livros, entre centenas ou talvez
milhares que haviam ali. A capa era branco prateada, abri e
notei que não haviam número nas páginas, mas o livro parecia
ter aproximadamente duzentas folhas, era um livro perfeito em
todos os detalhes, e a surpresa maior foi ter encontrado uma
frase, não havia nada mais do que uma grande frase, e era
esta:

"Os bens mais valiosos que devemos buscar na vida, são


aquelas coisas pelos quais nos inspiram a viver com coragem"

Fechei o livro, fiquei olhando pela janela da biblioteca, aquela


frase me causou certo impacto, no céu azul, nuvens de
borboletas voavam com tal ímpeto como se quisessem mover
as montanhas de Calvária.

3
Eu precisava de uma folha de papel para fazer um barquinho e
retornar para casa, mas aqueles livros não eram do material
que procurava.

Logo descobri que cada um daqueles livros tinha uma frase,


uma mensagem que movia o nosso coração para um mergulho
na sensibilidade. Fui até outra estante, peguei um livro de capa
dourada, abri suas páginas para descobrir qual frase estava
impressa ali, e fiquei impressionado, eis a frase:

"Aquele que aprendeu a sonhar também aprendeu a olhar a


vida com os olhos do coração"

Essas palavras eram tão revolucionárias para mim, eu decidi


não retornar, ficar cativo das coisas de um mundo tão
fantástico, aprender cada lição e viver cada momento. Retornei
a praia, sentei-me na areia, contemplei o continente distante da
realidade, e decidi ficar ali, Calvária seria para sempre a minha
morada...

Autor: C. J. Jacinto

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Flores sem Primavera

É uma norma de a vida acreditar ser muito difícil viver uma vida isolada.
Pois bem, a história que vou narrar é totalmente desprovida de algo
ordinário, digo assim pois se trata de uma estória peculiar, porém
anormal. Ela se dá num campo de altitudes, típico desses planaltos cujo
cume parece unir em matrimônio noturno flores e estrelas. E não seria
inédita a narrativa, se não estivesse desprovida de atitudes solenes,
como supor que o orvalho são lágrimas de flores solitárias.

Uma lavanda azul vivia no campo de altitude numa montanha chamada


Karmon. Sua tristeza era visível ao coração que observa o significado
profundo dos mistérios, as borboletas e as abelhas não vinham visitá-la,
muito menos ainda os beija-flores. Não sei se percebermos, mas a
complexidade da existência começa quando não encontramos a sintonia
com as coisas que complementam o sentido e a resposta pelo qual
existimos e estamos neste mundo. Quem sabe um perfumista alcançaria
as alturas, mas isso é uma aventura cujo papel na nossa vida
desempenha os alpinistas. E, se as respostas fossem encontradas?

Naquela manhã de inverno, no mar congelado de relvas verdejantes, o


que se ouvia era um ruído acústico do vento cortante. Gramíneas
conversavam sorrindo, não se sabe o que, mas estavam felizes.

Havia duas pequenas árvores ao lado, e numa noite de sonâmbulos,


cravaram um diálogo na noite, quebrando o silêncio do lugar. A árvore
mais velha, retorcida, calva de poucas folhas, ressequida pelo tempo,
numa voz rouca, mas vigorosa, explicava a mais nova que as árvores do
cume eram nobres por causa da maneira como enfrentam toda sorte de
intempéries, e insistem em viver os desafios de todas as tempestades
- A vida meu pequeno e novo companheiro consiste em viver a dureza da
existência das alturas, e depois ter a possibilidade de servir a uma causa
ainda mais elevada. Somos madeiras cobiçadas pelos homens, eles nos
procuram nós temos a virtude da dureza, então podemos ser úteis para
os fins que exigem resistência e durabilidade.

A árvore mais nova tremia ao ouvir tantas coisas, mas se sentia feliz.

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E as pedras? Sim as pedras apenas viviam a vida nas alturas, eram quase
eternas, todas as noites olhavam imóveis para as estrelas e viviam fixas
como as estrelas que gostavam de contemplar.

Entre o frio e as chuvas o sol e a luz do luar, faziam votos de um perene


silêncio ante o belo e o misterioso.

