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Copyright© 2021 JUSSARA MANOEL

Revisão: Sophia Castro

Capa: Sil Zafia

Imagens Diagramação: Jussara Manoel e Sil Zafia

Diagramação: Jussara Manoel e Sil Zafia

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Dados internacionais de catalogação (CIP)

SÉRIE: PAIS IMPROVÁVEIS

LIVRO 4: UM BEBÊ DE PRESENTE PARA O BAD BOY

1ª Edição

1. Literatura Brasileira. 2. Literatura contemporânea. 3.

Romance contemporâneo. Título I.


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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de

qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive

por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da

internet, sem permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998).

Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens, lugares e

acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,

qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera

coincidência.

Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico

da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.

Esta obra contém linguagem informal.


Nota da Autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Agradecimento
Sobre a Autora
Redes Sociais
A série Pais Improváveis foi criada para darmos diversão aos

leitores e fazermos uma homenagem ao clichê, afinal, quem é que

não ama um clichê?

Com isto, Kevin Attis, Sil Zafia, Sophia Casmark e eu, Jussara

Manoel, criamos esses romances para entretermos os nossos

leitores e deixá-los com o coração quentinho.


Thomas Hodges, futuro herdeiro da empresa mais famosa de

telecomunicação de São Francisco, acaba de passar por uma

decepção amorosa que o desiludiu.

Daphne Coleman viu sua vida se desestruturar quando seu

casamento chegou ao fim, após a descoberta da traição de seu

esposo. Para tentar esquecer a decepção, ela passa a se dedicar

completamente a sua empresa de eventos.

É tentando tirar Daphne daquela melancolia pós separação,

que suas amigas a levam em um famoso Pub da cidade. Para agitar


a noite de Daphne, suas amigas a desafiam a chegar no bad boy

mais atraente do lugar. Sem nada a perder, ela aceita o desafio.

O que Daphne não imaginava é que o encontro com Thomas

a mudaria para sempre.

Duas vidas opostas, dois corações partidos e uma surpresa

para o Bad Boy.


Thomas

Tenho a impressão de escutar as risadas ao fundo, como se

elas estivessem chegando a mim de forma debochada e por pena,

mas tudo não passa de paranoias da minha cabeça, como se todos

os presentes na festa que está ocorrendo na casa de algum calouro

da faculdade estivessem presenciando a cena mais vergonhosa da

minha vida. Meus olhos só conseguem estar nela, a mulher que até

alguns instantes já imaginava como minha namorada.

Nem o vento gelado de verão de São Francisco consegue

tirar meu foco dela. Não é sempre que nessa estação na Califórnia
podemos ter o gostinho de pegar dias quentes.

Vejo em seus olhos uma expressão de compadecimento, o

entortar da sua boca me diz o quanto está constrangida por mim e

toda a situação. Ela, assim como eu, está desconfortável.

― Desculpa, Tom ― ela pede mais uma vez, e tenho vontade

de me enfiar num buraco.

Lisa é linda até mesmo sem jeito ou com jeito demais.

Queria poder lembrar quando foi que a vi pela primeira vez e

em como ela me chamou atenção com seu jeitinho engraçado,

meigo e cheio de atitude, bom, talvez tenha sido isso, o fato de ela

ter sempre uma opinião para dar, se mostrar empoderada além de

toda a sua beleza. Seus olhos cor de mel, o sorriso faceiro no rosto

em todos os momentos em que a via.


A conheci por termos amigos em comum e posso confessar

que ela mexeu comigo no instante em que coloquei os olhos nela, e

desde então venho mostrando a ela o quanto estava interessado.

Eu achava que estava demonstrando bem, mas pelo jeito só fiz

papel de besta.

O que mais me deixa indignado é que todos sabiam, menos

eu, nenhum dos nossos amigos achou que era importante me falar

que minha queda por Lisa resultaria em um tombo. Uma queda que

até machucou o meu ego.

― Eu achei que você sabia ― Lisa morde o lábio inferior,

mostrando o quanto está incomodada.

― Pelo jeito eu era o único que não sabia que você gosta

de...

― Mulheres ― ela completa, mesmo achando impossível,

Lisa parece mais envergonhada ainda na minha presença.


― Sim. ― Viro o rosto, não conseguindo entender como não

percebi antes.

A música ao fundo já parece tão distante, diferente dos

minutos atrás em que eu vim à procura de Lisa pelo lado de fora da

casa, com a intenção de, enfim, confessar o que estava sentindo,

depois, claro, de tomar alguns copos de cerveja para me dar

coragem. Acho que o álcool está fazendo efeito agora, pois me sinto

tonto, pronto para cair no chão e talvez não levantar tão cedo.

Lembro do momento exato de quando a encontrei, na

verdade, de como a encontrei. Mesmo com a parte pouco iluminada

perto da área da piscina, eu consegui identificá-la; os cabelos soltos

na altura das costas.

Eu percebi que ela não estava sozinha e que se encontrava

na companhia de outra mulher. Amiga talvez?


Fui me aproximando, sorrindo, louco de tanto imaginar como

ela reagiria quando eu contasse o que estava sentindo por ela. Até

que parei quando eu vi Lisa levantar a mão para tocar o rosto da

mulher à sua frente, semicerrei os olhos para conseguir enxergar

melhor o momento em que elas se beijaram.

Tenho certeza que fiquei parecendo uma estátua e devo ter

anunciado minha presença com o som desconexo que saiu da

minha boca sem controle nenhum.

Lisa se afastou da sua companhia quando me viu, e percebeu

o quanto eu estava chocado, não conseguia acreditar no que tinha

presenciado. Fiquei parado, a encarando mesmo depois de elas se

despedirem, com Lisa dizendo que a encontraria depois.

― Você é...

Eu não conseguia completar a frase de tão mexido que fiquei

e ela me deu tempo para me recompor e poder escutar o que eu


tinha a dizer, e quando viu que não iria conseguir me expressar com

palavras, ela falou:

― Sim, eu sou lésbica ― as palavras saíram decididas e um

pouco temerosas, eu senti que mesmo com toda a sua coragem em

revelar para mim, havia ali um medo de julgamento.

Eu ainda não tinha o que dizer, a descoberta mexeu comigo.

― Eu gosto de você, mas como meu amigo ― ela fala depois

de eu ficar olhando para longe, em silêncio, para melhorar um pouco

a situação, e ao contrário do que pensou ajudar, piorou tudo dentro

de mim.

Um cara que é considerado um bad boy por toda a faculdade,

mas que estava caído de paixões pela mulher mais incrível e

inteligente e que agora descobre que ela gosta de mulheres.


― Eu pareço um idiota. ― Vou dando passos para trás,

querendo muito estar longe dela e da vergonha. ― Desculpa, Lisa.

― Tom ― escuto ela me chamar depois que me viro para ir

embora, mas não volto atrás.


Daphne

Eu tentei, juro que tentei ignorar as ligações delas, mas eu

melhor que ninguém sei o quanto minhas amigas podem ser

insistentes, e se eu não atendesse, elas apareceriam na porta da

minha casa e eu não queria que elas presenciassem minha situação

no momento, mesmo que elas já imaginem, é pior ver

pessoalmente.

― Hoje você não escapa. ― Escuto a voz de Karen assim

que atendo, meu cansaço me impede de retrucar. ― Já faz mais de

dois meses, Daph.


E não parece ficar melhor a cada dia que passa.

― Olívia e eu vamos passar para te buscar e iremos a algum

lugar bacana para bebermos e você vai esquecer o desgraçado do

seu ex-marido ― Karen pontua tudo com um fôlego só, e me pego

pensando em como ela consegue falar tudo sem se cansar.

― Eu não preciso sair, só quero ficar na minha cama, deitada,

tomando um bom vinho e lendo um livro de autoajuda.

― Meu Deus, Daphne, isso é para velhas ― grita minha outra

amiga.

Já esperava que ela estivesse junto com Karen para tentar

me convencer mais uma vez a sair de casa e “viver”, como falam.

― E é o que sou.

― Não, você é a porra de uma mulher de trinta e cinco anos,

com cara de vinte e pouco, que tem um corpo de dar inveja e fazer
os homens rastejarem aos seus pés, e está sofrendo pelo ex-marido

traidor que te trocou por uma mulher que tenho certeza que não

sabe chupar um pau.

Consigo sorrir com a sua última fala, enquanto escuto a

risada de Olívia ao fundo.

― Talvez saiba, ele me traiu com ela. ― Tenho certeza que

meu tom de desgosto é percebido por elas, que ignoram facilmente.

― Ele é um filho da puta, Daph, quem perdeu foi ele, você só

ganhou se livrando do traste.

― Olívia está certa. Agora levanta dessa cama, toma um

banho relaxante de banheira, se depila, coloca um vestido matador,

que passaremos para te buscar daqui a algumas horas ― Karen

insiste, essa é outra qualidade dela, ser teimosa.


Já Olívia não fica muito para trás, mas ela tem um jeito

persuasivo com qualquer pessoa, mesmo contra a vontade, e ela

usa muito isso a seu favor.

― Se não estiver pronta quando chegarmos aí, te

arrastaremos à força, somos duas contra uma ― Olívia completa e,

depois da sua fala, só consigo escutar o silêncio.

Desligaram na minha cara.

Enquanto ainda me permito ficar deitada, penso em várias

maneiras de fugir das duas e conseguir escapar de sair com elas.

Quando percebo que não terei nenhuma solução, me arrasto pela

cama, meus pés tocando o tapete branco felpudo, que combina com

a colcha da minha cama também da mesma cor, deixando somente

os travesseiros e almofadas em tons azuis escuros.

Meus pés tocam o chão frio e sinto o arrepio passar pelo meu

corpo, desejando mais uma vez voltar para cama e enfrentar a fúria
de Olívia e Karen quando chegarem.

Vou dando passos lentos pelo quarto em direção ao banheiro

e olho em volta dos últimos detalhes que troquei do quarto. Móveis

fora dos lugares habituais, objetos de decoração que fiz questão de

comprar para colocar nos lugares dos que tirei, tudo que lembrava

Edward, tudo que lembrava o meu ex-marido.

Às vezes, chego a nem reconhecer o lugar onde durmo, onde

há muito tempo tenho guardado toda a minha intimidade, tudo que

vivi com Edward. Mudei tudo o que podia, mas eu ainda continuo a

mesma, e sei que a mudança maior deveria vir de dentro de mim.

Mas deixar uma parte da minha vida que foi importante em

um momento, é difícil. Desde que conheci Edward, ele se tornou o

ponto essencial na minha vida, me dediquei tanto a ele, ao nosso

casamento, fui uma adolescente boba apaixonada, que se encantou


por um sorriso marcante e palavras bonitas e logo se viu casando

ainda nova.

Eu acredito que ele me amou, mas isso deixou de acontecer

em algum instante das nossas vidas, eu não era importante o

suficiente ou digna da promessa que fizemos em frente ao juiz no

altar, ele precisou procurar outra mulher.

Me pergunto onde errei, se não fui esposa o suficiente, se não

o satisfazia mais na cama, hoje eu vejo o quanto isso mudou. Mas

independente de qualquer coisa, eu não merecia a humilhação que

ele me fez passar, me fazer encontrar os dois juntos no seu

escritório enquanto a comia por trás, depois de horas antes ter

marcado comigo para encontrá-lo lá. Me toquei depois que tudo isso

foi para facilitar a separação e assim ele mesmo não teria o trabalho

de me contar.

Covarde.
É com esse ódio que entro no banheiro e, olhando para o

espelho, desço a alça do babydoll vinho que uso. Observo meu

corpo, o comparando com anos atrás, quando eu tinha minha pele

mais firme, meus seios eram mais duros. Meus dedos descem para

a minha barriga, não totalmente reta, mas pelo menos o sacrifício da

dor na academia tem valido a pena.

Mais embaixo eu sinto a cicatriz, a dedilho de forma delicada

e sorrio. Foi dali que saiu a pessoinha mais perfeita e linda, que

mudou a minha vida completamente, a bebê do sorriso banguela,

que agora já é uma mulher de dezenove anos com decisões

próprias e nem um pouco dependente da mãe.

Minha filha é a única coisa boa que restou dos anos de

casamento com Edward e da qual não me arrependo, mas eu sei

que está machucada com o fim do casamento e, principalmente,

com o pai, a quem foi sempre apegada.


Continuo a análise minuciosa em mim, focando agora em

meu rosto e consigo concordar com Karen, não me pareço ter trinta

e cinco anos, e por mais que digam que o motivo de Edward ter me

traído possa ser pelo fato de eu ser descuidada comigo mesma ―

porque sempre tem aqueles fofoqueiros ― é mentira, sempre me

cuidei, na alimentação, nos exercícios; sempre cuidei da minha

aparência, até mesmo por causa do meu trabalho.

Tenho uma empresa pequena de eventos, e aprendi que uma

boa imagem é também a alma dos negócios. Consegui me formar

anos depois de me casar, e investi muito no que tenho hoje, estou

aliviada por isso ter partido somente de mim e não de uma ajuda do

Edward. Amo tanto o que faço, que não consigo me imaginar

fazendo outra coisa.

Descarto o banho de banheira, escolhendo o chuveiro, por ser

mais rápido e por não levar muito tempo. A água sai com força pela

pressão assim que abro a torneira. Meus cabelos loiros grudam nas
minhas costas à medida que a água cai na minha cabeça, fecho os

olhos, sentindo a água quente passar pelo meu corpo.

Tantas coisas passam pela minha cabeça, as palavras das

minhas amigas, a nova fase que entrei com a separação, minha

filha, um turbilhão de pensamentos, não sei quanto tempo eu fico

debaixo do chuveiro, mas quando enfim o desligo, a decisão de me

divertir essa noite e tentar deixar esquecidos os meus problemas

bem no fundo da minha mente, está mais viva do que nunca.

A escolha da roupa é um vestido preto com uma alça só, o

comprimento vai até metade das minhas coxas. O encontrei no

fundo do meu closet, esquecido há tempos lá, nem lembro da última

vez que o usei e percebo que foi há muito tempo quando a peça

gruda nas minhas coxas e cintura, deixando meus seios levantados

pelo corte aberto da parte de cima, marcando minhas curvas.


Me pego insegura comigo, me olhando no espelho, pensando

no que Edward pensaria me vendo assim agora…

Me forço a ligar o foda-se, ele não vale mais meu tempo,

minha insegurança e muito menos uma vida pacata que ele deseja

que eu viva.

Levanto minha cabeça para o alto, concentrando meu olhar

no teto branco, impedindo que alguma lágrima idiota caia. É isso

que preciso, me ver como uma nova mulher, fora do comodismo que

meu casamento me trouxe.

Hoje vou sair com as meninas, beber muito, dançar, e talvez

quem sabe, ficar com algum cara e mostrar para mim que eu

consigo seguir em frente. Visto um sobretudo também na cor preta,

calço meu scarpin nude e pego minha bolsa para descer e esperar

as meninas.
Olho para o espelho mais uma vez, focando atenção no meu

rosto, a maquiagem leve em contraste com o batom vermelho, meus

cabelos secos e ondulados caídos em meu rosto, me dando um ar

de uma mulher poderosa e que sabe o que quer.

No corredor, consigo escutar o silêncio da casa e concluo que

minha filha não esteja em casa para avisá-la que irei sair. Assim que

começo a descer as escadas, a batida da porta da frente indica que

as minhas amigas chegaram.

Karen grita assim que abro a porta e, pela sua expressão, fico

insegura de ter exagerado na escolha da roupa.

― Você está muito gostosa nesse vestido. ― Dou risada com

sua frase nem um pouco contida, ela sempre sendo espontânea

demais.

Olho por cima do ombro dela, encontrando Olívia dentro do

carro, buzinando com um sorriso largo, aprovando também a minha


escolha de vestimenta para a nossa noite a três.

― Hoje a nova Daphne vai começar a viver.

― Não exagera, Karen ― digo, enquanto a sigo para o carro.

― É só uma noite em um pub com muitas bebidas.

― E homens, adicione isso à sua lista ― Olívia fala quando

escuta minha conversa com Karen.

Entro no banco de trás e suspiro, pensando se estou fazendo

a coisa certa em me juntar com a minhas amigas doidas, em uma

noite que nem sabemos o que aguardar.

― Não sei se isso é uma boa ideia ― eu falo quando sinto o

carro entrar em movimento.

― Cala a boca, Daph, não comece com isso agora. ― Escuto

Olívia retrucar, seu tom de voz me dizendo que não vai dar o braço

a torcer para mim.


Reviro os olhos, sabendo que ela está me observando pelo

retrovisor e dando risada, enquanto Karen aumenta o som do carro

que toca uma música da Rihanna com um ritmo eletrônico, eu tento

relaxar.

Karen se inclina para trás, me empurrando uma garrafa de

cerveja.

― Beba, vai te ajudar a relaxar.

Viro o gargalo na minha boca assim que pego a garrafa da

sua mão. Observo minhas amigas, bebendo mais um gole da bebida

gelada, Olívia bate os dedos no volante ao som da música, Karen se

movimenta de um lado para outro.

Sorrio me lembrando há quanto tempo conheço as duas,

somos inseparáveis desde o colegial e não sabemos como fizemos

a nossa amizade dar certo, somos cada uma com sua


personalidade diferente, opiniões e gostos, e estamos até hoje

juntas, depois de trinta anos.

― Brendon não vai se importar que vamos em um pub, só

nós três? ― pergunto a Karen, que se vira no banco para me

responder.

― Não, ele foi o primeiro a apoiar a decisão, além do mais,

nunca gostou do Edward, você sabe que ele não ficou feliz ao saber

do que houve ― Assinto. Brendon consegue ser um irmão às vezes.

Os dois são casados há mais de dez anos, pais de gêmeos

cinco anos mais novos que a minha filha. Com Karen e Brendon foi

amor à primeira vista e amo a cumplicidade e amor que os dois têm

um pelo outro.

Já Olívia é a única de nós três que não se casou e resolveu

viver a vida livre e solta, sem se apegar a ninguém, é o jeito que a

faz feliz.
A entrada do pub logo aparece no meu campo de visão,

Olívia leva um tempo para encontrar um lugar para estacionar o

carro pelo motivo do local estar cheio.

Não retiro o sobretudo quando desço do carro, ainda não me

sinto à vontade de estar com um vestido revelador assim, fecho a

parte da frente com as mãos quando nós entramos.

O ambiente escuro e iluminado apenas por poucas luzes está

cheio, e acabamos por decidir ir para a parte de cima, de onde dá

para ver um show de uma banda acontecer. Olívia se distancia da

gente para ir até o bar pegar bebidas, quando Karen e eu nos

sentamos a uma mesa perto das escadas, próxima ao bar.

Olho em volta analisando o local, nunca tinha vindo aqui

antes, o tom marrom das paredes e chão, os assentos de madeira e

estofados da mesma cor, traz um ambiente rústico para o lugar,


junto com as vidraças das janelas. O local é iluminado por

luminárias no teto e paredes.

― Uma cosmopolitan para você ― Olívia chega com nossas

bebidas, entregando a minha. ― Margarita para você. ― Entrega a

bebida da Karen, sentando logo em seguida com a sua em mão,

sem álcool por ser a responsável do volante.

― As regras para a noite são: ― Karen levanta as mãos para

pontuar com os dedos enquanto cita cada uma delas. ― Não

citarmos o ex traidor. Beber muito e se divertir bastante sem nos

preocuparmos com a hora de ir embora.

Dou risada, levantando minha taça para que possamos

brindar. As horas se passam e com isso vamos de vários drinks,

com músicas da banda ao vivo, muitas risadas e conversas

descontraídas.
― Olhem aquele gostosinho no bar ― Olívia aponta com a

cabeça, seu sorriso malicioso sendo escondido pela taça enquanto

ela bebe da sua bebida.

Já consigo sentir o álcool no meu organismo, estou bem

agitada e solta, por esse motivo o sobretudo não se encontra mais

no meu corpo. Olho para onde ela indicou, e consigo ver o homem

de costas para nós, os braços inclinados no balcão do bar, dessa

forma a jaqueta preta de couro que usa, abraça seus ombros e

braços, a mesma coisa acontece com a calça jeans, que gruda em

suas coxas grossas, e concordo com minha amiga, ele é realmente

gostoso.

Já não consigo mais controlar meus pensamentos por conta

do álcool.

De onde estamos sentadas, consigo ver sua mão grande

segurar o copo e quando sua cabeça vira de lado, percebo seu


maxilar marcante, coberto por uma barba bem cuidada. Os cabelos

pretos em um corte curto.

― Ele parece ter uns vinte e poucos ― digo, e olho para as

garotas que me observam com um sorriso que não consigo

identificar, só elas parecem entender a piada interna. ― O que foi?

Olho para o cara de novo no bar, que tem sua atenção

voltada para o celular em sua mão. Não somos as únicas a sermos

distraídas com seu estilo bad boy misterioso, o cara parece imã para

os olhares de outras mulheres sentadas em outras mesas ou

próximas do bar.

Volto a olhar para minhas amigas, que continuam me olhando

de forma misteriosa, até que Olívia resolve dizer o que está

pensando.

― Você disse que quer se divertir hoje ― vejo o olhar que ela

lança para Karen, que retribui, entendendo a sua intenção.


― Estava aqui pensando, você nunca foi de curtir um bom

desafio, mas acho que chegou a hora de mudar isso.

Não estou entendendo o motivo da conversa do nada, até que

a vejo olhar novamente para o cara no bar, e começo a negar com a

cabeça antes mesmo de ela colocar na mesa a aposta.

— A gente te desafia a ir até aquele cara e conversar com ele

— O quê? — pergunto, sem acreditar, dando risada. — Vocês

estão loucas.

— Achei que você ia topar tudo essa noite — Karen pesa a

barra, ajudando Olívia a me convencer.

— Isso é coisa de criança, quem na nossa idade faz apostas

desse tipo?

— Se é coisa de criança, você não vai se importar de ir até lá

então — Karen dá de ombros, com aquele típico sorriso sacana,


louca para um bom entretenimento. — Qual é, Daphne? Uma das

regras era se divertir, não seja careta, é só uma conversa e nem vai

te matar.

— Assim você esquece seu ex-traidor de vez e vive o que não

viveu por causa do casamento.

Um som de desgosto sai pelos meus lábios só de imaginar

como perdi muita coisa por causa de Edward para no final ser traída

e humilhada por ele.

— E você é linda, vai ganhar a atenção dele rapidinho.

— E o que eu ganho com isso? — pergunto interessada, não

deixaria a oportunidade de ganhar algo delas passar.

— Além do fato de que vai se divertir com o cara? — pergunta

apontando para ele. — Karen e eu pagamos um dia de SPA pra

você.
Minha outra amiga assente, animada com o desenrolar do

assunto, como eu disse antes, Olívia tem uma persuasão para

conseguir as coisas e eu acabo cedendo.

Sorrio e me levanto da cadeira com uma coragem que não sei

explicar de onde vem, mas que culparei a bebida, ou porque ser

desafiada é algo novo para mim e isso fez, de certa forma, a

adrenalina gritar em meu corpo.

Dou passos em direção ao carinha do bar, consigo escutar a

música que a banda toca, a identifico como Far Too Young to Die, o

ritmo dela me faz ter coragem para dar os cincos passos até o bar e

ganhar a aposta.

Me sinto capaz à medida que os segundos se passam e vou

chegando mais perto, consigo ouvir minhas amigas dando gritinhos

eufóricos enquanto caminho para o que seria uma conquista, mas

falho. Faltando um passo para estar do lado dele, amarelo. Eu travo,


a coragem que eu tinha até segundos atrás some como toque de

mágica, e fico parada, segurando as mãos de forma nervosa e,

assim, sem conseguir dar um passo à frente, me viro para voltar à

mesa, vendo as expressões desgostosas das minhas amigas, mas

ignoro-as.

― Você vai perder a aposta. ― Paro de andar quando escuto

sua voz, e quase perco o equilíbrio não só pela sua voz grossa e

rouca, mas pelo fato de saber sobre a aposta.

Me viro delicadamente para manter o controle do meu corpo,

e assim não precisar cair e passar por um vexame.

― Aposta? ― pergunto como se não entendesse do que ele

está falando e ele solta uma risada baixa, antes de se virar para

mim com um sorriso malicioso.

― Eu consegui escutar a conversa com suas amigas. ― Me

aproximo de volta ao balcão. ― Não conseguiram ser tão discretas


como gostariam.

Tento demonstrar vergonha, porém nem nisso a bebida me

ajuda. Dou uma risada nervosa, não adianta muito mentir.

― Aceita uma bebida? ― pergunta, percebendo o quanto

estou desconfortável. ― Pode se sentar se quiser.

Olho para o banco ao seu lado e novamente para ele, fixando

meu olhar no dele pela primeira vez, seus olhos me desafiando a

aceitar o seu convite e percebo que não são só minhas amigas

instigando a ceder, a forma que ele sorri de lado, descendo os olhos

pelo meu corpo, parando alguns segundos nas minhas coxas

expostas, me faz sentir um estremecimento por todo o meu corpo.

Não vejo problema em concordar. Me sento, observando seu

sorriso crescer e me estendendo uma cosmopolitan que o barman

acaba de entregar. A pego da sua mão, sentindo seus dedos

roçarem nos meus por leves segundos.


Uso esse momento para olhar para as minhas amigas na

mesa, que estão sorrindo com os dedos levantados de forma

positiva.

― Elas são divertidas. ― Me viro para ele quando escuto sua

voz, ele estava com o olhar direcionado a Olívia e Karen. ― Me

chamo Thomas.

Estende a mão para que eu possa cumprimenta-lo.

― E você é Daphne. ― Levanto a sobrancelha,

silenciosamente o questionando sobre como ele sabe o meu nome.

― Escutei suas amigas te chamarem.

― Então você também estava nos observando ― pergunto

interessada, deixando um sorriso se abrir ao saber disso.

― Sim. ― Ele ri. ― A noite está uma droga, a única coisa

interessante que encontrei para fazer aqui foi escutar a conversa de


três mulheres animadas apostando, principalmente eu sendo o alvo.

― Não se sente ofendido? ― Bebo da minha bebida,

tentando disfarçar o quanto devo estar envergonhada por ele ter

escutado a nossa conversa.

― Nem um pouco. Na verdade estava torcendo para você

aceitar vir falar comigo ― diz sincero, me encarando intensamente

agora. ― Eu teria a companhia da mulher mais linda do pub.

Dou risada, me sentindo sem jeito com seu elogio.

― Mas me conta, por que sua noite está sendo uma droga?

― mudo de assunto, e ele sorri.

― Uns problemas familiares, e o lugar é uma merda, a banda

é uma merda, o que resume em uma noite droga. ― Ele dá de

ombros, e consigo sentir a melancolia em sua voz. ― E você, o que

estão comemorando?
― O meu divórcio. ― Ele me olha surpreso, e é a minha vez

de dar de ombros, não entendo como consigo estar sendo tão

aberta com ele.

Ele fica me olhando. Sem jeito, foco meus olhos em minha

taça, que se encontra quase vazia. Ainda sinto seus olhos em mim,

e mexo no cabelo para ter o que fazer, esperando que desvie o

olhar. Thomas parece conseguir me ler da forma tão profunda que

me encara e começo a sentir minha pele esquentar.

Decido fixar meus olhos nele também, parando justamente

em sua boca, e quando subo meu olhar para encontrar o seu, o

pego fitando os meus lábios.

― Então é uma boa comemoração ― responde, ainda com

os olhos em minha boca. ― Já que a noite é para comemoração,

acho que podemos melhorar ainda mais.


Ele inclina para mais perto de mim, sua mão chegando perto

da minha para acariciá-la.

― E você ainda vai ganhar duas vezes. Vai ganhar a aposta e

vai me ganhar.

Não consigo pensar em algo para respondê-lo, ele se

aproxima mais de mim, e percebo o quanto anseio pelo que está por

vir, em como meu corpo se esquenta, louco para que os centímetros

faltantes sejam logo encerrados.

Sinto o hálito quente que sai dos seus lábios baterem nos

meus, o cheiro de álcool misturado com menta, me faz querer

perder a compostura que tenho e beijá-lo. Ele coloca sua língua

para fora, passando-a pelo seu lábio inferior, me provocando, sua

boca a centímetros da minha, quase consigo sentir nossas peles se

tocarem, e anseio por isso.


