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RIXON RAIDERS 4
L A COTTON
CONTENTS
Rixon Raiders
Nota da autora
Prólogo
I. Segundo ano
II. Terceiro ano
III. Último ano
Epílogo
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são
produtos da imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem
ser interpretados como reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou
mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente coincidência.
EU SORRI.
Eu: Faça o que precisa. Mal posso esperar por hoje à noite.
Beijos.
Eu: Ah, certo. Bem, vou aproveitar para passar algumas horas
extras estudando. Podemos deixar para outro dia.
Felicity,
Esteja pronta às 19h.
Vista algo sexy.
J
EU NÃO PODERIA TER IMPEDIDO o sorriso que se abriu em meus
lábios, nem se tivesse tentado. Não consertava tudo e eu sabia que
ainda precisávamos conversar, mas era exatamente o sinal de que
eu precisava.
— OI, Mya. — Bella acenou para mim. — Como vai você... depois,
sabe...
— Estou bem, obrigada.
Ela assentiu.
— Você já viu a Faith?
— Não, mas honestamente, não é grande coisa. Ela tem direito
às suas opiniões, contanto que não continue tentando...
Bella arregalou os olhos, e eu me virei a tempo de cumprimentar
Faith.
— Oi — ela falou com um sorriso tímido. — Podemos conversar
um segundo?
— Eu vou... — Bella saiu.
— Sinto muito sobre a noite passada. Eu não tinha o direito de...
— Não, você não tinha — falei de forma categórica. — O meu
relacionamento e do Asher é exatamente isso, Faith: nosso. Não
vou justificar minhas decisões para você, e não espero que você me
julgue por minhas ações, da mesma forma que não vou julgá-lo
pelas suas.
— Você está certa, está totalmente certa. — Ela passou a mão
pelo cabelo ruivo macio. — Só estou tentando ter mais controle
sobre minha vida e às vezes me empolgo. Não vai acontecer de
novo, eu prometo.
— Ótimo.
— Você encontrou o Asher?
— Sim.
— Ele provavelmente me odeia agora, não é?
— Ele não te odeia. Ele simplesmente não te entende às vezes.
O Max era um cara bom. Eu sei que vocês dois tinham suas
diferenças, mas acho que o poema deixou o Ash confuso.
— Entendo. Para ser honesta, acho que o poema era menos
sobre Max e mais sobre mim, a pressão e as expectativas que
coloco sobre mim mesma.
— Você vai ficar bem, Faith. Não seja tão dura consigo mesma.
Eu queria me formar e me tornar assistente social, mas não da
mesma forma que Faith queria. Ela vivia para provar a todos que
poderia fazer isso. Sua tenacidade era inspiradora, mas também me
perguntava se isso estava impactando sua vida pessoal. Asher não
estava errado, Max era um cara legal. Sólido e confiável, com
planos para o futuro. A maioria das garotas sonhava em conhecer
um cara assim. Mas Faith não, ela fugiu no segundo que as coisas
ficaram muito sérias.
— Você é uma boa amiga, Mya. — Ela segurou minha mão. — O
Asher tem sorte de ter você. — Havia algo em seus olhos que
parecia muito com arrependimento, mas não perguntei.
Faith precisava resolver as coisas sozinha.
— Vamos — eu disse. — Devemos ir para a aula.
Asher
— Você foi embora rápido ontem à noite — Diego apontou enquanto
treinávamos um ao lado do outro.
— Sim, tínhamos que cuidar de algumas coisas.
— Eu aposto que você cuidou. — Ele me lançou um sorriso
conhecedor e eu consegui despistá-lo.
— Você sabe que a Mya vai te dar trabalho, não é?
— Vá se foder, D. — Eu ri. Claro que eu sabia que Mya era boa
demais para mim. Mas ela era minha, e eu não planejava desistir
dela por nada.
— Só estou te enchendo. Ela é uma boa garota. Uma das
melhores. Ela se voluntariou novamente no centro neste semestre?
— Sim, a parte prática do curso dela será só no último ano,
então ela quer ter toda a experiência que puder.
— Ela é uma pessoa melhor do que eu. Se eu estivesse no lugar
dela, alguns daqueles pequenos punks se machucariam com a
maneira como falam com o pessoal de lá.
— É o que ela quer fazer — eu disse como se fosse simples
assim. E de certa forma, era. Mas Diego estava certo, o New Hope
Community Center trabalhava com algumas das crianças mais
desafiadoras que moravam dentro e ao redor da Strawberry
Mansion.
— Você nunca se preocupa com a presença dela?
— Que tipo de pergunta é essa, D? Claro que me preocupo. Ela
é minha... — Meu tudo.
Mya era tudo para mim.
Mas ela queria fazer a diferença. Queria tentar quebrar o ciclo de
crime, drogas e pobreza em que muitas das crianças da Filadélfia se
encontravam. Era importante para ela.
— Não estamos nos anos cinquenta — falei. — As mulheres não
querem ficar em casa, criar os filhos e brincar de casinha.
— Ei, a minha mãe fez exatamente isso e ela é uma das
melhores mulheres que eu conheço. — Seus olhos brilharam com
ternura.
A mãe de Diego era uma ótima mulher. Eu a conheci ano
passado, quando ela apareceu com Pastel de Elote para a equipe.
— Mya quer fazer a diferença — eu disse, sem saber a quem eu
estava tentando convencer, a mim ou Diego.
— Eu te entendo, cara. Tudo o que estou dizendo é que é um
mundo louco lá fora. Não acho que eu descansaria sabendo que
minha garota está no meio disso.
Franzi o cenho. Ele fez parecer que Mya estava indo para a
guerra.
Mas, de certa forma, ela estava.
O mundo precisava de pessoas como Mya. Pessoas dispostas a
se colocar na linha e defender aqueles que não tinham voz.
Eu estava orgulhoso dela – muito orgulhoso.
Mas parte de mim sempre se preocuparia. Porque isso é o que
se faz quando se ama alguém.
CATORZE
Asher
— MUITO BEM, Bennet — o treinador gritou do outro lado do campo
enquanto eu corria com Diego e um cara enorme chamado Brian. —
Mais uma vez.
Nossa linha ofensiva se posicionou, movendo-se em nossa
direção como uma máquina bem oleada. Interrompi a formação,
procurando o wide receiver e fazendo a jogada. Nossos corpos
colidiram com um baque e caímos.
— Cacete, Bennet, você me roubou o fôlego — Farrow
reclamou.
— Caramba, foi mesmo. — Me ergui e lhe ofereci a mão.
— Certo, vão para o chuveiro — o treinador falou. —
Encerramos o dia.
Tirei o capacete, puxando ar fresco.
— Você foi bem, mano — Diego comentou, se aproximando de
mim. Nós nos cumprimentamos, mas ele olhou por cima do meu
ombro. — Você tem companhia.
Me virei para encontrar Mya sentada na arquibancada. Um
sorriso apareceu no canto da minha boca.
— Te vejo em breve.
Ele revirou os olhos, mas eu já tinha me afastado, indo na
direção dela.
— Oi — ela disse, descendo para o campo.
— Que surpresa. — Eu beijei sua bochecha.
— Tive um período livre. Quis vir e te ver em ação.
— É mesmo? Achei que você não se impressionava com
jogadores de futebol. — Meu tom de voz era provocador.
— Ah, não sei. — Mya se aproximou, passando um dedo pela
minha camisa suja. — Um jogador de futebol chamou minha
atenção.
— É?
— Sim, número seis. Ele está parecendo...
Eu a agarrei e comecei a fazer cócegas nela.
— Você quer o Farrow? Vou ver se consigo juntar vocês.
Sua risada me envolveu como um cobertor quente.
— Tudo bem, tudo bem, você me pegou.
Relaxei e me inclinei para roçar o nariz no dela.
— O que você realmente está fazendo aqui?
Um sorriso conhecedor ergueu o canto de sua boca.
— A Sally ligou. Eles precisam de uma mão extra esta noite.
Receberam algumas crianças novas e querem o grupo todo. Eu
disse que iria.
— Tudo bem. Só tenha cuidado, certo?
— Sempre. — Mya me beijou.
— Que horas você vai terminar?
Meu corpo despertou com a sua proximidade. Eu sofreria de
tanto desejo se ela chegasse tarde em casa.
