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O DESAFIO FINAL

RIXON RAIDERS 4
L A COTTON
CONTENTS

Rixon Raiders
Nota da autora

Prólogo
I. Segundo ano
II. Terceiro ano
III. Último ano
Epílogo

About the Author


O desafio final
L. A. Cotton

Copyright de The Endgame is you © L. A. Cotton, 2020.

Tradução: Andreia Barboza (L.A Serviços Editoriais)


Copidesque da tradução: Luizyana Poletto (L.A Serviços Editoriais)

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem
ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou
mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto


para o uso de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou
utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão
prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
RIXON RAIDERS

O problema com você


O amor está em jogo
O jogo da minha vida
O desafio final
NOTA DA AUTORA

Embora Cameron, Asher e Jason frequentem faculdades


americanas reais, todos os nomes, eventos e drafts são usados de
forma fictícia e não são, de forma alguma, baseados ou refletem
qualquer time, eventos ou processos existentes.
PRÓLOGO
Cameron
— ISSO QUE É VIDA — Asher falou enquanto se deitava na
espreguiçadeira, cruzando os braços atrás da cabeça.
Ele não estava errado.
A casa de sua família nos Hamptons era incrível. Ele, Jason e eu
já viemos aqui antes, mas desta vez era diferente. Melhor. Desta
vez, tínhamos nossas garotas conosco, e era nosso último verão
juntos antes de irmos para a faculdade. Hailee e eu iríamos para
Michigan na próxima semana para nos instalarmos antes das aulas
começarem. Jason e Felicity se mudariam para UPenn em algumas
semanas, com Asher e Mya do outro lado do rio, na Temple
University.
Era o fim de uma era. Sem Raiders, sem escola, mas uma nova
aventura.
Olhei para Jason, que estava sentado em uma cadeira, com os
cotovelos apoiados nas coxas e o queixo nos punhos.
— Elas vão ficar bem. — Ri, olhando para as garotas molhando
os dedos dos pés na água.
— Não é com elas que estou preocupado — ele resmungou. —
É com eles. — Jason inclinou a cabeça na direção de um grupo de
caras que estava olhando para nossas namoradas, claramente sem
saber que estávamos sentados ali.
— Você precisa relaxar. — Dei a ele um olhar penetrante. — Em
breve, estaremos na faculdade e você sabe que haverá muito mais.
— Argh, não me lembre. — Jason Ford, filho pródigo do futebol e
garoto de ouro de Rixon fez beicinho.
— Sério, você está preocupado com idiotas da faculdade? —
Asher perguntou. — Felicity fez uma tatuagem para você. Ela não
vai a lugar nenhum.
Jase recuou.
— Claro que não vai. Mas é a faculdade. O treinador Hasson era
exigente, mas será um nível totalmente diferente agora. Não posso
querer que ela se sente e espere por mim.
— Bem, não. Provavelmente, ela vai fazer aquela coisa chamada
amigos. Ouvi dizer que todo mundo está fazendo isso. — A risada
retumbou no peito de Asher.
— Vá se foder. — Jase chutou a espreguiçadeira, e Asher quase
saiu voando.
— Você vai mesmo ter que aprender a controlar a
possessividade, sabia? — perguntei.
— Se eu colocar uma aliança no dedo dela, todos os filhos da
puta vão saber que ela foi conquistada.
— Não seja estúpido, ele não vai... — Franzi o cenho. — Jase,
por favor, me diga que você não está realmente considerando isso.
Só temos dezoito anos.
— Como se você não fosse colocar uma aliança no dedo da
Hailee em um piscar de olhos.
Ele tinha razão.
Mas tínhamos tempo. Eu queria que nós dois aproveitássemos
um ao outro primeiro. Deus sabe que merecemos.
Jase saltou da cadeira.
— Vou matá-lo.
— Ei. — Pulei atrás dele, bloqueando o caminho. — Eles estão
só conversando. — Olhando para trás, vi o grupo de rapazes rir com
as garotas. Parecia inofensivo o suficiente... até que um deles foi
direto para Hailee.
— Vamos — grunhi, sentindo a possessividade me atingir.
— Acho que é melhor eu ir me certificar de que vocês dois não
façam algo est... Ah, merda, não. — Asher tirou os óculos escuros e
ficou boquiaberto, observando um dos caras se oferecer para
passar protetor solar nos ombros de Mya.
— Vou pegar os dois da esquerda. — Ele passou por nós. —
Vocês dois ficam com os outros.
Hailee
— Vamos lá, não seja assim. Só porque um cara está te esperando,
não significa que não podemos sair.
— Esse idiota está falando sério? — Mya arqueou uma
sobrancelha.
— Vadia, você deveria...
— Ah, caramba, não. Você não a chamou de vadia. — Flick se
aproximou do idiota e olhou para ele. — Meu namorado vai acabar
com você.
— Gostaria de vê-lo tentar. — O cara riu, olhando para seus
amigos.
— Podemos fazer isso — Jason, Cam e Asher se aproximaram
deles.
— Ah, oi, baby. — Flick sorriu. — Este é o Tom. Ele estava
dizendo que acha que devemos deixar vocês e sair com eles.
Mya me deu um olhar astuto. Flick era um pouco louca no que
dizia respeito a Jason. Era uma loucura, mas ela amava seu lado
alfa possessivo. Ela dizia que isso a deixava excitada, então não
fiquei surpresa por ela estar gostando disso.
— Flick — avisei, porque embora ela pudesse gostar de ver seu
namorado ficar chateado, geralmente não terminava bem para os
outros.
Cameron se moveu ao nosso redor, me puxando para o seu
lado.
— Oi. — Ele sorriu para mim como se fôssemos as únicas duas
pessoas na praia superlotada.
— Oi. — Passei os dedos sobre seu abdômen rígido, amando o
quanto sua pele estava quente. — Acho que deveríamos intervir —
sussurrei — antes que ele faça algo estúpido.
Jason estava cara a cara com o outro rapaz, com os olhos
semicerrados de um jeito perigoso.
— Sugiro que você vá embora.
O ar estalou ao redor deles e desejei que o cara obedecesse.
Este deveria ser um fim de semana relaxante antes de seguirmos
nossos caminhos separados. Não queria ter que ligar para Kent vir
libertar seu filho da prisão do condado por agressão.
Felizmente, o idiota deve ter reconhecido o surgimento do lado
sombrio de Jason, porque ele ergueu as mãos.
— Tudo bem, cara. Desculpa. — Eles começaram a recuar.
— Sim, é melhor você correr — Flick gritou.
— Sério? — retruquei. — Você precisa provocar?
Ela deu de ombros, se lançando nos braços de Jason. — É tudo
testosterona. Isso me deixa animada.
— Te deixa mais molhada. — Jase mordeu seu lábio inferior
antes de capturar sua boca.
— Eu amo vocês, mas isso foi muita informação — Mya
resmungou.
— Com inveja, linda? — Asher caminhou em sua direção. —
Porque tenho certeza de que posso ajudá-la com isso.
— Asher, não se atreva. — Ela recuou ainda mais, ficando na
beira da água.
— Você deveria saber que não deve me desafiar. Eu nunca
perco. — Ele piscou antes de ir para cima dela. Em um minuto Mya
estava lá e no próximo, estava por cima do ombro de Asher,
gritando como louca enquanto ele corria direto para o mar.
— Ele vai se dar mal — sorri, observando quando Asher a jogou
na água.
— Ele vai dar alguma coisa, com certeza. — Jason soltou uma
risada.
— Por que tudo tem a ver com sexo para os homens?
— E garotas. — Flick riu, levantando um dedo.
Revirei os olhos, incapaz de sufocar o riso crescendo em meu
peito quando Jase inclinou minha melhor amiga e a sufocou com
beijos molhados e relaxados.
Apesar de todos os seus modos alfa, eles eram muito fofos.
Mesmo que ela tivesse perdido completamente a cabeça e deixado
alguém tatuar Propriedade de um Raider na pele. Mas essa era
Felicity Giles, uma garota que amava de todo o coração e vivia cada
segundo como se fosse o último. Eu estava animada para eles irem
para UPenn e correrem atrás de seus sonhos. Mesmo se Cameron
e eu estivéssemos a uma viagem de nove horas em Michigan.
— Você está bem? — Cam colocou o braço em volta do meu
pescoço e olhou para mim.
— Estou, sim.
Tinha ótimos amigos.
O namorado mais perfeito.
E toda a nossa vida pela frente.
Cameron
— Somos sortudos. Vocês sabem disso, certo? — Asher apontou a
cerveja para onde as garotas estavam, rindo, conversando e
tomando os coquetéis doces que Felicity tinha insistido em fazer.
Depois de um dia na praia, voltamos para casa. O lugar tinha
uma churrasqueira grande demais para não ser aproveitada. Uma
nuvem de fumaça flutuava no céu enquanto Jase virava
hambúrgueres e bifes.
— Sim, eu sei. — Hailee chamou minha atenção e sorriu. Era
como um raio no meu coração.
Eu amava aquela garota. Eu a amava mais do que jamais amei
outra pessoa, e a ideia de começar minha vida com ela deveria ter
sido o momento mais feliz da minha vida. Mas eu sentia uma culpa
crescente por deixar Rixon, minha mãe, meu pai e meu irmão mais
novo, Xander. Minha mãe estava melhor, mas isso não parava o
medo que eu sentia toda vez que me imaginava a nove horas de
distância e recebendo uma ligação informando que ela estava
doente de novo, ou que Xander ainda estava tendo pesadelos.
Eu queria estar lá para eles sempre. Mas Hailee queria ir para a
Escola de Arte, especialmente a STAMPS, da Universidade de
Michigan, e ela merecia.
Ela merecia muito.
— Você está pronto para ser um Wolverine? — Asher perguntou.
— Acho que sim.
— Não parece muito animado com isso.
— É que não será a mesma coisa, sabe? — Dei um longo gole
na cerveja.
— Sim, ser Raider era algo especial, uma experiência única na
vida. Mas a faculdade vai ser boa, você vai ver.
Gostaria de ser tão descontraído quanto Asher. Mesmo depois
de tudo que ele e Mya passaram com o ex dela e com a mãe dele
sendo baleada, ele ainda conseguia sorrir.
Eu o invejava. Sua habilidade de sacudir a poeira e abraçar tudo
que a vida tinha a oferecer.
Eu queria isso. Queria mesmo. Mas o medo me impedia. Medo
do futuro... de tudo mudar.
Rixon era minha casa.
Mas Hailee era meu coração, e eu sabia que a seguiria para
qualquer lugar.
— Ei — Jase gritou por cima do ombro. — Os bifes estão quase
prontos.
— E essa é a nossa deixa para pegar a salada — Felicity
murmurou.
— E o molho. Não se esqueça do molho picante. — Asher sorriu.
— Ah, e traga picles e alguns daqueles...
— Baby — Mya o cortou. — Você tem pernas.
— Sim, mas estou supervisionando o Jase.
Bufei.
— Que bom que eu te amo. — Ela revirou os olhos de
brincadeira antes de sair atrás das garotas.
— Eu a amo pra cacete — ele disse, como se fosse a coisa mais
simples do mundo.
Mas eu entendia.
Todos nós entendíamos.
Éramos jovens. Três caras correndo atrás de seus sonhos de
futebol, fama e fortuna. Mas já tínhamos encontrado nossas garotas
eternas.
E isso fazia tudo valer a pena.
Cada coisinha.
Hailee
— Estou cheia. — Felicity se recostou, esfregando o estômago
inchado.
— Você vai ficar cheia mais tarde — Jason sorriu.
— Isso é uma promessa? — O desejo brilhou em seus olhos.
— Gente, sério? — gemi e Cameron apertou minha mão, lutando
contra um sorriso.
— O quê? — Ela deu de ombros. — Somos todos amigos.
— Certo, nós somos.
Jason pegou a cerveja e a ergueu.
— Não importa o que os próximos quatro anos tragam, vocês
sempre serão meus melhores amigos.
— Ahhh, também te amo. — Coloquei a língua para fora e todos
riram.
— Você não é tão ruim, Raine.
— Digo o mesmo, Ford.
Era difícil acreditar que houve um tempo em que Jason e eu não
podíamos nos suportar. Ele ainda me deixava louca às vezes, mas
eu o amava como um irmão. Ele era ferozmente protetor com
aqueles com quem se importava, e isso agora me incluía.
— Falando sério, gente, podemos não ser mais Raiders, mas
sempre seremos amigos. A distância não vai mudar isso.
— Fácil para você dizer — Cam falou, olhando entre Jase e
Asher —, vocês estarão a poucos passos de distância um do outro.
Ele riu, mas ouvi a tensão ali. Cameron estava indo para
Michigan por mim, por meu sonho, e não pude evitar a ponta de
culpa que senti. Ele me assegurou o tempo todo que era coisa certa,
mas não queria que ele se arrependesse.
Ou se ressentisse de mim.
Meus ombros afundaram.
— Ei. — Ele apertou minha mão, e eu o encarei. — Estou
brincando... foi uma piada.
— Eu sei.
— Você acha que ele realmente iria a qualquer lugar que você
não está? — Meu meio-irmão me perguntou.
— Jase — Flick avisou.
— Está tudo bem — falei, forçando um sorriso fraco. — Nove
horas não é nada. Ainda podemos nos ver no fim de semana e
feriados.
— Claro que podemos. — Asher apontou sua cerveja para nós.
— Nada, nem a faculdade, a distância ou o tempo, vai estragar isso.
Suas palavras pairaram sobre nós, tornando o ar espesso com
antecipação.
A faculdade era um grande passo. As coisas mudariam. Nós
mudaríamos.
Mas Asher tinha razão?
Os laços entre nós eram fortes o suficiente para sobreviver?
PART 1
SEGUNDO ANO
UM
Jason
— MUITO BEM, juntem-se — o treinador Faulkner nos chamou. Nós
nos posicionamos ao seu redor. Ombro a ombro, companheiro de
time a companheiro de time. A expectativa de uma nova temporada
estava espessa no ar. Na última como calouro, estive muito perto de
sentir o gosto da vitória, mas no final foi Cornell quem conquistou o
título.
Foi difícil de engolir. Eu queria ser o melhor, vencer, me provar.
Mas este ano... este ano era nosso. Estávamos sedentos por
isso: treinando mais forte, nos esforçando mais. Podia estar com os
Quakers só há um ano, mas me sentia em casa. Tínhamos
liderança e defesa fortes, e um dos melhores ataques de todo o
país.
Era o nosso ano de levar esse troféu para casa.
Então, a linha sombria no rosto do treinador fez um buraco no
meu estômago. Algo estava para acontecer. Algo que afetava a
equipe.
Puta merda.
— Tenho algumas novidades, rapazes, e vocês não vão gostar.
— Ele arrancou o boné dos Quakers e esfregou a mão no queixo. —
Manella está fora.
Um resmungo coletivo encheu o ar.
Lincoln Manella era nosso running back, nosso capitão. Era seu
último ano. Ele deveria entrar no draft, o evento de recrutamento
dos times profissionais, na primavera. Ele não poderia estar fora.
— Acabei de falar com seu pai. Ele rompeu o ligamento e
precisa de cirurgia.
— Puta merda — sussurrei, olhando para meu amigo Gio. Ele
contraiu os lábios em uma linha fina.
Isso era ruim.
Ruim pra cacete.
— Qual é o plano, treinador? — Jared Galloway, nosso zagueiro
titular e um dos jogadores mais experientes, perguntou.
— Precisamos de um novo capitão.
Todos os olhos se voltaram para mim.
— Opa. — Levantei as mãos e dei um passo para trás, batendo
em outro jogador. — Deve ser um veterano.
Havia caras na equipe que eram mais antigos do que eu e
tinham mais experiência. Só porque cheguei no ano passado como
um verdadeiro calouro, assumindo a posição de QB do jogador
sênior antes de mim, não significava que eu queria ou era
qualificado o suficiente para ser o capitão.
— Deveria ser você, filho. — O treinador inclinou o queixo em
uma confirmação firme. Ele acreditava em mim, confiava em mim...
e isso me surpreendeu.
Liderei a equipe do ensino médio, carreguei essa
responsabilidade com orgulho e tenacidade. Mas isso era diferente.
Isso era a faculdade.
— Eu concordo — Jared afirmou. — Você mais do que se provou
ano passado, Jase. Você pode ser só um aluno do segundo ano,
mas esta é a decisão certa.
— Alguém tem algum problema com isso? — O treinador
examinou os cinquenta jovens ao seu redor e nenhum deles se
adiantou para discordar.
— Decisão tomada. Parabéns, filho. — Um sorrisinho enfeitou o
rosto rude do treinador. — Você acabou de se tornar nosso líder
destemido.
A equipe explodiu em um coro de gritos e assovios enquanto
todos me parabenizavam pela promoção. Mas fiquei lá, surpreso,
completamente em choque, só com uma coisa na cabeça.
Por essa eu não esperava.
Felicity
Lábios quentes e úmidos percorreram meu pescoço, beijando e
mordendo, provocando. Um gemido suave escapou da minha boca,
me acordando da minha soneca enquanto eu inclinava a cabeça,
dando boas-vindas às deliciosas sensações.
— Senti sua falta — Jason sussurrou contra minha garganta.
— Faz só algumas horas.
Mesmo que parecesse mais.
— São muitas. — Ele soltou um suspiro exausto, inclinando meu
corpo nas curvas duras dele.
— Que horas são?
— Seis e meia.
— Porcaria. — Abri os olhos depressa. — Eu só deveria ter
tirado um cochilo de vinte minutos.
— Longo dia? — ele perguntou, acariciando meu pescoço
novamente. Eu adorava a sensação da barba por fazer de Jase
áspera contra minha pele macia, seus braços em volta do meu
corpo de forma possessiva, como se ele não conseguisse me soltar.
E eu não queria que ele o fizesse.
Esse cara era dono do meu coração e alma, e eu não os queria
de volta.
— Sim — admiti. O semestre só começou há duas semanas e as
aulas já estavam puxadas. Estremeci ao pensar em como as coisas
ficariam uma vez que as aulas práticas começassem.
— Você consegue, linda. — Jason mordiscou minha orelha,
provocando eletricidade em mim. — Você só precisa acreditar em si
mesma.
— Na verdade, eu me inscrevi para algumas aulas extras.
— Sério? — Eu o senti ficar tenso.
— Quase repeti no ano passado, Jason. — Franzi o cenho,
sentindo a decepção pesando em meu peito.
— Mas não repetiu — ele me lembrou.
— Não, mas este ano vai ficar ainda mais difícil.
Achei que meu amor pelos animais, dedicação ao bem-estar
deles e determinação para ter sucesso eram o suficiente. Acontece
que não eram.
— Ei. — Jason nos puxou para que eu ficasse de costas e ele se
inclinasse sobre mim. — Você consegue. — Ele passou os dedos
em meus cachos rebeldes e me beijou, enrolando a língua em torno
da minha, trazendo meu corpo à vida.
— Também tenho novidades — ele soprou as palavras contra
meus lábios.
— Me conte. — Segurei seu rosto, afastando-o suavemente para
que eu pudesse olhar em seus olhos.
— O Linc sofreu um acidente. Ele está fora da temporada.
— Ah, meu Deus, Jason, isso é horrível. — Lincoln havia
colocado Jase sob sua proteção no ano passado, então eu sabia o
quanto isso o afetaria.
— Isso não é tudo... — Ele hesitou, e vi uma sombra de medo
passando por seus olhos. — O treinador quer que eu seja o capitão.
Ele acha que estou pronto.
— Jason... — Sorri tanto que minhas bochechas doeram. — Isso
é incrível. Estou muito orgulhosa de você. — Passei os braços em
volta do pescoço e o apertei contra mim, enchendo seu rosto de
beijos descuidados. — Meu namorado, QB e capitão dos Penn
Quakers.
Mas ele não se deleitou com minha empolgação. Ele estava
quieto e silencioso.
Muito quieto.
— Jase? — Eu o segurei com o braço estendido. — O que foi?
— E se eu não estiver pronto? E se eu estragar tudo? Puta
merda, você deveria ter visto a maneira como todos estavam
olhando para mim. Como se eu tivesse as respostas, o poder de
fazer as coisas acontecerem.
— Baby, me ouça bem. Você, Jason Ford, é um dos melhores
quarterback do país no momento. Você entrou em uma equipe bem
estabelecida e provou seu valor no primeiro ano. Ficou em terceiro
lugar no maior número de jardas em uma única temporada. — O
orgulho me inundou. — Terceiro, baby. Isso é muita coisa. Sem
mencionar o fato de que você explodiu o recorde de jardas dos
Quakers.
Jason já estava no Hall da Fama da Penn Quaker. Ele já havia
feito história no time. Mas com esse tipo de elogio vinha a pressão
de sempre fazer mais, de ser sempre melhor.
— Você vai conseguir, Jason — eu disse com total convicção,
ignorando a pequena dúvida de que isso afastaria ainda mais meu
namorado de mim.
Os capitães não precisavam ficar mais tempo com o treinador,
assistindo a filmagens do jogo e planejando jogadas? E então
haveria o resto da equipe. O capitão era um líder, uma figura
paterna, o cara que todo mundo procurava quando precisava de um
ouvido ou de um ombro para se apoiar.
Mas se alguém merecia, era Jason.
Então, como eu poderia sequer pensar em sentir algo além de
orgulho por ele?
A resposta era: eu não poderia.
Eu sabia o que o futebol significava para ele. Jason dava tudo de
si ao jogo que ele amava. Horas de condicionamento e treino. Ele
estava cento e dez por cento comprometido com seu time, em
construir uma carreira de sucesso no futebol para si mesmo. E eu
era a garota de sorte que podia ficar ao seu lado e vê-lo florescer.
Então, anulei minhas reservas, abri meu melhor sorriso e afirmei:
— Estou muito orgulhosa de você.
— E eu tenho muita sorte de ter você ao meu lado. — Jason
capturou meus lábios em um beijo lento e profundo. O tipo de beijo
em que nos afundávamos, explorando a boca um do outro com
familiaridade. Mas como toda vez que nos tocávamos, logo se
transformava em mais. O calor fervia, elevando-se em um inferno
que nenhum de nós poderia controlar.
Jase passou as mãos pela bainha da minha camiseta e começou
a tocar meu corpo. Seus lábios fizeram um caminho até meu
estômago, sua língua mergulhando no vale dos meus seios
enquanto ele empurrava o tecido sobre a minha cabeça.
— Nossa, Jason — gemi, enfiando os dedos em seu cabelo
escuro e espesso. Ele continuou tocando minha pele com os lábios,
traçando letras de amor e promessas de eternidade sobre meu peito
e clavícula.
— Preciso de você.
Ele se afastou para tirar a camisa e senti sua ausência. Meus
olhos observaram seu corpo, o peito, os gominhos musculosos e
todas as linhas duras e sulcos profundos.
— Às vezes, eu esqueço o quanto você é lindo — sussurrei,
estendendo a mão para tocá-lo.
Ele sempre teve uma boa forma física, uma obra de arte
esculpida graças a todo o condicionamento e às horas passadas na
academia. Mas desde que começou a jogar na faculdade, seu corpo
tinha amadurecido e se refinado de uma forma que me deixava sem
fôlego toda vez que o via nu.
— Parece que você quer me devorar. — Ele sorriu, segurando
meu olhar aquecido com o seu.
— Sim — confessei.
Jason se inclinou para mim e nos tornamos um choque de
membros, lutando para despir o outro, desesperados para tocar,
sentir e provar. Não fiquei surpresa por ele me deixar nua primeiro,
me prendendo na cama e baixando a cabeça para passar a língua
sobre meu mamilo. Gritei, arqueando em sua boca. Sua risada
suave reverberou em torno da minha pele sensível, provocando
arrepios na minha coluna.
Nada jamais se compararia a isso, à sensação dele me tocar...
me possuir. Eu adorava quase tanto quanto o amava.
— Quero ir devagar — ele murmurou enquanto movia os quadris
para frente, contra mim —, mas não tenho certeza se posso.
— Então não vá — praticamente implorei. Podemos brincar
depois. Agora, eu precisava senti-lo dentro de mim, acima de mim,
me montando forte e rápido até que nenhum de nós soubesse onde
eu terminava e ele começava.
Jason arrancou minha calcinha. Tirou-a do meu corpo antes de
penetrar em mim sem aviso prévio. Nós dois gememos, e suas
mãos se entrelaçaram nas minhas nas laterais da minha cabeça.
— Eu te amo, Felicity... pra cacete.
— Então me mostre... — Minha voz falhou quando ele estocou
novamente, me penetrando bem fundo.
Jason amava como se jogasse futebol. Com total determinação,
habilidade e confiança. Ele sabia exatamente como tocar meu
corpo, da maneira como jogava no campo, e sabia exatamente
como me fazer gozar o tempo todo.
— Puta merda, baby, nada... nada jamais será tão bom quanto
isso.— Ele estocou em mim novamente, repetidamente,
estilhaçando meu corpo da melhor maneira. Jason beijou como um
homem faminto, tirando o oxigênio dos meus pulmões e tomando
para si. Uma de suas mãos escorregou pela minha coxa, puxando
minha perna para cima, deixando-o entrar mais fundo.
— Jason... caramba... — sussurrei, tentando me firmar, mas era
demais.
Sempre era.
— Se permita, baby. — Ele me beijou mais devagar, imitando o
movimento leve de seus quadris enquanto sentia prazer em meu
corpo.
Minhas pernas começaram a tremer, o suor escorrendo pela
minha pele e corpo. Pressionei meus lábios um no outro, prendendo
o gemido que crescia na minha garganta. Eu estava tão perto.
— Posso sentir você apertando meu pau — ele sussurrou as
palavras sacanas em meu ouvido enquanto eu começava a gozar.
— Goze para mim, baby. Goze ao redor do meu...
Atingi o orgasmo em torno dele, gritando seu nome, mais e mais.
Jason se inclinou contra mim, estocando com vigor renovado
enquanto eu me perdia nas ondas persistentes de prazer.
Seu corpo travou com força, sua mandíbula ficou tensa com a
concentração enquanto ele estocava.
Ficamos deitados lá, em silêncio e saciados, e nunca me senti
mais feliz. Tivemos um ano de calouros incrível juntos, e agora
tínhamos três anos morando como um casal, em um lindo
apartamento fora do campus a poucos minutos a pé da Penn.
Mas não importa o quanto eu estivesse feliz ou loucamente
apaixonada por Jason, sempre havia uma vozinha de dúvida no
fundo da minha mente.
Jason já era da realeza dos Quakers. Em uma temporada, ele
conquistou os corações de seus companheiros de equipe,
treinadores e fãs. E agora ele era o capitão. Ele logo estaria ainda
mais em evidência.
Não importava o quanto eu quisesse acreditar no conto de fadas,
a verdade era que ele sempre estaria sob os holofotes, e eu sempre
seria a garota ao seu lado, nas sombras.
Mas era algo com que teria que aprender a conviver, porque
desistir – desistir dele – não era uma opção para mim.
Nunca.
DOIS
Felicity
A MEDICINA veterinária era meu sonho e pesadelo. Eu amava
animais. Eu os amava com cada fibra do meu ser. Havia algo em
estar cercada por amigos de quatro patas que me trazia paz, e foi
na Brand New Tail, em Rixon que meu sonho de me tornar
veterinária nasceu. Mas a verdade é que eu mal conseguia me
manter na faculdade. O curso era naturalmente baseado em
ciências, mas subestimei o quanto seria difícil controlar as aulas. Só
neste semestre, eu estava estudando patologia geral, parasitologia
e microbiologia.
Se eu quisesse ser aprovada, precisaria de ajuda.
Foi por isso que me inscrevi no programa de tutoria.
Meu estômago estava em nós enquanto eu me dirigia para o Hill
Pavilion. Eu ia me encontrar com Darcy para tomar um café nas
proximidades e discutir uma programação. Todos os tutores eram
alunos do quarto ano ou pós-graduação, e eu esperava que ela
pudesse me ajudar a me manter focada este ano.
Mas quando cheguei ao café, não vi nenhum sinal dela.
Verifiquei o relógio. Eu estava quase cinco minutos atrasada.
Olhando ao redor novamente, decidi esperar no quadro de avisos.
Estava repleto de anúncios de colegas de quarto, clubes sociais e
bares que apresentavam noites de música ao vivo.
Alguém cutucou meu ombro e me virei.
— Posso ajudar? — Fiz uma careta para o cara.
— Felicity Giles?
— Hum, sim.
— Eu sou Darcy, seu tutor. — O cara sorriu, e eu arregalei os
olhos.
— Você é Darcy? Mas eu pensei que... — Parei. Como fui rude e
presunçosa.
Seu sorriso ficou tímido.
— Você pensou que eu era uma garota?
— Sinto muito. — Minhas bochechas ficaram rosadas.
Darcy deu de ombros.
— Estou acostumado com isso. Infelizmente para mim, a minha
mãe tinha uma estranha afinidade com Jane Austen. — Ele
estendeu a mão. — Prazer em conhecê-la.
— Isso é... eu realmente não sei o que dizer. — Minha risada
estranha ecoou pelo lugar.
— Podemos? — Ele apontou para uma das mesas. — Já peguei
um café para mim. Gostaria de alguma coisa?
— Ah, não, você não tem que fazer isso. Eu vou...
— Felicity, relaxe. Posso comprar café para uma garota bonita.
— Seus olhos brilharam.
— Eu tenho namorado — deixei escapar. Deus, isso estava além
de estranho. Aposto que ele achava que eu tinha perdido a cabeça.
— Que bom que estou aqui só para te dar aulas. Qual é o seu
veneno de escolha?
— Latte, por favor — concordei. — Creme e açúcar.
Ele me deu um aceno reconfortante antes de ir para a fila
enquanto eu me acomodava. Meu telefone apitou e eu o tirei da
bolsa.

QB # 1: Espero que a tutoria corra bem.

Eu: Acabei de chegar. Você não deveria estar treinando,


Capitão?

EU SORRI.

QB # 1: Pode dizer a Darcy que é melhor ela cuidar da minha


garota.
O NÓ no meu estômago se apertou. Jason achava que Darcy era
uma garota, assim como eu pensei quando peguei o contato dela –
dele – do anúncio pregado em um dos quadros de avisos do curso.
Porcaria.
Ele não iria gostar disso. Não que ele não confiasse em mim.
Jason tinha problemas em confiar em alguém com um pau. Mas
funcionava nos dois sentidos. Se eu soubesse que Jase estava
tendo aulas com uma garota, que ele estava passando muito tempo
com alguém que não era eu, também ficaria com ciúme.
Era só a maneira como nos amávamos. Profundamente. De
forma obsessiva. Completamente.
Darcy escolheu aquele exato momento para retornar, colocando
o latte na minha frente.
— Não sabia se você tinha comido ou não, então peguei dois
muffins de mirtilo.
— Já tomei café da manhã, mas obrigada.
— Bom, mais para mim, certo? — Seu sorriso era fácil, e seus
olhos calorosos. Darcy não emitia vibrações estranhas. Ele era bom,
amigável, embora um pouco atrevido.
— Então, veterinária na Penn... como as coisas estão indo para
você?
— Gostaria de dizer que é moleza, mas então eu não estaria
sentada aqui.
— Sim, o primeiro ano pode ser um choque, mas fica mais fácil,
eu juro.
— Por que sinto que você não está dizendo a verdade? —
Nossa risada ecoou ao redor. — Obrigada pelo latte. — Levei o
copo aos lábios, me deleitando com o cheiro agridoce de creme e
grãos de café.
— Disponha. Então, por que você não me diz quais foram suas
dificuldades no ano passado? Em seguida, podemos ver suas aulas
para este semestre e montar um plano de ação.
— Parece bom. — Parte da tensão me deixou. Darcy era meu
tutor. Esta era uma relação estritamente comercial. Jason não
poderia ficar chateado. Além disso, ele sabia que eu era dele.
Senti uma pontada de determinação subir pela minha coluna. Eu
precisava disso se quisesse sobreviver ao segundo ano. Precisava
de ajuda.
E Darcy Bannerman foi altamente recomendado.

DEPOIS DE QUASE DUAS horas e um plano de estudos rigoroso,


Darcy e eu guardamos nossas coisas e saímos do café.
— Então, te vejo na quarta-feira? — ele perguntou, esperando
que eu me movesse à frente dele.
— Combinado — falei, me esquivando e tropeçando direto em —
Jason?
— Ei. — Ele me deu um sorriso que fez meus joelhos
fraquejarem. — Como foi a aula particular? — Jason passou os
braços ao meu redor enquanto abaixava a cabeça para me beijar.
— Foi bom. Eu... ah... este é o Darcy, meu tutor. — Me
desvencilhei de seu aperto para me afastar e apresentá-los.
No segundo em que os olhos de Jason pousaram em Darcy, sua
expressão ficou sombria.
— Você é o tutor?
— Darcy Bannerman. — Ele estendeu a mão. — Você deve ser
o namorado.
Jason semicerrou o olhar para a mão de Darcy como se fosse
contagiosa.
— Jase — resmunguei, dando uma cotovelada em suas
costelas.
— Jason. Jason Ford.
— O quarterback Jason Ford? — Darcy arqueou a sobrancelha.
— A Felicity não te contou?
Revirei os olhos.
— Não, o assunto não veio à tona.
— Certo — interrompi depressa. — Isso está sendo divertido,
mas se você nos dá licença, Darcy, preciso falar com meu
namorado sobre etiqueta da conversa.— Ele riu enquanto eu
puxava Jason para longe. — O que é que foi aquilo? — resmunguei
assim que ficamos fora do alcance da voz, marchando pela rua.
— Você não mencionou que seu novo tutor era um cara. —
Jason caminhou ao meu lado.
— Porque eu não sabia.
— Sim, acho que Darcy é um nome muito feminino.
— Jason. — Olhei furiosa para ele. — Isso vai ser um problema?
— Você vai arranjar um novo tutor se eu disser que sim? — Ele
arqueou a sobrancelha em desafio. Eu queria acreditar que ele
estava brincando.
Mas sabia que não estava.
— Para passar este ano, preciso de toda a ajuda que puder
conseguir, e Darcy foi altamente recomendado.
— Aposto que sim — Jason resmungou, seus olhos indo por
cima do ombro, mas Darcy já havia sumido.
Normalmente, eu amava esse lado possessivo e dominante. Mas
agora, ele só estava sendo babaca.
— Jason, olhe para mim. — Parei, segurando sua mandíbula,
forçando seus olhos nos meus. — Não há nada com o que se
preocupar.
— E se os papéis fossem invertidos? Se fosse eu passando um
tempo sozinho com uma tutora, que por acaso é uma garota
gostosa?
— Você acha que o Darcy é gostoso? — Eu realmente não tinha
notado.
— Não me pressione, Giles.
Giles.
Um arrepio percorreu minha coluna. Ele só me chamava assim
quando eu realmente o irritava.
— Eu odiaria. Mas confiaria em você. Porque é isso que a gente
faz quando ama alguém. Confia um no outro.
Sua expressão dura derreteu, dando lugar a algo que parecia
muito com arrependimento.
— Merda, Felicity, eu confio em você. — Ele me puxou para seus
braços, roçando o nariz no meu.
— Sei que sim. — Segurei seu moletom dos Quakers. — Mas
preciso disso, Jase. Preciso manter o controle da matéria antes que
eu me enrole.
— E ele é realmente o melhor? — Ele me observou.
Assenti.
— Tudo bem — ele sussurrou. — Mas se ele te olhar do jeito
errado, eu vou...
— Shhh, meu Neandertal. — Eu o beijei de leve, mas Jason
assumiu o controle, entrelaçando as mãos em meu cabelo e
passando a língua pelos meus lábios.
— Vá para um quarto, Ford — alguém gritou, e nós nos viramos
para encontrar um grupo de jogadores de futebol.
— Vocês vão treinar hoje? — perguntei.
— Sim. Com o Linc fora...
— Entendo.
— Esta noite. Eu, você e nossa comida favorita?
Meu sorriso se desfez.
— Sou voluntária no abrigo.
Ele murmurou seu desagrado.
— Não vou chegar tarde. Por que você não sai com os caras
para o The Gridiron e eu te encontro depois? — O bar de esportes
ficava no meu caminho de volta para casa do Paws, o abrigo de
animais que eu ajudava algumas vezes.
— É?
Assenti, e Jason se inclinou capturando meus lábios novamente.
— Sei que sou difícil — ele sussurrou —, mas é só porque sou
louco por você.
O amor me envolveu como um cobertor quente enquanto eu
agarrava seu moletom com mais força.
— O sentimento é totalmente mútuo.
— Ei, Ford — Gio gritou. Eu gostava dele. Era ítalo-americano e
natural do condado de Verona, em Rhode Island. Ele tinha o
adorável hábito de xingar em italiano. Não era de se admirar que
chamavam de linguagem do amor. Seu sotaque era
assustadoramente sonhador.
— Sim, sim, Abato — Jase gritou de volta. — Essa é a minha
deixa.— Ele roubou outro beijo. — Te vejo mais tarde.
Abrindo um sorrisinho, assenti.
— Vá mostrar a eles quem manda, capitão. — Eu sorri. Jason
riu, me dando uma piscada sedutora antes de partir em direção a
seus amigos e companheiros de equipe.
Eu os observei empurrá-lo, batendo os punhos e rindo. Ele
parecia tão feliz, tão livre. Ele entrou na vida da faculdade com
facilidade. Mesmo com sua intensa agenda atlética, ele estava indo
bem nas aulas e acompanhando as matérias. Nada o perturbava.
Ao contrário de mim, que quase repeti no primeiro ano.
Afastei os sentimentos de inferioridade. Este ano seria melhor.
Este ano, eu daria tudo aos estudos, e agora que eu tinha Darcy ao
meu lado, tudo daria certo.
Exceto que enquanto me dirigia para a minha primeira aula, não
pude evitar que a semente da dúvida se enraizasse em meu
estômago.
Jason
— E aí cara? — Gio perguntou quando me viu na barra de peso. —
Você parece... tenso.
— A Felicity tem um tutor.
— E isso é um problema... — A compreensão surgiu em seu
rosto. — O tutor é um cara?
Apertei a mandíbula quando imaginei o rosto daquele filho da
puta. Eu não o conhecia, mas já não gostava dele. O cara passaria
um tempo com Felicity. Minha mulher, a outra metade da minha
alma. Idiota possessivo ou não, eu não ia aceitar bem que algum
cara passasse um tempo sozinho com a minha garota.
— É só uma aula particular. — Ele bufou. — Você não tem nada
com que se preocupar.
— Não? — Arqueei a sobrancelha.
Felicity era linda. Repleta de curvas sedutoras e espírito
selvagem. Vi caras ao redor do campus olhando para ela, desejando
que pudessem ter um gostinho. Eles recuavam quando me viam,
mas ainda assim.
— Sério, cara, a Fee não olharia duas vezes para outra pessoa.
Ela não fica louca e possessiva quando saímos com o time de
líderes de torcida.
Ah, ela ficava. Eu só não anunciava o fato. No primeiro ano,
Felicity quase atacou uma garota por pedir meu número em uma
festa. Mas eu a arrastei para o quarto mais próximo e transei com
ela até a raiva desaparecer.
Nosso amor era como um incêndio. Queimava constantemente.
Se jogar água sobre ele, iria fervilhar, mas se adicionar um vento
forte, se tornará um inferno. Feroz e imprevisível.
— É por isso que não tenho namorada — Griffin se juntou a nós.
— Muito drama para o meu gosto.
— Cara, você não tem uma garota porque é uma DST ambulante
e falante. — Gio explodiu em gargalhadas, mas ficou mudo quando
Griffin deu um soco no braço dele.
— Tive clamídia uma vez. Só uma vez. Ela me disse que
estava...
— Regra número um, Griff — eu disse. — Sempre use
camisinha.
— Sim — ele passou a mão pelo cabelo. — E qual é a regra
número dois?
— Arranje uma garota fixa e então você não terá que se
preocupar com isso.
Gio e eu compartilhamos um sorriso conhecedor. Ele não tinha
um relacionamento sério como eu e Felicity, mas tinha uma garota
com quem saía.
— Não, preciso manter o bicho solto antes de me estabelecer. —
Griffin pegou alguns pesos e começou a malhar.
— Você não conheceu a garota certa — eu disse. Eu não tinha o
hábito de compartilhar minha vida pessoal, mas Gio e Griffin eram
meus amigos mais próximos na equipe. Juniores, eles me
colocaram sob proteção no ano passado. Não era o mesmo que ter
Cameron e Asher – caras que me conheciam a vida toda – ao meu
lado, mas eu confiava neles.
— Querem tomar uma bebida no The Gridiron mais tarde? —
perguntei a eles.
— A Fee te deu um passe livre? — Gio sorriu e eu mostrei o
dedo do meio para ele.
— Ela está trabalhando no abrigo. Vai nos encontrar depois. Vou
convidar o Asher e a Mya também.
Ele vinha me importunando para sairmos juntos, mas foram
algumas semanas loucas.
— Vou perguntar a Jordan se ela quer ir.
— Apaixonadinho. — Griffin tossiu baixinho.
— Nós somos amigos.
— Amigos coloridos — corrigi.
— Acho que sim.
— Não contem comigo — Griffin falou. — Mas aproveitem a
noite de casais. — Ele apertou os ombros de Gio antes de seguir
para outro aparelho.
— Espero que o pau dele caia.
Eu ri.
— Ele simplesmente não conheceu...
— A garota certa, sim. — Gio parecia em conflito, mas eu não
disse nada. Se ele quisesse falar sobre Jordan, ele tocaria no
assunto. — Como você se sente em ser capitão? — ele mudou de
assunto.
— É uma honra. — Era mesmo. Vim para a Penn querendo ir até
o fim, e esse era apenas mais um passo na direção certa.
— Mas... — ele disse.
— O Linc é um cara difícil de substituir.
— Que nada, você consegue. Se não fosse este ano, teria
acontecido quando ele se formasse. Este lugar era seu no minuto
em que você pisou no vestiário.
— Obrigado, cara, eu agradeço.
— Não precisa me agradecer, Jase. Você é um dos melhores. O
tipo de líder que essa equipe precisa para percorrer todo o caminho.
Tenho fé em você, cara, mesmo se você não tiver.
— Acho melhor começarmos a trabalhar então. — Sorri,
ignorando seu elogio, não importando o quanto isso significasse
para mim.
— Sim. — Ele deu uma risadinha. — É melhor mesmo.
TRÊS
Felicity
— FEE, baby, venha aqui.
— Asher? — Sorri, surpresa ao vê-lo parado no bar ao lado de
Jason e... — Mya!
Um grito estridente saiu dos meus lábios enquanto eu
contornava Asher para ir direto para sua namorada.
— É tão bom ver você.
— Garota, só se passaram três semanas.
— Três longas semanas.— Abracei Mya com mais força, sem
me importar que ela preferisse manter as demonstrações públicas
de afeto no mínimo. — Me conte tudo. Como estão as aulas? O
apartamento novo? Quero saber de tudo.
— Você está bem? — Ela me olhou com desconfiança.
— O que foi? Não posso ficar feliz em ver uma das minhas
melhores amigas? — Sorri, mas pareceu sem graça.
— Não se preocupe comigo nem com nada — Asher resmungou,
fazendo Jason, Gio e Jordan rirem.
— Tão carente. — Passei os braços em volta do seu pescoço e
o abracei. — É bom te ver, Ash.
— Não tão bom quanto te ver. — Ele me segurou com força até
que dedos familiares me afastaram.
— Certo, coloque a minha garota no chão antes que eu tenha
que quebrar seus dedos e arruinar sua carreira no futebol antes
mesmo de ela começar.
Asher me soltou e Jase me puxou entre suas pernas.
— Senti a sua falta.
— Quero dizer que senti sua falta também, mas o abrigo fez dois
novos resgates, filhotes de Pug... eles eram tão fofos.
— Ótimo, fui trocado por cachorros.
— Ahhh, você ainda é o dono do meu coração. — Beijei o canto
de sua boca. — Mas os cachorrinhos eram muito, muito fofos.
— Bem, se você preferir acariciá-los a... — ele sussurrou as
palavras destinadas apenas a mim enquanto passava um dedo pelo
meu pescoço. Um arrepio percorreu meu corpo e engoli um gemido.
— Achei que não. — Jason beijou a ponta do meu nariz. — Ei,
Hugh, pegue uma bebida para a minha garota — ele chamou o
barman.
— Pode deixar. O de sempre, Fee?
Concordei.
— Então, sobre o que vocês estavam falado na minha ausência?
— Ah, você sabe, tentando baixar a bola desse aí, já que ele foi
promovido a capitão. — Asher beliscou a bochecha de Jase, e ele o
empurrou para longe. — Qual é a sensação de usar a coroa?
— Asher — Mya suspirou.
— Ele sabe que estou orgulhoso. Sou como o irmão orgulhoso
que ele nunca teve. Mas essa merda deve pesar uma tonelada.
— Nasci pronto — Jason disse, mas eu vi a tensão em seus
olhos. Ele estava tendo dúvidas sobre sua capacidade de liderar.
Todos nós sabíamos que ele não tinha nada com que se
preocupar, porque ele nasceu pronto.
— Esse é o espírito, mano. — Asher deu um tapinha em seu
ombro. — Agora que a Fee está aqui, devemos brindar.
— Não precisamos...
— Ao Jason — ele ergueu a cerveja —, que sua liderança seja
firme e seu jogo forte. Parabéns, cara.
Jason
Tentei considerar as palavras de Asher e Gio. Todos os dias
treinávamos, estudávamos o jogo e inventávamos novas jogadas.
Tentei me agarrar ao fato de que esperei por este dia durante toda a
minha vida. Mas com o jogo de abertura finalmente aqui, eu não
podia negar que estava nervoso.
Não ajudou o fato de Felicity estar passando cada vez mais
tempo com o tal tutor. Ela estava achando uma das aulas,
parasitologia ou algo assim, particularmente difícil. Mas não era
como se eu estivesse por perto para ajudar, ou que poderia, se
estivesse.
A equipe havia se tornado minha vida nas últimas semanas.
Tudo estava se construindo para este momento.
— Muito bem, rapazes, atenção. — O treinador Faulkner se
moveu pelo vestiário, e vi a determinação feroz gravada nas linhas
de seu rosto. — Hoje à noite, vamos sair e mostrar a todos por que
deveríamos ter trazido aquele troféu para casa na temporada
passada, estão me ouvindo?
— Sim, treinador. — Nosso grito ecoou pelas paredes,
reverberando por todo o caminho até a minha alma. A fome pulsava
dentro de mim enquanto a adrenalina corria por minhas veias.
Nenhum efeito sintético jamais poderia replicar o momento em que
se pisava naquele campo. No segundo em que nos tornávamos
deuses entre os homens: adorados e idolatrados, imortalizados nos
cantos da multidão, em cada suspiro, suspiro e alegria. Era nosso
oxigênio, nossa força vital. E eu iria deixar isso me alimentar, me
incentivar mais até que ganhássemos.
— Número um — o treinador fixou os olhos em mim —, você
está pronto?
Era a pergunta de um milhão de dólares.
Eu me sentia forte.
Cem por cento em forma.
Mas também me sentia modesto; Era uma honra ser o capitão
da equipe, levá-los à batalha e à vitória.
Porque perder não era uma opção.
— Me sinto pronto, treinador.
— Fico feliz em ouvir isso, filho. Dartmouth parece forte, mas não
tem nosso coração. Eles não têm nosso impulso ou nossa sede. —
Ele apontou o dedo no ar. — Eles não têm o que é preciso para ir
até o fim. Vocês vão conseguir.
O som de nossas chuteiras no chão do vestiário era como a
batida de um tambor.
— Quakers em três. Jason, faça as honras.
Estiquei a mão no meio do círculo enquanto cinquenta outras
mãos seguiam o exemplo.
— Um... dois... três... Quakers.
Desfizemos a formação para entrar em campo. Peguei meu
capacete e corri à frente, sentindo o coração disparado e o sangue
latejando entre minhas orelhas. Mas não era nada comparado ao
rugido da multidão enquanto corríamos para o Franklin Field.
— Absorva isso, cara — Griffin gritou com um sorriso malicioso.
E foi o que fiz. Diminuí para uma caminhada, absorvendo tudo.
Houve algo especial em jogar no primeiro ano. Mas agora, estar
aqui como capitão, era o ápice da minha carreira no futebol até
agora. Eu precisava tomar um minuto, me permitir um segundo para
processar tudo. Meus olhos percorreram a área VIP e encontrei
Felicity. Ela estava sorrindo de orelha a orelha, sentada ao lado de
Jordan, que estava aqui para apoiar Gio em uma base “puramente
platônica”. Para mim, era mentira, mas não me envolvia nisso. Pude
distinguir Felicity balbuciando as palavras “Eu te amo”.
Naquele momento, com minha garota na arquibancada, a
multidão de treze mil pessoas gritando meu nome, me senti um
deus. Adorado. Idolatrado. Amado.
Me senti imparável.
Esta era a minha vocação, meu domínio... meu reino.
E eu nasci para liderar.
Felicity
— Ah, meu Deus — murmurei enquanto observava Jason cair para
trás, procurar no campo pelo wide receiver, e enviar a bola em sua
direção. Ele o pegou, colocando-a contra seu corpo e correndo em
direção à zona final.
— Vai, vai — Jordan gritou, e toda a multidão parecia gritar com
ela.
— Touchdooooown — a voz do locutor encheu o estádio, e todos
foram à loucura.
— Eles conseguiram — Jordan falou com um grande sorriso.
— Sim. — Me sentei e procurei por Jason. Ele estava
comemorando com seus companheiros de equipe. Ele parecia
completamente confortável, como se tivesse nascido para jogar.
Eu não tinha dúvidas de que era verdade. Algumas pessoas
possuíam esse talento natural, um destino escrito nas estrelas.
Estávamos vendo a grandeza do futebol se desenrolar bem diante
de nossos olhos, e não acho que houvesse uma pessoa na multidão
que duvidasse de que Jason Ford, o garoto de uma pequena cidade
na Pensilvânia, um dia agraciaria a NFL com seu talento e carisma.
A equipe de torcida começou uma celebração e eu sufoquei um
gemido.
— Ei, tira essa carranca do rosto. — Jordan cutucou meu ombro.
— Elas são tão óbvias.— Eu as ouvi falar sobre Jason, observei-
as cobiçá-lo, apesar do fato de que todos sabiam que ele era
comprometido.
— Por favor, me diga que você não está preocupada com gente
como Shelly e Farrah?
— Ela o quer. — Shelly Halstead quis Jason desde o primeiro dia
em que ele pisou no campus.
— Metade das garotas aqui o quer.
Pressionei os lábios em uma linha fina, mas Jordan apenas riu.
— Ele te ama, todos podem ver isso. Você não tem nada com o
que se preocupar.
Eu gostava de Jordan. Ela era uma das minhas poucas amigas
aqui. Não que eu tivesse evitado propositalmente fazer amigos
durante o primeiro ano, mas era difícil quando seu namorado era o
novo astro do futebol. As meninas me olhavam como se fosse uma
competição ou eram ousadas o suficiente para tentar me usar como
um trampolim para chegar até Jason e seus amigos. Eu
rapidamente desisti de tentar formar amizades genuínas. Eu tinha
Jordan e Mya, e falava com Hailee o tempo todo, apesar da
distância entre nós.
— É só... difícil — sussurrei a confissão, me odiando até mesmo
por dizer as palavras.
Jason não me dava motivos para me preocupar. Ele era
inabalável em seu amor por mim. Mas enquanto eu observava a
equipe comemorar, assistia as líderes de torcida umedecendo os
lábios e piscar em sua direção e ouvia milhares de pessoas
entoarem seu nome, não pude deixar de pensar que aquilo que ele
amava um dia seria o que abriria uma barreira entre nós.
Jason estava crescendo.
E eu mal conseguia me manter ali.
Jordan me puxou para um abraço.
— Você e o Jason foram feitos um para o outro, Fee. Vejo na
maneira como ele te observa, como rastreia cada movimento seu.
Esse cara está perdidamente apaixonado por você. Tudo isso: o
futebol, a multidão, o glória, não significaria nada se ele não tivesse
você ao seu lado.
Como se ele ouvisse suas palavras, como se sentisse a dúvida
girando em torno de mim como uma nuvem de tempestade, Jason
olhou para cima, procurando por mim nas arquibancadas. Eu não
conseguia ver seus olhos por trás do capacete, mas os senti.
E eu nunca poderia imaginar não senti-los.

