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TABELA DE CONTEÚDOS

AVISO DE CONTEÚDO:
NOTA DA PLAYLIST:
PRÓLOGO
AIDEN
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FREYA
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AIDEN
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FREYA
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AIDEN
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FREYA
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FREYA
AVISO DE CONTEÚDO:
** POR FAVOR, PULE ISTO SE DESEJAR EVITAR SPOILERS
**
Esta história inclui um personagem principal com transtorno de
ansiedade generalizada. Também aborda a pobreza infantil, bem
como o alcoolismo e o abandono dos pais. Com os leitores betas e a
orientação de sensibilidade, espero ter dado a esses assuntos o
cuidado e o respeito que eles merecem.
NOTA DA PLAYLIST:
No início de cada capítulo, há uma música e um artista que são
apontados para permitir outro meio de conexão emocional com a
história. Não é uma necessidade, pois para alguns pode ser uma
distração ou, para outros, inacessível e, portanto, pode ser
totalmente ignorado! As letras também não são literais sobre o
capítulo. Ouça antes ou enquanto lê para uma experiência de trilha
sonora. Se você gostar das playlists, em vez de pesquisar
individualmente cada música à medida que lê, você pode acessar
essas músicas diretamente em uma playlist do Spotify, entrando em
sua conta do Spotify e digitando “Ever After Always (BB # 3)” na aba
de pesquisa.
“Você perfura minha alma. Sou metade agonia, metade esperança. Não
me diga que estou atrasada, que esses sentimentos tão preciosos se foram
para sempre.”
- Jane Austen, Persuasion
PRÓLOGO

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ M e l o d y N o i r ” - P a t r i c k W a t s o n

N F B , soube que queria me casar


com ela.
Alguns dos nossos amigos em comum fizeram um jogo de
futebol em um agradável domingo de verão e nos convidaram. Eu
joguei no colégio e continuei em uma liga de futebol recreativo
enquanto fazia a graduação. Naquela época, eu era um pobre
estudante de doutorado e gostava do jogo o suficiente para valorizar
a oportunidade de me divertir sem pagar nada. Nada de passeios
frustrados em que não pude comprar um ingresso porque eu tinha
acabado de pagar o aluguel e esvaziar minha conta bancária,
nenhum amigo bem-intencionado insistindo, para minha
humilhação, em me ajudar. Apenas um lugar e um momento em que
eu podia ficar tranquilo e sentir que era igual a todos. Uma manhã
preguiçosa sob o sol forte da Califórnia, fazendo malabarismos com
uma bola e brincando com os amigos.
Mas então ela entrou e as brincadeiras cessaram. Todos os
homens naquele campo congelaram, as costas eretas, os olhos
arregalados e toda a bagunça desapareceu conforme o silêncio foi se
espalhando pelo campo. Meus olhos percorreram o lugar, então se
prenderam na loira alta com um rabo de cavalo ondulado, olhos
azuis invernais e um sorriso confiante em seus lábios rosa-
avermelhados. Um arrepio percorreu minha espinha quando seu
olhar frio encontrou o meu e seu sorriso desapareceu.
Então ela desviou o olhar.
E eu jurei por Deus que ganharia seu olhar novamente, mesmo se
fosse a última coisa que eu fizesse.
Eu a observei tentando não ser chamativa enquanto ela fazia
manobras com a bola e realizava movimentos bobos que ela mais
acertou do que errou, demonstrando como ela facilmente
equilibrava suas habilidades com descontração. Eu a observei e tudo
que eu queria era estar mais perto. Cada vez mais. Mas quando nos
dividimos, desapontado percebi que havíamos sido colocados em
times diferentes. Então, me ofereci para marcá-la, e com uma
presunção arrogante típica dos homens de vinte e poucos anos,
pensei que um cara do meu tamanho, que ainda aguentava correr
velozmente alguns metros, acreditava conseguir acompanhar uma
mulher como ela.
E f úl b
Essa foi a última vez que subestimei Freya.
Eu quase me matei no campo, tentando acompanhar seus pés
rápidos e antecipar seus movimentos, tentando alcançar a mesma
velocidade explosiva de quando ela voou pelas linhas laterais,
mostrando uma aptidão que eu não possuía. Lembro de me
maravilhar com o poder de suas pernas longas e musculosas, o que
me fez imaginá-las enroladas ao redor de minha cintura, provando
sua resistência em um tipo muito mais agradável de exercício. Logo
ali, eu já sabia que a queria. Deus, eu a queria.
Talvez eu tenha tornado a marcação um pouco mais intensa do
que todos os outros no campo. Talvez eu tenha me prendido a ela
como cola. Mas Freya irradiava o magnetismo de alguém que
conhecia seu valor e, em um lapso de desespero, percebi que queria
que ela visse que eu também poderia ser digno, que poderia manter
o ritmo, ficar perto e nunca me cansar de sua natureza crua e energia
cativante.
Com a presença de Freya, esqueci cada uma das coisas que
pesavam em minha mente: dinheiro, um emprego, dinheiro, comida,
dinheiro, minha mãe, ah, e dinheiro, é claro, porque nunca havia o
suficiente, e era uma sombra sempre presente escurecendo
momentos que devem ser brilhantes. Como o sol, iluminando um
planeta frio e solitário, que entrava em sua órbita, Freya exigiu
minha presença. Aqui. Agora. Apenas alguns minutos deslumbrantes
em sua atração gravitacional e aquela escuridão penetrante se
dissolveu, deixando apenas ela. Bela. Brilhante. Deslumbrante. Eu
estava preso.
Então, no auge da minha inteligência jovial e masculina, decidi
mostrar a ela meu interesse afundando minhas garras em sua
camisa, rastreando cada movimento seu como um cão de caça, e
fazendo qualquer coisa que eu pudesse para irritá-la.
— Deus, você é irritante — ela murmurou. Fingindo ir para a
direita, ela cortou para a esquerda passando por mim e disparando.
Eu a alcancei, coloquei a mão em sua cintura enquanto ela
protegia a bola e inclinava seu longo corpo contra o meu. Não é
romântico, mas me lembro exatamente como me senti quando sua
bunda redonda se aninhou bem na minha virilha. Eu me senti como
um animal, e não era assim que eu agia, pelo menos não antes de
Freya. Mas com ela ali, parecia certo, ela tinha o cheiro certo, estava
tudo certo. Era simples assim.
— Você não tem mais ninguém para incomodar? — ela disse,
enquanto olhava por cima do ombro e aqueles olhos marcantes
diziam algo totalmente diferente. Fique. Experimente. Prove que estou
errada.
— Não — eu murmurei, meu aperto aumentando em todos os
sentidos da palavra, meu desespero por ela já era demais. Lutando
l
pela posse, eu encontrei seus movimentos, um por um, em um
emaranhado de membros suados e esforços desconexos, até que
finalmente, ganhei a bola por um breve momento e fiz algo muito
estúpido. Eu a provoquei.
— Aliás — eu disse, quando ela veio atrás de mim. — Estou me
divertindo brincando com você.
— Divertido, hein? — Freya roubou a bola de mim com muita
facilidade, puxou-a para trás e chutou-a, bem no meu rosto com
tanta força, que quebrou meus óculos ao meio.
Assim que desabei no chão, ela caiu de joelhos, tirando os cacos
dos destroços do meu rosto.
— Merda! — Suas mãos tremiam, seu dedo traçava a ponta do
meu nariz. — Estou tão arrependida. Eu tenho o pavio curto e é
como se você estivesse programado para me tirar do sério.
Eu sorri para ela, meus olhos lacrimejando:
— Eu sabia que tínhamos uma conexão.
— Eu realmente sinto muito — ela sussurrou, ignorando minha
fala.
— Você pode me compensar — eu disse, com meu melhor
charme de Aiden MacCormack, que molha calcinhas, que pude
reunir ali na hora. O que foi... desafiador, dado que acabei de levar
uma bolada no rosto e parecia horrível, mas se tem uma coisa que
sou, essa coisa é determinado.
Freya sabia exatamente o que eu queria dizer. Se levantando, mas
ainda estando agachada, ela arqueou uma sobrancelha:
— Eu não vou sair com você apenas para compensar por ter
quebrado seus óculos acidentalmente.
— Hum, você intencionalmente destruiu meus óculos. E muito
provavelmente meu nariz. — Sentei lentamente e me apoiei nos
cotovelos enquanto a brisa soprava seu perfume em minha direção:
grama recém-cortada e um copo alto e fresco de limonada. Eu queria
respirá-la, correr minha língua sobre cada gota de suor que escorria
de sua garganta, em seguida, arrastar seu lábio inferior macio entre
meus dentes, prová-la: doce e ácida.
— Só um beijinho. — Toquei na ponta do meu nariz e depois
estremeci de dor, foi onde um corte abriu com o impacto dos meus
óculos. — Bem aqui.
Ela espalmou a mão na minha testa, e me empurrou até que eu
tombasse de volta na grama, então deu um passo sobre mim.
— Eu não dou beijos, quatro olhos — ela disse por cima do
ombro. — Mas vou pagar uma cerveja de desculpas para você
depois disso, e então veremos o que estou disposta a fazer.
Até hoje, Freya jura que estava tentando atingir o gol que estava,
você sabe, uns vinte metros à direita da minha cabeça, mas nós dois

b f A d d é b
sabemos que não foi o que aconteceu. A verdade é que ambos
aprendemos uma lição naquele dia:
Aiden só pode empurrar até certo ponto.
Freya aguenta até certo ponto.
Antes de algo quebrar.
Muito seriamente.
1

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ I G o C r a z y ” - O r l a G a r t l a n d

E . No banho. Em viagens de
carro. Pintando nossa casa. Cozinhando com Aiden. Porque eu sou
uma pessoa emotiva, e a música é a linguagem da emoção.
Então, uma semana atrás, me arrastei para a cama sozinha de
novo, me enrosquei com meus gatos, Wasabi e Picles, e percebi que
não conseguia me lembrar da última vez que cantei. E aconteceu de
ser quando eu percebi que estava cansada pra caralho do meu
marido. Estava mesmo. Por meses.
Então eu o coloquei para fora. E as coisas podem ter regredido
um pouco desde então.
Soluçando, eu encarei o armário de Aiden.
— Você ainda está aí? — A voz de Mai, minha melhor amiga,
ecoa no viva-voz do meu celular, que está sobre a cama.
— Sim. — Soluço — Ainda estou meio bêbada. Desculpa.
— Basta não operar nenhum maquinário pesado, e você ficará
bem.
Eu soluço novamente:
— Eu acho que há algo errado comigo. Estou tão chateada com
ele que fantasiei em enfiar pudim de chocolate em seus sapatos de
trabalho…
— O que? — Ela grita. — Por que você faria isso?
— Ele pensaria que é merda de gato. Piccles fica com diarreia
quando come minhas plantas aqui de casa.
Há uma pausa:
— Você é perturbadora às vezes.
— Isso é verdade. — Vinda de uma família de sete filhos, tenho
algumas maneiras muito criativas de me vingar. — Eu
definitivamente tenho alguns parafusos a menos. Estou pensando
em ressuscitar algumas das minhas pegadinhas mais sinistras, e
estou com tanto tesão que estou encarando o armário dele, sentindo
seu cheiro.
Mai suspira com simpatia no telefone:
— Não há nada de errado com você. Você não tem transado há...
faz quanto tempo?
Pego a garrafa de vinho que está na minha cômoda e tomo um
longo gole.

Q d lh ló
— Nove semanas. Quatro dias — eu olho para o relógio com um
olho só. — Vinte e uma horas.
Ela assobia.
— Sim. Então, muito tempo. Você está privada de sexo. E só
porque você está magoada, não significa que você ainda não possa
desejá-lo. O casamento é muito mais confuso e mais complicado do
que qualquer um tenha nos avisado. Você pode querer arrancar suas
bolas e sentir tanto a falta dele que parece que você não consegue
respirar.
Lágrimas enchem meus olhos.
— Sinto que não consigo respirar.
— Mas você pode — Mai diz gentilmente. — Uma de cada vez.
— Por que eles não nos avisam?
— O que?
— Por que ninguém diz a você como o casamento vai ser difícil?
Mai suspira pesadamente:
— Porque eu não tenho certeza se faríamos se eles avisassem.
Aproximando-me da prateleira de camisas de botão imaculadas e
sem vincos de Aiden, pressiono meu nariz na gola da sua favorita.
O céu azul do inverno, Freya. É a cor de seus olhos.
Eu sinto uma mistura retorcida de raiva e desejo enquanto
respiro seu cheiro. Água do mar e hortelã, o cheiro quente e familiar
de seu corpo. Eu aperto o tecido até que amasse e vejo ele
desamassar quando eu o solto, como se eu nunca tivesse tocado nele.
É assim que me sinto ultimamente em relação ao meu marido. Como
se ele andasse pela nossa casa e eu fosse um fantasma. Ou talvez ele
seja o fantasma.
Talvez nós dois sejamos.
Batendo a palma da mão na porta do armário e fechando-a, pego
a garrafa de vinho novamente. Um último gole e ele se foi. Freya: 1.
Vinho: 0.
— Toma essa, álcool — eu digo para a garrafa, colocando-a na
minha cômoda com um baque surdo.
— Ele ainda está em Washington? — Mai pergunta, se
aproximando com delicadeza das minhas divagações embriagadas.
Eu fico olhando para o lado dele da cama vazio:
— Sim.
Meu marido está, a meu pedido, a mais de mil e quinhentos
quilômetros ao norte de mim, se recuperando com meu irmão e
devidamente surtando porque eu firmei minha decisão e disse a ele
que não iria aceitar essa merda. Estou em casa, com os gatos,
pirando também, porque sinto falta do meu marido, porque quero
estrangular esse impostor e exigir o cara com quem casei de volta.
Eu quero os olhos azuis-oceano de Aiden brilhando quando eles
pousam em mim. Eu quero seus abraços longos e fortes, suas
fl é b d d d l d
reflexões sérias sobre a vida, o seu pragmatismo nascido de luta e de
resiliência. Eu quero seu corpo alto me pressionando contra os
azulejos do chuveiro, suas mãos ásperas vagando pelas minhas
curvas. Eu quero seus suspiros e gemidos, suas palavras sujas
enchendo meus ouvidos enquanto ele me enche com cada
centímetro dele.
Distraída com aquela imagem mental vívida, bato o dedo do pé
no pé da cama.
— Puta que pariu caralho! — Jogando-me na cama, olho para o
teto e tento não chorar.
— Você está bem? — Mai pergunta. — Quer dizer, eu sei que
você não está. Mas... você sabe o que quero dizer.
— Bati meu dedo do pé — eu grito.
— Ai. Libera isso, Frey. Let it go, let it gooo — ela canta. — Você é,
de acordo com meus filhos, Elsa, Rainha de Arendelle, no fim das
contas.
— Mas com quadris — dizemos em uníssono.
Eu rio em meio às lágrimas que eu furiosamente enxugo. Chorar
não é uma fraqueza. Eu sei disso. Racionalmente. Mas também sei
que o mundo não recompensa as lágrimas ou vê a emotividade como
uma virtude. Eu sou uma mulher empoderada e objetiva que sente
todos os seus sentimentos e luta contra a pressão cultural para contê-
los, para ter minhas emoções em ordem. Mesmo quando tudo que eu
quero fazer, às vezes, é me entregar a uma explosão de lágrimas e
abraçar meus gatos com nome de condimento enquanto choro e
canto junto com minha playlist emo dos anos noventa. Por exemplo.
Como eu estaria fazendo antes. Quando abri a garrafa e comecei a
beber o vinho.
Em um mundo que diz que sentimentos como os meus são
“demais”, cantar sempre ajudou. Em uma casa cheia de estóicos que
amavam meu grande coração, mas lidavam com seus sentimentos de
maneira tão diferente de mim, cantar era uma válvula de escape
para tudo que eu sentia e não podia, ou não queria, esconder. Por
isso, na semana passada, quando percebi que parei de cantar, fiquei
com medo. Porque foi então que entendi o quão entorpecida eu
havia ficado, o quão perigosamente funda estava enterrada minha
dor.
— Freya? — Mai diz com cuidado.
— Estou bem — digo a ela com a voz rouca. Eu limpo meus olhos
novamente. — Ou... eu vou ficar. Eu só queria saber o que fazer.
Aiden disse, seja o que for, ele queria consertar, mas como você
conserta algo quando você nem sabe o que está quebrado? Ou
quando parece tão quebrado que você nem o reconhece mais? Como
ele pode fazer essa promessa quando age como se não tivesse a
mínima ideia de por que estou me sentindo assim?
b á b h h l
Wasabi, sempre empático, percebe minha chateação e pula na
cama, miando alto, ele pisa no meu peito, o que dói. Eu o empurro
suavemente, até que ele se mova para o meu estômago, o que parece
melhor. Eu tenho cólicas como uma desgraçada. Picles é mais lenta
na subida, mas finalmente pula e se junta ao irmão, então começa a
lamber meu rosto.
— Não sei, Frey — disse Mai. — Mas o que eu sei é que você tem
que falar com ele. Eu entendo porquê você está magoada, porquê a
última coisa que você quer é ser o estopim quando ele está tão
retraído, mas você não vai obter respostas se não falar. — Ela hesita
um pouco e depois diz:
— Seria sensato tentar a terapia de casais. Se você estiver
disposta... se você quiser. Você terá de decidir se quer, mesmo se
achar que a situação foi longe demais.
E é então que as lágrimas vêm, não importa o quão rápido eu as
enxugue. Porque não sei se ainda tenho algo para escolher. Estou
com medo que as coisas já tenham ido muito longe. Choro tanto que
minha garganta queima, sinto cada soluço irregular como se meu
peito estivesse rasgando.
Porque nos últimos seis meses, testemunhei a dissolução do
núcleo do meu casamento e agora não sei como reconstruí-lo.
Porque em algum ponto, dano crítico foi feito e não há como voltar
ao que era antes. No corpo humano, é chamado de “atrofia
irreversível”. Como fisioterapeuta, isso não me é estranho, embora
eu lute contra isso tanto quanto posso, trabalhando em meus
pacientes até que eles estejam suando e chorando e me xingando.
Não é minha parte favorita do trabalho fazer eles chegarem aos
seus limites, tremendo, exaustos e gastos, mas a verdade é que essa
dor, é uma dor boa, uma dor que precede a cura. Caso contrário, os
músculos que não forem desafiados encolherão, os ossos que não
forem testados se tornarão frágeis. Use-o ou perca. Existem milhares
de variações da verdade fundamental que é a Terceira Lei de
Newton: para cada ação há uma reação de força igual e sentido oposto.
Quanto menos você exige de algo, menos ele entrega, mais fraco ele
se torna, até que um dia, se torna uma sombra do que um dia já foi.
— Estou tão cansada de chorar — digo a Mai com um nó na
garganta.
— Eu sei, Frey — ela diz suavemente.
— Estou tão brava com ele — rosno em meio às lágrimas.
Seis meses de um declínio lento e silencioso. Não foi uma grande
discussão terrível. Foram milhares de momentos de silêncio que
foram se somando até que percebi que não o reconhecia ou nós, ou,
merda, nem mesmo a mim.
— Você tem todo o direito de estar — Mai diz. — Você está
sofrendo. E você se defendeu. Isso é importante. Isso é grande.
E fi E d f d E l E l
— Eu fiz. Eu me defendi. — Eu limpo meu nariz. — E ele agiu
como se não tivesse a mínima ideia do que estava errado, como se
nada estivesse errado.
— Para ser justa, muitos caras são assim — Mai diz. — Quero
dizer, Pete ficou melhor em carregar mais da carga emocional do
nosso casamento, mas levou tempo e trabalho. Você se lembra de dois
anos atrás, quando eu o chutei para fora?
— Ah. Sim. Ele dormiu no meu sofá.
— Isso mesmo. Então você não está sozinha. Caras fazem isso.
Eles bagunçam tudo e geralmente não têm ideia de como fizeram. A
maioria dos homens não são ensinados a introspectar os
relacionamentos. Eles são ensinados a correr para a garota e, depois
de pegá-la, apertam o botão do piloto automático. Quer dizer, nem
todos os homens. Mas o suficiente deles para que haja um precedente.
— Ok, tudo bem, a maioria deles não tende a fazer a
introspecção. Mas quando as coisas se deterioram assim, como eles
ficam felizes?
— Eu não posso dizer que eles estão felizes. Complacentes,
talvez?
— Complacente — eu digo, sentindo um gosto azedo na minha
língua. — Foda-se a complacência.
— Oh, você sabe que eu concordo.
Não há como Aiden ficar feliz com esse cadáver de um
casamento, não é? E complacente? Essa é a última palavra que eu
usaria para meu marido. Aiden é determinado, centrado, a pessoa
mais dedicada e trabalhadora que já conheci. Ele não se contenta
com nada. Então, por que ele se estabeleceria em nosso casamento?
O que aconteceu?
Ele se contenta em voltar para casa, trocar as mesmas sete frases
sobre como foi o nosso dia, tomar banho separados e depois ir para a
cama, apenas para fazer tudo de novo? Ele está satisfeito com um
beijo rápido na bochecha, satisfeito com não transarmos há meses?
Costumávamos ter tanto tesão um pelo outro, tanta paixão. E eu
sei que essas coisas diminuem com o tempo, mas passamos de uma
explosão ardente para um brilho constante e quente. Eu amava
aquele brilho. Eu estava feliz com isso. E então eu percebi que um
dia, ele tinha sumido. Eu estava sozinha. E era tão, tão frio.
— Isso é uma merda, Mai. — Eu assoo o nariz e jogo o lenço em
algum lugar, não muito específico. Quase desejo que Aiden estivesse
aqui para se incomodar com a bagunça em que transformei a casa.
Eu assistiria seu olho esquerdo tremer e teria alguma satisfação,
meio perversa, em obter algum tipo de resposta real dele. — Isso é
tão ruim.
— Eu sei querida. Eu gostaria de poder consertar isso. Eu faria
qualquer coisa para consertar para você.
lá h b h h
Novas lágrimas correm em minhas bochechas.
— Eu sei.
O sistema de segurança do nosso bangalô na cidade de Culver
emite um bipe, informando que alguém digitou o código de
segurança e entrou.
— Mai, acho que ele está em casa. Eu vou indo.
— Ok. Aguente firme, Freya. Ligue a qualquer hora.
Sentando, enxugo meus olhos:
— Eu vou ligar. Muito obrigada. Te amo.
— Também te amo.
Toco o botão para encerrar nossa ligação assim que a porta se
fecha silenciosamente. Wasabi e Picles saem de cima de mim,
saltando para fora do quarto e correndo pelo corredor.
— Deveríamos ter chamado eles de Benedict e Arnold — eu
murmuro. — Traidores. Sou eu quem alimenta vocês!
— Freya? — Aiden chama, seguido por um estrondo, um baque e,
em seguida, uma série de palavrões murmurados. Acho que deixei
meu tênis bem na frente da porta, nos quais ele deve ter tropeçado.
Opa.
A porta clica atrás dele:
— Freya? — ele me chama novamente. — Sou eu. — Sua voz soa
rouca.
Eu engulo um soluço e tento limpar meu rosto. Depois de uma
semana, pensariam que eu já estaria pronta, que saberia o que dizer
ou como dizer. Mas minha dor é... pré-verbal, emaranhada e aguda.
Um nó de emoções despedaça meu peito, como um arame farpado
quente.
Pulo o colchão, corro para o banheiro do quarto e molho meu
rosto, esperando que alguns punhados de água fria levem embora as
evidências de que estive chorando. Então eu olho no espelho e gemo,
vendo meu estado. Meus olhos estão avermelhados, o que faz
minhas íris parecerem irritantemente pálidas. Meu nariz está rosa. E
minha testa está manchada. Todos os sinais de que tive um bom
choro. Excelente.
O reflexo de Aiden se junta ao meu no espelho e eu congelo,
como uma presa que sente que o predador está prestes a atacar. Ele
está na soleira da porta do banheiro, seus olhos azuis-oceano fixos
no meu rosto. Ele tem uma barba crescida, de uma semana, ela é
castanho-escura como o resto de seu cabelo, o que o faz parecer um
estranho. Ele nunca teve pelos faciais além da barba por fazer, e não
sei se gosto ou odeio. Não sei se estou feliz ou miserável por ele estar
em casa.
O silêncio paira entre nós, até que uma gota d'água cai da
torneira com um ping ecoante!

lh l f A é
Meu olhar percorre seu corpo, amplo e forte. A sensação é
familiar, como aquele primeiro vislumbre de casa depois de umas
férias que duraram alguns dias a mais do que o previsto. Percebo
que senti falta dele, que meu impulso de me virar e me jogar em seus
braços, de enterrar meu nariz em seu pescoço e inspirá-lo, não foi
totalmente apagado. Está subjugado, mas não desapareceu.
Talvez seja um bom sinal.
Talvez isso me assuste pra caralho.
Talvez eu esteja bêbada.
Deus, meu cérebro dói. Estou tão cansada de pensar sobre isso,
nem sei o que pensar sobre o fato de que uma parte de mim quer
estar nos braços de Aiden, para ele virar a cabeça e beijar aquele
ponto atrás da minha orelha, em seguida, sussurrar meu nome
enquanto suas mãos espalmam minha cintura. Que eu quero aquela
sensação de voltar para casa, quero que ele olhe nos meus olhos do
jeito que costumava fazer, como se ele me visse, como se ele
entendesse meu coração.
— Vo– Minha voz falha com catarro e lágrimas, antes de outro
soluço escapar. Eu limpo minha garganta.
— Você já está de volta.
— Desculpe, eu — Ele franze a testa. — Você está bêbada?
Eu levanto meu queixo.
— Plausivelmente.
— Possivelmente, você quer dizer? — Sua carranca se aprofunda.
— Freya, você está bem?
— Sim. Maravilhosamente. Pedi que você fosse embora porque
estou na porra do sétimo céu, Aiden.
Sua expressão vacila. Ele deixa cair sua bolsa no chão, e eu tento
não assistir seu bíceps arquear, a forma como sua camisa abraça seus
músculos redondos do ombro.
— Eu sei que não faz muito tempo. Mas o zelador me expulsou
do meu escritório.
— Você estava — outro soluço me atrapalha — dormindo em seu
escritório?
— Frankie apareceu na cabana alguns dias atrás. Eu não ficaria
enquanto ela e Ren — Ele tosse por trás de um punho — Se
resolviam.
Meu irmão, Ren, terceiro filho depois de mim, depois Axel, está
na cabana em forma de A da família no estado de Washington por
algumas semanas, cuidando de um coração partido. Achei que se
enviasse Aiden lá também, eles teriam pelo menos um pouco de
camaradagem. Ren é gentil e sensível, e ele estava sofrendo com a
separação. É claro que eu esperava que a ex de Ren, Frankie,
mudasse de idéia, e que eles fossem capazes de se reconciliar. Mas
até lá, Aiden poderia dar um pouco de conforto para ele.
h fi lf l d l f
Parece que minha esperança para o final feliz deles não foi em
vão, afinal.
Eu sorrio levemente, imaginando o alívio do meu irmão, embora
em um pequeno e triste canto do meu coração, eu esteja com ciúmes
dele. Essa possibilidade parece tão distante para Aiden e eu.
— Estou feliz por eles — eu sussurro. — Isso é ótimo.
— Sim. — Aiden olha para o chão. — Eu nunca vi Ren sorrindo
assim.
O que deve dizer algo. Tudo que Ren faz é sorrir. Ele é um
imenso raio de sol.
— Então — diz Aiden. — Voltei e dei um jeito, dormi no sofá do
meu escritório, usei os chuveiros da academia, até que o zelador me
pegou e me expulsou porque eles estão lavando os carpetes. Eu sinto
muito. Vou fazer o meu melhor para lhe dar espaço. Quando você
estiver pronta... podemos conversar.
Eu fungo, piscando para afastar as lágrimas.
— Eu sei que você disse que não tem certeza se isso pode ser
consertado, Freya — Aiden diz calmamente. — Mas estou aqui para
dizer que farei tudo o que puder para consertar as coisas. Eu te
prometo isso.
Assentindo, eu olho para a pia.
Depois de um longo silêncio, ele diz:
— Vou dormir no sofá. Dar a você espaço…
— Não faça isso. — Limpo meu nariz, enxugo meus olhos. — É
uma cama grande. Somos altos e nenhum de nós vai dormir bem no
sofá. Apenas... durma do seu lado, e eu durmo do meu. Nós dois
podemos usar pijamas. Vamos descansar um pouco e, pela manhã,
podemos pensar em uma situação melhor para dormirmos daqui
para frente. Talvez possamos encontrar uma cama barata para por
no escritório.
Pisco e pego o reflexo de Aiden no espelho, a emoção apertando
seu rosto.
— Ok.
Eu saio do banheiro, passando apressadamente por ele e
mordendo minha bochecha enquanto sua mão toca suavemente meu
pulso.
— Vá em frente, tome um banho de verdade — digo a ele. — Vou
te dar um pouco de privacidade.
Eu o deixo sozinho em nosso banheiro, o silêncio pairando entre
nós.
Entããão, posso ter negligenciado as idas ao mercado enquanto
Aiden estava fora. Há uma cabeça de couve-flor – eca – dois ovos e
algumas maçãs questionáveis.
Eu me conheço. Estou bem e tonta, e se vou ficar andando na
ponta dos pés perto de meu marido e tentar não criar uma situação
l d d l d l
pelo resto da noite, preciso comer. Pegando nossa lista de lugares
que servem para viagem, presos na porta da geladeira, eu vasculho
os nomes que estão pulando pelo papel.
Eu aperto os olhos até que as letras se acalmem e decido que
pizza parece uma boa ideia. Então, mais uma vez, Aiden é exigente
quando ele quer pizza. Eu posso querer chorar e gritar com ele, mas
passar pelo ritual de ter certeza de que ele está pronto para fazer o
pedido me enjoa. Ou talvez seja a garrafa de Cab Franc que eu tomei
com o estômago vazio.
Qualquer dos dois que seja. Não importa. Posso estar puta e
ainda ser civilizada. Posso perguntar ao cara se ele quer pizza sem
que isso signifique que tudo está perdoado e esquecido.
Eu culpo o fato de estar bêbada, com fome e dependente da
memória muscular, no porquê eu entro direto no banheiro sem
considerar que meu marido semi-afastado está muito mais do que
semi-nu no chuveiro. Quando estou prestes a falar, ouço seu
rosnado, suave e faminto. Todos os pelos do meu corpo se arrepiam.
Ele exala asperamente, e um som baixo e quebrado pontua sua
respiração, como um pequeno soluço que ele está tentando abafar.
Meu coração dispara no peito, enquanto espio ao virar da quina da
parede, através da porta de vidro do chuveiro, e congelo.
O longo corpo de Aiden. De costas para mim. Os músculos
tensos de sua bunda flexionada, a parte profunda de seus quadris
está sombreada, gotas de água deslizam para baixo. Uma mão está
espalmada nos azulejos enquanto a outra está escondida, e seu braço
se movendo.
Minhas bochechas coram quando eu percebo que ele está se
masturbando, algo que eu não via Aiden fazer há anos, quando
costumávamos ser sexualmente ativos e fazíamos coisas divertidas
como quando nos tocávamos enquanto olhávamos um para o outro,
vendo quem poderia durar mais tempo até estarmos pulando um no
outro e gozando como realmente queríamos: juntos, tão
profundamente conectados–
Outro rosnado baixo perfura o silêncio, outro som quebrado,
engolido, e então:
— Freya — ele sussurra.
Uma torrente de lágrimas surge em meus olhos. Meu nome sai
de seus lábios e ecoa ao nosso redor.
Ele chama meu nome baixinho de novo e de novo, em seguida,
encosta a testa nos ladrilhos enquanto geme. Seu braço voa, o som
de sua mão deslizando por seu pau, é mais rápido, mais úmido.
Meu corpo responde obedientemente, lembrando-se da sensação
de cada canto tenso e sensível despertar e arder, de como minhas
mãos corriam por suas costas, descendo, para puxá-lo para perto,
enquanto imploro que ele me dê tudo.
b d d l
Desejo e ressentimento se embatem dentro de mim, uma colisão
frontal de emoções opostas. Ele me quer tanto, ele está fodendo sua
mão enquanto chama meu nome, mas ele nem tentou fazer amor
comigo há meses? Ele quer consertar as coisas, mas cabe a eu falar?
O movimento de Aiden vacila. Um gemido profundo e ferido o
deixa quando ele levanta a mão e a bate contra a parede.
— Porra — ele geme. Colocando a testa nos ladrilhos, ele começa
a batê-la ritmicamente.
E então... os gemidos se tornam constantes, irregulares, grossos.
O som sai dele que eu percebo que nunca ouvi. Aiden está...
chorando.
Devo ter feito algum tipo de som também, porque a cabeça de
Aiden levanta. Ele me ouviu. Lentamente, ele olha por cima do
ombro e encontra o meu olhar. Seus olhos azul oceano estão tão
vermelhos quanto os meus, sua mandíbula dura atrás de sua barba
escura. O banho deixou seu cabelo preto, cílios longos. Ele me olha
de um jeito que não olhava há muito tempo.
Nossos olhos se fixam e, de alguma forma, sei que estamos nos
lembrando da mesma coisa. A última vez que fizemos sexo. Aqui, no
chuveiro. Como tudo começou descontroladamente, como se
estivéssemos nos agarrando, tentando nos apegar a quem fomos um
dia, fazendo exatamente o que costumávamos fazer: brincar. Toquei-
me até gozar sob a água, ele trabalhando duro enquanto eu o
encarava.
Lembro-me de como seus olhos tremeram, seu braço vacilou e
sua boca se abriu quando uma última lufada de ar o deixou. Como
ele se espalhou pelos ladrilhos enquanto seus olhos nunca deixavam
os meus, como sempre. Então ele me arrastou para fora do chuveiro,
me enxugou e se ajoelhou aos meus pés. Eu gozei contra sua boca de
novo e de novo... E então nós fizemos isso mais uma vez, com tanta
urgência que nunca chegamos na cama, éramos como uma erupção
solar, queimando brilhante. Antes de se extinguir. E ficar frio e
vazio. Um vazio muito escuro sem a beleza radiante que acabara de
iluminá-lo.
Eu enxugo minhas lágrimas, destruindo o momento. Aiden pisca
e desvia o olhar e dá um passo para longe sob a água.
— Sinto muito — murmuro, olhando para qualquer coisa, mas
seu corpo. — Eu não quis...
— Está tudo bem, Freya — ele diz baixinho, passando shampoo
no cabelo. Mas posso perceber que ele não quis dizer isso. Eu o
envergonhei. Invadi sua privacidade.
Porque acho que precisamos disso agora. Privacidade.
Eu vou fazer meus olhos não olharem para ele. Não a parte dele
que eu conheço tão intimamente, não suas pernas longas e quadris
poderosos, mais brancos na parte superior, bronzeados do meio da
b h é b d
coxa para baixo porque o homem é uma aberração da natureza
sortuda que fica bronzeada no momento em que chega o verão, mas
tem a pele alabastro mais adorável no inverno. É mais difícil do que
deveria ser.
— Eu vim — digo, firmando minha voz — para perguntar se
você quer pizza. Eu ia pedir porque não consegui ir ao mercado.
— Vou fazer compras amanhã.
— OK. Mas esta noite, eu preciso comer, então estou
perguntando sobre pizza.
Ele enxagua o cabelo.
— Pizza está bom.
— Tudo bem. Obrigada.
Eu corro para fora do banheiro, com meu coração batendo forte.
E então eu sinto o sal cair na minha ferida, uma pontada de cãibras
cada vez mais profunda que atormentou meu estômago o dia todo,
os primeiros sinais do que eu sabia que estava por vir, mas tenho
temido do mesmo jeito: outro ciclo e nenhum bebê. Mais vinte e oito
dias com um marido que mal reconheci nos últimos seis meses,
desde que decidimos que eu pararia de tomar a pílula. Nenhuma
pergunta preocupada sobre como me senti ou se estou atrasada ou o
que preciso. Mais um mês com um marido que chega do trabalho
cada vez mais tarde, que está sempre ao telefone e faz uma pausa
nas ligações quando entro na sala. Um marido que mal reconheço.
Jogo a lista de restaurantes para viagem no balcão, ligo para a
pizzaria e abro uma garrafa de vinho. Depois de servir um copo
gordo de vinho tinto, tomo um gole. Então pego a garrafa e encho
meu copo. Nesse ritmo, vou acordar com uma bela ressaca de vinho.
Amanhã vai ser uma merda. Mas meu marido voltou para casa.
Isso ia ser uma merda, de qualquer jeito.
2

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ W h a t S h o u l d I D o ” - J a y m e s Yo u n g

—V quê?
Eu fico olhando para o céu. Azul claro há apenas alguns
momentos, agora está cercado por nuvens negras de tempestade
sinistras. Parece a porra da minha vida.
— Eu voltei para casa.
— Não, cara — suspira Pete. — Você não faz isso. Merda, você me
disse isso quando Mai me colocou para fora dois anos atrás.
Isto é verdade. Mas principalmente porque eu estava preocupado
que sua esposa pudesse literalmente estrangulá-lo. Ele precisava
deixá-la esfriar. Meu problema é o oposto. Freya já está fria, o que,
apesar de seus cabelos loiros claros e olhos azul-acinzentados
glaciais, não faz parte de seu temperamento normal. Ela é um pouco
reservada com estranhos, mas uma vez que se sente confortável
perto de você, ela é afetuosa e expressiva, calorosa e cheia de piadas
e risadas sedutoras.
Ou ela era.
Foi assim que eu soube que algo estava muito errado. Cheguei
em casa e foi como se o sol tivesse se escondido atrás de uma nuvem
espessa, como se todos os pássaros canoros em quilômetros tivessem
deixado as árvores. Freya estava quieta. Muito, muito quieta. Percebi
que não conseguia me lembrar da última vez que a ouvi cantar no
chuveiro ou cantarolar baixinho enquanto folheava o correio.
Então eu olhei para os meus pés. Eu vi uma mala feita e uma
passagem com meu nome nela. Foi quando eu soube que meu
mundo estava desmoronando.
— Aiden — diz Pete. — Fale comigo. O que você estava
pensando?
— O que eu deveria fazer? Ir desfrutar de uma estadia na sua
casa? Sua esposa teria feito espetinhos com as minhas bolas.
A esposa de Pete, Mai, é a melhor amiga de Freya e sem dúvida
sabe o que está acontecendo. Ela me mataria durante o sono se eu
tentasse ficar na casa deles.
— E quanto ao seu amigo com quem você está fazendo toda
aquela merda de negócios secretos? Dave?
Eu rolo meus olhos para a provocação.
— Dan mora muito longe do trabalho. Não Dave. — Pete está
chateado por eu estar ocupado com o aplicativo e por não lhe contar
d l d lh
mais do que alguns detalhes vagos.
Sim, sua esposa também não está nada feliz.
Meu peito se contrai fortemente.
— Pete, eu tenho que ir. Já estava falando ao telefone com Dan e,
se ficar por mais tempo aqui, tenho quase certeza de que vou ter que
voltar andando da galeria de arte para casa.
— Vá. Me ligue mais tarde.
— Sim. Tchau.
Eu desligo e fico olhando para dentro, me preparando para a
multidão e o barulho, a pressão claustrofóbica das pessoas quando
minha mente já está zumbindo com tantos pensamentos, pulsando
com uma energia nervosa que faz meu corpo implorar por uma
corrida que eu não tive tempo para, em muito tempo. Minha
ansiedade está terrível para caralho hoje. Não que estivesse muito
melhor ultimamente.
Tentei explicar isso a Pete uma vez, quando ele perguntou, como
um bom amigo, o que estava acontecendo. Eu disse a ele que
ansiedade é como o Whack-A-Mole1. Imprevisível, sempre
esperando sob a superfície. Às vezes é um gatilho que você pode
identificar e lidar com, mas mesmo assim, de forma inesperada a
ansiedade chega na sua cabeça e você está girando, desejando que
você pudesse localizar essa coisa, para que haja uma coisa, que o
deixa dessa maneira para que você possa isolar essa coisa e acabar
com ela, ou... mais precisamente, consertá-la. De alguma forma.
A ansiedade nem sempre é debilitante e, para mim, na maioria
das vezes, não leva à depressão, porque meus remédios parecem
ajudar nesse aspecto. Mas a ansiedade não vai embora totalmente.
Nunca sai de casa. Ela se esconde. Ela te lembra de que está lá.
Esperando sua hora. Pelo menos para mim, é o que acontece.
Levei muito tempo, e muitas horas de terapia, para aceitar que
minha ansiedade torna minha vida mais difícil, mas não me torna
errado ou prejudicado ou... bem, qualquer coisa ruim. Apenas isso.
Às vezes é silencioso e às vezes barulhento, e não importa o que
aconteça, aprendi a lidar com isso. Sou durão. Eu consigo passar por
cima. E alguns dias, passo muito tempo desejando que houvesse
alguma bala de prata que fizesse a ansiedade desaparecer da minha
vida para sempre.
Minha terapeuta me encorajou a ser compassivo comigo mesmo,
em vez de querer me consertar ou mudar como sou. E escute, eu
gosto dela. Ela é boa. Merda, posso até admitir que ela está certa.
Mas isso não significa que eu goste disso. Aceitação não é solução. E
eu quero soluções. Eu quero ser capaz de consertar isso.
Porque eu amo consertar as coisas. Eu amo consertar as pessoas,
meu cunhado Ryder e sua namorada de longo tempo, Willa, podem
te dizer isso, já que eu os juntei com habilidade. Meus alunos dirão
d á d fi d
que adoro usar a matemática para corrigir seus desafios de gestão
empresarial, para que possam planejar seu sucesso. Freya sabe mais
do que ninguém, que adoro consertar objetos quebrados, montar
móveis, remendar nosso telhado, transformar bagunça em
arrumação. Eu fico feliz para cacete com isso.
Apesar de me dar uma bronca quando eu ocasionalmente
exagerava em meus esforços de casamenteiro, e a vez que eu estava
um pouco apegado demais em tentar recuperar uma cadeira, que era
uma causa perdida, Freya sempre me fez sentir como se meus
impulsos de conserto, que moldam nossa vida, são algo que ela
admira em mim. Ela nunca me fez duvidar que ela me ama pelo que
sou. E eu a amo por isso.
Mas, embora ela seja compreensiva, empática - tão, tão empática -
há um limite para o que estou disposto a colocar em seus ombros.
Ela não sabe que minha ansiedade, que às vezes é grande, mas
geralmente administrável com uma dose generosa de Prozac e
sessões de terapia periódicas, está agora quase me debilitando. Eu
me assegurei disso.
Sim, eu sei. Não falar é um grande problema. Mas é o seguinte.
Freya sente demais, tanto por mim como pelas outras pessoas, é o
jeito dela. Sei mais do que ninguém como isso pesa nela, como,
quando o fardo se torna muito grande, ela chora no chuveiro e canta
canções tristes quando está trabalhando no quintal. Como ela rasteja
em meus braços à noite e soluça silenciosamente até que sua tristeza
vaza para seu sono e seus sonhos se tornam irregulares. Eu sei como
ela cantarola para os gatos e os abraça com força depois de um dia
difícil com os pacientes. Freya tem o mundo em seu coração. Tudo o
que estou fazendo é protegê-la do pior, compartimentando, para que
ela tenha alguém em quem se apoiar quando estivermos juntos.
Achei que estava fazendo um bom trabalho.
Mas estou começando a me perguntar, desde que ela apontou
seu limite, se fui pior em esconder minhas lutas do que pensava, se
não sou tão bom em protegê-la quanto gostaria. Estou me
perguntando se deu tudo errado, e estive me perguntando isso
desde que cheguei em casa do trabalho e ela literalmente tinha feito
uma mala para mim com uma passagem de ida e volta em cima dela.
Tentei me concentrar no fato de que não era unilateral. Isso foi
um bom sinal, certo?
Eu tinha que esperar que sim.
Pondo meu telefone no bolso e me preparando para a explosão
de som ecoante, eu volto para dentro desta galeria de arte moderna,
um espaço em estilo de armazém no artístico e eclético bairro de
Fairfax em Los Angeles, que está mostrando a arte do meu cunhado
Axel. Antes mesmo de a porta se fechar atrás de mim, meus olhos
encontram Freya, e meu sistema para. Há um cara sorrindo para ela
lí U l d d
com interesse explícito. Uma explosão de medo, preocupação e
possessividade queima em mim.
Eu não sou um homem ciumento. Freya é minha parceira, não
minha posse. Dito isso, quando um idiota está olhando para o decote
do vestido da minha esposa, e ela não está, como o passado dizia,
"acidentalmente" despejando bebida em suas botas de aparência cara
ou dando a ele seus olhos de Sra. Congelante, me sinto justificado
em minha resposta. E eu sinto minhas pernas se movendo rápido,
me levando direto para ela.
Eu cortei a multidão em torno da galeria, meus olhos fixos nela.
Ondas platinadas cortam seu queixo, pele luminosa e curvas de dar
água na boca. Seu vestido preto balança em torno de seus joelhos,
balançando ritmicamente porque Freya não consegue evitar se
mover quando ouve música. Ela inclina a cabeça e bebe do canudo
enquanto ele sorri para ela. Merda, ela está flertando?
Não que eu não esteja zangado com ela. Não, é minha culpa.
Estamos aqui porque estraguei tudo. Bem, tenho sorte de estarmos
aqui no mesmo espaço esta noite, ponto final. Freya não expressou
alegria quando me convidei para ir à mostra de arte de Axel,
desesperado por um tempo com ela, para mostrar que estou aqui,
comprometido conosco, mesmo quando odeio espaços barulhentos e
caóticos como este. Ela mal falou comigo no caminho ou quando
chegamos, em vez disso ficou conversando com seus irmãos e
Rooney, a melhor amiga de Willa, da faculdade, que está por aqui há
tanto tempo que agora é uma Bergman honorária.
Mas não vou deixar isso me deter. Vou consertar essa merda. E
minha esposa precisa ver isso, que estou aqui e não vou a lugar
nenhum.
— Freya. — Eu coloco a mão em suas costas, suspirando de alívio
quando ela não se curva para longe disso. Na verdade, posso jurar
que ela até se inclina. Só um pouco. Parece monumental.
— Aiden, este é George Harper. Ele está apresentando aqui
também. George, este é meu marido, Aiden MacCormack.
Ahá. Toma aí, George. Eu sou o marido dela.
Eu estendo minha mão e aceito o aperto do cara, lembrando a
mim mesmo que esmagar seus dedos não é razoável. Freya é uma
mulher linda. Ele teria que ser insensato para não ficar deslumbrado.
Então eu o deixei passar com um aperto um pouco forte demais.
— Parabéns — digo a ele. — Belíssimo show.
— Obrigado. É, mesmo — ele diz. — E você está aqui por quem,
de novo?
— Axel Bergman. — Freya acena com a cabeça em direção ao
canto do irmão na galeria. Ax está de costas para nós, alto e estreito,
as mãos nos bolsos, olhando para uma de suas pinturas.
— Quais são as suas? — ela pergunta.
d d l G l d b
Respondendo a ela, George gesticula por cima do ombro, meu
olhar, e então meu foco vagando da conversa para a sala ao nosso
redor. Primeiro, para o irmão de Freya, Ren, um atacante do LA
Kings, que está claramente sendo abordado por um fã de hóquei
enquanto nos busca bebidas no bar da galeria. Então eu vejo Rooney,
enquanto ela vagueia pela seção de Axel da galeria.
Axel. Ren. Rooney. Freya. A namorada de Ren, Frankie, não vem.
Nenhum dos outros irmãos de Freya está vindo, então não tenho de
procurar por eles. Ryder e sua namorada, Willa, ainda estão no
estado de Washington. Ziggy, o bebê da família, não vem a espaços
lotados como este. Oliver e Viggo, os filhotes de homem, não são
confiáveis perto de coisas quebráveis. E seus pais, nas palavras de
Axel, "não têm permissão para vir" porque esse programa é "muito
gráfico".
Eles vão visitar a galeria e ver seu trabalho depois que Axel
voltar para Sea le, onde ele mora. Ele inventa uma desculpa em
cada mostra de arte do porquê eles não podem vir, e eles nunca
discutem com ele, por causa de algum tipo de regra não dita dos
Bergman que eu não entendo. Então eles visitam mais tarde, quando
ele não for ficar sabendo. Isso é o que eles sempre fazem.
Localizar meu pessoal reduz o volume do barulho do cálculo do
meu cérebro para um zumbido constante. Todo mundo está
contabilizado. Respiro fundo e me concentro novamente na conversa
de Freya e George. Perdi a noção de quem disse o quê, mas vou
supor que era principalmente George falando sobre si mesmo.
— Essa é a minha abordagem em poucas palavras — diz ele.
Acertei em cheio.
Freya olha de relance entre o trabalho de George e o de seu
irmão.
— Isso é interessante. Muito diferente do de Axel.
— Você pode dizer isso de novo. — George olha por cima do
ombro para Axel, que está levando um tapinha no ombro de alguém
com uma câmera no pescoço e um sorriso nervoso. Seu perfil severo
enquanto ele olha para ele é tão Axel que eu poderia rir. O pobre
homem odeia publicidade mais do que eu odeio armários
bagunçados.
— Axel é… — George esfrega a nuca e dá de ombros. — Bem...
ele é prolífico. Eu vou dar isso a ele.
Os olhos de Freya ficam gelados.
— Significa o quê? — A mais velha de seus irmãos, Freya os ama
ferozmente, de forma protetora. No momento em que ela sente um
cheiro de merda jogada em sua direção, ela está no modo mamãe-
ursa.
A risada nervosa de George desaparece tão rápido quanto
chegou, quando ele registra a raiva dela.
d l d d l á d d d é
— Bem– diz ele com cuidado, ele está andando na ponta dos pés
através de um campo minado verbal — Significa que ele conseguiu
pintar muito.
— Na verdade, sei o que a palavra prolífico significa — Freya diz
acidamente, enquanto segura o canudo entre os dentes.
George puxa seu colarinho, começando a suar.
— Eu serei honesto. Suas coisas me assustam. Ele também me
deixa assustado.
Freya agarra seu copo com tanta força, e estou esperando que se
estilhace em seu aperto.
— Alguns dos criadores mais reverenciados do mundo da arte -
suas excentricidades e seu trabalho visionário - foram mal
compreendidos em sua época. Van Gogh sendo um favorito meu.
George pisca para ela, sem palavras.
— Talvez você possa questionar seu desconforto sobre meu
irmão e sua arte e considerar que, quando a sua e todas essas
tentativas mesquinhas de arte forem esquecidas, Axel e sua obra
serão imortalizados. Bom Dia senhor!
Freya em sua melhor mamãe ursa. Ela gira, me agarra pelo braço
e nos faz passar por ele, na direção de seu irmão.
— Você acabou de citar Willy Wonka para ele? — Eu pergunto.
Sua boca se curva e meu coração pula uma batida. Freya quase
sorriu para mim. Parece a primeira gota de chuva em uma seca.
— Ele tem sorte de eu não ter jogado uma das maldições de
Frankie nele.
A namorada de Ren, Frankie, tem uma vibração de bruxa e uma
inclinação para apontar sua bengala, como uma varinha, para
pessoas ofensivas e lançar feitiços em sua direção. Eu estava mais
esperando que Freya jogasse seu copo, ou o que ela estava bebendo
bem na cara dele.
— Ele teria merecido — digo a ela.
— Essa é a verdade. Ax! — Freya diz, passando por mim.
Axel se vira e cruza os olhos com Freya, cumprimentando-a em
silêncio. Esses dois têm algo que tenho vergonha de dizer que invejo:
um entendimento implícito. Eu nunca tinha visto duas pessoas
brigarem em três palavras e olhares duros até eles, mas então eu vi
momentos como este também, conexão silenciosa e pura. Freya está
perto dele, apertando sua mão uma vez, enquanto ela olha para a
pintura na frente deles. Muito vermelho contra uma tela totalmente
branca, em um padrão que me deixa um pouco tonto. Merda, agora
pareço aquele idiota do George.
— Muita emoção, certo? — Rooney se junta a mim em uma das
mesas estreitas na altura de um bar colocadas estrategicamente ao
redor do espaço. Seus olhos verde-azulados vagam pela parede onde
a arte de Axel está montada.
U l d l d l
— Uma arte visual como a dele diz muito, sem uma palavra.
Sinto que tudo o que faço é falar, mas nunca transmito tanto quanto
sua arte expressa.
Seus olhos dançam entre Freya e Axel, a mesma inveja que sinto
apertando sua expressão. Tive um palpite sobre aqueles dois, Ax e
Rooney. Tenho um bom senso de química, e é por isso que sou um
bom casamenteiro. Foi assim que Ryder e Willa tiveram seu começo,
eu os tornei parceiros de projeto quando eles eram alunos em minha
aula de matemática de negócios. Posso ter exagerado um pouco nisso,
mas o ponto se mantém. Tenho boa intuição sobre essas coisas.
— É isso que você ganha com um Bergman — digo a ela. — Eles
são muito econômicos com seus sentimentos, exceto por Freya e seu
pai…
— E eu — Ren diz.
Eu me assusto e seguro meu peito com meu coração disparado.
— Você é assustadoramente furtivo.
Eu também estou assustado para cacete.
— Discrição, é como se chama — diz ele, levantando uma coleção
ridiculamente coordenada de coquetéis em suas mãos grandes. —
Peguem os seus e rezem para que não caiam.
Rooney ri enquanto tira seu gin com tônica. Pego minha Coca
Diet e também o que Ren indica é a bebida de Freya, que espirra na
minha mão. Eu lambo minha mão, esperando o cheiro forte de
vodka, mas é apenas... club soda.
Club Soda. Quase deixo cair o copo.
Sem álcool. Por que? Por que não há álcool? Outra noite, quando
voltei para casa, ela estava bêbada. Mas e se desde então ela
percebeu…
A sala balança sob mim quando meu olhar pousa em Freya e
meu coração começa a bater. Eu vasculho meu cérebro. Quando foi a
última vez que peguei absorventes quando fazia tarefas? Quando foi
a última vez que ela reclamou de cólicas e precisou da bolsa térmica?
Minha respiração acelerou.
Merda.
Merda.
Os últimos meses passam diante dos meus olhos, me prendendo
com uma clareza impressionante e convincente. Tenho estado
distraído com o trabalho, lutando pelo financiamento do aplicativo,
revisando nossa apresentação para potenciais investidores, fazendo
tudo o que posso para que o futuro possa ser financeiramente
seguro, desde que decidimos que ela pararia o anticoncepcional e
pararíamos de prevenir a gravidez …
Seis meses atrás.
Já se passaram seis malditos meses, e não consigo me lembrar da
última vez que conversamos sobre isso, a última vez que percebi se
l h d S d d d b
ela tinha menstruado ou não. Senti o peso de nossas vidas dobrar
com a promessa iminente de um bebê, um bebê que eu quero, sim,
mas que sinto uma enorme responsabilidade de garantir que não
tenha a infância que tive, e fui consumido por o que isso acarreta
desde então.
Oh Deus. Eu não tenho ideia de quão longe ela está, como ela se
sente. Por que ela não me contou?
Porque você não perguntou, idiota.
Puta que pariu. Não admira que ela me colocou para fora de
casa.
Há mais do que isso, e você sabe disso.
Eu afundo esse pensamento perturbador nos cantos da minha
mente assim que Ren coloca a mão no meu ombro. Eu olho para o
meu cunhado, um gentil gigante ruivo, seu cabelo de hóquei
desleixado, sua barba aparada em uma barba ruiva agora que os
playoffs acabaram. Ele tem os olhos claros e marcantes de Freya, que
me examinam com preocupação.
— Você está bem, Aiden? Você parece chateado.
Ren é o emocionalmente versado. Foi para ele que derramei
minhas entranhas quando Freya me expulsou. Certo, ele não era o
mais empático, ele e Frankie estavam lutando para encontrar o
equilíbrio, que agora é sólido, mas ele sabe mais do que o resto dos
irmãos sobre o que está acontecendo.
— Eu estou bem — eu digo, enxugando minha testa suada com a
condensação fria pingando do copo de Freya. — Eu estou, uh...
pensando em terminar o festival de amor entre irmãos e dar a Freya
sua bebida.
Ren sorri.
— Boa sorte. Mas eu recomendo que você espere até que acabe.
Rooney bebe seu coquetel.
— Eu gostaria de ter irmãos.
— Não vou mentir — Ren diz, tomando um gole — Eu não sei o
que faria sem uma família grande. E estou muito feliz por Frankie
querer uma casa cheia.
Abro a boca para dizer algo cauteloso como: Vocês só estão juntos
há alguns meses. Você já deveria estar planejando assim? Você não está com
medo de que ele possa desmoronar? Mas então me lembro de como me
senti dois meses depois de estar com Freya, como se ela fosse ar e luz
do sol, água e vida, e se eu a perdesse, simplesmente pararia de
existir. E nunca parei de vê-la assim. Eu só fiquei melhor em me
preocupar em perdê-la, tão preocupado que começou a me roubar as
horas que eu costumava dedicar a absorvê-la, desfrutando de sua
alegria, sua paixão e risos e beijos.
Suspirando, bebo minha Coca Diet e, não pela primeira vez,
gostaria de não ser tão rígido com minha política de álcool. Eu
d bd h
adoraria um zumbido entorpecente na minha mente agora. Puta
merda, eu adoraria.
Rooney sorri para Ren.
— Quando você e Frankie tiverem bebês, eles serão tão fofos.
Com seus grandes e lindos olhos castanhos e seu cabelo. Ah. Tenha
muitos para que eu possa abraçá-los.
— Tenha o seu próprio! — Ren diz de brincadeira. — Eu estarei
acumulando eles, cheirando aquele…
— Cheiro de recém-nascido — dizem eles em uníssono.
Meu estômago dá um nó duplo. Um bebê.
— Como está Frankie? — Rooney pergunta.
Ren dá um sorriso apaixonado.
— Ela é ótima. Ela apenas sentiu que esta noite seria demais.
Frankie, como o mais jovem Bergman, Ziggy, está no espectro
autista, brilhantes, sem filtros e rapidamente sobrecarregados por
espaços movimentados e barulhentos como a casa de Bergman ou
uma galeria de arte movimentada.
Minha ansiedade também não é grande fã desses espaços.
— Mulher inteligente — murmuro.
Ren acena com a cabeça.
— Sim. Então ela está tendo uma noite tranquila em casa.
Rooney alisa o cabelo loiro-escuro para trás e sorri suavemente.
— Bem, estou feliz por ela se sentir confortável fazendo o que
precisa, mas sinto falta de vê-la. Eu realmente gosto dela, Ren.
Ren sorri novamente.
— Sim. Ela é a melhor.
— Quem eu? — Freya diz, se colocando e pegando sua bebida. —
Aw, irmão. Você é tão doce.
Ren balança a cabeça e sorri.
— Quem é doce? — Axel diz, de olhos em Rooney.
— Esta aqui, dã — Freya diz, passando um braço em volta da
cintura de Rooney. Rooney sorri, suas bochechas corando enquanto
Freya a puxa para uma conversa.
Quando os penetrantes olhos verdes de Axel finalmente deixam
Rooney, eles giram em minha direção, me penetrando. Isso me faz
imaginar se Freya derramou a sujeira enquanto eles estavam de
costas para nós.
— Aiden — diz ele, sua voz profunda e uniforme. Não é sua
expressão mais amigável, mas, novamente, Axel geralmente tem
uma expressão suave e ilegível em seu rosto.
Eu aceno com a cabeça.
— Ax.
— Obrigado por vir. — Ax raramente dá um abraço, e quando
está disposto a abraçar, ele deixa isso bem claro. Ele não faz desta
vez. Então, apertamos as mãos.
C d b f d l d
— Como sempre, tudo muito bem feito — digo, gesticulando
com meu copo para a parede da galeria. — Isto é incrível.
Seus olhos estão de volta em Rooney.
— Mhmm.
Eu paro, esperando que ele me dê sua atenção. Ele não dá. Ele
observa Rooney enquanto ela ri com Freya, enquanto elas se viram e
sorriem para alguém da galeria pedindo para tirar sua foto.
— Ax, você não é sutil — eu sussurro.
— Verdade — diz ele, ainda olhando para ela. — Ninguém nunca
chamou meu trabalho de sutil.
Freya e Rooney estão sendo fotografadas. Ren está em seu
telefone, provavelmente mandando mensagem de texto para
Frankie. Somos apenas nós. Então eu me arrisco e digo:
— Você poderia deixar o casamenteiro tentar a sorte…
— Aiden — Ax me corta quando seus olhos encontram os meus
novamente. Há um pouquinho de vermelho em suas maçãs do rosto.
Eu luto contra um sorriso.
— Sim, Axel?
— Não existe um provérbio do tipo “quem vive em casa de vidro
não deve atirar pedras''? Lide com sua própria vida antes de
começar a tentar orquestrar a minha.
Meu sorriso desaparece. Ela lhe contou.
Freya e Rooney se afastam do fotógrafo, e a conversa do nosso
grupo converge para a usual confusão da família Bergman. Fico em
silêncio e tomo minha bebida, mais do que nunca, sou um estranho
para mim mesmo, para pessoas que um dia se sentiram como
minhas.
3

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ A l a s k a ” - M a g g i e R o g e r s

Tento não pensar muito, ainda menos deixar transparecer que é o


jantar do trigésimo quinto aniversário de casamento dos meus pais.
Que eles pareçam estar tão apaixonados como sempre – papai
tocando mamãe sempre que pode, mamãe encostada nele, um
sorriso aquecendo seu rosto.
E meu marido está atrasado.
No banheiro, eu verifico meu telefone na minha bolsa
novamente, esperando as senhoras terminarem. Uma mensagem:
Desculpe, estou atrasado. Houve um imprevisto no escritório.
— Agradeço a Jesus, no Seu Aniversário! — A voz de Frankie
ecoa da cabine do banheiro.
— Eu finalmente menstruei. — Frankie tem um dom para
blasfêmias criativas, mas nem mesmo essa pode me fazer rir. Porque
embora eu me lembre daqueles anos, nervosa observando o
calendário e orando para que minha menstruação descesse, agora é o
contrário. Agora eu prendo minha respiração enquanto a contagem
regressiva do calendário diminui, rezando para que as cólicas
maçantes e doloridas não venham, que meus seios doam pelo
motivo certo.
Não estou preocupada do ponto de vista da fertilidade. Eu sei
que as coisas levam tempo e a concepção é rápida para alguns, não
para outros. Eu só quero tanto, que dói. É uma dor que nunca sai do
meu peito, com cada mãe que vejo, seja grávida, com filhos nos
braços ou correndo na frente dela, a pergunta incômoda na parte de
trás da minha cabeça: Quando serei eu?
— Eu também! — minha irmã, Ziggy, diz da cabine vizinha. —
Ei, talvez estejamos sincronizadas agora. Isso não é um fato? Eu sinto
que li em algum lugar que as mulheres que andam perto umas das
outras de alguma forma seguem o mesmo ciclo. Algo a ver com
feromônios, ou hormônios, ou algo assim. Queria que Rooney
estivesse aqui. Esta é a especialidade dela.
Rooney é uma gênia descarada da ciência que estaria
absolutamente gritando sobre a transmutabilidade dos hormônios
femininos se ela estivesse aqui. Mesmo que ela tenha vindo até nós
por meio de Willa, a namorada de Ryder, e Willa não esteja aqui, não
teria sido estranho para Rooney comparecer de qualquer maneira.
Ela se tornou tão arraigada na família que parece estranho quando
l ià d l
ela não vai às reuniões dos Bergman. Mas ela recusou nosso convite
esta noite porque está estudando para o exame da Ordem.
O que descobri com Axel. Que ficou corado quando eu sorri e
perguntei como ele sabia disso. Ao que ele não teve resposta, exceto
para me dizer que eu tinha batom nos dentes. Isso me fez lutar com
a câmera do meu telefone tentando verificar, mas quando percebi
que não havia, ele estava do outro lado da nossa mesa, conversando
com papai.
Idiota. As pegadinhas são, infelizmente, tão comuns entre os
irmãos Bergman quanto o oxigênio que está no ar.
A vida amorosa de Axel não é da minha conta, de qualquer
maneira. Mas Aiden é um casamenteiro assertivo, e na década em
que estivemos juntos, suas tendências começaram a passar para
mim. Vejo pares e química, casais e possibilidades, o tempo todo. Ao
contrário de Aiden, porém, tenho o bom senso de deixar as pessoas
em paz, na maioria das vezes, para descobrir por si mesmas.
Os vasos sanitários dão descarga e, um momento depois, as
portas destravam. Frankie e Ziggy saem de suas barracas ao mesmo
tempo, juntando-se a mim na pia, onde estou bagunçando meu
cabelo que não vai se comportar bem esta noite.
Nossos reflexos são como o início de uma piada: uma loira, uma
ruiva e uma morena. Eu, então Ziggy, com seu corpo esguio que ela
ganhou da mamãe, cabelos ruivos como os de nosso pai e seus olhos
verdes vívidos, que são da mesma cor do vestido dela. Frankie
franze a testa para seu reflexo, cachos longos e escuros e olhos
castanhos, mantendo seu esquema de cores usual de um vestido
preto e uma bengala de acrílico cinza, um auxiliar de mobilidade
para ajudar com a dor e a instabilidade que a artrite causou em seus
quadris.
— Eu deveria saber que isso ia acontecer — diz Frankie,
apontando para uma pequena protuberância em seu queixo. — As
espinhas da menstruação.
— Por que você está tão preocupada com a gravidez? — Ziggy
pergunta. — Você toma a pílula, certo?
Frankie ri abertamente.
— Sim. Mas ainda estou paranóica de que, pela força absoluta da
vontade de um ruivo gigante, Ren vai me engravidar. Ele encara os
bebês como eu encaro os hambúrgueres: como se nunca houvesse o
suficiente deles e como se fossem vitais para a existência. O homem
pensa que é sutil, mas não é.
— Sempre que estou com um cara — diz Ziggy. — Estou
dobrando. Camisinhas e a pílula…
— Ziggy — eu interrompo. — Você ainda não está fazendo sexo,
está? — Ela tem apenas dezessete anos e ainda é tão jovem,
emocionalmente.
fi lh b lh
Ziggy fica vermelha e brilhante.
— Nossa, Freya. Não. Mas eu tenho uma mãe já no meu pé, me
falando sobre abstinência e sexo seguro, ok?
Tento não ficar magoada com o quão chateada ela parece com
minha pergunta. Se fossemos mais próximas, eu esperaria que ela se
sentisse confortável para confiar em mim, especialmente quando ela
passar da adolescência para a vida adulta. Mas ela é apenas uma
adolescente, tenho quase o dobro da idade dela e, por causa disso,
nunca fomos próximas, embora eu a amasse e não me cansasse dela
quando era bebê. Mamãe disse que eu deveria tentar sair mais com
ela, mas Ziggy está sempre jogando futebol e estou sempre
trabalhando. Alinhar nossos horários é virtualmente impossível.
De frente para o espelho novamente, Ziggy fecha a torneira e seca
as mãos.
— Tudo que eu estava tentando dizer é que quando eu vier a
transar, não estarei arriscando minha carreira no futebol. Quero
filhos no futuro, mas não antes de me aposentar.
— Então — Frankie olha para o teto, fazendo a matemática
mental. — Você vai estar com o quê? Com trinta e poucos anos? Eu
entendo, mas quero ter terminado até lá. Com bebês. Ter parado de
trabalhar.
Ziggy levanta uma sobrancelha.
— Você vai para a faculdade de direito para ser agente esportiva
por oito anos?
Frankie dá uma gargalhada.
— Ok, justo. Talvez trabalhe até os quarenta. Depois disso, vou
fazer de Ren meu homem da cabana e comprar uma ilha para todas
essas crianças que aparentemente estaremos tendo, já que o cara já
tem uma minivan para carregá-los. Todos serão bem-vindos a
qualquer hora.
Bebês. Uma minivan. Eu coloco a mão sobre meu estômago,
odiando saber com certeza que está vazio.
Essas coisas levam tempo, minha mãe gosta de me dizer com sua
voz filosófica. Fácil para ela dizer. Ela engravidava toda vez que meu
pai olhava para ela.
Seja paciente, Freya Linn. Seja paciente.
Estou tentando ser paciente. Estou realmente tentando. Mas
paciência nunca foi minha virtude.
Frankie joga sua toalha de papel no lixo e agarra sua bengala.
— Vamos sair antes que os meninos limpem o cesto de pão de
novo. Eu só peguei um rolo antes.
— Certo. — Eu abro a porta.
Nós voltamos para a mesa composta por todos os irmãos, apenas
faltando Willa, que está viajando para um jogo, e de Aiden, onde
quer que ele esteja. Sinto os olhos dos meus irmãos sobre mim, suas
d d A h d b
preocupações e curiosidade. Acho que a maioria, senão todos, sabe
que algo está acontecendo comigo e Aiden. Eu disse a Axel em sua
exposição de arte com o entendimento de que manteríamos mamãe e
papai fora disso, até que eu pudesse contar a eles eu mesma. Eu
esperava que de seu jeito curto e direto, ele contaria aos meus irmãos
também, com a mesma expectativa de sigilo. E se há uma coisa com
que você pode contar com os irmãos Bergman é: manter um bom
segredo dos pais, quando necessário.
Mesmo que Axel não tenha contado a eles e eles não
suspeitassem, eles agora estão. Aiden é tão confiável para essas
reuniões familiares quanto o sol estar no céu. Ele está sempre
comigo. Ele cumpre suas promessas e aparece.
Até agora, ao que parece.
Eu limpo minha garganta e dou um sorriso brilhante, mandando
minhas emoções se recomporem. Mamãe dá um tapinha na minha
mão e sorri para mim enquanto pergunta com seu suave sotaque
sueco:
— Sötnos , onde está Aiden?
— Atrasado — murmuro em minha taça de vinho, tomando um
gole profundo. — Podemos pedir sem ele.
Papai franze a testa e se inclina para mais perto, envolvendo o
braço em volta da mamãe.
— Eu não quero deixar Aiden de fora.
— Está tudo bem, papai. Ele vai entender.
As sobrancelhas do meu pai se erguem. Ele me examina por um
momento e eu olho para longe. Ele sempre me lê com muita
facilidade.
— Freya Linn. Algo está errado?
Minha garganta aperta.
— Não! — Eu digo muito brilhantemente. Eu suavizo minha
expressão. — Não. Você conhece Aiden. Ele está ocupado com o
trabalho ultimamente.
Mamãe se vira levemente na cadeira e me inspeciona.
— Freya.
Eu olho para ela.
— Sim mãe?
— Logo, você vem para a casa para fika. Eu gostaria de conversar.
Eu finjo um sorriso e pisco para ela, lutando para saber o que
dizer. Ela farejou problemas. É por isso que ela quer que eu vá. E
você não diz não ao fika com Elin Bergman. É uma pausa no dia que
é uma característica da vida sueca, parte integrante da minha mãe,
que só deixou seu país quando se casou com meu pai. Nossas
tradições, minha educação, muitas das filosofias e rituais de meus
pais estão imbuídos de sua cultura.

ik á d ó S é ó d
Fika está enraizada em nós. Na Suécia, os negócios param, a vida
descansa e, por um breve período, você toma um café e se delicia
com amigos ou colegas de trabalho ao seu redor. Trata-se de
reconfigurar e conectar, renovar antes de voltar ao trabalho do dia. E
na casa da mamãe, as merdas são resolvidas na fika.
— Mãe — digo me desculpando — não sei quando terei tempo.
Eu tenho pacientes…
— Você arranja tempo. Isso é o que eu te ensinei. Você escolhe o
que é importante e o resto segue. Faça uma pausa para o almoço,
hein? — ela pressiona, sua expressão é quase um espelho da minha.
Às vezes é enervante olhar no rosto de sua mãe e ver o que o
tempo trará, não que eu tenha medo de envelhecer ou ache que
minha mãe é menos bonita do que quando parecia mais jovem. Isso
apenas coloca em primeiro plano a urgência do momento, joga cada
minuto entre agora e então na minha frente. Quando serei mãe?
Quando mamãe tinha a minha idade, ela já tinha metade dos filhos.
Estarei sentado ao lado de Aiden, rodeado por uma mesa de crianças
e seus parceiros? Luz de velas e comida deliciosa? Celebrando meu
casamento não apenas entre nós dois, mas também com uma mesa
de família estimulante?
— Eu vou até você — ela pressiona, depois que eu não tenho
nada a dizer além do silêncio. — Sexta-feira. Ziggy tem escola,
depois vai direto para o treino noturno, então estou livre.
— Ok — eu suspiro.
— Se eu pudesse ter a atenção de todos! — Viggo diz enquanto se
levanta e sorri, alto e magro, com cabelos cor de chocolate como os
de Axel, olhos claros como os meus. Eu posso sentir o cheiro da
travessura flutuando dele. Oliver, meu gêmeo na aparência, apenas
12 meses mais novo que Viggo e seu parceiro no crime, se recosta na
cadeira. Sorrindo, ele pisca para mim e se volta para Viggo.
— Mamãe e papai — continua Viggo — as crianças queriam lhe
dar um presente especial. Você nos deu tanto, aguentou mais do que
deveria…
Papai levanta a taça e sorri.
— E a nossa maneira de dizer obrigado, nosso presente para você
este ano é…
Oliver bate os tambores na mesa enquanto Viggo tira uma foto de
um envelope e entrega aos meus pais. Uma luxuosa casa à beira-
mar, palmeiras e areia dourada.
— Férias em família — diz ele.
Meus pais estão chocados. Gratos. Entusiasmados.
E eu não tinha ideia de que isso ia acontecer.
Meu estômago embrulha enquanto olho para os irmãos, nenhum
dos quais parece surpreso como eu. Eu olho para Ren, que
geralmente é rápido para explicar as coisas. Ele está dando a Frankie
d d fi d lh A
toda a sua atenção, definitivamente evitando meus olhos. A
expressão de Ryder é vazia, olhos verdes afiados inescrutáveis, sua
boca escondida atrás de uma barba loira que esconde muito para
torná-lo fácil de ler. Axel me olha inocentemente, como se eu
estivesse nisso, ou pelo menos ele pensasse assim. Ziggy é a mesma,
apenas sorrindo, provavelmente animada para as férias, já que ela
sempre fica em casa com mamãe e papai sozinha. Eu nem tento com
os filhotes de homem. Eles se deliciam em me antagonizar.
Eu me viro para Ryder e baixo minha voz.
— O que é isso?
Ele se inclina ligeiramente e diz:
— É um presente de aniversário. Temos a tendência de dar aos
nossos pais um deles a cada ano, no dia de seu casamento.
— Ryder. — Dou uma cotovelada nele. — Fale sério.
— Você estava distraída. Você sempre lidou com isso, e não é
justo com você. Então os irmãos cuidaram disso.
— E como estamos pagando isso?
Ryder olha para Ren. Eu me empalideço.
— Não — eu murmuro. — Ele não está pagando por todos…
— Já está decidido — diz Ryder. — Ele é um jogador profissional
de hóquei, Freya. Isso é uma gota no balde para ele. Além disso, Ren
é generoso e isso o deixa feliz. A casa é do colega de time dele, e ele
está abrindo para nós durante a semana, de graça. A contribuição de
Ren que, reconheço, não é pequena, é o financiamento da passagem
aérea enquanto ficamos por uma semana, o que todos podem fazer.
Combinamos que pagaremos por nossa comida, bebida e qualquer
outra coisa quando estivermos lá.
Abro a boca para discordar, mas Ryder me dá uma olhada.
— Freya — ele diz baixinho — você sabe como a mamãe e o
papai ficarão felizes se todos nós estivermos lá.
Abençoadamente felizes. Uma semana inteira perto de Aiden, e terei
que agir como se estivesse tudo bem para manter essa benção,
mesmo que ele e eu estejamos desmoronando. Não sei como vou
passar um dia, muito menos uma semana, sem perder a cabeça. E se
Aiden não vier, isso fará com que meus pais se preocupem e acabará
com sua felicidade, o que frustra diretamente o propósito deste
presente.
— Não posso sair de férias com a família agora — sussurro. — Eu
mal consigo tolerar dividir o mesmo teto que meu marido agora.
Ryder franze a testa.
— Tão ruim assim?
Olhando para minhas mãos, eu suspiro.
— Sim. Muito ruim. Estou no meu limite, Ry. Não posso fazer
isso agora.
Ryder passa o cesto para Oliver, que está gritando por ele.
h
— Bem, não venha, então.
— Eu não posso não ir, seu idiota. Isso machucaria mamãe e
papai.
Ele me dá um sorriso fraco e bebe sua cerveja.
— Acho que você está indo para o Havaí, então.
4

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ G a l l i p o l i ” - B e i r u t

E . Atrasado para caralho, sem uma desculpa clara


para Freya sobre o motivo. Mas porra eu ia dizer a ela que estou
atrasado porque me caguei. Depois daquela visita fria ao estado de
Washington, peguei um resfriado, depois uma sinusite secundária e
os antibióticos estão destruindo meu estômago. Meu estômago
estava fervendo mais cedo no escritório, e eu francamente não tive
tempo no meu dia para outra ida ao banheiro apenas para um peido
ressonante, então eu apostei.
E eu perdi.
Calças e boxers foram destruídas, tomei banho e vesti as reservas
que mantenho no escritório – obrigado, ao meu eu cauteloso e
excessivamente preparado – agora estou sentado no trânsito de pára-
choques contra pára-choques.
— Merda! — Eu bato minhas mãos no volante. Chega uma
mensagem de Freya: Estamos indo embora.
— Não — eu gemo, puxando meu cabelo. — Não não não.
Discando o número dela, eu ligo meu telefone para o sistema
auxiliar no carro. Está chamando. E chama. E chama. Em seguida,
vai para a mensagem de voz.
Claro que ela não está atendendo. Ela não quer falar comigo. Eu
também não quero falar comigo.
Ela provavelmente está com raiva. Definitivamente machucada.
Eu não a culpo. Família é o centro da vida de Freya. Os pais dela
significam o mundo para ela – merda, eles significam o mundo para
mim – e eu perdi o jantar de aniversário deles, que sempre amei
porque é uma festa de família, não apenas uma celebração entre os
dois.
Tocando um podcast, tento me distrair, pego a primeira saída
que posso e volto para nossa casa em Culver City. Ir para casa é mais
fácil do que ir para o restaurante do ponto de vista do trânsito, e
logo estou estacionando em nossa pequena garagem e trancando o
carro.
As luzes estão acesas lá dentro, mas não a luz da varanda, que é a
marca registrada de Freya. A mulher é muito preocupada com a
conservação de energia, e eu estou muito preocupado com a
segurança. A luz da varanda é uma batalha benigna entre nós. O fato

d l d d d d í
de a luz estar apagada, depois que eu deixei acesa quando saí para o
trabalho esta manhã, significa que ela está em casa.
Também significa que estou banhado pela escuridão, meus
sentidos sintonizados com os sons ao meu redor enquanto começo a
caminhar até nossa casa. No meio do caminho para a porta da frente,
sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem. Um galho se quebra.
Virando-me, procuro o som que acabei de ouvir. Sim, minha
ansiedade está alta e meu estresse por me atrasar e perder o jantar
não está ajudando a baixar meus níveis de adrenalina, mas há
alguém por perto, me observando. Tenho certeza disso. Você não
cresce como eu sem aprender a olhar por cima do ombro, sabendo
como se defender.
De repente, há uma movimentação e dois homens estão em cima
de mim, seus rostos ilegíveis na escuridão. O instinto entra em ação e
eu golpeio um deles com a perna, mas o outro me segura com uma
chave de braço, me arrastando para trás.
Não grito, porque a última coisa que quero é Freya vindo,
ficando no meio disso. Depois que uma das grandes mãos do cara
apertou minha boca, eu não poderia gritar mesmo se quisesse.
O outro cara está nas minhas pernas agora, me derrubando, e eu
sou fisicamente içado pelo gramado. A porta de uma van se abre
antes que eu seja empurrado para dentro, apesar de muito tentar
lutar contra isso. A porta se fecha com o clique de uma fechadura e o
carro acelera rapidamente. Eu pisco, pedindo a minha visão para se
ajustar para que eu possa me orientar.
Finalmente, eu posso ver, e se eu não estivesse com tanta raiva
deles, eu me chutaria por não ter antecipado algo assim. Ren está
nos levando como ladrões em sua minivan. Axel está no banco de
passageiros. Oliver se senta no meu colo, Ryder está no assento ao
meu lado e Viggo aparece da terceira fila.
— O que diabos é isso? — Eu grito, empurrando Oliver para
longe. Ele cai com um oof no chão da van. — Não responda até
colocar o cinto de segurança. — Eu olho para eles. — Seria tão difícil
dizer: “Ei, Aiden, precisamos falar com você?”
Ryder solta um grunhido evasivo. Ren está em silêncio, assim
como Axel.
— Você teria vindo? — Viggo pergunta.
Eu abro minha boca para responder. E percebo que não posso
dizer sim a ele com sinceridade.
— Exatamente — diz ele.
Oliver desliza para a terceira fileira e ajusta o cinto, então se
inclina, fixando os olhos em mim.
— Viggo e eu podemos ter exagerado um pouco fisicamente, mas
todos concordamos que você precisaria ser fortemente coagido

U E d ê ê
— Um pouco? — Eu digo com veemência. — Você me assustou
pra caralho. Jesus, pessoal. Este não é um filme de ação de Liam
Neeson.
Viggo bufa.
— Por favor. Ryder me convenceu a desistir de meu plano
original.
Ryder sorri friamente.
— Ren — eu digo suplicante. — Achei que podia contar com
você, cara. O que é isso?
Os olhos de Ren encontram os meus no espelho retrovisor,
estranhamente frios.
— Estou desistindo de uma noite com minha namorada, para que
você saiba.
— Ei, eu não pedi para ser sequestrado pelos meus cunhados. Do
que se trata?
Como se você não soubesse. Isso é o quão ruim você fodeu. Os irmãos
Bergman estão tentando salvá-lo. Oh, como os poderosos caíram.
Oliver diz:
— Quando você e Freya começaram a namorar, papai nos sentou
e deixou algo muito claro.
— Deixe Aiden fora disso — diz Viggo. — Isso foi o que papai nos
disse. “Nenhum de seus truques ou trotes fraternais, nenhuma quadrilha
sinistra. Sejam gentis com ele. E o mais importante, fique fora do
relacionamento dele com sua irmã.”
— E? — Eu pergunto.
— E isso funcionou — Ryder explode. — Até você começar a
cagar com tudo.
— Jesus. — Eu esfrego meu rosto. Esta é realmente a última coisa
de que preciso.
— Nesse ponto — diz Axel uniformemente — percebemos que
era necessária uma intervenção.
Viggo bate as mãos nos meus ombros e os aperta.
— Bem-vindo ao seu primeiro Bergman Brothers Summit2,
Aiden. Você está em um passeio selvagem.