— Não sei. Acho que por volta das nove.
— Tempo suficiente para você voltar para casa e me mostrar o
quanto você gosta de jogadores de futebol, então? — Sorri
enquanto segurava sua bunda.
— Comporte-se.
— Com você? Nunca. Acho que deveria ir antes que o treinador
me repreenda. Mas me manda mensagem mais tarde?
Ela assentiu, dando um passo para trás.
— Te amo.
— Eu te amo mais.
Fui para o ginásio, incapaz de esconder o sorriso levantando os
cantos da minha boca.
Ontem foi difícil por um momento, mas tudo se endireitou no
final. Tivemos a melhor transa da minha vida. Uma nova temporada
se aproximava e a equipe parecia mais forte do que nunca. E eu
tinha uma agenda cheia de aulas que mal podia esperar para entrar.
A vida estava ótima.
Mas ainda havia uma pequena parte de mim que pensava que
Mya subestimava o quanto eu a amava. Eu sabia que ela queria
ficar na cidade após a formatura, e que ela presumia que eu
gostaria de voltar para Rixon e ajudar meu velho com a empresa.
Mas ela estava errada.
Eu só tinha que descobrir uma maneira de mostrar a ela o
quanto eu estava falando sério sobre nosso futuro juntos.
Mya
— Oi, desculpe o atraso. — Passei a mão pelo cabelo e dei a Sally,
a coordenadora do Centro Comunitário New Hope, um grande
sorriso. — Me diga o que você precisa que eu faça.
— Tivemos algumas crianças novas indicadas para o programa,
três irmãos. Recentemente, eles foram colocados em um orfanato.
— Os dois mais velhos, Jay e Mario, estão um pouco inseguros,
mas eu os juntei a Pat e Hershel.
— E o mais novo?
— É o Hugo, ele tem só seis anos. Seu arquivo diz que ele tem
sido um mudo seletivo nos últimos dois anos.
Meu coração se apertou. Vi muito disso durante meu tempo
como voluntária na New Hope. Eles dirigiam um programa para
crianças no sistema de adoção, mas em vez de atividades
individuais, operava em nível comunitário. Realizavam sessões
semanais e eventos mensais em grupo, além de fornecer suporte
contínuo para as famílias adotivas e seus responsáveis.
— Aqui. — Sally entregou um arquivo para mim. — É uma leitura
difícil. Hugo está pronto e esperando quando você estiver.
Me sentei no banco de couro em seu escritório e abri o arquivo.
Hugo Garcia, seis anos. Dois irmãos, Jay, de onze anos, e Mario,
de quatorze. Pai desconhecido, mãe com passagens pela polícia
desde que Mario tinha apenas três, depois que ela começou a fazer
pequenos roubos para sobreviver. Uma história de uso de
narcóticos, negligência e baixa frequência escolar.
— Jesus — sussurrei, tentando controlar minhas emoções. Não
importava quantos arquivos de caso eu lesse, nunca era mais fácil.
— Jay e Mario têm amigos, eles conseguiram interagir, mas
Hugo... — A voz de Sally foi sumindo.
— Diz aqui que ele gosta de futebol.
Ela assentiu.
— Veio segurando um mascote de pelúcia dos Eagles.
— Posso trabalhar com isso. — Pelo menos, eu esperava que
pudesse.
— Se alguém pode alcançá-lo, Mya, é você.
Suas palavras tocaram algo dentro de mim. Tudo o que eu
queria era fazer uma diferença positiva na vida das crianças que
encontrava, então ter minha mentora dizendo isso, era tudo.
Deixei Sally e fui procurar Hugo, localizando-o no segundo em
que entrei no corredor principal. Uma criança pequena, com cabelos
castanhos e encaracolados, ele observava as outras crianças e
voluntários brincarem.
Peguei uma bola de futebol macia da caixa e fui até ele.
— Se importa se eu me sentar aqui?
Seu silêncio e falta de contato visual falavam muito. Hugo deu de
ombros e se mexeu no banco.
— Eu sou a Mya. Eu esperava que pudéssemos bater um papo.
Mais silêncio. Mas não deixei isso me perturbar. Era preciso ter
espinha dorsal para trabalhar com essas crianças. Crianças que
viam e passavam por coisas que nenhuma criança deveria.
— Esse é o Swoop? — Fiz um gesto para a águia esfarrapada
nas mãos de Hugo. Ele estava agarrando a coisa com tanta força
que fiquei surpresa por não ter rasgado em dois.
Mas ele não respondeu.
— Não sou grande fã, mas meu namorado joga em um time
universitário. Ele é muito bom.
Hugo olhou para mim com um olhar tão indiferente e sem vida
que torceu meu interior.
O que esse pobre garoto viu para fazê-lo decidir não se
comunicar? Para construir paredes tão altas que ele não sabia como
derrubá-las? Para escolher o isolamento e consolo em vez de
conforto e segurança?
— O nome dele é Asher, ele joga na defesa.
Hugo desviou o olhar novamente, e a semente de esperança que
floresceu em meu peito secou e morreu. Mas eu continuaria
pressionando. Devagar e com certeza, eu provaria a este menino de
seis anos com dor nos olhos que ele podia confiar em mim.
DUAS SEMANAS e mais três sessões depois, Hugo ainda se
recusava a falar. Ele mal se engajou nas sessões, escolhendo
colorir ou ler um livro em silêncio. Seus irmãos floresceram, embora
Jay preferisse as atividades físicas organizadas pelo centro,
enquanto Mario preferia as mais criativas.
— Aí está você. — Asher colocou os braços em volta de mim e
me puxou contra seu peito enquanto eu adicionava leite ao cereal.
— Desculpe. Eu não conseguia dormir.
Ele me fez largar a colher e me girou em seus braços.
— A criança? — Ele franziu as sobrancelhas.
— Ele está tão... triste. Isso parte meu coração.
— Baby, já conversamos sobre isso. Você não pode mudar cada
criança que entra pela porta.
— Eu sei. — Eu me arrepiei. — Mas você não o viu, Ash. Ele só
fica lá, sentado, completamente fechado. Passei quase dez horas
com ele, e ele não disse uma única palavra para mim.
Não era o momento no grande esquema das coisas, mas foi a
primeira vez que trabalhei com um mudo seletivo antes. Era difícil
não deixar minhas próprias frustrações se dissiparem.
— Você prometeu que não se envolveria muito.
— Eu não estou... — respondi um pouco dura, e Asher arqueou
uma sobrancelha. — Desculpe, eu só...
— Você se importa, eu entendo. Mas algumas dessas crianças já
passaram por traumas suficientes para justificar uma vida inteira de
terapia. Você disse que ele estava recebendo apoio profissional?
Assenti.
— Alguém tem trabalhado com ele na escola. Mas até agora,
nada.
— Sabe o que eu acho? — Ele se inclinou, encostando sua
cabeça na minha.
— O quê?
— O garotinho vai falar quando estiver bem e pronto.
— Eu gostaria que fosse assim tão simples. — Meus ombros
cederam.
— Talvez ele só precise de um motivo para conversar.
— O que você quer dizer? — Foi a minha vez de franzir a testa.
— Talvez ele precise de alguma motivação, e não estou falando
em ganhar um adesivo ou pirulito no final de uma sessão com o
psiquiatra da escola.
— Como um suborno?
— Vamos chamar de persuasão gentil.
— Na verdade — eu disse, uma ideia se formando. — Você pode
estar no caminho certo.
— É? — Asher sorriu. — E eu estava pensando que estava
falando uma merda completa.
— Há uma intervenção que muitas escolas usam, chamada de
“motivador misterioso”. Talvez eu consiga adaptá-la.
— Parece legal. Você disse que ele gosta de futebol, certo?
Talvez possamos providenciar algo assim que a temporada
começar? Levar as crianças para uma sessão de treinamento ou até
mesmo um jogo.
— Você faria isso por eles?
— Por você, baby. Eu faria isso por você. — Ele beijou a ponta
do meu nariz.
As ideias começaram a disparar na minha cabeça. A única vez
que Hugo pareceu remotamente interessado em mim foi quando
mencionei que meu namorado jogava futebol americano na
faculdade. Tentei incorporar o futebol em nossas atividades e
conversas o máximo que pude, sem pressionar demais. Era
importante seguir o ritmo de Hugo para ganhar gradualmente sua
confiança.