A FESTA FOI UMA LOUCURA. Mas havia algo em vencer o


primeiro jogo da temporada que deixou todos animados. Jordan e
eu ficamos afastadas, com algumas das outras namoradas,
tomando nossos drinques doces enquanto Jason, Gio, Griffin e
alguns de seus outros amigos tiravam fotos.
— Certo, certo, me deixe subir aqui. — Griffin pulou na enorme
ilha da cozinha e fez a multidão ficar em silêncio. — Acho que posso
falar por todos quando digo que ficamos chateados quando o
treinador nos deu a notícia sobre o Linc. Mas acho que também
posso falar por todos aqui quando digo que nunca duvidamos que o
Jason estaria lá para juntar os cacos. — Ele fixou os olhos em Jase
e ergueu a cerveja no ar. — Tenho orgulho de chamá-lo de meu
amigo, cara, mas estou ainda mais orgulhoso de chamá-lo de meu
capitão. E eu sei... eu simplesmente sei, que você vai nos levar até
o fim nesta temporada.
A sala explodiu em vivas e gritos, rapidamente se transformando
em gritos de “discurso, discurso”.
Jason pigarreou, parecendo mais do que um pouco descontente
com a pequena proeza de Griffin.
— Aqueles que me conhecem, sabem que sou um cara
reservado, então vou ser breve. O Linc é um cara bom, um dos
melhores. Ele me colocou sob sua proteção no ano passado e me
guiou, e por isso, devo a ele. Estou muito honrado em liderar a
equipe em seu lugar. Ao Linc. — Ele inclinou a cerveja para a frente
e acenou com a cabeça para sua audiência extasiada.
— Ao Linc. — O nome ecoou pela sala, uma lembrança sombria
de como esta vida poderia ser frágil. Em um minuto, você poderia
estar à beira da grandeza do futebol e no seguinte, ter tudo
arrancado em um piscar de olhos. Ou, no caso de Linc, um simples
pouso errado durante um jogo de basquete com seus irmãos mais
novos.
Os olhos de Jason encontraram os meus do outro lado da
cozinha e ele caminhou em minha direção.
— Nós vamos dançar — Jordan anunciou, me lançando um olhar
de cumplicidade.
Acenei para elas, sentindo o calor correr em minhas veias
enquanto Jason me observava. Eu estava usando jeans skinny e um
top dos Quakers ajustado, não diferente da metade das garotas
aqui. Mas a maneira como ele olhava para mim... era como se eu
fosse a única garota que ele podia ver.
A única garota que ele queria ver.
— Oi. — Ele me pressionou contra o balcão.
— Oi. — Sorri. Não podia evitar. Jason sempre traria o melhor e
o pior de mim. — Bom discurso.
— Você sabe que odeio fazer isso.
— Eu sei. — Passei os dedos sobre sua mandíbula. Ele não se
parecia com um estudante do segundo ano de vinte anos. Ele era
todo homem. Alto, largo e musculoso com a barba por fazer sobre a
mandíbula angular, Jason se graduou em Rixon como um garoto à
beira da idade adulta e amadureceu e se tornou um cara
autoconfiante que sabia sem dúvida o que queria da vida.
— Parabéns, QB Um. — Unindo a boca na sua, eu o beijei.
Jason gemeu contra meus lábios, enredando a língua com a minha
e entrelaçando as mãos em meu cabelo.
— Puta merda, linda, nenhuma vitória terá um gosto tão bom
quanto este.
Suas palavras fizeram meu coração inchar, mesmo que eu
soubesse que ele estava apenas preso no momento.
Porque por mais que eu quisesse acreditar que eu vinha antes
do futebol... parte de mim não tinha tanta certeza.
QUATRO
Felicity
ACORDEI SOZINHA DE NOVO. Era a terceira manhã consecutiva.
Jason parecia gastar cada segundo livre que tinha na academia,
com seus treinadores ou acumulando horas extras de estudo para
não ficar para trás nas aulas.
Os Quakers estavam em uma sequência de vitórias e ninguém
queria perder o ímpeto.
Pegando o celular da mesinha de cabeceira, sorri para a
mensagem de texto de Jason, mas não atingiu meus olhos.
Isso nunca acontecia nos últimos tempos.

QB # 1: Desculpe... sei que prometi estar aí esta manhã, mas os


caras mandaram uma mensagem querendo passar uma hora na
academia antes das aulas. Todos estão tensos com o jogo de
sexta-feira.

Eu: Faça o que precisa. Mal posso esperar por hoje à noite.
Beijos.

QUARTA À NOITE era sempre noite de encontro. Nem sempre


saíamos, mas sempre acertávamos nossos horários um para o
outro. Às vezes, cruzávamos o rio para sair com Asher e Mya, às
vezes assistíamos a um filme no centro, ou ficávamos em casa e
desfrutávamos de um pouco de silêncio em nossas vidas malucas.

QB # 1: Esta noite? Merda, eu disse aos caras que íamos nos


encontrar para assistir às fitas do jogo da semana passada.
MEU ESTÔMAGO AFUNDOU. Ele tinha se esquecido do encontro
noturno.

Eu: Ah, certo. Bem, vou aproveitar para passar algumas horas
extras estudando. Podemos deixar para outro dia.

QB # 1: Vou compensar você, eu prometo.


Eu: eu sei. Bjos.

EU SABIA. Jason se esforçaria para que fizéssemos uma refeição


romântica em nosso restaurante favorito ou uma noite sedutora,
adorando cada centímetro do meu corpo até que eu me esquecesse
de sua indiscrição.
Mas quanto mais avançávamos na temporada de futebol, menos
tempo passávamos juntos e mais meu coração doía.

— UAU, quem morreu? — Darcy riu enquanto me cumprimentava no


café.
— Hã? — Fiz uma careta.
— O rosto sério? Está tudo bem? — Ele me conduziu até uma
mesa.
— Está, sim.
— Sabe, sou um bom ouvinte e também um excelente tutor.
— Modesto também, aparentemente. — Consegui dar um sorriso
fraco.
— Deixe-me adivinhar, problemas com o cara.
— Como você... — Eu me parei. A última coisa que eu queria era
discutir sobre Jason com meu tutor.
— Nove em cada dez vezes, é isso. — Ele deu de ombros como
se não fosse grande coisa, mas algo me disse que era. — Gostaria
de falar a respeito?
— Na verdade, não. — Peguei meu caderno.
— Sabe, eu não imaginaria que você era a garota do Sr.
Gostosão jogador de futebol.
— O que isto quer dizer?— Minhas defesas aumentaram.
— Eu só quis dizer que... jogadores de futebol geralmente
atraem um certo tipo de garota.
— Você não sabe nada sobre mim ou Jason, Darcy. — Eu
realmente não apreciei seu tom ou a insinuação em suas palavras.
— Desculpe, isso está saindo tudo errado. — Ele passou a mão
pelo cabelo. — Tudo o que quero dizer é que estou no campus há
tempo suficiente para testemunhar minha cota de sofrimento. —
Havia algo em seu tom... algo pessoal.
— Você não gosta muito do time de futebol, não é?
— Acho que pode se dizer isso. — Sua expressão endureceu.
— Eles não se enquadram no estereótipo típico de atleta, sabe?
— Tenho certeza de que há exceções à norma.
Havia. Jason, Asher, Cameron e até Gio e Griffin – apesar de
seus modos idiotas – eram bons rapazes. Eles jogavam muito e
eram intensos.
— Mas...
— Mas acho que não entendo como garotas inteligentes,
independentes e ambiciosas estão tão dispostas a serem preteridas
por um esporte.
Eu não sabia o que esperava... mas não era que ele percebesse
minha insegurança.
— Quando se ama alguém, Darcy, você apoia suas paixões,
esperanças e sonhos. — Saiu mais duro do que eu pretendia.
— Posso ver que atingi um ponto de tensão. Eu não quis dizer...
— Jason e eu nos amamos muito. Ele apoia meus sonhos e eu
os dele.
Por que eu estava me justificando para ele? Eu não devia uma
explicação sobre porque eu estava com Jason. Não se escolhia o
amor, era ele quem escolhia você, e Jason Ford roubou meu
coração há muito tempo.
— Tenho certeza de que ele é um cara legal. — Darcy finalmente
abriu seu bloco de notas.
— Ele é.
Eu queria vir para a nossa sessão de tutoria e me concentrar em
outra coisa além da insegurança que me atingia. Mas agora havia
uma tensão estranha no ar enquanto Darcy me falava sobre os
ciclos de vida dos parasitas protozoários.
Estudamos por uma hora, em uma conversa afetada envolta em
silêncios espessos.
Nunca fiquei mais aliviada quando ele anunciou que havíamos
terminado. Corri para arrumar minhas coisas e me levantei
depressa.
— Felicity, espere — ele pediu. — Eu te devo desculpas. Meus
preconceitos em relação ao time de futebol são apenas isso, meus.
Vi algumas das minhas amigas se machucarem bastante por causa
de atletas... isso deixou um gosto amargo na minha boca. Sinto
muito.
— Agradeço suas palavras. Mas falei sério, Darcy. Você não
sabe nada sobre o meu relacionamento com Jason. — E eu
pretendia manter assim.
— Você está certa, eu não sei. Contanto que você esteja feliz,
certo? — Ele me deu um sorriso bobo, mas foi como um soco no
estômago.
Porque eu não estava feliz.
— Mesma hora na quinta-feira?
Hesitei. Eu poderia solicitar um tutor diferente e esperar que
tivesse metade do conhecimento e a capacidade de Darcy de
explicar a matéria de uma forma que eu entendesse.
Mas parecia a saída do covarde.
Ele tinha direito às suas opiniões, mesmo que tivessem tocado
um ponto sensível.
Assenti e respondi:
— Combinado.
Jason
— Você acha que estamos prontos? — Griffin me perguntou
enquanto saíamos da sala ao lado do vestiário. Estávamos
assistindo as fitas do jogo de Dartmouth contra Yale na semana
passada. Eles eram o time a ser derrotado. O time que
precisávamos vencer para permanecer na liderança do campeonato.
— Estamos — respondi com total confiança. Desde o nosso jogo
de abertura, estávamos cada vez mais fortes. Ser quarterback
sempre dava um papel natural de liderança em uma equipe, mas
agora que eu era o capitão, algo havia se encaixado. Todos nós
sentimos isso. Mas era mais do que isso. Eu tinha algo a provar.
Para mim, para o treinador, a equipe, a torcida... Linc.
Eu precisava levá-los até o fim.
Qualquer outra coisa não era uma opção.
— Estamos indo para casa se você quiser vir tomar uma cerveja
— Gio falou.
Ele e Griffin moravam com alguns dos outros caras em uma
grande casa perto do campus.
— Essa noite, não.— Eu queria chegar em casa a tempo de ver
Felicity.
Entre as aulas, a equipe e seu trabalho no abrigo, mal nos
víamos. Tudo que eu queria era explorar seu corpo bem devagar
antes de afundar dentro dela.
— Encontro quente? — Griffin sorriu e eu mostrei o dedo do
meio para ele.
— Na verdade, perdi o encontro de hoje. — A culpa me
envolveu. Mas eu poderia compensar. Eu não poderia fazer as
pazes com o jogo sexta-feira à noite se não estivéssemos prontos.
— Ah merda, você vai ficar na casa do cachorro, cara.
— Nada, a Felicity entende. — Mas enquanto eu dizia as
palavras, meu estômago deu um nó. Eu estava pedindo muito a ela.
Nós dois sabíamos o nível de dedicação e disciplina que seria
necessário para jogar na faculdade, mas até eu subestimei o quanto
seria intenso. Jogar pela equipe não significava apenas treino e
jogos. Significava se ligar aos caras, ser uma irmandade... uma
família. Não se pode simplesmente fugir disso. Principalmente
quando se era o capitão.
— Vejo vocês mais tarde — eu disse aos rapazes enquanto
saíamos do prédio. Já estava escuro.
Corri para o carro e entrei. Então verifiquei o celular. Havia uma
mensagem de Cameron, mas nada de Felicity.
Com um suspiro pesado, liguei o motor, saí do estacionamento e
fui depressa em direção ao nosso prédio para encontrar a garota
que eu amava mais do que pensei ser possível.

NOSSO APARTAMENTO em Powelton Village ficava a menos de


dez minutos da faculdade. Quanto mais perto eu chegava mais me
sentia como se tivesse feito merda. Quarta-feira era sempre noite de
encontro. Foi algo que começamos no primeiro ano para garantir
que reservássemos algum tempo a cada semana para nós dois
sermos apenas Jason e Felicity.
Parei na minha vaga de estacionamento e desliguei o motor.
Eram quase nove e meia. Tarde, mas não tarde demais para salvar
a noite.
Pegando o celular, encontrei o número de Cameron e disquei.
— O que você fez? — ele perguntou.
— Como sabe que fiz alguma coisa?
— Porque são nove e meia de uma noite de quarta-feira... — Ele
deixou as palavras pairarem no ar.
— Acho que cometi um erro esta noite. — Passei a mão pelo
rosto.
— Não pode ser tão ruim.
— É noite de encontro, e eu me esqueci.
— Não parece tão escandaloso. — Ele deu uma risadinha.
— Combinei de assistir as fitas do jogo com os caras, então,
quando percebi, eu...
— Você escolheu os caras em vez da Felicity.
Merda. O fato de ele ter respondido por mim apenas cimentou
minha culpa.
— Quando diz assim, soa como uma atitude idiota.
— A Fee sabe como as coisas são. Ela sabe o que significa
estar na equipe.
— Sim, eu acho...
O silêncio caiu sobre a linha até que Cam disse:
— As coisas estão bem entre vocês dois, certo?
— Acho que sim. Quer dizer, não temos passado muito tempo
juntos ultimamente. Ela está no abrigo ou com o tutor. E eu estou
tentando estudar ou com a equipe... Por quê? Ela disse algo para a
Hailee?
— O quê? Não! Mesmo que tivesse, eu não tenho certeza se ela
me diria.
Eu zombei disso.
— Besteira. Minha irmã te conta tudo.
— Você acabou de se referir a Hailee como sua irmã?
— Não — resmunguei com meu lapso.
— Chamou. Ouvi tão claro quanto o dia. Você disse...
— Certo, Chase, não fique muito animado. Não significa nada.
— Ah, mas é verdade. — Eu ouvi seu sorriso. — Espere até eu
dizer a ela que você progrediu para irmã...
— Vou desligar agora.
— Sinto muito. — Sua risada diminuiu. — Seu segredo fica
comigo, eu juro.
— Humm. Eu nunca deveria ter ligado para você. — Isso é o que
ganhei por buscar alguns conselhos.
— Deveria ter ligado, sim. Você precisava de alguém para lhe
dizer para deixar de bobeira, ir encontrar sua garota e rastejar.
— Você tem razão. — Era exatamente o que eu pretendia fazer.
— As meninas ainda estão planejando levar Mya para sair no
aniversário dela?
— Acho que sim — falei. — O Asher sugeriu que poderíamos
ficar com ele.
— Por mim, tudo bem. Vai ser bom ver você.
— Sim, digo o mesmo. Obrigada pelo papo.
A risada de Cameron encheu a linha novamente. Eu estava
irritado por ele achar isso engraçado.
— Quando quiser. Agora vá rastejar.
Desligamos e eu desci do carro, pegando minha bolsa do porta-
malas. Nosso apartamento ficava no último andar com vista para o
rio Schuylkill.
Quando entrei, estava tudo silencioso.
— Baby? — chamei.
Jogando as chaves no aparador, me movi mais para dentro do
apartamento. O prato solitário no escorredor de pratos fez meu peito
apertar. Ela tinha comido sozinha.
Não deveria ter significado tanto quanto significou.
Felicity
Ouvi Jason antes de senti-lo. Passos medidos no corredor, o
rangido da porta do quarto, o farfalhar dele tirando as roupas. Parte
de mim ansiava por olhar por cima do ombro e cumprimentá-lo. Mas
a parte que ficou magoada a noite toda com as palavras de Darcy
me manteve presa no lugar, com os olhos fechados e o coração
pesado.
As cobertas se moveram atrás de mim e uma lufada de ar frio
atingiu minhas costas, e então o corpo duro e quente de Jason
roçou no meu.
— Baby, está acordada? — Ele passou o braço em volta da
minha cintura e me acomodou nas linhas de seu peito.
Normalmente, este era o meu lugar feliz, mas esta noite, a distância
entre nós parecia maior do que nunca.
O que estava acontecendo?
Nós sobrevivemos ao primeiro ano. Era para ser um grande teste
para casais, não era? Sobreviva ao primeiro ano – a atração de
novas experiências e festas sem fim – e você pode sobreviver a
qualquer coisa.
Os lábios de Jason passaram pelo meu pescoço, seguindo um
caminho até minha orelha.
— Sinto muito — ele sussurrou, e essas duas palavras quase
partiram meu coração. Elas estavam tão cheias de arrependimento
e sinceridade, mas não prometiam a única coisa que eu realmente
precisava ouvir.
Que isso não aconteceria novamente.
CINCO
Jason
ESTÁVAMOS LIDERANDO a Ivy League por quatro a zero, faltando
três jogos para disputar. A pressão continuou após o que só poderia
ser descrito como uma temporada perfeita. Provavelmente, minha
melhor temporada de futebol até hoje. Meu total de jardas de passe
já era o melhor da temporada e eu estava atualmente empatado em
segundo lugar com um cara de Cornell na tabela de classificação de
jardas de passe da primeira divisão da temporada.
Eu estava indo para a temporada mais perfeita da minha vida...
e, ainda assim, minha vida pessoal estava uma merda.
Soltando um suspiro de frustração, empurrei a porta do bar do
hotel e encontrei Asher e Cameron sentados esperando.
— Ei, que bom ver você. — Cam se levantou primeiro, me
puxando para um abraço. Ver meus amigos era como voltar para
casa. Eu amava meu time na Penn: os caras, os treinadores, os
fãs... mas não era Rixon.
— Desculpem, estou atrasado.
— Não se preocupe, sabemos como as coisas são. — Eles
sabiam. Eles me viram ser o capitão dos Rixon Raiders,
testemunharam o quanto me envolvi quando recebi tal
responsabilidade. Eu não carregava apenas minha própria sede de
vitória, eu carregava cada um dos jogadores.
— Todo mundo está nervoso. Esta poderia ser uma temporada
perfeita – a primeira da Penn em quase uma década. Significa muito
para a equipe e para o treinador.
— E deveria — Asher falou, dando um longo gole em sua
cerveja. — Só não deixe isso subir à sua cabeça.
— Sem chance. — Cam me lançou um sorriso malicioso, e eu
mostrei o dedo do meio para ele.
— Entre as aulas e a equipe, não dá tempo de deixar isso subir à
minha cabeça, acredite em mim. — O barman empurrou uma
cerveja para mim, e quase esvaziei a coisa de uma só vez.
Puta merda, eu precisava disso. Uma noite batendo papo com
meus amigos que não queriam falar sobre jogadas, fitas de jogos ou
estatísticas de times.
As garotas foram a um SPA chique em Michigan para
comemorar o aniversário de Mya em grande estilo enquanto nós
decidimos nos juntar a Asher em sua casa. Graças ao seu
considerável fundo fiduciário, o prédio em que eles moravam era
como um hotel cinco estrelas, completo com uma academia
totalmente equipada, bar e restaurante, e terraço na cobertura.
— Eu estava olhando suas estatísticas — ele ficou de pé. —
Você sabe que o troféu Heisman pode bater à sua porta este ano.
Eu bufei.
— Não houve um vencedor do Troféu Heisman vindo da Ivy
League desde os anos de 1950.
— Poderia acontecer. Você está dominando a conversa da
ESPN.
Sim, quando o inferno congelasse.
— Ficarei feliz em nos ver manter nosso recorde perfeito e
ganhar a liga.
Começamos uma conversa fácil. Tempo e distância não cortaram
nosso vínculo. Na verdade, nossa amizade estava mais forte do que
nunca.
— A minha mãe vai fazer uma coisa de Ação de Graças —
Asher anunciou. — Mas vai devagar. Ela quer convidar o Kent e a
Denise. A sua mãe, o seu pai e o Xander — ele disse a Cameron.
— Ah, que legal. E quanto à tia da Mya?
Ele deixou escapar um suspiro de cansaço.
— É um trabalho em progresso. Ela e a Mya discutiram na
semana passada, não me pergunte sobre o quê. Provavelmente
sobre mim ou o fato de que a Mya está se envolvendo demais em
seus estudos.
— Isso não deveria acontecer? — perguntei.
— Sim, mas ela é voluntária em um projeto comunitário e volta
para casa contando várias histórias sobre as crianças...
— Ela quer salvar todos eles — Cameron comentou, e Asher
assentiu.
— E ela não pode, sabe? Só fico preocupado que ela se apegue
demais.
— Que nada, ela é forte — falei —, e ela quer ajudar. Não há
nada de errado com isso.
Mya cresceu em um bairro violento. Ela testemunhou em
primeira mão o que a privação, o crime e as drogas podiam fazer a
uma pessoa. Portanto, o fato de ela querer ser assistente social e
tentar causar um impacto positivo era louvável.
— Diz o cara que está passando mais tempo com a equipe do
que com a sua garota. — Asher ergueu a sobrancelha.
— Ela está sempre com o tal tutor. — Me arrepiei. O nome de
Darcy estava se tornando uma menção regular em nossa conversa.
Eu odiava isso, mas não era como se eu pudesse reclamar, não
quando Asher estava certo. Eu estava passando mais tempo com a
equipe do que com Felicity. Mas era só por mais algumas semanas.
Quando a temporada acabasse, as coisas se acomodariam.
Poderíamos ser nós de novo.
— Cara, você não está mesmo com ciúme de um cara que gosta
de falar sobre ciência animal o dia todo?
— Você está esquecendo de que a Felicity também gosta de
falar sobre essas coisas.
— Ele é o tutor dela. Você é a... pessoa dela.
Cameron deu uma risadinha.
— Ele está certo. Você e a Felicity vão passar por isso. Todos os
casais têm altos e baixos.
— Os momentos de baixo são uma merda.
— Vocês ainda estão... fazendo aquilo, certo?
Olhei para Asher boquiaberto.
— Quantos anos temos? Cinco?
— Só estou tentando ajudar. — Ele deu de ombros.
— Sim, bem, talvez devêssemos mudar de assunto. — Dissecar
meu relacionamento com Felicity estava me deixando mal-
humorado.
— Se você for um dos finalistas do Heisman, podemos fazer
uma viagem a Nova York no fim de semana para comemorar.
— Sério, Ash, as chances de eu ser selecionado são quase
inexistentes. — Esfreguei o queixo.
— Ainda assim, vou perguntar ao meu velho se podemos
reservar a cobertura para um fim de semana. Dessa forma, mesmo
que você não entre na lista, ainda podemos ir, mas pode ser de
pesar em vez de celebração. — Ele deu um sorriso idiota.
— Há algo de muito errado com você — resmunguei.
— Mas você me ama.
Sim, eu amava. Ele podia ser como o sol em um dia chuvoso,
mas Asher era meu melhor amigo. Cameron também. Quase quinze
meses se passaram desde que deixamos Rixon para a faculdade,
mas eles ainda eram meus caras.
Sempre seriam.
Ele puxou o celular e eu fiz uma careta.
— O que você está fazendo?
— Mandando mensagem para o meu pai.
Cameron sufocou uma risada e eu revirei os olhos.
— Claro que está.
Felicity
Um fim de semana com Hailee e Mya era exatamente o que eu
precisava. Passamos um dia e uma noite inteiros sendo mimadas e
cuidadas, terminando o dia com coquetéis no bar tropical ao ar livre.
Esta manhã, tomamos o café da manhã com champanhe e depois
nos separamos. Mya e eu voltamos para a Filadélfia juntas.
— Ah, meu Deus — ela murmurou enquanto passávamos pelo
desembarque para encontrar Asher segurando uma enorme placa
de “bem-vindas ao lar”. — Ele não fez isso.
— Ah, ele fez. — A risada escapou de meus lábios. Procurei por
Jason no saguão de chegada, sentindo meu coração afundar
quando não o vi.
— Minhas duas garotas favoritas. — Asher se aproximou de nós.
Mya segurou seu rosto e roçou o nariz contra o dele.
— Ainda bem que eu te amo.
— O que foi, não gostou da minha placa? Levei a manhã toda
para pintar.
— Você perdeu completamente a cabeça.
— Fee, baby — ele beijou Mya antes de passar por ela —, venha
aqui.
— Ei, Ash. — Dei um abraço nele. — Você viu o Jason?
— Na verdade, ele me perguntou se eu me importaria de te dar
uma carona.
— Ah, é?
Peguei o celular, verificando minhas mensagens novamente.
Nada.
— Ele ficou preso e não queria te deixar esperando. Vamos, o
Jeep está na frente. — Ele segurou a bolsa de Mya e foi em direção
à porta. Mas eu hesitei.
— Ei — Mya falou. — Tenho certeza de que ele queria estar
aqui.
— Sim.
Eu tinha confidenciado um pouco a Mya e Hailee sobre como as
coisas tinham se tornado tensas entre Jason e eu ultimamente, mas
não quis atrapalhar nosso tempo juntas. Além disso, as duas haviam
encontrado seu caminho na faculdade. Hailee e Cameron tinham um
grupo de amigos com quem costumavam sair, e Mya era amiga de
vários colegas de classe de serviço social. Parecia que só eu, um
ano depois, ainda não tinha entrado na vida universitária.
Nos amontoamos no jipe de Asher e me sentei em silêncio na
parte de trás enquanto Mya contava a ele sobre nosso tempo no
spa. Meu celular queimava um buraco no meu bolso. Eu queria
enviar uma mensagem de texto para Jason e perguntar por que ele
não pôde me buscar, mas não enviei. Porque eu tinha certeza de
que já sabia a resposta.
Era uma viagem de quinze minutos até Powelton Village. Asher
parou do lado de fora do meu prédio e se virou para me encarar.
— Obrigada — falei.
— Disponha. Não seja muito dura com ele, certo?
Franzi o cenho. Ele não deveria estar do meu lado? Afinal, Jason
me deixou no aeroporto para ficar com a equipe.
— Vejo vocês dois em breve.
— Não suma — Mya falou com um sorriso caloroso.
Desci, arrastando a mala atrás de mim. Normalmente, eu ficaria
animada em ver Jason depois de um tempo separados, mas o nó
permanente no meu estômago ficou maior.
Asher buzinou, e eu acenei, observando enquanto o jipe
desaparecia no fluxo constante de tráfego. Não havia sinal do
Dodge Charger de Jason no estacionamento e meu coração
afundou um pouco mais.
Peguei o elevador até o último andar, planejando tomar um
banho quente e comer algo reconfortante. Mas quando entrei no
apartamento, o buraco em meu estômago foi substituído por um frio
na barriga. Um vaso de rosas vermelhas me recebeu, com um
cartão apoiado nele. Eu o peguei e abri.

Felicity,
Esteja pronta às 19h.
Vista algo sexy.
J
EU NÃO PODERIA TER IMPEDIDO o sorriso que se abriu em meus
lábios, nem se tivesse tentado. Não consertava tudo e eu sabia que
ainda precisávamos conversar, mas era exatamente o sinal de que
eu precisava.

NOVENTA MINUTOS DEPOIS, a batida na porta fez meu coração


palpitar no peito. Abri devagar, mal conseguindo acreditar nos meus
olhos. Jason estava devastador. O jeans escuro abraçava suas
coxas musculosas, e a camisa preta moldava seus ombros largos e
braços grossos. Ele deixou o colarinho aberto e enrolou as mangas
até os cotovelos. Seu cabelo caía um pouco sobre os olhos, do jeito
que eu tanto amava.
Minha nossa, ele roubou meu fôlego.
— Oi. — Um leve sorriso apareceu em seus lábios enquanto ele
olhava devagar para mim. Optei por usar um vestido tipo suéter
justo, que terminava logo abaixo do joelho. Marcava minhas curvas
e tinha um decote baixo. Recatado, mas sexy. Embora pelo calor no
olhar de Jason, eu me sentisse despida.
— Puta merda — ele sussurrou, se inclinando para roçar os
lábios na minha bochecha. — Você está deslumbrante.
— Você não está nada mal também.
— Lamento não ter ido ao aeroporto. Queria fazer uma surpresa
para você e sabia que o Asher poderia te dar uma carona para casa.
Casa.
Adorei ouvi-lo referir-se ao nosso apartamento como um lar. Era
tão íntimo, tão permanente. Tornava mais fácil esquecer as últimas
semanas e como as coisas estavam tensas entre nós.
Jason colocou um cacho atrás da minha orelha, deixando o
polegar roçar minha bochecha e pairar sobre meu lábio inferior.
— Eu quero muito, muito mesmo, te comer agora.
— Jason. — Minha respiração ficou presa, o desejo se
acumulando no meu estômago.
— Mas fiz reservas, então isso terá que esperar. — Ele passou a
mão pelo rosto, o tormento brilhando em seus olhos como se não
tivesse certeza.
— Podemos ficar em casa. — Pisquei.
— Por mais tentador que pareça, tenho algumas coisas a fazer.
Jantar e depois sexo. — Ele uniu sua boca na minha. Foi duro e
doloroso, uma promessa do que estava por vir. Um arrepio
percorreu minha espinha enquanto eu me derretia nele. — Sei que
as coisas têm sido difíceis, mas eu te amo, Felicity. Pra cacete.
Jason
Usei todo meu autocontrole para não arrastar Felicity para o quarto,
tirar o vestido sexy de seu corpo e fazer amor com ela. A
necessidade pulsava em mim enquanto nos beijávamos. Passei os
dedos em seus fios sedosos, amando a sensação de maciez contra
a minha pele. Ela tinha um cheiro incrível, como um sundae de
baunilha e morango. Eu queria prová-la, passar a língua em seu
corpo inteiro até que ela estivesse se contorcendo debaixo de mim.
Puta merda, eu a queria.
Isso me fez perceber o quanto precisávamos disso. Ainda
estávamos transando. Eu era um cara de sangue quente e Felicity
tinha um corpo feito para o pecado. Mas não conseguia me lembrar
da última vez que brincamos. Passamos horas explorando os
corpos um do outro, encontrando novas maneiras de fazer o outro
delirar de prazer. Nós dois estávamos ocupados, exaustos na hora
de dormir.
— O que foi? — Felicity sussurrou, a incerteza brilhando em
seus olhos enquanto eu a estudava.
— Só estou pensando no quanto senti sua falta.
— Eu também senti a sua. — Ela envolveu as unhas recém-
pintadas em minha camisa.
— Bem, esta noite é nossa — eu disse com confiança,
entrelaçando nossas mãos.
— Mal posso esperar. — Ela sorriu para mim e meu coração
bateu mais forte.
Aquele olhar... era tudo. E eu sabia que não importava o quanto
a faculdade se tornasse difícil ou exigente, estaríamos bem. Porque
essa garota – essa mulher linda, inteligente e motivada – era minha.
SEIS
Jason
O ROOFTOP ERA um restaurante chique com vistas incríveis da
cidade. As janelas do chão ao teto davam a sensação de estar
jantando sob as estrelas, mesmo que estivesse muito frio para nos
sentarmos no terraço.
— Isso foi incrível — Felicity deixou escapar um suspiro de
satisfação ao pousar os talheres.
— Achei que poderíamos pedir a sobremesa para viagem.
Suas bochechas ficaram rosadas enquanto minha cabeça se
enchia de imagens dela embaixo de mim.
— Jason, pare. — Suas palavras saíram um pouco sem fôlego.
— O que foi? — Sorri. — Não estou fazendo nada.
— Você sabe exatamente o que está fazendo. — Ela arqueou a
sobrancelha.
— Com licença — uma voz falou e eu dei um olhar irritado para o
cara careca que se aproximava de nossa mesa. — Odeio incomodá-
los, mas você é Jason Ford?
— É, sim — Felicity respondeu por mim.
— Meu filho é um grande fã. Ele nunca me deixaria em paz se
eu contasse a ele que te vi e não pedisse um autógrafo.
Puta merda. Ele queria fazer isso agora? Quando eu estava
pensando em puxar Felicity para o banheiro mais próximo e comê-la
como sobremesa?
— Eu normalmente não pediria, mas meu filho, bem, ele está
doente. Tem sido um ano difícil e sei que isso faria o seu dia.
Puta merda de novo.
— Aqui. — Felicity se inclinou e me entregou um guardanapo
limpo enquanto o cara colocava uma caneta na minha mão.
— Qual é o nome do seu filho? — perguntei.
— Daniel. Ele tem onze anos, acompanhou toda a sua carreira.
Destampei a caneta e rabisquei uma mensagem antes de
entregar a ele.
— Você gostaria de tirar uma foto?
— Isso seria... obrigado — ele gaguejou, enquanto pegava o
celular.
Felicity veio até nós e pegou o telefone.
— Digam Quakers.
Mordi a bochecha para parar de rir.
— Tirei duas. — Ela entregou-lhe o telefone.
— Muito obrigado. Meu filho vai ficar muito animado.
— Diga a ele para se manter firme.
— Pode deixar, e obrigado novamente. — Ele fungou e pude ver
o flash de dor em seus olhos.
Merda, o filho dele estava realmente doente?
Algo se apertou dentro de mim.
— Espere — falei. —Talvez eu possa tentar arranjar ingressos
para você levá-lo a um jogo.
— É mesmo? — O cara ficou de queixo caído.
— Sim. — Pegando outro guardanapo, pedi a caneta de volta e
anotei o número do relações públicas do time. — Ligue para este
número amanhã e eles irão organizar.
— Isso é... obrigado. Muito obrigado.
— Disponha.
— Aproveite o resto da sua noite.
O cara se afastou, olhando para trás uma última vez. Ele acenou
com o guardanapo e murmurou Obrigado novamente.
— Jason, isso foi...
— Não faça isso — sussurrei. Eu não queria que esta noite
tivesse relação com o futebol, mas essa era a minha vida, e só
ficaria mais intensa conforme eu progredisse na faculdade, me
aproximando cada vez mais do meu sonho da NFL.
— Com licença — sinalizei para o garçom — pode nos trazer a
conta, por favor?
Apesar de nossa mesa privada no canto da sala, outras pessoas
começaram a olhar em nossa direção. Se não saíssemos daqui
logo, havia todas as chances de nunca conseguirmos.
— Sinto muito. — Passei a mão pelo rosto. — Achei que íamos
ter mais privacidade.
— Esta é a sua vida, Jason, eu entendo. — Houve um lampejo
de tristeza em sua voz que quase me destruiu.
— Mas não quero apenas que seja minha vida, baby. Quero que
seja a nossa vida. Olha, sei que as coisas têm sido intensas nas
últimas semanas... mas a equipe...
— É importante, eu entendo. Este é o seu sonho. Eu sabia o que
isso significava.
Mas ela não sabia. Ninguém realmente poderia saber até que
vivesse.
— Acho que sinto que todos já estão organizados. Você está
indo muito bem e estou muito orgulhosa de você, Jason, estou
mesmo. Você lidera a equipe, assiste suas aulas. A Hailee e o
Cameron estão amando Michigan e construíram uma vida para eles.
O Asher e a Mya são... bem, eles são Asher e Mya, nada os
perturba.
Não gostei de ouvir Felicity falar assim, como se todos tivessem
encontrado seu lugar, menos ela. Especialmente quando o lugar
dela era bem ao meu lado.
— Acho melhor irmos... — Ela pegou a bolsa.
— Fale comigo, por favor. Não quero que o futebol fique entre
nós, não esta noite.
— Não é apenas o futebol, Jason, é... tudo.
Bem, merda.
Eu sabia que as coisas estavam ruins. Mas talvez eu tivesse
subestimado o quanto.
— Olha, vamos voltar para o apartamento e conversar. Odeio
que você esteja se sentindo assim.
— Tudo bem. — Felicity assentiu.
Peguei a carteira e tirei algumas notas, adicionando-as a conta.
— Vamos. — Segurei a mão dela. — Vamos para casa.
Felicity
A noite tinha sido perfeita. O restaurante era romântico com a
iluminação abafada e vistas incríveis. A comida era de morrer. E
estar com Jason longe de toda a pressão das aulas e do time foi
divino.
Até que o estranho se aproximou pedindo um autógrafo, e assim
a ilusão desmoronou ao nosso redor, me dando uma noção de como
a vida com Jason sempre seria. Quanto mais bem-sucedido ele se
tornava, mais reconhecido era. Quanto mais reconhecido se
tornasse, mais os holofotes brilhariam sobre ele. E quanto mais isso
acontecia, mais eu murchava nas sombras.
— Está frio — falei enquanto ele abria a porta para mim e
saíamos para a noite escura. O Dia de Ação de Graças seria em
menos de três semanas e, com ele, o fim da temporada de futebol.
Até o ano que vem.
— O que você está...
— Ford? Cacete, cara — Griffin caminhou até nós, com um
pequeno grupo de pessoas nos seguindo. — Que coincidência
encontrar vocês.
— Oi, Jason. Estávamos falando sobre você.
Minha espinha se arrepiou com o tom doce de Shelly Halstead.
Ela nem sequer olhou duas vezes para mim, fixando os olhos
excessivamente maquiados em Jason.
— Bem, espero? — Ele deu uma risada tensa, segurando minha
mão com mais força.
— Ah, você sabe que sim. — Ela sorriu, umedecendo os lábios
de forma sedutora.
— Vamos encontrar o Gio e alguns caras no The Gridiron. Você
e a Fee deveriam vir conosco.
— Na verdade, estamos voltando para casa — falei, dando a
Griffin um sorriso fraco.
— Vamos, só uma bebida. — Ele fez beicinho.
— Você deveria vir, Jason. — Shelly enrolou uma mecha de
cabelo no dedo. Ela não poderia ter sido mais óbvia se tivesse
tentado.
Mas o que eu esperava?
Jason era o astro... e eu era invisível para todos os efeitos.
— Você deveria ir — falei antes que pudesse me impedir.
Ele me deu um olhar confuso.
— Vá, saia com seus amigos. Vejo você no apartamento.
— O que...
Dei um passo para trás bem quando Griffin e Shelly agarraram
Jason e começaram a conduzi-lo na direção oposta.
— Vamos devolvê-lo inteiro para você — Griffin gritou, mas eu já
estava me afastando deles.
Lágrimas se formaram em meus olhos enquanto cruzei os
braços em volta de mim mesma e tentei lutar contra a onda de
emoção.
— Felicity, espere...
Sua voz me fez vacilar, mas só me deixou com mais raiva. Era
irracional, eu sabia disso. Mas eu também sabia que Shelly tinha me
dispensado completamente, como se eu não fosse ninguém.
Insignificante. Apenas um inseto a ser pisado.
— Felicity, você pode esperar um segundo? — Ele segurou meu
braço e eu finalmente parei, com a respiração irregular. — O que
você está fazendo?
Apertei os lábios, desejando não chorar. Mas as lágrimas se
agarraram de forma precária aos meus cílios.
— Felicity, baby, olhe para mim. — Jason começou a me virar
em seus braços. — O que está acontecendo?
— Ela agiu como se eu nem estivesse lá. — Eu mal conseguia
olhar para ele. Esta não era eu. Eu não era insegura por causa de
uma maria chuteira.
E ainda assim...
— Shelly... você está preocupada com a Shelly? Ela não é nada
para mim, você sabe disso.
— Eu sei. — Meu lábio inferior estremeceu.
— Já te dei algum motivo para duvidar de mim?
Balancei a cabeça, incapaz de encontrar as palavras para
sequer começar a explicar o que estava acontecendo na minha
cabeça, quando eu nem mesmo entendia.
— Você sabe que eu não teria ido com eles, certo?
Baixei os olhos, odiando que uma noite tão linda tivesse sido
arruinada.
— Olhe para mim. — Jason passou os dedos debaixo do meu
queixo e inclinou meu rosto. — Preciso ouvir você dizer as palavras,
Felicity.
— Eu sei — sussurrei.
— Ótimo. — Ele apertou os lábios. — Agora, podemos ir para
casa e resgatar o que deveria ser uma noite romântica?
— Tudo bem — eu disse as palavras, mas não foi de coração.
Eu ainda estava presa na calçada, vendo Shelly cobiçar meu
namorado de forma descarada como se eu não fosse nada.
Querendo saber por que isso importava tanto.
Jason
Felicity ficou em silêncio durante todo o caminho para casa. Merda
de Griffin e da Shelly. Era como se o universo quisesse foder comigo
um pouco mais, colocando-os bem do lado de fora do restaurante.
Em um minuto, estávamos todos parados lá, e no próximo, Felicity
estava me dizendo para ir com eles, como se eu fosse abandoná-la
daquele jeito.
Cacete. Doeu.
Quando chegamos ao nosso apartamento, o ar estava pesado e
sufocante ao nosso redor. Eu queria me desculpar, passar a noite
mostrando a ela o quanto eu a amava. O quanto eu precisava dela.
Mas agora... agora eu não sabia o que dizer, muito menos saber
como chegamos a este ponto.
No segundo em que ela abriu a porta, Felicity entrou no
apartamento.
Segurei seu pulso.
— Espere, precisamos conversar.
— Estou cansada, Jason. Acho que vou...
— Que se foda — gritei, sentindo que eu estava começando a
perder o controle.
Ela se virou para me encarar, seus olhos cintilando com tanta
derrota que me senti um otário sendo socado.
— Não quero fazer isso agora.
— Fazer o quê? Você está falando como se tivéssemos
terminado ou algo assim.
Ela olhou para o chão. Foi apenas uma fração de segundo, mas
foi o suficiente para meu coração despencar.
Ela queria terminar?
Não.
Sem chance.
Era só uma discussão. Uma discussão boba depois de algumas
semanas de tensão. Não era nada que não pudéssemos resolver.
Mas então ela disse as palavras que me fizeram tropeçar para trás.
— Não tenho mais certeza se posso fazer isso.
— O quê? — Pisquei para ela. — O que foi que você acabou de
dizer?
Olhamos um para o outro pelo segundo mais longo. Lágrimas
brilharam nos olhos de Felicity, escorrendo por suas bochechas.
— Espere aí, isso tudo porque a Shelly estava lá?
— Ela agiu como se eu não fosse nada, Jason. Tem ideia de
como isso me faz sentir horrível? Saber que ela acha que pode te
ter? Como se eu não fosse nada?
— Baby. — Dei um passo à frente, precisando tocá-la.
Precisando impedir que mais palavras ridículas saíssem de sua
boca. — Você sabe como ela é. — Muitas das líderes de torcida
eram iguais, todas desesperadas para pegar um jogador. E,
infelizmente para mim, eu estava no topo da cadeia alimentar. Mas
eu nunca tinha olhado, muito menos tocado.
Não quando eu tinha tudo que poderia querer bem aqui.
— Achei que eu era forte o suficiente... — ela murmurou,
baixando o olhar novamente. — Pensei que viríamos para cá e eu
estaria ao seu lado...
— Você está ao meu lado. — Segurei seus ombros. — Você é a
única que preciso ao meu lado. Sei que tenho priorizado a equipe,
mas é só por mais algumas semanas e então a temporada acaba e
as coisas vão se acalmar. — Meus olhos encararam os dela,
implorando para que ela acreditasse em mim. — Merda, baby, de
onde vem tudo isso?
— Eu mal estou mantendo o controle, Jason. E você... você faz
com que pareça muito fácil. Você tem amigos, o time, um fluxo
interminável de garotas competindo por sua atenção. Aquele cara
esta noite, no restaurante, ele vai ser o primeiro de muitos. E estou
orgulhosa de você... Deus, estou muito orgulhosa de você. Isso é
tudo que você sempre quis...
Cerrei a mandíbula. Quanto mais ela falava, mais resignada
parecia. Coloquei a mão em seu pescoço com gentileza.
— Preciso que você ouça o que estou prestes a dizer. Você acha
que não estou cego de ciúme com a ideia de você passar todo o seu
tempo livre com o tal tutor? Que não me deixa louco saber que você
encontrou alguém com quem compartilhar o que você ama? Eu
odeio essa merda. — Rocei os dedos em sua garganta, sentindo
seu pulso vibrar sob meus dedos.
— Odeio que você tenha achado difícil fazer amigos e detesto o
quanto eu te decepcionei. Mas sabe o que mais odeio? Que você
esteja aí, duvidando que eu te quero. — Desci a mão para o decote
de seu vestido, puxando-o de leve para revelar minha marca em sua
pele. Meu polegar traçou as letras pequenas. — O que está escrito?
— perguntei a ela.
— J-Jason.
— Me diga o que está escrito.
— P-propriedade de um Raider.
— Puta merda, com certeza. Você é minha, Giles. — Voltei a
mão para seu pescoço, segurando-a de leve enquanto eu olhava
diretamente em seus olhos. — Isso não significa nada se você não
estiver ao meu lado.
Seu lábio tremeu quando ela reprimiu uma nova onda de
lágrimas.
— Eu te amo, mulher. Eu te amo demais para deixar você se
afastar de mim.
— Isso só vai ficar mais difícil — ela sussurrou. — Aulas, sua
carreira no futebol. E se eu não for forte...
— Ssh. — Passei o polegar sobre seus lábios, me inclinando
para tocar a cabeça na dela. — Você é uma das pessoas mais
fortes que conheço, baby. Seu coração, sua compaixão, a maneira
como você ama de forma tão feroz. Sou muito sortudo por ter você.
Sei que as coisas estão difíceis agora e odeio ter feito você duvidar
de mim, duvidar de nós... mas preciso de você, Felicity. Sempre vou
precisar de você.
Um gemido escapou de seus lábios, mas eu engoli, cobrindo sua
boca com a minha e beijando-a com tudo que eu sentia. O bom, o
mau... o totalmente impensável. Perder Felicity não era uma opção.
Hoje, não.
Amanhã, não.
Nunca.
Eu só precisava descobrir uma maneira de mostrar isso a ela.
SETE
Felicity
EU PODIA SENTIR o gosto da umidade das minhas lágrimas
quando Jason enfiou a língua na minha boca e me beijou. Só que
não foi só um beijo, foi uma marca. Ele me marcou com os dentes e
me reivindicou com o seu toque.
Ainda havia coisas que precisávamos conversar, inseguranças
que eu precisava resolver, mas por agora, permiti me perder na
maneira como ele dominava cada um dos meus pensamentos.
— Você fica tão sexy neste vestido. — Suas mãos deslizaram
pela parte de trás das minhas coxas e ele me puxou contra si,
forçando minhas pernas em volta de sua cintura. Eu já podia senti-lo
duro. Grosso e pronto. O desejo pulsou através de mim como um
batimento cardíaco.
— Jason — ofeguei enquanto caminhávamos pelo quarto e ele
me empurrava contra a parede.
Tudo ficou desesperador. Agarramos as roupas, pele e músculos
um do outro. Passei os dedos pelos ombros e costas de Jason
enquanto ele dava beijos quentes e úmidos pela minha mandíbula e
garganta, se demorando na pulsação, passando a língua sobre a
minha pele em chamas.
Meu cabelo caiu em cascata ao meu redor enquanto eu inclinava
a cabeça, ávida por mais. Jason passou os dedos pela minha
barriga, encontrando a bainha do vestido e empurrando-o pelo meu
corpo antes de deslizar a mão entre nós.
— Caramba — gemi enquanto ele esfregava minha calcinha de
renda, criando uma fricção inebriante.
— Puta merda, baby, você está muito molhada. — Empurrando o
tecido de lado, ele colocou dois dedos dentro de mim. Um gemido
confuso saiu dos meus lábios quando ele acrescentou o polegar,
arrastando-o sobre o meu clitóris. — Isso é meu — ele proferiu no
canto da minha boca. — Para sempre. — Ele curvou os dedos,
esfregando com mais força. — Para todo sempre. — Mordeu meu
lábio inferior, aliviando com a língua. — Minha.
Uma onda de intenso prazer caiu sobre mim enquanto eu gritava
seu nome repetidamente. Minha mão foi para a fivela de seu cinto,
puxando-a e tirando o jeans apenas o suficiente para que seu pau
pulasse livre.
Eu precisava dele mais que nunca.
Minha fome estava frenética, correndo dentro de mim como um
incêndio. Os olhos de Jason se fixaram nos meus enquanto ele se
movia para frente, me preenchendo ao máximo.
— Puta merda — ele murmurou.
— Se mova — implorei, com a voz cheia de luxúria. — Preciso
que você... — O ar escapou de meus pulmões quando ele estocou
em mim de novo.
Ele não era gentil ou terno, lento ou doce. Jason não estava
fazendo amor comigo agora, ele estava se fixando em minha alma,
tentando gravar seu nome em meu interior.
— Minha — ele grunhiu na minha orelha antes de passar a
língua pelo meu pescoço, lambendo e chupando.
— Jason, eu não posso... é...
— Shhh — Ele pressionou a cabeça na minha, me prendendo na
parede com seu olhar intenso. — Eu sei do que você precisa,
Felicity. Sempre vou saber. — Ele moveu o quadril para frente, nos
fazendo gritar de êxtase.
Envolvi seu pescoço, segurando-o. Eu sofreria amanhã, a
parede áspera nas minhas costas, as pernas abertas para
acomodar o grande corpo de Jason.
Mas bem ali, naquele momento, não me importei. Porque
éramos apenas duas pessoas tão desesperada e irrevogavelmente
apaixonadas que estávamos nos afogando um no outro.
E eu nem queria parar para respirar.
Jason
Eu disse ao treinador que chegaria tarde ao condicionamento
matinal. Depois de ontem à noite, eu não queria me levantar e sair
esta manhã. Fui sincero em tudo, mas não era idiota o suficiente
para não saber que a questão não era o que eu disse, mas como
Felicity se sentia.
Eu a observei dormir por um tempo. O suave subir e descer de
seu peito, o leve franzir em seu nariz enquanto ela sonhava –
comigo, eu esperava – e a maneira como seus peitos perfeitos
balançavam a cada respiração.
Felicity era tudo que eu sempre quis. Cada parte de mim estava
ligada a ela, então o fato de ela duvidar disso, duvidar de nós, me
matava.
Tentei mostrar a ela ontem à noite, mas eu sabia que sexo não
era a resposta.
Mas, puta merda, isso havia me deixado louco do mesmo jeito.
Parecia uma eternidade desde que a tomei com tanta urgência. Não
queria parar, excitado demais com a sensação de suas coxas me
puxando para mais perto, seu corpo perfeito preso contra a parede,
em exibição para mim. Sua tatuagem me provocando enquanto eu
estocava nela mais e mais.
Estendi a mão, traçando a curva de seu quadril, onde o lençol
havia caído.
— Jason — ela murmurou.
— Sou eu. Volte a dormir.
— Você ainda está aqui?
— Eu disse ao treinador que chegaria tarde. — Me arrastei na
cama, pressionando meu corpo contra as curvas suaves do dela.
— Mesmo? — Ela finalmente abriu um olho.
— Sim. Depois da noite passada...
— Ssh. — Ela pressionou um dedo contra meus lábios, do jeito
que fiz com os dela na noite passada. — Não quero falar. Só quero
aproveitar isso.
Empurrando o cabelo do rosto de Felicity, esfreguei o nariz sobre
o dela. — Eu te amo. Sabe disso, certo?
— Eu sei. — Sua mão estava espalmada sobre meu peito, bem
onde meu coração estava. — Eu também te amo.
Meus ombros cederam de alívio. Eu não tinha percebido o
quanto eu precisava ouvir essas palavras até agora.
— Nós vamos superar tudo, eu prometo. — Porque qualquer
outra coisa não era uma opção.
Felicity assentiu.
— Que horas você tem que sair?
— Ainda tenho uma hora.
— É melhor aproveitar ao máximo então. — Ela se abaixou e
agarrou minha ereção matinal, enviando uma onda de prazer pela
minha coluna.
— Na verdade — eu não podia acreditar que estava fazendo isso
—, eu esperava te levar para tomar café. — Beijei a ponta do seu
nariz.
— É? — Seu sorriso incerto fez meu coração quebrar.
Droga, eu tinha que compensá-la. Mas não queria me precipitar
em desculpas superficiais e grandes declarações de amor
apressadas.
Eu queria mostrar a ela, sem dúvida, que ela era tudo para mim.
Mas primeiro, eu queria levar minha garota para tomar café da
manhã e alimentá-la.