Ele desvia a boca para trazê-la para o meu ouvido e me

arrepio esperando o que fará em seguida.

― Eu sei que você quer, só deixa acontecer ― pede, suas

palavras causando bem mais que apenas uma quentura pelo meu

corpo. Ele está me provocando, querendo que eu ceda à atração

entre nós, e eu não consigo entender essas reações no meu corpo,

não lembro de já ter sentido isso antes com Edward e faz tanto

tempo, que não sei como reagir.

E por mais surreal que seja pra mim, eu quero, quero deixar

rolar o beijo, e sei que a bebida em meu organismo está facilitando

para eu tomar essa decisão.

Thomas parece perceber a minha dubiedade, pois sua mão,

que até antes estava próxima à minha, por cima do balcão, sobe

lentamente pelo meu braço, deixando labaredas por onde passa,

parando em meu pescoço. Ele a faz dançar vagarosamente, em


círculos, por fim subindo para segurar o meu rosto, isso tudo sem

desviar os olhos do meu.

— Daphne, Daphne — sussurra meu nome, de uma forma

que chega a ser doce e sensual, a maneira que os sons saem, me

faz desejar pedir para repeti-lo mais vezes. — Não pensa demais.

Desço meus olhos para seus lábios tão chamativos e

molhados pela sua língua momentos antes, fica impossível negar o

seu pedido, negar seu olhar intenso, suas mãos quentes em minha

pele ou seu corpo forte se aproximando mais do meu.

Mas eu resisto, e não sei como fui capaz disso, me sinto uma

tola quando sinto sua boca quase tocando a minha, eu me esquivo

dele, cambaleando para o lado, escutando seu suspiro frustrado em

seguida.

Minha respiração acelera, enquanto olho para ele, que abaixa

a cabeça sorrindo, como se não acreditasse que fiz uma “proeza”


dessas.

― Preciso ir ao banheiro ― solto em um fôlego só, não

entendendo como consegui dar os passos para o outro lado do pub

em direção ao banheiro.

Meu coração parece esmurrar meu peito de tanto que está

rápido. O escuro do corredor que dá para o banheiro impede que

duas pessoas presentes vejam meu estado. Encosto na parede,

colocando a mão no meu peito para tentar normalizar a minha

respiração.

Não voltarei para lá. Com sorte, ele não estará mais no bar e

poderei convencer as meninas de irmos embora. Fecho os olhos, e

espero ter forças o suficiente nas pernas para ir até o banheiro e

molhar o rosto, mas um par de mãos grandes impossibilita os meus

planos.
Quando abro os olhos pra ver Thomas na minha frente,

exalando sexualidade pela forma quente de me olhar e uma

expressão questionadora, esqueço de tudo e passo a mão pelo seu

pescoço, o puxando para grudar sua boca na minha.

Suspiramos quando nossos lábios se tocam e o alerta

passando pelo meu corpo do que eu estou fazendo. De olhos

fechados, sinto quando ele pressiona seu corpo no meu, amparado

pela parede atrás de mim. Thomas avança para um beijo mais

desesperado, invadindo a minha boca com sua língua.

Agarro seu ombro para me apoiar nele, mesmo que pela

forma que me segura com um aperto gostoso, não deixaria cair.

Nossas línguas se tocam e eu sinto o seu gosto. Sua mão desce

para minhas costas, prosseguindo mais para baixo, parando na

base da minha bunda. Consigo sentir seus dedos dedilhando pelo

local, desejando, pedindo permissão para poder descê-la mais, e

não sei de onde vem a minha ousadia, seguro sua mão, guiando
para onde desejo o seu toque, experimentando seu sorriso em

nosso beijo.

Ele aperta minha bunda, puxando-me para juntar nossos

quadris e assim poder sentir seu membro duro na minha coxa.

Eu gemo, não entendendo como é possível estar sentindo

todo o tipo de sentimento envolvendo o desejo por esse homem, me

julgando irreconhecível, mas não tendo a sã consciência em parar.

Minhas unhas cravaram em seu ombro, e se não fosse pela

sua jaqueta, tenho certeza que teriam pegado em sua pele através

da sua camisa branca.

― Quero lamber toda a sua pele. ― Thomas larga minha

boca para dar atenção ao pescoço, e gemo manhosa quando ele

morde a pele sensível. ― Lamber todo o seu corpo e saber o gosto

que tem. ― Ele chega no meu ouvido, lambendo a ponta da minha

orelha antes de sussurrar. ― Saborear o gosto da sua boceta.


Fecho as minhas pernas ao sentir o pulsar no meio delas,

depois de ouvir as palavras saindo dos seus lábios, já me sinto

molhada e a sensação gostosa crescendo no meu ventre se

intensifica. Thomas desce os beijos do meu pescoço para o meu

colo, abaixando a alça do vestido, sua mão que se encontrava na

minha bunda agora na pele exposta da minha coxa, dando apertos,

nem tinha percebido até o momento que ela se encontrava

levantada, segurada por ele, enquanto ele parece querer se fundir

mais em mim.

― Vamos para outro lugar ― sugere, voltando a me beijar,

com força e urgência, me impedindo até certo ponto de digerir sua

fala.

Eu travo, e ele percebe, parando o beijo para se afastar de

mim e saber o motivo de ter parado de corresponder o que estava

sendo o melhor beijo da minha vida nos últimos tempos.


Meu Deus, o que estou fazendo? Não estou me

reconhecendo.

― Eu não posso, Thomas ― digo, me afastando dele, que

franze a testa.

― Não entendo. Por que, não? A gente está curtindo, e você

estava gostando ― pontua, e por um momento penso em esquecer

o que acabei de falar e me jogar novamente em seus braços.

― Eu realmente estava... ― pigarreio. ― Mas você não vai

entender, não tinha a intenção de ficar com alguém essa noite.

Acabei de sair de um divórcio e ainda estou acertando a minha vida.

Sua boca carnuda agora se encontra vermelha e inchada

pelos nossos beijos trocados, suas roupas desalinhadas fazem-me

perceber que meu vestido se encontra do mesmo jeito, e subo a

alça dele, consigo sentir minha pele pinicar pela sua barba.
― Entendi, você ainda o ama. ― Ele dá um passo para trás,

e quando eu resolvo negar, decido que o melhor é ficar calada, não

tinha o porquê explicar o quanto meu casamento foi complicado a

alguém que eu não estava disposta a deixar rolar a noite ou que

veria novamente em algum momento.

Sendo assim, me afasto dele, não me despedindo, sem a

coragem de olhar para ele antes de sumir pelo corredor, escutando

seu suspiro

Foi a maior loucura que fiz na minha vida, e por mais louco

que fosse como tudo aconteceu, não me arrependia, mesmo agora

com o efeito do álcool saindo do meu corpo.

Minhas amigas quando me viram aparecendo novamente, se

levantaram ao perceberem que algo havia acontecido, e decidimos

ir embora. Não consegui olhar para trás para constatar se ele estava

lá, parado me vendo descer as escadas para ir embora.


Thomas

Ora ou outra aquela noite me vem à cabeça, mesmo depois

de ter se passado semanas. Não consigo esquecer aquela mulher.

Porra, e que mulher.

Daphne.

É tão gostoso pronunciar o nome dela, que enquanto a

beijava imaginei gemendo ele várias vezes enquanto ela me

chupava.
No momento em que coloquei os olhos nela, sentada na

mesa com as amigas, a desejei, e me segurei para não ter sido eu ir

até ela e convidá-la para tomar um drinque comigo. Pouco me

importava se ela era uns anos mais velha que eu; o desejo de

rasgar aquele vestido e possuí-la do jeito que eu queria...

Eu a queria e não tive nem tempo de fazê-la mudar de ideia

quando decidiu ir embora, quando saí do corredor para ir atrás dela,

não a encontrei mais e nem suas amigas, ela havia ido embora.

Minha noite que estava uma droga ficou pior quando ela

escapou das minhas mãos, dos meus beijos, do meu desejo. Eu

havia percebido que ela estava insegura, e entendi depois que era

por conta do divórcio e penso que talvez tenha sido melhor assim,

não quero ser confusão para ninguém, já tenho problemas demais.

Um deles está nesse momento na minha frente. Tenho alguns

trabalhos da faculdade para finalizar e entregar antes do período


das provas, falta apenas uma semana para começar.

Faz quatro anos que estou na Stanford, entrei com meus vinte

e um anos, e ainda não decidi o que de fato quero cursar, e isso

vem enfurecendo o meu pai, CEO de uma das maiores empresas de

São Francisco. Meu avô é o fundador da H. D Communication,

empresa de telecomunicação.

E o certo seria estar fazendo um curso na área da empresa

da família, e mesmo que um dia eu vá ser dono de tudo, ainda não

me sinto pronto e preparado para largar minha vida e me dedicar

totalmente ao meu futuro como futuro CEO, dono da porra toda.

E o outro problema é justamente a raiz de tudo, meu pai. Está

me pressionando a tomar a decisão da proposta que fez, isso ou

tomará as “medidas extremas” sobre a forma que estou vivendo.

Ele está de saco cheio da vida que venho levando, e não

deixa isso escondido de ninguém. Nesse caso minha mãe pensa


como ele.

A porta do meu apartamento se abre, e escuto o barulho de

chaves misturada com sacolas e, por fim, passos. Consigo sentir

seu perfume doce antes mesmo de ela entrar na sala, se inclinar e

beijar meu rosto, passando a mão no meu cabelo.

― Oi, mano ― me cumprimenta, indo para a cozinha deixar

as sacolas. ― Trouxe almoço para nós, imaginei que não iria comer

já que está agarrado nos trabalhos.

Suspiro, assentindo, mesmo que ela não consiga me ver, a

vontade que tenho é de me jogar nesse sofá e não precisar me

preocupar com nada. Levanto grato pela gentileza da minha irmã,

minha barriga protestando assim que sinto o cheiro da comida.

― Oi, mana. ― Beijo seu rosto, dando um abraço nela de

lado, apertando-a, escutando suas queixas por estar sendo

esmagada.
Diferente dos meus pais, Leah consegue me entender. Talvez

por ser a caçula, com a nossa diferença de três anos, tenha sentido

o quanto nosso pai gosta de ser controlador, não tanto como eu, por

ser o único herdeiro homem da H. D Communication, e é a única de

nós dois que se vê trabalhando na empresa da família.

― Obrigada por estar cuidando do seu irmão preferido ―

agradeço quando a solto, me sentando na mesa assim que ela pega

os pratos com o nosso almoço.

― Você é meu único irmão.

Dou um sorriso com os lábios fechados, com a expressão

mais cínica para ela, pois acabo de colocar um pedaço da massa na

boca. Assim que se senta à minha frente, ela pergunta sem rodeios,

preocupada, ela sabe o quanto a relação com meu pai consegue ser

perturbadora:
― Nosso pai ainda está com a ideia de mandar você para

Seattle?

Ela franze a testa quando deixo minha frustração ser

mostrada através de como minha expressão do rosto muda e o

garfo bate no prato, causando um barulho alto entre os utensílios.

― Ele não vai desistir, Leah, principalmente pelo fato que

dependo dele para pagar a faculdade, os extras que estou fazendo

dando aulas não estão ajudando muito.

Mesmo que eu tenha vários colegas de matérias querendo

aulas de reforço comigo, não me sobra tempo o suficiente.

― Você sabe que não sou a favor dessa decisão dele. ―

Assinto. ― Isso está deixando a mamãe louca, vocês dois vem se

desentendendo mais do que o habitual por causa desse assunto.


Eu não preciso responder ao seu comentário, o meu silêncio

já mostra o quanto a sua observação está certa.

― Mas talvez fosse bom para você, estaria longe dele por um

tempo, mesmo trabalhando na filial da empresa de lá, não acho que

teria tanta pressão assim. ― Ela dá de ombros.

― Não seja inocente, Leah, isso também seria uma forma

dele estar me controlando.

― Não totalmente.

Não totalmente.

Repito a frase na minha cabeça. Pode até ser que minha irmã

esteja certa, mas esse não é meu desejo.


Já perdi as contas de quantas vezes voltei nesse mesmo pub

com a esperança de encontrar a Daphne novamente, sento no

mesmo banco, faço o mesmo pedido de bebida daquela noite e

espero.

Dou uma risada incrédula pelo quanto pareço uma besta por

fazer isso. Nem entendo o porquê venho aqui com frequência à

procura dela, o lugar nem é tão bom assim, muito menos a banda,

mas ela de alguma forma mexeu comigo.

Inferno, preciso tirar aquele rosto, aquela boca gostosa, com

seus beijos quentes, da minha cabeça.

Nem percebo o quanto estou distraído até sentir um toque no

meu ombro, me viro torcendo para que possa ser ela, mas me

decepciono.

Uma loira alta, com corpo de modelo em um vestido tubinho

justo está na minha frente com um sorriso que considero sexy, e a


forma que morde o lábio enquanto me olha mais atentamente agora

que estou a sua frente, mostra sua total intenção.

― Posso te pagar uma bebida? ― pergunto, já mostrando

meu jogo.

Não iria passar a noite de sábado só com a intenção de

beber, quero uma boa noite de sexo quente, que me faça esquecer

a semana de merda que eu tive, junto com os problemas e a mulher

que tomou meus pensamentos nos dias que se passaram.

De uma bebida foi mais uma e mais uma. Quando percebi,

ela já estava entre minhas pernas, com suas mãos passando pelo

meu pescoço e braços, enquanto ria de algo bobo que eu

sussurrava no seu ouvido, com a minha mão na sua coxa e, de

repente, estávamos indo embora do pub para uma noite no meu

apartamento.
Daphne

Pulo em um pé, tentando calçar o salto no outro pé, correndo

meus olhos pela sala atrás da minha bolsa que deixei em algum

lugar, que jurava que foi em cima do sofá. Vou chegar atrasada na

minha primeira reunião com um possível cliente de uma empresa

grande.

A encontro no chão ao lado da poltrona e vou em busca da

chave do carro. Quando saio de casa, nem confiro se tranquei a

porta direito e entro no carro. Meu alívio se vai quando tento ligar o
mesmo e ele só faz um barulho como se tivesse engasgando, não

liga nem nas outras tentativas.

Desço do carro incrédula, batendo a porta. Solto uma risada

nervosa, não acreditando que isso esteja acontecendo comigo e

justo hoje. Desesperada olho para o relógio no meu pulso e

choramingo.

― Por que, meu Deus? Já era para estar no restaurante.

Não sei se chega ser sorte ou azar, mas consigo pedir um

Uber pelo aplicativo, só que ele demoraria uns dez minutos para

chegar onde moro, e decido me arriscar a chegar no almoço

atrasada, o máximo que pode acontecer é ele desistir de me esperar

e ter ido embora, e não me dá outra chance para encontrá-lo de

novo.

Quando o motorista para em frente ao restaurante, desço feito

louca do carro depois de pagá-lo, me dando tempo de passar as


mãos pelos meus cabelos tentando me recompor enquanto subo as

escadas, antes de parar na entrada do restaurante.

― Oi ― digo para a recepcionista, que sorri educada,

esperando que eu recupere o fôlego. ― Estou atrasada, mas creio

que o senhor Hodges já está à minha espera.

Ela confirma meu nome e me indica a mesa que o meu

possível cliente está me esperando, me esforço para fazer uma

expressão de culpa quando agradeço a moça e sigo para a mesa

sozinha. Preciso mostrar que estou realmente mal pelo atraso, pedir

mil desculpas e torcer para que ele não esteja irritado por esse

motivo.

O vejo de costas para mim quando me aproximo e sua

cabeça baixa me impede de reconhecê-lo cada vez que chego mais

perto e quando já estou na sua frente desato a falar, sem antes

esperar que olhe para mim.


― Bom dia, peço perdão pelo meu atraso, acontec... ― paro

de falar quando ele levanta a cabeça para me encarar e fico em

choque. ― Você.

― Daphne. ― Até ele está surpreso ao me ver, pela forma

que seus olhos e sobrancelhas estão exaltadas. Ele se levanta da

cadeira, ficando à minha frente.

Jogo a culpa toda em cima do meu desespero e atraso por

não tê-lo observado direito antes de chegar à mesa, mas acho que

nem isso teria mudado muita coisa.

― O que está fazendo aqui? ― essa é a única pergunta que

lembro de fazer.

Minha reunião será com o Senhor Hodges, dono da H. D

Communication ou achei que seria.


― Ao que parece a reunião que você tem é comigo. ―

Thomas abre um sorriso presunçoso, depois de ter passado o

choque do reencontro.

― Não estou entendendo, eu deveria estar encontrando o

senhor Hodges ― insisto para mim mesma, tentando entender o

porquê estou na frente do homem que fiquei no pub.

A não ser que o destino fosse um...

― Sim, sou o filho dele, Thomas Hodges. ― Ele estende a

mão para mim em cumprimento e a seguro no automático e ele

deve ter percebido o quanto ela está gelada e suada. ― Ele teve um

imprevisto e pediu para que viesse e resolvesse com você tudo

sobre o evento que acontecerá na H. D Communication.

Sim, o destino consegue ser uma caixinha de surpresa.

― Sente-se, por favor.


Estou tão desnorteada, que não me toquei que ainda estou de

pé, olhando para ele sem saber o que fazer. Me sento e ele faz o

mesmo logo em seguida, nossos olhos fixados no rosto um do outro.

Agora com a luz do dia, vendo-o com mais claridade, posso

observar todo o seu rosto melhor. Seu maxilar marcado e a leve

covinha do queixo pode passar despercebida pela barba rala que a

cobre, o nariz fino e pontudo. Seus olhos ficam difíceis de saber o

tom certo da cor, parecem ser castanhos esverdeados.

Desço a atenção para a sua boca, seus lábios carnudos me

fazem lembrar de uma noite que tentei esquecer pelos dias que se

seguiram e que quando achei enfim não a lembraria mais, encontro

o dono deles.

Pigarreio, voltando a olhar em seus olhos, percebendo que

não era só eu que tinha a atenção voltada para sua boca.


― Vamos começar? ― pergunto, pegando a pasta de dentro

da minha bolsa, aliviada por ter algo para mexer com as mãos. ―

Como eu tinha falado com o senhor Hodges, trouxe todas as

amostras do estilo da decoração que me baseei no evento da

empresa.

Entrego a pasta em suas mãos que me observa com o cenho

franzido. Ele abre a pasta para ver as imagens que tinha nela e

aproveitei esse momento para analisá-lo melhor. Diferente da noite

em que nos conhecemos, ele veste um terno da cor preta com um

acabamento e tamanho perfeito no corpo dele.

Ele chega a ficar irreconhecível com esse estilo, já que o jeito

bad boy sedutor parece ser marca registrada dele, não que ele não

esteja sedutor agora, me faz ter vontade de tirar as peças do seu

corpo para tocar sua pele quente.


Me assusto quando meus pensamentos vão longe demais e

quando ele fecha a pasta e me olha sem nenhum vestígio de

expressão no rosto, tenho medo de que ele saiba o que estou

pensando.

― Algo que te desagrada? Posso refazer o trabalho e você

pode me passar o que deseja ― falo nervosa.

― Não é isso, Daphne. ― Ele deixa a pasta ao lado, no canto

da mesa. ― Eu aprovo tudo, mas antes de falarmos sobre os

detalhes, gostaria que almoçássemos primeiro.

― Claro ― respondo educada, forçando um sorriso.

Mesmo que eu queira finalizar essa reunião com Thomas o

mais rápido possível, recusando até mesmo o almoço, não posso,

ele está como meu cliente nesse momento, preciso ser prestativa,

paciente e educada, é isso que meu trabalho me ensinou e me

trouxe até aqui hoje.


Fizemos nosso pedido, Thomas escolheu um vinho para nós

dois, e me toquei o quanto precisava dele quando o levei à minha

boca, estou tão nervosa com esse encontro que não sei como

relaxar.

― Não imaginei que fôssemos nos reencontrar depois

daquela noite ― ele solta, me olhando enquanto bebe do seu vinho.

― Nem eu.

― Se eu te perguntar o porquê de ter ido embora sem me dar

a chance de saber o motivo, você responderia? ― pergunta, eu não

esperava que deixaria esse assunto esquecido, mas não esperava

que fosse questionado tão depressa.

Nego com a cabeça, não quero ser transparente demais com

as minhas inseguranças, contando o quanto fui descontrolada

naquela noite, agi de um jeito que nunca tinha feito em toda minha

vida.
― Não acho que esse assunto deva ser citado ― começo a

falar, sendo sincera. ― Nos conhecemos em outra ocasião que não

vem ao caso agora, principalmente por você estar como meu cliente

nesse instante.

― Não acha? ― ele pergunta intrigado, mas não está

descontente com o que eu disse. ― Então você não acha que eu

deva dizer que você mexeu com a minha cabeça depois de termos

nos conhecido, e que, quando eu vou dormir, fico duro relembrando

o que não terminamos? E que bato uma imaginando sua boca me

chupando?

Tusso, engasgando com suas palavras diretas e olho para os

lados para constatar se alguém ouviu o que ele disse.

― Você não pode dizer isso ― retruco, irritada comigo por me

afetar com o que ele disse, não vou confessar também que toda a
noite antes de dormir, me pego lembrando da nossa pegação,

desejando termos finalizado.

― Por que não? Estou sendo sincero ― Ele sorrir, aquele

mesmo sorriso que me deu no pub, cheio de segundas intenções. ―

Não acha que seja uma oportunidade perfeita esse nosso

reencontro? Finalizar o que começamos?

― Não, eu não acho. Hodges, a gente deveria estar

conversando sobre o trabalho que farei na sua empresa, não...

― Não em um almoço que pode terminar com nós dois na

cama, suados e saciados depois de umas rodadas de sexo

gostoso?

Como ele consegue ser tão cara de pau e direto no que

pensa?
― Podemos nos divertir depois daqui, Daphne, só basta você

deixar de ser careta ― Ele ri.

― Você não está sendo nem um pouco profissional. Pede

para o seu pai me ligar se tiver alguma objeção. ― Pego minha

bolsa da cadeira ao lado, pronta para me levantar e ir embora.

― Não, espera ― Thomas pede, segurando minha mão, me

impedindo de me levantar. ― Peço desculpas, prometo que vou

levar a sério a partir de agora, por favor.

A forma que ele me olha e o toque quente que transfere para

a minha pele, me faz sentar melhor na cadeira e decidir ficar.

― Tudo bem!
Thomas

Eu sei que estava sendo um idiota, mas não consigo entender

o que essa mulher está causando em mim. Só de olhar para ela

com esse terninho preto que marca suas curvas, me deixa com um

leve incômodo no meio das pernas.

Acabamos de almoçar e, nesse momento, ela está sentada

ao meu lado, me explicando as escolhas que fez para a festa e o

motivo. Eu não consigo entender nada para falar a verdade, só

consigo observar sua boca se mexendo quando pronunciam as

palavras, mesmo que eu me esforce para olhar a pasta que trouxe


com as fotos dos modelos da decoração. Fiz várias perguntas a ela,

me mostrando interessado, mas era só para adiar o fim.

Quando me dirigia para o restaurante, o tempo todo me

questionei o porquê havia aceitado a vir nesse almoço para o meu

pai, era apenas aprovar umas coisas bobas sobre a festa na

empresa, que eu nem me importo, mas agradeci mentalmente por

ter aceitado, não teria tido a oportunidade de reencontrar Daphne.

― Então é isso, tem algo que queira mudar ou acrescentar?

― ela pergunta, se virando para pegar uma agenda e caneta na

bolsa, para depois olhar para mim.

Me encosto na cadeira, afrouxando a gravata que me aperta,

mesmo que tenha sido educado desde pequeno a usar sempre o

social, nunca iria me acostumar.

Seu olhar não fica muito tempo em meu rosto, ela abaixa a

cabeça, foi assim durante todo o almoço, ela está bem


desconfortável por ser eu o cliente, e não consegue esconder isso.

Para mim isso é uma oportunidade, o universo está me

presenteando pelos dias que passei pensando nela.

― Para mim, está ótimo, não acho que precise mudar alguma

coisa. Pra ser sincero, meu pai nem se importa com essas coisas e

não entendo o motivo de ser ele resolvendo essa parte do evento,

geralmente é sempre minha mãe ou a secretária dele.

Acho até que foi por esse motivo que me mandou. Ela me

analisa, e queria saber ler mentes só para saber o que se passa na

dela, ela assente depois de um tempo e começa a guardar as

coisas.

― Vou deixar essa pasta com você, para o caso de querer

analisar melhor com mais calma, e peça ao seu pai para me ligar se

precisar de alguma coisa.


Não nego que queria que estivesse se referindo a mim para

entrar em contato com ela. Ela se levanta sem jeito e faço o mesmo,

fechando os botões do blazer.

― Te acompanho. ― Eu faço um gesto para ela seguir em

frente e a sigo para fora do restaurante admirando a forma que sua

bunda fica na saia, e em como ela se acomoda nas curvas quando

ela anda rebolando.

― Obrigada pelo almoço ― Daphne agradece quando

paramos do lado de fora, e vejo meu carro chegando segundos

depois.

― Pode ter certeza que quem está grato sou eu em vê-la de

novo. Poderia fazer um convite para bebermos algo qualquer dia

desses? ― Me aproximo dela, achando a distância grande demais

entre nós, e ela não se afasta quando me arrisco em mais um

passo.
Quando ela abre a boca para dizer algo, eu sei que é para

negar. Coloco um dedo nos seus lábios entreabertos.

― Relaxa, Daphne, não precisa ficar na defensiva, é só um

convite e nem precisa responder agora. ― Dou risada, seguro seu

rosto, sendo ousado em tocá-la, e me aproximando, beijando seu

rosto, bem no canto da sua boca.

Ela suspira surpresa, e sinto seu corpo se tencionar.

― Eu prometi levar a sério a nossa reunião, mas aqui fora é

outro caso. ― Me afasto, pegando a chave do carro com o

funcionário do restaurante. ― Até mais, Daphne, sinto que vamos

nos ver mais vezes.

Ela não me responde, se vira em direção à rua e ao bater a

mão para um táxi que passava, ela some nele logo em seguida não

me dando a chance nem de acenar um adeus.


É claro que já entro em contato com a secretária do meu pai,

pedindo o número de Daphne. Dentro do carro, com o número

gravado, mando uma mensagem sem esperar uma resposta.

Daphne é uma mulher difícil e que estou disposto a fazer o

que for preciso para tê-la na minha cama.


Daphne

Acabo de colocar o celular no balcão da cozinha quando ele

vibra anunciando a chegada de mais uma mensagem, tento ignorar,

pensando no que preciso fazer para a janta, porque eu sei de quem

se trata, mas minha curiosidade coça em todo o meu corpo, louca

para saber o que ele mandou dessa vez.

Sorrio, lembrando que faz dias que está nisso, ainda não

respondi nenhuma de suas mensagens, porém mesmo assim ele

não deixa de enviá-las, e estou gostando disso, já confessei a mim


mesmo que sinto uma atração grande por ele e fica difícil esquecer

isso com as suas provocações pelas mensagens.

“Fico pensando até quando vamos continuar com esse

jogo, não seria mais fácil se você facilitasse e assim nos

divertiríamos juntos?”

― Não ― respondo a mensagem em voz alta, sorrindo.

― Mãe? Deu para falar sozinha agora? ― Pulo de susto

quando Lisa entra na cozinha, falando e sua risada mostra que se

diverte com isso.

Rapidamente bloqueio a tela do celular, o colocando no

balcão com a tela virada para baixo.

― Você me assustou.

― Eu percebi, anda bem distraída ultimamente ― sua frase é

bem sugestiva e sei que mesmo tendo um tom de brincadeira, ela


leva a sério.

Ela olha curiosa para o celular, enquanto vai direto para a

geladeira, tirando os ingredientes que usaremos para cozinhar hoje.

Lisa ainda não aceitou completamente o fim do casamento, e

por ela ser tão mais apegada ao pai do que a mim, parece deixar

tudo mais difícil para ela, a mudança de Edward; a distância do

mesmo vem impactando a sua vida, mesmo que ela finja estar bem.