— Vou falar com a Sally e ver o que ela acha. Obrigada. —
Passei os braços em volta do seu pescoço e o beijei. Asher ficou
duro contra meu ventre, e eu o olhei. — Sério? — Eu sorri.
— O que foi? Acontece que meu pau fica muito, muito atraído
por você.
— Bem, odeio ser estraga prazer... — Deixei a boca na dele,
passando a língua sobre seus lábios. — Mas tenho aula cedo. —
Escorregando entre Asher e o balcão, peguei minha tigela e me
afastei.
— Você está me matando, Hernandez — ele gritou atrás de mim.
— Também te amo — respondi com um sorriso.
Porque eu amava.
Eu amava Asher do jeito que as estrelas amavam a noite.
De forma incondicional.
Irrevogável.
Infinita.
QUINZE
Asher
— BENNET, entre aqui, filho — o treinador Johnson chamou quando
passei por seu escritório.
— O que foi, treinador?
— Nada demais. Queria ver o que você acha sobre a próxima
temporada.
— Acho que será boa, senhor. A equipe está forte. Acho que
podemos ter uma chance real de ir para os playoffs.
— Eu concordo. Esse tipo de atenção atrairá olheiros. Você é um
júnior agora, filho. É hora de tomar algumas decisões sobre o seu
futuro.
— Já tomei, senhor.
— Achei que você pudesse dizer isso. — Ele esfregou o queixo.
— Mas eu esperava convencê-lo a reconsiderar. Quando os olheiros
vierem, eu realmente gostaria do seu nome na lista deles.
— Não sei o que dizer a você, senhor. Ser profissional não está
nos meus planos.
— Bem, que pena, Bennet. Nunca pensei que veria o dia em que
um jovem talentoso como você desistiria de uma chance nas
grandes ligas por uma mulher.
— Ela não é qualquer mulher, senhor. — Um sorriso brincou em
meus lábios.
— Não, filho, acho que não. — Não havia malícia em sua
expressão, apenas uma leve decepção e muito respeito.
— Lamento por não ser a resposta que você esperava, treinador.
— Eu também, filho. Eu também. Agora sai daqui.
Dei a ele um aceno e sai de lá. Eu sabia que os caras não
entenderiam, mas não era a vida deles.
No último ano do ensino médio, vi minha mãe quase morrer por
uma bala destinada a mim. Vi o medo nos olhos do meu velho
enquanto ele segurava a única mulher que sempre esteve ao seu
lado, apesar de seus defeitos – e ele tinha muitos. Eu tinha feito
uma promessa a mim mesmo naquele dia: se Mya me desse uma
segunda chance – o que ela deu – eu nunca faria nada para arriscar
isso.
Mya queria uma carreira, queria fazer a diferença. Seus planos
não incluíam estar com um jogador de futebol americano da NFL. E
eu não queria nada que não a incluísse. Eu queria raízes, uma vida
juntos. Não queria ser lançado em um mundo de futebol e fama.
Saindo do ginásio, peguei o celular e rolei até o número do meu
pai.
— Asher, que surpresa — ele falou.
— Oi, pai. Eu esperava que pudéssemos conversar.
— Está tudo bem, filho? Você parece...
— Está tudo ótimo. Preciso da sua ajuda em algumas coisas.
— Tudo bem. — Ele respirou fundo. — Você quer falar sobre
isso agora ou devo dirigir até aí?
— Sim? — Eu sorri.
Houve um tempo em que Andrew Bennet estava muito focado no
trabalho para largar tudo e sair correndo. Mas ele não era mais
aquele cara. Eu não tinha esquecido a maneira como ele tratou Mya
nos primeiros estágios de nosso relacionamento, ou o cretino de
coração frio que ele era enquanto eu crescia, mas consegui
encontrar dentro de mim uma forma para perdoá-lo. Ele amava Mya.
Ela abriu seus olhos para muito mais do que uma vida de trabalho
árduo e reputação brilhante. Entre ela e mamãe, ele não era mais o
monstro com quem cresci. Ganhei uma segunda chance com Mya,
então parecia justo dar a ele também.
— Claro, Asher. Que tal se eu te encontrar esta noite? Podemos
ir naquele lugarzinho pitoresco que você levou a mim e a sua mãe
na última vez que te visitamos.
— The Hideout? Na verdade, tenho outro lugar em mente.
— O que você quiser. A Mya vai se juntar a nós?
— Ela tem um turno no centro, mas talvez consiga se juntar a
nós depois, se você ainda estiver por aqui.
— Sempre posso arranjar tempo para a Mya. — Sorri para isso.
— Vejo vocês dois mais tarde.
Desligamos, e eu verifiquei o relógio de pulso.
Apenas cinco horas até que eu pudesse começar a colocar a
Operação Futuro em ação.
Mya
— É bom ver você de novo, Hugo — falei, me sentando ao seu lado.
Ele estava ocupado pintando outra foto de Swoop, o mascote dos
Eagles. Sally imprimiu um monte para ele. Era sua atividade
favorita, uma das únicas com que ele se engajava. — Isso está
ótimo — acrescentei quando ele não me reconheceu. — Achei que
poderíamos tentar algo diferente hoje. Espero que goste. —
Coloquei os cartões em branco e os envelopes na minha frente.
Falei com Sally sobre minha ideia, e ela e a assistente social de
Hugo concordaram.
Ele finalmente ergueu os olhos castanhos inexpressivos para os
meus.
— Olá — eu disse, dando a ele um sorriso suave. — Você
gostaria que eu lhe contasse sobre a atividade que pensei que
poderíamos fazer?
Ele deu de ombros, mas tomei como permissão.
A esperança se desenrolou em meu estômago. Eu não queria
ficar superexcitada, mas isso era demais. Empurrei um cartão e uma
caneta para ele com gentileza.
— Sei o quanto você adora futebol. Seus irmãos têm me contado
tudo sobre isso. — Pisquei e suas pequenas sobrancelhas
franziram. — Eles disseram que você quer ser como Fletcher Cox
quando for mais velho.
Ele olhou para mim com uma expressão vazia, mas eu continuei.
— Quero que você pense sobre futebol por um minuto. Quero
que você pense sobre como isso o faz sentir e por que você ama
tanto e, então, quando estiver pronto, quero que escreva um desejo
no cartão. Pode ser qualquer coisa a ver com futebol, certo?
Os segundos se passaram enquanto Hugo olhava para o cartão
em branco. Eu não pressionei. Não falei. Só fiquei sentada lá em
silêncio, esperando. Para que isso desse certo, ele tinha que se
envolver com o processo... ele tinha que agir.
Depois de alguns minutos, fiquei preocupada que ele não fosse
fazer. Mas então, lentamente, Hugo pegou a caneta e começou a
desenhar. Seu aperto era instável, as linhas confusas e
ininteligíveis. Mas poderíamos descobrir os detalhes mais tarde. Eu
só precisava de uma ideia para trabalhar.
— Terminou? — perguntei quando ele parou de desenhar. Ele
me olhou com seus olhos tristes novamente e assentiu. Foi uma
pequena ação, mas foi alguma coisa.
— Você foi ótimo, Hugo. Se importa se eu der uma olhada?
Ele deslizou o cartão para mim. Felizmente, eu pude ver o
campo de futebol e um enorme homem parecido com um pássaro
no centro.
Meus lábios se curvaram quando percebi o que ele estava me
dizendo.
— Você gostaria de ir ao Lincoln Financial Field e conhecer
Swoop, é?
A emoção cresceu dentro de mim. Era algo tão inocente e puro
que fez meu coração doer.
— Bem, não posso prometer nada — porque essa era a regra
número um para trabalhar com crianças – nada de promessas —,
mas vou ver o que posso fazer, tudo bem?
Um lampejo de interesse passou por seu rosto.
— Mas você também tem que fazer algo por mim.
Sua expressão se desfez.
— Vou colocar seu desejo neste envelope e vamos mantê-lo ali,
naquela estante. — Apontei para as prateleiras do outro lado da
sala. — Veja. — Pegando a caneta, coloquei o cartão dentro do
envelope e escrevi “Hugo” na frente. — Vai ficar assim... e quando
você estiver pronto para tentar torná-lo realidade, tudo o que você
precisa fazer é me falar.