— BOM? — perguntei, assistindo com fascinação extasiada e um


toque de ciúme enquanto Felicity devorava seu muffin de mirtilo.
— Muito bom. — Ela sorriu.
O Mr. Java’s era uma cafeteria fora do campus. Ficava menos
lotado e pudemos pegar uma mesa perto da janela.
— Então, Mya mencionou a coisa do Dia de Ação de Graças que
a mãe do Asher está planejando?
— Sim.
— E?
— Achei que nós iriamos. — Felicity sorriu. — Ela disse que eu
posso convidar meus pais ou vou vê-los antes.
As coisas com o pai de Felicity ainda estavam tensas. Ele não
olhava mais para mim, como se eu tivesse roubado e corrompido
sua única filha, mas ainda não era meu maior fã também.
— Então voltaremos para cá na sexta-feira para assistir ao jogo.
Puta merda.
O último jogo.
O encerramento da temporada estava se aproximando.
— O Asher também mencionou a possibilidade de passar um fim
de semana em Nova York após o término da temporada. Pode ser
muito romântico.
— Acho legal. — Felicity sorriu, mas não atingiu seus olhos.
— Baby, eu e você, vamos...
— Oi, não esperava te ver aqui. — O tutor dela se aproximou de
nós, me deixando tenso.
— Ah, oi, Darcy. Você se lembra do meu namorado, Jason?
— Como se eu pudesse esquecer. Você é famoso no campus.
— Tivemos uma boa temporada até agora. — Me recostei na
cadeira, apoiando uma perna sobre o joelho. Darcy era um tipo
mauricinho. Ele usava calça e suéter, seu cabelo estava penteado
para trás e tinha uma bolsa carteiro pendurada no ombro. Ele era
tudo que eu não era, tudo que eu não queria ser. No entanto, não
pude deixar de me perguntar se Felicity alguma vez desejou ter se
apaixonado por alguém mais parecido com ele.
Que merda eu estava fazendo?
Felicity não queria alguém como Darcy Bannerman. Ela
precisava de alguém para moderar seu espírito selvagem e
aguentar seu tipo especial de loucura.
Ela precisava de mim.
— Tudo certo para nossa sessão mais tarde? — Ele ignorou meu
olhar e se concentrou exclusivamente na minha garota.
Tive a necessidade repentina de reclamá-la, bem ali no meio da
porcaria do café. Me remexi de forma desconfortável, chateado por
ele estar invocando uma reação tão carnal de mim.
Agora você sabe como a Felicity se sente, idiota.
— Sim, te vejo mais tarde, certo? — Sua dispensa educada fez
meu coração disparar.
— Ah, claro. — O tutor hesitou. — Te vejo mais tarde. Jason, foi
um prazer.
Aposto que sim, idiota.
Ele saiu da cafeteria, e Felicity deu um pequeno suspiro de
alívio.
— Pode parar de olhar feio agora. — Ela deu uma risadinha.
— Você já desejou...
— Nem diga isso. Eu não quero o Darcy, ele é meu tutor.
— Sim, mas ele entende de todas as coisas que você tanto ama.
Deus, por que tudo estava tão bagunçado? Foi como se
tivéssemos dado um passo para frente e dois para trás.
— Jason, eu te amo. — Felicity se inclinou para frente. — Acho
que subestimei o quanto tudo isso seria difícil.
— Eu sei e gostaria que pudesse ser diferente. Mas...
— Eu entendo, eu entendo. Eu não ia querer que você desistisse
do seu sonho. Você trabalhou muito para isso.
— Eu te amo.
As palavras estavam se tornando um ponto para as costuras
desgastadas de nosso relacionamento. Mas eu não sabia como
consertar. Não sabia como fazer Felicity acreditar que eu precisava
dela.
Seus olhos verdes se fecharam e tremularam. Quando ela os
abriu novamente, tudo que vi foi uma garota tentando
desesperadamente se agarrar ao seu sonho.
Ela me deu um sorriso triste e disse:
— Eu sei.
Felicity
— Olá, você se importa se eu me sentar aqui? — perguntei para a
garota que estava arrumando seu material de forma meticulosa
sobre a escrivaninha.
— Tudo bem. — Ela mal olhou para mim.
Depois do café da manhã com Jason na segunda-feira, decidi
voltar ao meu antigo hábito de fazer listas. No colégio, isso me
ajudou a sentir controle sobre a minha vida, então por que não aqui?
Mas em vez de escrever uma lista de desejos da faculdade,
decidi mantê-la simples. Uma tarefa por dia.
Tarefa de hoje: fazer um novo amigo.
Parecia simples e, no entanto, era algo contra o qual eu tinha
lutado. Mesmo em minhas aulas cheias de alunos com ideias
semelhantes, não consegui realmente me conectar com ninguém.
Mas notei Elodie. e ela estava sempre sozinha, sempre sentada no
fundo da classe. Então achei que talvez ela fosse como eu. Talvez
ela também achasse difícil se conectar.
— Eu sou Felicity — falei. — Felicity Giles.
— Ah. Meu. Deus — ela sussurrou. — Imaginei que era você. —
Seu rosto inteiro se transformou. Foi-se a aluna tímida e quieta que
eu tinha visto nas aulas, substituída por uma garota de olhos
brilhantes que me encarou como se eu fosse a segunda a chegar.
— Quer dizer, ouvi seu nome por aí... mas não sabia... uau. Você
é a namorada do Jason Ford. Isso é... uau. Eu sou uma grande fã.

PRESSIONEI os lábios em uma linha fina. Eu não podia escapar.


Não importava para onde eu me virasse, com quem falasse, sempre
seria a namorada de Jason Ford.
— Esta sou eu. — Dei a ela um sorriso fraco. Não tive coragem
de estragar sua manhã, já que ela parecia tão animada por falar
comigo.
— Sou muito fã... mesmo. Segui os Quakers por toda a minha
vida. Meu pai jogou para eles... ele é meio que da realeza Quaker. É
por isso que sou muito na minha. — Ela olhou ao redor de forma
conspiratória. — E, ah, meu Deus, estou fazendo isso, não estou?
Estou sendo aquela fã obcecada e esquisita que tento tanto evitar.
— Sim, um pouquinho. — Uma risada estrangulada borbulhou
em meu peito.
— Me desculpe, é só... droga, garota. — Ela agarrou a borda de
sua mesa e se inclinou mais perto. — Você está namorando Jason
Ford, um dos melhores zagueiros que a NCAA já viu em pelo menos
uma década. Isso tem que ser alguma coisa.
Ah, era algo bom.
— Ei, você gostaria de tomar um café depois da aula? Prometo
não surtar. A propósito, sou Elodie. Elodie Faltham.
— Eu...
Não era assim que imaginei a conversa. Eu queria fazer uma
amiga, iniciar uma conversa com alguém que não me classificasse
automaticamente como a namorada de Jason Ford. Mas talvez ela
entendesse mais do que a maioria.
— Juro que geralmente não sou tão estranha — ela acrescentou
como se pudesse ouvir minha turbulência interior. — É que sou
muito passional, e acontece que eu realmente amo futebol, quase
tanto quanto amo animais. — Seu sorriso se ampliou.
Isso selou o acordo.
Uma garota que podia amar futebol e animais...
Apesar de sua apresentação incerta, Elodie Faltham parecia ser
o meu tipo de garota.
OITO
Felicity
— PUTA MERDA, isso é incrível — Elodie gritou ao meu lado
enquanto o time corria para o campo.
Jordan precisou ir para casa no fim de semana, algo relacionado
a uma emergência familiar. Ela gentilmente se ofereceu para dar
seu ingresso a minha nova amiga. Eu não tinha certeza se Elodie
justificava o status de amiga ainda, mas tínhamos saído algumas
vezes, e sempre nos sentávamos juntas na aula. Depois de sua
empolgação inicial por eu estar namorando Jason, ela se controlou
e manteve nossa conversa em tópicos mais seguros, como meu
trabalho voluntário no abrigo e seu sonho de um dia trabalhar com
grandes felinos em reservas africanas.
— Quer dizer, já estive em todos os jogos deles, mas nunca
cheguei nem perto de me sentar em lugares tão bons. Muito
obrigada. — Ela me deu um grande sorriso e não pude evitar de ser
contagiada por seu entusiasmo. Ela me lembrou de... bem, de mim
no colégio, ansiosa para aproveitar o último ano e tudo o que vinha
com isso.
— Ah, meu Deus, lá está ele. — Ela apontou para Jason e eu
soltei uma risadinha.
— Sim, é ele.
—Ah, Deus, estou fazendo de novo, não estou? — Ela franziu o
cenho. — Me desculpe, é só...
— Tudo bem. Pode apreciá-lo.
A atmosfera em Franklin Field estava elétrica, todos animados
com a temporada perfeita do time até agora. Se ganhassem esta
noite, ficariam com dois jogos pela frente e o título da liga em vista.
Eu sabia o quanto isso significava para o time, a torcida e os
treinadores. Mas, acima de tudo, eu sabia o quanto isso significava
para o cara vestindo a camisa número um vermelha e azul.
— Se eles ganharem este jogo, a temporada pode ser deles.
Apenas Dartmouth tem chance de tirá-los da... — Ela começou uma
análise da Ivy League, mas suas palavras mal foram registradas
enquanto eu via Jason liderar seus companheiros de equipe. Eles o
respeitavam, seguiam suas ordens e prestavam atenção quando ele
falava. Era algo para se ver.
Estávamos bem desde o fim de semana. Ainda havia algumas
coisas que precisávamos resolver, mas algo havia mudado.
— Felicity? — Elodie me cutucou.
— Hum, o quê?
— Perguntei se você tem certeza de que vou poder ir à festa
mais tarde? Eu nunca fui a uma festa de futebol antes.
— É como qualquer outra festa da faculdade, exceto com mais
líderes de torcida.
— Na verdade — suas bochechas ficaram vermelhas —, nunca
fui a uma festa da faculdade antes.
— Provavelmente estive em menos do que você pode imaginar
— admiti.
— O quê? Não acredito? Seu namorado é...
— Acho que estabelecemos quem é meu namorado. — Dei a ela
um sorriso divertido. — Mas não abri exatamente minhas asas
desde que vim para a Pensilvânia.
— Bem, podemos sair da nossa zona de conforto juntas. —
Elodie me deu uma piscada conspiratória.
— Você não está preocupada que as pessoas descubram sobre
o seu pai?
Ela deu de ombros.
— Honestamente, acho que o tenho usado como uma razão
para não me colocar em novas situações sociais.
— Então, hoje à noite, vamos festejar? — Um fio de excitação
passou por mim. Eu sempre ia a festas com Jason, ficava parada e
assistia do lado de fora enquanto ele e seus amigos se divertiam.
Jordan estava por perto neste semestre, mas no ano passado eu
tinha ficado a maior parte do tempo sozinha. Então, eu não podia
negar que era bom finalmente ter alguém ao meu lado.
Mesmo que ela estivesse encantada pelo meu namorado.
Jason
— Parabéns. — Felicity correu para mim quando a encontrei no
meio da multidão.
Eu a puxei para meus braços e a beijei. A adrenalina ainda corria
em minhas veias, uma tempestade de fogo que não mostrava sinais
de diminuir. Eu precisava de uma bebida forte ou estar enterrado
bem no fundo da minha garota. Mas havia uma festa... uma festa
que prometi aos caras que iria.
Merda.
— Estou tão orgulhosa de você.
Vencemos Yale por 28-17. Éramos imparáveis, uma tempestade
implacável determinada a atingir todos os times que
enfrentássemos. E o próximo na lista era Cornell.
Olhei por cima do ombro de Felicity quando percebi que
tínhamos companhia.
— Você deve ser a Elodie, — falei puxando Felicity para o meu
lado. — Eu sou o Jason.
A garota arregalou os olhos e abriu a boca.
— El, nós conversamos sobre isso — Felicity disse, como se
fossem velhas amigas. Eu tinha ouvido tudo sobre Elodie Faltham,
filha da lenda Quaker, Marcus Faltham, astro running back no final
dos anos 1980. Ela era a nova amiga de Felicity. Embora eu
estivesse começando a achar que havia algo de errado com ela pelo
jeito como ela estava boquiaberta.
— O-oi, é uma honra. — Ela estendeu a mão e eu a encarei,
franzindo a testa. — Ah, certo, me desculpe. — Ela enfiou a mão no
bolso. — Normalmente não fico tão nervosa. É que sou uma grande
fã.
— Acho que é de família, hein?
— Sim. — Ela engoliu em seco. — Meu pai me introduziu jovem.
— Eu conheço esse sentimento — resmunguei. — Você está
pronta para a festa com a equipe?
— Eu... — Ela mordiscou os lábios, mas pude ver que ela estava
quase pronta para explodir de excitação.
— Ela está um pouco animada.
— A equipe vai adorar ter a realeza Quaker em casa.
— Ah, não, você pode não contar isso, por favor? — Todo o seu
comportamento mudou.
— Claro, sim, tudo bem. — Olhei para Felicity, que balançou a
cabeça de forma imperceptível.
Exatamente o que eu precisava. Uma festa que eu não queria ir,
uma namorada que questionava nosso relacionamento a cada
passo e uma fã que parecia nunca ter ido a uma festa na vida.
Esta noite seria um desastre.

A FESTA já estava a todo vapor quando chegamos. Felicity quis


passar pelo apartamento para se trocar. Ela deixou Elodie pegar
uma roupa emprestada e as duas pareciam vestidas para matar.
Não me preocupava com Felicity – todos sabiam que ela estava fora
dos limites. Mas Elodie era carne fresca e tão longe de sua zona de
conforto que era como se usasse um letreiro em néon.
— Ah, uau, quanta gente — ela murmurou, com os olhos
arregalados de admiração enquanto olhava para a casa.
— Não se preocupe — Felicity apertou a mão dela, — vamos
tomar alguns drinques e você vai ficar bem.
— Tenho certeza de que o Griffin ou um dos caras ficará mais do
que feliz em ajudar...
— Jason.
— O que foi? — hesitei. Se Felicity achava que eu passaria a
noite brincando de babá, ela estava redondamente enganada. Eu
queria chegar, tomar algumas cervejas e depois dar o fora dali.
— Não podemos simplesmente deixar os caras cuidarem dela.
— Relaxa, estou brincando. — Na maior parte. Mas Elodie já
havia se afastado, entrando na casa como se estivesse entrando em
um país das maravilhas mágico ou algo assim.
Passei um braço em volta de Felicity e a puxei para o meu lado.
Ela pressionou a mão no meu peito, olhando para mim.
— Você está bem em estar aqui?
— Estou. — Ela assentiu. — Quem sabe, talvez eu até me divirta
um pouco?— Seus olhos se voltaram para Elodie.
Franzi o cenho.
— Está dizendo que não se diverte comigo?
— Você sabe o que eu quero dizer. — Ela se inclinou para me
beijar, arranhando de leve meu queixo. O sangue fluiu direto para o
meu pau e eu gemi baixinho quando ela segurou minha mão e me
puxou para dentro de casa.
— Ei, Ford, venha aqui.
A música saía de um alto-falante em algum lugar, e as pessoas
dançavam, se esfregando umas nas outras. Griffin e Gio vieram na
minha direção, me puxando para um abraço masculino. Tentei
segurar a mão de Felicity, mas ela me soltou, murmurando:
— Vou encontrar a Elodie — que já havia desaparecido no mar
de pessoas.
— Comporte-se — gritei, porque embora estivéssemos em uma
casa cheia de companheiros de equipe, Felicity ainda era minha
garota.
E eu não queria passar a noite lutando contra os abutres.
Felicity
— Acho que estou bêbada — Elodie riu, enterrando o rosto no
ombro de Griffin.
— Quantos ela tomou? — ele me perguntou, e eu dei de ombros.
— Uns quatro. — Ao contrário dos meus oito, mas mesmo
depois de dobrar a quantidade de bebidas, eu não estava tão
bêbada quanto minha nova amiga.
— Quatro? Puta merda, ela está...
— Feliz. — Ela ergue a cabeça. — Estou tããão feliz. Vamos
tomar mais daqueles shots cheirosos. — Ela começou a alcançar a
bebida ao lado de Griffin, que a envolveu em um abraço de urso.
— Ah, não, você não vai, novata.
— Vou querer um — falei.
— Acho que você já bebeu o suficiente — Jason grunhiu.
— Ah, não seja desmancha-prazeres. — Toquei em sua
bochecha. — Estamos nos divertindo.
— Nos divertindo. — Elodie socou o ar, quase caindo para trás,
mas Griffin a estabilizou. Ele parecia atingido, com um brilho nos
olhos.
— Você precisa ficar de olho no Griff — sussurrei para Jason,
vacilando suavemente. — Ele está olhando para a El do jeito que
você olha para mim.
— Ah, é? — Ele baixou a cabeça para a minha, a eletricidade
estalando entre nós. — E como eu olho para você?
— Como se quisesse me devorar.
Jason sorriu, me roubando um beijo casto.
— Você é engraçada quando está bêbada.
— Então eu provavelmente deveria beber mais. — Dei uma
piscada atrevida para ele antes de pegar outro shot da bandeja.
Não sei o que deu em mim, mas pela primeira vez em muito
tempo, me senti como eu mesma. Divertida, livre e não amarrada
pelo peso da expectativa e responsabilidade. Era realmente irônico,
mas parecia que a garota quieta e tímida da minha classe havia
desencadeado algo dentro de mim.
Engoli a bebida de aparência turva e limpei a boca com as
costas da mão, apreciando o calor enquanto ele descia pela minha
garganta.
— Sua garota está em forma esta noite, Ford — Griffin disse,
com o braço ainda envolto em Elodie.
— A Fee é a melhor — ela balbuciou. — Acho que tenho uma
queda por garotas.
— Certo, garota bêbada. — Eu a tirei de Griffin. — Nós vamos
dançar.
— Dançar? — ela gritou. — Mas eu não danço.
— Bem — eu sorri —, agora você dança.

A SALA ESTAVA GIRANDO. O suor cobria minha pele e pequenas


gotas de umidade escorriam pelas minhas costas e peito enquanto
nos movíamos com a batida. Perdi a noção do tempo, dançando e
rindo. Ninguém nos incomodou, não com Jase e Griffin vigiando
como duas sentinelas colocadas na Terra com o único propósito de
nos proteger.
— Acho que o Griff gosta de você — eu disse a minha nova
amiga. Em um determinado ponto, ela começou a beber água,
protestando quando Griffin insistiu que o fizesse. Mas eu sabia que
ela ia agradecê-lo quando acordasse. Embora eu tivesse uma leve
suspeita de que ela não acordaria em sua própria cama. — Não me
sinto muito bem — estendi a mão para ela, sentindo uma onda de
náusea me atingir.
— Merda, Felicity.
Braços fortes me pegaram.
— Vou te levar para casa.
— Mas eu ainda estou dançando. — Encarei meu salvador.
— Baby, você mal consegue ficar de pé. — Jason me puxou
para o seu lado e disse algo para Elodie e Griffin. Por causa da
música e do sangue latejando entre meus ouvidos, mal consegui
entender uma palavra.
Em seguida, começamos a andar. O ar frio corria sobre minha
pele e abrandava o calor que corria em minhas veias.
— Espere. — Eu caí contra o corpo de Jason. — Não me sinto
muito bem.
— Estou com você, baby — ele disse, soando muito sóbrio.
Pensando bem, eu não o via com uma bebida há horas.
— Por que você não está bêbado? — As palavras saíram
confusas enquanto ele me apoiava na parede para que eu pudesse
recuperar o fôlego.
— Bebi duas cervejas e depois mudei para refrigerante.
— Mas por quê? É uma celebração... todos vieram para festejar
você. — A noite toda eu observei as pessoas gravitarem em torno
de Jason. Ele era o sol e todos queriam estar em sua órbita.
Ou era a gravidade?
Argh.
— Eu queria que você se divertisse.
— Mas você também poderia ter relaxado.
— Acho que você subestima o nível que posso chegar para
protegê-la. — Ele beijou a ponta do meu nariz. — Como está se
sentindo agora?
— Bem, eu acho. Suas palavras gentis me deixaram um pouco
sóbria. — Um sorriso apareceu em meus lábios.
— Cem por cento de verdade, baby.
— Deus eu te amo. Eu te amo tanto que gostaria que isso nunca
tivesse que acabar. — Uma onda de amor cresceu dentro de mim,
como a elevação das águas ameaçando me puxar para baixo.
— Que bom que não tem que acabar. Vamos. — Ele começou a
me puxar junto com ele.
— Mas vai. Um dia, você será superfamoso e eu terei
abandonado a faculdade. Eu ainda vou te amar, sabe... mesmo
quando você for um figurão na NFL e eu te vir na ESPN.
— Você está bêbada, baby.
— Pode ser, mas também sou realista... e isso... nós... não vai
ser para sempre. É... — Meu tornozelo virou e o mundo começou a
desmoronar.
— Merda, Felicity.
— Estou voandoooo. — Eu ri, jogando meus braços para o lado
e me preparando para o impacto.
Mas isso não aconteceu.
— Você me pegou — eu disse, olhando para olhos intensos e
escuros que eu jamais iria esquecer. Porque aqueles olhos eram o
meu mundo. Tudo que eu sempre quis.
— Sempre vou pegar você, Giles.
Deus, como eu queria acreditar nele.
NOVE
Jason
— É ISSO, rapazes. Ganhem esta noite e o título é nosso. — O
treinador nos encarou com um olhar severo.
Nossa vitória contra Cornell na semana passada significou que
poderíamos ser coroados os vencedores da liga esta noite, e não no
último jogo. E a melhor parte? Cam e Asher estavam na torcida, já
que as equipes deles foram desclassificadas há semanas.
— Eu não poderia ter pedido mais de vocês nesta temporada —
ele continuou. — Perder o Lincoln foi um golpe, mas, Jason, você
aceitou o desafio e fez o trabalho.
Todos aplaudiram, a batida de suas chuteiras contra o chão e o
som estridente de seus gritos retinindo dentro do meu peito.
— Está tão perto que quase podemos sentir o gosto. A Penn não
teve uma temporada como esta em quase uma década. Vão lá fora
e façam o que vocês nasceram para fazer. Agora venham aqui.
Nós nos levantamos como um exército respondendo a um grito
de batalha e nos posicionamos em volta do treinador em um círculo.
— Quakers em três. — Ele me deu um aceno de cabeça e minha
voz perfurou o ar.
— Um... dois... três... Quakers.
Gio me deu um tapinha nas costas, com os olhos brilhando de
expectativa.
— Ei, Griff, sua garota vai estar lá fora?
— Ela não é minha garota.
— Não é o que eu soube — acrescentei sorrindo.
Desde a festa, Felicity e Elodie tinham saído muito. Ela até me
convenceu a ir a alguns encontros duplos com Griff e sua nova
amiga. Ele não queria colocar um rótulo na relação, mas os dois
estavam próximos. Vi o brilho protetor em seus olhos naquela noite.
Ele mal a perdeu de vista. Elodie era estranha. Às vezes, ela ficava
desesperadamente quieta e introvertida, outras vezes era vibrante e
falava a mil por hora. Mas Felicity gostava dela. E não havia nada
que eu não faria por aquela garota.
Quando pegamos nossos capacetes e saímos do vestiário, meus
pensamentos voltaram àquela noite. Felicity estava completamente
bêbada, falando todo tipo de merda sobre nós, sobre mim. Coisas
que eu não queria ouvir. Mas quando ela acordou na manhã
seguinte, com ressaca e desidratada, não tive coragem de trazer
isso à tona. Então, nós deixamos aquilo pra lá. Se ela se lembrava,
não disse nada, e eu tentei todos os dias tranquilizá-la de que a
amava.
Tranquilizá-la de que seus medos nunca se tornariam realidade.
As coisas estavam melhores... mas não eram perfeitas. Ela
ainda estava tendo aulas com o tutor, e eu ainda ficava com a
equipe na maioria das vezes.
Mas eu esperava que depois desta noite, tudo mudaria.
— Você está pronto para isso? — Gio me olhou por cima do
ombro enquanto caminhávamos para o campo. Foi uma bênção ter
o nosso penúltimo jogo em casa. Se ganhássemos esta noite, a
atmosfera no Campo de Franklin seria explosiva e a fome queimava
em minhas veias.
— Nasci pronto — murmurei, deixando os aplausos da multidão
tomarem conta de mim. Felicity era a garota certa para mim. Senti
isso em minha alma tão certo quanto eu sabia que o céu era azul e
a grama sob meus pés era verde. Um dia, eu colocaria uma aliança
em seu dedo e meu filho em sua barriga. Ela era meu coração. Mas
o futebol? Futebol era minha vocação.
Eu só tinha que encontrar uma maneira de unir os dois.
Uma grande mão pousou no meu ombro, e eu olhei para cima
para encontrar Griff olhando para mim.
— Eu entendo — ele murmurou.
— Entende o quê? — provoquei.
— Eu gosto dela, cara. Eu realmente gosto dela.
Meus lábios se curvaram.
— Bem, mantenha esse pensamento, porque temos um jogo a
vencer. — Dei um tapinha nas costas dele e comecei a correr em
direção ao resto do nosso time.
— Como você consegue? — ele gritou.
Eu me virei, correndo de costas.
— Consigo o quê?
— Focar no futebol e em uma garota?
— Você só precisa mostrar a ela o que ela significa para você.
As palavras foram como um soco no estômago. Meu passo
vacilou quando cada memória que Felicity e eu compartilhamos me
atingiu, uma após a outra.
Tudo estava tão claro... Eu não sabia como não tinha visto antes.
Eu sabia o que tinha que fazer.
Sabia como consertar o que tínhamos.
Felicity
As lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu assistia Jason
e seus companheiros comemorando. A multidão de treze mil
pessoas estava de pé, aplaudindo e vibrando junto com eles.
Eu assisti com nada além de orgulho e amor quando o treinador
Faulkner encontrou Jason e o puxou para um abraço antes de
segurar seus ombros e dizer algo para ele. Jason assentiu cabeça,
os olhos arregalados de compreensão.
— Seu namorado se saiu bem. — Hailee se aninhou ao meu
lado, seu próprio orgulho e entusiasmo girando ao nosso redor. Este
momento não significava muito apenas para mim, significava muito
para todos nós. Cam, Asher, Hailee, até mesmo Mya. Nós sabíamos
o que o futebol significava para Jason, o que este momento
significaria para ele.
Limpei os olhos, tentando controlar minhas emoções. Estar aqui
para testemunhar isso, ver o cara que amo mais do que qualquer
coisa realizar seus sonhos... bem, era fácil esquecer toda a tensão e
distância entre nós nas últimas semanas. Meu coração inchou por
ele. O garoto de Rixon com seu sonho. Um menino que roubou meu
coração e se recusou a soltá-lo.
Ele queria futebol e a mim.
Se fosse assim tão simples.
— Flick, você deveria ir lá — Asher disse, me cutucando por trás.
— O quê? Eu não posso simplesmente...
— Ele está procurando por você.
Com certeza, Jason estava procurando por mim na multidão.
Não podíamos nos sentar na seção VIP, já que éramos seis, então
eu dei a Elodie meu ingresso e ela e Jordan foram para lá enquanto
me sentei nas arquibancadas com meus amigos.
No segundo que os olhos de Jason encontraram os meus, tudo
se derreteu. Com as pernas trêmulas, desci correndo os degraus até
a barreira. Jason correu em minha direção, com o sorriso radiante e
os olhos cheios de alívio.
— Você conseguiu — sussurrei, pressionando as mãos em seus
ombros. Seu cabelo estava úmido e bagunçado, a camisa Quaker
manchada de lama e grama enquanto o capacete estava pendurado
ao lado do corpo.
— Eu não posso... — Ele engoliu em seco. — Isso é... não posso
acreditar.
— Acredite, Jason. — Passei uma das mãos em sua bochecha.
Não importava o que acontecesse entre nós, onde quer que nosso
caminho nos levasse, eu sempre ia querer isso para ele. Mesmo
que fosse o que nos destruiu, ele merecia.
Ele merecia que seus sonhos se tornassem realidade.
— Estou tão orgulhosa de você. — Me inclinei para beijá-lo e um
coro de gritos estourou atrás de nós. Minhas bochechas ficaram
vermelhas e tentei me afastar, mas Jason passou uma das mãos em
volta do meu pescoço, me prendendo no lugar.
— Baby, eu não teria conseguido sem você — ele sussurrou
contra meus lábios. — Eu preciso de você, Felicity Charlotte Giles.
Sempre vou precisar de você.
Abri a boca para responder, mas os caras o alcançaram,
puxando-o para trás.
— Desculpa, Fee — Griff gritou. — Mas precisamos pedir nosso
líder destemido emprestado.
A risada escapou dos meus lábios enquanto eu os observava.
Parte de mim queria odiar a coisa que poderia tirar Jason de
mim, mas bem ali, naquele momento, eu só podia sentir alegria.
Jason
Não ficamos e festejamos com a equipe. Apesar dos protestos
deles, depois de alguns drinks, muitos cumprimentos e parabéns,
tudo que eu queria era comemorar com meus amigos e minha
namorada, então fomos embora.
— Merda, cara, isso foi realmente incrível. — Asher brindou
comigo quando nos sentamos amontoados em uma cabine
silenciosa em direção à parte de trás do bar, embaixo do prédio de
Asher e Mya. Eu não queria ser abordado por fãs apaixonados, não
esta noite.
— Sabe, depois desse desempenho, os times vão fazer fila por
você.
— Ainda faltam mais dois anos. — E depois de Linc, todos nós
sabíamos a rapidez com que sonhos podiam se acabar. Sua cirurgia
havia corrido bem, mas a reabilitação demoraria um pouco. Se ele
jogasse novamente, havia todas as chances de não ser o mesmo
jogador.
Asher bufou.
— Veremos. Depois da formatura, você vai assinar contrato com
os Eagles ou os Steelers, estarei pronto para iniciar um novo ramo
do negócio do meu pai e sabe se lá o que este aí estará fazendo.
— Ei. — Cam deu um soco em seu braço. — Eu tenho planos.
— Se importa de compartilhar? Porque acho que nunca ouvi
você falar sobre o que vai acontecer depois da formatura. Na
verdade, eu não duvidaria que você tivesse colocado uma aliança
no dedo dela e estivesse com uma criança a caminho. — Asher
sorriu.
— Quem tem um filho a caminho? — Mya e as garotas se
aproximaram, franzindo a testa para nós três.
— Umm, ninguém. — Ele enganchou um braço na cintura dela e
puxou-a para seu lado.
Deixei Hailee se espremer entre mim e Cam, antes de puxar
Felicity para o meu joelho. Afastando seu cabelo do caminho,
acariciei seu pescoço. Ela se inclinou para trás, envolvendo o braço
no meu pescoço.
— Cansado? — ela perguntou.
— Estou bem. — Inspirei antes de beijar sua pele macia. Um
arrepio percorreu seu corpo, acendendo o fogo em minhas veias.
— Não liguem para nós — Asher resmungou.
— Como se você não se tornasse um assanhado após um jogo.
— Mya revirou os olhos e todos nós caímos na gargalhada.
Era incrível ficar sentado lá com minha garota e meus melhores
amigos.
— Então, o Heisman... — Asher começou, mas eu o silenciei
com um olhar sombrio.
— Heisman? Do que ele está falando? — Felicity olhou para
mim.
— O Ash parece pensar que Jason tem uma boa chance de ser
indicado — Cam respondeu.
Ela se virou para olhar para mim.
— Você tem?
Dei de ombros.
— Eu duvido. A Ivy League costuma ser esquecida.
— Mas há uma chance? — Hailee perguntou, e eu encontrei o
olhar curioso da minha meia-irmã com um pequeno aceno de
cabeça.
— Talvez.
— Puta merda, Jase, isso é demais.
— Os anúncios só sairão no início de dezembro, mas, falando
sério, não tenham muitas esperanças. Eu não tenho. — Peguei a
cerveja e tomei um longo gole. Felicity entrelaçou nossos dedos,
seu toque como um bálsamo no meu corpo machucado e dolorido.
O jogo foi pesado. Brutal e implacável. Mas, no final, saímos por
cima.
— Bem, de qualquer forma, meu pai reservou a cobertura. É
nossa durante todo o fim de semana.
— Já reservamos nossos voos — Cam falou.
— Achei que poderíamos ir de carro juntos.
— Sim, claro. — Eu me inclinei na cabine de couro.
— Você acabou de ganhar a Ivy League. Poderia tentar parecer
um pouco mais... Não sei, animado.
— Estou animado — grunhi. — Por dentro.
As garotas riram. Envolvi o braço na cintura de Felicity e soltei
um suspiro cansado. Eu estava exausto e tudo o que queria era ir
para casa, ficar nu e cair no sono envolto em seus braços.
Normalmente, depois de um jogo, a adrenalina perdurava. A
excitação da vitória ou a tristeza de uma derrota pulsando em
minhas veias como uma droga sintética. Mas nós tínhamos
conseguido. Ganhamos o título com uma temporada quase perfeita.
Toda a pressão havia derretido, e eu pude finalmente relaxar.
Eu realmente consegui.
— Mais uma bebida e então acho que devíamos ir — Felicity
falou, como se tivesse uma linha direta com meus pensamentos.
Eu esperava que ela não tivesse.
Porque havia coisas que ela ainda não sabia.
Decisões que tomei que afetariam a nós dois.
— Podemos ficar — eu disse. Não havia pressão aqui. Sem
caras gritando meu nome ou fãs querendo autógrafos. Esses caras
me conheciam bem o suficiente para me manter com os pés no
chão, para me dar espaço.
E eu os amava por isso.
DEZ
Felicity
— ENTÃO, você e o Griff? — Balancei as sobrancelhas para Elodie
do outro lado da mesa.
— Somos só amigos. — Ela franziu os lábios, fingindo terminar
as anotações que estava fazendo.
— Amigos que passam quase todas as noites juntos? — Arqueei
a sobrancelha.
— O Griff é... — Ela soltou um longo suspiro, batendo a caneta
contra o lábio. — Ele é complicado.
— Mas todos eles são, não? Agora que a temporada acabou. —
Os Quakers terminaram com uma temporada perfeita, tornando a
conquista do título ainda mais doce.
— Estou feliz em ver aonde isso vai, mas não tenho a ilusão de
que seja real. Além disso, Griff é atleta, o que significa que
eventualmente ele vai se cansar. — Meu estômago revirou e ela
empalideceu. — Que merda, Fee, eu não quis dizer...
— Eu sei.— disse. Ela era do fã-clube Jason e Felicity.
— Vocês estão bem, certo? As coisas estão... boas.
— Estamos.
Elodie sorriu.
— E você tem seu fim de semana fora para ansiar. Nova York em
dezembro será muito romântico. — Ela soltou um suspiro sonhador.
— Sim, vai ser bom. — Eu estava ansiosa para ver Hailee e
Mya, e passar um tempo com elas sem a pressão das aulas. — Não
consigo acreditar que o semestre está quase acabando.
— E nós sobrevivemos.
— Sim — eu disse com um sorriso. Eu não tinha dúvidas de que
minhas sessões com Darcy tinham muito a ver com minhas notas
melhorando, mas ainda assim eu estava aliviada. Eu só tinha mais
alguns trabalhos para enviar antes de terminar oficialmente o
período oficialmente.
— Olhe a hora. — Elodie franziu a testa. — Preciso ir. — Ela
recolheu suas coisas e as enfiou na bolsa.
— Encontro? — Eu ri.
— O Griffin vai me levar ao The Gridiron para comer
hambúrgueres.
— Romântico.
— Nem todos podemos ser como você, partindo para Nova York
para um fim de semana de romance. — Ela mostrou a língua antes
de ir para a porta.
— Ei, Elodie — eu disse enquanto ela segurava a maçaneta.
— Sim?
— Estou muito feliz por ter conversado com você naquele dia na
aula.
— Sim. — Ela sorriu. — Eu também.
Elodie saiu e me sentei no sofá. Pegando o celular, percebi que
tinha uma nova mensagem de Jason.

QB #1: Preciso conversar... você está em casa?

EU: Sim. A Elodie acabou de sair. Está tudo bem?

QB #1: Estarei em casa em breve.