Voltemos a nossa pequena flor solitária, ora, as lavandas e alfazemas


viviam em abundância lá embaixo nas campinas e vales. A fragilidade
quando encontra as circunstâncias que exigem coragem, torna-se
valente pela ternura. O amor sendo o mais doce dos sentimentos
suporta as mais amargas traições. O desafio da existência é o ser sem ser
observado, mas isso não impede que a vida seja vivida com um
propósito. Muitas flores vivem a beira do caminho, mas ela só torna-se
especial para os que perceberam que elas estavam ali, não no no
caminho mas na vida, há uma diferença enorme entre algo que é por
causa do existir em si mesmo e o que é, por causa da existência dentro
de nós, o que transcende para dentro do nosso coração torna-se a
excelência da nossa afeição.

A tristeza da solidão é a mais difícil de superar, então ser uma flor sem
abelhas, sem borboletas e sem beija-flores é um modo de ser limitado
pela inquietação das ausências, o silêncio da solidão tem todas as friezas
da tristeza, é algo extremamente doloroso, mas também é fértil.

A vida não é feita de quimeras complicadas, é feita de coisas simples e


valorosas, mas é necessário que se tenha percepção dessas coisas
valiosas, é possível ter tantas coisas fora de nós, e o coração vazio de
alegria, o contrário também é fato, e possível ter poucas posses e ter o
coração cheio de alegria. E às vezes devo ser franco em admitir que uma
flor que desabrocha faz de um dia qualquer dia especial e de um
momento simples em um acontecimento extraordinário, no universo
todas as coisas são projetadas com um propósito.

O Karmon ao longe parecia imponente, mas um alpinista subiu até o


cume, ele estava em busca de paisagens arrebatadoras e experiências
profundas.
Passeava pelos campos de altitudes com uma máquina fotográfica e um

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coração aberto. Muitas vezes os homens andam com os olhos abertos,
mas o coração permanece fechado para a verdade.

O alpinista encontra a solitária lavanda azul. Os olhos de Admiração se


abriram, uma solitária flor do vale revestida de uma das mais raras
virtudes, a coragem. O belo não é frágil, pelo contrário, precisa ser forte
para permanecer belo em um mundo de horrores. Assim como os
bondosos são mais fortes, pois é necessário coragem para exercer a
bondade em um mundo cheio de maldade, o ser bondoso é um herói
quando insiste em praticar a bondade aos corações mais ingratos, assim
como as flores não desistem de serem flores porque os insensíveis pisam
sobre elas.

Ainda surpreso com o achado, retira da mochila a sua câmara fotográfica


e tira uma foto espetacular de uma lavanda azul em contraste com a
relva cinzenta e as pedras daquele lugar. Difícil explicar quando você
encontra algo que é normal no vale, mas que é extraordinário nas
alturas Onde nosso coração escolhe viver, ali mesmo a alma torna-se
ordinária ou extraordinária. O alpinista olha para o relógio, percebe o
entardecer e se prepara para descer o Karmon. Alguns dias depois, a foto
que ele tirou recebe uma moldura e vira um quadro para decorar o
palácio de um rei. Que a erva no campo tem seus encantos não há
dúvidas, porém a arte de viver uma vida extraordinária é a missão dos
que desejam ultrapassar os limites das possibilidades e impor a si
mesmo a coragem de enfrentar os desafios que a vida oferece.

Autor: C. J. Jacinto

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POEMAS:

(Noite de Luz)

Eu caminho na noite
Olhando pra cima
As estrelas brilham em silêncio
Ouço ao longe os ruídos do mar
Grilos cantam na relva
A selva dos insetos
Entre montanhas adormecidas
As flores descansam em paz
Como se a escuridão fosse
O jazigo das cores da primavera
Esfrego os olhos
O sono entra na alma
O luar relampeja no orvalho
Uma fúria suave como núpcias
A praia do meus sonhos
Porto cômico de minhas sensações
Então adormeço nesse universo
Como uma estrela sem rumo
Agonizando no travesseiro
Em minha cama me lembrando
Daqueles tempos de infância
Onde ouvia papai e mamãe dizerem
"Deus te abençoe"
Depois de clamar inocente
Pelas bênçãos noturnas

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(Peregrino Solitário)

Vejo um homem
Ele passeia só
Por um século de escuridão
A era das sombras
E ele segue firme
Pois tem uma lâmpada acesa
A luz concede-lhe visão
É o Evangelho em fogo
Dentro do seu coração

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Grilhões

(Estrelas brilham no oceano da madrugada)

