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PROJETO DE REABILITAÇÃO, CONSERVAÇÃO E RESTAURO

CAMILLO BOITO
1836 (Roma, Itália) - 1914 ( Milão, Itália)

Arquiteto, escritor e historiador italiano

Maria Júlia Santana


QUEM FOI CAMILLO BOITO?
Desenvolveu seu trabalho em várias áreas do conhecimento se destacando
TÉORICO

como arquiteto, restaurador, historiador, professor e teórico. Suas


contribuições na área da Arquitetura e da restauração classificaram sua obra
como detentora de uma posição moderada entre Ruskin e Viollet-le-Duc.
Estudou na Academia de Belas-Artes de Veneza e lecionou Arquitetura na
Academia Real de Milão. Como arquiteto fez o Museu de Pádua e restaurou
muitos monumentos, entre eles a Igreja de Santo Antônio de Pádua.
INFLUÊNCIAS
Pietro Selvático
Devido à influência de Pietro Selvatico, Boito começou a estudar a
arquitetura italiana da Idade Média. Selvatico estava inserido no
contexto que apontava a arquitetura gótica como expressão do povo
italiano. No mesmo período que Boito, John Ruskin frequentava a
cidade de Veneza e mantinha um relacionamento profissional com
Selvatico, assim como, a Academia Veneziana considerava Viollet-le-
John Ruskin Duc um personagem de grande importância no estudo e difusão dos
conhecimentos sobre a arquitetura medieval. Foi apenas uma questão
de tempo para que as influências desses três homens interferissem nas
construções teóricas de Boito.

Viollet-le-Duc
Para Boito, Le-Duc apresentava posturas potencialmente danosas
na busca por uma unidade estilística, o que poderia alterar
irremediavelmente as feições dos edifícios, por outro lado, Ruskin
poderia deixar os edifícios deveras abandonados, podendo entrar
CAMILLO BOITO
em arruinamento.
A conservação é fundamental, devendo ser realizada de forma
rotineira e periódica, pois assim seria possível evitar as
restaurações, mais onerosas e invasivas. Porém, Boito ressalta
que as intervenções de restauro são necessárias para se preservar
a memória. Para tal, aponta oito princípios que devem nortear as
restaurações, evidenciando o tempo das intervenções, que difere
do estado de preexistência do bem. Para tal defende a
diferenciação dos materiais, o registro fotográfico de todas as
etapas da obra, placas com as datas das intervenções de
restauro, a exposição das peças suprimidas durante o restauro,
dentre outros.
OITO PRINCIPIOS

4- Exposição de
3- Supressão de
2- Diferenciar restos ou peças que
1- Diferença de elementos
os materiais tenham sido
estilo entre o ornamentais da
utilizados na dispensadas ou
antigo e o novo. parte
obra. eliminadas no
restaurada.
processo de restauro.

5- Incisão em 7- Exposição de
6- Colocação de
cada fragmento fotos, plantas e 8- Notoriedade
epígrafe
renovado com documentos onde se destacando o valor
descritiva da
um sinal observa o processo da autenticidade e
ação realizada e
indicando a da obra e publicação destacando o
exposta no
data e que é dos trabalhos de trabalho realizado.
próprio imóvel.
uma peça nova. restauro.
CAMILLO BOITO
Os restauradores devem compreender com maestria os estilos da arte a fim de intervir nas obras do
passado que estivessem mutiladas, alteradas ou arruinadas.

Esse conhecimento deveria ser utilizado para “corrigir” as velhas e más restaurações que tivessem
arruinado ou comprometido o valor artístico do conjunto como um todo.

Alertou para os perigos decorrentes dos completamentos e reconstruções, onde as ações do interventor
se inspiram na fantasia, no devaneio e na vaga idéia do que poderia ter sido a obra em sua originalidade.
Mesmo possuindo o conhecimento pleno dos estilos da arte e da arquitetura, o restaurador deveria
buscar no conjunto edificado (o testemunho de sua própria história) e nos documentos originais da obra
(desenhos, fotografias, plantas etc), as fontes primárias para sua proposta de intervenção, e, na falta
desses, utilizar o bom senso infringindo o mínimo de ações possíveis
O que viabiliza uma possível intervenção conservativa nos
edifícios antigos é estudá-lo nas suas mais variadas
condições morfológicas, estruturais e materiais. É um
método racional para identificar e preservar a mensagem
dos edifícios antigos e base de uma concepção que seria
CAMILLO BOITO

mais tarde denominada por muitos autores de restauro


filológico.

As intervenções deveriam conservar nos monumentos o


seu velho aspecto artístico e pitoresco entendendo isso
como respeito à materialidade do objeto.