— Não vou falar sobre meu casamento com sua irmã — digo a
eles. — Não vai acontecer.
Ren se acomoda em uma cadeira em seu deck traseiro com vista
para o Pacífico. Ele tem uma bela casa na praia de Manha an, com
uma vista deslumbrante, porque sua genética foi feita para o hóquei,
e ele vive e respira o jogo. Estou feliz por ele. Ninguém merece mais
do que Ren, que é tão generoso e equilibrado em seu sucesso. Mas
não posso negar que tive momentos de inveja dele e daquela
capacidade atlética prodigiosa.
Cl f d d l d
Claro, sou forte, coordenado. Posso me controlar quando as
coisas chegarem ao ponto de lutar com os irmãos Bergman. Mas não
sou nada além do talento médio com uma bola de futebol,
resistência para correr e alguns pesos. Não posso fingir que não
considerei que tipo de vida eu poderia dar a Freya se fosse como
Ren. O que ele lucra em um ano, é o que lucrarei na minha vida.
A menos que este aplicativo dê certo.
Como se soubesse que estou pensando em nosso projeto, Dan
começa a mandar milhares de mensagens para meu celular.
Impedindo-me de pensar que algo catastrófico aconteceu, pego meu
telefone rapidamente e leio suas mensagens enquanto elas chegam.
Olhando-as, vejo que não é nada crítico. E eu respiro um suspiro de
alívio.
— Dê-me o telefone — diz Ryder, estendendo a mão.
— É apenas meu parceiro de negócios. — Eu o viro sobre a mesa
em que estamos sentados. — Vou silenciá-lo.
— Escute, Aiden. Acredite ou não — diz Viggo — não queremos
saber os detalhes de sua vida amorosa com nossa irmã.
Os cinco estremecem.
Ren dá um tapinha no meu ombro.
— Precisamos apenas de uma visão geral.
— Visão geral de quê? — Eu pergunto.
Axel esfrega a ponta do nariz.
— De como o Sr. Casamenteiro, que transborda confiança e
conhecimento nesta área e tem mantido nossa irmã aparentemente
feliz por mais de uma década, conseguiu arruinar tudo.
— Axel — Ren diz com o canto da boca. — Achei que tivéssemos
conversado sobre uma introdução um pouco mais suave do que essa.
— Oops — Ax diz categoricamente.
Ren suspira.
— O que Axel quis dizer é que você nos parece um homem
moderno com sensibilidade romântica amadurecida. Um cara
feminista que entende sua parceira, que a apoia.
— Basicamente — Oliver traduz — você tem noção de como as
coisas são.
— Correção — diz Viggo. — Você pareceu ter. Claramente, sua
cabeça está enfiada no seu rabo. Ou alguma outra coisa, porque
Freya parece miserável. Você também.
Eu agarro minha cadeira até meus dedos doerem.
— Não estamos falando sobre isso.
— Mesmo que possamos ajudar? — Ryder pergunta.
— Eu não preciso de sua ajuda. Eu não preciso da ajuda de
ninguém.
Todos eles me olham.

S d ó lê l d ê
— Sim — diz Viggo após um silêncio longo e pesado. — Você
definitivamente não precisa da nossa ajuda, não quando você perdeu
uma reunião de família…
— O que você nunca perde — acrescenta Oliver.
— E nossa irmã estava à beira das lágrimas o tempo todo — diz
Axel incisivamente. — Agora, eu mais do que qualquer um aqui,
entende o que é ser uma alma independente, mas existe
autossuficiência e existe estupidez. Não deixe seu orgulho atrapalhar
seu bom senso. Deixe-nos ajudar.
Ajuda.
Eu olho para eles. Tenho trinta e seis anos. Em setembro, estarei
casado há dez anos. Metade dos irmãos Bergman não estão em
relacionamentos, com exceção de Axel, e eles estão na casa dos vinte.
O que diabos eles poderiam me dizer que eu ainda não sei? Que
sabedoria eles poderiam ter?
— Como — digo com firmeza — você honestamente acha que
pode ajudar?
— Nós vamos. — Ryder pigarreia. — Poderíamos lhe dar
algumas dicas, visto que conhecemos Freya…
— O dobro do tempo que você — Ren diz.
— Vocês estão me assustando — digo a eles —, completando as
frases uns dos outros assim.
Ren encolhe os ombros.
— Nós só queremos apoiá-lo. Estar aqui para você. E, se uh...
— Se você está cagando as coisas com ela, podemos apontar a
direção certa — diz Ryder. — O que seria muito mais fácil se você
nos contasse o que aconteceu.
Eu afundo na minha cadeira. De jeito nenhum.
— Se soubermos o que está acontecendo — Oliver diz, colocando
cubos de queijo na boca. Parece que ele vai encher a boca com o
máximo possível, provavelmente competindo com Viggo, que está
contando cubos silenciosamente enquanto o observa. — Nós
poderemos ajudar a colocar vocês dois de volta no caminho certo —
diz ele com a boca cheia. — Especialmente quando estivermos nas
férias em família.
Repito o que ele acabou de dizer.
— Férias em família?
— Sim — diz Viggo, ainda contando a quantidade de cubos de
queijo de Oliver. — Presente de bodas de mamãe e papai. Estamos
alinhando nossos calendários para ir ao Havaí por uma semana de
descanso e relaxamento.
O pânico me atinge com a perspectiva de uma despesa tão
inesperada. Eu posso procurar um vôo barato, mas a ideia de gastar
tanto dinheiro agora faz meu peito apertar.

É d h d d b h
— É a casa de um companheiro do time — Ren diz baixinho,
como se ele tivesse lido minha mente. — Sua família mora lá, mas
eles estão viajando pela Europa durante todo o verão e ele não tem
conseguido ficar lá tanto quanto planejava, então ele está feliz que
usaremos o local sem pagar aluguel.
— Excelente. — Eu massageio minhas têmporas. Os voos ainda
vão custar um bom dinheiro.
— Em breve — diz Viggo, — estaremos todos lá e seria melhor se
os irmãos soubessem com o que estamos lidando quando se trata de
vocês dois.
— Eu não estou discutindo isso — eu solto. — Isso não afeta
vocês.
— Aí que você erra — Ryder diz. — Qualquer coisa que afete
você e Freya nos afeta. Somos uma família.
Axel olha para a água, tamborilando os dedos nos braços da
cadeira.
— Talvez devêssemos esclarecer. Nós sabemos de algumas coisas.
Contei a eles o que ouvi de Freya na galeria de arte. Por e-mail.
Porque, que se fodam as ligações em grupo.
Meu estômago afunda.
— O que ela disse?
— Não posso dizer que você merece minhas informações quando
não vai nos contar nada — Axel diz friamente.
— Que merda, Axel.
Seus penetrantes olhos verdes me fitam.
— Você é quem está se segurando. Confie em nós, nós confiamos
em você.
— Aiden — Oliver diz, — eu sei que a situação de Liam Neeson
meio que prejudica isso, mas você pode confiar em nós. Eu amo Você.
Todos nós amamos. Você é nosso irmão.
Uma dor agridoce me atravessa. Ele não tem ideia do quanto isso
significa para mim, vindo de um homem que era apenas um menino
quando o conheci, todo o cabelo loiro-claro e joelhos salientes e
melhores habilidades com uma bola de futebol do que eu. É estranho
como você pode saber algo cognitivamente, que os irmãos Bergman
me amam, mas o quão diferente e poderoso pode ser ouvir, sentir,
mesmo dessa forma distorcida, o quanto eles se importam.
Eu amo você. Todos nós amamos.
— Queremos que você e Freya fiquem bem — diz Oliver. — Só
queremos ajudar.
— Exatamente — diz Viggo, com a boca cheia de cubos de queijo.
— Você em algum momento para de comer? — Pergunto-lhe.
Ele joga um cubo de queijo em mim, acertando meu ombro.
— Eu tenho que colocar mais quatro para vencê-lo.
Oliver o encara.
h ê l í
— De jeito nenhum você vai conseguir colocar mais quatro aí.
— Me provoque — diz Viggo com voz rouca, parecendo um
esquilo perturbado.
Eu suspiro e esfrego meu rosto, entregando o que estou disposto
a fazer.
— Tem muita coisa acontecendo profissionalmente. Tenho
trabalhado mais do que nunca. Acho que Freya está farta de quão
ocupado estou.
— Ok — Ren diz suavemente. — É isso?
Merda, não. Não é apenas mais frio e silencioso entre nós. A
intimidade se desfez. E eu sei que é minha culpa, mas diabos, eu sei
como começar a consertar isso. Não que eu vá dizer a ele alguma
parte disso.
— Gente, não me sinto confortável em falar mais. É entre Freya e
mim.
Viggo se apoia em uma das nádegas e tira um livrinho do bolso
de trás.
— O que é isso? — Eu pergunto.
— Um romance — diz Viggo, mastigando com dificuldade. —
Ugh. Muito queijo. Você me deve vinte dólares — ele diz a Oliver.
Oliver faz uma careta para ele.
— Um romance — eu digo incrédulo.
Ele me dá uma olhada.
— Você me ouviu. Um romance. Não que você conhecesse um se
caísse de uma estante e batesse no seu pau.
— Eu me lembraria de qualquer coisa que batesse no meu pau.
— Nesse caso — diz Viggo, avançando em minha direção.
— Ei! — Ren o empurra de volta em seu assento. — Esta é uma
casa não violenta.
Isso mesmo - o jogador de hóquei é um pacifista. Ele ainda não
entrou em uma briga em seus quase quatro anos na NHL.
— Então — Axel diz calmamente enquanto Viggo folheia seu
livro. — Por que você está trabalhando tanto?
Eu fico olhando para as minhas mãos, meu estômago revirando
enquanto penso sobre quando as coisas começaram a mudar. Porque
é terrivelmente injusto. Porque também quero um filho. Eu quero
uma pequena pessoa para amar e fazer o que é certo. Mesmo que
eles sejam apenas metade tão fofos quanto as fotos de bebê de Freya,
bochechas macias e olhos largos e claros com uma mecha de cabelo
louro-claro, eu sei que vou ficar arruinado por eles. Apenas
arruinado.
Mas foi aí que tudo piorou. Foi quando algo se moveu dentro de
mim que não fui capaz de controlar. Foi quando o trabalho se tornou
algo em que eu não conseguia parar de me fixar, quando me
preparar financeiramente para um bebê passou a ser desgastante.
El d f d f A
— Ela estava irritada na festa de Ziggy — Ren oferece. — As
coisas já estavam difíceis?
— Sim. Eu fui um idiota naquele dia. Eu estive em um monte de
ligações para esse… — Eu aperto minha mandíbula. — Esse projeto
que eu não posso falar que estou trabalhando. Tínhamos encontrado
alguns obstáculos no financiamento e eu estava chateado e
desanimado e preso na minha cabeça. Sinto muito, pessoal. Sei que
pareço suspeito para cacete e sei que vocês amam a Freya, mas só
quero chegar em casa, para minha esposa e dizer a ela que realmente
sinto muito pelo atraso.
— E por atraso você quer dizer nunca ter aparecido — Ryder me
lembra.
Oliver se inclina.
— De novo, por que você se atrasou?
— Eu também não estarei divulgando isso.
— São muitos segredos, Aiden — Ren diz. — Por que você está
escondendo coisas de nós? Somos uma família. Você pode nos
confiar qualquer coisa.
Isso é o que é tão difícil de articular para pessoas que não
cresceram como eu. Quando as coisas ficam difíceis, eu confio em
mim mesmo. Porque quando a vida lhe ensina que você é a única
pessoa com quem você pode contar para sobreviver, a ideia de se
expor a outras pessoas quando você está no seu estado mais
vulnerável parece... quase impossível. O fato de ter sido capaz de
fazer isso durante todo o meu casamento, admito que não muito
bem hoje em dia, é uma prova do quanto amo Freya.
Eu fico olhando para o oceano, em silêncio. Porque eu poderia
tentar explicar, mas como eles poderiam entender?
— Você está cuidando dela emocionalmente, não é? — Viggo
pergunta. — Você está mantendo todas as suas merdas para si
mesmo, bloqueando-a. Você sabe que é uma sentença de morte em
um relacionamento, certo?
Isso ficou muito pessoal.
— Estou trabalhando nisso — murmuro.
— Não, acho que, na verdade, você está trabalhando em tudo,
menos nisso — diz Viggo.
— Jesus Cristo, Viggo. Quem é você? Dr. Phil?
Implacável, Viggo pigarreia e lê seu livro.
— Nas palavras da inimitáveis de Lisa Kleypas: “O casamento não
é o fim da história, é o começo. E isso exige o esforço de ambos os parceiros
para ter sucesso”.
— Isso é lindo — Ren diz.
— Quem diabos é Lisa Kleypas? — Eu pergunto.
Viggo esfrega o rosto e suspira pesadamente.

A d h El é d
— A merda que eu tenho que aguentar. Ela é autora de romances,
Aiden. E seus livros estão repletos de sabedoria que você deveria
absorver. “O esforço de ambos os parceiros” — ele repete
significativamente.
— Estou fazendo um “esforço” — respondo. — Mas eu tenho
apenas algumas horas, pouco espaço cerebral, pouca disposição
mental. Por um curto período, direcionei isso para o sucesso
financeiro e o trabalho, esta certo? Sinto que tenho que escolher entre
nos sustentar para que possamos estar prontos para o que Freya
quer de mim e dar a Freya o que ela quer de mim. Um tem de vir
antes do outro.
Ryder se inclina, os cotovelos sobre os joelhos.
— O que você acha que ela quer de você que você não pode dar a
ela enquanto trabalha neste projeto?
Meu coração bate forte. Eu vasculho meu cérebro para saber
como dizer sem dizer.
— Eu... eu… — Engolindo nervosamente, eu olho para as minhas
mãos. — Percebi que a maneira como venho trabalhando para nos
sustentar a deixa infeliz, mas ela quer uma família e isso era
necessário. Eu pensei que poderia apenas aguentar o tranco, então
ficaríamos bem. Mas o tiro saiu pela culatra e eu odeio isso. Porque
tudo isso é para a felicidade dela. Tudo que eu sempre quis é
proteger a felicidade dela.
— E a sua felicidade? — Viggo pergunta. — Trabalhar assim te
deixa feliz?
— Feliz? Porra, estou apenas tentando sobreviver. — A verdade
sai de dentro de mim, e Deus, o que eu daria para puxá-la de volta.
— Sobreviver? — Oliver coloca sua mão no meu ombro. —
Aiden, o que você quer dizer? Você tem um ótimo trabalho. Freya
também. Vocês dois estão saudáveis, com um teto sobre suas
cabeças…
— Você não entende — eu digo, levantando da cadeira, meus
pulmões pesando. — V-você não entende a pressão, o-o peso disso.
Eu não cresci com um pai como o seu. Eu não tive um. Minha mãe
limpava casas o dia todo. Ia para a escola, voltava para casa, fazia o
jantar, fazia minha lição de casa. Mamãe voltava para casa, colocava-
me na cama, depois ia trabalhar no último turno no restaurante 24
horas, pedia ao nosso vizinho do outro lado do corredor para ficar
de ouvido atento enquanto eu dormia.
Os olhos de Oliver se contraem de tristeza. Isso faz minha pele se
contorcer.
Eu olho ao redor, pelos irmãos, e encontro alguma forma disso
em todos os seus olhares.
— Eu não quero sua pena ou sua preocupação ou sua maldita
intromissão. Só preciso que vocês entendam o que estou lutando:
h d d E f í l d l
tenho ansiedade. Eu sou uma catastrofe a nível mundial. Mas
também sou ambicioso para cacete e determinado a não deixar que
isso machuque a mulher que amo.
— Estou ralando minha bunda agora porque não tenho a rede de
apoio que todos vocês têm para me segurar se eu cair. Eu nunca tive.
Freya merece mais do que isso. Ela merece firmeza e segurança,
especialmente se vamos ser pais. Eu não posso me comprometer com
isso. Minha esposa e meus futuros filhos terão o que minha mãe e eu
não tivemos. Dinheiro no banco e segurança absoluta. Para que, se
alguma coisa acontecer comigo, eles não–
Eu aperto a ponta do meu nariz e tento me recompor. Minha
pulsação bate em meus ouvidos.
— Aiden — Ren diz calmamente. Ele se levanta e põe a mão no
meu ombro. — Você tem razão. Não temos noção de como foi
crescer como você cresceu, nenhuma compreensão de como isso
afeta você emocionalmente. Mas, Aiden, essa família? Essa rede de
segurança? Você já tem.
Oliver também se levanta e me dá um tapinha afetuoso nas
costas.
— Você nos tem.
— Não é a mesma coisa — eu murmuro.
— Não cara. Não caia nessa besteira — diz Viggo, batendo o livro
na mesa. — Essa ideia de que você está sozinho, de que seu sucesso
ou fracasso financeiro equivale ao seu sucesso ou fracasso como
homem. É seriamente prejudicial, e é a mentira que uma sociedade
patriarcal, capitalista e opressora quer que vivamos.
Todos os irmãos piscam para ele.
— Uau, Viggo — diz Ryder. — Tem fogo aí, não é?
Viggo ergue as mãos.
— É verdade! A vida já é difícil o suficiente sem essa pressão
financeira brutal que a sociedade exerce por meio da masculinidade
tóxica. É ainda mais difícil para alguém que luta a difícil batalha
contra a ansiedade que Aiden faz todos os dias.
Ele se volta para mim.
— Não importa o que a vida traga, não importa as dificuldades,
você estará cercado por pessoas que o amam e estão prontas para
ajudá-lo, Aiden. Pessoas que sabem que você fez tudo que podia
para conseguir. Lutar nunca o tornará menos homem ou menos
marido para Freya. Lutar significa que você foi corajoso. Significa
que você está vivendo a vida e tentando. E isso é o suficiente, cara.
Mais do que suficiente.
É sempre assim que falam, pessoas que não cresceram como eu.
Eles pensam em seu lado das coisas – soluções de caridade, como
obviamente seriam generosos, caso o pior acontecesse, porque é
claro! É isso que a família faz! Mas eles não entendem o que é se sentir
d d fá l l
desamparado em um sistema que torna tão fácil cair pelas
rachaduras, como é quando as luzes se apagam e você tem que lutar
por recursos, provar seu desespero. Eles nunca passaram seu cartão
SNAP para comprar mantimentos e ele não tinha saldo suficiente.
Eles não entendem que não estou apenas me protegendo disso, mais
do que qualquer outra pessoa, estou protegendo Freya e este bebê
que queremos. Portanto, eles nunca, nunca terão que se preocupar
em enfrentar o que eu enfrento. Porque eu prometi amar Freya. E o
amor não abandona, o amor não deixa o bem-estar de sua esposa e
filho aos caprichos do mundo exterior. O amor protege, provê e se
prepara para o pior, então, quando e se vier, eles estarão seguros.
Eu me afasto dos caras. Correndo minhas mãos pelo meu cabelo
e pegando meu telefone, eu peço um Uber para mim.
— Eu tenho que ir — eu murmuro. — Eu tenho que…
— Aiden — diz Ryder.
— O quê — eu digo com força, com os olhos no meu telefone.
— Eu sei que fazemos e dizemos algumas merdas idiotas — diz
ele. — Mas nisso, estamos certos. E eu provavelmente mais do que
qualquer um, talvez tirando Ren, tenho alguma ideia sobre isso: não
se isole das pessoas que amam você. Não esconda seus problemas
deles. Eu amo alguém que passou uma tonelada de horas de terapia
aprendendo como ser vulnerável porque a ponte entre me amar e
me deixar entrar foi quase totalmente destruída por sua dor passada.
“Você tem uma parceira que quer dar a você tudo de si, que quer
tudo de você, incluindo suas lutas. Não desperdice isso. Porque se
você mantiver a porta fechada e trancada por tempo suficiente, um
dia você vai abri-la, e depois?"
Eu fico olhando para ele, engolindo em seco.
— Não vai haver ninguém do outro lado.
— Exatamente. Então vá para casa. Fale com Freya.
Um livro me atinge na barriga.
— E leia um maldito romance — Viggo se diz, antes de entrar e
bater a porta de vidro atrás de si.
Eu deslizo o livro no bolso de trás e olho ao redor para os quatro
restantes.
— Eu agradeço a intenção de vocês, mas agora vocês precisam
ficar fora do meu casamento. Eu sei que estou estragando tudo. Eu
sei que falhei com minha esposa. Mas para nós sairmos do outro
lado disso, eu preciso descobrir isso, junto com ela.
Eles piscam para mim.
— Com todo respeito — diz Ryder. — Eu acho que você está
errado.
— Muito errado — acrescenta Oliver.
— Sim, bem, se eu estiver, não será a primeira vez. Nem de
longe.
d h l d l Ub
Virando-se, eu caminho pela casa de Ren para esperar pelo Uber
e me preparar para o que vem por aí. Por mais que eu queira enfiar
aquele livro na garganta de Viggo, ele ou Lisa quem-for-que-ele-
citou estão certos. O casamento costuma ser o fim da história nesses
filmes que nos fazem sentir bem, nos livros que Freya lê e depois
termina com um suspiro sonhador, mas, na vida real, o casamento é
o começo.
Começa estranho e emocionante, um passeio de montanha-russa
com os olhos fechados, sabendo que declínios e viradas e quedas
vertiginosas estão à frente, mas nunca quando ou como elas estão
vindo. E conforme você escala a primeira altura enorme, então sente
o momento em que tudo muda, quando muda para uma queda
selvagem e leve, é quando você aprende que o casamento não é o
destino final. É a viagem em si, em um momento suave, no próximo,
sacudidas e imprevisibilidade. É a jornada que muda tanto a vida, e
vale tanto a pena que queremos continuar e vivê-la de novo e de
novo.
Pelo menos deveria ser. Por muito tempo, foi para mim. Eu
costumava acordar animado a ser um marido melhor de maneiras
que nada tinham a ver com economias, estabilidade ou
empreendimentos comerciais. Eu queria aprender tudo sobre Freya,
o que a fazia sorrir e rir, o que a fazia se animar e cantar a plenos
pulmões. Mas então as demandas da vida real vieram pressionando,
estourando nossa bolha de felicidade. E o tempo para esses
momentos tornou-se um luxo, não uma garantia. Agora, eles quase
se foram.
Eu os quero de volta. Quero mais horas todos os dias para ver o
nascer do sol pintar o seu perfil, beijá-la para acordá-la como eu
costumava fazer, depois rastejar por seu corpo e acordá-la com um
gozo paciente e provocador. Quero ouvir Freya cantarolando
enquanto faço panquecas e ela serve café. Eu quero esfregar seus
pés, então fazer cócegas nela até que ela me jogue para fora do sofá.
Mas se eu fizer isso, minutos, horas, serão perdidos - tempo que
eu deveria gastar nos sustentando, protegendo, antecipando o pior.
O que é exatamente o que meu pai nunca fez, e pelo pouco tempo
que ele ficou, minha mãe nunca se recuperou disso. Eu também não
tenho certeza se me recuperei.
Estou preso entre a cruz e a espada, desanimado e derrotado.
Não sei como começar a consertar o que está quebrado entre nós.
Porque isso está além do toque de cura de Freya, além de qualquer
coisa em meu arsenal fixador. Freya e eu precisamos de ajuda. Ajuda
profissional.
Esperando pela minha carona, eu fico olhando para minha
aliança de casamento e a giro no meu dedo, vendo-a piscar ao luar. E

é b á
é então que eu percebo exatamente o que virá a seguir para que
tenhamos uma chance no inferno de voltar disso.
Terapia de casal.
5

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ S o m e t h i n g ' s G o t t a G i v e ” - C a m i l a C a b e l l o

A que é conectada ao nosso quarto e dou


um grito agudo.
Aiden ergue os olhos da beira da nossa cama.
— Desculpe ter assustado você.
Eu puxo minha camisa para baixo, desejando estar usando um
sutiã, porque Aiden não merece ver meus mamilos agora, mesmo
através de uma camiseta. Principalmente porque estão duros.
Porque eu quero torcer seu pescoço, mas o homem é quente demais
para o seu próprio bem. Ele se senta mais reto na cama e puxa sua
gravata, os olhos em mim, o movimento simples enviando seu cheiro
de maresia vindo em minha direção.
Eu encaro as ondas escuras de seu cabelo, seus olhos azul-água e
a barba que ele ainda não raspou, enquanto me aproximo, até que
nossos dedos do pé se tocam. Ele olha para mim e vacila com a
gravata. É como olhar para um estranho.
Um estranho muito quente.
Cale a boca, cérebro.
— Onde você estava? — Eu pergunto.
Ele engole com dificuldade.
— Eu, uh... trabalhando. Eu estava no trabalho. Então eu fiquei...
preso em uma reunião... algo do tipo.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Nossa, Aiden. Desacelere. Eu não acho que posso lidar com
todos os detalhes.
Ele suspira.
— Freya…
— Você quer saber de uma coisa? Esqueça. — Eu me viro, porque
se eu ficar lá por muito mais tempo, posso fazer algo insano como
agarrá-lo pela gravata e sacudi-lo até ele cuspir a verdade que está
tão claramente presa dentro. Se eu apenas o chacoalhar com força
suficiente–
E esse é o meu problema. Eu me cansei de tentar e não sair nada.
Eu. Não. Estou. Tentando. Mais. Não mais. Eu perguntei. Como você
está? E aí? Alguma coisa em sua mente? Como está o trabalho?
Para o que eu recebi de resposta: Bem. Nada. Apenas trabalho.
Ocupado.

h d l
Jogo minhas roupas sujas no cesto e acidentalmente encontro
minha lista que deve ter caído do bolso da saia. Minha lista de
sentimentos e pensamentos que tenho carregado. Minhas queixas,
discriminadas. Tinta manchada de lágrimas. Olho para o papel e
amasso até que fique tão apertado que sei que, quando o abrir
novamente, ele simplesmente se desintegrará em minhas mãos.
Fiz a lista porque, embora eu seja sentimental, Aiden é racional, e
sempre internalizei essa pressão em nosso relacionamento para lidar
com minhas emoções mais como ele. Para ser “razoável” quando
estou chateada. Para ser “racional” quando discutimos. Porque eu
quero que minha perspectiva seja levada a sério, e quando pareço
racional, Aiden parece ouvir. Se soo mais calma do que me sinto, não
corro o risco de provocar a ansiedade de Aiden além do ponto em
que ele pode realmente me ouvir.
Claro, funciona, mas é mentira. Não é como eu funciono. O
verdadeiro eu chora e fala quando seus sentimentos não são
organizados, mas sim uma mistura confusa de emoções. Eu trabalho
meus pensamentos enquanto falo. Sou uma processadora emocional
e verbal que está reprimindo essa necessidade há uma década, que
só cede com moderação, a ponto de me sentir tão comprimida que
estou prestes a detonar. Não, implodir.
Fazer uma lista, tópicos detalhados de mágoas, confissões e
palavras sentimentais, deveria me dar um alívio, me ajudar a me
sentir purificada e preparada quando chegasse a hora de falar sobre
isso e, em seguida, fazer as pazes com o homem que amo. Mas
escrever a lista só me deixou cada vez mais furiosa, infeccionou a
dor. O fato de eu precisar fazer a maldita lista me irritou. Onde está
a lista dele? Onde está o descontentamento dele? Onde está Aiden?
Não aqui. E estou farta disso.
Eu fico olhando para ele, sentado na beira da nossa cama
olhando para seus pés – gravata azul-escura afrouxada, camisa
branca com as duas primeiras casas desabotoadas. Aiden passa as
mãos pelos cabelos, deixando-os bagunçados, em seguida, joga os
óculos de lado na cama, esfregando as sombras sob seus olhos de
cílios grossos.
Ele me olha quando suas mãos caem.
— Eu quero ir para uma terapia de casais.
Meu estômago se revira.
— O que?
— Eu disse, quero ir para uma terapia de casais.
— Ainda nem falamos sobre para que precisamos de terapia.
— Daí a terapia, Freya — diz ele, com a voz rouca e baixa. —
Quero que conversemos sobre... o que aconteceu, com a ajuda de
alguém. Porque eu nem sei por onde começar.

C d d é b l C ê
— Começar com a verdade é um bom lugar. Como o que você
realmente estava realmente fazendo esta noite.
Wasabi pula e mia, esfregando-se contra Aiden. Ele coça o gato
distraidamente e suspira.
— Tive um acidente de trabalho. Sujei minhas roupas.
Eu franzir a testa.
— O que?
— Então eu esbarrei em alguns... amigos que me atrasaram.
Agora estou em casa.
— É, não muito melhor.
Os olhos de Aiden encaram os meus intensamente.
— Eu sei — diz ele calmamente. — Eu sei que não estou fazendo
um trabalho muito bom em... nada disso agora. É por isso que estou
perguntando: você iria a terapia de casais comigo? Estou tentando
dizer o que preciso para fazer minha parte, Freya. Eu quero
consertar isso.
Quando eu não respondo imediatamente, ele olha para o chão e
passa as mãos tremidas pelos cabelos de novo, suspirando
pesadamente. Posso sentir sua ansiedade no ar, aguda e dolorosa,
pressionando-o.
Não que ele tenha me contado. Não que eu saiba recentemente
como está sua ansiedade, ou o que o está incomodando. Nos últimos
meses, quando suspeitei que ele estava passando por momentos
difíceis, ele sorria, falsamente brilhante, depois dizia que tinha
trabalho e desaparecia em nosso pequeno escritório em casa. O
quarto que deveria se tornar um berçário.
Eu me pergunto se... Eu me pergunto se as coisas têm sido
difíceis, mais difíceis do que o normal, e ele não me contou. E se sim,
por quê? Se tanto do que está distante entre nós é porque ele carrega
fardos que não quer compartilhar, como eu poderia dizer
honestamente que o amo enquanto nego a ele a chance de falar sobre
isso com um terapeuta? Uma onda de empatia cresce dentro de mim,
acalmando a dor que queima em meu coração.
Limpo a garganta e digo a ele:
— Eu vou, Urso.
Merda. A palavra sai antes que eu perceba que já disse.
A cabeça de Aiden levanta e nossos olhos se encontram.
Tristeza emaranhada com nostalgia em um nó afiado e dolorido
sob minhas costelas. Não o chamo de Urso há muito tempo, não
sinto aquele apelido fácil e quente na ponta da minha língua. Seu
apelido, que surgiu quando começamos a namorar, quando seu
cabelo de urso preto fazia cócegas em mim pela manhã enquanto ele
se aninhava perto, envolvendo-me em seus braços. Quando ele
rosnava no meu pescoço e me prendia no colchão, me acordando
com sexo lento e intenso. Esse apelido é um vestígio da merda
â b b f í í f
romântica e boba que fazíamos no início, como os casais fazem
quando se apaixonam recentemente e têm a certeza de que nunca
irão partir o coração um do outro, nunca falharão ou terminarão
como aqueles casais.
A porra da arrogância.
Lutando contra as lágrimas, eu me viro e remexo nas gavetas da
minha cômoda, dobrando inutilmente minhas roupas. É um desvio
tão óbvio porque eu nunca faço isso. Sou desleixada e ambos
sabemos disso.
Aiden se levanta, a estrutura da cama rangendo quando ele o faz.
Eu ouço o suave esmagar do tapete sob seus pés enquanto ele está
atrás de mim, o mais próximo que estivemos em meses.
— Por que você me chamou assim? — ele diz suavemente.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha. Eu a enxugo com
raiva.
— Eu não sei. Foi um acidente.
Sua mão desliza em volta da minha cintura e me puxa contra ele.
Movimento ousado. Corajoso para cacete. Aiden MacCormack em
duas frases.
Um homem menos que isso nunca poderia ter conquistado seu coração,
Freya Linn.
Eu ouço a voz do meu pai na minha cabeça, seu brinde no nosso
casamento quando ele ergueu uma taça para nós. Eu chorei quando
ele disse isso. Porque eu acreditava que era verdade.
Aiden enterra o nariz no meu cabelo, sua outra mão envolvendo
em torno de mim também, prendendo-me em seu corpo, quente e
forte atrás de mim. Minha cabeça cai traiçoeiramente em seu ombro.
— Fale comigo, Freya — ele sussurra. Um beijo quente atrás da
minha orelha – aquele lugar que eu amo, e ele sabe disso.
— Diga-me o que está machucando você. Por favor.
Eu respiro irregularmente e aperto meus olhos fechados.
— Aiden, não sei por que eu sei o que está errado e você não.
Porque estou ferida e você está bem…
— Eu não estou bem — ele diz asperamente, me segurando
perto, sua mão acariciando minha barriga. — E eu sei que estamos...
um pouco distantes agora.
Uma risada vazia me deixa.
— Um pouco distantes. Estamos além disso, Aiden. Nós não
falamos. Nós não nos conectamos. Você está mais reservado e
ocupado do que costumava ser. Nós não... fazemos sexo.
Um medo que tentei banir uma e outra vez me agarra pela
garganta e explode.
— Você está me traindo? — Eu sussurro roucamente. — Há outra
pessoa?

O d Ad fi l ó l El
O corpo de Aiden fica mortalmente imóvel. Ele agarra meu
queixo, virando meu rosto para encontrar sua expressão que
escurece como uma violenta tempestade escurecendo o céu.
— Como você pode me perguntar isso? — Sua voz falha e um
músculo pula em sua mandíbula.
Eu me empurro para fora de seus braços, batendo na cômoda
atrás de mim.
— V-você age de forma diferente. Você parece diferente. Você
ficou mais em forma e mais gostoso... Espere. Quero dizer. Merda. —
Eu cubro meu rosto, humilhada por meu deslize, com raiva por
poder estar tão magoada com seu comportamento, mas não posso
negar que meu corpo está queimando com seu toque.
Ele levanta as sobrancelhas.
— Freya, tenho mantido um péssimo hábito em fazer exercícios.
Não há tempo. Eu fico tão ocupado que me esqueço de comer. Eu
inadvertidamente perdi peso.
— Exatamente! — Eu me agarrei a isso, agradecendo às minhas
fodidas estrelas da sorte por ele não se interessar pelo fato de que eu
o chamei de gostoso. — Você está ocupado. O tempo todo. E desliga
correndo o celular quando eu entro na sala. São, tipo, sinais e
paranóias que eram de fato traição. E você não está me respondendo.
— Porque nem mesmo merece uma resposta — ele diz,
perigosamente quieto, magoado em sua voz. — Claro que não estou
te traindo, Freya! — Ele se inclina e eu recuo, mas nossas frentes
ainda roçam, o calor emanando dele, os planos rígidos de seu corpo
varrendo as curvas suaves do meu. — Você acha que eu poderia
querer alguém além de você?
Uma lágrima escorre pela minha bochecha. Eu costumava ser
capaz de responder a isso de forma inequívoca.
— Eu não sei.
Sua testa franze, a dor apertando seu rosto.
— Freya, eu te amo. Eu quero você. Só você. Você é a única mulher
que noto ou desejo, e se pensa que não percebi que não a tive
debaixo de mim, que não estive dentro de você, fazendo você gozar,
há meses, você está redondamente enganada.
Eu engulo em seco.
— Tudo o que faço é por você, Freya. Para nós. E você acha que,
porque estou trabalhando um pouco mais do que antes, estou te
traindo?
Eu me empurro, passando por ele, desesperada por espaço
enquanto inúmeras emoções se aproximam de mim.
— Você está fazendo mais do que “trabalhar um pouco mais”.
Não subestime o que está acontecendo, não diminua. Você atende
ligações e não me diz o que está acontecendo. Você tem viajado mais
e tudo que você faz é me falar alguma sobre “explorar uma
d d d ó '' C b E h
oportunidade de negócio''. Como eu vou saber? Eu não te reconheço,
Aiden! Você está distraído e reservado. Você não me diz o que está
em sua mente, o que está em seu prato. Como posso saber se nada
mudou?
— Porque você confia em mim — diz Aiden, com descrença em
sua voz. — Porque você confia nos doze anos em que nos
conhecemos, onze e meio dos quais fomos um casal, quase dez dos
quais passamos casados, e você diz: “Eu conheço meu marido. Eu sei
que ele é fiel e me ama. Deve haver algo mais acontecendo”.
A raiva ferve dentro de mim.
— Você acha que eu não pensei nisso? Que eu não tentei? Tentei
falar com você, tocar em você, conectar-me com você? E o que eu
ganho? Horas dormindo separados e respostas curtas e genéricas.
Como vou "conhecer'' esse amor, Aiden? Onde está o amor quando
não há intimidade? Sem palavras, sem afeto. Sem mãos procurando
por mim no escuro.
Ele pisca para longe. Culpado.
— Onde está o amor — eu insisto — quando você costumava me
dizer o que estava pesando para você, costumava pedir minhas
idéias e apoio? Onde está o amor quando você não se vira para mim,
mas ao invés disso caminha pelo corredor e fecha a porta, quando já
faz meses desde que falamos sobre engravidar e você nunca pergunta
sobre isso?
Ele se encolhe.
— Tenho estado preocupado com o trabalho e distraído. Eu te
devo essa. Eu sinto muito. Eu deveria ter... mantido um controle
melhor…
— Você teria — eu digo através de um soluço abafado — se você
se importasse com isso! Você tem energia e atenção, Aiden, para as
coisas que importam para você – trabalhar e trabalhar.
— Isso não é justo — diz ele bruscamente. — O trabalho é para
nós. Trabalho é como eu te amo — Ele se interrompe, olhando para o
chão. — Eu não... eu não quis dizer exatamente isso. O trabalho é
uma das maneiras de mostrar que te amo. Trabalhando duro,
estamos protegidos e financeiramente seguros.
Eu suspiro e caio no colchão. Esta conversa.
Novamente.
Aiden cresceu em extrema pobreza. Uma mãe solteira que lutava
para sobreviver. Um pai que se separou quando Aiden era um bebê.
E eu entendo isso, pelo menos abstratamente: a pobreza é
traumática. As preocupações de Aiden com dinheiro – sua
necessidade rigorosa de ter todas as contas em uma planilha do
Excel, discriminadas, pagas precisamente uma semana antes do
vencimento, para fazer pagar os empréstimos o mais rápido
possível, para trabalhar e trabalhar e trabalhar – porque ele cresceu
l d d
com alguns dias sem comer, usando sapatos e roupas muito
pequenas, fazendo trabalhos manuais informais a partir dos dez
anos de idade. Como ele trabalha e vive agora decorre disso. Isso e
sua ansiedade, que... essas duas coisas estão confusamente ligadas,
como ele cresceu e como seu cérebro simplesmente é.
E eu o amo por quem ele é. Eu nunca desejaria o contrário. Mas
isso não significa que sempre posso entender o quão profundamente
seu passado o impactou. Minha vida inteira estive segura e
confortável. Meu pai é oncologista, veterano militar com pensão.
Minha mãe é econômica. Claro, tivemos alguns anos apertados
quando despesas imprevistas se acumularam rapidamente, mas
sempre fomos capazes de nos recuperar, ao contrário de tantas
pessoas neste país para quem um azar pode significar escolher entre
remédios que salvam vidas e eletricidade, enfrentando despejo,
insegurança alimentar, colapso total de suas vidas.
Pessoas como Aiden e sua mãe.
Por isso, sempre tentei honrar como ele lida com os ecos disso na
idade adulta, ser sua maior apoiadora, encorajar seus sonhos a ter
sucesso, e estou muito orgulhosa dele. Ele é um professor de boa
reputação em uma excelente universidade. Ele capacita os alunos a
serem mentes de negócios confiantes e criativas e orienta crianças
como ele, que não têm experiência de suporte ou gestão financeira.
Aiden é um homem realizado e admirável. Ele acabou se
tornando um marido de merda. E não posso continuar dizendo que
um é mutuamente exclusivo do outro. Ele pode ser ambos. Ele pode
ser bom para os outros e ruim para mim.
— Freya — ele diz baixinho, se aproximando de mim como se eu
fosse um animal acuado e rosnando, que é exatamente como me
sinto.
— O quê, Aiden?
Ele engole nervosamente.
— Na outra noite, na galeria de arte. Sua bebida não era... Não
havia álcool nela.
Eu pisco para ele, tentando juntar as peças do que ele está
pedindo. Então eu percebo. Ele quer saber se estou grávida.
— Bem, teríamos que fazer sexo para ter um bebê.
Ele se encolhe.
— Então, não, Aiden. Eu não estou grávida. — A verdade vem
queimando, ardente e amarga. Mas então algo acontece que faz com
que a dor se volte contra si mesma: os ombros de Aiden caem. Como
se ele estivesse aliviado.
Minha boca se abre.
— O que é que foi isso?
— O que? — Aiden diz. — O que foi o quê?

ê Ad ê b d
— Você... Aiden, você acabou de suspirar como se tivesse se
desviado de uma bala.
— Eu fiz isso?
— Você fez. — Eu pulo da cama e dou um passo para mais perto
dele. — Você apenas relaxou.
Ele esfrega o rosto.
— Tudo bem — ele range, baixo e apertado enquanto suas mãos
caem. — Eu relaxei. Perdoe-me por sentir um pouco de alívio por
você não estar grávida enquanto está prestes a me deixar. Perdoe-me
por querer que essa merda fosse resolvida antes de termos um bebê
na bagunça…
— Porque isso sempre tem que ser resolvido, antes - Deus nos
livre! De fazermos algo por paixão, desejo ou amor. Pelo amor de
Deus, Aiden! — Eu me afasto, arrancando minha camiseta de costas
para ele.
Eu o ouço respirar fundo, sinto sua resposta para mim do outro
lado da sala. Foda-se. Eu não me importo. Ele pode ficar frustrado
sexualmente por toda a eternidade. Eu certamente tenho sofrido
bastante nos últimos dois meses.
Depois de colocar um sutiã, eu puxo a camiseta de volta sobre a
minha cabeça e caminho pelo corredor. Calçando meus tênis, pego
minha bolsa.
— Onde você está indo? — Aiden pergunta afiado.
Meu carro. Então In-N-Out. Onde vou pedir uma batata frita
grande e um milkshake de morango e comer meus sentimentos no
estacionamento enquanto choro e canto junto com minha playlist
apropriadamente intitulada Todosss os Sentimentosss. Vai ser catártico
pra caralho.
— Não é da sua conta. — Pego minhas chaves e corro em direção
à porta.
— Freya — ele chama, seguindo-me pela sala de estar — não vá
embora. Fique e brigue. Isso é o que fazemos. Isso é o que sempre
fizemos.
Eu congelo, minha mão pairando sobre a maçaneta da porta.
Olhando por cima do meu ombro, encontro seus olhos.
— Você tem razão. Nós costumávamos. Mas então você desistiu.
Agora estou desistindo também.
— Freya!
Eu puxo a porta e grito por cima do ombro:
— Não. Não me siga.

— Isso não é exatamente o que eu tinha em mente para fika —


murmura mamãe, examinando os maiôs, — visto que foi o café e
muffin mais rápidos que já comi, e quase não conversamos.
E d l
Eu sorrio timidamente para ela.
— Eu sinto muito. É uma loucura no trabalho agora.
E eu sabia que se voltasse para casa e tomasse seu café com infusão de
cardamomo, o bolo kladdkaka que você sabe que adoro, teria chorado e
contado tudo.
E eu não vou contar porra nenhuma para ela. Porque marcamos
uma data para essa viagem de aniversário. A única semana que
casou com a programação de todos - principalmente para se encaixar
na carreira de futebol de Willa e na habilidade do meu pai de fugir
de seus pacientes - é uma semana nauseante, muito próxima. Não
estarei monopolizando a energia emocional de minha mãe com a
preocupação do meu casamento tão perto de sua viagem. E
certamente não vou estragar suas férias com isso também.
Aiden e eu seremos a imagem da felicidade nesta viagem. Sorria,
beije quando for absolutamente necessário, abrace, aja normalmente.
Meus irmãos já juraram segredo e entendem que não quero estragar
o que deveria ser um presente para nossos pais com meu drama.
Todos concordam com meu plano para que tudo corra bem.
É um momento ruim? Sim. É praticamente a última coisa de que
precisamos? Sim. Desde a explosão em nosso quarto, as coisas estão
afetadas e desconfortáveis entre Aiden e eu. Estamos prestes a iniciar
a terapia de casais – o que está me deixando enjoada só de pensar.
Então, há um planejamento para uma viagem que envolve
mudanças na rotina, novos ambientes e despesas adicionais – o que
agrava a ansiedade de Aiden. Além de tudo isso, quando mal
consigo manter a esperança de que meu casamento seja recuperável,
terei de passar uma semana fingindo que as coisas estão
infinitamente melhores do que são.
É uma merda, mas é o que precisa ser feito.
— E como está Aiden? — Mamãe pergunta.
Eu uso a busca por maiôs para ganhar tempo.
— Um pouco estressado com o trabalho, mas bem.
— E vocês dois? Como você está?
Minha cabeça levanta.
— O que?
— Os casamentos têm seus altos e baixos, é claro — diz ela, os
olhos voltando para a prateleira à minha frente. — O do seu pai e o
meu certamente teve.
Digo ao meu coração para parar de tentar sair do meu peito.
— Mesmo? Vocês nunca pareceram nada além de... perfeitos.
— Às vezes, Freya, vemos o que queremos ver em vez do que
realmente está lá. Seu papa e eu brigamos. Mas tentamos lidar com
isso de maneiras apropriadas para nossos filhos. E por meio de
nossas brigas, aprendemos como fazer melhor. Você vê o fruto desse
trabalho.
ô dá ó l d h
Meu estômago dá um nó enquanto eu vacilo, quando chego tão
perto de contar tudo a ela. Eu amo minha mãe. Eu confio nela. E eu
sei que ela terá sabedoria para mim. Mas eu simplesmente não
consigo me forçar a desenterrar essa infelicidade bem no momento
em que estamos entrando em sua celebração. Depois, quando
voltarmos, quando as coisas se acalmarem. Depois disso, vou contar
a ela.
— Hm — mamãe diz, levantando um biquíni preto sexy e
segurando-o em direção ao meu corpo. — Este aqui tem sua cara,
Freya. O que você acha?
Abro a boca para responder, mas antes que possa, uma
vendedora recolhendo roupas experimentadas na prateleira do lado
de fora dos provadores diz:
— Oh, ficará lindo em você.
Ela diz isso para minha mãe. Minha mãe que tem a aparência de
Claudia Schiffer - alta e magra, olhos arregalados e maçãs do rosto
dramáticas. Embora eu tenha os olhos claros e a estrutura óssea de
minha mãe, seu cabelo loiro claro e a mais leve lacuna entre meus
dentes da frente, sou absolutamente o lado paterno da família do
pescoço para baixo - ombros largos, musculoso, com seios e quadris
fartos e coxas.
Uma criança abandonada escandinava, não sou.
Mesmo com o aumento da representação de corpos diversos,
mesmo com o fato de que as lojas de lingerie e maiôs agora
apresentam modelos curvilíneas posando em suas peças, isso ainda
acontece o tempo todo. Aqueles comentários improvisados e
lembretes de que as pessoas simplesmente não conseguem entender
o fato de que eu posso ter um corpo gordo e, na verdade, não querer
me cobrir. O conceito de que “alguém como eu” poderia usar um
biquíni é aparentemente revolucionário. Se eu visto algo que
ninguém pensaria duas vezes sobre uma pessoa magra usando, isso
automaticamente me torna uma guerreira dos corpos reais, em vez
de apenas uma mulher vestindo o que ela gosta.
Normalmente, isso não me incomoda, porque estou ciente de que
há pessoas no mundo que simplesmente não sabem que estão
contribuindo para o estigma corporal ou são apenas cuzões. Tento
não me preocupar com eles. Mas por algum motivo, isso corta. Já
estive aqui uma dúzia de vezes. Esta mulher já nos atendeu antes. É
diferente quando é alguém que te conhece. Isso dói.
— Isso — diz minha mãe friamente — é para minha filha.
A vendedora vacila, seus olhos voltando para mim, antes de dar
uma longa varredura no meu corpo. Ela pisca algumas vezes.
— Oh! — ela diz, nervosa. Suas bochechas ficam rosadas. —
Como sou boba. Não achei que tínhamos esse no tamanho dela.
— O que? — minha mãe diz. Sua voz está abaixo congelante.
A d d d d á d d
A cor da vendedora se esvai de seu rosto mais rápido do que eu
posso murmurar “Ah merda”, porque eu posso ser uma mamãe ursa,
mas aprendi com a melhor, e não tenho nada contra ela. A visão de
Elin Bergman provocada ao ver um de seus filhos ameaçado me
assusta, e sou eu quem ela está protegendo.
— Tenho certeza que ficará ótimo! — a mulher diz sem jeito,
tentando - e falhando - em cobrir seus rastros.
Mamãe revira os olhos e empurra o maiô na prateleira.
— Vamos embora — ela me diz em sueco. — Estou enojada com ela.
Estamos indo para outro lugar.
Os olhos da vendedora fazem pingue-pongue entre nós. Minha
mãe está fria e calma como sempre, mas ela tem maneiras sutis de
mexer com as pessoas quando elas a irritam. Os americanos não
suportam quando as pessoas falam línguas diferentes ao seu redor.
Isso trai nosso egoísmo intrínseco – estamos sempre convencidos de
que é sobre nós. A ironia, claro, é que mamãe faz bem isso.
— Mãe, eu não tenho tempo…
— Para isso, sim, você tem — ela diz. — Além disso, estamos no
caminho de volta para o seu escritório.
Eu olho por cima do ombro quando a porta se fecha atrás de nós.
É a boutique favorita da minha mãe. Não muito extravagante ou
cara, apenas propriedade local e elegante. Agora que não podem
mais nos ouvir, mudo para o inglês.
— Mas você ama aquele lugar.
Mamãe une nossas mãos.
— Eu amava. Até agora. Ninguém faz minha linda Freya sentir
que ela é menos do que isso. — Ela pisca para mim e aperta minha
mão com força. — Além disso, eu sei exatamente um lugar melhor.
6

AIDEN

M ú s i c a D a P l a y l i st : “ F r o m t h e D i n i n g Ta b l e ” - H a r r y S t y l e s

Freya mal fala comigo desde que voltou, de onde quer que tenha
ido, três noites atrás. Então, novamente, eu mesmo estive quieto,
embora eu saiba que ela ainda está chateada por eu não ser sincero
com ela. E, não, eu ainda não disse a ela que me caguei e então seus
irmãos me sequestraram. Desculpe por querer manter um pouco de
dignidade.
— Como você conseguiu uma consulta tão rapidamente? —
Freya pergunta, seus olhos varrendo ao redor.
O prédio do escritório do terapeuta é chique. Uma parede inteira
de janelas de vidro nos permite ver a água, as árvores balançando
com a brisa do verão e o sol da tarde banhando tudo com uma luz de
ouro. Tem cheiro de eucalipto, chá verde e paz mundial. Estou tão
desesperado para que essa seja a nossa solução.
Abrir a boca também seria uma ótima solução.
Mais fácil falar do que fazer. Espero que um especialista me
ajude a descobrir como fazer isso. Porque não sei como confessar
tudo isso para Freya, como contar a ela todos os meus medos e
inadequações e confiança que não a fará empacotar suas coisas ou
desistir antes mesmo de começarmos.
Sei que não estou agindo como a pessoa que era quando me casei
com Freya. Para ela, sempre fui Aiden: ordenado, diligente,
atencioso. Agora sou o caos e o pinball, obcecado pelo trabalho e
desprezivelmente distraído. Eu me sinto tão quebrado. E estou com
medo de ser quebrado diante de minha esposa.
— Aiden? — ela pressiona.
Eu volto para a realidade.
— Desculpe. A Dra. Dietrich é amiga de uma colega, que
intercedeu por nós. É por isso que ela abriu uma exceção para nos
ver depois do horário normal.
— Que colega? — Freya pergunta.
— Ela é uma amiga do departamento.
— Ela? — Freya para no meio do caminho. — Quem é ela?
Eu paro com ela, levando-a gentilmente pelo cotovelo para o lado
da sala para não bloquearmos a porta.
— Ela, a conselheira? Ou ela, a…
— Sua colega, Aiden.
— Oh. Luz Herrera.
O lh d
Os olhos de Freya se estreitam.
— E você é próximo o suficiente de Luz para trocar contatos?
Eu abro minha boca e faço uma pausa. Procurando a expressão
de Freya, eu me inclino.
— Por que você está perguntando isso?
Sem resposta.
— Você está desconfiada? — Eu pergunto timidamente. — Eu
disse que estou sendo fiel a você, Freya.
A mandíbula de Freya se contrai.
— Claro que não.
— OK. — Piscando em confusão, eu gesticulo em direção ao
escritório de Delilah Dietrich. Freya caminha na minha frente.
— Você ainda não me respondeu — ela diz.
Ainda estou processando sua intensidade. Mesmo que ela não
suspeite, ela está curiosa. Ela se preocupa, o que é bom, não é? Se ela
estivesse pronta para me largar para sempre, ela não se importaria
com quem eu estaria “trocando contatos”.
— Fizemos a mentoração de alguns alunos em conjunto — digo a
ela. — Um deles teve alguns problemas de saúde mental e, quando
Luz e eu estávamos trabalhando para apoiá-los, Luz rapidamente
encontrou uma recomendação. Ela explicou que veio da Dra.
Dietrich, sua amiga, e foi assim que ela cuidou do aluno tão
rapidamente. Em certo ponto de nossa conversa, Luz mencionou que
Delilah é uma conselheira exclusiva para casais. Isso é tudo.
— Hm — Freya diz, seus olhos se desviando.
Antes mesmo de nos sentarmos nas cadeiras da sala de espera da
Dra. Dietrich, nossa terapeuta entra, uma aura de cachos prateados
frisados, óculos de aros metálicos que aumentam significativamente
seus olhos.
— Boa noite, queridos — diz a Dra. Dietrich, entrelaçando as
mãos. Ela está usando um vestido que vai até o chão em verde-claro,
meias de lã esfarrapadas e sandálias Birkenstocks. Agarrando seu
suéter de tricô cor de areia ao seu redor, ela acena.
— Entrem. Por aqui.
A Dra. Dietrich entra em seu escritório e gira em torno de sua
mesa, que está uma bagunça louca, tirando uma caneca de chá de
um pedaço de papel, que gruda e rasga quando ela os separa. A
desordem disso me faz estremecer. Freya, no entanto, vai se sentir
em casa neste caos alegre.
— Confortável? — Dra. Dietrich pergunta enquanto nos
acomodamos, piscando como uma coruja através de seus óculos.
Freya concorda. Eu tiro meu suéter e tento ignorar a merda na
mesa da Dra. Dietrich. Ela parece notar minha atenção nisso
enquanto se recosta e sorri.

d d f á l l h d d
— Te deixa desconfortável? — ela pergunta. — Minha desordem
organizada?
Eu me mexo no sofá, querendo fazer o que sempre fiz com Freya,
que é envolvê-la com um braço e puxá-la para perto. Enterrar meu
nariz em seu cabelo e respirar seu cheiro familiar de limão. Mas eu
não consigo. Cada átomo de seu corpo grita, não me toque.
Então eu entrelaço meus dedos e coloco minhas mãos entre os
joelhos.
— Um pouco — eu admito.
Freya revira os olhos.
— Ele é um maníaco por limpeza.
— Se por “maníaco”, você quer dizer que mantenho nossa casa
organizada para que você possa realmente encontrar coisas.
— Eu encontro as coisas — Freya diz defensivamente.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Na maioria das vezes — ela corrige, desviando o olhar e
erguendo o queixo um pouco desafiadoramente. No passado,
quando ela fazia isso, eu apertava seu queixo e a beijava. Primeiro,
uma forte pressão dos lábios. Então minha língua, persuadindo sua
boca a abrir. Suas mãos agarrariam minha camisa e ela empurraria
sua pélvis contra a minha. Então, eu a empurrava contra a parede do
corredor e nos beijávamos até o quarto.
Minhas mãos coçam para fazer isso – tocar a linha de sua
mandíbula, acariciar sua pele macia e quente e trazer sua boca macia
para a minha. Porque o toque sempre nos uniu. Mas isso é parte do
nosso problema. Mesmo o toque familiar e amoroso que dizia tanto
quando eu sofria, nem mesmo isso nos une mais.
Estamos muito além de abraçar e fazer as pazes. Eu sei disso
agora.
Dra. Dietrich sorri antes de tomar um gole de chá.
— Então, vocês dois tem personalidades bem diferentes?
— Ahhh sim — Freya diz rapidamente. — Praticamente opostos.
Eu franzo a testa para ela.
— Por que você diz dessa forma?
Dra. Dietrich põe seu chá na mesa. Freya não responde.
— Estou me adiantando — diz a Dra. Dietrich gentilmente. —
Primeiro, me digam por que vocês estão aqui.
O silêncio paira entre Freya e eu. Por fim, digo a ela:
— Pedi a Freya que viesse e ela disse que sim.
— E por que você pediu a ela para vir?
— Porque ela me expulsou há algumas semanas…
— Eu não te expulsei, Aiden — Freya diz, sua voz tensa. — Eu
pedi um pouco de espaço.
Eu expiro lentamente, tentando não ficar na defensiva, para não
trair o quanto ser convidado a sair dói.
êf l d
— Você fez uma mala para mim, Freya, e me deu uma passagem
de avião…
— Para a cabana da minha família, que é como uma segunda casa
para você — Freya interrompe.
— Vamos deixar Aiden terminar seus pensamentos, Freya, então
você pode discutir com ele — diz o Dr. Dietrich com naturalidade.
O queixo de Freya cai.
Limpo minha garganta nervosamente.
— Freya me pediu para sair para que ela pudesse ter algum
tempo e espaço para pensar. Desde que voltei, estamos em um
padrão de retenção no qual não quero ficar. Acho que precisamos de
ajuda para sair disso. Eu pelo menos preciso de ajuda. Freya
concordou em vir quando eu disse isso a ela.
— Freya — diz a Dra. Dietrich. — Vá em frente. Vamos ouvir de
você.
Freya desvia o olhar, seus olhos procurando a vista da janela.
— Nos últimos... seis meses, eu acho, senti uma mudança em
nosso casamento, como se nossa conexão fosse areia escorregando
pelos meus dedos e não importa o quão forte eu agarrasse, eu não
conseguia parar de me perder. Tentei perguntar a Aiden o que
estava acontecendo, mas ele foi evasivo. E eu simplesmente me
senti... derrotada. Então eu pedi espaço, porque eu não aguentava
mais seguir em frente.
Se você tivesse me perguntado quando nos casamos, se eu
poderia ver nossa comunicação sendo tão profundamentalmente
quebrada, que eu ficaria tão entorpecida e sem esperança, que Aiden
poderia se desvincular e ser pego de surpresa pelos meus
sentimentos, eu teria rido na sua cara. No entanto, aqui estamos.
Dra. Dietrich acena sombriamente.
— OK. Obrigada a ambos. Então, Aiden, você disse que precisa
de ajuda para sair do seu padrão de retenção. Você pode
compartilhar o que você precisa de ajuda?
Meu coração bate quando as palavras de Freya ecoam em minha
mente. Meus piores temores se confirmam – todas as minhas
tentativas de manter para mim mesmo o pior dos meus sintomas de
ansiedade, de empurrar e lutar contra esta temporada estressante, de
esconder o quão profundamente ela estava me afetando e
protegendo Freya, teve uma saída épica, pela culatra.
Mas não é apenas a sua ansiedade, aquela voz sussurra na minha
cabeça. É o que a ansiedade faz ao seu corpo. A sua vida amorosa. E você é
muito orgulhoso para admitir.
— Eu… — Olhando para Freya, eu queria tanto segurar sua mão,
contar tudo a ela. Mas como? Eu fico olhando para ela, lutando por
palavras.
— Sim? — Dr. Dietrich diz suavemente.
f lá d d
— Mencionei no meu formulário de admissão que tive um
crescimento difícil, o que traz consigo certos gatilhos. E eu tenho
transtorno de ansiedade generalizada. — As palavras saem correndo
de mim. — Bem, nos últimos meses, enquanto as coisas ficaram...
tensas entre nós, minha ansiedade tem estado cada vez maior.
Achei que poderia consertar antes que ela percebesse, antes que
ela começasse a fazer perguntas e me pressionar por respostas. Eu
tinha administrado minha ansiedade e sintomas associados melhor
no passado. Eu poderia fazer de novo. Eu só tinha que me esforçar
mais. Lutar com mais força. Daria certo. Coma bem. Faça exercício.
Mantenha seu horário de sono. Respire fundo. Medite no caminho
para o trabalho–
Sim, o que deu tão certo que você teve aquele ataque de pânico e teve que
parar na rua.
— Por que isso? — Dr. Dietrich pergunta. — O que está
elevando sua ansiedade?
O suor rasteja sobre minha pele e meu coração bate mais forte.
— Bem, estou muito ligado no trabalho, tentando solidificar meu
lugar no departamento, mas também estou trabalhando no
desenvolvimento de uma oportunidade de negócio que nos manterá
financeiramente seguros. E sim, estou perseguindo isso, em parte,
para amenizar minhas preocupações com dinheiro, mas também
porque é simplesmente responsável. É a coisa certa a fazer pela
minha família. O problema é que os riscos e possíveis falhas que
meu trabalho apresenta costumam desencadear minha ansiedade,
então é uma espécie de ciclo vicioso. Então, quando está tão ruim
assim, faz ..
Confesse. Fale! Diga a ela que a preparação para um bebê fez sua
ansiedade disparar. Diga a ela que seu cérebro está inundado com cortisol e
adrenalina, girando com preocupações, “e se", e fantasias negativas …
Minha boca funciona, minhas mãos se fechando em punhos até
doerem.
Diga a ela que é quase impossível relaxar o suficiente para se sentir
excitado ou permanecer excitado ou terminar, que se você aumentasse a
dosagem da sua medicação, seria ainda pior.
Diga a ela.
Eu mordo minha bochecha até sangrar, dor e vergonha se
enredando dentro de mim. Sei que escondi mais dela do que jamais
quis, bem ciente de que a honestidade é ouro e a comunicação é a
chave. Mas Deus, tive meus motivos. Porque eu conheço minha
esposa. Se eu contasse a Freya sobre meu problema, sei exatamente o
que ela faria. Ela engavetaria seus planos, diminuiria suas
esperanças. Voltando a tomar a pílula, assegurando-me de que
poderíamos adiar a gravidez…

Sl E fi d
Silenciosamente, isso a esmagaria. E não estou a fim de esmagar
minha esposa.
Freya me olha com curiosidade.
— Por que você não me contou, Aiden?
— Porque não é só minha ansiedade, Freya. É… — Eu exalo
tremulamente, flexionando minhas mãos, passando-as pelo meu
cabelo. — É que minha ansiedade... afetou meu impulso sexual. Eu
não sabia falar sobre um sem confessar o outro, então guardei para
mim. E eu não deveria. Eu sinto muito.
Lá. Uma verdade parcial.
Também conhecida como mentira por omissão.
Freya se recosta, os olhos me examinando. Eu a surpreendi.
Dra. Dietrich acena com a cabeça.
— Obrigada, Aiden, por se abrir sobre isso. Gostaria de fazer
uma pergunta, como acompanhamento: por que você se sentiu
incapaz de dizer a Freya que sua ansiedade é aguda agora, que está
tendo um impacto em sua vida sexual?
Eu encontro os olhos de Freya.
— Eu não queria sobrecarregá-la. Freya já me apóia muito. Eu
só... tentei me concentrar em cuidar disso, ao invés de colocar mais
sobre os ombros dela.
— Você poderia ter contado a ela e trabalhado nisso — diz a Dra.
Dietrich.
E um silêncio espesso paira na sala.
Mas então eu teria que admitir... tudo. O que a ansiedade estava
fazendo ao meu corpo, o quão longe estava me levando dela.
— Eu acho– Eu limpo minha garganta asperamente. — Acho que
estava com medo de admitir para mim mesmo, o quão sério tinha se
tornado, muito menos para Freya.
Dra. Dietrich balança a cabeça lentamente.
— Se não formos honestos com nós mesmos, não podemos ser
honestos com nossos parceiros. Esse é um bom olhar sobre você
mesmo. Fico feliz em ouvir isso. Agora, sua ansiedade está medicada
e você está em terapia, correto?
— Sim.
— Você merece cuidado e apoio, Aiden. Por favor, certifique-se
de acompanhar isso.
Sim. Em todo o meu amplo tempo livre.
— Arranje tempo — diz a Dra. Dietrich, como se tivesse acabado
de ler minha mente. — Freya? — ela pergunta suavemente. —
Algum pensamento, depois de ouvir isso?
Freya me encara, sua expressão magoada.
— Eu gostaria de ter sabido, Aiden. Em geral, você é tão
transparente quanto à sua ansiedade e sempre fico grata por saber

lá dá l O é d fí l E
que posso estar lá para ajudá-lo. Ouvir agora... isso é difícil. Eu me
sinto excluída. Novamente.
Eu roço os nós dos dedos com Freya.
— Eu sinto muito.
Ela me encara por um longo momento, depois enxuga uma
lágrima que escorregou.
— Bem, agora que temos alguns sentimentos iniciais diante de
nós, agora que tenho uma noção do que estamos enfrentando — diz
a Dra. Dietrich — deixe-me voltar brevemente, dizendo o mantra da
minha empresa: há uma mentira: nos dizem em nossa cultura que a
sintonia com nosso parceiro romântico, com nossas emoções e
pensamentos deve ser quase psíquica, e esse é o barômetro de nossa
intimidade. Se sentimos que eles não estão nos entendendo,
raciocinamos que paramos de ter essa conexão íntima mágica.
— Mas não é esse o caso. A verdade é que mudamos e crescemos
significativamente na idade adulta, e para ficarmos próximos de um
parceiro comprometido, temos que continuar aprendendo,
examinando se nosso crescimento é compatível ou divergente. No
entanto, não podemos saber disso até que tomemos medidas para
compreender nosso parceiro, especialmente quando ele muda a
ponto de sentirmos que não o reconhecemos. Se descobrirmos que
podemos nos envolver, apreciar e valorizar sua evolução, que eles
podem retribuir esses sentimentos por nós, redescobrimos a
intimidade.
— Então, o que isso tem a ver conosco? — Eu pergunto. — Você
está dizendo que mudamos?
Ela inclina a cabeça.
— Você não?
Freya se mexe no sofá.
— Eu realmente não tinha pensado sobre isso, mas sim.
Obviamente, mudamos desde que tínhamos vinte anos.
— E talvez seus padrões para praticar e cultivar a intimidade não
tenham mudado com você — diz a Dra. Dietrich. — Não
acomodaram seus sonhos e seus desejos, sua saúde mental e suas
necessidades emocionais.
Ela olha incisivamente entre nós. Nós dois recuamos.
— Mas a intimidade não apenas... existe ... ou não? — Freya
pergunta após um momento de silêncio. — Contanto que vocês dois
ainda estejam comprometidos um com o outro, deve estar lá, certo?
— Oh, meu Deus, não. — Dra. Dietrich toma um gole de chá e
depois olha para nós. — Intimidade não é intuição. Não é nem
familiaridade. Intimidade é trabalho. Às vezes é um trabalho feliz,
como colher maçãs amadurecidas ao sol que caem da árvore sem
esforço, e outras vezes, é como procurar cogumelos trufas: de
joelhos, bagunçado, ineficiente; é preciso desenterrar a sujeira e
l d d
talvez terminar de mãos vazias na primeira tentativa, antes de
encontrar o filão principal.
Freya franze o nariz. Ela odeia cogumelos.
Dra. Dietrich parece notar.
— Sim, essa metáfora tende a quebrar com meus pacientes de
paladar exigente. Mas, tudo bem, não podemos ser tudo para todas
as pessoas!
O silêncio paira na sala. O sorriso da Dra. Dietrich desaparece
suavemente.
— Eu sei que isso é difícil, e estou colocando mais em suas
cabeças do que aliviando vocês, como vocês acham que um
terapeuta deveria. Infelizmente, é assim que isso começa. Confuso,
opressor e difícil de resolver. Mas adivinhe? Vocês escolheram um
ao outro hoje. Vocês deixaram de lado suas agendas lotadas,
pagaram com o dinheiro ganho com dificuldade e disseram que
acreditam um no outro o suficiente para aparecer e tentar. Então, se
aplaudam.
Quando nenhum de nós a entende literalmente, ela sorri
novamente.
— Não, é sério. Façam.
Nós nos aplaudimos desajeitadamente.
— Excelente — ela diz. — Portanto, a terapia de casal é como
qualquer nova forma de exercício intenso: trabalhamos duro, depois
relaxamos e damos um descanso aos músculos. Vocês fizeram muito
hoje, então agora vamos mudar de marcha.
Eu pisco para ela.
— Conversamos por quinze minutos.
— Vinte, na verdade. E que vinte minutos foram! — ela diz
brilhantemente.
Freya esfrega o rosto.
— Então — Dr. Dietrich diz, alcançando atrás dela. — Sem mais
delongas…
Uma caixa cai com um baque no chão.
Eu fico olhando para o jogo da minha infância.
— Twister?
— Sim, pessoal. Vamos nos tornar mais flexíveis, presumo que
ninguém se sinta fisicamente inseguro aqui ou incapaz de suportar o
toque. Seus formulários de admissão diziam não, mas estou
checando novamente. Algo mudou para algum de vocês?
Freya balança a cabeça.
— Não. Estou bem — diz ela.
Eu concordo.
— Eu também.
— Excelente. Tirem as meias– oh, mas, olhe para isso. — A Dra.
Dietrich se curva e desdobra o tapete do jogo, balançando os pés
l d d d dál k k ê d
calçados com meias dentro das sandálias Birkenstocks. — Vocês dois
estão usando sandálias sem meias. Interessante.
Freya olha para mim enquanto um sorriso surge nos cantos de
seus lábios. Eu sorrio de volta e, por apenas um momento, está lá, o
brilho em seus olhos. O mais tênue fio de conexão.
— No chão, então — Dra. Dietrich diz, puxando sua cadeira para
trás. — Que os jogos comecem!
7

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ Tr a i n N o r t h ” - B e n G i b b a r d , Fe i st

AD .D toma um gole de chá e gira a seta.