Entre meus olhos e o infinito


A alva brilha em fulgor
Rompendo os grilhões da escuridão
Assim é Cristo
Quando reina no meu coração
A vida pode trazer sombras escuras
Mas o Senhor garante
A glória da vida eterna futura

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Fim de tarde

As sombras vestem os montes


Um anjo corre com fogo
Aguarda a noite
Pra acender as estrelas
O tempo de sonhar chegou
As flores percorrem o caminho
Alfazema e lavanda
Blocos de nuvens flutuando
O galo cantando
O vento levando
As aspirações do futuro amanhã
Antes do fim da tarde

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A lavanda na relva

Eu imagino se falassem
As flores mudas desse jardim
Leito vertebral das relvas
Aconchego de orvalho maltrapilho

Eu imagino se pensassem
As flores em áurea longitude
No visceral contorno das estações
Abrigo de meus olhares fixos

E se sonhasse imaginando
Lírios imaculados em perfumes
Sorrindo pela minha presença vaga
Beijaria o momento, é dádiva de Deus

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A lavanda na relva

Eu imagino se falassem
As flores mudas desse jardim
Leito vertebral das relvas
Aconchego de orvalho maltrapilho

Eu imagino se pensassem
As flores em áurea longitude
No visceral contorno das estações
Abrigo de meus olhares fixos

E se sonhasse imaginando
Lírios imaculados em perfumes
Sorrindo pela minha presença vaga
Beijaria o momento, é dádiva de Deus

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Pranto de nuvens

Quando o céu chora as minhas dores, densos prados irrigados dentro de


minha alma ferida, a dor da transitoriedade instigada pela estima

Farpas de rosas e ferro de risos, a indumentária de meus tempos


contados nos dias soterrados por anos passageiros, percorrem e singram
o mar dos meus pensamentos

Sou viajante sem fardos vazios, cheio está meu coração de saudades e de
amor, pois ainda que tudo passe, não passa jamais a vontade de amar

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(Vereda Vital)

Seguir a vida
Ainda que tenhamos obstáculos
Seguir em frente
Mesmo sozinhos
Há sempre um rio de ânimo
A espera de quem prossegue
As flores sempre nos aplaudem
Os pássaros cantam pra nós
Eles só existem aos sensíveis
Seguir a vida
Mesmo diante das dificuldades
A indiferença alheia
Não deve parar nossa marcha
As estrelas nos seguem a noite
O sol nos acompanha de dia
Nunca estamos sós
Deus é nosso assistente
Seguir em frente
Não se conformar jamais
Com os que desejam ficar
Coragem fé e determinação
Resiliência, nossas virtudes
Escolher seguir em frente
É prova de que somos diferentes
A diferença é que somos livres
Livres para amar
Livres para crer
Livres para viver
Livres para escolher
Livres para prosseguir
Livres alcançar
O fim por onde partimos

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(Visão do Coração)

Segue meu coração


O curso do rio do norte
Para onde segue a estrela polar
O perfume das flores da laranjeira
As nuvens do celeiro celestial
Segue a névoa manhã invernal
As folhas das videiras
O odor das montanhas
O fogo da lareira acesa
Segue os minutos do relógio
O caminho das andorinhas
A sega e os grãos
Segue até o fim da vida
Para entrar resoluto
No portal da eternidade

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(Áurea Redenção)

Áureas promessas da graça


Onde os tesouros insondáveis de Cristo se escondem
Herança dos redimidos
Aos que levaram a fé ao Salvador
Confiança na santa misericórdia
Indignos diante do Trono do perdão
A busca dos quebrantados
Salvação
Maior bem eterno
Valioso pela Vida do Cordeiro
Que Deus dá em Dom gratuito
Oh! Amor divino incomparável
Prêmio dado aos derrotados
Que receberam a vitória
por aceitarem humildemente
O triunfo eternal do Verbo da Luz
Palavra Encarnado
Cristo Jesus

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(Cosmos)

Infinitamente o universo contém


Todos os meus anseios e votos de ternura
Não posso vós dizer um (adeus)
Estou indo entre espaço e tempo
Deixando esses sentimentos de amor
Tentando ser infinitamente um olhar
Pois contemplando a vida que passa
Não permitirei que a ausência semeie um silêncio
Por onde passar deixarei uma voz
A voz das minhas palavras que ficarão
Pra sempre falando saudades
Para todos os que me quiserem ouvir
Lendo as substâncias de meus sentimentos

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(Conflito)

