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↬Revisão: Wings
↬Conferência: Cris
↬Formatação: Penny
AVISO
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Traduzimos livros com o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
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Eles podem ser mais ricos que os deuses, mas estão moralmente falidos.
No que diz respeito aos rapazes que dirigem a academia internacional mais
Quando
Wren Jacobi
Põe os olhos na mais nova homenageada da Wolf Hall Academy, tudo o que
ele vê é um alvo fácil. Uma garotinha reservada com um alvo pintado nas
costas. Ele não sabe nada sobre meu passado conturbado, no entanto. Nada
Elodie Stillwater
Irei para quebrar a fera selvagem que sonha em me quebrar primeiro.
O cheiro fétido de podridão vazando pelos pequenos orifícios na frente do meu rosto me
faz engasgar. Já vomitei quatro vezes - não sei à quanto tempo - e essa não é a pior parte deste
pesadelo.
Meus joelhos, quadris e ombros gritam, contraídos e há muito amortecidos por falta de
fluxo sanguíneo.
Mas eu não vou. Eu continuo respirando, minha mente girando para longe de mim até
que meus pensamentos se tornem um ruído irreconhecível.
Elodie
OBRIGADO PORRA, ESTÁ ESCURO.
Nada poderia ser pior do que chegar a uma nova escola em plena luz do
dia.
─ Parece que eles deixaram as luzes acesas para você, Srta. Elodie, ─ o
motorista disse através da janela de privacidade aberta. Esta é a primeira coisa
que ele murmurou para mim desde que me pegou no aeroporto, me jogou na
parte de trás desta monstruosidade negra e reluzente, ligou o motor e rumou
para o norte, para a cidade de Mountain Lakes, New Hampshire.
Quadras de tênis.
Piscina.
Estúdio de esgrima.
Sala de debate.
Wolf Hall.
Jesus.
Eu não era exatamente popular em Tel Aviv, mas tinha amigos. Eden,
Ayala e Levi nem vão perceber que fui transferida de minha antiga escola por
mais 24 horas; já é tarde demais para elas virem me resgatar do meu destino. Eu
sabia que era uma causa perdida antes que as rodas do avião do exército
batessem em Tel Aviv.
Eu com certeza, não deveria ter que arrastar minhas próprias malas para
fora do porta-malas de um carro.
Eu nunca delataria o motorista, isso é apenas fraco, mas meu pai teria um
aneurisma se descobrisse que o cara que ele contratou como minha escolta não
tinha feito seu trabalho direito quando chegamos ao nosso temido destino.
Como se o cara percebesse isso também, ele relutantemente puxou sua bunda
para fora do carro e se dirigiu para a traseira do veículo, jogando meus pertences
na pequena calçada em frente ao Wolf Hall.
Ele então tem a audácia de esperar por uma gorjeta, o que simplesmente
não vai acontecer. Quem ajuda e é cúmplice na destruição da vida de alguém e
depois espera um agradecimento e uma nota de cem dólares por seus
problemas? Eu sou três partes de gasolina, uma parte de fósforo enquanto pego
minhas coisas e começo a caminhada subindo os degraus em direção às
formidáveis portas duplas de carvalho de Wolf Hall. O mármore está gasto,
curvando-se no meio e liso devido aos milhares de pés que subiram e desceram
esses degraus ao longo dos anos, mas estou muito azeda agora para desfrutar
da sensação deliciosamente satisfatória deles sob os pés.
─ Jesus, eu não sabia que havia alguém aqui. ─ Eu acaricio meu peito com
a mão, como se a ação fosse desacelerar meu coração.
Sua camiseta preta é pelo menos cinco tamanhos maior para ele. Ele é
muito mais jovem do que eu pensava. Em vez de um professor aborrecido com
um blazer roído pela traça com remendos nos cotovelos, esse cara é jovem.
Minha idade, pelo que parece. Ele deve ser um estudante aqui no Wolf Hall.
Seu cabelo escuro cai sobre os olhos. Suas sobrancelhas estão cheias e unidas
em uma carranca íngreme. Do meu ponto de vista no topo da escada, só posso
vê-lo de perfil, mas seu nariz é reto, sua mandíbula é forte e ele se mantém de
uma forma majestosa e preguiçosa que me permite saber exatamente quem ele
é antes eu sequer saber o nome dele.
Ele traga o cigarro, sorrindo friamente. Tudo nele é frio, desde o brilho
gelado em seus olhos verdes brilhantes, até a maneira como ele joga a cabeça
para trás, avaliando-me como um leão da montanha avalia um veado recém-
nascido. Claramente, ele se ressente de ter que esperar e bancar o anfitrião
amigável de Wolf Hall, mas ei... Eu não pedi a ele para ser meu guia turístico.
Eu não pedi nada a ele.
O cara deu uma última tragada no cigarro, bufando no nariz. Quando ele
joga a ponta brilhante nas roseiras a três metros de distância, noto que ele está
usando esmalte preto lascado. Esquisito. Sua camisa é preta e ele
definitivamente parece irritado como o inferno, mas não estou captando uma
vibe emo dele. Suas botas são de couro italiano de alta qualidade, e o cinto em
volta de sua cintura parece que custou mais do que toda a minha roupa.
─ Hah! Como se eu morasse aqui, ─ ele joga por cima do ombro. ─ Ah,
e não se preocupe, garota nova. Não precisamos continuar com essa merda
mais tarde. Mantenha a cabeça baixa, fique fora do caminho e você terá uma
chance decente de sobreviver a este buraco do inferno.
Pode ser apenas que eu esteja cansada, e pode ser que já odeie Wolf Hall,
mas isso soou claramente como uma ameaça.
2
Elodie
DENTRO da Wolf Hall parece que alguém tentou recriar Hogwarts, mas
entendeu muito, muito errado. Há alcovas escuras em todos os lugares para
onde me viro, e nenhum dos ângulos do lugar é perfeito. Eu me sinto como se
estivesse passando por algum tipo de pesadelo de Escher enquanto faço meu
caminho através da entrada austera com painéis de madeira e sigo para a ampla
escadaria do lado direito. Procuro um elevador com esperança, mas já sei que
tal coisa seria um luxo impossível em um prédio antigo como este.
1
Referência ao Filme
Percebo os números de latão aparafusados em cada uma das portas
quando passo por elas. Normalmente, haveria adesivos coloridos e placas de
nome pregadas na madeira - pequenas personalizações que ajudam os alunos a
fazer seus quartos parecerem sua casa. Mas não aqui. Não há adesivos,
fotografias ou pôsteres à vista. Apenas a madeira escura e deprimente e os
números brilhantes e polidos.
410…
412...
414...
416…
Excelente.
Não sei por que, mas estremeço violentamente ao vê-lo. Nunca fui fã de
labirintos. Pelo menos daqui, à luz do dia, poderei memorizar a rota até o
centro. Não que eu planeje entrar na maldita coisa.
Eu dou ao sinal uma forte revirada de olhos enquanto tiro minhas roupas
de viagem e tomo banho, demorando muito mais do que os três minutos
designados. Quem diabos vai saber? E foda-se, de qualquer maneira. Eles não
podem policiar esse tipo de merda com um aluno que ainda nem se matriculou
oficialmente na academia. Eu uso o sabonete carbólico preso a um pedaço de
corda puída dentro do chuveiro, franzindo o nariz com o cheiro e prometendo
a mim mesma uma lavagem melhor com meu próprio gel de banho pela manhã.
Então, eu uso uma toalha fina e áspera como papel para me secar antes de
colocar meu pijama e voltar correndo para o meu quarto com o cabelo
molhado.
Além de me forçar a usar lentes de contato, ele não consegue alterar o azul
dos meus olhos. Há pouco que ele possa fazer sobre as sardas que atingem a
ponta do meu nariz ou a estrutura óssea do meu rosto em formato de coração.
Sem jogar uma moeda séria em um cirurgião plástico muito talentoso, ele não
pode alterar minhas maçãs do rosto salientes ou meus olhos amendoados, todos
presentes que recebi de minha mãe. Mas ele poderia me tornar uma loira, e foi
o que fez. E eu odiei cada segundo disso.
De volta ao meu quarto, noto pela primeira vez como está terrivelmente
frio. Comparado a Tel Aviv, é praticamente subártico aqui em New Hampshire,
e não parece que a administração de Wolf Hall considerou o aquecimento uma
necessidade para seus alunos. Depois de muito remexer, acabei encontrando
um termostato de baquelite rachado e amarelado no armário perto da janela,
mas quando giro o botão totalmente para a direita, nada acontece. O radiador
antiquado e extremamente feio na parede emite uma única tosse sufocada, um
barulho de quebrar os ossos e, em seguida, fica resolutamente em silêncio.
Elodie
A MANHÃ CHEIRA a ferrugem e torrada queimando.
Se meu pai se importasse um pouco comigo, ele não teria me causado essa
transição no meio do semestre. A menor gentileza que ele poderia ter me
mostrado seria me realocar durante as férias, mas não. O coronel Stillwater
decidiu que me desenraizar do nada em um fim de semana era o melhor curso
de ação. Longe de mim atrapalhar sua programação; já que ele precisava
desaparecer em um exercício de treinamento de quatrocentas horas em um
domingo, parecia perfeitamente lógico virar minha merda de cabeça para baixo
e esperar que eu estivesse bem com a mudança de país, tendo meu mundo de
cabeça para baixo e começando a estudar em uma nova escola dentro de um
período de trinta e duas horas.
Então aqui estamos nós. Segunda-feira de manhã. Minha nova vida. Pelo
itinerário restrito que meu pai colocou em minha mochila, eu deveria estar lá
embaixo nos escritórios da administração vinte minutos antes do meu primeiro
período do dia, o que me deixa quarenta minutos para tomar banho, me vestir
e me organizar. Desde que tomei banho na noite passada, normalmente não me
incomodaria em tomar banho de novo, mas ainda me sinto nojenta da viagem
de alguma forma e, honestamente, acho que vou precisar mergulhar meus pés
em um pouco de água escaldante para descongelá-los de qualquer forma. É
apenas meados de janeiro; provavelmente vai esfriar antes de esquentar mais
aqui em New Hampshire, então definitivamente terei que fazer algo sobre o
controle do clima neste quarto.
Grande erro.
─ Eu sou Carina, ─ diz a garota, estendendo a mão. ─ Que bom que você
chegou inteira. Algumas de nós esperamos por você ontem à noite, mas ficou
tarde e... ─ Ela encolhe os ombros.
Eu aperto a mão dela, um pouco animada com a ideia de que algumas das
garotas aqui poderiam ter me mostrado aqui com gentileza, se a hora permitisse.
─ Tudo bem. Eu entendo totalmente.
Damiana é um nome legal. Pena que a própria garota não parece tão legal.
Ela é três tons mais loira do que eu e usa uma cara cheia de maquiagem, mesmo
antes de colocar os pés dentro do banheiro. Talvez todo aquele delineador esteja
tatuado.
─ Não faça isso, ─ ela avisa. ─ Ainda não. Jesus, deixe a garota se acalmar
um pouco antes de você ir desenterrar essa merda, certo?
─ Nada. ─ Carina diz isso com firmeza, olhando para as outras garotas.
Ela as está desafiando a abrir a boca e dizer outra palavra, o que nenhuma delas
faz. Aparentemente, elas estão dispostas a ceder para Carina, porque todas as
que estão no corredor, incluindo Pres, olham para seus pés.
─ Está beeem. ─ Se há uma coisa que odeio, além do meu pai, são os
segredos. Houve tantas coisas no meu passado, tantas coisas escondidas de mim
ao longo dos anos, que eu tenho uma tolerância muito baixa para esse tipo de
merda. É meu primeiro dia, no entanto. Acabei de conhecer essas garotas há
dez minutos. Não posso exigir cem por cento de franqueza delas antes mesmo
de saber seus nomes adequadamente. Eu faço o meu melhor para encolher os
ombros.
Posso ser pequena em estatura, mas ainda sou uma garota crescida. Sou
perfeitamente capaz de encontrar meu próprio caminho para o escritório e para
a aula. Aprendi minha lição há muito tempo, no entanto. Se alguém lhe oferece
um ramo de oliveira nas águas cruéis da educação internacional, você agarra
aquele filho da puta e não o larga.
***
A ida ao escritório é monótona, o que quer dizer que o mundo não acaba
enquanto eu preencho meu questionário de saúde e pego todas as listas de
leitura e títulos obrigatórios de livros que vou precisar encomendar para minhas
aulas. Carina atua como mediadora entre mim e o decrépito, em sua maioria
surda octogenária atrás da mesa, gritando quando a pobre velha não consegue
ouvir minhas respostas. As lentes de seus óculos são tão grossas que fazem seus
olhos parecerem oito vezes o tamanho normal. Apesar do auxílio visual, ela
aperta os olhos para mim por cima de uma pilha de papéis, como se isso pudesse
realmente ajudá-la a me ouvir melhor.
Eu olho para as meias arrastão a que ela está se referindo. Estou usando
sob meu short jeans rasgado favorito. As botas Doc Martin que escolhi são
potencialmente exageradas, mas meu visual não estaria completo sem elas.
Eu sei que está frio, mas minhas roupas ultrajantes foram as primeiras de
uma longa linha de protestos que planejei para minha estadia em Wolf Hall.
Tragicamente, quando saí do meu quarto e vi as roupas de Carina, tornou-se
aparente que os alunos aqui podem usar o que quiserem e se safarem. Sua
jaqueta bomber amarelo brilhante e jeans vermelhos colidem tão violentamente
que há o risco de eu ter uma enxaqueca só de olhar para ela.
As roupas dos outros alunos também são uma confusão de estilos e cores
diferentes. Há jeans rasgados e camisetas de bandas suficientes para fazer
parecer que estamos prestes a atravessar os portões de um festival de música.
─ Psshhh. Não temos armários. Se você não quer carregar uma bolsa com
você, você vai ter que correr para o seu quarto entre as aulas e, acredite em mim,
não há tempo suficiente para essa merda. Vamos. Você vai ficar bem.
A sala fica em silêncio quando Carina me empurra para dentro. As cabeças
giram, as conversas param... e os cabelos da minha nuca se arrepiam. Em um
sofá de couro surrado sob uma enorme janela panorâmica, o cara da noite
passada está deitado como se tivesse engolido um monte de Special K2 no café
da manhã e as drogas tivessem acabado de fazer efeito.
2
A cetamina ou ketamina,é uma medicação utilizada principalmente para induzir e manter a anestesia.
A substância induz um estado de transe, proporcionando alivio da dor, sedação e perda de memória.
─ Não, a biblioteca é muito maior do que isso. Este é o covil de Doc Fitzpatrick,
como ele gosta de chamá-lo. Ele é basicamente um deus por aqui. Sairia impune
por um assassinato. Ele deveria dar suas aulas na sala que eles atribuíram a ele
no bloco de inglês, mas ele diz que é mais fácil inspirar seus alunos em um
ambiente mais relaxado.
Carina fica imóvel, arqueando uma sobrancelha para mim de uma forma
que me faz sentir como se tivesse cometido mais uma gafe. ─ Uhhh, sim. Esse
é Wren Jacobi. Ele é mais um cachorro selvagem do que um ser humano. Eu...
honestamente... ─ Ela suspira pesadamente, ocupando-se puxando um grande
caderno da bolsa a seus pés. ─ Eu diria para você ficar longe dele, mas é meio
impossível evitar alguém neste lugar. Além disso, Wren tem um jeito de
intimidar o seu caminho para o seu negócio, quer você goste ou não, então...
Como diabos Carina sabe o que ele estava vestindo na noite passada? A
menos... ela disse que algumas das meninas esperaram por mim. Ela estava
obviamente esperando com ele; ele disse que puxou o palito curto e teve que
ficar acordado até eu chegar. Eu não sei nada sobre o cara além de ele fumar,
mas de alguma forma eu não consigo imaginar Wren saindo com um monte de
garotas, esperando para cumprimentar uma nova aluna de Wolf Hall.
─ Sim. ─ Carina faz uma careta. ─ Esses três idiotas têm uma casa no
meio da montanha. Eles a chamam de Riot House. Todo mundo faz. Eles têm
permissão para viver lá, por alguma porra de razão desconhecida, enquanto o
resto de nós tem que permanecer aqui durante os meses de inverno e cozinhar
durante o verão.
Carina está confusa com a minha confusão. ─ Não. Wren é rico. Sua
família é dona do lugar. Ou ele é. Nunca foi claro sobre os detalhes. Tudo o
que sei é que eles podem fazer o que quiserem lá embaixo e o resto de nós tem
que ficar aqui e seguir a linha.
Há uma nota amarga na voz de Carina. Ela está estampando um sorriso
ensolarado em seu rosto bonito quando ela levanta os olhos de sua bolsa, no
entanto. ─ De qualquer forma. Pax, Dashiell e especialmente Wren. Cuidado
com eles, é tudo o que estou dizendo, garota. Você vai acabar se arrependendo,
posso prometer isso.
─ Belo discurso, Carrie. Fico feliz em ver que você está dando a adorável
pequena Elodie Stillwater a configuração do terreno.
Nenhuma de nós notou que o cara que estava sentado no chão se levantou
e veio até nós. Ele é bonito da mesma maneira perigosa que cobras, aranhas e
lobos são lindos de se olhar. Seu cabelo é raspado bem baixo. Tatuagens
aparecem por baixo de sua camiseta branca de mangas compridas. Seus olhos
azuis brilham como se estivessem transbordando de eletricidade; quando eles
se aproximam de mim, me prendendo no encosto do sofá, sinto como se tivesse
enrolado minha mão em um fio elétrico e não consigo soltar.
Pax raspa o lábio inferior entre os dentes na exibição mais estranha que eu
já vi, seus olhos azul-gelo perfurando Carina. Há algo abertamente carnal na
energia que sai dele, e isso faz a pele dos meus braços arrepiar. Eu não gosto
disso, mas não consigo tirar meus olhos dele. À sua direita, onde o amigo de
Pax estava sentado gruindo alto, está levantando-se.
─ Carrie? Você não vai nos apresentar a sua nova amiga? ─ Dashiell
ronrona.
Minha nova amiga está rígida como uma tábua. Parece que ela está prestes
a cair para o lado do sofá, então eu a salvo de responder. ─ Você já sabe quem
eu sou. Wolf Hall não é exatamente um lugar grande. Além disso, ele apenas
me chamou pelo meu nome, ─ eu digo, os olhos disparando para Pax. ─ Eu
sou Elodie Stillwater. Fui transferida de Tel Aviv. Meu pai é um homem do
exército. Minha mãe está morta. Gosto de pintura, música e fotografia. Eu sou
alérgica a abacaxi. Eu sou filha única. Tenho medo de tempestades e adoro
mercados de pulgas. Pronto. Isso é informação suficiente para você?
Eu listo esses fatos aleatórios sobre mim com um sorriso no rosto, mas é
doce e falso como o inferno. Pax solta uma risada zombeteira, enquanto a
resposta de Dashiell ao meu grande discurso é voltar toda a sua atenção para
mim, um sorriso lento e calculista se espalhando por seu rosto. Ele é rápido e
inteligente. Você pode praticamente ver as engrenagens girando em sua cabeça
enquanto ele arquiva os dados que acabei de fornecer. Por que, de repente,
parece um grande erro eu ter entregado esses fatos sem importância sobre mim?
O dono da primeira voz, sentada ao meu lado, recua. Eu não acho que
Carina quis deixar escapar sua objeção tão alto. Ela parece envergonhada
quando pega minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus. ─ Você sabe que
ela terá problemas se Harcourt descobrir, ─ diz ela.
No sofá, com o rosto ainda enterrado sob uma almofada, Wren Jacobi
rosna. ─ Ela não foi convidada. ─ A maneira como ele fala soa como um
decreto, uma ordem passada do alto que se espera que seja cumprida.
Na frente da sala, um cara alto vestindo uma camisa preta justa e uma
gravata preta chuta a cunha de madeira que estava segurando a porta aberta e
fecha a porta atrás dele enquanto ele gira para dentro da sala. Em seus trinta e
poucos anos, o cara está emitindo algumas vibrações pesadas de Clark Kent.
Sua mandíbula é tão afiada que parece que poderia cortar e tirar sangue. Cabelo
escuro ondulado e olhos escuros, posso ver por que metade das garotas na sala
derretem em seus assentos quando percebem que ele chegou.
Ele é lindo.
Seu cabelo preto se enrola em torno de suas orelhas como se fosse pintado
em sua cabeça, as pinceladas engenhosas de uma escova de mestre. É grosso e
desgrenhado, e meus dedos se enrolam por vontade própria, querendo sentir
sua textura enquanto fecho minha mão em um punho.
─ O que você quer dizer com gráfica? ─ uma garota sentada em uma
poltrona na frente pergunta. ─ O ensaio era sobre a moralidade vitoriana na
literatura inglesa.
─ Tão inocente antes, agora ela parecia apavorada. O medo em seus olhos fez seu eixo
endurecer em suas calças enquanto ele rondava para frente, com a intenção de colocá-la
diretamente em sua armadilha. Seu peito subia e descia tão rapidamente que seus seios grandes
corriam o risco de transbordar do espartilho. Nada poderia ser mais excitante para ele do que
vê-la acidentalmente despida e vulnerável diante dele. A ansiedade cresceu nele agora, como
sempre acontecia quando ele estava tão perto de realizar seus objetivos nefastos. Durante meses
ele trabalhou na governanta, sabendo que sua igreja, sua fé e seu pai lunático a impediriam
de agir de acordo com seus desejos mais sombrios. E ainda assim ele não desistiu. Ele tinha
visto o fogo perverso queimando em sua alma e estava determinado a liberá-lo e libertá-lo.
─ A governanta gritou quando suas costas bateram na parede. Ela sabia que estava
encurralada e não havia saída. Assim que ela percebeu sua situação, ela a aceitou, no entanto.
Sua respiração se acelerou ainda mais, desta vez de excitação. Havia algo a ser dito sobre
entregar o controle de si mesmo a um monstro em uma cartola preta, e agora que ele estava se
aproximando rapidamente com um olhar ameaçador em seus olhos, a governanta descobriu
que ela não tinha tanto medo do destino, como ela havia pensado inicialmente. Ela
testemunhou a protuberância ameaçadora de seu cajado, pressionando contra a frente de suas
calças. Ela viu a maneira como ele tateou a si mesmo, se apertando da maneira mais sinistra
e, surpresa como estava, ela sabia que estava molhada entre as pernas, sua boceta escorregadia
de desejo como...
O Dr. Fitzpatrick interrompe, deixando cair as mãos ao lado do corpo.
Exasperado, ele balança a cabeça. ─ Honestamente, devo dizer que estou
impressionado com a prosa. Ótimo uso da palavra lúdico. E perereca? Você
deve ter pesquisado isso, Jacobi.
Claro que ele escreveu. Eu sou a pessoa menos surpresa do mundo. Ele
rastreia totalmente que esse demônio em uma camiseta preta entregou a
pornografia vitoriana como sua atribuição de inglês. Ele não parece nem um
pouco arrependido enquanto nivela seu olhar firme sobre o professor. ─ Eu
fiz, ─ ele diz. ─ A Internet é um lugar notável. Todos os tipos de merdas
estranhas, se você sabe o que está procurando.
─ Você percebe que esta peça deveria ser sobre o senso vitoriano de
moralidade, certo? ─ Doutor Fitzpatrick pergunta.
Wren suspira cansado, como se ele não devesse ter que explicar nada disso.
─ Eu não estou dizendo isso. Foi o que aconteceu. Austin fez parecer que as
mulheres naquela época eram criaturas virtuosas, boas e saudáveis que nunca
pensaram em transar. Era tudo mentira, Fitz. As mulheres gostam de ser fodidas
desde o início dos tempos, assim como os homens. O fato de que os vitorianos
costumavam guardar esse pequeno boato como se fosse algum grande segredo,
os torna ainda mais excêntricos do que nós.
Wren deixa sua tarefa no fino tapete persa a seus pés. A maioria dos caras
ficaria irritado com o fato de que teriam que reescrever um ensaio desde o início,
mas ele não parece se importar. Ele está levando tudo com calma. ─ As táticas
de choque funcionam com todos. Só não encontrei o nível certo de choque
para você ainda, Fitz. Eu não sou nada se não persistente. Deixe isso comigo.
Vou descobrir isso antes do final do semestre.
Uau. Quer dizer, eu pensei que era selvagem, a maneira como Wren falou
com o Dr. Fitzpatrick, mas honestamente, a maneira como ele fala conosco é
um pouco exagerada também. O doc não parece um professor típico; ele parece
um ser humano normal e funcional, em vez de um robô acadêmico, tentando
nos apressar no currículo o mais rápido possível. É revigorante. Não faz mal
que ele chame pessoas como Damiana em sua merda quando ela está sendo
mal-intencionada, também. Acho que gosto muito desse cara.
Até que ele me diga para ficar na frente da classe.
─ Vamos, Still...?
─ Water, ─ eu forneço.
Espere...
O que??
Não sei bem o que devo fazer. Eu adoraria dizer que não dou a mínima
para minhas notas aqui no Wolf Hall, mas a triste verdade é que a mesada que
meu pai carrega no meu AMEX está diretamente relacionada ao meu boletim.
Eu sei como isso funciona muito bem: eu acerto meus testes e atribuições e
terei muitos fundos para sobreviver aqui. Eu apago meu disco, ou não
desempenho tão bem quanto o Coronel Stillwater espera, então terei de viver
uma existência muito deprimente em quase nada.
Ainda não explorei a situação alimentar por aqui, mas presumo que haja
uma lanchonete ou talvez até um café. Um restaurante, se eu tiver sorte. Seria
bom comer comida comestível de vez em quando e não ter que ferver água e
engasgar Top Ramen no café da manhã, almoço e jantar, é o que estou dizendo.
Um A bem fora do portão? Isso tornaria muito mais difícil para o coronel
Stillwater enfeitar minha mesada.
─ Ookaaaay. ─ Eu desprezo ter que pensar em tópicos de conversa
interessantes e inteligentes no local. Se eu soubesse que isso iria acontecer, não
teria me incomodado em dormir na noite passada. Eu teria ficado acordada,
procurando por algo incrível para atacar esses caras na aula. Lamentavelmente,
a única coisa que consigo pensar é: ─ A língua inglesa está morrendo. A gíria
moderna e a linguagem textual estão sufocando a história e a vida de uma forma
de arte tão rapidamente que em breve ela terá evoluído inteiramente. Discutam.
E então…
─ Então, você acha que a língua inglesa não evolui? ─ Doutor Fitzpatrick
pergunta a ela.
─ Eu não!
─ Lol. Lmfao. Btw. NP3. Você manda mensagens com essa merda o
tempo todo.
3
LOL = Laugh out loud = Rindo muito, rindo alto. / LMFAO = Laughing my fucking ass off = Me mijando
de rir / BTW = By the way = por sinal, a proposito… / NP = No problem = sem problemas.
Ha. Por que não estou surpresa que Damiana e Wren estejam trocando
mensagens de texto? Eles são tão vis quanto um ao outro. Eles são
provavelmente os melhores amigos do caralho.
Meu Deus. Ela não acabou de dizer isso. É sério? Eu escondo meu sorriso
atrás do meu bloco de notas, prendendo minha risada atrás dos meus dentes e
duzentas páginas de papel pautado em branco.
Oh, qual é.
Seu olhar está preso em mim, seus olhos dançando com diversão. Eu
posso ter evitado rir do comentário de Damiana, mas eu esqueci das partes do
meu rosto que não cobri; Levi sempre disse que eu sorria mais com os olhos do
que com a boca. Girando em sua cadeira, Damiana me encara com ódio.
─ Vamos, Stillwater. Diga logo, se você se acha tão inteligente pra caralho.
Uau. Qual é o problema dessa vadia? Eu mal pisquei desde que cheguei
aqui, e de alguma forma Damiana já se sente ameaçada por mim. Jogos de poder
não são minha praia. Não tenho nenhum interesse em disputar sua coroa. Tudo
o que quero fazer é completar minhas tarefas, tirar boas notas para apaziguar o
coronel Stillwater e, em seguida, dar o fora daqui assim que me formar. Ao meu
lado, Carina faz um som de nojo.
─ Ha! La petite pute française,4 ─ Pax diz, de seu lugar no chão perto da
janela. ─ Você cobra em euros, Stillwater? Ou alguns dólares vão colocá-la no
chão? O assassinato da taxa de câmbio agora.
4
A pequena puta francesa.
mundo fica em silêncio no segundo em que ele fala, porém, obedecendo ao seu
comando preguiçoso. Pax ainda pisca para mim sugestivamente, mordendo a
ponta da língua. Obviamente, ele está percorrendo uma série de cenários
obscenos em sua cabeça.
─ Odeio quebrar isso com você, Dee, mas se você usar esses termos
quando enviar uma mensagem para Wren, estará usando a linguagem de texto,
─ confirma o Dr. Fitzpatrick. ─ Se vocês...
Damiana explode de sua cadeira, apontando o dedo para Wren, que não
consegue ver sua indignação com os olhos fechados. ─ Você é um pedaço de
merda, Wren Jacobi. Eu nunca foderia você em um milhão de anos. Eu com
certeza nunca pediria isso a você.
─ Ok, ok, sente-se. Wren, pare de falar em foder antes de eu te chutar para
o escritório de Harcourt. Vocês sabem que adoro um debate animado, mas
estamos saindo um pouco do assunto aqui. O que vocês acham que o velho Bill
Shakespeare diria sobre todas as novas palavras que estamos criando para nos
expressar, rapazes?
O debate continua. Cada vez que a aula de alguma forma muda para o
tema sexo, o Dr. Fitzpatrick consegue nos colocar de volta na ordem. Sento-
me em silêncio, incapaz de tirar os olhos de Wren, infeliz com a maneira como
meus olhos continuam gravitando de volta para ele no momento em que me
esqueço de ativamente não olhar para ele. O velho ditado é verdadeiro: é
5
Down to fuck = foder.
impossível desviar o olhar de um acidente de carro. E eu já sei que Wren Jacobi
não é apenas um acidente de carro metafórico. Ele é um engavetamento de
quinze carros e já há pessoas mortas no local. Estou indo direto para ele, porém,
e não consigo me desviar. Pior de tudo, não estou usando cinto de segurança e
o filho da puta cortou meus cabos de freio.
Ele é brutal e mau, e está podre até o âmago. Eu não posso escapar dele,
no entanto. Há um perigo muito real de que ele leve seu copo aos meus lábios
e eu beba seu veneno como se estivesse morrendo e ele seja a cura.
Tudo o que posso fazer agora é me preparar e torcer para que o fim seja
rápido.
Um sino agudo e estridente abafa Pres, a ruiva que conheci antes, e todos
os alunos se arrastam para fora da sala de aula, gemendo e reclamando em voz
alta sobre a tarefa que o Dr. Fitzpatrick disse que nos enviará um e-mail no final
da tarde.
No corredor, Carina desmaia de alívio. ─ Deus, estou tão feliz que acabou.
Espere.
Wren
MÃE MORTA.
Filha única.
Não sei muito sobre Elodie Stillwater, mas já posso sentir aquela velha
centelha familiar de intriga na parte de trás da minha cabeça, uma coceira
implorando para ser coçada. Para ser justo, eu senti a necessidade suja e doentia
muito antes de colocar os olhos na garota. O arquivo dela estava lá, aberto e
pedindo para ser folheado, da última vez que fui chamado ao escritório de
Harcourt. A foto presa no topo da papelada de Elodie chamou minha atenção
- eu sempre fui atraído por coisas bonitas e brilhantes - e meu pulso acelerou,
passando de um batimento lento e constante para um batimento muito mais
urgente e interessado.
Só por diversão.
Então sim. Eu esperei ela chegar. Eu me ofereci, o que deveria ter sido um
aviso muito claro para a administração de Wolf Hall, já que nunca me ofereci
para nada em toda a porra da minha vida. Eu queria testar minha teoria e ver se
o tempo que passei me torturando surtiu o efeito desejado, e só havia uma
maneira de fazer isso. Eu tinha que vê-la cara a cara, mesmo que isso significasse
queimar meu último maço de cigarros enquanto permanecia no frio congelante
por duas horas e meia.
Quando eu a vi saindo do Town Car, puxando sua mala com raiva, meu
corpo sabia exatamente o que fazer. Meu pau respondeu lindamente, dando
sinais de vida, o sangue circulando para transformar a carne macia em algo
rígido como ferro. Ao mesmo tempo, meu cérebro foi apagado com a
necessidade de ver a garota chorar, tão feroz e intenso que eu mal podia respirar.
Fode-la.
Machuca-la.
Acalma-la.
Destrui-la.
Eu pedi a uma amiga em Tel Aviv para fazer algumas pesquisas sobre sua
vida doméstica, o que parece estar demorando muito mais do que o esperado,
mas enquanto isso, eu já inventei quinze maneiras diferentes de rasgar Elodie
em um milhão de pequenos pedaços. Posteriormente, eu desconsiderei cada um
deles. Esta é a oportunidade de uma vida, minha última chance de condicionar
outra pessoa e dobrá-la à minha vontade. Preciso ter cuidado em como faço
isso. Faze-la rastejar para minha aprovação imediata e tudo acabará muito em
breve. Vou me cansar dela e terei que encontrar novas maneiras de me divertir
até a formatura. Se lhe dar muito espaço, no entanto, ela pode escapar do meu
alcance. Existe um meio termo em algum lugar no meio, e agora eu preciso
descobrir exatamente onde ele está. Tudo parte da aventura.
─ Por direito, ela é minha, ─ diz ele com a boca cheia de comida. ─ Você
teve Damiana. Dash pegou Carina. Eu sou o próximo a rebater.
Eu me importo que Pax queira Elodie como sua nova marca? Claro que
sim. Ele é um cara bonito. Calvin Klein aprovado. Ele trepou com muitas
garotas aqui em Wolf Hall, e um milhão além das paredes de nosso pequeno
ecossistema desesperadoramente entediante. Ele é perigosamente charmoso
quando está com disposição, e eu já vi muitas mulheres inteligentes se
apaixonarem por suas besteiras. Nenhuma razão pela qual Elodie não seria a
mesma.
Eu paro de digitar.
Hah. Ele fala sobre ‘A condessa’ como se fosse uma porra de uma escuna,
não um super iate de luxo de quarenta pés e sete quartos. Ela é o orgulho e a
alegria do meu pai. Se eu deixar Pax ficar lá sem supervisão durante as férias de
primavera, a maldita coisa provavelmente vai acabar no fundo do Mediterrâneo.
Meu pai me pegaria piche e penas, depois me deserdaria.
Ela já é minha, no entanto, e essa afirmação que ele está tentando fazer
sobre ela está fervendo meu sangue. ─ Dez dias, Pax. Vá ver sua mãe em Praga
depois.
Ele parece horrorizado. ─ Por que diabos eu faria isso?
─ Tudo bem. Tá. Você pega o barco. Duas semanas em junho. Mas se
souber que você está fazendo coquetéis molotov de novo eu vou chamar a
porra da polícia.
Fiz uma cópia do seu arquivo com todas as suas informações de contato
pessoal uma semana depois de peguei a foto. Considerei ligar para ela antes
mesmo de ela chegar, apenas para que pudesse ouvir sua voz e parar de
enlouquecer pensando como ela soaria. Eu consegui mostrar um pouco de
contenção, no entanto. Mas eu não conseguia parar de enviar mensagens de
texto depois da nossa aula de inglês. Eu queria irritá-la. Para observar sua reação
de longe. Irritantemente, ela mal reagiu. Ela ficou confusa no início, porque ela
não sabia de quem era o número, eu suponho, mas então seu rosto ficou branco.
Sem medo. Sem raiva. Sem irritação. A única emoção que vi em seu rosto,
da minha inclinação casual contra a parede a quinze metros de distância, foi um
breve lampejo de diversão, momento em que ela enfiou o telefone de volta no
bolso e correu escada acima em direção aos laboratórios de biologia sem um
olhar para trás.
─ Por que você está tão determinado a ter essa garota, afinal? ─ Pax
pergunta, fazendo um barulho infernal enquanto atira propositalmente a tampa
de uma lata de Pringles do outro lado da sala, enfia a mão dentro, puxa uma
pilha de batatas fritas e as enfia na boca.
Eu escrevo uma frase, focando na tela do meu laptop. ─ Ela não é nada.
Ela não é importante.
BANG!
Eu não deveria ter batido com tanta força, mas, novamente, Pax não
deveria apenas ter pronunciado aquele nome ao meu alcance. Ele sabe melhor
que ninguém. Fechando meus olhos, eu inalo uma respiração instável e
irregular, tentando nivelar a raiva aumentando na minha corrente sanguínea. ─
Estou feliz por termos acertado um acordo com A Condessa, ─ eu cerro os
dentes. ─ Mas você tem que dar o fora do meu quarto, cara. Estou falando
sério. Eu tenho que terminar está redação. Eu preciso limpar minha cabeça, e
eu não posso fazer isso com você trazendo essa merda à tona, certo?
Espero que Pax discuta. Discutir é uma segunda natureza para ele; ele
cresceu em uma casa cheia de advogados. Para o bem ou para o mal, ele prefere
manter uma língua civilizada em sua cabeça. ─ Tudo bem, cara. Sem drama. Eu
vou descer para Cosgroves e pegar algumas cervejas. Você quer algo?
Eu aperto minha mandíbula com tanta força que ela estrala quando eu
forço minha boca a falar. ─ Cerveja não. Jack 40 anos, ─ eu digo a ele.
E, o mais importante de tudo, porque ela vai ficar tão bonita quando eu a
fizer chorar.
5
Elodie
─ NÓS DEVERIAMOS TER NOS CONHECIDO ONTEM, Sra.
Stillwater, mas descobri que dar a um aluno um ou dois dias para se acomodar
pode ser útil. Eu sabia que Carina faria um bom trabalho em te mostrar tudo.
Ela é uma boa menina. Uma boa amiga, se você estiver procurando por uma.
Peço desculpas por colocá-la lá no quarto andar, mas o 416 era nosso único
quarto disponível. Espero que você esteja confortável o suficiente. Por favor,
transmita nossas desculpas ao seu pai. O Coronel Stillwater deixou bem claro
que queria você situada no segundo andar, mas não há nada que possamos fazer
agora. Talvez no próximo semestre...
Intimidante? Ela realmente não sabe da metade. Eu mexo com a maçã que
estou segurando em minhas mãos, me preocupando com seu caule. A haste
lenhosa de uma polegada de comprimento se quebra em meus dedos e eu a
deixo cair no chão. ─ Sim. Ele é muito respeitado. ─ Eu poderia dizer muito
mais. Eu poderia contar a ela sobre as noites que passei torcida e com medo
sob meus lençóis, me perguntando se ele iria estourar a porta do meu quarto a
qualquer momento. Ela entenderia então o quão sem importância a localização
do meu quarto aqui no Wolf Hall realmente é para mim, contanto que eu esteja
o mais longe dele fisicamente possível.
─ Agora, ─ a diretora diz sem jeito, abrindo a primeira gaveta de sua mesa.
Ela pega uma folha de papel e a coloca na frente dela, deslizando-a na minha
direção. ─ Eu odeio ter que passar por isso com você, mas temo que seja a
política da academia. Aqui em Wolf Hall, há uma série de coisas que não
toleramos. Como você verá neste contrato estudante-corpo docente, o uso ou
posse de drogas é estritamente proibido. Também não permitimos qualquer
tipo de... farra. O contato de natureza sexual também é proibido. Nenhum
membro do sexo oposto em nenhum de nossos andares feminino ou masculino.
Nada de toques inapropriados, ou... ou... bem, você pode ler por si mesma, não
pode? Você pode deixar a academia nos fins de semana, mas as portas estão
trancadas às nove em ponto. Durante a semana, você deve permanecer aqui nas
dependências da escola. De segunda a sexta-feira, deixar Wolf Hall por qualquer
motivo sem permissão prévia por escrito de mim ou de outro membro do corpo
docente é levado muito a sério. Existem outros itens na lista que você pode
revisar quando quiser. Acho que nada disso será um problema para você?
─ Não, claro que não. ─ Jesus. Com quem ela acha que vou ficar? E eu
nunca coloquei os pés em New Hampshire antes; No que me diz respeito, este
lugar pode muito bem ser o sétimo círculo do inferno e não há saída para mim.
─ Boa menina. Agora, se você não se importa, tenho alguns papéis para
colocar em dia. Eu acredito que você tem uma aula de francês para estudar.
Tenho certeza que você vai gostar, já que foi sua primeira língua.
Porcaria.
Minha mente científica me diz que este edifício antigo, tortuoso e irregular
não é assombrado, mas a figura sombria parece nitidamente um fantasma
enquanto se move em minha direção.
Posso estar errada, mas aposto que nenhum dos treinamentos que meu
pai me incutiu será útil contra as formas incorpóreas. Acalmando meu coração
acelerado, dou um passo à frente, engolindo o nó na garganta, e... Wren Jacobi
entra no círculo de luz amarela bruxuleante e fraca lançada de uma arandela na
parede.
Suas roupas pretas contrastam tão dramaticamente com sua pele pálida
que ele parece o negativo de uma foto, trazido à vida. Não o vi novamente
depois da aula de Inglês ontem, então me enganei ao acreditar que não o veria
hoje também. Claramente um pensamento muito estúpido e ingênuo, porque
aqui está ele, maior do que a vida e muito mais ameaçador do que qualquer
aparição. O corredor é largo, mas não largo o suficiente para eu contorná-lo
sem ter que reconhecer sua existência. Eu abaixo minha cabeça, colocando meu
queixo no meu peito, ansiosa para passar por ele o mais rápido possível...
Ele parece chateado por ter recebido essa tarefa. Chego mais perto,
arrastando meus calcanhares o máximo possível, tentando atrasar o momento
em que o alcanço e ficamos cara a cara no espaço confinado, incapazes de evitar
o olhar um do outro. Acontece muito rápido, no entanto.
Deus, seus olhos são tão verdes. Eu nunca vi olhos dessa cor antes. Ele
não pisca enquanto olha para mim, seu lábio superior se contraindo como se
quisesse enrolar para cima em nojo. Ele passa a mão pelo cabelo espesso e
ondulado, soprando forte pelo nariz, suas narinas dilatadas. ─ Tente se lembrar
do caminho, ─ ele diz secamente. ─ Eu não vou fazer isso duas vezes.
Ele gira, virando-se e mostrando as costas para mim, e então ele sai
rapidamente, indo para a ala leste da academia. Para cada uma de suas passadas
longas, tenho que dar três para acompanhá-lo. A tensão irradia dele enquanto
ele marcha à minha frente, abrindo e fechando seus punhos enormes.
─ Escolha interessante.
Seguimos pelo corredor, Wren andando na minha frente, seu corpo alto e
sólido, os ombros puxados para trás da mesma forma confiante que todas as
crianças nascidas com dinheiro parecem ter. Ele vira à esquerda, depois à
esquerda e depois à direita, e antes que eu perceba, estou completamente virada
e não tenho ideia de onde estou.
Chocolate escuro.
Os Beatles.
Ele estreita os olhos. Eu não acho que ele acredita em mim. ─ Ela disse a
você o que fazemos lá? Ela te contou sobre as regras?
─ Eu não sei nada sobre nenhuma regra. E tudo o que você faz na
privacidade da sua casa está ótimo para mim, cara. Absolutamente não é da
minha conta.
Ele assoa o nariz - uma expiração longa e infeliz. Eu disse algo errado,
aparentemente. ─ Ok, cara. Bem, diga a ela que ela precisa manter as coisas
assim. Se descobrirmos que ela está enchendo a cabeça das pessoas com merda,
então...
─ Ah, aí está você. Sr. Jacobi, o que está fazendo, vagando por aqui?
Direto para o escritório e de volta para a aula. Foi isso que combinamos, não
é? ─ Uma mulher alta e esguia com cabelo loiro crespo e olhos azuis fracos está
no corredor atrás de Wren, segurando um livro aberto na mão. Seus olhos
encontram os meus e ela sorri.
Wren faz uma pausa ao lado de Madame Fournier - tempo suficiente para
se inclinar para perto, trazendo seu rosto para perto da professora de francês.
Ele olha para ela através de seus cílios impossivelmente escuros, um olhar de
desprezo silencioso em seu rosto. ─ Qual é a minha outra opção? Porque no
momento estou esgotado em desculpas.
O choque sobe pelo meu braço, ecoando pela câmara do meu peito. Ele
ressoa como um sino tocado em minha cabeça, rugindo em meus ouvidos mais
alto do que um oceano furioso batendo contra a costa.
Cinco…
Quatro...
6
Vá para o inferno.
Três…
Seu corpo alto e ridículo é muito grande e pesado para caber atrás de sua
mesa; suas pernas se estendem para o corredor, seu corpo inclinado enquanto
ele se recosta na cadeira, seus olhos brilhando com curiosidade, tingidos com a
mais leve sugestão de malevolência enquanto eu caminho em direção a ele.
Ele não diz uma palavra - muito pior do que se fosse abertamente hostil.
Colocando as alças da minha mochila nas costas da cadeira, pego meu caderno,
tentando superar o medo agitado em meu estômago. Meus colegas estão
aprendendo francês há anos. Eu nem ouvi a língua falada desde que minha mãe
morreu. E eu nunca poderia entender isso, mesmo quando ela estava viva.
Oh…
Mofado, podre e vagamente suspeito, o cheiro é tão forte que tenho que
lutar contra a vontade de me inclinar na beirada da mesa e vomitar.
O que devo fazer agora? Devo sentar aqui e tolerar o fedor que vem de
dentro da minha mesa? Devo ficar com raiva? Choro?
Eu não acho que Wren realmente se importe, contanto que eu faça algo.
Ele só quer uma reação, de preferência violenta, se estou lendo esta situação
corretamente.
O coronel Stillwater sabe que não falo francês. Minha mãe sempre quis
me ensinar, ela tentava falar francês em casa quando eu era pequena, além de
inglês, mas meu pai batia nela até por sugerir tal coisa. E agora ele espera que
eu aprenda o idioma do zero e atinja uma nota excelente, caso contrário, as
consequências serão terríveis. É esse pensamento que me distrai do cheiro
pútrido que assalta meus sentidos a cada poucos minutos e me mantém focada
na tarefa em mãos.
Sinto seu desprazer como se você pudesse sentir uma mão na nuca,
empurrando você para baixo, tentando forçá-lo a ficar de joelhos. Ele não está
feliz por eu estar evitando seu presentinho. Nem um pouco feliz. Ele quer que
eu abra a mesa e recue de horror. Ele quer que eu faça uma cena, e tudo que
estou dando a ele é um caso sério de urticária.