— Mão esquerda no vermelho.
O braço de Freya desliza sob meu peito, roçando meu peitoral.
Seu cabelo, seu cheiro suave de limão e grama cortada, tão familiar,
sempre atraente, me rodeia. Eu a inspiro, sentindo-a expirar
tremulamente embaixo de mim. Eu tenho que fazer meu próximo
movimento, o que faz com que minha pélvis roce sua bunda.
Estamos em uma posição incrivelmente sugestiva, o que não parece
intimidar a Dra. Dietrich. Ela toma outro gole de chá e gira a seta
mais uma vez.
— Pé direito no verde.
— Isso é cruel — Freya murmura.
— Eu sou implacável. — A Dra. Dietrich ri maldosamente. —
Mas é para o seu próprio bem.
Freya estica o pé direito, até que ela esteja confortável debaixo de
mim, dobrada contra minha virilha. Eu fecho meus olhos e me
imagino beijando seu pescoço, mordendo entre suas omoplatas. Eu
me movo para alcançar meu círculo verde, encaixando minha coxa
entre as de Freya. A necessidade aperta meu corpo, uma dor quente
crescendo no meu estômago que me surpreende tanto quanto a ela.
Ela respira fundo enquanto meu peso repousa contra o dela, meu
hálito quente em seu pescoço. Eu expiro com força, em seguida,
respiro longa e lentamente.
Dra. Dietrich roda a seta novamente.
— Pé esquerdo para amarelo.
Nós nos movemos de acordo e mudamos de sexualmente tensos
para explicitamente desconfortáveis. Não fui feito para me curvar
assim.
— Hum, Dra. Dietrich? — Freya diz, sua voz falha. — Você pode
girar a roleta de novo?
Dra. Dietrich franze a testa.
— Huh. A seta não parece estar funcionando. — Ela o joga por
cima do ombro, onde cai na pilha aleatória em sua mesa. — Suponho
que terei apenas que lhes fazer uma pergunta e, assim que tiver sua
resposta, vou escolher um lugar novo para vocês se moverem.
— O que? — Freya guincha.
— Diga-me uma coisa que você ama sobre Aiden.
Alé d b d d l
— Além da bunda dele?
Eu franzo a testa para ela.
— Freya, fala sério.
— Aiden, estamos jogando Twister e em uma posição mais
aventureira do que nunca…
— Freya!
Ela limpa a garganta.
— Desculpa. OK. Eu amo a convicção de Aiden. Ai meu Deus,
minhas costas doem.
A Dr. Dietrich não se preocupa com o desconforto na coluna.
— Convicção pelo quê?
— Essa é outra pergunta! — Freya grita.
— Ah, que pena — diz a Dra. Dietrich. — Acontece que eu sou a
capitã do Twister, e digo o que eu quiser. Você me deu uma meia
resposta de qualquer maneira. Melhor torcer para não escolher o pé
direito para o verde a seguir.
Eu olho para aquele local. Acho que Freya iria se partir ao meio.
Meus braços estão tremendo, meus óculos embaçam enquanto o
suor pinga em meus olhos.
— Frey, você pode simplesmente responder a ela?
— Jesus, Aiden, estou pensando.
— Você tem que pensar sobre por que admira minha convicção?
— Sossega aí, garotão — diz a Dra. Dietrich.
— Eu amo sua convicção — Freya desabafa — sobre tirar o
máximo de tudo que a vida lhe dá. Ele saboreia os presentes simples
da vida, extrai deles cada gota de significado e oportunidade, então
ele traz essa convicção para seus alunos, para seu trabalho — Sua
voz vacila. — Para nós. Pelo menos ele fez. Agora, você pode
escolher um ponto antes de eu escorregar de um dos discos?
Meu coração afunda no meu peito. Deus, como eu estraguei
tudo. Tudo isso foi por ela, e tudo o que fiz foi fazê-la se sentir como
minha última prioridade.
— Muito bem — diz a Dra. Dietrich. — Mão esquerda para o
azul.
Freya imediatamente muda para a posição de ioga do cão
olhando para baixo. Estou com ciúmes do caralho.
— Agora você, bom senhor — diz a Dra. Dietrich, ajustando os
óculos. — Uma coisa que você ama na sua esposa.
— Ela vive seu amor, então você não pode deixar de sentir isso.
No momento em que soube que Freya me amava, eu soube disso. Eu
não tive que adivinhar. Nós não estávamos namorando por muito
tempo. Eu peguei uma gripe e ela ficou comigo mesmo quando eu
estava em estado contagioso. Quando finalmente não estava
delirando e implorando para morrer – sim, sou uma criança quando
fico doente – perguntei o que ela estava fazendo, arriscando-se a
fi El l b l á d E
ficar comigo. Ela apenas alisou meu cabelo para trás e disse: “Eu não
estaria em nenhum outro lugar”.
Eu engulo em seco, olhando para Freya. Sua cabeça pende. Ela
está fungando.
— Olhei nos olhos dela e vi o amor — sussurro, passando o nó na
garganta. — Eu senti amor. E eu quero isso de volta. Quero sentir
amor com Freya de novo.
Freya desabou no tapete Twister, cobrindo o rosto enquanto
começava a chorar. Antes que a Dra. Dietrich pudesse dizer
qualquer coisa, antes que fosse um pensamento consciente, puxei
Freya em meus braços.
A Dra. Dietrich se agacha, colocando a mão firme e macia nas
costas de Freya.
Depois de alguns minutos eternos de choro que faz meu coração
parecer que está sendo serrado para fora do peito, Freya se senta,
enxugando os olhos.
— Desculpe ter perdido — ela sussurra.
— Vamos encerrar o jogo. Sentem-se, vocês dois — diz a Dra.
Dietrich, recostando-se na cadeira.
Freya e eu nos levantamos, depois caímos de volta no sofá,
nossos corpos pousando um pouco mais perto do que estavam
quando começamos. Tento não notar, colocar peso nisso. Se Freya
sabe, ela não demonstra.
A Dra. Dietrich diz:
— Freya, estou preocupada por você ter acabado de se desculpar
por chorar. Estou orgulhosa de você por fazer isso. Sentir nossos
sentimentos é corajoso e saudável.
Freya dá a Dra. Dietrich um sorriso fraco e lacrimoso, depois
assoa o nariz.
— Por que das suas lágrimas? — Dra. Dietrich pergunta a ela. —
Quais são algumas palavras de sentimento?
Freya morde o lábio.
— Ferida. Confusa. Nervosa.
— Bom. Vá em frente, se quiser.
— Não entendo porque estamos aqui. Se Aiden quer sentir amor
por mim, por que nossa comunicação sofre a princípio? Por que ele
escondeu de mim – seu trabalho, sua ansiedade e o impacto sobre
como ele se sentia em relação à intimidade física? Era realmente
apenas por que ele estava descobrindo isso dentro de si mesmo? Ele
não poderia me dizer... nada disso ao longo do caminho?
Dra. Dietrich balança em sua cadeira.
— Bem, eu acho que você deveria perguntar a ele. Eu acho que
também é bom se perguntar: você ocultou pensamentos ou
sentimentos de Aiden que ele deveria saber também?

lh lh
Freya olha para suas mãos, então olha para mim, um novo tipo
de vulnerabilidade brilhando em seus olhos.
— Eu… — Ela limpa a garganta. — Às vezes, eu meio que
reprimo meus sentimentos e tento resolvê-los antes de contar a ele.
— Ok — Dra. Dietrich diz suavemente. — Por que?
Freya me olha nervosa e depois se afasta.
— Eu não quero preocupar Aiden quando minhas emoções estão
altas. Eu sei que é perturbador para ele quando eu sou um caso
perdido.
— Freya. — Eu aperto a mão dela. Dói tanto saber que ela iria se
esconder, se machucar daquele jeito, para me proteger.
Respire, Aiden. Respire.
— Freya — sussurro — sempre quero saber o que você está
sentindo.
— Isso é ótimo, vindo de você — diz ela em meio às lágrimas.
— Porque eu é que tenho ansiedade, não você! Você não precisa
carregar tudo o que eu carrego mentalmente também. Estou
tentando fazer ajustes para tornar tudo justo.
— Ah. — Dra. Dietrich levanta sua mão. — Sobre essa palavra,
justo... a ideia de “justo” em um casamento, qualquer
relacionamento, quero dizer, é impossível. Nenhum casamento é
justo. É complementar. A ideia de “justo” é absurda, na melhor das
hipóteses, e capacitista, na pior.
Nós dois viramos nossas cabeças e olhamos para ela.
— Capacitista? — Freya pergunta.
— Capacitista — diz a Dra. Dietrich. — Porque dizer que um
relacionamento tem que ser “justo” implica apenas um certo
equilíbrio e a distribuição de habilidades e aptidões é válida. Isso
defende uma ideia arbitrária e prejudicial de 'normal' ou 'padrão'
como requisito para cumprir a parceria. Quando, na realidade, tudo
que você precisa é de duas pessoas que amem o que o outro traz e
compartilhem o trabalho do amor e da vida juntos.
Dra. Dietrich sorri gentilmente para nós.
— Aiden, você está tentando proteger Freya de carregar
emocionalmente “mais” do que você acha que ela deveria. Freya,
você está evitando a honestidade sobre sentimentos e pensamentos
que você acha que podem fazer Aiden sentir “mais” do que você
acha que ele deveria. Vocês dois estão bem intencionados, mas é
uma péssima ideia. E muitos casais fazem isso. Mesmo depois,
Freya, você jurou amá-lo por inteiro e, Aiden, jurou dar-lhe tudo de
si.
Freya pisca para mim, seus olhos úmidos. Eu fico olhando para
ela, querendo tanto abraçá-la e beijar suas lágrimas.
— Freya está apenas tentando me proteger — digo a Dra.
Dietrich, meus olhos não deixando os de Freya. — E tenho tentado
êl bé
protegê-la também.
— Sim — diz a Dra. Dietrich. — Mas protegemos nossos cônjuges
de coisas que causam danos reais – abuso, violência – e não nossas
vulnerabilidades e necessidades inerentes. Eles estão lá para eles
amarem e complementarem. Se não — ela diz incisivamente — vem
ao custo de nossa intimidade, nossa conexão... nosso amor.
Os olhos de Freya procuram os meus.
— Isso faz sentido.
— Além disso, Freya — diz a Dra. Dietrich —, isso é algo que
minhas clientes frequentemente percebem na terapia: elas guardam
seus sentimentos porque nossa cultura nos ensina que não seremos
levadas a sério quando estivermos “emotivas”, mas vou lhe dizer,
seu marido precisa de suas palavras de sentimento. Aiden, você
entende a importância delas, espero.
Eu concordo.
— Eu entendo. Mas talvez eu não tenha deixado isso claro para
ela. Eu quero que você me diga, Freya. Eu farei melhor em mostrar
isso a você.
Freya me espia do canto do olho.
— Ok — ela diz calmamente.
Nossos olhares se fixam, percorrendo os rostos um do outro. É
como limpar a névoa de um espelho e realmente ver o que está na
minha frente por muito tempo. Eu me pergunto se Freya se sente
assim também.
— Então — Dra. Dietrich diz, perfurando o momento. — Sua
intimidade sexual é impactada por isso. Aiden disse a você que
quando sua ansiedade é tão alta, isso afeta seu desejo sexual. Como
você está, Freya? Do ponto de vista sexual.
As bochechas de Freya ficam rosadas.
— Já estive melhor.
O calor inunda meu rosto também. Tudo parecendo um grande
fracasso.
Dra. Dietrich levanta as sobrancelhas interrogativamente.
— Você se importaria de compartilhar mais?
— Bem… — Freya diz. — Já faz... meses. Não tenho certeza do
que veio primeiro – minha sensação de que Aiden estava
trabalhando muito mais que o usual ou que ele não iniciava mais do
jeito que costumava fazer. Então me senti rejeitada. Como se ele não
me quisesse. E então eu também não queria fazer sexo. Eu não queria
que ele se afastasse de mim emocionalmente, mas pensasse que ele
ainda poderia ter meu corpo.
— Não é assim que me sinto! — Eu digo a ela. — Eu nunca iria
querer sexo sem emoção com você.
Dra. Dietrich olha para mim, inclinando a cabeça.
— Então, o que você sente?
Q b bê é d
— Que ter um bebê não é pouca coisa — eu admito, antes que as
palavras possam ser interrompidas. — Que criar um filho em uma
das cidades mais caras dos Estados Unidos com nosso tipo de dívida
de empréstimos estudantis não é algo insignificante, que vai exigir
mais do que tenho feito. Fiquei um pouco obcecado em trabalhar
para nos preparar para isso, e de alguma forma isso se transformou
em rejeitá-la, querendo seu corpo, mas não seu coração?
Porra, essa acusação dói.
— Aiden, você fala sobre isso como se essa responsabilidade
fosse só sua — Freya solta. — E não é. Estou ciente do custo de vida
e dos cuidados de uma criança. Acontece que tenho amigos que têm
filhos, que tiveram que tomar decisões extremamente difíceis sobre
suas carreiras e maternidade. Eu carreguei isso comigo e refleti
muito sobre isso, considerando que eu também trabalho e ajudo a
pagar as contas.
Ajuda? Seu último pagamento foi maior do que o meu, o que
significava que ela conseguiu aquela promoção que ela estava
planejando afinal. E mais uma vez, como um idiota, esqueci de dizer
algo. Suspirei de alívio e transferi para a poupança, meu pulso se
acalmando quando vi aquele número ficar um pouco maior, antes de
um e-mail sobre o aplicativo engolir minha felicidade e me arrastar
de volta para o reino das coisas para fazer.
— Não quero dizer que não ajuda, Freya — digo a ela. — É só
que você aborda as despesas iminentes de maneira diferente,
confiante de que iremos superá-las. Estou muito mais familiarizado
com o que pode acontecer se você não estiver preparado
financeiramente e eu ajo de acordo. Você cantarola alegremente
enquanto abre as contas. Eu cerro os dentes e faço cálculos mentais
sobre o que precisa acontecer para manter nossas economias. Estou
tentando encontrar um equilíbrio entre essas duas posições, e isso
significa garantir uma renda extra, nos preparando para a
estabilidade para que, quando um bebê estiver aqui, eu não trabalhe
constantemente. Eu já terei feito isso. E serei capaz de me concentrar
em cuidar de vocês dois, sendo um atual parceiro e pai.
— Sim — Freya diz, cruzando os braços. — Aí está.
Dra. Dietrich olha para nós.
— Qual é a história por trás aqui? E devo entender que você está
tentando engravidar?
Freya acena com a cabeça firmemente.
— Esse era o plano, sim.
Dra. Dietrich olha para mim.
— Aiden?
— Sim. Esse era o plano.
— E? — ela pressiona.

E b d h C
— Eu cresci pobre — digo a Dra. Dietrich. — Com um pai que
sumiu no mundo quando eu era bebê e uma mãe que nunca se
recuperou disso. Tive que trabalhar muito duro durante toda a
minha vida para obter cada ganho financeiro, para finalmente, pela
primeira vez na minha vida, ter poupanças saudáveis. Antecipar os
custos de uma criança é intimidante, então tenho buscado segurança
financeira e tenho trabalhado em um projeto...
— Sobre o qual ele não me contou — Freya diz.
Eu olho para ela.
— Eu não contei, de fato. Mas tem sido apenas uma corrida louca
e partes em constante movimento para chegar onde estamos, a
alguma aparência de algo que pode realmente dar certo. Eu não iria
guardar isso para mim para sempre.
— E por que manter isso para você, afinal? — Dra. Dietrich
pergunta. — Confiança e franqueza são fundamentais em um
casamento.
— Como eu disse, foi apenas um sonho no começo, eu só queria
cultivar por um tempo antes de compartilhar com ela, uma vez que
não corria o risco de ser uma decepção total. — Viro-me para Freya e
digo a ela — Assim que soubesse que teríamos uma percepção de
sucesso, iria compartilhá-la com você. Um presente, um passo
positivo para melhorar a vida de nossa família. No dia em que voltei
para casa e você fez a minha mala para a cabana, eu estava pronto
para te contar.
O rosto de Freya se contrai de dor.
— Por que você não me contou desde então?
— Porque mal conversamos, Freya, e eu tinha quase certeza de
que a última coisa que você queria era me ouvir falando sobre
trabalho. — Ela olha para baixo e encara suas mãos, então eu
prossigo, esperando poder tranquilizá-la, alcançá-la pelo menos um
pouco. — Não há risco financeiro para nós, não estou sabotando
nossos fundos. Não é nada que afete você…
— Exceto que isso afeta você, Aiden, e, portanto, afeta a mim,
porque eu sou sua esposa, sua parceira de vida, que se preocupa
com você! — Freya se levanta e pega sua bolsa. — Essa é a merda
que eu não suporto. É essa coisa, o que falamos antes, como
dançamos em torno de sua ansiedade e meus sentimentos. Acho que
ela tem razão. E eu posso ouvir aquilo. Mas isso? Essa merda sobre
dinheiro?
Ela gesticula para mim, furiosa enquanto fala com a Dra.
Dietrich.
— Ele racionaliza me excluindo, agindo como George Bailey,
deixando a pequena esposa sozinha em casa, enquanto ele tropeça
na porra de Bedford Falls e quebra as mãos por dinheiro.

E fil É id ilh d
Eu amo esse filme, “É uma Vida Maravilhosa”, mas guardo isso
para mim. Freya poderia derrubar uma porta se eu dissesse isso.
— Eu sou sua parceira — ela me diz com raiva. — Eu deveria
estar viajando pela neve com você, não presa naquela casa em que
despejamos tudo, me perguntando quando você vai voltar. Você se
trancou do lado de fora, Aiden Christopher MacCormack...
Merda. Acabei de receber o nome completo.
— E agora você está chateado que eu vou ficar lá? Bem, que
merda hein? Ou você se deixa entrar, ou é isso, e acabou.
Freya sai furiosa e bate a porta atrás dela.
Os olhos da Dra. Dietrich deslizam para a porta, depois para
mim.
— Parece que acertei um nervo.
Suspirando, eu esfrego meu rosto.
— Sim.
— O negócio é o seguinte, Aiden. — A Dra. Dietrich se inclina. —
Um relacionamento é como um corpo e, sem o oxigênio da
comunicação, só pode durar até certo ponto quando uma pessoa se
afasta e o priva tanto quanto parece que você o fez. Eu sei que é
difícil ser vulnerável. Eu sei que você queria proteger Freya. Mas sua
proteção a mantém distante. Se você quer se sentir próximo de sua
esposa, precisa se aproximar, confiar nela, mesmo que esteja
apavorado – não, porque você está apavorado. Sopre um pouco de
vida de volta a este casamento.
Enquanto absorvo as palavras da Dra. Dietrich, minha mente se
fixa em Freya, que correu, e a adrenalina inunda meu sistema. Tenho
que segui-la, ter certeza de que ela não está fumegando tanto que
está marchando em direção à rodovia, cruzando as barreiras de
Jersey e se matando no caminho para usar o metrô, só de birra.
Uma imagem horrível disso acontecendo pisca em minha mente.
Eu sei que sou um pensador criativo, e isso é uma qualidade, mas
não me sinto assim quando posso fechar meus olhos e visualizar
minha esposa morrendo debaixo de um ônibus.
Eu pulo do sofá, pego meu suéter e corro até a porta.
— Eu farei isso, prometo.
— Espere! — ela me chama.
Xingando baixinho, eu volto para a soleira.
— Sim?
— Sem sexo — diz ela, fazendo uma careta. — Nunca gostei de
dizer isso a um casal, mas vocês dois não são uma questão de
“comprar cortinas novas e retocar a pintura”. Você tem uma questão
muito mais interna. Sem sexo por enquanto. Vai ajudar, acredite ou
não. É... esclarecedor.
Um doce alívio. Se não há expectativa de sexo, isso é uma coisa a
menos que tenho que lidar agora. Eu poderia beijar a Dra. Dietrich.
Q d d d
Quer dizer, na verdade não.
Freya, seu imbecil! Vá buscar sua esposa!
Dra. Dietrich lê minha mente novamente.
— Vá buscá-la. — Ela me dispensa. — Vá embora.
Correndo para o estacionamento, vejo que Freya só conseguiu
chegar ao carro, onde se sentou furiosamente sobre o capô.
Eu ando lentamente em direção ao Civic, destrancando-o com
meu controle remoto. Ela deve ter esquecido o dela. Não seria a
primeira vez. Um sorriso triste aparece em meus lábios porque há
uma intimidade estranha nesses padrões familiares. Freya perde
suas chaves semanalmente, mas sempre gostei de que ela se sentisse
segura o suficiente para perder as chaves em primeiro lugar. Isso
significava que ela confiava em mim para ser aquele que os
encontraria.
— Freya…
Ela ergue a mão.
— Eu não quero falar agora.
— Em algum ponto você vai querer?
— Você — ela diz, se levantando e caminhando em minha
direção. Seu dedo cutuca meu peito. — Você não tem que me cobrar
de porra nenhuma. Você começou esta bagunça silenciosa. Nem me
culpe por isso. Agora entre no carro e me leve para casa ou me dê as
chaves, Aiden.
Eu ando em direção a ela e abro a porta. Freya desce e a puxa
para longe de minha mão. Achei que as coisas não poderiam ser
piores entre nós. Eu tinha certeza de que já tínhamos chegado ao
fundo do poço.
Eu estava errado.
8

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ S l e e p o n t h e F l o o r ” - T h e L u m i n e e r s

Depois da terapia, Freya desaparece no banheiro no momento em


que entramos em casa, a fechadura deslizando com um clique alto e
pungente.
Digo a mim mesmo que devo ficar, esperar ela sair do banho e se
acalmar, e então tentar falar com ela. Mas eu não consigo. Não
quando eu não tenho ideia do que dizer, nenhuma ideia de como
tranquilizá-la, quando mal posso me tranquilizar. Não posso ficar
nesta casa nem mais um segundo. Então rabisco um bilhete, deixo no
balcão da cozinha para Freya ver e faço uma sacola com roupas de
ginástica e tênis.
Assim que estaciono no campus, uso a pista interna do prédio
esportivo e corro. Eu corro e corro, até minhas pernas ficarem
gelatinosas e meus pulmões queimarem. Por muito tempo, não corri
porque estive muito ocupado, mas deveria – sempre me sinto
melhor depois de uma corrida, depois de uma onda de endorfina e
outras substâncias químicas potentes para o bem-estar inundarem
meu cérebro. Químicos que ajudam com a ansiedade e todas as
outras coisas que parecem estar me estrangulando quando entro em
nossa casa.
Depois que eu corri até a exaustão e tomei banho no vestiário, eu
coloco de volta as roupas que usei para a terapia, em seguida, me
escondo no meu escritório enquanto enlouqueço. Ser um professor
universitário que não está absolutamente no último lugar do
departamento, tenho um pequeno espaço decente – sofá,
escrivaninha, uma parede de livros, uma janela de verdade e ar-
condicionado. E embora esteja longe de casa, é um espaço seguro
para mim. Para ser sincero, é onde me escondi quando não sabia
como ser o marido que queria ser para Freya.
É por isso que estou aqui, mais uma vez. Porque não sei o que
fazer. Como ir para casa e enfrentá-la, o que posso prometer, depois
do que seus irmãos colocaram diante de mim na casa de Ren na
outra noite, depois do que a Dra. Dietrich disse na terapia esta noite.
Eu sei que seus irmãos tinham boas intenções. Eu sei do jeito
deles, que queriam que eu entendesse o quanto eles estão comigo, o
quanto eles se preocupam em ver Freya e eu passar por esse
momento difícil. Mas, merda. Apenas aumentou a pressão. Pressão e
mais pressão. Para funcionar como eles funcionam – para se
d bl d b d d
emocionar e se disponibilizar, sentir, discutir e bagunçar de todas as
maneiras que Freya é fluente e eu sou um novato.
E a advertência da Dra. Dietrich, de que estive sufocando nosso
relacionamento com meu comportamento, quando tudo que queria
era nos proteger da crueldade e das ameaças indiscriminadas do
mundo exterior – é uma maldita derrota. Porque sua fala deixou
claro o quão confuso sou. Minha mente me sabota, sempre vendo o
pior de uma situação. Meu coração é esse idiota traidor que bate
muito forte pelas coisas erradas como dinheiro, segurança e ordem,
quando ama uma mulher que não dá a mínima para os confortos
materiais, cujo coração estremece pela selvageria e paixão e prospera
nos momentos desordenados do presente vida.
Nunca me senti tão intrinsecamente errado por Freya, tão mal
preparado para amá-la como ela merece. E enquanto eu me jogo no
sofá do escritório e olho para o teto, meu coração batendo como um
pássaro contra sua gaiola muito pequena, eu sei que este é um ponto
de virada:
Ficar e lutar por ela. Lutar para me trazer de volta a um lugar
onde eu saiba em minha alma o quanto nós – apesar de nossas
diferenças profundas – pertencemos um ao outro. Luto para me
sentir mais uma vez próximo e íntimo da mulher que amo com cada
fibra do meu ser…
Ou finalmente ceder àquela voz que mente e sussurra coisas
horríveis. Que vou decepcioná-la, que vou quebrar seu coração, que
vou nos sabotar e arruinar o que construímos juntos, até mesmo o
futuro que ainda não construímos.
Eu quero ser forte, eu quero ser corajoso por Freya. Porque ela
merece que lutem por ela, ter seu perdão conquistado, sua confiança
conquistada novamente. Eu quero ir para casa e pedir desculpas e
dizer a ela que vou consertar. Mas posso prometer isso a ela, quando
não tenho ideia de como é consertar a gente?
Meus olhos correm ao redor da sala, cheia de livros amontoados
em estantes embutidas, minha mesa cheia de pilhas organizadas de
pastas. Todo esse conhecimento e ordem. E nada disso tem as
respostas de que preciso.
Gemendo, eu esfrego meu rosto.
— Porra.
— É assim, não é?
Quase caio do sofá, assustado com a voz atrás de mim. Esticando
o pescoço, vejo que é Tom Ryan, o zelador do nosso prédio. Como
sempre, ele usa um boné preto desbotado puxado para baixo, seu
uniforme cinza de zelador e uma espessa barba grisalha. Alto e
magro, ele tem uma figura imponente, mas sua linguagem corporal é
curvada, respeitosa. Ele nunca olha ninguém nos olhos, sempre
mantém o olhar baixo, a voz baixa e tranquila. Por meses, nós nos
d l h d
cruzamos quando eu estava aqui para aulas noturnas e horas de
expediente, e ele nunca disse uma palavra. Mas então uma noite eu
fiquei até tarde e, por capricho, conversei com ele, então ele fez
alguma piada que eu nem consigo lembrar, e eu percebi que ele tem
um ótimo senso de humor seco.
Agora... bem, agora eu o chamaria de uma espécie de amigo.
Uma daquelas pessoas que entra inesperadamente na sua vida e
clica. Agora conversamos regularmente, sempre que eu trabalho até
tarde no escritório e ele chega para esvaziar as latas de lixo, passar o
aspirador e arrumar as coisas.
Ele é uma boa companhia, um tipo de tio despreocupado, não
que eu tenha algum desses. Não estou chateado por vê-lo agora. Eu
apenas prefiro não ser emboscado e assustado tão violentamente que
meu coração parece que está batendo fora do meu peito.
— Eu te peguei desprevenido? — ele pergunta enquanto entra.
Eu afundo no sofá e expiro, entregando meu coração acelerado.
— Você me assustou pra caralho.
— Era melhor não ter — diz ele, curvando-se sobre o lixo e
esvaziando-o na grande lixeira que empurra nas rodinhas. — Estou
muito velho para limpar. Desculpe por ter te assustado. Achei que
você tivesse me ouvido chegar.
— Não, cara, você tem a discrição de um espião.
Ele larga a lata de lixo e a estabiliza. Percebo que sua mão está
tremendo, e porque meu cérebro é um prodígio em imaginar os
piores cenários, começo a me preocupar se ele não está bem, se está
ficando frágil, se um dia esse zelador a quem me sinto
estranhamente ligado não estará lá e–
Tom puxa o cabo do aspirador com um movimento rápido e
seguro, tirando-me dos meus pensamentos negativos em espiral.
— O que você está fazendo, ainda estando aqui? — ele diz. —
Muito tarde para estar no escritório.
— Só... pensando. — Eu me levanto do sofá, correndo meus
dedos pelo meu cabelo. Eu deveria ir embora. Sempre me sinto mal
sentado enquanto ele trabalha, especialmente quando alguém de sua
idade deveria estar aposentado, sem passar aspirador de pó em
carpetes, polir pisos e se curvar sobre latas de lixo. — Vou sair da
sua cola — digo a ele.
— Por favor saia. Você deveria ter ido embora. Eu já te coloquei
para fora uma vez.
— Sim. — Eu coço minha nuca. — Bem. Às vezes, a esposa de um
cara precisa de espaço. E é aqui que eu posso dar isso a ela.
Tom balança a cabeça.
— Não. Isso não é bom. Vá para casa e fique lá. — Ele caminha
até minha mesa, pega minha mochila de treino e a joga aos meus
pés. — Quando uma mulher diz para deixá-la em paz, quando ela se
f d ê ê lô d
afasta de você e age como se quisesse você a quilômetros de
distância, é a última coisa que ela deseja.
— Bem, veja que isso é realmente um pensamento muito
perigoso…
— Eu não estou falando sobre forçar você a ela. Jesus. Estou
dizendo que quando sua esposa age como se quisesse que você vá
embora, ela está lhe pedindo para provar que a quer o suficiente
para ficar e lutar.
Eu fico olhando para a mochila, sem palavras, perdido para
caralho. Porque parte de mim acha que Tom está certo. E parte de
mim está com medo de que Freya realmente ache minha cuzisse
imperdoável, que sua raiva do aconselhamento não vá desaparecer,
mas apenas crescer e se aprofundar.
— Eu estive no seu lugar — disse Tom. — E eu aprendi da
maneira mais difícil. Vá para casa.
— Tom, agradeço, mas cada casamento é diferente.
— Talvez, mas os perigos para o casamento são os mesmos. —
Afastando-se, ele levanta coisas do chão, liberando espaço para
aspirar. — Complacência. É isso que os mata. Desapego. Renúncia.
Os dias se transformam em semanas. Semanas se transformam em
meses. Meses se transformam em anos.
Ele aponta para um antigo exemplar da “Poética de Aristóteles”
que carrego comigo desde a graduação.
— Você leu isso, provavelmente, anos atrás. Lembra do que
Aristóteles disse sobre a tragédia?
— Sim — eu digo lentamente, confuso sobre para onde ele está
indo.
— Este é o momento sobre o qual ele fala – peripeteia , o ponto de
inflexão, e anagnorisis, o ponto de reconhecimento – quando sua
esposa lhe diz para ir, quando você finalmente vê seu
relacionamento e os sentimentos dela de uma maneira que não tinha
antes. “Uma mudança da ignorância para o conhecimento, produzindo
amor ou ódio entre as pessoas destinadas... para boa ou má sorte” — ele
cita. — O que vem depois?
Eu engulo com força.
— A cena do sofrimento.
— A cena do sofrimento — diz ele. — Isso mesmo. “Uma ação
destrutiva ou dolorosa, como morte no palco, agonia corporal, feridas “.
— Bem, agora estou empolgado.
Ele suspira.
— Claro que não. Porque você é humano. E eu também. O que é
mais humano do que querer evitar a dor? Achei que, se ficasse
afastado por um tempo, poderia evitar, deixar passar e depois voltar
quando a tensão diminuísse. Não parecia tão perigoso, querer fugir
da dor de enfrentar o que havia desmoronado entre nós.
El b é b d
Ele puxa o boné para baixo e diz:
— Mas evitar é como uma droga. E cada dia que passa sem
tensão, preocupação ou decepção, te acalma com a promessa de paz
e tranquilidade. Você dá tempo a ela, diz a si mesmo que as coisas
vão se acalmar e, antes que você perceba, as coisas ficaram muito
quietas, então você tem papéis em seu escritório, e não do tipo que
você avalia.
A dor passa por mim com o mero pensamento disso.
— Não. Freya não está se divorciando de mim.
Ainda não. Ela não pode. Ela tem que me dar uma chance. Ela
tem que.
— Acredite em mim — diz ele — quando uma mulher diz que
está no limite, já passou algum tempo. Agora é o seu momento,
como diz Aristóteles. Agora você precisa dar o salto e fazer o que for
necessário para torná-lo melhor. Essa é a única maneira. Você
acabou de me dizer.
— Tom, esses são os pensamentos de Aristóteles sobre a tragédia.
— Exatamente. Em algum momento, todo amor é uma tragédia.
Mas não precisa permanecer assim. Nós escolhemos nossos finais.
Esse é o ponto de Aristóteles. A tragédia é construída, ela tem uma
estrutura. E se esse não for o final que você deseja, você sai dessa
trajetória. Você muda a narrativa.
Eu fico lá, atordoado.
Acabo de ter a melhor palestra da minha vida sobre Aristóteles
do zelador. Não que eu esteja surpreso. Tom é esperto, e eu sei mais
do que ninguém que ter um emprego de baixa renda não é indicação
do intelecto ou sabedoria de uma pessoa. Eu só... não esperava que
sua explicação fizesse tanto sentido.
É uma epifania que brilha como um raio contra o pano de fundo
escuro da minha desesperança: Freya e eu não podemos voltar ao
que éramos, mas podemos nos inclinar para este momento doloroso,
aprender com ele e nos tornarmos algo mais forte, algo melhor,
juntos .
A tragédia está construída, Tom disse.
O que significa que posso mudar o curso e encontrar um
caminho a seguir que não continue nos separando, mas nos
aproximando novamente. Sou um cara de negócios e números. Eu
entendo a mudança de trajetórias. Eu entendo que quando uma
abordagem não funciona, você ajusta a fórmula e depois tenta outra.
Se esse não for o final que você deseja, você sai dessa trajetória. Você
muda a narrativa.
As palavras de Tom ecoam na minha cabeça, transformando-se
em um sussurro de esperança. Espero que, além do trabalho
necessário de terapia, eu possa voltar para casa e cuidar da minha
cabeça fodida. Posso agarrar nossa desintegração e arrastá-la para
l d d éd d l h O
longe do arco da tragédia, de volta ao caminho que começamos. O
caminho de longas noites quentes e tardes tranquilas, tocando,
conversando, confiando um no outro; a estrada pavimentada com
risos e brincadeiras e trabalho duro para caralho. Posso mostrar a
Freya o que não faço há muito tempo: o quanto ela significa para
mim, o quanto eu a amo.
— Agora saia — ele resmunga.
Antes que eu possa responder a Tom, quanto mais agradecê-lo
por seu conselho, ele liga o aspirador. Eu entendo a dica. A conversa
terminou. Então pego minha mochila e saio.
Lá fora, é uma daquelas raras noites em que você pode realmente
ver as estrelas no céu noturno, além da poluição luminosa da cidade.
Eu fico olhando para aquela tigela de veludo preto, salpicada com
estrelas de diamante, lembrando nossa lua de mel. Não podíamos
pagar muito, então tínhamos planejado aproveitar ao máximo a
cabana da família dela no estado de Washington. Mas seus pais nos
surpreenderam com uma estadia de uma semana com tudo incluso,
para Playa del Carmen, no México.
Posso ver Freya em minha mente, em sua camisola branca
transparente esvoaçando sobre a pele bronzeada, cabelos loiros
compridos e de praia por causa da brisa do oceano, como uma flor
exótica que floresce à noite desabrochando em seu ambiente nativo.
Ela girou do lado de fora de nosso bangalô isolado à beira-mar, as
ondas batendo suavemente um pouco além de nós. Então ela parou
e estendeu a mão.
— Olha, Urso — ela disse, o carinho caloroso de seu apelido por
mim enchendo sua voz. Peguei sua mão e a envolvi em meus braços,
sentindo o peso avassalador e lindo da responsabilidade por esta
mulher que eu ainda não conseguia acreditar que de alguma forma
me escolheu. Ela cheirava a ar salgado e à guirlanda de flores que
usou no cabelo naquela manhã, e eu a abracei com tanta força que
ela guinchou.
— Aiden, olhe.
Havia estrelas. Muitas estrelas. E eles não significavam nada para
mim - não, isso não é verdade, não nada. Acontece simplesmente
que, no momento, minha esposa em nossa noite de núpcias prendia
toda a minha atenção e, ao contrário de Freya, eu não cresci sentado
no colo do meu pai, olhando para as constelações e aprendendo suas
histórias.
— Impressionante — eu sussurrei contra seu pescoço.
Ela sorriu. Eu senti isso contra minha têmpora.
— Você está me divertindo.
— Eu gosto de ouvir você. Estou um pouco distraído por esta
linda mulher em meus braços.

A l d f fi
Freya suspirou. Aquele suspiro doce e ofegante que significava
que eu a estava conquistando. Meus lábios traçaram seu pescoço,
mais suaves do que a luz das estrelas beijando sua pele, e ela
estremeceu de felicidade.
— É Lyra — ela sussurrou, apontando para um aglomerado de
estrelas — a harpa, bem, a lira de Orfeu, o grande músico.
— Hm. — Uma alça para baixo, o ombro nu e bronzeado. Eu o
beijei, saboreei o calor de sua pele, a vitalidade de carne e sangue de
seu corpo, seguro e quente contra o meu.
— Bem, Orfeu era muito popular, como a versão grega antiga de
uma estrela do rock quente — disse ela. — E ele se apaixonou por
Eurídice, que era sua clássica e simples Jane. Uma mera mortal. Um
dia, quando Orfeu estava na estrada, fazendo sua coisa de estrela do
rock, Eurídice foi pega na mira da guerra, o que, quando você era
uma mulher naquela época, era um negócio perigoso. Então ela
fugiu para salvar sua vida. Ao fazer isso, ela pisou em uma cobra
venenosa, que a mordeu. Então ela morreu.
Eu parei e olhei para ela.
— Jesus, Freya. Para onde isso vai?
Ela se virou, deslizou seu nariz contra o meu e roubou um beijo
rápido e curto demais.
— Orfeu foi para o submundo para salvar Eurídice e tocou sua
lira, encantando Hades com suas habilidades loucas de
retalhamento.
Eu bufei contra sua pele, mas senti minha risada sumindo
rapidamente.
— O que aconteceu?
Seus olhos, pálidos como o luar, procuraram os meus.
— Hades disse a Orfeu que ele poderia ter Eurídice e trazê-la de
volta à vida, com uma condição: ele nunca deveria olhar para trás
quando eles deixaram o Mundo Inferior.
Meu aperto sobre ela aumentou.
— O que aconteceu? Ele não olhou para trás, olhou?
Freya concordou.
— O que? — Eu me ouvi meio que gritando, parecendo muito
mais investido do que quando começamos, mas essa é Freya, assim
como o pai dela. Ela fala e você escuta. Ela compartilha e você quer
fazer parte disso. Ela me encantou.
— Quero dizer, quão difícil é — perguntei a ela — não fazer a
única coisa que estraga tudo? Tudo o que ele precisava fazer era não
olhar por cima do ombro e manter os olhos para frente, para
proteger a pessoa que amava.
Freya sorriu tristemente.
— Acho que essa é a lição. É mais difícil do que pensamos.
Eurídice estava cansada de seu tempo no submundo, e ela estava
l á d l Of l fi l é fi
lenta atrás dele. Orfeu lutou para confiar que ela o seguiria até o fim.
Seu amor não foi suficiente para superar seu medo. E assim, no final
de sua jornada, Orfeu vacilou e olhou para trás, condenando
Eurídice ao Mundo Inferior para sempre.
— Então ele passou o resto da vida tocando a lira — Ela apontou
para um punhado de estrelas que não se parecia em nada com uma
harpa para mim. — Vagando sem rumo, recusando-se a casar com
outra.
Lembro-me de segurá-la com força, olhando-a nos olhos
enquanto ela mordia o lábio e dizia:
— Desculpe. Eu esqueci como essa história era triste. Eu só
lembro que isso me comoveu.
Então eu a virei em meus braços e a segurei perto.
— Eu prometo que vou manter meu olhar à frente, Freya.
Ela sorriu ao dizer:
— Eu sei que você vai. — Então ela selou minha promessa e sua
fé com um beijo longo e profundo.
Meu peito dói quando paro no estacionamento, ao lado do nosso
velho Civic surrado. Eu largo minha bolsa no capô e puxo a corrente
que segura um pingente de metal estampado, quente contra minha
pele, escondido sob minha camisa. Meu presente de Freya em nossa
noite de núpcias.
Para Aiden:
Obrigado por este felizes para sempre para além dos meus sonhos mais
selvagens.
— Amor Freya
De “felizes para sempre” a isso. Deus, como isso aconteceu?
Uma pontada aguda de culpa apunhalou meu peito. Eu fiz o que
disse que não faria. Como Orfeu, olhei para trás. Eu olhei para trás,
para o inferno que eu conhecia quando criança e senti as chamas
lamberem mais alto, o medo me agarrando pelas duas mãos. E
arrastei Freya comigo.
Mas esta não é uma história antiga, um conto condenado e
sombrio. Tom disse: isso não precisa terminar em tragédia. Podemos
escolher nossos finais e eu escolho o meu.
Eu escolho Freya.
Pego minha bolsa, entro no carro e ligo o motor. Eu estou indo
para casa. E eu não estou olhando para trás.
Não mais.
9

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ H i d e a n d S e e k ” - I m o g e n H e a p

— F — Cassie, nossa administradora de recepção, coloca a


cabeça na sala de descanso.
Levanto os olhos da xícara de chá que estou bebendo.
— Sim?
Ela sorri, mostrando o aparelho.
— Há alguém lá na frente querendo falar com você.
— O que? Você não disse meu último paciente...
— Cancelou, sim. Não é um paciente. Por que você ainda está
aqui, afinal?
Eu fico olhando para a minha xícara.
— Nick é minha carona.
Cassie me olha confusa, mas não pergunta por que não liguei
para Aiden.
Estou feliz que ela não o faça. Porque eu não saberia o que dizer a
ela. Eu nunca diria a ela que estava com medo de pedir a meu
marido que me pegasse, em vez de esperar a carona com meu colega
de trabalho, Nick. Eu nunca confessaria que estava com medo de que
Aiden estivesse atrasado, ou ele diria que não poderia, qualquer
traço de rejeição seria demais para mim quando estou tão ferida,
com a terapia, com chorar no banho e depois, depois a entrada em
uma cozinha silenciosa e uma nota com seu rabisco ordenado,
dizendo que ele saiu para correr.
Uma corrida que durou tempo suficiente para ele voltar para
casa horas depois, depois que eu me deitei. Senti o colchão afundar e
meus pulmões traidores o inspiraram, água do oceano limpa. Por
um breve momento, minha mão deslizou pela cama, em direção ao
calor que irradiava de seu corpo, da larga extensão de suas costas
esticando uma camiseta branca macia. E então me lembrei. O quanto
ele me machucou. Há quanto tempo me sinto sozinha. Puxei minha
mão de volta, me virei e encarei a parede.
Levei horas para adormecer.
Minha cabeça está uma bagunça. Meu coração dói. Eu sinto que
um movimento errado meu ou de Aiden, e eu entrarei em colapso. É
por isso que estou me escondendo na sala de descanso, esperando
que Nick termine com seu paciente.
— Quem é? — Eu pergunto.
Cassie sorri.
— Veja por si mesma.
Eu estreito meus olhos para ela.
— Que recepcionista você é.
— Eu sou uma recepcionista — ela diz em uma piscadela. — Não
uma segurança.
Suspirando, eu me levanto e a sigo até o saguão, então vacilo.
— Aiden?
Ele sorri hesitante.
— Ei.
— Tenho que verificar a máquina de fax! — Cassie diz. — Não
reparem em mim.
Eu fico olhando para os meus tênis, olhando para cima quando
Cassie desliza para a sala dos fundos. Aiden coloca as mãos nos
bolsos e inclina a cabeça.
— Fisioterapeuta Sênior. Fica bem em você.
Meu coração desaba. Ele viu meu contracheque, então. Ele sabe
que fui promovida. Eu me odeio por devorar aquela migalha, a mais
leve sugestão de atenção consciente.
— Mesmo avental — eu digo uniformemente. — Mas obrigada.
Ele hesita por um momento, então se aproxima, roçando os nós
dos dedos em mim.
Eu fecho meus olhos.
Fique forte, Freya. Não se atreva a ceder. Um elogio cúmplice. Sua mão
tocando a sua. Tocar os dedos não é romântico, sensual, tentador ou
emocional.
Bem, tente ler Persuasão após dez semanas de celibato e veja se
consegue dizer isso honestamente. Trezentas páginas de saudades e
silêncios carregados, dias passados na companhia um do outro, tão
vulneráveis e feridos, nenhum deles está disposto a enfrentar o que
significam um para o outro, muito menos admitir para si mesmos.
Estou me afogando em necessidade e solidão. Eu não posso
evitar que os dedos quentes e ásperos de Aiden emaranhados nos
meus façam o calor ferver sob minha pele. Então eu puxo minha
mão.
Mas Aiden é Aiden, o que significa que ele tem bolas de aço. Ele
desliza a mão pelo meu braço e me puxa contra seu peito, em um
abraço.
— Estou orgulhoso de você. Eu não te disse. E eu deveria ter dito.
Me perdoe.
Eu envolvo meus braços em volta de sua cintura sólida antes que
eu possa me impedir. Preciso de abraços como preciso de ar. Estou
transbordando de amor e afeição não gastos, que não entram em
minha vida íntima há meses, e seguro as lágrimas porque isso é
perigosamente bom. Suspirando instavelmente enquanto Aiden me
aperta contra ele, eu absorvo sua presença, quente e limpa, o cheiro
d lô d á d b l d d
suave de sua colônia de água do oceano, uma bala de menta dentro
de sua bochecha. Eu enterro meu rosto em seu colarinho.
— Obrigada — eu sussurro.
Agarrando minha nuca, ele dá um beijo no meu cabelo e dá um
passo para trás.
— Qual é a ocasião? — Eu pergunto, piscando para afastar as
lágrimas repentinas, esperando que não sejam óbvias. — O que você
está fazendo aqui?
— Eu me perguntei se você gostaria– Ele limpa a garganta. —
Assim que você terminar, claro. Com seus pacientes. Eu me
perguntei se você gostaria de tomar sorvete – é isso, ter um encontro
de sorvete... comigo.
Meu estômago embrulha.
— Sorvete? — Nosso primeiro encontro foi em uma sorveteria
perto do campus.
— Sim. — Ele esfrega o pescoço. — Então pensei que poderíamos
pedir pizza quando voltarmos.
— Por que?
Ele me encara sem piscar.
— Você sabe porque.
— Eu preciso das palavras — eu sussurro.
— Porque eu sinto sua falta. Porque eu sei que ter sobremesa
como o jantar te deixa feliz e… — Sua voz falha. Ele olha para seus
sapatos. — E eu só quero que você seja feliz, Freya.
Meu coração voa no meu peito enquanto suas palavras afundam,
enquanto tento lutar contra o quão fraca me sinto, o quão
prontamente eu quero me jogar contra ele e confiar que isso significa
que estamos no nosso caminho e ficaremos bem.
Mas então eu me lembro de tantas madrugadas. Jantares quietos.
Respostas curtas. A solidão que se instalou, uma dor de gelar os
ossos que lentamente se transformou em dormência hipotérmica.
Ele está tentando. Dê uma chance a ele.
— Meu último paciente cancelou, na verdade — eu digo a ele
depois de um longo momento de silêncio. — Então eu posso sair
agora. E... eu gostaria de sorvete.
Um sorriso largo que eu não via há muito tempo ilumina seu
rosto, antes de escurecer, como Aiden está tentando esconder seu
alívio tanto quanto eu estou tentando enterrar minha esperança.
— Excelente.
Depois de pegar minha bolsa e fazer uma visita na parte de trás
para me despedir de uma Cassie sorridente, ando com Aiden até o
nosso carro. Como sempre, ele abre minha porta.
Como sempre.
Isso me faz parar. “Como sempre” é algo que você começa a
pensar quando estão juntos há algum tempo. Certos
í d Aé
comportamentos se tornam previsíveis, tidos como certos. Até
mesmo um gesto gentil como abrir a porta do carro para mim.
Eu me obriguei a parar e saborear, a sensação dele perto, o ar da
noite sussurrando ao nosso redor. Olhando para cima, eu observo o
sol baixo banhar Aiden em sua luz dourada, fazendo suas ondas
escuras brilharem, olhando para a linha forte de seu nariz, o
conjunto tenso de sua boca. Uma boca que eu costumava deslizar
meu dedo e depois beijar até que ficasse suave e sorridente.
Olhando para ele, reconheço que a familiaridade apaga o brilho
do mistério do seu parceiro, mas não os torna menos enigmáticos.
Nós apenas... paramos de vê-los assim. Paramos de explorar,
paramos de nos perguntar com o fascínio de novos amantes de olhos
arregalados. Tenho medo de admitir que em algum lugar ao longo
do caminho, parei de ver o mistério em Aiden, e acho que talvez ele
tenha parado de ver o mistério em mim.
Eu gostaria que não tivéssemos. E eu me pergunto se estaríamos
aqui se tivéssemos feito de forma diferente. Se não tivéssemos
decidido que sabíamos tudo o que havia para saber um do outro e
começássemos a agir de acordo, um passo previsível à frente um do
outro. Se não tivéssemos deixado isso nos levar tão longe da outra
pessoa, das maneiras que mudamos, da verdade de que ainda
tínhamos necessidades e mágoas e maravilhas e medos…
— Você está bem? — Aiden pergunta baixinho. Sua mão se
acomoda nas minhas costas, o calor de sua palma escoando pelo
meu uniforme. O desejo se desenrola dentro de mim, uma dor suave
e profunda por algo que não sentia com ele há muito tempo.
— Estou bem — eu sussurro.
Ele sorri suavemente.
Depois de me sentar, Aiden fecha a porta atrás de mim. Ele dá a
volta na frente do carro e eu o vejo andar, seus passos longos e
decididos, a maneira como ele morde o lábio pensando enquanto
puxa as chaves e desliza para o banco do motorista. Com as janelas
meio abaixadas, nosso caminho está arejado e silencioso, mas eu não
me importo. Estamos ambos em nossos pensamentos, infelizmente
não acostumados a tempos como este, tempo em que estamos
tentando conscientemente estar presentes um para o outro.
Sinto uma pontada de nervosismo como no nosso primeiro
encontro. Mas eu afasto esse sentimento. Não posso deixar o
passado se misturar com o presente. A jovem Freya, de 20 anos, não
tinha ideia do que estava por vir. Freya, de 32 anos, sabe tudo muito
bem e ela faria bem em não esquecer.
Paramos na sorveteria, que está em sua calmaria após a correria
de pós-jantar. Uma vez que Aiden estaciona o carro, eu saio e Aiden
dá a volta. Fechando a porta atrás de mim, ele coloca a mão

h h
suavemente nas minhas costas enquanto pressiona o chaveiro para
trancar.
— Hm. — Eu fico olhando para o enorme menu de sorvete,
franzindo a testa.
Aiden cruza os braços e franze a testa para o menu também.
— Hm.
Eu olho para ele, e meu estômago dá uma cambalhota quando
leio a brincadeira hesitante em sua expressão.
— Tirando sarro de mim, não é?
— Eu jamais faria isso. — Ele me dá uma rápida olhada de lado,
antes de voltar a se concentrar no menu. — Estou apenas fazendo
matemática mental.
— Que tipo de matemática mental?
Ele se inclina ligeiramente, seu ombro roçando no meu.
Ele está flertando comigo. Aiden é... desprezivelmente bom em
flertar. Ele usa seu charme como usa suas roupas: com um conforto e
graça geneticamente predeterminados. E quando ele se inclina para
perto e abaixa a voz, quando seus olhos azul marinho brilham e uma
mecha de cabelo escuro e rebelde cai em sua testa, ele me transforma
em uma grande poça pegajosa de olhos de corça. Sempre foi.
Tento endireitar minha espinha e pular fora, mas é tão genuíno, e
ele está claramente se sentindo tímido, um respingo de rosa
aquecendo suas maçãs do rosto. Quando o vento aumenta e me
banha com seu cheiro, tenho que me impedir de empurrar meu nariz
em seu braço sólido, respirando-o.
Seus olhos mergulham na minha boca.
— A matemática mental? — Eu o lembro, fechando meus dedos
em punho até que marcas de lua crescente aparecessem minhas
palmas.
— Bem — Ele se inclina ainda mais perto, sua boca um sussurro
quente longe do meu ouvido. Arrepios dançam na minha pele. — É
uma equação muito complexa que me permite calcular quanto
tempo levará para você escolher dois sabores para o seu sorvete,
antes de decidir que gosta mais do meu.
Eu o empurro sem muita vontade.
— Eu não faço mais isso.
Uma gargalhada o deixa enquanto ele me guia para frente
quando a fila anda. Eu olho o menu novamente e suspiro
pesadamente.
— Existem muitas opções — eu murmuro.
Aiden morde o lábio.
— Pare de rir de mim — digo a ele.
Ele levanta as sobrancelhas e olha para mim.
— Eu não estou rindo!
— Você quer.
— Mas eu não estou.
Virando, eu o encaro.
— Então, qual é a equação? E quão precisa é?
— É uma matemática altamente complexa — diz ele,
empurrando os óculos no nariz. — Vamos apenas dizer que se eu
pudesse monetizar isso, eu o faria. É muito precisa.
Eu fico olhando para ele, lutando contra um sorriso.
— Você é um nerd.
— Mhmm. — Ele sorri. — Você também é.
— Não como você. Sou excessivamente competitiva no
“Responda se Puder”.
— Você? Excessivamente competitiva? — Ele balança a cabeça. —
De jeito nenhum. Nunca percebi.
A fila se move, tornando-nos os próximos a fazer o pedido,
depois do grupo à nossa frente.
— Pare de flertar comigo. Eu preciso escolher meus sabores.
Há uma pausa, antes que os nós dos dedos de Aiden roçam os
meus.
— Isso é o que você disse em nosso primeiro encontro.
Eu olho para ele rapidamente.
— Eu disse? Como você se lembra disso?
Seus olhos encaram os meus.
— Eu me lembro de tudo sobre aquele encontro, Freya. Você
usava um vestido de verão sem alças amarelo e sandálias douradas,
e seus dedos dos pés estavam pintados de rosa choque. Seu cabelo
estava solto nessas ondas sexy de praia antes de você jogá-lo em um
coque porque estava muito quente. E você estava tão linda, eu mal
conseguia lembrar meu próprio nome, muito menos pedir um
sorvete. Então eu pedi….
— Duas bolas de baunilha — eu sussurro. — Você disse que
gostava de baunilha.
— Está tudo bem — ele diz, enquanto seus olhos viajam pelo
meu rosto. — O que eu gostei foi o que aconteceu quando eu comi
baunilha.
Um rubor mancha minhas bochechas.
— Eu comi.
— Lambeu. — Ele reprime um sorriso. — Enquanto sua manteiga
de amendoim com chocolate e o caramelo salgado derretia em suas
mãos.
— Então, trocamos.
Ele concorda.
— E então nós compartilhamos. E parecia tão... íntimo. Eu estava
com você, Freya Bergman, esse nocaute de mulher radiante, paixão e
vitalidade iluminando você de um lugar tão profundo que eu queria
desesperadamente saber. Uma mulher que pintou os dedos dos pés
d lé ú l d d l
de rosa elétrico e cantou junto com a música explodindo nos alto-
falantes externos e roubou meu sorvete de baunilha. — Seus olhos
procuram os meus. — Você parecia ser a parte que faltava na minha
vida.
Lágrimas ardem em meus olhos.
— O-o que– Ele limpa a garganta. — O que você lembra daquela
noite?
Eu fico olhando para ele, guerreando comigo mesma enquanto
seus dedos dançam ao longo das minhas palmas, persuadindo-os a
agarrar os dele. Finalmente, eu deslizo minha mão dentro da de
Aiden. Seu aperto se prende ao meu como um torno.
— Eu não me lembro o que você vestiu ou a data exata. Só me
lembro de estar ao seu lado, olhando em seus olhos e sabendo que
estava... exatamente onde deveria estar.
Nossos olhares se mantêm enquanto nossos dedos se unem.
— O que vocês vão querer? — o atendente diz atrás do vidro, que
nos separa.
Pisco ao ver o menu, a indecisão tomando conta de mim. Eu olho
para Aiden desamparadamente.
Ele sorri, depois se vira em direção ao caixa e diz:
— Duas bolas de baunilha em uma tigela, por favor, e depois a
manteiga de amendoim com chocolate e o caramelo salgado em uma
casquinha.
Nossos dedos se enroscam mais apertados quando ele diz,
suave o suficiente para apenas eu ouvir:
— Em nome dos velhos tempos.
10

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ w h e n t h e p a r t y i s o v e r ” - B i l l i e E i l i s h

D , A . Encontro-me
olhando para a onda em seu cabelo escuro, a silhueta de seus
ombros fortes até a cintura e aquela bunda redonda e sólida. Meu
peito parece um liquidificador, uma mistura afiada e vibrante de
emoções – desejo, tristeza, saudade, medo – observando este homem
que se lembra do sorvete que eu peguei e o que eu estava usando em
nosso primeiro encontro, mas ainda mantém uma parte de si mesmo
em segredo tão profundo que eu não tinha ideia de que estava
sofrendo até que nossa fundação desmoronou sob nós. Eu quero
correr para fora de casa, tanto quanto eu quero me jogar em seu colo
e beijá-lo até perder os sentidos.
Eu sinto que estou rachando nas bordas.
Com a comida na mão, Aiden fecha a porta com o pé e quase
tropeça nos meus sapatos. Em um pulo e giro ele o salva, então se
endireita e me olha como se dissesse: eu não posso acreditar que eu vivo
com uma desleixada como você, parece tão habitual que envia uma
pontada agridoce rasgando através de mim.
— Jesus, Freya. Minha apólice de seguro de vida não é tão boa
assim.
Isso me faz rir de verdade.
— Tudo parte do meu grande plano de me tornar uma viúva rica
cheia de gatos.
Isso o faz rir também.
Quando Aiden pousa a caixa de pizza, eu me sirvo de uma taça
de vinho tinto sem oferecer a ele. Aiden raramente se junta a mim, e
se ele quiser, ele me diz. Ele quase não bebe e, quando o faz, é
normalmente em ambientes sociais, algo com baixo teor alcoólico
que raramente termina. Ele diz que é porque isso não combina com
seus remédios para ansiedade e o deixa incrivelmente sonolento,
mas mesmo antes de tomar Prozac, ele nunca bebeu. Sempre tive um
palpite de que era porque seu pai era alcoólatra, pelo menos é o que
sua mãe diz. Aiden não se lembra de nada sobre seu pai. Ele sabe o
suficiente para nunca querer ser como ele.
Algumas vezes nós compartilhamos uma garrafa de vinho.
Ficamos um pouco tontos e com tesão juntos. E eu adorei -
compartilhar vinho em suas veias, sexo desajeitado no sofá. Mas já

f É d f d
faz muito tempo. É por isso que quase deixo cair a garrafa quando
Aiden pega uma taça e a coloca na minha frente.
— Meia taça, por favor — diz ele, concentrado em nos servir
comida.
Eu sirvo com cuidado enquanto Aiden seleciona duas fatias de
alcachofra e azeitona para mim, pega um pouco de salada da tigela,
coloca no meu prato, em seguida, o desliza na minha direção.
Ele levanta seu vinho. Eu levanto o meu. Nossos copos tilintam
baixinho na cozinha. Quando ele toma um gole, os olhos de Aiden
não deixam os meus. A cozinha está quente e, quando coloco meu
copo na mesa, minha mão está tremendo.
— Fique parada — diz Aiden, sua mão segurando suavemente
meu queixo. Seu polegar desliza ao longo do canto da minha boca,
pegando uma gota de vinho. Ele o leva aos lábios e chupa com um
leve estalo.
Merda. Está quente aqui.
Piscando, eu pego a pizza e dou uma mordida.
— Obrigada por isso. O cheiro está ótimo.
— Claro — ele diz calmamente. — Parabéns novamente pela
promoção, Freya. Você deveria estar orgulhosa
Eu olho para ele, engolindo a pizza que se alojou na minha
garganta.
— Obrigada. Eu estou.
Ele concorda.
— Bom.
Quando estou prestes a dar outra mordida na pizza, ele deixa
escapar:
— Estou trabalhando em um aplicativo.
Wasabi e Picles escolhem esse momento para começar a se
enroscar sob nossos pés, miando alto porque criei monstros que
esperam queijo da minha pizzaria artesanal a lenha favorita.
— O quê?
— Eu estou– Ele passa a mão trêmula pelo cabelo, ignorando
Picles, que coloca as patas em seu joelho e mia. Ele limpa a garganta.
— É um aplicativo. É... algo que espero que ajude a igualar a
experiência de ensino superior para estudantes de economia e
administração.
No meio de seu miau, pego Pickles e a coloco no meu colo.
Preciso de algo para me segurar e me firmar. Porque o mundo
parece que está tombando para o lado.
— O que? Como?
— Gravamos tutoriais sobre tópicos iniciais de alto nível,
começamos o teste beta, criando uma interface de aplicativo. Se for
bem, se pudermos garantir um grande investidor, entraremos em
contato com mais acadêmicos para gravar tutoriais. As mentes de
ó b lh l d
negócios mais brilhantes que existem, especialistas em todos os
conceitos de economia e gestão de negócios que existem, disponíveis
para qualquer criança que possa pagar dez dólares por mês, não
apenas para aqueles que podem pagar por uma educação da Liga da
Hera. A parte mais difícil foi até este ponto, Freya. Começamos a
vender para investidores em potencial. Assim que tivermos um,
estarei... livre. Bem, estarei mais livre. Muito mais livre. Capaz de
relaxar.
Eu pisco para ele em choque completo, e Aiden continua.
— Estou trabalhando na venda para possíveis investidores para
repartir o financiamento para que as pessoas sem recursos
financeiros possam solicitar alívio quando os meses são difíceis. Isso
pode mudar... tudo. Para nós, para alunos como eu, lutando tanto
para ter as oportunidades que merecem. Então... é assim que as
ligações privadas têm sido. Me desculpe por ter te preocupado, por
ter te deixado preocupada, por ser tão reservado.
Um aplicativo. Ele projetou um aplicativo para ajudar as crianças
a chutar o traseiro da faculdade e chegar onde sonham nos negócios,
independentemente de suas origens ou recursos. Quase tenho
vontade de rir de alívio. Mas a dor persegue minha surpresa e a
engole inteira.
— Por que você não falou comigo sobre isso, Aiden?
Essa pergunta tornou-se meio que um refrão. Não é?
— Porque, como eu disse no aconselhamento, eu estava tentando
manter mais uma coisa fora do seu prato. Foi uma ideia, um sonho, e
eu não tinha ideia se isso valeria alguma coisa. — Ele olha meus
olhos intensamente. — E se eu colocasse em sua mente, mostrasse o
quanto investi e fracassei?
— Então você teria perseguido um sonho, tentado, falhado e
aprendido algo, e eu estaria lá para ajudá-lo.
— Me vendo falhar — ele murmura. — Sobrecarregada por isso.
Eu rolo meus olhos.
— Aiden, vamos lá. Você já falhou antes. Isso não me assustou ou
me esgotou, não é?
Ele arranca um pedacinho de queijo da nossa pizza e se inclina
para alimentar o Wasabi, erguendo uma sobrancelha.
— No que eu falhei?
Eca. A arrogância masculina.
— Bem... Você falhou em pendurar fotos. Falhou muito. E eu
tinha aquela enorme parede de fotos que queria. Você não pode
jogar mímica, nem para salvar sua vida, tipo, você é o pior nisso.
Sempre. Você é literal demais e ninguém sabe o que está fazendo
com as mãos. Você falhou em fazer as rosas crescerem, a cada ano
você tenta e elas continuam morrendo…

O El b b d á l d f
— OK. — Ele bebe toda sua água como se ele desejasse que fosse
o vinho que ele estava bebendo com responsabilidade. — Obrigado
por enumerar minhas falhas pessoais aleatórias. Eu quis dizer coisas
grandes. Coisas de trabalho. Coisas de provisão.
— Ah. Isso é sobre seu pau, quero dizer, seu trabalho.
Seu rosto fica branco. O silêncio ressoa na cozinha.
— O que? — Eu pergunto, pegando minha pizza e roubando
uma mordida. Pickles olha para ela com vontade.
— Dizer que meu trabalho é sobre meu pau é reduzi-lo a ser
sobre meu ego, Freya. Como se eu tivesse algo a provar.
— E não é?
Ele exala bruscamente, como se eu tivesse dado um soco nele.
— Aiden, foi uma piada. — O que, como a maioria das piadas
que doem, está um pouco perto da verdade. O ego dos homens em
seu trabalho frequentemente me parece envenenado com a
necessidade de validação masculina.
— Sim, entendi, Freya. — Sua voz é monótona. — Eu
simplesmente não achei engraçado. Você sabe o que o trabalho
significa para mim.
— Oh, eu sei, querido. É o terceiro membro deste casamento
desde a porra do primeiro dia.
Sua mandíbula retrai.
— Eu sei que levo o trabalho muito a sério. Eu sei que me fixo,
ok? Eu me sinto um merda por isso estar do jeito que está. Eu não
preciso de ninguém me fazendo sentir pior.
Eu jogo meus braços para cima, fazendo Pickles se assustar e
pular do meu colo.
— Puxa, me pergunto por que não conversamos? No momento
em que abro minha boca, faço você se sentir uma merda.
— Porra. — Ele fecha os olhos e respira fundo. — Ok. Eu sinto
muito. Vamos apenas... piadas sobre o trabalho. E paus. E sim, vou
reconhecer que sou sensível a respeito deles.
Eu dou uma mordida cruelmente grande na pizza, mastigo e
engulo. Aiden abre a caixa, servindo-se de outra fatia e, em seguida,
uma colher de salada. E nosso recente companheiro, o silêncio
afetado, está conosco mais uma vez.
Depois de mais algumas mordidas na comida, meus ouvidos não
zumbiam mais de raiva defensiva, posso ver que não nos ajudei com
aquele cutucão.
Gemendo, eu esfrego minha testa.
— Aiden, eu sinto muito. Eu passei da linha. Eu fui... Eu me senti
substituída pelo seu trabalho, e insisti com você sobre isso. Tem sido
difícil não levar para o lado pessoal. Como se você quisesse trabalhar
em vez de me querer.
Aiden me encara por um longo momento, depois larga o garfo.
E ê d
— Eu preciso que você entenda isso.
Ele pisa entre a lacuna em minhas pernas e inclina minha cabeça
para que eu esteja olhando para ele, meu rosto firme em suas mãos.
— O modo como tenho trabalhado recentemente faz você se sentir
menos do que o centro do meu mundo. Isso está errado e é isso que
vou consertar. Porque você precisa saber, Freya, que tudo o que faço
é por você. Eu quero te dar tudo que você merece. Eu quero colocar
o mundo aos seus pés.
Eu trago minhas mãos em seus pulsos, acariciando seu pulso
acelerado com meus polegares.
— Mas eu nunca quis o mundo, Aiden. Eu só queria você.
Ele me encara com uma confusão tão séria que meu coração
doeu.
— Queria? — ele sussurra.
Eu pisco para conter as lágrimas. Eu não posso nem começar a
saber o que eu quero, exceto que Aiden saiba disso, para conseguir a
verdade através de sua cabeça dura, porque se isso não pegar, então
realmente não temos esperança, e meu marido me conhece muito
menos do que eu jamais pensei que ele fizesse.
— Eu teria vivido em uma frágil caixa de papelão — digo a ele,
as lágrimas engrossando minha garganta. — Debaixo de uma ponte
decadente de merda, sem nada além das roupas do corpo, contanto
que estivesse com você.
Seus olhos escurecem.
— Fala como uma mulher que nunca foi pobre.
— Não, não fui. — Eu engulo minhas lágrimas. — Mas eu tive
um teto sobre minha cabeça nos últimos seis meses. Tive uma cama
macia e quente, água e comida no estômago, e não senti conforto,
calor ou satisfação. Eu me senti vazia, fria e solitária porque você não
estava aqui, não realmente, Aiden.
Seus olhos brilham com lágrimas não derramadas enquanto ele
olha para mim.
— Freya. A vida não é tão simples.
— Mas meu amor é — eu digo com a voz rouca, apertando seus
pulsos. — E você não pode dizer o contrário. É meu coração. Eu sei
isso. Posso ver agora que não é o seu caso, mesmo que eu não
entenda. Então, estou lhe dizendo agora, a única razão pela qual me
importo com este seu aplicativo é porque ele faz algo bom para os
outros e porque significa algo para você. Eu nunca me importei se
você nos fez zilionários. Não quero roupas mais chiques ou um
segundo carro. Não preciso de uma casa maior ou de uma geladeira
nova. Eu precisava de abraços e confiança e beijos e risos e aquele
sentimento de “nós contra o mundo” que eu conhecia em meus ossos
no dia em que estive no quintal dos meus pais e segurei sua mão na

h d i d lh O
minha e disse que sim. — Procurando seus olhos, eu sussurro: — O
que você precisa, mais do que isso?
Ele engole com dificuldade.
— Para mantê-la segura, e quando houver um bebê, para mantê-
los seguros também. Eu preciso disso, Freya.
Minhas mãos deslizam por seus braços.
— Eu só queria que não tivesse custado tão profundamente. Eu
gostaria que isso não tivesse nos separado.
Os olhos de Aiden dançam entre os meus. Suas mãos deslizam
no meu cabelo.
— Eu também desejo isso — ele sussurra, seus olhos procurando
os meus. — Por favor, saiba Freya, estou tentando. Tentando fazer
melhor. Eu sei que não é ótimo. Não é o suficiente. Mas estou
tentando. — Ele me puxa do banquinho e me abraça, enterrando o
rosto no meu pescoço. — Eu só preciso de algum tempo. Por favor,
não desista. Ainda não.
Eu engulo as lágrimas, com o coração doendo, desejando ter mais
a prometer a ele do que a verdade.
— Estou tentando o meu melhor também.
Ele suspira asperamente, me segurando com força. Eu pressiono
meu nariz em seu cabelo e o respiro, fresco e nítido como o oceano,
um traço de hortelã porque ele escova os dentes três vezes ao dia,
sem falhar depois do café da manhã, almoço e jantar. Porque a mãe
dele o ensinou desde criança, já que não tinham dinheiro para ir ao
dentista, e é um hábito que ele diz que não pode largar pelo resto da
vida.
Ainda me lembro da primeira vez que passei o fim de semana em
seu apartamento e o peguei escovando depois do almoço. Ele corou
e olhou para a pia enquanto me dizia o porquê. Passei meus braços
em volta de sua cintura, o abracei com força. Então peguei minha
escova de dente e escovei com ele.
Minhas mãos deslizam por seu peito e congelam. Sinto sob meus
dedos, quente e suave, o retângulo arredondado. Meus dedos se
movem mais alto, traçando a corrente sob sua camisa. O pingente
que dei a ele na nossa noite de núpcias.
Lágrimas queimam meus olhos ao me lembrar de seu presente,
um presente que me disse o quão profundamente ele me conhecia:
uma canção. Uma música que ele escreveu e cantou suavemente no
meu ouvido enquanto dançávamos sob o luar. Uma música que ele
não poderia tocar no violão como havia planejado, porque mamãe e
papai deram uma lua de mel para nós, e todas as nossas roupas para
o clima frio do estado de Washington e seu violão foram deixados no
lugar de shorts e camiseta embalados de maneira desordenada que
nunca foram usados. Porque nunca deixamos nosso pequeno
bangalô na água.
ê d á d E à lá
— Você ainda está usando? — Eu sussurro em meio às lágrimas.
A mão de Aiden repousa sobre a minha.
— Eu nunca o tirei.
Eu olho para cima quando ele se inclina mais perto e nossos
narizes roçam, então nossos lábios. Uma chuva de faíscas dança sob
minha pele, enquanto Aiden me segura em seus braços, enquanto
seu aperto aumenta em torno de mim e ele solta uma respiração
lenta e irregular. Eu me inclino e o sinto, tão sólido, pesado e quente.
Pegando seu rosto, eu aliso suas bochechas com meus polegares.
E então ele me beija.
Nosso beijo canta em meu corpo, desde meus lábios, através do
zumbido de minha garganta, até a dor tenra que se constrói em meu
coração e sobe em minhas veias.
Desacelere. Tome cuidado.
Eu não quero. Estou perdida em seu toque. Seu gosto. Na força
de ser abraçada e na emoção de ser desejada. Nosso beijo parece
mágico, como estrelas cadentes, luas azuis e chuvas de meteoros, e
estou encantada com seu poder, sua beleza rara e ofuscante. Fecho
os olhos, sem peso, perdida para algo tão precioso em sua
familiaridade e tão emocionante porque, de alguma forma, é novo.
Ele tem gosto de Aiden, e eu suspiro quando ele faz o que sempre
faz, empurra um pouco. Sua língua rompe minha boca e persuade a
minha, um leve toque provocador que inunda meu corpo com calor.
Aiden geme em minha boca, enquanto eu arrasto seu lábio
inferior suavemente entre meus dentes. Minhas mãos deslizam sobre
seus ombros, seus braços fortes e grossos, a largura de seu peito e
seus músculos pesados contraídos enquanto ele me segura perto.
Ele parece com o homem que subiu em nosso telhado e o
remendou por anos, quando um novo telhado teria acabado com
nossas economias. Ele se parece com o homem que resgatou Picles
do sótão imundo, embora odeie espaços pequenos e escuros, que
dirigiu Wasabi doente para a clínica veterinária de emergência 24
horas como um piloto de Fórmula Um, embora ele acredite
firmemente em observar a velocidade limite. Ele se parece com o
homem com quem pintei paredes, músculos flexionando, ombros
rolando enquanto ele trabalhava ao meu lado, então voltou e
ordenadamente usou um pincel de mão porque eu estava muito
impaciente, muito bagunceira para fazer isso bem.
Tocá-lo me lembra do homem com quem casei, o homem que
amo. Eu sinto que ele está realmente aqui, me beijando, me
querendo, e estou delirando com a satisfação disso.
— Freya — ele diz contra meus lábios.
Eu estou escalando ele, meu corpo ignorando meu cérebro que
está gritando: Pise no freio! Estou me adiantando e não me importo.
Eu quero isso. Eu quero ele.
b ád l El l b
— Baby, vá devagar — ele sussurra. Ele envolve seus braços com
força em volta de mim, gira e com o meu salto, me levanta sobre o
balcão, estabelecendo-se entre minhas coxas abertas. — Deus, eu
quero você. Mas não podemos.
— Por que? — Estou louca por sexo, puxando sua camisa,
tentando puxá-la sobre sua cabeça.
— Porque a Dra. Dietrich disse que não podemos.
— Ela o quê? — Eu congelo, deixando cair minhas mãos e sua
camisa. — Aquela sádica do Twister que usa Birkenstock está
empatando nossa foda?
Aiden encosta a testa na minha, exalando lentamente.
— Foi o que ela disse depois que você saiu do escritório. Ela me
disse que somos uma revisão, não uma redecoração.
Suas palavras afundam, me arrastando de volta à realidade da
minha fuga encharcada de luxúria. Eu aperto meus braços em volta
da minha cintura e luto contra um arrepio. O constrangimento
aquece minhas bochechas, e Aiden vê isso imediatamente.
Ele se aproxima.
— Freya, eu... — Ele segura meu rosto, forçando meus olhos a
encontrar os dele. — Freya, eu quero você. Por favor, não duvide
disso.
— Não — eu sussurro, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu
rosto. — Por que eu duvidaria disso? Eu me senti tão desejada.
Os olhos de Aiden se fecham enquanto ele pressiona sua testa na
minha novamente.
— Eu quero mostrar a você. Quero que você saiba, mas não
quero fazer algo que nos machuque agora.
— Eu entendo — eu sussurro. — Estou bem.
— Você não está. Eu posso ver. — Ele envolve seus braços em
volta da minha cintura, antes que seu toque suma, segurando minha
bunda e me puxando para mais perto. — Eu odeio quando você está
triste — ele sussurra. — Parece que estou sendo destruído. Tudo o
que quero fazer é tirar essa tristeza, Freya. Para você sorrir e cantar e
ser feliz.
Aiden desliza seu nariz ao longo do meu, me dá um beijo fraco e
de adoração. Minhas mãos agarram sua camisa, por reflexo,
puxando-o para perto, antes de passarem por baixo do algodão
macio de sua camiseta. Dançando ao longo de seu estômago duro.
Meu toque encontra os cabelos macios que levam ao que eu quero
dentro de mim.
Sua respiração engata, então ele geme baixinho e inclina seus
quadris nos meus. Sua respiração é áspera e rápida enquanto sua
boca reclama a minha. Um beijo. Outro. Seus quadris empurram os
meus com mais força, e nossas bocas se abrem, compartilhando o ar
e sons suaves e famintos.
l f b d h b f h d
Mas então ele se afasta e beija o canto da minha boca, fechando
os olhos com força. O desejo surge, espesso e crepitante entre nós,
como ozônio enchendo o ar antes de uma tempestade.
— Uma terapeuta de casais — murmuro, enterrando meu rosto
na curva de seu pescoço e ombro, escondendo minhas emoções
confusas, meu medo do que vem a seguir. — Dizendo-nos para não
enlouquecermos.
Aiden ri baixinho.
— Eu acho que ela está preocupada que o sexo possa fazer mais
mal do que bem. Talvez seja como com seus clientes de fisioterapia.
Andar cedo demais com um osso quebrado pode atrasar a cura.
— E às vezes é o primeiro passo doloroso que os ajuda a lembrar
que a cura é dolorosa, e está tudo bem — eu contra-ataco, arrastando
meus lábios em sua garganta.
Ele sorri suavemente enquanto sua cabeça inclina para trás, cílios
escuros se espalhando e lançando sombras em suas maçãs do rosto.
— Você poderia ter sido advogada — ele sussurra.
Um sorriso reflexivo surge na minha boca enquanto lambo seu
pomo de adão. Seus quadris batem nos meus.
— A faculdade de direito era muito sedentária.
As mãos de Aiden mergulham em meu cabelo, e ele inclina
minha cabeça até que nossas bocas estejam pressionadas juntas
novamente, seu peito pressionado contra o meu. Ele desiste, se
desfazendo sob meu toque, e é tão bom ser desejada assim -
apaixonadamente, de forma imprudente.
Ele geme enquanto eu coloco a palma sobre sua calça jeans.
— Freya...
Ele me beija com mais força, suas mãos deslizando por baixo da
minha camisa, carinhosamente traçando minha barriga, depois meus
seios. Eu suspiro quando suas palmas ásperas passam sobre meus
mamilos.
Enganchando minhas pernas em torno de seus quadris, eu puxo
Aiden para mais perto enquanto ele me coloca de volta no balcão.
Ele aperta meu queixo e arrasta os dentes ao longo da minha
garganta, sua pélvis esmagando a minha. Eu suspiro quando ele
muda meus quadris até que estou embaixo dele, enquanto ele se
inclina sobre mim, me dando o peso de seu corpo. Suas mãos
enquadram meu rosto, sua língua persuadindo a minha em um
ritmo que eu quero que nossos corpos compartilhem, não apenas
nossas bocas.
— Por favor — eu sussurro.
Ele não me responde, e eu sei que ele está dividido. No canto
racional da minha mente, também estou dividida. Mas já faz tanto
tempo que diminuímos o ritmo e nos sentimos assim, brincamos,
nos acariciamos e nos beijamos. Por que paramos? Quando paramos?
E d d l d
E se o perdermos antes mesmo de o encontrarmos totalmente de
novo?
As mãos de Aiden vagam por baixo da minha camisa novamente,
seus polegares circulando meus mamilos até que eles estejam duros
e tão delirantemente sensíveis. Uma dor se constrói entre minhas
coxas enquanto ele se esfrega contra mim, e meus quadris começam
a rolar contra os dele. Pegando meus seios, ele provoca mais meus
mamilos, me beija profundamente. A dor aumenta, a urgência
aumenta. Eu jogo minha cabeça para trás e suspiro e então...
O barulho do telefone de Aiden quebra o momento.
Não, isso não está certo. Não é o telefone que o estilhaça. É o
imediatismo com que Aiden se afasta e mergulha para pegar o
telefone no bolso.
A humilhação queima através de mim, quente e incrivelmente
dolorosa. Sento-me lentamente e puxo minha camisa enquanto ele
olha para a tela, seus dedos voando enquanto ele responde a
qualquer mensagem que recebeu.
— Sinto muito por isso — ele murmura para o telefone. Ele nem
consegue olhar para mim e se desculpar.
E cada coisa tênue, delicada e boa que senti esta noite, a
minúscula chama de esperança que ganhou vida enquanto ele me
varria com sorvete e pizza, enquanto me dizia que me amava e me
confidenciava seus sonhos, seus medos, é extinto.
Uma nova desolação crescente se instala sob minha pele
enquanto eu o encaro. Mesmo se Aiden e eu sobrevivermos a isso,
mesmo se ele se abrir para mim do jeito que costumava fazer, será
realmente melhor, sabendo no que ele está trabalhando, se ele ainda
estiver casado com seu trabalho em vez de mim? Ou será apenas um
tipo diferente de dor? Uma nova maneira de se sentir sozinha, o
segundo melhor, vice-campeão dos deuses que são seu celular e o
sucesso profissional, que o afastam de mim.
Eu não dignifico suas ações com uma resposta. E Aiden não
parece notar.
Saindo do balcão, pego minha pizza, pego uma garrafa de vinho
e chamo os gatos, que correm e me seguem até o quarto.
Pelo menos alguém ainda acha que vale a pena correr atrás de
mim.
11

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ B a d T h i n g s ” - R a y l a n d B a x t e r

É , da minha ansiedade é um aperto


forte em volta das minhas costelas, quando posso ouvir meu pulso
batendo forte em meus ouvidos e meu coração parece uma grande
palpitação. Não há nada para apontar, nenhuma razão particular.
Exceto que você estava a dois segundos de chupar sua esposa na cozinha,
então Dan lhe mandou uma mensagem, e você pulou de cima dela como se a
pele dela tivesse pegado fogo.
Porra. Porra. Eu apenas continuo repetindo isso, como muitas
coisas que estraguei ao longo da minha vida. Momentos em que fiz
papel de idiota ou me senti envergonhado. Quando minhas roupas
estavam gastas ou muito pequenas. Quando eu estava tão cansado
do trabalho de paisagismo que fazia nos fins de semana no ensino
médio que adormeci durante a aula, acordei com baba na minha
mesa e um pau no rosto que alguém desenhou com uma canetinha.
O que notei no espelho do banheiro durante o quinto período.
Toca em um loop no meu cérebro.
Às vezes, isso me impede de dormir. Outras vezes, eu acordo e
me fixo naquela vez que errei explicando um termo na aula e tive
que enviar um e-mail para toda a minha turma de 300 pessoas,
contando o que eu errei. Outra vez, quando encontrei um erro de
digitação em minha seção de um artigo de um jornal acadêmico em
coautoria, fiquei preocupado de que, de alguma forma, isso me faria
ser demitido.
Isso faz minha pele arrepiar. Às vezes fico à beira de vomitar.
E hoje é um daqueles dias. Erros na frente e no centro do meu
cérebro. A beira de um ataque de pânico. Eu não posso mentir, sinto
o puxão do desespero. Aquela raiva sufocante de arrancar meu
cabelo em que estou preso. Essa ansiedade está administrando
minha vida, em vez de eu administrá-la.
Então, quando eu tenho um intervalo entre as aulas que não
envolve o horário de expediente, eu caminho, tentando respirar, me
distrair e me equilibrar. Apertando minhas mãos, depois
flexionando meus dedos, respirando pelo nariz, pela boca. Há um
espaço verde pequeno e menos movimentado do lado de fora do
meu prédio que eu ando como uma trilha, provavelmente parecendo
qualquer professor por aqui, passeando enquanto trabalhava em
uma ideia.
h d l d l d
No meu caminho de volta, eu desacelero quando vejo Tom
sentado em um banco próximo. Pronto para o trabalho em seu
uniforme cinza de zelador, ele põe ao seu lado uma pequena bolsa
térmica, provavelmente embalada com seu jantar, e bebe de uma
garrafa térmica. Quando meu caminho me leva a alguns metros de
seu banco, ele olha para cima através dos óculos escuros sob seu
boné preto desbotado de sempre e acena educadamente.
Eu desacelero até parar.
— Ei, Tom.
— Tarde — diz ele, levantando sua garrafa térmica. — Está tudo
bem?
Minha expressão vacila.
— Como?
Ele bebe de sua garrafa térmica e a coloca entre as pernas.
— Parece que você está tentando vencer as Olimpíadas de
Caminhada Rápida. Pensei que talvez você estivesse estressado. Mas
eu poderia estar projetando. Eu ando quando estou nervoso.
— Oh. Bem, sim. Com a ansiedade, às vezes caminhar ajuda.
— Ah, é verdade. — Ele diz como se entendesse. Eu me pergunto
se ele sabe. Se talvez seja por isso que ele me deixa à vontade.
Porque ele não se incomoda comigo, porque somos um pouco mais
parecidos do que eu pensava. — Bem, não quero interromper você
se precisar continuar caminhando — diz ele.
— Na verdade — Eu me pego olhando para o lugar no banco ao
lado dele. — Se importa se eu…
— Por favor — ele diz, se abaixando para me dar um espaço
amplo.
Assim que me sento, minhas pernas começam a balançar. E isso
me faz sentir falta de Freya. Ela nunca coloca as mãos na minha coxa
ou tenta me fazer parar. Seus dedos simplesmente deslizam pelos
meus, seguidos por um aperto forte e reconfortante.
Porra, eu a amo.
Eu esfrego meu rosto e suspiro.
— Desculpa. Estou perdido na minha cabeça hoje.
— Não me incomoda. — Tom vira os ombros para trás e cruza os
braços sobre o peito. Eu pego o leve cheiro de cigarros mentolados
nele agora que estamos tão perto.
— Você fuma?
Ele concorda.
— Sim, não no campus, é claro. Gosto de receber meu salário.
Eu aperto minhas mãos com força entre os joelhos, respirando
contra o aperto em meu peito.
— Você não deveria.
Ele se mexe no banco.

