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PLAYLIST
DEDICAÇÃO

Em memória amorosa do meu pai

❤ 28.11.1960 - ✝ 27.04.2021

Omnia mutantur, nihil interit.1

-Ovídio, Metamorfose

1 Tudo muda, nada desaparece.


PREFÁCIO

Caro leitor,

Morally Ambiguous é o quarto livro da série Morally Questionable, e


NÃO deve ser lido como um independente. Lembre-se de que os eventos
em Morally Ambiguous se sobrepõem aos eventos nos outros livros e Vlad
é um personagem importante nos livros anteriores.

Isso deveria ter sido dividido em dois livros, mas eu sei que todo
mundo está antecipando a história de Vlad, então eu queria lançar a coisa
toda de uma vez.

Eu também gostaria de começar com um aviso de que tirei uma


licença criativa com algumas das ciências discutidas no livro e, se você
estiver curioso para saber mais, leia o posfácio, onde falo com mais
detalhes sobre as suposições feitas no livro.

Dito isto, este é o meu livro mais sombrio até agora, e peço que
considere os avisos de gatilho antes de ler.

Também foi o livro mais difícil de escrever, porque quando você está
passando por um período sombrio em sua vida, a última coisa que deseja é
escrever sobre mais tragédia.
Mas o que me fez continuar foi o fato de que essa história, ao contrário
da vida real, tem um felizes para sempre. Apesar de tudo o que acontece
com os personagens principais, eles prevalecem e encontram felicidade.

Eu realmente espero que você goste da história deles.

P.S. Observe que Vlad não é muito politicamente correto. Se você é


facilmente ofendido, este pode não ser o livro para você.

AVISO DE GATILHOS: abuso de animais, sangue (gore), jogos de


sangue, canibalismo, não consentimento consensual, morte, termos
depreciativos, abuso descritivo de crianças, estupro descritivo, drogas,
armas, violência gráfica extrema, situações sexuais gráficas extremas,
representações extremas de tortura, aliciamento, sequestro, jogo de facas,
aborto espontâneo, assassinato, relações sexuais com consentimento
duvidoso/ não consensuais, primal play2, auto-mutilação, situações
religiosas.

2 Tipo de kink no BDSM, na qual o casal luta


PRÓLOGO

— Você está tão bonita, Sisi, — a voz de Lina me faz piscar duas
vezes e tento prestar atenção ao que ela está dizendo.

Entregando o véu de renda com uma pequena tiara de diamante, ela o


coloca sobre o meu cabelo penteado.

— Não acredito que você vai se casar, — eu a observo através do


espelho enquanto ela tira uma lágrima da bochecha. — Você é uma noiva
tão bonita. A mais bonita, — ela se inclina para beijar minha testa.

— Eu também não, — murmuro, forçando um sorriso.

Todo mundo ao meu redor está tão feliz e, dada a minha mentira
atroz, posso ver por que eles ficariam muito felizes por mim. Então, tento
brincar com a ilusão que criei, esticando meus lábios em um sorriso
perpétuo para garantir que não haja dúvida sobre meu estado de espírito.

Eu sou a noiva, afinal.

Olho para o meu reflexo, incapaz de acreditar que chegou a esse


ponto. Como minha vida degenerou no período de um mês. Eu nunca me vi
particularmente sortuda, não dado tudo o que passei. Mas por um
momento pensei que todas as dificuldades dariam lugar à felicidade.

Eu deixei o convento que era a fonte de todos os meus pesadelos e


finalmente encontrei alguém que me entendesse. Quem viu a mim — com
os bons e os maus. Finalmente me encontrei depois de vagar sem rumo por
toda a minha vida.

Mas não durou.

Agora? Mais uma vez, estou olhando para uma vida de fingimento.

Fingindo que estou bem.

Fingindo que estou apaixonada pelo meu marido.

Fingindo que não sou... Mais.

Reconhecendo a direção dos meus pensamentos, me sacudo das


minhas reflexões, voltando para Lina e sorrindo amplamente para ela.
— Vai ser incrível, — a mentira simplesmente sai da minha boca. —
Eu nunca te agradeci, Lina, — eu me viro para ela, a única coisa
verdadeira que estou disposta a dizer hoje. — Por tudo o que você fez por
mim em Sacre Coeur. Acho que não estaria aqui sem você, — aperto a
mão dela.

Seus olhos se erguem novamente, e ela não pode deixar de fungar,


jogando seu corpo inteiro em minha direção e envolvendo os braços em
volta de mim em um grande abraço.

— Oh, Sisi. Você sabe o quanto eu te amo. Você sempre será minha
irmã. Nunca esqueça disso, — ela sussurra.

— Obrigada. Você e Claudia eram as únicas duas pessoas que me


mantinham sã lá, — admito, devolvendo seu abraço.

Ela pode não saber a extensão do que aconteceu comigo em Sacre


Coeur, mas ela tem sido minha única fonte de conforto durante esses anos
frios. Por isso, não há palavras que possam fazer justiça a quanto sou
grata a ela.

— Você também Sisi. Você sempre foi corajosa e nos deu um pouco de
coragem a cada vez, — ela sorri.

Eu gostaria de ter essa coragem agora, porque mesmo que meus pés
me levem em direção a Raf, meu coração já está morto e enterrado.
Toda a comitiva do casamento vai para a igreja, e Marcello e eu somos
os últimos a chegar, preparados para andar de braços dados em direção ao
altar.

— Estou orgulhoso de você, Sisi, — diz Marcello, beijando minhas


bochechas antes de entrar. É a primeira vez que ele me toca por mais de
um segundo, e eu absorvo o contato. — Mas não esqueça que você sempre
terá um lar conosco, — continua ele e eu aceno, lágrimas queimando atrás
dos meus olhos.

Seguindo a sugestão musical, caminhamos lentamente para dentro.

Raf está me esperando no altar, parecendo elegante em seu smoking


preto, com o cabelo loiro penteado para trás e enfatizando os olhos azuis-
bebê.

Ah, como eu gostaria de poder tê-lo amado primeiro. Teria me salvado


um mundo de mágoa.

Mas mesmo quando esses pensamentos se intrometem em minha


mente, eu sei que eles estão errados. Porque, embora eu esteja ciente do
meu próprio desgosto, também sei que há apenas um homem que eu
poderia sempre amar. Um homem que parece ter sido feito apenas para
mim.

Mas não era para ser.


Talvez nós éramos as pessoas certas na hora errada. Ou talvez ele
estivesse certo para mim, e eu estava errada para ele.

Meus pés parecem pesados quando coloco um pé na frente do outro, a


distância diminuindo a cada segundo.

E de repente estou ao lado de Raf, o padre iniciando a cerimônia,


todos parecendo extremamente felizes enquanto nos animam do lado de
fora.

Um pânico diferente de qualquer outro me pega, e eu mal consigo me


impedir de tremer.

— Você vai... — as palavras do padre são um borrão, meus ouvidos


tocando com o que só posso descrever como um som ensurdecedor.

Fecho os olhos, piscando rapidamente. Mas então a sala inteira


escurece, a fumaça se infiltrando na igreja.

Por alguma razão, não sei se isso é real ou se é apenas algo que minha
mente doentia está produzindo, rejeitando a realidade em que me encontro
e criando de alguma forma uma nova.

As pessoas estão gritando, tiros são disparados. Os ruídos se tornam


cada vez mais altos.
Um braço envolve minha cintura, uma mão na minha boca enquanto
sinto uma respiração quente no meu pescoço.

— Você não está se livrando de mim, hell girl3, — ele pronuncia, um


som perigoso que faz meu coração já morto chorar.

E então o mundo fica preto.

3 Garota infernal, apelido dado pelo Vlad à Sisi.


PARTE I

Monstrinho, monstrinho, venha brincar.


CAPÍTULO UM

Passado

Oito anos,

— Você tem certeza de que não há nada errado com ele?— Meu pai
anda pelo pequeno consultório, olhando para o médico.

— Realizamos testes. Considerando sua condição... — O médico me


olha de cima a baixo, franzindo os lábios enquanto seus olhos se
concentram no meu peito nu. — Ele está com uma saúde espetacular. É
extraordinário, na verdade. — Sua mão sobe para acariciar seu queixo.

Inclino minha cabeça, retornando seu escrutínio com o meu, meus


olhos encontrando seu olhar e segurando o contato. Sem nervosismo, ele
rapidamente desvia o olhar.

— Olhe para ele e me diga que ele é normal, — continua o pai,


apontando o dedo para mim.

Não reajo, já que não me importo com a opinião dele. E quando olho ao
redor da sala, meus olhos se aproximam de um brilho forte de metal.
Mentalmente, faço uma estimativa do tempo e da quantidade de
movimentos que levariam para alcançá-lo.

— Há algo errado com os olhos dele, eu lhe digo, — diz meu pai, e
minha atenção muda para ele momentaneamente. Ele se aproxima, mas
ainda mantém distância. Eu posso ver isso em sua expressão e na maneira
como seu lábio se enrola levemente na curvaolhando para mim. Eu o enojo.

Eu faço desde que voltei.

Não reajo quando ele de repente coloca os dedos na frente do meu


rosto, estalando-os duas vezes. Sem piscar, viro os olhos para ele,
considerando-o curiosamente.
— Viu? Ele está sem alma. O que eles fizeram com ele... — ele sai,
balançando a cabeça. O médico é rápido em garantir ao meu pai que sou
perfeitamente saudável e que pode ser um trauma residual.

— Trauma, minha bunda. Ele não fala! Tudo o que faz é me encarar
como um mudo!— Meu pai exclama, jogando as mãos no ar e andando pela
sala novamente.

O médico se aproxima, com os olhos se estreitando para mim


enquanto ele me pede para dizer alguma coisa.

Observo com aborrecimento quando ele diminui sua fala e usa


palavras simplificadas como se eu fosse retardado.

Uma pequena carranca aparece em seu rosto enquanto ele levanta a


mão para verificar meu pescoço. Seus dedos não chegam ao destino quando
eu os pego no ar, dobrando-os para trás até que ele esteja gritando de dor.

Um movimento rápido e o objeto afiado e de aço estão na minha mão.


O médico nem consegue reagir quando a lâmina faz contato com a pele.
Uma linha limpa de orelha a orelha aparece logo abaixo da mandíbula e o
sangue espirra como um jato de spray, pintando-me de vermelho da cabeça
aos pés. O corpo do médico cai no chão com um baque, e meu pai vira a
cabeça, os olhos se arregalando de horror.

Uma mão vai para a testa enquanto massageia suas têmporas, o


tempo todo amaldiçoando todos os tipos de obscenidades.
Eu?

Só tenho olhos para a vermelhidão do sangue, a cor hipnotizante que


parece me lembrar de algo.

O líquido está pingando no meu rosto, a sensação na minha pele


intoxicante e libertadora.

Fecho os olhos, aprimorando esse sentimento. Minha língua foge para


lamber meus lábios, provando a substância proibida e se divertindo com o
sabor metálico.

Tão familiar...

— Você é um monstro, porra, — meu pai cospe em mim. Abro os olhos


para considerá-lo com uma expressão entediada e parece alimentar ainda
mais sua raiva quando ele começa a jogar coisas em mim.

Uma caneca atinge o lado da minha cabeça.

O que deveria ter sido uma dor ofuscante é silenciado pelos meus
receptores de dor já mortos. Minha pele rompe e se abre para deixar
escapar ainda mais líquido vermelho. Ele flui pelo meu rosto, cobrindo
meus cílios e cegando meu olho direito.
Pai está respirando com severidade, com o olhar fixo no corte ao lado
da minha linha do cabelo. Lentamente, seus olhos encontram os meus, e
nos encaramos em uma batalha contida de vontades.

— Bozhe.4— Ele sussurra, três dedos indo para a testa antes de descer
para o torso para fazer o sinal da cruz! Finalmente, uma mão se instala no
cabo de sua arma e ele parece debater se deve me matar ou não.

Eu torno a decisão dele mais fácil quando saio da cama, avançando em


direção a ele enquanto ainda estou de olho. Envolvendo meus dedos sobre
os dele, tiro a arma e a aponto em direção à minha cabeça, a ponta fria da
pistola fazendo contato com minha carne.

— Davai!5— Eu lati, minha voz grogue e esfarrapada por não usar.


Minhas sobrancelhas são desenhadas juntas em consternação, oexortando
a fazê-lo. Me mate.

— Ubei menya6. — Eu pronuncio novamente, e seus olhos se


arregalam em choque antes que sua mão aperte o punho, arrancando a
arma de mim.

— Limpe-se, — ele murmura antes de sair da sala.

4 Deus
5 Vamos
6 Me mate
Respirando fundo, permito-me ficar decepcionado por um momento
antes de voltar ao cadáver do médico.

O pai pode não saber, mas ele acabou de me deixar com um presente.
E pretendo tirar proveito disso ao máximo.

Horas depois, os guardas do pai aparecem e eles me encontram com os


cotovelos no fundo da cavidade torácica do médico enquanto eu reorganizo
seus órgãos.

— Não podemos deixá-lo ficar aqui, Dima, — minha mãe sussurra


para meu pai, pensando que não posso ouvi-los. Viro a cabeça para o lado,
meu olhar fixo no pássaro pulando ao redor do peitoril da janela.

Sei que não sou procurado em casa e todos deixaram claro que não
desejam compartilhar um espaço comigo. Não que eu os culpe, já que notei
o medo nos olhos deles quando olham para mim. Todos têm medo de que
eu vá quebrar de alguma forma, mas mesmo esse medo não é suficiente
para fazê-los me matar.

Afinal, sou uma criança e até assassinos experientes desaprovam


matar os jovens. Se eles soubessem o que está em minha mente... eles
certamente não hesitariam.

— Você é meu irmão?— Eu olho para os curiosos olhos de uma


garotinha. O cabelo dela está separado no meio, duas fitas rosa segurando
os fios juntos. Parece estranhamente reminiscente de alguma coisa.

— Ei, — ela cutuca meu lado, franzindo a testa quando eu não


respondo. — Você é meu irmão. Eu sei que você é. — Ela diz com mais
confiança, cruzando as mãos pelo peito.

Eu encolho os ombros para ela, e meu olhar volta para o pássaro.


Informações estranhas começam a inundar meu cérebro. Parece que li em
algum lugar que os pássaros têm ossos ocos, suas estruturas diferentes
para permitir o voo. Eu me pergunto como eles seriam por dentro...

Minha mão dispara, meus dedos se envolvendo em torno do corpo


magro do pássaro. Sou rápido o suficiente para que não tenha tempo de
abrir as asas.

Trazendo-a em minha direção, estudo a maneira como seus olhos se


fecham, a membrana servindo como cobertura incitando meu interesse.
Afiado... Eu preciso de algo afiado.
Estou prestes a pegar uma faca quando a mão da menininha cobre a
minha. Ela parece aterrorizada olhando entre mim e o pássaro.

— O que... não... — ela gagueja, o lábio inferior tremendo.

Inclino a cabeça para olhá-la, meus olhos se estreitando um pouco.

Ela tenta arrancar meus dedos do pássaro, seus esforços são fúteis.
Quando finalmente lhe ocorre que ela não será capaz de fazê-lo, lágrimas
se acumulam no canto dos olhos.

Eu paro, a visão chocante e estranha. Acorda algo desconfortável no


meu peito. Pela primeira vez, enquanto peso as opções, me vejo inclinado a
fazê-la parar de chorar, mesmo que isso signifique deixar de satisfazer
minha curiosidade.

— Katya!— minha mãe exclama de indignação, puxando-a para longe


de mim. Meus olhos seguem o rastro de suas lágrimas, já fascinado por
elas. Meus dedos ficam involuntariamente soltos até o pássaro voar para
longe, ileso.

— Nunca faça isso de novo, você me ouve? Nunca se aproxime do seu


irmão sozinha. Ele é perigoso!

Minha mãe continua repreendendo Katya, dizendo a ela o quão


horrível eu sou, mas quando olho nos seus olhos, vejo algum tipo de
entendimento.
Meus pais decidem me colocar no sótão, o mais longe possível dos
outros filhos. É engraçado porque, por mais que meu passado antes de
alguns meses atrás seja um vazio, acho que nunca me senti
particularmente próximo da minha família — até antes.

Só houve uma pessoa que esteve ao meu lado através de tempos


conturbados, minha gêmea, Vanya. E ela é a única que não tem medo de
interagir comigo, mesmo arriscando a raiva de nossos pais se
descobrissem.

Para todo mundo, sou apenas um mal necessário.

O que eles parecem não entender é que meu comportamento não é


intencional. Não me propus apenas a fazer mal. Apenas isso... aconteceu.

Como uma névoa que cobre minha mente, esqueço meu entorno e me
concentro apenas em um objeto — minha presa. Eu fixei no meu alvo e
tudo o mais desapareceu. De repente, torna-se apenas sobre as perguntas
não respondidas. Quantas bombas de sangue o coração deixou após a
morte? Como os órgãos se parecem no interior do corpo? Tantas perguntas
e tantas situações para explorar.

— Assim, corte o estômago também.

Vanya aconselha e eu presto atenção, pegando a lâmina e fazendo um


corte reto de esterno ao púbis. A gordura sob a pele está dificultando a
chegada no interior, mas como Vanya me incentiva, só consigo cavar a
ponta da faca mais fundo, um som agudo sinalizando que eu bati nos ossos,
as costelas.

Um dos homens do meu pai veio me trazer comida. Mas naquele


momento, Vanya tinha uma ideia diferente. Embora eu nem sempre a
conceda, desta vez ela fez beicinho para mim e eu não consegui encontrar
em mim para dizer não a ela.

— Por que você não perguntou quando eu matei o primeiro homem?—


Eu murmuro debaixo da respiração. Eu já tinha matado acidentalmente
um homem pela manhã. Teria sido fácil o suficiente para realizar um
experimento então. Mas quando Vanya coloca algo em sua cabeça, é difícil
dissuadi-la.

— Ele não era interessante. — Ela encolhe os ombros, andando ao


meu redor para se colocar em uma cadeira. Ela está olhando curiosamente
para o corpo, seus olhos negros focados no sangue que se acumula no chão.

É uma condição que ambos compartilhamos... essa sede de sangue.

Eu trabalho, abrindo o peito, as abas de carne dobradas em ambos os


lados do corpo.

— E agora?— Eu olho brevemente e Vanya franze os lábios, em


relação à cavidade aberta com interesse.
— O estômago. Vamos ver o que ele almoçou!— Ela pula, os pés se
conectando ao chão de madeira e emitindo um som severo. Seus lábios se
estendem para um sorriso largo, sinalizando que a emoção está chegando a
ela.

Balanço a cabeça devagar, mas um sorriso toca nos meus próprios


lábios.

Puxo o estômago para fora, cortando o tecido conjuntivo até que eu


possa removê-lo. Colocando-o no chão, pego a faca e faço algumas incisões,
a bolsa imediatamente dando lugar à afiação da lâmina, com o conteúdo
derramado.

Fluídos digestivo e pedaços de alimentos não digeridos inundam o


chão. Eu me movo um pouco para a direita para evitar que qualquer coisa
entre nos meus sapatos. Vanya também coça o nariz quando o cheiro bate,
mas ainda assim, seus olhos estão colados aos pedaços de comida quase
irreconhecíveis.

— Quem conseguir acertar o máximo ganha. — Ela se agacha ao meu


lado para mover os pedaços, tentando entender o que são.

— Certo. — Eu concordo, mesmo que nós dois saibamos quem vai


ganhar. Quando eu não a deixo ganhar?

Passamos a próxima hora debatendo o que cada migalha poderia ser,


uma partícula verde que se mostra particularmente ilusória.
— Brócolis, — ela se inclina para trás, confiante em sua resposta.

Balanço a cabeça, mas não digo o que estou pensando — brócolis. Em


vez disso, uso a faca para mover um pedaço do caule em sua direção,
sabendo que ela colocará dois e dois juntos.

Seus olhos se arregalam e ela sorri para mim.

— Broccolini7! Eu ganhei!— Ela se inclina para trás, pulando pela


sala e se gabando de sua pequena vitória.

Meus olhos voltam para a bagunça ao meu lado e largo os utensílios.


Usando minhas próprias mãos, eu pego o coração, arrancando-o do peito.
Meus polegares estão em posição e começo a bombear, curioso quanto
sangue resta por dentro e como ele reagirá a uma força externa.

O sangue sai em jatos, um som estridente permeando o ar. Vanya e eu


olhamos para o pobre coração abusado por um momento, antes de
começarmos a rir.

— Parecia um peido.—Vanya se agacha no chão, segurando a barriga


com uma mão e limpando as lágrimas dos olhos com a outra.

Não posso deixar de participar.

7 Brócolis
Nosso tempo alegre, no entanto, é interrompido quando ouvimos o
chão rangendo.

— Alguém está vindo! — Vanya se compõe imediatamente,


levantando-se para procurar um esconderijo.

Ela me poupa um olhar, o dedo indo para os lábios para me dizer para
manter minha boca fechada.

Ninguém pode saber que ela esteve comigo, muito menos nossos pais.

Olhando para o grande armário, ela abre a porta e foge para dentro,
deixando-me no meio de uma bagunça sangrenta.

Quando meu pai abre a porta, sua expressão já se resigna quando ele
entra no desastre.

Ele não perde tempo me agarrando pela nuca e me arrastando para


fora. Eu não reajo, nem mesmo quando seus dedos cavam dolorosamente
na minha pele.

Chegamos ao porão e o pai me joga no chão na frente dele.

— Se você é um psicopata, é melhor usar esses seus impulsos. — Ele


acena para o homem amarrado a uma cadeira. Seu rosto já está
machucado, inchaço roxo tirando dele qualquer aparência de humanidade.
— Vamos ver o que você sabe. — Meu pai dobra as mãos sobre o peito,
dando um passo para trás e olhando para mim com expectativa.

Olhando em volta, noto uma variedade de ferramentas de um lado,


então tomo meu tempo para escolher uma que atenda às minhas
necessidades.

Não sei o que o pai espera ver, mas não vou perder essa chance
tentando agradá-lo. Não quando minha mente já está focada no meu
próximo experimento.

Alguns passos e estou na frente do prisioneiro, um alicate na minha


mão. Sou rápido em abrir a mandíbula e tirar a língua, o alicate se
instalando bem contra o pedaço de músculo. O homem mal tem tempo para
reagir antes que eu me esforce. Minha força pode não ser a de um adulto,
mas um bom indicador de ângulos e a língua cede.

O homem se contorce de dor enquanto eu aperto meus dedos na alça


do alicate e dou um último puxão, a língua escorregando da cavidade.

Longa e com estrias rosa e vermelho, o músculo não parece tão


interessante quanto eu pensava.

Com uma maldição baixa, eu a jogo no chão, aproximando-me do


prisioneiro novamente e forçando a boca aberta, curioso pelos danos.
Ele está sangrando, o sangue se acumulando na garganta enquanto se
esforça ao máximo para não engasgar.

O espaço está claro, de repente estou curioso sobre o interior de sua


garganta. Pegando um pouco de metal, eu abro a mandíbula para que seus
dentes não caiam na minha pele. Então, dobrando bem minha mão em
torno de uma pequena lâmina, insiro meu braço na boca dele, sentindo ao
redor do canal quente, antes de descer pela garganta. Meu braço é pequeno
o suficiente para caber no seu esôfago.

Sua boca está quase tocando meu ombro e eu dou um último


empurrão antes de sentir a borda do estômago. Soltando a lâmina da
minha mão, eu a manobro e penetro na parede por dentro, empurrando até
que a ponta da faca chegue à superfície.

O homem não pode nem gritar de dor, e deve ser uma bela dor, porque
eu começo a levantar a faca, continuando a cortar seu tecido.

Quando meu braço está fora de seu corpo, ele está morto, seu torso
uma bagunça sangrenta de cortes descoordenados.

Caramba!

Não é bonito. Talvez da próxima vez eu faça melhor. Estudo meus


erros com cuidado, já esquecendo a presença de meu pai.
Estou assustado com um tapa nas minhas costas, o corpo do pai ao
lado do meu enquanto ele olha para o meu trabalho.

— Eu serei amaldiçoado... — ele sussurra, quase admirado.

Parece que posso ser útil, afinal.


CAPÍTULO DOIS

Passado

Oito anos,

Eu engulo forte. Minha garganta está dolorida, minha respiração está


muito difícil, mas não consigo parar agora. Eu corro da melhor maneira
possível, sabendo exatamente o que me espera se for pega.
Os prédios do convento se aproximam de mim e olho loucamente em
volta, procurando uma saída. Quando não vejo, faço a única coisa em que
consigo pensar... Eu entro na igreja.

Passos pesados ressoam atrás de mim, um sinal de que elas não estão
muito atrás.

Entro no confessionário e abro rapidamente a porta, enfiando-me


dentro. Uma mão vai para a minha boca e eu tento regular minha
respiração para que ninguém possa me ouvir.

Meu pulso está no alto quando o medo me domina, especialmente


quando ouço o barulho estridente da porta da igreja sendo aberta.

Elas estão aqui!

Eu ouço seus passos enquanto elas procuram os corredores, suas vozes


altas, o eco reverberando no prédio.

— Eu a vi entrar aqui. Ela deve estar escondida em algum lugar. —


Uma delas murmura, aborrecimento pingando de seu tom.

— Assisi! Saia! Quanto mais tempo perdermos procurando por você,


mais irritada ficarei e você não gostará de mim com raiva, — grita
Cressida, meu pesadelo pessoal.
Alguns anos mais velha que eu, Cressida sempre teve algo contra
mim. É raro eu ter um dia sem alguém dizer ou fazer algo comigo. E
geralmente Cressida é a mente por trás de todo o meu infortúnio. Não sei o
que fiz com ela para me odiar tanto.

Embora eu esteja em Sacre Coeur desde o nascimento, Cressida só


veio aqui há alguns anos. Ela havia sido abandonada pela mãe na porta do
convento.

Sei muito bem como é ser abandonada desde que minha própria
família me deixou sob os cuidados de freiras desde os meros dias de idade,
fato que foi perfurado na minha cabeça pelas freiras mais velhas desde o
início. Deus não permita que eu esqueça o quão indesejada eu tinha sido.

Mesmo assim, eu nunca tinha atirado minha raiva dos outros. Não
como Cressida.

Desde que ela chegou ao convento, se tornou algum tipo de líder para
as meninas mais velhas, e elas gostam nada mais do que provocar as
outras.

Como eu já estava banida pelas freiras mais velhas, eu tinha sido o


alvo perfeito para suas provocações e punições.

Não basta que eu tenha que suportar os sussurros de todos de que sou
filha do diabo, ou o fato de que ninguém se associaria voluntariamente a
mim desde que eu trago azar. Não, Cressida e sua gangue de garotas
malvadas tiveram que recorrer a punições corporais para garantir que
minha vida fosse um inferno. Afinal, é um destino adequado para a filha
do diabo.

— Verifique atrás, vou verificar a frente, — pede Cressida e depois


ouço o barulho de passos.

Seus passos estão se aproximando cada vez mais do meu esconderijo,


e meu corpo já está tremendo de medo. O que elas farão comigo quando me
encontrarem... Eu nem quero pensar nisso.

Nesta semana, uma das minhas tarefas incluiu trabalhar na cozinha,


então eu tenho ajudado algumas das outras freiras na preparação da
comida. Eu pensei que seria fácil o suficiente, já que eu poderia cortar
legumes e descascar batatas sem interagir com ninguém. Esse é sempre o
meu tipo perfeito de tarefa, já que ninguém será capaz de me pegar de
forma alguma.

Desta vez, no entanto, não funcionou a meu favor.

De alguma forma, Cressida ficou doente com o almoço de ontem. De


alguma forma, ela descobriu que eu tinha ajudado com a comida e, em sua
mente, eu já era culpada. Eu contaminei a comida com minhas mãos sujas
e por isso precisava pagar.
Após a misteriosa doença de Cressida, algumas outras meninas
ficaram doentes e, portanto, eu me tornei o centro do desprezo de todos —
novamente.

Mais barulho me alerta para seus movimentos e elas parecem saquear


todas as partes da igreja.

Por favor, não me encontre... Por favor...

Ainda tenho as cicatrizes do meu último encontro com Cressida. Meus


joelhos estavam tão arrebentados que eu mancava por duas semanas. E
isso foi apenas por encontrar seus olhos. Ela me chamou de impertinente e
começou a me mostrar meu lugar.

Não quero imaginar o que ela fará comigo agora que acha que fiz algo
com a sua comida.

— Você realmente acha que pode se esconder?— A voz sarcástica de


Cressida ressoa logo antes da porta do confessionais chacoalhar sob a força
de seu chute.

Afasto-me ainda mais até bater na parede, a madeira velha do


confessionário rangendo.

— Te peguei. — Cressida sorri de diversão abrindo a porta para me


olhar com malícia nos olhos.
Uma respiração trava na minha garganta enquanto a mão dela vai
direto para a gola do meu uniforme, me puxando com força para fora da
cabine e me empurrando para o chão.

Meus membros estão tremendo quando vejo as outras garotas se


reunindo ao meu redor. Tento, em vão, voltar e encontrar uma maneira de
escapar delas, mas como elas formam um círculo fechado, percebo que não
posso fazer nada além de sofrer o que elas reservam para mim.

— Olhe para ela. — Uma delas da risadinhas, o pé dela fazendo


contato com o meu braço. Eu imediatamente estremeço de dor, tentando
sair do seu alcance.

— Não, — o braço de Cressida dispara para frente para detê-la. —


Lembre-se do que discutimos. Não resolveremos nada se batermos nela.

Meus olhos se arregalam com as suas palavras e estou prestes a


suspirar em alívio, mas então ela continua, e suas palavras me fazem
tremer de horror.

— Precisamos limpar o pecado dela. — Ela sorri insidiosamente


olhando para mim, e as outras garotas concordam imediatamente.

Não é como se eu nunca tivesse ouvido isso antes, já que a própria


Madre Superiora me leva semanalmente para uma sessão de oração
privada para limpar o pecado de mim. Desde que nasci com uma marca
vermelha na testa — a marca do diabo — parece que sou obrigada a ser
pecadora. Mas, embora eu concordasse em seguir o conselho da Madre
Superiora para me livrar do mal, pensando que isso faria as pessoas me
aceitarem, eu nunca concordaria verdadeiramente com o método dela.

Porque acho que não há nada errado comigo...

Agora, olhando nos olhos de Cressida, tenho pavor do que vai


acontecer comigo.

— Não, por favor, — eu choramingo, mas as meninas já estão em


mim, uma de cada lado, agarrando um braço e uma perna e me levando em
direção ao altar. Cressida está atrás de nós, latindo as instruções.

Removendo todos os itens sagrados da mesa, elas me colocam nela,


prendendo rapidamente meus membros com alguma corda. Eu tento
chutá-las, mas suas unhas cavam dolorosamente na minha pele, e acho
que não sou párea para elas.

Não quando estou em menor número.

Quando estou imobilizada na mesa, as meninas dão um passo atrás,


deixando Cressida passar quando ela vem ao meu lado.

— Eu não sei por que elas manteriam alguém como você aqui. É claro
que você estraga tudo o que toca. — Ela diz, o canto da boca se curvando
um pouco.
Ela pega a Bíblia de um canto, abrindo-a e lendo um versículo. Uma
garota traz um recipiente cheio de água e, no aceno de Cressida, ela
derrama por todo o meu rosto.

Eu pisco duas vezes, chocada com suas ações. Elas continuam


derramando água sobre o meu rosto até eu engasgar e sufocar.

— Livre-a do mal. — Ouço brevemente o boom de voz de Cressida na


igreja, mas meu foco é mover minha cabeça para evitar que a água entre
na minha boca ou nariz. Mas o ritmo em que estão esvaziando o recipiente
no meu rosto dificulta a não engolir um pouco.

— Pare, — diz Cressida, estreitando os olhos para o meu rosto


molhado. — Isso não está funcionando. Ainda sinto o mal irradiando dela.
— Ela finge consternação ao olhar para minha expressão aterrorizada.

— Precisamos garantir que todo o corpo dela seja santificado. — Ela


instrui as meninas, e elas são rápidas em obedecer, tirando as roupas do
meu corpo até que eu fique quase nua e tremendo na mesa do altar.

Cressida continua rindo, meu tormento aparentemente alimentando


sua alegria.

Elas continuam jogando água em mim, e logo meus dentes começam a


bater no frio.
— Pobre Assisi, ela deve estar congelando, — comenta uma das
garotas, e todas começam a rir.

Ao redor da mesa, a mão dela agarra meu cabelo, desfazendo meu


penteado para que os fios caiam.

— Hmm, — começa Cressida, com os olhos brilhando de interesse.


Meus olhos se arregalam quando ela se aproxima, seu olhar no meu cabelo.

Por favor, não...

Embora eu saiba que nunca serei bonita com meu rosto contaminado,
meu cabelo é a única coisa remotamente atraente para mim. É também a
única coisa que cuidei muito bem, garantindo que seja sempre penteado e
limpo. E eu tenho cultivado isso há anos.

Ao olhar para Cressida avaliando meu cabelo, já sei o que esperar. E


está me matando.

— Por favor, qualquer coisa, menos meu cabelo, — sussurro,


esperando apelar para algum lado humano dela. Mas enquanto ela
vasculha o altar em busca de uma faca, percebo que não há.

— Muito bonito, — observa ela, — para alguém como você.

Ela envolve as mãos ao redor do comprimento do meu cabelo,


puxando-o para baixo até que meu couro cabeludo queime de dor.
— Não se preocupe, — ela sussurra no meu ouvido, — eu vou te dar o
que você merece.

Segurando firmemente no meu cabelo, ela usa a lâmina para cortá-lo.

Eu tento lutar contra minhas restrições, lágrimas no canto dos meus


olhos, pois farei tudo para ser apenas um pesadelo.

Mas não é. E quando sinto a lâmina cada vez mais perto da minha
cabeça, sei que a batalha já está perdida.

Eu paro, meus olhos vazios, minhas lágrimas esgotadas.

Por quê? Por que eu?

Não há ninguém para responder minhas perguntas, ou mesmo meu


desejo mais profundo de ser deixada em paz.

Não, o tormento continua quando Cressida se levanta, segurando


presunçosamente meus cabelos longos em uma mão e acenando na minha
frente.

Olho sombriamente para o meu bem mais precioso, agora não é mais
meu.

E para continuar o desrespeito, ela joga no chão como se fosse lixo.


Um soluço pega na garganta quando olho para meus preciosos cabelos
agora caídos no chão frio e, de repente, parei de lutar. O que pode ser pior
que isso?

O que elas podem fazer que me machucará mais do que ter minha
única coisa de valor cruelmente arrancada de mim?

Mas enquanto assisto Cressida se mover com seu bando de garotas,


percebo que posso ter me adiantado.

É tarde, já está escuro lá fora, e a única fonte de luz da igreja são as


velas colocadas ao redor do altar e pelos corredores.

Cada garota pega uma vela e me rodeia novamente, sussurrando


algum tipo de oração em conjunto.

Estou confusa enquanto as assistia, mas logo fica claro o que Cressida
tem em mente.

— Há uma maneira de garantir que o diabo fique longe do seu corpo.


— Ela sorri para mim, inclinando uma vela até que a cera quente faça
contato com minha pele.

As outras garotas fazem a mesma coisa e jogam cera quente por todo o
meu corpo. Cada vez que a cera toca minha pele, sinto uma sensação de
queimação até esfriar e endurecer. Mas, repetidas vezes, a dor se torna
cada vez mais insuportável.
— Agora, meninas, — Cressida finalmente fala, levantando um colar
de prata e segurando-o pela corrente, — vamos garantir que seu corpo seja
adequadamente limpo do mal, — continua ela, o mal que ela fala está me
encarando bem na cara.

Minha cabeça dói devido à exposição prolongada à dor, mas como vejo
todas as garotas segurando suas velas sob a cruz, o fogo aquecendo o
metal, começo a balançar a cabeça, desejando que meus membros se
movessem.

O sorriso de Cressida se intensifica e ela move a pequena cruz pelo


meu peito até que esteja sobre o meu coração.

— Por favor, não, — eu imploro a ela, implorando com meus olhos.


Ela apenas ri.

Presunçosamente, ela pressiona a cruz na minha pele, a sensação de


queimação diferente da de antes. Minha boca se abre com um gemido
baixo, meus olhos lacrimejando com a dor intensa.

Ela empurra a cruz para a minha pele até derreter, dando lugar ao
design para ser incorporado para sempre na minha carne.

Estou tremendo, à beira de desmaiar enquanto ela continua


pressionando, o metal quente me destruindo.
Eu nem percebo quando ela tira. Nem sinto quando os limites das
minhas pernas e pulsos estão desatados.

Sento-me ali, nua, com dor e sozinha.

As meninas já se foram, mas eu mal percebo quando me levanto e


puxo minhas roupas sobre meu corpo dolorido. É como se o tempo parasse.
Não sei quanto tempo levo para me orientar ou como saio da igreja para ir
para o meu quarto. Eu seguro firmemente o que resta do meu cabelo e o
escondo nomeu bolso.

Então, eu tento mancar de volta para o meu dormitório.

É puramente por acaso que vejo a irmã Celeste no meu caminho de


volta e, pela primeira vez, abro a boca.

— Irmã Celeste, — começo, meus lábios tremendo até começar a


berrar, contando tudo o que aconteceu comigo. — Por quê? O que eu fiz
para merecer isso?— Eu pergunto a ela, soluçando por chorar demais.

Levantando meus olhos para ela, me deparei com um olhar de


desaprovação. Nem um pouco do entendimento que eu esperava.

— Assisi, — ela começa, com o tom severo, — não acredito que você
inventaria histórias tão estranhas sobre suas irmãs. — Ela balança a
cabeça para mim, batendo o pé ansiosamente. — Você está sempre tendo
problemas, de uma maneira ou de outra.
Eu? Estou sempre tentando evitar problemas. Como é minha culpa
que todo mundo me odeie?

Abro a boca para dizer exatamente isso, mas a irmã Celeste fala
primeiro.

— Eu não quero fazer isso, mas você precisa de uma lição. Você não
pode sair por aí acusando suas colegas de coisas tão hediondas. É
exatamente por isso que todo mundo não gosta de você.

Eu olho para ela em confusão, e lentamente me ocorre que eu estou


sendo culpada.

— Venha, — a irmã Celeste me dá um tapinha nas costas, me


dirigindo em direção à ala oeste.

— Mas esse não é o meu dormitório. — Eu sussurro, quase


estremecendo quando ela faz contato com minha pele sensível.

— Você não vai dormir no seu quarto hoje à noite, — diz ela, e eu
franzi a testa.

Não faço mais perguntas, pois ela me leva a um prédio em que nunca
estive antes. Parece mais velho que o resto, e sinto essa sensação estranha
ao entrarmos. Arrepios aparecem por toda a minha pele, pelo ar frio, ou
porque estou com medo, não sei.
Me levando por um caminho estreito, ela abre uma porta com uma
chave e me empurra para dentro. A sala está vazia, exceto por uma mesa
ao lado da janela.

— Não é a primeira vez que ouvi falar de você causando problemas,


Assisi, — ela me olha acusadoramente.

— Eu não fiz isso. — Eu tento me defender, mas antes que eu perceba,


a palma da mão se conecta à minha bochecha e eu caio no chão, meus olhos
piscando rapidamente as lágrimas do tapa ardente.

— Irmã Celeste... — Eu sussurro, chocada com a virada dos eventos.


Ela não deveria ser alguém a quem eu possa recorrer?

Mas quando olho para ela, tão presunçosa, vejo a expressão de


Cressida nela e sei que é apenas mais uma valentona.

E eu sou a pessoa mais odiada de Sacre Coeur.

Me arrastando em direção à janela, ela me joga enquanto tira alguns


itens da mesa.

Volto, com medo do que ela quer fazer comigo.

— Assisi, — ela começa, e eu congelo ao ver o que ela tem na mão.

Sabonete.
— Você deve aprender a não falar mal de suas irmãs. — Ela repete,
ajoelhada na minha frente, o sabão na mão me encarando
ameaçadoramente.

Não é a primeira vez que isso acontece comigo, e provavelmente não


será a última.

Mas como ela me obriga a abrir a boca, escovando o sabão sobre os


lábios e me fazendo chupar um pouco, não sei o que é pior, minha ferida
com bolhas ou as bolhas na boca, o gosto químico que não vai embora por
horas.

Ela observa com prazer como meu rosto se contorce, metade com dor,
metade com nojo, continuando a forçar mais sabão em mim.

Mais e mais até eu estar no chão. Eu cuspo várias vezes, mas o sabor
não desaparece.

— Pirralha ingrata, — diz ela, suas palavras cortantes. Lavantando-


se, ela joga o sabão em cima da mesa, me dando um último olhar.

— Espero que depois disso você aprenda. — Ela aguarda a minha


resposta, e eu só posso dar a ela o que ela quer.

— Não vou falar contra minhas irmãs novamente, — sussurro.


— O que?— Ela me pede para esclarecer, e eu faço. Minhas lágrimas
já estão secas quando eu lhe dou as palavras que ela quer.

— Ótimo, — ela se vangloria, — agora para ter certeza de que você se


lembrará disso, — ela levanta uma sobrancelha para mim, — você
passará a noite aqui.

Ela não espera que eu responda quando sai da sala, o som da porta
travando me avisando que não há saída.

Eu rastejo de joelhos até chegar ao sabão, meu rosto torcendo de nojo,


o gosto ainda na minha língua.

Mas eu aprendi algo nos meus anos em Sacre Coeur. Feridas


apodrecem e são infectadas. E a cruz queimada no meu peito não será
diferente. Eu nem tenho certeza se o sabão vai ajudar, mas limpa as mãos,
certo? Também deve limpar feridas.

Envolvo meus dedos em volta e abaixo meu uniforme, trago-o para a


ferida, esfregando-o lentamente.

— Ahhhhh, — minha voz sai em gritos dolorosos, a sensação


queimando através de mim e me aproximando do meu limiar de dor. Mas
eu aguento, sabendo que se isso for infectado, ninguém vai me ajudar.

Cerro os dentes e seguro minhas lágrimas enquanto lavo o que posso


da ferida.
Quando termino, sou minada de todas as minhas forças e desmaio no
chão.

Está escuro... tão escuro e frio.

Meus dentes batendo, eu me viro para o meu lado, envolvendo minhas


mãos em volta dos joelhos e dobrando meu corpo para economizar calor.

Deus... eu sou tão amaldiçoada? Eu sou tão má?

Todo mundo parece pensar que eu sou...


CAPÍTULO TRÊS

Passado

Doze anos,

Afiando minha faca, olho para a obra de arte de Marcello de canto do


olho. De má vontade, tenho que admitir que ele tem um talento especial
para esse tipo de coisa. Enquanto meu produto final é frequentemente
bagunçado, ele é limpo, todos os detalhes no lugar como se tivesse sido
pensado com bastante antecedência. E tinha. Marcello não é de
impulsividade, ele deixa isso para mim. Não, o trabalho dele é requintado
e minucioso.

— Você terminou?

Suas ferramentas caem no chão com um baque. Ele assente, trazendo


a manga para limpar um pouco do sangue do rosto.

Apenas alguns anos mais velho que eu, Marcello é filho de um Capo
italiano, associados de nossa família.

Desde a nossa primeira missão, alguns anos atrás, os adultos


decidiram que tínhamos trabalhado melhor juntos e eles nos juntaram
repetidamente para que pudéssemos fazer o máximo de trabalhos
desagradáveis.

Uma expressão entediada no meu rosto, examino a obra de Marcello.


O morto era um rato que meu pai havia pego alimentando informações aos
albaneses.

Eu tinha observado o suficiente para saber que a nossa era a posição


mais estratégica. Com acesso a todos os principais portos, fomos os
primeiros a saber quando chegaria uma remessa especial. Obviamente,
todos disputavam esse tipo de informação, o que tornava nossa
organização o alvo perfeito para a infiltração.
Meu pai foi quem distribuiu punições no passado. Mas desde que ele
testemunhou o dano que Marcello e eu poderíamos causar a um
prisioneiro, ele decidiu deixar os ratos para nós.

Um corte desce do pescoço até o púbis, dividindo o homem em dois.


Seus braços e pernas haviam sido bem quebrados e dobrados por dentro de
uma maneira grotesca. Isso foi tudo sobre o show, já que seu corpo passará
pelo menos alguns dias no grande salão.

Um lembrete para nunca mais atravessar o Pakhan. Afinal, nenhum


homem queria que seu corpo fosse profanado e exposto em um espetáculo
doentio.

Sei que aproveitarei meu próprio tempo quando a exposição terminar,


já que faço um exame minucioso dos restos mortais dele.

Vanya já está inquieta pensando na oportunidade.

Nos últimos anos, aprendi a me controlar melhor e prometi a meu pai


que os únicos homens a morrer pela minha mão seriam aqueles com uma
sentença de morte sobre suas cabeças. Em troca, ele me ofereceria
qualquer corpo que pudesse poupar para satisfazer minha curiosidade
mórbida.

Ele não percebe, porém, que não é apenas minha curiosidade, mas
Vanya também. Compartilhamos a mesma obsessão com o funcionamento
das coisas... o que faz os humanos funcionarem. E aproveitamos nosso
tempo dissecando e discutindo o interior de um cadáver.

Vanya não é apenas minha gêmea. Ela é minha parceira no crime. E


por mais que meus pais sejam contra minhas irmãs se aproximarem de
mim por medo de sua segurança, Vanya nunca foi de deixar que outras
pessoas a dissuadissem quando ela se decidia. E já somos inseparáveis
desde o nascimento.

Mas enquanto ela pode ser tão anormal quanto eu, ela também é a
mais humana de nós dois. A única que pode me castigar quando sinto meu
controle escorregando.

Eu posso ter prometido ao meu pai não matar seus homens, mas isso
não significa que seja fácil para mim. Não é uma decisão consciente
quando acontece. É mais como um escrúpulo. Uma palavra de Vanya, no
entanto, e eu concordo.

Saio da minha cadeira para avaliar de perto o trabalho de Marcello,


observando alguns sinais de hesitação.

— O que aconteceu com você?— Eu estreito meus olhos examinando


as linhas irregulares. Linhas que em qualquer outro momento seriam
perfeitamente retas.
Marcello não está olhando para mim. Ele está olhando para a poça de
sangue no chão, sua expressão uma mistura de arrependimento e
melancolia.

— Não me diga que você ficou sensível. — Eu inclino minha cabeça


para estudá-lo.

Quanto mais bagunçado o trabalho, mais difícil será para eu salvar


algo do corpo. E é completamente diferente de Marcello.

Ele sussura algo baixinho, dando um passo para trás e indo em


direção ao banheiro improvisado. Ligando a torneira, ele joga um pouco de
água no rosto.

Estou ficando impaciente, e Vanya também, se não terminarmos isso


em breve. Eu já havia prometido a ela a tarde, e ela sempre fica brava
quando não cumpro minhas promessas.

Marcello volta silenciosamente para a sala, com a cabeça baixa. Eu


abafo o desejo de revirar os olhos para ele.

— Minha irmã, — ele começa, e eu me viro para encará-lo, surpreso


com suas palavras. — É o aniversário da minha irmã. Ela vai fazer três
anos hoje.

— Eu não sabia que você tinha uma irmã. — Eu simplesmente afirmo.


Eu nunca vi Marcello assim... cheio de emoções desconhecidas.
É um estado com o qual não posso lidar.

— Tinha... essa é uma boa maneira de dizer isso. — Ele diz com uma
risada amarga.

Eu franzo a testa, confuso.

— Eu nem sei o nome dela, — continua ele, suspirando


profundamente antes de se colocar em uma cadeira.

Eu me aproximo. Marcello passa os dedos pelos cabelos, subitamente


parecendo cansado e muito mais velho que a idade.

Posso não simpatizar com os sentimentos dele, mas sei o que Vanya
significa para mim, e um mundo sem ela seria completamente sombrio.

— O que aconteceu com ela?— Não sei o que me leva a perguntar isso,
já que devo ignorá-lo e continuar o meu dia. De alguma forma, porém,
minha curiosidade tira o melhor de mim.

— Em um convento... ela está melhor lá. Eu ainda desejo... — ele


balança a cabeça, levantando-se e indo para a porta.

Eu franzo os meus lábios, tentando identificar o que está acontecendo


com Marcello e como posso ajudá-lo a voltar à sua capacidade normal de
trabalho. Afinal, somos uma equipe, e metade de um trabalho ruim afetará
o todo.
Assim como estou passando por todas as possibilidades, a porta do
porão se abre para revelar meu pai. Ele está arrastando dois corpos
maltratados com ele.

— Seu dia de sorte, filho, — meu pai pisca jogando os corpos no chão.

Sorte mesmo.

A questão de Marcello é firmemente esquecida quando olho para as


mais recentes adições à sala de tortura.

— Permissão?— Eu pergunto, precisando saber o que eu posso e não


posso fazer.

Meus olhos nos corpos, molhei meus lábios de emoção, todos os tipos
de punições passando pela minha mente.

— Eles são todos seus. Nós os pegamos roubando do depósito. Já


temos um para o salão.

Pai considera o trabalho de Marcello, seus lábios puxando para cima


na abominação que atualmente reside na cadeira de tortura. Não parece
mais humano e, como os novos prisioneiros também olham para o show de
terror, eles percebem que sua vez não está longe.

Trazendo alguns de seus homens, ele exibe a obra de arte destinada à


exibição, e aproveito a força bruta dos soldados para pedir alguns favores.
Vendo que Marcello não vai liderar este, é melhor eu aproveitar e realizar
uma de minhas próprias fantasias.

Vanya ficará tão tonta quando eu contar a ela, já que desenvolvemos


essa hipótese em particular juntos.

— Pendure os prisioneiros no teto, — começo, apontando para os


homens no chão. — Pés para baixo.

Assim que pai e seus homens se foram. Fico com um Marcello


melancólico e decido que é hora de ele parar de andar por aí.

E o que poderia ser mais divertido do que os 2Ms8— assassinato e


mutilação?

— Marcello. — Eu o chamo e continuo apresentando meus planos.


Explico a ele que isso é uma competição, e o objetivo é cortar o máximo do
corpo sem matá-lo.

— É mais provável que eles morram por perda de sangue, por isso
precisamos ter cuidado com nossos cortes. Quem corta a maior parte do
corpo e cujo prisioneiro ainda vive é o vencedor. — Eu digo, satisfeito com o
jogo e animado por estar do lado vencedor.

8 No inglês: murder e mutilation


Talvez esteja aproveitando o estado tumultuado de Marcello para
ganhar alguma influência nessa competição, já que seus cortes não serão
tão precisos como sempre. Mas talvez será isso que ele precise para colocar
a cabeça no jogo.

Depois que terminei de explicar as regras, ele balança a cabeça


pensativo, concordando com meus termos.

Cada um de nós organiza nosso próprio estoque de facas, lâminas,


serras e outras ferramentas antes de prosseguir para o lado dos
prisioneiros.

— Começa!

Pegamos uma lâmina cada e começamos a cortar. Fiel à sua ética de


trabalho, Marcello começa pequeno, ele corta os tornozelos.

Avaliando meu próprio projeto, tento pensar estrategicamente. Cada


peça que eu cortar aumentará o sangramento.

Fechando os olhos, imagino um livro de anatomia que li, procurando


as principais artérias e como elas atravessam os corpos. Minha melhor
aposta é estar atento à artéria femoral e cortar o mais alto que puder.
Enquanto eu analiso mentalmente todos os cenários, tenho outra ideia.

Sorrindo, olho para o meu esconderijo, satisfeito por ver um pequeno


lança-chamas. Parece que eu tinha antecipado antes mesmo de pensar.
Pego uma das serras e começo a cortar, centralizando minha incisão
exatamente onde a junta do quadril encontra o fêmur. Eu preciso ser o
mais rápido possível para garantir um sangramento mínimo.

Mas enquanto eu tenho todo o meu plano explicado, há uma coisa que
Marcello tem sobre mim, força. A puberdade deu a ele a vantagem da
estatura e da força, então terei que encontrar maneiras de contornar isso.

Pegando uma cadeira pequena, subo em cima dela, então estou no


nível dos olhos com o estômago do prisioneiro. Eu me inclino um pouco
para um melhor acesso e continuo cortando.

Quando chego à artéria, o sangue sai em jatos, banhando minhas


roupas. Eu mal evito o fluxo no meu rosto, pois sou rápido em usar o lança-
chamas para cauterizar a ferida.

Marcello me olha quando vê meu truque, e eu apenas sorrio.

— Não é contra as regras. — Eu sorrio.

Ele balança a cabeça, mas não comenta mais, usando seu próprio
método para retardar o fluxo sanguíneo.

Inteligente.
Ele mudou de posição, aproximando as pernas do homem do peito e
protegendo-as ali com uma corda. A posição garante que o sangue não flua
tão rápido devido à gravidade.

Terminando uma coxa, eu viro para a outra. De vez em quando,


verifico para garantir que o prisioneiro ainda esteja vivo.

Os sons de aço contra ossos e os gritos masculinos abafados atrás das


mordaças reverberam na sala.

Quando termino a segunda coxa, a artéria cauterizada, o fluxo


sanguíneo mínimo, paro para pensar nos meus próximos passos.

Marcello suspira observando a pisina de sangue do seu prisioneiro.


Ele tentou seguir o caminho mais rápido também, apontando para as
coxas. Mas sem fogo para fechar a artéria, o sangue está simplesmente
fluindo livremente.

— Você ganhou. — Ele balança a cabeça, dando um passo para trás e


desamarrando as pernas do homem, para que o corpo esteja novamente na
posição vertical.

O sangue corre em jatos, como uma fonte, escorrendo e inundando o


chão.

Lambo meus lábios, a visão tentadora o suficiente para me fazer


esquecer meu próprio projeto.
Mas não exatamente.

— E agora?— Marcello vem para pesquisar meu trabalho.

Eu já tinha me livrado das pernas dele, mas agora é ainda mais


complicado. Quanto mais alto, mais os órgãos se derramam.

Um sorriso desonesto se estende pelo meu rosto. Ah, pena que Vanya
não estará aqui para testemunhar isso.

— Me ajude, sim?— Eu digo, saindo da cadeira. — Eu sou o vencedor,


afinal. — Eu pisco para ele, pegando a serra elétrica e conectando-a.

— Você não pretende.... — Os olhos de Marcello se arregalam um


pouco.

— Eu não tenho muita utilidade para ele agora. Eu ganhei, e


estatisticamente falando, as chances de eu cortar mais sem matá-lo são
muito baixas. Dessa forma, podemos aproveitar o show, — eu sorrio para
ele.

Ligando a serra elétrica, eu subo de volta na cadeira, apontando para


o meio do homem e empurrando a lâmina giratória para o lado dele.

Eu deveria ter usado óculos de proteção.


Percebo tardiamente, enquanto pedaços de carne e pedaços de órgãos
pulam no meu rosto. Eu os sacudo, continuando a cortar.

Marcello parece ter acabado comigo, e eu nem estou no meio do


caminho.

— Você poderia me ajudar, você sabe. — Eu adiciono secamente. Ele é


o único com força extra.

— Sério?— Ele retruca ironicamente, mas acaba tirando a serra


elétrica das minhas mãos, cortando a última parte do torso do homem.

Ele mal dá um passo atrás antes que toda a cavidade torácica do


homem caia no chão, os intestinos se desenrolam lentamente em uma
serpentina, sangue, bile e suco estomacal, todos misturando em uma
combinação desagradável.

Marcello torce o nariz, rapidamente colocando alguma distância entre


ele e metade corpo ainda pendurado no teto.

Eu levanto meus olhos, contemplando os olhos presos no horror


perpétuo, a feiúra da vida e da morte combinada com entusiasmo e nojo.
Meus pés me aproximam, e não posso deixar de ficar hipnotizado pela
visão de vermelho, caos e destruição.
É como se uma lembrança esquecida há muito tempo estivesse
tentando aparecer, uma necessidade de causar dor e se machucar me
engolindo inteiro enquanto eu permaneço enraizado no local.

É muito mais tarde que percebo que devo ter perdido a noção do
tempo. Marcello já se foi. Os funcionários de limpeza do meu pai estão no
trabalho.

Há também meu irmão mais velho, Micha, me observando de um


canto, com o lábio enrolado de nojo.

— Aberração, — é tudo o que ele diz quando encontro seu olhar com o
meu.

Eu não respondo. Eu não preciso. Apenas deixei minha boca se abrir


amplamente em um sorriso completo. Sua compostura é imediatamente
sacudida e ele foge, murmurando algo para si mesmo.

Apesar de todas as suas tendências de bullying, Micha não passa de


um covarde. E não importa o quanto ele me importune, sei que ele teme o
que eu faria com ele.

Afinal, eu disse a ele em detalhes uma vez quando o vi pegar no pé de


Katya e Elena. Ele tem quase dezesseis anos agora, mas seu fascínio por
Elena, nossa irmã mais nova, não me escapou. Mãe e pai proíbem a mim
de me associar com minhas irmãs, mas eles fecham os olhos para Micha.
Talvez eu devesse matá-lo e acabar com isso. Mas Vanya não me
deixa. Toda vez que tento contar a ela meu plano de me livrar dele, ela tem
que me ensinar que a família é onde eu deveria traçar a linha.

— Nós não matamos a família, Vlad, — ela fez beicinho para mim, os
braços cruzados sobre o peito. E eu relutantemente concordei com ela. Mas
ela teve que dar um passo adiante e me fazer prometer que nunca
levantaria a mão contra a família.

Minha palavra é provavelmente a única coisa que me faz humano, já


que eu resolvi fazer isso obrigatório. Não posso me comportar como pessoas
normais e não posso simpatizar com as situações deles. Que, eu aprendi,
me deixa extremamente perigoso. Mas Vanya me fez ver que eu ainda
podia funcionar na sociedade — estar no controle de alguma forma — por
ter um conjunto de limites pessoais pelos quais me responsabilizaria.

Quem imaginaria que alguém como eu acabaria tendo princípios? Mas


eles são a única coisa que me impede de sucumbir a uma raiva animalesca
pura.
— Você quer ir para lá também?— Vanya vem ao meu lado, colocando
uma mão no meu ombro.

Olhando pela janela e entrando no jardim, só posso concordar


enquanto assisto Katya e Elena correrem, brincando com uma pipa. Suas
risadas são tão estranhas, mas ao mesmo tempo tão fascinantes que não
posso deixar de olhar, como alguém de fora.

Vanya é a única astuta o suficiente para me visitar. Mas ela também é


a única que realmente me conhece, a única que vê a mim. Estamos juntos
desde o começo. Teria sido estranho se elanão tivesse me procurado.

Katya e Elena, no entanto, são jovens demais para entender por que
não têm permissão para interagir com o irmão mais velho. Troquei
algumas palavras com elas de passagem, mas nunca fiz parte do pequeno
mundo delas.

E eu quero.

Não posso dizer. Eu sei que não sou como outras crianças da minha
idade. Eu sei que há algo errado comigo. Mas quando as vejo sorrindo sem
se importar com o mundo, desejo, apenas por um momento, ser normal
também. Brincar com os outros e desfrutar da companhia deles. Porque,
como está, sou temido ou tolerado.

Nunca desejado.

— Eu nunca te deixaria, irmão. — Os braços de Vanya esgueiram-se


pela minha cintura enquanto ela deita a cabeça no meu ombro. — Você
sabe disso, não é?

— Sim, — respondo, quase distraidamente.

Porque ela é a única que se importa comigo, que vê mais do que uma
aberração ou uma máquina de matar.

Ela vê a mim.

— Para sempre, — ela sussurra, com o dedo mindinho enrolando no


meu em uma promessa solene.

— Para sempre, — prometo.


CAPÍTULO QUATRO

Passado

Doze anos,

— Não se preocupe comigo, Lina. — Eu sorrio para ela, deixando as


roupas limpas na cama. — Tome seu tempo. Eu sei que é difícil para você
agora.

— Sisi... — Ela balança a cabeça e eu posso ver a decepção em seu


rosto. Eu não tenho coragem de perturbá-la ainda mais, então eu apenas
acaricio sua mão levemente. — Por favor, não se preocupe comigo. Eu
tenho minhas amigas, lembra-se?— Eu continuo sorrindo, mesmo que a
mentira queime nos meus lábios.

Ela acena lentamente, traços de incerteza ainda em suas afeições.

— Sinto muito, — ela fala, logo antes de eu sair do quarto.

Acho que não posso mais ficar lá, sabendo que posso chorar a qualquer
momento. Lina tem sido minha graça salvadora neste lugar esquecido por
Deus, mas até ela não sabe a extensão do que acontece quando saio do
nosso quarto. E eu não quero que ela saiba.

Tive a sorte de Lina ter procurado a Madre Superiora para nos deixar
ficar juntas. Mas criar um bebê não é fácil para ela, não importa o quanto
ela tente negar.

Claudia foi uma adição bem-vinda à nossa pequena unidade, mas


também significava que a atenção de Lina se concentrava inteiramente em
sua filhinha. De certa forma, é mais fácil para mim evitar as perguntas
nos olhos dela quando ela vê os machucados nos meus braços e joelhos, ou
as cicatrizes que marcaram permanentemente minha pele.

Além disso, eu também havia desenvolvido um carinho pela


menininha e nunca tentaria tirar o amor de sua mãe.

Independentemente de quão desesperada eu possa estar por isso.


Especialmente agora que Claudia está doente há alguns dias. Tentei
me tornar invisível e dar espaço a Lina. Mesmo que parta meu coração,
estou sozinha de novo neste dia.

Indo para o fundo da igreja, vou para o único lugar que sei que não
serei perturbada — o antigo cemitério.

É uma pequena área cercada por uma cerca velha e quebradiça.


Existem alguns mausoléus que abrigam algumas das figuras mais
eminentes de Sacre Coeur, embora, que eu saiba, ninguém tenha sido
enterrado neste cemitério há muito tempo.

Dirijo-me ao mausoléu de mármore branco no fundo. Usando alguns


pedaços de arame, abro a porta e entro furtivamente.

No ano passado, eu encontrei este lugar por acaso. Cressida e suas


acólitas estavam me perseguindo pelo convento, e eu pensei que talvez elas
não ousassem entrar no cemitério.

Mas elas entraram, então eu improvisei algo no local, conseguindo


abrir a porta do mausoléu e esgueirando-me para dentro.

Desde então, tornou-se meu refúgio.

No interior, um caixão grande reside no centro, com alguns itens ao


lado. O resto do cômodo está vazio e espaçoso o suficiente para eu ficar por
aqui. Eu até tirava alguns cochilos de vez em quando, mas durante o
inverno é mais difícil dormir, já que o chão fica muito frio.

Sento-me, descansando as costas no caixão e respiro fundo, desejando


não chorar. Hoje não.

Piscando duas vezes, olho em volta, vendo algumas velas usadas, mas
inacabadas.

Talvez...

O pensamento me estimula a agir, e eu pego algumas velas,


procurando algo para acendê-las.

Quando estou prestes a desistir, vejo uma pequena caixa de fósforos


ao lado do caixão. Tomando na minha mão, eu a abro rapidamente para
ver alguns palitos restantes.

Sim!

Faço um trabalho rápido nas velas e as coloco na minha frente,


puxando meus joelhos para o peito e vendo as chamas dançarem.

— Feliz aniversário para mim, — sussurro, meus olhos ficando cada


vez mais úmidos.
Usando a ponta da manga, enxugo com as lágrimas, dizendo a mim
mesma que não vale a pena.

Isso acontece todos os anos. Por que esse tempo deveria ser mais
doloroso do que todos os outros?

Todas as outras garotas recebem algum tipo de comemoração de


aniversário. Todas, menos eu.

Como as freiras dizem que eu sou filha do diabo, elas acreditam que o
dia do meu nascimento não foi um evento alegre, mas amaldiçoado. Por
que elas comemorariam um dia amaldiçoado?

Então eu tive que assistir do lado de fora, ano após ano, como todos
recebem seu pequeno dia quando são a pessoa mais importante. E eu sou
apenas esquecida.

— Por que ainda dói?— Eu me pergunto, incapaz de responder à


pergunta.

Talvez seja porque finalmente encontrei algum tipo de aceitação com


Lina e Claudia. Ou porque, de vez em quando, meu irmão Valentino se
lembra de me visitar. Eu até conheci meu outro irmão, Marcello, uma vez,
anos atrás. Ele tinha sido gentil, mas distante.

Como todos os outros.


Olhando para a luz das velas, reuno coragem para fazer um pedido.

Desejo que alguém me ame acima de tudo.

Decido ser egoísta e peço tudo o que quero, sabendo que é improvável
que eu consiga.

Eu quero ser o tudo de alguém... A razão de alguém ser.

Fechando os olhos e imaginando o calor desse amor — minha alma


sufocando com muito amor — sopro nas velas.

Talvez desta vez funcione.

Suspiro profundamente, sabendo no fundo que é tudo por nada. Eu me


pergunto quanto tempo levará para minha esperança morrer? Tenho
longos anos pela frente neste lugar horrível. O suficiente para minar até a
última gota de esperança do meu espírito.

Eu gostaria de poder pelo menos entender porquê. Por que minha


família me abandonou? Eles também pensaram que eu trago azar? Que eu
sou tão desprezível?

Eles devem.

Descansando a cabeça em cima dos joelhos, aperto os braços em volta


do corpo, me amontoando em uma pequena bola para preservar o calor.
Está ficando tarde e as noites são frias, especialmente considerando o
edifício todo em mármore.

Permanecendo um pouco mais, eu decido voltar.

Abro a porta do mausoléu e fico cara a cara com o meu pesadelo —


Cressida.

— Disse que ela estava aqui, — fala uma das outras garotas, sua
expressão presunçosa.

Cressida me observa com malícia em seu olhar, e instintivamente dou


um passo atrás.

— Ela pensou que poderia fugir de nós. — Ela diz maliciosamente, me


olhando de cima a baixo. Provavelmente ela está procurando os
machucados da última vez.

Balanço a cabeça e tento colocar o máximo de distância possível entre


nós. Eu ando para trás até bater no metal frio do caixão, minhas mãos se
agarrando a ele para apoio.

— Por favor. Apenas me deixe ir. Está quase na hora do toque de


recolher, — acrescento em voz baixa, esperando que a ameaça do castigo
da Madre Superiora por violar o toque de recolher as impedisse.
— Assisi, Assisi, quando você aprenderá?— Ela se aproxima de mim,
a mão vai para o meu queixo para inclinar minha cabeça, trazendo meus
olhos para os seus. — Ninguém se importa com você aqui. Madre
Superiora provavelmente me daria um prêmio por mostrar seu lugar.
Afinal, o lixo pertence apenas a um lugar, — ela sorri para mim, a boca
pairando sobre a minha orelha, — no lixo.

Ela empurra um pouco no meu ombro, mas eu não tenho mais para
onde ir, então tento contorná-la.

— Por que você está fazendo isso comigo? O que eu fiz para você?—
Meu lábio inferior treme ao imaginar todas as coisas que elas poderiam
fazer comigo, já antecipando a dor e a humilhação.

— Por quê?— Ela ri, me dando um tapa na cara. Eu rapidamente viro


a cabeça para evitá-la, mas a ponta dos dedos dela ainda faz contato com
minha bochecha direita. A outra palma segue de perto, pegando minha
bochecha esquerda com força retumbante.

Eu estremeço de dor e abaixo a cabeça, esperando que minha


subserviência a faça ter pena de mim.

— Porque eu posso. Você é tão patética, é muito divertido observar o


medo em seus olhos. — E só para esclarecer, ela continua me dando um
tapa.
Levantei os braços, tentando desviar alguns dos golpes, mas eles
ainda raspam na minha pele, deixando uma sensação de picada para trás.

— Me deixe em paz!— Eu grito, incapaz de aguentar mais. —


Somente... me deixe em paz. — Eu engulo um soluço, tudo convergindo
para um nível insuportável.

— Meninas, venham ver. Assisi respondeu.

As outras garotas começam a rir, se aproximando e formando um


círculo ao meu redor.

— Você quer que eu te deixe em paz Sisi?— Ela pergunta, zombando


do apelido que Lina me deu.

— Me deixe em paz. — Repito, embora a confiança de antes tenha


acabado. Com cinco garotas me cercando, o que posso fazer?

— O que você disse? Devemos deixá-la em paz?— Cressida pergunta e


as outras riem.

— Nós deveríamos. De qualquer maneira, é quase toque de recolher,


— outra resposde, e as outras parecem concordar.

Apertando meus olhos, o alívio começa a me encher quando percebo


que elas não têm tempo para fazer mais comigo.
— Você está certa. — Cressida diz antes de repente me empurrar para
o chão.

Caindo, tento me afastar delas, mas um movimento de mão de


Cressida e o resto das meninas estão em mim, me segurando.

— Não podemos perder o toque de recolher. Mas Sisi pode. — Ela


sorri insidiosamente, acenando para a amiga para ajudá-la.

Observo horrorizada quando eles destrancam a fechadura do caixão,


ambas empurrando no topo até que ela ceda, uma abertura se formando na
boca do caixão.

Aterrorizada, só consigo balançar a cabeça enquanto tento arrancar


meus braços e pernas do aperto.

Não... não!

Quando o topo está na metade do caminho, Cressida torce o rosto com


nojo, — hein, esse cheiro... — o rosto dela se transforma lentamente em
satisfação. — Perfeito para Assis.

As meninas começam a me mover e, enquanto eu tento chutá-las,


nada funciona.

Logo sou despejada no caixão, minhas costas pousando em algo duro,


o som de ossos esmagando retumbando no espaço pequeno.
Estou tremendo da cabeça aos pés, mas não ouso me mover, por medo
do que posso ver.

— Bons sonhos, querida Sisi,— Cressida me olha presunçosamente.

Assim como foi retirado, o topo é fechado lentamente e o mundo


inteiro fica encharcado na escuridão.

Fico quieta, esperando que elas saiam. Vou tentar sair depois disso.

Mas assim que esse pensamento passa pela minha cabeça, ouço o
barulho da trava. Meus olhos se arregalam em descrença.

— Não é real. Não é real, — sussurro para mim mesma. Mas quando
me movo apenas uma polegada para a direita e esbarro em um objeto
rígido, de repente é muito real.

— Acalme-se. Eu preciso me acalmar. — Eu digo em voz alta,


esperando que o barulho me ajude a focar em algo que não seja o medo.

Eu respiro e deixo sair quando deixo minha mão vagar. Eu mal tinha
visto o que havia dentro quando elas me jogaram, e talvez seja melhor
assim.

O cheiro é como Cressida havia descrito... podre. É velho e mofado, e


me faz querer prender a respiração com nojo.
Eu me movo e sinto algum tipo de material, bem como o que imagino
ser osso.

Osso humano!

De todas as coisas que elas fizeram comigo ao longo dos anos, isso
deve ser o mais extremo.

O pânico toma conta de mim quando começo a imaginar ficar trancada


para sempre neste caixão.

E se elas levarem a brincadeira ao extremo? E se elas acharem que


ninguém vai sentir minha falta, então elas apenas...me esquecerem aqui?

Não seria a primeira vez que alguém simplesmente desaparecia de


Sacre Coeur e ninguém tinha piscado um olho. Havia Dalila, que só estava
aqui há um ano, e havia também as gêmeas Kat e Kris, que haviam
desaparecido ao mesmo tempo. E ninguém as trouxera novamente. Era
como se elas nunca existissem em primeiro lugar.

E logo também serei eu.

Quanto mais penso no meu futuro sombrio, mais percebo que não
estou pronta para morrer. Agora não ou tão cedo.

Eu nem vivi.
Apertando minhas mãos nos punhos, pressiono-as contra a parte
superior do caixão, socando, arranhando, batendo, esperando que a coisa
pesada possa se mexer.

Mas isso não acontece.

Chuto com os pés, usando toda a força que posso reunir.

Nada.

De alguma forma, o pensamento de que eu vou morrer aqui e, no meu


aniversário, no entanto, me faz querer lutar.

Talvez eu não tenha nada pelo que lutar, mas pelo menos eu me
tenho. E talvez ninguém mais me ame, mas eu amo.

E eu quero viver.

Quero continuar, porque talvez, um dia, meu desejo se torne


realidade.

Sabendo que não posso desistir, continuo chutando no topo até que a
exaustão me reivindique e eu recue, meus membros minados de força, mas
minha determinação ainda é feita de aço.

Porque eu posso.
Ela está me atormentando há anos porque podia. Ela estava certa
sobre isso.

Porque eu deixei.

Agora, enquanto me estabeleço na escuridão deste espaço fechado,


alguma clareza entra em minha mente. Além do medo, além do pânico de
que eu nunca mais veja a luz do sol e de morrer ao lado de uma pilha de
ossos velhos, há uma súbita realização.

Eu a deixei passar por cima de mim.

Uma e outra vez ela me insultou, bateu e me puniu. Só porque ela


poderia.

E eu? Por toda a minha declaração de inocência, eu tinha sido uma


participante disposta. Porque eu permiti que tudo acontecesse.

Eu as deixava me amaldiçoar, me bater até minha pele cicatrizar e me


atormentar até que os pesadelos me mantinham acordada à noite.

Como eu não vi isso antes?

Eu estava tão ocupada sentindo pena de mim mesma e chorando pelo


meu estado miserável que não parei por um minuto para me perguntar por
que deixei isso acontecer.
Você não achou que merecia mais.

Provavelmente é o máximo que estou disposta a admitir para mim


mesma, a verdade me abrindo em carne viva por dentro e me fazendo
olhar para o meu próprio reflexo.

Eu estava tão envolvida em tentar ser boa, tentando passar


despercebida agradando a todos, que nunca havia revidado.

E pela primeira vez, juro que, se sair viva, vou mudar.

Talvez eu não consiga controlar como os outros se comportam, mas


posso garantir que nunca mais serei vista como uma fracote.

Por que ser bom quando as pessoas são ruins?

Porque de fato.

Durante toda a minha vida, tentei mostrar às pessoas que sou mais do
que a marca no meu rosto. Que eu não sou realmente amaldiçoada. Mas
ninguém nunca tentou ver além das minhas imperfeições físicas.

Eu tinha sido marcada como filha do diabo desde o início, então fiz o
meu melhor para mostrar a todos que eu era boa.

E para quê?
As horas passam e o caixão fica cada vez mais frio. Tento ignorar o
pensamento de que estou sentada em cima dos ossos velhos de alguém, ou
o simples fato de estar dividindo um lugar minúsculo com uma pessoa
morta.

Eu me concentrei em uma coisa — minha crescente determinação.

Acabei de ser o saco de pancadas de todos, assim como acabei de ser


indesejada.

Se elas não me querem, que assim seja. Também não as quero.

Abandone-me uma vez, vergonha para você. Me abandone duas vezes...


vergonha para mim.

Mas da próxima vez, não haverá um duas vezes.

Se houver uma próxima vez.


De manhã, a chamada do galo me alerta para a passagem do tempo.
Meus dentes batendo, meus membros rígidos de frio, mal estou ciente de
quanto tempo estou aqui.

Existem algumas fendas dentro do caixão que permitem um pouco de


luz, e eu absorvo tudo, pensando tolamente que pode aquecer meu corpo.

Estou dentro e fora da consciência depois de algum tempo. Fome e


sede estão roendo por mim e eu já me resigno a nunca sair daqui.

— Eu desejo... — Eu tento molhar meus lábios já rachados com a


língua, meu único pensamento para me manter acordada. — Eu desejo, —
começo de novo, pensando no meu desejo de aniversário.

Talvez em outra vida...

— Ela está vindo para cá. Podemos precisar ficar com ela...

— Mantê-la? Aqui? Não! Vou levá-la comigo, — uma voz fica cada vez
mais acalorada.

Eu me movo um pouco, achando difícil fazer meus membros reagirem.


Sinto os músculos do meu rosto rígidos e doloridos e tento abrir os olhos.
— Sisi, — Lina corre para o meu lado. — Bom Deus, o que aconteceu
com você, — ela sussurra, lágrimas nos olhos.

Suas mãos estão por todo o meu rosto, meu corpo, seu toque terno e
carinhoso.

— Lina, — eu sussurro, achando difícil falar.

— Não, não fale. Eu peguei você, — diz ela, com as mãos quentes
acariciando meu cabelo.

— Catalina, não tenho certeza...

— Irmã Maria, Sisi é minha amiga, e eu posso cuidar dela. Ela está
voltando comigo, — a voz de Lina tem um tom confiante que eu nunca
tinha ouvido antes.

Eu tento me levantar, mas ela está rapidamente de volta ao meu lado,


me levantando nos braços e me abraçando no peito.

— Senhor, Sisi, o que aconteceu?

— Estou bem, — consigo deixar escapar, embora não tenha certeza de


quanto tempo fiquei naquele caixão.

— Como você soube... — Eu segui, minha força é limitada.


— As irmãs em serviço de jardinagem ouviram você gritar. Não
acredito que você estava trancada ali... Sisi, — ela balança a cabeça para
mim, preocupação no olhar.

— Estou bem. Foi apenas uma brincadeira. — Eu minto, porque


aprendi minha lição quando se trata de contar às outras garotas.

Não. Ninguém pode me ajudar além de mim mesma.

E é exatamente isso que eu vou fazer.

— Uma brincadeira? Mas...

— Podemos voltar?— Eu pergunto, esperando que ela abandone o


assunto. Não quero que ela saiba o que aconteceu comigo, tanto quanto
não quero que saiba o que farei a partir de agora.

Eu já provei crueldade humana suficiente para durar a vida toda.

Está na hora de eu devolver um pouco.


CAPÍTULO CINCO

Passado

Quinze anos

Olhando para o tatuador, observo ele traçar o contorno de seu design


no meu braço, a agulha da arma penetrando na minha pele no que deveria
ter sido um golpe levemente doloroso. Dados meus receptores de dor já
deteriorados, a única coisa que posso sentir é uma sensação de cócegas
enquanto ele move a arma de tatuagem pela minha pele.

— É tão bonito! — Vanya fala do meu lado, esticando o pescoço para


dar uma olhada melhor no design emergente.
Eu grunhi de acordo.

Em apenas uma semana, eu tinha passado da pele nua para a


armadura quase cheia. Eu queria muito apagar a feiúra da minha pele e
banhá-la em algo significativo e agradável aos olhos.

O apelido preferido de Misha para mim — aberração — não está


relacionado apenas ao meu comportamento abaixo do normal, mas
também às marcas que atravessam meu corpo. Tantos cortes, ele me
chamou de abominação frankensteiniana quando me viu sem a minha
camisa.

Cortes e cicatrizes de pele curada correm ao redor do meu tronco,


braços e pernas. Embora minhas costas não tenham sido poupadas, meu
peito é o pior, com uma cicatriz grossa correndo do esterno para o umbigo.
Como uma árvore, ela se ramifica em linhas menores, algumas mais
proeminentes, outras mais rasas.

Meu rosto é a única coisa sem mácula, uma maravilha.

Para evitar os olhos questionadores das pessoas, bem como a


condenação ou pena em suas expressões, eu decidi cobrir tudo com tinta.

Embora eu quisesse fazer isso por um tempo, o tatuador


desaconselhou fazê-lo antes de chegar à puberdade, já que os desenhos
podem ficar distorcidos com meu surto de crescimento. E então, no
momento em que vi uma mudança no meu corpo, marquei a sessão.
Faz uma semana desde que começamos o processo, e foi preciso muito
convencimento de que eu poderia suportar a dor sucessiva. Felizmente, ele
é um dos artistas preferidos da Bratva e deve ter ouvido falar da minha
reputação não tão estelar, porque no minuto em que pareci um pouco
contrito, ele acabou aceitando o trabalho.

Vanya esteve ao meu lado o tempo todo, maravilhada com os desenhos


e tentando me convencer a deixá-la conseguir suas próprias tatuagens.
Claro, isso nunca aconteceria, já que nosso pai teria minhas bolas se algo
acontecesse com sua filhinha.

Até agora, o tatuador havia terminado minhas pernas, peito e costas,


bem como meu braço direito. O braço esquerdo é o único que ainda precisa
de mais tinta.

Passei noites sem dormir com Vanya escolhendo os desenhos e


discutimos longamente a coesão de todo o cenário. Ela, mais do que
qualquer outra pessoa, sabe o que isso significa para mim.

A obra é dividida em três eventos — antes, durante e depois.

No meu peito, bem embaixo do umbigo, um baú de madeira com


desenhos intrincados fica meio aberto, a caixa de Pandora. A fumaça de
tinta preta irrompe dos limites do peito, transformando-se lentamente em
crânios, cada um pintado com uma expressão de malícia, desespero e
desolação, o mal desencadeado nesta terra.
Os espíritos corruptos ocupam a maior parte do espaço no meu peito,
seus rostos podres alcançando minhas omoplatas e se dissolvendo em uma
névoa calmante. Dos meus ombros aos meus pulsos, runas budistas correm
por todos os meus braços, tudo para conter o mal, impedir que ele se
espalhe como uma doença.

De maneira semelhante, minhas costas são um mosaico de guerreiros


em diferentes posições de luta, todosencarregados da proteção da caixa.
Alternativamente, eles também devem oferecer um amortecedor entre as
forças do mal e o mundo exterior, caso a caixa seja involuntariamente
aberta. Vanya havia encontrado esse pequeno detalhe.

— Às vezes, pequenas rachaduras se tornam buracos de magnitudes


surpreendentes, — disse ela, sugerindo a possibilidade de que não
importa o quão difícil alguém possa tentar não abrir a caixa, ela se abrirá
independentemente. Então ela sugeriu um mecanismo de segurança. Algo
para guardar o mal de sesoltar.

— Os guerreiros o protegerão, mas também protegerão o mundo de


você, — comentou ela, tomando uma caneta e descrevendo sua ideia no
papel.

Suas palavras me tocaram. Ela me conhece tão bem que sabe que há
uma grande chance de eu surte em algum momento no futuro.
Então a última parte— as pernas — mostra o que acontecerá quando
o último remanescente do bem for vencido. A descida ao Tártaro. O lugar
onde o mal faz seu playground e a última parada.

O destino final.

Mas, se tudo mais falhar, os espíritos miseráveis desencadeados da


caixa de Pandora não apenas se aventurariam no inferno sozinhos. Não,
eles arrastariam qualquer alma inocente que pudessem encontrar.

E isso... deve ser evitado a todo custo.

— Não acredito que não dói. — Vanya observa quando a agulha se


aprofunda no meu braço.

— Dói muito!— Eu finjo reclamar, piscando para ela.

O tatuador levanta o olhar, olhando entre mim e Vanya, as


sobrancelhas franzindo juntas antes de dar de ombros, a atenção de volta
ao trabalho.

— Ele é estranho, — reclama Vanya, levantando-se da cadeira e se


alongando um pouco pela sala.

— Vanya!— Deixei minha voz crescer um pouco, preocupado que ela


possa estar tramando algum tipo de malícia. Ela pode fazer o que quiser,
mas somente depois que minha tatuagem terminar.
— Calma, eu não farei nada, — ela suspira, os ombros caem quando
ela volta.

— Bom. Se você se comportar, posso falar com o pai para deixar você
conseguir a sua. — Eu mencionei e o rosto dela se ilumina imediatamente.

— Promete?— Ela é rápida em interpor, e eu balanço minha cabeça


com diversão.

— Prometo, — eu ri.

O corpo de Vanya tem marcas semelhantes às minhas, e eu sei que ela


também se preocupa com elas. Pior que eu, há uma cicatriz que corta o
olho direito. Com o tempo foi curado para que agora haja apenas uma
linha fina acima e abaixo dos cílios.

Ainda assim, ela está em uma idade em que sua aparência é muito
importante para ela. Embora eu tenha prometido que conversaria com
nosso pai em nome dela, não será fácil, pois ela não tem permissão para
interagir comigo de forma alguma. Mesmo agora, estou com medo de que o
tatuador conte ao pai sobre sua presença aqui. Mas quando Vanya coloca
algo em sua cabeça, não há nada que eu possa fazer sobre isso. Eu não
podia dizer não a ela quando pediu para vir comigo.

Quando posso dizer não a ela?


Ela é a única que eu tenho. A única pessoa com quem posso falar
livremente.

Com o tempo, as coisas só pioraram. Consegui controlar meus


impulsos e tentei o meu melhor para assumir uma disposição mais
amigável. Tudo na esperança de que as pessoas não fugissem de mim.

Não ajudou.

Agora, mais do que nunca, as pessoas parecem ter mais medo de mim
quando tento sorrir ou fazer uma piada. Apesar de todos os meus esforços
para me assimilar com outras pessoas, eu me tornei ainda mais
introspectivo.

Marcello, mas ele é diferente. Embora nos damos bem, posso dizer que
ele odeia o que faz. Ele faz sua parte do trabalho, mas seus olhos estão
mortos por dentro quando isso acontece.

Ele não é como eu... Ele não fica emocionado ao cortar dentro do corpo
humano, o fascínio pelo que se esconde por dentro — um milhão de
perguntas não respondidas, mas as respostas estão nos encarando.

Ele não entende.

No entanto, apesar de todo o seu desgosto por nossas atividades


extracurriculares, ele é o único além de Vanya que não me irrita. Ele pode
me encarar nos olhos e me desafiar sem temer que eu corte sua garganta
em um momento de inconstância. Ele pode conversar e discutir comigo,
sobre nada e tudo.

Ele não percebe o quanto essas pequenas coisas importam para mim.
Não quando as pessoas fogem de mim no momento em que tento abrir a
boca para conversar.

— É isso, — suspira o tatuador, inclinando-se para trás para


examinar seu trabalho. — Você precisa ter cuidado agora, — ele passa a
me instruir como cuidar delas.

Logo, Vanya e eu estamos do lado de fora e voltando para casa. A loja


de tatuagens não fica muito longe da nossa casa, mas fazemos um desvio
enquanto esgueiramos algumas das ruas mais populosas de Brighton
Beach.

— Espera! — Vanya exclama se apressando em direção a uma das


vitrines, parecendo bastante impressionada olhando para os vestidos dos
manequins.

— Você sabe que o pai nunca vai deixar você usar algo assim, — digo,
divertido, acenando para o comprimento do vestido. Mal chega acima do
joelho, e o pai tem uma regra firme para todas as suas filhas. Nada que
mostre muita pele.

Vanya suspira de frustração, com os olhos disparando entre o vestido


monótono na altura da coxa e o da vitrine da loja.
— Você acha que ele me deixará usar algo assim?— Ela pergunta com
um tom bastante sem esperança.

— Duvido, — respondo honestamente.

Ser o Pakhan da Brighton Beach Bratva significa que a imagem do


pai deve ser impecável. Isso se estende à sua própria família,
especialmente às filhas. Os padrões são diferentes, é claro, para seus
filhos.

As mulheres da família devem ser recatadas, com uma disposição


tímida e maleável o suficiente para seus colegas do sexo masculino.

Os homens, por outro lado, mostram sua força através da quantidade


de violência que podem destruir em seus inimigos, a crueldade com que
lideram.

No que diz respeito a isso, sou filho modelo do pai, mesmo sabendo
que no fundo ele tem pavor de mim. Vanya, por outro lado, é o oposto de
tudo o que eles representam, e até agora ela conseguiu esconder bem seu
lado sombrio. Ninguém além de mim sabe do que ela é verdadeiramente
capaz.

Felizmente, meu pai tem minhas outras duas irmãs, que são o
epítome do decoro — doces e recatadas.
— Droga, — ela amaldiçoa suavemente, seus olhos ainda focados
naquele pedaço de tecido.

Sem nem pensar, pego a sua mão, entrando na loja e enchendo os


braços com pilhas de roupas.

— Vá em frente, experimente. — Eu a encorajo quando seus olhos se


arregalam em questão.

— Sério? — A voz dela é baixa quando ela pede e eu apenas aceno. —


Mas não temos dinheiro...

— Nós temos. Eu tenho, então não se preocupe. — Eu garanto a ela,


levando-a para os vestiários.

Seus lábios tremem um pouco e ela se lança para mim, seus braços
girando em volta do meu pescoço em um abraço.

Fecho os olhos, saboreando o pequeno gesto.

Ninguém me toca.

Ninguém ousa, de qualquer maneira. São pequenos momentos como


esses que me lembram que sou humano, com necessidades humanas.

Quando foi a última vez que alguém me abraçou?


Eu... não me lembro.

Alguém já me abraçou?

— Vai! — Eu digo novamente, me sacudindo das minhas reflexões,


feliz por ter decidido fazer isso por ela.

Ela corre para o vestiário, e o som de cabides colidindo com o chão me


diz que ela está além de animada.

Um sorriso toca nos meus lábios enquanto absorvo um pouco de seu


prazer contagiante.

Vanya passa a me mostrar cada vestido, e eu dou minha aprovação,


informando que ela pode comprar o que quiser.

Tenho algum dinheiro escondido e, como não preciso dele, posso pelo
menos gastá-lo com ela.

Quando ela termina de experimentá-los, pagamos pelos vestidos e


saímos. Antes de ir para casa, eu também a levo a uma farmácia para que
possa escolher algo para o rosto.

Como ela está tão incomodada com sua cicatriz, talvez haja maneiras
de encobri-la sem recorrer a tatuagens. Parando em frente ao corredor da
maquiagem, eu a ajudo a decidir sobre um tom de pó mais próximo do tom
de pele.
Quando também pagamos pela maquiagem, o sorriso que ela me dá
pode iluminar o mundo inteiro. Estou tão satisfeito com a virada dos
eventos, que começo a pensar em quais trabalhos eu poderia fazer para
ganhar mais dinheiro.

Vanya merece tudo e muito mais.

De mãos dadas, finalmente vamos para casa.

Meus olhos permanecem na peça do quebra-cabeça, tentando


visualizar a imagem inteira. Leva alguns segundos para imaginar todas as
possibilidades e logo todo o quebra-cabeça se forma em minha mente. Com
um suspiro, começo a colocar as peças no lugar.

Às vezes nem sei por que me preocupo com quebra-cabeças, pois


sempre levo o mesmo tempo para terminá-los, independentemente do nível
de dificuldade.
Desde que meu pai decretou que só posso matar com sua permissão,
meu tempo livre quase dobrou. No começo, tentei ler alguns livros
didáticos para obter meu diploma, mas mesmo isso foi fácil demais. Ter
uma memória fotográfica significa que só preciso ler algo uma vez para
lembrá-lo para sempre. Um pouco irônico, considerando que minhas
próprias memórias são quase inexistentes antes dos oito anos de idade.

Eu passo para o próximo quebra-cabeça e estudo a imagem por um


segundo, esperando que este se mostre um pouco mais difícil que o
anterior.

Estou focado em resolver o quebra-cabeça quando um pacote de


roupas cai na minha frente, as peças já dispostas se espalhando.

Eu franzo a testa, levantando lentamente o olhar para ver o pai


zangado.

— Por que você tem isso?— é tudo o que peço, observando que são as
mesmas roupas que comprei para Vanya há alguns dias.

— Por quê... — pai cuspiu, balançando a cabeça e dando um passo


atrás. — Imagine minha surpresa quando seu irmão me disse que viu você
carregando uma sacola cheia de roupas. Roupas de menina não menos, —
diz ele, me avaliando astuciosamente.

Misha... Claro que ele iria correr para o pai.


— E daí? — Eu encolho os ombros, imperturbável.

— Filho, — ele começa, claramente desconfortável, — talvez


devêssemos conversar.

Inclino a cabeça, estreitando os olhos para ele.

Uma conversa?

Quando ele me vê observando-o silenciosamente, ele libera uma tosse


falsa, com os olhos disparando desconfiados antes de falar novamente.

— Eu sei que você está em uma idade em que... — tosse mais falsa. Eu
quase quero revirar os olhos para ele e dizer para ele já cuspir, — onde
você está percebendo garotas, — diz ele finalmente, e o canto da minha
boca se anima.

Então esse é o cerne da questão.

As conquistas do meu irmão são lendárias, se alguém acredita nos


rumores das ruas. Não há uma garota que ele não tenha fodido. Claro, de
acordo com os rumores. Uma olhada em Misha e você poderia dizer que ele
provavelmente pagou as pessoas para espalhá-las. E considerando o
covarde que ele é, aposto que ainda tem ansiedade de desempenho.

— De fato, — eu me arrasto, encostado nas palmas das minhas mãos


e esperando por qualquer coisa que o pai claramente tem que me dizer.
— Talvez eu deva pedir ao seu irmão para conversar com você. — Ele
acrescenta pensativo depois de um tempo, e meu rosto imediatamente se
retorce de nojo.

— Não se preocupe, pai. Estou perfeitamente bem como estou. E eu


não tenho interesse... — Eu paro, escolhendo minhas palavras com
cuidado, — nisso, pelo menos ainda não, — digo honestamente.

Ele realmente acha que qualquer garota gostaria de se associar


comigo? Homens adultos se esforçam para me evitar. As meninas reagem
da maneira que as meninas fazem — elas olham para mim e fogem
gritando.

Aparentemente, Misha não é o único com reputação no bairro.

— Oh, — ele franze a testa um pouco, olhando as roupas no chão.

— Filho... você é... — ele gagueja, e eu quero gemer alto. Certamente


ele não está prestes a me perguntar sobre minha orientação sexual? —
gay?

Eu pisco uma vez, devagar.

— Não. — Eu respondo, olhando nos seus olhos. — Eu não sou gay.


Nem sou travesti. — Eu acrescento, sabendo que é a próxima coisa que ele
perguntaria.
— Entendo, — ele responde, endireitando sua coluna. Ele está, sem
dúvida, feliz por não ser envergonhado por um filho gay ou inconformista
de gênero.

Em nossa cultura, admitir isso seria como assinar minha sentença de


morte, e sei que o pai ficaria triste em deixar sua arma favorita.

Não que eu não tivesse pensado nisso também. Ele está certo de que
estou em uma idade em que devo notar meninas, meninos ou... alguém.
Mas não posso reunir o interesse por ninguém ou por nada. Meus
pensamentos estão centrados apenas na minha próxima morte — quando,
quem e como.

Além disso, mesmo se eu fosse, quem ousaria se aproximar de mim?

Dou-lhe um aceno de cabeça, levantando cuidadosamente as roupas do


meu quebra-cabeça e depositando-as ao meu lado.

— Vanya vai me matar, — murmuro baixinho, sabendo que ela ficará


chateada se algo acontecer com suas roupas novas.

Pai para inexpressivamente em seu caminho. Dando meia volta; seu


perfil é banhado em sombras enquanto ele me olha estranhamente.

— O que você acabou de dizer?— ele pergunta, suas palavras são


lentas e medidas.
— Nada. — Eu minto. Não vou jogar Vanya embaixo do ônibus. Não
quando a presença dela é a única coisa que me mantém são.

— Sim, você disse, — ele continua, vindo em minha direção. Seus


olhos escurecem e estou tendo dificuldade em identificar a emoção em seu
rosto.

Ele está com raiva? Chocado? Medo?

Suas feições são desenhadas em uma combinação dos três e, por um


momento, me vejo incapaz de reagir.

— Não, não disse, — repito, mmantendo a mentira. Por uma boa


medida, até deixei meus lábios se alargarem em um pequeno sorriso.

— Sim você disse. Você disse o nome da sua irmã. Eu ouvi você
claramente. — A mão dele pega minha camisa, me levantando.

Atordoado, olho para ele confuso. Esta é a primeira vez em anos que
me toca de bom grado. Não importa que também seja a primeira vez que
ele se atreve a ir contra mim.

— Eu não sei do que você está falando, — respondo, fingindo


ignorância.

— Você acha que Ilya não me contou sobre sua pequena aventura na
loja de tatuagens?— Ele pergunta, e eu tenho que me impedir de reagir.
Não fará nada além de provocar sua ira, e é a última coisa que preciso
agora.

Não posso me dar ao luxo de castigar Vanya ou proibi-la de me visitar


novamente. Isso seria insuportável.

— Não é culpa dela. — Eu imediatamente começo a falar. — Eu a


convenci a ir comigo lá. Ela estava preocupada em incomodá-lo, mas eu a
forcei, — olho nos olhos do pai enquanto digo isso, querendo que acredite
nas minhas palavras.

— Dela... sua irmã, — continua ele, seu rosto é a mesma mistura de


emoções irreconhecíveis de antes.

— Sim. Vanya não queria, mas eu a convenci. — Repito e assisto,


quase em câmera lenta, enquanto seus olhos se arregalam, suas mãos
liberando minha camisa.

Eu me recomponho e coloco alguma distância entre nós. Eu não


gostaria de machucá-lo, mesmo por acidente. Eu prometi que nunca
machucaria minha família e me apegarei a isso.

— Vanya... você falou com Vanya?— Pai repete, quase como se


estivesse atordoado. Eu aceno.

— Não é culpa dela. Por favor, não a castigue, pai.


Ele levanta os olhos para mim, os cantos inclinados para baixo. Seu
rosto de repente parece velho e cansado.

— Há quanto tempo você está conversando com Vanya, filho?— O tom


dele é mais suave, e minhas sobrancelhas se unem em confusão.

— Não é culpa dela, — é tudo o que digo, mas o pai é rápido em me


garantir que nenhum dano lhe ocorrerá.

— Eu sei que ela... que ela é sua gêmea, — ele altera, e isso me dá um
pouco de esperança. Talvez ele veja o quão importante Vanya é para mim e
que ela deve ficar ao meu lado.

Ela é, afinal, minha melhor metade.

— Desde o começo. Ela está esgueirando-se para me ver. Por favor,


deixe-nos sair. Ela me acalma, — digo, esperando que ele entenda.

— Ela te acalma?— ele pergunta.

— Sim ela acalma.

— Filho... — ele começa, balançando a cabeça e dando um passo atrás,


— sua irmã está morta.

— O que?— Eu pisco rápido, com medo de entendê-lo mal. — O que


você disse?
— Sua irmã está morta. Ela está morta nos últimos sete anos. — Ele
explica, mas eu paro de ouvir.

Meus ouvidos estão zumbindo, um som ensurdecedor pulsando nos


meus tímpanos. Minhas mãos vão cobri-los, esperando diminuir o impacto
do barulho, mas nada funciona.

Eu caio de joelhos, olhos arregalados, membros tremendo.

Não... ele está mentindo.

— Vanya está viva. — Eu afirmo, cheio de confiança. Eu a tinha visto


apenas algumas horas atrás.

— Filho, olhe para mim, — diz o pai, e entorpecido, eu faço. —


Valentino Lastra encontrou você e sua irmã em uma gaiola. Você foi levado
por um louco e... — ele faz uma pausa, respirando fundo. — Sua irmã já
estava morta quando encontraram vocês dois, e você não estava muito
atrás. Eu... o médico me disse que você provavelmente bloqueou as
informações porque foi um evento traumático, mas isso... Bozhe, você a viu
desde o começo... — ele balança a cabeça, — isso não é normal.

— Morta?— Eu pergunto, minha mente se aproximando dessa


palavra. — Vanya está morta?

Ela esteve morta esse tempo todo?


Não! Todo esse tempo, ela esteve aqui comigo.

— Ela não está morta, — afirmo novamente, e do canto de um olho a


vejo. Mas diante dos meus olhos, Vanya, de quinze anos, que cresceu ao
meu lado de repente se transforma em criança, suas roupas rasgadas e
sujas, sangue escorrendo de todos os orifícios.

— Não... — Eu murmuro, e meus pés começam a se mover,


perseguindo qualquer fantasma que reside na minha cabeça. — Ela não
está morta, — digo novamente, correndo atrás dela.

Eu não sei onde eu estou ou para onde estou indo. O tempo deixou de
existir no momento em que o pai ousou sugerir que minha irmã estava
morta.

Ela não está.

Como ela pode estar morta quando está ao meu lado todos esses anos?
Eu a vi, ouvi e toquei. Passamos dias e noites conversando, debatendo
e compartilhando nossos pensamentos mais pessoais.

Ela não pode estar morta!

Olho para os assentos vazios do metrô, minha mente uma bagunça de


pensamentos. Eu segui a forma de Vanya por toda a cidade, pulando de
parada em parada na esperança de que ela falasse comigo.

Confirmar que ela não está morta.

Mesmo agora, meus sentidos estão em alerta, procurando qualquer


sinal dela.

Não posso deixar de pensar em todos os momentos que


compartilhamos, procurando pistas de que tudo poderia ter sido mentira.
Mas, ao examinar cada interação, fico com uma sensação de perda
aterradora. Porque para mim tudo parecia tão real.

Mas se não for...

Minha visão vacila e as imagens começam a se atrapalhar na minha


frente, tudo confuso e pouco claro. Levanto minhas mãos para esfregar
meus olhos, desejando que o nevoeiro se afaste da minha vista.
— Vanya, — sussurro ao vê-la nopróximo vagão encostada na porta.
Ela está sorrindo maliciosamente, a cabeça inclinada para o lado enquanto
ela está me estudando.

Eu pulo, me levantando e seguindo-a.

A porta toca quando o trem chega à estação e Vanya sai rapidamente.


Eu sigo, quente na trilha dela.

Ela corre do metrô e em direção ao parque do outro lado da rua. Já é


noite, e estou tendo um momento cada vez mais difícil de focar na sua
forma.

Suas risadinhas enchem meus ouvidos enquanto ela atravessa a


extensão verde do parque.

— Vanya!— Eu chamo o seu nome. Ela vira um pouco, levantando


uma sobrancelha para mim antes de mudar de direção.

É só quando eu começo a ofegar, já sem fôlego, que ela para, tentando


pisar na minha frente.

Ela parece etérea em seu longo vestido creme, o rosto pálido ao luar, a
cicatriz no rosto ainda mais proeminente.

— Vanya, — expiro, a necessidade de tocá-la, certificando-se de que


ela é real e viva, me consumindo.
Eu dou um passo adiante. Quando vejo que ela não está mais
correndo, dou outro passo.

— Irmão, — ela responde, sua voz é uma melodia suave para os meus
ouvidos.

Mas quando levanto minha mão, estendendopara tocá-la, meus dedos


passam por sua forma. Como um holograma, o sorriso dela nunca vacila
quando minhas mãos arranham sua forma inexistente.

Eu continuo tocando-a, esperando que em algum momento minhas


mãos encontrem carne sólida.

— Por quê... como?— Estou surpreso quando a realização começa a


inundar meu cérebro.

Ela não é... real. Ela verdadeiramente não é real.

Eu a encaro maravilhado, seu rosto doce congelado para sempre em


um sorriso acolhedor.

— Não, — aperto minha mão, dando um passo atrás. — Isso não pode
ser...

Minha mente está ficando louca, milhares de cenários se formando na


minha cabeça e nenhum deles agradável.
Minha irmã, minha irmã gêmea... meu tudo.

Ela está morta.

Ela estava morta há sete anos.

Enquanto meu cérebro começa a racionalizar essas informações, meu


coração —esse órgão lamentável do meu corpo, inútil, exceto por bombear
sangue — não suporta deixá-la ir.

Estou tão fascinado pela ilusão à minha frente que nem ouço os passos
atrás. Só sinto o golpe na minha cabeça quando sou empurrado para o chão
pela intensidade do ataque.

Vozes... Eu ouço vozes. Mas de alguma forma não posso traduzi-los em


frases significativas. Eu sei que as pessoas estão falando ao meu redor,
mas para mim são apenas sons incoerentes.

Levantando o olhar para cima, vejo cerca de dez pessoas, algumas da


minha idade, outras mais velhas, todas se amontoando em mim.

Alguns deles removem os canivetes dos bolsos, brandindo as armas na


minha frente, o tempo todo dizendo algo. Seus lábios estão se movendo,
sons estão saindo de suas bocas, mas por minha vida eu não consigo
entender nada.
Atordoado, trago minha mão para a parte de trás da minha cabeça,
não surpreso quando ela vem revestida com uma substância pegajosa. Ao
trazer a mão ensanguentada no meu campo de visão, não posso deixar de
ficar encantado com o sangue fluindo livremente pela palma da mão.

Por um momento, as pessoas ao meu redor são esquecidas. Sou apenas


eu e a substância vermelha. Meus sentidos parecem reagir a ela de uma
maneira tão familiar, minhas pupilas se dilatam, minhas narinas se
alargando inalando o cheiro metálico.

Trago um dedo para os lábios, manchando o sangue e provando sua


essência. Em um suspiro, meus olhos se fecham, minha têmpora latejando.

De repente, abro os olhos e lá está ela.

Vanya.

Ela é pequena... menor do que qualquer criança da idade dela deveria


ter sido. Suas roupas estão rasgadas nos joelhos e ao redor do tronco,
sangue jorrando de feridas abertas.

Seus olhos estão sombrios quando ela olha para mim, seus pequenos
lábios se separaram em uma palavra silenciosa.

Congelo quando olho melhor para o rosto dela, a cicatriz profunda e


retorcida, o olho quase pendurado na cavidade.
— Vanya, — eu sussurro.

Ela dá um passo em minha direção antes de cair de joelhos, mais


sangue se acumulando no chão.

De alguma forma, aquele sangue é tudo que posso ver ou pensar. E


quando uma das pessoas ao redor me ataca com uma faca, toda a minha
consciência entra em colapso.

Eu estalo.

Não sei exatamente o que está acontecendo. É como se fosse eu, mas
não fosse.

Minha mão estende para agarrar a ponta afiada da lâmina. Sinto isso
cortando minha carne, mas não sinto nada.

Levanto-me, meus olhos vidrados com o que aconteceu comigo. É como


se não houvesse mais espaço para o pensamento lógico. Tudo é sensação...
instinto primitivo.

Torcendo a lâmina, eu a arranco da mão dele, usando meu punho para


enviá-la voando em seu pescoço.

Seus olhos se arregalam por um momento, mas eu não lhe dou


nenhuma abertura. Pego a alça da faca, empurrando-a para baixo do
tronco e cortando a carne, saboreando a maneira como a pele dá lugar ao
corte da lâmina, mais e mais sangue se acumulando.

É como se eu fosse viciado e finalmente encontrei minha droga,


porque, ao ver o líquido vermelho se acumular em baldes no chão, só posso
sussurrar.

— Mais.

Mais dois homens me atacam, e eu os desarmo rapidamente, usando


suas próprias facas para acabar com suas vidas.

Tripas, intestinos e órgãos se derramam no chão. E sangue... muito


sangue.

Começo a rir maniacamente quando olho para o asfalto inundado,


meu único pensamento a causar um dilúvio de proporções bíblicas.

Sangue... mais sangue.

Os outros caras são rápidos em fugir, mas perderam a chance. Não,


eles nunca tiveram a chance para começar porque escolheram o alvo
errado... na hora errada.

Lambendo meus lábios, sorrio os incentivando a correr, a necessidade


de perseguição já fervendo em minhas veias, quase tanto quanto a
necessidade de tirar sangue. Como um predador, o desejo de ganhar minha
presa é quase tão satisfatória quanto finalmente conseguir a presa.

Meus olhos são rápidos em seguir suas figuras em retirada, e então eu


apenas corro.

Sede como eu nunca tinha conhecido antes se agarra a mim, fazendo


meu coração bater com a intensidade de mil batimentos por minuto. E
naquele momento, eu sei, no fundo, que não sou mais humano.

Não há mais razão deixada para trás. Apenas um desejo abrangente


de matar, mutilar e destruir. Banhar-se em um rio de sangue.

Os caras nunca tiveram chance. Um após o outro, eles caem. Minhas


mãos estão cortando a carne ao acaso e, quando a frustração se torna
insuportável, abandono as armas em favor de minhas próprias mãos.

Cavando profundamente no corpo já aberto, envolto meus dedos em


volta das costelas, aproveitando a maneira como elas se encaixam sob
minhas forças. A maneira como os órgãos se transformam em mingau
quando eu empurro neles, rasgando tudo em pedaços.

Mais...

Não sei mais quem sou enquanto persigo um homem após o outro,
transformando seus corpos em uma bagunça irreconhecível de carne,
sangue e bile. Mas a cor é, oh, tão atraente, que não consigo me conter.
Mesmo quando o último está morto, esse intenso desejo dentro de mim
floresce ainda mais, a necessidade de continuar matando quase
esmagadoramente.

Meus olhos se movem rapidamente ao meu redor, olhando para o


parque e para as ruas, onde transeuntes involuntários estão andando por
aí. Quase consigo sentir o pulso sob a pele deles, e meu desejo por mais
sangue se intensifica.

Eu dou um passo à frente. E dois. No terceiro, minhas pernas parecem


pesadas, meu corpo inteiro caindo sob uma estranha letargia.

Pelo canto dos meus olhos, vislumbro meu pai, uma arma
tranquilizante na mão enquanto ele está mirando em mim. Ele não está
sozinho, e logo percebo que estou encurralado de todas as partes.

Ainda assim, não importa o quanto eu queira ficar e lutar, meu corpo
para de me obedecer.

E eu caio.
CAPÍTULO SEIS

Passado

quinze anos,

]Amarrando a guirlanda no final, uso algumas das flores para


esconder a formação desigual. Virando-me para Claudia, abaixo-a sobre a
cabeça dela, observando com satisfação um sorriso espalhado por seu rosto.
Suas mãos se levantam e ela começa a sentir as flores.

— Uau, — ela respira, com os olhos arregalados de admiração.

— Você gostou?
— Gostei? Eu amei isso! Obrigada, tia Sisi!— Ela se lança para mim,
quase me desequilibrando. Abro meus braços para devolver seu abraço.

— Veja, eu também sou boa em algumas coisas, — acrescento com um


pouco de secura e Claudia ri.

É uma piada entre Claudia, Lina e eu que nunca faço nada certo. É
verdade que raramente me esforço, mas elas têm razão em rir de mim
quando falho nas coisas mais básicas. Recentemente, fui designada para
meu primeiro serviço de cozinha. Antes, eu apenas ajudava as irmãs mais
velhas, então não tinha sido muito difícil. Desta vez, no entanto, eu tinha
sido a única encarregada de fazer a torta de domingo e, por engano,
adicionei sal em vez de açúcar.

Como é minha culpa quando eles pareciam iguais? Até os potes eram
da mesma cor.

Mas esse pequeno erro me causou muitos problemas. Ninguém podia


comer a torta e, portanto, Madre Superiora se encarregara de garantir que
eu aprendesse qual é o açúcar e o sal, limpando e organizando a cozinha
inteira. Parte do meu castigo também foi que eu tinha sido proibida de
comer qualquer coisa até a cozinha estar limpa.

Tive sorte de Lina ter me escondido um pouco de comida, já que a


cozinha é enorme. Eu teria morrido de fome antes de terminar de limpá-la.
— Você é boa comigo, — ela ri, deixando meus braços para colher
mais algumas flores.

Eu mudo de posição, dobrando minhas pernas debaixo de mim e volto


minha atenção ao meu castigo atual, pegando o livro pesado e abrindo-o no
meu colo.

Este não é tão ruim quanto o da cozinha, mas ainda tenho que
escolher uma passagem do Antigo Testamento e escrever um ensaio inteiro
sobre ele. Acho que é isso que recebo por adormecer acidentalmente na
aula.

Mas, na verdade, como devo prestar atenção quando tudo for assim...
desinteressante? Eu tenho ouvido as mesmas histórias de Deus criando o
mundo, ou Jesus se sacrificando por nós, desde que eu era uma garotinha.
Provavelmente conheço algumas passagens de cor se me concentrar o
suficiente. É sempre a mesma discussão sobre os mesmos textos. Por que
eu ficaria intrigada com isso?

Eu sei que há mais a aprender do que os mesmos velhos contos. Uma


vez, consegui entrar na biblioteca e vi tantos textos interessantes... Ainda
sobre o assunto de Deus e da religião, mas eles eram requintadamente
diferentes de qualquer coisa que eu já tinha lido ou ouvido antes. Consegui
roubar uma cópia das Confissões de Santo Agostinho e escondi isso no meu
esconderijo no mausoléu. Eu tenho lido todas as chances que tive, e
embora a moral da história seja que uma vida religiosa é melhor que uma
pecaminosa, eu fui capaz de ler nas entrelinhas.
Vida lá fora.

Pecador, imoral, sedutor. Mostrou como não me comportar, mas isso


só me fez querer experimentar ainda mais. Ele até falou sobre relações
carnais...

Um rubor envolve todo o meu rosto quando me lembro de comer essas


palavras diretamente da página, minha curiosidade por esse ato apenas
aumentando com o mais secreto Santo Agostinho em sua narração. Por
que mencionar isso se você vai medir suas palavras? Apesar de todas as
suas descrições de sua existência imoral diante da igreja, ainda não sei
exatamente o que o ato implica.

Suspiro, a direção dos meus pensamentos me levando cada vez mais


longe da minha tarefa. Considerando que tenho que entregá-lo amanhã,
preciso colocar minha cabeça no jogo.

Mãos nas minhas têmporas, eu esfrego rapidamente, apertando meus


olhos e me desejando focar.

— Claudia, não vá longe demais!— Eu chamo ela quando a vejo


correndo na direção oposta.

Seus ombros caem quando ela ouve minha voz e desanimada, ela
volta.
— Você sabe que sua mãe conta comigo para ter certeza de que está
segura, — acrescento enquanto dou um tapinha nas costas dela.

Ela me dá um sorriso trêmulo e acena com a cabeça, sentando-se ao


meu lado e concentrando-se nas flores que já havia escolhido. Ela começa a
brincar com elas, tentando construir outra guirlanda.

Por acaso, enquanto ela muda de posição e tenta ficar mais


confortável, olho mais de perto as pernas nuas.

Eu franzi a testa examinando uma massa de hematomas marrons e


amarelos que se estendem da canela ao joelho.

— Claudia, — eu me viro para ela, — o que aconteceu?— Eu aponto


para os seus hematomas e os olhos dela se arregalam. Ela dobra o
uniforme sobre as pernas, obstruindo minha visão.

— Nada, — ela murmura sob a respiração. — Eu caí.

— Você caiu? Quando? Sua mãe sabe?— As palavras caem da minha


boca, mesmo que eu possa apostar que Lina não sabe. Ela é tão protetora
com Claudia que, se estivesse ciente desses machucados na pele da filha,
nunca a deixaria ouvir o fim — provavelmente também não teria mais
permissão para brincar.

Lina às vezes é demais quando se trata da segurança de Claudia, mas


eu posso entender e apreciar sua atenção.
Como eu gostaria que alguém se importasse comigo assim também...

— Não, — ela abaixa o rosto um pouco, antes de se aproximar de


mim. — Por favor, não conte a ela. Você sabe como ela vai reagir, — diz
ela enquanto me pede com seus grandes olhos.

Estou dividida. Por um lado, devo dizer a Lina, por outro, não quero
que Claudia perca sua confiança em mim.

— Diga-me o que aconteceu. — Eu a exorto, e ela começa a contar


como tropeçou e caiu no chão duro da sala de aula. Foi apenas um
acidente, e ela não quer que Lina faça um grande negócio com isso.

— Você não está mentindo para mim, está?— Eu estreito meus olhos
para ela, e ela prontamente balança a cabeça. — E se... alguém estava
fazendo isso com você, me diria certo?— Eu adiciono uma boa medida,
sabendo o quão fácil é ser perseguida.

Eu tinha ostentado minha parte justa de contusões ao crescer, e as


coisas só mudaram nos últimos anos, quando simplesmente me recusei a
jogar o jogo dos agressores. Em vez de mostrar a elas medo como eu havia
feito no passado, não me incomodei com elas. Minha indiferença parece ter
funcionado, já que depois de algum tempo elas simplesmente pararam de
se preocupar comigo, incapazes de persuadir uma resposta de mim.

Afinal, esse tipo de mal se alimenta de medo, vergonha e auto-


aversão, e eu tinha baldes dos três.
— Nada aconteceu, tia Sisi, — reitera ela, — eu apenas tropecei.

Eu seguro o seu olhar um pouco mais, querendo ter certeza de que ela
está dizendo a verdade.

— Tudo bem, — suspiro, — você pode continuar brincando, mas não


saia da minha vista, ok?

Ela concorda prontamente, decolando mais uma vez.

Levemente satisfeita com suas respostas, mas ainda um pouco


desconfiada, bani todos os pensamentos da minha cabeça e começo a me
concentrar na minha tarefa.

Aqui vou eu.

Eu tropeço fora da sala de aula, minhas palmas quase sangrando da


lição do professor. Eu tinha feito minha tarefa e expus todos os meus
pensamentos honestos no papel, evitando a interpretação padrão em favor
da minha.

Grande erro.

A irmã Matilde, minha professora, ficou escandalizada quando leu


meu ensaio e me pediu para sentar na frente de toda a sala de aula
enquanto ela me ensinava mais uma lição. Ela pegou uma vara de madeira
e bateu nas palmas das mãos abertas até a pele romper, o sangue quase
atingindo a superfície.

Eu tinha tomado tudo sem mostrar nenhuma fraqueza. Eu poderia


dizer, assim como Cressida e sua gangue, que a irmã Matilde estava
esperando minhas lágrimas fluírem, que meus joelhos se dobrassem
quando me ajoelhei para pedir perdão.

Eu não tinha dado nada a ela.

Eu fiquei parada, suportando estoicamente a dor e as piadas que


minhas colegas estavam jogando para mim. Eu tinha tomado toda a dor
sem som, apenas esperando até a irmã Matilde se cansar de me bater.

Respirando fundo, concentro-me em não ceder à dor. Não é a primeira


vez que isso acontece. Mas é certamente a única vez que a irmã Matilde
não escondeu nada.
Ando devagar em direção ao meu quarto quando vejo Claudia. Cabeça
para baixo, ombros caídos, ela está seguindo um grupo de garotas da idade
dela em direção à parte de trás do convento.

Confusa, como nunca ouvi Claudia mencionar nenhumaamiga da


escola, sigo de perto.

A área aberta me permite ver exatamente o que está acontecendo, e


eu ofego quando Claudia é empurrada para o chão.

As meninas, formando um círculo ao seu redor, começam a provocá-la


e a chamá-la de todos os tipos de nomes feios. A situação é muito familiar,
enquanto eu assisto Claudia levar tudo. Cabeça baixa; ela nem está
tentando se defender quando uma garota tenta bater nela.

Eu pulo do meu esconderijo, correndo em direção a ela e tentando


dissolver essa multidão horrível.

Senhor, você pensaria que em um lugar de Deus as pessoas seriam


mais... piedosas. Mas não. Ensinado desde jovem que ser boa significa que
você está acima de todo mundo, faz essas garotas pensarem que, porque
Claudia nasceu fora do casamento, ela merece o desprezo delas.

— Pare com isso!— Eu chamo, abrindo caminho dentro do círculo


delas e levando Claudia nos meus braços. — O que vocês pensam que estão
fazendo? — Eu pergunto, balançando a cabeça para elas em reprovação.
Algumas garotas têm a decência de parecer envergonhadas por serem
pegas, mas uma em particular, a líder acho, ainda tem um olhar de
arrogância no rosto.

— Você está bem?— Eu pergunto rapidamente a Claudia e ela


assente, com os olhos cheios de lágrimas caídas.

— Vocês não podem sair por aí abusando de pessoas. — Eu me viro


para as outras, seus olhares agora focados no chão.

— Como vocês se sentiriam se alguém fizesse isso com vocês


também?— Eu pergunto, mas ninguém responde.

Balançando a cabeça com nojo, puxo Claudia para os pés dela,


aproximando-a do meu lado.

— Vá agora antes que experimente seu próprio remédio. — Eu digo na


minha voz mais adulta, e vejo as meninas se afastarem. A líder delas é a
única que fica para trás, mas até ela sai quando vê que perdeu o apoio.

— Você está machucada?— Pergunto a Claudia, preocupada que possa


ter recebido novos machucados. Ela balança a cabeça, mas não estou
convencida. Começo a dar um tapinha nela quando ouço outra voz
familiar.
— Olha quem ganhou coragem, — Cressida ri por trás. Eu me viro
bruscamente para ver ela e sua quadrilha, mãos nos quadris, parecendo
poderosamente presunçosas enquanto zombam de nós.

Instintivamente, coloco Claudia atrás de mim, assumindo uma


postura defensiva.

— Vá embora, Cressida, — digo, minha voz cheia de confiança. Não


vou recuar, não quando Claudia também estiver comigo.

— Vá embora, Cressida, — ela imita minha voz, fazendo uma cara


feia, e as outras começam a rir. — Olhe para as duas, rejeitadas. A
semente do diabo e você, — ela estica o pescoço, procurando dar uma
olhada melhor em Claudia, — com sua prostituta de mãe. Você não tem
vergonha de mostrar seus rostos por aqui?

— Que original, — eu entendo, — você está apenas dizendo o mesmo


material reciclado antigo.

Aperto a mão de Claudia com força e me afasto lentamente, sem


querer um confronto direto que possa resultar em danos.

O canto da boca de Cressida puxa para cima em um meio sorriso cruel


enquanto ela lentamente se aproxima de nós.

Ela é uma das garotas maiores da nossa faixa etária e sei que não
tenho chance, especialmente se Claudia estiver em perigo.
— Vá para casa. — Eu sussurro para Claudia, e seus grandes olhos se
voltam para mim em questão.

— Vá, eu vou lidar com isso.

Ela parece relutante, mas enquanto eu a exorto com meus olhos, ela
parece entender a gravidade da situação enquanto de repente sai dos
claustros e em direção ao dormitório.

Quando ela está fora de vista, solto um suspiro de alívio e volto-me


para enfrentar minha pior inimiga novamente. E desta vez, não estou
recuando.

— Você acha que não podemos pegar essa pirralha também? A gangue
de Annie garantirá que ela receba o que lhe é devido, — diz ela
presunçosamente.

— Deixe Claudia fora disso. Seu problema é comigo, — respondo,


encontrando o seu olhar.

Eu nunca pensei que meus problemas influenciariam como Claudia


também é tratada... E agora que me deparo com a possibilidade, acho que
não posso deixar isso passar.

As pessoas podem me odiar e tentar me derrubar o quanto quiserem.


Mas elas não podem ir atrás da minha família.
Um sorriso de repente se espalha pelo meu rosto enquanto dou alguns
passos à frente até que eu esteja frente a frente com ela.

— Não quero. — Ela responde, a mão já levantada e pronta para


atacar. Desta vez, porém, estou pronta para isso e pego no ar, meus dedos
apertando o pulso dela em um aperto doloroso.

Um pequeno estremecimento cruza o rosto e ela é rápida em usar a


outra mão. Não lhe dou uma abertura quando levanto meu joelho e bato no
estômago dela.

Uma ingestão repentina de ar e ela suspira, curvando-se para a frente


com dor. Não paro quando levo minha mão para o seu rosto, colocando toda
a minha força em um tapa que a faz tropeçar. Suas amigas estão à
margem, apenas observando com olhos arregalados enquanto Cressida cai
no chão. Dou-lhes uma rápida olhada e elas balançam a cabeça, não
querendo se envolver.

— Até suas amigas a abandonam quando você está mais fraca, —


digo a ela, observando sua forma lamentável. — Esta é a diferença entre
nós, Cressida. Você tem amigas quando tem o poder de aterrorizá-las, mas
veja como elas reagem quando você está triste, — sorrio para ela. Seus
olhos ainda estão cheios de malícia enquanto ela tenta se recompor.

— Eu posso ser odiada por todos os outros, mas pelo menos eu tenho
minha família, — enuncio cada palavra, sabendo que a maioria das
meninas ao redor são órfãs, e uma família é o que elas mais desejam. —
Quando todo mundo sai, quem você tem?

Trago meu pé como se estivesse prestes a bater nela apenas para vê-la
enrolada, dobrando seu corpo em um movimento tão patético que não
consigo me rebaixar até o nível dela.

Dando um passo para trás, balanço a cabeça para ela antes de sair.

Quando chego ao dormitório, Claudia está me esperando lá fora, com


os olhos vermelhos de chorar.

— Tia Sisi, — ela grita, se lançando para mim e deixando suas


lágrimas fluírem.

— Shh, está tudo bem. Nada aconteceu, — acaricio o seu cabelo,


segurando-a perto.

— Mas elas... elas, — ela soluça, suas palavras engolidas pela


intensidade dos soluços.

Tomando-a pelos ombros, eu me abaixo para estar no nível dos olhos


com ela.

— Claudia, o que aconteceu hoje não está ok, — eu começo, — você


nunca deve sofrer sozinha. Se elas te machucarem, conte a alguém.
— Eu não posso.... mamãe tem problemas suficientes, — ela
choraminga, e eu sinto meus próprios olhos embaçados. Catalina sempre
tentou cuidar de nós, às vezes até desconsiderando sua própria saúde.
Além disso, para conseguir algumas coisas extras para Claudia, ela às
vezes assume o dobro da carga de tarefas.

— Então me conte, — eu digo, — eu sempre estarei lá para ajudá-la,


ok? Não segure. Essas pessoas, — eu balanço minha cabeça, minhas
próprias emoções vêm à tona, — elas pensam que somos menos por causa
de nossas circunstâncias. Mas nós não somos. Você não é, você me
entendeu?

Nem sei expressar tudo o que tenho mantido dentro de mim por tanto
tempo. Como dou conselhos a alguém sobre isso quando mal estou
sobrevivendo?

— Sim, tia Sisi. — Claudia sussurra, e eu uso as almofadas dos meus


polegares para enxugar as lágrimas do rosto.

— Não deixe que outros lhe digam seu valor. Você é a única que pode
determinar isso. Não importa o quão cruel as pessoas sejam, —
acrescento, tanto para ela quanto para mim, — elas só podem machucá-la
se você deixar.

Ela acena para mim, suas mãos minúsculas cerradas nos punhos. Ela
assente antes de se aproximar e me abraçar.
— Obrigada, — ela diz contra o meu peito. — Obrigada.

Nos apegamos uma a outra por um tempo, voltando para dentro


apenas quando as lágrimas secaram, e voltamos ao nosso eu alegre, pelo
bem de Catalina.

— Sisi, — Lina chama por mim uma tarde. Confusa, levanto minhas
sobrancelhas em questão, mas ela apenas me acena.

— Venha, — ela sussurra quando eu chego ao seu lado, — eu tenho


algo para você.

Entrando em nossa acomodação, ela levanta o colchão para revelar


algumas pilhas de livros. Tirando alguns, ela os coloca nos meus braços.

— Pedi ao meu irmão para esconder alguns livros, — ela começa,


apontando para os títulos: — Eu disse a ele algo mais romântico, mais
clássico, — ela fica corada enquanto fala.
Meus olhos se voltam para os livros e vejo que a maioria deles é de
alguém chamado William Shakespeare.

— Eles são para você, — acrescenta ela quando me vê olhando para


eles maravilhada.

— Para mim?— Repito, quase entorpecida.

Ela assente. — Eu sei que seu aniversário passou, — ela olha para
baixo, quase envergonhada. — Eu vi você se esconder com esse seu livro e
sei que você está tentando ler alguma coisa... diferente.

— É para mim. — Repito de admiração, piscando rapidamente para


afugentar as lágrimas.

É a primeira vez que alguém me dá algo... para mim.

— Para você, — ela confirma, me dando um de seus sorrisos gentis.


Eu deposito os livros na cama e dou-lhe um grande abraço.

— Obrigada, — começo, tentando manter minha voz firme, — isso


significa muito para mim. — Tanto que ela não pode imaginar.

— Estou feliz que você goste. — Ela dá um tapinha nas minhas costas
carinhosamente.

— Eu amo isso, — sinto-me compelida a dizer.


Recuando, Lina franze os lábios. — Você terá que ter cuidado. Se
Madre Superiora ou qualquer uma das irmãs o pegar...

— Não se preocupe. Terei muito cuidado, — garanto a ela, mudando


imediatamente minha atenção para os livros.

Existem três deles, todos finos o suficiente para caber dentro do meu
uniforme. Eu rapidamente percorro os títulos Como gostais, Anthony e
Cleópatra e Romeu e Julieta.

Eu os percorro rapidamente, franzindo a testa um pouco na linguagem


complicada, mas me esforcei para apreciar esse presente.

Meu primeiro.

Agradecendo a Lina mais uma vez, volto para o meu santuário e


escondo os livros dentro do caixão, sabendo que ninguém vai olhar para lá.

Na semana seguinte, tento tirar algum tempo diariamente para ler, o


conteúdo das peças me surpreendendo, me deixando ofegante de emoção e
chorando de indignação.

Logo, uma peça rapidamente se torna minha favorita e, enquanto eu


leio sobre as lutas de Anthony e Cleópatra para estarem juntos, bem como
sua devoção um ao outro, não posso deixar de querer algo assim para mim.

Como seria... ter alguém me amando assim?


Mas, mesmo quando faço a pergunta, sei que é um ponto discutível.
Estou destinada a uma vida de solidão e ainda mais crueldade. Depois que
Lina e Claudia se forem... Eu nem quero pensar nisso.

Respiro fundo, tentando não pensar nisso, sabendo que se eu insistir


demais, ficarei mais deprimida. E por que eu deveria estragar meu humor
quando esses livros me deixam tão feliz?

O anseio entre os protagonistas é tão palpável na página que meu


próprio pulso começa a correr como eu as imagino em um abraço ilícito.

Mas como meu senhor é Anthony novamente, serei Cleópatra.

Tão entrelaçados que eles não podiam ser sem o outro.

Suspiro profundamente, tentando imaginar um homem sem rosto me


abraçando também, sussurrando palavras de amor em meu ouvido e
apimentando meu rosto com beijos.

Pode nunca acontecer, mas pelo menos eu posso sonhar.

Olhos fechados; Estou perdida nessa fantasia conjurada quando meu


livro é violentamente arrancado de minhas mãos.

Assustada, eu chicoteei minha cabeça e fico cara a cara com Cressida,


um olhar presunçoso em seu rosto enquanto ela olha para o meu livro.
— Devolva. — Eu pulo, minha mão agarrando por isso. Mas como
Cressida é mais alta que eu, enquanto levanta a mão no ar, não tenho
chance de alcançá-la.

— Depois que você me envergonhou na frente de todos?— Ela cospe as


palavras e, por um segundo, estou enraizada no local, pois percebo que,
pela primeira vez, pura malícia está pingando de todo o seu rosto.

— Você trouxe isso para si mesma. — Eu adiciono, pulando para


pegar o livro.

Ao me ver tão desesperada pelo meu livro, ela começa a movê-lo de


mão em mão, aproveitando meus esforços fúteis para recuperá-lo.

Com um suspiro decepcionado, paro.

— Você não está cansada disso? Por que você sempre tem que me
atormentar?— Eu tento apelar para o lado racional dela, se ela tiver um.

Ela apenas encolhe os ombros. — Você está aí. É fácil.

Não muito diferente do que ela disse anos atrás, surpreendentemente,


suas palavras não têm efeito sobre mim. Eu tive tempo suficiente para
pensar em tudo e percebi que como ela me trata não é um reflexo de quem
eu sou, o oposto de quem ela é.

Eu não sou o problema.


— Então, que tal eu dificultar, — digo logo antes de pular novamente,
aproveitando sua atenção desviada para pegar o livro.

Ela reage um segundo tarde demais, mas quando minha mão se move
com o livro, seus dedos pegam metade dele, puxando para trás até ouvir
um grande rasgo.

Nós duas tropeçamos para trás, cada uma segurando metade do livro.

Sua expressão é de satisfação, enquanto a minha é de desolação.

Meu livro...

Não reajo por um bom segundo. Não até Cressida continuar seu jogo
desprezível, pegando-a pela metade e rasgando-a ainda mais em pedaços,
as palavras que eu adorava até um momento atrás caindo no chão.

Sinto um nó se formando na garganta enquanto a observo impotente


pisando por toda a minha posse preciosa.

De repente, todos os anos de tormento, tanto mentais quanto físicos,


se exibem diante dos meus olhos. Lembro-me de como ela me empurrou,
me bateu e cortou meu cabelo. Como ainda carrego as cicatrizes de tudo o
que ela fez comigo e como quase morri em nosso último confronto neste
mesmo lugar.

E de repente, eu terminei.
A metade rasgada do livro na minha mão cai no chão com um baque.
Não me importando mais com nada, eu apenas a ataco, minhas mãos
bateram em punhos a pegando de surpresa.

Sua boca forma em um O, assim como meu soco cai em seu estômago,
e ela tropeça um pouco para trás. Uma forte respiração e ela está dando
socos, apontando para o meu rosto.

Dói quando ela consegue um golpe, mas eu não me importo. Eu


apenas continuo, empurrando-a para o chão enquanto nos envolvemos no
mármore frio, mãos nos cabelos uma da outra.

Andamos até eu estar em cima dela, meus punhos apontando para o


seu rosto.

— Não mais!— Eu grito, uma raiva diferente de qualquer outra vinda


sobre mim. — Eu não serei mais seu saco de pancadas, — digo enquanto
continuo a bater nela.

Irônico que eu a esteja tratando como meu próprio saco de pancadas,


mas depois de tudo o que ela fez comigo, é o mínimo que posso fazer.

Lágrimas estão caindo no meu rosto enquanto eu continuo batendo,


seus suspiros de dor apenas alimentando minha raiva.

Um segundo de atraso, no entanto, e ela me virou, me acertando


também.
Fecho os olhos, estremecendo com a dor, mas lutando para tirá-la de
mim. Reunindo toda a força que posso, concentro toda a minha força nas
minhas pernas. Dobrando-as em minha direção, respiro fundo e empurro
com todas as minhas forças, empurrando-a para o lado.

Ela está fora de mim, as costas batendo no caixão duro, a cabeça


batendo em uma esquina.

Respiro pesadamente enquanto tomo um momento para me recompor,


a tensão da luta me atingindo.

Mas um segundo passa, depois dois, e percebo que Cressida não está
se movendo.

Viro a cabeça e sou recebida pelo rosto de Cressida, com os olhos sem
piscar bem abertos. Sangue está se acumulando ao lado de sua cabeça,
onde ela fez contato com o caixão.

— O que... — Eu sussurro para mim mesma enquanto me arrasto


para os pés, meu corpo inteiro doendo de dor.

Dou um passo à frente, deixando minha mão se mover pelo corpo dela,
procurando algum sinal de vida.

Procurando sua pulsação, não encontro nenhuma.

Ela está... morta.


De boca aberta, olho para o cadáver de Cressida. Uma garota que eu
matei. Eu olho maravilhada para o seu eu imóvel e sinto... nada.

Sem tristeza, sem arrependimento, sem remorso.

Apenas uma profunda sensação de alívio.

Ela se foi.

Mas o que isso diz sobre mim?

Eu matei alguém. É verdade que foi alguém que me torturou a vida


toda, mas não consegui me arrepender.

O que há de errado comigo?

Mas enquanto eu a encaro, cada vez mais, o riso começa a borbulhar


dentro de mim. Começa devagar. Meus lábios se enrolam em um sorriso
quando olho para o corpo sem vida dela, e então ele explode
profundamente dentro de mim. Eu não consigo nem parar enquanto seguro
meu estômago, ainda doendo de seus socos. Eu apenas ri.

Ela está morta.

Finalmente.
Demoro um pouco para me recompor, toda a alegria de ver a pessoa
que odiei por anos conseguir o que ela merecia transbordando. Mas
quando me acalmo da minha explosão, percebo que preciso garantir que
ela não seja encontrada.

Por um segundo, meus pensamentos se voltam para o que pode


acontecer se o corpo dela for descoberto. Eu provavelmente seria enviada
para a prisão.

A prisão é diferente deste lugar?

Pela primeira vez, não me importo com as consequências de minhas


ações. Ou ela é encontrada, e eu vou para a prisão, ou ela não é encontrada
e o mundo simplesmente não sentirá sua falta.

Eu certamente não vou.

Minha determinação é firme, só preciso me livrar do corpo... Enquanto


meus olhos passeiam pela sala, eu tenho exatamente o lugar.

Afinal, ela não queria que eu morresse trancada dentro de um caixão


frio? Adequado que ela seria a pessoa que passaria uma eternidade
naquele exato lugar.