Seus olhos se arregalaram um pouco, o medo brilhando ali.
— Sei que é assustador — falei baixinho. — Sei que você não
fala com ninguém há muito tempo, mas não precisa mais ter medo,
tá? Os Hanson são uma boa família. Eles querem que você e seus
irmãos se sintam seguros.
Fiz uma breve pausa.
— Não precisa ser hoje ou na próxima vez que nos
encontrarmos, mas eu realmente gostaria que, um dia, você usasse
sua voz para me pedir o envelope.
Hugo me estudou, seus olhos castanhos turvos fixos nos meus.
Queria saber o que ele estava pensando, o que viu quando olhou
para mim. Mas eu sabia que não era tão simples. Nesse campo, a
paciência era sua melhor amiga. Frequentemente, o progresso era
feito em pequenos passos e, exatamente quando se pensava que
estava avançando, algo acontecia que fazia recuar novamente.
— Você acha que pode tentar? Vou colocar o envelope ali para
mantê-lo seguro e, quando você estiver pronto para me pedir,
estarei aqui esperando.
Hugo mudou de posição na cadeira e odiei que fosse porque o
estava pressionando para um estado de desconforto. Mas tinha lido
muito sobre mutismo seletivo e muitas vezes vinha de mãos dadas
com o transtorno de ansiedade social. Superar não seria fácil, mas
ele ainda era jovem. Com as intervenções e o apoio corretos, não
havia razão para que Hugo não pudesse recuperar lentamente sua
fala e confiança.
Mas então ele olhou para mim de novo e, embora não tenha
assentido, vi sua resposta.
Hugo tentaria.
E eu esperaria.
Asher
— Lamento ter perdido seu pai — Mya falou enquanto nos
deitávamos na cama.
— Tudo bem. Noite difícil? — Ela chegou em casa um pouco
depois das dez.
— Eu me ofereci para ficar e ajudar Sally a limpar tudo.
— Claro que sim. — Eu sorri, acariciando sua pele quente. —
Como foi com a criança?
— Ainda não tenho certeza. Mas espero que ele melhore. — Ela
se aconchegou mais perto. — Então, o que trouxe seu pai para a
Filadélfia?
— Eu queria conversar com ele.
Mya rolou de bruços, olhando para mim.
— O que você precisava falar com ele? — Ela torceu o nariz.
— Coisas.
— Coisas. — Ela arqueou a sobrancelha com suspeita, e eu ri.
— Eu queria sondá-lo sobre a abertura de uma segunda filial de
seu negócio aqui.
Ela arregalou os olhos.
— Sério?
— Eu estava falando sério sobre o que eu disse, Mya. Você quer
criar raízes aqui e, se vou trabalhar para a empresa da família, isso
não acontecerá da noite para o dia. Precisamos encontrar
instalações, empregar uma equipe, levantar clientes.
— Uau, você realmente pensou muito sobre isso.
Peguei um de seus cachos em espiral e o enrolei no meu dedo.
— O treinador me perguntou hoje sobre ser profissional. Disse
que tenho uma chance...
— Ash — ela franziu a testa —, não quero que você desista
desse sonho por mim.
— Não se trata apenas de você. É sobre mim também. E
honestamente, não quero isso. Eu amo futebol, mas não é minha
vida. Você é. — Sua respiração ficou presa, mas não terminei. —
Sei que somos jovens e que você provavelmente acha que sou
louco por falar em começar uma família, mas quero isso. Eu quero
uma vida com você.
— Na verdade... — Mya apertou os lábios e olhou para mim com
aqueles cílios grossos. — Também tenho pensado um pouco... —
Ela hesitou. — Como você se sente em relação à adoção?
— Está falando de crianças adotivas?
— Não, cachorrinhos. — Ela revirou os olhos. — Claro, crianças.
Eu estava conversando com a Sally esta noite e ela estava me
contando tudo sobre a família que acolheu Hugo e seus irmãos, e o
que eles estão fazendo... é incrível. Sempre pensei que a maneira
de ajudar e fazer a diferença era estar presente na comunidade,
trabalhando no nível de base. Mas talvez isso seja outra coisa a se
considerar.
— Não vou mentir, baby, não sei nada sobre adoção. Você não
tem que estar bem de vida? Ter um bom emprego, uma casa, esse
tipo de coisa?
— Existem critérios de elegibilidade, sim. Mas não é tão rígido
quanto você pensa. Tem que ter mais de vinte e um anos e uma
vida estável, mas o resto é bastante flexível.
— Adoção, é? — Eu não sabia como me sentir em abrir minha
casa para uma criança que não era minha. Sempre imaginei que
começaríamos uma família com um bebê, nosso bebê.
— Não é algo que tenhamos que decidir ou mesmo falar já. Só
acho que é algo que posso querer fazer um dia.
— Você tem um grande coração, Mya Hernandez. — Passei o
polegar sobre sua bochecha, deixando-o permanecer em seu lábio.
— Só quero ajudar. Você entrou na minha vida quando eu
precisava de alguém. Gostaria de pensar que posso pagar por isso
um dia.
Bem, merda. Quando ela dizia assim... mas adotar? Isso era
bem sério, e éramos tão jovens.
— Não quero que esse seja outro problema entre nós — ela
disse, como se pudesse ouvir meus pensamentos. — Eu só estava
dizendo que é algo que gostaria de pensar, um dia.
— Eu sei.
Mas eu também conhecia Mya, e assim que ela colocava algo na
cabeça... não desaparecia tão cedo.
Eu poderia dar a ela um monte de coisas: dinheiro, amor, uma
vida feliz... mas poderia dar isso a ela?
Só havia uma coisa a fazer. Eu precisava de uma cerveja e
algum tempo com meu melhor amigo.
DEZESSEIS
Asher
— EI, obrigado por ter vindo. — Eu me levantei para cumprimentar
Jason. Nos abraçamos antes de nos sentarmos no bar.
— Imagina. O que houve?
— Eu... puta merda, nem sei por onde começar.
— Está tudo bem? Com a Mya? Sua mãe? — Seus olhos
cintilaram de preocupação.
— Sim, elas estão bem.
Ele franziu a testa.
— Fala logo.
— A Mya quer criar crianças adotivas.
Jase recuou.
— Ela quer o quê?
— Sim, eu sei. — Esfreguei o queixo.
— Tipo agora ou depois da faculdade?
— Depois da faculdade. Você precisa ter pelo menos vinte e um
anos para se qualificar. — Embora seu aniversário fosse em
algumas semanas, eu tinha certeza de que ninguém confiaria o
bem-estar de uma criança a uma estudante universitária.
— Achei que ela queria fazer trabalho social...
— Ela quer... pelo menos, eu acho que ela ainda quer. Isso me
pegou de surpresa.
— Aposto que sim. — Ele acenou para o barman e pediu uma
bebida. — Então, como você se sente sobre isso?
— Honestamente? Não sei. Quer dizer, eu quero filhos. Mal
posso esperar para engravidá-la. — Jase balançou a cabeça e eu fiz
uma careta. — O que foi?
— Nós mal temos vinte e um.
— Eu sei, mas sempre quis uma família.
— Vou dizer de novo: temos vinte e um.
Mostrei o dedo do meio para ele.
— Você está me dizendo que não quer uma casa grande e
muitas crianças?
— Um dia, quando formos bem, bem mais velhos. Quero curtir a
Felicity primeiro. Ter uma vida juntos, sabe? Além disso, se eu
chegar ao profissional...
— O que nós dois sabemos que você vai — eu sorri.
— A vida vai ser uma loucura.
— Sim, eu sei. — Passei o polegar sobre o gargalo da garrafa.
— Eu disse ao treinador que não estou procurando me
profissionalizar.
Ele soltou um longo suspiro.
— Sempre soube que você não tinha certeza, mas não achei
que você tivesse tomado a decisão final.
— Simplesmente não é o que quero. Eu amo futebol. Amo estar
no time. Mas quero mais depois da faculdade.
— Como bebês?
— Puta merda. — Eu ri.
— É uma pena, Ash. Você poderia ter ido até o fim.
— Talvez sim, talvez não. Mas não anseio por isso como você.