Através dos pequenos orifícios de oxigênio na frente do meu rosto, posso ver o que ele
está fazendo. Eu posso ver como ele está se tocando.
Quando ele goza, borrifando sêmen na minha prisão, também posso sentir o cheiro.
6
Wren
─ DEVE HAVER CONSEQUÊNCIAS, cara. Sem consequências, como
algum deles saberá seu lugar? ─ Dashiell traga o baseado que acabei de passar
pra ele, segurando a fumaça em seus pulmões, os lábios se pressionando
enquanto ele franze a testa para a garota nua girando na tela do computador.
Outros caras podem guardar suas sessões privadas de câmera de sexo até terem
um momento a sós, mas Dash não tem escrúpulos em desfrutar dos serviços
que paga na frente dos outros. Dash tem muito poucos escrúpulos em geral.
Seu pau está duro, o que não é fora do comum. Ele fica duro sempre que
fuma maconha. Algum problema estranho de fiação em seu cérebro. A garota
tocando sua buceta na tela é pura coincidência.
Hah. Bastardo doente. Sim, Dash definitivamente irritou Carina e ele sabe
disso. Esses jogos mentais que ele gosta de jogar estão tão profundamente
enraizados em sua própria identidade que às vezes ele se esquece de que não
precisa jogá-los dentro das paredes de nossa casa, no entanto. Pego o cachimbo
dele, enfiando a erva na tigela com raiva. Quando toco a chama do isqueiro,
puxo com força, enviando um jato de fumaça escaldante, espessa e altamente
potente que desce pela parte de trás da minha garganta.
Eu solto uma gargalhada aguda. ─ Pode apostar sua porra que sim.
Dash levanta o braço, abrindo um olho para que ele possa me espiar pela
fresta. ─ Você também está com raiva, não é? Deve ser assustador ter você
pairando sobre uma pessoa, todo fogo, enxofre e morte, sabendo que está
prestes a ser destruído de dentro para fora.
Ele sorri, mostrando duas fileiras de dentes muito brancos e retos. Se Lord
Lovett Snr e Lady Lovett tivessem se importado com seu filho, mesmo que um
pouquinho, eles o teriam poupado da tortura de aparelho ortodôntico quando
ele era criança e deixado seus dentes um pouco tortos. Com o conjunto de
brancos perolados perfeitos nele agora, ele está completamente perfeito. É um
perfil de beleza clássica, mas também tira de seu rosto qualquer coisa realmente
interessante de se olhar. ─ O que quer que você diga, Lorde das Trevas. É assim
que vai ser com sua garotinha francesa, então? Acaricia aquele hematoma?
Beijos que sangram?
Quase deixei cair o cachimbo que estava prestes a usar, mas consegui
prendê-lo com a mão antes que ele se espatifasse na mesinha de centro de vidro.
A imagem que a frase acabou de trazer à mente me deixou praticamente
ofegante, meus lábios queimando, o céu da minha boca formigando como um
louco. Eu não gosto do gosto de sangue, mas a ideia de morder Elodie com
força suficiente para quebrar a pele...
Porra.
─ Não. Não estou interessado nisso com ela. ─ Eu digo isso com
sinceridade. Pareço muito convincente. Então, por que parece que acabei de
despejar um monte de MDMA7 bom na minha garganta, e a ansiedade está
crescendo dentro de mim enquanto espero para começar a rolar? Não faz
sentido, porra.
7
Ecstasy
Como sempre, Dash resmunga, deixando claro que ele me conhece
melhor que isso e não acredita em mim por um segundo.
─ Não esquente essa sua linda cabecinha, Lovett. Tudo está sob controle.
Eu sei quando dizer quando. Vou me divertir e então vou encerrar o dia. Tenho
a faculdade no horizonte, de qualquer maneira. Estamos todos economizando
nossa energia da melhor maneira para quando as verdadeiras aventuras
começarem no próximo ano.
─ Wren. Seja realista, ─ Dash repreende. ─ Você já está nisso até o pescoço
com essa garota. A maneira como você está pensando nela é um material
clássico de obsessão de Jacobi. E ela não abriu a mesa, o que eu sei que está
deixando você louco.
Eu gostaria que ele não estivesse certo sobre isso. Eu não deveria estar tão
fora de mim pelo fato de Elodie não ter descoberto as pernas de sapo mutiladas
que eu plantei em sua mesa. Era uma tática de colegial, infantil pra caralho, mas
eu a observei na outra noite e eu sabia que ela era medrosa. Se ela não tivesse
percebido de antemão e tivesse levantado a tampa daquela mesa, ela teria
enlouquecido. Ela me roubou essa experiência, e sim, eu estou puto pra caralho
com isso. ─ Não se preocupe. Eu tenho um plano, ─ eu digo.
─ Puta merda. Parece sinistro, ─ Dash geme. Seu sotaque sempre torna o
som de xingamentos muito mais divertido. ─ Você não está planejando invadir
o quarto dela, está? Porque a última vez que você fez isso...
8
Um “apelido” para maconha – Marijuana.
7
Elodie
A FREIRA ELIZABETH MARY WHITLOCK foi enforcada por
suspeita de bruxaria na reitoria da pequena igreja gótica de Wolf Hall em 1794.
Aprendi isso na quarta-feira, enquanto explorava o antigo prédio em ruínas com
Carina depois da nossa última aula do dia. Nós vasculhamos pilhas de vidro
quebrado das janelas quebradas, os cacos desgastados, lisos e opacos como
vidro colorido do mar antigo, e Carina encontra um rosário antigo. É lindo, as
contas alternando entre o que parece labradorita e prata maciça, e na ponta um
grande e delicado crucifixo pendurado em ouro. Nós duas estamos com muito
medo de que possa ter pertencido a Elizabeth Mary Whitlock para mantê-lo,
então o enterramos no cemitério lotado nos fundos da igreja ao lado de uma
lápide tão antiga que as letras esculpidas na pedra se desgastaram para algo que
não dá para entender.
No começo, estou petrificada. Não sou boa com espaços apertados. Nos
últimos três anos, fiz tudo o que pude para dominar meu medo, desde me
trancar em armários até espaços ainda mais apertados onde mal posso me
mover, aprendendo a respirar e superar meu terror estrondoso. Contra todas as
probabilidades, agora posso suportar a claustrofobia premente, mas a
perspectiva de rastejar no espaço escuro e estreito ainda é assustadora.
Além do meu pânico, também tenho suspeitas. Carina, com seu sorriso
fácil e sua risada amigável e gregária, me trata como se fôssemos amigas a vida
inteira. Eu nunca conheci uma garota como ela. Uma parte feia de mim – a
parte que foi alvo de muito bullying e abuso nas mãos de outras alunas no
passado – acha que ela pode estar me preparando para uma brincadeira épica.
Deixando de lado Wren, eu diria que, nas primeiras semanas nas novas
escolas, esta tem sido bastante bem-sucedida.
Carrie ri. ─ Se você não acorda antes das sete e meia de sábado, Harcourt
faz você ajudar a servir o café da manhã comunitário no refeitório. Você fica
presa limpando panelas e frigideiras até o meio-dia. E se você não estiver fora
do prédio até as oito de um domingo, o Sr. Clarence a obriga a participar de seu
culto de gratidão não-confessional, e isso, minha amiga, é um destino pior do
que a própria morte.
Ah. Droga. Acho que ainda há muito a aprender no que diz respeito às
operações do dia a dia em Wolf Hall. O café da manhã comunitário soa como
tortura. E serviço de gratidão não-confessional? Sim, foda-se. ─ Quanto tempo
tenho para me preparar? ─ Eu pergunto, já correndo para o armário para pegar
uma roupa.
***
Nos últimos cinco dias, meu mundo tem sido Wolf Hall. As aulas, as
pessoas, o prédio em si... tudo foi tão avassalador, tanta informação jogada em
mim de uma só vez, que minha mente não considerou o mundo além da borda
dos gramados imaculadamente mantidos da academia. Agora que estou no
clássico Firebird de Carina, acelerando pelas estradas longas e sinuosas com o
vento soprando no meu cabelo, de repente me sinto livre. Como se
absolutamente tudo fosse possível.
Carina escolhe sua própria mesa - uma mesa de canto ao lado de uma
jukebox vintage - e se sente em casa. Sento-me em frente a ela, me perguntando
exatamente quantos cafés ela tomou antes de chutar a porta do meu quarto esta
9
Chicane é um desvio artificial em um caminho sinuoso a fim de diminuir a velocidade de quem por ele
passa como medida de segurança.
manhã. É profano que alguém tenha tanta energia em uma hora tão horrível,
mesmo que o sol esteja brilhando.
─ Vinte, garota! Vinte anos! Não me deixe mais velha do que já sou! ─ Ela
finge estar de mau humor, enfiando o bloco de notas de volta no bolso da frente
do avental. ─ Acho que você não quer bolo de limão hoje. Sem café também.
─ Oh meu Deus, Jazzy, você sabe que cinco anos não fariam diferença, ─
diz Carina, segurando-a pela mão. ─ Você vai parecer ter dezoito até o dia em
que morrer. Por favor, não tire o café.
Jazzy ri, revirando os olhos. ─ Está bem, está bem. Eu odiaria ter que ver
uma criança pobre, desnutrida e empobrecida, como você, ter que implorar por
um pouco de cafeína, ─ diz ela, falando um pouco mais grosso. ─ Eu volto já.
Você quer café também, criança? ─ ela me pergunta.
Não acho que meu pedido fora do comum me faça algum favor aos olhos
de Jazzy. Café preto direto, ela pode embarcar, mas chá quente com leite? Ela
provavelmente acha que isso é um tipo de ordem de criança elegante de Wolf
Hall. Ela anota meu pedido do mesmo jeito e corre na direção da cozinha.
Atrás de mim, uma voz masculina com um forte sotaque inglês pede uma
mesa para três, e minhas entranhas se emaranham em um nó em alta velocidade.
Impressionante a rapidez com que passo de relaxada e à vontade para congelada
e desconfortável. Carina e eu devemos ser uma bela visão, deslizando em nossos
assentos.
Ela pode não querer falar sobre isso, mas minha curiosidade está levando
a melhor sobre mim. Eu tenho que perguntar a ela. Eu tenho que saber. ─ Acho
que aconteceu algo entre vocês? Algo... romântico?
─ E você sabe a pior parte? ─ ela diz, rindo trêmula, afastando as lágrimas
desonestas. ─ A pior parte foi que ele nem se importou. Ele não estava
envergonhado. Não lutou para empurrá-la para longe dele, ou puxar suas calças
para cima, ou vir atrás de mim. Ele me viu, parada ali na porta, viu a dor em
meus olhos... e ele riu. Ele disse... ─ Ela limpa a garganta, franzindo a testa
profundamente. ─ Ele disse: ‘Parece que eu posso ter cometido um erro de
agendamento. Você pode voltar em uma hora? Eu devo estar pronto para ir de
novo até lá.'
─ Uau. Que idiota inacreditável. ─ Tão, tão, tão merda. Quem faz algo
assim? Algum cara com dinheiro, um título, um sotaque e um nome como o maldito Dashiell?
Uma voz na parte de trás da minha cabeça oferece. Parece tão óbvio depois do
fato, mas eu entendo. Carina é uma garota inteligente, mas caras como Dashiell
são mestres manipuladores quando querem. Eles são excepcionalmente
talentosos e muito bem treinados para conseguir o que querem. Pode parecer
tão real na hora…
─ Não faça isso. Você não se fez de boba, ok. Você confiou em alguém
que mentiu para você e partiu seu coração. Isso reflete o mal nele, não em você.
Em algum momento, o carma vai aparecer e torná-lo infértil como punição.
Jazzy chega com nossas bebidas no pior momento possível. Ela cantarola
baixinho, balançando de um lado para o outro enquanto coloca o café de Carina
na frente dela e depois arruma minha parafernália de chá para mim. Seu sorriso
desaparece quando ela vê que Carina está chorando e suas bochechas ainda
estão molhadas. ─ O que em nome de Deus... ─ Ela olha para mim como se
eu fosse responsável pela angústia de sua amiga, mas então ela vê Dashiell
vagando pelo balcão e sua expressão escurece. ─ Ah não. Não, não, não. Eu
não sei quem você é ou qual é o seu nome, garoto, mas é melhor você sair da
minha vista em dois segundos ou você vai desejar nunca ter nascido.
Jazzy apenas o encara. ─ Rapaz, você deve ter levado uma pancada na
cabeça quando era criança. Você não vai conseguir nada. Agora dê o fora daqui
antes que eu chame a polícia.
10
Cappuccino com mais leite quente.
antes que ela possa sequer dar um chute nas calças do bastardo mimado. Ainda
assim, ela fala o que pensa; ela não se deixará intimidar por ele. Uma mulher
corajosa, de fato.
─ Aquele pedaço de merda presunçoso. Aposto que ele nunca teve sua
pele curtida para ele. Eu deveria fazer um favor a ele e colocá-lo sobre meu
joelho. Dar uma surra nele por causa daquela boca espertinha dele.
Ela pisca, como se estivesse voltando para seu corpo. ─ A direita. Através
das árvores. Olhe bem o suficiente e você verá.
... ou dele.
8
Wren
DE VOLTA A LANCHONETE, encostado na mesa em nossa cabine,
eu pressionei a lâmina chata e cega da faca de manteiga na ponta carnuda do
meu polegar, olhando para a parte de trás de sua cabeça, imaginando o que
diabos estava acontecendo lá dentro.
Quero saber tudo o que há para saber sobre ela, e quero possuir esse
conhecimento, assim como quero possuí-la. Estou determinado a torná-la
minha criatura. Meu animal de estimação. O desafio de uma tarefa tão
inconcebível deixa meu pau mais duro do que a porra de tungstênio.
Ele faz uma careta. ─ Sim. Certo. ─ Não volte. Ele ainda não deve ter
tomado um café. Enquanto estou pensando nisso, nosso ilustre líder abre a
frente de sua bolsa de discos e tira uma garrafa térmica, tirando a pequena tampa
branca de cima e desatarraxando o selo, inundando a sala com o cheiro amargo
e perfumado de arábica. ─ É aquela época do ano de novo, pessoal. Temporada
de tempestades. Tivemos vários novos alunos desde o início do inverno
passado, então essa informação é importante. Mesmo se você fosse um
estudante aqui no inverno passado, eu ainda apreciaria alguns segundos do seu
tempo para revisar isso. Pense nisso como uma atualização.
Fitz fala sobre os ônibus que virão nos levar da montanha se o estado de
emergência for declarado. Ele explica sobre as de saída de emergência, sobre
primeiros socorros, blá blá blá blá. Eu desligo, entediado até a porra dos
dentes. Já ouvi tudo isso milhares de vezes antes. Elodie não, no entanto. Ela
está paralisada, prestando atenção em cada palavra de Fitz, tomando notas
mentais para o caso de o desastre vir nos procurar aqui no Wolf Hall. Uma parte
estranha e desconhecida de mim quer tranquilizá-la e deixá-la saber que não há
nada para se preocupar. O resto de mim, a parte que conheço intimamente,
aprecia vê-la, toda tímida e preocupada.
Eu gosto das roupas dela. A camiseta dela ' sorria se você estiver morto por
dentro' é tão clichê quanto a pintura de Klimt, mas me diz algo sobre a maneira
como ela se vê. Seus jeans desgastados são tão apertados que parecem ter sido
pintados em suas coxas. Minhas palmas doem com a ideia de como sua pele,
músculos e ossos podem parecer através do jeans macio e gasto. Os
desalinhados Chuck Taylors parecem tão gastos que posso dizer que ela andou
centenas de quilômetros neles. Prefiro os Doc Martens que ela costuma usar,
mas gosto do jeito que os Chucks fazem seus pés parecerem pequenos e
delicados. Minha pequena Elodie tem os pés de uma porra de uma gueixa.
─ Dito isso, esses avisos parecem assustadores, mas realmente não há com
o que se preocupar. Este será meu décimo ano de ensino no Wolf
Hall. Algumas árvores caídas são as piores coisas que já vi. Siga seu dia
normalmente. Faça seu trabalho, certifique-se de seguir as regras, e tudo será
normal.
Eu deveria, mas não. Estou preso pela pressão de seus olhos em mim. Um
sorriso lento e astuto implora para ser desencadeado em meu rosto, e eu cedo,
dando-lhe rédea solta. Elodie pula, assustada, como se eu tivesse jogado um
balde de água gelada na cabeça dela. Ela desvia o olhar primeiro, e a satisfação
que corre lentamente como piche em minhas veias parece vitória.
O olhar enojado de Fitz é mais sujo do que a meia que Pax usa para se
masturbar. ─ Estou aqui para todos os meus alunos, Dami. Você está bem
ciente disso. Não há necessidade de feiura.
Damiana bufa. ─ Eu não poderia ser feia nem se tentasse, doutor. E você
é o único que mostra favoritismo para a nova garota, porque ela tem aquela
coisa inocente de olhos de corça e ela está balançando um grande par de
peitos. Eu diria que isso é feio, se você me perguntasse.
Dashiell não vai olhar para uma garota a menos que ela tenha dois
Ds11. Pax... Deus sabe o que diabos Pax gosta. Ele nunca demonstrou nenhum
tipo de padrão no que diz respeito às mulheres que ele seleciona. Ele está muito
mais interessado em suas personalidades. Parece besteira, mas é
verdade. Existem certas falhas e fraquezas que Pax procura em uma garota,
geralmente girando em torno de seus problemas com o pai. Eu? Eu gosto que
11
Está se referindo ao tamanho dos seios.
minhas meninas tenham seios menores. Qualquer coisa mais do que um
punhado é um desperdício. Eu não precisava do comentário obscuro de Dami
para chamar a atenção para o peito de Elodie – eu passei muito tempo pensando
sobre isso antes – mas desde que ela trouxe o assunto à tona, eu dou uma olhada
superficial nos seios de Elodie.
Sua camisa é dois tamanhos maior, inundando seu corpo, mas há uma
sugestão de seios ali. E a sugestão de seios é sempre muito mais excitante para
mim do que, digamos, o decote óbvio de Damiana. Essa merda é grotesca.
Fitz divaga, falando sobre segurança e usando o bom senso. Passo uns
trinta segundos preguiçosos imaginando como os lábios de Elodie ficariam
bonitos, entreabertos e molhados, se eu deslizasse minha mão por debaixo
daquela camiseta, puxasse para baixo o bojo de seu sutiã e viciosamente
enrolasse seu mamilo entre meus dedos.
Quando saio do meu devaneio, Kylie Sharp está lendo em voz alta um
livro encadernado, mas ninguém está prestando atenção. Damiana estala o
chiclete. Os olhos de Dashiell estão fixos em Carina. Pax está abertamente
adormecido, a cabeça pendendo sobre os ombros, os braços cruzados sobre o
peito, as pernas cruzadas nos tornozelos. O olhar de Fitz está em seus sapatos
e... ei, ei, ei... Calma ai, porra. Disfarçadamente, Fitz olha para cima, olhando para
Elodie com o canto do olho. Eu espero que ele desvie o olhar, mas ele se
demora nela, apenas um pouco demais. O músculo em sua mandíbula se
contraí. É quando ele finalmente desvia o olhar.
Sorriu.
Ela é a primeira a sair quando a campainha toca. Ela abaixa a cabeça, joga
a bolsa por cima do ombro, segurando uma pasta turquesa contra o peito, e sai
da sala antes que Carina esteja de pé.
Maravilha.
Ela limpa a garganta, anunciando sua presença. Estou olhando para meu
celular, fingindo ignorância, mas é claro que sei perfeitamente que ela está lá. ─
Carina.
Oh, oh, oh. Isso vai ser divertido. ─ Não seja tão devastadoramente
bonito? Não seja mais esperto do que cada homem neste lugar? Não faça meu
coração palpitar no peito toda vez que você olhar para mim?
A sala de aula está vazia agora, exceto eu e Fitz. Dashiell e Pax podem ser
meus meninos, mas nenhum deles suporta Fitz. Eles têm suas razões; eles não
vão ficar em sua sala de aula um segundo a mais do que o necessário para manter
suas notas.
Eu saio da sala dele assim que a primeira chuva começa a bater nas janelas.
9
Elodie
+972 3 556 3409: Não acredito que você se foi. Todos no Mary estão
devastados. Estamos todos em choque. Nunca te esqueceremos,
Elle. Você sempre fará falta. Eu te amo - Levi x
EU: Uau. Não precisa ficar dando uns amassos como se eu tivesse
morrido, cara. Não é como se eu tivesse me mudado para
Marte. Podemos descobrir uma maneira de nos ver nas férias se sua mãe
não te levar para a Suíça ou algo assim. Como vai tudo? O professor
Marshall já se internou na reabilitação?
─ Elodie?
Há algo no tom de Levi que me faz parar. Ele soa... não tenho certeza de
como ele soa. Algo não está certo, no entanto. ─ Lee? Você está bem? O que
aconteceu?
─ Você está viva? ─ ele sussurra. Sou amiga de Levi há dois anos. Não é
muito tempo nos livros da maioria das pessoas, mas nos esprememos muito
naqueles setecentos e trinta dias ímpares. Eu o conheço por dentro e por fora,
e ele também me conhece. Cada segredo obscuro, estúpido e embaraçoso que
eu já tive. Da Suécia, ele é bastante representativo de seu povo. Estóico, sério,
sempre calmo e profundamente enraizado, ele realmente não deixa que nada o
afete. Ele mantém suas emoções perto de seu peito. Essas palavras, no
entanto... sua voz estava embargada de lágrimas quando ele as disse. Meu amigo
está chorando.
─ Do que você está falando, eu estou viva? Claro que estou viva. Estou em
New Hampshire.
Eu estou viva.
─ O quê? ─ Do que diabos ele está falando? Por que diabos meu pai
contaria uma mentira tão cruel e escandalosa? Isso não faz sentido. ─ Ele não
fez isso. Ele não podia. Quero dizer... ─ Quero dizer, eu
posso totalmente imaginá-lo fazendo isso. Em seu melhor dia, ele é um monstro
vil que não dá a mínima para ninguém além de si mesmo e de sua preciosa
carreira. Por que ele teria dito isso, no entanto? Ele poderia ter dito aos
funcionários da casa de Maria Madalena que eu estava sendo realocada. Isso
acontece o tempo todo – alunos indo e vindo desses tipos de escolas.
─ Desculpe, eu sei que isso é loucura. Mas estou bem, Lee. Realmente, eu
prometo, estou totalmente bem. Nunca estive melhor, na verdade. Eu sei que
você provavelmente tem mil perguntas, mas eu tenho que ir. Eu preciso ligar
para o meu pai e descobrir o que diabos está acontecendo antes que eu tenha
um colapso nervoso.
─ Uhhh... tudo bem, ─ diz Lee, rindo trêmulo. ─ Tudo certo. Mas me
ligue de volta, sim? Se você não fizer isso, vou pensar que sonhei com isso e
você ainda está morta.
─ Não se preocupe. Eu vou 100% ligar para você de volta. Você tem
minha palavra.
O telefone toca oito vezes. Nove vezes. Dez. Acho que está prestes a cair
na caixa postal, quando o policial Emmanuel finalmente atende. ─ Escritório
do Coronel Stillwater. Como posso ajudá-lo?
─ Carl, é Elodie. ─ Carl está com meu pai há apenas seis meses, mas isso
é três meses a mais do que qualquer um de seus outros auxiliares
militares. Normalmente, os sortudos são transferidos rapidamente. Os caras
que não tinham cordas para puxar ou favores para pedir tiveram de alguma
forma superar mês após mês o comportamento explosivo e abusivo de meu pai
antes que ele finalmente perdesse a paciência com eles e os rebaixasse para
limpar latrinas.
─ Estou confusa agora. Eu tenho uma suspeita de que ficarei com raiva em
breve, no entanto. ─ Um grupo de garotas passa por mim no corredor, olhares
preocupados em seus rostos. Percebo como devo estar, abraçada à parede,
branca como um lençol, a tensão apertando minhas feições em uma expressão
de dor; Eu dou a elas um sorriso apertado para que elas saibam que está tudo
bem, mesmo que não esteja. ─ Por que diabos ele fez isso, Carl? Por que meu
amigo me ligou chorando, arrasado por que pensou que eu estava morta?
Oh. Meu. Deus. Inacreditável. ─ Então, ele disse a eles que eu tinha
morrido. A fim de obter um reembolso parcial para o restante do semestre. A
que isso chega? Quatro mil dólares?
Carl desiste da quantia exata com relutância. ─ Não exatamente. Uh... dois
mil, oitocentos.
─ Eu sei…
─ Ele deixou meus amigos acreditarem que eu morri por causa de dois mil dólares e
troco?
─ Eu tentei explicar a ele como isso pode fazer você se sentir. Sugeri que
lhe contássemos o que estava acontecendo para que você pudesse deixar seus
amigos saberem que estava bem, mas ele...
─ Algo parecido.
─ Jesus Cristo.
Carl ri nervosamente. Ele não era o único a chamar meu pai de bastardo
inacreditável, mas essas conversas são geralmente gravadas. Se o alto escalão
descobrir que ele estava presente para ouvir uma conversa fiada contra meu pai,
ele pode acabar em alguma merda séria.
─ Quer que eu diga a ele que você ligou? Eu poderia tentar convencê-lo a
estender a mão e explicar suas ações para si mesmo?
Quem fez isso não esfaqueou a cama apenas uma vez. Numerosos rasgos
de três polegadas no material, bem como rasgos mais longos e irregulares onde
a espuma e as molas dentro do colchão foram expostas.
─ …talvez tratado de uma forma mais… empática. Eu realmente não posso dizer
mais do que isso, é claro, mas…
─ Ah, desculpe, Carl. Alguma coisa... eu tenho que ir. Eu tenho que ir para
a aula agora. Obrigada por me explicar as coisas. Eu ficaria muito grata se você
não dissesse ao meu pai que eu liguei.
─ Puta merda!
Carina está parada na porta. Ela fica boquiaberta com o caos com horror,
seus olhos percorrendo meus pertences quebrados e arruinados. Vejo o pássaro
de porcelana que minha mãe me deu no meu décimo aniversário, esmagado em
pequenos fragmentos e moído na pilha baixa do tapete, e um grito de dor escapa
da minha boca.
Carina me deixa em seu quarto e me diz para manter a porta fechada. Ela
desaparece por um longo tempo, e eu não faço nada além de olhar para o
espaço, pensando no pássaro...
O branco de seu peito, que desvaneceu para o azul de suas costas, que se
aprofundou no escuro, azul meia-noite nas pontas de suas asas.
Uma eternidade passa. O diretor Harcourt vem me ver. Me diz que eles já
conseguiram outro colchão para mim... ─ Muita sorte, na verdade. É novo, ainda no
plástico! ─ e eles arrumaram a maior parte da bagunça. Ela me informa que é
seguro voltar para o meu quarto agora, o que parece risível e absolutamente
estúpido porque é claro que não é seguro, alguém esfaqueou minha cama até a morte,
mas eu a sigo, minhas pernas mecanicamente fazendo seu trabalho enquanto
reentro no quarto 416.
─ Receio que Gustav tenha aspirado algumas das peças antes de perceber
que havia algo no tapete, ─ diz a diretora Harcourt da porta. Sua voz é cortada
e áspera, e ela claramente não quer mais lidar com isso. Ela tem coisas melhores
para fazer às oito da noite em uma noite escura e tempestuosa, e nenhuma delas
inclui pacificar uma adolescente problemática sobre um enfeite quebrado. ─ Se
você sabe de onde veio, nós vamos te dar outra ave também, Elodie. Teremos
um novo laptop para você em breve, espero. Basta fazer uma lista de tudo o
que você precisa, e vamos ter certeza de que será atendida.
Ela se vira e sai pelo corredor, seus saltos batendo furiosamente contra a
madeira enquanto ela vai, deixando eu e Carina sozinhas no meu quarto, que
agora cheira a produtos químicos, plástico e colchões novos.
─ Quer que eu fique com você? ─ Carina coloca uma mecha de cabelo
atrás da minha orelha. ─ Eu não me importo. Podemos assistir algo no meu
laptop. Comer um pouco de chocolate? Eu tenho um estoque no meu quarto.
Carina parece insegura, mas aceita minha decisão com um sorriso triste e
me dá um último abraço. ─ Tudo bem. Estou do outro lado do corredor se
precisar de mim, ok? Me mande uma mensagem se mudar de ideia.
Elodie
NINGUÉM DISSE uma palavra sobre a faca saindo da minha cama.
Achei que seria a primeira coisa que a diretora Harcourt queria discutir
comigo. Certamente, ela deveria querer me assegurar que eu estava segura, e
que ninguém teria permissão para me machucar aqui na Academia Wolf
Hall. Ela parecia muito mais preocupada em substituir minhas coisas
danificadas em vez de chegar ao fundo do assunto.
O treinamento de estilo militar que passou como minha infância não foi
apenas físico, no entanto. Foi mental também. Fui ensinada a ler e avaliar uma
situação à primeira vista desde muito jovem. Sei ler um quarto e desmontá-lo,
peça por peça, sem tocar em nada. O coronel Stillwater me treinou como tirar
conclusões educadas sobre a intenção de uma pessoa de suas ações, e eu já tirei
várias conclusões educadas sobre a invasão, com base no que observei durante
os primeiros cinco segundos depois que entrei no meu quarto.
Ou pelo menos esse não era seu objetivo principal, de qualquer maneira.
É possível que a faca na cama não fosse uma ameaça. É possível que quem
invadiu meu quarto tenha sido perturbado em algum momento, seja por mim
ou por outra pessoa, e tenha fugido, deixando a lâmina enterrada até o cabo por
acidente.
Não tenho motivos para acreditar que foi Wren quem fez isso, mas cada
célula do meu corpo está gritando que foi ele. O jeito que ele estava olhando
para mim durante nossa aula de inglês... parecia que ele estava planejando coisas
terríveis e malignas, e por algum motivo doentio eu não conseguia me forçar a
parar de olhar para ele. Àquela hora, presa na sala do doutor Fitzpatrick, foi
uma vergonha. Eu deveria ter um pouco mais de autocontrole. Eu deveria ter
sido capaz de bloquear Wren. Eu nunca tive problema em ignorar um cara com
um problema de atitude antes, mas esse cara. Esse cara. Ele é diferente.
Eu suspeito que ele é muito mais do que posso lidar. E invadir meu
quarto? Quebrando todos os meus bens pessoais? Destruir a única coisa que eu
realmente, realmente prezo? Isso é tão frio e calculista que eu estou realmente
preocupada que eu possa não ser capaz de administrar as atenções de um cara
como Wren Jacobi sozinha.
Estou muito agitada para dormir, então ando de um lado para o outro
perto da janela, revirando as coisas na minha cabeça. O que diabos ele quer de
mim, porra? E o que diabos ele queria neste quarto? Eu sei tão pouco sobre
Wren que adivinhar as respostas para essas perguntas é quase impossível.
Então, o que eu faço sobre ele? O que eu faço com esse fascínio
perturbador que sinto enrolado como uma cobra em minhas entranhas toda vez
que penso em seu nome amaldiçoado? Como diabos eu consigo passar por
esses meses finais no Wolf Hall sem cair em algum ato terrível e
sombrio? Porque parece que algo terrível e sombrio está prestes a
acontecer. Assim como as nuvens de tempestade acumuladas no céu acima de
Wolf Hall, essa sensação de mau presságio me pressiona de cima, me enchendo
de pavor.
Pela forma como Carina reage sempre que Wren, Dashiell ou Pax estão
por perto, minhas preocupações parecem justificadas. Dashiell a tratou
horrivelmente e partiu seu coração, mas algo em minhas entranhas me diz que
há mais nessa história do que ela está deixando transparecer. Acho que ela está
guardando segredos, e não a invejo. Somos amigas há pouco mais de uma
semana. Não posso esperar que ela confie em mim, quando nenhum de nós se
conhece ainda.
Ela me avisou para não chegar perto dos meninos ou de sua preciosa Riot
House, mas merda. Se há algo que eu preciso saber, algo específico que poderia
me impedir de ficar seriamente, realmente ferida, então isso seria uma
informação útil.
A melhor coisa que posso fazer é ficar bem longe de Wren e seus
amigos. Evitar o contato com eles a todo custo. E colocar a porra de uma
fechadura na porta do meu quarto, mesmo que seja proibido de acordo com o
livro de regras do Wolf Hall. Ordenanças de Incêndio, ou saúde e segurança,
ou algo assim. Eu desafio qualquer um a me desafiar por um pouco de proteção
para mim e meus pertences, agora que isso aconteceu, no entanto.
À meia-noite, a tempestade lá fora ficou tão forte que o vento uiva pelas
frestas das janelas, e a chuva caindo sobre os beirais acima da minha janela
parece que a antiga unidade do meu pai está praticando seus exercícios bem em
cima de mim. Está tão escuro lá fora que mal consigo distinguir os galhos dos
enormes carvalhos que se erguem sobre o labirinto, balançando e gemendo sob
o ataque elemental.
Mas esse tipo de clima não me parece natural. Eu nunca experimentei nada
remotamente parecido. Eu odiava tempestades desde criança, mas meu medo é
amplificado mil vezes esta noite, dado o que aconteceu no meu quarto.
Urgh.
Provavelmente imaginou, Stillwater. Ninguém está lá fora esta noite, depois das duas
da manhã, sob a chuva torrencial e o frio. Não tem jeito. Ninguém em sã consciência...
─ Que diabos? ─ Eu olho para fora da janela, tentando ver de onde está
vindo, mas com a chuva e a cobertura de nuvens impenetravelmente espessa
esta noite, é impossível ver muito mais do que contornos turvos do mundo
além do meu quarto.
─ Seja o que for, não é da minha conta. ─ Eu digo isso em voz alta,
querendo dizer isso com cada fibra do meu ser. Se alguém é burro o suficiente
para enfrentar essa loucura, deve ser por um bom motivo. Provavelmente é um
dos professores, lidando com algum tipo de dano climático, fechando as
escotilhas.
Respire…
Expire…
Pausa.
Respire…
Expire…
Pausa.
Repito o movimento, enxáguo e repito, uma e outra vez, mas minha mente
simplesmente não se aquieta. Caramba. Eu abro meus olhos, suspirando um
gemido pesado. E ali, do outro lado do meu quarto, projetado sobre a porta de
madeira, está um retângulo imperfeito de luz.
Okaaay.
Ele liga e desliga em rápida sucessão, como uma luz de tira com
defeito. Parece aleatório no início, mas quando olho para ele um pouco mais,
percebo que a luz estroboscópica não é aleatória. Não é nem um pouco
aleatório.
PWC?
VOCÊ
UMA
COVARDE
STILLWATTER
Que diabos? Eu me lanço para fora da cama. A chuva está tão forte, ainda
pior do que antes, rolando pela janela em lençóis, que não consigo mais ver o
labirinto. Tudo o que vejo é o desafio lançado, o desafio de alguém esperando
lá no escuro. Por mim.
***
Graças à evacuação apressada do Coronel Stillwater de Tel Aviv, não tive
tempo de comprar roupas novas antes de ser colocada naquele veículo de
transporte de pessoal. Não tenho nenhum casaco comigo. Não um que forneça
qualquer tipo de proteção contra o vendaval que está soprando lá fora. Quando
saio pela porta da frente, aperto minha jaqueta leve e fina demais ao meu redor,
grata por pelo menos meus pés ficarem secos dentro do meu Doc Martens. A
chuva me atinge bem no rosto, congelante, forçando uma série de palavrões
saírem da minha boca enquanto eu abaixo minha cabeça, avançando, para o
turbilhão.
Logo, eu fiquei tão desnorteada que não tenho ideia de qual caminho devo
seguir. Posso sentir a decepção de meu pai irradiando desde o Oriente
Médio. Ele não teria se perdido neste lugar de pesadelo. Ele teria escavado seu
caminho através das fodidas paredes, armado e pronto para enfrentar qualquer
perigo que o aguardasse em seu coração.
Não estou muito preocupada em ter perdido meu caminho. Eu sei que se
eu continuar girando na mesma direção, uma e outra vez, eventualmente
chegarei ao seu ponto central. Então é isso que eu faço, virando à esquerda em
cada cruzamento ou bifurcação no caminho, as solas das minhas botas
esmagando o cascalho, e me esforço para acalmar meus nervos.
Eu grito.
Jesus, eu grito.
─ Jesus, Stillwater, pare de gritar. Você vai acordar a porra dos mortos.
Presumi que eram apenas os delírios de uma velha louca, mas olhando
para Wren agora, de pé na chuva como se ele estivesse passeando em um dia
ameno de verão, estou começando a pensar que ela poderia estar certa.
Constituição fraca. Vou dar-lhe uma constituição fraca. Vou acabar com
ele, isso sim.
12
Papai Noel.
A sobrancelha escura de Wren se arqueia, o canto direito de sua boca
levantando enquanto ele faz um show de lentamente oferecendo sua mão para
mim, palma para cima. ─ Eu sei o caminho, ─ diz ele sombriamente.
Olho para sua mão estendida como se estivesse coberta por uma bactéria
mortal. ─ Para onde?
─ Para se aquecer. Abrigo. A menos que você prefira passar mais trinta
minutos aqui, girando seus saltos na lama antes de descobrir a saída daqui. Você
decide. Prerrogativa da mulher e tudo mais. É tudo o mesmo para mim. ─ Ele
inclina a cabeça para o lado, ambas as sobrancelhas se erguendo agora, e meu
coração de Judas tropeça em si mesmo. Droga, eu quero socá-lo em sua
garganta presunçosa mais do que eu queria qualquer coisa em toda a minha vida.
***
Em cinco curvas fechadas através de entradas que eu não vejo até o último
segundo, Wren nos coloca no centro do labirinto. Entre uma profusão de
roseiras, cujas flores tardias foram esmagadas e obliteradas pela chuva, suas
pétalas vermelho-pêssego espalhadas por todo o chão, um gazebo atarracado
fica em uma plataforma elevada sob os galhos maciços de um dos carvalhos
gigantes. que fica de guarda sobre o labirinto.
Wren sobe os degraus que levam até a entrada do gazebo fechado, parando
na frente da porta, sua mão pálida descansando na maçaneta de bronze
desgastada. ─ Este lugar está fora dos limites, ─ diz ele. ─ Não deveríamos
estar aqui fora.
Ele parece satisfeito. É difícil dizer com ele, no entanto. Ele também pode
parecer que quer me matar. Eu realmente não consigo me decidir. Girando a
maçaneta, ele empurra a porta aberta, recuando e passando o braço para frente
dele, gesticulando para eu entrar.
Eu olho para ele com desconfiança enquanto passo por ele para o gazebo.
Agradecida por não estar mais sendo açoitada pela chuva, me inclino
contra a parede, suspirando de alívio. O interior do gazebo é surpreendente
para dizer o mínimo. Eu estava esperando alguns bancos de madeira e algumas
latas de refrigerante vazias rolando no concreto nu, mas estava completamente
enganada. A decoração - porque o lugar realmente tem uma decoração - é
impressionante. O piso de parquet polido ao redor das bordas dá lugar a um
tapete creme espesso e macio. Um sofá e duas poltronas estofadas foram
dispostas em frente a uma lareira apagada do outro lado da área. Ao redor da
parede curva em frente à porta, uma estante baixa de três prateleiras se curva
sob o peso de inúmeros volumes grossos e pesados com lombadas de couro e
bordas douradas. Plantas em vasos estão em todas as superfícies planas:
trepadeiras, samambaias e uma falsa seringueira, todos se acotovelando por
espaço e luz nas janelas, que são cobertas de sujeira por fora, mas limpas por
dentro.
Wren chuta suas botas enlameadas, descartando-as na porta. Ele não está
usando meias, o que me faz estremecer sem uma boa razão. A visão de seus pés
descalços, enquanto ele caminha pelo tapete grosso em direção à lareira, me
deixa tão inesperadamente desconfortável que eu nem tenho a decência de
desviar o olhar. Ele se curva pela cintura, pega um pedaço de madeira cortada
de uma cesta de vime ao lado do fogo, e olha para baixo, virando-o em suas
mãos. ─ Deve ser para o corpo docente. Nós o requisitamos quando chegamos
aqui, no entanto. Fitz é o único que sabe que viemos aqui e faz vista grossa.
Ele pega mais madeira, agachando-se para arrumar as peças a seu gosto,
antes de arrancar páginas de um jornal velho a seus pés, enrolando as folhas e
enfiando-as nas aberturas na base de sua pira apagada. Ele não diz uma palavra.
Ele olha para mim por cima do ombro, seus lábios entreabertos, um olhar
estranho em seus olhos. O breve momento de contato visual que
compartilhamos me faz querer me esconder atrás da porra da
estante. Afastando-se, ele acende um fósforo cumprido e segura a chama
bruxuleante contra o papel até que cada uma das bolas amassadas esteja acesa. ─
Seu pai também lhe ensinou código Morse, certo?
─ Não.
Eu não gosto que ele seja capaz de deduzir tanto sobre mim. É injusto que
ele esteja armado com informações que eu não sei sobre ele em espécie. Há
coisas... coisas que ele não pode saber. Coisas que foram enterradas tão bem e
tão profundamente que nem ele poderia ter desenterrado. ─ Eu não vejo como
isso é importante, ─ eu digo.
─ Não.
─ Não, você não pratica mais, ou não, você não quer treinar comigo?
─ Não, eu não pratico aqui. Por que eu faria quando eu não preciso? E
podemos parar de falar sobre meu pai, por favor? Essas coisas são privadas.
Ele faz uma pausa, a uma polegada de distância do meu rosto. Ele tem
mãos de pianista, com dedos longos e hábeis. Estou fascinada com a visão
deles. Pelo pensamento do que ele poderia fazer com eles se não fosse
controlado. Suas unhas ainda estão cobertas com o mesmo esmalte preto
lascado que notei na minha primeira noite no Wolf Hall. ─ Você é uma coisinha
inconstante, ─ ele resmunga. Eu me ressinto do jeito que sua voz faz minha
pele arrepiar.
─ Perdoe-me por ser cautelosa, mas não sei nada sobre você. Nós não
somos amigos, ─ eu devolvo para ele. ─ Não estou acostumada com as pessoas
pensando que podem me tocar sem ser convidadas.
Ele deixa cair a mão de volta ao seu lado, um sorriso lento se espalhando
por seu rosto maldito. ─ Certamente vou esperar até ser convidado,
então. Você tem uma pétala de rosa no cabelo. Eu só ia tirar isso para você.
Antes que eu possa pensar no que ele está fazendo, ele puxa o material
encharcado de sua camisa sobre a cabeça e se vira, caminhando de volta para o
fogo, onde ele pendura a peça de roupa no manto para secar. Eu fico olhando
para suas costas – uma extensão nua de músculos e pele bronzeada e impecável
que faz minha garganta pulsar. Essa camisa, a mesma camisa que ele está usando
dia após dia desde a primeira noite em que o encontrei do lado de fora do Wolf
Hall, esconde uma infinidade de pecados: braços fortes, costas largas e fortes e
um peito que faria Michelangelo chorar. Seu corpo é nada menos que divino.
Ele me encara e fica ali parado, deixando-me descaradamente levá-lo para
dentro. Eu deveria ter algum respeito próprio e desviar o olhar. Eu não posso,
no entanto. Eu nunca vi nada como ele antes, esculpido, magnífico em sua
perfeição. Eu me abstenho de contar seu abdômen. É o suficiente que eles
estejam lá, e eles estejam definidos. Do alto de sua cabeça ao cós baixo de sua
calça jeans, Wren é o material de sonhos doces e celestiais e pesadelos retorcidos
e aterrorizantes.
Seus olhos queimam, febris e ferozes, enquanto ele os usa para me perfurar
até o âmago e me estripar com uma facilidade praticada. Quantas garotas ele
trouxe aqui e tirou essa merda? Quantas alunas do Wolf Hall ele arrastou aqui
no meio da noite e deixou perplexa ao se despir até sua pele nua e gloriosa? Sua
lista de baixas deve ser longa demais para ser compreendida.
Ele ri baixinho. ─ Não sou uma pessoa muito colorida. Preto combina
melhor com meu comportamento.
─ Ah. Sim, eu posso ver isso. Preto como seu coração? Como sua alma?
Isso tudo é tão inútil e irresponsável que estou furiosa comigo mesma de
repente. Ele está brincando comigo, e eu estou deixando-o, permitindo que ele
me manipule e puxe minhas cordas. Ele sabe como ele é. Ele também sabe
como sua aparência deve afetar os membros do sexo oposto. Ao me agarrar à
parede e engasgar com todas as minhas palavras, estou alimentando sua
necessidade de atenção. ─ Sabe o que me deixa desconfortável? ─ Eu estalo,
espreitando através do espaço. ─ Voltar ao meu quarto para encontrar uma faca
bowie saindo do meu colchão e meus pertences em pedaços. Isso me deixa
realmente desconfortável pra caralho.
Do sofá, Wren olha para mim com uma carranca sutil e convincente,
franzindo as sobrancelhas. ─ Faca Bowie?
─ Não me venha com essa merda, Jacobi. Você sabe exatamente do que
estou falando. Você destruiu meu quarto e cortou meu colchão. Se você estava
tentando colocar o medo de Deus em mim, então não funcionou, ok? Então
apenas... fique longe do meu quarto.
─ Para com graça. Eu sei que foi você. Quem mais se incomodaria?
Não há uma boa explicação para Wren ter bagunçado meu quarto.
─ Vou responder sua pergunta, mas não até que você venha e se sente, ─
ele interrompe. ─ Com você em cima de mim com aquela porra de casaco
gigante, isso está começando a parecer um interrogatório.
Eu quero ir. O tempo não melhorou nos últimos cinco minutos, no
entanto. As chances de eu encontrar meu caminho de volta para fora do
labirinto são pequenas neste momento. Não vai me fazer nenhum bem me
perder lá de novo, e eu não acho que Wren vai me ajudar a voltar para Wolf
Hall a menos que eu aceite.
Eu estreito meus olhos. ─ Por que tenho a sensação de que ser o assunto
de seu interesse é ruim para a saúde de uma garota?
13
O plexo solar é uma complexa rede de neurônios que está localizada atras do estomago e embaixo do
diafragma.
certo? Entre você e seus amigos da Riot House? Ou você vai me dizer que ela
inventou isso?
A mão de Wren para, uma franja de uma das almofadas presa entre seus
dedos longos. Ele olha para mim – para mim? — imóvel e sem piscar. ─ Houve
uma aposta, ─ ele confirma. ─ Eu deveria dormir com dez garotas entre o
Halloween e o Natal, e não dormi. Foi assim que fiquei preso usando a mesma
merda por um mês.