Meus lábios se contraem quando a ironia afunda. Talvez seja um jogo


distorcido do destino, mas pelo menos há algum tipo de justiça no mundo.
E sei que vou dormir melhor à noite, sabendo que ela está para
sempre fora da minha vida.

Indo ao trabalho, abro a tampa do caixão, o esforço já é suficiente para


me fazer suar. Depois, uso minhas mãos para arrastar o corpo dela para
uma posição vertical, achando difícil manobrá-la por causa de seu
tamanho. Leva-me três tentativas para colocá-la no nível do caixão, e eu
consigo segurá-la o tempo suficiente para empurrá-la para o espaço
confinado, manchando o chão de sangue de sua cabeça ferida e do lado de
fora do caixão.

Ela cai dentro com um baque, e eu respiro fundo olhando para o corpo
sem fôlego, aqueles olhos que ainda estão bem abertos.

Deve ser anormal... olhando para o rosto da morte de maneira tão


direta e casual. Mas acho que depois dos meus próprios encontros
repentinos com a morte, sou antinaturalmente imune a isso.

Garantido que o corpo de Cressida se encaixe no espaço fechado, eu


consigo limpar o chão. Como não tenho mais nada para limpar o sangue,
relutantemente me viro para as páginas rasgadas do meu livro.

Mas é apenas minha sorte que, em vez de limpar o sangue, eles estão
apenas manchando mais. Eu reviro os olhos, irritada, até que outra ideia
apareça na minha cabeça.
Voltando ao caixão, chego ao interior e procuro por qualquer material.
Primeiro, verifico o ocupante anterior do caixão, mas como o material do
hábito é tão antigo e quebradiço, temo poder fazer uma bagunça ainda
maior. Com um suspiro, volto-me para o corpo de Cressida, arrancando um
tecido do uniforme.

Então, agacho-me mais uma vez no chão e começo a limpar. O


material é um bom absorvente e logo o piso de mármore branco fica
completamente limpo. Viro-me para a parte externa do caixão e também
limpo as paredes, garantindo que não haja mais vestígios de sangue em
qualquer lugar.

Quando finalmente terminei, me mudo para o outro lado para fechar a


tampa do caixão.

— Maldição. — Eu murmuro colocando meus pés no chão, o mármore


escorregadio não está ajudando no meu esforço. Eu me movo um pouco
para que meus calcanhares estejam contra a parede, minhas mãos na
tampa. Então, empurrando com toda a minha força, eu finalmente consigo
mover.

Quando isso é feito, levanto minha mão, tirando um pouco de suor da


minha testa e pensando em como proceder a seguir.

Verifico a trava do caixão, garantindo que tudo esteja trancado no


lugar.
É isso... Eu acho.

Meu estômago ainda está doendo quando volto para o dormitório,


optando por ir furtivamente para a área do chuveiro e lavar alguns dos
respingos de sangue do meu uniforme.

Claudia ainda está na sala de aula, então só há Lina dentro do quarto,


com as sobrancelhas apertadas enquanto ela se concentra em costurar um
vestido velho.

— Oh, Sisi. — Ela olha para cima, surpresa de me ver. Dou-lhe um


sorriso rápido e saio do quarto antes que ela possa fazer mais perguntas.

O banheiro é composto por chuveiros comuns que todos


compartilham. Indo para dentro, deposito minhas roupas limpas na pia e
entro no chuveiro.

Puxando rapidamente meu vestido do meu corpo, coloco-o diretamente


sob a corrente de água. Tomando um pedaço de sabão, esfrego nas áreas
manchadas, aliviada ao ver que o vermelho se transforma em uma cor
amarelada. Quanto mais eu esfrego, mais isso desaparece também.

Quando termino minhas roupas, me movo sob o chuveiro, esperando


que a água morna ajude as dores de estômago contínuas.
Segurando minha barriga, respiro fundo, disposta a me acalmar. Mas
enquanto continuo lavando meu corpo, minha mão se movendo entre
minhas pernas, não posso deixar de ofegar alto ao ver sangue.

Tanto sangue.

E está saindo de mim.

— Bom Deus, — murmuro, olhando atentamente para o vermelho


que cobre minha mão, convencida de que isso é um sinal. — Eu sou
amaldiçoada... deve ser isso, — digo em voz alta.

Pela primeira vez, o pânico começa a me segurar. Porque não importa


o quanto eu me lave, o sangue continua saindo de mim.

É isso... a evidência física do meu pecado.

Não pode haver outra explicação. Estou sendo punida por tirar outra
vida, e nada é mais adequado do que sangue saindo lentamente do meu
próprio corpo — até que eu esteja seca.

Minhas pernas dobram e eu caio no chão, minhas costas contra a


parede, a água ainda caindo em cima de mim. Enquanto lava sobre o meu
corpo, fica com uma cor enlameada, misturada com o meu sangue em uma
combinação adequada.

Tudo o que toco é amaldiçoado.


As palavras que ouvi tantas vezes das freiras e outras irmãs estão
finalmente começando a fazer sentido.

— Sisi?— A voz de Catalina interrompe minhas reflexões, e de


repente tenho medo que ela descubra o que eu fiz.

Posso não me importar com outras pessoas, mas me importo com a


opinião dela. Eu não quero que ela fique desapontada comigo.

Antes que eu possa inventar algo para ela me deixar em paz, ela abre
a porta do box, me encontrando amontoada em um canto, água
ensanguentada se acumulando aos meus pés.

— Sisi, — ela exclama, horror em sua voz. — O que aconteceu?

Olho em seus olhos e digo a única coisa em que consigo pensar.

— Não vai parar... o sangue.

Lina dá uma boa olhada em mim e suspira: — Sisi...

Ajudando-me a sair do chuveiro, ela sai do banheiro brevemente,


retornando com um absorvente. Depois que estou vestida e meu uniforme
pendurado para secar, ela me leva de volta ao nosso quarto para
conversar.
— É normal. — Ela explica que nada está errado, que acabei de
menstruar.

— Mentruar?— Repito, confusa.

Lina morde os lábios. — Quando uma mulher amadurece, ela começa


seu sangramento mensal. É um sinal de que você está agora... — ela segue,
um rubor aparecendo em seu rosto, — pronta para ter filhos.

— Eu estou?— Meus olhos se arregalam, de repente com medo. Mas


Lina é rápida em amenizar minhas preocupações, fazendo o possível para
me explicar como as crianças são criadas e com as quais não tenho nada
com que me preocupar.

— Será um pouco desconfortável quando você tiver cólicas menstruais.


E você precisará trocar seu absorvente de vez em quando, — continua ela,
analisando todos os detalhes.

Eu apenas aceno com a cabeça, meio aliviada e meio em choque.

Que ironia, que eu deveria atingir minha maturidade derramando


sangue, quando tive somente sangue derramado. O riso doentio se forma
na minha garganta até que eu não aguento mais. Lina olha para mim, mas
eu apenas encolho os ombros.

Porque no final, uma calma inesperada se instala sobre mim.


Eu já estou indo para o inferno. Também posso aproveitar a jornada.
CAPÍTULO SETE

Passado

Vinte anos,

Pisando sob o jato de água quente, vejo algumas poças de sangue aos
meus pés. Sinto a ferida da faca, meus dedos medindo sua profundidade.
Satisfeito, não é muito profundo, saio do chuveiro e pego o kit de primeiros
socorros.

Forço meu cérebro a calar todo o barulho ao meu redor, concentrando-


me apenas em costurar essa maldita ferida.
Eu me coloco na frente do espelho para dar uma olhada melhor no
meu corpo. Depois, tomando um pouco de gaze e embebendo-a em
desinfectante, eu a passo por toda a área afetada. A dor é mínima, quase
como uma sensação de cócegas. Não me lembro da última vez que meu
corpo doeu ou qualquer ferida doeu.

Agora, eles estão simplesmente lá. Sei que tenho que ter cuidado para
que não se tornem sépticas, mas fora isso, não interferem nas minhas
outras atividades.

Eu tinha conseguido esse específico por causa de Bianca, minha nova


parceira. Eu cerro os dentes enquanto penso nisso, porque na maioria das
vezes ela simplesmente me irrita com sua presença.

Desta vez não foi diferente. Ela me levou a uma briga e, quando
alcançamos nosso alvo eu estourei, perdendo o controle e massacrando
uma sala inteira de pessoas. Foi durante o banho de sangue que alguém
deve ter me furado nas costelas, embora eu não tenha lembrança disso.

Se ao menos Marcello ainda estivesse aqui.

Suspiro enquanto continuo o curativo, pegando um curativo e


colocando-o em cima da ferida.

Marcello e eu tínhamos um entendimento silencioso e tínhamos


trabalhado em uma daquelas raras parcerias em que nem era preciso falar
para o outro seguir. Nós éramos iguais na maioria das coisas, seu intelecto
afiado, suas habilidades incomparáveis. Mas certas questões o fizeram
abandonar seu lugar na famiglia.

Eu ainda o mantenho no radar, mas algo mudou. Ele está... quebrado.

Isso não significa que eu o perdoe por me deixar sem parceiro, já que
meu pai teve que encontrar um substituto, pois ele não confia em mim
para fazer um trabalho sozinho.

Inferno, eu também não confio em mim.

Depois do meu colapso no Harlem, alguns anos atrás, ele me colocou


sob rigorosa supervisão, sabendo que meu domínio sobre minha sanidade
havia diminuído consideravelmente depois que descobri que minha irmã
estava, de fato, morta.

Embora eu não aprecie a atenção constante, tenho que admitir que


sou muito perigoso para ser deixado sozinho.

Meu fascínio pelo sangue só aumentou após esse incidente. Mas a


mesma substância que me trouxe alegria, agora se tornou meu principal
gatilho. Se antes eu vivesse pela visão de sangue saindo de minhas
vítimas, agora eu a evitava como uma praga, sabendo que se eu ficasse
muito encantado com isso, minha mente escaparia de mim.
Normalmente, sinto uma crise chegando e faço o possível para me
acalmar. Mas, às vezes, a sede de sangue se torna tão forte que
simplesmente não sou mais humano.

Uma máquina de matar. Um monstro. Um bárbaro.

As pessoas me deram muitos apelidos ao longo dos anos, mas apenas


um ficou preso: Berserker. Ironicamente também meu codinome, eu recebi
o apelido de guerreiros nórdicos irracionais. Aqueles que lutam em transe
de fúria sem reconhecimento do que os rodeia, exceto a destruição.

Porque é exatamente isso que me torno quando me perco.

Um monstro irracional.

É claro que meu pai não conseguia se livrar de sua arma perfeita,
então ele procurou me controlar da maneira menos intrusiva — um novo
parceiro.

Bianca é três anos mais nova que eu e, embora sua idade a coloque
firmemente em uma categoria inofensiva, ela também é uma assassina
nascida. Clinicamente diagnosticada com Transtorno de Personalidade
Anti-Social, Bianca é impetuosa, imprudente e uma grande dor na bunda.

Nós nos complementamos bem no campo de batalha, já que as armas


são suas opções de escolha enquanto as minhas são facas. Dessa forma, eu
me envolvo em combate corpo a corpo, e ela está nas costas à distância.
Teoricamente, não é um arranjo ruim, pois trabalhamos muito bem
juntos. Mas ela também é uma criança imatura e seu descuido às vezes
põe em risco nossas missões.

Minha ferida enfaixada e pronto para ir, visto algumas roupas e vou
para a academia, pensando em passar o tempo que me resta antes do
próximo treinamento diário.

Começo a cantarolar uma melodia suave para mim mesmo, ainda me


forçando a ajustar tudo.

Mas quando atravesso o quintal para chegar à academia, ouço a voz


sinuosa de meu irmão.

— Vamos, Lenochka, desista, — diz ele, e eu viro a cabeça levemente,


observando que estão todos à beira da piscina.

Misha está sentado à beira da piscina, encostado nos cotovelos


enquanto olha sugestivamente para Elena.

Katya e Elena estão sentadas timidamente em um canto, com as mãos


segurando com força as toalhas que cobrem seus corpos.

Elas parecem um pouco apreensivas ao ver Misha, e eu posso ver os


olhos de Elena disparando entre a piscina e a casa.
Elas são quase adolescentes agora, e enquanto meu pai mantém
Misha sob controle, não há como negar a maneira lasciva que ele vê nossas
irmãs, especialmente Elena.

Eu mencionei essa sua obsessão para o pai e ele grunhiu,


assegurando-me que Misha nunca ultrapassaria seus limites. Mas eu
tenho que me perguntar. O pai não vê a praga que ele tem em sua própria
casa? Ele está tão cego pelo fato de Misha ser o mais velho que está
disposto a ignorar seu comportamento covarde e sua reputação
decididamente desonrosa?

Elena dá um passo atrás, encolhida atrás de Katya. Com apenas um


ano de diferença, Katya sempre foi a mais forte das duas. Às vezes, o
relacionamento delas me lembra Vanya e eu...

Me sacudindo dessa linha de pensamento, volto-me para sair.

Misha escolhe esse momento exato para ser o idiota que ele é, subindo
da piscina e indo para onde as meninas estão. Observo pelo canto do olho
como os dedos dele circulam o pulso de Elena, empurrando-a em sua
direção.

— Deixe-a ir, — a voz de Katya cresce, mas mesmo isso não é


suficiente para parar Misha enquanto ele arranca a toalha do corpo de
Elena.
— Olhe para você, Lenochka, — ele assobia, com os olhos erguendo o
corpo dela com interesse, — quem sabia que você fosse um nocaute, —
continua ele, com uma mão no peito.

Não sei exatamente quando me mexo, mas antes que Misha possa
tocar Elena, aperto minha mão em volta do seu pescoço, apertando
dolorosamente.

Podemos ter anos de idade, mas há muito o superei, tanto em altura


quanto em massa corporal.

Seus pés não estão tocando o chão quando eu aperto seu pescoço,
olhando-o nos olhos e desfrutando do medo refletido. Suas pálpebras se
movem rapidamente, e ele tenta piscar para longe o terror que eu sei que
está correndo por seu corpo.

— O que eu te disse sobre essas mãos errantes, Misha?— Eu pergunto


a ele, enquanto me inclino, meu rosto a milímetros do seu. — Não me diga
que você não se lembra do que eu te disse?

Eu assisto as emoções brincarem em seu rosto — terror, indignação,


arrogância. Mesmo com meus dedos sufocando sua vida, ele ousa ter uma
expressão presunçosa no rosto.

— Vá se foder, aberração, — ele cospe, sua saliva batendo na minha


bochecha.
Fecho os olhos por um segundo, disposto a me acalmar. Não estou
surpreso com suas tentativas patéticas. Afinal, quando Misha fez algo
digno de nota?

Trazendo minha outra mão para cima, limpo meu rosto com as costas
da mão.

— Você parece ter esquecido. Não se preocupe, eu não esqueci, — dou


a ele meu sorriso mais brilhante enquanto meu dedo traça suas feições,
estabelecendo-se logo acima do olho.

— Aberração, — ele zomba, bravata falsa no rosto, — você não pode


fazer nada comigo. Pai vai te matar antes que ele deixe você prejudicar
um...

Ele deixa escapar, suas palavras se tornam um grito quando meus


dedos cavam em sua órbita ocular. Eu agarro o olho dele e puxo. Não
demora muito para sair da órbita.

As meninas estão gritando de horror atrás de mim, correndo para


longe.

Eu só tenho olhos para o meu querido irmão. Trocadilho pretendido.


Meus lábios se esquivam quando eu puxo o globo ocular dele. Eu empurro
para frente, meus dedos se curvando dentro de sua órbita, cavando, seus
gritos são música para meus ouvidos.
Eu já tinha feito isso muitas vezes antes, então sei o que esperar
quando minhas pontas dos dedos encontrarem ossos. Eu só tenho que
quebrar o esfenóide e terei fácil acesso ao cérebro dele.

Quando estou prestes a dar a ele o que ele merece, ouço outro guincho
no meu ouvido. Faço o possível para ignorá-lo, mas a voz dela rompe
minhas defesas.

— Você prometeu, irmão. Você prometeu que nunca mataria a família,


— ela fala, sua forma se materializando ao meu lado. Ela envolve a mão
fantasmagórica em volta do meu braço, pedindo que eu solte.

Meus olhos se arregalam enquanto eu a observo... tão fraco, tão


impotente. Ela está vestida com os mesmos trapos sangrentos, todo o corpo
uma bagunça de cortes e feridas, seu olho sainda de órbita.

Meu corpo inteiro começa a tremer e eu deixo ir. Misha desmorona no


chão e eu dou um passo atrás.

— Não, — eu sussurro para mim mesmo.

Ela não é real. Ela nunca foi real.

Você pensaria que anos vendo a irmã morta facilitariam os olhos. Mas
toda vez que vejo seu corpo pequeno e fraco atormentado pela dor,
simplesmente o perco.
Eu tento regular minha respiração, quase perdendo de vista o que
está acontecendo ao meu redor. Como os guardas do pai estão invadindo,
levando Misha para lhe dar assistência médica.

Ou como alguém enfia uma agulha na minha pele, o mundo inteiro


começa a rodar comigo.

— De novo, — é a última coisa que digo quando desmaio.

Eu acordo muito mais tarde e percebo que estou no meu quarto. Um


pano frio está na minha testa e mãos pequenas estão cuidando de mim.

Eu não penso. Eu apenas reajo, agarrando o braço do intruso. Um


pequeno suspiro escapa de seus lábios e percebo que estou olhando para
minha irmã.

Katya.

— O que você está fazendo aqui?— Eu falo, procurando por guardas.

Seus lábios estão tremendo quando seus olhos se movem entre mim e
meu aperto doloroso. Eu a liberto rapidamente, esperando que ela se
mova.

Ela não se move.


— Obrigada, — ela começa, um pouco insegura, — pelo que você fez
lá atrás. Misha está sempre perseguindo Elena e... — ela segue, olhando
para longe, de repente envergonhada.

— O que?— Eu pergunto, minha voz é um pouco brusca.

— Ele a deixa desconfortável, — diz ela. — Ele sempre tenta


encurralá-la sozinha, e eu nem sempre posso estar com ela. Talvez agora...

— Ele não vai incomodá-la novamente. Vou me certificar disso, —


declaro.

Não sei de onde isso veio, mas como ela sorri para mim, fico feliz com
minha decisão de intervir.

— Obrigada, — diz ela novamente, me surpreendendo de novo


quando se inclina para a frente para beijar minha bochecha.

Estou olhando para ela, atordoado. Ela... me tocou.

Todo mundo tem medo de chegar perto de mim, e ainda assim ela, por
sua própria vontade, me tocou.

Meus olhos devem revelar minha perplexidade, porque ela confessa:


— Você não é tão ruim, você sabe.
De pé, ela sai do quarto. E ainda estou ponderando suas palavras... e
sua bondade para comigo.

— Filho da puta! O que você pensa que está fazendo?— Bianca grita
comigo por trás.

Viro a cabeça levemente em direção a ela, segurando um pedaço de


carne. — Churrasco?— Eu pergunto brincando.

Bem, ela não aceita muito bem, porque ela rapidamente pega sua
pistola, apontando-a para mim e atirando.

A bala passa pelo meu ouvido com um som ensurdecedor, alojando-se


firmemente na cabeça do homem ao meu lado.

Não reajo, embora Vanya, sentada ao meu lado, coloque rapidamente


as palmas das mãos sobre as orelhas, os olhos apertados.
— Agora, isso foi apenas cruel. — Eu digo a ela, meio irritado.

— Cara, você está esfolando ele vivo. Por horas! O que há de errado
com você?— Ela balança a cabeça para mim, olhando para minha obra de
arte.

— Devia ser um trabalho rápido. Entrar e sair. E pensar que


geralmente sou a causadora de problemas. — Ela murmura baixinho,
torcendo o nariz com nojo quando se inclina para olhar o que resta do
homem.

Sim, deveria ter sido um trabalho rápido. Mas uma vez eu percebi
quem era nosso alvo, um traficante de seres humanos armênio
encarregado de algumas redes de tráfico questionáveis no Maine. Meu
interesse foi despertado. Não é sempre que somos enviados atrás de
traficantes de seres humanos. Pode ser porque meu pai é quem escolhe
nossos alvos, e ele não quer que eu fique muito cabeça quente em um
travalho, já que ele sabe que eu prometi fazer o assassino de Vanya pagar.

Mas, assim como esse sujeito sem pele na minha frente, não sei muito
sobre as circunstâncias da morte de Vanya.

Minha lembrança dos anos anteriores a eu voltar para minha família


é confusa. Eu só consegui juntar algumas coisas. Como o fato de Vanya e
eu termos sido sequestrados quando tínhamos três anos e fomos mantidos
em cativeiro por algum tipo de louco por quase cinco anos. Embora meu
pai e seus associados tenham nos procurado incansavelmente, foi apenas
por acaso que os italianos chegaram até nós primeiro.

O irmão de Marcello, Valentino, liderava uma equipe que investigava


um círculo de tráfico de humanos liderado por algumas pessoas perigosas
quando nos encontraram — ou melhor, uma Vanya morta e seu irmão
meio morto. Mesmo ele não tinha sido capaz de me oferecer mais
informações, citando pura sorte por trás da súbita descoberta do local.

Nós dois fomos encontrados em uma gaiola. Os detalhes são, ainda


agora, difíceis de suportar. Vanya estava a caminho da putrefação e eu?
Faminto ao extremo, eu já tinha um pé no túmulo.

Por causa das circunstâncias da morte de Vanya, bem como do meu


estado bastante mórbido, um médico me disse que é normal que o cérebro
bloqueie algumas memórias, particularmente traumáticas. Ele também
disse que a presença de Vanya em minha mente pode ser explicada pelo
trauma residual de viver com seu cadáver por dias a fio.

Bem, certamente essa é uma maneira de ver.

Mas também tem o meu caminho. Vanya está aqui comigo para
garantir que eu encontre o assassino dela e eu o castigarei de acordo.

Olho por olho.


Mesmo agora, como se conhecesse a direção dos meus pensamentos,
ela se envaidece, seus lábios se espalhando em um sorriso lânguido.

Balanço a cabeça para ela, voltando minha atenção para Bianca.

— Talvez eu pudesse ter conseguido alguma informação dele, —


murmuro, — eventualmente.

Olhando para todas as listras de carne que tirei de suas coxas e


costas, de repente estou chateado por não ter conseguido fazer o corpo
inteiro. Também estava indo muito bem, já que o sangramento havia sido
mínimo e meu estado mental melhor que nunca.

— Claro, — ela zomba, levantando uma sobrancelha para mim.

— Agora, onde está a diversão de levar o resto da pele se ele estiver


morto?— Suspiro, voltando à tarefa e continuando com o peito.

— Espere, — diz B, com os dedos indo para as têmporas. — Deixe-me


ver se entendi. Você vai continuar esfolando ele? Ele está morto!

— Claro que ele está morto, — acrescento com desdém, — você o


matou.

Resisto ao desejo de revirar os olhos para ela. Mas, como estou de bom
humor, me recuso a me envolver ainda mais.
— Você vai me agradecer quando receber seu presente de Natal. Vou
fazer um coldre de couro novo e brilhante. Cem por cento feito pelo homem
também, — eu pisco para ela.

Quando ela entende meu significado, ela se afasta, as mãos para cima,
os olhos meio fechados de nojo.

— Eca, não, obrigada. Você pode guardar para si. — ela me acena,
indo para uma cadeira vazia e abrindo o laptop.

— Perseguindo novamente?— Eu pergunto, divertido.

Seu rosto se acende imediatamente e ela vira a tela para me mostrar


as últimas fotos do assunto de sua obsessão.

— Eu não entendo, — balanço a cabeça, voltando ao meu trabalho. É


melhor terminar isso agora.

— É claro que você não entende, — murmura Bianca, —


estabelecemos que você não sabe o que é o amor, — diz ela em um suspiro
sonhador, olhando para o computador e sem dúvida se imaginando com
aquele suit dela.

Eu nem sequer digno uma resposta, porque ela não está muito longe
da realidade. Eu não saiba o que era o amor. Pelo menos não o tipo de
amor que ela está implicando. Conheço lealdade e laços familiares.
Conheço minha conexão com Vanya, do tipo que nem a morte pode cortar.
Mas o tipo de amor que ela está falando? As borboletas misturadas
com fluidos corporais e devoção eterna? Gemo mentalmente com a
imagem, a expulsando da minha mente.

Esse tipo de amor não é para mim e provavelmente nunca será.


Afinal, tenho apenas um propósito.

Encontrar o assassino da minha irmã e devolver o favor. Quando isso


for feito... Vou ter que ver se vou ficar por aqui.

Pelo o confronto com Misha, as coisas pioram progressivamente em


casa. Meu pai me envia em missão após missão apenas para garantir que
Misha e eu não estejamos no mesmo local ao mesmo tempo. Em qualquer
outro momento, eu ficaria emocionado em realizar assassinatos
sancionados vinte e quatro horas, sete dias por semana. Depois de um
tempo, porém, até a perspectiva de sangue falha em despertar meu
interesse.
Minha mente, meu maior inimigo, não vai me deixar em paz. E não é
apenas na forma da pequena Vanya pendurada ao meu redor o tempo todo.
Não, desta vez estou ficando cada vez mais paranóico com Misha e suas
intenções.

Ele tinha um médico para os olhos e o colocara de volta no lugar, para


que o dano não tivesse sido tão ruim. Mas seu comportamento depois foi
profundamente preocupante. Ele esteve... agradável. Ou tão bom quanto
Misha pode ser. Ainda assim, tinha sido muito perturbador estar no lado
receptor de não-idiotices.

Ele até pediu desculpas a Elena.

Extremamente diferente de Misha.

Quanto mais eu suspeitava do meu irmão, mais eu começava a fazer


coisas desnecessárias. Como invadir o feed do nosso complexo. Ou o
computador central. Ou todos associados a Misha.

Quando você é tão anti-social quanto eu, tende a desenvolver hobbies


que não envolvem... socialização. Ou humanos. Ou qualquer coisa que
viva, respire e fale de volta. Exceto Vanya, mas ela não está realmente
viva. Computadores são o céu para alguém como eu. Eles não são apenas
extremamente interessantes, mas também oferecem desafios constantes
para mim, pois minha impaciência pode ser minha melhor qualidade.
Meu tempo é dividido entre uma tela de computador e cadáveres,
então você pode dizer que me tornei um especialista. Nos dois.

— Você vai continuar fazendo isso?— Bianca pergunta, bocejando e se


estendendo para trás.

Fomos designados para supervisionar um carregamento de drogas


fora do estado. Um pouco incomum, já que nossas missões no passado
sempre terminavam com alguém morto, mas ainda dentro dos parâmetros
normais, considerando o plano de meu pai de manter Misha e eu
separados.

Eu encolho os ombros, fechando o laptop e colocando-o de lado. Eu


posso ter feito isso exaustivamente, já que minha curiosidade não me deixa
chegar ao fundo de tudo o que está acontecendo, mas não vou deixar
Bianca saber sobre minhas suspeitas. Não quando há pouca evidência para
apoiar minha teoria. Eu só tenho minha intuição e minhas habilidades não
tão estelares em ler pessoas — que nenhum cientista que se preze
aceitaria como algo além de falso.

— Estou entediado, — respondo.

Ela suspira, quase exasperada.

— Você ficou entediado nas últimas três missões, — continua ela, e


eu abafo o desejo de revirar os olhos para ela.
Podemos ser uma equipe, mas ainda nos irritamos... na maioria das
vezes.

Para passar o tempo, mudo para a leitura em algum momento,


trocando mais socos com Bianca no meio.

Não é até o caminhão carregando nossas bundas e a mercadoria parar


repentinamente, jogando fora nosso equilíbrio, que percebemos que
alguma coisa pode estar errada.

Bianca e eu reagimos à ameaça em potencial, as mãos dela nas armas,


meus dedos enrolados nos meus shashkas.

Não demorou muito para percebermos que fomos enviados para uma
emboscada, com pessoas vindo até nós de todas as direções.

Mas eles não tinham apostado em uma coisa. Apesar de todas as


nossas discussões, Bianca e eu somos assassinos de primeira classe, e a
proximidade forçada apenas aumentou nossa compatibilidade de trabalho.
Nós matamos rápido e sincronizados. Quem mandou esses caras
claramente não havia feito a lição de casa.

Quando todos os cadáveres amontoaram no chão, ficou claro que não


era apenas um ataque simples.

— Bratva, — eu me endireito ao observar suas tatuagens.


De repente, minhas preocupações anteriores se tornam urgentes, e
mal consigo conter minha ira, ficando atrás do volante e gritando para
Bianca entrar no carro.

— É um golpe, — acrescento, eventualmente, meus olhos fixos na


estrada enquanto quebro todos os limites de velocidade.

— Um golpe? Mas quem?— Ela franze a testa.

— A bunda estúpida do meu irmão, quem é. Porra! Eu deveria ter


visto isso chegando. Misha sempre teve fome de poder, mas eu não achei
que ele tivesse isso nele, — as palavras saem de mim.

Eu deveria ter confiado nos meus instintos.

— Mas...

— Ninguém mais poderia ter ordenado que aqueles soldados Bratva


viessem atrás de nós. Pense nisso, B, — digo quando ela parece não
convencida.

Misha deve ter prometido algo a eles em troca de ajudá-lo a derrubar


meu pai. Ele sempre ficou insatisfeito com seu papel na organização,
principalmente porque sabia que o pai não confiava nele tanto quanto
deveria, sendo o primogênito e o herdeiro.
Nossos conflitos em andamento, no entanto, devem ter apenas
fortalecido sua determinação de tomar o assunto em suas próprias mãos.

Eu deveria saber que alguém como ele nunca ficaria satisfeito em não
ser importante. Mas, independentemente do que ele esteja fazendo para
assumir a Bratva, minha maior preocupação é com Elena e Katya.

Porra!

Se ele se livrou do pai e de seus soldados leais, não há nada entre ele e
fazer o que quiser com elas.

O pensamento disso, juntamente com os gritos de Vanya nos meus


ouvidos, servem apenas para me fazer bater mais forte no acelerador,
acelerando pela estrada na esperança de que eu chegue a tempo.

— Ele vai matá-las. — Vanya continua gritando ao meu lado, suas


palavras não ajudam meu espaço na cabeça já tenso.

Eu mal tiro meus olhos da estrada por um momento para fazer Bianca
carregar o feed da câmera do complexo.

No momento em que as telas brilham, não me surpreendo quando vejo


sangue por toda parte, meu pai morto por seu próprio filho, seu corpo
deitado no meio do grande salão.
Misha faz seus homens moverem o cadáver do pai para a área de
exposições, o local reservado para traidores e inimigos da Bratva.

— Porra, — murmuro, percebendo que posso ter subestimado Misha.


Ele não é tão burro como ele me levou a acreditar.

E o fato de ele estar exibindo o corpo do pai dessa maneira no grande


salão é um aviso para todos que pensam em ir contra ele.

Chegamos ao complexo em tempo recorde, e Bianca se oferece para


usar suas habilidades como atiradora de elite para me proteger e pegar
Misha.

Depois que nos separamos, ela se aproximando de um bom ponto de


vista e eu indo em direção ao corredor, viro-me para Vanya.

— Veja, não será pela minha mão. — Eu brinco, e ela me dá um


sorriso brilhante. Sabendo que eu não serei o único a tirar o bastardo de
sua miséria parece estar fazendo maravilhas ao humor de Vanya.

Alguns guardas ficam no meu caminho, mas sou rápido em dividi-los


ao meio, minhas lâminas correndo suavemente pelo estômago.

O alarme dispara e sei que é apenas uma questão de tempo até eu


estar cercado. Sorrindo para mim mesmo, eu apenas espero.
Com certeza, alguns soldados saem do grande salão, todos ao meu
redor. Eu me deixei pegar, porque sei que Bianca deveria estar quase na
torre sul agora, o que deveria me dar alguns minutos ininterruptos de
conversa com meu querido irmão.

Alguns chutes e os homens pensam que estou machucado, me


segurando pelos braços e me arrastando para dentro da sala.

Misha está de pé no meio do corredor, com as mãos atrás das costas


olhando para o cadáver do pai.

Uma rápida olhada pela sala e não vejo mais ninguém aqui — nem
mãe, nem minhas irmãs.

— Irmão, — ele cospe em mim quando os guardas param na frente


dele.

— Que boas vindas, — eu pronuncio.

— Você já deveria estar morto, — continua ele, claramente


desconcertado pela minha presença repentina.

— E você já deveria ter aprendido que não sou tão fácil de matar, —
respondo.

— Ah, mas não se preocupe. Desta vez você vai, e pela minha mão
também, — diz ele, andando na minha frente.
Agitado. Um pouco nervoso demais.

— Onde estão as mulheres?

Ele para, erguendo os olhos para me encontrar. Ele segura meu olhar
por um momento antes de começar a rir.

— As mulheres?— Ele pergunta, com os braços bem abertos,


maravilhados. — Chega de mulheres, — ele responde sorrateiramente, e
eu estreito meus olhos para ele.

— O que você fez, Misha?

— O que eu fiz?— Ele repete, parecendo desequilibrado enquanto


continua a andar. — Eu finalmente estou onde pertenço. No topo.

Do canto do olho, vejo Vanya se plantar na frente do pai, uma


expressão inescrutável no rosto. Seus olhos estão abatidos, os cantos da
boca inclinados para baixo. Ela está... triste.

Voltando a Misha, estou surpreso em vê-lo tagarelando sobre como ele


vai mudar a Bratva e o acordo que ele já fez em nome do pai.

— Você deveria ter ficado fora, aberração. Então o pai não teria sido
tão contra o tráfico de pessoas. As drogas não trazem o dinheiro que
costumavam, mas os humanos... — ele assobia.
Ah, então esse era o objetivo dele.

— Sério? E como você vai fazer isso?— Eu acompanho seus


movimentos para que sua forma esteja alinhada com a abertura na janela.
— Você sabe que Agosti tem monopólio disso, — acrescento, curioso para
ver com quem ele está falando.

— Meu contato é ainda mais poderoso, — ele bufa, — e quando


unirmos forças, tomaremos a cidade de surpresa. — Ele continua
tagarelando sobre seu grande plano, mas não há detalhes sobre esse
parceiro misterioso.

— Duvido que alguém se alie a você. — Comecei, tentando convencê-lo


a revelar com quem ele está trabalhando. — Ele não sabe que você tem um
histórico de tomar decisões idiotas?

Ele para por um segundo, se aproximando de mim.

— Eles confiam em mim, irmão. Ao contrário de outros, eles vêem


meu potencial.

Eles... Interessante.

Estou prestes a abrir a boca para perguntar mais quando ouço um


som agudo e um círculo aparece na testa de Misha. O sangue vaza, seus
olhos rolando na parte de trás da cabeça. E então ele cai.
Aproveito a ligeira desorientação dos homens que me seguram e solto
minhas mãos, indo imediatamente para as lâminas escondidas nas minhas
botas.

Os homens não têm chance enquanto eu jogo as facas. Eles se alojam


profundamente em suas gargantas, atingindo o local perfeito.

E eles caem.

Viro-me para a janela onde Bianca provavelmente ainda está me


olhando através do rifle e pisco para ela.

Agora...

Vanya está pulando de alegria, olhando para o cadáver de Misha com


uma satisfação que eu não via há um tempo.

Balançando a cabeça, volto aos principais alojamentos, precisando


garantir que Katya e Elena estejam seguras.

O corredor está vazio e, quando caminho para o segundo andar, fico


cada vez mais preocupado.

Não consigo ouvir nada...

Eu corro para dentro do quarto das meninas e pisco duas vezes, antes
de desviar os olhos. Vanya corre do meu lado e fecho a porta suavemente.
O corpo nu de Elena está no chão, um corte furioso no pescoço. O
tapete inteiro está encharcado de sangue.

Dou outro passo e minha pior suspeita é confirmada.

Contusões nas coxas e sangue entre as pernas me dizem exatamente o


que aconteceu aqui. Ou quem.

Suspiro profundamente, decepcionado com esta reviravolta. Eu


esperava que elas ficassem bem...

Vanya, por outro lado, está de joelhos na frente de Elena. Ela está
chorando, as mãos tocando o rosto, o cabelo. Ela está chorando pela irmã
que conheceu o mesmo destino que ela teve.

Tirando um cobertor da cama, cubro o corpo de Elena, esperando


oferecer-lhe alguma modéstia, pelo menos na morte.

Vanya está inconsolável enquanto ela continua tentando despertar


sua irmã. Tudo sem sucesso.

Balançando a cabeça, procuro Katya, confuso por ela não estar aqui.

Uma pequena esperança surge dentro de mim, pois acho que ela pode
ter sido poupada. Procuro em todos os cômodos da casa, encontrando o
corpo morto da mãe e o dos leais ao meu pai.
Não Katya...

Por acaso, tropeço em alguém que geme de dor. Percebendo que ainda
vive, eu me agacho ao lado dele, pensando que posso obter algumas
respostas.

Ele está de bruços no tapete e, quando eu o viro, noto que é o médico


da família, Sasha.

— Sasha, — eu digo, dando um tapa no rosto para chamar sua


atenção.

Seus olhos estão sem foco, mas eventualmente ele encontra suas
palavras.

— Vlad...

— Onde está Katya?— Eu pergunto, indo direto ao assunto.

— Katya... — ele resmunga, fazendo careta de dor, — ele a deu a ele,


— diz ele finalmente.

— Ele? Quem?

Sasha balança a cabeça.


— Parceiro de Misha, — é tudo o que ele diz antes de seus olhos se
fecharem.

Ainda sentindo um pulso, eu o coloquei por cima do ombro e me


encontrei com Bianca no grande salão. Vanya está lentamente atrás, seu
rosto está desolado por perder as duas irmãs.

Colocando Sasha em uma mesa, percebo que sou a responsável agora.


Então, eu apenas grito ordens, retirando meu telefone e discando contato
após contato, sabendo que todo o local deve ser limpo.

— Suas irmãs?— Bianca finalmente pergunta, e eu apenas balanço


minha cabeça.

Elena pode estar morta, mas Katya não.

Eu só tenho que encontrar o homem que a levou.

— Você vai fazê-los pagar, irmão. Prometa-me: — Vanya vem ao meu


redor, seus olhos enevoados de lágrimas.

Olho para ela e sinto meu coração se sacudir um pouco no peito.

— Prometo, — digo, pegando sua mãozinha na minha.

Parece que tenho trabalho dobrado para mim.


Duas irmãs. Dois inimigos sem rosto.

Um sorriso puxa meus lábios.

— Shh, está começando, — Vanya me cala, dirigindo seu olhar para o


palco, seus grandes olhos cheios de curiosidade.

De alguma forma, seu olho ruim não salta tanto hoje.

De volta ao meu lugar, bebo um pouco de champanhe, sabendo que vai


demorar um pouco até que cheguem à parte interessante.

Com uma expressão entediada no rosto, assisto como um homem com


uma máscara de cachorro passear pelo palco, chamando um número e
convidando um homem e uma mulher para o palco.
O homem da máscara comanda os dois de joelhos antes de abaixar o
zíper e tirar o pau, mergulhando-o dentro e fora da boca do homem e da
mulher.

Olho com cautela para Vanya, pensando que ela é jovem demais para
ver algo assim. Mas então eu lembro que ela não é real.

Sua atenção é totalmente focada nas pessoas no palco. Em pouco


tempo, suas posições mudam. A mulher está de joelhos, sendo fodida por
trás por seu parceiro, enquanto o cara mascarado está fodendo o homem
na bunda. O show se torna ainda mais interessante quando eles chamam
mais um número, e outro homem se junta a eles no palco. O homem
mascarado dá um passo atrás, fazendo o recém-chegado se juntar à porra
do trem antes de pegar seu pau na mão mais uma vez e montar sua bunda.

É como uma cadeia sem fim, especialmente quando eles continuam


chamando nomes, mais pessoas se juntando, o homem mascarado sempre
no controle no final da linha. Homens e mulheres são arranjados
alternadamente, então sempre há um pau fodendo um buraco.

Estranhamente, o palco é o aspecto menos problemático de todo esse


lugar. E fantasma ou não, peço a Vanya que não olhe em volta,
especialmente não para cima.

Como uma casa de ópera, a sala inteira é seccionada em cabines em


diferentes níveis, todas olhando para o palco.
Mas as cabines pertencem aos mais ricos e mais depravados. Quem
anseia pelo anonimato que a multidão não pode lhes dar.

Deixei meus olhos vagarem brevemente, mas as imagens são demais,


mesmo para mim.

Homens de cinquenta e poucos anos estão sendo sugados por


adolescentes. Alguns evitaram toda a moralidade e estão ativamente
fodendo crianças. Mas provavelmente a pior cabine é a que tem algumas
pessoas assistindo crianças fodendo um ao outro.

Eu sabia que veria pessoas doentes aqui, simplesmente não tinha


percebido quãodoentes.

— Você acha que vamos encontrá-la?— Vanya fala novamente, sua


voz esperançosa.

Eu tento tirar as coisas que tinha visto da minha mente enquanto


volto minha atenção para ela.

— Eu não sei, — respondo honestamente.

Faz meses desde o desaparecimento de Katya e eu usei todos os


recursos à minha disposição para cavar redes de tráfico humano na área
pensando que ela apareceria em um leilão.
Ela é, afinal, a filha virgem de um Pakhan. Isso deve ganhar um
dinheiro bonito em qualquer lugar. Então, eu ouvi a conversa no
submundo, sabendo que encontraria algo, eventualmente. E eu encontrei.
Eu tinha descoberto isto.

The Block, apropriadamente nomeado após seus famosos leilões, é


uma das redes de tráfico humano mais exclusivos da costa leste. Dirigido
por um traficante indescritível, ele atende à elite e ao mais devassos do
grupo.

Tinha sido um pouco mais difícil conseguir um convite para mim, e eu


tive que colocar toda a minha experiência com computadores para fazer
uma persona totalmente nova para mim na Dark Web.

Uma isca aqui e ali, e de alguma forma eu conseguipegar um convite.


Um convite VIP.

Mas enfrentar The Block não havia sido tão fácil. Eles tinham leilões
regulares e, com o tempo, as chances de eu encontrar Katya diminuíram
consideravelmente.

Estou aqui há um tempo e ainda não tenho vestígios dela.

— Não estamos desistindo, — garanto rapidamente.


Após o término da orgia em massa, o segundo evento da noite envolve
cozinhar um homem vivo. Bem, eu posso aguentar isso melhor do que
aquilo.

Algumas vezes aqui e aprendi que posso me ausentar de alguns


eventos que não... fazem cócegas na minha fantasia.

Eu certamente me ausentei do festival de sexo. Mesmo agora,


estremeço ao pensar em estar perto de tantos fluidos corporais... então não
é atraente.

Basta que eu tome banho em entranhas humanas quando perco a


cabeça, muitas vezes acordando em poças de sangue, com órgãos
pendurados nas minhas roupas. Não vou me envolver nisso enquanto
estou lúcido também.

Um homem precisa manter alguma dignidade.

Mas minha primeira viagem aqui, eu ganhei um gosto de carne


humana. Nada mal, mas eu tinha cozinhado demais. Eu culpo Vanya por
isso, já que ela continuou me distraindo até a carne queimar.

Depois disso, como membro regular, pude divulgar minhas


preferências.
Vanya está bocejando quando o leilão é aberto, e eu pego os binóculos
da mesa para estudar cuidadosamente todas as garotas que se encaixam
na idade e na coloração de Katya.

Horas depois, porém, voltamos ao ponto em que começamos.

— E se... — Vanya começa quando saímos do clube.

Olho para ela, mas um homem de terno preto esbarra em mim. Eu


franzi a testa enquanto o observo se atrapalhar com algumas folhas de
papel caídas no chão, ajudando-o a pegá-las.

— Obrigado. — Ele diz, olhando atentamente para mim, seus olhos


estranhamente familiares. No entanto, não posso dizer que já o vi antes.

Sua mão permanece um pouco demais até eu sacudi-lo, avançando e


ignorando a maneira como minhas têmporas palpitam de dor.

Estranho.

— Hm?— Eu me viro para minha irmã, brevemente distraída.

— E se aquele homem não a vendesse? E se... ele a manteve?— Vanya


pergunta e eu ainda, meus olhos se arregalando com a realização.

Merda!
Eu concentrei todos os meus recursos para encontrar pontos críticos
do tráfico de pessoas, pensando que ela pode acabar à venda. Mas isso...
Vanya está completamente certa.

E se ele a mantivesse?

— Então precisamos dobrar nossos esforços e descobrir quem era o


parceiro de Misha.

Parceiros... Ele mencionou no plural.

— Nós podemos fazer isso, — Vanya acena para mim com confiança.

— De fato, — eu respondo.

Encontraremos todos os envolvidos. E quando Katya estiver em


segurança e voltar para casa, vou me concentrar em pegar o assassino de
Vanya.

Quem saberia, porém, que o relógio estava correndo.

E não a meu favor...


CAPÍTULO OITO

Presente

Vinte anos

— Onde exatamente dói?— A irmã Madalena me pergunta e eu abaixo


minha cabeça um pouco, fingindo dor no estômago.

Ela me faz esticar na cama da enfermaria enquanto dá um tapinha no


meu abdômen.
— Aqui?— ela pergunta, e eu dou um gemido baixo de dor. Suas
sobrancelhas se uniram em concentração. — Que tal aqui?— Ela move a
mão para baixo e eu reajo ao movimento apertando meus olhos.

Afastando-se de mim, ela balança a cabeça, franzindo os lábios e me


encarando pensativamente.

— Acho que temos um novo carregamento de analgésicos lá atrás.


Deixe-me ir procurá-los. — Ela finalmente diz, me apoiando contra os
travesseiros e saindo da sala.

Quase sinto muito pelo que estou prestes a fazer, já que a irmã
Madalena é uma doce dama. Ela pode ser um pouco mal-humorada, mas
nunca foi nada além de legal comigo.

Como eu gostaria que ela estivesse no comando da enfermaria quando


eu era mais jovem.

Todas as lesões que eu colecionei ao longo dos anos criaram um


mosaico de cicatrizes no meu corpo. Talvez as coisas não tivessem sido tão
terríveis se ela estivesse...

Eu me sacudo das minhas reflexões. Eu vim aqui com um propósito,


então não posso demorar.

Tirando as pernas da cama, passo em direção ao armário de remédios,


abrindo-o e navegando nos rótulos.
Eu peguei emprestado o telefone de Catalina e pesquisei na internet
exatamente o que precisava fazer. Após meu último confronto com Madre
Superiora, decidi provar o próprio remédio.

Além de algumas piadas justificadas aqui e ali, eu mantinha a


maioria fora de problemas. Mantendo para mim e fazendo minhas tarefas,
tentei evitar um conflito com outra Cressida. Mas de alguma forma eu
ainda estava sob o escrutínio de Madre Superiora e do nada ela decidiu
dobrar minha carga de trabalho.

Eu nunca fui de zombar de minhas tarefas, pois sei que todo mundo
faz sua parte para beneficiar toda a comunidade. Seja na cozinha ou no
serviço de limpeza, eu sempre fiz o meu melhor para fazer meu trabalho
corretamente.

Desta vez, no entanto, a quantidade de tarefas que a Madre Superiora


havia me atribuído havia sido demais. O raciocínio dela? Eu terminei
minha educação, então agora posso dedicar meu tempo todo à comunidade.

Durante uma semana, diariamente, fui designada para ajudar a


preparar a comida para o café da manhã e almoço e depois limpar as salas
de aula à tarde, quando as aulas terminavam. Funcionou bem, no começo.

Mas, à medida que mais trabalho se acumulava, comecei a operar no


piloto automático como um robô. Eu nem percebi como um dia se
transformou lentamente em outro, meu foco escurecendo, minha força
desaparecendo.
Até o momento do acerto de contas, quando Madre Superiora me
enviou para limpar seu escritório. Um pouco privada de sono e com meus
músculos tensos por todo o esforço, fiquei um pouco distraída ao tentar
limpar tudo completamente. Quando eu estava limpando a mesa dela, no
entanto, eu devia ter esbarrado em um de seus vasos porque, em um
momento, estava focada em espanar a superfície, no outro eu estava
assustada com o som de algo caindo no chão.

Quando a Madre Superiora veio verificar meu progresso, ela deu uma
olhada em mim limpando as peças do chão e saiu em um discurso.

Eu tinha escutado tudo desde que foi minha culpa que o vaso quebrou.
Mas ela teve que me bater com o cinto.

— Eu não sei por que a aceitamos quando nem seus pais a queriam,
— disse ela presunçosamente, e eu tentei o meu melhor para não mostrar
o quanto essas palavras me afetaram.

Ela continuou a vomitar mais insultos, e o tempo todo eu só conseguia


pensar em como esse deveria ser um lugar para adorar a Deus e fazer boas
ações. Toda a missão de Sacre Coeur é ajudar os outros, mas Madre
Superiora e seu exército de freiras só me mostraram que se você não se
encaixa em um molde específico desamparado então você não vale nada
para elas.

Elas estão sempre invocando uma posição moral mais alta, criticando
a mim e a Lina pelas circunstâncias que nos levaram a Sacre Coeur,
muitas vezes esquecendo de olhar para si mesmas e como seu próprio
comportamento em relação a nós não as tornam melhores.

Bem, vamos ver o quão superiores e poderosas elas são em uma


situação menos ética.

Meus olhos vagam pelas fileiras cheias de remédios até encontrar o


que estou procurando.

Pegando a coisa toda, eu rapidamente rabisco uma nota para a irmã


Madalena, sugerindo que estou melhor e depois saio da enfermaria.

Já está escuro lá fora, então eu tento me misturar nas sombras, indo


direto para a igreja e entrando nela sem que ninguém me veja.

Leva um tempo enquanto esquadrinho a área do altar, mas


finalmente encontro o recipiente com vinho. Abrindo a tampa do frasco de
comprimidos, li as instruções, medindo qual dosagem devo acrescentar
para o efeito pretendido. Calculo as gramas em relação ao volume
recomendado no rótulo e depois trabalho.

Tirando uma faca da mesa do altar, começo a esmagar as pílulas o


mais fino possível. Quando fiz isso na dose recomendada, adiciono o pó ao
recipiente e mexo bem.

Colocando o vinho de volta em seu lugar, saio para o dormitório.


No dia seguinte, todos nós vamos à missa. O padre inicia seu sermão,
e não posso evitar a vertigem dentro do meu peito ao pensar que essas
mulheres finalmente conseguirão o que merecem.

Eu mal presto atenção às orações ao meu redor, meus pensamentos se


concentraram no resultado do meu plano. Pena que não será imediato.

— Sisi, o que há de errado?— Lina me pergunta quando voltamos ao


nosso quarto.

— Nada. — Eu sorrio para ela, mesmo que por dentro eu esteja um


pouco impaciente. Pego um livro e sento na minha cama, tentando me
distrair por um tempo.

Apenas algumas horas depois, quando vamos pegar algumas frutas,


ouvimos falar da coisa maravilhosa que aconteceu.

Todas as freiras seniores, incluindo a Madre Superiora, haviam


desenvolvido uma dor de barriga bastante desagradável, após o que
prontamente se fecharam no banheiro.

Havia um problema, no entanto, não havia banheiros suficientes


disponíveis para as freiras, e algumas tiveram que se aliviar na natureza.

— Bom Deus, elas estão bem?— Lina pergunta à irmã que transmitiu
a notícia.
— Não muito, — ela balança a cabeça, os lábios franzidos de
preocupação.

— Mas... como isso poderia ter acontecido?— Lina gagueja, parecendo


preocupada.

— De fato, — eu finjo surpresa. — Como isso poderia ter acontecido?


E tudo de uma vez? — Eu balanço minha cabeça, tentando imitar suas
expressões de consternação.

— Nós não sabemos. As poucas que não chegaram ao banheiro


ficaram mortificadas. Pobres almas, — diz ela antes de olhar desconfiada,
— usaram os arbustos da gráfica, — sussurra conspiradoramente.

Lina e eu ofegamos com essa notícia.

— Que terrível, — acrescenta Lina sinceramente. É claro que ela se


sentiria mal por aquelas freiras, mesmo que sejam as mesmas que a
aterrorizaram antes.

Não é uma surpresa, no entanto, quando Madre Superiora, depois de


controlar as entranhas, pede a todos uma reunião de emergência.

Ainda estou rindo por dentro, especialmente quando vejo todas as


vítimas em um canto, parecendo um pouco pior pelo desgaste.
Meu lábio superior está constantemente se contorcendo quando Madre
Superiora começa a falar sobre o incidente como se tivesse sido um
sacrilégio.

— Quem fez isso vai ser punido. — Sua voz ressoa na sala. Todo
mundo está quieto enquanto ela nos observa. Mas então, no silêncio da
sala, os sons rosnados de um estômago reverberam no ar.

Uma das freiras mais velhas olha com culpa, antes de sair da sala e
presumivelmente em busca de um banheiro.

Não aguento mais minha risada, e uma pequena risadinha me escapa.


O cotovelo de Lina faz contato com o meu lado enquanto ela me dá uma
olhada.

Felizmente, é prontamente mascarado pela voz da Madre Superiora


enquanto ela continua seu discurso.

— Investigamos a enfermaria, somente onde alguém poderia ter


conseguido os laxantes, — continua Madre Superiora, removendo a
garrafa de laxantes de seu hábito e segurando-a. — Faltam metade do seu
conteúdo. Sabemos que alguém entre vocês fez isso. Se ninguém admitir,
teremos que fazer a irmã Margaret suportar o castigo, já que os
comprimidos estavam sob o cuidado dela, — diz Madre Superiora
presunçosamente e a irmã Madalena empalidece.
— Mas, — começa a irmã Magdalene, mas a Madre Superiora não
está ouvindo.

Colocando a mão para detê-la, ela se dirige à sala mais uma vez.

— Você tem cinco minutos para se revelar. Caso contrário, — ela


assente para irmã Margaret, que se resigna imediatamente ao seu destino.

Droga! Não achei que chegaria tão longe. Certamente, não achei que
Madre Superiora colocaria a culpa na Irmã Madalena.

Os olhos da irmã Magdalene encontram os meus do outro lado da sala,


e eu sei que não posso deixá-la assumir a culpa por algo que é
inteiramente minha. Além disso, posso acrescentar um pouco mais à
minha vingança.

Dando um passo à frente, saio da formação e me dirijo diretamente à


Madre Superiora.

— Eu fiz isso, — admito. — Coloquei os laxantes no vinho.

Os olhos da Madre Superiora se afiam em mim.

— Eu deveria saber que só poderia ter sido você, — ela cospe as


palavras, mas não estou impedida.
— Mas, — começo, arrastando meu olhar pela sala, — por que todo
mundo está bem? Todos participaram do vinho da comunhão. Como é que
apenas algumas desenvolveram problemas?

Com minhas palavras, ela parece ter sido atingida.

As pessoas começam a sussurrar, fazendo a mesma pergunta que eu.


Por que elas estavam bem quando as freiras seniores não estavam?

— Se você olhar na caixa, encontrará as instruções sobre como


consumir as pílulas para que sejam eficazes. Sim, elas estavam no vinho.
Mas somente se você bebesse uma certa quantidade de vinho, os laxantes
teriam funcionado, — aponto, quase orgulhosa de mim mesma por não
vacilar.

— Quanto vinho você bebeu, Madre Superiora?— Eu pergunto, um


pouco atrevida.

— Como... O que... Você, — ela cuspiu, os olhos arregalados na


cabeça.

— O que é verdade. Você deve ter absorvido bastante... Eu me


pergunto, isso não é pecado também? Sucumbindo ao vício... tsk, tsk.

Seu rosto se torna uma massa manchada de vermelho quando minhas


palavras afundam, e todo mundo suspira quando percebe que eu posso
estar certa.
— Assisi! Você está de castigo!— Ela grita, perseguindo em minha
direção.

Volto, mas já estou em um passo no túmulo, é melhor pular tudo.

— E você? Ou as outras freiras? Alguém não deveria puni-la por ficar


bêbada com vinho da comunhão?— Eu sei que estou ultrapassando muitos
limites e quebrando muitas regras neste momento, mas como todo mundo
me olha, estupefato, só consigo sorrir.

— Cale a boca, Assisi!— Madre Superiora me alcança, com a mão


circulando meu pulso enquanto ela tenta me arrastar para fora da sala.
Lina me olha com preocupação nos olhos, mas eu balanço minha cabeça
para ela. Isto é minha bagunça.

— Por quê? Você não é tão superior e poderosa agora, é?— Falo mais
alto, dirigindo-me às outras freiras também. Madre Superiora está me
arrastando pela mão até sairmos pela porta.

— Você realmente fez isso desta vez, Assisi, — continua Madre


Superiora a me castigar, mas não consigo encontrar em mim mesma para
me importar.

Não quando ela me joga no quarto escuro e frio que vem


acompanhando a todos os meus castigos, nem mesmo quando ela me diz
que vou passar todo o meu tempo aqui até me arrepender.
Quando ela trava a porta atrás dela e eu fico na câmara fria, sento-me
no chão, trazendo meus joelhos ao peito para um pouco de calor.

— Ah, mas como posso me arrepender. — Eu murmuro para mim


mesma, um sorriso tocando nos meus lábios. Apenas a visão das freiras
seniores parecendo envergonhadas na frente de todos já era suficiente.
Porque eu tinha provado o meu ponto.

Nem mesmo elas estão acima da censura.

Fechando meus olhos, eu deixo a água quente derramar sobre mim,


esperando remover o frio que penetrou profundamente em meus ossos. Eu
deveria saber que Madre Superiora não me deixaria sair sem uma boa
razão. Ela me deixou mofar naquele quarto escuro por quase três dias até
vir me buscar, ordenando que eu me vestisse e me apresentasse.
Eu estava confusa sobre o comportamento dela, mas quando descobri
que meu irmão, Marcello, veio visitá-la, tudo fazia sentido. Ela não queria
que Sacre Coeur se metesse em problemas por abuso.

Cansada e gelada, tentei fazer o meu melhor desempenho, mesmo


tendo certeza de que devo ter enfatizado demais minha felicidade, meu
sorriso tenso quando tentei convencê-lo de que minha vida era perfeita.

Eu não via Marcello há quase uma década, Valentino sendo o único a


visitar a cada dois anos. Mas desta vez, Marcello tinha um bom motivo
para aparecer.

Valentino está morto.

Fiquei chocada quando soube que ele havia tirado a própria vida. Mas
não consegui reunir nenhum outro sentimento além da pena, já que nunca
estivemos perto.

Ele vinha a cada poucos anos para ter certeza de que eu estava indo
bem, mas sempre parecia mais um dever do que seu próprio desejo de ver
sua irmã.

Marcello, no entanto, conseguiu me surpreender desta vez. Ele


sugeriu que poderia trazer minha irmã mais nova, Venezia, para visitar.

Suspiro profundamente com o pensamento.


Eu nunca conheci Venezia. Tudo o que sei sobre ela é de Valentino,
mas mesmo isso não é muito.

É engraçado como a maioria das garotas criadas aqui são órfãs, sem
ninguém a quem recorrer. E enquanto meus próprios pais estão mortos, eu
tenho família lá fora. Eles simplesmente não me querem...

Quando termino de lavar, volto para o quarto, mais uma vez colocando
uma máscara e fingindo que está tudo bem. A curiosidade de Lina sobre
meu irmão também não está ajudando, pois ela parece não conseguir parar
de fazer perguntas.

Um sorriso estampado no meu rosto, reconto tudo o que conversamos.


Tento ignorar a maneira como meu coração se contrai quando penso na
família que tenho atrás dos muros de Sacre Coeur. Porque no final, eu
realmente os tenho se não posso contar com eles?

O tempo passa e um novo padre chega a Sacre Coeur. Toda a persona


do padre Guerra está envolta em mistério, os rumores sobre sua afiliação à
máfia provando ser a coisa mais interessante que Sacre Coeur viu desde o
desaparecimento de Cressida, anos atrás.

Independentemente de sua reputação potencialmente perigosa, todos


são levados na sua lábia, incluindo Lina. Ela tinha sido reservada no
começo, mas vendo como ele tinha sido gentil com ela e Claudia, ela
decidiu deixar de lado seu preconceito contra ele.
Ainda estou em cima do muro.

Ele tentou várias vezes falar comigo e me convidar para confessar,


mas eu recusei cada vez. Há algo estranho demais no homem. É na
maneira como seus olhos se movem pela sala, como se ele estivesse
catalogando todos. Seu olhar é mais o de um predador do que de um
homem de Deus.

Mas enquanto meu instinto me diz para não confiar nele, o fato de ele
não ter sido externamente desagradável para mim como os outros antes
dele lhe rendeu o benefício da dúvida. Posso não gostar dele, mas isso não
significa que serei rude.

Tudo cai no final da tarde, quando Claudia desaparece. Lina e eu nos


separamos para procurá-la por perto, mas é como se ela simplesmente
tivesse desaparecido.

Depois de olhar para todos os lugares, volto ao nosso quarto para


encontrar Claudia encolhida na cama, com os olhos vermelhos de chorar.

— Claudia? — Eu ofego, indo para o lado dela de uma vez. — O que


aconteceu?— Eu a tomo em meus braços, abraçando-a no meu peito.

Ela está chorando incontrolavelmente, e eu faço o meu melhor para


acalmá-la.
— Alguém te intimidou de novo? Você prometeu que me diria. — Eu
digo gentilmente.

Ela balança a cabeça, enterrando o rosto mais fundo no meu peito.

Eu apenas a seguro, deixando-a chorar até que suas lágrimas se


esgotem. Mas quando ela começa a falar... Sinto que meu mundo inteiro
está sendo abalado.

— Padre Guerra, — ela começa, sua voz tensa, — ele tocou... — ela
sai, engolindo profundamente antes de levantar os olhos para olhar para
mim. — Mamma o pegou...

Seus olhos me dizem tudo o que preciso saber e a razão pela qual Lina
ainda não voltou.

Minhas mãos caem em punhos ao pensar naquele homem levantando


a mão contra Claudia. Só espero que Lina esteja bem também...

Enquanto espero por Lina, faço o possível para acalmar Claudia, mais
uma vez assegurando que ela não fez nada de errado.

Um tempo depois, Lina lentamente abre a porta, enfiando a cabeça


dentro.

— Lina?— Eu pergunto, minhas sobrancelhas franzindo quando vejo


suas feições pálidas e seus olhos cheios de medo.
— Você pode sair por um segundo? E me traga um vestido. — Eu
franzi a testa, mas obedeço.

Deixo Claudia na cama e rapidamente pego um vestido. Saindo do


quarto, sou recebida por uma visão que nunca pensei que veria.

— O que está acontecendo?— Eu pergunto enquanto meus olhos se


erguem sobre suas roupas manchadas de sangue.

Ela está machucada?

— Algo ruim aconteceu. Como terrível, — ela me dá um leve sorriso,


todo o corpo tremendo.

— Lina... você está me assustando.

— Claudia te contou alguma coisa?

— Não... ela só mencionou que você estava com o padre Guerra. —


Não digo que reuni o que deve ter acontecido. Em vez disso, apenas espero
que ela me diga.

— Ele estava a tocando... — A voz dela sai em um sussurro quando


ela quebra, todo o corpo convulsionando com soluços.

—O que você quer dizer?— Eu pergunto, prendendo a respiração.


— Ele estava tocando-a debaixo das roupas...

— Não!— Minha mão vai para a minha boca. Eu imaginava que algo
ruim devia ter acontecido, mas eu tinha pensado que o padre Guerra a
bateu ou a puniu... não isso. — Onde ele está? O que aconteceu?— Eu
continuo, minha mente já está trabalhando em um plano. Esse maldito
precisa pagar por isso.

— Eu... Eu o matei, — diz Lina em voz baixa, e eu fico imóvel.

— Você está brincando, — olho para ela para qualquer sinal de que
isso é uma piada. Mas não é.

— Não... Eu realmente o matei. Eu não quis fazer isso, mas...

Ela começa a me contar todas as particularidades e eu ouço


atentamente. Ela já está em choque, então eu sei que devo pisar com
cuidado. Ainda assim, eu nunca teria esperado isso de Lina. Ela atacou o
padre Guerra em legítima defesa, e a faca que ela usava o fez sangrar e
morrer. Em seu estado chocado, ela tentou esconder o corpo colocando-o no
confessionário. Quanto mais ela está falando, mais eu estou tremendo,
pensando que fim isso tudo tinha sido, tanto para ela quanto para Claudia.
Mas tenho orgulho dela por se defender e sua filha.

— Precisamos fazer algo sobre isso, — começo, direcionando a


discussão para um curso de ação mais lógico.
— Você... Eu matei um homem. — Ela me olha em confusão. Não
quero dizer a ela que tenho alguma experiência em lidar com assassinatos,
então eu apenas reajo da maneira mais natural possível.

— Sim, e eu também o teria matado. Aquele canalha! Agora, sobre o


confessionário, — digo, pensando em como se livrar melhor do corpo do
padre Guerra. Como ela o colocou no confessionário, precisamos agir
rápido antes que alguém o encontre.

— Foi por isso que voltei. Eu não posso fazer isso sozinha. Eu sei que
isso é pedir demais, mas...

— Sem mas!— Eu interponho imediatamente. — Vamos, vista-se, e


nós vamos descobrir.

Deixo-a para conversar com Claudia enquanto tento pensar em uma


maneira de me livrar do corpo. No meu caso, tinha sido bastante fácil, já
que o caixão estava ao nosso lado. Mas isso... teríamos que transportar o
padre Guerra de alguma forma e enterrá-lo no cemitério. É o único
caminho.

Quando Lina volta, digo a ela minha ideia, bem como o fato de
podermos usar sua mala vazia para transportar o corpo. Pode ficar um
pouco confuso, mas neste momento é a nossa melhor chance.
— Sisi, você tem certeza que deseja fazer isso? É minha culpa... Posso
apenas contar o que aconteceu, — Lina para me perguntando quando
estamos mais perto da igreja.

— E quem acreditaria em você? Você já disse que ele é de uma família


proeminente. Eles provavelmente têm influência suficiente para garantir
que você seja responsabilizada por tudo. Pense em Claudia. O que
aconteceria com ela sem a mãe?— Enquanto eu estava perfeitamente bem
em ir para a prisão, já que não deixaria nada para trás, é completamente
diferente para Lina. Ela tem Claudia e eu faria o que fosse necessário para
garantir que mãe e filha não fossem separadas.

Incluindo, se chegar a hora, assumir a culpa.

Discutimos as circunstâncias com mais profundidade, percebendo que


a oportunidade do padre Guerra de deixar Claudia sozinha pode não ter
sido um acaso. Normalmente, Lina e eu nos revezamos cuidando de
Claudia, mas como Madre Superiora tinha sido inflexível quanto a
aumentar ainda mais minha carga de trabalho, eu tinha cada vez menos
tempo para passar com elas.

Não quero pensar que alguém, nem mesmo Madre Superiora,


sancionaria tal ação, mas saber o que sei sobre a mulher e seu ódio por nós
é totalmente possível.

Quando chegamos à igreja, Lina me mostra onde ela enfiou o padre


Guerra. Abrindo a porta para o confessionário, vejo seu corpo
insignificante encharcado de sangue e sinto um pequeno grau de satisfação
ao saber que ele não pode mais prejudicar ninguém.

Ele deveria ter sofrido mais.

Forçando-me a focar, avalio a situação e o comentário. — Ele é muito


grande.

— Nós só precisamos dobrá-lo um pouco. — Lina diz, e eu tento


visualizar como isso pode se encaixar.

— Que tal tentarmos uma posição fetal?— Eu sugiro, contornando a


mala e encontrando a melhor posição para colocá-lo.

— Vamos tentar, — concorda Lina, e começamos a enfiar o corpo na


mala, dobrando os membros em posições diferentes até conseguirmos
colocar tudo dentro dela. Então, pressionando a aba da mala, tentamos o
nosso melhor para fechar os zíperes e fechar a bagagem.

— Droga, — expiro um pouco cansada do esforço.

A viagem ao cemitério é bastante fácil, pois as rodas da mala facilitam


o transporte. A parte difícil será cavar um buraco para que possamos
enterrá-lo.

Desde que eu sou extremamente familiarizada com o cemitério,


conheço o local exato que deve passar sem ser detectado. Este local
específico não está marcado e está situado à sombra da árvore, que deve
mascarar a terra recém-virada.

Indo por trás para pegar algumas pás, Lina e eu começamos a cavar.

— Honestamente, isso não foi tão ruim, — comento quando


terminamos de cavar. — Acho que prefiro desenterrar sepulturas do que
lavar a louça. Você acha que posso me candidatar à posição?— Eu digo
meio brincando. Honestamente, eu não me importaria muito. Pessoas
mortas não podem te machucar. Os vivos, no entanto...

— Sisi... — Lina começa a rir. — Você realmente quer trocar pratos


por sepulturas?

— Ainda estaria trabalhando. — Eu encolho os ombros, mas meu lábio


está se contorcendo.

Os dias passam e tentamos tirar o incidente do padre Guerra de


nossas mentes, convencidas de que o pior já passou.

Nós estávamos erradas.

E descobrimos isso da pior maneira possível. Ao ficar cara a cara com


o corpo podre do padre Guerra em exibição na gráfica do convento. Todas
as freiras estão ajoelhadas em uma oração a ser libertada do mal, algumas
desmaiando ao ver e o odor do corpo profanado.
Lina, por outro lado, está horrorizada. Porque quem fez isso deve
saber que ela matou o padre Guerra. De fato, uma mensagem escrita em
sangue confirma isso.

Não ficamos mais do lado de fora do que necessário e, quando


voltamos para o quarto, Lina começa a falar.

— Eles sabem... e eles estão vindo para mim, — diz ela, aterrorizada.
Ela passa a recontar que nossas famílias estão de fato profundamente
envolvidas com a máfia. Eu ouço em choque enquanto ela me conta sobre
as cinco famílias e como elas estão envolvidas em negócios ilegais, fato que
as torna extremamente perigosas.

— Eu posso ter um conhecimento limitado sobre a máfia, — ela


respira fundo, — mas eu sei que a maioria vive de um princípio, a
retribuição. Sua família vai querer justiça pelo que fiz com ele.

Eu não falo por um longo tempo. Principalmente porque estou tendo


dificuldades para envolver minha cabeça em tudo.

Isso significa Valentino... e agora Marcello são chefes da máfia.

— Preciso ligar para Enzo, contar tudo a ele, — diz Lina de repente,
levantando-se e pegando o telefone.

Enquanto ela está conversando com o irmão, tomo um momento para


digerir tudo o que ela acabou de me dizer.
Está nas minhas veias... esse mal.

Lina acaba indo embora com o irmão, sua segurança e a de Claudia


são de extrema importância.

— Sinto muito, Sisi, — ela sussurra no meu ouvido enquanto me dá


um último abraço.

— Não! Você precisa pensar em Claudia: — Eu tento tranquilizá-la,


mesmo que eu não tenha ideia de como vou sobreviver a este lugar sem
ela.

Eu sabia desde o começo que ela iria embora em algum momento. Mas
agora que chegou a hora, me vejo aterrorizada com a perspectiva de ficar
sozinha.

— Pegue isso, — ela me entrega o telefone. — Tem dados e você pode


me ligar a qualquer momento.
— Lina... — Eu paro, piscando rapidamente para evitar chorar.

— Nos veremos em breve. Tenho certeza disso. — Ela me dá um


último sorriso antes de virar para ir.

Também digo adeus a Claudia e posso ver a confusão nos olhos dela.
Pobre bebê, ela não tem ideia do que está acontecendo.

— Vamos nos encontrar novamente, — sussurro no cabelo dela


enquanto a aperto nos braços.

Então... elas se foram.

Leva um tempo para voltar ao meu ritmo anterior, mas a ausência


delas é como uma ferida aberta. Durante o dia, faço o meu trabalho, mas
durante a noite é o pior. O silêncio ensurdecedor do quarto é sufocante, e
eu mal consigo adormecer.

Sinto falta de ouvi-las respirar.

Mesmo se não conversássemos, eu sabia que elas estavam lá.

Agora... sou só eu.

O convento está tentando superar o incidente do padre Guerra,


embora as freiras tenham se tornado cada vez mais inclinadas a acreditar
no ocultismo. O número de histórias de fantasmas circulando por aí, ou o
fato de o padre Guerra ter sido morto-vivo seria engraçado, se não pelo fato
de eu ter que voltar para um quarto vazio à noite.

Orgulho-me de ser o tipo de pessoa que não tem esse tipo de noções
fantasiosas. Mas tarde da noite, mesmo os sons menores, como o chão
rangendo, me deixam alerta e em guarda.

— Droga, — murmuro para mim mesma caminhando de volta para o


quarto depois de um dia inteiro de trabalho. Meus músculos estão doendo
e meus olhos estão se fechando.

Já paranóica, certifico-me de trancar a porta antes de trocar de roupa


e dormir. Estou entrando e saindo do sono quando o telefone toca ao meu
lado.

Pensando que pode ser Lina, eu rapidamente o pego e o abro. Há uma


mensagem não lida. franzindo a testa, olho de soslaio no texto confuso.

Parabéns! Você ganhou um novo iPhone. Segue o link para resgatar o


prêmio.

Lina se inscreveu para alguma coisa? Continuo relendo a mensagem,


tentando pensar no que responder. Não posso de boa fé resgatar o prêmio,
pois não poderia enviá-lo para Sacre Coeur de qualquer maneira. Em vez
disso, decido criar uma mensagem aconselhando-os a escolher outro
vencedor.
Obrigada por sua consideração. Eu, no entanto, não posso aceitar esse
presente. Outra pessoa de sorte pode se beneficiar mais disso. Por favor,
encaminhe para outra pessoa.

Aperto o envio, eu me aconchego debaixo do travesseiro.

Eu mal consigo fechar os olhos quando meu telefone toca novamente.

Parabéns! Você ganhou um novo iPad. Segue o link para resgatar o


prêmio.

Eu percorro a mensagem e percebo que este é um número diferente do


que antes. Certamente, Lina não havia participado de tantas competições.

Eu digito a mesma mensagem e pressiono enviar.

Quando o próximo texto chega, no entanto, não estou surpresa. Em


vez disso, estou começando a ficar desconfiada.

Parabéns! Você ganhou um carro novo. Segue o link para resgatar o


prêmio.

Número diferente, mas o mesmo texto. A única diferença é o prêmio.


Irritada com quem está me enviando do nada, eu decido jogar o jogo deles.

O link não funciona.


A tela pisca imediatamente para a vida com outro texto. Desta vez,
uma resposta.

Me desculpe. Por favor, tente este.

Minha paranóia está no alto neste momento. Eles não podem


responder às minhas mensagens anteriores, mas substituem prontamente
o link? Algo não está certo. Ninguém sabe esse número além de Lina e seu
irmão. A menos que...

Meus olhos se arregalam com a possibilidade de serem parentes do


padre Guerra. E se eles acharem que Lina está no lado receptor?

O telefone cai imediatamente das minhas mãos e eu me afasto dele.


Mas quanto mais penso nisso, menos faz sentido. Por que a máfia enviaria
esses textos ridículos? Talvez seja simplesmente uma brincadeira. Para
testar minha teoria, digito outro texto.

Sinto muito, mas sou freira e renunciei a todos os bens terrenos. Não
posso reivindicar esse prêmio.

Eu bati em enviar e esperar. Certamente, outro texto. Desta vez, do


mesmo número.

Parabéns! Você ganhou dois litros de água benta de Jerusalém. Segue


o link para resgatar o prêmio.
Olho para a tela com um choque de boca aberta antes de começar a rir
de repente. Eles estão zombando de mim agora. Quem está do outro lado
definitivamente está tirando sarro de mim. Bem, também posso jogar.

Apenas dois? Como isso é o mesmo preço que um iPhone? Eu me sinto


enganada.

Sorrio atentamente para a minha resposta, especialmente quando


vejo que o estranho mandou uma mensagem de volta e finalmente
abandonou o ato.

Quantos você quer?

Você está tirando sarro de uma pobre freira. Você não sabe que é um
pecado? Você vai acabar no inferno.

Você não parece muito uma freira para mim. Ouvi dizer que o vinho
da comunhão é bastante perigoso hoje em dia...

Meu sorriso morre nos meus lábios enquanto leio a mensagem. Essa
pessoa sabe... isso só pode significar uma coisa. Quem está me mandando
uma mensagem sabe que eu não sou Lina. Querido Senhor, talvez seja a
máfia. E talvez eles saibam que eu ajudei Lina a enterrar o padre Guerra.

Eles te enviaram para me matar?

Apreensivamente, eu clico em enviar.


Matar você? Não, muito mórbido. Mas você pode clicar nesse link.
Nenhuma morte envolvida. Prometo.

Quem poderia ser? Se não é alguém que Guerra enviou, quem mais?

Envie-me a água benta com uma certificação de Jerusalém e posso


clicar no link.

Empurrando meu queixo para cima, sinto um pouco de orgulho de


mim mesma por não ceder. Em vez disso, desliguei o telefone e o coloco de
volta em seu esconderijo.

Se eles não planejam me matar, é toda a garantia que preciso.

Bem, imagine minha surpresa quando abro a porta para sair para o
trabalho na manhã seguinte.

Água benta. Dois galões.

Pendurado no pescoço da garrafa, há uma fita e uma pequena nota.

Com amor de Jerusalém.

Incrivelmente, olho para frente e para trás entre a nota e a água. É


alguém de dentro? Tem que ser, caso contrário ninguém seria capaz de
colocar a água aqui. A segurança em Sacre Coeur é mais apertada que
uma prisão, então nenhum estranho poderia ter feito isso.
Faço a única coisa em que consigo pensar. Pego o telefone, ligo-o e
envio outra mensagem.

Quem é você?

Apesar das minhas reservas iniciais, o número desconhecido e eu


estabelecemos uma rotina de mensagens de texto para frente e para trás.
Estou um pouco envergonhada de admitir, mesmo para mim, que comecei
a desejar as interações simplesmente porque estou sozinha. É engraçado
como, quando Lina e Claudia estavam por perto, eu me considerava uma
pessoa tão forte e eu declarava com confiança que não precisava de
ninguém. No entanto, no momento em que desapareceram da minha vida,
comecei a me apoiar em um estranho...

Não é o meu melhor momento.


Nossas interações não são constantes e consistem principalmente em
ele tentar novas maneiras de me fazer clicar nesse maldito link, e eu não
clico nele. Mas de alguma forma elas se tornaram o destaque do meu dia.

Quero dizer, quando tudo o que faço é trabalhar e dormir, uma


pequena interação humana sem maldade pode fazer maravilhas. Eu até
me tornei um pouco imprudente por ter começado a carregar meu telefone
comigo para fora do meu quarto.

Parabéns! Você ganhou uma vaca nova. Segue o link para resgatar seu
prêmio!

Balanço a cabeça com a mensagem, digitando rapidamente minha


resposta e anexando uma foto. Quando ele viu que os prêmios regulares
não funcionavam, ele começou a ter as ideias mais loucas, como a que
estava à mão.

Não, obrigada. Eu já tenho uma vaca.

Eu envio uma foto que eu tirei de Lizzy, minha vaca favorita, quando
eu estava ordenhando ela. A resposta, no entanto, não me surpreende nem
um pouco.

Parabéns! Você ganhou um novo boi para acasalar com sua vaca.
Segue o link para resgatar seu prêmio!
Uma ligeira risadinha me escapa, mas merecomponho rapidamente
quando vejo algumas freiras indo na minha direção. Com medo de ser pega
com o telefone, corro rapidamente para o cemitério, já que ninguém
deveria estar lá hoje.

Mas, quando atravesso a igreja, ouço um grito de gelar o sangue. Eu


paro, franzindo a testa. Antes que eu perceba, estou correndo para dentro,
abrindo a porta e caminhando em direção ao altar.

Uma das irmãs mais novas está no chão, olhando na frente dela com
choque. Todo o seu corpo está tremendo enquanto ela tenta encontrar sua
voz para gritar novamente. Quando olho para a fonte do terror, meus olhos
se arregalam.

— Senhor, — sussurro, quase largando meu telefone.

Atrás do altar, o corpo da irmã Elizabeth está pregado na parede, seu


hábito aberto para revelar uma cavidade torácica vazia.

Dou um passo à frente e observo que seus órgãos e tudo mais deveria
estar dentro dela são colocados na mesa do altar.

Aproximo-me e o fato mais impressionante salta para mim.

A letra C é marcada na testa.


— Lina... — meus pensamentos imediatamente me levam a Lina.
Porque isso parece muito semelhante à maneira como o corpo do padre
Guerra havia sido tratado, os órgãos em exibição, o corpo devastado por
algum tipo de animal selvagem.

Eu nem penso quando ligo para o número dela, com medo de que isso
possa ter sido planejado para ela.

— Lina, — começo quando ela responde. — Algo ruim aconteceu...


PARTE II

Acorde, monstrinho, a escuridão está chamando.


CAPÍTULO NOVE

Afastando-me do multidão que já está formada em frente à igreja,


continuo esperando Lina e Marcello chegarem.

Devo admitir que senti tanto a falta dela que, quando recebo a ligação
que ela está aqui, estou louca. Faz muito tempo desde que a vi e não posso
evitar a felicidade que floresce dentro do meu peito.

— Lina?— Eu a vejo à distância e corro em sua direção. — Oh, Lina!


Senti sua falta!— Ela me pega em seus braços, a mão acariciando minhas
costas carinhosamente.

— Sisi, você está bem?— ela pergunta, e por um momento eu apenas


fecho meus olhos, simplesmente imersa na presença dela.
Eu aceno, mas dando um passo atrás, percebo que ela não está
sozinha.

— Marcello? E... — Eu balanço meu olhar para o recém-chegado,


atingido por sua aura letal.

Ele é grande, tão alto quanto Marcello, e com um físico para rivalizar
com o do meu irmão. Está tudo bem escondido sob seu traje imaculado,
mas não há como confundir a maneira como seus ombros se projetam sob o
material. Há uma tensão irradiando dele, apesar da máscara de
cordialidade que parece estar no lugar.

Ensaiado. Muito ensaiado.

Eu deveria saber, já fiz isso muitas vezes.

— Vlad, — ele se apresenta, sua voz profunda e rouca. Enquanto ele


fala, seu sorriso é um pouco largo demais e não chega aos olhos. Eu levanto
meu olhar para o dele e, como dois poços sem fundo, seus olhos escuros
parecem me envolver inteira.

Perigoso.

Não sei o que me faz pensar nisso, mas toda a linguagem corporal dele
fala de um predador pronto para atacar sua presa. Mesmo agora, ele está
me avaliando com ousadia sob o disfarce de civilidade, mas quando nossos
olhos se encontram, algo passa entre nós.
Um tremor desce pelo meu corpo e minhas têmporas palpitam sob o
ataque de seu escrutínio. Uma pressão suave percorre meus membros,
estabelecendo-se na ponta dos dedos quando eles de repente ficam
dormentes.

Mão estendida, ele está esperando que eu a aperte— como dita a


polidez. Mas, de alguma forma, os pelos do meu corpo se arrepiam,
pensando em estar próxima dele.

Finalmente arranco meus olhos dele e pisco duas vezes. — Certo,


então, — eu digo, percebendo que a sua presença me deixou um pouco
desorientada.

Quem é ele e o que ele é para Marcello?

Suas feições não mudam, e não há reação, já que eu o ignorei. De fato,


seus lábios se contraem um pouco, se estendendo ainda mais, como se
estivesse tentando compensar demais.

Dirijo-me a Lina, mas ainda o vejo do canto dos meus olhos. Não sei
por que, mas tenho vontade de correr nas duas direções ao mesmo tempo
— para longe e para a perto.

— Diga-nos o que aconteceu, — recomenda Lina, e tento buscar


conforto no tópico em questão. Certamente, tento ignorar o zumbido dentro
do meu corpo ou a maneira como todos os meus sentidos parecem estar em
alerta.
— Também não conheço todos os detalhes, mas estava perto da capela
quando uma freira começou a gritar. Eu entrei e... Você deve ver por si
mesma se Madre Superiora permitir. É apenas... — Eu balanço minha
cabeça, tentando agir o mais perturbada possível pelo que vi.

— Ela vai permitir, — Vlad interpõe com confiança, e estou muito


tentada a dar uma olhada nele. O que o torna tão confiante? Ele conhece
Madre Superiora? Todos os tipos de perguntas estão passando pela minha
mente quando percebo que meu corpo se voltou instintivamente para o
dele, meus olhos se prendem a ele.

Ele está retornando meu olhar ousado e, por um momento, sua


máscara cai, o sorriso educado se transformando em um lânguido de
investigação. Seus olhos brilham à luz do sol enquanto ele se concentra em
mim, uma pequena carranca aparecendo em seu rosto.

Não me importo com isso, já que sua expressão muda repentinamente


novamente, seu sorriso afável volta ao lugar.

— Calma, — sua mão firma meu braço, seu toque queimando contra
minha pele. Eu imediatamente me afasto, a clareza voltando à minha
mente.

O que...

Marcello e Lina estão à nossa frente, então eu me viro silenciosamente


para segui-los, usando meus dedos para esfregar no local em que ele tocou.
Posso não ter estado muito perto dos homens, mas não acho que isso seja
normal...

Quando chegamos à igreja, dezenas de freiras estão do lado de fora,


algumas orando, outras chorando, e a Madre Superiora parece ter
dificuldade em amenizar os medos de todas.

Fiel à sua palavra, Vlad se aproxima da Madre Superiora e tem uma


palavra com ela, retornando para confirmar que nos permitiu na cena do
crime.

Não é de surpreender que Marcello tente nos fazer esperar do lado de


fora enquanto investigam, presumivelmente querendo preservar nossas
delicadas sensibilidades. Lina e eu, no entanto, não temos nada disso e,
eventualmente, ele cede e nos deixa se juntar a eles.

Durante todo esse tempo, Vlad está silenciosamente atrás, apenas


assistindo. Toda vez que aqueles olhos se depositam em mim, sinto que
estou em uma cama de agulhas, todas picando na minha pele.

Entrando na igreja, o cadáver da irmã Elizabeth é totalmente exibido


atrás do altar. Todo o seu corpo havia sido profanado de tal maneira que
até eu tive dificuldade em reconhecê-la. Embora minha reação inicial
tenha sido chocante, já que a primeira coisa que cumprimentou meus olhos
foi seu útero aberto, vazio de seus órgãos, suas costelas queimando ao ar
livre, eu rapidamente fiquei encantada com a visão.
Passei um pouco de tempo estudando sua forma e como ela foi
apresentada como uma oferta, todo o espetáculo intrigante e um pouco...
sedutor. Houve brutalidade em sua morte, mas a maneira como tudo havia
sido organizado falava de alguém altamente meticuloso. Mais do que isso,
o fato de os órgãos terem sido cuidadosamente colocados na mesa do altar
de maneira simbólica era ainda mais cativante. Porque mesmo com minha
mente jovem, eu podia reconhecer que esse não era o trabalho de um mero
assassino.

Mesmo agora, quando entramos, não posso deixar de ser atraída por
todo o conjunto, uma certa beleza rastejando da morte.

— Quem faria isso...?— Lina suspira, com os olhos arregalados de


horror olhando para o corpo.

Tento não mostrar o quão fascinante acho toda essa cena, mas meu
próprio corpo me trai enquanto meus olhos se concentram na carcaça
aberta da irmã Elizabeth.

— Isso parece assustadoramente semelhante ao que aconteceu com o


padre Guerra. — Eu aponto, quase distraidamente. — Seu interior
também foi adulterado. Bem, não desta maneira, mas bastante
semelhante. — Os dois corpos foram tratados com o mesmo tipo de
cuidado... Pode não parecer com a aparência grotesca de tudo, mas houve
muita consideração por cada parte da cena.
— Mas quem faria isso? Ainda não sabemos quem desenterrou o
padre Guerra e o colocou na gráfica... — Lina intervém, balançando a
cabeça. — E por que? Por que o C?— Eu posso ver como seus lábios
tremem um pouco quando ela olha para o rosto da irmã Elizabeth, o C
olhando furiosamente para nós.

Vlad se move atrás de nós, e sua presença é como uma fumaça espessa
se infiltrando em todo o cômodo, você sente isso em todos os seus átomos.
Mesmo agora, a consciência não é natural, pois sinto seus menores
movimentos ou a maneira como seus olhos parecem penetrar nas minhas
costas.

Respirando fundo, tento me concentrar no corpo, algo profundo me


chamando a atenção.

— Espera... — Eu digo, franzindo a testa. Meus pés se movem por


vontade própria até eu parar na frente do corpo, meus olhos vagando por
sua forma.

— Assisi, o que você está fazendo?— Marcello pergunta, quase


exasperado.

— Acho que vi algo brilhar lá... — Eu paro, vendo algo dentro do corpo
dela. Eu nem penso quando enfio minha mão na sua cavidade torácica,
apertando os olhos para dar uma olhada melhor enquanto meus dedos se
movem.
Para minha surpresa, quem fez isso fez um trabalho maravilhoso. Os
órgãos foram removidos suavemente.

— Assisi, — Marcello chama novamente, mas eu não me importo.

Então eu ouvi ele. Um som semelhante a um gemido dolorido escapa


de seus lábios, e meus olhos são imediatamente atraídos para trás. Ele
está olhando para mim com uma expressão estranha no rosto, com os olhos
negros insensíveis e exalando um calor estranho.

Me sacudindo, volto minha atenção ao corpo, tentando ignorar o grito


de indignação de Lina, ou a maneira como Marcello continua chamando
meu nome.

— Maldição!— Eu murmuro quando meus dedos finalmente entendem


o que está dentro do corpo.

Segurando com força, tiro o punho e despejo o conteúdo na mesa do


altar.

— O que...?— Marcello exclama, com o olhar inabalável dos dentes


sangrentos na mesa.

Vlad, por outro lado, parece um pouco perturbado quando ele remove
um lenço, limpando o suor da testa.

Estranho. Ele não me parece do tipo melindroso.


— Agora, esta é uma virada interessante de eventos. Você não diria
isso, Marcello?— Ele se dobra para estudar os dentes. Sua voz tem um
charme adicional. Está na sua cadência enquanto ele finge estar
totalmente incomodado.

Mais uma vez, acho minha atenção totalmente focada nele e não gosto
disso. Fazendo uma carranca, eu volto para o corpo.

— Há algo mais. Eu não conseguia ver isso antes. — Eu tiro a outra


parte, tentando o meu melhor para não olhar para Vlad.

Não sei o que há com ele, mas ele me assusta e me intriga ao mesmo
tempo.

É o seu sorriso. Seu sorriso muito falso.

— Aqui!— Pego o material, retiro-o e coloco-o em cima da mesa.

— É pergaminho... talvez pergaminho humano.—Vlad fala primeiro,


pegando uma faca do interior do blazer e usando-a para virar o pedaço de
carne. Franzindo, ele tira o lenço e remove o sangue.

— Pagando pelos pecados dos outros. — Marcello lê e Lina reage com


uma respiração repentina.

— É por minha causa, não é? Quem está fazendo isso, é por causa do
que eu fiz... — ela diz e Marcello é rápido em confortá-la.
Eu me inclino para dar uma olhada mais de perto no pedaço de pele.

— De quem é a pele?— Eu pergunto. — É dela?

— Provavelmente não, — responde Marcello com uma careta.

— Como você tem tanta certeza?— Eu continuo. Enquanto mudo meu


olhar de Marcello para Vlad, é óbvio que eles sabem mais do que estão
dizendo.

— Porque quem fez isso, — ele começa, dando a Lina um olhar triste,
— não está mirando em você.

— O que você quer dizer?

— Isso, — Vlad intervém, balançando a faca e apontando para o C na


testa da irmã Elizabeth, — é a marca de um serial killer. O C por si só
poderia ter apontado para você, — ele se vira para Catalina, — mas os
dentes confirmam que é um serial killer que estamos procurando.

— O que...?— Eu estreito meus olhos para ele. Por que sinto que eles
não estão nos dizendo tudo?

Os olhares conspiratórios que passam entre Vlad e Marcello deixam


claro queestão familiarizados com isso.

E isso só está me deixando mais intrigada.


— Deixe-me entender isso, — coloco minhas mãos nos quadris,
inclinando a cabeça para o lado enquanto me dirijo a eles, — você está
dizendo que a pessoa que matou nossa irmã é um serial killer? Então, e o
padre Guerra? Não acredito que seja uma coincidência essas coisas
acontecerem quase uma semana uma da outra. — Fechando meus olhos,
trago minha mão para massagear minha testa, tentando pensar na
conexão entre o padre Guerra e a irmã Elizabeth.

É quando abro os olhos novamente que me vejo cara a cara com Vlad.
Ele está se aproximando cada vez mais de mim até que tenhamos apenas
centímetros nos separando.

O que...

Minha respiração trava na minha garganta quando a presença dele


me domina. Ele está tão perto que eu posso sentir o seu cheiro. Seu
perfume é diferente de tudo que eu já encontrei, uma pitada de sândalo
queimado misturado com almíscar por toda uma leve camada de baunilha.
É bastante intoxicante, como escuridão envolta em seda, acariciando meus
sentidos em sobrecarga.

Eu pisco rapidamente quando percebo que o olhar dele está focado na


minha testa, exatamente onde está minha marca de nascença.

— Vlad!— Marcello chama, mas é como se ele não pudesse ouvi-lo.


Suas feições são tensas, seu sorriso desapareceu completamente e foi
substituído por um olhar predatório puro. Não estamos nos tocando, mas
posso sentir a tensão perigosa que irradia dele.

De repente, me sinto como uma gazela em uma savana, meu único


foco é a sobrevivência, pois vou ficar parada, esperando evitar a detecção
do predador.

— Não se mexa!— Marcello me surpreende sussurrando de lado e eu


aceno.

As narinas de Vlad brilham um pouco enquanto seus olhos acariciam


meu rosto em uma lenta leitura. Ele se inclina para mais perto, inalando.

— Vlad!— Eu ouço a voz de Marcello novamente, mas é como se tudo


desaparecesse. Tudo fica em silêncio quando Vlad vira os olhos vazios para
mim, sua respiração em meus lábios.

Sua mão se move devagar, gentilmente, completamente em desacordo


com o grande homem que me ameaçava com sua proximidade. Então ele
faz a coisa mais inesperada. Ele passa os dedos pela minha testa, pegando
um pouco do sangue que euhavia manchado antes com a mão e trazendo-o
para os lábios.

— O que...?— Eu sussurro, atordoada.


Seus lábios se abrem para receber o líquido vermelho, seu olhar ainda
está no meu rosto. Meus membros se sentem pesados e quentes ao lado
dele, sua boca chocantemente sedutora. Respiro fundo, minhas palmas
suando.

— Assisi, venha aqui, mas devagar. Ele pode ser perigoso. — Marcello
diz.

É estranho, porque eu posso sentir o perigo que ele emana. É puro e


cru e não muito diferente de um leão perseguindo sua próxima refeição. No
entanto, também posso sentir outra coisa. Um vazio que silenciosamente
chama, e mais uma vez meus instintos me dizem para ficar e fugir.

Vendo o quão preocupada Lina e Marcello estão, porém, eu me afasto


lentamente dele.

— O que há de errado com ele?— Eu pergunto, vendo que Vlad ainda


está na mesma posição. Duvido que ele tenha notado minha ausência.

— Ele não é... normal, — responde Marcello.

— Não é... normal?— Repito entorpecidamente, minha mente


perturbada achando isso muito fascinante. Observo como Marcello vai
para o lado de Vlad, estalando os dedos na frente dele como se estivesse
tentando acordá-lo de um transe.

— Mais... — Acho que ouvi Vlad falar, mas não tenho certeza.
— Marcello, o que você está...?— Eu dou um passo atrás quando vejo
meu irmão dobrando as mangas, com as feições tensas enquanto ele avalia
a situação.

Não o machuque!

Não sei de onde isso vem, mas meu único pensamento é garantir que
Marcello não faça nada com Vlad.

Avanço, passando o braço de Lina para o lado e ignorando Marcello


gritando para eu ficar para trás.

Vlad também se move, com muita rapidez, quando me encontra no


meio. Eu nem consigo reagir quando a mão dele dispara, envolvendo-se em
volta da minha garganta e me empurrando para a parede.

Eu ouço o grito de alarme de Lina e Marcello enquanto ele tenta


impedi-la de intervir, mas não consigo me importar.

Seus dedos enrolados em torno do meu ponto depulsação, seu calor se


transferindo da pele para a minha me faz perder toda a razão. Eu tento
piscar algum sentido para mim, mas é como se meu corpo tivesse parado
de obedecer, cedendo à sensação.

Seu domínio é firme e, no entanto, gentil. Nossa posição emaranhada


de lado, seu domínio não é doloroso. Na verdade, é quase macio na
maneira como seus dedos brincam com a minha pele, quase como uma
carícia suave envolvida em violência.

Nada sobre esse homem faz sentido. Desde o momento em que o


conheci até agora, ele nunca agiu como eu esperava. E isso... me intriga.

Eu levanto meus olhos para os seus, encontrando aquelas esferas


pretas impressionantes contra a pele pálida, e tento entender.

Quem é você?

Há uma estranha dicotomia nele — carnificina que deixa o caminho


para a calma, agressão temperada pela civilidade. A sede de sangue
refletida em seu olhar deve me deixar com medo. Mas isso só faz o oposto.

Me chama.

Bom Deus, mas meu corpo inteiro começa a tremer, pequenos


tremores correndo por mim e se acumulando profundamente na minha
barriga.

Quanto mais ele me olha assim, como se ele me matasse e me beijasse


ao mesmo tempo, mais meu corpo reage.

— Assisi, você está bem?— Marcello pergunta, preocupado.


— Estou bem... ele não está me machucando. — Eu gerencio as
palavras, meus olhos ainda fixos em Vlad.

— Vlad, preciso que você se concentre, ok? Você está machucando


minha irmã agora. — Meu irmão começa quando tenta alcançar um lado
de Vlad que ainda não se foi.

Marcello continua conversando com Vlad, e noto uma pequena


mudança, os braços flexionando levemente, os olhos ganhando uma pitada
de reconhecimento.

— Irmã?— Um som áspero escapa de seus lábios.

Sua mão aperta sobre minha garganta, seus olhos se movendo


loucamente sobre meu rosto.

— Sim, ela é minha irmã. E você está machucando ela agora.

— Irmã?— Ele repete, a palavra aparentemente atingindo uma


reação. — Irmã...

Um momento estou no ar, no outro meus pés tocam o chão. Ainda


mais surpreendente, Vlad cambaleia de joelhos, com as feições desenhadas
na dor, a boca aberta com um som que não sai.

Olho nos seus olhos e vejo apenas uma coisa.


Sofrimento.

Seus braços se aproximam da minha cintura, trazendo seu rosto


contra a minha barriga. O calor emana de onde seu corpo encontra o meu,
e uma profunda sensação de conforto se instala nos meus ossos.

— Irmã, — Vlad sussurra novamente, e sinto uma súbita vontade de


enfiar meus dedos nos cabelos, embalá-lo em uma sensação de segurança
onde ele pode finalmente relaxar, longe de tudo o que os demônios parecem
tê-lo possuído.

Seus braços se apertam ao meu redor enquanto ele continua repetindo


a palavra irmã, cada vez mais urgentemente do que antes.

Não sei como reagir. Só sei que quero ajudá-lo a superar o que quer
que ele esteja passando.

Abaixando minha mão nas costas, dou um tapinha nele lentamente,


tentando oferecer-lhe algum conforto. Ele imediatamente reage ao meu
toque, ronronando como um gato grande, quanto mais eu o golpeio.

— Está bem. Você está seguro aqui, — sinto-me compelida a


acrescentar, e seus ombros caem um pouco, a cabeça se movendo em cima
do meu hábito como se ele estivesse procurando alguma coisa. Então, do
nada, sua respiração regula, seu peito subindo e caindo suavemente.
— Acho que ele está dormindo, — digo depois de um tempo. De
alguma forma, desejo nada além de continuar a segurá-lo, mas sei que não
é o meu lugar.

Provavelmente nunca será.

Então eu lentamente tiro seus braços de mim, um nó se formando na


minha garganta vendo-o cair no chão.

— O que foi aquilo? — Pergunto a Marcello quando estou ao seulado.

— Ele... — ele franze a testa, tentando encontrar as palavras certas


para explicar a condição de Vlad, — tem algum trauma. Isso deve ter
desencadeado.

Eu aceno distraidamente, mesmo que meu olhar continue se perdendo


para a forma dele no chão.

— Antes de partirmos, quero lhe perguntar uma coisa, — Marcello


me surpreende dizendo.

— O que?— Eu franzi a testa.

— Você realmente quer fazer seus votos? Se você sente que esta vida
não é para você, pode me dizer. Estou preocupado com sua segurança aqui,
e Madre Superiora não me deixa contratar um guarda para você.
Meus olhos se arregalam e não sei como responder.

— Você... você está dizendo... — Eu expiro devagar, com medo de


interpretar mal o significado. — Você está dizendo que eu posso deixar o
convento? Mas para onde eu iria... eu....

— Você pode vir morar conosco. — Catalina interpõe, vindo em minha


direção, — adoraríamos ter você, não é, Marcello?

Meu irmão assente.

— É sua casa também. E você estaria mais segura lá.

— Eu... — Eu não sei o que dizer. Eu nunca, nos meus sonhos mais
loucos, ousei acreditar que deixaria este convento. — Sim, sim, por favor,
— respondo prontamente, a felicidade estourando no meu peito com o
pensamento. — Obrigada! Eu... você não entende o que isso significa para
mim.

— Você não gosta daqui?— Ele pergunta, me estudando em confusão.

— Não é isso, — começo, não querendo parecer ingrata. — Eu não


acho que estou apta para ser freira, — admito, baixando o olhar.

Se ao menos eles soubessem quão imprópria eu seria para uma


freira....
— Eu acho que essa é a melhor opção. Eu sempre soube que Sisi não
era para esta vida. — Catalina concorda, pegando minha mão na dela.

Estou tão feliz com a perspectiva de deixar este lugar imprestável que
mal ouço Vlad se movendo.

Lina e Marcello olham para ele, e eu também me viro, observando


como ele está despertando lentamente do sono.

— Merda, — ele amaldiçoa. Ele parece desgrenhado, mas totalmente


atraente demais. — O que aconteceu?

— Acho que você está cheio de sangue por hoje, — acrescenta


Marcello, e um olhar conspiratório passa entre os dois.

— Desculpe por isso, — diz ele, olhando ao redor da sala. Seus olhos
me encontram e ele franze a testa, inclinando a cabeça para o lado como se
estivesse vendo algo que não consegue explicar. Então acabou.

Em um momento, toda a sua persona parece estar envolvida na


escuridão e na dor; no outro, sua boca se estende para outro sorriso falso,
apagando todos os vestígios do verdadeiro ele.

— Estou feliz que você esteja bem, — diz Lina, mas apenas estreito
meus olhos para ele.

Qual é o problema dele exatamente?


— Então, o que eu perdi?— Ele sorri, como se não tivesse acabado de
colocar em risco minha vida.

Eu levanto uma sobrancelha para ele, mas seu sorriso só aumenta


quando vê minha expressão pesarosa.

Terminamos nossos negócios na igreja e Marcello me avisa que falará


com Madre Superiora em meu nome e que eu posso voltar para casa com
eles.

Eu apenas coloco um sorriso agradável, não ousando sonhar com isso


até que aconteça.

Mas parece que desta vez, a sorte está realmente do meu lado.

Eu tento não mostrar quão afetada por tudo o que está acontecendo.
Como o simples fato de eu estar em um carro, me afastando daquele lugar
miserável está me fazendo sentir como se estivesse nas alturas. Ou como
olhar pela janela para todos os prédios que passam não ser Sacre Coeur
me deixa incrivelmente tonta.

Marcello não sabe, mas ele acabou de me dar o presente de uma vida.
Não sei se ele realmente me quer por perto, ou se acha que serei um
inconveniente, mas pretendo fazer o meu melhor para não causar
problemas que possam fazê-lo se arrepender de me receber.

Quando chegamos à casa, fico impressionada com o tamanho. Mais


ainda, a beleza da arquitetura interna. Sacre Coeur não tinha faltado
nisso, mas tinha sido uma beleza clínica. Era uma casa, não um lar.

De repente, vejo os toques de Lina por todos os quartos, e um calor me


envolve.

— Eu não te disse, — inclino-me para sussurrar em seu ouvido. —


Mas estou feliz que você se casou com meu irmão, — digo-lhe
sinceramente.

— Eu também, — ela responde, corando um pouco.

Sempre considerei Lina e Claudia minha família, mas agora elas


realmente são. E saber que vamos morar no mesmo lugar novamente...
Não posso deixar de sentir uma quantidade vertiginosa de felicidade ao
pensamento.
Com um aceno de cabeça, Marcello nos deixa à nossa disposição,
pedindo a Lina que me mostre meu quarto.

— Ele é sempre assim? — Eu franzi a testa quando estamos sozinhas.

— Ele é... — ela franze os lábios, — mais reservado. Mas ele tem sido
maravilhoso para mim.

— Estou feliz, — aperto a mão dela com conforto.

Ela me contou as circunstâncias do casamento e o fato de que os


Guerra ainda são um perigo para ela e Claudia.

Para ser totalmente sincera, ainda tenho dificuldade em considerar o


fato de que nossas famílias estão envolvidas no crime organizado. E isso
me deixa um pouco curiosa sobre a conexão de Vlad com a máfia, já que ele
parecia ser um bom amigo de Marcello.

Não pela primeira vez desde que deixamos Sacre Coeur, meus
pensamentos se desviam para aquele homem. Talvez seja porque não estou
acostumada a estranhos, mas a presença dele me impactou. Eu posso
imaginar vividamente seus olhos escuros olhando para mim, suas mãos no
meu corpo...

Balançando a cabeça com os pensamentos intrusivos, me fixei no


presente.
Lina me leva para um quarto de hóspedes no segundo andar, dizendo
que teríamos tempo para fazer compras e decorá-lo no futuro.

Só posso concordar, já que tudo é perfeito para mim. E o quarto que


ela me mostra é maior do que eu imaginaria. É um quarto simples, com
uma cama de casal, uma penteadeira, um guarda-roupa e um pequeno
banheiro. Mas é meu.

Ainda estou enraizada no local, admirando o quarto, quando Lina me


dá um tapinha no ombro, me entregando algumas roupas.

— Temos um tamanho semelhante, então isso deve funcionar até que


você consiga mais roupas. Você pode finalmente se livrar do hábito, — diz
ela, me olhando de cima e a baixo e torcendo o nariz.

Nem sei responder enquanto tiro as roupas dela. Eu nunca usei nada
além das roupas fornecidas no Sacre Coeur, então essa é uma nova
experiência para mim.

Impaciente, coloco as roupas na cama e começo a tirar meu hábito,


pronta para me livrar dele. O lábio de Lina se enrola quando vê minha
emoção e ela fecha a porta para que eu possa ter um pouco de privacidade.

Olhando através das roupas, escolho um vestido verde que não seja
muito curto nem muito longo.
— Eu não tenho sutiãs que se encaixem em você, mas podemos
comprar amanhã, — comenta Lina, e aceno com a cabeça, manchando
minhas bochechas de rosa. Essa é a única área em que Lina e eu não
combinamos desde que fui amaldiçoada com seios enormes. Ainda assim,
não é como se eu tivesse usado algo além de um bustiê antes. Embora,
olhando no espelho depois de vestir o vestido, eu possa ver como a forma
seria mais lisonjeira com um sutiã.

— Uau, eu mal posso reconhecê-la, — ela respira quando me vê. Meu


cabelo também está solto e cai pelas minhas costas.

— Certamente parece diferente. — Eu continuo olhando no espelho


como se estivesse me vendo pela primeira vez.

— Você não tem ideia de como estou feliz por estar aqui. — Lina
inclina a cabeça no meu ombro, sorrindo para mim.

— Eu também, — eu respondo.

Muito feliz.

E isso me deixa com um pouco de medo. Porque agora que eu provei


felicidade, se for arrancada de mim vai me matar.

O dia tem ainda mais surpresas reservadas quando encontro minha


irmã Venezia. Minha primeira impressão é que não somos parecidas.
Enquanto Marcello e eu podemos ter nossa coloração em comum, já que
nós dois temos cabelos loiros, o de Venezia é uma cor marrom suave. Os
olhos dela também são de avelã em comparação com os meus castanhos
claros.

Eu continuo olhando para ela, tentando encontrar alguma


semelhança, mas não há.

— Você é tão bonita. — Eu digo em algum momento, sobrecarregada


pelo fato de ela parecer exatamente uma boneca.

Ela pisca duas vezes antes de um rubor subir no pescoço e abaixa os


olhos.

Pelo que Lina me disse, eu esperava que ela fosse mais ousada e
franca, mas a Venezia na minha frente é tímida, sendo cautelosa a cada
palavra.

— Obrigada, — ela finalmente sussurra.

Nossa conversa é um pouco atrofiada, pois nenhuma de nós pode


inventar um tópico. Mas teremos tempo suficiente para nos conhecermos.

— Eu posso... — ela começa, nervosamente, — te dar um abraço?

— Claro!— Eu respondo imediatamente, não perdendo tempo em


puxá-la para meus braços abertos.
Dizendo boa noite a Lina e Claudia, vou para o meu quarto, ainda
admirada por ter um espaço todo meu.

Quantas vezes eu sonhei com isso mesmo? Antes de Lina aparecer no


Sacre Coeur, eu estava com dezenas de outras garotas. A noção de ter algo
para mim quando tudo foi compartilhado sempre foi difícil de entender.

Colocando minha mão na cama, traço o contorno dos lençóis sedosos,


com a emoção se formando dentro de mim ao pensar em dormir com tanto
luxo.

Tomo banho rapidamente, secando a pele adequadamente antes de


deslizar entre os lençóis. Suspiro profundamente, a frieza do material
contra minha pele nua se sentindo divina.

Com a mão enrolada na minha garganta; ele me empurra no altar.


Minhas costas batem na mesa fria, meus olhos arregalados de terror.
Deixando de lado toda a parafernália religiosa, vejo uma cruz caindo no
chão, o som reverberando na igreja.

Ele me examina da cabeça aos pés, seu olhar derretido doce e mordaz,
como um Deus pagão esperando por seu sacrifício, minha morte é o
combustível para sua própria essência.

— Pare, — sussurro quando seus dedos se apertam em torno da


minha carne, parando meu fluxo de ar. Por um momento, minha
respiração falha, e só consigo olhar para aqueles olhos escuros que
pretendem me consumir, corpo e alma.

Sua outra mão está vagando livremente pelo meu corpo, arrepios
aparecendo enquanto ele arrasta os dedos pela minha coxa, até que ele
para na curva do meu quadril, com a palma da mão envolvendo na minha
cintura.

Seus lábios se alargam em um sorriso perverso, o primeiro genuíno


que eu tinha visto. Ele parece indomável quando paira sobre mim, minha
vida e morte sob seu controle.

Eu tento lutar contra o seu aperto, minhas mãos empurrando os seus


ombros, mas tudo o que faço é em vão. Ele é forte demais, quando me
prendeu com seu corpo enorme, e tenho que admitir que estou à sua mercê.

Sua boca se move para o meu ouvido sussurrando alguns sons


indiscerníveis, seu estrangulamento lentamente se tornando uma carícia.
De repente, sua mão se foi. Meus olhos se arregalam quando ele
começa a beijar seu caminho pelo meu pescoço, meu corpo estremecendo
com uma mistura de medo e curiosidade.

— O que você está fazendo?— Minha voz treme quando pergunto.

Ele não responde. Apenas sorri contra a minha pele antes que sua
boca se abra, seus dentes se alojando na minha pele.

Eu grito, a dor surreal quando ele rompe a pele, o sangue flui


livremente da ferida. Ele dá um tapa, manchando-o por todo o meu pescoço
e pela minha bochecha, sua língua diabólica girando círculos na superfície
da minha pele.

Rapidamente, ele levanta a cabeça, um sorriso largo mostrando


dentes manchados de sangue.

— Você é minha. Para matar e para...

Eu acordo, desorientada e coberta de suor. Encontrando-me na minha


cama, olho ao redor do quartovazio, dando um suspiro de alívio quando
vejo que não há ninguém por perto. Minhas mãos imediatamente passam
pelo meu corpo, tentando garantir que ainda estou inteira. Meus dedos
permanecem no meu pescoço, encontrando a pele intacta.

Um tremor suave atravessa meu corpo quando me lembro da maneira


vívida em que seus dentes haviam se enfiado em mim, a dor aguda que
atormentara todo o meu ser enquanto ele implacavelmente empurrava
contra mim.

Eu tentei tanto esquecer o incidente da igreja, e agora ele está


assombrando meus sonhos. Eu devo ter sido mais afetada por sua presença
do que eu me deixara acreditar, porque não há outra explicação para isso.

O vento está soprando do lado de fora, a cortina balançando ao redor,


dentro e fora do quarto. franzindo a testa, saio da cama para verificar.

Tenho certeza de que fechei a janela antes de dormir.

Sentindo-me um pouco paranóica, abro a janela, puxando a trava para


que ela fique parada no lugar. Olhando para fora, só vejo a extensão verde
do quintal. Nenhum sinal de nada ou de ninguém.

Aliviada, é apenas minha imaginação hiperativa, volto para a cama.


Mas quando deslizo entre os lençóis novamente, percebo outra coisa. Há
uma umidade entre minhas pernas que não estava lá antes. É
acompanhado por um zumbido baixo na parte inferior, um formigamento
quase como uma coceira. Minha mão cai e fico chocada ao encontrar meus
dedos revestidos com uma substância viscosa. Meu primeiro pensamento é
que eu devo estar com tanto medo que molhei a cama. Mas a textura é
totalmente diferente e, por um momento, receio que algo esteja errado
comigo.
Pegando rapidamente meu telefone, abro o navegador e procuro o que
isso significa.

A resposta, no entanto, não ajuda.

Excitação. Desejo sexual.

— Oh, inferno, não, — murmuro para mim mesma lendo artigo após
artigo. Não posso ter sido despertada por esse... homem tentando me
matar. Estou quase enojada comigo mesma por me permitir pensar nisso,
então desliguei o telefone, colocando-o na mesa.

— É apenas medo residual. — Eu tento me convencer.

O sono mal chega até mim e, quando tenho que acordar de manhã,
estou bastante irritadiça. Ainda tenho essa sensação incômoda de que Vlad
está perto e que vai me matar. Sei que é um medo tão irracional, mas de
alguma forma estou convencida de que vou encontrar meu fim nas mãos
dele.

Há algo de aterrorizante nele, assim como fascinante.

Mais uma vez, quando me encontro com as garotas para fazer


compras, não consigo impedi-lo de assumir meus pensamentos. É como se
tudo o que eu fizesse me lembrasse de alguma maneira dele e desse sonho.
Seus olhos negros e sem fundo e seu toque abrasador estão arraigados
em minha mente. Eu só tenho que fechar meus olhos, e é como se a sua
respiração estivesse no meu pescoço, a boca perto da minha pele.

— Essa parece tão boa em você, Sisi, — diz Lina sinceramente, e eu


saio disso. Eu pisco duas vezes, tentando ganhar algum foco.

— Eu também acho, — respondo, um pouco tarde demais.

Se ela percebe o quanto estou distraída, ela não menciona.


Continuamos comprando, pegando tudo, desde roupas a telefones e
laptops.

Passando por um salão de cabeleireiro, porém, uma ideia me assalta.

— Quero ter uma franja, — digo a Lina, explicando que ter algo para
cobrir minha testa tornaria mais fácil para mim, já que as pessoas não
estariam olhando tanto.

Ela assente pensativamente. — Se é isso que você quer, é claro.

Lina e Claudia vão pegar alguns doces enquanto eu sofro as


ministrações do cabeleireiro. Já me sinto mal ao ver meu cabelo se
acumulando no chão, flashbacks dos castigos de Cressida piscando na
minha cabeça.
É preciso tudo em mim para não fugir. Felizmente, tudo acaba em
minutos, e o novo visual parece me servir perfeitamente.

Agradeço ao cabeleireiro e vou pagar.

O tempo todo, minha pele pica com consciência, como se alguém


estivesse me observando por trás.

Virando-me rapidamente, vejo uma forma sombria se refugiar atrás


de uma das colunas.

Eu nem espero a mudança, dizendo para eles ficarem com o resto


enquanto corro, perseguindo o que está me seguindo.

Ninguém.

Não há ninguém atrás da coluna ou em qualquer lugar ao redor dela.


Fico no meio do shopping, desorientada olhando em volta, tentando
encontrar o fantasma que tinha visto.

Eu estou ficando louca.

Não perdi a cabeça durante meus vinte anos naquele lugar miserável,
mas estou agora. Pelo amor de Deus, eu costumava andar em um cemitério
e nunca tinha medo de fantasmas ou qualquer outra criatura
sobrenatural. Parece bastante ridículo se tornar tão paranóica agora.
É tudo culpa dele.

— Tia Sisi, — Claudia chama meu nome, correndo em minha direção.


Colocando um sorriso no meu rosto, finjo que está tudo bem.

Depois de ter tudo, estamos prontas para voltar.

Já estou cansada, tanto física quanto mentalmente, e assim que


chegamos em casa, me desculpo e subo ao meu quarto.

Eu preciso de uma soneca.

Felizmente, desta vez não terei um convidado não desejado nos meus
sonhos.

Abrindo a porta do meu quarto, coloco as sacolas no chão, minhas


mãos já estão no zíper do meu vestido.

De repente, uma mão cobre minha boca, um braço esgueirando-se pela


cintura e me trazendo para um peito duro.

O que?

Meu primeiro instinto é tentar gritar, independentemente da palma


da mão pressionando contra meus lábios. Meus membros começam a lutar,
e eu mudo minha cabeça, tentando chutar para quem está atrás de mim.
— Shhh, — uma voz arrepiante sussurra no meu ouvido, — não
queremos que seu irmão me encontre aqui.

Meu coração na garganta, só consigo parar de me mover. Meu corpo


inteiro está rígido, pois percebo quem está atrás de mim, me mantendo
refém.

Oh, inferno. Eu posso morrer depois de tudo.


CAPÍTULO DEZ

Cantarolando para mim mesmo, abro a porta do porão, depositando as


ferramentas que trouxe comigo em uma mesa.

Vanya está de mau humor em um canto, e ela só me dá um olhar


hostil antes de virar a cabeça e começar a me ignorar. Ela fez isso nas
últimas horas, e ainda não encontrei o que lhe causou descontentamento.

Embora eu possa tenha uma ideia.

Focando na tarefa em questão, em vez disso, tirei esse tópico em


particular da minha mente.

— Confio que a condição de seus alojamentos tenha sido para sua


satisfação?— Eu sorrio para o homem atualmente amarrado a uma cadeira
no meio da sala. — Espere, — eu franzi a testa. — Esqueci que você não
pode falar, — balanço a cabeça e, em dois passos, estou na frente dele,
tirando a mordaça e deixando-o exercitar a boca por um tempo.

E se ele souber o que é melhor para ele, ele a exercitará direito.

— Que diabos... Onde estou... — ele gagueja, seus olhos avaliam


loucamente a câmara, antes de se estabelecer em mim, — e quem é você?

— Senhor. Petrovic, estou profundamente ofendido por você não saber


quem eu sou, — eu puxo, me instalando no chão na frente dele.

A primeira rodada será fácil. Apróxima... depende dele.

— Como eu devo saber?— ele cospe em mim.

Balançando a cabeça, faço um som de tsk, juntando a ponta da manga


e dobrando-a no braço. Segurando minha mão para ele ver minha
tatuagem, observo toda a coragem anterior drenar de seu rosto.

Minha reputação, por assim dizer, é mais boca a boca do que


evidências sólidas. Afinal, me aposentei da parte mais desagradável dos
negócios anos atrás, quando percebi que minha reação ao sangue havia
piorado, me fazendo ficar muito instável. Em vez disso, comecei a polir
uma imagem de classe que, no entanto, causa medo nos meus adversários.
Embora a maioria das pessoas não saiba como eu sou, elas sabem
alguma coisa — meu nome e minhastatuagens que me identificam como o
atual Pakhan.

Senhor Petrovic deveria se sentir honrado, de fato, por cuidar


pessoalmente dele, já que minhas incursões em assassinatos ou torturas
são bastante limitadas hoje em dia, fato de estar profundamente de luto,
pois ambas são a melhor cura para satisfazer meu tédio.

Tal como está, até meus experimentos científicos foram suspensos, as


chances de eu arruinar os passos mais sangrentos são mais altos do que eu
concluir o projeto.

Mas ele...

Eu sorrio só de pensar nisso.

Faz anos desde a última vez que encontrei uma pista sólida na pessoa
que levou Katya. E eu só consegui fazer isso vasculhando todas as
conexões e comunicações ocultas de Misha. Muitas pessoas que encontrei
acabaram mortas, mas algumas mudaram de identidade ao longo dos anos,
tentando fugir.

De mim ou de outra pessoa, não posso dizer.


Caso em questão, Sr. Petrovic havia mudado sua identidade dez vezes
na última década, cada vez escolhendo uma nacionalidade diferente e
mudando-se para uma parte diferente do país.

Acho que ele se considerava seguro com todas essas medidas de


segurança. Mas ele não contou com o meu compromisso de encontrá-lo.

Alguns anos atrás, acabei aprimorando um software de


reconhecimento facial que agora podia capturar imagens antigas e analisá-
las quanto a padrões e tiques comportamentais. Você pode se esconder do
mundo, mas não pode se esconder de si mesmo. E o Sr. Petrovic pode ter
mudado seu nome e sua aparência até certo ponto. Mas algumas coisas
nunca mudam. Como seu leve mancar, uma lesão antiga na tíbia distal
torna a conexão com o tálus bastante instável.

Sua análise de marcha apresentava uma precisão de noventa por


cento e, no meu desespero, eu tinha esquecido os dez que não eram
conclusivos.

Meu software, no entanto, havia feito seu trabalho.

— Agora que as apresentações terminaram, vamos nos concentrar no


tópico de hoje, sim?— Eu sorrio para ele, abrindo minha bolsinha e
removendo uma faca e uma maçã. — Aqui está como as coisas vão
acontecer. Vou fazer perguntas e você vai responder. Se eu gostar das suas
respostas, não há dor. Se não o fizer, — eu balanço minhas sobrancelhas
para ele, — bem, você verá.
Sua cabeça se move pela sala, provavelmente procurando uma saída.

— Estamos em um nível subterrâneo. Não há saída, Sr. Petrovic. Nem


mesmo se você conseguir passar por mim, o que, vamos encarar, — eu
franzo os meus lábios, — não está acontecendo. Portanto, sua melhor
aposta é ser o mais cooperativo possível.

Começo a descascar a maçã, meus olhos firmemente fixos em sua


expressão aterrorizada.

— Por que não começamos com sua conexão com Misha, — digo,
mordendo a maçã.

Eu já sei que o Sr. Petrovic costumava atuar como intermediário entre


os EUA e a Europa, trazendo pessoas com a promessa de um emprego e
depois vendendo-as. O que levanta a questão. Por que ele estaria envolvido
com Misha?

— Eu não sei quem é, — diz ele, muito rapidamente.

— Senhor Petrovic. — Eu suspiro, um pouco chateado, não será tão


rápido quanto eu queria. — Eu sou um homem ocupado. Muito ocupado.
Pense nisso: em vez de interrogá-lo por horas, eu poderia estar
aproveitando o sol, matando uma dúzia de pessoas e recebendo minha dose
diária de vitamina D. Em vez disso, tenho que ficar preso aqui dentro, com
a perspectiva de matar apenas uma pessoa. — Seus ombros caem, seus
olhos se arregalam um pouco.
Bom.

— Como isso é justo para mim?— Eu dou outra mordida, mantendo


meus olhos nele.

— Por favor... — O pedido de ajuda é quase audível, mas acho que ele
finalmente percebeu a situação em que se encontra.

— Eu não ouvi você, — coloquei uma mão no meu ouvido, esperando


que ele se repetisse.

— Eu não posso te contar, — diz ele, quase renunciou ao seu destino.


— Eles vão matar minha família, — continua ele, com os olhos
implorando para mim.

Bem, essa é uma daquelas situações que eu geralmente temo, porque


se a família de alguém está em perigo, as chances de eles falarem são...
escassas. Não é zero, no entanto. É apenas uma questão de ajustar a
tortura de acordo, para que eles quebrem.

— Acho que conversaremos em alguns dias, Sr. Petrovic. — Levanto-


me para sair e ouço seu suspiro de alívio. Acho que ele não percebe o que
esses poucos dias implicarão.

Uma mensagem rápida para um dos meus homens, Maxim, e ele já


está aqui.
— V sadu9?— Ele pergunta, olhando o prisioneiro.

Oh, Maxim, como você me conhece.

— De fato, no jardim, — respondo, travessuras brilhando nos meus


olhos.

Maxim assente, indo até o Sr. Petrovic e agarrando-o pela cadeira. Ele
o levanta facilmente no ar, e eu sigo para trás enquanto ele o leva para o
jardim.

Como todo o nível deste lugar, o jardim também é subterrâneo. É mais


uma estufa, se estou sendo honesto, mas a construí de maneira a imitar
condições externas.

Chegamos ao jardim e Maxim entra nos fundos, com um par de


suspensórios. Manobrando a cadeira ao redor, ele prende as pernas da
cadeira através dos suspensórios, garantindo que a cadeira esteja a cerca
de um metro do chão.

— O que... o que está acontecendo?— Senhor Petrovic continua


falando, com os olhos arregalados na cabeça.

— Esta é minha tentativa de convencê-lo a falar. Vamos ver se


funciona. Em alguns dias. — Eu lhe dou um sorriso brilhante, após o qual

9 No jardim?
Maxim prontamente o amordaça novamente. Então, ele remove o fundo da
cadeira, para que a bunda do Sr.Petrovic esteja lentamente se moldando
através do buraco.

Sob a cadeira suspensa, existem cerca de cinco brotos de bambu, todos


recém-plantados e prontos para crescer altos e bonitos. Senhor Petrovic
está prestes a se sentar e se familiarizar com alguns deles, e muito em
breve. Se ele tiver sorte, pode-se até penetrá-lo na bunda e estimular sua
próstata. Um pouco de prazer em meio a toda a dor.

Infelizmente, não acho que ele tenha tanta sorte.

Saindo da estufa, verifico a hora, sabendo que tenho outro assunto a


tratar.

Vanya está atrás de mim, sua atitude melhorou muito.

— Nós a encontraremos, — diz ela com confiança, pulando para cima


e para baixo em uma dança de felicidade.

Como eu gostaria de poder compartilhar sua perspectiva.

Mas já se passaram nove anos desde que Katya foi levada. Nove anos
em que eu falhei com ela, e se ela ainda está viva, provavelmente já passou
por inúmeros terrores.
Às vezes tenho que me perguntar se prefiro encontrá-la viva, mas
quebrada, ou morta e em paz.

Assisi Lastra.

Deixei o nome rolar na minha língua quando me lembro da menininha


com olhos ardentes. É meu dever testar uma teoria quando ela surgir, e
ela acabou de me entregar um desafio.

Conhecê-la tinha sido... interessante. Para dizer o mínimo.

Ela certamente não era o que eu esperava, já que cresceu em um


convento. Inferno, ela nem estava no meu radar até pouco tempo atrás,
quando o padre Guerra apareceu morto em Sacre Coeur.

Orgulho-me de ter olhos e ouvidos em todos os lugares, mas a irmã de


Agosti tinha sido um ponto cego. Não que ela tivesse algum interesse até
Guerra acabar estripado em público. E então eu decidi ter um pouco mais
de conhecimento sobre esse evento em particular.

Ela pode ser apenas uma pequena jogadora, mas no grande esquema
das coisas, são os pequenos jogadores que decidem o resultado de uma
partida. Na sua insignificância, eles são os melhores peões, sem serem
detectados, com pessoas poupando-lhes menos atenção.

Então eu comecei a invadir o telefone dela. Nem tinha sido difícil


descobrir o número, já que Agosti não é o melhor em manter em segredo
sua comunicação com a irmã. Uma mensagem de phishing e eu tinha
certeza de que ela morderia, afinal, uma ingênua como ela é o melhor alvo
para essas coisas.

Mas ela não tinha. Em vez disso, ela respondeu com a coisa mais
ultrajante. Ela renunciou o prêmio a favor de outra pessoa. Somente
depois de algumas tentativas um pouco embaraçosas, percebi que não
estava de fato conversando com Catalina Agosti, mas com sua amiga
íntima, Assisi, irmã de Marcello.

Eu estava ainda mais confuso quando suas réplicas seguiram um


caminho bem-humorado, e me vi compelido a continuar as brincadeiras.

Eu certamente não esperava gostar tanto de brigar com ela, ou por


tanto tempo. Dada a minha interação limitada com o mundo exterior,
tinha sido apenas uma maneira de me livrar do meu tédio.
Mas então eu a conheci ao vivo... Bem, isso foi inesperado. Por uma
coisa tão pequena, imersa na ignorância daqueles ensinamentos
dogmáticos de Sacre Coeur, ela certamente seria intrigante. Sua reação à
freira mutilada foi simplesmente surpreendente.

Eu deveria ter percebido pelas respostas cáusticas dela às minhas


mensagens que ela não seria apenas uma moça comum. Onde eu esperava
que ela corresse gritando ao ver sangue e órgãos, ela deu um passo
adiante, sujando as mãos.

Meus lábios se contraem quando me lembro dos seus cotovelos no


fundo da freira. Considerando que é uma das últimas coisas que me
lembro daquele encontro em particular, definitivamente me impressionou.
A última coisa que me lembro foi de ter mapeado o rosto dela,
reconhecidamente um rosto muito bonito. Mas sua marca de nascença,
aquela mancha vermelha logo acima das sobrancelhas, chamou minha
atenção e a segurou.

Tinha sido como ficar hipnotizado por aquele vermelho. Então ela teve
que realmente manchar-se de sangue, e eu simplesmente me perdi.

Quando acordei, algo extraordinário havia acontecido. Eu tinha posto


meu olhar nela e, do nada, Vanya simplesmente desapareceu.

Fiquei impressionado com o desaparecimento repentino. Eu vivo com


ela ao meu lado nos últimos vinte e dois anos. Nem uma vez ela
simplesmente desapareceu no ar. De um jeito ou de outro, ela sempre
esteve comigo. Ela nem sempre pode falar ou interagir, mas nunca está
fora do meu ponto de vista.

Até Assisi.

Eu franzi a testa pensando no cerne do problema. No momento em


que Assisi desapareceu da minha vista, Vanya havia retornado com força
total.

Não foi até aquele momento que eu percebi o quão refrescante tinha
sido ter um momento de paz, sem minha irmã constantemente me
assombrando.

Assim que fiz essa observação, eu me esgueirei furtivamente para ver


Assisi novamente antes que ela deixasse Sacre Coeur. E mais uma vez,
Vanya desapareceu.

Não tenho ideia de como, ou mesmo por que, isso aconteceria, mas
preciso testá-la mais uma vez. Só para ter certeza de que não tinha sido
por acaso.

Tentei pensar no que poderia ter causado essa ruptura mental, já que
Vanya é e sempre fez parte da minha mente. Eu até perguntei a Marcello o
que havia acontecido enquanto eu estava fora. Tudo para descobrir o que
poderia ter desencadeado essa conexão entre Assisi e Vanya.

Ainda... nada.
O cérebro funciona de maneiras misteriosas. Disso tenho certeza. Mas
anos de consultas com profissionais, e Vanya nunca desapareceu do meu
lado. Então, de repente, um encontro com uma garota irrelevante e ela
sumiu?

Devo estudar esse fenômeno em profundidade para chegar ao fundo


disso. Porque se eu puder me livrar permanentemente de Vanya...

Não que eu não goste de ter minha irmã por perto, mas estive décadas
com ela ao meu lado, e isso pode ficar entediante.

Estacionando meu carro na rua, tiro um laptop para verificar a


situação. Conhecendo Marcello, ele teria aumentado a segurança no
momento em que se mudou. Ainda assim, isso não vai me parar. Eu ignoro
sua segurança cibernética, me colocando dentro de sua estrutura. A partir
daí, é fácil acessar as câmeras de segurança em toda a casa.

Avanço os eventos de hoje até avistar Assisi, vendo exatamente qual é


o quarto dela. Uma vez confirmado, um breve cálculo de ângulos e vejo a
janela do quarto.

Segundo andar.

Felizmente, tive experiência suficiente em escalar edifícios para fazer


desta uma tarefa fácil.
Deixando minhas coisas para trás, atravesso os arbustos até estar na
parte de trás da casa de Marcello. Identificando a janela, subo usando o
relevo do edifício para obter apoio. Como sempre, Vanya está ao meu lado,
subindo no seu próprio ritmo. Quando chego ao seu quarto, uso uma
pequena chave de fenda para abrir a janela, me esgueirando sem esforço
dentro do quarto.

Marcello teria minha cabeça se soubesse que estou espionando sua


irmã.

Um sorriso puxa meus lábios para a hilaridade da situação. Ainda


assim, sou egoísta o suficiente para que, se eu vir uma oportunidade de me
livrar do fantasma de minha irmã, eu o aceitarei, independentemente de
quem eu tenha que usar para alcançar meu objetivo.

O quarto está envolto na escuridão, exceto por um raio de luz da lua.


Entro cuidadosamente, caminhando em direção à cama no centro do
quarto.

Uma pequena forma está amontoada no meio da cama, o lençol


cobrindo todo o corpo enquanto ela dorme em paz.

Meus olhos estão voltados para ela por um momento antes de eu olhar
em volta, chamando Vanya mentalmente.

Ela se foi.
Eu ando silenciosamente peloquarto, observando que ela não está à
vista.

Interessante.

Apoiando-me contra a parede em frente à cama, estudo a forma de


Assisi dormindo, imaginando exatamente o qu há nela que está fazendo
Vanya desaparecer.

Talvez seja a santidade dela.

Mas, assim como o pensamento surge, uma risada me escapa. De


acordo com o que eu aprendi dela, esse definitivamente não é o caso.

Curiosidade brilhando dentro de mim, dou um passo mais perto,


sentando-me cuidadosamente na cama para poder inspecioná-la melhor.

Com os olhos fechados, os lábios levemente separados, ela parece


quase angelical. Seu cabelo, soltos, com fios espalhados no travesseiro,
lembra uma auréola ao redor da cabeça. Acho que nunca vi um tom mais
claro de loiro. Seu rosto em forma de coração é objetivamente requintado, a
marca vermelha na testa apenas aumentando sua singularidade.

Naquele momento, ela se move, arrastando-se para a cama, o lençol


deslizando lentamente por seu corpo.

Porra!
Meus olhos se arregalam quando percebo que ela não está usando
nada por baixo. Tinha sido fácil se referir a ela como uma menina até
agora, mas como seus peitos amplos se libertam, seus mamilos enrugam e
chamam a atenção, percebo meu erro.

Ela não é uma garota.

Porra, mas eu não sabia que a pequena senhorita freira teria o corpo
de uma estrela pornô.

Também noto outra coisa. Logo acima do peito, há uma cicatriz


retorcida em forma de cruz. Eu franzo a testa, mas quando meus olhos se
movem sobre o peito dela, vejo mais cicatrizes, algumas menores, outras
maiores, como se ela tivesse sido torturada por anos.

Onde ela conseguiu isso?

Um pequeno som escapa de seus lábios. Suas feições desenhadas em


uma carranca, ela continua se movendo,o lençol deslizando ainda mais.

Eu pisco duas vezes com o inesperado show de strip-tease na minha


frente. Inconscientemente, meus olhos movem sobre sua pele nua, sua
cintura pequena e barriga reta e...

— Cristo, ela ainda pode fazer de mim um crente. — Eu murmuro


baixo, incapaz de acreditar no que estou vendo.
Rolando na cama, ela acaba mais perto de mim, a curva de sua bunda
no ar enquanto geme profundamente na garganta.