Eu pensei que talvez me libertando das expectativas do meu velho,
eu encontraria minha paixão pelo jogo novamente. Mas,
honestamente, isso não aconteceu. Estou feliz onde estou. E assim
que nos formarmos, quero expandir os negócios aqui. Falei com
meu pai e dei algumas ideias.
— Bem, se é isso que você quer, boa sorte. — Ele ergueu sua
cerveja e abriu na minha direção.
— É, sim.
— Mas voltando ao assunto de adoção. — A expressão de Jase
ficou séria. — Isso é algo para terminar com ela?
— O quê? Não! — O pânico se apoderou de mim. — Eu faria
qualquer coisa para deixar a Mya feliz.
— Sim, mas vamos, Ash. Assumir a responsabilidade de uma
criança que não é do seu sangue?
— Não estou dizendo que seria fácil, mas tenho dinheiro,
recursos... não deveria usá-los para uma boa causa?
— Você é um homem melhor do que eu. Não tenho certeza se
conseguiria.
— Ainda não estou convencido de que posso. — Mas por Mya,
eu tentaria. — Falando em crianças, você falou com o Cam?
— Sim, ele está realmente preocupado com o Xander. Parece
que ele está tendo alguns problemas na escola.
— Merda. — Eu sabia que as coisas estavam ruins, mas não nos
falamos há alguns dias.
— Acho que ele voltaria para Rixon em um piscar de olhos se
não fosse pela Hailee. — Jason soltou um suspiro de cansaço. —
Estou preocupado com eles.
— Eles vão resolver as coisas. O Xander é uma das crianças
mais amadas que conheço.
— Sim. — Ele disse. Mas não parecia convencido.
E talvez estivesse certo. Talvez às vezes o amor não fosse
suficiente.
— Foi bom te ver — falei.
Eu tinha amigos na Temple. Diego, Aiden, Farrow e o resto da
equipe. Mas nenhum jamais chegou perto de preencher o buraco
deixado por Jason e Cameron.
O que tínhamos era raro.
Especial.
Era uma benção.
E eu agradecia ao universo todos os dias por me dar dois dos
melhores amigos que um cara poderia pedir.
— MYA, é tão bom ver você. — Minha mãe puxou minha garota em
seus braços e meu coração inchou observando as duas.
Eles formaram um vínculo especial após o tiroteio, e foi um
grande alívio ver as duas mulheres mais importantes da minha vida.
— Filho. — Meu pai estendeu a mão e eu aceitei. — É bom ver
vocês dois.
Se passaram só alguns dias desde que ele veio me ver, mas era
o fim de semana antes do primeiro jogo do time, então queríamos
jantar antes que a vida ficasse muito agitada para vê-los.
— Algo está com um cheiro delicioso. — Minha mãe sorriu.
— Trabalhei como um escravo por horas nisso, é melhor você
aproveitar — provoquei, dando uma piscadela de conhecimento
para Mya.
— Deixe-me adivinhar, querida — minha mãe disse a Mya. —
Você fez todo o trabalho pesado. — Ela deu uma risadinha.
— O Ash gosta de pensar que ele preparou tudo, mas sentado
no banquinho, me dando instruções sobre como cortar a cebola...
— Ei, eu ajudei.
— Desista agora, filho — meu pai sugeriu, abrindo um raro
sorriso.
— Tudo bem, desfaça do meu trabalho.
— Ah, cale-se. — Minha mãe se aproximou e bagunçou meu
cabelo, com os olhos nublados de melancolia.
Depois de tudo, ela achou difícil me deixar ir, mas entendeu,
talvez melhor do que ninguém, meu desejo de seguir Mya até a
Temple.
— Por que você não pega uma bebida para seus pais? — Mya
perguntou. — Enquanto isso, eu termino aqui.
— Claro. — Me movi em torno de minha mãe e fui até ela, dando
um beijo em sua testa. — Grite para mim se precisar de ajuda.
— Está tudo sob controle — Mya murmurou, voltando a mexer o
conteúdo da panela.
— Vamos lá, por que não esperamos na sala de estar? —
Peguei uma bebida para cada um e nós caminhamos pelo
apartamento. Me sentei em uma cadeira, deixando o sofá para
meus pais.
— Como vão as aulas? — minha mãe perguntou.
— Tudo bem.
— E a equipe?
— Está forte. Deve ser uma boa temporada.
— Isso é ótimo, Andy. Não é ótimo? — Ela franziu a testa
enquanto meu pai brincava com algo no aparador.
— Andrew?
— O que é isso? — Ele se virou lentamente e meu estômago
afundou.
Merda.
Ele estava segurando o folheto de informações sobre adoção
que Mya trouxe para casa para eu olhar.
— Asher, o que é isso? — ele repetiu.
— Relaxa, pai — respondi. — É apenas um folheto.
— Sobre adoção.
— Tenho certeza de que não é nada, Andy. Provavelmente algo
a ver com o curso de Mya. Venha se sentar — minha mãe deu um
tapinha no sofá.
Ele largou o folheto de lado e se juntou a nós.
— Me diga que você não está pensando seriamente em adoção,
filho?
— E se tivermos? — Me sentei mais reto, sentindo uma pontada
de irritação.
— Seja razoável, Asher. Vocês são muito jovens. Tem toda a
vida pela frente para pensar em filhos. Achei que você queria se
concentrar no negócio, em crescer...
— Sim — rebati, odiando que não importasse o quanto ele
tentasse ser melhor, para fazer melhor, por baixo de tudo, Andrew
Bennet ainda era o mesmo homem rígido e tacanho que sempre foi.
— Você sabia que muitos jovens profissionais adotam?
— Querido, isso é... bem, é muito. — Minha mãe parecia
confusa. — Achei que a Mya queria se formar e fazer especialização
em serviço social?
— Ela quer, mas quer trabalhar com crianças. Esse é o melhor
de dois mundos.
— Agora, espere um minuto, filho. Parece que você já tomou a
decisão. Você está no segundo ano. Ainda faltam dois anos de...
— Humm, está tudo bem? — Mya apareceu na porta.
— Na verdade — eu disse, me levantando —, eu estava
contando aos meus pais sobre a coisa da adoção.
— É? — Ela olhou para eles e de volta para mim, a confusão
brilhando em seu olhar.
— Sim, meu pai notou o folheto e fez algumas perguntas. — Dei
a ele um sorriso tenso.
— Entendo. Bem, é só uma ideia no momento — ela disse.
— O Asher fez parecer que já estava decidido — meu pai
interrompeu e ouvi minha mãe mandá-lo se calar.
— Ele fez, não é? — Mya semicerrou os olhos, se aproximando
lentamente de mim. — O que você está fazendo? — ela murmurou.
Passando o braço em volta de sua cintura, puxei-a para perto.
— Estive pensando... e acho que devemos fazer isso. Assim que
você completar vinte e um anos, devemos providenciar a nossa
licença e...
— Uau, vá devagar. — Uma risada estrangulada saiu de seus
lábios. — Ainda temos que nos formar.
— Eu sei. Mas estive pensando no Xander, Hugo e em todo o
trabalho que você faz na New Hope. Se pudermos dar a uma
criança um lugar seguro, proteção e uma chance de um futuro
melhor, devemos fazê-lo.
No fundo, acho que eu soube no segundo que Mya mencionou
que era o certo a se fazer, mas éramos jovens e era uma grande
decisão.
Eu queria isso.
E queria com Mya.
Ela sorriu.
— É?
— Sim. — Concordei. — Posso começar o negócio e você pode
ficar em casa com as crianças e brincar de casinha. — Foi a minha
vez de sorrir.
Mya bateu no meu peito.
— Não acredito que você disse isso.
— Ah, eu disse. — Com meus pais esquecidos, abaixei a cabeça
e toquei os lábios nos dela. — Vamos precisar de uma casa, algo
com mais espaço e quintal. Ah, e um cachorro. Sempre quis um
cachorro.
— Você é louco.
— Com certeza. — Eu sorri, mas o som áspero da tosse do meu
pai arruinou o momento.
— Filho, provavelmente deveríamos conversar sobre isso.
— Na verdade, pai — falei, colocando Mya ao meu lado —, não
acho que haja mais nada para falar. Vamos fazer isso. Você pode
embarcar na ideia ou não. Mas não vai mudar nada.
Porcaria nenhuma.