FRANZI O CENHO. Se Jason queria me deixar preocupada, ele fez


um ótimo trabalho. No momento em que ouvi a chave virar na porta,
senti um buraco gigante no estômago.
Me inclinando para frente, esperei que ele entrasse no
apartamento.
— Oi. — Procurei em seu rosto qualquer sinal do que estava
errado, mas ele usava uma máscara de indiferença.
— Oi — ele disse em voz baixa, caindo no sofá. Antes que eu
pudesse perguntar o que estava errado, Jason me puxou para seus
braços, enterrando o rosto em meu ombro.
— Jason, o que foi? O que está errado? — O medo se apoderou
de mim.
Seu corpo tremia sob meus dedos enquanto eu o segurava com
tanta força quanto ele a mim. Empurrando-o com o ombro, ele
finalmente se endireitou para olhar para mim.
— O treinador me ligou.
— Sério?
— Estou dentro, baby... estou entre os quatro finalistas.
— Do Troféu Heisman? — Arregalei os olhos. — Ah, meu Deus,
Jason, isso é incrível.
— Acho que estou em choque. — Ele estremeceu mais uma vez.
— Ei. — Segurei seu rosto. — Você merece... muito. Ah, meu
Deus, seu pai vai ficar louco.
— Já liguei para ele. O coroa ficou todo emocionado.
— Bem, sim, claro que ficou. — Eu sorri. Ninguém torcia mais
para isso que Kent Ford. — Achei que você ia me dizer algo ruim.
— O quê? — Jason franziu o cenho. — O que eu diria... — sua
expressão se desfez. — Nós. Você achou que eu estava vindo para
falar sobre nós.
— Honestamente, não sei o que pensei, mas você estava tão
certo de que não faria parte do grupo final.
— Venha aqui, mulher. — Ele apoiou a mão na minha nuca e
guiou meu rosto até o seu. — O que tenho que fazer para mostrar
que eu e você... somos feitos um para o outro?
— Jason... — Desviei meu olhar.
— Não, baby. Você precisa me ouvir quando eu digo que é você.
— Ele me forçou a olhar para ele. — Sempre será você.
— Eu te amo, Jason — eu disse, porque era verdade. Sempre
seria verdade.
Não importava para onde o futuro nos levasse, meu coração
sempre pertenceria a Jason Ford.
Jason
— Boa noite e obrigado por se juntarem a nós. Sem vocês, a
torcida, o futebol universitário e o Troféu Heisman não seriam o que
são hoje. É uma honra estar aqui esta noite, representando a
Heisman Trophy Trust. Parabéns aos finalistas deste ano pelos
incríveis feitos em campo nesta temporada de futebol universitário.
Nós adoramos assistir vocês e acompanhá-los na corrida pelo
Heisman deste ano...
A voz do Curador do Troféu Heisman foi abafada pelo sangue
rugindo entre minhas orelhas enquanto eu estava sentado ao lado
dos outros três finalistas. Meu coração estava batendo como um
bumbo no peito, minhas palmas estavam escorregadias e o suor
gotejava em minha testa sob o brilho das luzes enquanto o curador
continuava seu discurso.
— E agora é hora de dar as boas-vindas a um novo membro em
nossa família Heisman. É um prazer anunciar o vencedor deste
ano...
O tempo ficou mais lento. Nunca esperei estar aqui esta noite.
Nunca esperei ser anunciado como finalista... mas agora eu estava
aqui, agora que era uma possibilidade, eu queria.
Eu queria muito isso.
— Jason Ford, Universidade da Pensilvânia.
Aplausos ecoaram atrás de mim enquanto eu me levantava e
apertava as mãos dos outros finalistas, quase incapaz de acreditar
no que estava ouvindo.
Eu ganhei.
Eu ganhei, porra.
— Parabéns, cara — um deles disse, mas tudo se tornou um
ruído branco para o latejar do meu coração.
Isso era... eu não tinha palavras.
Nenhuma.
Foi bom que Cameron e Asher tivessem me ajudado a escrever
um discurso de aceitação só por garantia... porque, puta merda.
Eu me movi em direção ao corredor atrás de mim e meu pai me
segurou, me puxando para um abraço de urso.
— Estou tão orgulhoso de você, filho. Muito orgulhoso.
— Obrigado, pai — consegui murmurar, apesar do caroço
gigante preso na minha garganta.
Denise foi a próxima, seu perfume forte me fazendo tossir
enquanto ela me envolvia em um abraço.
— Parabéns, Jason. Sei o que isso significa para você.
Tínhamos uma relação tênue quando ela e Hailee foram morar
comigo e meu velho. Até o último ano, eu não queria ter nada a ver
com ela ou sua filha. Mas, à medida que eu caminhava ao longo da
fila para minha meia-irmã, não conseguia mais imaginar não tê-la
em minha vida.
— Estou tão orgulhosa de você. — Hailee me abraçou e eu a
deixei. Porque eu não era mais o mesmo garoto que a atormentava,
e ela não era mais a garota que me atingia da maneira errada.
— Venha aqui, mano. — Cameron e Asher me puxaram para um
grande abraço coletivo. Nós três em silêncio, enquanto
reconhecíamos este momento.
Os dois estiveram lá em todos os meus altos e baixos. Eles
tinham me visto no meu melhor, no meu pior e em todos os tons
intermediários. E sua lealdade e amizade nunca vacilaram, nem
uma vez.
Antes de eu me separar, Ash segurou meu pescoço e me puxou
para perto.
— Agora vai lá e pega esse prêmio, está me ouvindo? — Ele me
deu uma piscadela, dando um passo para o lado para me deixar
beijar a bochecha de Mya.
— Vá buscar, tigre — ela sussurrou.
Felicity estava esperando no final, com lágrimas transbordando
de seus olhos enquanto me observava diminuir a distância entre
nós. Ela estava deslumbrante com o vestido verde jade que caía
sobre suas curvas como uma cachoeira de seda.
— Você conseguiu — ela murmurou enquanto eu a puxava
contra meu corpo, não me importando que estávamos em uma sala
cheia de pessoas, ao vivo na televisão.
— Eu não poderia ter feito isso sem você. — Não consegui
explicar para ela, mas Felicity me atingiu de uma forma que
ninguém mais poderia. Seu espírito selvagem e empatia, sua paixão
e inseguranças, tudo nela me mantinha firme. Eu precisava disso.
Precisava disso mais do que jamais percebi.
— Vá — ela acenou para o palco —, eles estão esperando.
Roubando um beijo que mal alcançou minha necessidade
profunda por ela, voltei para a outra fileira de cadeiras para apertar a
mão dos meus treinadores.
— Nunca duvidei de você por um segundo, filho — o treinador
Faulkner disse, me dando um raro sorriso.
— Obrigado, treinador.
— Agora suba lá e deixe a Penn orgulhosa.
Com um aceno rápido, segui para o palco.
— Parabéns, Jason. — Alguém me guiou até o pódio onde
estava o troféu. Envolvi as mãos sobre a escultura de bronze e a
levantei no ar sob aplausos de arrepiar os cabelos.
Meu coração batia tão forte que me senti um pouco tonto, mas
não podia parar agora. Isso significava tudo... tudo para mim.
Colocando o troféu de volta, tirei o pedaço de papel do bolso e olhei
para a multidão.
— Isso é... uau. Devo avisá-los agora que meu desempenho é
muito melhor no campo. — A emoção brotou dentro de mim e eu
respirei fundo, mas as risadas gentis da multidão acalmaram meus
nervos. — Quero agradecer à minha equipe primeiro. No início da
temporada, perdemos nosso capitão, Lincoln Manella, e o treinador
Faulkner me pediu para ser o capitão.
— Caramba, pediu mesmo! — Asher gritou, e todos riram
novamente.
— A equipe não só aceitou minha liderança, ela a respeitou. A
linha ofensiva do time: Gio, Klein, Macca, Treyvon, Austin, Louis,
Paulie. Esses caras têm sido inacreditáveis nesta temporada e eu
não poderia ter feito isso sem eles. Todos os meus companheiros de
equipe me apoiaram e tornaram isso possível. Quero agradecer aos
meus treinadores por me orientarem bem e me manterem com os
pés no chão. Por transmitirem seu conhecimento e me estimular a
trabalhar mais.
Dei um aceno de apreciação na direção do treinador Faulkner e
sua equipe.
— Quero agradecer à equipe do Heisman por tudo neste fim de
semana. Por permitir que eu e minha família estivéssemos aqui. É
uma honra estar no mesmo palco com alguns dos meus ídolos de
infância. — Olhei para a fila de vencedores anteriores de pé, todos
aqui para comemorar este momento. — Quero agradecer ao meu
pai, por me incentivar a me esforçar cada vez mais... por me mostrar
o que é preciso para ser o melhor. À minha madrasta e irmã, por
estarem aqui hoje apesar de nossa história. Meus amigos, meus
irmãos em todas as formas que importam, por sempre estarem
comigo. Sou muito grato. Aos outros finalistas aqui esta noite, tem
sido uma experiência incrível compartilhar nossas jornadas e estar
na companhia de tantos talentos.
Respirando fundo novamente, endireitei a coluna.
— No início da temporada, alguém sugeriu que eu poderia
disputar o Troféu Heisman, mas rejeitei a ideia. De jeito nenhum um
garoto de uma pequena cidade na Pensilvânia, jogando por um time
da Ivy League, acabaria aqui esta noite. Mas cá estou. — Outra
salva de palmas soou e eu absorvi tudo. — Então, para qualquer
pessoa sentada em casa, pensando que nunca será a sua vez, que
nunca vai conseguir... jogue mais, trabalhe mais... ame mais e o
resto virá.
Levei a mão ao bolso da calça, sentindo meu corpo vibrar com
uma energia inquieta. Senti como se tivesse ficado ali por uma hora,
não dez minutos. Mas ainda havia uma pessoa a quem agradecer.
Esfregando a mão no queixo, controlei a onda de emoção que
ameaçava me colocar de joelhos.
— Antes de me despedir, há mais alguém a quem devo
agradecer esta noite. — Meus olhos a encontraram na plateia. — Há
dois anos, eu acreditava que a única forma de chegar ao topo era
com uma determinação rígida e muito foco. Não vou facilitar: eu era
um pouco arrogante. Mas então a Felicity invadiu minha vida e me
mostrou que não precisava ser assim. O amor não nos torna fracos,
mas sim, fortes. O futebol sempre será o sonho. Mas o que é um
sonho sem uma garota bonita ao seu lado e um futuro à sua frente?
Saí do palco e caminhei pelo corredor mais distante até Felicity.
Seus olhos se arregalaram, cheios de lágrimas.
— J-Jason, o que é que você está fazendo? — Ela colocou a
mão na boca enquanto eu me ajoelhava e a presenteava com a
caixa do anel que carreguei a noite toda.
— Felicity Charlotte Giles, uma vez você me marcou de forma
permanente em sua pele, mas o que eu não disse naquele dia foi
que você também estava tatuada permanentemente em mim. Sou
seu, baby. E eu não estava brincando quando disse que fomos
feitos um para o outro.
Mya e Hailee soltaram gritinhos de aprovação enquanto eu
fechava a tampa.
— O que me diz, Giles? Quer realmente fazer desta uma noite
para lembrar e aceitar se casar comigo? — As palavras me
envolveram, me enchendo de tanta emoção que tive que piscar para
afastar as lágrimas dos meus olhos.
— Você é louco. — Ela escorregou da cadeira, se ajoelhando
comigo.
— Louco por você. — Eu sorri. — Sei que esta temporada tem
sido difícil. Sei que as próximas duas temporadas provavelmente
serão iguais. Mas pensei que talvez se você estivesse usando meu
número, bem como a minha aliança, a ajudaria a se lembrar de que
isso é sério, baby. Estou muito apaixonado.
— Sim — ela respondeu. — Sim, eu vou me casar com você.
Ganhei um anel uma vez. Um anel de campeonato no último ano
do ensino médio. Aquilo significou tudo para mim. Mas isso, bem
aqui, colocar o anel de diamante com corte princesa no dedo de
Felicity me mostrou que não era nada comparado a este momento.
Porque não importava aonde minha carreira no futebol me
levasse. Não importava se eu entrasse no draft e conseguisse uma
vaga em um time da NFL, isso não seria nada sem essa garota ao
meu lado.
O futebol era o sonho.
Mas Felicity?
Ela era a minha vida.
PART 2
TERCEIRO ANO
ONZE
Asher
— NÃO POSSO ACREDITAR que já estamos no terceiro ano — Mya
soltou um pequeno suspiro enquanto nós seis nos sentamos ao
redor da lareira elétrica no terraço que ficava no telhado do nosso
prédio. O verão ia embora lentamente, dando lugar às manhãs
frescas e noites frias.
Foi um ano louco. Jason e Felicity ficaram noivos depois que ele
ganhou o Troféu Heisman, há sete meses. O relacionamento deles
ficou mais forte depois que ele colocou aquele diamante ridículo de
grande em seu dedo. Eu não podia falar por Cameron, mas senti a
pressão. Ainda éramos jovens – ainda tínhamos dois anos de
faculdade –, mas eu queria aquilo.
Queria ligar Mya a mim de todas as maneiras que importavam.
Mas ela acabaria comigo se eu tentasse fazer o pedido. Ela
queria que curtíssemos a vida, aproveitássemos ao máximo a
faculdade, as aulas e o futebol. Na verdade, eu era como a Flick em
nosso relacionamento, me perguntando quando essa garota
inteligente, linda e simples iria escapar dos meus dedos. Mas eu
não ia confessar isso para ela ou a meus amigos, então a puxei
para mais perto e beijei seu cabelo, me lembrando de como eu era
sortudo.
— Você está pronto para outra temporada? — perguntei a Jase.
— Sabe que sim.
Foi um verão de acampamentos de futebol, visitando meus pais
e a tia de Mya em Rixon, e uma semana nos Hamptons.
— Você acha que os Wolverines podem ir até o fim nesta
temporada? — perguntei a Cam.
Ele deu de ombros.
— Quem sabe?
— O que isso quer dizer?
— Ash — Hailee avisou, e eu fiz uma careta.
O que estava acontecendo agora?
— O Xander ficou chateado quando fomos embora — Cam
soltou um longo suspiro, passando a mão pelo rosto. — Ele disse
algumas coisas.
— Merda, cara, não sabia — Xander tinha quase sete anos e
adorava o irmão mais velho a ponto de brigar muito com Cam por
estar longe.
— É difícil, sabe? Quero estar com ele, mas nem sempre estarei
por perto.
— Não é culpa sua. — Hailee esfregou seu braço.
— Desculpe por ser um idiota. — Eu disse.
— Não é você, sou eu — ele murmurou.
Por ser filho único, eu não entendia o que era carregar a
responsabilidade de um irmão, especialmente uma criança que já
havia passado por tantas coisas.
Ele ainda tinha pesadelos com a mãe doente, embora todos
achassem que ele era muito jovem para se lembrar. Eu só tinha
visto Xander algumas vezes desde que nos formamos, mas a última
vez que vi o garotinho, ele parecia perdido. Com um olhar vago, ele
mal sorria, a menos que seu irmão mais velho estivesse dando a ele
toda a atenção.
Eu sabia que Cameron carregava muita culpa por ir embora. Seu
coração estava dividido entre a garota que ele amava e o irmão
mais novo que ele queria proteger.
— Mas sua mãe está bem, certo?
— Sim, ela está. Mas ela e o meu pai não sabem o que fazer
com ele. Ele é tão... diferente.
— Ele vai ficar bem — Hailee falou. — Assim que pudermos,
vamos trazê-lo para Michigan e levá-lo aos pontos turísticos
novamente.
Cameron se inclinou e a beijou.
— Obrigado.
— Você está animada com as aulas, Mya? — Flick perguntou,
mudando de assunto para temas mais seguros.
— Mal posso esperar. Embora eu quisesse que esse fosse o
último ano para que eu pudesse pular para a prática de campo.
— Não vou mentir, estou um pouco assustada com a prática
clínica.
— Como assim, baby? — Jason passou o braço em volta de
Felicity. — Vai dar tudo certo.
— Pelo menos o seu tutor estará por perto para te ajudar se as
coisas ficarem difíceis demais. — Eu sorri e Jase me mostrou o
dedo do meio.
— Sério? — Um grunhido baixo retumbou em seu peito.
— Estou brincando.
— Não importa — Felicity falou. — O Darcy se formou. Ele não
está mais na Penn.
— Ainda bem — Jason murmurou, e ela lhe deu uma cotovelada
nas costelas.
— Sem o Darcy, eu teria sido reprovada.
— Você teria dado um jeito.
Os dois começaram a discutir baixinho enquanto o resto de nós
observava as chamas lamberem o céu escuro. Havia algo em
terminar o verão com sua namorada e melhores amigos e entrar em
um novo ano. Era uma tradição que começamos no verão antes da
faculdade. Uma que eu pretendia manter. Podíamos ter cada vez
menos tempo um para o outro agora que estávamos todos na
faculdade, mas quando nos reuníamos era como se o tempo não
tivesse passado.
— O que você está pensando? — Mya afastou o cabelo dos
meus olhos.
— Como isso é perfeito.
— Outro ano — ela suspirou.
— Mais um ano mais perto do resto de nossas vidas juntos.
— Ash...
— Eu sei. Sem pressa, certo? — Encostei a cabeça na dela.
— Temos tempo. — Mya roçou os lábios nos meus e eu era um
caso perdido.
Não havia nada que eu não fizesse por essa garota. Se ela
quisesse tempo, eu faria isso.
Contanto que ela soubesse que era minha para sempre.

— CARAMBA, Asher, é...


— Puta merda, baby, eu sei. — Estoquei dentro de Mya
novamente, envolvendo a mão em seu quadril e encorajando-a a se
mover mais forte em cima de mim... mais rápido... mais fundo. —
Você é incrível.
Me apoiando nos cotovelos, segurei um de seus seios perfeitos e
passei a língua sobre o mamilo escuro. Mya gritou, inclinando a
cabeça para trás enquanto eu chupava e lambia, provocando sua
pele sensível com os dentes.
Eu queria marcá-la permanentemente como minha. Nunca fui
possessivo, pelo menos não como Jason... até Mya aparecer.
Não conseguia explicar minha necessidade de possuí-la e
consumi-la. Eu a queria amarrada a mim de todas as maneiras
possíveis.
Coração, mente, corpo e alma.
Acho que poderia se dizer que era muito para lidar. Mas Mya me
amava. Ela amava nossa vida juntos. E falávamos abertamente
sobre o futuro.
— Puta merda. — Ela moveu os quadris mais devagar,
balançando em círculos tortuosos, fazendo meu corpo tremer de
prazer. — Puuuuuta merda!
Mya sorriu, ciente do poder que ela exercia sobre mim. Me
entreguei a ela quando escolhi a Temple – a escolhi – em vez de ir
para Pittsburgh. Mas eu não teria mudado por nada no mundo.
Quando se crescia sob as sufocantes expectativas do pai, ter
algo – alguém – para chamar de seu, para amar, cuidar e adorar...
bem, era uma coisa rara.
A necessidade queimava em mim e virei Mya de costas,
estocando tão fundo que ela gritou meu nome. Entrelaçando nossos
dedos, pressionei nossas mãos ao lado de sua cabeça enquanto
entrava e saía, mais e mais, nos levando ao ponto do doce êxtase.
— Estou perto. — Ela passou os dedos pela minha coluna,
gemendo em meu ouvido enquanto eu dava quentes e úmidos em
sua garganta.
Um formigamento familiar começou na parte inferior da minha
coluna assim que Mya me puxou mais fundo em seu corpo,
travando as pernas em volta dos meus quadris e estremecendo ao
meu redor.
Eu a beijei profundamente enquanto a comia em completa
submissão.
Nada... nada jamais seria tão bom quanto isso.
A não ser talvez nossa noite de núpcias.
Ou o dia em que a visse dar à luz aos nossos filhos.
Tudo bem, eu estava um pouco mais à frente do jogo. Mas eu
era um Bennet. Eu tinha um plano de jogo. Algo que incluía Mya, eu
e um felizes para sempre.
Mya
A luz do sol emoldurou o rosto de Asher, fazendo-o parecer
angelical. Embora a maneira como ele amou meu corpo na noite
passada não fosse nada menos que pecaminoso. Um arrepio
percorreu meu corpo só de pensar em como ele me virou de costas
e me comeu como se fosse a última vez que ele poderia estar
dentro de mim.
Deixei os dedos permanecerem em seu peito, traçando seu
abdômen malhado, amando o quanto sua pele estava quente. Às
vezes, era difícil acreditar que essa era a minha vida. Eu estava na
metade do bacharelado em serviço social e morava em um prédio
incrível com meu namorado. Era muito diferente da vida em
Fallowfield Heights. Mas eu merecia. Fiz sacrifícios e trabalhei muito
para chegar aqui.
Asher, e tudo o que veio por ser sua namorada, foi apenas a
cereja do bolo.
— Você deveria se mover um pouco mais para baixo. — Sua voz
estava carregada de sono.
— Não dá, vou encontrar a Faith para uma corrida. — Abaixei a
cabeça e o beijei. Era para ser um beijo casto e gentil, mas quando
tentei me afastar, Asher enterrou a mão em meus cachos grossos e
capturou meus lábios com os seus.
— Bom dia — ele murmurou, finalmente me deixando respirar.
— Bom dia. — Sorri. Não pude evitar. Eu era uma daquelas
garotas irritantes agora, extremamente apaixonada pelo namorado.
Um jogador de futebol, nada menos.
— Vai para a academia com os caras?
— Sim, acho que o Aiden nos quer lá.
Eu o beijei novamente.
— Bem, não trabalhe muito.
— O que você quer fazer depois? Eu estava pensando que
poderíamos jantar no Dukes ou poderíamos ficar em casa, ver
Netflix. — Ele arqueou as sobrancelhas.
— Ou... poderíamos ir ao The Hideout para a noite do karaokê.
— É? — Ele franziu a testa. — Você gosta disso?
— O que foi? — Bati em seu peito. — A Faith está na lista esta
noite e eu quero apoiá-la.
— Mas que tal apoiar a mim e ao meu muito, muito — ele
agarrou minha mão e segurou-a sobre sua ereção matinal, —
problema real?
— Você é insuportável — eu ri.
— Não, sou só um cara apaixonado por uma garota. — Asher
acariciou meu pescoço, chupando e lambendo.
— Eu sei o que você está fazendo. — Tentei afastá-lo.
— Eu não tenho ideia do que você quer dizer. — Ele chupou com
mais força, fazendo o sangue subir à superfície, me machucando.
— Ash, você vai me fazer parecer...
— Você é minha. Vou fazer você parecer que é minha.
Revirando os olhos, me desvencilhei dele e pulei da cama antes
que ele pudesse me agarrar novamente.
— Diga a Faith que estaremos lá — ele disse, assim que entrei
no banheiro.
Toda vez. Eu sorri para mim mesma.
Toda vez.

— VOCÊ VEM HOJE À NOITE, certo? — Faith pressionou as mãos


nos joelhos, respirando profundamente.
— Não perderia por nada no mundo. — Eu sorri.
Faith e eu nos tornamos amigas desde o primeiro dia do primeiro
ano. Nos conhecemos na orientação e nunca nos afastamos. Como
eu, ela queria fazer a diferença: trabalhar com os menos
afortunados e ajudar as crianças a prosperar, apesar de suas
circunstâncias muitas vezes terríveis.
Felicity e Hailee à parte, ela era minha melhor amiga. Então, é
claro, eu estaria na noite de karaokê no The Hideout mais tarde.
— O Asher também vai.
— Sabe, é fofo que ele queira apoiar você me apoiando, mas
não faria mal a ele relaxar as rédeas de vez em quando.
Franzi o cenho.
— O que você quer dizer?
— Só estou dizendo que ele é como sua sombra. Um exagero.
Alongamos as panturrilhas antes de iniciarmos uma corrida pelo
Fairmount Park.
— Gostamos da companhia um do outro. Isso é um crime?
— Não. — Ela riu, mas fez pouco para aliviar o nó no meu
estômago. — Eu só acho que seria bom sair ocasionalmente sem o
Asher nos acompanhando.
— Nós saímos, Faith. — Saíamos o tempo todo com o resto das
pessoas da nossa classe.
— Esqueça o que eu disse. — Ela me dispensou, mas suas
palavras permaneceram.
Antes do verão, Faith havia terminado com seu namorado de
infância, Max. Ela disse que eles haviam superado um ao outro. Eu
sabia que ela embarcou em um verão de autodescoberta e sexo
com estranhos, mas eu não esperava que ela se tornasse tão crítica
sobre meu relacionamento com Asher.
Um silêncio constrangedor nos seguiu enquanto corríamos sob a
copa frondosa dos carvalhos e freixos.
— Eu sei que as coisas têm sido difíceis desde que você e o
Max...
— Honestamente? — Ela deu de ombros. — Eu me sinto como
uma nova mulher. Eu estava com Max desde o primeiro ano do
ensino médio e não tinha percebido como nosso relacionamento era
sufocante até que terminamos.
— Estou feliz que você esteja bem, Faith, de verdade. Mas
alguns de nós são felizes em nossos relacionamentos.
— Asher é um cara bonito e rico. Confie em mim, eu entendo.
Ela entendia?
Meu estômago se afundou. Era isso que ela achava? Que eu
estava com Asher por seu dinheiro?
— Eu amo o Asher — falei em tom desafiador, irritada comigo
mesma por sentir a necessidade de defender nosso relacionamento.
— Não tem nada a ver com o quanto a sua família é rica.
— Sei que ama. — Ela me lançou um sorriso fraco. — Mas você
realmente acha que isso vai longe? — Faith acelerou o passo e me
deixou para trás...
Querendo saber o que é que tinha acontecido.
DOZE
Asher
— VOCÊ NÃO PRECISA VIR HOJE à noite, sabe? — Mya disse, me
fazendo franzir a testa.
— O quê? Por que eu não iria?
— Sei que poesia não é sua praia e acho que alguns dos caras
da nossa classe estarão lá. Você provavelmente vai ficar entediado.
Olhei para ela.
— Está tentando se livrar de mim?
— O quê? Não! Só estou te dando uma saída. — Ela deu de
ombros como se não fosse nada.
Uma saída?
Que merda era essa?
— Nós sempre passamos o domingo juntos — eu disse.
— Eu sei e amo isso, amo mesmo. — Mya veio em minha
direção e eu abri a pernas, deixando-a deslizar entre elas.
Entrelaçando as mãos no meu pescoço, ela olhou para mim. — Eu
só não queria que você pensasse que era obrigado a vir.
— Está tudo bem? — Franzi ainda mais o cenho. — Você está
agindo de um jeito estranho.
— Está, sim. — Ela franziu um pouco os lábios, e soube que
nem tudo estava bem.
— Você quer que eu vá, certo?
Merda. Eu parecia um idiota. Mas sempre passávamos os
domingos juntos durante o semestre. Era nossa maneira de arranjar
tempo um para o outro quando as semanas ficavam ocupadas e
nossas agendas ficavam agitadas.
— Claro. — Mya roçou seus lábios nos meus, mas eu
intensifiquei o beijo, deslizando minha língua em sua boca e
enredando-a com a dela.
— Continue me beijando assim e nunca vamos conseguir sair
daqui.
— Essa é uma boa ideia — eu ri.
— Não posso acreditar que já é o terceiro ano. — Ela soltou um
pequeno suspiro.
— Acredite, baby. — Eu a beijei novamente.
— Certo, vou terminar de me arrumar e então podemos sair. — A
mão de Mya permaneceu no meu ombro e então ela se afastou,
desaparecendo no banheiro.
Meu celular vibrou, e eu o peguei da mesa de centro, lendo a
mensagem de texto.

DIEGO: Vamos sair mais tarde, você deveria vir.

EU: é domingo. Tenho planos com a Mya.

MEUS COMPANHEIROS SABIAM O NEGÓCIO.

DIEGO: Você é muito dominado por essa mulher...

EU: Nunca disse ser outra coisa.

SORRI, passando a mão pelo queixo. Os caras gostavam de


implicar comigo por causa de Mya, pelo quanto eu era sério com
ela. Mas eu não dava a mínima. Eu a amava. Quase a perdi uma
vez... havia zero chance de eu perdê-la novamente. Não me
importava que era a faculdade, que deveria ser a hora de festejar e
curtir o lado selvagem da vida. O futebol não era minha vida como
era para muitos dos meus amigos. Eu adorava jogar e gostava da
fraternidade e camaradagem, mas não era o objetivo final para mim.
Eu não tinha nenhuma intenção de me tornar profissional.
DIEGO: Bem, você sabe onde estaremos se mudar de ideia.

NÃO IA ACONTECER, mas apreciei que ele tivesse me convidado.

O THE HIDEOUT ESTAVA LOTADO, mas Faith reservou uma mesa


para Mya e algumas de suas outras amigas. Era uma multidão
eclética. Tipos arrogantes com algo a provar. Os viciados, todos
doidões de maconha, amor livre e paz. Os alunos de teatro, todos
tentando desesperadamente ter sua grande chance. Então Mya e
suas amigas; aquelas que queriam mudar o mundo e fazer a
diferença. Não havia um atleta à vista, mas não me importei porque,
embora o futebol fosse uma grande parte da minha vida, ele não me
definia. Eu tinha ambições e planos tanto quanto o resto das
pessoas aqui.
— Sabe, Asher — Rex, um dos amigos de Mya disse —, é bom
você apoiar as paixões dela.
Fiz uma careta para isso.
— Não é isso o que duas pessoas em um relacionamento
costumam fazer? — Tomando um longo gole da minha cerveja,
ofereci a ele um sorriso tenso.
— Claro. — Sua risada saiu estrangulada. — Eu só quis dizer,
com você no time de futebol e tudo mais.
— Não somos todos caras presunçosos, egoístas e superficiais
que você nos pinta, sabe? — Apertei os lábios.
— Eu não... isso não é... — Ele puxou a gola do suéter. — Isso
saiu errado.
— Relaxe, Rexy. Sou seguro o suficiente para não dar a mínima
para a sua opinião estelar sobre mim.
— Asher, eu não... — Ele soltou um suspiro pesado, passando a
mão pelo rosto. — Você realmente a ama, não é?
Olhei para o cara, realmente olhei para ele. Ele entrou para o
grupo de Mya no ano passado, mas eu já estive próximo de Rex o
suficiente para saber que o cara tinha problemas de confiança.
— Já dei a você ou ao grupo motivos para pensar que não? —
Arqueei a sobrancelha.
O “grupo” era unido. Eles cuidavam um do outro, saíam muito e
compartilhavam os altos e baixos de seu curso emocionalmente
exigente. E até hoje, eu nunca questionei minha posição entre eles.
Mas em menos de algumas horas, Mya sugeriu que eu não
precisava ir junto, e agora Rex estava agindo como se eu não
pertencesse àquele lugar.
Não era como imaginei o início do semestre.
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Mya olhou para
mim e murmurou:
— Você está bem?
Assenti, porque não deixaria Rex ou qualquer outra pessoa
saber como eu realmente me sentia.
Talvez eu devesse ter aceitado a oferta de Diego, afinal.
Faith subiu ao palco e todos nós aplaudimos. Além de Hailee e
Felicity, ela era a melhor amiga de Mya. No primeiro e no segundo
ano, saíamos muito com ela e seu ex-namorado. Foi bom ter outro
casal no campus com quem fazer coisas. Mas Faith e Max
terminaram antes do final do segundo ano e foi isso.
— Oi, pessoal. Eu sou a Faith e este poema se chama
Liberdade...

Liberdade é o poder de respirar. Para viver, crescer e sentir.


Liberdade é o poder de falar. Para pensar, considerar e ser.
Liberdade é o poder de amar. Para pedir, dar e segurar.
Você disse que me amava, mas foi você quem mais me magoou.
Você tirou toda aquela liberdade e arrancou-a de minha alma,
deixando-me fraca e arruinada.
Você me deu sua palavra, me prometeu o mundo... e então o
roubou em um piscar de olhos.
Liberdade é o poder de mudar. Para perceber que me tornei quem
você queria que eu fosse. Não quem eu precisava ser.
Liberdade é o direito de dizer não. Para proteger meu coração,
corpo e alma, e me recusar a me submeter.
Liberdade é eu dizendo que acabou... você não pode mais
segurar todas as cartas.
Eu estou livre.
E você não é ninguém.

A SALA FICOU EM SILÊNCIO, a dor e a paixão nas palavras de


Faith ondulando no ar, tornando-o espesso e pesado. Ela era amiga
de Mya, não minha, mas não demorou muito para descobrir que ela
estava falando sobre seu ex. Me remexi desconfortável na cadeira.
Eu conhecia Max. Eu os testemunhei como um casal: vi a maneira
como ele a amava, a maneira como a fazia rir. Ele queria mais e ela,
não. Foi o que Faith disse a Mya, então o fato de ela estar lá em
cima, dissecando publicamente o relacionamento deles, e fazendo-o
soar como um babaca possessivo, deixou um gosto amargo na
minha boca.
Pelos aplausos ensurdecedores que ela recebeu, ficou claro que
ninguém mais concordava com minha avaliação de seu poema.
— Puta. Merda. Garota — Mya falou — foi incrível.
— Tenho me sentido inspirada. — Seu olhar cintilante encontrou
o meu, e ela semicerrou os olhos. Mas tão rapidamente quanto
estava lá, ele se foi enquanto ela absorvia os elogios de seus
amigos.
— Rex, me ajude a pegar as bebidas? — Faith apontou o dedo
para ele, que foi de boa vontade.
Mya deslizou em sua cadeira e colocou os braços em volta do
meu pescoço.
— O que achou?
— Foi... um pouco duro.
Ela recuou, a confusão nublando seus olhos.
— O que você quer dizer?
— Vamos, baby. Ela pintou o Max como um idiota completo.
— Não era necessariamente sobre Max.
— Era sobre ele. Ela o largou, e ainda assim fez soar como se
ele fosse algum narcisista possessivo, o que nós dois sabemos que
não poderia estar mais longe da verdade.
— Hum. Acho que não pensei sobre isso assim.
— Ele queria mais, e a Faith surtou.
— É só poesia, Ash. Não precisa ficar tão chateado com isso.
— Não estou chateado — suspirei, passando a mão pela
cabeça. — Só acho que é um pouco injusto.
— Você sabe como ela é. — Mya roçou o nariz no meu,
roubando um beijo. — Ela é a favor do poder feminino e da
independência.
— E fazer seu ex parecer um idiota total, aparentemente — eu
resmunguei.
— É problema deles. Quem somos nós para dizer como alguém
deve ou não se sentir? Max era um cara legal, mas meio intenso,
sempre colado ao lado dela. Acho que ela se sentiu sufocada.
— É disso que se tratou mais cedo? — perguntei, as peças se
encaixando com um baque retumbante.
— O quê? — O olhar de Mya se alargou.
— Quando você disse que eu não precisava vir hoje à noite. A
Faith disse algo para você sobre mim?
— Eu... — Mya soltou um pequeno suspiro. — Não exatamente
— ela admitiu. — Ela só está em uma fase estranha e quer
aproveitar ao máximo sua liberdade recém-descoberta.
— Então ela disse algo para você?
Inacreditável.
— Ela não quis dizer nada com isso.
— Você quis? — Meu corpo vibrou com uma sensação de
desgraça iminente. Eu realmente não conseguia explicar, mas sabia
que isso não iria acabar bem. No entanto, por algum motivo, eu não
conseguia deixar passar.
— Asher, pare... é besteira.
— Não acho que seja — falei.
Primeiro Mya, depois Diego e Rex, e agora o poema estúpido de
Faith.
— Você se sente sufocada por mim? — Antes que eu pudesse
impedi-las, as palavras saíram de meus lábios e Mya ofegou.
— De onde vem tudo isso?
— Responda à pergunta, Mya — grunhi. A conversa e as risadas
continuaram ao nosso redor, mas mal penetraram o rugido do
sangue entre meus ouvidos.
— Você está sendo ridículo. — Seu olhar foi por cima do meu
ombro. — Eles estão voltando. Por favor, não transforme isso em
algo que não é.
Mas a semente tinha sido plantada, e eu não conseguia afastar a
sensação de que não era muito bem-vindo aqui esta noite.
De pé, coloquei as mãos nos bolsos.
— Vou sair com o Diego e os caras. Eu te vejo no apartamento
mais tarde.
— Vai embora tão cedo? — Faith me lançou um olhar
presunçoso.
— Sim — respondi. — Acho que aqui não é bem meu lugar.
E então dei o fora de lá.
Mya
— Eu deveria ir atrás dele. — Meu peito se apertou enquanto eu
observava Asher se afastar de nós. Ele tinha ficado tão chateado,
tão estranho com o poema de Faith.
Mas estraguei tudo antes.
Vi o desânimo em seus olhos quando sugeri que ele não
precisava vir.
Deus, eu nunca deveria ter dito nada. Sempre passamos o
domingo juntos. E eu adorava. Mas Faith estava em uma fase
estranha, e Asher era muito parecido com Max. Quando amava,
amava com todo o seu ser. Demorou um pouco para me acostumar
a ser o centro de seu universo, mas nunca me senti sufocada.
Às vezes oprimida, claro, mas nunca sufocada.
— Deixe-o ir. — Faith deu de ombros, tomando um longo gole de
sua bebida. — Vocês podem se beijar e fazer as pazes mais tarde.
— Ela está certa, sabia? — Bella, nossa outra amiga, disse. —
Um pouco de tempo e espaço nunca faz mal... além disso, sexo de
reconciliação. — Ela balançou as sobrancelhas.
— Argh, não, obrigada. — Faith revirou os olhos. — Max era
sempre muito pegajoso depois de uma discussão.
— Então, o poema — perguntei, mudando de assunto. — Foi
sobre...
— Sobre o Max? Sim... ele era muito sufocante às vezes. Era
como se eu não pudesse respirar. Ele gostava de falar sobre nossa
vida depois da faculdade, ter uma família e se estabelecer...
— Ele achava que você era a garota certa — Rex disse,
franzindo a testa.
— Acho que sim. Mas aqui é a faculdade... devemos nos
encontrar e abrir nossas asas. Não... nos prender.
— É por isso que mantenho minha regra de três encontros —
Bella comentou.
— Mas e se você conhecesse a pessoa certa? — perguntei.
— Como você e o Asher? — Ela me deu um sorriso caloroso. Ao
contrário de Faith, que ficou carrancuda.
— O que foi? — Olhei de volta para ela.
— O Asher é um cara legal, mas você realmente acha que ele é
o cara certo?
— Faith — Rex falou baixinho.
— Não, está tudo bem — eu disse, sentindo um fio de irritação
subindo pela minha coluna. — Deixe-a mostrar seu ponto de vista.
— Tudo o que estou dizendo é que vocês se conheceram no
colégio, em... circunstâncias difíceis. Vocês passaram por algo
enorme juntos. Esse tipo de trauma pode unir duas pessoas. Vemos
isso o tempo todo nas aulas. Essa experiência compartilhada pode
se tornar uma dependência... uma muleta. Mas, a menos que você
dê a si mesma tempo e espaço para chegar a um acordo com esse
trauma, você não pode realmente saber quem você é ou o que quer.
Faith tinha razão. Estudamos o suficiente sobre apego, trauma
compartilhado e vínculo de trauma para eu saber que as pessoas
muitas vezes confundem trauma compartilhado com
compatibilidade. Mas o que eu e Asher tínhamos não era um
produto de nossas experiências.
Quando meu ex, Jermaine, me encontrou em Rixon e atirou na
mãe de Asher, parte de mim tinha certeza de que Asher nunca seria
capaz de me perdoar. Na época, eu não tinha certeza se algum dia
me perdoaria. Mas Asher me amava apesar disso. Ele não fez nada
além de me provar que estava comigo.
Por inteiro.
Quando não respondi, Faith soltou um suspiro exasperado.
— Olha, tudo o que estou dizendo é que estamos na metade da
faculdade. Você realmente quer passar toda a sua experiência na
faculdade amarrada a outra pessoa que pode ou não acabar sendo
a certa? Porque eu com certeza não quero.
Apertei os lábios, considerando suas palavras. Asher foi contra
os planos de seu pai para ele e me seguiu até a Temple University.
Ele me colocou em primeiro lugar todas as vezes.
Acima da equipe. Acima de sua família e amigos.
Faith estava errada. Não precisava passar os próximos dois
anos questionando nada. Porque eu sabia. No fundo do meu
coração, eu sabia o que Asher sentia por mim. E eu sabia o que
sentia por ele.
— Você está errada — falei, me levantando.
— Sério? Você está indo atrás dele? — Faith me olhou
boquiaberta enquanto Bella me dava um discreto joinha.
— Entendo que o Max não era o cara certo para você, mas o
Asher é para mim. Você é uma das minhas melhores amigas e
sempre estarei aqui para ajudá-la... mas não projete suas merdas
em mim, certo?
Faith sufocou um suspiro, e eu ofereci a ela um sorriso fraco.
— Te vejo na aula.
Não esperei para ouvir sua resposta. Eu tinha que ir atrás do
meu cara.
TREZE
Asher
— EI, cara. Não estávamos te esperando. — Diego se aproximou de
mim com arrogância. Ele usava um boné do Owls virado para trás e
a calça jeans baixa em seus quadris.
— Você nunca usa camisa? — perguntei, batendo a mão na
dele, em cumprimento.
— E negar tudo isso às garotas? — Ele passou a mão pelo eu
abdômen definido. — De jeito nenhum, mano. Então, como vai?
Achei que você e a Mya tivessem planos.
— Nós tínhamos. — Pressionei os lábios, sufocando um gemido.
— Ah, merda, problemas no paraíso?
— Honestamente, não sei o que foi que aconteceu. Em um
minuto, estava tudo bem, no seguinte...
— Você precisa de uma bebida. Ei, Broderick — ele gritou por
cima do ombro. — Pegue uma cerveja para o meu amigo, Asher.
Dez segundos depois, Broderick apareceu.
— E aí, cara.
— E aí? — Dei a ele um breve aceno de cabeça.
— Nada demais. Só jogando sinuca e decidindo quem pegar
hoje à noite. — Ele sorriu, e os dois bateram palmas, rindo e se
empurrando.
— O Ash e a Mya brigaram — Diego comentou.
— Ah, merda. Precisa que eu te arranje alguém? A Jada está
aqui e trouxe muitos amigas.
— Estou bem, obrigado. — Jada era líder de torcida e ficava
mais do que feliz em servir ao time de futebol.
— Você precisa relaxar, cara — ele falou. — Tome uma bebida.
Faça alguém chupar seu pau...
— Nem termine essa frase — uma voz familiar avisou e Diego
soltou um assobio baixo.
— Mya? — Eu me virei para encontrar seu olhar semicerrado. —
O que você está...
— Podemos conversar? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Vamos dar espaço a vocês dois. — Diego arrastou Broderick
para longe.
— Você foi embora — ela disse.
— Não achei que era bem-vindo lá. — Esfreguei meu lábio
inferior, odiando a distância entre nós.
Se Cameron e Jason estivessem aqui, eles me diriam para
manter a frieza. Mas sempre abri meu coração, não ia a mudar
agora.
— Ash. — Ela se aproximou tanto que pude sentir o cheiro de
seu perfume. — O que deu em você?
Estendi a mão para ela, mas Mya empurrou minha mão,
pressionando as dela no meu peito e me empurrando contra a
parede.
— Você sabia como as coisas eram comigo — eu disse. — Sou
intenso, carente e estou envolvido pra cacete com você.
— A Faith disse algumas coisas... — Seus olhos brilharam de
emoção. — Mas ela não entende. Ninguém entende o que sinto por
você. A maneira como você me faz sentir... — Mya se inclinou,
deixando a boca pairar sobre a minha. — Você é tudo para mim,
Asher Bennet.
— É?— Minha garganta estava seca e meu coração batia forte.
Ela assentiu.
— Lamento ter feito você duvidar do que sinto.
Envolvi o pescoço de Mya, segurando-a no lugar e tocando a
cabeça na dela.
— Lamento ter exagerado sobre o poema de Faith. Mas a ideia
de que você pode não sentir o mesmo...
— Eu sinto. — Um sorriso se espalhou por seu lindo rosto. — E
estou bem aqui.
Capturei seus lábios, empurrando a língua em sua boca. Ela
tinha um gosto bom pra caramba. Eu queria levar um bom tempo
explorando cada centímetro dela.
— Ah, baby, a menos que você queira audiência, talvez
devêssemos fazer isso em nossa casa. — Mya enterrou o rosto na
curva do meu pescoço e eu envolvi as mãos em seu corpo.
— Eu te amo.
— Também te amo, Asher. — Ela ergueu os olhos para mim. —
Muito.
— Este ano vai ser fantástico. Prometo.
— Eu sei. — Ouvi completa convicção em sua voz, e foi um
grande alívio.
— E prometo te dar espaço, mesmo que eu odeie cada segundo
que estou longe de você. — Meus lábios se curvaram, mas falei
sério.
— Bem, prometo sempre voltar para você. O que acha disso?
Abaixando a cabeça, toquei meu nariz no dela.
— Parece muito perfeito.
Mya
— Caramba, baby — Asher murmurou enquanto eu passava a
língua ao longo de sua ereção. Ele já tinha feito amor comigo uma
vez e outra no chuveiro. Mas havia algo sobre os eventos desta
noite que me fez ansiar por ele.
Ele passou as mãos em meus cachos, guiando minha boca mais
profundamente sobre ele.
— Isso é bom pra cacete.
Apesar de seu controle sobre mim, Asher me deixava definir o
ritmo. Depois de mais de dois anos e meio juntos, eu sabia
exatamente como levá-lo ao limite. Minha mão o acariciou de leve
no ritmo da minha língua, enquanto eu lambia e chupava.
— Puta merda, Mya... — ele ofegou enquanto eu levava seu pau
mais fundo, saboreando o gosto dele.
Nossos olhos se encontraram, e eu mantive o olhar no seu
enquanto subia e descia, girando a língua sobre a ponta.
— Estou perto... — Seu aperto no meu cabelo relaxou um pouco
e eu sabia que o tinha bem onde o queria.
Asher inclinou a cabeça para trás e uma série de palavrões
deixou seus lábios em gemidos ofegantes. Eu o chupei mais forte...
mais fundo... empurrando a língua contra seu pau e movendo a
cabeça para cima e para baixo.
— Puta merda... — Asher foi se afastar, mas apertei meu
domínio sobre ele, não o deixando ir até que eu engoli até a última
gota.
Lambendo os lábios, me sentei.
— Você tem alguma ideia do quanto você fica sexy assim? —
Ele colocou a mão em volta do meu pulso e me puxou para frente.
Fui de boa vontade, deixando Asher me puxar por seu corpo. Ele se
inclinou, me beijando com força, sem se importar que pudesse sentir
seu próprio gosto na minha língua. O desejo pulsava em mim, mas
era tarde e tínhamos aula pela manhã.
Asher deve ter tido o mesmo pensamento porque em vez de
aprofundar o beijo, ele me rolou e me acariciou por trás, envolvendo
seu grande corpo ao redor do meu.
— Devíamos brigar com mais frequência — ele brincou.
— Aquilo não foi uma briga, baby. Uma briga requer vozes
elevadas, alguns vidros quebrados e um ou dois socos.
Ele deu uma risadinha.
— Minha pequena lutadora.
— O que tivemos antes foi... um momento.
— Um momento. Posso viver com isso. Não vamos fazer disso
um hábito. — Ele me aconchegou.
Às vezes, quando estávamos assim, era difícil acreditar que essa
era a minha vida. A garota de Fallowfield Heights morando em um
prédio de apartamentos de prestígio na cidade com seu rico
namorado jogador de futebol.
Asher era tudo que eu nunca quis... e tudo que eu nunca soube
que precisava.
— Um centavo pelos seus pensamentos. — Ele passou o nariz
ao longo do meu ombro.
— Só estou pensando em como acabei aqui.
— Precisa que eu te lembre? Porque eu posso. Posso passar a
noite inteira te lembrando exatamente de por que somos perfeitos
um para o outro.
Um arrepio percorreu meu corpo com a intenção de suas
palavras.
— Você acha que sempre será assim?
— Acho que a vida terá seus altos e baixos — ele disse —, mas
passaremos por quaisquer tempestades que vierem em nosso
caminho.
Olhando para trás, sorri.
— Você sempre parece tão certo de tudo.
— Porque eu estou. Amo você, Mya. Amo a nossa vida juntos. E
estou animado com o que o futuro trará.
— Mesmo se eu quiser ficar na cidade? — Eu queria trabalhar
nos bairros onde cresci. Queria fazer a diferença para crianças
como eu. Fui uma das sortudas, saí de lá. Mas muitas crianças
achavam que seus destinos já estavam decididos por elas. Queria
mostrar a eles que sempre havia outro jeito.
— Eu já disse, se é isso que você quer, é isso que faremos.
Rolando, encarei Asher. Ele era tão bonito, seus traços mais
velhos e mais sábios, um jovem à beira de grandes coisas.
Descobriu-se que Asher era muito inteligente. Ele nunca quis a vida
do pai, mas desde que começou a faculdade de administração, há
dois anos, Asher começou a amar exatamente o que antes se
ressentia.
— Mas e os negócios do seu pai?
— Nós vamos dar um jeito. Ele está querendo expandir. Esta
pode ser a oportunidade perfeita. Nós temos tempo. — Ele beijou a
ponta do meu nariz.
Mas dois anos não era nada. Depois que as aulas
prosseguissem, assim como a temporada de futebol, o primeiro ano
passaria por nós em um piscar de olhos e estaríamos um passo
mais perto de tomar as grandes decisões.