Levanto-me, de repente desconfortável com a direção dos meus


pensamentos. Sinto o calor subindo pelas minhas bochechas e tenho que
me sacudir.

Pense em assassinato, mutilação ou quebrar os ossos de alguém.

Escafóide, trapézio, capitato...

Eu cataloguei para mim mesmo os ossos que gosto de quebrar,


encontrando lentamente algum mínimo controle.

Isso deveria ser apenas um teste. Uma maneira de explicar


racionalmente a mim mesmo por que Vanya desapareceria na presença de
Assisi.

Não é um exercício de quão rápido eu posso perder a cabeça.

Amaldiçoando debaixo da respiração, desvio o olhar, concentrando-me


em um canto vazio para reunir meus pensamentos.

Tem que haver uma explicação lógica para isso.


Mas quanto mais penso nisso, mais percebo que deve haver mais para
isso. Não posso resolver um problema de vinte e dois anos em uma noite. E
então eu devo inventar outra coisa.

Assisi está inquieta durante o sono, o farfalhar de lençóis servindo


apenas para me distrair dos meus exercícios mentais, tentando-me a dar
uma espiada nas costas dela.

Infelizmente, não foi para isso que vim aqui.

Mas Vanya não está vendo...

Eu encerrei firmemente esse pensamento, tentando, em vez disso,


elaborar um plano para estudar esse fenômeno com mais profundidade.
Mas, para isso, eu precisaria da ajuda de Assisi. E devo admitir que não fiz
a melhor primeira impressão.

Bem, se ela não estiver disposta, terei que fazê-la ficar disposta.

Agora é apenas uma questão de descobrir o que ela mais quer e dar a
ela.

Evitando olhá-la mais do que o necessário, deixo o quarto, um plano já


se formando na minha cabeça.
— Por quê você está tão interessado nela?— Vanya pergunta do meu
lado. Só poupo um olhar para ela, meus olhos fixos no computador
enquanto vasculho imagens de Sacre Coeur, tudo na tentativa de entender
melhor Assisi. Se eu puder descobrir o que ela mais deseja, posso dar a ela
em troca de sua cooperação.

— Ela é bonita, — eu meio que menti. Não sei por que estou
escondendo a verdade de Vanya, já que não é como se ela fosse realmente
um ser sensível que possa ficar chateada.

— Ela é, — concorda, se aproximando para estudar o rosto de Assisi.


— Mas você nunca se interessou por uma garota antes. Nem mesmo uma
bonita, — diz ela, me prendendo com seu olhar curioso.

— Há uma primeira vez para tudo, certo?— Eu murmuro.

Ela encolhe os ombros, virando a cabeça para assistir as imagens


comigo.

Sacre Coeur só tem câmeras em locais estratégicos, então o vídeo não


me dá muito o que fazer.

Por acaso, porém, vejo Assisi saindo de casa com Catalina e sua filha,
pegando um carro para ir a algum lugar. Meus lábios se enrolam quando
me parabenizo por montar uma tela para rastrear movimentos dentro e
fora da casa de Marcello.

Leva um tempo para rastrear o carro, mas acho que ele está
estacionado em um shopping.

Bem, isso deve ser interessante.

Acabei passando uma tarde inteira assistindo as mulheres


perambularem de loja em loja, tentando manter meu foco enquanto
arquivo todas as informações relevantes.

Como o fato de que ela gosta de azul.

Eu nunca tinha percebido o quão tediosas as compras de mulheres


poderiam ser, mas, para fins de coleta de dados, devo sofrer com isso.

No final, a única coisa digna de nota é a emoção de Assisi em todas as


lojas. Até a coisa mais desinteressante parece chamar sua atenção. O fato
de ela parar para se maravilhar com móveis — móveis chatos e comuns —
me faz querer gemer alto.

Ela até para em uma loja de brinquedos, navegando nas prateleiras e


olhando bonecas e bichos de pelúcia. Ela não consegue tirar os olhos de um
ursinho de pelúcia de tamanho humano. Ela continua andando pela loja,
mas sempre acaba na frente do ursinho de pelúcia, olhando para ele até
que finalmente tenha coragem de tocá-lo.
Espere um momento. Poderia ser o que ela mais deseja?

Bem, isso não foi tão difícil.

Esperando até que ela se vá, eu vou à loja e compro o urso de pelúcia,
convencido de que isso me levará às suas boas graças e a tornará
cooperativa.

Enquanto luto para carregar o enorme urso no meu carro, Vanya


decide fazer uma aparição, franzindo a testa pegando o bicho de pelúcia
nos meus braços.

— Por que você tem isso?— ela pergunta, um olhar de incredulidade


no rosto.

Explico rapidamente a ela que estou tentando impressionar uma


garota, deixando de fora o motivo do porquê estou tentando fazer isso.

— Eu não acredito que você é meu irmão. — Vanya balança a cabeça,


franzindo os lábios e cruzando os braços sobre o peito. — Você pensa que
isso é o que ela mais deseja?

— Sim. Ela continuou admirando na loja. — Eu me explico, um pouco


surpreso com a veemência em sua voz.

Ela estreita os olhos para mim, um olhar de descrença no rosto.


— E porque ela estava admirando, você acha que é isso que ela mais
deseja?

— Exatamente. — Eu respondo, empurrando o urso de pelúcia no


banco de trás do carro.

— Idiota, — ela murmura sob a respiração, e eu me viro para ela,


confuso. — Ela não quer o urso, seu idiota, — continua ela, — ela quer o
que o urso representa.

— O que você quer dizer?— Agora é a minha vez de franzir a testa.

— Ela nunca viveu fora daquele convento, certo? Então ela nunca teve
uma vida normal. Ela quer experimentar o mundo exterior, — diz Vanya,
e com uma respiração abafada, ela entra no banco do passageiro do carro.

Enquanto pondero suas palavras, lentamente me ocorre que ela pode


estar certa. Ela ficou fascinada por tudo, incluindo aqueles móveis
estranhos.

Talvez Vanya esteja certa em alguma coisa.

Faço uma passagemrápida de volta à casa de Marcello, enquanto


remexia sobre o assunto que Vanya havia levantado e como proceder
melhor nesse caso.
Então, como na noite anterior, eu apenas entro no quarto dela e
espero que ela volte. Depois disso, terei que convencê-la de que posso dar-
lhe o mundo se me devolver minha paz.

Não preciso esperar muito, quando a porta do quarto se abre, Assisi


entrando e colocando suas sacolas no chão. Não lhe dou a oportunidade de
gritar, fugir ou ambos. Agarrando-a pela cintura, coloquei minha mão
sobre a boca dela, sussurrando em seu ouvido.

— Shhh, não queremos que seu irmão me encontre aqui.

Marcello provavelmente atiraria primeiro e faria perguntas depois.


Ele certamente não apreciaria que eu estivesse no mesmo quarto que sua
irmã, sozinho. Sua preocupação não é totalmente injustificado, já que eu
sou uma bomba. E embora eu normalmente não ponha em perigo um
inocente, acho que desta vez não posso ficar longe.

Ela luta nos meus braços, seu corpo tentadoramente próximo do meu
tentando encontrar uma abertura para me chutar.

— Pare de se mexer, — sussurro, apertando forte na sua cintura.


Minha palma se move sobre o estômago dela, e não consigo impedir que a
visão de seu corpo nu entre na minha mente.

Porra! Eu preciso manter o foco.


— Se você prometer não gritar, eu vou deixar você ir, — digo,
imediatamente me castigando por correr o risco.

Sua cabeça balança lentamente para cima e para baixo em um aceno


de cabeça, e eu a solto.

Ela não perde tempo colocando distância entre nós, indo até o outro
extremo do quarto.

— O que em nome de Deus você está fazendo no meu quarto?— Ela


pergunta, seus olhos atirando punhais em mim.

— Aghh, — eu geme alto, levantando a mão, — não traga ele para cá!
Não estamos em boas condições.

Ela levanta uma sobrancelha para mim.

— Você percebe que está falando com uma noviça.

— Ex. Parece-me que você abandonou seu hábito. Foi muito


restritivo?— Eu balanço minhas sobrancelhas para ela sugestivamente.

— Eu não sei do que você está falando, — diz ela, com os olhos
brilhando enquanto dá um passo atrás.

— Eu te assusto?— Eu pergunto a ela sem rodeios, aproximando-me


dela, enjaulando-a. Meus olhos se movem sobre o seu peito — seu peito
generoso, já que eu teria que ser cego para não notar aqueles montes
magníficos escondidos por seu vestido odiosamente conservador. Observo a
aceleração do pulso dela. — Eu assusto, não é?

Eu não a culparia por ter medo de mim. Ela não é a primeira e


certamente não a última. Embora isso torne nossa conversa mais difícil.

— Claro que não! Mas você está no meu quarto, sem ser convidado.
Não é apropriado.

— Não me diga que você teme por sua virtude, — eu falo


calmamente, usando um dedo para acariciar sua bochecha.

Seus olhos se arregalam, mas ela não coloca distância entre nós. Ao
contrário, ela levanta o olhar para encontrar o meu, me desafiando
diretamente.

— Eu não temo isso! Eu posso me defender, — ela cruza as mãos


sobre o peito, empurrando seus seios voluptuosos para cima.

Gemo alto, tirando os olhos do peito. Até eu sou apenas um homem, e


seios como o dela são o principal material para colocar um homem em
problemas — mesmo os da variedade monge.

— Você pode?— Eu levanto uma sobrancelha para ela.


— Claro!— Ela mal solta as palavras quando minha mão dispara,
empurrando-a em sua cama, meu corpo em cima dela.

— Por favor, faça, — digo, divertido.

Ela estreita os olhos para mim, mas não perde a calma. Na verdade,
ela parece estar ainda mais composta do que antes.

— Nada?— Minhas sobrancelhas se levantam questionando. — Eu


poderia fazer muitas coisas com você nessa posição. Suponhamos, levante
seu vestido...

Ela não reage à minha provocação. Em vez disso, ela vira os olhos
para mim, seu olhar suavizando.

— Você poderia, — diz ela em um tom ofegante, com a mão subindo


no meu rosto.

Eu franzo a testa, sem entender o que ela está tentando fazer.

Ela sorri brevemente antes de se inclinar para a frente e pressionar os


lábios na minha bochecha.

Dizer que estou surpreso seria um eufemismo. Estou congelado no


local enquanto minha pele absorve esse pequeno gesto.
Inferno, posso contar com uma mão as vezes que alguém beijou de
bom grado minha bochecha.

Mas não tenho mais tempo para me perguntar sobre essa situação
incomum, pois o joelho dela se alinha entre as minhas pernas, me
chutando nas bolas com uma força que me faz ver estrelas.

— Porra, — eu sinto dor, saindo dela e orando a todas as divindades


para que minhas bolas ainda estejam intactas.

— Viu, não desamparada, — ela sorri para mim, tirando as pernas da


cama e se levantando.

— O que você é, alguma freira ninja?— Eu murmuro, minha visão


dobra de dor.

— Eu não sei o que essa palavra significa, mas você precisa sair, —
diz ela, batendo o pé no chão com impaciência.

Respiro fundo, lutando contra a dor.

Essa é uma região em que meus receptores de dor não são embotados.

Me colocando sob controle, levanto-me, colocando meu sorriso mais


encantador. Em vez de fazê-la amolecer em minha direção, faz o oposto
completo.
— Tire esse sorriso do seu rosto, — ela dispara para mim, e estou
momentaneamente atordoado com a sua reação. Mas eu me recupero
rapidamente.

— Com medo de que você se apaixone por mim?— Eu pergunto de


brincadeira, tentando trazer a conversa para um território bobo, mas
confortável.

— Como se fosse possível, — ela bufa. — Vá direto ao ponto. Por que


você está aqui?

— Ora, Assisi, essas freiras ensinaram como dar as boas-vindas tão


calorosas?— Eu deito na cama, descansando nos cotovelos e vendo
aborrecimento aparecer em seu rosto.

— Não, elas me ensinaram a não aceitar nenhuma besteira, — ela


inclina a cabeça para mim, — especialmente do tipo masculino, — diz,
olhando para mim.

Minha boca se enrola. — Ah, a velha misandria. Você sabe, eu tenho


uma teoria sobre freiras e por que elas são tão amargas, — digo devagar, e
noto uma pitada de interesse em suas feições.

— É mesmo?— ela pergunta, seu tom desconfiado.

— Elas só precisam de uma boa foda, — eu dou de ombros


descuidadamente, mas meus olhos estão afiados em sua expressão,
observando qualquer mudança leve. Quando não vejo nada, acrescento
outra coisa, apenas para irritá-la, — mas você provavelmente não sabe o
que isso significa.

A reação é adiada, enquanto as sobrancelhas se unem em confusão


diante de seus olhos se alargarem na realização.

— Seu canalha!— ela exclama, indignada, pegando uma de suas


sacolas e jogando em mim.

— Por quê?— Eu levantei minhas mãos em defesa. — Você sabe que


estou certo!

Ela interpreta a donzela escandalizada muito bem, mas eu posso ver o


leve tremor do lábio superior e a maneira como ela está se esforçando
muito para não sorrir.

— Você pode estar certo, mas você é um canalha por apontar isso, no
entanto, — continua ela, ainda segurando aquele sorriso atrevido.

— Por quê? Porque isso significaria que você também precisa de uma
boa foda?— Eu adiciono antes que eu possa pensar. Sua boca cai em
choque, suas pálpebras se movendo rapidamente para cima e para baixo
como se ela não pudesse acreditar no que eu disse.

Mesmo eu não posso acreditar no que eu disse.


Devem ser os peitos dela. Eles estão me distraindo e me fazendo ter
pensamentos sujos. Não há outra explicação para isso. E quando meus
olhos se abaixam para a subida e descida do peito, tenho que engolir
profundamente.

Seus olhos se enfurecem comigo, e antes que eu perceba, ela me ataca,


com as mãos subindo e descendo na tentativa de me agarrar.

Eu a jogo, imobilizando-a facilmente, mas enquanto ela luta no meu


aperto, rolamos pela beira da cama.

Assisi em cima de mim, minhas costas caem no chão e eu sufoco um


gemido com o impacto.

Ela levanta a cabeça um pouco, me observando com uma carranca.

— Você está bem?— ela pergunta preocupada. Eu mordo um sorriso


quando arquivo outra informação sobre ela.

Apesar de toda sua casca, ela tem um interior macio.

Isso pode realmente ser útil.

— Aghh, — eu fingi grunhir de dor, fechando os olhos e fingindo que


fui ferido.
— Meu Deus! Sinto muito, — ela se mexe em uma posição sentada,
com as mãos indo para os meus ombros inspecionando os danos. — Onde
dói? Juro que não quis te machucar assim, — continua ela tagarelando,
com os olhos revirando sobre a minha parte superior do corpo. Eu
mantenho gemidos falsos, de alguma forma gostando de ser o objeto de sua
preocupação.

Tardiamente, porém, percebo que essa nova posição não ajuda em


nada. De alguma forma, ela acabou me montando, as pernas em ambos os
lados do meu quadril, a pélvis moendo em cima da minha.

Ah, ela tem um núcleo macio de fato.

— Oh não, você está todo vermelho, — continua ela, usando as mãos


para abanar um pouco de ar na minha cara.

— Estou bem. — Eu murmuro, dividido entre mantê-la onde está, ou


movê-la e me controlar.

Ela franze a testa para mim, mas eventualmente assente, se


afastando.

Eu expiro, aliviado e me viro para ajustar minhas calças antes de


poder enfrentá-la novamente.
— Por que você está aqui?— Ela pergunta mais uma vez, seu tom
mais suave desta vez. Ela vira seu olhar curioso para mim, e eu detecto
uma pitada de interesse.

— Eu tenho uma oferta para você. — Eu digo, lembrando-se


mentalmente de parar de antagonizá-la. Eu preciso fazer amizade com ela,
não fazê-la desconfiar de mim.

— Uma oferta?

— Seu irmão é meu amigo, e eu seria negligente se não oferecesse


meus serviços.

— Que tipo de serviços?— Ela arqueia uma sobrancelha, voltando


rapidamente ao seu estado suspeito.

— Como seu irmão está bastante ocupado lutando contra um inimigo


desconhecido, eu decidi cuidar de sua introdução na sociedade, —
acrescento com um sorriso.

Ela não parece convencida quando olha para mim com desconfiança.

— E meu irmão sabe desse... seu esforço?

— Claro que não, — digo, trabalhando meu cérebro por um bom


motivo.
Por que eu não pensei nisso de antemão?

De alguma forma, minhas células cerebrais deixam a conversa quando


se trata dela.

— Você não conhece Marcello como eu. Ele pode ser extremamente
superprotetor. Tenho certeza de que você não gostaria de se afastar de
uma prisão apenas para se encontrar em outra, — paro, procurando nas
feições dela uma reação.

— Continue.

— Eu também tenho irmãs, — tive, — para que eu possa entender a


luta, e é por isso que decidi ajudá-la a se familiarizar com o mundo.

— E o que você ganha?

— Eu posso precisar de um favor ou dois no futuro, — ela me olha


com ceticismo, então eu altero minhas palavras, — nada muito difícil.
Acompanhe-me em um ou dois eventos, — acrescento rapidamente,
explicando que minha posição pode exigir minha participação com uma
data.

Ela assente com cuidado, não totalmente convencida.

— Entendo. Mas por que eu?


— Por que não você?— Eu revido, desta vez permitindo alguma
honestidade, — você não tem medo de mim, como estabelecemos. Nem
mesmo depois do que aconteceu em Sacre Coeur. A maioria das pessoas
não tentariam me atacar no chão, como você já fez. Isso apenas confirma
para mim que você é a pessoa perfeita para o trabalho.

Enquanto digo as palavras, ganho um novo respeito por ela, porque


poucas pessoas me aceitam como ela, ou até ousam me olhar nos olhos. Só
por isso, ela é realmente a única adequada para o trabalho.

— Há algo que você não está me dizendo, — ela estreita os olhos para
mim e eu apenas dou de ombros.

— Você pode aceitar ou pode recusar, — eu minto, a sua recusa está


completamente fora de questão. Mas parece que preciso empurrá-la ainda
mais. — Eu sempre posso encontrar outra pessoa. Você, por outro lado... —
Eu deixo escapar.

Quando sua expressão não se altera, eu me levanto, pronto para sair.

— Espere, — diz ela, e meus lábios se esticam em um sorriso


lânguido.

— Se fizermos isso... — ela acena a mão, — então fazemos do meu


jeito. Nós fazemos as coisas que eu quero fazer.

— Concordo, — eu aceno.
— Bom, — ela responde desajeitadamente, oscilando nos calcanhares
dos pés, subitamente sem palavras.

Trocamos números de telefone rapidamente e digo a ela que entrarei


em contato.

Quando estou prestes a pular pela janela, ela bate nas minhas costas.

— Se vamos ser amigos, você pode me chamar de Sisi, — acrescenta,


de repente não encontrando meus olhos.

— Sisi. — Eu digo a palavra em voz alta, e um pequeno sorriso


aparece em seu rosto. — Vejo você em breve, Sisi.
CAPÍTULO ONZE

O jantar em família tinha sido um assunto interessante, mas achei


difícil me concentrar no que estava sendo dito ao meu redor. Não quando
tudo em que eu conseguia pensar era em Vlad e sua oferta incomum, mas
estranhamente atraente.

Sua presença no meu quarto me pegou de surpresa e por um momento


eu tive medo dele. Não por muito tempo, no entanto. Certamente não
depois que ele abriu a boca. Como ele conseguiu me insultar e me divertir
na mesma frase, não tenho ideia.

Mas ele se mostrou ainda mais intrigante do que eu pensava


originalmente.
Lentamente, deixando de lado meu medo, fiquei curiosa sobre o
motivo de ele tentar chegar ao meu quarto tão sorrateiramente. Sendo
amigo de Marcello, você pensaria que ele usaria a porta da frente, não a
janela.

Nenhuma de suas ações faz sentido, o que, em teoria, deveria me


deixar mais cautelosa. Na prática, no entanto, isso está me deixando mais
interessada nele.

Provavelmente também é a razão pela qual aceitei sua oferta em


primeiro lugar. Não que eu não me importasse de viver um pouco, mas sua
persona parece me intrigar mais do que o mundo exterior.

Eu não sou burra, no entanto. Eu poderia dizer que havia algo que ele
não estava me dizendo. Eu realmente não tinha comprado sua desculpa
frágil de que ele quer fazer um favor para seu amigo ou que ele pode
precisar da minha ajuda no futuro. E mesmo para seus ouvidos, deve ter
soado falso demais.

Ainda assim, com ele ocupando minha mente por tanto tempo, eu
apenas aproveitei a oportunidade para saber mais sobre ele.
Especialmente considerando a sua dualidade, a maneira como ele parecia
mais animal do que o homem em Sacre Coeur, ou a maneira como ele se
sentia muito homem debaixo de mim.

Um rubor envolve minhas feições, pois me lembro de como isso era ou


como ele parecia envergonhado pela resposta de seu próprio corpo.
A internet tem uma riqueza de informações e, pelo que li, ele é tudo
menos indiferente para mim.

Deveria me assustar, esse sentimento estranho que parece ter se


alojado no meu corpo. Mas enquanto sinto alguma apreensão desde que eu
não conheço Vlad tão bem, quero remediar isso.

Tocando na tela do meu telefone, espero ansiosamente o texto dele, já


que ele prometeu me levar a algum lugar hoje à noite.

Meu telefone toca e sou rápida em abrir o texto.

Abra a janela.

Sim, olhando para o gramado onde Vlad está acenando para mim,
franzindo a testa, olho em volta, pois tenho certeza de que Marcello
aumentou o número de guardas em casa recentemente.

—Pule, — ele fala comigo, usando os dedos para apontar para o chão.

— Como?— Eu falo de volta, observando enquanto ele pega o telefone


para mandar uma mensagem.

Pule! Eu vou te pegar.

Li o texto duas vezes, olhando entre meu telefone e Vlad e levantando


uma sobrancelha para a ideia ultrajante.
Vendo o ceticismo escrito no meu rosto, ele me manda outra
mensagem.

Prometo pegá-la. Confia em mim?

Inclino minha cabeça para o lado, olhando para ele por um momento.
Ele tem um sorriso convidativo no rosto, como se estivesse me desafiando a
pular, pronto para zombar de mim, se não o fizer.

Respirando fundo, subo minha saia e subo pela janela, minha cabeça
já girando enquanto olho para a distância entre meu quarto e o chão.

— Vamos lá, — diz ele, com os braços abertos, as mãos apontando


para ele.

Eu acho que é agora ou nunca.

Sem insistir muito, fecho os olhos e tiro as mãos do peitoril da janela,


jogando-me para a frente e nos braços de Vlad.

Meu pouso não é o que eu esperava. Fiel à sua palavra, os braços de


Vlad se aproximam de mim, me apertando firmemente em seu abraço.

Nossos rostos estão a milímetros de distância, e quando olho para


aqueles olhos negros, tudo o mais desaparece.
— Opa, — ele sussurra, balançando um pouco antes de voltar e cair,
comigo em cima dele.

— Eu não deveria ter o hábito de cair em cima de você, — sussurro,


meu pulso acelerando quando sinto o calor emanando de seu corpo.

— Da próxima vez você pode cair debaixo de mim, — ele pisca para
mim, e levo um momento para perceber o que ele quer dizer.

— Você... — Eu aperto meu punho, pronta para limpar o sorriso de


seu rosto, quando ouço um barulho repentino.

Vlad também, porque seus traços mudam imediatamente, sua


expressão divertida foi substituída por uma séria.

Rapidamente me ajudando a me levantar, ele não perde tempo em me


jogar por cima do ombro e correr na direção oposta do barulho.

Ele para na frente de um carro, me colocando no capô. Seus braços se


instalaram para ambos os lados, ele me dá um sorriso torto.

— Foi por pouco. — Eu digo, quase sem fôlego. — Espero não ter que
pular pela janela todas as vezes.

— E perder de cair nos meus braços? Por que não?— Ele responde,
divertido.
Balanço a cabeça, empurrando o seu ombro e pulando.

Ele abre a porta para mim, me convidando para dentro.

— Estou surpresa que você tenha boas maneiras. — Observo com


secura quando ele fica atrás do volante, apertando o cinto de segurança.

Cabeça inclinada para o lado; ele me dá uma aparência perigosa.

— No momento em que esquecer minhas maneiras, — ele começa, seu


tom sombrio, — você corre.

Eu pisco duas vezes, surpresa com a rápida mudança em sua


disposição.

— Foi o que aconteceu em Sacre Coeur?— Eu pergunto, curiosa.

Ele franze os lábios e, por um momento, não parece inclinado a


responder à minha pergunta. Mas então vejo um aceno quase
imperceptível.

— Se isso acontecer novamente, você precisa fugir o mais longe


possível de mim, — diz ele, e uma risada me escapa. Ele não compartilha
do meu sentimento, seus traços ainda são graves.

Ele não está brincando.


Eu imediatamente fiquei sóbria, e um milhão de perguntas passam
pela minha cabeça.

— Você está... doente?— Eu tenho coragem para perguntar.

Uma risada seca escapa dele, seus olhos ainda focados na estrada.

— Eu... Eu gostaria. Pelo menos uma doença tem uma causa... e uma
cura. O que eu tenho, não.

— Eu não entendo, — respondo, franzindo a testa com suas palavras


enigmáticas.

— Não cabe a você entender Sisi. Na maioria dos dias eu também não
me entendo, — ele sorri com tristeza. — Mas já tive tempo suficiente para
entender o fato de que talvez nunca esteja bem.

— Quanto tempo você tem essa... condição?

— Condição... Essa é uma maneira interessante de dizer isso. Quem


sabe, talvez eu sempre tive. Não me lembro de uma época em que eu era
diferente. Ficou progressivamente pior ao longo dos anos.

— Dói?

Ele me poupa um olhar.


— Não para mim. — Ele afirma, e eu me lembro da maneira como
seus olhos ficaram vidrados, como suas mãos estavam prontas para acabar
com minha vida. Exceto que ele não tinha.

— Você ia me matar, não ia?— Eu empurro, vendo isso como uma


abertura para aprender mais sobre ele.

— No entanto, eu não fiz, — ele responde ambiguamente.

— Por quê?

Ele não responde por um momento. Ele se vira lentamente em minha


direção, com os olhos claros, o olhar perspicaz.

— É isso que estou tentando descobrir.

Não falamos por mais tempo. Eu tento lidar com o que ele acabou de
me dizer, e um calafrio envolve meu corpo.

Não foi isso que a cativou em primeiro lugar? A pura selvageria


escondida atrás do traje caro.

Se eu for honesta comigo mesma, foi exatamente isso que me atraiu


para ele. O fato de ele ser homem e animal, humano, mas não totalmente
humano. Há algo dentro dele que poderia me esmagar em um segundo.
Enquanto eu o olho, fico mais uma vez impressionada com a maneira
como seus músculos se contorcem, como se ele estivesse tentando evitar
explodir a qualquer momento. Mesmo quando sua brincadeira está no seu
melhor, ainda há uma tensão que irradia dele.

Também está ficando mais claro que estou cortejando o perigo por
estar com ele. No entanto, por que não consigo me importar?

Talvez porque eu veja nele o que tentei muito superar em mim


mesma. Violência que pede para ser libertada, sangue exigindo ser
derramado.

Estou em um ponto em que tenho que me perguntar se sou o que sou


porque fui condicionada, sendo chamada de mal a vida toda. Ou se
simplesmente sempre fui assim, e algumas pessoas perceberam
astutamente antes que minha maldade se manifestasse.

Eu me pergunto... O que ele diria se soubesse que sou uma assassina?

De alguma forma, eu acho ele não piscaria um olho.

— Você já matou alguém?— Eu pergunto, meus olhos no seu perfil.


Quanto mais olho para o rosto dele, mais absorvida me encontro em suas
micro expressões — as ensaiadas e as espontâneas.

Seu lábio se levanta e ele ri.


— Alguém? Defina alguém.

— Uma pessoa? Duas?— Se ele está na máfia como meu irmão, ele
pode ter cometido crimes.

Quase ri de mim mesma quando percebo que não por muito tempo
estava adorando a Deus em sua própria casa, e agora estou tolerando todos
os tipos de crimes.

— Um?— Ele se vira para mim, sua expressão de descrença. — Sisi,


você me feriu, — ele finge uma expressão de mágoa.

— Então quantos?

— Você tem certeza que quer saber? Você pode correr para as colinas.
— Ele diz, mas eu persisto, pensando que não pode ser tão ruim assim.

— Conte-me.

— Não posso dizer que contei, — ele se vira para mim um pouco,
como se estivesse esperando para ver minha reação, — mas deve estar em
algum lugar entre os milhares, — ele encolhe os ombros.

Eu olho. De boca aberta. Eu apenas olho para ele, esperando ele dizer
que era uma piada.

Quando ele vê que eu não estou reagindo, ele encosta.


Virando-se totalmente em minha direção, seus lábios estão
desenhados em uma linha apertada.

— Não tente dar desculpas para mim, nem me transforme em algo


que não sou, Sisi. — Ele diz, com os dedos debaixo do meu queixo e
empurrando-o para cima, forçando-me a olhar nos olhos dele. — É melhor
se entrarmos nisso com algum grau de transparência. Eu sou um
assassino de sangue frio. Eu não preciso de um motivo para matar. Apenas
mato. Então, da próxima vez que me ver com raiva, você corre. Porque não
posso prometer que você não será a próxima.

— Você está tentando me assustar. — Eu sussurro, meu lábio


superior tremendo.

— Está funcionando?

Eu balanço minha cabeça. Não sei porquê. O meu lado racional sabe
que eu deveria estar com medo. Eu deveria ter ficado assustada no
momento em que ele me pegou pela garganta, meus pés no ar, seus olhos
sem emoção enquanto olhava para mim. Ele poderia facilmente ter
quebrado meu pescoço.

— Deveria, — ele se aproxima, e eu sinto sua respiração contra a


minha. Meu pulso acelera, meus olhos caem dos olhos dele para os lábios.
— Eu deveria te assustar, Sisi. Eu deveria te aterrorizar, — ele raspa, mas
não estou prestando atenção às palavras dele. Só consigo ver como seus
lábios se movem, sua língua se esgueirando para molhar a parte inferior,
os dentes brancos e retos, o sonho da outra noite me fazendo cerrar minhas
coxas com desconforto enquanto me lembro de sua mordida dolorosa na
minha pele.

— Como... você me mataria?— Eu levanto meu olhar para ele,


engolindo com força vendo exatamente o que ele quer que eu veja — um
assassino sem emoção.

— Por quê?— Sua voz é grossa, seu olhar inabalável.

— Diga-me, — incito, um desejo doentio se formando dentro de mim.

Muito tempo gasto no cemitério deve ter confundido meu cérebro.

A mão dele vem até o meu rosto, escovando a franja da minha testa.

— Gosto de tomar banho em entranhas humanas, — diz ele com a


cara séria. — Quanto mais sangrento, melhor. Mas para você, eu abriria
uma exceção, — comenta ele, e eu franzi a testa. Seus dedos acariciam
minha marca de nascença antes de descer para minha bochecha e pescoço.
— Eu não colocaria uma única marca no seu corpo.

Confusa, estou prestes a abrir a boca e perguntar o que ele quer dizer.
Mas assim que meus lábios se separam em uma pergunta, um dedo me
cala, sua boca passando pela minha orelha.
— Injeção letal. Você estaria morta em minutos. Então eu
embalsamaria seu corpo e manteria você apenas para os meus olhos, —
seu zumbido baixo faz os pelos do meu corpo se levantarem.

Ele está falando em me matar e manter meu cadáver, e a única coisa


que estou sentindo é um formigamento intenso na minha barriga.

— E o que você faria com o meu corpo?— Eu pergunto em um tom


ofegante.

O canto da sua boca se levanta, mas não responde. Em vez disso, ele
se desvia com uma pergunta própria. — O que eu faria de fato? Diga-me,
Sisi, o que você acha que eu faria?

Não posso responder, mesmo que no fundo eu saiba. Só posso olhar


naqueles olhos perversos, intoxicada pela depravação que vejo lá.

Eu jamais fui feita para ser freira.

Não quando estou ficando excitada pensando que esse homem


perigoso me mataria... e me manteria.

— Ainda não está assustada?— ele pergunta, suas sobrancelhas


erguidas com expectativa.

Balanço a cabeça, o movimento mais breve quando um sorriso se


espalha em seu rosto.
— Você me surpreende, hell girl, — ele sussurra. — Você quase
parece que está falando sério.

— Hell girl?

— A única coisa santa sobre você, Sisi, é o seu nome. O resto... — ele
deixa escapar, os olhos flutuando para o meu peito.

Uma respiração prende na minha garganta por sua leitura. Tenho


uma súbita vontade de pegar a mão dele e pressioná-la na minha pele.

— Você é mau. — Eu consigo dizer em voz alta.

— É bom que você acredite nisso, — ele fala lentamente, pegando


minha mão e abre meus dedos. Ele abaixa os lábios até as pontas, o calor
de sua boca enviando um arrepio pelo meu corpo, — me avise quando
estiver com medo.

— Por quê?

— O medo tem um gosto melhor, — ele ronrona, me dando um sorriso


malandro, os dentes brilhando, e eu tenho um repentino flashback do meu
sonho e dos dentes manchados de sangue.
Vlad estaciona o carro, vindo para abrir a porta para mim. Colocando
minha mão na dele, deixei que me levasse pelas ruas escuras e
iluminadas, os sons altos da cidade contribuindo para uma atmosfera
barulhenta.

Mesmo agora, à noite, as pessoas estão andando pelas ruas,


desfrutando da liberdade de se perder na multidão.

— Uau, — expiro quando vejo as luzes piscando.

— Presumo que isso tenha passado do seu toque de recolher regular,


— ele brinca enquanto caminhamos pela rua, simplesmente apreciando o
ar da noite.

— Ah sim. — Eu concordo prontamente, — mas nunca me importei


com isso antes. Quando você trabalha do amanhecer ao pôr do sol, tudo o
que você quer fazer é rastejar para a cama e dormir.

Ele franze a testa, virando um pouco em minha direção.

— Eu não sabia que as freiras trabalhavam tanto, — diz ele, pegando


minha mão e colocando-a no cotovelo.
— Uma em particular sim. — Eu murmuro baixinho, já que tenho
quase certeza de que fui a única que teve que trabalhar quase o dobro das
horas.

Ele levanta uma sobrancelha, mas eu apenas dou de ombros.

— Não acho que Sacre Coeur seja conhecido por suas justas condições
de trabalho, — acrescento brevemente, antes de comentar. — Estou
surpresa quenão tenha guardas com você, — tudo na tentativa de mudar o
foco de mim.

A última coisa que preciso é que alguém tenha pena de mim por tudo
o que aconteceu lá. Já aconteceu e não é como se eu pudesse mudar o
passado. E certamente, eu nunca gostaria de ser vista como uma vítima.

— Por que eu precisaria de guardas?

— Meu irmão exige que Lina tenha pelo menos cinco guardas com ela
o tempo todo. Eu assumi que, com vocês, — eu olho em volta antes de me
inclinar para sussurrar, — estando nesse negócio de máfia, não seria
seguro apenas passear sem vigilância.

— E ainda aqui está você, — ele sorri, — andando comigo sem


vigilância.

— É diferente, — digo antes que eu possa pensar.


— Diferente como?— Ele inclina a cabeça para o lado, aguardando
minha resposta.

Você me faz sentir segura.

Mas eu não digo isso.

— Você disse que é um assassino de sangue frio, — respondo com


meio sorriso, — estou disposta a apostar que as pessoas raramente
enfrentam você?— Eu olho para cima e o vejo me olhando divertido, o
canto da boca se curvando.

— Você estaria correta. As pessoas seriam tolas por me atacar, — ele


concorda. — Mas, ao contrário do resto, — ele simula minhas ações,
inclinando-se para sussurrar em meu ouvido, — mafiosos, — antes de
endireitar as costas novamente: — Eu tenho uma certa reputação que
mantém as pessoas longe de mim.

— Mesmo?— Eu pergunto, embora o que eu realmente queira dizer


seja conte-me mais.

— Eu tenho um guarda que uso às vezes para manter as aparências,


embora se você estiver por dentro, — ele sorri, desabotoando a manga da
camisa para me mostrar seu pulso e o desenho que está gravado em sua
pele.
Surpresa, eu me inclino mais perto, meus dedos traçando a tinta. No
meio, há um crânio humano empalado em uma cruz. Há apenas um olho
na órbita, bem aberto e olhando para mim. Uma balança da justiça é
equilibrada em ambos os lados da cruz, um lado branco e o outro preto.

Seus músculos ficam tensos quando as pontas dos meus dedos se


movem lentamente sobre a superfície, e eu olho para cima e o encontro
estudando comigo também, uma carranca no rosto.

— O que isso significa?

— Retribuição, — diz ele, com uma expressão dura, — olho por olho.

— Como isso funciona?— Eu pergunto, curiosa.

— Ação e reação, — ele cobre minha mão com a dele. — Neste mundo,
nenhuma boa ação fica impune.

— E as pessoas reconhecem a tatuagem? — Ele assente, puxando


minha mão para a curva do cotovelo mais uma vez.

— As pessoas espalham histórias. É fácil distorcer a verdade quando


seu nome está nos lábios de todos. Certamente, ganhei minha reputação.
Mas há algumas coisas que até eu acho desagradáveis, — ele torce o rosto
com nojo.
— Sério? Como o quê?— Minha voz sai um pouco ofegante e sou
incapaz de afastar a emoção da minha voz.

Vlad parece como essa pessoa maior que a vida, e sua personalidade
enigmática só está me fazendo querer saber mais sobre ele.

Um sorriso toca em seus lábios. — Há um boato de que coleciono os


órgãos das minhas vítimas e que tenho uma coleçãoescondida no meu
porão.

— Deixe-me adivinhar, não é verdade?

— Não exatamente. Eu precisaria de muito formol. Eu posso ter


mantido alguns, ocasionalmente, mas apenas para fins científicos. — Ele
diz, parecendo relembrar uma lembrança agradável.

— O quê mais?

— Hmm, — ele olha pensativo, — há um boato de que eu só como


carne humana.

— Você come?— Eu chio, a resposta inesperada.

— Eu não sou particularmente afeito a isso, não. Mas não posso dizer
que não tentei antes.
— Uau, — expiro, atordoada. — Então você está dizendo que, por
mais loucos que sejam os rumores, ainda há alguma verdade neles.

— Não é essa a natureza dos rumores? Sempre há alguma verdade,


mas você nunca sabe apenas quanto.

— Entendo. — Eu aceno com atenção.

— Assustada?— Sua respiração abana meu rosto enquanto ele


sussurra no meu ouvido.

— Não, — eu me viro para ele, tão perto que quase posso tocá-lo, —
mas toda essa conversa sobre carne humana me deixou com fome. Agora, a
menos que você planeje me pegar o jantar, sugiro que me leve a algum
lugar para comer. — Eu digo suavemente, vendo suas pupilas se dilatando,
seus lábios puxando para cima.

— Agora, não podemos ter fome, podemos?— ele pronuncia, divertido,


me levando por uma avenida lotada.

— Qualquer preferência?— Ele pergunta quando os restaurantes


aparecem nos dois lados da rua.

Como não estou muito familiarizada com a comida do restaurante,


deixei que ele decidisse por mim. Ele vai até uma hamburgueria, me
dizendo que é algo que eu devo tentar. Entramos e, como tudo parece bom
para mim, também o deixei pedir.
— Oh meu Deus, — digo, minha boca cheia, quando finalmente como.
Essa coisa de hambúrguer é positivamente divina. — Ótima escolha, —
acrescento, fechando os olhos e apreciando o sabor.

Há tanta carne e o sabor está explodindo na minha língua. Eu nem


percebo quando um gemido me escapa.

Meus olhos se arregalam e eu rapidamente olho em volta,


envergonhada.

— Ninguém ouviu. — A mão de Vlad chega à minha boca, limpando


um pouco de molho, — mas eu sim, — diz ele, me dando um sorriso
travesso.

— É bom demais. — Eu digo, empurrando a mão dele para o lado.

— Eu concordo, — ele traz o dedo para a boca, a língua saindo


furtivamente e provando o molho. O seu olhar no meu, sinto-me
hipnotizada com o gesto.

Tão perdida que estou nos olhos negros, que fico assustada com a
garganta contraindo um soluço.

Minha mão voa para a minha boca, meu constrangimento


aumentando. Vendo que meus soluços não param, Vlad empurra um copo
de água na minha frente. Agarrando, eu engulo de uma só vez.
— Calma, — ele pronuncia, um sorriso lânguido no rosto.

Seus olhos estão afiados quando seu olhar muda de mim para o resto
do restaurante e, pela primeira vez, observo que ele nos sentou de costas, à
vista da entrada.

Seu sorriso não vacila, quando se vira para mim, sua voz baixa e
grave.

— Ao meu sinal, você fica atrás da mesa.

Olho para ele, curiosa, mas aceno.

Um homem caminha em direção à parte de trás e Vlad lentamente se


orienta para a direita, estendendo as pernas longas pelo corredor para
bloquear o caminho do homem.

Tudo acontece em câmera lenta, mas como vejo um ponto de aço


brilhando nas calças do homem, Vlad me dá um tapinha, empurrando a
mesa rapidamente. Sei que esse é o meu sinal, então me inclino, me
escondendo atrás da mesa.

Pelo canto do olho, vejo Vlad chutar a perna do homem, tropeçando


prontamente nele. O homem tenta lutar, mas Vlad é muito rápido quando
sua mão segura a arma, tirando-a das calças do homem e jogando-a para
mim.
— Apenas no caso. — Ele pisca para mim, usando a palma da mão
para chutar a mandíbula do homem até se contorcer de dor no chão.

Mais barulho da frente da loja e quando me viro para ver o que está
acontecendo. Os outros clientes estão deixando o restaurante, com exceção
de quatro homens. Eles se levantam de seus assentos, todos apontando
suas armas para Vlad.

— Petrovic, — um homem fala. — Sabemos que você o tem e


precisamos dele de volta, — suas palavras são empolgadas, seu sotaque é
estrangeiro.

— Bem, venham buscá-lo, — diz Vlad, abrindo os braços em convite.

Eu me viro para ele, estupefata por fazer algo assim, especialmente


porque ele está em um campo aberto com homens apontando suas armas
para ele, diretamente.

De repente, com medo de sua vida, fecho minha mão sobre a arma,
sentindo a prata fria debaixo da palma da mão. Um arrepio de emoção
passa por mim enquanto eu a examino.

— A segurança está destravada. — A voz de Vlad toca no meu ouvido,


— basta pressionar o gatilho. Mas não para mim, por favor. — Ele tem a
ousadia de brincar, mesmo agora, quando os homens estão vindo em sua
direção.
Minha boca se abre em um aviso quando vejo movimento, um
apontando para Vlad com sua arma. Mas ele não está nem um pouco
preocupado.

Em vez disso, passando uma bandeja de prata de uma mesa próxima,


ele a segura, a bala se conectando ao metal e a amassando na tentativa de
quebrar o material.

O que?

Mais balas voam, e eu assisto com admiração quando Vlad usa o prato
como escudo, impedindo todos os seus tiros.

Uma breve pausa, e eu os vejo tentando recarregar suas armas. É o


suficiente para Vlad abandonar o escudo, usando-o como um disco de
arremesso para apontá-lo para a garganta de um homem. Ele se move
mais rápido do que qualquer um que eu já vi quando ele chuta uma mesa,
quebrando as pernas e enviando-as voando em direção aos homens.

É uma cacofonia de sons enquanto eles continuam disparando mais


tiros, e Vlad se defende com nada além de suas próprias mãos e o que quer
que ele encontre ao redor.

Apertando meu domínio na arma, levanto minha cabeça levemente,


procurando o homem mais próximo. Levantando o cano, rezo para que meu
objetivo não esteja errado e aperto o gatilho. Meu tiro o atinge em seu
intestino, a mão indo para o estômago e segurando a ferida aberta.
Enquanto meu esforço para ajudar prova ser bem-sucedido, agora os
outros me olham, mudando o foco de Vlad para o meu esconderijo.

Vlad faz um som tsk, parecendo quase entediado, antes de agarrar


minha mão e me puxando sem esforço para os meus pés e para os braços
dele.

— Sedenta de sangue, — ele sorri, — eu gosto, — ele comenta antes


de me girar, sua frente se encaixar nas minhas costas, seu braço
abraçando o meu enquanto acaricia a mão segurando a arma, colocando
firmemente o dedo em cima do meu.

Um giro, e ele aperta o gatilho, atingindo o alvo no rosto. Outro giro e


ele evita uma bala que chega, inclinando-se para trás para atirar em outro
homem.

Três para baixo, mais dois pela frente.

Os outros, vendo como suas armas são inúteis, as abandonam em


favor dos punhos.

— Aguente firme. — Ele sussurra no meu ouvido quando um homem


nos ataca. Colocando a mão debaixo da minha bunda, ele me balança,
apontando minhas pernas abertas para o homem à nossa frente.
— Chute, — diz ele, e só posso obedecer, empurrando meus pés no
rosto do homem até que ele cambaleia para trás. Mais um empurrão e ele
está fora, a cabeça colidindo com a borda de uma mesa.

Vlad me gira, uma mão em volta da minha cintura, a outra agarrando


uma faca de uma mesa próxima. Sem esforço, ele o move para frente e
crava os olhos do último homem.

Enquanto o homem se contorce de dor, a mão vai para o olho


machucado, o sangue começa a acumular em seu rosto. Deixando-me ir,
Vlad pega outra faca, mergulhando-a no pescoço do homem, abrindo a
carne e observando como mais sangue flui livremente de seu corpo.

O lábio superior de Vlad se contrai e suas pupilas se dilatam quando


seus olhos se aproximam do sangue. Ele está em transe quando leva a mão
para a garganta do homem, cobrindo a palma da mão com sangue e
olhando com reverência.

Sentindo a mudança nele e lembrando o incidente em Sacre Coeur, me


movo rapidamente. Agarrando o seu braço, eu o viro, minhas mãos
emoldurando o rosto dele para que ele me olhe nos olhos.

Observo a palidez de sua pele e a maneira como seus olhos negros se


assemelham a um poço de piche. Ele pisca duas vezes, olhando para mim
sem nenhuma pitada de reconhecimento em seu olhar.

Estou muito atrasada?


Nem tenho medo, pois continuo implorando com meus olhos. Mesmo
sabendo do que ele é capaz, não desejo correr ou me esconder.

— Volte, — sussurro, — volte para mim.

Ele inclina a cabeça para o lado, estudando-me como um predador,


com os ouvidos zumbindo ao som das minhas palavras. Ainda assim, ele
parece não me entender ou perceber o que está acontecendo ao seu redor.

Incapaz de afastá-lo, faço a única coisa em que consigo pensar.

Eu me levanto na ponta dos dedos dos pés e, ao mesmo tempo,


aproximo o rosto dele do meu. Ainda segurando suas bochechas, eu franzi
os lábios e os pressiono nos dele.

Ele não reage.

Sem me deixar abalar, aplico mais pressão, empurrando-o até que


meus lábios estejam pressionados firmemente contra os dele. Sua boca é
macia, um contraste com a sua dureza, especialmente agora que ele parece
estar entrando em território de raiva assassina.

Segurando a respiração, mantenho meus lábios nos seus o máximo


que puder antes de perceber que estou sem oxigênio. Engasgando
enquanto encho meus pulmões de ar, minha boca se abre um pouco em
cima da dele e, pela primeira vez, recebo uma reação.
Seu lábio superior treme levemente, mas ele responde ao meu beijo,
escovando a boca levemente sobre a minha.

É surreal quando abro os olhos e observo as mudanças em seu


comportamento. A vida volta ao seu rosto, com a cor infundindo suas
bochechas quando elas imediatamente ficam vermelhas.

Do nada, suas mãos agarram meus ombros, me empurrando para fora


dele, suas sobrancelhas apertadas em uma carranca.

— O que você está fazendo?— Ele pergunta, sua voz áspera.

— Tentando ajudá-lo?— Eu lhe dou um sorriso tímido que ele retorna,


mesmo em seu estado chocado.

— Ahh, o beijo da vida, — ele ronrona, de repente de volta ao seu


antigo eu. — Por mais que eu adorasse mais disso, deveríamos sair antes
que os policiais chegassem aqui. — Ele observa exatamente quando
ouvimos as sirenes à distância.

— Você se saiu bem, hell girl, — ele elogia quando entramos no carro,
— você se saiu muito bem.

Eu me envaideço com suas palavras, escondendo um sorriso satisfeito.


— Você disse que as pessoas não o atacariam. — Acrescento, composta
de maneira incomum, considerando que acabamos de ser baleados e Vlad
provavelmente matou alguns dos homens.

— Eles eram tolos, — ele ri, — mas não posso dizer que não gostei do
exercício. — Ele se estende em seu assento, e meus olhos caem no bíceps.

Desde a primeira vez que o vi, Vlad só estava vestido com um terno
preto. Agora que o blazer está fora, tenho uma visão melhor de seus
músculos grandes e me lembro com que facilidade ele havia despachado
aqueles homens. Mesmo comigo ao seu lado, ele vagava sem esforço, tudo
mais como uma brincadeira do que realmente era — uma situação de vida
ou morte.

Não pela primeira vez, digo a mim mesma que devo me sentir
diferente sobre isso... sobre ele. Há tanta violência e brutalidade sob sua
fachada polida, tudo esperando para ser desencadeado. No entanto, não
posso me ajudar. Como uma mariposa nas chamas, essa sua volatilidade
só está me atraindo, me fazendo querer saber tudo sobre ele.

Se antes meu lugar no inferno tivesse sido garantido, com Vlad ao


meu lado, ele será personalizado para um verdadeiro inferno.

— O que teria acontecido se... se você tivesse perdido seus bons


modos?— Eu pergunto, usando o eufemismo que ele sugeriu.

Ele franze os lábios, os olhos na estrada enquanto acelera na noite.


— Eu teria destruído todo mundo, — afirma ele sem rodeios.

Estou em silêncio por um momento.

— Incluindo eu?

Ele me poupa um olhar, sua expressão se fechou, mas há uma pitada


de curiosidade quando me considera.

— Eu não sei, — ele admite. — Ninguém nunca escapou com suas


vidas intactas quando eu... ahm, perdi meus modos, — diz ele meio
divertido.

— Eu escapei. Duas vezes, — observo.

— Você escapou, — ele estreita os olhos para mim, — e estou ansioso


para descobrir porquê.

— Talvez tenha sido meu beijo mágico, — eu brinco, rindo.

— Então talvez você deva fazê-lo novamente, — ele mexe as


sobrancelhas e eu lhe dou uma cotovelada no braço.

— É assim que você me agradece por ajudá-lo? Aproveitando minha


da bondade?
— É isso que foi lá atrás?— Ele pergunta, sua voz profunda me
fazendo tremer. — Apenas bondade?

Colocada contra a parede, viro o olhar para a estrada, incapaz de


pensar em uma resposta apropriada.

Porque não tinha sido apenas bondade. Tinha sido muito mais.
CAPÍTULO DOZE

Eu espero que ela responda, querendo queme dissesse que não era
apenas bondade.

Imagine meu choque quando eu despertei, apenas para sentir lábios


macios pressionados nos meus, o perfume intoxicante de seu corpo
invadindo minhas narinas.

Isso nunca aconteceu antes. Nunca sai de uma das minhas fúrias
como hoje, e é tudo por causa dela.

Eu dou uma olhada nela e, pela milésima veze, tenho que me


perguntar por que só estar com ela há algumas horas e já me sinto mais
em paz do que em anos.
Talvez seja porque Vanya não está por perto, invadindo meu espaço e
me responsabilizando por tudo o que acontece ao meu redor. Pela primeira
vez, sou apenas eu.

E ela.

Porra, e aquele beijo que não foi realmente um beijo, mas mais um
selinho... Mesmo agora, pensando nisso, eu só quero fechar meus olhos e
incorporá-lo em minha memória.

Ela não percebe que estar tão perto dela foi o mais próximo que eu já
estive de outro ser humano... nunca. Ela é ousada e aberta com seu toque,
às vezes sua mão alcançando a minha sem que ela perceba.

Isso me choca.

Isso me encanta.

Acho que nunca senti a ausência de toque até que ela decidiu entrar
na minha vida e virar de cabeça para baixo. O que um homem deve fazer
quando de repente se depara com todas as coisas que nunca teve, tudo ao
seu alcance?

Pegue. Pegue e pegue egoisticamente.


Mas a coisa mais bizarra é a fácil aceitação dela por mim. Ela não
ficou chocada nem assustada quando tantos antes dela me evitavam e me
isolavam, com medo de ser o ímpeto final de suas ações.

Não no caso dela.

Tão acostumado que cresci com outras pessoas aterrorizadas comigo


que tenho que perguntar continuamente se ela ainda está assustada,
preocupado que possa chegar um momento em que eu seria demais e ela
apenas... desaparecesse.

Não, isso está fora de discussão.

Vou mantê-la ao meu lado, mesmo que eu tenha que lutar com ela, ou
Marcello e um exército inteiro. Eu já tinha decidido isso quando estava no
seu quarto, mas hoje à noite apenas solidificou minha decisão.

Além disso, se ela está lá para parar meus blecautes, também está
ajudando outras pessoas, já que eu não vou mais matar tantos. Do jeito
que eu vejo, é uma situação em que todos saem ganhando.

Satisfeito com minha linha de pensamento, um sorriso puxa meus


lábios.

— Do que você está sorrindo?— Ela pergunta, parecendo toda


suspeita, com os braços cruzados sobre o peito... Meus olhos já estão
seguindo outro caminho etenho que me sacudir para me concentrar na
estrada.

— Eu?— Eu finjo inocência, mas vendo-a fazer beicinho para mim,


aqueles lábios cheios exigindo toda a minha atenção, não posso me ajudar.
— Quando eu perder minhas maneiras da próxima vez, você vai me beijar
de novo?

Seus olhos se arregalam e ela pisca rapidamente, olhando para mim


como se não tivesse me ouvido.

— Se for preciso, — ela murmura, um pouco baixo demais, mas é todo


o incentivo que preciso para parar o carro.

— O que... — Ela segue enquanto me vê abrir um pequeno


compartimento, pegando um conjunto de facas e testando cada lâmina
antes de escolher uma. Quando estou prestes a cortar meu braço, ela me
para, com a mão cobrindo a minha tentando arrancar a faca de mim.

— Você é louco. — Ela murmura, tirando com força meus dedos da


faca. — Por que você faria isso consigo mesmo?

— Então você pode me beijar de novo, — respondo honestamente.

Ela me considera curiosamente, tirando todos os objetos pontiagudos


da minha proximidade e os coloca de volta no compartimento.
— Você gostou muito?— Ela pergunta, abaixando o olhar enquanto
um rubor envolve suas bochechas.

— Foi legal. — Eu encolho os ombros.

Seus olhos brilham imediatamente para mim e, por algum motivo, sei
que disse algo errado.

— Legal?— Ela pergunta, as sobrancelhas disparando, — legal, —


ela repete entorpecidamente.

Eu aceno. Talvez não tivesse sido legal para ela? Eu não pensei nisso.
E se ela tivesse feito isso no calor do momento e depois se arrependesse? E
se ela não gostasse? Eu sei que não sou tão feio. Bianca costumava me
dizer que eu podia pegar alguém se eu não fosse tão psicopata. Não sei
exatamente o que ela quis dizer, mas presumo que ela estava me
elogiando.

— Apenas legal?— Ela pergunta com descrença, enfatizando a


palavra legal como se tivesse uma conotação negativa.

Ahh, entendo.

Eu devo ter ofendido suas sensibilidades femininas.

— Bem, — começo, e pela primeira vez me sinto um pouco inseguro,


— não tenho nada para comparar, mas sei que os beijos envolvem um
pouco... mais, — dou a ela um dos meus sorrisos encantadores. —
Podemos tentar melhorar da próxima vez, — eu a tranquilizo
rapidamente.

Posso não ter experiência direta, mas já testemunhei beijos suficientes


para saber que eles envolvem mais do que apenas lábios tocando.

Por um momento ela não fala. Ela só me considera de olhos


arregalados, e temo ter dito algo errado. Novamente.

— Você nunca beijou ninguém antes?— Ela pergunta, confusa.

Inclino minha cabeça para o lado, estudando-a. Como este é um


território desconhecido, não quero dizer algo que a ofenda ou faça com que
ela não queira me beijar novamente. A sensação de seus lábios nos meus já
era diferente de tudo antes, e eu gostaria de recriá-la. Só para garantir que
não era minha percepção errônea na época.

Ciência. Sim, é apenas ciência.

— Isso é ruim?— Eu falo devagar. Nunca na minha vida me senti tão


incerto sobre algo, e é como se todo o meu ser dependesse de suas próximas
palavras.

Ela percebe minha perplexidade, então responde imediatamente. —


Não, de jeito nenhum. Apenas surpreendente. — Seus lábios se estendem
amplamente pelo rosto em um sorriso ofuscante.
Eu paro, olhando para ela, minha boca imitando a sua quando eu
devolvo o sorriso.

Seus olhos se suavizaram quando ela olha para mim e ela toca sua
mão na minha.

— Como estamos no mesmo barco, por que você não me mostra o que
quis dizer com mais, — diz ela, com um rubor manchando suas bochechas.

Eu a olho maravilhado, principalmente porque não acredito que ela


esteja disposta a fazê-lo novamente. Mesmo que eu não quisesse acreditar,
no fundo eu tinha certeza de que o primeiro beijo havia sido por acaso e
que ela realmente não pretendia fazê-lo.

Por que quem iria querer me beijar?

Ao longo dos anos, eu poderia ter deixado minha mente se perguntar


brevemente como seria estar com alguém, principalmente por minha
curiosidade intrínseca. Mas mesmo assim eu estava mais do que
consciente de que tinha muitas coisas contra mim para me aproximar de
outro ser humano, que inclui uma irmã fantasmagórica, uma reputação
não tão agradável e uma falta de autocontrole. Sem mencionar o fato de
que acho que nunca encontrei alguém atraente antes.

E, no entanto, essa mulher na minha frente parece cancelar tudo.


Ela está olhando para mim por baixo dos cílios e noto uma súbita
timidez em seu comportamento. Não sou de perder uma oportunidade
quando ela se apresenta, eu ajo — rápido.

Inclinando-me para ela, desfiz o cinto de segurança, minhas mãos


segurando firmemente a sua cintura enquanto a deslizo em minha direção.

Ela está me observando atentamente, as pernas dela vindo de ambos


os lados do meu assento me montando. Firmando-se contra o movimento
repentino, ela abre as palmas das mãos por todo o peito, o calor passando
pelo material da minha camisa e pela minha pele.

Seus olhos estão maravilhados estudando meu rosto, uma mão


rastejando para acariciar minha bochecha.

— Você é perigoso, — ela sussurra, seus dedos deixando um rastro de


fogo até que se assentem na minha boca.

Eu separo meus lábios, sugando as pontas dos dedos dela. — Você já


está com medo?— Eu pergunto e seus olhos se enrrugam de diversão.

Ela balança a cabeça. — Não, ainda não.

Eu a puxo para mais perto, seu peito colado ao meu, minhas mãos
subindo até eu estar circulando sua cintura.
O desejo de avançar ainda mais é enlouquecedor, mas não quero
apressá-la. Ainda não.

— E agora?— ela sussurra, olhando nos meus olhos. Estamos tão


perto que nossas respirações estão se misturando, e eu posso sentir o calor
dela na minha pele.

— Agora, — digo, mergulhando minha cabeça e escovando meus


lábios nos seus. Como antes, ela puxa, mantendo-se parada no contato. —
Relaxe, — falo contra a suaboca, minha língua saindo furtivamente para
separar os lábios dela. Ela endurece, e eu sinto sua carranca em confusão,
mas ela não se afasta.

— Deixe-me entrar, — sussurro, movendo uma mão para o rosto dela


e segurando sua bochecha.

Suave.

Eu nunca percebi o quão macia é a pele de uma mulher. E como uma


criança curiosa, continuo circulando meu polegar em volta do rosto. Deve
agradá-la, porque ela fica mole nos meus braços, separando levemente os
lábios e suspirando profundamente.

Aproveito e encaixo minha boca na sua, deixando minha língua


investigar por dentro.

É isso... teoria versus prática.


Ela hesita enquanto acaricia a língua na minha, um gemido
escapando dela no contato. Eu engulo o som, abrindo minha boca mais e
devorando-a.

Sisi começa a devolver o beijo, e logo nossas bocas ficam emaranhadas


em uma dança lenta, uma troca que atormenta os sentidos.

A sensação de sua boca macia se abrindo sob a minha, a intensidade


de seu beijo enquanto ela combina com meu ritmo estão me deixando louco
quando eu a aproximo ainda mais de mim.

Cristo, mas ela não me faria apenas crente. Ela me faria um discípulo
adorando ela como minha religião.

Ela envolve os braços em volta do meu pescoço, oferecendo-me


voluntariamente seu abraço enquanto se balança lentamente contra mim.
Sinto-me tonto ao ceder a essa tentação maravilhosa, todo o sangue
correndo para o meu pau.

Eu sou um homem morto.

Eu sei que ela também pode sentir isso porque está moendo para cima
e para baixo no meu pau ereto, o movimento vindo para ela tão
naturalmente.

Seria tão fácil... abaixar meu zíper e empurrar a calcinha para o lado.
Eu deslizaria dentro de seu calor acolhedor e...
Eu gemo contra os seus lábios.

Porra! Nunca na minha vida eu fui despertado, e está fazendo coisas


no meu cérebro. O poder de pensar racionalmente me deixa
completamente e, por um momento, tenho que me perguntar se o dano
será permanente.

Nossas bocas estão se devorando vorazmente neste momento, a


tentativa de exploração de antes se foi e substituiu por puro abandono
selvagem.

Sisi é tão irracional quanto eu, com as mãos arranhando minhas


costas enquanto tenta me aproximar ainda mais dela. Sua boceta está bem
em cima do meu pau enquanto ela se move, seus lábios esfregando contra
mim através das minhas calças.

Ah, porra, ela está encharcada.

Apesar de todas as minhas tendências destrutivas, nunca fui fã de


trocar fluidos corporais. No entanto, não posso deixar de me perguntar
qual seria o sabor de Sisi, o sabor dela cobrindo minha língua enquanto eu
a trago à beira.

— Vlad, eu... — ela arranca a boca da minha, pupilas dilatadas, lábios


inchados, — há algo acontecendo comigo, eu... — ela parece confusa, a
boca se separando em um gemido sem som quando seu corpo começa a
tremer nos meus braços.
Eu a seguro ainda mais, deixando-a montar seu prazer enquanto eu
beijo seu pescoço, meus dentes mordiscando sua carne. Uma corrida pelo
poder como nenhuma outra — nem mesmo matando — passa através de
mim sabendo que eu a fiz gozar sem sequer tocá-la.

— Deixe-o passar sobre você, — sussurro no seu cabelo, lentamente


arrastando meus dedos pelas costas.

Ela está respirando com força enquanto se inclina para o meu peito.
Meu pau ainda está dolorosamente duro, mas prefiro sofrer com bolas
azuis do que forçá-la a algo para o qual não está pronta.

Pela primeira vez na minha vida, encontro algo bom e não vou deixá-
la ir. De qualquer forma, continuarei segurando-a, pronto para fazer
qualquer coisa para mantê-la olhando para mim assim — com inocência e
admiração nos olhos.

Ela aninha o rosto na curva do meu pescoço, a boca deixando um


rastro molhado de beijos enquanto ela sobe.

— Ah, porra, Sisi. — Eu gemo, suas pequenas ministrações apenas


dificultando o controle da minha metade inferior.

Nesse momento, uma batida na janela nos assusta, e eu viro a cabeça


para ver um policial olhando para nós.
Pela primeira vez, estou impressionado com o fato de não estar ciente
de nada acontecendo ao meu redor. Anos de treinamento mental caíram
pelo ralo em um segundo.

E há apenas uma culpada.

Sisi.

Ela está aconchegada no meu peito, com os olhos arregalados de


confusão, e quando ela vira essas grandes esferas para mim, só posso fazer
o meu melhor para protegê-la.

— Algum problema, oficial?— Eu pergunto enquanto desço a janela.

O policial parece suspeito entre Sisi e eu antes de nos pedir para sair
do veículo.

Minha mão imediatamente pega a arma debaixo do meu assento e,


quando Sisi percebe minha intenção, ela vira seu sorriso deslumbrante em
direção ao policial.

— Qual o problema oficial? Meu marido estava me confortando depois


que ouvimos más notícias, — ela mente, e eu assisto maravilhado como
seu rosto muda imediatamente, seu alto nível de atuação. — Veja, meu
gato, que Deus o tenha, finalmente sucumbiu à morte, — ela solta um
soluço, tirando um lenço de um compartimento e esfregando lágrimas
falsas.
A expressão do oficial se torna mais suave e ele parece quase
envergonhado.

— Eu vejo senhora. Sinto muito por sua perda... — ele gagueja, e


quando Sisi bate seus cílios, juro que vejo um rubor aparecer no rosto do
filho da puta.

— Obrigada, oficial. Mas como você pode ver, minha esposa está
passando por um momento difícil. Não devemos incomodá-la mais. — Eu
olho para ele e ele engole desconfortavelmente. O que quer que esteja
vendo na minha expressão está fazendo com que ele descubra seu próximo
passo.

Meu sorriso se alarga lentamente, e seu desconforto só aumenta


quando ele absorve a nitidez do meu olhar.

Ah, presa reconhecendo o predador.

— Sim... bem... Sinto muito por incomodá-lo, — diz ele, dando alguns
passos para trás, — você pode ir, — cede antes de voltar para o carro de
patrulha, partindo às pressas.

Quando ele está fora de vista, Sisi ri, me dando um soco no braço.

— Você pode parar de assustar as pessoas?— Ela pergunta, divertida.


Eu aperto a mandíbula dela, um pouco mais do que eu pretendia, e
trago o seurosto para o meu para um beijo rápido.

Sisi está me fazendo perceber algumas coisas novas sobre mim, a mais
recente delas é que eu não gosto quando outros homens olham para ela.

Algumas horas até o amanhecer, eu a levo ao meu complexo. A viagem


só me deixa mais frustrado quando olho para sua forma deliciosa, minhas
bolas chorando por alívio. Também é preocupante o suficiente para me
fazer reconsiderar minha posição.

Eu a aproximei por causa de seu efeito em Vanya, querendo descobrir


por que a presença dela faz minha irmã desaparecer. Em vez disso, estou
cobiçando-a como um estudante com sua primeira paixão.

Ok, talvez eu sou o equivalente a um estudante com sua primeira


paixão, mas preciso amaldiçoar minha crescente paixão por ela, para que
não estrague meus planos.
Mais fácil falar do que fazer, porém, quando apenas a visão de seus
peitos me deixa duro, inúmeras visões de mim espalmando, lambendo e
chupando-os me agredindo sem nenhum aviso.

Pelo amor de Deus, evitei essa aflição em particular por quase três
décadas, e é preciso apenas uma quase freira para me fazer perder o jogo.
Concedido, ela não parece uma freira, nem age como uma.

Eu preciso me concentrar.

Por um momento, eu gostaria que Vanya estivesse aqui. Talvez ela


pudesse me dar alguns conselhos sobre como lidar com Sisi.

— Já chegamos?— A voz dela me assusta com minhas reflexões, e eu


olho para ela, seus cabelos bagunçados, seus lábios inchados.

Porra!

— Sim, ao virar da esquina. — Eu respondo bruscamente, dirigindo o


carro em direção a uma garagem subterrânea. Eu me embaralhei um
pouco no meu lugar, ajustando minha ereção e me castigando
mentalmente.

Quando saímos do carro, voltei ao meu antigo eu — ou o máximo que


pude ser.
— Vou levá-la para o meu quarto e você pode tirar uma soneca antes
de levá-la para casa. — Eu digo a ela, levando-a para dentro.

— O que você vai fazer?— Ela franze a testa.

— Preciso fazer uma visita ao meu amigo Petrovic. — Essa é a minha


primeira ordem de trabalhos, já que quem pagou aqueles homens para vir
atrás de mim tinha que estar desesperado. Agora, para mim, isso significa
apenas uma coisa.

Petrovic sabe alguma coisa.

— Eu posso ir?— Ela pergunta, pulando para cima e para baixo para
acompanhar meu passo.

— Não. — Eu respondo, meu tom não deixa espaço para discussão.

Considerando que em qualquer outro momento eu a deixei, não posso


arriscar agora. Não com ela vendo o estado em que Petrovic deve estar,
nem com o fato de que ela pode influenciá-lo a não falar.

Quando chegamos a uma grande porta de aço, pressiono o dedo na


almofada de biometria e ela se abre.

— Uau, isso parece uma fortaleza, — observa ela quando vê a


espessura da porta de metal.
Isto é.

Eu tinha construído isso alguns anos atrás, quando meus blecautes se


tornaram mais frequentes, meu nível de sede de sangue quase dobrando. É
para me manter dentro e proteger as pessoas que trabalham para mim.

O que Sisi não percebe é que todo o composto é construído com um


propósito expresso — me manter dentro. Considerando que minha
compreensão da sanidade é questionável, na melhor das hipóteses, preciso
garantir que estou contido — se chegar o dia em que finalmente me
perder.

No interior, o quarto está vazio, exceto por uma cama king size, um
guarda-roupa e um banheiro adjacente. Não que eu precise de muito.

— Sinta-se confortável, — digo a ela, tirando meu blazer e colocando-


o em um cabide. — Você pode tomar um banho, se quiser. Há toalhas
limpas no armário. — Eu aponto para o guarda-roupa.

Ela senta na cama, testando a suavidade do colchão, e eu tenho que


arrancar meus olhos dela, sabendo que se eu continuar olhando, só vou
imaginar o que gostaria de fazer com ela naquela cama.

Saindo do meu devaneio, saio doquarto, indo direto para o jardim.

Quando abro a porta, sou instantaneamente recebido por um fedor


podre e fico feliz por não ter deixado Sisi me acompanhar.
— Opsies, ele não parece tão bom, — Vanya entra, me assustando
com a voz dela.

— Há quanto tempo, estranha, — acrescento estrategicamente,


curioso para ver se ela vai comentar sobre sua ausência.

— Você sentiu minha falta?— Ela se aproxima de mim, vindo para


abraçar minha barriga.

— Onde você estava se escondendo, V?— Eu pergunto, mas ela apenas


sorri para mim, balançando a cabeça.

— Você não gostaria de saber?— Ela diz misteriosamente antes de


sair para cumprimentar nosso adorável prisioneiro.

Os brotos de bambu já cresceram e três deles empalaram seu corpo.


Ele está se contorcendo de dor quando um movimento faz com que o
bambu mude em sua localização.

Dois brotos de bambu perfuraram suas coxas superiores, e um deles já


havia feito uma ruptura limpa quando a cabeça alcançou o outro lado da
perna.

O terceiro, no entanto, parece ter perfurado seu ânus.

— Bastardo sortudo, — murmuro, divertido com a ironia.


Sangue e fezes estão escorrendo pelo comprimento do bambu, ambos
contribuindo para o cheiro que permeia a sala inteira.

Sua cabeça estava baixa, ele geme de dor enquanto move o pescoço,
tentando levantá-lo para me olhar.

Estou muito surpreso que ele ainda esteja aguentando, considerando


tudo. Mas acho que devo alguns agradecimentos a Maxim, pois ele deve ter
garantido que o Sr. Petrovic não morresse de sepse até agora.

— Senhor Petrovic, — eu digo calmamente, trazendo uma cadeira e


posicionando-a na frente dele. — Parece que estamos em um impasse. Tive
o prazer de conhecer alguns de seus associados e é justo dizer que eles não
gostaram das minhas boas-vindas.

Ele levanta a cabeça levemente, piscando duas vezes para obter algum
foco à sua vista.

— Espero que talvez desta vez você tenha algo para mim?— Eu
pergunto, levantando minhas sobrancelhas.

— Você é muito fácil com ele, irmão.—Vanya faz beicinho do meu


lado, com os olhos avaliando Petrovic e sua bunda empalada.

— Estou ocupado, Vanya. — Eu digo a ela antes de me voltar para o


meu prisioneiro.
— Eu não posso.... — ele gagueja, suor agarrado ao rosto.

— Nós já passamos por isso antes, Sr. Petrovic. Você pode. Você
simplesmente não quer. Veja, há uma diferença. — Faço um som
decepcionado, indo para trás e tomando um pequeno conjunto de
ferramentas.

— Não posso, — ele respira novamente, antes de pronunciar duas


palavras, — comida, água.

Eu franzo a testa, com certeza que Maxim já deveria tê-lo alimentado.

— Então você está dizendo que se eu lhe der comida e água, você
conversará?— Eu pergunto ceticamente e sua cabeça se move em um
movimento lento.

Eu apenas encolho os ombros. Talvez ele queira uma última refeição


antes de sua morte, já que não viverá por muito mais tempo.

Estou prestes a mandar uma mensagem para Maxim trazer comida e


bebida antes que Vanya me pare, me chamando para ouvir seu plano
sussurrado. Ela com certeza tem uma imaginação hiperativa ao detalhar
uma forma interessante de autofagia.

Senhor. As sobrancelhas de Petrovic se unem enquanto ele olha entre


Vanya e eu, não é de admirar se perguntar se eu fiquei louco.
A resposta é sim.

Mas se ele me considera louco, pode estar mais inclinado a conversar.


Afinal, ele será o único a suportar as minhas táticas insanas.

Depois de mandar uma mensagem para Maxim para me trazer os


itens necessários, tento conversar um pouco mais com meu adorável
prisioneiro, esperando dissipar um pouco do tédio que ele, no entanto, deve
estar se sentindo preso lá em cima com bambus enfiando a bunda.

— Para mostrar que sou um cara legal, — começo, conectando a


churrasqueira elétrica e esperando que ela aqueça: — Vou lhe dar um bife
premium. Cortesia da minha irmã, é claro, já que ela é a mentora por trás
disso.

Suas sobrancelhas se franzem quando ele me olha em confusão. Não


posso culpá-lo, pois como é justo que Vanya decida se mostrar apenas para
mim?

— Veja bem, às vezes ela me surpreende com selvageria. É como se


fossemos gêmeos. — Eu brinco, mas ele não entende.

Vanya, por outro lado, está rindo ao meu lado, olhando a grelha com
curiosidade e me incentivando.
— Qual lado?— Eu pergunto, e ela se vira para o Sr. Petrovic para
analisá-lo. Ela se aproxima, olhando para a bunda dele, que caiu em
colapso, e eu gemo em voz alta.

Fantasma ou não, Vanya ainda é uma criança. Ela não deveria estar
olhando para a bunda dos homens.

— Vanya, — bato meu pé, sabendo que ela vai entender o significado.

Suspirando profundamente, ela afunda os ombros quando volta ao


meu lado.

— A coxa, ao redor do buraco, — sugere ela, e eu estreito meus olhos


para ela.

— Pode estar infectado. Ele ficará indigesto, — respondo.

— Bem, então ele fica, — ela encolhe os ombros, um sorriso travesso


tocando nos lábios.

— Seu desejo é uma ordem. — Eu finjo uma reverência antes de pegar


uma faca e me abaixar, sob a bunda do Sr. Petrovic.

— Vanya, Vanya, isso é tudo para você, — digo com uma voz cantada.

Não posso dizer que não senti falta dela, mas, ao mesmo tempo, era
libertador ficar sozinho pela primeira vez em décadas. E Sisi...
Droga. Não posso permitir que ela se intrometa em meus
pensamentos quando estou torturando. Que tipo de chefe da máfia eu seria
se minha mente estivesse concentrada em uma mulher vinte e quatro
horas, sete dias por semana? Mais uma vez eu tenho que tirar todos os
pensamentos dela da minha mente, antes que meu pau decida tomar as
rédeas, e o incidente da polícia me mostrou que eu não sou bom com esse
tipo de multitarefa.

Aperto o nariz com o cheiro vindo do Sr. Petrovic, rapidamente


começando a trabalhar. Uso a faca pequena para cortar cubos de carne ao
redor da ferida, aumentando lentamente o buraco. Senhor Petrovic está
tão gasto que mal consegue fazer barulho, mesmo que isso deva doer como
o inferno. Garanto que meus cubos tenham predominantemente mais
carne que pele, então Sr. Petrovic pode desfrutar de uma refeição saudável
antes de sua morte inevitável.

Quando corto carne suficiente, vou para a churrasqueira já quente e


as coloco cuidadosamente nela. Então, passando por alguns dos temperos
que Maxim me trouxe, aplico um pouco e cozinho a carne.

O cheiro flutua pelo ar e eu fecho meus olhos com o aroma. Difícil de


acreditar que isso veio do Sr. Petrovic, considerando seu estado
atualmente nojento.

É quase de... dar água na boca.


— O que você está olhando,V? Gosta de carne?— Pego um pedaço,
empunhando-o na frente dela. Ela fecha os olhos, inalando.

— Eu gostaria de poder, — diz ela, os olhos seguindo o bife.

Quando todas as partes foram cozidas, eu vou na frente do Sr.


Petrovic, seduzindo-o a experimentar um pouco de sua carne.

— Vamos, Sr. Petrovic. Não é todo dia que você se prova. — Eu paro,
rindo para mim mesmo, — bem, não assim mesmo. Então, por que você
não abre a boca e eu até faço as honras de alimentá-lo? — Eu digo a ele,
movendo o garfo com a carne na suafrente.

Ele parece enojado olhando entre mim e o pedaço de carne, mas


quando seu estômago ronca, ele parece desistir. Abrindo a boca, enfio o
pedaço, observando com satisfação ele mastigar a própria coxa.

— Assim? Como está?— Meus lábios se estendem em um sorriso largo


enquanto ele tenta o seu melhor para engolir.

— Ele não estava tão enojado quanto você disse, V. — Eu digo,


olhando para trás para encontrar Vanya desaparecida.

Minhas sobrancelhas franzindo, eu procuro no jardim inteiro por ela,


mas ela não está à vista.

E só pode haver uma explicação.


— Sisi, você pode se mostrar. — Eu chamo, e nem um segundo depois
ela emerge de trás de alguns arbustos.

Os olhos dela absorvem o Sr. Petrovic não tão estelar e ela torce o
nariz.

Aghh, eu não queria que ela cheirasse isso...

— O que está acontecendo?— Sisi avança, espanando a bainha do


vestido, e percebo que a lama suja em seu vestido por se ajoelhar.

— Eu disse para você ficar no meu quarto. — Eu expiro, pensando em


maneiras de explicar todo esse fiasco. Embora a tortura de bambu não seja
o meu habitual, ela ainda não parece — ou cheira —ótima.

Ela encolhe os ombros, aproximando-se para inspecionar a carne na


grelha.

— Você deveria saber que eu ficaria curiosa, — ela responde, seus


olhos se concentraram nos pedaços de carne restantes.

— Isso cheira delicioso. — Ela pega um pedaço.

— Sisi, não!— Eu me apresso na frente dela bem a tempo de parar


sua mão.

Ela vira o rosto para mim, estreitando os olhos.


— É carne humana, não é?— Ela pergunta, acenando para o Sr.
Petrovic.

Sinto-me compelido a acenar com a cabeça, franzindo os lábios e


aguardando sua condenação.

Como ela encontrou o jardim? Vou ter algumas palavras com Maxim.

— Eu pensei que você disse que não come mais humanos?— Ela me
olha levantando a mão, o pedaço de carne ainda em seu aperto.

— Eu não, — respondo, endireitando meus ombros, — é para ele, —


aponto para o Sr. Petrovic.

— Você o está alimentando com sua própria carne?— Os olhos dela se


arregalam de surpresa.

É isso. É aqui que ela me amaldiçoa e sai.

Eu aceno muito devagar, esperando por sua explosão. Acho que há


uma linha entre me ver espancar alguns homens e... isto.

— Isso é genial!— Ela exclama.— Acho que não ouvi falar de algo
assim. Como você pensou sobre isso?

— Ele queria uma última refeição, — digo, estudando ela e sua


reação incomum.
Ela vai ainda mais longe, rindo da piada.

— Engenhoso, eu gosto. — Ela comenta logo antes de colocar o pedaço


na boca.

Estou momentaneamente surpreso com o gesto dela, mas como me


lembro da condição não tão grande do Sr. Petrovic, que atualmente está
pedindo ajuda, não posso, em sã consciência, permitir que ela coma isso. Se
ela quiser experimentar carne humana, eu vou pegar um pouco para ela.
Ou melhor ainda, vou lhe dar um pedaço do meu próprio corpo.

Porra, mas isso não seria o auge do erotismo?

Agindo rápido, agarro-a pela cintura e a trago para mim, forçando a


boca aberta com a minha e arrancando a carne dela.

De olhos arregalados, ela não luta enquanto eu dou um beijo casto nos
seus lábios, pressionando meus dentes para mastigar a carne.

— Você... — ela segue, olhando para mim como se eu tivesse crescido


uma segunda cabeça, — bom Deus, Vlad, — ela se inclina, rindo.

— Ajuda... — Senhor Petrovic ainda está tentando chamar sua


atenção.

— Cale a boca, — eu me viro para ele ao mesmo tempo que Sisi.


Vendo nossas ações correspondentes, nós dois caímos na gargalhada.
— Você é louco, — ela resmunga, o lábio inferior tremendo de muita
risada.

— Eu? Foi você quem tentou comer um pedaço do meu prisioneiro!—


Eu acuso brincando.

— Bem, não os deixe por aí. Além disso, não é bom oferecer comida
aos hóspedes?— Ela levanta uma sobrancelha para mim.

— Eu pensei que tínhamos estabelecido minha falta de boas


maneiras, — eu atiro de volta.

— Hmm, e acho que também estabelecemos como eu cuidaria da sua...


falta de boas maneiras, — ela responde atrevida, e não pela primeira vez
hoje à noite me sinto encantado com ela.

— Ajuda, — Sr. Petrovic geme novamente, e nós dois nos voltamos


bruscamente em direção a ele.

— Você não vê que estamos conversando?— Sisi balança a cabeça


para ele, vindo para o meu lado e colocando a cabeça no meu ombro. —
Agora, gostaria de me dizer do que se trata?— Ela pergunta, seus olhos
examinando o estado desolado da bunda do Sr. Petrovic.

— Oh, hell girl, — eu gemi, meu braço esgueirando-se pelos ombros


dela, — você não é nada sensível, é?
— Bem, a carne não era tão ruim, embora eu só tive uma prova.

— Da próxima vez, — garanto a ela, revisando rapidamente meus


planos com Petrovic e como acho que ele pode ser o elo que faltava para
descobrir quem levou minha irmã.

— Sinto muito, — ela sussurra depois que eu terminei de contar tudo.


Estranho como nem Bianca, que é minha parceira há quase uma década,
conhece os detalhes dos meus planos. No entanto, uma noite com Sisi e
estou prestes a contar a ela meus segredos mais profundos e sombrios.

Inferno e condenação!

— Mas você percebe que especialmente depois disso é provável que ele
não fale, — comenta ela, e eu suspiro profundamente.

— Eu não acho que ele duraria tanto tempo. Só o pau na bunda dele
deve doer como uma cadela... — Eu franzo os meus lábios, admitindo pela
primeira vez que o Sr. Petrovic está mostrando mais resistência do que eu
lhe dei crédito.

Sisi franze os lábios, acariciando o queixo com o polegar. Seus olhos


brilham brevemente, e ela me leva para o lado, fora do alcance auditivo do
Sr. Petrovic.

— Você disse que ele teme por sua família, — ela sussurra, e eu
aceno. — Então o ameace com sua família.
— Eu não sei onde eles estão, — respondo com tristeza. Esse foi o
meu primeiro pensamento também, mas ele os escondeu bem.

— Finja que sabe, — diz ela, e meus ouvidos se animam.

— Eu tenho que dizer, hell girl, você continua me surpreendendo. —


Eu ri quando ela sugere que joguemos policial bom, policial mau.

— Vamos ver se funciona.

Voltando à situação, continuo alimentando o Sr. Petrovic com a carne,


enquanto Sisi anda pela sala, parecendo extremamente ansiosa.

— Ele tem que falar, Vlad. Eu sei que ele vai. Só por favor, não
prejudique sua família... eles são inocentes!— Seu rosto inteiro se
transforma quando ela muda para seu papel, suas sobrancelhas
desenhadas em preocupação, a boca franzida.

— Sisi, — eu gemo, entrando na minha parte, — é exatamente por


isso que eu não queria você aqui. Agora você está sentindo pena dele!

— Eles são filhos, Vlad! O mais velho tem apenas oito anos... Como
você pode fazer isso com eles?— Ela grita, lágrimas já se acumulando no
canto dos olhos.

Merda, mas ela está matando isso.


— Você sabe o que eu estava fazendo quando tinha oito anos? Eu
estava estripando os guardas do meu pai. Ele ficará bem: — Eu aceno
minha mão no ar, — um pouco de dor nunca machuca ninguém, —
acrescento e noto imediatamente a rápida ingestão de ar do Sr. Petrovic.

— Mas você... você é como a semente do mal, — diz ela e eu posso ver
um pequeno sorriso tocando nos seus lábios, — ele é apenas uma criança
inocente.

— Ninguém é inocente neste mundo, Sisi. Ele pode ser agora, mas
espere até que ele cresça e queira vingar seu pai. Melhor cortá-los
enquanto são jovens, — digo, apreciando seu olhar escandalizado.

— O que você está falando?— Eu ouço a voz baixa do Sr. Petrovic.

— Vlad, ele é uma criança!— Sisi grita comigo, avançando para


agarrar as lapelas da minha camisa. — Você é tão sem alma que
prejudicaria uma criança?— Ela chora, suas mãos vão para o meu peito
enquanto ela está me dando um soco.

— Shh agora, — digo agarrando o rosto dela, — talvez a próxima


refeição do Sr. Petrovic será um pouco mais fresca. Eu digo, carne de oito
anos... — Eu paro e os olhos de Sisi se arregalam. Por um momento, temo
ter levado longe demais, mas ela continua a jogar junto.

— Você não faria, — ela balança a cabeça, dando um passo para trás,
os olhos cheios de horror.
— Pare!— Senhor Petrovic finalmente diz em seu tom derrotado. —
Eu vou te dizer apenas... por favor... não o deixe prejudicar meus filhos, —
ele olha para Sisi enquanto diz isso.

— Fale, — peço-lhe, de repente ansioso para ouvir o que ele tem a


dizer.

— Projeto H-Humanitas... — ele solta, respirando fundo, — não sei


muito, apenas que sua irmã foi entregue a Miles, chefe do Projeto
Humanitas. — Ele olha entre Sisi e eu antes de implorar mais uma vez por
ela, — por favor, não prejudique minha família.

Projeto Humanitas...

— Vlad?— Sisi pergunta quando vê que não estou respondendo.

Eu pisco duas vezes, algum tipo de memória ressurgindo antes que ela
desapareça novamente.

— Vlad!— Sinto a sua mão no meu braço enquanto ela me aperta e


finalmente reajo.

— Eu preciso ir, — murmuro, desembaraçando os dedos do material


da minha camisa.
Estou quase em transe quando saio do jardim, indo direto para o meu
quarto. Vagamente, eu sei que Sisi está quente na minha trilha, mas não
consigo me importar agora.

Sou rápido em arrancar a camisa das minhas costas, descartando


minhas calças e roupas íntimas antes de entrar no chuveiro. A água está
escaldante na minha pele, vermelha em sua trilha enquanto cai no meu
corpo.

— Projeto Humanitas, — sussurro para mim mesmo, dor me


agredindo quando pronuncio as palavras.

Atordoado, eu me ajoelho, segurando o lavabo para apoio.

— Vanya, — eu chamo, minha voz mal acima de um sussurro. —


Onde você está, Vanya?— Eu pergunto, desesperado para ouvir a suavoz.
Por que ela não está aqui quando eu mais preciso dela?

Minha respiração trava quando meu corpo começa a tremer


incontrolavelmente, visões de sangue e órgãos, todos deitados aos meus
pés enquanto eu mato e mutilo.

— Vanya, por favor, — digo em um soluço, colocando minha cabeça


com força contra a parede. — Onde você está?— Eu pergunto novamente,
batendo minha cabeça ainda mais. — Por favor, — minha voz está
quebrada quando eu imploro que ela me responda.
Eu continuo batendo minha cabeça contra a parede até que o
vermelho brilhante se misture com a água limpa.

— Vlad?— Acho que ouço uma voz chamando meu nome. Eu mal
estou consciente quando Sisi entra no chuveiro comigo, com os braços bem
abertos enquanto ela me leva em seu abraço.

— Você está seguro, — ela sussurra no meu cabelo. — Você está


seguro agora, — sua mão macia acaricia meu corpo e meu corpo recupera
lentamente sua função.

— Eu... — Começo quando recupero a lucidez, — desculpe, — digo


em voz baixa, vendo a situação em que me encontro.

— O que aconteceu?— o olhar dela é gentil quando olha para mim, seu
toque é tão reconfortante.

— Projeto Humanitas... — Eu mal consigo dizer o nome em voz alta.


— Eles mataram minha irmã.

— O que?— Ela franze a testa, — como você sabe?

— Não Katya... — Eu sussurro, — minha irmã gêmea, Vanya.

E eles me fizeram o que sou hoje.


CAPÍTULO TREZE

— Sisi, você não parece muito bem, — menciona Lina quando me vê


no café da manhã. Dou-lhe um sorriso apertado, mesmo sabendo que devo
ter olheiras muito ruins, já que na última semana eu tenho me esgueirado
quase diariamente para ver Vlad. Nem me lembro de quando tive uma
noite inteira de sono.

Ainda assim, eu não trocaria o tempo gasto com Vlad para dormir, não
quando tudo sobre ele é assim... fascinante.

Fiel à sua palavra, ele me mostrou a cidade e me levou para onde eu


quisesse. Mas passamos a maior parte do tempo na casa dele, onde
conversamos sobre tudo e nada.
O que eu descobri sobre ele acabou de confirmar minha primeira
impressão. A solidão se apega a ele como uma segunda pele, e posso dizer
que mesmo as pequenas coisas que faço o surpreendem. É como se ele
espera que eu o afaste a qualquer momento.

— Você ainda não está com medo?— Ele perguntava, quase


brincando, mas eu posso ver a verdade nos seus olhos. Ele tem medo de
fazer alguma coisa e me assustar.

Ele tem medo que eu o deixe.

Francamente, quanto mais vejo a aparência de sua vida, mais sinto


pena. Ele mal fala com pessoas fora o seu mão direita, Maxim. Mesmo com
ele, ele troca algumas frases aqui e ali, principalmente via texto. O resto
do tempo? Ele pode estar planejando sua vingança ou dominação mundial,
mas está fazendo tudo sozinho.

Com seu quarto vazio, ou o fato de toda a sua casa estar no subsolo, é
difícil não se sentir triste por sua existência sombria.

Mas eu posso ver o porquê. Ele não é... normal. Inferno, ele
provavelmente é a definição de louco. Mesmo sabendo que não posso ficar
longe. Ele é apenas... ele.

E de uma maneira perversa, nos complementamos. Ele alimenta


minha necessidade de destruição e eu alimento sua necessidade de
sanidade.
Deus!

Eu me abano quando encontro meus pensamentos indo para o


território classificado como para maiores de idade. Ele não me beijou de
novo ou pediu que eu o beijasse, mesmo que seja tudo o que consigo pensar
às vezes quando estou perto dele.

As sensações que ele destroçou do meu corpo foram simplesmente de


outro mundo. Não há outra maneira de descrever a maneira como meu
corpo se abriu para ele, mostrando-me que era capaz de um grande prazer
em vez de dor.

Ah, e o beijo... O fato de ele nunca ter beijado outra mulher antes me
encantou além da medida. Pela primeira vez, senti que algo era realmente
meu. Ninguém estava tão perto dele, e ninguém o fará se eu tiver algo a
dizer sobre isso.

Porque uma semana foi suficiente para eu decidir alguma coisa.

Vou mantê-lo — personalidade disfuncional incluída.

Ele não mencionou o incidente no banheiro e eu não tinha investigado.


Vê-lo tão perdido, tão cheio de sofrimento, havia feito algo em meu coração.
Eu não queria nada além de abraçá-lo e tirar toda a sua dor.

— Você não está com fome?— Eu sou trazida à terra pela voz de Lina,
novamente. Ultimamente tenho uma mente tão ausente, principalmente
porque todos os meus pensamentos giram para um homem, e seus lábios
perversos.

— Oh, desculpe, apenas devaneios. — Eu sorrio, me servindo da


comida na mesa.

Meu irmão e Lina decidiram contratar uma governanta para Claudia,


Venezia e eu, dizendo que todos nos beneficiaríamos de ter uma educação
mais formal. Já começamos as lições, mas acho que não preciso muito
disso. Afinal, tenho todas as informações de que preciso nas pontas dos
meus dedos.

Vlad foi extremamente útil para me mostrar como operar um


computador e navegar na Internet. Desde então, meu tempo é dividido
principalmente entre ele e meu laptop. Há muito o que ler, tantas coisas
que fazem parte da vida normal, mas que não estavam acessíveis durante
meu tempo no Sacre Coeur.

E ele está mais do que disposto a me guiar lentamente por tudo.

— Eu sei que é difícil se acostumar com a vida fora de Sacre Coeur...


— Lina começa, sua mão alcançando a minha. — Estou tendo dificuldades
também, mas não estava lá desde o nascimento. Para você, é tudo o que
você já conheceu, — respira fundo, — informe-me se há algo que eu possa
fazer para ajudar. Não gosto de vê-la tão fechada.
— Estou bem, Lina. É sério. É muito para absorver, mas estou
chegando lá, — dou-lhe um sorriso tranquilizador.

Marcello está observando a interação entre nós duas, com os olhos


fixos em mim.

— Assisi, por favor, me veja no meu escritório depois do café da


manhã, — diz ele, me prendendo com o olhar por um momento antes de
voltar para a comida.

Eu franzo a testa, já que Marcello não tentou falar comigo até agora.
Até Lina parece um pouco preocupada, mas ela aperta minha mão com
conforto.

Claudia e Venezia estão envolvidas em uma brincadeira divertida e,


de repente, a casa parece um pouco mais... lar.

Mas por mais que eu queira acreditar nisso, não posso. Quanto mais
olho em volta, mais me sinto uma estranha.

Meu lugar não estava em Sacre Coeur, e claramente também não está
aqui. Não quando vejo todos ao meu redor conversando com tanta
facilidade, tanta familiaridade. Eles fazem a imagem perfeita, comigo à
margem.

Quando o café da manhã termina, Marcello acena e eu sigo atrás dele


enquanto se dirige para o escritório.
Minhas palmas coçam, a ansiedade me matando. Até agora, eu
realmente não tive tempo de ter uma conversa aprofundada com Marcello,
e ainda tenho a sensação de que sou um extra nesta casa.

Fechando a porta atrás de mim, eu o vejo dar a volta na mesa para


sentar, me fazendo fazer o mesmo.

Sento-me, ereta, como estava condicionada, as cicatrizes dolorosas


demais para me fazer dobrar um pouco. Minhas mãos no meu colo, sou o
modelo de decoro.

Não me mande de volta!

A única coisa em que consigo pensar é que nunca mais quero pôr os
pés em Sacre Coeur. E enquanto estou aqui dentro, fervendo de
curiosidade sobre o que Marcello me dirá, por fora pareço tão serena como
sempre. Com certeza é útil ter aperfeiçoado uma cara de pôquer ao longo
dos anos.

— Assisi, — começa Marcello, olhando atentamente para mim, —


como você está se acostumando com a casa? Tudo é do seu agrado?

— Claro, — concordo prontamente, — é mais do que eu poderia ter


pedido. Obrigada por isso, — acrescento.
Ele assente quase distraidamente, e eu tenho a impressão mais vaga
de que ele quer que essa reunião termine o mais rápido possível. Minhas
palmas das mãos suando, mantenho meu sorriso no lugar.

Ele parece estar hesitando enquanto pergunta. — Sacre Coeur era


tudo bem? Você teve algum problema?

Por um segundo — apenas um breve segundo — considero contar a ele


tudo o que sofri. Como meu corpo está cheio de cicatrizes daquelas freiras
honradas. Por esse pequeno momento, quero colocar tudo em cima da mesa
e perguntar a ele porquê. Por que eles tiveram que me abandonar lá?O que
eu fiz além de nascer?

Ao longo dos anos, as freiras gostaram de me dizer como eu fui


abandonada por causa da minha marca de nascimento e que minha família
não queria ser sobrecarregada com uma criança amaldiçoada. Elas
ficavam sempre tão animadas apontando como ninguém me queria.

Mas assim que esses pensamentos ressurgem, eu os empurro para


baixo. Por que trazer de volta o passado? E o mais importante, por que
perguntar algo para o qual talvez eu não goste da resposta? E se ele me
disser exatamente o que eu não quero ouvir?

— Foi tudo bem, — começo, esticando ainda mais meus lábios, — as


freiras eram tão boas para mim. — Eu minto, a mentira queimando
através de mim quando deixa meus lábios. — Mas elas também me
ajudaram a entender que não sou adequada para a vida religiosa. — Eu
adiciono apenas para ter certeza. Se ele acha que as freiras não me
querem, então ele não pode me enviar de volta para lá.

— Por que? — Ele levanta uma sobrancelha e eu fico apreensiva. —


Por que você não era adequada para a vida religiosa?

— Eu...

— Estou apenas tentando entender você melhor, Assisi, — interpõe


Marcello, com os olhos colados em mim.

Por que de repente sinto que estou sendo interrogada?

— Eu era curiosa demais, — admito sinceramente, — e não estava


predisposta a seguir o dogma. Você poderia dizer que meus professores e
eu discutimos com opiniões díspares. — Eu escolho minhas palavras com
cuidado. Se ao menos ele soubesse as acrobacias que eu fiz em Sacre
Coeur...

Depois de anos de abuso, eu acabei de quebrar. Eu não me importava


mais com o que acontecia comigo, então apenas agi. Certamente, após a
morte de Cressida, apenas coisas piores me aguardavam. Então eu desisti
e, pela primeira vez, fiquei fiel a mim mesma, em vez de me forçar a ser
alguém que elas queria que eu fosse.

E inferno, se não foi um alívio. Como um peso sendo retirado do meu


peito, finalmente encontrei um mínimo de felicidade. Talvez seja também
por isso que estou tão atraída por Vlad. Ele não me julga por quem eu sou.
Em vez disso, ele me anima, nossos dois eus malucos se misturando.

— Entendo, — responde Marcello.

O que você entende?

Por que ele está tão fechado? Não consigo ler ele para saber se minhas
respostas são satisfatórias ou não.

— É bom ser curiosa, — continua ele, — você nunca deve parar de


fazer perguntas.

O silêncio nos envolve, e estamos apenas olhando um para o outro, o


constrangimento apenas aumentando.

— Certo, — digo eventualmente, — se é tudo?

Ele acena para mim, pegando seus óculos e colocando-os.


Embaralhando alguns arquivos em sua mesa, posso dizer que fui
dispensada.

E quando saio do escritório dele, não posso deixar de me perguntar.

Ele me quer aqui?


— Por que as pessoas precisam de tantos perfis?— Eu pergunto,
assistindo Vlad me ajudar a configurar meus perfis de mídia social.

Ele olha para cima, encolhendo os ombros.

— Eu não uso nenhum. — Ele responde, clicando em algumas coisas


no computador até que o perfil seja concluído.

— Por quê?— Eu inclino minha cabeça para estudá-lo. Eu tinha lido


perfis de mídia social e fiz uma lista dos que queria que ele me ajudasse a
configurar. Eu examinei o assunto extensivamente, porque, de acordo com
algumas pessoas, se você não tem uma presença nas mídias sociais, não
existe.

— Eu não sou exatamente um cidadão exemplar, — ele sorri, — eu


não preciso desse tipo de exposição. Especialmente porque hoje em dia
você pode rastrear tudo.
— O que você quer dizer?

— Veja isso?— Ele me mostra uma foto que eu tirei desajeitadamente


para adicionar ao meu perfil. Eu aceno. — Toda foto tem metadados que
mostram quando e onde foi tirada. — Mais alguns cliques e ele abre uma
nova janela.

— Esse é o endereço de Marcello. — Eu digo, minha boca está aberta


em choque.

— Sim. É preciso apenas alguém que seja um pouco habilidoso com


computadores para conseguir isso. Cada foto que você postar tem o
potencial de fornecer informações vitais aos inimigos. Há outros truques
também, já que tudo o que você faz online deixa uma assinatura, — ele
continua explicando, e eu estou ouvindo atentamente. Ele parece saber
muito sobre isso e, enquanto fala, suas feições mostram a menor sugestão
de emoção.

— Mas eu não tenho inimigos.

— Você não. Mas seu irmão tem. E eu tenho, — ele me olha


atentamente por um segundo antes de voltar o olhar para o computador.
— Felizmente para você, vou configurar tudo com cuidado e instalar
alguns mecanismos de segurança também, — diz ele, já chegando a isso.

Eu o vejo trabalhar sua mágica e passo mentalmente minhas falas


ensaiadas. Como ele não tenta me beijar há um tempo, sinto que preciso
empurrá-lo para isso. Afinal, os artigos on-line mencionaram que os
homens gostam de ser os agressores.

— Concluído!— Ele diz, me devolvendo o computador enquanto


percorre os diferentes perfis.

— Há mais uma plataforma, — acrescento, e ele levanta uma


sobrancelha, olhando para mim com expectativa. — Isso, — abro a guia
para ele, o tempo todo observando sua reação.

— Um site de namoro?— Ele pergunta com descrença, olhando entre


mim e a tela. — Por que você precisa de um perfil de namoro?— Ele
repete, estreitando os olhos para mim.

— Todo mundo não tem?

— Não. Eu não. — Ele me encara com raiva.

— Mas você não namora. — Eu respondo com um bufo fingido.

— E você também não!— Ele rapidamente exclama, com os olhos


arregalados em sua própria explosão.

— O que? Claro que sim. Sou jovem, finalmente comecei a viver e


preciso pensar em namorar em algum momento, — minto, estudando de
perto sua expressão.
— Não, — ele decreta, cruzando os braços sobre o peito e olhando
para mim desafiadoramente.

— Desculpe?— Eu pergunto em indignação falsa.

— Você não pode!— Ele pega meu laptop de mim, rapidamente


perfurando algumas chaves.

— O que você está fazendo?— Eu franzi a testa com sua reação


incomum. Eu só queria dar um empurrãozinho nele para me beijar
novamente.

— Pronto, — ele devolve para mim, — bloqueei todos os sites de


namoro do seu computador, — diz ele presunçosamente.

— Por que você faria isso?— Eu empurro, precisando de pelo menos


uma explicação. Se ele não vai me beijar ainda, vou me contentar com uma
pequena admissão de que ele não quer que eu namore.

— Não é seguro. — Ele responde rapidamente, uma pequena carranca


aparecendo em seu rosto. — Além disso, quando você teria tempo agora?
Eu ocupo a maior parte do seu tempo, — ele raciocina, parecendo muito
satisfeito consigo mesmo.

— Você ocupa, não é?— Eu sondo, um sorriso tocando nos meus lábios.
— Exatamente, — ele responde, — por que você precisaria de um
namorado quando me tem?

A reação é adiada quando ele percebe o que acabou de dizer. Ele pisca
duas vezes, a boca entreaberta, pois sem dúvida deve estar pensando em
maneiras de corrigir seu erro.

Em vez disso, ele me surpreende quando continua. — Isso mesmo, eu


te encontrei primeiro. Os buscadores são guardiões, — declara com
orgulho, colocando o laptop em cima da mesa à sua frente. Do nada, seu
braço dispara, seus dedos agarrando meu queixo me puxando para um
beijo esmagador.

— Aí está, — ele fala contra a minha boca, — selado com um beijo.

Só posso olhar nos seusolhos, as pupilas tão grandes que quase


ofuscam suas íris. Ele não parece esperar pela minha aprovação, pois me
olha como um animal selvagem pronto para devorar sua presa. Do nada,
sua língua foge e ele lambe meus lábios com um longo golpe.

Estou congelada, em choque com as suas ações, porque mesmo na


minha mente protegida isso não é normal. Mas quanto mais olho para ele,
mais percebo que ele não é normal. Ele provavelmente não tem ideia de
como se comportar com uma mulher. Senhor, estou surpresa que ele saiba
se comportar com outras pessoas.
Há uma selvageria nele que não pode ser domada por maneiras
superficiais. E não importa o quão caro seja seu traje, ou o quão praticada
seja sua expressão, ele não pode esconder o que realmente é.

Um animal.

Um sorriso puxa meus lábios, e eu devolvo sua lambida com uma das
minhas.

Ele pode ser um animal, mas eu não seria tão atraída por ele se ele não
fosse.

Seus dentes pegam minha língua, e ele a chupa na boca, a palma da


mão em volta da minha garganta quando me traz para ele.

— Eu preparei algo para você, — ele sussurra, os dentes mordiscando


meus lábios.

— O que?— Eu pergunto em um tom ofegante. Já visões me assaltam,


de nós nus juntos, membros emaranhados, bocas fundidas... Ah, minhas
coxas se apertam só de pensar nisso.

— O oceano. Vou levá-la ao oceano, — diz ele, e de repente está fora


de mim e arrumando suas roupas.
— Isso parece incrível. — Eu respondo, tentando manter a decepção
fora da minha voz. Eu mal consegui que ele me beijasse novamente, e ele
não perdeu tempo em encontrar um motivo para parar.

Por um breve momento, tenho que me perguntar se talvez ele não


esteja atraído por mim. Na idade dele, é quase inédito que ele nunca tenha
beijado ninguém antes. Eu deveria saber desde que passei muito tempo
pesquisando homens e relacionamentos. E se... ele não gosta de mulheres?

O pensamento me deixa quieta, e quando ele pega minha mão e me


leva ao carro, tenho que me forçar a sorrir.

O passeio é rápido quando chegamos à casa de infância de Vlad, que


fica a poucos passos da praia. Ele está de lábios apertados quando
pergunto mais sobre sua família, comentando principalmente que eles
estão todos mortos.

— Então só resta Katya, — observo quando saímos do carro. Vlad


está carregando alguns cobertores para que possamos sentar na areia e
uma cesta com alguns lanches e bebidas. Estou realmente surpresa com o
esforço que ele fez nisso.

— Sim... se ela ainda vive, é isso, — ele responde, me dando um meio


sorriso.

Não querendo estragar o momento, mudei rapidamente de assunto.


— Você percebe que isso parece muito com um encontro, —
acrescento com as bochechas corando quando tiramos os sapatos, andando
descalça na areia.

Ele se vira para mim e, um pouco pensativo, comenta: — Você está


certa. Parece um encontro.

Sem acrescentar mais nada, ele caminha na minha frente, colocando a


cesta e esticando os cobertores na areia.

Balanço a cabeça para ele, percebendo que ele simplesmente não pode
dar uma dica.

Parece um encontro?

Teria sido tão difícil concordar que isso é um encontro?

Esfrego meus braços com as mãos enquanto o ar frio da noite roça


contra a minha pele. Eu não sabia que seria tão frio em uma noite de
verão, mas acho que é por causa da brisa do oceano.

— Concluído!— Ele exclama, exibindo uma expressão orgulhosa ao


olhar para o pequeno piquenique que montou.

— Bom trabalho, — acrescento secamente, e seu sorriso cai de


repente.
— Você não gosta disso. — Ele afirma, sua expressão abatida.

— Não, eu gosto, — eu rapidamente o tranquilizo. — Eu amo que


você pense tanto nisso, — acrescento, e o rosto dele se ilumina.

— Perfeito! Eu não tinha certeza do que as meninas gostam... — ele


diz, coçando a parte de trás da cabeça. De repente, percebo que não sou a
única que está confusa.

Quanto mais penso, mais não consigo me controlar quando caio na


gargalhada. Vlad me olha como um filhote perdido, como se sua própria
vida dependesse da minha aceitação.

— Então por que... — ele solta, e eu não quero nada além de pegá-lo
em meus braços e banhá-lo com beijos.

Como é que esse assassino treinado pode ser confiante e mortal em


um momento e depois se tornar tão tímido e inseguro em relação a si
mesmo no próximo?

— Acabei de perceber que tenho feito tudo da maneira errada, — digo


a ele, me abaixando no cobertor e dando um tapinha no assento ao meu
lado para ele. Ele se senta, com os olhos grandes e cheios de curiosidade
enquanto se junta a mim.

— O que você quer dizer?


— Eu tenho adivinhado tudo o que está acontecendo entre nós,
pensando que talvez você não me ache atraente ou... — Sinto minhas
bochechas esquentarem e, por algum motivo, tenho dificuldade em mostrar
o fato de que pensei que ele não gostava de mulheres, — ou que você não
gostava necessariamente de mulheres, — admito finalmente.

— Vocês... pensou... — um sorriso puxa seus lábios antes que ele


também comece a rir. — Oh, Sisi, se você soubesse... — ele geme, trazendo
o rosto para o meu. Nossos narizes estão se tocando, nossos olhos tendo
sua própria disputa de olhar.

— Eu gosto de mulheres, — afirma ele sem rodeios, — uma mulher


especificamente, — ele altera, e meus lábios se contraem em resposta. —
Mas admito que não sou o melhor em lidar com mulheres, já que você é a
única que já estive há muito tempo.

— Acho que resolvemos que nenhum de nós é ótimo em entender o


sexo oposto, — mencionei brincando.

Seus olhos escurecem e seu olhar se concentra em mim. Arrepios


entram em erupção por todo o meu corpo enquanto eu absorvo sua
intensidade.

— Não se engane, no entanto, — ele sussurra, com a respiração tão


perto da minha pele.

— Sim?— Eu pergunto sem fôlego.


— Eu acho você muito atraente, Sisi. Tanto que toda vez que você sai,
tenho que tomar um banho frio. É isso que você quer ouvir? Que apenas
estar perto de você me deixa tão dolorosamente duro que eu gostaria de
nada além de levantar sua saia,— os dedos dele escovam minha perna
pegando a bainha do meu vestido em um movimento tentadoramente
lento, — e fodê-la em carne viva e sangrento até que nós dois gozemos,— a
boca dele aninha na minha garganta.

— Por que você não faz?— Minha voz sai em um gemido baixo.

— Oh, eu vou, ainda não, — ele escova a bochecha sobre a pele logo
acima da minha clavícula, — esta não é uma corrida para a linha de
chegada, é uma maratona. E pela primeira vez na minha vida, acho que
prefiro ter paciência, — pressionando os lábios dele logo acima do meu
coração, — e desembrulhar você pouco a pouco.

De repente, ele arranca a boca do meu corpo, levantando-se e tirando


a camisa. Meus olhos se arregalam quando eu pego seu torso esculpido, a
totalidade uma tela para inúmeras imagens. Quase não há nenhum ponto
intocado pela tinta.

— Uau, — eu sussurro.

Os cantos da boca se enrolam, e ele não perde tempo em me tirar do


cobertor e me levar em seus braços.

— O que?
— Eu trouxe você para o oceano para aproveitar o oceano, — diz ele
no meu cabelo enquanto corre em direção às violentas ondas do mar.

Meus braços se apertam em volta do pescoço quando ele mergulha nós


dois na água fria.

Nós dois caímos quando ele nos submerge totalmente na água.


Minhas mãos se apertam ao redor dele, mas ele não me solta, nem por um
segundo.

— O que?— Eu pergunto, cuspindo quando finalmente voltamos à


superfície. A água está incrivelmente fria e de repente começo a tremer. —
Por que você fez isso?— Eu exijo, escandalizada.

Vlad tem um sorriso perverso no rosto, e não parece que o frio faça
muito com o corpo. Não, a pele dele ainda está incrivelmente quente
enquanto eu me aproximo.

— Eu precisava de um banho frio, — ele retruca, e só posso encará-lo


de boca aberta.

— Você quer dizer... — Eu paro, apontando para a metade inferior


dele.

Ele me puxa para mais perto até que minha frente esteja aberta
contra a dele, e eu posso sentir o contorno rígido.
Deus, ele é enorme!

— Como você pôde pensar que eu não estava atraído por você quando
parecia um pecado quente, — a mão dele segue pelo meu pescoço, os dedos
escovando a pele sensível. — Eu só preciso olhar para a porra dos seus
peitos e todo o sangue corre para o meu pau, — ele murmura, sua voz
derretida, o fogo que eu precisava para me aquecer na água.

— Então deixe-me ajudá-lo, — sussurro, minhas mãos já estão indo


para a frente, apertando meu vestido, desamarrando o nó e lentamente
escorregando o material do meu corpo.

Meus seios se libertam dos limites do corpete, e o olhar de Vlad é


imediatamente fixado nos meus mamilos enrugados.

— Está frio, — eu rapidamente desculpo, mas ele me corta,


balançando a cabeça enquanto os olha com reverência.

Sua mão se move lentamente explorando o vale dos meus seios, seu
toque quente e excitante.

— Puta merda, — ele amaldiçoa baixinho em um assobio. Uma mão


se esconde atrás da minha cintura quando ele me pede para envolver
minhas pernas em volta da cintura, trazendo aquela parte dura dele em
contato com o meu centro.
Um gemido me escapa com a sensação, e não posso me ajudar
enquanto continuo esfregando contra ele.

— Caramba, hell girl, você está me deixando louco, — diz ele,


dobrando a cabeça e dando uma lambida longa no seio antes de envolver os
lábios em volta do mamilo, chupando-o na boca.

O calor da sua boca contrasta com a minha pele fria, o efeito no meu
corpo é sublime. Ele segue o contorno do meu seio, dando pequenos beijos
na cicatriz logo acima do meu coração. Em qualquer outro momento, eu me
sentiria consciente das muitas marcas no meu corpo, mas como ele
continua a adorar minha pele como se fosse a oitava maravilha do mundo,
não consigo reunir vergonha.

Aperto minhas pernas ao seu redor, insistindo em moer contra ele,


sua língua fazendo maravilhas à minha pele. Ele se reveza entre os dois
seios, chupando, provocando e lambendo.

— Eu poderia me deleitar com você para sempre, — ele fala, seu


hálito quente me fazendo ofegar. Tomando um broto entre os dentes, ele
morde. Forte.

— Vlad, — eu meio gemo meio que grito quando sinto uma disparo de
um raio ir direto para o meu núcleo. — Estou tão perto, — mal consigo
expressar as palavras, mas ele parece saber exatamente o que eu preciso,
pois continua a prestar o mesmo tipo de atenção ao outro mamilo até que
eu esteja batendo nos braços dele. O frio da água é prontamente esquecido,
pois sinto formigamentos espalhados por todo o meu corpo.

Meu corpo amoleceu, meus membros quase entorpecidos, mal percebo


quando ele está me levando para fora da água.

Ele me deita gentilmente no cobertor, com os olhos ainda famintos


olhando para o meu corpo seminu.

Ajoelhado entre minhas pernas, ele me agarra pelos tornozelos, me


arrastando até ele, com as mãos subindo pelas minhas panturrilhas.

— Estou feliz que você tenha se escondido em Sacre Coeur até agora,
— ele admite, sua voz estridente. Inclino minha cabeça para dar uma
olhada melhor nele, seus olhos vidrados de desejo enquanto seus dedos
exploram meu corpo.

— Por quê?— Pergunto lânguida, meus sentidos ainda estavam


sobrecarregados com o prazer que ele havia arrancado do meu corpo mais
cedo.

— Porque você é apenas para os meus olhos. — Ele usa um dedo para
levantar a bainha do meu vestido, empurrando-a sobre minhas coxas. Eu
sigo seus movimentos de perto, e justamente quando acho que tenho sua
trajetória descoberta, ele me surpreende agarrando meu vestido com as
duas mãos e rasgando-o no meio. O material cai imediatamente, sua força
me surpreende mais uma vez.
As mãos de um assassino.

Uma rápida respiração e percebo que há uma mudança nele. Não é


mais o malandro brincalhão de antes, ele agora é um predador à espreita.

Por que me excita ainda mais saber que ele tem o poder de arrancar a
vida de mim? Seria tão fácil, mãos em volta da minha garganta, um estalo
do meu pescoço, e ele me mataria.

E por que eu quero exatamente isso?

Quase consigo imaginar como seus dedos se aprofundariam na minha


carne, logo abaixo da minha mandíbula, apertando seu domínio até que eu
mal consiga respirar antes de me soltar, me concedendo uma pequena
pausa. Há essa parte oculta de mim que quer que ele me domine até que
eu implore por misericórdia, e isso me assusta e me excita.

— O que você está fazendo agora?— Estou atordoada ao olhar para


ele, toda a tinta e músculos salientes, o peito ondulando a cada pequeno
esforço. Quero espalhar minhas palmas sobre a pele dele, sentir sua
dureza debaixo de mim e, enquanto tento fazer exatamente isso, ele me
para.

Ele balança a cabeça, divertido.

— No momento em que você me toca, hell girl, eu luto, — ele puxa, os


dedos ainda fazendo círculos sobre minha carne nua. — Eu mal estou no
controle agora. No momento em que meu pau estiver fora, ou seu deus me
livre, suas mãos nele, perderei o controle que me resta, — a voz dele é
grossa e tensa, e posso ver que ele está tentando lutar sozinho.

Ele passa a parte de trás da mão sobre minha calcinha úmida, e


minha respiração prende na minha garganta enquanto ele desliza para a
parte extremamente sensível de mim.

Uma parte que ninguém além de mim já tocou antes.

Um rubor envolve meus traços nessa linha de pensamento, mas eu


tinha lido on-line o suficiente para saber o que esperar, e esse
conhecimento serve apenas para me deixar ainda mais molhada, minha
boceta vazando na tentativa de fazê-lo dar a atenção que deseja.

— Você está molhada para mim, não é, Sisi?— ele pergunta,


deslizando o material para o lado para empurrar o dedo entre minhas
dobras encharcadas, sentindo exatamente o que sua voz — sua própria
presença — faz comigo. Ele se move lentamente enquanto toma um pouco
da umidade, cobrindo o dedo inteiro e levantando-o até a boca.

Eu assisto hipnotizada quando ele abre os lábios — aqueles lábios


sensuais que deveriam ser ilegais para um homem — colocando o dedo
dentro e chupando.

— Você me faz assim, — respondo sem fôlego, enquanto ele usa a


língua para lamber cada última gota.
O que ele não sabe é que, desde o primeiro momento em que o vi, ele
me fez sentir assim. Eu posso ter falhado em reconhecê-lo, mas no
momento em que ele dirigiu aqueles olhos negros para mim, com as mãos
na minha garganta enquanto ele me levantava no ar, eu estava
dolorosamente excitada, todo o meu corpo formigando por sua
proximidade.

— Porra, Sisi. Você não tem ideia do que essas palavras fazem comigo,
— ele murmura, os olhos meio fechados, uma expressão dolorida no rosto.

Ele está de joelhos entre as minhas pernas separadas, e eu movo meus


olhos para baixo, para o estômago trincado, a tatuagem servindo apenas
para enfatizar mais os quadrados apertados de seus abdominais. A cintura
dele afunila, e noto suas calças molhadas, e a maneira como elas se
moldam nos quadris e...

Eu engulo com força ao ver o contorno de seu pau e tenho uma ideia
do que minhas palavras fazem com ele.

Não tenho vergonha de admitir que explorei a internet em minha


busca para descobrir por que ele me faz sentir assim, e eu li o suficiente
para saber que aquilo não é a norma. Mas, novamente, tudo nele é
superlativo, então não devo me surpreender que seu pau também seja um
tamanho ultrajante.

E, no entanto, mesmo que meus olhos tenham dificuldade em


acreditar que algo tão grande será capaz de caber dentro de mim, não
posso deixar de apertar minhas paredes instintivamente, quase capaz de
imaginá-lo entrando e...

Um gemido escapa dos meus lábios, a imagem muito vívida, meu


corpo mais acordado do que nunca.

Seu olhar escurece enquanto ele observa a maneira como minha


boceta se contrai lentamente, mais umidade saindo de mim.

— Maldição, hell girl, — ele rosna, ajeitando aquele monstro nas


calças. — Sua boceta é perfeita demais, — diz ele, balançando a cabeça
enquanto continua olhando.

De repente, suas mãos deslizam ao longo da borda da minha calcinha


e uma respiração prende na minha garganta enquanto ele as desliza pelas
minhas pernas. A ação é tão tentadoramente lenta que está apenas
aumentando minha antecipação — e minha frustração.

Ele ri quando vê minha impaciência, inclinando-se para baixo e


provocando meus lábios com os seus.

— Eu quero te destruir, Sisi, — ele sussurra, sua boca pairando em


cima da minha. Há uma intensidade na maneira como ele olha para mim,
e eu realmente acredito nele ser capaz de me destruir. Na verdade, eu
gostaria.

Talvez até imploraria por isso.


— Eu quero te despedaçar e te recompor, — ele segue a língua pelo
meu rosto e no meu queixo, arrepios aparecendo por toda a minha pele. —
Mas na fase de reconstrução, eu manteria algo seu, — os dentes raspam
ao longo da curva do meu pescoço, — para que você nunca fique inteira
sem mim.

— Sim. — Eu me pego concordando, mesmo que suas palavras devam


me fazer correr. — Por favor, — sussurro, e sua boca se abre bem na
junção do meu pescoço, com os dentes se alojando na minha pele e
rompendo a superfície.

Eu ofego com a dor inesperada. Ele aplica sucção, e minhas pernas se


abrem, deixando-o se encaixar entre elas, buscando um contato próximo.

— Por enquanto, — ele sussurra levantando a cabeça, sangue


manchando os dentes brancos, — eu vou me contentar com isso.

Um beijo áspero e ele continua sua jornada pelo meu corpo, parando
brevemente sobre o meu estômago e arrastando a língua para baixo. Ele
aninha a cabeça entre as minhas pernas e, por um breve momento, quero
protestar.

Mas quando ele me dá uma longa lambida, minha cabeça bate no


cobertor em um gemido alto.

— Você é mau. — Eu expiro e sinto ele sorrir contra minha boceta. Ele
envolve os lábios em volta do meu clitóris, sugando-o na boca.
Minhas mãos apertam o cobertor, minhas coxas tremendo enquanto
ele continua suas ministrações. Trazendo o dedo para a minha entrada, ele
testa minha abertura, me encontrando confortável ao seu redor.

— Cristo, — ele exclama, seu hálito quente soprando minha boceta


me fazendo contorcer, e uma mão se encontra atrás da minha cintura, me
segurando contra ele, — você é tão apertada que eu mal consigo encaixar
um dedo, hell girl. Foda-se, não posso deixar de imaginar o jeito que você
vai sangrar por todo o meu pau, — ele murmura, suas palavras
pretendem escandalizar, mas, em vez disso, elas só me despertam ainda
mais.

Eu quero sangrar por todo o lado.

Senhor, mas devo estar perdendo a cabeça.

Tirando o dedo de mim, ele continua a me provocar com a língua, uma


dor se formando dentro de mim enquanto minha excitação aumenta. Eu
me contorço embaixo dele, minhas coxas se dobrando, meus músculos
tensos enquanto ele morde meu clitóris, a dor se misturando com prazer
em um crescente imparável.

Em algum momento, parece demais, e eu tento me afastar, mas ele


não me deixa. Me segurando ainda mais forte, ele entra e sai de mim, com
a língua deslizando sobre o meu clitóris.
De repente, começo a espasmar por ele, um jorro de umidade saindo
do meu canal. Ele continua a me atacar, devorando minha libertação. É
um ataque aos sentidos, enquanto ele continua a causar estragos no meu
corpo, persuadindo mais sensações.

Quando ele finalmente terminou comigo, estou desossada.

— O que você está fazendo comigo?— Eu mal encontro forças para


perguntar, meus olhos fechados, minha respiração difícil.

— Subornando você, — ele puxa, lentamente seguindo sua língua na


minha barriga. — Dando tanto prazer que você vai se tornar viciada em
mim, — ele sorri para mim.

Eu quase gemi com sua arrogância, mas a verdade é que seria tão
fácil ficar viciada nele. Certamente, seus beijos se tornaram minha nova
forma favorita de sustento. Adicione os orgasmos à minha nova dieta e ele
é quase indispensável.

Mas há mais nele do que isso. Muito mais.

Está nos olhos mais escuros e no sofrimento que às vezes vaza pelas
rachaduras. Está em sua fachada perfeitamente construída e na maneira
como ele se apresenta ao mundo. Mas mais do que tudo, é da maneira que
ele permite a mim vislumbrar sob sua máscara.
Vejo a solidão estridente e a instabilidade maníaca, deixando o
caminho para um gênio puro, mas incompreendido.

E eu quero tudo.

Eu desejo tudo.

Não há explicação para as coisas que ele me faz sentir. Minha própria
essência chama a dele de uma maneira que às vezes me faz questionar
minha própria sanidade.

Mas eu realmente preciso ser sã quando estou com ele?

Há liberdade em sua marca de insanidade — de crueldade, violência e


brutalidade. E não importa o quanto eu tentei racionalizar ele, eu
simplesmente não posso.

Ele está além da lógica, e mesmo além do sentimento, em um reino


próprio onde regras não existem.

Ele interrompe minha linha de pensamento enquanto sobe pelo meu


corpo, levando minha boca em um beijo agressivo e me fazendo perder a
cabeça.

Intoxicante.

É assim que eu chamaria seus lábios quando tocam nos meus.


Estou perdida em seu abraço e nem percebo quando ele nos rola até
que eu esteja deitada em cima dele, minha pele nua contra a sua.

Solto um suspiro de contentamento, me sentindo mais feliz do que


nunca, uma sensação de pertencer, lentamente me chamando e me
avisando que posso ter encontrado meu lugar.

Colocando minha bochecha na curva do pescoço, começo a traçar suas


tatuagens, observando que muitas das figuras se assemelham a demônios.

— O que eles querem dizer?— Eu pergunto, olhando para cima e o


encontrando olhando para mim com um olhar inescrutável no rosto.

— Minha maldição, — ele responde enigmático, apertando os braços


ao meu redor.

Respirando fundo, apenas me permito apreciar a proximidade de seu


corpo, a maneira como minha pele se sente contra ele, e quando
começamos a conversar um pouco mais, me vejo confiando nele sobre meu
dilema com meu irmão.

— Acho que não sou bem-vinda lá, — admito, expondo minha


vulnerabilidade para ele.

— Por quê?— Ele franze a testa.


— Marcello é... — Eu deixo escapar, sem saber como colocá-lo, já que
ele é amigo do meu irmão, — ele não parece muito feliz por eu estar lá. Na
maioria das vezes, ele me ignora e, quando finalmente tivemos uma
conversa, ele estava incrivelmente estranho, — respiro fundo, tentando
dissipar o nó que se forma na minha garganta.

Vlad fica em silêncio por um momento.

— Não o julgue com severidade, — diz ele finalmente, virando-se


para me olhar nos olhos. Sua mão acaricia meu rosto, enfiando um fio
atrás da minha orelha. — Conheço Marcello desde que éramos jovens. Ele
não teve nada fácil, e considerando as circunstâncias do seu nascimento,
não o culpo por estar um pouco fechado.

— O que você quer dizer?— Eu pergunto, piscando rapidamente.

Que circunstâncias do meu nascimento?

— Não sei o quanto você sabe sobre sua mãe biológica, — continua
Vlad, com a voz incomumente calmante, — mas ela era doente mental.
Ela também era uma fanática religiosa que pensava que o diabo estava
tentando tentá-la a cada passo. Marcello não teve uma infância fácil por
causa disso. Quando você nasceu, ela estava convencida de que você tinha
a marca do diabo, — diz ele, com os dedos traçando a marca vermelha
acima da minha testa. Marcello sabia que não podia deixar você morar
com ela ou com seu pai, já que ele era ainda pior, então achou melhor
enviá-la para Sacre Coeur. Acho que ele nunca se perdoou por ter
mandado você embora, — menciona Vlad.

Levo um momento para digerir o que ele está dizendo.

— Eles eram tão ruins assim?— Eu pergunto eventualmente, porque


em minha mente nada poderia ser pior do que o que eu havia suportado
em Sacre Coeur.

— Você não quer saber, — responde Vlad. — Há coisas ruins, e depois


há seus pais, — diz ele, e eu aceito a sua palavra.

Se Vlad acha que eles eram ruins, então é provável que eles realmente
foram ruins.

— Obrigada por me dizer, — sussurro, escovando meus lábios contra


os seus.

Isso muda as coisas e me faz querer me esforçar para conhecer meu


irmão um pouco melhor. Talvez eu não seja tão indesejada quanto pensei
inicialmente.
No dia seguinte eu tenho dificuldade em manter meus olhos abertos.
Vlad me deixou em casa nas primeiras horas da manhã e eu mal consegui
dormir. Acabamos comendo, bebendo e conversando a noite toda,
alternando entre brincar na água e caminhar pela praia. Sendo as únicas
pessoas havia sido libertador, e tivemos uma pequena pausa no tumulto da
vida cotidiana. Também sei que Vlad ficou cada vez mais estressado para
encontrar sua irmã, e é tudo o que ele está fazendo no tempo em que não
estou com ele.

Com uma dor de cabeça, vou para a sala de jantar, pronta para o
tempo da família. Embora Vlad tenha esclarecido Marcello e seu
comportamento, isso não significa que ainda não me sinto uma estranha.

Quando começo a descer as escadas, vejo meu irmão e Lina se


beijando no corredor.

Pelo menos alguém está feliz.

— Sisi?— Lina pergunta, e eu desvio o olhar, escondendo um sorriso


ao testemunhar seu momento de ternura com Marcello.

— Sisi, espera!— Ela chama enquanto eu vou em direção à sala de


jantar.
— O que?— Eu me viro para ela, franzindo a testa.

— O que é isso?— ela pergunta, vindo para o meu lado e movendo


meu cabelo para o lado. Ela aponta para algo no meu pescoço e levo um
momento para perceber do que ela está falando... e como eu consegui.

Oh maldição!

— Você está doente?— ela continua, obviamente preocupada comigo.


Meu coração batendo alto no meu peito, murmuro uma desculpa.

— O que? Não... algo deve ter me mordido, — a mentira escorrega


facilmente, mas não consigo encontrar os seus olhos. — Estou com fome,
vejo você na sala de jantar, — rapidamente me desculpo e saio.

Essa foi por pouco.

O que Vlad estava pensando em deixar esse tipo de marca na minha


pele, sabendo que as pessoas veriam? Mais do que tudo, o que era eu
pensando em permitir uma coisa dessas.

Eu balanço minha cabeça para mim mesma. É como perder todas as


inibições no momento em que me encontro na presença dele.

Estamos assumindo cada vez mais riscos, e não quero pensar nas
reações de Lina ou Marcello se descobrirem como passei minhas noites.
Conhecer Vlad um pouco melhor me fez perceber alguma coisa. Podemos
nos encaixar perfeitamente, mas isso não significa que o mundo exterior o
veja como tal.

Pelo que Vlad me disse, pude perceber que ele não é muito aceito na
sociedade. Inferno, Marcello, que segundo todos os relatos é seu amigo, não
confia que ele não entre em fúria assassina a qualquer momento.

Se alguém soubesse quanto tempo passamos juntos ou quanto ele


começou a significar para mim, não tenho dúvida de que eles tentariam
acabar com o nosso encontro. E por causa disso, não posso me dar ao luxo
de escorregar, nem um pouco.

Sim, Vlad é meu pequeno segredo, mas neste momento ele é a única
coisa que me mantém sã.

É mais tarde a noite que tenho coragem de procurar Marcello.

Batendo na porta de seu escritório, eu me preparo quando ouço sua


voz chamando, — Entre.

Entrando, mantenho minha cabeça erguida me sentando na frente


dele.

— Sim?— ele diz, surpreso em me ver.


— Eu queria te agradecer, — começo, e as sobrancelhas dele se
levantam em confusão. — Por me receber e por me oferecer essa chance de
começar de novo, — explico.

— Sisi, você não precisa me agradecer por nada, — ele responde, e


por um momento fico chocada ao ouvi-lo usar meu apelido em vez do meu
nome completo, como costuma fazer. — Esta é sua casa também. De
qualquer forma, eu deveria pedir seu perdão por não ter perguntado
anteriormente se você queria ficar no Sacre Coeur. Eu apenas assumi... —
ele deixa escapar, parecendo desconfortável. — Foi errado da minha parte
pensar que só porque Sacre Coeur era tudo o que você já conheceu que não
ficaria curiosa sobre o mundo exterior.

— Você não poderia saber, — digo a ele, — para todos os efeitos,


Sacre Coeur era casa.

Eu suspiro profundamente. Anos de interação com as mesmas pessoas


parecem ter atrapalhado minha capacidade de me relacionar com os
outros.

— Estou feliz por termos resolvido isso, — dou-lhe um pequeno


sorriso.

— Eu também. Eu odiaria que você pensasse que não é bem-vinda em


sua própria casa. Sei que você tem um relacionamento muito forte com
Lina e Claudia, mas gostaria que pudéssemos nos conhecer também.
Devagar, — ele retorna meu sorriso com um dos seus.
— Eu gostaria disso. — Eu aceno.
CAPÍTULO QUATORZE

— Eu estou surpreso de ver você aqui, — menciona Enzo, levantando


uma sobrancelha para mim enquanto acende um cigarro.

— Você está?— Eu pergunto, sentando-me e me sentindo confortável.

Considerando nossa inimizade anterior, pode parecer surpreendente


que eu esteja visitando Enzo em sua casa. Mas recentemente encontrei
algumas informações que mudaram minha percepção sobre ele e nossa
situação. O fato de ele não estar me recebendo com uma arma na minha
cara apenas confirma o que eu já sei: Enzo Agosti é um filho da puta
astuto.

E tenho que admitir de má vontade que meu respeito pelo homem


aumentou.
Eu estava de olho no negócio dos Agosti há um tempo, especialmente
porque ouvi alguns rumores não tão glamourosos. No meu desespero, tinha
sido todo o ímpeto que eu precisava para colocar Agosti sob a lupa. E eu
usei minha ex-parceira, Bianca, para fazer exatamente isso. Em uma troca
de favores, ela colocou algumas escutas no escritório de Enzo, e por meses
agora a percepção que eu obtive ajudou a diminuir minhas opções.

— Vá direto ao ponto, Kuznetsov, — afirma Enzo, já parecendo


entediado.

Ah, mas quando ele ouvir o que tenho a dizer, esse tédio certamente
será apagado de seu rosto.

— Tão impaciente. E aqui EU quem sou acusado de ter ADD10. — Eu


brinco, me servindo do seu maço de cigarros sem ser convidado.

Ele estreita os olhos para mim quando eu acendo, pegando um trago.

— Eu não estou com disposição para suas brincadeiras, Vlad. — Ele


revira os olhos para mim, claramente esperando me ver partir em breve.

— Hmm, e de que brincadeiras estamos falando?— Eu finjo


ignorância.

10 Déficit de atenção
Ele levanta uma sobrancelha para mim. — Realmente?— ele balança
a cabeça. — Devo lembrá-lo do que aconteceu na última vez em que
estivemos juntos na mesma sala?— ele pergunta, e eu começo a rir.

Tivemos nossas diferenças ao longo dos anos, e todas elas começaram


com a sua esposa, ou pelo menos a atual esposa. Após o desastre inicial,
não tivemos muitas oportunidades de nos encontrar. Mas uma vez em uma
cúpula, tivemos uma briga quando eu contratei um grupo de strippers
para entrar no meio da reunião. Eu até as enviei com a mensagem
personalizada de que eram para sua esposa, já que ele não é capaz de
satisfazê-la.

Enzo estava completamente envergonhado, exatamente como eu


queria, mas sua reação não foi tão veemente quanto eu havia previsto.