Em tempos de conflitos, dentro de mim batalha insólita


Como se o coração saísse órbita
Nos campos de imaginárias explosões
Rosas negras e seus líberos botões
É o cenário do conhecimento lógico
A fuga do medo desse épico mágico
Os canhões que em bolhas de sabões
Queimam réstias ímpares balões
Incendeia a pólvora desse ímpeto pavor
A bala que atravessa o cadáver da dor
E eu estilhaço, caído na terra
Morri amando o mistério, fim da guerra

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(Poetas)

Quando a noite quer poetizar, ela torna-se cheia de estrelas


Quando os campos querem poetizar enche as campinas de flores
Tudo inspira tudo
A tempestade mesmo que escreva com trovões
A mensagem final é sempre o arco íris

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(Redenção Amarga)

Palpita meu coração por entre as dores, daquele rude


madeiro mortal que outrora foi árvore, que no principio
era para ornamentar o Éden, mas tornou-se o opróbrio
do martírio do Cordeiro de Deus

Eu olho trêmulo, tão fria sombra de um espetáculo de


vergonhas, naquele momento do horrendo grito do
consumado, pois se a morte rasgou o véu do templo o
madeiro do berço natalício rasgou a cortina do tempo.

Meus pensamentos mergulham nessa cena tão cruel, a


alma do fel que declama ondas sonoras de todas as
aflições congeladas, imersas num caudaloso pantano
de meus pecados

É Ele, o Imaculado que transporta o fardo das minhas


transgressões, nesse naufrágio nas profundezas
abissais da morte, três dias depois ergueu triunfante e
glorioso

Dos grilhões quebrados solta minha alma na redenção,


bradam os anjos e testemunham a ressurreição, não foi
severo martírio, muito mais heróico, é épico:
substituição

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(Doce Redenção)

Outrora vi minha alma fraturada na morte, óbito adâmico, edema do


desespero humano, absinto tão amargo, o teor destilado do sofrimento,
choro úmido de meu coração

E eu nesse pântano, grita a sonora alma que agoniza ao peso de tantos


fardos herdados da humanidade, meus pêsames orquestrado no tanger
de harpas sem cordas

Ouvi a mensagem da cruz, o convite de Cristo bondoso, resgate desse


calamitoso monturo, o brado da brandura, "Vinde a mim" e fui
totalmente salvo, de Deus o perdão e graciosa doçura

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(Sementeira)

Revolve o chão do coração


Cava até a profundidade da alma
Um sulco de esperança
Põe dentro dele sementes
De sabedoria
Depois de algum tempo
Com o orvalho da humildade
Vai irrigando com oração
No outono da vida espiritual
Com muita gratidão, colherás
As preciosas virtudes divinais

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(VERBO)

Contemplar:
Seguir o caminho da essência
Visão íntima do coração
Puro
Transparente
Um olhar além do comum
Mergulho
Totalidade
Espelho da nossa sabedoria
Sensibilidade
Prudência
Oceano dos mistérios
Maravilhoso
Arrebatador
O esplendor do simples
No espaço e no tempo
Enigma
Transcendência
Deus em Cristo

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Firmeza

O mar lança suas ondas, os grãos de areia são


movidos pela força das águas. Mas as montanhas,
elas continuam irremovíveis no firmamento,
imóveis entre a terra e o céu.

Assim é o homem cujo coração é nutrido pela


esperança da fé em um DEUS que mantém em
eterno estado de firmeza o seu trono no céu,
quando todas as coisas parecem desabar na terra

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O Clamor

Ouvi vós todos religiosos sociais

Estai atentos aos tempos difíceis

No monturo se encontra a dignidade

O amor no pântano da indiferença

Ouvi vós todos os espirituais

As rédeas do pecado estão soltas

O abismo abriu a sua grande boca

Os ferrolhos de aços estão mais fortes

Ouvi vós todos os homens de boa vontade

Não sei se há algum entre nós

Pois a escuridão devasta o mundo

E o silencio da plebe se perpetua

Ouvi a voz da ultima profecia

Porque precisamos com urgência de homens

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Que sigam firmes os passos de Cristo

E não os tropeços dos mortais do mundo.

PENSAMENTOS:

O coração de um homem eleva-se a luz celestial ou decai nas


sombras terrenas de acordo com a sua escolha que ele faz entre
buscar primeiramente as coisas de cima ou enredar-se com as
coisas desse mundo.