Porque eu não estava mentindo quando disse que daria a Mya
tudo que ela queria. Enquanto eu estava lá, com minha garota ao
meu lado e meus pais assistindo como se eu tivesse perdido a
cabeça, uma sensação de paz tomou conta de mim.
E de repente, nada parecia mais louco.
Parecia bem.
Parecia certo.
Parecia que as coisas estavam exatamente do jeito que
deveriam ser.
Mya
— Não posso acreditar que você disse aos seus pais que vamos
adotar. — Levantei a cabeça do ombro de Asher e sorri para ele.
— Acabou saindo. Ele começou a me repreender e deu um
estalo dentro de mim.
— Ele só está preocupado, os dois estão.
— E eu entendo, mas não sou mais criança. Temos idade
suficiente para tomar nossas próprias decisões.
— E você quer mesmo isso? — Eu o encarei com olhos
arregalados.
— Quero que você seja feliz, Mya. Quero ter uma casa com
você, começar uma família.
Deus, a convicção em sua voz era tudo. Esmagadora da melhor
maneira.
Asher disse cada palavra de coração, e isso me encheu de tanta
emoção que mordi o lábio de leve.
— Sabe, se decidirmos fazer isso, provavelmente significará
colocar um bebê em espera por alguns anos.
Por que o pensamento de fazer bebês com Asher fazia meu
coração disparar?
Porque ele é o homem da sua vida, seu felizes para sempre.
— E tudo bem. Não estou com pressa para nada. Só quero
saber se isso é algo que vai acontecer.
— Vai, sim. Com certeza vai. — Relaxei na curva de seu braço.
— Acho que quero dois filhos. Um menino e uma menina.
— Um menino e uma menina, e uma casa cheia de filhos
adotivos.
— Não sei sobre uma casa cheia. — Um seria o suficiente. Mas
desde que tive a ideia, não conseguia tirá-la da minha cabeça.
— Sabe, há algo que provavelmente precisamos discutir
primeiro. — Asher se afastou do sofá e ficou de joelhos na minha
frente. Ele pegou minha mão na sua e apertou os lábios.
— Ah, meu Deus — sussurrei. — Me diga que você não vai fazer
o que acho que vai? — Meu coração bateu com força.
— Acho que vou. — Sua voz tremeu. — Eu não planejei isso
assim... caramba, eu nem tenho uma aliança. Mas eu te amo, Mya.
Eu te amo pra caramba, e sentado aqui, falando sobre bebês e o
futuro... bem, isso me fez sentir todos os tipos de loucura.
— Asher, você não precisa fazer isso... não agora... não assim.
— Sim, baby, mas eu quero. Porque com ou sem aliança, eu te
amo e quero passar o resto da minha vida te amando. Você quer
uma casa cheia de filhos adotivos, mas eu só quero você, Mya. Diga
sim... diga sim e me faça o cara mais feliz do planeta.
— Sim — murmurei, me lançando em seus braços. Caímos em
um emaranhado de membros e risos.
— Sim? — Asher olhou para mim e eu sorri.
— Sim, eu vou me casar com você, seu idiota louco.
— Ah, merda, eu acabei de fazer isso? — O sangue foi drenado
de seu rosto. — Não acredito que fiz isso. Eu nem tenho uma
aliança, pelo amor de Deus.
— Asher, olhe para mim. — Segurei sua mandíbula. — Não
preciso de aliança. Não preciso de um gesto romântico ou de uma
grande demonstração pública de afeto. Eu só preciso disso. —
Minha mão foi para seu esterno, bem onde estava seu coração.
— É? — Sua voz era baixa.
— É.
— Que bom. — Sua expressão se transformou em pura alegria.
— Porque eu não vou voltar atrás. Você é minha agora, Mya
Hernandez, e eu não vou te largar.
DEZESSETE
Asher
— ESPERE, só vou conectar o Cam.
— Ash? O que houve? — O rosto de Cameron apareceu na tela.
— Você pode nos ver? — perguntei, e ele assentiu. — Jason e
Fee também?
Eles assentiram também.
— Certo. — Respirei fundo, abraçando Mya ao meu lado. —
Temos algo para contar...
— Ah, meu Deus, você fez? — Felicity gritou, segurando o
ombro de Jase.
— Sim — Mya disse, me dando um sorriso contagiante. —
Estamos noivos.
— Parabéns — Hailee e Cameron disseram.
— Maravilha. — Jase sorriu, e Fee deixou escapar: — Como foi?
— Bem, eu... então, a história é engraçada...
— Asher Bennet — ela gemeu. — Por favor, me diga que você
não fez o pedido sem aliança.
— Aconteceu.
— Ah, merda — Jase respirou. — Você não comprou uma
aliança.
— Espere um segundo, não é assim — argumentei, e Mya
enterrou o rosto no meu pescoço, sufocando o riso.
— Ash, estava contando com você para o grande gesto
romântico — Felicity deixou escapar um suspiro exasperado.
— Achei fofo — Hailee acrescentou. — Calor do momento. Eu
gosto disso.
— Nem vem, Giles. — Jase não estava mais olhando para nós.
Em vez disso, seus olhos estavam fixos em sua noiva. — O que isso
quer dizer? Eu fiz um grande gesto. Ou você esqueceu quando me
ajoelhei na televisão?
— Não seja bobo, querido, eu não me esqueci, e foi muito fofo,
mas eu tinha grandes esperanças para o Asher e a Mya.
— Gente — interrompi. — Não é como se eu não planejasse
comprar uma aliança. Vamos ao shopping durante a semana para
olhar...
— Não, não, não.— Fee parecia mortificada. — Você não pode
deixar a Mya escolher seu próprio anel, dá azar.
— Bem, estou feliz por termos decidido ligar para nossos amigos
e compartilhar nossas boas notícias com eles.
— Ignore-os — Hailee falou. — Acho que é uma ótima notícia.
Estou muito feliz por vocês dois.
— Obrigada. — Mya encostou a cabeça no meu ombro.
— Vocês já falaram sobre os planos de casamento?
— Sério? — hesitei. — Eu nem comprei a aliança...
Mya cravou os dedos em minhas costelas e eu gritei.
— Não, não falamos — ela disse. — Será em algum momento
depois da formatura. Não estamos com pressa.
— Você é o último agora, Cam — eu sorri. — Sabe disso, certo?
É hora de você melhorar seu jogo.
— Ash... — Hailee avisou.
— Relaxa, ele sabe que estou brincando.
— Acredite em mim, quando eu finalmente fizer o pedido, vou
me certificar de ter uma aliança.
— Se deu mal — Jason murmurou, incapaz de esconder sua
diversão.
— Muito bem, foi legal falar com vocês e tudo mais, mas quero
um tempo a sós com minha noiva.
— Não até que você coloque uma aliança...
Desliguei e coloquei o celular no balcão, puxando Mya para perto
de mim.
— Ash, isso foi rude.
— Que nada, eles entenderam. — Cameron e Jason eram tão
apaixonados por suas namoradas quanto eu por Mya. Eles
entendiam o que era querer se enterrar tão profundamente dentro
dela, que você não sabia onde terminava, e ela começou.
— Eu preciso de você, Mya. — Calor correu por minhas veias.
— Bem, estou bem aqui. — Ela umedeceu os lábios.
Fui em sua direção e passei a mão ao longo da curva de seu
pescoço.
— Minha — sussurrei.
Mya prendeu o ar, os olhos tremulando fechados.
— Isso é a vida real? — ela sussurrou.
— Isso parece vida real? — perguntei a ela, me inclinando para
passar a língua sobre sua pele doce e salgada.
Ela estendeu a mão para mim, segurando meu moletom da
Temple U. Sem aviso, coloquei a mãos na parte de trás das coxas
de Mya e a puxei contra mim. Suas pernas envolveram meus
quadris e ela gritou de surpresa. Nos girando, eu a coloquei no
balcão e me empurrei entre suas coxas.
— Eu te amo, Mya. Hoje, amanhã e todos os dias depois.
— Me mostre...
Ah, eu mostraria.
Eu pretendia mostrar a ela a noite toda.
Mya
— Oi, Mya. — Sally ergueu os olhos. — Os meninos estão
atrasados.
— Tudo certo? — Fiz uma careta.