Agora eu sei o porquê...

Ainda assim, a rixa é profunda, e duvido que essa conversa conserte


tudo magicamente. Ele tem algo que eu quero, então vou me curvar um
pouco.

— Vamos, Agosti. Onde está o seu senso de humor? Elas também


eram de primeira classe. Você não tem idéia do quanto elas cobram por
hora, — eu o olho para cima e para baixo, meus lábios se contraindo. —
Você sabe, sequiser se aposentar, esse pode ser um caminho. Você não é
ruim para os olhos. Certamente as mulheres te amam... — Eu paro quando
vejo o tique na mandíbula dele.
— Eu me pergunto se você tem um desejo de morte, Kuznetsov. Eu
sempre soube que você é imprudente, mas não totalmente suicida.

— Ahh, Enzo, Enzo, — eu ri, — imprudência é apenas o desejo de


morrer sem a coragem real. Talvez eu apenas goste de cortejar a morte,
mas não estou pronto para conhecer meu criador. — Eu digo divertido.

— Bem, aqui está você. — Ele responde com desdém, e eu decido


chegar ao ponto para que ele não tire as armas para mim. Prefiro não ter
buracos quando encontrar Sisi hoje à noite.

— Quero informações, — digo a ele, meu sorriso se foi


completamente.

Ele zomba de mim e sei que preciso trazer as grandes armas.

— Jimenez, — começo, e sua atenção se encaixa em mim. — Eu sei


que você está trabalhando com ele. O que significa que está atualmente na
posse de alguns dos negócios dele.

Sua máscara não cai na minha menção, mas seus ouvidos certamente
se animam.

— O que você quer?— Ele pergunta tensamente. Ah, eu sabia que


Enzo era inteligente. Se ele perceber que estou ciente de suas atividades
extracurriculares, deve entender que eu sei muito mais do que isso.
— Eu te disse. Informação. Estou procurando um certo Miles, afiliado
ao Project Humanitas.

Ele vira seu olhar gelado para mim, debatendo por um minuto o que
responder.

— Vamos, Agosti, não custa a você uma coisa para ajudar um cara.
Por outro lado... poderia ser muito caro para alguém que mora em Sacre
Coeur, — eu me alongo no meu lugar, observando alegremente quando
minha ameaça afunda.

Ele range os dentes, mas me dá um aceno rápido.

— Eu não sei nada sobre um projeto Humanitas, — diz ele e sou


rápido em fazer tsk com ele, — mas, — ele continua: — há um Miles que é
conhecido na cena do clube, especialmente no território de Jimenez. Eu
não conheço o cara pessoalmente, mas ele tem vários intermediários
comprando para ele todos os meses.

— Maravilhoso, — exclamo, um sorriso largo nos meus lábios, —


onde posso encontrar esse Miles então?

— Como eu te disse, ele não se mostra. Mas você pode encontrar os


intermediários dele, — continua ele, pegando o computador e digitando
algumas teclas. — Estes são os clubes que tenho certeza de que
frequentam, — ele empurra a tela em minha direção e eu me inclino para
ler a lista de clubes e seus endereços.
— Eu não sabia que Papillion era o clube de Jimenez, — estreitei
meus olhos. O resto com o qual estou familiarizado, como já estive em
todos eles no passado, em minha busca por respostas. Mas eles estão todos
fora do estado. Papillion, no entanto, está em Nova York e é amplamente
conhecido por estar sob Agosti.

— Ninguém sabia, — explica Enzo, — mas como ele não foi recebido
em Nova York, ele disfarçou o clube. Foi o primeiro mandato que concordei
quando fiz parceria com ele. Eu abriria um clube em meu nome, e ele teria
liberdade para controlá-lo.

— Entendo, — eu pronuncio, — vou precisar de acesso ao clube.

Enzo faz uma pausa por um momento.

— Confio na sua discrição...

— Você tem minha palavra.

Ele assente, pegando o telefone e fazendo algumas ligações.

— Você está indo como VIP. Tente não se destacar muito. Posso ter
meu nome nisso, mas está fora de meu controle, — diz ele.

— Não se preocupe, Agosti. Eu serei uma mosca na parede, — dou-


lhe um sorriso deslumbrante, e ele fecha os olhos, as mãos indo para as
têmporas.
— É com isso que estou preocupado, — ele geme. — Estou falando
sério, Vlad. As pessoas que frequentam esses lugares não são pessoas que
você quer como inimigos. É melhor se você chamar o mínimo de atenção
possível.

— Vamos lá, quão ruim pode ser?— Eu acho que deveria ser o
contrário, já que meu humor é inconstante, na melhor das hipóteses.

Ele não morde minha isca. Em vez disso, ele retira um USB,
conectando-o ao computador e programando algumas coisas nele.

— Isso lhe dará acesso ao feed. Você conhece o esquema. O clube está
na frente, os leilões estão no porão. Papillion é conhecido principalmente
por imigrantes, — comenta, me entregando o USB

Ah, ele quer se livrar de mim o mais rápido possível. Só posso fazer
isso quando me levanto, embolsando o USB.

Ao sair, no entanto, sinto-me compelido a acrescentar, — um favor por


um favor, Agosti. Seu segredo está seguro comigo.

Não olho para trás quando saio de casa, percebendo que preciso
planejar meu próximo passo.
Com um último olhar nas sacolas de roupas que comprei, só espero
que Sisi goste delas. Como nossa desventura pulando pela janela não
funcionou tão bem, improvisamos e desenvolvemos um sistema para ela
sair sem ser detectada pela porta dosempregados na parte de trás da casa.

Eu já estacionei meu carro na estrada principal e agora estou apenas


esperando ela vir.

Depois de sair da casa de Enzo, passei o dia inteiro assistindo ao feed


do Papillion, fazendo um plano do local e elaborando planos de backup,
caso nossa visita possa chamar atenção indesejada. Eu decidi deixar Sisi
me acompanhar por três razões. Um... bem, não quero perder um dia com
ela. Segundo, ela vai me ajudar a me misturar e três, ela garantirá que eu
fique focado, já que Vanya não será um problema se ela estiver lá.

Ora, simplesmente não há razão para não trazê-la comigo,


especialmente porque confio em mim para mantê-la segura.

— Você está sorrindo de novo. — Vanya aponta, e eu olho para ela.

— Eu não estou, — eu bufo.


— Sim, você está, — ela cruza as mãos sobre o peito, levantando uma
sobrancelha para mim. — É a garota, não é?— ela pergunta
conscientemente.

— Claro que não, — respondo um pouco rápido demais, e ela apenas


sorri para mim.

— É a garota, — ela repete e eu suspiro.

— Está bem, talvez seja a garota. Não estou dizendo que é. Estou
dizendo que há um possibilidade. — Eu contorno o assunto, esperando
que ela largue o assunto.

Não é a primeira vez que Vanya menciona isso. Em suas próprias


palavras, ela está tentando me fazer perceber meus sentimentos por Sisi e
que eu deveria casar com ela o mais rápido possível. Quero dizer,
tecnicamente, o que ela está dizendo não é uma má ideia. Se eu fosse
esposo dela, ela pertenceria apenas a mim. A parte dos sentimentos é um
pouco sombria, já que acho que não os tenho — defeitos de fábrica,
infelizmente — mas certamente posso fingir.

— Eu sabia!— ela exclama. — Você sempre fica com aquele olhar


sonhador e fascinado em seu rosto, — acrescenta ela e minha boca se abre.

— Eu não!— Eu afirmo com veemência, mas ela só me encara.


— Você protesta demais. — Ela sorri para mim antes que sua forma
desapareça no ar. Levantando o olhar, vejo Sisi correndo em direção ao
carro à distância.

Por um momento, penso nas observações de Vanya. Eu talvez concorde


com isso. Eu sou um estudante com uma queda. Mas quem não seria? Sisi
não é apenas incrivelmente atraente, mas também é espirituosa e
engraçada, acompanhando meu senso de humor fodido. Ela até aprova
minhas inclinações mórbidas menos do que o habitual. Se isso não é ser
um guardião, não sei o que é.

Talvez eu devesse me casar com ela.

A ideia não é tão ruim. Marcello pode tentar me matar, mas pelo
menos não estaríamos nos escondendo o tempo todo. Eu até seria capaz de
vê-la à luz do dia, fato que se mostrou muito difícil até agora. Você
pensaria que nós somos vampiros com nossos horários noturnos.

Mas quanto mais tempo passo com ela, mais a desejo. Não é o
suficiente que eu esteja próximo, ouvindo seu riso, provando sua própria
essência.

— Deus, — eu gemo alto, estendendo a mão para ajustar meu pau. É


uma ocorrência comum agora. Eu só tenho que pensar nela e estou duro. É
simples assim.
Inferno, na outra noite na praia eu estava tão louco por ela que gozei
nas minhas calças. Estranho, mas eu consegui limpá-lo sugerindo outro
mergulho na água. O cheiro dela, o sabor, apenas a sensação de sua boceta
na minha língua tinha sido uma experiência diferente de qualquer outra.

E como alguém que já havia zombado da ideia de estar tão perto de


outro ser humano, acho que agora não consigo me aproximar o suficiente.

Para isso, preciso fazer o meu melhor para não estragar tudo. Sei que
não tenho muitas coisas para mim e que ela poderia tero melhor — e mais
normal — mas tenho que mostrar a ela que, mesmo com minhas falhas,
sou a melhor escolha.

Ainda bem que tenho fortes proteções no meu computador, porque


seria embaraçoso examinar meu histórico de navegação.

Que tipo de assassino treinado procura dicas sobre como seduzir uma
mulher?

Pior ainda, que tipo de assassino gasta seu tempo em fóruns


femininos catalogando ideias de encontros? Eu seria uma vergonha para
toda a comunidade de assassinos, se é que existe alguma coisa assim.

Minhas vítimas me temeriam mais se soubessem que passo horas


escolhendo roupas femininas? Ou que agora sei que existem diferentes
tons de azul? Devo ter memorizado toda a paleta de cores em minha busca
por algo que Sisi adoraria.
Puta merda!

Estou realmente perdendo desta vez.

— Você está aqui. — Ela abre a porta do passageiro, subindo. Ela está
sem fôlego ao correr em direção ao carro, mas seu sorriso está largo no
rosto.

— Você está aqui, — repito entorpecidamente, parecendo um disco


quebrado.

Sisi não perde tempo, inclinando-se para a frente e me dando um beijo


rápido.

— Então, o que está acontecendo hoje à noite?— Ela pergunta


animadamente, e eu me vejo deixando para trás todas as minhas
apreensões, procurando mergulhar na presença dela.

— Hoje à noite, vamos caçar. — Eu digo a ela, detalhando


rapidamente meu plano.

Papillion funciona um pouco diferente do Block, outro dos clubes mais


famosos de Jimenez.

Enquanto vasculhava as imagens, marquei um padrão. O clube abre


às doze, operando como um clube de strip normal até as duas. Em seguida,
os especialistas são convidados para o porão para assistir ao
entretenimento da noite e fazer lances nos seus favoritos. Enzo não estava
brincando quando disse que os imigrantes eram a principal atração.

O clube recebe solicitações de diferentes tipos de pessoas de todo o


mundo, mas, em vez de cumpri-las em um contrato único, elas preferem
fazer os compradores lutarem pela mercadoria e, como tal, aumentar seus
lucros. É tudo bastante engenhoso, do ponto de vista comercial, já que
aparentemente a capacidade da Papillion de terceirizar qualquer tipo de
humano é incomparável.

Definitivamente, posso ver por que Miles seria um regular nesse


lugar. Agora, porém, estou curioso para saber quais solicitações
personalizadas ele coloca.

Felizmente, pelo que pude juntar, o anfitrião chama as especificações,


colocando assim o potencial comprador no local e garantindo que a
concorrência em potencial fique sabendo disso para aumentar os preços.

Todo o esquema é brilhante, e só consigo imaginar o tipo de dinheiro


que Papillion traz.

Nosso plano é bastante direto. Sisi e eu íamos para dentro, ficamos


por aqui até sermos convocados para o leilão e depois procuramos o pessoal
de Miles.

As roupas que eu tinha nos comprado deveriam nos ajudar a nos


misturar. Eu tinha ido especificamente para um estilo completamente
diferente do meu habitual. Dessa forma, mesmo que alguém me
conhecesse, seria expulso por duas coisas — a presença de Sisi e minhas
roupas.

— Você está falando sério?— Sisi levanta uma sobrancelha quando


termina de vestir as roupas que eu peguei.

— Droga, — assobio, admirando a vista.

Está bem, talvez eu deveria ter ido para mais conservador.

Ela está vestindo uma calça de couro que acentua suas pernas, o
contorno ousado de sua bunda fazendo os homens quererem chorar.
Certamente, meu pau aprova. Minha cabeça, no entanto, não tanto, já que
todo mundo estará vendo a mesma coisa.

Para a blusa dela, eu tinha uma camisa preta simples, desta vez
certificando-se de que não havia decote, já que seus peitos são uma
passagem de ida para o inferno para quem cujos olhos se desviem um
pouco.

— Vamos lá, você não pode estar falando sério, — ela repete,
segurando o corte de couro que diz Propriedade de Berserker.

— É fofo!— Eu respondo virando as costas e apontando para o


Berserker escrito no meu, — combinamos, veja?
Ela balança a cabeça para mim, mas eventualmente cede e coloca.

Francamente, eu tive que improvisar rápido e encontrar um bom


disfarce, especialmente para esse tipo de clube. Então, eu segui o caminho
mais fácil —finjir que faço parte de um capítulo composto de MC chamado
White Trash, passeando casualmente pelo Papilion com minha garota
motociclista para comprar novos humanos.

Considerando que meu corpo inteiro está cheio de tatuagens, não


parece exagerado que eu faça parte de uma gangue nefasta. Mas acima de
tudo, é tão oposto polar de como eu geralmente me apresento que devo
passar despercebido.

Para combinar com a roupa de Sisi, também estou usando uma calça
de couro, uma blusa branca e colete de couro com o nome do clube. Se
alguém perceber a ironia do nome ainda não se sabe, embora com base em
experiências anteriores, o jab deva cair em ouvidos surdos.

Eu também me esforcei bastante para modificar temporariamente


minha tatuagem Bratva, para que ninguém reconhecesse.

— Não acredito que concordei com isso, — Sisi murmura sob o fôlego.

— Precisamos entrar sem ser detectados. Basta pensar nisso como


uma nova aventura. Quando você terá a chance de ser uma garota
motociclista novamente?
— Não tenho certeza se essa é minha definição de aventura, — ela
revira os olhos para mim, — mas eu vou ajudá-lo.

— Ótimo!— Eu digo, batendo alto na sua bunda.

— Auch! Por que você fez isso?— Suas mãos vão para a bunda dela
enquanto ela tenta difundir a dor.

— Entrando no personagem, — eu pisco para ela.

E ainda por cima, eu também tinha uma Yamaha velha que


acumulava poeira na minha garagem. Desta vez, quando Sisi vê a
motocicleta, ela não zomba dela. Em vez disso, ela está bastante
entusiasmada com a perspectiva de montá-la.

— Uau, — ela respira enquanto eu lhe entrego o capacete. — Isso é


incrível.

— Você está feliz em andar cadela?— Eu brinco, e os seus olhos se


arregalam antes de colocar um soco nas minhas costelas. —Brincadeira,
brincadeira, — levanto minhas mãos em rendição.

Ela faz beicinho e eu me viro para ela, levando a boca em um beijo


áspero, meus dentes pegando o lábio inferior enquanto eu o mordo.

— Segure firme. — Eu digo contra os seus lábios, pegando os braços


dela e envolvendo-os na minha cintura.
Chegamos ao clube no momento em que ele se abre e, depois de
mostrar ao segurança que tenho a autorização de Enzo, somos convidados
a entrar e mandados esperar que um membro da equipe nos mostre nossa
sala VIP.

Ao entrarmos no clube, observo que não é nada de especial. Pelo


menos comparado com alguns outros lugares que eu já vi, isso é bastante
calmo.

Há mini palcos por toda parte, todos hospedando dançarinos e


strippers cercadas por homens com tesão. Existem alguns sofás e mesas
nos fundos, todos ocupados com homens e mulheres em diferentes estágios
de merda. De longe, parece um banquete digno do próprio Calígula.

— É isso?— Sisi sussurra quando vê o show, e por um segundo me


arrependo de trazê-la aqui. Eu não quero que ela veja o pau de um
estranho.

Protegendo os olhos dela com a minha mão, desvio a sua atenção,


levando-a para o bar.

— Uau, — ela continua dizendo, olhando em volta com admiração. —


Isso parece muito divertido, — ela aponta para as meninas dançando nos
postes. — Mas também difícil, — ela franze a testa quando as vê fazer um
movimento bastante complicado.
— Você precisa de músculos fortes para fazer isso. — Eu mal estou
olhando para o poste, toda a minha atenção nela. Suas expressões são tão
vivas, tão fascinantes que têm o poder de me fazer esquecer de mim
mesmo.

— Eu quero tentar, — ela responde animadamente.

— Você o que?

— Eu quero tentar isso. Parece tão interessante, — repete ela,


soltando um suspiro sonhador enquanto continua a admirar os
movimentos das meninas.

Balançando a cabeça para ela, já que claramente isso está fora de


questão, eu me viro para o barman e peço duas doses de vodka.

— Aqui. — Eu entrego a ela uma, um pouco irritada por sua atenção


estar totalmente no palco. Ela nem sequer olha para mim tirando o copo
da minha mão e o vira, rapidamente engasgando. Sua mão vai para o rosto
enquanto ela se vira, virando-se para mim com olhos arregalados enquanto
pede ajuda.

— Respire, — inclino-me para sussurrar.

— É tão forte... — ela mal solta as palavras.


Até agora, eu só lhe oferecia bebidas mais suaves, como vinho ou
champanhe, querendo facilitar sua exploração de álcool.

— De quem é a culpa que você virou como uma profissional?— Eu


zombo dela, divertido. — Deixe-me mostrar como é feito, — digo, meus
olhos atentamente nela.

Pego meu copo, virando-o de uma só vez. Então, antes que ela possa
reagir, minha mão dispara, agarrando-a pela mandíbula, meu polegar
abrindo os lábios enquanto eu a provoco com a boca. Abrindo bem,
compartilho a bebida com ela, lambendo os lábios quando termino.

Ela está quieta e seus olhos se erguem para mim, sua excitação clara
na maneira como suas pupilas se dilatam. Ela morde os lábios devagar,
um gesto que está instantaneamente me deixando duro.

Estou tão focado nela e em seus pequenos jogos sedutores que não
percebo quando outra mulher se coloca na nossa frente.

Sisi é a primeira a mover a cabeça, estudando a mulher com olhos


estreitos.

— Uma dança de colo?— Ela pergunta, colocando a mão no meu


ombro, — ela pode assistir, — ela acena em direção a Sisi. A mulher está
vestida apenas com um biquíni, todos as mercadorias à vista, pois sem
dúvida está tentando encontrar clientes para a noite.
Estou prestes a tirar a mão dela de mim, mas Sisi me bate,
agarrando-a para perto e dobrando-a.

— Não, obrigada, — ela finge um sorriso largo, se levantando e se


colocando entre mim e a mulher.

Bem, se isso não é interessante...

— Eu não perguntei a você, — responde a mulher presunçosamente


antes de se virar para mim, — eu não sabia que as cadelas podiam
responder, — continua, olhando Sisi de cima a baixo em desgosto e levo
um momento para perceber que as garotas motociclistas devem ser
submissas.

Infelizmente, falhei em escolher esse disfarce, já que Sisi é tudo menos


submissa.

— Oh, esta pode. — Sisi responde, apertando forte o pulso da mulher


e torcendo-o. Ela choraminga de dor, mas ela não parece desistir, pois
aponta a outra mão para os cabelos de Sisi.

Estou pensando em intervir, mas um olhar de Sisi e eu levanto


minhas mãos, deixando-a fazer suas coisas. Então eu me inclino para trás
e assisto ao show.

Sisi é rápida em torcer a mão da mulher, envolvendo os dedos em


volta da nuca e trazendo a cabeça para a mesa de bar. Um baque
retumbante, e todo mundo de repente fixa seus olhares na luta em
andamento.

Observo com prazer que Sisi continua batendo a cabeça da mulher na


mesa até que o sangue comece a sair de seu rosto.

Porra, se isso não me deixa ainda mais duro.

É interessante que ninguém intervenha para ajudar a mulher,


considerando que ela é funcionária aqui. Não, em vez disso, todo mundo
está torcendo por Sisi enquanto ela está arruinando o rosto da mulher.

Seu sorriso torceu nos cantos; ela tem um olhar de pura satisfação
causando ainda mais estragos no corpo da mulher. É só quando ela fica
mole nos braços que ela solta, a mulher desmoronando no chão, imóvel.

Sisi está incomodada quando passa por cima do corpo e vem para o
meu lado.

— Ela estava certa, você sabe que deveria ser submissa, — acrescento
sarcasticamente, e antes que eu perceba, o soco dela dispara, as juntas dos
dedos roçando minha bochecha.

— Você a deixou tocar em você, — ela assobia para mim, e eu pisco


duas vezes, surpreso com sua explosão.
— Eu deixei?— Eu pergunto devagar, estranhamente excitado por
este lado dela.

— Você deixou ela te tocar,— ela enfia o dedo no meu peito, agressão
saindo dela quando vem até mim.

Meus olhos se movem sobre o seu corpo, a maneira como o peito sobe e
desce rapidamente, a garganta se contraindo e formando um buraco logo
acima da clavícula.

— Foda ela! Foda ela! Foda ela!— Os gritos estão ficando mais altos à
medida que mais pessoas nos cercam, todos interessados no espetáculo em
andamento. — Foda ela! Foda ela! Foda ela!

Para não perder uma saída dramática, eu rapidamente levanto Sisi de


seus pés, jogando-a por cima do ombro e sinalizando para um empregado
nos mostrar nossa cabine.

Uma mosca na parede... Bem, missão cumprida.


O quarto é pequeno, mas privado, com um sofá redondo e uma mesa
no meio. Aceno para a equipe e fecho a porta, finalmente derrubando Sisi
no chão.

— Você, — ela me olha, e é a primeira vez que a vejo assim.

E eu amo isso.

Ela não perde tempo em me empurrar para baixo no sofá, subindo em


cima de mim, com as mãos presas no material da minha camisa.

Sua explosão me diverte e me encanta ao mesmo tempo, então eu


apenas deito e deixo ela me servir o que quiser.

— Você queria uma dança de colo?— Ela pergunta, sua expressão


séria e, oh, tão sedenta de sangue. Meu pau se contrai nas minhas calças, o
bastardo amando esse lado dela.

— Se bem me lembro, nem reagi à sugestão dela. — Eu aponto,


tentando manter a cara séria. Mas ela não está comprando.

Afastando-se de mim, ela tira o colete e a camisa, permanecendo


apenas no sutiã. Esse corpo delicioso vai me dar um ataque cardíaco no
futuro.
— Droga, — eu sussurro, meus olhos se aproximando dos seios dela.

— Você vai ter uma dança de colo, — ela me diz, movendo-se de uma
maneira sensual, com os seios balançando enquanto ela sobe em mim tão
lentamente.

Eu engulo. Difícil.

— Você sabe mesmo dar uma dança de colo?— Eu pergunto a ela,


sorrindo.

— Não pode ser tão difícil, — ela murmura sob a respiração. Sua
expressão muda imediatamente quando ela bate os cílios sedutoramente
para mim, roçando o seu peito contra o meu enquanto sopra ar quente no
meu pescoço.

Usando as mãos, ela acaricia meus braços, ondulando sua bunda até
que deslize sedutoramente sobre o meu pau. Meus olhos já estão vidrados,
meu foco apenas nessa sedutora na minha frente que parece ter uma veia
possessiva.

Cobrindo meu braço em volta da cintura, eu a trago contra o meu


peito, parando seus movimentos. Ela olha para mim desconfiada enquanto
eu agarro a mão dela e a coloco entre nós.
— Sinta isso, hell girl, — eu digo, pressionando a mão na minha
ereção para que ela possa ver o quanto me afeta. — Isso é só para você. Eu
só fico duro por você.

Eu a puxo para mais perto de mim, minha testa descansando na dela.

— Lembre disso emseu lindo crânio que eu não vou olhar para outra
mulher. Nunca.

— Bom. Caso contrário, eu seria forçada a fazer algo que não gostaria,
— diz ela, com os olhos ainda atirando punhais em mim.

— O que?— Eu murmuro, a mera sensação dela contra mim me


deixando louco.

— Matar você, — ela sussurra, com as mãos acariciando meu peito


até que ela pare na cintura das minhas calças. — Eu cortaria seu pau e
depois mataria você, — continua ela, com os dedos traçando o contorno do
meu pau duro nas minhas calças.

— É mesmo?— Eu pergunto, luxúria fervendo no meusanguee. Porra,


mas por que ela tem que ser tão gostosa enquanto diz que cortaria meu
pau?

— Sim, e eu ficaria muito triste, — ela faz beicinho, a língua se


esgueirando e dando uma longa lambida na minha bochecha. — Mas
talvez eu guardasse como lembrança, — ela respira contra o meu rosto e
eu quase explodo com isso sozinho.

— É seu, — eu gemo quando ela abaixa lentamente meu zíper, com as


mãos passando pela cintura da minha boxer.

Ela é tentadoramente lenta, e minha respiração para quando ela


coloca a mão em mim.

Por Jove, isso é tortura.

Por um momento, tenho que fazer uma pausa mental, fazendo o meu
melhor para não dar-lhe o que ela merece neste exato momento.

— Hmm, — ela faz um som profundo na garganta, a palma da mão se


abrindo sobre o meu eixo enquanto me acaricia de ponta a base.

Meus olhos tremulam, a sensação de sua mão pequena sobre meu pau
me faz estremecer.

— Eu li sobre o poder do pau grande online, — diz ela, com a voz


baixa e rouca.

— Você leu?— Eu pergunto em um gemido estrangulado.


Eu sei que ela leu. Inferno, eu conheço todo o seu histórico de buscas
de cor. Eu até sei que minha freira pecadora está lendo livros maliciosos, e
ela claramente está fazendo anotações para me agradar.

Não que eu possa julgar, já que tenho feito o mesmo.

— Mmm, — ela se inclina para lamber minha orelha, — se encaixa,


— ela sussurra apertando seu domínio sobre mim e eu gemo alto.

A mão dela já está subindo e descendo o meu eixo, o polegar


deslizando sobre a cabeça do meu pau enquanto ela usa o pré-sêmen para
lubrificar seus movimentos.

Sim, ela definitivamente está fazendo anotações.

— Você está me matando, hell girl, — eu a agarro pela garganta,


mantendo o rosto colado ao meu. — Você está me matando.

— Ainda não, — ela responde com a bochecha perto de mim.

— É isso que eles ensinam no convento? Como deixar os homens


loucos? Porque, porra, você está conseguindo, — eu cerro meus dentes
enquanto ela continua a usar aquelas mãos delicadas.

Sua boca se levanta em um sorriso e ela morde o lábio no processo.


— Bem, tecnicamente somos as noivas de Cristo... — ela segue
sugestivamente e eu quase perco.

Porra, estou com ciúmes de um profeta fictício?

Mas o pensamento de alguém, mesmo um santo, tocando ou mesmo


olhando para Sisi me deixa louco.

Eu mal estou no controle, deixando-a tomar as rédeas e desejando


para não dobrá-la e fodê-la como um animal — rápido e sujo até que ela
renuncie à sua religião e me proclame seu novo deus.

E como a mão dela continua a me torturar, os movimentos cada vez


mais rápidos, só posso levar a boca sua em um beijo esmagador, nossas
línguas brigando, nossas bocas batendo juntas. Eu me deleito com a sua
selvageria que parece refletir a minha.

Minha mão alojada no couro cabeludo dela, eu a seguro perto de mim


beliscando e mordendo, querendo marcá-la permanentemente como minha.

— Porra, — eu amaldiçoo enquanto ela continua me acariciando.

Do nada, ela empurra minha mão para o lado, ajoelhando-se e abrindo


a boca para levar meu pau para dentro. Seus lábios se estendem pela
cabeça lambendo e beijando, girando a língua na parte de baixo como uma
profissional de merda.
O calor da sua boca envolvendo mais do meu pau quase me faz
desmaiar, a nova sensação emocionante.

Mas só porque é ela.

Ela continua me chupando profundamente em sua boca, seus lábios


deslizando sem esforço sobre o meu eixo enquanto ela sobe beijando por
toda parte. A mão dela ainda está me trabalhando de um lado para o
outro, usando a saliva para deixar todo o meu comprimento agradável e
molhado.

Porra!

Estendo a mão e acaricio sua bochecha, segurando o cabelo para o lado


enquanto ela chupa meu pau como se estivesse adorando Jesus.

— Você é uma freira tão má, — eu murmuro, meus olhos alternando


entre fechados e abertos.

Ela sorri com meu pau na boca e o inferno, se eu já vi uma imagem


mais bonita. Batendo os cílios em mim, ela me leva mais fundo na boca,
engolindo o meu comprimento até engasgar.

O jeito que ela está olhando para mim, com seu olhar sedutor envolto
em inocência, me deixa perto do limite.
Ela pega as minhas bolas, massageando-as lentamente. Levantando
meu pau com uma mão enquanto ela se abaixa, colocando os lábios sobre
as minhas bolas e sugando-as na boca.

— Sisi, — minha voz soa estranha aos meus ouvidos enquanto ela
gentilmente aperta minhas bolas na boca antes de deixar um rastro de
cuspe por todo o meu comprimento.

Como ela é real?

Ela é uma sedutora que veio para me atrair para o pecado — não que
eu já não estivesse profundamente envolvido. Mas porra se eu não estiver
agradecido, ela ficou escondida esse tempo todo. Porque, caso contrário, eu
teria que abrir caminho por toda a cidade para torná-la minha.

Alguém com a beleza e a inteligência de Sisi teria atraído todos os


tipos de atenção, e ela teria escolhido homens.

Merda, mas eu nem sei se ela teria me dado a hora do dia se eu não
tivesse chegado a ela primeiro. E esse pensamento me deixa paralisado.

Eu nunca vou deixá-la ir.

Ela está comigo agora, e eu sou um bastardo tão possessivo que


nenhum outro homem jamais agarrará sua mão. Não, todos os seus toques
são estritamente reservados para mim. Todos os seus sorrisos e seus
olhares sedutores.
Tudo.

Suas mãos estão me acariciando para cima e para baixo, sua boca
chupando a cabeça, seus olhos fixos em mim. Ela gira a língua ao redor da
ponta, deixando mais saliva driblar meu comprimento e usando-a para
maior atrito.

Ela é tão bonita que mal consigo respirar. E quando ela me dá uma
última chupada, aqueles lábios grossos enrolados em volta do meu pau no
que só posso descrever como um céu quente e úmido, sei que não posso
mais durar.

— Estou gozando, — eu a aviso, sentindo um formigamento na


espinha enquanto minhas bolas se contraem. Espero que ela se afaste, mas
ela não faz.

Ela continua trabalhando no meu pau até meu esperma disparar em


sua boca. Ela não para até que eu esteja totalmente exausto, engolindo
cada gota do meu gozo.

Com um sorriso perverso, ela ondula o corpo subindo novamente, as


pernas nos dois lados da minha enquanto me monta.

— Perdoe-me, pai, porque pequei, — ela sussurra no meu ouvido.

— Qual é o seu pecado? — eu me pergunto.


— Eu tenho sido muito, muito ruim, — ela suspira.

— Como assim, — minha mão vai para os cabelos compridos e pego


uma mecha, trazendo-a ao nariz e inalando profundamente.

— Eu chupei um pau... e gostei, — ela admite timidamente.

— Você chupou? Isso é muito, muito ruim mesmo, — digo a ela,


minha mão seguindo pelas costas até que eu esteja batendo na bunda dela,
— você pode estar indo para o inferno.

Ela finge uma expressão horrorizada quando os olhos se arregalam, a


boca se separa. — Ah não!— ela exclama.

— Mas está tudo bem, — ela altera atrevida. — Eu vou ter


companhia, — ela pisca.

Porra, nunca vou deixar essa mulher ir embora.

Com um rápido aperto de um botão, abro as calças, minha mão


empurrando a calcinha para o lado para encontrá-la encharcada.

— Você é fogo, hell girl, — eu a olho nos olhos, meus dedos já


acariciam sua boceta antes de se estabelecer em seu clitóris. — Por que
você não faz uma oração para que eu possa levá-la ao céu?— Eu bato meu
rosto na curva do pescoço dela, ela respirando com força enquanto se moe
nos meus dedos. — Você pode fazer isso?— Eu pergunto, e ela suspira
quando eu entro nela, usando seus sucos para facilitar minha entrada.

— Pai nosso, que estás no céu, — ela começa, parando enquanto eu a


empurro, enterrando dois dedos pronfundamente dentro dela, —
santificado... — ela geme quando eu uso meu polegar para sacudir seu
clitóris, — seja seu nome, — ela limpa a garganta, as paredes se
contraindo ao meu redor. Ela é tão apertada, sua boceta agarrando
avidamente meus dedos enquanto eu a acaricio profundamente. — Venha
o teu reino... — ela segue com um longo gemido enquanto eu enrolo meus
dedos dentro dela, encontrando seu ponto G.

— Por favor, me faça gozar, — ela respira com força, abandonando a


oração e se abaixando na minha mão procurando sua libertação.

Por um momento, quero continuar provocando-a, desfrutando de seu


pequeno gemido e do jeito que ela está nos meus braços. Mas um olhar nos
seus olhos e eu não posso me ajudar, pois concentro minha atenção no seu
clitóris até que ela grite meu nome.
— Eu não sabia que coisinha ciumenta que você era. — Comento
enquanto ela me olha através dos cílios. Ela está deitada no meu peito,
mole e ronronando de satisfação enquanto eu movo minha mão para cima
e para baixo nos braços dela com uma leve carícia.

Ela me dá um sorriso tímido.

— Eu levo meus bens a sério, — acrescenta ela, bocejando um pouco.

— É isso que eu sou para você?— Eu levanto uma sobrancelha,


fingindo estar ofendido.

— Mmm, — ela toca o rosto no meu peito, — você é meu, — diz,


traçando o nome na minha pele com os dedos.

Eu nunca pertenci a ninguém antes, e a perspectiva de ser dela me


enche de um calor sem precedentes.

— Eu... — Eu começo, mas sou interrompido por uma batida na porta.

Ajudando rapidamente a vesti-la, endireito minhas próprias roupas


quando abro a porta.
— O entretenimento está prestes a começar, — informa um
funcionário, e eu aceno para ele.

— Pronta? —Eu me viro para Sisi, e ela vem para o meu lado,
enfiando os dedos nos meus.

— Vamos fazer isso, — ela sussurra, beijando minha bochecha.

O funcionário passa o dedo em uma porta de aço na parte de trás do


clube, nos levando a segui-lo. Estamos descendo um corredor escuro até
chegarmos a um conjunto de escadas. Quando começamos a descer em
direção ao porão, barulhos começam a atacar meus ouvidos. A música está
explodindo, mas é quase abafada por vozes coletivas gritando, aplaudindo
e xingando. Por um momento, estou confuso, pois isso deveria ser apenas
um leilão.

Mas quando entramos na plataforma, todo o porão se espalhando à


nossa frente, percebo por que Enzo havia dito que o entretenimento deles é
variado.

O porão havia sido transformado em uma arena de combate. Um


grande palco se estende no meio da sala, com pessoas ao redor enquanto se
animam, algumas balançando suas placas enquanto gritam quantias
exorbitantes.

Como o funcionário nos mostra um canto, ele me dá uma placa de


leilão com o número 64. Ele nem sequer olha para Sisi quando sai, e mais
uma vez me lembro que nesses lugares as mulheres são pouco mais que
gado.

Ela não parece notar a afronta, os olhos colados ao palco quando um


homem sobe, um microfone na mão.

— Todos estão prontos para esta noite?— ele chama, pessoas gritando
sim com ele. Apresentando-se como Mauro, ele continua apresentando um
breve resumo do que está acontecendo esta noite.

Eu o ouço pela metade, meus olhos se concentraram no meu entorno


observando a todos, procurando rostos familiares. Logo de cara, vejo
pessoas que sigo há anos, todos os cotovelos no fundo do tráfico de pessoas.

Agora, quem poderia ser o intermediário de Miles...

De alguma forma, não duvido que o Sr. Petrovic deve ter trabalhado
para ele em algum momento ou qualquer outra pessoa influente, já que
alguém deve ter enviado essas pessoas para procurá-lo. Eu olhei para os
fundostentando liga-los a alguém no círculo interno do Sr. Petrovic, mas eu
não tinha conseguido nenhum acerto nisso. Pena que o Sr. Petrovic acabou
morto pouco depois de divulgar o nome de Miles, já que não tenho dúvida
de que ele tinha mais informações do que havia transmitido.

— Eles são... — Sisi puxa minha mão acenando em direção ao palco.


Dois homens, parecendo mais máquinas de matar do que qualquer coisa,
andam no palco.
— À direita, temos Seth, vindo direto das pirâmides. Com um total de
cinquenta mortes, ele ainda está invicto no ringue. Ele está sem mestre
nos últimos dois meses, então faça suas apostas, senhores. Nós vamos ter
um show interessante.

O anfitrião apresenta um dos homens, um animal corpulento de pelo


menos dois metros. Todo o seu corpo está cheio de cicatrizes, um de seus
olhos substitui por um de vidro.

— Droga, isso deve ser difícil, — murmuro.

— Por quê?— Sisi se inclina para mim.

— Isso é uma grande desvantagem para um lutador. Você precisa de


seus olhos para coordenação, mas também para visão periférica. Se ele
conseguiu tantas vitórias com apenas um olho... — Eu assobio de
admiração.

— Em seguida é Drew, nosso campeão residente. Sr. Meester nos


permitiu emprestá-lo para mais uma noite divertida. Vamos dar uma
salva de palmas ao Sr. Meester, — o anfitrião se move para um dos
homens nas sacadas que acena presunçosamente para a multidão.

— Quem é ele?— Sisi pergunta.

— Um senhor do crime, mais ou menos. — Eu digo com meio sorriso.


Eu esperava ver pessoas que conheço aqui, já que a maior parte do
mundo criminoso não tem escrúpulos, certamente não quando se trata da
forma mais fácil e barata de exploração — trabalho humano e sexo. Mas eu
certamente não esperava ver Petro Meester aqui.

E agora é imperativo que ele não me note.

— Vamos torcer para que não chamemos a atenção dele. — Eu digo a


Sisi, dando a ela um rápido resumo da minha história com o homem.

Imigrante ucraniano, ele estava sob as asas de meu pai há muito


tempo antes de se ramificar e construir seu próprio império. Tudo estava
bem e excelente, até Misha matar o pai, e então eu matei Misha. Petro
havia me abordado com uma aliança potencial com sua filha, que eu
prontamente recusei. Ele levou para o lado pessoal e nós batemos a cabeça
em mais de uma ocasião desde então, mas principalmente nos negócios.
Não sei por que ele ficou tão ofendido com a minha recusa, mas toda vez
que eu estava prestes a fechar um acordo, ele intervinha para tentar
impedi-lo.

— Sua mesquinhez não tem limites. — Eu adiciono secamente.

Eu nunca tinha me esforçado para olhar para ele, mas a última vez
que soube, ele estava no comércio de metanfetamina. Interessante que ele
subiu de nível, e isso me faz pensar se ele tem alguma conexão com
Jimenez e os Gallaghers.
— Drew é o favorito do Sr. Meester, e tem um total de duzentos e
cinquenta e quatro mortes. Bastante discrepância, não?— o anfitrião
pergunta ao público e todos são rápidos em gritar suas previsões. Que
Drew vai acabar com Seth.

— Qual é o objetivo de tudo isso?— Sisi pergunta, parecendo


intrigada.

— Ele está se exibindo, sem dúvida, — explico. Conhecendo a


arrogância de Petro, é exatamente por isso que ele emprestaria seu
campeão a uma dessas lutas. — Além disso, acho que deve haver uma
licitação para o vencedor, caso Seth vença em vez de Drew.

— O que vocêsacham? Quem vai ganhar?

Olho atentamente para os dois homens. Seus físicos são parecidos,


mas logicamente falando, Drew tem mais experiência e deve ser o favorito
nesta batalha.

— Seth, — digo, estreitando meus olhos no palco.

— O que? Sério? Por quê? Ele tem cinquenta mortes versus duzentas
e cinquenta e quatro mortes. Como ele pode ter uma chance?

— Vamos ver, — acrescento, curioso sobre o resultado também.


Mas enquanto os dois lutadores parecem uniformemente combinados
em força física, Seth tem algo que Drew não tem — o desejo de viver. As
muitas vitórias de Drew devem ter acariciado seu ego, porque eu posso ver
a presunção em seu olhar enquanto ele olha para Seth.

Um longo monólogo do anfitrião e o gongo é atingido, a luta começa


oficialmente.

Drew é o primeiro a avançar, imediatamente tomando a ofensiva.


Seth, por outro lado, sai pelo palco, evitando um confronto direto. Em vez
disso, seu olho bom está focado nos movimentos de Drew, catalogando cada
passo e como esses passos são feitos.

Interessante.

Mais dançando um com o outro, e Drew fica impaciente, assim como a


multidão. E dessa impaciência, ocorre o primeiro erro. Drew pula em Seth,
jogando todo o seu peso para a frente, sem dúvida contando com Seth no
chão. Em vez disso, Seth fica parado até Drew estar a um milímetro de
distância dele, após o que ele se afasta imediatamente com uma velocidade
incrível para alguém do seu tamanho.

Ele coloca seu corpo na diagonal, torcendo a metade inferior no chão


enquanto torce o torso para a direita. Segurando um pé para baixo, ele usa
o outro para ajoelhar seu adversário no estômago, o momento combinado
do salto de Drew mais a força por trás do chute de Seth, aumentando a
dor. Drew estremece, o ar saindo dele e ele leva um segundo para se
estabilizar.

Um segundo a mais, porque Seth finalmente libera seu verdadeiro


potencial, correndo para Drew com os punhos. Ele se concentra na cabeça,
aterrissando golpe após golpe nas têmporas até Drew mal ficar parado.

Mais um soco, e Drew olha atordoado para a multidão antes que seus
joelhos se dobrem e ele bata no chão.

— Uau... — Sisi respira e eu compartilho o sentimento.

Impressionante. Muito impressionante.

A sala inteira fica em silêncio, pois provavelmente está de luto pela


perda de suas apostas, e eu dou uma olhada no Sr. Meester, que está
olhando para o palco como se não pudesse acreditar no que aconteceu.

Como eu previ, o anfitrião erra através de um pequeno discurso,


eventualmente colocando Seth em leilão.

— O preço inicial é determinado pelo Sr. Meester, já que é a derrota


dele, — diz o anfitrião, mas o Sr. Meester já saiu da varanda, sem dúvida
a decepção grande demais para seu ego frágil.
Meus lábios se levantam em um sorriso quando o anfitrião se instala
em uma quantidade aleatória, com várias pessoas já tentando aumentar a
oferta anterior.

— Dez, — levanto minha placa, incapaz de me ajudar.

É como se tudo parasse quando o anfitrião olha para mim, sem


dúvida, revirando os olhos para o meu traje atual.

— Sinto muito, senhor, mas estamos falando de milhões aqui, não de


milhares, — diz ele quase exasperado.

— Dez milhões, — eu concordo, encolhendo os ombros.

Sisi está me olhando como se eu tivesse crescido uma segunda cabeça,


enquanto a sala inteira parece estar muito quieta com o meu
pronunciamento.

— Certo, então... dez milhões uma vez, dez milhões duas vezes... —
nenhuma alma desafia a quantia, então o anfitrião é obrigado a declarar
minha oferta vencedora.

— O que você vaifazer com um lutador?— Sisi pergunta em choque, —


um lutador de dez milhões de dólares?

— O que eu poderia fazer? Fazê-lo lutar, é claro, — eu lhe dou um


sorriso brilhante.
Ver suas habilidades em primeira mão consolidou para mim. Ele é o
candidato perfeito. Porque em algum momento no futuro, ele vai precisar
lutar. Intrigante, no entanto. Seth pode ser apenas o guerreiro desenhado
nas minhas costas manifestado na realidade.

Aquele que salvará o mundo de mim.


CAPÍTULO QUINZE

Às vezes eu olho Vlad, e eu não sei quem estou vendo. Não importa o
quanto eu o conheça, há tanta coisa escondida, tanto que ele não está
dizendo. Ele está sempre me dando os fatos. Mas nunca mais do que isso.
Com ele, são sempre fatos frios e lógicos.

Como agora.

Eu assisto estupefata enquanto ele oferece dez milhões de dólares a


um homem, e não consigo descobrir por que ele faria isso.

Quando o leilão termina, Mauro vem falar com Vlad, dizendo que ele
poderá pagar sua compra após o intervalo, já que eles precisam preparar
Seth para seu novo proprietário. Vlad grunhe em aprovação, sua mão
nunca sai da minha cintura quando finaliza os detalhes.
— Qual é o plano?— Eu pergunto quando o anfitrião sai, e Vlad me dá
um olhar estranho.

— Nenhum plano. Foi apenas um estímulo da decisão do momento, —


ele rapidamente me dá um de seus sorrisos encantadores, mas eu posso
ver o que ele está tentando fazer.

— Você não está me enganando, — eu estreito meus olhos para ele.


Eu posso ver através da máscara que está tentando colocar, e tenho
certeza de que deve haver uma segunda razão para isso.

— Sisi, Sisi, — ele me olha, curvando-se para que nossos rostos


estejam no mesmo nível, — às vezes sua intuição me surpreende, — diz
ele, a intensidade em seus olhos me fazendo tremer. — Você pode estar
certa, mas também pode estar errada, — ele brinca, com os lábios
puxando para cima em um sorriso torto.

Tantas máscaras, tantas faces. Quando eu realmente o conhecerei?

Balanço a cabeça para ele, minha expressão dizendo que estou com
ele. Mas, assim como olho nos seus olhos para qualquer sinal de
vulnerabilidade, suas feições se tornam graves, sua mão me pegando pela
garganta, seus dedos massageando meu pulso.

— Às vezes, — ele se inclina para a frente, sussurrando no meu


ouvido, — ignorância é felicidade, Sisi.
— E conhecimento é poder. — Eu respondo, vendo uma miríade de
emoções filtrarem seu rosto, eventualmente se estabelecendo em uma falsa
jovialidade. Seu sorriso se alarga quando seus lábios roçam sobre os meus.

— Conhecimento também é condenação, — ele responde, sua voz


profundamente com uma pitada subjacente de ameaça.

— Nós já não estamos condenados?— Eu pergunto, levantando minha


mão e acariciando sua bochecha.

Ele não responde, seus olhos me prendendo no local, seu toque me


fazendo prisioneira. Até os sons barulhentos que nos cercam desaparecem
quando nos olhamos, tão perto e tão longe.

E assim que começou, tudo acabou. Com as mãos longe de mim, ele
me coloca ao seu lado, voltando sua atenção para o palco e o
entretenimento contínuo.

Estávamos tão sincronizados há pouco tempo, e essa intimidade que


acabamos de compartilhar me fez pensar que nos tornaríamos... Mais. A
primeira vez para nós dois, eu realmente pensei que naquele momento ele
era irrevogavelmente meu.

Coloco minha mão na dele, enfiando os dedos juntos e, pela primeira


vez, a frieza de sua pele parece penetrar na minha. Ele é como uma
escultura de mármore pairando sobre meros mortais, sua presença
imponente e inspiradora.
Olhando para o seu perfil, tenho que me perguntar se esse homem
pode realmente pertencer a uma pessoa. Ele é tão cru, tão pouco contido,
que às vezes sinto que ele pode me sobrecarregar. Ele é cheio de charme
perverso e intenções sinistras — uma combinação mortal tanto para o meu
corpo quanto para o meu coração. Mas por que estou tão atraída por ele?
Tão tomada por essa escuridão inexplicável que fica logo abaixo da
superfície, esperando para me envolver? Por que eu o desejo como um
viciado anseia por sua próxima droga? Porque eu mal posso passar o dia
em que ele não está comigo.

Em tão pouco tempo, fiquei tão dependente da presença dele, tão


acostumada com o calor da sua pele na minha, que não sei o que faria se
ele desaparecesse de repente.

Eu o quero.

Pela primeira vez na minha vida, vou ser gananciosa. Eu quero o mal
e o bem. Eu quero tudo.

O barulho vindo do palco me traz de volta à realidade, e eu me sacudo


das minhas reflexões.

Cinco mulheres quase nuas sobem ao palco, assim como a música


muda de animada para sedutora. Por um segundo, estou confusa, pois a
atmosfera parece idêntica à do bar. Mauro, no entanto, é rápido em
explicar o que vai acontecer.
Todas as cinco meninas estão disponíveis para uma rodada e cada
uma será oferecida individualmente.

— Uma rodada?— Eu pergunto, confusa com a terminologia, e Vlad


faz uma careta.

Uma após a outra, as meninas são leiloadas para alguém na multidão.


Quando a quinta é chamada, todos os homens que venceram sobem ao
palco, dando tapas nas mulheres e arrancando as roupas de seus corpos.

— O quê, — eu franzo a testa, mas logo está claro o que uma rodada
significava.

Os homens são rápidos em abrir o zíper da calça, e essa é a última


coisa que vejo quando Vlad de repente me vira na frente dele, bloqueando
minha visão do palco.

— Não assista, — ele sussurra, me segurando com força.

— Por quê? Não é esse o objetivo de estarmos aqui?

— Eu não quero que você veja homens nus, — ele agarra meu queixo,
garantindo que eu olhe nos seusolhos. — Eu quero que você somente me
veja, — ele sorri. — Você não é a única com uma veia ciumenta, — ele
brinca.

Calor se desenrola dentro do meu corpo em seu pronunciamento.


— É mesmo?— Deixei minhas mãos seguirem seus braços musculosos,
sentindo a tensão pulsando sob sua pele.

Ele pega minhas mãos errantes, trazendo-as para a boca, os dentes


mordiscando meus dedos.

O volume da música diminui, gemidos e gritos retumbantes na sala.

— Eu sou o único homem que você pode olhar, — sua língua faz
coisas perversas nos meus dedos, e minha respiração falha toda vez que ele
chupa as pontas na boca, — o único que você pode tocar... — ele segue os
lábios no meu pulso, logo acima do ponto de pulsação, — o único que você
pode foder.

Palavras me falham quando me perco em seu olhar sedutor. Como é


que ele pode ser tão desapegado em um momento, mas tão suave no
próximo?

— Você vai...me manter?— Eu pergunto, minha voz é baixa. Pela


primeira vez, estou perguntando o que queria saber desde o início.

Um braço aperta a cintura quando ele abaixa a boca para o meu


ouvido.

— Manter você? Você é minha, Sisi. Você vai aonde eu vou, no inferno
ou além. — Eu o sinto sorrir contra a minha pele. — Morta ou viva, — diz
ele e arrepios se espalham pela minha pele, — mesmo que eu tenha que te
matar.

— Enquanto você nunca me abandonar, — eu me inclino para trás


para que ele possa ver a seriedade no meu olhar: — Eu sou sua. Morta ou
viva. — Devo estar louca para concordar com isso, mas para ele eu faria
praticamente qualquer coisa.

— Estou feliz por estarmos na mesma página, — ele sorri, brincando


com uma mecha de cabelo, — porque eu sentiria falta do seu batimento
cardíaco adorável.

— Você me mataria se eu te deixasse?

Ele não responde, seu sorriso largo.

Somente quando ouvimos a voz de Mauro anunciando o próximo


evento Vlad me deixa virar, mantendo um braço possessivo ao meu redor.

Quando todos param no bar do outro lado da sala para tomar um


refresco, somos convidados por um dos funcionários a segui-lo para chegar
a Seth.

Eu seguro Vlad enquanto descemos por um corredor pouco iluminado


antes de pararmos na frente de uma fileira de gaiolas.
— Senhor, — sussurro quando vejo olhos brilhando na escuridão da
sala, todos curiosos e cheios de dor. Estou momentaneamente
impressionada com o que estou vendo, e Vlad me puxa para frente,
balançando a cabeça para mim.

O funcionário abre uma das gaiolas para revelar Seth, já vestido com
uma camisa e calça limpas, com o olhar vazio e entorpecido enquanto olha
para nós.

— Este é o seu controle. — O homem dá a Vlad um pequeno


dispositivo, explicando que Seth tem um chip implantado em seu cérebro, e
o controle o leva à obediência.

— Eu vou deixar você se familiarizar. Mais dez minutos até o evento


principal, — o homem pisca, — você não quer se atrasar para a diversão,
— ele ri enquanto se afasta.

Vlad avalia silenciosamente Seth, movendo-se em círculo estudando


sua forma.

— Você fará, — declara ele, satisfeito consigo mesmo.

Até agora, Seth não reagiu a nada, nem mesmo à sua própria venda.
Ele está apenas olhando inexpressivamente à distância.

As sobrancelhas de Vlad se unem quando ele percebe a mesma coisa


— Seth está imóvel.
— Bem, olá para você também. — Ele acena uma mão na frente dele.

Nenhuma reação.

— Gato comeu sua língua?—Vlad ri, tirando o controle remoto e


estudando-o. — Eu me pergunto o que aconteceria se eu clicasse nesse
botão, — ele entoa, os dedos deslizando ao redor da superfície lisa do
controle.

— Sabe, eu sempre tive uma obsessão por botões. E nunca resisti à


tentação antes, — observa ele quando está prestes a apertar o botão.

O bom olho de Seth se move em direção a Vlad em sua primeira


reação desde que chegamos aqui.

— Oh, ótimo. Por um momento pensei que você era um robô. É bom
saber que você é humano, — Vlad sorri para ele, dando dois passos até
que ele esteja na frente de Seth.

Pegando a mão, ele coloca o controle nela. Seth franze a testa,


ousando olhar para o dispositivo na palma da mão.

— Aqui está como isso vai acontecer. Você é livre para fazer o que
quiser. Você ganhou mais do que esse direito. Não sei como você acabou
aqui, ou o que aconteceu no seu passado, e francamente não me importo.
Seth inclina a cabeça para Vlad, estreitando os olhos para ele como se
não entendesse o que está dizendo.

— Talvez ele não fale inglês, — cutuquei Vlad.

— Ele fala, não é garoto?

Seth move a cabeça para a direita, como se finalmente estivesse


prestando atenção a Vlad.

— Eu tenho uma oferta para você. Eu gostaria de lhe dar um


emprego. Novamente, sem amarras. Você é livre se quiser ir embora, mas
eu poderia usar alguém com sua habilidade. Pagarei e darei um lugar para
morar. Você vai atuar como meu guarda-costas, de certa forma. Não é
muito difícil, se posso dizer.—Vlad se aproxima, olhando para mim para
confirmação.

Eu reviro os olhos para o que só pode ser o começo de uma


performance dramática.

— Eu não exijo muito do seu tempo, e você será bastante


compensado.—Vlad continua falando sobre os benefícios de trabalhar para
ele, tornando-se algum tipo de príncipe mimado que precisa de
monitoramento constante.
Eu acho que em outra vida, talvez. Um sorriso puxa meus lábios
enquanto assisto Vlad tentar o seu melhor para convencer Seth a vir
trabalhar para ele.

Não acredito que ele pagou dez milhões de dólares e o libertou. Um


novo respeito por ele floresce no meu peito enquanto o vejo tentar oferecer
a Seth uma chance justa de viver.

O discurso de Vlad termina, mas ainda não há resposta de Seth.

— Bem, — os ombros de Vlad cedem por um efeito dramático, — eu


tentei, — diz ele com um encolher de ombros, agarrando minha mão e
virando-me para a saída.

Do nada, a mão de Seth está no ombro de Vlad quando ele o para.


Abrindo a boca, ele aponta para a língua... ou o que resta dela.

— Então, o gato comeu sua língua.—Vlad brinca, rapidamente se


preocupando e entregando a Seth seu telefone para digitar uma resposta.

Ele é rápido em escrever alguma coisa, e a expressão de Vlad me diz


que é uma resposta positiva.

— O que diz?— Eu pergunto, e ele apenas me mostra o telefone.

Ajude-me a me vingar e temos um acordo.


— Bem-vindo a bordo, Seth.—Vlad dá um tapinha nas costas e estou
mais uma vez intrigada com as intenções de Vlad.

De volta para a arena o evento principal está prestes a começar


quando Vlad e eu retomamos nossos lugares. Todo mundo está olhando
para nós, perguntando, enquanto Seth se esconde ao fundo, sentando-se
atrás de nós, com o olho bom examinando a multidão.

Mauro está de volta ao palco, apresentando o evento à medida que


várias pessoas vêm para trazer adereços diferentes.

— O momento que todos esperavam está aqui, — ele faz uma pausa,
olhando em volta para aumentar a antecipação. — Sem dúvida, a maioria
de vocês enviou solicitações e aguarda ansiosamente a entrega do prêmio.
Mas, como sempre, sua solicitação será compartilhada publicamente e
todos terão a chance de fazer lances. Quanto mais incomum, mais dinheiro
você terá que gastar, — ele ri e a multidão parece irritada.
Ainda assim, algumas pessoas presunçosas acenam com a cabeça, sem
dúvida, com certeza serão capazes de garantir seu pedido.

— Então o que é isso? Apenas pessoas?— Eu me inclino para


perguntar a Vlad.

Ele me deu um resumo do clube, mas não me contou nenhum detalhe.

— Você o ouviu. Pessoas incomuns, — ele responde, seu olhar está no


palco.

Mauro apresenta a primeira pessoa em leilão — uma virgem Kumari.


Uma jovem vestida com roupas ostensivas e com o rosto pintado em uma
combinação de vermelho e preto é apresentada. Quatro pessoas a carregam
em um trono, estabelecendo-a no meio do palco.

— Kumari?

Vlad está batendo no queixo enquanto ele olha para o leilão em


andamento.

— Kumari é uma tradição nepalesa que usa meninas para incorporar


uma deusa viva. Elas só podem cumprir o papel até chegarem à
puberdade, — explica ele e meus olhos se arregalam de horror.

— Você quer dizer...


— Sim. Algumas pessoas provavelmente pensam que terão alguns
poderes divinos se foderem uma criança, — ele balança a cabeça com nojo.

— Não podemos fazer algo?— Eu sussurro, olhando entre ele e o


palco.

A garota parece atordoada enquanto se mantém imóvel no trono, não


mostrando absolutamente nenhum medo do que sem dúvida acontecerá
com ela.

— Nós podemos, — responde Vlad, e eu respiro aliviada. — Mas não


vamos.

Eu franzi a testa para ele. — Como assim não vamos?

— Sisi, — ele começa, seus olhos ainda colados no palco. — Haverá


mais garotas como ela. Mais pessoas que precisam de ajuda. Não podemos
salvar todos.

— Mas podemos tentar, — digo fracamente.

— Hell girl, — ele se vira para mim, com as costas da mão traçando
minha bochecha, — eu não sabia que você tinha um coração, — ele
comenta ironicamente, sem dúvida tentando tirar minha mente do que
está acontecendo.
— E eu não sabia que você não tinha nenhum. — Eu respondo, meu
olhar acusatório.

— Um pouco tarde demais para essa realização, — ele canta,


aproximando-se do sussurro no meu ouvido. — Eu te disse uma vez, Sisi.
Não me transforme em algo que não sou. Não sou gentil, nem carinhoso, e
não sou definitivamente um cara legal.

— Mas Seth...

— Nada do que faço é sem propósito, — ele me interrompe. — Nunca


interprete mal minhas ações por bondade. Isso só vai te machucar, — diz
ele e é como se eu não o reconhecesse mais.

— Então, e eu? Qual é o meu propósito?— Eu pergunto, de repente


com medo da mudança nele. É engraçado como ele nunca me assusta
quando é o mais violento, mas quando sinto essa apatia vindo dele, sinto
vontade de fugir o mais longe possível.

Seus olhos estão sem emoção me estudando, quase apagado pela


minha pergunta.

— Você é minha, — ele responde. — É isso.

Ele prontamente termina a conversa voltando sua atenção para o


palco em que uma oferta vencedora foi escolhida.
Mais algumas rodadas de pessoas com deficiência ou pessoas com um
certo tipo sanguíneo raro, e eu já estou com medo de tudo sobre isso.

Eu sei como é ser despojado de sua liberdade. Mas não consigo


imaginar o que essas pessoas devem estar passando, sabendo que
simplesmente não há saída. Apenas dor... e abuso.

Vlad explicou que, na maioria das vezes, essas pessoas são usadas
para transplantes de órgãos se forem compatíveis, e na maioria das vezes
os arquivos médicos são invadidos e as pessoas caçadas por esse motivo
específico. É simplesmente um mercado negro para humanos.

A próxima pessoa é trazida. Vestido inteiramente de preto, serve


apenas para enfatizar a palidez de sua pele, a brancura de seus cabelos.

— O que há de errado com ele?— Eu deixo escapar quando o vejo


tropeçando.

— Ele tem uma condição genética chamada albinismo. Seu corpo não
produz melanina, então ele não tem cor, — ele começa, me falando sobre a
biologia por trás do distúrbio. — Você deveria desviar o olhar, Sisi, — ele
me diz, me puxando para o lado dele, pronto para me proteger.

— Por quê?

— É provável que seja brutal, — ele franze os lábios. — O povo albino


geralmente é procurado por uma coisa, — diz ele e, naquele momento, o
braço do homem está amarrado a uma mesa, outro homem se juntando a
eles no palco e usando uma lâmina enorme.

— Última chance, — Vlad sussurra, mas eu balanço minha cabeça.

Eu preciso ver isso. Eu quero, para ver o quão fodido este mundo é. Na
minha ingenuidade, pensei que havia sofrido o pior em Sacre Coeur, mas
estou lentamente descobrindo que a vida fora das paredes do convento não
é menos brutal.

De fato, isso é absolutamente abominável.

O seu braço ao meu redor, posso dizer que ele está tentando me
confortar, especialmente quando a lâmina cai sobre o braço do albino,
cortando-o no cotovelo.

Um grito de gelar o sangue irrompe no ar e as pessoas estão torcendo,


todos já gritando quantias exorbitantes.

A mão é retirada do albino e colocada em uma panela.

— Você não quer dizer que eles... — Estou chocada ao vê-los cozinhar
o braço em um fogão.

— Os membros albinos são usados na bruxaria. Muitas pessoas


supersticiosas acreditam que uma poção feita de carne albina lhes dará
prosperidade, — fala Vlad, e eu assisto estupefata ao fazer exatamente
isso, preparando uma poção viva para quem gastar milhões nela.

— Deus, — eu sussurro.

— Você deveria ter desviado o olhar, Sisi.

— Não. Esta é a realidade em que vivemos. Eunecessito ver.

O primeiro pote é leiloado por dois milhões, com mais três potes
preparados do outro braço e suas duas pernas. Os gritos continuam
quando dois homens cortam as pernas usando uma serra. O pobre homem
nem sequer recebeu nada para dor e a multidão parece torcer por seus
gritos contínuos. À medida que o osso cede, o sangue começa lentamente a
fluir para o chão, antes de jorrar repentinamente em riachos enquanto tira
os membros.

Sua expressão é semi-fechada, a dor é demais. Eu tenho que me


perguntar quanto tempo ele vai viver.

Olhando em volta, todo mundo está animado para assistir a esse


manuseio desumano de uma pessoa. Alguém até grita para cortar a cabeça
também. De repente, percebo o quão profunda é a depravação e que, de
certa forma, o mundo exterior funciona como Sacre Coeur.

Coma ou seja comido.


Existem apenas duas opções. Seja a vítima ou o agressor.

Um olhar para Vlad e eu o vejo desviar o olhar do show sangrento na


nossa frente. O palco já está vermelho, pois a maior parte do sangue foi
drenada do corpo do homem. Os ombros de Vlad estão tremendo um pouco
enquanto ele luta por um mínimo de controle.

— Você está bem?— Eu me viro para ele, percebendo a palidez de suas


feições e a tensão em sua mandíbula. Ele está perto de explodir. Eu posso
sentir isso.

Ele me dá um aceno rápido, mas parece tudo menos ok. Agarrando o


seu rosto em minhas mãos, eu me levanto na ponta dos pés, afastando-o do
espetáculo sangrento. Eu me inclino até meus lábios encontrarem os dele.

Seus olhos estão desfocados quando ele se mantém quieto, e a cena do


restaurante se repete em minha mente.

— Estou aqui, — falo contra os lábios dele. — Tudo está bem, — eu


escovo meus lábios para frente e para trás, provocando-o com o menor
contato. — Eu tenho você.

Ele começa a reagir lentamente, separando os lábios sob os meus,


permitindo-me explorar as profundezas de sua boca.

O que começa como um beijo leve, mas sensual, logo se transforma em


um beijo faminto e aquecido, enquanto ele me faz corar contra seu corpo,
com a boca se abrindo em cima da minha para me devorar. Ele já está
duro, e uma emoção desce pelo meu corpo por poder despertar essa reação
dele.

Sua boca deixa meus lábios quando ele começa a seguir pequenos
beijos no meu pescoço, chupando a pele na junção entre meu pescoço e
minha clavícula, seus dentes raspando a superfície.

— Estou aqui, — repito quando o vejo descer lentamente de sua crise,


suas pupilas dilatadas, todo o corpo cheio de tensão não liberada.

— Deus, Sisi, — ele geme, me segurando mais perto do peito


enquanto ele acena a cabeça sobre o meu coração. — Obrigado, — ele
respira profundamente,dentro e fora. — Obrigado, — ele repete.

Um sorriso puxa meus lábios quando vejo a cor voltar para suas
bochechas.

— Acho que conheço meu propósito, — digo atrevidamente, quase


perdida naqueles olhos negros.

— Você conhece?— Ele pergunta, sua voz perigosamente pecaminosa.

— Eu te motivo. — Eu respondo, satisfeita com a descoberta. Porque


se eu fizer isso, ele nunca vai me descartar. Ele vai sempre precisar de
mim.
Um sorriso triste toca em seus lábios enquanto ele balança a cabeça.
— Você não me motiva, Sisi. Você me faz malditamente humano.

Eu fico em êxtase, incrivelmente feliz com a perspectiva de ser


indispensável para ele.

Quando Vlad está sob controle, voltamos nossa atenção para o palco à
medida que mais e mais lances estranhos acontecem. Um par de gêmeos
siameses e algumas pessoas com distúrbios incrivelmente raros são
levadas às pressas para o palco, desfilando na frente de todos e vendidas
por milhões.

É tudo incrivelmente revelador, e um padrão logo surge.

Poder. Controle.

Todas essas pessoas são mais fracas e, portanto, mais fáceis de


controlar. E eles são apenas usados para bastardos doentes para obter seu
impulso diário do ego.

Assim como acho que já vi tudo, um homem segurando uma macaca


na coleira se aproxima do palco, apresentando-o ao mundo.

— É isso... — minha boca está aberta em choque.

A macaca está completamente sem pêlos, usando um biquíni de duas


peças e uma peruca, todo o rosto pintado em uma maquiagem grotesca.
— Por que um macaco... — Eu deixo escapar, simplesmente sem
palavras.

— É um macaco, — Vlad corrige, parecendo bastante contrito, — um


orangotango especificamente. E parece que alguém por aqui gosta de
parceiros não humanos, — acrescenta ele com desdém.

— Você quer dizer que alguém quer foder um orangotango?— Eu


pergunto, estupefata.

— Não se surpreenda, Sisi. Os seres humanos são seres depravados.


E, infelizmente, o que você viu hoje à noite é apenas a ponta do iceberg.
Contanto que você tenha dinheiro, poderá pagar qualquer coisa... e
qualquer um.

— Você já... — Eu pergunto timidamente, com medo da resposta.

— Inferno não!— a resposta dele é imediata e veemente. — Não me


interprete mal, eu atendo a um tipo diferente de vício, mas depois do que
aconteceu com minhas irmãs, eu nunca pude suportar o tráfico de pessoas.
Serei honesto, é uma das indústrias mais lucrativas, já que os seres
humanos têm uma capacidade quase ilimitada de trabalho e diversidade
de uso. É realmente o melhor recurso disponível se você quiser ficar rico,
— explica ele, e suspiro em alívio.

É exatamente isso que eu amo nele.


Ele é um bandido sem desculpas, mas sua bússola moral é apenas
distorcida. Não há certo ou errado para ele. Mas há justo e injusto.

— Você me surpreende às vezes.

— Por quê? Porque eu não lido em humanos?— ele brinca. — Não se


preocupe, eu faço muitas outras coisas que podem ser igualmente ruins ou
pior. Não vamos esquecer que assassinato é meu pecado capital. — Ele me
dá seu sorriso diabólico característico, uma pequena covinha se formando
na bochecha direita.

— Você pode me matar a qualquer momento. — Eu murmuro, olhando


para ele sedutoramente por baixo dos meus cílios.

— Hell girl, você sabe exatamenteo caminho para o coração de um


homem, — ele sorri, divertido, beijando o topo da minha cabeça e me
aproximando dele.

Mais pessoas são levadas ao palco, com Mauro listando o que as torna
especiais, e logo começo a ajustar tudo. Vlad também parece incrivelmente
entediado quando bate o pé, olhando para o relógio de vez em quando.
Seth, por outro lado, ficou em segundo plano, já levando a sério seu
trabalho como guarda-costas de Vlad.

Toda vez que alguém se aproximava um pouco demais, ele levantava a


mão e guiava as pessoas a manter distância. Vlad, é claro, não pôde deixar
de sorrir para as ações de Seth, repetindo que ele havia feito a escolha
certa.

— Por último, mas não menos importante, temos um pedido muito


popular. Tivemos várias pessoas perguntando sobre isso, portanto, é justo
iniciar o leilão em cinco milhões,— Mauro fala no microfone, e a multidão
está ficando turbulenta, algumas pessoas dizendo que é demais para
começar, enquanto outros estão simplesmente curiosos sobre que tipo de
mercadoria poderia ser tão cara.

— Uma mutação rara na amígdala que resulta em uma forma


incomum de autismo. Mais prevalente em gêmeos, pode ser difícil de
encontrar isso em estado selvagem, — brinca Mauro, e sinto Vlad tenso ao
meu lado. — Mas não se preocupe. Garantimos um par de gêmeos com
essas especificações exatas. O primeiro que encontramos nos últimos cinco
anos, — diz ele e as pessoas ofegam, — sim, senhores, é tão raro e a razão
pela qual estamos começando em cinco milhões.

Mauro continua seu discurso, apresentando os gêmeos de cinco anos,


irmão e irmã. Eles são guiados em direção ao palco, seus rostinhos
enrugados em confusão enquanto pegam a multidão olhando para eles.

Cachos loiros angelicais, as duas crianças parecem tão inocentes,


vestidas de branco. Eles estão de mãos dadas enquanto sobem o palco, a
garota ficando tímida e tentando se esconder atrás do irmão.
— Bom Jesus e Mãe de Deus, — ouço Vlad murmurar, pela primeira
vez usando uma denominação religiosa.

Eu me viro para ele para encontrá-lo olhando admirado para os


gêmeos, com os olhos arregalados, a boca aberta.

— Vlad?— Eu chamo o nome dele, minha mão alcançando a dele. — O


que está errado?— Eu pergunto, vendo-o tão abalado.

— Não pode ser, — ele franze a testa, as sobrancelhas apertada


inclinando a cabeça para o lado, os olhos se movendo rapidamente e
avaliando o ambiente.

— O que é?— Repito minha pergunta, mas é como se ele não estivesse
me ouvindo. Seu foco está apenas no palco e nas crianças que tentam
escapar do escrutínio público.

É quase uma eternidade depois que ele finalmente responde.

— Essa mutação, — ele começa, seu olhar astuto, suas feições


afiadas. — É o que eu tenho. O que minha irmã e eu tivemos.

— Sua irmã gêmea?— Ele assente, liberando minha mão e avançando


na multidão.
O leilão já está começando e, ao contrário dos sons descontentes
iniciais, as pessoas parecem bastante entusiasmadas em oferecer uma
fortuna inteira aos gêmeos.

Mas por que?

— Por quê?— Eu o alcanço, agarrando sua mão e fazendo-o encarar-


me. — Por que essa mutação é tão importante?

— Vinte milhões, — alguém chama apenas e eu ofego com o valor.

— Por quê?—Vlad ri, mas seu rosto não está sorrindo. — Eu tenho a
mesma pergunta. Por que alguém pagaria tanto por gêmeos com uma
mutação aleatória?

— Não parece aleatório, — observo, já que as pessoas não gostariam


de adquirir os gêmeos se fosse apenas um acaso. — Isso lhe dá
superpotências, ou o quê?— Eu faço uma piada, mas percebo que meu
tempo está acabando.

Vlad não está de bom humor. E, ao seguir de perto o leilão, ele parece
ficar mais tenso, com os músculos se contraindo, os punhos se enrolando e
se desenrolando.

— Trinta, — chama Mauro. — Trinta uma vez... trinta e duas vezes...


Vendido para o número 16! Parabéns!— Mauro anuncia o vencedor, e eu
sigo o olhar de Vlad para um homem magricela que abaixa a placa com o
número 16.

— Fique com ela, — ele comanda Seth, antes de correr para a


multidão, rapidamente fora de vista.

— O que... — Eu sussurro, meus pés se movendo por vontade própria


enquanto tento seguir, mas Seth pega meu braço, me segurando.

Um olhar para ele e ele balança a cabeça, gesticulando para eu ficar


parada.

— Pelo amor de Deus, — murmuro baixinho, irritada. Mesmo assim,


não posso deixar de me preocupar com Vlad. O que ele pensa que está
fazendo? Especialmente quando ele está muito perto de quebrar. Ele
acabou de se recuperar de uma decisão complicada e agora está
mergulhando de cabeça em outra.

E se ele surtar?

Senhor, não quero imaginar a carnificina. E com tantas pessoas por


perto, não quero pensar no que poderia acontecer com Vlad se alguém
tentasse detê-lo.

Por favor volte... Não faça nada estúpido.


Só espero que ele pense sobre isso. O que quer que essa mutação
signifique e o fato de Vlad também ter desencadeado algo.

Estou inquieta enquanto espero, meus braços envoltos em torno da


minha cintura escaneo a multidão por ele. Finalmente, somente quando o
vejo se aproximar de nós, posso suspirar em alívio.

— O que você estava pensando?— Eu corro em sua direção, minhas


mãos envoltas no material da sua camisa.

— Eu consegui o que buscávamos, — diz ele, — informação, — ele


pisca brevemente para mim antes de acenar para Seth.

— Precisamos ir. Agora. Acabei de subornar um funcionário pelas


informações de contato de quem comprou os gêmeos. Imagine a minha não
surpresa quando acontece que são de nosso Miles, — ele faz uma careta,
— então precisamos agir rápido e seguir seu intermediário.

Pegando minha mão, voltamos furtivamente para o clube, saindo pela


entrada principal para chegar ao estacionamento.

— E agora, — diz Vlad, acariciando o queixo. — Como temos um


convidado adicional, a motocicleta está fora de questão, — ele reflete, com
os olhos se iluminando enquanto se movem pelo estacionamento. — Mas
isso, — ele aponta para um carro grande, — é perfeito.
Ele não espera que eu responda, correndo para o carro. Tirando o
colete de couro, ele o envolve em volta do punho antes de colocá-lo na
janela, quebrando-a em pedaços.

Reconhecendo que ele já planejou a coisa toda, espero enquanto ele


termina o que está fazendo.

Esgueirando a mão para dentro, ele abre a porta sem esforço para o
carro, nos chamando para entrar.

— Você é louco, — murmuro subindo no banco do passageiro, Seth


pegando o banco de trás.

— Precisamos ser rápidos, hell girl. Não posso perder tempo, — ele
sorri, chutando o console do carro e agarrando os fios por baixo.

— Você sabe o que está fazendo?— Pergunto, quando vejo alguém sair
do clube, os olhos fixos no carro que estamos tentando roubar.

— Talvez. — Ele torce o nariz, combinando os fios atentamente.

— Eu acho que você deveria, porque essas pessoas não parecem muito
amigáveis. — Apontopara os três homens que já estão carregando suas
armas e apontando para nós.

— Quase, — Vlad murmura, agitando os fios até que haja uma faísca.
— Lá vamos nós, — diz ele, satisfeito consigo mesmo.
Mas, assim como o carro ganha vida, as balas começam a chover sobre
nós.

— Abaixe!—Vlad me empurra para baixo, minha cabeça bate no colo


dele. Ele está manobrando o carro, colocando-o ao contrário, assim como as
balas atingem uma janela.

Empurrando o pé no acelerador, ele sai com sucesso do


estacionamento.

— E agora?— Peço sem fôlego quando finalmente saio para respirar.


Seth está bem nas nossas costas, com o olhar vazio como antes.

Vlad, por outro lado, tem um sorriso maníaco no rosto enquanto


acelera pela rua.

— Agora, vamos para a entrada dos fundos e esperamos que o


intermediário saia com os gêmeos. — Ele responde, sua voz cheia de
entusiasmo.

— Então nós apenas seguimos?

Ele acena com a cabeça, com os olhos brilhando dirigindo o carro em


direção a um local escondido a alguns quarteirões abaixo. Estacionando
perto da entrada, ele desliga o motor e esperamos.
— Você pode me contar mais sobre essa mutação?— Reuni coragem
para perguntar, já que ele não parecia muito receptivo pela primeira vez.

Ele se inclina para trás em seu assento, com os olhos em mim.

— Eu não sei muito sobre isso, apenas que no meu caso faz com que
minhas emoções sejam abafadas, — ele começa, — não há muita pesquisa
sobre isso, mas o médico com quem falei observou que geralmente afeta
áreas de emoções e interações sociais.

— Suas emoções são abafadas?— Eu pergunto, piscando rapidamente


tentando digerir as informações.

Isso significa que ele não tem sentimentos?

— De fato, — seus lábios se alargam em um sorriso que não chega


aos seus olhos. Só estou olhando para ele, a cada momento de nosso
relacionamento repetindo em minha mente.

Seus comportamentos aprendidos e as máscaras sociais que ele veste.


O sorriso perverso que coloca no rosto para que tudo o que ele diz seja
tomado como uma piada, mesmo quando é a coisa mais distante de uma. A
maneira como suas palavras parecem divertidas, mas elas sempre
escondem um duplo significado desconhecido para qualquer pessoa, menos
ele. O vazio em seu olhar que noto no raro momento desprotegido, ou a
maneira como seus olhos rodeiam o cômodo como um predador
perseguindo sua presa.
Tudo faz sentido... E ainda assim não.

Tudo nele é tão cuidadosamente elaborado, tão minuciosamente


criado para retratar apenas uma certa imagem. Mas e o verdadeiro ele?
Quantas camadas eu tenho que descascar antes de conhecer o verdadeiro
Vlad?

— Então o que você sente?— Eu não quero saber, mas não posso não
saber.

— A verdade?— a boca dele se curva e eu aceno, — nada.

Nada.

A palavra ecoa no meu cérebro, uma tontura repentina me


ultrapassando.

— Nada. — Repito entorpecida, as palavras afundando e fazendo meu


coração bater alto no peito, uma pequena dor reverberando no centro do
meu ser.

— Eu fico com fome, com sede e, — poupando um olhar para Seth, ele
se inclina a sussurrar — com tesão, — antes de retomar sua posição, —
mas é isso. Sinto falta, mas meus desejos são mais egoístas do que a
maioria.

— O que você quer dizer?


— Eu quero algo, eu pego. Independentemente das consequências, —
ele encolhe os ombros. — Aprendi a jogar com o sistema para que não
pareça assim.

— Isso está certo... — Eu tento criar um sorriso, mas meu corpo


inteiro está se rebelando.

— É claro que, ao longo dos anos, consegui estudar interações sociais e


aperfeiçoei minha abordagem às pessoas. Eu não sou exatamente um
selvagem, — continua ele, não pegando o jeito que estou apenas
concordando mecanicamente. — Eu tenho um sistema honorário de certo e
errado que desenvolvi e sempre pago minhas dívidas em espécie. Veja, eu
não sou tão complicado. De fato, pode-se argumentar que não ter emoções
é libertador.

— Entendo. — Eu respondo vagamente, e ele não parece notar a


mudança repentina no meu comportamento.

Porque com uma palavra, ele frustrou todas as minhas esperanças.

— Lá está ele, — menciona Vlad, preparando o carro.

O homem está levando os gêmeos para um carro, carregando-os nas


costas com dois guardas antes de chegar ao volante.

Quando ele sai, Vlad segue.


Minhas mãos dobradas no meu colo, olho pela janela, bloqueando
tudo.

Ele não pode sentir.

Eu sempre quis uma coisa. Ser amada. Apenas uma vez eu queria ser
a pessoa mais importante para alguém, e justamente quando pensei que
poderia ter encontrado isso, ela foi brutalmente tirada de mim.

Deus, como é isso justo?

Talvez eu devesse ter adivinhado tudo desde o começo. Afinal, ele é


um assassino sem remorso. Como alguém assim pode ter sentimentos
ternos? Ou qualquer sentimento?

Mas eu tinha visto a maneira como ele me tratava, a maneira como se


importava comigo... como se eu fosse preciosa. Foi a primeira vez que
alguém me deu tanta consideração em minha vida e, portanto, me deixei
acreditar que, talvez, ele sentisse algo por mim.

Ele não pode sentir.

Lágrimas queimam atrás dos meus olhos, pois toda fantasia que eu
construí em minha mente é simplesmente destruída.

Continuamos a seguir o carro pelo que parece uma eternidade, Vlad


tomando as medidas necessárias para que eles não vejam que estamos
atrás deles. Eles param na parte de trás de uma fábrica abandonada e
Vlad diminui a velocidade do carro, estacionando-o fora da estrada.

— Estranho, — observa ele, olhando ao redor da área, — eu poderia


jurar que esses edifícios estavam em fase de reconstrução.

Soltando o cinto de segurança, ele sai do carro. Faço o mesmo, mas


quando tento abrir a porta, Vlad me para, empurrando a mão contra ela.

— Você fica aqui, — diz ele, olhando para Seth, — não é seguro.

— Também não é seguro para você, — protesto, empurrando contra a


porta. — E você não está deixando Seth comigo. — Eu falo antes que ele
tenha a chance. — Ele também pode ajudá-lo, se algo acontecer lá dentro,
— eu aponto.

— Sim, mas eu não quero você em perigo, — ele parece exasperado


enquanto tenta me manter dentro do carro.

— Eu não vou deixar você ir sozinho. Então decida logo, porque de


qualquer maneira, eu vou atrás de você. — Eu declaro, cruzando meus
braços no peito.

Ele pode não ter sentimentos, mas eu tenho o suficiente — por ele.

Ele pondera por um momento antes de ceder com um suspiro, abrindo


a porta para mim e me ajudando.
— Você fica ao meu lado o tempo todo, — ele sussurra no meu ouvido,
com a mão na minha.

É em momentos como esse que sinto que ele pode se importar. Por que
mais ele teria tanto cuidado com a minha segurança?

Sabendo que preciso do meu juízo sobre mim, empurro minha


decepção para fora da minha mente, concentrando-me na situação em
questão.

Seth atrás de nós, entramos no armazém, encontrando o primeiro


nível completamente vazio e em ruínas.

— Onde eles poderiam ter ido?— Eu pergunto, olhando em volta


perplexo para o espaço desocupado.

— Deve haver algo por aqui, — Vlad reflete em voz alta, examinando
os arredores. Ele anda pelas paredes, verificando todas as fendas.

— Eles não poderiam ter acabado de desaparecer, — ele murmura


enquanto suas mãos sentem o concreto das paredes. — Veja isso, — ele
bate de um lado antes de se mover alguns metros para bater no outro. —
Isso está oco, — diz ele, batendo de novo, um som oco respondendo. —
Deve haver uma abertura, — ele fala consigo mesmo enquanto sente ao
redor da superfície da parede.
Seth e eu ficamos para trás, deixando Vlad fazer as coisas dele, já que
claramente ele conseguiu isso.

— Aqui, — ele move uma pedra, e uma fissura aparece ao redor da


parede quando um pedaço dela é desalojado, saliente do lado de fora.
Agarrando-se a ela, Vlad puxa em sua direção para revelar uma porta.

— Interessante, — ele murmura, acenando para nós.

Pegando minha mão mais uma vez, andamos dentro do túnel.

Não demoramos muito para chegar a outra sala, filtrando a luz para o
túnel e confirmando que a fábrica é de fato usada por alguém.

— Shh, — Vlad levanta a mão para os lábios enquanto dá um passo à


frente, vozes retumbando da outra sala.

— Precisamos manter isso em segredo o máximo que pudermos, —


diz um homem.

— Ele precisa das crianças imediatamente, — responde outra, — as


outras já estão prontas. O garoto morreu e a garota está danificada. Ele
não acha que pode salvar nada, e a cadela não pode mais engravidar.

— O que você espera, Glen? Ele a usa como égua de ninhada há muito
tempo. Estou surpreso que ela tenha durado até agora, — ele suspira e eu
posso ouvir alguém andando por ali.
— Você sabe o quão raro isso é. Ele passou décadas procurando por
mais informações e mal consegue encontrar alguns a cada poucos anos.
Nem mesmo então. Estamos falando de revolucionar a guerra, Patrick. É
difícil agora, mas em alguns anos, quando sua pesquisa estiver concluída,
os países clamarão por seus estudos.

— Eu não gosto disso. Ele está assumindo muitos riscos.

— Seu trabalho não é esse. Apenas faça suas tarefas. Preciso de um


exame físico completo dos gêmeos e me avise se há algo recuperável dos
outros. Às vezes, ele gosta de manter os órgãos, — diz Glen, e fica claro
que ele é o responsável.

— Tudo bem, — Patrick cede e depois ouvimos mais barulho.

Vlad está tenso ao acompanhar de perto a conversa. Ele se vira para


mim, colocando minha mão na faca que ele havia escondido na parte de
trás da minha calça. Eu aceno para ele, e observo como ele tira suas
próprias facas, oferecendo algumas a Seth. Ele balança a cabeça
firmemente, apontando para os braços e punhos.

Vlad levanta uma sobrancelha para ele, mas eventualmente encolhe


os ombros com um sorriso.

Colocando três dedos para cima, ele abaixa lentamente cada um,
dando-nos o sinal quando entrar na sala. Ele é o primeiro a entrar,
imobilizando imediatamente um homem, enquanto acena para Seth para
fazer o mesmo com o outro.

Olho entre os dois, percebendo que um está vestido com um vestido


branco enquanto o outro está com um terno cinza.

— Acho que você é Patrick. — Vlad aponta para o homem de branco


que atualmente está lutando no domínio de Seth, — e você é Glen, — ele
lhe dá uma cotovelada, os joelhos dobrando e batendo no chão.

— Quem... quem é você?— Glen grita angustiado, olhando entre Vlad


e Seth.

— Dependendo de suas respostas... — Vlad solta, sorrindo de orelha a


orelha antes de adicionar, — o diabo ou... — ele franze os lábios,
parecendo indeciso, — o diabo.

— Eu não fiz nada!— Patrick é rápido em professar sua inocência. —


Eles estão me pagando. Estou apenas fazendo meu trabalho. Por favor...
Eu tenho uma família...

Vlad faz tsks para ele. — E eu não ligo. Poupe seu fôlego, — ele revira
os olhos para ele antes de se virar para Glen. — Agora, onde estão os
gêmeos?

Ele está tremendo da cabeça aos pés, e isso só parece piorar quando a
paciência de Vlad está chegando ao fim.
— Você não pode pegá-los, — ele geme, tentando sair de seu aperto.
Vlad tem uma expressão entediada no rosto quando tira uma faca,
brincando com ela na garganta de Glen.

— E você está sem suas capacidades aqui Glen, — Vlad começa,


seguindo a faca em direção ao rosto. — Deixe-me dizer como isso vai
acontecer. Você me diz onde estão os gêmeos e depois responde minhas
perguntas sobre seu chefe, Miles. — Glen empalidece quando ouve o nome
de Miles, e Vlad apenas sorri para ele. — Se você cooperar, eu vou te
matar rápido. Se não, então terei que tirar uma parte do corpo de cada vez.

Olhando para cima, ele se dirige a Patrick. — Você é um médico, não


é?— O homem assente lentamente, ou o máximo que pode, dado o aperto
firme de Seth. — Bom. Por que você não diz ao meu amigo, Glen, como é
doloroso perfurar o tímpano?—Vlad ri colocando a ponta da faca sobre a
orelha de Glen. — Eu não ouço você, — ele fala com uma voz melodiosa
quando Patrick não responde imediatamente.

— É muito... muito, — ele engole, — doloroso.

— Aí está, Glen! Uma opinião profissional.

— Eu não posso te contar!— ele exclama, — ele vai me matar, — ele


grita, lágrimas se acumulando nos cantos dos olhos.

— Glen, Glen, — Vlad balança a cabeça para ele. — Um pouco fraco,


não somos?— Com um suspiro decepcionado, Vlad enfia a ponta afiada da
faca no ouvido de Glen. Seus olhos se arregalam, a boca se abre em choque
quando um grito escapa de seus lábios.

— Eu vou te contar! Eu vou te contar!— Ele grita quando o sangue sai


do ouvido. — Eles estão na sala de exames. Última... última porta, — ele
respira, todo o seu corpo atormentado por tremores.

— Sisi, você pode pegar os gêmeos?—Vlad pergunta e eu aceno,


movendo-se rapidamente na direção que Glen havia indicado e deixando
Vlad para interrogá-los ainda mais.

Eu vejo a porta e, enquanto caminho em direção a ela, ouço mais


gritos, evidências de que Glen e Patrick podem não ter sido muito
cooperativos com o restante de suas respostas.

E quando entro na sala, percebo que nada que Vlad pudesse fazer com
esses homens poderia compensar o horror que estou vendo.

Os gêmeos estão amontoados em um canto, segurando um ao outro


para se aquecer. No meio da sala, existem dois leitos cirúrgicos, cada um
com um habitante.

Mortos.

Eu timidamente chego perto das camas, e tenho que respirar fundo ao


ver. Duas crianças, ambas cortadas do pescoço à pelve, com as cavidades
torácicas expostas, os órgãos colocados em alguns recipientes ao lado deles.
Parece ser uma espécie de sala de autópsia, e meu coração se parte ainda
mais quando ouço uma voz pequena.

— Não olhe.

Voltando, vejo o garotinho protegendo sua irmã, empurrando-a para


trás quando ele se dirige a mim.

— Oi, — ofereço timidamente, sem saber como confortá-los ou fazê-los


confiar em mim.

O garoto me olha com suspeita.

— Quem é você?— ele estreita os olhos para mim, um braço se abre


para manter sua irmã nas costas.

— Estou aqui para levá-los para casa, — digo, vendo-o torcer o nariz
para mim, avaliando-me da cabeça aos pés. — Você quer ir para casa?

Por um momento, não há resposta. Mas então, ouço a voz suave de


uma garota enquanto ela pronuncia um único — sim.

— Deixe-me levá-los para casa. — Eu dou um passo em direção a eles.


— Eu prometo que vou te levar para casa. — Eu me agito na frente deles
quando estou a um passo de distância, dando-lhes um sorriso trêmulo e
esperando que se sintam confortáveis confiando em mim.
— Você promete?— a garota pergunta novamente e seu irmão a
empurra de volta.

— Pare, Leila, — ele assobia para ela.

— Está bem. É bom suspeitar, especialmente depois do que aconteceu


com vocês. Mas meu amigo e eu estávamos lá, e vimos vocês serem
levados. Nós o seguimos até aqui e queremos ajudá-los a voltar para suas
famílias, — faço o possível para explicar.

— Por favor, Leo, — fala a garota, beliscando o irmão, — vamos para


casa.

Leo parece inseguro enquanto olha entre mim e sua irmã, mas ver a
expressão de Leila parece fazê-lo reconsiderar sua posição.

— Tudo bem, — ele dá um passo em minha direção, ainda mantendo


sua irmã para trás.

Eu estendo a mão para pegar sua mão, surpresa quando ele permite
isso.

— Vai ficar tudo bem, — repito, esperando que minha promessa não
seja em vão.

Voltamos para onde Vlad e Seth estão, e Glen já está morto, seu
crânio meio aberto, seu cérebro visível através de rachaduras nos ossos.
Eu mantenho as crianças para trás para que elas não vejam o
massacre, mas, dada a abundância de sangue que agora cobre o chão, não
posso me ajudar enquanto verifico Vlad.

— Você está bem?— Eu chamo, e ele levanta a cabeça de repente,


como se não tivesse percebido minha presença antes. Ele me dá um aceno
rápido, com o pé disparando para chutar o cadáver de Glen no chão antes
de se concentrar em Patrick.

— Seth, por que você não leva as crianças para o carro?—Vlad diz
distraidamente agarrando Patrick, jogando-o no chão.

Seth imediatamente cumpre, vindo para o meu lado e levando


rapidamente uma criança em cada braço. Os gêmeos estão admirados com
o tamanho e a aparência de Seth para protestar, olhando para ele como se
nunca tivessem visto um humano antes.

Ele me acena antes de voltar com as crianças.

— Havia dois corpos infantis na sala. Autópsias. — Eu digo a Vlad


quando me junto a ele.

— O trabalho do doutor, não é de admirar, — comenta, com os olhos


fixos em Patrick.

— Você deveria ter me deixado levar as crianças para o carro. Se eles


ficarem inquietos ou fizerem perguntas, Seth não poderá respondê-las.
— Eu deveria, — ele responde vagamente, — mas você fica ao meu
lado. Sempre.

Agarrando Patrick pela nuca, ele o arrasta em direção à sala de


autópsia. — Agora, vamos avaliar suas habilidades médicas, — diz ele,
sinalizando-me para segui-lo.

Vlad abre a porta, jogando Patrick no meio da sala avaliando seus


arredores.

— Fale!— Ele comanda, e posso dizer que ele não está mais com
disposição para piadas.

Seu lábio se enrola em desgosto ao examinar as carcaças das crianças,


e seu braço dispara, sufocando Patrick e levantando-o no ar.

— Eu disse fale. —Vlad enuncia novamente, batendo em uma das


mesas. Sua mão muda para a nuca enquanto ele empurra a cabeça para
baixo na cavidade torácica aberta de uma criança.

— Veja, este é o seu trabalho brilhante. Como ele parece próximo e


pessoalmente?— Ele pergunta, e Patrick faz sons chocantes, seus braços
esfolados ao redor..

Estou tão enojada com o que eles estão fazendo com as crianças, que
só espero que Vlad lhe dê o que lhe é devido. Meus olhos seguem os
utensílios, pegando alguns e colocando-os ao lado de Vlad.
— Ele deveria sentir isso em sua própria pele, — aceno para Patrick,
um desejo doentio tomando forma dentro de mim. Quero vê-lo sofrer pelo
que fez. Ainda mais que Glen, eu quero vê-lo implorar por sua vida,
enquanto Vlad o abre como um rato de laboratório.

— Uma garota com meu gosto, — Vlad sorri para mim, enviando-me
um beijo no ar antes de subitamente se tornar sério novamente,
arrancando Patrick da cavidade. Ele respira forte, ofegando por ar, com os
olhos arregalados de horror enquanto olha entre nós.

— Fale ou...

— Eu apenas faço o que sou pago para fazer!— Ele exclama, perto das
lágrimas.

— E é isso?

— Eles me trazem pessoas... crianças... e faço exames físicos neles, se


estiverem vivos. Se eles estão mortos... —ele deixa escapar, olhando para
os cadáveres em cima da mesa: — Eu faço autópsias.

— Por quê? O que Miles está procurando?

— Falhas, — diz Patrick em voz baixa.

— Falhas?— Repito em voz alta, franzindo a testa com a escolha de


palavras dele.
— Ele quer saber por que seus experimentos falharam, — explica
Patrick.

— Que experimentos?

— Eu não posso... — ele diz, movendo-se descontroladamente nos


braços de Vlad. Ele está ficando ainda mais ansioso quanto mais Vlad
sonda sobre Miles.

Do nada, ele empurra os pés em uma cama, escapando brevemente do


aperto de Vlad. Em vez de correr, porém, ele pega os instrumentos,
pegando um bisturi e segurando-o no pescoço.

— Minha família.... — ele balança a cabeça, dando um passo para trás


até bater em um balcão. Uma mão no bisturi, a outra procura debaixo da
mesa por algo. — Sinto muito, — ele fala bem antes de mergulhar o
bisturi no próprio pescoço, o sangue jorrando livremente, os olhos em
branco e sem vida quando ele bate no chão.

Ao mesmo tempo, um alarme soa no prédio, acompanhado por uma


voz robótica fazendo uma contagem regressiva.

Os olhos de Vlad se arregalam e ele imediatamente me pega, me


pegando em seus braços quando ele começa a correr.
— Segure firme, — ele sussurra no meu cabelo enquanto corre para o
túnel, mal alcançando-o antes que uma enorme explosão nos impulsione
para a frente.

Embalando-me em seu peito, ele tenta levar o peso da queda, mas de


alguma forma sinto uma dor na têmpora antes que tudo desapareça.
CAPÍTULO DEZESSEIS

— Sisi, — eu gemo quando eu rolo, levando-a comigo em meus braços.

Porra Patrick. Eu não o tinha considerado leal. Na verdade, eu teria


pensado que ele seria o elo mais fraco entre os dois. Eu certamente não
pensei que o laboratório teria um modo de autodestruição. E agora isso me
deixa ainda mais curioso sobre o que eles estão escondendo.

Fico em uma posição sentada, irritado com a destruição ao nosso


redor.

Pelo menos saímos a tempo.

— Sisi. — Eu a sacudo, mas ela não está reagindo.


Franzindo a testa, eu a arrasto para o meu colo, usando minhas mãos
para verificar o seu corpo em busca de feridas.

— Sisi, não é engraçado, — acrescento, caso ela pense em brincar.

Nesse momento, minha mão escova a testa e um pequeno riacho de


sangue começa a fluir pela têmpora, cobrindo meus dedos no processo.

Meus olhos ficam fixos na macha vermelha do sangue dela, minhas


pálpebras tremulando fechadas enquanto trago meus dedos para a boca,
provando-a.

Porra.

Eu já me sinto escorregando, o fascínio do sangue quase demais.

Mais...

Minhas mãos caem em punhos tentando resistir, concentrando-me no


humano que ainda respira nos meus braços.

Foco.

— Sisi?— minha voz treme quando eu a balanço, tentando fazê-la


reagir.
Porque se eu me perder, ela é a única que pode me trazer de volta... a
única.

Eu tento regular minha respiração, o tempo todo sentindo seu corpo


por mais lesões. Um ferimento na cabeça pode ser perigoso. A informação é
filtrada no meu cérebro, e eu me concentro nisso. Os fatos são seguros, a
ciência é segura.

Outra respiração profunda.

Tirando rapidamente meu telefone do bolso, ativo a lanterna. Então


eu levanto uma pálpebra, colocando a luz em seus olhos e observando-a se
contrair quando encontra a luz. Pela primeira vez, como se incomodada
pela luz insistente, ela começa a se mover nos meus braços, um gemido
baixo escapando de seus lábios.

Eu suspiro em alívio.

Ela está bem.

— Sisi, — uso um tom mais suave ao trazer meus dedos para o rosto
dela, acariciando sua bochecha e evitando olhar para o sangue sedutor que
mancha suas feições pálidas.

Deus, mas é como um banquete para um homem faminto.


— O que... — ela sussurra, choramingando de dor enquanto leva o
rosto para a minha camisa.

Não perco tempo puxando-a para o meu peito, segurando todo o peso
do seu corpo enquanto me levanto. Estou um pouco instável,
provavelmente com a sobrecarga de adrenalina, mas agora o mais
importante é levar Sisi de volta à minha casa e obter os cuidados de que
precisa.

Eu quase corri para o carro, onde Seth já está lá fora, esperando.


Vendo Sisi em meus braços, ele me olha com questionamento.

— Ela vai ficar bem, — digo a ele, recusando-se a acreditar que não
ficará bem.

As crianças ficam quietas na parte de trás enquanto eu coloco Sisi ao


lado delas, ambas olhando para ela com preocupação nos olhos.
Considerando que eles compartilham a mesma condição que Vanya e eu,
eles certamente parecem mais empáticos do que jamais fomos.

Seth afivelou o cinto do passageiro, e estou pronto para ir.

Dirijo de volta ao complexo em tempo recorde, ordenando a Maxim


que acomode Seth e entregue as crianças para sua esposa, que é a única
mulher que mora aqui e que pode saber como lidar com as crianças.
Quando todo mundo tem algo a fazer, ligo para Sasha, nosso médico
residente, para observar a lesão de Sisi.

Chegando ao meu quarto, tiro as roupas dela, vestindo-a em uma das


minhas camisas para que ela fique mais confortável. Deitando-a na cama,
rapidamente pego uma toalha molhada no banheiro e limpo o ferimento.

— Você pode me ouvir, hell girl?— Eu pergunto, limpando


suavemente o sangue do rosto dela.

— Mmm, — ela lança um som baixo na garganta, virando-se na cama


como se não conseguisse encontrar uma posição confortável. — O que
aconteceu?— ela boceja, abrindo lentamente os olhos para espiar para
mim.

Eu sempre me maravilhei com a cor dos seus olhos, um âmbar claro


que gira com manchas escuras. Eles são simplesmente fascinantes, e às
vezes me vejo perdido neles, quase como se estivesse perdido na
vermelhidão do sangue. O mundo some quando ela olha para mim,
batendo naqueles cílios bonitos e me fazendo perder a cabeça.

Literalmente.

Como alguém que se orgulha de seu intelecto aguçado, o fato de que


eu posso facilmente ficar irracional na presença dela é um pouco
perturbador.
— Houve uma explosão, — explico o que aconteceu e que estamos
atualmente no meu quarto.

Ela está um pouco desorientada olhando em volta, levantando-se nos


cotovelos para tomar um gole de água.

Felizmente, Sasha está na hora certa quando ele entra e faz um


check-up, garantindo-me que seu ferimento não é nada sério e que eu
deveria deixá-la descansar, mas monitorá-la a noite toda. Agradecendo-o,
volto-me a Sisi, que está franzindo a testa em confusão.

— Eu preciso ir para casa, — ela murmura, saindo da cama e


caminhando em direção à porta.

— Não, você não vai. — Eu a paro, colocando minhas mãos no ombro


dela para firmá-la.

— Mas... — ela franze a testa, ainda olhando para fora.

— Eu vou lidar com isso. — Eu digo a ela, já fazendo um inventário de


maneiras para garantir que ninguém descubra que ela está desaparecida.
— Você sabe que pode confiar em mim, hell girl. — Eu pisco para ela,
tentando um pouco de leveza.

— Ok, — ela assente, balançando um pouco nos pés.


— Eu peguei você. — Eu a pego nos braços, devolvendo-a para a cama
e colocando o cobertor sobre o corpo.

— As crianças?— ela pergunta quando se vira para o lado, colocando


as mãos debaixo da cabeça.

— Eles estão bem. Seth também, — respondo, escovando o cabelo do


rosto.

Sasha havia aplicado um band-aid sobre o corte acima de sua


têmpora.

— Dói?— Eu pergunto enquanto aperto minha mão sobre a gaze. Ela


balança a cabeça um pouco, soltando um grande bocejo.

— Eu me sinto cansada, — ela sussurra, parecendo desgastada.

— Descanse, — digo, acariciando a testa, — vou cuidar de você.

— Você pode... — ela deixa escapar, e eu juro que detecto um rubor


nas bochechas. — Você pode, — ela limpa a garganta, — se deitar na
cama comigo?

— Você quer que eu vá para a cama com você?— um sorriso se


espalha pelo meu rosto, — deve ser o meu carisma magnético que encanta
até o convalescente, — mal termino a frase enquanto as mãos dela me
golpeiam.
— Tudo bem, então não, — ela faz beicinho para mim, movendo-se
para virar de costas para mim.

— Não, não. — Eu chamo, rapidamente descartando minhas roupas e


indo para a cama com ela. — Você não está se livrando de mim, hell girl.
— Eu digo quando me aproximo dela.

Seus lábios se levantam em um sorriso enquanto ela balança um


braço sobre o meu meio, colocando a cabeça no meu ombro e me dando um
beijo rápido.

— Você encontrou o que queria hoje?— ela pergunta.

Colocando meu braço em volta das suas costas, eu a puxo para perto
de mim, descansando meu queixo em cima da cabeça.

— Eu não sei. — Eu admito sinceramente.

Certamente, eu descobri alguma coisa. Mas isso só me confundiu


mais. Vou precisar de mais tempo para juntar todas as peças para obter
uma imagem completa.

— Uma coisa é certa. Essas pessoas são mais poderosas do que eu


anteriormente lhes dava crédito. Pelo menos agora eu sei a verdade sobre
por que Vanya e eu fomos levados quando éramos pequenos.

— Sua condição, — acrescenta Sisi, e eu aceno.


— Se eu pudesse me lembrar do que aconteceu naqueles anos... Eu
teria mais informações sobre como essas pessoas operam, porque é claro
que elas realizam experimentos com pessoas.

— Você acha... — ela começa, fazendo caretas, — você acha que eles
fizeram isso com você também?

— Se eles fizeram, não me lembro. Talvez tenha sido horrível demais


e eu tenha bloqueado tudo, — brinco, mas Sisi não acha engraçado.

— Não... — ela levanta a cabeça para me olhar nos olhos, — não é


engraçado que eles possam ter... — ela segue enquanto traça as cicatrizes
elevadas no meu estômago.

— Deus, — ela sussurra, ficando em uma posição sentada e


espalhando as mãos sobre o meu peito. — É por isso que você tem tantas
tatuagens, não é?— Ela levanta a cabeça, o olhar acusatório. — Meu Deus,
existem tantas... — ela balança a cabeça enquanto continua tocando em
cicatriz após cicatriz.

Linhas longas e irregulares que parecem suturas de cirurgião


estragam todo o meu tronco. Antes de cobri-las com tatuagens, eu parecia
um monstro frankensteiniano, partes do corpo costuradas para dar a
aparência de algo humano, quando intrinsecamente era tudo menos isso.
Ainda me lembro dos olhares de pena que, no entanto, se transformariam
em horror quando as pessoas se afastavam de mim com nojo.
Aberração.

A denominação de Misha poderia ter sido apropriada, já que eu não


estava apenas errado por dentro. Eu também estava errado do lado de
fora.

Trago minha mão sobre a dela, parando-a.

— Você é inteligente demais para o seu próprio bem, hell girl. — Eu


digo, olhando atentamente para ela.

Não quero que ela saiba essa parte da minha vida, assim como não
quero queme olhe de maneira diferente. Eu sempre soube o que sou, mas a
perspectiva de ela realmente conhecer também é incomumente
angustiante.

E como ela conseguiu conectar o que viu naquela fábrica às cicatrizes


do meu corpo está além de mim.

— É verdade, não é?— ela continua, suas feições cheias de


preocupação.

— Pode ser, — eu encolho os ombros. — Eu não lembro.

É tecnicamente verdade, mas pela primeira vez me sinto


desconfortável em minha própria pele. Ninguém nunca viu ou tocou
minhas cicatrizes além de Vanya. Mas vendo que ela é apenas uma
invenção da minha imaginação, acho que ela não conta.

— Vlad, isso é horrível, — ela sussurra, lágrimas se acumulando nos


cantos dos olhos.

Congelo, atordoado ao ver uma lágrima descer pela bochecha.

— Você... — Eu pisco duas vezes, sem saber o que está acontecendo. —


Você está chorando, — digo entorpecidamente, — por mim...

— Claro, seu tolo, — ela coloca o punho no meu peito com um leve
soco. — Como não posso quando só tenho que fechar os olhos e ver a
criança que você era e as coisas que eles devem ter feito com você, — ela
funga e mais lágrimas caem por suas bochechas.

— Sisi, — digo o nome dela, sem palavras pela primeira vez.

Ninguém nunca chorou por mim. Ninguém se importou o suficiente.

Eu lentamente levo minhas mãos para cima, enxugando suas


lágrimas com os polegares, simplesmente fiquei chocado que alguém
choraria por mim.

— Não, Sisi, — eu luto, — não valho suas lágrimas, — digo a ela,


acariciando ternamente suas bochechas.
Às vezes sou mais animal que humano, e os animais certamente não
merecem suas emoções equivocadas. Eles não merecem nada.

— Você, — a boca dela se abre em choque, os olhos arregalados de


dor. — Do que você está falando?— Ela balança a cabeça para mim,
cobrindo minha mão com a dela e trazendo-a para a boca.

— Você vale a pena, — ela dá um beijo na minha palma aberta. —


Você vale a pena para mim, — continua ela, e só posso encará-la, incapaz
de lidar com as respostas que ela está persuadindo em mim.

Eu gostaria de ter vindo com um manual de instruções. Então eu


saberia como reagir quando esse ser deslumbrante decidir desperdiçar sua
energia com alguém como eu.

— Você vale a pena, — ela repete, inclinando-se para a frente para


tocar seus lábios nos meus, escovando-os para frente e para trás sobre a
minha pele. Eu posso provar a salinidade de suas lágrimas, e elas estão
imbuídas de um aroma estranho, causando um formigamento no meu
corpo.

Desconfortável. Está fora da minha zona de conforto.

— Sisi, — eu gemo, mas ela continua suas ministrações, beijando


meu pescoço antes de descer, para o meu peito. — O que você está fazendo?
— Mostrando a você que você é digno, — ela fala contra a minha pele,
lambendo-a uma vez antes de soprar ar quente e me fazer tremer.

Ela leva um tempo enquanto traça cada cicatriz, seus lábios a cura
que eu não sabia que precisava. E quando eles deslizam cada vez mais
baixo, cobrindo cada centímetro da minha pele, não posso ignorar a
maneira como todo o meu ser está respondendo a ela.

Ela está me empurrando para um canto desconhecido e, por um


segundo, me sinto preso e sobrecarregado por milhares de coisas ao mesmo
tempo.

Eu não posso fazer isso.

Em vez de insistir nas outras coisas que ela está me fazendo sentir,
simplesmente me concentro na resposta do meu corpo à ela, e apenas no
caminho que ela pode fazer reagir.

— Hell girl, — eu murmuro, trazendo-a para cima para que eu possa


provar seus lábios novamente. Eu já estou duro e só de pensar que quase
não há um pedaço de material entre nós me deixa perto da borda. — Você
está quase nua, moendo no meu pau, e eu estou prestes a perder o pouco
controle que me resta, — falo contra os seus lábios, trazendo-a para baixo
na minha ereção para que ela possa ver o que está fazendo comigo.

Isso. Isso é mais familiar.


— Então perca, — diz ela, embalando minha cabeça nas mãos, —
leve-me, Vlad. Eu sou sua, — a língua dela foge para lamber a costura dos
meus lábios. Ela está se oferecendo para mim em uma bandeja e eu seria
um tolo por não tirar vantagem.

Eu finalmente poderia reivindicá-la, o pensamento de sua boceta


apertada e molhada engolindo meu pau me fazendo gemer alto.

— Não assim. — Não sei onde encontro forças para dizer isso. Não
quando todos os meus instintos estão me dizendo para levá-la. Virá-la de
costas e transar com ela até que ela esteja gritando a plenos pulmões.
Colocar meu esperma nela e marcá-la como minha para sempre.

Mas eu não posso. Ainda não.

— Você merece mais do que uma simples foda. — Eu digo a ela


honestamente, espantado comigo mesmo e com o controle que estou
exibindo. — Quando finalmente te foder, quero que você esteja em plena
capacidade, — mordisco o lábio inferior dela, — para que eu possa te
destruir.

— Droga, Vlad, — ela lamenta, enfiando a boceta molhada em cima


da cabeça do meu pau. Fecho meus olhos, em guerra comigo mesmo. Há
apenas um pedaço de tecido nos separando, e o pensamento me faz gemer
alto.

Quem me disse para ser tão nobre?


Mas a verdade é que eu sei que isso acabaria comigo se eu fizesse algo
errado e ela nunca me perdoasse por isso.

Há esse desejo dentro de mim de levá-la como um animal, montá-la e


transar com ela como uma besta. Mas se eu desistir... Estou com medo que
ela possa se afastar de mim. Finalmente percebo o quão antinatural meus
desejos e eu somos e me deixa perplexo.

Não posso arriscar isso. Eu nunca posso arriscar que ela me evite. E
se eu tiver que me negar, que assim seja.

— Então você vai me deixar assim?— ela geme, as mãos esparramam


no meu peito enquanto ela se move para cima e para baixo no meu eixo.

— Como eu poderia?— Eu sorrio, arrastando minhas mãos pelo corpo


dela até chegar à calcinha. Ela é tão fina, tão frágil que cede com um puxar
do tecido. Quando me encontro com acesso irrestrito à sua boceta,
simplesmente não consigo me ajudar.

Abaixo minha cueca boxer, liberando meu pau duro nas mãos de Sisi
enquanto ela me acaricia, o polegar brincando com a cabeça. Eu já estou
vazando, como sempre faço quando ela está tão perto de mim. Ela tira um
pouco da umidade do meu pau e a leva para a boca, lambendo os dedos.

Ela certamente está animada para alguém que estava gemendo de dor
há pouco tempo.
— Eu amo o seu gosto, — diz ela com sedução, passando a língua
pelos meus lábios em um movimento descarado. Abro a boca, pegando e
chupando.

— Minha freira suja gosta de pau, — eu mordo a sua língua até


sentir sangue jorrar na minha boca. Sisi não se afasta, seus olhos vidrados
com excitação enquanto ela me dá um olhar, me desafiando a consumi-la.
Ela desliza a língua sobre os meus dentes, me atraindo para aprofundar o
beijo. E quando eu faço, ela retorna o favor, pegando minha língua e
mordendo-a até que meu próprio sangue encha sua boca.

— Sim, — ela respira, gemendo na minha boca. — Eu sou sua freira


suja. — Ela se inclina para trás para me assistir com olhos entreabertos, o
canto da boca manchado com o nosso sangue combinado, e pela primeira
vez o líquido vermelho me faz querer foder, não matar.

— E isso faz de mim o quê?— Eu pergunto atrevido, encantado com a


maneira como seus traços reagem a cada toque.

— Deus, — ela responde, com os olhos semicerrados — meu Deus, —


continua ela, com os braços enrolados no meu pescoço me dando controle
total sobre a boca.

Ah, mas como posso recusar isso?


Segurando-a perto, eu a devoro, trocando sangue em um beijo perigoso
que me faz oscilar no precipício. Pego sua bunda e a guio sobre o meu eixo,
os lábios da boceta se espalham para acomodar meu comprimento.

— E o que você faz pelo seu Deus, minha freira suja?

Minhas mãos nas bochechas de sua bunda, eu as aperto enquanto ela


se move em movimentos circulares sobre minha ereção, a cabeça roçando
sobre sua entrada, o bastardo ganancioso avançando enquanto tenta
passar por sua barreira. Ela está tão molhada que sua boceta desliza sem
esforço sobre o meu pau. Seria tão fácil entrar...

— Rezar, — ela grita assim que meu pau desliza sobre seu clitóris, —
adorar, obedecer. — As palavras dela me tornam ainda mais duro e é
preciso tudo para me impedir de gozar ou transar com ela até que esteja
gritando meu nome.

Ou ambos.

— Foda-se sim, — movo meus lábios mais abaixo sobre a garganta


dela, sugando o ponto de pulso. — Ore para mim, — falo com a voz rouca,
querendo ouvir sua voz suave me enganando, me pedindo para transar
com ela na eternidade e além.

E ah, mas eu faria. Eu faria um acordo com o próprio diabo se pudesse


amarrá-la a mim para sempre.
— Oh meu Deus querido, — ela começa, um sorriso atrevido no rosto
olhando para mim, — por favor, chupe meus seios.

— Você quer que eu chupe esses peitos bonitos?— Eu pergunto, minha


mão está subindo para cobri-los através do material da camisa dela.

— Sim, por favor, — ela bate os cílios para mim, a atrevida sabendo
muito bem que eu não posso resistir a esse truque.

Puxo a camisa dela, os seios saltando livres e na minha cara.


Inclinando-me para a frente, pego um mamilo na boca enquanto minha
mão brinca com a outra.

— Vlad, — ela geme meu nome, aumentando o atrito à medida que


sente prazer. Eu mordo o mamilo, e o orgasmo dela bate, o corpo inteiro
tremendo, a boceta encharcando meu pau ainda mais.

Suas mãos estão arranhando minhas costas, suas unhas já cavando


na minha pele enquanto ela está tensa, seus músculos se espasmando
enquanto ela está no clímax.

Aproveitando seu estado atordoado, eu a viro de costas, as pernas bem


abertas, sua linda boceta me cumprimentando bela e saciada. Empurrando
os joelhos para o lado, inclino-me para baixo, dando-lhe um longo golpe
enquanto provo sua libertação, chupando seu clitóris na minha boca e
fazendo-a gozar novamente.
Mãos no meu cabelo, ela está puxando meu couro cabeludo enquanto
suas coxas se fecham ao redor da minha cabeça, sua voz alta gritando meu
nome.

— Vlad, — ela choraminga, agarrando meus ombros e me arrastando


pelo corpo para um beijo, com as mãos estendendo para o meu pau.

Neste ponto, estou tão duro que estou quase explodindo. Eu enfio meu
pau na boceta dela, empurrando contra os lábios enquanto movo meu
comprimento para cima e para baixo, seus sucos quentes cobrindo meu
eixo e me fazendo gemer com a sensação. Contornando pelo buraco, estou
quase tentado a jogar cautela ao vento e apenas levá-la, mas pela primeira
vez, não quero permitir que meus desejos egoístas arruinem essa
experiência para ela.

Mesmo que eu desse qualquer coisa para ter apenas a ponta do meu
pau aninhada dentro de seu corpo apertado...

— Porra, — eu amaldiçoo, fechando meus olhos para recuperar algum


controle sobre mim.

— Deixe-me, — ela sussurra, envolvendo as mãos em volta do meu


pau enquanto me masturba para cima e para baixo, com o aperto firme e
apertado. Seus dedos trabalham sua mágica quando eu simplesmente
fecho meus olhos, cedendo ao prazer que somente ela pode me dar. Meu
esperma dispara em jatos quentes na sua barriga, minha libertação sem
fim enquanto luto para encontrar meu fôlego.
— Hell girl... — Meus olhos se abrem para vê-la girar meu esperma no
estômago, cobrindo os dedos em uma camada grossa antes de mergulhá-los
mais abaixo na boceta. Ela brinca consigo mesma, com os dedos passando
pelo clitóris espalhando meu esperma pelos lábios. Dois dedos abaixam,
empurrando na entrada dela enquanto ela pressiona minha semente por
todo o caminho.

— Minha freira gananciosa, — eu murmuro, incapaz de tirar os olhos


do jeito que sua boceta está engolindo meu esperma, o branco perfeito
contra o rosa brilhante. Tomando meus dedos, ela me pede para fazer o
mesmo.

— Gosto mais do seu, eles são maiores, — ela cora, e eu só posso me


obrigar a fazer isso.

Usando dois dedos, pressiono todo o meu esperma dentro dela,


deslizando para as paredes, a sensação aveludada do seu canal apenas
fazendo meu pau chorar de inveja. Movendo lentamente meus dedos para
dentro e para fora, Sisi logo está gemendo novamente, levantando os
quadris e abrindo as pernas para que eu possa foder melhor com ela.

— Isso é... bem ali, — ela grita quando eu a afago no fundo, suas
paredes se contraindo imediatamente em torno dos meus dedos. — Sim
Deus!

Eu desmaio ao seu lado, e ela se aproxima, aconchegando-se na curva


do meu braço. Seus dedos estão de volta rastreando a superfície do meu
peito e meu desconforto com os ressurgimentos anteriores. Ela está
fazendo minha pele formigar com uma consciência que não estava lá antes,
e não sei se gosto. Enquanto ela continua com suas carícias, minha
respiração engata, minha mente entra em ação. Começo a pensar em todas
as possibilidades, todas as coisas que poderia acontecer mas não deveria.

— Eu vou tomar um banho, — eu solto, tirando as mãos dela de mim


e saindo da cama. — Depois disso, eu vou te levar para casa, — digo, sem
esperar pela resposta dela enquanto vou ao banheiro.

Passo algum tempo debaixo do chuveiro, a água gelada para acalmar


meu coração errante e trazer alguma clareza à minha mente turbulenta.
Eu não gosto de me sentir assim... É como estar à beira de um ataque que
nunca chega, meu corpo preparado para lutar, minha mente pronta para
escorregar.

Mas isso não acontece.

Estou quebrando. Não há outra explicação para isso. Minha data de


validade está chegando. Eu sabia há muito tempo que não viveria para
sempre, não com a maneira como o corpo e a mente me traem.

Meus membros começam a tremer, de frio ou adrenalina residual, não


sei. Eu apenas reconheço meu próprio corpo falho, pois ele busca um
equilíbrio.
A biologia humana é tão alucinante que pode reconhecer
imediatamente corpos estranhos e expulsá-los, garantindo a continuação
da vida. Todo o objetivo do corpo é se proteger do lado de fora.

Mas e se o perigo vier de dentro?

Sou a entidade desconhecida em meu próprio corpo e posso sentir isso


tentando se rebelar contra minha presença, lutando com minha própria
consciência para me expulsar.

Estou ficando sem tempo.

A realização é preocupante e pela primeira vez triste.

Eu preciso chegar a Katya antes que algo aconteça comigo. Eu preciso


punir o assassino de Vanya. E mais do que tudo, preciso de mais tempo
com Sisi antes de me perder.
Eu estou tendo problemas para me concentrar ao longo do dia, meus
pensamentos voltando para Sisi. Eu consegui levá-la para casa antes do
meio-dia e, felizmente, ninguém percebeu que ela não estava no quarto.
Ela começou a me dizer que Marcello e Catalina estavam lhe dando um
amplo espaço desde que acham que ela está tendo dificuldades para se
adaptar à vida fora de Sacre Coeur, então a deixaram principalmente por
conta própria. Embora a explicação dela tenha sido satisfatória, eu não
pude deixar de notar que ela ficou um pouco fechada, sem encontrar meus
olhos e nem mesmo me oferecendo um beijo quando eu a deixei.

Ela apenas olhou para confusa e se despediu, efetivamente me


dispensado.

Eu fiz alguma coisa?

Eu tenho atormentado meu cérebro o dia inteiro, pensando que talvez


eu a tivesse ofendido de alguma forma. Eu tinha passado por todas as
interações, catalogando minhas respostas e as reações dela, e achei tudo
satisfatório. Eu a fiz gozar pelo menos quatro vezes, e ela parecia
perfeitamente satisfeita.

Até que ela de repente não estava...

Talvez seja porque eu disse a ela que a levaria para casa? Ela queria
dormir comigo na minha cama? Mas ela era a única a querer chegar em
casa antes que alguém percebesse sua ausência, então eu realmente não
entendo o que eu poderia ter feito para fazê-la se comportar assim.
Suspirando profundamente, fecho meu computador e massageio
minhas têmporas. Como não consigo fazer nenhum trabalho hoje, é melhor
concentrar meus esforços em outros lugares.

Um tempo depois, me encontro na casa de Marcello, fazendo uma


breve visita a ele. Ele certamente parece surpreso ao me ver, enquanto
estreita os olhos para mim, relutantemente me convidando em seu
escritório.

Ah, mas eu sei exatamente por que ele está me dando essa recepção
calorosa. Ele acha que eu sou um perigo em sua casa, especialmente agora
que ele tem algo a perder.

— Pare de se preocupar com essa linda cabeça, — eu puxo enquanto


me sento, — não vou sair em uma matança tão cedo.

— Melhor prevenir do que remediar, — ele murmura sob a respiração


e eu reviro os olhos.

— Marcello, Marcello, você não diria que somos amigos há mais de


duas décadas, — eu digo a ele.

— Amigos?— Ele zomba de mim. — É isso que você chama de amigos?


Oh, desculpe, você não tem nenhum.

— Ah, 'Cello', —trago minha mão ao meu coração, — você me feriu.


Você sabe o quão popular eu sou. Eu tenho que afastar os aspirantes a
amigos com o final da minha faca. — Eu sorrio e noto seus lábios se
enrolando também.

— E é exatamente por isso que você não tem nenhum. Todos acabam
mortos.

— Chega disso, — eu aceno minha mão. — Eu não vim aqui para


brigar com você, por mais divertido que seja, — acrescento, vendo o rosto
dele relaxar um pouco.

Marcello não foi o mesmo na última década, e pode ser estranho, mas
às vezes sinto falta de nosso tempo juntos no passado.

— Por que você veio aqui? Você tem mais informações sobre a
remessa?

Algum tempo atrás, nós dois sofremos algumas perdas quando algum
culpado desconhecido decidiu ser inteligente e atacar nossas remessas.
Embora eu estivesse com muita raiva por alguém ter ousado isso e, assim,
arruinado meu humor, eu rapidamente tirei isso da minha mente, pois
tinha coisas mais importantes para cuidar. Marcello, no entanto, está
perpetuamente em guarda, pois acha que alguém está mirando ele e sua
esposa.

— Eu tenho, — sorrio, — mas vou precisar de algo de você, —


acrescento.
Ele me considera desconfiado, como sempre, embora ao longo dos anos
tenha pedido minha ajuda em várias ocasiões. Por todos os seus esforços
para afastar uma vida do crime, ele sempre encontrava o caminho de volta
para mim, pedindo-me para violar a lei por ele.

— O que é?— ele pergunta sucintamente.

— Nada demais, velho amigo, não vou pedir seu primogênito, —


assisto as feições dele aparecerem com dor, — mas talvez eu me contente
com sua irmã. Ela é bastante bonita. — Eu acrescento, querendo irritá-lo
um pouco.

— Fique longe da minha irmã, — ele range os dentes. — Quero dizer


isso, Vlad. Você não chega perto de Venezia ou Assisi, ou teremos
problemas.

— Uau, grande irmão fazendo uma aparição. Um pouco tarde demais,


você não acha?

— Vlad, — suas narinas brilham, e posso dizer que estou a um passo


de ir longe demais.

Mas quem sou eu para resistir?

— Marcello, sério, — eu gemo, — imagine sermos uma grande família


feliz, — continuo, mas um olhar para a expressão de Marcello e sei que eu
fui ligeiramente longe demais.
— Estou falando sério, Vlad. Fique longe das minhas irmãs, ou Deus
me ajude, eu vou matar você, — ele aperta a mandíbula.

— Você e seu deus, — suspiro, resistindo ao desejo de dizer a ele que


sua irmã chama a mim de Deus. — Tudo bem, eu vou parar. Por enquanto.
— Eu sorrio para ele, mesmo que isso tenha confirmado o que eu pensava.

Marcello nunca me deixaria perto de Sisi. E isso torna as coisas um


pouco complicadas. Especialmente porque pretendo amarrá-la a mim — de
uma maneira ou de outra. Infelizmente, se eu tiver que fazer outro inimigo
nesse meio tempo, que assim seja.

— Você ainda tem as coisas de Valentino?— Eu finalmente chego ao


motivo de estar aqui.

— O que você precisa?— Ele franze a testa.

— Você deve se lembrar que, vinte e poucos anos atrás, Valentino


estava olhando para um círculo de tráfico de pessoas quando se deparou
comigo, ou melhor, o que me restava, — dou-lhe um sorriso triste. —
Quero saber se ele tinha mais informações sobre esse círculo e sobre um
Projeto Humanitas.

— Projeto Humanitas?— Ele levanta uma sobrancelha para mim,


levantando-se e indo para o arquivo. — Lembro-me de ver esse nome,
deixe-me ver. Mas devo avisá-lo, Tino deixou seus negócios em um estado
dissoluto. Duvido que haja algo que possa ajudar aqui. Há vinte anos... —
ele sai, parecendo pensativo. — Meu pai ainda estaria por perto, então ele
deve ter tido a maior parte da informação.

Ele começa a vasculhar os arquivos, examinando atentamente os


documentos.

O pai de Marcello tinha sido uma figura interessante. Um pouco


sádico demais para o meu gosto (irônico, eu sei), ele era a definição de
mentalmente instável.

— Aqui, — diz ele, puxando um arquivo e entregando-o para mim. —


Não é muito, mas é a única menção ao Projeto Humanitas que me lembro
de ter visto. — Ele retoma seu assento. — Por que você está investigando
isso agora?— ele pergunta, mas estou ocupado estudando o arquivo em
minhas mãos.

— Você sabia que seu pai queria investir com um Dr. Miles Holloway?

O arquivo contém uma proposta de negócios enviada pelo Dr. Miles


Holloway para o pai de Marcello, pedindo quarenta milhões de dólares. A
proposta pinta o Projeto Humanitas como um programa de reabilitação
projetado para criar os soldados perfeitos, apagando sua noção de certo e
errado e tornando-os suscetíveis a seguir cegamente as ordens — as
máquinas de matar perfeitas. A proposta, no entanto, menciona apenas
terapia comportamental e não qualquer tipo de experimento físico.

— Não, o que é isso?


— Ele queria que seu pai lhe pagasse quarenta milhões pelo acesso à
pesquisa dele. — Eu sorrio, de repente, entendendo a presença de
Valentino no laboratório quando fui encontrado. — Acho que seu pai
queria ver por si mesmo em que ele iria despejar seu dinheiro, então ele
enviou seu irmão para verificar o projeto-incógnito, é claro.

— E ele encontrou você. — Marcello diz, sua expressão grave. Eu


aceno.

— Você sabe, Tino nunca me contou as circunstâncias de como ele


acabou naquele lugar. Pensando bem, parece incomum que ele o encontrou
milagrosamente quando seu pai não pode por anos.

— Exatamente. Seu pai nunca compartilhou seu conhecimento sobre o


Projeto Humanitas, e agora tenho que me perguntar se de alguma forma
ele não estava envolvido.

Ele teria muitas oportunidades de contar ao meu pai quem havia


sequestrado Vanya e eu e porquê, mas ele nunca fez isso. Talvez ele
simplesmente não quisesse se incriminar.

— Você pode olhar para as finanças de seu pai na época?— Pergunto a


Marcello, esperando encontrar pelo menos uma trilha de papel.

— Vou fazer, — ele me dá um aceno rápido, e eu me levanto para


sair.
— O que aconteceu com você lá?— Ele pergunta enquanto estou a
caminho da porta. — Por que você quer encontrá-los agora?

Eu me viro um pouco, encolhendo os ombros. — Coisas que acontecem


com crianças desamparadas, — acrescento, não querendo entrar em
detalhes. Posso não me lembrar do que aconteceu, mas meu corpo é outra
história. — Miles e outra pessoa foram os que envenenaram Misha contra
meu pai e nossa família, prometendo a ele a liderança se ele os ajudasse. E
Miles foi quem levou Katya.

— Entendo, — responde Marcello, com as mãos nos bolsos. — Eu vou


investigar.

— Obrigado. — Eu dou a ele uma saudação, saindo.

Terapia comportamental.

Além dos experimentos, eles também realizaram terapia


comportamental. Então... e se minhas crises forem resultado dessa
terapia? E se eles tiverem uma cura?

Não consigo me concentrar nisso com outro pensamento se


intrometendo em minha mente, e me vejo sorrateiramente subindo as
escadas, encontrando o quarto de Sisi com facilidade.

— Eu disse que não estou de bom humor, — ouço a voz dela quando
abro lentamente a porta.
— Você, — ela franze as sobrancelhas quando me vê entrar em seu
quarto, trancando a porta atrás de mim. — O que você está fazendo
aqui?— ela pergunta, estreitando os olhos para mim.

Por um segundo, todo o meu humor está quebrado quando percebo que
não sou bem-vindo.

— Eu estava visitando seu irmão e pensei em aparecer. — Eu finjo um


sorriso.

— Você está assumindo muitos riscos, — ela me observa, levantando-


se da cama e vindo em minha direção, — nós também nos vimos.

— E daí se eu quiser vê-la novamente?— Eu lhe dou meu sorriso mais


charmoso enquanto meu braço se enrola em volta da cintura dela,
trazendo-a para mim. — Diga-me que você não sentiu minha falta. —
Inalo o cheiro de seus cabelos recém-lavados e, pela primeira vez hoje,
sinto-me em paz.

— Acabamos de nos ver, — ela suspira, — quando eu teria tido tempo


de sentir sua falta?— ela levanta uma sobrancelha para mim, procurando
soltar minhas mãos do corpo dela.

— Você deveria ir antes que alguém o encontre aqui, — ela repete, e


eu me sinto completamente cego.

O que aconteceu? O que eu fiz de errado?


— Você está se sentindo bem?— Eu pergunto, de repente preocupado
com a lesão dela. Minha mão roça sua testa, mas ela me para, tirando-a
fora.

— Sim, não se preocupe. Só estou cansada e quero dormir, — ela vira


as costas para mim, voltando para a cama e debaixo do cobertor.

— Você deveria. Você não está dormindo o suficiente, — digo a ela,


preocupado por mantê-la até tarde da noite. Sentando-me ao lado da cama,
coloco minha mão sobre a dela.

— Sim... — ela concorda, mas algo em sua expressão me incomoda. —


Talvez devêssemos parar de nos ver por alguns dias, — sugere ela, suas
palavras me tirando do sério completamente.

— O que você quer dizer?

— Então eu posso descansar um pouco. — Ela boceja, aconchegando-


se mais debaixo do cobertor.

Estou prestes a protestar, mas vê-la tão cansada me faz reconsiderar


minha posição. Eu a tenho mantido até tarde demais. Mesmo que eu não
goste, já que sei que será doloroso ficar sem ela, preciso deixá-la descansar
um pouco.

— Ok, — respondo, educando minhas feições. Não quero que ela note
a decepção no meu olhar.
Ela parece surpresa com a minha fácil concordância, então ela apenas
concorda.

— Vejo você na segunda-feira?— Eu pergunto, pensando que dois dias


devem ser suficientes para ela recuperar sua força.

Os olhos dela se arregalam. — Segunda-feira? Por quê?

— Bem, eu sei que Marcello tem uma coisa aos domingos e ele espera
que você esteja presente. Então isso nos deixa segunda-feira. Você deve
descansar até lá.

— Certo... — ela murmura, e eu me vejo expulso por sua expressão


novamente.

O que está acontecendo?

— Perfeito. Vou mandar uma mensagem para você. — Eu me inclino


para dar um beijo rápido na testa dela antes de sair do quarto,
furtivamente, voltando para baixo e para fora de casa.

Acho que tenho sorte que Marcello não seja o melhor em escolher seus
guardas, já que consegui colocar alguns dos meus homens lá dentro. É
uma das razões pelas quais Sisi conseguiu escapar com sucesso por tanto
tempo.

E agora tenho que esperar até segunda-feira...


Eu gemo alto com o pensamento. O que posso fazer até segunda-feira
para tirar minha mente das coisas?

Estou fora de casa e indo para o estacionamento, minha mente ainda


está no comportamento estranho de Sisi quando entro no meu carro.

Segunda-feira...

Algo está mexendo na minha consciência, e não consigo colocar o dedo


nela. Sinto que estou perdendo alguma coisa.

É só quando volto para casa e verifico o arquivo de Sisi que percebo o


que estava perdendo e o motivo pelo qual ela está se comportando assim.

Segunda-feira é seu aniversário.

Droga! Ela provavelmente acha que eu esqueci, ou que não vou me


lembrar e é por isso que ela está assim comigo.

Para não entrar em pânico, lembro-me de que tenho mais dois dias
para planejar algo para surpreender sua mente. Ela ficará tão
impressionada comigo que vai bater aqueles cílios bonitos para mim e me
implorar para beijá-la.
Satisfeito com o que eu tinha preparado, mando uma mensagem para
Sisi para me encontrar na periferia da propriedade de seu irmão. Eu tinha
organizado um jantar à luz de velas para o aniversário dela, completo com
uma refeição completa e cem velas soletrando parabéns.