— OI, Mya. — Bella acenou para mim. — Como vai você... depois,
sabe...
— Estou bem, obrigada.
Ela assentiu.
— Você já viu a Faith?
— Não, mas honestamente, não é grande coisa. Ela tem direito
às suas opiniões, contanto que não continue tentando...
Bella arregalou os olhos, e eu me virei a tempo de cumprimentar
Faith.
— Oi — ela falou com um sorriso tímido. — Podemos conversar
um segundo?
— Eu vou... — Bella saiu.
— Sinto muito sobre a noite passada. Eu não tinha o direito de...
— Não, você não tinha — falei de forma categórica. — O meu
relacionamento e do Asher é exatamente isso, Faith: nosso. Não
vou justificar minhas decisões para você, e não espero que você me
julgue por minhas ações, da mesma forma que não vou julgá-lo
pelas suas.
— Você está certa, está totalmente certa. — Ela passou a mão
pelo cabelo ruivo macio. — Só estou tentando ter mais controle
sobre minha vida e às vezes me empolgo. Não vai acontecer de
novo, eu prometo.
— Ótimo.
— Você encontrou o Asher?
— Sim.
— Ele provavelmente me odeia agora, não é?
— Ele não te odeia. Ele simplesmente não te entende às vezes.
O Max era um cara bom. Eu sei que vocês dois tinham suas
diferenças, mas acho que o poema deixou o Ash confuso.
— Entendo. Para ser honesta, acho que o poema era menos
sobre Max e mais sobre mim, a pressão e as expectativas que
coloco sobre mim mesma.
— Você vai ficar bem, Faith. Não seja tão dura consigo mesma.
Eu queria me formar e me tornar assistente social, mas não da
mesma forma que Faith queria. Ela vivia para provar a todos que
poderia fazer isso. Sua tenacidade era inspiradora, mas também me
perguntava se isso estava impactando sua vida pessoal. Asher não
estava errado, Max era um cara legal. Sólido e confiável, com
planos para o futuro. A maioria das garotas sonhava em conhecer
um cara assim. Mas Faith não, ela fugiu no segundo que as coisas
ficaram muito sérias.
— Você é uma boa amiga, Mya. — Ela segurou minha mão. — O
Asher tem sorte de ter você. — Havia algo em seus olhos que
parecia muito com arrependimento, mas não perguntei.
Faith precisava resolver as coisas sozinha.
— Vamos — eu disse. — Devemos ir para a aula.
Asher
— Você foi embora rápido ontem à noite — Diego apontou enquanto
treinávamos um ao lado do outro.
— Sim, tínhamos que cuidar de algumas coisas.
— Eu aposto que você cuidou. — Ele me lançou um sorriso
conhecedor e eu consegui despistá-lo.
— Você sabe que a Mya vai te dar trabalho, não é?
— Vá se foder, D. — Eu ri. Claro que eu sabia que Mya era boa
demais para mim. Mas ela era minha, e eu não planejava desistir
dela por nada.
— Só estou te enchendo. Ela é uma boa garota. Uma das
melhores. Ela se voluntariou novamente no centro neste semestre?
— Sim, a parte prática do curso dela será só no último ano,
então ela quer ter toda a experiência que puder.
— Ela é uma pessoa melhor do que eu. Se eu estivesse no lugar
dela, alguns daqueles pequenos punks se machucariam com a
maneira como falam com o pessoal de lá.
— É o que ela quer fazer — eu disse como se fosse simples
assim. E de certa forma, era. Mas Diego estava certo, o New Hope
Community Center trabalhava com algumas das crianças mais
desafiadoras que moravam dentro e ao redor da Strawberry
Mansion.
— Você nunca se preocupa com a presença dela?
— Que tipo de pergunta é essa, D? Claro que me preocupo. Ela
é minha... — Meu tudo.
Mya era tudo para mim.
Mas ela queria fazer a diferença. Queria tentar quebrar o ciclo de
crime, drogas e pobreza em que muitas das crianças da Filadélfia se
encontravam. Era importante para ela.
— Não estamos nos anos cinquenta — falei. — As mulheres não
querem ficar em casa, criar os filhos e brincar de casinha.
— Ei, a minha mãe fez exatamente isso e ela é uma das
melhores mulheres que eu conheço. — Seus olhos brilharam com
ternura.
A mãe de Diego era uma ótima mulher. Eu a conheci ano
passado, quando ela apareceu com Pastel de Elote para a equipe.
— Mya quer fazer a diferença — eu disse, sem saber a quem eu
estava tentando convencer, a mim ou Diego.
— Eu te entendo, cara. Tudo o que estou dizendo é que é um
mundo louco lá fora. Não acho que eu descansaria sabendo que
minha garota está no meio disso.
Franzi o cenho. Ele fez parecer que Mya estava indo para a
guerra.
Mas, de certa forma, ela estava.
O mundo precisava de pessoas como Mya. Pessoas dispostas a
se colocar na linha e defender aqueles que não tinham voz.
Eu estava orgulhoso dela – muito orgulhoso.
Mas parte de mim sempre se preocuparia. Porque isso é o que
se faz quando se ama alguém.
CATORZE
Asher
— MUITO BEM, Bennet — o treinador gritou do outro lado do campo
enquanto eu corria com Diego e um cara enorme chamado Brian. —
Mais uma vez.
Nossa linha ofensiva se posicionou, movendo-se em nossa
direção como uma máquina bem oleada. Interrompi a formação,
procurando o wide receiver e fazendo a jogada. Nossos corpos
colidiram com um baque e caímos.
— Cacete, Bennet, você me roubou o fôlego — Farrow
reclamou.
— Caramba, foi mesmo. — Me ergui e lhe ofereci a mão.
— Certo, vão para o chuveiro — o treinador falou. —
Encerramos o dia.
Tirei o capacete, puxando ar fresco.
— Você foi bem, mano — Diego comentou, se aproximando de
mim. Nós nos cumprimentamos, mas ele olhou por cima do meu
ombro. — Você tem companhia.
Me virei para encontrar Mya sentada na arquibancada. Um
sorriso apareceu no canto da minha boca.
— Te vejo em breve.
Ele revirou os olhos, mas eu já tinha me afastado, indo na
direção dela.
— Oi — ela disse, descendo para o campo.
— Que surpresa. — Eu beijei sua bochecha.
— Tive um período livre. Quis vir e te ver em ação.
— É mesmo? Achei que você não se impressionava com
jogadores de futebol. — Meu tom de voz era provocador.
— Ah, não sei. — Mya se aproximou, passando um dedo pela
minha camisa suja. — Um jogador de futebol chamou minha
atenção.
— É?
— Sim, número seis. Ele está parecendo...
Eu a agarrei e comecei a fazer cócegas nela.
— Você quer o Farrow? Vou ver se consigo juntar vocês.
Sua risada me envolveu como um cobertor quente.
— Tudo bem, tudo bem, você me pegou.
Relaxei e me inclinei para roçar o nariz no dela.
— O que você realmente está fazendo aqui?
Um sorriso conhecedor ergueu o canto de sua boca.
— A Sally ligou. Eles precisam de uma mão extra esta noite.
Receberam algumas crianças novas e querem o grupo todo. Eu
disse que iria.
— Tudo bem. Só tenha cuidado, certo?
— Sempre. — Mya me beijou.
— Que horas você vai terminar?
Meu corpo despertou com a sua proximidade. Eu sofreria de
tanto desejo se ela chegasse tarde em casa.
— Não sei. Acho que por volta das nove.
— Tempo suficiente para você voltar para casa e me mostrar o
quanto você gosta de jogadores de futebol, então? — Sorri
enquanto segurava sua bunda.
— Comporte-se.
— Com você? Nunca. Acho que deveria ir antes que o treinador
me repreenda. Mas me manda mensagem mais tarde?
Ela assentiu, dando um passo para trás.
— Te amo.
— Eu te amo mais.
Fui para o ginásio, incapaz de esconder o sorriso levantando os
cantos da minha boca.
Ontem foi difícil por um momento, mas tudo se endireitou no
final. Tivemos a melhor transa da minha vida. Uma nova temporada
se aproximava e a equipe parecia mais forte do que nunca. E eu
tinha uma agenda cheia de aulas que mal podia esperar para entrar.
A vida estava ótima.
Mas ainda havia uma pequena parte de mim que pensava que
Mya subestimava o quanto eu a amava. Eu sabia que ela queria
ficar na cidade após a formatura, e que ela presumia que eu
gostaria de voltar para Rixon e ajudar meu velho com a empresa.
Mas ela estava errada.
Eu só tinha que descobrir uma maneira de mostrar a ela o
quanto eu estava falando sério sobre nosso futuro juntos.
Mya
— Oi, desculpe o atraso. — Passei a mão pelo cabelo e dei a Sally,
a coordenadora do Centro Comunitário New Hope, um grande
sorriso. — Me diga o que você precisa que eu faça.
— Tivemos algumas crianças novas indicadas para o programa,
três irmãos. Recentemente, eles foram colocados em um orfanato.
— Os dois mais velhos, Jay e Mario, estão um pouco inseguros,
mas eu os juntei a Pat e Hershel.
— E o mais novo?
— É o Hugo, ele tem só seis anos. Seu arquivo diz que ele tem
sido um mudo seletivo nos últimos dois anos.
Meu coração se apertou. Vi muito disso durante meu tempo
como voluntária na New Hope. Eles dirigiam um programa para
crianças no sistema de adoção, mas em vez de atividades
individuais, operava em nível comunitário. Realizavam sessões
semanais e eventos mensais em grupo, além de fornecer suporte
contínuo para as famílias adotivas e seus responsáveis.
— Aqui. — Sally entregou um arquivo para mim. — É uma leitura
difícil. Hugo está pronto e esperando quando você estiver.
Me sentei no banco de couro em seu escritório e abri o arquivo.
Hugo Garcia, seis anos. Dois irmãos, Jay, de onze anos, e Mario,
de quatorze. Pai desconhecido, mãe com passagens pela polícia
desde que Mario tinha apenas três, depois que ela começou a fazer
pequenos roubos para sobreviver. Uma história de uso de
narcóticos, negligência e baixa frequência escolar.
— Jesus — sussurrei, tentando controlar minhas emoções. Não
importava quantos arquivos de caso eu lesse, nunca era mais fácil.
— Jay e Mario têm amigos, eles conseguiram interagir, mas
Hugo... — A voz de Sally foi sumindo.
— Diz aqui que ele gosta de futebol.
Ela assentiu.
— Veio segurando um mascote de pelúcia dos Eagles.
— Posso trabalhar com isso. — Pelo menos, eu esperava que
pudesse.
— Se alguém pode alcançá-lo, Mya, é você.
Suas palavras tocaram algo dentro de mim. Tudo o que eu
queria era fazer uma diferença positiva na vida das crianças que
encontrava, então ter minha mentora dizendo isso, era tudo.
Deixei Sally e fui procurar Hugo, localizando-o no segundo em
que entrei no corredor principal. Uma criança pequena, com cabelos
castanhos e encaracolados, ele observava as outras crianças e
voluntários brincarem.
Peguei uma bola de futebol macia da caixa e fui até ele.
— Se importa se eu me sentar aqui?
Seu silêncio e falta de contato visual falavam muito. Hugo deu de
ombros e se mexeu no banco.
— Eu sou a Mya. Eu esperava que pudéssemos bater um papo.
Mais silêncio. Mas não deixei isso me perturbar. Era preciso ter
espinha dorsal para trabalhar com essas crianças. Crianças que
viam e passavam por coisas que nenhuma criança deveria.
— Esse é o Swoop? — Fiz um gesto para a águia esfarrapada
nas mãos de Hugo. Ele estava agarrando a coisa com tanta força
que fiquei surpresa por não ter rasgado em dois.
Mas ele não respondeu.
— Não sou grande fã, mas meu namorado joga em um time
universitário. Ele é muito bom.
Hugo olhou para mim com um olhar tão indiferente e sem vida
que torceu meu interior.
O que esse pobre garoto viu para fazê-lo decidir não se
comunicar? Para construir paredes tão altas que ele não sabia como
derrubá-las? Para escolher o isolamento e consolo em vez de
conforto e segurança?
— O nome dele é Asher, ele joga na defesa.
Hugo desviou o olhar novamente, e a semente de esperança que
floresceu em meu peito secou e morreu. Mas eu continuaria
pressionando. Devagar e com certeza, eu provaria a este menino de
seis anos com dor nos olhos que ele podia confiar em mim.
DUAS SEMANAS e mais três sessões depois, Hugo ainda se
recusava a falar. Ele mal se engajou nas sessões, escolhendo
colorir ou ler um livro em silêncio. Seus irmãos floresceram, embora
Jay preferisse as atividades físicas organizadas pelo centro,
enquanto Mario preferia as mais criativas.
— Aí está você. — Asher colocou os braços em volta de mim e
me puxou contra seu peito enquanto eu adicionava leite ao cereal.
— Desculpe. Eu não conseguia dormir.
Ele me fez largar a colher e me girou em seus braços.
— A criança? — Ele franziu as sobrancelhas.
— Ele está tão... triste. Isso parte meu coração.
— Baby, já conversamos sobre isso. Você não pode mudar cada
criança que entra pela porta.
— Eu sei. — Eu me arrepiei. — Mas você não o viu, Ash. Ele só
fica lá, sentado, completamente fechado. Passei quase dez horas
com ele, e ele não disse uma única palavra para mim.
Não era o momento no grande esquema das coisas, mas foi a
primeira vez que trabalhei com um mudo seletivo antes. Era difícil
não deixar minhas próprias frustrações se dissiparem.
— Você prometeu que não se envolveria muito.
— Eu não estou... — respondi um pouco dura, e Asher arqueou
uma sobrancelha. — Desculpe, eu só...
— Você se importa, eu entendo. Mas algumas dessas crianças já
passaram por traumas suficientes para justificar uma vida inteira de
terapia. Você disse que ele estava recebendo apoio profissional?
Assenti.
— Alguém tem trabalhado com ele na escola. Mas até agora,
nada.
— Sabe o que eu acho? — Ele se inclinou, encostando sua
cabeça na minha.
— O quê?
— O garotinho vai falar quando estiver bem e pronto.
— Eu gostaria que fosse assim tão simples. — Meus ombros
cederam.
— Talvez ele só precise de um motivo para conversar.
— O que você quer dizer? — Foi a minha vez de franzir a testa.
— Talvez ele precise de alguma motivação, e não estou falando
em ganhar um adesivo ou pirulito no final de uma sessão com o
psiquiatra da escola.
— Como um suborno?
— Vamos chamar de persuasão gentil.
— Na verdade — eu disse, uma ideia se formando. — Você pode
estar no caminho certo.
— É? — Asher sorriu. — E eu estava pensando que estava
falando uma merda completa.
— Há uma intervenção que muitas escolas usam, chamada de
“motivador misterioso”. Talvez eu consiga adaptá-la.
— Parece legal. Você disse que ele gosta de futebol, certo?
Talvez possamos providenciar algo assim que a temporada
começar? Levar as crianças para uma sessão de treinamento ou até
mesmo um jogo.
— Você faria isso por eles?
— Por você, baby. Eu faria isso por você. — Ele beijou a ponta
do meu nariz.
As ideias começaram a disparar na minha cabeça. A única vez
que Hugo pareceu remotamente interessado em mim foi quando
mencionei que meu namorado jogava futebol americano na
faculdade. Tentei incorporar o futebol em nossas atividades e
conversas o máximo que pude, sem pressionar demais. Era
importante seguir o ritmo de Hugo para ganhar gradualmente sua
confiança.
— Vou falar com a Sally e ver o que ela acha. Obrigada. —
Passei os braços em volta do seu pescoço e o beijei. Asher ficou
duro contra meu ventre, e eu o olhei. — Sério? — Eu sorri.
— O que foi? Acontece que meu pau fica muito, muito atraído
por você.
— Bem, odeio ser estraga prazer... — Deixei a boca na dele,
passando a língua sobre seus lábios. — Mas tenho aula cedo. —
Escorregando entre Asher e o balcão, peguei minha tigela e me
afastei.
— Você está me matando, Hernandez — ele gritou atrás de mim.
— Também te amo — respondi com um sorriso.
Porque eu amava.
Eu amava Asher do jeito que as estrelas amavam a noite.
De forma incondicional.
Irrevogável.
Infinita.
QUINZE
Asher
— BENNET, entre aqui, filho — o treinador Johnson chamou quando
passei por seu escritório.
— O que foi, treinador?
— Nada demais. Queria ver o que você acha sobre a próxima
temporada.
— Acho que será boa, senhor. A equipe está forte. Acho que
podemos ter uma chance real de ir para os playoffs.
— Eu concordo. Esse tipo de atenção atrairá olheiros. Você é um
júnior agora, filho. É hora de tomar algumas decisões sobre o seu
futuro.
— Já tomei, senhor.
— Achei que você pudesse dizer isso. — Ele esfregou o queixo.
— Mas eu esperava convencê-lo a reconsiderar. Quando os olheiros
vierem, eu realmente gostaria do seu nome na lista deles.
— Não sei o que dizer a você, senhor. Ser profissional não está
nos meus planos.
— Bem, que pena, Bennet. Nunca pensei que veria o dia em que
um jovem talentoso como você desistiria de uma chance nas
grandes ligas por uma mulher.
— Ela não é qualquer mulher, senhor. — Um sorriso brincou em
meus lábios.
— Não, filho, acho que não. — Não havia malícia em sua
expressão, apenas uma leve decepção e muito respeito.
— Lamento por não ser a resposta que você esperava, treinador.
— Eu também, filho. Eu também. Agora sai daqui.
Dei a ele um aceno e sai de lá. Eu sabia que os caras não
entenderiam, mas não era a vida deles.
No último ano do ensino médio, vi minha mãe quase morrer por
uma bala destinada a mim. Vi o medo nos olhos do meu velho
enquanto ele segurava a única mulher que sempre esteve ao seu
lado, apesar de seus defeitos – e ele tinha muitos. Eu tinha feito
uma promessa a mim mesmo naquele dia: se Mya me desse uma
segunda chance – o que ela deu – eu nunca faria nada para arriscar
isso.
Mya queria uma carreira, queria fazer a diferença. Seus planos
não incluíam estar com um jogador de futebol americano da NFL. E
eu não queria nada que não a incluísse. Eu queria raízes, uma vida
juntos. Não queria ser lançado em um mundo de futebol e fama.
Saindo do ginásio, peguei o celular e rolei até o número do meu
pai.
— Asher, que surpresa — ele falou.
— Oi, pai. Eu esperava que pudéssemos conversar.
— Está tudo bem, filho? Você parece...
— Está tudo ótimo. Preciso da sua ajuda em algumas coisas.
— Tudo bem. — Ele respirou fundo. — Você quer falar sobre
isso agora ou devo dirigir até aí?
— Sim? — Eu sorri.
Houve um tempo em que Andrew Bennet estava muito focado no
trabalho para largar tudo e sair correndo. Mas ele não era mais
aquele cara. Eu não tinha esquecido a maneira como ele tratou Mya
nos primeiros estágios de nosso relacionamento, ou o cretino de
coração frio que ele era enquanto eu crescia, mas consegui
encontrar dentro de mim uma forma para perdoá-lo. Ele amava Mya.
Ela abriu seus olhos para muito mais do que uma vida de trabalho
árduo e reputação brilhante. Entre ela e mamãe, ele não era mais o
monstro com quem cresci. Ganhei uma segunda chance com Mya,
então parecia justo dar a ele também.
— Claro, Asher. Que tal se eu te encontrar esta noite? Podemos
ir naquele lugarzinho pitoresco que você levou a mim e a sua mãe
na última vez que te visitamos.
— The Hideout? Na verdade, tenho outro lugar em mente.
— O que você quiser. A Mya vai se juntar a nós?
— Ela tem um turno no centro, mas talvez consiga se juntar a
nós depois, se você ainda estiver por aqui.
— Sempre posso arranjar tempo para a Mya. — Sorri para isso.
— Vejo vocês dois mais tarde.
Desligamos, e eu verifiquei o relógio de pulso.
Apenas cinco horas até que eu pudesse começar a colocar a
Operação Futuro em ação.
Mya
— É bom ver você de novo, Hugo — falei, me sentando ao seu lado.
Ele estava ocupado pintando outra foto de Swoop, o mascote dos
Eagles. Sally imprimiu um monte para ele. Era sua atividade
favorita, uma das únicas com que ele se engajava. — Isso está
ótimo — acrescentei quando ele não me reconheceu. — Achei que
poderíamos tentar algo diferente hoje. Espero que goste. —
Coloquei os cartões em branco e os envelopes na minha frente.
Falei com Sally sobre minha ideia, e ela e a assistente social de
Hugo concordaram.
Ele finalmente ergueu os olhos castanhos inexpressivos para os
meus.
— Olá — eu disse, dando a ele um sorriso suave. — Você
gostaria que eu lhe contasse sobre a atividade que pensei que
poderíamos fazer?
Ele deu de ombros, mas tomei como permissão.
A esperança se desenrolou em meu estômago. Eu não queria
ficar superexcitada, mas isso era demais. Empurrei um cartão e uma
caneta para ele com gentileza.
— Sei o quanto você adora futebol. Seus irmãos têm me contado
tudo sobre isso. — Pisquei e suas pequenas sobrancelhas
franziram. — Eles disseram que você quer ser como Fletcher Cox
quando for mais velho.
Ele olhou para mim com uma expressão vazia, mas eu continuei.
— Quero que você pense sobre futebol por um minuto. Quero
que você pense sobre como isso o faz sentir e por que você ama
tanto e, então, quando estiver pronto, quero que escreva um desejo
no cartão. Pode ser qualquer coisa a ver com futebol, certo?
Os segundos se passaram enquanto Hugo olhava para o cartão
em branco. Eu não pressionei. Não falei. Só fiquei sentada lá em
silêncio, esperando. Para que isso desse certo, ele tinha que se
envolver com o processo... ele tinha que agir.
Depois de alguns minutos, fiquei preocupada que ele não fosse
fazer. Mas então, lentamente, Hugo pegou a caneta e começou a
desenhar. Seu aperto era instável, as linhas confusas e
ininteligíveis. Mas poderíamos descobrir os detalhes mais tarde. Eu
só precisava de uma ideia para trabalhar.
— Terminou? — perguntei quando ele parou de desenhar. Ele
me olhou com seus olhos tristes novamente e assentiu. Foi uma
pequena ação, mas foi alguma coisa.
— Você foi ótimo, Hugo. Se importa se eu der uma olhada?
Ele deslizou o cartão para mim. Felizmente, eu pude ver o
campo de futebol e um enorme homem parecido com um pássaro
no centro.
Meus lábios se curvaram quando percebi o que ele estava me
dizendo.
— Você gostaria de ir ao Lincoln Financial Field e conhecer
Swoop, é?
A emoção cresceu dentro de mim. Era algo tão inocente e puro
que fez meu coração doer.
— Bem, não posso prometer nada — porque essa era a regra
número um para trabalhar com crianças – nada de promessas —,
mas vou ver o que posso fazer, tudo bem?
Um lampejo de interesse passou por seu rosto.
— Mas você também tem que fazer algo por mim.
Sua expressão se desfez.
— Vou colocar seu desejo neste envelope e vamos mantê-lo ali,
naquela estante. — Apontei para as prateleiras do outro lado da
sala. — Veja. — Pegando a caneta, coloquei o cartão dentro do
envelope e escrevi “Hugo” na frente. — Vai ficar assim... e quando
você estiver pronto para tentar torná-lo realidade, tudo o que você
precisa fazer é me falar.
Seus olhos se arregalaram um pouco, o medo brilhando ali.
— Sei que é assustador — falei baixinho. — Sei que você não
fala com ninguém há muito tempo, mas não precisa mais ter medo,
tá? Os Hanson são uma boa família. Eles querem que você e seus
irmãos se sintam seguros.
Fiz uma breve pausa.
— Não precisa ser hoje ou na próxima vez que nos
encontrarmos, mas eu realmente gostaria que, um dia, você usasse
sua voz para me pedir o envelope.
Hugo me estudou, seus olhos castanhos turvos fixos nos meus.
Queria saber o que ele estava pensando, o que viu quando olhou
para mim. Mas eu sabia que não era tão simples. Nesse campo, a
paciência era sua melhor amiga. Frequentemente, o progresso era
feito em pequenos passos e, exatamente quando se pensava que
estava avançando, algo acontecia que fazia recuar novamente.
— Você acha que pode tentar? Vou colocar o envelope ali para
mantê-lo seguro e, quando você estiver pronto para me pedir,
estarei aqui esperando.
Hugo mudou de posição na cadeira e odiei que fosse porque o
estava pressionando para um estado de desconforto. Mas tinha lido
muito sobre mutismo seletivo e muitas vezes vinha de mãos dadas
com o transtorno de ansiedade social. Superar não seria fácil, mas
ele ainda era jovem. Com as intervenções e o apoio corretos, não
havia razão para que Hugo não pudesse recuperar lentamente sua
fala e confiança.
Mas então ele olhou para mim de novo e, embora não tenha
assentido, vi sua resposta.
Hugo tentaria.
E eu esperaria.
Asher
— Lamento ter perdido seu pai — Mya falou enquanto nos
deitávamos na cama.
— Tudo bem. Noite difícil? — Ela chegou em casa um pouco
depois das dez.
— Eu me ofereci para ficar e ajudar Sally a limpar tudo.
— Claro que sim. — Eu sorri, acariciando sua pele quente. —
Como foi com a criança?
— Ainda não tenho certeza. Mas espero que ele melhore. — Ela
se aconchegou mais perto. — Então, o que trouxe seu pai para a
Filadélfia?
— Eu queria conversar com ele.
Mya rolou de bruços, olhando para mim.
— O que você precisava falar com ele? — Ela torceu o nariz.
— Coisas.
— Coisas. — Ela arqueou a sobrancelha com suspeita, e eu ri.
— Eu queria sondá-lo sobre a abertura de uma segunda filial de
seu negócio aqui.
Ela arregalou os olhos.
— Sério?
— Eu estava falando sério sobre o que eu disse, Mya. Você quer
criar raízes aqui e, se vou trabalhar para a empresa da família, isso
não acontecerá da noite para o dia. Precisamos encontrar
instalações, empregar uma equipe, levantar clientes.
— Uau, você realmente pensou muito sobre isso.
Peguei um de seus cachos em espiral e o enrolei no meu dedo.
— O treinador me perguntou hoje sobre ser profissional. Disse
que tenho uma chance...
— Ash — ela franziu a testa —, não quero que você desista
desse sonho por mim.
— Não se trata apenas de você. É sobre mim também. E
honestamente, não quero isso. Eu amo futebol, mas não é minha
vida. Você é. — Sua respiração ficou presa, mas não terminei. —
Sei que somos jovens e que você provavelmente acha que sou
louco por falar em começar uma família, mas quero isso. Eu quero
uma vida com você.
— Na verdade... — Mya apertou os lábios e olhou para mim com
aqueles cílios grossos. — Também tenho pensado um pouco... —
Ela hesitou. — Como você se sente em relação à adoção?
— Está falando de crianças adotivas?
— Não, cachorrinhos. — Ela revirou os olhos. — Claro, crianças.
Eu estava conversando com a Sally esta noite e ela estava me
contando tudo sobre a família que acolheu Hugo e seus irmãos, e o
que eles estão fazendo... é incrível. Sempre pensei que a maneira
de ajudar e fazer a diferença era estar presente na comunidade,
trabalhando no nível de base. Mas talvez isso seja outra coisa a se
considerar.
— Não vou mentir, baby, não sei nada sobre adoção. Você não
tem que estar bem de vida? Ter um bom emprego, uma casa, esse
tipo de coisa?
— Existem critérios de elegibilidade, sim. Mas não é tão rígido
quanto você pensa. Tem que ter mais de vinte e um anos e uma
vida estável, mas o resto é bastante flexível.
— Adoção, é? — Eu não sabia como me sentir em abrir minha
casa para uma criança que não era minha. Sempre imaginei que
começaríamos uma família com um bebê, nosso bebê.
— Não é algo que tenhamos que decidir ou mesmo falar já. Só
acho que é algo que posso querer fazer um dia.
— Você tem um grande coração, Mya Hernandez. — Passei o
polegar sobre sua bochecha, deixando-o permanecer em seu lábio.
— Só quero ajudar. Você entrou na minha vida quando eu
precisava de alguém. Gostaria de pensar que posso pagar por isso
um dia.
Bem, merda. Quando ela dizia assim... mas adotar? Isso era
bem sério, e éramos tão jovens.
— Não quero que esse seja outro problema entre nós — ela
disse, como se pudesse ouvir meus pensamentos. — Eu só estava
dizendo que é algo que gostaria de pensar, um dia.
— Eu sei.
Mas eu também conhecia Mya, e assim que ela colocava algo na
cabeça... não desaparecia tão cedo.
Eu poderia dar a ela um monte de coisas: dinheiro, amor, uma
vida feliz... mas poderia dar isso a ela?
Só havia uma coisa a fazer. Eu precisava de uma cerveja e
algum tempo com meu melhor amigo.
DEZESSEIS
Asher
— EI, obrigado por ter vindo. — Eu me levantei para cumprimentar
Jason. Nos abraçamos antes de nos sentarmos no bar.
— Imagina. O que houve?
— Eu... puta merda, nem sei por onde começar.
— Está tudo bem? Com a Mya? Sua mãe? — Seus olhos
cintilaram de preocupação.
— Sim, elas estão bem.
Ele franziu a testa.
— Fala logo.
— A Mya quer criar crianças adotivas.
Jase recuou.
— Ela quer o quê?
— Sim, eu sei. — Esfreguei o queixo.
— Tipo agora ou depois da faculdade?
— Depois da faculdade. Você precisa ter pelo menos vinte e um
anos para se qualificar. — Embora seu aniversário fosse em
algumas semanas, eu tinha certeza de que ninguém confiaria o
bem-estar de uma criança a uma estudante universitária.
— Achei que ela queria fazer trabalho social...
— Ela quer... pelo menos, eu acho que ela ainda quer. Isso me
pegou de surpresa.
— Aposto que sim. — Ele acenou para o barman e pediu uma
bebida. — Então, como você se sente sobre isso?
— Honestamente? Não sei. Quer dizer, eu quero filhos. Mal
posso esperar para engravidá-la. — Jase balançou a cabeça e eu fiz
uma careta. — O que foi?
— Nós mal temos vinte e um.
— Eu sei, mas sempre quis uma família.
— Vou dizer de novo: temos vinte e um.
Mostrei o dedo do meio para ele.
— Você está me dizendo que não quer uma casa grande e
muitas crianças?
— Um dia, quando formos bem, bem mais velhos. Quero curtir a
Felicity primeiro. Ter uma vida juntos, sabe? Além disso, se eu
chegar ao profissional...
— O que nós dois sabemos que você vai — eu sorri.
— A vida vai ser uma loucura.
— Sim, eu sei. — Passei o polegar sobre o gargalo da garrafa.
— Eu disse ao treinador que não estou procurando me
profissionalizar.
Ele soltou um longo suspiro.
— Sempre soube que você não tinha certeza, mas não achei
que você tivesse tomado a decisão final.
— Simplesmente não é o que quero. Eu amo futebol. Amo estar
no time. Mas quero mais depois da faculdade.
— Como bebês?
— Puta merda. — Eu ri.
— É uma pena, Ash. Você poderia ter ido até o fim.
— Talvez sim, talvez não. Mas não anseio por isso como você.
Eu pensei que talvez me libertando das expectativas do meu velho,
eu encontraria minha paixão pelo jogo novamente. Mas,
honestamente, isso não aconteceu. Estou feliz onde estou. E assim
que nos formarmos, quero expandir os negócios aqui. Falei com
meu pai e dei algumas ideias.
— Bem, se é isso que você quer, boa sorte. — Ele ergueu sua
cerveja e abriu na minha direção.
— É, sim.
— Mas voltando ao assunto de adoção. — A expressão de Jase
ficou séria. — Isso é algo para terminar com ela?
— O quê? Não! — O pânico se apoderou de mim. — Eu faria
qualquer coisa para deixar a Mya feliz.
— Sim, mas vamos, Ash. Assumir a responsabilidade de uma
criança que não é do seu sangue?
— Não estou dizendo que seria fácil, mas tenho dinheiro,
recursos... não deveria usá-los para uma boa causa?
— Você é um homem melhor do que eu. Não tenho certeza se
conseguiria.
— Ainda não estou convencido de que posso. — Mas por Mya,
eu tentaria. — Falando em crianças, você falou com o Cam?
— Sim, ele está realmente preocupado com o Xander. Parece
que ele está tendo alguns problemas na escola.
— Merda. — Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas não nos
falamos há alguns dias.
— Acho que ele voltaria para Rixon em um piscar de olhos se
não fosse pela Hailee. — Jason soltou um suspiro de cansaço. —
Estou preocupado com eles.
— Eles vão resolver as coisas. O Xander é uma das crianças
mais amadas que conheço.
— Sim. — Ele disse. Mas não parecia convencido.
E talvez estivesse certo. Talvez às vezes o amor não fosse
suficiente.
— Foi bom te ver — falei.
Eu tinha amigos na Temple. Diego, Aiden, Farrow e o resto da
equipe. Mas nenhum jamais chegou perto de preencher o buraco
deixado por Jason e Cameron.
O que tínhamos era raro.
Especial.
Era uma benção.
E eu agradecia ao universo todos os dias por me dar dois dos
melhores amigos que um cara poderia pedir.

— MYA, é tão bom ver você. — Minha mãe puxou minha garota em
seus braços e meu coração inchou observando as duas.
Eles formaram um vínculo especial após o tiroteio, e foi um
grande alívio ver as duas mulheres mais importantes da minha vida.
— Filho. — Meu pai estendeu a mão e eu aceitei. — É bom ver
vocês dois.
Se passaram só alguns dias desde que ele veio me ver, mas era
o fim de semana antes do primeiro jogo do time, então queríamos
jantar antes que a vida ficasse muito agitada para vê-los.
— Algo está com um cheiro delicioso. — Minha mãe sorriu.
— Trabalhei como um escravo por horas nisso, é melhor você
aproveitar — provoquei, dando uma piscadela de conhecimento
para Mya.
— Deixe-me adivinhar, querida — minha mãe disse a Mya. —
Você fez todo o trabalho pesado. — Ela deu uma risadinha.
— O Ash gosta de pensar que ele preparou tudo, mas sentado
no banquinho, me dando instruções sobre como cortar a cebola...
— Ei, eu ajudei.
— Desista agora, filho — meu pai sugeriu, abrindo um raro
sorriso.
— Tudo bem, desfaça do meu trabalho.
— Ah, cale-se. — Minha mãe se aproximou e bagunçou meu
cabelo, com os olhos nublados de melancolia.
Depois de tudo, ela achou difícil me deixar ir, mas entendeu,
talvez melhor do que ninguém, meu desejo de seguir Mya até a
Temple.
— Por que você não pega uma bebida para seus pais? — Mya
perguntou. — Enquanto isso, eu termino aqui.
— Claro. — Me movi em torno de minha mãe e fui até ela, dando
um beijo em sua testa. — Grite para mim se precisar de ajuda.
— Está tudo sob controle — Mya murmurou, voltando a mexer o
conteúdo da panela.
— Vamos lá, por que não esperamos na sala de estar? —
Peguei uma bebida para cada um e nós caminhamos pelo
apartamento. Me sentei em uma cadeira, deixando o sofá para
meus pais.
— Como vão as aulas? — minha mãe perguntou.
— Tudo bem.
— E a equipe?
— Está forte. Deve ser uma boa temporada.
— Isso é ótimo, Andy. Não é ótimo? — Ela franziu a testa
enquanto meu pai brincava com algo no aparador.
— Andrew?
— O que é isso? — Ele se virou lentamente e meu estômago
afundou.
Merda.
Ele estava segurando o folheto de informações sobre adoção
que Mya trouxe para casa para eu olhar.
— Asher, o que é isso? — ele repetiu.
— Relaxa, pai — respondi. — É apenas um folheto.
— Sobre adoção.
— Tenho certeza de que não é nada, Andy. Provavelmente algo
a ver com o curso de Mya. Venha se sentar — minha mãe deu um
tapinha no sofá.
Ele largou o folheto de lado e se juntou a nós.
— Me diga que você não está pensando seriamente em adoção,
filho?
— E se tivermos? — Me sentei mais reto, sentindo uma pontada
de irritação.
— Seja razoável, Asher. Vocês são muito jovens. Tem toda a
vida pela frente para pensar em filhos. Achei que você queria se
concentrar no negócio, em crescer...
— Sim — rebati, odiando que não importasse o quanto ele
tentasse ser melhor, para fazer melhor, por baixo de tudo, Andrew
Bennet ainda era o mesmo homem rígido e tacanho que sempre foi.
— Você sabia que muitos jovens profissionais adotam?
— Querido, isso é... bem, é muito. — Minha mãe parecia
confusa. — Achei que a Mya queria se formar e fazer especialização
em serviço social?
— Ela quer, mas quer trabalhar com crianças. Esse é o melhor
de dois mundos.
— Agora, espere um minuto, filho. Parece que você já tomou a
decisão. Você está no segundo ano. Ainda faltam dois anos de...
— Humm, está tudo bem? — Mya apareceu na porta.
— Na verdade — eu disse, me levantando —, eu estava
contando aos meus pais sobre a coisa da adoção.
— É? — Ela olhou para eles e de volta para mim, a confusão
brilhando em seu olhar.
— Sim, meu pai notou o folheto e fez algumas perguntas. — Dei
a ele um sorriso tenso.
— Entendo. Bem, é só uma ideia no momento — ela disse.
— O Asher fez parecer que já estava decidido — meu pai
interrompeu e ouvi minha mãe mandá-lo se calar.
— Ele fez, não é? — Mya semicerrou os olhos, se aproximando
lentamente de mim. — O que você está fazendo? — ela murmurou.
Passando o braço em volta de sua cintura, puxei-a para perto.
— Estive pensando... e acho que devemos fazer isso. Assim que
você completar vinte e um anos, devemos providenciar a nossa
licença e...
— Uau, vá devagar. — Uma risada estrangulada saiu de seus
lábios. — Ainda temos que nos formar.
— Eu sei. Mas estive pensando no Xander, Hugo e em todo o
trabalho que você faz na New Hope. Se pudermos dar a uma
criança um lugar seguro, proteção e uma chance de um futuro
melhor, devemos fazê-lo.
No fundo, acho que eu soube no segundo que Mya mencionou
que era o certo a se fazer, mas éramos jovens e era uma grande
decisão.
Eu queria isso.
E queria com Mya.
Ela sorriu.
— É?
— Sim. — Concordei. — Posso começar o negócio e você pode
ficar em casa com as crianças e brincar de casinha. — Foi a minha
vez de sorrir.
Mya bateu no meu peito.
— Não acredito que você disse isso.
— Ah, eu disse. — Com meus pais esquecidos, abaixei a cabeça
e toquei os lábios nos dela. — Vamos precisar de uma casa, algo
com mais espaço e quintal. Ah, e um cachorro. Sempre quis um
cachorro.
— Você é louco.
— Com certeza. — Eu sorri, mas o som áspero da tosse do meu
pai arruinou o momento.
— Filho, provavelmente deveríamos conversar sobre isso.
— Na verdade, pai — falei, colocando Mya ao meu lado —, não
acho que haja mais nada para falar. Vamos fazer isso. Você pode
embarcar na ideia ou não. Mas não vai mudar nada.
Porcaria nenhuma.
Porque eu não estava mentindo quando disse que daria a Mya
tudo que ela queria. Enquanto eu estava lá, com minha garota ao
meu lado e meus pais assistindo como se eu tivesse perdido a
cabeça, uma sensação de paz tomou conta de mim.
E de repente, nada parecia mais louco.
Parecia bem.
Parecia certo.
Parecia que as coisas estavam exatamente do jeito que
deveriam ser.
Mya
— Não posso acreditar que você disse aos seus pais que vamos
adotar. — Levantei a cabeça do ombro de Asher e sorri para ele.
— Acabou saindo. Ele começou a me repreender e deu um
estalo dentro de mim.
— Ele só está preocupado, os dois estão.
— E eu entendo, mas não sou mais criança. Temos idade
suficiente para tomar nossas próprias decisões.
— E você quer mesmo isso? — Eu o encarei com olhos
arregalados.
— Quero que você seja feliz, Mya. Quero ter uma casa com
você, começar uma família.
Deus, a convicção em sua voz era tudo. Esmagadora da melhor
maneira.
Asher disse cada palavra de coração, e isso me encheu de tanta
emoção que mordi o lábio de leve.
— Sabe, se decidirmos fazer isso, provavelmente significará
colocar um bebê em espera por alguns anos.
Por que o pensamento de fazer bebês com Asher fazia meu
coração disparar?
Porque ele é o homem da sua vida, seu felizes para sempre.
— E tudo bem. Não estou com pressa para nada. Só quero
saber se isso é algo que vai acontecer.
— Vai, sim. Com certeza vai. — Relaxei na curva de seu braço.
— Acho que quero dois filhos. Um menino e uma menina.
— Um menino e uma menina, e uma casa cheia de filhos
adotivos.
— Não sei sobre uma casa cheia. — Um seria o suficiente. Mas
desde que tive a ideia, não conseguia tirá-la da minha cabeça.
— Sabe, há algo que provavelmente precisamos discutir
primeiro. — Asher se afastou do sofá e ficou de joelhos na minha
frente. Ele pegou minha mão na sua e apertou os lábios.
— Ah, meu Deus — sussurrei. — Me diga que você não vai fazer
o que acho que vai? — Meu coração bateu com força.
— Acho que vou. — Sua voz tremeu. — Eu não planejei isso
assim... caramba, eu nem tenho uma aliança. Mas eu te amo, Mya.
Eu te amo pra caramba, e sentado aqui, falando sobre bebês e o
futuro... bem, isso me fez sentir todos os tipos de loucura.
— Asher, você não precisa fazer isso... não agora... não assim.
— Sim, baby, mas eu quero. Porque com ou sem aliança, eu te
amo e quero passar o resto da minha vida te amando. Você quer
uma casa cheia de filhos adotivos, mas eu só quero você, Mya. Diga
sim... diga sim e me faça o cara mais feliz do planeta.
— Sim — murmurei, me lançando em seus braços. Caímos em
um emaranhado de membros e risos.
— Sim? — Asher olhou para mim e eu sorri.
— Sim, eu vou me casar com você, seu idiota louco.
— Ah, merda, eu acabei de fazer isso? — O sangue foi drenado
de seu rosto. — Não acredito que fiz isso. Eu nem tenho uma
aliança, pelo amor de Deus.
— Asher, olhe para mim. — Segurei sua mandíbula. — Não
preciso de aliança. Não preciso de um gesto romântico ou de uma
grande demonstração pública de afeto. Eu só preciso disso. —
Minha mão foi para seu esterno, bem onde estava seu coração.
— É? — Sua voz era baixa.
— É.
— Que bom. — Sua expressão se transformou em pura alegria.
— Porque eu não vou voltar atrás. Você é minha agora, Mya
Hernandez, e eu não vou te largar.
DEZESSETE
Asher
— ESPERE, só vou conectar o Cam.
— Ash? O que houve? — O rosto de Cameron apareceu na tela.
— Você pode nos ver? — perguntei, e ele assentiu. — Jason e
Fee também?
Eles assentiram também.
— Certo. — Respirei fundo, abraçando Mya ao meu lado. —
Temos algo para contar...
— Ah, meu Deus, você fez? — Felicity gritou, segurando o
ombro de Jase.
— Sim — Mya disse, me dando um sorriso contagiante. —
Estamos noivos.
— Parabéns — Hailee e Cameron disseram.
— Maravilha. — Jase sorriu, e Fee deixou escapar: — Como foi?
— Bem, eu... então, a história é engraçada...
— Asher Bennet — ela gemeu. — Por favor, me diga que você
não fez o pedido sem aliança.
— Aconteceu.
— Ah, merda — Jase respirou. — Você não comprou uma
aliança.
— Espere um segundo, não é assim — argumentei, e Mya
enterrou o rosto no meu pescoço, sufocando o riso.
— Ash, estava contando com você para o grande gesto
romântico — Felicity deixou escapar um suspiro exasperado.
— Achei fofo — Hailee acrescentou. — Calor do momento. Eu
gosto disso.
— Nem vem, Giles. — Jase não estava mais olhando para nós.
Em vez disso, seus olhos estavam fixos em sua noiva. — O que isso
quer dizer? Eu fiz um grande gesto. Ou você esqueceu quando me
ajoelhei na televisão?
— Não seja bobo, querido, eu não me esqueci, e foi muito fofo,
mas eu tinha grandes esperanças para o Asher e a Mya.
— Gente — interrompi. — Não é como se eu não planejasse
comprar uma aliança. Vamos ao shopping durante a semana para
olhar...
— Não, não, não.— Fee parecia mortificada. — Você não pode
deixar a Mya escolher seu próprio anel, dá azar.
— Bem, estou feliz por termos decidido ligar para nossos amigos
e compartilhar nossas boas notícias com eles.
— Ignore-os — Hailee falou. — Acho que é uma ótima notícia.
Estou muito feliz por vocês dois.
— Obrigada. — Mya encostou a cabeça no meu ombro.
— Vocês já falaram sobre os planos de casamento?
— Sério? — hesitei. — Eu nem comprei a aliança...
Mya cravou os dedos em minhas costelas e eu gritei.
— Não, não falamos — ela disse. — Será em algum momento
depois da formatura. Não estamos com pressa.
— Você é o último agora, Cam — eu sorri. — Sabe disso, certo?
É hora de você melhorar seu jogo.
— Ash... — Hailee avisou.
— Relaxa, ele sabe que estou brincando.
— Acredite em mim, quando eu finalmente fizer o pedido, vou
me certificar de ter uma aliança.
— Se deu mal — Jason murmurou, incapaz de esconder sua
diversão.
— Muito bem, foi legal falar com vocês e tudo mais, mas quero
um tempo a sós com minha noiva.
— Não até que você coloque uma aliança...
Desliguei e coloquei o celular no balcão, puxando Mya para perto
de mim.
— Ash, isso foi rude.
— Que nada, eles entenderam. — Cameron e Jason eram tão
apaixonados por suas namoradas quanto eu por Mya. Eles
entendiam o que era querer se enterrar tão profundamente dentro
dela, que você não sabia onde terminava, e ela começou.
— Eu preciso de você, Mya. — Calor correu por minhas veias.
— Bem, estou bem aqui. — Ela umedeceu os lábios.
Fui em sua direção e passei a mão ao longo da curva de seu
pescoço.
— Minha — sussurrei.
Mya prendeu o ar, os olhos tremulando fechados.
— Isso é a vida real? — ela sussurrou.
— Isso parece vida real? — perguntei a ela, me inclinando para
passar a língua sobre sua pele doce e salgada.
Ela estendeu a mão para mim, segurando meu moletom da
Temple U. Sem aviso, coloquei a mãos na parte de trás das coxas
de Mya e a puxei contra mim. Suas pernas envolveram meus
quadris e ela gritou de surpresa. Nos girando, eu a coloquei no
balcão e me empurrei entre suas coxas.
— Eu te amo, Mya. Hoje, amanhã e todos os dias depois.
— Me mostre...
Ah, eu mostraria.
Eu pretendia mostrar a ela a noite toda.
Mya
— Oi, Mya. — Sally ergueu os olhos. — Os meninos estão
atrasados.
— Tudo certo? — Fiz uma careta.
— Acho que o Hugo teve um dia ruim na escola. Mariah disse
que algumas crianças têm dificultado muito para ele.
— Eles só tem seis anos.
— Eu sei. Mas crianças podem ser muito cruéis. Espero que ver
você o anime.
— Ah, eu não sei.
— Ei, nada disso. Você está fazendo a diferença, Mya. Você só
tem que confiar no processo. Estar lá. Se mostrar. Essas crianças
precisam aprender a confiar nos adultos novamente.
— Tem razão — concordei.
— E quem sabe, talvez hoje seja o dia em que ele decida usar
suas palavras.
Mas não foi.
Assim que Hugo e seus irmãos chegaram ao centro, ficou claro
que o que quer que tivesse acontecido o deixou ainda menos
disposto a se envolver.
Mas eu não desistia. Eu seria paciente. Esperaria. E – com sorte
– eu o ajudaria.