— Acho que o Hugo teve um dia ruim na escola. Mariah disse
que algumas crianças têm dificultado muito para ele.
— Eles só tem seis anos.
— Eu sei. Mas crianças podem ser muito cruéis. Espero que ver
você o anime.
— Ah, eu não sei.
— Ei, nada disso. Você está fazendo a diferença, Mya. Você só
tem que confiar no processo. Estar lá. Se mostrar. Essas crianças
precisam aprender a confiar nos adultos novamente.
— Tem razão — concordei.
— E quem sabe, talvez hoje seja o dia em que ele decida usar
suas palavras.
Mas não foi.
Assim que Hugo e seus irmãos chegaram ao centro, ficou claro
que o que quer que tivesse acontecido o deixou ainda menos
disposto a se envolver.
Mas eu não desistia. Eu seria paciente. Esperaria. E – com sorte
– eu o ajudaria.
HAILEE: Sou eu. Você disse que a essa hora já estaria em casa,
mas não está aqui e seu celular só chama. Me avise se você
está bem.
HAILEE: Como você ainda não atendeu, liguei para sua mãe. Ela
disse que você deixou Rixon à uma. Caramba, Cameron! Você
me mandou uma mensagem às oito da manhã e disse que
estava vindo embora. O que está acontecendo?
ESPEREI.
E esperei.
Mas não veio nada.
Eu não a culpava. Se os papéis estivessem invertidos, eu
também ficaria chateado.
Meus dedos voaram sobre a tela.
Cameron: Tenho treino logo depois das aulas, pode ser depois?
No apartamento?
ESTAVA ENJOADA.
Quando minha mãe me levou para casa, eu mal conseguia ficar
de pé. No início, achei que fosse apenas uma resposta emocional a
tudo o que tinha acontecido, mas passei a maior parte da noite com
a cabeça inclinada no vaso sanitário.
— Como você está se sentindo? — Minha mãe entrou no meu
quarto com um copo de água gelada e alguns biscoitos.
— Como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. —
Tentei me sentar, mas meu estômago embrulhou.
— Você teve notícias do Cameron?
— Nenhuma. — Encarei meu celular, desejando que vibrasse.
— Tenho certeza de que ele vai ligar. É muito para eles
processarem. — Ela colocou o copo na mesa e pressionou a mão
contra minha testa. — Você não está febril. Pode ser algo que você
comeu ou uma cólica estomacal.
— Vou ficar bem. — Eu a afastei.
— Cameron provavelmente terá que ficar longe se for visitar a
mãe no hospital. Pelo menos, até que passe.
Excelente.
Exatamente o que eu não precisava.
— Estou muito cansada, mãe. — Eu mal havia dormido.
— Claro, baby. Vou deixar você descansar um pouco. Se
precisar de qualquer coisa...
— Eu sei e obrigada por tudo.
— Hailee, você é minha filha. Sempre estarei ao seu lado.
Espero que você saiba disso. — Ela me deu um sorriso caloroso,
antes de me deixar sozinha.
A porta mal se fechou quando a primeira lágrima caiu.
VINTE E CINCO
Hailee
DEPOIS DE VINTE e quatro horas, finalmente me senti humana
novamente. Mas meu coração ainda estava machucado. Cameron
mandou mensagem algumas vezes para dizer que passaria o dia
com Xander e que viria mais tarde.
Isso foi há cinco horas.
Minha mãe insistiu para que eu descansasse. Ela também
insistiu que eu bebesse líquidos regularmente e mordiscasse
biscoitos para me recuperar. Acho que secretamente ela adorava ter
alguém em casa para se preocupar.
— Posso fazer algo mais? — ela perguntou, e eu balancei a
cabeça com uma risada silenciosa.
— Estou bem, mãe, obrigada.
— Certo, baby. Chame se precisar de mim.
Nosso relacionamento nem sempre foi fácil, mas ela estava
tentando. E depois da notícia devastadora de Karen, eu sabia que
provavelmente precisava me esforçar mais.
Eu queria ligar para Cameron, para ver como sua mãe estava e
perguntar se eles sabiam de mais alguma coisa. Mas não queria
pressioná-lo.
Então, optei por ligar para minha melhor amiga.
— Hailee, graças a Deus — Felicity disse no terceiro toque. —
Estive tão preocupada. Como você está? E o Cam? E a Karen. Ah,
Deus, a Karen...
— Respire, Flick, — Ri baixinho, não que algo sobre essa
situação fosse engraçado.
— Sério, como você está?
— Já me sinto um pouco melhor, mas não foi nada bom.
— Não posso acreditar que você ficou tão doente. Você acha
que foi algo que você comeu?
— Não sei. Mas agora me sinto bem.
— Bem, isso é bom. E o Cam? Ele deve estar fora de si.
— Eu realmente não sei. Ele está com o Xander.
— Quer dizer que você não o viu hoje? — Ela parecia surpresa.
— Bem, não. Minha mãe achou que ele deveria ficar longe até
que eu tivesse certeza de que era uma daquelas viroses de vinte e
quatro horas.
— Faz sentido, eu acho. Mas você falou com ele, certo?
— Eu...
— Hailee?
— Ele precisa estar com a família agora — eu disse, incapaz de
esconder a tristeza em minha voz.
— Mas você é a família dele.
Eu também já tinha pensado assim. Mas não tinha mais tanta
certeza de nada.
— O Jason falou com ele?
— Sim, eles conversaram mais cedo.
Eu respirei fundo.
— Merda, Hails, eu não queria...
— Tudo bem. Estou feliz que ele tenha o Jason para conversar.
Se não iria se voltar para mim, ele precisava se voltar para
alguém.
— Eu simplesmente não entendo. Vocês sempre foram tão
unidos.
Suas palavras fizeram o nó no meu estômago apertar.
— Ele não quer escolher — eu disse baixinho.
— Mas não precisa haver escolha, não é?
Mas precisava. Ou pelo menos, eu conhecia Cameron o
suficiente para saber o que ele pensava que sim. Ele era um cara do
tudo ou nada. Vi o quanto o afetou não poder estar próximo de
Xander. Ele persistiu por mim. Ele continuou nossa vida no
Michigan... por mim.
Mas percebi que seu coração não estava envolvido.
— Ele precisa estar aqui com a família.
— Você realmente acha que ele vai sair do time? Sair da
faculdade?
Não queria acreditar quando falamos sobre isso pela primeira
vez, mas o diagnóstico de Karen mudou tudo. E eu sabia... no fundo
do meu coração, eu sabia que já o tinha perdido.
Lágrimas silenciosas se agarraram aos meus cílios.
— Sinto muito — Felicity falou como se ela também tivesse
entendido.
— Está tudo bem — ofeguei. — Ele precisa estar aqui com eles.
Mesmo sabendo que as palavras eram verdadeiras, não doía
menos.
— Hailee — minha mãe gritou. — O Cameron está aqui. Vou
encontrar Kent para jantar. Voltaremos mais tarde.
— Escute, eu preciso desligar.
— Você quer que eu vá até aí? Eu posso...
— Não — eu disse, secando os olhos. — Eu ficarei bem.
— Bem, me ligue mais tarde.
— Pode deixar. Tchau. — Desliguei e respirei fundo.
— Hailee? — A voz de Cameron fez meu coração disparar, mas
ele caiu rapidamente de volta à Terra.
— Entre.
No segundo em que ele entrou na sala, vi meu maior medo
gravado em cada linha de seu rosto.
Ele olhou para mim com olhos tristes e disse:
— Acho que precisamos conversar.
Cameron
— Está tudo bem — Hailee falou, me pegando completamente
desprevenido. Vim aqui preparado para uma batalha. Depois de
passar o dia com Xander tentando descobrir como dizer à garota
que eu amava mais do que qualquer coisa que não poderia ser o
cara que ela precisava agora, eu ainda não sabia como dizer as
palavras.
Como dizer a ela que eu precisava estar com a minha família.
No entanto, ela estava sentada lá, com nada além de resignação
em sua expressão triste.
— Você não precisa fazer isso, Cameron. Sei o que você veio
dizer, e está tudo bem.
Eu pisquei, quase incapaz de acreditar no que estava ouvindo.
— Eu-eu não entendo. O que exatamente você está dizendo?
— Eu nunca pediria a você para escolher entre mim e eles. Você
precisa estar aqui mais do que nunca. Eu entendo e está tudo bem.