Eu vasculhei a internet em busca de ideias que a fizessem ver que eu


me esforcei muito nisso e que não tinha esquecido. Eu até contratei um
chef para preparar o jantar perfeito e escolhi todas as suas comidas
favoritas.

Para o presente dela, eu decidi dar aquele urso de pelúcia gigante que
eu a tinha visto admirar no shopping, bem como um colar personalizado da
Cartier com o nome dela. Aquele tinha sido um pouco mais complicado de
conseguir, já que eu tinha apenas dois dias à minha disposição, então
decidi ameaçar o joalheiro com uma arma nas têmporas enquanto ele
trabalhava no colar. Fiquei bastante impressionado que suas mãos não
tremeram enquanto trabalhava no colar. Nem mesmo quando ele
incrustou os diamantes nos lugares. Na verdade, eu pude ver por que as
coisas deles eram tão caras.

Agora só espero que ela goste também e que me perdoe pelo que fiz.
Eu passei o fim de semana inteiro pensando no que poderia ter feito para
ofendê-la e concluí que tudo era possível. Afinal, eu não sou o melhor
quando se trata de lidar com mulheres.

Nem mesmo as colunas de conselhos na internet foram capazes de me


fornecer uma resposta direta. Eu até entrei em um fórum e pedi conselhos,
mas outro homem respondeu que as mulheres são inerentemente um
enigma e que eu não deveria levar isso a sério. Ele recomendou flores,
então é claro que eu adicionei isso ao conjunto de jantar.

Mais uma vez, não foi tão fácil conseguir mil rosas espalhadas pelo
chão, mas um pouco de intimidação faz maravilhas.

Ainda assim, aprendi minha lição. A partir de agora nunca esquecerei


quando é o aniversário dela e terei tudo preparado com antecedência.

Poupando um olhar para o meu relógio, percebo que ela está atrasada.
Espero mais cinco minutos e, ainda assim, nenhum sinal dela, então tento
ligar para ela.

Nada.

Ela está... me ignorando? A perspectiva é angustiante, então continuo


tocando o telefone dela.

Mais dez minutos, e muitas chamadas perdidas depois, abandono o


local do jantar e decido confrontá-la em sua própria casa. Certamente, se
eu a confrontar diretamente, ela poderá me dizer o que fiz de errado e por
que está tão irritada comigo.

Mesmo durante o fim de semana, ela tinha sido muito concisa em suas
respostas e, embora isso fosse preocupante, eu apostaria tudo neste jantar
e em cortejá-la com meu maravilhoso planejamento.

Que porra é essa...

Já estou inquieto, pois imagino inúmeros cenários chegando ao jogo


enquanto a confronto, o pior é ela dizendo que nunca mais quer me ver, ou
que ela acha que eu sou demais para ela.

Porra... e se ela achar que pode encontrar alguém muito melhor?

Quero dizer, tecnicamente ela pode, mas isso não significa que estou
prestes a deixá-la fazer isso.

Enquanto estou andando — tudo bem, mais como correr — em direção


à casa, não posso evitar a maneira como meu cérebro está avançando nos
piores cenários possíveis.

Seja qual for o caso, pedirei perdão a ela e poderemos seguir em


frente. Certamente, ela não pode estar tão chateada comigo, certo?

Mesmo quando eu escalo as paredes para o quarto dela, ainda sou


atormentado por visões dela dizendo que me odeia agora, e percebo que
provavelmente deveria banir a palavra ódio de seu vocabulário, apenas
para estar seguro no futuro.

Abrindo a janela, eu me empurro para dentro, prestes a chamar o


nome dela quando percebo que oquarto está vazio.

O telefone dela está jogado no meio da cama, mas não há sinal dela.

E enquanto assisto ao jogo de sombras na parede, percebo que, pela


primeira vez, me sinto verdadeira e totalmente perdido.

E se ela decidisse que eu não sou digno, afinal?


CAPÍTULO DEZESSETE

Eu rolo na cama, e pelo segundo dia consecutivo não consigo


adormecer. Eu suspiro de frustração.

É tudo por causa dele.

Mesmo agora, quando me lembro de suas palavras — que ele não


sente nada — um abismo profundo se forma em meu coração, e eu tenho
que me impedir de chorar alto. Eu já tinha feito isso o suficiente.

Como devo continuar sabendo que meus próprios sentimentos por ele
se aprofundam todos os dias? É uma receita para o desgosto, não importa
como eu olhe para ele.
Quanto mais eu pensava sobre isso, mais percebia que precisava me
destacar de alguma forma. Especialmente desde que nos vimos quase
todos os dias há um tempo. Como posso me impedir de me apaixonar por
alguém que me trata como uma princesa? Quem me respeita e me banha
com atenção, sempre me mostrando que eu importo.

Como alguém pode resistir? A isso?

Salvo seu lado assassino e sua falta de emoções, Vlad é perfeito.

Como alguém que nunca foi feito para se sentir importante, ele
certamente me fez sentir como se eu fosse únicapara ele. E eu caí
irremediavelmente na toca do coelho, sabendo que ele era único para mim
também.

Mas ele não é. Na verdade não. Porque ele nunca pode ser. Como ele
pode realmente ser meu quando não pode me oferecer a única coisa que eu
mais quero?

Eu racionalizei tudo. Senhor, eu pensei nele dia e noite, tentando


chegar a um acordo com minhas emoções e o que deve ser feito para
proteger meu coração. Já tive pessoas suficientes me desprezando no
passado e eu nunca quero vê-lo fazendo isso.

Isso me quebraria.
E, no entanto, sabendo que ele nunca pode me dar o que eu mais
desejo, por que não posso deixar pra lá? Ele está em minha mente vinte e
quatro horas por sete dias da semana. Logicamente, sei que devo ficar
longe, mas não consigo me ajudar quando meus pensamentos se desviam
dele... às cicatrizes e seus ataques horríveis. Como posso deixá-lo sozinho
quando sei que não há ninguém para cuidar dele? Para ajudá-lo em suas
crises? Para mostrar que ele também importa?

Parece que, pela primeira vez, minha mente está em guerra com meu
coração.

Eu passo pelas emoções o resto do dia. Engraçado como eu pensei que


iria dormir um pouco esses dias, mas meus pensamentos inquietos
simplesmente não me deixam.

Eu sinto falta dele...

Me sacudindo, concentro-me na conversa atual com Claudia.

— Ela me disse que eu poderia pular para as coisas mais avançadas,


— diz ela com orgulho, um pequeno sorriso aparecendo em seu rosto.

— Estou tão feliz por você. — Eu aperto a mão dela.

Marcello havia contratado uma governanta para Claudia e Venezia e


sugeriu que eu também participasse de algumas das lições, para
complementar a educação (não tão boa) que recebi em Sacre Coeur.
Para Claudia, esse é o arranjo perfeito, pois ela está começando a se
aprofundar mais, não mais contida por bruxas dogmáticas. De repente, ela
pode explorar todo o seu potencial e estudar o conteúdo que tiver vontade.

Quanto a mim... teria sido ótimo se eu pudesse me concentrar. Mas,


como minha mente está sempre em alguém, é um pouco difícil se
concentrar nas lições.

Claudia continua me falando sobre seus estudos, sendo extremamente


animada ao descrever tudo o que a nova governanta havia lhe dado para
ler. Eu aceno e tento ouvir atentamente, até que do nada ela pula nos
meus braços, beijando minha bochecha.

— Feliz aniversário, tia Sisi, — ela sussurra, um rubor aparecendo


em suas bochechas.

— Obrigada, — respondo, um pouco chocada que ela se lembrasse. Eu


devolvo o abraço dela, meus braços a envolvendo.

— Eu não deveria dizer nada, — ela começa, sua voz baixa, — mas
mamãe disse que ela tem algo preparado para você.

— Para mim?— meus olhos se arregalam de surpresa.

Ela assente, um sorriso tímido no rosto.


Agora que ela plantou a semente na minha cabeça, não posso deixar
de esperar o que Lina preparou para mim, a perspectiva de alguém se
lembrar e tentar fazer algo especial para mim, me empolgando sem fim.

É só mais tarde, à noite, que Lina vem me buscar, me dizendo para


me vestir e que estamos indo a algum lugar. Já deduzindo que isso pode
ser uma surpresa, estou muito tonta ao escolher um vestido para vestir.

Descendo no hall de entrada, vejo todos já vestidos, incluindo Marcello


e Venezia.

— Onde estamos indo?— Eu pergunto quando Lina pega meu braço,


um sorriso secreto em seu rosto.

— Você verá, — ela sussurra no meu ouvido.

Nós nos dividimos em dois carros e, quando olho pela janela, percebo
que estamos entrando na cidade.

A viagem leva cerca de trinta minutos, o carro para em frente a um


restaurante chique.

Saindo do carro, todos nos reunimos na entrada antes de sermos


conduzidos por um membro da equipe.
— Surpresa!— Lina diz que quando chegamos ao fundo do
restaurante, onde uma grande placa indica parabéns, balões e presentes
em todos os lugares.

Eu paro, meus olhos vagando avidamente pela sala, incapaz de


acreditar que isso é para mim.

— Para mim?— Eu me deparo com a descrença, precisando de


confirmação verbal de que isso é realmente para mim.

Há balões em todas as cores suspensos no teto e pendurados nas


paredes. Em um canto, ao lado da mesa principal, presentes bem
embalados são colocados um em cima do outro.

— Feliz aniversário!— Todo mundo fala, individualmente vindo me


parabenizar.

— Eu não sei o que dizer... — Sinto-me um pouco fora da minha zona


de conforto enquanto olho em volta, absorvendo tudo o que eles
prepararam especificamente para mim.

Deus, mas estou ficando chorosa.

Eu enxugo meus olhos, me sentindo incrivelmente sobrecarregada.

— Sisi, — Lina me pega em seus braços, — não chore, — ela dá um


tapinha nas minhas costas.
— Queríamos, — Marcello tosse, — fazer algo especial no seu
aniversário. Lina me disse que você não pode fazer muito no Sacre Coeur.
Espero que você goste disso, — diz ele, parecendo um pouco fora de
sintonia.

— Eu amo isso, — garanto imediatamente. — Muito obrigada!

— Você quer abrir os presentes agora ou depois do jantar?— Lina


pergunta.

— Você não precisava me dar nada... isso já é muito, — fungo e mais


lágrimas caem pelas minhas bochechas. — Obrigada. — Eu repito.

— Sisi...

— Abra os presentes!— Claudia diz, e Venezia assente.

Um pouco insegura, vou para trás, abrindo um presente após o outro.


Eles pensaram em tudo, de livros a roupas, até maquiagem. E quando olho
para as anotações pessoais anexadas a cada presente, não posso deixar de
sentir um calor no meu coração.

Então é assim que parece ter uma família.

— Obrigada. Vocês não tem ideia do quanto isso significa para mim,
— acrescento depois que consegui ganhar algum controle sobre minhas
lágrimas.
— Estou feliz que você goste, Sisi, — responde Marcello, parecendo
um pouco desconfortável.

Sentamos à mesa e dois garçons aparecem para nos servir. Estou


entre Claudia e Venezia, com Lina e Marcello sentados um ao lado do
outro.

Não me escapa os olhares que eles compartilham ou os toques ocultos


debaixo da mesa. Posso não estar tão presente em casa, mas está claro que
Lina e meu irmão estão se dando bem.

Mais do que bem.

Marcello olha para Lina como se o mundo começasse e terminasse com


ela, uma ternura tão diferente do homem que eu conheci. E Lina também
não parece imune, se suas bochechas são alguma indicação.

— Sua mãe parece feliz. — Eu sussurro conspiradoramente para


Claudia, e ela me dá um sorriso largo.

— Ela parece, não é? Eu também gosto de Marcello. Ele é legal


comigo.

— Eu estou feliz. — Eu digo, agitando o cabelo dela.

Embora Marcello não pareça necessariamente inclinado a exibições


emotivas, pelo menos ele tem emoções. Ao contrário de alguém..
Não vá lá.

— Ele também está me ajudando com meus estudos, — diz Claudia, e


pela primeira vez noto uma pitada de felicidade em seus traços.

Estou tão feliz que ela saiu de Sacre Coeur antes que eles causassem
algum dano duradouro a ela, como fizeram comigo. Lina se esforçou muito
para obter ajuda profissional após o incidente do padre Guerra e, olhando
para sua expressão despreocupada, definitivamente valeu a pena.

A conversa flui confortavelmente, todos contribuindo para a atmosfera


geral da mesa. Até Venezia, que geralmente está fechada, participa e até
brinca com Claudia.

— Você pensou no que quer fazer, Sisi?—Marcello pergunta, e eu pisco


rapidamente, sua pergunta me pegou de surpresa.

— Marcello! É o aniversário dela! Às vezes você é muito sem tato, —


Lina dá um soco leve no seu ombro, balançando a cabeça para ele. Ele
respira, rapidamente alterando que não era sua intenção me deixar
desconfortável.

— Estou curioso para saber se você tem algum interesse que gostaria
de explorar. Podemos providenciar para que você vá para a faculdade, se é
algo que você gostaria, — continua ele, e fico um pouco estranha por ter
sido pressionada.
Verdade a ser dita, eu não tinha pensado muito no que quero fazer. De
volta a Sacre Coeur, eu tinha um milhão de ideias, sonhando com
inúmeros cenários do que faria se pudesse. Mas agora que eu realmente
posso, nenhum deles parece remotamente atraente.

É tudo culpa dele.

— Gosto de trabalho investigativo, — finalmente digo.

Acompanhar Vlad por toda parte procurando pistas sobre suas irmãs
tinha sido emocionante. Encontrar pistas e reuni-las para obter uma visão
geral é estranhamente gratificante e eu também não me importaria de
fazer isso no futuro.

—Sério?— Marcello sorri, — o que você tem em mente?— ele


pergunta, tomando um gole de seu vinho.

— Talvez trabalho de detetive, — eu dou de ombros, — eu tenho lido


sobre o FBI, — continuo, e Marcello engasga com o vinho.

— Trabalho de detetive, — ele repete, dando a Lina um olhar lateral.


— Lina, você explicou a Sisi o que nossa família faz?

Lina assente. — Sim, ela sabe.

— Então você não acha que seria... um conflito de interesses, por


assim dizer?— Ele pergunta, forçando um sorriso.
Fico quieta, tentando não rir do eufemismo.

— Você era advogado. — Eu aponto.

— Sim, mas advogados podem estar... — ele segue, olhando


desconfortavelmente entre Claudia e Venezia, — do outro lado da lei.

— Bem, os detetives também não podem estar do outro lado da lei?—


Eu respondo com atenção, vendo Marcello tentar encontrar uma resposta,
especialmente porque ele parece estar preocupado com Venezia e Claudia
ouvindo sua resposta.

Eu assisti as interações de Vlad com a lei o suficiente para saber que


há policiais sujos por toda parte. Ora, ele ainda tem uma brincadeira que
joga com a polícia de Nova York, como ele me contou com alegria. Toda vez
que há um novo detetive na cidade, Vlad gosta de provocá-los e testar suas
lealdades, oferecendo-lhes tentação e esperando para ver se eles quebram.
Mais da metade do tempo, o que diz muito sobre a integridade das pessoas
quando estão envolvidos incentivos.

— Você gostaria de ser uma detetive do outro lado da lei?—Marcello


levanta uma sobrancelha para mim.

Olho para ele atentamente, sem saber quanto revelar.

— Eu particularmente não me importo de que lado estou, — admito,


— ainda é um trabalho de investigação. Na verdade, estou interessada em
assassinatos, — acrescento timidamente, — e vendo que ambas as
pessoas: boas e ruins morrem, realmente importa de que lado estou?

— Abordagem interessante. Isso tem a ver com o que aconteceu em


Sacre Coeur?— Ele continua, e Lina franze os lábios, dando-lhe uma
aparência que diz: mude de assunto.

— Em partes, — eu respondo. Esta é a primeira conversa real que


tive com Marcello e enquanto ele está me pressionando, não posso deixar
de estar feliz por ele estar pelo menos me tratando como umaadulta. —
Certamente despertou meu interesse, — digo, tomando um gole de água.

— Se você está falando sério, posso apontar na direção certa. Adrian,


meu melhor amigo, tem experiência na polícia, — comenta no momento
em que o próximo prato chega.

Quando estamos prestes a comer, o som de alguém batendo palmas


chama nossa atenção para a entrada.

— Que grande família feliz. —Vlad bate palmas, aproximando-se


lentamente da mesa.

Minhas mãos ainda estão nos meus talheres, minha expressão é de


choque, pois vejo a única pessoa que não esperei aqui esta noite.

— Vlad, — Marcello murmura, a mandíbula apertada, o corpo inteiro


rígido de tensão.
— Uma festa, — ele assobia, lendo o desejo de aniversário na parede,
— e você não pensou em me convidar? 'Cello', Cello, você deveria ler sobre
etiqueta de amizade, — ele cantarola para meu irmão, olhando ao redor
da sala desinteressadamente. — E de quem éo aniversário estamos
comemorando?— Ele sorri, colocando-se em uma cadeira à mesa, ao lado
de Marcello.

— É o aniversário de Sisi. — Lina responde, com a mão no braço de


Marcello.

— É mesmo... — ele estreita os olhos, o olhar varrendo a mesa até


encontrar o meu. — Feliz aniversário, — ele pega um copo, servindo um
pouco de vinho tinto. Segurando-o para a frente em um brinde, ele me dá
um sorriso enquanto o vira, seus olhos nunca deixam os meus. — Eu tenho
que dizer, meu querido Marcello, você não poupou despesas. Vintage, 1996.
Não é ruim.

— Desde quando você é especialista em vinhos, — Marcello o critica.

— É vermelho, — Vlad encolhe os ombros, mal tirando os olhos de


mim enquanto fala com meu irmão, — como sangue.

— Vlad, — Marcello não parece muito feliz por ter Vlad aqui, e de
repente me preocupo com um possível conflito.

— Por que não comemos?— Eu interponho, esperando que isso dê a


todos algo para fazer.
Um garçom vem trazer um prato para Vlad e, por um momento, todos
ficam quietos quando começam a comer.

— Como você nos encontrou aqui? —Marcello pergunta, com o punho


na mesa.

— Da mesma maneira que posso te encontrar em qualquer lugar, —


Vlad pisca para ele. — Você não disse a elas que costumávamos ser almas
gêmeas? —Vlad pergunta, uma expressão inocente em seu rosto. Eu
estreito meus olhos para ele, sem entender o propósito de sua visita.

Ele veio aqui apenas para arruinar o meu jantar de aniversário?

— Almas gêmeas?— Lina pergunta curiosamente, — o que você quer


dizer?

— Ahh, boa pergunta! Veja bem, Marcello e eu nos conhecemos. O


que, vinte anos atrás?

— Vlad, chega, — Marcello cerra os dentes, olhando para Vlad como


se não quisesse nada além de matá-lo.

— Vamos, velho amigo, você esqueceu nossos dias dourados?

— Uau, você conhece Marcello há tanto tempo?— Catalina parece não


entender a tensão entre os dois, sua disposição habitual de boa índole
brilhando enquanto tenta incluir Vlad na conversa. — O que você pode me
dizer sobre ele?— Ela sorri, alheia à energia oculta, enquanto entrelaça os
dedos na mão de Marcello.

— O que eu posso, de fato, — o rosto de Vlad explode em um sorriso


largo e encantador. Ele sabe que tem Lina e está aproveitando ao máximo.
— Estávamos mais perto que irmãos, não estávamos, Marcello?— ele
levanta uma sobrancelha.

— Ele era tão pensativo quanto agora?— Lina é rápida em perguntar,


debruçada sobre a mesa, com o rosto cheio de curiosidade.

— Oh, ainda mais. Eu mal conseguia tirar uma palavra dele. Às vezes
eu tinha que fazer uma pergunta e responder também. —Vlad ri e todo
mundo se junta, já que Marcello não é o indivíduo mais falador. — Mas ele
tinha um dom.

— Um dom?— É Venezia quem pergunta.

De alguma forma, Vlad conseguiu encantar a mesa inteira e fazer com


que todos investissem em sua história.

— Sim, um dom para a arte. Ele é um maravilhoso escultor. Você


deveria ter visto suas obras de arte, — Vlad balança a cabeça, franzindo
os lábios e lançando um som triste. — Que pena que ele desistiu.

— Vlad, pare, — a voz de Marcello é baixa e eu detecto um tom de


ameaça.
— Arte? Realmente? Marcello, você tem que me mostrar. — Lina diz
animadamente.

— Talvez outra hora, — meu irmão murmura.

— Sim, ele precisa de materiais muito específicos, — Vlad se inclina


para trás em seu assento, com um olhar de satisfação no rosto.

— O que você quer dizer?— Lina pergunta, uma carranca aparecendo


em seu rosto enquanto ela olha entre Vlad e Marcello.

— Hmm, o que de fato, Marcello?— ele inclina a cabeça para o lado,


empurrando o queixo para cima como se desafiasse meu irmão a
responder. — A língua de um traidor, a pele de um enganador, o d...

— É o bastante!— A mão de Marcello bate na mesa e todo mundo fica


quieto de repente.

— Língua de um traidor?— Claudia pergunta, com os olhos


arregalados.

— Vlad, então Deus me ajude, eu vou fazer o que prometi, — fala


Marcello, a ameaça inconfundível.

— Veja, é disso que estou falando. Você e seu deus... — Vlad balança a
cabeça, suspirando profundamente, — é por quem você me deixou? Veja,
eu não entendo esse negócio divino. Amigos imaginários não são tão
divertidos quanto você imagina.

— Há crianças nesta mesa, Vlad, contenha-se.—Marcello diz a ele


assim que Lina toca a única corda para impedi-lo de quebrar.

— Crianças são crianças, até que não o sejam, — responde Vlad


vagamente, com os lábios manchados de vermelho pelo vinho.

Meus olhos se concentram nisso, e acho cada vez mais difícil fingir que
não o conheço ou que não estou ciente de sua presença nesta sala. Eu só
tenho que olhar para seus ombros largos, a maneira como sua garganta se
contrai quando ele engole, a o pomo de Adão balançando levemente, ou
como a cavidade do pescoço me faz querer girar minha língua em volta
dela, pingando vinho e lambendo-o.

Porra, por que eu tenho que ser tão devassa?

Não sei qual é o seu jogo e por que ele está intencionalmente irritando
meu irmão, já que está claro que ele tem um desejo de morte. E olhando
para Marcello, sei que é apenas uma questão de tempo até ele se virar.

O olhar de Vlad se move em torno da mesa até que repousa em mim.

— E quantos anos tem a nossa aniversariante agora?


— Vinte e um. — Eu respondo, estreitando meus olhos para ele. Ele
sabe muito bem quantos anos eu tenho.

— Isso significa que ela pode legalmente beber álcool, ela não pode?—
Ele se levanta, levando a garrafa e dois copos com ele. Ele coloca um na
minha frente, enchendo-o até a borda, antes de fazer o mesmo com o dele.

— Feliz aniversário!— Ele brinda antes de tomar um gole, seus olhos


nunca saem dos meus.

Pego meu próprio copo, levantando-o na minha boca. Mas quando o


líquido está prestes a atingir meus lábios, uma mão me para.

— Você não precisa beber, Sisi, — diz Marcello, já pedindo a Claudia


e Venezia que se sentem ao lado de Lina. — Vlad está indo embora.

— Ela é maior de idade agora, Marcello. É uma decisão dela beber ou


não, — ele sorri, com a língua espreitando para lamber os lábios.

Eu engulo.

O diabo.

Ele sabe exatamente o que está fazendo.

— Você precisa sair, Vlad, — diz Marcello. — Eu entendo que você


está entediado, sem amigos e o que quer que seja, mas não vou lhe dizer
novamente. Fique longe da minha família. — Ele range os dentes, tirando
o copo de mim e batendo na mesa, o líquido oscilando na borda e
derramando sobre o pano branco que cobre a mesa.

— Droga, Cello, você foi um grande lobo mau comigo. Você tem medo
que eu pegue esta flor?— Ele coloca a mão no meu ombro e ouço alguém
ofegar na mesa.

Tudo acontece em câmera lenta.

Um garçom está chegando, trazendo um enorme bolo de aniversário


em um carrinho. A mão no meu ombro desaparece quando Marcello gira
Vlad, atirando-o de mim e dando um soco na cara dele.

As mãos de Lina estão nos olhos de Claudia, enquanto Venezia parece


estranhamente intrigada.

Vlad nem reage, nem revida aceitando o soco, seu corpo sendo jogado
de volta no meu bolo.

Minha boca se abre com um som silencioso quando vejo metade do


rosto de Vlad pousando no bolo, arruinando tudo.

Marcello tem uma expressão presunçosa ao olhar para Vlad e, pela


primeira vez, fiquei farta com os dois.
— Pare!— Eu me levanto, me colocando entre eles antes que o conflito
se agrave. — Esse é meu jantar de aniversário, e vocês dois estão
estragando tudo, — falo, minha voz é séria. — Você, pare de bater nas
pessoas, — aponto para Marcello. — E você, — eu viro para Vlad, — pare
de pedir para ser atingido!

— Eu? Pedindo para ser atingido?— Vlad se defende, a parte superior


da roupa cheia de bolo, à medida que mais cai da bochecha.

— Pare!— Marcello e eu falamos ao mesmo tempo.

Eu mal consigo conter um sorriso ao ver o creme no rosto de Vlad e


apenas balanço a cabeça para ele.

— Aqui está como isso vai acontecer, — digo, olhando para todos. —
Você vai se acalmar, — eu falo com Marcello, — e você virá comigo para
limpar. Depois disso, todos se comportarão e comeremos o que resta do
bolo em paz. Acha que vocêspodem fazer isso?

Estou quase no meu limite e só há uma razão para isso.

— Você não vai a lugar nenhum com ele, — Marcello me para. Eu me


viro para ele, dando a minha expressão sem emoção.

— Eu vou ficar bem, — eu digo, — se ele tentar alguma coisa, eu


darei mais bolo a ele, — meus lábios se contraem, — parece calá-lo bem.
— Ei, eu estou aqui, — ele interpõe, mas antes que ele possa insultar
meu irmão ainda mais, eu o agarro pelo braço e o levo ao banheiro,
trancando a porta atrás de nós para que não sejamos perturbados.

— O que há de errado com você?— Eu assobio para ele quando


finalmente estamos sozinhos.

— Você me abandonou, — ele responde baixinho, com as mãos nos


bolsos.

— O que você quer dizer?— Eu franzi a testa.

— Nós deveríamos nos encontrar. Há uma hora para ser mais exato,
— diz ele, mostrando-me o telefone e as mensagens que ele me enviou,
muitas delas.

— Eu não estou com meu telefone e nunca planejamos nada.

Ele murmura algo sob a respiração que eu não consigo entender, mas
com o rosto meio coberto de bolo, eu não consigo nem levá-lo a sério.

— É por isso que você veio aqui pronto para a guerra?— Eu pergunto,
passando o dedo por cima do rosto e provando um pouco do creme.

— Você me abandonou, — é tudo o que ele diz. Como um garoto mal-


humorado, ele faz beicinho, olhando para qualquer lugar, menos para
mim.
— Eu não te abandonei. Eu nem sabia que deveríamos nos encontrar,
— expiro um pouco exasperada com as circunstâncias atuais.

Por que ele tem que ser tão imprudente? Ele poderia ter estragado
tudo, e não tenho dúvidas de que Marcello o teria matado, e eu.

— Tudo bem... — ele concorda, mas ele não parece mais feliz.

Balançando a cabeça para ele, eu o puxo para a pia, molhando um


guardanapo e limpando o bolo do rosto e das roupas. O tempo todo ele está
me observando com uma expressão estranha no rosto, como se não pudesse
me entender.

Seus lábios estão levemente separados, sua respiração acelera


enquanto eu deslizo o pano sobre seu rosto. Minha própria pele está
coberta de arrepios, consciência de sua presença — tão perto — escorrendo
da cabeça aos pés. Minhas bochechas estão aquecidas, minhas palmas
estão suadas.

Do nada, sua mão dispara e agarra meu pulso, abaixando-o. Ainda


segurando meu olhar, ele me encurrala em um canto, seu corpo me
cercando até que ele esteja na minha frente.

Ele está duro.

É a primeira coisa que sinto quando ele se pressiona em mim, minhas


próprias coxas se apertando em resposta.
Seus dedos acariciam no meu pescoço, antes que ele me agarre em um
aperto doloroso, aproximando meu rosto do dele.

— Você não me deixa, — ele susurra, a respiração nos meus lábios.

— Eu não?— Eu pisco duas vezes, a mudança no comportamento dele


me tirando do sério. Um momento ele parece um filhote perdido, no outro
ele está me jogando contra a parede, pronto para me arrebatar.

— Você é minha, hell girl. Isso significa que você é apenas minha. —
Seus lábios seguem minha mandíbula. — Você me prometeu, — diz ele, o
polegar subindo pelos meus lábios, separando-os.

— Eu prometi. — Eu respondo, a intensidade em seus olhos me


hipnotizando.

— Diga, — ele sussurra, me beijando levemente nos lábios. — Diga.

— Eu sou sua, — digo e ele respira fundo, como se estivesse aliviado.

— Eu nunca vou deixar você ir, — ele susurra, o som quase inaudível.

— Você realmente tinha que ser tão mau com Marcello?— Eu levanto
minha mão para colocar a palma na bochecha dele, meu aborrecimento já
se derretendo.
— Você é minha. — Ele repete, inclinando-se para aprofundar o beijo
antes de me virar de repente, me fazendo apoiar minhas mãos na parede.

— Vlad?— Eu pergunto, incerta do que ele está prestes a fazer.

Suas mãos estão contornando a bainha do meu vestido enquanto ele a


arrasta sobre minha bunda.

— Nós não temos tempo. — Eu sussurro, mesmo que tudo o que eu


queira seja que ele continue. — Ele virá nos procurar.

— Apenas um momento. — ele diz, sua voz baixa e angustiada. — Eu


preciso saber que você é minha.

Sua mão passa pela faixa da minha calcinha e entre as minhas


pernas, seus dedos mergulhando entre os meus lábios circulando meu
clitóris. Minha respiração fica presa na garganta, meus olhos se fechando
enquanto me concentro nas sensações que ele está torcendo do meu corpo.

— Você está tão molhada, hell girl. E tudo para mim, — ele
murmura, a boca mordiscando meu ouvido.

— Sim, — respondo, moendo contra a suamão.

Ele começa a se mover mais rápido, com os dedos trabalhando sua


mágica na minha boceta enquanto sua boca está massageando lentamente
a coluna do meu pescoço, alternando entre chupar, lamber e provocar.
Em pouco tempo, estou chegando, mal segurando minha voz enquanto
empurro minha bunda para a sua ereção. Eu afundo contra ele, meu corpo
se transformando em geléia enquanto eu cavalgo no último orgasmo.

— Feliz aniversário, — ele sussurra.

Virando-me, me encosto contra a parede, observando ele pegar os


dedos e lambê-los.

— Melhor que o bolo. — A voz dele causa arrepios na minha espinha,


os olhos negros me segurando em cativeiro.

Mal estou ciente do que está acontecendo quando ele enfia as mãos
nos bolsos, removendo uma caixinha e empurrando-a no meu rosto.

— O que é isso?— Eu pergunto, pegando na minha mão.

— Seu presente, — diz ele, de repente não encontrando meu olhar.

Curiosa e um pouco surpresa por ter me dado algo, abro a caixa para
encontrar um colar com meu nome, diamantes incrustados nas letras.

— Para mim?— Olho para o belo objeto, incapaz de acreditar que ele
deu para mim.

— Deixe-me, — diz ele, tirando-o da caixa e colocando-o em volta do


meu pescoço.
— Belas jóias para uma bela dama. — Ele observa, e quando olho no
espelho, sentindo o metal frio contra a minha pele, não posso deixar de
suspirar de satisfação.

— Obrigada, — eu o puxo para mais perto, dando-lhe um beijo


esmagador. — É incrível.

Pela primeira vez, vejo um sorriso genuíno em seu rosto enquanto ele
enfia a bochecha na curva do meu pescoço.

Terminando no banheiro, voltamos para a mesa.

Marcello olha entre nós dois com suspeita.

— Levou bastante tempo, — ele murmura.

— Eu não sabia que ele tinha medo de água, — eu encolho os ombros,


sentando-me.

— Eu não tenho! — Vlad protesta, agarrando a cadeira ao meu lado.


Com Claudia e Venezia sentadas ao lado de Lina, ele pode finalmente se
sentar mais perto de mim.

— Certo. — Eu encolho os ombros, divertida, — é por isso que ele


continuou dizendo que iria derreter se a água tocasse sua pele.
— O que posso dizer, — ele bate os olhos inocentemente em todos, —
não é minha culpa que eu esteja relacionado à bruxa malvada. Não
podemos escolher nossos pais, — diz ele, voltando sua atenção para
Marcello, — todos vocês devem saber.

Marcello não responde, mas a tensão em sua mandíbula me diz que o


golpe é pessoal.

— Quem quer bolo?— Eu pergunto em voz alta, já cansada de jogar


como intermediadora.

— Sim!— Claudia responde

— Eu também, — Venezia responde também.

Bolo é servido e, pela primeira vez, ninguém quer matar ninguém. E


para recompensar Vlad por seu comportamento, agarro a mão dele debaixo
da mesa.

Ele parece levemente surpreso, mas ele aperta, segurando firme.

Eu acho que é assim que é ter uma família...


Saindo da cama, eu ando sonolenta até o banheiro, tomando banho
rapidamente e escovando os dentes. Ainda estou tão cansada que mal
consigo ver direito.

Envolvendo uma toalha sobre o meu corpo, volto para a cama.


Verificando meu telefone, porém, percebo que horas são.

Porra!

— Acorde!— Eu empurro os ombros de Vlad, tentando sacudi-lo. — É


tarde, você precisa sair. — Eu digo a ele, mas ele não parece ouvir nada
murmurando algo enquanto dorme.

— Vlad!— Eu continuo sacudindo ele. Do nada, seus olhos se abrem e


ele está olhando atentamente para mim. — Você precisa sair antes que os
guardas façam suas rondas, — suavizo minha voz.

Seu olhar ainda está em mim, sua mão agarrando minha toalha,
tirando-a. — Vlad! — Eu exclamo, escandalizada.

Ele é rápido em me virar de costas, pairando sobre mim enquanto


respira meu perfume.
— Ainda não, — ele sussurra contra a minha pele, seus lábios
escovando sobre um mamilo.

— O que... — Eu me afasto quando ele envolve os lábios ao redor,


chupando na boca. Minhas pernas se abrem automaticamente,
convidando-o a se aninhar para dentro.

Ele ainda está de cueca, mas posso sentir a dureza inconfundível de


sua ereção enquanto ele a tritura contra mim.

— Eu preciso de um último gosto, — ele bate contra a minha pele, a


boca aberta sobre o meu estômago enquanto ele segue a língua para baixo,
— para durar até mais tarde.

— Está tarde. — Eu tento uma última desculpa, mas quando ele pega
meu clitóris entre os lábios, mordendo e chupando, esqueço por que ele
precisa ir embora.

Mãos no cabelo dele, sua língua magistral fazendo coisas


maravilhosas na minha boceta e me fazendo gemer de prazer.

— Sisi?— Eu ouço a voz de Lina do lado de fora da minha porta


enquanto ela bate suavemente.

Meus olhos se arregalam e, por puro instinto, jogo o cobertor sobre


Vlad, me cobrindo no queixo.
— Fique quieto, — sussurro, mas ele não responde. Não, ele continua
a me agredir com a língua, os dedos dos pés enrolados enquanto tento
fingir que não estou me divertindo com meu amante secreto.

— Sim?— Tossi para limpar minha voz.

— Desculpe vir tão cedo, mas eu estava pensando que poderíamos ter
uma tarde juntas?— Ela pergunta, um sorriso no rosto.

— Claro!— Eu concordo imediatamente, uma mão no cabelo de Vlad,


pois ele não parece capaz de se conter. É preciso tudo em mim para não
reagir à sua língua diabólica, ou a maneira como ele está empurrando
dentro de mim, me fodendo com ela.

Lina sorri com a minha resposta, enumerando algumas atividades que


ela tem em mente. Eu ouço com meio ouvido, assentindo até que ela saia.

Deus!

Um pequeno som escapa dos meus lábios quando Vlad insere dois
dedos dentro de mim, sua língua de volta para chupar meu clitóris.

— Você está... Está bem?— Lina para, virando-se para perguntar.

— Sim, claro. — Minha voz sai estranha e eu tenho mais dificuldade


em educar minhas feições para não mostrar como meus olhos querem rolar
na parte de trás da minha cabeça, meu clímax iminente.
— Você parece um pouco vermelha. E suada. Você não está com
calor?— Ela aponta para o cobertor grosso em cima do meu corpo.

— Não, não. Estou com muito frio à noite. — Eu minto, e naquele


momento Vlad aumenta a velocidade de seus dedos. Eu mordo meu lábio.
Forte. É tudo o que me impede de não gritar alto. Minhas pernas estão
tremendo, meu corpo inteiro atormentado por pequenos tremores enquanto
ele me arranca um orgasmo.

— Se você tem certeza... — ela ainda está na porta, parecendo não


convencida.

— Sim, — expiro aproximadamente. — Vejo você mais tarde, — digo,


suor correndo por todo o meu corpo.

Ela finalmente acena com a cabeça, finalmente saindo do quarto.

Puxo as cobertas para ver o sorriso travesso de Vlad enquanto ele me


dá mais uma longa lambida na língua.

— Você é mau, — eu acuso, balançando a cabeça para ele.

Por que ele está se tornando cada vez mais imprudente a cada dia?
Isso é prova suficiente de que ele parece não se importar com o fato de
sermos pegos em algum momento.
Onde uma vez eu decidi me distanciar dele por medo de ter meu
coração partido, parece que é mais fácil falar do que fazer. Não, torna isso
muito mais difícil de fazer.

Depois que ele apareceu sem ser convidado na minha festa de


aniversário, ele se tornou implacável, encontrando um motivo para passar
um tempo comigo todo dia. Como ele era imparável em sua determinação,
eu comecei a deixá-lo dormir, pensando que assim eu descansaria e ele
ficaria satisfeito comigo. Claro, eu também me fartaria dele, já que
dificilmente há um dia em que não o quero ao meu lado. Afinal, ele me
perseguindo com tanto ardor só me fez perceber que eu queria qualquer
coisa que ele pode me dar.

E daí se ele não tiver emoções? Não acredito que ele não se importe
comigo. E enquanto eu for dele, e ele for meu, isso é suficiente para mim.

Por enquanto...

— E se formos pegos? Você sabe o que Marcello pensa de você estar na


mesma sala que eu, — digo a ele, franzindo os lábios.

Após o desastre do aniversário, Marcello me levou de lado e me avisou


contra Vlad, dizendo que ele poderia parecer encantador, mas que não
passa de uma fachada. Claro, ele passou a citar todas as falhas de Vlad,
sem contar com a minha descoberta atraente.
Eu acenei com a cabeça, fingi compreensão, e encerramos essa
discussão.

— Ele não será capaz de fazer nada quando eu me casar com você, —
ele sussurra contra minha garganta me levando para seus braços.

— Não me lembro de você ter proposto, — respondo.

Não é a primeira vez que ele diz que se casará comigo, e enquanto eu o
aceito em um piscar de olhos, quero que ele trabalhe para isso. Não vou me
contentar com nada menos que a proposta perfeita. Além disso, ele deveria
se apressar se quiser fazer sexo, já que, por alguma razão puramente
idiota, ele pensou que só iria dormir comigo quando nos casarmos.

— É o que você merece, — ele tentaria me convencer, mesmo quando


seu pau estava a um passo de me reivindicar.

Tentamos fazer isso algumas vezes antes, mas ele simplesmente não
conseguia se encaixar dentro — uma combinação terrível de eu ser muito
pequena e ele ter um pau anormalmente grande. Quando ele percebia que
estava me machucando demais, ele prontamente parava, preocupado. O
máximo que havia entrado era a cabeça e, embora doesse, também parecia
celestial. Eu teria tomado toda a dor se ele apenas a enfiasse e acabasse
com ela. Mas não, ele reagiu como se fosse o único a doer.

Para alguém que afirma que não tem sentimentos, com certeza
demonstrou mais consideração do que muitas pessoas teriam.
Suspiro só de pensar nisso.

— Em breve, — ele sussurra, subitamente se levantando para se


vestir.

Eu o assisto com interesse, pensando que não seria ruim ter isso todos
os dias.

— Em breve... — Repito, um pouco decepcionada.

É mais tarde, quando saio do meu quarto, que Marcello me chama


para o escritório dele, uma expressão grave no rosto.

Por um momento, temo que ele saiba sobre Vlad, e estou pronta para
negar tudo até o meu último suspiro. Afinal, não quero sangue derramado,
pois sem dúvida aconteceria se ele soubesse o que realmente estávamos
fazendo.

Eu realmente não entendo como o relacionamento deles funciona.


Ambos afirmam ser amigos, mas Marcello prefere manter Vlad à
distância, certamente longe da família. E vendo como um amigo o trata,
não posso deixar de sentir pena de Vlad. Por que ninguém tenta entender
o lado dele também?

— Sisi, — Marcello se levanta, — tenho algo sobre o qual preciso


falar com você e preciso de sua discrição.
— Sim, claro, — respondo, franzindo a testa um pouco a seu pedido.

— Você conhece a situação com Lina e Sacre Coeur, — ele continua


me dizendo que suspeita que outra família da máfia, Guerra, possa ter
algo a ver com a morte da freira.

— Como retaliação ao padre Guerra, você quer dizer, — acrescento e


ele concorda.

— O padre Guerra era sobrinho de Benedicto, o atual capo. É lógico


que eles gostariam de algum tipo de vingança. No entanto, em minhas
interações com Benedicto, não consegui avaliar rancores ocultos. Pelo
contrário, ele está muito entusiasmado em trabalharmos juntos e... — ele
para, parecendo um pouco desconfortável.

— E?

Marcello faz uma careta. — Ele tem sido particularmente sincero em


apresentar você ao filho dele.

— O filho dele?— Eu pergunto entorpecida, não tenho certeza se


entendo para onde isso está indo.

— O filho dele, Rafaelo, tem mais ou menos a sua idade e... — Ele
parece poderosamente desconfortável.

— Desembucha com isso Marcello. O que há com o filho?


Ele respira fundo. — Ele espera que haja um casamento entre vocês
dois.

Meus olhos se arregalam em descrença e estou pronta para inventar


uma desculpa, qualquer coisa para não ter que lidar com isso. Mas
Marcello rapidamente altera suas palavras.

— Claro, eu disse a ele que só poderia ser sua escolha, mas ele quer
pelo menos um encontro. Para ver se vocêscombinam.

— Entendo, — respondo um pouco sem entusiasmo.

— Eu sei que é pedir muito, mas você pode pelo menos fingir passar
algum tempo com ele? Ainda não tenho certeza das intenções de Guerra e
seria uma boa maneira de observá-los.

— Mas eu não tenho que me casar com ele, certo?— Eu preciso ter
certeza de que isso não está na mesa.

— Não. A menos que você queira, — ele me dá um sorriso apertado. —


Eu deveria avisar que o filho dele tem um pouco de... problemas. — Ele
continua me falando sobre sua gagueira e sua personalidade tímida.

Vendo que ele não tem pressa em se casar comigo, eu concordo com o
plano dele, prometendo entreter Rafaelo quando chegar a hora.
Bem, para minha surpresa, chega a hora mais cedo do que eu teria
previsto, com Benedicto, sua esposa e Rafaelo vindo para uma visita
surpresa.

Estamos todos reunidos na sala de estar, antes que Benedicto e


Marcello se retirem para o escritório para conversar sobre negócios.

Lina e eu ficamos com sua esposa, Cosima e Rafaelo. Cosima parece


ter cerca de quarenta anos, seus traços nítidos, seu estilo elegante e
montado. Ela também parece ser bastante faladora quando começa a
repetir sobre isso e aquilo, sua voz já me irritando.

Rafaelo, por outro lado, está sentado em silêncio ao lado de sua mãe,
com os ombros caídos, a cabeça inclinada para a frente como se ele nem
ousasse encontrar nossos olhos. De fato, ele mal consegue dizer suas
saudações sem desmaiar.

Os homens desmaiam?

Rafaelo é certamente propenso a isso, enquanto balança os pés, um


rubor profundo em suas feições.

— Assisi, que nome adorável você tem. — Cosima tenta me envolver


na conversa deles, os olhos dela me olhando de cima a baixo, sem dúvida
me julgando.
— Obrigada. — Eu respondo com desdém, mas ainda tento manter a
cara do pôquer.

— Agora, diga-me, quais são seus pensamentos sobre o casamento?—


Cosima entra, e eu tenho que lutar para não rir na cara dela por sua falta
de tato.

— M - M - mãe, — Rafaelo interpõe, tentando o seu melhor para


formar algumas palavras. — p... Pare.

— Bobagem, Raf!— Ela ignora o filho, devolvendo o olhar para mim.

— Eu não pensei nisso desde que deveria fazer meus votos antes de
deixar Sacre Coeur. — Eu lhe dou uma resposta neutra o suficiente,
tentando não mostrar o quanto estou começando a não gostar dela.

— Há tempo suficiente para isso, querida, — diz ela casualmente. —


Por que vocês dois não vão lá e se conhecem melhor? — Ela nem está
tentando mascarar suas intenções enquanto nos dispensa.

Eu murmuro uma maldição debaixo da respiração, mas mantenho um


sorriso no rosto enquanto me movo para o sofá com Rafaelo.

Durante muito tempo, ele apenas se senta ao meu lado, com o olhar no
chão. Certamente, ele nem parece reconhecer minha presença. Ele está
para baixo, quase como se houvesse algo interessante no chão que tivesse
sua atenção extasiada.
Tomo um momento para estudá-lo e observo que ele seria atraente se
não fosse por sua terrível linguagem corporal. Quase parece forçado com o
quão tenso seus ombros parecem enquanto ele tenta manter sua postura.

— Isso é chato, não é?— Eu tento quebrar o gelo, o silêncio ainda mais
irritante.

Ele lentamente vira a cabeça em minha direção, os olhos ainda


abatidos quando olha para qualquer lugar, menos para mim.

— Eu não mordo, — sinto a necessidade de acrescentar — ou julgo, —


dou de ombros, apoiando-me no meu lugar. — Nós vamos ficar aqui por um
tempo, então é melhor nos conhecermos.

Algo sobre sua presença é terrivelmente lamentável, e não é sua


gagueira. Não, há uma aura de tristeza perpétua por perto dele.

— P-p-por que?— ele pergunta, seu rosto inclinado em minha direção.

— Por que conversar? Eu não sei. É o que os humanos fazem?— Eu


tento fazer uma piada, e por uma fração de segundo eu temo que possa tê-
lo ofendido, desde que ele não fala muito bem.

Mas então a dica de um sorriso aparece em seu rosto.

— Eles fa-fa-fazem, não fa-fa-fazem?— Ele pergunta, sua gagueira um


pouco mais pronunciada.
Eu franzo a testa um pouco, algo mexendo na minha mente quando
começo a estudá-lo mais.

— Então fale. Conte-me sobre você. — Eu o incito, querendo testar


uma hipótese.

Deus, eu pareço Vlad agora.

Muito tempo na suapresença e meu cérebro já está sincronizado com o


dele. Estou ficando paranóica com tudo e com todos.

Com esse pensamento, porém, preciso garantir que Vlad não saiba
sobre Guerra ou suas intenções em relação a mim. Acho que não gostaria
que o sangue deles estivesse em minhas mãos, considerando tudo. Isso
traria apenas uma guerra do Armagedom, como Vlad gosta de chamar.

Droga, eu preciso parar de pensar nele por um segundo. Ou pensar


como ele...

Voltando minha atenção para Raf, assisto ao jogo de emoções em seu


rosto enquanto ele tenta encontrar suas palavras.

— E-e-eu gosto de rochas, — diz ele. — Eu e-estudei pedras na


faculdade, — continua, levantando os olhos para encontrar os meus pela
primeira vez.

Porra, mas eu não estava preparada para isso.


Seus olhos são o tom mais leve do azul que eu já vi, seus cabelos loiros
apenas trazendo sua tonalidade incomum.

— Legal, — respondo, meu conhecimento de rochas é bastante


limitado. — Por que você gosta de rochas?

— Elas na-não falam.

Eu olho para ele por um segundo antes de começar a rir. Percebendo


que posso ser mal interpretada enquanto eu zombava dele, eu
imediatamente paro. Mas um olhar para o rosto dele e ele parece mais
relaxado do que antes.

— Você é engraçado. — Eu adiciono, sufocando um sorriso.

Ele é lento, mas sua boca também se aproxima.

— Eu nun-nunca fui cha-chamado de engraçado a-antes, — diz ele, e


novamente noto um padrão estranho com seu discurso.

— Provavelmente porque você não fala muito?— Eu levanto uma


sobrancelha para ele. Em vez de ficar ofendido, ele apenas encolhe os
ombros, mas há diversão em seu rosto.

— Você na-não é o que e-eu ima-maginei. — Ele me diz, recostando-se


no sofá e se sentindo mais confortável. Sua postura se abre um pouco, suas
costas não estão mais tão encurvadas.
— E o que você imaginou?— Eu pergunto, curiosa sobre isso, mas
também precisando ouvi-lo falar mais.

— Eu n-não sei... Uma f-freira?— ele pergunta, contando uma piada


pela primeira vez.

— Justo o suficiente. — Eu respondo e continuamos a conversar um


pouco. Ele ainda fala em frases curtas, quase como se tivesse medo de
dizer demais de uma vez.

Vejo Cosima nos observando atentamente do outro lado da sala, sem


dúvida avaliando a situação e as perspectivas de seu filho.

Mas quanto mais eu converso com Rafaelo, mais percebo as coisas. É


na maneira como tudo é fabricado, da postura à voz, e depois há o discurso
dele.

— Você realmente não tem problemas de fala, não é?— Eu me inclino


para a frente, sussurrando em seu ouvido.

— O que vo-vo-você quer dizer?— ele pergunta, e sinto meus lábios se


estenderem em um sorriso na confirmação silenciosa.

— Você gagueja apenas a segunda palavra em uma frase quando está


relaxado, como se fosse um padrão ensinado, mas gagueja a frase inteira
quando deseja provar um ponto. — Eu encolho os ombros, sendo esta
observação uma das muitas que fiz pelo nosso breve conhecimento. Mais
do que tudo, vejo como seu corpo reage a estímulos externos, como se
estivesse fazendo um esforço consciente para se fechar e coordenar seus
movimentos.

— E-eu na-não sei o que-que vo-você quer dizer.... — ele tenta se


defender, mas noto sua postura rígida. Se eu estivesse errada, ele ficaria
chateado, talvez se afastasse de mim. Em vez disso, ele está se segurando
firme, com a tensão enrolada nos músculos. É mais como um animal
pronto para atacar do que um à beira de fugir.

Quando você passa anos fugindo de pessoas que querem causar danos,
começa a aprender alguns padrões. O corpo nunca mente, mesmo quando a
boca o faz.

— Raf, querido! É hora de partir!— A voz de Cosima chama na sala, e


há uma pitada de alívio no rosto de Rafaelo.

Ele se levanta do sofá, retomando sua postura largada enquanto


cambaleia para o lado de sua mãe.

— Não se preocupe, — eu o paro, minha mão no seu ombro. — Seu


segredo está seguro comigo, — eu pisco para ele.

Não sei porquê ele se apresentaria de maneira tão negativa, mas isso
é problema dele.

Todo mundo tem segredos.


Voltamos a Lina e Cosima. Elas ainda estão envolvidas em conversas
quando Raf toma seu lugar ao lado de sua mãe.

Mão no bolso, ele tira rapidamente, algo pequeno caindo no chão. Nós
dois nos inclinamos para pegá-lo, e eu percebo que é uma pequena pedra
marrom.

Ele empurra para mim, com o olhar claro quando encontra o meu pela
primeira vez.

— Obrigado, — ele sussurra, nenhum vestígio da gagueira anterior.

Pego a pedra, brincando com ela em minhas mãos enquanto os vejo


sair.

Interessante.
Murmurando uma melodia suave para mim mesma, puxo a linha,
satisfeita com o design começando a tomar forma. Lina e eu estamos
juntas muito mais ultimamente, e ela começou a me ensinar a bordar.

Desde que eu vi que Vlad sempre carrega um lenço com ele, decidi
fazê-lo personalizado — com meu nome, é claro. Dessa forma, ele sempre
pode me levar com ele por perto, e outras mulheres podem ver que ele
também é comprometido.

Sorrio para mim mesma ao adicionar um pequeno coração vermelho


ao lado do meu nome.

— Vejo que alguém está ocupada, — observa Lina enquanto se senta


ao meu lado, com os olhos no meu trabalho.

Por um segundo, fico tentada a esconder, mas quando ela continua


conversando, expiro aliviada, percebendo que ela acha que é para outra
pessoa.

— Não acredito que você e Raf estão tão próximos, — diz ela
sugestivamente.

— Sim, nos tornamos amigos. — Eu respondo.

É tecnicamente verdade. Após a visita inicial, ele apareceu mais


algumas vezes e lentamente me confidenciou o motivo de seu
comportamento.
— Quando as pessoas o consideram fraco, elas não o veem como
competição, — disse ele, insistindo que estava tentando ficar o mais não
detectável possível.

Mas como ele me contou sobre seu irmão e sua sede de poder, ficou
claro por que ele tentaria ficar sob o radar.

No tempo em que conheci Raf, percebi que ele era uma alma muito
gentil que gostaria de nada além de ser deixada em paz. Ele certamente
não tem aspirações por poder ou dinheiro, independentemente de quanto
seu pai possa querer que ele tome as rédeas da família Guerra no futuro.

— Você é a primeira que conseguiu perceber, — ele me disse em


algum momento, surpreso por eu ter visto além da sua máscara.

Mal sabia ele que eu tenho um talento especial para ver atrás de
máscaras.

— E você não precisava confirmar minhas suspeitas, então por que


você fez?— Eu tinha revidado. Certamente, ele poderia ter continuado
negando minhas acusações. Em vez disso, ele acabou confiando em mim.

— Você não é como eles, — ele deu de ombros, embora não tivesse
explicado quem eles se referia.

E assim uma amizade agradável se desenvolveu. Tão agradável que


ele até me pediu em casamento, para meu grande desgosto. Por um
momento, fiquei preocupada que talvez tivesse dado a ele os sinais
errados, mas ele rapidamente me garantiu que só me vê como amiga, e
porque ele está tão confortável comigo, não seria uma má ideia se nos
casássemos, já que seu pai continua empurrando-o em direção a isso.

Eu recusei gentilmente, explicando minhas próprias circunstâncias e


que já tenho alguém. Ele ficou muito feliz por mim quando eu contei mais
sobre Vlad, e ele até sugeriu usá-lo como uma camuflagem, se necessário.

É seguro dizer que uma parceria floresceu nos lugares mais


improváveis.

— Ele definitivamente vai gostar disso, — ele aponta para o coração


com um sorriso conhecedor, e eu instintivamente coro.

Ai sim. Vlad vai aproveitar. Depois do esforço que fiz nessa coisa, é
melhor ele nunca tirar do bolso.

— Estou tão feliz por você, Sisi, — continua ela, soltando um suspiro
sonhador. — Depois do incidente com seu aniversário, fiquei preocupada
por um momento.

— O que você quer dizer?— Eu franzi a testa.

— Tenho certeza que Marcello já lhe falou sobre Vlad. Ele não é...
alguém com quem você deve interagir.
— Por quê?— Eu pergunto um pouco veementemente.

Por que todo mundo está tão contra ele? O que ele fez com eles?

Pelo que vi, ele sempre ajudou a todos quando necessário, e, no


entanto, nem Marcello, que o conhece há mais tempo, pode oferecer a ele o
menor número de considerações.

— Ele não é um bom homem, Sisi. Eu sei que você é nova neste
mundo, mas há coisas ruins... e depois há muito ruim. — Ela franze os
lábios, olhando para mim com preocupação nos olhos.

— Como ele é tão mal?— Estou ficando nervosa, a necessidade de


defendê-lo roendo por mim. Sei que tudo o que ela está dizendo está vindo
com boa intenção, mas estou cansada de todo mundo crucificá-lo sem
sequer tentar entendê-lo.

— Ele mata pessoas, Sisi, — ela começa, e eu resisto ao desejo de


revirar os olhos, — ele é um assassino a sangue frio.

Debatível, eu diria que ele é um pouco gostoso.

— Ele simplesmente não tem bússola moral, — ela balança a cabeça,


como se não fosse casada com o mesmo tipo.

— E o meu irmão?— Eu atiro de volta e ela franze a testa.


— Há um mundo de diferença entre Vlad e seu irmão, — acrescenta
ela, quase horrorizada que eu implicaria isso.

— Veja, acho que você está errada, Lina. É apenas uma questão de
perspectiva, — eu encolho os ombros.

— Sisi...

— Seu vilão pode ser apenas meu herói, Lina. Existe realmente algo
como preto e branco? Ou moral e imoral?

— Sisi... Espero que você não esteja simpatizando com ele!— Ela
parece escandalizada, e eu percebo que estou pisando em gelo fino.

— Claro que não, — respondo, — estou apenas tentando dizer que


você não pode realmente conhecer uma pessoa até que ande uma milha no
lugar dela. — Eu encolho os ombros.

Ela fica quieta por um momento, pois me considera pensativa.

— Você se tornou uma filósofa, — ela finalmente sorri.

Meus lábios se esticam quando eu devolvo o sorriso.

É preciso quando o amante é o vilão na história de todos.

Mas meu.
CAPÍTULO DEZOITO

— Isso deve funcionar até nós termos uma nova língua protética. —
Entrego a Seth seu novo dispositivo. — Escreva para falar. Você pode até
escolher sua voz, — explico, — mas por favor não escolha a voz de uma
mulher. Acho que não consigo conciliar isso com, — aceno para o corpo
enorme dele.

Ele resmunga, digitando rapidamente uma resposta.

— Não é meu fetiche. — Uma voz masculina robótica responde.

— Bom, — eu aceno, — não que eu tivesse julgado. Eu sou muito


mente aberta. — Eu lhe dou um grande sorriso.
Ele não o devolve enquanto senta na minha frente, digitando
furiosamente no dispositivo.

— As crianças estão seguras?

— Sim. Eles foram devolvidos com sucesso aos pais. Ofereci-me para
realocá-los, caso essas pessoas os procurem novamente. Às vezes me
surpreendo, — suspiro profundamente. Estou perdendo meu jeito se agora
estou ajudando as pessoas em vez de prejudicá-las.

E onde está a diversão nisso?

Seth acena para mim, voltando a digitar.

— Em relação à sua promessa, — ele começa, e eu proponho que ele


continue. — Eu quero acabar com Arsen Aliyev.

— O magnata do Azerbaijão?— Eu levanto uma sobrancelha, surpreso


que ele seria o alvo de sua vingança. — Por quê?

Há um flash de dor nos olhos dele.

— Ele me fez quem eu sou, — ele faz uma pausa, fechando os olhos
brevemente, — e roubou o que eu mais amava, — diz ele enigmático, mas
eu posso ler nas entrelinhas.
— Tudo bempara mim. Só o vi algumas vezes, mas acho que não
trocamos mais do que algumas palavras, — encolho os ombros. Prometi-
lhe vingança e entregarei. — Todos os meus recursos estão à sua
disposição e tudo o que você precisa.

Ele estreita os olhos para mim.

— Por quê?— ele pergunta, suas feições desenhadas em suspeita. —


Aliyev é um homem poderoso. Por que você arriscaria?

Abrindo a gaveta do meu escritório, pego um pacote de chiclete,


colocando-o na boca.

— Porque há muito poucas pessoas que não chateei até agora. O que é
mais um? Além disso, tenho um trabalho mais importante para você.

— Que trabalho?

Abrindo meu computador, eu o viro para ele.

— Acho que você notou que esse composto é um pouco estruturado de


maneira diferente.

Ele assente, estudando o layout.

— Há uma razão para isso, — eu me inclino para trás na minha


cadeira, sem saborear o fato de que tenho que tornar pública minha
fraqueza: — Eu tenho alguns episódios... crises, se você quiser simplificar,
e eu me torno extremamente imprevisível.

Ele levanta uma sobrancelha questionadora.

Alguns botões e eu reproduzo um dos meus episódios do ano passado,


quando matei metade da equipe. Não foi o meu melhor momento, mas o
ataque foi tão repentino que eu não consegui vê-lo chegando, muito menos
controlá-lo.

Seth assiste atentamente, estudando meus movimentos. Eu já sei o


que ele está vendo. Uma criatura vestindo a pele de um homem, mas isso
não é. Eu assisti a imagem várias vezes para saber quanto dano eu causei,
pois cortei todo mundo em pedaços.

Ouço gritos no vídeo e sei que deve ser o momento em que começo a
lavar as paredes do corredor com sangue, destruindo absolutamente tudo
no meu caminho.

Seth fica calado quando o vídeo termina, levantando lentamente a


cabeça para encontrar meu olhar.

— Como você pode ver, eu não sou exatamente um passeio no parque.


De fato, geralmente são necessários cerca de dez homens fortes para me
imobilizar, e mesmo isso não deixa de ter baixas. Você, por outro lado, tem
a habilidade que eu preciso.
— Você quer que eu te mate?— Ele pergunta e eu dou de ombros.

— Se trata disso. Eu certamente quero que você me pare antes que


chegue longe demais. Normalmente eu me recupero depois de um tempo,
mas... — Eu deixo escapar. — Há algum tempo meus episódios foram cada
vez piores, alguns durando por dias. Se eu não sair de um...

— Eu entendo, — afirma ele.

— Eu devo avisar você, no entanto. Apesar de toda a sua habilidade,


que é ótima, a propósito, luta incrível, — eu o elogio com um sorriso,
tentando aliviar um pouco da desgraça no ar, — não vou cair fácil. Há
quanto tempo você treina?

— Quatorze anos, — ele responde.

— Eu tenho mais de duas décadas de experiência, — simplesmente


afirmo para que ele possa ver no que está se metendo.

— Mas você é... — Ele franze a testa para mim, já que temos a mesma
idade.

— Sim. A morte mais antiga que me lembro foi quando eu tinha oito
anos. Posso ter matado antes. — Eu encolho os ombros, quase certo de que
eu tinha matado antes.
De repente, ninguém acorda com sede de sangue sem ter sido
condicionado a ela. E estou cada vez mais certo de que tudo o que Miles fez
comigo deve ter danificado algo dentro de mim.

— Então você vê, eu não vou ser tão fácil de derrubar. É por isso que
eu gostaria de treiná-lo até que você se familiarize com meus movimentos.

Seth acena, intrigado.

— Há mais uma coisa, — acrescento, — e provavelmente a mais


importante. Nunca, e eu quero dizer nunca deixe-me prejudicar Sisi.
Prefiro que você me mate antes mesmo de focar nela.

Ela pode me controlar por enquanto, mas nunca quero correr riscos
com a segurança dela. Prefiro estar morto do que saber que fiz alguma
coisa com ela em uma das minhas fúrias. Porque, conhecendo os resultados
habituais, só consigo imaginar o estado em que a deixaria.

— Sua namorada?— Seth pergunta, e meus lábios se levantam em um


sorriso.

— Sim, minha namorada. Você deve protegê-la o tempo todo. Ela é


sua responsabilidade. Eu venho em segundo lugar.

Ele inclina a cabeça, olhando-me atentamente antes de digitar alguma


coisa.
— Ela sabe disso?

— Não, ela não sabe. E vamos mantê-la assim. — Eu sorrio


tristemente.

Sisi pode me odiar, mas pela primeira vez acho que prefiro preservar
a vida de alguém do que levá-la.

Passo algum tempo analisando tudo com Seth, querendo garantir que
as coisas sejam perfeitas caso algo aconteça.

No final da noite, já estou cansado.

Eu tenho ficado cada vez mais cansado.

Cansado pode ser uma palavra melhor para esse desgaste que parece
penetrar nos meus ossos e tirar tudo de mim.

É engraçado como, há alguns meses, eu estaria bem apenas passando


a vida como sempre fiz, de forma imprudente e descuidada, até a pressa de
matar desaparecendo com o tempo.

Agora há ela...

E a presença dela na minha vida acabou de me mostrar o quão


patético eu já fui antes. O pensamento de que talvez eu não tenha muito
mais tempo teria me encantado no passado. Afinal, por que alguém iria
querer viver se nada trouxesse alegria, com o simples ato de viver sendo
um fardo? Agora, pela primeira vez, morrer me deixa assustado. Porque
então ela se foi.

Eu não a veria, tocaria ou cheiraria.

— Maxim, — eu ligo para o número dele, — encontre-me o melhor


psiquiatra da cidade.

Estou agarrando palhas, mas tenho que tentar.

Por ela.

Meu último recurso é Miles, mas levei nove anos para chegar aqui.
Quem sabe quando eu vou encontrá-lo? E com a rapidez com que minha
condição está avançando, receio não conseguir.

— Não fique triste. — Os lábios de Vanya estão virados para baixo


quando ela me abraça. — Eu não gosto quando você está triste, — diz ela,
balançando os pés da cama e vindo para o meu lado.

— Eu não estou triste, V. Eu não posso ficar triste, lembra-se?— Eu


tento um sorriso para o benefício dela.

— Você está. Eu posso sentir isso, — ela pega minha mão e a traz ao
peito. O gesto dela é cativante, então eu permito por um momento.
Mas quando pisco, vejo minha mão alojada na cavidade torácica,
sangue escorrendo pelas minhas juntas.

— O que... — Eu recupero como se estivesse queimado.

Há um buraco no peito de Vanya, seu coração está desaparecido


enquanto o sangue continua jorrando.

— Me ajude, — ela sussurra, com os olhos caindo do lugar. — Ajuda...

Dou um passo para trás, o tempo todo balançando a cabeça.

Não é real. Nunca é real.

Minhas costas batem na parede e eu caio. A forma de Vanya continua


se aproximando, ainda mais sangue se acumulando aos pés.

— Me ajude, irmão. Não me deixe morrer, — ela continua


murmurando, sua voz é uma melodia assustadora que soa como um grito
nos meus ouvidos.

Fechei os olhos, contando até dez, imaginando o som suave de um


pêndulo enquanto acalma minha mente. Faço isso até não haver mais som.

Respirando fundo, abro os olhos para ficar cara a cara com Vanya. Ela
está bem na minha frente, seus traços distorcidos, sua carne podre.
— Você falhou comigo, — ela sussurra, a íris do olho pendurado se
movendo enquanto ela olha. — Você falhou comigo, — ela continua
dizendo até começar a gritar no meu ouvido.

— Não... — Eu sussurrei, — não falhei.

Mas ela não para. O som é ensurdecedor quando me sinto


escorregando. Sem nem pensar, eu pego meu telefone do bolso, ligando
rapidamente para ela.

— Vlad?— ela responde no primeiro toque, e eu expiro, aliviado. —


Você está aí?— Ela pergunta, sua voz, a cura que eu precisava.

Observo com admiração quando a forma de Vanya recuando se torna


cada vez menor até que ela desapareça, como se estivesse no ar.

Inferno, se eu fosse mais supersticioso, diria que ela é um fantasma e


a santidade de Sisi a está afastando.

Tal como está, estou ciente de que a doença está no meu cérebro.
Minha mente é a que está infectada com o que está me atormentando.

— Sisi, — expiro, meu corpo tremendo com tensão inédita.

— Por que você ligou? Eu não estava esperando você até meia-noite.
— Ela diz e eu absorvo a voz dela, fechando os olhos e imaginando que ela
está ao meu lado.
— Não posso sentir sua falta?— Eu pergunto em um tom divertido,
não querendo mostrar o estado em que estou.

Ela pode saber alguns dos meus segredos, mas ela não está preparada
para todos eles.

— Você está entediado? É por isso que você está ligando?

— Sisiiii, — eu gemo.

— Vejo você hoje à noite, — ela me diz com uma voz suave: — Eu
também sinto sua falta, mas tenho que ir.

Ela desliga.

Eu seguro o telefone no meu ouvido um pouco mais, desejando poder


colocar a voz dela em um loop. Os demônios estão voltando e desta vez não
se contentarão com nada menos que minha sanidade.
Marquei uma consulta com o psiquiatra, não conto a Sisi sobre
minhas intenções, não querendo dar a ela nenhuma esperança onde não
há.

Ao longo dos anos, fui a diferentes especialistas e permiti que eles


investigassem e cutucassem até chegar a um ponto em que eu não me
importava mais. Eu tinha me reconciliado com minha mortalidade que se
aproximava rapidamente e estava bem com ela.

Claro, me arrependi do conhecimento que nunca conseguiria adquirir,


dos experimentos que nunca realizaria e, simplesmente, do mundo que não
iria experimentar. Mas tinha sido bem simples me convencer de que, com
meus sentidos já silenciados, não havia realmente nenhuma alegria nele.
Interesse foi o maior sentimento que pude reunir, mas mesmo isso
foisuperestimado.

Mas mais do que tudo, eu sabia que ninguém sentiria minha falta.
Talvez Bianca colocasse um epitáfio na minha lápide, mas ela não é capaz
de emoções mais profundas do que eu.

No final, ninguém lamentaria.

Prontamente esquecido.
Nunca amei.

Ultimamente, notei uma melancolia me atingindo. Pela primeira vez,


estou pensando em coisas de natureza espiritual, imaginando se talvez não
seja tarde demais para mim.

É tarde demais.

Sou um tolo por esperar que as coisas sejam diferentes. Acho que a
chegada de Sisi na minha vida fez um ponto comigo. Sentir algo diferente
de tédio pode acordar até um homem morto de seu sono.

E eu certamente fui acordado. Agora eu só tenho que descobrir uma


maneira de ficar desperto.

Olhando para o meu relógio, percebo que é hora do confronto.

Aperto a gravata no pescoço e vou para a sala de reuniões.

Com tantas coisas sobre Miles e o Projeto Humanitas surgindo,


comecei a pensar mais profundamente sobre isso e alguns problemas
flagrantes surgiram.

Mais importante ainda, como Miles e seu parceiro foram capazes de


abordar Misha e Giovanni Lastra? E eles também conquistaram sua
confiança. Então eu comecei a mapear todos os eventos, principalmente
levando ao golpe de Misha.
Lembro que o pai o colocou no comando das rotas de viagem de Nova
Jersey, e ele estava viajando entre estados para participar de reuniões e se
estabelecer com os fornecedores. Foi durante uma daquelas viagens que
ele conheceu Miles?

A peça que falta é o parceiro desconhecido. Sem ele, é simplesmente


um quebra-cabeça sem fim, já que ele poderia ter sido facilmente o contato
entre eles.

Mas agora tenho o nome completo de Miles, pretendo montar uma


pequena armadilha. Eu convidei todos os segundos em comando hoje à
noite para uma breve reunião, na esperança de convocar uma cúpula da
máfia em breve.

Não que eu tenha estado em boas relações com qualquer um dos


outros pakhans, mas eles precisam de mim mais do que eu preciso deles,
afinal Nova York é um dos maiores centros da costa leste. Sabendo disso,
todas as evidências apontam para alguém que se candidataria a ganhar
algo com a liderança de Misha, e assim todos os pakhan na costa leste
ficam sob suspeita.

Agora só preciso fazê-los falar, e qual a melhor maneira de realizar


uma cúpula? Eu só preciso de todos juntos no mesmo lugar. Fornecerei a
eles tudo o que desejam — álcool, drogas e mulheres — e só espero que
suas línguas se soltem o suficiente.
Eu tentaria torturar, mas até EU não sou tão imprudente em colocar
toda a costa leste nas minhas costas. Bem... metade talvez, apenas não
todos eles.

E como todo mundo tem um assunto pendente comigo, terei que ser
inventivo com este convite.

Saindo da sala, eu encontro Seth.

— Pronto?— Ele assente, balançando a mochila nas costas. Ele está


carregando alguns itens interessantes que devem tornar essa festa mais
alegre.

— Então deixe o show começar, — eu pisco para ele.

Cerca de dez homens estão me esperando na sala de conferências,


todos reunidos em torno da mesa redonda.

— Senhores, — eu os saúdo de braços abertos.

Seth toma seu lugar atrás enquanto eu ando por aí, apertando a mão
de todos e beijando suas bochechas.

Um último beijo. Quem disse que eu não sou generoso?

Enquanto estou me sentando no topo da mesa, Maxim me acena,


fechando as portas e nos trancando lá dentro.
Os homens nem percebem esses pequenos detalhes, sua atenção se
concentrou totalmente em mim agora.

— Diga, Kuznetsov, por que você nos chamou aqui?— Alguém


pergunta, e eu tenho que apertar meus olhos para ele, o nome dele me
escapando por um momento.

— Desculpe, mas quem é você?— Eu pergunto, gostando da maneira


como a indignação se espalha por suas feições.

— O que?— ele cuspiu, parecendo ofendido.

Alguns dos outros homens estão sufocando uma risada. Infelizmente,


um nome é apenas um nome, assim como um túmulo é um túmulo.

Inclino a cabeça para a direita e faço um pequeno movimento para


Seth. Abrindo a bolsa, ele me entrega para fazer minha escolha.

Amaldiçoando meus lábios, eu navego nos itens, finalmente me


acomodando em um facão. Assim que o tiro da bolsa, ouço os suspiros atrás
de mim, os homens sem dúvida lutando por suas armas.

Infelizmente, suas armas foram confiscadas e provavelmente só têm


algumas facas insignificantes.

Virando-me para eles, testei a afiação da lâmina contra o dedo, o


sangue derramando instantaneamente.
Trazendo para a minha boca, sorrio enquanto lambo o líquido
vermelho.

— Então, senhores, onde eu estava?— Eu digo, pulando na mesa e


escolhendo cuidadosamente o primeiro alvo.

O homem que falou primeiro também é o primeiro a voar para a porta.


Ah, é claro que os mais barulhentos são os mais ruidosos por um motivo.

Dois grandes passos e eu pulo bem na frente dele, balançando o facão


em ângulo, a cabeça caindo sem esforço no chão.

— Droga, mas é afiado, — observo quando alguém tenta me atacar


por trás.

Eu me abaixo, sua pequena faca batendo no ar enquanto eu rolo no


chão, batendo no joelho dele. Ele cai assim que mais dois vêm em minha
direção. Sem perder tempo, cortei a cabeça dele em um movimento rápido,
virando-me para lidar com os recém-chegados.

Um corte aqui, um corte ali e mais duas cabeças estão rolando no


chão. A adrenalina está correndo pelas minhas veias, meu sangue
bombeando com força enquanto minhas pupilas se dilatam ao ver sangue.

Oh, está ligado.


O resto é um borrão de movimentos, partes do corpo e tripas
derramadas no chão, toda a sala pintada de vermelho enquanto o sangue
flui livremente.

O facão se torna um braço estendido quando eu corto e atravesso os


cadáveres, desfrutando da sensação da carne cedendo à minha lâmina
afiada.

Quando todas as cabeças caem, não consigo me ajudar quando começo


a rasgar os corpos, usando o facão para cortá-los em pedacinhos.

Sangue. Mais sangue. Tanto sangue até eu me afogar nele, risos


borbulhando na garganta enquanto minhas mãos agarram o líquido
viscoso, arrastando-o sobre o meu corpo como um lençol. Sinto isso
cobrindo minha pele, fluindo pelos meus membros até que esteja me
cobrindo como uma armadura.

De sangue em sangue.

Até terminar.

Não sei quanto tempo mais tarde abro os olhos, a clareza retornando
ao meu olhar. Estou deitado de costas na mesa, minhas roupas rasgadas,
sangue por toda parte. Movendo-me um pouco, percebo que nada dói, então
não é o meu sangue.

— Você está bem?— A voz robótica de Seth pergunta do canto.


Ele está relativamente limpo, considerando a bagunça.

— Agora sim, — eu gemo, levantando-me e absorvendo minha obra


de arte. — Eu arruinei qualquer uma das cabeças?— Eu pergunto,
esperando que pelo menos elas estejam intactas.

— Não. Consegui coleta-las enquanto você estava ocupado. — Ele


responde com uma cara séria, apontando embaixo da mesa onde todas as
dez cabeças estão alinhadas seguidas.

— Corte limpo. — Eu assobio, impressionado com a habilidade que eu


havia exibido.

Chamando Maxim para dentro, digo-lhe para catalogar as cabeças e


enviá-las como presentes para seus respectivos chefes.

Com os convites feitos, só preciso esperar que meus convidados


venham.

Ah, quem disse que se soltar de vez em quando não era divertido?
— Me fale mais sobre sua infância, — Dr. Reese me pede e estou
quase tentado a revirar os olhos para ele. Mas prometi a mim mesmo que
faria um esforço.

— Eu pensei que te disse, doutor. Sangrento, — eu brinco, — muito


sangue.

Ele suspira, colocando o bloco de notas no chão.

— Vlad, isso não está ajudando nenhum de nós. Você veio aqui com
um problema e não vai resolvê-lo se não for honesto comigo. Estou aqui
para ajudá-lo, — diz ele em sua voz paterna.

— Isso foi um erro. — Eu murmuro, levantando-me do meu assento e


indo para a porta.

— Talvez você não queira ajuda, — ele comenta e eu paro, minha mão
na maçaneta.

Minha mente evoca o rosto de Sisi, o pensamento de ter mais tempo


com ela me deixando imóvel.

Eu quero isso.
— Eu não lembro da minha infância. Ou muito disso, — eu volto,
sentado casualmente no sofá.

— Bom, isso é um começo. Qual é a primeira coisa que você lembra?

Matando um médico.

— Fui sequestrado quando tinha três anos com minha irmã gêmea.
Não me lembro de nenhum dos anos passados em cativeiro, — começo me
desapegando. — Minha irmã, Vanya, morreu lá, — digo, vendo-a
encolhida em um canto, com os olhos arrancados. — Eu não morri. — Eu
encolho os ombros.

— Você acha que a morte de sua irmã pode ter algo a ver com você
bloqueando as memórias?— ele pergunta com uma voz gentil.

— Eu não sei. — Eu respondo com sinceridade. — Talvez. Eu ainda...


— Eu respiro fundo, olhando para o assento ao meu lado, onde Vanya
aparece de repente. — Eu ainda a vejo. — Eu admito, e o rosto dela se
torce de horror, a boca se abrindo para gritar no meu ouvido. É preciso
tudo em mim para não cobrir meus ouvidos ou estremecer toda vez que ela
faz uma nota mais alta.

— Ela está aqui? Agora?

Eu lentamente viro minha cabeça em direção ao médico e aceno com a


cabeça.
— Interessante. Você provavelmente ficou muito traumatizado com a
morte dela desde que era sua gêmea.

Eu aceno. — Passei anos pensando que ela ainda estava viva. E


quando eu descobri...

— O que aconteceu?

— Isso desencadeou algo em mim. Eu também não estava bem antes,


mas exacerbou o que estava no meu cérebro. Comecei a ter blecautes...
apagões muito violentos.

Dr. Reese assente com atenção, anotando as coisas em seu bloco de


notas.

— Pode ser um sintoma do TEPT11. Você tem alguma ideia do que


aconteceu com você durante esses anos em cativeiro?

Olho para ele por um momento, debatendo se devo mostrar a ele ou


não. No final, levanto-me, desabotoando minha camisa e abrindo-a para
que ele possa ver meu peito.

— Impressionante, — ele ri ao ver minhas tatuagens.

— Olhe mais perto, — eu digo. Ele se inclina para a frente, os óculos,


a boca aberta enquanto percebe o que as tatuagens estão escondendo.
11 Estresse pós-traumático
— Eu posso?— Ele pergunta enquanto levanta a mão. Eu aceno com a
cabeça e, usando a ponta dos dedos, ele traça algumas cicatrizes, franzindo
a testa. — Estes são cirúrgicos, — afirma.

— Sim. Eu apostaria um palpite que isto aconteceu comigo em


cativeiro, — acrescento com desdém. — Os médicos fizeram exames
completos em mim e não conseguiram encontrar nenhum problema.

Passo mais tempo examinando meus apagões, escondendo os detalhes


assassinos, mas dando a ele o suficiente para saber que sou perigoso.

— E sua namorada...

— Ela me acalma. Mas... — Respiro fundo para explicar onde está o


problema, — eles estão ficando cada vez piores. Receio que, quando
alguma coisa ruim acontecer, sua presença não seja suficiente. E eu vou
machucá-la.

— Entendo, — ele franze os lábios. — Você já tentou se lembrar


daqueles anos? Eles podem ser a chave para entender seus sintomas
atuais.

— É por isso que estou aqui.

— Você percebe que essa não é uma ciência exata. Não posso garantir
que qualquer coisa vai devolver suas memórias, — alerta ele, mas aceno
minha mão com desprezo.
— Eu sei. E, no entanto, estou aqui tentando como último recurso.

Serei o primeiro a protestar que nem sequer é uma ciência, pois não
possui a característica principal da replicabilidade para que seja
considerada uma ciência adequada. Mas um homem desesperado faria
qualquer coisa.

E me vejo cada vez mais desesperado.

Quem sabe, amanhã eu posso me ajoelhar na frente de uma imagem


chorando.

Coisas mais estranhas aconteceram.

— Estou feliz que você entendeu. Gostaria de sugerir uma regressão


de idade para o seu problema e, depois disso, avaliaremos e avançaremos
de acordo.

Dr. Reese passa pelo procedimento, detalhando tudo o que vai


acontecer. Eu apenas aceno, ainda um pouco cético, mas avançando neste
momento.

Ele me instrui a me estabelecer em uma posição relaxada e usar sua


voz como guia.

Fechando os olhos, faço o que ele diz, deixando minha mente relaxar e
seguir suas palavras.
— Respira fundo. — Acho que o ouço dizer enquanto ele me instrui a
regular minhas respirações, suas palavras tendo um efeito soporífico em
mim.

Uma escuridão se pinta em minha mente, tudo o mais desaparecendo.


Meu corpo diminui a velocidade, suas funções quase em espera.

— Afaste-se, — sua voz soa como um eco à distância, — você agora


tem sete anos.

Ele fala um pouco mais, a escuridão na minha frente distorcendo


quando a luz empurra através de rachaduras. Eu fecho meus olhos, e é
como se o teto estivesse se desintegrando, pedaços de vidro preto caindo
sobre mim.

E então eu caio.

Minhas costas atingem uma superfície sólida, meus olhos se abrem


quando olho meu entorno.

— Bisturi, — ouço alguém dizer enquanto minhas pupilas se ajustam


à luz dirigida a mim. Movendo minha cabeça para o lado, vejo um homem.
Seu rosto está escondido pelas sombras, mas ele está vestindo uniforme, as
mãos enluvadas segurando um bisturi enquanto se inclina sobre o meu
corpo.
Pela primeira vez, ouso olhar para baixo, meus olhos se arregalando
ao notar meu peito bem aberto, minhas costelas à vista. O médico pega o
bisturi, cortando o tecido, e ainda assim eu mal sinto dor.

— Veja, — eu ouço uma voz. — Ele está acordado e não faz um som.
Eu acho que está funcionando.

— Isto é... — outra voz se junta, e vejo outra figura à margem


enquanto ele caminha pela cama cirúrgica, olhando para mim
maravilhado.

— Diga-me, meu pequeno milagre, dói?— O médico está me


perguntando, sua mão escovando ternamente na minha bochecha. Meus
olhos estão piscando quando eu olho para ele, formando lentamente um
não.

— Veja, minha pequena maravilha já está quilômetros à frente dos


outros, — ele fala, sua mão ainda trabalhando dentro do meu corpo.

— Entendo agora por que você não nos deixa tocá-lo, — os outros
grunhidos, claramente descontentes.

— Claro, — o médico faz uma careta. — Onde eu encontraria outro


espécime perfeito como ele?— Ele se vira abruptamente em direção ao
outro.
Ainda estou atordoado, toda a situação parece surreal, pois sinto um
vazio dentro de mim que está se espalhando por todo o meu corpo.

— Porra, Miles. Você sabe o que nos prometeu... — as palavras se


tornam um zumbido no meu ouvido.

— Você tem o suficiente para escolher, pelo amor de Deus. Isso é


revolucionário! Você sempre pode molhar seu pau, mas isso... — ele aponta
para mim, — sua capacidade de suportar a dor é inédita. Ora, ele é o
único capaz disso. Sua irmã nem chega perto, e eles são gêmeos, — ele
balança a cabeça: — Eu não sei o que há sobre ele, mas...

Eu pisco uma vez e toda a cena muda. Não sei quantos anos tenho,
mas sinto-me velho além da minha idade...

Estou em uma cela, e Vanya está amontoada ao meu lado, todo o seu
corpo tremendo tentando me segurar por um pouco de calor.

— Estou com fome, — ela sussurra, seus lábios quase ficando azuis
pelo frio.

— Você sabe que não pode comer nada sólido após o teste, — afago o
cabelo dela, desejando poder tirar a suador.

A porta da cela se abre e dois guardas entram. Algo nos olhos deles
não se encaixa bem comigo.
Um deles leva Vanya pela nuca, fazendo-a ajoelhar-se no meio do
chão, enquanto o outro segura minhas mãos atrás das minhas costas, me
segurando.

Há um pânico dentro de mim, mas não sei por quê. O que eu sei é que
não é a primeira vez que algo assim acontece.

— Por favor, hoje não. Você vai rasgar os pontos dela. — Eu me ouço
falar, lutando contra o homem que me segura.

— Cale a boca!— ele ri atrás de mim, colocando a mão sobre a minha


boca, sufocando meus sons.

Eu assisto horrorizada quando Vanya se ajoelha no chão, com as mãos


em volta da barriga enquanto ela tenta segurar seus pontos.

O guarda olha para ela, seus dedos carnudos agarrando sua


mandíbula enquanto ele a levanta para olhá-la nos olhos.

— Sentiu minha falta, doçura?— Ele pergunta, sua mão suja ousando
tocá-la.

Estou respirando pesadamente quando algo dentro de mim cresce em


uma extensão dolorosa. É uma sensação estranha, como se eu soubesse o
que está por vir e estou preparado para a batalha.
Suas mãos acariciam suas bochechas, e há um olhar vago em seus
olhos enquanto ela olha para a frente, seu corpo mole como se estivesse
sem força.

O guarda abaixa o zíper do macacão, tirando o pau ereto e


empurrando-o para o rosto dela.

— Engula, e hoje eu serei gentil. — Ele diz a ela, cuspindo na palma


da mão e movendo a mão para cima e para baixo na ereção.

Eu não posso assistir isso.

Meus membros começam a ceder e faço o que posso para escapar do


aperto do guarda.

Eu preciso ajudar Vanya!

Mas é tudo em vão.

Com um chute, ele me empurra de bruços no chão, todo o seu peso


corporal em mim me mantendo imóvel.

Meus olhos ainda estão colados à minha irmã — minha irmã gêmea, e
meus olhos se erguem quando a vejo abrir a boca para chupar o pau do
bastardo. Como seus dedos gordos acariciam seus seios inexistentes ou
como ele rasga suas roupas para alcançar entre as pernas.
Um som que não sai forma em minha mente, todo o meu ser sendo
agredido por uma dor diferente de qualquer outra.

— Essa merda não para de se mover. — O homem que me segura


comenta, os grunhidos do outro guarda enchendo a sala enquanto minha
irmã chupa o pau dele como se ela tivesse feito isso um milhão de vezes no
passado.

Vanya...

— Cuidado com ele, ele é o especial. — O guarda ri, a mão dele


empurrando a cabeça da minha irmã para a frente até que ela engasgue
com o seu pau, os olhos úmidos de lágrimas caídas.

— Especial minha bunda, — diz o homem atrás de mim, e uma mão


começa a me atacar, ficando cada vez mais baixa...

— Ei, Yosuf, não podemos tocá-lo, — ele geme, mas Yosuf parece não
ouvi-lo quando começa a puxar minhas calças para baixo.

— Eu não vou contar se você não contar, — ele ri, bufando no


processo como se fosse a coisa mais divertida.

— Somente se eu der uma volta depois, — ele pisca para Yosuf.


Em algum momento, meu corpo e minha mente se separam. Eu ainda
sinto tudo. O peso no meu corpo, as mãos dele movendo minhas pernas
para o lado, o pau dele entrando no meu corpo e me rasgando em dois.

E continua, seu hálito na minha nuca quando ele entra e sai de mim,
seu suor se transferindo nas minhas costas enquanto ele aumenta seus
movimentos e depois sua semente quando ele se goza dentro de mim.

Mas eu não reajo.

Meu corpo está imóvel, meu olhar fixo no de Vanya quando nos
perdemos um no outro, tendo conforto onde não há.

Os olhos dela me dizem tudo o que preciso saber.

Você não está sozinho.

Nós vamos superar isso.

Juntos.

Eu ofego por ar, meus olhos se abrem, minha mão disparando


enquanto eu pego alguma coisa.

Estou me afogando.
Não há outra explicação para isso, pois eu luto para recuperar o fôlego
o tempo todo, enquanto meus dedos agarram outra pessoa.

O corpo do Dr. Reese desmorona sem vida aos meus pés. Eu mal reajo
quando saio cambaleando do escritório, todo o meu ser em pedaços, minhas
feridas sangrando onde não há sangue.

É só quando eu ando pelo prédio que chamo Maxim, percebendo que


ele precisa limpar minha bagunça. Depois disso, eu apenas vagueio...
caminhando sem rumo pelas ruas movimentadas da cidade, afogando-se
no barulho, afogando-me em mim.

Sisi.

Preciso mais dela do que do meu próximo suspiro, e ainda me sinto


contaminado demais para estender a mão.

Andando pela cidade, não sei quantas horas passo apenas vagando,
não racionalizando realmente nada do que está acontecendo ao meu redor.
Mas, mesmo assim, não consigo impedir que meus pés me levem à minha
única fonte de conforto.

Escalando a janela dela, meu coração cai no meu peito quando percebo
que o quarto está vazio. Puro desespero me arranha quando entro na casa,
me movendo furtivamente, mas cortejando o perigo a cada passo.
E então eu a ouço conversando e rindo com alguém — um homem que
não sou eu. Eu mal me controlo, sentindo meu temperamento cada vez
mais volátil subindo e procurando assumir o controle. É preciso tudo em
mim para não entrar na sala, sangue derramado para amenizar minha
raiva, um aviso de que ninguém pode tê-la.

Pisco na escada, uma vista direta para a sala de estar, enquanto meus
olhos se concentram em Sisi, sentada tão confortavelmente na presença de
outro homem.

Ela está rindo de algo que ele disse antes que ela levante o olhar, os
olhos se arregalando quando ela me percebe.

Algumas palavras e ela já está voando em minha direção, me puxando


pela minha mão e me arrastando para o quarto dela.

— O que você está fazendo aqui? Deus, Vlad, isso foi tão imprudente
da sua parte, — ela continua falando, fechando a porta atrás dela e
trancando-a.

Minha respiração fica difícil, uma névoa vermelha cobrindo meu olhar
enquanto eu a agarro pela garganta, empurrando-a para a parede, meu
rosto enterrado na curva do pescoço.

— Quem é ele?— Falo rouco, mal reconhecendo minha própria voz. —


Para quem você estava sorrindo?
— Vlad, acalme-se!— as mãos dela vão para os meus ombros,
esfregando-as em movimentos delicados. — Ele é apenas um amigo. Nada
mais.

— Quem. É. Ele?— Eu sibilo, precisando saber o nome da minha


futura vítima. Porque ele não vai se safar com vida. Não depois do que vi.

— Ele é meu amigo. Realmente, Vlad, não há nada acontecendo. Por


favor. — Essa palavra tem o poder de derrubar todas as minhas paredes.
Uma mão estende para tocar meu braço, sua expressão tão adorável, tão
cheia de calor.

Meus joelhos dobram e eu caio, envolvendo meus braços em volta dela


para apoio. Eu pressiono minha cabeça contra sua barriga, respirando com
dificuldade enquanto a seguro como minha vida.

— Sisi, — um som angustiado me escapa. Pela primeira vez, sinto


meu antigo eu voltando, a presença dela era o bálsamo que eu precisava
para curar.

— Querido Deus, o que aconteceu?— ela sussurra, levando meu rosto


entre as mãos e abaixando-se de joelhos para estar no mesmo nível que eu.

— Sisi, — não consigo nem articular meus pensamentos


adequadamente enquanto a olho nos olhos, sua expressão cheia de
preocupação. — Para mim... — Eu murmuro, meus dedos traçando suas
feições.
— Fale comigo. — Ela diz colocando os lábios em cima dos meus. Eu
me abro para deixá-la entrar, provando a salinidade das lágrimas,
humilhado por ela chorar por mim.

Mas quando abro os olhos, percebo tardiamente que eu sou quem


chora, minhas lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas
incontrolavelmente.

Ela não diz nada. Ela só me leva ao peito, balançando comigo


enquanto me diz que tudo ficará bem.

— Diga-me que você é minha. — Eu falo baixinho, meu corpo quase


convulsionando com a dor acumulada. — Por favor, — eu imploro,
buscando a garantia de que ela nunca vai me deixar. Que eu sou dela e ela
é minha.

— Eu sou sua, — diz ela, — sempre e para sempre, — seus dedos


acariciam meu cabelo, o queixo dela descansando em cima da minha
cabeça. — Assim como você é meu, — continua ela, com os braços
apertando ao meu redor.

Eu mergulho na presença dela. Deixo permear todos os átomos do


meu ser enquanto procuro me estabilizar.

Envolvidos um no outro, ficamos assim por horas, meu corpo


derretendo no dela, nossos aromas se fundindo em um. Eu a seguro com
tanta força que esqueço onde começo e onde ela termina.
Somos apenas nós.

— O que aconteceu, Vlad?— ela pergunta depois de algum tempo.

— Eu fui a um psiquiatra. — Eu digo a ela, contando brevemente o


que havia acontecido, mas deixando de fora os detalhes do estupro. Eu
nem quero pensar na expressão dela quando ela perceber o quão quebrado
eu estou.

— Vlad, — suas sobrancelhas se uniram em preocupação quando ela


abre minha camisa, traçando minhas cicatrizes com as mãos antes de se
inclinar para beijá-las. — Sempre venha até mim, — ela levanta a cabeça
para me olhar nos olhos, — sempre.

— Sim, — eu digo, — sempre.

— Venha, — ela me pega pela mão, me levando para o banheiro e me


despindo lentamente antes de fazer o mesmo por si mesma. Me cutucando
gentilmente, ela me leva no chuveiro, a água quente caindo sobre minha
pele, meus olhos se fechando em um suspiro enquanto faz contato com meu
corpo.

Ela pega uma esponja, ensaboando-a com sabão enquanto a traz pelo
meu peito, me limpando.
Eu assisto através dos olhos entreabertos do jeito que ela está
cuidando de mim, e meu coração se aperta dolorosamente no meu peito já
quebrado.

— Você está seguro comigo. — Ela sussurra quando eu a puxo para


mais perto, a pele fica corada, a frieza ao lado do calor. Eu deixei o calor
dela penetrar em mim, seu corpo macio amortecendo o meu.

— Você é minha casa, — digo a ela, varrendo o cabelo para o lado,


para ter acesso ao seu pescoço. — Você é onde eu quero deitar minha
cabeça pela eternidade. — Eu escovo minha bochecha contra sua pele
delicada, inalando o perfume que é exclusivamente dela.

— Você também é meu. Você não tem ideia do quanto significa para
mim, — as palavras dela me tocam de uma maneira que eu nunca pensei
ser possível. Envolvo meus braços em volta das suas costas, com os seios
pressionados no meu peito e, no entanto, nenhum dos meus pensamentos é
de natureza sexual.

Ela é Sisi. Corajosa, bonita e gentil. Ela é o calor que eu não sabia que
precisava, o raio de luz do sol na minha vida perpetuamente sombria.

E ela é minha.

Fechando a torneira, ela pega uma toalha e seca minha pele. Ela é
meticulosa, mas gentil comigo, como se eu fosse a coisa mais preciosa. Só
suas ações me fazem querer chorar, o cuidado que ela está me dando mais
do que eu jamais poderia imaginar alguém como eu merecia.

Levando-me para a cama, ela arruma os travesseiros, levantando as


cobertas para eu entrar.

Ela se aninha perto de mim, pele nua contra a pele nua, seus olhos
olhando para os meus.

— Eu fiz algo para você, — ela sussurra, as costas da mão


acariciando minha bochecha. Ela se vira brevemente para abrir uma
gaveta, tirando um pedaço quadrado de pano.

— Eu bordei para você. Para que eu esteja sempre com você, — ela
me mostra as letras que soletram seu nome ao lado do qual ela desenhou
um pequeno coração.

— Sisi... — Eu nem sei o que dizer ao olhar para o precioso material.


— Obrigado. — Eu me viro para ela, colocando meus lábios nos seus.

Ela se abre, a língua encontrando a minha enquanto os braços se


envolvem no meu pescoço. Derramei tudo o que ela significa para mim
neste beijo, querendo que ela saiba que somente quando estou com ela
estou verdadeiramente inteiro. Um beijo lento que me tortura com sua
doçura.

E finalmente estou em paz.


Eu aconchego-me mais perto, a sensação de acordar com ela ao meu
lado melhor do que mil mortes. Aninhando meu nariz em seus cabelos,
trago sua bunda contra meu pau, aninhando-a entre as bochechas da
bunda.

— Bom dia, — ela sussurra, estendendo-se ao meu lado e me


presenteando com um sorriso largo.

— Você é a coisa mais linda que eu já vi. — Eu digo a ela, encarando


seu rosto atrevido e a maneira como seus olhos brilham com travessuras.

— É mesmo?— ela bate os cílios em mim, virando-se para deitar no


meu peito.

— É por isso que é melhor você me dizer quem era aquele homem.
Não pense que eu esqueci disso, — eu levantei uma sobrancelha para ela.

—Desmancha prazeres, — ela murmura, fazendo beicinho.


— Estou ouvindo. — Eu a agarro pela nuca, trazendo o rosto para a
minha frente, meus lábios mordiscando o queixo. — E você não vai sair
desta cama até me contar, — minha expressão passa de divertida para
séria.

Podemos brincar sobre isso o dia todo, mas não terei ninguém
farejando ela.

— Ele é apenas um amigo, — ela suspira, mas passa a me contar


tudo sobre seu novo amigo Raf. O simples fato de ela ter um apelido para
ele me faz enrolar meu lábio com nojo.

— E você tem certeza que ele não tem flertado com você?— Eu
pergunto, ainda não convencido.

— Claro que não!— ela revira os olhos para mim, — ele sabe tudo
sobre você. — Ela aponta, cutucando meu peito, — e ele até concordou em
ajudar com uma camuflagem, caso eu precise dela, — ela sorri para mim e
sei que não posso ficar bravo com ela.

— Eu não gosto, — murmuro. Quanto mais pessoas ela conhecer,


mais ela perceberá que está melhor sem mim e isso não pode acontecer.

Nunca.
— Por favor, me prometa que não vai matá-lo. — Ela murmura, e eu
sorrio timidamente. Ela adivinhou apenas a direção dos meus
pensamentos.

— Não, não posso prometer isso. — Eu balanço minha cabeça, virando


minha mão.

— Por favor... — ela continua, beijando no meu pescoço antes de


descer.

— Não. — Repito, resoluto na minha decisão.

Desde que levo minhas promessas a sério, não posso me comprometer


com algo que eu sei que farei.

— Por favor, — ela não para, batendo aqueles cílios longos em mim
descendo no meu corpo, segurando meu pau na mão, a língua lambendo-o
da base à ponta.

— Foda-se, — eu gemo, — você não está jogando justo, hell girl, —


digo quando ela me leva entre os lábios, os olhos dela em mim enquanto
ela abaixa a boca no meu pau até que bata na parte de trás da garganta
dela. Cuspe escorre pelo queixo enquanto ela engasga com o meu
comprimento, tentando me levar o mais fundo que puder, mas apenas
gerenciando metade.
Minha mão no cabelo dela, eu a exorto enquanto ela me chupa, a visão
daqueles lindos lábios esticados ao redor do meu pau me fazendo
estremecer de prazer.

Pecado quente. Ela é um pecado quente, tudo para eu tomar.

— Por favor?— ela lambe a parte de baixo, concentrando-se no local


que ela sabe que eu gosto, o tempo todo olhando para mim com aqueles
olhos de corça dela.

— Cristo mulher, — minha cabeça bate no travesseiro enquanto ela


me bombeia vigorosamente, sua boca um paraíso quente e acolhedor
quando eu gozo. Seus lábios se fecham sobre mim, me sugando.

Ela se levanta lentamente, ondulando seu corpo em uma dança


pecaminosa quando ela vem em minha direção, sua boca aberta, meu
esperma na língua.

— Por favor?— ela pergunta novamente, brincando com meu esperma


na boca e me mostrando como ela engole como a boa freira que é.
Absolutamente hipnotizado por ela, eu finalmente cedi, dando-lhe minha
promessa.

Ela rasteja em cima de mim, dando um beijo estalado na minha


bochecha. Virando-a de costas, estou prestes a retribuir o favor quando
meu telefone toca.
— Seu irmão. — Eu falo com ela para ficar quieta. Ela ri e eu tenho
que colocar minha mão sobre a sua boca para mantê-la quieta.

— Marcello, que prazer ouvir você. — Eu me arrepio,


verdadeiramente surpreso que ele tenha dado o primeiro passo.

— Sim, certo, — ele responde com desdém. — Eu pensei que você


gostaria de saber que Valentino resgatou outro garoto naquela época, —
acrescenta ele e eu paro.

— O que você quer dizer?— Eu franzi a testa.

Sisi vê minha expressão e ela pega o telefone da minha mão,


colocando-o no viva-voz.

— Curiosamente, ele acabou com Agosti. Não sei como, mas agora ele
está trabalhando para Enzo. Talvez você possa marcar uma reunião, —
diz ele, claramente com pressa de terminar a conversa.

— Qual é o nome dele?— Eu pergunto, e Sisi me olha com


preocupação nos olhos.

— Nero. Ele tem mais ou menos a sua idade. Fale com Agosti. — Ele
nem espera que eu responda enquanto desliga.
—Marcello ainda está guardando rancor. — Sisi comenta, e eu tenho
que concordar. Ele ainda está de mau humor da última vez, mas eu sei que
ele vai aparecer. Ele sempre faz.

— Talvez este Nero saiba mais, — acrescento, um pouco otimista pela


primeira vez.

Depois dos flashbacks que tive do que aconteceu com Vanya e eu lá,
sei que vou trazer o inferno em todos os envolvidos. Eles realmente
deveriam encontrar seu deus rápido e orar, porque nada me impedirá de
tornar suas vidas um pesadelo vivo.

Com meu plano para o dia, só saio quando minha garota está
ronronando de satisfação.

Um tempo depois, eu consegui agendar um encontro com Nero na casa


de Enzo. Liguei para Agosti e expliquei as circunstâncias — ou tanto
quanto ele precisa saber — e ele foi bastante flexível em me ajudar a me
encontrar com Nero.

Chego à casa dele um pouco depois do meio dia e sou convidado para o
seu escritório. Desde o primeiro momento em que olho para Nero, vejo uma
familiaridade.

Não sei se já o conheci antes, mas seus olhos têm a mesma qualidade
que os meus — ambos sem alma. É ainda confirmado quando ele se move,
uma rigidez robótica com a qual estou familiarizado. No meu caso, porém,
eu passei anos tentando lutar contra isso, observando como as pessoas ao
meu redor se comportaram e imitando esses comportamentos.

— Vlad, — sorrio para ele enquanto estico meu braço para


cumprimentá-lo.

Seus olhos estão em branco quando ele me dá um aceno, indo para o


sofá e sentando-se.

Puta merda, mas ele é ainda mais rude que eu.

Sento-me ao lado dele, continuando minha observação.

Suas costas estão retas, sem tocar no sofá, as mãos nos joelhos
enquanto a coluna faz um ângulo de noventa graus. Ele é como um soldado
treinado. Seus olhos estão voltados para a frente, como se eu não estivesse
na sala, mas posso ver pequenos movimentos na periferia — ele está
avaliando o ambiente.

— Presumo que você esteja curioso sobre o que eu queria falar com
você, já que nunca nos conhecemos antes. — Eu começo, mantendo meu
tom jovial.

Ele ainda não responde, apenas olha para a frente. Por um momento,
tenho que me perguntar se ele é como Seth e o gato também comeu sua
língua.
— Projeto Humanitas, — chego ao ponto, e sua mandíbula se contrai,
quer dizer que o nome significa algo para ele.

— O que você sabe sobre o Projeto Humanitas?— ele pergunta, e eu


ouço sua voz pela primeira vez. É inexpressiva e áspera, como se ele
tivesse sido exposto à fumaça por períodos prolongados, suas cordas vocais
danificadas.

— Eu estava lá. — Eu encolho os ombros, esperando que ele me dê


mais do que uma contração facial.

Lentamente, seu rosto se vira para mim, seus olhos se estreitando.

— Me disseram que nós dois fomos retirados ao mesmo tempo. Por


Valentino Lastra. — Eu acrescento, feliz que ele reage ao nome.

Ele fica em silêncio por um tempo antes de perguntar.

— O que eles fizeram com você?— ele pisca devagar, quase


mecanicamente.

Acho que não dói mostrar a ele, já que estou tendo um palpite de que
ele passou por coisas semelhantes a mim. Abrindo minha camisa, mostro a
ele os cumes das cicatrizes cirúrgicas e ele assente.

Surpreendentemente, ele faz o mesmo, mostrando-me uma grande


cicatriz nas costas, correndo do pescoço para a pélvis.
— Estou surpreso que você tenha vivido. — Comento, percebendo a
cicatrização extensa.

— Idem, — ele responde, colocando as roupas de volta.

— O que você lembra?— Eu pergunto, dizendo a ele que muitas das


minhas memórias do cativeiro se foram.

— Você tem sorte, — diz ele em silêncio. — Não há um dia em que eu


não me lembre do que eles fizeram comigo... o que eles tentaram, — ele ri.

— O que você quer dizer?

— Você sabe que eles estavam tentando construir o soldado perfeito,


— ele começa e eu aceno, — e por isso eles precisavam de crianças que
tivessem um certo defeito desde o nascimento que os tornasse improvável
que se importassem com o certo ou o errado. Pense em um tipo de
psicopata.

— A mutação na amígdala. Você também tem?

— Sim. Todo mundo que estava lá tinha. Essa foi a linha de base.
Depois disso, eles tentaram nos condicionar a se tornar máquinas de
matar, tirando a humanidade de nós e substituindo-a por sede de sangue.
Mas eles também precisavam de outra coisa... — ele deixa escapar, levanta
a manga e dobra a ponta da camisa e da calça para me mostrar um braço e
uma perna biônicos. — Habilidade física. Eles queriam alguém invencível,
então estavam tentando eliminar a dor e transformar nossos corpos em
armas.

— Eles fizeram isso com você?— Meus olhos se arregalam e ele


apenas encolhe os ombros.

— Eles implantaram metal na minha espinha. Ela se conecta ao braço


e perna. Foi ruim depois que fui resgatado, pois precisava redimensioná-
los, e não há muitos engenheiros por aí que pudessem fazê-lo, — comenta
ele casualmente.

Porra, ele é meio robô.

Agora isso explica sua postura.

— Você também era gêmeo?— Eu pergunto, e pela primeira vez vejo


um flash de dor nos seusolhos.

— Sim. Embora ele se foi há muito tempo.

— Meu também. — Eu acrescento, e temos um breve momento de


entendimento.

— Por que você está perguntando sobre eles agora? Faz mais de vinte
anos, — ele franze a testa, inclinando a cabeça e me encarando
curiosamente.
— Fui informado de que minha irmã mais nova foi vendida para Miles
do Projeto Humanitas há cerca de nove anos.

— Por quê? Ela tem a mutação?

— Não. Mas acho que ele precisava dela para outra coisa. — Algumas
coisas estão ficando mais claras e, embora eu não pare até o Projeto
Humanitas estar acabado, espero encontrar Katya morta. Porque a
alternativa é muito mais horrível.

— Isolando o gene de alguma forma, — ele observa astuciosamente, e


eu aceno com tristeza.

— Ele assumiria que isso acontece na família. — Eu adiciono.

— Isso faria sentido. Entendo que é bastante raro. Se Miles tivesse


uma fábrica interna, as coisas seriam muito mais fáceis para ele.

Eu grunho. Eu tinha pensado nisso, mas não queria admitir para mim
mesmo que minha irmã poderia ter sido usada como rato de laboratório
todos esses anos, sujeita a inúmeros horrores. Inferno, agora que conheço
uma fração do que aconteceu comigo e com Vanya, posso adivinhar o que
eles fariam com ela também.

As palavras de Patrick em particular me levaram a esse raciocínio,


pois ele mencionou alguém dando à luz repetidamente.
Só espero que não seja Katya...

— Gostaria de perguntar se você consegue se lembrar de algo que


possa ser útil para eu encontrá-los. — Eu digo a Nero, surpreso quando ele
se oferece para me enviar um arquivo detalhado.

— Só me avise se você os encontrar. Eles precisam pagar pelo que


fizeram com meu irmão.

— Claro, — concordo plenamente, pronto para sair.

— Não, Enzo, não posso, — ouço a voz elevada de Catalina enquanto


saio. — Por favor, cuide de Claudia... Eu preciso de um momento, — diz
ela, subindo as escadas.

Estranho.

No entanto, sua presença aqui, angustiada, deve significar apenas


uma coisa.

Ela sabe.

Droga. Eu me pergunto como Marcello está. Por um momento, estou


tentado a ligar e perguntar, mas sei que não seria bem-vindo.
Especialmente neste momento.
Então eu apenas pulo no meu carro e dirijo para casa, ansioso para
ouvir Nero.

As peças estão se juntando, e não tenho certeza se gosto da imagem


que estou recebendo.

— Eu me lembro dele, — diz Vanya, sentada no banco do passageiro.

— Você lembra?— Eu levanto uma sobrancelha ceticamente para ela.

— Sim. Ele era o garoto com a covinha. Ele era legal, — diz ela em
um suspiro sonhador.

— Você tinha uma queda por ele!— Eu digo, e ela cora da cabeça aos
pés.

— Talvez, — ela sussurra, ficando em silêncio olhando pela janela.

A memória que eu tinha visto ressurge e tenho que me perguntar que


tipo de vida tivemos lá.

Estou quase em casa quando meu telefone toca. Vendo que é um dos
guardas da casa de Marcello, respondo imediatamente, com medo de que
algo possa ter acontecido.

— Sim?
Ele é rápido em me dizer que Sisi encontrou Marcello coberto de
sangue e agora eles estão a caminho do hospital.

Merda!

Talvez Marcello precisasse de um amigo, afinal. Pena que nunca sou


eu...
CAPÍTULO DEZENOVE

— Eu estou preocupada, Vlad. Eu disse ao médico que ele não tentaria


se matar, mas e se ele tentar?— Eu ando do lado de fora do quarto de
Marcello. As enfermeiras tiveram que sedá-lo depois que ele acordou,
implorando a Vlad para matá-lo bem no saguão do hospital.

— Ele vai ficar bem. — Vlad diz, pegando meu braço e me puxando
para o lado dele. — Eu não acho que ele estava realmente tentando se
matar. Mas suspeito que a saída abrupta de Catalina da casa deva ter algo
a ver com isso.

— Como você sabia?— Eu franzi a testa, inclinando-me para trás para


olhar para ele.
— Eu a vi na casa de Agosti. E ela não parecia muito melhor que seu
irmão, — Vlad franze os lábios.

— O que poderia ter acontecido... — Eu murmuro, confusa.

Como é que tudo aconteceu de uma só vez? Lina saiu de casa com
tanta pressa, levando Claudia com ela e sem atender nenhuma das minhas
ligações. Pela primeira vez, ela realmente me excluiu, e eu não sei o que
fazer sobre isso.

— É para eles descobrirem, hell girl. Só podemos garantir que seu


irmão saia ileso disso.

— Você pode ficar aqui? Não há ninguém em casa e... — Eu deixo


escapar. Não sei por que a perspectiva de uma casa vazia me assusta
tanto. Talvez porque ainda esteja com um pouco de medo de lugares
escuros e solitários.

— Você nem precisa perguntar, — ele me diz, e estou imediatamente


mais à vontade. — Eu não sonharia em deixar você sozinha.
Especialmente se os rumores da ausência de Marcello circulassem.

Eu aceno. Eu não tinha pensado nisso, mas faz sentido que sejamos
vistos como alvos fáceis. Eu aprendi uma coisa ou duas sobre a máfia
desde que deixei Sacre Coeur, e a família é sempre a fraqueza mais
explorada.
— Deus, quando os infortúnios vão parar?— Eu gemo alto, flácida
contra o corpo de Vlad.

— Confio que seu irmão cuidadará das coisas, — ele suspira, — e


assim que ele resolver suas coisas, estou falando com ele. Incluindo que eu
quero casar com você. — Ele declara, e meus olhos se arregalam com suas
palavras.

Voltando, olho desconfiada para ele, estudando-o da cabeça aos pés.

— O que causou isso?— Eu pergunto. Ele casualmente disse que se


casaria comigo antes, mas eu não tinha levado isso a sério, já que Vlad tem
um talento para o drama. Isso e seu senso de humor seco criam uma
combinação mortal, garantindo que eu raramente leve suas palavras a
sério. Mas agora? Ele parece muito sério para mim.

— Estou cansado de me esconder e de andar sobre casca de ovo ao


redor dele. Mas principalmente eu não quero mais me separar de você, —
ele me diz, um olhar derrotado em seu rosto.

Eu rapidamente fico atenta, sabendo que deve haver mais nisso.


Especialmente considerando como ele se comportou ontem à noite,
desespero agarrado a ele enquanto eu tentava confortá-lo em meus braços.
O choque puro que senti quando percebi que lágrimas estavam escorrendo
por suas bochechas... O que quer que ele tenha descoberto durante sua
visita ao psiquiatra deve ter afetado mais do que ele deixou transparecer.
Mesmo agora, com seu corpo contra o meu, posso sentir a radiação de
tensão dele, seu sorriso habitual desapareceu como se manter o ardil da
jovialidade fosse demais para ele.

Eu sei que ele não está me contando tudo, e está me matando por
dentro para vê-lo assim.

— Por quê?— Eu faço a pergunta para ele, dúvida me incomodando.

Seus olhos se contraem quando força um sorriso em seu rosto.

— Eu te disse, Sisi. Você mantém os demônios afastados, — é tudo o


que ele diz enquanto me puxa para um abraço, com os lábios nos meus.

Eu me deixei apreciar o beijo, mas um pensamento estranho invade


minha mente.

Ele nunca me disse que demônios.

Inferno, o máximo que sei sobre seus problemas é que ele tem
episódios ruins. Mas além disso, ele ainda é um enigma. Conheço a sua
história, conheço a sua missão, conheço todos os fatos. Mas por que sinto
que estou perdendo a maior peça do quebra-cabeça?

A verdade é que estou longe demais para considerar o que isso pode
significar para mim ou para o nosso relacionamento. Eu já o amo demais
para considerar deixá-lo, independentemente do que ele esteja lidando.
Farei o meu melhor para ajudá-lo.

Sei que, enquanto for útil para ele, ele nunca me deixará, então terei
que me certificar de que serei indispensável para ele.

— Ok, — eu concordo com uma voz suave. — Nunca me deixe ir e eu


sou sua. Essa é minha única condição, Vlad. — Respiro fundo, — sei quem
você é e do que é capaz. — Eu levanto minha mão para acariciar sua
bochecha, seus olhos me prendendo com seu olhar intenso, — e aceito
todos vocês como são, — escovo meu polegar contra os seus lábios, — os
maus e os bons. Apenas nunca me deixe. — Meus próprios lábios tremem
quando eu pronuncio as palavras, descobrindo minha alma e minha única
fraqueza para ele.

— Acho que não consigo imaginar um mundo onde você não esteja,
Sisi. Não mais, — ele confessa e meus lábios puxam para cima.

— Bom, — eu lhe dou um sorriso completo.

Porque acho que também não consigo imaginar um mundo sem você.

Não seria justo dizer que não tenho medo do futuro, especialmente
porque Vlad é assim... volátil. Mas eu sabia no momento em que percebi
meus sentimentos, que amá-lo nunca seria fácil. Sempre será uma batalha
comigo mesmoe com ele. Comigo, porque acho que nunca vou parar de
desejar o amor dele, mesmo sabendo que não seja capaz disso. E com ele,
porque pode chegar um dia em que sua mente lógica lhe dirá que sou
passiva e que não tenho mais utilidade.

Enquanto ele nunca deixar ir, eu nunca vou deixar ir.

— Eu te amo, — deito minha cabeça no peito, sussurrando as


palavras tão suavemente que ele não pode ouvi-las, porque ele nem saberia
o que fazer com elas. Não, elas são para meu benefício apenas quando
estou tentando materializar esse amor que sinto tão profundamente no
meu peito.

— O que foi?— ele franze a testa, mas eu apenas balanço minha


cabeça e sorrio.

— Nada, — digo, refugiando-se no calor de seus braços, o único tipo


de calor que ele é capaz de me dar.
Alguns dias no hospital e Marcello recebe alta para voltar para casa.
Por todos os seus protestos de que ele não havia tentado se matar, o
médico encarregado me pede para supervisioná-lo para que ele não tente
mais nada.

Vlad passou todo o seu tempo livre comigo enquanto eu estava sozinha
em casa, mesmo sabendo que ele também tem alguns assuntos pendentes
a tratar. Seu gesto foi doce e encontramos maneiras de nos divertir.

Ele definitivamente estava muito entusiasmado em compartilhar seus


filmes favoritos comigo, mesmo que eu não ache-os românticos, no mínimo.
Eu deveria saber disso com um título como Centopéia Humana, não sou
obrigada a encontrar nada remotamente sentimental — além de muitos
fluidos corporais que fluem livremente.

Considerando que era um dos raros momentos em que eu o via tão


imerso em algo, tentei compartilhar seu entusiasmo, especialmente porque
ele se aprofundou na parte da ciência, jorrando sobre a criatividade das
cenas.

— Talvez você deva tentar isso da próxima vez que torturar alguém,
— eu brinquei, e ele se virou para mim de olhos arregalados, me dando
um grande beijo, quando me disse que eu era um gênio.

— Por que eu não pensei nisso antes? Porra, inferno, é exatamente


isso que preciso para o meu próximo experimento, e também não precisa
haver muito sangue,— ele ficou tão empolgado e eu ouvi pacientemente
quando ele começou a projetar o experimento, usando algumas dicas do
filme, mas dando a sua opinião.

Mas dois dias e eu fui mimada por sua presença, e agora que Marcello
voltou, precisamos ter mais cuidado. Pelo menos até as coisas se
acalmarem.

Ainda estou cética sobre se Marcello é suicida ou não, e por isso quero
ter muito cuidado com Vlad, já antecipando como Marcello reagirá à
notícia.

— Você precisa de alguma coisa?— Pergunto ao meu irmão enquanto


o ajudo no quarto. O simples fato de ele estar permitindo meu toque
quando ele era um animal para as enfermeiras é surpreendente. Eu recebi
alguns detalhes de Vlad sobre sua aversão ao toque, mas nada concreto.

— Não. — Ele parece mal-humorado ao responder, pulando na cama e


descansando a perna nela.

— Marcello... — Eu começo, mas ele nem me deixa continuar


enquanto me pede para sair.

Suspirando, eu sei, mas isso não me impede de visitá-lo a cada poucas


horas, apenas para garantir que ele não faça nada estúpido.
— Ele não é muito cooperativo, — digo a Vlad por telefone depois de
ter dado boa noite a Marcello. — Eu não sei o que poderia ter feito ele se
comportar assim...

— Não se preocupe com essa sua linda cabeça, hell girl. É entre ele e
sua esposa, e eles devem resolvê-lo em algum momento.

— Você está certo, mas, — abaixo minha voz para um sussurro, —


acho que o ouvi chorar, Vlad. Eu não acho que ele esteja indo bem. Estou
preocupada. — Eu mordo meu lábio, minha testa está vincando.

— Sisi, — Vlad geme, — é complicado.

— Então você sabe o que aconteceu, — eu atiro nele.

— Claro que sim, — ele responde, quase ofendido, — eu não seria eu


se não o fizesse, — ele brinca, e eu já posso ver seu sorriso satisfeito atrás
do telefone.

— Bem, desembucha. O que aconteceu?

— Eu posso conhecer as circunstâncias, mas não é minha história


para compartilhar Sisi. Seu irmão estragou tudo, mas não posso dizer que
ele era totalmente culpado. — Ele diz enigmático, evitando responder a
qualquer uma das minhas perguntas sobre o assunto.

— Tudo bem, eu vou descobrir, — murmuro, desligando.


Eu não entendo todo o segredo. Marcello está mal-humorado, Vlad
sabe o que aconteceu, mas não me conta, e Lina nem atende minhas
ligações. Estou a um minuto de ir à casa do seu irmão e exigir uma
reunião.

— Sisi? —Venezia bate na minha porta.

— Sim, entre, — eu lhe dou um sorriso acolhedor. Se estou no escuro,


não consigo imaginar como Venezia se sente.

Ela entra devagar, quase incerta de si mesma.

— Sente-se, — eu dou um tapinha na cama ao meu lado.

— Você acha que Lina e Claudia estão voltando?— ela pergunta em


voz baixa, seu tom me dizendo que ela não acha que elas vão.

— Elas vão, — tento tranquilizá-la, — elas precisam. — Eu pego a


mão dela, apertando-a suavemente.

Ela me dá um sorriso trêmulo, inclinando-se para a frente para


colocar a cabeça no meu ombro. Eu a puxo para dentro dos meus braços,
dando-lhe um abraço.

— Elas vão, — repito, embora também não tenha certeza disso.


Mas posso ver meu eu mais jovem em Venezia, e como a única coisa
que eu esperava era a aceitação, algum lugar a que pertencer. Pela
primeira vez, ela teve uma aparência de família, e ela se desintegrou
rapidamente.

— Estou feliz que você esteja aqui conosco, — ela sussurra, os olhos
úmidos com lágrimas caídas. — Eu gosto de ter uma irmã.

— Eu também, — respondo, beijando o topo da sua cabeça. — Eu


também.

A situação não melhora. A cada dia que passa, Marcello se torna


ainda mais retraído, passando o tempo todo trancado em seu escritório.
Nas poucas vezes em que tentei entrar em contato, ele deixou claro que
não sou bem-vinda e que devo cuidar dos meus próprios assuntos.

Quando uma semana se passou e todas as minhas tentativas de tirá-lo


de sua concha são em vão, recorro a chamar Vlad — o espinho nas suas
costas.

— Você está me machucando, hell girl, — Vlad reclama ao telefone


quando digo a ideia.

— Você sabe que é verdade. Então faça o seu melhor e irrite Marcello
a se juntar ao mundo dos vivos novamente.
— Beeeeem. — Ele cede, mesmo que eu possa dizer que por dentro ele
está zonzo com a perspectiva de mexer um pouco com meu irmão. Eles
certamente têm uma dinâmica estranha.

Um tempo depois, posso dizer que Vlad trabalhou sua mágica, mas
não de um jeito bom.

— Fique longe dele, Sisi. Quero dizer. Deixei claro para ele que ele
não deve interagir com você ou com Venezia, mas ele não consegue se
ajudar, — Marcello me puxa para o lado depois de sua reunião com Vlad,
parecendo chateado.

—Marcello, não entendo por que você é tão contra ele. Vocês são
amigos, não são?— Eu levanto uma sobrancelha para ele.

— Amigos... — ele dá uma risada seca. — Vlad não tem amigos. Ele só
tem pessoas que usa. Portanto, não tente sentir pena dele.

— O que você quer dizer? O que ele fez com você?— Estou cansada de
Marcello me avisar de Vlad, mas nunca me dizendo mais nada.

— Ele não é como as outras pessoas Sisi. Não tente encontrar nada de
bom nele, porque não há. Sim, ele é muito inteligente e garante que use
esse cérebro para manipular todos ao seu redor, — continua ele, e eu
sufoquei o desejo de revirar os olhos.

— Você ainda não está me dizendo por que não gosta tanto dele.
Marcello suspira. — Eu não gosto dele por si só, mas sei que desconfio
dele. Ele é... imprevisível. Ele tem seus interesses e não se importa com
quem prejudica, desde que atinja seus objetivos. Ora, ele poderia muito
bem ter sido quem colocou a arma na mão de Valentino, — ele murmura,
e eu paro.

— O que você quer dizer?

— É complicado Sisi. Eu lhe disse, ele não é o que parece, e preciso


que você confie em mim que nada de bom virá de você estar perto dele.
Somente a morte chega àqueles que se envolvem com ele.

— Tudo bem. — Eu minto para aplacá-lo, mesmo que ele ainda não
tenha me dito por que é tão cauteloso com Vlad.

Pelo lado positivo, pelo menos Marcello está falando comigo


novamente.

Quando estou começando a esperar que a harmonia retorne à nossa


casa, Marcello se mete em problemas novamente. É verdade que desta vez
é para salvar Lina, mas depois do que ele fez com ela, é o mínimo que ele
poderia fazer.

Não sei o quão ruim é a situação dele até chegar ao hospital. Vlad e
Adrian já estão lá, e eles me dizem que Marcello teve um encontro estreito
com a morte. Lina se safara apenas com alguns machucados, e Enzo
conseguiu convencê-la a ir para casa e descansar.
— Pelo menos não há mais perigo, certo?— Pergunto a Vlad quando
finalmente estamos sozinhos. Marcello foi transferido para um quarto
particular, mas o anestésico não passou, então ainda não podemos vê-lo.

— Sim. Eu mesmo matei Nicolo. Na verdade, eu tenho o corpo dele no


porta-malas do meu carro e provavelmente devo me livrar dele em breve,
— ele coça a parte de trás da cabeça, fingindo um olhar inocente.

— Droga, — eu o golpeei, — isso é imprudente, — digo, estreitando


meus olhos para ele, e ele parece tímido. — Você percebe que não vou me
casar com você na prisão. — Eu acrescento, vendo um sorriso tímido se
espalhar em seu rosto.

— E perder as visitas conjugais?— um dedo segue pela frente do meu


vestido, acariciando levemente meu mamilo.

— Tire sua cabeça da sarjeta, senhor, — pego o dedo dele, afastando-


o, — precisamos nos livrar desse corpo enquanto meu irmão ainda está
fora.

— Esqueci que você não é do tipo melindrosa, hell girl, — ele se


arrasta, me cercando contra a parede. Um olhar em volta e percebo que
estamos à vista de todo o hospital.

— As pessoas estão vendo, — eu levanto meus olhos para encontrá-lo


olhando para mim com uma expressão divertida em seu rosto.
— Deixe-os ver, — ele abaixa a boca para o meu ouvido, a voz fazendo
os cabelos do meu corpo se levantarem. — Você sabe como meu pau reage
toda vez que você está falando de assassinato, — ele sussurra, sua língua
se esgueirando para lamber o lobo da minha orelha.

— O assassinato já ocorreu. — Eu mencionei, tentando levar a


conversa a uma ordem de negócios mais séria. — Precisamos fazer a
limpeza.

— Não importa, envolve um corpo. Um cadáver, — continua ele,


girando a língua em torno da minha bochecha, — você sabe que eu amo
quando você fala sobre cadáver comigo, — diz ele e não consigo me
impedir de rir.

— É mesmo? Você ama quando eu falo sobre cadáver?— Eu o agarro


pelas lapelas, trazendo-o para mim.

— Inferno, você não tem ideia do que me fez na primeira vez que vi
você empurrar sua mão nas entranhas daquela freira. Porra, se não foi a
visão mais quente que eu já vi, — ele raspa contra minha carne.

— Mmm, já que é hora da confissão, — começo, vendo as pupilas


dilatadas com excitação, as narinas queimando enquanto ele me agarra,
esfregando a ereção contra meu estômago. — Eu estava pingando quando
você me sufocou na igreja.
— Sisi, — ele geme, com os ombros caídos. — Você não deveria dizer
algo assim.

— Por quê?

— Isso me faz querer fazer mais. Coisas que fariam você gritar de
prazer e dor.

— Faça, — eu o desafio, querendo tudo o que ele tem a oferecer.

— Poooorra!— ele respira fundo. — Vamos nos livrar do corpo.

Um sorriso puxa meus lábios por sua expressão obviamente frustrada


e, quando chegamos ao estacionamento, ele abre o porta-malas para dar
uma espiada em Nicolo, ou o que resta dele.

— Você não poderia ter feito isso limpo?— Eu balanço minha cabeça
para ele. A totalidade do crânio de Nicolo havia sido destruída em pedaços.

— Bem, — ele faz uma careta, — eu entrei demais, — ele encolhe os


ombros.

— Quando você não entra demais?— Eu murmuro baixinho, divertida.


— Ok, agora qual é o próximo passo?

— Hmm, — ele acaricia o queixo pensativamente, — depende do que


você quer fazer com ele. Podemos queimá-lo, cortá-lo e jogá-lo no fundo do
oceano, ou melhor ainda, cortá-lo e espalhá-lo pela cidade. Como uma caça
ao tesouro, — seu rosto se ilumina.

— E a evidência? Isso não seria flertar com o perigo?

— Não é essa a beleza disso?— ele inclina a cabeça para trás,


sorrindo. — Por que alguém mataria sem a emoção de ser pego? É como
uma droga, — ele respira fundo, controlando sua emoção.

— É isso que você normalmente faz?— Eu levanto uma sobrancelha.

Vlad pode ser volátil, mas ele também é inteligente o suficiente para
cobrir seus rastros toda vez.

— Às vezes, — ele encolhe os ombros, — quando eu quero brincar com


a polícia. Deixo uma migalha aqui, uma ali. É muito divertido vê-los
morder a isca e seguir pistas falsas. — Ele explica, um sorriso largo no
rosto relembrando alguns de seus encontros com o FBI. — Uma vez, fui até
trazido como testemunha, se você pode acreditar,— ele ri, — Eu tive que
fazer o melhor ato da minha vida enquanto tentava parecer angustiado.
Eu poderia até ter derramado uma lágrima. — Ele relata, orgulhoso de si
mesmo.

Embora ele possa achar esses eventos engraçados, acho-os bastante


tristes. É isso que ele faz porque não tem amigos? Certamente parece um
garoto solitário tentando chamar atenção da maneira que pode, mesmo
que fosse da polícia.
— Certo, — respondo com desdém, — vamos fazer o fundo do oceano.
Acho que não precisamos de nenhum escrutínio agora.

Especialmente com meu irmão no hospital, a última coisa que


precisamos é que a polícia bata em nossas portas.

— Você não é divertida, — reclama, mas entra no banco do motorista,


colocando o carro em marcha e saindo do estacionamento.

— Ok, precisamos ir ao seu lugar e cortar as partes reconhecíveis, —


acrescento, depois de ler um pouco sobre o assunto.

Vlad pode gostar da emoção de ser perseguido pela polícia, mas eu


gosto da emoção de saber que um cadáver fica morto e insondável.

— Hell girl, seu conhecimento me surpreende. — Ele elogia, trazendo


minha mão aos lábios para um beijo. — Eu posso até deixar você fazer as
honras.

— Ora, Vlad, essa pode ser a coisa mais romântica que você já me
disse, — eu bato meus cílios para ele, jogando o seu jogo.

— Somente para você. — Ele murmura suavemente, e eu fico com um


formigamento na minha região inferior, o pensamento de ele me levar em
cima do porta-malas do carro enquanto o corpo do meu tio está embaixo de
nós, me deixando incrivelmente quente.
Logo voltamos ao complexo, a lua no céu quando Maxim tira Nicolo do
porta-malas, trazendo-o para uma das salas de ciências de Vlad e
colocando-o em uma mesa.

— O que primeiro?— Pergunto quando Vlad abre o ralo, o sangue se


acumulando debaixo da mesa e em um sistema construído especificamente
para se livrar dos fluidos corporais.

— Mãos?— Ele puxa um par de luvas, me dando uma também.

— Venha. — Ele me pega em seus braços, de costas para minha


frente. Seu pau está preso entre minhas bochechas enquanto ele envolve
meus dedos em torno de uma lâmina.

Com o fôlego no meu pescoço, ele me guia enquanto empurro a ponta


afiada da faca na carne morta. Com a mão em cima da minha, ele
complementa a força necessária para que a lâmina perfure a pele.

Minha respiração bate quando ele levanta minha mão, derrubando-a


com tanta força contra o osso, cortando-o, pedaços quebrando ao nosso
redor.

— Sim, — ele sussurra, — assim, — ele bate contra minha orelha, e


eu instintivamente empurro minha bunda nele.
— Sim, — repito depois dele, encantada com a maneira como o corpo
do meu tio dá lugar à pressão, ossos mais lascados voando pelo ar, a carne
rompendo, mas pouco sangue saindo dos cortes abertos.

— Isso te excita, não é? —Vlad murmura, sua boca aberta subindo


pelo meu pescoço, — morte, destruição, devastação... faz você se molhar,
não é?

Eu choramingo, incapaz de responder como minha pernas fazem parte


de sua própria vontade. Vlad é rápido em puxar as luvas das mãos, os
dedos nus seguindo o interior da minha coxa. Estou quase inclinada sobre
o cadáver, minhas costas arqueadas enquanto as pontas dos dedos
acendem o fogo nas minhas veias.

— Corte, — ele comanda, me entregando a faca de açougueiro,


enquanto pega outra mais fina.

Eu obedeço quando empurro a lâmina na carne macia, um suspiro me


escapando quando o sinto separar minhas bochechas, um objeto estranho
se escondendo entre minhas dobras.

— Tão molhada, — ele geme, empurrando o punho da faca contra


mim. — Imagine que este é o meu pau fodendo você, pressionando em
você, — suas palavras só estão me deixando mais molhada quando o topo
da faca sonda minha entrada e desliza facilmente para dentro. É quase do
mesmo tamanho que dois de seus dedos, mas a sensação proibida de ser
fodida por uma faca me faz quase gozar no local.
— Vlad... — Gemo com a sensação quando a faca entra e sai
lentamente de mim.

— Da próxima vez será algo maior e maior, — ele raspa, empurrando-


o mais fundo dentro de mim, — até que você esteja pronta para levar meu
pau grande para o seu corpinho apertado, — ele escova meu cabelo para o
lado, beijando as costas expostas..

— Corte!— a voz dele entra no meu ouvido enquanto ele continua a


empurrar em mim, e eu tenho que me forçar a obedecer, trazendo a lâmina
sobre o corpo do meu tio, o prazer tão intenso que nem sei mais onde estou
cortando.

Estou apenas balançando a lâmina, cortando ao acaso enquanto Vlad


me fode com sua faca.

— Deus, — eu gemo quando ele aumenta a velocidade, e sinto um


líquido quente revestir o punho da faca quando ela entra em mim,
lubrificando ainda mais as paredes da boceta.

— Venha,— ele exige, um dedo brincando com meu clitóris até que ele
me traga para o limite, minha voz ressoando na sala enquanto aperto
minhas mãos sobre minha própria faca, batendo com o máximo de força
possível, apunhalando o peito do meu tio enquanto a lâmina se aloja em
seu esterno.
Caio flacidamente contra ele, ele lentamente remove a faca da minha
boceta, trazendo-a para a boca e sugando a mistura dos meus sucos e
sangue.

Meus olhos se arregalam quando vejo o sangue pingando da lâmina,


mas depois percebo de onde vem. A mão de Vlad está enrolada na parte
afiada da faca, com a pele rompida e sangrando.

— O que... — Pego a faca da mão dele, levantando a palma da mão


para que eu possa ver o dano. — Por que você fez... — Eu segui,
observando seu olhar intenso, a escuridão de suas pupilas enquanto elas
envolvem seus olhos.