Eu sei também que tem outra coisa a incomodando e mesmo

que eu queira que ela se abra comigo, parece não ser o momento

certo e respeito isso.

― É só o trabalho, está faltando uns últimos detalhes para a

festa da H. D Communication, que já é daqui a uns dias, quero

deixar tudo perfeito.


― Você é muito perfeccionista, sei que vai ser um arraso,

assim como as outras que já trabalhou.

― Essa é diferente.

Não só pela empresa ser renomada, mas por causa do

Thomas, o homem por quem estou atraída e, por ser filho do dono,

me deixa ainda mais nervosa.

― Não se preocupa com isso ― Ela se aproxima beijando

meu rosto, se dirigindo para o armário a procura da panela para

começar a janta.

Ignoro todas as imagens de Thomas da minha cabeça e foco

no andamento dos preparativos da festa na empresa, Lisa está certa

tudo será um arraso.

Enquanto fazemos a janta, ficamos conversando um pouco

sobre como está indo na faculdade, sobre os amigos e as matérias


que cursa.

― Tem falado com o seu pai? ― pergunto, cortando alguns

legumes.

― Uhum! ― responde sendo vaga.

Eu sei que ela evita falar dele comigo por medo de me

magoar, mas ultimamente Edward já não faz mais parte da minha

vida, está sendo mais fácil viver depois de notar coisas em nosso

casamento que já não eram como antes, isso não significa que

esqueço o que ele fez comigo, homem nenhum deveria ser capaz

de agir assim com uma mulher, a humilhando em uma situação

constrangedora e traumática.

Pergunto sobre ele não por minha causa, quero saber por ela,

Lisa é a única que me preocupo depois do fim da relação, a forma

nada saudável que terminou.


Finalizamos a noite com um filme clichê, com ela dormindo na

minha cama, fico com dó de acordá-la, e só ajeito a coberta, a

embrulhando melhor. Passo os dedos pelos seus cabelos loiros da

cor do meu, os tirando do rosto.

Meu celular vibra na mesinha ao lado da cama e me assusto

com o barulho que ele faz em contato com a madeira. O pego, com

medo que acorde Lisa e o nome de Thomas aparece na tela, já é

automático abrir a caixinha de mensagens.

“Estou indo dormir pensando em você.”

Sua mensagem parece inocente até que uma foto chega em

seguida. Meu corpo esquenta e começo a suar, quando vejo o lençol

fino por cima do seu quadril, não seria nada demais se não fosse

seu pênis duro e a mão grande por cima dele, dando um leve aperto

e involuntariamente um gemido sai da minha boca.


A tampo, olhando para o lado, vendo Lisa se mexendo e me

levanto indo para o banheiro. Fecho a porta, me encostando nela.

Dou um zoom melhor na foto, impressionada com o seu tamanho, e

queria poder vê-lo sem o lençol por cima, me pergunto como seria...

Agora mais que nunca tenho o desejo de respondê-lo, mas

não sei se deveria, não me reconheço quando se trata do Thomas,

ele me faz sentir uma mulher completamente diferente do que eu fui

com Edward.

“Vou precisar mostrar mais que isso para você me

responder?”

Por mais que eu quisesse, sua ousadia está me

enlouquecendo e por meros segundos, penso em aceitar seu

convite para bebermos algo juntos e sei onde isso vai dar depois.

Ele sabe que estou lendo todas as mensagens e o nível da

provocação parece aumentar ainda mais. Meu celular toca com uma
ligação dele, e fico olhando para a tela pensando o que fazer até

que ele para de tocar, quando penso que ele desistiu, ele liga de

novo.

― Daphne ― ele sussurra meu nome quando atendo, mas

fico em silêncio, ouvindo sua respiração acelerada e a voz rouca

que fez meu corpo arrepiar e desejar que ele estivesse agora

dizendo meu nome perto do meu ouvido.

Fico surpresa pelo motivo da ligação assim que ele pronuncia

meu nome novamente em forma de gemido, os sons saindo da sua

boca misturados com palavras desconexas.

Aperto as minhas coxas uma na outra percebendo que ele

está se masturbando, pensando em mim, dizendo meu nome

enquanto se toca. Isso é demais para mim.

Minhas pernas doem pela força que estou colocando, me

sinto molhada e latejante, querendo atenção. Minha mão desce,


entrando no shortinho de dormir, mas paro, nunca fiz isso.

Thomas ruge do outro lado.

― Você também está se tocando? Diz pra mim, Daphne ―

implora, e pela intensidade da sua voz, ele parece estar chegando lá

e não leva muito tempo, seu gemido me faz soltar um também,

querendo estar vendo a imagem dele gozando, sujando sua mão e

abdômen.

― Você não quer mesmo saber o que está perdendo? ― ele

fala depois de vários segundos, eu perdida na imaginação e desejo,

sua voz ainda vulnerável pelo orgasmo. ― Não vai se arrepender,

só se dê a chance, Daphne.

Na real, o que está me prendendo? Sou uma mulher solteira,

louca de tesão por esse homem, como Karen e Olívia dizem, tenho

mais que curtir e Thomas seria o começo perfeito.


Desligo a ligação, tirando a roupa e entrando no chuveiro, é

preciso de um banho de água fria que esfrie meu corpo, fervendo

por Thomas para que assim eu possa pensar com calma em meus

próximos passos.

Não foi fácil esquecer o episódio nos dias seguintes, ou a voz

rouca de Thomas, a forma que gemia meu nome e o meu desejo de

vê-lo nu na minha frente, deitado na cama enquanto se masturbava

para mim. Passei os dias desejosa, excitada, louca para me aliviar

de alguma forma o que estou sentindo, mas o fato de me permitir

me tocar me faz confessar a mim mesma o quanto preciso aceitar

seu convite e deixar rolar.

Durante todos esses dias, Thomas continuou me mandando

mensagens e usei o trabalho para ocupar um pouco a mente,


mesmo que o trabalho tenha sido no salão aonde acontecerá a festa

da empresa dele.

Saio da ala onde estão todas as coisas da decoração do

evento, está faltando os retoques finais e preciso finalizar tudo para

a festa que vai acontecer daqui a algumas horas. Resolvo entrar na

cozinha depois, para ver o andamento dos cardápios que montei,

mas só de passar em frente à porta que dá entrada a ela, consigo

escutar agitação de dentro.

Coloco o jarro de flores sortidas em branco na mesa que

faltou e olho tudo, dando uma volta, fazendo a lista mentalmente na

cabeça para não ter esquecido nada, enquanto ao mesmo tempo

vejo alguns dos meus funcionários ajeitando poucos detalhes das

mesas.

As mesas redondas com os forros de mesa da cor creme

davam contrastes que seriam da cor prata, o prata seguia também


para os jarros que estavam com as flores. A mesa principal à frente

era maior e com mais cadeiras, reservada para os Hodges, e me

pego pensando em qual das cadeiras Thomas estará sentado.

Como estará vestido na noite de hoje, de terno como da última vez

que o vi?

É impossível bloquear minha mente e não pensar nele.

Um candelabro pendia de cima da mesa principal, já com as

velas e prontas para serem acesas. A escolha da cor da iluminação

seria em todo em tons amarelos para o salão ficar bem claro. Pelo

tanto de mesas e cadeiras, é de se esperar uma quantidade grande

de pessoas.

Tem um palco mais a frente onde acontecerá as músicas,

discursos e fotos.

― Está lindo como sempre. ― Sorrio ao escutar sua voz

antes de me virar e ver Lisa parada atrás de mim, sorrindo olhando


todo o salão.

― Você diz a mesma coisa sempre. ― Vou até ela,

retribuindo o beijo que ela deu no meu rosto.

― Porque é a verdade. ― Ela estende minha roupa, que está

em um saco plástico para não amassar. ― Está tudo aqui como

pediu.

As coisas ficaram tão corridas que eu não teria como ir em

casa me arrumar para depois voltar novamente, precisava ficar para

o caso de acontecer algo e eu precisar resolver.

― Obrigada, querida. Você vai ficar?

― Não, marquei de encontrar uma amiga ― responde, dando

um sorriso tímido, abaixando a cabeça logo em seguida para as

mãos, mexendo as chaves nervosamente.


― Amiga? ― Dou risada, Lisa anda muito misteriosa e

entendo que talvez seja a vergonha de se abrir comigo para falar

sobre carinhas com quem sai. ― Tudo bem, nos vemos mais tarde

então.

Ela assente, me dando um abraço e desejando boa sorte com

o evento antes de sumir pelo corredor que dá para a porta lateral de

saída do prédio. Fico olhando para o nada por alguns segundos,

pensando em como as coisas entre mim e a Lisa mudaram tanto,

ela não se abre mais comigo como antigamente e tenho receio de

que isso seja por causa do casamento fracassado dos pais.

― Daphne.

― Oi ― me viro para olhar Grace que tem nas mãos uma

caixa cheia de velas para estarmos encaixando no meio do jarro das

flores.
Sorrio, e ainda com Lisa em mente, volto ao trabalho, e torço

para que essa fase passe e ela chegue em mim para conversar

sobre o que tanto a aflige.

O vestido que Lisa escolheu me deixou desconfortável no

início, ela fez questão de ignorar meu pedido para trazer a roupa

que já havia deixado separado em cima da cama, e foi justamente

no meu guarda roupa procurar uma que há tempos não visto.

O tom dourado do vestido me faz lembrar que combina com

as cores que escolhi para decoração da festa, ele desce solto em

forma de pregas parando um pouco antes de chegar aos meus pés,

com a parte de cima justa.

Meu salto faz barulho no piso quando saio do quartinho em

que estava para tomar um banho e me arrumar. Eu sei que o evento


já começou pelas vozes e sons que estão do outro lado. Ignoro os

olhares que recebo dos funcionários quando me aproximo com uma

prancheta para checar mais uma vez as coisas.

― Está tudo certo por aqui? ― pergunto, tirando os olhos da

lista.

Os garçons estão com suas bandejas servindo as bebidas e

petiscos, mesmo que tenha uma mesa enorme dos dois lados do

salão com bebidas e comidas, quero ter certeza que não vai faltar

nada essa noite.

― A senhora Hodges está te procurando ― Grace me

informa, com uma prancheta como a minha para me auxiliar.

Grace é a gerente da minha empresa, e meu braço direito.

Depois da separação, ela me ajudou muito na H. D Communication

quando não conseguia sair de casa por conta de tudo que estava

vivendo.
― Obrigada, vou procurá-la.

Caminho pelo enorme corredor, entrando pela porta no canto

do salão e olho em volta, vendo a quantidade de pessoas que já

estão presentes. Por um momento, me sinto constrangida, e

caminho no meio delas para procurar os donos da festa.

Nem foi preciso, a vejo alguns passos de mim e abro um

sorriso simpático quando chego próximo aos dois.

― Boa noite, senhor e senhora Hodges. Espero que tudo

esteja do agrado de vocês.

Eles me cumprimentam, mas é ela que me dá atenção,

sorrindo para mim, me mostrando que realmente a agradei.

― Sim, está tudo lindo. Obrigada pelo trabalho extraordinário

que fez. ― Assinto feliz, desviando poucos segundos para olhar o


marido dela, que tem uma expressão tensa no rosto, enquanto

mexe no celular.

― Desejo que aproveitem a festa, qualquer coisa podem me

procurar ― digo, sendo prestativa, sei que se tudo der certo, é uma

oportunidade para grandes empresas procurarem meu trabalho.

Antes que ela possa responder, Hodges murmura algo para a

esposa, nervoso, olhando para trás de mim, seu descontentamento

é visível e não é preciso virar o rosto para matar a minha

curiosidade, sinto sua presença antes mesmo de parar ao meu lado

com uma mulher com o braço enlaçado ao seu.

Algo não estava indo bem entre eles só pela tensão que senti

entre os olhares entre os pais e ele, antes de pararem em mim, mas

não era isso que estava me incomodando, era a forma que a mulher

ao seu lado o segura com toda a intimidade, e constato que possa


ser sua namorada, porém não faz o tipo de que namora pela forma

que me olha descaradamente.

― Daphne, é um prazer revê-la ― tiro a atenção da mulher,

virando a cabeça para ele, que tem aquele sorriso safado nos

lábios.

― Digo o mesmo ― respondo, sendo a mais profissional

possível.

Thomas veste um terno preto, social da cabeça aos pés. E a

forma que o tecido gruda no seu corpo faz minha boca secar.

― Você conheceu nosso filho, Thomas ― escuto a voz de

Jeffrey. ― Essa é Leah, nossa filha.

Estendo a mão a ela, que faz o mesmo, me cumprimentando,

e percebo que também estou sendo alvo do seu olhar avaliador, que

tem um quê de sorriso de quem sacou alguma coisa. E a todo o


momento sentindo o olhar de Thomas em mim, me deixando

desconfortável a ponto de sentir meu corpo esquentar quando

lembro da sua ligação, enquanto gemia e se masturbava para mim,

quando olho, ele tem o lábio preso entre os dentes, enquanto

observa meu corpo descaradamente.

Pigarreio, dando um passo para trás.

― Vou me retirar agora, qualquer coisa podem me procurar.

― Sorrio. ― Com licença.

Não olho para Thomas, mas ainda sim sinto o olhar dele em

mim mesmo quando me afasto. E assim que consigo entrar pela

porta que dá a área da cozinha, me encosto na parede com a mão

no peito, ofegando e me tocando com o quanto esse homem mexe

comigo.

Algumas horas se passa e consigo fugir para a sacada do

salão. Meus pés doem, e desejo poder tirar meus sapatos e jogá-los
longe, depois um banho quente e minha cama macia.

― Até que enfim consegui te encontrar sozinha ― sinto meu

corpo se arrepiar ao ouvir sua voz no meu ouvido, me fazendo

sobressaltar, pois não o vi chegando por estar com os olhos

fechados.

Todos os momentos em que precisei entrar no salão para

conferir se tudo estava em ordem, conseguia de alguma forma

encontrar Thomas, com seus olhos sempre em mim e eu de todas

formas tentando fugir dele.

Não me viro, meu peito sobe e desce rápido, e quando sinto o

toque dos seus dedos pela lateral do meu braço junto com sua

respiração quente no meu pescoço, minhas pernas parecem falhar,

e eu teria cambaleado se não estivesse segurando no encosto da

sacada.
― Você está ainda mais linda essa noite e... ― Me viro para

ficar de frente para ele, e seus olhos azuis brilham quando

pronuncia a próxima palavra. ― Gostosa.

― Thomas ― penso em dizer para parar com isso enquanto

olho em volta, procurando olhos curiosos na gente, porém não faço,

me sinto bem e quente com os elogios.

― Vai continuar me ignorando? ― sua voz macia e sexy é um

combustível para o desejo que corre pelo meu corpo desde a

primeira vez que nos vimos.

― Não estou te ignorando. ― Ele dá risada e o som penetra

minha pele. O toque em minha pele ainda permanece, seus dedos

sendo mais ousados que antes.

Está mais que claro que não consigo ignorar as reações que

venho sentindo por ele.


― Sério, Daphne, não entendo porque está fugindo dessa

tensão que rola entre nós ― declara mais perto da minha boca. ―

Durante todos esses dias mostrei o quanto te desejo e mesmo você

não respondendo nenhuma vez as mensagens, sei que também

sente o mesmo.

O fato de eu ser mais velha que ele não parece o incomodar

em nada, entendo que está sendo mais por curtição, isso é tudo

novo, a experiência é nova e não sei como agir.

― Não sinto ― nego, balançando a cabeça para os lados e

desço meus olhos para sua boca, que abre um sorriso atrevido.

― Não mesmo? ― continuo negando.

Ele sobe a mão para minha nuca, a segurando, chegando o

rosto para mais perto do meu.


― Eu quero muito te beijar ― sussurra, roçando seus lábios

nos meus. ― E se você não me afastar agora, eu não vou me

controlar.

Eu não espero ele tomar a iniciativa, sou eu quem grudo

nossas bocas, e ofegamos quando isso acontece, é como se o

toque delas passasse para o meu corpo toda a eletricidade. Seguro

seus cabelos o trazendo mais para perto de mim para ter acesso à

sua língua, que entra na minha boca à procura da minha.

Ele passa o braço pela minha cintura, me apertando a ele, e

pela intensidade que tudo acontece, nossos corpos parecem querer

se fundir um no outro.

― Vamos sair daqui ― ele diz, soltando nossas bocas por

meros segundos para dizer.

Não o respondo, minhas mãos parecem ter vida própria

tirando sua camisa social de dentro da calça para poder tocar a pele
por debaixo dela. Meus dedos em sua barriga, subindo para seu

peito. O escuto suspirar no meio do beijo.

― Porra, Daphne! ― O aperto em minha bunda, faz com que

eu sinta a ereção de Thomas, o desejo e a curiosidade de tocá-lo,

ver o quanto ele me deseja. ― Vamos para o meu apartamento, é

aqui perto, não estou conseguindo me segurar.

Nem eu!

Não tenho tempo de responder, mesmo ainda envolvida em

Thomas, consigo ouvir passos saindo para a sacada. Afasto ele,

que me olha confuso e olha para trás quando percebe o motivo do

meu afastamento.

― Daphne ― É Grace, ela nos olha nervosa percebendo que

acaba de atrapalhar alguma coisa. ― Hã... desculpa atrapalhar,

achei que estava sozinha.


― Aconteceu alguma coisa? ― Faço a pergunta para

suavizar o embaraço dela e dou um passo para longe de Thomas.

― Preciso da sua ajuda com algo na cozinha.

Assinto.

― Já vou indo, obrigada!

Ela começa a voltar para dentro, nos lançando um olhar

curioso antes de sumir de vez e eu começar a segui-la. A mão de

Thomas me impede, me fazendo virar para ele.

― Daphne ― sua voz sai como súplica, e quase volto atrás e

esqueço o motivo de precisar ir.

― Amanhã ― me aproximo dele, deixando um beijo casto em

seus lábios. ― Hoje eu não posso, mas amanhã podemos nos

encontrar e terminar o que começamos.


Ele sorri e assente, me sinto até ousada em dizer essas

palavras. Antes que eu possa me retirar de perto dele, ele me beija

de novo, fazendo ser quase impossível largá-lo.

― Eu vou te mandar mensagens e espero que dessa vez

responda, você sabe o quanto posso ser insistente.

Aquiesço, dando passos para trás ainda olhando para ele. Me

sinto como uma adolescente de novo com todo o nervosismo e

borboletas no estômago, como se fosse a primeira vez.

Mais tarde na minha cama, enquanto virava de um lado para

outro sem conseguir dormir, ansiosa e nervosa pelo nosso encontro,

meu celular tocou em cima da mesinha ao lado, e assim que o

peguei e vi o nome de Thomas, sorri ao perceber que não sou só eu

que anseio em nos vermos logo.

Foi a primeira que o respondi depois de todas as suas

tentativas, estava decidida a deixar rolar.


Thomas

Olho mais uma vez para o relógio e constato que Daphne, na

verdade, me deu um bolo e não vem. Tínhamos combinado de ela

vir para o meu apartamento e então decidiríamos se jantaríamos

aqui ou em um restaurante para depois sairmos para beber. Eu

conseguia sentir pelas trocas de mensagens o quanto ela estava

insegura, só não conseguia saber o motivo.

Porra de mulher que me deixa louco.

Não consigo esquecer o fato de que ela é divorciada e talvez

isso esteja pesando na decisão dela.


Me recuso a ligar para ela. Ela tomou a decisão dela e

consequentemente a minha também.

Pego minha jaqueta do aparador, decidindo sair para algum

lugar que me faça esquecer o bolo que levei. Minha carteira e a

chave do carro já estão na minha mão quando abro a porta do

apartamento para sair e é aí que a vejo, parada na frente da porta,

linda para caralho.

Porra.

Daphne veste um vestido vermelho, que gruda nas suas

curvas gostosas, seus lábios estão da mesma cor e seus cabelos

jogados para o lado, mas são seus olhos são o que me tira do eixo;

a forma como eles brilham decididos.

― Pensei em mil motivos para não vir, mas nenhum deles foi

o suficiente para me convencer a ficar longe de você.


Não respondo nada, não preciso. A seguro pelo pescoço,

puxando-a para mim e tomando sua boca com fúria e desespero por

ter me feito pensar que não vinha, por ter me feito odiá-la por

desistir do que está rolando entre a gente. E agradeço por eu ser

um motivo maior para convencê-la a vir até aqui.

Chuto a porta para fechá-la, pegando Daphne no colo e

imprensando nossos corpos na parede. Seguro seu cabelo com

força enquanto vou mordendo seus lábios, seu queixo, seu pescoço,

tentando puxar seu vestido para cima com uma mão. Daphne

arranca minha camisa com uma facilidade, nos afastando só para

tirá-la pela minha cabeça.

Estou sedento por ela, louco para possuí-la desde que nos

conhecemos, e o desejo dela por mim não é diferente. Ela geme na

minha boca, apertando as pernas em minha cintura quando rasgo a

calcinha que está usando, causando uma fricção na sua boceta.


― Gostosa pra caralho ― rosno na sua boca, louco para

estar dentro dela.

Dou um aperto forte na sua bunda, enquanto rebolo em um

ritmo de vai e vem, causando nela um atrito delicioso da calça e sua

vagina molhada. Meu pau pulsa dentro da boxer e levo a mão até

ele, apertando.

― Me fode logo ― pede impaciente e tenho vontade de

provocá-la, de retardar o momento que tomarei seu corpo, mas não

consigo esperar tanto para estar dentro dela.

Alcanço o bolso da calça de trás pegando a camisinha antes

de abri-la e deixá-la cair de vez no chão junto com a boxer, nem sei

como consegui me livrar dos meus tênis antes de tirar as peças de

roupa.

― Você que manda, meu dever é fazer você gozar bem

gostoso no meu pau ― digo antes de tomar sua boca, grudando


nossos lábios, sentindo sua respiração ofegante.

Ela levanta o quadril, me ajudando a encaixar e não perco

tempo, me enfiando nela de uma vez, seu grito de surpresa é

engolido pela minha boca, e tiro o pênis devagar, metendo mais

uma vez no mesmo ritmo, indo à loucura com como sou bem

recebido pela sua boceta quente.

Seguro um dos seus seios na boca, mordendo o bico,

passando a língua logo depois para chupá-lo, fazendo um gesto

erótico como se estivesse lambendo sua boceta com a minha

língua.

― Thom... ― ela geme meu nome, fico alucinado com a

forma que ele sai da sua boca viciante.

Passo meus braços por debaixo dos seus joelhos, a deixando

mais aberta para as minhas investidas e consigo ir mais fundo,


consigo escutar seus gemidos que são contidos quando ela fecha

sua boca no meu pescoço.

― Não se contenha, quero ouvir você gemendo, gritando meu

nome ― ofego, fazendo um esforço absurdo para soltar as palavras.

― Olha para mim.

Soco bem no ponto sensível dela, a observando revirar os

olhos quando levanta a cabeça para me olhar.

― Abra os olhos, quero ver o quanto sente prazer, sabendo

que sou eu o responsável por isso.

Nossos corpos estão suados, escorregando, e não deixo de

tocá-la nos lugares que sinto que sente prazer.

Eu torço para ter uma outra oportunidade de fazer tudo com

calma, conhecer o seu corpo e adorá-la como merece.


― Tá tão gostoso assim ― ela sussurra, juntado nossas

testas, estou quase no limite, mas não quero vir antes dela.

Suas unhas em meus ombros, arranhando, apertando,

deixando marcas enquanto se segura em mim.

― Não vou aguentar muito, me diz que está perto. ― Puxo

seu cabelo para ter acesso ao seu pescoço. Lambo, sentindo o

gosto do seu suor, deixando algumas mordidas pelos rastros por

onde minha língua passou.

O vai e vem continua prazeroso; sinto ela me apertar e gemo,

descendo a mão para sua boceta, resvalando o dedo pelos seus

lábios inchados e molhados chegando no seu clitóris e

pressionando, antes de fazer movimentos circulares, era o ponto de

partida que Daphne precisava.

Seus apertos no meu pau se intensificam e a vejo chegar no

ápice, gozando, chegando onde eu queria para poder me soltar e


sentir o paraíso que é gozar dentro dessa mulher, mesmo que eu

quisesse prolongar o momento.

Passo os braços pelo seu corpo, enquanto gozo também,

beijando sua boca, nossos sons e gemidos misturados e sendo

engolidos um pelo outro. Desacelero o beijo para recuperar o fôlego,

e sinto seu toque leve pelo meu rosto, passando a mão pelos meus

cabelos suados.

Com minhas pernas bambas, a seguro melhor no meu corpo,

e ainda nos beijando, sigo às cegas para o quarto e a deito no meio

da cama. Suas pernas relaxam, se soltando no meu quadril. Dou

alguns beijos leves e me afasto dela, levantando da cama, ela

franze a testa ao me ver se afastar.

― Já volto ― digo.

Entro no banheiro, abrindo o armário debaixo da pia e

pegando uma toalha, molhando com água morna a torço, saindo do


quarto com a intenção de limpar a Daphne.

Quando percebe o objetivo da toalha em minhas mãos, a

timidez toma seu rosto, mas não me impede. Separo suas pernas

delicadamente, me ajoelhando na cama, sua pele branca tem tons

de vermelhos por dentro de suas coxas por causa do atrito das

nossas peles.

Passo levemente a toalha pelos lábios da sua vagina, e ela

estremece e logo vejo sua pele arrepiada, me abaixo, deixando

beijos no interior da sua perna, descendo pelas coxas, chegando

bem perto da sua virilha, faço o mesmo com a outra, só que

diferente dessa vez, paro a poucos centímetros da sua intimidade,

conseguindo sentir sua expectativa. Assopro, antes de me abaixar

mais e passar a língua por toda ela, parando em seu clitóris e

deixando uma chupada demorada. Daphne fecha as pernas, e geme

de prazer.
Mesmo que eu quisesse chupá-la agora, mostrar que ainda

podemos seguir com a nossa noite, quero dar um tempinho para

ela. Ainda com suas pernas fechadas, as seguro, afrouxando-as um

pouco para subir os beijos pelo seu corpo, sendo atrapalhado pelo

vestido ainda enrolado na sua cintura.

O puxo para baixo, agora tendo toda ela à mostra pra mim.

Posso admirá-la, venerá-la como venho desejando há tanto

tempo. Sinto seu olhar por todo o meu corpo também, e mordo o

lábio para conter uma risada quando meu pau reage ao seu olhar e

ela suspira.

Pela reação que os nossos corpos estão tendo, prevejo que a

noite ainda vai ser muito intensa entre nós dois.


Daphne

Eu estou muito ferrada, mas não quero pensar nisso.

O que era para ser apenas uma noite com Thomas, se tornou

várias outras, nada mais que envolvimento carnal e não imaginei

que pudesse ser tão bom e novo para mim.

Desço as escadas pronta para me encontrar com ele.

Thomas e eu começamos a nos encontrar sempre que era

possível, mas tenho a sensação que, nesses últimos dias, temos


nos visto com mais frequência e isso, de certa forma, nos permitiu

nos conhecermos melhor.

Thomas é divertido e está sempre me fazendo rir, é

engraçado que ele não precisa de muito para me fazer sentir bem

ao seu lado.

No começo tentei me retrair um pouco, mas acabei me

deixando levar. Sou mulher e mereço curtir, sair e não me prender

ao passado que não deu certo.

Toda essa situação tem me mostrado que eu sofri mais pelo

comodismo que Edward e eu tínhamos, e o amor já havia acabado

faz tempo.

Karen e Olívia são as únicas que sabem sobre o que está

acontecendo, não tive coragem de falar com Lisa e acho que não

tem o porquê, esses momentos com Thomas são somente diversão


e não quero vê-la chateada com isso, já percebi que ela ainda tem a

esperança de o pai dela e eu voltarmos.

Vou caminhando para a porta, à procura da chave do meu

carro dentro da bolsa e me assusto quando escuto a voz de Lisa

atrás de mim.

― Vai sair, mãe? ― pergunta e me viro para ela, que tem a

boca cheia de pipoca, o pote cheio e pela direção que vem, acaba

de sair da cozinha.

― Sim, vou me encontrar com uma amiga ― digo, abaixando

a minha cabeça para ela não perceber que estou mentindo.