OUTRA SEMANA se passou e eu não estava mais perto de fazer


Hugo se abrir comigo.
Eu sabia que não devia levar para o lado pessoal. Não tinha
relação comigo. O foco era o menino de olhos cor de mel, agarrado
à águia de pelúcia como se fosse seu bote salva-vidas.
Enquanto ele se afundava ainda mais em si mesmo, seus irmãos
floresciam no novo lar adotivo e nas sessões com Pat e Hershel.
Jay gostava de futebol, basquete, queimada. Qualquer esporte que
envolvesse bola, na verdade. Embora Mario gostasse de esportes,
ele também era super criativo. Ele e Hershel começaram a pintar um
mural em uma das paredes do salão principal. Para um garoto de
quatorze anos, ele tinha muito talento. Quando terminasse, eu
esperava convidar Hailee para a inauguração. Eu sabia que ela teria
algo a dizer a Mario.
— Ei, amigo — falei, me sentando no banco ao lado de Hugo. —
Como foi sua semana até agora?
O silêncio se estendeu diante de nós enquanto ele coloria sem
entusiasmo outra impressão da águia.
— Então, se lembra do meu namorado, Asher? O jogador de
futebol? Bem, é o primeiro jogo dele amanhã.
Um lampejo de interesse passou pelo rosto de Hugo, mas ele
não encontrou meu olhar.
— Os Owls jogam no Lincoln Financial Field também, mas
aposto que você já sabia disso.
Mais silêncio. Passei a mão pelo rosto, quebrando a cabeça em
busca de algo, qualquer coisa, que pudesse fazer Hugo se envolver
comigo. Sally chamou minha atenção do outro lado da sala e me
deu um sorriso tranquilizador. Um sorriso que dizia que eu estava
fazendo a coisa certa, por mais inútil que me sentisse.
Mas Hugo não se envolveu. Ele não sorriu ou olhou para mim,
ansioso por minhas novidades sobre Asher e a equipe. O garoto só
ficou sentado lá, colorindo e segurando seu brinquedo de pelúcia
como se eu nem estivesse lá.
Quando a sessão acabou, eu estava emocionalmente exausta.
Asher ia me buscar para assistirmos a um filme, então, depois
ajudei a limpar, peguei a bolsa do armário na sala dos professores e
saí.
— Tchau, pessoal — eu disse para Pat e Hershel. Eles me
deram um aceno rápido e fui direto para a porta.
Asher me encontrou no meio do caminho.
— Ei, como foi?
Balancei a cabeça, notando Sally esperando com as crianças
Garcia.
— Esse é o seu namorado? — Jay perguntou.
— Jay — Sally o repreendeu.
— Está tudo bem — eu disse, me aproximando deles. — Este é
o Asher, meu namorado. — Meus lábios se curvaram enquanto eu
observava Hugo discretamente. Ele olhou para Asher e então meu
noivo fez a coisa mais incrível. Ele se agachou e ergueu o punho.
— Ei, você deve ser o Hugo. Mya me contou tudo sobre você.
Ela disse que você quer ser como o Fletcher Cox quando for mais
velho.
Jay e Mario mal conseguiam conter a empolgação, mas Hugo,
não. Ele simplesmente olhou para Asher, com os olhos arregalados
e os lábios entreabertos.
— Esse é o Swoop? — Asher perguntou, completamente
imperturbável com a falta de resposta de Hugo. — Posso vê-lo? —
Ele lentamente estendeu a mão, mas não chegou muito perto.
— Asher — sussurrei, não querendo que ele assustasse Hugo.
Mas então, lentamente, Hugo empurrou Swoop para frente e o
colocou na palma da mão aberta de Asher.
— Parece que ele gostaria de um banho.
Hugo sorriu. Era pequeno, cheio de trepidação e incerteza.
Mas era um sorriso.
Olhei para Sally e sabia que a emoção em seus olhos refletia a
emoção nos meus.
— A Mya disse que amanhã é nosso primeiro jogo da
temporada?
Hugo assentiu.
Isso era maravilhoso. Passei semanas tentando fazer com que o
garotinho com olhos tristes se envolvesse comigo, e Asher
conseguiu fazer isso em menos de um minuto.
— Vou pedir ao nosso running back para marcar um touchdown
só para você. Asher entregou Swoop de volta e ergueu o punho
novamente. — O que acha?
Hugo ergueu o punho e bateu no de Asher.
— Maravilha. A Mya vai te contar como nos saímos na próxima
vez que vier aqui, tá? — Ele se levantou. — E vocês dois, gostam
de futebol?
Jay se ergueu em toda a sua altura e estufou o peito.
— Isso aí. — Sally pigarreou, e ele murmurou: — Quero dizer,
claro que sim.
— Qual é o seu nome, garoto?
— Jay, e este é meu irmão, Mario.
— Bem, foi um prazer conhecer todos vocês. Talvez eu possa
passar por aqui com alguns caras da equipe um dia? — Eu o
cutuquei, e ele acrescentou: — Se a Sally disser que está tudo bem.
— Ele deu um sorriso deslumbrante para a minha mentora.
— Tenho certeza de que podemos marcar algo — ela falou,
retribuindo o sorriso.
— Vocês três sejam legais, hein? Vejo vocês em breve. — Asher
pegou minha mão e me guiou para longe, os sons da conversa
animada de Jay e Mario nos seguindo.
— Não posso acreditar que você fez isso. Você foi tão bom com
ele.
— Nada. — Asher me deu um olhar tímido. — Eu não fiz nada,
na verdade.
— Fez, sim. O Hugo não responde a ninguém no centro, nem
mesmo a seus pais adotivos. Foi... uau.
Eu não podia nem mesmo ter inveja de que Asher tinha se
aproximado de Hugo como eu queria, porque ver o cara que eu
amava interagir tão facilmente com o garotinho perdido tinha sido de
derreter o coração.
— Acho que me apaixonei por você de novo.
Chegamos ao jipe de Asher, e ele me puxou para seus braços.
— Ele é um garoto fofo. Posso ver por que ele tem todos vocês
na palma da mão.
— Eu só quero alcançá-lo, sabe?
— Eu sei. — Ele se inclinou, me beijando de leve. — Falei sério.
Eu e os caras vamos passar aqui para uma visita e jogar bola com
eles. Não sei por que nunca pensamos nisso antes. Talvez
pudéssemos fazer algo simples. O treinador adoraria que a equipe
apoiasse a comunidade.
— Isso seria... as crianças adorariam. — Os outros voluntários
também, sem dúvida. — Você está realmente bem com isso, não é?
— Com o quê? — Ele franziu o cenho.
— A coisa da adoção... o trabalho que eu faço.
— Mya, não sei como deixar isso mais claro para você, mas vou
sempre, sempre apoiar seus sonhos. Eu me apaixonei pelo seu
espírito, sua paixão e impulso... seu grande coração. Estou
loucamente apaixonado por você, Mya Hernandez, e um dia vou
colocar uma aliança enorme em seu dedo e reivindicá-la como
minha na frente de todos os nossos amigos, família e nossa casa
cheia de filhos adotivos.
— Gostaria disso.
— Bom, porque vai acontecer. Só temos que terminar a
faculdade primeiro. — Asher olhou para mim com tanta reverência
que me tirou o fôlego.
Houve um tempo em que questionei o que tinha feito para
merecer Asher, mas percebi agora que não se tratava de ser
merecedora. Nossas almas eram iguais. Amávamos muito e
lutávamos muito por aqueles de quem gostávamos. Foi isso o que
nos uniu e era o que estabeleceria a base de nossa vida juntos.
E eu não podia esperar.
DEZOITO
Mya
— SEU NAMORADO É MARAVILHOSO — Sally disse quando
cheguei à New Hope na segunda-feira após o primeiro jogo de
Asher.
— Sim, ele é realmente incrível.
— Puxa, eu me lembro dessa sensação — ela suspirou. — Estar
tão apaixonado que irradia de seus poros. — Ela sorriu.
— Porcaria. — Eu corei. — Eu me tornei esse tipo de garota, não
é?
— Sim, querida, acho que sim. Mas parece que o Asher fez sua
mágica, porque falei com a Mariah mais cedo e eles tiveram um
ótimo fim de semana com Hugo.
— Ele falou?
— Não. — Sua expressão se entristeceu um pouco. — Mas ele
estava usando dicas não-verbais e até participou de algumas das
atividades.
— Isso é incrível.
— Tenho um bom pressentimento sobre isso, Mya.
Deixei Sally com sua papelada e segui para o corredor principal.
Imediatamente vi a diferença em Hugo. Ele não estava mais
encolhido em uma das mesas, segurando sua águia. Em vez disso,
ele estava à margem do jogo. Não estava exatamente participando,
mas também não estava alheio a tudo.
Sorrindo para mim mesma, fui até ele e me agachei.
— Oi, amigo. Quer se juntar a nós?
Ele deu de ombros.
— Talvez haja outra coisa que você gostaria de fazer? — Ele
colocou sua pequena mão na minha e meu coração inchou. Hugo
me levou até sua mesa de costume e pegou uma folha de papel e
um giz de cera, rabiscando algo. Ele empurrou o papel para mim e
eu li em voz alta.
— Eles ganharam? Os Owls? — Sorri, e ele assentiu. —
Ganharam mesmo, amigo. O running back marcou dois touchdowns
só para você.
Todo o seu rosto se iluminou.
— Na verdade, trouxe uma foto. O Asher me pediu para te
mostrar. — Tirei do bolso e passei para ele. Fomos ao shopping e
imprimimos para que Hugo pudesse ficar com ela. Era uma foto de
Asher e os Owls correndo, Aiden, comemorando. Eles estavam
apontando bem para a câmera, direto para Hugo.
Seu sorriso cresceu.
— Você pode ficar com ela. Olhe, o Asher e alguns jogadores da
equipe assinaram a parte de trás para você. — Seus dedinhos
agarraram a fotografia como se fosse a coisa mais preciosa que ele
já havia recebido.
— Lembre-se de que seu envelope está esperando. Quando
você estiver pronto — falei.
Não pressionei. Tinha que ser nos termos de Hugo, se é que o
faria. Mas ele deu um grande passo e foi tudo graças ao meu noivo.
Deus, eu nunca me cansaria de dizer isso.
Pelo menos, até que ele fosse meu marido.
Engoli a onda de emoção. Algo roçou minha mão e olhei para
baixo para encontrar Hugo puxando meus dedos.
— O que foi, amigo? — Ele acenou para que eu me aproximasse
dele, então me agachei para encontrar seu nível de visão.
Hesitante, ele se inclinou, colocando as mãos em volta da boca.
— A-abra o envelope, por favor — ele falou.
— Mesmo? — Meu coração quase explodiu.
Ele assentiu, parecendo nervoso. Não queria assustá-lo, então
me preparei e mantive um tom uniforme.
— É muito bom ouvir isso, Hugo. Vamos pegá-lo?
— Sim, por favor. — Sua voz era apenas um sussurro, mas suas
palavras eram perfeitas.
Me levantei e estendi a mão. Hugo a segurou e todos no centro
pararam para observar enquanto cruzávamos a sala e eu pegava o
envelope da prateleira, entregando-o a ele.
— Vá em frente, abra — eu disse. — E então podemos ver se
conseguimos realizar o seu desejo.
Asher
— Pare — Diego grunhiu. — Está parecendo um ioiô.
— Estou nervoso.
— Cara, são crianças. O que poderia dar errado?
Diego claramente nunca conheceu o tipo de criança com quem
Mya trabalhava. Eles não hesitariam em nos dizer se o que
havíamos planejado era totalmente idiota e chato. Mas, com sorte,
todos gostariam.
Principalmente Hugo.
Mya tinha voltado para casa naquele dia – o dia em que ele
finalmente escolheu usar suas palavras – emocionada e com os
olhos marejados. Eu a abracei enquanto ela chorava de felicidade e
então ela me deu um relato detalhado do que tinha acontecido.
O menininho tinha se saído muito bem, então era justo que ele
visse seu desejo se tornar realidade. O treinador conseguiu mexer
alguns pauzinhos e, juntos, ele e Sally haviam organizado o evento
no campo de futebol hoje.
— Eles estão aqui. — Vi Mya, Sally e um grupo de voluntários
saindo do túnel com Hugo, seus irmãos e algumas das outras
crianças do programa da New Hope para crianças no sistema de
adoção.
Eles estavam com os olhos arregalados e as expressões cheias
de admiração enquanto observavam a vastidão do estádio Lincoln
Financial Field.
— Vamos — eu disse para os caras. — Vamos nos apresentar. E
lembrem-se, evitem palavrões.
— Sim, sim, Bennet, fique tranquilo. Acho que podemos nos
comportar por uma hora. — Aiden riu.
— Oi. — Mya nos alcançou. Estávamos aqui em caráter oficial
da equipe, mas isso não me impediu de me inclinar para dar um
beijo casto em sua bochecha. — Eles estão muito animados — ela
sussurrou.
— Como todos vocês estão? — perguntei ao amontoado de
crianças. Jay e Mario sorriam de orelha a orelha, mas a maioria das
outras crianças parecia Hugo, completamente pasmos. — Estão
prontos para jogar um pouco com a gente?
Um coro de sim encheu o ar.
— Bem, antes de começarmos com algumas atividades de
aquecimento, tenho uma pequena surpresa para vocês. Traga-o
aqui, treinador — eu gritei.
— Você conseguiu — Mya sussurrou, alcançando minha mão
enquanto observávamos Swoop, a águia caminhando para o campo.
Hugo bateu palmas de alegria, e eu me agachei ao seu nível.
— O que acha, amigo?
Ele olhou para mim com lágrimas brilhando em seus olhos e
sussurrou:
— Melhor. Dia. De. Todos.
Mya
— Oi, pessoal, aqui! — Faith acenou para nós de onde ela e Rex
estavam sentados. — Achamos que vocês não viriam.
— Quase não viemos — Asher murmurou, e eu lhe dei uma
cotovelada nas costelas.
— Se comporte — murmurei.
Quando Faith ligou para perguntar se Asher e eu gostaríamos de
nos encontrar com ela para beber, quase disse não. As coisas entre
nós estavam bem, mas eu não tinha intenções de colocar ela e
Asher no mesmo ambiente tão cedo. Mas ele ouviu a ligação e disse
que todos mereciam uma segunda chance. Então aqui estávamos
nós, encontrando Faith e... Rex, para beber.
Estranho, ela não o havia mencionado em seu convite original.
— Ouvi dizer que vocês merecem os parabéns — Rex falou para
Asher.
— Sim, obrigado.
— Escute, espero que não haja ressentimentos sobre antes.
Vocês são perfeitos um para o outro, e eu estava sendo uma cretina
crítica.
— Sem ressentimentos. — Asher apertou minha mão sob a
mesa, seu toque persistente no meu dedo.
Ainda não tínhamos escolhido uma aliança, mas, honestamente,
eu não precisava de uma. Eu tinha tudo o que poderia desejar.
Estávamos noivos, logo eu faria vinte e um anos e as coisas no
centro estavam indo muito bem desde que Asher envolveu a equipe.
A sessão daquele dia tinha corrido tão bem que tanto o treinador
Johnson quanto Sally quiseram torná-la uma atividade regular. Ela
estava pensando em organizar a infraestrutura para torná-la um
recurso permanente do programa do centro.
Foi um dia tão bom de ver as crianças interagirem e se
relacionarem com o time. Hugo tinha seguido Asher como um
cachorrinho perdido e os dois se tornaram amigos rapidamente.
Tanto que Asher se inscreveu nas sessões de treinamento interno
do programa para que pudesse ser um voluntário oficial.
A vida era boa.
Perfeita, até.
Celebramos nosso noivado no fim de semana em Rixon. A mãe
de Asher convidou minha tia para jantar e nós cinco apreciamos boa
comida e uma conversa fácil, a tensão do nosso passado
permanecendo exatamente onde pertencia. Até o pai de Asher nos
deu os parabéns, me abraçando com força e me dizendo que o
casamento estava garantido. Tudo o que precisávamos fazer era
informá-lo do que queríamos.
Mas eu não queria uma grande festa. Tudo que eu precisava era
de algo pequeno com as pessoas de quem mais gostava no mundo.
— Eu gosto deste lugar — falei, olhando ao redor da cafeteria
que Faith escolheu. — Tem caráter.
— Sério? A gente vem muito aqui.
— Mesmo? — Fiz uma careta, olhando entre ela e Rex. A culpa
brilhou nos olhos de Faith.
— Na verdade, é por isso que pedi que vocês viessem. Preciso
contar uma coisa... e não quero que fique estranho, certo? Mas você
é uma das minhas melhores amigas e eu sei que fui uma babaca no
início do semestre...
— Faith, respire. O que está acontecendo?
— Ah, Boo Boo, fale logo. Ela não vai se importar.
Boo Boo? O que era isso?
Asher quase se engasgou com seu café.
— Eu e Rex, bem, nós estamos...
— Juntos. Estamos juntos, certo? — Ele bufou dramaticamente.
— Ótimo. Agora todos podemos seguir em frente com a vida.
— Sinto muito, podemos apenas voltar um segundo até a parte
em que você disse que vocês estão...
— Juntos? — Rex sorriu.
— Não esperava por isso. — Asher soltou um assobio baixo e eu
o cutuquei novamente.
— Eu sei, eu sei. — Faith enterrou o rosto nas mãos. — Sou
uma hipócrita completa.
— Há quanto tempo isso vem acontecendo? — perguntei.
— Oficialmente, algumas semanas.
— E extraoficialmente?
— Passamos a maior parte do verão transando.
— Rex! — Faith sibilou.
— Então, o verão da inibição sexual e da autodescoberta foi...
— Eu menti. E me sinto uma pessoa horrível. Mas as coisas com
Rex estavam confusas e eu não queria pular de um relacionamento
para outro. Deus, você deve pensar que eu sou uma vaca.
— Faith, pare. — Suspirei. — Você está feliz?
— Sim, quero dizer... é novo e inesperado. Mas o Rex é muito
diferente do Max.
— Bem, dãã. — Ele sorriu, passando o braço em volta do ombro
dela.
— Sinto muito, mas não esperava isso de jeito nenhum — Asher
falou.
— Nem eu. — Faith ofereceu-lhe um sorriso incerto. — Mas a
gente não manda no coração, certo? Ouça, eu realmente sinto muito
por tudo que disse a Mya.
— Ela te perdoou — ele falou —, então acho está tudo bem.
— Contanto que você esteja feliz — acrescentei, — o que eu ou
qualquer outra pessoa acha que não deve importar.
— Você está certa, não deveria. Mas nem sempre é fácil abalar
as expectativas das pessoas.
— Você vai chegar lá, Boo Boo. — Rex esfregou o nariz em seu
pescoço, e eu fiquei lá assistindo, completamente perplexa. Eles
eram tão... diferentes. Faith era ligada nas aparências e no que as
outras pessoas pensavam, e Rex era... Rex. Ele realmente não se
conformava com estereótipos de gênero, nem se rotulava como
heterossexual ou gay.
Era estranho... mas ainda mais estranho foi o fato de que
enquanto eu os via sussurrando um para o outro, envoltos em sua
própria bolha, não parecia nada estranho.
— Bem, não sei vocês — Asher falou. — Mas estou muito feliz
por termos esclarecido as coisas.
Meus amigos riram e eu sorri, e uma sensação estranha tomou
conta de mim.
Fui como Faith uma vez. Uma garota perdida e insegura de seu
lugar no mundo, querendo se libertar dos estereótipos impostos a
ela. Então encontrei Asher e ele me ensinou que o amor não tem
limites. Era difícil, confuso e caótico, mas valia a pena a luta, as
lágrimas e a dor no coração.
O amor era o que nos tornava humanos.
Mas quando outra pessoa nos amava nos fazia sentir mais do
que humanos.
E Asher...
Ele me amava o suficiente para me fazer sentir a garota mais
sortuda do mundo.
PART 3
ÚLTIMO ANO
DEZENOVE
Cameron
— CHASE, podemos trocar uma palavra? — O treinador acenou
para mim em direção ao seu escritório, e eu atravessei o vestiário. O
ar estava quente, com cheiro de chuteiras suadas e grama molhada.
O treino tinha sido cansativo, e eu sabia que o treinador Byford
provavelmente queria saber onde minha cabeça estava.
— Ei, treinador.
— Sente-se, filho. — Ele apontou para o assento em frente à sua
mesa e eu me sentei. — Eu preciso ficar preocupado? — Com os
dedos curvados, ele se recostou na cadeira, me estudando.
— É meu irmão, senhor. Ele está... — Puta merda. Eu não sabia
o que estava acontecendo com Xander. Ele estava na segunda série
há apenas algumas semanas e meus pais já haviam sido chamados
quatro vezes.
Quatro.
— Ele está tendo dificuldades.
O treinador tirou seu boné e soltou um longo suspiro.
— Isso é difícil, Cameron. Eu sinto pelo garotinho, sinto mesmo.
Mas este é o seu último ano, filho, e a equipe tem uma chance real
de ir até o fim. Preciso saber que meu melhor wide receiver está
focado.
— Eu sei, treinador. Sinto muito.
— Você é um bom irmão, Cam, e um cara bom. Mas a equipe
precisa de você, aqui, no campo.
Assenti, incapaz de responder por causa do nó na minha
garganta.
— Os olheiros estarão circulando em breve, e você tem chance,
filho. Mas precisa deixar todas as outras coisas de fora, certo?
Quando você entrar no vestiário, tem que vir sem problemas e
com...
— Fome de vitória.
— Exatamente. Agora saia daqui.
Me levantei e fui para a porta, mas a voz do treinador me parou
no último segundo.
— E, Chase?
— Sim, senhor?
— Sempre que precisar conversar, minha porta está aberta.
— Obrigado, treinador. — Dei a ele um pequeno aceno de
cabeça antes de voltar para o vestiário. Meu quarterback, um cara
chamado Dominic Sanchez, estava esperando.
— Tudo bem?
— Ele está preocupado. — Franzi os lábios.
— Ele precisa se preocupar?
— Vou ficar bem.
Ele me deu um tapinha nas costas.
— Sabe o que eu acho que você precisa?
— Não, mas tenho certeza de que você vai me esclarecer.
Dom me guiou até o nosso canto dos bancos.
— Você precisa encontrar sua mulher e deixá-la ajudar a aliviar
toda a tensão que você está sentindo, se é que você sabe o que
estou dizendo.
— Amém para isso, irmão. — Dylan, o running back, estendeu a
mão e os dois bateram os punhos.
— Melhor do que andar por aí com vocês, bando de perdedores
— falei com um sorriso malicioso. Mas era tudo fachada.
Já fazia um tempo.
Eu amava o time. Amava as aulas e morar em Michigan com
Hailee.
Mas eu não amava estar a quatrocentos quilômetros de casa, do
meu irmão mais novo e de suas lutas.
Todos – meus pais, Jase e Asher, até mesmo Hailee – ficavam
me dizendo que eram apenas mais oito meses. Mais oito meses até
que pudéssemos voltar para Rixon e ficar mais perto da minha
família. Mas eu não conseguia afastar a sensação de que isso era
apenas o começo, que Xander sabia algo que o resto de nós não
sabia.
E isso me apavorava pra caramba.
— HAILEE? — Joguei as chaves no aparador e entrei no
apartamento com vista para o rio Huron.
As batidas geladas de Röyksopp flutuavam pelo corredor, e eu
sabia exatamente onde encontrá-la. Pegando uma cerveja na
geladeira, tirei o tênis e me dirigi para o mezanino. Com certeza,
Hailee estava de pé sobre uma tela, de costas para mim, com um
pincel na mão.
Eu me apoiei na parede por um segundo, absorvendo a visão
dela. Embora eu achasse difícil ficar longe de Rixon – da minha
família – Hailee floresceu em Michigan. Ela amou cada segundo de
sua graduação em artes e seu talento cresceu substancialmente.
Tanto era verdade que na primavera passada decidimos comprar
um lugar maior para acomodar sua coleção crescente de pinturas e
esculturas.
Nosso novo apartamento era perfeito. Era um armazém industrial
que havia sido convertido em enormes apartamentos de plano
aberto. O nosso teve a sorte de ter um mezanino perfeito para o
estúdio de Hailee, sem que ela se sentisse trancada em outra parte
do apartamento.
Seu corpo balançava de leve com a música enquanto ela
passava longos arcos sobre as manchas de cor que já decoravam a
tela. Quase quatro anos depois, e eu ainda não entendia muito de
sua arte. Mas adorava observá-la. Seu traje de trabalho também
não era ruim de se olhar.
Ela estava usando uma camisa branca enorme que alcançava
suas coxas. Hailee prendeu o cabelo em um coque frouxo na nuca
e, pela maneira como a camisa estava pendurada em um ombro, eu
sabia que ela provavelmente tinha deixado alguns botões abertos.
Tomando um longo gole de cerveja, coloquei-a no aparador e me
aproximei. Ela estava muito perdida em sua arte para me notar. Ou,
pelo menos, pensei que estava, até que ela perguntou:
— Há quanto tempo você está me olhando?
— Me pegou. — Sorri, afastando os fios de cabelo de seu
pescoço e me inclinando para dar um beijo.
Um arrepio percorreu seu corpo e Hailee olhou para mim.
— O que houve? O que está errado?
Suas palavras me envolveram como um cobertor quente. Ela
sabia. Hailee sempre sabia quando algo estava errado, mas eu
tentei o meu melhor para me certificar de que ela não soubesse o
quanto eu estava lutando. Não queria ser um fardo, não para ela.
Não quando ela trabalhou tão duro para chegar aqui. Estudar na
escola de arte e design STAMPS sempre foi seu sonho, e eu jamais
faria algo para arruinar isso.
Além disso, eram só mais oito meses.
— O treino foi difícil.
Ela franziu o cenho.
— Me deixe terminar aqui e nós podemos...
— É uma peça importante? — Desviei meu olhar para a tela.
— É só algo para mim.
Ainda bem.
Tirei o pincel de seus dedos e o joguei na bandeja.
— Cameron, o que você...
Toquei seu pescoço, alisando a pele macia com os polegares. A
respiração de Hailee ficou presa.
— Tão ruim assim, é? — Seus olhos escureceram.
— Foi péssimo. — Me atrapalhei com a bola, mal consegui pegar
os passes de Dom e a defesa me derrubou sete vezes em dez
jogadas.
Foi um show de horrores.
— Sinto muito. — Ela segurou meu moletom, se aproximando
mais. — O que você precisa?
— Você — sussurrei contra seus lábios. — Só preciso de você.
Hailee
Senti o tormento de Cameron quando ele me beijou. Eu sabia que
ele estava preocupado com Xander. Piorava a cada ano que
estávamos longe de Rixon. Ele sempre me garantia que estava
bem, que queria se formar em Michigan antes de decidirmos o que
fazer depois, mas isso estava cobrando seu preço.
Sua língua deslizou pelos meus lábios. Cameron beijava da
mesma maneira como jogava bola: seguro, firme e com total
controle. E não demorou muito para que nossas mãos estivessem
procurando por pele, desesperadas para tocar e explorar.
— Isso precisa sair — ele disse entre beijos, tocando os botões
da minha camisa de trabalho.
— Aqui, deixe comigo. — Eu me afastei, ajudando-o a abrir os
botões, me expondo a ele.
Na maioria das vezes, eu pintava apenas com uma camisa.
Gostava da liberdade e economizava na lavanderia.
Cam abaixou a cabeça, beijando a curva dos meus seios
enquanto me apoiava contra a parede.
— Podemos descer — sugeri. Estava uma bagunça aqui.
— Não — ele sussurrou. — Preciso de você, Hailee. — Sua mão
alcançou a calça de moletom, empurrando-a para baixo junto com a
boxer. O casaco de capuz e camiseta foram os próximos até que ele
estava parado na minha frente completamente nu.
Caramba, ele era lindo. Forte, seu torso era uma placa sólida de
músculos, cada abdômen perfeitamente esculpido e definido.
Estendi a mão para ele, acariciando a flor de cerejeira
serpenteando seu braço. Em seguida, tracei a tatuagem que ele fez
da arte que pintei nele no último ano. Eram nossas iniciais – HR e
CC – amarradas juntas com um coração delicado sobre seu peitoral.
— O que foi? — ele perguntou. Sua voz era um sussurro
abafado.
— Eu te amo, Cameron. — Tanto que me assusta.
Ele me pressionou contra a parede e me levantou.
— Não tanto quanto eu te amo. — Ele se agarrou e se alinhou
com meu centro, pressionando-se contra mim.
— Ah, nossa — gemi enquanto afundava nele.
Cameron parou, encostando a cabeça na minha e respirando
fundo.
— Está tudo bem. — Coloquei a mão em sua bochecha. —
Estou aqui, Cameron, estou bem aqui.
Enterrando o rosto no meu pescoço, ele se afastou lentamente
antes de estocar de volta. Foi profundo, intenso e avassalador da
melhor maneira.
— Mais forte — falei, inclinando a cabeça para trás. — Pegue o
que você precisa.
Cam apertou meu quadril com força o suficiente para deixar um
hematoma enquanto ele estocava em mim repetidamente.
— Puta merda, Raio de Sol — ele gemeu. — Você é o paraíso.
Ele atacou minha boca como um homem faminto, só língua e
dentes e carícias provocantes.
— Cameron... — Seu nome era um apelo ofegante em meus
lábios enquanto eu me afogava em sensações.
— Sinta, Hailee. — Impulso. — Sinta o que você faz comigo. —
Impulso. — Nada... nada jamais será tão bom quanto isso.
Ele foi mais forte... mais rápido... mais fundo, me empurrando
contra a parede até que eu soube que teria queimaduras da fricção.
Mas isso não importava. Cameron precisava disso, e eu era a única
que poderia dar a ele.
Só eu, sempre.
— Eu te amo — ele ofegou contra a minha pele úmida. — Eu te
amo pra cacete. — Cameron beijou meu pescoço, lambendo e
chupando, me marcando com seus lábios e me queimando com seu
toque.
— Mais forte — pedi, me agarrando aos ombros largos de Cam
enquanto ele me levava em direção ao precipício de pura felicidade.
— Puta merda, Hailee. — Ele estocou dentro de mim, uma, duas
vezes... até que eu gozei em torno dele, gritando seu nome sem
parar.
Cameron se acalmou, perdido nas próprias ondas de prazer. Ele
me segurou em seus braços e me abraçou.
— Está tudo bem — sussurrei contra o canto de sua boca. — Vai
ficar tudo bem.
Mas quando eu disse as palavras, soube que era mentira.
Porque isso era uma coisa que eu não sabia como resolver.
Cameron
— Venha aqui. — Dei um tapinha na cama, e Hailee subiu ao meu
lado. Depois de nos limparmos, ela reaqueceu algumas sobras e
comemos juntos antes de encerrar a noite.
Eu estava cansado do treino e Hailee estava cansada pelo sexo.
— Como você está se sentindo? — ela me perguntou.
— Só estou preocupado com ele.
— Eu sei. Mas você não pode consertar tudo, Cam.
Eu não podia, e sabia disso. Mas se eu estivesse lá, se Xan me
tivesse ao seu lado para conversar, para distraí-lo...
Merda.
A culpa me consumiu por dentro. Ele era meu irmão mais novo.
Minha pequena sombra. Ele estava perdido e ninguém sabia como
ajudá-lo.
— Eles virão para o jogo na sexta-feira?
— Sim, meu pai reservou um hotel para eles na Denton Avenue.
— Tenho certeza de que ver você vai animá-lo.
— Sim. — Ele geralmente se animava sempre que eu ia para
casa ou ele nos visitava, mas conforme ficava mais velho, começou
a se afastar. Embora eu soubesse que era irracional, não podia
negar que parecia que ele estava me punindo.
— Posso te perguntar uma coisa? — Hailee se sentou, e eu
assenti. — Você já se arrependeu de ter vindo para Michigan
comigo?
— O quê? Não! Hailee, isso não é...
— Não estou tentando fazer você se sentir culpado, não é isso.
— Ela me deu um sorriso incerto. — Só estou tentando entender
como posso ajudar. É o último ano. Não quero que você passe
nosso último ano aqui juntos com raiva de mim.
— Hailee, pare. — Segurei seu rosto, acariciando sua bochecha.
— Não quero que você se sinta assim.
— Você está feliz aqui?
— Eu... — Eu não conseguia fazer isso. Eu não podia mentir
para ela, não quando ela estava ao meu lado o tempo todo.
— Não posso deixar de me perguntar se ele estaria assim se eu
tivesse ficado. — As palavras eram como uma camada de gelo
entre nós e imediatamente me arrependi delas.
— Você nunca disse nada. — Sua voz falhou. — Todo esse
tempo e você nunca...
— Eu não queria que você achasse que eu estava aqui contra a
minha vontade. Eu quero estar aqui. Mas ele é meu irmão e não
está melhorando, só piorando.
— Então, o que fazemos? — Seus olhos se encheram de
lágrimas e odiei ser o responsável por elas. Mas essa conversa
estava atrasada.
Nos últimos dois anos, Xander se tornou o elefante na sala. Mas
eu sempre a tranquilizava de que era isso que eu queria. Porque
era.
Quando minha mãe ficou doente, Hailee ficou ao meu lado nas
semanas mais difíceis da minha vida. Eu quis vir para Michigan por
ela, para colocá-la em primeiro lugar. Mas agora eu estava preso
entre uma rocha e um lugar duro. Xander era família, meu sangue, e
tudo gritava que ele precisava de mim... mas Hailee, ela era meu
coração, meu lar.
Como eu deveria escolher entre eles?
A resposta era que eu não poderia.
VINTE
Cameron
— CAMERON. — Xander se jogou em mim como um touro saindo
de um portão, e eu abri os braços para pegá-lo.
— Ei, Xan, que bom te ver. — Ele se agarrou a mim como um
macaco-aranha, então o peguei no colo e o carreguei para dentro de
nosso prédio.
— Como está a escola?
— Argh. Não pergunte. Eu odeio aquele lugar.
— Não acredito! Você não tem aula com o sr. Gellar? Eu me
lembro daquele cara, ele sempre foi uma piada.
— Bem, ele é um verdadeiro idiota agora.
— Ei, cuidado — eu o repreendi, e ele resmungou:
— Desculpe, Cam.
Hailee e meus pais seguiam atrás de nós, e eu coloquei meu
irmão no chão para cumprimentá-los de forma apropriada.
— Filho, é bom te ver. — Meu pai deu um passo à frente e me
puxou para seus braços. Eu podia ver as rugas de preocupação ao
redor de seus olhos, mas não eram mais por causa da minha mãe.
Eram causadas pelo menino de sete anos que tem me preocupado
também.
— Oi, pai.
— Cameron. — Minha mãe abriu caminho entre nós, olhando
para mim com olhos cansados. — Realmente só se passaram
algumas semanas?
— Sim. — Eu ri, mas era tenso.
— E Hailee — minha mãe foi para minha garota. — Você fica
mais bonita a cada vez que te vejo.
— Obrigada, Karen.
— Animado para o jogo hoje à noite? — meu pai perguntou.
— Sim, mas não vou ficar animado em passar o dia com este
danadinho amanhã. — Abracei Xander e sua risada foi como música
para meus ouvidos.
— Ah, Clarke, olhe.
Xander instantaneamente enrijeceu com as palavras da minha
mãe.
— Relaxe — falei. — Ela está feliz...
— Sim, tanto faz. — Ele se esquivou de mim e foi se sentar no
sofá. Todos o observamos, o silêncio caindo sobre nós.
— Por que não faço um café? — Hailee sugeriu, me dando um
sorriso tranquilizador.
— Obrigado — respondi, voltando a olhar para Xander. Ele
pegou seu mini game e começou a jogar, pressionando os botões.
— Como ele está? — perguntei aos meus pais e suas
expressões ficaram tristes.
— Não sabemos mais o que fazer, Cameron. Ele nos excluiu
completamente.
— Vou falar com ele. — Passei a mão pelo cabelo, soltando um
suspiro pesado. Mas enquanto eu observava meu irmão, uma das
pessoas mais importantes da minha vida, temi que falar não fosse
mais o suficiente.
Hailee
— Você está animado para assistir o Cameron? — perguntei a
Xander enquanto nos sentávamos em nossos lugares. Era o jogo de
abertura da temporada, e um de grande rivalidade contra o Ohio
State, então a atmosfera no Michigan Stadium era eletrizante.
Karen e Clarke se sentaram do outro lado de Xander, dando a
nós dois algum espaço. Percebi como as coisas estavam tensas
entre eles e o filho, e meu coração doeu por todos.
Ele deu de ombros, e eu o cutuquei.
— É normal ficar animado, sabia? Mas se não estiver, tudo bem
também.
— Eu sinto muita falta dele — ele admitiu.
— Ele sente sua falta também. Muito. Ele fala de você o tempo
todo.
— Fala? — Ele olhou para mim com grandes olhos azuis, assim
como os de seu irmão.
— Sim. Cameron te ama muito, Xander.
— Mas ele foi embora. — Seu lábio tremeu, mas ele endureceu
sua expressão.
Para um menino de sete anos, Xander Chase tinha excelente
determinação. É por isso que sua mãe e seu pai lutaram tanto para
fazer com que ele se abrisse para eles.
— Você sabe que a partida do Cameron não teve nada a ver
com você, não é?
Ele deu de ombros novamente, assim que o time saiu correndo
para o campo. O barulho era ensurdecedor e Xander pareceu
encolher em sua cadeira. Ele se inclinou em minha direção como se
precisasse de proteção, mas não chegou muito perto.
Meu coração se encheu de orgulho ao ver Cameron em sua
camisa amarela e azul.
Quando descobriram que sua mãe estava doente, ele estava
preparado para desistir de seu sonho de jogar futebol. Mas, no final,
ele não precisou. Seus pais estavam muito orgulhosos dele e de
tudo que ele havia conquistado até agora em Michigan. Mas o último
ano era o ano dele.
Pelo menos, eu esperava que fosse.
— Eles estão bem — Clarke gritou sobre o coro de aplausos e
conversas. — Fortes.
— É o ano deles. — Sorri para ele.
— Espero que seja mesmo.
Xander olhou para mim, e eu fiz uma careta.
— O que foi?
— Você e o meu irmão vão se casar um dia?
— Eu... — gaguejei. — Pode ser. Quer dizer, espero que sim.
Karen e Clarke sufocaram a risada.
— Por quê?
Por favor, não diga que você não quer que isso aconteça. Meu
coração acelerou enquanto ele olhava para mim antes de me
chamar para mais perto. Baixei a cabeça e esperei.
— Talvez se você fizer isso e vocês voltarem para Rixon, eu
possa morar com vocês.
Ah, Deus.
Meu coração.
Ele se partiu pelo menino olhando para mim com nada além de
esperança e tristeza em seus olhos.
Ele se partiu pelo seus pais, tentando tanto não serem afetados
pelo crescente distanciamento de seu filho.
Mas, acima de tudo, se partiu porque eu não pude dar a resposta
que ele pensava que queria ouvir.
— Hailee? — ele me chamou.
— Ah, não é algo que eu possa responder, amigo.
A decepção brilhou em seus olhos.
— Ainda temos que terminar a faculdade e então descobrir o que
queremos fazer.
— Vocês vão voltar para casa, certo?
Porcaria.
Isso não estava indo bem.
Eu estava cavando um buraco cada vez mais profundo. Olhei
para Karen, mas ela e Clarke estavam em uma conversa profunda.
— Onde quer que decidamos nos estabelecer, você será sempre
bem-vindo, Xander. — Escolhi minhas palavras com cuidado. — Se
conseguirmos um lugar grande o suficiente, você pode até ter seu
próprio quarto. Podemos decorar e...
A voz do locutor veio pelo alto-falante e o alívio me inundou.
Dei a Xander um sorriso tranquilizador, mas ele mal me retribuiu,
e eu esperava que o jogo fosse o suficiente para distraí-lo das
coisas.
Cameron
— Muito bem, ouçam, rapazes — o treinador disse, olhando para o
placar. Estávamos empatados com pouco mais de um minuto no
cronômetro. — Temos uma chance de uma jogada final e
precisamos fazer uma boa jogada. Porque menos do que isso não é
uma opção, está me ouvindo?
— Sim, senhor.
— Ótimo. Agora vão lá e mostrem a eles por que esse
campeonato está voltando para casa nesta temporada. Dom, vá em
frente, filho.
— Mãos estendidas — ele gritou, e todos nós esticamos as
mãos no centro.
Foi um jogo brutal, nossas equipes se equiparavam em
velocidade, força e determinação. Mas com Hailee e minha família
na plateia, encontrei meu fluxo, marcando touchdowns em cinco de
sete passes. O único problema foi que Ohio também marcou.
— Wolverines em três.
— Um... dois... três... Wolverines. — Nós nos separamos do
amontoado e Dom correu ao meu lado. — Está pronto?
Dei a ele um aceno duro.
Ele enrolou a mão em volta do meu pescoço e me puxou para si,
nossos capacetes se chocando.
— Nós merecemos isso, Chase. É o último ano e esse
campeonato é nosso, está me ouvindo?
A adrenalina pulsou por mim, e o rugido da multidão era como
êxtase líquido correndo em minhas veias.
Quando eu estava aqui, em campo com meu time, jogando sob a
torcida de mais de cem mil torcedores, era fácil esquecer todas as
outras coisas. Xander. Hailee. Meu futuro. Decisões que eu não
tinha certeza se estava pronto para tomar.
Aqui, tudo desaparecia até que não houvesse nada além de
mim, a bola e uma fila de jogadores de defesa, todos procurando me
impedir de chegar ao meu destino.
Eu sabia que não iria durar. Quando o apito final soasse e o
barulho parasse, tudo voltaria correndo.
Mas por enquanto, eu era invencível.
— Vamos dar um show a eles — falei para Dom e ele sorriu.
— O que você está pensando?
— Se lembra quando estávamos brincando com o Dylan outro
dia?
— Sim?
Assenti.
— É um grande risco.
— Podemos conseguir.
— Vamos fazer isso então. — Ele correu em direção a Dylan
para dar as instruções enquanto o resto de nós se posicionava.
A multidão se acalmou enquanto esperávamos o relógio reiniciar.
Se quiséssemos pontuar, precisávamos ser rápidos e executar a
jogada ao pé da letra.
— Azul vinte e dois — Dom gritou. — Azul vinte e dois. — Alguns
jogadores recuaram e a linha ofensiva começou a se embaralhar,
tentando ler a jogada.
Mantive os pés leves esperando pela jogada para Dom. Ele
pegou e mandou a bola para Dylan, que começou a carregar para a
linha, apenas para diminuir a velocidade e passar de volta para
Dominic. O ataque mudou e eu voei. Corri com força, me movi para
o espaço aberto, estendendo a mão para dar-lhe o sinal. A bola
cortou o ar e eu pulei, enrolando a mão em torno do couro. Os
jogadores confusos de Ohio imediatamente mudaram de direção
para se aproximarem de mim. Mas eu estava muito rápido, o ar frio
batendo em meu capacete enquanto eu corria com mais força...
mais rápido... nada além da linha final da vitória à vista.
Dedos roçaram em meu ombro quando um jogador de defesa
me alcançou, mas eu o evitei, desviando para a direita e direto para
a zona final.
— Touchdooooown — a voz do locutor ecoou pelo estádio, os
gritos e aplausos coletivos de dezenas de milhares de fãs
ensurdecedores.
Meu time correu, todos querendo comemorar nossa primeira
vitória da temporada contra um de nossos maiores rivais.
— É assim que se faz — Dom falou, batendo seu capacete no
meu. — Puta merda, eu poderia te beijar.
— Por favor, não. — Eu ri, tentando desesperadamente segurar
a alegria. Mas logo começou a se dissipar.
Xander estava lá em algum lugar com meus pais. Eles olhariam
para mim em busca de respostas, respostas que eu não tinha.
— Venha aqui — o treinador gritou, e todos nós corremos em
direção a ele. — O que é que foi isso, Sanchez?
— Isso foi fazer o trabalho, senhor.
— Isso foi ideia sua, filho?
— O crédito é todo do Chase, senhor.
O treinador olhou em minha direção.
— Movimento arriscado.
— Sabia que poderíamos fazer, senhor — falei, sentindo o peso
das ombreiras começar a esmagar meus pulmões.
Eu precisava sair desse campo e rápido.
— Sorte sua, funcionou.
Fui contorná-lo, mas o treinador segurou meu braço e olhei para
trás.
— Você jogou bem esta noite, filho. Continue assim e não terá
nada com que se preocupar quando os olheiros chegarem.
Suas palavras só fizeram meu peito ficar mais apertado.
— Obrigado, treinador — murmurei, antes de arrancar o
capacete e correr em direção ao túnel. Eu precisava de um banho e
encontrar a única pessoa que podia fazer tudo desaparecer.

NEM MESMO UMA HORA DEPOIS, saí do estádio para encontrar


Hailee, Xander e meus pais esperando por mim.
— Parabéns. — Minha garota correu para meus braços e me
abraçou. — Você foi incrível.
— Não me sinto tão incrível. A defesa deles é como gigantes.
Ela deu um passo para trás, semicerrando os olhos.
— Você está bem?
— Nada que um pouco de carinho da minha garota favorita não
cure. — Me inclinei para beijá-la, esquecendo que tínhamos
audiência.
Até que meu irmão fez um barulho de ânsia de vômito.
— Venha aqui, garoto — falei, curvando o dedo. Xander veio de
boa vontade, colocando-se entre mim e Hailee.
— Precisamos conversar — ela murmurou, olhando para ele.
O medo se apoderou de mim.
Algo aconteceu.
— Você está bem? — murmurei de volta, e ela assentiu, mas
havia uma tristeza em sua expressão que fez soar o alarme.
Mas no verdadeiro estilo Hailee, ela colou um sorriso e disse:
— Certo, quem quer sorvete?
— Posso ter granulado? — Xander escorregou dos meus braços
e olhou para nós.
— Claro que pode, amigo. Você pode ter o que quiser.
— Eu quero três sabores.
— Combinado, Xan.
Fomos para perto de meus pais.
— Parabéns, filho.
— Obrigado, pai.
— Você fez uma bela jogada no final.
— O treinador ficou louco.
— Aposto que sim. Mas valeu a pena.
— Venha aqui, querido. — Minha mãe me puxou para um
abraço. — Estou tão orgulhosa de você.
Ela me dizia isso todas às vezes que estávamos juntos. Era
como se depois da doença ela quisesse valorizar cada momento,
imprimir cada memória. Ela estava saudável agora, mas acho que
algo assim mudava as pessoas.
Eu sabia que isso tinha me mudado até certo ponto.
— O time não vai comemorar? — meu pai perguntou enquanto
íamos para o SUV deles.
— Sim, vai haver uma festa ou algo assim.
— Você pode ir depois que nós...
— Não faça isso — pedi. — Quero estar aqui com vocês. —
Abracei Xander com mais força.
— Você é um bom homem, Cameron. — Meu pai apertou meu
ombro.
— Obrigado. — A emoção obstruiu minha garganta, mas não foi
nada comparada à maneira como meu coração apertou com a força
com que Xander se agarrou a mim enquanto caminhávamos pelo
estacionamento.
VINTE E UM
Hailee
— ELE ESTÁ DORMINDO? — perguntei.
— Sim, finalmente.
— Venha aqui. — Cameron cruzou a sala e o puxei para meus
braços. — Vai ficar tudo bem.
— Vai? — Sua voz falhou. — Porque não tenho mais certeza.
Xander quis ficar conosco no apartamento, então concordamos
que ele poderia. Karen e Clarke observaram com uma mistura de
desânimo e alívio quando saímos do carro e entramos no prédio.
Eles estavam hospedados em um hotel a dois quarteirões de
distância, mas se juntariam a nós no café da manhã.
— Diga-me o que ele disse a você no jogo. — Cameron olhou
para mim com tanta dor que eu queria tirar isso dele.
— Ele perguntou se íamos nos casar... — Respirei fundo,
sabendo o quanto minhas próximas palavras o afetariam. — E então
ele perguntou se poderia morar conosco.
— Puta merda, ele disse isso?
Assenti, dando um pouco de espaço a ele para digerir as coisas.
Cameron passou a mão pela cabeça e segurou a nuca.
— O que devo fazer?
— Continue fazendo o que está fazendo. Xander sabe que você
o ama, Cameron. Ele sabe que sua mãe e seu pai o amam. Ele está
um pouco confuso agora, mas vai superar.
— Vai? — Cam se deixou cair na beira da cama, enterrando o
rosto nas mãos. Me sentei ao lado dele, oferecendo conforto se ele
precisasse.
— Sabe, esta noite, no jogo, eu queria. Queria ser profissional.
Não sei o que aconteceu. Em um minuto, eu estava preocupado
com Xander, meus pais e você, e no próximo, eu estava tão
envolvido no jogo...
— Ei, não se sinta mal. — Segurei seu rosto, forçando-o a olhar
para mim. — Você nunca deve se sentir mal por querer seguir seus
sonhos, Cam. Nunca.
— Ainda não consigo acreditar que ele disse que quer morar
conosco.
— É como se ele estivesse esperando você voltar para casa.
— Eu sei.
— Você quer isso? — perguntei, sem saber se queria a resposta.
— Voltar para Rixon?
— Eu só quero ajudá-lo.
— Mesmo que isso custe o seu sonho?
Ele deixou escapar um suspiro de cansaço.
— Você está olhando para mim como se não fosse apenas o
meu sonho que eu estivesse sacrificando.
Meu estômago deu um nó.
— Você está pensando em desistir de tudo? — As palavras
saíram antes que eu pudesse detê-las. — Sinto muito, isso não é
justo.
Era seu irmão. O irmão mais novo que quase perdeu a mãe. Eu
não poderia me ressentir disso.
Eu não me ressentiria.
Não quando eu o levei para longe deles.
— Gostaria de poder usar uma varinha mágica e tornar as coisas
melhores para você e Xander.
— Eu sei. E te amo por isso. — Cameron estendeu a mão para
mim, agarrando a camiseta enorme dos Wolverines e me puxando
para seus braços.
— Passamos o último ano e depois vou para casa, pelo menos
até que as coisas com o Xander melhorem. Ele precisa de mim,
Hailee. Não posso simplesmente virar as costas para ele. Não
posso... — Ele fechou os olhos, com o tormento gravado nas linhas
de seu rosto bonito. — Mas se você não quiser vir, vou entender. Sei
que você tem uma chance melhor de realizar seus sonhos aqui ou
na Filadélfia.
— Pare. — Me inclinei tocando a cabeça na dele. — Onde você
for, eu vou.
— Mesmo? — O alívio o invadiu.
— Cameron, como se você precisasse perguntar.
— Não será para sempre, eu prometo — ele murmurou as
palavras como se fossem difíceis de dizer. — Só até ele melhorar.
— Está bem. Ele precisa de você.
— E eu preciso de você. Sempre vou precisar de você, Hailee.
Espero que você saiba disso. — Ele me olhou com tanta intensidade
que respirei fundo.
— Eu sei.
Cameron
— Precisamos ir para casa, querido — minha mãe estendeu a mão
para Xander, mas ele se esquivou de seu avanço. O flash de dor em
seus olhos me destruiu.
— Xander, por favor, não faça uma cena. O Cameron e a Hailee
precisam...
— Ei — eu disse, tomando a iniciativa. — Está tudo bem?
— Sim — meus pais disseram ao mesmo tempo que Xander
resmungou:
— Não.
— Acho que a Hailee queria um pouco de ajuda, se vocês dois
puderem...
— Pode deixar. — Meu pai apertou meu ombro, guiando minha
mãe para longe.
— Ei, maninho. O que está acontecendo? — Me sentei ao lado
do meu irmão.
— Eu não quero voltar para Rixon.
— Não? Mas e a escola? Seus amigos?
— Eu sei que a mamãe e o papai ligam para você e contam
tudo, Cam. — Ele me olhou nos olhos.
— Eles estão preocupados. Todos nós estamos.
— Não é como se eu tentasse fazer as pessoas me odiarem. —
Ele deu de ombros.
— Ninguém te odeia, Xan. — Deus. Ele tinha sete anos. Era
muito jovem para abrigar tamanha negatividade, mas aqui
estávamos.
— Bem, eles não gostam de mim. Harry Jones e seus amigos
dizem que sou estranho.
— Você não é estranho. — Uma sensação de proteção me
atingiu, e tudo que eu queria era ligar para Jase e Asher, ir até
Rixon, caçar Harry Jones e ensinar ao punkzinho uma lição ou duas.
— Está tudo bem, Cam. Sei que não sou como a maioria das
outras crianças.
Puta merda.
Suas palavras eram tão inocentes, mas havia tanta convicção
por trás delas que ele poderia muito bem ter socado meu peito e
arrancado meu coração.
— Você precisa me dizer como posso resolver isso, Xander.
Ele olhou para mim com olhos grandes e tristes e disse:
— Quando você vai voltar para casa?
— Assim que terminar o último ano, estarei de volta. Não demora
muito, não tirando os feriados e as férias de primavera.
— E então eu posso ficar com você e a Hailee?
Jesus. Isso estava realmente acontecendo. Meu irmão mais
novo estava me escolhendo em vez de nossos pais.
— Você pode vir e ficar, sim. A Hailee me disse que vocês dois
conversaram sobre isso.
— Ela não me deu uma resposta.
— Você sempre será bem-vindo para ficar conosco, Xan, você
sabe disso. Mas nossos pais ficariam muito chateados se você não
quisesse mais viver com eles.
— Mas eu quero morar com vocês. — Ele torceu as mãos no
colo.
Eu queria perguntar a ele o motivo, fazê-lo me dizer por que se
sentia assim, mas eu sabia que ele não tinha as respostas. Se
tivesse, não estaríamos sentados aqui agora.
— Xan, olhe para mim. — Passei os dedos sob seu queixo e
inclinei seu rosto para o meu. — Você tem alguma ideia do quanto
todos nós te amamos? — Seu lábio estremeceu. — Nossos pais
fariam qualquer coisa para te deixar feliz, mas você precisa falar
com eles, amigo. Eles não podem ajudar se não souberem o que há
de errado.
Lágrimas silenciosas começaram a rolar pelo seu rosto, e ele
passou os braços em volta de mim, enterrando o rosto no meu peito.
— Eu não quero que ninguém me deixe. De novo, não — ele
murmurou contra o meu suéter.
— Sete meses, Xan — falei, esfregando suas costas. — Sete
meses e estarei em casa. — Mas enquanto eu dizia as palavras, eu
já sabia que estaria olhando minha agenda para ver quando poderia
fazer mais viagens de volta a Rixon. Eu não podia ignorar isso, não
mais. Algo estava acontecendo com Xander, algo SÉRIO, e ele
precisava de mim.