Huh. Estou surpresa que ele realmente admitiu isso. ─ O que aconteceu?
─ Eu pergunto. ─ As meninas começam a conversar e comparar notas? Você
falhou no último obstáculo depois de colocar nove pontos extras no seu
cinto? ─ O comentário soou frio e indiferente dentro da minha cabeça. Fora da
minha boca, soa azedo e bobo.
─ Não vamos falar sobre porra nenhuma disso. ─ Wren se inclina para
frente, apoiando os antebraços nas coxas. ─ Palavras mesquinhas não nos
levarão a lugar nenhum rapidamente. Incomoda você que eu não tenho me
guardado para o casamento ou algo assim?
─ Sim, eu gosto quando as coisas são claras. É por isso que eu vou deixar
você saber aqui e agora que eu nunca vou me ajoelhar por você. Você é um
monstro, que adora tratar as mulheres como merda...
─ Você não sabe como eu trato as mulheres. Você não sabe nada sobre
mim, lembra?
Este filho da puta. Ele tem uma resposta para tudo. ─ As aparências
indicariam que você mastiga as mulheres e as cuspe como se fossem uma
mercadoria descartável. Tenho certeza de que você ficou furioso por ter
perdido aquela aposta, não ficou? Deve ter doído que você não conseguiu
convencer dez pobres garotas a mergulhar na cama com você.
Meu coração está batendo forte no meu peito, mas Wren apenas fica
sentado lá com o queixo na mão, a luz do fogo ainda jogando em todo o seu
elegante e masculino corpo, completamente impassível enquanto ele me
observa reclamar. Ele parece pensativo quando diz: ─ Você descobriu tudo,
não é? Você quer saber a verdade? A verdade é que não tive de tentar ganhar
aquela aposta. No momento em que Pax contou a Damiana sobre isso, estava
em toda a academia no final do dia. E então eu tinha garotas tropeçando em si
mesmas para me foder. Eu poderia ter triplicado minha cota em vinte e quatro
horas. Nem mesmo eu tenho esse tipo de resistência.
─ Uau. Grande homem. Então, você ganhou a aposta, afinal. Você
acabou de aceitar a punição por puro inferno?
─ Então, você é um bom menino, afinal. Uma virgem santa. Foi isso que
você me trouxe aqui para me dizer? ─ Absurdo. Se ele tentar me convencer
legitimamente de que tem moral e nunca dormiu com uma aluna do Wolf Hall,
então eu o conhecerei exatamente por quem ele é: um mentiroso descarado.
Essa escolha de palavra – deflorar – é risível. Isso implica que Wren já foi
inocente, antes de ser arrancado e manchado pelas mãos de outra pessoa. Wren
nunca foi inocente. Ele saiu do ventre corrupto e depravado, tenho certeza
disso.
─ E não. Eu já posso ver isso em seu rosto. Você sabe a verdade. Eu sou
a coisa mais distante do bem que você encontrará aqui também. Você não quer
saber o que eu perdi por não jogar junto com a aposta de Dashiell e Pax?
Wren pesa sua resposta rapidamente. Ele mal tem que pensar na
resposta. ─ Eu me importo com Pax. Eu me importo com Dashiell. Mas não
da maneira tradicional que a maioria dos caras do ensino médio se preocupam
uns com os outros. Eles não são meus irmãos. Eles não são meus manos. Eles
são oxigênio. Luz do dia. Cordialidade. Familiaridade. Abrigo. Casa. Segurança.
As outras pessoas vagando pelos corredores desse buraco de merda esquecido
por Deus? Eu me importo com eles? Não, Stillwater. Eu não me importo. Eu
não dou a mínima para nenhum deles, e não tenho medo de admitir isso.
Urgh. Vai ser uma droga voltar para aquela tempestade. Eu me levanto, já
tremendo com a perspectiva da chuva gelada batendo no meu rosto. ─ Vou
voltar para o meu quarto. Isso é uma perda de tempo. Eu...
Eu me afasto dele, e meu peito aperta quando as costas das minhas pernas
batem na poltrona em que eu estava sentada um momento atrás. Eu vou ter
que escalar a porra da mobília se eu quiser ficar longe dele, o que não vai parecer
gracioso ou digno. Eu farei isso de bom grado, porém, se isso significa que eu
escape dele.
Wren tem outras ideias. Ele dá um último passo, tão perto de mim agora
que posso sentir seu hálito quente deslizando sobre minha bochecha, posso ver
as manchas âmbar e ouro em torno do poço negro de sua pupila dilatada. Eu
não posso me mover. Eu não consigo respirar. Se eu piscar, suspeito que ele vai
me atacar e me despedaçar. Ele pega uma mecha do meu cabelo úmido e
emaranhado, enrolando-o pensativamente em seus dedos. ─ Você não é uma
aposta, Elodie. Eu tive que negociar com eles por você. Eu tive que quebrar
minhas próprias regras para reivindicar você, e isso me custou muito.
Por cima do meu pânico paralisante, uma raiva quente e furiosa começa a
crescer. Quem diabos ele pensa que é? Tão fodidamente intitulado. Tão
fodidamente arrogante. ─ Você não pode negociar sobre uma pessoa. Eu não
pertenço a nenhum de vocês. Não vou ser negociada como um pedaço de
carne. ─ Meu pulso está martelando em trinta pontos diferentes por todo o
meu corpo: nas minhas têmporas, nos meus ouvidos, nas pontas dos meus
dedos. Em meus lábios…
Wren olha para minha boca. Ele parou de respirar, apertado, enrolado
como um caçador, pronto para atacar a qualquer momento. Eu... Jesus Cristo,
eu tenho que sair daqui, antes...
Wren puxa meu cabelo, inclinando-se ainda mais perto, suas pálpebras
semicerradas enquanto ele inclina a cabeça para um lado, avaliando minhas
feições. Eu balanço para trás em meus calcanhares. Passa um momento sem
peso e terrível, onde registro o quão desequilibrada estou e percebo que estou
prestes a cair. Então estou sentada pesadamente na cadeira atrás de mim, o ar
saindo dos meus pulmões enquanto Wren continua a pressionar para frente. Ele
coloca uma mão no braço da cadeira, a outra no encosto, bem acima da minha
cabeça. Estou presa em uma gaiola feita por seu corpo, e tudo que posso sentir
é o cheiro dele – um cheiro escuro, inebriante e lindo que provoca a parte de trás
do meu nariz. Isso me lembra as flores desabrochando à noite, e os passeios
frios de inverno com minha mãe, o oceano e a oficina de carpintaria do meu tio
Remy.
Puta merda. A próxima vez que eu sentir esse cheiro, não vai me lembrar
de nenhuma dessas coisas. Poderoso o suficiente para substituir minhas
memórias, da próxima vez que eu sentir esse cheiro, ele me lembrará deste
momento, presa nesta cadeira, do jeito que meu coração está disparando e eu
sinto que estou prestes a morrer uma morte deliciosa. ─ Afaste-se de mim,
Wren, ─ eu sussurro.
Ele sorri tristemente. ─ Gostaria de poder, Stillwater. Mas não está nos
cartões.
Estou pronta para reagir. Ele está prestes a me beijar. Eu não tenho medo
disso. Estou tremendo e não consigo pensar direito, mas não
estou com medo. ─ Para trás, Wren.
Eu quero o beijo. Quero que ele sofra por essa invasão do meu espaço
pessoal. Estou em guerra comigo mesma, e honestamente não sei como vou
reagir se ele fizer uma jogada.
─ Eu quero que você me deixe sozinha. Eu quero que você fique longe
do meu quarto.
─ Elodie.
Minha voz é irregular e cheia de nervos. ─ Eu sei que você está mentindo.
Porra.
Wren
Quatro dias depois
Ela não olhou para mim desde então. Eu passei por ela no corredor. Eu a
observei na aula. Eu me sentei na mesma sala que ela, fustigada por sua raiva
tangível, e cada segundo foi o paraíso. Ela não saiu do lado de Carina. Eu sei
que ela está se certificando de que não fiquemos sozinhos juntos, e esse
joguinho que estamos jogando me levou ao ponto da insanidade. Eu poderia
tê-la puxado para um armário agora. Eu poderia tê-la arrastado para os
vestiários, ou encurralado ela no refeitório, ou perseguido ela direto para os
banheiros femininos, mas cheguei à gloriosa percepção de que essa coisa entre
nós – essa expectativa inebriante que me mantém acordado quando eu me jogar
na cama às três da manhã — é muito mais divertido do que tentar apressar a
situação.
Ela virá até mim. Ela não vai resistir. É só uma questão de tempo. E eu
tenho muitas coisas para manter minha mente ocupada enquanto espero que
sua curiosidade tire o melhor dela.
DAMIANA: Quando você vai desistir? Você sabe que fazemos
sentido. Somos cortados do mesmo tecido. Por que você iria querer se
contentar com um pouco de puritana se você já sabe o quão bom é o meu
gosto?
EU: Deixa pra lá. Alguns erros não estão destinados a serem
repetidos.
14
Um tipo de remédio da espécie da Oxicodona extremamente viciante.
DAMIANA: ERRO? Você não estava chamando assim quando eu
engoli sua porra, filho da puta.
─ Foda-se, Lord Lovett. ─ Quando alguém chama Dashiell pelo seu título
completo, normalmente é dito com uma certa gravidade e respeito. Quando
Pax usa o título completo do nosso amigo, parece que ele está mastigando
vespas. Dashiell é imune ao mau humor de Pax, no entanto. Ele graciosamente
desliza para o banco da frente ao lado de Pax, dobrando seu corpo como um
maldito dançarino enquanto se enfia no carro.
E eu. Eu sou o recluso. A panela de pressão. O cara que mal fala, cuja pele
começa a coçar se tiver que dizer mais de três frases em público, na
verdade. Que odeia quase todo mundo e acha repugnante a ideia de ter amigos por
perto.
15
O melhor dos melhores – francês
16
Novos - francês
─ Você está quieto aí atrás, ─ acusa Dashiell, olhando por cima do ombro
para mim, onde estou esparramado no banco de trás do Charger. ─ Porra,
Jacobi. Você é fisicamente incapaz de se sentar direito? ─ Ele curva uma de
suas sobrancelhas loiras sujas em um ponto de interrogação. ─ Acho que nunca
vi você utilizar uma cadeira corretamente. Você sabe que deveria se curvar no
meio e se sentar em um ângulo de noventa graus, certo? Sua postura é atroz.
Dash me ignora. ─ Quanto tempo ele levou para sujar Erica Judge quando
ela apareceu pela primeira vez? ─ ele pergunta a Pax.
─ Ei! Que porra, cara! ─ Pax olha para mim por cima do ombro. ─ Se
você está tendo problemas para deixar seu pau duro, eu tenho muitos remédios
que vão ajudá-lo a fazer o trabalho. Chute essa merda de novo, e você pode sair
e caminhar.
─ Jesus Cristo, ─ Dash geme. ─ Deixe-o sair antes que ele exploda como
a porra do Etna. Não há necessidade de ficar tão rabugento, sabe, ─ ele me diz,
girando em sua cadeira. ─ Você gosta de algo sobre essa garota. Por alguma
estranha razão, você decidiu que ela é a Morticia do seu Gomez. Não há
necessidade de deixar sua insanidade temporária causar discórdia entre nós três,
no entanto.
Eu quero o que qualquer cara na minha posição iria querer: sua rendição
completa e incondicional.
Pax e Dashiell esperam por mim nos degraus de mármore desgastados que
levam até a entrada da academia. Eles são da mesma altura, e seus corpos são
bastante semelhantes também. É aí que suas semelhanças chegam a um
impasse. Sem mim, os dois homens parados lado a lado diante daquelas portas
pretas laqueadas provavelmente se desprezariam com uma intensidade ardente
geralmente reservada a membros de religiões opostas.
─ Aquele pequeno intervalo consertou seu humor salgado, princesa?
─ Pergunta Pax. Seus olhos ainda estão cheios de fúria sobre o incidente do
encosto de cabeça. Ele não vai me perdoar até que eu peça desculpas, e mesmo
assim ele pode não me absolver do meu crime hediondo; aquele carro é seu
orgulho e alegria.
Eu apenas preciso…
─ Estarei pronto para sair às seis, ─ eu digo, batendo a mão nos ombros
de qualquer um dos meninos quando passo por eles. ─ Vejo vocês de volta na
casa.
Abro as portas pesadas e entro na escola, deixando-os para trás. Pax não
pode me deixar ir sem ter a palavra final, no entanto. ─ Você está agindo como
se ela fosse o pote de ouro, esperando por você no final do arco-íris, cara. Mas
você está se envergonhando, Jacobi. Ela é apenas uma garota. Ela é apenas uma
garota do caralho!
No escuro…
Eu paro de beber.
Ele enfia o canudo fino pelo buraco, me provocando, tentando me convencer a tomar um
gole, mas eu já me decidi.
O corpo humano pode sobreviver por semanas sem comida, desde que tenha água.
Elodie
SER RESSUSCITADO dos mortos tem seus benefícios.
Meu Deus. Pedro, Pedro, Pedro. Isso é o que você ganha por não me convidar para o
baile de inverno, nã – WOAH! O impacto tira o ar dos meus pulmões. Eu afundo,
dedos agarrando o ar enquanto caio de lado, tentando fechar minha mão ao
redor do meu celular. É tarde demais, no entanto. O dispositivo gira de ponta
a ponta, movendo-se muito devagar enquanto desce, despenca, desce... e atinge
o piso de mármore polido na entrada com um estalo de partir o coração!
O lábio superior de Wren se curva para cima; ele parece enojado quando
passa por cima de mim. Eu recebo um close-up do piso de suas botas, a três
centímetros de distância do meu nariz, antes de fechar os olhos, comida viva
pela vergonha. ─ Parece que seu telefone acabou de ser desativado, ─ resmunga
Wren. ─ Que pena. O lugar de conserto mais próximo fica a 80
quilômetros. Deveria ter olhado para onde você estava indo.
─ Deus, Jacobi. Muito bem. Não achei que fosse possível ser ainda mais
idiota, mas você continua subindo de nível. ─ Carina chega, vestida com um
agasalho amarelo e azul Wolf Hall, o cabelo preso em tranças apertadas e
arrumadas. Ela pega o telefone primeiro, presumivelmente para que Wren não
possa pisar na maldita coisa e triturar a tela sob o salto de sua bota. Ela vem
para mim em seguida, me dando uma mão e me puxando para os meus pés.
Foda-se. Meu telefone está ferrado. A tela não está apenas rachada. Está
escuro e a luz de fundo está completamente apagada. Isso é apenas típico. No
momento em que eu finalmente volto a entrar em contato com Levi e Ayala,
bum! Com meu laptop ainda fora de serviço e demorando muito para ser
substituído por Harcourt, meu único meio de comunicação com o mundo
exterior acabou de morrer bem diante dos meus olhos.
─ Vai ter que ser. Meu pai não vai deixar comprar um telefone novo no
meu cartão de crédito. Sem chance. Ele só me deu este. Ele...
Garota estúpida.
Descuidada…
Imprudente…
Irresponsável…
─ Eu levaria você para consertá-lo amanhã, Elle, mas prometi que ajudaria
a organizar uma festa na cidade. Posso levá-la no próximo fim de semana, no
entanto?
─ Elle? Não combina com você, ─ Wren zomba.
Carina faz uma careta. Ela me pega pela manga do meu suéter e me puxa
em direção à nossa aula de ciências, assim que o sinal anuncia nosso atraso. —
Você nem imagina, Stillwater. Você malditamente nem imagina.
***
─ Meu... meu nome é... é Tom. Tom Petrov. Esse é o meu nome. E eu
só... ─ Ele infla as bochechas, piscando rapidamente, balançando a
cabeça. Percebo que ele tem um lábio rachado. Parece fresco. Reiniciando-se,
ele dá um passo à frente e estende a mão. ─ Eu sou Tom. Bom uh... finalmente
conhecê-la. Só vim me apresentar e oferecer meus serviços.
─ Não. Não, apenas bateu no chão com bastante força. Ele nem liga.
─ Novo para mim. Mas não é novo. ─ Papai finge que está me dando um
de seus malditos rins toda vez que substitui meu celular, mas eu sei pelos
pequenos arranhões e cortes que eles sempre tiveram pelo menos um dono
antes de mim. Geralmente seu ajudante militar. Ele nunca foi de gastar dinheiro
em algo que pode obter de graça.
Mas…
Eu aponto meu garfo para ele novamente. ─ Seu lábio inferior. Está bem
aberto.
Eu limpo minha garganta, dando-lhe outra vez. ─ Por que você está sendo
legal comigo? Nós nunca conversamos antes.
─ Cem se for apenas a tela. Incluindo peças. Se for um dos telefones mais
novos, devo ter o que preciso aqui no campus. Caso contrário, terei que
encomendar o material online, o que geralmente leva cerca de uma semana para
chegar.
─ OK.
─ OK?
─ Sim. Não posso ir a Albany neste fim de semana. Eu preferiria não ter
que esperar até o próximo fim de semana para cuidar disso, então...
claro. Pegue. ─ Procuro na minha bolsa até localizar o telefone quebrado, e
então o estendo para Tom do outro lado da mesa. Ele engole, alívio dominando
suas feições. Porra, o pobre bastardo deve estar realmente sem dinheiro.
Wren
RESPIRAR. Piscar. Engolir.
─ Não suponha que nenhuma das mulheres nesta coisa seja um jogo justo,
─ observa Pax. Embora seja mais uma investigação astuta do que uma
observação verdadeira. Há apenas uma cadência no final de sua declaração para
sugerir que ele está aberto a Dashiell corrigindo sua suposição.
Dashiell bate sua taça contra a que está na mão de Pax, aplaudindo -o. ─
Sim, eles tem. Mas de qualquer forma, eu voarei feliz de volta para Blighty com
suas bolas em um pote de vidro, amigo. ─ Do lado de fora, Dash não parece o
tipo de cara que se dignaria a sujar as mãos. Há uma vibração suave e
endinheirada nele que faz as pessoas apostarem contra ele em uma luta. As
aparências podem ser, e são, muito enganosas, no entanto. Dashiell é tão feroz
quanto possível. Independentemente de sua criação e educação, ele não tem
medo de dar um soco ou dois. Eu já o vi enfiar o dedo no nariz de um cara e
abrir a narina em uma briga. Ele realmente não dá a mínima.
─ E não beba muito também, ─ diz Dash, examinando a sala. Ele parece
legal e controlado, mas ele está no limite, eu posso dizer. Ele parece estar
olhando casualmente os candelabros, os móveis antigos e as pessoas bonitas,
vestidas com todos os seus trajes, mas Lorde Dashiell Lovett quarto, está
procurando por seu pai. Pode-se dizer que Dash está sempre procurando por
seu pai. Para sua aprovação.
Urgh. Fazer coisas que não quero para fazer outra pessoa feliz não é da
minha natureza. ─ Preciso enviar uma mensagem. Eu já volto, ─ murmuro.
Pronto.
Finalmente.
Conseguiu?
O cara com três dedos de uísque em seu copo de vidro lapidado, mesmo
sendo apenas sete e meia e ainda nem nos sentamos para o nosso jantar de
quatro pratos, acaba de ser diagnosticado com câncer de próstata.
Mensagem recebida:
Sim.
EU: Operacional?
─ Bem, bem, bem. O que é isso? Meus olhos me enganam? Wren Jacobi,
vivo e em carne e osso.
Ah, porra.
Criatura detestável.
─ Sim. Você me conhece tão bem, Mercy. Com licença. Eu tenho que
voltar para dentro.
Ela não ouve, ou então escolhe não me ouvir, falando sobre mim
enquanto eu me afasto. ─ Não posso fumar um cigarro?
Não, obrigado.
Eu dou a ela um sorriso gelado. ─ Sim, bem. É o único lugar que estou a
salvo de você. Eu sei o quanto você detesta Praga. Desculpe, você teve uma
viagem desperdiçada. Dirigir sozinha sempre fez você se sentir pobre, não é?
Uma luz viciosa brilha em seus olhos verdes. ─ Nós poderíamos ter ido a
algum lugar juntos, sabe. Os fogos de artifício sobre Sydney Harbour na véspera
de Ano Novo foram épicos. Você disse que queria ir para lá no ano passado.
Ah. Ano passado. Muitas coisas mudaram nos últimos 12 meses. ─ Tenho
certeza que você se divertiu muito sem mim, Merce. Você está ordenhando esse
cigarro por todo o seu valor. Termine isso para que eu possa ir.
Não.
Dashiell para de falar, sua boca aberta. Ele a fecha, depois a abre
novamente, procurando algo para dizer.
Dash parece que faria o mesmo se pudesse. ─ Olha, eu só acho que essa
coisa com essa garota nova... Você não está vendo as coisas direito, Jacobi, e
você parece redefinir sempre que Mercy está por perto, então eu pensei...
─ Então você pensou , eu sei o que vou fazer. Vou arrastar a puta venenosa que
arruinou a vida de Wren através das fronteiras estaduais. Ela é obrigada a tornar tudo
melhor.
─ Eu já a vi ─, eu rosno.
Pax joga um camarão na boca, com rabo e tudo. ─ Mercy ficou quente,
cara. E eu estou falando quente.
Esta deve ser a vingança por chutar o encosto de cabeça dele esta
manhã. ─ Tenha muito, muito cuidado ─, eu assobio.
─ Vamos, Jacobi! Eu pensei que gêmeos deveriam se dar melhor do que isso!
14
Elodie
─ VAMOS, garota. Você sabe que você quer.
Eu não quero. Eu realmente não quero, mas Carina tem um olhar suplicante
em seu rosto que torna difícil dizer não a ela. ─ Desculpe, estou tão cansada. E
uma festa? Não conhecerei ninguém além de você.
─ Você vai me conhecer, ─ Press canta, enquanto ela passa voando pela
minha porta, suas mãos cheias de um vestido rosa choque que vai, cem por
cento, colidir horrivelmente com seu cabelo ruivo.
─ Rashida mal disse mais de três palavras para mim desde que cheguei
aqui. ─ Eu me afundo em minhas cobertas, puxando meu edredom debaixo
do meu queixo. ─ É tão bom e quente aqui. E de qualquer forma, já estou de
pijama.
─ Urgh. Ter que passar horas em uma festa, sendo zoada pelos garotos da
Riot House, não parece ser um bom momento, ok?
─ Ah! Eles não vão a festas na cidade. Eles são muito pretensiosos e
enfiados em suas próprias bundas para se misturar com as crianças de Mountain
Lake. E de qualquer forma, ouvi Pax dizendo a Damiana que os três iriam
passar o fim de semana em Boston. O pai do Dash está organizando algum tipo
de coisa de caridade. Então você pode esquecer de usá-los como desculpa
agora.
Eu faço uma carranca, esticando meu lábio inferior. ─ Veja. Sou horrível
em grandes reuniões sociais. Não sei falar com as pessoas. Eu só vou
envergonhar você, e então você não vai querer mais ser minha amiga.
─ Lixo. Estamos presas aqui a semana toda e você quer ficar aqui o fim
de semana também? Desculpe. Não posso permitir. Vamos. Vamos explodir
esse estande pop.
Eu não vou ser capaz de sair disso, eu posso dizer. Ela está certa, no
entanto. Não faz sentido me enclausurar no meu quarto todo o fim de semana,
quando estamos proibidos de sair durante a semana. Parece algum tipo de
punição bárbara auto infligida que não tenho certeza se mereço.
─ Carina, nãooooo, não concordei com nada. Você tem que me dizer
quem está dando a festa!
***
A festa está a todo vapor quando entramos pela porta da frente – pessoas
dançando e gritando ao som do baixo barulhento e frenético que está
bombando pelos alto-falantes profissionais; shots sendo bebidos; não um,
mas dois jogos de beer pong em andamento; e tantas pessoas que reconheço que
imediatamente relaxo. Metade do Wolf Hall está aqui. Eu posso não me dar
bem com a maioria desses caras, mas eu os reconheço, e se eles têm permissão
para estar aqui, então eu tenho certeza de que eu também tenho.
─ Andy Samberg ?
Para ser justa, ela está vestindo um macacão de veludo cotelê roxo com
remendos de trevo de quatro folhas costurados por toda parte. A camiseta que
ela está vestindo por baixo do macacão tem um gato de aparência perturbada
estampado na frente.
É bom que ela esteja tão animada com um cara. Eu pensei depois de suas
lágrimas no jantar no último fim de semana que levaria muito tempo até que ela
encontrasse alguém por quem ela pudesse desmaiar. E, no entanto, aqui está
ela, desmaiando.
─ Que tipo de sorvete você acha que Wren é? ─ ela pergunta, agitando
seus cílios para mim.
─ Eu não sei. Você me diz...─ Ela soa leve e não afetada, mas estou
olhando direto para seu rosto no espelho. Eu posso ver a expressão cautelosa
que ela está tentando evitar. ─ Você olha muito para ele. Ele olha muito para
você. Eu imaginei, com toda a tensão negativa flutuando no ar, que algo poderia
estar acontecendo…
***
Oscar parece um linebacker. Ele tem 1,90m e quase a mesma largura, e
quando ele se move, todos na festa se movem com ele, gravitando em sua
direção como se estivessem presos em sua órbita. Você pode ouvi-lo rir - um
som rico, quente e estrondoso - sobre a batida da música, que ele muda a cada
minuto, incapaz de se comprometer com uma música sem ter que mudar para
outra.
Por volta das onze, Carina fica rosa brilhante e aponta para um cara do
outro lado da sala que realmente se parece com um jovem Andy Samberg. Ele
sorri para ela no momento em que a vê, e então é isso. Minha amiga não tem
olhos para ninguém além de André. Não a invejo pelo tempo gasto com seu
novo sanduíche de sorvete de coentro e limão; quando você encontra o seu
yum, você tem que aproveitar cada segundo enquanto pode.
─ Sim! ─ ela diz, rindo. ─ Realmente, muito, muito... muito, muito...─ Ela
esquece o que ia dizer. ─ De qualquer forma, o nome dele é Pax. Isso significa
paz em latim. Você sabia disso?
─ Eu sabia disso.
─ Oooh, olhe para você. A esperta Elodie. Eu gosto do seu nome. O que
Elodie quer dizer?
─ Pres, eu acho que prefiro ficar... aqui... ─ Mas é tarde demais. Ela me
segura pelo pulso e está me puxando para cima. Antes que eu perceba, estamos
do outro lado da sala de estar de Oscar, e estamos atrás de Tom, que está
contando uma história muito animada para alguns de seus amigos. ─ E então
ele estava, tipo, encostando o antebraço na minha garganta, olhando para mim
como se fosse me matar, e eu não conseguia respirar, e eu fiquei tipo, ─ Tudo
bem! Tudo bem! Eu vou fazer isso. Apenas saia de cima de mim, cara!'
─ O cara está desequilibrado, ─ diz um cara alto com óculos. ─ Ouvi dizer
que ele esfaqueou um dos professores durante as férias de primavera do ano
passado.
─ Relaxe, Jem. Jesus. Ele só está nos contando o que ouviu, ─ diz um
baixinho quebrando um brownie com os dedos. Ele inclina a cabeça para trás e
joga um pouco do bolo de chocolate pegajoso na boca.
─ Urgh! Nenhum de vocês está me ouvindo! ─ Tom ergue as mãos,
exasperado. ─ Jacobi ameaçou me matar. E se eu não pegar o telefone daquela
garota até o final de amanhã, ela vai saber que algo está acontecendo. Ela
provavelmente vai me denunciar a Harcourt. Serei expulso, e meu avô vai me
matar, e acabo morto em qualquer um dos cenários, então gostaria muito de
uma porra de ajuda, por favor, porque estou meio que enlouquecendo agora e...
─ Eu não sei. Ela é gostosa. Baixa. Pequena. Cabelo loiro. Ela tem olhos
bonitos. Que porra isso importa?
Elliot sorri sem humor. ─ Porque eu tenho certeza de que ela está atrás de
você. E ela parece chateada, cara.
─ Explique, ─ eu rosno.
─ Uh, uh, bem, eu não sei o que você ouviu ou qualquer coisa, mas-...
Levei uma batida para notar o lábio dividido novamente. Eu vejo isso
agora, porém, porque ele está falando tão animadamente que ele reabriu a ferida,
e um filete de sangue vermelho brilhante está escorrendo por seu queixo. Wren
fez isso com ele. Ao meu lado, Presley tosse desconfortavelmente. ─ Talvez
devêssemos encontrar Carina. Não quero me envolver na merda da Riot
House. Isso soa como um tipo de coisa de vocês.
Avanço para Tom, sentindo pena dele e o odiando em partes iguais. Ele
fica muito, muito pálido. ─ O que isso significa? Pessoas como eu?
A fúria que está girando como uma bola de calor branco e abrasador em
meu peito detona, destruindo minha mente por um momento. Jem
desajeitadamente se esgueira para fora do grupo, se esgueirando para longe, os
olhos colados nas tábuas do piso. Elliot e Clay parecem atordoados demais para
se mexer. ─ Eu não sou como eles, ─ eu assobio. ─ Eu não sou nada como
eles. Como você pode dizer isso? Você não me conhece.
Não consigo olhar para ela. ─ Diga a ela o que você fez, Tom.
O tom amigável de Carina evapora. ─ Tom Petrov. Diga-me o que você fez.
15
Elodie
─ PARA QUE CONSTE, esta é uma ideia horrível. Você sabe disso, certo?
─ Então, não, você não poderia ter pedido um Uber. Eu sou a única
maneira de você voltar a subir esta colina, e estou lhe dizendo, categoricamente,
que isso é insanidade.
─ Claro que eles saberão! Wren saberá assim que vir que seu telefone não
está no quarto dele. E depois?
─ Estou sóbria como pedra agora e você sabe disso. Olha, eu entendo
totalmente. Se eu fosse você, também não gostaria de fazer parte disso. Porque
você não me deixa na frente da casa e volta para a festa. Eu posso andar o resto
do caminho a partir daí.
Não tenho nada a dizer sobre isso. O que posso dizer? Caminhar de volta
para Wolf Hall parece uma merda. Não há nenhuma cobertura de açúcar. E ela
seria uma péssima amiga se me deixasse na beira de uma estrada na
montanha. Estou grata por ela estar de posse de uma consciência em pleno
funcionamento. Dito isso, não quero colocá-la em uma posição
comprometedora, no entanto.
─ Você deveria chamar a polícia, Elle. Estou falando sério. Isso é uma
merda sombria.
Meu pulso salta por todo o lugar quando Carina apaga os faróis e vira na
entrada que leva através da floresta para a Riot House. Eu posso dizer pelo jeito
que ela segura o volante que ela está ansiosa. Sobre ser pego invadindo o lugar
ou estar aqui em geral, não posso dizer, mas estou começando a me sentir muito
mal por fazê-la passar por isso.
Na escuridão premente, tudo o que vejo são árvores. E então viramos uma
curva fechada, e a casa aparece do nada, a estrutura de três andares tão grande
e imponente que é um milagre não ser mais óbvia da estrada. É difícil dizer a
idade do lugar. Talvez fosse mais fácil avaliar quando o local foi construído
durante o dia, quando há um pouco mais de luz para trabalhar. No momento,
as janelas de vidro do chão ao teto no segundo andar fazem com que pareça
moderno, mas o exterior faz com que pareça muito antigo.
─ Só de olhar para o lugar me dá vontade de vomitar, ─ murmura
Carina. ─ Não parece que foi conjurado de seus pesadelos?
***
A incerteza brilha em seus olhos, mas há alívio neles também. Ela está feliz
com a desculpa para ficar lá embaixo, a uma curta distância da saída. ─ Tudo
bem. Vá, e seja rápida sobre isso. O andar de cima. Quando você chegar ao
topo das escadas, vire à direita no patamar. O quarto de Wren é a porta bem na
sua frente. Há uma pena preta pregada no batente da porta. Eu não estive
lá. Não posso dizer onde fica a mesa dele, mas...
─ Não se preocupe, shh, está tudo bem. É uma mesa. Não é como se eu
estivesse procurando por um alçapão escondido ou algo assim. Dê-me um
minuto e sairemos daqui.
Tremendo levemente, Carina acena com a cabeça. Jesus, ela parece estar à
beira das lágrimas. Eu não sei do que ela tem tanto medo aqui, mas suas
emoções estão provando ser contagiosas. Meu coração bate agressivamente no
meu peito enquanto corro o primeiro lance de degraus, onde pego o próximo
lance à direita. Meus pulmões estão queimando como loucos quando chego ao
terceiro andar, e quando chego ao quarto tudo o que posso ouvir é meu sangue
correndo atrás dos meus tímpanos.
Agora.
A porta dele estará trancada?
Mas então, ele também é arrogante. Pax ou Dash ousariam entrar em seu
santuário interior sem sua permissão? Altamente improvável. E em que tipo de
mundo Wren imaginaria um estranho tendo a ousadia de invadir sua casa e
depois violar a privacidade de seu quarto? Certamente não neste mundo - aquele
em que todos com quem ele entra em contato, alunos e professores, têm medo
dele.
E não está.
Deve ficar incrível quando uma das lâmpadas de chão foi ligada. Quando
Wren vai para a cama todas as noites, ele fica olhando para a luz que atravessa
as estrias e o grão do belo metal, e ele provavelmente não gosta disso. Sua
magnificência provavelmente está perdida em um filho da puta miserável como
ele.
Ela está certa, Stillwater. Você não veio aqui para ficar boquiaberta com as habilidades
de design de interiores do cara. Mexa-se!
Viro o telefone, baixo e eis que a tela foi completamente consertada. Tom
deve ter trabalhado tão rápido; Não posso acreditar que confiei nele quando ele
disse que levaria três dias inteiros para me devolver isso. Idiota.
Ahhhh porra.
─ Nas profundezas daquela escuridão espiando, por muito tempo eu fiquei ali
imaginando, temendo, duvidando, sonhando...─ uma voz abafada murmura. Uma voz
de seda e mel e o fio áspero de uma lâmina cega. Apunhala-me com uma doçura
terna que me enche de medo. ─ Sonhando sonhos que nenhum mortal jamais ousou
sonhar antes. Mas o silêncio era ininterrupto, e a quietude não dava nenhum sinal... e a única
palavra dita ali era a palavra sussurrada, ─ Lenore?
Que porra está acontecendo agora? Por que diabos ele está falando sobre
poetas e não me questionando sobre o fato de que ele acabou de me pegar em
seu quarto? Eu tenho que sair daqui. Imediatamente. ─ Quem disse que sou
uma alma perturbada?
Wren olha para mim com o canto do olho. ─ Uma alma quebrada
reconhece outra, Elodie. Você e eu... nós compartilhamos muitos pontos em
comum.
Ele não tenta me impedir. Rindo baixinho, ele puxa um livro da estante,
passando a mão pela capa com uma reverência gentil. ─ Eu não toquei
nela. Não entre em pânico. Eu posso usar a força em nerds mal comportados
de vez em quando... mas eu não machuco garotas. ─ Ele passa a língua sobre
os dentes, os olhos fixos no livro em suas mãos – da minha posição perto da
porta, seu rosto é iluminado pelo luar que entra pelas janelas, destacando a
coloração obsidiana de seus longos cílios contra a palidez total. de sua pele. ─
Ela ainda está lá embaixo, esperando na porta da frente. Eu vim pelos fundos.
─ Você pode dizer a ela para voltar para a academia, se quiser, ─ murmura
Wren. Ele está folheando as páginas de seu livro agora, seus olhos vagando
rapidamente pelas páginas. Como ele pode ficar ali parado com tanta
indiferença? Como ele pode não mostrar o menor sinal de remorso pelo que
fez? Ele tomou minha propriedade privada, planejou fazer Deus sabe o que
com meu celular, e agora ele está parado lá, calmo, sugerindo que eu mande
minha amiga embora e fique aqui com ele? O cara está fora de si.
─ Há! ─ Wren joga a cabeça para trás e ri, apenas uma vez, fechando o
livro em suas mãos. Os tendões e músculos de sua garganta funcionam
enquanto ele engole.
Eu travo os olhos com Wren, esperando que ele me diga para manter
minha boca fechada, mas ele apenas dá de ombros novamente. Ele não se
importa se ela sabe que ele está aqui, claramente. Sua confiança sem palavras
está me levando até a porra da parede. ─ Ela vai chamar a polícia, sabe. Se você
fizer algo estranho, — eu o advirto.
─ Não. Não tenho nada com que me preocupar. Eu não vou fazer nada
com você, Elodie. ─ Esse sorriso se espalha, ocupando mais espaço em seu
rosto traiçoeiramente bonito. Seria tão satisfatório tirar essa arrogância
presunçosa dele. Imagino como seria fazer isso e minha palma direita formiga
lindamente.
─ Eu não vim aqui para falar de livros. Eu vim aqui para pegar meu
telefone de volta. Porque diabos você queria isso em primeiro lugar. O que você
ia fazer?
─ Absolutamente não.
─ Então, se for tudo igual para você, acho que vou economizar meu
fôlego.
Eu vou matá-lo. Vou matá-lo até que ele morra três vezes. ─ O que há
de errado com você! Apenas me diga o que você ia fazer!
─ Sim, você provavelmente deveria ter corrido, ─ diz ele. ─ Mas está tudo
bem. Não sou psicopata. Você tem ideia de como você é bonita quando está
em pânico? ─ ele pergunta. ─ Você fica com essas manchas de cor em suas
bochechas e seus olhos ganham vida. Estou feliz que você não fugiu. ─ Ele
coloca sua última declaração no final, como se tivesse acabado de perceber isso
sozinho. ─ Isso significa que você não está com medo de mim. Eu sabia disso,
mas é bom estar certo. Quanto ao seu telefone, eu diria que era bastante óbvio,
não é? Eu queria remover todo o malware do seu pai para poder enviar uma
mensagem para você, sabendo que não estava sendo espionado por um dos
homens mais beligerantes das forças armadas dos Estados Unidos.
─ Ah! Senhor, você está zoando comigo, certo? Você realmente espera
que eu acredite nisso?
─ Então por que você está tentando se pintar como um cara legal?
─ Na verdade, não.
Minha garganta está pegando fogo. Do nada, meus olhos estão ardendo
como loucos. ─ O pássaro da minha mãe foi feito em pedaços, Wren. Então...
talvez você não tenha invadido meu quarto. Talvez seja assim que você esteja
se safando dessa vaga meia mentira, mas você poderia ter mandado outra pessoa
fazer isso. Quem entrou no meu quarto quebrou a única coisa que restava da
minha mãe, ok? Era a única coisa que era preciosa para mim. Partiu meu
coração, vê-lo despedaçado. E eu nunca vou te perdoar por isso.
Minha voz está grossa com lágrimas não derramadas. Tenho adiado os
pensamentos sobre o pássaro da mamãe desde que Harcourt me disse que ele
havia sido aspirado, mas agora a emoção cai sobre mim. Parece que estou
tentando respirar em torno de um par de costelas quebradas. Os ombros de
Wren caem. Ele abaixa o queixo, olhando para as mãos. Sua expressão é dura e
ilegível. ─ Lamento que você tenha perdido algo tão precioso. Eu sei como é
isso. Mas eu não tive nada a ver com isso. Juro pelo meu próprio coração
enegrecido.
─ Elodie! Ai meu Deus, Elle! Acho que ele está em casa! Mexa-se, mexa-
se, mexa-se! ─ Um trovão de passos estrondosos na escada. Carina chega ao
patamar superior, segurando o corrimão. Ela se inclina, ofegante, e olha para
mim com os olhos arregalados. ─ Ouvi uma voz. Não consigo ver nada, mas
acho que ele está... OH MEU DEUS! PORRA! ─ Ela dispara um pé do chão,
seus olhos saltando de sua cabeça quando ela olha para a direita e vê Wren bem
ali.
Carina me pega pela mão. ─ Você conseguiu o que veio buscar? ─ ela me
pergunta.
─ Sim, eu consegui.
Apenas uma garota estúpida e tola, sem bom senso ou cuidado com seu
próprio bem-estar, aceitaria um presente oferecido por Wren Jacobi. Eu sei
isso. Então, por que eu estendo a mão e pego o livro dele? E por que não
consigo quebrar o contato visual com ele enquanto Carina me arrasta escada
abaixo?
16
Elodie
UMA SEMANA SE PASSA. E depois outra. Eu fui para a aula. Li o livro que
Wren me deu debaixo dos lençóis à noite, armada com uma lanterna, como se
alguém pudesse entrar e me pegar fazendo algo pervertido. Quando termino,
leio tudo de novo. Eu saio com Carina e Pres.
─ Que porra é essa? ─ Carina geme ao meu lado. ─ Isso deve ser algum tipo
de piada de mau gosto.
─ Essa é Mercy, ─ diz Carina, revirando os olhos. ─ Ela foi estudante aqui
até junho passado. Ela decidiu ir estudar na Europa porque a América era muito
'gauche17'. Ninguém ficou triste ao vê-la partir. Muito menos Wren.
Irmã dele? Sério. Que inferno fresco é esse? Ninguém nunca mencionou
outro Jacobi. Outra criatura que compartilha os mesmos genes diabólicos que
Wren.
17
Palavra francesa usada para “estranho” dentre outras.
─ Wren é oito horas mais velho que Mercy. Seus pais iam chamá-la de
Helena, mas eles mudaram de ideia quando a Sra. Jacobi continuou
gritando Misericórdia! Misericórdia! durante o nascimento. A mãe deles ficou tão
doente depois de dar à luz que ela foi embora por seis meses para se recuperar
e seu pai contratou uma enfermeira para cuidar deles. A Sra. Jacobi morreu
quando eles tinham três anos. Aparentemente, ela nunca recuperou sua força
após a gravidez e ela simplesmente desapareceu até que não restasse nada
dela. Ela era uma mãe horrível em todas as contas.
Eu tenho perguntas sobre Wren há muito tempo. Eu sei tão pouco sobre
ele, mas de jeito nenhum eu estava perguntando a Carina. Especialmente não
depois que o filho da puta tentou adulterar meu telefone. Ela teria me enforcado
e me estripado como um peixe por ser tão estúpida. Mas eu sinto que deveria
saber disso, de alguma forma. Eu deveria saber que havia outro pedaço dele lá
fora no mundo.
─ Bem, eu acho que você deveria encontrar um lugar então, Sra. Jacobi,
─ Doutor Fitzpatrick diz com um sorriso tenso.
Mercy vai até o sofá de couro e se senta na ponta dele, aos pés do
irmão. Ela dá um tapa nas botas dele, tentando fazer com que ele dê espaço a
ela, e um olhar de desgosto se forma no rosto de Wren. Ele se levanta,
silencioso como o túmulo, e se dirige para a saída. Pela primeira vez em duas
semanas, ele olha para mim corretamente enquanto sai pela porta.
─ Wren! Wren, essas aulas não são opcionais! ─ Doutor Fitzpatrick grita
atrás dele. Ele está perdendo o fôlego, no entanto.
Wren já se foi.
***
Na noite seguinte, quando volto para o meu quarto depois do jantar, abro
a porta e algo sobe no ar, girando na frente do meu rosto. Eu grito, atacando
para me defender em uma demonstração bastante vergonhosa de
pânico. Presumo que seja um morcego, mas percebo meu erro quando a pena
gorda e exuberante flutua suavemente até o chão.
Uma pena é uma coisa milagrosa. Tão comum e todos os dias, mal as
notamos saindo de nossos travesseiros, ou pegas por uma brisa suave, ou
flutuando ao longo da superfície de um rio preguiçoso, pegas nos redemoinhos
e vórtices velozes enquanto são varridas rio abaixo. Mas uma pena é um feito
de engenharia. E esta pena, aquela que deve ter sido enfiada por baixo da porta
do meu quarto, é linda, com certeza.
─ Ei, você está quase pronta? ─ Carina está no corredor atrás de mim. Ela
tem um sorriso atrevido no rosto, porque as coisas estão esquentando entre ela
e seu sósia de Andy Samberg e devemos encontrá-lo em frente ao teatro The
Vista em uma hora para assistir a um filme noturno - algum filme de ficção
científica sobre robôs dominando o mundo. Eu lentamente escondo a pena
atrás das minhas costas.
─ Uh, você sabe o quê? Acho que estou tendo uma enxaqueca. Não tenho
certeza se sentar na frente de uma tela bem iluminada é a melhor coisa para
mim agora.
Ela faz beicinho. ─ Ah não! ─ Seus olhos são brilhantes, no entanto. Ela
me convidou para ver o filme antes de André convidá-la para sair, então ela me
perguntou envergonhada se tudo bem se ele aparecesse. Eu disse a ela que não
me importava se ela fosse com ele sozinha, mas ela se rebelou contra essa
sugestão, nem sequer considerou, e eu não queria ser uma idiota e me recusar a
ir. Esta é uma saída conveniente - ninguém em sã consciência quer acabar como
terceira roda em um cinema - e Carina parece secretamente satisfeita. No lugar
dela, tenho certeza de que eu também estaria.
─ Você tem certeza de que não está dizendo isso apenas para me dar
algum tempo a sós com o garoto? ─ ela pergunta.
Ela grita como uma criança de cinco anos, se esquivando do meu alcance
enquanto tento dar um tapa em seu braço. ─ Eu não sei. Pode ser? Preenchi a
folha de ausência para o caso. Isso faz de mim uma vadia?
─ Não! De jeito nenhum. Se você acha que ele é um cara legal, e está te
tratando bem, e você acha que está pronta, então por que diabos não?
─ Carina!
Ela ri. Sua expressão muda quando ela vê o que estou segurando na minha
ma...
Ah, merda.
─ Você deve mantê-la. Faça algo bonito com ela. Eu sei como fazer isso
em um grampo de cabelo. Posso te mostrar se você quiser?
WREN: Por que dizer algo que você não quer dizer?
WREN: Você me diz que eu tenho que parar. Mas você não quer
que eu pare. Essa é a última coisa que você quer.
EU: Você não sabe disso. Você não tem ideia do que está
acontecendo dentro da minha cabeça.
WREN: Eu sei que é sexta à noite e você não vai a lugar nenhum.
EU: Perseguidor!
WREN: Encontre-me.
EU: NÃO.
WREN: Dê-me uma hora. Se você não vier, eu vou ter que ir até
você. Então você vai ver o quanto de um perseguidor eu realmente sou.
Meu sangue está quase no ponto de ebulição. Eu não posso acreditar neste
filho da puta. Ele é inconcebível.
WREN: Talvez sim. Talvez não. Mais seguro para você vir até mim,
no entanto.
EU: Você realmente acha que eu vou voltar para aquela casa? Onde
vocês três poderiam fazer só Deus sabe o que para mim?