Os complementos e adições, quando necessários, deveriam


demonstrar ser obras contemporâneas diferenciando-se
da matéria original sem colidir com o aspecto artístico do
monumento.
OS
RESTAUR "Mas o curioso é que, enquanto a nossa suprema sabedoria consiste em

ADORES compreender e reproduzir minuciosamente o passado da arte, e essa


recente virtude nos torna maravilhosamente adaptados para completar as
resultado de uma obras de todos os séculos passados, as quais nos chegaram mutiladas,
conferência que alteradas ou arruinadas, a única coisa sábia que, salvo raros casos, nos
virou livro resta a fazer é esta: deixa-las em paz, ou, quando oportuno, libertá-las das
mais ou menos velhas ou mais ou menos más restaurações. É difícil! Saber
fazer algo tão bem e ter de contentar-se em abster-se ou em desfazer! Mas
aqui não se discorre sobre conservação, que aliás é obrigação de todo
governo civil, de toda província, de toda comuna, de toda sociedade, de
todo homem não ignorante e não vil, providenciar que as velhas e belas
obras de engenho humano sejam longamente conservadas para a
admiração do mundo. Mas, uma coisa é conservar, outra é restaurar, ou
melhor, com muita frequência uma é o contrário da outra; e o meu discurso
é dirigido não aos conservadores, homens necessários e beneméritos, mas
sim aos restauradores, homens quase sempre supérfluos e perigosos."

BOITO, 2016, p. 36.


BASÍLICA DOS SANTOS MARIA E DONATO
Em 1858, Boito foi designado para a restauração da Basílica dos
Santos Maria e Donato, em Murano. Defendeu a preservação da
pátina, e a demolição dos elementos acrescentados ao longo do
tempo que se diferenciavam do estilo original da construção,
propondo que os novos elementos fossem edificados a espelho
da arquitetura pré-existente.
Apesar de se basear em documentações, desenhos e fotografias,
seus métodos de intervenção sofreram forte influência da
“restauração estilística” de Viollet-le-Duc, mas, paralelamente,
preservava aspetos da degradação natural das edificações
(pátina) como prova das marcas deixadas pelo tempo, invocando
assim um certo romantismo ruskiniano.

à esq., fotografia da basílica durante o restauro de Camillo Boito, c.


1860. À dir.,configuração após o restauro em fotografia recente.
Notar a ausência de alguns volumes ainda visíveis na estrutura e a
uniformização das aberturas em torno das arquivoltas valorizadas
por Ruskin (amarelo)em substituição às janelas termais(azul claro).
PORTA TICINESE
Em 1860, na Porta Ticinese, em
Milão, buscou alcançar a unidade
formal do monumento a partir da
formulação de um “modelo”
característico baseado em seu
estilo original.
Podemos dizer que comparado ao
conservadorismo Ruskiniano, em
não ofender a originalidade da
obra, Boito foi além se permitindo
“manipular” a matéria a partir de
seu aguçado senso crítico e extremo
conhecimento sobre as escolas e os
A esq., pintura de Lattanzio Querenaretratanto a Porta Ticinese,
estilos dos objetos restaurados.
1851; a dir.,fotografia após o restauro de Camillo Boito, c. 1860
Demolição dos volumes adossados e posterior recomposição da
torre, com coroamento por novas ameias
Construída na segunda guerra em meados
do século XV, foi residência da família
Marcello Si San Vidal, em 1940
pertenceu ao Arquiduque da Áustria que
morreu em meio a sua intervenção na
RESIDENCIA obra para passá-la à modernidade ,
CAVALLI - FRANCHETTI passando para as mãos do arquiteto
Giambattista tornando-o um dos edifícios
O último andar é removido para uma pequena emblemáticos do século XIX, em 1878 foi
abertura. adquirido pelo Barão Raimondo
Mantêm-se os mesmos acabamentos e varandas da Frenchetti, que o confiou integralmente a
fachada. Camilo Boito. a restauração da
A porta principal permanece com seus arcos, apenas
residência.
as janelas superiores são modificadas, sendo
convertidas em acabamentos.
ALTAR DE SANTO
ANTÔNIO DA PÁDUA
Foi construído por Donatello entre 1446 e 1453, é um
grande conjunto de esculturas de bronze, incluindo
sete estátuas. O passar dos anos fez com que perdesse
as suas características originais, pelo que Camillo
Boito interveio em 1895 reconstruindo o altar e
deixando-o como se encontra atualmente.
“Para bem restaurar é necessário amar
e entender o monumento... Ora, que
séculos souberam amar e entender as
belezas do passado? E nós, hoje, em
que medida sabemos amá-las e
entendê-las?”
Camillo Boito
REFERENCIAS
https://revistacontemporartes.com.br/2018/08/31/entre-a-intervencao-e-a-
conservacao-camillo-boito-e-os-aspectos-universais-da-restauracao/
https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.086/3049
https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/19.218/7636
https://prezi.com/p/yh8uzhyy4i-x/camilo-boito/
https://prezi.com/cvewceztdoq2/camillo-boito/
http://professor.pucgoias.edu.br/sitedocente/admin/arquivosUpload/17497/material/aul
a%2002%20Camillo%20Boito.pdf
BOITO, Camillo. Os restauradores. Traduzido por Paulo Mugayar Kühl. Beatriz Mugayar
Kühl. Cotia. São Paulo: Ateliê, 2016.
A importância da documentação arquitetônica para a Restauração: a experiência de
Camillo Boito

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