A outra questão é que não sei como ela reagiria se soubesse

que estou saindo com um homem dez anos mais novo que eu.

Penso que conheço minha filha, mas ultimamente venho

percebendo que não tanto como achava conhecer e ela não está me

dando espaço para isso.


― Divirta-se então ― ela começa a se virar e olhar para mim

de volta. ― Fim de semana que vem ainda pensa em viajar com a

tia Olívia?

― Hã... sim. Por quê?

Não seria bem uma viagem com Olívia. Thomas me convidou

para passar o fim de semana com ele, iríamos à cidade vizinha,

conhecer alguns pontos turísticos. Eu aceitei, jogando para o fundo

da minha mente que isso estava se tornando mais que apenas

encontros casuais.

― Queria saber se eu poderia fazer uma festinha com alguns

amigos próximos da Faculdade, não seria nada grande ― Lisa diz

com aquele jeitinho que usa para conseguir as coisas de mim. ―

Prometo que serão poucas pessoas e terei arrumado tudo antes de

voltar no domingo à noite. Vai ser para comemorar o fim das provas.
Lisa sempre foi responsável, e dou voto de confiança para ela

em tudo, não vejo problema em ceder.

― Vou pensar. ― Ela sorri. ― Mas isso ainda não é um sim.

― Vou até ela, que continua com o sorriso no rosto, sabendo que já

venceu. Dou um beijo em sua bochecha, me despedindo.

Com a chave em mãos, saio de casa, e fecho o sobretudo

quando sinto o vento frio passar por mim. Irei encontrar com

Thomas no centro da cidade e de lá vamos para algum lugar que ele

quer que eu conheça.

Me pego sorrindo o caminho todo até o local que marcamos

de nos encontrar. Quando desço do carro depois de estacioná-lo e

logo vejo o seu parado a uma distância mínima, meu coração

começa a acelerar só de imaginar o tempo que passarei com ele.

Apresso meus passos, ansiosa para poder entrar logo no

carro e vê-lo, assim que ele me vê e pensa em abrir a porta para vir
até mim, já estou do lado da porta do passageiro, abrindo-a.

Ele não me dá tempo de fechar a porta antes de me puxar

para ele e grudar nossas bocas em um beijo ansioso e cheio de

saudade. Faz uns dias que nos vimos, ele tem estado ocupado com

coisas da faculdade e com o pai, e sei que pela tensão que vem

tendo, as coisas não parecem bem, mas não pergunto, não

queremos confundir as coisas entre a gente.

A urgência com que me beija e a forma de segurar meu rosto

e passar a outra mão pelo meu corpo, fazem parecer que quer me

ter em seu colo e poder me tocar de toda a maneira.

― Nossa ― sussurro quando nos afastamos poucos

centímetros para recuperar o ar.

― Você não imagina o quanto estava louco para fazer isso ―

responde sincero, olhando para minha boca para depois observar


meu rosto, meu corpo e parar em meus olhos. ― Podemos pular o

passeio e irmos direto para meu apartamento?

Dou risada e balanço a cabeça.

― Não, você já me enganou uma vez com isso e hoje eu

realmente quero ter esse passeio, aproveitar a noite e depois, sim,

curtir de outra maneira no seu apartamento.

Ele suspira, deitando a cabeça no encosto do banco do carro

e continua me olhando.

― Não sei por que inventei isso para começo de conversa. ―

Sorri, passando a mão pela pele do meu rosto. ― Vamos?

Assinto.

Me ajeito no banco, colocando o cinto de segurança,

enquanto Thomas sai do estacionamento. Ele segura minha mão

para beijá-la, a pousando em cima da sua coxa.


― Como foram esses dias? ― pergunto, ocupando minha

mente com outra coisa.

― Para ser sincero, um saco ― ele dá risada. ― Estava

doido para que chegasse logo o dia para te ver.

Sorrio porque senti a mesma coisa. Thomas está mudando o

jeito que venho olhando o mundo, em não me sentir culpada por

aproveitar as coisas que me fazem bem, mesmo que uma delas

tenha ele envolvido.

E isso me pega querendo saber um pouco mais dele,

conhecer partes suas que ele não abre para ninguém ou pelo fato

de sermos somente um caso passageiro.

Percebo que estamos na Union Square e franzo a testa

quando Thomas estaciona e tira o cinto. Ele dá risada quando

observa minha expressão confusa.


― Vamos, prometo que vai gostar do que planejei para a

gente hoje.

Mesmo curiosa, não questiono, tiro o cinto, pegando minha

bolsa para sair do carro. Ele já está parado do meu lado e segura

minha mão quando fecho a porta.

Ele parece todo animado, volta e meia olhando para o meu

rosto enquanto caminhamos. E logo descubro o motivo da euforia

dele, vamos andar de Cable Car.

Por mais bobo que seja, eu nunca andei em um e sorrio

contagiante por Thomas ter preparado isso para a gente.

Ele paga o nosso passeio e segura a minha mão para subir

no bondinho. Sentamos na parte de trás, comigo o tempo todo

sorrindo e mesmo que eu não esteja olhando para Thomas, eu

consigo sentir seus olhos em mim.


― Não acredito que vamos fazer isso.

― Não sei o motivo de nunca ter andado em um, mas fico

feliz em ser eu a te proporcionar isso.

Olho para ele e o beijo, sem entender como noites de prazer

passaram para passeios e jantares divertidos. E o motivo de nunca

ter andado de Cable Car foi porque nunca tive a oportunidade,

estava sempre tão ocupada e agora me pergunto o porquê nunca

me esforcei para fazer as coisas simples que eu tinha vontade.

O bondinho começa a andar e a escolha do Thomas foi pegar

a linha Powell & Hide. A curiosidade me deixa ansiosa para o que

ele preparou para nós dois.

Ele passa o braço pelos meus ombros, para me deixar

próxima do seu corpo.


Em todo o caminho, fico feliz em ver como a minha cidade é

linda, e por ser a noite deixa tudo mais mágico. Thomas e eu

saímos do bondinho na Lombard Street, descemos a rua a pé para

termos a visão linda que é de baixo.

Mesmo à noite, eu consigo ver o quanto está florida e linda, e

o fato da rua ser inclinada e curvada deixa tudo mais surreal. Para

mim é a rua mais bonita de São Francisco, não é à toa que se

tornou um dos símbolos da cidade e apareceu em vários filmes

famosos.

Continuamos a caminhar, Thomas ainda está todo misterioso,

me contando algumas coisas desse lado da cidade que eu não

sabia. Sorrio por estar vendo um lado diferente dele, não aquele

cara bad boy sexy que só sabe dizer palavras de segundas

intenções.
E assim chegamos à Ghirardelli Square, na antiga fábrica de

chocolate. Minha boca saliva na entrada ao sentir o cheiro. O local

está abarrotado de gente para todo o lado, o fato de ter lojinhas e

restaurantes deixa tudo cheio.

Entramos na chocolataria e quase não tem espaço para

passar. Com sorte, encontramos uma mesa com duas cadeiras mais

no fundo.

― Você quer escolher alguma coisa ou eu posso escolher

para nós dois? ― Thomas pergunta quando nos sentamos.

É a minha primeira vez no local e ele está feliz por ter me

surpreendido com isso também, o deixo fazer o pedido para nós

dois, e enquanto o espero voltar olho em volta, admirando como as

paredes de tijolinhos deixam um ar aconchegante para os clientes.

Uma parte do outro lado da parede tem prateleiras com

chocolates de todos os tipos à venda.


Thomas volta com o sorriso radiante no rosto e eu retribuo.

Ele coloca uma das taças grandes na minha frente quando se

senta.

― Sundae com Fondue de chocolate, o melhor que você vai

comer na vida.

Ele espera que eu prove primeiro para ver a minha cara, o

faço e gemo quando a textura dos sabores dissolve na minha boca.

Fecho os olhos, como se assim eu pudesse saborear melhor e

escuto sua risada.

― Você está me dando ideias gemendo desse jeito ― diz e

abro os olhos para vê-lo mordendo o lábio antes de colocar a colher

na boca com um pouco de chocolate.

Retribuo sua provocação, colocando a mão na sua coxa para

subir com meus dedos aos poucos, parando alguns centímetros do

zíper da sua calça.


― Que tipo de ideias? ― pergunto, descendo a mão, para

fazer o mesmo processo anterior.

― Não me provoca, Daphne.

Tiro a mão do seu corpo e dou risada ao ver que ele ficou

animadinho.

Continuo a provocação enquanto comemos. Assim que

saímos da loja, Thomas me puxa prendendo meu corpo no dele

para me beijar, e ele demonstra com sua pegada pelo meu corpo e

o beijo como o enlouqueci lá dentro.

Quando me solta, prende uma mecha do meu cabelo atrás da

orelha, que veio para frente por causa do vento. Pela forma como

me olha, fica difícil imaginar que uma hora isso entre nós dois vai

acabar.
― Vem, antes que eu acabe terminando o passeio mais cedo

― o sigo, me divertindo com o mau humor na sua voz.

Passamos em algumas lojinhas de souvenires e acabo não

resistindo e compro uma camiseta com um desenho de urso e

embaixo o nome Califórnia para mim e Thomas.

Com alguns minutos de caminhada depois, chegamos ao Pier

39, entramos em várias outras lojas, experimentamos algumas

degustações e nos divertimos muito. Meu desejo é não ir embora

nunca.

Paramos em um parapeito, que cerca todo o pier para olhar o

mar, o vento forte vindo na gente e o barulho um pouco mais

distante.

― O que achou de hoje? ― Thomas pergunta, me abraçando

por trás, beijando meu pescoço e parando com o queixo no meu

ombro para me ouvir.


― Amei tudo que planejou, me diverti muito. Vai parecer bobo

se eu disser que não quero que acabe? ― pergunto, relaxando meu

corpo no dele.

― Não, porque estou pensando a mesma coisa.

Ele fica em silêncio logo depois, e claro que sinto que tem

coisas o incomodando, mas não quero ser invasiva demais, não sei

até onde isso entre nós dois me permite ir.

― Quer me contar o que está acontecendo?

― Não quero atrapalhar a noite com os meus problemas.

― Não seja bobo, talvez desabafar comigo te ajude de

alguma maneira. ― Ele me solta para parar ao meu lado, apoiando

os cotovelos no parapeito.

― Será bobo te dizer que meu pai cria expectativas em mim

que eu sei que não serei capaz de atingir? ― pergunta sem olhar
para mim.

― Não, não é bobo. Por que não diz isso a ele?

Ele dá uma risada triste.

― Queria que fosse tão fácil, a empresa está na família por

gerações, o certo é eu ser o próximo herdeiro a tomar conta de tudo,

ele não aceitaria um simples “não”, e nem mesmo o motivo de que

não quero isso pra minha vida.

― E o que você quer então? ― pergunto para entendê-lo

melhor, é a primeira vez que temos uma conversa profunda e quero

ajudá-lo, mesmo que isso seja só escutar os seus problemas.

― Não sei. ― Ele me olha para responder a minha pergunta.

― Passei quatro anos na universidade, fazendo várias matérias

para me ajudar a escolher o que realmente quero. Desculpa, não é

algo a ser falado em um encontro.


Encontro? Sim, isso é um encontro para mim também.

― Isso não é vergonha, Thomas. Você é jovem e tem todo o

tempo para decidir o que quer, é normal.

― Foi assim com você também? ― ele pergunta e é a minha

vez de virar o rosto.

― Na verdade, não tive como pensar nisso. Casei com

dezesseis anos e logo engravidei, minhas preocupações se

resumiam a ser dona de casa, mãe e esposa. ― Sou sincera,

infelizmente foi o que aconteceu.

― Lamento.

― Está tudo bem, tudo na nossa vida é uma experiência, e se

cheguei até aqui sendo quem sou hoje, não tem por que me

arrepender do que passei antes. ― Ele assente, seu olhar de

admiração sendo nítido.


Thomas sabe que tenho uma filha, de início ele ficou surpreso

e disse que não parecia, mas que era de se imaginar por já ter sido

casada.

Contei para ele logo depois da nossa primeira noite juntos,

depois de decidirmos continuar nos vendo, e não pareceu ser

problema nenhum pra ele.

― Aprendi muito com minha vida de casada, anos depois abri

minha empresa sem ajuda do meu ex-marido, e ela cresceu muito

nos anos que se seguiram, foi a melhor escolha que fiz, me

encontrei na minha profissão.

Me viro, ficando de frente para ele e sorrio.

― O que eu quero dizer é que é normal você não ter

encontrado o que deseja se formar e fazer ainda, você está no

caminho certo. E se seu pai é um problema, precisa ser aberto com

ele.
― Estou? ― Thomas pergunta e assinto, ele se aproxima

mais de mim para tocar meu rosto, antes de segurá-lo e me beijar.

Passamos a volta toda até Union Square em silêncio, mas

sem desgrudar as mãos um do outro, sinto que, de alguma forma, a

conversa que tivemos mudou algo em mim e não vou me alertar

sobre isso.

Sua mão segura a minha desde que entramos no seu carro

para irmos para o seu apartamento, esqueço até mesmo do meu

carro que ficou no centro de Nob Hill.

Algo estava diferente quando nossas bocas se tocaram assim

que fechou a porta do seu apartamento, ele não me deu tempo de

recuperar a surpresa do seu ato.

Thomas tira a minha roupa e nos joga na cama, eu gemo na

sua boca quando morde o meu lábio, prendendo-o entre meus


dentes quando começa a puxar para baixo a fina calcinha que

envolve.

Ele roça o dedo devagar pelos meus lábios, sentindo-o

escorregar pelo meu clitóris e me remexo embaixo dele,

choramingando.

Desce da cama para tirar suas roupas; seus olhos ainda em

mim me deixam vulnerável, desta vez é diferente, como se ele

pudesse olhar além de mim, a forma que ele me dá toda atenção,

do jeito que adora o meu corpo, me dando motivos para não me

arrepender do que está rolando entre a gente.

― Você é linda, Daphne, e tenho uma puta sorte de ter você

aqui ― diz, e abro um sorriso, passando as pernas pela sua cintura,

tentando puxá-lo para mim. ― Ainda não, amor.

Começa dando atenção para meus pés, os beijando um de

cada vez, antes de subir, deixando seus lábios tocarem minha pele
de forma demorada, sem pressa, me provocando, me deixando criar

expectativas.

Assim ele faz com cada parte do meu corpo, depois disso me

tomando, e a intensidade presente em cada investida, cada toque.

Nossos corpos tremendo, suados e saciados.

Thomas me arruma melhor na cama para poder se deitar ao

meu lado e nos embrulhar, não é preciso me puxar para perto dele,

eu mesma me arrasto até ele, passando meu braço pela sua cintura,

deitando minha cabeça na curva do seu pescoço.

Ficamos em silêncio, e desfruto do momento, ele acariciando

meu corpo, beijando meus cabelos e dizendo o quanto eu sou linda.

Em troca de todo o elogio, deixo beijos na pele do seu pescoço, o

ouvindo suspirar.

Me pego desejando ter noites assim com ele, e percebo o

quanto as coisas estão indo longe demais.


Thomas parecendo sentir a mudança em meu corpo tenso,

me abraça forte, e tenho certeza que ele pode escutar meu coração

acelerado junto ao dele.

― Você vai ficar? ― É a única coisa que pergunta, eu levanto

a cabeça para olhá-lo nos olhos, me dando todo o tempo do mundo

para responder.

― Você quer que eu fique?

Ele sorri, tomando minha boca como resposta.


Daphne

Enfim, o fim de semana que passarei com Thomas chegou,

mesmo sendo sexta à noite, já o considero, e como sempre acabo

atrasando para ir para seu apartamento por causa do trabalho, por

esse motivo, precisarei ficar mais meia hora no meu quarto,

finalizando uma reunião com a minha equipe.

“Vou precisar comparecer à festa de uma amiga da

faculdade por pouco tempo, mas assim que me disser que está

indo pra lá, saio da fest...”


― Daphne? ― Grace me chama pela videochamada que

estou fazendo pelo notebook, e levanto a cabeça para olhar para ela

e alguns dos meus colaboradores, que esperam eu responder a

pergunta que fizeram.

Nem deu tempo de terminar de ler a mensagem de Thomas,

viro o meu celular com a tela para baixo na cama e volto a prestar

atenção na reunião, ignorando a coceirinha que me dá para pegar o

celular de volta, terminar de ler a mensagem e respondê-lo.

Isso me faz pensar no que ele disse sobre ir à festa de uma

amiga da faculdade, e como é para ele estar nela. As mulheres da

sua mesma idade se jogam para cima dele? Claro, Thomas é lindo e

tem todo aquele ar de bad boy que nós mulheres amamos.

Eu amo? Com certeza, isso foi uma das coisas que me

atraíram nele também.

Ele dá atenção a elas?


Não entendo o porquê desses questionamentos agora, a

gente não tem nada sério, somos mais uma foda um para o outro,

porém isso me incomoda, não posso mentir para mim mesma, há

algo intenso entre a gente, não é só a atração, a química que temos

na cama ou a facilidade de estar um com o outro.

― Daphne, você ouviu? ― Grace me chama novamente, me

fazendo mais uma vez acordar para o momento atual.

Escuto a risadinha dela e peço desculpa a todos, perguntando

se poderíamos continuar com a reunião na segunda-feira. Eles

confirmam e consigo fechar a tela do notebook sem remorso.

Minha mente vem tendo vida própria, seguindo sempre para o

Thomas.

Com a reunião encerrada, consigo levantar da cama e

arrumar uma pequena mala para passar o fim de semana com ele.
Percebo enquanto pego algumas peças no guarda-roupa que

os amigos de Lisa chegaram pelo som alto que consigo escutar

daqui do meu quarto rolando na sala lá embaixo.

Ainda é milagre ela não ter aparecido no meu quarto para me

expulsar de casa e, enfim, ter a privacidade que precisa.

Depois de um tempo com a mala de roupas prontas e eu

arrumada, olho no relógio e vejo que passou mais de uma hora e

preciso ir. Mando uma mensagem para Tom, avisando que já estou

saindo daqui e fecho a porta do meu quarto, descendo as escadas,

o som da música ficando mais alto a cada degrau a menos.

Fico surpresa quando vejo a quantidade de pessoas na minha

casa, ignoro alguns olhares, principalmente de alguns caras, e sigo

para a cozinha para sair para a garagem.

Encontro Lisa rindo e bebendo algo de um dos típicos copos

vermelhos de festas assim e percebo o quanto fazia tempo que não


via minha filha tão alegre e descontraída. A mulher ao seu lado tem

um sorriso largo no rosto, enquanto conta algo para ela que a faz rir

ainda mais, consigo ver a intimidade entre elas e constato que são

amigas.

― Mãe ― Lisa exclama quando me vê parada na porta da

cozinha, ela se afasta da menina ao seu lado, sua expressão

mudando para tensa. ― Achei que já tinha ido.

― Sem falar com você antes? ― Me aproximo, olhando para

sua amiga estendendo a mão que não está cheia de coisas. ―

Prazer, sou Daphne, mãe da Lisa.

― Prazer, Blenda. ― Ela retribui com um sorriso aberto.

Olho para Lisa, que nos olha sem jeito e imagino que seja por

ter a mãe por perto, e tenho vontade de rir.

― Vou indo, qualquer coisa me liga.


Deixo um beijo no seu rosto, indo em direção à porta e

percebo que fui amorosa demais com ela, provavelmente Lisa ficará

com vergonha.

Olho para Blenda antes de chegar à porta e vejo que ela não

se importou com o ato de carinho.

― Mãe... ― Lisa me chama e não tem tempo de dizer o que

queria e nem de me virar para ela, pois uma voz grossa e

inconfundível a chama.

Consigo sentir meu corpo travando e a tensão tomando todo

ele.

― Vou precisar ir embora agora, tenho um compromisso. ―

Thomas vai dizendo cada vez que chega mais perto e meu coração

acelera.
Conseguiria fugir a tempo antes que ele me visse?

Impossível.

Me viro, meus olhos parando exatamente nele, que tem a

atenção toda em mim agora.

― Daph? ― Tom parece não acreditar na coincidência e sorri,

seguindo o olhar para Lisa e para mim novamente, logo notando a

semelhança e o sorriso que ele tinha até então vai sumindo aos

poucos.

― Vocês se conhecem? ― Lisa pergunta.

― Sim ― Tom responde por mim e pelo meu silêncio e olhar

assustado, Lisa consegue tirar a própria conclusão.

― Ele é filho do Senhor Hodges, nos conhecemos por acaso

na noite do pub com as meninas ― encontro minha voz para

responder e explicar a Lisa.


A ficha parece continuar caindo para ela, pois o olhar

incrédulo e julgador surge e, além disso, percebo um certo nojo.

― Lisa... ― a chamo, me aproximando para tentar explicar o

que nem eu sei direito o que está rolando entre mim e Thomas.

― Não acredito nisso, mãe, vocês dois estão transando? ―

sua voz alterada acaba saindo alguns tons mais altos, e isso chama

atenção de algumas pessoas por perto. ― Logo com ele, meu

amigo?

Amigo?

― Não fala com ela desse jeito, Lisa ― Thomas pede calmo,

sua expressão séria e descontente.

― Cala a boca, não estou falando com você ― ela grita para

ele. ― E o papai? Você não pode fazer isso com ele. ― Lisa se
volta para mim de novo, ignorando os olhares das pessoas

presentes que recebe agora.

Fico indignada escutando aquelas palavras saindo da sua

boca, ela mais que ninguém sabe o quanto sofri por causa da

traição dele e, mesmo assim, de alguma maneira, ficou do lado de

Edward.

― Lisa, seu pai e eu estamos separados há meses, você não

pode me cobrar uma coisa que nem ele mesmo fez. E com quem eu

transo ou não, não é da sua conta, eu sou a mãe aqui ― acabo

estourando, não contendo as palavras e me arrependo logo em

seguida por ter dito elas. ― Lisa...

Tento tocar nela, mas ela desvia de mim, correndo para fora

da cozinha. Quero ir atrás dela, porém Thomas me segura.

― Não adianta, ela não vai querer te ouvir agora. Dê um

tempo a ela.
Suspiro e aquiesço.

― Pode deixar que vou cuidar dela ― escuto a voz da Blenda

dizendo e assinto em agradecimento.

― Vem, precisa se acalmar também.

Ele pega a mala da minha mão, passando o braço pela minha

cintura, me tirando de dentro da casa, sabendo que precisava ficar e

falar com Lisa, mas antes disso, preciso falar com o Thomas.

Não consigo esquecer o olhar da minha filha, a forma que me

julgou vindo depois as palavras, ela não aceitou bem e talvez nem

aceitaria.

Fico tão perdida em meus pensamentos que nem percebi

como foi que entrei no carro de Thomas. Só volto à realidade

quando já estamos quase chegando ao seu apartamento.


Subimos para o seu andar em silêncio, ele respeitando e

dando espaço. Minha vontade é desabar assim que eu entro pela

porta.

Me sento no sofá, Thomas me segue, colocando a bolsa ao

meu lado, tenho vontade de pedir desculpas, porque sei que esse

gesto mostra que ele acredita que ainda vou ficar aqui, além disso,

que vou ficar com ele, manter o que tivemos até agora.

― Isso que estamos tendo não vai dar certo ― vou direto ao

ponto e levanto a cabeça para olhá-lo nos olhos.

Ele fica me encarando, e é tão intenso, que preciso desviar

meus olhos dele por poucos segundos.

― Por quê? ― pergunta, não consigo ler nada na sua

expressão, mas o fato de seu corpo estar tenso me diz muita coisa.
Me faço lembrar do olhar que recebi de Lisa, imaginando

olhares daquele mesmo jeito de rostos desconhecidos ou pessoas

próximas a mim e me arrepio. O fato é que isso entre a gente nunca

deveria ter começado e acabou indo longe demais porque não sinto

somente atração por Thomas.

Vejo que não estava preparada para me envolver com alguém

e que fiz tudo rápido demais, tinha poucos meses de divórcio e tudo

ainda permanece recente para Lisa.

― Porque não, Thomas.

Me levanto do sofá, e logo o vejo na minha frente, segurando

meu rosto para que eu fixe meus olhos nos seus, e quando faço

isso, consigo ver lá no fundo uma ira crescente, presa por seu

autocontrole.

― Não aceito isso como resposta, quero sinceridade,

Daphne, um motivo para que eu possa aceitar que tudo que


passamos deva ser esquecido em uma caixinha na minha mente.

Verdade, como acabar essa loucura de emoções que vivemos

com um simples “Porque não”?

― Porque não daria certo ― Solto uma risada nervosa. ―

Para começo de conversa, temos idades diferentes…

― E daí? ― pergunta, me cortando.

― Estilo de vida diferente ― continuo falando. ― Você é

novo, está na melhor fase da sua vida tem muito que curtir, não vai

ficar preso entre isso que temos por muito tempo, estou fazendo um

favor para nós em acabar agora.

Ele continua com seu olhar fixo no meu rosto, balançando a

cabeça negativamente.

― É por causa da Lisa? Você é uma mulher adulta, Daphne,

você própria toma suas decisões.


Sim, por parte é por causa da Lisa, ela é minha filha e sem

que por ter menos de um ano que me separei do pai, ela ainda sofre

com isso, e não quero minha filha ainda mais afastada de mim, mas

também porque sei o quanto estou envolvida emocionalmente com

ele, e vou acabar sendo magoada quando ele decidir acabar com

tudo para ficar com uma mulher mais nova.

Isso tudo estava tão explícito na minha cara e eu não dei

bola.

― Tom, por favor ― peço, pedindo que pare. ― Não vamos

insistir em algo que não tem futuro, que tem data determinada para

término. Talvez daqui um tempo você queira namorar e eu não vou

estar pronta para isso, acho que nunca estarei.

― Mas eu também não quero, está sendo incrível dessa

forma entre nós dois, e até agora está dando certo.


― Não, Thomas, não dá, nós fomos só transas casuais e

acabou ― acabo pegando pesado ao dizer essas palavras, dessa

maneira.

― Tudo bem. ― Ele se afasta de mim, soltando as mãos do

meu rosto vagarosamente a cada passo que dá para trás. ― Você

está certa.

Não, não estou, e me magoa ouvir isso, no fundo eu queria

que ele continuasse insistindo e não concordando comigo.

― Não temos mais por que seguir com isso, como você disse,

foram só transas casuais, nada mais que isso.

Eu consigo sentir a mágoa dele também, a forma que eu usei

as palavras erradas piorou ainda mais.

É isso!
Eu odeio despedidas, ainda mais aquelas que você não quer

que a pessoa vá embora, mesmo nesse caso eu sendo essa

pessoa. Tudo que Thomas e eu vivemos foi algo tão bom e não

queria que acabasse nunca.

Pego minha mala, olhando para ele por alguns segundos,

memorizando seu rosto, seus olhos que se expressam tanto para

mim, seus braços ao meu redor, tudo nele.

Não dissemos mais nada, e assim me viro para ir embora,

caminhando em direção à porta com passos lentos, não querendo

deixá-lo, e quando enfim minha mão toca a maçaneta da porta, eu

desisto.

Deixo que minha mala caia no chão, fazendo escutar um

baque alto, me virando, indo até Thomas com passos rápidos e não

dou tempo pra que ele questione, me jogo em cima dele, o beijando,

exigindo que pelo menos dessa vez seja a nossa última noite e ele
não me nega, sabendo o que quero e que ainda permaneço com a

minha decisão.

Ele me pega no colo, puxando meu casaco para fora dos

meus braços e o ajudo, a sua forma bruta e exigente nunca vista por

mim antes me enlouquece. Ele está pegando da sua maneira tudo

que essa última vez está nos proporcionando.

Durante todo momento a forma que ele me abraçava e o jeito

que me tocava dizia muito mais que palavras e constatei o quanto

ele queria que eu ficasse, mesmo sem saber do futuro próximo.

Quando abro a porta de casa, o silêncio chega a mim. Não

tem ninguém, nenhuma festa rolando, ou risadas, gritarias. Nada!