E E f d d é
— Estou ciente. Eu faço isso desde os treze anos, então é um
pouco tarde para parar o ato.
— O que? Como você conseguiu passar por seus pais?
Ele olha na minha direção, antes de olhar para frente novamente,
e diz:
— Bem, uh... eles não estavam muito por perto. E quando eles
estavam, eles achavam que eu era um problema e não havia como
me mudar.
— Teimoso? — Minhas pernas balançam de forma constante, mas
meu coração começou a desacelerar. Eu respiro fundo pelo nariz e
me concentro em ouvir Tom.
— Sim — ele diz. — Eu era e sou incorrigivelmente teimoso.
Bem, até eu conhecer uma garota que me fez endireitar as coisas. Ela
foi a primeira pessoa com quem eu quis compartilhar minha vida. E
eu fiz. Mas, é claro, eventualmente eu estraguei tudo, foi feio.
— Quão feio? — Eu pergunto, fechando meus olhos, focando na
minha respiração.
Ele se mexe no banco e tosse forte, então diz:
— Eu bebia. Estava viciado. E eu escolhi isso em vez dela. Acima
de tudo.
Essas palavras enviam um arrepio na minha pele. Eu escolhi isso
em vez dela. Acima de tudo.
— Mas uh… nos últimos três anos, estive sóbrio — diz ele —,
então isso é algo que tento comemorar. Bem… — Ele ri, rouco e
grosso. Posso ouvir o alcatrão cobrindo seus pulmões. — “Celebrar”
pode ser um exagero. Quando eu ando pelo bar onde costumava
beber todas as noites, me lembro que na verdade não quero aquela
bebida; meu cérebro só quer a calma que o álcool me deu. E então eu
vou para casa e leio no lugar dele. — Ele bebe de sua garrafa
térmica. — É quando eu comemoro.
Talvez seja porque ele parece ter a mesma idade que imagino que
meu pai teria. Talvez seja porque minha mãe diz que papai era uma
daquelas pessoas que transbordava de potencial, mas que nunca
escaparia das garras do vício que o prendiam, mas fico grato por
poder ver alguém que o fez. Alguém que fez isso.
— Desculpe — diz ele, coçando a barba —, por despejar minha
história de sobriedade em você.
— Eu não me importo de ouvir. É algo para se orgulhar.
Ele dá de ombros e puxa sua orelha, me jogando em qualquer
lugar que seja onde experimentamos um déjà vu. Eu também faço
isso quando estou me sentindo constrangido. A mão de Tom cai de
sua orelha e sou puxado de volta ao presente.
— Importa-se de eu perguntar como você terminou dando aulas
na faculdade? — ele diz, mexendo em suas mãos endurecidas pelo

b lh El í l f U fi l h
trabalho. Ele pega uma cutícula e a rasga com força. Uma fina linha
de sangue jorra à superfície.
Piscando para longe, eu relaxo no banco e respiro fundo.
— Eu era bom em matemática na escola e estava obcecado com a
forma como os negócios funcionavam, como as pessoas enriqueciam
e como a riqueza funcionava.
— Por que disso?
— Eu cresci sem ter muito. Quando aprendi que havia fórmulas a
serem aplicadas, passos lógicos que eu poderia dar para não ter que
viver como cresci, isso me atraiu por razões óbvias. E então percebi
que poderia ensinar as pessoas, ajudá-las a aprender sobre isso
também. — Eu encolho os ombros. — Apenas meio que parti de lá.
— Então você... não teve muito enquanto crescia. Ainda assim
você chegou aqui? Como?
— História do azarão clássico. Batalhador. Aceitou bicos.
Trabalhou pra caralho. Teve inteligência suficiente para conseguir
algumas bolsas de estudo. Conheci uma mulher fora do meu alcance
que, por algum motivo, me queria, que acreditava nos meus
objetivos e apoiava cada um deles. E agora aqui estou eu, à beira de
um enorme sucesso, com toda a minha bagagem prestes a me
arrastar para baixo e nos separar antes mesmo que eu possa
compartilhar com ela.
Bom. Essa última parte não deveria ter saído.
Tom franze a testa.
— Sua bagagem... Você quer dizer seu passado.
— Sempre fui muito obcecado pelo trabalho e por subir os
degraus aqui. As pessoas podem dizer que estou apenas vivendo
como um escravo do meu passado, que estou preso em alguma
mentira capitalista tóxica de que você não é nada se não ganhar, mas
essas pessoas podem ir a merda, porque elas não sabem o que sei, e
nem minha esposa sabe. E vai continuar assim.
Tom pigarreia. Ele olha para mim e depois para longe.
— Sinto muito... Sinto muito por ter sido difícil quando você era
jovem, e por ter se arrastado em sua vida adulta. Eu… — Ele esfrega
a barba. — Isso é injusto.
A autoconsciência me puxa. Eu apenas vomitei verbalmente no
zelador. Acabei de encurralá-lo em um banco, enquanto
transbordava de ansiedade, e comecei a tagarelar sobre minha
infância. Eu fico olhando para os meus dedos, puxando e segurando-
os entre os joelhos.
— Está tudo bem.
— Não — diz ele com firmeza. — Não está. Mas você não pode
mudar isso. Você pode simplesmente seguir em frente da melhor
forma que puder e dizer a si mesmo que dará o melhor ao seu filho.
— Depois de um tempo, ele diz:
ê filh A d l b
— Você tem filhos? Ainda não, se eu me lembro, certo?
Eu balancei minha cabeça.
— Temos tentado, mas estou passando por um momento difícil…
Cristo. Eu quase disse isso. O que há de errado comigo? Mesmo
que eu não tenha terminado minha frase, não deve ser difícil para
Tom intuir o que eu quis dizer. Um rubor de vergonha aquece
minhas bochechas.
Tom inclina a cabeça e, quando o sol sai de trás das nuvens
pesadas, vejo o contorno tênue de seus olhos através das lentes
escuras. Mas antes que eu possa processar sua aparência, ele olha
para baixo.
Depois de um momento de silêncio, Tom diz:
— Você conversou com sua esposa sobre isso?
— Freya? — Eu balancei minha cabeça. — De jeito nenhum.
Tom ri baixinho.
— Não posso dizer que te culpo. Mas uh... desculpe, se isso é
exagero, é mais comum do que você pensa. É apenas parte da vida.
Então, talvez ela devesse – Freya — ele diz, como se estivesse
testando o nome dela. — Ela deveria saber.
Eu fico olhando para os meus pés.
— Sim. Ela deveria. — Suspirando, passo a mão pelo cabelo. —
Estamos prestes a sair de férias com toda a família dela, mas ela está
muito desesperada para manter as aparências na frente deles, não
quer preocupar seus pais, já que é a celebração deles. Então agora
não é uma boa hora.
Quem você está enganando? Nunca haverá um bom momento.
Tom puxa seu boné para baixo enquanto o sol fica ainda mais
forte e nos banha com uma luz quente e brilhante.
— Isso parece estressante.
— E é.
— Apenas caminhando sozinho. — Ele estremece. — Eu odeio
essas armadilhas mortais.
Eu olho para ele.
— Sim. É como eu me sinto.
— Mas você está indo — diz ele. — Por ela.
— Eu estou indo, sim. Por ela. E eu gosto da família dela. Eu os
amo, na verdade. Eles são o mais próximos de família do que tive em
toda minha vida.
— Porque eram só você e sua mãe?
Eu olho para ele, uma pontada de desconforto formigando ao
longo do meu pescoço.
Calma, Aiden. Sua ansiedade está alta. E quando é, você fica desconfiado
e nervoso.
Mas ainda pergunto:
— Como você sabe que não tenho irmãos ou pai?
lh b d lh
Tom encolhe os ombros e desvia o olhar.
— Você não tem nenhuma foto em seu escritório além de sua
esposa e sua mãe. Não que eu esteja olhando, mas eu limpo lá, sabe.
E eu li nas entrelinhas. Essa história de oprimido tem 'pai caloteiro'
escrito por toda parte.
Meu estômago embrulha.
— Isso é óbvio, hein?
Tom se levanta abruptamente, olhando para o relógio de pulso.
— Merda. Perdi a noção do tempo. Tenho que bater o ponto. —
Garrafa térmica em uma mão, bolsa na outra, ele se vira como se
fosse sair, mas então ele para e vira na minha direção. — Eu não quis
te ofender quando disse isso. Quando eu disse que era óbvio, quis
dizer que está claro que você tinha todas as probabilidades contra
você, porque o homem que deveria estar lá por você não estava.
Óbvio, como você conseguiu coisas incríveis, apesar de lutar contra a
areia movediça da pobreza e um começo difícil na vida.
Minha garganta aperta.
— Ah. Bem... obrigado.
— Seu velho falhou com você — diz Tom, olhando para suas
botas de trabalho. — Isso fez com que você lutasse. O que está
errado. Mas... bem, se isso significa alguma coisa para você, eu diria
que você pode ter certeza que ele está em algum lugar lutando
também.
— Não posso dizer que me importo, Tom.
Ele acena com a cabeça, como se estivesse esperando por isso.
— Sim, e eu não culpo você. Ele está pagando sua penitência,
agora, no entanto. Marque minhas palavras.
Eu me junto a Tom em pé, deslizando minhas mãos nos bolsos.
Temos quase a mesma altura. Eu tenho talvez um centímetro sobre
ele. Ele mantém os olhos baixos, segurando a bolsa e a garrafa
térmica.
— Como assim? — Eu pergunto.
— Porque ele passou todos os dias desde que pegou a estrada,
perdendo você. Ele tem que viver com as consequências de suas
escolhas. Ele não conseguiu ver você crescer, nem se orgulhar de
como você se saiu, nem testemunhar o quanto você é forte. Ele não
conseguirá se reconhecer em você, nem conhecer sua esposa, nem
abraçar seus netos.
— Isso é justo, eu diria.
— Sim — diz Tom. — Eu também acho.
Então, sem outra palavra, ele toca o boné em despedida, se vira e
vai embora.
Eu fico olhando para ele, me sentindo estranho e inquieto. Contei
mais ao zelador sobre minha situação atual do que à minha própria
esposa. O que isso diz sobre mim? O que eu estou fazendo?
E d éd h d
Eu me viro em direção ao meu prédio, chateado comigo mesmo,
quando meu telefone vibra. Tirando-o do bolso, olho para a tela.
Uma mensagem de Dan:
O investidor que andou farejando pediu a apresentação completa de
slides. Dedos cruzados. Ele pode ser o cara.
Respondo rapidamente e, quando fecho minhas mensagens, fico
com minha foto de fundo. Freya, cabeça inclinada para o sol, sorriso
largo, seu cabelo loiro ondulado desgrenhado com a brisa.
Pego meu telefone e vejo minha esposa, uma vez feliz. Eu o
seguro sobre o pingente sob minha camisa. Uma promessa e
esperança, agarrada ao meu peito.
12

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ B e g i n A g a i n ” - N i c k M u l v e y

J , - . Primeiro minha mãe em minha casa, depois


atravessando quatro mil e oitocentos quilômetros em uma lata
voadora sobre as profundezas insondáveis do oceano Pacífico.
Eu mal dormi noite passada, falando nisso. Vou precisar do
cochilo mais longo do mundo quando pousarmos.
— Então, outra vez, onde está a comida de gato? — Mamãe diz.
Ela franze a testa para Wasabi e Picles, que miam e se enroscam em
suas pernas. — Oi, bebês. — Ela se curva e coça Picles. — Wasabi.
Como você é fofo.
Freya sorri como se ela não estivesse remotamente preocupada
que minha mãe não pudesse se lembrar dos nomes desses gatos,
nem para salvar sua vida.
— Vou te mostrar, Marie — ela diz. — Passei muito rápido por
tudo, desculpe.
Mamãe aperta o suéter com mais força enquanto se endireita.
— Tudo bem. Um segundo passo a passo parece bom, no entanto.
— Obrigado, Frey — digo distraidamente, verificando
novamente nossas malas.
A mão de Freya pousa suavemente no ombro de mamãe,
guiando minha mãe à sua frente.
— Certo, Marie, então aqui está a lista da rotina diária, e aqui está
o número de nossos vizinhos Mark e Jim se você tiver algum
problema.
Eles seguem pelo corredor em direção ao escritório onde
guardamos os suprimentos para gatos, minha mãe perguntando
qual é a casa de Jim e Mark de novo. Eu suspiro.
Mamãe não tem boa memória. Acompanho suas finanças desde
que ela começou a escorregar nas contas, quando Freya e eu
gentilmente perguntamos se poderíamos pagar o aluguel para que
ela pudesse se aposentar. Ela disse que “diabos não”. E isso levou a
uma briga enorme depois que eu disse a ela que o pedido, não era
um pedido, porque minha mãe não estaria limpando casas e
quebrando seu corpo mais um dia depois que Freya e eu percebemos
que podíamos nos dar ao luxo de tornar a aposentadoria possível
para ela. Mesmo que isso tornasse as coisas mais apertadas. Mesmo
que isso significasse mais pressa para estar onde nós precisávamos
estar financeiramente. Devo tudo à minha mãe. Pagar o aluguel para
l l d
que ela possa relaxar seu corpo cansado e poupar sua mente
dispersa é o mínimo que quero fazer por ela.
Ela ficou muito chateada no início, mas agora ela apenas age
levemente irritada comigo quando Freya e eu fazemos a viagem de
uma hora para o norte uma vez por mês. Nós a ajudamos a limpar,
separar a correspondência e as coisas que se acumularam, nos
certificamos de que tudo ao redor de sua casa está cuidado e que o
proprietário não a está perturbando. Eventualmente, se sua memória
continuar a declinar, ela precisará morar conosco. Ou teremos que
encontrar uma casa de repouso que ela não odeie. Outra coisa que
orço, economizo e trabalho para.
Carrego mamãe comigo o tempo todo, e a preocupação de que
sua memória esteja ruim às vezes me mantém acordado. E se ela
deixar algo no fogo? E se ela esquecer onde está quando sai para
fazer algo?
Então, além dessa preocupação constante, agora estou deixando-
a sozinha com a dita memória não muito boa sob os cuidados da
casa na qual eu derramei meu sangue, suor e lágrimas.
Respire fundo, Aiden. Respirações profundas.
No final do corredor, mamãe ri de algo que Freya murmurou. A
risada alegre de Freya segue, e um arrepio percorre minha espinha.
Ela riu tão pouco ultimamente. Saboreio o som como costumava
saborear o raro sundae de calda quente que mamãe me deixava
comprar no McDonald's.
Eu ainda pego um sundae com calda de chocolate quente,
naqueles dias em que é demais. Eu sento e como no carro e me
lembro de quão longe eu vim, de cada obstáculo que superei. Digo a
mim mesmo, se consegui superar isso antes, também posso
conseguir agora.
— Bem, crianças — mamãe diz quando eles voltam à sala de
estar — espero que vocês se divirtam muito. Você trabalha muito,
Aiden. Férias serão boas para você.
— Ah, estou bem. Mas estou ansioso por uma folga.
Eu sorrio para mamãe: ossos de pássaro, olhos verdes
acinzentados suaves, cabelo prateado cortado proximamente ao seu
queixo, e aceito seu abraço, envolvendo gentilmente meus braços ao
redor dela. Ela cheira a roupa lavada e balas de canela, como
sempre, e isso faz uma onda agridoce de memórias passar por mim.
A rara coloração da manhã de domingo na mesa. Nas poucas vezes
em que ela teve um bom mês de pagamento e nós ganhamos donuts,
depois fomos comprar roupas que nos caíssem bem e tênis que me
fizeram sentir como se estivesse andando em uma nuvem. Me
agarrei a esses momentos brilhantes entre tantas noites observando-a
por trás da fresta da porta do meu quarto com vista para a cozinha,

d l b b b d d l
onde ela estava, a cabeça baixa, os ombros sacudindo em soluços
silenciosos.
Eu tinha sete anos quando a peguei chorando daquele jeito pela
primeira vez. E foi então que jurei que, no momento em que
pudesse, tornaria a vida melhor. Para ela. E mim. Para qualquer
pessoa que eu já amei.
— Vocês dois vão — mamãe diz, enxotando-nos. — Saiam daqui.
Mostarda, Wasabi e eu manteremos o forte.
Freya sorri enquanto levanta a alça de sua mala.
— Tipo de comida certo, Marie, mas eles são Wasabi e Picles.
— Tanto faz. — Mamãe acena com a mão. — Os gatos são burros
como portas. Eles saberão que estou alimentando-os e recolhendo
seus cocôs.
Eu massageio a ponte do meu nariz.
— Obrigada de novo — Freya diz, se despedindo dela com um
abraço. — Lembre-se, a lista está na geladeira e há uma cópia em
nosso quarto. Lençóis limpos estão sobre a cama e, por favor, sirva-
se de tudo e de qualquer coisa.
Mamãe acena com a cabeça.
— Excelente. Eu tenho os strippers chegando às dez horas, e vou
me certificar de alugar muitos filmes pornôs.
Minha mão cai.
— Mãe!
Ela ri e dá um tapa no joelho.
— Só estou tentando te descontrair. — Trazendo suas mãos para
meus ombros, ela as aperta enquanto seus olhos procuram os meus.
Seus dedos vão até meu rosto e penteiam minha barba que, por
algum motivo, ainda não me livrei desde Washington.
— O que é? — Eu pergunto.
Ela balança a cabeça.
— Você se parece com ele, com isso — diz ela calmamente.
A repulsa me invade. Odeio já ter deduzido que me pareço com
ele. Eu não me pareço em nada com minha mãe. Mesmo assim,
nunca quero ouvir que há algo parecido com meu pai em mim.
Como de costume, ela lê nas entrelinhas.
— Eu disse que você se parecia com ele, só isso, Aiden. Ele era
muito bonito. Você acha que eu teria ido por qualquer coisa menos
do que um gato? Eu era muito gostosa na minha época.
Os olhos de Freya se enrugam com um sorriso profundo.
— Você ainda é. Não tenho ideia de por que você não namora,
Marie.
Mamãe não responde enquanto ela me encara, segurando meu
rosto com as mãos, até que ela diz:
— Amo você. Se cuide.
Eu coloco uma mão sobre a dela.
E bé
— Eu vou. Também te amo.
Puxando-a para perto, abraço minha mãe com força, até que ela
começa a resmungar e se afasta. Quando eu a solto, ela enxuga os
olhos e nos enxota.
Freya, é claro, também dá um abraço e um beijo de despedida
nos gatos, antes de partirmos, com as malas no carro, as janelas
abertas, uma playlist suave que ela fez que casa com o momento.
Não precisando segurar a expressão facial na frente da minha mãe, o
calor do rosto de Freya se desvanece como o sol atrás de nuvens
cinzentas e espessas. Ela se encosta na porta do carro, olhando pela
janela em um silêncio frio.
Eu aperto o volante com mais força, respiro fundo e dirijo.
***
Aqui é lindo. Tão bonito que quase justifica quase morrer por
cinco horas em um avião.
Ok, na verdade eu não estava quase morrendo, mas poderia estar
pelo quão miserável eu estava. Sou muito versado em estatísticas de
acidentes de avião e taxas de mortalidade, o que tira a diversão de
voar de primeira classe. Verifiquei três vezes o cinto de segurança de
Freya, me certifiquei de que todas as nossas saídas de emergência
foram identificadas e perguntei se ela estava bem mais de cinco
vezes.
Mas Freya me conhece. Mesmo ainda claramente chateada, ela
me respondia pacientemente todas as vezes, até mesmo me divertia
com uma análise detalhada do que fazer em caso de emergência para
que eu pudesse ter certeza de que não seríamos aquele casal que não
sabia a localização de nossos coletes salva-vidas quando o avião
começou a mergulhar no Pacífico.
Ela também trouxe um livro, que pegou e desapareceu atrás dele.
Enfiei uma daquelas almofadas de donut em volta do pescoço, puxei
meus óculos de sol para baixo e disse a mim mesmo para tentar
dormir, o que não fiz, é claro. Fechei os olhos e visualizei coisas
calmantes por cerca de quatro segundos antes de pensar sobre
aquela parte da interface do aplicativo que parecia falha e não contei
a Dan. Droga.
Depois de um desembarque silencioso e de uma ida até a casa, eu
vou tomar um banho depois da viagem de avião — porque sou eu e
sou um germofóbico – desfrutando de uma vista do nosso banheiro,
de frente para a praia de tirar o fôlego. Palmeiras balançando. Ondas
turquesas. Areia pálida e dourada e um céu azul safira que se
estende baixo e rico contra o oceano. Respiro fundo, apenas para
sentir tudo correr para fora de mim quando Freya entra no banheiro.
Ela está usando um vestido vermelho que se destaca em sua pele
levemente bronzeada. É curto o suficiente para ganhar meu interesse
imediato, mas opaco o suficiente para deixar minha mente louca com
bld d d á b E d l l
as possibilidades do que está por baixo. Eu quero deslizar aquele
tecido frágil por seus ombros e vê-lo viajar por suas curvas
decadentes. Quero apertar sua bunda redonda e macia e me esfregar
contra ela, lembrar a Freya o que ela faz comigo, o quão desesperado
ela me faz para estar dentro dela, para me sentir o mais próximo
possível.
Mas eu não consigo. Porque estou apavorado de que, assim que
eu entrar em ação, o enxame de pensamentos e preocupações
amontoará meu cérebro, drenando meu corpo daquela borda
faminta que me faz estender a mão para ela, que torna meu corpo
duro e desesperado.
E mesmo se eu quisesse, a Dra. Dietrich disse nada de sexo.
Existem outras maneiras além do seu pau para fazer sua esposa gritar
de êxtase, Aiden.
Oh, existem. E eu quero usar cada um deles. Mas nada sobre o
corpo de Freya diz, “seduza-me” agora. Diz: “toque em mim e você
perderá uma bola”.
Meu olhar vagueia por seu corpo e congela. Ela deve ter colocado
antes de sairmos, mas é a primeira vez que notei. Ela está com seu
piercing no septo novamente. Ela o tirou há algumas semanas,
resmungando algo sobre ser levada a sério para a promoção a que se
candidatava. Eu lamentei, porque com aquele delicado piercing de
prata no nariz, suas ondas curtas e bagunçadas e rosto lindo, ela
ficava gostosa, durona e linda. Ela se parecia com Freya. E quando
ela o tirou, parecia que ela estava deixando de lado a parte de si
mesma que a fazia mais feliz. A mulher de espírito livre, amante de
karaokê e objetiva dentro dela.
Agora o piercing está de volta. E eu me pergunto se aquela parte
dela que ela sentiu que precisava dominar está de volta também.
Espero que sim.
Freya termina de passar o protetor solar no rosto e percebe que
estou olhando para ela. Nossos olhos se encontram no espelho.
— Vejo você lá fora — diz ela brevemente.
Então ela se foi. Eu deixo cair minha testa no box do chuveiro e
ligo a água gelada.
Seco e de sunga, desço as escadas e aprecio o lugar. Eu estava
totalmente focado em ficar limpo quando chegamos aqui e não
absorvi muito sobre a casa, mas agora posso ver que é deslumbrante.
Expansiva mas acolhedora, janelas abertas e uma brisa cruzada.
Paredes brancas frescas, vigas e pisos de madeira escura manchada.
Tecidos e pinturas em tons de terra aconchegantes e convidativos,
móveis de meados do século repletos de plantas exuberantes com
pétalas vibrantes e folhas verdes brilhantes e profundas. Eu olho o
enorme sofá em formato de L e cor de caramelo e absorvo o silêncio

E hl d l E
aqui. Eu quero um cochilo. Mas eu deveria ser social na praia. E
sempre posso tirar uma soneca ao sol.
Quando eu termino minha inspeção da sala de estar, eu me viro
em direção à sala de jantar de conceito aberto e à área da cozinha,
começando a fazer meu caminho, quando um longo assobio corta o
ar.
Eu congelo, então lentamente olho por cima do ombro.
Há um papagaio em um canto escuro na outra extremidade da
sala de estar que de alguma forma eu perdi, dançando de lado a lado
em seu apoio. Um grande papagaio verde que inclina a cabeça
bruscamente e me encara.
Eu olho ao redor, esperando um dos Bergman pular e rir de sua
brincadeira engraçada. Ha-ha. Vamos enlouquecer Aiden com o papagaio
galanteador.
Esse pássaro não vem mesmo com a casa, não é? Se isso
acontecer, sinto que alguém deveria ter me dito que um papagaio
grande e objetificador mora aqui.
— Que rabão — ele grita.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Como é?
Girando a cabeça, o papagaio cria um ritmo e começa a dizer:
— Mete com força e com talento–
Eu ando em direção a ele, não tendo certeza exatamente do que
posso fazer, porque ele simplesmente continua.
— Estou ofegante, você percebendo–
Eu bato palmas para isso.
— Você não pode dizer isso aqui. Estas são férias e-e-em família.
O papagaio não liga.
— Bate e maltrata essa puta safada, quero jato de leite na cara–
— Ei! — Estou perto o suficiente para que o papagaio se assuste
com minha próxima palmas, depois inclina a cabeça antes de me dar
outro assobio longo.
Eu coloquei minhas mãos em meus quadris.
— Honestamente.
— E ai, gostosa — ele grita.
— Ei você — eu digo. — Chega de... do que quer que isso seja,
ok?
O papagaio agita as asas, depois gira na barra, de costas para
mim. Pelo menos está quieto.
Virando-me, sigo em direção ao lado da casa que leva à praia.
Estou quase na porta quando o papagaio diz:
— Bunda apertadinha — seguido por uma gargalhada.
Eu mantenho a moral elevada e fecho a porta atrás de mim.
Todas as praias do Havaí são propriedade pública, fazendo com
que esse luxo ao meu redor pareça um pouco menos opressor.
E h d b d
Enquanto caminho em direção aos Bergman, vejo crianças brincando
nas ondas, outra família não muito longe rindo e construindo um
castelo de areia.
E os Bergman se encaixam perfeitamente nesse quadro
doméstico. Ziggy lê sob um guarda-chuva que está compartilhando
com Axel, os dois esticados em espreguiçadeiras e vestindo
camisetas e shorts. Ren está atrás de Frankie, passando protetor solar
em suas costas e dizendo algo em seu ouvido que a faz rir.
Meus sogros acenam sobre seus ombros, cadeiras presas na areia
macia enquanto as ondas batem em suas pernas. Eu aceno de volta.
Algumas cadeiras estão vazias, então eu vagueio e coloco minha
toalha sobre uma delas.
— Alguém mais falou com o papagaio? — Eu pergunto.
Todos eles olham para mim.
Ziggy sorri e abaixa o livro.
— Sim. Ela era tão fofa, ela até disse: “Oi, boneca!'”
— É mesmo? — Sentando na cadeira, abro minha garrafa de água
e tomo um longo gole.
Ren inclina a cabeça.
— Esmerelda estava bem quieta quando eu estava na cozinha
mais cedo. Tyler disse que ela é velha e tende a dormir muito. Liguei
para ele porque estava preocupado que ela voasse com as janelas
abertas, mas ele disse que não precisamos nos preocupar, ela é
caseira.
— Meu tipo de garota — diz Frankie.
Ren esfrega o protetor solar e aperta seus ombros afetuosamente.
— Por que você pergunta? Ela disse algo engraçado?
Aparentemente, fui o único a ser assediado por Esmerelda. Estarei
mantendo isso para mim, a menos que ouça o contrário.
— Só curiosidade.
— Entendo — diz ele. — Fizera um bom vôo?
— Tão bom quanto os voos podem ser.
Ele aperta os olhos contra o sol e sorri.
— Sim, imaginei que você diria isso.
— Obrigado — eu digo, engolindo meu orgulho. — Isso foi
incrivelmente generoso, Ren.
Ele fica vermelho como um tomate e olha para Frankie, que está
sorrindo para ele por cima do ombro.
— Aw — ela diz. — Você fez Zenzero corar.
Zenzero significa ruivo em italiano e é o apelido de Frankie para
ele, devido ao cabelo acobreado de Ren. Olhando para ela de forma
divertida, Ren cora mais profundamente, então limpa a garganta
antes de se dirigir a mim.
— De nada. É... Sinceramente, acho que o que os atletas
profissionais ganham é inescrupuloso. O pagamento de voos deixou
h b á f
minha conta bancária menos ofensiva.
Frankie bufa e dá um tapinha na coxa.
— Eu não entendo. Me informe. Me chame de Scrooge. Então,
mais uma vez, eu cresci em uma caixa de sapatos no Queens, usando
roupas de segunda mão e cupons para tudo.
Algo se acalma dentro de mim ao ouvir isso, sabendo que não
sou o único que cresceu sem muito. Frankie me lança um olhar
penetrante.
— Eu recebo uma vibração muito Alexander Hamilton vinda de
você, Aiden.
— Não ouse começar a cantar — Ren diz. — Não até Oliver estar
aqui. Isso iria chateá-lo.
Frankie ri.
— Eu nunca faria isso. Esse garoto é mais obcecado do que eu.
Agora não é a hora, de qualquer maneira. Estou tendo uma conversa
franca com o Olhos de Oceano, aqui.
— Ei. — Ren cutuca o lado dela. — Nada de elogios ao cunhado
gostosão. Ou teremos uma conversa de coração para coração.
— Relaxe, Zenzero — ela diz afetuosamente, olhando para Ren.
— Ele tem olhos lindos, mas como você sabe, eu adoro ruivos. —
Voltando-se para mim, ela diz:
— Então, estou certa?
— Sim. Eu cresci de forma semelhante e não tenho planos de
viver assim novamente.
Dizer isso em voz alta é libertador. Geralmente, fico na ponta dos
pés durante minha infância com os Bergman, não porque estou com
vergonha, mas porque é um contraste marcante com suas vidas e,
bem, ninguém quer ser o pobre garoto sentado no Natal dizendo:
“Ei, estas são as coisas dos filmes que assisti e apenas sonhei em ter. Não
acredito que estou sentado aqui, tendo um verdadeiro banquete de
comemoração!”
É algo que corta o clima do momento. Especialmente quando
minha mãe se recusa a vir. Ela pede comida chinesa em seu
apartamento, assiste a filmes de Natal e jura que não poderia estar
mais feliz. Eu ainda a forço a uma visita na manhã da véspera de
Natal que posso dizer que ela gosta em seu particular.
— Eu sabia — diz Frankie, tirando-me dos meus pensamentos. —
Eu sou do mesmo jeito. Quer dizer, não planejo acumular se algum
dia for podre de rica, mas é bom não ter que me preocupar com
dinheiro.
— Definitivamente — eu digo a ela. — Se algum dia estiver rico,
não vou sentar e não compartilhar, mas não me importarei de ter
uma poupança gorda.
Ela levanta a garrafa de água.
— Um viva a isso.
ó lh d
Ren sorri entre nós, então olha ao redor.
— Onde está Freya?
— Eu não sei. — Eu também olho em volta. — Onde está... o
resto de seus irmãos?
— Presente e contando — diz Viggo de algum lugar por cima do
meu ombro.
Eu me assusto na minha cadeira.
— Jesus. Você fará alguma entrada normal?
— Pff — bufa Viggo enquanto se joga no assento ao meu lado. —
Onde está a diversão nisso?
Quando eu olho de volta, Ren está esfregando protetor solar na
ponte de seu nariz.
Viggo solta uma risada.
— Você sabe que pode tentar não ficar branco como papel, certo,
Ren?
Ren arqueia uma sobrancelha ruiva.
— Isso se parece com uma pele que já viu o sol?
— Não — todos nós dizemos.
Frankie pega o grande tubo de protetor solar aberto e o esguicha
em suas mãos.
— Não dê ouvidos a eles, Zenzero. — Ela esfrega o protetor solar
entre as mãos, virando-se e sentando-se na espreguiçadeira
enquanto sorri para ele. — Você precisa de protetor solar. Muito. Em
você todo.
Ren ri enquanto ela passa protetor em seu peito e o empurra de
volta na espreguiçadeira.
— Ugh — Oliver diz, me assustando tanto quanto Viggo.
Maldição, esses dois. — Sempre soubemos que ele seria assim
quando tivesse uma namorada, mas nossa. Vão atrás de um quarto!
— ele diz com as mãos em concha.
Frankie mostra o dedo do meio para ele.
— A praia é pública, vadias. Desvie seus olhos se você não gosta
do que vê.
Oliver resmunga para si mesmo, então rouba minha garrafa de
água e bebe metade dela.
— Sabe, Ollie — digo a ele — você poderia realmente beber da
sua própria bebida um dia desses.
Ele faz isso. Constantemente. Pega um pedaço de comida do seu
prato, prova o seu vinho. Bebe sua água se ele estiver passando e seu
copo por acaso estiver lá.
Oliver me dá um olhar de “O que você está tomando?”.
— Tenta ser o último de cinco irmãos e vê se não forma táticas de
sobrevivência. Se eu não comesse ou bebesse o alimento de outras
pessoas, não receberia.

Oh f d d lh E d
— Oh, por favor — diz Viggo, revirando os olhos. — Eu sou doze
meses mais velho do que você e não sou cleptomaníaco com a
comida de outras pessoas.
— Você sempre esteve doze meses à minha frente em termos de
desenvolvimento, também — Oliver argumenta. — Apenas um
pouco maior e melhor.
Viggo sorri.
— E isso ainda se mantém hoje. Só um pouco maior. E melhor.
Oliver o encara.
— Sim. Isso é o que eu estava fazendo. Comparando paus.
— Ok. — Eu jogo minhas mãos para cima. — Eu não estou
sentado na mira de sua briga incessante entre irmãos. Vocês dois
nunca só relaxam e se dão bem?
Os dois olham para mim como se eu tivesse quatro cabeças e
depois dizem:
— Não.
Tudo bem então. Abro meu livro, o romance que Viggo me deu,
escondido no meu colo, e mudo de assunto.
— Onde está Ryder?
E minha esposa?
— Chegando amanhã de manhã — diz Viggo, ajustando sua
cadeira para reclinar-se mais e abrindo seu próprio livro, que mostra
pessoas seminuas entrelaçadas na capa. — Willa não ia voltar de
viagem de um jogo até esta noite. Ela disse a Ryder para ir em frente,
mas ele disse… — Viggo abaixa a voz e tenta soar como seu irmão —
“De jeito nenhum. Eu não vou até você chegar”. O que geralmente é um
princípio muito bom para um relacionamento — diz ele, virando a
página de seu livro.
— Vamos lá — Oliver diz. — Orgasmos coreografados são a
matéria-prima dos seus romances de merda.
— Cuidado com a boca! — Viggo se ajeita e se senta direito. — Às
vezes, sim, o romance reforça expectativas irreais de intimidade e
prazer sexual, no entanto — ele diz, fazendo uma postura de “estou
dizendo algo importante” para nós. — Pelo menos é colocado na
página. Põe em primeiro plano a intimidade humana e a liberdade
sexual e a paixão, não apenas olhando para o abismo, tornando-se
filosófico sobre nossa mortalidade inevitável.
— Lá vamos nós — Oliver suspira.
Viggo não se intimidou.
— Romance é sobre a centralidade dos relacionamentos
amorosos e nos lembra que a conexão humana é vital para a
existência, ao invés de glorificar o egoísmo, a violência ou a
ganância. Então, desculpe meu gênero por não ser perfeito, mas
vamos voltar atrás, criticando hipocritamente os livros que fizeram

l h d d d d l
muito mais pela humanidade do que assassinos e idiotas circulares,
livros niilistas de quinhentas páginas.
Uma palma lenta ecoa atrás de nós, chamando minha atenção por
cima do ombro. E então minha boca se abre. Porque Freya está
tirando seu vestido vermelho, e então ele está flutuando ao lado da
minha cadeira, e então ela está caminhando, não, se pavoneando, em
um minúsculo biquíni vermelho, direto para a água.
13

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ B r e a k a w a y ” - L e n n o n S t e l l a

A , mas a sensação dos olhos de Aiden em mim a


torna ainda melhor.
Tente perder essa vista olhando para o seu telefone estúpido.
Eu mergulho sob uma onda, sentindo o oceano me envolver
naquele silêncio magnífico que te saúda quando você está debaixo
d'água. É tão pacífico, tão quieto sob as ondas, e enquanto meus
pulmões aguentam, eu me deixo cair sob a superfície da água,
sentindo o ritmo de uma nova onda quebrando.
Em seguida, um braço forte está me puxando para cima,
esmagando-me contra um peito duro e sólido.
— Freya! — A voz de Aiden é crua, seus olhos me procurando
descontroladamente enquanto eu ofego de surpresa. — Puta merda!
Não faça isso.
Eu fico boquiaberta com ele.
— O que...
Ele me beija. Forte. Freneticamente.
— Puta merda — ele murmura, me esmagando contra ele
novamente. Seus braços estão tão apertados em torno de mim que
mal posso respirar. — Você me assustou, Freya. Você não subiu.
— Eu estava apenas curtindo a água — eu sussurro contra seu
ombro, cambaleando com sua intensidade. Com ternura, suas mãos
vagueiam ao longo dos meus braços, como se ele estivesse se
assegurando de que estou realmente lá. Então ele embala minha
cabeça contra seu peito, onde sinto seu coração batendo forte. —
Estou bem, Aiden.
— Eu não estou — ele diz honestamente.
Por apenas um momento, eu aprecio sua atenção, sua
preocupação, a urgência em seu toque. Eu mordo meu lábio,
lembrando do calor de sua boca na minha. Mas então a água bate
entre nós, me tirando disso. Eu puxo o pouco que posso em seu
aperto firme, odiando a facilidade com que respondo ao seu toque.
Aiden ainda me segura perto, tudo que é macio, e meu, está
esmagado contra os planos duros dele. Eu olho para longe, tentando
me ignorar o quão bom isso é.
— Eu não queria assustar você — digo a ele. — Eu nem pensei
que você notaria.

l d
— Não notaria — ele murmura, segurando meu queixo e
inclinando minha cabeça para trás até que nossos olhos se
encontrem. — Freya, claro que que notaria.
Eu engulo lentamente enquanto seu polegar desliza ao longo da
minha garganta.
— É claro que eu perceberia — ele sussurra. Seus olhos são tão
azuis quanto as ondas do oceano ao nosso redor, brilhando sob o sol,
e não é a primeira vez que eu percebo como eles são fascinantes,
como ele é lindo. Às vezes eu gostaria de não estar tão atraída por
ele, que quando eu encontrasse seus olhos, eu não fosse arrastada
para suas profundezas turquesa, que eu não caísse fundo e
simplesmente continuasse caindo.
Aiden exala lentamente, firmando-se.
— Me desculpe por ter atacado seu rosto. Foi meio RCP, meio
“Ah, graças a Deus, você está viva”.
Antes que eu possa responder, sua cabeça vira bruscamente em
direção a uma onda que se aproxima. Em uma compreensão
silenciosa, enchemos nossos pulmões de ar e, em seguida, caímos
juntos na água quando a onda quebra sobre nós. Os sons do oceano
nos envolvem, enquanto Aiden me segura perto, e quando a onda
passa, subimos para a superfície.
Nossos peitos se chocam, depois nossos narizes, enquanto ambos
estamos desequilibrados e nos abraçamos para nos firmar. Firmes
novamente, eu aperto os olhos contra o sol e a água salgada em
meus cílios enquanto Aiden olha para mim. Seus polegares limpam
sob meus olhos suavemente, seu corpo quente contra o meu.
Eu começo a me afastar de novo, mas ele me para, as mãos
envolvendo meus ombros.
— Freya.
— Aiden.
Ele engole com dificuldade.
— Eu sinto muito. Na outra noite, quando atendi meu telefone
foi... me sinto péssimo. Eu sinto muito.
Empurrando a areia, nadamos através de uma onda crescente e a
deixamos passar por nós até a beira da água.
— Então, você disse isso.
— Mas claramente você ainda está com raiva.
E machucada. Envergonhada. Humilhada.
— Bem, Aiden, você recebeu uma ligação quando minha camisa
estava levantada e eu estava prestes a ter um orgasmo na bancada da
cozinha, então, sim, não foi bom para a minha autoestima.
— Freya, eu disse que sentia muito, e falei sério. Isso não tem nada
a ver com o quanto te desejo.
Eu rio vagamente.

Ok E d
— Ok. Exceto que suas ações não disseram isso. Faz meses que
não fazem. Uma coisa é me dizer que seu impulso sexual foi afetado,
mas seu impulso sexual inclui abraços, Aiden? Um verdadeiro
abraço caloroso? Um beijo de boa noite? Um pouco de carinho e
honestidade? Isso é tudo que eu queria. Eu não precisava ser
arrebatada, mas não acho que a sensação básica de ser a mulher que
você deseja era pedir muito.
Ele suspira, passando a mão pela boca e pela barba. Eu fico
olhando para ele, esse homem que de alguma forma se parece com
tudo e em nada com a pessoa com quem me casei.
Como isso acontece? Como você jura sua vida para alguém,
sabendo que ambos mudarão? Como vocês prometem um ao outro
até que a morte nos separe e seja feliz para sempre, sabendo que mais
casamentos acabam do que sobrevivem?
Você diz a si mesmo que é diferente. Somos diferentes.
Mas não somos. Somos apenas Freya e Aiden, flutuando no
Pacífico, sem nenhuma maldita ideia de como nossa história vai
terminar. E eu odeio isso. Eu odeio não saber. Eu odeio desejá-lo e
temer o que acontecerá se eu desistir. Estou tão cansada, até o último
fio de cabelo, cansada de sofrer e existir neste purgatório conjugal
ambíguo de merda.
Como se ele sentisse minha prontidão para fugir, Aiden
gentilmente me puxa pela água até que esteja mais fundo, e as ondas
estão chacoalhando em vez de quebrar em direção à costa.
Seus olhos procuram os meus.
— Freya, eu errei. O trabalho pegou o melhor de mim. Eu deixei
isso me sugar muito. Eu admito isso. E recebo uma resposta
instintiva quando meu celular toca porque tenho medo de perder
algo urgente de Dan para o aplicativo. Não era sobre não querer
você. Mas, eu ouço você. Eu entendo o que você está dizendo. Que
meu comportamento não demonstrou isso. Que isso não acontece há
muito tempo. E eu sinto muito.
Eu viro em minhas costas e flutuo suavemente agora que estamos
em uma parte mais calma da água. Os olhos de Aiden disparam pelo
meu corpo e ele engole em seco. Eu mal reprimo um sorriso de
satisfação e vingança.
— Eu já aceitei suas desculpas.
— Mas ainda estou sofrendo as consequências.
Deus, os homens realmente não entendem às vezes. Eles querem
que as desculpas acabem com a dor. Mas a dor leva tempo para
passar. Você pode perdoar e magoar enquanto se recupera da ferida.
— Imagino que sim — digo a ele. — E sua penitência continuará
amanhã.
— O que tem amanhã? — ele pergunta com cautela.

O ê l ê ll d
— Os meninos têm planos para vocês, assim que Willa e Ryder
chegarem.
Ele geme.
— Oh não.
— Ah sim.
— Droga — ele murmura, mergulhando na água, em seguida,
voltando para cima.
Meus olhos traidores se voltam para Aiden, para a água
escorrendo pelo seu peito duro, enquanto a brisa do mar envolve em
torno de nós e seus mamilos escuros e planos se contraem. Isso me
lembra de como ele estremece quando minha língua os traça,
quando minha mão desce pelo seu estômago-
A água passa por baixo de mim como uma advertência. Saia
dessa.
— Você nem sempre precisa se juntar a eles — digo a ele,
certificando-me de que meu tom soe uniforme e não afetado. —
Tenho certeza de que você tem trabalho a fazer.
— Você pode deixar de falar sobre o trabalho, Freya? Cristo.
Eu dou a ele um olhar glacial de soslaio.
— Você tem razão. Por que achei que você planejaria trabalhar?
Seu olho esquerdo estremece. Indicador para quando eu
realmente o afeto. Ele pressiona um dedo sobre o olho.
— Eu disse a Dan que estaria disponível, com moderação.
— Com moderação — eu repito ceticamente. — Hm. Bem,
contanto que você esteja sorrindo perto dos meus pais, isso é tudo
que eu preciso.
— Eu não estava planejando ser miserável em particular — diz
ele irritado.
Mas faz um de nós.
Fecho os olhos e me concentro em boiar.
— Não. Presumi que você estava planejando ficar ocupado em
particular. Trabalhando.
Ele suspira.
— Você vai realmente jogar isso na minha cara?
Eu paro de boiar, ficando de pé na água enquanto olho para ele.
— Jogar na sua cara? A sua tendência de deixar o trabalho
eclipsar todas as outras partes de sua vida, incluindo sua esposa? O
trabalho que o preocupa constantemente, que contribuiu
enormemente para o nosso casamento implodir porque você o
guardou para si mesmo e me manteve fora dele? Ah cara. Você tem
razão. O que passou na minha cabeça para “jogar isso na sua cara”?
Aiden olha para a água, o rosto tenso, os olhos baixos. E uma
punhalada de empatia me corta.
— Aiden, como eu disse, embora doa, entendo por que você não
falou sobre sua ansiedade, como isso afetou nossa vida íntima. Você
d ld h d
estava tentando lidar com isso sozinho. Mas essa merda com seu
trabalho e sucesso? Não, Aiden. É orgulhoso e egóico e não tenho
tempo para isso. O que você fez na outra noite apenas consolidou
sua prioridade em sua vida.
Ele abre a boca, mas somos interrompidos por Viggo berrando na
areia.
— Casal! Venha pra cá!
Sem esperar pela resposta de Aiden, eu nado para longe e pego
uma onda.
Quando eu caminho pela areia em direção aos meus pais, minha
mãe aperta os olhos por baixo do chapéu de palha e sorri.
— O que você achou da água? — ela pergunta.
— Está ótima. Você já entrou?
— Nós entramos. — Papai dá um tapinha afetuoso em sua coxa.
— E ela só me afundou duas vezes.
O sorriso de mamãe se aprofunda quando ela pega seu livro.
— Você mereceu.
Papai desliza os óculos de sol na cabeça, olhando por cima do
ombro para onde meus irmãos e Ziggy estão se preparando para
jogar futebol.
— Você vai mostrar a esses punks como os velhos jogam, Freya?
— Como é? Velhos?
Papai ri enquanto eu bagunço seu cabelo em retribuição.
— Freya! — Ziggy grita. — Sem goleiros, certo?
Eu torço meu nariz.
— Claro que não.
Todos os caras levantam as mãos em protesto.
— Um contra um, o vencedor decide se jogaremos contra os
goleiros — Oliver chama, apontando o dedo para mim em desafio.
Eu aponto para meu peito.
— Quem? Eu? Tem certeza? Isso dificilmente parece justo. Estou
muito velha e delicada hoje em dia.
Oliver abre um sorriso arrogante.
— É por isso que vamos resolver isso rápido e tranquilamente.
Viggo massageia sua testa.
— Você não deveria ter dito isso.
— Sim — Ren diz. — Ela vai acabar com você agora.
Axel desliza os óculos escuros sobre o nariz e coloca as mãos
atrás da cabeça.
— E eu vou gostar de assistir.
Corro em direção a Oliver e tiro a bola dele, mas logo ele está
bem atrás de mim. Ele é doze anos mais novo do que eu, em
excelente forma física, e joga futebol na UCLA, então provavelmente
não vou ganhar, mas a confiança às vezes vai longe e, por um

l d d h
momento, eu o vejo lutando, tentando sem sucesso ganhar a posse
de bola.
— Nossa, Frey! — ele ri, quando eu jogo um quadril. — É assim,
não é?
Eu rio também, enquanto giro, em seguida, vou para um tiro que
ele bloqueia com o pé. Quando Oliver puxa a bola para trás e tenta
ele mesmo chutar, eu me viro e acerto o chute direto na bunda,
deixando todos histéricos, incluindo Oliver. O que torna mais fácil
roubar a bola e depois chutá-la direto para o gol improvisado.
Ziggy grita enquanto corre para mim, jogando os braços em volta
do meu pescoço.
— Minha heroína! Sem goleiros!
— É claro que não há defesa — diz uma nova voz.
Eu pulo, virando-me para enfrentar Aiden, e sinto meus joelhos
vacilarem.
Ele está de pé, o sol atrás dele, projetando seu corpo alto em uma
sombra iluminada por trás. Ele inclina a cabeça e sacode a água de
sua orelha, fazendo todos os músculos de seu torso flexionar e
enrijecer. Eu mal engulo um zumbido enquanto meus olhos seguem
seu corpo.
Forte, mas não marcado. Sólido, pesado e duro. Ombros
redondos, peitorais grandes, água brilhando em seu estômago tenso
e cabelos escuros ondulando sob a cintura de sua sunga. Uma lufada
de ar me deixa enquanto meus olhos vagam para baixo e fixam no
contorno grosso dele dentro de sua sunga molhada, colada em suas
coxas musculosas–
Droga. Estou com raiva dele. E estou no período sem sexo mais
longo que já vivi nessa década. Não é uma boa combinação.
Os olhos de Aiden encontram os meus e piscam como se ele
soubesse o que estou pensando. Fecho os olhos enquanto ele passa
por mim em direção aos meus irmãos.
Não vou olhar por cima do ombro e checar sua bunda.
Eu não vou olhar por cima do ombro e-
Eu olho e mordo meu lábio enquanto eu olho. Aiden diz que mal
teve tempo para malhar, mas é muito óbvio que ele não tem pulado
o levantamento terra.
De jeito nenhum.
Ziggy pigarreou.
— O que? — Eu deixo escapar.
Ela sorri.
— Eu não disse nada.
— Certo. Ok. Vamos lá, Zigs. Vamos mostrar a esses meninos
como se joga.
Eu olho para Aiden, meu estômago revirando quando ele sorri
para algo que Ren diz. Isso choca minha memória, me lembrando de
d á d f b l d
quando costumávamos jogar em um time de futebol misto, quando
Aiden e eu fazíamos disso um encontro.
No carro, cantávamos com as playlists um do outro. Então,
quando estávamos lá, observávamos um ao outro em um mar de
outras pessoas, entusiasmados com aquele prazer efervescente de
observar sua pessoa no grupo, percebendo o quanto você gostava e
queria eles, como eles eram especiais para você, o quanto você sabia
sobre eles que ninguém mais sabia.
Eu observava seu sorriso brilhante, o sulco profundo de uma
covinha envolvendo sua boca, enquanto ele oferecia a alguém aquele
charme fácil que ilumina uma sala. Eu notaria quando ele mudou
seu peso e suas grandes coxas flexionaram. Meus olhos viajavam e
pousavam em seus olhos azuis brilhantes e na bondade em seu
rosto. E eu o quero. Tão profundamente, do centro do meu corpo até
a ponta dos dedos. Eu o queria com meu coração e meu corpo e essa
coisa inexplicável que ainda não consigo nomear, exceto pertencer.
Pertencimento inegável e profundo na alma.
Essa mesma sensação feroz se agita dentro de mim, enquanto eu
o vejo beber água, dando a Viggo algumas palavras sobre a largura
dos gols improvisados.
E meu estômago dá uma cambalhota inquietante, como
aconteceu na primeira vez que o vi, olhando para mim do outro lado
do campo. Ele era alto, magro e bonito, quase bonito demais. Um
rosto angular que eu senti que poderia olhar por muitas vidas e
ainda não apreciar totalmente. Cílios grossos escuros, aqueles olhos
azuis vívidos me fixando. Parecia um raio, direto pela minha
espinha, e eu desviei o olhar, apavorada. Ninguém nunca me fez
sentir isso.
Assim como ele fez há doze anos, Aiden olha na minha direção e
mantém meu olhar por um longo momento. Eletricidade passa por
mim enquanto seus olhos passeiam pelo meu corpo uma vez,
famintos, como se ele não pudesse evitar, antes de se virar para os
caras, jogando sua garrafa de água de lado.
— Olhe para os seus músculos — diz Oliver, cutucando o bíceps
redondo de Aiden. — Com o que Freya tem alimentando você?
Aiden pega sua toalha e leva até o cabelo, esfregando-o com
força.
— Me alimentando? — ele diz, passando as mãos pelo cabelo
para consertá-lo enquanto joga a toalha de lado. — Eu cozinho quase
todas as noites. Freya é a ganha-pão agora.
A surpresa me sacode. A última coisa que eu esperava em toda a
sua urgência de "preciso trabalhar para prover" seria que ele
anunciasse que agora ganho mais do que ele, especialmente na
frente de meu pai e de meus irmãos.

lh S éh h d
Nossos olhos se encontram. Seu sorriso é hesitante, mas cheio de
orgulho. Meu coração se contorce fortemente.
— Freya Linn! — Papai grita de sua cadeira. — Por que eu não
sabia disso?
Eu coro e arrasto meu pé na areia.
— Eu não sei. Não é grande coisa.
— É grande coisa sim! — Mamãe diz, sorrindo para mim. —
Parabéns, Freya. Champanhe no jantar esta noite, para comemorar.
— Obrigada, mãe. — Voltando-me para meus irmãos, digo:
— Agora posso acabar com vocês no futebol?
Ziggy pega a bola e faz malabarismos, antes de chutá-la para
Viggo.
— Estou com Frey. Vamos jogar bola.
Décadas de jogo para a maioria de nós, fazem nos separar
intuitivamente em nosso campo arenoso: Viggo se juntando a Ziggy
e eu contra Ren, Aiden e Oliver, o que é muito justo. Axel se coloca
no meio. Ele vai jogar em uma posição central e mudar para o ataque
com qualquer time que tiver a posse de bola, para equilibrar as
coisas.
Frankie pressiona um botão em seu telefone, fazendo um barulho
de apito para o pontapé inicial.
E fica claro muito rapidamente que Aiden está se sentindo extra
competitivo ou está procurando uma briga, porque imediatamente
ele está lá, com as mãos na minha cintura, lutando contra mim pela
posse da bola. Sua intensidade, o calor de seu corpo duro no meu,
parece um círculo completo. Assim como na primeira vez que nos
conhecemos, ele está atrás de mim.
Literalmente.
E agora me lembro o quanto ele pode me irritar quando estamos
jogando em times opostos. Somos muito, muito melhores quando
estamos do mesmo lado, perseguindo o mesmo objetivo.
— Você encosta demais — digo a ele.
— Isso se chama defesa — diz ele, alcançando a bola.
— Alguns de nós conseguem jogar na defesa sem apalpar os
outros — murmuro. — Me beijar daquele jeito no oceano, agora isso.
Eu deveria quebrar seus óculos de novo. — Girando, tento contorná-
lo.
Mas Aiden é mais rápido do que antes, ou talvez ele seja mais
forte, ou talvez eu seja mais lenta, ou talvez estejamos tão conectados
daquela maneira estranha que os casais de longa data estão, que ele
antecipa cada movimento meu. Suas mãos agarram minha cintura e,
por apenas um momento, quero me inclinar contra ele, sentir cada
pedacinho de seu grande corpo confortável contra o meu.
— É um hábito — ele grunhe, quando eu jogo minha bunda em
sua virilha. — Desculpe, estou acostumado a beijar minha esposa.
b d l d
— Porque temos nos beijado muito ultimamente — eu digo
sarcasticamente.
Aiden agarra meu quadril com mais força.
— Eu estive…
— Trabalhando. Acredite em mim, eu me lembro.
Sua respiração cai na minha pele encharcada de suor, e o ímpeto
ardente de desejo inunda meu corpo. Eu passo a bola para Ziggy e
saio, tentando abrir para um chutar a bola e ir, mas Aiden ainda está
em minha cola.
— Droga, Freya, eu não quero fazer isso.
— Somos dois.
A bola volta na minha direção, mas Aiden entra na minha frente
e a pega, driblando ao longo da areia. Quando eu o alcanço e vou em
direção a bola, Aiden a passa para Oliver antes que eu possa impedi-
lo.
O tempo desacelera conforme os olhos de Aiden se arregalam e
ele me agarra com força. Eu vejo o medo passar por seu rosto, uma
determinação dura em seus olhos, antes que o mundo salte para
frente em alta velocidade e ele me jogue para trás.
E então eu vejo meu marido receber uma bolada forte, e de curta
distância, direto nas bolas.
14

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ V a r i e t i e s o f E x i l e ” - B e i r u t

S D .M .
— Aiden! — Freya cai ao meu lado. Pelo menos acho que é Freya,
com base no som de sua voz e no cheiro familiar de verão de sua
pele. Não consigo ver nada. Ter minhas bolas assassinadas por uma
bola de futebol me cegou.
— Droga, Aiden. — Esse é o Oliver. — Eu sinto muito, cara. —
Ele parece zero por cento arrependido. — Eu estava no modo besta e
me empolguei. Eu nem estava chutando para o gol. Estou feliz por
não ter machucado Freya. Felizmente, você a protegeu.
Eu abro um olho, olhando para ele, antes que meu olhar viaje
sobre os irmãos e suspeite. Eles não fizeram isso... de propósito,
fizeram?
Mas então penso no momento em que Viggo nos interrompeu
quando Freya e eu estávamos no oceano, quando eu estava prestes a
perder a calma e me aprofundar em nossa discussão. Agora isso…
Merda. Eles estão se intrometendo novamente. Ou, como tenho
certeza de que eles pensam: ajudando. Ajudando a esmagar minhas
bolas. Nesse ritmo, Freya e eu teremos sorte se algum dia pudermos
ter filhos.
As mãos de Freya deslizam pelo meu cabelo.
— Você entrou na minha frente.
— Você parece surpresa — eu suspiro enquanto meus olhos
travam nos dela.
Ela não diz nada, e não vou mentir, isso me esmaga. Ela nunca
deveria duvidar que eu me colocaria entre ela e qualquer coisa que
pudesse machucá-la.
E se essa coisa que a está machucando for você?
A verdade se infiltra, um veneno que vai direto ao meu coração e
o faz pegar. Me sinto enjoado.
Freya passa os dedos pelo meu cabelo novamente, alisando-o da
minha testa, olhando para mim como ela não o fazia há muito
tempo. Ela parece que quase me tomou por um estranho, e agora ela
está se questionando. Como se finalmente ela estivesse me vendo
novamente.
Dez segundos atrás, eu diria que nada faria essa dor valer a pena,
mas agora sei que estou errado. Eu me daria um tiro bolas mil vezes,

d d
por este momento novamente, para ver apenas um pedaço de
reconhecimento em seus olhos.
Viggo sorri afetadamente por cima do ombro de Freya. Eu
respiro profundamente enquanto o pavor percorre meu estômago.
Porque se é assim que esta semana vai ser, e estes são os irmãos
Bergman apenas começando, eu honestamente estou com medo de
como isso vai acabar.

Meus olhos se abrem para uma fraca luz violeta derramando-se


pelas cortinas ondulantes antes que elas se fechem novamente. Por
um segundo, não tenho certeza de onde estou. A sensação da cama é
diferente, mas eu poderia jurar que Wasabi ou Picles estão
massageando meu peito com as patas – uma leve pressão alternada
subindo pelas minhas costelas.
— E ai, gostosa — grita o papagaio.
Meus olhos se abrem. Ela chacoalha suas penas e começa uma
batida, balançando a cabeça.
— Esmerelda — eu assobio. — Nem mesmo…
— Chupa tudo, no talento do lambe lambe. Bota tudo na
boquinha, meu grelinho de diamante.
Freya geme de irritação e me dá uma cotovelada durante o sono.
Sento-me, fazendo Esmerelda pular para trás e arrepiar as penas de
aborrecimento.
— Idiota! — ela grita.
— Você é a idiota — eu sussurro. — Você vai acordar Freya.
De repente, a porta do meu quarto se abre. Esmerelda se vê
saindo voando, passando por Viggo, a quem oferece um educado:
— Bom dia!
Eu caio de volta na cama e me viro de estômago, enterrando meu
rosto sob um travesseiro. Esmerelda e Viggo é pedir demais a
qualquer pessoa antes de tomar café.
— Minha irmã está nua? — ele pergunta. — Bata duas vezes na
cabeceira da cama se eu puder abrir os olhos.
Antes que eu possa responder, meu rosto cai no colchão. Eu ouço
o baque de um travesseiro conectando-se a um corpo humano.
— Opa — diz Viggo.
Olhando para cima, vejo Freya agora enterrada sob seu
travesseiro e cobertores. Com base no espaço vazio onde meu
travesseiro estava, ela bateu em Viggo com meu travesseiro.
Que legal.
Um segundo depois, Freya começa a roncar.
Os olhos de Viggo se arregalam.
— Ela está roncando?

El há d d úl b
— Ela ronca há anos, desde a última vez que quebrou o nariz no
futebol de domingo. Se você ao menos pensar em provocá-la, vou
torcer seu mamilo até você chorar. Ela é insegura.
— Olhe para você — ele diz. — Muito maridão da sua parte
defendê-la.
— Viggo — murmuro cansado —, o que você está fazendo aqui?
E o que diabos você está vestindo?
Ele abre um sorriso e faz uma pose de modelo, depois outra.
— Shorts de ciclista. Lycra. Você gosta? Comprei um pouco antes
da viagem e estou obcecado. Respirável. Flexível. Eles são como uma
segunda pele.
Estremeço ao fechar os olhos.
— Eu realmente não queria saber muito sobre sua anatomia.
— Eu entendo se você estiver com ciúmes. Bergmans são
notoriamente bem dotados…
— Viggo — eu gemo. — Cale a boca. E vá embora.
— Eu não estou indo a lugar nenhum. Este é o seu chamado de
despertar para o Dia de União dos Irmãos. Vamos lá. Vamos, vamos,
levantando.
Eu olho para ele.
— Não me lembro de ter concordado com isso.
— Você concordou — diz ele.
— Não. Definitivamente não.
— Em espírito, sim. — Ele bate palmas baixinho, com razão,
cauteloso para não acordar Freya, que continua roncando sob os
cobertores. — Vamos lá. As mulheres têm seus próprios planos.
Ryder e Willa chegaram cerca de uma hora atrás, então Willa está
dormindo, mas Ryder está bem acordado e mal-humorado como
sempre, então é melhor não deixar o homem da montanha
esperando.
— Estou bem acordado e mal-humorado também — murmuro,
esfregando o rosto. O travesseiro se conecta com a minha cabeça. Eu
deixo cair minhas mãos e encaro Viggo mortalmente. — É melhor ter
café pronto.
Ele sorri.
— Tem. Apresente-se à cozinha em cinco minutos. Café e barras
de cereais foram providenciados.
Então ele se foi, e estou muito tentado a me jogar para trás e me
enfiar debaixo das cobertas. Mas eu não quero. Porque tenho certeza
de que Viggo faria alguma brincadeira retributiva se eu não
aparecesse. E talvez, ainda mais do que isso, estou curioso para ver o
que esses irmãos Bergman inventaram.
Saindo da cama, coloco as roupas em silêncio e desço as escadas.
E vinte minutos mais tarde, eu estou em uma posição muito
desconfortável na varanda, tendo muita certeza de que não valia a
d d
pena ter acordado.
— Ai. — Minha perna não deve dobrar assim. Makanui, nosso
instrutor de ioga visitante, discorda veementemente.
— Respire — ele me lembra, como se não fosse um processo
autônomo.
— Não posso deixar de fazer isso — murmuro, tentando não
gemer de dor.
Oliver me encara, no meio da chaturanga.
— Aiden, eu não sinto que você está investindo nisso. Você não é
o único que gostaria de estar dormindo esta manhã, mas você não
me vê sendo um babaquinha, não é?
Makanui sorri para mim com calma e empurra minha perna mais
longe.
— Sua pélvis está muito rígida — diz ele. — Respire pela pélvis.
Eu encaro esse cara.
— Hm. O que?
— Eu acho que o que ele está convidando você a fazer — Ren diz,
parecendo irritantemente sereno — é conectar sua consciência
daquela parte do seu corpo à sua respiração. Frequentemente, ajuda-
nos a liberar a tensão e a acolher nossos corpos em uma abertura e
receptividade mais profundas. A flexibilidade não está apenas no
corpo, Aiden. Está na alma.
Que porra é essa ?
Makanui acena com a cabeça.
— Exatamente.
Eu sei que Ren e Frankie fazem sua própria rotina de ioga todas
as manhãs, mas calma aí. A flexibilidade está na alma? Além disso, não
consigo entender como é voluntariamente começar o dia sofrendo
esse tipo de dor. Eu fico olhando suplicante para Axel, que eu sinto
que posso contar para chamar isso pelo que é de fato: tortura, mas
ele está olhando para o nascer do sol, mãos atrás da cabeça,
parecendo feliz. Eu também estaria, se Makanui não estivesse me
dando atenção total.
Makanui faz um tsks .
— Seu pescoço também. Respire, Aiden. Respire.
— Estou respirando!
— Shh! — Ryder diz, de olhos fechados. — Pela primeira vez eu
não quero estrangular um único de vocês. Deixe-me aproveitar.
Eu franzo a testa para Ryder, surpreso por sua expressão calma
enquanto ele mantém a pose que Makanui nos mostrou. A pose que
eu disse fortemente que meu corpo não fez.
Bom. Makanui provou que eu estava (dolorosamente) errado.
Depois, Viggo e Oliver, sem camisa e com seus shorts
combinando, fazendo o que parece ser uma competição de
chaturanga, seguindo os movimentos do fluxo que Makanui nos
á d í l l d fi f é d
mostrou o mais rápido possível, em algum desafio frenético de ioga
e flexão.
— Você não está preocupado com aqueles dois? — Eu pergunto,
esperando que isso tire Makanui da minha cola.
Ele balança a cabeça.
— Alguns homens ainda são meninos. Eles não podem ser
ajudados.
Uma risada escapa de mim.
— É justo.
Depois de outro momento, Makanui decide que já me fez passar
por muita coisa. Fazemos a transição para outra sequência de fluxo
na qual consigo entrar, antes de passarmos para um resfriamento
que é surpreendentemente relaxante. Deitado de costas em
shavasana, eu olho para o nascer do sol brilhante e respiro fundo.
Meu coração não está batendo forte, meus pensamentos não
parecem estar girando em torno do meu cérebro como máquina de
pinball. E embora eu saiba que não vai durar, por apenas um
momento, eu saboreio, o raro silêncio em minha cabeça, a calma
pesada pesando meus membros.
Makanui nos convida a sentar lentamente e concluir.
Namastê.
Eu me levanto, passando as mãos pelo cabelo e esticando os
braços sobre a cabeça. Sinto-me solto em todos os lugares, incluindo
minha pélvis. É um daqueles lugares que eu não percebi que
mantinham tanta tensão. Mas enquanto penso nisso, tenho uma
sensação de enjôo no estômago, que provavelmente deveria.
Depois de agradecer a Makanui, enrolamos nossas esteiras de
ioga.
— Bom trabalho, Aiden — Ren diz, batendo suavemente nas
minhas costas. — Você realmente se engajou com isso.
— Obrigado. Não foi tão ruim depois de um tempo. E bem, ok,
crianças. Isso tem sido divertido....
— Ei, ei, ei, — Oliver diz, envolvendo um braço em volta do meu
pescoço, o que é tão nojento. Ele está pingando de suor.
— Sai fora. — Eu o empurro para longe. — Você está
encharcado.
— Você pensou que precisava fazer ioga, então encerrar o dia? —
Viggo balança a cabeça e suspira. — Aiden. Aiden, Aiden, Aiden.
Ryder bebe sua água, e sem sucesso, tenta esconder um sorriso.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto.
— Nós — diz Viggo, virando-me e me levando para longe de
casa, — estaremos em uma aventura de união de irmãos o dia todo.
Eu paro no meio do caminho, causando uma colisão dos irmãos
Bergman, estilo efeito dominó.