Meu telefone fica na palma da minha mão, em silêncio, até a tela ficar
preta.
17
Elodie
─ EU DISSE A ele que não o amava, mas ele simplesmente não vai deixar
isso pra trás. Eu não sei o que fazer. Ele me segue como um cachorrinho
perdido que acabei de chutar. Se eu não me sentisse tão culpada por machucá-
lo, provavelmente estaria com raiva do filho da puta. Ele até tem Levi fazendo
uma petição em seu nome agora. Pare de rir, Elodie, não é engraçado!
Jesus, eu perdi o som da voz bonita e com forte sotaque de Ayala. Seus
pais são ambos de Dubai, mas ela cresceu na Espanha. Ela falava tanto espanhol
quanto árabe quando estava no jardim de infância, e aos oito anos já sabia falar
francês e alemão também.
─ Senhor, não comece. Vocês são meus amigos. Você deveria estar
do meu lado.
Deitada na minha cama, olho para o teto, tentando não pensar no espaço
acima da minha cabeça. O sótão não fica diretamente acima do meu
quarto. Não consegui identificar o local exato em que ele fica; pelos meus
muitos palpites nos últimos oitenta minutos, decidi que provavelmente é sobre
a escada que leva ao quarto andar e a entrada no primeiro andar, mas não posso
ter cem por cento de certeza. Independentemente de onde o sótão realmente
esteja geograficamente, arquitetonicamente, seja o que for, parece que está bem
acima da minha cabeça, e Wren já está lá em cima, sentado lá no escuro,
esperando por mim como o predador eternamente paciente que ele é.
─ E quando foi a última vez que você ficou toda fraca pelos joelhos por
um doce menino? ─ Ayala pontua. ─ Eu conheço você, Elodie. No que diz
respeito aos caras, você e eu somos cópias uma da outra. Podemos pensar que
queremos alguém gentil e atencioso para nos amar, mas no momento em que
isso se torna realidade, corremos para as colinas. Nós duas estamos tão fodidas
quanto a outra. Nós gostamos de nossos meninos maus e beligerantes, ou
simplesmente não há faísca.
─ Você sabe o que eu quero dizer. Seu pai é um babaca, Elodie. Sério. Se
isso não me rendesse um monte de carma de merda, eu desejaria algo muito
ruim para o cara. Como duas pernas quebradas. Ou que ele estivesse envolvido
em algum acidente horrível durante um exercício de treinamento e seu pau e
bolas fossem explodidos por um explosivo.
─ Prefiro não falar sobre o lixo do meu pai. Mas sim, um par de pernas
quebradas seria bom. Vou desejar isso a ele por nós duas e receber o dobro do
carma ruim se isso ajudar?
─ Ok, ok, ─ diz Ayala, posso ouvir seu sorriso largo e contagiante no tom
de sua voz. ─ Me ligue, Elodie.
─ Eu irei.
A linha fica morta. Eu apenas fico ali por um minuto, olhando para o teto,
sentindo a pressão dos fones de ouvido em meus ouvidos, não querendo tirá-
los e admitir que a ligação acabou ainda. Já escureceu há muito tempo. O
minúsculo abajur ao lado da minha cama projeta um halo laranja difuso no teto,
deformado e esticado pelo tom da superfície irregular do teto.
Dê uma olhada.
A frustração toma conta de mim quando percebo que não posso ver a
entrada da garagem do ponto de vista que minha janela oferece. Apenas o
labirinto e a vasta extensão de gramado são visíveis da ala leste da casa, o que
significa que não poderei ver se Wren está vindo para cá ou não.
Ele não virá. Ele está testando você. Ele quer saber se você vai pular quando ele
mandar. Você não vai para aquele sótão, Elodie Stillwater.
Não sei por que estou repetindo isso para mim mesma. Já sei que não vou
subir ao sótão. Eu tenho um pouco de autoestima.
─ Que porra é... ─ Eu finalmente olho para Wren, minha língua de repente
parece grande demais para minha boca. Santo inferno, ele parece incrível. Seu
cabelo está perfeitamente bagunçado, caindo em seu rosto. Camisa preta, com
botões reais na frente, cujo botão superior está desabotoado. Suas mangas
foram enroladas até os cotovelos, expondo antebraços musculosos. Seu jeans
está desbotado e desgastado no calcanhar, e o jeans cheira distintamente a sabão
em pó. Eu sei, porque ele está tão perto de mim que seu joelho está bem na
frente do meu rosto. Não que eu esteja cheirando seu maldito joelho. Isso seria
estranho.
Wren sorri para mim, e uma dor insuportável cresce no meu peito, até a
base da minha garganta. Eu não posso respirar em torno dele. ─ Que porra
é essa? ─ ele pergunta, terminando minha frase para mim. ─ É assim que se
parece um encontro no sótão de sexta à noite. Não há necessidade de parecer
tão horrorizada. Eu não trouxe nenhuma arma comigo.
─ Eu gostaria de ter, ─ eu rosno. ─ Você está delirando. Você sabe disso,
certo? Isso não é um encontro.
Wren bufa pelo nariz, seu olhar vagando pelo nosso ambiente confuso e
curioso. ─ Você realmente não quer isso, no entanto, não é. ─ Ele afirma isso
- um fato cru e inegável. ─ Você sonha acordada com a minha boca na sua o
tempo todo. Eu posso ver isso acontecendo na sua cabeça. É um show e
tanto. Você imagina como seria, presa em um quarto escuro comigo, meu hálito
quente em seu ouvido, meu suor em sua língua, meu pau esfregando contra sua
boceta, e você mal consegue ficar parada. E quando você realmente se perde,
você deixa sua mente fora da coleira e fantasia sobre como seria me ter
realmente dentro de você. Você fica muito quieta, linda Elodie. Tão, tão
quieta. Você não move um músculo, nem mesmo uma contração. Você olha
para a frente, nem se atreve a respirar, mas vejo seus dedos brancos e seu pulso
martelando no oco de sua garganta. A maneira como suas pálpebras fecham. A
vergonha vermelha que colore suas bochechas quando você termina comigo
em sua cabeça. ─ Ele pega a garrafa de vinho ao lado dele e arranca a rolha,
segurando a boca dela em seus lábios. ─ É a coisa mais perturbadora, excitante
e irritante que eu já vi. E eu vi alguma merda, deixe-me dizer. ─ Ele bebe, tão
profundamente quanto quando ele acabou de limpar a água um segundo
atrás. Desta vez eu me forço a fazer contato visual enquanto ele engole uma,
duas, três vezes.
─ Vergonha. ─ Wren deixa a cabeça cair para trás; ele olha para mim com
uma preguiçosa e autoconfiança que me deixa com tanta raiva que quero
chorar. ─ Se você não tivesse, já teríamos dispensado essa merda e fodido já.
Eu enrolo meu lábio para ele. ─ Isso é tudo com que você se importa? Me
foder? Se eu cedesse e deixasse você me ter, você finalmente ficaria entediado
e passaria para sua próxima vítima?
Ele ri. ─ Essa é a parte que eu mais gosto. Quando foi sua última vacina
contra o tétano?
─ O que?
Ele aponta a garrafa de vinho para mim. Aos meus pés, especificamente. ─
Você esqueceu seus sapatos, Stillwater. Fiz o meu melhor, mas está longe de
limpo aqui. Você também está sangrando na mão.
Eu olho para baixo, chocada ao ver meus próprios pés descalços contra as
tábuas do assoalho. Como diabos eu deixei de colocar sapatos e meias? Chutar
e arranhar meu caminho pelo forro sozinha poderia ter me cortado em
tiras. Droga, o que diabos eu estava pensando?
Que você queria matar o idiota vaidoso deitado nos cobertores na sua frente, é isso.
Urgh. Eu estava com tanta pressa de chegar aqui e rasgar um novo para
ele que eu não estava pensando em nada. Meus dedos zumbem de dor enquanto
fecho minha mão em punho, inspecionando o dano que fiz ali. Não é tão ruim
quanto poderia ser – o corte não é tão profundo, mas
definitivamente está sangrando. Eu puxo minha manga com capuz para baixo
sobre o ferimento, cobrindo-o com o punho. ─ Vai ficar tudo bem, ─ eu
digo. ─ Vai parar em um minuto.
─ Eu não vou me sentar. Eu só vim aqui para perguntar quem diabos você
pensa que é.
─ E uma vez que eu te diga quem eu acho que sou, você vai se esgueirar de
volta para aquele forro e desaparecer lá embaixo?
─ Sim. Exatamente.
─ Exatamente. OK. Bem, acho que sou o único cara neste inferno
esquecido que você olhou duas vezes. Acho que sou o cara que você não
consegue parar de pensar. Também acho que sou o único cara que já fez seu
coração disparar no peito. Estou errado?
Estreito meus olhos em fendas. ─ Sim.
─ OK. Então negue tudo o que eu disse. Diga-me que estou errado. Você
não me imagina. Você não é atormentado por mim dia e noite, do jeito que eu
sou atormentado por você. Veja, eu não tenho nenhum problema com a
verdade. Fiz amizade com ela há muito tempo. Uma mentira só faz o mentiroso
de tolo. A verdade sempre aparece. Estou cercado por você, e isso é uma
merda. Você está na minha cabeça quando eu acordo. Você está na minha cabeça
quando ando por este lugar miserável, e você ainda está lá, atormentando a
merda sempre amorosa quando fecho meus olhos à noite. Então faça. Minta
para mim um pouco mais, Pequena E. Por favor, sinta-se à vontade. Mas você
vai me desculpar se eu optar por ficar bêbado enquanto me preparo para o
show.
Wren toma outro gole, então abre bem os braços, como se me encorajasse
a continuar. Ele é tão fodidamente seguro de si mesmo. Ele tem tanta certeza
de que me conhece. Sabe exatamente o que vou dizer. Não pretendo
corresponder às expectativas dele. ─ Está bem. Você tem razão. Estou podre e
comida por dentro por sua causa. É isso que você quer ouvir? Deixei algo
estragado e ruim entrar na minha cabeça, e agora não consigo me livrar disso, e
está apodrecendo, me deixando cada vez mais louca a cada dia. Parabéns,
porra. Estou indo contra cada grama de bom senso que possuo todos os dias,
e estou tomando decisões que sei que são estúpidas, e não posso fazer nada sobre
isso! Que foda é isso!
─ Eu não. Eu...─ Pelo amor de Deus. Por que é tão difícil ser honesta com
ele? Eu tenho um milhão de perguntas, e estou morrendo de vontade de saber
as respostas para todas elas, mas me sentar naquele cobertor, é convidar um
tipo de problema para minha vida que eu não preciso. ─ Quaisquer perguntas
que eu tenha são irrelevantes. As respostas não vão mudar nada, ─ digo a
ele. Estou começando a me sentir um pouco sem esperança agora. Esta situação
é miserável; eu daria qualquer coisa para me livrar disso, mas a ironia amarga de
tudo isso é que eu também faria qualquer coisa para tê-lo.
Ele é o cara mau. O monstro que rasteja para fora das sombras para ferir
e mutilar aqueles ao seu redor. Nada de bom pode vir dele. Mas lutar contra
essa atração que sinto por ele parece tão fútil e inútil que minha vontade não
parece mais minha. Sou sua prisioneira, e Wren Jacobi não é um carcereiro
benevolente. Ele vai me manter sob sua fechadura e chave até que se canse de
mim, e eu tenho a impressão de que suas obsessões são para a vida toda.
─ Que mal pode fazer? ─ ele murmura. ─ Você fala. Eu falo de volta. É
uma conversa, Elodie. Não vai te matar, porra.
Wren rola para o lado, com as sobrancelhas franzidas. Ele levanta a cabeça
com a mão. — Você parou para questionar por que nutre esse tipo de
negatividade em relação a mim, Stillwater? Quero dizer, realmente se perguntou
por quê?
Ele concorda.
Ele me fixa sob um olhar muito sério, muito verde. ─ Você terminou?
─ Sinto muito por ser imperfeito. Tenho plena consciência dos meus
defeitos. Mas vou trabalhar em alguns deles se isso te deixar feliz.
Ele parece tão surpreso com essa reviravolta que eu realmente acredito
nele. ─ Deve ser estranho se importar com outra pessoa quando você só se
importava consigo mesmo antes.
Wren mostra os dentes — uma careta rápida que parece dolorida. ─ Aí
está você, fazendo suposições novamente. Que tal agora? Você suspende o
julgamento contra mim por três noites. Você vem aqui e se encontra comigo, e
nós conversamos. Você realmente ouve. E então… então você pode decidir se
eu sou o Anticristo. Nesse ponto, eu juro pela honra da minha família que vou
deixar você em paz se é isso que você quer.
─ Três noites? Se você vai levar três noites inteiras para me convencer de
que você não é uma pessoa horrível, então não tenho certeza se devo...
─ Apenas pare de ser tão espinhenta e concorde, ─ ele geme. ─ Esta noite,
amanhã à noite e domingo à noite. É isso. Três noites. Estarei no meu melhor
comportamento.
Eu chuto e grito.
Aprendi há muito tempo que chutar e gritar não ajuda, mas não tenho escolha.
─ Por favor! Por favor, eu prometo... não vou contar a ninguém. Eu não vou dizer
uma palavra, eu juro. Eu prometo, eu prometo, eu prometo. Não direi a ninguém o que você
fez. POR FAVOR! ME DEIXE SAIR!
18
Wren
ELA CONCORDA com a minha proposta como se a perspectiva de passar
as próximas três noites comigo fosse tão traumática que ela precisaria de uma
década de terapia depois. E talvez ela precise. Se for esse o caso, então conheço
um cara legal em Albany que tem preços razoáveis, e passarei suas informações
com prazer. Mas até que isso aconteça, vou aproveitar ao máximo as horas que
passar com ela. Ela se senta em estilo indiano no cobertor, usando o material
para cobrir os pés descalços - eles devem estar congelando - olhando para mim
como se estivesse enfrentando a experiência mais assustadora de sua existência.
─ De onde você é? ─ ela pergunta, sua voz tão monótona quanto pode
ser. Ela está tentando o seu melhor para me mostrar o quão cansativo ela está
achando essa coisa toda, e ela está fazendo um trabalho muito bom nisso.
─ Se seu pai for parecido com o meu, tenho certeza que não caiu bem.
─ Oh, qual é, não soe tão surpreso, ─ diz ela amargamente. ─ Não me
diga que o seu não te machucou. Isso é tudo que eles sabem fazer, homens como
nossos pais. Nós apenas fizemos escolhas diferentes, não foi? Eu não
revidei. Você sim.
Eu não posso dizer se ela parece tão brava agora por causa do assunto da
conversa, ou se é porque eu estou forçando-a a ficar aqui e fazer isso comigo. O
porquê não é realmente importante, no entanto. Não gosto da dureza de sua
voz. Me faz pensar que ela está sofrendo. ─ Não, ─ eu respondo. ─ Também
não gosto de dor, Pequena E, mas não podia deixar que ele a usasse para me
controlar. Você nunca deve dar a ninguém esse tipo de poder sobre você. Não
importa o quanto doa.
Eu não gosto do som disso. Nem um pouco. A fera dentro de mim rosna,
um rosnado baixo e ameaçador ressoando entre dentes afiados e irregulares. Ele
se enfurece com a ideia de que um homem adulto machucaria sua própria
filha. Exige saber o que aconteceu em detalhes nítidos, para que possa formular
uma punição adequada para esse crime hediondo. Do lado de fora, eu coloco
em meu rosto uma máscara em branco, lutando para manter um ar de calma.
─ Não é tão simples e você sabe disso. Meu pai não é o tipo de homem
que me deixará ir, só porque me tornei uma adulta. Ele ainda estará controlando
todos os aspectos da minha vida quando eu tiver trinta, porra. ─ Ela não parece
chateada, apenas resignada, o que é ainda pior do que se ela estivesse
triste. Discutir com ela não vai me levar a lugar nenhum neste estágio de nossos
procedimentos frágeis, então eu abandono o assunto completamente. Nossos
pais de merda não vão a lugar nenhum, o que é, na verdade, o problema.
Porra, ela é linda demais. É como olhar para a porra do sol – eu olho para
ela por mais de um segundo e minhas retinas ameaçam explodir. Nem Pax nem
Dashiell diriam que ela é a garota mais bonita matriculada em Wolf Hall, mas
para mim, Elodie Stillwater é a coisa mais encantadora que eu já vi. O beicinho
desafiador de sua boca. O cabelo sempre um pouco bagunçado, precisando de
uma escova. O olhar brilhante e de olhos arregalados que te pega
desprevenido. Suas mãos são tão fodidamente pequenas, isso me faz querer
chorar.
Ela é pequena. Sua cintura, e seus ombros finos, e seus pés, pelo amor de
Deus. É como se ela fosse trabalhada em miniatura, os detalhes dela pintados à
mão com atenção inabalável aos detalhes. Ela parece que precisa ser
embrulhada em papel de seda, para mantê-la segura como um tesouro
precioso. Mas isso não é apenas o melhor? Porque tudo sobre Elodie é uma
decepção. Ela é pequena, sim, mas pode se defender. Ela é feita de aço
temperado, não de vidro fino, e com certeza não precisa ser mantida
segura. Subestimá-la seria um erro lamentável. Um cara que fizesse isso, não
sairia ileso.
─ Meu pai achava que a rotina era mais importante para mim do que tê-lo
por perto. Minha mãe morreu quando eu tinha três anos, e minha nova
madrasta era altamente alérgica a crianças pequenas, então tudo funcionou
muito bem para todos os envolvidos. Eles me mandaram para o internato
quando eu tinha quatro anos. Eles compraram três novas casas nos últimos
treze anos. Eu sempre fiquei em um quarto de hóspedes sempre que fui tão
gentilmente convidado para ficar nas férias.
Eu sorrio com força. Quero dizer, ela não está errada. Mas ainda assim. ─
Não tenho motivos para ser caloroso com ninguém fora da Riot House. Por
que eu iria vagar por este lugar, radiante como um macaco lobotomizado
quando metade desses idiotas não tem duas células cerebrais para esfregar?
─ Meu caso em questão. ─ Elodie estende a mão, sua mão avançando; ela
pega a garrafa de vinho de mim, seus olhos se arregalam quando eu rio. ─ O
que? Você espera que eu passe por tudo isso sóbria agora? Não, obrigada. ─ Ela
despeja uma grande quantidade de Malbec em um dos copos que eu trouxe
aqui, empurrando a garrafa no meu peito quando ela devolve.
Mal-humorada.
─ Não olhe para mim assim, ─ diz ela, virando a cabeça. A luz da vela
brilha contra seu cabelo, criando uma auréola dourada ao redor de sua cabeça.
─ Tudo bem, tudo bem. Faça do seu jeito. Faça-me outra pergunta. ─ Eu
espero com a respiração suspensa, a tensão crescendo entre minhas omoplatas
enquanto antecipo o que ela vai dizer a seguir. É emocionante, essa troca, saber
que as coisas que ela está me perguntando aqui e agora representam momentos
no passado quando ela se sentou sozinha em seus pensamentos e se
perguntou coisas sobre mim.
Elodie toma três goles profundos de sua taça de vinho. ─ OK. Por que
Dashiell tratou Carina tão mal? Foi algum tipo de aposta entre vocês?
Ela franze o nariz em desgosto. ─ E daí? Ele fez algo para humilhá-la e
causar-lhe dor porque gostava muito dela? Essa é a desculpa com a qual você
está armando ele?
Pânico brilha em seus olhos. Ela está olhando para minha boca
novamente, o terror completo irradiando dela em ondas. ─ Wren...
Ela fecha os olhos, uma única lágrima escorrendo pelo seu rosto. Do nada,
é como se ela estivesse se desfazendo em minhas mãos. ─ Por favor. Por
favor. Por favor, — ela sussurra.
─ Tudo bem. OK. Eu tenho você. ─ Ela está em meus braços, então. Eu
a esmago contra mim com tanta força que nem eu consigo respirar. Meus lábios
encontram os dela, e o beijo não é como deveria ser. Sim, eu planejei isso. Com
a mesma atenção meticulosa aos detalhes que coloco em todas as minhas
ações. Eu deveria provocá-la, minha boca pairando sobre a dela, minha língua
patinando sobre seus lábios inchados, minhas mãos em seus cabelos, fazendo
sua respiração ficar rápida até que ela estivesse frenética e não suportasse que
houvesse qualquer espaço entre nós. um segundo mais. Não há paciência para
este beijo, no entanto. Nenhuma provocação a ser tida por mim ou por
ela. Apenas necessidade e desejo, e uma forma de pânico que acende em nós
dois e se espalha como um incêndio. Com que facilidade tudo isso poderia
terminar em desastre. Com que rapidez eu poderia me perder, e com que
facilidade eu poderia quebrá-la.
Nós dois temos tanto medo do final antes mesmo de realmente chegarmos
ao começo, mas não há nada que nenhum de nós possa fazer para impedir isso
agora. Ganhou muito vapor, e nenhum de nós sabe onde estão os freios.
Eu deveria estar encenando essa charada. Havia uma ordem em que tudo
isso deveria acontecer, e em nenhum momento eu deveria perder a cabeça.
─ Wren. Wren. Oh meu Deus...─ Ela ofega meu nome, sem fôlego, ainda
arqueando as costas e pressionando-se contra mim de uma forma que torna
muito difícil pensar direito. ─ Que porra estamos fazendo? O que é isso? ─ ela
geme.
Algo extraordinário.
Algum tipo de mudança em nós dois que não faz nenhum sentido.
Um momento.
Elodie engole. ─ Eu, uh... acho que tenho que ir. ─ Freneticamente, ela
fica de pé, cheia de energia e eletricidade enquanto gira em um círculo,
segurando o cabelo fora do caminho enquanto examina a área ao redor por...
por...
─ Porra! ─ Elodie gira mais uma vez, ainda procurando por seus sapatos
que não estão lá, e então ela gira em mim, carrancuda como um demônio. ─
Você não deveria ter feito isso, ─ ela sibila.
─ Tudo bem, tanto faz. Não faz sentido atribuir culpa. Isso ainda é culpa
sua!
Ela está sendo obviamente ridícula, mas eu sei que é melhor não dizer isso
na cara dela. Eu não acho que eu poderia convocar as palavras, de qualquer
maneira. Elodie rosna como uma gata selvagem, se lançando em direção ao
espaço estreito que a levará de volta à ala feminina no quarto andar. Eu a vejo
desaparecer na escuridão, sabendo que deveria contar a ela sobre a
pequena porta do outro lado do sótão que leva para a ala dos meninos, mas
minha garganta está muito apertada para lidar com isso. Eu sento lá no
cobertor, muito quieto, olhando para o copo meio cheio de vinho que Elodie
deixou para trás, cambaleando. Uma hora se passa, depois outra, e as velas se
apagam uma a uma.
Elodie
─ ONDE DIABOS você dormiu na noite passada?
─ Passei pelo seu quarto às seis e meia e você não estava lá, ─ diz ela. ─
Sua cama nem parecia ter sido remexida.
Esta é uma das muitas coisas que as pessoas sem pais militares nunca vão
entender. ─ Acordei cedo para correr. E se eu me levantar, eu tenho que fazer
minha cama imediatamente, ─ eu explico. ─ É fisicamente impossível para
mim não fazer isso.
Eu não posso dizer a ela que eu corri sozinha até realmente sentir que eu
iria morrer, e então eu desabei aqui, incapaz de me mover, porque eu estava
muito perdida na memória de tentar escalar o maldito Wren Jacobi como uma
árvore. Então, em vez disso, eu aceno com a cabeça, gemendo muito alto e
miseravelmente.
─ Droga, cara. O exercício físico é ruim. Eu recomendo que você evite isso
no futuro, ─ aconselha Carina.
─ OK. Bem, eu vou fingir que você não está agindo super esquisito e vou
esperar você me perguntar como foi a noite passada.
─ Noite passada?
─ Com André! Droga, Elle, eu te disse que não poderia voltar para casa
ontem à noite e agora aqui estou eu às oito da manhã, usando as mesmas roupas
da noite passada com rímel borrado em todo o meu rosto e você não pode
somar dois e dois? Cuspa isso agora mesmo. Diga-me o que há com você. Você
teve outro encontro com Wren?
─ Parece idiota, mas foi mágico. Tipo, magia de verdade. Uma vez que o
filme acabou, eu andei com ele de volta para sua casa, e, bem... vamos apenas
dizer que eu não consegui dormir. Estou exausta, e meu corpo parece que foi
esticado em todas as direções. Eu não posso colocar minhas pernas no chão
sem meus quadris rangendo como uma porta velha. Estou te dizendo. Aquele
homem sabe exatamente onde está o ponto G de uma mulher. Não precisei
fornecer um roteiro detalhado nem nada.
E o tempo todo, eu fico deitada na grama, meu suor ficou seco e coçando
na minha pele, e tento não pensar no meu encontro ilícito no
sótão. Pensamentos de Wren me atormentam. Ele é uma aflição da qual não
posso escapar, não importa o quanto eu tente. O olhar em seus olhos verdes
ardentes, quando ele se afastou e terminou nosso beijo, foi...
porra, parecia honesto. Ele não parecia estar dando um show. Ele parecia tão
confuso e atordoado quanto eu, o que simplesmente não parece possível. Meu
instinto me diz o contrário, no entanto.
─ Elodie? Você está ouvindo? E por que você está segurando seus dedos
na boca assim?
Carina diz: ─ Isso é muito enigmático. E aqui estava eu, pensando que era
sua melhor amiga de Wolf Hall. Você tem feito amigos pelas minhas costas,
Stillwater?
Aliviada que ela não vai pressionar uma saída para mais tarde esta noite,
eu relaxo em minha vergonha, tentando ignorá-la. ─ Certo. Ok, isso soa ótimo.
***
Carina faz uma careta. ─ Sim. Nós fazemos. Apenas espere até que a
primavera chegue. Somos corredores de cross country aqui na academia. A Sra.
Braithwaite diz que desenvolve resistência, coragem e disciplina mental.
Três palavras. Nossa. Quer dizer, eu não sei o que eu estava esperando,
mas três palavras curtas e cortadas que de alguma forma conseguem transmitir
a extrema arrogância do bastardo – bem, isso é no mínimo
decepcionante. Onde estou? Como se ele tivesse o direito de saber minha
localização o tempo todo? Ah, acho que não, amigo.
─ Você está bem, garota? ─ Carina pergunta, perto da ponta do lápis que
está mastigando. ─ Parece que você está prestes a arremessar uma cadeira por
uma dessas janelas.
Ela é muito perceptiva para seu próprio bem. Ou eu sou realmente terrível
em esconder minhas emoções. Eu provavelmente deveria trabalhar nisso. Eu
cortei-lhe um sorriso triste, suspirando pesadamente. ─ Sim. Apenas meu
pai. Ele é... difícil de agradar. Nós realmente não temos muito olho no olho. ─
As coisas que acabei de dizer a ela são cem por cento verdadeiras. Descrever o
Coronel Stillwater como 'difícil de agradar' deve ser o eufemismo do século. E
nós não concordamos em nada. Eu ainda menti para Carina fingindo que foi
meu pai quem acabou de me mandar uma mensagem. Wren Jacobi está me
transformando em uma mentirosa, e eu não gosto disso.
─ Sim, você sabe. Por que ele é tão idiota para você? Por que ele te trata
como lixo o tempo todo?
Porque eu o lembro da minha mãe morta. Porque eu vi do que ele é capaz, e sei que
sua atitude hipócrita, mais santo que você, é tudo uma encenação. Porque eu poderia virar o
mundo dele de cabeça para baixo com um pequeno telefonema.
─ Porque ele é meu pai. Isso é apenas o que ele faz, ─ eu digo suavemente.
Eu lentamente fecho meus olhos. ─ Você não tem nada melhor para fazer
com o seu tempo do que citar uma poesia sombria para mim, ─ eu pergunto,
valentemente mantendo minha calma, enquanto o dono fantasma dessa voz
vem para ficar atrás de mim. Eu posso senti-lo lá, sua presença como um inferno
furioso nas minhas costas.
Eu tento não olhar para ele, mas não olhar para ele é como não cutucar
uma casca de ferida, ou não cutucar um dente vacilante com a
língua. Impossível. ─ Na verdade, não. Eu tive que memorizar aquele poema
para uma aula no semestre passado. Acho que ainda não apaguei da minha
memória. Os poemas de Byron eram floridos demais para mim. Eu não gosto
de como eles rimam tão obviamente na maioria das vezes.
Wren prende o lábio inferior entre os dentes, seus olhos brilhando de uma
forma divertida que eu nunca vi antes. Ele contorna a mesa e se senta à minha
frente, inclinando-se sobre a madeira polida. ─ Você gosta de poesia. ─ Isso é tudo
o que ele diz, mas parece que essa revelação é a coisa mais incrível que já
aconteceu com ele.
Deus, estou muito cansada para esses tipos de jogos. Eu mal dormi ontem
à noite, e depois de correr até agora esta manhã, me espremendo no chão antes
mesmo do amanhecer, estou ficando sem ânimo. Revirando meus olhos para o
céu, eu caio de volta em minha cadeira de espaldar duro. ─ Existe algo que eu
possa ajudá-lo, Wren?
Meu coração desleal e traidor bate sob minhas costelas quando ele para de
sorrir, me prendendo com aquele olhar verde rude. Pessoas normais não olham
para os outros do jeito que Wren olha para mim. É como se ele estivesse
procurando por algo na minha cara e não piscasse ou se virasse até encontrar. É
extremamente desconfortável ser estudada dessa maneira. ─ Você pode
começar me dizendo o que quis dizer com ' seja lá o que for.’
─ Porra. Eu não sei! Eu não quis dizer nada com isso. Foi um comentário
improvisado, ok? Não se preocupe, não estou esperando que você me declare
sua namorada agora.
Ele inclina a cabeça para trás e ri. Na biblioteca, onde o silêncio é de ouro,
ele joga sua linda cabeça para trás e ri. Um severo ‘sshhhhhh!’ ecoa pela sala, e
um calor horrível sobe pelo meu pescoço. Já era ruim o suficiente antes, quando
apenas alguns dos outros alunos que estudavam nas carteiras próximas notaram
a chegada de Wren. Agora todos no lugar sabem que ele está aqui, e que acabei
de dizer algo que ele achou obviamente ridículo.
─ Você pode não ter percebido, mas eu sei exatamente o que é isso,
Elodie, ─ Wren diz, sua risada morrendo em seus lábios. ─ Se você tiver
coragem e quiser descobrir, tudo que você precisa fazer é perguntar. Você sabe
que serei inabalavelmente honesto.
Ele olha para mim como se eu estivesse falando em línguas e nada do que
estou tagarelando faz sentido. ─ Desculpe, Pequena E. Não sei o que fiz para
encorajar essa crença de que dou a mínima para o que Carina Mendoza pensa
sobre qualquer coisa, mas deixe-me esclarecer isso. Eu não me importo se
Carina voltar e me encontrar sentado nesta cadeira. Eu não me importo se ela
sabe que eu quero você. Eu não me importo se ela sabe que eu enfiei minha
língua na sua garganta ontem à noite e você deixou meu pau mais duro do que
esteve em dois anos de merda.
Uau.
─ Oh, Elodie, ─ Wren sussurra sem fôlego. ─ Você não gosta de ouvir
isso? Que você deixou meu pau duro? Ou... você gosta muito de ouvir isso?
─ Pelo amor de Deus, você não pode dizer coisas assim em público, por
favor? ─ Eu me desprezo por corar. Do jeito que ele está olhando para mim,
seus lábios entreabertos, olhos arregalados, ele está fascinado pela minha reação
à sua declaração ultrajante. Teria sido muito melhor para mim se eu mantivesse
a calma e não reagisse. Por alguma razão, importa para mim que ele não pense
que eu sou uma colegial gaga, estúpida e inexperiente. Não deveria, mas foda-
se, realmente importa.
Wren desliza a mão sobre a mesa, a palma voltada para cima, os dedos
curvados em direção ao teto, os olhos ferozes e intensos. ─ Você sabe o quão
louco você me deixa, não é, Pequena E? Você sabe que meu corpo não é mais
meu. Eu te desejo porra. E eu realmente não dou a mínima para quem sabe disso.
Ele olha para sua mão, descansando entre nós em cima da superfície da
mesa laqueada. Claramente, isso é algum tipo de teste. Ele está esperando que
eu estenda a mão e pegue sua mão. Eu não tenho ideia de qual é o objetivo final
dele aqui, mas parece uma armadilha e se eu colocar minha mão na dele estarei
me colocando em perigo. Sigo seu olhar, olhando para as linhas de sua palma,
traçando-as com meus olhos, desejando muito poder alcançá-las e traçá-las com
as pontas dos meus dedos, sentir o calor e a aspereza de sua pele...
─ Eu sei o que você está pensando, ─ ele sussurra.
A voz de Wren é tão suave quanto a seda, tão silenciosa quanto a neve
caindo no inverno. ─ Sim. E eu juro que você está errada. Isso não é uma
aposta entre mim e os outros caras. Não fiz nenhuma aposta se você se importa
se eu vivo ou morro. Eu não estou tentando fazer você sentir algo por mim que
você não deveria, puramente para meu próprio entretenimento…
─ Mas era isso que você queria, certo? Quando cheguei aqui, você decidiu
que iria me escolher como seu próximo brinquedo. Você queria me machucar,
e você ia sorrir enquanto fazia isso. Eu vi em seus olhos.
Porra. Por favor, não olhe para ele, Elodie. Não faça isso porra.
Minha respiração para na minha garganta; deve ter ficado presa lá por um
tempo, porque meus pulmões estão começando a queimar. Eu não posso me
ajudar. Eu faço. Eu olho para ele, morte em seus olhos, e é como se eu tivesse
levado um tiro no peito, uma sensação fria e arrepiante se espalhando para fora
do meu plexo solar. Seus olhos estão claros. Não vejo engano neles. Eu vejo
muito orgulho e um monte de ego, mas também vejo o mais fraco vislumbre
de esperança.
Caramba.
Coloco a caixa na cama, olhando para ela com as mãos nos quadris.
Wren
UMA MUDANÇA DE PARADIGMA.
Tenho a sensação de que isso não vai acabar por muito tempo, se é que
vai acabar, e agora me vejo em uma posição em que me sinto obrigado a fazer
algo muito precipitado.
Aquele maldito envelope pardo. Tentei esquecer o que li, mas as palavras
ainda estão lá, brilhando mais que o sol, sempre que fecho os olhos. Isso me
colocou no pior humor do caralho.
─ Você poderia ter ido sem mim, ─ eu rosno. ─ Eu não estava parando
você.
Dash faz beicinho. ─ Eu sei, cara, mas, por alguma razão ímpia, nós dois
gostamos de ter você por perto e realmente não seria a mesma coisa se você
não estivesse lá para estragar a diversão de todo mundo. Enquanto isso, você
está nos abandonando pela segunda vez em vinte e quatro horas para ir ver a
mesma garota. Estamos começando a sentir que você pode estar lutando um
pouco com suas prioridades. Preciso lembrá-lo de que nos apoiamos nos
últimos quatro anos. Nós vivemos juntos e entramos em um monte de merda
juntos. ─ Ele levanta as mãos. ─ Já consumimos tantas drogas em tantos países
que tenho carimbos no passaporte que nem reconheço. Podia jurar que nunca
tinha ido ao Brasil. De qualquer forma, o ponto é, vamos precisar de você para
controlar isso um pouco. Só por um tempo, sim?
─ Sim, nós estamos, porra. ─ Pax acena com a cabeça como se tivesse
acabado de saltar de paraquedas com muita velocidade.
─ Não vamos. Preciso de sua ajuda com algo neste fim de semana e não
pode esperar. Já comprei as passagens.
─ Passagens de avião. Precisamos sair do país por alguns dias. E você não
pode contar a ninguém para onde está indo, ou estaremos todos fodidos.
Agora eu tenho a atenção deles. Realmente entendi. Eles amam uma
viagem secreta mais do que qualquer outra coisa no mundo. Incluindo festas na
Riot House. ─ Por quanto tempo vamos ficar fora? ─ Dashiell pergunta,
fingindo examinar um fio solto pendurado no punho de sua camisa.
─ Deus, você não odeia quando ele faz isso? É assustador pra caralho
quando você sorri. ─ Os ombros de Dash caem em resignação, no entanto. Ele
vem comigo na minha pequena estada. E se Dash está dentro, então Pax
também está. O cara em questão esfrega a mão na cabeça raspada. ─ Está
bem. Iremos onde você mandar, sem perguntas. Mas vamos dar uma festa
quando voltarmos, Wren. Tenho a sensação de que você vai ficar nos devendo
uma depois disto. E é melhor que haja strippers.
***
─ Ele pode. Você não gostaria de arriscar fechar este lugar agora, não é?
Eu puxo uma nota de cem dólares da minha carteira e a jogo no bar para
ele. ─ Eu quero uma dose de uísque na minha frente nos próximos trinta
segundos, idiota. E eu juro por Deus, se você tentar derramar esse fluido de
isqueiro do trilho para mim novamente, eu vou acabar com sua triste existência.
─ Foda-se, cara.
─ Posso imaginar como deve ser difícil para vocês, pobres crianças, ter
que escovar os próprios dentes e limpar a própria bunda. Deve ser pura
tortura. Eles realmente deveriam contratar alguns servos extras para atender às
necessidades mais íntimas do nosso pequeno principezinho.
18
Figado de pato ou ganso servido com trufas, uma iguaria da culinária francesa.
─ Se você não parar com o vitríolo, eu vou trancá-lo na adega de cerveja
novamente.
Isso o cala. Porque ele sabe que eu vou fazer isso. Eu já fiz isso
antes. Acho que Patterson gosta de nossa briga verbal (e ocasionalmente física)
quase tanto quanto eu. Ele não gosta quando eu chuto sua bunda redonda pelas
escadas que levam ao porão e o prendo lá durante a tarde, no entanto. Ele
mostra os dentes. ─ Onde estão aqueles seus amigos? O idiota inglês e o
viciado.
─ Eu não acho que você possa acusar alguém de ser um viciado em drogas
porque eles têm a cabeça raspada e têm uma semelhança passageira com um
jovem Ewan McGregor.
─ É meio da tarde, cara. Apesar do que você possa pensar de mim, não
sou um degenerado. ─ Risível. A mentira é tão risível que até eu sorrio como
um pedaço de merda quando Patterson segura sua barriga e ruge. As coisas que
ele me viu fazer. Os estados em que ele me viu. Jesus. ─ Eu tenho uma pergunta
para você, Pat, ─ eu digo, me inclinando para a frente para que a borda da barra
se enterre em minhas costelas. ─ Você é um homem casado, não é?
─ Ah, bem, nesse caso, ok! ─ Lá vai ele com aquele sarcasmo
novamente. Ele é um fodido profissional.
─ Setenta anos.
─ Fazer o que?
Patterson balança para frente e para trás nas pontas dos pés, rindo
alegremente para si mesmo. Desta vez, ele não parece estar zombando de mim
com sua risada; ele parece genuinamente divertido. ─ Oh, senhor, Wren. Deus,
você me faz rir às vezes.
Bem, eu posso ver que eu fui direto para aquele. Mesmo assim, uma onda
de fúria sobe pelas minhas costas, formigando entre minhas omoplatas. É da
minha natureza querer punir o cara por tamanha insolência, mas agora há essa
voz irritante no fundo da minha cabeça, perguntando como eu estaria agindo
se Elodie estivesse aqui, e eu nem sei o que fazer comigo mesmo, não mais. ─
Devidamente anotado, ─ eu digo firmemente entre os dentes.
─ Não importa. Olha, que Deus ajude quem quer que seja essa garota
se você estiver interessado nela, mas essa merda é simples. Não seja egoísta. Não
seja um idiota. Coloque as necessidades dela antes das suas. Jesus, que porra
sou eu...─ Ele balança a cabeça. ─ Por que estou me incomodando?
Que poooooorraaaaaaaaaaaaa?
Estou atravessando a rua antes mesmo de saber o que estou fazendo. Não
há entrada para o estacionamento deste lado da estrada, deve ser do outro lado
do estacionamento, mas isso não me impede. Em um salto, estou na metade da
cerca. Um segundo depois disso, estou saltando por cima dele, pulando, caindo
no chão com um chocalho de osso que faz isso através dos tornozelos, joelhos,
quadris, costas, e termina com meus dentes batendo tão forte que eu quase
morder a porra da minha língua.
Eles me veem.
─ Não, Wren. Como você sabe, não sou. ─ Ele enuncia cada palavra,
ronronando como um gato.
─ O que diabos você está pensando? ─ Mercy está na minha frente agora,
com as mãos no meu peito, me empurrando, empurrando, empurrando,
empurrando, me forçando a dar um pequeno passo para longe do professor de
inglês. ─ Nós estamos em público, Wren. Você está louco? Você não pode
bater em um membro do corpo docente na frente das pessoas.
Por mais ameaçador que possa ser, eu mergulho para que eu possa enfiar
meu rosto no dela. ─ Eu vou bater nele em qualquer lugar que eu quiser. Vá e entre
no carro, Mercy.
Oh, oh, oh. Meu Deus, esse filho da puta aqui. Lentamente, eu me agacho
na frente dele, descansando meus antebraços em cima das minhas coxas,
observando-o com total desprezo. ─ Você não olha para nada que me
pertença. Você não toca em nada que me pertença. Fora do seu mandato como
professor, você não fala com ninguém que esteja ligado a mim. Você entendeu?
Com os olhos cheios de calor, Fitz chupa o lábio inferior, ambas as narinas
dilatadas. ─ Não tem que ser assim, sabe. As coisas poderiam ser como eram
antes.
─ Você não acha que ele vai denunciá-lo a Harcourt agora? ─ ela sibila,
seus olhos brilhando como adagas para mim. ─ Você acha que ele vai ficar de
boca fechada se você bater na bunda dele no meio da cidade? Você o humilhou.
Sim. Eu o humilhei. Mas não haverá nenhuma atitude para minhas ações
neste estacionamento e Mercy sabe disso. Eu sei disso, e Wesley Fitzpatrick
sabe disso acima de tudo.
Seu problema sempre foi que ele quer que eu o machuque. Para humilhá-
lo.
─ Você é louco pra caralho! ─ Ela grita, enquanto ela queima a colina em
direção à academia. Se ela espera que isso seja algum tipo de revelação para
mim, então ela está sem sorte. O que estou prestes a fazer é prova suficiente de
que ela está certa. Pego meu telefone e digito uma mensagem rápida antes de
entrar para jogar algumas roupas em uma bolsa.
Elodie
HÁ RACHADURAS EM TODOS OS LUGARES, é claro. E alguns pontos onde a
cor de suas asas se foi, substituídas por cerâmica lisa e branca, onde se perdeu
uma lasca ou um caco de seu verniz original. Mas o pássaro que minha mãe me
deu está quase inteiro de novo, e de todas as pessoas no mundo, Wren Jacobi
o montou de volta para mim.
Para mim.
Eu tenho dúvidas. Ou seja: onde ele encontrou todas as peças? Como ele
os recuperou? Harcourt disse que eles foram aspirados e descartados. Ele
rasgou o aspirador de pó para tirá-los? E como diabos ele reconstruiu a
estatueta? Levaria horas. Dias. Não consigo nem compreender quanto tempo
deve ter levado. Quanta paciência tal empreendimento teria exigido. Muito mais
paciência do que eu acreditava que Wren possuía, com certeza.
Às seis da tarde, recebo uma mensagem de Wren, dizendo que ele vai viajar
por três dias. Seu curto, 'te pego quando eu voltar', me deixa tão irracionalmente
irritada que me tranco no meu quarto e não saio até domingo à tarde. O que
aconteceu com o sótão? Três dias conhecendo-o. Eu esperava esse tipo de
comportamento dele desde o início, então por que ainda dói?
Eu pulo o jantar, dizendo a Carina que não estou com fome quando ela
pergunta se eu quero me juntar a ela no refeitório, e fico pensando no meu
quarto, andando de um lado para o outro, usando uma trincheira nas tábuas do
piso enquanto me chacoalho para frente e para trás como um leão em uma
gaiola, o tempo todo olhando para o pássaro como se fosse uma granada de
mão, prestes a explodir no meu colchão.
Como ele pode fazer algo assim e, em seguida, apenas sumir? Isso não faz
sentido.
Quando Wren não aparece para a aula na quarta-feira, fico tão irritada com
a coisa toda que decido que preciso fazer algo sobre a situação. Pelo bem da
minha própria sanidade, se não pela da pobre Carina.
Por baixo de toda a frustração e raiva está a preocupação doentia de que
eu machuquei Wren quando eu não peguei sua mão na biblioteca. Ele poderia
estar chateado que eu não caí de joelhos imediatamente em gratidão quando ele
me disse que se importava comigo. Tenho certeza de que era isso que ele
esperava que eu fizesse. Se ele é salgado por causa de alguma rejeição percebida
da minha parte, então talvez seja isso. Ele me deixará em paz e não terei mais
que lidar com suas atenções.
Este pensamento deve me fazer feliz. Estou frustrada com ele há semanas
e, com ele recuando, poderei me estabelecer corretamente na vida em Wolf Hall
agora, sem medo de mais complicações.
Mas.
Urgh, por que sempre há uma porra de mas? Por que não posso
simplesmente fazer uma dança comemorativa e seguir em frente como qualquer
pessoa sã faria?
Eu preciso de uma explicação dele, cara a cara. Preciso saber se ele forçou
outra pessoa a consertar o pássaro para mim. E, por mais que eu deteste admitir,
quero saber se realmente o machuquei ao rejeitá-lo na biblioteca.
Você é tão tola, Elodie. Ele não vale a sua energia. Sério, tire os sapatos, vá para a
cama, perca-se em um bom livro e esqueça Wren Jacobi. Ele é um maníaco manipulador e
nada mais.
Em vez disso, pego o livro que ele me emprestou — de Sir Arthur Conan
Doyle, A Study In Scarlett — e o enfio na bolsa.
Você é melhor que isso. Melhor do que ele. Você não precisa muito dele.
***
Eu não tinha carro em Tel Aviv. Eu não precisava de um. Um veículo seria
muito útil aqui em New Hampshire, no entanto, especialmente porque eu moro
no meio da porra de lugar nenhum. Carina se ofereceu para me emprestar o
Firebird e disse que eu poderia usá-lo quando quisesse, mas não poderia pedir
as chaves a ela esta noite. Ela gostaria de saber para onde eu estava indo, e de
jeito nenhum eu poderia dizer a verdade: ─ Ah, sabe, acabei de pensar em dar um
pulo na Riot House. Depois de horas. Sozinha. Para discutir meu relacionamento/rivalidade
bizarro e não inicial com o garoto que você me avisou, até ficar com o rosto azul para ficar
longe.