As luzes da casa estão apagadas, chegando no corredor de

entrada vejo somente a luz da TV. Sigo até lá, a encontrando muda.
Sobressalto pelo susto ao ouvir a voz de Lisa chegar até mim,

a encontro sentada no canto do sofá, do lado mais escuro, onde a

claridade da televisão não pegue o seu rosto, e não consigo ver se

está bem por esse motivo.

― Achei que não voltaria mais hoje. ― Seu tom de voz é

indiferente, ela ainda permanece inconformada ao saber sobre

Thomas e eu.

― Achei que estava rolando uma festa. ― Ignoro sua

petulância ao me provocar.

Ela não me responde e desisto me virando para subir para o

meu quarto, não teria conversa hoje.

― Era com ele que ia passar o fim de semana?

Eu continuo de costas quando paro ao ouvir sua pergunta. Eu

sei que ela sabe a resposta, no entanto quer ouvi-la da minha boca.
Não é isso que respondo a ela, respirando fundo deixo minha voz

sair expressando o quanto estou triste, libertando tudo que sinto e

ao mesmo tempo o que ela anseia ouvir.

― Acabou, Lisa ― declaro, e pelo som que escuto dela ao

me ouvir, sei que sabe do que me refiro. Meu coração parece

quebrar dolorosamente com essa palavra. ― Acabou.

Subo para meu quarto, para um banho longo de banheira e só

assim vou poder me permitir sentir as emoções que segurei até o

momento.
Daphne

Me agarro ao vaso sanitário para não cair de tão fraca

enquanto vomito tudo que tem no meu estômago. Abaixo a tampa

do vaso, dando descarga enquanto descanso minha cabeça na

mesma.

Ter comido algo estragado não entra na minha lista de

motivos para estar desse jeito, talvez seja uma virose.

Consigo levantar para escovar os dentes e tirar o gosto ruim

da minha boca e levanto a mão à procura da toalhinha para secar

minha boca, não a encontrando.


Abro a gaveta puxando uma lá de dentro e nesse processo

um pacote lilás cai no chão, me agacho para pegar, me sentindo um

pouco tonta e fraca e na mesma hora que seguro o pacote de

absorvente, algo na minha mente parece dar um clique.

Saio do banheiro à procura do meu celular, o encontrando em

cima da cabeceira ao lado da minha cama. O aplicativo de

calendário do ciclo entra na minha visão e clico nele constatando o

que já sabia.

Faz mais de um mês que a minha menstruação não vem e

não tinha me dado conta do quanto estou atrasada até minutos

atrás.

As batidas na porta da frente me fazem lembrar da Karen,

que vem almoçar aqui hoje junto com as crianças e eu havia

esquecido disso.
Ainda assustada com o que acabei de ver, sem acreditar no

que pode ser verdade, desço as escadas e abro a porta para minha

amiga.

― O que houve? Você está pálida ― Karen pergunta assim

que me olha, entrando na casa.

Sou impedida de responder quando as crianças aparecem

logo atrás da mãe.

― Titiaaa! ― gritam, correndo em minha direção e me

abraçando.

Retribuo o abraço deles e Cole faz sinal para abaixar e poder

beijar meu rosto junto com Jenna.

― Brendon não veio?

― Não, só deixou a gente aqui, mas vai passar por aqui mais

tarde ― Karen responde, me olhando desconfiada.


A minha suspeita é algo que não posso esconder dela.

Estendo o celular para ela, com a tela desbloqueada e deixo que tire

as próprias conclusões enquanto sigo para a cozinha com os

pequenos.

Não chega a demorar muito, ela aparece na cozinha com a

expressão chocada; o questionamento no olhar.

― Isso é verdade?

― Eu não sei, faz exatamente uns dez minutos que descobri

isso pelo simples fato de ter aberto a gaveta do banheiro e

encontrado um pacote fechado de absorventes, e ainda tem o

detalhe que venho sentindo náuseas há três dias.

Ela sorri, não parece incomodada com a hipótese.

― Não, Karen, isso não pode acontecer, não fique feliz com

essa notícia.
― O quê? Eu não disse nada ― Ela dá de ombros. ― Me dê

a chave do seu carro, vou até a farmácia. E vocês meus anjinhos,

se comportem e cuidem da tia Daph pra mim.

Eles anuem, com a boca ocupada de doce.

― Vai ficar tudo bem, Daph, se for verdade, vamos ajudar

você ― diz, apertando minha mão, antes de sair de casa.

A ida e volta dela é rápida, me deu tempo só para separar as

coisas para começar a fazer o almoço. Quando ela me entrega a

sacolinha com a logo da farmácia, me empurra delicadamente em

direção ao banheiro que fica ao lado da sala e sorri em expectativa,

fechando a porta para mim.

Segurar o teste nas mãos fazia com que tudo fosse real, a

ficha caindo de que eu poderia estar realmente grávida e eu não

posso, minha vida está uma bagunça.


E Thomas…

Faz um mês que não o vejo, não escuto a sua voz e não

tenho notícias suas. Como ele reagiria a uma informação dessas?

Levo minutos intermináveis para tomar coragem e, por fim,

fazer o teste. O deixo em cima da bancada do banheiro e me sento

no vaso. Do lado de fora consigo identificar os passos de Karen de

um lado para outro, mesmo que ela não diga uma palavra.

Os cinco minutos já passaram, porém ainda continuo sentada.

Me inclino, pegando o bastão e respiro fundo antes de olhar o

resultado. Minhas mãos tremem, fazendo quase o teste cair no

chão, fecho os olhos, sentindo como se nesse momento meu mundo

estivesse virando de cabeça para baixo.

― Daph… ― Karen me chama, ela abre a porta do banheiro

e quando a olho, um soluço sai da minha boca.


Nem preciso estender o teste a ela, minha amiga sabe o

resultado.

― Ah, Daph. ― Ela me abraça e me deixa chorar em cima

dela.

― Não sei o que fazer ― exponho o meu medo, me sentindo

uma adolescente novamente quando recebi a notícia de que estava

grávida, mas naquela época eu tinha o Edward, agora eu não tenho

o Thomas por perto.

― Não se preocupe, vou estar com você, assim como a

Olívia, o Brendon e a Lisa.

A menção ao nome da minha filha me faz ficar ainda mais

aflita, me machucaria se eu tivesse que escutar ela me julgando.

― Eu não entendo, Karen, a gente sempre se cuidou, em

nenhum momento deixamos de nos prevenir.


― Nem todos os métodos são cem por cento garantidos, não

se culpe, foi algo que saiu do controle dos dois, você não pode

controlar tudo.

Balanço a cabeça não aceitando essa resposta.

― Mãe? ― escuto a voz de Lisa me chamar da porta do

banheiro. ― Está tudo bem aqui?

Me afasto de Karen para olhar Lisa que me olha preocupada,

e sei que ela escutou a conversa, seus olhos descem para o teste

em minhas mãos, focando novamente no meu rosto molhado pelas

lágrimas.

Levanto, ainda olhando para Lisa, que tem os lábios

pressionados em uma linha reta, tensa e surpresa.

― Não preciso de um julgamento seu agora, querida ― digo,

e saio do banheiro, subindo as escadas para me fechar no quarto.


Deito encolhida na cama e choro, neste instante não consigo

ser a mulher forte que sempre fui, as coisas estão saindo do meu

controle e não sei como resolver tudo.

Só consigo pensar que estou formando um bebê dentro de

mim. Eu, uma mulher de trinta e cinco anos, grávida, divorciada e,

para completar, sem nenhum contato com o pai do bebê.

Por mais que minha mente esteja um furacão, Thomas

merece saber que estou grávida dele, e que se ele quiser, vai fazer

parte da vida da criança quando nascer.

Escuto batidas na porta e ela se abre logo depois. Lisa coloca

a cabeça para dentro, me dando um sorriso triste. Ela não espera

por uma palavra minha, fecha a porta novamente, vindo até a cama

com passos incertos, se deitando logo depois, virada para mim,

observando meu rosto.


Lisa arrasta sua mão até mim, segurando a minha e me

dando um aperto forte.

― Eu não ia julgar você, mãe. E me arrependo de ter feito

isso antes. Por favor, me desculpe, a forma que eu a tratei, não

merecia aquilo ― pausa. ― Eu não soube aceitar muito bem.

Choro ao ouvir suas palavras, ela sabe o quanto me

machucou ser tratada daquele jeito. Nossa relação tinha mudado

um pouco desde aquela noite, a via ainda menos que antes, e

quando estávamos no mesmo local, poucas palavras saíam das

nossas bocas, mesmo que eu insistisse.

E agora ela está aqui, mais que tudo eu preciso dela, do seu

apoio para ser aquilo que ela e esse bebê precisam.

Meu Deus, como farei com que isso dê certo? Nem sei como

cuidar de um bebê, já faz anos.


― Vou estar com você, assim como sempre esteve por mim e

irei ser uma boa irmã ― ela ri, e não deixo de abrir um sorriso para

ela. ― Vai falar com ele?

Assinto.

― Sim, depois de fazer o exame de sangue para ter certeza,

ele precisa saber.

Ela segura minha mão mais forte, chegando mais próxima de

mim para me abraçar e assim eu poder retribuir o carinho dela.

Com o exame na mão, sentada dentro do carro, com o

resultado que já esperava, pego o celular na bolsa e coloco para

chamar o contato que mais me segurei para não ligar desde a última

vez que nos vimos.


É tão difícil curar um coração partido, uma paixão que se

tornou avassaladora.

Mas ele não retribuiria o que eu sinto por ele, e seria ainda

mais duro ter que lidar com isso um tempo depois que ele

terminasse o que tínhamos.

Ao colocar o celular no ouvido e me preparar para ouvir sua

voz depois de mais de um mês, ela não vem.

“O número que você ligou não existe”.

Tento mais algumas vezes, me desesperando a cada vez que

escuto a mesma mensagem. Deito minha cabeça no volante do

carro, e respiro fundo várias vezes, tentando controlar minha

respiração e as batidas aceleradas do meu coração.

― Fica calma, tem outro jeito de falar com ele.


Coloco o cinto, jogando meu celular para o banco do

passageiro, e saio do estacionamento da clínica, indo direto para o

apartamento do Thomas. Tenho facilidade em entrar, e subo para o

andar dele com esperança em encontrá-lo, mas ao bater na porta

inúmeras vezes, chegando até mesmo a chamar o seu nome, não

tenho resposta.

A porta do apartamento ao lado se abre e uma mulher sai de

dentro segurando um cachorrinho maltês no colo.

― Com licença ― digo, chamando a atenção dela. ― Você

sabe me dizer se Thomas Hodges ainda mora aqui?

― Ah, desculpe, eu não sei te informar, mas faz um tempo

que não vejo movimentação nenhuma nesse apartamento.

― Obrigada ― agradeço, infeliz com essa notícia, ela

percebendo isso, me dá um sorriso compreensivo e entra no

elevador com o cachorrinho latindo para mim.


Ao chegar em casa, encontro Lisa descendo as escadas e

quando vê a expressão em meu rosto, seu sorriso se desmancha.

― O que houve? ― pergunta, me seguindo para dentro da

cozinha.

― Não consigo falar com o Thomas, seu número está dando

que não existe e aparentemente ele se mudou do apartamento ―

digo e sento no banquinho em frente à bancada da cozinha,

enquanto bebo uma água.

Lisa não me responde, e me olha com pesar nos olhos. Ela

caminha até o outro banco, sentando à minha frente.

― Mãe, eu não queria dizer no dia em que soube da gravidez,

porque não queria que ficasse mal, mas, já fazem quase dois meses

que Thomas não frequenta mais a universidade.

― O quê?
― Não vejo mais ele desde aquela noite aqui. Procurei saber

sobre ele hoje com um amigo próximo dele, e o que me disseram é

que se mudou e que ele não deseja ter contato com ninguém e que

queria deixar para trás o que aconteceu.

Fecho os olhos, me sentindo tonta.

― Por isso ele trocou de número. A única coisa que eu sei é

que ele foi trabalhar em alguma empresa da família, longe da

cidade.

Ele foi embora. Por quê? Não pode ser porque terminamos.

― Vamos dar um jeito de encontrá-lo, vou pedir para o amigo

dele tentar saber onde ele está ou pegar o número dele com

alguém.

Aquiesço, abrindo meus olhos para olhar minha filha, que está

determinada em me ajudar, mesmo que não aceite o que aconteceu


entre mim e Thomas.

― Obrigada, querida.

Ela sorri e pega meu celular, que está em cima da bancada.

― Enquanto isso, podemos procurar alguma rede social do

Thomas e ver o que conseguimos.

― Boa ideia ― digo, mesmo sem esperança.


Thomas

Sete meses depois.

Saio de mais uma reunião, o cansaço tomando o meu corpo.

A chuva me pega desprevenida quando saio do prédio. Entro

no carro com o terno molhado e passo a mão por ele em uma

tentativa falha de secá-lo, tirando apenas algumas gotas do tecido.

O outono em Seattle é algo que não se sabe o que esperar

nos dias, a chuva começa a chegar aos poucos, o verão está indo
embora e me sinto frustrado ainda mais em ter que dirigir em um

tempo assim.

A minha sorte é que moro a poucos metros da H. D.

Communication.

Jogo meu terno longe quando entro no meu apartamento e

vou direto à geladeira pegando uma garrafa de cerveja, me jogando

no sofá logo em seguida.

Meu celular como sempre está na minha mão e sigo para a

galeria de fotos, já virou rotina chegar em casa depois do trabalho e

olhar as fotos dela enquanto bebo, como se isso aplacasse a

saudades que sinto.

Não entendia como um mês juntos fez toda a diferença, para

alguns seria pouco tempo em como uma paixão ardente cresceu

dentro de mim por ela, Daphne mexeu com cada célula do meu

corpo.
Me arrependo de ter aceitado tão fácil Daphne terminando

comigo, e fui ainda mais covarde em ter aceitado a proposta do meu

pai para vir trabalhar na empresa de Seattle e ficar longe dela.

Mas estava tão bravo, tão indignado por ela ter escolhido

deixar o que queria de lado por causa da filha. Eu vi o quanto ela se

sentia outra pessoa, ainda mais livre e leve comigo, e eu gostava de

fazê-la se sentir assim.

Eu sabia que Daphne tinha uma filha, mas nunca imaginaria

que fosse Lisa, uma amiga e por quem eu tive uma paixonite.

Lembrar disso me faz rir, e agora eu vejo o quanto Lisa tem da mãe

em si, não foi à toa que ela me cativou.

Daphne conseguia me tirar dos eixos só com o sorriso contido

e tímido que às vezes me dava, a forma de ver a vida e me ensinar

com ela, para um cara apaixonado que ainda não tinha decidido um

objetivo ainda e que era para os outros um bad boy rico e mimado.
Daphne viu quem eu realmente sou e me deixou conhecê-la

também, a determinação e independência me mostraram muita

coisa. Ela é linda, por dentro e por fora e o fato de ela ter se deixado

de lado por se importar com a opinião dos outros me enfurece.

Odeio o fato de que troquei de número e com isso perdi todo

o contato que pudesse tentar com ela, desativei até mesmo minhas

redes sociais para não ter que falar com ninguém de São Francisco

além da minha família.

Nesses sete meses que estou aqui, tudo tem sido tão pacato.

Meu pai planejou bem uma forma de me “controlar”. Devia ter ficado

e lutado pelas minhas escolhas, meu desejo de ter a liberdade de

escolher a profissão que quero seguir e também pelo amor da

Daphne.

Só percebi que estava completamente apaixonado por ela

quando cheguei aqui.


A nossa última noite ficará muito tempo na minha cabeça

ainda, e talvez eu não queira que essa memória se dissipe.

Sou um idiota apaixonado.

Continuo olhando as fotos que tiramos em vários momentos

em que saímos ou quando estávamos deitados na minha cama, ela

com seus cabelos loiros espalhados pelo travesseiro, com um

sorriso sonolento e o olhar brilhante.

Queria saber se ela está bem, se conseguiu seguir me

esquecendo tão facilmente e se não fui importante o suficiente para

fazer parte nem mesmo dos seus pensamentos.

― Sinto sua falta, Daphne ― sussurro, dando zoom no seu

rosto, bebendo mais um gole da cerveja.

Quanto tempo mais eu preciso sofrer? Ter noites mal

dormidas por que sempre sonho com ela?


A foto de Daphne some da tela do meu celular para dar lugar

à indicação de chamada da minha irmã, assim que atendo a ligação

de vídeo chamada, antes mesmo de me cumprimentar, ela me olha

atenta, seus olhos semicerrados, soltando uma gargalhada depois.

― Afogando as mágoas novamente? ― reviro os olhos para

sua provocação. ― Ai, Thomas, o que faço com você?

― Eu estou bem, Leah, não preciso do sermão da irmã

caçula agora.

Ela parece estar no escritório na empresa, porque de fundo

consigo ter a vista de outros prédios.

― Você de novo com isso? ― É a vez dela revirar os olhos.

― Por que não liga pra ela? Vai negar até quando que precisa dela

na sua vida?
Não me incomoda minha irmã saber sobre Daphne, Leah

sempre soube desde o momento em que almocei com Daphne e

contei o quanto estava interessado nela, e todo o envolvimento logo

depois. Ela sempre foi minha confidente.

― Ela me dispensou, Leah, nem tem o porquê tentar algo,

respeitei a decisão dela sem muitos questionamentos.

― Você consegue ser um idiota mesmo à distância e um fofo

também. ― Ela dá risada, e me faz sentir sua falta ainda mais.

― E sei que você sente falta disso, maninha.

― Não mude de assunto, você nem se deu a chance de lutar

por ela ― declara com desgosto.

― Ainda tem o nosso pai.

― E daí? Thomas já passou da hora de você lutar pelo que

quer, não deixar ele guiar sua vida.


Suspiro cansado, não pela conversa, mas pelo rumo que

minha vida está tomando.

― Eu sei, e assim você tomará conta de todas as filiais da H.

D. Communication, me preocupo com você por isso também ―

pontuei.

― Acha que não dou conta sozinha? ― sua voz indignada

fica bem clara na ligação.

― Não é isso, quer dizer, é isso também, mas quem cuidará

de você se eu não estiver por perto?

Revira os olhos com a minha fala.

― Tom, acho que deveria dar o braço a torcer e falar com ela,

está se acabando desse jeito, ou simplesmente…

― Simplesmente? ― pergunto curioso, sempre levo a sério

os conselhos da minha irmã.


― Pensar na possibilidade de voltar, eu sei que não está feliz

aí e não é só pelo trabalho, mas por ela também ― conclui. ― Vou

desligar agora. Pensa bem no que eu disse.

Assinto.

― E Thomas, eu sinto sua falta, mano.

Sorrio e vejo ela retribuir antes de desligar. Leah sempre quis

se mostrar durona, foi a forma que encontrou para dar orgulho ao

nosso pai, mas no fundo é uma mulher com o coração bom e

amoroso.

Leah me fez refletir ainda mais sobre a decisão que venho

querendo tomar, a conversa com ela foi um empurrãozinho.


Paro em um Café próximo ao prédio da empresa e entro,

sentindo o aroma gostoso de doce e de grãos sendo moídos e

torrados.

Faço meu pedido e me sento em uma mesa mais a fundo do

ambiente. Enquanto batuco a mesa com os dedos, observo ao redor

as pessoas que estão frequentando o local e paro em uma mesa ao

lado.

Um homem com o bebê no colo parece meio atrapalhado na

forma de alimentá-lo com a mamadeira. O bebê conforto no chão

carrega uma bolsa azul com desenhos do pequeno príncipe e, pelo

tamanho dela, está cheia de coisas do bebê.

O homem, percebendo que eu estou olhando para ele, sorri

para mim e eu retribuo de forma compreensiva.

No balcão um nome é chamado e vejo que é ele, mostra estar

perdido, sem saber como buscar seu pedido com um bebê no colo e
ainda mamando.

― Você poderia segurá-lo por alguns instantes? Só até eu ir

até o balcão buscar o meu pedido ― pergunta, já de pé, com um

olhar desesperador e suplicante.

― Eu? Mas não sei segurar uma criança. ― É a minha vez de

me desesperar.

― Juro que vai ser coisa rápida ― O homem me entrega o

bebê, mesmo eu negando com a cabeça. E move minhas mãos em

uma forma que eu possa segurá-lo corretamente.

Seguro a criança toda desajeitada e percebo que é um

menino, seus olhos grandes e azuis me encararam de forma curiosa

e tento sorrir de uma maneira que não o assuste, ele retribui,

provavelmente me achando um esquisito.


O medo de deixá-lo cair é grande, mas ao mesmo tempo

percebo como é gostoso tê-lo no meu colo. Seus bracinhos gordos

levantam, balançando no ar enquanto balbucia sons aleatórios.

― Voltei. Posso me sentar aqui com você? ― Assinto, e ele

coloca seu pedido na mesa. ― Creio que isso seja seu, ela ia

chamar seu nome, porém decidi fazer um trabalho só ― diz ao

colocar na minha frente meu pedido.

Ele retira do bebê conforto a bolsa, colocando na cadeira ao

nosso lado e pega o bebê, o deitando no lugar.

― Me chamo Miles ― estende a mão para um cumprimento e

a aperto. ― E esse garotão aqui é o Noah.

― Thomas.

― Minha mulher iria surtar se soubesse que deixei o bebê

com um estranho para buscar meu pedido, mas agora sabendo seu
nome, tenho certeza que não é mais um estranho para mim.

Dou risada.

― Sua esposa parece ser uma pessoa de personalidade forte

e séria.

― Sim e não ― ele ri como se lembrasse de algo. ― Se a

conhecesse veria o quanto é engraçada.

A forma que seu tom de voz muda ao falar dela, me mostra o

quanto a ama.

― Decidimos viajar para cá a passeio e hoje ela recebeu um

convite de uma palestra com um convidado importante na área do

jornalismo, eu insisti que ela fosse e garanti que cuidaria do Noah,

mesmo ela ficando receosa.

― Não está sendo um trabalho fácil pelo jeito.


Olho para o bebê que tem os olhos pesados de sono, mas a

curiosidade em observar o local, não o deixa ser vencido.

― Não mesmo, mas amo essa loucura de ser pai.

Ele sorri olhando para o bebê, e me pego imaginando como

seria quando eu tivesse um filho, ficaria também com essa cara de

pai babão como Miles está agora?

Daphne seria a mãe perfeita para os nossos filhos, e não

consigo ver outro rosto além do dela na minha vida.

Ficamos mais um tempo conversando enquanto tomávamos

café e ele me contou que é dono de uma floricultura em Georgia,

que é onde moram, e claro, contei sobre mim também, deixando a

parte de ser filho do dono da H. D. Communication de fora.

Precisei me despedir, porque tinha uma reunião marcada em

meia hora. Acabei me abaixando para me despedir também do


Noah, que sorriu quando segurei a sua mãozinha.

Gostei do cara, era o típico de cara, que nunca imaginaria

sendo dono de uma floricultura.

Na saída do Café, acabei sendo esbarrado por uma mulher

loira e muito atrapalhada, que me pediu inúmeras vezes desculpas

antes de correr para dentro do ambiente. Fiquei olhando por onde

entrou, a perdendo de vista até que a vejo novamente, pelo vidro do

Café, ela chegando com um sorriso largo, segurando o rosto do cara

e o beijando, logo se agachando para deixar um beijo na testa da

criança no bebê conforto. Sorri por ver que era o Miles e que aquela

é sua esposa, mãe do bebezinho lindo.

Por mais que as coisas sejam incertas na minha vida e eu

não tenha ainda um caminho para ser traçado, de uma coisa eu

tenho certeza, meu desejo é grande em poder um dia ter uma

família como essa.


E quero que tudo isso seja com Daphne.

Enlouqueceria se tivesse que passar mais tempo longe dela e

com isso tenho a minha decisão tomada.


Daphne

Esse momento é mais um na minha vida que vai ser algo

inexplicável descrever o que estou sentindo. E é algo bom.

Não sei o momento exato de como nasceu, como se

transformou em algo grandioso e foi ganhando espaço na minha

vida, mas sei que o meu amor por ela é enorme e especial.

Rose.

É esse o nome da pessoinha que tomou todo o meu mundo

para si, desde que soube da sua existência, não de uma forma
egoísta.

Ela se remexe em meus braços, seu rostinho gordinho e

rosado, fazendo uma leve careta querendo mamar. As mãozinhas

pequenas e sensíveis apertando meu dedo.

E mais uma vez me pego chorando feito uma tola. Nunca

imaginei que um dia poderia ter nos braços mais um bebê, e meu.

Lisa veio para o meu mundo, para me ensinar a amar, somando

tudo de bom que é e agora com a Rose…

Sou grata por esse momento, e não me arrependo em

nenhum instante de todos os encontros com Thomas e o que um

deles me trouxe. O ser mais lindo e maravilhoso.

― Ela é a coisa mais linda ― Brendon sussurra ao meu lado

com medo de acordá-la. Karen, que está do seu lado, tem um

sorriso bobo de tia.


― Não é, querido? Dá vontade de apertar. ― Karen faz um

gesto com a mão.

Ele assente. Quando conheci Brendon, foi impossível

imaginar que um homem do seu tamanho, cheio de tatuagens fosse

carinhoso e atencioso como é com a minha amiga e os filhos. Assim

como minha amiga tem sorte em tê-lo, ele também tem a mesma

sorte em tê-la.

Brendon levanta a mão para tocar mais uma vez o rostinho

rosado de Rose, e sorrio ao ver uma das tatuagens de seu braço. O

xerife Woody do filme Toy Story está marcado na pele de seu braço,

ao contrário das suas outras tatuagens, ela é a única mais singela e

com um significado enorme, mostra o quanto ele é amigo e se

preocupa com as outras pessoas.

O tenho como um irmão, até mais depois de uns anos atrás

quando minha mãe morreu e ele me apoiou como ninguém, junto


com sua esposa e Olivia, e depois veio o divorcio. Meus amigos

souberam ser tudo o que precisei, e agora mais ainda com a

chegada da Rose.

Não me julgaram, só estiveram ao meu lado.

Estou no quarto, descansando depois do parto cansativo que

tive, que nunca pensei que teria fim. E assim como todo período da

minha gravidez, foi tranquila. Teve um certo redobramento de

atenção por ser uma mulher na casa dos trintas, mas tudo ocorreu

bem.

Cada mês era curtido de uma maneira única. As descobertas,

a primeira mexida, depois os chutes, os desejos, o coraçãozinho

batendo e a descoberta do sexo, tudo foi surreal, mas teve também

os enjoos, os inchaços e hormônios da gravidez, e muito mais,

quase me deixando louca.


Todos fizeram com que todo esse período fosse especial, me

apoiando, ajudando e me dando carinho, até mesmo Lisa está bem

mais próxima e fico feliz que não só a descoberta da gravidez, mas

a chegada da Rose, mudou a minha relação com ela.

Porém, tinha uma coisa. Thomas. O único que não dava para

ser esquecido, que em quase todo o momento estava na minha

mente, até mesmo com todos os preparativos e compras e chás da

Rose, ele estava presente na minha mente.

Eu tentei de todas as maneiras contatá-lo e foi em vão, nem

mesmo os amigos próximos tinham contato ou sabiam onde estava

morando e eu desisti por ora, para focar na minha saúde junto com

a da Rose. Me dei o prazo só até que ela nascesse, depois voltaria

a procurá-lo.

Eu consigo ver os traços que Rose herdou do pai e queria

que ele pudesse estar aqui vendo isso também.


― Cadê nossa pequena Rose? ― Olívia entra no quarto com

balões cor de rosa claro, escrito Rose em letras cursivas.

Ela se aproxima assim que os deixa no canto do quarto, em

cima da mesinha, ao lado da janela branca com vista para as ruas

agitadas de São Francisco.

― Own, ela é muito linda ― Olívia faz voz de bebê, pegando-

a no colo. ― Só que ainda tem cara de joelho.

Tento não rir por causa das dores que estou sentindo pelo

corpo dolorido.

― Não fala assim da minha irmã. ― Escutamos Lisa dizer ao

entrar no quarto com algumas bolsas de pertences meus e de Rose.

― Ela é linda e parece comigo.