O alívio me atingiu. Ela entendia.
Puta merda, ela entendia.
— Obrigado. — Fui até ela e me sentei ao seu lado na beira da
cama. — Preciso fazer isso pelo Xander, por eles. — Minha voz
tremeu enquanto eu tentava encontrar as palavras. — O estado dela
é terminal, Hailee. Os médicos podem deixá-la confortável e dar-lhe
remédios para controlar os sintomas, mas não há cirurgia neste
momento ou solução mágica.
— Ah, meu Deus, Cameron. — Ela me envolveu e eu afundei em
seu abraço. Foram as trinta e seis horas mais difíceis da minha vida.
Passei o dia todo com Xander tentando explicar tudo para ele e
então pegando os pedaços de seu colapso enquanto seu cérebro
em desenvolvimento tentava processar as coisas.
— Sinto muito. — Suas lágrimas caíram no meu suéter.
Segurei o rosto de Hailee, tocando minha cabeça na sua.
— Sua mãe disse que você passou mal.
— Estou bem agora.
Nossos lábios estavam tão próximos que quase podia sentir o
gosto dela, mas não vim aqui para isso. Vim dizer a ela que
precisava de tempo e espaço para estar com minha família. Mas
agora eu estava aqui, e ela estava se agarrando a mim como se eu
fosse desaparecer a qualquer momento, fui dominado pela
necessidade de amá-la. De apenas estar com ela.
— Cameron? — Seus olhos brilharam com tanto amor que me
destruiu, e eu sabia que se pedisse, ela me daria tudo o que eu
precisava.
— Venha aqui. — Tentei abraçá-la com mais força. Não queria
ser o tipo de cara que usava o sexo como despedida, mas eu
queria.
Caramba, como, eu a queria.
Mas foi Hailee quem tomou a decisão, deslizando sua boca
sobre a minha.
— Hailee, espere... — Segurei seus ombros, engolindo a bola de
emoção alojada em minha garganta. — Não tenho certeza se isso é
uma boa ideia.
— Preciso disso — ela disse, suas mãos descendo pelo meu
peito e puxando meu suéter para longe do meu corpo. — E sei que
você também.
— Tem certeza?
Eu ia direto para o inferno.
Eu tinha certeza de que Jason me arrastaria para lá de qualquer
maneira depois que eu fizesse isso.
Mas não conseguia parar. Hailee era tudo que sempre quis. Ela
era forte, boa e muito altruísta, era de tirar o fôlego.
Ela não me fez escolher.
Ela me deu um presente: me deixou ir.
Hailee subiu no meu colo, me beijando. Pequenos beijos incertos
enquanto minhas mãos deslizavam em seus cabelos, para que eu
pudesse aprofundar o ângulo. Ela traçou os lábios com os dedos e a
língua. Provocação e degustação. Até que o beijo ganhou vida
própria. Feroz e brutal, enquanto nós dois lutávamos contra nossos
demônios.
— Isso está bem? — murmurei contra seus lábios, enquanto
começava a explorar seu corpo, passando as mãos para cima e
para baixo em sua cintura, traçando suas curvas suaves.
Ela assentiu, agarrando meu suéter, até que o tirei do corpo.
Hailee pintou letras de amor sobre minha pele, me marcando com
seu toque. Era maravilhoso estar com ela.
E você vai desistir dela.
Afastei os pensamentos. Só queria me concentrar nisso. Aqui.
Agora. No jeito que Hailee parecia tão perfeita, a maneira como seu
corpo se encaixava no meu como se tivesse sido feito para mim, e
apenas para mim.
Suas roupas saíram em seguida, o jeans, a camiseta e a
calcinha de algodão preta. Depois, meus jeans e boxers. Até que
estivéssemos pele com pele, arrependimentos e desculpas.
— Eu te amo, Cameron, muito — ela sussurrou antes de me
beijar profundamente.
Meu pau doía por ela, mas não queria apressar isso. Queria
saboreá-la, gravar esse momento na minha memória para quando
as coisas ficassem muito difíceis e eu precisasse me distrair do
buraco no meu peito.
Enterrei as mãos profundamente em seu cabelo, angulando seu
rosto para o meu enquanto capturava seus lábios. Beijos quentes e
carentes.
— Sempre vou te amar — mal sussurrei as palavras contra o
canto de sua boca.
Hailee se levantou de leve, segurando meu pau antes de afundar
em um movimento suave.
— Cam — ela murmurou, agarrando meus ombros. — Parece...
— Eu sei — gemi, me movendo dentro dela. Curvei a mão sobre
seu quadril, guiando seus movimentos. Eu a queria lenta e
profundamente, rápida e forte. Eu a queria de qualquer maneira que
pudesse tê-la. Porque estar assim com Hailee nunca seria o
suficiente... e ainda, por agora, teria que ser.
Meu peito apertou enquanto ela se movia contra mim. Memorizei
cada movimento de seus quadris, cada gemido ofegante saindo de
seus lábios. Mas eu precisava de mais. Precisava de cada coisa que
ela tinha para dar.
Sem aviso, virei Hailee e comecei a estocar nela. Ela cravou as
unhas nas minhas costas, gritando enquanto eu ia com mais força.
— Ah, Cam... — Respirando fundo, ela segurou meus ombros
enquanto eu perseguia aquele momento em que todo o resto
derreteu e eu ficou com nada além de uma sensação de completo
êxtase.
Hailee gemeu novamente.
— Isso é...
Tudo.
Era tudo...
E foi um adeus.
Hailee
Acordei com a cama vazia, mas não esperava que Cameron
estivesse aqui. Dissemos tudo o que precisávamos dizer na noite
passada, com cada beijo e toque e sussurros de eu te amo.
Eu não tinha dúvidas de que Cameron me amava, esse não era
o problema. Mas eu sabia que ele não poderia apoiar sua família
enquanto se sentia amarrado a mim.
Então eu o libertei.
Não havíamos discutido o que aconteceria quando eu voltasse
para Michigan. Nem se íamos fazer uma pausa ou se iríamos tentar
um namoro a longa distância.
Não havíamos discutido nada.
Mas isso me disse tudo que eu precisava saber.
No momento, a prioridade de Cameron era sua família, e eu não
poderia odiá-lo por isso.
Não importava o quanto doesse, eu simplesmente não
conseguia.
— Querida? — Ou vi a voz da minha mãe através da porta.
— Oi, mãe.
Ela espiou pela porta.
— Como você está se sentindo esta manhã?
— Estou bem.
— Você e Cameron resolveram as coisas?
Minhas bochechas esquentaram.
— Vou voltar para Michigan mais tarde.
— Sozinha? — A confusão nublou seus olhos.
— O Cameron precisa ficar aqui.
— Eu sei, querida. Não consigo nem imaginar... — Ela se sentou
na beirada da minha mesa. — Mas isso soa meio final.
— Não definimos os detalhes.
— E você está bem com isso?
Dei de ombros, desviando o olhar.
— O Cameron precisa estar aqui com a família.
— Claro que sim, mas...
— Mãe, eu agradeço sua preocupação, de verdade. Mas está
terminado.
— Vocês encontrarão o caminho de volta um para o outro.
Nenhum tempo ou distância mudará o que aquele menino sente por
você.
Deus, eu queria acreditar nela. Mas também sabia que havia
uma coisa que poderia mudar tudo e que iria acontecer.
— A Karen não vai melhorar, mãe. — Eu não conseguia segurar
as lágrimas por mais tempo.
— Ah, querida, eu sinto muito, muito mesmo.
— A vida é tão injusta — solucei, caindo nos braços abertos de
minha mãe.
— Shhh, querida. Estou bem aqui.
Mas quando ela disse as palavras, chorei mais, porque um dia,
em breve, Cameron e Xander teriam que se despedir de sua mãe.
E Cameron teria que juntar os pedaços.
Fim.
ABOUT THE AUTHOR
Autora de romances young adult e new adult, L. A. fica mais feliz escrevendo o
tipo de livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de angústia adolescente,
tensão, voltas e reviravoltas.
Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente faz
malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas
crianças. Em seu tempo livre (e quando não está acampada na frente do laptop),
você provavelmente encontrará L. A. imersa em um livro, escapando do caos que
é a vida.