— Eu queria me derramar em você, — ele sussurra, a palma da mão


deslizando pelo meu pescoço e manchando seu sangue na minha pele.

Estou encantada com a presença dele, mesmo que eu possa sentir que
ele está oscilando no precipício enquanto seu olhar se estreita no vermelho
do meu corpo.

Trazendo a mão para a minha boca, chupo cada dedo, meus olhos nele
quando deixo minha língua bater em sua ferida aberta.

— Hell girl, você é minha porra de criptonita, — diz ele antes de me


puxar contra ele, nossos dentes batendo quando sua boca se abre sobre a
minha, me beijando com uma ferocidade inesperada. Eu posso me provar
na língua dele, bem como o gosto metálico do seu sangue. Saber que ele
bombeava seu sangue na minha boceta de alguma forma me deixa ainda
mais quente, e eu continuo mostrando a ele o quanto adoro seu pau com a
minha boca.

No final, Nicolo é jogado em uma fornalha, seu corpo é queimado e


transformado em cinzas. A desculpa de Vlad, no entanto, é que ele queria
ver meu lado selvagem enquanto eu profanava o corpo do meu próprio tio.

Eu ficaria brava com ele se não tivesse sido o auge do erotismo, mais
uma vez confirmando que não há nada que Vlad possa fazer que me afaste
dele — nem mesmo ele me fodendo em cima de um corpo morto. De fato,
pode-se argumentar que esse é o seu fascínio.

— Eu não poderei vir amanhã, — ele me diz quando me deixa em


casa, parando o carro do outro lado da rua da minha casa: — Eu tenho
uma reunião e pode demorar o dia inteiro, — ele suspira.

— Que reunião?— Eu pergunto, ouvindo sobre isso pela primeira vez.

— Estou convidando os chefes da máfia da costa leste para uma


pequena festa, — ele responde, sem parecer nem um pouco entusiasmado.
— Quero ver se eles sabem alguma coisa sobre Miles. — Ele explica por
que acha que eles podem ter alguma informação, contando como seu irmão
havia sido um contato com os outros estados e acha que poderia ter
conhecido Miles ou pelo menos seu parceiro através de alguns dos outros
chefes.
— E você realmente acha que eles vão conversar?

— Não, — ele sorri tristemente, — mas pretendo convencê-los


gentilmente a falar.

— Você está brincando, — eu levantei uma sobrancelha para ele


quando me conta sobre seu grande plano de organizar uma devassidão
total cheia de mulheres nuas, drogas e álcool.

— Eu não posso simplesmente matá-los, — ele faz beicinho, — eu me


tornei inimigo público número um. Não que eu já não seja. Mas estou
tentando não me tornar alvo de todos, — ele suspira, como se fosse a coisa
mais difícil que ele já fez, não matar alguém.

— Estou com você por esse motivo, — passo minhas mãos sobre o
peito, — até que as mulheres nuas vão embora.

— Ciumenta?— ele mexe as sobrancelhas, um sorriso tocando nos


lábios.

— Se você quer que seu pau permaneça onde está, anexado ao seu
corpo, — eu me inclino para ele, meus dedos roçando a frente das suas
calças enquanto eu o agarro, — é melhor você ser surdo e cego para
qualquer coisa que aconteça lá.

— Caralho, Sisi, — ele respira com severidade, me manobrando em


cima dele, — como posso suportar deixá-la sozinha quando você diz algo
assim?— ele enterra o rosto no meu cabelo, — você sabe que eu amo
quando você me ameaça.

— Você é estranho, — eu brinco.

— E você é a única para mim. Eu pensei que nós estabelecemos isso,


— ele me olha nos olhos, sua expressão séria. — Agora corra antes que eu
decida algemar você ao meu lado.

— Tentador, — eu puxo, arrastando minhas unhas pelo peito.

— Mas não viável. Pelo menos por enquanto, — ele me dá um sorriso


inebriante, — talvez mais tarde, — ele sussurra contra meus lábios me
dando um último beijo.

Relutantemente, deixo-o quando volto para o meu quarto, a exaustão


do dia finalmente me alcançando.

Mas quando vou para a cama, só posso sonhar com o quão doce será o
futuro.
— Eu te vejo mais tarde Venezia, — eu a abraço enquanto vasculho
minha bolsa, certificando-me de ter tudo comigo. Com o quão agitadas as
coisas estão por aqui, tenho que pegar um táxi para me levar ao hospital.

Eu conversei com Adrian de manhã e ele me garantiu que Marcello


está indo bem, tendo acabado de acordar de sua cirurgia. Ao ouvir as
notícias maravilhosas, não pude evitar, pois prometi encontrá-lo no
hospital para visitar meu irmão.

Pena que ainda não há notícias de Lina e, até certo ponto, estou
preocupada que o conflito dela com Marcello também se estenda a nós.
Afinal, ela ainda não havia retornado nenhuma das minhas ligações.

Tentando pensar em uma maneira de fazê-la falar comigo, nem


percebo quando uma van para em frente aos portões da casa. Minha
reação é muito atrasada quando me viro, sentindo uma dor aguda no
pescoço antes de cair no chão. Meus olhos estão pesados, tenho a vaga
impressão de que alguém está me carregando em direção à van.

O som de um carro em movimento faz meus ouvidos picarem, e eu sou


acordada por uma parada repentina.
— Krasivaya12.— Ouço um homem murmurar no meu ouvido, com as
mãos apertando em volta da minha caixa torácica. Começo a me mexer,
tentando desequilibrá-lo, mas percebo que há corda por toda a parte
superior do corpo, me prendendo no lugar. Meus pés também estão
amarrados nos tornozelos.

— Não, shto eta13?— o mesmo homem pergunta, escovando minha


franja para revelar minha testa.

— Não me toque!— Eu assobio, movendo minha cabeça para o lado.

— Vasily, — outro homem assobia, — agatinha tem garras, — ele ri


de maneira irônica.

Tomo um momento para olhar em volta, observando que há cinco


homens dentro da van. Quatro deles têm cerca de quarenta ou cinquenta
anos, enquanto o próximo a mim parece ser o mais novo, com cerca de
trinta anos.

— Kuznetsov não tem mau gosto, — diz um dos anciãos com uma voz
acentuada, e finalmente me ocorre por que estou aqui.

Vlad.

— Eu pensei que ele era gay, — o mais novo ri.

12 Lindo.
13 O que é isso?
— Talvez ela seja o disfarce dele.

— Esperemos que não, ou o plano não funcionará, — diz o ancião,


voltando sua atenção para mim.

— Diga-me, passarinho, você é o disfarce dele?

Eu estreito meus olhos para ele, não totalmente segura da pergunta,


mas não disposta a mostrar-lhes nenhuma fraqueza.

— Última vez eu verifiquei que ele estava barbeado. — Eu sorrio para


ele.

Ele olha para mim por um segundo antes de rir.

— Oh, ela é mal-humorada. Talvez não seja o disfarce dele, afinal.


Deus sabe, um manso não teria chance.

— Aqui estamos, — um dos homens nas costas sinaliza, — ajeite-a, —


diz ele e eu franzo a testa, sem entender o significado.

Do nada, uma mordaça é colocada na minha boca e uma bolsa enorme


é jogada sobre minha cabeça quando um dos homens me coloca por cima do
ombro, saindo da van.
Parece que Vlad realmente irritou algumas pessoas dessa vez. Sei que
deveria ter medo, mas, por algum motivo, confio que Vlad não deixará
nada acontecer comigo.

Esses caras, por outro lado... Sinto-me mal por eles, e eu teria dito a
eles se não tivessem colocado essa mordaça na minha boca. Eles podem
pensar que conhecem Vlad, mas têm uma grande surpresa quando
percebem o quão perigoso ele pode ser.

— Senhores, vocês chegaram cedo!— Eu ouço a voz de Vlad enquanto


cumprimenta os homens. Há um eco, então acho que é uma sala grande.

Alguns passos e eu sou jogada no chão.

— Ah, e você trouxe um presente também?— ele pergunta com aquela


voz divertida.

Eu mexo os pés, esperando que ele note meus sapatos, mas é em vão
que os homens continuam se dirigindo a ele.

— Não conseguimos resistir depois que recebemos seus presentes, —


fala, — especialmente porque Ilya era meu cunhado, — posso ouvir a
tensão em sua voz e, por algum motivo, tenho certeza de que os presentes
de Vlad não tinham boas intenções ligadas a eles.

— Bem, trouxe você aqui, não trouxe?— Ele pergunta, se movendo


pela sala. — Você terá que desculpar a falta de entretenimento. Eu não
estava esperando você até... — ele sai, e eu posso imaginá-lo checando seu
relógio de pulso, — daqui a duas horas. As garotas que contratei para hoje
à noite não começam o turno até meia-noite, — ele suspira audivelmente e
eu sorrio contra a mordaça, sua teatralidade nunca deixa de me divertir.

— Acho bom que trouxemos algo também. Enquanto isso, podemos


usá-la, — diz o mais novo cuja voz já memorizei, arrancando a bolsa do
meu corpo.

Eu pisco duas vezes, tentando acomodar meus olhos à luz enquanto


percebo que estamos em um armazém. Um enorme armazém. Há duas
fileiras de mesas ao redor, todas adornadas com comida e bebida, um altar
no final do armazém, uma enorme imagem dourada da Virgem Maria
presa a parede. Tudo parece quase real, de talheres e pratos de ouro a
cálices de prata e ouro, parece a festa de um imperador.

Vlad está parado a alguns metros de mim, com os olhos olhando para
mim atentamente antes de se virar para os outros, sorrindo.

— Maravilhoso, — diz ele, sem trair nenhuma emoção.

Além dos cinco homens de antes, não há mais ninguém nas


proximidades, e por um momento temo que Vlad possa estar em menor
número. Até Seth, que deveria estar aqui protegendo Vlad, não está em
lugar algum.
Mas então me lembro de suas acrobacias no restaurante e sei que não
deveria me preocupar muito.

— Você não a reconhece?— alguém pergunta, levemente irritado com


a reação de Vlad.

Vlad caminha em minha direção, olhando para mim da cabeça aos


pés.

— Não. Eu deveria?— ele encolhe os ombros, olhando para os homens.


Seu ato é tão impecável que até eles começam a duvidar se têm a pessoa
certa ou não.

— Então por que não começo? —Vasily se arrasta, vindo ao meu lado e
colocando a mão no meu peito.

O olhar de Vlad escurece e um sorriso sinistro aparece em seu rosto.

— Sim, por que você não?— a voz dele é baixa, mas você teria que ser
surdo para não ouvir o perigo inconfundível que reverbera.

Vasily desamarra a corda ao redor do meu torso, libertando meus


braços. Mas não consigo aproveitar minha liberdade recém-encontrada
enquanto ele rasga o corpete do meu vestido, toda a frente rasgando as
costuras, meus seios saltando para fora.
Ainda assim, meus olhos se arregalam porque sou incapaz de reagir
ao ataque repentino.

— Sisi, para trás! —Vlad grita comigo, com todo o corpo rígido e à
beira de entrar em erupção. Eu faço para me mover, mas Vasily me tem
firmemente ao seu alcance, seus olhos gananciosos me devorando
enquanto olha para meus seios nus.

Ele não consegue me tocar de novo quando uma faca se envolve na


garganta, sua expressão chocada quando ele agarra com as mãos a ferida
sangrando.

Eu corro para trás, conseguindo evitar outro homem enquanto corro


para onde Vlad me direcionou.

— Então ela importa. Kuznetsov, vamos nos divertir muito com ela
depois de lidar com você, — diz um homem mais velho, sem reagir nem
um pouco ao sangrento Vasily, ou ao fato de Vlad mal ter movido um dedo
para feri-lo mortalmente. — Talvez nós o mantenhamos vivo para que você
possa assistir, — continua ele.

Um barulho alto irrompe no armazém quando Vlad começa a rir,


curvando-se para agarrar seu estômago à medida que mais e mais risadas
caem dele.

— Vocês?— ele pergunta, apontando para os quatro homens ainda de


pé. — Vocês?— ele pergunta novamente, mal contendo sua risada.
Os homens já estão em posição, levantando suas armas para mirar em
Vlad, um arsenal inteiro à sua disposição. Pela primeira vez, estou com
medo.

Porque sim, Vlad é um lutador maravilhoso e poderia teoricamente


levar aqueles quatro homens velhos. Mas ele também está indefeso e por
todas as suas reivindicações contrárias... ele é apenas um homem.

— Sisi, fique atrás do altar, — ele comanda, o interruptor em sua voz


ligado imediatamente.

Com os dedos trêmulos, tento desatar a corda em volta dos meus pés,
frustrada quando ela não cede imediatamente.

— Agora, Sisi, — Vlad grita. A corda desamarrada, eu me apresso


atrás do altar, minhas costas batendo na moldura do ícone dourado.

— Você realmente acha que pode levar todos nós, Kuznetsov?

— Ah, senhores, — Vlad anda casualmente, colhendo um cálice de


vinho dourado, — quem os ensinou a cutucar o dragão adormecido?— ele
pergunta, vestindo uma máscara de diversão mais uma vez.

— Você acha que pode matar nossos homens e vamos deixa-lo em


paz?— outro homem entra em cena. Esgueiro a cabeça ao redor do pequeno
altar, vendo a cena se desenrolar.
— Pensei que você me agradecesse, — responde Vlad com ousadia, —
afinal, que bem faz ter homens inúteis ao seu redor? Fiz um favor a você,
— ele encolhe os ombros, um sorriso presunçoso no rosto.

— Você... — um ancião dá um passo à frente, a boca em uma carranca,


mas outro homem o impede.

— Eu nunca gostei muito de você, garoto. Você acha que pode pedir a
todos que aceite sua oferta? Decidimos há muito tempo que você precisava
aprender uma lição. Por acaso era a ocasião perfeita, — ele cospe, a arma
apontada para Vlad.

— Veja, senhores, eu realmente queria ser um anfitrião gracioso hoje.


Você pode ver que não poupei despesas. Por que até o ouro é real, — ele
levanta o cálice, a luz bate no metal e o faz brilhar. — E você tem que vir
em minha própria casa e me desrespeitar como tal?— ele balança a cabeça,
fazendo um som murmurado.

— Eu também deixaria vocês sairem com suas vidas intactas, mas


vocês realmente tinham que ir por esse caminho. Vocês só tinham que
mexer com minha propriedade, — ele franze os lábios, uma carranca na
testa.

A propriedade dele? Eu sou propriedade dele?

Precisamos ter algumas palavras sobre isso depois que ele terminar
com essas pessoas.
— Olhe para ele, — um homem ri, balançando a arma, — ele está se
comportando como se já tivesse vencido.

— Oh, — Vlad sorri, o cálice caindo no chão com um baque. — Mas eu


venci. — Ele diz, assim como ele se esquiva, o barulho de tiros permeando
o ar.

— Senti sua falta, — sua voz soa quando ele rola para o chão, levando
consigo a toalha de mesa, todos os talheres, pratos e comida caindo ao chão
com um barulho ensurdecedor. Mais tiros, com os ocasionais
“desaparecimentos” de Vlad enquanto ele se move como um fantasma, seus
movimentos insanamente rápidos, pois evita todas as balas recebidas.

Ele não pode ser real.

Eu esfrego meus olhos, pensando que estou vendo coisas, mas os


movimentos de Vlad são insanos por qualquer padrão, e até os homens que
vão contra ele têm dificuldade em acreditar no que estão vendo.

Ele está brincando com eles enquanto abaixa, rola, movendo seu corpo
como um ginasta treinado. Ele nem está tentando entrar na ofensiva. Em
vez disso, ele está gostando de deixá-los perseguir, sua frustração
aparentemente aumentando sua diversão.

Os sons dos tiros continuam até que eles param de repente. Existem
alguns sons empolgados enquanto os homens continuam empurrando o
gatilho de suas armas, totalmente sem munição.
— Bem, acho que agora podemos conversar como pessoas civilizadas?
—Vlad emerge de um canto, movendo-se casualmente como se não
tivessem esvaziado quatro armas atrás dele pela sala.

— Vá se foder! — um grita, jogando-se em Vlad. Um olhar para o rosto


dele e eu posso vê-lo revirando os olhos.

Vlad apenas dá alguns passos para a direita, com o pé disparando


enquanto tropeça no homem. Caindo no chão, ele geme de dor. O pé de
Vlad pressiona as costas, segurando-o no chão.

— Eu não disse que era inútil?— Ele balança a cabeça para eles, uma
faca na mão enquanto brinca com a lâmina.

Os homens não são dissuadidos, pois enfrentam Vlad, agarrando facas


do chão e tentando atingi-lo.

Vlad suspira profundamente, manobrando sua própria faca enquanto


a joga no primeiro homem, atingindo-o bem nos olhos. Com facilidade, ele
anda por aí, evitando qualquer golpe direto, estendendo a mão para
desalojar a faca antes de empurrá-la para outro homem.

A cena continua enquanto ele usa apenas uma faca para esfaquear os
três homens, deixando todos sangrando no chão.

Quando ele vê que todos estão fora de serviço, ele vem até mim, me
levando em seus braços.
— Sinto muito, — ele sussurra, — Eles fizeram... — ele deixou
escapar e eu rapidamente balanço minha cabeça, vendo o alívio inundar
suas feições. — Eu não esperava que eles fossem atrás de você, o que foi
um descuido da minha parte, — ele confessa, um dos raros momentos em
que vi Vlad admitindo que estava errado.

— Eu sabia que você cuidaria deles. — Eu digo a ele. Minha fé nele


não vacilou nem por um segundo.

— Malditamente certa. Ninguém toca em você e vive, — ele sorri


para mim e finalmente me permito relaxar.

Mas é muito cedo quando nos viramos, alertados pelos pneus


estridentes de outro carro parando em frente ao armazém.

Há uma fração de segundo em que Vlad me empurra de volta para


trás do altar, seu corpo em cima do meu enquanto mais tiros soam, desta
vez o barulho mais poderoso do que antes.

— Merda. Eles trouxeram a artilharia pesada. — Ele murmura, com


as mãos abrindo um armário atrás da mesa do altar e tirando algumas
armas.

— Onde está Seth? Ou Maxim?— Eu pergunto, preocupada que ele


possa realmente estar em menor número desta vez.
— Não me amaldiçoe, hell girl, mas eu realmente enviei Seth para
vigiar sua casa. Eles devem ter agarrado você logo antes de ele chegar, —
explica ele, um pouco exasperado. — Temo ser só eu por enquanto.

— É melhor você não se matar. Ou eu, nesse caso. — Eu murmuro


quando mais tiros são direcionados para as portas do armazém, a coisa
toda cheia de buracos de bala.

— Nunca, — ele me olha atentamente antes de escovar os lábios


levemente contra os meus. — Fique escondida, — ele sussurra antes de se
armar ao punho e sair para cumprimentar seus convidados.

É só quando olho em volta para os homens já caídos que percebo que


seu jogo de perseguição não tinha tirado sangue. E quando mais homens
armados invadiram o armazém, sei que é apenas uma questão de tempo
antes que ele estale.

E todo mundo vai se arrepender de ter acordado a besta.

A brincadeira começa a diminuir quando ele pula na frente de um


homem, movendo sua arma para fora de seu alcance antes de nocauteá-lo e
virar a arma para os outros ao redor. É um massacre quando ele atira
como um louco, um sorriso de pura felicidade em seu rosto quando cinco
homens caem no chão.

Por um momento, tenho que me perguntar quantos outros estão


chegando, à medida que mais e mais escorrem dentro do armazém.
Vlad continua atirando, se escondendo quando o fogo é direcionado
para ele, usando as mesas como escudos.

Ninguém teve chance.

Está tão claro quanto o dia em que ele derrama o caos sobre eles, sua
alegria audível quando mata homem após homem. Balas estão voando pelo
ar, o ícone atrás de mim ficando cheio de buracos, os sons ensurdecedores.

— Largue sua arma, — ouço alguém gritar. Esgueirando a cabeça em


volta da mesa do altar, vejo Vlad no meio do armazém, respirando com
força.

Há mais quatro homens na frente dele, todos apontando as armas


para ele.

— Interessante ver todos vocês trabalhando juntos, — brinca Vlad,


andando devagar, — você ainda tem mais balas no seu rifle?— ele acena
para a arma de um homem.

— Você está morto, — o homem assobia para ele.

— Eu estou?— ele pergunta, fingindo surpresa. — Deixe-me dizer


como vai acontecer, meu velho. Aquele rifle em suas mãos tem no máximo
trinta tiros, — seus olhos voam sobre os outros homens, um sorriso no
rosto enquanto se aproxima de suas armas. — Alguém não está contando,
— ele ri.
— O que...

— Vamos, atire em mim, se puder, — diz Vlad, abrindo os braços


como uma águia esperando para ser caçada. — Você não pode, pode?— ele
encolhe os ombros, divertido.

Também sorrio, percebendo que ele os estava provocando para atirar


todas as suas balas, contando as balas.

Caramba, isso é impressionante.

— Não se mexa. — Sinto uma respiração no meu pescoço quando uma


mão se aproxima da minha boca, forçando-me a sair de trás do altar. O
cano de uma arma está preso contra a têmpora, suas palavras me
arrepiam nas costas enquanto ele se deleita em me dizer exatamente o que
ele fará comigo depois de matar Vlad.

— Você não é o único com um ás na mão, Kuznetsov. — O homem


atrás de mim fala, me empurrando para a frente quando quase tropeço nos
meus pés, a arma ainda ameaçadoramente na minha cabeça.

Vlad vira devagar, perigosamente devagar, com o olhar nublado


enquanto ele pega o homem atrás de mim. O sorriso se foi completamente
quando ele dá alguns passos em nossa direção.

— Então esse era seu plano maravilhoso, — acrescenta ele com


desdém, — se unindo a um cara.
— Você está perturbando algumas pessoas muito importantes,
Kuznetsov. Estamos apenas entregando a mensagem. — Suas mãos se
apertam sobre mim, e meu olhar voa para o de Vlad, preocupada com o que
acontecerá a seguir.

Ele olha entre nós dois, de repente uma expressão entediada em seu
rosto.

— Vamos contar, sim? Eu vejo pelo menos quinze homens no chão.


Mais cinco pela frente. Quais são as chances? — ele pergunta, a mão
abaixando-se tão lentamente com a inclinação da cabeça, o olhar para
mim.

Meus olhos se arregalam quando percebo o que ele está tentando se


comunicar, e eu lhe dou um aceno lento.

Uma mão em um rifle, a outra está descansando ao seu lado, com os


dedos se desenrolando lentamente em uma contagem.

Um.

Dois.

Três.
Quando vejo o terceiro dedo, deixo minha cabeça baixa, ganhando
força e me empurrando para trás com a força que puder reunir antes de
cair novamente.

Em uma fração de segundo, a arma de Vlad está levantada, o dedo no


gatilho, a bala passando pelo topo da minha cabeça e se colocando na testa
do homem.

Ele cai no chão com um baque, os passos lânguidos de Vlad o levando


ao meu lado.

— Esconda-se, — ele sussurra, e eu não perco tempo em obedecer.

Ele se agacha ao lado do homem caído, tirando uma longa lâmina e


plantando-a profundamente no peito do homem.

Os outros homens estão lá atrás, apenas assistindo, suas armas


levantadas para exibição, pois não têm mais munição para usar.

Aposto que eles nunca pensaram que precisariam de tantas balas


para apenas um homem.

A lâmina de Vlad corta a pele, usando a ponta da arma para esmagar


a caixa torácica até que ele tenha acesso claro ao coração.

Não...
Uma mão se envolve em torno do coração, arrancando-o do peito do
homem. O órgão sangrento ainda está vazando sangue, uma trilha se
desenvolvendo enquanto Vlad caminha pelo armazém, bombeando o
coração com as próprias mãos.

— Vocês pensaram em entrar na minha casa e ameaçar o que é meu.


— A voz dele soa, está diferente?

Há uma qualidade ameaçadora, e até eu reajo ao puro mal por trás de


sua máscara. Ele se foi, ou pelo menos quase se foi.

Mas quando ele leva o coração para a boca, mordendo um pedaço


grande, sangue escorrendo pela boca e suspiros horrorizados ecoando no
armazém, tenho minha confirmação.

Ele se foi...

Meu Deus, mas não sei o que vai acontecer agora. Ele lutou muito
para se manter sob controle, brincando com os agressores para evitar um
confronto cara a cara que resultaria em derramamento de sangue.

E agora...

Observo horrorizada quando sua boca se abre para um sorriso


maléfico, todo o seu rosto mudou. Intenções sinistras escorrem dele quando
pega um homem pela garganta, levantando-o no ar com facilidade antes de
trazer a cabeça ao chão, esmagando o crânio com tanta força que toda a
cavidade quebra, a matéria cerebral vazando.

Ele não para.

Ele continua esmagando até que resta pouco do que uma massa de
cérebro e osso mutilados, ambos mal pendurados no corpo ao redor do
pescoço.

Os outros homens tentam fugir quando vêem sua verdadeira


natureza, com as mãos se movendo rapidamente no sinal da cruz enquanto
fazem orações.

Em vão.

Um após o outro, Vlad os persegue. Com uma lâmina magistral, ele


corta os braços de um homem, o sangue vaza, uma expressão horrorizada
no rosto da vítima. Mas o sorriso de Vlad só aumenta quando ele usa as
palmas do homem para dar um tapa nele até que ele fique entediado, sua
vítima já sangrou.

Reunindo sua lâmina longa, ele persegue sua próxima presa, cortando
o homem na cintura em uma linha tão suave que o tronco imediatamente
se separa da parte inferior do corpo, com órgãos derramando no chão.

O riso de Vlad enche a sala enquanto ele mancha seu rosto com o
sangue e as entranhas do morto.
Acho que ele não estava brincando quando disse que toma banho em
entranhas.

Mais dois homens ainda estão em disputa, ambos se escondendo na


sala e tentando evitar a detecção de Vlad.

Eles podem pensar que estão seguros, mas Vlad os encontra com
facilidade atrás de uma mesa, com as mãos agarrando as nádegas
enquanto ele os arrasta para o centro da sala.

O chão já está vermelho de sangue, cada vez mais fluindo de todas as


vítimas — as abatidas e as baleadas. É como um oceano vermelho
enquanto ele joga os dois homens encolhidos bem no meio.

Eles caem, o sangue espirrando, suas expressões de horror enquanto


tentam se afastar de Vlad. Eles pegam o que está perto deles, jogando
nele, mas sem sucesso.

Lâmina balançando alto, ele corta a cabeça sem esforço, caindo e


rolando no chão. Mas ele não para apenas com isso. Ele continua
esmagando, trazendo a lâmina para seus corpos e destruindo o que resta
deles.

Carne pendurada, derramamento de sangue, ossos quebrados.


Só há destruição em seu caminho, pois ele continua a destruir todos os
outros corpos também, cortando-os em pedaços — a única coisa que o
satisfaz levemente.

As paredes são salpicadas de matéria orgânica, todo o armazém quase


totalmente pintado de vermelho.

Ainda estou atrás do altar, sem saber dos meus próximos passos.

Vlad parece ainda mais selvagem quando rasga a camisa nas


costuras, arrancando a roupa até ficar nu no meio do banho de sangue.

Ele está balançando o líquido reverentemente, usando as mãos para


se pintar da cabeça aos pés em sangue.

Como um deus pagão, ele está parado entre seus sacrifícios, sangue
tanto sua armadura quanto sua fraqueza.

Estou sem palavras enquanto o observo admirada, o vermelho forte


contra sua pele com tatuagem, o olhar de puro arrebatamento em seu
rosto.

Como ele é humano?

Um som baixo escapa dele quando ele cai de joelhos, sangue


espirrando ao seu redor e manchando ainda mais a pele.
Eu preciso ajudá-lo.

Como é que, mesmo dessa forma, não tenho medo dele. Eu o vejo como
o diabo que ele é, e embora suas habilidades nunca deixem de me
surpreender, não posso deixar de ficar excitada por ele em todo o seu
esplendor sangrento.

Tomando coragem para deixar meu esconderijo, passo com cuidado,


movendo-me em direção a ele lentamente. Sua cabeça recua, seu olhar se
desfoca quando ele olha para mim, como um animal pronto para atacar a
qualquer momento. Seus ouvidos picam de consciência a cada passo que
dou, o som reverberando na sala.

Ele se vira totalmente em minha direção, com os olhos me observando


de perto, mas sem uma pitada de reconhecimento.

— Vlad, — sussurro quando estou quase ao seu lado, ajoelhada na


frente dele. Ele inclina a cabeça para o lado, me observando.

Lentamente, minhas mãos estendem a mão para tocar seu rosto. Ele
se encolhe no contato, mas não se afasta, olhando para mim com uma
mistura de curiosidade e carência. Apoiando-me nele, pressiono meus
lábios nos seus sangrentos, felizes quando ele não me afasta.

Mas ele também não está me beijando de volta.


Sabendo que leva um tempo para ele voltar para si mesmo, eu o
persuadi gentilmente com meus lábios, aplicando a menor sugestão de
pressão enquanto me aproximo dele.

Ele está olhando para mim, com os olhos quase em branco enquanto
tenta entender o que está acontecendo. Minha língua foge e eu lambo seus
lábios, procurando entrada em sua boca. Seus lábios se separam um pouco,
me permitindo entrar. Sou cuidadosa ao enrolar meus braços em volta do
pescoço, trazendo-o para o peito enquanto aprofundo o beijo.

Ele ainda se mantém rígido, os olhos abertos seguindo todos os meus


movimentos.

Respirando com força, eu me inclino para trás, sangue escorrendo do


chão e no material do meu vestido. Tomo um momento para observá-lo,
procurando por pistas que ele possa estar mais perto de reagir. Enquanto
meu olhar segue seu corpo, percebo que ele está totalmente ereto.

Sem pensar muito, rapidamente desfiz o zíper do meu vestido,


jogando-o do meu corpo até ficar tão nua quanto ele, parado na sua frente
como uma oferta.

Ah, mas eu sou uma.

Levando a mão dele, trago-a para a boca, chupando o dedo. Seu olhar
é nítido, pois segue todos os meus movimentos. Lentamente, trago a mão
dele pelo meu pescoço e pelos meus seios, pedindo que ele me toque.
Sua outra mão surge por vontade própria, a palma da mão se
encaixando no meu peito enquanto ele se aproxima da minha carne.

Eu abro a mão dele ainda mais, empurrando-a entre minhas pernas


para me encontrar pingando por ele.

Ele pisca rapidamente, com os dedos roçando contra o meu clitóris em


câmera lenta. Solto um gemido com o toque repentino, observando sua
expressão extasiada enquanto ele explora minha boceta, um dedo
brincando com minha entrada antes de mergulhar.

Mas sua mão logo se foi quando ele coloca os dedos no nariz, inalando
meu perfume antes de colocá-los na boca e chupá-los.

Ainda não há reconhecimento em seus olhos, mas quando ele se torna


mais reativo, fico mais ousada, arrastando minhas mãos pelo peito até
chegar à suaereção.

Pupilas dilatados, seus lábios se separam quando eu circulo meus


dedos em torno de sua circunferência, acariciando-o.

— Volte para mim, Vlad, — sussurro. A cabeça dele chicoteia para


trás com minhas palavras, a mão disparando para a frente e se envolvendo
em volta do meu pescoço. Em menos de um segundo, estou de costas, o
corpo dele pairando sobre mim enquanto ele se senta entre as minhas
pernas, o pau dele contra o meu estômago.
Suas narinas dilatam-se quando ele abaixa a cabeça no meu rosto,
respirando profundamente. Um rosnado escapa dele, seus dentes a mostra
enquanto ele lambe minha pele. Ele continua a explorar a carne logo
abaixo da minha mandíbula, com o nariz aninhado, a língua molhada
arrastando atrás. Como um animal, ele está tentando determinar minha
identidade pelo cheiro e sabor.

O sangue se apega ao meu cabelo e ao meu corpo enquanto ele me


empurra ainda mais para o chão, o líquido manchando minha pele e
deixando-a pegajosa enquanto eu me movo.

— Volte para mim. — Eu continuo a embalá-lo de volta com minha


voz, minha mão acariciando seus cabelos enquanto ele continua a
exploração com a boca.

Do nada, suas mãos grandes agarram minha bunda, abrindo minhas


pernas ainda mais para acomodar seus quadris.

Eu nem consigo falar enquanto ele mergulha para a frente, me


empalando em seu pau em um deslize suave. Toda a resistência cai diante
de seu ataque, minha boceta se estendendo ao redor dele, no que poderia
ser a pior dor que já experimentei.

Com os olhos arregalados, minha boca se abre em um grito, minha voz


ecoando dentro da sala.

Isso dói.
Ele está totalmente dentro de mim, a dor tão intensa que meus olhos
estão lacrimejando incontrolavelmente. Mas ele não percebe. Ele nem
parece registrar meu grito de angústia. Com as mãos na minha bunda, ele
se força dentro de mim ainda mais fundo, minha boceta encontrando a
base do pau dele antes que ele subitamente saia novamente, batendo de
volta dentro de mim com uma força que me faz ver estrelas.

É como se ele estivesse me despedaçando em dois.

Deus...

Seus dedos cavam a pele logo acima dos meus ossos do quadril, seus
movimentos se apressam quando ele entra e sai de mim, a agonia tão
intensa que me sinto escorregando.

Mas eu não posso!

Eu preciso fazer isso por ele, aguentar até que volte para mim.

Mesmo que isso me mate por dentro, a dor ardente tão ofuscante que
estou quase desmaiando, envolvo minhas pernas em volta dele, movendo
minha pélvis levemente para ajudar seu movimento.

— Volte para mim, — sussurro em um soluço, minha garganta


entupida pela queimadura que seu pau deixa para trás enquanto empurra
para frente e recua.
Seus impulsos são tão poderosos que seu pau grosso me estica além da
crença enquanto ele me toca no fundo. Apesar da dor, é como se eu pudesse
senti-lo em minha própria alma.

— Eu te amo, — confesso. — Muito. — Eu choramingo enquanto ele


continua destruindo meu corpo, minhas palavras mal são coerentes
enquanto eu suspiro toda vez que ele entra.

Era para ser um ato tão bonito. O culminar de todos os nossos


momentos roubados, de todo o tempo que passamos aprendendo o corpo
um do outro. Era para ser uma experiência única, pois nos entregamos
totalmente ao outro pela primeira vez.

Mas agora? É preciso tudo dentro de mim para não desmaiar, a dor da
minha alma é tão intensa quanto a do meu corpo, vendo esse momento
especial sendo arrancado de nós.

— Eu te amo, — repito, me ancorando no amor incondicional que


tenho por ele. Uma emoção tão abrangente que é a única coisa que me faz
aguentar.

Ele faz uma pausa, a cabeça estala, olhando para mim, mas ainda
parece selvagem, como se não pudesse entender a linguagem humana.

Um grande golpe de língua na minha clavícula e sua boca se prende


ao meu peito, mordendo tanto o mamilo que tenho certeza de que ele tirou
sangue.
— Não!— Grito, minha respiração está chegando em suspiros curtos.
Minhas mãos batem nas costas dele, a dor combinada da mordida e a
queimadura que ainda sinto na entrada da minha boceta me fazendo
contorcer contra ele, tentando fazê-lo desacelerar.

— Por favor, — sussurro, minha voz rouca dos gritos, minha visão
enevoada de lágrimas. O que estou perguntando a ele, porém, não sei.

Só sei que faria qualquer coisa por ele, inclusive deixá-lo quebrar meu
corpo, se é isso que o trará de volta.

Ele solta meu peito, sua língua lambendo o sangue que flui da minha
ferida antes de se mover novamente para o meu pescoço.

Seus movimentos são cada vez mais violentos, como um animal no


meio do acasalamento, os dedos machucados na minha carne, o pau dele
entrando e saindo de mim a uma velocidade não natural.

Neste ponto, só espero que ele esteja perto e, por isso, aperto minhas
paredes ao redor dele, esperando fazê-lo atingir seu clímax mais
rapidamente.

Seus dentes mordiscam meu pescoço, seu corpo roça contra mim,
então eu não tenho espaço para respirar. E então ele morde, novamente.

Mas desta vez ele rasga a pele de uma só vez, e sinto seus dentes
afiados quando atingem meu músculo, sangue saindo da ferida e ao redor
de sua boca. Ele segura minha pele com tanta força que sinto o rasgo em
minha própria alma.

— Vlad, — um som fraco me escapa, a dor tão intensa que estou


quase perdendo a consciência. Ele está preso na minha garganta, como um
cachorro indo para a jugular, os dentes alojados no interior, a língua
girando para a carne machucada.

Medo inunda estômago enquanto percebo que ele pode muito bem me
matar.

Eu preciso fugir.

Eu chuto para ele, usando minhas mãos para empurrá-lo de mim. Eu


consigo pegá-lo de surpresa, seus olhos sem foco enquanto eu o empurro
para o lado, carne e sangue em sua boca.

Minha carne e sangue.

Sinto a ferida, observando que há um buraco aberto onde meu ombro


encontra meu pescoço. O pânico borbulha dentro de mim, e eu só posso me
afastar, de alguma forma conseguindo me levantar antes de correr.

Eu não vou longe, porém, uma mão no meu cabelo me puxando para
trás e eu caiu de bunda, meu couro cabeludo queimando de seu ataque.
— Vlad, não. — Eu tento me livrar de suas garras, mas seus olhos são
apenas sem alma, me observando enquanto luto, sua boca se levantando
como se estivesse gostando da minha dor. — Por favor. — Eu adiciono
novamente, tentando desembaraçar os dedos do meu cabelo.

Em vez de afrouxar o controle, isso apenas o faz apertar as mãos sobre


o couro cabeludo, me arrastando para trás, o sangue no chão apenas
facilitando a queda do meu corpo no chão.

— Vlad, você está me machucando, — continuo falando, ainda não


perdendo a esperança. Sabendo que de alguma forma eu poderei alcançar o
lado dele que é meu e só meu. — Vlad, por favor.

Me jogando para a frente, minhas costas atingem o chão frio e árido e


mais dor irrompe nas minhas articulações. Eu nem consigo reagir, as duas
mãos dele se envolvendo em volta da minha garganta quando ele me
levanta no altar, a borda da mesa batendo na minha bunda enquanto ele
me espalha na superfície.

— Vlad... — Eu luto para falar, mas ele não se importa. Ele inclina a
cabeça, olhando para mim através de olhos estreitos, com as mãos
apertando em volta do meu pescoço quando ele entra em mim novamente.

Minha excitação se foi há muito tempo. O único lubrificante que


facilita um pouco o seu caminho é o sangue do meu hímen rompido. Seus
quadris se movem para dentro e para fora de mim, me fodendo tão forte
que mal estou segurando. Sinto ainda mais sangue jorrando da minha
boceta enquanto ele empurra seu pau dentro de mim com tanta ferocidade,
não tenho certeza se voltarei a ficar inteira.

Seus impulsos ganham velocidade, suas mãos aplicando ainda mais


força na minha garganta. Eu tento empurrar seus ombros, minha
respiração cada vez mais superficial. Sinto-me tonta, meus membros
perdendo a maior parte de suas forças.

Ele está estrangulando a vida fora de mim.

Meus braços caem, a luta em mim quase morrendo. Meus lábios


provavelmente estão roxos, cada respiração que tomo me aproximando
daminha última.

E então acontece.

Sinto seus músculos tensos, seu pau se sacudindo dentro de mim


quando ele goza, sua liberação quente disparando em jatos e inundando
meu interior. Seus impulsos diminuem à medida que ele me enche de
ainda mais esperma, suas mãos ficando frouxas, todo o seu corpo
atormentado por tremores.

Seus olhos se arregalam por um segundo antes que ele caia em cima
de mim, completamente apagado. Só consigo olhar para o teto alto,
lágrimas secaram nas bochechas, feridas ainda sangrando.
Leva um tempo para recuperar o fôlego e, quando sinto parte da
minha força voltando, empurro-o para fora de mim. Suas costas se
conectam com a mesa, seu pau escorregando de mim e deixando uma trilha
ardente em seu rastro.

Com pernas trêmulas, quase caio quando saio da mesa do altar. Uma
mistura de sangue e gozo flui de mim, pingando lentamente pela parte
interna da coxa. Eu nem ouso me tocar na área, dolorida e sensível pelo
estrago que ele destruiu no meu corpo. Ainda há uma dor pulsante
persistente e acho que nem consigo me sentar. Eu apenas respiro fundo,
tentando me recompor, ignorando como tudo dói como o inferno.

Ao contornar a sala, ignoro a carnificina ao meu redor enquanto pego


uma toalha de mesa, transformando-a em um vestido. Rasgando um pouco
mais de material, eu o seguro contra o ferimento no pescoço, o
sangramento ainda está forte.

Eu nem quero imaginar como estou, a sensação sozinha quase me


fazendo querer morrer. Tenho certeza que ele arrancou a pele e os
músculos do meu pescoço quando me mordeu.

Gemo alto, mal me segurando enquanto procuro algo para beber. Ao


encontrar uma garrafa de água fechada, bebo avidamente, tentando
recuperar o foco.

Merda, Vlad. Você quase me matou.


O riso borbulha dentro do meu peito com o pensamento. Meu corpo
inteiro foi espancado, mas não consigo me ajudar enquanto penso na
hilaridade da situação.

Ele queria muito evitar me machucar e acabou me destruindo


completamente.

Mais um tempo depois, ele finalmente acorda.

— Sisi?— Eu ouço sua voz áspera me chamando.

Eu mal consigo me mover enquanto caminho em direção a ele. Ele


está desorientado ao ver o banho de sangue ao seu redor, seu próprio corpo
pintado de vermelho.

— Sisi?— ele repete, vindo em minha direção.

— Você voltou, — sussurro, aliviada.

— O que... — ele me estuda, com as sobrancelhas se juntando.

Chegando mais perto de mim, ele arranca o pano do meu corpo, seu
olhar horrorizado ao perceber minha carne machucada.

— Estou bem. — Eu sou rápida em garantir a ele.


— Eu fiz isso?— Sua voz é baixa e grave, sua mão avançando para me
tocar. Sem nem pensar, eu recuo, meu corpo tendo uma mente própria, a
dor ainda embutida em sua memória. Aperece que eu o golpeei quando me
vê evitar seu toque. — Eu fiz isso, — afirma ele em branco.

— Não é tão ruim, — digo humildemente, mesmo que a mera ação de


falar tire muito de mim.

— Não é tão ruim assim... — ele repete, horrorizado.

Virando as costas para mim, ele volta entorpecido para o altar,


descansando os braços sobre a mesa.

— Vlad?— Eu ando em sua direção, colocando a mão nas costas. Sinto


sua respiração, seu peito subindo e descendo.

— Não, — ele se vira, pegando minha mão. Seus olhos voltavam ao


normal, estão gelados, um arrepio descendo minha espinha no escrutínio
deles.

— O que? Por quê?— Eu pergunto, confusa.

— Você deveria ir embora, — diz ele em voz baixa, e é como se eu não


o reconhecesse mais.

— Como assim eu deveria ir?


Sua mão desvenda o pano em volta do meu pescoço, um músculo se
contorcendo em sua mandíbula enquanto vê a evidência de sua selvageria.

— Está tudo bem, não dói muito, — minto, minha mão vai ao meu
pescoço para cobrir a ferida.

— Não dói?— ele levanta uma sobrancelha, e meus olhos procuram


uma ruga em volta dos olhos, ou qualquer tipo de diversão que denotaria
que meu Vlad está de volta. Em vez disso, não encontro nenhum.

E isso me assusta mais do que qualquer dor física.

Ele passa por mim enquanto vai recuperar suas próprias roupas,
colocando-as lentamente de volta. Olhando em volta, ele encontra um
telefone, ligando para Maxim e ordenando que ele venha aqui.

— Vlad?— Eu pergunto, insegura sobre qualquer coisa.

Por que ele está tão frio?

Não me importo com a dor, desde que eu possa ter os braços em volta
de mim, a voz dele me dizendo que tudo vai ficar bem. Eu só quero meu
Vlad de volta.

— Maxim a levará para casa, — diz ele de maneira breve, mas


indiferente.
— Vlad... não me exclua, — peço a ele, com medo dessa mudança
nele.

— Por que eu te excluiria quando não há para onde levá-la?— Ele


encolhe os ombros.

— O que... o que você quer dizer?— Gaguejo, dor física e confusão


mental me alcançando.

— Isso não está funcionando Sisi. Claramente, — ele sorri,


assentindo em direção ao sangue derramado no chão, os cadáveres
espalhados por todo o salão. — Você deveria apenas ir.

— Eu não entendo, — digo honestamente. — O que não está


funcionando?

— Isso, — ele se move entre nós dois, sua voz quase robótica. — Eu
mantive você por perto porque pensei que você poderia me ajudar com
meus episódios, mas claramente, não está funcionando.

Ele está me excluindo.

Não posso deixá-lo fazer isso. Agora não...

— Você não está se livrando de mim tão facilmente, Vlad. Sim, este foi
um evento infeliz, mas vamos superar isso.
— Você não entende?— Ele se aproxima de mim, com a respiração no
meu rosto enquanto coloca os olhos sem emoção em mim. — Você é inútil
para mim agora.

Eu pisco. Uma vez. Duas vezes. Eu continuo piscando, pensando que


não o ouvi direito.

— O que... o que você disse?

— Você é inútil para mim agora, — repete, um sorriso cruel no rosto,


os dedos enrolados no meu cabelo enquanto ele gira um fio. — Eu mantive
você por um motivo, e apenas um. Eu pensei que você era a exceção à
regra, — o canto da boca dele se levanta, — mas você é tão comum quanto
os outros, — afirma ele, e minha audição diminui, meu coração bate
ferozmente no meu peito.

— Pare, — eu sussurro. — Pare antes de dizer algo de que se


arrependerá, — eu imploro.

— Por que eu me arrependeria?— Ele encolhe os ombros, olhando


para mim como se eu fosse insignificante.

Como chegamos aqui? Como?

Minha garganta está pesada, lágrimas queimando atrás dos meus


olhos por suas palavras.
— Eu te amo, Vlad. Você tem que saber disso, eu...

— Você me ama?— ele ri, o som é doloroso para os meus ouvidos. —


Sisi, Sisi, você realmente ama não é?— ele balança a cabeça para mim de
maneira irrisória. — Você sabe que eu não sinto qualquer coisa. Você sabia
desde o início que o máximo que eu poderia oferecer a você eram alguns
orgasmos. Nada mais nada menos.

— Pare, — fecho meus olhos, querendo que ele pare de falar. Já está
doendo demais sem ele torcer a faca ainda mais.

Porque ele está apenas partindo meu coração, e eu já estou


fisicamente quebrada, não preciso que ele dê o último golpe também.

— Eu deveria ter percebido que você confundiria meu interesse por


sentimentos, — ele franze os lábios, olhando para mim com nojo. — Porra,
eu deveria ter percebido alguém tão indesejada quanto você se apegaria à
primeira pessoa que lhe deu atenção. Mas amor? Onde você tirou essa
ideia?— ele pergunta, divertido.

— Você está sendo cruel, — minhas palavras estão um pouco acima


de um sussurro, uma lágrima caindo na minha bochecha.

— Eu estou sendo real. Você sabia muito bem quem eu era e do que eu
era capaz. Eu te avisei, não foi? Eu avisei para você não me transformar
em algo que não sou.
— Mas...

— Devemos parar de nos ver, — afirma ele, olhando-me atentamente,


— afinal, está claro que você não é mais útil para mim, — diz ele com
desprezo.

Eu o encaro pasma, imaginando como tudo o que importava poderia ir


para o inferno no espaço de algumas horas.

Ele está com a máscara sem emoção e não consigo o ler direito.

Honestamente, tudo o que quero fazer é implorar para que ele


reconsidere, dizer que farei melhor, que farei o que ele quiser que eu faça e
seja quem ele quiser que eu seja. Só não me deixe.

Mas quanto mais eu olho para ele, tão confiante em sua decisão, tão
indiferente em me jogar fora, percebo: por que devo?

Uma coisa que eu pedi a ele. Apenas uma.

Nunca me abandone...

Eu não me importo com o quanto ele me abusa, ou com meu corpo, ou


com quanta merda ele joga no meu caminho. Eu estava pronta para
aceitar toda faceta dele — o assassino, o animal e o amante. Mas não há
amante, há? Há apenas uma máquina sem emoção usando o disfarce de
um humano.
E de repente vejo como tudo é fútil.

Ele está convencido a cuidar de mim, provavelmente esperando que eu


me ajoelhe e implore para que ele não me abandone. Afinal, é assim que
alguém indesejado como eu faria, não?

Mas eu não posso... Não sei se ele quer dizer as palavras que disse ou
não, mas disse que sim.

E elas doem.

Pior que a dor no meu ombro, ou aquela entre as minhas pernas. Elas
doem de maneiras que eu não acho que sejam curadas.

Eu o amo, mesmo quando ele não é amável. Eu o amo, mas não posso
ir contra mim mesma, abandonando tudo o que construí para mim apenas
por um amor falso.

— Entendo, — respondo devagar.

E pelo amor que eu lhe dei, estou disposta a dar a ele mais uma
chance.

— Pare de me afastar, Vlad. Eu ainda estou aqui. E eu ainda estarei


aqui se você quiser. Você não precisa mentir para me machucar... — Eu
paro quando ele começa a rir.
No momento em que meu coração se parte... irrevogavelmente.

— Mentir? Para te machucar? Deus, Sisi, quem você pensa que é?—
ele continua rindo, me pressionando com aqueles olhos mortais dele.

Vazio.

— Você não é a única mulher nesta terra, pelo amor de Deus, — ele
ri. — Justo, tentei ver se você poderia me ajudar, e agora que você falhou,
simplesmente não preciso mais de você. É simples assim.

— Entendo, — respondo sombriamente. — Você fez sua escolha, —


aceno para ele, me segurando, apesar da dor, apesar da maneira como
minha alma inteira se fratura sob o peso de suas palavras.

— Escolha, — ele balança a cabeça, — não seja tão dramática. Era


uma simples questão de tentativa e erro. E bem, — ele sorri, — parece
que foi um erro.

Agarrando a faca mais próxima que vejo, aperto os dedos ao redor,


observando uma ligeira reação nos olhos dele.

— E agora eu faço a minha, — digo a ele antes de agarrar o


comprimento do meu cabelo, puxando-o para frente e cortando-o com a
lâmina.
Uma vez que minha posse mais querida, agora é apenas uma pilha de
porcaria.

Mechas caem no chão, ficando encharcadas de sangue. Seu olhar não


se desvia de mim enquanto eu continuo cortando até que todo o
comprimento esteja curto.

Jogando-o em seus pés, faço o meu melhor para ser forte.

— Se você pode me jogar fora, eu também posso. Mas não se engane, a


partir deste momento você está morto para mim. — Como não estou
chorando agora, não sei.

Mas quando olho para o meu cabelo, morto e reunido aos pés dele, sei
que é apenas uma questão de tempo até eu quebrar. E não quero dar a ele
a satisfação de ver o que resta do meu coração se despedaçar em pedaços
ainda mais delicados.

— Eu te disse uma vez, Vlad, que eu levaria qualquer coisa que você
me desse, qualquer coisa, desde que você nunca me abandonasse, —
respiro fundo, a faca caindo no chão. — A partir deste momento somos
estranhos, — declaro, para seu benefício e também para o meu.

Ele não reage, como eu sabia que ele faria. Ele apenas encolhe os
ombros, nem mesmo olhando para o meu cabelo enquanto passa por mim,
me deixando para trás.
Eu vou sobreviver.

Eu sobrevivi por tanto tempo, não há nada que possa realmente me


matar agora.

Mas enquanto assisto sua figura em retirada, percebo que parte de


mim morreu hoje.

Uma parte que talvez nunca volte.


CAPÍTULO VINTE

— Ela está em casa, — Maxim me diz ao telefone e posso respirar.

Ela está segura.

Tão segura quanto ela pode estar. E o mais longe possível de mim.

— Você realmente fez isso desta vez.— Vanya sai de um canto,


balançando as pernas para cima e para baixo em uma cadeira.

— Vá embora, Vanya, — digo a ela, sem disposição para nada.

— Ela vai te odiar, você sabe, — continua ela, e sinto minha ira
subindo.
— VÁ EMBORA!— Grito com ela, meus olhos se arregalando com
minha própria explosão.

A expressão de Vanya reflete a minha, enquanto lágrimas se


acumulam nos cantos dos olhos dela. E assim, ela se foi.

Caio na cadeira, desejando poder apagar o dia da minha mente.


Inferno, desejando poder esquecer tudo.

Sisi.

No momento em que abri meus olhos e a vi... vi a magnitude do que eu


havia causado, um poço sem fundo se formou dentro do meu estômago, me
deixando incapaz de processar qualquer outra coisa.

Eu só conseguia ver as impressões das palmas das mãos em volta do


pescoço, a ferida aberta no ombro, sangue e sangue...

E depois...

Fecho meus olhos, a imagem demais. Seu corpo nu estava cheio de


contusões, impressões digitais e marcas vermelhas que eu causei em sua
pele. Eu os tinha visto nas coxas, nos quadris... os seios dela.

— Senhor, — eu gemo em voz alta, a marca feia de mordida no seu


peito ameaçando me deixar doente.
Mas então houve o pior de tudo. O sangue entre suas pernas. O
mesmo sangue manchando meu pau e me deixando saber exatamente o
que eu tinha feito.

Eu poderia tê-la matado.

A tristeza me ultrapassa quando percebo que esse é realmente o fim.


Eu me permiti acreditar que poderia ser salvo e, no processo, também a
condenara.

Porra, mas a visão dela tão maltratada, tão quebrada havia matado
algo dentro de mim. Por todas as minhas reivindicações de insensatez, vê-
la assim me quebrou.

Pego o cabelo manchado de sangue que peguei do chão, meus dedos


apertando os fios enquanto os trago ao nariz, inalando.

— Sisi... — Eu sussurro, desejando pela primeira vez que as coisas


fossem diferentes, que eu fosse normal e merecesse ela.

O pensamento de nunca mais vê-la causa uma agonia tão profunda


dentro de mim que não sei como vou conseguir. Parece impossível respirar
apenas imaginando um dia sem ela, mas um futuro?

Levantando lentamente da minha cadeira, vou ao banheiro, lavando


cuidadosamente o cabelo e colocando-o em um espaço seguro para que
possa secar.
A última coisa que tocarei nela...

Mas não posso me arrepender da minha decisão. Não quando eu quase


a matei. Certamente, eu a contaminei da pior maneira possível, a visão de
suas coxas sangrando ou a ferida aberta na garganta ameaçando me
deixar enjoado.

E depois há a sua expressão quando eu menti por entre os dentes,


machucando-a onde eu sabia que ela iria doer. Porque eu sabia que minha
corajosa e bela Sisi nunca me deixaria a menos que eu a deixasse primeiro.
Ela suportaria tudo firmemente até eu realmente a matar.

E eu não posso fazer isso.

Pela primeira vez na minha vida, valorizo uma vida humana e acho
que, para preservá-la, eu faria qualquer coisa.

— Estúpido. — Eu sussurro para mim mesmo, lentamente trazendo


minha cabeça contra a parede, o impacto mal fazendo cócegas na superfície
da minha pele. — Estúpido, — repito, empurrando minha cabeça ainda
mais para dentro da parede, querendo a dor — precisando da dor.

Mas isso não vem. Nem mesmo quando minha pele rompe e sangue
empoça na minha testa.

Simplesmente não há dor externa, não como há interior, meu peito se


contrai com um sentimento estranho.
Então, eu apenas bato minha cabeça na parede, o conhecimento da
dor que eu lhe causei meu principal impulso.

— Por quê?— Eu falo, trazendo meus punhos para frente. — Por que
não posso ser normal?— Eu clamo, cansado desta existência... cansado de
tudo ao meu redor.

— Por que ela não pode ser minha?— as palavras saem da minha boca
quando eu caio no chão.

Eu nunca quis algo para mim, nunca desejei nada como eu a quero.
Ela foi a única pessoa que me recebeu de braços abertos, a única a ver
amim.A única pessoa que me fez sentir humano.

E eu quase a matei.

Meus olhos parecem úmidos, de sangue ou lágrimas, não tenho ideia.


Não quando tudo em que consigo pensar é no meu futuro estéril sem ela.

— Por que ela não pode ser minha?— Eu faço a pergunta para o
universo, já sabendo a resposta.

Você não a merece. Você nunca mereceu.

E ainda assim eu a tinha. Por alguns breves momentos, ela era minha
e eu era dela.
Eu ainda sou dela, mas ela nunca mais será minha.

Eu nunca quis machucá-la. Inferno, eu a tratei com luvas de pelica,


com medo de que minha natureza brutal a assustasse e a fizesse perceber
como eu não era normal. E eu tinha sido tão cuidadoso.

Porra, mas eu tinha sido tão cuidadoso. Eu me neguei inúmeras vezes


quando tudo que eu queria era deslizar dentro de seu calor liso, me perder
naquele corpo delicioso dela... finalmente a fazer minha.

Mas eu me abstive, porque isso teria causado sua dor.

E eu nunca queria causar dor.

Não posso deixar de ver as imagens de seu corpo danificado


inundarem minha mente, o fato de eu a ter levado como um animal me
fazendo querer acabar com minha própria existência miserável.
Flashbacks dançam diante dos meus olhos. Pequenos trechos de mim
empurrando-a como um animal, seus gritos de dor enquanto tentava me
impedir, suas mãos pequenas empurrando meus ombros quando eu era
muito áspero.

— Sisi, — eu gemo, medo, desespero e desolação se formando dentro


de mim, crescendo a um nível tão grande que começo a tremer
incontrolavelmente. Meu corpo inteiro começa a tremer, minha visão fica
embaçada quando tudo cai.
Eu falhei com ela. Eu falhei com ela. Eu falhei com ela.

— Foda-se, — eu amaldiçoo, me sentindo deslizar, vozes aglomerando


minha cabeça, meu pulso disparando à medida que mais e mais
pensamentos estranhos procuram me deixar louco.

Não sei como saio do banheiro, indo direto para o meu armário secreto
e tirando um sedativo, injetando-o nas veias.

O rosto dela é a última coisa que vejo. Seu lindo rosto bonito. A mais
linda que eu já vi, realmente. Seu contorno começa a tomar forma na
minha frente. Meus olhos caídos, só posso vê-la em êxtase.

— Hell girl, — eu estendo a mão, ar puro me cumprimentando. —


Sinto muito, — finalmente digo as palavras que ela merece ouvir.

— Eu queria ser normal, — murmuro, meu corpo se desligando


lentamente. — Então eu seria capaz de amar você também.

E então há apenas escuridão.


— Você está com muito tempo para gastar andando por aí?— Vanya
pergunta enquanto eu arrasto um dos corpos para trás para Maxim lidar
com eles.

— Eu não estou deprimido, — murmuro debaixo da respiração.

— Você está. Somente nesta semana você matou o que, dez pessoas?
Vinte?

— Mais como cinquenta, — murmuro, e ela levanta uma sobrancelha


para mim.

— Todos eles mereciam, — digo a ela, — eles vieram atrás de mim


por vingança um após o outro. O que eu devo fazer? Dar boas-vindas de
braços abertos?

— Talvez. — Ela encolhe os ombros, vindo ao meu lado para estudar


os resultados do meu último episódio. — Como você claramente tem um
desejo de morte. Você sabe muito bem que agora é o alvo de todo mundo.
No entanto, você parou de carregar uma arma. Se isso não é suicida, não
sei o que é.
— O que posso dizer? Minhas habilidades desafiam qualquer arma. —
Eu digo presunçosamente, mas ela enfia o cotovelo no meu lado, apontando
para a minha nova ferida.

— Claro, então o que é isso ?

— Eu não lembro. Alguém deve ter me esfaqueado durante a última


luta. — Eu encolho os ombros, puxando minha camisa para revelar um
corte desagradável sob minhas costelas. Quase como uma sensação de
cócegas, mal consigo sentir.

— Um dia desses você vai sangrar, — ela balança a cabeça para mim,
me arrastando para o kit de primeiros socorros.

— Isso não seria uma misericórdia?— Eu sussurro suavemente.

Faz três semanas desde o incidente do armazém, e tudo o que fiz foi
cortejar a morte, mas sem nenhum resultado real. Afinal, meu instinto de
autopreservação surge toda vez, e mesmo que eu queira, eu não posso
desligá-lo.

— Você precisa se cuidar, irmão. — Vanya diz, preocupação nos olhos.


— Lembre-se da sua promessa, — ela me lembra, e eu fecho meus olhos,
suspirando.

Tudo o que tenho feito nas últimas semanas foi esquecer minha
promessa. Eu estava tão empenhado em fazer todo o possível para escapar
do confinamento do meu próprio corpo que desconsiderei completamente
minha promessa de vingança.

— Você está certa, Vanya, — admito. — Eu preciso recuperar minha


cabeça no jogo.

— Pode-se dizer que você precisa tirar a cabeça do jogo. Pare de matar
pessoas por um segundo e as interrogue. Lembre-se do que Oleg disse?

A pergunta dela me dá uma pausa, e eu repito os eventos do dia,


estremecendo como o que essas memórias a contêm... Mas Vanya está
certa. Oleg havia sugerido que eu perturbaria algumas pessoas
importantes.

— Você acha que eles têm algo a ver com o Projeto Humanitas?

— Talvez, — Vanya encolhe os ombros, pedindo que eu pegue um


curativo, — mas vale a pena investigar.

— Você está certa, — eu concordo.

Tomando um pouco da gaze, começo a limpar o sangue da ferida,


observando que não é tão superficial quanto eu pensava anteriormente.
Limpo e desinfeto, mas provavelmente vou precisar de pontos.

— Ligue para Sasha, — diz Vanya, mas eu apenas balanço minha


cabeça.
— Eu faço isso. — Eu respondo, tomando uma agulha e linha
cirúrgicas. Puxo a agulha pela pele, costurando os dois lados. Meus pontos
podem não ser tão limpos quanto os de Sasha, mas eles funcionam. Afinal,
quem se importa se meu corpo fica ainda mais desfigurado do que já é? Eu
só me importava com o que uma pessoa pensava disso e...

Fecho os olhos, respirando fundo.

Eu tentei tanto não pensar nela durante esse período, mas a


desvantagem de ter uma memória quase perfeita é que me lembro em
detalhes de todas as nossas interações... a maneira como a pele dela se
sentia na minha ou como sua presença simples me acalmava.

Isso não está funcionando.

Eu enfio a agulha com mais força na minha pele, desejando poder


machucar da mesma maneira que a machuquei. Mas ainda nada. O
máximo que sinto é uma carícia leve.

— Vlad?— Vanya me chama, e levo um momento para reagir. — Vlad!

— Sim, — murmuro, levantando a cabeça para olhá-la.

— O que há de errado com você?— ela pergunta, estreitando os olhos


para mim.
— Eu não sei o que você quer dizer. — Eu digo, acabando rapidamente
me costurando e colocando tudo de volta em seu lugar. Virando as costas
para Vanya, concentro minha atenção na pilha de corpos no final da sala.

— Você está diferente, — observa ela, — há algo diferente em você.

— V, vamos lá, — eu finjo uma risada, — eu sou o mesmo bastardo


maníaco de antes, — eu brinco, mas ela não responde. Ela está apenas me
observando de perto, o escrutínio em seu olhar um pouco enervante.

— Eu provavelmente deveria queimar os corpos, — digo em voz alta,


dirigindo a discussão para um território confortável.

— É ela, não é?— Vanya aponta astuciosamente, vindo para o meu


lado e me forçando a responder.

— Eu não sei do que você está falando.

— Isto é ela, — afirma ela. Mas então Maxim entra na sala com um
carrinho. Ele começa a empilhar os corpos dentro antes de ir ao forno para
queimá-los.

— Você não está se livrando de mim, — Vanya me segue até o meu


quarto.

— Eu não sei disso?— Eu murmuro, a ironia estranhamente


divertida.
— É ela. É por isso que você está diferente.

— Deixe para lá, V. Eu não quero falar sobre isso, — minha voz está
cansada e, quando abro minha gaveta para tirar o sedativo, tudo em que
consigo pensar é em esquecer.

Aplicando a agulha nas veias, posso ouvir Vanya dizendo mais coisas,
me chamando pelo meu comportamento, mas quando lentamente sucumbi
à paz o rosto dela começa a aparecer na minha frente.

E finalmente sinto me leve novamente.

— Obrigado Seth, — digo a ele enquanto ele me traz o último lote de


fotos de Sisi.

Eu pedi para ele vigiar ela, já que não importa o quanto eu quisesse
me afastar, simplesmente não podia. Preciso saber que ela está mais
segura do que preciso do meu próximo suspiro. E as fotos que ele está
tirando para mim foram a única coisa que me fez continuar.

Eu nunca teria pensado que ficaria tão obcecado por alguém, muito
menos por uma mulher. Mas Sisi não é apenas alguém.

Ela é tudo.

Pegando as fotos, deslizo o dedo sobre as suasfeições. Ela está usando


um lenço no pescoço e sinto uma pontada no peito ao pensar que eu
poderia ter marcado a pele dela para sempre.

Ela não saiu muito de casa e todas as fotos são tiradas dela no jardim.
Ela é tão dolorosamente bonita que nem consigo encontrar palavras para
descrevê-la. Mesmo com o cabelo apenas alcançando os ombros, ela é
simplesmente requintada.

Por puro instinto, alcanço o bolso, tirando o lenço que ela havia
bordado para mim. Eu tinha colocado um pouco do cabelo dela dentro,
amarrando-o nas pontas para tê-lo sempre comigo.

Espalhando o material na minha mesa, tiro alguns fios de cabelo,


trazendo-os ao meu nariz e inalando, tentando sentir o aroma do cheiro
dela. Mas quanto mais o tempo passa, mais seu perfume fica fraco.

Eventualmente, tudo estará acabado.


— Por que você simplesmente não admite que a ama?— Vanya
aparece do nada, andando na minha frente. Não é a primeira vez que ela
começa a me interrogar sobre Sisi. Afinal, ela é a única razão da minha
ligeira mudança de comportamento.

Vanya foi a primeira a notar que eu me tornei mais retraído e cem por
cento mais imprudente, então ela começou a me encurralar a cada passo,
exigindo que eu fizesse algo a respeito.

E depois do meu último incidente com opiáceos, posso ver por que ela
ficou cada vez mais brava comigo. Afinal, eu fui a pessoa que criticou
Bianca quando ela se tornou viciada em coca, e aqui estava eu, seguindo
lentamente seus passos.

É seguro dizer que aprendi minha lição quando quase tive uma
overdose. Aparentemente, meu corpo é totalmente capaz de overdose, mas
não consegue reagir tão bem à dor.

De qualquer tipo.

— Você sabe que eu não posso amar. — Eu respondo com um suspiro.


Já discutimos isso antes. Estou quebrado desde o nascimento e não é como
se algo pudesse corrigi-lo magicamente.

Se eu pudesse, Sisi seria a primeira... não, a única a quem eu


ofereceria meu amor.
— Você ainda não pode amá-la, você a ama. — Ela levanta uma
sobrancelha, os braços cruzados sobre o peito parando na minha frente.

— Não é amor!— Eu gemo alto. — É apenas meu desejo egoísta de tê-


la comigo o tempo todo. Senti-la... tê-la em meus braços... — Eu me afasto,
a dor no meu peito se expandindo. Por que parece que eu não consigo
respirar? Como se a sala inteira estivesse ficando cada vez menor.

Fecho os olhos, respirando fundo. Ainda me lembro de vê-la com a


evidência do que tinha feito. O fato de eu poder facilmente matá-la quase
me destruiu. Pela primeira vez na minha vida, eu conhecia o medo real
com a perspectiva de ela ter morrido. Foi o pior golpe no peito, minha
mente embaçada, minha totalidade sendo atormentada com a pior dor que
eu já senti.

Meus dedos apertam o cabelo dela enquanto eu o seguro, a única coisa


que parece me acalmar hoje em dia.

— Você egoisticamente não a ama, mas a deixa altruistamente para


protegê-la, mesmo que esteja matando você por dentro, — diz Vanya
balançando a cabeça para mim. — Se isso não é amor... — ela deixa
escapar e eu levanto meus olhos para olhá-la.

— Você, meu irmão, é um idiota, — afirma ela, exasperada. — Você


está colocando o bem-estar dela acima do seu! Essa é a própria definição de
amor!
— E como você saberia?— Eu pergunto, bastante irritado.

— Porque foi o que você fez por mim também!— ela grita comigo.

Eu a olho estupefato, totalmente chocado com sua explosão.

— Você a ama, você simplesmente não sabe amar. Há uma diferença,


— ela aponta.

— Mas como posso amar se não sei como?— Eu pergunto quebradiço.

Eu só a quero... Eu só a queria.

— Você apenas faz o que as outras pessoas fazem. Cuide dela, dê


atenção, mostre a ela que é a única para você.

— Mas ela é!— Eu deixo escapar.

— Irmão, às vezes me pergunto como somos parentes. Você é um


idiota das maiores proporções. Você tem que mostrar a ela! Inferno, ela
provavelmente te odeia agora pela última vez. Por abandoná-la tão
implacavelmente.

— Mas eu precisei... — Eu digo fracamente, imagens de seu pobre


corpo agredido ainda assombram minha mente.
— Você não precisava! Você correu na primeira chance que as coisas
estavam ficando um pouco mais complicadas. Você nunca pensou em obter
ajuda em vez de jogá-la fora.

— Eu fiz... e veja onde isso me levou. Eu matei o maldito psiquiatra.


— Eu desvio o olhar, os flashbacks que eu recuperei daquela sessão ainda
são um assunto delicado. Especialmente quando olho para minha irmã...

— E só por causa dela!— Vanya levanta as mãos, exasperada. — Você


tentou uma vez e desistiu. Vamos, Vlad. Tem que haver mais maneiras, —
ela me diz. — Eu não entendo como você pode ser tão inteligente quando se
trata de todo mundo, mas tão burro quando se trata de você mesmo, — diz
ela com raiva, e eu franzo meus lábios, suas palavras não injustificadas.

— O que mais posso fazer, V? Tenho medo de me colocar no mesmo


raio de dez quilômetros dela, sabendo que se ela estiver remotamente
próxima, vou me aproximar e... — minha respiração trava, — eu vou
machucá-la novamente.

É por isso que estou enviando Seth para checá-la. Eu nunca seria
capaz de me impedir de ir até ela se soubesse que estava por perto.

— Você precisa fazer algo sobre seus episódios. Essa é a única


maneira, — ela me diz.

Estou quieto por um momento, a mera perspectiva de ter Sisi em


minha vida novamente me enchendo de algo semelhante à felicidade. Não
que eu saiba o que é felicidade, mas espero que seja algo como o que a
presença dela faz comigo.

Mas antes que eu possa fazer isso eu necessito me controlar.

Tentar mais.

Porra, mas eu faria qualquer coisa, desde que pudesse garantir que
não sou um perigo para ela. Estou sem ideias.

— Tudo bem, — eu concordo. — Você pode estar certa. Mas como eu


conserto isso? Ela parecia tão desolada quando eu disse a ela... — Mesmo
que eu consiga controlar meus episódios, duvido que me perdoe tão
facilmente. Eu nem quero lembrar as palavras que eu vomitei, as mentiras
que eu propositalmente disse para machucá-la.

Eu queria afastá-la o mais longe possível de mim e consegui.

— Você vai até ela e pede perdão. Você terá sorte se ela der a você, —
Vanya levanta uma sobrancelha para mim, e posso dizer que ela está do
lado de Sisi.

Por mais que eu queira discutir, ela está certa.

Fiquei com medo e joguei tudo fora. Eu deveria ter lutado mais,
tentado mais. Afinal, Sisi é a única pessoa neste mundo que não teria me
criticado pelo meu episódio.
Mas, em minha defesa, nunca senti tanto medo quanto quando vi o
que havia feito com ela. Inferno, eu nunca senti medo antes em absoluto.
Eu estava pronto para pedir a ela para me tirar da minha miséria. Eu
tinha medo de fazer mais. De matá-la... Porque um mundo sem Sisi não é
um mundo em que quero viver.

— Você está certa, — respiro fundo, finalmente pronto para enfrentar


meus demônios. — Eu vou. Porque acho que a amo, — admito, meus
lábios tremendo ao pronunciar a palavra amor.

As deduções de Vanya são perfeitamente lógicas. Eu não teria reagido


assim se não tivesse amado ela. Inferno, eu me orgulho do meu egoísmo,
mas com ela eu tinha sido incomumente não egoísta. Talvez não seja o
amor que as pessoas comuns sentem, mas é a coisa mais próxima que eu
posso sentir. E eu aceito. Porque então eu posso ter algo a oferecer a ela.

Algo diferente de destruição.

— Finalmente!— Vanya revira os olhos. — Meu irmão idiota, você tem


trabalho em dobro.

— Eu não sei disso?— Eu murmuro.

Uma coisa é certa. Quando alguém está desesperado, recorre a


medidas desesperadas.
Eu pensei que ir a um psiquiatra tinha sido o auge da loucura, dadas
minhas próprias crenças bastante resolutas em relação à sua validade
científica.

Mas o que estou prestes a fazer agora desafia todas as leis da lógica.

Eu assisto como o avião mergulha em direção à pista de pouso


improvisada, já vendo a vasta extensão de floresta se estendendo por toda
a linha do horizonte.

Um dos meus contatos do Peru, Joaquin, está me esperando quando


pousar, o itinerário pronto para esta última tentativa de recuperar minha
sanidade.

— É bom ver você, Vlad, — acrescenta ele com desdém quando coloco
minha bagagem no carrinho de espera.
— Joaquin, querido, se alguém te ouvisse, pensaria que não está feliz
em me ver. — Eu brinco, mesmo sabendo que nosso conhecido está
sobrecarregado, na melhor das hipóteses. Ainda assim, ele me devia um
favor e estou cobrando.

— Não posso dizer que esperava vê-lo aqui, Vlad. Mais uma vez, —
ele murmura, — não depois que você quase causou uma guerra civil.

— Que eu parei também. — Eu sorrio.

Desde que assumi a Bratva, também continuei com seu passatempo


favorito — drogas. Quero dizer é um negócio lucrativo e, ao longo dos anos,
enfileirava meus bolsos com ouro, mas também é uma bagunça. Eu
continuei as associações comerciais de meu pai com certas organizações da
América do Sul e o Peru provou ser a melhor opção para fornecer recursos
às folhas de coca e transformá-las em uma favorita das pessoas — e não
coca-cola, infelizmente.

Essa área, em particular, não havia visto muita concorrência de


cartéis ou outras organizações, então eu concentrei meus recursos aqui.

Bem, no momento em que eu estava de olho neste lugar, outras


pessoas também. E uma pequena guerra começou na região. Enquanto eu
não posso dizer que eu realmente causei o conflito, eu definitivamente o
esmaguei quando matei todas aquelas almas corajosas, prontas para pegar
uma arma e ir contra mim.
— Você fez os arranjos?— Eu pergunto a ele enquanto vamos para o
jipe.

— Depois da bagunça que você causou aqui, não posso dizer que há
muitas pessoas dispostas a trabalhar com você, — ele suspira. — Quase
todo mundo já sabe o seu nome ou pelo menos já ouviu falar de el Supay14.

— Eu não sabia que ganhei tanta reputação.

— La gente habla Vlad. Os rumores de seu abate viajaram por toda a


região. Eu não ficaria surpreso se as pessoas do outro lado do país
falassem el Supay com suscuchillos.

Sentado no carro, empurro meus óculos de sol pelo nariz. O calor é


quase insuportável para alguém acostumado aos invernos de Nova York, e
estou tendo dificuldade em me concentrar nas divagações de Joaquin.

— Suponho que se espere que algo incomum faça a conversa


supersticiosa. — Eu permito, sabendo que não tinha causado uma boa
impressão aqui.

— Incomum?— Joaquin zomba, — eles chama você de el demonio


Vlad. Para eles, você é o epítome do mal. Nenhum xamã vai querer
trabalhar com você, — diz ele resolutamente.

14 O diabo
— E sinto falta de banir el demonio de mi. Duvido que não haja um
xamã em toda a bacia amazônica que não seja remotamente curioso sobre
mim. — Eu atiro de volta, um pouco confiante demais. Afinal, eu tinha
uma ideia de que minha reputação poderia ser um impedimento. Ainda
assim, essas pessoas se orgulham de seu poder espiritual, e não seria
realmente grandioso se pudessem derrotar o próprio diabo?

— Eu disse que é difícil. Não é impossível. Há um... — ele segue.

— Ótimo, lá vamos nós. — Eu exclamo, pronto para conhecer essa


pessoa e acabar com ela.

Não tenho necessariamente certeza de que algo funcione neste


momento, mas não posso dizer isso até que tentei absolutamente tudo. É
uma promessa que fiz para mim mesmo. Se eu quero ser digno de Sisi,
preciso fazer tudo ao meu alcance para salvar a mim mesmo.

— Um pequeno problema, — Joaquin tosse com o punho, parecendo


um pouco culpado.

— O que?

— Ele não é... normal, — diz timidamente.

— Maravilhoso, já que eu também não sou normal.


— Não é isso. É só isso... ele é um recluso e raramente realiza
cerimônias para pessoas de fora, — continua ele.

— Então vamos para outro, — eu quase reviro os olhos para ele. Ele
não vê que estou com pressa. Quanto mais rápido vejo esse xamã e tenho
meus problemas sob controle, mais rápido posso ter Sisi de volta em meus
braços.

— Vlad, — ele suspira, exasperado. — Não há outro. Eu te disse.


Ninguém quer trabalhar com você. Todos creen que eres lleno de energia
negativa. Nadie quiere trabajar contigo. Ni si quera quieren acercarce a ti.
O viejo é o uniqo que Queda15,— ele fala rápido, e eu tenho que me forçar a
acompanhar o espanhol dele.

— Bem. O que preciso fazer para convencer el viejo para me aceitar?

— Ele vai decidir quando te ver. Ele é... — Joaquin balança a cabeça.
— Ele pode ser um recluso, mas é porque ele é muito poderoso. Ele vê o
que os outros não vêem e é muito esmagador para ele.

— Vamos lá, então. Eu te disse ao telefone. Estou com pressa.

— Estas cosas no se apuran Vlad, — ele repreende,— El viejo lhe


dirá mais e ele decidirá se você deve ou não aceitar. — O tom dele me diz

15 Todos acreditam que a última língua da energia negativa. Ninguém quer trabalhar contigo. Ninguém
quer conhecê-lo. O velho é o único restante.
que discutir seria em vão. Então eu apenas aceno com a cabeça e
continuamos no hotel.

Uma muda de roupa, uma mochila bem cheia de recursos suficientes


por alguns dias, estamos prontos para começar a viagem na manhã
seguinte.

Enquanto isso, acho fatos mais intrigantes sobre esse xamã que todo
mundo chama el viejo. Um dos xamãs mais poderosos do Peru, ele é um
dos poucos que se acredita serem capazes de ver as dimensões humana e
espiritual.

É claro que eu tento o máximo para não bufar toda vez que Joaquin
começa a jorrar sobre suas proezas.

— Ele verá através do seu ceticismo, — ele me diz quando começamos


nossa jornada.

— Você de todas as pessoas deve saber que não estou fazendo isso
porque eu crer nele. É simplesmente o meu último recurso.

— Então podemos estar fazendo essa jornada em vão. El viejo saberá.


E esse tratamento é apenas para aqueles que sentem o chamado, —
resmunga, claramente impressionado com a minha falta de entendimento
de sua tradição.
— Você sabe que não quero desrespeitar, Joaquin, — falo com ele em
um tom lúdico, — mas sou um homem de ciência. Certamente você pode
ver como essas alegações parecem do meu lado.

— E ainda assim você está aqui, procurando se beneficiar dessas


alegações.

— Julgamento e erro, nada mais, — sorrio, — estou apenas testando


a validade, mesmo que a ciência por trás dela seja frágil, na melhor das
hipóteses.

— Há agentes químicos nessas plantas que demonstraram ajudar com


distúrbios do domínio psiquiátrico, — responde ele.

— Eu concordo. Mas há uma grande diferença entre alguns benefícios


e momentos de mudança de vida, como alguns professam.

— Então você terá que ver, — ele encolhe os ombros, — e julgue por
si mesmo se isso mudará a vida ou não.

A partir de Manu, temos que nos aventurar no caminho batido nas


profundezas da floresta tropical. Segundo Joaquin, a morada de el viejo
fica em algum lugar perto da fronteira com o Brasil.

A jornada deve levar alguns dias com algumas paradas no meio.


A umidade do ar dificulta a respiração, o calor direto do sol mexendo
com meus sentidos. Joaquin está acostumado com o clima e se
aventurando na floresta tropical, então para ele é fácil.

Andamos por quase dez horas, e Joaquin se torna cada vez mais bem-
humorado quando começa a interagir com a vida selvagem, contando
histórias e fatos sobre cada animal.

Eu o escolhi bem.

Como esperado, como ex-guarda florestal, ele está muito familiarizado


com a área e com os perigos.

Quando o sol se põe, finalmente fazemos uma pausa, acampando ao


lado de uma enorme árvore kapok.

— Por que agora?— Joaquin pergunta enquanto nos sentamos em


torno de uma pequena fogueira, assando um pouco de carne que
trouxemos. — Conheço você há anos, Vlad, e nunca deu nenhuma
indicação de que gostaria de mudar.

— Diferentes circunstâncias, — eu encolho os ombros.

Joaquin foi o primeiro a sugerir procurar um xamã para meus


problemas, citando uma desconexão entre meu coração e minha psique
como a principal razão dos meus ataques. Eu discordaria, afinal meu
coração é apenas um órgão que bombeia sangue. Nada mais, nada menos.
Sim, isso me mantém vivo, mas não dita mais nada.

Eu posso estar errado, no entanto.

Eu nunca tinha entendido antes o significado de dor no coração, ou


desgosto, ou qualquer coisa relacionada ao coração. Por que um órgão
perfeitamente saudável doeria? Biologicamente, a única explicação seria
um ataque cardíaco ou uma espécie de doença cardíaca.

Mas agora...

Fecho os olhos e vejo Sisi, todo o seu corpo coberto de hematomas e


marcas de mordida, sangue escorrendo de suas feridas. Ela parecia
espancada e prestes a desmaiar.

E pela primeira vez meu coração doeu.

Como uma fissura começando lentamente de uma extremidade e


alcançando a outra, senti um raio atravessar aquele órgão que somente
deveria bombear sangue. Meu peito de repente se sentiu pesado e tive
dificuldade em respirar.

Dor no coração.

Levei três décadas para aprender o que é coração partido.


E dói!

Considerando que meus receptores de dor são noventa por cento


abafados, essa dor ressoou em todo o meu corpo. Como eu não sucumbi sob
seu peso, eu não sei.

— O que poderia ter mudado para o poderoso Supay pedir ajuda?—


ele brinca.

— Pare de me chamar assim. Não sou demônio, — atiro de volta, um


sorriso no rosto.

— Descutivel, — ele encolhe os ombros. — Você ainda não respondeu


minha pergunta.

— Finalmente encontrei algo para viver, — digo, evitando mais


perguntas sobre o assunto.

Na noite em que tento não me importar com os mosquitos enquanto


eles continuam me atacando. Vanya ficou quieta o dia todo, quase como se
estivesse animada e apreensiva ao mesmo tempo.

— E se eu desaparecer?— ela pergunta, com a cabeça nas mãos


enquanto me olha nos olhos de sua pequena cama improvisada na minha
frente.
— Você não estava reclamando com Sisi, — sussurrei, já que ela
nunca disse nada sobre como a presença de Sisi parecia minar a sua.

— Mas pelo menos eu sabia que você a tinha. Agora... — ela segue,
parecendo cansada e exausta.

— Vá dormir, cara!— A voz de Joaquin soa e eu suspiro, vendo a


forma de Vanya se encaixar no chão, como poeira fina, os olhos fechados, o
corpo desaparecido em segundos.

E finalmente consigo dormir.

Os próximos dias são passados percorrendo a selva e evitando


encontros próximos com alguns animais perigosos.

— Devemos chegar lá ao pôr do sol, — menciona Joaquin quando


paramos para um lanche.

Não acostumado com muito sol, estou ficando mais cansado do que o
habitual, então essa notícia é música para meus ouvidos.

— Perfeito, — respondo, colocando um pedaço de fruta na minha


boca.

Do nada, um pequeno macaco pula no meu ombro, com as mãos


minúsculas pegando a comida. Seu pêlo avermelhado marrom brilha na
luz, sua enorme cauda pairando sobre minhas costas enquanto rouba
minha comida.

— Macaco do Titi, — aponta Joaquin, sorrindo para as travessuras do


macaco. — O companheiro não deve estar longe, — diz ele e, na hora
certa, outro macaco aparece, carregando seus filhotes nas costas.

— Tão fofo, — Vanya jorra, tentando acenar com a mão para o


macaco que atualmente reside nas minhas costas.

Joaquin assente. — Eles são uma das poucas espécies de macacos que
são monogâmicos, — explica ele, detalhando a população de macacos do
Peru.

— Vlad, olhe!— Vanya grita quando o macaco pula das minhas costas,
seguindo suacompanheira enquanto eles tomam seu lugar em uma árvore.
Suas caudas estão penduradas, movendo-se lentamente uma para a outra
até ficarem entrelaçadas.

— É chamado de geminação de cauda, — observa Joaquin, e Vanya


não consegue parar de correr, maravilhada com a fofura dos macacos. — É
um gesto afetuoso para eles, — explica ele, com os olhos de Vanya se
esvaindo.

— É um sinal, Vlad! É um sinal, — ela volta correndo para mim, com


os braços segurando-me firmemente. — É um sinal, — continua ela, quase
sem fôlego.
— Que sinal?— Eu pergunto, ignorando o olhar estranho de Joaquin.

Ela abre a boca para falar, mas nada sai. Em um piscar de olhos, ela
se foi, um grito incomum soando na floresta.

— Merda!— Joaquin amaldiçoa. — Precisamos nos mexer, — ele


começa a arrumar suas coisas, pedindo que eu faça o mesmo.

— Por quê?— Eu franzi a testa, confuso com a pressa.

— Precisamos alcançar el viejo antes do pôr do sol, — diz ele


misteriosamente.

Arrumando minhas próprias coisas, coloco a mochila nos meus ombros


e o sigo.

De fato, chegamos ao local proposto, assim que o sol deixa o céu.


Algumas cabines conectadas no meio do nada—as habitações do el viejo
não são nada demais — não que eu esperasse muito, de qualquer maneira.

Um passo para o recinto, e um homem de túnica longa sai de uma das


cabines, com os olhos estreitados quando ele nos observa.

— Abuelo, — Joaquin se dirige a ele, abaixando a cabeça em um sinal


de respeito.
O homem mal presta atenção ao seguir em frente, seus movimentos
são rápidos para alguém da sua idade.

Parando na minha frente, ele levanta a cabeça para me olhar nos


olhos.

— Te estaba esperando, — ele afirma, me olhando de cima a baixo


antes de fechar os olhos e respirar o ar ao redor.

Movendo-se em círculo, ele começa a cantar algo, sua voz baixa.

— Marchese, por marcharse adelante, — ele entoa, o vento uivando


fortemente como se estivesse reagindo à sua voz.

— Venha, — ele finalmente nos diz, nos convidando para sua casa.

— O que você está procurando aqui, estranho?— El viejo se vira para


mim e, por um momento, sinto que seus olhos podem ver através de mim.

— O que todo mundo procura, — sorrio, — para ter minha


curiosidade atenuada.

— Ah, um não crente. Entendo, — ele assente para si mesmo.

— Eu disse a ele que não seria bem recebido porque não acredita, —
interpõe Joaquin.
— Ele ainda não acredita que está aqui. Sempre há uma razão, — diz
ele, movendo-se pelo pequeno espaço e oferecendo-nos um chá acabado de
fazer.

— Diga-me, estranho. O que te atormenta?

Ele nos senta no chão, estabelecendo-se ao nosso lado e completando


um círculo de três.

— Eu tenho alguns episódios, — começo timidamente, recontando


lentamente meu problema. Posso não acreditar nisso, mas a mera
possibilidade de que funcione, se for apenas um acaso, me empurra para
frente.

Eu preciso dela.

Sisi é meu único impulso para avançar, mesmo quando todo o processo
é tão contrário às minhas crenças centrais.

— Entendo,— el viejo responde, estudando-me, seus olhos astutos


absorvendo tudo.

— Você está desesperado, — ele continua, e Joaquin ri.

— O mero fato de ele estar aqui significa que está mais do que
desesperado. Você já ouviu falar dele Abuelo, el Supay.
El viejo não responde, ainda olhando para mim.

— Você domina a morte, quando a vida está bem na sua frente, — diz
ele em voz baixa. — Eu vou ajudá-lo, estranho. Mas não porque você
merece, — ele me prende com seu olhar. — Pois você sabe que não.

Eu aceno com as palavras dele, o mero fato de que eu colocaria minha


mão em Sisi, tornando-me o filho da puta menos digno que já existiu.

— Mas porque alguém merece. E através de você, eles conseguirão o


que merecem, — continua ele misterioso, e eu franzo a testa.

— Não, — ele levanta a mão quando estou prestes a falar. —


Podemos ter acabado de nos conhecer, estranho, mas eu te conheço. — Ele
faz uma pausa, o ar girando, tensão aumentando. — Você que não professa
deus nem religião, mas toma a ciência como seu credo. Mas agora não há
ciência e aqui está você. — Suas palavras empolgadas, suas frases são
misteriosas na melhor das hipóteses, enquanto ele continua a descobrir
toda a minha identidade.

— Eu conheço o seu problema, — a mão dele aparece para tocar


minha testa. — Está aqui e, — a mão se move mais baixo até que paira
sobre o meu coração. — Sua cabeça governa tudo, seu coração seis pés
abaixo. Você não pode entender quando nunca tentou ouvir.

— Meus episódios devem estar enraizados nas minhas memórias


ausentes, — falo, olhando-o bem nos olhos. — E isso é apenas uma parte
disso, — digo quando aponto para o meu cérebro. — Está com defeito, e
ouvi dizer que suas poções podem ajudar com isso.

El viejo me olha por um segundo antes de começar a rir.

— Estranho, — ele sorri, — seu problema não é uma mente


defeituosa. Você não pode dizer a um cachorro para correr enquanto
segura a coleira, — ele responde, novamente suas palavras
aleatoriamente indiretas. — Deixe ir, e tudo vai acompanhá-lo, — diz ele,
levantando-se.

— Vá dormir. Todos vocês. Amanhã começaremos, — ele nem nos


poupa um olhar quando sai da cabana.

— Ele piscou para mim, — Vanya se aproxima com um sussurro


vertiginoso no meu ouvido. Eu apenas reviro meus olhos para ela.

Mas quando estou adormecendo, não posso deixar de continuar


contemplando suas palavras, a emoção fervendo dentro de mim, apesar da
maneira como meu cérebro lógico está tentando travar isso.

No dia seguinte, copo na minha mão, encontro el viejo olhando para


mim com expectativa, então eu apenas bebo. Passamos o dia inteiro em
preparação para este momento, o consumo da ayahuasca. El viejo falara a
maior parte do dia, tentando me empurrar além de meus próprios
preceitos e preconceitos e abraçar o desconhecido.
Infelizmente, suas palavras foram para ouvidos cegos. E enquanto
espero que a bebida entre em vigor, percebo que não está funcionando.
Nem uma hora depois, nem cinco. Nem mesmo no dia seguinte.

— Você não está pronto para a ayahuasca, estranho, e ela não


considera ajudá-lo se você não puder se ajudar.

— O que você quer dizer?— Eu franzi a testa.

— Aqui, — ele empurra o dedo em direção ao meu peito. — Você está


segurando tão firmemente seu controle, sua mente, tudo. Você precisa
deixar para lá, — diz ele em branco.

— Não posso, — respondo honestamente. Desisto do controle quando


perco a cabeça nos meus episódios, não vou deixar isso acontecer enquanto
estiver no controle... enquanto eu posso.

— Mas veja, isso é apenas o seu problema. Você segura tudo com
tanta força. As coisas querem sair e fazem da única maneira que podem.
Eles procuram rachaduras e, quando encontram, emboscam para sair.
Seus episódios são apenas uma representação daquilo que você não quer
deixar, — ele me diz, suas palavras me impressionam.

Porque eu não quero que as coisas saiam.


— Como?— as palavras estão fora da minha boca antes que eu possa
me parar. Como eu poderia fazer isso quando eu sabia que quando eu abrir
os portões, o inferno cairá.

— Devagar, — ele resmunga, me dizendo para segui-lo.

Quase dois meses depois, dias cheios de trabalho duro e meditação, e


el viejo finalmente me considera pronto para tentar a ayahuasca
novamente.

Pela primeira vez, eu deixava meus próprios preconceitos de lado e


permitia que ele me guiasse, de me dizer o que eu deveria reunir da selva,
a construir coisas com minhas próprias mãos e, finalmente, a deixar
minha mente em branco e me deixar ir, mesmo que por um minuto.

Começamos devagar, e ele tentou atingir a raiva que tenho dentro de


mim. Exercícios de respiração além das sessões diárias de meditações
parecem ter feito maravilhas ao meu humor e, pela primeira vez, estou
otimista com o futuro.

Joaquin também ficou bastante chocado com o esforço que eu fiz. Ele
me deixou aqui depois de alguns dias e só voltou recentemente, curioso
sobre o meu progresso.

— Você fez muito neste curto espaço de tempo, estranho, — el viejo


me diz, me entregando minha xícara de cerveja recém-fabricada com
ayahuasca.

No tempo em que estive aqui, também tive a oportunidade de


aprender mais sobre a flora e fauna da região, e especialmente o que torna
essas plantas tão procuradas. El viejo me contou sobre seus ancestrais e
como eles usaram essas plantas para se comunicar com o além.

Embora de repente não tenha me tornado crente, certamente comecei


a ouvir e analisar as coisas na perspectiva deles, tais como cultura,
geografia e topografia sobre como essas plantas são percebidas e por que
algumas são veneradas.

Trago a xícara para os lábios, provando o líquido amargo e dando um


pequeno agradecimento à mãe natureza por tudo o que ela me deu nas
últimas semanas. Fechando os olhos, vou relaxar, sabendo que desta vez
funcionará.
— Eu estou aqui, estranho. Deixe a ayahuasca guiá-lo em sua
jornada, — ouvi a voz do el viejo dizer quando a escuridão das minhas
pálpebras fechadas começa a mudar para cores e formas, todo o espaço
mudando comigo até que me sinto encolhendo no tamanho de uma
partícula.

Minha respiração aprofundou, sinto meu coração batendo forte no


peito, minhas veias trabalhando duro para bombear meu sangue. É como
se todo som fosse ampliado, ou talvez na minha pequena estatura eu esteja
mais perto desses sons.

Eu sinto... tudo. Eu ouço o zumbido das abelhas, grilos e todas as


outras criaturas rastejando nesta terra. Abro os olhos e quase consigo
tocar as partículas de luz, tão finas e separadas no éter enquanto
cumprimentam meu ser.

Eu sou ou não sou?

Eu nem sei o que sou... ou quem eu sou, quando me deixo cair e me


torno um com a natureza. Toda a minha história desaparece quando eu
absorvo a vastidão do mar, o medo está totalmente ausente quando me
deixo levar pelas ondas, nem mesmo me importando que elas possam
afogar meu pequeno eu.

A água inunda meus sentidos, até que eu volte à praia novamente.


Olho em volta e não há alma nas proximidades, a extensão da terra
infinita pelo que meus olhos podem suportar.

Eu ando por aí pelo que parece uma eternidade antes de encontrar


outra coisa.

Um coelho.

Um pequeno coelho branco pula em minha direção, parando quando


ele está a alguns passos de distância. Seus olhos estão vermelhos enquanto
ele olha para mim.

Pisca. Então corre.

Não sei por que, mas sigo, correndo atrás da pequena criatura até
bater em uma parede de tijolos, meu corpo inteiro se recuperando do
impacto.

— O que... — Eu sussurro, levantando a cabeça para considerar a


parede iminente. Mesmo olhando para o céu, não consigo encontrar seu
ponto final.

— Aqui, — ouço uma voz me chamando, e sem nem pensar em seguir.


A voz fica cada vez mais alta, até que eu me encontro em outra sala, desta
vez cheia de crianças.
Estou no meio da multidão quando dezenas de crianças pululam ao
meu redor, todas gritando, gritando e protestando contra alguma coisa.

De repente, elas viram seus olhos para mim, percebendo minha


presença pela primeira vez. Suas feições se enfurecem e gritam antes de
me perseguir.

Eu nem sei como as evito. Eu apenas corro, corro e corro. Meus pés me
levam a lugares que não devo acessar. Meu corpo reage primeiro e depois
minha mente segue.

Observo como, sob meus olhos, o fundo muda novamente, paredes


erguendo-se ao meu redor, máquinas de aço aparecendo por toda parte.

— É isso, meu pequeno milagre, — ouço alguém dizer, com a


respiração ao lado do meu ouvido. — A aorta é a maior artéria do corpo.
Você aprendeu bem sua lição, — elogia, colocando uma bandeja de prata
com diferentes instrumentos à minha frente.

— Vamos ver como você o coloca em prática também. Dissecar a aorta


do começo ao fim e você poderá ganhar um prêmio.

Eu aceno, agarrando os instrumentos que eu conheço pelo nome


agora. Cada passo, todo termo técnico, está incorporado em minha mente
quando começo a dissecção, cortando carne viva, os gritos do meu
pensamento ensurdecendo, mas tão familiares que nem me importo com
eles.
Estou inteiramente focado em agradar o homem que está olhando
atrás de mim, sabendo que, se o fizer, a recompensa será realmente boa —
e não apenas para mim.

Trago o bisturi para baixo no peito, removendo toda a pele e carne do


osso, cortando músculos até que o esterno seja visível. Então, mudo para
diferentes instrumentos para abrir a cavidade torácica para ter acesso ao
coração.

O sangue sai em jatos, minha técnica é nova e impraticável. Mas não


me importo, pois meu único objetivo é acabar com isso e arrumar para
minha irmã um novo conjunto de roupas.

Irmã.

De onde veio esse pensamento?

Eu tenho uma irmã?

Levanto a cabeça da carcaça aberta na minha frente e vejo ela.

Ela é pequena, tão terrivelmente pequena quando segura o coelho que


eu persegui anteriormente. Ela me nota olhando para ela e se vira para
mim lentamente, me dando um sorriso deslumbrante.

— Você voltou, irmão, — ela sussurra, o calor escorrendo de seu tom.


— V... — Eu começo, o nome ficou preso na minha língua.

Um leve tremor atravessa meu entorno, o prédio em que estou começa


a tremer, as paredes desmoronando.

— V!— Grito com ela, estendendo minha mãopara levá-la em


segurança. Mas ela apenas balança a cabeça, os braços apertando o coelho.

Toda a estrutura entra em colapso e, no entanto, nenhum dos detritos


me toca.

Eu pisco e as ondas começam a colidir comigo, a água tão vermelha


que você pensaria que era sangue.

— Corra. — Eu ouço a voz de Vanya na minha cabeça, assim como as


ondas me seguindo. Um olhar para trás e como um tsunami, as ondas
estão se tornando cada vez mais altas.

Abro a boca para responder a ela, mas tudo acontece de uma vez. A
água me engole inteiro, inundando meus sentidos. Gosto da pitada
metálica de sangue na boca e, ao tentar o meu melhor para lutar contra,
não posso fazer nada quando começo a engasgar com ela.

— Você não deveria ter vindo aqui, irmão, — minha irmã me diz
quando ela lentamente vem em minha direção. Ainda estou tossindo
sangue, o cenário mudou novamente.
Uma sala branca estéril, desprovida de qualquer coisa, menos eu e
Vanya.

— V?— Eu pergunto, minha voz esfarrapada.

— Você deveria ter ficado para trás. Você sobreviveu, afinal, e a vida
não é o melhor presente de todos?— ela pergunta, agachada na minha
frente.

— V... o que está acontecendo?

— Há uma razão pela qual você não consegue se lembrar, Vlad. Era a
única maneira de continuar vivendo, — ela me diz, sua voz triste e
arrependida.

— Eu não entendo.

— Não entende? Estamos juntos desde o nascimento. Eu te conheço


melhor, — ela me olha, — meu irmão gêmeo, minha própria carne. Meu
protetor. Mas o que aconteceu conosco lá... — ela respira fundo. — Você
não será o mesmo se lembrar, Vlad. — A voz dela é gentil quando a sua
mão cobre a minha.

— Eu preciso. Eu preciso encontrar Miles e fazê-lo pagar e... — Eu


deixo escapar.
— Eu sei o que você quer, irmão. Seus segredos nunca foram ocultos.
Você quer ser digno do amor dela, — ela suspira, levantando-se e andando
pela sala. — Mas temo que você não consiga lidar com as memórias.

— Eu posso, — respondo, minha voz resoluta. — Eu posso, — repito


com ainda mais confiança.

— Talvez você esteja pronto... talvez você finalmente tenha crescido,


— ela sussurra, quase para si mesma.

Plantando-se na minha frente, ela materializa uma faca, entregando-a


para mim.

— Então faça. Termine a única coisa que fica entre você e o passado,
— ela instrui enquanto fecha minha mão sobre o punho da faca.

— O que... o que você quer dizer?— Eu engasgo, meus olhos


arregalados.

— Eu fiquei ao seu lado todos esses anos, irmão. Eu cuidei de você,


dirigindo você na direção que eu pensava ser a direção certa. Mas vejo que
falhei, — ela vira a cabeça para o lado, uma lágrima solitária caindo. —
Eu deixei você me usar como um amortecedor, então você nunca teve que
enfrentar o que realmente aconteceu. Mas não mais, — ela balança a
cabeça, limpando os olhos.

— V... Eu não entendo.


— Você precisa me deixar pra lá, Vlad. Deixe-me voltar para onde eu
pertenço, para que você também possa retornar aonde pertence.

Ela orienta a faca com a ponta em direção ao coração, empurrando-a


levemente.

— Não... não... Não posso, — de repente digo, a perspectiva de nunca


mais vê-la assustadora demais para contemplar.

— Ela estará lá para você, irmão. Apoie-se nela como você se apoia em
mim. Ainda mais, — ela sorri tristemente. — Mas para isso você tem que
deixá-la entrar. Sem mais segredos, sem mais omissões, — ela faz uma
pausa. — Diga a ela sobre mim, — ela empurra a faca um pouco mais
fundo.

— Não, V. eu não posso fazer isso. Você é... — Eu deixo escpar,


lágrimas nos meus olhos.

— Eu sou parte de você, Vlad. Eu sempre fui. Mas eu também sou...


mais, — a boca dela franze, — e você precisa me deixar ir.

— V... — Eu balanço minha cabeça, meu coração batendo alto no meu


peito.

— Você suprimiu tudo, irmão. Mas está tudo aqui, — ela toca o dedo
na minha cabeça. — Você só precisa deixar tudo voltar.
— Isso ajudará os episódios?— Eu pergunto, com vergonha de
contemplar isso.

— Episódios, — Vanya ri e eu franzo a testa. — Receio que a culpa


seja minha. Eu tentei tanto selar a fenda em sua mente... banir todas as
más lembranças, que eu não esperava que elas me revidassem. Eles devem
diminuir quando eu partir, assim como suas memórias devem voltar
lentamente.

— Você quer dizer... — Eu pisco desorientado, suas palavras


estranhas e ainda fazendo sentido.

— Eu sou seu escudo há muito tempo, Vlad. Estou cansada. Por favor,
deixe-me ir, — ela sussurra, empurrando a faca ainda mais fundo.

— V...

— Por favor, irmão. — Ela vira os olhos para mim, aquelas íris negras
tão parecidas com as minhas, e eu percebo que tenho uma escolha a fazer.

— Obrigado, V. Por me fazer companhia por tanto tempo. E me


desculpe, — sussurro, finalmente empurrando a faca em seu coração.

Um sorriso triste aparece em seu rosto e, quando ela fecha os olhos,


sua forma se dissipa no ar.

E pela primeira vez, eu sei que é para sempre.


— Adeus, irmã. Eu te amo. — Eu sussurro, fechando meus olhos.

A próxima vez que abro meus olhos, volto para a cabana el viejo
sentado ao meu lado meditando.

— Você voltou, — diz ele sem olhar para mim.

— Eu... — Eu respondo, meus olhos vagando pela sala, procurando


por ela.

Levantando-me rapidamente, eu saio para fora, ainda a procurando


com meus olhos.

— Ela se foi, estranho, — el viejo diz. — Foi para o melhor.

— Como... — Estou prestes a perguntar como ele sabe sobre ela em


primeiro lugar, mas um olhar para sua expressão secreta e percebo que
algumas coisas não são destinadas a serem entendidas.

— Ela disse que os episódios diminuirão com o tempo, — explico o


que Vanya havia me dito e el viejo assente como se tivesse certeza do
resultado desde o início.

— Você precisa enfrentar o gatilho principal. Sangue. Provavelmente,


é uma das coisas que fez você bloquear suas memórias, mas também o que
as trará de volta, — afirma ele, analisando algumas coisas que podem me
ajudar.
— Obrigado, — digo-lhe honestamente, meu ceticismo desapareceu
pela primeira vez.

Há uma leveza dentro de mim que não estava lá antes, como se eu


pudesse abrir asas inexistentes e voar.

— Não me agradeça ainda, estranho. Ainda há muito trabalho a ser


feito, — diz ele, revisando outro plano de meditações e tratamentos com a
ayahuasca. — Isso deve acelerar o retorno da sua memória.

Eu aceno, pronto para seguir todas as suas instruções.

Alguns dias depois, volto a Manu para me encontrar com Joaquin e


obter alguns recursos da vila quando meu telefone toca pela primeira vez
em meses.

— Ora, olá, velho amigo, — eu brinco quando vejo que é Marcello.

— Uau, você finalmente se digna a atender o telefone, — diz ele com


desdém. — Eu tenho tentado entrar em contato com você há semanas.

— Bem, aqui estou eu. E aí?

— Eu queria agradecer sua ajuda com Nicolo. E com tudo, — ele


respira fundo e, pela primeira vez, fico surpreso com algo que Marcello
disse.
— De nada.

Ele tosse um pouco. — Como uma oferta de paz, tenho tentado entrar
em contato com você para convidá-lo para o casamento. Mas você está
desaparecido há tanto tempo que já é amanhã, — ele ri.

— Que casamento?

Ele está renovando seus votos com Catalina? De alguma forma isso é
doce.

— Minha irmã, Assis, vai se casar com um dos filhos de Benedicto, —


começa ele, mas paro de ouvir depois de ouvir o nome de Sisi. Meu corpo
inteiro fica mole e acho difícil respirar.

— O que você disse?— Eu pergunto bruscamente.

— Ela teve a pior sorte, — suspira Marcello. — Ela percebeu que


estava grávida no início do mês passado, então tentamos promover o
casamento para que não houvesse um escândalo, — continua ele, mas eu
ajusto tudo.

Meu telefone cai da minha mão, meus pés mal me seguram na posição
vertical.

Sisi. Casamento. Grávida.


Trago meu punho ao peito, dando um soco o máximo que posso,
sentindo um ataque cardíaco.

Eu queria fazer a coisa certa pela primeira vez. Tornar-me um homem


digno para ela. Mas parece que eu sou o vilão de qualquer maneira, porque
não há nada no inferno ou qualquer dimensão infernal que me impeça de
pegá-la de volta.

Mesmo que ela me odeie ainda mais.

Meu sangue está batendo nas minhas veias e me sinto escorregando


novamente.

Porra, mas apenas o pensamento dela com outro homem é suficiente


para me fazer querer arrasar a vila ao chão.

Eu preciso me controlar.

Eu sei que se eu me deixar ir, se eu ceder a essa raiva assassina


dentro de mim, nunca chegarei a tempo para esse maldito casamento.

E eu vou perdê-la para sempre.

— Onde você está, V? Eu preciso de você, — sussurro e, pela primeira


vez, nada responde.
Mesmo quando luto comigo mesmo pelo controle do meu corpo, uma
coisa é certa. Nada é mais importante que Sisi.

E para ela, eu vou prevalecer.


CAPÍTULO VINTE E UM

— Você entendeu?— Eu conduzo Raf para dentro de casa, já inquieto


com ansiedade.

Como Marcello está em sua fonodióloga hoje, convidei Raf para vir,
pedindo-lhe um grande favor.

Corando profundamente, ele assente devagar, me entregando a bolsa.

— Deus, você é um amor, — dou-lhe um grande abraço antes de


pegar a sacola para encontrar o pacote.

— Você tem certeza?— Ele pergunta para mim, mas o arrasto para o
meu quarto.
— Eu não sei, Raf. Eu tenho lido na internet sobre os sintomas e eles
se encaixam. Além disso, — acrescento, abaixando a cabeça, — não é
totalmente improvável. Ele fez... — Eu paro quando o vejo corar ainda
mais. — Não importa agora. Vamos ver o que o teste diz: — Eu declaro.

Eu desempacotei o teste com movimentos apressados, quase com medo


de descobrir.

Há algumas semanas que estou me sentindo mal. Fraqueza e náusea


pela manhã e apenas um estado geral de cansaço inexplicável. Tudo
desabou quando percebi que meu período estava atrasado.

Nunca atrasava.

Desde que eu tive meu período pela primeira vez, sempre chegou na
hora certa, então eu sabia quando esperar. Quando o dia chegou e passou e
ainda não havia menstruação, comecei a ficar preocupada. E então eu fui
para a internet.

Grávida.

A possibilidade de engravidar nem passou pela minha cabeça. Depois


que Maxim me deixou em casa aquele dia, eu tinha acabado de desligar.
Mentalmente e fisicamente.

Meu corpo tomou o peso disso e eu passei uma semana na cama me


recuperando dos vários ferimentos que ele infligiu a mim. Dois deles até
cicatrizaram muito mal, o do meu pescoço e o do meu peito. Eu nem quero
saber o que aconteceu lá embaixo, porque foi torturante sentar, se
movimentar ou até ir ao banheiro nos primeiros dias.

Felizmente, com Marcello no hospital e Lina e Claudia desaparecidas,


eu não tive que explicar meu estado de tristeza a ninguém. Coloquei um
cachecol no pescoço e uma maquiagem para o benefício de Venezia, e ela
não percebeu que havia algo errado.

Lentamente, meu corpo começou a se curar, mas minha mente estava


atrasada. Não houve um momento em que eu não estivesse pensando nele
ou tentando entender por que fez isso comigo quando eu nunca deixaria
ele.

Independentemente do dano ao meu corpo, eu teria ficado com ele.


Porque eu sabia que não era ele. Eu sabia que ele não estava no controle.

Eu teria perdoado toda a dor que ele causou ao meu corpo. Mas o que
eu não poderia nunca perdoar é a dor que causou à minha alma.

Indesejada...

Dias a fio, tive pesadelos, suas palavras soando nos meus ouvidos,
seus insultos zombeteiros se incorporando tão profundamente na minha
cabeça que não consegui me livrar deles.
Ficou tão ruim que eu mal conseguia dormir, sabendo que se fechasse
os olhos, o veria zombando de mim.

E, no entanto, apesar de me quebrar de dentro para fora, ainda não


conseguia abalar o amor que tenho por ele.

Eu sou uma idiota.

Eu tinha tanta certeza de que, com o tempo, seria capaz de deixar


tudo para trás e enquanto ainda estou trabalhando em não amá-lo, o
problema em questão complica as coisas. Porque se estiver grávida, então
me encontrarei com um problema bastante permanente.

Respirando fundo, vou ao banheiro, seguindo as instruções da


embalagem e fazendo xixi no palito. Então, eu apenas espero.

— O que você vai fazer se estiver grávida?— Raf pergunta. Ele está
sentado na minha cama, me vendo andar como uma lunática.

— Não consigo pensar nisso por enquanto.— Minha voz é baixa e um


pouco trêmula.

— Sisi... — ele continua, e eu sei o que ele quer dizer. Isso não é algo a
ser levado com calma.

— Eu não sei, — admito. — Eu nunca pensei... — Eu nunca pensei


em ter filhos. Eu? Uma mãe? O que eu sei sobre ser mãe desde que nunca
tive uma? — Tem que haver uma solução, — digo, embora minha voz não
tenha confiança.

— Você sempre pode fazer um aborto, — observa Raf. — Eu poderia


ajudá-la, — continua ele, mas rapidamente balanço a cabeça.

— Não. Isso está fora de questão, — digo a ele. Elesabe que eu nunca
faria isso, dada a minha própria história por ter sido abandonada em
Sacre Coeur. Eu nunca faria de bom grado qualquer coisa para prejudicar
um filho meu.

— Eu sei, — ele suspira, — eu joguei na mesa só por precaução, —


ele me dá um sorriso triste.

O telefone toca para sinalizar que a espera acabou. Minhas mãos


estão suadas, meu corpo inteiro tremendo enquanto eu pego o teste.
Fechando os olhos, faço uma breve oração antes de abri-los.

Grávida.

— E?— Raf pergunta, e eu fungo um soluço, meus olhos já estão


úmidos de lágrimas. Eu entrego o teste a ele, e vou sentar na cama.

Com a cabeça nas mãos, massageei minhas têmporas, tentando aliviar


esse sentimento de destruição que se instala sobre mim.

Uma criança.
Meu Deus, mas como posso ter um filho? Há também Vlad e ele...
bem, ele não pode lidar com uma criança ainda mais. Ele é instável demais
para estar perto de uma.

Não que ele quisesse.

Por que há momentos em que esqueço que ele me jogou de lado? Eu


não signifiquei nada para ele? Em suas próprias palavras, ele estava
entediado e eu tinha sido apenas um experimento. Alguém para passar o
tempo.

— Sisi, — Raf senta-se ao meu lado, me levando em seus braços. —


Vai ficar tudo bem. Podemos pensar em algo, — ele sussurra no meu
cabelo.

Espasmos agarram meu corpo enquanto eu expulso tudo o que tenho


segurado dentro de mim.

— Marcello o matará. Ele vai me matar, ele vai... — Eu não consigo


nem formar palavras apropriadas. — O que eu sei sobre bebês?— Eu
clamo, meus pensamentos confusos na minha cabeça, todas as minhas
emoções vindo à superfície. — Não sei o que vou fazer, — digo
sinceramente a ele.

Estou tão fora de mim.


— Casar comigo, — diz ele de repente, e viro minha cabeça para trás,
meus olhos se arregalando com suas palavras.

— O que?

— Case comigo, Sisi, e ninguém terá que saber. Nossas famílias já


esperam que possamos nos tornar mais.

— Raf... — Eu balanço minha cabeça, sem palavras.

— Podemos não nos conhecer há muito tempo, mas você é minha


amiga mais querida e a única com quem me sinto seguro o suficiente para
compartilhar meu segredo. Talvez com o tempo... — ele segue.

— Eu não sei o que dizer, Raf. Isso é tão repentino. Muito repentino.

Eu nunca pensei em Raf como algo além de um amigo, e acho que


nunca vou vê-lo sob uma luz diferente.

Não depois dele.

— Isso resolveria os dois problemas. Meu pai quer que eu me case logo
de qualquer maneira, e eu poderia reivindicar seu bebê como meu, —
continua ele, me surpreendendo ainda mais.

— Raf... Obrigada, mas você sabe que não me sinto assim por você, —
admito. Nós tínhamos superado isso desde o começo. E enquanto Vlad
pode estar fora de cena agora, isso não significa que ele ainda não esteja no
meu coração.

— Não precisamos ser mais do que isso. Vamos nos sair bem como
amigos, — ele começa, levando minhas mãos nas dele. — Eu sei que você
não está apaixonada por mim, assim como eu não estou apaixonado por
você. Mas temos o que as outras pessoas não têm, confiança. E juro que
cuidaria do seu bebê, assim como eu cuidareide você. — Ele diz
sinceramente, e por um momento estou perdida em seus olhos claros. Tão
cheio de bondade e tão fundamentalmente diferente do par que amo.

— Estou com medo, — sussurro, respirando fundo. — Eu nunca


pensei que me encontraria nessa situação.

Mas qual é a alternativa, realmente? Dê à luz fora do casamento e


seja evitada como Lina? Se Marcello não matar Vlad e eu primeiro, é isso.
Já ouvi o suficiente do nosso mundo para saber que isso simplesmente não
é aceito, e vi em primeira mão o que Lina teve que suportar porque ela era
solteira quando teve Claudia.

Eu poderia suportar isso. Afinal, sou boa em levar os insultos das


pessoas a sério. Mas e o meu filho? Ele é inocente e eu sei que ele
suportará o peso de tudo.

— Ok, — eu sussurro, — vamos fazer isso. Você está certo de que é o


único caminho, e prometo que serei a melhor esposa que posso ser. Só não
espere... — Eu me afasto, e ele entende meu significado.
— Eu sei onde está seu coração, Sisi. Você não precisa se preocupar a
esse respeito, — ele me dá um pequeno sorriso.

— Obrigada, — envolvo meus braços em volta dele em um abraço. —


Obrigada, — repito.

O choque inicial da gravidez desaparece, começo a me aquecer com a


ideia. De fato, pode-se dizer que estou ficando muito emocionada com a
perspectiva de um bebê.

Finalmente vou ter alguém somente para mim. Alguém a quem eu


amarei e me amaria de volta. O fato de ele fazer parte dele é uma
vantagem, já que assim terei algo dele.

Marcello entrou e saiu de casa com seus tratamentos, então não


encontrei um bom momento para contar as notícias sobre o casamento.
Mas mais do que tudo, não consegui ouvir nada dele.
— Deus, eu nem posso dizer o seu nome, — murmuro para mim
mesmo, irritada.

Ele se tornou uma espécie de aquele que não será nomeado na minha
cabeça, principalmente porque mesmo pensar em seu nome me causa uma
dor profunda. Isso não parece ter me impedido de ficar curiosa sobre ele e
me perguntar o que está fazendo.

Marcello tem ficado de boca fechada e, além disso, simplesmente não


tenho outra maneira de saber sobre ele.

— Eu me pergunto se você se parecerá com seu pai, — eu dou um


tapinha na minha barriga, um sorriso no rosto enquanto imagino uma
criança de cabelos escuros e olhos escuros — uma cópia dele. Tudo o que
sei é que vou esbanjar todo o meu amor por essa criança e ele nunca terá
que duvidar se é amado ou não.

— Eu te amo, pequenino, — sussurro, a felicidade já me envolve


imaginando nosso futuro. Ele pode não estar nele, mas terei a próxima
melhor coisa.

E isso tornará suportável.

Raf não passou de um amor, pois ele perguntava sobre minha saúde
quase diariamente. Sei que esse casamento também é vantajoso para ele,
já que seu pai quer uma união com nossa família há muito tempo.
E quando nos casarmos, seu pai finalmente o deixará em paz e tudo
estará em ordem para a sucessão da herança. Raf pode não querer o poder,
mas as pessoasvão ter que aceitar, e será melhor do que o terrível irmão.

Mesmo sabendo que isso também o beneficia, sou eternamente grata a


ele por se oferecer para me ajudar.

Deitada na cama, começo a ler um livro sobre gravidez que havia


pegado online, querendo saber o máximo que posso e estar preparada
quando chegar a hora. Já sinto que será um menino e comecei a olhar para
os nomes.

Imersa na minha leitura, fico surpresa quando meu telefone começa a


tocar, o nome de Raf piscando na tela.

— Estarei em sua casa em uma hora, — diz ele assim que atende.

— Uma hora? Por quê?— Eu franzi a testa, já que não tínhamos


concordado com nada hoje.

— Pedi permissão ao seu irmão para levá-la para sair. Com um


acompanhante, é claro, — ele brinca e eu solto uma pequena risada.
Marcello tem estado muito tenso com tudo, especialmente em me deixar
sem vigilância na presença de qualquer homem.

Se ele soubesse as coisas que eu tinha feito com Vlad...


Um sorriso toca nos meus lábios com o pensamento. Ele tinha sido tão
inflexível quanto a eu ter cuidado com os homens e, especialmente, com
Vlad, que não tenho dúvida de que teria uma apoplexia se soubesse que eu
já estava grávida de seu bebê.

Balançando a cabeça com a noção, avisei Raf que estarei pronta para
ele. Eu saio lentamente da cama, procurando algumas roupas.

Eu tomo o cuidado de esconder a cicatriz no meu pescoço com um


cachecol, não querendo que ninguém faça perguntas sobre o que
claramente parece uma marca de mordida. Mas quando me sento na
minha penteadeira para colocar maquiagem, não posso deixar de desenhar
a caixa de jóias e o colar aninhado dentro.

Eu tirei naquela noite e não o coloquei de volta desde então. Ainda


assim, eu não tinha sido capaz de descartá-lo. Talvez porque a situação
não tivesse afundado na época, ou talvez porque eu ainda esperava que ele
voltasse para mim.

Eu o teria aceitado de volta?

Eu não sei. Se ele voltasse correndo enquanto eu não tivesse tido


tempo de processar tudo, ainda poderia ter lhe dado uma chance. Mas, com
o passar dos dias, percebi que, se alguma vez desistisse, mostraria a ele
que poderia passar por cima de mim a qualquer momento. Que, por causa
dos meus sentimentos por ele, eu aceitaria tudo, pronta para perdoá-lo em
troca de um pouco de atenção.
Indesejada...

Não, o que está feito está feito. E eu preciso esquecer tudo. Um novo
capítulo me espera, e somente tirando-o da minha mente posso realmente
encontrar alguma felicidade.

Antes de saber o que estou fazendo, pego a caixinha, levando-a


comigo.

Raf já está lá embaixo, esperando por mim. E depois que saímos de


casa, jogo a caixa na primeira lixeira pública que vejo.

— Sisi, — Raf balança a cabeça quando vê o que eu fiz. Eu apenas


dou de ombros e continuo andando.

— Está feito. — Eu digo, sentindo uma perda maciça dentro do meu


coração, mas convencida de que é apenas temporário, eu encolho os
ombros.

Não sou a primeira a sofrer de um coração partido e certamente não


serei a última.

Eu vou sobreviver.

Pelo menos espero que sim. Não sei como em tão pouco tempo ele
havia se tornado parte integrante da minha vida. Mesmo agora, saber que
ele não está perto de mim quase me faz ficar com calafrios, sua
proximidade é a única coisa que poderia me deixar contente.

Senhor, preciso parar de pensar nele. Vai passar.

Eventualmente...

Eu não tinha contado a Raf todas as particularidades de nossa


separação, mas ele deduziu o suficiente para saber o quanto Vlad me
machucou. E então ele tinha sido um amor e tentou não se intrometer
demais.

— Então, para onde estamos indo?— Eu pergunto enquanto


passeamos pelas ruas de Nova York, sua tia alguns passos atrás de nós,
atuando como acompanhante.

— Eu pensei que você gostaria de ir ao hospital. Para um check-up, —


ele sussurra.

— Raf, — minha boca se abre em choque com sua consideração. — E


a sua tia? Mesmo agora ela está tão vigilante, — observo quando as
mulheres estreitam os olhos para nós por estarmos muito próximos.

— Eu já marqueia consulta. Eu posso distraí-la por um tempo até você


terminar. Diga a ela que você irá arrumar o cabelo ou algo assim, —
sugere. — Há um salão ao lado da clínica.
— Uau, você realmente planejou isso, não foi?— Eu o observo
admirada quando um rubor se arrasta pelo pescoço. É um forte contraste
contra sua pele clara e imediatamente visível.

— Eu tenho lido sobre isso. E é bom ter uma consulta cedo, — diz ele
timidamente, e eu pego sua mão na minha, dando um grande aperto.

— Você é um amor, — digo a ele com um sorriso.

Às vezes não consigo acreditar no quão gentil Raf é. Certamente


alguém como ele não pode ser real. E ele continua a me surpreender com
sua consideração.

— Obrigada.

Fiel ao seu plano, fazemos uma viagem ao salão e, enquanto elas se


sentem confortáveis na sala de espera, saio pela parte de trás e vou para a
clínica.

Acho que agora tenho prática suficiente para me esgueirar, então não
estou muito preocupada. Especialmente desde que Raf planejou isso
minuciosamente.

Dentro da clínica, sou rapidamente recebida por uma enfermeira e


depois que ela me faz preencher um questionário, me leva para a sala de
consultas.
— Boa tarde, Srta. Lastra, — a médica entra, me cumprimentando.
Sorrio em troca, apesar de estar um pouco nervosa com o que o check-up
implica.

Ela tenta o seu melhor para me deixar confortável antes de começar o


exame pélvico. Eu tento ignorar o que está acontecendo, ou o fato de ela
estar de olho nas minhas partes de dama.

— Tudo parece bom aqui, — diz ela finalmente, e chama uma


enfermeira para manusear em uma máquina. — Vamos fazer um
ultrassom, sim?

Eu aceno, e ela puxa minha camisa para cima, esguichando um gel


gelado no meu estômago. Removendo uma varinha da máquina, ela
começa a movê-la na superfície da minha barriga, o gel fazendo-a deslizar
sem esforço.

— Aí está, — sorri a médica, apontando para um pequeno ponto na


tela. — Eu diria que você tem entre sete e oito semanas, — ela me diz,
mas eu meio que ouço meus olhos colados na tela.

— Você pode ouvir o batimento cardíaco, — continua ela, e eu fecho


meus olhos, escutando o som.

Bom Deus, eu vou ser mãe.


Não sei por que ouvir esse pequeno batimento cardíaco me faz chorar,
mas não consigo conter minhas emoções, pois finalmente me ocorre que
vou ter um bebê.

Uma vida humana.

Irônico como, com toda essa morte e destruição, acabamos criando


uma vida.

A médica me prescreve algumas vitaminas e agenda minha próxima


consulta. Depois que tudo está pronto, agradeço a ela e volto ao salão, um
novo otimismo surgindo dentro de mim.

As coisas vão mudar. Desta vez, terei alguém para cuidar. Uma mão
no meu estômago e um sorriso no meu rosto, eu me encontro com Raf e sua
tia novamente.

Ela não parece nem um pouco desconfiada, pois apenas me dá um


aceno, retornando a uma de suas ligações.

— Eu disse que ela não notaria. — Raf me dá um sorriso conspiratório


quando voltamos para o carro esperando por nós.

— Bem, bem, se não é meu irmão retardado, — uma voz maliciosa


ressoa atrás de nós.
Virando-me, noto um homem vindo em nossa direção, com os braços
em volta de duas garotas enquanto olha para Raf. Ele está vestindo uma
roupa de couro, enfatizando sua estrutura magra.

Parando na nossa frente, ele empurra os óculos de sol sobre os


cabelos, as longas e escuras mechas onduladas e inquietas ao vento, seus
olhos claros cheios de animosidade.

Há uma malícia vindo dele e não posso deixar de franzir o lábio, pois
ele continua a insultar Raf em seu rosto.

— I-i-irmão, — responde Raf, quase se escondendo atrás de mim, com


os ombros caídos, os olhos presos na calçada.

— E o que temos aqui, — ele assobia, me olhando de cima a baixo


antes de rir. — Claro, o retardado e a repulsiva, — ele brinca, com os
olhos na minha marca de nascença enquanto as meninas ao seu lado
começam a rir. — Os dois Rs, — continua ele, aparentemente muito
satisfeito consigo mesmo, pois as meninas simplesmente o olham
admiradas como se ele tivesse acabado de citar um soneto de Shakespeare.

— Este deve ser seu irmão retrógrado, — aceno para ele, sem fazer
nada para esconder meu desgosto, — três Rs, — dou-lhe um sorriso falso.

Raf havia me contado sobre seu irmão, Michele, e quão tenso era o
relacionamento deles. De fato, o esforço pode ser um eufemismo, já que
Michele é claramente um idiota de grau A.
Eu tinha ouvido tudo sobre a origem do conflito e o fato de o pai
querer que Raf herdasse o título de capo, e não Michele, mesmo que este
fosse o mais velho por alguns meses. Raf não tinha sido capaz de me dizer
por que seu pai estava tão empenhado em fazer isso, mesmo quando seu
filho mais velho saiu dos trilhos. Mas quanto mais Benedicto impunha a
questão, mais Michele recuava, fazendo todo tipo de coisa desagradável
para chamar atenção.

É claro que Raf sempre foi o alvo de suas provocações e uma das
razões pelas quais Raf sempre tentou não chamar atenção.

— E você deve ser a freira com quem meu irmão se casará, — ele
continua, se aproximando e entrando no meu rosto, um sorriso presunçoso
nos lábios, pois ele sem dúvida pensa que pode me intimidar. — Você não
poderia ter encontrado outra? Ela provavelmente nem sabe o que fazer
com um pau, — ele tenta fazer outra piada, e é claro que as garotas ao seu
lado acham que ele disse a coisa mais engraçada de todas, o riso delas
irritantemente alto.

Não tenho medo, já que conheci mais do que minha parte justa de
agressores como ele, levanto meu queixo um pouco, encontrando seu olhar
com o meu.

Ora, mas ele poderia ser a versão masculina de Cressida.

— Bem, — começo, um olhar doce no meu rosto enquanto lentamente


bato meus cílios nele, — eu certamente não saberia o que fazer com o seu,
— me movo levemente em sua direção, com as mãos nos ombros dele. Eu
dou um tapinha nele levemente.

Ele franze a testa, sem perceber o que quero dizer, pelo menos até
meu joelho entrar em contato com o pau. Ele estremece de dor, inclinando-
se para a frente, com os olhos atirando punhais em mim.

— Como você provavelmente deveria comprar um novo. — Eu pisco


para ele, assim como as meninas ao seu lado ofegam, tentando ajudá-lo.

Um olhar para Raf e ele concorda, nós dois entrando no carro e


chamando a tia para aparecer também.

Eu já posso ouvir suas maldições e a maneira como ele me chama de


cadela quando o carro sai do estacionamento.

— Caro, esse era seu irmão?— A tia de Raf pergunta, mal prestando
atenção em nós, — eu deveria ter dito olá, — ela franze a testa por um
momento antes de continuar sua conversa telefônica, esquecendo-nos
prontamente.

— Eu sinto muito. — Raf pede desculpas assim que o carro está em


movimento, nos afastando do horrível ser humano.

— Não. Agora entendo por que você o odeia. Ele é vil, — respondo,
meus lábios franzidos. — Alguns minutos na presença dele e eu sinto
vontade de esfregar minha pele. Eca, — eu estico minha língua com nojo.
Raf ri, me dizendo que Michele foi ameno, e que geralmente ele é
ainda pior.

Ouço atentamente, temendo o fato de que ele logo será meu cunhado.
Uma coisa é certa. Se Michele tentar alguma coisa, ele terá algumas
surpresas. Eu posso ser uma freira mas acho que ele terá uma surpresa
santa quando vir que não aceito a merda de ninguém.

— Por quê?— Eu choramingo de dor enquanto olho para o rosto dele.

Tão sem emoção.

— Este foi apenas um experimento, Sisi. E falhou, — ele encolhe os


ombros, aproximando-se de mim e olhando para mim com nojo.

— Mas tenho certeza de que há mulheres suficientes por aí para


tomar o seu lugar, afinal, você não é nada especial.
Eu ofego com a sua crueldade, lágrimas no canto dos meus olhos.

— Por favor, não diga isso, — sussurro, desejando com todo o meu ser
que ele apenas ria e dissesse que está brincando.

— Por quê?— Ele se aproxima ainda mais de mim, me apoiando na


parede. — Estou machucando seus sentimentos?— ele puxa quando um
dedo se move pelo meu rosto, o contato me faz tremer. — Estou fazendo
você se sentir... indesejada?— ele bate no meu ouvido, meu corpo inteiro
fica parado com as palavras.

— Pare, por favor, — imploro, as palavras ressoam nos meus ouvidos,


seu eco imparável. — Pare.

Mas ele não para.

Mãos enroladas no meu pescoço, ele aperta o domínio até que eu mal
consiga respirar.

— Pare, — até minha voz se torna quase audível quando tento


empurrá-lo de mim.

Mas ele não se mexe.

Ele tem um sorriso maligno pintado em seu rosto, como se mal


pudesse esperar para me matar mais rápido.
Uma mão deixa meu pescoço, a outra ainda me arranca a vida.
Subindo minha saia, ele está dentro do meu corpo em um único impulso, a
dor me deixando em branco.

— Não!— Eu grito, pulando na cama. Estou coberta de suor, meu


corpo inteiro hiperventilando.

Foi um sonho. Foi apenas um sonho.

Respiro fundo, tentando acalmar meus nervos.

Mas quando olho para o meu corpo, minha boca se abre em um grito
silencioso ao ver uma poça de sangue entre minhas coxas, meus lençóis
encharcados.

Eu pisco duas vezes, tentando afugentar o sono, convencida de que


ainda é um sonho. Mas quando abro os olhos novamente para ver o sangue
ainda lá, um novo medo me envolve.

Não... Não... meu bebê.

E eu grito. Grito até o topo dos meus pulmões, medo me ultrapassa e


me faz tremer incontrolavelmente.

Venezia é a primeira a explodir pela minha porta, com os olhos


arregalados enquanto ela absorve todo o sangue ao meu redor.
— Ligue para uma ambulância. — Não sei como encontro forças para
falar. Ainda mais em frases coerentes. Mas eu faço. E quando me ocorre
que preciso agir rápido, percebo que não posso sucumbir ao medo ou ao
desespero.

Eu preciso lutar.

Talvez não seja tarde demais. Eu tinha lido sobre manchas. Talvez
seja só isso.

Mesmo olhando para a quantidade de sangue sabendo que não é isso.

Continuo me segurando, enquanto eles me carregam na ambulância e


até o hospital. Eu apenas fecho meus olhos e imagino meu bebê de cabelos
escuros e como ficaremos felizes juntos. Eu mantenho esse pensamento, e é
a única coisa entre mim e um colapso.

E então acontece.

—Srta. Lastra, desculpe-me, mas você sofreu um aborto espontâneo,


— diz o médico, e não consigo ouvir nada depois disso.

Bem desse jeito tudo foi arrancado de mim.

Não consigo mais encontrar em mim lagrimas, lamentar ou gritar com


a injustiça. Só posso olhar para as paredes que parecem compartilhar
minha desolação, com suas sombras escuras enchendo a luz.
Um tempo depois que Marcello vem me ver, e me sinto ainda pior por
incomodá-lo.

E se ele me mandar embora? Novamente?

O pensamento é insuportável, então faço a única coisa que posso —


minto.

— Estamos nos casando, — afirmo com a maior confiança possível,


tentando ignorar a maneira como meu coração dói enquanto minto sobre
amar Raf ou tudo.

Como o irmão superprotetor que ele é, Marcello está arrependido,


tentando me convencer de que não preciso me casar com Raf.

Mas ele não entende. Ele não percebe que eu não tenho que me casar,
mas eu preciso me casar.

Mesmo agora, sinto-me sucumbindo mais profundamente a mim


mesma e sei que se continuar assim, só piorarei.

Preciso de alguém que me queira, mesmo que seja pelas razões


erradas. Eu só preciso de um lugar para pertencer.

— Vamos ver, — Marcello franze os lábios, saindo do quarto.


Prometi a Raf que me casaria com ele, e vou. Talvez no processo eu
também me encontre novamente.

Lina e Venezia me visitam, me chocando com o quanto elas se


preocuparam comigo. Traz lágrimas aos meus olhos ao perceber que há
pessoas que se importam comigo neste mundo.

Mais tarde, quando o médico me deixa voltar para casa e estou


sozinha de novo, não posso deixar de pegar a pequena imagem de
ultrassom que eu havia escondido na minha gaveta.

Eu seguro no meu peito e tento imaginar novamente como teria sido


— o garoto de cabelos escuros que sei que nunca vou conhecer.