Então aqui estou eu, correndo morro abaixo, pulando fora da minha pele
a cada som que ouço, apenas esperando que algo desagradável com dentes
afiados saia cambaleando da floresta. Eu não vi um único carro desde que saí
da academia, e sem nenhuma luz de rua em qualquer lugar na estrada ventosa e
apertada, eu só tenho a pequena lanterna no meu celular para afastar a
escuridão.
Eu sabia que essa era uma ideia horrível antes de deixar Wolf Hall, mas só
estou percebendo agora o quão horrível era a ideia. Se alguma coisa acontecer
comigo, é melhor eu morrer e acabar logo com isso. Se eu não fizer isso, Carina
vai me matar, e eu prefiro ser comida por um urso ou enterrada em uma cova
rasa pelos garotos da Riot House do que ter que ver o olhar de decepção em
seus olhos quando ela me coloca no chão.
Oh.
Uau.
Antes que eu possa começar a longa caminhada de volta para Wolf Hall,
uma luz de repente se acende à frente, lançando um brilho amarelo na
escuridão. A Riot House surge da floresta negra como tinta, aparecendo do
nada, e meu ritmo cardíaco frenético diminui. Então, eles estão em casa,
afinal. Uma parte de mim está aliviada por esse conhecimento, mas o resto de
mim está frustrado por eu ter me permitido...
Eu bato meu cotovelo para trás e subo em suas costelas. Ele é tão mais
alto do que eu que teve que se curvar para me agarrar, o que significa que posso
ganhar muito impulso por trás do golpe. Pax solta um suspiro surpreso, sem
fôlego, e eu aproveito a oportunidade a meu favor. Torcendo, girando em seus
braços, eu enfio meus dedos em sua garganta, batendo-os em seu pomo de
Adão, e seu domínio sobre mim desaparece.
─ Porra... vadia! ─ ele ruge. ─ Venha aqui. Traga sua bunda aqui agora,
porra!
Ele pisca, chocado, quando eu o obedeço sem pensar duas vezes. Claro, eu
vou até você, filho da puta. Estarei bem aqui com você. Ele expõe seus dentes, raiva
queimando em seus olhos, e me agarra. Eu o tenho pelo pulso, no entanto. Eu
puxo seu braço ao redor, batendo minha palma contra seu cotovelo, forçando
a articulação a dobrar para o lado errado, e Pax reage da mesma forma que
todos os meninos grandes fazem quando estão prestes a quebrar o braço: ele
cai de joelhos, chorando de dor.
19
Pequena prostituta francesa.
A partir daí, é bastante fácil. Eu libero seu braço, mas ainda não terminei
com ele. A sola do meu Doc Martin aterrissa entre seus ombros quando eu
chuto, colocando toda a minha força no golpe. Ele tomba para a frente na
serrapilheira, xingando furiosamente, e então estou de costas, antecipando o
que ele fará a seguir, já esperando que ele tente se virar embaixo de mim. Meu
punho está levantado, enrolado o mais longe possível, pronto para quebrar a
porra do nariz dele e acabar com sua carreira de modelo de menino bonito para
sempre, quando...
Elodie
O CAFÉ É amargo e quente e envia um arrepio de prazer correndo pela
minha espinha. Dash está sentado na beirada do sofá de couro, me observando
beber da xícara com um nível de fascínio que faz parecer que ele acabou de
acordar de um coma de três mil anos e não tem ideia do que é café. Ou
canecas. Ou sofás. Ou meninas que conhecem Krav Maga.
─ Não, foi estúpido, ─ Pax estala, massageando sua garganta. ─ Ela sabia
que eu estava brincando. Ela aumentou essa merda para onze sem motivo. ─
Ele está sentado no chão, encostado na parede perto da lareira, me encarando
maliciosamente enquanto cuida de sua traqueia 'machucada'. Eu mal o toquei.
Wren não falou muito. Ele está parado na porta que dá para a cozinha,
com os ombros tensos, enquanto observa seus dois amigos. Seus olhos jade
passaram por mim uma ou duas vezes, mas seu foco principal estava em Dash
e Pax, como se estivesse esperando que algo acontecesse. Ele está vestindo um
moletom preto e uma calça de moletom larga, e cara, ele as faz parecer
pecaminosas. O filho da puta poderia fazer um saco de lixo parecer bom, no
entanto. Eu olho para longe dele, apenas para pegar Dash franzindo a testa
profundamente para mim.
Pego outra coisa, enquanto ele segura a mão na frente do rosto: os nós
dos dedos estão machucados. Um deles está aberto, vermelho e cru. Eles não
estavam assim na outra noite no sótão, nem na biblioteca. eu teria notado. Ele
bateu em alguma coisa desde que eu o vi no sábado, e pelo que parece, ele bateu
nessa coisa com força. Como se ele pudesse sentir meu olhar sobre ele, Wren
abre o punho, esticando os dedos, e preguiçosamente enfia a mão de volta no
bolso de sua calça de moletom, olhando para seus pés.
Wren olha para mim sob sobrancelhas escuras e arqueadas, dando-me toda
a sua atenção finalmente. Ele parece magoado, no entanto. Sua boca se contrai,
inclinando-se para o lado. ─ Ahh. Sherlock Holmes. Sim. Eu me perguntava
onde isso tinha ido parar.
─ Deus, você é patético, ─ Pax ri. Ele tira a meia do pé direito, faz uma
bola e arremessa no rosto de Wren. ─ Uma garota desceu a colina pulando no
escuro, sozinha, e você está parado ali, todo, 'Ohhh, Sherlock Holmes. Meu livro
favorito de todos os tempos? Credite-nos um pouco de bom senso. Ela veio aqui para
pegar um pau, Jacobi.
Os três apenas olham para mim enquanto eu valso pela sala de estar aberta
e começo a subir as escadas. Meu coração bate como uma britadeira, meu pulso
rugindo, mas não vacilo. Eu seguro a caneca firme em minhas mãos. Eu
coloquei um pé na frente do outro, legal e uniforme, uma imagem de calma. Até
que eu alcanço o patamar do segundo andar e eles não possam mais me ver, e
pronto. Minha mão treme tão violentamente que o café na caneca espirra para
o lado, respingando nas tábuas polidas do piso. Felizmente, o líquido erra o
tapete cinza de pelúcia, mas eu ainda fiz uma bagunça infernal.
Respire, Elodie.
Só respire.
Inspira e expira, inspira e expira.
Calma, Elodie.
Acalme-se.
Cite cinco coisas que você pode ver. Vamos. Cinco coisas que você pode
ver. Você consegue fazer isso. Apenas acalme-se.
─ Urgh, sim. Eu sabia. Eu nem sei por que eu disse isso. Eu só…
─ Você não sabe o que fazer. Você não sabe como se sentir. Você está
com medo da verdade e do que isso pode significar. Para baixo é para cima, e
para cima é para baixo…
Ele faz parecer tão confuso. É como se ele estivesse lendo minha
mente. ─ Sim. Tudo isso, ─ eu concordo.
─ Você não deveria ter vindo aqui, sabe, ─ ele diz firmemente. ─ Este não
é exatamente um lugar seguro para alguém como você.
─ Alguém como eu? Deus, eu não sou uma garota fraca, patética e
indefesa que não pode cuidar de si mesma. Acho que o esôfago de Pax atestará
isso. E esta é a sua casa, de qualquer maneira. Que porra você está aprontando
aqui? Devo me preocupar com minha segurança?
Ele balança a cabeça tão lentamente, olhando para as mãos. ─ Não. Não
acho que seria uma boa ideia.
Uau. Ele realmente não vai me dizer? ─ Você estava... você estava saindo
com garotas. É por isso que você não vai dizer?
Um pequeno sorriso puxa o canto de sua boca. ─ Você ficaria com ciúmes
se eu tivesse?
Me mata que eu me deixe perguntar isso. Me mata que ele pareça tão
satisfeito consigo mesmo agora. Acabei de revelar uma parte suave e vulnerável
de mim mesma; eu descobri meu pescoço, expondo-me a ele, e agora ele tem
tudo o que precisa para rasgar minha garganta. ─ Apenas responda a pergunta,
Wren.
Ainda brilhando de satisfação, ele chupa o lábio inferior, balançando a
cabeça novamente. ─ Não, Pequena E. Não havia outras meninas.
Alívio deveria ser a última coisa que sinto, mas mesmo assim surge dentro
de mim. ─ OK. E daí? Você acabou comigo agora? Porque normalmente os
caras não fazem você prometer passar um tempo com eles e depois
simplesmente desaparecer no ar.
Ele fica quieto. Não olha para cima. Na verdade, não. Apenas vira a
cabeça ligeiramente para mim, os olhos semicerrados, a agitação escrita nas
linhas de seu rosto. ─ Isso é o que você queria, certo? O que você queria esse
tempo todo. Que eu te deixasse em paz?
Sim. É tudo que eu queria. Eu passei pela frustração e raiva até as coxas em
minhas tentativas de me distanciar dele. Mas agora que estamos aqui, ele está
me dando isso... Estou fingindo que isso é uma nova revelação, me
surpreendendo do nada, mas isso não é verdade. Eu o quero desde o momento
em que pus os olhos nele, fumando aquele cigarro do lado de fora da academia,
esperando por mim nas sombras. Mesmo com sua atitude de merda, sua língua
afiada e seu histórico suspeito, eu o queria. E aquele beijo que compartilhamos
na noite de sexta-feira me fez desvendar de uma forma que me emocionou e
me aterrorizou.
─ O que?
A cabeça de Wren vira para trás; suas sobrancelhas sobem em sua testa,
franzindo juntos. ─ Quem eu paguei?
─ Sim.
Eu acredito no que ele está me dizendo? Ele não só não forçou alguém a
fazer seu trabalho sujo, mas que ele fez aquele trabalho sujo realmente, nojento
e inacreditavelmente nojento para mim? Estou tendo problemas para conjurar a
imagem dele saltando do lado de uma lixeira para que ele possa mexer na sujeira
para fazer algo gentil por outro ser humano. Chego a vê-lo ali, ao lado da lixeira,
mas o resto da imagem não se materializa. Na minha cabeça, ele acende um
cigarro, se inclina contra a lixeira, curvando os lábios de uma forma arrogante
e presunçosa enquanto me diz para ir me foder.
─ Sim, ─ eu confesso com relutância. ─ Eu ia. Achei que você teve uma
conversa amigável com Tom ou um de seus amigos e sugeri que eles lhe
fizessem um pequeno favor ou acabariam com um olho roxo.
Algo triste e infeliz aparece em seu rosto. Ele estuda as mãos, mexendo
distraidamente em uma lasca de esmalte preto. ─ Eu poderia ter feito
isso. Outra hora. Mas não por algo que eu planejava dar a você, Pequena E. Você
parecia arrasada por perder a coisa, e... eu não sei, ─ ele diz, ─ eu queria fazer
isso direito. Eu queria acertar. Não coagir outra pessoa a fazer isso por
mim. Então sim. Depois da noite da tempestade, fui e encontrei o zelador. Ele
me apontou a direção certa, e eu passei algumas horas todas as noites juntando
meus malditos dedos com super cola, tentando montar tudo de novo. Tive que
usar argila para preencher as partes onde faltavam peças. E foi isso. Eu
consertei isso. Eu devolvi para você. Não há necessidade de fazer um grande
negócio com isso.
─ Eu não entendo você. Como você pode parecer tão triste e infeliz com
o fato de que alguém descobriu que você fez algo de bom por mim?
─ Porque eu não sou legal, ─ ele resmunga. ─ Eu não faço coisas boas. Eu
não sei como... ser legal.
Este não é o Wren Jacobi que conheço. O Wren que é confiante e tão
seguro de quem ele é. Esse Wren está tenso, parece que vai explodir a qualquer
momento. Sento-me ao lado dele sem considerar as consequências – como sua
proximidade pode afetar minha respiração, ou como o calor de sua perna
descansando contra a minha pode fazer minha cabeça girar como um pião. ─
Você não respondeu à pergunta, ─ diz ele.
─ Sim.
Os pontos onde meu corpo está fazendo contato com o dele – meu joelho,
minha coxa, meu quadril, meu ombro – todos parecem estar pressionados
contra um tonel de água fervente, e esse tonel foi ficando cada vez mais quente
à medida que eu estou sentada aqui, tão devagar que não notei que está muito,
muito quente até que o contato de repente está me escaldando. Eu quero me
afastar, mas Wren inclina a cabeça, olhando de lado para mim, e estou presa no
local, incapaz de mover um músculo. ─ Eu não posso prometer que não vou te
machucar, Pequena E. Mas eu posso prometer que, se eu fizer, não será de
propósito. Também posso prometer que farei tudo o que estiver ao meu alcance
para não o fazer. ─ Ele engole em seco, sua garganta balançando. ─ Você acha
que isso pode ser suficiente?
Está acontecendo.
─ Eu pintei você na tela, Pequena E, mas não foi suficiente. Tudo o que
eu queria fazer... ─ Ele segura a barra da minha camisa, apertando a bainha do
tecido fino. ─ Tudo o que eu estava desesperado para fazer... ─ Ele rasga o
material em dois, arrancando-o do meu corpo, expondo meu estômago e meu
peito. ─ É pintar todo o seu corpo com o meu gozo.
Ele não é tímido. Ele estende a mão e acaricia meus seios através do meu
sutiã preto de renda, rosnando entre os dentes de uma forma animalesca e
possessiva que faz minhas costas se arquearem para fora da cama. Ele se curva
sobre mim, bufando o nariz, beijando e lambendo a pele do meu pescoço, e
para baixo, para baixo, para baixo, até que ele está pairando sobre meu
peito. Quantas vezes eu olhei para aquela boca cruel e linda dele e me preocupei
com quanto dano era capaz de infligir? Era muito perigoso imaginar quanto
prazer ele poderia proporcionar com isso. E agora, aqui estou eu, estendida para
ele em sua cama, descobrindo em primeira mão o quão capaz ele é...
Ele esfrega sua mandíbula contra meus seios, então aperta o material fino
e transparente, beliscando meu mamilo entre os dentes, e...
─ Porra! Wren!
─ Acredite em mim, Pequena E. Você não quer que eles ouçam isso.
Ele está falando sobre Pax e Dash, é claro. Seus colegas de quarto idiotas
provavelmente estão à espreita lá fora no corredor, batendo um no outro e
agindo como idiotas, se esforçando para ouvir o que está acontecendo aqui. A
expressão de Wren é toda de advertência. ─ Eu posso foder você, Elodie. Eu
posso tirar seu fôlego. Eu vou fazer você gozar no meu pau com tanta força
que você não será capaz de andar direito por uma semana. Mas você não
pode fazer um som. Você entende? Se eles ouvirem…
Ele não completa a frase, mas posso ver que ele está falando
sério. Gravemente assim.
Mergulhando, ele me beija rudemente, sua língua e seus dentes e seu desejo
cru se aglomerando em mim, me deixando tonta. ─ Você pode fazer isso? ─ ele
pergunta, beliscando meu lábio inferior com os dentes. ─ Você pode ficar
quieta por mim? Você pode fazer o que eu digo, quando eu digo, sem derrubar
a casa aos gritos?
─ Levante sua bunda, ─ ele ordena. Eu faço isso sem nem mesmo vacilar,
plantando meus pés na cama e levantando meus quadris para fora do
colchão. Wren desabotoa minhas calças com dedos rápidos e hábeis, rasgando
o zíper para baixo, então agarrando o material e puxando-o sobre meus quadris,
rasgando o jeans das minhas pernas. Seus olhos queimam em mim, devorando
minha carne nua enquanto ele desliza para fora da cama e tira seu moletom. Ele
faz isso daquele jeito preguiçoso que os caras fazem, uma mão alcançando atrás
dele, pegando o material e puxando-o sobre sua cabeça em um movimento
suave. Sua camiseta combina com o moletom, ambas as peças de roupa caindo
no chão a seus pés.
Então ele está lá em nada além de sua calça de moletom, seus polegares
mergulhando abaixo de sua cintura, sorrindo ruinosamente para mim. Há um
desafio em seus olhos – algo insolente e descarado que me diz que ele vai ficar
nu se ele puxar esse moletom.
─ Quer voltar lá embaixo e beber mais café? ─ ele pergunta. Ele está me
dando uma saída. Uma chance de se afastar dessa situação antes que ele vá mais
longe.
Wren sorri, mas é uma expressão sem humor. Ele deve sentir isso. Essa
eletricidade entre nós deve estar comendo ele vivo, do jeito que está me
corroendo. Ele tira seu moletom e, como eu esperava, seu pau salta livre do
material grosso, ficando orgulhoso quando ele sai da calça. Um momento se
passa, onde eu cravo minhas unhas nas palmas das mãos, tão perto de romper
a pele, e Wren fica absolutamente imóvel, permitindo que eu o veja.
─ É para isso que você veio aqui, Pequena E? Você sabia que isso ia
acontecer? Você estava pensando no meu pau durante toda a descida da
montanha?
Garotas que têm uma boa cabeça nos ombros evitam esse tipo de
problema.
Ele agarra seu pau, também, tateando apertando-se com as duas mãos
agora, seus olhos turvos e desfocados enquanto ele se aproxima da cama. ─ Já
que você deixou perfeitamente claro que não está inclinada a implorar, vou
precisar que você me diga o que quer dessa situação.
─ Você não sabe o que está pedindo, ─ diz ele, as palavras escuras e cheias
de cascalho, prometendo uma dor incalculável. ─ Existe tanto de mim que uma
pessoa pode tomar antes que comece a doer, Pequena E. E não, eu não estou
falando sobre meu pau. ─ Ele sorri implacavelmente. ─ Meu coração é uma
granada. Está mais seguro onde está, trancado em sua gaiola. Você tira de lá e
está essencialmente puxando o pino.
Wren chegou ao fundo da cama. Ele solta sua ereção tensa e coloca as
mãos nos meus tornozelos, enrolando os dedos ao redor deles com força. ─ Eu
não sei. Ninguém nunca tentou.
Ele me arrasta em direção a ele pelos meus pés e me reivindica como seu
prêmio.
23
Wren
MANHÃ DE NATAL
Todos esses Natais combinados não chegam nem perto da excitação que
sinto agora, enquanto puxo Elodie para baixo do colchão em minha
direção. Não sou mais um garotinho ingênuo, cheio de expectativa juvenil por
uma caixa de Legos. Não, agora estou muito mais interessado em desmontar as
coisas do que juntá-las, e Elodie promete ser o presente mais precioso de todos.
A parte de mim que tirou aquela foto dela da mesa de Harcourt – a mesma
parte de mim que apreciou a perspectiva de partir seu coração e fazê-la chorar
– ergue sua cabeça feia, fazendo todo tipo de comandos vis. Meu pau estica
mais forte, e meu sangue ruge em minhas veias, um maremoto imparável e
mortal... mas eu fecho um punho em torno daquela sombra escura, banindo-a
da minha mente. Wren de três semanas atrás já teria descoberto que coisa cruel
e fria ele ia dizer para Elodie uma vez que ele tivesse o suficiente dela esta noite,
mas agora eu estou lutando, virado e sem saber o que diabos eu vou fazer
quando isso acabar.
Ahhh, a pobre E precisa soltar essa língua dela. Tenho alguns truques na
manga que devem lubrificar essas engrenagens. Um passo de cada vez, no
entanto. Ainda segurando ambos os tornozelos, afasto suas pernas, segurando
seus pés em cada lado das minhas coxas. O cordão esticado dentro de mim - o
que se passa por minha paciência - aperta ainda mais, ameaçando quebrar,
quando vejo o pedaço úmido de seda entre suas pernas. Sua boceta já está
molhada o suficiente para ter encharcado sua calcinha. ─ Ah, E.
Ela se contorce, duas manchas gêmeas de cor queimando no alto de suas
bochechas, tentando fechar as pernas na altura do joelho, mas eu puxo seus
tornozelos, balançando a cabeça lentamente. ─ Não. Você não veio aqui para
se esconder de mim. Você sabe que não. Você não quer que eu prove sua
boceta? ─ Eu sou direto. Ao ponto. Suas bochechas ficam ainda mais
vermelhas, e essa parte torcida e perversa de mim canta.
─ Sim.
─ Você quer que eu te foda com isso? ─ Eu pergunto, agarrando meu pau.
─ Você quer que eu goze dentro de você? Você quer sentir meu pau
ficando mais duro à medida que me aproximo cada vez mais?
─ Sim. ─ Agora que ela admitiu que quer meu pau, a palavra sai um pouco
mais fácil; A pobre garota provavelmente pensa que essa é a coisa mais difícil
que vou fazê-la admitir. Eu nem comecei.
Ela hesita por um segundo, puxando uma respiração profunda pelo nariz.
─ Agora, Elodie.
Fogo e enxofre fervilham em seus olhos, um pouco daquele espírito
desafiador finalmente rompendo seus nervos. Há uma mensagem para mim em
seu rosto, clara como o dia, enquanto ela se senta, estendendo a mão atrás das
costas para desabotoar o sutiã: Cuidado, Jacobi. Fale comigo assim de novo e eu vou
morder a porra do seu pau.
Ela nunca tira os olhos de mim enquanto tira as alças do sutiã de seus
ombros e o material cai, deixando seu peito nu. Ela é fodidamente perfeita,
assim como eu sabia que ela seria. Nem grandes, nem pequenos, seus seios são
do tamanho perfeito. Sua pele é como creme fresco derramado, completamente
impecável. Seus mamilos são do tom mais suave de rosa, tão pálidos e bonitos
que eu não consigo parar de gemer. Minha boca já está salivando com a
perspectiva de chupar aqueles mamilos. Minhas mãos estão doendo,
implorando para estar cheia dela. Elodie sorri enquanto balança sua calcinha
sobre seus quadris, empurrando-a para baixo de suas coxas.
Eu não brinco.
Eu não me contenho.
Seus olhos se abrem. ─ Puta merda, ─ ela sibila. Deus sabe como ela faz
isso, mas ela trava as pernas ainda mais. A pressão ao redor dos meus dedos,
até o segundo nó dentro dela, atinge níveis intensos enquanto ela luta para
acomodar a sensação alienígena. Deus, isso é bom demais...
─ Eu sabia que você tinha sido fodida antes, ─ eu rosno. ─ Mas você está
me escondendo, Pequena E. Sua bunda é virgem, não é?
Ela ofega, respirando em ofegos agudos e rasos. ─ Sim, ─ ela diz. ─ Eu-
eu-oh meu deus...
Satisfeita demais para pensar direito, eu retiro minha mão, e ela derrete
direto no colchão. Vou me divertir muito com essa garota. Se minhas suspeitas
estiverem certas, ela será a mais divertida que já tive. Antes que ela possa abrir
os olhos, eu caio de bruços, meu pau reclamando amargamente com a falta de
atenção, e eu me afundo entre suas pernas, me enterrando em sua boceta.
Uma vez que eu confio que ela tem controle sobre si mesma, seu lábio
inferior firmemente preso entre os dentes... eu começo a trabalhar.
Comer buceta bem não é apenas uma habilidade. É um talento dado por
Deus com o qual fui informado com segurança que nem todos os homens são
abençoados. Eu posso ter uma garota gritando e tremendo com nada mais do
que a ponta da minha língua em menos de um minuto, no entanto. Eu posso
tê-la renegando seu deus e me reivindicando como sua nova religião no tempo
que a maioria dos homens leva para descobrir onde está o clitóris. Comer a
boceta de uma garota é íntimo pra caralho, no entanto. Eu raramente gosto de
uma garota o suficiente para me incomodar com isso, mas esta noite é diferente.
Eu agarro seus quadris e os puxo de volta para mim, para que ela tenha
que ficar de joelhos. Para que eu possa ver toda a sua boceta perfeita, e seu
cuzinho perfeito e apertado, enquanto me acomodo atrás dela. Eu tomo meu
pau em minhas mãos, o alívio já lavando com o conhecimento de que estarei
dentro dela em um momento. Eu esfrego a ponta dele para cima e para baixo
entre suas pernas, manchando seu gozo por toda a sua carne, fazendo-a tremer.
─ Jesus... Cristo... Porra! ─ Não há resistência, mas ela é tão apertada que
não demoraria muito para me convencer de que ela é virgem. Seus ombros
enrijecem, um grito sai de seus lábios, e nós dois ficamos muito quietos por um
longo momento, chegando a um acordo com o que acabou de acontecer. Eu
estou dentro dela. Estou fodendo dentro dela, e ela é tão, tão boa.
Elodie olha de volta para mim, e há duas pequenas linhas verticais entre
suas sobrancelhas, preocupação em seus olhos. ─ O que... eu fiz alguma coisa...
Seu rosto está a três centímetros do meu enquanto eu rolo meus quadris
para trás e para cima, guiando-me para cima de modo que estou espetando-a
no meu pau. Sua cabeça se inclina para trás, seus olhos perdem o foco, e ela fica
rígida em meus braços novamente, assobiando assustada ─ Merda! Oh meu p-
puta merda, Wren.
Ela bufa, sua língua doce e hesitante enquanto ela passa pelos meus lábios
em minha boca. Eu geralmente sou o único a reclamar a boca de uma garota,
mas merda... eu fico muito quieto enquanto ela me beija, me provando e me
explorando com uma curiosidade e uma necessidade determinada que faz meu
coração bater como um tambor no meu peito.
Fogos de artifício.
Eu gozo com ela, cerrando meus dentes e pressionando minha testa contra
sua clavícula, meus ouvidos zunindo, minha cabeça girando como se eu
estivesse preso em uma pirueta e eu não posso nem dizer a diferença entre o
chão e o céu girando.
Está linda garota com sardas no queixo, cabelos da cor da luz do sol e um
coração tão feroz quanto o de um leão - ela cuidadosamente levanta a mão e
acaricia meu cabelo para trás do meu rosto, procurando minhas feições com
um olhar atordoado em seus olhos. ─ Isso foi... ─ ela diz, obviamente lutando
para encontrar a palavra certa.
Eu rio baixinho, arqueando uma sobrancelha para ela. ─ Por quê? Esta
posição não era do seu agrado?
Ela grita quando eu enterro meu rosto na curva de seu pescoço e a mordo,
lembrando-a de que ainda tenho dentes. A pergunta dela foi esquecida, o que é
um alívio.
Elodie
UM SEGREDO É uma coisa terrível e maravilhosa. É a chama de uma vela
bruxuleante em seu peito, aquecendo-o por dentro. Pode fazer você sorrir na
dobra do cotovelo, o rosto escondido na camisa, enquanto deseja passar as
horas até que o ─ mais tarde ─ chegue, quando você puder ver o objeto de sua
paixão novamente. Mas um segredo também pode fazer você se
sentir muuuito merda.
Ela não faz ideia de que me sinto incrivelmente culpada pelo que ela
acabou de me dizer. Eu não sou uma boa amiga. Eu sou
uma péssima amiga. Não consigo consertar nada. Eu me envolvi com um cara
que Carina odeia, que é o melhor amigo do cara que partiu seu coração, e não
consigo me ver saindo dessa situação tão cedo. Egoistamente... Deus, eu não
posso nem acreditar que estou me deixando pensar isso... eu não quero me livrar
da situação, mesmo sabendo o quão magoada e chateada ela ficaria se soubesse
o que eu estava fazendo para. Que tipo de amiga isso faz de mim?
E agora ela está falando sobre tingir meu cabelo de volta à minha cor
natural?
─ Em termos inequívocos.
— O que você quer, Mercy? ─ Carina pergunta. Ela não parece surpresa
que a garota apareceu aqui. Não que ela pareça feliz com isso também.
Mercy leva a mão ao peito, a boca puxando para baixo em uma falsa
máscara de horror. ─ Merda, você está certa. ─ Seus olhos verdes, não tão
impressionantes quanto os de Wren, voam para mim onde estou sentada no
chão. ─ Elodie, certo? Desculpe por invadir seu tempo de garota com nossa
deliciosa Carina, aqui. É só que eu estava passando e vi vocês aqui, e isso trouxe
de volta tantas boas lembranças do meu tempo aqui antes de deixar Wolf
Hall. Eu, você, Pres e Mara. Certo Carrie?
Mercy dá de ombros para mim, fazendo uma careta. ─ Ela nunca foi tão
chata, sabe. ─ Então, para Carina, ─ Como você sabe, Wren ainda está chateado
comigo pelo que aconteceu com Mara. Eu não fui convidada para a festa, então
não vou participar do planejamento desta vez. Eu ainda vou embora. Dash
ainda tem um ponto doce para mim, mesmo que Wren esteja agindo como uma
vadia. O Dash ainda tem uma queda por você, Carrie? Eu tenho a sensação de
que sim. ─ Ela sorri, um corte desagradável em seu rosto bonito.
Carina olha para a garota enquanto ela caminha até a maior janela e olha
para o labirinto. ─ Eu não dou a mínima para Dash, ─ Carina rosna. ─ Ele
pode ir para o inferno por tudo que me importa.
─ Ele estaria perfeitamente em casa lá, ─ diz Mercy pensativa. ─ Acho que
isso significa que você não virá à festa, então?
Porra. O que diabos eu deveria dizer aqui? Pax e Dash disseram que
estavam planejando uma festa ontem à noite quando fui à Riot House, mas não
me fizeram um convite. Wren nunca mencionou isso para mim. Eu não tenho
absolutamente nenhuma ideia, agora, se ele vai esperar...
Mercy lança um olhar curioso para Carina. ─ Este costumava ser o quarto
dela. Antes que ela desapareceu. Ela e meu irmão eram... muito próximos.
Mercy a ignora. ─ Ela era realmente linda, não era, Carrie? Todo esse lindo
cabelo preto comprido. Esses grandes olhos azuis brilhantes. Fiquei surpresa
quando descobri que Wren estava interessado em você, sabe. Você não é nada
como ela.
─ Mara adorou este quarto, ─ continua Mercy. ─ Ela tinha todos os tipos
de esconderijos para seus pequenos tesouros. ─ É uma coisa estranha
simplesmente deixar escapar. Carina fica tensa, ódio irradiando dela como
fumaça.
─ Já basta.
─ Esta janela de sacada, por exemplo, ─ diz Mercy, passando a mão pela
pintura branca do parapeito da janela. ─ Mara costumava sentar-se aqui e
escrever em seu diário todas as noites. Ela escrevinhava por horas, colocando
seus pensamentos mais pessoais e privados no papel. E quando ela terminava,
ela escondia seu diário, colocando-o no lugar mais seguro em que pudesse
pensar. Ela passa a mão até a beirada do parapeito da janela, alcançando por
baixo dele, e um barulho alto de estalo enche a sala. Mercy pega a madeira
pintada... e apenas a levanta em suas mãos, puxando-a para longe da parede.
O que…?
Eu não sou a única que tem guardado segredos. Acontece que eu fui
deixada no escuro, todos os alunos e até mesmo os professores da academia me
mantendo do outro lado de uma porta trancada que eles não abrem. Esta é a
primeira vez que estou aprendendo alguma coisa sobre essa garota, e
agora preciso saber mais.
20
Investigação particular.
A irmã de Wren sai da sala com um balanço nos quadris. Ela não se
preocupa em fechar a porta atrás dela, mas Carina se lança para fora da cama e
corre pelo quarto, batendo atrás dela. Acho que nunca a vi se mover tão
rápido. ─ Você não precisa ler nada, ─ diz ela. Uau. Quando ela se vira para
mim, eu mal a reconheço. Ela está pálida, a cor sumiu de seu rosto, e há pânico
esculpido nas linhas de suas feições. Ela parece dez anos mais velha do que é, e
desesperadamente assombrada.
— Dê para mim, Elle. Sério. Esta é uma confusão na qual você não quer
se envolver. Você pode... você pode, por favor, confiar em mim? Eu não estive
cuidando de você desde que você chegou aqui?
O diário parece uma bomba não detonada na minha mão. Se eu abrir, vai
explodir, e tudo que eu sei, tudo que eu acho que sei sobre esse lugar vai virar
fumaça. É isso que eu quero? Para as coisas ficarem ainda mais
complicadas? Toda a minha vida tem sido uma situação problemática após a
outra, após a outra, após a outra. As coisas com Wren são tão complicadas, eu
nem sei o que diabos está acontecendo lá. Mas o mistério em torno da ocupante
anterior do meu quarto parece superficial. Parece que seria perigoso não saber
o que aconteceu com a garota e quem estava envolvido com seu
desaparecimento. E, eu admito, Carina estar no nível máximo de pânico agora
está me assustando. Está fazendo com que ela pareça incrivelmente culpada –
do que, eu não sei – e não tenho ideia do que devo fazer agora.
─ Por favor, Elodie. Nada de bom pode vir da leitura desse diário, eu
prometo a você. Devemos apenas entregá-lo aos policiais e deixá-los lidar com
isso. ─ Carina aperta a mandíbula. Ela trava, os ombros tensos, as costas tão
retas que parece que está prestes a saudar um general de quatro estrelas. ─ Faz
quase um ano. Os pais de Mara ficaram preocupados com a filha o tempo
todo. A polícia saberá o que fazer com novas provas. Entregá-lo a eles é a coisa
certa a fazer.
─ Você sabe para onde ela foi, Carina? É por isso que você não quer que
eu leia isso?
Carina cede com alívio quando sua mão se fecha em torno do diário e eu
o solto. A culpa se esconde em seus olhos, no entanto. Ela se sente mal por ter
me forçado a fazer isso agora que ela conseguiu o que queria. ─ Obrigado,
Elle. Mesmo. Quero dizer. Estou grata que você está confiando em mim. Eu
sei... eu sei como deve ser...
─ Você sabe? ─ Sou mais afiada que a ponta de uma lâmina. ─ Sério?
Sua última declaração parece tão carregada agora. Suspeito que ela não
esteja apenas falando sobre a tarde descontraída e relaxante que planejamos para
nós mesmos; acho que ela está falando sobre a vida em Wolf Hall em geral, e o
fato de que nada será normal novamente aqui se as pessoas continuarem
trazendo à tona o misterioso ato de desaparecimento de Mara. Respiro fundo
pelo nariz, tentando liberar a tensão que se acumulou dentro de mim. ─
OK. Esta bem. Eu não vou trazê-lo à tona novamente. Mas você precisa
responder a uma pergunta primeiro.
Ela morde o lábio, ansiosa, mas assente. ─ O que você quer saber?
─ Wren ou qualquer outro garoto da Riot House teve algo a ver com o
desaparecimento de Mara?
Eu analiso isso dentro da minha cabeça, deixando-o criar raízes. Wren não
estava envolvido no misterioso ato de desaparecimento da garota. Ele é
inocente de qualquer possível crime que tenha ocorrido naquela noite. ─
OK. Nós vamos. Esta bem. Suponho que é um fim para isso, então.
Registo a rigidez em sua voz; ela está se esforçando para apagar a memória
do que acabou de acontecer, mas vai demorar mais do que uma manicure de
gel para apagar esse constrangimento. Se ela fosse uma das minhas amigas em
Tel Aviv, eu a chamaria imediatamente e exigiria saber o que diabos estava
acontecendo. Esse tipo de empurrar não é apropriado aqui, no entanto. Melhor
apenas esquecer o diário e a óbvia intromissão de Mercy. Melhor apenas
esquecer Mara e a nuvem escura que agora posso sentir pairando sobre a
academia.
Perdido.
Esquecido.
Quando o canudo aparece pelo buraco desta vez, não tenho opção a não ser beber.
Estou prolongando essa tortura ao engolir a água morna e suja que escorre pelo plástico
e entra na minha boca, mas não sou tão forte quanto pensava.
Se eu morrer, será porque fiquei preso aqui, e ninguém pensou em vir procurar.
Wren
─ EU NÃO DOU A MÍNIMA, cara de merda. Comprei um chapéu e preciso
usá-lo. Fim da história. ─ Pax joga para trás os restos de sua cerveja e joga a
garrafa para que ela gire no ar, espirrando líquido âmbar de sua boca enquanto
voa de ponta a ponta em direção à lata de lixo. Dashiell o repreende visualmente
com uma carranca de desaprovação, marca registrada da família Lovett. Pax
ignora o olhar, sorrindo como um bastardo quando a garrafa encontra a marca
e bate alto no receptáculo do outro lado da cozinha.
─ Alex tem cabelo em Laranja Mecânica. Você não vai se parecer em nada
com ele. ─ Segurando sua própria garrafa de cerveja nos lábios, Dashiell bebe,
sua garganta trabalhando. Sento-me no banquinho ao lado do balcão do café da
manhã, sem dizer nada, pensativo, olhando carrancudo para cada um deles para
deixar perfeitamente claro o quão pouco estou gostando disso.
─ É 'Oh vocês de pouca fé', seus pagãos. E só estou dizendo que festas a
fantasia são para crianças. E Dia das Bruxas. Em nenhum outro momento as
pessoas à beira da idade adulta devem querer voluntariamente brincar de se
fantasiar.
─ Vamos. Não seja um idiota. As garotas sempre usam a roupa mais vadia
que podem encontrar em uma festa à fantasia. Você não está querendo um
pouco de P&B21? Deve ter o que, cinco anos desde que você teve seu pau
chupado?
Eu olho para cima da tela do laptop na minha frente, esperando que ele
veja o quão irritado eu estou com essa coisa toda. Ele apenas fica lá, esperando
pacientemente que eu lhe ofereça minha opinião, e eu conheço o filho da
puta. Ele não vai deixar assim até que eu faça algum tipo de decreto. ─ Eu não
dou a mínima para essa festa, rapazes. Se dependesse de mim, nem teríamos
isso. Então use a porra de um chapéu e um tutu, ─ digo a Pax. ─ E você pode
usar uma gravata e uma porra de um terno de três peças, se quiser. E eu vou
vestir o que estou vestindo agora, e vou beber até o esquecimento até que tudo
acabe, e então todos nós podemos seguir em frente com nossas vidas.
Maldito seja. Eu sabia que isso ia acontecer. Eu sabia disso. ─ Eu não sou
o mestre da caça. Eu fui mestre da última vez. O que significa que um de vocês,
filhos da puta, está pronto para bater.
21
Peitos e bundas
isso. Tão típico. ─ As coisas correram mal da última vez, então Pax e eu
tomamos uma decisão executiva. Você precisa voltar para a sela. Você está em
todo lugar e, francamente, estamos cansados de viver com um impostor.
─ Um impostor. Certo.
Não, isso não soa bem. Nada disso. Como mestre da caça, espera-se que
eu faça certas coisas. Eu costumava me deleitar com essas delícias misteriosas,
mas as coisas mudaram agora. Há Elodie a considerar. Eu não fui capaz de me
livrar da imagem dela, nua e linda, montada em mim, o doce som dela ofegante
no meu ouvido, desde a noite passada. Eu vou morrer velho na minha cama,
todas as minhas outras memórias devoradas pela devastação do tempo,
mas essa memória ainda estará queimando ferozmente atrás das minhas
pálpebras quando eu for.
Elodie é minha, e eu não vou deixá-la ir. E eu não posso ser o mestre da
caça e manter Elodie. Não há nenhuma maneira no inferno.
─ Faça o que você tem que fazer, ─ diz Pax, abrindo outra cerveja. Ele
sacode o boné pela sala de estar. ─ Mas isso está acontecendo, Wren. Você vai
ter que se tornar homem. Dash e eu nunca hesitamos quando você nos deu um
show. Nós com certeza não criamos confusão quando você nos colocou
naquele avião no fim de semana passado. E isso foi uma merda fodida.
Não gosto que Mercy esteja falando com esses caras pelas minhas
costas. Ela acha que anda sobre a água, aquela garota. Pelo menos um deles está
começando a ver as coisas da minha perspectiva, no entanto. Dash... Dash, nem
tanto. ─ Pessoalmente, acho que ela seria um ótimo complemento para a casa,
mas sei o quão pouco minha opinião conta hoje em dia. Você tem sorte de ter
uma irmã, Jacobi. Alguns de nós tiveram que crescer sozinhos, em uma casa
grande e cheia de correntes de ar...
Eu reviro os olhos.
Eu o tenho pela gola de sua camiseta. Estou pronto para colocar o filho
da puta para fora. No entanto, passamos quatro meses sem nenhum de nós
bater um no outro, então eu o sacudo com força suficiente para fazer seus
dentes baterem. ─ Ela é louca pra caralho. Ela é a maldição da minha maldita
existência. Mas ela ainda é a porra da minha irmã. Diga algo assim de novo e eu
vou levar um alicate para seus dentes da frente. Entendeu?
Elodie
AS MANHÃS DE SEGUNDA-FEIRA ERAM MUITO MAIS FÁCEIS na escola Maria
Madalena. Os fins de semana eram meus em Tel Aviv. A agenda do meu pai
significava que ele estava sempre fora de casa aos sábados e domingos, e eu
estava livre para fazer minhas próprias coisas. Ir às compras com Ayala e
Levi. Ir ao cinema. Fazer minha lição de casa e ficar pela casa em paz. Ele estava
mais por perto no início da semana, então ir à escola era uma bênção. Isso me
salvou de sua ira, andando pelos corredores da escola internacional. Eu estico
todas as aulas que tive, fazendo valer o tempo longe do Coronel Stillwater. Eu
me inscrevi para o maior número possível de atividades
extracurriculares. Qualquer coisa para evitar ir para casa, quando eu sabia que
ele estaria lá, esperando por mim, sua raiva sem fim saindo dele em ondas,
apenas esperando que eu fizesse algo ou dissesse algo que justificasse uma
explosão de proporções épicas.
Em Wolf Hall, não há como fugir dos meus estudos. Estou a apenas três
andares de distância de uma sala de aula, e esse fato por si só torna o início da
semana acadêmica mais deprimente do que deveria ser. Eu realmente não
consigo sair, então nunca parece que eu tive uma pausa.
Meu coração dispara na minha garganta quando vejo Dashiell entrar pela
entrada da academia, balançando a cabeça como um cachorro molhado,
enviando gotas de água voando das pontas de seu cabelo loiro escuro. Pax
aparece atrás dele, com um largo sorriso no rosto, rindo a plenos pulmões de
alguma piada particular.
E então há Wren.
Como ninguém mais está reagindo a isso? Como eles podem não sentir a
eletricidade no ar? Como todos os outros são tão cegos, surdos e mudos para a
pressão que está crescendo ao redor deles enquanto Wren Jacobi e eu
compartilhamos esse momento incrivelmente surreal?
─ Esqueceu o caminho?
Eu olho para cima e Carina está lá, segurando sua mochila escolar contra
o peito, vestindo uma camiseta branca imaculada e uma saia xadrez que deveria
ser ilegal, é tão curta.
─ Desculpe?
─ O que você está fazendo, apenas parada aí? Parece que você viu um
fantasma, ─ ela diz, rindo.
─ Pensei que você fosse nos guardar um lugar. Vamos. Se não nos
apressarmos, alguém vai pegar nosso sofá.
Carina agarra meu braço e me puxa para o sofá. ─ Você não quer saber.
Uma vez que estamos sentadas, eu pego meu bloco de notas da minha
bolsa, torcendo uma caneta em meus dedos nervosamente, examinando a
sala. Olho para todos os outros alunos da classe antes de desistir e permito que
meu olhar se desvie (tão casualmente quanto consigo) para o sofá de couro
surrado no lado oposto da sala.
Wren está exatamente onde deveria estar... mas ele não está esparramado,
deitado de costas, olhando furiosamente para o teto hoje. Ele está sentado
como uma pessoa normal, olhos fixos em suas mãos, seu cabelo caindo em seu
rosto, uma pequena carranca puxando suas sobrancelhas escuras. Dashiell e Pax
estão sentados no chão, embaixo da janela, mas não estão brigando um com o
outro hoje. Ambos parecem estar secretamente observando Wren,
murmurando um para o outro baixinho. Dash deve sentir que estou olhando
para ele. Sua cabeça levanta e ele olha diretamente para mim.
─ Idiota, ─ ela resmunga. ─ Que tipo de merda você precisa ser para
enganar alguém, tirar a porra da virgindade, humilhá-la da pior maneira
imaginável e depois encará-la em todas as oportunidades disponíveis que você
tiver depois? Tipo, o que ele está tentando realizar, olhando para mim assim?
Ele não está tentando realizar nada. Ele está revivendo algo. Repetindo
isso em sua cabeça, saboreando cada segundo enquanto ele se lembra de tirar
Carina de suas roupas e fodê-la sem sentido. Eu sei, porque eu conheço aquele
olhar. Essa mesma expressão atordoada e distante apareceu no meu rosto pelo
menos dez vezes desde sábado à noite.
O que isso significa? Nós dois estávamos esperando que a outra pessoa
chegasse primeiro? Nós dois fomos teimosos e estúpidos, presos demais em
nosso próprio orgulho para nos comunicarmos um com o outro? Ou eu entendi
isso errado? Ele está apenas contente, agora que ele me teve? Dei a ele a única
coisa que ele queria, e agora posso esperar nunca mais falar com ele?
─ Classe. Eu odeio ter que fazer isso com vocês. Tenho certeza de que
todos vocês temiam esse momento durante todo o semestre, mas é aquela hora
de novo... ─ O doutor Fitzpatrick ri enquanto um coro de gemidos se espalha
pela sala. Eu me inclino para frente, apertando os olhos para o professor bonito,
tentando dar uma olhada melhor nele. Algo está errado. Algo...
─ Carina?
─ Hm?
─ O doutor Fitzpatrick tem um lábio partido? Porra, parece que ele está
usando maquiagem.
Eu poderia. Eu posso ver isso nele de alguma forma. Uma violência oculta
e secreta que gosta de se espalhar de vez em quando. Percebo que perdi seu
anúncio enquanto estava falando, e agora não tenho ideia de porque o resto da
classe está reclamando muito alto, atirando pedaços de papel enrolados no
professor. Ele ergue as mãos, protegendo-se dos projéteis inofensivos, rindo
quando a maioria dos outros professores estaria perdendo a cabeça. ─ Está
bem, está bem. Já chega disso, obrigado. Não cabe a mim. O currículo exige
esse tipo de coisa. Você precisa concluir projetos em equipe para aprender a
trabalhar em conjunto. De que outra forma você vai saber o que fazer quando
sair deste excelente estabelecimento e começar suas ilustres carreiras como
cozinheiros de linha em restaurantes de fast-food, hein?
Somente...
Fitz estuda Dash por um momento, franze a testa, depois bate palmas. ─
Você levantou um ponto excelente, Dashiell. Mudança de planos. Todos nesta
sala devem fazer parceria com uma pessoa de quem não gostam. Eu não me
importo como você vai fazer isso, tente ser sensível aos sentimentos um do
outro ou qualquer outra coisa, ─ ele murmura, acenando com a mão para nós
enquanto ele se abaixa para pegar sua bolsa do chão. ─ Vocês têm dois
minutos. Entenderam.