— EI, você não liga, não me escreve — Asher riu. — Estou


começando a achar que você não me ama mais.
— Eu te mandei uma mensagem no outro dia.
— Porcaria de mensagem. Preciso ouvir sua voz.
— Vou desligar...
— Relaxe, estou só te zoando. E aí?
— Preciso cancelar o fim de semana de rapazes.
— O quê? — ele ofegou. — Não acredito.
Tínhamos combinado um fim de semana fora, já que todos
tínhamos a mesma semana de folga.
— Estou indo para casa, eu preciso...
— Xander?
— Sim. Ele precisa de mim.
— Então vamos todos — ele disse, como se fosse a resposta
mais simples.
— Mas e os ingressos? — Íamos assistir a um jogo dos Eagles.
O pai de Jase tinha alguns amigos em cargos importantes e eles
conseguiram nos dar ingressos VIP.
— O Xander é mais importante. Podemos levá-lo a um jogo do
Rixon Raiders e aumentar sua popularidade. As meninas farão fila
para ter uma chance com o Xan.
— Ash, ele tem sete anos. — Belisquei a ponte do meu nariz.
— Não há nada de errado em começar cedo.
— Não posso acreditar que vocês receberam a licença de
adoção. — Ele e Mya foram aprovados durante o verão. Eles não
planejavam se tornar pais adotivos antes da formatura, mas queriam
estar preparados.
— O quê? As crianças me amam. — Ele deu uma risadinha. —
Mas, falando sério, eu e o Jase podemos ir com você. O Xander vai
adorar. Seremos como os quatro amigos causando o caos. Como
nos velhos tempos.
— Eu agradeço, Ash, eu agradeço, mas...
— Você precisa de algum tempo sozinho com ele?
— Acho que sim. Ele está com uma ideia maluca na cabeça de
que quer morar comigo e com a Hailee quando voltarmos para
Rixon.
— Espere. — Ouvi a surpresa em sua voz. — Você tomou a
decisão?
— Sim. Ele está piorando. Meus pais não sabem mais o que
fazer. As coisas serão mais fáceis se eu estiver por perto.
— Eu entendo, entendo mesmo, e espero que você não pense
que estou sendo intrometido, mas você acha que é o certo a se
fazer?
— O que você quer dizer? — Franzi o cenho.
— O Xander já está incrivelmente ligado a você. Se voltar, isso
pode agravar as coisas. Ele precisa lidar com o que quer que esteja
acontecendo. O terapeuta deveria ser capaz de ajudar.
Xander havia começado recentemente as sessões com um novo
terapeuta. Mas ele estava resistente, incapaz de articular por que se
sentia daquela maneira.
— Como estão sua mãe e seu pai?
— Isso está cobrando seu preço. Minha mãe não está dormindo
e meu pai se joga no trabalho e depois se sente culpado.
— É difícil. Sinto muito, Cam. Se houver algo que possamos
fazer...
— Obrigado. Espero que, se eu estiver mais por perto, ele se
acalme na escola. Fiz um calendário para ele de cada fim de
semana em que estarei em casa.
Foi ideia de Hailee. Nós o imprimimos, e ele passou a usar como
uma contagem regressiva até a formatura. Minha mãe ajudou
Xander a prendê-lo na parede ao lado da cama e, todas as manhãs,
ele riscava um dia.
Eu não conseguia voltar para Rixon todo fim de semana, não
com os jogos, mas consegui me organizar para ir para casa pelo
menos uma vez por mês. Depois, haveria feriados mais longos,
como o Dia de Ação de Graças e o Natal.
Era muito para fazer malabarismos, mas eu precisava fazer
funcionar.
— Então, se você está planejando voltar para Rixon após a
formatura — sua voz ficou séria —, o que isso significa para o
projeto?
— Ainda não cheguei tão longe.
Xander precisava de mim agora. Ele precisava saber que eu
planejava estar mais perto. Todo o resto teve que ficar em segundo
plano por enquanto.
— Entendo. Estou aqui se vocês precisarem de mim.
Conversamos um pouco mais. Perguntei sobre Mya e
conversamos sobre a última instalação de Hailee em uma galeria
independente da cidade. Quando desligamos, me senti mais leve.
Conversar com meus melhores amigos tinha esse efeito em
mim. Nós passamos por muita coisa juntos. Era bom saber que eles
sempre me apoiavam, não importava o que acontecesse.
Estávamos há mais de três anos longe, mas estávamos mais
fortes do que nunca.
Irmãos ligados por escolha, não por sangue.
Família.
E eu não os mudaria por nada no mundo.
VINTE E DOIS
Hailee
O ÚLTIMO ANO não foi bem o que eu esperava. Achei que
Cameron e eu aproveitaríamos, que eu floresceria com minha arte e
ele conquistaria seu espaço entre os olheiros da NFL.
A realidade era um pouco diferente.
Depois daquele primeiro jogo, quando seus pais e Xander o
visitaram, Cameron começou a dividir seu tempo entre Michigan e
Rixon o máximo que pôde.
Às vezes, eu ia com ele, mas na maioria das vezes, não. Tinha
aulas, amigos, várias instalações pela cidade.
Eu tinha uma vida... aqui.
Mas, cada vez mais, a vida dele voltava a Rixon.
Eu o observei arrumar sua mochila para o fim de semana com
um aperto no peito. Era a terceira vez neste mês.
— Achei que você fosse tentar cumprir o cronograma — falei.
— Eu estava tentando. — Ele se inclinou e beijou meu cabelo. —
Mas Xander tem se saído melhor. Não quero estragar o progresso.
— Mas e as aulas de segunda-feira?
— Falei com o professor Joffrey. Contanto que eu receba uma
cópia das anotações da aula e apresente minha redação a tempo,
ele ficará feliz em me liberar.
— E o treino? — O time estava em uma sequência de vitórias, e
o treinador Byford estava determinado a ir até os playoffs.
— Eu vou voltar. Eu disse ao Xan que é uma visita rápida. Se eu
for esta noite...
— Esta noite?
— Sim, achei que tinha dito que esse era o plano. — Cam enfiou
outra camiseta em sua bolsa.
— Acabamos de chegar em casa, está tarde. — Sem mencionar
o fato de que ele tinha acabado de jogar uma partida de futebol. —
Você pode ir pela manhã. Você estará lá amanhã à noite e poderá
passar o domingo todo com ele.
— Eu prometi a ele que o levaria ao parque.
— Você não pode ir ao parque no domingo?
— Hailee... — Cam fez uma pausa no que estava fazendo e
ergueu os olhos para mim. — Eu tenho que fazer isso.
— Eu sei. Só não gosto da ideia de você dirigindo durante a
noite depois de um jogo.
— Vou ter cuidado, prometo. Vou parar no meio do caminho e
descansar um pouco.
Franzi os lábios. Gostei ainda menos disso.
— O que foi? — ele perguntou.
— Eu só me preocupo de que você esteja se esforçando demais.
Sei que você quer ajudar o Xander, mas você não pode ser tudo
para todos, Cam. Tem que ceder em alguma coisa.
E do jeito que estávamos indo, eu estava começando a me
perguntar se era eu.
Se eu era a coisa certa a ceder.
Entre os treinos, aulas e indo e voltando para Rixon, Cameron
mal ficava aqui. No entanto, não pude dizer nada, porque se o
fizesse, isso me tornaria uma pessoa terrível.
Então, reprimi minhas reservas, abri um sorriso e desempenhei
meu papel de namorada compreensiva e solidária.
E isso estava partindo lentamente meu coração.
— Não é para sempre. As férias vão chegar em breve, e quando
chegar o ano novo, e ele sabe que faltam apenas alguns meses
para a formatura, acho que será mais fácil.
Cameron estava muito envolvido para ver que estava
alimentando os problemas de apego de Xander. Eu sabia que Asher
tinha tentado falar com ele sobre isso. Mya havia me contado na
última vez em que conversamos. Mas não me senti capaz de dizer
nada, porque Xander era seu irmão. E depois do que eles passaram
ao quase perderem a mãe... eu não poderia criticar suas escolhas.
Mesmo se eu não as entendesse totalmente.
— Acho que terminei. — Ele fechou o zíper da bolsa e se
levantou, passando a mão pelo cabelo úmido. — Vejo você na
segunda, certo?
Assenti quando uma onda de emoção apertou minha garganta.
— Por favor, tenha cuidado e me ligue quando você parar, não
importa a hora.
— Vou mandar uma mensagem. Você precisa dormir um pouco.
Como se isso fosse fácil sabendo que Cameron estava na
estrada no meio da noite, funcionando com nada além de adrenalina
e bebidas energéticas.
— Eu vou. — Ele passou a mão pelo meu queixo e inclinou
minha cabeça para trás, roçando seus lábios nos meus. — Eu te
amo, Hailee.
— Também te amo.
Fui aprofundar o beijo, mas Cameron já havia se afastado,
jogando a bolsa sobre o ombro e indo para a porta.
E eu fiquei lá, olhando enquanto ele levava outro pedaço do meu
coração com ele.

ACORDEI com o som do celular tocando. Um sorriso apareceu em


meus lábios com a perspectiva de falar com Cameron, mas quando
vi o nome de Felicity, a decepção me atingiu.
— Oi — falei, bocejando.
— Eu te acordei?
— Devo ter cochilado.
— Tarde da noite?
— Eu mal dormi. Cameron dirigiu para Rixon durante a noite e
eu não consegui relaxar.
— Achei que ele iria hoje.
— Eu também — falei, sentindo meu peito apertando.
— Ele está indo muito para casa, não é?
— Sim, eu acho... — Eu parei, sem saber o que ela queria que
eu dissesse.
Todo mundo sabia que Cameron estava indo e voltando. Não era
um grande segredo. Mas me fez imaginar o que nossos amigos
estavam dizendo sobre isso.
— O Jason disse alguma coisa?
— Como o quê? — Felicity perguntou.
— Eu não sei... me ignore.
— Hailee, aconteceu alguma coisa?
— Não... sim... — Soltei um suspiro cansado. — Não sei.
— Certo — ela falou —, comece do início.
Foi o que fiz. Eu contei que Cameron e eu fizemos o calendário
para Xander, como isso deveria ajudá-lo a contar os dias até que ele
visse o irmão. Contei como as visitas estavam se tornando cada vez
mais regulares e o tempo que passávamos juntos, cada vez menos.
Eu até disse a ela que mal havíamos tido intimidade ultimamente.
— Como assim... nada de sexo?
— Nós brincamos um pouco, mas não, nada de sexo.
— Deus, Hails, como você está agora? Não posso ficar mais do
que alguns dias.
— Não é por escolha, confie em mim.
Cameron estava sempre cansado ou tenso demais para entrar
no assunto, então parei de tentar.
— Sinto que estamos nos separando e não sei o que fazer a
respeito. E eu me odeio por pensar nisso, porque é o Xander. Claro
que Cameron deve apoiar o irmão.
— Bem, sim. Mas você também é importante, querida. Ele
também não deveria estar negligenciando seu relacionamento.
— Como posso dizer qualquer coisa sem parecer uma pessoa
horrível e egoísta?
— Estou pensando que é menos sobre dizer qualquer coisa e
mais sobre encontrar a faísca novamente.
— A faísca? — perguntei com ceticismo.
— Sim, você sabe, coloque algo sexy e espere que ele volte
para casa para então seduza-o.
Eu sufoquei um gemido.
— Às vezes, eu realmente gostaria que você não sugerisse
coisas que claramente faz com meu meio-irmão.
— É só sexo, baby. Todo mundo faz isso.
Alguns mais do que outros.
— Você acha que eu sou louca? — Porque eu estava
começando a me sentir assim.
— O quê? Não! Sem chance. Você tem toda razão de se sentir
chateada.
— Não estou chateada, Fee, estou só... — Ah, a quem eu estava
tentando enganar? Fiquei chateada e isso só me fez sentir mais
culpada, o que por sua vez me deixou mais chateada.
Eu estava péssima.
Tudo porque meu namorado estava tentando fazer o que era
certo com sua família.
— Está tudo bem. Você tem direito aos seus sentimentos,
apenas não deixe as coisas passarem. O Cameron te ama Hailee.
Além disso, se ele te machucasse, O Jase iria...
— Não se atreva a dizer nada disso a ele. — O pânico cresceu
dentro de mim.
— Não vou.
— Falo sério, Felicity. Já é ruim o suficiente eu ter que ouvir a
sua conversa esquisita sobre sexo, sabendo que você está
transando com o meu irmão, sem você discutir minha vida sexual
com ele.
— Mas ele poderia falar com o Cam e...
— Felicity, estou falando sério. Vou revogar o seu status de
melhor amiga se você disser uma palavra sobre isso para o Jason.
— Relaxa, estou brincando.
— É melhor você estar. — Porque eu não estava pronta para
receber conselhos sobre relacionamento de Jason, não importava o
quanto estivéssemos próximos nos dias de hoje. — Tenho certeza
de que tudo vai ficar bem. É um momento estranho.
— Isso aí, garota. E não se esqueça do que eu disse sobre
seduzi-lo. Você pode me agradecer mais tarde — ela acrescentou, e
eu revirei os olhos.
— Sim. Pode deixar — falei, querendo encerrar essa linha de
conversa.
— Me conte como foi.
— Hum-humm, falo com você em breve. Tchau.
— Hailee, espere...
Desliguei, deixando escapar um suspiro exasperado. Um
segundo depois, meu celular tocou.

FLICK: Caramba. Que bom que eu te amo. Me ligue logo. Bjos.


EU RI. Não pude evitar. Desde que Jason havia feito o pedido de
casamento há quase dois anos, Felicity havia se transformado neste
tipo de mulher confiante, sexy e sem barreiras. Eu não a culpava.
Ela estava noiva de um dos jogadores da década da NCAA. Jason
já havia conquistado vários recordes e um lugar no Hall da Fama. E
a ESPN já o estava nomeando como certo para o draft do próximo
ano. Não era apenas Jason, era ela. Depois de um começo difícil,
Flick se encontrou em seus estudos. Ela tinha tudo a seu favor. O
cara, a carreira... o enorme anel de diamante em seu dedo.
Fiquei feliz por eles quando Jason a pediu em casamento. O
mesmo com Asher e Mya. Mas outro ano se passou e Cameron
ainda não havia feito o pedido. Eu não estava com pressa. Mas,
ultimamente, não pude deixar de me perguntar se ele estava apenas
esperando a hora certa... ou protelando.
— Argh, pare — sibilei para mim mesma.
Eu estava deixando minha mente pregar peças em mim. Só
porque Cameron queria estar ao lado de Xander, isso não refletia
em nosso relacionamento.
Então, por que não conseguia separar os dois?
E por que, toda vez que ele ia embora, parecia que o espaço
entre nós aumentava?
Cameron
— Hailee, estou em casa. — Joguei as chaves no chão e tirei o
tênis. Eu estava exausto. Foi uma longa viagem de volta para
Michigan, sendo que dez vezes pior, dada a forma como Xander
reagiu mal quando chegou a hora de eu ir embora. Levou quase
duas horas para acalmá-lo, e então eu quis ficar um pouco e me
certificar de que ele estava bem, o que significava que perdi o treino.
Já era tarde, passava das dez.
O cheiro persistente de lasanha flutuou pelo corredor. Mas só
quando entrei na cozinha e vi a refeição mal tocada, eu soube que
tinha fodido tudo duas vezes hoje.
A mesa estava posta para dois, com velas e taças de vinho, e
uma taça de flores recém-colhidas. Caminhando até a geladeira,
não fiquei surpreso ao encontrar uma garrafa de vinho gelada e um
pote da nossa sobremesa favorita do restaurante do outro lado da
rua. Hailee teve muito trabalho, mas não disse uma palavra.
Porque ela queria fazer uma surpresa para você, seu idiota.
Soltei um gemido frustrado. Eu não tinha enviado mensagem.
Depois de enviar a mensagem inicial para dizer que estava indo
embora, fiquei tão envolvido com Xander e depois com meus
próprios pensamentos que esqueci completamente de mandar uma
mensagem para ela.
Pegando o celular sem bateria do bolso, conectei-o a uma
tomada e esperei que ligasse.
Recebi mensagem após mensagem de Hailee.

HAILEE: Sou eu. Você disse que a essa hora já estaria em casa,
mas não está aqui e seu celular só chama. Me avise se você
está bem.

HAILEE: Como você ainda não atendeu, liguei para sua mãe. Ela
disse que você deixou Rixon à uma. Caramba, Cameron! Você
me mandou uma mensagem às oito da manhã e disse que
estava vindo embora. O que está acontecendo?

HAILEE: Eu me considero uma pessoa muito compreensiva...


mas que merda é essa, Cameron? São quase nove e meia e
estou indo para a cama. Não que eu imagine que vou dormir
porque meu namorado está inacessível e ninguém falou com
ele o dia todo.

A CULPA DESCEU pela minha espinha. Parecia tão indesculpável


agora, mas no momento, depois de deixar Xander, tudo que eu
queria era um tempo com meus pensamentos. Uma hora se
transformou em duas e duas em quatro. Fiz uma parada rápida para
abastecer e usar o banheiro, e depois voltei para a estrada.
Não parei para pensar em Hailee.
Eu não tinha parado para pensar em nada além do meu irmão
mais novo em casa, que estava com o coração partido porque eu o
estava deixando novamente.
Era tudo em que eu conseguia pensar.
E, nesse momento, percebi como isso era confuso. Eu tomei
muita coisa como garantida nas últimas semanas. Hailee. O time.
Minhas aulas.
Hailee.
Puta merda.
Olhei para a mesa novamente. Ela planejou uma noite romântica
e eu nem sequer liguei para ela para contar sobre a mudança de
planos.
Com o coração pesado, atravessei o apartamento para o nosso
quarto. Estava quieto, mas nada poderia ter me preparado para ver
Hailee dormindo em cima da cama, segurando um travesseiro, com
a lingerie nova acentuando suas curvas femininas.
Ela não tinha apenas planejado uma refeição romântica. Ela
planejou uma noite de sedução. Provavelmente na esperança de
reacender nossa vida sexual, geralmente saudável. Mas com tudo o
que estava acontecendo ultimamente, eu andava exausto demais.
Na verdade, eu não conseguia me lembrar da última vez que
tivemos intimidade. Pensei sobre isso. Houve a noite algumas
semanas atrás, contra a parede. Certamente não fazia tanto tempo?
Porcaria.
Eu realmente estraguei tudo.
— Muito bem, Chase — resmunguei para mim mesmo. Ela
adormeceu chorando, isso era óbvio, e meu coração se partiu por
completo. — Sinto muito. — Me aproximei, afastando os cabelos de
seus olhos. Hailee se mexeu, mas não acordou, então eu tirei as
cobertas de debaixo de seu corpo e as puxei para cima dela.
— Eu vou compensar, prometo — sussurrei.
Porque eu iria.
De uma forma ou de outra, encontraria uma maneira de mostrar
a Hailee o quanto a amava.
VINTE E TRÊS
Cameron
QUANDO ACORDEI, Hailee tinha saído. Os lençóis estavam frios e
o buraco que ela deixou era vasto.
Passei a mão pelo rosto antes de me inclinar e pegar meu
celular da mesa de cabeceira.

Eu: sinto muito.

ESPEREI.
E esperei.
Mas não veio nada.
Eu não a culpava. Se os papéis estivessem invertidos, eu
também ficaria chateado.
Meus dedos voaram sobre a tela.

Eu: Eu vou compensar, prometo.

UMA NOTIFICAÇÃO SOOU NO CELULAR, mas não era o nome


que eu queria ver.

Jase: O que foi que você fez com a minha irmã?


JESUS. Ela contou a ele? Certo, eu sabia que era provável que
Hailee tivesse contado a Felicity e ela, a Jase, mas ainda assim, não
gostava de pensar que todos sabiam que idiota egoísta eu fui.
Foi um lapso de julgamento. Eu achei que Hailee estaria
esperando, que ela entenderia.
Um dia inteiro, idiota. Ignorei a vozinha da razão e pulei da
cama. Eu precisava de um banho e um pouco de comida, já que fui
para a cama com o estômago vazio.
Fazendo a ligação, esperei que Jase atendesse.
— Eu estraguei tudo.
— Estragou, sim — ele grunhiu. — O que é que você estava
pensando? Ela estava ficando louca.
— Eu não... merda, Jase. As coisas estavam difíceis com Xan
quando fui embora. Ele estava péssimo, eu também. Eu só
precisava de espaço, sabe?
— Entendo. Ele está passando por algumas coisas e você está
carregando essa responsabilidade, mas a Hailee é sua...
Tudo.
Ela era tudo para mim.
— Sim, eu sei — forcei as palavras para fora do nó na minha
garganta.
— Fale comigo, Cam. Onde está sua cabeça?
— Ele precisa de mim, isso é tudo que sei. Quando estou lá, ele
fica melhor, e meus pais podem respirar novamente.
— Merda, é tão ruim assim?
— Sim. O terapeuta tem falado sobre transtorno de apego. Mas
os sintomas são atípicos. Crianças com esse transtorno não
costumam formar ligações seguras com qualquer um de seus
cuidadores, mas ele se tornou excessivamente apegado a mim. —
Respirei fundo e ofegante.
Xander tinha sete anos. A cada ano que passava desde a
doença de minha mãe, ele se retraia mais e mais. Era como se ele
quisesse escapar dos meus pais quando eles não lhe ofereciam
nada além de amor e conforto.
Eu odiava isso.
Odiava não entender por que ele se sentia assim, mesmo
sabendo que não era algo que ele escolheu.
Toda a situação me fez sentir impotente, mas estar ao seu lado,
dos meus pais, era algo que eu poderia fazer. Era algo que eu podia
controlar.
— Ele vai superar isso, Cam — Jase falou. — Todos vocês vão.
— É algo que tenho que fazer.
— Entendo. A Hailee também. Só não a exclua, certo? Você
precisa dela.
— Eu sei. — Minhas palavras estavam repletas de dor. — Vou
resolver as coisas.
— Bom, porque eu realmente não quero ter que dirigir até o
Michigan e te dar uma surra. — Ouvi o sorriso em suas palavras.
— Você acha que poderia me derrubar?
— Sei que poderia.
— Até parece, idiota. — A risada retumbou em meu peito e me
senti bem.
Não conseguia me lembrar da última vez que ri.
— Como vão as coisas com a equipe? — ele perguntou.
— O treinador vai me passar um sermão por faltar ao treino.
— Ele vai entender.
— Você ainda não conheceu o treinador Byford. — Hesitei, mal
conseguindo acreditar nas palavras que estavam na ponta da minha
língua.
— O que foi? — Jason perguntou.
— Nada. — Eu não poderia dizer isso. Não para ele.
— Merda, Cam, — ele respirou. — Não me diga que você está
pensando seriamente em deixar o time? No último ano?
— Eu não quero. — Não queria mesmo. — Mas isso significa
que eu poderia ir para casa no fim de semana e voltar para as aulas.
— E o que minha irmã deve fazer enquanto você dirige de um
lado para outro?
— Jase, vamos lá...
— Não estou tentando ser um idiota, não estou. Mas passamos
cinco minutos falando do fato de que você precisa deixar Hailee
entrar, não afastá-la.
— Não é desse jeito. Eu acabei de...
Jase soltou um suspiro exasperado.
— Você precisa descobrir suas prioridades aqui, Cam. A
formatura é em menos de sete meses. Menos de seis, se você tirar
os feriados e as férias de primavera. Não é tanto tempo. Se você
sair da equipe, vai se arrepender.
— Mas se eu não fizer isso, e o Xander piorar... — Como eu
poderia viver com a culpa?
— Eu gostaria de ter a resposta — ele suspirou.
— Sim, eu também.
— Converse com a Hailee. Qualquer decisão que você tomar ou
não precisa ser conversada com ela. É o justo.
— Eu vou, prometo. — Se ela quiser falar comigo.
— Eu tenho que ir, a Felicity está...
— Sim, sim. Vá cuidar da sua garota. — Eu sorri. Jase estava
diferente, mas estava bem.
— Estou aqui, Cam. Sempre.
Nos despedimos e desliguei. Abrindo o histórico de mensagens
com Hailee, comecei a digitar.

Eu: Precisamos conversar.


Hailee
Encarei a mensagem de Cameron, sentindo o nó permanente em
meu estômago apertar.
Ele queria conversar.
Minha cabeça automaticamente assumiu que ele queria falar
sobre nós... e eu odiava isso.
Odiava ser esse tipo de garota agora, insegura e incerta de seu
relacionamento, de seu homem. Mas na noite passada, depois da
preocupação torturante, seguida pela frustração e então uma
profunda sensação de decepção, eu caí no sono segurando meu
travesseiro manchado de lágrimas.
A vibração do celular me tirou do meu devaneio.

Cameron: Hailee, por favor.

Hailee: Tudo bem.

Cameron: Tenho treino logo depois das aulas, pode ser depois?
No apartamento?

Hailee: Estarei lá.

COLOCANDO O TELEFONE NO BOLSO, fui em direção ao prédio


de Arte e Arquitetura para as aulas matinais. Eu não sabia como as
coisas haviam chegado a esse ponto, mas também não sabia como
consertá-las.
— Hailee — Devyn acenou quando ela se aproximou de mim. —
Estou feliz por ter te encontrado.
Fiz uma careta.
— O Dominic disse que o Cameron perdeu o treino. Houve
alguma emergência em casa? Espero que esteja tudo bem...
Devyn era um amor. Ela era a irmã gêmea de Dominic e os dois
eram melhores amigos. Tanto que dividiam um apartamento fora do
campus. Ela também era uma grande fã de futebol, então Cameron
e eu saíamos muito com eles durante a temporada.
— É o Xander, ele está passando por uns problemas.
— Deve ser difícil a diferença de idade. — Ela enganchou o
braço no meu enquanto entrávamos no prédio. — O Cameron é um
bom irmão.
— Ele é. — Eu realmente não queria falar sobre isso.
— Sabe, ouvi meu irmão e uns caras conversando... Merda, isso
vai soar tão errado...
— Fala, Dev — eu disse, sufocando minha irritação.
— Eles estão preocupados. — Ela me deu um sorriso simpático.
— Ele não sai mais sai com eles, está distraído no treino... estão
dizendo que seu coração não está mais no jogo. Estão comentando
até que o treinador está pensando em substitui-lo em campo.
Suas palavras reverberaram em mim, mas Devyn não terminou.
— Ele disse alguma coisa para você? Ele não quer jogar mais...
— O quê? Não! O Cameron adora o time. Ele nunca os
abandonaria. Ele só está achando difícil equilibrar tudo.
— Foi o que eu disse ao Dominic. O Cam sabe que há muito em
jogo nesta temporada. Especialmente porque o campeonato deveria
ter sido deles no ano passado. — Ela soltou um pequeno bufo.
— Ouça, Dev, foi bom te ver — falei depressa — mas preciso
usar o banheiro antes da aula. Te vejo mais tarde?
— Ah, claro. — Seus lábios se curvaram. — Me desculpe se eu
ultrapassei...
— Você não fez isso. Eu realmente preciso fazer xixi. —
Oferecendo a ela um pequeno aceno, corri pelo corredor em direção
ao banheiro mais próximo. Lá dentro, entrei na primeira cabine e
fechei a porta, respirando fundo.
Os caras achavam que Cameron queria desistir.
Eu sabia que as coisas estavam difíceis, mas não sabia que isso
estava afetando tanto seu desempenho.
Porque ele não te contou.
Meu coração afundou.
Quando a mãe de Cameron adoeceu, ele se virou para mim. Eu
tinha sido seu suporte. Seu lugar seguro. Mas ele não estava se
voltando para mim agora.
Quer ele percebesse ou não, Cam estava me excluindo.
E eu estava deixando.
Cameron
O sangue rugia entre meus ouvidos enquanto eu me sentava e
esperava Hailee chegar em casa. Não tínhamos nos falado o dia
todo, apesar de eu ter pegado meu celular pelo menos cinco vezes.
Havia tanta coisa que eu queria dizer a ela, explicar, mas toda
vez que tentava começar a digitar, não conseguia encontrar as
palavras.
Eu esperava que falar frente a frente fosse melhor.
A porta se abriu e ouvi o baque suave de seus tênis no chão.
— Estou aqui — chamei, e segundos depois, Hailee apareceu.
— Oi. — Ela me deu um sorriso hesitante.
Eu queria ir até ela, puxá-la em meus braços e implorar por
perdão, mas havia coisas que precisávamos discutir. Coisas que eu
precisava dizer sem a distração de sua proximidade.
— Sente-se por favor.
Ela o fez, cruzando as mãos no colo.
— Eu te devo desculpas. Estraguei tudo e sinto muito. Sinto
muito mesmo.
— Eu simplesmente não entendo... — ela disse. — Sei que as
coisas estão difíceis agora, mas você nem pensou em me ligar.
Você tem alguma ideia de como me senti?
— Eu... eu sinto muito.
— Espere. — Ela ergueu a mão, me silenciando. — Vou te
perguntar uma coisa e quero a verdade, Cam. Acho que mereço.
— Certo... — Franzi o cenho, não gostando da firmeza em seu
tom.
— Você quer sair do time?
Recuei, arregalando os olhos.
— Como você...
Eu ia matar Jason.
— Então é verdade? — A decepção tomou conta dela, a
distância entre nós maior do que nunca.
— Não... quero dizer, eu pensei sobre isso, mas...
— Você pensou sobre isso e nunca me disse uma palavra. O
que está acontecendo conosco, Cameron? Porque quando o
semestre começou e você começou a se afastar, disse a mim
mesma que era apenas a pressão de equilibrar tudo. Então você
começou a ir e voltar para Rixon cada vez mais, e eu entendia,
porque é o Xander. Ele é seu sangue, sua família. Mas o que eu não
esperava era que cada vez que você partisse, a distância entre nós
aumentaria ainda mais.
Ela fez uma pausa e então continuou.
— Tentei estar ao seu lado, de Xander e até mesmo de seus
pais. Eu não resmungo ou reclamo, nem falo mal de você com
nossos amigos. Porque eu entendo. Entendo que você deseja fazer
a coisa certa. Você não seria o cara por quem me apaixonei se não
fizesse. Mas algo está acontecendo com a gente e estou
começando a me perguntar se isso tem alguma coisa a ver com
todos os problemas, ou se somos nós. Se talvez você esteja
começando a sentir... — O lábio inferior de Hailee tremeu, mas ela
engoliu a emoção. — Que sou um fardo.
Sem uma palavra, me levantei e cruzei a sala até ela. Caindo de
joelhos, segurei sua nuca e a puxei para mim até que nossas
cabeças estivessem pressionadas uma contra a outra.
— Você não é um fardo.
— Então o que é? Por que eu sinto que estou te perdendo?
Suas palavras me atingiram, chicoteando minhas entranhas.
— Porque eu sou um idiota — sussurrei. — Eu considero seu
amor como garantido. Eu te considero como garantida, e não
deveria.
— Eu simplesmente não entendo como chegamos a esse ponto.
— Hailee estava segurando as lágrimas. Eu as ouvi em sua voz.
— Eu te amo. Amo muito, e sei que as coisas não vão bem há
um tempo, e eu...
O barulho do meu celular cortou o ar, e o olhar de Hailee
disparou por cima do meu ombro.
— Eu vou deixar tocar — falei.
Mas não parava.
— Talvez você devesse atender. Pode ser a sua mãe.
Fechei os olhos e meu coração se partiu em dois. Eu queria
colocar Hailee em primeiro lugar, provar que ela era a coisa mais
importante da minha vida...
— Cam, está tudo bem. — Ela segurou minhas mãos e
gentilmente saiu do meu aperto. — Vá, eles precisam de você.
E eu preciso de você. Mas as palavras não saíam.
Eu me levantei e passei a mão no rosto. Hailee se encolheu na
cadeira com a expressão desanimada.
— Sinto muito — murmurei enquanto pegava o celular e atendia.
— Pai? — falei, sentindo o pânico me atingir enquanto me
perguntava o que Xander poderia ter feito desta vez.
— Cameron, filho...
— Pai, o que houve?
— É a sua mãe... Ela está no hospital.
O mundo desmoronou enquanto eu tentava processar suas
palavras.
— O que você quer dizer com ela está no hospital?
— Ela... ela desmaiou. Eles acham que ela teve uma convulsão.
— Onde está o Xander?
— Ele está com a mãe do Asher. Ele estava lá quando
aconteceu. Eu os encontrei...
— Pai? — Minha voz falhou.
— Precisamos de você, filho. Precisamos que você volte para
casa.
VINTE E QUATRO
Hailee
PEGAMOS um voo para a Filadélfia e alugamos um carro para ir até
Rixon. Foi a opção mais rápida.
Cameron mal havia falado uma palavra no voo de noventa
minutos de Detroit. Ele agarrou minha mão durante todo o caminho,
como se eu fosse sua tábua de salvação.
No segundo em que parei em frente ao Rixon General, Cameron
segurou a maçaneta da porta.
— Eu preciso...
— Vá — eu disse. — Vou encontrar um lugar para estacionar.
Ele assentiu e saiu, correndo pela rua e desaparecendo dentro
do prédio.
Meu coração doeu por eles. Primeiro Xander, agora isso. Eu não
queria presumir o pior, mas sabia que se alguma coisa acontecesse
com Karen, os homens Chase não sobreviveriam.
Encontrei uma vaga para estacionar e desliguei o motor. Eu
queria ir até ele e ver como Karen estava. Mas precisava de um
minuto.
Mas não consegui. Meu celular começou a tocar.
— Jason?
— Como ele está?
— Eu-eu não sei. O pai dele ligou e tudo foi um borrão depois
disso. Acabamos de chegar ao hospital.
— Ele está aí? Posso falar com ele? Ele não está atendendo ao
celular.
— N-não. Ainda estou no carro.
— Hailee, o que é? O que está errado?
As lágrimas que lutei tanto para conter explodiram, escorrendo
pelo meu rosto como rios incontroláveis, o barulho dos meus
soluços eram audíveis.
— Merda, Hailee, não chore. Ele vai ficar bem. Todos ficarão
bem.
— Eles não vão. Se ela não sobreviver... vou perdê-lo, Jase. Sei
que vou. — Cada medo e insegurança que senti nas últimas
semanas me golpearam como uma tempestade implacável.
Se sua mãe ficasse doente de novo, ele deixaria o time – talvez
até a faculdade – voltaria para Rixon. Porque esse era o tipo de cara
que Cameron era. Ele fazia sacrifícios pelas pessoas que amava. E
eles precisariam dele.
Sua família precisaria dele.
— Você também é família dele — Jase falou e eu nem percebi
que havia dito as palavras em voz alta.
— Você sabe o que quero dizer. Ele estará aqui e eu estarei lá.
— Mas você vai superar isso. Você vai. Ouça, vocês dois tiveram
a chance de conversar?
— Estávamos conversando quando o pai dele ligou. Por quê?
— O Cameron te ama, Hailee. Ele precisa de você. Sei que nem
sempre parece, mas nós somos homens e erramos algumas vezes.
Não desista dele, certo?
O silêncio encheu a linha. Eu queria ouvir suas palavras, ser um
pilar de força para Cameron e sua família, mas a verdade é que eu
estava com medo... medo do que o futuro traria para nós.
— Foi você, sabe? — A voz de Jason me aterrou.
— O quê?
— Foi você e o Cam que me fizeram perceber que a vida é mais
do que futebol.
Eu bufei.
— Você me odiava naquela época.
— Eu não te odiava, Hailee. Eu acabei de...
— Sim, eu sei.
Tínhamos muita história – muita história ruim – mas não éramos
mais aquelas pessoas. Agora, Jason era uma das pessoas mais
importantes da minha vida.
Ele era minha família.
— O Cameron te ama e mesmo se ele tentar te afastar ou te
soltar, será apenas porque ele pensa que está agindo certo com
você. Se a mãe dele estiver doente de novo, e eu realmente espero
que ela não esteja — ele soltou um suspiro cansado —, você vai
precisar ser a força dele, irmã. Mesmo quando ele achar que não
quer que você seja.
Mais lágrimas correram pelo meu rosto e eu segurei um grande
soluço.
— Você me ouviu? — Jase disse. — Você pode não ser uma
Ford, Hailee, mas você é minha irmã em todos os aspectos que
importam. E nós não desistimos, viu? Nós lutamos.
— Sim, tudo bem.
— Bom, agora vá ficar com o nosso cara. E diga a ele que estou
aqui. Seja o que for que ele precise, tudo o que ele precisa fazer é
ligar.
— Obrigada, Jason.
— Disponha. Agora erga a cabeça e seja a Hailee Raine durona
que eu sei que você pode ser.
Cameron
— Pai.
Ele ergueu a cabeça e se levantou da cadeira em um segundo,
correndo em minha direção e me puxando para seus braços.
— Você está aqui, graças a Deus, você está aqui.
— Como ela está? O que disseram?
— Ainda estão fazendo exames.
— Eles acham que é o mesmo de antes?
Ele empalideceu.
— É o cenário mais provável, filho.
Puta merda.
— Mas disseram que ela estava bem. Tiraram tudo. — Minha
mãe havia feito uma cirurgia e tiraram o tumor.
— Sempre soubemos que essa era uma possibilidade, Cameron.
Sim, mas o quanto alguém poderia ser azarado para que ele
voltasse? Eu não conseguia entender isso. Já não havíamos lidado
com o suficiente?
— O Xander...
— Ele está bem. — Meu pai apertou meu ombro. — Eu falei com
a Julia mais cedo.
Mas eu sabia a verdade. Xander não estava bem.
— É como se ele soubesse — eu disse.
— O que você quer dizer?
— É como se ele soubesse que ela ia ficar doente de novo e é
por isso que a afastava.
— Cameron, ele não sabia. Ele não poderia saber.
Claro, eu sabia disso. Mas isso não me impediu de me perguntar
se ele sentia algo.
— Hailee. — O olhar do meu pai se moveu por cima do meu
ombro.
— Oi, Clarke. Sinto muito. — Ela não pensou duas vezes antes
de abraçá-lo.
— Estou feliz por você estar aqui. — Meu pai a segurou com o
braço estendido, oferecendo-lhe um sorriso caloroso.
— Eu não estaria em nenhum outro lugar.
Meu peito se apertou, me lembrando da conversa que
estávamos tendo quando meu pai ligou. A conversa que ainda
precisávamos ter.
A conversa que teria que ficar para segundo plano.
— Querem um café? — Hailee sugeriu. Já era tarde, mas eu não
iria embora até ver a mamãe.
— É uma ótima ideia — meu pai disse, pegando a carteira, —
Aqui, deixe-me...
— Não se preocupe, eu tenho aqui. — Ela sorriu para ele.
— Obrigado — falei e Hailee saiu depressa pelo corredor.
— Estou tão feliz por ela ter vindo com você, filho. Você tem
sorte de tê-la.
Ele estava certo, eu tinha.
Hailee não pensou duas vezes em vir comigo. Ela pegou o
telefone no segundo em que eu disse que precisava chegar a Rixon
o mais rápido possível.
Mas eu não conseguia parar de pensar no que ela disse antes.
Não conseguia parar de me perguntar se ela estava certa.

ERAM QUASE onze horas quando finalmente nos deixaram entrar


para ver minha mãe. O médico confirmou que ela teve uma
convulsão devido a um novo glioma.
Minha mãe tinha outro tumor cerebral.
Eu não sabia o que fazer.
— Vou dar a vocês três um pouco de espaço — Hailee falou
quando chegamos ao quarto da minha mãe.
— Obrigado. — Meu pai entrou, mas eu fiquei para trás.
— Não tenho certeza se posso passar por isso de novo —
confessei, sentindo meu coração entorpecido com a notícia.
— Claro que pode. — Hailee me envolveu em seus braços finos.
— Você é muito forte, Cam. E eu estou aqui, estou bem aqui. Para o
que você precisar.
Eu queria dizer a ela para me tirar daqui. Para me abraçar com
força e nunca mais me soltar. Mas meu pai precisava de mim, minha
mãe também. E Xander.
Puta merda... Xander.
— Isso vai destruir o Xander. — Engoli em seco, baixando o
olhar para o chão.
— Olhe para mim — Hailee falou, levando a mão na minha
bochecha. — Você pode fazer isso, Cameron. Eles precisam de
você.
Tocando a cabeça na dela, tentei obter conforto. A garota que já
esteve ao meu lado durante isso uma vez.
— Eu não posso perdê-la, Hailee. Eu simplesmente não posso.
— Ssh — ela sussurrou. — Não sabemos o prognóstico ainda.
Vá ficar com ela e seu pai. Vamos nos preocupar com o resto mais
tarde. — Os lábios de Hailee pairaram sobre os meus, tocando, mas
não beijando. Senti sua incerteza, e sabia que eu era o responsável
por isso.
Mas não poderia fazer isso, não agora. Não quando eu não
sabia se minha mãe iria sobreviver ou não.
— Não vou demorar — falei, me afastando.
— Tudo bem, estarei aqui. — Hailee deu um passo para trás,
envolvendo os braços em si mesma, mal conseguindo encontrar o
meu olhar.
Eu deveria ter me desculpado, explicado que minha cabeça
estava desordenada. Mas não o fiz.
Eu não podia.
Porque não era como antes.
Desta vez, eu não podia me dar ao luxo de desmoronar. Não
quando minha família já estava por um fio. Desta vez, eu tinha que
assumir a responsabilidade e ser o irmão que Xander precisava, o
filho que meus pais precisavam.
Desta vez, eu tinha que colocá-los em primeiro lugar.
Hailee
— Oi, querida. — Minha mãe veio até mim em um sonho, mas
quando abri os olhos ela estava bem ali.
— Mãe? — Me sentei, sentindo os músculos doloridos de dormir
na fileira de cadeiras de plástico do hospital. — Que horas são?
— Um pouco depois da uma.
Fazia duas horas desde que Cameron e seu pai desapareceram
no quarto de Karen.
— Devo ter adormecido.
Ela assentiu.
— O Cameron me ligou e me pediu para vir buscá-la.
— Ele ligou? — Fiz uma careta, olhando para o corredor onde eu
sabia que ele estava com seus pais.
— Eles vão ficar com a Karen. Ele não queria que você ficasse
aqui sozinha.
— Ah, tudo bem. — Meu estômago embrulhou.
— Vamos, querida. Vamos para casa.
Mas quando me levantei e a deixei me levar embora, tudo em
que pude pensar foi que estava deixando minha casa para trás
naquele quarto.
— É tão bom ver você, Hailee. Eu só queria que fosse em
melhores circunstâncias. — Minha mãe conversou um pouco
enquanto caminhávamos para o carro dela. Estava escuro, um
cobertor de estrelas beijando o céu. Uma cena tão bonita para uma
noite tão trágica.
— O Cameron disse mais alguma coisa?
— Só que ele não queria que você ficasse sozinha e que você
também precisava descansar um pouco.
Brinquei com o celular, desesperada para enviar uma mensagem
para ele. Mas eu sabia que ele precisava de um tempo com sua
mãe e seu pai para resolver tudo.
— É uma pena. A Karen é uma boa mulher.
— Ela é, sim.
Entramos no carro e apoiei a cabeça contra o vidro, lutando
contra a onda de lágrimas que se formavam dentro de mim.
— Hailee? — minha mãe perguntou. — Você está bem?
— Estou — murmurei.
E então vomitei.