Id A d á E d d
— Idiotas — Axe resmunga na parte de trás. — Estou cercado de
idiotas.
Eu me viro e os encaro.
— Eu não sou irmão de vocês. Vocês não querem fazer essas
coisas, sabe... sem mim?
Todos cruzam os braços sobre o peito e inclinam a cabeça na
mesma direção. É além de estranho. E é também... merda, é meio
cativante.
— Então é isso aí mesmo — diz Oliver — é exatamente por isso
que precisamos de hoje.
Viggo me fixa com seu olhar penetrante.
— Em algum lugar ao longo do caminho, você esqueceu o dia em
que se tornou de Freya, você se tornou nosso também.
Ah, cara. Meus olhos embaçam com lágrimas. Eu olho para os
meus pés e pisco para longe enquanto limpo minha garganta.
— Então, para responder à sua pergunta — Ryder diz. — Não.
Não queremos fazer isso sem você.
Ren sorri.
— Hoje é para todos os seis de nós. Hora dos irmãos.
— Você está nessa para sempre — Axe me diz. — Você não
consegue agir como se estivesse de alguma forma fora dessa porra
de carrossel que é ser um Bergman. Se eu tiver que lidar com essa
loucura, você também tem que.
E antes que eu possa dizer qualquer coisa – não que eu fosse
saber o que dizer, porque as palavras estão presas na minha
garganta engrossada pelas lágrimas – Viggo solta um grito
ensurdecedor de Tarzan e sai correndo pelo caminho arborizado ao
lado da casa.
Um suspiro de resignação deixa meu peito.
— Eu deveria segui-lo, não é?
— Sim — todos eles dizem.
Depois de um momento de pausa, eu respiro fundo. E quando
meu próprio grito de Tarzan deixa meus pulmões, eu saio atrás dele.
15

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ O l y m p i a n s ” - A n d r e w B i r d

—T —O .
— Agora você entende como estou me sentindo desde que
Makanui me atingiu na virilha como um sargento instrutor. — Eu
jogo um marshmallow em Oliver. Ele quica em seu peito, mas ele o
pega e a coloca na boca.
Mastigando e engolindo, Oliver estica o pescoço e olha para cima
enquanto a luz do dia se desvanece, um céu em aquarela pintado
com listras de azul, tangerina e lavanda.
— Às vezes, vale a pena sofrer como um condenado — diz ele. —
Se for o tipo certo de dor. Como condicionamento. Isso é horrível.
Mas eu não estaria pronto para o jogo, não ficaria melhor no futebol
se não corresse até vomitar e levantar pesos regularmente, o que
sempre odiarei.
— Isso é verdade. — Ryder levanta sua garrafa térmica. — Bem,
exceto que eu gosto de levantar pesos. E de correr. Mas, no seu
ponto de vista, sim, a dor pode ter um propósito.
As chamas racham e estalam, atraindo-nos para perto da
fogueira, amontoados contra a escuridão iminente. Enquanto a brisa
do mar sopra ao nosso redor, eu olho para os irmãos Bergman. Axel,
pensativo, olhando para o fogo. Ren, sorrindo enquanto mastiga um
s'more. Ryder, perdido em pensamentos, cutucando o fogo. Oliver,
olhando para o céu. E Viggo, cujos olhos pálidos de Bergman estão
fixos em mim.
— Como você está, Aiden? — ele pergunta.
Eu relaxo na minha cadeira, apoiando um pé no meu joelho.
— Dolorido para caralho. Algo entre fazer mountain bike e o
nado até nossa “queda com confiança”.
— Eu ainda estou bravo com isso — Oliver resmunga.
A boca de Viggo se contorce enquanto ele luta contra um sorriso.
— Eu não prestei atenção. Um pássaro fez um barulho, e você
sabe o quão distraído eu sou.
— Ah, eu sei sempre. O mesmo aconteceu com minha bunda que
está machucada, por cair como um saco de batatas no chão em vez
de ser pego. — Oliver faz uma careta. — Não acredito que confiei a
você este corpo inestimável da glória do futebol.
Ryder cobre uma risada com seu braço, então deixa sua
expressão séria.
l E f dí l
— Desculpa. Eu sinto muito. Viggo, isso foi uma ridículo.
Viggo não está prestando atenção.
— Eu quero ouvir Aiden.
Um por um, seus olhos se fixam em mim.
— Eu te disse, estou dolorido. Além disso, estou... estou bem. E
uh… — Eu olho para longe e engulo a emoção inesperada que
aperta minha garganta. — Este foi um bom dia. Então. É. Obrigado.
Ren se inclina para frente e dá um tapinha no meu joelho.
— Boa. Nós te amamos, Aiden.
Um eco fraternal disso me envolve, tornando impossível não
sorrir de volta para eles. Ryder me dá um tapinha nas costas
enquanto Oliver gira em sua cadeira, em seguida, coloca os pés no
meu colo.
— Que nojento, cara. — Eu os empurro. — Agora você foi longe.
Oliver uiva.
— Estou tão dolorido! Eu só preciso de um lugar para esticar
minhas pernas que não vá queimar as solas dos meus pés.
— O drama — diz Viggo, revirando os olhos, mas se aproxima e
levanta as pernas de Oliver, depois gira Ollie até que seus pés
estejam apoiados nas coxas do segundo. — Então, vamos falar de
estratégia.
Eu pisco para ele.
— Como assim?
Os irmãos trocam olhares antes de Viggo começa a contar nos
dedos.
— Vocês estavam brigando no mar. Isso não pode acontecer.
Você não briga com Freya quando ela está irritada. Você a deixa
colocar tudo para fora.
Meu olho esquerdo estremece. Eu pressiono um dedo sobre ele.
— Por favor. Fale mais sobre minha esposa de quase dez anos.
— Ênfase no quase — diz ele. — Não vamos nos precipitar.
Eu contemplo como seria bom estrangulá-lo.
— Próximo. — Viggo levanta outro dedo. — Você ainda está
sendo um idiota arrogante que não pode ser ensinado. Já lhe ocorreu
que talvez só porque Freya aguentou certa dinâmica por nove anos,
ela nunca esteve entusiasmada com isso? Talvez ela só queria que você
cale sua tagarelice e a ouça.
— Como uma chaleira — Oliver diz, como se estivesse
transmitindo alguma sabedoria profunda — em vez de fazê-la
assobiar, apenas levante a tampa e deixe… a água evaporar.
Ryder bufa.
— Eu acho que o que Oliver quer dizer — Ren diz
diplomaticamente — é que ficar na defensiva com Freya quando ela
tem emoções e pensamentos para expressar não é do seu interesse.
Vai sair pela culatra. Melhor ouví-la sem discutir ponto por ponto.
S Ol d I
— Sim — Oliver diz. — Isso.
Viggo lança um olhar fulminante para seus irmãos.
— Se me é permitido? Como o único cara aqui que passa uma
quantidade razoável de tempo lendo livros que são literalmente
projetados para que os homens entendam a perspectiva romântica
feminina.
Os caras levantam as mãos.
— Nicholas Sparks está com o microfone — diz Ryder.
Viggo respira fundo e fecha os olhos como se estivesse tentando
se afastar da violência. Seus olhos se abrem e se fixam em mim,
penetrantes e pálidos.
— O chute nas bolas certeiro de Ollie pareceu render alguns
pontos, mas claramente precisamos trabalhar em outra coisa. Algo
que a faça sentir...
— Amada — Ren oferece. — Amada por você. Há algo especial
que ela não faz com frequência? Algo significativo que ela não fazia
há algum tempo, que você pudesse oferecer como um gesto? Isso
mostraria a ela que você está pensando sobre ela e que faz com que
ela se sinta amada, não a sua ideia de mostrar o amor.
Eu tamborilando meus dedos no braço da cadeira.
— Eu a levei para um encontro na sorveteria, assim como nosso
primeiro encontro. Ela gostou disso.
Viggo acena com a cabeça.
— Bom, isso é inteligente. Traçando paralelos de quando vocês se
apaixonaram. Excelente. Então, como foi?
Eu desinflo.
— Ah. Bem… começou bem. Terminou muito mal.
Viggo suspira e enterra o rosto nas mãos.
— Ok, então é muito cedo para outro encontro — Ryder diz. —
Ela precisa de uma distração. Algo para limpar mentalmente a RAM
dela.
— Karaokê? — Eu ofereço. — Ela não canta há um tempo.
Todos eles prendem a respiração.
— Merda — Ryder exala. — Isso é ruim.
— Definitivamente ruim — diz Axel. — Aquela mulher nunca
para de cantar e cantarolar. O cantarolado! — Claramente, esta é
uma reclamação da infância que eu não entendo, porque Axel parece
estar revivendo uma tortura. — Se ela não está cantando, isso é sério.
— Vocês não estão me ajudando a me sentir melhor — murmuro.
Viggo balança a cabeça.
— Não é nosso trabalho. Nosso trabalho é ajudá-lo a não cagar
isso mais do que você já fez. Vamos voltar. Eu preciso saber onde
você está mentalmente. Como vai a leitura do livro?
Eu engulo nervosamente.
— Você quer dizer o que você me deu?
S l d d d d ê
— Sim — ele diz, soando como se estivesse pedindo a paciência
de um santo. — O livro que te dei. Aquele em que o cara está
fodendo tudo epicamente ao compartimentar seus sentimentos e
esperar a intimidade com sua esposa em troca.
— Hum. — Sentindo minhas bochechas esquentarem levemente,
eu olho ao redor. — Está sendo bom. Até onde li.
Viggo acena com a cabeça.
— Continue.
— O que é isso, um relatório de livro?
— Fácil — diz Ryder. — Ele está apenas tentando ajudar.
É verdade, mas a pressão e a expectativa que me pesaram na
noite em que Viggo atirou o livro na minha direção, de repente,
parece estar desabando no meu peito.
De todas as pessoas, Axel invade no momento mais inesperado e
me paga o indulto.
— Estou lendo outro dela, na verdade.
Viggo pisca para Axel como se ele estivesse em curto-circuito.
— Me desculpe, você o quê? Você realmente leu?
— Você fica enfiando-os na minha mala toda vez que os visito, o
que mais devo fazer, abrir uma livraria de romances em Sea le? —
Axe cheira e cutuca as unhas. — Comecei um sobre um cara que é
workaholic. Aiden deveria ler isso.
Eu estreito meus olhos.
— Obrigado pelo amor fraternal.
— Só estou dizendo, você provavelmente pegaria algumas dicas.
Até agora eu aprendi que ele acredita ser incapaz de amar, mas a
autora começou a prenunciar que ele diz que é incapaz de amar
porque ele realmente enfrentou uma rejeição dolorosa anterior e,
portanto, afasta qualquer pessoa que tenha a oportunidade de fazê-
lo se sentir não amado novamente.
Bem, merda. Meu peito aperta enquanto tento respirar fundo. As
palavras de Axel trazem de volta a dor cortante que senti quando
Freya me disse para ir embora, o pânico que tomou conta de mim
quando ela saiu de casa não muito tempo atrás. Não é isso que todo
mundo sente? Medo de ser abandonado? Não ser amado?
Nem todo mundo os deixou. Nem todo mundo questiona o quão amáveis
eles são se sua própria carne e sangue não podem se dar ao trabalho de
permanecer por aqui.
Talvez eu leia esse livro que Axel tem. Depois de sobreviver ao
que estou lendo atualmente.
Ryder bebe de sua garrafa térmica e franze a testa em
pensamento.
— Então, como ele aprende a lição? Como ele cresce? Esse é o
objetivo de uma história, certo - como o personagem evolui?

E l b d é h l
— Eu não li, mas sabendo que é um romance, eu acho que ele
aprende a lição enquanto se apaixona — Ren diz, entregando a
Ryder um s'more.
— Ei. — Oliver faz beicinho. — Eu também quero um s’more
também.
Ren sorri.
— Estou fazendo, Ollie.
— Então. — Ryder cutuca Axel. — O que Ren disse, é isso o que
acontece?
— Não cheguei tão longe — diz Axe. — Mas eu imagino que terá
algo a ver com uma mulher aparecendo e se infiltrando em seu
cérebro até que tudo o que ele faça é pensar nela, se preocupar com
ela, desenhá-la, sonhar com ela, até que ele esteja miserável e seus
planos organizados para desfrutar de um celibato longo e monótono
são completamente destruídos. — Axel encara o fogo e murmura
sombriamente:
— Em outras palavras, segue-se um caos desenfreado.
Um silêncio espesso, pesado paira entre os irmãos enquanto eles
trocam olhares ao redor de Axel.
Até que Ren alegremente diz:
— Mas pelo menos é um caos romântico desenfreado.
Viggo pisca para seu irmão mais velho em perplexidade.
— Axel. Estou tão orgulhoso de você.
— Estou jogando aquele livro no fogo — Axe resmunga.
— Como é? — Viggo grita.
— Não — diz Axel, mais para si mesmo do que para qualquer
outra pessoa. — Eu vou dar para Aiden. Essa é uma decisão melhor.
Ele precisa dele.
— Parece que você precisa dele — murmura Ryder.
Axel não diz nada enquanto olha para o fogo.
Então a atenção de Viggo está de volta em mim.
— Bom. Nós temos toda a emoção da qual Axe está disposto a
demonstrar durante o mês. Então, de volta a você, Aiden.
— Vou ser honesto, não avancei muito com a leitura.
— Então, leia — diz Viggo. — Porque, até agora, você não tem
inspirado meu otimismo.
Oliver mastiga seu s'more fresco.
— Freya está abatida. Tipo, muito para baixo. O que vocês
fizeram antes de partirem? Ela está pior do que no restaurante.
A vergonha desliza em minhas veias. Eu esfrego minha testa.
— Eu estraguei tudo.
— Não brinca — Ryder diz em torno de seu próprio s'more. —
Mas como?
— Pelo amor de Deus, nada de detalhes gráficos — avisa Axel.

é l
Não sei se é porque estou exausto pelo quão ativos estivemos nas
últimas doze horas, sendo forçado a manter uma ligação estranha o
dia todo, ou porque depois de falar com tantas pessoas por tanto
tempo, meu filtro simplesmente não existe, mas eu deixo escapar a
verdade.
— Eu estava seduzindo ela muito bem. Então meu telefone tocou
e eu o peguei para atender.
Suas mandíbulas caem.
Oliver se contorce.
— Ai credo. Eu não quero imaginar isso. Ai credo. Ai credo.
Viggo dá um tapa na cabeça dele.
— Saia do ensino médio, Oliver. Jesus.
— Você atendeu um telefonema — Ren diz, horror pintando seu
rosto, — enquanto você estava... Cristo, Aiden! Isso é…
— Horrível — diz Ryder, piscando para mim em descrença.
Axel balança a cabeça, sua boca uma barra severa de
desaprovação.
— Eu disse que sentia muito — murmuro miseravelmente. —
Muitas vezes.
— Sim — Viggo suspira, esfregando as têmporas. — Então,
desculpas não vão consertar, e você sabe disso. As mulheres precisam
ver que são desejáveis. Você a fez se sentir como a segunda melhor.
Você a colocou em uma posição incrivelmente vulnerável e então a
abandonou.
— Eu não a abandonei — eu digo defensivamente. — Freya sabe
que a desejo.
— Como? — Ren pergunta. — Não pelo que você fez. E é isso
que conta.
Ele tem razão. Só não tenho ideia do que mais fazer, exceto não
fazer de novo.
— Sério — diz Viggo, tirando-me dos meus pensamentos. — Por
que estamos dizendo isso, quando você literalmente me ajudou a
planejar meu primeiro encontro, quando deu a Ren a coragem de
convidar sua paixão do colégio para o baile de formatura? O que
aconteceu com você? Você tem trinta e seis anos. Você deu a todos
nós uma visão sobre gestos românticos e namoro.
— Não para mim — Axel aponta, como se isso fosse uma
medalha de honra.
Eu olho para ele.
— A experiência de Aiden é sedução — explica Ryder. — Ele
poderia fazer cair a calcinha de uma freira. Isso é o que ele nos
ensinou. Se humilhar, no entanto, não está em seu repertório
Viggo se volta para mim, estreitando os olhos.
— Espera. Espera. — Ele se inclina. — Puta merda. Você nunca se
humilhou.
h b h h
Minhas bochechas esquentam.
— Como? — Oliver pergunta. — Como você nunca se humilhou?
— Porque antes de Freya, não valia a pena rastejar por ninguém
— murmuro.
Ryder bate seus cílios.
— Awww.
— Vou dar um soco no seu pau — digo a ele.
Viggo nos ignora.
— Ok. Você precisa rastejar. Rastejar legitimamente. Não posso
acreditar que estou honestamente passando minhas férias no Havaí
salvando sua pele.
— Eu não pedi sua ajuda! Na verdade, lembro-me de dizer
explicitamente, apenas algumas semanas atrás, o quanto eu não
queria sua ajuda. No entanto, aqui estamos.
— Concentre-se — diz Viggo, batendo palmas e me ignorando.
— Primeiro o que importa. De agora em diante, Aiden, seu telefone
não ficará no mesmo cômodo que Freya quando vocês– Ele
estremece. — Quando vocês estiverem juntos assim.
— Mas, com meu trabalho…
— Aiden — Ren diz, inclinando-se, cotovelos sobre os joelhos. —
Acho que todos nós entendemos melhor agora como o seu trabalho é
urgente para você no momento. Não tínhamos entendido isso antes,
e só posso imaginar que tentar desenvolver o que quer que seja esse
empreendimento comercial, enquanto seu casamento está tenso, é...
muito. É demais. Então, por enquanto, você vai ter que fazer uma
escolha: devotar sua energia para fazer as pazes com Freya ou
continuar tentando proteger suas apostas, dividindo seu tempo.
— E acho que vimos quão bem está indo — diz Ryder, erguendo
as sobrancelhas.
Axel se mexe e olha para mim.
— Você tem um parceiro nisso, não é? Aquele cara que estava
explodindo seu telefone na casa de Ren. Por que ele não pode cobrir
você por uma semana?
Minhas pernas começam a balançar nervosamente. Teoricamente,
Dan poderia. Mas... e se ele bagunçasse alguma coisa enquanto eu
estiver fora? E se tudo pelo que trabalhei estiver arruinado?
— Se você confia nesse cara o suficiente para ser seu sócio —
Ryder diz como se tivesse lido meus pensamentos — você confiaria
nele para não implodir seu trabalho enquanto você estiver
indisponível por alguns dias. Na verdade, eu me lembro desse
mesmo raciocínio sendo usado em uma situação altamente
manipuladora quando você era meu professor e de Willa.
— Espere o que? — Oliver pergunta.
Ryder balança a cabeça para mim.

El d d ó fi
— Ele disse que os parceiros de negócios precisam ser firmes,
confiáveis e devem estar na mesma página, então usou isso para
forçar Willa e eu a ir em uma viagem de construção de equipes,
também conhecida como “a caminhada pela cachoeira que viverá na
infâmia”. Eu tive bolas azuis por meses depois disso.
Ren franze a testa.
— Mas não foi um bom dia? Você não percebeu que estava se
apaixonando por ela depois daquela viagem?
Ryder dá a Ren um olhar de soslaio.
— Sim — diz ele lentamente. — Mas esse não é o meu ponto.
— Por que você não começa com isso, então? — Axel diz sem
rodeios, esfregando os olhos como se estivesse prestes a terminar
com este circo. Isso nos tornaria dois.
— Meu ponto — Ryder diz secamente — é que Aiden prega o
evangelho da confiança em parceiros de negócios e, a menos que
queira se expor como um enorme hipócrita, é melhor seguir seu
próprio conselho, confiar em seu parceiro e concentrar o resto dessas
férias em seu casamento em ruínas, em vez de microgerenciar o
empreendimento em que está trabalhando.
— Cacete — Oliver diz.
Eu odeio que ele esteja certo. Eu seguro meu telefone no bolso.
O olhar de Viggo rastreia meu movimento, depois se estreita.
Seus dedos tamborilam nas laterais do corpo.
— Ok. Então, estamos de acordo. Aiden precisa perder o telefone.
Se humilhar para Freya. E continuar lendo esse romance — ele diz
diretamente para mim. — Pense muito sobre o que ela está tentando
enfiar nessa sua cabeça dura.
— Longa e dura. — Oliver sorri. — E grossa. Heh. Essa é a
vantagem de um romance, certo?
Ren tosse enquanto suas bochechas ficam rosadas. Ryder bufa.
— Espere, o que? — Eu pergunto. — Do que você está falando?
Axe suspira.
— Livro de tesão, cara.
— Livro do quê?
Um livro? Pode me deixar duro? O que é essa feitiçaria?
Viggo apaga o fogo.
— Você verá, Aiden. Continue lendo e você verá.
Ryder xinga de repente, olhando para o telefone.
— O que? — todos nós perguntamos.
Ele achatou o telefone contra o peito e limpou a garganta, um
toque de rosa em suas bochechas acima da barba.
— Nada. Quer dizer, é algo, mas nenhum de vocês verá.
Ren torce o nariz.
— Do que você está falando?

ê é ê d El d d
— Você é tão ingênuo — diz Viggo. — Ela mandou um nude
para ele.
Ryder não confirma nem nega.
— As mulheres estão recebendo massagens — diz ele, batendo os
dedos em seu telefone. — Depois vão sair para beber e ter um jantar
tardio. Acho que devemos limpar aqui e, em seguida, nos preparar
para participar de uma noite das meninas.
Eu gemo. Estou tão cansado que a ideia de sair parece horrível.
Luzes brilhantes, espaço lotado, música alta…
Espere.
Uma lâmpada acende e eu pego meu telefone.
— O que você está fazendo? — Oliver pergunta.
Minha busca na internet encontrou dois lugares com karaokê,
mas apenas um com uma banda ao vivo. Freya vai adorar. Mando
site do lugar para o telefone de Ryder, e suas sobrancelhas levantam
quando ele abre o navegador.
— Olhe para você, Aiden.
Eu posso imaginar. O sorriso em seu rosto quando ela canta, a
maneira como suas bochechas ficam vermelhas e sua pele brilha e ela
simplesmente ganha vida. Mesmo que eu seja apenas uma mosca na
parede, longe de sua vista vendo-a cantar, vê-la feliz será o
suficiente.
Viggo pega e lê meu telefone.
— Karaokê? Você vai mandá-las para lá? — Ele dá um tapinha na
minha bochecha. — Veja, você não está totalmente perdido.
Eu empurro sua mão.
— Muito obrigado.
— Vou falar com Willa agora — diz Ryder, com os polegares
voando. — Ela vai garantir que elas cheguem lá.
Ren coloca a mão no meu ombro para me tranquilizar.
— Você consegue. É hora do grande gesto número um.
Todos eles sorriem na minha direção. Então eu percebo o que eles
estão sugerindo.
Eu não vou cantar na frente de todo um restaurante. Eu tenho
uma voz decente. Eu posso tocar guitarra bem. Mas não estou
fazendo papel de idiota na frente de uma centena de estranhos.
— Caras. Não.
Viggo me agarra pela frente da camisa e me levanta.
— Rastejando, Aiden. Sim.
16

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ R o l l i n g I n T h e D e e p ” - T h e U k u l e l e s

U W através da almofada de rosto na mesa


de massagem.
— Ei — Frankie resmunga. — Alguns de nós gostariam de ser
massageados sem ruídos de animais.
Willa ri.
— Desculpa. Eu. Estou. Tão. Dolorida. Não posso evitar.
— Peça a Ryder para te fazer massagens — digo a ela.
— Heh. — Willa suspira audivelmente enquanto sua massagista
desliza as mãos por suas costas escorregadias de óleo. — Ryder é o
motivo de eu estar tão dolorida.
Agora é a minha vez de gemer.
Frankie dá uma gargalhada.
— Se eu pudesse dar um high-five com ele agora, eu o faria.
— Eu quero um novo quarto — Ziggy murmura em sua
almofada de rosto. — Um quieto. E você poderia, por favor, fazer
com mais força? — ela pergunta a sua massoterapeuta. — Apenas
brutalize meus músculos, e então tire as mãos quando você mudar
as coisas. O toque leve é desconfortável para mim.
Sua massagista acena com a cabeça.
— Com certeza.
Tenho um pequeno momento de orgulho de Ziggy porque não
conseguiria imaginá-la fazendo isso há apenas alguns meses. Mas
agora ela está ficando mais confiante em expressar suas necessidades
sensoriais, seja como ser tocada em uma massagem ou explicando o
que ela precisa para que um passeio em grupo funcione para ela.
— Enquanto você? — Frankie diz para seu terapeuta.
O terapeuta que trabalha seus ombros sorri ironicamente, como
se houvesse alguma piada interna entre os dois.
— Mantenho minhas mãos longe de seus quadris — diz ele — ou
me prepararei para algum xingamento blasfemo involuntário.
Frankie suspira de contentamento enquanto ele desliza as mãos
pelo pescoço dela.
— Você é o melhor.
— Como você se sente? — minha massagista pergunta
suavemente.
— Tudo bem, obrigada — digo a ela. — Só continue fazendo o
que está fazendo, por favor.
d ó
Depois de terminar nossas massagens noturnas, nós tomamos
banho e deslizamos em vestidos de verão confortáveis, então
pegamos um Uber para um jantar tardio e bebidas. Macia e relaxada,
estou ansiosa para relaxar com a autêntica comida havaiana e um
bom coquetel, apreciando a vista à beira-mar.
— Eu me sinto tão solta — diz Ziggy, agitando seus membros
como Gumby3 enquanto caminhamos até o restaurante.
Willa ri.
— Estou morrendo de fome — diz Frankie. — Eu preciso de um
hambúrguer, então cama. Eu sei que tirei um cochilo, mas o caiaque
o tirou de mim.
— O sol tirou isso de mim — digo a elas. — Eu me sinto
radioativa.
Ziggy testa seu nariz.
— Sim. Fiquei queimada de sol.
Fizemos um passeio de caiaque e mergulho com snorkel esta
manhã porque era algo em que estávamos todas interessadas e não
era muito difícil para o corpo de Frankie. Então voltamos,
cochilamos – bem, todo mundo cochilou; Eu li mais de Persuasão e
aproveitei o sol do final da tarde – antes de fazermos as malas para
nossas massagens noturnas e a noite das garotas.
Foi um esforço estratégico da parte dos irmãos para – ahem – dar
a casa para nossos pais durante a maior parte do dia. Afinal, são as
férias de aniversário deles.
Eu olho para as altas tochas de cobre do restaurante queimando
na noite, ouvindo o barulho do oceano. Há um calor sensual e sem
fim no ar aqui. E algo sobre a ilha – seja a gentileza de seu povo, a
abundância de belezas naturais, o constante sol torrencial e o oceano
de tirar o fôlego – que me faz sentir viva, esperançosa.
E agora? Luz do fogo e ondas quebrando, sombras e ar quente e
abafado, não posso negar que também é incrivelmente romântico. É
claro que Aiden e eu estamos aqui no ponto baixo de nosso
casamento.
Suspiro.
— Então — diz Frankie, colocando a bengala entre as pernas e
esticando os braços ao longo das costas da cadeira. — Vamos falar
sobre o elefante na sala.
Ziggy espia de seu Kindle.
— Que elefante? — Ela olha ao redor. — Oh. Elefante proverbial.
Entendi. Estou ouvindo.
Willa apoia os cotovelos nos joelhos e inclina a cabeça, os cachos
caramelo dançando na brisa do mar, os olhos apertados de
preocupação. Frankie franze a testa suavemente, focada em mim
também, e os nervos apertam meu estômago. Uma coisa é ter
contado para minha melhor amiga, Mai, que conhece todas as
h é b lh ó
minhas porcarias, mas outra é me abrir para essas mulheres que só
conhecem a Freya durona, a que tem toda sua merda sob controle.
— Ei — Willa diz suavemente, colocando sua mão na minha e
apertando. — Sem pressão. Diga-nos quando e como for melhor
para você.
— Que tal álcool? — Frankie diz, levantando a mão para um
garçom.
— Não muito — diz Ziggy, os olhos voltados para o Kindle. —
Depois de uma massagem você transpira muito, então precisa se
reidratar. Dois copos de água para cada bebida alcoólica.
— Ugh — diz Frankie. — As crianças nos dias de hoje. Tão
responsáveis.
Ziggy sorri, ainda lendo, e não diz mais nada.
— Sim — eu admito. — Vou precisar de uma bebida para
isso.
Frankie chama o garçom com uma rapidez notável, com um
movimento do dedo e um olhar magnético que dá a um garçom
desamparado, certificando-se de que pedimos comida também. Em
poucos minutos, estamos brindando mai tais e a limonada de Ziggy.
Nos acomodando ainda mais em nossas cadeiras baixas e
confortáveis em torno de uma mesa circular baixa e semelhante,
esticamos as pernas e suspiramos coletivamente de contentamento.
— Tudo bem — eu digo depois de um longo gole de mai tai. —
Aiden e eu estamos em uma fase muito difícil. Estou deixando
mamãe e papai fora disso por enquanto, então, por favor,
mantenham isso entre nós e meus irmãos. Eu não queria estragar a
celebração dos meus pais.
Ziggy ergue os olhos.
— Vocês vão ficar bem?
Tomo outro gole do meu mai tai.
— Não sei, Ziggy.
Uma coisa era sentir abstratamente, ao longo dos meses, o quão
distraído Aiden estava com o trabalho. Outra, naquela noite na
cozinha, foi experimentar visceralmente ser rejeitada por causa
disso. Sua ausência emocional foi dolorosa. Mas sua presença
impensada doeu ainda mais. E essa ferida continua infeccionando.
— Desculpe — eu murmuro, enxugando meus olhos.
Willa coloca a mão nas minhas costas.
— Eu não tenho nada a dizer que vá consertar o que você está
passando. Mas saiba, eu acho você valente e durona. Tenho muita
admiração pelo trabalho que é preciso para sustentar parcerias de
longo prazo. Desde que te conheci, tenho respeitado você e seu
casamento com Aiden, e isso não mudou, sabendo disso. Na
verdade, eu te admiro ainda mais.

Ob d d l E " b lh '' d l
— Obrigada — digo a ela. — Esse "trabalho'' de relacionamentos
de longo prazo, como você disse, acho que estou apenas pensando
em como isso é profundo. Não se trata apenas de comprometer com
onde você compra uma casa ou quanto gasta com comida para
viagem. Achei que seria um trabalho superficial se você encontrasse
a pessoa certa. Porque eu cresci vendo a felicidade dos meus pais e
presumindo que fosse fácil. Isso faz sentido? E isso segurou a barra -
estar com Aiden parecia fácil, ou pelo menos como um trabalho feliz,
do tipo bom, por um longo tempo. Até... até que não fosse. Agora é
difícil. Tudo isso.
Frankie diz:
— Obviamente, não conheço você ou Aiden há muito tempo, mas
Ren me disse que quando eles estavam na cabana, ele nunca tinha
visto Aiden tão abatido. Como alguém cujas coisas pessoais se
interpunham entre eles e a pessoa que amam, posso falar sobre o
fato de que às vezes as pessoas fazem um trabalho péssimo em
mostrar para as pessoas que amam, o quanto significam para elas.
Não é uma desculpa, apenas um lembrete. Acho que seu marido a
ama profundamente. Mas espero que ele faça um trabalho melhor ao
mostrar a você. Você merece o melhor.
— Obrigada, Frankie — eu sussurro.
Ziggy vem em minha direção e me abraça com força.
— Aguente firme, Frey. Eu amo você.
Eu aperto suas costas, engolindo um nó de lágrimas na minha
garganta enquanto nos afastamos.
— Obrigada. Também te amo.
— Esses homens — murmura Frankie em torno de seu canudo.
— Fazendo com que nos apaixonemos por eles. Arruinando nossos
grandes planos de solteirona. Desordeiros.
Isso me faz rir.
— Que bom que ele tem um pau incrível — diz Willa.
— Ai! — Ziggy tapou os ouvidos com as mãos. — Pare com isso.
Que nojo.
— Acabou com o clima — eu gemo. Fazendo uma careta, tomo
muito mais do meu mai tai.
— Minhas desculpas — diz Willa. — Ok, chega de conversar
sobre meninos. Agora é hora de ficar bêbadas e cantar karaokê.
— O que? — Meus olhos se arregalam. — Karaokê?
Frankie inclina a cabeça e bebe seu mai tai.
— Um passarinho chamado Aiden nos disse que você adora
karaokê.
Meu coração aperta.
— Ele te disse isso?
— Bem, ele disse a Ryder para me dizer — diz Willa. — E eu
disse a Frankie e Ziggy. E então eu as animei fortemente para virem
E d f d
aqui. Então, de uma forma indireta, sim.
Eu olho nervosamente para a configuração da banda, o
microfone, esperando que alguém o arranque do estande e o
preencha com sua voz. A Freya que correria até lá e enfrentaria
qualquer coisa parece um fantasma de uma vida passada.
Percebendo isso, a tristeza puxa as bordas do meu coração.
— Eu não canto há... meses. Não canto no karaokê há anos.
— Bem, vamos consertar isso — diz Willa. — Começando com
uma rodada de shots.
Ziggy suspira e puxa os joelhos.
— Pelo menos eu trouxe meu Kindle.

Quando Ryder era pequeno, ele era fascinado pela vida


selvagem. Íamos à biblioteca e ele me fazia ler livro após livro sobre
macacos, gado, borboletas e pássaros. Aprendi sobre padrões de
acasalamento e migração, sobre qual animal era o maior desse e qual
era o menor daquele. Eu aprendi muito lendo para ele. Mas o que
me lembro mais vividamente foi aprender sobre os instintos dos
animais para se moverem em direção à segurança antes que os
humanos tenham a menor pista de que a catástrofe está chegando.
Não há nenhuma ciência difícil para provar isso, mas a teoria é
que os animais sentem as vibrações da terra antes mesmo de um
terremoto estar ocorrendo, que quando os sistemas de pressão
mudam e tempestades violentas estão chegando, eles sentem isso no
ar, e então procuram abrigo e solo mais alto. Achei isso incrível – a
sabedoria dos animais em antecipar a calamidade antes que velhos
humanos burros tenham a noção de que seu mundo está prestes a
ser invertido.
Mas esta noite, agora mesmo, me sinto como um desses animais –
meus sentidos aguçados, minha percepção aguçada. Talvez seja
porque eu estou naquele nível perfeito de embriaguez, antes que as
palavras fiquem confusas e os membros se tornem preguiçosos.
Estou calma, mas consciente, relaxada, mas focada. E algo no ar
muda enquanto eu bebo minha bebida e vejo a banda terminar de se
preparar.
— Uau — diz Ziggy, abaixando o Kindle. — Não percebi que eles
tinham uma banda ao vivo. Isso é muito melhor do que as versões
pré-gravadas. — Depois de uma batida, ela murmura:
— O baterista é meio gostoso.
Frankie balança as sobrancelhas.
— Você gosta de bad boys, não é?
Ziggy cora espetacularmente.
— Eu acho que gosto de tatuagens.

êé lh ll d b Cl ê
— Você é uma mulher — Willa diz sabiamente. — Claro que você
gosta de tatuagens. Está em nosso DNA.
— Huh? — Ziggy franze o nariz. — Como?
— Quero dizer — Willa bebe seu mai tai. — Não literalmente.
Estou exagerando a verdade porque Rooney não está aqui para me
criticar por imprecisões científicas, mas é… — ela se vira suplicante
para Frankie.
— Ela quer dizer — diz Frankie — que você não é a primeira
mulher a olhar para um cara assim e se sentir quente e incomodada.
Caras com tatuagens emitem uma certa sensação de perigo e
intensidade. E há uma parte animal de nosso cérebro que gosta
disso. Porém, direi, não julgue um livro pela capa. Muitas vezes, os
de aparência mais rude são secretamente grandes molengas. — Ela
sorri e agita o canudo do coquetel. — E os bons meninos puritanos
são aqueles com os quais você deve tomar cuidado.
Eu mordo meu lábio para engolir meu acordo enfático. Não
quero deixar uma cicatriz em Ziggy. Mas eu me lembro vividamente
da primeira vez que Aiden e eu fizemos sexo, como fiquei chocada
quando este nerd de PhD impecavelmente educado e sem nenhum
amassado em suas roupas, me virou no colchão, jogou minha perna
por cima do ombro, e sussurrou a coisa mais suja que eu já ouvi de
um amante.
Foi o melhor gozo da minha vida até agora. Depois disso, não
havia como voltar atrás.
Ziggy estreita os olhos.
— Isso é... Estamos falando sobre…
O sorriso sinistro de Frankie se aprofunda.
— Oh meu Deus. — Ziggy afunda mais na cadeira e levanta o
Kindle. — Eu vou vomitar.
— Essa foi demais, Frankie — diz Willa.
— O que? Eu fui sutil. Foi você quem disse que o irmão dela
tinha um grande schlong!
Ziggy se levanta e deixa cair o Kindle em sua cadeira.
— Vou ao banheiro jogar água no meu rosto, que está pegando
fogo porque vocês duas têm menos filtro do que eu. E quando eu
voltar, nenhuma outra referência será feita à anatomia dos meus
irmãos, não mais.
— D-desculpe, Ziggy — Willa diz, tentando conter uma risada.
Frankie a saúda.
— Aye Aye capitã.
Minha consciência da conversa de Willa e Frankie desaparece
enquanto meu olhar viaja pelo restaurante aberto. A noite torna o
mundo mágico, com luzes brilhantes e tochas tiki com cúpula de
cobre. O ar parece mais quente, mais doce, cheio de calor e flores

d b h d à d b d
desabrochando à noite, e quando o baixista toca um acorde
experimental, um calafrio de excitação sobe minha espinha.
É alto e a ameaça de feedback assobia pelos alto-falantes
brevemente antes de ser interrompida. O baixista ergue os olhos e
sorri se desculpando enquanto as pessoas se assustam.
— Desculpe por isso, pessoal.
Ele olha ao redor enquanto pousa seu baixo e muda para um
ukulele que ele testa também, antes que seus olhos parem em mim.
Outro choque de consciência percorre meu corpo. Um eco de algo
que não me sentia direcionado há meses: puro interesse animal.
— Oi — ele murmura.
Dou a ele um sorriso educado e de boca fechada, antes de olhar
para longe e me concentrar na minha tigela de poke.
— Alguém corajoso o suficiente para nos ajudar a comparar o
ajuste com uma voz? — ele pergunta no microfone.
Willa me acerta com o joelho.
— Ele está olhando para você. Continue. Vá em frente.
Eu bebo meu mai tai.
— Não.
— Por que não? — Frankie pergunta.
— Aquele cara está me olhando como se eu fosse o jantar. Não
estou com vontade de ser a refeição principal.
— Ah, ele é inofensivo — diz Willa. — Você mesma disse que
não canta ou vai ao karaokê há muito tempo. Cantar te deixa feliz,
Freya. Então, aproveite essa alegria, ignore o flerte e abra o set!
O cara atinge um acorde sensual.
— Ninguém? — ele diz. — Nem mesmo uma loira bonita em um
vestido de verão vermelho-sangue?
O calor inunda minhas bochechas. Coloco a mão na testa como
uma viseira, protegendo-me.
— Eu disse que esse vestido era uma má ideia.
Willa balança as sobrancelhas.
— E eu disse a você que aquele vestido era uma boa ideia. O
vermelho fica pecaminoso em você.
— É o decote. Os peitos — diz Frankie, fazendo um beijo de chef.
— Magnífico!
— Vou matar vocês duas depois disso — murmuro, antes de
soltar minha mão e encontrar os olhos do cara novamente.
Ele sorri triunfantemente, mudando sua dedilhada para uma
conhecida canção de amor.
Homens. A sutileza de um touro em uma loja de porcelana.
— Lá está ela — ele diz.
Eu me levanto e pego meu coquetel, então sigo meu caminho
para a frente.

Q d d f
Quando estou perto, o cara se aproxima do microfone e sorri
para mim. Ele tem mais ou menos a minha altura e, de perto, tenho
que admitir que ele é bonito. Piercing na sobrancelha. Olhos
castanhos afiados. Pele bronzeada e cabelo escuro enrolado em um
coque na nuca. Ta oos enrolando seu braço direito.
Eu coloco meu mai tai na mesa mais próxima com minha mão
esquerda. Meu anel capta a luz, atraindo seu olhar.
Ele suspira.
— As boas estão sempre amarradas.
Um sorriso me deixa, agora que sei que estamos em um território
mais confortável.
— Eu fui chamada aqui por causa do meu estado civil, ou eu dei
a você uma vibração de ela canta bem?
Ele ri.
— Eu estava esperançoso na primeira contagem e confiante na
segunda. Meu nome é Marc.
— Oi, Marc. Freya. O que vai ser?
— O que você canta? — Ele pergunta, dedilhando e dando um
passo para trás.
— Qualquer coisa, de verdade.
— Hm. — Ele morde o lábio. — Sua voz é rouca. Sua voz é alta?
— Não estou tentando me gabar, mas minha voz vai onde eu
quero. Portanto, não se preocupe comigo.
Ele ri, jogando a cabeça para trás.
— Merda, estou ferrado. Ok, Adele — ele diz, piscando para mim
enquanto leva o ukulele em um dedilhar rápido. — Está pronta?
— Sim.
Enquanto ele aumenta o volume e repete a introdução, pego o
microfone, encho meus pulmões e bato a primeira nota, quente e rica
como a luz do sol saindo da minha garganta. Lágrimas picam meus
olhos quando sinto o poder em minha voz. É um terremoto no meu
peito, um aviso que me sacode do centro do meu corpo para fora.
Nunca me esqueça assim de novo.
Como eu deixei escapar? Como me tornei tão entorpecida que
enterrei essa necessidade de cantar, que é como a necessidade de
respirar, a necessidade de sentir?
Eu sei, em algum canto da minha mente, que eu anestesiei meus
sentimentos quando anestesiei minha dor. Porque você não pode
escolher quais emoções você sente – você está em contato com elas e
as experimenta ou não. E escolhi o entorpecimento para sobreviver à
dor do meu casamento.
Não mais. Meu coração, sua profundidade e selvageria, não foi
feito para ser enterrado. Ele tem o objetivo de fortalecer minha vida.
De alimentar meu trabalho, meus relacionamentos, minha busca
pela alegria. E eu reclamo esse poder conforme cada nota perfura
l d
meus pulmões e percorre o espaço ao meu redor. Prometo a mim
mesma: não vou me abandonar assim de novo. Nunca mais negarei
uma parte vital de quem sou.
Enquanto Marc acelera o ritmo, então se junta a mim em uma
harmonia, o resto da banda entra. Eu fecho meus olhos e entoo o
refrão. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto viva.
Selvagem e lindamente viva.
17

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ W h o l e W i d e W o r l d - U n p e e l e d ” - C a g e t h e E l e p h a n t

Z , eu me jogo de volta na minha cadeira,


sem fôlego e suando. Sinto como se a luz piloto dentro de mim
estivesse queimando mais uma vez, quente e incandescente,
enquanto suspiro de alívio.
— Isso foi incrível — diz Willa, deslizando um coquetel fresco na
minha direção.
Eu arranco a flor de hibisco dele, lambendo o caule antes de
colocá-lo atrás da minha orelha.
— Obrigada. Eu me senti incrível.
— Você arrasou, irmã.
Reconhecendo a voz do meu irmão mais novo, respondo
automaticamente:
— Obrigada, Ollie. — Então eu dou uma segunda olhada no loiro
de pernas compridas parada ao meu lado.
— Ollie?
Minha cabeça se levanta, meu foco se ampliando como um zoom
panorâmico quando vejo duas figuras amplas encostadas na coluna
ao lado da nossa mesa. Ryder. Ren.
Eu olho para trás. Axel. Minha direita. Viggo. Ele sorri.
— Olá, mana.
— Oi — eu digo com cautela, olhando entre todos eles. — O que
vocês estão fazendo aqui?
Oliver passa por mim e morde um pedaço de porco defumado.
— Ouvi dizer que havia uma banda com karaokê ao vivo.
— Então, decidimos dar uma passada por aqui — diz Viggo.
Eu olho para Ren. Puro de coração, péssimo em mentir. Mas ele
está encarando Frankie, cuja língua está fazendo coisas com o
canudo de mai tai dela que fazem até eu corar.
Ryder é impossível de ler. Axel também. Droga.
— Onde está Aiden? — Eu pergunto.
Axe tira a mão do bolso e aponta para a banda do karaokê.
— Lá.
Minha cabeça vira para a frente tão rápido que algo em meu
pescoço estala e depois queima.
Puta. Merda.
Aiden está pegando uma guitarra elétrica de Marc, a luz de uma
tocha pintando seu cabelo escuro com manchas de ouro, deslizando
b fil f C d
para baixo em seu perfil forte. Camisas de manga curta, nunca
ficaram boas em uma única alma, exceto nele, e hoje não é exceção. É
uma cambraia azul, uma das minhas favoritas porque torna seus
vibrantes olhos azul-marinho ainda mais azuis. Macio e gasto, é
casualmente justo e pressiona os músculos do braço dele enquanto
levanta a alça do baixo e a desliza sobre o ombro.
Shorts cáqui. Pernas longas e bronzeadas salpicadas de cabelos
escuros. Lembro-me de sua sensação, roçando contra a minha na
cama na noite passada, o arrepio de saudade que passou por mim
quando ele se virou e suspirou em seu sono.
Quando seus dedos deslizam pelas fricções, cruzo as pernas por
causa da dor entre elas.
Eu estou bêbada. Tem que ser isso.
— Estou vendo coisas — murmuro.
— Por que você diz isso? — Ryder pergunta casualmente. Em
algum lugar do meu surto silencioso quando avistei Aiden, Ryder
acabou ao lado de Willa em sua cadeira, seu dedo brincando
preguiçosamente com um de seus cachos.
— Porque Aiden pode dar palestras para onze mil pessoas sobre
práticas de administração progressivas e microempréstimos, mas a
última vez que tentei arrastá-lo para cantar karaokê comigo, ele
praticamente rastejou para fora de sua pele. Ele fica inseguro quando
se apresenta na frente de outras pessoas.
Mesmo ele tendo uma bela voz. E quando ele toca guitarra, eu
sinto que vejo uma parte dele que só aparece quando
compartilhamos música.
Viggo descansa sua bunda nas costas da minha cadeira e fixa o
hibisco no meu cabelo.
— Quando isso aconteceu?
Eu engulo, meus olhos dançando para a frente da sala onde
Aiden está de costas para nós, falando com a banda.
— Anos atrás.
— Hm — diz Viggo. — Faz muito tempo. Talvez ele tenha
superado esse medo.
— Ou talvez– Oliver levanta os olhos da minha tigela de poke,
que ele roubou, e dá outra mordida. — Talvez ele ainda não superou
o medo do palco, e está uma pilha de nervos, mas ele está fazendo
isso de qualquer maneira.
— Por que ele faria isso?
Viggo inclina a cabeça.
— Eu me pergunto.
Os acordes baixos e rítmicos de uma música que eu conheço, mas
ainda não reconheço, cortam o ar. Eu olho para cima assim que a voz
de Aiden atinge o microfone, e nossos olhos se encontram, dois fios
ativos mais uma vez conectados, formando um arco em uma faixa de
A l d i Ad
corrente crescente. A sensação visceral de que posso sentir Aiden
novamente, seus nervos, sua intensidade, seu amor, explode, branco
quente e crepitante, um tiro direto através dessa conexão disparando
sob a minha pele.
Ele tem uma bela voz - rica e baixa, um pouco rouca. Quando
namoramos e nos casamos, ele costumava brincar com seu violão e
nós cantávamos por horas. Quando não tínhamos dinheiro para sair,
apenas uma casa que precisava de reformas, ao nosso redor, dois
gatos resgatados e todo o tempo do mundo para nós dois,
terminávamos os projetos, depois sentávamos no quintal, invadido
por com flores silvestres e um limoeiro pingando de frutas amarelas.
Fiz tanta limonada que ficamos com feridas na boca.
E Aiden cantou essa música.
Eu reconheço quando o baterista entra, meu coração batendo
forte e rápido. Os olhos de Aiden seguram os meus enquanto ele
dedilha e toca de memória. E quando ele atinge o refrão, cantando
uma promessa de que nada o impedirá de encontrar a mulher que
ama, sinto a terra abaixo de mim.
Tudo, exceto Aiden, desaparece. O mundo se torna suave e
desfocado, um borrão de céu noturno e vento quente e luz de tochas.
Cada respiração que dou é quente e afiada, tingida de lágrimas.
Parece que a dor do que está quebrado lentamente se junta
novamente. Dói como o primeiro passo tenro e assustador em
direção à cura.
Os olhos de Aiden ainda seguram os meus enquanto o sorriso
mais suave aparece em sua boca.
Eu sorrio de volta. E um pequeno botão de esperança floresce em
meu peito.

A música acabou, mas reverbera pelo meu corpo enquanto os


olhos de Aiden permanecem fixos nos meus, mesmo quando ele
levanta a alça da guitarra de seu ombro e a entrega para Marc.
Diante de uma densa reunião de pessoas que se aglomeraram para
ficar perto da banda, algumas mulheres se inclinando em direção a
ele com interesse, Aiden olha para baixo apenas momentaneamente
para evitá-las. Espero que vejam a grossa aliança de casamento em
sua mão. Espero que eles saibam que ele é meu.
Meu. A intensidade da minha resposta me enerva, e meu
estômago embrulha quando uma memória preenche meus
pensamentos: a vendedora me ignorando, flertando descaradamente
com ele. Enquanto ele estava comprando a aliança de casamento.
Porque todo mundo flerta com Aiden. É minha cruz para carregar,
casando-me com um homem encantador e bonito.
— O que posso ajudá-lo a encontrar hoje? — ela perguntou.
El íl á d Ad
Ela piscou os cílios e se apoiou no mostruário de joias. Mas Aiden
estava olhando para as alianças sob o vidro. Ele não olhou para cima
nenhuma vez, sua mão segurando a minha, o polegar deslizando em
círculos lentos em torno da minha palma. Um hábito que o acalma
tanto quanto a mim.
— Algo — ele disse — que grite “casado”.
Ele escolheu um anel largo e plano. Um anel que meus olhos
encontram agora, escovado ouro branco, totalmente contra sua pele
bronzeada desgastada pelo trabalho, brilhando nas luzes quentes
enquanto os dedos de Aiden deslizam por seu cabelo, empurrando
ondas encharcadas de suor de sua testa. Daqui posso ver que suas
mãos estão tremendo.
Ele estava nervoso para cantar na frente de todas aquelas
pessoas. Mas ele fez isso de qualquer maneira. Por mim.
— Você o pressionou — digo a Viggo, embora meus olhos fixem
os de Aiden.
No limite da minha visão, vejo Viggo levantar as mãos.
— Foi ele quem subiu lá...
— Mas você disse que ele deveria. Todos vocês fizeram, tenho
certeza. — Uma lufada de proteção passa através de mim. Eu quero
agarrar meus irmãos e bater suas cabeças duras juntos até que eles
finalmente me escutem quando eu digo para manter seus narizes
fora das minhas coisas.
— Ele não precisa passar mal para me mostrar o que eu significo
para ele.
Viggo cruza os braços e olha furiosamente.
— Ninguém o obrigou a fazer nada.
Eu não respondo a ele. Eu assisto Aiden, cujos olhos seguram os
meus enquanto ele faz seu caminho em minha direção, cortando a
multidão que morre quando Marc toca o ukulele e pega uma
melodia de reggae. Meu coração bate no ritmo do baterista enquanto
Aiden se aproxima como um grande gato perseguindo a grama da
selva. E quando ele está a apenas alguns metros de distância, pulo da
cadeira, dou um passo instintivo para trás, preparada para que ele
caia em cima de mim.
Exceto que quando ele faz, é gentil, suave. Uma onda construída
a uma altura assustadora que se quebra inesperadamente em uma
crista suave e calmante.
— Freya — ele diz baixinho. Mãos ásperas e instáveis seguram
meu rosto enquanto seu corpo roça o meu. O beijo mais suave varre
meus lábios, quente e gentil, o sussurro de folhas de hortelã e rum. É
reverente. Cuidadoso. Como nosso primeiro beijo, do qual ainda me
lembro porque ele me beijou como se não pudesse acreditar que
estava acontecendo.

á b d lh d h
Lágrimas brotam dos meus olhos quando aperto minhas mãos
sobre as dele, em seguida, deslizo meu toque ao longo de seus
antebraços. Aiden lentamente nos leva de volta para as sombras.
Folhas escuras brilhantes sussurram sobre minha pele enquanto ele
me pressiona contra uma coluna escondida de olhos e luzes tiki. Está
mais frio ao luar e eu estremeço.
— Por que você fez isso? — Eu sussurro. — Você odeia cantar na
frente das pessoas.
Suas mãos descem pelo meu pescoço, seu polegar traçando
suavemente minha garganta. Uma chuva de faíscas explode dentro
de mim.
— É chamado de grande gesto. E humilhação.
Uma risada surpresa salta de mim.
— O que?
— A música fala com você, Freya. Isso te faz sentir. E é algo que
costumávamos compartilhar, uma forma de nos conectarmos. Eu
queria... eu queria mostrar o que você significa para mim. Eu queria
que você sentisse isso de novo.
— Eu senti — eu sussurro. — Eu senti isso.
Aiden rouba outro beijo suave, então se afasta, sua expressão
ficando séria.
— Ontem, você disse algo que foi difícil de ouvir. Mas... eu
precisava ouvir isso. Que minhas ações não mostraram que eu te
desejo, por muito tempo. Odeio não ter mostrado o que você
significa para mim, Freya. Tenho tentado, mas do meu jeito, não do
seu. Todo o meu trabalho tem sido para nós, mas ele veio com o
custo de não fazer o que faz você se sentir amada. Me desculpe por
ter demorado tanto para perceber isso. Eu quero consertar, fazer
melhor.
Lágrimas quentes borram meus olhos.
— E então o que, Aiden?
Seu rosto se contrai em confusão.
— O que você quer dizer?
— Você vai me ganhar com o seu... charme que você sabe que
tem, e eu vou cair nessa, e então vou querer isso de você, Aiden. E,
claro, isso será possível aqui, enquanto estivermos no paraíso, mas
quando estivermos em casa, o telefone tocará e os e-mails virão e se
você estiver tão ocupado e…
— Vai ser diferente — ele sussurra. — Eu prometo. Estou falando
com Dan esta noite. Assim que estivermos em casa. Vou descobrir
como liberar algumas responsabilidades. E sim, isso vai me estressar
no começo, e não, não será um sucesso da noite para o dia. Tenho
certeza de que vou estragar tudo de novo de alguma forma, mas eu
entendo agora, Freya. Estou empenhado em mudar isso.

á b lh É d l
Lágrimas embaçam meus olhos. Deus. É cada palavra que eu
queria. Tudo que eu esperava ouvir. Mas como posso acreditar?
Como posso confiar que ele não vai me machucar de novo?
Eu procuro seus olhos e seguro as lágrimas. Meu estômago está
dando nós. Estou com tanto medo, enquanto balanço à beira da
queda livre. Porque é isso que a confiança é: uma queda livre na
crença de que sua fé não está perdida, que a corda na qual você está
confiando o pegará e a queda vertiginosa não o esmagará, mas
terminará em uma onda de alívio, uma maior capacidade de ser
corajoso e destemido.
Eu tenho que ver além do que Aiden fez e acreditar no que ele
diz que fará. Eu tenho que escolhê-lo, correr um risco, não por causa
do que o passado recente dita, mas por causa de quem eu acredito
que Aiden é, verdadeiramente, em seu âmago, seu melhor eu.
Eu fico olhando para ele, a luz da lua pintando a beleza angular
de seu rosto, seus olhos brilhando em um azul insondável e
estrelado. E meu coração troveja contra minhas costelas.
Os olhos de Aiden procuram os meus e me lêem muito bem.
— Por favor, Freya.
Não posso explicar por que faço isso, o que me torna corajosa o
suficiente para entrar em águas que quase me afogaram uma vez. Só
que olho em seus olhos e vejo um vislumbre do homem com quem
casei tanto quanto a promessa de um homem que cresceu e mudou,
que mal comecei a entender. Nossos votos ecoam dentro de mim, e
eu os agarro com força para ter coragem.
Eu prometo ter esperança em todas as coisas, acreditar em todas as
coisas…
— Sim — eu sussurro.
O ar sai de Aiden enquanto ele cuidadosamente me envolve em
seus braços. Sua boca é macia, suas palavras pontuadas por beijos
carinhosos.
— Obrigado. Obrigado, obrigado, obrigado.
18

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ A u g u st ( A c o u st i c ) ” - F l i p t u r n

F , lendo, o queixo
apoiado nas mãos.
Não consigo parar de olhar para ela, para as solas de seus pés
balançando enquanto ela vira a página, para os arcos em seus
quadris que vibram com o vento. Os finos cabelos louros em seu
corpo brilhando ao sol. Eu quero fazer coisas sujas e de adoração ao
corpo de minha esposa, e nenhuma delas é possível agora. Pelo
menos além da minha mente, onde eles ficam, construindo em
detalhes e criatividade.
O que significa que, por mais que eu gostaria de ler o livro que
Viggo me deu, já li a mesma linha dez vezes.
Minha sogra se mexe em sua cadeira de praia e sorri para mim.
— Você está lendo um romance, Aiden?
Freya inclina a cabeça e olha para mim.
Eu bato o livro fechado, pego em flagrante, enquanto um rubor
aquece minhas bochechas.
— Sim. Viggo me emprestou.
Alex, meu sogro, também tira os olhos do livro e aperta os olhos
para ver a capa.
— Ah. Kleypas. Ela é boa.
Minhas sobrancelhas levantam em surpresa.
— Você a leu?
Ele sorri.
— Eu leio romance para Elin todas as noites.
Ela bate no braço dele.
— Você vai deixar uma cicatriz neles.
— O que? — ele diz. — Eu disse que li para você, não que eu…
— Alexander — diz Elin, segurando sua mandíbula e beijando-o.
— Você precisa de um mergulho. Você está sendo safado.
— Eu estou? — Ele pergunta, inclinando-se para outro beijo.
Freya abaixa a cabeça para o livro e geme.
Isso faz os dois rirem quando Alex se levanta e puxa Elin para
ficar de pé. E não pela primeira vez, fico maravilhado com eles. Sete
filhos. Um ferimento que mudou sua vida. Três décadas juntos. E
eles ainda se olham como se tivessem pendurado a lua.
Eu engulo o gosto amargo da decepção subindo pela minha
garganta. Porque me sinto assim com Freya, e quando penso em
lh l íd d d
envelhecer com ela, em ter construído uma vida, imagino ainda a
querer, a desejar, a valorizá-la assim. Ainda assim, de alguma forma,
um ataque áspero de alta ansiedade, a pressão de planejar uma
família e eu quase arruinei nosso casamento para sempre.
Eu chuto essa linha de pensamento derrotista para o meio-fio.
Não posso nem deixar isso passar no meu cérebro. Freya está me
dando uma chance de consertar. Ela me disse isso. Eu tenho que me
agarrar a isso.
— Eu preciso ir ao banheiro, Alex — Elin diz, gentilmente saindo
de seus braços. — Vou nadar mais tarde.
— Aiden — diz meu sogro vivamente.
Eu me atrapalho com meu livro.
— Sim.
— Vamos, filho. — Ele sorri calorosamente. — Vamos nadar.
Não poderia dizer não a ele quando me chama de filho, mesmo
que tentasse, e ele sabe disso. De pé, coloco meu livro de lado e me
junto a ele, observando seus passos cuidadosos na areia fofa
enquanto nos aproximamos da água. Alex tem uma prótese de
ponta, resistente à água, para sua perna esquerda, que foi amputada
logo acima do joelho quando Freya era pequena e ele era um médico
militar de campo. Eu o observo andar - coluna reta, o ligeiro atraso
em sua perna esquerda enquanto ele navega na areia - rezando para
que ele não tropece.
— Estou bem, Aiden — diz ele.
Meu olhar se levanta.
— Eu sinto muito. Eu não queria fazer parecer que eu pensava o
contrário.
Seus olhos verdes penetrantes me procuram por um momento, a
brisa do mar farfalhando em seu cabelo cobre que ele deu a Ren e
Ziggy, com listras brancas luminosas, a cor de um papel fresco
pressionado sobre uma moeda nova. Ele coloca a mão no meu
ombro e aperta.
— Suas preocupações são profundas porque você ama
profundamente, Aiden. Eu não me importo com sua preocupação.
Eu só queria te tranquilizar.
— Obrigado. — Minha garganta fica grossa enquanto eu engulo.
— Mas estou ciente de que pode ser insuportável.
— O mesmo pode acontecer com uma planta que não foi podada.
Não significa que as raízes sejam ruins. Só precisa de ajuda para ficar
sob controle. Sempre achei que havia uma semelhança importante
entre você e Freya.
Eu olho para ele.
— O que? — Freya e eu somos tão opostos que o comentário me
pega completamente desprevenido. — Como somos semelhantes?
Alex sorri para mim.
A b f d
— Ambos amam profundamente e vivem suas convicções a
partir disso. As suas, se trançam com pragmatismo e, claro, com sua
ansiedade. As de Freya se emaranham com sua necessidade de
agradar, seu desejo de curar. É como se a flor e a folha de uma planta
pudessem ser totalmente diferentes, mas crescer do mesmo solo, do
mesmo sistema radicular. É assim que vejo vocês dois.
— Eu... nunca pensei nisso dessa forma. Mas é o elogio mais
profundo, você achar que eu sou como Freya de alguma forma.
Nós entramos na água, e Alex mergulha com fluidez em uma
onda que se aproxima. Eu o sigo bem a tempo antes de chegarmos
do outro lado, limpando a água de nossos rostos. Ele rola de costas e
flutua como Freya fez na primeira vez que entramos no oceano.
Mesmo que ela não se pareça nada com sua mãe, por um momento,
eu a vejo em seu sorriso.
— Os meninos dizem que você está investindo em um grande
empreendimento — diz ele. — Sem detalhes, só disseram que está
fazendo você se doar demais. Como você está aguentando?
— Oh. — Eu tiro meu cabelo do rosto. — Eu já aguentei mais.
Alex olha para mim.
— Se sentindo estressado.
— Eu estou. É minha culpa. Estou microgerenciando quando não
deveria. Mas liguei para meu parceiro de negócios ontem à noite e
conversei sobre alguns planos para me ajudar a delegar mais
responsabilidades. E ele também me atualizou sobre o nosso
financiamento. Se tudo correr bem nas próximas semanas, teremos
um investidor garantido e, então, poderei realmente relaxar.
— Você consegue algum espaço para respirar, uma vez que você
tiver apoio financeiro.
— Com certeza.
— Mas até então, está muito tenso? — ele pergunta.
Eu concordo.
— Sim. Os últimos meses não foram os mais fáceis, nesse aspecto.
Alex nada um pouco mais longe e eu o sigo, meus membros
cortando a água azul-turquesa.
— Depois da minha cirurgia… — Ele acena com a cabeça para a
perna esquerda e a prótese preta apontando para a água. — Passei
por um período difícil. Fiz tudo o que pude fazer para manter minha
cabeça acima da água, por meses. Eu estava fazendo a transição para
a vida civil, estando em casa com dois filhos e um recém-nascido,
que veio menos de três meses após minha cirurgia. Então Elin teve
uma crise de depressão pós-parto. Você sabia disso?
Eu balancei minha cabeça.
— Não tenho certeza se alguma das crianças sabe, pensando
bem. Só não é algo que eu pensei em discutir, mas quando você e
Freya tiverem filhos, você vai precisar cuidar disso.
E
— Eu vou.
— Bom. Agora, o que eu estava dizendo? Ah sim. Então, aqui
estava eu, de volta à prática da medicina em um hospital em vez de
em zonas de guerra, com Axel, que estava fazendo sua coisa infernal
de recém-nascido, Freya, que era uma criança impossível, Elin, que
era uma sombra de si mesma, e eu desesperado para que tudo
parecesse normal quando nada era como antes. E de repente a
pressão de tudo parecia... impossível. Acordei uma manhã com a
sensação de estar me afogando.
— O que você fez?
Alex me olha e aperta os olhos contra o sol.
— Aceitei ajuda.
Meu estômago dá um nó.
— De quem?
— Amigos. Minha mãe. Terapeutas. Mamãe tirava Freya duas
manhãs por semana para dar um tempo a Elin. Elin começou com
antidepressivos e foi para a terapia. Eu disse ao meu supervisor no
hospital que havia mordido mais do que podia mastigar, então
reduzimos minhas horas. E então me certifiquei de manter um
tempo para minha família, cortar o que era demais para nós e
lentamente reconstruir a partir daí. Mesmo assim, não foi um
momento fácil. Foi difícil. E quando Elin perguntou sobre um
terceiro bebê, eu disse que ela estava falando com a pessoa errada.
Eu sorrio.
— Quanto tempo isso durou?
— Oh, eu a segurei por um bom tempo. Disse que precisávamos
de um tempo para recuperar o fôlego. É por isso que Freya e Axel
são tão próximos em idade e há uma lacuna maior até Ren. Eu tenho
uma teoria que explica por que ele era um garoto tão pacífico. Ele
nasceu em paz. Estávamos descansados e equilibrados, em um bom
lugar quando ele nasceu.
— O que explica o mau humor de Ryder?
A risada de Alex explode através da água.
— Oh, isso é apenas Ryder. Rabugento e teimoso como um touro,
nascido quando e como quisesse, o que era inconvenientemente três
semanas antes e na cabana de Washington. Bem típico para o
Sr.Floresta. E então o Caos Um e Dois vieram em busca de outra
garota. — Ele examina a costa e localiza Ziggy, sua gêmea em
aparência, com seus impressionantes olhos verdes e cabelos
acobreados. Ela se senta, joelhos para cima, um Kindle obscurecendo
seu rosto.
— E então nós a pegamos — ele diz suavemente. — E foi então
que eu disse a Elin que embora uma grande família tenha sido minha
grande ideia, foi ela quem se apaixonou por isso, e se ela me olhasse

f h d l fl
como se quisesse mais, eu faria uma caminhada pela floresta e não
voltaria.
Uma risada pula fora de mim quando meu olhar pega Freya,
apoiada em suas mãos, nos observando.
— A vida é difícil, Aiden — diz ele. — As crianças deixam tudo
incrivelmente bonito, mas não tornam nada mais fácil. Certifique-
se... certifique-se de que vocês dois estão prontos para isso, antes de
mergulhar na paternidade. Não há vergonha em tomar seu tempo e
cuidar de você primeiro.
Eu aceno e engulo rudemente, tentando segurar o que quero
dizer porque sei o quanto Freya quer que seus pais sejam protegidos
da nossa bagunça.
Minha bagunça.
O que eu fiz para nós.
Mas se eu pudesse perguntar a ele, acho que faria.
Como você faz isso? Como você ama tão abertamente? Como você faz
isso sem medo de contaminar... tudo? Como você trabalha tanto, ama tanto
e faz malabarismos com tudo isso? Como você aprendeu a fazer isso? Posso
entender?
Alex para de boiar na água e fecha a lacuna entre nós, me tirando
de meus pensamentos. Ele aperta meus ombros e segura meus olhos,
então diz:
— Parece que você está carregando muito, Aiden, mas você não
precisa carregar sozinho. Eu estou sempre aqui. Embora eu saiba
que não sou seu pai, eu te amo como se você fosse meu. Tenho
orgulho de chamá-lo de filho.
Minha garganta fica presa antes de eu finalmente conseguir dizer
em um sussurro rouco:
— Obrigado.
— Vem cá. — Ele me puxa contra ele, um abraço como ele dá a
seus filhos, um abraço apertado, sua mão segurando a parte de trás
da minha cabeça.
Eu posso chorar. E por meio de seu exemplo, sei que isso não me
deixaria fraco ou destruído. Porque eu vi Alex chorar e beijar a testa
de seus filhos. Ele me mostrou que a força está em como você abre
seu coração, não em quão profundamente você o guarda.
Simplesmente nunca pensei que pudesse fazer isso, que fosse capaz
de tamanha vulnerabilidade.
Estou começando a perceber que estou. E me esconder dessa
vulnerabilidade custou não apenas a mim, mas também a Freya. E
nosso casamento. Não consigo consertar quanto trabalho há para
fazer ou quantos dólares ainda não estão no banco. Mas posso
consertar isso. Quanto desnudo de mim mesmo, quanto confio nela.
Uma lágrima quente escorre pela minha bochecha enquanto Alex
dá um tapinha nas minhas costas, então gentilmente nos separa,
d d b Af lá l d
ainda segurando meus ombros. Afasto uma lágrima com a palma da
mão e limpo minha garganta.
— Há mais uma coisa que esqueci de mencionar — diz ele
calmamente —, em que confiei muito naqueles meses difíceis.
— No que foi?
Seus olhos se enrugam nos cantos enquanto ele sorri.
— Risada.
Em um entendimento tácito, nós dois desaparecemos sob a água
mais uma vez antes de voltar à superfície, em seguida, pegamos uma
onda. Alex começa a subir na areia compacta, ganhando a atenção de
todos quando diz algo que não consigo ouvir, porque estou tirando a
água de dentro minha orelha. E então ele grita enquanto tropeça e
cai de cara direto na areia.
Corro para a beira do mar, o instinto me levando a ajudá-lo, a
cobri-lo e protegê-lo do constrangimento. Mas não estou nem na
metade do caminho em direção a Alex quando sua gargalhada
estrondosa soa no ar. Ele se apoia nos cotovelos, vira-se e depois cai
de costas enquanto Elin chega antes de mim e cai. Quando chego
mais perto, vejo que ela está rindo também - não, não apenas rindo,
uivando. Na verdade, quando olho em volta, percebo que estão todos
rindo. Bem, exceto Axel, que apenas olha para seu caderno de
desenho, uma sobrancelha arqueada.
— O que diabos há de errado com vocês? — Eu pergunto.
Alex levanta a cabeça e pega meus olhos, um sorriso alargando
seu rosto. Lágrimas brilham nos cantos de seus olhos antes que ele
ria ainda mais. Elin pega suas mãos enquanto ele tenta se levantar,
mas ele continua rindo e a puxa para baixo até que ela caia em cima
dele na areia. Suavemente ela segura o rosto dele nas mãos,
beijando-o entre gargalhadas.
Antes que eu possa me virar para Freya e pedir uma explicação –
não que eu vá receber uma, porque ela está rindo tanto, ela está
chorando – Oliver aparece ao meu lado do nada, como um fantasma
loiro assustador.
— Ei, Aiden — diz ele. Ele coloca um dedo indicador em cada
canto da minha boca e arrasta até que estou sorrindo de forma
anormal. — Por que está tão sério?
Eu afasto suas mãos.
— Seu pai se humilhou e todos vocês riram dele.
Oliver franze a testa e pisca para mim em confusão, antes de sua
expressão clarear.
— Cara, é uma piada. Ele faz isso toda vez que estamos de férias
na praia. Ele vive para fazer isso. Como você não sabia disso antes?
— O que? — Eu gaguejo. — Ele come areia propositalmente?
Oliver ri.
— Sim.
E d h
— Por que? — Estou começando a achar que sou a pessoa mais
razoável desta família. Esse é um pensamento muito assustador.
— Porque sim. — Oliver encolhe os ombros. — É engraçado.
Bem, e tem uma história. Tudo começou quando ele realmente não
tinha a intenção de acabar assim, mas ele o fez. Isso foi quando
éramos pequenos – não, na verdade eu era apenas um brilho nos
olhos do meu pai – e as próteses não eram o que são hoje. Ele tinha
uma que não funcionava bem na areia, mas o que ele iria fazer?
Acho que Ryder era um bebê, então havia quatro de nós naquela
época e, assim como qualquer outro pai, ele iria descer até a costa e
brincar com seus filhos. Eu acho que ele estava puxando uma
daquelas carroças com as crianças mais velhas, e ele simplesmente
comeu, epicamente. Freya riu tanto que vomitou o sorvete.
Isso faz meu coração torcer com carinho.
— Isso soa como Freya.
— E papai disse que aprendeu uma lição naquele dia. Bem, duas.
Um, não caia na frente de Freya, porque ela vai rir na sua cara.
Eu olho para Freya e pego seus olhos enquanto ela luta contra
outro acesso de riso.
— Verdade.
— E dois, podemos escolher como viver - miseráveis com o que
perdemos ou gratos pelo que ainda temos. Papai escolhe a gratidão.
E agora ele comemora isso com uma queda épica em todas as férias
em família e nunca no mesmo momento da viagem, então isso nos
faz tentar adivinhar. Minha favorita foi o ano em que ele fez isso um
pouco antes de pegarmos a estrada para ir para casa. Mamãe ficou
chateada porque ele estava coberto de areia e não havia chuveiro ao
ar livre. Eu adorei porque ele nos convenceu de que não iria
acontecer, então ele nos surpreendeu e tornou tudo muito melhor.
Quando eu olho para cima, Alex está caminhando firmemente
pela areia, sua mão apertada com a de Elin, até que ela o impede,
segura seu pescoço e o traz para um beijo.
E é quando algo clica dentro de mim. Isso é o que Freya cresceu
vendo. Isso é o que ela espera do homem que ama. Alguém como o
pai dela, que descobriu como lutar e superar os sentimentos de
inadequação, um homem que aprendeu a amar sem medo, ou talvez
mais precisamente, a amar e ser amado mesmo quando está com
medo.
As palavras da Dra. Dietrich ecoam em minha cabeça: “Se você
quer se sentir próximo de sua esposa, você tem que se aproximar, confiar
nela, mesmo que esteja apavorado – não, porque você está, de fato,
apavorado. Sopre um pouco de vida de volta a este casamento.
Como se tivesse ouvido meus pensamentos, Freya olha na minha
direção. Eu ando em direção a ela e empurro minha cabeça em
direção à água.
C d ê
— Corrida contra você.
Seu rosto se transforma de curiosidade em interesse. Então ela
salta da cadeira e passa voando por mim em direção à água.
19

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ W o n d e r ” - J a m i e D r a k e

E .F .
E quando ele sai do oceano, Aiden tem a coragem de parecer um
modelo de maiô, passando as mãos pelo cabelo escuro, seus olhos
azuis brilhando enquanto ele me dá um sorriso de quem me
conhece.
— Gosta do que vê, Bergman?
Eu jogo água nele.
— Você está bem ciente de que não há uma mulher nesta praia
que não tenha notado você e gostado do que viu.
— Não me importa quem me notou — diz ele, puxando-me por
baixo da água pelo tornozelo e me colocando em seus braços. — A
menos que seja minha esposa. — Minhas bochechas esquentam
quando Aiden me encara intensamente, sua mão acariciando minhas
costas. — Não faça planos para amanhã à noite.
Eu franzo a testa.
— O que?
— Eu tenho algo para nós fazermos. Apenas nós dois.
Tento engolir a felicidade borbulhando dentro de mim.
Honestamente, Freya. Toda animadinha por um encontro miserável.
Seu primeiro em meses.
Além do encontro do sorvete. E todos nós sabemos o quão mal
isso terminou.
Aiden parece ler minha mente.
— Isso é... se você quiser.
Eu me movo na água e minha perna roça a dele, fazendo nós dois
sacudirmos, então me inclino um pouco mais perto.
— Envolve comida?
— O que você acha que eu sou? — Ele alisa meu cabelo para trás.
— Frutos do mar?
— Claro.
— Sim — eu sussurro, enquanto ele me puxa com força.
Aiden procura meus olhos, em seguida, pressiona um beijo suave
na minha testa. Sua mão segura minha bochecha com ternura
enquanto mais beijos acariciam meu rosto, antes de finalmente seus
lábios encontrarem os meus.
Eu seguro seu rosto também, alisando sua mandíbula, enrolando
meus dedos em seus cabelos enquanto trago nossas bocas juntas,
d d lí h É b
persuadindo sua língua suavemente com a minha. É um beijo
hesitante, cauteloso, que se abre para algo mais profundo quando ele
me encontra e suspira contra minha boca. Parece honesto e real. É
uma sensação preciosa, delicada e assustadora, como acordar em um
novo mundo que é indiscutivelmente belo, mas o que estava em
cima está em baixo, e é difícil encontrar meu rumo.
Suavemente, nos separamos ao mesmo tempo. Os olhos de Aiden
disparam pelo meu corpo, escurecendo enquanto suas mãos
acariciam meus braços e cintura.
— Vou assumir que você gosta de biquini?
— Se eu gosto? — Ele geme, me puxando para seus braços
novamente. — Quando você o usou no primeiro dia em que
estivemos aqui, meu queixo caiu. Você é tão bonita.
Eu envolvo meus braços em volta do pescoço e descanso minha
cabeça em seu ombro, sentindo a pontada de uma emoção agridoce.
— Obrigada — eu sussurro.
— Você nem precisa perguntar isso — ele diz contra o meu
cabelo. — Você sabe que sou louco por seu corpo, Freya. Ainda mais
com um biquíni vermelho sexy.
Eu engulo com força.
— Eu acho que talvez eu estivesse sofrendo para entender isso,
Aiden.
Seu aperto aumenta. Depois de um momento de silêncio, ele diz:
— Porque não… — Ele limpa a garganta. — Porque já faz um
tempo?
— Porque mesmo depois de passarmos da fase de lua de mel, eu
ainda me sentia desejada. E eu pensei que talvez fôssemos aquele
casal que manteve a faísca. Mai disse isso. Amanda disse isso.
Cristina disse isso. O calor diminui em um casamento, os filhos o
apagam, e eu estava preocupada que, antes mesmo de ter filhos, a
minha novidade tivesse se esgotado, ou com você ficando mais
magro, você queria que eu ficasse com a aparência de quando nos
conhecemos...
— Ei. — Ele se afasta, olhando nos meus olhos. Sua mão segura
minha bochecha e seu polegar desliza ao longo dos meus lábios. —
De onde está vindo isso? Você sabe que amo seu corpo. Você ama o
seu corpo.
— Nem sempre — eu admito. — Tenho tendência a exagerar um
pouco no quanto amo meu corpo.
Ele franze a testa para mim em perplexidade.
— O que? Por que?
— Não sei como explicar. Parece que não posso simplesmente
comer, fazer exercícios e ter a minha aparência. Eu tenho que amar
ser assim e ter certeza de que outras pessoas também saibam. Caso

á l d d
contrário, eles pensam que estou tentando perder peso, que não
estou feliz com a forma como estou.
Seus olhos procuram os meus.
— Frey. Por que estou apenas ouvindo isso agora?
Eu encolho os ombros, tentando não chorar.
— Tento não pensar muito nisso. Tenho muitas outras coisas a
fazer além de me preocupar com o quanto as pessoas estão
preocupadas com a aparência das mulheres.
— Freya. Eu sinto muito. Eu deveria ... eu deveria ter prestado
mais atenção. — Suspirando, Aiden pressiona um beijo na minha
têmpora. — Minha cabeça estava tão longe — ele murmura.
— Eu também não te disse. Eu poderia ter dito.
— Nós dois fizemos isso. — Ele cutuca meu cabelo com o nariz.
— E nós dois vamos fazer melhor.
Eu concordo.
Depois de um momento de silêncio, ele sussurra:
— Eu quero que você saiba o quão bonita você é.
— Às vezes me sinto bonita. Às vezes não. Sempre sou grata pelo
meu corpo. É o bastante.
— Eu também sou grato pelo seu corpo — ele diz, me segurando
perto e puxando um sorriso preguiçoso de mim. — Muito grato.
A água é rítmica e suave, o sol está quente, já secando a água
salgada na pele de Aiden. E a proximidade inesperada deste
momento, o silêncio e a calma, suaviza algo dentro de mim, me faz
sentir corajosa. Traçando meus dedos ao longo de seus ombros,
descendo por suas costas, eu pressiono um beijo na base de sua
garganta, giro minha língua e o provo.
Aiden respira irregularmente, seu aperto aumenta na minha
cintura antes de descerem. Suas palmas seguram minha bunda,
amassando, apertando, enquanto ele me puxa contra ele. Mais beijos
ao longo de seu ombro, suas mãos me movendo contra ele. Eu sinto
seu comprimento, não selvagemente duro, nada agressivo, apenas
perto. Íntimo. Nós.
— Oi — eu sussurro.
Ele exala bruscamente.
— Oi.
— É como a faculdade de novo, nos escondendo assim.
Eu sinto seu sorriso contra minha têmpora.
— Você estava na faculdade. Eu era um aluno de doutorado
muito legal. E por “legal” quero dizer ridiculamente nerd.
— Você era tão fofo. Você se lembra de como costumávamos nos
pegar por…
— Horas? — Ele grunhe enquanto meus dentes afundam
suavemente em sua pele. — Vividamente.
Eu persigo a mordida com um beijo.
E á h d l d
— E como costumávamos chupar o outro e… Merda — ele diz,
me puxando para perto.
— O que?
Aiden limpa a garganta.
— Ziggy está vindo.
Eu suspiro.
Ziggy acena, membros esguios e pele tão pálida quanto a de Ren,
usando um maiô da Speedo e marcas teimosas de protetor solar no
rosto. Afastando-se de Aiden, eu aceno de volta. E assim, nosso
momento se foi.
Aiden desvia o olhar e enxuga o rosto.
— Eu vou sair e ler, dar a vocês duas algum tempo.
Antes que eu possa dizer que está bem, ele mergulha na água.
— Oi Frey! — Ziggy diz, batendo os dentes enquanto se
aproxima.
— Ei, Zigs.
Ziggy pigarreou.
— Desculpe se eu atrapalhei o momento. Fiquei com muito calor
e a areia me incomoda, e estou tentando não ser rude e ficar sentada
o tempo todo lendo.
Isso me faz sorrir.
— Ninguém iria culpar você.
— Provavelmente não — ela admite. — Mas mamãe e papai...
não quero que se preocupem comigo.
Ziggy passou por uma temporada difícil antes que seu
diagnóstico de autismo desse sentido ao que ela estava enfrentando.
Meus pais grudaram nela como cola desde então, e acho que tem
sido muito intenso para ela desde que Oliver foi para a UCLA e ela
se tornou a última criança em casa.
Mesmo que nossas situações sejam muito diferentes, tenho
empatia com seu desejo de não preocupá-los.
— Sim, eu entendo.
Ela inclina a cabeça.
— Você entende?
— Você sabe o que está acontecendo comigo e com Aiden, e
estou protegendo-os disso, assim como você está aqui congelando
sua bunda para evitar voltar para casa. Todos nós queremos agradar
a mamãe e papai do nosso jeito.
— Acho que só pensei que você sempre agradou.
— Ziggy, estou longe de ser perfeita, e mamãe e papai sabem
disso.
— Sim, exceto que você não está em casa ouvindo: “Quando Freya
tinha a sua idade…” e “Freya sempre costumava…” — Ela diz isso
gentilmente, mas posso ouvir um tom desconfortável se escondendo
abaixo da superfície.
A h d l d d lh
— Acho que todos os pais são culpados disso. Não sou melhor
do que você ou qualquer um de nossos irmãos, Ziggy. Eu só vim
primeiro.
Seus olhos encontram os meus, revelando sua dúvida. E então
me sinto culpada. Realmente culpada por não ter arranjado mais
tempo para minha única irmã, a única outra garota, em uma casa de
meninos selvagens.
— Lamento não ter estado mais por perto — digo a ela em voz
baixa.
— Você é adulta — ela diz. — Há quinze anos entre nós. Eu
nunca esperei que você estivesse.
— Sim, mas eu deveria ter sido melhor. Eu deveria saber quando
você estava sofrendo.
Ziggy estende as mãos sobre a água, parecendo se divertir com a
tensão superficial.
— Às vezes, Freya, não importa o quanto você tente, você não
saberá o quanto uma pessoa que você ama está sofrendo porque essa
pessoa não quer machucar as pessoas que a amam.
— Mas eles não deveriam esconder essa dor.
— Fácil para você dizer — ela murmura. — É difícil ser corajosa e
dizer que você não está bem quando cresce lutando para explicar
seus sentimentos, quando parece que problemas de saúde mental
são uma coisa vergonhosa de se confessar.
Eu fico lá, atordoada.
Sacudindo-se sob a água e, em seguida, subindo rapidamente,
Ziggy engasga em busca de ar. Seus olhos encontram os meus
enquanto ela esfrega a água de seus olhos.
— Desculpa. Isso foi certeiro, não foi?
— Não... quero dizer, foi. Mas tudo bem. Você tem um bom
ponto. — Meus olhos desviam para Aiden saindo da água. Ele passa
as mãos pelos cabelos escuros, pela barba, depois se vira e aperta os
olhos para o sol, seus olhos me encontrando. Então ele levanta a mão
hesitantemente.
Eu sorrio para ele, apesar da ameaça de lágrimas, e levanto
minha mão também.
Ao rever a confissão de Ziggy, enquanto vejo Aiden se acomodar
em sua cadeira, meu coração dói. Dores pelas pessoas que não posso
proteger do jeito que quero, cuja dor não posso apagar amando-as o
mais profundamente possível. Eu quero que o amor cure todas as
feridas. Mas estou começando a entender o quanto isso não acontece.
Às vezes, o amor é uma tala, um braço para segurar, um ombro para
chorar - útil, mas não o curador em si.
É quando me ocorre, o quanto eu queria amar Aiden do meu jeito,
ao invés do jeito que ele precisa. Eu queria que ele me contasse tudo,
que reconhecesse sua dor e medo, porque, em minha mente, amor é
d ê f
tudo que você precisa para se sentir seguro para fazer isso. Mas não
é tão fácil para Aiden. É mais difícil. Talvez não tenha sido uma vez,
quando as apostas eram menores e as pressões menores, quando
éramos mais jovens e menos apoiados por seus ombros. Mas isso
mudou ao longo do caminho. E minha compreensão, minhas
expectativas, não.
O arrependimento dá um nó no meu estômago. Mas antes
mesmo que eu possa começar a pensar em nadar em direção à costa,
contando a ele, Viggo e Oliver surgiram da água, assustando-nos.
— Hora do frango! — Oliver grita.
Ziggy grita.
— Sim! Eu fico com Viggo.
— Por mim tudo bem — Oliver diz. Ele pula nas minhas costas e
sobe pelos meus ombros, magro e musculoso daquele jeito de um
jovem de vinte anos. — Vamos derrubá-los, Frey.
Pego as pernas do meu irmão e reviro os olhos.
— Um jogo, então vou sair.
Ziggy sorri enquanto rasteja para Viggo, que está agachado na
água.
— Combinado.
— Freya. — Ollie segura meu rosto e me olha, de cabeça para
baixo do meu ponto de vista. — O que poderia ser mais importante
do que jogar rodadas intermináveis de frango?
Meus olhos encontram Aiden, lendo seu livro, e meu coração
pula uma batida.
— Tanta coisa, Ollie. Tanta.