Raiva derrama de Wren como fumaça, mas ele não consegue se opor. Não
há tempo para isso. Porque a próxima coisa que eu sei, eu olho para cima para
encontrar Pax franzindo a testa para mim. ─ Parabéns, francesinha. Parece que
eu vou ser uma dor no seu pescoço, agora.
27
Wren
─ VOCÊ ESTÁ FODIDAMENTE DANIFICADO. Você sabe disso, certo?
Ela agita os cílios para mim, descansando o queixo no meu ombro. ─ Não
se preocupe, irmão mais velho. Eu me ressinto de ter que trabalhar com você
também. Mas está na hora de varrermos toda essa hostilidade para debaixo do
tapete, não acha? Está ficando um pouco velho. Nossos pais estão começando
a suspeitar que algo terrível aconteceu entre nós. Nós não gostaríamos que o
pai se encarregasse de investigar agora, não é? Ele acabou de se
aposentar. Muito tempo em suas mãos agora. Ele pode estar cego para o que
está bem na sua frente na maioria das vezes, mas ele é muito bom em resolver
quebra-cabeças quando se dedica a isso. Acho que sigo ele dessa maneira.
─ Sim, nós dois sabemos como você é ótima em enfiar o nariz onde não
é desejada, não é? ─ Não é uma pergunta. Uma afirmação. Um fato.
Fitz circula pela sala, distribuindo folhas de tarefas, o que significa que
todos estamos fazendo apresentações diferentes. Ele visivelmente se encolhe
quando para na nossa frente, oferecendo a Mercy nossa tarefa. Ela o arranca da
mão dele, mostrando os dentes em um sorriso tão aterrorizante que os
músculos de sua garganta trabalham horas extras enquanto ele apressadamente
volta para a frente da sala.
─ Você não deveria ter batido nele, ─ ela diz para mim. ─ Ele não estava
fazendo nada de errado.
─ Então, irmão mais velho, pode me dizer o que está acontecendo desde
que estive fora? Algum desenvolvimento novo e interessante que você gostaria
de compartilhar comigo?
─ Ah, uau. Você tem todas as boas fofocas. Eu deveria ter vindo até você
primeiro em vez de Damiana.
Eu desisto de olhar para Pax e olho para ela em vez disso. Não antes de
eu pegar o sorriso azedo e presunçoso no rosto de Damiana, no entanto. ─ O
veneno daquela garota. ─ Isso é tudo o que digo porque é tudo o que posso dizer.
Mercy se abana com nossa missão. ─ Por que você transou com ela,
então?
─ Jesus, Mercy. Você não tem uma porra de uma peça em que deveria
estar se apresentando ou algo assim? Em Nova York? Longe, muito longe
daqui?
─ Michael tentou me fazer de substituta. Eu não sou uma substituta,
Wren. Eu sou a protagonista, ou não sou nada. Damiana disse que você a
deixou cair como um carvão em brasa no momento em que a nova garota
apareceu. Isso não pode ser verdade, porém, certamente. Ela é tão... ─ ela
franze o nariz, ─ ... média.
─ Ou o que?
─ Ou eu vou fazer de sua vida um inferno. Você não é a única que é boa
em juntar os segredos das pessoas.
─ Oh ho ho, puta merda. Não achei que fosse possível, mas você... ai meu
Deus, você gosta dela, não é?
Deus, isso vai ser uma merda. Eu estalo meus dedos com um entusiasmo
vicioso que a cala. Por cinco segundos inteiros.
─ Olha, eu acho ótimo que você goste de alguém. Eu sei que você não
acredita em mim, mas eu me importo com você, Wren. E se essa garotinha
esquisita e tímida joga seu cabelo para trás, então eu digo: vá em frente.
Elodie
EU NUNCA desejei mal a ninguém antes.
Na verdade, isso é mentira, desejei o mal a uma pessoa, mas meu pai não
conta. Ele é um trabalho vil, e ele merece todos os pensamentos ruins que eu já
tive sobre ele. Além do Coronel Stillwater, faço questão de dar às pessoas o
benefício da dúvida. Eu gosto de tentar ser uma pessoa justa. Uma pessoa
justa. Mas não é nada bom - Pax Davis é um filho da puta da mais alta ordem e
espero que ele caia de um penhasco muito alto. Suponho que estaria tudo bem
se ele sobrevivesse ao impacto. Algumas semanas em tração, contorcendo-se
em agonia em uma cama de hospital suja? Sim, isso soa como uma punição
adequada para um idiota como Pax.
Quando nos separamos, ele rosnou algo gutural e áspero para mim em um
idioma que eu acho que era alemão, então ele educadamente me disse que eu
deveria ler o livro e escrever a apresentação eu mesma, então ele me ignorou e
saiu sem outra palavra.
Eu não consegui falar com Carina para descobrir como foi sua provação
com Dashiell, mas eu estou supondo, pelo olhar em seu rosto enquanto ela se
apressava para sua próxima aula, que foi tão bem quanto se poderia esperar.
Em outras palavras, terrivelmente.
Não era um texto amigável. Então, novamente, Wren não é nada direto
ao ponto. Eu não estava esperando nada florido ou romântico
dele. Honestamente, eu estava surpresa que ele tivesse enviado uma mensagem.
Ele não é quem ele se retrata ser. Na verdade, não. Sim, às vezes é difícil
alcançá-lo, e às vezes é mais frio que as águas glaciais da Antártida. Mas há uma
parte profunda e pesada dele que ele não mostra às pessoas também. Tenho a
sensação de que ele também não mostrou esse lado de si mesmo para mim. Ele
escapou, espontaneamente, inteiramente por acidente. A diferença é que ele não
tentou enfiá-lo de volta na gaiola comigo. Ele deixou esse lado dele descansar
lá, ao ar livre, para eu fazer dele o que eu quiser.
Sua boca trabalha um pouco mais enquanto ele continua a ler, mas em voz
alta agora...
─ Nós olhamos antes e depois,
Ele balança a cabeça. ─ Shelley. Ele era um filho da puta, também, você
sabe. Completamente bêbado. Mulherengo. Deixou sua esposa e engravidou
outra mulher.
Wren fecha o livro suavemente, olhando para mim pelo canto daqueles
olhos verdes. Nenhuma outra parte dele se move. ─ Como todos os melhores
artistas, ele estava muito fodido.
─ Parece bonito.
─ O que?
─ Pax. O que ele fez? Eu sei que ele fez alguma coisa.
─ Você não sabe se houve algum dano ainda. Você não saberá até que
esteja deitada no chão em uma poça de seu próprio sangue. É assim que a Pax
funciona.
Eu sorrio para sua absoluta seriedade. ─ Você está me dizendo que ele vai
tentar me eviscerar? Porque eu não estou bem com isso.
Eu posso ouvi-lo respirar, suave e calmo, e cada célula do meu corpo está
em alerta. ─ Não suponha que há uma luz neste lugar? ─ Eu
pergunto. Sussurrar parece apropriado, dado o silêncio pesado pressionando
meus tímpanos.
─ De jeito nenhum. Estou bem. Estou perfeitamente feliz aqui com você
no escuro. ─ E eu estou. Há algo de libertador nisso. Não estou preocupada
com o jeito que ele está olhando para mim, e não tenho medo do fato de estar
corando. Eu posso simplesmente ser.
22
Modelo de chave muito usado.
─ Nesse caso... ─ A outra mão de Wren toca meu estômago, me fazendo
pular. ─ Calma, pequena E, ─ ele persuadiu. ─ Apenas tentando encontrar sua
outra mão.
Eu dou a ele, engolindo em seco quando ele guia minhas palmas para cima
para descansar em seu peito, bem sobre a parede firme de músculos que forma
seu peitoral. Eu posso sentir seu coração batendo sob o algodão macio de seu
moletom, e com minha visão tirada de mim, o constante dum, dum, dum sob
meus dedos é tudo. Ele me ancora, me enraíza no lugar até que eu me sinta
aterrada e... segura? Uau. Isso é novo. Como é possível que eu me sinta segura
com ele?
─ Porque é menos difícil ser honesto sem ter que se preocupar com as
reações de alguém, certo? Você pode me dizer a verdade, e eu posso lhe dizer
a verdade. Não será tão assustador quanto fazê-lo à luz do dia.
Oh. Droga. O que diabos ele quer me dizer? Fecho os olhos — uma ação
desnecessária que não serve para nada além de me fazer sentir melhor. ─
Okaaay. Isso soa sério. Eu deveria estar preocupada?
Eu fico muito quieta quando sinto o roçar macio da boca de Wren contra
minha bochecha. Ele não se barbeou esta manhã; sua barba crescendo contra
minha pele, e eu tremo contra a sensação inebriante, mal respirando em torno
dela. ─ Sim, ─ ele sussurra. ─ Muitas coisas. Vou fazer uma lista para você.
Oh, porra. Isso vai ficar interessante. Eu estava preocupada que ele me
arrastasse para este... qualquer que seja o tipo de quarto que seja... para me dizer
que ele não quer nada comigo. Não estou mais preocupada com isso. Ele coloca
as mãos nos meus quadris, deslizando as palmas das mãos ao redor das minhas
costas, me puxando para mais perto, para que nossos corpos fiquem alinhados,
minhas mãos ainda firmemente plantadas em seu peito.
─ Primeiro, quero que você me diga a verdade, ─ diz ele. ─ Pax fez alguma
coisa para te chatear? Ele ameaçou você?
Wren grunhiu infeliz. — Vou me certificar de que ele não faça isso de
novo.
─ Não, você não tem. Sua pele é como a porra de seda. ─ Ele geme,
profundo e baixo, correndo a ponta do nariz ao longo da linha da minha
mandíbula, respirando profundamente como se estivesse tentando inalar minha
essência. ─ Você não precisa se preocupar com Pax. Eu vou cuidar dele. A
segunda coisa que eu quero saber... é se você já está pronta?
─ Para colocar suas cartas na mesa. Para me dizer que você me quer. Tudo
de mim. Todo o tempo. Para que não haja mais confusão sobre o que é isso.
─ Eu prefiro.
─ Eu... ─ Bem, merda. Isso seria muito menos mortificante se ele fosse
primeiro. Ele vai pensar que sou uma covarde se eu não lhe der uma resposta,
porém, vou ser uma covarde, e passei muitos anos me convencendo de que sou
forte para me decepcionar agora. ─ Eu quero você. Eu quero você todo para
mim. E... ─ Senhor Todo-Poderoso, este vai me fazer sentir como uma
garotinha estúpida e ingênua, mas aqui vai nada, ─ Eu quero ser sua namorada.
Silêncio.
─ OK...
─ Continue.
Há outro leve roçar de lábios, contra meus próprios lábios desta vez, o
contato tão gentil e provocante que eu faço um som de choramingo necessitado
quando ele me priva de sua boca. ─ Então deixe-me preencher o resto, ─ ele
resmunga. ─ Sou arrogante. Eu gosto de foder. Eu sou intenso como o inferno
às vezes. É tudo ou nada comigo. Isso é apenas quem eu sou. Não faço as coisas
em meias medidas. Há dias em que você vai me odiar mais do que você vai me
amar. E você vai me amar, Elodie. Já é tarde demais para isso. Eu vou te amar,
e você vai me amar, e não haverá volta para nenhum de nós. Então deixe-me
perguntar de novo. Você tem uma ideia de como será agora? E você ainda quer
isso, sabendo que nem sempre pode ser perfeito? Que pode ser difícil às vezes?
Minha língua gruda no céu da boca. Eu não posso falar, porra. Ele é tão
cru, feroz e dominante em tudo o que diz e faz. A imagem do futuro com ele
que ele acabou de pintar é aterrorizante e desconcertante e tão excitante que sei
que deveria ter menos certeza sobre a resposta que quero dar. Mas eu tenho
certeza. Maldito seja, esta é a coisa mais estúpida que eu já fiz na minha vida,
mas eu digo as palavras.
Não sei onde estou, literalmente, e não me importo. Tudo o que importa
são as mãos exigentes de Wren no meu corpo e a urgência tensa em sua voz
quando ele me dá um comando. ─ De joelhos para mim, Pequena E. Eu quero
descobrir o quão bom é essa boca perfeita.
Eu posso ter feito sexo antes, mas isso é algo que eu nunca fiz. Ainda
assim, não sou de fugir de novos desafios. Especialmente aqueles que
eu quero participar. Eu me abaixo, me ajoelho para ele, sabendo que estou
entregando o controle a ele, mas estranhamente sem medo. Suas mãos enrolam
no meu cabelo enquanto ele gentilmente embala minha cabeça. Então a ponta
de seu pau está pressionando contra meus lábios, separando-os e empurrando
para dentro.
Satisfeita nem cobre isso. Wren Jacobi, o flagelo da Academia Wolf Hall,
a ruína da existência de inúmeras mulheres, precursora de miséria e sofrimento,
está à minha mercê agora. Eu tenho ele. Eu pensei que estava entregando meu
controle quando obedeci ao seu comando sem fôlego, mas isso não é nem
remotamente verdade. Estou no volante agora. Eu estou dirigindo esta coisa, e
com um simples movimento da minha língua eu sei que posso trazê-lo de joelhos.
Ele estão tão duro. Mais duro a cada segundo que passa. Suas mãos
apertam meu cabelo, segurando-me com um aperto de aço, mas de alguma
forma eu sei que, se eu quiser desligar isso a qualquer momento, ainda tenho o
poder de fazer isso.
─ Elodie. Deus, Elodie... ─ ele ofega. Não Pequena E desta vez. Eu não
pensei muito em seu apelido para mim, mas eu gosto do som do meu nome
completo em seus lábios. Ele o pronúncia como uma oração sagrada, como se
estivesse me adorando como eu o adoro, e minha cabeça gira com o som
disso. Estou apenas encontrando meu ritmo, descobrindo o quanto posso fazê-
lo tremer usando minha língua de maneiras diferentes, quando ele recua,
puxando-se para fora da minha boca com um estalo molhado.
─ Wren! Ah Merda! Eu vou... eu acho que vou... ─ Mesmo agora, com ele
em cima de mim, entrando em mim repetidamente, mordendo minha clavícula,
iluminando o interior da minha cabeça com fogos de artifício invisíveis, não
consigo admitir que estou prestes a gozar em voz alta.
Wren sente isso, no entanto. Ele reclama minha boca com tanta selvageria
que eu provavelmente teria gozado apenas com o beijo. ─ Boa garota. Boa
menina, ─ ele sussurra com a voz rouca. ─ Deixa acontecer. Não lute contra
isso.
Isso é tudo que eu preciso ouvir. Eu libero a coleira apertada que eu estava
segurando sobre mim, e minha alma se despedaça, roubando o oxigênio dos
meus pulmões, e meus pensamentos fraturados da minha cabeça.
─ WREN! ─ Eu grito o nome dele, eu sei que grito, mas não há como
parar. Eu não posso evitar. Ele se fecha em torno de mim, me segurando
firmemente em seus braços enquanto se esfrega contra mim, seu pau me
enchendo até o cabo. Eu gozo, tremendo e tremendo, luzes piscando em meus
olhos, e ele rosna na curva do meu pescoço.
─ Fique firme, ─ ele sussurra. ─ Firme, firme, shhh, boa menina. Segure
firme. Ainda não terminei com você.
Ele desacelera por uma batida. Tempo suficiente para chover beijos suaves
na minha têmpora e no topo da minha cabeça, pegando meu cabelo e varrendo
meu rosto, acariciando seus dedos sobre minhas bochechas e meus lábios.
─ Sua maldita boca, Elodie, ─ ele geme. ─ As coisas que eu quero fazer
com sua boca.
Ele desliza os dedos pelos meus lábios, pressionando minha língua, e um
estrondo baixo e terrível sai dele, reverberando em meu ouvido. ─ Um destes
dias. Deus, espere, porra...
Ele pega o ritmo novamente, seus quadris moendo contra os meus, uma
de suas mãos espalmando meus seios e rolando meu mamilo, beliscando com
tanta força que eu soltei um grito agudo. Eu me agarro a ele, viciada na mudança
e agrupamento dos músculos em suas costas enquanto eles ficam tensos sob
minhas mãos. Neste momento, ele é uma força da natureza, mais poderosa e
assustadora do que os relâmpagos e trovões que dividiram o ar na noite em que
o encontrei no gazebo.
Suas mãos são ásperas, pegando o que querem do meu corpo, me trazendo
cada vez mais perto...
O cheiro dele, o calor dele, o peso dele, o próprio som dele furioso
enquanto ele se aproxima de seu próprio clímax...
Não há mais nada para eu fazer a não ser segurá-lo com força e enfrentar
a tempestade.
Eu tinha tantas expectativas dele na minha cabeça que isso... eu não sei o
que fazer com isso.
Porque nunca em meus sonhos mais loucos eu pensei que Wren Jacobi
pudesse ser gentil.
29
Elodie
NO INÍCIO de qualquer nova vida em qualquer novo lugar, o tempo passa
infinitamente devagar. Cada pequeno detalhe ao seu redor é interessante, ou
irritante, ou bonito ou intrigante, e requer toda a sua atenção. Mas depois de
um tempo, há cada vez menos coisas novas para notar e tudo se torna
familiar. A mesma coisa que aconteceu em todos os outros lugares que eu já
morei acontece em Wolf Hall também. Eu sei o que esperar quando viro uma
esquina. Conheço o formato das árvores do lado de fora da minha janela e até
o formato das árvores ao longe, do outro lado da linha de fronteira da academia,
onde a floresta começa e se estender até o horizonte. Conheço o cheiro único
do polidor de madeira de cera de abelha que Jana, a governanta de setenta anos
da academia, usa para polir manualmente os painéis de madeira todas as quartas-
feiras. Conheço o eco oco de vozes que ecoam pelos corredores de teto alto e
salas de aula sempre que a campainha toca. Conheço a qualidade melada da luz
que entra pelas janelas da biblioteca e conheço a textura da mesa de madeira
sob meus dedos na minha aula de francês.
Wren é sempre ele mesmo, mas eu aprendo mais e mais dele a cada
dia; portas inesperadas se abrem para mim, revelando algo sobre ele, detalhes
que ninguém mais sabe, que guardo para mim, informações mais preciosas que
ouro ou rubis.
Ele secretamente ama cães, mas não admite amar nada se não for
necessário.
Os pássaros o intrigam.
23
Em português significa longuíssimo. Mas não teria sentido no texto.
por mais temporária que seja, me anima e me deixa tão tonta que Carina me
pergunta se estou usando drogas.
─ Eu tenho que voar para Nova York esta tarde para obter dois
documentos. Não, eu não sinto que poderia enfrentar o mundo, ─ ela diz
secamente. ─ Quero dizer, minha mãe é tão estranha. Ela sabe que há dentistas
perfeitamente bons por perto, mas não. Eu tenho que ir ver o dentista dela.
─ Sim. Mas André vai com você. E você vai sair para um jantar
romântico, e ele te deu ingressos para ver Hamilton. Uma vez que a parte do
dentista esteja fora do caminho, você terá um tempo maravilhoso na cidade e
você sabe disso.
─ Ah, você sabe. Vou afundar meus dentes nisso. ─ Eu seguro o livro em
minhas mãos. ─ Harcourt entregou meu novo laptop e um monte de outras
coisas ontem à noite. Posso acompanhar minha lista da Netflix se quiser uma
distração.
Quando o Ford F150 preto de Andre para no círculo de viragem, ela geme
como se ele estivesse prestes a levá-la para o inferno, em vez de um fim de
semana romântico. Sorrio para a caminhonete que se afasta até minhas
bochechas doerem, acenando até que ele fique fora de vista, e então estou de
pé e correndo, descendo a calçada em direção ao meu próprio refúgio de fim
de semana.
Ele ainda não olhou para mim. Ele faz muito isso, evitando levantar a
cabeça e fazer contato visual comigo até o último segundo, até que eu esteja
bem na frente dele. Ele finalmente olha para mim por baixo daquelas
sobrancelhas expressivas e escuras, e meus dedos dos pés se curvam em meus
sapatos. ─ Como você sabe que sou eu?
─ Grosseiro.
Eu dou uma olhada nele. Um que ele sorri, passando a língua sobre o lábio
inferior, molhando-o. Nós temos essas trocas silenciosas com frequência agora
– minha repreensão sem palavras em troca de suas desculpas divertidas e meio
sentidas. ─ Você não é o meu chefe, ─ eu o lembro.
─ Não sou?
O fogo acende em seus olhos. ─ Se eu disser para você fazer alguma coisa,
você não faz? Se eu te pedir algo, não recebo em troca? ─ ele medita.
─ Bem, acho que vou ter que viver com medo desse dia, então, ─ ele
ronrona, rondando atrás de mim. Eu grito, correndo ao redor do carro, mas
não adianta. Ele estava certo, eu tenho 1,60m, e minhas pernas são muito mais
curtas que as dele. Ele me pega com facilidade, travando os braços em volta da
minha cintura e me levantando do chão. ─ No carro com você, ─ ele rosna no
meu ouvido. ─ Temos lugares para estar.
Ele me segura contra o seu lado com um braço, liberando uma mão para
que ele possa abrir a porta do passageiro do carro e me colocar dentro. Eu
pouso com um suave uffff no banco de couro. Ele bate a porta atrás de mim
antes que eu possa brincar de fugir. Dois segundos depois, ele está entrando no
carro ao meu lado e girando a chave na ignição.
O canto de sua boca se levanta. ─ Não se preocupe com essa sua linda
cabecinha. Não vou deixar você congelar até a morte, Elodie Stillwater.
─ Uh?
─ Este lugar é meu, ─ diz ele.
─ Sim. O bar.
Santo inferno. Imaginei, já que o pai dele é tão graduado nas forças
armadas quanto o meu, que a família dele tinha dinheiro. Eu não pensei por um
segundo que ele tem o seu próprio. ─ E você administra isso? Você desperdiça
todo o seu dinheiro até abril? ─ Eu pergunto.
Ele me dá um sorriso apertado e afiado. ─ Nunca. Eu provavelmente teria
que comprar uma pequena nação com uma enorme dívida nacional para limpar
minha conta bancária neste momento.
Porra.
Wren está no centro do bar tranquilo com as mãos nos bolsos, olhando
em volta como se não soubesse o que fazer com o lugar.
─ Então você não é da cidade. Você tem mais dinheiro do que bom senso
e acha que o mundo ainda deve a você?
─ Então você provavelmente também não é daquela escola. Não sei onde
ele te encontrou, menina bonita, mas você parece muito bonita para ele. Meu
conselho? Saia agora enquanto ainda pode.
Eu nem sei o que dizer sobre isso. Eu não digo a ele que sou uma estudante
em Wolf Hall, no entanto. Sinto que ele ficará menos apaixonado por mim se
eu corrigir sua suposição. Wren está atrás de mim, rosnando baixinho. ─
Ela é muito legal para mim, mas isso não é da sua conta, velho.
Wren
PRÉ-ELODIE, meu melhor comportamento parecia muito diferente
disso. Eu teria repreendido Patterson por seu atrevimento, e provavelmente
teria expulsado todo mundo do bar também. Houve tantas vezes desde que
Elodie se tornou minha namorada que eu contive minha raiva e não
ataquei. Chegou ao ponto que eu estou fazendo isso mesmo quando ela não
está por perto, atormentado por uma consciência que eu prestei pouca atenção
até agora. Por trás de cada ação, cada pensamento e cada palavra está a pergunta
incômoda: o que Elodie pensaria de mim se pudesse me ver agora?
Ela realmente não me pediu nada, mas esse desejo corrosivo de fazê-la
feliz, de deixá-la orgulhosa de mim, é sempre constante. Para ela, quero ser
melhor do que minha alma suja e podre jamais foi.
─ Casa Monmouth? ─ ela diz curiosa. ─ Isso é o que aquela placa acabou
de dizer.
─ Placa? ─ Finjo que não faço ideia do que ela está falando.
─ Sim. Aquela que estava montada naquela placa gigante na frente dos
portões. Wren, o que diabos estamos fazendo aqui? Estamos prestes a ser
presos por invasão? Não posso obter um registo criminal. O coronel Stillwater
vai me matar.
Estou tenso como o inferno, no entanto. Negar isso não serve para
nada. Isso é algo muito novo para mim, terreno inexplorado, e não tenho a
menor ideia de como tudo isso vai acontecer. Paro ao lado do G-Wagon, me
preparando para o que está por vir.
Eu inclino meu braço na porta, sorrindo para ele. ─ Ei, Cal. E aí?
Conheço Calvin desde os cinco anos de idade. Ele estava lá quando meus
avós morreram. Os pais da minha mãe. Foi ele quem me consolou quando
esfolei os joelhos. Era ele que costumava me roubar biscoitos depois do jantar,
quando eu era mandado para a cama sem sobremesa por não terminar minhas
refeições.
Uma luz se acende em seus olhos quando ele percebe Elodie sentada ao
meu lado no banco do passageiro. ─ Ah! Uma convidada? Meus olhos me
enganam?
─ Seu pai ainda não chegou. A Sra. Jacobi está com seu clube do livro na
biblioteca.
Oh Deus. Parece que ela está prestes a ter um ataque cardíaco. ─ Não é
grande coisa. É apenas um edifício. Com muitos quartos chiques dentro.
Seu rosto empalidece de todas as cores. ─ Wren. Você me disse para trazer
um biquíni e uma porra de lingerie. Você não me disse para trazer roupas
bonitas e respeitáveis que seriam adequadas para seus pais.
Calvin me dá um olhar que diz tudo: você está pronto para isso agora. ─
Deixe as chaves. Eu vou dar a vocês algum tempo para juntar suas coisas e
entrar, ─ ele diz, seu sorriso se estendendo de orelha a orelha. ─ É muito bom
conhecê-la, senhorita Elodie.
─ Digo o mesmo, Calvin, ─ ela responde com uma voz muito aguda.
Saio do Mustang e dou a volta pelo outro lado, abrindo a porta para ela. ─
Saia do carro, Elodie.
Ela joga a cabeça para trás, fechando os olhos e fazendo uma careta que
parece pior do que aflita. ─ Wren! Isso não é... isso não é...
Eu rio, mesmo sabendo que vai irritá-la pra caralho. ─ Vamos, Pequena
E. Isso não era mentira. Isso foi uma omissão dos fatos. Agora, por favor, saia
do carro antes que eu tenha que entrar aí e pegar você.
Ela sabe que eu vou fazer isso. Eu a coloquei lá, pelo amor de Deus. Eu
vou carregá-la com a mesma facilidade, chutando e gritando se for
preciso. Amuada dramaticamente, ela sai do carro, lançando um olhar na minha
direção que esfolaria qualquer outro mero mortal vivo. Estou acostumado com
suas rajadas emocionais, no entanto. Elas duram cinco minutos e depois
terminam novamente. ─ Isso é realmente injusto, ─ ela geme. ─ Você deveria
avisar as pessoas, para que elas possam se preparar mentalmente para esse tipo
de coisa. E eu realmente não trouxe nada para vestir.
─ Nada?
─ Não, a menos que você pense que um par de tangas de renda e alguns
saltos altos seriam trajes de jantar apropriados?
─ Você não vai me encontrar reclamando. ─ Jesus, meu pau está ficando
duro só de pensar nisso.
E não posso manter a brincadeira por muito tempo. Vê-la tão excitada
tem algo dentro de mim puxando como uma corda de arco até que eu sinto que
não posso respirar em torno da miséria disso. Eu sou uma piada do caralho. Era
uma vez, eu pensei que queria machucar essa garota. É carma que me dói mais
do que posso suportar vê-la em perigo. Eu a prendo contra a lateral do carro,
segurando seu rosto em minhas mãos, escovando seu cabelo para trás das
orelhas. ─ Calma, E. Está tudo bem. Eu não te jogaria debaixo do
ônibus. Encomendei alguns itens on-line para você e os enviei com
antecedência. Tudo o que você precisa já está lá dentro, esperando por você.
─ Vamos lá. Sério. Precisamos entrar antes que minha madrasta nos
veja. Eu realmente não estou brincando.
Elodie lê o aviso genuíno em meus olhos e cede. ─ Tudo bem então. Está
bem. Lidere o caminho. Suponho que outras pessoas visitaram aqui e saíram
vivas, certo?
Tudo o que posso fazer é rir. Ela não tem ideia do que esta enfrentando.
***
Eu não sou isso. Fui muito cuidadoso para ser algo totalmente removido
dessa repugnante demonstração de riqueza. Eu uso minhas roupas até que elas
literalmente desmoronem, e então eu as uso um pouco mais só para ter certeza
de que o recado foi dado. Rejeito toda e qualquer sugestão de corte de cabelo
até ser forçada a resolver o problema (e uma tesoura) com minhas próprias
mãos, cortando meu cabelo com um nível de desordem praticado que leva meu
pai a beber.
Eu realmente não caí dos degraus e quase mordi meu lábio quando eu
tinha nove anos. Aquele era outro garoto. E lá? Eu não fiquei ali, com meu
ouvido pressionado contra a pesada porta de nogueira da sala de jantar formal,
ouvindo meu pai fodendo uma jovem que apareceu do nada e ficou em casa
por três semanas quando eu tinha doze anos. Não importa que eu não consiga
lembrar qual era o nome dela. Ou que Patricia estava a três quartos de distância
quando meu pai estava comendo a buceta de uma garota na grande mesa de
banquete antiga de vinte pessoas. Não. Nada disso importa porque aquela não
era a minha vida. Isso aconteceu em outro plano de existência, com outro Wren,
antes da Riot House e Wolf Hall. Antes de Elodie.
Eu me abstenho de chutar meus sapatos. Patricia vai ter um acesso de
raiva quando me vir andando pela casa com sapatos de fora nos pés, que é a
única razão pela qual eu os deixo. Elodie não é uma merda como eu. Ela desliza
para fora de seus Doc Martens, e Mariposa aparece, como se a própria
existência de um par de sapatos desacompanhados na entrada criasse um portal
no tempo e no espaço, arrastando-a até aqui para cuidar do assunto antes que a
sociedade educada notasse tamanha vulgaridade. Tenho total fé que muito
depois de ela morrer, minha velha babá retornará espontaneamente da vida após
a morte para garantir que a etiqueta correta seja observada o tempo todo dentro
dos muros da Monmouth House.
Sua boca se contorce em uma careta azeda. Seus olhos são afiados como
sílex. ─ Morto.
─ Foda-se, Mariposa.
─ Jesus, onde você está me levando? ─ Elodie murmura. Sua voz é suave,
mas soa áspera e alta, saltando pelo espaço estreito.
─ Não muito mais, ─ digo a ela. ─ Você vai ver em breve.
Eu aperto a mão de Elodie, então a solto. Com as duas mãos, sinto o metal
pesado e frio de um cadeado acima da maçaneta - um cadeado que não estava
lá antes. ─ Aquele filho da puta, ─ eu rosno.
─ Wren, sério. O que está acontecendo. Posso não ter mencionado isso
antes, mas sou meio claustrofóbica.
Ah, porra. Como eu fui tão estúpido? Eu sei disso sobre ela. Ela pode não
ter compartilhado a informação comigo, mas faz todo o sentido, dado o que li
sobre ela. Este não é o tipo de lugar para ficar se você tem medo de espaços
apertados. Com raiva, eu puxo a fechadura para ver o quão sólida ela é. E é
realmente fodidamente sólido. ─ Meu velho, ─ eu digo, suspirando. ─ Ele
mandou Calvin colocar uma fechadura na porta. E eu não tenho espaço
suficiente para colocar meu ombro nele. Teremos que voltar para baixo para
que eu possa encontrar a porra de uma chave de fenda.
Eu quero beijá-la tão fodidamente. Meu corpo quer muito mais do que
isso, mas agora não é a hora. Eu pressiono minhas costas contra a parede atrás
de mim, conseguindo dar a ela espaço suficiente para ficar na minha frente. Eu
a ouço mexendo na fechadura — um leve chacoalhar, e então silêncio quando
ela se abaixa, sua respiração não é mais difícil; ela se equilibra, em longa e firme
e até puxa o ar, enquanto ela se concentra em seu trabalho. Ela está trabalhando
na coisa há apenas alguns segundos quando ouço o estalo metálico e um tinido
alto quando o cadeado cai no degrau mais alto.
Ela abre a porta e passa por ela, para o corredor iluminado à frente. Suas
bochechas queimam quando ela se vira e vê a expressão no meu rosto. ─ O
que? O que é esse olhar?
─ Por que seu pai trancaria aquela porta? Parece uma coisa estranha de se
fazer, ─ ela diz, suavemente mudando de assunto. Examinando o corredor com
as pequenas janelas de vigia ao longo do lado norte, e as quatro portas que saem
dele do outro lado, ela franze a testa profundamente.
─ Este era o lugar da minha mãe, ─ eu digo. ─ Ela vinha aqui para pintar
e ler. Ela costumava dormir aqui às vezes. Eu o reivindiquei como meu espaço
agora, mas meu pai não gosta disso. Ele diz que isso incomoda sua nova
esposa. Não tem nada a ver com Patty, no entanto. Ele simplesmente odeia que
eu prefira passar meu tempo aqui com os fantasmas de minha mãe morta em
vez de sofrer lá embaixo com o resto deles na terra dos vivos. Ele ameaça tirar
tudo daqui e fechar a porta às vezes.
─ Porque ele sabe que eu queimaria a porra da casa inteira se ele fizesse
isso.
Ela apenas balança a cabeça, aceitando isso como algo que eu faria. Uma
verdade sobre mim que faz sentido. ─ Nós vamos ter problemas por vir aqui,
então? Ele vai ficar bravo?
─ Ele está sempre com raiva. Não se preocupe, no entanto. Ele não vai
ficar bravo com você. Você é uma convidada. Quando você o conhecer, ele
será doce, interessado e encantador, e você se perguntará como eu poderia odiá-
lo tanto. Você vai ficar do lado dele e pensar que sou completamente irracional
quando não caio aos pés do filho da puta.
Ela pisca para mim como uma coruja. Ela é tão linda que a visão dela
parece um soco no estômago. Mais uma vez, ela balança a cabeça. ─ Não, eu
não vou. Eu sei tudo sobre pais sociopatas, Wren. Eu tenho lidado com um a
minha vida inteira. Conheço a fachada que eles colocam para o resto do
mundo. Eu sempre verei através dessa charada, não importa quantas outras
pessoas possa enganar. Vamos. ─ Ela sorri suavemente. ─ Por que você não
me mostra o lugar? Conte-me sobre sua mãe. Quero saber tudo sobre ela.
***
─ Meu pai. Alguns anos antes de descobrir que estava grávida. Incrível
como vinte anos podem mudar alguém.
Elodie balança a cabeça. ─ Isso não é verdade. Você é tão bom quanto,
Wren. Apenas diferente. Você usa as mesmas cores que ela usava. O tom não é
o mesmo, no entanto.
Eu grunhi com isso. ─ Sim. Ela era otimista. Eu nunca tive isso em mim.
─ Aqui em cima.
Cristo, ela não sabe que eu vou dar a ela qualquer coisa que ela queira? Vou
arrancar meu coração mutilado e enegrecido por ela e colocá-lo a seus pés se
isso a agradar. ─ Sim. Podemos administrar isso.
Elodie
DONALD JACOBI ERA general do exército antes de se aposentar há um
mês. Mas homens como ele nunca se aposentam. Não de qualquer maneira que
conta. Ele era um general quando pendurou seu uniforme, e um general
permanecerá até o dia de sua morte. Sua própria presença parece engolir a sala,
enquanto Wren me leva para um enorme espaço de teto alto que eu suponho
que teria sido usado como uma sala de recepção formal no passado. Eu vejo as
costas dele primeiro. De pé com uma mão apoiada contra o manto de uma
lareira e a outra plantada firmemente em seu quadril, ele atinge uma figura
imponente. Wren fica um pouco mais reto, seus ombros puxando para trás
enquanto ele limpa a garganta, anunciando nossa presença.
Wren estava certo; ele não é nada como o homem na pintura no sótão. Seu
rosto é um roteiro de linhas e fendas que contam uma história clara — de raiva
e infelicidade. Os colchetes profundos ao redor de sua boca e nos cantos de
seus olhos falam de infelicidade profunda.
Eu não poderia dar a mínima para deixar meu pai orgulhoso. O coronel
está obcecado em impressionar seus superiores, mesmo que eles não sejam mais
um membro do serviço oficial. Ele teria um maldito ataque se chegasse a ele
que de alguma forma eu me desonrei (e, portanto, a ele) durante a minha
apresentação ao pai de Wren.
─ Sim senhor.
─ E você está gostando até agora? Você está gostando de passar tempo
com meu filho?
Wren não vacila. Seus olhos se estreitam levemente, mas apenas por um
segundo; suas características faciais estão sob seu controle completo. ─
Sim. Estamos fodendo, ─ ele responde categoricamente.
Uma coisa é ter os pais de alguém sabendo que você provavelmente está
fazendo sexo, outra coisa é deixá-lo exposto assim. E em termos tão
contundentes? Estou tão envergonhada que sinto como se tivesse levado um
tapa. Por Wren, ou por seu pai, o choque parece o mesmo.
Meu Deus.
Ele apenas pisca para seu pai. ─ Para alguém que dá tanto valor às boas
maneiras, ─ diz ele. ─ Você é o filho da puta mais rude que eu já conheci.
O general Jacobi ri. Severo. Hostil. ─ Ah, meu querido menino. Eu te
respeitaria muito mais se você tivesse a coragem de vir e dizer isso na minha
cara.
Wren não hesita. Ele caminha direto para seu pai, e oh Deus, eu não posso
assistir ele...
UAU!
Puta merda!
O General Jacobi está pronto para o filho cuspir palavras raivosas na cara
dele. Ele não está preparado para o poderoso gancho de direita que Wren
aterrissa em sua mandíbula. Eu assisto, horrorizada, enquanto o velho
cambaleia até a lareira, estendendo a mão para tentar se segurar enquanto ele
cai para trás. Não é bom, no entanto. Ele cai em uma pilha na grade, com os
pés no ar, na exibição mais indigna que eu já vi. Seu rosto fica roxo brilhante.
─ Fora! Fora da minha casa! ─ ele gagueja. Seus braços e pernas estão por
toda parte enquanto ele tenta se levantar novamente. Ele leva três tentativas
para se endireitar, e quando ele encontra seus pés, acontece que o assento de
suas calças pretas caras está coberto de cinzas. Ele tenta agarrar Wren pela gola
de sua camiseta, mas Wren dá um tapa na mão dele, rindo friamente baixinho.
O general abaixa a mão, mas ele não terminou com Wren. Não por um
longo tempo. ─ Menino estúpido. Você finalmente foi e fez isso, então. Fodeu-
se além da medida. Chega de escola chique para você agora. Você
terminou. Você está indo direto para a escola militar...
─ Qual é a data? ─ Wren pergunta.
─ Não seja obtuso. Claro que sei a data de hoje. É dezessete de março.
Elodie
NÓS ESCAPAMOS de Monmouth House com os braços cheios de pinturas
e todos os pertences pessoais de Wren do sótão. Entramos no Hubert Estates
County Inn, e Wren anda de um lado para o outro como um leão, silencioso e
furioso. Leva quatro horas para ele se acalmar, e nesse ponto já está escuro, e
minha mandíbula está doendo de tanto apertar.
Não foi você. Não foi você, Elodie. Você está segura. Você está bem aqui. Ele está a
um milhão de milhas de distância. Ele não pode te machucar.
Wren não tem ideia de quão semelhantes foram nossas educações. A única
diferença é que agora ele é grande o suficiente para enfrentar seu pai. Nunca
poderei confrontar o Coronel Stillwater como ele fez agora. E isso me deixa
sem esperança.
O quarto em que nos registramos é lindo, mas nenhum de nós parou para
observar os arredores. Nós dois nos retiramos para nossos próprios
mundinhos, e acho que vai demorar um pouco para qualquer um de nós voltar
à realidade novamente.
O telefone de Wren grita novamente, seu toque tocando no silêncio tenso.
─ Eu pensei que você nunca matinha o som dessa coisa ligada? ─ Eu digo.
─ Melhor se todos eles tiverem uma batida para se acalmar. Todo mundo
está tenso agora. Estou tentando não ficar, mas... ─ Ele se senta na beirada da
cama ao meu lado, entrelaçando os dedos, olhando cegamente para as mãos. ─
Sinto muito, Elodie. Eu disse que ele ia ser educado e charmoso, e ele realmente
não foi. Eu... eu nem sei o que dizer. Eu poderia dizer que ele estava de mau
humor, mas eu não acho que ele iria se transformar assim. Eu nunca teria te
levado lá se eu pensasse por um segundo que ele ia ser tão ruim assim com você.
─ Está tudo bem, Wren. Sério. Algumas palavras grosseiras do seu pai não
são suficientes para me afetar nos dias de hoje. Quero dizer, Pax me chama de
prostituta diariamente. Eu não me importo.
─ Não. Você está ansiosa. Eu nunca te vi tão nervosa antes. Você está
com medo de alguma coisa, e eu estou esperando por Deus aqui que não seja
de mim. Porque se for... ─ Ele ri infeliz. ─ Acho que não lidaria muito bem
com isso.
─ Não! Deus, não é você, eu juro. É apenas a coisa toda. Isso me lembrou
de como eram as coisas com o coronel Stillwater em Tel Aviv. Seu pai é muito
parecido com o meu. Eu acho... trouxe de volta algumas memórias difíceis.
─ Elodie. Pare.
Elodie
Três anos atrás
A cadeira de metal range debaixo de mim, o som alto e abrasivo cortando o silêncio
tenso da pequena sala sem janelas como uma faca. O homem do outro lado da mesa arranhada
e trêmula me dá um sorriso tenso que não chega nem perto de alcançar seus olhos. Parece que
sente pena de mim, mas não sabe bem o que fazer para me confortar. Ele provavelmente não
tem filhos. Provavelmente solteiro também. Não há aliança em sua mão esquerda, o que
significa que ele provavelmente é um daqueles policiais que dedicou sua vida ao seu
trabalho. Quando tudo o que você faz é se concentrar nas coisas ruins que as pessoas fazem
umas às outras, isso prejudica a capacidade do seu coração de sentir qualquer coisa além de
desprezo e desconfiança.
─ Não vai demorar muito agora, ─ diz ele em uma voz com forte sotaque. Alguém
deve ter dito a ele que eu só falo inglês. Eu aceno, olhando para minhas mãos, descansando
em cima da mesa; tive permissão para lavá-los depois que as fotos foram tiradas e os analistas
forenses me esfregaram, mas eu estava tão entorpecido que não fiz um bom trabalho. Há
sangue velho, preto agora, ainda escorado sob minhas unhas – crescentes escuros de sangue que
continuam me lembrando da cena surreal que eu vi quando cheguei da escola.
Os segundos passam.
Minutos.
Ela se senta ao lado de seu colega, e uma lufada de água de jasmim atinge a parte de
trás do meu nariz. Começo a juntar as peças da vida dessa mulher enquanto ela folheia os
papéis que trouxe consigo. Ela é francesa, obviamente. Trinta e poucos anos. Ela cuida muito
bem de si mesma, malhando todos os dias em particular, a portas fechadas, mas nunca falando
sobre isso, como é o jeito de todas as mulheres francesas clássicas. Ela bebe seu café preto,
mergulhando seu croissant no líquido quente em sua mesa todas as manhãs. Ela adora
crianças, mas nunca encontrou tempo para tê-las. Ela será uma boa mãe um dia, se ela
conseguir se estabelecer o suficiente para encontrar alguém e se apaixonar. Ela adora estar ao
ar livre. Ela adora viver à beira-mar e anseia...
─ Elodie? Sim, aí está você. Boa menina. Volte, ─ ela diz, seus olhos castanhos
quentes cheios de emoção. ─ Eu sei que isso é difícil, mas eu preciso que você tente se concentrar
por um tempo, ok?
─ Eu estava perguntando se você poderia me dizer o que aconteceu, por favor? O oficial
que a encontrou em sua casa disse que você não estava fazendo sentido quando ele...
Ela não pode nem dizer isso. Então eu faço isso por ela. Minha voz range e racha
quando eu empurro as palavras para fora da minha boca. ─ Quando ele abriu a caixa.
─ Sim. Isso é compreensível. ─ Ela é superficial. Ela consegue esconder bem seu
horror. Pode ser por isso que a escolheram para vir falar comigo. Além do fato de que ela é
uma mulher, e ela tem olhos gentis, e ela compartilha a nacionalidade da minha mãe – pontos
que eles provavelmente acharam que me ajudariam a me abrir para ela. ─ Você acha que
poderia começar do começo para mim?
Está tudo tão confuso. Meus pensamentos estão todos emaranhados, como uma bola de
lã desenrolada. Eu puxo as memórias pelas minhas mãos como se estivesse procurando a
ponta de uma corda, mas ela continua indo e vindo. ─ Eu não... eu realmente não posso...
─ OK. Está bem. ─ Aimée estende a mão sobre a mesa, tocando os dedos nas costas
da minha mão. O contato me assusta tanto que eu cambaleio para trás, derrubando o copo
de água que eles me deram. O líquido derramado se espalha pela mesa, escorrendo pela borda
de sua superfície, pingando no meu colo, mas eu não me mexo. Eu não tento limpá-lo. Eu
apenas me sento lá e deixo acontecer.
─ Merda! ─ Aimée sibila. Ela corre para fora do quarto e volta um momento depois
com um maço de toalhas de papel. Entre ela e o cara silencioso sentado ao lado dela, eles
limpam a bagunça rapidamente, secando a mesa. Aimée me dá um pacote de guardanapos
para secar meu jeans, mas eu não me incomodo. Eu apenas os seguro, meus dedos farfalhando
sobre a superfície áspera do papel barato. Redondo em círculos. Redondo em círculos.
Eu levanto minha cabeça. Aimée está de volta ao seu lugar novamente. Deus sabe
quanto tempo ela está sentada lá. ─ Não posso sugerir o que aconteceu com você com base no
que sabemos neste estágio, mas posso ler o que você disse ao policial. Você acha que isso ficaria
bem? E então você pode nos dizer se há mais alguma coisa que você se lembra, ou se há alguma
coisa que você quer mudar? E não se preocupe. Aqui não há certo ou errado. Se você se
lembrar de algo diferente, tudo bem. Você tem permissão para nos dizer, e você não vai se
meter em nenhum problema.