ESTAVA ENJOADA.
Quando minha mãe me levou para casa, eu mal conseguia ficar
de pé. No início, achei que fosse apenas uma resposta emocional a
tudo o que tinha acontecido, mas passei a maior parte da noite com
a cabeça inclinada no vaso sanitário.
— Como você está se sentindo? — Minha mãe entrou no meu
quarto com um copo de água gelada e alguns biscoitos.
— Como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. —
Tentei me sentar, mas meu estômago embrulhou.
— Você teve notícias do Cameron?
— Nenhuma. — Encarei meu celular, desejando que vibrasse.
— Tenho certeza de que ele vai ligar. É muito para eles
processarem. — Ela colocou o copo na mesa e pressionou a mão
contra minha testa. — Você não está febril. Pode ser algo que você
comeu ou uma cólica estomacal.
— Vou ficar bem. — Eu a afastei.
— Cameron provavelmente terá que ficar longe se for visitar a
mãe no hospital. Pelo menos, até que passe.
Excelente.
Exatamente o que eu não precisava.
— Estou muito cansada, mãe. — Eu mal havia dormido.
— Claro, baby. Vou deixar você descansar um pouco. Se
precisar de qualquer coisa...
— Eu sei e obrigada por tudo.
— Hailee, você é minha filha. Sempre estarei ao seu lado.
Espero que você saiba disso. — Ela me deu um sorriso caloroso,
antes de me deixar sozinha.
A porta mal se fechou quando a primeira lágrima caiu.
VINTE E CINCO
Hailee
DEPOIS DE VINTE e quatro horas, finalmente me senti humana
novamente. Mas meu coração ainda estava machucado. Cameron
mandou mensagem algumas vezes para dizer que passaria o dia
com Xander e que viria mais tarde.
Isso foi há cinco horas.
Minha mãe insistiu para que eu descansasse. Ela também
insistiu que eu bebesse líquidos regularmente e mordiscasse
biscoitos para me recuperar. Acho que secretamente ela adorava ter
alguém em casa para se preocupar.
— Posso fazer algo mais? — ela perguntou, e eu balancei a
cabeça com uma risada silenciosa.
— Estou bem, mãe, obrigada.
— Certo, baby. Chame se precisar de mim.
Nosso relacionamento nem sempre foi fácil, mas ela estava
tentando. E depois da notícia devastadora de Karen, eu sabia que
provavelmente precisava me esforçar mais.
Eu queria ligar para Cameron, para ver como sua mãe estava e
perguntar se eles sabiam de mais alguma coisa. Mas não queria
pressioná-lo.
Então, optei por ligar para minha melhor amiga.
— Hailee, graças a Deus — Felicity disse no terceiro toque. —
Estive tão preocupada. Como você está? E o Cam? E a Karen. Ah,
Deus, a Karen...
— Respire, Flick, — Ri baixinho, não que algo sobre essa
situação fosse engraçado.
— Sério, como você está?
— Já me sinto um pouco melhor, mas não foi nada bom.
— Não posso acreditar que você ficou tão doente. Você acha
que foi algo que você comeu?
— Não sei. Mas agora me sinto bem.
— Bem, isso é bom. E o Cam? Ele deve estar fora de si.
— Eu realmente não sei. Ele está com o Xander.
— Quer dizer que você não o viu hoje? — Ela parecia surpresa.
— Bem, não. Minha mãe achou que ele deveria ficar longe até
que eu tivesse certeza de que era uma daquelas viroses de vinte e
quatro horas.
— Faz sentido, eu acho. Mas você falou com ele, certo?
— Eu...
— Hailee?
— Ele precisa estar com a família agora — eu disse, incapaz de
esconder a tristeza em minha voz.
— Mas você é a família dele.
Eu também já tinha pensado assim. Mas não tinha mais tanta
certeza de nada.
— O Jason falou com ele?
— Sim, eles conversaram mais cedo.
Eu respirei fundo.
— Merda, Hails, eu não queria...
— Tudo bem. Estou feliz que ele tenha o Jason para conversar.
Se não iria se voltar para mim, ele precisava se voltar para
alguém.
— Eu simplesmente não entendo. Vocês sempre foram tão
unidos.
Suas palavras fizeram o nó no meu estômago apertar.
— Ele não quer escolher — eu disse baixinho.
— Mas não precisa haver escolha, não é?
Mas precisava. Ou pelo menos, eu conhecia Cameron o
suficiente para saber o que ele pensava que sim. Ele era um cara do
tudo ou nada. Vi o quanto o afetou não poder estar próximo de
Xander. Ele persistiu por mim. Ele continuou nossa vida no
Michigan... por mim.
Mas percebi que seu coração não estava envolvido.
— Ele precisa estar aqui com a família.
— Você realmente acha que ele vai sair do time? Sair da
faculdade?
Não queria acreditar quando falamos sobre isso pela primeira
vez, mas o diagnóstico de Karen mudou tudo. E eu sabia... no fundo
do meu coração, eu sabia que já o tinha perdido.
Lágrimas silenciosas se agarraram aos meus cílios.
— Sinto muito — Felicity falou como se ela também tivesse
entendido.
— Está tudo bem — ofeguei. — Ele precisa estar aqui com eles.
Mesmo sabendo que as palavras eram verdadeiras, não doía
menos.
— Hailee — minha mãe gritou. — O Cameron está aqui. Vou
encontrar Kent para jantar. Voltaremos mais tarde.
— Escute, eu preciso desligar.
— Você quer que eu vá até aí? Eu posso...
— Não — eu disse, secando os olhos. — Eu ficarei bem.
— Bem, me ligue mais tarde.
— Pode deixar. Tchau. — Desliguei e respirei fundo.
— Hailee? — A voz de Cameron fez meu coração disparar, mas
ele caiu rapidamente de volta à Terra.
— Entre.
No segundo em que ele entrou na sala, vi meu maior medo
gravado em cada linha de seu rosto.
Ele olhou para mim com olhos tristes e disse:
— Acho que precisamos conversar.
Cameron
— Está tudo bem — Hailee falou, me pegando completamente
desprevenido. Vim aqui preparado para uma batalha. Depois de
passar o dia com Xander tentando descobrir como dizer à garota
que eu amava mais do que qualquer coisa que não poderia ser o
cara que ela precisava agora, eu ainda não sabia como dizer as
palavras.
Como dizer a ela que eu precisava estar com a minha família.
No entanto, ela estava sentada lá, com nada além de resignação
em sua expressão triste.
— Você não precisa fazer isso, Cameron. Sei o que você veio
dizer, e está tudo bem.
Eu pisquei, quase incapaz de acreditar no que estava ouvindo.
— Eu-eu não entendo. O que exatamente você está dizendo?
— Eu nunca pediria a você para escolher entre mim e eles. Você
precisa estar aqui mais do que nunca. Eu entendo e está tudo bem.
O alívio me atingiu. Ela entendia.
Puta merda, ela entendia.
— Obrigado. — Fui até ela e me sentei ao seu lado na beira da
cama. — Preciso fazer isso pelo Xander, por eles. — Minha voz
tremeu enquanto eu tentava encontrar as palavras. — O estado dela
é terminal, Hailee. Os médicos podem deixá-la confortável e dar-lhe
remédios para controlar os sintomas, mas não há cirurgia neste
momento ou solução mágica.
— Ah, meu Deus, Cameron. — Ela me envolveu e eu afundei em
seu abraço. Foram as trinta e seis horas mais difíceis da minha vida.
Passei o dia todo com Xander tentando explicar tudo para ele e
então pegando os pedaços de seu colapso enquanto seu cérebro
em desenvolvimento tentava processar as coisas.
— Sinto muito. — Suas lágrimas caíram no meu suéter.
Segurei o rosto de Hailee, tocando minha cabeça na sua.
— Sua mãe disse que você passou mal.
— Estou bem agora.
Nossos lábios estavam tão próximos que quase podia sentir o
gosto dela, mas não vim aqui para isso. Vim dizer a ela que
precisava de tempo e espaço para estar com minha família. Mas
agora eu estava aqui, e ela estava se agarrando a mim como se eu
fosse desaparecer a qualquer momento, fui dominado pela
necessidade de amá-la. De apenas estar com ela.
— Cameron? — Seus olhos brilharam com tanto amor que me
destruiu, e eu sabia que se pedisse, ela me daria tudo o que eu
precisava.
— Venha aqui. — Tentei abraçá-la com mais força. Não queria
ser o tipo de cara que usava o sexo como despedida, mas eu
queria.
Caramba, como, eu a queria.
Mas foi Hailee quem tomou a decisão, deslizando sua boca
sobre a minha.
— Hailee, espere... — Segurei seus ombros, engolindo a bola de
emoção alojada em minha garganta. — Não tenho certeza se isso é
uma boa ideia.
— Preciso disso — ela disse, suas mãos descendo pelo meu
peito e puxando meu suéter para longe do meu corpo. — E sei que
você também.
— Tem certeza?
Eu ia direto para o inferno.
Eu tinha certeza de que Jason me arrastaria para lá de qualquer
maneira depois que eu fizesse isso.
Mas não conseguia parar. Hailee era tudo que sempre quis. Ela
era forte, boa e muito altruísta, era de tirar o fôlego.
Ela não me fez escolher.
Ela me deu um presente: me deixou ir.
Hailee subiu no meu colo, me beijando. Pequenos beijos incertos
enquanto minhas mãos deslizavam em seus cabelos, para que eu
pudesse aprofundar o ângulo. Ela traçou os lábios com os dedos e a
língua. Provocação e degustação. Até que o beijo ganhou vida
própria. Feroz e brutal, enquanto nós dois lutávamos contra nossos
demônios.
— Isso está bem? — murmurei contra seus lábios, enquanto
começava a explorar seu corpo, passando as mãos para cima e
para baixo em sua cintura, traçando suas curvas suaves.
Ela assentiu, agarrando meu suéter, até que o tirei do corpo.
Hailee pintou letras de amor sobre minha pele, me marcando com
seu toque. Era maravilhoso estar com ela.
E você vai desistir dela.
Afastei os pensamentos. Só queria me concentrar nisso. Aqui.
Agora. No jeito que Hailee parecia tão perfeita, a maneira como seu
corpo se encaixava no meu como se tivesse sido feito para mim, e
apenas para mim.
Suas roupas saíram em seguida, o jeans, a camiseta e a
calcinha de algodão preta. Depois, meus jeans e boxers. Até que
estivéssemos pele com pele, arrependimentos e desculpas.
— Eu te amo, Cameron, muito — ela sussurrou antes de me
beijar profundamente.
Meu pau doía por ela, mas não queria apressar isso. Queria
saboreá-la, gravar esse momento na minha memória para quando
as coisas ficassem muito difíceis e eu precisasse me distrair do
buraco no meu peito.
Enterrei as mãos profundamente em seu cabelo, angulando seu
rosto para o meu enquanto capturava seus lábios. Beijos quentes e
carentes.
— Sempre vou te amar — mal sussurrei as palavras contra o
canto de sua boca.
Hailee se levantou de leve, segurando meu pau antes de afundar
em um movimento suave.
— Cam — ela murmurou, agarrando meus ombros. — Parece...
— Eu sei — gemi, me movendo dentro dela. Curvei a mão sobre
seu quadril, guiando seus movimentos. Eu a queria lenta e
profundamente, rápida e forte. Eu a queria de qualquer maneira que
pudesse tê-la. Porque estar assim com Hailee nunca seria o
suficiente... e ainda, por agora, teria que ser.
Meu peito apertou enquanto ela se movia contra mim. Memorizei
cada movimento de seus quadris, cada gemido ofegante saindo de
seus lábios. Mas eu precisava de mais. Precisava de cada coisa que
ela tinha para dar.
Sem aviso, virei Hailee e comecei a estocar nela. Ela cravou as
unhas nas minhas costas, gritando enquanto eu ia com mais força.
— Ah, Cam... — Respirando fundo, ela segurou meus ombros
enquanto eu perseguia aquele momento em que todo o resto
derreteu e eu ficou com nada além de uma sensação de completo
êxtase.
Hailee gemeu novamente.
— Isso é...
Tudo.
Era tudo...
E foi um adeus.
Hailee
Acordei com a cama vazia, mas não esperava que Cameron
estivesse aqui. Dissemos tudo o que precisávamos dizer na noite
passada, com cada beijo e toque e sussurros de eu te amo.
Eu não tinha dúvidas de que Cameron me amava, esse não era
o problema. Mas eu sabia que ele não poderia apoiar sua família
enquanto se sentia amarrado a mim.
Então eu o libertei.
Não havíamos discutido o que aconteceria quando eu voltasse
para Michigan. Nem se íamos fazer uma pausa ou se iríamos tentar
um namoro a longa distância.
Não havíamos discutido nada.
Mas isso me disse tudo que eu precisava saber.
No momento, a prioridade de Cameron era sua família, e eu não
poderia odiá-lo por isso.
Não importava o quanto doesse, eu simplesmente não
conseguia.
— Querida? — Ou vi a voz da minha mãe através da porta.
— Oi, mãe.
Ela espiou pela porta.
— Como você está se sentindo esta manhã?
— Estou bem.
— Você e Cameron resolveram as coisas?
Minhas bochechas esquentaram.
— Vou voltar para Michigan mais tarde.
— Sozinha? — A confusão nublou seus olhos.
— O Cameron precisa ficar aqui.
— Eu sei, querida. Não consigo nem imaginar... — Ela se sentou
na beirada da minha mesa. — Mas isso soa meio final.
— Não definimos os detalhes.
— E você está bem com isso?
Dei de ombros, desviando o olhar.
— O Cameron precisa estar aqui com a família.
— Claro que sim, mas...
— Mãe, eu agradeço sua preocupação, de verdade. Mas está
terminado.
— Vocês encontrarão o caminho de volta um para o outro.
Nenhum tempo ou distância mudará o que aquele menino sente por
você.
Deus, eu queria acreditar nela. Mas também sabia que havia
uma coisa que poderia mudar tudo e que iria acontecer.
— A Karen não vai melhorar, mãe. — Eu não conseguia segurar
as lágrimas por mais tempo.
— Ah, querida, eu sinto muito, muito mesmo.
— A vida é tão injusta — solucei, caindo nos braços abertos de
minha mãe.
— Shhh, querida. Estou bem aqui.
Mas quando ela disse as palavras, chorei mais, porque um dia,
em breve, Cameron e Xander teriam que se despedir de sua mãe.
E Cameron teria que juntar os pedaços.

PEGUEI um voo de volta para Michigan depois disso. Minha mãe e


Kent me deram uma carona até o aeroporto, insistindo que eu
ligasse com mais frequência. Eles não gostavam da ideia de eu
estar em Ann Arbor sozinha, mas havia algo estranhamente
reconfortante em voltar para o meu apartamento e de Cameron.
O lugar estava tão cheio dele. Seu moletom do Wolverines no
cabide, os recortes da coluna esportiva de todas as suas menções
grudados no quadro de avisos da cozinha, até o cheiro persistente
de sua loção pós-barba.
Isso doeu.
Doeu muito, mas eu não gostaria de estar em outro lugar.
Largando as chaves no aparador, peguei o celular e comecei
uma nova mensagem.

Eu: Acabei de voltar para o apartamento. Mande lembranças


para o Xander e seus pais. Bjos.
Cameron: Sim, e obrigado, Hailee, por tudo.

AINDA HAVIA MUITO QUE DISCUTIR, questões que precisavam


de respostas. Mas elas podiam esperar.
Teriam que esperar.
Meu celular começou a vibrar, e eu apertei o botão de atender.
— Nós precisamos conversar.
— Olá para você também, Jason.
— Que merda é essa, Hailee? Você deveria lutar, não ir embora.
— Isso não é... eu não fui embora. — Eu o deixei livre.
— O Cameron está confuso. Ele não sabe o que quer agora.
Mas estou lhe dizendo: ele precisa de você.
— E eu estou aqui, estou mesmo. Não vou a lugar nenhum,
Jason, mas também não vou ser um fardo a mais.
— Não posso acreditar que ele deixou você ir. — A luta deixou a
voz do meu meio-irmão.
— Sim... — Meu coração doeu como se soubesse que estava
faltando sua outra metade.
— Como você está?
— Estou bem. Eu simplesmente continuo pensando que nada do
que estou sentindo importa, não é comparado a...
— Sim. — Sua voz ficou séria. — Eu sei. Eu me ofereci para
dirigir até Rixon, mas ele nem mesmo considerou a ideia.
— O Cameron precisa fazer as coisas do jeito dele — eu disse.
— E se o jeito dele não for o jeito certo?
— Então vamos juntar os cacos.
— Você vai superar isso. Não pode ser o fim, mana.
Simplesmente não pode.
— Talvez — respondi com pouca convicção.
— Só não o descarte, ainda não.
— Jason, eu nunca faria isso. — Eu o amo demais.
— Precisa de alguma coisa? Eu posso ir até aí e...
— Não, estou bem. — Sorri. Jason estava muito diferente, e eu
estava orgulhosa do homem que ele se tornou. — Apenas cuide
dele, por favor.
— Eu vou. Vou deixar passar uns dias, depois vou até lá.
— Bom. Ele vai precisar de alguém com quem conversar.
— Você é a melhor de nós, Hailee, sabe disso, certo?
— Obrigada. — A emoção obstruiu minha garganta.
— Te ligo em breve para saber como você está.
— Certo, tchau, Jas... — Meu estômago revirou violentamente.
— Preciso ir. — Larguei o telefone e corri pelo apartamento, batendo
na porta do banheiro bem a tempo do meu almoço reaparecer.
Isso era demais para uma virose estomacal de vinte e quatro
horas.
VINTE E SEIS
Hailee
CAMERON NÃO VOLTOU PARA A FACULDADE. Ele saiu do time
e suspendeu as aulas. Jason foi até lá no último fim de semana para
recolher algumas de suas coisas e levá-las de volta para Rixon.
Foi difícil.
Mas era o melhor.
Os médicos não podiam dar à família Chase um prognóstico
claro. Mas lhes disseram para valorizar cada momento, o que não
parecia bom.
Conversamos algumas vezes, mas não falamos sobre nós. Em
vez disso, contei a Cameron tudo sobre meu último projeto de arte e
ele me contou sobre sua busca para se certificar de que Xander
soubesse o quanto era amado.
Era difícil ficar com raiva de um cara que se importava tanto.
Devyn sempre vinha ver como eu estava, assim como algumas
das outras namoradas dos jogadores do time. Mas principalmente,
eu preferia minha própria companhia. Além disso, não fui capaz de
me livrar do tal vírus que peguei. Não fiquei doente o tempo todo,
mas ainda não me sentia bem. Tanto que minha mãe me implorou
para fazer alguns exames de sangue.
Estava indo buscar os resultados no consultório médico antes de
voar para a Filadélfia para encontrar Felicity e Mya. Os caras
estavam em Rixon com Cam e Xander no fim de semana, então
Mya nos convidou para sair.
— Srta. Raine? — a secretária disse, e eu assenti. — Pode
entrar direto. — Ela sorriu.
— Obrigada.
Segui pelo corredor e bati na porta.
— Entre.
— Olá. —
— Hailee, sente-se — a dra. Jennifer disse. — Como você está
se sentindo hoje?
— Bem. Ainda estou um pouco letárgica. E tive outra crise de
náusea outro dia.
— Não estou surpresa.
— O quê?
— Fizemos um exame de sangue completo. Os resultados foram
bom.
Franzi o cenho.
— Me desculpe, não entendo. Achei que você tivesse acabado
de dizer...
— Você está grávida, Hailee.
— G-grávida? — A palavra escapou de meus lábios. — Mas eu
não posso estar.
— Estou com os resultados bem aqui. Tudo indica que você
esteja com mais ou menos nove semanas.
— Mas não parei de menstruar.
— É raro, mas acontece. Sua menstruação é leve?
— Normalmente, sim.
Ela fez algumas anotações.
— É possível que você tenha deixado de tomar o
anticoncepcional?
— Não, eu o tomo diariamente.
— Novamente, isso acontece. Obviamente, você não tem mais
que tomá-lo.
— Tem certeza de que estou grávida?
— Hailee, sei que isso é um choque... — Ela não estava errada.
Gravidez era a última coisa que eu esperava ouvi-la dizer. Estava
tão longe na lista, eu nem tinha pensado nisso. — O pai está em
cena?
— É complicado. — Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava
processar o que ela estava dizendo. — Me desculpe, quando devo
ter concebido?
— Se as datas estiverem corretas, e pode variar um pouco, seria
há mais ou menos sete semanas.
Levei a mão instintivamente para o meu estômago.
— Estou realmente grávida? — As lágrimas queimaram meus
olhos, mas eu não sabia se eram de alegria ou desespero.
— Está. Sugiro comprar um teste caseiros. Pode te dar a prova
visual de que você precisa. — Seu sorriso era reconfortante, mas
fez pouco para aliviar a tempestade que assolava dentro de mim. —
Aqui. — Ela puxou um folheto e empurrou-o sobre a mesa. — Isso
explica o que acontece a seguir. Se você tiver alguma dúvida, não
hesite em me ligar.
— Vou viajar.
— O quê?
— Hoje. Tenho um voo para a Filadélfia para encontrar algumas
amigas.
— Você deve ficar bem, mas se você ainda está se sentindo
enjoada, a altitude pode não ajudar. E nada de álcool.
— Claro.
— Vou te dar uma receita de vitaminas pré-natais, verificar sua
pressão arterial e então você pode ir. Alguma pergunta?
— Eu... ah. Não, acho que é tudo.
Não era.
Mas eu não sabia por onde começar.
A dra. Jennifer aferiu minha pressão arterial, me entregou a
receita e me desejou boa sorte. Saí de lá em transe completo, sem
conseguir pensar em mais nada...
Eu estava grávida.

EU MAL ME lembrava do voo para a Filadélfia. Não fiquei enjoada,


apenas presa em um estado paralisante de descrença. Só quando
Felicity estava me abraçando na sala de desembarque que eu
finalmente saí do transe.
— Hailee, o que foi? O que está errado?
— Estou grávida — deixei escapar, seguido por uma torrente de
soluços grandes e feios.
— Certo. — Ela arregalou os olhos, pegando o celular. — Mya —
ela disse. — Mudança de planos. Precisamos parar na loja para
comprar suprimentos e ir direto para o seu apartamento. Eu direi
quando chegarmos. — Felicity desligou. — Vamos, baby. Temos que
comprar algumas coisas.
Ela não pressionou por respostas no trajeto até o apartamento
de Asher e Mya, e eu fiquei grata. Ainda precisava assimilar meus
pensamentos sobre tudo. Mas quando entramos na garagem
subterrânea, eu sabia que meu tempo havia acabado.
Saí do carro e fui até o porta-malas para pegar minha bagagem,
mas Flick chegou antes de mim.
— Posso carregar minha mala — protestei.
— Shhh, você tem que pensar por dois agora.
Dei a ela um olhar de desaprovação.
— Cedo demais?
— O que você acha?
— Acho que você precisa explicar como está grávida quando me
disse que você e o Cameron estavam passando por um período de
seca?
— Sério, é nisso que você está escolhendo se concentrar?
— Fee, você está fazendo de novo — Mya falou.
— Desculpe, desculpe. — Ela ergueu a mão. — Eu só... grávida.
Ela está grávida.
— Sim, entendi da primeira vez. — Mya me lançou um olhar de
desculpas. — Como você está se sentindo?
— Confusa. Assustada. Eu disse confusa?
— Está tudo bem, Hailee. Você está passando por algo enorme.
— Você contou ao Cam? — Felicity perguntou. Apertei os lábios,
evitando seu olhar. — Hailee... você tem que dizer a ele.
— Não posso, ainda não.
Ele estava lidando com algo sério. Não precisava se preocupar
com isso.
— Garota — Mya pegou minha mão. — Ele gostaria de saber.
— Preciso processar primeiro e depois descobrir o que vou fazer.
— O que você quer dizer?— Felicity empalideceu. — Você vai
ficar com o bebê, certo?
— Eu... — Não consegui responder a essa pergunta. Meu
coração dizia que sim. Mas... um bebê?
Cameron e eu nem estávamos juntos. Bem, pelo menos, achei
que não estávamos.
Deus. Tudo estava muito confuso.
— Ainda estou na faculdade. Quero me formar. — A culpa
envolveu meu coração.
As portas do elevador se abriram e nós saímos em direção ao
apartamento de Mya.
— Você não n’ao deve estar com mais do que dois meses,
certo?
— A médica acha que tenho nove semanas.
— Então ele vai nascer em junho? — Felicity perguntou, fazendo
as contas.
— Dois de junho.
— Perfeito. Você pode fazer as provas finais, se formar e então
ter o bebê.
— E onde vamos morar? E quanto aos meus planos?
Sua expressão se desfez.
— Não é simples, mas você vai encontrar uma solução. Além
disso, o Cameron vai te apoiar.
— Acho que o Cameron já tem o suficiente para fazer. — Meu
coração se apertou novamente. Descobrir que estava grávida era
para ser uma ocasião feliz. Não era para acontecer agora, no meio
de tudo isso.
Ela revirou os olhos.
— Você não pode estar pensando em esconder isso dele.
Pisquei para afastar as novas lágrimas.
— Esse é mais um motivo para contar a ele. Deus sabe que
essa família precisa de boas notícias.
— Vou pensar sobre isso. Mas, por favor, não contem ao Asher
ou Jason ainda. Preciso de tempo.
— Hailee...
— Não, Fee, estou falando sério. Contei a vocês em confiança.
Isso diz respeito a mim. Por favor, respeite isso.
Ela soltou um pequeno bufo, mas assentiu.
— Os meus lábios estão selados.
— Ótimo. — Porque este não era um segredo lascivo que
causaria um escândalo. Era o tipo de segredo que mudava vidas.
Eu sabia que Cameron merecia saber, mas me afastei para
aliviá-lo. Se eu contasse a ele agora, só estaria adicionando mais
responsabilidade aos seus ombros.
Pelo menos, é o que eu dizia a mim mesma enquanto seguia
minhas amigas para o apartamento de Asher e Mya.
Cameron
— O que vai acontecer comigo quando a mamãe morrer? — As
palavras de Xander foram como um soco no estômago. Eu o abracei
com mais força, passando o nariz em seu cabelo enquanto tentava
engolir a bola de emoção alojada em minha garganta.
— Você terá a mim e ao papai.
— E quanto a Hailee?
Puta merda. Ele estava realmente me atingindo onde doía hoje.
— A Hailee e eu somos... — A verdade era que eu não sabia
mais o que éramos.
Nós conversávamos e trocávamos mensagens de texto
ocasionalmente, e ela mandou para Xander uma caixa de
guloseimas. Mas não falamos sobre o elefante na sala.
Nós.
Quando descobri que minha mãe estava doente de novo, não
recorri a Hailee. Eu não poderia. Em vez disso, me preparei para
estar com a minha família. Hailee precisava se formar. Ela precisava
correr atrás de seus sonhos e descobrir o que queria.
Sempre imaginei que nossa vida acabaria em Rixon um dia. Mas
não assim. Não porque minha mãe estava... eu ainda não conseguia
dizer isso.
— Ela voltou para Michigan por minha causa?
Afastei Xander e o olhei nos olhos.
— A Hailee te ama, maninho. Ela te ama muito. Mas preciso
estar aqui com você, com a mamãe e o papai. E a vida da Hailee
está em Michigan agora.
— Mas depois da faculdade ela vai voltar, certo?
Não pude responder, porque eu não sabia.
Eu não tinha perguntado nada a Hailee desde que ela voltou
para Michigan, e ela me deu o espaço que eu precisava.
Mas nada sobre isso parecia certo. Eu sentia falta dela a cada
segundo do dia. Minha alma doía por ela.
— Ei, meninos — uma das enfermeiras saiu do quarto da
mamãe —, ela é toda de vocês.
— Obrigado — falei, levando Xander comigo.
— Não façam muito barulha, sim? Ela está cansada.
— Vamos nos comportar. — Dei à enfermeira um sorriso fraco.
Xander hesitou quando chegamos à porta dela, mas dei-lhe um
leve empurrão. Ele estava melhor. Desde que tomei a decisão de
ficar em Rixon, meu irmão mais novo não parecia mais tão perdido.
— Aí estão meus meninos — minha mãe sorriu, dando um
tapinha na cama.
— Vá — sussurrei para Xander, sentindo meu coração inchando
enquanto o via cair em seus braços e enterrar o rosto em seu
ombro.
— Poxa, Xander, você fica maior a cada vez que te vejo.
— Mãe — ele gemeu — só se passaram dois dias.
— Dois dias a mais.
Era muito bom vê-los juntos, mesmo nessas circunstâncias.
— Como você está se sentindo? — Me aproximei, me inclinando
sobre meu irmão para dar um beijo em sua testa úmida.
— Bem. — Ouvi a mentira em sua voz, mas não falamos nisso.
Nunca o fizemos.
Fizemos uma promessa – meus pais e eu – de que
precisávamos ser fortes por Xander. Não importava o quanto as
coisas ficassem ruins, nós o protegeríamos tanto quanto possível.
— Está com fome? — ela perguntou a Xander. — Ouvi dizer que
eles estão servindo tacos no refeitório hoje.
— Eu amo tacos.
— Sei que ama, baby. Você quer ir com o papai e pegar um
pouco? Ele deve estar aqui a qualquer...
— Ouvi alguém dizer tacos?
Minha mãe riu e foi como música para meus ouvidos.
— Oi, pai — Xander falou.
— Ei, amigão. Vamos comer?
— Não demorem muito — minha mãe pediu atrás deles. Quando
eles se foram, ela deu um tapinha na cama novamente. — Venha
cá, querido.
— Oi, mãe.
— Eu queria falar com você sobre uma coisa — ela disse, e eu
franzi o cenho. — Tive um sonho na noite passada e acordei com
uma sensação estranha... — Ela segurou minha mão. — Sei que
você quer estar aqui, e eu te amo por isso, amo mesmo. Mas acho
que você precisa ir ver a Hailee...
— Mãe...
— Apenas me escute. Você sabe que não gosto de superstições,
mas não consigo evitar a sensação de que ela precisa de você.
— Se você está tentando me fazer sentir mais culpado do que já
me sinto, você está fazendo um ótimo trabalho. — Dei a ela um
sorriso tenso.
— Ah, Cameron, meu doce menino. — Ela pressionou a mão na
minha bochecha. — A Hailee é o seu coração. Você não pode viver
sem seu coração, baby.
— Mas mãe, eu não posso ir... — Lágrimas queimaram minha
garganta. — E se algo acontecer...
— Shhh. — Ela fechou os olhos. — Tudo que quero é que você
e o Xander sejam felizes. Isso é tudo que qualquer mãe pode
desejar. E essa garota é a chave para a sua felicidade. Você precisa
deixá-la entrar, Cameron. O amor é difícil e confuso, e Deus sabe,
às vezes dói. Mas o tipo de amor que vocês dois compartilham é
raro. E eu não posso explicar, mas ela precisa de você agora. Eu
simplesmente sei.
— Mas você precisa de mim... — A represa se rompeu e as
lágrimas correram livremente pelo meu rosto.
— Eu não vou a lugar nenhum ainda, prometo. Preciso ter
certeza de que meu filho acerte as coisas com sua garota primeiro.
— Tudo bem — sussurrei.
— Tudo bem?
— Sim, mãe — eu disse, porque como eu poderia negar isso a
ela?
Como eu poderia negar isso a mim mesmo quando tudo que eu
queria era ver Hailee e saber se ela estava bem?
A resposta era que eu não poderia.
VINTE E SETE
Hailee
EU ME SENTIA UM LIXO.
Desde que descobri que estava grávida, há duas semanas, havia
um ciclo constante de enjoo e letargia. Perdi várias aulas e passei a
maior parte do tempo acampada no sofá assistindo TV durante o
dia, chupando pedaços de gelo e sentindo pena de mim mesma.
Felicity e Mya estavam me pressionando para contar a Cameron.
Pelas minhas contas, eu estava quase entrando no segundo
trimestre. Tinha uma consulta marcada para a próxima semana.
Eu queria contar a ele. Queria mesmo. Muitas vezes, peguei o
celular para ligar. Mas toda vez, algo me impedia.
Cameron estava enfrentando a maior perda que um filho poderia
ter... o momento era péssimo.
Tudo com relação a isso era uma merda.
No entanto, eu sabia que tinha que contar a ele.
Eu tinha acabado de me acomodar, pronta para assistir a outro
episódio de Friends, quando a campainha tocou. Isso era estranho.
As pessoas geralmente tocavam o interfone para entrar no prédio.
Afastando o cobertor de cima de mim, atravessei o apartamento
e verifiquei o olho mágico.
— Cameron? — Seu nome escapou de meus lábios e me
atrapalhei para abrir a porta. — O que você está fazendo aqui?
— Oi. — Um sorriso incerto apareceu no canto de seus lábios. —
Posso entrar? — ele perguntou quando não respondi.
— Eu... ah... este apartamento é seu também. Você não precisa
de convite.
Cameron estava aqui.
Ah, Deus.
Puxei o cardigã enorme em volta do meu corpo.
— Você está bem? — ele perguntou. — Não parece muito bem.
— Estou bem. O que você está fazendo aqui?
— Desculpe aparecer de repente, mas a minha mãe...
— Ela está bem? Quer dizer, sei que ela não está bem. Mas
aconteceu algo...
— Hailee, relaxe, ela está bem, considerando todas as coisas.
— Que bom. — Soltei um pequeno suspiro de alívio. — Você
não ligou para dizer que estava vindo...
— Honestamente? — Ele passou a mão pelo rosto bonito. — Eu
não sabia o que dizer.
— Ah.
Isso era muito estranho, e eu odiei a sensação. Odiava que
tivéssemos nos tornado estranhos um para o outro.
— Você quer se sentar? — perguntei.
— Sim, isso seria bom.
Fomos para a sala de estar.
— Tem certeza de que está bem? — Ele olhou para o copo de
gelo e o cobertor.
— Não tenho me sentido muito bem.
— Eu não sabia.
— Você tem coisas mais sérias na cabeça. Como está o
Xander?
— Bem. Obrigado pela caixa de guloseimas. Ele amou. Ele sente
sua falta.
Dei de ombros.
— É o mínimo que posso fazer. Cameron, por que você está
aqui? — questionei.
— Desculpe, eu não quis...
— Isso saiu errado. Estou feliz em ver você, estou mesmo. É só
que você meio que me pegou desprevenida.
— Sinto sua falta, Hailee. Sinto muito a sua falta. Queria ligar,
mas estava com muito medo de que você me dissesse para não
vir...
— Você pensou que eu... Cameron, estou bem aqui. Sempre
estive aqui. Só estou tentando te dar espaço.
— Eu sei. — Ele estendeu a mão para mim, mas pensou melhor
e enfiou a mão sob a coxa. Aquilo doeu.
— Minha mãe teve um sonho...
— Um sonho?
— Sei que parece loucura, mas ela colocou na cabeça que você
precisava de mim. Ela insistiu que eu viesse te ver. Ficou bem
estranha com relação a isso.
— Então você está aqui por causa da sua mãe?
— Não, não estou... sei o que parece, mas eu queria vir. Queria
vir desde que você foi embora. Mas eu não podia deixá-los, e não
era justo pedir que você ficasse. Puta merda... — Cameron fechou
os olhos e respirou fundo e de forma irregular. — Está tudo tão
fodido.
Chegando mais perto, segurei sua mão e a apertei.
— Está tudo bem. Eu entendo.
— Entende? — Ele olhou para mim. — Porque eu, não. Eu não
entendo mais nada. Mas a minha mãe disse que eu precisava vir, e
era como se ela estivesse me dando permissão... então aqui estou.
— Cameron... — Engoli as palavras. Era como se Karen
estivesse aqui, parada sobre nós, observando enquanto tentávamos
resolver nossos problemas.
Eu sabia que se Cameron não tivesse aparecido aqui hoje,
provavelmente não teria contado a ele ainda. Mas eu poderia
realmente deixá-lo ir embora sem contar a verdade?
— Eu também não entendo — sussurrei. — Mas sua mãe estava
certa.
— O-o que você quer dizer? — Seus olhos estavam cheios de
ansiedade.
— Estou grávida.
O silêncio foi ensurdecedor. Minha pulsação martelou dentro do
peito, me deixando um pouco tonta.
— Você está grávida?
Assenti.
— De quase três meses.
— Mas como?
— A médica disse que às vezes acontece. Não deixei de
menstruar, mas fiquei doente quando fui para Rixon com você,
lembra?
— Você sabia e não me contou?
— Não achei que você estaria pronto para ouvir isso... — Eu
ainda não tinha certeza se ele estava.
— Os pedaços de gelo?
— Enjoo matinal é uma merda. — Tentei puxar a mão, mas
Cameron a segurou.
— Um bebê? Vamos ter um bebê? — Ele engoliu em seco, e
uma expressão pasma caiu sobre ele.
Era demais, e lágrimas brotaram dos meus olhos quando eu
assenti.
— Sinto muito. — Ele se ajoelhou, se movendo entre as minhas
pernas. — Sinto muito mesmo. Eu deveria estar aqui. Deveria estar
aqui com você.
— Não. — Afastei o cabelo de seus olhos. — Você precisava
estar com a sua família. Eu entendo...
— Você também é a minha família, Hailee. Eu nunca deveria ter
te afastado. Eu sinto muito. Ela sabia, minha mãe sabia... como isso
é possível?
Eu não sabia, mas seria eternamente grata a ela.
— Talvez ela só quisesse ter certeza de que você ficaria feliz
antes que ela...
A tristeza tomou conta de nós dois.
— Ela disse a mesma coisa. — Cameron passou a mão em volta
da minha nuca e encostou a cabeça na minha. — Você pode me
perdoar?
— Não há nada a perdoar.
— Acho que temos muito o que conversar — ele falou. — Mas
primeiro, eu realmente gostaria de te beijar.
Fiquei olhando para ele, lutando contra um sorriso quando
perguntei:
— O que você está esperando?
Cameron
Seis meses depois...

— NÃO QUERO — Hailee gritou, com a voz repleta de dor.


Apertei a mão dela.
— Só mais um grande empurrão, e ele estará aqui.
Meu filho.
Eu ia ter um filho.
Dizer que os últimos seis meses foram um turbilhão era um
eufemismo. Depois que minha mãe me mandou para Michigan,
Hailee e eu começamos a fazer planos para o futuro. Tivemos um
último Natal com minha mãe. Foi agridoce, mas a enchemos de
tanto amor, felicidade e presentes, com a presença de todos, que
era difícil olhar para trás e ficar triste. Minha mãe havia realizado
seu desejo. Eu estava feliz, Xander estava melhor e meu filho
estava prestes a fazer sua grande entrada no mundo.
— Certo, Hailee, ele está quase aqui. Preciso que você empurre
de novo, tudo bem?
— Cam, eu não consigo. — Ela se virou para mim, e eu beijei
sua testa úmida.
— Você consegue, Hailee. Mais um empurrão.
Seus gritos encheram a sala, mas então um som diferente
assumiu. O choro de um bebê.
— Ele está aqui — ofeguei. — Ele finalmente está aqui.
Foi difícil perder minha mãe há três meses. Todos nós
esperávamos que ela conseguisse ver o bebê, mas no final não era
para ser. No entanto, eu tinha feito uma promessa a ela de que ele
conheceria sua avó Karen. Ele saberia de seu amor, força e espírito.
Lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto as enfermeiras
entregavam a Hailee o pacotinho enrolado em um cobertor.
— Ah, Deus, Cam — ela murmurou. — Olhe para ele.
Passei um dedo ao longo de seu rostinho.
— Ele é perfeito.
— Ele realmente é.
Enquanto observava Hailee olhar para nosso filho, fui atingido
por um sentimento de orgulho e amor que tive certeza de que
entraria em combustão.
— Você já decidiu por algum nome? — perguntei a ela, com a
voz trêmula de emoção.
— Avery Chase, em homenagem a sua mãe.
Era o nome dela do meio.
— Eu te amo — falei. — Amo muito vocês dois e vou passar
minha vida amando.
— Nós sabemos. — Hailee sorriu, seus olhos se encheram de
tanta felicidade que eu sabia que ficaríamos bem.
Porque se minha mãe me ensinou alguma coisa, foi que a vida
nem sempre saía como planejado. Não podíamos saber o que
estava por vir, só podíamos viver cada momento conforme ele
chegava. E eu pretendia amar cada momento por ela.
Por meu filho e minha família.
Pela garota que roubou meu coração quando eu era só um
garoto.
Eu viveria para todos eles.
Porque fui ensinado uma vez a jogar muito... lutar muito... e amar
muito.
EPÍLOGO

— É oficial, pessoal. Os fãs de todo o mundo estarão de luto pela


perda de um dos grandes nomes hoje. Jason Ford, vencedor do
Troféu Heisman, American All-Star e um dos quarterbacks mais bem
avaliados de todos os tempos da NFL, está se aposentando. Depois
de seis anos com o Philadelphia Eagles, Ford sofreu uma série de
lesões na última temporada.
— Sim, Dan, foi um ano difícil para o QB quebrador de recordes.
Ele desfrutou de cinco anos de sucesso com os Eagles, incluindo
dois super bowls, mas no ano passado ele sofreu aquela lesão no
ombro e as coisas pioraram rapidamente a partir daí.
— Mas sua equipe do ensino médio, os Rixon Raiders, ficarão
muito animados com o retorno de Ford quando ele se juntar a eles
como treinador assistente.
— Isso mesmo, Dan. Ford e a família estão se mudando de volta
para Rixon. E quem sabe, talvez não seja o fim de seu legado.
Jason
HOUVE uma época em que a festa de aniversário de uma criança
de três anos me faria correr para as montanhas. Mas quando uma
das aniversariantes era sua filha, isso não era realmente uma
opção. Desliguei o motor, desci do SUV e comecei a esvaziar o
porta-malas com todos os balões que Fee e Hailee me mandaram
buscar.
Vai saber por que precisávamos de mais balões. A casa de Cam
já estava cheia dessas coisas. Mas eu sabia que não devia discutir
com minha esposa e minha irmã.
Com as mãos ocupadas, passei pela entrada, que já estava
cheia de carros, e entrei em casa. Parecia um zoológico, com
crianças correndo e gritando, adultos pairando nas periferias sem
saber se deveriam intervir ou deixá-los agir.
Deus, eu sentia falta do futebol.
Pelo menos naquela época, as coisas eram simples.
— Papai, papai — Lily abraçou minhas pernas. — Você trouxe
baluns.
— Claro que sim, baby. — Empurrei o punhado de balões para a
primeira pessoa que vi e peguei a aniversariante. — Você está
gostando da sua festa?
— Sim — ela gritou de alegria. — Estou fazendo veiz.
— Três, você está fazendo três, Lily.
— Essa menina é uma danadinha. — Fee veio com nossa mais
nova, Poppy, dormindo em seus braços, e se inclinou para beijar
Lily, e depois minha bochecha. — Obrigada.
— Qualquer coisa para as aniversariantes. Este lugar está uma
loucura. — Olhei para minha esposa discretamente. Crianças de
três anos eram astutas, espertas e intuitivas. Cam ficava me
dizendo que era coisa de menina, o que significava que eu estava
sem sorte já que tive duas filhas. Pelo menos, ele tinha Xander e
Avery para equilibrar as coisas.
Filho da puta sortudo.
A culpa me atingiu. Cameron teve sorte. Ele tinha uma linda
família, mas custou um preço alto. Três anos depois da morte da
mãe, seu pai, morreu em um acidente de trânsito. Ele e minha irmã
se tornaram tutores de Xander e a família de três se transformou em
quatro. Então Hailee descobriu que estava grávida novamente.
Agora eles estavam muito ocupados tentando criar um adolescente
e duas crianças de seis e três anos.
Mas eles faziam com que parecesse fácil. Hailee adorava ser
mãe e Cameron era tão bom com as crianças que eu estava com
um pouco de inveja.
— Aqui está a minha linda sobrinha. — Hailee se aproximou de
nós. — Onde está meu abraço, Lil?
— Tia Ailee. — Lily estendeu a mão para minha irmã, e eu a
soltei.
— Onde estão Cam e Ash? — perguntei a ela, enganchando o
braço em volta da cintura de Fee.
— A última vez que vi o Asher, ele estava tentando lutar com os
gêmeos lá em cima para trocar a fralda.
— Isso eu pagaria para ver.
— Baby — Fee avisou, pressionando a mão no meu estômago.
— Ele está se esforçando. Mas os gêmeos são... — Ela
estremeceu.
— Sim, nem consigo imaginar.
— Bom, porque para mim chega. Dois é mais do que suficiente
para nós. — Ela sorriu para mim, e eu capturei seus lábios em um
beijo.
— Eu vou encontrar os caras. — Na minha experiência, você
precisava se manter unido nessas coisas, caso contrário, os
pequenos monstros se dividiriam e conquistariam.

ENCONTREI CAMERON ESCONDIDO no estúdio de Hailee.


Ashleigh estava dormindo em seu ombro.
— Ei — sussurrei. — Demais para a aniversariante?
Lily e Ashleigh nasceram com apenas alguns dias de diferença,
então geralmente comemorávamos juntos.
— Ela apagou há uns dez minutos. Não quero incomodá-la.
— Está uma loucura lá fora.
— É a vida. — Ele deu um longo gole em sua cerveja. — Não
acredito que elas já tenham três anos. — Ele olhou para sua filha.
— Como acabamos aqui, cara?
— Acabamos onde? — Asher se juntou a nós.
— Aqui, em uma casa cheia de crianças gritando.
— Não olhe para mim — ele falou, se apoiando no aparador. —
Eu nem sei que dia é hoje.
— Você deveria voltar para casa — Cam sugeriu. — Volte para
Rixon e deixe seus pais ajudarem com os gêmeos.
— Estamos pensando nisso.
— Mesmo? — perguntei.
— Sim. A tia da Mya está doente, e ela quer ficar mais perto.
Mas temos que pensar nas crianças.
Mya e Asher criaram seis filhos nos últimos anos. Eu não sabia
como eles faziam isso, mas conseguiam.
— Vocês ainda podem adotar em Rixon.
— Podemos, mas você sabe como a Mya se sente por estar na
cidade.
— Seria bom ter vocês dois de volta, as crianças podem crescer
juntas...
— Puta merda, você pode imaginar? — Eu gostava de viver na
negação de ter filhas... filhas que um dia se tornariam adolescentes.
— Já pensou que é carma por toda a merda que fizemos no
passado? — Meus olhos foram para minha sobrinha que ainda
dormia profundamente no ombro de seu pai.
— Carma? — Cam deu uma risadinha. — Você acha que ter
filhas é carma?
— Não estou pronto para isso.
— Para quê?
— Escola... — Cerrei a mandíbula. — Todos aqueles punks
pensando que podem...
— Jase, elas têm três.
— Sim, e um dia vão fazer dezessete pensando que podem
domar o bad boy.
— Você pensou muito sobre isso, não é? — Asher sorriu, e eu
mostrei o dedo do meio para ele.
— Você está me dizendo que não pensou sobre isso? Lembra
como éramos no colégio? Como eram Hailee, Mya e Fee? — Olhei
para os dois e a compreensão lentamente surgiu em suas
expressões.
— Estamos fodidos — Cam falou.
— Totalmente. — Asher passou a mão pelo rosto.
— Bem-vindos ao meu mundo — resmunguei.
Houve um tempo em que eu pensava que futebol era tudo... mas
futebol era o sonho. Esta, bem aqui, era a vida.
Era tudo.
Tudo mesmo.

Fim.
ABOUT THE AUTHOR

Drama. Tensão. Romances viciantes

Autora de romances young adult e new adult, L. A. fica mais feliz escrevendo o
tipo de livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de angústia adolescente,
tensão, voltas e reviravoltas.

Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente faz
malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas
crianças. Em seu tempo livre (e quando não está acampada na frente do laptop),
você provavelmente encontrará L. A. imersa em um livro, escapando do caos que
é a vida.

L. A. adora se conectar com os leitores. Os melhores lugares para encontrá-la


são:
www.lacotton.com

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