O jantar é sempre assim quando os Bergman estão juntos. Alto,


bagunçado e delicioso.
Até os cotovelos na água com sabão, porque os caras cozinharam,
as mulheres estão limpando, eu limpo a testa, quente por lavar a
louça e tomar sol.
Meus irmãos enchem a varanda atrás de mim, esparramados,
pernas compridas, cervejas na mão, todos um pouco rosa do sol,
exceto Aiden, cuja pele dourada brilha. Sua camisa de linho está
mais desabotoada do que o normal, seu cabelo está mais ondulado
por causa do ar de água salgada, e quando ele leva sua única cerveja
para a noite aos lábios e dá um longo gole, as luzes externas piscam
em sua aliança de casamento.
O desejo me inunda, quente e fundido. Eu deixo cair um prato
desajeitadamente na água, espirrando Willa, Ziggy, Frankie e eu.
— Desculpe — eu murmuro.
— Ugh — diz Ziggy. — Eu não suporto roupas meio molhadas.
Volto logo.
d k ó
— Não se preocupe com isso, Zigs — diz Frankie. — Nós
resolvemos a partir daqui.
Ziggy encolhe os ombros.
— Não precisa insistir. Eu tenho um livro chamando meu nome.
Voltando-me para a água, me concentro nos pratos, enxaguando-
os e, em seguida, entregando-os a Willa. Quando eu olho para cima,
ela está sorrindo para mim, secando uma tigela. Mas ela não diz
nada.
— E então? — Mamãe pergunta, voltando do banheiro. — Posso
ajudar?
— Saia daqui — digo a ela enquanto Frankie me entrega outro
prato já raspado.
Mamãe sorri enquanto dá um beijo na minha bochecha. Em
seguida, ela sai para a varanda e desliza para o colo de papai. Eu
volto para os pratos, meus pensamentos vagando.
Mas então a porta se fecha novamente atrás de nós e eu olho por
cima do ombro.
— Aiden — eu digo baixinho.
Ele sorri, colocando sua cerveja no balcão.
— Senhoras, vão em frente e relaxem. Vou terminar isso.
Willa e Frankie fazem barulho de protesto até que Aiden
praticamente as expulsa, demonstrando a maneira quieta, mas
intimidante, que ele tem que eu vi nas raras vezes em que eu poderia
entrar furtivamente e vê-lo dar aula. Logo, elas estão lá fora,
juntando-se ao barulho crescente da minha família, e somos
deixados sozinhos no silêncio.
Isto é, até que o papagaio o cantar. Ele a encara por cima do
ombro.
— Comporte-se.
Esmerelda chacoalha suas penas, então se afasta em seu puleiro.
Eu mordo meu lábio.
— Você é o único com quem ela faz isso.
— Me diga algo que eu não sei — ele murmura, enxugando o
balcão, que está coberto de água. — Isso não é tudo que ela diz,
também.
— Mesmo?
Suas bochechas ficam rosadas.
— Ela tem uma boca suja, mas vamos deixar por isso mesmo.
Colocando a toalha de lado, Aiden dá um passo ao meu lado, o
calor emanando dele. Ele cheira ainda mais a água do oceano do que
o normal. Eu aperto a esponja na pia para me controlar, para eu não
enterrar meu nariz em sua camisa e o cheirar.
— Quando eu disse a elas para irem relaxar, eu quis dizer a você
também — ele disse baixinho, olhando para mim.

E lh d l í d
Eu encontro seus olhos, de um azul tão vívido contra o
bronzeado de sua pele. Eu me sinto prestes a cair neles e nunca vir à
tona.
— Eu sei. — Eu cutuco seu quadril. — Você não deveria estar
aqui. Você ajudou a cozinhar.
— Eu precisava de uma pausa — diz ele, arregaçando as mangas.
— Eu amo seus irmãos, mas, cacete, como eles falam.
Oh senhor. A manga dobrada. Os antebraços. Veias. Tendões. É
tudo inebriante. Fecho os olhos para não ficar mais perturbada do
que já estou.
— Freya, acho que o prato está limpo.
— Hm? — Meus olhos se abrem. — Sim. Claro.
Aiden sorri suavemente.
— Você está bem?
— Totalmente. — Eu concordo. Estou longe de estar bem. Eu
estou no topo, zumbindo com tantas facetas emocionais, elas são um
borrão selvagem. Sinto-me tonta e com calor, prestes a perder o
controle.
— Aqui. — As mãos de Aiden envolvem minha cintura, fazendo
o ar sair de mim. Gentilmente, ele me guia para a direita. — Vou
lavar um pouco. Você seca, ok?
— Ok — eu sussurro.
Em silêncio, ficamos, lado a lado, lavando pratos. Nossos
cotovelos batem. As mãos de Aiden tocam as minhas quando ele me
entrega cada prato. No último prato, quase o deixamos cair entre
nós, mas Aiden o pega, firmando-o em minhas mãos.
— Desculpe — ele diz, encontrando meus olhos. — Eu estava
distraído.
— Tudo bem — digo a ele com voz rouca. — Eu também.
Aiden olha para a água, fechando a torneira.
— Você percebeu que estava cantarolando?
Eu congelo com o prato quase seco.
— Eu estava?
Aiden acena com a cabeça, sorrindo fracamente enquanto ele se
aproxima.
— Você estava.
E de alguma forma, eu sei que nós dois sabemos o que isso
significa. Essa coisa minúscula que eu sempre fiz, que se afastou
quando estávamos em nosso ponto mais baixo, encontrou seu
caminho de volta. Eu percebo, para ele, para mim... não é apenas
cantarolar. É esperança.
— Esqueci desses! — Viggo diz, entrando com uma nova pilha de
copos e pratos de sobremesa, e jogando-os na pia meio vazia. —
Cara, que chatice que alguém deixou de lavar louça mais cedo. Boas
lavagens!
Olh f l b d l
Olho feio para Viggo enquanto ele sai, assobiando alegremente.
Aiden liga a água novamente e adiciona mais sabão.
— Pessoalmente, não estou muito chateado por ficar aqui com
você, curtindo o silêncio, mas você pode sair se quiser.
— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Eu vou ficar. — Olhando
para ele, eu sinto que nós nos inclinamos, mais perto... mais perto...
Os olhos de Aiden vão para a minha boca, e então ele fecha a
distância e pressiona um beijo profundo em meus lábios.
Quando ele se afasta, nós dois voltamos à nossa tarefa, lado a
lado. A água corre. Aiden lava. Silenciosamente, eu enxáguo e seco.
Então meu cantarolado volta, mais estável, mais alto.
Enquanto Aiden limpa a pia e a água escoa em uma espiral lenta
e preguiçosa, me dou conta.
Em algum momento, ele começou a cantarolar também.
20

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ H e a v e n ” - B r a n d i C a r l i l e

—O —F .
— Veja por si mesma. — Eu descubro seus olhos, observando-os
se arregalarem e se ajustarem à escuridão. Ela olha ao redor, quieta,
observando nosso entorno.
— O que é isso?
— Jantar — digo a ela.
Freya ergue os olhos para mim.
— Isto não é apenas jantar.
Eu sorrio e encolho os ombros.
— Bem não.
Ela estreita os olhos de brincadeira.
— Esse é mais um dos gestos grandiosos e de bajulação?
— Está funcionando?
Voltando-se para o piquenique espalhado na areia, pequenas
velas em potinhos circundando-o e flores de hibisco espalhadas pelo
cobertor, ela suspira sonhadora.
— Sim.
— Bom. Então sim. Eu sou um ousado bajulador e de grandes
gestos.
Sua risada é brilhante, e o som faz todos os pelos do meu corpo
se arrepiarem. Eu coloquei minha mão em suas costas, guiando-a em
direção ao cobertor.
— Por que dirigimos até aqui? — ela pergunta. — Não
poderíamos ter feito isso do lado de fora da casa?
Eu dou uma olhada para ela.
— Você honestamente acha que teríamos um momento em paz
lá? Seus irmãos teriam construído esculturas de areia sugestivas e,
em seguida, feito uma serenata para nós com cada música da Disney
que precede o primeiro beijo do casal.
Freya ri tanto que ela ronca.
— É como se você os conhecesse ou algo assim.
— Oh, sim. Mais do que jamais pensei que faria, depois do Dia
de Conexão dos Irmãos.
Freya sorri para mim enquanto se senta sobre o cobertor e estica
as pernas.
— Você disse que foi bom estar com eles. Mas foi um longo dia?

E d l á d l d d d
Eu a sigo e deslizo atrás dela, segurando Freya dentro das
minhas pernas.
— Incline-se para trás — eu sussurro em seu ouvido. Ela hesita,
então olha por cima do ombro, encontrando meus olhos. Eu corro a
mão ao longo de seu ombro, até a ponta dos dedos.
Lentamente, ela relaxa dentro dos meus braços, em seguida,
coloca as mãos nas minhas coxas.
Eu pressiono um beijo na pele macia atrás de sua orelha, em
seguida, alcanço e pego o primeiro pote, abrindo a tampa. Espetando
um pedaço de peixe, levo-o à boca dela. Freya dá uma mordida,
então se acomoda contra meu peito, aninhando sua cabeça sob meu
queixo. É tão bom, tão certo, abraçá-la como eu costumava fazer,
senti-la se inclinar para mim e suspirar contente.
— O Dia de Conexão dos Irmãos foi divertido — digo a ela,
respondendo a sua pergunta anterior. — E exaustivo. Há uma
diferença entre vinte e seis e trinta e seis. Não estou em forma como
antes. Não arranjei tempo para fazer exercício.
Freya olha para trás.
— Você sente falta?
— Eu sinto mais falta do futebol.
Ela acena com a cabeça.
— Eu também.
— Você jogaria… — Eu limpo minha garganta, colocando o
primeiro pote de lado, em seguida, abrindo outro. — Você gostaria
de jogar comigo em um time misto de novo? Precisaria ser depois
que eu colocar tudo em execução no aplicativo, se esse investidor
entrar em ação, mas…
— Sim — ela diz, sua mão pousando quente sobre a minha. Ela
aperta suavemente, em seguida, emaranha seus dedos com os meus.
— Quando você estiver pronto. Gostaria disso. Mas não há pressa.
Provavelmente também voltarei com minha velha liga feminina.
Eu sorrio para ela.
— Estou feliz. Essa liga sempre te fez feliz. Parece ter sido um
bom tempo. — Oferecendo a ela um novo sabor de comida, vejo a
boca macia de Freya deslizar sobre o garfo. Minha pele está quente,
muito tensa, e me inclino para a sensação - saudade, fome. Faz tanto
tempo desde que eu poderia saboreá-la, que eu poderia saborear o
desejo dela.
— Aiden — diz ela. — Tudo está tão bom. Onde você conseguiu
isso?
— Um restaurante próximo. Há um Blue Hawaiian também. —
Abro o cooler ao meu lado. — Aqui. — Puxando o copo para
viagem, coloco um canudo, um minúsculo guarda-chuva tiki e, por
último, mas não menos importante, uma flor de hibisco rosa. Então
eu coloquei em seus lábios. — Voilà.
E Ob d El dá l l
— Extravagante. Obrigada. — Ela dá um longo gole e sorri. —
Onde está o seu?
Eu levanto uma água com gás, brindando com o copo dela.
— O seu realmente é alcóolico.
Cantarolando para si mesma, Freya pega delicadamente o garfo,
provando de cada recipiente que resta. Ela pega um pedaço de peixe
e se vira em meus braços, levando-o à minha boca.
— Prove.
A emoção aperta meu peito enquanto eu olho para ela, tão rápido
para compartilhar o que a traz alegria. É tão Freya. Tão
absolutamente ela.
Sua expressão vacila.
— O que é?
Eu agarro seu pulso, antes que ela possa abaixá-lo.
— Eu só... a expressão em seu rosto. Eu senti falta disso. — Ela
inclina a cabeça, procurando minha expressão. — Felicidade.
Seus olhos se enchem de lágrimas e ela rapidamente enxuga as
lágrimas enquanto elas transbordam.
— Desculpe — ela sussurra.
— Sou eu que sinto muito, Freya. — Eu envolvo um braço em
torno dela e dou um beijo no topo de sua cabeça. — Sinto muito.
Por longos momentos de silêncio, ela me deixa abraçá-la
enquanto beijo suas lágrimas. Quando eu afrouxo meu aperto, ela
me dá um sorriso úmido, em seguida, olha nosso piquenique.
— Isso é... tão adorável, Aiden. Obrigada.
— Obrigado por confiar em mim quando eu disse para você
fechar os olhos e me deixar levá-la através da ilha.
Ela ri baixinho e bebe seu coquetel.
— Claro que confiei em você.
Pegando sua bochecha, dou-lhe um beijo suave.
— Eu não considero sua confiança garantida. Os últimos meses,
eles não tornaram a confiança fácil. Eles não tornaram nada disso
fácil. Eu sinto por isso.
Olhando para baixo, Freya traça um dedo na areia ao longo da
borda de nosso cobertor.
— Ziggy disse algo ontem que mexeu comigo.
— O que foi?
Ela franze a testa em pensamento.
— Ela disse que é fácil dizer a alguém que ele deve ser franco
quando está sofrendo, mas é difícil fazer isso quando sua dor é
vergonhosa ou... assustadora. Isso me fez pensar sobre como o
fracasso é assustador para você. Quão duro foi quando você era
jovem. Fracasso para você e fracasso para mim significam coisas
muito diferentes. Queria que você agisse como eu quando enfrento o
risco, que confiasse em mim com esses medos. Mas no passado, em
d d ê d l á l ê
sua vida, quando você se sentia ameaçado ou vulnerável, você se
voltava para si mesmo, para sobreviver. Em vez de me lembrar
disso, levei para o lado pessoal.
Meu coração bate contra minhas costelas. Eu deslizo minha
palma contra a dela e agarro sua mão.
— Fico feliz que o fracasso não signifique para você o que
significa para mim, Freya.
Ela encontra meus olhos, piscando para afastar as lágrimas.
— Eu gostaria que você não tivesse crescido assim, Aiden. Eu
odeio isso.
— Eu sei. Mas já passou. E agora veja o que temos. Veja tudo o
que está diante de nós. — Eu pressiono um beijo em sua têmpora. —
Eu passaria por isso mil vezes.
— Por que? — ela pergunta.
— Porque foi parte do que me levou a você. Você vale tudo isso.
Ela encosta a testa no meu peito, rolando para frente e para trás
enquanto envolve os braços em volta da minha cintura.
— Eu gostaria de ter entendido. Eu me afastei quando senti que
você tinha se afastado, em vez de vir atrás de você. Eu deveria ter ido.
— Você estava sofrendo, Freya — eu digo baixinho. — Você não
deveria ter que me perseguir.
Um silêncio pesado se mantém entre nós, exceto pelo som de
uma brisa do oceano soprando através das folhas de palmeira,
ameaçando nossas pequenas luzes em suas lanternas.
— Ainda assim. Ambos faremos melhor — Freya diz
resolutamente. Ela levanta um dedo mindinho enquanto a puxo para
mais perto. — Promete?
Eu curvo meu dedo mindinho em torno do dela e beijo onde
nossos dedos se encontram.
— Prometo.

— Estou tão cheio — eu gemo.


Freya suspira satisfeita.
— Eu também. Isso foi incrível.
Deitamos no cobertor, olhando para o céu noturno, brilhando
com estrelas.
— Eu não consigo entender como o céu é tão claro aqui — ela diz
calmamente. — O quanto você pode ver. É impressionante.
Eu olho para ela, a beleza de tirar o fôlego de seu rosto - aquele
nariz longo e reto brilhando com sua argola de prata, a linha
acentuada de suas maçãs do rosto que eu tracei com meu dedo
inúmeras vezes, aqueles lábios macios e carnudos franzidos em
pensamento.
— É — eu digo a ela. — Esplêndido.
Olh d l b lh d l U
Olhando para cima, ela percebe que estou olhando para ela. Um
leve rubor surge em suas bochechas.
— Isso me lembra nossa lua de mel — digo a ela.
Ela sorri fracamente.
— Eu amei nossa lua de mel.
— Oh eu também. — Eu não consigo parar o sorriso que puxa
minha boca.
Freya me dá um tapinha sem muito entusiasmo na barriga e
envolve o braço com mais força em volta da minha cintura.
— Tire esse sorriso de satisfação de seu rosto, Aiden
MacCormack.
Eu rio.
— Freya, permita que um homem se glorie em memórias felizes
de como ele gostou profundamente de sua esposa ser uma nudista
por uma semana em uma praia isolada.
— Oh Deus — ela murmura, batendo sua testa suavemente
contra meu peito. — Eu estava com tanto tesão.
— Porque você nos fez esperar semanas antes do casamento.
— Eu queria que nossa noite de núpcias fosse especial! — ela diz.
Meus dedos sussurram ao longo de seu braço, deleitando-se com
a maciez acetinada de sua pele.
— E foi.
— Sim. — Seus olhos procuram os meus enquanto sua mão
pousa sobre meu coração. — Realmente foi.
— E você cantou.
Ela inclina a cabeça, confusão marcando suas feições.
— O que?
— Em nossa lua de mel. Você cantou constantemente. Você
cantou no chuveiro, no mar, na cama, no café da manhã, envolta em
meus braços. Eu amei isso... por que foi aí que eu soube, por como
você cantou e o que você cantou... Eu amei que isso me disse o que
você sentia. Que tantas vezes me disse que você era feliz.
Os olhos de Freya brilham, úmidos de lágrimas não derramadas,
cintilando como as estrelas refletidas neles.
— Eu adorava quando você tocava violão — diz ela. — Senti
como você fala sobre o meu canto, como se isso me mostrasse
sentimentos que você nem sempre dizia, me mostrava sua felicidade
comigo, juntos. Sentados no quintal, fazendo música juntos... essas
são algumas das minhas melhores lembranças.
Meu coração torce com suas palavras agridoces, a beleza de
lembrar de tempos mais simples.
— É por isso que foi tão emocionante — diz ela. — Quando você
tocou e cantou outra noite no karaokê.
Eu sorrio para ela.

E ê d d
— Eu sei o que você quer dizer. Foi assim que me senti, vendo
você cantar também.
— Você me viu? — Ela morde o lábio. — Eu não tinha certeza se
você já estava lá quando eu estava com o microfone.
— Eu estava. — Colocando uma onda loira pálida atrás da
orelha, eu traço a curva de sua mandíbula com meu polegar,
acariciando sua pele delicada. — Me deu calafrios. Você parecia tão
viva, Freya. Como se algo dentro de você que eu não via há muito
tempo estivesse queimando com força novamente. Uma alegria
desenfreada.
Ela exala com força e segura uma lágrima que escorre.
— É assim que me sinto.
— É assim que eu quero que você se sinta sempre.
Aninhada, Freya coloca sua perna sobre a minha. Eu a puxo para
perto e saboreio a sensação de seu corpo exuberante dobrado contra
o meu.
— Isso é o que eu quero para você também — ela sussurra. —
Para nós dois.
Eu olho para o céu, bebendo em sua vastidão escura e bela.
— Quando formos para casa, quero fazer isso de novo. Sentar do
lado de fora, fazer música.
Freya suspira e encosta a cabeça no meu ombro.
— Eu também gostaria disso.
Desviando meu olhar das estrelas, eu acaricio seu cabelo e a
inspiro, um sussurro de limões e grama cortada, a doçura da flor que
ela prendeu em seu cabelo.
— Vamos largar nossos empregos. Começar uma banda.
Ela ri, sabendo como estou sendo completamente pouco sério.
— Você nunca conseguiria.
— Você tem razão. Eu não conseguiria. Talvez na minha próxima
vida.
— Você nunca abandonaria seus alunos — diz ela. — Você os
ama demais. Assim como amo meus pacientes.
Eu pressiono um beijo em seu cabelo.
— Eu sei. Às vezes são um pé no saco, mas, na maioria das vezes,
são apenas jovens tentando encontrar o caminho, e gosto de poder
ajudá-los. Lembro de como foi difícil. Eu tenho empatia com isso.
Sua risada rouca salta para fora.
— A menos que sejam atletas da primeira divisão.
— Merdinhas prepotentes.
Freya me olha, procurando meus olhos.
— Mas você aprendeu a lição depois de mexer com Willa, não é,
Aiden Christopher?
Eu sorrio para ela com culpa.
— Sim. Esse não foi o meu melhor momento.
El b l b
Ela balança a cabeça.
— Você tem sorte de eles terem acabado felizes juntos.
— Oh. Sobre isso. Eu tenho uma confissão.
— Que tipo de confissão? — ela pergunta com cautela.
— O tipo de confissão que só estou confessando porque acho que
está fora do estatuto das limitações da cólera feminina.
Ela levanta uma sobrancelha.
— É mesmo?
Eu luto contra o rubor.
— Então, quando seu irmão e Willa eram meus alunos e eu os
enviei naquela excursão de construção em equipe?
— Sim — ela diz lentamente. — Aquela em que te infernizei.
— Essa, sim. Bem, eu dei a eles um questionário que eles
deveriam usar naquele dia também. Peguei emprestado um pouco
do material do workshop corporativo que eu tinha, mas também
dependia muito de... perguntas sobre o vínculo de casais.
Freya morde os lábios, muito claramente tentando não rir.
— No que você estava pensando?
— Você não os viu sofrendo um pelo outro na minha sala de
aula. Eles só precisavam de um pequeno empurrão.
— Um pequeno empurrão.
— Freya, eu vi. Eles eram tão perfeitos um para o outro. E o
pensamento de que algumas barreiras de comunicação e atitudes
ruins poderiam impedi-los de perceber que… — Eu suspiro,
sentindo o peso real de minhas palavras. — Eu não conseguia
suportar o pensamento deles perdendo o amor de suas vidas.
Porque eu tenho isso. E não consigo imaginar um mundo sem ele.
Seus olhos suavizam.
— Aiden. — Ela envolve os braços com mais força em volta de
mim.
Eu aperto suas costas e beijo sua testa, absorvendo a sensação
dela em meus braços. Então eu me afasto e me sento.
— Vamos lá.
Ela franze a testa para mim enquanto eu ofereço a mão e a puxo
para cima.
— O que estamos fazendo? — ela pergunta.
Eu toco meu telefone, selecionando a primeira música de uma de
suas muitas playlists. Essa é chamada: Dancing on the Beach. A trilha
sonora perfeita, em uma bandeja de prata.
Freya sabe disso também, quando a puxo para perto e começo a
cambalear.
Ela ri.
— Muito bom.
— Como eu poderia negar a playlist com o título perfeito?

l d d d b h b h h
— Não sei — ela diz, dando um beijo na minha bochecha. — Mas
estou feliz que você não fez isso.
Segurando-a perto, movo-nos ao ritmo da música, respirando
Freya, que cheira a sol e flores, o sempre doce aroma ácido de limão
em sua pele, tão suave e quente em meus braços. Ela parece o
paraíso.
— Por que estamos dançando? — ela pergunta.
Eu dou um beijo em sua têmpora.
— Porque você adora dançar e eu adoro abraçá-la.
— Bem, esse é um bom motivo.
Sorrindo, eu a puxo para mais perto e coloco minha boca em sua
orelha.
— E porque eu quero te dizer coisas que não sei como te dizer de
outra forma, e é mais fácil quando você está em meus braços.
— Como o quê? — ela sussurra.
— Todos os dias, acordo com medo de não te amar como você
merece ser amada. Quando fico nervoso antes de falar em uma
conferência, seguro seu pingente na palma da mão até que esteja
quente e, em seguida, pressiono-o com força contra meu peito, para
que fique quente contra minha pele quando falo; Digo a mim mesmo
que você está comigo e isso me torna mais corajoso.
Ela se afasta e encontra meu olhar.
— Um alto desempenho não é brincadeira — digo a ela em voz
baixa. — Quase vomitei antes de cantar para você no karaokê, mas
depois adorei. Eu amo que você me faça querer ser corajoso e tentar
coisas que eu não faria de outra forma. Ah, e eu tomei minha
primeira bebida alcoólica forte, ou pelo menos três goles dela, para
ter coragem holandesa antes de jogar. Esses coquetéis zumbis são
muito fortes, caso você não saiba. Tome com cuidado.
Uma risada rouca salta para fora dela.
— Nossa, Aiden! Um zumbi?
Eu dou um beijo atrás de sua orelha e desço mais em seu
pescoço.
— São férias. O lugar perfeito para quebrar minhas próprias
regras.
— Eu sabia que tinha sentido menta e rum.
Minha risada é suave quando beijo seu ombro.
— Eu sempre lutei para admitir meus medos e minhas falhas
para você, porque eu nunca quis desapontá-la, Freya.
Ela segura meus olhos, deslizando os dedos pelo meu cabelo.
— Você não precisa, Aiden. Você nunca poderia me decepcionar.
Porque você nunca faria nada que comprometesse sua integridade,
sua bondade. Você me machucou quando se afastou, sim. Mas você
nunca me decepcionou.
— Diga isso ao meu cérebro. Ele é um idiota mentiroso.
E d l d l f l d
— Eu direi — ela sussurra. —Me avise quando ele estiver falando
merda, para que eu possa repreendê-lo.
Lágrimas apertam minha garganta.
— Eu vou.
Colocando a bochecha no meu ombro, Freya suspira enquanto eu
nos balanço em círculos suaves e hipnotizantes.
— Aiden?
— Hm?
— Obrigada. Eu precisava disso.
Meus lábios encontram os dela enquanto eu sussurro:
— Eu precisava disso também.
21

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ I ' m w i t h Yo u ” - V a n c e J o y

O . A luz do sol se derrama pela


nossa porta de vidro deslizante e pinta o perfil de Freya em tons de
ouro e bronze, escorregando pela linha do nariz até os lábios,
franzida de sono. Alguém bate no corredor – minha aposta está em
um dos projetos de homem – e a tira de seu sono profundo.
Em um alongamento suave e silencioso, Freya guincha e seus
olhos se abrirem. Sonolenta, ela olha para mim, onde estou deitado
ao lado dela na cama, apoiado em um cotovelo. Eu sorrio para ela, e
ela sorri de volta, mais quente do que o sol iluminando seu rosto.
— Bom dia — diz ela calmamente.
— Bom dia — eu sussurro. Olhando para ela, eu passo minha
mão contra a dela. Ela desliza a palma da mão timidamente ao longo
da minha até que eu emaranhasse nossos dedos com força.
Seus olhos dançam entre os meus e seu sorriso se aprofunda.
— Seu cabelo está selvagem.
—Eu sei. — Eu deslizo meu polegar ao longo de sua palma, me
acalmando como eu já fiz inúmeras vezes, tocando-a desta forma. —
Eu preciso de um corte de cabelo. Tenho estado muito ocupado.
Muito ocupado. Deus, Aiden. Coisa muito errada a dizer.
Sua expressão vacila enquanto ela olha para nossas mãos.
— Que horas são?
— Cedo.
— Quão cedo?
Eu encolho os ombros.
— Não sei.
Ela franze a testa.
— Você não pode checar seu telefone?
— Eu não estou com ele.
Seus olhos se arregalam comicamente.
— O que?
Eu ficaria ofendido com o quão chocada ela está, mas eu
praticamente tenho a coisa colada em mim há meses. Era difícil não
me preocupar se eu perderia alguma coisa, mas eu fiz isso, deixei
meu telefone lá embaixo pela segunda noite consecutiva. E ainda
não o verifiquei. Em vez disso, acordei cedo e fiz um pouco do fluxo
de ioga de Makanui em nossa pequena varanda privativa. Por mais
que eu estivesse ressentido do cara por quase ter deslocado minha
lh d l d
virilha no outro dia, o que ele nos ensinou me ajudou a respirar mais
fundo e soltar meu corpo em todos os pontos que ficam tensos.
— Está na cozinha carregando — eu digo a ela baixinho,
passando meus dedos ao longo da parte interna de seu braço.
— Isso me surpreende — ela sussurra. — Falando na cozinha, eu
deveria me levantar — ela murmura, olhando para além de mim
para o céu claro da manhã. — Se eu não fizer o café da manhã,
mamãe vai fazer.
— Ren e Axel vão lidar com isso hoje.
Ela inclina a cabeça.
— Eles vão?
— Os caras fizeram uma escala para o resto da semana para que
não caísse tudo em você. E… — eu olho por cima do ombro dela
para a bandeja que estou esperando. — Seu café da manhã está aqui
hoje.
Ela olha por cima do ombro, então encontra meus olhos,
reprimindo um sorriso.
— Uau.
Eu sorrio para ela.
— Vamos. Antes que seu café esfrie. E que Ryder descubra onde
sua garrafa térmica veio parar.
— Oh, você vai ser morto por ter roubado isso.
— É por isso que ele não vai saber, esposa. — Eu dou uma olhada
para ela. — O que ele não sabe não o machuca. Ou a mim.
Freya ri baixinho enquanto ela se acomoda na cama e eu coloco a
bandeja em seu colo.
— Isso está muito bom, Aiden — diz ela. — Você não precisava
fazer isso.
Eu aliso o cabelo dela para trás e beijo sua bochecha.
— Eu quis.
Quando alcanço sua mesa de cabeceira e pego a água de Freya
para colocá-la em sua bandeja, noto o livro que ela tinha ao lado.
— Persuasão? — Eu pergunto.
Ela faz uma pausa com o café a meio caminho da boca.
— Assisti ao filme algumas semanas atrás e adorei. Decidi ler o
livro também.
Sentando ao lado dela na cama, eu cruzo minhas pernas e me
inclino, endireitando seus talheres na bandeja. Freya sorri para mim
por cima de sua xícara.
— Quando você assistiu ao filme? — Eu pergunto baixinho.
— Quando você estava em Washington — Freya diz enquanto
põe o café na mesa. — Chorei. Bastante.
Eu olho para ela.
— Por que?
Ela sorri fracamente.
d l ê
— Porque se trata de esperar por aquele que você ama por muito
tempo, depois que ele te machucou e você o machucou. É sobre
decidir que o mundo exterior não pode ditar sua felicidade, sobre o
perdão e as segundas chances e o que o amor cresce com as pessoas
conforme elas crescem também.
— Parece muito bom.
Ela acena com a cabeça.
— Ele é. Mas na verdade, até agora estou gostando mais do livro.
Eu me inclino em sua mão, que não deixou meu cabelo.
— Posso ler?
— Só se você ler em voz alta para mim. Com sotaque britânico.
Eu belisco seu ombro.
— Sou tão ruim com sotaques como com charadas, e você sabe
disso.
Ela beija minha bochecha.
— Eu amo seus sotaques. — Seus lábios se movem para o meu
queixo e eu sinto sua hesitação, seu hálito quente suave contra
minha pele. — E eu amo você.
Aquelas palavras. Eu não os ouço há muito tempo. Eu amo você.
Meu coração parece um solo de bateria, rola e estala, ritmo
percussivo que é um alívio explosivo. Ela disse isso. Ela me ama.
Ainda.
Eu me viro e pego seus lábios, roubando outro beijo.
— Eu te amo, Freya. Muito. — Lutando contra a vontade de tirar
sua bandeja da cama e quebrar todas as regras que a Dra. Dietrich
nos deu, eu me sento e respiro fundo. Agora não é a hora de
ultrapassar o que estamos construindo, muito menos testar meu
corpo e arriscar decepcionar nós dois.
Essa é uma conversa que teremos em casa, quando a pressão de
estar “bem” com os pais dela ficar para trás. Quando reforçamos o
que leva a essa intimidade física: nossas emoções, nossa confiança,
nossa conexão.
Freya se recosta e sorri para mim, jogando um pedaço de fruta na
boca. Então outro. Observo o sol iluminar nosso quarto, Freya se
deliciando com cada pedacinho do café da manhã, cada lambida na
ponta dos dedos, cada suspiro feliz e suave murmúrio de
contentamento.
Finalmente, ela coloca o guardanapo no prato e sorri.
— Obrigada novamente. Por que você não comeu?
Eu balancei minha cabeça.
— Ainda não estou com fome.
— Hm — diz ela, estreitando os olhos para mim. — Certifique-se
de comer. Precisa de energia para quando eu acabar com você no
vôlei de areia mais tarde.

ff f b d l h d
— Pff. Por favor. — Pego a bandeja e coloco no chão perto de
mim.
Ela se aninha na cama novamente.
— Mas não antes de eu voltar a dormir. Que café da manhã!
Agora eu preciso tirar uma soneca. Axel e Ren que fizeram?
— Com licença, eu fiz. Não é bajulação se você terceirizar.
— Hmm. Café da manhã com bajulação.
— De fato. — Eu pressiono um beijo em sua cabeça. — Eles estão
cozinhando para todo mundo agora. Sua refeição foi feita com amor.
Ela sorri.
— Melhor ainda. Então, quem está de plantão no café da manhã
amanhã?
Sento-me na cama e giro uma de suas ondas loiras brancas em
volta do meu dedo.
— Oliver e Viggo.
— Oh Deus não. Eles vão se matar. Haverá ovos mexidos presos
à parede e massa de waffle jogada na cabeça um do outro.
— Eles ficarão bem, eu acho. Eles amam muito comer para
desperdiçar comida, mesmo que briguem como um...
Freya levanta uma sobrancelha.
— Como um velho casal?
— Shh. — Eu coloquei um dedo de brincadeira sobre seus lábios
macios. — Você deveria deixar meus bordões passarem.
— Eu deveria? — ela diz, antes de morder meu dedo de
brincadeira.
Eu prendo a respiração quando seus olhos encontram os meus.
Meu corpo se aquece e fica tenso enquanto eu olho para sua boca,
enquanto Freya levanta uma mão hesitante e a desliza pelo meu
cabelo, tirando minhas mechas do rosto.
Observando-a, levanto o lençol. Calcinha branca transparente e
uma regata que mostra seus mamilos duros e rígidos. Tanta beleza
pura. Eu fico olhando para ela por um momento, absorvendo-a.
— Posso tocar em você, Freya?
Ela cora lindamente.
— Como?
Eu pressiono meus lábios suavemente em sua garganta e a
respiro.
— Eu quero beijar você.
— Melhor escovar os dentes, então – oh. — Ela estremece quando
beijo meu caminho até seu peito.
— Esse tipo de beijo — digo a ela.
Ela exala trêmula, suas mãos enfiando pelo meu cabelo.
— Por que?
— Porque eu sinto sua falta — eu sussurro contra a curva suave
de seu estômago, levantando sua blusa. — Porque eu quero que você
b U b l l l
se sinta bem. — Um beijo gentil, enquanto eu acaricio a pele lisa
como cetim entre seus quadris. — Porque eu te amo.
Os quadris de Freya rolam em direção aos meus. Seus dedos
percorrem meus ombros delicadamente, até que se enrolam em meu
cabelo novamente e me puxam para mais perto.
— Eu preciso de suas palavras, Freya.
— Sim — ela diz fracamente. — Sim, você pode me beijar.
Eu tiro sua calcinha e a arrasto por suas pernas. Ela é tão linda,
molhada e excitada. Eu a provoco suavemente, separando-a
delicadamente, soprando respirações frescas.
— Aiden — ela sussurra, inquieta debaixo de mim.
Eu coloco minha outra mão sob sua blusa e seguro seu seio,
acariciando seu mamilo.
— Você acordou excitada, Freya?
Ela morde o lábio, então balança a cabeça levemente.
— O que você estava sonhando?
Seu rubor se aprofunda.
— Como você sabe que eu estava sonhando?
Eu esfrego seu clitóris, então mais abaixo, acariciando aquela pele
macia e aveludada. Cada movimento do meu polegar, cada toque
persuasivo, a faz suspirar.
— Porque eu percebi. Você estava inquieta durante o sono. Isso
denunciou você também. — Pego seu seio, esfrego seu mamilo sob
meus dedos, mudando para provocar os dois. — Eles sempre fazem
isso.
Eu beijo meu caminho até suas coxas, até que estou tão perto de
onde ela me quer.
— E eu conheço o corpo da minha esposa — eu sussurro. — Eu
sei quando ela precisa gozar.
Eu passo meus dedos sobre sua barriga e vejo arrepios subirem
enquanto Freya inclina a cabeça para trás, mordendo o lábio. Seus
olhos se fecham enquanto eu rastejo por seu corpo e chupo seus
mamilos através do tecido de sua blusa, acariciando-a ritmicamente.
— Toque-se, Freya. — Minha voz está rouca e meu pau se
projeta, duro e pulsante. Minhas bolas apertam duramente enquanto
eu brinco com seu mamilo. — Me mostre.
Sua mão desliza pelo corpo, acariciando onde ela está molhada e
excitada e tão fodidamente bonita. Eu me apoio em um cotovelo,
meu toque sussurrando sobre sua coxa. Ela fecha os olhos e expira
lentamente, então começa a circular seu clitóris.
— Freya — eu sussurro, contra sua pele. — Conte-me o seu
sonho.
Freya é uma pessoa muito sensual, mas é tímida na cama. Eu
descobri no início de nossa vida sexual que fazê-la dizer o que ela
queria a excitava quase tanto quanto o que eu fazia com ela.
ê El l ê lí
— Você estava… — Ela engole. — Você usou sua língua.
Eu a recompenso com uma chupada profunda e provocante em
seu mamilo. Ela se curva para fora da cama.
— Onde?
— Aqui.
Seus dedos deslizam mais para baixo, e um grunhido animal me
deixa enquanto eu a observo. Meu aperto afunda em sua coxa.
— Diga-me exatamente. Onde estava minha língua?
— Minha boceta — ela sussurra, esfregando-se em círculos
apertados. Eu a observo se mover, a maneira sensual como seu pé
desliza ao longo dos lençóis, a respiração suave e irregular que ela
dá enquanto seu desejo aumenta.
Um beijo suave em seus lábios, minhas mãos a massageando, eu
a vejo se contorcer e relaxar.
— Sua boceta está molhada para mim, Freya?
— Oh, Deus, sim. — Freya suspira trêmula. — Aiden, estou tão
perto–
Alguém bate na porta.
— Vamos, idiotas preguiçosos. Café da manhã!
Esse seria Oliver. Quem eu vou matar.
Freya engasga, arqueando-se com o meu toque.
— D-diga a ele para ir embora.
— Por que você não diz? — Eu pergunto a ela de brincadeira. Eu
paro o movimento de sua mão e recebo um olhar fulminante.
— Juro por Deus, Aiden — diz ela. — Agora não é hora de
brincar. Não gozo há semanas.
— É sempre hora de brincar. — Eu belisco seu lábio inferior com
meus dentes e o sigo com um beijo, então começo a rastejar meu
caminho para baixo em seu corpo novamente. — Você goza tão forte
quando eu faço isso, Freya. Você treme e chora, e é lindo para
caralho.
Ela geme baixinho.
— Olá? — Oliver chama.
Eu juro, ele tem vinte, mas parece ter quase doze. Não estamos
respondendo. Estamos em nosso quarto. O que ele pensa que
estamos fazendo?
Segurando os olhos de Freya, eu abaixo minha boca, sacudindo
sua pequena protuberância inchada suavemente com minha língua.
— Melhor responder ele — eu sussurro, deslizando dois dedos
dentro dela e movimentando-me de forma constante.
— O que? — Oliver pergunta pela porta.
— Falo sério, Freya. Certeza de que não trancamos a porta.
Ela estremece enquanto monta minha mão.
— Eu vou te afogar no mar por me torturar.

E d d d d
Eu paro meus dedos e sinto suas pernas tremerem ao redor do
meu toque antes de continuar a bombeá-los dentro dela.
— E eu vou merecer isso.
— Vai se foder, Oliver! — Ela grita enquanto eu trago minha boca
em seu corpo mais uma vez e a chupo rudemente. Enterrando seu
rosto no travesseiro, ela goza, chorando de alívio.
— Nossa — ele murmura. — Alguém acordou do lado errado da
cama. — Seus passos se afastam, depois somem.
Freya ofega por ar enquanto eu induzo onda após onda rítmica
de seu gozo. Finalmente, pressiono um beijo lento em sua coxa,
depois em seu estômago.
Ela me encara.
— Você acha que é engraçado?
Eu sorrio e roubo outro beijo onde ela é tão incrivelmente bonita
e sensível. Isso a faz suspirar e fechar as pernas em volta dos meus
ombros. Eu as abro e rastejo por seu corpo.
— Eu acho que você gozou espetacularmente. E se eu tivesse que
irritá-la um pouco para conseguir isso, então pagarei esse preço.
Seus olhos se estreitam enquanto ela tenta não sorrir.
— Eu deveria torturá-lo de volta — diz ela sombriamente.
— Você pode me afogar no mar. Assim como você prometeu. —
Eu pressiono um beijo em seu peito antes de me empurrar para fora
da cama. — Vamos lá.
22

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ O v e r t h e R a i n b o w ” - I s r a e l K a m a k a w i w o ʻ ole

— O — R . A sala de estar fica silenciosa. — Todo


mundo que vai na caminhada está aqui, certo?
— Não — Axel diz uniformemente, antes de se virar em direção
às escadas, colocar a mão na boca e gritar:
— Viggo! Oliver! Desçam aqui!
Os projetos de homem descem as escadas um momento depois,
sacolas de equipamentos balançando pesadamente em suas costas.
— Por que que diabos você está fazendo as malas? — Papai
pergunta. — Planejando acampar na selva?
— Lanches — Viggo murmura.
Eu acredito nisso. Tudo o que esses dois fazem é comer.
Oliver começa a passar por Ryder em direção à porta da frente.
— Sim. Lanches.
Ryder pega sua bolsa, parando Oliver em seu caminho, em
seguida, girando-o.
— Agora todos que vão estão aqui? Todo mundo tem sua água e
um pouco de comida para sobreviver?
Para um coro de afirmativas, Ryder se vira e abre a porta da
frente, conduzindo-nos para fora.
Frankie se afunda nas almofadas do sofá com o cobertor e abre
um sorriso de autossatisfação.
— O sofá e a TV. Só para mim.
Eu estreito meus olhos de brincadeira para ela.
— Sem se gabar. Alguns de nós foram forçados.
— Isso é problema seu — diz Frankie, apontando o controle
remoto para mim. — Você é legal demais. Você tem que aprender
minha palavra favorita. “Não”. “NÃO”. Tenho trabalhado isso no
Zenzero, mas olhe, lá está ele, preparado para esta caminhada,
embora ele vá acabar parecendo uma lagosta.
— Ei. — Ren se inclina sobre o sofá e a beija. — Estou de chapéu
e protetor solar de FPS 100 da cabeça aos pés.
Ela o beija novamente.
— Seja esperto e beba sua água. Te amo.
— Te amo — ele sussurra.
Eu sigo Ren, Aiden atrás de mim, enquanto entramos em nossa
enorme van alugada que nos levará trinta minutos de carro até a
trilha da cratera Ka'au. Estou nervosa ao ver papai sentar no banco
d fi l l
do motorista, não porque não confie nele ao volante, mas porque
sinto que uma caminhada que Ryder diz ser bastante técnica poderia
sobrecarregá-lo.
— Freya Linn — ele diz, ajustando os espelhos. — Pare de se
preocupar comigo. Eu vou ficar bem.
Pega.
Minhas bochechas esquentam.
— Ok, papai.
— Ok, papai — Viggo e Oliver repetiram zombeteiramente.
Aiden se vira para trás e dá um tapa na cabeça de cada um deles.
— Parem com isso.
Eles afundam em seus assentos, parecendo cachorrinhos tristes.
Eu olho para Aiden por um segundo. Ele sorri, então segura meu
pescoço, massageando suavemente. Meus dedos se enrolam no
estofamento e meu coração bate forte sob minhas costelas.
— Não deveriam ter feito isso — Ren diz a Viggo e Oliver. —
Zombaram da noiva do Frankenstein.
Ryder ronca.
Axel tosse.
Mamãe chia.
E Aiden faz uma careta para Ren.
— Esse foi o Frankenstein mais óbvio de todos os tempos. E
todos vocês sabem disso. Você estava me zoando.
A risada profunda de papai ecoa quando ele liga o motor.
— Eu só não queria que acabasse.
Eu mordo meu lábio e coloco minha mão em sua coxa. Aiden
tentou o seu melhor nas charadas na noite passada, mas ele ainda é
terrível. Foi uma daquelas familiaridades que fez meu coração
cantar. Porque, embora tivéssemos dificuldade em adivinhar e o
papagaio continuasse a chamá-lo de “gostoso” enquanto andava
pesadamente pela sala de estar, ele deu tudo de si. Eu o observei,
sem entender o que ele estava fazendo, enquanto ele me olhava tão
suplicante, como se eu tivesse que saber. E então ele riu de si mesmo,
caindo em meus braços quando o tempo acabou. E eu ri também. Eu
ri tanto que acordei com os músculos abdominais doloridos.
— Eu entendi — eu o lembro.
— Sim. — Aiden sorri, me cutucando. — Bem no fim do meu
tempo.
Eu aperto sua perna antes que ele deslize sua palma sob a minha
e enrede nossos dedos. Ele encontra meus olhos por um breve
momento, antes de seu olhar ir para a minha boca, depois para a
frente, na estrada enquanto papai sai.
Uma conversa silenciosa enche a van enquanto Kailua
desaparece atrás de nós e papai entra na 61-S. Willa ri de algo que
Ryder diz enquanto Ren e Ziggy discutem o guia de informações
d h d A l f
que Ryder trouxe para nossa caminhada. Axel se estica para frente,
respondendo a minha mãe quando ela se vira e pergunta algo que
não entendo, muito perdida na sensação da mão de Aiden
envolvendo a minha, o calor de nossos corpos próximos um do
outro.
Eu pressiono minha testa contra o vidro e vejo a beleza do
interior do Havaí se desdobrar diante dos meus olhos. À minha
direita, um borrão caleidoscópico de beleza ganha vida quando
papai faz a curva, depois diminui um pouco para que possamos
apreciar a vista. Montanhas verde-musgo rasgam o céu cor de safira
quando passamos por um rico pântano com a mesma cor vibrante
das montanhas acima dele.
Tendo passado minha vida no noroeste do Pacífico e depois no
sul da Califórnia, paisagens exuberantes e vistas do oceano não me
são estranhas, mas isso está muito além disso. É como o momento
em que Dorothy pisou na estrada de tijolos amarelos e Oz se tornou
um mundo colorido de tons de joias e superfícies ensolaradas. Um
outro nível de adorável.
— Então — Ryder diz limpando a garganta.
— Preparem-se — Willa nos diz. — O homem da montanha está
em seu habitat natural.
— Cale a boca — ele diz antes de apertar sua mandíbula e dar
um beijo forte em seus lábios. — À nossa direita, está Kawainui
Marsh. Kawainui significa “a grande água”, provavelmente porque
há muito tempo este era um grande estuarino…
— Deus te abençoe — Oliver fala.
Ryder lança um olhar mortal para ele.
— Um estuário é um corpo costeiro parcialmente fechado de água
salobra com pelo menos uma fonte de água doce, bem como uma
conexão com o oceano aberto.
— Obrigado — Oliver diz asperamente. — Não que eu tenha
perguntado.
— Não — Ryder admite — você não o fez. Você fez uma piada
sobre isso em vez de dizer o que realmente queria, que era saber do
que eu estava falando. Considere-se educado, apesar de seu orgulho
exagerado.
— Uiiiiiii — diz Viggo.
Oliver dá uma cotovelada forte nele e, para surpresa de ninguém,
eles começam a se esmurrar na fileira de trás, onde, sabiamente,
ninguém mais se juntou a eles.
— De qualquer forma — diz Willa. — Vá em frente, Lenhador.
Ryder pigarreia.
— Então Kawainui provavelmente era um corpo de água
estuarino na época em que a área foi colonizada. Hoje em dia, o
pântano está flutuando na água ou possivelmente crescendo em uma
d f fl d á é l l
esteira de turfa flutuando na água – o que é muito legal – e nas
partes mais altas do pântano, é essencialmente um prado
encharcado.
Ren tira uma foto com seu telefone e começa a digitar. Aposto
que ele está mandando uma mensagem de texto para Frankie.
— É lindo. Por que não fazemos a caminhada lá?
— Porque as vistas são muito melhores na trilha da cratera Ka'au
— Ryder diz a ele. — Várias cachoeiras, vistas incríveis de Kaneohe,
Kailua – onde fica nossa casa – Diamond Head e, claro, a cratera
Ka'au.
Papai diz:
— Como Ryder nos disse, é uma trilha muito difícil e não há
pressão para fazê-la toda. Faremos contato periodicamente e, se
alguém estiver se cansando, temos experiência o suficiente para nos
dividir em grupos. Qualquer um que estiver pronto para ir para casa
irá voltar comigo e mamãe, e eu os levarei, enquanto Ryder leva o
resto de vocês para fazer a caminhada completa. É apenas uma
viagem de trinta minutos até a casa, e estou feliz por ser o motorista
do ônibus.
Mamãe segura seu pescoço e sorri para ele enquanto papai coloca
a mão em sua coxa. Um nó se forma na minha garganta conforme eu
percebo que a cada dia que passa aqui, minha esperança cresce, mas
minha pergunta ainda é: Teremos isso? Será que vamos conseguir?
Eu olho para longe, para fora da janela, respirando lenta e
profundamente. A mão de Aiden aperta a minha, e posso jurar que
ouço sua voz, suave como um sussurro: Sim.

Bom. Se eu duvidava se estava ou não em forma, esta caminhada


confirmou.
Eu sou uma filha da puta fodona com músculos de aço. Quer
dizer, eu sei que meu trabalho é fisicamente exigente, mas até eu
estou me surpreendendo com o quão bem estou fazendo meu
caminho através disso.
À frente de todos, exceto Ryder, que lidera, agarro uma corda
estabilizadora quando piso em um local escorregadio, encontrando
outra goiaba na trilha. Viggo já comeu duas.
Os sons da vida selvagem, a vitalidade da selva ao nosso redor,
são de tirar o fôlego. Nossa caminhada também é de tirar o fôlego.
Como respirar. Exceto para mim. Porque eu sou uma besta.
— Droga, Frey — Ryder bufa, olhando por cima do ombro. —
Você está pressionando meu ritmo.
Limpo minha testa, que está pingando de suor. Está um pouco
mais de 28 graus, mas com a umidade, parece estar fazendo mais de

h h d d E h d
32. Minhas roupas estão encharcadas de suor. Eu estou cheirando
como um animal de celeiro.
É glorioso para caralho.
— Ela sempre foi uma caçadora de endorfina — papai bufa,
seu ímpeto começando a diminuir. Todos nós olhamos para trás e
diminuímos sutilmente o ritmo também, até que chegamos a uma
parada natural em um grande trecho da trilha.
— Quando ela tinha três anos, ela me fazia cronometrar suas
corridas pelo quintal e contar suas flexões. Eu fazia minha rotina de
fisioterapia, e ela fazia tudo certo comigo. Dizendo: “Vamos, papai,
não desista!” — Meu pai ri baixinho enquanto enxuga a testa. — Eu
não poderia pular meus exercícios nem se eu quisesse.
Eu me sinto corar.
— E foi assim que Freya se apaixonou pela fisioterapia — Aiden
diz baixinho, roçando os nós dos dedos contra os meus.
— Ugh — Willa geme. — O que aconteceu comigo? Eu acabei
chorando. — Ela se vira para Ryder. — Eu sou oficialmente uma
molenga agora?
Ryder sorri e acaricia sua bochecha.
— Tem um tempo que você se tornou uma.
— Droga — ela reclama.
Mamãe sorri e coloca as mãos nos quadris, respirando fundo.
— Ela dizia: “Eu quero ser forte, assim como o papai”. Ele estava
muito em forma naquela época.
Papai franze a testa.
— Com licença, esposa. Estava?
Mamãe ri, sua voz rouca como a minha, aparecendo no silêncio
da trilha.
— Eu sinto muito. Estava. Está. Sempre estará.
— Isso faz mais sentido — Papai tira a tampa da água e entrega o
cantil para ela, observando-a beber, sinalizando para continuar. —
Mais, Elin.
Ela revira os olhos e bebe mais. Abaixando a garrafa, mamãe
enxuga a boca e suspira.
— Bom. Seu pai está disposto para caminhada, mas aquela
prótese não. E estou ficando cansada. Pronto para voltar, Alex?
Papai sorri.
— Claro, querida. Alguém mais pronto para voltar?
Os olhos de Axel deixam a copa da árvore que ele está
observando em silêncio.
— Sim, eu estou.
— O mesmo aqui — Ren diz, a mão dentro do bolso em torno de
seu telefone. — Estou sem sinal de celular e isso está me deixando
preocupado. Eu quero voltar para Frankie.
Mamãe manda um beijo para todos nós.
E ê d d ê l d
— Eu amo vocês, cada um de vocês. Fiquem seguros — ela diz
para nós, antes que ela e papai se virem e comecem a trilhar o
caminho.
Depois de estarem descendo a trilha, Willa se vira e diz:
— Ok, continue andando. Isso é divertido e tudo, mas eu tenho
uma praia chamando por mim.
Ryder estende a mão, que ela pega.
— Vamos, raio de sol.
Quando me viro para continuar também, meu pé escorrega.
Antes que eu possa gritar ou agarrar a corda de estabilização, as
mãos de Aiden estão na minha cintura, me segurando com força e
me firmando.
— Tudo bem? — ele pergunta baixinho.
O calor sobe pela minha pele com seu aperto forte. Eu engulo em
seco.
— S-sim.
Ziggy passa por nós correndo, antes que Oliver e Viggo a sigam,
discutindo sobre algo, como de costume.
Estou com muito tesão. Porque depois das mímicas que duraram
horas e todos nós ficamos um pouco bêbados, Aiden e eu escovamos
os dentes com a visão turva e adormecemos nos beijando, enrolados
na cama. E então eu acordei, esperando muito continuar de onde
paramos, mas não, Ryder estava batendo nas portas dizendo às
pessoas para se levantarem e saírem, para que não estivéssemos
caminhando no calor do meio-dia.
— Você parece distraída — ele diz. — O que está errado?
— Nada que caminhar com meus irmãos vá curar — murmuro.
Aiden tosse por trás de um punho.
— Não acredito que adormecemos ontem à noite.
— Certo? Quantos anos nós temos?
— Bem, você não tem desculpa. Eu, no entanto, estou no final dos
trinta anos — diz ele.
— Oh, por favor. Trinta e seis não é o final dos trinta.
— Com certeza a matemática é a minha área, Bergman. — Ele
suavemente bate na minha bunda e me passa, dando um sorriso
deslumbrante. — Trinta e seis arredonda para quarenta.
Eu corro para alcançá-lo.
— Eu odeio quando você faz isso.
Ele se inclina e abaixa a voz.
— Normalmente não é o que sua calcinha diz depois.
— Aiden! — Eu sibilo, sacudindo minha cabeça em direção a
Ziggy, que não está muito longe de nós.
— O que? Eu falei baixo.
— Não tão baixo.

Ad d l l d
Aiden de repente me puxa pelo cotovelo e me prende contra uma
árvore, sua casca úmida cavando em minhas costas, as folhas escuras
formando um dossel secreto ao nosso redor.
Sua boca é quente na minha, firme e faminta. Enfio meus dedos
em seu cabelo, as ondas tão definidas por conta da umidade do
Havaí, são quase cachos. Ele geme e me puxa para perto quando eu
arrasto minhas unhas ao longo de seu couro cabeludo, fundindo
nossos corpos quentes e encharcados de suor.
— Nós vamos perdê-los — murmura Aiden.
— É um caminho bem marcado — digo entre beijos, puxando-o
ainda mais perto. — Vamos parar na primeira cachoeira. Nós
ficaremos bem.
As mãos de Aiden afundam em meu cabelo enquanto nossos
beijos ficam mais quentes, mais lentos, línguas dançando. Meu toque
vagueia pelos planos de seu peito, descendo por seu estômago. Ele
estremece e se afasta para dar um beijo na minha têmpora, depois na
minha bochecha. Sua língua dispara, sente o gosto do suor da minha
pele e Aiden geme, balançando sua pélvis contra a minha. Estou a
exatamente sete segundos de nos arrastar para trás desta árvore e
dizer à Dra. Dietrich que sua regra de não sexo pode ir dar uma
caminhada ao em vez de nós.
— Gente? — Viggo chama do alto do caminho. — Estão
chegando?
Aiden morde meu pescoço em frustração e geme antes de se virar
e me prender com mais um beijo forte.
Saindo de debaixo da árvore, alcançamos rapidamente Viggo,
que está descascando outra goiaba. Ele ergue uma sobrancelha.
— Estão se comportando, crianças?
— Espero que você engasgue — murmura Aiden, arrastando-nos
por ele.
Viggo sorri e dá um passo atrás de mim enquanto fazemos uma
curva no caminho.
Uma sensação de formigamento sobe pela minha espinha
enquanto viramos a curva. Ziggy está encostado em uma árvore –
pernas longas cruzadas nos tornozelos enquanto ela olha para o
guia.
— Onde estão Willa e Ryder? — Aiden pergunta.
Ziggy ergue os olhos.
— Não sou a observadora mais astuta do comportamento
humano, mas até eu poderia dizer que eles queriam um pouco de
tempo sozinhos. Eu os deixei ir um pouco adiante.
Aiden sorri e olha para mim.
— Viu? As caminhadas são sentimentais para eles. Porque me
intrometi e os coloquei no caminho da bem-aventurança.
Eu rolo meus olhos.
E h l á l ê b d
— Eu quase achei tolerável, se você não se gabasse disso.
Seu sorriso se aprofunda enquanto ele ri, fazendo tantos
momentos de nossos primeiros anos passarem pela minha mente -
quando éramos jovens, mesmo com tão pouco, de alguma forma
muito mais felizes e próximos. Tento afastar minhas preocupações
sobre quando estivermos em casa e a vida estiver agitada e nossas
demandas profissionais nos arrastarem para uma dúzia de direções
diferentes. Tento ficar no aqui e agora, grata pelo que esta semana
nos deu. Porque eu sei que fugir nos forçou a encarar um ao outro de
uma forma que estar em casa nunca faria. E, no entanto, parte de
mim tem medo de que voltar para casa abale o que começamos
provisoriamente, isolados do mundo exterior e de suas incontáveis
pressões.
Como se ele sentisse meus pensamentos em espiral, o polegar de
Aiden circula minha palma.
— Cuidado com os pés, Frey — ele diz gentilmente.
Quando eu olho para cima e me concentro na trilha, percebo que
não estamos apenas sentindo falta de Willa e Ryder também.
— Onde está Oliver?
Viggo joga a casca da goiaba e enfia no bolso o canivete suíço que
pegou de casa.
— Hm?
— Oliver — eu digo com firmeza. — Doze meses mais jovem que
você? Parece com você, mas com cabelos loiros e uma tendência
ainda pior para as travessuras? Sabe de quem estou falando?
— Oh — diz Viggo casualmente, olhando ao redor. — Tenho
certeza que ele está à frente perturbando Willa e Ryder.
Ziggy guarda seu guia e empurra a árvore.
— Ele disse que precisava fazer xixi.
— Ah. — Eu olho ao redor. — Não deve demorar tanto, então.
Aiden solta minha mão e acelera o ritmo.
— Vou dar uma olhada na trilha mais à frente.
— Espere, Aiden. — Eu corro atrás dele, me sentindo
desconfortável com alguma coisa, mas sem saber o quê. Eu não o
quero fora da minha vista.
Ele olha por cima do ombro e franze a testa.
— Freya, fique para trás e fique de olho em Ziggy e Viggo.
— Ziggy é um bom ponto, mas Viggo tem 21 anos de problemas
infernais. Ele vai cuidar de si mesmo. — Eu volto e chamo Ziggy. —
Vamos, Zigs.
Ela acelera o passo, me dando um olhar sofredor.
— Sim, mãe.
Eu gentilmente ajeito sua longa trança vermelha.
— Não deboche. Estamos na selva. E eu me importo com você.
Sorrindo, ela caminha comigo.
d êf l d
— Bem, quando você fala dessa maneira.
Encontramo-nos em uma ladeira na trilha que nos faz descer
correndo uma pequena colina, depois subir pelo outro lado, em
direção a uma curva cega ao longo de um ponto estreito no caminho
que dá para uma queda acentuada. Eu fico mais perto da borda da
floresta e arrasto Ziggy comigo, então ela está contida com
segurança longe da borda.
No meio da colina, Aiden tropeça e xinga baixinho. Caindo sobre
um joelho, ele amarra sua bota desamarrada.
— Vá em frente — ele diz. — Estou chegando.
Ziggy e eu corremos a parte final da colina, bufando e suspirando
enquanto viramos a curva, então ficamos cara a cara com a última
coisa que eu esperava no meio de uma selva havaiana: um homem
alto em um circo completo equipamento completo, com uma
horrível cara de palhaço.
Isso me assusta para um caralho.
Gritando em conjunto, nós nos assustamos violentamente. Mas
enquanto Ziggy cai com segurança em direção às árvores, onde a
coloquei propositalmente, caio em direção à beira, tropeçando em
uma raiz.
E então estou me lançando para trás, com nada além do silêncio
aterrorizante de uma queda girando ao meu redor.
23

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ V i d e o G a m e s ” - Tr i x i e M a t t e l

M em que ouço Freya gritar.