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Há um silencio de origem devocional, um convite a solitude para
que a alma germine mais a fé, é através desse silencio que
contemplamos verdades com mias transparência e o coração
torna-se mais produtivo

As palavras podem tecer uma linda mascara de luz para esconder


as mais sombrias intenções

A escuridão do mundo se aproxima, as sombras tentam


prevalecer nos dias difíceis, e por mais ameaçadora que sejam as
trevas, os filhos de Deus devem permanecer com as lâmpadas da
fé e da esperança acesas

A discórdia é um abismo que liberta a incompreensão

O homem que escolhe amar ao invés de odiar seu próximo, se


aperfeiçoa na vida, se completa no caráter e se estabelece firma
no caminho da esperança

Não há possibilidades de se experimentar a profundidade da vida


espiritual através de um entendimento superficial da graça e da
misericórdia de Deus

O homem que torna-se escravo de uma rotina pobre de coisas


extraordinárias, perde o sentido de viver a plenitude da
simplicidade.

A obra e a mensagem da cruz torna-se cada vez mais ofensiva na


sua estrutura redentora para o homem moderno, na medida em

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que ele estabelece uma visão distorcida a respeito da natureza do
pecado.

Nunca creia em alguém que apresente virtudes aparentes quando na


verdade, o fazem com o intuito de enganá-lo escondendo as verdadeiras
intenções por trás de falsas aparências.

Sobre sensibilidade

“O mundo carece de homens sensíveis, pois nossa sociedade está a


deriva, absolutamente endurecida pela indiferença.”

Sobre Adversidades frutíferas:

“A medida da sabedoria de uma alma está na capacidade de extrair o útil


da adversidade.”

Sobre insegurança mundana:

“Não encontramos descanso para a alma em um mundo inseguro e


caído, ainda que a ciência e a filosofia tentem erguer a humanidade da
ruína do pecado, só as promessas de Deus descrita nas profecias, podem
acalmar o desespero humano na condição de crer na obra consumada e
perfeita de Cristo”

Sobre Bonança:
“A bondade quando não cultivada em tempo de grandes bonança nunca
floresce em tempos de grandes adversidades”

Sobre tranqüilidade:

“Caminhos tranqüilos nos levam para a felicidade. Mas os caminhos das


adversidades nos levam para a sabedoria”

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Sobre relativismo do mundo:

“Temo pela chegada do dia em que a defesa dos absolutos esteja em


crise por causa da acusação de arrogância, e por temor a essa falsa
acusação, por conveniência os cristãos esteja, m em paz com o mundo
decadente.”

Sobre a Igreja do Novo Testamento:

“A relação entre a fé cristã do Novo Testamento e a fé que vimos hoje


em dia, é que naquela época os cristãos estavam prontos para morrer
por Cristo pois enfrentaram abertamente todo o sistema anticristão,
hoje em dia, o modelo vigente é um estilo de religião que lhes convém,
dado ao fato que, o amor ao presente século obriga a maioria a
conformar-se as imposições do mundo secular a fim de salvar a própria
pele”

Sobre viver em Cristo:

Não perca a preciosa simplicidade de viver em Cristo e para Cristo, pois


de outra forma, o diabo terá muita vantagem e te escravizar usando as
correntes frias de teu próprio egoísmo

Sobre sobriedade espiritual:

“O mundo carece e sobriedade, mais do que nunca corremos o risco da


catástrofe. Exatamente pelo fato das coisas erradas serem toleradas e
pecados graves serem tolerados como condições normais de existência.
Esse foi o ponto da culminância que resultou na cegueira da civilização
antes do dilúvio, não perceberam o abismo e que estacam caindo.”

Sobre centralidade existencial:

“Nenhuma criatura pode subsistir querendo ser centro, a força


centrifuga a que submete pelo orgulho, devora o ser. Só Deus possuir

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capacidade de permanecer no centro da criação e manter-se perfeito e
seguro nessa centralidade cósmica.”