─ Cheguei em casa às seis. Ele já estava lá na casa. Meu pai. Ele deveria estar fora
em manobras, mas deve ter voltado mais cedo. Percebi que ele estava bêbado
imediatamente. Pelo menos, eu pensei que ele estava bêbado. Ele estava agindo estranho,
cambaleando e batendo na mobília. Ele não falaria comigo. Chamei minha mãe, para dizer
a ela que havia algo de errado com ele, mas ela não respondeu, então fui procurá-la.
─ Ela gosta de escrever cartas para minha avó na marquise dos fundos, então foi onde
olhei primeiro. Ela estava deitada nos ladrilhos, coberta de sangue. Ela estava de bruços e
sua saia estava em volta da cintura. Eu não entendi o que tinha acontecido no começo. Mas
então eu vi o sangue em sua calcinha. ─ Aimée faz uma pausa. Engolindo em
seco. Continuou. ─ Havia um buraco no lado de sua cabeça. ─ Aimée olha para mim. ─
Que tipo de buraco, Elodie? Como um buraco de bala?
A bile sobe no fundo da minha garganta. Estou separada de mim, fora do meu corpo,
afastada deste lugar e desta situação. É a única maneira que eu posso dar a ela a informação
que ela precisa, mas isso significa que eu pareço um robô quando falo. ─ Não. Maior. Do
tamanho de uma bola de golfe. E o crânio dela estava... estava afundado ao redor do buraco.
Aimée bate a unha contra a mesa. Ela para quando percebe que eu recuo. Ela volta
para a minha declaração. ─ Eu gritei para papai chamar uma ambulância, mas eu sabia
que já era tarde demais. Seus lábios eram azuis. Eu verifiquei o pulso, no entanto. Eu a virei
e a coloquei de costas. Tentei fazer reanimação cardiorrespiratória, mas ela já estava morta.
Lembro-me de dizer tudo isso. E o olhar no rosto do oficial também. Ele parecia
chocado com as coisas que eu estava dizendo a ele. Mas não me lembro de sentir essa angústia
crescente, correndo em minha direção como o fim inevitável de uma tragédia shakespeariana,
recusando-se a desacelerar ou mudar seu curso. Eu sei o que está por vir, e não há como
segurar. Eu gostaria de poder.
Aimée olha fixamente para o relatório por um momento. ─ Há mais alguma coisa que
você queira acrescentar, Elodie? Mais alguma coisa que você tenha se lembrado?
─ Sim. ─ Eu tenho que dizer isso agora, enquanto eu não sou eu mesma. Eu não
poderia dizer ao oficial que me encontrou. Ele era muito jovem. Muito assustado. Ele vomitou
em seus sapatos. Este quartinho parece mais seguro, porém, e Aimée não parece que vai
vomitar. ─ Algo aconteceu. Alguma coisa antes... de ele me colocar na caixa.
─ Ele fez comigo o que fez com minha mãe. Ele se forçou... em mim. Entre minhas
pernas. Ele segurou minha cabeça contra os azulejos, e ele... ele me machucou. Eu
gritei. Eu tentei impedi-lo, mas... eu podia ver minha mãe. Seus olhos ainda estavam abertos,
e ela estava olhando diretamente para mim, e...
É isso. Isso é tudo o que eu tenho. Eu não desmorono. Acabei de ficar sem folego. Eu
não posso continuar. Aimée olha para mim, seus lindos olhos castanhos cravados em mim, e
uma única lágrima balança na ponta de seus cílios. Essa única lágrima é mais do que eu
derramei por mim mesma desde que escapei daquele cofre. Parece errado que ela seja a primeira
pessoa a chorar sobre o quão terrível é esse pesadelo. Ela também sabe. Ela rapidamente
afasta a lágrima, reprimindo sua errante demonstração de emoção. ─ Precisamos levá-la de
volta ao hospital. Eu não acho que eles fizeram um kit de estupro.
─ Só mais algumas perguntas e vamos tirar você daqui. Que dia foi esse, Elodie?
Aimée empalidece, a cor desaparecendo de seu rosto enquanto ela olha para o relatório
à sua frente. Ela não parece estar olhando para nada em particular. Sua mão treme e ela
rapidamente a enfia debaixo da mesa, fora de vista. ─ Você tem alguma ideia de que dia é
hoje, Elodie? ─ ela pergunta em voz baixa.
Aquelas horas intermináveis no escuro, apertada como uma bola, minhas articulações
gritando de agonia, implorando para que eu me alongasse, com meu nariz pressionado contra
aqueles minúsculos buracos. Pareciam uma eternidade. Um inferno que durou vidas
inteiras. Eu sei como a mente prega peças, no entanto. As horas parecem dias, que parecem
anos. Estou aqui na delegacia desde as três da manhã, o que significa que deve ter sido por
volta da meia-noite quando aquele oficial abriu a fechadura da caixa e me soltou. Meu cérebro
recusa a ideia de lidar com a matemática mais simples, mas me forço a contar as horas nos
dedos. ─ É domingo, ─ digo a ela. ─ As primeiras horas da manhã de domingo.
─ Você acha que ficou na caixa por nove horas? ─ Aimée sussurra.
Eu olho da detetive para o homem sentado ao lado dela, para frente e para trás, para
frente e para trás, tentando descobrir as expressões complexas que eles estão usando. ─ Sim?
─ O rosto do cara se transforma em uma máscara de horror. Ele limpa a garganta, mas soa
mais como se estivesse engasgando. Ele se afasta da mesa, correndo para a porta. ─ Jesus
Cristo. Eu não posso... me desculpe. Eu preciso tomar um pouco de ar.
Ela acena.
Cinco dias.
Engasgando com o cheiro da minha própria sujeira e o fedor da minha mãe apodrecendo
do outro lado da sala.
Aquele canudo fino saindo pelo buraco da caixa, fornecendo meu único suprimento de
água.
Os minúsculos pontos da luz do dia, brilhando contra a parte de trás dos meus olhos, e
então a escuridão se aproximando. Enxágue e repita. Isso tudo aconteceu tantas
vezes? Tantos dias realmente se confundiram? Como eu pude, alguém poderia sobreviver a
algo assim sem perder a cabeça?
Aimée sai da sala e volta quase imediatamente carregando uma jaqueta. Ela o coloca
em meus ombros, me envolvendo nela. ─ Vamos. Eu sei que isso vai ser difícil, mas eu estarei
com você, ok? Não vou sair do seu lado, prometo.
Ainda nem saímos do prédio quando os policiais militares aparecem. De uniforme
completo e armado até os dentes, um homem que não conheço com três listras no braço para
Aimée no corredor, empurrando um pedaço de papel para ela.
Aimée está horrorizada. Com os olhos arregalados, a boca aberta, ela balança a cabeça,
me aconchegando ao lado de seu corpo. Como se ela pudesse me proteger do que está prestes a
acontecer. ─ Esta menina foi abusada sexualmente e torturada, sargento. Ela não vai a lugar
nenhum com você. Vou levá-la ao hospital.
O sargento fica na frente dela, bloqueando sua saída do prédio. ─ Temo que isso não
seja possível, detetive Berger. Esta jovem é menor e cidadã americana. E ela foi testemunha
de um acidente ocorrido em um prédio de propriedade do governo dos EUA, que é tecnicamente
solo americano. A polícia de Israel não tem jurisdição aqui.
─ Acidente? Sua mãe foi assassinada! E aquele prédio não era na sua base. Foi em
solo israelense! Não importa quem é o dono.
─ Fale com o seu chefe. Temos nossa própria maneira de fazer as coisas, Berger, e temos
nossa própria polícia. Investigamos a cena e consideramos a morte da Sra. Stillwater um
acidente, como resultado de uma queda infeliz. Você entende, o Coronel Stillwater é um
homem muito respeitado. Não há possibilidade de ele ter colocado um dedo em sua esposa.
A boca de Aimée funciona. Ela não consegue encontrar as palavras que está
procurando. ─ Seu precioso Coronel Stillwater estuprou a própria filha! Que tipo de homem
faz isso?
─ Não do tipo que comanda milhares nas forças armadas dos EUA, detetive
Berger. Eu teria muito cuidado se fosse você. Repetir acusações caluniosas como essa pode ter
consequências terríveis.
A mão do sargento se fecha ao redor do meu braço. Ele me puxa do aperto de
Aimée. Ela estende a mão para mim, agarrando, mas não é bom. Eu já estava muito além
do alcance dela antes mesmo desses caras aparecerem. Ela só não sabia ainda.
Não sei o que acontece a seguir. O mundo começa a encolher sobre si mesmo, escurecendo
nas bordas. A próxima coisa que eu sei é que estou caindo para frente, as pernas caindo
embaixo de mim, e o chão está correndo para me encontrar.
34
Elodie
EU VI esse relatório da polícia uma vez. Foi muito detalhado. Indignada
com a maneira como o exército lidou com a morte de minha mãe, a detetive
Aimée Berger fez uma petição ao governo israelense para tentar prosseguir com
o caso criminal no país, mas a coisa toda se transformou em um pesadelo
político. Suas mãos estavam amarradas, então ela não podia fazer nada além de
sentar e assistir enquanto os militares varriam a coisa toda para debaixo do
tapete. Meu pai foi exonerado de qualquer irregularidade, nunca recebi aquele
kit de estupro e minha mãe foi enterrada sem cerimônia nos fundos de um
cemitério judeu, mesmo sendo católica, em um país que nunca foi um lar para
ela. Eu não tive permissão para ir ao funeral, e meu pai com certeza não foi.
Wren acena com a cabeça, cutucando as unhas; ele ataca a última lasca de
esmalte preto que está usando desde a primeira noite em que o conheci,
finalmente cuidando disso de uma vez por todas. ─ Eles mantinham uma cópia
em seu próprio sistema, ─ diz ele.
─ Eu entendi.
─ Eu não posso acreditar que eles mandaram você de volta para viver com
esse pedaço de merda, ─ diz ele.
─ Bem. Eu tinha quatorze anos. E eles decidiram que ele não fez nada de
errado, então para onde mais eles iriam me mandar?
─ E seus avós? Os pais da sua mãe? Eles não poderiam ter levado você?
─ Não! Não, deus. Não. Foi só uma vez. Ele nunca mais fez isso. Acho
que ele estava chapado quando... o dia em que aconteceu.
Voltar para essas memórias significa voltar para aquela caixa, e eu apenas...
eu não posso fazer isso. Lentamente, eu me levanto e vou até a janela. O sol
está brilhando lá fora, e tudo está tão verde. O dia de primavera contrasta tão
fortemente com a nuvem cinzenta e opressiva que desceu sobre mim que nada
do que vejo do outro lado do vidro parece real. ─ Eu não sei. Nós nunca
falamos sobre isso depois daquele dia. Eu sabia que acabaria morta se tocasse
no assunto, e meu pai parecia contente em fingir que nada tinha acontecido,
então fiz o que precisava para sobreviver. Ele começou a me treinar depois
disso. Todos os dias, ele me colocava no treinamento mais brutal. Eu não
conseguia entender no começo. Mas então comecei a ver a auto-aversão em
seus olhos. Ele queria que eu fosse capaz de me proteger. Dele. Eu acho
que ele sempre se preocupou que... que ele pudesse fazer isso de novo.
Eu chupo uma respiração ofegante, mas isso não ajuda. Ainda me sinto
tonta, como se fosse vomitar. ─ Escapar de Tel Aviv, ser enviada para New
Hampshire? Fingi para mim mesma que era inconveniente e me ressenti de ser
arrastada para longe dos meus amigos, mas honestamente... foi a melhor coisa
que já aconteceu comigo. Pode não ser o mecanismo de enfrentamento mais
saudável do mundo, mas quero esquecer esse momento da minha vida. Tudo
isso. Todo maldito dia. Então, por favor... eu não quero mais falar sobre
isso. Eu não posso. Não vai ajudar, e...
Seus braços me envolvem por trás. Ele me segura com força, aninhando
seu rosto na curva do meu pescoço. ─ Shhh. Shhh, tudo bem. Está bem. Eu
sinto muito. Shhh, por favor, não chore.
Wren suspira pesadamente, o som é pura frustração. Ele me vira para que
eu esteja de frente para ele, segurando meu rosto em suas mãos. Ele me faz
encontrar seu olhar feroz. ─ Você passou por tanta merda, e você fez tudo por
conta própria. Eu queria que você soubesse que você não está sozinha agora. E
quero que saiba que foi resolvido. Você não precisa mais se preocupar com ele,
Elodie. Ele nunca será capaz de machucá-la novamente.
─ Você não sabe disso. Você não pode dizer isso. Ainda tenho meses
antes de me livrar dele, Wren. Você pode já ter dezoito anos, mas eu tenho que
esperar até junho.
Há um tom em sua voz. Ele diz: ' Foi resolvido', mas também está dizendo
outra coisa. Ele está dizendo que fez alguma coisa, ele de alguma forma cuidou
do meu pai, e ele não será capaz de me machucar novamente. Um nó de pânico
sobe na minha garganta. ─ Meu Deus. O que você fez, Wren? ─ Eu pergunto
com cuidado.
Foi cuidado.
Foi cuidado.
Olho para o rosto dele – o tipo de rosto bonito e selvagem sobre o qual
os poetas escrevem há milênios – e o medo terrível que está agachado no canto
de trás da minha mente desde que eu tinha quatorze anos simplesmente
desaparece. ─ Não. Você não está errado, ─ eu sussurro. ─ Eu amo você.
Ele exala, sua cabeça caindo, seu queixo batendo no peito, e eu posso
sentir seu alívio. ─ Graças a Deus, porra.
Ele olha para mim por baixo daquelas sobrancelhas escuras, e minha
respiração fica presa na garganta. ─ Não, Pequena E. Eu não o matei. Mas eu
o machuquei. Eu o machuquei pra caralho.
35
Wren
MARIPOSA COSTUMAVA contar histórias para mim e para Mercy quando
éramos crianças. Ela nos colocava em nossas camas e se acomodava em uma
cadeira no canto do quarto que dividíamos, e então ela começava, sussurrando
em uma voz sinistra e assustadora que costumava fazer minha pele formigar de
medo. Seu objetivo não era encher nossas cabeças com contos de fadas
fantásticos que se infiltrariam em nossos sonhos. De jeito nenhum. Ela queria
colocar o temor de Deus em nós, e as histórias que ela contava sobre monstros
hediondos e criaturas desfiguradas eram sua maneira de tentar nos controlar.
Mariposa esperava que suas histórias de aflição nos ensinassem uma lição,
pobres gêmeos órfãs de mãe, e entraríamos na linha. Infelizmente, suas histórias
de horror só me ensinaram uma lição: que a melhor maneira de não temer um
monstro era se tornar um.
Direi a Elodie qualquer coisa que ela queira saber. Se ela quer cada
pequeno detalhe do que aconteceu com o Coronel Stillwater no fim de semana
em que arrastei Dashiell e Pax em um avião, do outro lado do mundo para me
ajudar a derrubar aquele filho da puta, então vou sentar com ela e passar por
isso passo a passo. Eu não acho que ela quer isso agora, no entanto. Acho que
ela precisa processar o fato de que está livre, e esse segredo que ela está
guardando não precisa mais corroer sua alma. Ela pode sair da escuridão, para
a luz, e então, Deus me ajude, estarei pronto e esperando por ela quando ela o
fizer.
Por enquanto, a única pergunta que ela faz é esta: ─ Se isso aconteceu
semanas atrás, por que eles não disseram nada? Por que não me disseram que
ele foi atacado?
Digo a ela o que sei, tentando não adoçar os fatos. ─ Nos primeiros dias
depois que ele foi deixado no hospital, eles não sabiam quem ele era. Ele não
tinha identificação com ele, e seu rosto estava, um pouco inchado além de
qualquer reconhecimento. Em seguida, a Polícia Militar fez a ligação e o
transferiu para uma unidade médica do Exército. Seu pai ficou consciente
tempo suficiente para insistir que não queria que lhe contasse o que havia
acontecido. Depois disso, ele foi colocado em coma induzido para que ele
pudesse se curar. Meu contato diz que ele não pode acessar mais informações
sem levantar bandeiras vermelhas, então é tudo o que posso dizer.
Depois do que fiz, espero que ela recue de mim, mas ela não recua.
Não espero nada dela. Não a toquei desde que falamos sobre o que
aconteceu com ela em Tel Aviv. Não sexualmente, de qualquer maneira. Eu a
beijei e a segurei, mas fora isso eu estava esperando que ela fizesse o primeiro
movimento. Ela faz isso agora, estacionada ao lado de uma fileira de olmos,
colocando a mão diretamente em cima do meu pau e dando-lhe um aperto tão
forte que chega a ser doloroso.
─ Quero saber como você vai se concentrar quando eu tiver seu pau na
minha boca, então, ─ diz ela. ─ Dirija.
─ Sim.
─ Correto.
─ Perfeito. Sem calças. Quero sua bunda nua em cima dessa pintura nos
próximos três segundos, ou vou fazer você desejar ter mantido suas mãos para
si mesma, Stillwater.
Ela hesita, mas apenas por uma fração de segundo. Ela sai do carro. Eu a
sigo atrás dela, pronta para persegui-la ao redor do carro se ela se comportar
mal, mas ela pula no capô do Mustang e se apoia nos cotovelos, me dando um
olhar tentador e provocador que faz minhas bolas latejarem. Deus, eu quero
fodê-la tanto.
─ Você vai ficar aí parado? ─ ela pergunta, sua boca se curvando em um
sorriso sugestivo.
Eu sei as respostas para a última pergunta, embora finja não saber. Mais
fácil fingir do que encarar essa verdade. Que, até agora, eu não fiz para um ser
humano muito bom, honrado ou gentil, e essa nova pele que me vejo vestindo
agora parece um terno bonito que roubei. Não me pertence, e em algum
momento alguém vai querer de volta. Ele se encaixa em mim, no entanto. E eu
gosto de usar isso. Não vou tirá-lo sem lutar.
O som brilhante de sua risada me faz querer rir também. ─ Tenho certeza
que você teve muitas garotas espalhadas pelo capô deste carro, ─ ela reflete.
─ O que? Não? ─ Ela ri de novo, o som ecoando alto sobre as copas das
árvores que ladeiam a estrada. ─ Eu não acredito. Eu sou a primeira?
─ Tão ganancioso, ─ diz ela, provocando os dedos pelo meu cabelo. Suas
bochechas estão brilhando, no entanto. Eu não a vi tão silenciosamente
satisfeita antes, e isso transforma minhas entranhas na porra de gelatina.
Ela balança a cabeça. ─ Continue com isso, Jacobi. Você não sabe como
é rude deixar uma garota esperando?
Eu puxo sua calcinha para um lado, expondo sua buceta. ─ Aí. E você
sabe o quanto eu odeio ser rude.
Ela engasga quando eu passo minha língua sobre ela. Não demora muito
para tê-la ofegante e se contorcendo em cima do mustang. Seus dedos dos pés
se enrolam e se desenrolam reflexivamente enquanto eu provoco a merda dela,
usando movimentos leves e intencionais com a ponta da minha língua para
deixá-la louca. Ela treme e estremece debaixo de mim tão lindamente que é
quase o suficiente para me fazer chorar.
Ela conhece meu jogo. Eu quero mantê-la aqui assim, vulnerável, presa
em uma posição altamente comprometedora e balançando à beira de gozar
enquanto eu puder me safar. Posso não ser mais o príncipe frio, insensível e
cruel da Riot House, mas ainda posso ser um bastardo quando quero ser. Eu
cavo meus dedos em seus quadris e na deliciosa gordura de sua bunda,
esmagada contra o carro, e espero meu tempo.
─ Deus por favor…. Por favor... Por favor... Wren! Deixe-me gozar!
Não falta muito pra ela gozar agora, no entanto. Posso ouvir o ronco
distante de um motor vindo pela estrada. Usando as pontas dos meus dedos, eu
a preparo, mergulhando dentro de sua boceta, apreciando o jeito que ela agarra
meu cabelo e puxa um pouco demais. Meu pau parece que está prestes a
explodir, mas posso esperar.
─ Por favor, Wren, ─ ela implora. ─ Deus por favor. Eu preciso de
você. Eu... eu quero você dentro de mim pra caralho.
Mais perto. Mais alto. Quem quer que esteja subindo a estrada está quase
em cima de nós.
A buzina soa. Alguém se inclina para fora da janela e grita algo ininteligível,
mas eu seguro firme. Elodie recua, assustada, tentando se cobrir, mas eu a
seguro pelos quadris, rosnando um aviso. ─ Termine, ─ eu ordeno. ─ Fode
minha mão, Elodie. Fode.
Ela se abaixa entre as pernas e pressiona meus dedos mais fundo dentro
dela, levando minha mão para ela. ─ Porra! Wren! Meeer... ─ Suas pernas
puxam para cima em direção a seu estômago. Ela rola para o lado, pressionando
a testa no meu ombro, tremendo violentamente enquanto tenta sobreviver à
bomba nuclear que acabou de explodir dentro de sua cabeça.
─ Oh... meu... Deus, ─ ela ofega. ─ Ai meu Deus.
Rindo, ela cobre o rosto com as mãos. ─ Como isso aconteceu? Fui
eu quem estava tentando ser má com você.
Ahhh, Cristo. Essa menina aqui. Viro a cabeça para o lado, mordendo de
brincadeira o lóbulo de sua orelha. ─ Você já deve saber, Pequena E. Você pode
tentar ser má. Mas sempre posso ser pior.
Uma vez que ela retorceu sua linda bunda de volta em seu jeans, nós
pegamos a estrada. Ela reclama amargamente que eu não vou deixá-la cair em
cima de mim, mas eu sei que vou parar direto na porra de uma árvore se eu
deixá-la em qualquer lugar perto de mim. Eu tenho que jurar que vamos passar
o resto da noite nus no meu quarto na Riot House para apaziguá-la.
─ O que você... fez... com meu... pai, ─ ela gagueja, lutando por cada
palavra.
Poooooooorra.
Tudo afunda.
─ Elodie. Porra.
─ Eu sinto muito.
Ela tira minha mão direita do volante, levanta meu braço e se aproxima
do meu lado, escondendo o rosto no meu peito enquanto chora ainda mais. ─
Não se desculpe. É a coisa mais romântica da porra do mundo inteiro.
36
Elodie
Uma semana depois
O convite é preto, com um design de veludo macio que parece pecado sob
meus dedos. Os arabescos dourados gravados no cartão grosso são lindos. Eu
o seguro contra a luz, me perguntando quando ele colocou isso debaixo da
minha porta. Wren não fez menção de me convidar para a festa. Há conversas
em toda a academia sobre isso, mas por alguma razão nem sequer surgiu entre
nós.
─ Eu não sei. Tudo parecia estar indo tão bem, e ontem ele desistiu do
jantar. E então esta tarde recebo uma mensagem estranha e vaga, me dizendo
que ele não pode sair mais porque sua carga de trabalho triplicou na
faculdade. Sair mais! Como se estivéssemos apenas brincando. Ele me disse que
estava apaixonado por mim há uma semana, Elle. Como uma pessoa pode se
apaixonar e desapaixonar em tão pouco tempo? Isso é um record filho da puta.
─ Eu sei! Ele não é esse tipo de cara. Que é como eu sei que Dashiell teve
algo a ver com isso. Eu sei disso, Elodie. É tão típico dele, interferir e se
intrometer nos assuntos de outras pessoas. Ele não suporta mais ninguém
sendo feliz.
Ela geme ainda mais alto. O travesseiro é jogado do outro lado da sala. ─
Por que ninguém nesta escola tem drogas boas? Foda-se o uso recreativo. Você
pensaria que pelo menos metade de nós seria medicada para nossos distúrbios
de ansiedade muito reais.
Posso garantir que alguém na Riot House tem o tipo de alívio químico que
ela está procurando. De jeito nenhum estou sugerindo que ela vá bater na porta
deles, no entanto. ─ Vai ficar tudo bem, querida. Andre é um idiota se não quer
ficar com você. E você vai arrasar nessas atribuições. Você é uma vadia
má. Nenhuma dúvida sobre isso.
EU: Engraçado.
EU: Sim. Estava debaixo da minha porta quando voltei para o meu
quarto. Você não sentiu vontade de esperar por mim?
WREN: Nós jogamos esses jogos estúpidos. Adoraria dizer que sou
inocente, mas não sou. Eu costumava gostar de foder com as pessoas
tanto quanto Dash e Pax. Às vezes, as coisas saíam um pouco do
controle. Já humilhamos muito as pessoas no passado. Isso é o que eles
estão esperando de mim desta vez, também.
WREN: Não é tão simples. Devo muito a Dash e Pax. Eu não estava
sozinho em Tel Aviv, lembra? Eu os coloquei no inferno no passado, e
eles sabem muitos dos meus segredos. Coisas que ainda não te
contei. Talvez devêssemos nos encontrar...
EU: Você deveria ficar com garotas nessa coisa? É por isso que você
não me quer lá?
Meu batimento cardíaco está pairando em algum lugar por volta de uma e
meia. Eu não posso acreditar... porra, eu não posso acreditar depois de todo o
tempo que passamos juntos, e Wren me dizendo que ele está apaixonado por
mim, e todas as promessas que fizemos um ao outro naquela porra estúpida de
Country Inn, ele está puxando essa merda para mim agora. Horrivelmente,
parece que estou prestes a terminar ou algo assim, e não acho que aguento ouvir
isso agora. Levanto da cama onde estava assistindo TV no meu laptop e começo
a andar pelas tábuas do chão, para frente e para trás, para frente e para trás, para
trás e...
***
Por que ele não respondeu à pergunta que fiz naquela mensagem de
texto? Se ele não está planejando brincar com outras garotas nesta festa, então
por que ele simplesmente não diz isso?
É Dashiell.
E Carina.
Porra!
─ Você não tem nenhum direito! ─ É a voz de Carina, e soa como... ahh,
merda, parece que ela está chorando. Porra, esta é a última coisa que eu preciso
– ser pega escutando esta conversa. Pelo menos parece que ela está lhe dando
o inferno por mexer em seu relacionamento com Andre.
─ Você tem razão. E sinto muito — murmura Dashiell. A acústica dentro
do gazebo deve ser ridiculamente boa. Sua voz é baixa e profunda, mas posso
ouvi-lo perfeitamente. Eu realmente tenho que sair daqui. ─ Eu só não quero que
nada disso volte para nos machucar, ok?
Ah. Idiota. Ele tem um jeito engraçado de mostrar a ela que se importa. Se
ele não queria que nada voltasse para machucá-lo, ele não deveria ter arranjado
para Carina encontrar ele com uma garota chupando seu pau. Isso teria sido um
grande começo.
Tudo para.
Meu coração.
Meu cérebro.
─ Ele é perigoso, Dash. Você sabe que ele é. Não podemos permitir que
outra pessoa sofra por causa dele. Não porque somos covardes demais para
falar, pelo amor de Deus.
─ Olha, você não tem ideia do que está falando. Como você pode saber
que ela não estava chapada quando escreveu isso? Ela estava fora de si noventa
por cento do tempo, porra. Mercy cuidou disso. Basta jogá-lo no fogo e vamos
lavar as mãos dessa coisa toda.
─ Mas Elodie...
─ Eu sei que ela é sua amiga, Carrie, mas não conheço a garota. Se você
se importa tanto com ela, certifique-se de que ela fique bem longe dele. Não
deve ser muito difícil. Ele vai esquecer tudo sobre ela em breve, e então você
não terá mais que se preocupar com a segurança dela.
─ Como você pode ser tão frio? Como você pode estar tão distante disso?
O que diabos ele quer dela? E do que diabos eles estão falando? Eu arrisco
uma espiada por cima das roseiras, mas tudo que posso ver são os topos de suas
cabeças. O choro de Carina fica mais alto. ─ Está bem. Aqui, Lord Lovett. Você
sempre consegue o que quer, não é? ─ Eu nunca ouvi uma mágoa tão amarga
em sua voz. Nem antes, quando ela me disse que Andre a tinha largado por
mensagem de texto.
─ Eu não tenho ideia de porque você está protegendo ele assim, ─ ela
diz. ─ Ele não é seu amigo. Você sabe disso, certo? Ele pode agir assim, mas
ele só usa as pessoas para conseguir o que quer.
Carina corre para a noite e vejo que seu rosto está manchado de
lágrimas. Ela envolve os braços em volta de si mesma como se estivesse
fazendo o possível para se manter unida.
Graças a Deus, misericórdia das misericórdias, ela está de costas para mim
e não me vê fugindo de volta para os arbustos como uma maldita criminosa.
Ela funga, limpando o nariz com as costas da mão. ─ Você está falando
sobre o que ele fez? Ou o que você fez comigo?
Por um momento, Dash não diz nada. Acho que ele vai deixá-la ir embora
sem uma resposta dele, mas então ele toma coragem, olhando para o céu, e
assente. ─ Sim. Estou falando sobre o que eu fiz com você. Eu odeio isso,
ok. Eu odeio que eu machuquei você. Deixei as coisas saírem do controle e
tomei um rumo errado. Eu me arrependi disso todos os dias desde
então. Quando você vai me perdoar?
Carina.
Pobre Carina.
Ela pisca para ele, seu perfil pintado de prata pelo luar. ─ Quando você vai
aprender que sua posição na vida não lhe dá automaticamente o direito de fazer
tudo de novo sempre que você estragar tudo? ─ Ela parece a pessoa mais triste
do mundo enquanto se afasta dele. Isso é até que os ombros de Dashiell caírem
e sua cabeça cai, um suspiro cansado e abatido sai de seus lábios. Então, ele
reivindica esse título para si mesmo.
Eles poderiam muito bem estar falando em código; havia tanta coisa que
eu não entendia. Eu reuni um pouco de informação, no entanto, e informações
preocupantes.
É só quando o livro vira, caindo com uma pancada no chão à minha frente,
que percebo o que é.
Mara
5 DE JUNHO.
Palavras não podem descrever esse sentimento. Se alguém apontasse uma arma para
minha cabeça e me obrigasse a explicar o que está acontecendo dentro de mim agora, eu diria
a eles que estou feliz. E com medo. Realmente, muito fodidamente assustado. Mamãe me ligou
e disse que eu não deveria me envolver com meninos agora. Ela quer que eu me concentre no
meu trabalho, mantenha minha cabeça baixa e me concentre nas minhas notas. Ah! Okay,
certo. O que diabos ela sabe sobre a vida real? Ela está tão presa em sua própria merda que
ela não tem ideia de como é estar aqui, presa neste lugar, sem ter para onde ir e ninguém para
conversar. Poe entende. Poe sabe exatamente o que estou passando. Ele está aqui há muito
mais tempo do que eu. Ele é o único que ouve. Se eu não o tivesse, não sei o que faria.
Carina acha que sou louca por me envolver com ele. Ela acha que ele está muito
quebrado para sentir qualquer coisa, mas eu experimentei coisas com ele que ela nem pode
começar a imaginar. A proximidade. A maneira como ele me faz sentir quando ele me diz
que me ama. Ele não é quem as pessoas pensam que ele é.
Há momentos, no entanto. Momentos em que ele olha para mim como se quisesse puxar
minha alma para fora do meu corpo. Esses são os momentos que me fazem entrar em
pânico. Ele estará na festa, é claro. Temos que fingir que não há nada entre nós. Ele vai
beber e se divertir com aqueles garotos idiotas da Riot House, e eu vou ter que fingir. Fazer
como se ele não tivesse me encontrado esta manhã em nosso lugar secreto e me fodido sem
sentido. Eu sei que ele está com problemas. Eu sei que ele não é uma aposta segura e nada
de bom pode vir dessa coisa entre nós. Mas é tão difícil lembrar disso quando ele está dentro
de mim, beijando meu pescoço, sussurrando meu nome.
Se Carina soubesse o quão doce e gentil ele foi comigo, ela não diria as coisas que ela
diz sobre ele. Ela estaria do meu lado. Ela é minha amiga. Ela deveria estar do meu
lado. Essa é a coisa mais irritante sobre isso. Você deveria ser capaz de dizer qualquer coisa
aos seus amigos.
Só espero que ele não me machuque. Às vezes, quando estou deitada em seus braços,
sinto que ele pode fazer algo louco. Suas mudanças de humor podem ser assustadoras.
8 de junho.
Dia ruim. Eu peguei Poe olhando para Damiana. Ele diz que não está interessado
nela. Que ele nunca a tocaria, não importa o quê. Mas eu sei o olhar que vi em seus olhos. Ele
me olha assim o tempo todo. Ela estava flertando com ele depois da aula. Uma puta de
merda. Ela faria qualquer coisa para fodê-lo. Para pegar algo que me pertence. Se as coisas
fossem diferentes, eu não teria que me preocupar com essa merda. Um dia, seremos capazes de
ser abertos sobre como nos sentimos e ninguém ficará em nosso caminho. Eu só tenho que ser
paciente. Se os caras da Riot House descobrirem sobre nós, haverá um inferno para pagar.
9 de junho.
Eu não posso mais fazer isso. Eu quero ir para casa, mas mamãe está tão
delirante. Ela acha que estou exagerando, e eu só preciso me distanciar da situação. Mas como
posso fazer isso quando ele está sempre lá? Nos salões? Nas minhas malditas aulas? Sempre
olhando para mim, me observando como se eu fosse algo que ele quer comer.
Ele me machucou hoje. Eu o acusei de brincar com Damiana e ele me prendeu contra
a parede. Ele colocou a mão em volta da minha garganta e por um segundo, eu pude ver em
seus olhos. Ele queria quebrar meu pescoço. Por um segundo, ele enfiou os dedos na minha
pele, e eu vi a violência dentro dele. Foi assustador.
10 de junho
Não quero ir a esta festa estúpida. Eu sei que algo horrível vai acontecer. Eu posso
sentir isso em meus ossos. Usei o suéter para a aula hoje. O que Poe me deu ontem à noite
depois que eu o deixei no gazebo, e ele surtou quando me viu nele. Ele me fez levá-lo de volta
para o meu quarto e escondê-lo. Eu não tenho ideia do que está acontecendo com ele, mas essa
coisa toda está começando a me preocupar. Vou à festa e depois vou embora. Caso contrário...
eu sei que isso é estúpido, eu sou estúpida, mas estou preocupada que Poe possa me matar.
38
Elodie
SENTO-ME entre as páginas carbonizadas do diário de Mara com minha
alma sangrando por todo o chão. Isso não pode estar acontecendo. Há tantas
evidências no diário de Mara que me deixaram sem fôlego. Estou com muito
medo de reconhecer a maioria deles.
Poe?
Tudo isso...
Quantas vezes Wren me disse que não podemos contar a Dashiell e Pax
que estamos juntos?
E ele transou com Damiana. Carina me contou tudo. Ele transou com ela
um mês antes de eu aparecer no Wolf Hall. Faz sentido que ele tenha se
interessado por ela por um longo tempo, apenas para se cansar dela quando a
teve?
Mercy já deu a entender que Wren e Mara Bancroft estavam se
encontrando. Mas eles estavam fodendo? E ela estava com medo dele? Com
medo de que ele fosse matá-la. E então ela simplesmente desapareceu do
nada? O que diabos eu deveria fazer com tudo isso?
Muitas das páginas do diário de Mara estão tão queimadas que são
impossíveis de ler. O fogo destruiu grande parte da primeira metade do livro,
então nunca saberei o que ela escreveu lá. As chamas deixaram suas entradas
finais intactas, porém, e pintam um quadro condenatório.
Não ouvi a porta do gazebo abrir. Eu não o ouvi entrar. Eu fico muito,
muito quieta ao som de sua voz. ─ Elodie.
─ O diário dela. Ela não era muito consistente em escrever nele todos os
dias, mas conseguiu anotar a maioria das coisas importantes. Por que você não
me fala sobre ela?
─ Isso não é o que eu acho que é? ─ Uma gargalhada mordaz sobe e sai
da minha garganta. ─ Isso não é o que eu acho que é. Certo. O que é então,
Wren? Apenas alguma merda que uma garota festeira idiota inventou sobre
você? Eu pego um punhado de páginas soltas que caíram do diário de Mara,
amassando-as em meu punho. ─ Isso é uma merda muito fodida, Wren. Parece
que você a machucou. Parece que você é a razão pela qual ela desapareceu. Vai
me dizer que não teve nada a ver com isso?
A fachada calma que ele manteve até agora escorrega. ─ Você está
seriamente me perguntando isso? Jesus Cristo, E. Você acha que eu matei Mara?
─ Elodie. ─ Ele suga o lábio inferior em sua boca, seus olhos verdes -
olhos que têm sido suaves para mim ultimamente - se transformam em pedra
gelada. ─ Você não tem ideia do que está falando. Nenhuma ideia mesmo.
Sua mandíbula endurece. Ele está apertando com tanta força que eu vejo
a tensão em todo o caminho em suas têmporas. ─ Você realmente acha
isso? Você realmente acha que eu faria isso?
Na fração de segundo que levo para olhar de volta para ele, Wren vira as
costas e sai. Pânico chicoteia dentro de mim como um ciclone enquanto corro
de volta para o meu quarto. Meu coração não vai parar de trovejar. Assim que
fecho a porta e tenho certeza de que estou sozinha, corro até o parapeito da
janela e puxo o pedaço de madeira que esconde o esconderijo secreto de
Mara. No dia em que Mercy revelou este local e eu tirei o diário de Mara, Carina
não viu a caixa preta dentro com as flores de cerejeira pintadas. Ou o suéter
empacotado. Minhas mãos tremem como loucas quando me abaixo e pego os
dois itens, colocando-os no final da minha cama.
WJ
Wren Jacobi.
Estou congelada até o meu núcleo quando abro a caixa laqueada preta e
tiro um punhado de penas pretas.
39
Elodie
EU FAÇO isso no dia seguinte de alguma forma. Eu respondo a Carina
quando ela fala comigo, mas tudo o que vejo no fundo da minha mente é ela
parada com Dashiell do lado de fora do gazebo, segurando seu cardigã apertado
em volta do corpo, falando sobre o que aconteceu com Mara, e sua preocupação
de que isso possa acontecer comigo também. Ela se lamenta e reclama de
Andre, e eu faço todos os barulhos apropriados. Finjo que estou ouvindo, e
tropeço de uma aula para outra, me perguntando o que diabos devo fazer agora.
Estou destruída.
Eu não vejo Wren. Não vejo nenhum dos rapazes da Riot House. Todos
os três estão notavelmente desaparecidos de Wolf Hall, embora ninguém pareça
notar sua ausência. Eles estão se preparando para a festa hoje à noite, tenho
certeza. Embora porque nenhum dos professores tenha feito qualquer tipo de
comentário sobre sua evasão escolar seja um maldito mistério.
─ Elodie, temo ter más notícias. Parece que... ─ Ela não sabe para onde
olhar. ─ Seu pai esteve envolvido em algum tipo de acidente, Elodie. Ele estava
em um bar em Tel Aviv, e três homens o atacaram. Eles o agrediram em um
beco e o espancaram muito severamente. Eu sei que isso deve ser um choque
para você, mas parece que ele ficou paralisado durante o ataque.
─ Agora, também foi um choque para mim que isso tenha acontecido há
tanto tempo. Normalmente, somos imediatamente informados se algo
acontecer com os membros da família de um aluno, mas por algum motivo os
militares decidiram não nos informar sobre este incidente, até esta tarde. Parece
que os ferimentos do seu pai foram complicados devido a um derrame que
sofreu dois dias depois de ser internado no hospital. Ele ainda está vivo,
respirando sozinho, mas temo que não responda a estímulos externos. Os
médicos estão trabalhando com ele diariamente, mas estão dizendo que ele
entrou em algum tipo de estado de fuga. Ele está totalmente acordado, mas...
isso pode ser difícil de ouvir, então peço desculpas, mas... ele parece estar preso
dentro de sua própria mente. Você está bem, Elodie? Você entende o que estou
lhe dizendo?
─ É natural que você queira ir e estar com ele, Elodie. Eu posso ver o
quão traumatizada você está com esta notícia. Mas ele está sendo cuidado em
uma instalação do exército, e eles disseram que, como você é menor de idade,
não há como voltar para Tel Aviv sozinha. Seu pai assinou a guarda para nós
aqui na escola enquanto você estuda conosco, então temo que você tenha que
ficar aqui até que o Coronel Stillwater se recupere o suficiente para sair do
hospital. Eu sei que essa é provavelmente a última coisa que você quer ouvir,
mas estou pedindo sua ajuda com isso. Eu sinceramente espero que você não
cause problemas porque você não pode...
─ Está bem. Compreendo. Vou cumprir as regras. Eu não vou causar
nenhum problema.
Um termo tão estranho para ela usar. Ela não estava com medo. Ela ficou
incomodada e preocupada, e está ansiosa para resolver esse assunto
rapidamente para evitar que tome mais tempo.
Eu, por outro lado, tenho medo há muito tempo. Esta notícia muda tudo
isso. Parece que nunca mais vou ter que ter medo do meu pai. E isso é tudo
graças a Wren. Flutuei ao longo do dia, tão entorpecida e desligada do meu
entorno, que não parei para analisar se estou com medo dele agora.
Elodie
QUANDO VOLTO para o meu quarto, a porta do meu quarto está aberta. E
ali, sentada na ponta da minha cama, está Mercy Jacobi. Ela parece tão fora de
lugar empoleirada em cima do meu edredom rosa escuro, mas ela parece ter se
sentido perfeitamente em casa. Ela sorri como um gato Cheshire quando me vê
na porta.
Eu faço uma careta para ela; parece ser a coisa mais segura a fazer. ─
Fantasia? Eu não tenho uma fantasia.
─ Wren comprou uma para você, boba. ─ Ela sacode a cabeça na direção
de uma bolsa preta e dourada pendurada na parte de trás da porta do meu
armário. ─ Eu estava na casa mais cedo, deixando um pouco de bebida e gelo,
e vi meu querido irmão mais velho fazer um buraco na parede do quarto com
as próprias mãos. Parece que ele está bastante chateado. Por acaso você não
saberia nada sobre isso, não é?
Deus, ela é boa nisso, em todo o fingimento. Eu suspeito que ela sabe tudo
sobre mim e Wren e ainda está fingindo ignorância. ─ Eu não tenho ideia do
que está acontecendo com ele. Quem sabe o que está acontecendo com
Wren. Ele está permanentemente chateado, ─ eu digo.
─ Ah não. Você tem que ir! Todo mundo vai. Você quer ser a única
pessoa em todo o seu andar, sentada em seu quarto como um saco triste,
enquanto todos os outros se divertem?
─ Eu não estou de bom humor, Mercy. Você pode, por favor, tirar a bolsa
de roupas do meu quarto? Se Wren quisesse que eu a tivesse, ele mesmo teria
me dado.
Porra.
Então, ela sabe sobre o que aconteceu no gazebo. Duvido muito que Wren
tenha contado a ela, mas quem diabos sabe? Já errei muitas vezes antes. Tipo,
uma quantidade ridícula de vezes. Wren poderia ter contado a Dashiell, que
então contou a Mercy? O que importa, porra, como ela sabe? Ela apenas faz.
─ O convite disse oito, mas eu recomendo vir por volta das nove, ─ diz
ela. ─ Ajuda a fazer uma entrada quando você está lutando com um cara como
meu irmão. E puta merda, você vai fazer uma entrada vestindo essa fantasia.
***
É linda.
É lindo demais.
É muito.
Eu sabia que se apaixonar por alguém como Wren era perigoso, mas foda-
se. Eu não esperava acabar soluçando na peça de roupa mais cara que já segurei
em minhas mãos, me preocupando que ele pudesse ter assassinado outra
garota. A garota que costumava dormir no meu quarto. Deus, a simetria de tudo
isso é terrível demais para sequer pensar.
E então eu estalo.
Eu mereço saber.
Duro de ficar deitada no chão por tanto tempo, minhas costas reclamam
quando me sento e abro a gaveta de baixo da minha penteadeira. Ali, enfiada
entre minhas camisas dobradas, está a pequena caixa branca que Carina deixou
encostada na minha porta cinco dias atrás. Eu olho para a linda mulher de
cabelos negros na frente da caixa, me perguntando se serei capaz de fingir um
sorriso tão grande quanto o dela quando eu entrar pela porta da frente da Riot
House.
Elodie
O VESTIDO CAI COMO UMA LUVA. Mesmo quando alguém tem suas
medidas específicas, é raro encontrar um vestido que caiba tão bem. Foi preciso
muito esforço para entrar e exigiu a ajuda de Pres para amarrar corretamente na
parte de trás, mas depois de terminar tudo, até tenho que admitir que ficou
incrível. Eu pareço incrível. Além do vestido, parece que estou me olhando pela
primeira vez em três anos quando estou na frente do espelho do meu quarto e
observo meu reflexo.
─ Eu gosto disso. Acho que gosto disso, ─ diz Pres, recuando, batendo o
dedo indicador no queixo. Ela está vestindo uma fantasia de Beetlejuice feita de
pijama listrado preto e branco, muita sombra preta e uma peruca de Albert
Einstein. ─ Foi um choque no começo. Estou acostumada com você
loira. Sabe, é estranho, mas cabelo escuro combina melhor com você agora que
estou vendo.
Pintei meu cabelo de volta para a minha cor natural no meu quarto, apenas
me abaixando brevemente no banheiro para enxaguá-lo quando o cronômetro
do meu celular tocou. Ser morena novamente é como voltar para casa. Eu
recuperei uma pequena parte de mim que foi tirada de mim. Assim, sou a pessoa
que deveria ser o tempo todo e não a estranha que meu pai tentou criar.
24
Iguaria feita de massa folhada em forma de caixinha que são recheadas com carne, peixe, frango ou
legumes.
com certeza que Wren não teria pedido essa merda, e eu também não acho que
vol-au-vents sejam o MO de Pax.
─ Você quer uma bebida? Vou pegar uma cerveja, ─ Pres grita por cima
do ombro.
─ Deus, não comece, ─ ela reclama. ─ Você está começando a soar como
Carina. Oi, olha! Lá está ela! Carina!
De jeito nenhum. De jeito nenhum Pres acabou de ver Carina. Mas quando
olho para o outro lado da sala, minha amiga está de pé ao lado de uma das
pinturas de Wren, vestida com um tutu roxo e um corpete de babados com uma
pequena cartola equilibrada na cabeça. Há cartas de baralho enfiadas na fita do
chapéu e penas verdes brilhantes.
─ Uau. A fantasia dela é foda. Ela é a chapeleira maluca. Vamos lá, vamos
dizer oi.
Eu puxo minha mão do aperto de Pres, dando um passo para trás. ─ Não,
eu...
Muito tarde.
Carina olha para cima e me vê, e seu rosto fica da cor das cinzas. Pior
ainda, o cara com quem ela estava falando se virou, e baixou e eis que...
É Wren.