Então percebo que Ziggy também está gritando. E então meu
coração dá um salto quando um cara com roupa de palhaço voa em
direção a Freya, tentando desesperadamente pegá-la – Freya, que
está caindo, tropeçando na beira de uma colina cuja altura não tenho
tempo de calcular, mas só sei que não posso arriscar.
Eu não sei explicar como, em um piscar de olhos, eu voei até o
fim da colina, me lançando em direção a Freya enquanto seus braços
giravam e ela começava a cair da borda. O palhaço segura sua mão,
o suficiente para diminuir sua queda, antes que eu agarre um
punhado do tecido de sua camisa e use todas as minhas forças para
puxá-la em minha direção, me jogando para frente como um
contrapeso. Eu ouço o corpo de Freya se conectar com a terra, um
suspiro coletivo de alívio ao nosso redor.
E então o som agudo da minha esposa gritando enquanto eu voo
no ar.
Dizem que a queda acontece em um instante. Mas para mim,
aconteceu em uma câmera lenta e misericordiosa. Minha cabeça vai
para trás quando percebo que há um banco de terra abaixo de mim.
Talvez seis metros. Posso cair lá e não avançar mais na selva abaixo.
Esperançosamente.
É instintivo, meus músculos relembrando o que aprendi, porque
sou aquele cara que realmente estudou como cair com segurança.
Você nunca sabe quando terá que pular de um prédio de vários
andares e tentar não morrer. Eu sei dobrar minhas pernas e mantê-
las juntas para me preparar para o impacto, de modo que não frature
minha coluna ou minha cabeça. Pode apostar que tenho certeza de
que estou preparado.
Mesmo que o banco de terra esteja se aproximando, é estreito, e
há uma chance de eu virar e cair para... bem, minha morte,
provavelmente. Tenho que me desacelerar, diminuir o ímpeto, então
estendo a mão, agarrando tudo que posso, e encontro uma rama
que minha mão de alguma forma agarra.
Freya grita novamente. Eu ouço, longe, mas perto. Eu quero
gritar de volta que estou bem, dizer a ela que não precisa se
preocupar, mas quando eu agarro a rama com minha outra mão, e o

lh f d b l b
galho fraco começa a se dobrar, então estala, eu percebo que não
devo fazer promessas que não posso cumprir.
É quando meu aperto falha, e eu caio, por um momento
aterrorizante, invertido, até que eu possa me dobrar para poder
pousar com os pés primeiro. E eu faço, com um estalo nauseante que
envia uma dor incandescente que queima em meu braço esquerdo.
Viggo grita algo, mas não consigo processar. Tudo que sei é que
parei de cair e estou seguro. Por enquanto.
As vozes se embaralham, uma mistura selvagem de um discurso
urgente que ainda não consigo entender. Meu corpo está inundado
de adrenalina, meus ouvidos zumbem. Não consigo recuperar o
fôlego, seja por pânico ou porque perdi o ar, ou ambos.
— Eu peguei você, Aiden! — Ryder grita parando ao meu lado
com um complexo arranjo de cordas ligadas à sua cintura, ancoradas
por suas mãos. — Ei. Você consegue sentir suas mãos e pés?
— Infelizmente — eu suspiro. — Meu braço esquerdo. Não toque
nele.
Ryder exala asperamente.
— Ok. Vou tentar mover você. Segure-se com o braço direito,
travado em volta de mim.
A voz de Viggo o segue.
— Vá devagar.
De alguma forma, somos içados ao longo da colina, Ryder
segurando meu braço não machucado com força por cima do ombro,
treinando-me para subir a parte íngreme do caminho enquanto ele
nos escora com uma corda, até que mais mãos do que eu posso
contar estão me arrastando na trilha.
— Aiden! — Freya murmura. Sua voz é fina e frágil, como vidro
que foi soprado demais.
— Eu estou bem — eu murmuro densamente. Meus olhos estão
fechados, meu coração disparado. Não tenho certeza se não estou
morto. Minha cabeça dói. Minhas costas doem. Meu braço está
doendo muito. Com minha mão boa, vagueio pela terra até senti-la.
— Você está bem? — Eu pergunto.
Um soluço salta de Freya.
— Aiden, estou bem. V-você quase se matou.
— Você ou eu — murmuro. — Era uma escolha fácil. — Minha
mão vagueia pelo meu corpo, enquanto tento me orientar. E é então
que sinto sua ausência no meu pescoço.
— Minha corrente! — Eu grito com a voz rouca. Meus olhos se
abrem enquanto procuro visualmente o chão.
— Aiden, calma. — Freya coloca a mão no meu peito, me
acalmando. — Ela se perdeu.
— Não. — Meu coração bate forte. Essa corrente... não posso
perdê-la.
El lh
Ela procura meus olhos.
— Ela significa muito para você?
Eu fico olhando para ela, uma fúria magoada tingindo minha
expressão.
— Claro que sim, Freya. Eu disse que nunca a tirei. Eu toco ela
todos os dias. Isso significa uma porrada de coisas para mim.
— Do que ele está falando? — Ryder pergunta.
Freya balança a cabeça.
— Foi... foi meu presente de casamento para ele. Era apenas um
pingente com uma pequena inscrição.
— Não era apenas um pingente — digo a Ryder. — Você pode
olhar? Ver se está aí?
Ryder fica onde está.
— Vou tentar, Aiden.
Minha cabeça cai de volta para a terra, latejando dolorosamente.
— Eu a perdi — eu sussurro.
— O que nós fazemos? — A voz de Ziggy corta, trêmula e baixa.
— Devo ligar para o papai?
— Não, ainda não — Freya diz. — Apenas me dê um segundo
para pensar e entender os ferimentos dele. — Suas mãos estão
quentes contra meu rosto e eu suspiro. Ela se inclina sobre mim,
inclinando-se perto. — Urso, sei que você está chateado com a
corrente, mas agora preciso que você me diga o que dói.
— Hum — eu digo asperamente, engolindo e lambendo meus
lábios. Minha boca parece que está cheia de algodão. — As costelas
doem. O braço esquerdo é o pior.
— É isso?
— Dói muito.
— Oh, Aiden, isso é bom. — Sinto as mãos de Freya tremendo. —
Graças a Deus.
Sinto o silêncio dos projetos de homem.
Até que um deles faz a idiotice de abrir a boca.
Oliver arranca seu nariz de palhaço vermelho e diz:
— Freya…
— Não fale! — ela estala, suas mãos examinando meu braço
esquerdo. — Apenas cale a boca e fique feliz por não ter
simplesmente matado meu marido.
Silêncio absoluto.
Eu estremeço quando ela atinge o ponto sensível, antes de ela
começar a flexioná-lo lentamente.
— Porra. — Eu me afasto. Meu estômago se revira de náusea de
dor.
— Está quebrado — ela murmura.
— Muito quebrado? — Ryder pergunta.
Freya não diz nada. O que significa sim.
E b E lh l
— Estou bem, Freya. — Eu olho para cima e a vejo, realmente a
vejo. A linda Freya, seu cabelo loiro branco formando uma auréola
ao redor da cabeça, refletindo a luz do sol do final da manhã. Olhos
azul-acinzentados pálidos e úmidos com lágrimas não derramadas.
Ela se inclina sobre mim novamente, me beijando e me beijando.
Eu sinto suas lágrimas molhadas em seu rosto.
— Aiden.
— Shh. — Eu a aperto contra mim com meu braço que não lateja.
— Está tudo bem.
Ela está bem. Isso é tudo que importa. Eu simplesmente vou ser
assombrado por aquela imagem, digna de um pesadelo, dela
oscilando à beira da colina pelo resto da minha vida.
— Estou bem. — Lentamente, sento-me para provar a todos –
inclusive a mim mesmo – que não estou destruído. A dor corta
minhas costelas e o braço esquerdo. — Estou brincando. Posso
vomitar.
Ryder se agacha ao meu lado e coloca a mão nas minhas costas.
— Respire com calma e devagar. Willa está pegando sua água.
Freya se levanta e aponta o dedo para Viggo e Oliver.
— Que porra vocês estavam pensando?
Viggo olha para o chão. Porque, embora ele não usasse a máscara
e o traje de palhaço, aposto cinquenta dólares que ele ajudou a
embalá-los. Deve ser por isso que suas malas eram tão grandes.
Oliver se abaixa ao nosso lado e aperta minha mão boa. Ele olha
para Freya, depois para mim.
— Estou tão, tão arrependido. Eu… — Sua mão está tremendo,
seus olhos molhados de lágrimas. — Eu pensei que Freya, então
você, fosse morrer por minha causa, e eu nunca quis…
Freya suspira.
— Ollie, ninguém morreu.
— Mas poderiam!
Eu dou um tapinha em seu ombro suavemente.
— Eu estou bem, amigo. Freya também.
Viggo está de pé sobre nós, olhando para Freya por entre os
cílios, como um cachorrinho pego mijando no tapete.
— Foi uma tentativa de merda de retrucar sua pegadinha de
palhaço conosco.
— Ohhh — Willa diz, olhos arregalados. — Você quer dizer
aquela que ela fez na sua festa de aniversário? Foi muito boa.
— Na verdade, foi horrível — diz Viggo.
— Isso foi há um ano! — Freya grita.
— Eu sei — Viggo diz — Ok? Foi infantil. Claramente, nós nos
arrependemos.
— Foi ideia minha — Oliver desabafa, olhando miseravelmente
para ela. — Para fazer algo para ajudar vocês. E Viggo apontou que
h bô d ld b lh
tinha o bônus adicional de acertar as contas sobre o palhaço.
Nós dois franzimos a testa para Oliver.
— O que?
Ollie suspira.
— Em meu curso de psicologia humana nesta primavera, eles nos
ensinaram como o trauma une as pessoas. Vocês dois odeiam
palhaços…
— Todo mundo odeia palhaços — Freya e eu gritamos.
— Justo — ele admite. — Quero dizer, nem todos, mas isso não é
nem aqui nem lá. Então, pensei que um bom susto poderia ajudar as
coisas com vocês dois. Eu estava até pronto para pegar um gancho
de direita de Aiden por isso. Viggo deveria ter certeza de que vocês
estavam juntos na trilha.
Viggo ergue as mãos.
— Eu estava tentando, ok? Você não esperou pelo meu assovio.
— Oh, certo. Isso é tudo minha culpa.
— Vendo que você é o idiota que pulou antes da hora em uma
parte estreita da trilha, eu diria que sim, Oliver, é…
— Chega — Eu não grito, mas é a minha voz de professor.
Aquela que carrega e comanda a atenção. Silenciosos, os olhos de
Viggo e Oliver se voltam para mim. — Não adianta apontar dedos.
Foi idiota. Vocês não deveriam ter feito isso. Mas acabou.
Willa se agacha e coloca minha garrafa de água na minha mão
boa.
— Você está bem, Mac?
Eu aceno, em seguida, dou um gole curto na água.
Ryder pega a garrafa de mim e fecha a tampa, olhando furioso
para Oliver e Viggo.
— Vocês sabem, em algum ponto vocês dois vão ter que crescer,
certo?
Ambos lançam olhares petulantes a ele.
— Eu disse que sinto muito — Oliver rosna.
Viggo estreita os olhos.
— Você é uma ótima pessoa para dar palestras sobre pegadinhas.
Freya se inclina sobre mim no modo fisioterapeuta enquanto eu
tento desajeitadamente me levantar, colocando-me facilmente de pé.
— Deixe assim, Ryder — eu dirijo rudemente.
O rosto de Viggo pisca com um sorriso agradecido antes que ele
o esconda sob o olhar severo de Freya.
O braço de Freya está firme em volta da minha cintura, me
ancorando contra ela.
— Eu amo vocês dois — ela diz aos filhotes de homem. — Nada
muda isso. Dito isso, vocês precisam saber se o que vocês fizeram
passou do limite. Eu entendo porque vocês estão indo tão longe. —
Seu olhar vagueia entre eles. — Porque você quer que nós
b Ad
superemos isso. Porque, embora Aiden e eu não sejamos mamãe e
papai, somos importantes para vocês – nós, como um casal. Aiden é
família, um irmão para vocês, e vocês o amam. Vocês estão com
medo de qualquer mudança. Mas não é assim que as coisas são
consertadas, pessoal. Aiden e eu estamos trabalhando em nós.
Estamos comprometidos com isso. Deixe-nos em paz.
Minha garganta fica espessa quando sua mão aperta meu lado. É
a primeira vez que a ouço dizer isso. Quando ela me disse que me
amava, agarrei-me a isso como uma tábua de salvação. Mas isso?
Aiden e eu estamos trabalhando em nós. Estamos comprometidos com
isso.
Parece que finalmente estou chegando à terra firme, segura e
certo, depois de muito tempo mal segurando minha cabeça acima da
água.
Eu vejo Freya ainda dando uma palestra para eles, e me sinto
muito sortudo. Não, não tive sorte. O acaso não está em jogo aqui. É
uma escolha. Freya me escolheu. E eu me sinto muito grato. Então,
muito grato.
Os projetos de homem olham para o chão com culpa, arrastando
os pés no caminho de terra.
Oliver olha para cima e morde o lábio inferior novamente.
— Eu não vou conseguir dizer suficientemente o quanto estou
arrependido.
Viggo ergue os olhos em seguida e acena com a cabeça.
— Eu também.
— Perdoados — digo a eles. — Mas talvez... Talvez este seja um
momento de aprendizagem. Talvez seja hora de deixar as
pegadinhas de lado. Pelo menos, pegadinhas como essa. Limitem-se
a almofadas grudentas e Oreos cheios de pasta de dente. Mas sem
mais intromissões ou coisas perigosas. Não assim, pessoal.
Ambos concordam miseravelmente.
À medida que o tempo passa enquanto estou de pé, o mundo
começa a dançar com as estrelas. Quando tento dar um passo para
me equilibrar, movendo por reflexo meu braço machucado para me
equilibrar, a dor me atinge, tão insuportável que cambaleio e então
meus joelhos cedem. E, sim, estou seguro o suficiente de minha
masculinidade para admitir o que vem a seguir.
Eu desmaiei.
Acordando do sono, estou dolorido e desorientado. Os lábios de
Freya, suaves e gentis, traçam meu rosto.
— Freya.
Ela sorri contra minha pele.
— Aiden. Trouxe mais ibuprofeno para você.
Eu gemo.
f
— Não funciona.
— Eu sei — diz ela com simpatia. — Fraturas compostas doem
pra caralho. Mas é por isso que estou aqui.
Meus olhos se abrem turvos e a observam. Eles se arregalam.
Porque tudo que ela está vestindo é uma das minhas camisetas. Sem
sutiã. Sem calcinha. O tecido esticou, ficando apertado em seus seios.
O ar sai de mim.
— Freya, quero fazer tantas coisas com você agora, mas não
posso.
— Você não tem que fazer nada — ela sussurra. — Sabe quando
você passa os dedos pelo meu cabelo, massageia minhas pernas
depois de um longo dia com pacientes? Como você me beija em
todos os lugares, exceto nesses lugares, e isso me deixa louca?
Eu procuro seus olhos.
— Sim.
Ela sorri, luminosa, deslumbrante ao luar que preenche nosso
quarto.
— Eu quero fazer isso com você.
Seu toque vagueia pelo meu peito, redemoinhos suaves de seus
dedos que fazem minha pele estalar com consciência. Fechei meus
olhos, meu coração batendo ansiosamente no meu peito. Uma
colmeia de preocupações, zumbindo zangada, enxameia meus
pensamentos.
— Aiden? — ela diz baixinho. — Eu quero distraí-lo, ajudá-lo a
relaxar.
Meus olhos piscam e abrem. Eu olho para ela.
— Como?
Ela acaricia minha bochecha.
— Vou apenas tocar em você. Beijar você. Fazer você se sentir
bem. Existem muitos lugares em seu corpo para fazer isso. —
Pressionando seus lábios no meu peito, ela respira profundamente e
afunda os dentes na minha pele. Eu respiro, enquanto o calor desce
pelo meu estômago. Seus olhos encontram os meus novamente.
— O que você acha? — ela sussurra.
Depois de um longo silêncio, eu a puxo para perto e lhe dou um
beijo suave.
— Tudo bem.
Freya se inclina enquanto sua mão vagueia pelo meu estômago.
— Feche os olhos — ela diz.
— Por que não posso olhar?
Ela se inclina mais perto, seus mamilos tensos roçam meu peito
através de sua camiseta. Eu gemo enquanto ela me beija.
— Porque eu disse. Agora feche os olhos.
Eu a obedeço, fechando os olhos. O mundo fica escuro e
silencioso, o único som, é de Freya saindo da cama. Uma gaveta se
b d f h l b l h
abre, depois se fecha, antes que ela suba no colchão e monte em mim
novamente. Minha mão vagueia por sua coxa, mas sua mão me
segura. Intencionalmente, ela pressiona meu pulso ileso contra o
colchão.
— Comporte-se — ela diz rapidamente, dando um tapa na lateral
da minha bunda.
Um raio de luxúria me atinge.
— Jesus, Freya.
Ela ri para si mesma.
— Há um novo chefe na cidade, MacCormack. Agora respire
fundo.
Enquanto eu faço isso, suas mãos deslizam pelo meu estômago,
escorregadias e quentes com óleo. Ela trabalha em meus ombros,
meus braços, cada dedo. Em seguida, minhas coxas, depois as
panturrilhas, que ela esfrega lentamente, amassando os dedos
profundamente e com força. Eu sinto a força em seu toque, o poder
em seu corpo.
E eu sinto seu amor.
— Se alguma coisa doer ou você se cansar disso — ela diz — Me
fale. Ok? Podemos parar quando quiser.
Eu balancei minha cabeça. Meu corpo está pesado, minha mente
em branco. Parece shavasana no convés na outra manhã.
— Está ótimo.
— Bom. — Eu ouço o sorriso em sua voz. Seu toque se move para
meus pés, massageando a curva deles, esticando meus dedos dos
pés, até que ela se move de volta para minhas pernas. Ela para nos
meus quadris, esfregando as palmas em círculos profundos ao redor
da minha virilha. Eu fico tenso contra eles no início, tão
autoconsciente dessa parte do meu corpo, como fiquei frustrado com
isso. Mas o toque de Freya derrete essa tensão, e meus quadris
respondem instintivamente, empurrando contra ela, a dor familiar
crescendo em meu pau.
Mesmo assim, não penso nisso além de uma observação fugaz.
Não estou fixado em saber se estou pronto para ela, não estou
preocupado com a performance, antecipando como torná-la boa para
nós. Estou apenas... sentindo. Em seguida, suas palmas se achatam,
deslizando pelo meu peito. Seus polegares circulam meus mamilos,
mas não é um toque provocador. Eles ficam lá, circulando
hipnoticamente, construindo uma sensação que eu não tinha ideia
que podia sentir.
— Você gosta disso? — ela pergunta baixinho.
Eu concordo.
— Muito.
Lentamente, Freya sobe mais alto na minha barriga, suas mãos
nunca me deixando. Ela se inclina sobre mim, provocando
d lí b í l
movimentos suaves de sua língua contra os bicos sensíveis que ela
persuadiu sob seus polegares. Ela é implacável, conforme os minutos
passam e ela faz coisas no meu peito e mamilos que eu nunca senti
antes. Beliscadas e mordidas, golpes longos e torturantes de sua
língua. Um gemido rola para fora de mim. Estou com calor e
excitado, com fome de algo que nem consigo nomear, exceto que
quero mais, mais forte, mais longo.
Suas mãos percorrem minha cintura, que parece estar tomada
com mil pontos sensíveis, mais do que nunca. Minha pele está
elétrica, minha respiração tensa. E quando seu toque vagueia mais
baixo, segurando minha bunda, amassando-a, eu percebo que estou
balançando debaixo dela, a construção familiar de liberação
próxima, um relâmpago brilhante, quente e urgente. Beijos longos e
fortes sobem pelo meu pescoço. Sentir seus seios roçando meu peito
supersensível é uma agonia incrivelmente prazerosa.
— Freya. — Eu levanto meus joelhos, desesperado, perseguindo
a liberação.
— Sim, Aiden — ela sussurra.
Arrasto sua boca para a minha, enterrando meus sons enquanto
gozo de forma inesperada, áspera, derramando em jatos longos e
duros que pintam meu estômago. O toque de Freya me acalma
enquanto ela murmura baixinho contra meu pescoço e dá um último
beijo. Ofegante, coloco minha cabeça no travesseiro.
Freya sorri e tira meu cabelo do rosto.
— Viu? Distraí você, não fiz?
Eu fico olhando para ela com admiração.
— O que é que foi isso? — Eu pergunto com voz rouca. Freya e
eu somos bastante aventureiros, mas esta é a primeira vez. Eu nunca
gozei sem me tocar.
Ela me beija novamente.
— Você pensaria em quantas vezes gostaria de fazer isso comigo,
você sabe. — Seus olhos procuram os meus enquanto seu sorriso se
aprofunda. — Você acabou de ter seu primeiro orgasmo induzido
pelos mamilos, meu amigo. Bem vindo. É um mundo maravilhoso,
não é?
Atordoado, emocionado, aliviado, eu a puxo para perto de mim.
— Eu não tenho certeza — eu sussurro, arrastando a camisa por
seu corpo e dando um beijo carinhoso em um de seus seios macios.
— Melhor confirmar as evidências com você também.
24

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ 1 2 3 4 ” - Fe i st

C , , deito com o rosto voltado para o sol,


absorvendo a voz de Aiden enquanto ele lê Persuasão. Sem sotaque
britânico – estraga-prazeres –, mas profundo e caloroso. Arrepios
dançam na minha pele enquanto ele lê a carta de Wentworth para
Anne. Sua interpretação é urgente e comovente, sua voz suave,
apenas para meus ouvidos. Lágrimas aparecem em meus olhos.
— “Já não consigo ouvir em silêncio. Devo falar com você pelos meios
que estão ao meu alcance. Você perfura minha alma. Estou metade em
agonia, metade com esperança. Não me diga que cheguei tarde demais, que
esses sentimentos preciosos se foram para sempre...”
Quando Aiden faz uma pausa, eu abro os olhos. Ele morde o
lábio.
— Merda — ele murmura, beliscando a ponte de seu nariz. — Ela
está me destruindo.
Eu aperto sua mão, então corro minha mão ao longo de seu
antebraço.
— É um momento lindo.
— Se por bonito você quer dizer rasgar meu coração em pedaços
e me fazer chorar em uma praia pública, então sim.
Uma risada pula de mim.
— Urso. — Eu levo sua mão à minha boca e a beijo. Aiden limpa
a garganta e ajusta seus óculos de sol.
— Ok — diz ele. — Continuando.
— “Eu me ofereço a você, de novo, com um coração ainda mais seu do
que quando você quase o quebrou, oito anos e meio atrás. Não ouse dizer que
o homem se esquece mais cedo do que a mulher, que seu amor morreu mais
cedo. Eu não amei ninguém além de você. Posso ter sido injusto, fraco e
ressentido tenho sido, mas nunca inconstante”.
Quando Aiden termina a carta de Wentworth, eu fico olhando
para ele, tendo um vislumbre do que estamos nos tornando –
individualmente, juntos. Algo mais novo, paradoxalmente mais
suave, depois de tudo o que sustentamos e resistimos. Eu nunca
soube que poderia amá-lo de maneira diferente, que algo que
parecia total e completo no dia em que me casei com ele poderia
evoluir para uma expressão mais profunda e complexa. Mas eu
percebo quando ele fecha meu livro e pressiona um beijo em meus
lábios – eu sei.
A l d d ó l l
— Agora — ele diz, retirando sua própria leitura. — De volta ao
meu livro. O que até agora não me fez chorar, muito obrigado.
Eu me inclino e roubo mais um beijo.
— Como é?
Aiden me olha, óculos escuros protegendo seus olhos enquanto
ele mexe as sobrancelhas.
— Bom. Acho que eles vão finalmente transar.
Nossos olhares se encontram. Meu aperto na cadeira de praia
quase esmaga seus braços.
As últimas noites foram o tipo de tortura de que só me lembro
das duas semanas que antecederam nosso casamento, quando tive a
brilhante ideia de sermos celibatários e limpar nossa memória RAM
sexual. Eu queria que Aiden me olhasse de uma maneira diferente
quando ele tirou meu vestido. Eu queria que houvesse uma ponta de
necessidade e desejo que eu já senti mudando quando nos
começamos a morar juntos, estabelecendo uma rotina que abrandou
nosso desespero.
Nossa noite de núpcias foi explosiva. E assim como na noite do
meu jantar de ensaio, sinto que estou prestes a explodir. Beijos lentos
e profundos. Toques vagando pelo corpo um do outro, provocando,
persuadindo a sensação e o desejo de partes de mim que esqueci que
podiam ser tão deliciosamente sensíveis.
— Bem… — Eu limpo minha garganta e tomo um gole da minha
garrafa de água. — Bom. Pelo menos alguém está.
Aiden bufa uma risada e coloca sua mão sobre a minha,
deslizando nossos dedos juntos.
— Amanhã vamos para casa.
E temos uma consulta de aconselhamento matrimonial no dia
seguinte com a Dra. Dietrich. Quem pode nos dar o sinal verde para
o sexo novamente.
— Sim — eu sussurro.
Ele leva minha mão à boca e beija meus dedos suavemente, um
por um. Abaixando minha mão, ele desliza o dedo sobre meu anel,
girando-o e revelando a linha bronzeada que ganhei depois de uma
semana sob o sol havaiano.
— Impressionante — ele murmura.
— Bem, nem todos nós podemos ter um bronzeado na barba.
Seus olhos se arregalam.
— Merda. Eu nem pensei nisso. Cara, agora estou comprometido.
— Dificilmente. Você poderia raspá-la, passar uma tarde
trabalhando no quintal e sumiria a marca. — Eu olho para ele,
praticamente bronze agora, o suor brilhando em sua pele, e engulo
um suspiro.
— Não que eu vá fazer nada disso — diz ele, voltando ao livro.

I ê á d h d l
— Isso mesmo. Você terá os projetos de homem para delegar. —
A penitência de Viggo e Oliver por sua pegadinha que deu errado,
será fazer nosso trabalho de jardinagem até que o braço fraturado de
Aiden esteja curado.
Aiden sorri maldosamente e vira a página de seu livro.
— Isso vai ser muito gratificante.
Uma risada pula de mim, mas rapidamente desaparece quando
Viggo passa, queimando minhas retinas. Ele está usando uma sunga,
e puta merda, eu gostaria de nunca ter visto isso.
— Cristo, Viggo — murmura Axel, balançando a cabeça. — Até
onde as pessoas vão para chamar a atenção.
Ziggy põe a mão nos olhos.
— Eu não consigo apagar a imagem da minha memória — ela
geme.
Todos os outros membros da família estão fazendo suas coisas
em outro lugar ou alegremente preocupados. Sorte deles.
Oliver pia e tenta pegar o telefone enquanto Viggo vai até a água,
exultante com nossas reações de horror. Assim que ele chega à beira
do mar, o telefone de Oliver começa a tocar uma música. Viggo se
vira, nos encara e começa a fazer movimentos surpreendentemente
bons que estou com muito medo de assistir, caso a sunga não
aguente as estocadas de seu quadril.
A risada de Aiden explode ao meu lado como fogos de artifício
no céu noturno, tão brilhante e rico que me atordoa.
— Eu sabia! — ele diz. — Oh cara, aquele garoto é um homem
morto.
— Oliver — ele late.
Ollie olha por cima do ombro, parecendo cauteloso.
— O que foi, Aiden?
— Você e o papagaio não têm, por acaso, passado algum tempo
juntos, não é? Particularmente no primeiro dia, quando você e seus
pais chegaram bem cedo, antes de todo mundo?
— Hum. — As bochechas de Oliver ficam rosadas. — Por que
você perguntaria isso?
— Oh, eu não sei — diz Aiden casualmente, deslizando o
marcador em seu livro. — Ela parece ter um vocabulário e tanto. Na
verdade, literalmente o mesmo vocabulário da música que você está
tocando.
— Do que você está falando? — Pergunto-lhe.
Aiden estreita os olhos para Oliver.
— O papagaio continua me assediando com letras explícitas.
Eu franzo a testa para ele.
— Esmerelda? A educada papagaio idosa que diz “Bom dia!” e
“Oiê, lindos!”

ê l d Ad b l d d
— Para você, ela diz isso. — Aiden tamborila os dedos em sua
cadeira. — Você a ouviu me chamar de “gostoso”.
— Quero dizer, ela não está errada.
Ele me dá uma olhada.
— Ela não está dizendo porque ela realmente pensa isso sobre
mim. Ela está dizendo isso porque alguém a ensinou.
Eu franzo a testa para ele.
— Isso é possível?
— Parece que sim. — Aiden deixa seu livro cair e se levanta,
enquanto Oliver se levanta. — Posso ter apenas um braço bom,
Oliver Abram, mas conheço sua fraqueza.
Oliver empalidece.
— Não faça cócegas, Aiden. Você sabe que eu não aguento essa
merda.
— Deveria ter pensado nisso antes de você incitar o Mr. Catra
que existe no papagaio, para mim, por uma semana inteira. Você
sabe como é perturbador tomar banho com um papagaio verde
gigante sentado no móvel próximo a você dizendo: “Bate e maltrata
essa puta safada, quero jato de leite na cara”?
Enquanto Aiden caminha em direção a ele, Oliver se afasta, com
as mãos para cima.
— Foi apenas uma brincadeira inofensiva!
— Inofensiva? — A boca de Aiden se contrai, suprimindo um
sorriso. — Possivelmente. Mas também foi agressiva? Bizarra?
Desnecessária? Absolutamente.
Oliver tropeça em uma cadeira de praia, olhando por cima do
ombro.
— Aiden. Seu braço — ele diz suplicante. — Você não deveria
correr. Você precisa ter cuidado com ele.
— Infelizmente, para você — diz Aiden, jogando os óculos de sol
na cadeira atrás dele —, estou passando por um momento
atipicamente imprudente.
Percebendo que está ferrado, Oliver decola pela praia, Aiden
correndo atrás dele. E quando meu irmão encrenqueiro é derrubado
na areia, sua risada estridente é varrida pelo vento aquecido pelo sol.
— Bem — Dra. Dietrich sorri para nós por cima dos óculos. —
Parece ter sido uma viagem e tanto.
Aiden aperta minha mão suavemente, seu polegar circulando
minha palma. Eu aperto de volta.
—Foi — ele diz a ela. — Tive uma boa conversa com meu sócio
sobre uma distribuição mais uniforme de responsabilidades. Eu
fiquei longe do meu telefone e priorizei estar presente, relaxando o
máximo possível.
Eu sorrio para ele.
Ad l l â
— Aiden planejou um encontro incrivelmente romântico, e
tivemos muitos bons momentos de inatividade juntos. Parecia que
fizemos alguns avanços, conversando e nos reconectando.
— E como isso aconteceu? — Dra. Dietrich pergunta.
Aiden olha para mim, olhos azuis vívidos segurando os meus.
— Tivemos conversas honestas. Conversamos muito sobre o que
você disse antes de partirmos – sobre como mudamos e como
queremos entender melhor o que isso significa para amar um ao
outro.
Eu aperto sua mão novamente.
— Como você se sente estando em casa, agora? — Dra. Dietrich
pergunta.
Meu sorriso vacila ligeiramente quando encontro seus olhos.
— Estou um pouco nervosa por estar de volta ao mundo real,
com suas pressões caindo sobre nós novamente, mas me sinto...
esperançosa. Eu também estou animada. Como se houvesse muito
para descobrir e aprender juntos.
O aperto de Aiden aumenta.
— Eu também estou nervoso. Não quero ser sugado para o
trabalho do jeito que fui. Mas sinto que estamos em um lugar
melhor, que é menos provável que seja algo que se interponha entre
nós. Freya sabe tudo o que há para saber sobre o projeto. Não há
segredos.
Dra. Dietrich sorri entre nós.
— Bem, atrevo-me a dizer, fiquei apreensiva sobre vocês dois
desaparecerem das sessões tão cedo em nosso trabalho, e certamente
não estou dizendo que vocês estão de alta da terapia, mas esse
tempo fora foi útil para vocês.
Aiden se vira para ela.
— Por que você acha isso?
— O que vocês dois acabaram de me dizer demonstra que
chegaram a um marco importante na reconciliação: reconquistar a
confiança. Você fez as pazes com a verdade perturbadora de que as
pessoas que se amam podem se machucar profundamente, muitas
vezes sem querer. É como derrubar uma lâmpada. Um cotovelada
dura quando você não estava olhando, e o vidro está quebrado, a
cortina irrevogavelmente dobrada. É tão fácil quebrar alguma coisa
e, paradoxalmente, difícil colocá-la de volta no lugar. Mesmo
quando fazemos, nunca parece o mesmo.
Os olhos de Aiden seguram os meus enquanto compartilhamos
um breve momento de reconhecimento silencioso.
— O que vocês decidiram — diz a Dra. Dietrich — é que podem
ver a beleza desses lugares costurados e colados, que estão dispostos
a aprender para o futuro. Vigiar aquele cotovelo enquanto reconhece
a possibilidade de que a dor virá novamente, esperando que desta
d l d d
vez seja mais suave, que desta vez a cola do perdão possa consertar
as rachaduras que vêm.
Eu me inclino para Aiden.
— Eu amo isso.
Ele envolve um braço em volta de mim.
— Eu também.
— Bem — ela diz brilhantemente. — Então, para a próxima
questão. Sexo.
Aiden engasga com o ar e pisca para longe. Eu dou um tapinha
em sua coxa suavemente.
Dra. Dietrich encolhe os ombros, com um sorriso caloroso.
— Vamos conversar sobre como vocês estão indo nessa frente. Eu
vou adivinhar que algo íntimo aconteceu entre vocês dois. Porque
isso — ela aponta para nossos corpos, pressionados um contra o
outro no sofá — grita: “podemos ter violado um pouco as regras”.
Eu coro. Aiden limpa a garganta e diz com voz rouca:
— Sim. As regras foram um pouco distorcidas.
Meu rubor se aprofunda enquanto eu olho para minhas mãos.
— Bem, isso é bom. Eu aprovo. Na verdade, estou tirando a
proibição. Com uma condição. — Ela encara Aiden, então olha para
mim. — Transparência completa na comunicação. Sexo é
vulnerabilidade. Se você está pronto para essa intimidade, quero que
a conversa e o diálogo fluam com honestidade e confiança. Quando
vocês estiverem se deparando com um obstáculo, voltem, sentem,
conversem. Em seguida, tente novamente a intimidade física. Ok?
O rosto de Aiden está sombrio, seus olhos apertados. O que... eu
não tenho ideia do que fazer com isso. Eu acho que é uma questão
de ansiedade e como isso afetou seu desejo sexual, mas parece que
isso era obsoleto no Havaí. Se não é isso, o que é?
— Ok — eu digo a ela.
— Sim — ele sussurra. — Ok.
— Ótimo — diz a Dra. Dietrich, girando em sua cadeira e
pegando um controle remoto na pilha de papéis que até eu posso
dizer que acho perturbadoramente bagunçada. — Agora, a parte
divertida.
Ela aperta um botão, assustando nós dois quando uma tela surge
da fina mesa lateral ao lado de sua mesa. Remexendo em uma das
gavetas de sua mesa, ela puxa dois controles e os joga em nossa
direção.
— É hora de matar alguns zumbis.
Aiden franze a testa para ela.
— Você está realmente nos dizendo para jogar videogame?
Dr. Dietrich suspira.
— É o pedagogo em você, questionando constantemente meus
métodos.
Ad fi lh
Aiden fica vermelho.
— Desculpa.
Eu coloco o controle remoto na minha mão e olho para Aiden.
— Ele quebrou o braço, Dra. Dietrich. Isso me dá uma vantagem
injusta.
Ela sorri.
— Que bom que vocês estão jogando juntos. Vocês dois contra o
mundo. Como isso soa?
A coxa de Aiden cutuca a minha enquanto ele segura meus olhos.
Seu sorriso é deslumbrante.
— Gosto muito do som disso.
25

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ R e a d y N o w ” - d o d i e

— V não estava aqui quando


voltamos? — Aiden pergunta.
Fecho a gaveta do chá com o quadril e coloco o sachê na caneca.
— Não me pareceu estranho, não. Quer dizer, ela sabia que
chegaríamos em casa em breve e disse que tinha um brunch do qual
havia se esquecido. Parece um bom motivo para não ficar por aqui
para nos dar o relatório de quantas vezes Wasabi tentou comer seus
cadarços.
Aiden tamborila os dedos em seu laptop, de costas para mim.
Não consigo ver seu rosto, mas noto a tensão em seus ombros.
— Você está preocupado com ela? — Pergunto-lhe.
— Eu não consigo dizer o que. Eu só... tive a sensação de que
algo estava acontecendo. — Ele balança a cabeça. — Estou
analisando demais.
— Você poderia mandar uma mensagem para ela, perguntando
se está tudo bem. Talvez ela lhe diga se algo estiver acontecendo.
Aiden bufa, seus dedos voltando a digitar.
— Sim, porque mamãe é um livro aberto.
— Eu sei que ela pode ser difícil de se abrir.
— Eufemismo do ano. Então, novamente, quem sou eu para
falar?
— Aiden, não se engane. — Adicionando uma colher de mel à
minha caneca, eu fecho a tampa e olho para a parte de trás de sua
cabeça doce e teimosa. — Você está em terapia desde que te conheço.
Você é muito melhor em articular suas emoções do que quase todos
os homens que conheço, exceto meus irmãos, e Deus, gostaria que
eles articulassem menos.
Ele ri secamente.
— Sim, mas ainda tenho um longo caminho a percorrer.
— E você está trabalhando nisso. Nós dois somos.
Aiden olha por cima do ombro e encontra meus olhos.
— Sim. Estamos.
A chaleira começa a assobiar. Eu o tiro do fogo antes que grite.
— Precisa de alguma coisa enquanto estou aqui?
Estreitando os olhos de brincadeira, Aiden diz:
— Preciso me recuperar do fato de que todos esses anos não
jogamos videogame porque minha esposa disse, e cito: “Não gosto
i dl á ê d b
muito deles” e cá estamos, você arrasou no jogo de zumbis na terapia.
Eu sorrio por trás do balcão, despejando água quente na minha
caneca.
— Eu não disse que não era boa neles, só que não gosto muito
deles. Porque eu não gosto. Era algo que Ax, Ren e eu fazíamos às
vezes, e me tornei boa nisso.
Ele balança a cabeça.
— Eu não tenho certeza se eu realmente te conheço.
Uma risada calorosa me deixa quando eu volto para a sala e me
jogo na outra extremidade do sofá. Bebendo meu chá, eu olho para
Aiden por cima da minha caneca, observando-o lutar com a
digitação, por conta do gesso. Seus dedos ainda podem se mover
bem, mas ele está claramente com dor.
— Você quer ditar para mim? — Eu pergunto.
Ele olha na minha direção.
— Como?
— Eu me ofereci para deixar você ditar. — Eu aceno em direção
ao seu computador. — Parece que digitar dói. Posso ajudá-lo a
mandar alguns e-mails com mais eficiência, mantê-lo atualizado e,
assim, você não precisa se sentir desconfortável.
Sua expressão é ilegível enquanto nossos olhos se fixam.
Finalmente, ele pisca para longe.
— Sim. Isso... isso seria ótimo. Obrigado. — Com cuidado, ele
levanta o laptop com uma das mãos e o coloca no meu colo.
Eu giro ao redor, em seguida, coloco minha caneca na mesa de
café.
— Pronta quando você estiver.
Aiden coloca um travesseiro sob o braço com gesso, mas depois
agarra meus pés e os coloca em seu colo. Lentamente, ele arrasta o
polegar pela minha sola.
— Ok — diz ele.
Eu concordo.
— Pode falar.
— Espere. Deixe-me saboreá-la dizendo isso, por um momento.
Chutando-o suavemente, eu ganho seu oof seguido por uma
risada.
— O único lugar onde você consegue mandar em mim é naquele
quarto no final do corredor. E vai continuar assim.
Nossos olhos se encontram. Aiden engole com dificuldade. Sua
mão envolve meu tornozelo, tocando na minha panturrilha. Suave.
Sensual. Meus dedos do pé enrolam contra a almofada do sofá.
Os olhos de Aiden procuram os meus, enquanto sua mão sobe
ainda mais alto. Agarrando o laptop, ele o levanta e o coloca na mesa
de centro.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto baixinho.
O b lh d
— O trabalho pode esperar.
— Pode?
Ele sorri suavemente e agarra minha mão, me puxando até que
estejamos lado a lado, minhas pernas dobradas sobre seu colo, seu
braço bom em volta da minha cintura. Um beijo suave em meus
lábios, antes que ele se afaste e encontre meus olhos.
— Vem comigo? — ele pergunta.
Eu inclino minha cabeça, curiosa.
— Ok.
Lentamente, ele se levanta do sofá e me puxa junto com ele.
Wasabi e Picles correm junto conosco, me fazendo tropeçar, então
eu esbarro em Aiden. Ele me segura, rindo e cai de costas para a
parede, meu corpo pressionado contra o dele. Girando, ele se inclina
para mim e dá outro beijo gentil em meus lábios, antes de me
arrastar pelo resto do caminho para o nosso quarto.
— O que estamos fazendo? — Eu pergunto.
Sua expressão escurece, cuidadosa, cautelosa.
— Toma banho comigo? — Ele franze a testa, levantando o gesso.
— Estou cansado de banhos de banheira. E... sinto falta de tomar
banho com você.
Um nó fica preso na minha garganta. Quando me aproximo,
seguro seu rosto e pressiono um beijo em sua bochecha.
— Você tem que embrulhar seu braço.
— Droga. Eu pensei que poderia simplesmente me inclinar para
fora do chuveiro e proteger meu braço.
Eu ri.
— Vou pegar um plástico filme e fita adesiva. Você ainda vai se
sair bem, não se preocupe.
Quando eu volto, Aiden está sentado na beira da cama, olhando
para seus pés. Eu ando em direção a ele até estarmos cara a cara. Ele
não levanta os olhos.
— Aiden?
De repente, ele envolve seu braço em volta de mim e me puxa
para perto, sua cabeça encostada na minha barriga. Atordoada, pisco
para baixo para ele, em seguida, cuidadosamente deslizo meus
dedos por seu cabelo, esperando poder acalmar o que quer que o
esteja incomodando.
— O que foi?
Ele suspira pesadamente, pressionando um beijo na minha
barriga e descansando sua cabeça contra mim, me apertando contra
ele com mais força.
— Eu tenho algo que preciso lhe dizer.
Meu pulso começa a bater enquanto a apreensão passa por mim.
Ele parece tão abatido. O que poderia ser?
— Estou ouvindo — digo a ele.
E d d f l d d d
— Eu vou te dizer desta forma — ele diz, ainda me segurando, a
cabeça pressionada contra meu estômago. — Porque é mais fácil
para mim.
— Ok, Urso.
— Eu disse na terapia que minha ansiedade estava afetando meu
desejo sexual.
Eu inclino minha cabeça e olho para o topo de sua cabeça,
desejando manter a calma, ouvi-lo e não imaginar o pior, não que eu
pudesse imaginar o que seria.
— Eu lembro.
— Eu disse que depois que você apontou a distância física entre
nós, eu parei de iniciar as coisas.
Eu engulo a ameaça de lágrimas.
— Sim.
— Isso era verdade. — Ele exala lentamente. — Mas não era tudo
verdade.
Meu aperto nele fica mais forte enquanto espero que ele encontre
as palavras.
— É mais do que isso — ele sussurra. — Tem sido. Não é você, e
não é sobre você de forma alguma — diz ele asperamente. — Sou eu. É
o meu… — Fechando os olhos com força, ele pressiona a testa no
meu quadril, batendo suavemente.
— É a porra do meu cérebro, Freya. Minha ansiedade tem sido
tão forte que atrapalhou minha capacidade de responder a você, e
me senti quebrado e com vergonha. E eu não sabia como te dizer
sem destruir suas esperanças de um bebê. Então, guardei para mim
mesmo, porque esperava poder consertar antes que você percebesse,
antes de ter que tentar explicar... tudo que estava dando tão errado.
Todas as maneiras que senti que estava falhando com você, nossos
sonhos, nossos planos.
E então estávamos de férias, tentando manter tudo sob controle
para seus pais, e eu não podia arriscar incomodá-los, quando eu
sabia o quanto significava ser uma fachada positiva para eles. Me
desculpe por ter guardado para mim por tanto tempo. Eu prometo,
você sabe de tudo agora. Tudo o que eu segurei, tudo com o que
tenho lutado.
Eu me levanto, cambaleando enquanto suas palavras afundam,
enquanto incontáveis momentos em nossa recente vida sexual
passam diante dos meus olhos.
Quantas vezes Aiden deu, mas não pediu, com que frequência ele
gentilmente me redirecionou quando eu tentei o alcançar. Quantas
vezes eu tive três orgasmos incríveis, e enquanto eu estava caindo
em seus braços, eu percebi sonolenta que ele não tinha tido nenhum.
E a semente da dúvida havia cavado dentro de mim, dolorosa e
estranha. E se ele não estivesse mais atraído por mim? E se ele
E l l
quisesse outra pessoa? E se ele não me quisesse, mas ele estava... me
acalmando?
Agora entendo que não foi isso. Não foi isso mesmo.
Eu o seguro em um silêncio atordoado, meus ouvidos zumbindo
tão alto que estou chocada por poder ouvi-lo quando ele sussurra:
— Sinto muito, Freya. Me desculpe por ter escondido de você.
Sinto muito, é minha realidade agora. Mas eu já fui ao médico, e não
é físico. É psicológico. Quer dizer, você viu o que aconteceu outra
noite, o que pudemos compartilhar quando estávamos de férias. É
possível, mas na maioria das vezes leva algum tempo e relaxamento
e… — Ele suspira pesadamente, pressionando um beijo suave na
minha barriga. — Eu não vou deixar isso nos impedir de ter uma
família, eu prometo…
— Aiden. — Eu me ajoelho e seguro seu rosto, fixando seus
olhos. — Eu amo você.
Ele pisca e eu aperto seu rosto com mais força.
— Olhe para mim — eu sussurro. Lentamente, ele encontra meus
olhos. — Nós encontraremos nosso caminho e passaremos por isso.
Como amantes. Como uma família. Por favor, por favor saiba, minha
única tristeza agora é que você guardou tudo isso, tudo por conta
própria, quando eu poderia ter mantido-lo com você.
— Eu quero uma família com você, Freya. Eu prometo.
Eu sorrio.
— Você já tem uma família comigo.
— Você sabe o que quero dizer — diz ele. — Eu não queria te
desapontar, porque eu sabia o que você teria feito. Você diria que
poderíamos esperar por um bebê, mesmo quando eu sabia o quanto
você queria um bebê – eu queria um bebê. Foi tão confuso. Às vezes
eu me sentia entorpecido, como se não pudesse responder, mesmo
quando eu queria você, mesmo quando tudo que eu queria era estar
perto. Outras vezes, eu começava e então algum pensamento de
merda me sequestrava. E às vezes, eu simplesmente não conseguia...
terminar.
Ele enterra o rosto nas mãos.
— E tudo isso tornava a possibilidade de um bebê impossível.
Então, me concentrei em fazer tudo o mais que nos deixaria prontos
para um bebê e esperava encontrar uma maneira de consertar isso.
Eu não consegui descobrir como te dizer a verdade e te proteger da
dor que isso traria.
Eu envolvo meus braços ao redor dele e pressiono um beijo em
sua bochecha, molhada por minhas lágrimas, pelas dele.
— Eu sinto muito, Aiden.
— Por que? — ele diz asperamente. — Não é sua culpa.
— Aiden, nós fizemos isso, nós dois. Essa dança distorcida de
sempre tentar nos consertar e proteger um ao outro das partes que
dí ó d fi ê d d d
não podíamos. Nós dois fizemos isso. Você escondeu sua ansiedade,
sua frustração com seu corpo. Eu me anestesiei, mantive minha dor
longe de você. São necessários dois para jogar esse jogo, e nós
jogamos. Mas não mais.
Seus olhos seguram os meus.
— Eu gostaria que não tivesse sido assim.
— Eu sei. Mas encontraremos nosso caminho juntos. — Eu
pressiono nossas testas juntas. — Prometo.
Não digo a ele que vamos consertar. Ou que não importa. Porque
não vou fazer promessas nem diminuir o que isso significa para ele
ou para nós. Porque eu sei mais agora. Aprendi que não é assim que
o amor funciona.
Aprendi que a medida do seu amor não é o quão “bem” vocês
dois estão ou a rapidez com que acertam as bolas curvas que a vida
joga em vocês. O verdadeiro teste do amor, a medida de sua força, é
sua coragem para ser honesto, sua disposição para enfrentar os
momentos mais difíceis e dizer: Mesmo que não haja nada a ser feito,
pelo menos eu tenho você.
— Venha aqui. — Eu entrelaço meus dedos com os dele e me
levanto. Aiden está comigo, parecendo incerto e tão bonito – seu
selvagem, cabelo escuro, insondáveis olhos azuis do oceano; a linha
forte de seu nariz e uma boca macia e carnuda escondida pela barba.
Com os olhos fixos nos dele, agarro a bainha de sua camisa e a
levanto, passando minhas mãos ao longo de seu peito. Parando em
seus peitorais, eu esfrego meus polegares sobre seus mamilos,
ganhando uma lufada de ar de seus pulmões. A mão de Aiden
mergulha em meu cabelo e abre nossas bocas em um sussurro.
Inclinando minha cabeça, ele cutuca meu nariz com o dele, então
sussurra:
— Freya... eu te quero tanto, mas eu não sei — Ele suspira
asperamente. — Não sei o que vai acontecer.
— Nem eu — sussurro. — Eu só sei que eu quero você. Só você,
só isso. Assim como você me quer.
— Mas e se eu não puder…
— Se você não puder? — Eu digo baixinho. — Vamos aproveitar
tudo o que pode acontecer. Então vamos descobrir o resto juntos.
Ele olha nos meus olhos.
— Eu amo você.
Eu sorrio suavemente e o beijo – um leve roçar de lábios. Seu
aperto em meu cabelo aumenta, e eu me inclino para ele, envolvendo
meus braços em volta de sua cintura, suavizando os planos duros de
suas costas, aquela pele quente e macia.
— Eu também te amo, Aiden.
Gemendo, ele se inclina para fora dos meus braços, puxa a
camisa pela cabeça e a deixa cair atrás dele.
E fi b b
Eu fico boquiaberta.
— Você acabou de jogar uma peça de roupa. Nenhuma dobra à
vista. Nem mesmo colocou na cama.
— Pare com isso. — Ele sorri. — Posso priorizar a paixão sobre a
organização... às vezes.
Meu sorriso ecoa o de Aiden enquanto ele puxa minha camisa e
eu o ajudo, levantando-a sobre a minha cabeça. Os olhos de Aiden
escurecem enquanto ele me bebe, então, antes que eu possa alcançar
de volta, sua mão boa encontra meu sutiã e o desabotoa com um
simples movimento de seus dedos.
— Impressionante.
— Oh, confie em mim — ele murmura contra meus lábios. — Há
muito que posso fazer com uma mão.
Seu beijo é profundo e longo enquanto ele me puxa contra ele,
enquanto eu desabotoo seu cinto e deslizo minhas mãos dentro de
sua calça jeans, traçando seus quadris, a curva firme de suas costas.
— Tire a roupa — ele diz entre beijos. — Por favor.
Nós desnudamos um ao outro desajeitadamente, tropeçando nas
roupas, tropeçando no banheiro por meio de beijos bagunçados e
abraços desesperados. Pele com pele parece o paraíso, como voltar
para casa e o primeiro sinal da primavera após um longo e frio
inverno. Eu planto beijos suaves de boca aberta em seu peito. Aiden
beija meu pescoço, minha mandíbula, o canto da minha boca, a
ponta do meu nariz.
— Eu te amo — ele sussurra. — Eu não consigo parar de dizer
isso.
Eu o beijo novamente e olho em seus olhos.
— Eu também te amo.
Afastando-me, me inclino para o chuveiro e ligo a água. Aiden
dá um passo atrás de mim, sua mão deslizando pelas minhas costas,
suavizando a curva da minha coluna. Beijos fracos viajam por
minhas vértebras, até que ele morde meu pescoço, então o lóbulo da
minha orelha. Eu tremo enquanto me endireito e viro em direção a
ele.
Guiando-o para a pia, eu arrumo meus suprimentos e
rapidamente envolvo seu braço. Quando estou satisfeita com meu
trabalho, toco seu bíceps, acima do plástico e da fita, enrolando
minha mão ao longo do músculo arredondado. Beijo seu ombro, sua
clavícula, a depressão na base de sua garganta.
Nossos corpos se tocam intimamente e nos sacudimos, Aiden
inclinando a cabeça e encontrando minha boca com fome, um beijo
que parece a primeira faísca de uma chama de derreter os ossos.
Voltando para o chuveiro, ele desliza o vidro fechado atrás de nós e
me pressiona contra os azulejos. O vapor flutua ao nosso redor,
enrolando uma mecha de seu cabelo contra sua testa. Eu olho em
lh d ó
seus olhos, sentindo-nos próximos - não apenas nossos corpos, mas
nós – e absorvo tudo como chuva após uma seca.
— Você é tão linda, Freya. — Aiden pesa meu seio em sua mão,
acariciando meu mamilo até que esteja duro e sensível, faíscas
dançam através de mim, quente e ardente entre minhas coxas, na
minha barriga, bem dentro de mim. Sua boca provoca meu outro
seio, círculos suaves de sua língua, mordidas de seus dentes que
fazem meus gemidos ecoarem ao nosso redor.
Eu o toco, em todos os lugares - a curva de suas costas fortes, seu
traseiro rígido flexionando enquanto ele se move contra mim
instintivamente, suas coxas poderosas envolvendo meu corpo.
Nossas línguas se enredam, mais quentes, mais rápido, até que
Aiden me prende contra o chuveiro.
— A noite em que você me viu — ele sussurra. — Quando
cheguei em casa.
— Sim?
Ele separa minhas pernas, sua mão vagando pela minha coxa,
antes de lentamente cair de joelhos.
— Foi com o pensamento disso que me toquei. Beijar você, sentir
você, provar você até que você estivesse implorando para gozar.
Eu exalo tremulamente quando sua mão me separa suavemente,
finalmente me acariciando – ali – tão perfeitamente, tão ternamente
que eu poderia chorar.
— Eu amo provocar você, mas esta noite não posso fazer você
esperar, Freya. — Ele planta um beijo suave no meu quadril, antes
de colocar um dedo, depois dois, suavemente dentro.
— Oh Deus. — Minhas mãos mergulham em seu cabelo
enquanto ele levanta uma das minhas pernas e a guia por cima do
ombro. Estou exposta tão intimamente, espalhada diante dele
enquanto seus beijos marcam minha pele, subindo e descendo pela
minha coxa, em todos os lugares, exceto onde estou morrendo por
ele, a cada estocada de seus dedos me desvendando.
Aiden olha para cima, os olhos semicerrados, a respiração vindo
em puxadas irregulares de ar.
— Eu senti tanto a falta disso. Eu senti sua falta.
Então sua boca se fecha em mim, movimentos decadentes e
redemoinhos de sua língua que me fazem ofegar e balançar contra
ele.
Há homens que atacam uma mulher porque sabem que isso a
excita. Depois, há homens que usam a boca como se fosse uma
adoração, como se cada momento em que seu rosto está enterrado
entre suas coxas fosse sua ideia de paraíso. Aiden é assim, e ele
sempre me faz sentir como uma deusa quando faz isso.
Eu o observo, o impulso rítmico suave de sua boca, sua mão
acariciando meu corpo, deslizando ao redor do meu quadril e
d d h El d
acariciando cada curva minha. Ele traça as estrias em meus quadris,
as curvas das minhas coxas, seu aperto aumenta, traindo seu
desespero tanto quanto a saliência dura de sua ereção me mostra o
quanto ele ama me fazer gozar.
Meu calcanhar afunda em suas costas, minhas mãos agarrando
seu cabelo, enquanto eu ofego, mal conseguindo respirar contra a
necessidade de gozar. O calor derretido arde em meus membros e
seios, se acumulando profundamente dentro do meu corpo
enquanto Aiden geme contra mim.
Eu fecho meus olhos, perdida no movimento certeiro de sua
língua, o desespero crescente dentro de mim. De repente, ele se
levanta e esmaga minha boca com um beijo. Eu o provo, provo e a
mim mesma, enquanto meus braços o envolvem e meus joelhos
quase dobram.
— Freya. Me toque. Me toque, por favor.
Ele agarra minha mão e envolve seu comprimento, latejante e
grosso. Eu o acaricio, aveludado macio, cada centímetro quente e
rígido pulsando sob minha mão.
— Eu quero você — diz ele, baixo e silencioso contra o meu
ouvido. — Eu quero você, molhada, implorando por isso. Eu quero
você se contorcendo no meu pau.
Suas palavras revelam uma nova profundidade de necessidade,
um desespero quente para estar o mais perto dele que eu puder.
— Freya — ele sussurra. Com o aperto de sua mão ilesa, ele
levanta minha perna e a coloca no banco embutido da banheira,
esfregando-me enquanto se esfrega contra meus quadris. — Me
diga.
— Eu quero seu pau — eu suspiro, minhas mãos tocando seu
peito, seu comprimento, o aperto de suas bolas, ganhando seus
gemidos sem fôlego.
— Pegue, então — ele diz, se acomodando dentro de mim,
meticulosamente devagar. Eu agarro seus ombros, torturada, tão
pronta para ele.
O ar foge de mim enquanto ele recua, em seguida, empurra mais
fundo. Enquanto ele abaixa a boca para meus seios, Aiden dá-lhes
um foco terno e singular, fazendo meus mamilos picarem e
latejarem.
Ele está tão duro, e eu já estou tão desesperadamente perto. Eu
deslizo minha mão na minha barriga e esfrego meu clitóris, sentindo
o primeiro sussurro de liberação.
— Eu sinto você — ele sussurra. — Deus, eu sinto você, Freya.
Goze, baby. Goze em cima de mim.
Nossas bocas colidem. Mergulhos profundos e lentos de sua
língua que acompanham o ritmo constante de seus quadris. Eu ofego
contra sua boca. Meus dedos do pé se enrolam. Minhas veias fervem,
lí d d l b A lb f
ouro líquido, deslumbrante. A liberação aumenta, quente e forte,
uma dor tão doce e forte que me ouço clamando, ecoando ao nosso
redor enquanto imploro a ele por tudo.
— Tudo — eu suspiro.
— Você tem, Freya. — Enquanto Aiden olha em meus olhos e
empurra profundamente, eu gozo em um soluço ofegante. Um
soluço que não termina com um grito reprimido de liberação. Um
soluço que se transforma em choro, choro de alegria e alívio e
sentimentos agridoces que não têm nomes, apenas a forma e a
sombra do que perdemos e do que ganhamos enquanto lutamos
para chegar a este lugar. Um lugar onde a água se derrama sobre nós
e não escondo minhas lágrimas. Um lugar em que confio em meu
marido, que beija minhas lágrimas – cada uma delas – e me abraça
com força.
26

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ S t o n e d o n Yo u ” - J a y m e s Yo u n g

F , úmida do banho, sua respiração


suave e regular.
— Eu não estou dormindo — ela murmura.
Eu pressiono um beijo em seu cabelo, correndo minha mão por
suas costas.
— Estaria tudo bem se você estivesse.
— Eu não quero dormir — ela sussurra. Sua mão desce pelo meu
corpo, envolvendo-se com apreciação em torno do meu
comprimento. — Eu quero te tocar.
Eu não gozei depois dela. Eu não escondi. Parte disso era porque
ela estava chorando, e sempre há algo no choro de Freya que envia
adrenalina para o meu corpo. No começo eu estava com medo, por
apenas um momento, que de alguma forma eu a tivesse machucado
ou chateado, mas eu percebi que ela estava apenas... sentindo. E eu
amei que a mulher que me pegou naquele chuveiro apenas um mês
atrás, olhos frios, corpo fechado, mil palavras não ditas entre nós, se
sentiu segura para chorar em meus braços simplesmente porque ela
precisava.
Depois disso, todos os traços da resposta do meu corpo
desapareceram. Freya me beijou, sussurrou que me amava. Depois,
nos lavamos, roubamos beijos e nos abraçamos até que a água
quente acabou.
Eu sabia que isso poderia acontecer, que nos deitaríamos na cama
e ela tentaria continuar de onde paramos. Enquanto eu pensava
nisso, os medos e as preocupações sobre o que poderia dar errado
ficaram cada vez mais barulhentos em minha cabeça.
Enquanto sua mão me acaricia, não sei o que fazer. Só sei que
uma onda fria de ansiedade passa por mim, como em nossa segunda
manhã no Havaí, quando esqueci a regra número um – nunca fique
de costas para o oceano – e fui jogado na areia. E como nadar contra
uma correnteza, a cada segundo que tento lutar contra o poder
crescente dos meus pensamentos, meu pânico me puxa para mais
longe dela.
O toque de Freya muda, vagando amorosamente por meu corpo,
mas o esmagamento da derrota me arrasta para baixo, uma ressaca
viciosa da qual não posso escapar.
Ela se inclina sobre mim e pressiona beijos suaves na minha boca.
— Fique comigo.
— Eu... — Eu aperto meus olhos fechados. — Estou tentando.
— Aiden.
Lentamente, eu abro meus olhos e encontro os dela.
— Você sabia que às vezes eu não gozo? — ela sussurra.
Eu estreito meus olhos, odiando aonde ela quer chegar com isso.
— Sim.
Ela sorri suavemente.
— O que você me diz quando isso acontece?
— “Está tudo bem, baby” — eu digo a ela através da espessura
da minha voz. — “Apenas me deixe segurar você.”
— Isso mesmo — diz ela, antes de um beijo suave em meus
lábios. — Você sabe o quão segura isso me faz sentir? O meu
parceiro normalizar isso e me fazer sentir amada? Porque é normal.
Um suspiro áspero me deixa.
— Sim.
Freya se aperta contra meu corpo, sua coxa sobre a minha, e
passa a mão ao longo de minha barriga e peito. Seus lábios
encontram os meus em um beijo longo e suave.
— Apenas fique comigo. Encontraremos nosso caminho, Aiden.
Juntos, ok?
Nossos olhos se encontram quando me viro para ela, colocando-a
perto de mim. Pele com pele. Quietos na escuridão. Eu mergulho nas
águas desconhecidas da aceitação enquanto ela me toca, me beija. Eu
me banho no peso do amor de Freya enquanto a beijo de volta.
Seus beijos desaparecem. Seu toque fica mais lento. Eu a ainda a
abraço com força por muito tempo, mesmo depois que ela adormece.
Eu não consigo dormir. E quando Freya rola de cima de mim,
quente de suor e suspirando, eu a observo, tão linda, tão desejável
para mim. Cansado, mas totalmente acordado daquele jeito horrível
que a adrenalina tem de foder meu cérebro, pego o romance de
Viggo que venho lendo. Não leio desde que voltamos do Havaí e as
coisas estavam prestes a ficar quentes.
Pode ser uma boa maneira de cansar meus olhos.
Uma voz tranquila e otimista sussurra dentro de mim, ou fico com
"tesão de livro".
Sim. Não tendo muitas esperanças depois daquele desastre de
antes.
Eu abro onde parei a, localizando a pequena luz de clipe de livro
que eu uso há anos. Freya tem um daqueles sonos, que a luz não é
um problema, um presente que eu gostaria de ter. A vantagem é que
isso fez com que minhas crises de insônia deixassem de ser um
obstáculo entre nós. Sempre li na cama, ouvindo os sons
reconfortantes de sua respiração. Eu acendo a pequena lâmpada,

b l d b l ó h d
estabelecendo-me sob os lençóis e o aconchego do nosso quarto,
escuro, exceto pelo brilho amarelo fraco da luz.
A história esquenta. Rápido.
O cara finalmente, finalmente revela sua alma para ela, e puta
merda, é explosivo. Língua. Gosto. Impulso. Molhado. Desejo. Aquecer. É
um mar de palavras que se transformam em um tsunami sensual,
cada linha um passo combinado em direção a um clímax tão
incrivelmente sutil, mas quente – em todos os sentidos da palavra –
que, quando termina, minha mão está fechando a página, minha
respiração apertada e irregular.
Eu fecho meus olhos, desajeitadamente desligando a luz e
colocando-a na mesa de cabeceira. Eu fico olhando para o teto,
atordoado. Isto é…
Loucura.
Realmente uma loucura mágica.
Puta merda, vou ler romance para sempre.
Não porque eu esteja realmente me iludindo, que isso sempre vai
funcionar assim – e com "isso" quero dizer, ficar duro como uma
rocha – ou porque tenho garantia de qualquer coisa, mas porque isso
era... lindo. A vulnerabilidade, a ternura, o dar e receber. Passei tão
pouco da minha vida adulta pensando nisso, e por quê? Por que fui
criado para pensar que os homens não deveriam?
Merda, os homens estão perdendo, e isso não apenas nos
machuca – machuca nossos parceiros. Pelo menos homens como eu
estão perdendo, e acho que somos muitos, infelizmente. Homens
que não perdem tempo investigando como queremos estar próximos
de nossos parceiros. Isso nos deixa desprezivelmente despreparados.
Por que eu esperaria apenas ser capaz de ligar um interruptor
para este espaço dentro de mim quando eu mal o cultivei? Durante
anos, confiei na facilidade emocional do meu casamento para abrir o
caminho para a nossa intimidade sexual. Mas quando as coisas
ficaram difíceis, eu não tinha um roteiro de como seguir em frente,
como ficar perto de Freya, mesmo enquanto estava lutando.
Sim, amo minha esposa. Sim, estou profundamente atraído por
ela. Mas isso não significa que eu soube milagrosamente como
encontrar intimidade com ela quando a paisagem ao nosso redor
mudou tão drasticamente, quando mudamos, e a vida se tornou
muito mais complicada do que trabalhar duro e perseguir nossos
sonhos juntos.
Como os projetos que desenvolvi, as palestras que dei, os
exercícios físicos que faço, preciso aprender e praticar isso. E sim,
talvez eu precise de um pouco mais de ajuda para me sentir
confortável com sexo quando ele traz à tona emoções difíceis, em
comparação com alguém que não tem ansiedade ou um passado
como o meu, mas e daí? Não há vergonha nisso. Freya me ama
l El ê d
exatamente pelo que sou. Ela vai ter paciência comigo, acreditar em
mim, me desejar, em todas as minhas imperfeições. Ela me mostrou
isso todas as vezes. Agora posso mostrar a ela que confio nisso.
— Merda — eu murmuro, espalmando meus olhos, molhados de
lágrimas. Chorei mais na semana passada do que em toda a minha
vida. E se isso é parte do que tiro desta temporada de pesadelos,
estou feliz por isso. Porque significa que cresci como pessoa. Como
homem. Como marido.
Freya suspira em seu sono e rola em minha direção, como se de
alguma forma ela soubesse o quanto eu preciso dela.
Ela murmura coisas sem sentido enquanto se acomoda, sua boca
roçando meu ombro. O ar escapa de mim quando sua mão sonolenta
vagueia pelo meu estômago e envolve minha cintura. O calor
aumenta sob minha pele, em todos os lugares que seu corpo roça no
meu, e antes que eu possa pensar sobre o que estou fazendo,
envolvo minha mão em torno da dela, guiando-a para baixo. Mais
baixo.
Ela suspira novamente, movendo-se um pouco com o sono.
— Aiden — ela murmura.
Eu engulo asperamente quando ela me toca, lenta e preguiçosa.
Quando eu arrasto sua mão sobre meu pau dolorido, cada
centímetro de mim que está pesado e duro, é quase doloroso, sua
respiração acelera. Seus olhos se abrem. Acordando, ela levanta a
cabeça e olha para mim.
— Oi — ela sussurra.
— Freya. — É tudo o que posso dizer, mas nossos olhos se fixam,
e ela vê... tudo que eu preciso que ela veja.
Sem palavras, ela se aproxima, deslizando sua perna ao longo da
minha, e suas mãos estão finalmente em mim. Nós nos beijamos e eu
a respiro, puxo-a para perto, nossas línguas se enredando, sua boca
suave e exploradora. Não consigo tocá-la o suficiente, não consigo
sentir o suficiente de seu belo corpo, cada curva exuberante e
decadente. Minha mão traça seu quadril, sua bunda cheia e macia, o
inchaço de seus seios e seus mamilos apertados.
— Aiden — ela engasga quando eu a sinto, enquanto minha boca
se abre com a dela, e nós respiramos, irregular e superficialmente.
Suas mãos mergulham em meu cabelo enquanto me movo contra
ela, ainda não dentro, mas tão perto. Cada golpe rápido e firme do
meu pau contra seu corpo macio faz a luz estourar atrás das minhas
pálpebras como fogos de artifício contra um céu negro como tinta.
— Toque-me — eu imploro a ela. Suas mãos percorrem minha
pele, passando suavemente sobre minhas pernas, massageando
minha bunda, esfregando meus braços, meu peito. Nossos beijos se
aprofundam e eu a puxo para mais perto de mim, sugando sua

lí d d d d d h d
língua, provando-a, precisando de cada parte da minha esposa, cada
canto dela.
Eu me movo contra Freya com uma urgência que não conhecia
há muito tempo, diferente de tudo que já senti. O desejo de gozar, de
estar perto dela, não é apenas capturado em uma parte intensa de
mim. Está em toda parte. Nas palmas das mãos e na garganta, na
parte de trás dos joelhos, na largura do meu peito, correndo como
uma chuva de faíscas ao longo da minha espinha que se irradia para
fora.
— Eu tenho que estar dentro de você — eu sussurro contra seus
lábios. — Eu tenho que.
Freya balança a cabeça freneticamente, enquanto eu arrasto sua
perna sobre meu quadril. Suavemente, sua boca encontra a minha.
Eu a inspiro, envolvendo-a com força dentro do meu aperto
enquanto nos deitamos lado a lado, nossos corpos alinhados tão
facilmente, tão perfeitamente, que com um movimento de seus
quadris ela está deslizando sobre mim, molhada, quente e tão, tão
macia.
Alcançando entre nós, Freya me guia para dentro dela, e um grito
de dor rouco sai do meu peito. O borrão repentino de lágrimas atrás
dos meus olhos me choca enquanto eu respiro fundo e encontro o
seu olhar.
— Eu te amo — ela sussurra.
— Deus, eu te amo. — Eu aperto seu corpo contra o meu e
empurro para casa, ganhando seu suspiro sem fôlego que eu
conheço tão bem, o som de seu prazer, seu belo corpo respondendo
ao meu.
— Aiden — ela chora.
Eu pressiono mais fundo, enterrando-me dentro dela, apertado e
quente, tão intensamente familiar e precioso para mim. Conectados,
em movimento, firmes, urgentes, olhamos nos olhos um do outro até
Freya começar a se fechar, sua mão agarrando meu cabelo.
— Oh — ela diz fracamente. Seus gritos aumentam, o som de
nossos corpos, a rajada rouca de ar que me deixa a cada impulso
frenético, ecoando ao nosso redor.
— Toque-se, Freya.
Ela desliza a mão entre nós e se esfrega onde estamos juntos. Isso
me deixa louco, observá-la. Seus gemidos enchem meus ouvidos,
enquanto sua perna aperta em torno de mim, e seu corpo aperta o
meu, me atraindo.
— Tão perto — ela sussurra. — Estou tão...
O calor ofuscante aperta, enrola-se profundamente dentro de
mim enquanto o corpo de Freya se desdobra, varrendo e rítmico, e
ela chora contra a minha boca.

E f d d
Eu faço tudo que posso para diminuir o ritmo, para me parar e
dar tempo a ela, mas ela morde meu lábio inferior e me cavalga, me
incentivando.
— Não se atreva a parar por mim — ela ofega.
Saboreando cada respiração sua, as ondas suaves e ondulantes de
sua liberação ao meu redor, eu a beijo, deixo meus sentidos
afogarem nela. Somente ela.
Freya coloca sua perna mais alto sobre meu quadril, enterrando-
me profundamente, e é tudo de que preciso. Eu derramo dentro dela
por tanto tempo e forte, que são segundos até que eu posso
finalmente respirar. Puxadas irregulares de ar, lábios se encontrando
ternamente, caímos um no outro. Passo meus dedos ao longo de suas
costas, em seguida, jogo o cobertor sobre nós dois, envolvendo-nos
em um dossel de algodão macio que brilha como nuvens em um céu
iluminado pela lua. Outro beijo no canto de sua boca, e eu me afasto
para poder vê-la melhor, para poder desfrutar de sua beleza
satisfeita.
— Isso foi... — Eu inalo asperamente, tentando recuperar o
fôlego. — Uau.
Ela sorri e se aninha perto de mim, seus olhos se fechando
enquanto uma expressão de puro contentamento suaviza seu rosto.
— Foi, Aiden. Foi realmente “uau”.
Nós dois rimos suavemente, compartilhando toques suaves, um
beijo leve e reverente.
— Obrigado — eu sussurro contra seus lábios, antes de roubar
outro beijo, uma mordida suave em seu lábio inferior.
Freya sorri, os olhos ainda fechados.
— Pelo que?
— Por me amar. — Eu pressiono meus lábios nos dela novamente
e a inspiro, minha esposa e amante, amiga e parceira. A mulher que
me ama por inteiro, a quem amo além das palavras e da
compreensão.
Arrastando meu polegar sobre seu lábio, eu a beijo novamente e
novamente e novamente.
— Eu amo você.
Ela abre os olhos, brilhantes e luminosos como uma cintilante
abóbada de estrelas.
— Meu Aiden. — Enquanto ela envolve seus braços em volta de
mim, Freya sussurra na escuridão — Eu também te amo.
27

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ S U P E R B L O O M ” - M i st e r W i v e s

—O —M . Algumas pessoas olham por cima


dos ombros para o volume da voz dela e minha risada igualmente
alta. Ela me abraça com força, e eu a abraço de volta. Acostumados
com nossas reuniões exageradas, Pete e Aiden nos deixam com
nossas paixões de garotas, entrando no restaurante para pegar
bebidas para nós.
Mai se afasta, me segurando pelos ombros enquanto me olha.
—As férias fizeram bem a você.
— Pare com isso. — Eu afofo minhas ondas e sorrio para ela.
— Você também colocou o seu piercing no septo. Sim. Sim. Eu
aprovo isso. — Então Mai aperta meus seios. À vista de todos.
Porque essa é a nossa amizade. — Hmm. E os peitos são exuberantes
e enormes.
— Obrigada! — Eu mesma os acaricio, admirando meu decote. —
É o vestido. Faz com que pareçam valer um milhão de dólares.
Comprei no Havaí.
— Acho que você conseguiu mais do que um vestido no Havaí —
ela diz baixinho.
— Não exatamente. — Soltando minhas mãos, aliso a frente do
meu vestido de verão azul.
Mai inclina a cabeça e me avalia.
— Mas o Havaí concordou com você?
—Sim — eu admito feliz. — Sim. Você está incrível também.
Você está brilhando. Como se tivesse engolido uma garrafa de raios
de sol.
— Obrigada! As crianças dormiram a noite toda ontem à noite.
Faz maravilhas pela minha pele. Agora pare de tentar me distrair.
Fale sobre o Havaí. Será que– Ela mexe as sobrancelhas. — Você
sabe, realmente concorda com você? Você e Aiden?
Um rubor aquece minhas bochechas.
— O acordo da mais alta ordem foi cumprido quando chegamos
em casa.
Ela grita.
— Freya, isso é bom. Quero dizer, é bom se ele tiver rastejado
épicamente e prometesse fazer de você uma Deusa Rainha da Neve
Nórdica novamente, e então estariam fazendo as pazes e consertando as
coisas, no tipo de “acordo', não a “transa com ódico” tipo o “acordo".
d l d b l á d
— Foi o primeiro — eu digo, colocando meu cabelo atrás das
orelhas. Meu olhar encontra Aiden no bar, ombro a ombro com Pete.
Ele ri de algo que Pete diz, então olha para trás, encontrando meus
olhos. Eu sorrio suavemente. Ele sorri também. E as borboletas no
meu estômago bateram suas asas furiosamente.
— Então... as coisas estão bem desde que você voltou para casa?
— ela pergunta, me dando um olhar conhecedor.
— Duas semanas de volta à realidade e, até agora, tudo bem. —
Eu me inclino contra a parede do pátio externo do restaurante, onde
estamos esperando por nossa mesa, e aproveito uma folga do forte
sol da tarde. — Nós tivemos outra sessão de terapia e falamos sobre
ser mais intencionais com nosso tempo juntos quando estamos juntos,
e também equilibrando-o com o tempo sozinhos. Momentos em que
Aiden pode trabalhar por horas seguidas e não se sentir culpado ou
puxado em duas direções, momentos em que posso sair e fazer
coisas que me deixam feliz.
Mai concorda.
— É estranho, não é? Como é fácil colapsar um no outro e ficar
tão presos nisso. Todo casal precisa compartilhar bastante da vida,
mas as duas pessoas também precisam de sua independência. Estou
muito mais feliz desde que definimos nossa programação em que
Pete tira sua noite para jogos e eu saio para jogar futebol.
— Exatamente. Eu deixei minha vida ficar pequena. Fiquei triste
quando as coisas ficaram difíceis com Aiden, e então, em vez de me
voltar para as coisas que me traziam alegria, eu simplesmente fiquei
infeliz. Parei de jogar na nossa liga feminina, trabalhei depois, não
tinha vontade de sair nem de ir ao karaokê... sei lá. Eu simplesmente
deixei uma parte de mim desaparecer e não quero fazer isso nunca
mais. Especialmente agora, quando muito está em fluxo. Aiden está
trabalhando neste projeto, e não vai a lugar nenhum tão cedo. Em
vez de ficar em casa cozinhando, vou fazer o que gosto. Voltar para
o futebol ou pelo menos algum tipo de exercício divertido, ter noites
com você e as garotas novamente.
Mai sorri para mim.
— Há momentos assim. Pete e eu os tivemos. Você só tem que
cuidar de si, cuidar um do outro e sobreviver, então vocês vão se
curtir para cacete quando a vida se acalmar.
— Exatamente. — Eu sorrio de volta para ela. — Você tem
alguma vaga na equipe para o próximo jogo? Tenho pensado em
mandar uma mensagem para você, mas estou um pouco distraída
desde que chegamos em casa.
Limpando a garganta, Mai olha para seus pés.
— Hum, sim, nós temos.
Eu li sua linguagem corporal. Ela parece nervosa.
— O que está errado?
El l d dál l d lh d á
Ela raspa as solas das sandálias nos ladrilhos do pátio.
— Bem, vamos precisar de outra pessoa na equipe, porque
alguém está grávida de novo.
A dor no meu peito não é tão aguda quanto antes, mas ainda está
lá. Sim, eu sou grata por não ter passado por essa crise matrimonial
com Aiden enquanto estava no meio de uma mudança hormonal e o
crescimento de um bebê, mas é agridoce. Especialmente porque
minha menstruação veio há dois dias. E me surpreendi sentindo...
alívio. Alívio maçante.
— Quem é? — Eu pergunto. — A menos que estejam mantendo
isso em segredo. Eu não quero bisbilhotar.
Mai suspira e encontra meus olhos, a dor apertando seu rosto.
— Sou eu.
Minha garganta dá um nó.
— Oh! — Eu pisco para ela, mordendo meu lábio contra o
impulso de chorar. — Oh meu Deus, Mai. Eu estou tão feliz por
você! — Eu envolvo meus braços em torno dela, minha amiga que é
alta, curvilínea e forte como eu, de modo que seu queixo facilmente
se encaixa no meu ombro.
— Eu me sinto uma merda — diz ela com voz rouca. — Eu queria
que nós compartilhássemos isso, e eu sei o quanto você queria um
bebê. Agora estou machucando você, e você é a última pessoa que
quero machucar. Eu juro que foi um acidente, Freya…
— Mai. — Eu me afasto e seguro seus olhos. — Pare com isso
agora. Esta é uma boa notícia, apenas uma boa notícia. Um bebê!
Ela procura meus olhos.
— Tem certeza que? Você está bem?
Eu concordo.
— Sim eu estou. Eu... na verdade, voltei a tomar pílula.
Os olhos de Mai se arregalam.
— O que?
— Shh. — Eu olho para cima, vendo Aiden e Pete pegando
nossas bebidas do bar. — Eu não disse a Aiden.
— Você o quê? — Ela levanta uma sobrancelha. — Freya, você
está tentando foder com as coisas quando tudo ficou bem?
Eu me inquieto sob seu olhar intenso.
— Mai, ouça. Eu só quero ter um pouco de tempo com ele antes
que as coisas fiquem complicadas para um bebê porque ficou tudo
bem.
— Então por que você não contou a ele?
— Porque estou nervosa sobre como ele vai reagir. O
planejamento de um bebê e os problemas de nosso casamento se
sobrepõem muito, e só quero pensar em como abordar isso com ele.
Faz apenas dois dias.
Ela me lança um olhar cético.
d d d h
— Dois dias são dias demais, minha amiga.
— Mai — eu gemo. — Ele se sente culpado por não termos
engravidado ainda, e eu não quero machucá-lo. Vou contar a ele esta
noite, juro. É difícil, ok? Tenho lutado para encontrar as palavras
certas.
— É melhor você encontrá-los rápido, senhora — ela diz,
balançando a cabeça. — Eu não aprovo…
Os caras abrem a porta e eu a puxo para mim em um abraço.
— Por favor, não diga nada — eu sussurro, apertando os braços
de Mai enquanto sorrio por cima do ombro para Aiden e Pete,
esperando ter disfarçado. — Parabéns — digo a ela novamente. —
Eu posso abraçar outro de seus lindos bebês e beber para você.
— Oh, ha-ha, tão engraçado — diz ela, tirando de Pete o que
agora sei que é um coquetel sem álcool.
— Ei — Pete diz para nós, — eu queria ter te mandado uma
mensagem, você pode cuidar das crianças para nós daqui a duas
semanas? O irmão dela vai se casar na casa de infância de sua noiva
em Sacramento, e não podemos levar as crianças. Ele acabou de nos
dizer isso.
Mai revira os olhos.
— Vocês não tem que ficar com eles. Na verdade, eu te proíbo.
Você fica demais com eles para nós.
Aiden se junta a nós, beijando-me suavemente atrás da minha
orelha. Ele me entrega meu sel er com limão, em seguida, coloca a
mão nas minhas costas.
— Não ficamos com eles há semanas. Não nos importamos.
— Diz o cara que traz seu laptop — Mai diz incisivamente. —
Sua esposa é quem leva os pirralhos para a cama.
— Com licença. — Aiden a encara com um olhar indignado. —
Sou eu que faço um queijo quente irado e leio para eles. Seu filho
disse que a voz do meu Papai, Tigre, é melhor do que a de Pete.
Pete faz uma careta.
— Cria ingrata.
Mai ri.
— Tudo bem. Retiro o que eu disse. Você ainda não precisa
cuidar deles, de todo jeito posso encontrar uma babá para o dia. De
verdade.
— Mas eles só passaram a noite com a gente — digo a ela. —
Como vocês vão a Sacramento para um casamento e não passa a
noite? Vocês ficarão exaustos.
— É apenas uma viagem de cinco horas, ou um vôo rápido.
— Que vocês pegariam tarde da noite, depois do casamento —
diz Aiden.
— Nós damos um jeito — murmura Mai, enfiando o canudo em
volta da bebida.
l b E ê
— Mas seria cansativo — eu a lembro. — E você precisa se
cuidar.
Pete envolve Mai com o braço.
— Você contou para ela.
— Sim. — Ela encontra meus olhos e sorri fracamente.
— Sim — digo a Pete. — Sim ela contou. E estou muito feliz por
vocês dois.
Aiden fica entre Pete e Mai.
— Disse a quem o quê? Por que estamos felizes?
— Você vai ser um tio honorário, pela terceira vez agora — eu
digo, sorrindo para minha amiga. — Mai está grávida.
— O que? Parabéns! — Aiden abraça Mai e Pete, então olha para
mim, seu sorriso se aprofundando. E tenho a sensação inquietante de
que Aiden pensa logo, Mai não será a única.
No meio do jantar, Aiden enfia a mão no bolso e tira o telefone.
— Juro por Deus, vou matá-lo.
— Matar quem? — Pete pergunta.
Aiden suspira enquanto desbloqueia a tela do telefone.
— Dan.
— Dan — diz Pete sombriamente.
Mai dá uma cotovelada nele.
— Você está com tanto ciúme dele. Ele é sócio dele.
— Ele está se intrometendo no meu bromance4. — Pete encontra
meus olhos com simpatia. — Você não é a única para quem ele está
ocupado.
— Pete! — Mai sibila, acotovelando-o com força novamente.
— Desculpe — ele murmura em seu copo.
Aiden olha para ele.
— Lembre-me de cuspir na sua cerveja depois de atender a esta
ligação. — Ele se vira para mim. — Desculpe, Frey. Posso fugir? Dan
me mandou muitas mensagens.
Eu olho para o telefone dele, vendo uma mensagem de voz
aparecer.
— Você também tem uma mensagem na caixa postal.
— Um número que não conheço. Provavelmente spam, mas
verificarei depois de ligar para Dan bem rápido. Ele está lidando
sozinho com nosso investidor pela primeira vez.
Eu pisco para ele em estado de choque.
— Aiden, você tem certeza que não deveria estar junto?
— Sim — ele diz uniformemente, digitando de volta para Dan e
guardando o telefone no bolso. — Eu precisava sair com nossos
amigos, e Dan precisa voar do ninho. Eu fiz minha parte. Vendi ao
nosso investidor, respondi a todos os e-mails. Eu escrevi a maldita

é d d ld d
apresentação. Dan é mais do que capaz de lidar com uma reunião de
acompanhamento. Eu confio nele.
— Mas isso está estressando você? — Eu pergunto.
Ele sorri suavemente.
— Um pouco. Mas está tudo bem. Estou bem.
Eu me ajeito no banco, a culpa me puxando.
— Devíamos ter discutido isso.
Mai me lança um olhar e faz sua melhor amiga falando
telepática.
Você realmente vai dar um sermão sobre transparência agora?
Eu olho de volta para ela.
Eu disse que contaria a ele esta noite.
Sobrancelha arqueada. Lábios franzidos. Mhmm, sua expressão
diz. Certo.
A mão de Aiden passa pela minha coxa sob a mesa.
— Eu não queria perder nossa noite. Essa foi minha escolha.
— Mas Dan está mandando mensagens.
Aiden encolhe os ombros.
— Dan está mandando mensagens. Vou ligar para ele.
— E se for uma crise, se for algo decisivo, quero que você vá à
reunião. Eu mesma te levo.
Ele envolve sua mão na minha e aperta suavemente.
— Eu vou, Freya. Obrigado.
Beijo sua bochecha, em seguida, ele sai do nosso banco, observo-
o, alto e largo, caminhando suavemente para fora do restaurante. Eu
me jogo de volta com um suspiro.
— Cuidado — Mai ri. — Eu acho que você babou.
— Me processe, eu gosto da bunda do meu marido.
Pete suspira e passa o braço em volta de Mai.
— Você costumava me olhar assim.
— Eu ainda faço. Depois de colocar as crianças na cama e encher
a máquina de lavar louça. Quando você se abaixa e coloca aquele
detergente — Ela estremece. — Mhmm.
Eu balancei minha cabeça.
— Vocês dois.
Mai engole metade de seu mojito sem álcool e sorri para mim
com o canudo. Pete pega a conversa e continua ela, daquele jeito fácil
que ele tem, falando e nos fazendo rir. Absorta nas travessuras de
Pete, até que Aiden esteja a caminho de nossa mesa, até que eu o
noto, seu rosto sombrio.
— O que foi? — Eu pergunto.
— Dan está bem. Quer dizer, eu lidei com suas perguntas. Mas
ouvi a caixa postal. É... Tom — ele diz, perplexo.
— Tom? — Eu torço meu nariz. — Quem é Tom?