― E com o pai ― Karen provoca, ignorando a careta

desgostosa de Lisa.
Esse é um assunto que nunca Lisa e eu conversamos. Ela

ama a irmã, demonstrou isso durante toda a minha gravidez e muito

mais agora, mas isso não quer dizer que o que tive com o Thomas

foi aceito por ela. Um dia vamos falar sobre isso, mas não estamos

prontas ainda para ser sinceras uma com a outra.

Parece que cada vez que as semanas passam, me sinto uma

péssima mãe por tentar fazer tudo e não conseguir e pensar no

quanto pareço ser insuficiente para Rose, que está chorando há

alguns segundos.

Desisto de pentear meus cabelos e a pego de cima da minha

cama, onde a deixei para que pudesse a ouvir se acordasse

enquanto eu estivesse no banheiro tomando banho.


A pego com todo o cuidado, falando com ela, a acalmando

sentindo seu chorinho diminuir aos poucos e assim a coloco no meu

peito. Ela suga com sua boquinha ávida, me mostrando a força que

tem e abro um sorriso emocionado, quando seus olhos focam em

mim. Essa é, de todas, a parte que mais amo, poder amamentar

minha filha e saber que desse ato estou a deixando forte, passando

todos os nutrientes de que precisa, não só isso, mas meu amor a

ela.

Fico passando os dedos pelos seus cabelos pretos, assim

como o do seu pai. Engraçado que cada detalhezinho me lembra

ele, até mesmo a forma que franze a testa e forma um bico com a

boca.

A campainha toca na parte debaixo, e me convenço em

deixar tocar e poder ter um momento de paz com Rose, para ela

dormir e continuar a fazer o que havia parado. A pessoa fica mais

exigente na medida que os segundos passam.


Rose, que estava com os olhos fechados de sono, abre

depois de escutamos uma batida alta na porta. Quero morrer com

isso, não, na verdade quero matar a pessoa desesperada do lado

de fora da minha casa.

Desço as escadas devagar, com Rose ainda no meu colo,

mamando e me preparando para gritar com a pessoa que insiste em

atormentar a vida de uma mãe cansada e irritada.

― Você não sabe esperar….? ― Minha voz vai abaixando o

tom na medida que vou falando e me deparo com Thomas à minha

frente.

Seus olhos param no meu rosto, demonstrando alívio ao me

ver, mas isso muda logo quando olha para baixo, encontrando o

rostinho da nossa filha. Sua expressão de choque vai para

questionamento e logo para irritação.


Seus olhos vão de mim para ela momentâneas vezes, e eu

riria se não fosse uma situação desconfortável e séria.

― O quê… ― Ele não termina a fala, agora fixando

totalmente em Rose, que parece sentir que o clima não parece bem

e larga o meu peito para chorar.

― O que você está fazendo aqui? ― pergunto, balançando-a,

tentando fazer com que pegasse o bico do meu peito novamente.

Estou irritada com Thomas, e não sei explicar o motivo, entro

novamente, deixando a porta aberta, com um convite para que

entrasse também. Escuto o clique abaixo dela fechando e seus

passos incertos me seguindo.

Eu paro na sala, ligando o Echo Dot, controlado pela minha

voz, solicitando uma música específica de ninar para ajudar ela a se

acalmar. A última coisa que quero é que ela sinta o clima estranho

entre seus pais, eu sei como bebês são sensitivos.


Ele fica em silêncio, me observando, parado no meio da sala,

enquanto balanço Rose ao som da musiquinha de dormir. Ignoro

Thomas, a forma que nos olha, e até mesmo como devo estar

horrível e descabelada nesse momento.

Enrolo com Rose no colo, mesmo quando ela dorme, para ter

mais tempo de pensar no que falar para seu pai. Meu plano não

funciona, pois escuto a voz dele atrás de mim.

― Daph… ela é minha? ― ele pausa, melhorando a

pergunta. ― Ela é minha filha, não é?

Tem raiva ao ouvir essa pergunta, vontade de me virar e

xingá-lo, por ser burro ao ponto de não saber fazer as contas e

descobrir sozinho que sim, ela é sua filha, ou ele acha que fiquei

com outro homem além dele?

Me viro, sentindo meu rosto quente, minha respiração

alterada.
Estou brava por me sentir tão afetada por ele depois de todos

esses meses, e principalmente por ele ter sumido e não ter deixado

nada para que eu conseguisse entrar em contato com ele.

Me mata ele ter sumido e não se importado comigo, mesmo

que a decisão do fim da gente tenha partido de mim.

― O que você acha? Ou você acha que fiz ela sozinha com o

dedo? ― Seus olhos arregalam pela forma que me dirijo a ele.

Percebo o quanto estou alterada e respiro fundo, dando

passos até o carrinho branco e rosa clarinho no canto da sala.

Thomas, percebendo o quanto tento desajeitada abaixar o encosto

para deitar a Rose, se aproxima, fazendo isso para mim, arrumando

de um jeito calmo o lençol e travesseiro pequeno para deitá-la.

Ele se afasta e assim consigo deitar Rose, que suspira

profundamente, no sono gostoso e sereno. Me pego arrumando-a,

observando seu rostinho só para não encarar seu pai, mas quando
levanto a cabeça para enfim enfrentar o que está por vir, flagro seus

olhos fixos nela e um brilho diferente neles, ele me olha quando

percebe que o encaro, e vejo além do encanto, o medo.

― Ela é linda.

Aquiesço, ainda nos olhando.

― Ela parece com você ― dizemos ao mesmo tempo e

sorrimos. ― É porque não a viu fazer as manias que você tem.

Continua sorrindo, voltando a olhar para a nossa bebê.

― Qual o nome escolheu para ela?

― Rose.

― Nome lindo, assim como ela ― Me lança um olhar de

poucos segundos antes de fixar na minha bebê novamente. ― Oi,

pequena Rose.
Ele levanta a mão para tocá-la, e para, inseguro.

― Eu não sabia.

― Eu sei que não ― respondo, sabendo ao que ele se refere.

― Não tinha como, já que sumiu e não deixou um meio para entrar

em contato com você. ― Thomas sente o tom de escárnio na minha

voz, mas pouco parece se importar.

Me afasto do carrinho, e me sento no sofá, deixando a

liberdade a ele para sentar ou continuar observando a minha

menininha.

― Desculpa, Daph… eu não sei nem o que dizer.

― Por que está aqui, Thomas? Por que voltou? ― Vou direto

ao ponto do que o trouxe até aqui, depois de quase um ano.

Ele fica em silêncio, olhando para Rose por um tempo a mais,

antes de se afastar e se sentar no sofá à minha frente. Seu perfume


tomou a sala toda, e quando ele se movia, ficava ainda mais forte,

me fazendo lembrar de noites acordadas envolta em seus braços.

A forma como se veste, com seu terno preto e de gravata, o

cabelo cortado em um corte militar, está diferente de quando o

conheci. E parece impossível, mas Thomas consegue ser ainda

mais sexy.

― Por você.

Franzo a testa, me sentindo irritada, querendo bater a cabeça

dele na parede e não conseguindo entender o porquê.

― Por mim?

― Sim, e agora entendo o porquê ultimamente você parecia

estar ainda mais forte nos meus pensamentos, ao ponto de não

conseguir dormir e louco para te ver.


Olho para Thomas, sem conseguir prestar atenção em mais

nada, a não ser em suas palavras, mas desacreditada com a sua

confissão, não era para isso que estava acontecendo.

Estou tão brava com ele por ter sumido e comigo mesma por

estar sentindo tudo isso. Ele tinha o direito de fazer isso, a gente

não tinha mais nada, mas fiquei tão preocupada.

― Te procurei no seu apartamento depois que tive o resultado

em mãos, depois de ter tentado te ligar e a mensagem de voz dizer

que o número não existia.

Ele me escuta. Não quero falar do que ele está sentindo,

quero falar sobre nossa filha, e tudo o que fiz para contar para ele

que estava grávida.

― Nem mesmo Lisa conseguiu saber onde estava pelos seus

amigos próximos. As redes sociais estavam desativadas, onde quer

que tenha se metido, você soube se esconder bem.


Thomas consegue sentir o ressentimento em minha voz, ele

não abaixa a cabeça, seus olhos parecem queimar ao ouvir minhas

últimas palavras.

― Esconder é a palavra perfeita que estou procurando. Foi a

única forma que me convenci de ficar longe de você e superar o que

aconteceu.

Seu olhar é tão intenso que me incomoda, junto com as

palavras que seguem logo depois.

― O que eu poderia fazer? Estava magoado por você ter me

descartado porque se importava demais com o que as pessoas

achavam sobre nós, e simplesmente deixou o que queria de lado

por isso.

― O que eu queria não importava naquele momento,

Thomas. ― Sou sincera. Lisa me importava naquele momento. ― E


a gente não tinha nada, não te descartei, o que rolou entre a gente

acabaria de uma hora para outra.

― Não para mim. ― Ele levanta exaltado e eu faço o mesmo.

― Eu estava completamente apaixonado por você, já não conseguia

ficar longe o suficiente, sempre desejava mais, você não percebeu e

nem mesmo eu percebi o quanto estava envolvido.

Suas palavras me pegam com a guarda baixa, e não consigo

ser rápida em esconder o choque em ouvir o que disse.

― Fiquei com tanta raiva de você depois que saiu do meu

apartamento naquela noite, deixando para trás somente a

lembrança da última noite que passamos, para seguir em frente

como se nada entre nós fosse importante.

― É isso que você acha? Que nada entre nós significou para

mim?
Percebemos que nossas vozes alteradas fazem Rose se

mexer no carrinho e ficamos dois babões olhando em direção a ela,

e eu torcendo para que ela não acorde, preciso de mais um

tempinho.

Assim que ela para de se mexer, voltando para o seu sono

calmo, ele me olha, dando um passo para mais perto.

― E o que significou, então?

Meu corpo esquenta com a sua aproximação, como se ele

lembrasse de tudo que sentiu nos braços de Thomas.

― Me diz que eu não fui o único a me envolver tão

profundamente a ponto de não conseguir dormir ou parar de

imaginar nós dois.

Me atrapalho em respondê-lo quando ele chega mais perto, e

quando penso em me afastar a porta de entrada se abre, batendo


fortemente na parede, causando um barulho tão alto que me

assusto, o som dela quebrando algo.

A situação nem me dá tempo de me recompor, pois Edward

surge na sala, carregando Lisa praticamente arrastada pelo braço,

ela chorando copiosamente, a jogando no sofá de forma bruta.

Rose chora no carrinho, assustada com o barulho, e não sei

se sigo até ela ou Lisa, que está devastada.

Thomas, percebendo que preciso de ajuda, vai até o carrinho,

pegando Rose, e sigo até Lisa, olhando meu ex-marido com ódio.

― O que aconteceu? ― pergunto, com medo de ouvir uma

resposta, mas o instinto de mãe me prontifica para defender a minha

filha.

Passo as mãos pelo seu rosto molhado. Seu braço vermelho,

mostrando as marcas dos dedos de Edward em sua pele branca,


ver isso me enfurece e tenho vontade de pular nele e socar sua

cara.

― O que aconteceu? Pergunta para essa aberração que é

sua filha. Tudo isso é sua culpa, Daphne, deixou que essa menina

fizesse o que quisesse e se transformou nisso aí ― grita, apontando

para ela, com nojo.

Me levanto, ficando na frente de Lisa, ainda sem entender,

mas louca com as palavras que usa para falar da nossa filha. O

choro de Lisa fica intenso e meu corpo treme, querendo esse

monstro longe dela.

― Do que você está falando? ― exijo saber, o som do choro

de Lisa misturado ao de Rose, e tudo isso me faz sentir impotente.

De formas diferentes, minhas duas meninas precisam de mim.


Vejo Edward passar as mãos nos cabelos, esfregando o rosto

retorcido de raiva e indignação.

― Encontrei essa aberração aos beijos com outra garota no

meio do shopping, na frente de todo mundo, me envergonhando ―

grita novamente histérico.

E sua fala mexe comigo, não sobre o que minha filha estava

fazendo, mas a forma que ele se refere a ela, de forma escrota e

cruel. Avanço nele, acertando-o com um tapa na cara e isso parece

transformá-lo.

Edward levanta a mão para mim, e antes de poder fazer o

que tanto quer, escutamos um grito alto e claro. Só me dá tempo de

olhar para Thomas, com Rose bem aparada em seus braços, sua

mão grande tampando sua orelhinha por causa do grito que deu.

― Você não vai encostar um dedo nela, não vou permitir.


Seus passos rápidos chegam até mim, me entregando Rose

de forma delicada, se virando novamente para o desgraçado do

meu ex-marido.

Toda a situação o fez ficar cego quando entrou na minha

casa, não vendo nem mesmo Thomas. Edward dá uma risada

descontrolada, mas seus olhos mostram a raiva neles.

― Quem é esse agora, Daphne? Não vai me dizer que é o

cara de quem engravidou?

Seguro o braço de Thomas, quando o vejo fechar o punho.

Sinto seu corpo tremer, sua pele quente.

― Agora sei de quem Lisa puxou, foi da mãe puta que t… ―

Edward nem finaliza a fala, o soco que recebe de Thomas o faz

cambalear para trás, precisando se apoiar na parede.


Lisa grita pelo choque, e não fico muito atrás. Thomas segura

Edward pela camiseta, o puxando para ficar próximo ao seu rosto.

― Nunca mais você vai falar isso da Daphne novamente, na

próxima vez quebro sua cara. ― Sacode Edward, que tenta se

soltar dele, ainda tonto pelo impacto no rosto.

Thomas o puxa para fora de casa e o sigo, preocupada com o

que ele vai fazer.

― Me solta, seu idiota ― grita, quase acertando um murro em

Thomas que consegue desvencilhar a tempo, o jogando no chão de

casa, do lado de fora.

― Não apareça mais aqui, você perdeu esse direito há muito

tempo quando ferrou com a vida da sua ex-esposa e filha,

humilhando as duas por ser um homem de merda e sem caráter.

Edward tenta se levantar, limpando a boca suja de sangue.


― Você vai me pagar, seu desgraçado, não vou deixar isso

passar.

Thomas ignora as palavras proferidas a ele, fechando a porta,

que está com o trinco quebrado. Ele me olha, sua expressão furiosa

se aplacando quando vê meu rosto temeroso.

― Me entrega a Rose. ― Estende o braço e fico incerta de

entregá-la, estou tão assustada que reagir a algo leva tempo. ―

Confia em mim, está tudo bem.

Olho para Rose que se acalmou, e tem os olhos abertos

olhando ao redor atenta a tudo.

― Outra pessoa precisa de você agora ― sua voz atenciosa

diz, e olho para Lisa, que parece outra vez uma criança, frágil e

desprotegida pela forma que se abraça, deitada no sofá.


Assinto, e deixo um beijo na testa de Rose, entregando-a logo

em seguida para o seu pai, que me mostra ansioso para tê-la nos

braços novamente.
Daphne

Espero por Lisa, sentada na sua cama, enquanto ela toma

banho. Meus olhos vagam pelas paredes e móveis e percebo que

faz um tempo que não entro em seu quarto, talvez desde quando

seu pai e eu ainda estávamos juntos.

Tudo está do mesmo jeito que ao mesmo tempo não está e

entendo o quanto minha menina cresceu, tomou decisões na sua

vida, umas comigo fazendo parte, outras não.

Quando ela sai do banheiro e me encontra ainda sentada na

sua cama, sua expressão surpresa está lá. Bato a mão no assento
ao meu lado, isso mostra muito que temos que conversar.

Pego o pente da sua mão, me levantando para ficar ao seu

lado para pentear os seus cabelos. Ela suspira quando o pente

entra nos fios loiros, encontrando o couro cabeludo.

― Faz tanto tempo que não penteia meus cabelos, sinto falta

disso ― comenta, relaxando enquanto vou desembaraçando mecha

por mecha.

― Eu também senti falta disso.

Não me importava que Lisa já tivesse seus quase vinte anos,

ela sempre seria minha garotinha.

― Mãe?

― Sim? ― respondo, prestando atenção nos movimentos da

minha mão, esperando seu tempo para se abrir comigo.


― Você me acha uma aberração, assim como meu pai? ―

Paro o que estou fazendo para virar seu rosto para mim e poder ter

seus olhos nos meus para ver a verdade neles.

― Claro que não ― declaro, vendo seus olhos encherem de

lágrimas. ― Nunca, Lisa, pense que por ser quem é, vou te odiar

ou te achar uma aberração. Sou a sua mãe e independente de

qualquer coisa, vou continuar sendo e te apoiando e amando da

mesma forma que te amo agora.

Sinto o impacto dos seus braços em volta da minha cintura, e

me emociono com a forma que minha filha está tão frágil,

precisando de mim.

― Queria tanto ter te contado, só não sabia como. Tive tanto

medo ― soluça ao dizer.

― Eu sei, querida, e entendo seu medo, mesmo que eu tenha

deixado toda a liberdade do mundo para conversar comigo, seja o


que for, entendo o que se passou na sua cabecinha. ― Passo as

mãos pelos seus cabelos. ― Peço desculpas por não ter

demonstrado o suficiente o quanto estava disposta a ouvir você.

― Não, mãe, a culpa não é sua. Eu que me afastei.

― E a culpa é minha por ter deixado isso acontecer. ― Me

inclino, beijando sua cabeça. ― Não me importa que você goste de

mulher ou de homem, o que me importa é que seja feliz da maneira

que te faça bem e que permaneça sempre com essa aura que

encanta as pessoas.

― Eu te amo, mãe. ― Meu coração se enche, e sinto as

lágrimas descerem ao ouvir essas palavras. Faz tanto tempo que

não as ouço.

― Eu também te amo, meu amor.


Continuo-a abraçando e volto depois de um tempo a pentear

seus cabelos. Incentivei que ela se abrisse comigo e contasse tudo

o que desejava. De início eu percebi que ela ficou um pouco

retraída, mas foi contando.

Descobri que a Blenda, a garota que eu tinha visto naquela

noite da festa aqui em casa, era uma menina de quem ela estava

gostando e que, por causa do medo de se revelar para mim e seu

pai, Blenda não aguentou esperar.

― Disse que eu precisava decidir o que eu realmente queria.

― Sinto muito por isso ― digo sou sincera.

Ela se deita e eu a embrulho, permanecendo sentada na

cama. Não imaginei que Lisa precisasse tanto de mim. Eu disse a

verdade, ela é minha filha e saber que ela é lésbica não muda nada,

mas eu sei que o mundo lá fora não vai entendê-la, é preciso estar
ao seu lado para segurar sua mão e apoiá-la quando coisas como

aconteceu mais cedo vierem.

― A noite que eu ia falar com vocês, estava enfim resolvida a

me revelar e dizer que estava apaixonada pela Blenda, foi na

mesma noite em que cheguei em casa e fiquei sabendo da

separação de vocês e o que meu pai havia feito.

― Isso te desmotivou, não é verdade?

― Muito. Achei que com o tempo, vocês iam acabar voltando

e seríamos uma família novamente.

Suspiro, melancólica em ouvir suas palavras.

― A gente não era uma família há muito tempo, querida ―

declaro.

Infelizmente essa talvez seja a verdade que não queria ouvir.


― Eu sei, mãe, agora eu vejo isso. A senhora não estava

feliz, na verdade, nós três não estávamos.

Assinto.

Ela fecha os olhos, e decido esperar mais um pouco para

poder sair do quarto e ficar com Rose, que por sinal está muito

quietinha.

Lisa abre um sorriso, ainda de olhos fechados.

― Obrigada, mãe ― sussurra, logo pegando no sono.

Velo seu sono por mais alguns minutos, deixando um beijo

em seu rosto antes de descer para o andar debaixo, me sentindo

mais leve depois da conversa que tivemos.

Quando entro no cômodo, um sorriso instantâneo surge ao

ver a cena na minha frente. Thomas está sentado no sofá,


parecendo mais deitado que sentado. Rose em seus braços, deitada

de bruços, dormindo.

Meus passos lentos adentram a sala, e percebo que ele

também dorme, mas seus braços ao redor da minha menininha

estão bem seguros, é como se, mesmo dormindo, ele ainda

estivesse protegendo-a.

Fico com dó de acordá-lo, mas é preciso. Toco em seu ombro

de leve e seus olhos abrem imediatamente e quando param em

mim, ele fica aliviado.

― Ela dormiu ― sussurra, afrouxando seus braços para eu

poder pegá-la para dar de mamar.

― Vejo que não foi só ela.

Dá uma risada, sem graça, passando a mão nos cabelos para

arrumá-los, como costumava fazer, mesmo agora não tendo quase


cabelo nenhum.

― Desculpa, estou tão cansado da viagem, só passei em

meu apartamento para deixar minhas malas e vim direto para cá ―

declara, se levantando, enfiando as mãos nos bolsos.

― Você veio diretamente para cá? ― pergunto, sem acreditar,

mesmo que ele tenha acabado de dizer isso.

― Sim, queria muito te ver. ― Thomas fica me olhando, me

encarando daquela forma que só ele sabe, me deixando

desconfortável pela forma intensa. ― Gostaria muito de ficar e

terminar nossa conversa, mas recebi uma ligação do meu pai e

preciso ir até ele.

― Claro, não quero te prender aqui. Ele sabe que está na

cidade?
― Se seu tom de voz irritado é uma prova para sua resposta,

então sim, ele sabe, e é por isso que preciso me encontrar com ele.

Aquiesço.

― Mas ainda precisamos conversar, Daphne. Quero saber de

tudo, de como foi sua gravidez, como foi o nascimento da nossa

garotinha.

Nossa garotinha.

Parece até um sonho vê-lo falando assim, logo eu fiquei

apreensiva de como ele aceitaria a minha gravidez, e aqui está ele,

aceitando tudo da melhor forma.

Me pergunto até quando vai ser assim? Até ele perceber que

a vida de pai vai além da vida que levava antes de nos

conhecermos e que envolve a responsabilidade.


― Obrigada por ter cuidado dela enquanto eu estava com a

Lisa ― digo, fugindo do seu olhar, para não ver o quanto estou

vulnerável ao ouvir suas palavras.

― Não agradeça, Rose também é minha filha e vou fazer o

que eu puder ajudar. ― Sorri. ― Falando nisso, Lisa está bem?

― Não muito, mas vai ficar. ― Assente.

E depois de tanto enrolar ele reforça que precisa ir, seguindo

até a porta comigo em seu encalço.

― Dei um jeito na porta, ela consegue passar por essa noite,

mas amanhã mandarei alguém para arrumá-la e reforçá-la.

― Thomas, não precisa ― peço.

― Sim, precisa, vou me sentir aliviado em saber que estão

em segurança.
Ouvi-lo dizer isso me faz lembrar de outro ponto que preciso

questioná-lo, e temo pela resposta. Ele vai saindo pela porta e eu o

chamo. Ele se vira, seus olhos demonstrando algo diferente neles.

Mesmo que todos os sentimentos tenham se aplacado um

pouco dentro de mim desde o momento em que o vi mais cedo,

principalmente a raiva, não consigo esquecer o fato de que sumiu.

― Até quando pretende ficar?

― Quem disse que pretendo ir embora? ― sorri, se

aproximando. ― Agora tenho um motivo maior ainda para ficar e

lutar pelo que quero na minha vida.

Ao dizer isso, algo dentro de mim esquenta, acelerando meu

coração bobo apaixonado, se iludindo achando que aquelas

palavras se referiam a mim e Rose.


Ele não deixa de me olhar profundamente, antes de se

inclinar, deixando um beijo na testa de Rose, que continuava

mamando, levantando o bracinho para tocar o rosto de Thomas,

como se já soubesse de quem se tratava.

E assim Tom se vai, deixando a promessa em seus gestos

que logo estaria o vendo novamente, e que não pretendia sumir.


Thomas

Dirijo em direção a casa dos meus pais repassando tudo na

minha cabeça: Daphne e o quanto ela se mostrou magoada pelo

fato de eu ter sumido, mas tudo isso fica de lado por causa dela. Da

minha pequenina Rose.

Mal a conheci e já a amo, como isso é possível?

Como explicar as sensações que estou sentindo? Explicar a

forma que algo dentro de mim se encheu de amor?


Quando meus olhos a encontraram pela primeira vez, no colo

da sua mãe, o ser tão pequeno e frágil, eu de alguma forma já sabia

quem ela era. O pensamento que tive naquele Café em Seattle

quando conheci o Miles me veio à cabeça, nunca imaginaria que do

outro lado estaria a mulher que eu amo, carregando minha filha.

Rose é tudo que importa pra mim no momento, ela e sua

mãe, e é por isso que quando meu pai me ligou irado me

questionando o motivo da minha volta para São Francisco, eu não

pensei duas vezes no que realmente quero para minha vida.

Me sinto tão culpado por ter praticamente fugido dela com

muita raiva, e me afastados de qualquer forma que ela poderia

entrar em contato comigo. Perdi toda a sua gravidez, os primeiros

dias de vida da minha filha por ser covarde e não ter ficado pelo que

estava sentindo por ela.


Quero recuperar o tempo perdido, e mostrar para ela que não

pretendo me distanciar mais, quero ser o melhor pai para Rose, e se

Daphne me aceitar, o melhor namorado, marido, parceiro, seja o

que for, para ela.

Não serei como o desgraçado do Edward. Vejo que tenho

mudado a minha forma de pensar, de agir; é como se minha vida se

ampliasse em frente aos meus olhos.

Respiro fundo antes de descer do carro e enfrentar os meus

pais com o que eu tenho a dizer.

Assim que a porta da casa se abre, sou recebido por um

abraço apertado da minha mãe, dona Sarah beija meu rosto antes

de me soltar.

― Como está, meu filho? ― pergunta, passando as mãos

pelo meu rosto carinhosamente. ― E por que não avisou que estava
vindo para São Francisco? Seu pai só ficou sabendo disso quando

um sócio dele ligou para informar.

― Como imaginei. Nada que se passa naquela empresa em

relação a mim fica fora dos ouvidos do meu pai ― digo, contrariado.

Seguro suas mãos, as levando para minha boca para beijá-

las antes de segurar uma delas e a levar comigo para a sala.

Encontro meu pai sentado, olhando para a entrada da porta,

mostrando que me aguardava.

― Algum motivo para voltar e não nos dizer? ― pergunta.

― Jeffrey, para com isso, falando assim até parece que nosso

filho não é bem-vindo em casa.

― Deixa, mãe. E sim, tenho um motivo para estar de volta. ―

Sua sobrancelha se ergue pela minha ousadia. ― Vim dizer que não
quero mais ficar em Seattle, e muito menos trabalhar na empresa,

não é isso o que quero para mim.

Ele começa a rir, fico ainda parado, o encarando decidido.

Meu pai vê isso como uma brincadeira de menino mimado. Talvez

eu fosse antes, mas muita coisa tem mudado.

― Por que isso agora? Não aceito que faça isso ― seu tom

de voz rude me dá indício de como nossa conversa vai ser difícil.

Ele se levanta do sofá para me enfrentar.

― Não quero passar o resto da minha vida trancado em um

escritório como você, pai, fazendo algo que não gosto

― E vai fazer o quê então? Você não tem nada, muito menos

terminou a faculdade. Não me enfrente, Thomas.

Minha mãe, que estava ao meu lado, se afasta para ficar ao

lado do meu pai, sua mão em seu braço é um gesto para pedir que
se acalme e me escute.

― Não consigo acreditar no que estou ouvindo. Por que isso

agora? ― ele repete a pergunta.

― Estou cansado de aceitar a maneira que me controla,

sempre foi assim, pai.

Ele não quer me entender, consigo o ver mudando de cor, seu

ódio se intensificando.

― Cansado? Você sempre teve de tudo, além de sair por aí

curtindo do jeito que queria. Ficou anos na faculdade para não

decidir o que cursar. E vem me dizer que está cansado? ― Jeffrey

grita alterado, e não me abalo, já esperava toda essa reação.

― Calma, querido. Não é melhor vocês conversarem melhor

depois, sem essa alteração toda? ― minha mãe sugere,

preocupada.
― Não, Sarah, quero ouvir o que ele tem a me dizer agora.

― Toda a sua pressão resultou nisso, nunca me deu escolha

para seguir o que eu queria. De alguma forma sempre quis te

agradar, e até isso me impediu de encontrar a profissão que eu

queria.

― Moleque ingrato ― ruge.