Ele não está fantasiado. Ele está vestindo seu uniforme preto habitual –
camiseta preta e jeans pretos gastos. Absolutamente zero esforço de sua parte
para participar da competição de fantasias, então. Seus olhos se arregalam
quando ele me vê, ao lado de Presley. Ele rompe com a conversa que estava
tendo com Carina, entrando na multidão, abrindo caminho em minha
direção. Pânico cego embaralha meu cérebro. ─ Ah, desculpe-me. Preciso
encontrar um banheiro.
─ Elodie, espere e eu vou com você! ─ Pres grita atrás de mim. Eu não
estou ouvindo ela, no entanto, e tenho certeza de que não estou
esperando. Sinto que estou presa em um carrossel enquanto abro caminho
através da pressão de corpos. Meu coração não para de bater. Demora uma
eternidade para encontrar um banheiro no primeiro andar, mas felizmente
quando encontro não há fila. Eu mergulho para dentro e tranco a porta atrás
de mim, inclinando-me contra a madeira, tentando recuperar o fôlego.
Claro que ele iria me encontrar. Eu esperava que pudesse levar mais tempo
do que isso, no entanto. Preciso de um tempo para pensar. Preparei uma série
de perguntas que ia fazer a ele, mas estou tateando no ar agora. A única coisa
que passa pela minha cabeça é a descrença. Carina veio para a porra da festa. Ela
jurou que não viria, e ainda assim lá estava ela, vestida com esmero, tendo o que
parecia ser uma conversa muito amigável com o cara que batia na porta do
banheiro.
─ Vá embora, Wren.
─ Apenas me dê um minuto!
Deus, por favor, vá embora. Por favor, vá embora. Por favor, vá embora.
─ Não! Jesus Cristo, Elodie, qual é. Não tive nada a ver com o
desaparecimento de Mara. Eu não toquei nela, ok?
─ Então como você explica o diário? Tudo o que ela escreveu nele
apontava para você. E o suéter que ela tinha em seu esconderijo? Ela tinha
punhados de penas em uma caixa também. Penas exatamente como a que você
me deu.
Wren faz uma careta, passando as mãos pelo cabelo. ─ Que suéter?
Ele balança a cabeça. ─ Eu... eu não sei como ela teve isso. Eu tive uma
dessas coisas por cinco segundos no ano passado, e então sumiu. Eu não sabia
o que diabos aconteceu com isso. E as penas... porra, eu não sei o que te dizer,
Elodie. Ela sabia que eu as colecionava. Talvez ela as estivesse guardando para
mim. Eu juro que não deixei uma única pena para ela, muito menos um
punhado delas. Há tanta coisa que você não sabe, ok? Sobre Mara e o que
aconteceu na academia no ano passado. Eu prometo que vou te contar. Vou
explicar cada detalhe sórdido. Mas até que possamos nos sentar e conversar
sobre isso direito, por favor, apenas... você tem que acreditar em mim. Eu não
a machuquei.
Ele parece tão miserável. Meu estômago revira, náusea rolando através de
mim em uma onda. ─ Como diabos eu deveria acreditar em uma única coisa
que você diz? Como vou ouvir essa história que você está escondendo de mim
e aceitar que é a verdade?
Ele parece tão aliviado. Quase me dói ver esse tipo de expressão
desesperada em seu rosto. Ele acena com a cabeça, fazendo uma careta
profunda. ─ Bom. ─ Virando-se, ele sai do banheiro e caminha direto para o
caos do outro lado da porta. É uma loucura lá fora, todos os alunos do Wolf
Hall se acotovelando e empurrando uns aos outros, tentando passar uns pelos
outros. Eu não consigo descobrir para onde eles estão indo até que eu saio do
banheiro e fico encostada na parede da porta da frente, observando enquanto
todos eles se reúnem ao pé da escada.
Elodie
EU NÃO TORÇO. Eu fico rígida como uma estátua, observando a
insanidade ao meu redor com distanciamento atordoado. Quinze metros à
minha direita, Carina emerge da sala, roendo as unhas. Ela não parece tão
animada com o que está acontecendo nas escadas como todo mundo. Ela está
focada inteiramente em mim.
─ Elodie, posso falar com você lá fora por um momento? ─ ela pergunta.
─ Elle, por favor ─ Ela tenta me pegar pela mão, mas eu me afasto.
Ela não vai encontrar meu olhar. Não que eu esperasse que ela fizesse
isso. Suas bochechas ficam vermelhas brilhantes. ─ No ano passado, todos
tiveram que foder o máximo de pessoas que pudessem antes do final da
festa. Essas coisas sempre envolvem sexo. Esta é a primeira vez…
Ela não consegue terminar sua declaração. Viro as costas para ela, enojada
com as implicações do que ela já me disse, doente do estômago e não querendo
ouvir o resto.
─ Você tem até as três da manhã, ─ Wren grita sobre o novo burburinho
de barulho. ─ Até então, boa caçada. E estejam avisados. Haverá lobos esta
noite, caçando suas presas.
Ela olha para Dashiell enquanto ele pega uma máscara e a coloca sobre a
cabeça. ─ Quando um garoto da Riot House fala sobre caçar presas, Elodie,
eles definitivamente estão falando sobre sexo.
43
Wren
─ O QUE diabos você pensa que está fazendo?
Eu rio, porque sua raiva parece simplesmente estúpida nele com seu
chapéu inclinado em um ângulo tão alegre. ─ Eles podem ficar com meu quarto
por tudo que eu me importo. Vou dormir no quarto dos fundos da
Cosgroves. Nada demais.
─ Você não vai se mudar, ─ Dashiell sibila do outro lado da sala que
usamos para jogar Call of Duty. Fui arrastado até aqui pela gola da minha camisa
no momento em que as pessoas começaram a sair da casa para começar a
caçada. ─ O que diabos deu em você, cara? Você não é o cara com quem
começamos essa coisa. Francamente, não te reconheço mais. Se você não
tivesse colocado aquela última cláusula com as máscaras de lobo, haveria um
inferno para pagar.
Deus, ele é tão previsível. Uma festa da Riot House não é uma festa
adequada, a menos que haja um monte de sexo anônimo. ─ Eu não ia adicionar
essa parte. ─ Eu empurro Pax para longe. ─ Mas eu sabia que vocês dois se
sentiriam enganados se não molhassem seus paus.
─ Vamos todos transar esta noite, Jacobi, ─ Pax cospe. ─ Você, inclusive.
O riso borbulha no fundo da minha garganta novamente. ─ O que, você
vai me fazer foder uma fila de garotas? Sério?
Pax gira para Dash, jogando as mãos no ar. ─ Porra, você lida com ele. Já
tive o suficiente.
Dashiell não diz nada. Ele está com as mãos nos bolsos, me observando
em silêncio por um segundo. Então ele diz: ─ Isso é sobre Elodie, não é?
─ Sim.
─ Deus nos salve! ─ Pax ruge. ─ Você não está apaixonado por aquela
garota, Wren. Ela não está fodendo nada. Ela é apenas uma francesinha que...
A dor dispara pelo meu braço, gritando na articulação do meu ombro. Pax
atinge o chão de bunda primeiro, deslizando pelas tábuas do assoalho. Em meio
segundo, estou em cima dele, agarrando-o pela garganta, enrolando-me para
acertá-lo novamente. Estou mortalmente calmo. ─ Diz. Continue e
diga. Termine essa porra de frase.
Olho para Dashiell, esperando que ele confirme a ameaça de Pax. Ele
permanece visivelmente silencioso.
Estou tão fodidamente feito com isso. A Riot House costumava ser um
santuário para mim, quando Dash, Pax e eu nos tornamos amigos, mas não
passou de uma prisão nos últimos meses. ─ Sim. Elodie é minha
namorada. Pronto. Porra, eu disse isso. E vocês dois podem aceitar isso de bom
grado e seguir em frente, ou podem encontrar quartos na academia. Aja de
acordo.
Eu vou sair, mas Dashiell me agarra pelo braço. ─ Você acha que é tão
fácil romper essa amizade, Wren? Não é. Há um maldito general do exército
em coma do outro lado do mundo agora, porque concordamos em fazer algo
que poderia nos prender pelo resto de nossas vidas. Se não for executado em
uma porra de um pelotão de fuzilamento.
─ Isso deveria ser algum tipo de ameaça, Lord Lovett? Porque eu fiz muito
por você que resultaria no mesmo resultado e mais um pouco.
Elodie
O AR DA NOITE é fresco. As árvores farfalham, sussurrando entre si
enquanto eu contorno a borda da floresta, subindo a estrada de volta para Wolf
Hall. Eu aguentei quinze minutos em uma festa da Riot House e agora preciso
de um banho. Eu me sinto suja. Sinto-me enganada, e quero minha mãe, mas
não posso tê-la por que ela está morta.
─ Elodie, qual é, agora. Por favor. Você não está sendo muito justa.
─ Justa? ─ Eu me viro, pronta para arrancar sua cabeça. ─ Você não pode
puxar o cartão 'você não está sendo muito justa' para mim, Carina Mendoza. Eu
pensei que você fosse minha amiga, e você esteve escondendo coisas e
mantendo segredos de mim esse tempo todo. Você jurou que ia levar aquele
diário para a polícia. Você nem me contou nada sobre Mara em primeiro
lugar. Você disse que não viria aqui esta noite. E, surpresa, surpresa, o que você
fez?
─ Você não me disse que estava vendo Wren, ─ ela responde, seus olhos
duros como sílex.
─ Sim. Eu sei que foi uma merda, mas eu não senti que poderia te
dizer. Não havia razão para você me manter no escuro sobre Mara, havia?
Um grito alto ecoa entre as árvores, o som meio animal, meio
humano. Nós duas paramos, olhando para a escuridão como breu, e os cabelos
se arrepiam na parte de trás do meu pescoço. ─ Porque alguém iria correr lá
para a floresta sem luzes do caralho, ─ eu murmuro. ─ Não faz nenhum
sentido.
Carina suspira. ─ A febre da cabana é uma coisa muito real, Elle. Você
está na academia há apenas alguns meses, mas tente viver aqui por alguns
anos. Você começa a ficar um pouco louco. Você não entende. Se você é um
estudante do Wolf Hall, os caras da Riot House são um grande negócio. Eles
dão o tom para o ano inteiro. Se você é um cara, você quer ser eles. Se você é
uma garota, você quer sair com eles. É assim que sempre foi. Então, quando
eles fazem merdas estúpidas como essa, todos estão sempre tropeçando em si
mesmos para participar.
─ Foi isso que aconteceu na noite em que Mara desapareceu? Ela estava
tentando participar de qualquer jogo idiota que eles estavam jogando?
─ E daí? Eu deveria apenas andar por aí e fazer papel de boba como todo
mundo? É isso que eles esperam?
Huh. Sim, está certo. Wren não me queria na festa. Ele me queria tão
longe dessa coisa quanto humanamente possível. Bem, Wren vai ter que
aprender que ele nem sempre vai conseguir o que quer comigo. Eu defini minha
mandíbula. ─ Quer saber, Carina? Talvez eu me junte a este jogo
estúpido. Assim não haverá mais segredos. Eu saberei se ele dorme com metade
da academia. Eu saberei exatamente o que aconteceu e ninguém mais será capaz
de esconder nada de mim!
─ Elodie! O que diabos você está fazendo? Espere! Elle, você não
pode ver nada!
─ Oh sim. Claro. Como você parou de amar Dashiell? É tão simples, não
é? Apenas um toque de um interruptor? Eu vi como você olhou para ele do
lado de fora do gazebo na outra noite.
Ela jura um pouco mais. ─ Está bem, está bem. Desacelere um pouco,
sim? Graças a Deus eu usava sapatilhas. Como diabos você sabe para onde está
indo?
Eu aponto para o céu claro da noite espreitando através dos galhos das
árvores acima, recusando-me a dar-lhe a cortesia de realmente olhar para ela. ─
Eu sei ler as estrelas. O bom e velho coronel Stillwater me ensinou,
entre tantas outras coisas. Quem diria que um dia viria a calhar. Estamos indo
para sudoeste. Se eu quiser voltar para a estrada, será fácil. Agora, fique quieta
ou volte para Wolf Hall. De qualquer forma, terminei de falar.
***
Carina grita a plenos pulmões toda vez que um aluno vem saindo da
escuridão segurando um maço de bandeiras vermelhas de Wren em suas
mãos. A coisa toda me lembra de um passeio assombrado que os pais de Levi
nos levaram no Halloween dois anos atrás, onde atores cobertos de sangue
saíram correndo da noite, brandindo motosserras, tentando nos assustar. Eu
gritei então, apreciando o espetáculo de tudo isso, mas isso não é um
espetáculo. É a merda mais estúpida de que já ouvi falar e não posso acreditar
que as pessoas estão participando disso.
Carina se senta ao meu lado. ─ Veja. Me desculpe por não ter contado
tudo, ok. Eu te amo, Elle. Você é minha amiga. Eu me importo com você, e
tudo o que aconteceu com Mara foi uma bagunça. Eu não queria que sua
experiência em Wolf Hall fosse tão fodida quanto a nossa, ok?
─ É por isso que você me disse para ficar longe de Wren, ─ eu digo
entorpecida. ─ Você não queria que ele fizesse nada de ruim para mim.
Sua testa enruga, sua testa marcada com confusão. ─ Não. Quero dizer,
eu te disse... Wren estava na casa na noite da festa. Ele realmente não saiu. Ele
e Mara terminaram antes mesmo de começarem. Ela não aceitou a
princípio. Ela continuou seguindo-o como um cachorrinho perdido. Então, do
nada, ela simplesmente superou isso um dia. Tipo, do nada. Ela estava agindo
muito estranho. Mercy disse que descobriu que estava saindo com alguém, mas
nenhuma de nós conseguiu descobrir quem poderia ser. Ela veio à festa e
parecia perfeitamente feliz. Ela nem falou com Wren. Estávamos todas nos
divertindo. E então... em um minuto ela estava lá... no próximo ela se foi.
Eu não acho que ela está mentindo para mim. Eu realmente não acho. Eu
também não acho que Wren esteja mentindo para mim agora, o que é a coisa
mais confusa do mundo para analisar, dadas todas as evidências que apontavam
para ele. Eu só estou... estou tão fodidamente cansada de tentar entender essa
coisa. Minha cabeça dói e estou presa no meio de uma floresta, porra, vestindo
uma fantasia de fada brilhante, e nada faz sentido!
Ela sorri. Acenos. ─ Aquela festa em particular foi estranha. Eu sabia que
algo estava acontecendo no momento em que entrei pela porta. Todos estavam
mais reservados do que o normal. Perguntei a Mercy o que estava acontecendo,
e ela me disse que...
Wren
VASCULHO a casa de cima a baixo.
Eu dirijo até a academia e abro a porta do quarto dela. Ela também não
está lá. Mas meu suéter da Wolf Hall Academy está. Está pendurado no encosto
da cadeira perto da janela, e no momento em que ponho os olhos nele, lembro-
me da última vez que o usei. Ele volta correndo para mim de uma só vez como
um tapa na cara, e o pavor se enrola como uma víbora na boca do meu
estômago. Usei-o uma semana antes da última festa da Riot House, porque
estava frio e eu estava encontrando alguém no gazebo.
Elodie
─ PAX, PARE DE BRINCAR.
─ Bem, você sabe onde o cara dorme à noite. Você pode resolver
quaisquer problemas que tenha com ele mais tarde em casa. Acho
que meus problemas com ele são um pouco mais urgentes do que os seus.
Eu franzo a testa, olhando para o cara. Ele com certeza não é Dashiell. O
punhado de cabelo em seu peito é escuro. O cabelo de Dash é muito mais
claro. Também não é Wren. Ele nem tem cabelo no peito. Um relâmpago de
algo como pânico persegue minha espinha.
─ Quem…?
De repente, Carina está ao meu lado, enfiando seus dedos nos meus. ─
Nós mantivemos seu segredo, ta bem, ─ ela sibila. ─ Ficamos de boca
fechada. Você jurou que não faria isso de novo.
Doutor Fitzpatrick.
Doutor Fitzpatrick?
Sempre tão simpático e atencioso nas aulas. Sempre divagando sobre os
poetas, dando trabalho a Wren, dizendo-lhe para se sentar ereto. Lendo o pornô
vitoriano de Wren para a classe, tentando envergonhá-lo. Estou tão confusa,
parece que meu cérebro está derretendo pelos meus ouvidos. A torção maldosa
nas feições do doutor o faz parecer um estranho. Alguém que eu nunca conheci
antes. ─ Awww. Pobre Elodie. Ele não te contou, não é? ─ ele zomba.
─ Me contou o quê?
─ Que ele e eu estivemos juntos por um tempo. Pouco tempo, claro, mas
ele só precisava de algum tempo para perceber. Ele e eu somos almas
gêmeas. Nós deveríamos estar juntos, porra. Mas você o conhece. Ele é
teimoso. Às vezes ele não vai admitir algo a menos que esteja em sua agenda. É
por isso que ele não disse que te ama ainda, Elodie.
Minha boca parece que está cheia de algodão. Não consigo fechá-la. Estou
tendo dificuldade em entender o que estou ouvindo. ─ Ele me disse que me
ama, ─ sussurro.
─ Ele não disse isso, ─ ele cospe. ─ Ele nunca diria isso. Ele não
pode. Wren não é capaz de amar uma garota como você. Ele precisa de mais do
que vestidos estúpidos e bobos e botas Doc Martin desalinhadas e perguntas
idiotas para debate. Simplesmente não tem jeito.
Não há como o homem parado na minha frente ser são. Ele não pode
ser. Ninguém em sã consciência estaria apontando uma faca desse tamanho no
rosto de alguém e reclamando do jeito que ele está reclamando se eles tivessem
a compreensão mais fraca da realidade. Eu deveria dizer algo para acalmá-lo,
mas esse é um jogo perigoso. Uma linha tão tênue para tentar andar na corda
bamba, e o Doutor Fitzpatrick é um louco de alto desempenho. Ele tem que
ser para ter enganado o mundo por tanto tempo.
Fitz ri, jogando a cabeça para trás. ─ Deus, você é tão importante pra
caralho, não é? Ai minha cama. Meus preciosos livros. Minhas coisas. Wah,
wah. A reitora Harcourt deixou na gaveta de sua mesa, então eu a peguei de
volta. Eu tenho essa faca há muito tempo, sabe. Eu realmente não queria deixá-
la ficar com isso para sempre.
O professor de inglês sorri, torcendo a faca em sua mão para que a luz
reflita em seus dentes serrilhados. ─ Eu posso ter mexido com ela um pouco,
eu admito. Ela não era meu tipo, mas foi divertido enganá-la para pensar que
eu queria estar com ela. Eu só queria que ela ficasse bem longe de Wren, mas...
─ Ele dá de ombros, rindo baixinho. ─ Ela era tão crédula. Não como você,
hein, Elodie. Não, você é inteligente. Inútil juntar tudo agora, no entanto. É
tarde demais para isso.
47
Wren
─ UAU! Onde está sua máscara? Achei que você fosse gostoso como um
lobo, Jacobi.
─ Pare, Dami.
Seu olhar satisfeito fica azedo. ─ Foda-se Elodie, Wren. Quantas vezes
você precisa ouvir? Eu...
─ Calma, irmão mais velho. Gostando do seu joguinho? ─ Ela sopra jatos
gêmeos de fumaça pelo nariz.
─ Huh. Há um choque.
─ Eu não tenho tempo para trocar socos com você agora. Apenas me diga
se você a viu.
Eu sinto vontade de gritar. ─ Você sabe perfeitamente bem por que estou
bravo com você! Toda essa bagunça é culpa sua!
Ela se vira para me encarar, raiva em seus olhos. ─ Do que diabos você está
falando? Eu não fiz nada de errado.
Pela primeira vez em anos, lágrimas brilham nos olhos de Mercy. Ela
nunca demonstrou um pingo de remorso pelo que fez. E, por mais real que
pareça, não vou acreditar que essa demonstração de emoção seja real
agora. Mercy sempre ligou o sistema hidráulico para conseguir o que quer. ─
Você tem razão. Ela era minha amiga. E sim, eu disse algo que não deveria. Mas
eu estava tentando ajudá-lo a se livrar de uma situação em que você nunca
deveria ter sido burro o suficiente para se meter em primeiro lugar. Cristo,
Wren, você nem gosta de caras. Que porra você estava pensando?
Eu não deveria tê-la evitado por tanto tempo. Deveríamos ter discutido
isso meses atrás, mas eu estava com raiva demais para sequer olhar para ela. Eu
ainda me sinto daquele jeito. ─ Olha, eu não posso ficar aqui discutindo com
você sobre minha orientação sexual quando Elodie está em perigo. Fitz está
aqui, e acho que ele está procurando por ela. Eu tenho que encontrá-la
primeiro. Se você não vai ajudar, então é aqui que eu te deixo.
Eu corro por entre as árvores, indo para o norte. Meus olhos estão
acostumados ao escuro agora. Estou firme e rápido enquanto acelero o ritmo,
meus sentidos em alerta máximo.
─ Jesus, Wren! Espere! ─ Mercy chama atrás de mim. Faço uma pausa
longa o suficiente para deixá-la me alcançar. Ela está ofegante e sem fôlego
quando pula de uma pedra, chegando ao meu lado. ─ Já que você nunca me
deu a oportunidade de me redimir, acho que vou ajudá-lo a encontrar sua
namoradinha boba.
─ Isso não vai nos tornar quites, Mercy. Não por um longo tempo.
Ela faz beicinho, revirando os olhos para mim do jeito que ela sempre faz
desde que tínhamos cinco anos. ─ Está bem. Que seja, idiota. Mas você tem
que concordar que é um começo. Agora lidere o caminho. Eu sabia que havia
uma razão para eu usar tênis hoje à noite.
***
Os minutos passam. Então uma hora. Por volta de uma da manhã, cheguei
à conclusão de que vai ser fodidamente impossível vasculhar toda essa área e
encontrar uma garota. É insanidade. Mesmo com Mercy gritando o nome de
Elodie a plenos pulmões, é improvável que vamos tropeçar nela.
─ Ela não está aqui, Wren, ─ Mercy diz. ─ Ela é pequena, e ela não pode
pesar cem quilos encharcada. Que negócio ela teria participando de uma de suas
caçadas idiotas? Aposto cem dólares que ela está naquele café horrível, bebendo
milk-shakes e comendo batatas fritas com Carrie Mendoza.
─ Você não sabe nada sobre Elodie, então que tal você ficar de boca
fechada, hein? Eu sei que ela está aqui. Eu só sei. E mesmo que ela não esteja,
eu ainda vou rastejar sobre cada centímetro quadrado desta floresta para ter
certeza. Fitz me disse que estava vindo para ' se juntar à diversão'. Se houver uma
chance de que ele possa machucá-la, então eu vou impedi-lo.
─ O ponto de que?
─ Nojento, ─ é tudo o que Mercy tem a dizer sobre o assunto. Eu sei que
ela foderia Pax se tivesse uma chance, então seu comentário deve ser
direcionado a Pres. Dou-lhes um amplo espaço, contornando uma enorme
pedra para evitar passar direto por eles.
Elodie
A COISA SOBRE KRAV MAGA? O sistema foi projetado para treinar as
Forças de Defesa de Israel como desarmar um atacante com uma
arma. Especificamente, uma arma ou uma faca. Eu poderia tirar a faca bowie de
Fitzpatrick dele em três movimentos curtos, mas estou ganhando tempo. Ele
tem tanta certeza de que tem controle total sobre a situação que está falando,
contando todos os seus segredos como um vilão em um maldito filme de Bond,
e eu quero aprender o máximo que puder antes de quebrar seu pulso e fugir.
Ele soa animado. Ele não esqueceu o que eu disse a ele antes, no
entanto. Ele não acredita que Wren confessou seu amor por mim, e agora ele
está tentando me convencer de que estou errada. ─ Ele estava mentindo para você,
sabe. Ele pegou seu arquivo do escritório da Reitora Harcourt. Roubou sua
foto. Ele estava planejando brincar com você. Você sabia disso?
─ Sim, eu sabia disso. Ele me contou tudo. Eu sei tudo sobre sua pequena
obsessão quando nos conhecemos. As coisas mudaram, no entanto. Tornou-se
real. Para nós dois. ─ Talvez eu devesse parecer um pouco menos
entediada. Uma fração mais assustada? Não me entenda mal; estou
absolutamente me cagando, mas também estou confiante de que serei capaz de
lutar pelo controle da situação quando chegar a hora. E eu quero apertar um
pouco os botões do doutor. Empurra-lo para o outro lado da raiva apenas o
suficiente para que ele fique desleixado. Carina olha para mim, me dando um
olhar severo que fala muito. Que porra você está fazendo, garota? Não o
antagonize. Você vai matar nós duas!
─ Olhos na frente, Carrie. Boa menina. Não gostaria que você tropeçasse
e quebrasse o pescoço, não é? ─ Comanda Fitz.
─ Ele me disse que eu era a primeira pessoa que ele amou. O que temos é
especial, ─ digo em um tom arejado. ─ Eu nunca pensei que um cara como
Wren iria se apaixonar por uma garota como eu. Mas o jeito que ele olha para
mim às vezes... ─ Suspiro sonhadoramente. ─ Vamos morar juntos quando
formos para a faculdade. Vai ser incrível. Nós vamos...
Eu desço com força. Com as mãos amarradas nas costas, não tenho como
amortecer a queda. O impacto envia dor estridente através de mim da cabeça
aos pés. Bem, merda. De bruços na terra, me pergunto vagamente se empurrei
um pouco demais. Doutor Fitzpatrick paira sobre mim, rosnando em meu
ouvido. ─ Mantenha sua boca de puta fechada, Elodie. A menos que você
queira acabar sangrando nessa sujeira, aqui e agora.
49
Wren
NO MOMENTO EM que viro a primeira esquina, vejo uma luz à
frente. Minha esperança aumenta. Talvez ela não tenha me ouvido chamar por
algum motivo. Pode ser que Elodie esteja logo à frente, matando tempo antes
de voltar para Wolf Hall. Eu tropeço, tropeçando nas rochas invisíveis que
cobrem o caminho estreito, mal me apoiando nas paredes ásperas e afiadas
enquanto corro para a frente.
─ Elodie? ─ Eu deveria ter contado tudo a ela quando tive a chance. Foi
tão estúpido da minha parte esconder isso dela. Ela precisava saber a verdade,
para que pudesse estar preparada para o que estava se metendo. Eu fui um
covarde, no entanto, eu fui fraco. Demorou muito para ganhar sua
confiança. Eu estava tão convencido de que poderíamos chegar à formatura
sem que Fitz descobrisse sobre nós. Que idiota eu fui. ─ ELODIE! ─ O grito
vai ainda mais longe desta vez, saltando pelo interior da caverna.
Antes que eu possa respirar fundo e chamá-la novamente, saio para uma
caverna aberta e de teto alto. A luz que acabei de ver vem de uma série de
lâmpadas elétricas, penduradas ao longo de um lado da parede. A água escorre
pela rocha áspera, acumulando-se em poças imundas no chão. E ali, bem no
meio da caverna, há um pedestal de pedra, erguendo-se da terra.
Nem um pedestal.
Um altar.
─ Santo... porra.
─ Meu Deus!
Eu puxo minha mão para trás, quase pulando para fora da minha
pele. Mercy está na abertura da caverna, olhando para o corpo da garota que
costumava ser sua amiga. O choque distorce os planos de seu rosto. Mesmo
com a luz fraca das lâmpadas elétricas, posso ver como ela está pálida. ─ Jesus,
você quase me deu um ataque cardíaco! ─ Eu assobio.
Um crack alto ecoa pela passagem atrás de nós — soa como uma pedra,
deslizando pelo chão e batendo na parede. Mercy e eu trocamos um olhar
atordoado. ─ Se esconda, ─ ela sibila. Mas é muito tarde. Não há onde se
esconder. A caverna é onde a caverna termina, e está vazia além do pedestal.
Então, faço o que deveria ter feito há muito tempo.
Elodie
CARINA SOLTA UM GRITO ESTRANGULADO. É assim que eu sei que algo
ruim nos espera à frente. As paredes da passagem se fecham, jurando que vão
me esmagar até a morte, enquanto o Dr. Fiztpatrick me empurra por trás, me
empurrando por uma abertura na caverna. E meu coração para morto no meu
peito.
Wren.
Seus olhos se arregalam quando ele me vê, cheios de terror, e então eles
ficam totalmente em branco. Atrás de mim, o doutor Fitzpatrick solta uma
gargalhada surda e surpresa. ─ Bem, bem, bem. Olha quem é! Estávamos
falando de vocês, não estávamos, meninas? Mercy também. Uau, nós temos
toda a turma.
Wren olha para mim, seus olhos jade subindo dos meus pés, viajando pelo
meu corpo; eu posso dizer que ele está me avaliando por lesões. Dou-lhe um
rápido aceno de cabeça para que ele saiba que estou bem. Ele dá um passo à
frente, deslizando as mãos nos bolsos. Um gesto tão normal e cotidiano
de Wren. ─ O que está acontecendo, Wes? O que você está fazendo?
─ Você não está em seu juízo perfeito, ─ sussurra Wren. ─ Você precisa
de ajuda.
Mercy está branca como um lençol. Ela olha de Wren para o doutor
Fitzpatrick, seu corpo inteiro tremendo incontrolavelmente. ─ Eu... eu não...
sabia que isso aconteceria.
Mercy salta. É como se ela tivesse esquecido que eu estou aqui. Wren
franze a testa, mas ele rapidamente entende o que estou fazendo. ─ Sim,
Mercy. Você é família. O sangue é mais espesso que a água, não importa o que
aconteça. Então apenas... vá. Não diga uma palavra do que você viu aqui esta
noite.
Peço a Deus que Mercy tenha descoberto que precisa chamar a polícia no
momento em que receber a recepção em seu celular. Ela precisa ser capaz de
encontrar o caminho de volta para a estrada primeiro, e eu honestamente não
acho que ela será capaz. Ela se arrasta ao redor do perímetro da caverna,
olhando Fitz com cautela.
Eu deveria ficar de boca fechada, mas é claro que não. ─ Espere. Por que
não deixa Carina ir com ela? Carina não tem nada a ver com isso. Ela não se
importa com Wren. Eu sou a única com quem você tem problemas.
Fitz vira a faca bowie em sua mão, sorrindo como um maníaco. Ele
balança a cabeça, desapontamento em seu rosto. Ele corta Mercy, movendo-se
para bloquear a saída da caverna. ─ Vocês são atores terríveis. Mercy, eu
esperava mais de você. Você teve treinamento real nisso. Você deveria se
envergonhar. Volte com seu irmão. Vá, vá. ─ Mercy recua quando ele levanta a
faca, mostrando a lâmina. Ela está de volta ao lado de Wren em um flash, e eu
não a culpo também, o brilho maligno nos olhos de Fitz é fodidamente
demoníaco.
─ Parece que chegamos a um impasse, não é, turma? Wren, você não está
disposto a admitir seus verdadeiros sentimentos. Mercy, você não pode ser
confiável, mesmo que você deva ter os melhores interesses de seu irmão no
coração. Carina, você é uma vítima das circunstâncias, e Elodie, bem, Elodie
simplesmente precisa morrer. Então, para onde vamos a partir daqui?
─ Somos quatro. ─ Wren olha para mim com o canto do olho. ─ E apenas
um de você. As chances de você conseguir segurar todos nós antes
de te derrubarmos são bem pequenas. ─ Ele se move para frente, estendendo
as mãos em um gesto calmante. O horror puxa as feições de Fitz. ─ Do que
você está falando? Eu nunca te mataria, Wren. Eu te amo. São apenas as meninas
que têm que ir.
Fitz salta para o lado, correndo em minha direção. A faca feia e brutal que
ele enfiou na minha cama está levantada em suas mãos, preparada para atacar. O
medo me eletrifica. O tempo desacelera. Estou pronta para ele. Eu espero até
o último segundo...
─ Não! ─ Três vozes diferentes gritam ao mesmo tempo, a palavra
ricocheteando pela caverna. Wren se lança para frente, alcançando o homem...
mas Carina está mais perto. Eu assisto, pés congelados no chão, enquanto ela
se joga nele, mas suas mãos ainda estão amarradas atrás das costas. Ela não tem
como detê-lo, além de inclinar o ombro e bater em seu corpo.
Ele vê.
─ CARINA, NÃO!
Ele vira.
Ele estará esperando por ela quando ela colidir com ele.
Ele está.
A faca vai...
A faca...
Eu não posso fazer nada além de gritar enquanto Fitz gira a lâmina e a
empurra para cima, direto no estômago de Carina.
51
Wren
CARINA, Carina,
Ele é mais velho que eu, para não dizer maior, mas eu sou mais forte. Uma
barra brilhante de dor queima meu braço. Sangue derrama sobre minha pele,
carmesim e jorrando, mas eu não deixo ir. Eu envolvo meu braço ao redor de
sua garganta, meus pés chutando a terra, lutando para me segurar enquanto
tento ficar atrás do bastardo. Se eu conseguir colocá-lo em um estrangulamento
adequado, poderei cortar seu suprimento de ar. Ele está lutando como o
próprio diabo, porém, e ele não vai largar a porra da faca.
Minha mão está tão escorregadia com meu próprio sangue que perco o
aperto em seu pulso. Fitz aproveita a oportunidade e ataca de volta, por cima
da cabeça. O aço afiado como uma navalha me pega na curva do pescoço, outra
chicotada de agonia queimando brilhante e quente, mas ainda assim não o
solto. Fitz choraminga, se debatendo, esfaqueando para trás de novo e de
novo. Eu me mexo, girando para evitar a ponta da arma.
Eu não dou a mínima para como deveria ser. Eu finalmente consigo ficar
atrás dele. Eu aperto meu aperto em torno de sua garganta, usando meu outro
braço como alavanca para aplicar pressão. ─ Me apunhale o quanto quiser,
Wes. Eu não vou te deixar ir até que você esteja respirando.
Espero que ela o estripe do caule ao esterno, mas não o faz. Ela gira a
arma, segurando-a pelo guarda, e derruba o pesado cabo de metal na cabeça de
Fitz com um estalo doentio.
52
Elodie
O FILHO DA PUTA ESTÁ DESMAIADO.
Mesmo depois que meu pai matou minha mãe e me prendeu naquela caixa
por dias, nunca pensei que teria coragem de matá-lo. Sem sombra de
dúvida, matarei Wesley Fitzpatrick se ele se mexer nos próximos minutos.
Carina estremece, suas mãos tremendo enquanto ela as segura contra seu
estômago. Mercy pensou que ela não estava respirando, mas ela está. Seus
suspiros por ar são rasos e ásperos, porém, e isso não soa bem. Ela não disse
uma palavra, apenas olha para mim, aterrorizada, com o branco de seus olhos
aparecendo enquanto seu sangue flui lentamente para fora da ferida de
aparência desagradável em seu estômago.
─ Nós... nós não devemos movê-la. Devemos obter ajuda, ─ Mercy geme.
Wren balança a cabeça. ─ Ela não vai conseguir. Aqui. Eu tenho ela.
Nós não vamos conseguir. Wren não vai. Simplesmente não há tempo.
Mercy está a quinze metros atrás de mim, mas eu a ouço gritar. ─ É Dash!
Ela bufa, dando de ombros. ─ Eu mandei uma mensagem para ele de volta
na caverna. Eu não sabia se tinha ido. Eu...
Ela para, lutando por oxigênio. Realmente não importa como Dash
sabia. Ele apareceu. Eu nunca estive tão grata por ver o bastardo. Estou tão
exausta que mal consigo manter os pés debaixo de mim quando chego ao
carro. Dash tem Carina em seus braços e ele a está deitando no banco de trás,
xingando como um louco. Seu rosto está cinza, seus movimentos frenéticos.
Wren tece, cambaleando para a lateral do carro. ─ Estou bem. Basta levá-
la. Não espere pela ambulância. Vai!
Eu percebo o quão ruim ele parece quando ele se ajoelha. Meu Deus. Puta
merda, puta merda, ele está coberto de tanto sangue. Há uma fenda aberta em
seu ombro, e sua camiseta está cortada. Seus braços foram cortados em
pedaços.
─ Eu estou... certo... estou... beeem, ─ ele insulta. Então seus olhos rolam
para trás em sua cabeça, e ele desmaia nos braços de Dashiell.
Ele correu.
Ele correu pela floresta para salvar Carina, e o tempo todo ele estava
sangrando também. Eu cubro minhas mãos com minha boca, sufocando um
soluço. Isso não está acontecendo, porra. Não pode ser.
Elodie
O ESCRITÓRIO DE POLÍCIA murmura em seu rádio, todos os negócios,
enquanto outra viatura rasga a entrada de automóveis em direção à Academia
Wolf Hall com suas luzes e sirenes tocando. Há cinco carros de patrulha aqui
agora, embora a maioria dos policiais que chegaram com eles já se foi. Eles
correram para a floresta, em direção ao sul para a junta escarpada de rocha que
agora pode ser vista acima das copas das árvores na luz da manhã, procurando
a caverna.
É quando o detetive chega e começa a nos fazer perguntas que estou muito
entorpecida para responder. Mercy é quem mais fala. Ela sabe mais do que eu
sobre Mara.
***
Wren
Eu me senti mal quando eles me colocaram na maca e me levaram para o
pronto-socorro. Eu me sinto muito bem agora, no entanto. Quaisquer drogas
que eles me deram devem ter sido potentes como o inferno, porque eu sinto
que estou flutuando em uma nuvem e meus ossos são feitos de algodão doce. A
polícia me questiona até que eu responda ao mesmo conjunto de perguntas
quinze vezes. Alguém vem me dizer que Carina está melhorando, o que eu sou
homem o suficiente para dizer que faz meus olhos arderem como loucos. Eu
descubro que Fitz foi preso logo depois disso, e tudo fica um pouco nebuloso.
─ Quando eu comprei aquele vestido para você, eu não pensei que você
fosse tratá-lo tão mal. ─ Ela está coberta de sangue da Carina. Dela. Talvez haja
um pouco do meu manchando o tecido para uma boa medida também. A saia
está rasgada em pedaços e metade dos cristais que foram costurados no corpete
estão faltando agora. Ainda assim, mesmo coberta de sujeira e parecendo que
ela acabou de lutar em uma guerra, ela é linda. Ela alisa as mãos na frente da
saia, pouco bom que isso faça.
─ Sim, bem. Admito que não cuidei muito bem dele no começo da
noite. E depois que as coisas derem errado com Fitz, bem... ─ Ela encolhe os
ombros. ─ Lamento que tenha sido arruinado.
─ Sim! Oh meu Deus, sim! É por isso que me sinto tão terrível.
Ela está hesitante no início. Assim que ela está ao meu alcance, eu a pego
pela mão e a puxo para mais perto para que ela fique sentada na beirada da cama
ao meu lado. ─ Se eu tivesse explicado tudo com Mara e Wes em primeiro lugar,
então não teríamos acabado nessa situação para começar.
Ela cuidadosamente estuda meu rosto; eu posso vê-la pensando sobre o
que ela quer dizer em seguida. — Então por que você não fez?
─ Ah! Não. Porque ele era um membro da porra do corpo docente, e toda
a coisa de aluno/professor é tão clichê. Gosto de me orgulhar de
ter alguma originalidade.
Eu não posso ler sua expressão muito bem, mas... bem, merda. Parece-me
que ela está se sentindo um pouco insegura. Mudando do meu lado, eu—oh
merda, não, isso não vai funcionar. Eu me deito contra os travesseiros,
cantarolando de exaustão. ─ Sempre me senti atraído por pessoas, Pequena E. O
gênero delas nunca importou. Mas tudo isso é irrelevante agora, de qualquer
maneira.
A ponte de seu nariz enruga. Ela brinca com meus dedos, acariciando os
seus sobre os meus, franzindo a testa levemente. ─ Por quê?
─ Você sabe por quê. Porque eu encontrei minha pessoa agora. Caso você
ainda não tenha percebido, você é o fim do jogo para mim, Elodie Stillwater. E
todo mundo no mundo inteiro pode ir comer um pau.
Epílogo
Wren
Duas semanas depois
─ Você tem certeza disso? Você sempre pode mudar de ideia, ─ resmunga
Pax. Ele está sentado no carro nos últimos vinte minutos, tentando conversar
comigo. Não tenho certeza de onde vem toda essa resistência, mas tenho
certeza de que ele é alérgico a mudanças. Tudo é o mesmo há anos. Só nós
três. E mesmo que todos nós ainda estejamos morando juntos e faltam apenas
alguns meses para todos nos formarmos, a ideia de alguém novo, alguém mais
permanente, entrando em nossa órbita oficial está trazendo-o para fora em
colmeias.
─ Está tudo bem para você. Você obtém sexo regular com esse arranjo. O
que obtemos? Nossas manchas no sofá roubadas? Estranhos tufos de cabelo
no chuveiro? Calcinha fodida com babados apanhada em nossa
lavanderia? Tampões no armário de remédios? Urgh.
─ Ela não está se mudando, idiota. Ela vai passar a noite nos fins de
semana. Vou me certificar de que ela guarde os absorventes para si mesma. E
não se preocupe. Ninguém ousaria roubar seu lugar no sofá.
Sinto que estou aconselhando uma criança traumatizada, cujo pai acabou
de começar a namorar alguém novo. A qualquer segundo agora, eu meio que
espero que ele faça uma birra e saia com o velho: ─ Eu não vou chamá-la de mãe!
─ Você não tem nada a dizer sobre isso? ─ Pax olha para Dashiell no
banco do passageiro.
Eu rio. Dash ri. A única pessoa que não está rindo é Pax. Ele está levando
essa reviravolta para sua rotina diária muito pessoalmente. ─ Tudo bem. Seja
como for, picas. Estou indo embora. ─ Ele sai do carro e caminha em direção
à entrada da academia, seus ombros puxados para cima em torno de suas
orelhas. Com o andar aparado e o balanço agressivo do braço que ele tem, até
mesmo seu andar parece chateado.
─ É melhor ele voltar, para o seu bem. Ele vai enlouquecer quando
perceber que você também tem namorada.
─ Não diga uma porra de palavra, ─ Dash diz em um tom muito sério. ─
Temos que ajudá-lo a dar um passo de cada vez. Ele já está sendo difícil o
suficiente. Viver com Pax, em plena crise existencial, não seria um momento
divertido.
O ' incidente ', como o corpo docente do Wolf Hall o chama, ainda é um
tema quente de conversa, e provavelmente será até o final do ano letivo. Não é
todo dia que um professor perde a cabeça e tenta matar um punhado de
alunos. Também não é uma ocorrência comum que um cadáver seja descoberto
no terreno da academia. Os alunos conversam e fofocam sobre os últimos
acontecimentos – o rosto de Fitz estampado em toda a internet, entrevistas dos
pais de Mara na CNN, relatos de que Fitz confessou seus crimes e não negou
nada – enquanto nos dirigimos para o inglês. Falou-se que a turma seria
realocada para outra sala de aula regular depois de tudo o que aconteceu, mas
houve tanta resistência dos alunos que Harcourt anunciou que ainda
poderíamos estudar lá, desde que os níveis de concentração ou notas não
sofressem por causa de nossas arredores. Pessoalmente, não dou a mínima para
onde faço minhas aulas agora que Fitz se foi.
Eu corro minha mão sobre meu peito. ─ Essa coisa velha? ─ Eu estou
brilhando como um idiota por causa do elogio, no entanto. Uma coisa é saber
que você está bem, eu estou. Desculpe - e outra coisa completamente diferente
quando a garota que você mais ama no mundo diz isso. Horrorizado, suspeito
que possa até estar corando. Corando, pelo amor de Deus. Quem diabos sou eu?
Eu me jogo no assento ao lado dela, e posso sentir o olhar de todos os
outros alunos na sala se concentrando em nós. Na frente da classe, Damiana
faz um som estrangulado e engasgado quando me viro, jogando minhas pernas
sobre o braço do sofá, deitando minha cabeça no colo de Elodie. Sua boca se
abre um pouco, um lampejo de surpresa em seus olhos, mas ela se recupera
rapidamente, brincando com as pontas do meu cabelo, enrolando-o em seus
dedos.
─ Se você não tomar cuidado, as pessoas podem começar a ter uma ideia
errada sobre nós, Jacobi, ─ ela brinca.
─ Oh sim? Quão rápido você vai voar pela sala se eu tentar te beijar na
boca? ─ Ela me dá um olhar que é meio desafio, meio zombaria.
─ Minha bunda permanecerá firme neste assento, não importa onde você
decida que quer me beijar. ─ Olho sugestivamente para o meu pau, incapaz de
resistir à oportunidade de provocá-la. Meu Deus, eu nunca vou me acostumar
com isso. Ela é tão linda. Tão fodidamente perfeita. Tão fodidamente
minha. Suas bochechas ficam rosadas, e eu tenho que lutar contra o desejo de
arrastá-la para fora da sala de aula e até seu quarto, para que eu possa foder seus
miolos.
Elodie ri contra minha boca. ─ Ok, você provou seu ponto. Você é
destemido. Acho que eles querem que paremos agora.
─ Ele... oh. Olá, turma. Rapaz, se você não se importa de largar essa pobre
garota, vou fingir que não vi nada disso. ─ Na frente da sala, uma mulher de
trinta e poucos anos paira ao lado do novo quadro-negro recém-instalado entre
as estantes de livros. Eu me viro no meu assento, me agachando no sofá ao lado
de Elodie, sinceramente fingindo estudar o teto. No entanto, assim como todos
os outros na sala, eu estudo a intrusa, observando-a. Ela é linda. Doce, como
se cozinhasse no fim de semana e alimentasse os pássaros do lado de fora da
janela da cozinha. Pego Dashiell dando uma cotovelada nas costelas de Pax -
uma cotovelada forte o suficiente para tirar o ar dele - mas Pax nem parece
notar. Ele está olhando para essa nova pessoa como se tivesse acabado de
revelar a face de Deus e não consegue desviar o olhar.
─ Classe, meu nome é Jarvis Reid. Pode me chamar de Jarvis. Como vocês
já devem ter imaginado, sou sua nova professora de inglês. Acabei de me mudar
de Nova York para Mountain Lakes e ainda estou descobrindo onde tudo está
na academia, então, por favor, tenham paciência comigo enquanto eu cuido do
terreno. Se um de vocês quiser me atualizar sobre o que está estudando, seria
um bom começo.
Pax fica de pé. Ele sorri o tipo de sorriso que destruiu os corações de
inúmeras supermodelos de Roma a Londres e vice-versa. ─ Olá Jarvis. Ficarei
feliz em ajudar.
Cristo.