O l d d éd d d
— O zelador do meu prédio na universidade, com quem eu
tenho... eu não sei como chamar. Acho que amizade é justo. Ele
trabalha quando eu fico até tarde.
Meu estômago afunda um pouco, lembrando do que ele disse na
noite em que voltou para casa.
— Foi ele quem te mandou para casa.
Aiden acena com a cabeça. Mas ele não se senta.
— O que está errado? — Eu pergunto.
— Eu não sei. Ele apenas me pediu para, por favor, encontrá-lo
no prédio esta noite. Disse que precisava falar comigo com urgência.
— Que horas? — Eu pergunto.
— Não disse. Só que queria esta noite, que ele estaria no trabalho.
— Aiden finalmente cai no banco. Ele parece chateado.
Eu deslizo minha mão dentro da dele e aperto.
— Podemos passar por lá, deixar vocês dois conversando, se você
achar que deve?
— Eu acho. Eu só– Ele balança a cabeça. — Desculpa. Esqueça
isso por enquanto. Pedimos sobremesa?
Pete e Mai erguem os olhos de sua própria conversa.
— Não. Nós deveríamos? — Pete diz para Mai e para mim, os
gulosos.
Mai olha para mim.
— Estou com náuseas. Então, você liga.
Eu procuro os olhos de Aiden.
— Não, estou bem.
Terminamos nossa refeição, fechando a conta e nos abraçando em
despedida, e quando estamos no carro, Aiden desliza para trás do
volante, exalando pesadamente.
— O que você está pensando? — Eu digo a ele.
Aiden suspira.
— Eu não sei. Acho que preciso ver o que ele quer falar. Parece
tão estranho. A única coisa que consigo pensar é que ele está com
problemas e precisa de um amigo. Eu não quero encurtar nossa
noite, mas…
— Ele é seu amigo. — Eu deslizo minha mão ao longo de seu
braço. — Vamos lá.
Aiden agarra o volante até que os nós de seus dedos estejam
brancos. Sua mandíbula aparece sob a barba. Ele a aparou, limpa e
rente, não exatamente curta como ele teve por anos, mas ainda mais
curta do que era no Havaí. Eu posso ver o conjunto tenso de sua
boca, a tensão que ele está segurando.
— Respire fundo, Urso.
Ele exala pesadamente e liga o motor.
— Certo. Você tem razão.

Q d d l f l
Quando entramos na rodovia, eu pego meu telefone e coloco
uma playlist acústica silenciosa para tocar. Suavemente, eu esfrego o
pescoço de Aiden.
— Vou pegar um Uber de volta — diz ele — para que você possa
ir embora. Pelo menos você pode ir para casa e relaxar. Não quero
você esperando por mim no carro. Quem sabe do que ele precisa ou
por quanto tempo.
Eu coloco minha mão em sua coxa.
— Eu não me importo em esperar, Aiden.
— É só que– Ele suspira. — Eu tinha planejado essa noite inteira.
— Eu sei — eu sussurro, me virando e dando-lhe um beijo na
bochecha. — E isso foi um presente para mim. Eu me sinto amada e
priorizada. Agora vamos. Quanto mais cedo você for falar com ele,
mais cedo você estará em casa para receber carinhos e comer meu
bolo de chocolate sem farinha favorito que você escondeu na
geladeira.
Aiden estreita os olhos, mas os mantém na estrada.
— É difícil esconder um bolo. Você deveria fingir que não viu
aquela caixa branca gigante atrás da couve.
— Ops. — Eu sorrio. — Vamos lá. Comece a dirigir.
28

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ R i v e r ” - L e o n B r i d g e s

D F
, entro no meu prédio, subindo os degraus como
sempre – porque foda-se os elevadores, também conhecidos como
armadilhas mortais de prédios de escritórios – até o meu andar.
Quando empurro a porta da escada, paro abruptamente.
Tom se senta em uma cadeira na área comum do andar, com os
cotovelos sobre os joelhos. Sem seu boné normal, eu não o
reconheceria. Ele não está com o uniforme de zelador, em vez disso,
usa uma camisa de botão azul enrolada até os cotovelos, tatuagens
traidoras que eu nunca tinha visto antes, jeans escuros e botas.
Ele fica de pé, os olhos no chão como sempre, esfregando o
pescoço.
— Obrigado por ter vindo.
A porta se fecha atrás de mim.
— Claro. Sua mensagem parecia urgente.
Ele concorda.
— Sim. E é. E uh — Ele limpa sua garganta asperamente. — Você
se importa se falarmos em seu escritório? É privado.
Os cabelos da minha nuca se arrepiam. Eu fico olhando para a
aba de seu boné enquanto ele tosse discretamente em seu braço, a
tosse molhada de um fumante.
— Claro — eu finalmente respondo, passando por ele em direção
ao corredor que leva ao meu escritório. Assim que estou na porta,
pego minhas chaves, destranco-a e nos deixo entrar. Tom entra atrás
de mim, dando um passo para o lado para que eu possa fechar a
porta atrás de nós.
— Por favor — digo a ele, apontando para o sofá. — Sinta-se à
vontade. — Jogando minhas chaves no pratinho que mantenho ao
lado da foto de Freya e do meu casamento, fico olhando para a foto
dela, seu lindo e sorridente perfil enquanto ela me encara como se eu
tivesse lhe dado a porra da lua. Eu sinto que ela é um presente, e não
pela primeira vez recentemente, meus pensamentos voltam para a
possibilidade emocionante, aterrorizante e incrível de que em breve
poderemos estar esperando um novo presente. Uma pequena pessoa
que é parte de Freya, parte de mim e totalmente parte do nosso
amor. Um bebê.

d l d l d
— Vou tentar ser direto — ele diz asperamente, limpando a
garganta e me chamando de volta à atenção. — Mas esse realmente
não é meu ponto forte. Vou fazer o meu melhor. Eu só peço que você
me deixe terminar.
Eu me inclino na beirada da minha mesa, pronto para ouvi-lo,
uma postura que assumi milhares de vezes no horário de
expediente, com alunos, amigos.
— OK. Estou ouvindo.
— No meu aniversário de dois anos de sobriedade, senti-me
suficientemente confiante de que iria durar. — Ele ajusta o boné e
entrelaça as mãos novamente. — Foi o máximo que eu aguentei.
Sempre. Parecia uma vida inteira. Da melhor maneira. Liguei para a
única mulher que amei e pedi outra chance. Só para vê-la, para
conversar. Eu não tinha esperança para mais nada, por mais que
quisesse mais.
Eu mudo meu peso, inclinando-me ainda mais na minha mesa e
cruzando os braços.
— Ela disse não a princípio. Mas eu sou — ele ri com voz rouca.
— Bem, eu sou um tipo de homem persistente, e como eu disse
antes, eu aprendi da maneira mais difícil quanto me custou recuar,
da última vez. Eu falhei com ela quando éramos jovens e queria
provar a ela que eu era melhor do que isso agora. Então, eu escrevi
cartas para ela, tentei dizer a ela como me sentia, o que fiz e passei
para estar onde estava. Ela finalmente concordou em me encontrar
para uma xícara de café.
— Desculpe — ele diz. — Estou tentando ser rápido. Eu prometo
que vou chegar lá.
— Está tudo bem — digo a ele.
— Então, nós nos encontramos para um café, e então... ela
começou a me receber para jantar no domingo. Não foi nada
romântico. Apenas... amizade, uma amizade cautelosa. Ela se abriu
um pouco, me contou mais sobre a vida dela. As coisas estavam
boas. — Ele funga enquanto sua mão desaparece sob a aba do boné,
como se estivesse beliscando a ponte do nariz, pressionando contra
os olhos. — E então eu traí a confiança dela.
O ar sai de mim e a decepção afunda, pesando em meu peito.
Mordo minha bochecha para ficar quieto, então não vou pressinar ou
perguntar como ou por quê. Eu espero. E o silêncio cresce.
— Ela me contou sobre seu filho. Ela confiou em mim com esse
conhecimento, acreditando que eu era uma pessoa mudada o
suficiente para ser feliz por ele sem pedir mais nada da pessoa com
quem eu falhei tão terrivelmente quando ele era… — Sua voz falha,
e ele respira fundo e se acalma. — Quando ele era apenas um bebê.
Nosso bebê.

U f d b h l b h
Um suor frio desce sobre minha pele. Meus braços caem, minha
mão boa segurando a mesa para estabilidade.
— Mas eu estava tão desesperado para vê-lo — ele sussurra. —
Só um vislumbre. Então eu fiz algo que não deveria ter feito. Eu
consegui um emprego onde ele trabalhava, o que deveria ser apenas
uma substituição temporária. Jurei para mim mesmo que seria
apenas por aquelas poucas semanas, que nunca o deixaria me ver,
que seria uma sombra que mantinha sua distância. Eu teria meu
vislumbre, uma pequena chance preciosa de ver quem ele se tornou.
Jurei para mim mesmo que nunca falaria com ele, nunca faria algo
tão desonesto como tentar conhecê-lo sem dizer quem eu realmente
era.
Meus ouvidos zumbem, o ar entra e sai dos meus pulmões.
— Mas então o homem que eu estava substituindo ficou ainda
mais doente. Ele não voltaria ao trabalho e eu tinha uma escolha a
fazer. Na noite anterior, tive que me comprometer com uma posição
permanente ou desistir — ele resmunga, enterrando o rosto. — Eu
finalmente o vi de perto, ouvi sua voz. E... foi incrível, perceber
quem ele era, o que ele sabia e como trabalhava, apenas em um
único encontro. Eu não poderia desistir disso. Então eu fiquei e fiz
uma coisa covarde. Conversei com ele, consegui conhecê-lo da
maneira que pude, nunca dizendo a ele quem eu realmente era.
O mundo balança.
— Eu estava com medo — ele sussurra. — E fraco. Peguei o
caminho mais fácil até ele e, como o adicto que sou, fui fisgado. Eu
não conseguia suportar a ideia de perdê-lo.
Finalmente, ele olha para cima.
— O pensamento de perder você.
Eu fico olhando para ele sem expressão, o choque deixando
minhas mãos frias, meu corpo distante e amortecido. Observando
cada detalhe minucioso, vejo Tom completamente pela primeira vez.
O formato de sua barba bem cheia e grisalha, as rugas profundas em
seus olhos, gravadas em pele bronzeada como couro. Um nariz forte
e pontudo, e a última coisa que pensei que veria:
Um par de olhos azuis, tão vívidos e marcantes quanto os meus.
O mundo tomba.
— Quem é você? — Eu sussurro.
Seus olhos estão vermelhos e úmidos.
— Thomas Ryan MacCormack, mas para todos aqui, Tom Ryan.
Um homem que não merece chamar a si mesmo do que é para você.
Eu fico olhando para ele. Este homem que disse sem dizer... ele é
meu pai. Tom Ryan? Eu não posso... eu não posso processar isso.
Não pode ser ele.
Mas ele é. Eu sei que é, procurando seu rosto, vendo tanto de
mim mesmo. Isso faz meu estômago embrulhar. E como se ele
h l b l l l
sentisse minha repulsa absoluta, ele pisca para longe.
— Eu não posso te dizer o quanto eu lamento por isso. Sinto
muito. Eu peguei o caminho do covarde — diz ele, quase como se
para si mesmo. — Em vez de pedir outra chance de conhecê-lo, eu as
roubei. Porque toda vez que tentei criar coragem, eu… — Sua voz
falha. — Eu te admirei muito. Eu sabia que ia desapontar. E você
falou comigo como se me visse como seu igual, não como um
ninguém, como tantas pessoas por aqui fazem, sendo esnobes. Você
falou comigo como se visse algo em mim. Como se você me
respeitasse e... eu não poderia perder isso.
Finalmente encontro minha voz, uma onda de raiva explodindo
dentro de mim.
— Isso é uma merda manipulada, Tom. Se infiltrando no meu
local de trabalho. Abandonando seu conselho paternal. Sendo um
“amigo” para mim. Me vendo no meu… — Aquele dia, que sentei-
me ao lado dele no banco do lado de fora, me afogando na minha
ansiedade, flashes em minha mente. Eu engulo em seco e respiro
lenta e calmamente. — No meu pior, porra. Você tirou minha
escolha — digo a ele com a mandíbula cerrada, as lágrimas
engrossando minha garganta. — Você mentiu para mim.
— Eu sei — ele sussurra. — Estava errado.
— Você não tinha o direito de fazer isso. — Eu empurro a mesa,
ficando de pé, em toda a minha altura. — Você não ganhou esse
privilégio de me conhecer. Quando você saiu perdeu isso.
Ele pisca para mim, sua expressão o retrato de um pesar
miserável.
— Eu sei.
— Então por que diabos você fez isso? — Eu pergunto com voz
rouca. — E por que você teve que aparecer agora, quando eu
finalmente não estou estragando tudo? Quando estou tentando
construir minha própria família, quando finalmente faço uma oração
para não ser um idiota absoluto como você era?
Ele faz um ruído baixo de dor e enterra o rosto.
— Eu sinto muito. Eu gostaria de nunca ter feito isso. Eu nunca
quis te machucar.
— Nunca quis me machucar! — Eu ando em direção a Tom, onde
ele ainda está sentado no sofá.
— Você abandonou sua família! — Eu digo com a quebra na
minha voz. — E agora você tem a coragem de aparecer e tentar
reivindicar algo que você nunca teve a chance de me conhecer. Você
partiu o coração da minha mãe. Você fez minha vida dura para
caralho. Você tem ideia disso?
Uma lágrima escorre de seu olho.
— Você fez de nossas vidas um inferno. Ela se quebrou, se
exauriu, chorou todas as noites durante anos — eu sussurro com
d ê
raiva. — Por causa de você.
— Você acha que eu não sei? — ele diz finalmente, levantando-se
e encontrando meus olhos. — Você acha que eu não me odiei, dia
após dia, pelo que fiz, como falhei com vocês dois? Eu quis dizer o
que disse naquela noite, quando disse a você o quanto me
arrependia de não ter lutado mais contra meus demônios, de não ter
feito o que fosse necessário para ganhar a confiança de sua mãe e um
lugar em nossa família. Você acha que eu não me odeio por estragar
tudo de novo?
— Eu não dou a mínima para o que você sente — digo, bem na
cara dele. — Eu aprendi a não me importar com você há muito
tempo. E ainda assim, quase destrui meu casamento, punindo a
mulher que eu sempre quis proteger, envenenando a única coisa boa
que eu já tive! — Eu bato meu punho sobre meu coração. — Você não
deveria ter esse poder! Você não merece.
— Sinto muito — ele diz. — Eu não posso te dizer o quanto eu
sinto muito, Aiden–
Ouvi-lo usar meu nome corta meu coração como uma faca. Eu
me afasto.
— Eu não quero ouvir mais nenhuma palavra. Sem mais palavras
vazias. Sem mais mentiras.
Ele pisca para longe, olhando para seus pés.
— Eu entendo.
Um longo e pesado silêncio se mantém entre nós.
— Eu preciso que você saiba de uma coisa — ele murmura.
— Jesus — eu gemo, caindo na minha mesa. — O que?
— Eu me demiti. Eu não estarei mais aqui. Então, estarei fora da
sua vida. Por mais... por mais que eu desse qualquer coisa pela
chance de tentar ganhar seu perdão, de ter qualquer coisa com você,
pelo pouco que você estivesse disposto a me dar, eu sei que não
mereço.
Meu coração dói, uma pontada quente e aguda em um lugar tão
antigo e escondido, que coloco a mão no peito, onde dói tão
profundamente que mal consigo respirar. Mas eu respiro. Eu respiro
através da dor, a profundidade da minha raiva e nojo e decepção
com ele... e a verdade aterrorizante de que a parte mais forte e nova
de mim não quer ser governada por nada disso. A parte de mim que
foi curada em meu casamento, que cresceu em sua capacidade de
sentir, temer e amar através dele, essa parte de mim quer mais curar
do que queimar em uma raiva justificada.
— Você está certo — digo a ele asperamente. — Você não merece
uma segunda chance. Você nunca será capaz de compensar o que
fez. É muito pouco, muito tarde.
— Eu entendo — diz ele calmamente. — É por isso que eu
precisava te dizer. Mesmo assim, o que eu fiz... não espero seu
d
perdão por isso.
— Bom. Porque você não deveria. — Eu fico olhando para ele,
cada respiração mais apertada, mais difícil. — Mas isso não significa
que eu também não deva.
Seus olhos se erguem e encontram os meus.
— O que?
— Se você tivesse feito isso apenas um mês atrás, eu o teria
expulsado. Eu teria fechado a porta bem atrás da sua bunda e
enterrado a dor que você causou dentro de mim, ao lado de tudo o
mais que você fodeu.
A expressão de Tom, muito um reflexo da minha, procura meu
rosto.
— Mas?
Levo a mão trêmula à garganta, onde ficava a corrente de Freya,
quente contra minha pele. Minha coragem. Minha lembrança de seu
amor. Mas agora eu sei que não preciso de uma corrente para tê-la
comigo. O amor dela está comigo, em mim, sempre. Isso me mudou
desde a base de quem eu sou, de modo que agora posso olhar Tom
nos olhos e dizer honestamente:
— Mas eu amo alguém que me mostrou que o amor não dá uma
segunda chance porque nós as merecemos. O amor dá uma segunda
chance porque acredita que podemos ser o melhor de nós. E por
algum motivo esquecido por Deus, seja o fato de que depois de
todos esses anos você voltou direto para a minha mãe, mas não até
que se sentisse digno dela, ou que do seu jeito pervertido, você
tentou ser bom para mim, eu quero acreditar no melhor de você.
Então... considere esta sua segunda chance, Tom.
Eu vejo seus olhos se encherem.
— Oh Deus. — Ele enterra o rosto.
Meu aperto na minha mesa fica mais forte enquanto meu pulso
bate em meus ouvidos, enquanto meu peito aperta ainda mais.
— Mas deixe-me ser claro. Se você ferir minha mãe de novo, vou
perturbá-lo para sempre, você me entende? Se ela não sabe sobre
isso, ela tem que saber. Sem mais mentiras, sem machucá-la...
— Ela sabe — diz ele calmamente. — Marie sabe. E ela está puta.
É por isso que era urgente. Eu estraguei tudo, mas você não estava
ouvindo isso dela ou de ninguém além de mim. Eu tinha que te
contar. Eu precisava enfrentar isso e deixar você me dizer o que eu
merecia ouvir.
O menino em mim que sempre sofreu por seu pai quer se inclinar
para as palavras sinceras de Tom e aceitar suas promessas. Para
interpretar sua confissão como um sinal de que realmente significo
algo para ele, que ele se importou o suficiente para me encarar e
confessar. Mas eu tenho que proteger meu coração. Tenho que dar
um passo lento e cauteloso de cada vez.
d b l ê d d
— Tudo bem — eu solto. — Você me disse, e eu disse o que
precisava dizer. Considere isso minha pobre tentativa de merda de
dizer que de alguma forma, eventualmente, espero poder perdoá-lo.
Mas com certeza, não será hoje. Agora saia do meu escritório e não
me ligue. Entrarei em contato com você quando e se estiver pronto.
Na verdade, veja você mesmo. Estou indo embora.
Pego minhas chaves, saio correndo e desço as escadas.
No meio do caminho, desabo no térreo, puxando lufadas ásperas
de ar, enquanto minha garganta se aperta e queima. Estrelas dançam
em minha visão enquanto procuro meu telefone, discando para a
única pessoa que tenho em minhas favoritas. Porque amo minha
mãe e, sim, tenho amigos, mas só há uma pessoa que conquistou
esse lugar e preciso dela agora. Eu preciso dela tanto. E, graças a
Deus, não tenho mais medo de possuir isso.
A chamada é conectada. Toca uma vez. Duas vezes.
O terceiro toque ecoa na escada. O quarto está mais perto. Eu me
assusto, deixando cair meu telefone no chão com um barulho.
— Aiden? — Freya grita.
— Freya — eu respondo com a voz rouca.
Eu ouço seu ritmo acelerar, seus pés rápidos enquanto ela corre
em minha direção. Seu cabelo brilha como uma auréola de estrelas
no céu noturno, molhado de uma chuva rara e fria de verão
enquanto ela afunda, tão incrivelmente bela, e me envolve em seus
braços.
— Freya. — Seu nome sai dos meus lábios como uma oração
quando me inclino para ela. Eu a aperto contra mim, minha voz
quebrando em um soluço rouco.
— Shh, Aiden, está tudo bem — ela sussurra. Seus braços me
seguram firmemente, suas mãos passando pelas minhas costas. —
Estou aqui.
— Oh Deus. — Eu enterro meu rosto em seu pescoço e choro. Eu
choro as lágrimas que venho segurando desde... sempre. Desde que
eu era um menino que se sentia incompleto, errado e desagradável,
porque meu pai não me queria. Desde adolescente vi minha mãe
sofrer, lutar, mal sobrevivendo graças a alguém cujo fantasma ainda
podia infligir uma dor da qual eu me sentia incapaz de protegê-la. Já
que eu era o homem adulto que prometeu sua vida à mulher que
amava, com tanto medo de que ele se tornasse igual ao homem que
mais o magoou, tão inseguro de que algum dia seria digno de seus
votos para mim.
— Aiden. Respire, Urso. Respirações lentas. Dentro... então fora.
Bom. — Freya dá um beijo suave na minha têmpora e me abraça com
força. — Estou aqui. Seja o que for, estou aqui. Eu não estou indo a
lugar nenhum.

ê f b d fi d d
— V-você não foi embora — eu digo entre suspiros afiados de ar.
— Estou tão feliz que você não foi embora.
— Eu também — ela sussurra. Sua mão segura a minha nuca
enquanto ela pressiona outro beijo no meu rosto e me inspira. — Eu
também, Aiden.
Eu entro em casa, atordoado. Exausto.
Tanto para recuperar nossa noite de encontros.
Puta que pariu.
Eu me viro para Freya e a pego me observando com atenção,
como se ela estivesse esperando que eu explodisse.
— Você — ela coloca as chaves no gancho pela primeira vez na
história do mundo. Você sabe que algo está acontecendo, se ela fizer
isso. — Você quer falar sobre isso? — Ela pergunta.
Eu balancei minha cabeça.
— Não. Podemos colocar o filme, comer um pouco de bolo…
— Aiden — Freya diz suavemente. — Acho que devemos
encerrar o dia. O jantar foi maravilhoso. E podemos comer bolo com
café pela manhã…
— Não. — Abro a geladeira, sabendo que estou forçando e não
deveria. Mas me sinto como mamãe e meu velho carro. Nós o
chamávamos de Herby – às vezes mamãe brincava que ficava
nervosa para desligá-lo porque não tinha certeza se ele iria ligar de
novo. Se eu parar, não sei o que vai acontecer. O que quer que seja,
não quero fazer agora. Não consigo lidar com mais nada. Preciso de
Freya em meus braços. Preciso fechar meus olhos e cheirar sua
doçura de sol e limão, o cheiro forte e limpo de grama recém-
cortada. Eu quero imaginar o verão no nosso quintal e desaparecer
deste lugar que me machuca para caralho.
— Urso, por favor — diz ela suavemente. — Vamos só…
— E-ele é meu pai — eu deixo escapar, colocando o bolo sobre a
mesa. Minhas mãos estão tremendo e meus joelhos quase cedem
quando me apoio no balcão.
— O que? — ela pergunta incrédula. — Quem, Aiden?
— Tom. Ele conseguiu o trabalho para me ver. Ele é a porra do
meu pai.
Os olhos de Freya se arregalam quando ela senta em um
banquinho no balcão da cozinha.
— Eu ... Oh meu Deus, Aiden.
Uma onda de náusea fria rola através de mim enquanto meu
choque começa a se dissipar, enquanto a verdade afunda. Eu vou
vomitar. Virando-me, corro pelo corredor, através do nosso quarto,
para o conforto do nosso banheiro. Eu chego bem a tempo,
esvaziando meu estômago, onda após onda. Em algum momento,

lh lh d d d lá
meus olhos estão molhados não apenas de vomitar, mas de lágrimas.
Lágrimas malditas.
Freya está atrás de mim, caindo de joelhos. Ela pressiona uma
toalha fria no meu rosto, como sempre fazia quando eu vomitava.
Mais lágrimas vêm enquanto eu passo minhas mãos pelo meu cabelo
e puxo.
— Merda, Freya. Ele… Ele…
Eu vomito, depois cuspo, sentindo a náusea finalmente começar
a desaparecer.
Sua mão percorre minhas costas suavemente.
— Uma respiração de cada vez, Aiden. Uma respiração de cada
vez.
Abaixando a tampa, eu caio contra o armário da pia e suspiro
pesadamente.
— Sinto muito — eu sussurro, meus olhos piscando e
encontrando os dela.
— Por que? — ela diz baixinho. — Por que você se desculparia?
Rastejando até a pia, eu ligo a água e salpico meu rosto, enxáguo
minha boca.
— É só uma bagunça, Freya. Depois de tudo que lidamos nos
últimos... meses — minha voz morre enquanto eu encaro algo que
minha mente se recusa a admitir que meus olhos estão realmente
vendo.
A bolsa de maquiagem de Freya está parada, uma confusão
caótica e colorida de recipientes e pincéis, derramando-se sobre o
balcão do banheiro. E dentro da bolsa aberta, um pacote de papel
alumínio brilhante reflete as luzes do teto. Anticoncepcional. Dois
espaços vazios. Tomados.
Eu pisco, atordoado.
— Freya, o que é isso?
Freya se levanta, dando um passo atrás de mim e seguindo
minha linha de visão. Seu corpo fica estranhamente parado.
— Aiden, não é o que você está pensando…
— Então, o que é? — Eu olho para o espelho, fixando seus olhos.
Eu observo sua expressão aflita, a culpa enchendo seu olhar. A
segunda pessoa na última hora que me olhou daquele jeito. —
Responda-me — eu digo baixinho.
— Anticoncepcional — ela sussurra, enxugando uma lágrima.
É tão agudo e doloroso ouvi-la dizer isso. Compreender que não
só não existe nenhum bebê, mas que ela não quer um. Quando?
Porque? Como tantas coisas mudaram?
— Por que você não me contou? — Eu digo.
Ela engole nervosamente.
— Eu estava indo contar hoje à noite. Eu só... não queria
machucar você.
E ê d d h
— E você pensou que esconder de mim não me machucaria?
Lágrimas transbordam e escorrem por suas bochechas.
— Eu estava tentando encontrar as palavras certas. Eu estava
preocupada que você pensasse o pior.
— E isso seria?
Ela enxuga as lágrimas.
— Achei que você ficaria preocupado por eu estar duvidando de
nós, ou você se culparia de alguma forma, mas eu só quero um
tempo com você. Finalmente, após esses meses de merda, estamos
próximos novamente, nos reconectando. Quando minha
menstruação chegou, fiquei chocada ao perceber que estava aliviada.
Tão aliviada. Porque tudo que eu conseguia pensar era que
estávamos indo muito bem. E agora teríamos algum tempo para
aproveitar isso. Se eu engravidasse imediatamente, esse tempo seria
encurtado antes que um bebê nos virasse de cabeça para baixo.
— Você fez isso pelas minhas costas.
Freya morde o lábio.
— Faz apenas dois dias. Eu ia te contar esta noite.
— Esta noite. Sério, Freya?
— Sim. Eu juro…
— Todo esse fiasco começou por que você se sentiu miserável, se
sentiu cortada quando eu não disse a você cada coisa que
chacoalhava em meu cérebro, e isso é o que você faz? Você não pode
me dizer que não quer mais um bebê…
— Não — ela diz rapidamente, seus olhos encontrando os meus.
Ela se aproxima, mas eu me afasto, minhas costas batendo contra a
parede, desesperado para não ser tocado. Freya parece perceber e se
afasta, dando-me espaço. — Só não agora. Eu quero um bebê com
você, Aiden. Tanto, tanto, e se tivéssemos engravidado, é claro que
eu teria ficado feliz. Mas acabei de perceber, uma vez que formos
pais, é isso, é para sempre, sem volta... Cresci com uma família
grande, sei que essa merda é difícil. Parecia que poderia ser tão bom
para nós ter um pouco mais de tempo antes que um bebê
acontecesse.
— Mas você não poderia me dizer. Você não poderia perguntar
como eu me sentia e falar comigo?
Seus ombros caem.
— Aiden, eu não queria... machucar você. — A voz dela está
fraca. Sua explicação mais fraca. — Você não consegue entender?
— Ah sim. Eu entendo muito bem. É exatamente a mesma
motivação pela qual você me infernizou. — Eu empurro a parede e
sigo em direção a ela. — O que você acha que tenho feito nos últimos
seis meses? Hm? Guardando verdades difíceis por diversão? — Eu
me inclino, até que nossos narizes quase roçam, e minha voz se torna
um sussurro áspero e instável. — Bem-vinda ao meu lado das coisas,
A ê d é C é fá l
Freya. Aprecie a vista. Você entende agora, não é? Como é fácil se
convencer de que mentiras por omissão valem a pena para proteger
a pessoa que você ama. Para esperar o seu tempo até encontrar as
palavras “certas”, até que você possa dizê-las. Quando, na verdade,
tudo o que existe é medo. Medo puro e não adulterado.
Outra lágrima escorre por sua bochecha.
— Sim. Eu entendo.
— Mas não foi isso que prometemos um ao outro. No Havaí, no
aconselhamento, fizemos esses grandes votos de vulnerabilidade e
honestidade, então é isso que acontece? Duas semanas depois, você
não pode confiar em mim para ouvi-la, para lidar com uma dura
verdade?
— Dois dias, Aiden! — ela grita roucamente, enxugando os
olhos. — Você mentiu para mim por seis meses.
— E você mentiu também! — Eu grito de volta. — Você estava
miserável pra caralho.
— Nós dois estávamos — diz ela em meio às lágrimas. — E agora
estávamos finalmente felizes…
— E você não confiou que eu poderia lidar com o primeiro teste
para a felicidade sem estragar tudo. — Eu procuro seus olhos. — O
que você pensa de mim?
Mais lágrimas rastreiam suas bochechas.
— Aiden, não é isso que… — seus olhos se fecham. — Eu
estraguei tudo, ok? Eu deveria ter te contado, imediatamente.
Devíamos ter conversado sobre isso juntos…
— Eu liguei para você, chorando na porra de uma escada esta
noite porque meu pai ausente, alcoólatra, acabou de admitir que
estava me perseguindo no meu trabalho. Você sabe como isso é
humilhante?
— Não — ela sussurra. Mais lágrimas. Muitas lágrimas.
Estou ganhando impulso, como um furacão no mar, a energia
crua e desenfreada tornando-o mais amplo e selvagem. Eu quero
parar. Quero calar a boca e deixá-la se desculpar e conversar, mas
tudo o que sou está ferido – um grande hematoma, do fundo do
coração. E eu precisava dela, agora mesmo, esta noite, de todas as
noites, para não ser alguém que acrescentou a isso.
— Liguei para você porque precisava de você — digo com as
lágrimas doloridas em minha garganta — porque confiei que ambos
estávamos inclinados a isso, Freya, que ambos éramos vulneráveis. E
você se esconde, por quê? Porque você realmente não acha que eu
cresci ou mudei, acha? Você ainda me vê como uma bagunça fodida.
Bem, parabéns, você está certa.
Eu passo por ela, invadindo o quarto até o meu armário.
— Aiden! O que você está fazendo? — ela chama.

E ê d f ê á
— Exatamente o que você me disse para fazer um mês atrás,
Freya. Dando o fora daqui.
Enfio minhas coisas na minha mochila, sem prestar atenção ao
que é ou quanto estou jogando lá. Eu sou um borrão de raiva e dor,
coração batendo forte, pulmões apertados. Eu enxugo as lágrimas,
jogando meus remédios e um carregador de telefone na bolsa. Isso é
o máximo que meu cérebro pode pensar. Não quero me preocupar
com planos, preparação, promessas ou merda alguma, apenas quero
me afastar de toda essa merda, da mulher que acabei de me gabar
estupidamente para Tom, que vê o melhor em mim, quando
realmente, claramente, ela vê o pior.
Eu fecho o zíper.
— Estou indo embora. Você pode ter seu espaço e tempo para
pensar.
— Aiden — ela grita, me seguindo pelo corredor. — Não. Eu não
quero isso. Por favor, fique. Acalme-se. Eu durmo no sofá, vamos
dormir e...
— Eu não consigo pensar, Freya! Não consigo nem colocar minha
cabeça no lugar. Eu menti, você mentiu, ele mentiu, mamãe mentiu,
todos nós mentimos. E pensei que seríamos diferentes, foi o que
prometemos. Seria diferente. Mas nada disso é — eu balanço minha
cabeça. — Apenas ... me dê licença, por favor.
Freya me encara, de costas para a porta da frente.
— Aiden. Não vá.
— Com licença. Freya. — Eu mantenho seus olhos, desejando que
ela faça o que eu peço. — Por favor.
Lágrimas escorrem pelo seu rosto. Sua mão agarra a maçaneta.
Mas, finalmente, ela se afasta. E pela segunda vez, saio pela porta,
perdido.
Totalmente perdido.
29

AIDEN

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ G r o w A s W e G o ” - B e n P l a t t

E . S . Janelas abertas. O vento cortante e


frio. Eu dirijo até minha mão doer de tanto apertar o volante e o
apartamento da minha mãe estar à vista.
Quando eu bato em sua porta, ela abre como se estivesse me
esperando. Ela olha para mim e suspira.
— Ele falou com você.
Puxando-a para perto, enterro minha cabeça em seu cabelo. Eu a
inspiro, aperto-a com força com meu braço bom.
— Mãe.
— Ah, querido. — Ela beija meu cabelo e me puxa para dentro.
— Entre. Sente-se.
Caindo no sofá, caio de lado, contra as almofadas.
— Por quê?
Ela afunda suavemente ao meu lado.
— Por que o que?
— Por que você está vendo ele? Por que ele me encontrou?
Depois de todo esse tempo, quando ele nos deixou, mãe. Ele nos
machucou tanto.
Deslizando a mão suavemente ao longo das minhas costas, ela
suspira.
— Porque ele estava doente. Porque o vício é terrível e eu tive
que proteger você. Eu disse a ele para não voltar até que ele estivesse
sóbrio. E ele – ela engole as lágrimas e encolhe os ombros, sua voz
fina como um sussurro. — Ele não estava. Até agora.
Minha mão aperta a dela.
— Eu sinto muito.
— De que você está se desculpando? Você era um bebê, Aiden.
Você foi um presente. E eu sei que não era justo com você, como as
coisas eram difíceis, mas você era tão resistente. Você foi minha luz
em alguns anos muito sombrios. Mesmo quando você cresceu, se
parecendo com aquele lindo idiota. Tão inteligente e charmoso, com
aquele sorriso que me lembrou, embora ele tenha me machucado e a
você, ele me deu você. Eu nunca poderia me arrepender disso. E
depois de tudo que passamos, olhe onde estamos? Conforto.
Estabilidade. Felicidade. Nós não deixamos isso nos derrubar.
Eu suspiro.
— Foi muito difícil, mãe. Custou a nós dois.
ê E d di E ó d
— Você tem razão. E eu me arrependo disso. Eu só... não poderia
fazer nada melhor do que eu fiz.
Eu aperto sua mão e seguro seus olhos.
— Você foi tão corajosa e forte quando não deveria ser. Você é
minha heroína. Você sabe disso, certo?
Ela sorri para mim.
— Eu sei. Gostaria que tivesse sido melhor, mas estou em paz. Eu
fiz o meu melhor.
— E depois de toda aquela dor que ele causou, você o aceitou de
volta?
Ela me olha intensamente.
— Aceitei ele de volta? Não romanticamente. Ele machucou meu
bebê. Ele deixou seu filho. Não sei... não sei se algum dia poderei
perdoá-lo por isso. Talvez um dia.
— Então o que... por que ele disse que você o chamou, que vocês
conversaram?
— Tom teve que passar por mim para chegar até você. — Mamãe
aperta minha mão. — Eu me importo com ele, é claro. Eu queria vê-
lo, saber como ele cresceu durante a sobriedade. Mas acima de tudo,
eu dei a ele uma chance comigo para que eu pudesse saber se ele era
digno de uma chance com você.
Esfrego meu rosto nas almofadas.
— Deus, é tão... é tão doloroso. Eu disse a ele que queria perdoá-
lo. Que talvez um dia eu pudesse. Mas agora não. Agora só dói.
Tudo dói.
— Isso é, porque é complexo. Porque o amor não para ou começa
porque queremos que pare. Ele nos machucou de uma maneira que
deveria ser imperdoável, mas o amor torna tudo mais confuso. Você
descobrirá com o tempo. E se você não quiser vê-lo, se não puder
perdoá-lo, tudo bem. Isso é o certo para você.
— E você? O que é certo para você?
O olhar da mamãe encontra o meu.
— Não tenho certeza, Aiden. Depois de tudo que ele fez, vindo
para o seu trabalho, isso quebrou nossa confiança. Novamente.
Eu suspiro, entrelaçando meus dedos com os da mamãe.
— Estou magoado que você escondeu isso de mim, que você
estava vendo ele sem eu saber. Por que você não me contou?
— Porque eu tinha que proteger você — diz ela bruscamente. —
Porque eu ainda não tinha certeza se ele estava bem, se a sobriedade
iria durar. Eu não podia suportar a ideia de trazer seu pai para sua
vida novamente, apenas para vê-lo falhar com você e ter uma
recaída. Quando comecei a pensar em falar com você sobre isso, uma
vez que me senti confiante de que ele permaneceria sóbrio, o
momento estava errado. A última coisa que eu faria era jogar seu pai

l ól é d ê
ausente e alcoólatra em recuperação aos seus pés quando você
estava se afogando no trabalho e seu casamento estava em ruínas.
Minha mão solta a dela.
— Você sabia?
— Claro que eu sabia, Aiden. Sei que minha memória não é o que
era, mas tenho olhos na cabeça. Freya estava triste. Você estava
distraído e estressado. Antes de você partir para o Havaí, eu poderia
ter cortado a tensão entre vocês dois com uma faca. E nos meses
anteriores, sempre que vocês dois vinham me incomodar, ficava
claro que as coisas não estavam boas.
Mamãe franze a testa para mim com força.
— Então não. Não te disse que estava conversando com seu pai.
Não até que eu pudesse ter certeza de que você poderia lidar com
isso e, mais importante, que ele merecia que você soubesse. E então,
o que ele fez? Ele me disse que quebrou a promessa de deixá-lo em
paz, que conseguiu um maldito emprego na faculdade.
— Isso foi uma semana atrás. Eu disse a ele que ele jogou toda a
confiança que construímos direto pelo ralo. Eu ignorei suas ligações
enquanto tentava descobrir como dizer a você, o que dizer, sem
desvendar tudo e incomodar você, especialmente com tudo o que
você estava passando. Eu certamente não iria incomodar você no
Havaí — ela exala trêmula. — Disse-lhe que tinha de arranjar um
novo emprego, imediatamente. Eu não poderia deixá-lo continuar
fazendo isso com você. Eu tinha toda a intenção de lhe contar uma
vez que você e Freya parecessem melhores. Eu contava com ele
escondendo de você. Mas parece que o subestimei.
— Subestimou ele?
— O que? Você acha que ele queria te dizer isso? Que foi fácil
para ele? Para esmagar qualquer chance que ele tinha de ganhar sua
confiança, admitindo o que ele fez?
— Eu não sei, mãe — eu suspiro pesadamente. — Estou tão
confuso.
Ela coloca a mão com cuidado nas minhas costas e esfrega em
círculos suaves.
— Você não precisa ter respostas agora, nem para você nem para
Tom. Tome seu tempo e cuide de você. — Ela abaixa a mão e sorri
suavemente. — Pelo menos você tem Freya.
Eu rio vagamente.
— Sim.
Mamãe me encara.
— Por que você está dizendo isso assim?
Conto para mamãe sobre minha explosão épica em casa, o rosto
enterrado em minhas mãos, infeliz comigo mesmo.
— Você não precisa me dizer que eu exagerei. Eu já sei.

d l f
— Bom — diz ela secamente. — Porque isso foi uma
catastrofização de alto nível. Ela está há dois dias tomando seus
comprimidos e de repente ela decidiu que você é uma bagunça sem
esperança e toda a confiança que você construiu foi destruída?
Eu gemo e bato minha cabeça contra o braço do sofá.
— Doeu, mãe. Eu queria que ela confiasse em mim com as coisas
difíceis, acreditasse que ela poderia me dizer, e eu não iria surtar.
Mamãe se inclina, dizendo com o canto da boca:
— E então você surtou de qualquer maneira, não foi?
Eu gemo novamente.
— Sim.
— Em vez de sentir empatia pela maneira como Freya se sentia,
torcer para que você confiasse nela para lidar com suas preocupações
todos esses meses?
Meu estômago embrulha.
— Sim.
— Mhmm. — Mamãe funga. — Agora escuta aqui. Você não teria
reagido assim se Tom não tivesse explodido sua noite. Tenho certeza
que depois que você o viu, você teve um de seus ataques?
Eu concordo.
Ela dá um tapinha afetuoso em meu lado.
— Pobre criança. Então isso te desencadeou. Sua ansiedade é
uma coisa astuta, Aiden. E você gira como um pião. Quando você
está em pânico e no inferno, mesmo depois de um tempo, você não
pensa com clareza. Você está instável e reativo, por um bom motivo,
querido.
Freya está com você há mais de dez anos, e ela sabe disso. Tenho
certeza de que ela entende exatamente por que você estava chateado,
embora eu aposte que ela também está preocupada com você e
sofrendo também. Pela manhã, dirija para casa. Diga a ela que você
sente muito. Conserte, do seu jeito Aiden.
Eu esfrego minha testa, arrependimento e tristeza torcendo meu
coração.
— Algumas coisas não são facilmente consertadas.
Mamãe aperta minha mão.
— Eu nunca disse que era fácil, querido. É assim que funciona.
Pessoas que se amam também se machucam. O que importa é que
eles aprendam e façam o possível para não se machucar dessa
maneira novamente.
Eu me sento, meu coração batendo forte. Mamãe está certa.
Eu tenho que ir pra casa. Preciso dizer a Freya que sinto muito,
tranquilizá-la de que esse jeito que ela me magoou não é
imperdoável. Eu me levanto, remexendo nos bolsos em busca das
chaves.
— Eu tenho que voltar. Eu tenho que me desculpar…
fi d é bé
Mamãe me para enquanto fica de pé também.
— Aiden, você está exausto. É uma hora de carro para casa. Fique
aqui, durma. Acorde cedo amanhã e dirija de volta, então.
— Eu não posso, mãe. Não quando ela está sozinha e sofrendo.
Eu tenho que ir para casa.
Sorrindo para mim, ela agarra minha mão e aperta com força.
— Você sempre foi teimoso. Deixe-me pelo menos preparar uma
xícara de chá para você viajar.
Entrei em casa, quando o amanhecer começa a clarear o céu,
fechando a porta silenciosamente e tomando cuidado com os sapatos
de Freya. Mas eles estão empilhados ordenadamente no organizador
de sapatos. Quase os pego e coloco no meio do chão, bem onde
deveriam. Porque a mulher bonita e bagunçada que amo está em
casa.
Andando suavemente pelo corredor, coloco minha bolsa no chão
e atravesso nosso quarto. Freya está deitada enrolada na cama, o
edredom sob o queixo. Apoiando-me cautelosamente na beirada do
colchão, observo sua respiração estável e deslizo uma mecha loira de
sua testa. É impossível não notar os sinais de choro. A ponta do
nariz ainda está rosa, os olhos levemente inchados. Eu quero beijar
eles. Eu quero beijar cada ponto de dor. Especialmente os que eu
causei.
Com cuidado para não balançar a cama, eu levanto o edredom e
deslizo para dentro, perto de Freya, passando meu braço em volta
dela. Em seu sono, ela respira fundo, depois expira pesadamente, se
aconchegando mais perto de mim. Eu corro minha mão por seu
cabelo, alisando-o suavemente para trás de seu rosto.
— Aiden — ela murmura em seu sono.
Eu pressiono um beijo suave em sua testa.
— Freya.
Ela suspira e sorri fracamente em seu sono.
— Estou aqui — eu sussurro contra sua têmpora, plantando
outro beijo.
Seus olhos se abrem lentamente e encontram os meus. Eles me
encaram, sem piscar, até que de repente estão cheios de lágrimas.
— Freya, sinto muito, eu não deveria…
— Eu sinto muito — ela diz, sua mão segurando a minha e
puxando-a contra o peito. — Eu sinto muito. Foi uma maneira
horrível de você descobrir, quanto mais depois de seu — ela engole
as lágrimas e as enxuga.
— Pai — eu termino por ela. — Sim. Não foi um bom momento.
Mas o que Tom fez não é sua responsabilidade, e você não deveria
estar na mira da minha resposta.

ê f d Ad d l l ê
— Você estava sofrendo, Aiden — diz ela calmamente. — Você
teve uma crise de pânico e, quando voltou para casa, meus
comprimidos o pegaram de surpresa. Eu entendi. Eu me senti
péssima, mas entendi.
Eu a puxo para perto e seguro minha testa na dela, respirando-a.
— Eu gostaria de não ter exagerado. Eu disse as piores coisas que
penso sobre mim e coloquei essas palavras na sua boca, e isso foi
injusto. Ficar com raiva de você por lutar para me dizer algo difícil
era... totalmente hipócrita. Me perdoe.
Ela sorri com lágrimas nos olhos.
— Claro, eu te perdoo. Me perdoa também?
— Sempre. — Eu a beijo suavemente. Freya me beija também.
E então é mais do que beijos. São toques sussurrantes e
movimentos silenciosos e cuidadosos, tirando as roupas um do
outro, a pele quente e os lençóis frios. Minhas mãos vagam pelas
belas ondulações e depressões de seu corpo, em todos os lugares que
ela é macia e com covinhas, lisa e sedosa. Eu a beijo profundamente
e a abraço.
— Freya.
Ela sorri contra a minha pele, roubando uma mordida suave e
doce na base da minha garganta.
— Sim, Aiden.
— Eu preciso de você.
Um sorriso tranquilo aparece em seus lábios.
— Eu preciso de você também.
— Venha aqui — eu sussurro.
Freya lentamente monta em mim, mas fica perto, nossos peitos
roçando enquanto eu beijo suas covinhas, sua boca sorridente, a
curva de sua mandíbula, cada seio farto e macio e mamilo rosado e
tenso. Com golpes constantes contra ela, cada deslizamento quente e
escorregadio de nossos corpos, eu a trago para perto até que ela
puxa meus quadris, me pedindo mais.
— Eu quero você — diz ela fracamente. — Eu quero você dentro
de mim.
Aproximando-me dela, sussurro:
— Sou seu.
Lágrimas escorrem pelo seu rosto.
— Freya, me diga que você sabe.
— Eu sei, Aiden — diz ela em meio às lágrimas. — Deus, eu sei.
Em um beijo profundo e forte, me coloco dentro dela e ganho o
choro de Freya. Ela envolve o braço em volta do meu pescoço,
fundindo nossos corpos, e eu me embalo nela, firme, paciente,
mesmo enquanto Freya se contorce.
— Mais rápido — ela implora.
— Devagar — digo a ela.
El à lá b d f
Ela ri em meio às lágrimas, beijando-me com força.
— Mesmo quando você está me torturando, eu te amo.
— Eu sei que você quer — digo a ela em voz baixa. E então eu
dou a ela o que ela esperou com tanta paciência - tudo.
— Aiden — ela engasga enquanto eu a preencho com golpes
profundos e rápidos, de novo e de novo.
Minha libertação me cega. Estou perdido no toque de Freya, em
suas palavras e beijos, enquanto eu derramo, chamando seu nome.
Esfregando-a suavemente onde ela precisa, eu fico dentro dela,
conectado, perto, até que ela solta um suspiro agudo. Eu absorvo
cada grito, as ondas fortes e fortes de seu orgasmo enquanto ela se
agarra a mim.
Quando finalmente posso falar de novo, suspiro pesadamente,
pressionando um beijo em sua testa.
— Obrigado.
Caindo suavemente ao meu lado, Freya se aconchega. Ela inclina
a cabeça para mim e sorri, uma visão de beleza saciada.
— Obrigado? Pelo que?
— Por me querer um pouco mais. Ficarei muito feliz quando
tivermos um bebê, mas você está certa. Eu quero desfrutar de você
primeiro, apenas nós, juntos. Temos tempo, Freya. Anos e anos.
Estamos apenas começando.
Seus olhos procuram os meus e seu sorriso se aprofunda, assim
como o amanhecer surge no horizonte, derramando-se através de
nossas janelas.
— Você tem razão. Estamos.
Curvando-me sobre ela, beijo Freya com ternura.
— Não há mais ninguém com quem eu gostaria de enfrentar isso,
mas sinto muito que tenha sido tão difícil. Tudo que eu queria desde
o dia em que me casei com você... Eu só queria te dar o seu feliz para
sempre.
Ela desliza a mão pelo meu cabelo, depois com ternura ao longo
da minha bochecha.
— Eu pensei que eu queria isso também. Tanto é que eu coloquei
no seu pingente.
— Sinto falta daquele pingente.
— Eu não — ela diz calmamente.
Eu me afasto para encontrar melhor seus olhos.
— O que?
— Por conta daquele maldito “felizes para sempre".
Meu estômago embrulha.
— O que você está dizendo, Freya?
— Estou dizendo que “felizes para sempre” não existe. Não
porque o amor para toda a vida seja impossível, mas porque, como
aprendemos, nenhum casal pode viver “feliz para sempre''. Pessoas
d lh
cujo amor perdura, cujo amor cresce e permanece, escolhem-se nos
momentos infelizes para sempre, nos momentos sombrios, não
apenas nos deslumbrantes.
Não podemos esperar viver sempre “felizes”. Mas “para
sempre''? Isso podemos esperar e escolher. Porque “para sempre''
não é uma ideia. É uma pessoa – uma pessoa imperfeita que é
perfeita para você.” — Seus olhos procuram os meus enquanto ela
me dá um beijo suave e terno.
— Você é aquela pessoa, para mim. Você é meu para sempre.
Meu coração brilha enquanto eu olho para ela, a mulher que amo
mais do que qualquer coisa neste mundo. Eu aperto seu rosto,
enxugando suas lágrimas, piscando para conter as minhas.
— Você também é minha depois de sempre, Freya. Sempre.
Ela envolve os braços com força em volta da minha cintura e sorri
para mim.
— Eu gosto disso. Sempre depois de sempre.
— Um pouco redundante, é claro — digo com o nó na garganta
— mas uma redundância poética– mphm!
Freya me beija com força enquanto eu a puxo para perto,
colocando-a dentro dos meus braços. Eu a beijo de volta, com
reverência, lentamente, e a inspiro.
— Não é redundante — ela sussurra contra minha boca. — É
uma escolha, uma crença. Eu escolho você, para sempre, acreditando
que nosso amor vai nos sustentar, sempre. Sempre depois de sempre.
Então, pronto. Siga essa lógica, Sr. MacCormack.
Eu sussurro de volta contra seus lábios doces e macios:
— Considere-me ensinado, Sra. Bergman.
Ela sorri enquanto me beija novamente e novamente. E depois
disso, sob um céu cada vez mais claro, o mundo desabou com a
respiração e o toque que compartilhamos, as palavras não são
necessárias em tudo.
30

FREYA

M ú s i c a d a P l a y l i st : “ C ' m o n ” - K e s h a

A . Wasabi e Picles pulam no


colchão juntos, amassando-o com as patas e miando alto enquanto
lambem seu queixo.
— Vocês dois — ele murmura, passando as mãos pelas costas
deles. — Esses amantes.
— Eles aprenderam com os melhores — digo a ele, me jogando
na cama ao lado dele. Eu me viro de lado e deslizo meus dedos por
seus cabelos.
— Aquilo foi uma impressionante acrobacia sexual no chuveiro,
senhor.
Ele sorri.
— O mesmo para você, senhora.
Eu balancei minha cabeça, regando-o com gotas de água.
— Animado com a sua primeira festa de aniversário com toda a
ninhada de Bergman?
Ele sorri, ainda acariciando os gatos.
— Estou. Sua família, Freya. Ela é... um presente. Mesmo.
— Eu sei. É isso que eu quero com você.
Sua cabeça vira na minha direção, assustando os gatos.
— Sete?
Eu rio de sua expressão horrorizada.
— Eu quis dizer a dinâmica. Eu gosto muito do meu trabalho. E
meu sono. Sete crianças seria difícil.
O alívio limpa sua expressão.
— Ufa. Eu estava pensando em talvez três.
— Eu posso imaginar três. Veremos, não é?
— Sim, vamos. — Ele coloca uma onda molhada atrás da minha
orelha, sua mão acariciando a curva do meu queixo. — Eu amo você.
Me inclinando, roubo um beijo.
— Também te amo.
Nosso beijo se aprofunda, Aiden empurrando os gatos para
longe dele enquanto se vira para mim e desliza uma perna entre as
minhas. Então, de repente, ele se afasta.
— Uau. Estou me adiantando. — Ele se senta e me puxa para
cima também. — Eu quase esqueci.
— Esqueceu o quê? — Rastejando sob nossos lençóis, eu observo
Aiden se levantar e passar a mão pelo cabelo molhado, em seguida,
h d á l
caminhar em direção ao seu armário completamente nu. Pernas
longas e musculosas. Uma bunda dura e apertada. O estreitamento
de sua cintura alargando-se até os ombros largos. Eles se flexionam
enquanto ele vasculha o armário, depois se vira, trazendo um
retângulo embrulhado em papel pardo e um laço de veludo azul-
gelo.
Sentado na cama, ele o coloca no meu colo e se junta a mim sob
os lençóis.
— Feliz aniversário, Freya. — Ele segura meus olhos. — Eu te
amo além das palavras, do tempo e do espaço. Eu gostaria de poder
expressar como me sinto grato a cada manhã, por acordar e ver você
ao meu lado. Mesmo quando a vida é uma merda e o mundo parece
pesado, eu olho para você — ele suspira. — Saber que tenho você ...
isso é tudo que preciso.
— Obrigada — eu digo em meio às lágrimas, beijando-o
suavemente. — Eu sinto o mesmo por você, Urso. Devo abrir?
— Por favor.
Eu o viro suavemente, rasgando o papel onde está colado.
Quando eu viro novamente, eu fico olhando maravilhada para uma
constelação, cortada em um grande círculo, preto e cintilante contra
um tapete branco. Abaixo, estampado no alumínio:
“Esta escuridão está em toda parte
dissemos e chamamos de luz”
- Orfeu e Eurídice, Jean Valentine
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Aiden.
Seus dedos roçam os meus, até que nossas mãos fiquem
entrelaçadas.
— Você lembra?
Eu aceno, enxugando as lágrimas.
— Nossa lua de mel.
— E a história mais deprimente do mundo de Orfeu e Eurídice —
ele diz provocadoramente.
Eu rio através das minhas lágrimas.
— Porque houve — eu deslizo minha mão sobre a constelação, o
céu noturno de nossa noite de núpcias congelado no tempo. — Lira.
— Olhando de volta para a gravura, eu fico olhando para as
palavras. — Não conheço esse poema.
— Nem eu. — Aiden inclina meu queixo até que nossos olhos se
encontrem. — Mas eu gostei que nesta versão de sua história, é um
final melhor para Orfeu e Eurídice – sem negação sobre a escuridão
do mundo. Apenas a beleza de duas pessoas encontrando um pouco
de luz, fazendo seu caminho juntas.
— Eu amo tudo nele — digo a ele, levantando a gravura,
admirando-a. — É tão bonito. E atencioso. — Eu o coloco de lado e
lá á d d S
enxugo as lágrimas que caem rápidas e pesadas. — Sentimentos —
eu gemo. — Muitos deles.
Aiden me puxa para seus braços.
— Eu te amo por todos esses sentimentos — ele sussurra contra o
meu cabelo.
— Eu sei. — Eu suspiro dentro de seus braços e sorrio enquanto
ele beija minhas lágrimas. — Minha vez, agora.
Inclinando-me por ele para pegar minha mesinha de cabeceira,
pego uma pequena caixa.
— Eu te amo, Aiden. — Eu coloco em suas mãos e seguro seus
olhos. — Não há outra alma com quem eu gostaria de compartilhar a
vida. Feliz Aniversário.
— Obrigado, Frey. — Ele rouba outro beijo antes de mexer na
caixa. Eu o vejo rasgar o papel, depois virar e abrir. Ele olha e exala
bruscamente. — Você fez outro... outro pingente.
— Sim e não. — Eu beijo sua bochecha suavemente. — Olhe mais
de perto.
Ele levanta a corrente e seu pendente fino e retangular, lendo-o
silenciosamente.
Aiden + Freya =
3.650 dias
520 semanas
120 meses
10 anos
Sempre depois de sempre
— Freya. — Ele me abraça com tanta força que me faz chiar. Seu
nariz roça o meu enquanto ele rouba o beijo mais suave. —
Obrigado. Isso é lindo. Vou guardar para sempre — ele sussurra,
beijando-me mais profundamente, prometendo mais. Muito mais. —
Quase tanto quanto eu guardarei você.
— Bom — eu digo a Aiden enquanto o puxo sobre mim, quente
sob as cobertas. — Porque guardar você para sempre é exatamente o
que eu tinha em mente.
— Onde eles estão? — Eu pergunto a minha mãe.
Mamãe se recosta atrás da porta da geladeira.
— Quem, sötnos?
Levanto os olhos dos legumes refogados na panela e dou uma
olhada nela.
— Meu marido. E todos os meus irmãos.
— Oh. — Mamãe fecha a porta com o quadril. — Do lado de fora.
Conversando. Os meninos tinham algo para dar a Aiden.
— Por quê? É meu aniversário de casamento também.
— Seu décimo — mamãe diz, sorrindo para mim. — Lata é o
presente que você dá. Ou alumínio. Eles representam a flexibilidade

d bld d á ê
e durabilidade necessárias para sustentar seu casamento. Você se
lembrou, não é?
— Mãe. — Batendo a colher na lateral da panela, eu a coloco
sobre a mesa. — Você me conhece? Estou obcecada por essa merda.
— Eu sorrio para mim mesma, lembrando de nossos presentes. E o
sexo glorioso que tivemos depois de trocá-los.
Ela me tira do seu lado, então estou fora de sua área de trabalho.
— Achei que você se lembraria, mas também sei que você voltou
a trabalhar e parece muito ocupada atualmente.
— Estou ocupada, mas não só com o trabalho. Eu faço karaokê
duas vezes por mês agora, e Aiden e eu começamos a jogar em uma
equipe mista de futebol novamente. É muito, mas é bom. E mesmo
fazendo malabarismos com tudo isso, lembrei-me do presente de
aniversário do meu marido.
— Bem, estou feliz que você esteja felizmente ocupada, mas não
se esqueça de sua mãe. Eu estou aqui, você sabe. Eu me sinto muito
inútil hoje em dia.
Eu envolvo um braço em volta da sua cintura e coloco minha
cabeça em seu ombro. Ela beija meu cabelo e começa a picar salsa
fresca.
— Eu conheço o sentimento — digo a ela. — Eu entendo
perfeitamente. Mas você não é inútil para mim nem um pouco. Eu
amo você. E eu sei que tenho você do meu lado.
— Você sabe? — ela diz.
Lentamente, eu me afasto.
— O que?
— Como você está desde as férias? — Mamãe pergunta, com os
olhos fixos em sua tarefa.
Eu franzo a testa em confusão.
— Bem. Quero dizer muito bem. Honestamente.
— Hm. — Ela desliza a salsa para o lado e enfia a tábua de cortar
na água da pia. — Eu pergunto por que deve ter sido difícil
comemorar nosso casamento quando o seu estava sendo testado.
Eu fico olhando para minha mãe em alarme.
— O que?
Eu vou matar meus irmãos.
— Seus irmãos não me disseram nada — mamãe diz baixinho,
lendo meus pensamentos. — Você é minha filha, Freya. Eu vi sua
tristeza. Eu queria perguntar antes, mas achei melhor esperar até que
as coisas se acertassem com o pai de Aiden antes de tocar no
assunto.
Aiden não viu Tom, ainda, mas ele tem falado muito sobre isso
na terapia e está considerando isso. Quando ele não está na terapia
ou no escritório, ele fica em casa compartilhando o sofá comigo
enquanto atende ligações com Dan, e quando todo o trabalho está
f d fil d d E
feito, assistindo filmes, tocando e conversando. Estive
completamente absorta em nós, em fazer da minha vida o equilíbrio
entre trabalho e lazer de que preciso, até que me esqueci que nunca
disse à minha mãe o que eu precisava tanto. A culpa pesa em meu
estômago.
— Me desculpe mamãe. Não queria sobrecarregá-la com meus
problemas do casamento durante a comemoração do seu
aniversário. E desde que voltamos, a vida não parou.
— Você não precisa se desculpar, Freya. De agora em diante, me
diga você — ela diz, me fixando com seus olhos claros, da cor do
gelo e do céu de inverno, assim como os meus. Ela fecha a distância
entre nós e me abraça com força — Você não me protege, porque eu
sou sua mãe — ela sussurra. — As mães protegem seus filhos. Como
você logo saberá.
Eu congelo dentro de seus braços.
— Eu não estou ... nós não estamos…
— Eu sei — diz ela calmamente. — Mas está chegando. E quando
você for, você será uma mãe maravilhosa. — Ela se afasta e segura
minha bochecha suavemente. — Ainda mais do que você já é, para
todas as pessoas que você ama, uma mamãe ursa maravilhosa.
Uma explosão de vozes masculinas chama nossa atenção para a
varanda traseira, que posso ver através das portas de vidro
deslizantes. Todos os irmãos, incluindo Axel e Ryder, que voaram,
estão aqui porque Aiden disse que queria que começássemos a
tradição que mamãe e papai têm, celebrando nosso aniversário com
a família.
Apertando os olhos, tento entender o que eles estão fazendo lá
fora. Aiden está rindo, todos os irmãos amontoados em torno dele.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto.
Mamãe dá de ombros.
— Eu não sei.
Willa, Frankie, Rooney e Ziggy espiam do sofá e olham para fora
também.
De olho nos caras do lado de fora, Rooney sorri.
— Sobre o que é isso?
— Não sei — diz Ziggy. — Você sabe? — ela pergunta a Frankie.
— Uh. Sim. — Frankie faz uma careta. — Mas eu não deveria
falar. Então, eu sugiro que Freya vá lá.
Willa acena com a cabeça e sorri.
— Sim, vá ver.
Fazendo meu caminho ao redor da ilha da cozinha e em direção a
varanda, eu abro a porta. Todos eles olham para mim, dando um
passo para trás e se separando, para que eu possa ver Aiden.
— O que é? — Eu pergunto.

Ad b l b d l b d ó l
Aiden balança a cabeça e desliza as mãos por baixo dos óculos,
enxugando os olhos.
— Seus irmãos — ele balança a cabeça novamente, uma risada o
deixando.
Viggo se adianta e diz:
— Quando as coisas estavam difíceis para vocês dois, tentamos
dizer a Aiden que estávamos lá para ajudá-lo. E do nosso jeito,
tentamos mostrar a ele também. Mas percebemos através de... você
sabe... tudo o que aconteceu desde as férias, Aiden precisava saber
essa verdade não apenas do nosso jeito, mas do seu jeito também.
— Então — diz Axel —, juntamos recursos.
— E lemos um pouco — acrescenta Ryder.
Ren sorri largamente.
— E agora estamos orgulhosos de nos juntarmos como pequenos,
mas ainda tecnicamente–
— Investidores anjos — Oliver diz brilhantemente, entregando-
me o envelope que Aiden segurava frouxamente em sua mão. — O
que significa que os irmãos Bergman agora têm grande interesse no
trabalho de nosso irmão. Deus te ajude, Aiden.
— É a primeira vez que alguém usa 'anjo' e 'irmãos Bergman' na
mesma frase — observa Viggo.
— Gente — Abro o envelope e leio seu conteúdo, sorrindo para
mim mesma. Aiden não precisa mais de dinheiro para o aplicativo.
Ele e Dan garantiram seu principal investidor, então isso é... isso é
um gesto. Não é um investimento financeiro pesado, mas sim um
investimento de amor, fé e orgulho. Eu fungo enquanto olho para o
papel, entendendo exatamente porque Aiden está rindo e chorando.
— Vocês realmente são demais.
Aiden deixa cair as mãos, encontrando meus olhos. Os dele são
brilhantes e brilhantes, molhados de lágrimas.
— Porque você está chorando? — Oliver pergunta, seu olhar
ricocheteando entre nós. — O que está errado?
Eu me movo para o lado de Aiden e tranco as mãos com ele.
— Nada. Vocês são apenas... idiotas, todos vocês. Idiotas
adoráveis e impossíveis.
Aiden pega o envelope da minha mão, passando os dedos sobre
seu nome escrito do lado de fora.
— Vocês não tinham que fazer isso, rapazes, mas... significa
muito. — Ele olha para eles e sorri com lágrimas nos olhos. —
Obrigado.
— Ah, merda — Ryder murmura, enxugando os olhos. — Estou
chorando.
Viggo enxuga os olhos.
— Droga. Eu também.
— Abraço coletivo! — Oliver grita.
A l
Axel geme.
— Gente, nós temos que…
Ren esmaga todos nós juntos em sua enorme envergadura.
— Amo vocês — Aiden diz calmamente.
Um coro de também te amo ecoa ao nosso redor.
— Abraços! — Willa grita, abrindo a porta deslizante. — Eu amo
abraços. Deixe-me entrar nisso.
A pilha de pessoas cresce, até que Aiden e eu estamos cercados
por todos os Bergman e as pessoas que amamos. Eu ouço a risada
estrondosa do meu pai, o grito de Ziggy quando alguém cutuca seu
ponto de cócegas, os resmungos de Frankie sobre o espaço pessoal e
a risada rouca de mamãe.
Quando os olhos de Aiden encontram os meus, eu sorrio. E no
coração do caos, ele rouba um beijo lento e silencioso.
— Vamos lá! — Papai chama quando nos separamos. — Mamãe
está fazendo sopa. Jogos até o jantar.
Todos entram, se espalhando sobre o sofá enorme que temos na
casa que acomoda todos nós. E o cheiro da comida da mamãe, os
sons das risadas enquanto jogamos rodadas e rodadas de mímicas
cada vez mais ridículas, a pura alegria de compartilhar tudo isso
com Aiden quase me oprime.
— Como vai, Frey? — ele sussurra do nosso lugar no sofá.
Eu olho para ele.
— Maravilhosa. E você?
Ele sorri para mim, passando a mão pelo meu lado.
— Excelente. — Ele flexiona o braço que agora está fora do gesso.
— Um corpo são. Você em meus braços. É uma boa vida.
Inclinando-me para perto, pressiono um beijo em seus lábios.
— Ela é.
— Ok — Willa diz, aceitando de Oliver a cesta cheia de papéis
dobrados que estamos usando como pistas. Ela executa um truque
com as mão impressionante, tirando um papel de sua manga que
quase me convence de que ela foi escolhida na cesta, antes de entregá-
lo a Rooney. — Você é o próximo, Roo.
— Que tal minha guitarra de ar? — Aiden murmura, dando um
beijo suave atrás da minha orelha.
Eu rio e deslizo um braço em volta de sua cintura, descansando
minha cabeça em seu ombro.
— Acertou em cheio.
— Viu? — ele diz, um sorriso caloroso iluminando seu rosto. —
Estou ficando melhor.
— Sim — eu sussurro, antes de compartilharmos um beijo
rápido. — Mas mesmo que você nunca o fizesse, eu te amaria, assim
como você é.

Ok l b l b S b l l
— Ok. — Rooney se levanta e balança os braços. Seu cabelo loiro
mel está em um rabo de cavalo desordenado, seus olhos verde-
azulados cintilantes e agressivos, suas bochechas rosadas. Ela está
em casa entre os Bergman – extremamente competitiva e muito
envolvida em jogos.
— Preparaaaaa — Viggo prolonga a palavra, equilibrado com o
cronômetro. — Já!
Rooney abre o jornal e o encara. Ela aperta os olhos e depois os
abre. Com urgência, ela olha para nós, mulheres, batendo os lábios.
— Lábios! — Ziggy grita.
Frankie dá a ela um olhar que diz: “que diabos?”.
— Uh ... boca?
Rooney balança a cabeça e bate palmas em irritação.
Willa franze a testa para ela.
— Falar?
Rooney joga a cabeça para trás com um gemido mudo.
— É um beijo — Aiden sussurra em meu ouvido.
Eu sorrio.
— Oh eu sei. Todos nós sabemos. Você e os irmãos Bergman não
são os únicos que podem se intrometer.
— Droga. — Ele assobia baixinho. — Estou impressionado.
— O tempo está quase acabando! — Viggo grita.
Rosnando de frustração, Rooney gira e encara Axel onde ele está,
encostado na soleira, observando-a. Ela marcha em direção a ele,
joga os braços em volta do pescoço dele e pressiona a boca contra a
dele.
— Beijo! — Eu grito, assim que o tempo acaba.
Todos os homens ficam boquiabertos em choque.
Rooney dá um pulo para trás, como se ouvir a palavra a fizesse
perceber o que fez. Ela encara meu irmão, levando uma mão trêmula
aos lábios.
— Axel, eu-eu sinto muito. Eu não quis... Isto é, eu não deveria...
Sou apenas cruelmente competitiva e–
Axel fica em silêncio, olhando para a boca de Rooney. Então,
lentamente, ele dá um passo mais perto, sua mão a um milímetro de
tocar a dela. Ela sustenta o olhar dele, sem fôlego, com os olhos
arregalados.
— Eu acho — ele diz com a voz rouca.
Rooney se inclina um pouco mais perto.
— Você acha?
Axe engole asperamente quando seus dedos roçam nos dela.
— Eu acho... que eu tenho uma nova apreciação por mímicas.
A risada irrompe na sala.
— Ei — Ren diz para Frankie. — Quer adivinhar minha mímica
também? — Ele bate na boca.
k lh é l d l
Frankie revira os olhos, mas seu sorriso é mais largo do que a lua
lá fora quando ela o puxa para perto.
— Eu também! — Willa grita, lançando-se sobre Ryder.
Quando me viro para Aiden, pronto para exigir meu próprio
palpite de mímica, ele salta do sofá e se apressa em direção ao
sistema de som. Há um momento de silêncio antes que a música de
festa mais cativante chegue aos alto-falantes. Aiden liga a música,
em seguida, se vira para me encarar, com a mão estendida.
Eu rio enquanto me levanto e pego sua mão antes de Aiden me
puxar em seus braços, direto para um mergulho, e me beijar
completamente.
— Aiden MacCormack — eu digo com um sorriso. — Você
pegaria nossa intromissão e fugiria, seu casamenteiro incorrigível.
— Eu sou um homem obcecado. Você pode me culpar por querer
espalhar o amor? — Ele me levanta e me gira para perto.
Mamãe sai dançando da cozinha e puxa papai para ficar de pé. À
medida que todos se juntam, a música enche a sala, empurrando
cotovelos e joelhos batendo, girando e mergulhando e gritos de
risadas ecoando ao nosso redor. Correndo para as luzes, Oliver as
escurece enquanto Viggo fica de pé na mesa de centro, puxa dois
punhados de purpurina dos bolsos e os coloca no ventilador de teto.
Ollie vira o botão para ligá-lo, banhando-nos em um mar de confetes
de arco-íris que cintilam nas luzes brilhantes e suaves.
Tudo ao nosso redor brilha, iridescente e mágico, mas eu quase
não noto. Tudo o que vejo é o homem que envolvo meus braços e o
beijo como se meu mundo fosse o espaço entre nós, neste momento,
amando-o.
Não há nenhum outro lugar onde eu preferisse estar.
O FIM
A história de Freya e Aiden acabou, mas esta não é a última vez
que você os verão. A história de Axel e (sim! Finalmente!) Rooney
é a próxima.
Notas

[←1]
É um jogo comum de fliperama, de bater na cabeça das toupeiras que se levantam
aleatoriamente.
[←2]
Summit é um po de conferência, reunião, ou congresso
[←3]
Gumby é uma personagem de um desenho
estadunidense, é um boneco feito de
massinha.
[←4]
Bromance é uma forma de descrever amizades entre dois homens, que são têm
caracterís cas semelhantes a namoros

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