E as lágrimas começam de novo.

— Oh Deus... por que sou tão amaldiçoada?— Eu pergunto em voz


alta, apenas silêncio me cumprimentando.

Não há outra explicação para isso. Eu sou amaldiçoada.

E o pior é isso... A vida me joga a isca, dando-me a ilusão de que posso


encontrar a felicidade, apenas para arrancá-la de mim no pior momento —
quando estou mais feliz.

Parece que é meu destino ficar para sempre sozinha... e sempre


indesejada.
Os dias passam, mas mal percebo se é dia ou noite. Os arranjos do
casamento são tratados rapidamente, as pessoas vêm e vão de casa, a
família de Raf praticamente acampando aqui, pois estão ficando cada vez
mais empolgados com o casamento.

Eu apenas fingi um sorriso e tento superar os movimentos, nada


realmente me causando uma reação.

Nem mesmo Raf, com sua natureza doce, pode me fazer sair do meu
estado atual.

Estou simplesmente sobrevivendo.

— Sisi, — ouço a voz de Lina enquanto ela bate na minha porta na


noite anterior ao casamento.

— Entre, — eu digo, vendo-a entrar no quarto, incerteza por todo o


rosto.

— Eu queria falar com você antes... — ela segue quando vê meu rosto
em branco.

Eu aceno, movendo-a para a mesa perto da janela.

— Não posso deixar de sentir que você não foi você mesma, — ela
começa, com as mãos inquietas no colo. Viro a cabeça para ela, meu olhar
vago — como costumava ser — e apenas dou de ombros.
— Eu vou ficar bem, — respondo, quase irreverente.

— Eu sei que perder um filho pode ser extremamente doloroso, mas...


— ela começa a falar, meus ouvidos já estão sintonizando tudo.

Eu menti que não sabia que estava grávida. Que eu estava tão
surpresa quanto eles. Tornou mais fácil evitar seus olhares lamentáveis e
ainda mais fácil fingir que estou bem.

Mas eu não estou.

Tudo o que quero fazer é gritar com o mundo que não estou bem. Que
eu quero meu bebê de volta. Que eu quero ele de volta.

Mas isso nunca vai acontecer. Não importa o quanto eu diga a mim
mesma que não é real — é. E dói.

Deus, quase diariamente eu tenho que lutar comigo mesma para sair
da cama. Como eu consegui vestir roupas, um sorriso bonito e acenar para
as palavras de todos está além de mim.

Eu quero ser deixada em paz.

— Você não precisa se casar com ele, Sisi. Se você não quiser, — a
mão de Lina cobre a minha, a compaixão refletida em seu olhar quase me
convencendo.
Mas como você pode mudar algo que não existe mais?

Fiquei cada vez mais certa de que meu coração deve ter morrido no
mesmo momento em que meu bebê morreu. Porque essa foi a última vez
que senti algo.

— Vai ficar tudo bem, Lina, — digo rigidamente. — Tudo ficará bem.

As palavras parecem falsas para os meus ouvidos também, então não


é de admirar que Lina franze a testa com preocupação, se aproximando de
mim e me levando em seus braços.

Era uma vez, esse abraço teria me revitalizado. Agora parece apenas...
sombrio.

— Eu não quero que você se sinta forçada a algo só porque dormiu


com ele. Marcello não é como meus pais, Sisi. Ele nunca vai empurrar
esses padrões desatualizados para você, — ela me diz, acariciando
levemente meu cabelo curto.

É engraçado como ninguém jamais questionou minha súbita mudança


de comportamento, meu novo cabelo ou o fato de que não posso sair de casa
sem um lenço — durante o verão. Por toda a preocupação deles, eles
realmente se importam?
— Eu quero, — respondo, meu olhar já estava fixo no gramado do
lado de fora, onde meu príncipe já havia esperado por mim, para me salvar
da minha torre. — Vai ficar tudo bem, — repito.

Lina não parece convencida, mas finalmente me deixa em paz.

E finalmente posso voltar a dormir — a única vez que posso ficar


junto com meu bebê.

— Você está tão bonita, Sisi, — a voz de Lina me faz piscar duas
vezes e tento prestar atenção ao que ela está dizendo.

Entregando o véu de renda com uma pequena tiara de diamante, ela o


coloca sobre o meu cabelo penteado.

— Não acredito que você vai se casar, — eu a observo através do


espelho enquanto ela tira uma lágrima da bochecha. — Você é uma noiva
tão bonita. A mais bonita, — ela se inclina para beijar minha testa.
— Eu também não acredito, — murmuro, forçando um sorriso.

Todo mundo ao meu redor está tão feliz e, dada a minha mentira
atroz, posso ver por que eles ficariam muito felizes por mim. Então, tento
brincar com a ilusão que criei, esticando meus lábios em um sorriso
perpétuo para garantir que não haja dúvida sobre meu estado de espírito.

Eu sou a noiva, afinal.

Olho para o meu reflexo, incapaz de acreditar que chegou a esse


ponto. Como minha vida degenerou no período de um mês. Eu nunca me vi
particularmente sortuda, não dado tudo o que passei. Mas por um
momento pensei que todas as dificuldades dariam lugar à felicidade.

Eu deixei o convento que era a fonte de todos os meus pesadelos e


finalmente encontrei alguém que me entendesse. Quem visse a mim — a
boa e a mau. Finalmente me encontrei depois de vagar sem rumo por toda
a minha vida.

Mas não durou.

Agora? Mais uma vez, estou olhando para uma vida de fingimento.

Fingindo que estou bem.

Fingindo que estou apaixonada pelo meu marido.


Fingindo que não sou... Mais.

Reconhecendo a direção dos meus pensamentos, me sacudo das


minhas reflexões, voltando para Lina e sorrindo amplamente para ela.

— Vai ser incrível, — a mentira simplesmente sai da minha boca. —


Eu nunca te agradeci, Lina, — eu me viro para ela, a única coisa
verdadeira que estou disposta a dizer hoje. — Por tudo o que você fez por
mim no Sacre Coeur. Acho que não estaria aqui sem você, — aperto a sua
mão.

Seus olhos se erguem novamente, e ela não pode deixar de fungar,


jogando seu corpo inteiro em minha direção e envolvendo os braços em
volta de mim em um grande abraço.

— Oh, Sisi. Você sabe o quanto eu te amo. Você sempre será minha
irmã. Nunca esqueça disso, — ela sussurra.

— Obrigada. Você e Claudia eram as únicas duas pessoas que me


mantinham sã lá, — admito, devolvendo seu abraço.

Ela pode não saber a extensão do que aconteceu comigo em Sacre


Coeur, mas ela tem sido minha única fonte de conforto durante esses anos
frios. Por isso, não há palavras que possam fazer justiça a quanto sou
grata a ela.
— Você também Sisi. Você sempre foi a corajosa e nos deu um pouco
de coragem a cada vez, — ela sorri.

Eu gostaria de ter essa coragem agora, porque mesmo que meus pés
me levem em direção a Raf, meu coração já está morto e enterrado.

Toda a comitiva do casamento vai para a igreja, e Marcello e eu somos


os últimos a chegar, preparados para andar de braços dados em direção ao
altar.

— Estou orgulhoso de você, Sisi, — diz Marcello, beijando minhas


bochechas antes de entrar. É a primeira vez que ele me toca por mais de
um segundo, e eu absorvo o contato. — Mas não esqueça que você sempre
terá um lar conosco, — continua ele e eu aceno, lágrimas queimando atrás
dos meus olhos.

Seguindo a sugestão musical, caminhamos lentamente para dentro.

Raf está me esperando no altar, parecendo elegante em seu smoking


preto, com o cabelo loiro penteado para trás e enfatizando os olhos azuis.

Ah, como eu gostaria de poder tê-lo amado primeiro. Teria me salvado


um mundo de mágoa.

Mas mesmo quando esses pensamentos se intrometem em minha


mente, eu sei que eles estão errados. Porque, embora eu esteja ciente do
meu próprio desgosto, também sei que há apenas um homem que eu
poderia sempre amar. Um homem que parece ter sido feito apenas para
mim.

Mas não era para ser.

Talvez nós éramos as pessoas certas na hora errada. Ou talvez ele


estivesse certo para mim, e eu estava errada para ele.

Meus pés parecem pesados quando coloco um pé na frente do outro, a


distância diminuindo a cada segundo.

E de repente estou ao lado de Raf, o padre iniciando a cerimônia,


todos parecendo extremamente felizes enquanto nos animam do lado de
fora.

Um pânico diferente de qualquer outro me pega, e eu mal consigo me


impedir de tremer.

— Você vai... — as palavras do padre são um borrão, meus ouvidos


tocando com o que só posso descrever como um som ensurdecedor.

Fecho os olhos, piscando rapidamente. Mas então a sala inteira


escurece, a fumaça se infiltrando na igreja.

Por alguma razão, não sei se isso é real ou se é apenas algo que minha
mente doentia está produzindo, rejeitando a realidade em que me encontro
e criando de alguma forma uma nova.
As pessoas estão gritando, tiros são disparados. Os ruídos se tornam
cada vez mais altos.

Um braço envolve em volta da minha cintura, uma mão na minha


boca enquanto sinto uma respiração quente no meu pescoço.

— Você não está se livrando de mim, hell girl, — ele pronuncia, um


som perigoso que faz meu coração já morto chorar.

E então o mundo fica preto.


PARTE III

Deixe-me deitar a cabeça, meu amor.

Os monstros estão chegando.


CAPÍTULO VINTE E DOIS

Um latejar em minhas têmporas me obriga a abrir os olhos, minhas


pálpebras pesadas, meu corpo inteiro doendo. Leva um momento para
recuperar o rumo e lembrar o que havia acontecido.

Me levantando, noto que ainda estou no meu vestido de noiva. Mas


um olhar ao redor do quarto e percebo que estou em um local estranho.

Estou sentada em uma enorme cama king size no meio de um quarto


igualmente enorme. Eu tento mover meus membros, feliz quando vejo que
nada está errado comigo.

Mas o que aconteceu?


Lembro-me de estar tão profundamente dentro da minha cabeça,
tentando bloquear a cerimônia e tudo ao meu redor, que não tinha
percebido quando toda a igreja estava cheia de fumaça. E depois...

Meus olhos se arregalam quando me lembro das palavras dele. No


meu ouvido. Dos braços dele. No meu corpo.

— O que aconteceu em nome de Deus?— Eu murmuro, mais para


mim.

O quarto inteiro está vazio, exceto pela cama. As janelas quase até o
teto permitem que muita luz se infiltre no quarto, e eu tenho que desviar o
olhar, meus olhos cegos por ela.

Balanço minhas pernas da cama, indo direto para a porta.

Se este é outro dos jogos de Vlad, ele terá uma pequena surpresa
porque eu não estou prestes a permitir que me envolva em mudanças de
humor.

Eu já posso prever por que ele fez isso. Ele estava muito entediado e
decidiu mexer comigo e com Marcello.

Um sorriso amargo me escapa quando percebo que não deveria me


considerar tão importante para ele, afinal ele não havia dito exatamente a
mesma coisa? Que eu não era a única mulher no mundo? Ele
provavelmente tinha feito isso para brincar com Marcello.
Independentemente disso, não vou sentar e esperar que me faça de
boba novamente. Não importa o quanto meu coração ainda bata
dolorosamente no meu peito, sabendo que ele está em algum lugar
próximo. Não. Nosso tempo passou.

Envolvendo minha mão em volta da maçaneta da porta, eu paro, sem


surpresa ao encontrar a porta trancada.

Como as janelas, a porta também é até o teto. Também é velha, a


madeira estragada nos cantos, a pintura descascada em listras feias.

Por um momento, estou triste com o que estou prestes a fazer, pois
este é claramente um edifício histórico. Mas ele não me deixou alternativa.

Levantando o pé, eu me equilibro na outra perna enquanto tento


ganhar o máximo de impulso possível antes de chutar.

A sola do meu pé se conecta à madeira, o som reverberando no quarto.

Não está se mexendo.

Quanto mais eu chuto, mais percebo que, apesar de toda a sua


aparência em ruínas, a madeira é forte — forte demais para meus chutes
insignificantes.
— Maldito. — Eu murmuro, usando a parte de trás da minha mão
para limpar o suor da minha testa. Está quente e este vestido está pesando
uma tonelada.

Algumas respirações profundas enquanto observo o quarto e decido


que preciso mudar de estratégia. Aconteça o que acontecer, porém, não vou
deixar Vlad se safar disso. Ele pode estar entediado e procurando peões
para movimentar em seu jogo de xadrez, mas eu não serei um.

Só agora eu percebo o que Marcello tem dito o tempo todo. Vlad não
sabe o significado de amizade ou qualquer relacionamento. Ele só sabe
como usar as pessoas para alcançar seus objetivos.

Como fez comigo... até que eu provei ser inútil para ele.

Mesmo agora, ele provavelmente tem alguma câmera instalada em


algum lugar, e ele está assistindo por trás de sua parede cheia de telas,
rindo às minhas custas e com minhas más tentativas de escapar.

Assim que o pensamento se forma na minha cabeça, volto-me


rapidamente para o teto, encontrando a câmera imediatamente.

Sentindo minha ira subindo, eu ando até ficar bem na frente dela. Não
sei se isso tem som ou não, mas não tenho nada a perder.

— Você escolheu a pessoa errada para mexer, Vlad. — Eu digo a ele,


olhando diretamente para a lente da câmera. — Você não pode vencer
alguém que não tem nada a perder, — sorrio, minhas mãos vão para o
meu longo vestido de noiva enquanto agarro a bainha.

Sem nem pensar, rasgo a renda até os joelhos, revelando a roupa de


cetim por baixo. Usando meus dentes, faço o mesmo até que a parte
inferior do vestido se vá completamente.

Com algum espaço para respiração, estou imediatamente mais à


vontade, o ar fluindo em torno das minhas pernas e refrescando meu corpo.
Meus movimentos também parecem menos restritos.

E como estou com uma paciência extremamente baixa, também dou o


dedo médio a ele. Oh, como eu gostaria de vê-lo reagir a isso.

Mas não tenho tempo para pensar sobre isso. Não quando eu preciso
sair daqui.

Vendo que a porta não será uma boa opção, vou para as janelas,
expirando em alívio quando uma delas se abre.

Pelo menos não precisarei quebrar isso.

Mas meu alívio logo se transforma em medo quando olho para baixo e
percebo que não estou nem perto do chão. O que é isso? Segundo? Terceiro
andar?
— Santo Deus!— Eu sinto um desejo avassalador de fazer o sinal da
cruz, porque mesmo vendo o quão longe o terreno está da minha posição,
não posso deixar de me concentrar nele.

— Não é como se eu não tivesse feito isso antes, — tento me


convencer.

Mas não era tão alto?!

— Ok, é agora ou nunca, — eu sussurro. Quanto mais eu pensar


sobre isso, mais assustada ficarei e nunca o farei. Como não quero
permanecer prisioneira, esta é a única opção.

— Foda-se, Vlad. — Eu murmuro, irritada que ele tivesse me colocado


nessa situação em primeiro lugar.

Agarrando a moldura da janela, subo no peitoril, segurando com força,


meus olhos semicerrados.

— Por que tem que ser tão alto?— Eu clamo frustrada.

Mas respirando fundo, eu ainda sou eu mesma.

Um. Dois. Três.

E eu pulo.
Olhos ainda fechados, espero o contato iminente com o chão.

— Ainda morrendo de vontade de cair debaixo de mim, entendo. —


Uma voz diz no meu cabelo, mãos fortes me segurando enquanto me
abaixam no chão.

Abrindo um olho e depois o outro, nem sei como reagir à visão dele em
carne e osso.

Eu pisco, meus olhos nele como se estivesse tentando descobrir um


quebra-cabeça.

Ele ainda é o mesmo, apesar de já fazer mais de três meses desde a


última vez que nos vimos. Mas há algo diferente.

Eu posso sentir isso.

Sua pele está bronzeada e há uma nova barba que não existia antes.
Durante todo o nosso tempo juntos, eu nunca tinha visto Vlad além de
barbeado.

A mudança não é apenas superficial. Mais do que tudo, há algo


diferente em sua energia.

Algo mais quente... alguma coisa...

Pare!
Estou fazendo isso de novo. Tentando entendê-lo onde não há
absolutamente nada para entender. Meu lábio se enrola com nojo de mim
mesma e de minha reação a ele, e empurro minhas mãos para a frente,
empurrando-o para fora de mim.

— Droga, hell girl. É assim que você cumprimenta seu futuro


marido?— ele puxa, sua voz ainda mantém aquela qualidade sedutora que
sempre parecia me tornar cativa.

Eu engulo, meu próprio corpo me traindo enquanto arrepios se


formam por toda a minha pele.

— O que você acabou de dizer?— Eu franzo a testa, dando um passo


atrás e colocando alguma distância entre nós.

— É bom você ter acordado, — diz ele, olhando para cima e para
baixo do meu corpo de uma maneira estranha, — o ministro está
esperando.

Ele nem me deixa responder enquanto envolve os dedos em volta do


meu pulso, me puxando em sua direção e quase me arrastando em direção
à entrada da casa.

Meus olhos se arregalam quando percebo onde estamos. Ou melhor,


eu pisco repetidamente, com certeza isso deve ser um sonho.
— Você não fez... — Eu sussurro enquanto olho na frente da casa,
mais uma vez provando minhas suspeitas de que ele fez.

— Você me trouxe para Nova Orleans?— Eu pergunto em choque,


olhando para a casa mais bonita que já vi na minha vida. Eu deveria
saber, já que tenho perseguido sua página de mídia social há muito tempo,
simplesmente hipnotizada pela história e pela arquitetura.

Eu deveria ter percebido que ele faria, monitorar minhas mídias


sociais.

Droga!

— E sua futura casa no futuro próximo,— ele diz, seus dedos cavando
na minha carne enquanto ele me leva pelos três degraus em frente à
entrada, só paramos quando chegamos ao grande salão onde um homem de
terno está esperando na frente de um livro aberto.

— Sr. Kuznetsov, — ele sorri, seus olhos se movendo para mim, — e


a futura Sra. Kuznetsov eu presumo?— ele pergunta.

— Kuznetsova, mas sim. Agora, por que não fazemos isso rápido?
Estou com pressa. — Vlad comenta, todo o seu corpo está tenso.

Estou tão chocada com a virada dos eventos que acho minha reação
atrasada quando volto, arrancando minha mão das garras dele.
— Que diabos é isso, Vlad?— Eu viro meus olhos ardentes para ele.
Não acredito no golpe que ele deu, especialmente porque deixou claro que
não precisava mais de mim.

Então, o que mudou agora?

— Sisi, mantenha sua voz baixa. — Ele se aproxima de mim, seu


perfume inundando meus sentidos. — Você concordará com tudo o que o
ministro diz e assinará seu nome nesse pedaço de papel.

— Você é louco, — é tudo o que posso dizer quando pego suas feições,
a maneira como seu lábio se enrola levemente em um sorriso arrogante ou
a maneira como seu cabelo mais longo do que o normal cai na testa,
fazendo-o parecer mais jovem e mais perigoso ao mesmo tempo.

— Eu não farei isso. — Eu assobio para ele, dando mais um passo


atrás.

Ele não parece entender que eu não quero estar perto dele quando me
apoia na parede, me enjaulando.

— Você vai. — Ele se inclina para baixo, com a respiração escovando


contra o meu lóbulo da orelha com uma carícia lenta e sensual. — Você vai
mover sua bunda bonita para a mesa e você vai dizer sim. Você sorrirá e
depois assinará seu maldito nome naquele pedaço de papel, ou seu deus
me ajude, você não vai gostar do que eu farei.
— O que diabos há de errado com você?— Eu franzo a testa, sua
explosão repentina enviando arrepios pela espinha.

A mão dele vem para cobrir minha mandíbula, me virando, então


estou olhando nos seus olhos.

— Não tente minha mão, Sisi. Não desta vez. Estou a dois segundos
de explodir, e haverá muitos corpos se você não fizer o que eu digo, — ele
range os dentes, os olhos inflexíveis quando os dedos se apertam sobre a
minha carne.

— Eu não vou me casar com você, Vlad, — digo, minha voz é mais
suave. — Agora não, nunca, — agarro a mão dele e a jogo de lado,
empurrando meu ombro para dentro dele para evitá-lo.

Ele é rápido quando coloca um braço atrás da minha cintura, me


puxando contra ele.

— Eu não direi isso duas vezes, hell girl, — ele bate contra mim, e
sinto a energia enrolada em seu corpo, a maneira como seus dedos jogam
nas minhas costas como se ele pudesse me quebrar em duas a qualquer
momento.

— Você vai sorrir. — Ele levanta a mão no meu rosto, um dedo


arrastando o canto da minha boca para cima, — e você ficará feliz como a
noiva que você é hoje. Você faz isso e ninguém tem que morrer, — ele faz
uma pausa, com o rosto mais perto até a boca ficar a um fôlego da minha,
— por enquanto.

Não acredito na audácia dele. Ele está olhando para mim como se já
tivesse vencido este jogo. Como se ele soubesse que vou obedecê-lo. Inferno,
vejo a contração em sua bochecha, uma covinha ameaçando se formar
enquanto ele se esforça ao máximo para não proclamar a vitória ainda.

Um sorriso se curva nos meus próprios lábios enquanto eu brinco pelo


momento mais breve. Abrindo minha boca, capto o dedo dele e mordo.

Forte.

Bem, o mais forte que posso.

E ele nem está reagindo.

— Sisi, Sisi, — ele repreende, — minha querida Sisi, posso ver as


rodas girando em sua cabeça, tentando encontrar uma saída. Confie em
mim, não há. Agora, eu não queria fazer isso, — ele suspira
dramaticamente, — mas parece que devo.

Eu franzo a testa, suas brincadeiras já me cansando.

— Você se casa comigo agora, ou serei forçado a fazer algo mais...


drástico. Como, digamos, detonar uma bomba em sua casa. Ora, seu irmão
e sua família, assim como sua irmã, já devem estar lá...
Meus olhos se arregalam quando seus lábios se levantam em um
sorriso.

— Você não faria...

— Ah, mas eu faria, — ele responde, aquele charme falso pingando de


suas palavras.

E assim, ele voltou ao Vlad que eu conheço. O insensível, o que


consegue o que quer, que parece ter colocado na cabeça que ele vai se casar
comigo.

E eu sei que ele tornará realidade sua ameaça.

— Que assim seja, — respondo, educando minhas próprias feições em


uma máscara de indiferença.

Porque ele pode ameaçar minha família, e ele pode pensar que isso é
apenas um jogo. Mas não pretendo ceder a ele — nunca mais. Posso
assinar meu nome na certidão de casamento, mas é tudo o que está
recebendo de mim.

Nem espero a resposta dele quando me livro do seu domínio, indo ao


oficial e fazendo exatamente o que Vlad instruiu: sorria, diga sim e assine
o maldito papel.
— Desejo-lhe tudo de bom, Sr. e Sra. Kuznetsov, — diz o homem
quando sai, angústia escrita por todas as suas feições.

E então estamos sozinhos.

Existe talvez um pé de distância entre nós dois. Nós dois estamos


olhando para o outro, nossas respirações chegando em curtas inspirações.

Ele olha à beira de um ataque, e eu tenho que me forçar a não fugir, a


memória de seu último episódio ainda está fresca em minha mente, e em
meu corpo.

Meu olhar se move sobre ele no que eu chamaria de minha primeira


leitura completa desde que o vi novamente. Ele está vestindo um terno
como sempre. Azul marinho com listras brancas, o material moldado não
faz nada para distrair suas coxas grossas ou seus braços poderosos. Não,
pelo contrário, serve apenas para enfatizar ainda mais seus membros
musculosos, e por um momento tenho que me perguntar se ele realmente
não aumentou ainda mais.

Seu pescoço está tenso, veias salientes enquanto ele tenta regular sua
respiração, seus olhos fixos em mim — imóveis.

Ele viu sua presa e está pronto para atacar. E assim meus pés estão
prontos para me levar para longe dele também.

A tensão é espessa, a consciência ainda pior quando sinto meu corpo


responder à sua proximidade. Você pensaria que, depois de quase ser
arrebatada até a morte, não desejaria tentar a sorte pela segunda vez, mas
como parecemos encontrar um ritmo em nossas respirações, imitando um
ao outro, acho que meu corpo não gosta de ouvir.

Já está preparado para mais — violência, sangue e destruição.

E eu odeio isso.

Eu odeio que ele chame a parte primitiva de mim que eu tentei


enterrar a minha vida inteira. Eu odeio que, embora minha mente saiba
que ele é ridículo e traidor, meu corpo não reconhece o perigo que ele
apresenta para todo o meu ser.

— Por que você me trouxe aqui, Vlad? Que jogo você está jogando
agora?— Eu pergunto, estreitando meus olhos para ele.
Ele está tão tenso que vejo o contorno de seus músculos através do
material de seu traje. Seus olhos não deixam os meus quando dá um passo
à frente. E outro.

E então eu dou um passo para trás.

— Você está entediado? É isso?— Eu pergunto, voltando para a sala.

Eu gostaria de não estar tão intimidada por ele, mas sua mera
presença supera tudo ao seu redor.

— Vlad!— Eu estalo, levantando minha voz. — O que diabos há de


errado com você?

— O que diabos há de errado comigo?— Ele está na minha frente


antes que eu possa piscar. — O que você acha que está errado comigo,
Sisi?— ele sorri para mim, com a mão estendendo para agarrar meu
cabelo, desfazendo meu penteado até que os fios caiam sobre meus ombros.

— Não me toque, — eu bati a mão dele para o lado.

— Oh, vamos lá, hell girl, você não pode me dizer que não sentiu falta
do meu toque. — Ele pronuncia, sua voz suave me afeta, enquanto eu tento
permanecer estóica.

— Não. Não posso dizer que sim, — respondo com desdém,


procurando evitar as mãos errantes.
— Mentirosa, — ele sussurra, inclinando-se para mais perto para
inalar meu perfume. — Você não me engana, Sisi. Eu posso sentir a
maneira como seu corpo anseia pelo meu. — O seu dedo segue o corpete do
meu vestido, e enquanto isso pode me fazer ficarum pouco sem fôlego, não
apaga o fato de que estou lidando com um andróide disfarçado de humano.

Pegando o seu dedo, eu tiro do meu corpo.

— Eu disse não me toque, Vlad. Quero dizer. Você pode ter ameaçado
minha família para que eu assine meu nome nessa certidão de casamento,
mas perdeu a chance há muito tempo, — digo a ele, meu tom é sério. — O
que aconteceu? Ficou entediado e decidiu brincar com a pobre freira
novamente? É isso?— Eu tento o meu melhor para manter minha voz sob
controle, mas sua mera presença combinada com sua audácia me faz
querer ficar na cara dele.

— Sisi, você está partindo meu coração, — ele brinca, pegando minha
palma e encaixando-a no peito. — Viu como está batendo por você?— ele
pergunta sem problemas, um sorriso curvando-se.

Por um momento — um momento muito curto, porém embaraçoso —


sinto-me pelo coração dele e tento entender suas batidas. Mas é apenas um
momento antes de reconhecer minha própria fraqueza e pressionar contra
ele.

— Você é louco, — eu balanço minha cabeça, convencida de que deve


ter tido algum colapso mental.
Por que ele está se comportando como se nada tivesse acontecido?
Como se ele não tivesse me usado e me descartado há um tempo atrás?

— Sim, — ele me reúne tão perto dele, nossos rostos estão quase
juntos. — Eu sou insano certificável. E é só porque estou sem você há tanto
tempo. — Ele enterra o rosto no meu cabelo, o gesto tão incompreensível
que só posso ficar parada como uma estátua, tentando entender quem é
esse homem.

Porque ele não é o Vlad que eu conheço.

— Saia de mim, — digo com os dentes cerrados, a proximidade me


matando suavemente.

Se esse não é o pior tipo de punição, não sei o que é... sendo provocada
com a única coisa que você sempre quis apenas para que fosse arrancada
de você no último momento.

Mas não vou cair no mesmo truque duas vezes.

— Não, — ele responde com naturalidade. Sua mão grande envolve


minha nuca, e me segura perto dele, seu braço circulando minhas costas
para que me faça grudar contra seu corpo.

Sua boca paira sobre o meu rosto enquanto ele me respira, seus olhos
se fecham como se estivesse gostando do sabor.
— Eu nunca vou deixar você ir, hell girl. — Ele sussurra, os olhos se
abrem, escuros e temíveis me olhando com convicção inabalável, — nunca
mais, — diz ele logo antes de sua boca descer sobre a minha, seu beijo
machucando enquanto tenta persuadir meus lábios com a língua.

Flexionando meus braços, tento escapar da gaiola em que ele me


colocou, mas ele é forte demais para me deixar ceder. Não importa o
quanto eu lute para sair do seu alcance, é em vão. De qualquer forma, seus
braços se apertam ainda mais ao meu redor, enquanto ele me obriga a
devolver o beijo.

Eu mantenho minha boca fechada, meus lábios firmemente fechados


negando a ele a menor abertura.

— Abra sua boca, — ele comanda contra meus lábios, mas eu apenas
dou um pequeno aceno na minha cabeça, minhas mãos presas entre nós
enquanto continuo empurrando contra seu peito.

Mas quando nada funciona, percebo que preciso mudar de estratégia.


Eu deixei meu corpo ficar frouxo contra o dele. Não há mais resistência,
mas também não há reação.

Ele continua beijando unilateralmente meus lábios até que finalmente


percebe a futilidade disso.

— Droga, Sisi, — ele amaldiçoa, me deixando ir.


Trazendo as costas da minha mão para a minha boca, eu o limpo dos
meus lábios, meus olhos nos dele para que possa ver o desgosto na minha
expressão.

— Depois de tudo o que você fez comigo, — começo, raiva, tristeza e


frustração se misturando e subindo à superfície, — você tem a ousadia de
me tirar do meu casamento, me ameaçar assinar meu maldito nome em
um pedaço de papel, — estou respirando com severidade, — que por sinal
não significa qualquer coisa para mim, — meu lábio se enrola em
desgosto, — e agora você quer que eu te beije? Como se os últimos três
meses não tivessem acontecido? Como se você não esmagasse meu coração
e me deixasse de fora sangrando, literal e figurativamente?

Ele se encolhe, reagindo às minhas palavras pela primeira vez. Mas


não consigo parar. Não mais. Lágrimas de frustração ameaçam chegar à
superfície enquanto continuo falando.

— Você me destruiu Vlad. Você não tem absolutamente o direito de


voltar à minha vida como se nada tivesse acontecido. Fingir que nada
aconteceu. E então esperar que eu me comporte como se nada tivesse
acontecido. O que diabos há de errado com você?— Eu grito com ele, meu
corpo inteiro tremendo.

— Depois de tudo o que passei... você não tem o direito, — digo a ele,
fechando os olhos e respirando fundo.
Não quero desmoronar na frente dele, por mais brava que possa me
deixar. Eu nunca quero mostrar a ele minha fraqueza, ou o fato de que ele
é a minha fraqueza.

Ele nem responde. Apenas me observa, sua expressão se fechou.

Não sou capaz de suportar outro momento em sua presença, faço para
sair.

— Você estava grávida, — ele finalmente fala, suas palavras


renovando minha dor.

Estava...

— Sim, — respondo, desejando que minha voz não me traia. De todas


as coisas que ele poderia ter levantado, teve que ir para lá. É por isso que
ele voltou à minha vida? Para perguntar sobre o bebê? Talvez ofereça
algumas desculpas insinceras?

Mas por que ele se importaria?

— Era meu?— ele pergunta, sua pergunta me chocou profundamente.


Eu virei minha cabeça, meus olhos entrando em contato com os dele.

E Deus... ele realmente pensa...


Algo quebra dentro de mim quando percebo que em sua mente eu
simplesmente pularia de uma cama para outra. Ele realmente pensa tão
pouco do meu amor?

Mas ele faz.

O riso ameaça transbordar quando me ocorre.

Indesejada... é claro que eu foderia alguém por atenção. Não é isso que
ele está sugerindo desde o início?

Meus punhos se apertam e tenho uma súbita vontade de machucá-lo


— mesmo que duvide que ele se importe. Eu só quero tirar o sorriso do
rosto de uma vez por todas. Se não posso magoar seus sentimentos, posso
pelo menos magoar seu orgulho.

Então eu respondo a pergunta dele.

— Eu não sei, — eu minto, mantendo minha expressão sob controle.


Eu poderia ter dito não facilmente, mas então ele poderia ter descoberto
meu blefe. Não, isso deve se aprofundar em seu ego e fazê-lo pensar quanto
tempo depois dele eu me virei para outro.

Há a menor reação na maneira como sua mandíbula se aperta, seus


olhos se contraem quando ele vira seu olhar mortal para mim.
— Você transou com ele?— As palavras são bruscas, a violência
escorrendo delas enquanto ele dá um passo em minha direção.

Eu não recuo. Eu levanto meu queixo, meus olhos corajosamente


encontrando o seumostrando a ele que não me assusta.

— Por que você se importa?— Eu faço a pergunta, tentando parecer o


mais indiferente possível.

— Você. Fodeu. Ele?— ele range os dentes, seu corpo já está


sobrepondo o meu enquanto me empurra em direção à parede.

— Não, — respondo, mantendo contato visual, aproveitando a


maneira como o alívio inunda suas feições antes de continuar, querendo
torcê-lo por dentro e fazê-lo doer como eu fiz, — fiz amor com ele. Não que
você saiba o que isso significa, — dou-lhe um sorriso brilhante, jogando o
seu jogo. Inclinando-se para sussurrar em seu ouvido, acrescento: — ele
adorou meu corpo e fez amor doce comigo. Ele me mostrou que não precisa
doer. E quando isso acontece, é bom.

Não sei de onde tudo isso vem, mas eu quero ser mesquinha. Quero
causar a ele pelo menos um por cento da dor que me causou.

— Você está mentindo, — ele cospe, estreitando os olhos para mim.

Ah, mas parece estar funcionando.


Já posso ver seu corpo tremendo lentamente, sua mandíbula travada
no lugar quando ele me considera. Ele pode não ter sentimentos, mas tem
seu orgulho. E acho que acabei de machucá-lo.

É preciso tudo em mim para não me gabar do fato, e não o atrair


ainda mais. Mas para ele realmente acreditar em mim, não posso me
inclinar tão baixo.

O oposto do amor não é ódio — é apatia.

E ele tem sido o melhor professor em me mostrar o quanto a


indiferença dói. Então eu devolvo o favor.

— Pense no que quiser, Vlad. Francamente, eu não ligo, — encolho os


ombros, parecendo incomodada. — Você me jogou fora, e ele estava lá para
pegar os pedaços. Você pode me culpar?— Eu levanto uma sobrancelha,
esperando sua mente lógica processar tudo.

Sua expressão se transforma diante dos meus olhos, seus olhos se


arregalando de horror e eu tenho minha confirmação de que acredita mim.
Recuando, há um leve movimento de sua cabeça quando ele me olha com
consternação, os músculos de seus braços se projetando enquanto ele se
agarra e abre os punhos.

Não sei ao certo que tipo de reação eu esperava, mas certamente não
isso.
Virando as costas para mim, ele dá um soco na mesa, quebrando-a no
meio. Eu me movo para o lado, sua explosão me pegando de surpresa.

— Sisi, — ele chama meu nome, sua voz esfarrapada.

Ainda não está de frente para mim, ele continua a socar a mesa,
destruindo-a efetivamente. E quando não há mais nada a bater, ele cai de
joelhos, colocando as mãos nas têmporas quando começa a se bater.

Um gemido baixo e angustiado oescapa, algo semelhante à dor.

Mas não pode ser...

— Sisi, — ele continua dizendo meu nome, sua voz cada vez mais
baixa, mais áspera e cheia... de dor.

Balanço a cabeça, incapaz de compreender essa exibição na minha


frente.

— Vlad, o que há de errado?— Eu me movo em direção a ele, minha


preocupação por ele atropelando meu desdém.

— Não, — ele levanta a mão, — tudo culpa minha, — ele murmura


algo, sua respiração cortada e pesada.

— Vlad...
— Fique para trás, — ele chia, curvando-se na dor.

— Eu... — Eu paro, vendo-o levantar, todo o rosto tenso, os olhos


fechados.

— Corra, — as palavras são quase inaudíveis.

— Vlad, — dou um passo mais perto, preocupada.

— Corra!— ele grita comigo, e um vislumbre de suas feições faz meus


pés se moverem por vontade própria. — Porão... Tranque-se... — ele não
termina a frase quando outro gemido dolorido lhe escapa. Ele parece estar
lutando consigo mesmo pelo controle.

Sei que devo aproveitar e fugir, mas a visão dele agachado no chão e
com dor está gravada em minha mente, não me deixando fazer nada além
de ir para o porão e esperar.
Horas depois disso eu ressurgi do porão. Fiquei extremamente
surpresa ao ver uma sala de pânico no nível mais baixo, a porta de aço
garantindo que nada pudesse passar. Isso me faz pensar se veio com a casa
ou é uma nova adição.

Construída especificamente para ele.

Quando chego ao térreo da casa, fico cara a cara com um Vlad recém
saido do banho, uma toalha enrolada na cintura.

— Eu estava indo buscá-la, — diz ele.

— Fico feliz em ver que você está melhor, — aceno com a cabeça para
ele, desta vez tendo uma melhor compreensão da minha indiferença. —
Agora, se você puder me levar de volta, isso seria ótimo, — acrescento,
cruzando meus braços sobre o peito.

Eu preciso estar o mais longe possível dele. Só então poderei me


controlar. Mesmo agora, ver os sinais de cansaço em seu rosto me
preocupa, com um pé à frente, meu corpo preparado para ir até ele para
garantir que esteja bem.

E eu não posso fazer isso.

Eu tinha percebido o fato de que ele tem um certo efeito antinatural


em mim há muito tempo. Mas sabendo que a minha inclinação natural é
alcançá-lo significa que também sou capaz de me controlar.
— Isso não está acontecendo, — ele responde casualmente, usando
uma toalha para secar o cabelo. — Seu quarto está destrancado. Deixei
algumas coisas para você lá, então fique à vontade, — diz ele, passando
por mim.

— O que você quer dizer? Você não pode me manter aqui, — eu franzi
a testa, virando-me para segui-lo pelas escadas e entrar em um quarto não
muito diferente daquele em que eu acordei.

— Oh, mas eu posso, Sisi, — ele me dá um sorriso diabólico, — você é


oficialmente minha esposa. Isso significa que seu lugar é comigo. — Ele
pega o relógio de uma mesa, colocando-o no pulso.

— Contra a minha vontade. Realmente, Vlad, qual é o sentido


disso?— Eu suspiro, acabei com tudo. — Por que você não pode me deixar?

— Porque eu te disse, — ele fala devagar, enunciando cada palavra.


— Eu nunca vou deixar você ir. Onde eu vou você vai. E onde você vai...

— Eu vou sozinha, — não o deixo terminar suas palavras, já ficando


brava com ele novamente.

— Eu te seguirei, — ele se aproxima. Tão perto que ainda vejo


algumas gotas de água agarradas à pele dele, a tinta chamando minha
atenção. Mas quando noto que meus olhos ficam cada vez mais baixos,
imediatamente levanto minha cabeça para cima.
Tarde demais.

Ele está me encarando com uma expressão divertida, uma


sobrancelha levantada.

— Gosta do que vê?— pergunta, sua voz arrogantemente ousada


enquanto se posiciona na minha frente.

— Eu já vi melhor, — minto, encolhendo os ombros e passando por ele


para sentar em sua cama. — Precisamos ter uma conversa séria, então
deixa disso, — eu aceno minha mão em direção ao corpo dele, —
movimentos sedutores que você está tentando puxar. Não vai funcionar. —
Mas, enquanto digo as palavras, não posso evitar a maneira como meus
olhos tentam bebê-lo.

E então eu vejo.

Eu franzi a testa quando pareço melhor, percebendo que suas


tatuagens parecem diferentes. Há sim...

— Isso não estava ai antes, — falo antes que eu possa me ajudar,


apontando para o triângulo desenhado sobre os espíritos malignos, quase
como se os estivesse enjaulando.

— Perceptiva, — ele sorri. — Você está certa. É uma nova adição, —


diz ele, mas não elabora.
Eu finjo uma tosse para limpar minha garganta.

Eu preciso me controlar.

— Certo, então, — endireito minhas costas, — preciso voltar para


Nova York. Marcello deve estar preocupado agora.

— Eu deixei um bilhete. — Ele encolhe os ombros, movendo-se pela


cama e em direção a um grande guarda-roupa. Vendo que ele está
tentando o seu melhor para evitar essa conversa, eu apenas o sigo.

— Então ele sabe que estou com você?— Eu pergunto, surpresa que
ele teria sido tão direto.

— Algo ao longo das linhas. — Ele diz divertido antes de deixar cair a
toalha.

É tão repentino que mal tenho tempo para reagir. Meus olhos se
arregalam, minha boca formando um pequeno O quando eu simplesmente
olho em seu corpo.

Definitivamente empolgado.

Não posso deixar de sentir o calor subindo pelo meu pescoço enquanto
vejo sua bunda, tão insanamente bem esculpida. Mesmo coberto
inteiramente de tinta, a maneira como seus músculos se flexionam quando
ele se move é inconfundível.
E então eu levanto meu olhar para cima e o vejo me observando com
uma expressão presunçosa no rosto, então imediatamente me viro,
envergonhada por ser pega olhando.

— Eu não ouvi nada sobre o seu noivo. Ele não sentirá sua falta
também?— ele pergunta, e para minha vergonha eterna, levo um tempo
para controlar meu coração errante, a fim de responder a ele.

— Claro. Raf também. Ele provavelmente está frenético de


preocupação, — digo distraidamente, imagens de sua pele nua ainda
tocando na frente dos meus olhos.

Droga!

Eu estava certa da primeira vez. Eu sou amaldiçoada. E minha


maldição está sendo selada com ele.

— Pena que você já é casada, você não diria isso?— Sua respiração
está subitamente no meu pescoço.

Movendo meu cabelo para o lado, ele segue seus lábios por cima da
parte de trás do meu pescoço, estabelecendo-se sobre minha cicatriz. É o
fantasma de um toque, mas o suficiente para me fazer tremer da cabeça
aos pés.

— Vlad, — digo o nome dele, minhas unhas cavando nas palmas das
mãos enquanto me forço a permanecer imóvel. — Pare com o jogo.
Sua língua sai e eu o sinto lentamente se movendo contra minha pele.
Minha respiração trava, mas como eu percebo que ele está recebendo a
reação que queria de mim, eu rapidamente me viro, empurrando-o para
longe de mim.

— Pare por um momento. Por favor, — estou respirando com


dificuldade. Por excitação ou raiva, não sei. Suas pupilas estão dilatadas
quando ele olha para mim, e eu nem preciso olhar para baixo para saber
que deve estar duro. — E vista algumas roupas, — digo com desprezo,
mantendo meus olhos em seu rosto.

— Vá para o seu quarto, Sisi, — ele sussurra, enfiando os dedos nos


cabelos. — A menos que você queira que algo mais aconteça, é melhor ir ao
seu quarto e trancar a porta.

— Vlad, — eu gemo, exasperada. — Precisamos conversar e resolver


essa bagunça. Realmente não entendo por que você está fazendo isso, mas
preciso voltar para casa e você precisa cuidar do seu próprio negócio. — Eu
digo com confiança, satisfeita comigo mesma por ter divulgado tantas
palavras e com tanta suavidade. E com a maneira como ele está olhando
para mim, é uma maravilha que eu ainda não esteja soluçando, ou pior,
ofegando.

Ofegante... Bom Deus, mas eu estaria ferrada. Literalmente.

— Se você vai ficar aqui, podemos conversar, sim, — ele começa, e um


sorriso de satisfação puxa meus lábios. — Mas não será o tipo de conversa
em que está pensando, — ele sorri. — Então a menos que... — ele
continua, a insinuação clara quando está se aproximando de mim.

— Vá para o inferno, Vlad, — eu me viro, já saindo pela porta. Sua


risada ecoa atrás de mim, quase me incitando a reagir.

Maldito seja, maldito seja e amaldiçoe tudo!

Depois de passear pela casa por um tempo, finalmente encontro meu


caminho para o quarto, me trancando lá dentro.

Tem que haver uma maneira de entrar em contato com Marcello.

Não posso ficar aqui, esperando Vlad ficar entediado comigo


novamente. Porque eu sei como esse jogo vai acabar. Com o meu coração
partido, de novo.

— Merda, — sussurro para mim mesma, meus olhos úmidos de


lágrimas.

Tiro o vestido de noiva, permanecendo apenas na parte de baixo de


cetim. Cansada e frustrada, subo na cama e espero que o sono chegue até
mim.

Maldito seja, Vlad. Por que você tem que continuar me machucando?
Ele não poderia ter desaparecido da minha vida para sempre? Pelo
menos então a dor teria desaparecido com o tempo. Agora a dor está crua
novamente, minhas feridas se abrem e sangram de novo.

Depois de uma boa noite de sono, minha determinação é fortalecida.


Eu só preciso encontrar um telefone, ligar para Marcello para vir me
buscar e tudo o mais deve ser resolvido também.

Eventualmente.

Saindo da cama, percebo que Vlad não mentiu quando disse que havia
colocado algumas coisas no quarto. Existem alguns vestidos como os que
eu costumava usar, além de sapatos, produtos de higiene pessoal e até
mesmo outras coisas.

Maldito seja ele.

Eu tenho que agradecer de má vontade que ele tenha me fornecido


tudo o que eu precisava, mas isso não me torna menos prisioneira.

Preparando-me para o dia, abro a porta, com a intenção de procurá-lo


para outro ataque de discussões. Mas não dou um passo para fora do meu
quarto, pois todo o corredor está cheio de brinquedos.

Há ursinhos de pelúcia em todas as formas e tamanhos, todos


espalhados pelo corredor e bloqueando meu caminho.
O que... Deve haver centenas deles.

— Vlad!— Grito o seu nome, suspirando profundamente ao perceber


que outro argumento está por vir.

— Sim, — ele responde, saindo do final do corredor.

Ele está vestindo uma camisa preta e uma calça de moletom cinza, e
devo dizer que nunca o vi vestido tão casualmente antes.

— O que é isso?— Eu pergunto, acenando minha mão para o exército


de ursinhos de pelúcia que parecem ter sitiado minha porta.

— Bem, — ele começa, parecendo um pouco desconfortável. Ele


levanta a mão, coçando a parte de trás da cabeça evitando meu olhar.

— Por que há um exército de ursinhos de pelúcia aqui?— Eu


pergunto, batendo o pé com impaciência.

— Para você, — ele finalmente diz, sua voz diminuindo um pouco.

— Para mim?— Repito, incrédula.

Fechando a porta do meu quarto, eu atravesso o caminho muitos


ursinhos de pelúcia, tentando ignorar o jeito que são tão macios e oh tão
fofos. Mas este não é o lugar nem o momento para me jogar sobre bichos de
pelúcia.
— Você roubou uma loja inteira de ursinhos de pelúcia?— Eu
atravesso meus braços sobre meu peito, estreitando meus olhos para ele.
— A menos que... — meus olhos se arregalam. — Você colocou algo neles?
Bombas? Dispositivos de escuta?— Sou rápida em agarrar o urso mais
próximo, um minúsculo azul que é tão macio que quero apenas acariciá-lo,
e puxo, rasgando-o nas costuras.

Não há como Vlad fazer isso sem uma razão. Qual é o propósito?
Fazer-me baixar minha guarda?

Falando sobre cavalos de tróia...

— Sisi, — ele geme, tentando tirar o urso de mim, — não há nada


dentro dos ursos.

— Eu não acredito em você, — eu contrario, jogando o primeiro urso e


pegando outro, repetindo o procedimento e sentindo-o por fios ocultos ou
qualquer outro dispositivo que Vlad possa ter colocado dentro deles. — Eu
sabia que você era um canalha, mas não sabia que se rebaixaria tanto para
usar ursinhos de pelúcia. O que há de errado com você, Vlad?— Eu balanço
minha cabeça para ele, triste por estar destruindo brinquedos tão fofos.

— Sisi, — suas mãos cobrem as minhas, impedindo-me de continuar


a rasgar os ursos. — Eles eram um presente. Nada mais. Eu prometo, —
diz ele solenemente, mas apenas empurro as mãos para o lado.
— Como se suas promessas contassem para qualquer coisa, —
murmuro, sem olhar para ele.

— Estou falando sério. Eu só queria presenteá-los para você.

— Por quê?— Eu atiro de volta imediatamente.

— Para que você não esteja... solitária, — ele admite, abaixando a


cabeça.

Eu franzo a testa, incapaz de ler sobre ele. Qual é o ângulo dele desta
vez?

— Para que eu não esteja sozinha?— Repito, minhas sobrancelhas


disparando contra a explicação dele antes que eu simplesmente caísse na
gargalhada.

— Acho que você não gostou deles, — diz baixinho, olhando para o
que resta do ursinho no chão.

Antes que eu tenha a chance de responder, ele se foi, levando o


ursinho de pelúcia rasgado com ele.

Eu sabia.

Deve ter algo dentro que eu não notei, então ele está levando com ele
para esconder as evidências.
Balançando a cabeça para ele, decido que quanto mais cedo sair daqui,
melhor. Quem sabe que outros truques tem na manga.

Para minha surpresa, não vejo Vlad o resto do dia. É apenas na


manhã seguinte que noto sua presença novamente, e desta vez com um
gesto exagerado também.

— Sério?— Eu reviro os olhos para ele, levantando a bainha do meu


vestido para que não fique sujo. Então eu tento o máximo para contorná-lo
e descer as escadas para o café da manhã.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

— Vanya, onde você está quando eu preciso de você?— Eu suspiro,


descansando minha cabeça em minhas mãos. Ela saberia o que fazer nessa
situação.

Não sei o que esperava ao vê-la novamente. Eu certamente não tinha


pensado muito nisso. Eu tinha agido no calor do momento, sabendo que
nunca poderia deixá-la se casar com ninguém além de mim. E então eu
tinha garantido — com força — que ninguém será capaz de se casar com
ela. Casando com ela eu mesmo.

Mas tudo parece ter saído pela culatra.

O que Vanya diria?


— Claro que saiu pela culatra, seu idiota! Você ameaçou matar a
família inteira dela. — Eu tento imitar minha irmã.

Bem, quando você coloca assim...

Eu estava tão desesperado que nada parecia fora dos limites no


momento. Eu teria feito qualquer coisa para amarrá-la a mim para
sempre. Inferno eu mataria a família dela.

Não há absolutamente nada que eu não faria por ela, e isso inclui
assassinatos em massa. E genocídio. E até guerra nuclear.

Existe algo pior que a guerra nuclear?

Provavelmente roubar doces de uma criança. E eu teria feito isso


também!

Mas agora ela me odeia...

Não que eu a culpe, já que ela tem todo o direito de me odiar. Mas não
sei como consertar. Não sei como fazê-la ver que sou sincero e que não
estou jogando nenhum jogo. Não sei como mostrar a ela que mudei, pelo
menos um pouco, e que estou pronto para fazer o que for preciso para
reconquistar seu amor e sua confiança.

— Eu estraguei tudo. — Eu murmuro para mim mesmo, meu


comportamento de ontem foi nada menos que atroz.
Mas como eu poderia ter reagido de outra maneira quando ela
conseguiu partir meu coração com apenas algumas palavras?

Ele adorou meu corpo e fez amor. Ele me mostrou que não precisa doer.
E quando isso acontece, é bom.

Eu levo meu punho para cima, batendo contra meu coração na


esperança de que possa diminuir a dor. Desde que ela as pronunciou, essas
palavras continuaram repetindo na minha cabeça, torturando-me com o
conhecimento de que ela não é mais minha.

Que ela...

Não, só não consigo imaginar alguém a vendo nua ou tocando nela.


Mas outro homem dentro dela? Trazendo seu prazer? Tomando meu lugar?

— Foda-se, — eu me dou um soco ainda mais forte.

Por que parece que há uma escassez de oxigênio no quarto? Ou é


porque meus pulmões não podem mais processá-lo? Porque quanto mais
penso em Sisi, minha Sisi... nomesmo cômodo que outro homem, quero
enlouquecer. Mas pensar nela fodendo outra pessoa?

A dor é tão insuportável que nem consigo ficar de pé. Meus pés mal
me carregam para a cama quando eu desmorono, de bruços no colchão.
— É tudo culpa minha. — Eu sussurro, sabendo que não tenho
ninguém para culpar além de mim.

Eu a afastei.

Eu a empurrei em seus braços.

Ela está certa. Posso culpá-la quando tudo o que fiz foi machucá-la —
tanto física quanto emocionalmente?

Agora só espero que um dia ela me perdoe. Mesmo que eu tenha que
fazer penitência todos os dias pelo resto da minha vida, farei isso enquanto
ela estiver comigo.

Ela é minha única esperança neste mundo fodido, a única estrela que
brilha intensamente só para mim. E não importa o quê, recuperarei sua
confiança.

Mas por onde começar?

Eu também preciso fazer isso rápido, já que tenho certeza que


Marcello acabará descobrindo que fui eu quem a roubou da igreja, e ele
virá atrás de mim — armas em punho.

É a razão pela qual escolhi esse local, já que é longe o suficiente de


Nova York para não lhe dar ideias, mas também é um lugar pelo qual sei
que Sisi está apaixonada há muito tempo.
É certo que só conheço essa informação porque tenho monitorado todo
seu registro na Internet desde o primeiro dia, muitas vezes sombreando
seus movimentos na web para entendê-la melhor, seus gostos e desgostos.

Quando vi que ela havia salvado várias fotos desse local, incluindo
algumas da cidade, imediatamente fiz uma oferta pelo local, com a
intenção de surpreendê-la.

Infelizmente, a surpresa parece ter caído bastante, e ela não ficou tão
impressionada comigo.

Pelo menos toda a minha espionagem garantiu que eu tenho todo o


conhecimento para cortejá-la adequadamente desta vez. Ela pode estar
chateada comigo, mas farei tudo ao meu alcance para mostrar que sou
sincero.

Fiz extensas listas de itens que ela pode gostar e, com a ajuda de
alguns artigos muito perspicazes na internet sobre como conquistar uma
mulher, projetei o plano perfeito para cortejá-la.

Certamente, pelo menos algumas das surpresas que planejei devem


acabar com sua desconfiança.

Mas isso me deixa um pouco apreensivo, já que o primeiro já havia


sido tão ruim.
Viro-me para olhar para o olhar desolado do ursinho de pelúcia
rasgado e minha esperança cai ainda mais no meu peito.

E ainda tenho o urso gigantesco que comprei no aniversário dela...

Ela não reagiu como eu esperava. Eu pensei que, como ela gosta tanto
de ursinhos de pelúcia, uma legião inteira deles a faria mais feliz.

Isso só a deixou louca.

Eu deveria ter percebido que ela não confiaria nas minhas intenções,
já que não lhe dei muito para confiar. Desde o momento em que ela entrou
nesta casa, eu apenas a ameacei e a provoquei, porque ficar na defensiva
era muito mais fácil do que me abrir para muita dor.

Mas não é uma boa estratégia.

Não, de acordo com artigos on-line, eu deveria tentar mostrar a ela


meu lado vulnerável, não o meu bárbaro. Claro, tudo além de presentes,
elogios e atenção.

Certamente, meu trabalho será dobrado, se quiser acreditar nesses


gurus online. Mas como não pretendo desistir — até que ela me perdoe —
tenho uma lista inteira de coisas para fazer que devem colocá-la em um
clima mais tolerante.
Terminando minha sessão de chafurdar bastante curta, já que não
posso me dar ao luxo de perder um precioso tempo de cortejo, tomo banho e
escolho minhas roupas com cuidado.

Um artigo havia especificado que eu deveria me esforçar na minha


aparência, então passei a noite inteira comprando roupas da moda.

Desde que me aventurei no mundo louco das compras on-line, também


acabei recebendo muitas coisas que as mulheres aparentemente gostam:
perfume, jóias, bolsas e sapatos. E como nunca percebi o quão caras são
essas coisas, tive que ter algumas palavras com meu banco repetidamente
durante a noite.

Acho que é o que acontece quando você gasta milhares de dólares em


roupas.

E enquanto ainda espero que sejam entregues, tenho outra surpresa


planejada para hoje.

Recém banhado e com um traje novo — elegante — vou para a frente


da casa para receber o pedido personalizado que fiz de chocolate.

Afinal, todos os artigos mencionavam chocolate e que as mulheres


adoram. Também sei com certeza que Sisi adora doces, por isso
definitivamente deveria ganhar pontos bônus.
Assinando meu nome no formulário, puxo para dentro do carrinho
cheio de guloseimas de chocolate, incluindo uma fonte de chocolate
bastante grande.

Eu instalo rapidamente tudo na frente do quarto dela, uma oferta


para minha deusa, e então espero.

Olho ansiosamente para o meu relógio, esperando que abra a porta do


quarto e veja o mar de chocolate que eu havia colocado na porta dela.

Bem no ponto, ela abre a porta, os olhos se arregalam quando me


surpreende. Observo sua expressão com cuidado, esperando ver uma
reação positiva.

— Sério?— ela pergunta, revirando os olhos para mim e erguendo a


saia para contornar o chocolate.

Eu assisto estupefato quando ela sai do corredor, descendo as escadas.

Ela nem sequer piscou um olho.

Não desistindo, eu a sigo rapidamente.

— Você gosta de chocolate, — digo quando a encontro na cozinha,


olhando em volta dos vários armários vazios.
Ela faz uma pausa, virando-se para mim para levantar uma
sobrancelha.

— O que você está tentando fazer desta vez, Vlad? Envenenar-me? Me


dar algum tipo de poção, então eu sucumbirei às suas artimanhas?— ela
balança a cabeça para mim, voltando a atenção para a cozinha.

— Eu não coloquei nada neles. Olha, — eu digo a ela, mostrando uma


grande caixa de chocolate e o fato de estar fechada. Abro e coloco alguns
pedaços na boca, querendo que ela veja que não há veneno ou qualquer
tipo de poção.

Ela me observa através de olhos estreitos, quase como se não quisesse


acreditar em mim. O tempo todo eu não consigo me ajudar, mas encaro-a,
sua beleza nunca deixa de me deixar sem palavras.

Mesmo com o cabelo curto, ela é simplesmente deslumbrante e com os


lábios carnudos... Tenho dificuldade em engolir enquanto me perco em
suas feições, seus olhos cor de mel me mantendo em cativeiro.

Porra, mas ela me faz me esquecer.

— É muito bom. Tome alguns, — dou alguns passos para estar mais
perto dela, enfiando a caixa de chocolates no seu rosto.

Ela olha para eles por um segundo antes de balançar a cabeça.


— Estou com fome. Então, a menos que você planeje me alimentar
com comida de verdade, não ligo para chocolates agora, — diz ela, e meus
olhos se arregalam.

Claro! Por que eu não pensei nisso?

— Perfeito. — Eu sorrio para ela, colocando a caixa na mesa e


agarrando as suas mãos para levá-la a uma cadeira. — Sente-se e eu vou
fazer algo para você comer. — Eu digo, com um pouco de entusiasmo para
alguém que não sabe cozinhar.

Mas quão difícil pode ser?

— Sem veneno, — ela murmura com meio sorriso, e não posso evitar
a felicidade que floresce no meu peito quando vejo isso. Mesmo que seja
metade, está no meio do caminho.

— Claro. Eu vou fazer para você o melhor café da manhã, — declaro.

Deixando-a na mesa, vou para a cozinha por um pouco de comida,


percebendo que não tinha conseguido muito.

Existem apenas alguns ovos na geladeira. Nada mais.

Merda!
Olhando para trás, eu a vejo me observando com expectativa, e sei que
isso é algo que não posso falhar.

Tirando os ovos, tento lembrar se já li como eles são cozidos e depois


sigo os passos de memória.

Identificando uma receita de omelete, encontro uma tigela e quebro os


ovos e começo a mexê-los.

— Não sabia que você sabia cozinhar. — Sisi observa por trás, ainda
me observando atentamente.

Eu também não sabia.

— Fácil, — eu atiro, mesmo que por dentro eu esteja suando ao


pensar em fazer tudo errado.

São apenas ovos! Quão difícil pode ser?

Quando a mistura parece ser homogênea o suficiente, aqueço uma


panela e a despejo dentro.

Totalmente focado em acertar, fico surpreso quando sinto Sisi atrás de


mim, se colocando nas minhas costas, com as mãos em cima dos meus
ombros.
— Você está malhando, — observa ela, com as mãos abaixando e me
distraindo da minha tarefa.

— Sim, — eu lhe dou uma resposta tensa, respirando em sua


presença, seu perfume fresco invadindo minhas narinas e me
hipnotizando.

— Em todo lugar, — ela sussurra, os dedos seguindo pelas minhas


costas e na minha bunda...

Meus olhos se arregalam quando percebo exatamente o que ela está


fazendo.

A colher cai da minha mão quando eu me viro rapidamente,


enjaulando-a contra o balcão. Como esperado, meu telefone está na mão
dela, pois ela está me dando o olhar mais doce do mundo.

— Você é astuta, hell girl. — Eu elogio, gostando do jeito que ela está
batendo nos cílios para mim como se eu não a tivesse pego tentando roubar
meu telefone. — O que vem a seguir? Ligar para o seu irmão mais velho?—
Eu levanto uma sobrancelha para ela.

Ela não recua empurrando o queixo para cima, olhando-me


bravamente nos olhos.

— Sim, de fato, eu irei, — ela me diz, e um sorriso toca nos meus


lábios.
Marcello certamente descobriria em algum momento, então não estou
preocupado muito com ele. Ele definitivamente vai me fazer mudar um
pouco meus planos, mas eu já decidi isso e nada e ninguém algum dia me
levará para longe de Sisi novamente, inclusive eu.

— Vá em frente, — eu a desafio. Eu me pergunto o que ela fará


quando perceber que Marcello não será capaz de ajudar. Nem agora, nem
nunca.

Ela estreita os olhos para mim, duvidando das minhas intenções. Eu


apenas dou de ombros, até pressionando meu dedo para baixo para
desbloquear o telefone. — Ligue, — eu a desafio novamente.

Também deve ser uma coisa boa, já que vou anunciar oficialmente ao
mundo que ela é minha.

Uma carranca suspeita no rosto, ela rapidamente passa pela minha


lista de contatos, discando para o irmão.

— Marcello?— ela pergunta quando ele responde, e eu puxo a mão


dela em minha direção, garantindo que o telefone esteja no viva-voz. Ela
me dá um olhar mortal que acabei de voltar com um dos meus sorrisos
encantadores.

— Sisi, Deus! Você está bem? Onde você está?— Marcello dispara
pergunta após pergunta.
— Não se preocupe, eu estou bem. Por enquanto, — acrescenta ela,
erguendo os olhos para encontrar os meus.

— Onde você está? Eu vou buscá-la!— ele continua, mas eu só a deixei


dizer Nova Orleans antes de assumir.

— Marcello, querido amigo, ou devo chamá-lo de cunhado agora, —


acrescento, ignorando a maneira como os olhos de Sisi estão atirando
punhais em mim.

— Vlad, — diz Marcello concisamente. — Que porra você está


fazendo?

— Nenhuma recepção calorosa para a família? Triste...

— Vlad, por que Sisi está com você? O que diabos está acontecendo?

— Eu pensei que minha nota deixava claro o suficiente, — falo,


empurrando meu dedo contra os lábios de Sisi para calá-la. — Acabei de
recuperar minha propriedade. Sabe, tentei os achados e perdidos primeiro,
mas imagine minha surpresa quando eles me direcionaram para uma
igreja, — finjo um arrepio, — você sabe como eu odeio esses lugares, —
Sisi revira os olhos para mim, mas continuo, já ouvindo Marcello explodir
ao fundo. — Mas agora que a encontrei, nunca vou me soltar, —
acrescento, — apenas um aviso amigável.
— Vlad, — eu posso ouvir a tensão em sua voz. — Que diabos é o seu
jogo? E que diabos é o seu negócio com minha irmã. Sisi, você está bem?

— Por que todos acham que estou jogando um jogo, — gemo,


empurrando meus dedos contra os lábios de Sisi quando vejo que ela está
tentando falar. A pequena atrevida me dá uma aparência desafiadora
antes de abrir a boca, chupando meu dedo.

— Porra, — eu involuntariamente murmuro.

— Vlad? Juro que se você machucar um fio de cabelo...

— Cunhado, acalme-se. Eu não vou prejudicar sua irmã. Por uma


questão de fato, ela está bastante ocupada chupando o meu... — Eu não
termino quando a mão de Sisi pega o telefone, me empurrando.

— Vlad!— Marcello grita no telefone.

— Estou bem, Marcello. — Sisi finalmente assume, dando-me uma


olhada que diz fique parado. — Ele não vai me machucar, mas é bastante
inflexível em se casar comigo.

— Já casei, — acrescento sorrateiramente.

— Eu vou matá-lo, porra, — Marcello continua me xingando por um


tempo, e até Sisi está ficando entediada com seu discurso.
— Eu vou buscá-la, não se preocupe. Não vou deixá-lo fugir disso, —
continua Marcello, e percebo que é hora de pôr um fim ao jogo.

Passando o telefone das mãos de Sisi, assumo a conversa, certificando-


me de que Marcello atenda ao meu aviso.

— Fique fora disto Marcello. Eu a deixei ligar para você por cortesia,
mas não se engane, você jamais a está tirando de mim. Isso se estende
para todo mundo, incluindo aquela criança magrela que pensou em se
casar com ela. Vou dizer isso apenas uma vez. Ela é minha. E confie em
mim, esquecerei toda a nossa história em um segundo, se for o caso. — Eu
digo a ele, minha voz é séria.

— Você é louco, — ele responde.

— Talvez. Mas lembre-se, eu sou o tipo de insano que acabaria com


um país inteiro se chegasse a isso. Então, faça um favor a si e a todos os
outros e fique fora disso.

— Você está morto, Vlad. — Eu tento não revirar os olhos para as


ameaças, mas parece que ele simplesmente não entende.

— Não, Marcello. Quem tentar tirar Sisi de mim está morto. Você
incluído. — Eu cerro meus dentes. Se eu for forçado, mostrarei a todos por
que eles me chamaram de berserker em primeiro lugar. E ninguém
escapará com suas vidas intactas. — Ela está segura, e eu não vou
prejudicá-la. Você tem minha promessa, — digo, voltando meu olhar para
ela. — Mas ela é minha, — Repito antes de desligar e jogar o telefone no
chão.

— O que... — Os olhos de Sisi se arregalam. — Você destruiu... — ela


murmura enquanto olha para a tela quebrada.

— Isso foi um aviso para seu irmão, mas também para você, hell girl,
— eu a puxo para mim, forçando-a a me olhar nos olhos. — Ninguém
nunca vai tirar você de mim.

— Até você ficar entediado, — ela sussurra.

— Eu nunca vou ficar entediado, — eu deslizo meu dedo por seus


lábios, suas pupilas se dilatando quando eu inclino minha cabeça. — Agora
vamos comer, — eu falo contra os lábios dela.

Infelizmente, nós dois esquecemos os ovos enquanto telefonamos e,


por isso, consegui queimar a única comida disponível em casa.

— Estou pedindo um pouco, não se preocupe. — Eu tento aplacá-la um


pouco mais tarde, enquanto me apresso para o meu laptop, de repente com
medo de que ela fique irritada se ficar com muita fome, e isso certamente
não me dará pontos extras.

Demora um pouco para a comida chegar, mas uma vez espalhada


sobre a mesa e nós dois estamos comendo, o silêncio desce.
Seu olhar volta para mim curiosamente de vez em quando, e mesmo
quando me perco em sua beleza, tento me lembrar de alguns dos conselhos
que li.

— Você é muito bonita quando come. — Eu a elogio, um pequeno


sorriso puxando meus lábios.

Sua mão para no ar quando ela está prestes a morder uma asa de
frango.

— Não que você não seja bonita todos os dias. Na verdade, você é
bonita todo momento, — continuo, com medo de alguma forma errar.

Ela inclina a cabeça para o lado, ainda me observando.

— Linda, não bonita, — eu altero.

Droga, esqueci que as mulheres se preocupam com particularidades.

— É mesmo?— ela pergunta, não convencida, a mão roçando a franja


e revelando a marca de nascimento no rosto.

— Claro. Até essa coisa manchada no seu rosto é encantadora, —


acrescento por uma boa medida, já que não há parte dela que eu não amo.
Ela pisca duas vezes, lentamente. Sua boca se abre e fecha algumas
vezes antes que ela se levante de repente, pegando o balde inteiro de asas
de frango e jogando-o sobre minha cabeça.

— Você é um cafajeste, — ela murmura, saindo da cozinha.

E fiquei franzindo a testa, incapaz de entender o que eu disse que


estava tão errado.

Porra, mas por que eu sou um grande idiota?

Algo que eu disse deve tê-la perturbado, e agora estou de volta ao


zero. Ou é menos?

Suspiro, levantando-me e vendo mais pequenas asas de frango caírem


do meu cabelo.

Por que as mulheres são tão difíceis?


Sendo completamente ignorado por ela me faz acreditar que tenho que
mudar de estratégias. Pelo menos um pouco. Todas as roupas, sapatos e
bolsas chegaram, mas ela nem as reconheceu. Mais uma vez, ela revirou os
olhos para mim e seguiu em frente.

Felizmente, desta vez eu estoquei a cozinha para que ela tivesse


ingredientes para fazer algo para comer.

Apesar de todo o seu aborrecimento comigo, ela fez comida suficiente


para dois e me deu um prato também. Eu tenho que admitir que eu
poderia ter encarado um pouco demais, que ela quase tirou de mim.

— Você está comendo?— ela perguntou, sua voz me dizendo que eu


não deveria incomodá-la ainda mais.

Mas não era que eu não queria comer. Em vez disso, eu não queria
que fosse tão rápido. Afinal, era algo que ela fez com as mãos, para mim.

Bem não para mim, mas ainda assim, parecia que era para mim e eu
queria mantê-la por mais um pouco.

— Claro, — respondi imediatamente, pegando meu garfo e cavando.

Ah, mas tinha sido tão bom.


Acho que não comi comida tão boa em toda a minha vida e com certeza
apontaria para ela. Mas até esse o elogio tinha sido feito em ouvidos
surdos. Ela apenas acenou com a cabeça e depois saiu para o quarto depois
que terminou, instruindo-me a lavar a louça.

O tratamento frio continua por mais de uma semana. Eu tento trazer


presentes para ela para mostrar que estou sério, mas ela apenas os ignora,
me olhando nos olhos, como se eu fosse a escória da terra.

De certa forma eu sou, porque eu seio que fiz com ela foi imperdoável.
Eu sabia que a machuquei demais para que ela me desse outra chance.

Mas não consigo parar de tentar. Não quando a alternativa é uma


morte lenta e sufocante. Porque sem ela eu definitivamente iria para uma
sepultura precoce.

Há um pouco de conforto em saber que ela está perto e ninguém mais


pode chegar até ela. Mas como isso me ajuda quando ela despreza todas as
tentativas que eu fiz para mostrar o quanto estou arrependido pelo meu
comportamento?

O tempo passa e, embora ela não pareça mais se opor a mim,


provavelmente já se conformou por não haver saída, seu comportamento
em relação a mim não derrete.

Quando mais uma semana se passa e eu ainda não fiz qualquer


progresso, sei que é hora de mudar de estratégias.
E então me encontro com um enigma. O que posso fazer para pacificá-
la? Para fazê-la ver que minhas tentativas são genuínas e que meus
elogios também são do meu coração?

Talvez eu devesse apenas dar a ela meu coração em uma bandeja.

Mas isso não vai funcionar. Por mais que eu adorasse fazer isso,
gostaria de estar presente para ver a reação dela e não seria capaz de fazê-
lo morto.

E se...

Eu paro, uma ideia se enraizando na minha mente. E só para ter


certeza de que não estou cometendo mais erros, já que não gostaria de
incomodá-la novamente, abro meu laptop e começo a navegar na lista de
mais procurados do FBI.

Então, eu apenas trabalho minha mágica para encontrar alguém na


cidade.

Um pouco mais de tempo do que eu gostaria, já que agora vou perder


uma manhã de presentes. Mas talvez ela aprecie a criatividade extra.

Armado e com um plano bem planejado, certifico-me de trancar a casa


inteira antes de sair para a noite.

Michael Garrett.
O único homem que acabou nas proximidades era o pedófilo mais
procurado em cinco estados. Enquanto Maxim me fornece um suprimento
semanal de prisioneiros para o meu processo terapêutico, isso precisa ser
mais pessoal, já que estou fazendo isso por Sisi.

E então eu vou para um dos locais que eu rastreei do celular dele, um


bar suburbano, e então eu cuidadosamente coloco a armadilha,
certificando-me de que ele está drogado antes de levá-lo de volta para casa.

Michael não parece um sujeito tão inteligente, embora esteja fugindo


dos federais há um tempo. Mas, novamente, não deveria me surpreender
que as organizações estatais estejam se debatendo. Afinal, eu sou quem se
beneficia de sua incompetência.

Uma vez que o corpo dele está carregado no carro e estou voltando
para casa, tenho que ter um cuidado extra para que a surpresa não seja
arruinada para Sisi.

Indo para o porão, acesso uma parte separada do resto. Eu não queria
que Sisi visse e se assustasse comigo, de novo.

E assim, quando chego à minha sala de sangue, coloco Michael em


uma mesa, rapidamente começando a trabalhar.

A parte mais fácil é abri-lo e tirar o coração. De fato, levo menos de


meia hora para cortar a pele, abrir a cavidade torácica e tirar o coração. E
como não é meu primeiro rodeio, eu até consigo fazer isso sem fazer uma
bagunça.

Assim que tenho o coração, dreno sangue e cauterizo as artérias para


que não vazem ainda mais líquido mais tarde.

Então, pego um bisturi e trabalho, esculpindo uma dedicação especial


a Sisi.

Comparado à parte da extração, acertar meus golpes é muito mais


difícil, pois o músculo tem estrias e é globalmente desigual.

Leva algumas horas de concentração para garantir que tudo esteja


perfeito. Quando terminei, já está perto do amanhecer, então sei que não
posso perder tempo.

Conseguindo uma bandeja de prata e espalhando algumas pétalas de


rosa, finalmente estou satisfeito com a aparência geral.

Se eu não puder lhe dar meu próprio coração, darei a próxima melhor
coisa.

Mas e se ela pedir o meu?

E se ela não estiver satisfeita com um substituto? Quero dizer, tenho


certeza de que poderia fazer um transplante de coração... Sim, isso
funcionaria. Eu estaria vivo para ver a reação dela, e ela ainda pegaria
meu coração.

Vantajoso para todos.

Só para ter certeza de que tenho tudo coberto, ligo para Maxim e peço
que me agende uma consulta cardíaca.

Talvez então ela veja o quão honestas são minhas intenções.

Ainda assim, espero que isso seja suficiente, já que um transplante


me colocaria fora de serviço por um tempo e há muito a ser feito para
perder tempo.

Eu já perdi um dia de presentes, então, pouco antes de ela abrir a


porta, estou lá, esperando.

— O que é isso?— ela pergunta quando eu fico cara a cara com ela.

— Eu fiz uma coisinha para você, — digo, tentando parecer confiante,


mesmo que já esteja com medo de ofendê-la mais uma vez.

— Novamente?— ela levanta uma sobrancelha, os braços cruzados


sobre o peito enquanto ela espera que eu retire a tampa do prato.
— Bem, eu coloquei mais trabalho nisso. Eu não apenas comprei, —
dou a ela meu sorriso característico, meus dedos na tampa enquanto a
levanto, observando cuidadosamente sua expressão.

Ela olha para o coração e, por alguns segundos, fica quieta.

E então ela ri.

— Vlad, — ela começa, mal consegue falar entre gargalhadas, — o


que é isso?

— Um coração. — Eu respondo, um pouco inseguro.

Porra, mas eu pensei que ela gostaria.

— Você me trouxe um coração?— ela levanta o olhar para encontrar o


meu e eu aceno.

— Está no lugar do meu coração, já que eu não poderia trazer isso e,


você sabe de verdade trazê-lo. — Eu tento explicar, mas ela continua rindo.

— Vlad, — ela se força a manter uma expressão direta, — você


esculpiu um coração em um coração?— ela explode em gargalhadas
novamente.
Viro o coração em minha direção, tentando ver o que é tão engraçado.
Eu tinha esculpido o nome dela com uma ponta de flecha e três ao lado, já
que é isso que as pessoas usam para indicar amor online.

— Eu não entendo, — falo devagar, franzindo a testa em confusão.

— Isso, — ela aponta para a ponta da flecha e os três, — é um


coração. Esculpido em um coração, — ela ri.

— Você não está brava?— Eu pergunto, só para ter certeza. — Eu


pensei que você gostaria. — Eu sorri de novo, esperando encantá-la.

— É bastante incomum, — ela responde, franzindo os lábios. — Mas


eu gosto, — observa ela, e finalmente suspiro em alívio.

— Bom. Bom. Eu pensei que você gostaria que eu lhe desse meu
próprio coração, mas isso teria sido um pouco mais difícil, — digo e as
sobrancelhas dela se unem em consternação, — não impossível, — eu
altero, — apenas mais complicado.

— Você teria me dado seu coração?— ela pergunta, piscando como se


estivesse surpresa.

— Claro. Ainda posso fazê-lo, mas não imediatamente. Pedi a Maxim


para me agendar uma consulta de transplante e, depois disso, você pode
fazê-lo, — meus lábios puxam um sorriso.
— Por quê?— a pergunta dela me confunde.

— Porque? Para fazer você ver que não estou jogando nenhum jogo, —
respiro fundo, — estou realmente tentando, — confesso.

— Onde você conseguiu um coração, no entanto?— ela muda de


assunto, não reconhecendo realmente minha declaração.

— Não era uma pessoa inocente, eu juro, — sou rápido em me


defender, — era um pedófilo conhecido, e acabei de chegar até ele antes da
polícia. — Eu digo, removendo rapidamente meu novo telefone do bolso e
mostrando o nome dele na lista do FBI.

— Entendo, — ela responde pensativamente. — Está limpo?

— Limpo?— Repito, confuso. Mas então me ocorre o que ela quer


dizer. — Sim, é muito limpo, — respondo com um sorriso.

— Então vamos lá, garanhão. Estou faminta e você trouxe o café da


manhã. Você deveria cozinhar. — Ela pisca para mim, pegando minha mão
e me levando para a cozinha.

Porra, ela está me tocando! Funcionou!

Acabei grelhando bem o coração enquanto Sisi faz um molho para


acompanhá-lo, e em pouco tempo estamos ambos à mesa, experimentando
a comida. Também abro uma garrafa de vinho tinto ao lado.
— Você sabe, — ela começa, com a boca cheia, — nunca pensei que
diria isso, mas o coração de um pedófilo não tem um gosto meio ruim, —
comenta ela, um sorriso travesso no rosto.

— De fato, — é tudo o que posso dizer enquanto a vejo me dar um


sorriso pela primeira vez em dias. E assim, sinto meu próprio coração dar
uma cambalhota estranha no meu peito.

— Eu sinto muito. — Eu digo sinceramente, aproveitando a única


chance que ela não está com raiva de mim.

Ela franze a testa, colocando o garfo para baixo para concentrar sua
atenção em mim.

— Eu nunca te disse, mas sinto muito pelo que fiz com você, —
engulo, as imagens daquela noite ainda me assombram — e pelo que eu
disse. Quero que saiba que nunca quis dizer nada disso, só precisava de
você longe de mim.

— Por quê?— Ela me considera solenemente, a cabeça inclinada para


o lado.

— Eu não queria te machucar mais do que já fiz. Eu... — Eu deixo


escapar, palavras me falhando. Não que eu já tenha sido ótimo com elas,
como Sisi pode atestar.
— Por que agora? Por que você está fazendo isso agora, Vlad? Tivemos
uma pausa clara. Três mesese eu não tive notícias suas, e agora você está
de repente aqui, na minha frente, me dizendo que sente muito?

— Eu não voltaria à sua vida, Sisi. Eu realmente pensei que era isso,
— meus punhos se apertam debaixo da mesa e eu tento o meu melhor
para permanecer no controle.

— Então o que mudou?— Ela franze a testa.

— Eu mudei. — A boca dela se separa um pouco. — Eu percebi que


não podia fazer isso. Não poderia existir sem você. Então eu tentei
melhorar. Eu sou melhor.

— Eu não entendo, — ela responde, e vejo isso como minha chance


antes que ela se retire dentro de si mesma novamente.

Empurrando minha cadeira para trás, desabotoo minha camisa,


tirando-a e descartando-a no chão. Chegando ao lado dela, pego a mão dela
e a coloco no meu peito, bem no ângulo agudo do triângulo.

— Este não é apenas um triângulo, Sisi, — digo a ela, usando as


próprias mãos para traçar sua verdadeira forma. — É um A.

— Um A... — uma carranca estraga suas feições enquanto ela se


aproxima para estudar a tatuagem na minha pele.
— O A que mantém os monstros afastados, — continuo, minha mão
no cabelo dela enquanto o acaricio levemente. — Eu menti naquela noite,
Sisi. Porra, eu menti sobre tudo. Mas a única coisa que você precisa saber é
que você não é qualquer uma para mim. Você é única. — Eu respiro fundo,
empurrando o queixo para que ela possa ver a sinceridade nos meus olhos,
— minha única.

— Vlad, — ela começa, e eu posso ver lágrimas brilhando em seus


olhos.

— Não, você não precisa dizer nada, — pressiono um dedo nos seus
lábios, usando a outra mão para limpar um pouco da umidade nos cílios. —
Eu vou esperar por você. Não importa quanto tempo leve, vou esperar por
você. Mas não vou deixar você ir. Não desta vez.

Meu plano está começando lentamente a funcionar. Há alguns dias,


Sisi e eu desenvolvemos uma companhia agradável e ela não fecha mais a
porta na minha cara. De fato, até reconhece minha presença agora, o que é
mais do que eu esperava.

Mas como não é o melhor progresso, preciso intensificar mais meu


jogo. Depois de ler vários artigos, decidi seguir seus conselhos, pois todos
parecem recomendar a mesma coisa: se fazer de difícil.

Não tenho muita certeza de como essa é a melhor abordagem, já que


acabei de fazê-la falar comigo, mas se essa é a chave para torná-la mais
interessada em mim, que assim seja.

Ao olhar para vários sites, vejo que preciso ser o único a ignorá-la
agora. Tudo, é claro, para fazê-la chegar primeiro.

— Droga, — murmuro para mim mesmo, um pouco relutante em


mudar de atitude.

Mas se eles disseram que vai funcionar...

Nos próximos dois dias, faço exatamente isso. Quando a vejo, mal digo
algumas palavras, na maioria das vezes me mostrando indisponível.

Percebo que ela está incomodada com minha súbita mudança de


atitude, e é preciso tudo em mim para não parar imediatamente e pedir
desculpas. Mas quanto mais olho para os conselhos na internet, mais eles
recomendam o contrário.
No terceiro dia, nem preciso tentar, pois sou chamado pelo dia inteiro.
Maxim de repente me ligou para pedir ajuda para lidar com a polícia no
caso de alguns prisioneiros desaparecidos. E como Maxim não é o melhor
em diplomacia, prefiro lidar com isso sozinho.

Depois de um dia inteiro de reuniões, chego em casa pronto para ir


para a cama. Abrindo a porta do meu quarto, nem presto atenção ao meu
entorno enquanto tiro o blazer e a gravata antes de afrouxar os botões da
minha camisa.

— Porra, você me assustou, — pulo quando a luz acende e vejo Sisi


sentada na minha mesa, com as mãos na mesa me olhando com suspeita.

— Precisamos conversar, — diz ela, levantando-se e se colocando na


minha frente.

— Nós precisamos?— Eu levanto minhas sobrancelhas, um pouco


confusas.

— Sim, — ela assente, cruzando os braços sobre o peito em uma pose


que me diz que quer dizer negócios.

Porra, acho que estou ferrado.

Agora só tenho que ver o que fiz de errado.

Novamente.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Como vai de prometendo nunca me deixar ir um dia, me ignorando


completamente no dia seguinte?

Estou tão frustrada que estou pronta para jogar minhas mãos no ar.
Eu me orgulhava de poder ler Vlad muito bem, e até me vi acreditando em
suas desculpas e garantias sobre me esperar.

Mas agora? É como se ele tivesse feito uma volta de cento e oitenta
graus.

Alguns dias atrás, ele estava me oferecendo seu coração em uma


bandeja, literalmente. É certo que foi um gesto muito doce que me fez
derreter apenas um pouco. Mas agora ele mal reconhece minha presença.
Na verdade, depois de muitas exibições de presentes e surpresas
opulentas, comecei a ficar um pouco curiosa sobre o que ele faria a seguir.
Bem, considere-me completamente surpresa quando abri minha porta para
nada.

É isso?

Ele pensou que, porque tivemos uma conversa civilizada, ele já foi
perdoado? Ou que não precisa mais se esforçar? Se for esse o caso, ele terá
uma surpresa.

Eu posso estar amolecendo em relação a ele somente um pouco, mas


isso não significa que tudo esteja perdoado. De fato, se ele quiser que eu
acredite em uma palavra que ele diz novamente, é melhor ele trabalhar
para provar que é confiável.

É verdade que há um lugar especial em minha alma apenas para ele,


e não posso negar o modo como ele continua fazendo meu coração pular
uma batida apenas por estar mais perto. Junte isso com seus doces gestos
e ele conseguiu me impressionar. Eu certamente não o teria apontado
como do tipo romântico, mas ele foi além para me mostrar que pode ser.

Mas a questão não é se ele pode me impressionar com gestos fora do


comum — embora o coração tenha sido um toque agradável —, mas se eu
posso realmente confiar em suas ações.

E vendo a rapidez com que ele desistiu, não sei se é esse o caso.
Já tive tempo suficiente para refletir sobre seu comportamento e sua
personalidade de Jekyll e Hyde16, e só fiz mais perguntas.

Por que agora?

Foi o orgulho dele que me impressionou ao pensar em me casar com


outro homem? Desde que estabelecemos há muito tempo que ele não pode
sentir nada, então qual é a sua motivação?

E esse é o meu problema inteiro. Se ele pudesse sentir um vislumbre


do amor que tenho por ele, não hesitaria em lhe dar uma segunda chance.
Mas porque eu o conheço ser incapaz de qualquer tipo de sentimento, não
posso arriscar meu coração novamente. Não quando sua mente
inconstante pode dizer para ele me deixar de novo a qualquer momento.

Alguns dias de seu comportamento bipolar e eu já estou cansada


disso. E então me vejo marchando pelo quarto dele, pronta para exigir uma
resposta.

— Vlad, — eu chamo ele quando o vejo sair do quarto com pressa. Ele
olha para mim por um segundo antes de piscar e balançar a cabeça.

— Vejo você mais tarde, — é tudo o que ele diz enquanto passa por
mim.

16 Henry Jekyll. Tratava-se de um homem marcado por uma personalidade dividida (alguns dizem-no esquizofrênico),
que se revelava na persona de Mr. Edward Hyde, um sujeito cruel, violento e sem remorsos (diriam que é um psicopata)
O que?

E assim ele se foi, me deixando sozinha mais uma vez.

Fico sem palavras por um minuto inteiro olhando para o espaço que
ele acabou de desocupar, incapaz de encontrar uma explicação para seu
comportamento confuso.

— Maldito seja, — murmuro, pronta para voltar e perder ainda mais


tempo no meu quarto sozinha. Por acaso, no entanto, percebo que ele não
trancou a porta, e a curiosidade já está me matando quando eu vislumbrei
isso.

Eu já tinha visto isso antes, mas tinha sido bastante vazio. Agora, em
comparação, posso ver que está repleto de coisas.

Eu nem penso duas vezes quando entro no quarto, meu olhar


rapidamente avaliando seu conteúdo.

A cama dele, e evito parecer mais do que o necessário para não


começar a imaginá-lo dormindo lá à noite... sem roupas... os lençóis
deslizando...

Merda!

Eu me forço a ignorar a maneira como meu coração bate no peito com


o pensamento.
Por que só ele pode me fazer sentir assim?

Nos últimos três meses, tive mais liberdade, graças à ausência


perpétua de Marcello em casa e à companhia de Raf. Saímos várias vezes e
vi muitos homens convencionalmente atraentes nas ruas ou em
restaurantes. Nem uma vez senti nada além de tédio.

Estou convencida de que há algo não muito comum em Vlad que me


chama — é simplesmente antinatural, do jeito que meu corpo
simplesmente canta em sua presença, todo o meu ser subindo, banhado em
um tipo sem precedentes de leveza. Por toda a dor que ele me causou, não
deveria me fazer sentir assim, como se só estivesse inteira quando ele
estivesse por perto.

É como se eu tivesse sido feita para ele, e somente para ele.

Me sacudindo das minhas reflexões, perscruto o outro conteúdo do


quarto. Há uma mesa com um computador, algumas sacolas pretas cheias
até a borda com coisas, e depois há o armário.

Tantas opções.

É claro que, conhecendo-o, minha primeira inclinação é olhar para o


computador, mesmo duvidando que ele esteja desbloqueado.

Puxo a cadeira, me sentindo confortável na mesa e coloco o dedo um


pouco no touch pad, trazendo a tela de volta à vida.
Meus olhos se arregalam.

Desbloqueado.

Porra, mas ele estava com tanta pressa que até deixou o computador
desbloqueado. Isso me faz pensar para onde ele precisava ir e para quem.

Punhos cerrados, respiro fundo enquanto me concentro no tesouro à


minha frente. Talvez não seja inteiramente certo bisbilhotar, mas como sou
tecnicamente sua prisioneira acho que já passamos por dilemas morais
neste momento.

Olho em volta da área de trabalho dele, observando uma infinidade de


aplicativos espalhados aleatoriamente.

Claro que ele seria bagunçado.

Não reconhecendo nada, eu apenas puxo o navegador. Imediatamente,


dezenas de guias aparecem na tela.

— O que?— Eu estreito meus olhos nos vários títulos.

Mulheres 101.

Dez ideias para conquistar uma mulher.

Pegue o coração dela e mantenha-o.


Continuo clicando em guia após guia, todos tendo o mesmo conteúdo.

Como impressionar sua paixão.

O guia do homem para as mulheres.

Não consigo nem manter a cara séria ao ler os artigos, algumas das
ideias absolutamente ridículas. Comojogar duro para conseguir.

Espera...

— Certamente não, — os cantos da minha boca se levantam quando


percebo exatamente o que Vlad está fazendo. Existem alguns artigos que
sugerem ignorar o interesse amoroso de alguém para fazê-lo reagir e
recuar. Quanto mais eu leio — incluindo passagens destacadas — mais
começo a rir, a ironia é excelente.

— Droga Vlad, — balanço a cabeça no monitor.

Eu deveria ter percebido que alguém com suas habilidades sociais


limitadas e inteligência emocional inexistente não seria capaz de inventar
estratégias de cortejo por conta própria. Ele está lendo guias sobre como
me impressionar.

— Por que isso é tão fofo?— Eu murmuro, incapaz de limpar o sorriso


do meu rosto.
Ele está pesquisando seriamente esse tópico e, quando olho mais para
o histórico dele, vejo que ele chegou a receber livros sobre o assunto.

Por curiosidade, abro sua biblioteca de e-books, sem surpresa ao


encontrá-la cheia de livros sobre namoro e psicologia feminina. Ainda mais
surpreendente, porém, é o quão completo ele tem sido. Há anotações a
cada livro e centenas, se não milhares de passagens destacadas.

Incluindo o chamado jogo difícil para conquistar.

De repente, tudo faz sentido. Ele está colocando muito esforço nisso,
por mais equivocado que seja. E não posso deixar de ficar impressionada e
um pouco lisonjeada.

Meu humor ilumina e fecho rapidamente o computador, curiosa para


ver o que mais ele está escondendo em seu quarto.

Primeiro, verifico as grandes sacolas escondidas no canto do quarto.


Abrindo uma, noto uma infinidade de caixas, uma em cima da outra.

Passando por algumas delas, percebo que são presentes que ele nunca
me deu — sapatos e bolsas.

Outra bolsa preta e noto mais itens de moda, de roupas a perfumes, a


tudo o que você poderia imaginar.
— Ele realmente acha que essas coisas podem comprar meu perdão?—
Eu murmuro, balançando a cabeça. Embora eu realmente não me importe
com a maioria das coisas que ele comprou, não posso deixar de derreter um
pouco — apenas um pouco — com o esforço que ele fez.

Quando bisbilhotei todas as sacolas, abro o guarda-roupa dele, curiosa


sobre o que está dentro. Mais algumas roupas do que a última vez que
estive aqui, mas fora isso...

Ainda piscando repetidamente como se não pudesse acreditar no que


estou vendo. Dando alguns passos, chego à parte de trás do guarda-roupa,
ficando cara a cara com um urso de pelúcia de tamanho humano. Na
verdade, é praticamente a mesma altura que eu.

Não pode ser...

Azul com uma fita rosa, o urso parece assustadoramente com o que eu
tinha visto meses atrás, durante minha primeira visita a um shopping
center. Ele ficou comigo porque eu nunca tinha visto um brinquedo tão
grande antes, e era azul, minha cor favorita. A fita rosa só o tornara mais
cativante e lembro-me de passar algum tempo apenas admirando-o, mal
tendo coragem de tocá-lo.

Isso me lembrava tudo o que eu sempre quis crescendo, mas nunca


recebi, acima de tudo, me lembrava conforto.
Não sei porquê. Talvez fosse o tom do azul ou a suavidade do material,
mas por um breve momento eu queria mais do que qualquer coisa. Claro,
eu não tinha comprado, pois por que uma mulher adulta precisaria de um
urso?

Mas vê-lo aqui...

Meu olhar se desvia ainda mais e reconheço o ursinho de pelúcia que


rasguei na frente de Vlad outro dia. Este, um tom diferente de azul, é
apenas um pouco maior que a minha mão.

Eu franzi a testa, de repente percebendo alguma coisa. Todos os ursos


eram azuis, ou pelo menos um tom de azul.

Pegando, quase me sinto mal por cometer ursídio, mas enquanto dou
um tapinha nele tentando localizar o rasgo que causei, percebo que não há.

Em vez disso, há uma linha preta e feia, começando do fundo do urso e


subindo até o pescoço, segurando as costuras juntas.

Ele não fez...

Não sei porque isto de todas as coisas faz meus olhos queimarem com
lágrimas, mas à medida que vasculho mais a parte de trás do armário,
encontro um pequeno kit de costura.

Ele fez.
E de repente estou mais confusa do que nunca.

Por que alguém que não tem sentimentos se preocuparia com algo tão
banal quanto isso?

— O que... — Não posso deixar de olhar para o urso pequeno, e a


pobre, ainda que carinhosa intenção de tentar reuni-lo novamente.

Por que alguém que mata pessoas a sangue frio se preocupa com um
ursinho de pelúcia estúpido?

Voltando cabisbaixa para a sala, ainda estou segurando o urso, meus


pensamentos uma grande bagunça confusa.

Agora, mais do que nunca, parece que não consigo entender qualquer
leitura adequada sobre Vlad.

Há tanta informação contraditória que não sei mais em que acreditar.


Ele está se esforçando demais para alguém que supostamente não se
importa.

Meu coração traiçoeiro se apega a esse pensamento e não consigo me


impedir de esperar.

Eu preciso chegar ao fundo disso... antes de partir meu coração de


novo.
Decidi esperar e confrontá-lo. Afinal, é a única coisa que posso fazer
que garantirá que não estou simplesmente construindo cenários na minha
cabeça.

Porque eu já aprendi que a esperança equivocada dói mais. E não


quero ser vítima disso novamente.

Decido esperar até ele chegar em casa, alternando entre bisbilhotar


um pouco mais e rolar em sua cama grande, inalando sem vergonha o
perfume de seus lençóis.

Uma soneca pequena e muito tédio depois, já é noite. Estou muito


perto de desistir quando a porta do quarto se abre, Vlad entrando.

Ele nem me nota a princípio, com a intenção de tirar a roupa.

— Porra, você me assustou. — Ele diz quando eu acendo a lâmpada


em sua mesa, levantando uma sobrancelha para ele. Levantando-me
lentamente, eu me coloco na frente dele, não estou disposta a lhe dar
nenhuma abertura para me evitar desta vez.

— Precisamos conversar, — eu digo.

— Nós precisamos?— Ele pergunta, confuso.

— Sim, — confirmo, cruzando meus braços na minha frente. — Você


precisa parar de me evitar, — vou direto ao ponto.
— Não estou evitando você, — ele imediatamente começa a negar,
mas não cairei nisso. Em vez disso, coloco meu dedo nos seus lábios,
aproveitando a maneira como seus olhos se arregalam, especialmente
agora que os papéis são revertidos pela primeira vez.

— Sim você está. E você precisa parar de seguir conselhos da internet.


Duvido que eles saibam o que estão dizendo, — continuo.

— O q... — ele tenta falar, mas eu balanço minha cabeça para ele, não
finalizando ainda.

— Chega de jogos, Vlad. Vamos colocar nossas cartas na mesa de uma


vez por todas.

Sua mão se levanta, capturando meu pulso enquanto ele o traz para
os lábios, sua língua espreitando para lamber a área sensível. Meu pulso
acelera, mas me recuso a me deixar seduzir.

— Vlad, — eu empurro meu queixo para cima, meus olhos


desafiando-o a me levar a sério.

— Você bisbilhotou, — é tudo o que ele diz, seus olhos me segurando


em cativeiro com a intensidade. Não há condenação em seu olhar,
nenhuma dica de que está bravo com a minha bisbilhotice. Então eu
apenas aceno.
— Você está fazendo tudo errado, — digo a ele, arrancando minha
mão e sentando na cama. — Você não precisa tentar truques como jogando
duro para conseguir. — Eu reviro os olhos para ele e ele tem a decência de
parecer envergonhado com minhas palavras. — Podemos apenas ter uma
conversa séria. Sou toda ouvidos, — digo, feliz por ter conseguido
permanecer tão composta.

Ele olha para mim por alguns segundos antes de assentir lentamente
e vir sentar ao meu lado.

Ele não está muito perto, mas também não muito longe. Sua posição
também é muito rígida, as pernas se abrem, as mãos apoiadas nos joelhos.

O silêncio desce quando nenhum de nós começa a falar.

É agora ou nunca.

Não sei se estou correndo um risco enorme, mas estico o braço para o
lado dele, minha palma da mão descansando em cima da mão dele.

Ele parece surpreso com o toque, seu corpo se sacudindo um pouco


antes de ficar mais relaxado. Ainda assim, há muita tensão por baixo, e
posso sentir que ele está tentando se controlar.

— Por que você costurou o urso, Vlad?— Faço a pergunta que mais me
confundiu. Virando-me para ele, eu o vejo engolir com força, tendo tempo
para responder como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado.
— Foi um presente. Para você, — ele finalmente diz, sua voz baixa e
sem sua confiança habitual.

— E?— Eu continuo investigando. Seus ombros se inclinam em um


encolher de ombros descuidado, seus lábios franzidos como se também não
soubesse a resposta.

— Eu me senti mal por isso, — ele finalmente responde, e suas


palavras puxam meu coração. — Eu queria que você o tivesse, —
continua, e pela primeira vez noto uma vulnerabilidade crua nele. — Você
gosta de ursinhos de pelúcia. Eu sei que sim, — seus olhos encontram os
meus, seu olhar nublado de confusão.

— Por que você está fazendo tudo isso? O que você está tentando
ganhar?

Ele respira fundo, parecendo quase derrotado.

— Eu sei o que fiz com você não merece perdão. Eu sei disso, — ele
faz uma pausa, as sobrancelhas se unem em uma carranca. — Mas eu não
posso fazer isso sem você, Sisi. Eu pensei que poderia. Eu pensei que você
estaria melhor sem mim. Inferno, você provavelmente está melhor sem
mim. Mas sou um bastardo tão egoísta que não posso deixar você ir, — diz
ele, sua voz áspera enviando arrepios pelas minhas costas.
— O que você está tentando dizer, Vlad? Ajude-me a entender, porque
honestamente, todas as suas ações até agora não fizeram nada além de me
confundir, — digo a ele, minha mão ainda está na sua.

— Sisi... — ele geme, abaixando a cabeça.

— Você sabe que eu não sou indiferente a você, Vlad. Mas, ao mesmo
tempo, não sei se posso confiar em você. Você me jogou de lado uma vez.
Quem pode garantir que não fará isso de novo?— Eu exprimo minha
preocupação mais extrema. — Você aborda tudo de um ângulo lógico. E se
da próxima vez você logicamente decida que sou um incômodo novamente?
Eu não posso fazer isso toda vez. Mal posso esperar para que seu humor
mude.

— Sisi, nada sobre você é lógico. Nada que eu já fiz quando se trata de
você é lógico. Eu sei que estraguei tudo. Porra, eu sei que tenho sido a
maior dor na bunda, além de machucá-la fisicamente também. Mas, por
favor, me dê mais uma chance de provar a você que não quis dizer o que
disse. Que você realmente é a pessoa mais importante para mim, — ele
levanta a palma da mão, segurando a minha e apertando-a.

— Eu não sou eu mesmo sem você, — ele confessa, — eu sei que


parece estranho. Inferno, mesmo para meus ouvidos, parece ridículo.
Passei trinta anos bem sem você, mas agora percebo que não estava tudo
bem, — ele fecha os olhos, respirando fundo. — Levei menos de um dia
para perceber que não há mais eu sem você,— ele se inclina para a frente,
fechando a distância entre nós, — não há Vlad sem Sisi,— ele sussurra,
sua respiração na minha bochecha, — mas eu estava muito aterrorizado
comigo mesmo e com o que poderia ter feito com você.

Estou perdida nos olhos dele. Suas palavras nunca foram tão suaves
ou mais imbuídas de emoção do que agora. Mesmo sabendo que ele não
pode sentir, há muito sentimento.

E eu vacilo.

— Porra, Sisi, — ele abaixa a testa, descansando no meu ombro.

Eu me mantenho quieta, suas respirações esfarrapadas apenas


fazendo meu coração bater mais rápido.

— Eu fui tão cuidadoso, — ele sussurra, — eu queria lhe dar uma


primeira vez perfeita, — diz ele, me surpreendendo mais uma vez.

Eu apenas ouço, sabendo que este é um momento raro para ele.

— Eu tive muito cuidado em não te causar alguma dor. E o que eu


fiz?— ele dá uma risada amarga. — Eu tirei sua virgindade como um
animal. Eu... — ele deixa escapar, um som baixo escapando de seus lábios.
— Acho que nunca posso me perdoar pela dor que lhe causei.

— Vlad... — Eu paro.
— Mesmo sabendo disso, não posso me ajudar. Sei que é pedir muito,
mas só posso prometer que passarei o resto da minha vida tentando fazer
as pazes. Apenas por favor, me dê outra chance.

Não sei responder. Estou simplesmente sem palavras enquanto o


seguro, piscando lágrimas e tentando impedir que meus sentimentos
obscureçam meu julgamento. Porque a verdade é que eu ainda o amo.

Eu nunca parei.

E suas palavras agora são como um bálsamo para o meu coração


agredido.

Mas em quanto posso acreditar?

— Eu não sei como, — respondo com sinceridade, minha voz suave e


uniforme. — Eu não sei como, Vlad, — repito, levantando minha mão para
enxugar uma lágrima do meu olho. — Você sabe que eu cresci em Sacre
Coeur, — começo, tremendo um pouco quando as memórias voltam.

Ele recua um pouco, seus olhos ainda estão em mim esperando que eu
continue.

— Não foi agradável, — admito, não agradável ser um eufemismo. —


Eu era uma pária, fazendo o meu melhor para sobreviver. Honestamente,
eu era apenas uma criança procurando alguém para me amar, mas, em vez
disso, só encontrei ódio.
Pego minhas mãos no colo, apertando-as juntas, ao me lembrar do
abuso que sofri por anos a fio.

— Mas meu tempo lá me fez quem eu sou hoje. Isso me deu meus
medos e meus sonhos. E por causa disso, não sei como continuar com isso.
Eu não sei como perdoá-lo, — sussurro, limpando mais lágrimas dos meus
olhos.

Sem pensar duas vezes, levanto-me, apertando as mãos na barra do


meu vestido. Seus olhos parecem angustiados quando ele olha para mim,
todo o seu corpo rígido, como se não ousasse fazer um movimento errado.

Antes de perder a coragem, deixo meu vestido cair no chão,


permanecendo apenas de calcinha. Eu preciso mostrar a verdade, fazê-lo
entender porquê.

— Eu tinha cinco anos quando consegui essa cicatriz, — aponto para


uma linha feia correndo pelo meu cotovelo. — Eu estava fugindo de
algumas crianças que estavam me chamando de amaldiçoada e, — engulo,
as memórias ainda dolorosas, — e a semente do diabo.

— Alguém me fez tropeçar e eu caí. Meu cotovelo estava aberto e,


ainda assim, elas não pararam. Eu estava deitada no chão, sangrando e
chorando de dor, e tudo o que elas podiam fazer era rir de mim. Zombando
que era o que eu merecia, porque é isso que as pessoas amaldiçoadas
merecem, dor. As freiras não eram melhores. Eu deveria ter conseguido
ajuda imediata para o meu ferimento, mas fui punida por correr, — meu
fôlego trava quando me lembro desse castigo em particular.

— Fiquei trancada em um quarto escuro por dois dias. Dois dias em


que meu cotovelo doía como o inferno, e ninguém pensou em me ajudar, ou
mesmo perguntar sobre mim. Eventualmente, a ferida se fechou por si só,
mas como nunca havia sido limpa, fechou com algumas pedras dentro.
Tive várias crises de infecção até a Madre Superiora decidir que
finalmente deveria procurar um médico. Mas mesmo assim, você sabe o
que eles fizeram?— Eu pergunto, a atenção de Vlad totalmente em mim,
— disse a Madre Superiora, que eu não precisava de anestesia quando
eles cortaram minha pele para remover as pedras, que não deveriam
desperdiçar recursos preciosos em uma criança travessa.

— Sisi...

— Não, eu preciso dizer isso, — eu o paro. — Foi a primeira vez que


percebi que ninguém se importava se eu vivia ou morresse. E as coisas
pioraram, — levo minha mão ao peito direito, onde me marcaram com a
cruz. — Isso, — traço o contorno da cicatriz, — deveria ser um exorcismo.
Eles queriam ter certeza de que o diabo saiu de mim e ficou fora de mim,
— explico, fazendo o meu melhor para não ficar sobrecarregada com o
passado.

Continuo mostrando cicatriz após cicatriz. Meus joelhos que foram


esfolados muitas vezes, minhas palmas cheias de arranhões por serem
atingidas com paus de madeira até eu sangrar, os pequenos recuos por
todo o estômago quando fui chutada e espancada até não poder mais
respirar.

E então eu alcanço os mais novos.

— E você sabe como eu consegui isso, — digo e ele se encolhe,


parecendo que eu tinha acabado de dar um tapa nele.

— Mas você sabe o que todos eles têm em comum? Para cada cicatriz,
não importa quão pequena, a dor interior era a mesma. Pois toda vez que
meu corpo gritava de dor, minha alma chorava por misericórdia. Você sabe
quantas vezes eu desejei a morte? Quantas vezes eu desejei poder parar a
dor de uma vez por todas?— Meu corpo inteiro está tremendo neste
momento, minha respiração está chegando em arfar dolorosos. — Porque
doer aqui, — trago meu punho contra o peito, — deixa todo outro tipo de
dor pálido.

— Você não tem ideia de como é abençoado por não sentir essa dor,
porque esse é o verdadeiro inferno.

Ele fica olhando para mim, seus olhos me bebendo como se estivesse
me vendo pela primeira vez.

— E por causa disso, prometi a mim mesma que nunca imploraria a


alguém por amor ou atenção. Você estava certo sobre eu ser indesejada, —
digo, e noto como o queixo dele se aperta, os punhos agarrados tão
apertados que as juntas dos dedos são de um branco forte. — Mas jurei
para mim mesma que nunca voltaria para alguém que facilmente me
jogaria fora. Era a única maneira de fazer as pazes comigo mesma.

Trago meus braços ao redor do meu corpo, esfregando minha pele, o ar


subitamente frio.

— E é por isso que, Vlad, não sei como perdoá-lo, — sussurro, mais
lágrimas caindo pelas minhas bochechas. — Porque perdoar você
significaria me trair. E não sei se posso viver com isso.

Ele pisca, seus olhos sem foco. Lentamente, ele se levanta da cama,
vindo em minha direção até ficarmos cara a cara.

Ainda segurando o contato visual, ele faz algo que me deixa


completamente no chão.

Ele cai de joelhos.

Cabeça baixa, ele cai de joelhos na minha frente, as mãos cerradas ao


lado, o corpo inteiro tremendo de tensão não liberada.

Este homem orgulhoso está de joelhos diante de mim.

Com os olhos arregalados, eu o vejo fazer algo que nunca teria


associado a Vlad, ele está se curvando para mim.

Submissão.
O simples fato de ele estar de joelhos na minha frente, uma
experiência muito humilhante, me diz que ele está sério sobre isso.

— Sisi, — ele começa, sua voz sombria, mas atada à angústia, — eu


sei que não tenho o direito, — ele respira profundamente, — mas eu estou
implorando pelo seu perdão, — ele sussurra, seu corpo rebelando-se com
força como se estivesse com dor física.

— Vlad... — Eu balanço minha cabeça, incapaz de acreditar no que


estou vendo. — O que... Por quê...

— Eu estraguei tudo. Mas por favor, acredite em mim que eu nunca


quis dizer o que eu disse para você. Eu sabia que era a única coisa que a
afastaria de mim e, vendo o que eu tinha feito com você, eu precisava de
você o mais longe possível de mim.

— Vlad, — estendo a mão, espalmando a bochecha enquanto viro o


olhar para mim. — Realmente importa se você quis dizer ou não?— Eu
faço a pergunta, não esperando uma resposta. — Eu te disse que meu
tempo lá moldou meus medos e sonhos. Meu maior sonho sempre foi
encontrar alguém para me amar acima de tudo. E eu sei que não pode ser
você. — Eu digo gentilmente, esperando que ele entenda por que não posso
ceder.

Mesmo que eu o perdoe pelo que aconteceu, isso não apaga o fato de
que ele não é capaz da única coisa que eu mais quero.
Seus olhos parecem brilhantes quando ele os levanta para encontrar
os meus, sua boca se separa como se não pudesse acreditar no que eu
disse.

— Quero algo que você não é capaz de me dar, — sussurro, minha


mão se movendo sobre o seu rosto com uma leve carícia.

— E se eu pudesse?— ele pergunta, pegando minha mão com a dele e


trazendo-a para os lábios.

Eu pisco as lágrimas na pergunta dele, a dor no meu peito se


expandindo.

— Você sabe que não pode, — respondo devagar, minha própria


esperança morrendo no momento em que a reconheço em voz alta.

— Sisi, — ele se move em minha direção de joelhos, colocando seu


corpo em contato direto com o meu, — acho que te amo, — diz ele, e meu
coração pula ao som.

Mas então eu percebo que ele está apenas tentando me aplacar. E dói
ainda mais.

— Por favor, não minta para mim, — eu choramingo.

— Eu não estou mentindo, — ele pega minhas mãos nas dele antes de
colocá-las no peito. — Por favor, me escute, — diz ele, sem problemas, e
mesmo que eu continue balançando a cabeça em descrença, não posso não
ouvir.

— Eu nunca soube que era capaz de amar até você, Sisi, — ele
começa, — eu sempre fui um bastardo egoísta e individualista. Até você.
Eu nunca me importei com a vida humana, nunca dei a mínima para quem
eu matei. Até você, eu nunca me importei com a felicidade de ninguém
antes, principalmente me esforçando para causar infelicidade. Até você. E
certamente nunca me importei em agradar a ninguém antes, — ele
respira fundo, — até você.

Ele dá um aperto suave nas minhas mãos.

— Eu não sei se isso é amor, já que não tenho nada com o que
comparar. Mas você é a pessoa mais importante da minha vida, Sisi. Você
é a única razão pela qual ainda estou vivo. A única razão pela qual estou
tentando melhorar... Talvez mereça você em algum momento no futuro. —
Suas palavras tocam nos meus ouvidos, a sinceridade por trás delas
inconfundível.

— Vlad, — chamo o nome dele, sobrecarregada com sua declaração.

— Eu sei que zombei do seu amor por mim, quando na verdade me


aqueceu onde eu não sabia que estava com frio. Você me aqueceu, Sisi, —
ele empurra minhas mãos sobre seu coração. — Você fez esse maldito
órgão fazer outra coisa além de mal me manter vivo. Você conseguiu
querer estar vivo, — continua ele, com o pescoço duro de tensão. — Então,
por favor, Sisi por favor, deixe-me mostrar-lhe que eu posso amar você
acima de tudo. Porque eu sei que daria o mundo inteiro para você.

Meus próprios joelhos dobram e eu caio ao lado dele, meus olhos


lacrimejantes procurando por seus traços para confirmar que ele está
falando a verdade.

— Você é minha garota especial do inferno. A única. E não sei se é


assim que as pessoas normais sentem amor... — Eu o paro, pressionando
meu dedo contra seus lábios.

— É, — sussurro, — porque você também é meu especial, — digo e


vejo como a sua expressão muda diante dos meus olhos. Um rosto
devastado pela dor de repente fica mergulhado em alegria, sua boca
puxando para cima no sorriso mais lindo que eu já vi.

— Eu te amo, Sisi, — ele repete, e essas palavras por si só têm uma


maneira de me levar além da crença.

— Eu também te amo, Vlad, — digo as palavras de volta,


aproximando-me e abraçando-o, absorvendo a sensação de finalmente
estar inteira.

Porque ele me completa de uma maneira indescritível.

— Tanto, — sua voz acaricia meus sentidos enquanto ele se apega a


mim.
E eu sinto isso.

Sinto o amor dele e, retrospectivamente, posso vê-lo em todas as suas


ações.

Ele simplesmente não sabia o que era amor.

— Por favor, me perdoe, — ele sussurra contra o meu cabelo.

Minhas mãos apertam sua camisa enquanto lágrimas atormentam


meu corpo.

— Eu vou fazer melhor. Prometo que nunca mais vou machucá-la, —


continua ele, balançando lentamente comigo, com os braços apertados na
minha cintura, o rosto na curva do meu pescoço.

— Ok, — eu me vejo dizendo. Apesar de minha mente rebelde, apesar


de toda a minha história, me vejo cedendo.

— Eu te perdoo, — sussurro, sabendo que as palavras são


verdadeiras no momento em que as pronuncio.

Eu posso ter me perdido aquela noite, mas suas palavras de amor


serviram como farol para me trazer de volta para mim.

E porque sinto o amor dele, em todas as ações conflitantes e em todas


as palavras erradas, sei que nunca mais posso deixá-lo.
— Estou confiando meu coração a você. Por favor, não esmague de
novo, — eu digo a ele.

Não sei se é a decisão certa. Na verdade, não tenho certeza de mais


nada além do fato de que o amo. E talvez, pela primeira vez eu deva me
deixar levar pelo meu coração, não pela minha mente.

Ficamos em silêncio assim, apenas nos abraçando.

— Sinto muito pelo bebê, — ele finalmente fala, e sinto uma pontada
no peito. — Mesmo que não fosse meu, — ele continua, e eu sinto seu
hálito pesado no meu pescoço. — Sinto muito, que você tenha passado por
isso.

Fungo um soluço, inclinando-me para trás para olhar para ele.

Deus, ele realmente quer dizer isso!

— Era seu, — admito, de repente envergonhada da minha mentira.


— Nada aconteceu com Raf. Eu menti. Eu queria te machucar de alguma
forma... — Eu deixo escapar.

Mas o olhar em seus olhos me fez piscar minhas lágrimas, uma leveza
aparecendo em seu rosto, seus ombros caindo em relevo.

— Sisi, — ele geme, com as mãos em concha no meu rosto. — Você me


machucou, — diz ele em voz baixa, — acho que nunca conheci mais
tormento do que imaginar você com outra pessoa. Grávida de outra pessoa,
— fechando os olhos, ele suspira, como se um peso tivesse sido tirado do
peito.

— Nunca?— Ele pergunta novamente e eu balanço minha cabeça. Ele


traz meu rosto para ele, me salpicando com beijos. — Você não tem ideia
do que isso significa para mim, — diz ele entre beijos, — você é minha... só
minha...

— Eu sou, — admito, — você é o único homem que eu já beijei, o


único que já toquei, e você será o único que eu vou sempre me entregar.
Você tem minha palavra. Como eu poderia pensar em outra pessoa quando
tudo o que vejo é você? Quando meu coração está tão cheio de você? Mesmo
quando eu te odiava, eu te amava, — confesso.

E mesmo quando eu o odiava, podia reconhecer que ninguém seria


capaz de substituí-lo.

— Sisi...

— Também não há eu sem você, — eu acaricio meu rosto no peito


dele, percebendo que nunca falei palavras mais verdadeiras. — Não há
Sisi sem Vlad. — Não há nada lógico em nós, nada remotamente explicável
sobre o que sinto por ele. Eu apenas sinto. Mesmo agora, eu o sinto
profundamente dentro de mim, sua presença me acalmando e acalentando
minha alma necessitada.
— E não há Vlad sem Sisi, — ele completa a frase, colocando a testa
em cima da minha. — Eu sou seu. Todo seu também, Sisi. Eu nunca olhei
para uma mulher que não fosse você, muito menos tocar. Você é a única no
mundo para mim, — ele fala e o alívio inunda meus sentidos.

Eu nunca deixaria meus pensamentos vagarem por lá, porque sabia


que o pensamento dele com outra pessoa me deixaria louca. Mas ouvir a
confirmação faz maravilhas ao meu humor.

Nós olhamos nos olhos um do outro, e sinto uma paz se estabelecer


sobre mim.

— Sinto muito pelo bebê, — ele me dá uma expressão dolorida. — Se


você quiser, eu lhe darei dez. Não, cem bebês. Tudo para fazer você feliz,
Sisi. Tudo,— ele diz com tanta convicção que não posso deixar de chorar
ainda mais.

— Por enquanto você basta, — sussurro, tocada por suas palavras,


mas não tenho certeza se estou pronta para passar por outra dor de cabeça
novamente.

Ele assente, um pequeno sorriso no rosto enquanto um dedo traça


minhas cicatrizes. Sua boca segue rapidamente enquanto ele beija seu
caminho por todo o meu corpo, cobrindo cada cicatriz.

Ele me deita no chão, espalhada para ele, um olhar de pura adoração


em seu rosto enquanto seus olhos me examinam.
— Você é perfeita, Sisi. E eu amo cada cicatriz sua, — ele murmura,
abaixando a cabeça para traçar a cicatriz de cruz com a língua. — Elas
fizeram de você quem você é, — continua ele, falando contra a minha pele
e me fazendo tremer, a combinação de sua língua molhada e sua
respiração quente embaçando meus sentidos. — E isso as torna bonitas.

Eu pressiono minha mão na bochecha dele, absorvendo seu calor, um


pouco incapaz de acreditar que isso é real.

— Por favor, não me machuque de novo, — sussurro, um medo


residual ainda no fundo da minha mente.

— Prefiro morrer a causar dor novamente, Sisi, — ele me reúne sem


esforço nos braços, me levando para a cama. — Vou passar a vida inteira
compensando você por tudo o que fiz, — ele sussurra, sua respiração se
espalhando pelo meu rosto.

Seus lábios tomam os meus no beijo mais doce, e eu posso provar seu
desespero por trás disso, do jeito que ele está colocando tudo o que tem
nesse beijo.

— Fique comigo, — diz ele, com os braços apertados ao redor do meu


corpo. — Fique comigo esta noite.

Eu paro por um momento, a dor de antes ainda está fresca em minha


mente.
— Não precisamos fazer nada. Eu só quero te abraçar. Por favor, Sisi,
— ele pede, e eu me vejo assentindo.

— Estou com medo... — Eu paro, tentando encontrar as palavras


apropriadas.

— Eu sei, — ele responde. — e não posso te culpar. Sinto muito, —


ele pede desculpas novamente, e acho que ele nunca pediu desculpas a
alguém antes, muito menos muitas vezes.

— Vamos passar por isso, — acaricio levemente seu rosto. —


Devagar.

— Eu vou tão devagar e serei tão gentil quanto você quiser, Sisi. Eu só
preciso saber que está ao meu lado. O resto não importa.

Ele me segura perto de seu corpo, me abraçando por trás enquanto


conto tudo o que aconteceu nos últimos meses, bem como por que eu
concordei em me casar com Raf. Eu posso sentir a tensão em seu corpo
toda vez que menciono o nome dele, então quero deixar claro que Raf
nunca foi nada além de um bom amigo.

— Eu não sei o que eu teria feito se você realmente dormisse com ele,
— diz ele de repente, sua voz sombria. — O matar? Caçar toda a sua
família e matar todos os seus parentes vivos? Dar-lhe uma lobotomia... —
ele deixa escapar e um sorriso divertido se arrasta no meu rosto.
— Você teria me dado uma lobotomia?— Eu mudo, virando para poder
enfrentá-lo.

E ele definitivamente não está brincando.

— Para que você esqueça de estar com ele. Para que eu seja o único
para você. Sempre, — continua ele, ainda tão sério quanto antes.

— Oh, Vlad, — um pequeno sorriso puxa meus lábios enquanto sua


expressão permanece estóica.

— Estou falando sério, — ele faz beicinho, e de repente me lembro de


como ele pode ser fofo, apesar de suas tendências psicóticas. Mas é isso que
eu amo nele. Essa dualidade e o fato de eu saber que ele é apenas fofo
comigo.

Eu sou a única exceção dele, assim como ele é meu.

— Eu te amo, — sussurro, deitando a cabeça no peito, todo o meu ser


infundido de felicidade quando ele diz as palavras de volta.

E durmo em paz pela primeira vez em meses.


CAPÍTULO VINTE E CINCO

— Mmm... — Eu a trago mais perto de mim, meu rosto na curva do


seu pescoço. — Podemos ficar assim para sempre?— Pergunto sonolento,
preocupado que, uma vez que abrir os olhos, a realidade desabará e tudo
terá sido um sonho.

O simples fato de ela estar ao meu lado e me deixar tocá-la é mais do


que eu jamais poderia ter esperado.

Inferno, quando ela me contou sobre seu tempo no Sacre Coeur, eu só


podia ouvir, mentalmente fazendo uma lista de todas as pessoas que
preciso matar,de forma dolorosamente também.
Pensar em Sisi, minha corajosa e bela Sisi, sendo submetida a tanto
sofrimento, me mata. E pretendo garantir que essas pessoas obtenham o
que merecem — uma morte muito longa no final da minha faca.

Ainda não consigo acreditar no quão sortudo sou, e que ela realmente
me perdoou, até me regalando com essa palavra novamente — amor.

Merda! Eu estou tão fodido.

Agora que a ouvi dizer as palavras, nunca vou me cansar de ouvi-las.

Mesmo agora, olhando para sua forma sonolenta, com a maneira como
seus lábios se contraem, os cantos se levantando um pouco, sinto uma
vontade insana de sufocá-la com beijos.

É assim que o amor se sente?

Porque acho que gosto. Não, risque isso, eu amo isso. E ela. Sempre
ela.

Eu a amo, porra.

Porra Hades no nono círculo do inferno, mas estou com problemas.


Desta vez, porém, é do tipo bom.
Nossa conversa na noite passada me deu um vislumbre melhor do que
faz de Sisi a magnífica mulher que ela é — perseverança. Contra todas as
probabilidades, ela sobreviveu.

E fui eu quem a encontrou.

Agora vou mantê-la pelo resto da minha vida e farei o possível para
torná-la a mais feliz.

Um pouco feliz demais com a perspectiva, continuo apertando meus


braços ao redor dela, nunca querendo deixá-la ir. Para sempre tê-la por
perto.

Talvez eu deva algemar ela em mim.

No momento em que o pensamento vem à mente, eu paro, meus olhos


se abrem lentamente enquanto percebo que é uma ótima ideia. Dessa
forma, eu não preciso nunca passar um momento sem ela.

— O que está passando por essa sua mente?— a voz dela me traz de
volta à realidade, e eu olho para baixo para ver seus lindos olhos brilhando
de malícia me observando de perto.

— Que eu gostaria de algemar você ao meu lado, — digo a ela


seriamente. — Dessa forma, não preciso mais sentir sua falta.
— Não é uma má ideia, — ela sussurra, apoiando-se em mim. Ela
está usando apenas um sutiã e sua calcinha, mas de repente é tudo o que
minha mente pode processar, e meu pau.

Puta merda, eu preciso me controlar.

Eu sei que ela não está pronta para nada físico, provavelmente ela
não estará por muito tempo. E não quero que pense que vou pressioná-la
de alguma forma.

Estamos indo no ritmo dela, mesmo que isso me mate.

— Não me lembro da última vez que dormi tão bem, — ela traz as
costas dos dedos para a minha bochecha, arrastando-os lentamente para
baixo, — ou fiquei feliz.

Eu capto sua mão, trazendo-a para os meus lábios.

— Eu também, hell girl. Eu também. E por causa disso, não quero sair
desta cama, — sorrio, puxando-a para perto de mim e abraçando-a.

Seu tamanho pequeno a faz caber perfeitamente nos meus braços, e


eu ouço seus pequenos sons, do jeito que ela parece ronronar enquanto eu
trago minhas mãos pelos braços dela com uma leve carícia.

— Então não vamos. Sempre podemos assistir a um filme na cama, —


sugere ela e eu concordo rapidamente.
Qualquer coisa para mantê-la perto. Quanto mais tempo passo ao seu
lado, mais percebo que não é um sonho e que ela é realmente minha.

Acabamos passando o dia inteiro na cama, alternando entre assistir


filmes e brigas de travesseiros, todos terminando conosco em posições
bastante comprometedoras que fazem meu pau morrer de alívio.

Como agora.

Olho nos olhos dela, as pernas dela se espalham para acomodar minha
pélvis, minhas mãos pairando acima da cabeça enquanto eu seguro um
travesseiro. Nós dois estamos respirando com severidade, e não sei se é do
esforço ou do contato torturante.

Ela sabe o quanto eu estou duro?

Seus olhos deslizam mais baixo, para a barraca nas minhas calças, e
um rubor rasteja pelo pescoço. Estou tão chocado com a beleza dela, que eu
paro, meu travesseiro caindo das minhas mãos, meus olhos fixos no
vermelho bonito nas bochechas dela, ou a maneira como ela puxa o lábio
inferior, mordendo de uma maneira totalmente inócua, no entanto, isso
sozinho tem o sangue correndo para o meu pau.

Ela levanta uma sobrancelha para mim, mas não perde tempo
trocando nossas posições até que ela esteja acima de mim, seu travesseiro
apontado para minha cabeça.
Dando-me um sorriso malicioso, ela o joga sobre minha cabeça,
algumas penas voando para fora da fronha e fazendo-a rir.

— Eu ganhei, — ela sussurra, só agora percebendo que, embora


tenha vencido, sua posição significa que ela está sentada em cima do meu
pau.

— Eu não posso evitar, hell girl. Você tem esse efeito em mim, —
sorrio para ela.

Ela continua brincando com o lábio, os dentes mordiscando como se


não tivesse certeza do que fazer a seguir.

Movendo-se um pouco, ela mantém os olhos em mim.

— Por que você não faz algo sobre isso?— ela pergunta, e eu vejo a
maneira como suas pupilas se expandem, seu peito subindo e descendo a
cada respiração difícil.

Ela está tão excitada quanto eu.

Mas sei que ainda não podemos fazer nada.

— O que você quer que eu faça, hell girl? Sou todo seu, — digo a ela.
Talvez ajude se obtiver algum tipo de controle sobre isso. Sei que o último
incidente a assustou, tanto mental quanto fisicamente, e provavelmente
vou me arrepender do que fiz com ela enquanto viver. E por causa disso,
estou disposto a fazer o que for preciso até que ela se sinta confortável
comigo novamente. Eu vou tão devagar quanto ela quer que eu vá, mesmo
quando meus instintos exigirem que eu a foda até o esquecimento.

Eu preciso me controlar!

— Eu quero assistir você, — diz ela sem fôlego, com os olhos


permanecendo sobre minha ereção. — Sem tocar. Apenas assistir.

Ela não precisa me dizer duas vezes quando eu puxo minhas calças,
meu pau saltando livre e batendo no meu abdômen.

— Eu esqueci o quão grande você era, — ela sussurra, sua expressão


mudando para uma de apreensão.

Sinto uma pontada no peito, o pensamento de machucá-la fisicamente


doendo em mim.

— É apenas para o seu prazer, hell girl. Nunca dor, — garanto a ela,
— a menos que você peça, — sorrio para ela, usando minha mão para
agarrar a base do meu pau, meu punho apertando meu eixo.

Sua boca se abre um pouco enquanto ela me observa trabalhar meu


comprimento para cima e para baixo, seus olhos seguindo todos os meus
movimentos.
Lentamente, ela remove a blusa, trazendo seus peitos voluptuosos à
vista, seus mamilos arrebitados e se esforçando no ar.

Eu solto um gemido ao ver, escorrendo generosamente da ponta. Eu


deslizo meu polegar sobre a cabeça, usando a umidade para revestir todo o
meu eixo.

— Porra, hell girl, você é uma tentação personificada, — eu sussurro,


vendo-a levantar as mãos para brincar com os mamilos.

— Você se tocou enquanto eu estava fora?— Eu pergunto, a imagem já


se forma em minha mente e me deixa ainda mais duro.

Ela cora, assentindo lentamente.

— E o que você achou enquanto estava acariciando seu pequeno


clitóris?— Eu pergunto, apertando meu domínio ao mesmo tempo em que
ouço seu pequeno suspiro, sua coluna arqueando e empurrando seus peitos
no ar.

— Você, — diz ela, com a voz um pouco acima de um sussurro. Um


rubor espalha o peito e as bochechas, a língua espreitando para lamber os
lábios entre pequenos choramingos.

— O que eu estava fazendo?— Eu continuo investigando, seus


pequenos gemidos fazendo maravilhas para o meu pau, o bastardo se
aproximando dos sons, minhas bolas quase se contorcendo na dor por
estarem cheias de porra. Não tenho ideia de que feitiço ela lançou em mim,
da maneira como meu corpo reage somente para ela, mas não estou
reclamando.

Ela é dona de mim!

— Me fodendo, — seus olhos tremulam, — me fodendo como um


animal, — continua ela, sua voz se tornando cada vez mais aguda e
ofegante. — Me perseguindo e me levando de quatro... como um animal, —
diz ela em um gemido estrangulado e mal consigo evitar meu clímax.
Parece que, apesar de todo o seu medo com a dor, também há uma emoção
secreta em ser perseguida e subjugada. Minha freira suja pode ser mais
má do que eu esperava.

Podemos entrar nessas fantasias no futuro.

— Tire sua calcinha, — eu emito o comando sem nem pensar. —


Deixe-me ver essa boceta bonita, — digo com uma voz áspera.

Ela nem hesita, sedutora. Ela desliza a calcinha pelas pernas,


posicionando-se bem na minha frente antes de abrir lentamente as pernas
e me deixar ver a maravilha aninhada entre elas.

Ela está molhada, lisa e cintilante de necessidade, e eu gostaria de


nada mais do que mergulhar, provar com a minha língua e fazê-la gozar
por todo o meu rosto.
Mas agora não.

— Deslize seus dedos por sua boceta apertada, — eu ordeno a ela, o


tempo todo continuando a trabalhar meu pau, imaginando que minha mão
é sua boceta, me segurando com força e sugando a porra da vida de mim.

Ah, mas eu morreria de bom grado.

Ela segue as instruções, dois dedos descendo entre os lábios da boceta.


Eles estão quase imediatamente revestidos em sua excitação e ela a usa
para toca-la, me deixando com ciúmes de um maldito dedo.

— De quem é essa boceta, hell girl?— Eu exijo, querendo as sua


palavras.

— Sua, apenas sua, — ela grita, olhos fechados, os dedos circulando


seu clitóris.

Meus próprios movimentos ganham velocidade, pois eu praticamente


sinto o cheiro da excitação de onde estou sentado, o perfume intoxicante e
tão delicioso que estou a um segundo de pular nela, pronto para bater em
seus sucos.

— Você está imaginando que sou eu tocando você?— Eu continuo


perguntando, aproveitando a maneira como suas bochechas coram, sua
boca se abrindo e se fechando a cada golpe de seu clitóris.
— Sim, — ela choraminga, — eu estou imaginando que é meu deus
me tocando, — diz ela, as palavras me pegando de surpresa e fazendo
minhas bolas se contraírem, meu orgasmo iminente.

— Porra, hell girl, — eu gemi. — Como posso durar quando você diz
coisas assim?

Aperto meu pau, meus olhos quase rolando na parte de trás da minha
cabeça com a sensação.

— Minha freira não tão santa gosta de se sujar, — eu me arrasto,


vendo seus próprios movimentos acelerarem, sua boca se separando, sua
respiração se esvai.

— Goze para mim, Sisi, deixe-me ver essa boceta vir para o deus dela,
— eu ordeno, e não demora muito para que ela esteja gemendo meu nome,
suas pernas tremendo enquanto ela monta seu clímax, sua boceta jorrando
sucos e encharcando os dedos.

Porra!

Seus olhos se abrem, suas pupilas dilatadas pegando meu pau


ingurgitado e a maneira como estou bombeando como um homem louco, a
visão dela apenas alimentando meu próprio prazer.

— Goze em mim, — diz ela, movendo-se de quatro e vindo lentamente


em minha direção até que seu rosto esteja ao nível dos olhos com meu pau.
— Goze por cima de mim, — ela repete, e é o suficiente para me fazer
rebentar, gozo atirando do meu pau e em todo o seu rosto.

Ela é como uma deusa esperando por sua oferenda, lábios separados,
língua para fora, meu esperma batendo na boca antes de se acomodar bem
em todo o rosto.

— Porra, — eu gemo, a visão dela coberta da minha semente me


desfazendo.

Marcada. Ela está marcada.

Ela pisca, os olhos se concentrando em mim antes que um sorriso


sedutor apareça em seu rosto, os dedos deslizando para o meu esperma e
trazendo-o para a boca.

— Eu te amo, Sisi, — digo a ela, minha mão na nuca dela enquanto a


trago contra mim, mantendo-a em presa e devoro sua boca com a minha,
provando-me na língua.

Envolvendo minha mão em volta do pulso dela, trago os dedos para a


minha boca, sugando-os e finalmente provando o néctar que eu estava
perdendo todos esses meses.

E foda-se se isso não me deixa duro novamente!


— Eu preciso entrar no controle da natalidade, — suspira Sisi,
aconchegando-se mais perto de mim um pouco mais tarde, depois que nós
dois tomamos banho.

— Não temos pressa. Eu lhe disse, estamos indo no seu ritmo, — digo
a ela, alisando o cabelo com a mão, desfrutando de sua textura sedosa.

— Apenas para estar preparada. Não quero engravidar e passar por


isso de novo.

— Foi tão ruim assim?— Eu pergunto. Eu tinha lido on-line sobre


abortos e tentei entender o máximo que pude. Ainda assim, esse era
apenas o lado teórico, não o mais pessoal.

Ela assente, com a mão pequena apertando o punho.

— Eu já o imaginei, — diz ela, — ele teria se parecido com você, com


cabelos escuros e olhos negros, — sua voz treme, e eu sei que isso é difícil
para ela.

Posso não ter tanta experiência com esse negócio de sentimentos, mas
qualquer coisa que machuque Sisi também me machuca. Então eu apenas
abraço-a, segurando-a e desejando poder tirar um pouco da dor dela.