― Você tem a Leah, tenho certeza que ela vai levar seu

legado mais além do que eu levaria se me obrigasse a cuidar da

empresa.

Ele permanece com o maxilar travado, mas consigo enxergar

no seu olhar que ele sabe que é verdade, poderá contar com a

minha irmã em tudo.

― Não estou pedindo sua permissão, pai, como sempre fiz.

Estou só o informando da minha decisão. ― Me sinto aliviado,


esperando suas próximas palavras.

Ele volta a se sentar, sabendo que perdeu a luta. Seu sonho

sempre foi que eu assumisse seu lugar um dia quando não pudesse

mais, então ter seus desejos contrariados, seu sonho não sendo

realizado, mexe com ele.

― E tem mais uma coisa.

Meus pais me olham, como se para eles qualquer notícia não

pudesse ser pior, dependeria do ponto de vista dos dois, e eu

esperava que eles aceitassem a Rose com todo amor e carinho.

― Vocês são avós ― jogo a bomba pegando os dois de

surpresa. ― De uma garotinha linda com o nome de Rose.

E é assim que passo por mais uma fase de uma longa

conversa com meus pais para explicar como tudo aconteceu.


Thomas

Não vou dizer que foi fácil a conversa que tive com meus pais

há algumas noites, meu pai não aceitou tão bem minha decisão.

Quando pensei que ele já havia aceitado, vieram vários

questionamentos e provocações depois daquela noite, sempre que

nos encontrávamos, seja em almoço ou jantar em família ou por

acaso.

Outra questão foi o fato de ter me envolvido com Daphne,

uma mulher mais velha e que gerou a Rose. Eu sabia que isso seria

discutível, mas não achei que fosse um incômodo grande.


Eu senti o quanto eles julgaram, mesmo que não fossem com

as palavras exatas, Leah foi a única que me apoiou e amou o fato

de saber que tem uma sobrinha.

Meu pai me acusou de ter voltado para São Francisco por

causa da Daphne e não neguei, por parte foi isso mesmo, mas ele

nunca me entenderia se passasse todo o tempo só me criticando.

― Não sei se vai ser uma boa ideia você ir comigo, não

cheguei a avisar a Daphne ― digo para minha irmã, que está ao

meu lado no assento do passageiro, enquanto dirijo para a casa de

Daphne.

Olho para ela por alguns segundos, ela não parecendo se

importar, está mais preocupada em conhecer a sobrinha, e ela me

encheu tanto com isso que tive de ceder em trazê-la em uma das

minhas várias visitas para estar perto de Rose e Daphne.


― Ainda mais agora que estou tentando conquistar a Daphne

― Tenho sua atenção em mim como imaginei.

― E me diz, irmão, o que você está fazendo para causar esse

efeito? ― Entorto a boca, me sentindo contrariado. ― Como vai

conseguir isso, sendo que não está fazendo esforço nenhum?

― Eu não estou forçando nada, minha presença constante na

vida delas já não é alguma coisa? ― pergunto, ofendido.

― Sim, mas não o suficiente, pelo jeito você está precisando

da ajudinha da sua irmã aqui.

Dou risada, assentindo. Eu ainda tenho muito o que fazer

para mostrar para Daphne que a quero na minha vida, não como

mãe da minha filha, mas como minha mulher.

A cada dia que passa, eu vejo o quanto fico ainda mais

apaixonado por ela.


No nosso primeiro mês, a minha aproximação não foi fácil, ela

não me proibiu de estar perto da Rose, pelo contrário, me incentiva

conhecer mais nossa garotinha. Aos poucos ela foi me deixando ter

mais de sua atenção, me contando como foi sua gravidez,

mostrando alguns álbuns de fotos de ensaio com sua barriga

enorme.

Como me arrependi de ter ido embora... Não teria perdido

nada da sua gravidez se tivesse ficado.

Ela ficou tão linda, fui capaz de sentir a aura que ela passava

com seu sorriso e brilho nos olhos pelas fotos.

No segundo mês, já me via tão conectado com Rose, minha

presença constante e o tempo que passava com ela no colo, falando

e brincando, fez com que me abrisse sorrisos todas vezes que eu

chegava e ia falar com ela.


Já não sei mais o que é viver sem minha filha. E, agora, com

seus quase quatro meses, está ainda mais esperta, com seus

sorrisos banguelos e começando a fazer seus barulhinhos com a

boca.

Rose se tornou meu tudo.

Minha felicidade dobrou quando pude registrá-la com meu

sobrenome, por que eu precisava esperar? Eu sabia que ela era

minha filha. Eu conseguia sentir o quanto Daphne se sentia com

medo, como se esperasse que a qualquer momento eu pedisse o

exame de DNA ou algo do tipo.

Ainda não conseguimos finalizar a conversa que começamos

no dia que voltei, ela parece sempre estar fugindo.

Mal parei o carro e Leah já foi tirando o cinto e saindo. Solto

uma risada ao me juntar a ela na calçada.


Bato na porta da casa de Daphne como todas as vezes e

espero ela ser aberta pela visão linda dela, com seus cabelos loiros,

caídos em ondas pelas suas costas, seus olhos azuis intensos que,

por ora, ficam cinzas, dependendo muito do seu humor.

Sorrio ao vê-la abrir a porta, com Rose no colo. Esse é com

certeza meu momento preferido do dia e eu amo.

― Oi. ― Ela sorri sem graça ao ver minha irmã ao meu lado,

com os dedos coçando para poder pegar Rose, seus olhos não

saem dela.

― Espero que não se importe. ― Faço um gesto com a

cabeça para Leah, que nem se importa com a nossa presença. ―

Ela queria muito conhecer a sobrinha.

― Está tudo bem ― responde, me olhando. ― Você quer

pegá-la? ― É a vez da minha irmã ter atenção de Daph.


― Jura? Eu posso? ― A euforia de Leah pode ser sentida à

distância.

― Claro.

Daphne segura melhor Rose pelas costas, a virando para a

tia babona, que mesmo com a ansiedade, a pega com calma,

abrindo um sorriso bobo de quando estamos perto de alguma

criança.

― Oi, bebê. Sabe quem eu sou? É a titia Leah. ― Sua voz vai

ficando mais fina à medida que vai conversando com ela, e vejo

minha irmã se derreter quando minha filha abre um sorriso grande,

mostrando suas gengivas rosinhas. ― Eu estou apaixonada por

ela.

Daphne dá risada, deixando um pouco o nervosismo ir

embora. Ela sabe que minha irmã foi a única a aceitar tudo tão bem,

mas mesmo assim a insegurança estava lá.


Leah entra, deixando Daphne e eu para trás, e aproveito esse

tempinho para saber como ela está.

― Desculpa por ter trazido minha irmã sem avisar, mas ela

não parava de me cobrar.

― Como eu disse antes, está tudo bem. Ela merece conhecer

a sobrinha, só fiquei surpresa. ― Aquiesço, entendendo.

― Como você está? ― pergunto, percebendo o quanto ela

está arrumada e linda.

Daphne, mesmo depois da Rose, tem se cuidado, como

sempre fez, e me sinto enciumado por saber que todos os homens a

desejam quando a veem. Assim como eu, meu corpo esquenta por

querê-la tanto.

― Estou bem e você?

Sorrio ao vê-la fugindo do meu olhar analítico.


― Estou bem. Edward voltou a aparecer? ― Meu sangue

ferve ao lembrar do canalha e a forma que tratou Lisa e Daphne.

― Não.

Não gosto de pensar que ele pode aparecer aqui quando eu

não estiver por perto, quero sempre poder protegê-las, mesmo

Daphne tendo me mostrado de várias formas que não é necessário.

Sem saber como puxar a conversa que tanto quero com ela,

perco a chance quando ela se afasta para entrar na sala logo em

seguida quando não digo mais nada e ficamos em silêncio por

alguns segundos. Eu a sigo, bufando por ter demorado demais e

perdido a oportunidade.

Quando entro no cômodo, Leah está de pé, balançando Rose,

que sorri, e Lisa ao seu lado, fazendo algumas brincadeiras para

Rose. Fico surpreso ao ver que as duas já parecem estar se dando

bem em poucos minutos.


― Vejo que já conheceu a Leah, irmã do Thomas ― Daph

diz, e as duas param o que estão fazendo para nos olhar.

― Sim ― Lisa responde, voltando seus olhos para minha

irmã, que parece retribuir um sorriso cúmplice em troca.

― Na verdade, já nos conhecemos ― Leah diz. ― E é uma

coincidência saber que ela é sua filha.

― Vocês se conhecem de onde? ― pergunto curioso,

parecendo deixar passar algum detalhe, Daph parece curiosa assim

como eu, que me olha erguendo as sobrancelhas.

― Leah é amiga da Blenda ― Lisa responde.

Para mim, não é estranho achar que tem algo a mais por trás

disso. Minha relação com Lisa não está mal, mas também não

parece ter evoluído. Ela já aceitou a minha presença por causa de

Rose, só que vejo o quanto está chateada.


A gente estava se tornando amigos depois do clima

embaraçoso que foi na época que me declarei a ela. Enfim, isso

mudou depois de ela saber que sua mãe e eu estávamos tendo

algo.

― Vocês poderiam ir jantar juntos, Lisa e eu ficamos com a

Rose ― Olho para mim irmã, entendo o que ela está querendo

fazer. ― Não é mesmo, Lisa?

Mesmo fazendo uma careta, assente. Daphne se revela

incerta com a sugestão, e fico chateado por achar que ela continua

querendo fugir de mim.

― Não sei se é uma boa ideia ― responde a Leah, não me

olhando.

― Claro que é uma boa ideia, mãe ― Lisa ajuda. ― Faz um

tempo que não sai, e tenho certeza que está precisando disso.
― E se Rose precisar de mim? Ela ainda está mamando.

Minha irmã faz um gesto com a cabeça para ajudar na

situação.

― As meninas estão certas, vai ser só um jantar. Você pode

tirar um pouco de leite e deixar em algumas mamadeiras. Podemos

até ir em um lugar perto para não te deixar tão preocupada.

Daphne parece pensar melhor e acaba cedendo.

― Com a condição de que vão me ligar se precisarem de

mim.

Elas anuem, minha irmã com um sorriso enorme, não

escondendo o quanto está feliz por sua ideia estar dando certo. Ela

sugere ajudá-la a se arrumar, e Lisa sobe junto.

Rose fica comigo na sala, e quando me sento no sofá, a

deitando nas minhas pernas, ela me olha com seus olhinhos


curiosos, com os dedinhos na boca, sendo babados.

― Então, mocinha, acha que eu consigo conquistar a sua

mãe? ― ela não responde. ― Seria pedir demais que se comporte

para eu poder passar um tempo longo com ela?

Sua boquinha faz um bico, sendo desmanchado quando ela

esfrega a mãozinha em punho nele, abrindo um sorriso para mim.

― Sua espertinha. ― Abaixo a cabeça na sua barriguinha,

fazendo cócegas, escutando os barulhinhos que ela solta. ― Você é

o maior presente que eu poderia ter recebido em toda a minha vida.

Beijo sua barriguinha.

― Você tem me mudado tanto, minha filha, que só tenho a

agradecer ao universo por ter mandado você.

Não preciso esperar muito. Daphne desce as escadas com

Lisa e Leah atrás. Não preciso nem dizer o quanto ela está linda
com um vestido florido de saltos vermelhos da mesma cor do batom

nos seus lábios.

― Uau! ― Levanto ao dizer, não conseguindo desviar os

olhos dela.

― Exagerei? ― Vejo suas mãos nervosas e constato que não

sou só eu.

― Não, você está deslumbrante. Podemos ir?

Assente, mordendo o lábio. Ela pega a Rose, deixando um

beijo em sua bochecha, conversando com ela e explicando que

voltaria logo. Informa às meninas sobre o leite que havia tirado do

peito, fazendo elas prometerem ligar se algo acontecesse.

― Mãe, só vai logo e se divirta ― Lisa pede, tirando Rose dos

seus braços. ― E, por favor, dê prejuízo para Thomas, escolha a

comida mais cara.


Dou risada, pegando a Lisa sorrindo pela piada, não estava

de todo mal no conceito dela, isso já é um começo.

Fiz ao contrário, levei Daphne a um restaurante um pouco

longe da sua casa, e ela não pareceu perceber o nervosismo que eu

conseguia sentir dela. Abro a porta do carro para ela quando

chegamos no restaurante, aproveitando para guiá-la para dentro

com minha mão na sua cintura.

Deixo que ela escolha o vinho, tentando ao máximo deixar o

clima leve para que possa se sentir à vontade. Espero que ela

relaxe, se sentindo bem no ambiente e observando ao redor para

poder puxar assunto. Não quero perder a oportunidade.

― A gente não conseguiu terminar a nossa conversa desde

que voltei, e você tem aproveitado qualquer oportunidade para fugir

disso.
Ela me olha, tendo a capacidade de se fingir ofendida e

sorrio.

― É impressão sua, Thomas.

― Não, não é ― pauso, um suspiro cansado saindo pela

minha boca. ― Daphne, me sinto mal por ter ido embora e não ter

facilitado nada em deixar pelo menos um contato para que pudesse

falar comigo.

Ela fixa atenção na sua taça para não me encarar.

― Mas também acho que essa distância foi importante para

mim, com ela aprendi muitas coisas, principalmente sobre mim

mesmo, o que eu quero da minha vida e sobre você.

Eu tenho a atenção dela agora, sua curiosidade e ansiedade

para me ouvir terminar de falar.


― O ponto forte da minha decisão de voltar foi por sua causa.

Me arrependo de ter ido embora e ter aceitado sua decisão sem

antes lutar por você, só me toquei de que estava… ― Dou risada.

― Porra, de que estou muito apaixonado por você quando cheguei

em Seattle.

Daphne não consegue esconder o quanto estou mexendo

com ela em confessar o que estou sentindo.

― Como eu disse, foi importante a distância, mas não o fato

de ter deixado você sem um jeito de falar comigo. Saí de Seattle

com o pensamento de ir diretamente te ver, só não esperava

encontrar a garotinha que mudou a minha vida. Sinto muito por ter

perdido muita coisa relacionado a ela, mas agora vai ser diferente,

vou estar presente.

Percebo o quanto Daph está sensível pelos seus olhos, eles

brilham, lágrimas acumuladas. Para a gente, o mundo à nossa volta


parou só para termos esse momento, essa conversa.

― Não quero ser só o pai da Rose, Daph, quero ser algo para

você também. Quero ser seu amigo, seu parceiro na criação da

nossa menininha, seu companheiro, alguém que você pode contar

para qualquer coisa e, além disso, o homem certo na sua vida, que

a faça feliz e bem ― declaro, indo direto ao ponto.

O garçom chega com o cardápio para escolhermos o nosso

pedido, e escuto Daphne soltar uma risadinha nervosa, secando o

resto das lágrimas. Fico irritado por dentro, pelo fato de ele ter

atrapalhado no melhor momento, mas entendo que é o seu trabalho.

Quando ele se afasta com os nossos pedidos anotados, meus

olhos ainda estão em Daphne, que voltou a esquivar os seus de

mim.

Agora sou eu que solto uma risada nervosa, não sei nem se

estou conseguindo expressar o que estou querendo. Sou idiota


nessas coisas, em toda a minha vida não achei que chegaria a ficar

tão nervoso em dizer o que sinto para uma mulher, ainda mais ela

sendo Daphne, a mulher que virou minha vida do avesso, mas de

um jeito bom.

Bom, Lisa não conta, porque o que estava sentindo por ela

naquela época não chega nem perto do que sinto pela sua mãe,

considero aquilo um nível de carência.

― Daphne ― a chamo, esticando a minha mão para pegar a

dela.

Ela olha para as nossas mãos juntas, e tenho certeza que

sente a mesma coisa que eu nesse momento, nossas peles

quentes, causando uma eletricidade pelo nosso corpo.

― Eu sei que você sente algo por mim também. Posso ver o

que causo em você assim como naquela época, estávamos tão

apaixonados um pelo outro…


― Não fale essas coisas, Thomas ― pede, tentando afastar

sua mão da minha, porém não deixo.

― Por quê? Você não vê o quanto quero ficar com você?

Tenho tentado demonstrar a cada dia em que voltei, só que você

não percebe.

― Claro que percebo, só não acho que vai dar certo. Somos

de mundos diferentes, Thomas. Temos idades diferentes, você é

jovem, pode curtir tudo o que deseja sem estar preso a uma pessoa

com bagagem e uma história.

― Você com isso de novo? ― pergunto, indignado, não com

ela, mas com o fato de não saber o que fazer para mostrar a ela que

não quero nada além dela e de Rose na minha vida.

― Porque é a verdade ― ela diz, e olha para os lados. Eu

faço o mesmo, só agora percebo a maneira que algumas pessoas


próximas nos olham curiosas, e percebo o quanto ser julgada por

causa dos números da nossa idade a afeta.

Ela tem medo de arriscar, passou anos da sua vida com um

cara que a fez sofrer, e algo novo chegar na sua vida assim, mexe

com ela.

― Isso não deveria importar a você. Sua independência,

determinação e escolhas foram o que mais me chamou a atenção,

você me mostrou muita coisa da qual eu precisava para tomar as

minhas próprias decisões, talvez você não veja isso, mas você é

tudo, Daphne, e não quero que deixe de querer o que quer por

causa do que outras pessoas vão falar.

Seus olhos piscam frenéticos para afastar a vontade de

chorar.

― Não se importe com elas, vamos curtir a nossa noite ― me

refiro às pessoas à nossa volta. ― E se você quiser, curtir nós dois,


o que podemos ser um para o outro, a escolha vai ser sua, sempre.

Ela abre um sorriso gostoso, que tenho vontade de fechar

com a minha boca na dela.

― Tudo bem.

Não me importo de Daphne não retribuir agora as minhas

palavras, só quero que ela pense nisso tudo, levando o tempo que

for, mas com a certeza de que, no final, ela me deixará fazer parte

da sua vida.
Daphne

Fiz o que Thomas me disse, desliguei as pessoas ao meu

redor, e foquei só nele, no nosso jantar e no que ele significava para

a gente.

Me sinto linda e radiante em todo o momento ter seus olhos

em mim, a forma que ele demonstra me desejar... E eu achando que

isso mudaria depois da Rose.

Agora meu corpo está voltando ao que era antes, a minha

alimentação, os meus cuidados comigo mesma.


Escuto Thomas me contar um episódio que aconteceu em

Seattle ― Seattle, nunca imaginaria que estaria por lá ― que em

uma manhã ele estava em um Café e conheceu um homem e seu

filho, desesperado, precisando de ajuda e foi assim que ele acabou

sendo colocado a segurar o bebê enquanto o pai ia até o balcão

buscar seu pedido. Dei risada enquanto ia me contando toda a

cena, e como ficou com medo de derrubar o bebê.

― Enquanto eu conversava com ele, imaginei como seria ter

um filho com você, no quanto me sentiria realizado. Naquele

momento desejei tanto isso, e para a minha surpresa quando voltei

e encontrei com a Rose, foi lembrar o que tinha desejado antes.

Tudo o que ele me disse, dizendo decidido que quer estar na

minha vida, com todas as letras, faz com que eu não consiga

raciocinar direito.
O pego olhando na altura dos meus seios, e fico constrangida

quando baixo os olhos e vejo uma mancha se formando no meu

vestido.

― Ai, merda ― coloco a mão na frente deles, como se isso

fosse adiantar. ― Vou precisar ir ao banheiro ― digo, já me

levantando, envergonhada com a situação.

Meus peitos estão tão cheios de leite que estão vazando.

Sem a Rose para esvaziá-los, seria dolorido passar todo o momento

com Thomas com eles cheios.

Na minha bolsa, encontro um absorvente próprio para os

seios e torço para que eles aguentem até chegar em casa. Com

alguns papéis toalhas que pego na bancada do banheiro, tento

secar o meu vestido que ficou manchado com o leite e acabo tendo

um resultado melhor. Na volta para a mesa, Thomas me espera

paciente e sorri quando sento na cadeira.


― Me desculpa. Geralmente essa hora Rose está grudada no

meu peito. ― Sorrio, pendurando minha bolsa no encosto da

cadeira.

― Não precisa se desculpar, como poderia estranhar, sendo

que é por esse ato que alimenta a nossa filha, deixando ela mais

forte? É algo lindo, Daph, de forma geral, que as mulheres se doam

tanto para os filhos.

Me sinto uma tola por estar tão emocionada ouvindo ele dizer

tudo isso, de uma forma orgulhosa.

― Você não imagina o que sinto te vendo fazer tudo isso pela

nossa filha.

Só consigo sorrir e me sentir uma boboca apaixonada e

envergonhada.
― Obrigada pelas palavras e por isso. ― Faço um gesto com

as mãos para o jantar, o clima gostoso que está e o fato de ele ser

sincero comigo em tudo.

Assim que entramos no carro, ele me pergunta se pode me

levar a um lugar antes de voltarmos para minha casa, mesmo com

uma saudade louca da Rose para poder estar juntinho dela, aceito,

ansiosa pelo que ele quer me mostrar.

Ele é ousado em estender a mão para pegar a minha e

segurá-la enquanto dirige. Sorrio por dentro, com a sensação

gostosa que esse gesto causa em mim.

O caminho que ele segue se distancia um pouco da cidade, e

quando ele pega uma rua com subida, percebo para onde estamos

indo. Twin Peaks.

Logo as duas montanhas quase idênticas começam a

aparecer no nosso campo de visão. Twin Peaks é o segundo ponto


mais alto de São Francisco e nos dá uma das vistas mais lindas da

cidade.

Quando Thomas para o carro e abrimos a porta, consigo

sentir o vento forte passar pelo meu corpo. Ele para atrás de mim,

colocando uma manta macia e quente nos meus ombros. Seguro-a

para que elas possam abraçar meu corpo e, com isso, subimos a

montanha para termos uma visão melhor da cidade.

Já no alto, Thomas não tira sua mão de mim, presa em minha

cintura. Além da paisagem linda de tirar o fôlego que Twin Peaks

nos causa, ter Thomas juntinho de mim, com seu calor acolhedor e

ao mesmo tempo irresistível.

Thomas me abraça por trás enquanto temos a vista da baía.

Mesmo com o frio que está, dá para aproveitar cada segundo.

As luzes lá embaixo, mostram o tanto que nossa cidade é

grande, com pessoas vivendo suas vidas de tantas formas, sejam


elas certas ou não, não é todo mundo que tem direito a uma

escolha.

Isso tudo me mostra que eu tenho o poder da escolha, e a

chegada de Thomas na minha vida me mudou, e eu nunca mais

serei a mesma sem ele.

Estou tão tomada de amor por ele, posso até tentar fugir

desse sentimento, mas será inútil.

Eu não terei resposta do que pode acontecer com a gente

daqui a uns dias, semanas, meses ou anos, só sei que quero viver

tudo com ele

― Não seja tão cautelosa, Daphne, se permita viver o que

temos agora ― sussurra no meu pescoço, causando arrepio no meu

corpo.
Me viro para ele, nossos rostos afastados por poucos

centímetros. Nossas respirações se misturam com o clima frio da

montanha. Seus olhos parecendo me incendiar toda pela forma que

me olha.

Levanto minha mão, para tocar seu rosto, meus dedos

passando pela sua bochecha, nariz e descendo para sua boca

carnuda e desejosa.

― Não vou ser ― respondo, e sei que quando

eu junto nossas bocas em um beijo cheio de saudades, eu tomo a

decisão.

Thomas me aperta em seus braços, aprofundando o beijo e

gememos quando nossas línguas se tocam, me tirando o fôlego.

― Senti tanta falta de você, por favor não me afaste ― pede,

juntando a testa na minha, deixando beijos pelo meu rosto, me

causando cócegas por causa da sua barba.


― Eu também senti sua falta.

Passo o braço pelo seu pescoço para o abraçar e transmitir o

quanto é verdade o que eu disse.

Não sei quanto tempo ficamos no monte, quando fomos

embora, o sentimento de felicidade e leveza tomava meu corpo e

parecia ser a mesma coisa com Thomas, que no caminho todo me

mostrava isso na forma de toque.

― Quer vir almoçar aqui amanhã? Assim você pode conhecer

meus amigos também ― falo depois de um tempo dentro do carro

com ele, parados na frente de casa.

― Claro. ― Ele segura meu rosto para me beijar. ― Será que

vou sair vivo do almoço?

― Bom, a Olívia e Karen sabem ser bem intimidantes, mas a

pessoa com quem você precisa tomar cuidado mesmo é o Brendon.


Começo a rir pela sua expressão, ele nem imagina que, na

verdade, meu amigo só tem cara de sério, porque no fundo mesmo

não amedronta ninguém.

― E claro, ainda tem Lisa.

― Com ela consigo lidar, eu acho. ― Rimos.

Na verdade, desde que tomei a decisão de deixar levar as

coisas entre mim e Thomas, sem colocar rótulos agora, é a primeira

vez que penso na minha filha, e mesmo que a opinião dela na minha

vida faça toda diferença, desejo do fundo do meu coração que ela

entenda que Thomas me faz bem.

Já não existe mais a distância entre a gente, nos

reaproximamos muito desde que ela se abriu comigo e isso tem

mudado muito. Venho descobrindo coisas novas na minha filha que

nunca tinha percebido antes ou que ela não me permitia saber.


Edward sumiu e tenho medo do que pode acontecer quando

voltar a aparecer e afetar Lisa, que não quer saber dele. Eu sei o

quanto a reação do pai dela a abalou, Lisa o tinha como o melhor

pai do mundo, e isso se quebrou. Minha filha é forte, assim como

eu, e ela tem se mostrado muito determinada em esquecer o que

aconteceu e seguir a vida dela, mesmo que lembrar de Edward

ainda a machuque.

Essa está sendo uma nova etapa das nossas vidas, e estou

muito feliz por estarmos passando por ela juntas.


Thomas

Já se passaram mais de dois meses, e estou em choque com

como Rose tem crescido rápido, está fazendo seis meses hoje.

Estou com ela, no seu quartinho sentado na poltrona de

amamentação. Ela está deitada nas minhas pernas, como costumo

colocar, fazendo barulhinhos na sua barriga para escutar sua risada

gostosa. Ela quase não está cabendo mais no meu colo de tanto

que vem crescendo.

― Você está ficando tão sapeca ― digo quando ela segura

meu cabelo para puxar e, assim, afastar minha boca da sua barriga.
Ela veste um vestido rosa claro rodado, com uma tiara da

mesma cor e sapatinhos brancos. Hoje vai ser a primeira vez que

meus pais vão conhecer Rose, e de alguma forma estou nervoso,

não só eu, mas Daphne não se aguenta.

Ela está neste momento se arrumando enquanto fico com

nossa filha.

Tem sido os dois meses mais felizes da minha vida. Daphne

nos deu uma chance, e as coisas estão indo no ritmo dela: calmo e

devagar. Então isso me faz vir dormir aqui umas duas vezes durante

a semana.

Voltei para a faculdade, mesmo ainda cursando várias

matérias, isso não é problema para mim, sei que uma hora vou

encontrar minha vocação. Ainda vou à empresa ajudar meu pai em

algumas coisas, com ele ciente de que é temporário.

A minha relação com ele tem muito o que melhorar ainda.


Levanto a cabeça quando escuto batidas na porta aberta do

quarto de Rose, achando que é Daphne, olho em direção dela e

encontro Lisa.

― Oi ― diz, ao entrar no quarto. ― Minha mãe está se

arrumando?

― Sim. Tem certeza que não quer ir com a gente? Leah vai

estar lá, vai ser bom ter você como companhia, já que atenção da

noite vai estar para Daphne e Rose.

Ela ri, negando com a cabeça.

― Tenho. Vou ficar para estudar uma matéria que ando indo

mal ― aponta com o polegar para trás das costas, se referindo ao

seu quarto.

― Não quer ajuda? ― Me levanto, escutando Rose protestar

por ter acabado com a brincadeira dela de puxar meu cabelo. ―


Posso dar uma olhada na matéria.

― Não precisa, professor Hodges ― dou risada.

Ela sabe que dou aulas particulares, já a ajudei em algumas

na época em que eu achava estar apaixonado por ela.

― No seu caso, eu não ia cobrar nada. ― Sorrimos. ― Você

está bem?