Sobre escravidão espiritual:

“A mais terrível escravidão dos nossos dias, ocorre de forma a dar


liberdade para o corpo enquanto o cérebro fica absolutamente alienado
e dominado pelo sistema que jaz no maligno, como diz as Escrituras "O
deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos..." (II Corintios
4:4") a escravidão mental procede de uma escravidão espiritual”

Sobre o engano da serpente:

“Satanás enganou Eva num discurso prosaico, uma verdadeira retórica


egoísta, contaminou o coração de Eva, aludindo à tese de que sendo
criatura poderia também ser divina, ser senhora do próprio destino, esse
discurso do diabo pode ser muito antigo, porém nunca deixou de ser
atual nas religiões de mistérios. Satanás é aquele que engana todo o
mundo (Apocalipse 12:9)O velho discurso parece que nunca se desgasta
(Genesis 3:5) e a falta de cuidado pode conduzir o homem a mesma
heresia primitiva, rediviva pelos gnósticos e disseminada pelos
esotéricos: “O homem é um deus em formação. E como os mitos
místicos do Egito, na roda do oleiro, ele está sendo moldado. Quando
sua luz brilha para elevar e preservar todas as coisas, ele recebe a tríplice
coroa de divindade.” (Manly P. Hall, As chaves perdidas da Maçonaria, p.
92) “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua
astucia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos
sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” (II Coríntios
11:3)”

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Sobre cegueira espiritual

“Cada vez que um homem apega-se com todas as forças ao engano,


concorre para a imposição voluntaria de uma cegueira espiritual”

Sobre liberdade:

“Todo o homem tem a liberdade de quer no certo e no errado, o que não


tem é o direito de impor o engano aos outros. Quando um engana
também engana, está multiplicando a sentença sobre si mesmo”

Sobre raízes espirituais:

A tribulação é o momento propício para vir à tona, exatamente aquilo


que nutrimos em dias de bonança dentro do nosso coração: confiança
em Deus ou confiança em si mesmo, se confiarmos em Deus não nos
perturbamos com as coisas que hão de acontecer sobre esse mundo
cheio de pessoas que vivem na ilusão da auto-suficiência.

Sobre estagnação mental:

O que vimos hoje em nosso mundo? Pessoas sob uma forte influência de
estagnação mental. Há uma grande quantidade de pessoas em nossa
sociedade que sofreram uma desassociação da realidade no seu todo,
fixando o raciocínio em um foco do problema agindo de forma
completamente parcial para satisfazer apenas interesses pessoais.

Sobre coisas secretas:

Se um homem piedoso deseja fazer algo que agrade a Deus, deve fazer
em secreto, longe dos olhares dos homens. Não há qualquer

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compatibilidade entre a prática da caridade cristã e os aplausos dos
homens.

Sobre estupidez:

“Qualquer homem que perdeu a vergonha da própria estupidez é capaz


de defender a idéia mais absurda para satisfazer o orgulho da sua
própria ignorância”

Sobre segurança espiritual:

“Ninguém que olha para as promessas de Cristo se desespera diante das


aflições desse mundo”

Sobre Lutas:

“A grande luta do cristão é permanecer um remanescente e peregrino,


continuar prosseguindo pelo caminho estreito que Jesus anunciou,
mesmo estando ciente da solidão, pois percebe que a maioria desistiu
deste caminho.”

Sobre Silencio e Sabedoria:

“Conserva-te em silencio paciente nas tuas tribulações para que possas


perceber a presença de Deus em tuas aflições.”

Sobre avivamento:

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“O avivamento não é outra coisa senão as virtudes de Cristo florescendo
no coração redimido. Isso não significa muito barulho. As arvores
produzem muitos frutos no mais profundo silencio.”

Sobre enchimento de riquezas espirituais:

“O coração precisa esvaziar-se das coisas do presente século para que


possa encher-se das coisas do mundo vindouro, precisa esvaziar-se antes
das coisas deste mundo para receber uma medida transbordante das
coisas celestiais”

Sobre o Ouvir com atenção e em Profundidade:

“A vida espiritual exige disciplina, a mais elevada dinâmica da sabedoria


exige que tenhamos a nobre concentração disciplinada de ouvir as coisas
certas ou lê-las de forma completamente atenciosa. A concentração do
coração naquilo que é importante é um princípio que deve ser aplicado
sempre quando um assunto importante está diante de nós. A palavra
“ouvir” vem do latim: Audire, que significa ouvir com toda a máxima
atenção. Agora deixe-me explicar algo, quando lemos as Escrituras por
exemplo, estamos ouvindo a voz do autor. Todas as vezes que lemos
algo escrito por alguém, um sermão de Charles Spurgeon, por exemplo,
estamos ouvindo a voz dele com o nosso coração. Esse é um tipo de
comunicação diferente, porque a voz do autor está concentrada nas
palavras, nas letras impressas no silencio da plataforma de umas paginas
de papel, porem a essência do pensamento dele está lá. Da mesma
forma, não ouvimos a voz do autor, mas o pensamento dele através de
nosso coração. Esse é um método de leitura pelo qual também podemos
praticar o “audire”. É fundamental que haja uma disciplina do coração
para que se alcance tal nível de percepção. Além disso, é no método
correto de ouvir que podemos sorver toda a totalidade de uma
mensagem quer impressa, em forma de sermão ou dialogo. Creio que
isso nos capacita a vivenciar a verdade com maior profundidade, mas
abandonar o conceito de um coração superficial exige muita disciplina,

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de certa forma, é bem difícil permanecermos concentrados, pois os laços
dos pensamentos, de certa forma, são frouxos de modo a libertarem
nosso coração que sai vagueando pelos quatro cantos da terra, e com ele
vai a nossa atenção de ouvir com eficiência. Acredite! Grande parte das
pessoas vivencia esse fenômeno interno. A maioria não tem as virtudes
necessárias, para ouvir de forma correta, então precisa exercer a
disciplina, e com muita dedicação conseguirá alcançar um nível mais
elevada de concentração e então ouvirá de forma correta. O cristão
padrão é antes de tudo um homem pronto para ouvir (Tiago 1:18) ele
ouve a voz do Senhor (Apocalipse 3:20) e em seguida precisa ceder seu
próprio coração para a entrada de todos os absolutos da verdade. As
Escrituras adverte que alguns que foram negligentes no ouvir (Hebreus
5:11) então que o nosso “audire” seja real, fecundo e produtivo”

Sobre o Tempo

“O homem ocidental ainda não percebeu a verdadeira importância e o


significado do tempo, enquanto que os gregos acreditavam em algo mais
abstrato com relação ao aspecto do tempo, os hebreus tinham um
conceito mais concreto. O agora seria a parte necessária da existência,
sem o presente não pode existir continuidade. Ao se apresentara
Moisés, Deus se identifica como “Eu Sou” (Exodo 3:14) dentro da
dimensões eternas, já que as Escrituras declaram que Deus existe de
eternidade á eternidade (Salmos 90:2) todavia, o agora é uma
continuidade existencial pelo qual estamos inserido na realidade do
tempo. O que temos para viver senão o agora? não há um futuro sem
antes um presente, e é dentro dele que o futuro chega. Mas se a
percepção do agora não for pura, se não tiver profundidade experiencial,
nunca podemos viver a plenitude de uma vida. O conceito moderno é
equivocado, a vida não é feita de muitos anos vividos, ela é feita de um
constante presente que se vive em profundidade e inteira percepção.
Olhe para a vida de João Batista, ele teve uma vida curta mas foi plena,
olhe para Abel, teve uma vida curta, mas foi plena, olhe para Enoque,
teve uma vida curta para os padrões daquela época, mas teve uma vida
em plenitude. A dinâmica do tempo só se encontra no presente, é nele

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que desfrutamos da presença de Deus, é no presente que agimos,
tomamos escolhas. É no presente que experimentamos verdadeiro
desfrute do tempo. Perceba que as declarações de Cristo estão inseridas
nesse agora que se eterniza em continuidade “Tem a vida eterna” (João
5:24) é a garantia aos que crêem em Cristo. “Na verdade, na verdade vos
digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6:54) note que
nesse substantivo deverbal, Jesus deixa claro que a ação de ter é uma
realidade agora, o possuir alguma coisa (A vida eterna) é uma realidade
inserida no momento de desfrute do tempo presente. Assim importa
que tenhamos o discernimento de que viver uma vida completa, não é
viver muito tempo no futuro, mas viver todo o agora, e o futuro é a
matéria prima que Deus usa para fazer o constante agora, em que
estamos inseridos para viver em plenitude profunda, exercendo nosso
oficio, a missão pela qual fomos criados, com nossos dons e
capacitações, alcançando sempre esse objetivo realizando nossas metas
no imediato que se sucede, lidando sempre com essa abordagem
existencial. Nesse exato momento, estamos nesse presente, pois é o que
temos para viver. E um dia dentro dessa realidade vale mais do que
muitos anos fora dela.”

Todo o material deste livreto foram extraídos dos escritos de C. J. Jacinto

Contatos com o autor: claviojj@gmail.com

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