Nossa relação tem mudado bastante também, ela tem me

aceitado por estar mais presente na sua casa, então estamos

sempre nos esbarrando.

― Sim. ― Assente.

Ela abaixa a cabeça para prestar atenção nos dedos,

enquanto os retorce.
― Tom ― Lisa levanta a cabeça para me olhar. ― Eu não

disse nada ainda, mas quero pedir desculpa pela forma que te tratei

quando soube de você e minha mãe.

― Lisa…

― Não, deixa eu terminar, não devia ter ficado daquele jeito,

mas ainda estava tão fragilizada pela separação dos meus pais, que

não queria aceitar, é aquela bobeira de filhos sonharem que os pais

voltem depois da separação. ― Ela ri, sem achar realmente graça.

― Está tudo bem.

― Eu sempre fui apegada ao meu pai, bem mais que na

minha mãe, então mesmo que ele tivesse errado em traí-la, eu

desejava que tudo fosse esquecido. Para mim, não haveria erro se

ele se arrependesse. Mas depois do que houve, em como me

tratou…
Ela vira o rosto para eu não vê-la chorar e o enxuga.

― Enfim, tudo mudou e percebi como ele é de verdade.

― Imagino como isso deve ter doído para você. ― Anui

concordando.

― Nem sei porque estou dizendo isso para você ― diz

constrangida.

― Talvez seja porque estava precisando desabafar.

Rose estende a mãozinha para a irmã, como se soubesse

que ela precisa ser consolada e Lisa a pega, com um sorriso no

rosto, beijando a bochecha da irmã.

― Quando eu soube que minha mãe estava grávida de você,

não sabia como reagir, porque naquele momento estava te odiando,

e magoada com ela, mesmo sabendo que errei da forma que agi.
Assinto, mostrando que estou entendendo, mesmo que ela

não veja, pois sua atenção está em Rose, que está interessada em

tirar a tiara da cabeça.

― Por incrível que pareça, no fundo eu gostei da ideia de ter

um irmão ou irmã e foi dessa forma, apoiando minha mãe que

voltamos a nos aproximar. O que eu estou querendo dizer, Thomas,

é que agora eu vejo a importância de apoiá-la, amo ver o quanto ela

está feliz com você, e seria assim se eu não tivesse reagido daquela

forma, você perdeu a gravidez dela por minha causa.

― Não é verdade, era para ter acontecido da forma que

aconteceu, ninguém sabe se estaríamos juntos se tivesse

acontecido diferente, e mesmo que eu tenha perdido muita coisa

estando longe, a distância foi boa para todo mundo.

― Sim.
― Ficar longe da sua mãe foi horrível, eu estava apaixonado

por ela e só percebi isso longe. Eu quero que acredite em mim

quando digo que a amo e quero fazê-la feliz.

― Eu acredito. Agora acredito. E não me importo com a

diferença de idade de vocês, aprendi que amor a gente não

escolhe.

Suas palavras sábias me mostram o tanto que ela vem

amadurecendo.

― Obrigada, Lisa. Ter o seu apoio é algo importante para mim

e principalmente para sua mãe ― pauso. ― Eu sei que as coisas

não se saíram bem com a nossa amizade, mas quero que seja

diferente agora. Quero voltar a ser seu amigo, estou aqui se precisar

de alguma coisa.

― É bom saber disso. ― Me olha nos olhos pela primeira vez

que entrou neste quarto e sorri. ― Só peço para fazer minha mãe
feliz, ela merece isso.

― Não tenha dúvida disso.

Ela beija Rose mais uma vez nos rosto, e me entrega, que

sorri ao levar a mão ao meu rosto e receber a cócega da minha

barba.

― Bom jantar a vocês ― se despede, indo para fora do

quarto, mas para, se virando enquanto segura no batente da porta

branca. ― Mais uma coisa, vou deixar que você conte a ela sobre

como se declarou pra mim no começo da nossa amizade.

Ela dá risada, me vendo levar a mão ao rosto por ter

esquecido esse pequeno detalhe, seus passos sendo ouvidos ao

distanciar do quarto. Não lembrava de falar sobre isso com Daphne

porque considerava isso sem importância. Bom, isso é algo que

preciso mudar.
Daphne aparece alguns minutos depois no quarto de Rose,

arrumada e toda perfumada, e eu louco para poder agarrá-la e jogá-

la na sua cama e adorar todo o seu corpo a noite toda.

― Acha que exagerei? Quero causar uma boa impressão aos

seus pais. ― Se aproxima ao mesmo tempo em que vai dizendo.

― Não se preocupe com isso, você os impressionou no

momento em que fez a festa da empresa bombar ― Arrumo Rose

melhor no meu braço, para poder passar o outro pela cintura da sua

mãe e poder beijá-la. ― Você está linda.

Ela ignora meu elogio, ainda preocupada com a reação dos

meus pais.

― Mas isso faz muito tempo ― declara ao afastar seus lábios

dos meus.

― Não faz diferença. Está pronta? Acha que já podemos ir?


Assente.

Entrego Rose para ela, para pegar a bolsa e a cadeirinha

para colocar no carro. Rose faz birra quando se encontra no colo da

mãe, seu rostinho fechado para chorar, querendo voltar para mim.

― Você anda mimando muito essa menina ― a revolta em

sua voz me faz rir, mas sei que isso é ciúmes.

― Ela só quer passar um tempo a mais com o pai, é normal,

amor ― me defendo, a seguindo para fora do cômodo.

Daph conversa com ela para acalmá-la e me seguro para não

rir mais. Com Rose já na cadeirinha e Daphne atrás para olhá-la,

seguimos para a casa dos Hodges.

Durante o trajeto, eu lembro da conversa que tive com Lisa e

olho pelo retrovisor para olhar Daphne previamente para começar a

falar.
― Lisa e eu conversamos durante o tempo em que estava se

arrumando ― começo e tenho sua atenção quando volto a olhar

pelo retrovisor, sua expressão cautelosa. ― Precisávamos ter essa

conversa e foi muito bom o esclarecimento.

Não conto exatamente tudo o que Lisa disse a mim, pois era

algo dela, mas conto sobre o que ela achava da nossa relação e

Daphne parece mais relaxada.

― Ela aceitou bem quando eu disse que queria tentar dar

uma chance a nós dois ― Daph diz.

Daphne tinha me contado sobre isso, eu lembrava bem de

como ela ficou feliz.

― Enquanto nós dois conversávamos, ela lembrou de algo

que aconteceu logo que eu e ela nos conhecemos, e preciso te

contar.
― O que é?

― É meio constrangedor. ― Gargalho nervosamente com

medo da reação dela. ― Vamos lá, quando conheci a Lisa pelo

grupo de amigos que tínhamos em comum, fiquei encantado por ela

e achei, na época, que estava apaixonado por ela, hoje percebo que

aquilo não era paixão, acho que estava impressionado com a

personalidade dela, e isso de alguma forma me chamou atenção.

Fico com medo de olhar pelo retrovisor novamente, então só

continuo dizendo.

― Em uma noite de festa de algum calouro da universidade,

eu bebi um pouco para tomar coragem para confessar o que estava

sentindo e fui à procura dela pela casa, e quando a encontrei, ela

estava com a Blenda. Ah... estavam se beijando e eu fiquei com

ego ferido porque aparentemente todo mundo sabia que ela não

gostava de mim, menos eu.


O silêncio vem, e depois disso uma gargalhada alta e

humorada. Me assusto um pouco, essa não era a reação que eu

imaginava. Olho pelo retrovisor mais uma vez, Daphne tem a mão

na boca para tentar conter a risada, mas é falha.

― Daphne?

― Eu… ― Ela para de rir, tentando se recuperar, até

escutarmos a gargalhada de Rose, rindo sem entender a situação, e

assim Daph cai na risada de novo, e acabo me levando pela cena e

acompanho as duas.

Foi preciso parar o carro para me recompor, fazendo isso,

olho para trás para assim poder ver o que Daphne achou de toda

essa história.

Ela me olha, com um sorriso no rosto, e não entendo como

ela pode achar engraçado, acabei de confessar que antes de


conhecê-la, achei que estava apaixonado pela sua filha e

praticamente me declarei a ela.

― Amor? Você não está brava?

Negando com a cabeça. Ela se aproxima de mim depois de

tirar o cinto, segurando o meu rosto.

― Por que estaria? ― pergunta.

― Porque era essa reação que eu esperava de você, não o

contrário ― Ela continua a sorrir, amorosa dessa vez.

― Lisa me contou essa história há alguns dias, e tive a

mesma reação que estou tendo agora. ― Eu me sinto um bobo, é

claro que mãe e filha não teriam segredos.

― E por que não me contou? Estava angustiado, com medo

de você ficar brava comigo ou até mesmo… não sei ― confesso

sincero.
― Não contei porque queria ouvir de você primeiro e não teria

graça nenhuma não poder rir de você depois ― Daph dá de ombros

ao dizer, e eu semicerro os olhos, me sentindo um idiota. ―

Obrigada por me contar e está tudo bem, Thomas.

― Mesmo? ― Ela assente com a cabeça, deixando um beijo

casto nos meus lábios antes de voltar para o lugar, passar o cinto de

segurança e sorrir para a nossa garotinha, que nos olha curiosa com

a mão na boca.

Volto a dirigir mais aliviado, vez ou outra olhando para ela

pelo retrovisor, pegando seu olhar em mim, aquele olhar que aquece

a minha alma, que através dele ela confessa que me ama.

Daphne retorce a mão, me mostrando o quando está nervosa,

enquanto vamos caminhando em direção à porta. Lembro de ter


visto esse mesmo gesto hoje, só que com pessoas diferentes.

Daphne e Lisa eram iguais e ao mesmo tempo tão diferentes.

― Respira fundo, se acalma, vai dar tudo certo, está se

preocupando à toa.

― Não devia ser o contrário? Claro, se eu ainda tivesse meus

pais vivos, era para você estar nervoso em conhecer os sogros e

não eu.

Dou risada.

― Podemos ir embora e voltar outro dia?

Paro ao ouvir sua pergunta. Com Rose no braço, toco seu

rosto para que ela foque em mim.

― Ei, vai dar tudo certo, e se por algum acaso não dê, não

vamos precisar ficar, vamos embora, curtir a noite nós quatro na sua

casa, com algum filme bobo.


― Quatro?

― Sim, Você, Rose, Lisa e eu. Como uma família.

Consigo tirar um sorriso dela, e planto um beijo na sua testa,

pegando sua mão para encorajá-la, só a solto para bater na porta.

Leah abre a porta e solta um gritinho quando vê a sobrinha,

que levanta os braços para ela.

― Oi, coisa linda da tia. ― Leah beija sua bochecha antes de

olhar para nós dois. ― Lisa não veio?

― Não, infelizmente precisou ficar para estudar ― Daphne

responde, e retribui o abraço de Leah quando a mesma se aproxima

para cumprimentá-la melhor.

― Uma pena ― minha irmã responde pensativa, mas logo

minha atenção muda dela para o movimento de passos se

aproximando do corredor que dá para a entrada da casa.


Meus pais aparecem, e Daphne aperta minha mão quando os

vê. Minha mãe esbanja um sorriso simpático, enquanto meu pai

analisa toda a cena, focando primeiramente na minha namorada

para depois olhar a bebê no colo da minha irmã.

― Seja bem-vinda, sinta se em casa ― minha mãe diz,

caminhando em nossa direção para cumprimentar a gente.

Seus olhos brilhando em direção a Rose, mas sabia que ela

estava tentando se conter e se fazer de difícil.

Sarah beija o rosto de Daphne ainda sorrindo, chegando a

minha vez de receber um beijo no rosto.

― Oi, querido ― me cumprimenta. ― Fico feliz que tenha

aceitado vir, Coleman ― fala ao se voltar para Daphne novamente.

― Me chame de Daphne, por favor. Eu agradeço o convite.


Enfim, sem aguentar mais, minha mãe se vira em direção à

minha irmã com minha filha no colo.

― Essa é minha netinha? ― Rose olha para ela curiosa,

minha mãe pega sua mãozinha, para ganhar confiança dela. ―

Você é linda, tem os olhos do seu pai.

Sorrio quando Rose abre um sorriso para minha mãe,

encantando sua avó, como achei que seria, e meu pai, que até

então estava afastado, observando, se aproxima. Seu rosto carrega

uma expressão séria, mas consigo perceber a curiosidade no seu

olhar para Rose.

― Olha, querido, como ela é linda ― minha mãe diz a ele,

que somente aquiesce. Consigo prever o quanto minha filha vai

amolecer o coração do seu avô, talvez seja ela a guiar Jeffrey e eu a

um relacionamento de pai e filho novamente.


― Pode pegá-la, mãe ― eu digo à minha mãe, que fica

radiante com a autorização, ela, assim como Daphne, não sabe

como reagir.

Meu pai, se vira para Daphne e eu, e eu vejo que ainda vou

precisar dobrá-lo.

― Prazer em revê-la, Coleman.

― O senhor também ― ela retribuiu o cumprimento.

A tensão é tão palpável, que penso se em algum momento

nessa noite isso vai mudar.

Meu pai deixava tudo mais desconfortável com tantos

interrogatórios para cima de Daphne, eu já estava ficando irritado.

Leah e minha mãe ainda tentavam deixar o clima mais leve, mas o

meu pai não estava colaborando e eu retribui de forma ousada para

irritá-lo também.
Isso tudo mudou horas depois em que estávamos sentados

jantando e minha mãe colocou Rose nos braços do meu pai para ele

segurá-la. Ele negou de todas as formas para que ela pudesse

pegá-la de volta, mas não deu outra.

Rose olha para o avô interessada, e isso muda quando sua

mãozinha vai para o cabelo do meu pai os puxando, achando graça

quando ele protesta, e ali o vejo se derreter por ela também.

― Você é igual ao seu pai quando pequeno, uma espoleta. ―

Ela continua rindo como se entendesse o que ele está falando.

Sinto a mão de Daphne apertar a minha por debaixo da mesa,

me dando certeza de que pensa a mesma coisa que eu. Eu

desejava que isso fosse o começo de alguma coisa.


Daphne

O convite para Thomas de se mudar para minha casa de vez

surge em uma noite em que estamos deitados na minha cama

depois de termos acabados de fazer um sexo gostoso. Thomas me

abraça de conchinha e eu entrelaço nossos dedos, descansando-as

na minha barriga.

Pela babá eletrônica conseguimos ver que Rose dorme em

um sono profundo, e foi com isso que decidimos aproveitar, esse

feito raramente acontece, agora que ela vem tendo um sono melhor

durante a noite.
Thomas e Rose tem uma conexão tão incomum, que nunca vi

Edward ter com Lisa quando bebê. A forma que Tom age com ela, e

a ama, cuida, é tão especial. Amo ver quando os dois estão juntos e

como parecem estar no mundo só deles.

Nunca consegui imaginar que isso aconteceria com os dois

quando Thomas viesse a saber da nossa filha, isso é mais que eu

desejei. Serão melhores amigos.

Com minha respiração calma, o calor de seu corpo no meu,

vejo que é o momento certo, tenho pensado tanto nisso nos últimos

dias, que para mim não tinha mais o porquê continuarmos morando

em casas separadas.

Faz quase um ano que estamos juntos, e tínhamos passado

por tantas coisas que só fortaleceram mais nosso relacionamento.

Uma delas é o fato de que aprendi a aceitar que sempre

seríamos julgados pela diferença de idade, e por mais que Thomas


não se importasse, comigo era diferente, precisei lidar quando a

notícia de que o filho de um dos maiores dono de empresas de

telecomunicação estava namorando com uma mulher com a

diferença de dez anos e para completar, tinha uma filha com ele.

O fato foi ter surgido várias pessoas na internet me chamando

de interesseira, porque descobriram que, em pouco tempo de

relacionamento com Thomas, engravidei de Rose.

Isso de início me incomodou muito, estava exposta para todo

mundo, não só eu, mas Rose também. Isso deixou Thomas tão

enfurecido, porque sempre tentou estar fora dos holofotes e assim

seguimos.

Mesmo que isso não tenha mais tanto peso na minha cabeça

hoje, às vezes, me pego pensando no que Thomas viu em mim para

se apaixonar.
A outra parte que tivemos que lidar foi com o meu ex-marido

aparecer novamente, querendo uma reconciliação entre nós dois,

ignorando o fato em que estava com Thomas. Foi um inferno,

porque não queria que Tom arrumasse problema por causa dele.

Vim saber logo depois por Lisa, que também se afastou do

pai, que ele já não estava mais junto com a mulher com quem havia

me traído e, por ironia do destino, ela o trocou por alguém bem mais

novo que ele.

As pessoas só recebem aquilo que plantam.

― Acho que você poderia começar a trazer suas coisas para

cá ― digo, e seguro minha respiração depois que as palavras saem,

esperando sua reação.

― O quê?
Thomas se afasta e eu solto sua mão para poder me virar e

olhar o seu rosto, que tem uma expressão engraçada de surpresa.

― Que está na hora de você se mudar para cá, essa casa se

tornou sua também.

Ele sorri, me puxando pelo pescoço para beijar minha boca e

me perco nele mais uma vez, é um vício que não acaba mais,

Thomas está nas minhas veias como uma droga forte e viciante.

― Eu quero isso, é uma das coisas que mais quero com você,

mas seria ainda melhor se fossemos para uma casa maior e com

mais privacidade para a nossa família.

Concordo, será a melhor coisa para a gente.

Mordo seu lábio, e desço a mão pela sua barriga, parando um

pouco mais em cima do caminho da perdição. Desço agora com a


minha boca, parando para passar a língua nos bicos do seu peito e

mordê-los.

Thomas geme, deixando sua mão fora do meu corpo, me

dando liberdade para fazer o que quiser com ele. Meus lábios param

em cima da tatuagem que tem no abdômen. Uma rosa grande do

lado esquerdo, poucos centímetros acima de uma das partes do seu

corpo que mais amo.

Consigo sentir seu membro duro e ereto, a cabeça do seu

pau encostando nos meus seios, e me sinto mais quente, louca para

tê-lo na minha boca.

― Quais são as outras coisas que você mais quer comigo? ―

pergunto, o provocando com a minha mão.

Minha língua desce para sua glande, escutando Thomas

gemer, os movimentos calmos que faço com minha língua, o faz


segurar meus cabelos para ter mais que isso, para ter ele todo

dentro da minha boca.

Ele ofega para tentar falar, e sorrio por afetá-lo no mesmo

nível que ele me afeta.

― Além de gozar na sua boquinha atrevida? ― abro um

sorriso travesso, não esperando sua próxima fala. ― Quero casar

com você, Daphne Coleman.

Paro os movimentos que estou fazendo para focar nos seus

olhos.

― Eu quero muito me casar com você.

Não tenho outra reação a não ser colocá-lo dentro da minha

boca, de uma forma gostosa e prazerosa, amando o fato de ser eu o

causando toda essa sensação, enquanto vejo seu rosto se retorcer

de prazer, louco para gozar.


Ele me puxa para cima, me sentando em cima do seu pau.

Quando ele vai entrando em mim, choramingo, me abrindo, me

permitindo sentir ele mais fundo, nossas peles unidas, sentindo o

quanto somos bons juntos.

Thomas pega o meu rosto para que possa me ver, enquanto

cavalgo nele. É olhando dentro dos seus olhos que dou a minha

resposta à sua fala.

― E eu aceito.

Sorrio, pensando no que aquela resposta significa para nós

dois, e fico feliz por ser o Thomas a me amar como só ele me ama e

demonstrar isso de uma forma linda a cada dia que passa.

Ele não para os movimentos, sendo bruto ao apertar meu

quadril e bunda, intensificando o ritmo, como se para nos fundir em

cada investida. Não seguro os gemidos que escapam da minha


boca e nem mesmo o grito ao sentir ele morder meu peito depois de

chupa-lo.

― Não grita, amor, vai acordar nossa menininha ― Thomas

usa um tom provocante e seguro seus cabelos para trazer sua boca

para minha, batendo nossos dentes, a princípio com o levantar e

descer do meu corpo.

O aperto, sentindo meu orgasmo chegar, meus músculos

cansados dos movimentos.

― Amo a forma que sua boceta me aperta ― suas palavras

sujas ditas no meu ouvido, me fazem transbordar.

Thomas vira nosso corpo, agora por cima de mim para

continuar entrando e saindo, duro e bruto, pronto para gozar, e

assim que ele vem, aperto seu pau, escutando ele urrar.
― Eu te amo, Daphne, tanto, que nunca imaginei que fosse

amar uma mulher ― Ainda em êxtase, me recuperando do orgasmo,

escuto suas palavras.

Eu o beijo, dentro de mim, me dizendo que fiz a escolha certa

e que não me arrependeria.

― Eu também te amo, de uma forma que nunca amei antes.


Thomas

Mais de dez anos depois.

De onde eu estou, consigo ver as duas sentadas,

conversando com meus pais, Leah e Lisa que estão juntas há cerca

de cinco anos. Essa é outra história longa para ser contada outro

dia, mas posso dizer que hoje Lisa e eu somos bons amigos.

Rose, agora com seus doze anos, está sentada no colo da

sua mãe, escutando os adultos conversando divertidos. Daphne


parece sentir que eu os olhos, pois vira a cabeça em minha direção

e eu sorrio.

Minha esposa cutuca nossa filha para apontar em minha

direção e Rose desce do colo da mãe para correr para mim, que

deixo minha taça de champanhe na bandeja de um garçom que

passa por mim, e me inclino com meus braços estendidos para

frente a tempo de pega-la no colo.

Rose me abraça forte pelo pescoço, beijando meu rosto. Ela é

uma garotinha carinhosa e muito inteligente, mas consegue ser

arteira como eu quando pequeno.

Ela é o xodó dos avós e foi uma ponte importante para que a

relação abalada que eu tinha com meu pai fosse recuperada. Rose

chegou na minha vida para mudar tudo e consertar. Vejo ela como

um propósito na minha vida e não sei o que seria de mim sem ela e

sua mãe.
E todo esse sonho que estou realizando hoje é por causa

dela. Rose fez crescer em mim o amor pela pediatria e hoje estamos

na inauguração do meu primeiro consultório, o qual dei o seu nome.

Encho seu rosto de beijos e em um desses, olho para frente,

vendo a mulher da minha vida andando até a gente, com seu sorriso

de sempre nos lábios, um vestido dourado que vai até seus

tornozelos charmosos, acentuando suas curvas deliciosas.

Não tiro os olhos dela nem mesmo quando ela para o meu

lado, e cumprimenta um dos convidados que eu conversava antes,

sendo simpática. Com o decorrer dos anos, Daphne conseguiu ficar

ainda mais linda, encantando a minha vida com tudo em si.

Depois que compramos uma casa para a gente anos atrás,

nos casamos com Rose ainda com seu um ano. Foi algo sem

exageros e simples, planejados tudo por ela, a talentosa


decoradora, não só dona de uma empresa de eventos, assim como

preparou tudo na inauguração de hoje.

Daphne se especializou como decoradora anos mais tarde, e

foram fundamentais ainda mais na sua profissão.

Esses anos foram os melhores da minha vida, e não os

trocaria por nada, mesmo naqueles momentos tensos que foi

preciso nos unir ainda mais para passar por cada etapa.

Percebi que o convidado nos deixou quando escuto a voz da

minha esposa me tirar dos devaneios.

― O consultório ficou lindo.

― Sim, tudo graças às mãos mágicas da minha mulher. ― Me

inclino, deixando um beijo na sua boca, escutando a risada de Rose.

― Eca. ― Faz uma expressão de nojo.


― Está com nojo? Vamos ver se consegue resistir a isso. ―

Seguro seu corpinho, deixando beijos por todo seu rosto, o som da

risada de Daphne achando graça.

― Não, papai, vai me deixar com a baba ― ela implora, rindo.

― Ah, é? ― Eu coloco a língua para fora, insinuando lamber

seu rosto, quando ela grita, querendo descer do meu colo.

Desço Rose, que corre em direção a mesa de doces, para

escapar de mim. Tenho uma visão agora dos seios de Daphne

apartados no vestido, e minha boca saliva.

― Para de me olhar assim, está me deixando sem graça ―

diz, e sorri, acenando para alguém que passou próximo a nós.

― Assim como? ― pergunto, louco para poder beijá-la.

― Como se quisesse me comer.


Puxo-a para mais perto, passando o braço pela sua cintura, e

chegando com minha boca mais próximo da sua orelha para

sussurrar e assim só ela escutar.

― Mas é exatamente isso que eu quero ― digo e mordo de

leve sua orelha, sentindo ela estremecer.

― Thomas ― protesta, sua voz séria não tendo vez no

momento, e sim sua voz manhosa e cheia de luxúria.

― O quê? Não posso desejar minha mulher? ― me faço de

coitado. ― Não vejo a hora de chegar em casa, colocar Rose para

dormir e ter a visão de você cavalgando a noite toda em cima de

mim.

Seu rosto ganha um tom de rosa e dou risada, me

desvencilhando do seu ataque para pegar duas taças de

champanhe para nós dois. Entrego uma a ela, nesse momento


minha filha está voltando para o nosso lado, e passo a mão em seus

cabelos pretos, antes de chamar a atenção de todos.

― Quero pedir um brinde em comemoração a essa

realização, ao apoio da minha família e, acima de tudo, à minha

esposa e filha, que foram essenciais na minha vida. Amo vocês e

obrigada. ― Olho para todos ao correr os olhos por todo lugar,

pegando a imagem dos meus pais me olhando orgulhosos, sorrindo

para mim e parando nas minhas duas preciosidades. ― Um brinde.

Todos levantam as taças, e dou um gole na minha bebida,

olhando para Daphne, que faz o mesmo.

― Te amo, papai ― escuto Rose dizer, e me inclino para

beijar sua cabeça.

― Eu também, querida.
Me endireito para ficar agora na frente da sua mãe,

agradecendo ao universo por ter me levado até o pub naquela noite

e ter aceitado fazer parte daquela aposta, para assim Daphne me

mudar.

Daphne foi um presente que o universo mandou para mim,

assim como ela me deu de presente Rose para somar à minha vida.
A minha família por todo apoio, e a minha avó Irene, nunca

vou esquecer as palavras que me disse no momento em que mais

precisava ouvi-las e a senhora não sabia. Te amo!

Quero agradecer a parceria que foi escrever essa série com

meus amigos Kevin Attis, Sil Zafia e Sophia Casmark as loucuras e

surtos toda vez que foi preciso decidir algo.

Sophia Casmark, obrigada por desde o início ter me

incentivado a escrever esse livro, mesmo com a loucura que estava

nossas vidas, e principalmente, pelos sprints de escrita que nos


ajudou muuuuito, vamos fazer mais sim mais vezes, e não posso

deixar de agradecer por ser uma revisora maravilhosa.

Sil Zafia por sempre, sempre mesmo me ajudar nos meus

lançamentos, e me incentivar a nunca desistir, mesmo nos surtos,

obrigada por mais uma vez fazer tudo acontecer.

Kevin Attis, obrigada pelo convite para fazer parte dessa

série, por me ouvir desabafar e não ter deixado eu desistir. Você é

tuuuudo!

Karen e Brendon, vocês são amigos incríveis, obrigada por

serem a inspiração para o casal de amigos no livro, espero que eu

tenha passado para eles o que eu vejo em vocês: muito amor.

A Leticia Barros, Bianca Maria, Evelyn Sena, Salua, Camila

Silva, Magda Marques e Tayana Alvez, obrigada mais uma vez por

me apoiarem e estarem sempre me ajudando nos mínimos detalhes.


Penelope (Penny) por ser incrível e sempre arrumar um

jeitinho para me socorrer.

E a você leitor por ter chegado até aqui, obrigada por ter dado

a chance de conhecer Thomas e Daphne.


Jussara Manoel nasceu em Brasília ― DF, em 1997, mora no

Rio de Janeiro. Uma jovem cheia de sonhos e que ama viajar pelo

mundo da leitura, principalmente nos romances e ama ainda mais

passar suas horas vagas escrevendo, construindo um mundo para

que outras pessoas possam viajar também.


INSTAGRAM: @autorajussaramanoel

FACEBOOK: Autora Jussara Manoel

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