— Conte-me sobre isso, — eu digo, pensando que isso poderia ajudá-


la a tirá-lo do peito.
E ela faz. Ela me conta tudo sobre o garoto que ela imaginou e como
ela já o amava. Suas lágrimas caem suavemente no meu peito enquanto
ela finalmente libera tudo o que mantém por dentro por tanto tempo.

Emocionalmente gasta, não demora muito para que adormeça.

Ainda segurando-a, também fecho os olhos, sem saber que, como todo
o resto, a felicidade também é efêmera.

O pesadelo está apenas começando.

Meus olhos se abrem, meu coração batendo alto no meu peito. Existem
alguns raios de sol filtrando as barras da única janela da sala.

Minha irmã está encolhida ao meu lado, todo o corpo tremendo, os


lábios roxos.
— V, acorde, — empurro para os ombros dela, mas apenas alguns
pequenos ruídos escapam dos lábios enquanto ela tenta abrir os olhos, o
corpo enrolado firmemente para preservar o calor.

Eu rapidamente tiro minha camisa fina, colocando-a em cima dela.


Mas enquanto tento cobri-la, minha mão escova a testa e percebo que ela
está queimando.

— V... — Eu murmuro, preocupado.

Estamos aqui há muito tempo. Não tenho mais certeza de quanto


tempo se passou. A única coisa que sei é que os dias se transformam em
noite e depois em dias novamente. Às vezes, somos retirados da sala para
uma consulta médica, mas fora isso, somos deixados em paz.

As únicas pessoas com quem interagimos foram os médicos, que não


são muito faladores. Eles registram apenas suas medidas e depois somos
levados de volta às nossas gaiolas.

Porque não posso chamar esta sala de nada além de uma gaiola. Não
quando as barras significam que somos tratados pior que os animais.

E por isso agora estamos a um passo de enlouquecer, o isolamento


quase insuportável.

— V, — continuo fazendo com que ela desperte.


— O que... — ela murmura, os olhos lentos enquanto tenta abri-los.

— Aqui, — eu digo, pegando água e forçando-a a beber.

— Você precisa aguentar, V, — digo a ela, acariciando o cabelo dela.

Ela está ficando cada vez mais fraca há um tempo, e os testes que
temos que passar não ajudam muito. Não quando cada sangue que tira
enfraquece ainda mais ela.

— Eu... — ela balança a cabeça, algumas gotas de água caindo pelo


queixo. — Eu não sei quanto tempo mais... — ela sussurra.

— Você precisa, V. Por mim, — eu pego a mão dela, juntando nossos


mindinhos, — estamos nisso juntos. Sempre, — digo a ela, desesperado
para fazê-la não perder a esperança.

— Sempre, — ela sussurra, seus lábios puxando para cima


lentamente.

A verdade é que também não sei quanto tempo posso continuar com
isso. Eu tenho tentado ser forte por ela, mas até eu estou perdendo a
esperança.

Vanya finalmente cessa com a febre e a cor começa a subir suas


bochechas. O humor dela, no entanto, não melhora.
Um dia, somos apanhados por guardas e levados para uma nova sala,
onde dois médicos que nunca vimos antes estão esperando por nós.

Os testes são rotineiros e já estamos acostumados com as análises de


sangue ou as máquinas estranhas que eles colocam sobre nós. Mas desta
vez, eles também nos dão alguns questionários e alguns desenhos para
interpretar.

Não sei exatamente o que é isso, mas aparentemente nós dois


passamos em todos os testes, pois os médicos nos informam que seríamos
transferidos para outra instalação.

Nós dois estamos confusos com o movimento do turbilhão, tudo


acontecendo rápido demais.

Carregados em uma van preta, somos levados para o próximo local,


mas nossas condições de vida não melhoram. Se alguma coisa, elas são
ainda piores do que antes.

A cela está suja e a comida não é muito comestível. A única diferença


é que agora temos guardas 24 horas e ainda mais testes.

Na primeira semana em que estamos lá, também recebemos um


presente.

O primeiro presente que já recebemos aqui.


Um dos guardas vem e traz um coelho bebê, dizendo que precisamos
garantir que o criemos adequadamente.

Sou imediatamente cético e minha suspeita não diminui. Mas a


chegada do coelho faz Vanya sair de sua concha e ela começa a se tornar
mais ativa. Ela agora sorri mais e seu humor melhora consideravelmente.

Ver as mudanças nela também me faz descongelar em direção ao


coelho.

— Eu o chamei de Lulu.— Vanya sorri para mim, segurando o coelho


de dois meses nos braços. Definitivamente está crescendo todos os dias, e
não acredito que eles nos trancaram com outra boca para alimentar
quando mal conseguimos comida suficiente.

— Isso é legal, V. — Eu tento devolver o sorriso.

— Ele gosta quando eu esfrego a barriga. Olha, — ela ri, virando Lulu
de costas e acariciando-o de bruços.

Não sei se Lulu está muito interessado nisso, mas isso faz Vanya feliz
e é o suficiente. Embora eu esteja um pouco desanimado, o pêlo de Lulu
está limpo e brilhante, enquanto as roupas de Vanya não são trocadas há
meses.

Ela está sorrindo alegremente em seu vestido esfarrapado e sujo, um


forte contraste com o casaco intocado de Lulu.
— Não acredito que eles nos deixem ficar com ela, — ela sussurra,
segurando Lulu no peito e arrulhando suavemente.

— Eu não acho que devemos nos apegar demais, V. Eu não tenho um


bom pressentimento sobre isso. — Eu digo a ela pela milésima vezes.

— Faz tanto tempo, irmão... — ela balança a cabeça. — Se eles


pretendessem fazer alguma coisa, já teriam feito. Faz meses e eles nos
deixaram ficar com Lulu, — diz ela, e embora eu tenha que concordar com
o raciocínio, ainda não consigo me sentir confortável.

A porta da cela chacoalha e dois guardas entram.

— Sua vez, pirralhos, — eles gritam, entrando e nos agarrando


próximos. Vanya acidentalmente deixa Lulu, com os olhos imediatamente
se enchendo de lágrimas enquanto ele grita de dor.

Mas não temos tempo para reagir, pois somos empurrados para fora
da cela e derrubados por um corredor escuro.

— Vlad, — ela sussurra em voz baixa: — Estou com medo, — ela


olha para mim, com os olhos arregalados.

Eu também estou, mas não posso mostrar. Não quando ela precisa do
meu apoio.
— Vai ficar tudo bem. Assim como as outras consultas, — tento ser
otimista, mas algo sobre isso parece muito ameaçador.

Até o prédio parece pior do que o que estivemos antes, então não
tenho grandes esperanças.

Descemos uma escada estreita antes de sermos conduzidos para


dentro de uma enorme sala cheia de equipamentos médicos.

Vanya e eu somos separados pelos guardas enquanto somos


empurrados em direção a um par de camas altas. Mal temos tempo para
reagir quando somos colocados nas camas, com as mãos e os pés
amarrados às dobradiças de metal.

Os guardas se foram, não demorou muito para que um homem entre.


Ele está vestindo uma túnica branca, como os outros médicos. Sua altura é
como a do meu pai, mas ele não tem músculos para acompanhá-la. Cabelos
castanhos claros e olhos azuis escuros, ele não parece tão ameaçador
quanto os outros médicos. Ele ainda tem um pequeno sorriso no rosto
quando vem em nossa direção, pegando um par de luvas no caminho.

— O que temos aqui?— ele exclama, seu olhar se movendo


rapidamente sobre mim antes de passar para Vanya, seus olhos se
iluminando com interesse.

Eu engulo, sem certeza se eu gosto disso.


— E quem é essa princesinha?— Ele vai para o lado de Vanya,
pegando um fio de cabelo dela e trazendo-o para o nariz, inalando.

— Qual é o seu nome, querida?— ele pergunta, um sorriso estranho


no rosto.

— Vanya, — minha irmã pisca, tão confusa quanto eu.

— Vanya, um nome tão bonito. Para uma garota bonita, — comenta,


andando pela mesa cheia de utensílios, as mãos se movendo
dramaticamente no ar como se estivesse contemplando qual escolher.

Eventualmente, ele se instala em um pequeno conjunto de agulhas,


voltando para nós, seu sorriso ainda mais amplo.

— Eu sou Miles, — diz ele com orgulho, — e você tem muita sorte de
ser escolhido. Meus critérios são muito rigorosos, e devo dizer. Não temos
um conjunto completo de gêmeos passando nos testes há um bom tempo,
— ele se move, vindo para sentar ao lado da cama de Vanya.

— E você, querida, é a primeira garota em muito, muito tempo, — ele


suspira. — Mas você é uma coisa tão bonita, — continua ele, com a mão
enluvada passando pela bochecha.

Eu acho que você poderia dizer que Vanya é bonita. Ela é


definitivamente a mais bonita de nós dois. Com sua estrutura frágil,
cabelos pretos e olhos negros contra a pele pálida, ela parece uma boneca
de porcelana. Mas não gosto do jeito que ele está dizendo isso para ela.
Parece... predatório.

— Ora, eu vou me divertir quebrando você, — diz ele animadamente,


e eu franzo a testa, sem realmente entender o significado.

Ele vai para o meu lado primeiro, me olhando por um momento


através de olhos estreitos antes de escolher uma agulha bastante grande.

— Agora, vamos ver como isso é, — diz ele, inserindo a agulha no


meu braço sem preliminares.

Eu me contorço de dor, meus olhos arregalados enquanto vejo seu


sorriso.

— Em uma escala de um a dez, quanto dói?— Ele pergunta, com a


mão pressionando a agulha e movendo-a.

— Cinco, — respondo, respirando fundo e forçando meus olhos a não


se arregalarem com dor.

De alguma forma, acho que ele não apreciaria essa exibição.

— Maravilhoso, — ele responde, tirando a agulha, sangue saindo da


minha pele antes de escolher outra e enfiando-a novamente no mesmo
local. A ponta é maior e aumenta imediatamente a ferida.
Eu abafo um gemido de dor.

— Agora?

— Sete, — digo, me amaldiçoando imediatamente por não ir para um


número maior. Porque se são sete...

Seu sorriso nunca vacila quando ele pega uma agulha ainda maior,
repetindo o procedimento até eu gritar dez dolorosamente.

Quando ele termina comigo, meu braço está uma bagunça sangrenta.
Não consigo nem ver a ferida original, pois vários buracos estão centrados
na mesma área, sangue jorrando em jatos.

Ao contrário das consultas anteriores, ele nem se preocupa em me dar


uma gaze para o meu braço, nem mesmo limpar um pouco do sangue.

Não, sua atenção é voltada para Vanya, e seu sorriso aumenta quando
ele considera seu rosto pálido. Meu estômago está em nós, pois sei que ele
fará o mesmo com ela, mas só posso assistir impotente enquanto Vanya
vira os olhos para mim, seus gritos silenciam quando ele faz uma bagunça
na carne dela.

— Meu Deus, — Miles respira, impressionado com a perseverança de


Vanya. — Você é uma maravilha, não é?— ele exclama descrente depois de
descartar a décima agulha. Ele parece estar impressionado que Vanya não
tenha gritado nem uma vez.
O que ele não sabe, porém, é que minha irmã já desenvolveu seu
próprio mecanismo de lidar com estímulos externos. Ela encontra seu
refúgio em mim. No momento em que nossos olhos se encontraram, eu
sabia que ela havia desligado, apenas esperando Miles terminar.

Mesmo quando o sangue escorre de suas feridas, quase não há reação.

— Acho que tenho um vencedor, — acrescenta Miles, uma expressão


de pura felicidade em seu rosto.

Não consigo insistir nisso, pois somos rapidamente levados e


recolocados em nossas celas. Vanya está de volta em si no minuto em que
vê Lulu, pegando-o nos braços e manchando seu vestido branco com o
sangue.

— V, — tento arrancar a mão dela, usando a ponta da minha camisa


para esfregar um pouco do sangue.

— Estou bem, — ela encolhe os ombros, me dando um sorriso.

Mas não demorou muito para que outro guarda chegasse a nossa cela.
Desta vez especificamente para Vanya.

— Mas estamos sempre juntos, — acrescento quando eles tentam


arrancá-la do meu lado. — Você não pode levá-la.
— Ordens são ordens garoto. Ele só quer ela,— ele aponta para
Vanya. E quando tento me colocar fisicamente entre ele e minha irmã, ele
facilmente me joga de lado, com as costas da mão se conectando à minha
bochecha e me enviando voando.

— Está tudo bem, Vlad. Eu vou ficar bem. — Vanya acrescenta com
um sorriso compreensivo, e só posso assistir enquanto ela é tirada de mim.

Passo o dia e a noite seguintes sem fechar os olhos por um segundo.

Onde ela está?

Meu corpo simplesmente não consegue relaxar, pois estou imaginando


milhares de cenários, todos terminando com minha irmã morta.

Mas a temida espera termina quando a porta da cela se abre, e Vanya


entra usando um vestido rosa, com o cabelo comprido trançado em duas
tranças.

— V?— Dei um passo em direção a ela, surpresa com sua mudança de


aparência. Até o ferimento dela foi curado.

No entanto, apesar de todas as roupas limpas, há um olhar


assombrado nela.

— V, — corro para o seu lado, minhas mãos nos seus ombros. — O


que aconteceu? Você está bem?— Eu pergunto, dando um tapinha nela.
Sua reação é imediata quando me empurra para longe, recuando ao meu
toque.

Ela se move para um canto da cela, deitada e puxando os joelhos para


o peito.

— V, — pergunto timidamente, pela primeira vez verdadeiramente


preocupado.

O que quer que tivesse acontecido conosco, ela nunca me deu o


tratamento silencioso.

Nunca.

As visitas exclusivas continuam e lentamente, até Lulu não desperta o


interesse de Vanya. Ela mal fala comigo e, quando tento confortá-la, ela
rejeita todo o meu toque.

— V, por favor, fale comigo, — eu imploro a ela um dia quando volta


usando mais um vestido novo, mas com lágrimas caindo em suas
bochechas. — O que aconteceu?

— Ele disse que eu era sua garota especial, — ela choraminga, as


mãos no rosto enquanto treme lentamente o corpo.

— V... — Eu deixo escapar, sem saber como ajudá-la.


— Dói... mas tenho que fingir que não, — ela sussurra.

— O que? O que dói?— Imediatamente imagino Miles machucando-a


ainda mais, tentando levar seu limiar de dor a um extremo diferente a
cada vez. Na minha opinião, não posso deixar de vê-la ensanguentada e
machucada, mas quase não há uma marca em sua carne.

— Ele gosta quando estou de joelhos, — ela começa, com a voz


pequena — nua... — ela se afasta e eu franzo a testa.

Nua?

— Há algo cutucando dentro do meu corpo, e dói. Toda vez... — ela


respira fundo. — E você não está lá para me ajudar com isso, — diz ela as
últimas palavras em um soluço, lágrimas inundando suas bochechas.

Aproximo-me dela, abraçando lentamente meus braços em volta do


corpo dela, e pela primeira vez ela permite meu toque.

Não entendo o que está acontecendo com ela no começo. Leva algum
tempo até eu perceber completamente o que está cutucando seu corpo toda
vez e o que Miles está fazendo com minha irmã.

E só entendo quando isso acontece comigo também, durante uma das


ausências de Vanya quando um guarda corre para dentro de nossa cela.
Preso e despojado de tudo, só espero que não dure. Quase o triplo do
meu tamanho, não tenho chance, pois ele empurra o cotovelo na minha
nuca, me segurando no lugar enquanto acaricia minha bunda.

Não importa o quanto eu tente me mover, ou gritar em protesto, é em


vão quando ele se empurra para dentro de mim, meu corpo gritando de dor
enquanto me despedaça. Por mais que meu corpo queira rejeitá-lo, a força
de seu ataque não é páreo para o corpo de uma criança. Sinto sua dureza
desagradável enterrada dentro de mim, a dor insuportável quando ele se
aprofunda antes de recuar.

Em algum momento eu paro de lutar, me segurando enquanto ele


entra e sai de mim, o cheiro de seu corpo suado em cima do meu,
ameaçando me deixar doente.

Mas mesmo quando ouço seus grunhidos em cima de mim, tudo o que
consigo pensar é na minha irmã. Minha irmãzinha, que teve que suportar
essa violação várias vezes, se retirando mais profundamente em si mesma
e rejeitando até o toque de seu irmão — sangue de seu sangue.

Só então eu realmente entendo o que Vanya tem que passar toda vez
que Miles a chama, e acho que não posso suportar. Acho que não posso
viver sabendo que alguém machuca minha irmãzinha assim.

Eu preciso fazer algo sobre isso.


É o ponto de virada, pois percebo que devo salvar minha irmã de
alguma forma. Porque ela é tudo o que importa. Eu posso aguentar
qualquer coisa.

Estupro. Dor. Tortura.

Vou suportar tudo, desde que eu possa poupá-la.

Armado com firme convicção, o método para tirar a atenção dela chega
até mim durante nossas consultas.

Cada vez que ele corta minha pele, pedindo meu nível de dor, fecho
meus olhos, dispondo meu corpo a me obedecer e digo o número mais baixo
que posso. Continuo a ranger os dentes, mesmo quando seus experimentos
crescem em tamanho, quando ele não está mais satisfeito com agulhas e
agora exige que as facas cortem nossa carne.

Eu aguento mesmo quando o vejo descascar a pele do meu braço,


revelando minhas veias e músculos.

De fato, esse experimento em particular finalmente me chama sua


atenção.

— Talvez eu estivesse errado, — observa ele, estudando minhas


reações enquanto cutuca e fura no meu braço exposto.
Depois de tanto tempo com sangue e facas, já estou dessensibilizado a
ver minha própria carne nua.

— Vamos ver, — ele comenta, voltando para Vanya.

É a hora dela de fazer um show. Eu pedi a ela — implorei — para


chorar e lamentar o momento em que ele cortasse sua carne. Não segurá-lo
e não se refugiar em mim. Simplesmente deixar sair.

Um olhar questionador na minha direção e eu aceno. No momento em


que a faca toca seu braço, ela começa a gritar de dor. Os olhos de Miles se
arregalam horrorizados como se ele não pudesse acreditar no que está
acontecendo.

Ele continua cortando, mas Vanya continua gritando.

Até que ele termina.

Removendo as luvas, ele as joga no chão, saindo da sala e deixando


um de seus assistentes entrar e nos costurar novamente.

E sei que finalmente tenho a atenção dele.

E assim, as visitas especiais de Vanya param.

Até agora eu já percebi o que Miles parece estar procurando, o sujeito


do teste que tem melhor desempenho em seus experimentos.
E se isso garantir que minha irmã será deixada em paz, eu serei o
melhor.

Não importa o que eu tenho que fazer.

Sei que meu plano funciona quando, no dia seguinte, sou eu quem é
chamado para o escritório dele.

Dentro, é melhor do que qualquer coisa que eu já vi. Tudo é tão


brilhante e novo, e há muitos dispositivos por toda parte.

Assim que sou empurrado para dentro por um guarda, Miles se


levanta da cadeira, com o sorriso largo enquanto ele assume minha
pequena forma.

— Vlad, não é?— Ele pergunta, e há um ar falso em todo o seu


comportamento. Mas, sabendo que essa é a única maneira de poupar ainda
mais dor a Vanya, aceno com a cabeça, colaborando.

— Sim, senhor, — respondo, e ele me leva para uma cadeira ao lado


dele.

Sento-me, tentando ignorar a maneira como minhas roupas sujas ou


meu corpo ainda mais sujo mancham o couro brilhante, ou como Miles
alarga suas narinas quando me cheira.

Afinal, de quem é a culpa pelo meu estado lamentável?


— Eu estive observando você, Vlad, — Miles cruza as pernas,
aproximando os braços e descansando o queixo na mão. — E acho que você
está escondendo seu potencial de mim.

— Eu não sei senhor. — Eu respondo, tentando parecer perplexo com


a pergunta dele.

— Aqui, — diz ele, agarrando meu braço recentemente suturado. Eu


estremeço internamente com a dor, mas por fora, não mostro.

Eu apenas pisquei uma vez, olhando para Miles e mostrando


exatamente o que ele quer ver — sem reação.

— Eu pensei que sua irmã estava acima da média. Mas você, meu
garoto, — ele assobia, — você pode ser apenas meu pequeno milagre.

— Para que serve isso, senhor?— Eu pergunto antes que eu possa me


ajudar.

Ele estreita os olhos para mim antes de rir.

— Uma mente curiosa. Eu gosto, — diz ele, levantando-se da cadeira


e me dizendo para seguir.

Pressionando alguns botões em um teclado, outra porta se abre na


parte de trás do escritório. Quando entramos na sala, vejo computadores e
outras máquinas, todas cercadas por fileira e fileiras de livros.
— Interessante, você é o primeiro a me perguntar o propósito, —
observa ele, e posso dizer que há um prazer subjacente em sua voz.

Ele para na frente de um enorme quadro-negro, toda a superfície


rabiscada em sinais brancos.

— Isso, — ele puxa um papel, derrubando-o e mostrando-me uma


ilustração, — é o cérebro, — ele começa a explicar. — E isso, — ele
aponta para uma região no centro, — é a amígdala. Simplificando, regula
algumas das emoções básicas nos seres humanos, particularmente o medo.

Ele anda por aí conversando com entusiasmo.

— Veja bem, existem pessoas por aí, psicopatas, que não têm toda a
função da amígdala e, como tal, não conseguem sentir o que as pessoas
comuns sentem. Eles não conhecem o medo e não conhecem o remorso.
Mas há um problema. Psicopatas são imprevisíveis. Imprevisível demais,
— seus murmúrios baixam a respiração.

Ele para e espero que ele continue, curioso qual era o objetivo disso.

— Mas também há pessoas como você. Intermediários, — diz ele, com


a boca curvada para cima. — Sua amígdala é desenvolvida de tal maneira
que, embora você não esteja tão longe quanto um psicopata, também não é
completamente normal.
— Você quer dizer que minhas emoções não são tão fortes, —
comento.

— Certo e... errado. Eu estudei sua espécie por um longo tempo, —


ele sorri,— eu sou mais velho do que pareço, — ele foge em uma piada. —
E embora nem todo espécime seja o mesmo, notei um padrão. Não há falta
de sentimento em si, mas há uma diferença com o que você pode sentir.
Todo mundo é diferente, — ele encolhe os ombros. — Algumas pessoas não
conhecem o amor, outras não conhecem o ódio e outras simplesmente não
conhecem o medo.

Ele se vira totalmente em minha direção.

— Claro, só estou interessado naqueles que não têm medo. Veja bem,
o medo é uma das piores características humanas. Aceitável, do ponto de
vista evolutivo. Mas não de um mercenário, — ele bate o pé ansiosamente,
— mas pelo que tenho em mente, é a característica necessária.

— O que você quer dizer?

— Super soldados, — ele sorri. — A arma humana perfeita que não


conhece medo, nem, — ele assente no meu braço, — dor. Uma máquina de
matar, se você quiser.

— Que tal remorso? Algumas pessoas têm enquanto outras não?— Eu


pergunto, a teoria dele mexendo algo dentro de mim. Apesar de toda a
minha apatia pelo homem por machucar minha irmã, não posso deixar de
ficar intrigado com o funcionamento de sua mente.

— Inteligente, — sua boca se abre, — nós apenas a apagamos fora de


você. Um passo de cada vez, — ele se aproxima até ficar sentado bem na
minha frente. — E você, meu pequeno milagre, pode ser apenas o meu
prêmio vencedor.

— Eu?

— Você acha que eu não te observei até agora? Seus atributos


intelectuais são perfeitos. Mas nunca fui convencido por suas habilidades
físicas ou emocionais, — diz ele jovialmente, — até agora.

Ele acaricia a mandíbula pensativamente antes de adicionar, — e se


sua forma física é melhor do que eu esperava, isso deixa apenas uma coisa.

Ele para e eu levanto minha cabeça para olhar para ele.

— Suas emoções. — Ele declara feliz, me dando minha primeira


tarefa.

— Mostre-me como eu estava errado sobre você, Vlad, e juntos


conquistaremos o mundo, — ele me diz, depois do qual sou levado mais
uma vez a minha cela.
A primeira coisa que vejo é Vanya acariciando Lulu, seus traços são
leves pela primeira vez em sempre. E o dilema em mim cresce.

Tire a felicidade dela ou tire a dor dela?

Mas naquele momento, eu sei que há apenas uma resposta correta.

Eu me desliguei enquanto pisava em sua direção, envolvendo meus


dedos no pelo de Lulu e arrancando-o de seus braços. Dando alguns passos
para o meio da sala para dar a melhor vista à câmera, levanto meus olhos
sem emoção para a lente vermelha.

Levantando um Lulu em direção à câmera com uma mão, uso a outra


para sentir o pescoço dele. Encontrando uma aderência adequada, torço
dolorosamente até ouvir um estalo.

O corpo imóvel de Lulu cai no chão e eu apago tudo.

Os gritos de Vanya, sua reprovação e, acima de tudo, seus pequenos


socos quando atingem minha pele.

Eu apenas bloqueio tudo.

Esse dia marca o nascimento do pequeno milagre de Miles.

Uma máquina de matar.


CAPÍTULO VINTE E SEIS

Eu acordo cpm um pulo, suor agarrado à minha pele enquanto repito


os eventos do meu sonho em minha mente.

Porra, mas tinha sido pior do que eu imaginava. Muito pior. E de


alguma forma eu tenho certeza que este é um dos mais mansos.

Desde que voltei do Peru, meus sonhos serviram como flashbacks, às


vezes a memória nítida como hoje, outras vezes desapareciam. Ainda
assim, cada peça do quebra-cabeça está indo para uma direção.

Eu era o brinquedo de Miles. E Vanya deve ter pago o preço por se


tornar um experimento inútil.
Meus punhos se apertam quando percebo exatamente o que havia
acontecido com minha irmã, minha mente clamando com vozes altas, meu
peito pulsando de dor.

Merda.

Eu preciso sair daqui.

Olho para a forma adormecida de Sisi, mesmo agora o seu corpo


procurando o meu, um pequeno suspiro escapando dos lábios, e me lembro
pelo que estou lutando. Prometi que nunca a deixaria e não vou
decepcioná-la novamente.

Mesmo que eu tenha que matar uma parte de mim para garantir que
isso aconteça.

Eu já me sinto escorregando e minhas mãos ficam grudentas de


sangue. Abrindo minhas palmas na minha frente, são necessárias algumas
tentativas antes que meus olhos possam ver a realidade e não outro
fantasma da minha mente doentia. Eu pisco e mãos limpas ficam
sangrentas, antes que elas voltem ao normal e sangrentas novamente.

Merda!

Minha visão fica nebulosa e, embora eu saiba o que estou vendo, é


falso— uma miragem — não posso deixar de duvidar de mim mesmo.
Minhas mãos estão úmidas, e o suor nos meus dedos se assemelha ao
sangue escorrendo que as mancha após cada morte.

Reconhecendo que estou indo para o caminho sem volta, saio


rapidamente do quarto, esperando que Sisi não perceba minha ausência
por um tempo.

Posso não querer admitir, mas ainda sou um perigo para ela e nunca
faria nada que pudesse prejudicá-la novamente.

Eu já lhe causei dor suficiente para durar a vida toda e é uma


verdadeira maravilha que ela tenha me perdoado. Não vou comprometer
nada disso.

Desde que deixei o Peru mais cedo do que o esperado, tive que
renunciar a algumas das coisas que el viejo tinha prescrito. Em vez disso,
ele me deu algumas orientações sobre como controlar meus episódios.

— Entenda a fonte e você saberá a resposta, — disse ele enigmático.

Mas entender a fonte não é tão fácil quando você não consegue
lembrar-se da fonte.

Os sonhos e flashbacks que tenho tido do meu tempo com Miles me


deram algumas dicas sobre o que aconteceu. Ele estava tentando me
transformar em uma máquina de matar perfeita e, como tal, só consigo
imaginar o treinamento, tanto mental quanto físico, a que ele me
submeteu. Certamente, minhas cicatrizes mostram um lado da história e,
considerando o que me lembro agora, estou convencido de que a maioria
delas é de suas tentativas de me dessensibilizar para a dor.

Fecho os olhos, tentando afastar as memórias. Ver-me preso sob o


peso de um humano viscoso definitivamente não ajudou a melhorar meu
humor. De qualquer forma, o flashback serviu apenas para aumentar
minha sede de sangue, a necessidade de matar envolvendo meus sentidos.

Forço um pé na frente do outro enquanto caminho para o porão. Eu


mal consigo ligar para Maxim e pedir para ele garantir que o quarto esteja
pronto para mim. Mas com a maneira como estou oscilando de parede a
parede, meus movimentos descoordenados e lentos enquanto minha visão
me trai, minha mente escorregando, ele terá tempo suficiente para colocar
as coisas em ordem.

Para colocar os ensinamentos do el viejo em uso, tive que improvisar


um pouco. Certamente, seu conselho para entender a origem do meu
gatilho e enfrentá-lo, em vez de tentar evitá-lo, me deu um dilema.

Desde que eu vi o que meus episódios fazem ao meu redor, sempre


procurei controlá-los, evitando olhar para o sangue da melhor maneira
possível, mesmo que isso tenha se mostrado um pouco difícil na minha
profissão.

Ainda assim, eu me tornei inventivo, usando todo tipo de técnicas de


tortura que garantiam que meus prisioneiros revelassem seus segredos
sem o sangue deles. De aranhas venenosas, cobras a formigas-bala e larvas
que comem carne, eu encontrei várias maneiras de conseguir o que queria
de um alvo sem sucumbir a um episódio.

Ainda assim, ficar longe do meu gatilho não foi tão eficiente, e notei
isso nos últimos anos. Considerando que antes seria preciso muito sangue
para me fazer me perder, hoje em dia só preciso ver algumas gotículas e
sumo.

Quanto mais eu tentava me suprimir, mais eu perdia o controle. E


ficou tão ruim que ninguém está seguro ao meu redor.

Entenda a fonte.

Não consigo entender a fonte se não me lembro. Portanto, o curso de


ação mais seguro por enquanto é ceder aos meus episódios. Abraçá-los
completamente quando eles vierem e me deixar destruir tudo ao redor, em
um ambiente controlado, é claro.

Então eu tinha recorrido a construir meu próprio matadouro. Se meu


animal quer sangue, então sangue terá.

Finalmente chego ao porão e, digitando um código, entro no quarto.

Construído no estilo de um banheiro romano, o quarto é feito


inteiramente de mármore branco. Duas colunas estão de cada lado do
cômodo, segurando uma arcada com um teto pintado — cenas de guerra e
derramamento de sangue. No meio, há apenas uma piscina circular cheia
de água doce do Mississippi. O quarto inteiro possui um sistema de
drenagem destinado a coletar todos os líquidos na piscina.

E, é claro, como o pagão que sou, não posso começar meu ritual sem
sacrifício. Assim que entro no quarto, sou atacado por cinco homens
corpulentos, todos gritando e xingando obscenidades, provavelmente
porque Maxim os havia sequestrado e trancado aqui.

Assim que tenho um alvo à vista, não ouço e nem vejo nada além de
um rio de sangue me esperando, seus cadáveres são a oferta final.

E então, eu me movo.

Meus movimentos são puro instinto quando eu bato, me abaixo e bato


novamente, evitado cada soco com fluidez enquanto acerto o meu. Dois
homens caem rapidamente e os outros três são apenas uma questão de
tempo. Dançando ao ritmo de seus corações, aplico toda a minha força nos
punhos acertando um no pomo de Adão, ouvindo sua traquéia quebrar, a
força do meu soco chutando seus ossos pelas costas e cortando seu
suprimento de ar. Com uma respiração estrangulada, ele também cai.

Os próximos dois são fáceis, enquanto eu miro para pontos vitais, seus
olhos rolando para trás enquanto sucumbem ao chão.

Ofegante, o nevoeiro limpa apenas um pouco, o suficiente para eu


notar a faca que Maxim joga na gaiola de uma janela secreta no teto.
Sou rápido em agarrar a alça, arrastando os corpos até que estejam
alinhados com os pequenos canos de drenagem, minha lâmina cortando a
garganta e observando como o sangue se acumula até que comece
lentamente a se mover em direção à piscina.

Repito o processo com cada corpo, posicionando a fenda da garganta


para que todo o sangue seja coletado na piscina. Agora, todos os cinco
pontos de drenagem são ocupados por cadáveres vazando a essência de sua
vida para o meu poço.

Em pouco tempo, a água limpa fica escura, o sangue infundindo cor


nela. E lentamente, muito devagar, uma cor enferrujada dá lugar ao
vermelho.

Mais sangue enche a piscina e eu fecho meus olhos, a visão


acariciando todo o meu ser.

Impacientemente, rasgo minhas roupas enquanto praticamente


mergulho para a frente, a água sangrenta batendo na minha pele e me
fazendo suspirar de prazer. O cheiro metálico domina minhas narinas, e só
posso tentar inalar mais fundo.

Submerso na água, deixei o sangue cobrir cada centímetro da minha


pele, a textura — embora diluída — alimentando minha besta interior. E
embora peça mais — sempre pede — finalmente está em paz.
Fico debaixo d'água, me perdendo no mar de sangue, a morte que me
rodeia, o vermelho abrangente.

E eu espero.

Não muito diferente das outras vezes, estar impregnado de sangue me


acalma. E acho que minha consciência começa a retornar lentamente.

Eu quebro a superfície da água, respirando com força, meus olhos


finalmente se acomodando à visão ao meu redor, a clareza retornando à
minha mente.

— Droga. — Eu murmuro enquanto aprecio as aparências mutiladas


dos homens que acabei de sacrificar.

Eu certamente tinha ido além para garantir que eles estão realmente
mortos.

Passei muito tempo ruminando os conselhos de el viejo e tentando


aplicá-lo à minha própria situação. Por fim, percebi que havia apenas uma
solução — ceder ao sangue. Literalmente.

Tinha sido um pouco mais complicado conseguir os recursos para isso,


mas eu rapidamente encontrei uma maneira de roubar alguns
prisioneiros, pessoas que ninguém sentiria falta, depois de garantir que
seus exames de sangue estejam atualizados, é claro.
Maxim está encarregado de adquirir prisioneiros saudáveis para eu
matar e, bem, tomar banho no sangue deles.

— Parecia melhor na minha cabeça. — Eu digo em voz alta, revirando


os olhos para minhas próprias circunstâncias, de alguma forma divertido,
eu tive que recorrer a isso. Afinal, eu não sou Elizabeth Bathory. Minhas
próprias inclinações não miram para alcançar a vida eterna. Ficarei feliz
se conseguir manter esta.

E está funcionando. Surpreendentemente, minhas crises se tornaram


mais curtas e, uma vez que estou submerso em sangue por algumas horas,
praticamente desaparece. Claro, eu tenho que matar algumas pessoas por
isso. Mas vou escolher a segurança de Sisi acima de qualquer um.

Essa prática me tornou menos volátil e mais propenso a me controlar,


mesmo no início de uma crise. Enquanto eu normalmente teria apagado
imediatamente, agora resta um pouco de consciência, mesmo durante o
pior do ataque.

Isso me faz... esperançoso.

Agora, se eu pudesse me lembrar qual era o gatilho inicial. Todos os


flashbacks que eu tive até agora apresentavam muito sangue, e na maioria
das vezes era meu. Mas até agora não senti nada além de indignação com
minhas memórias. Nada do que eu tinha visto me deixou particularmente
receptivo ou com raiva. Claro, minha bússola está um pouco distorcida, já
que eu provavelmente tive que suportar todas as coisas insanas que
alguém pudesse imaginar. Do estupro à tortura mental e física, à abertura
do meu corpo para a alegria pervertida de Miles, não acho que haja muita
coisa que possa superar isso.

Estou profundamente em meus pensamentos, meu corpo ainda está


imerso no sangue, quando ouço o rangido da porta.

Minha cabeça vira para trás e eu assisto com horror enquanto Sisi
tenta entrar, seus olhos se arregalando enquanto ela pega a carnificina ao
redor. Seu olhar finalmente se instala em mim, e olha para mim
curiosamente, inclinando a cabeça para o lado e estudando-me como se eu
fosse uma curiosidade.

— O que você está fazendo aqui?— Eu pergunto, minha voz brusca.

Como ela chegou aqui?

Eu tomei todas as precauções para garantir que ela não descobrisse


isso. Agora que finalmente consegui que ela me desse outra chance, não
preciso que veja isso e perceba que ainda sou um monstro.

A sala está propositadamente escondida da vista e a porta é protegida


por senha. Como ela poderia ter encontrado o caminho até aqui e aberto a
porta também?

Ela não responde, apenas encolhendo os ombros enquanto se move


pelo cômodo, avaliando os danos. Inclinando um pouco, ela estuda o
cadáver de um dos prisioneiros, com o dedo atrás do meu corte cirúrgico.
Ela faz o mesmo com todos os corpos antes de parar na minha frente.

— Interessante, — ela observa, e eu tento o meu melhor para lê-la.

Ela está brava? Decepcionada comigo? Ela vai me deixar? Ela não
pode fazer isso. Não, é claro que não vou deixá-la fazer isso.

Mas isso é interessante bom ou um interessante ruim?

Ela acha que eu a tenho enganado?

Porra, Hades, mas isso me dará pontos negativos, e eu mal consegui


alguns como está. Não posso perder a confiança dela. Ou sua consideração.
Ou qualquer coisa.

Meu coração começa a bater loucamente no meu peito enquanto


percebo que ela me deixou encurralado. Levantando-me para fora da água,
começo a andar em direção a ela, mas ela apenas estica um braço em
minha direção, com a mão levantada balançando um dedo em um
movimento de não ouse.

Porra... Eu estou fodido.

— Eu posso explicar, — digo imediatamente, mas ela continua a


mover os dedos para a boca em um movimento trêmulo.
Minha mente está imediatamente sobrecarregada, pois ordeno que
meu cérebro pense em todos os cenários em potencial e no que posso fazer
para sair dessa bagunça. Eu já tenho uma lista de presentes preparados,
além de mais corações esculpidos, pois eles parecem fazer o truque.

Eu começo a sair da piscina, mas assim que dou outro passo em


direção a ela, ela me para. Uma mão para cima, ela balança a cabeça para
mim, me indicando para ficar parado.

Seus dedos já estão nos botões do vestido, enquanto ela os desabotoa


lentamente. Seus olhos estão em mim, como se ela estivesse me desafiando
a olhar para seus movimentos sensuais.

Ela não precisa me dizer, pois já estou encantado com a pele


espreitando da clavícula... então seu decote... Logo, todo o comprimento do
vestido foi desabotoado, e ela o desliza do corpo, deixando-o no chão.

— Porra, — sussurro, meus olhos deslizam na forma dela.

Ela não está usando nada.

Eu a examino da cabeça aos pés. Sua pele dourada e verde-oliva brilha


na iluminação da sala, fazendo-a parecer uma deusa descendo do céu —
respondendo à oferta de sangue. Seus peitos são redondos e firmes, os
mamilos já duros e pontiagudos.

Meu olhar diminui, para o estômago liso e a linha da cintura definida.


Eu engulo.

Acho que nunca vou me acostumar com a visão dela. Ela é tão
requintada que nenhuma palavra pode descrevê-la. Porra, mas mesmo um
dicionário provavelmente não teria palavras, ou é sem palavras?

Veja, até meu cérebro funciona mal quando se trata dela!

Seus quadris são curvos e bem torneados, alargando-se levemente


para fora na figura perfeita de ampulheta. Eu me movo para baixo, para o
pequeno pedaço de cabelo loiro aparado aninhado entre as pernas. Aquele
lugar delicioso que é apenas meu e será para sempre somente meu.

— Sisi, — eu suspiro, meu corpo já preparado para o dela, meu pau se


esforçando para chamar a atenção enquanto meus olhos se deleitam em
sua glória.

Fui feito para adorar essa mulher.

Não há dúvida sobre isso. Não quando meus joelhos tremem um


pouco, já tentando se ajoelhar na sua frente e dar a ela o respeito que
merece.

Ela é a única coisa em todo o universo que poderia me deixar de


joelhos, e oh, mas eu ficaria feliz em cair. Para provar a ela, eu faria mais
do que isso. Eu me prostaria aos pés dela.
Ela se move, os pés quase deslizando no chão de mármore, as pernas
longas e tonificadas flexionando e enfatizando ainda mais sua forma.

Puta merda!

Ela mergulha os dedos dos pés na água sangrenta, os lábios se


contraindo quando aprova a temperatura. Então, devagar,
tentadoramente, ela começa a descer, a água sangrenta cumprimentando
sua pele e manchando-a.

Eu assisto, hipnotizado, enquanto ela se submerge até que seus


cabelos estejam encharcados de sangue, o loiro claro se tornando um
vermelho rosado.

Subindo para pegar ar, ela levanta uma sobrancelha para mim
percorrendo a água para alcançar meu lado. Todo o seu rosto agora está
avermelhado, não muito diferente do meu, e sinto vontade de agarrá-la e
trazê-la para mim.

Simplesmente devorá-la.

Mas primeiro eu preciso ver o quanto ela está brava comigo.

— Sisi, — começo, mas ela coloca o dedo nos meus lábios, vindo para
o meu lado e acariciando minha garganta, o nariz subindo e descendo na
superfície do meu pescoço com uma carícia suave. Eu paro, sem saber como
reagir.
— Você foi travesso, — ela sussurra no meu ouvido, os dentes
pegando o lobo mordiscando na minha pele.

— Caralho, Sisi, — eu gemo, — você não pode sair por aí dizendo


coisas assim. Especialmente parecendo assim. — Eu digo a ela, minha voz
se esforçando para sair.

— Como o quê?— Ela pergunta, inclinando-se para trás para bater


aqueles cílios bonitos para mim, seus olhos brilhando com significado e
travessuras ocultos.

A sedutora.

Eu coloco meu braço em volta da sua cintura, trazendo-a para mim.


Em dois passos, eu a tenho contra a parede da piscina, as pernas abertas
enquanto ela as envolve ao meu redor, a boceta esfregando contra o meu
pau.

— Você sabe muito bem, minha pequena sedutora, — digo a ela,


meus dedos cavando em suas bochechas enquanto levanto a cabeça para
olhar nos seus olhos. — Você é o epítome do pecado, — meu hálito nos
lábios dela, traço minha mão pelo pescoço, pelas clavículas, antes de
escovar as pontas dos meus dedos sobre o mamilo.

Ela suspira, uma rápida respiração quando seus olhos se voltam para
mim.
— Como você chegou aqui, Sisi?— Eu me inclino até que tenhamos
apenas milímentros nos separando. Ela não desvia o olhar, segurando meu
desafiadoramente.

— Através da porta, — ela encolhe os ombros, uma pitada de um


sorriso nos lábios.

— Sisi, — eu levanto uma sobrancelha. — Essa porta em particular é


protegida por senha, — eu digo.

— E de quem é a culpa, — ela começa, chegando ainda mais perto, a


língua espreitando e escovando sobre os meus lábios enquanto ela sai pela
minha bochecha para sussurrar no meu ouvido, — que a senha é meu
aniversário?

Eu posso ouvir a diversão na sua voz, e meus próprios lábios se


contraem.

— Hmm, meu erro, — eu pronuncio, trazendo-a de volta para me


encarar, meu polegar sob o queixo. — Mas como você encontrou a porta?
Apenas Maxim e eu sabemos.

— Seu amigo Maxim pode ser muito falador com o incentivo certo, —
continua ela, arrastando as unhas sobre o meu peito.

O seu toque está me fazendo perder a cabeça, especialmente quando


preciso manter a cabeça no jogo. Uma violação de segurança é uma
violação de segurança, não importa quem seja o intruso. E como Maxim
mal consegue falar uma palavra em inglês, estou ainda mais curioso sobre
como ela conseguiu as informações.

— O que você fez, Sisi?— Eu pergunto, uma expressão grave no meu


rosto. No interior, porém, estou quase transbordando de orgulho.

Ela é única.

— Acabei de detalhar alguns procedimentos de um livro de anatomia,


— ela sorri timidamente. — Você me corrompeu, — diz ela
sedutoramente, com os dedos espalhados pelo meu peito. E para me
mostrar o quanto ela é uma sedutora, ela se levanta na ponta dos pés para
dar um beijo nos meus lábios. — Em mne mnoga skazal. Vse tvai secreti17
— ela sussurra atrevida, meus olhos se arregalando com suas palavras.

— Sisi!— Gemo, fechando os olhos, meus ouvidos se aquecendo ao som


do russo nos lábios dela.

— Eu aprendi. Um pouco, — ela cora.

— Para mim?— Eu pergunto, incrivelmente surpreso. Eu nunca teria


pensado que ela teria feito um esforço por mim.

17 Ele me contou tudo. Todos os seus segredos.


Ela assente. — Eu queria poder dizer que também te amo no seu
idioma, entre outras coisas, — continua ela, e meus lábios se alargam em
um sorriso.

Conhecer Sisi, entre outras coisas, significa que ela não quer ficar fora
do circuito, sua curiosidade inerente inextinguível.

— E?— Eu solicito, morrendo de vontade de ouvir as palavras.

Ela bate os cílios para mim, lambendo os lábios sugestivamente antes


de dizer. — Eu posso te contar. Depois que você me dizer o que é isso, —
ela se move para o quarto de sangue. Amaldiçoando entre meus os lábios,
ela aguarda uma resposta.

— Isto é... complicado, — respondo, sem saber o quanto devo dizer.


Porque se ela descobrir tudo... Não sei como reagirá a isso.

— Não é. — Ela balança a cabeça, os dentes espreitando enquanto


morde o lábio inferior. — Estamos nisso juntos, — diz ela, um sorriso
puxando seus lábios, — prometeu que confiaria em mim. Não há mais
segredos.

— Hell girl, — eu gemo, sabendo que ela está certa. — Eu confio em


você, — respiro fundo, meus olhos procurando nos dela. — Mas você pode
não me ver da mesma forma quando descobrir algumas coisas sobre mim.
A mão dela aperta a minha trazendo para os seus lábios, dando um
pequeno beijo nas minhas juntas.

— Vlad, — diz ela, seu tom sério. — Eu vi você no seu pior e ainda
estou aqui.

— Isso pode ser pior... — Eu deixo escapar e ela está franzindo os


lábios enquanto levanta uma sobrancelha curiosa para mim.

Porra! É agora ou nunca.

Eu sei que Sisi não vai largar isso. Sempre que ela pensa em algo, ela
sempre consegue. É uma das coisas que amo nela, mas, neste caso, receio
que possa causar uma brecha entre nós. Porque não há doçura cobrindo
meu passado. Eu só preciso esperar que ela não me veja de maneira
diferente.

— Eu contei sobre minha irmã, Vanya, e que não me lembrava do que


aconteceu quando fomos levados. — Respirando fundo, eu começo. Sisi está
ouvindo atentamente, e eu me forço a contar tudo o que mantive
engarrafado por tanto tempo.

— Ela estava morta quando fomos encontrados, — uso uma mão para
puxar um fio de cabelo para o lado, — o que eu não disse é que não sabia
que ela estava morta até anos depois.

— O que você quer dizer?— ela franze a testa.


— Algo aconteceu comigo lá, — eu levanto meus lábios com o
eufemismo, — e nunca registrei a morte dela. Para mim, ela ainda estava
viva. Como você, eu podia tocá-la. — Movo minha mão sobre a sua
bochecha, — falar com ela, fazer tudo com ela.

— Você está dizendo que estava vendo o fantasma de sua irmã?— ela
pergunta, incrédula.

— Não é um fantasma. Mais como uma invenção da minha mente. Um


fantasma surgiu da minha dependência dela. — Suspiro, sabendo que
estou prestes a descascar todas as camadas e me mostrar nu diante dela.
— Eu estava muito sozinho quando criança. Ninguém queria fazer nada
comigo. Vanya era a única com quem eu podia conversar... interagir. A
única ao meu lado. Até eu perceber que ela não era real.

— Quando você percebeu?

— Eu tinha quinze anos, — começo, contando a ela o incidente com as


roupas e como meu pai me disse que Vanya estava morta há muito tempo.
— Foi quando eu tive meu primeiro episódio completo. — Eu explico, o
pensamento de nunca mais ver Vanya sendo tão agonizantemente
enlouquecedor que eu acabei de quebrar.

E então eu conto tudo a ela desde o começo. Como todos me evitavam


desde que Valentino me encontrou e como meu fascínio mórbido pela
morte fez as pessoas me temerem, ou me considerarem uma aberração.
Vanya, ou quem eu pensava ser Vanya, tinha sido a única ao meu lado, e a
única coisa me mantendo remotamente são.

— E então você veio. — Eu sorrio para ela, — desde o primeiro


momento na igreja, algo aconteceu.

— Vlad, — Sisi diz meu nome com uma voz suave e vejo dor no seu
olhar. Por mim. Lágrimas se acumularam no canto dos olhos, a mão dela
aperta a minha enquanto eu falo.

— Pela primeira vez, Vanya desapareceu, — continuo, e suas


sobrancelhas franzem em confusão.

— Você quer dizer... — Sisi segue, e a realização surge quando ela


recua. — Foi por isso que você me procurou?— Ela pergunta de repente,
sua voz está quebrada. Um pequeno movimento da cabeça dela e eu posso
sentir seu corpo inteiro tremendo.

Droga! Estou fazendo uma bagunça.

— No começo. Sim. Eu queria descobrir por que você parecia afastá-la,


— falo rápido, tentando contar tudo antes que ela tire conclusões
precipitadas. — Mas um momento em sua presença e tudo caiu. Posso
prometer a você, Sisi, que a presença ou ausência de Vanya foi a última
coisa em minha mente quando eu estava com você.
Ela pisca rápido, tentando processar tudo. Por um segundo, receio que
ela entenda isso da maneira errada, que só estou com ela por causa disso.

— Continue, — diz ela hesitante.

— Ela se foi agora. Para sempre, — garanto a ela, contando minha


viagem ao Peru, minha última tentativa de me controlar. Seus olhos se
arregalam quando digo a ela o que eu estava fazendo nos últimos meses e
como com a orientação do elviejo eu consegui desbloquear uma parte
profunda de mim mesmo. Também compartilho que meu pequeno ritual de
sangue tem sido bastante útil para me ajudar a superar minhas crises.

Quando ela não fala, apenas me olhando em silêncio, me sinto


compelido a acalma-la.

— Por favor, não pense que estou com você por causa disso. Foi por
isso que te procurei inicialmente? Sim, — admito, interiormente
estremecendo com minhas próprias palavras, — mas não foi por isso que
fiquei. Não é por isso que estou aqui. Eu te amo, hell girl, e antes de você,
nunca pensei em melhorar. Eu estava bem apenas vivendo entre episódios.

Sisi assente pensativamente.

— Por que você parou de vê-la?— Ela finalmente pergunta.

Fecho os olhos, temendo o que vem a seguir.


— Porque comecei a me lembrar do que aconteceu durante meu tempo
com Miles, — começo e conto a ela tudo o que me lembrava até agora, tudo
o que havia acontecido comigo e com Vanya, mas também o que eu fiz para
ficar nas boas graças de Miles. Os detalhes são horríveis, e seu rosto se
mexe horrorizado enquanto ela me ouve. Não adoço nada, como digo a ela
sobre as visitas dos guardas, ou mesmo as tendências depravadas de
Miles.

— Bom Deus, — sussurra Sisi, com a mão subindo para cobrir minha
bochecha. — É isso que você tinha medo de me dizer? Deus, Vlad. Por quê?
Por que você acha que eu julgaria você por algo assim? Meu coração chora
pelo que você e sua irmã passaram. E nada disso foi sua culpa, — ela
coloca a testa na minha. — Nada, — ela repete.

— Eu ainda não sei toda a extensão disso. Mas tenho a sensação de


que algo que Miles fez comigo me prejudicou completamente, — confesso.
— Ele estava tentando construir o soldado perfeito. E de certa forma, ele
teve sucesso...

— Ele não teve, — ela me interrompe. — Ele apostou em você não ter
sentimentos, Vlad. Talvez você seja destemido quando se trata de morte e
implacável quando se trata de matar. Mas ele não levou em consideração
sua capacidade de amar. — Ela me pede para olhar nos seus olhos, tão
claro e cintilante com calor.

— Sisi... por favor, não me transforme em algo que não sou. — Eu digo
a ela, conhecendo minhas próprias limitações, bastante infelizes.
— Não, me escuta Vlad. Eu ouvi tudo o que você me disse. E sabe o
que eu vejo?— ela pergunta, seu tom sério e eu balanço minha cabeça,
quase distraidamente. — Eu vejo um irmão amoroso que faria qualquer
coisa pela a irmã dele. Vejo um homem leal que dedicou toda a sua vida a
encontrar e vingar suas irmãs. Um homem solitário que buscava refúgio
na memória da única pessoa que lhe era mais querida, — ela franze os
lábios. — E um homem feroz que lutaria até com ele próprio para estar
com quem ama.

Ela faz uma pausa, e eu posso ouvir seus batimentos cardíacos, assim
como os meus. O quarto está totalmente silencioso, exceto para os
pequenos sons do coração que parecem aumentar de velocidade a cada
segundo que passa.

— Eu vejo um homem com uma capacidade ilimitada de amor. Talvez


você não tenha outros sentimentos, Vlad. Mas acho que você compensa isso
de outras maneiras, — a mão dela se instala sobre o meu coração. — Sua
capacidade de amar é do tipo que as pessoas escrevem sonetos, mitos e
contos de fadas. O tipo abrangente, — seus lábios puxam um sorriso, — e
me sinto imensamente abençoada por eu ser quem você escolheu para dar
seu amor.

— Porra, Sisi. Eu... — ela coloca um dedo nos meus lábios, me


silenciando.

— Entenda, Vlad, com os bons e os maus. Eu vejo o você verdadeiro. O


assassino, o animal, o amante, — sua mão cai no meu peito e ela faz
pequenos círculos sobre o meu coração. — E eu amo todas as suas facetas.
Para mim você é apenas você. — Ela respira fundo. — A partir de agora,
não esconda nada de novo por medo de pensar menos de você, porque isso
não acontecerá nunca.

— Droga, Sisi, o que eu fiz para te merecer?— Envolvo meus braços


em volta dos seus ombros, enrolando-a no meu abraço. — Você é uma
garota gentil e infernal. Minha única, — falo contra o cabelo dela.

Ficamos assim pelo que parece ser uma eternidade, envoltos um no


outro, sangue agarrado aos nossos corpos, corações batendo em uníssono.

Eu deveria ter percebido que minha Sisi entenderia. E, no entanto, eu


tinha medo de contar tudo a ela, sempre pensando que perceberia seu erro
e decidiria me deixar. No entanto, de alguma forma, com apenas algumas
palavras, ela conseguiu saciar todo esse medo.

Eu preciso confiar nela.

Minha corajosa Sisi tem a força de mil homens. Claro que ela não iria
recusar nada.

Aperto meu domínio em torno de seu corpo, todo o meu ser


impregnado de amor por ela.

— Eu matei alguém. — Sisi fala de repente, sua voz treme enquanto


respira fundo. — Eu não pretendia, mas também não me arrependi, —
continua ela, contando sobre uma garota mais velha que a aterrorizava há
anos e como se livrou de seu corpo. — Você não é o único com um passado
manchado, Vlad, — diz ela, inclinando-se para trás para me olhar.

— Você não poderia fazer nada errado aos meus olhos, Sisi, — digo-
lhe sinceramente. — Você poderia matar um milhão de pessoas e ainda
seria minha Sisi. — Além disso, eu estou ainda mais orgulhoso dela por se
defender e por se posicionar contra aqueles que queriam machucá-la.
Porque quem se atreve a mexer com minha Sisi não merece nada além de
dor.

E pretendo fazer isso. Em breve.

Trazendo minha mão para cima, tiro alguns fios de cabelo da testa. —
Você é perfeita para mim.

— Viu? É assim que me sinto por você também. Você não seria meu
Vlad sem suas falhas. E por isso você é perfeito para mim.

Ela se levanta e, girando os braços em volta do meu pescoço, pressiona


os lábios nos meus.

Gosto da sensação suave da sua boca contra a minha, da maneira


como seus lábios se separam levemente, sua língua encontrando a minha
enquanto eles dançam um com o outro.
Trago-a contra mim, minhas mãos na parte inferior das costas
enquanto aprofundo o beijo. Seus peitos escovando contra o meu, seu
estômago amortecendo meu pau duro, eu já sinto que estou prestes a
queimar.

Como é que só olhar para ela e eu fico dolorosamente duro, um toque e


estou pronto para me derramar?

Como alguém que nunca se interessou pelo sexo oposto, estou


simplesmente perplexo com a maneira como meu corpo reage ao dela. O
epítome da feminilidade, ela é excepcionalmente atraente, feita apenas
para mim. E pretendo adorá-la enquanto viver.

— Não há mais segredos agora, — ela sussurra contra meus lábios.

— Não há mais segredos, — eu concordo.

Suas mãos estavam presas em volta do meu pescoço, eu a pego nos


braços, saindo da piscina. Gotas vermelhas de sangue misturadas com
água se agarram à nossa pele enquanto escorrem, pingando no chão.

Sisi está me observando através dos olhos entreabertos, um suspiro


confortável escapando enquanto se aconchega mais perto de mim.

Levando-a para os chuveiros, ligo a água, deixando lavar tudo para


longe de nós.
Sob o poderoso jato do chuveiro, água escura cai sobre nossos corpos,
lavando o vermelho. Eu a abaixo para os pés e, pegando uma esponja,
ensaboo-a com sabão quando começo a descer pelo corpo dela, limpando
todos os pontos.

Ela não fala enquanto eu movo a esponja sobre o pescoço e desço pelos
seios, apenas me observando de perto, a boca se separa enquanto ela libera
um pequeno suspiro toda vez que minha mão roça sobre os mamilos.

Eu me movo lentamente limpando seu corpo, lavando o sangue para


revelar sua pele intocada.

Caindo de joelhos na sua frente, deslizo minha mão sobre a barriga e


abaixo, em direção ao pedaço de cabelo entre as pernas. Sua respiração
trava enquanto eu delicadamente pincelo a área.

— Vlad, — ela sussurra, olhando para mim. Os seus olhos estão


enevoados, de lágrimas ou água do chuveiro, eu não sei.

O canto da minha boca se enrola em um sorriso torto enquanto me


inclino para a frente, colocando um beijo na sua barriga. Encostei minha
bochecha na pele dela, fechando os olhos e simplesmente apreciando a
sensação dela ao meu lado.

Ela passa as mãos pelo meu cabelo, massageando xampu no meu


couro cabeludo. Seu toque é firme, mas suave, limpando completamente
meu cabelo. Um suspiro de prazer me escapa, minha pele formigando
enquanto ela arrasta os dedos pelo meu rosto antes de cobrir minha
bochecha.

— Vamos superar tudo, — diz ela. — Juntos. Somos uma equipe,


lembra-se?— ela sorri para mim e sinto meus próprios lábios se
contorcerem em resposta. Pego sua mão, beijando a palma da mão aberta.

— Sim. Somos uma equipe, hell girl, — concordo, levantando-me.


Ficamos um momento sob o forte jato de água, deixando-o lavar a pele,
antes de eu enxugá-la, envolvendo-a em toalhas e secando-a.

Não espero que ela diga nada enquanto a levo para o meu quarto, com
a intenção de mostrar o quanto ela significa para mim.

A deusa do meu coração.

Ela não questiona para onde estamos indo, ou o que estou fazendo
enquanto a deito na minha cama, afastando-se para observá-la em toda a
sua glória, espalhada na cama, ela é uma tentação personificada, o
epítome do calor em uma noite fria de inverno.

Porque ela é a única coisa que fez meu coração congelado derreter, o
gelo derrete lentamente, as batidas acelerando. E isso é somente para ela.

— O que você está fazendo?— ela pergunta, quase timidamente,


enquanto me vê abrir uma gaveta, tirando uma garrafa de óleo corporal.
Desde que eu comprei cerca de tudo que uma mulher pode exigir,
estou totalmente abastecido para satisfazer todos os seus desejos.

— Estragando você, — sorrio para ela quando me sento no colchão,


minha mão lentamente escovando a coxa. — Eu quero cuidar de você, —
continuo, minha mão se movendo mais alto até atingir a curva de sua
bunda.

Ela ronrona suavemente, revirando o estômago e empurrando a


bunda no ar. Não muito diferente da primeira vez que a vi, me sinto
encantado com suas curvas.

Traço o contorno de suas bochechas com meus dedos, aproveitando a


maneira como os arrepios aparecem por toda a pele.

Um leve arrepio desce pela espinha, um pequeno gemido escapando de


seus lábios enquanto ela fecha os olhos, todo o corpo relaxado e lânguido
me deixando fazer o que eu quiser.

Não deixando um convite desperdiçado, sou rápido em esguichar um


pouco de óleo nas palmas das mãos, colocando-as na pele e espalhando a
umidade por toda parte.

— Isso é tão bom, — ela choraminga quando eu subo, massageando o


óleo nas costas.
Abrangendo a sua bunda, meu pau está descansando entre as suas
bochechas, enquanto minhas mãos se movem suavemente pelas costas,
massageando os ombros e o pescoço.

Ela não percebe, mas há um impulso tão leve na bunda dela em


minha direção, empurrando meu pau ainda mais para o vale de sua bunda,
a ação tão inocente, mas tão enlouquecedora que tenho mais dificuldade
em me controlar.

Eu cerro os dentes, continuando minhas ministrações e tentando


ignorar a maneira como meu pau parece implorar por misericórdia, o
bastardo se contorcendo em busca de seu buraco.

Isso é sobre ela!

Repito isso na minha cabeça, tentando encontrar algum equilíbrio.


Mas a verdade é que, no momento em que tenho Sisi nua na minha cama,
todas as apostas estão fora.

— Devo pedir uma massagem todos os dias a partir de agora, — diz


ela, — você é muito bom nisso.

— Você seria um destino tentador, hell girl, — eu digo, o pensamento


de tê-la nua e debaixo de mim todo dia sem poder fazer nada, pura tortura.
Mas se minha garota quer uma massagem, só posso agradá-la.
Ela levanta a cabeça, olhando para mim, os olhos mergulhando no
meu pau dolorosamente duro. Sua boca se abre em um pequeno O, seus
olhos se arregalando um pouco. Imediatamente, seus lábios se contraem e
um sorriso travesso aparece em seu rosto.

Ela se mexe para trás, desembaraçando seu corpo do meu.

Eu olho para ela questionando. O óleo que cobre a pele brilha na luz,
fazendo-a parecer etérea como uma fada, o brilho da pele apenas
aumentando seu apelo e fazendo meu sangue correr mais rápido, tudo isso
se acumulando mais baixo e tornando minha excitação incrivelmente
dolorosa.

De quatro, ela se move em minha direção, um deslize sensual de seus


membros que para minha respiração. Especialmente quando ela lambe os
lábios, olhando para mim por baixo dos cílios e tentando-me perdidamente.

Porra Hades!

Se eu pensava que tinha perdido antes, agora estou simplesmente


obliterado. A visão de sua boca cheia enquanto ela desliza os dentes sobre
a superfície do lábio inferior, mordiscando um pouco, me faz sentir dor
física.

É preciso força hercúlea para eu ficar quieto e não fazer algo que eu
possa me arrepender, como jogá-la na cama e encontrar meu alívio em seu
doce corpo.
— Foda-se, — murmuro debaixo da respiração, a sua mão no meu
pau enquanto a língua espreita para lamber a cabeça. — Sisi, — eu gemo,
a umidade da sua boca é muito atraente para eu ficar quieto.

Meu punho enrolado em seus cabelos, exorto-a para a frente enquanto


ela abre a boca para me levar mais. A sua língua acaricia a parte de baixo,
e minha respiração acelera quando ela me aperta, me chupando
profundamente na boca.

Ela lambe todo o comprimento antes de colocar um beijo na cabeça.

Subindo pelo meu corpo, ela gira os braços em volta do meu pescoço,
os olhos nos meus enquanto diz as palavras que fazem meu coração parar
no meu peito.

— Por favor, faça amor comigo, — ela sussurra.

Meus olhos se arregalam com o pedido e procuro no seu rosto qualquer


pista de que é o que ela realmente quer. Há um pequeno traço de
apreensão enquanto ela continua mordendo o lábio, seu olhar uma mistura
de medo e desejo.

— Você não precisa, Sisi. Certamente não para me agradar, — digo a


ela, mesmo que minhas bolas reclamem em protesto.
— Eu quero, — ela acaricia minha bochecha. — Eu quero você. Quero
me sentir o mais perto possível de você, — continua ela, com as mãos
abertas nas minhas costas.

— Sisi... — Eu rosnei. Ela não precisa me dizer duas vezes. Eu a deito


de costas, as pernas abertas em ambos os lados do meu corpo, sua doce
boceta me chamando.

Minhas mãos circundam sua cintura enquanto trago minha boca para
a pele dela, deslizando pela parte inferior do peito antes de tomar um
mamilo na minha boca. Eu banqueteei seus seios como um homem
faminto. Segurá-la em meus braços por tanto tempo, mas não ousando
fazer outra coisa senão abraçá-la, tinha sido angustiante.

Agora que ela finalmente me deu luz verde, pretendo adorá-la como a
deusa que é.

Suas pernas estão inquietas tentando me empurrar para cima de seu


corpo, com as mãos estendendo para o meu pau. Um olhar para ela e eu
posso ver a frustração em seus traços, a maneira como ela está respirando
com força como se pudesse morrer se eu não entrar nela no segundo
seguinte.

— Ainda não, minha pequena pecadora, — digo a ela, minha língua


traçando a cicatriz no inchaço do peito antes de passar para a pequena
marca que eu havia deixado ao redor do mamilo, beijando-a levemente. —
Você precisa estar pronta para me levar, — digo quando me movo mais
baixo, deslizando a língua sobre o estômago dela antes de abrir meus
lábios e chupar a pele, sangue se acumulando na superfície e marcando-a
como a minha.

Continuo me divertindo beijando todo o torso e deixando pequenas


mordidas de amor por toda parte, orgulho inchando no meu peito enquanto
a vejo coberta de minhas marcas.

— Por favor, — ela geme quando eu chego mais baixo, minha boca
pairando em cima de sua boceta. Eu inalo seu perfume, o sabor
almiscarado fazendo cócegas nos meus sentidos e me intoxicando.

— Isso é meu, Sisi. — Falo contra o monte dela, escovando minha boca
contra seus pequenos lábios e soprando ar frio contra sua excitação.

— Sim, — ela responde com um tom ofegante. Seus olhos estão


fechados, a coluna arqueada, abrindo ainda mais as pernas, convidando-
me a festejar com ela.

Eu traço minhas mãos pela cintura até cubrirem seus quadris, meus
polegares empurrando para a pele macia logo acima dos ossos do quadril
enquanto eu a aproximo da minha boca.

— Diga, — eu exijo, minha boca salivando para provar.

— Sua, — ela choraminga, tentando me aproximar, — eu sou toda


sua, — ela me dá as palavras que têm o poder de me desmembrar.
Eu traço meu nariz até a boceta dela, abrindo os lábios e dando-lhe
uma longa lambida, lambendo os sucos. Ela já está pingando, sua boceta
jorrando néctar para eu ficar bêbado.

— Fui feito para adorar sua boceta, hell girl. — Eu digo enquanto a
bebo. É doçura e pecado misturados em uma combinação mortal. Como a
ambrosia de um mero mortal, sua essência tem o poder de me tornar
invencível. Porque com ela ao meu lado, eu realmente me sinto
indestrutível.

Suas mãos encontram o caminho no meu cabelo enquanto eu coloco


minhas atenções no seu clitóris, chupando-o na minha boca e fazendo-a
gritar de prazer, as pernas tremendo, as coxas apertando a minha cabeça
enquanto ela tenta me manter trancado no lugar.

Suas respirações são irregulares, e eu não a deixo descansar nem um


segundo enquanto continuo provocando-a, comendo sua boceta como se
fosse a melhor refeição que já tive em toda a minha vida. Até agora, já
exploramos o corpo um do outro o suficiente para saber exatamente o que o
outro gosta, e eu amo usar esse conhecimento para deixá-la louca, vez após
vez.

Quando eu terminar com ela, ficará tão molhada e relaxada que


esquecerá tudo sobre seu medo, sua boceta perfeitamente preparada para
me engolir.
Usando minha língua, eu a giro em torno de sua entrada,
empurrando-a para dentro apenas o suficiente para fazer cócegas na
parede externa, sabendo que são necessários apenas alguns golpes para
que ela goze.

— Vlad!— ela grita, sua voz cada vez mais alta, suas mãos causando
estragos no meu couro cabeludo.

Ainda assim, eu não paro.

Sinto o jeito que o seu corpo está tremendo quando ela desce do clímax
e quero que ela aproveite mais o prazer.

Empurro dois dedos na entrada dela, testando sua tensão. Ela ainda
está confortável como uma luva e, por um momento, temo que possa ser
doloroso para ela novamente. Mas assim que esse pensamento passa pela
minha cabeça, percebo que, se ela ainda sente dor, não fiz meu trabalho
direito.

Minha boca no clitóris dela, começo a movê-los para dentro e para


fora, sentindo suas paredes se fecharem nos meus dedos, seus gemidos
vibrando no ar. Adicionando um terceiro dedo, tento esticá-la ainda mais.

— Vlad... — ela sussurra em um tom incerto, com os olhos bem


abertos para me encarar.
— Shhh, — sopro ar sobre o clitóris, continuando a bombear três
dedos dentro e fora. Embora apreensiva no começo, ela está começando a
relaxar os músculos, sua entrada se esticou para permitir a circunferência
extra.

Eu aumento a velocidade, mordendo o clitóris ao mesmo tempo.

— Porra! Vlad... Não posso... — ela tenta falar, mas todo o seu corpo
cai quando ela começa a tremer incontrolavelmente, seu orgasmo
reverberando por todas as células e todos os cantos do seu ser. Boca
aberta, olhos revirados na parte de trás da cabeça, ela só pode aproveitar
seu prazer antes que comece a diminuir.

Vê-la desfeita assim sozinha é melhor do que mil orgasmos, seus


lábios se separaram, suas bochechas coraram.

Eu levanto o corpo dela, ainda seguindo beijos pelo pescoço, chupando


a pele para colocar marcas mais visíveis no corpo, querendo que todos
vejam a quem ela pertence.

— Eu te amo, — sussurro antes de levar os lábios em um longo beijo,


usando minha mão para alinhar meu pau à sua entrada.

Só consigo cutucar a cabeça dentro de seu calor quente antes de sentir


sua tensão, seu corpo inteiro se endurecendo sob mim.
— Sisi, — levanto a cabeça para olhá-la e vejo as lágrimas caídas no
canto dos olhos. Ela está tremendo um pouco enquanto tenta se segurar. —
Podemos parar, — digo a ela, minha mão acariciando sua bochecha.

— Não, — ela balança a cabeça. — Eu quero isso. Eu realmente


quero. — Ela agarra meus ombros, suas pernas apertando minha bunda
tentando me trazer para ela.

Suas feições estão tensas, seus olhos se fechando imediatamente


esperando que a dor chegue. De alguma forma, isso por si só é suficiente
para me fazer parar.

Colocando minhas palmas na bunda dela, eu nos viro até minhas


costas baterem no colchão, Sisi pulando em cima de mim.

Seus olhos se arregalam quando ela vê a mudança de posição. Sua


boceta está sentada em cima da base do meu pau, sua umidade pingando
sobre minhas bolas e me fazendo gemer de frustração.

Tão perto e ainda tão longe.

Seu olhar se instala no meu pau, apreensão nos olhos enquanto ela
escova uma mão sobre o meu comprimento, os lábios se abrindo enquanto
ela sem dúvida pensa no meu tamanho e no que isso significa para o corpo
dela.
— Sisi, olhe para mim, — eu empurro o queixo dela. — Isso é todo
seu, — eu me movo para o meu corpo. — Você está no controle, hell girl.
Então me use. — Eu aviso, esperando que, dando a ela as rédeas, pareça
menos assustador.

É preciso tudo em mim para ficar quieto enquanto ela lentamente


começa a balançar sobre meu pau, seus olhos ainda o avaliam com leve
ansiedade.

Mas eu apenas a deixei definir seu próprio ritmo, sabendo que ela
precisa disso para superar seu medo.

Ela apoia os joelhos no colchão enquanto se empurra para a frente.


Levando meu pau na mão, ela se levanta sobre mim, posicionando a cabeça
na sua entrada.

— Você está no comando. — Eu garanto a ela mais uma vez.

Me acomodando, ela se abaixa um pouco, e eu assisto hipnotizado


como suas dobras envolvem meu pau. A sensação de suas paredes
molhadas e quentes imediatamente me atinge como uma bala no peito, e é
preciso tudo em mim para me controlar. Especialmente porque ela ainda é
tão cautelosa, mesmo agora fechando os olhos, o lábio inferior tremendo
enquanto ela me aceita em seu corpo.
No momento em que estou uma polegada dentro, ela para, um suspiro
escapando de seus lábios. Ela segura os braços no meu peito, mantendo-se
quieta.

— Dói?— Eu pergunto imediatamente, preocupado.

Eu tentei o meu melhor para fazê-la gozar o maior número possível de


vezes para garantir que estivesse escorregadia e pingando, o suficiente
para me receber sem problemas. Mas eu sei o meu tamanho, e mesmo que
ela ainda não fosse basicamente virgem, ela teria problemas para me
encaixar dentro dela.

Eu levanto minha mão para o seu rosto, acariciando sua bochecha com
minhas juntas.

Ela morde o lábio, os olhos em mim balançando a cabeça lentamente.

— Eu sinto que você está me esticando, — diz ela, abaixando-se mais


uma polegada. Sua boca separou, um gemido passa por seus lábios
enquanto seus olhos tremulam, desta vez de prazer, não de medo. — É tão
bom. — Ela choraminga, e eu finalmente relaxo, recostando-me e
deixando-a ir no seu próprio ritmo.

— Você é tão grosso e... — Ela segue, a língua espreitando para


molhar os lábios, pois parece estar com uma perda de palavras. Ela parece
tão sexy, como um sonho molhado, o brilho da transpiração em seu corpo
me excitando ainda mais, pois não posso deixar de imaginá-la totalmente
coberta de porra.

Suas mãos estão descansando no meu abdômen, seus braços fazendo


um triângulo invertido que enfatiza seus seios deliciosos, arrebitados e
cheios e me tentando pior que o diabo.

Lentamente, ela se empurra para baixo mais uma polegada, meu pau
chorando de alegria por ser acolhido no céu. Eu jogo minha cabeça para
trás, a sensação de estar cercado por seu calor, diferente de qualquer
outro. Como não me lembro muito do meu episódio, é a primeira vez que
estou experimentando isso, da maneira como meu pau se aninha em casa
dentro dela.

Suas paredes me prendem, me apertando com tanta força que tenho


que fazer um esforço consciente para não gozar muito rápido.

— Você é como o paraíso, Sisi. Porra... — Eu murmuro


incoerentemente, incapaz de verbalizar exatamente o que ela faz comigo.

Eu sabia desde o momento em que a vi pela primeira vez que ela era
uma tentação encarnada, conseguindo me fazer sentir coisas que nenhuma
outra tinha diante dela. Eu sabia o quão perigosa ela era — para os meus
sentidos, para o meu coração, para a porra de tudo. Porque um bater
daqueles cílios bonitos na minha direção, e eu estava malditamente
amaldiçoado.
Maldita seja, serei seu escravo por uma eternidade.

Os cantos da boca se levantam quando ela me vê me render ao êxtase


de estar dentro dela, e ela parece ganhar nova confiança respirando fundo
antes de se empurrar por todo o caminho pelo meu pau.

Nós dois suspiramos de prazer com a sensação, e enquanto eu viver,


acho que nunca esquecerei a visão dela em cima de mim, meu pau tão
profundo dentro dela.

— Deus, Vlad, — diz ela em um tom ofegante. — Eu não tinha ideia,


— ela parece tão atordoada quanto eu, enquanto se balança levemente,
suas paredes acariciando meu pau em uma carícia tentadora que me faz
ver estrelas.

Nem eu.

— Você pode sentir isso, hell girl?— Eu pergunto enquanto aperto


minha mão sobre o estômago dela, sentindo o lugar onde estamos unidos,
— somos um.

— É mesmo?— ela pergunta maliciosamente, seus dedos desenhando


figuras aleatórias no meu peito. — Isso faz de você um hell boy, então?—
ela me dá um sorriso perverso enquanto se levanta um pouco antes de
descer novamente.
Minha boca se abre para responder, mas nenhum som sai, o prazer é
tão intenso que temo estar quebrado para sempre.

— Enquanto eu for sua outra metade, serei o que você quiser, —


respondo, minha voz é grossa e rouca. Qualquer coisa para garantir que
ela nunca saia do meu lado.

— Hmm... — ela segue, movendo as mãos para cima até descansar no


meu peito e me usando para se levantar, desta vez até que eu esteja na
metade do caminho antes de descer novamente, com mais força.

— E se eu decidir fazer meus votos e na verdade tornar-me freira?—


ela continua perguntando, e eu vejo o que ela está tentando fazer. Ela quer
me torturar, sabendo que eu nunca poderia durar um dia sem ela.

Torna-se cada vez mais difícil evitar meu clímax, a pequena atrevida
gostando de me atormentar com seus pequenos movimentos.

— Então eu vou segui-la e me tornar um padre e tentarei contaminá-


la a cada passo, — respondo em um gemido estrangulado.

— Você é mau. — Ela engole, suas pupilas dilatando suas íris


enquanto vira o olhar para mim, desejando pingar e apenas inflamar mais
as minhas.
— Eu sou seu. No entanto, e quem você quer que eu seja. Sou seu, —
confesso, minhas mãos nos quadris dela enquanto exorto-a a se mover,
finalmente me tirei da minha miséria.

— Bom, — ela sorri para mim, levantando-se até meu pau sair da
boceta, e a agonia me atinge imediatamente quando me sinto despido sem
o calor dela. — Mas tudo que eu quero é você.

Sua mão pequena circula meu comprimento enquanto ela me guia de


volta para seu refúgio, facilmente se abaixando em mim dessa vez, sua
boceta tão molhada que seus sucos estão derramando no meu eixo.

Agora é assim que se sente no céu.


CAPÍTULO VINTE E SETE

Eu cerro minhas coxas ao seu redor, prazer atirando em mim no


menor movimento.

Deus, mas eu não sabia que seria assim! Eu construi todo esse medo
em minha mente, pensando que seria como da última vez. Havia apenas
dor. Mas agora... somente prazer.

Eu nunca teria pensado que algo tão monstruosamente grande quanto


seu pau deslizaria dentro de mim tão suavemente. Certamente não com a
maneira como parecia crescer em tamanho, quanto eu olhava para ele.
Houve uma sensação de alongamento no começo, mas mesmo isso
desapareceu quando eu o levei mais para o meu corpo.
Suspiro alto enquanto sinto seu pau bater profundamente dentro do
meu ventre. Estou tão cheia dele que acho que não quero estar sem de
novo.

— Eu não percebi, — sussurro enquanto me prendo sobre ele,


sentindo seus músculos inchados sob minhas mãos. — Isso é tão bom que
eu poderia desmaiar, — expiro, o pequeno balanço de seu pau contra
minhas paredes, fazendo arrepios nas minhas costas.

Meus olhos se fecham quando me sinto vindo, só desse


minúsculoempurrão sozinho.

— Sinto o mesmo, Sisi, — ele murmura, levantando-se nos cotovelos


para se aproximar de mim, — você me faz sentir coisas que nunca
imaginei antes, — ele confessa, suas palavras enchendo todo o meu ser
com calor.

Enfiei meus braços em volta do pescoço, trazendo-o para mim. Meus


mamilos roçam contra a superfície lisa do seu peito e eu tremo com a
sensação de estar tão perto dele.

Nós somos um.

Com as mãos nos quadris, ele me levanta pra cima e para baixo, cada
golpe de seu pau me fazendo querer morrer de puro prazer.
— Você não tem ideia, — eu mal consigo entender as palavras, — o
quanto eu te amo. — Eu digo entre gemidos.

Carne batendo contra a carne, seus braços estão apertados ao redor da


minha cintura enquanto ele empurra seu pau ainda mais fundo dentro de
mim, a força de seus impulsos dobrando meu prazer.

— Sim, Sisi, sim, — ele fala contra minha bochecha, e eu posso sentir
o suor agarrado à sua pele, — porque sinto o mesmo.

Agarrando minha mandíbula com uma mão, ele vira minha cabeça,
sua boca na minha engolindo meus gritos. Ele empurra a língua para a
minha boca, me beijando com uma intensidade que faz meu corpo inteiro
chorar de felicidade inimaginável.

— Sim, — eu choramingo quando o sinto ainda mais fundo.

É quando percebo que quero tudo que ele tem a oferecer. Não apenas
essa merda gentil. Quero sentir sua selvageria nos meus ossos, do jeito que
ele bate em mim como se pudesse me quebrar.

Só de pensar em ele me levar como um animal, minha boceta se


aperta em resposta, mais sucos fluindo pela fenda.

Sim. Eu quero ele. O verdadeiro ele.


Inclinando-me para trás, peço que ele mude de posição para que ele
esteja em cima. Minhas costas batem no colchão, minhas pernas se abrem
para acomodar sua pélvis.

Suas mãos estão na minha cintura enquanto ele continua empurrando


em mim, impulsos lentos e medidos que são feitos para o meu conforto.

Mas eu não quero isso.

Agora que meu corpo percebe que não há dor, não há mais
impedimentos em deixá-lo me levar como ele quiser.

Sabendo que ele precisará de um pouco de persuasão, eu pego as suas


mãos nas minhas, movendo-as para o meu corpo até que cheguem ao meu
pescoço.

Envolvendo-as em volta da minha garganta, aperto minhas pernas,


prendendo-o no lugar.

Suas mãos estão frouxas quando ele apenas olha para mim, confusão
misturada com desejo em seus olhos. Mas também vejo outra coisa.

Esperança.

Ele quer isso tanto quanto eu. E quando ele vê a confirmação no meu
olhar, o alívio inunda suas feições, as mãos apertando o meu pescoço, os
impulsos dando uma volta violenta.
Minha boca se abre com um som que nunca sai dos meus lábios,
minha boceta se abre para encontrar cada um de seus impulsos
enlouquecedores. Sinto a maneira como seu pau chega ao fundo antes de
recuar, a base do seu eixo batendo na minha boceta enquanto me invade
ainda mais. Longo e grosso, ele consegue estimular todos os pontos
sensíveis dentro de mim.

Ele aplica mais pressão nas laterais do meu pescoço. Não é o


suficiente para me machucar, mas o suficiente para me deixar tonta
enquanto ele continua a se empurrar para dentro do meu corpo, atacando
meus sentidos com um prazer tão intenso que temo poder realmente
desmaiar.

Ele já me fez gozar tantas vezes e, quando sinto outro orgasmo por
perto, duvido que consiga aguentar muito mais.

— Porra, Sisi, — ele sorri, os dedos cavando na minha carne, os


quadris entrando e saindo de mim, — você é incrível, — ele geme, um som
profundo que reverbera no meu próprio ser. — minhamalditamente
incrível.

Eu me agarro a ele, minhas mãos seus nos braços tomando tudo o que
ele tem para dar.

Do nada, ele me muda, me jogando na barriga e abrindo as pernas


antes de mergulhar novamente.
Com os cotovelos, ofego ao perceber que ele está muito mais profundo
do que antes.

Como isso é possível?

Ele arrasta meus quadris em direção aos dele, seus dedos cavando
minhas bochechas enquanto ele continua a me empalar em seu pau.

Só posso empurrar minha bunda nele, encontrando-o impulso por


impulso enquanto me concentro na sensação de finalmente ser um com o
homem que amo.

O único homem que eu vou amar.

— Você é minha, — ele rosna, sua voz rouca. Sua mão cai em uma
bochecha em um tapa alto, a leve picada apenas aumentando o prazer.

— Mais, — exijo, sabendo que ele tem mais para me dar.

Selvagem. Irrestrito. Bestial.

Eu quero todo ele.

— Minha freira suja quer mais, — ele ri, outro tapa na minha bunda.
Eu choramingo, apertando minhas paredes ao redor dele em aprovação.
Então o punho dele está subitamente no meu cabelo, os dedos cavando
no meu couro cabeludo me puxando em sua direção, minhas costas na sua
frente. Ele tem meu cabelo enrolado em seus dedos enquanto torce minha
cabeça para olhá-lo.

Há uma selvageria em seu olhar que não estava lá antes. E inferno, se


isso não me deixa mais quente, minha boceta está pulsando em torno dele
quanto mais puxa meu cabelo.

Sua boca puxa percebendo minha reação, um sorriso arrogante


envolvendo suas feições enquanto ele abaixa a boca para o meu ouvido.

— Você quer que eu te destrua, não é hell girl?— sua voz profunda
causa arrepios nas minhas costas, com sua respiração quente se
espalhando sobre minha orelha, meu corpo inteiro se preparando para
responder à sua ordem por qualquer caminho.

— Sim, — respondo, lutando para não me impedir de reclamar da


resposta.

— Bom. Porque eu sou seu dono, — diz ele, e suas palavras não
devem me deixar tão quente. Deus, elas realmente não deveriam. Mas
neste momento tudo o que eu quero é ser possuída por ele, estar à sua
mercê, enquanto ele faz o que quer ao meu corpo. — Eu possuo todos os
buracos do seu corpo, — ele continua, me dobrando para a frente e
batendo em mim ainda mais, a mão na minha bunda se movendo
lentamente até o polegar acariciar minha entrada traseira.
Eu o sinto cuspindo na minha bunda, o polegar girando a saliva
enquanto ele a empurra para o meu buraco, os músculos resistindo a
princípio antes de ceder lentamente.

Eu ofego, a sensação totalmente nova, mas não desagradável.

Ele continua empurrando em mim, seu polegar imitando os mesmos


movimentos, e meu corpo incapaz de suportar o duplo estímulo.

— Sua boceta é minha. — Ele sorri, seu pau escorregando quase


completamente, a cabeça provocando minha entrada em um impulso raso
antes de entrar completamente e acertar meu ponto G. — Sua bunda é
minha, — o polegar dele escorrega mais fundo por dentro, e meus
músculos se apertam imediatamente ao seu redor.

— Cada centímetro seu é meu, — declara, com sensações únicas que


nunca pensei ser possível.

— Sim. — Eu gemo, deixando-o fazer o que quiser com o meu corpo. —


E você também é meu, — continuo precisando dessa confirmação.

— Seu?— Ele pergunta, quase ofendido. — Não há eu sem você, hell


girl. Você é a dona de todo pedaço meu, — ele sorri.

— Minha mente, — impulso, — meu coração, — impulso, — minha


maldita alma, — impulso, — este pau, — diz ele, puxando todo o caminho
e batendo o comprimento contra o meu clitóris antes de acariciá-lo ao longo
da costura dos meus lábios de boceta, — que nunca esteve dentro de
outra, que nunca estará dentro de outra, — ele rosna, — assim como sua
boceta é apenas minha e será somente minha.

Meu coração pula uma batida nas palavras dele e gosto da maneira
como temos essa conexão única.

Do nada, ele se move atrás de mim. Olho para trás para vê-lo de
joelhos, a boca na minha boceta. Seu dedo ainda está na minha bunda, ele
continua a movê-lo lentamente para dentro e para fora de mim enquanto
sua língua bate na minha umidade antes de empurrá-lo contra a minha
entrada, girando-o em torno da minha abertura enquanto ele me bebe com
força.

— Ninguém,— ele fala contra os meus lábios, sua respiração quente


soprando ar sobre o meu clitóris e me faz tremer, — ninguém vai saber o
quão doce é o seu néctar,— ele continua me lambendo, um longo golpe do
meu clitóris para a minha bunda, a sensação me choca quando ele de
repente substitui o polegar pela língua, o anel apertado de relaxamento
muscular em resposta sob suas cuidadosas ministrações.

Deus, mas eu nunca sonhei com metade das coisas que ele está
fazendo comigo. Parece tão sujo e proibido e eu amo cada momento.

— Ou como sua bunda apertada implora pelo meu pau, — ele


empurra a língua para dentro e meus olhos se arregalam, um prazer
alucinante disparando através de mim. — E você entenderá, mas não
agora, — declara ele e a antecipação se constrói dentro de mim.

Sim! Eu quero tudo o que ele tem a oferecer.

Antes que eu possa responder, ele está de volta dentro de mim, me


acariciando tão profundamente que quero chorar.

— Eu te amo. — Eu clamo, meu coração e meu corpo estão alinhados


quando um orgasmo rasga através de mim.

— Eu também te amo, hell girl. Eu te adoro. Eu te adoro. Não há


ninguém que se compare a você, — ele resmunga, seus impulsos
ganhando velocidade. — Ninguém pode acender nenhuma vela para você.
Minha deusa do caralho, — ele murmura quase incoerentemente.

Minha boceta formiga com consciência, seus sons guturais juntamente


com a maneira como seu pau ainda está batendo forte em mim o suficiente
para me fazer gozar violentamente —de novo— minhas paredes batendo
em todo o seu comprimento.

— Sim, é isso, hell girl. Goze para mim, — ele comanda no meu
ouvido.

Com a mão envolta no meu cabelo, me agarra com força enquanto me


traz contra ele, minhas costas totalmente ajustadas à sua frente, a boca no
meu pescoço lambendo minha cicatriz. Sua outra mão acaricia lentamente
a frente do meu corpo, meus seios, até o meu estômago antes de finalmente
me acalmar.

Já sensível aos muitos orgasmos que ele produziu de mim, é quase


doloroso ao toque.

— Eu não posso... — Eu deixo escapar, incapaz de voltar.

— Sim, você pode, — afirma ele, com a voz séria enquanto os dedos
continuam a estimular meu clitóris.

Meu corpo tenta se afastar dele, mas ele está me segurando com força
no lugar, seu toque me acendendo novamente, apesar da promessa inicial
de dor.

— Vlad, — eu choramingo, na beira do precipício. Tão perto, mas


ainda tão longe.

Ele abaixa a boca para o meu pescoço, chupando a pele sensível, seus
movimentos no meu clitóris acelerando enquanto seu pau continua a me
agredir.

E de repente, a ação combinada me fez gritar meu clímax, a força dele


tão poderosa que estou literalmente vendo branco na frente dos meus
olhos.

Meu corpo inteiro fica frouxo quando eu caio de bruços no colchão.


— Essa é minha boa garota, — ouço a voz satisfeita de Vlad enquanto
ele dá um tapinha na minha bunda carinhosamente.

Mal consigo me mover, mas ainda sinto a ferocidade de seus impulsos


enquanto ele persegue seu próprio prazer.

Seu pau incha ainda mais dentro de mim, e sinto o calor de sua
semente quando ela dispara direto para o meu ventre. Ele segura minha
bunda com força quando se esvazia dentro de mim, garantindo que
nenhuma gota de seu esperma seja desperdiçada em nenhum outro lugar.

Colapsando em cima de mim, ele me abraça, o pau ainda dentro de


mim, os braços apertados em volta dos meus ombros.

— Eu te machuquei?— ele pergunta, enfiando o nariz na curva do


meu pescoço.

— Não. Foi perfeito, — digo a ele, segurando-o perto e aconchegando-


me em seu abraço. — Eu te amo.

— Te amo também, Sisi. Mais do que tudo, — diz ele e meu peito se
expande com uma quantidade esmagadora de felicidade.

Ele é meu. E eu sou dele.

Finalmente.
Trilhas de beijos molhados passam pela minha bochecha, sua barba
me fazendo cócegas enquanto eu mudo na cama. Meus olhos se abrem,
minhas pupilas se acomodando à luz enquanto eu o observo, recém-
banhado e insanamente atraente.

— Você não se barbeou, — sussurro, minha palma cobrindo seu


ligeiro crescimento.

— Eu sei que você gosta de mim quando abraço meu lado menos que
civil, — ele sorri para mim e meus próprios lábios se levantam em um
sorriso.

Ele tem razão. Eu gosto quando ele deixa seus caminhos


cavalheirescos na porta. Especialmente porque perder as maneiras nunca
foi tão doce.

— Que horas são?— Pergunto grogue enquanto tento me despertar.


— Hora de uma surpresa, — diz ele com bastante vigor, reunindo-me
nos braços e me levantando da cama.

— O que?— Estou subitamente alerta, franzindo a testa em confusão.


— Que surpresa? Onde estamos indo?

Embora eu não admita, estou um pouco dolorida das nossas


atividades ontem à noite.

— Você verá, — sua boca se anima quando me leva para fora do


quarto e para o porão. — Você provavelmente notou que todo o porão é
feito sob medida, — ele começa quando digitando uma senha a mais uma
porta de aço. — E eu fiz algo para você também, — ele me diz, e posso
dizer que está muito animado com isso.

Quando a porta está aberta, ele me leva para dentro de uma sala de
aparência bastante estéril, com apenas uma cadeira e algumas
ferramentas no meio.

— Você vai me torturar?— Eu pergunto, divertida. Todo o cenário


parece uma câmara de tortura e, conhecendo a afinidade de Vlad por
tortura, eu não ficaria surpresa.

— Existe apenas um tipo de tortura que reservei para você, hell girl,
— sua voz é baixa e sedutora quando ele sopra ar quente no meu ouvido,
— e é o tipo que você implora, — ele continua, e sem sequer se voltar
para ele, posso sentir seu sorriso arrogante.
Balanço a cabeça, incapaz de tirar o sorriso do meu rosto.

— Pare com isso e me diga o que estamos fazendo aqui, — exijo, um


pouco curiosa demais sobre a surpresa dele.

Ele caminha para o meio da sala em dois passos, cuidadosamente me


colocando na cadeira. Deixando um beijo rápido na minha testa, ele
arrasta uma mesa com ferramentas em minha direção, movendo com a
mão para os vários dispositivos.

— Estou fazendo uma tatuagem, — declara ele com orgulho, abrindo


o kit para revelar uma arma de tatuagem e outras ferramentas.

— Uma tatuagem, — eu franzi a testa, um pouco surpresa.

— Sim!— ele exclama, e sua emoção parece ter dobrado. — Você me


pediu um tempo atrás, — continua, desabotoando lentamente minha
camisola para revelar as cicatrizes no meu peito.

Depois que descobri que suas muitas tatuagens deveriam esconder


suas cicatrizes, fiquei muito entusiasmada em conseguir uma também.
Mas Vlad não tinha sido muito receptivo na época, dizendo que não queria
nada na minha pele.

Eu me pergunto o que o fez mudar de ideia...

— Por que agora?— Eu estreito meus olhos para ele.


Estou muito feliz em fazer uma tatuagem, mas também quero saber o
que levou sua mudança de decisão, já que ele era bastante inflexível sobre
nenhuma tatuagem no começo.

— Porque você quer, — ele começa, escolhendo suas palavras com


cuidado, — e porque eu não quero que tenha más lembranças daquele
lugar, nunca mais.

Eu o olho estupefata por um momento antes que um sorriso estúpido


apareça lentamente no meu rosto.

Agarrando suas bochechas nas minhas mãos, eu o aproximo para um


beijo.

— Obrigada, — sussurro contra os seus lábios.

Seus olhos brilham de alegria e ele parece ter vencido a loteria quando
começa a preparar o equipamento.

Eu o observo divertida, mais uma vez surpresa ao ver o quão pouco é


preciso para fazê-lo feliz. E quando olho para o sorriso despreocupado dele,
me ocorre que sua felicidade sempre depende de mefazer feliz.

Sempre que ele fez algo para me agradar, ele também ficou satisfeito
consigo mesmo, e a realização me aquece ainda mais.
Não consigo me ajudar quando chego, encaixando minha palma na
sua bochecha. Ele parece assustado, mas imediatamente me dá um sorriso
lindo colocando um beijo no centro da minha palma.

— Você é tão bom comigo, Vlad. — Eu digo a ele, lutando contra as


lágrimas.

Há algo infinitamente especial nele e na maneira como me trata, seu


amor sem limites.

— Não. Você é boa comigo, Sisi, — responde ele, segurando minha


mão perto do rosto. — Você me faz mais feliz, — ele simplesmente diz.

Meus batimentos cardíacos aceleram e sinto um formigamento na


barriga.

Borboletas. Ele me faz sentir borboletas no estômago.

Toda a sua presença me deixa tão tonta que meu corpo não é mais
meu quando ele está por perto.

— Eu amo que você tenha pensado nisso, — acrescento assim que o


vejo testando a arma de tatuagem, — mas você sabe tatuar?

Seu gesto pode ser doce, mas tenho que me perguntar sobre suas
proezas artísticas. Em todo o tempo que passamos juntos, ele nunca
mencionou uma paixão por isso, ou melhor ainda, um talento.
Ele fica quieto, erguendo os olhos para olhar para mim.
Amaldiçoando, ele fica quieto por um segundo, e eu quase gemo em voz
alta.

— Eu não não saiba tatuar, — ele responde, um sorriso no rosto.

— Vlad!— Meus olhos se arregalam para ele e eu o golpeei de


brincadeira. — Você não está apenas pensando em rabiscar na minha pele,
está?

— Isso seria tão ruim?— ele encolhe os ombros e minha boca fica
aberta em choque. Não sei se devo ficar escandalizada ou impressionada
com ele. Claro, é o pensamento que conta, mas estou realmente pensando
em deixá-lo fazer isso?

— Você está brincando, certo?

— Relaxe, — ele pega minha mão, segurando-a com força. — Eu tive


experiência suficiente ao longo dos anos com minhas próprias tatuagens.
Quem você acha que as preencheu ou continuou alguns dos desenhos?—
ele abre mais ou menos a camisa do tronco, apontando para vários
desenhos.

— Veja, eu fiz essa, — ele declara com orgulho.

Eu olho de soslaio para distinguir as formas e aceno com atenção.


— Eu não sabia que você tinha um talento especial para desenhar. —
Comento enquanto traço as formas complexas em seu peito. — Espere, —
eu paro, meu dedo em cima do triângulo no peito. — Você adicionou isso?—
Eu pergunto e ele assente.

— Gosto de ajustar os desenhos de vez em quando. Mas foi a primeira


vez que alterei o significado do conjunto original.

— Eu amo isso. — Eu digo a ele sinceramente.

— Agora vamos ver o que você quer. — Seu entusiasmo é contagioso


quando começamos a repassar projetos e conceitos em potencial.

— Quero um na cruz aqui, — aponto para a cicatriz feia em cima do


peito, — e uma aqui, — movo minha mão até o pescoço, para a cicatriz
que ele me deu meses atrás.

Ele pisca, seus olhos se concentram naquele local enquanto engole


profundamente.

— Sinto muito, — ele pede desculpas novamente, olhos fechados, um


olhar de pura agonia no rosto. — Acho que nunca vou conseguir compensar
você por isso... ou qualquer coisa. — Ele suspira, seus traços são
abandonados quando ele olha para qualquer lugar, menos para mim.

— Vlad, — eu inclino a cabeça para cima, — precisamos seguir em


frente. Estamos aqui agora e mais fortes juntos por causa daquele
incidente. Por favor, pare de se torturar com isso. Eu lhe disse. — Respiro
fundo, querendo que veja a sinceridade nos meus olhos. — Eu te perdoo.

— Obrigado, — diz ele sinceramente, e eu lhe dou um sorriso.

— Aqui, — aponto para o pescoço, — eu quero um V.

Seus olhos se arregalam imediatamente. Estupefato, ele me olha como


se eu tivesse crescido uma segunda cabeça.

— Você quer dizer... — ele deixa escapar, estupefato, e enquanto eu


viver, acho que não esquecerei o seu olhar. A incredulidade em seu rosto
me lembra o tempo em que ele se considerava indigno das minhas
lágrimas.

— Quero uma adaga aqui, — pego o dedo dele, a ponta tocando minha
pele enquanto mostro o que tenho em mente, — e outra linha começando
da ponta da lâmina, aqui. — Eu movo o dedo dele na forma de um V.

Ele não fala, ainda me olhando com reverência, com o olhar fixo na
pequena cicatriz na base do meu pescoço.

— E eu quero uma gota vermelha de sangue caindo da lâmina, —


continuo, deixando seu dedo subir até a minha clavícula. — Porque nosso
relacionamento foi forjado em sangue, testado em sangue e fortalecido por
sangue. — Eu lembro a ele.
Nossos caminhos se cruzaram por causa do sangue, e nosso
relacionamento foi destruído por causa do sangue. Mas, com sangue, nos
encontramos novamente e compartilhamos cada pedacinho de nós mesmos
— todo pecado e toda transgressão.

— Sisi... — ele começa, balançando a cabeça para mim como se ainda


não conseguisse acreditar.

— Eu quero você comigo. Sempre.

— Seu desejo é uma ordem, Sisi, — ele responde, sua voz cheia de
emoção.

Abrindo um tubo de creme anestésico, ele o aplica suavemente sobre a


minha pele, com a atenção totalmente focada em espalhá-lo
uniformemente.

Depois de limpá-lo, ele faz um rascunho rápido a caneta, dando-me


um espelho para verificar o design.

— Uau, — sussurro enquanto levanto meu pescoço para ver todo o


desenho. A cicatriz não é mais visível embaixo dela.

Ele até adicionou alguns detalhes intrincados à adaga, fazendo com


que parecesse uma relíquia antiga. O punho é mais espesso que a lâmina,
terminando com um canto arredondado que possui uma jóia incrustada.
— Rubi, — ele diz quando me vê examinar a jóia. — Vermelho como
sangue. Precioso como sangue. E linda como você.

E assim ele voltou ao trabalho, focado novamente no meu pescoço.


Como se ele não tivesse simplesmente derretido meu coração com uma
única frase.

— Diga-me se dói, — ele sussurra enquanto traz a arma de tatuagem


para minha pele, traçando o esboço que ele fez.

Não dói nada. Como uma sensação de cócegas, eu só o sinto deslizar


sobre a minha pele, com a respiração quente quando ela cai bem no meu
lóbulo da orelha, me fazendo apertar minhas coxas em resposta.

Como é que ele faz toda ação mundana tão quente? Não consigo me
ajudar, pois sei que ele precisa se concentrar no meu pescoço.

Em vez disso, meus olhos absorvem a grande extensão do músculo


tatuado, o flexionar de seus braços, os peitorais definidos e...

Eu engulo quando meu olhar cai mais para o abdômen trincado, o


desejo de tocá-lo quase insuportável.

— Feito, — diz ele e eu quase me contorço na minha cadeira. Eu não


estava prestando atenção em nada exceto ele. Embora a tatuagem não seja
grande, estou surpresa que tenha feito tão rapidamente.
Ele limpa a área antes de me dar o espelho novamente para verificar o
produto final. O V é claramente definido mesmo quando a adaga sobe ao
foco central, chamando imediatamente a atenção para ele. Para sangue e o
rubi, ele escolheu um vermelho escuro e, como vejo as gotas caírem do rubi
pela lâmina e em direção à minha clavícula, não posso deixar de ficar
impressionada.

— Isso é incrível. — Eu expiro, virando-me para encontrá-lo me


observando com uma expressão inescrutável no rosto. — O que é isso?—
Eu franzo a testa.

—Hell girl... você não tem ideia de como é ver minhas iniciais em sua
pele, — diz ele, com a mão pairando em cima da tatuagem.

Uma ideia maluca vem à minha mente, e eu a deixo escapar antes que
eu possa pensar.

— Deixe-me te dar uma também. Tatuagens correspondentes. Você


pode obter um A. Aqui, — aponto para o pescoço dele, uma das poucas
áreas do corpo que não está coberta de tinta.

— Você desenharia em mim?— Ele pergunta, quase como se não


pudesse acreditar. Eu aceno, e um sorriso largo se espalha por todo o rosto.

— Faça!— Ele se vira, me dando a lateral do pescoço, a mesma área


em que ele fez meu design, rapidamente passando pelo básico da
tatuagem.
Rapidamente, eu tenho a pistola de tatuagem na mão, a ponta tocando
sua pele enquanto eu tento o meu melhor para impedir que meus dedos
tremam.

Não acredito que ele concordou tão prontamente com isso,


especialmente porque sei que ele manteve o pescoço limpo de qualquer
tinta para que não espreitasse em suas roupas. Com a inicial que estou
desenhando, é provável que ele mostre e deixe todos saberem a quem ele
pertence.

E isso me faz sentir distorcida por dentro.

Eu me concentro em acertar a letra, fazendo um A cursivo em vez de


um padrão. Ao cruzar o meio da letra, adiciono uma gota de sangue caindo
para imitar meu próprio design. Embora não esteja nem perto do seu nível
de habilidade, a letra é limpa e simples. Depois de adicionar um último
detalhe, me inclino para trás, examinando meu trabalho.

— Eu acho legal, — digo a ele com orgulho.

Ele pega o espelho, inspecionando-o, e um sorriso reverente aparece


em seu rosto.

— Obrigado, — diz ele, incapaz de tirar os olhos. — Agora eu posso


ter você comigo sempre também.
Demora um pouco para que possamos passar para a próxima
tatuagem, principalmente porque Vlad parece estar bastante apaixonado
por seu novo pedaço de tinta, agarrando o espelho e olhando para ela a
cada poucos minutos.

— Você já pensou no que quer?— Ele pergunta quando finalmente


coloca o espelho de lado.

— Sim, — eu digo.

Eu tive uma longa hora para pensar no que eu gostaria de colocar no


lugar da cruz odiosa que me lembra meus piores pesadelos.

No começo, eu só queria que tivesse sumido. Mas com o tempo, percebi


que ainda é uma marca que prova que eu já passei pelo fogo e consegui
sair viva.

Escolhendo uma caneta e um papel, começo a mostrar a ele como


gostaria que a cruz fosse transformada em um design diferente.

Incorporada no fundo da minha pele, a cicatriz é bem retorcida, as


bordas são rosa escuro devido ao fato de nunca ter cicatrizado
adequadamente. Só de pensar na dor que me causou por meses a fio
renova minha raiva por Sacre Coeur e tudo o que tive que suportar lá.

— Isso é incrível, hell girl, — Vlad finalmente fala quando eu


termino. — E incorpora tudo o que você representa.
Eu aceno, satisfeita por ele entender.

Depois de examinarmos todos os detalhes, ele começa desenhando a


imagem na minha pele. Logo, ele está pegando a pistola de tatuagem,
começando a gravar a tinta permanente nela.

Este é mais complicado e leva o dobro do tempo para acertar tudo.

— O que você acha?— ele pergunta, seu tom esperançoso quando ele
abaixa a pistola, me entregando o espelho.

Olhando, começo a estudar o trabalho dele, imediatamente admirada


pelo nível de precisão.

— Você é realmente bom nisso. — Eu o elogio e juro que noto o menor


tom de rubor em suas bochechas.

Sorrindo para mim mesma, continuo olhando no espelho. Ele retratou


perfeitamente uma mulher sendo queimada na fogueira, o corpo da cruz
servindo como madeira que mantinha a mulher em cativeiro, as mãos e os
pés amarrados, a boca amordaçada. Pequenas chamas engolem a estaca
quando a mulher sucumbe lentamente à sua morte. Ainda assim, seus
olhos estão se desenrolando enquanto ela enfrenta sua execução com
coragem, sabendo que não é culpa dela que esteja sendo punida. É apenas
o mundo em que ela vive que não aceita essas diferenças.
Ela carrega a marca do diabo, e toda a sua vida ela foi evitada por
isso, todos procurando condená-la por algo que não foi culpa dela.

Mas no final, mesmo sabendo que sua vida terminaria, ela preferia
morrer por seus princípios e ideias, seu queixo erguido, suas convicções
inabaláveis. Ela nunca pensou em mudar para acomodar as crenças de
outras pessoas, nunca tomando o caminho mais fácil.

E assim, eu me encontro no desenho. Durante toda a minha vida, fui


condicionada a ser de certa maneira, condenada no momento em que não
me encaixava no molde de outras pessoas.

Mas enquanto olho para a tatuagem — o desenho permanente que faz


sua casa na minha pele — não posso deixar de ser feliz com todas as
escolhas que fiz.

Sim, eu sofri por ser diferente. Mas eu não tinha me conformado. Eu


tinha ficado fiel a mim mesma e fui recompensada por toda a provação.

Colocando o espelho para baixo, direciono meu olhar para ele, meu
prêmio.

Porque eu nunca teria chegado a esse ponto se não tivesse me apegado


ao meu verdadeiro eu. Eu não tinha deixado aquelas freiras me imporem
obediência. Eu não tinha deixado as garotas más destruírem meu interior.
E por isso estou aqui.
Com ele.

Ambos com nossas idiossincrasias, combinando e complementando o


outro. Eu sei que fomos feitos um para o outro, nossos próprios seres
vibrando um com o outro.

— É perfeita. — Eu sussurro, lágrimas já no canto dos meus olhos.

Ele conseguiu ilustrar exatamente o que eu vinha sentindo há anos.

— Você é perfeita, hell girl, — ele se aproxima de mim, com o polegar


embaixo do meu queixo enquanto me pede para olhar nos seus olhos. —
Você é a mulher mais corajosa e maravilhosa que eu já conheci. E por
causa disso, sei como tenho sorte que me perdoou, — diz ele, com a boca
caindo na minha bochecha, a língua escorregando para lamber uma
lágrima.

— Eu sei o quão firmemente você se apega aos seus princípios. E sei o


que deve ter custado para você me perdoar. — Ele continua, movendo-se
para a outra bochecha e repetindo o movimento, engolindo todas as
minhas lágrimas. — Por isso, não posso lhe dizer o quanto estou
agradecido.

Eu levanto meus olhos para os dele, observando a devastação em suas


feições enquanto olha para mim com amor, tristeza e mais amor.

Adoração.
Pode ser mais adequado chamá-lo de adoração. Do jeito que eu sei, ele
nunca poderia durar sem mim. O jeito que eu sei,eu nunca poderia durar
sem ele.

E de repente, estou em paz com o meu passado. Todo o ressentimento


estabelecido no meu coração quando percebo que tudo aconteceu, não para
me derrubar, mas me fortalecer.

Me fazer forte o suficiente para ele.

— Ora, Vlad, você pode realmente parecer romântico, — eu o cutuco


de brincadeira, um pouco sobrecarregada de emoção.

— Claro, — ele sorri, a tensão do rosto se foi. — Estou adotando o


romance como minha nova religião, com você como deusa.

Sua linguagem simplista nunca deixa de me surpreender.

— É mesmo?— Eu pergunto, seguindo meu dedo pelo peito, mais uma


vez maravilhada com a parede dura do músculo que encontra meu toque.

— Sim, — ele estremece, sua voz cheia e rouca. — Eu vou te


adorar,— ele começa, e meu pulso aumenta, — Eu vou beijar o chão em
que você anda,— minha respiração para na garganta, suas palavras
começando a me afetar, o quarto de repente muito quente, — Eu serei seu
servo, seu capacho, o que você quer que eu seja,— ele continua e meus
olhos se fecham, sua voz profunda acariciando meus sentidos e me fazendo
tremer.

— Hmm, — murmuro, sentindo-o tão perto, mas muito longe, — seus


argumentos são bastante convincentes, — eu consigo dizer. — Eu acho
que poderia permitir-lhe ao meu lado, — acrescento sorrindo, e ele sorri.
— Mas eu pensei que você era meu Deus, — eu levanto uma sobrancelha
para ele.

— Ainda sou, — ele pisca, arrogância sedutora pingando seu sorriso


torto, sua covinha proeminente e implorando para ser beijada. — Mas o
que é um deus sem a sua deusa? Nós governamos juntos, hell girl. — A
mão dele sobe ao meu rosto, o polegar roçando nos meus lábios enquanto
ele me apóia na parede.

— Lembre-se, não há Vlad sem Sisi. — Sua olhar penetrante fixa em


mim, não perco a maneira como suas pupilas se dilatam, todo o seu corpo
pronto para me arrebatar.

Um braço serpenteia em volta da minha cintura, ele me levanta sem


esforço nos braços, minhas pernas se envolvendo em torno de sua cintura.

— E não há Sisi sem Vlad, — completei a frase, sua boca


reivindicando a minha em um beijo abrasador que faz meus dedos se
enrolarem em emoção.
Segurando-o, deixei que ele me mostrasse o quanto somos metade de
um todo — sempre necessitando do outro para ser completo.

— Mais, — ele comanda, sua voz gagueja pairando atrás de mim,


seus olhos avaliando bruscamente a forma do meu punho.

— Assim, — ele canta, se aproximando. Sua frente se encaixava na


minha frente, ele envolve a mão sobre o meu punho, fechando-a.

Não é a primeira vez que notei que suas mãos gigantes parecem
engolir as minhas.

Ele ajeita cuidadosamente meus dedos em um ajuste mais apertado,


com os pés batendo nos meus enquanto ele corrigi minha postura também.

Eu balanço um pouco quando ele chuta meus pés, minha posição


agora emulando a dele.
— Quando alguém tenta alguma coisa, — ele sussurra, sua voz
profunda e grave, — você chuta primeiro, faz perguntas depois. Ou melhor
ainda, — Sinto um sorriso puxar nos seus lábios, — mate primeiro, faça
perguntas... nunca, — ele ri e meus próprios lábios se contraem.

— Vamos lá, você sabe que eu melhorei. — Eu reclamo um pouco,


meio que virando a cabeça para bater meus cílios. A ação o pega de
surpresa, como eu sabia, com os olhos zoneando nas minhas más
tentativas de flerte. Ainda assim, basta deixá-lo totalmente encantado, o
pomo de Adão balançando para cima e para baixo enquanto ele engole à
força, suas pupilas se dilatando.

Aproveitando o milissegundo em que sua guarda está baixa, agarro a


sua camisa, posicionando minhas mãos e pernas da maneira que ele me
ensinou para equilibrar o peso muito maior que o meu. Meu aperto sólido,
jogo toda a minha força para movê-lo.

Ele é como uma pedra, pesado e pouco flexível. E mesmo que minha
técnica seja impecável, posso ver que não é provável que ganhe vantagem
sobre ele. Nem mesmo usando sua fraqueza — batendo meus cílios para
ele.

Há uma reação de fração de segundo quando noto o canto da boca


puxando para cima antes que ele deixe seu corpo ficar frouxo. Mal
percebendo o que estou fazendo, estou chutando-o no chão, seu corpo
caindo sem esforço — suspeitosamente sem esforço.
Vlad ainda tem a ousadia de reclamar da dor quando suas costas
atingem o chão duro.

Eu simplesmente levanto uma sobrancelha para ele, sabendo que ele


fez isso para me agradar.

— De novo, — cruzo meus braços na minha frente, chamando-o para


retomar uma posição de luta.

Quase desde o início, ele insistiu em me ensinar a lutar, dizendo que


se sentiria muito à vontade se soubesse que eu poderia me cuidar.

Tínhamos feito um treinamento básico em Nova York, mas desde que


chegamos aqui, ele era mais rígido com o cronograma de treinamento,
dando-me lições sobre tiro, combate com facas e lutas. Para minha grande
surpresa, ele não estava brincando quando disse que todo o porão é feito
sob medida. Há um campo de tiro equipado com tudo para garantir que eu
me torne proficiente em atingir meus alvos, mas também existem algumas
salas de treinamento: uma projetada especificamente para facas e outra
para uma academia.

Eu estava impressionada com o tamanho do porão, mas Vlad havia


relatado que ele também o expandira sob os jardins, não apenas debaixo
da casa. Ele está essencialmente imitando seu próprio bunker subterrâneo
de Nova York.
Às vezes, isso me dá uma pausa e me faz pensar se isso é tudo o que
ele sabe — viver no subsolo e longe das pessoas.

Certamente, ele parece mais confortável sob uma camada de cimento.

— Pare de me tratar como se eu fosse frágil, — digo a ele. Não


importa o quanto ele queira me treinar, não pode deixar de se segurar.

— Você não é frágil, — diz quando se levanta. — Você é tudo menos


frágil, Sisi, — a mão dele cobre minha bochecha quando me traz para ele.
— Mas sou bruto e conheço minha força. Então, eu não posso não ter
cuidado com você.

Eu reviro os olhos para ele, um pouco irritada por não estar se


esforçando mais, mas entendendo o seu ponto.

— Tudo bem, — eu dou um passo atrás e assumo uma postura de luta


novamente.

Fazemos mais algumas rodadas em que ele me ensina alguns


movimentos de defesa e como evitar a captura antes de nos concentrarmos
estritamente em construir minha força através do levantamento de peso.

— Você está indo muito bem, — ele elogia quando termino um set,
meus braços já estão doloridos.
— Você não é um mau professor. — Eu encolho os ombros, pegando a
toalha que ele oferece e limpando o suor do meu rosto e corpo.

Vlad pensou em tudo, e ele me comprou um conjunto inteiro de roupas


de ginástica, a maioria delas envolvendo calças de ioga e um sutiã
esportivo, que pensando bem não foi a melhor decisão.

Não quando ele mal consegue tirar os olhos dos meus seios quando
estamos fazendo um exercício. Ou do jeito que eu sei que ele está olhando
para minha bunda quando eu agacho.

Eu poderia até ter me esforçado para provocá-lo um pouco,


flexionando minha bunda ou batendo meus peitos quando sei que ele está
olhando, mas fingindo que não.

A reação é imediata e ele é prontamente pego. Ele não é o único


roupas traidoras, e suas calças de moletom fazem pouco para esconder o
quão afetado ele está.

Após horas de treinamento, finalmente terminamos o dia, tomando


banho rapidamente antes de sair para jantar na cidade.

— Amanhã estamos treinando facas, — ele fala enquanto o garçom


nos traz nossa comida.

— Sim, — exclamo, socando o punho no ar.


Ele fez uma agenda rigorosa para mim, com todos os dias
contabilizados. De alguma forma, porém, ele decidiu que o foco deveria
estar na construção de minhas forças e no aprendizado de combate corpo a
corpo. Então ele só montou um dia para facas e um dia para atirar.

— Uma arma sempre pode ser tirada de você, — ele comentava


sempre que eu fazia beicinho. Ele sabe que eu desenvolvi uma afinidade
por facas, provavelmente por causa dele. Ainda assim, ele não havia se
envolvido em sua reprovação.

Os lábios de Vlad puxam um sorriso para minha emoção e não posso


deixar de notar o quão bonito ele é, tomado banho e vestindo um terno
elegante. Vestido de preto, serve apenas para enfatizar ainda mais suas
características marcantes.

Seu cabelo está mais comprido, recusando-se a cortá-lo desde que eu o


elogiei. E eu gosto disso. Isso o faz parecer mais jovem, mais
despreocupado. Especialmente com a maneira como se enrola no final,
dando uma aparência de despenteado.

— Você é a coisa mais linda que eu já vi, — diz ele de repente, me


surpreendendo com a mudança de assunto. Seus olhos estão fixos em mim
e é como se ele estivesse me devorando com o olhar.

Um rubor rasteja pelas minhas bochechas em seu escrutínio.


Quando ele me disse que planejava me levar para um jantar, tentei
me esforçar um pouco.

Como eu não tinha praticado muito fazer maquiagem e me vestir,


procurei rapidamente na internet algumas ideias. Eu consegui colocar um
delineador e rímel, além de um batom avermelhado para contrastar com
meu cabelo claro.

Eu também escolhi ir com um vestido branco de renda, não muito


longo, mas também não muito curto, já que Vlad tinha sido muito
veemente em sua recusa em me deixar sair de casa se houvesse muita pele
aparecendo.

— Você deveria ter sido um poeta, não um assassino. — Eu respondo,


aproximando meu copo de limonada e colocando meus lábios em volta do
canudo.

— Eu não posso ser os dois?— Ele levanta uma sobrancelha. —


Embora imagine se eu pudesse matar pessoas com minhas palavras, —
diz pensativo, aprofundando os méritos de matar pessoalmente alguém
versus escrito.

— Existe esse mangá, Death Note, — ele começa, explicando que é


uma história em quadrinhos japonesa, — e o protagonista adquire um
caderno no qual, uma vez que ele escreve o nome de alguém, eles morrem
prontamente.
— Não me diga que você também gostaria de um desses?— Eu
pergunto, um pouco divertida. Embora, ao contar com entusiasmo os
eventos do Death Note, eu me vejo envolvida na história e em suas
reviravoltas. Certamente, posso ver o apelo a alguém como Vlad, que pode
ser apenas o nerd dos nerds.

— Eu não sei. Dependendo dos meus objetivos, — ele acrescenta


depois de passar algum tempo pensando nisso. — Se meu objetivo fosse
dominar o mundo, um diário de morte seria definitivamente mais útil do
que minhas próprias mãos. Especialmente quando se trata de evidências
deixadas para trás, uma vez que a ciência forense está evoluindo e a
tecnologia é mais sensível do que nunca às menores quantidades de
evidências.

— Mas você não quer isso. — Eu digo com confiança, porque eu o


conheço. Ele nunca optaria pelo domínio do mundo porque seria muito
chato para ele. Talvez ele gostasse um dia, mas depois disso ele iria querer
voltar à sua rotina habitual de assassinato e caos.

— De fato, — ele se desenrola, seus lábios se espalham em um sorriso


largo, seus dentes brancos brilhando no restaurante pouco iluminado e
fazendo-o parecer o predador que é.

— O domínio mundial é para os fracos, — acrescenta ele. — Prefiro


fazer as coisas do meu jeito. — Ele coloca os braços sobre a mesa,
estalando os nós dos dedos.
Meus olhos estão atraídos pelas veias inchadas em seus braços, da
maneira como suas mãos grandes poderiam arrancar a vida de um homem
sem sequer tentar.

— Eu posso gostar de estar no circuito, mas raramente interajo.

— Isso é porque é você, o poder não está em números, — observo, —


mas em conhecimento.

— Exatamente, — ele sorri. — Você me conhece bem, hell girl, — ele


menciona, e eu dou de ombros.

— Eu estive estudando você. Afinal, — eu me inclino para a frente,


empurrando meus peitos para fora, seus olhos imediatamente estalando no
meu decote. — o diabo que você conhece é melhor que o diabo que você não
conhece.

— É isso que eu sou para você, hell girl? O diabo que você conhece?—
Ele se aproxima e, embora estejamos em lados opostos da mesa, estamos
tão perto que nossos rostos estão quase se tocando.

— Hmm, — murmuro, deixando-o ruminar um pouco. — Você é o


único diabo que eu quero conhecer.

— Bom, — ele respira, seus olhos se concentraram em mim de uma


maneira que parece arrepiar toda a minha pele. — Caso contrário, eu
poderia ter mudado de ideia, — ele diz roucamente, e por um momento só
consigo imaginar o que ele tem em mente. Seu olhar me mantém cativa
quando me vejo espalhada sobre a mesa e ele trabalhando duro para me
fazer mudar de ideia.

— Você está gostando da sua refeição?— A voz do garçom me traz de


volta à realidade, meus olhos se arregalando com a maneira como eu havia
perdido o controle de tudo.

Vlad está me olhando divertido, girando seu copo de vinho tinto.

— É maravilhosa. Obrigado, — diz ele ao garçom, puro charme


pingando de sua voz.

Eu nem presto atenção enquanto o garçom murmura algo antes de se


despedir. Eu ainda estou focada nele, e a maneira como meu coração está
batendo insanamente rápido.

— Você sabe, — ele começa, um sorriso perverso nos lábios, — isso é


outra coisa que eu adoraria dominar. — Ele diz sugestivamente, e eu cruzo
minhas pernas, a umidade já se acumulando entre minhas coxas.

— É mesmo?— Eu pergunto, quase sem fôlego.

Parece-me que mal tocamos nossa comida. Envolvidos na conversa,


simplesmente esquecemos que estava lá. E especialmente agora, quando
me olha como se tivesse me comendo, não consigo reunir apetite.
Pelo menos não para comida.

— Mas eu não precisaria de nenhum caderno para isso.

— Realmente?— Rindo, levanto minha perna em direção a ele debaixo


da mesa, meu pé tocando sua coxa antes de movê-la lentamente em
direção à virilha, sentindo-o duro e pronto para mim, assim como eu estou
para ele.

Ele sufoca um gemido, assim como eu escovo meus dedos do outro lado
do comprimento.

— Eu só preciso disso, — ele levanta as mãos para mostrá-las antes


de colocá-las debaixo da mesa, pegando meu pé e acariciando-o
suavemente.

Minha respiração trava na minha garganta enquanto ele massageia


lentamente meu pé antes de pegá-lo e colocá-lo em cima de seu pau.

— Vlad, — eu meio que lamento, impaciência crescendo dentro de


mim.

Tirando meu pé dele, eu rapidamente coloco meu sapato antes de me


levantar.
— Eu estou indo ao banheiro, — eu digo, um pouco abruptamente.
Mas quando dou dois passos para longe da mesa, viro-me para olhar para
ele, com os olhos na minha bunda.

Um sorriso ousado tocando nos meus lábios, uso um dedo para lhe dar
um sinal. Então, eu apenas vou para o banheiro.

Eu mal entro quando ele entra, fechando a porta e trancando-a.

Um passo e ele me apoiou contra a pia, minhas costas na frente dele,


quando ele rapidamente abaixa o zíper da calça. Ele tentadoramente
levanta o vestido sobre minha bunda, me dobrando sobre a pia. Uma mão
no meu cabelo, a outra no meu quadril, ele entra em mim rapidamente,
um impulso brutal que quase me faz gozar imediatamente.

— Você não pode se ajudar, — ele sorri, seus movimentos ganhando


força, seu pau entrando e saindo de mim na velocidade da luz. — Você tem
que me tentar toda porra de segundo, — ele continua, imprimindo-se
selvagemmente no meu corpo. Sua mão se move do meu cabelo para a
minha garganta, apertando suavemente quando me aproxima dele.

— Olhe para você, — ele me pede para olhar no espelho, nos vendo
emaranhados, nossas bochechas coradas, nossas respirações quentes
embaçando o vidro. Minha boca se parte em um gemido, mas ele desliza o
polegar para dentro, bloqueando o som.
— Veja como você me deixa tão louco... — ele fala, sua respiração na
minha bochecha, — tão fora de controle, — continua, cada palavra
acentuando seus impulsos cruéis, — completamente insano.

Não estou ciente de mais nada além da invasão dele, tentando, mas
não conseguindo, gritar o seu nome quando estou chegando, minhas
paredes se fechando ao seu redor e fazendo com que ele grite meu nome
enquanto me enche de porra.

— Minha sedutora de merda, — ele fala contra minha bochecha, suor


agarrado à nossa pele pelo breve ato, embora trabalhoso.

Somente quando estamos de volta à nossa mesa é que finalmente


comemos nossa comida, nossos apetites aparentemente retornaram.

A faca escorrega facilmente da minha mão, girando no ar antes de


atingir o meio do alvo.
— Nada mal, — ele acena para mim.

Ele está encostado na parede me observando jogar as facas, seus olhos


astutos analisando tudo: da minha postura a minha respiração e como
estou segurando a faca, ele tem indicações para tudo.

Vlad às vezes pode ser um ogro autoritário, mas é um professor


maravilhoso. A evidência é meu progresso insano em pouco tempo.

Se antes eu tivesse problemas para conseguir que a faca se


incorporasse em um alvo com o lado afiado para a frente, agora posso jogá-
la sem esforço e mais ou menos acertar os centro do alvo.

Eu sei que tenho um longo caminho a percorrer. Certamente, não acho


que haja alguém mais proficiente nisso do que ele.

Ele caminha até mim, agarrando a bolsa ao lado dele e jogando-a aos
meus pés.

— Você está avançando rápido, hell girl. Hora de mudar as lâminas,


— ele brinca, abrindo a bolsa para revelar ainda mais facas, todas as
formas e tamanhos diferentes.

— Você aprendeu a jogar facas básicas, mas que tal tentarmos alguns
punhais?— ele se joga no chão, vasculhando a bolsa.
Curiosa, eu também me sento, observando de perto enquanto ele
remove as lâminas e as organiza no chão, apontando para cada uma e me
dizendo um pouco sobre elas.

— Você sabe quais são minhas lâminas de escolha, — ele aponta para
os shashkas, as lâminas curvas que ele sempre usa em combate. —
Existem apenas para combate corpo a corpo, a curva da lâmina facilitando
o controle do movimento e a garganta de alguém, — explica ele, pegando
um shashkas e me mostrando como manejá-lo.

— Sempre aponte para a garganta e a batalha termina


imediatamente, — diz ele, erguendo os olhos para os meus. Um brilho
travesso e ele tem a lâmina na minha garganta antes que eu possa piscar.

De fato, a parte côncava parece se encaixar perfeitamente no meu


pescoço, e ele a move um pouco, mostrando-me como é fácil perfurar a pele,
se necessário.

— Viu, fácil. — Ele sorri, jogando o shashka fora antes de passar para
o próximo.

Ele apresenta facas de todo o mundo, dando-me uma breve visão geral
de cada uma.

— Eu também gosto de lâminas japonesas. — Ele pega uma faca com


uma lâmina grossa e triangular e um punho menor, terminando em um
canto oco arredondado. — Este é um kunai, e você pode achar isso mais
fácil de manusear, — ele o coloca na minha mão, deixando-me familiarizar
com sua forma e peso.

— Isso é mais confortável, — eu concordo.

Não como as facas comuns, a extremidade arredondada facilita a


retenção.

— Observe isso, — ele sorri, reunindo cinco kunai. Segurando um na


mão, os outros estão enrolados em seus dedos.

Levantando-se, ele mal se concentra no alvo enquanto os joga, um por


um, com tanta velocidade e facilidade que eu tenho que me forçar a não
piscar para não perder.

— Uau. — Eu sussurro quando meu olhar se move para o alvo. Todos


os cinco estão reunidos no mesmo lugar, com as pontas a milímetros de
distância, quase como se estivessem lutando pela supremacia.

— A prática o faz melhor, — diz ele me ajudando a se levantar.

Reunindo as facas de volta, ele fixa minha postura, envolvendo meus


dedos cuidadosamente em torno do punho do kunai.

Ainda atrás de mim, ele sussurra palavras de encorajamento no meu


ouvido.
— Agora!

Sob seu comando, coloquei minha força no meu braço, apontando o


kunai para o alvo.

— Você é natural, — ele elogia, inspecionando o resultado. Um pouco


fora da marca, ainda havia atingido o alvo.

— Eu amo isso, — digo sinceramente.

Há um certo tipo de pressa em manejar uma lâmina poderosa, e posso


ver por que é sua atividade favorita.

Voltando a ele, sinto o contorno de seu corpo encaixado no meu.


Virando de repente, coloco a ponta da minha lâmina no seu pescoço.

— Sedenta por sangue?— Ele pergunta, nem mesmo olhando para a


borda afiada atualmente alojada logo abaixo do pomo de Adão.

— Apenas com sede, — eu atiro de volta sugestivamente, movendo a


lâmina com brincadeira em torno de sua carne. — Às vezes me pergunto se
você é humano, — murmuro, perigo rolando dele, os olhos de um predador
observando todos os meus movimentos. — Se você sangra como o resto de
nós... — Eu paro, abaixando a lâmina no pescoço e ao redor da clavícula.

Ele está vestindo uma camisa preta completamente moldada aos


músculos, o decote largo me dando acesso à pele.
— Você acha que eu não sou humano, hell girl?— Ele pergunta, sua
mão na minha enquanto a aperta sobre a lâmina.

— Você é... alguma coisa, — respondo.

Há uma qualidade mítica nele, tanto na maneira como se apresenta


ao mundo, mas também na maneira como eu o conheço intimamente. Há
uma selvageria profundamente arraigada em seus ossos, uma ferocidade
em seu olhar enquanto ele a coloca sobre mim. Isso me faz sentir desejada
de uma maneira primitiva e primal. Como se não houvesse espaço, tempo
ou qualquer coisa.

Apenas ele.

Isso me lembra a primeira vez que o vi. Como o puro perigo que
emana de seus poros me excitou, a maneira como sua promessa de morte
nunca foi tão doce.

É inexplicável.

Magnetismo animal, atração primitiva, sedução mortal.

Ele encarna tudo o que eu deveria fugir, não para o que eu sou
atraída.
Minha mão fica frouxa na dele, mas ele não deixa pra lá. Seus olhos
ainda estão nos meus, um sorriso sensualmente perverso aparece em seu
rosto enquanto ele cava a faca em sua pele, logo acima da gola da camisa.

Eu assisto estupefata enquanto a lâmina corta a pele, gotas


vermelhas explodindo na superfície e revestindo a ponta.

Olhos arregalados, olho para ele questionando.

— Diga-me, — ele ronrona, seu tom suave e sedutor, — eu sangro?

Ele não me deixa responder, empurrando a lâmina ainda mais fundo,


mais sangue atingindo a superfície.

— Eu sangro, — ele continua, com a garganta rouca, — mas apenas


para você.

Levantando minha outra mão, traço meu dedo sobre a pequena ferida,
passando um pouco do sangue e trazendo-o para os meus lábios.

— Somente para mim?— Repito, o gosto metálico inunda minha boca.

— Hell girl, — ele geme enquanto me vê lamber meus dedos, — você


não está jogando justo.

— Justo?— Eu pergunto, divertida. — Como isso é justo, então?—


meus lábios puxam um sorriso travesso enquanto eu movo a lâmina para a
outra mão. Ele me libera, franzindo a testa enquanto me vê empunhando a
arma no ar.

Dando-lhe um sorriso conhecedor, coloquei a lâmina no meu próprio


peito, empurrando a ponta levemente. Sinto uma pequena picada antes
que a pele ceda, líquido vermelho jorrando lentamente.

Seu olhar está focado na minha pele e, por um segundo, estou


preocupada que eu possa ter cutucado a besta. Ele parece selvagem
quando me apoia na parede, uma mão agarrando os dois braços e
levantando-os acima da minha cabeça.

— Não é justo, — ele rosna antes de abaixar a boca para a minha


pele. Sinto a sucção quando seus lábios se envolvem em torno da pequena
laceração, e ele chupa o sangue, absorvendo tudo.

A leve picada do corte, juntamente com sua boca quente, torna cada
vez mais difícil respirar, os pelos do meu corpo levantando em atenção,
pois quero implorar para que ele faça o que quiser comigo.

Mas assim como ele está comigo, ele se foi.

Cabeça baixa, ele dá um passo atrás, sem olhar para mim. Há resíduo
de sangue nos lábios e, quando ele começa a andar inquieto, sei que posso
ter empurrado longe demais.
— Eu preciso... — ele deixa escapar, franzindo a testa como se
também não soubesse o que precisa fazer.

— Vá, — eu o exorto. — Eu te encontro mais tarde.

Ele vira a cabeça para mim, me olhando por um momento antes de


assentir rapidamente. Seu rosto está pálido, suas feições esticadas e cheias
de tensão.

Sem se demorar, ele sai, indo direto para a sala de sangue.

Ao ouvir a porta batendo, sinto-me um pouco culpada por atraí-lo


quando sei que o sangue é seu principal gatilho. Ainda assim, houve um
momento em que eu não queria nada além de oferecer a ele o meu em
troca.

Talvez seja uma loucura, mas o seu gatilho pode ser apenas a minha
maior excitação.

Balançando a cabeça com aquela linha absurda de pensamento,


continuo praticando.

Eu me esforço mais e duas horas depois ainda estou jogando facas nos
alvos. Minha respiração dura, paro por um momento, sentada no chão e
pegando uma garrafa de água.
Um pouco cansada, acabo olhando para a parede por um minuto
inteiro, incapaz de me recompor.

Do nada, porém, um som de explosão irrompe no ar, e minhas mãos


automaticamente vão aos meus ouvidos para protegê-los.

O que?

Desorientada, olho ao meu redor até localizar o tablet na parede do


outro lado da sala, a tela com um vermelho brilhante. Levantando-me, eu
me apresso, conectando a senha para obter acesso ao quadro principal da
casa.

A tela liga e uma mensagem de aviso me cumprimenta, toda a área


vermelha. Clico em algumas coisas e várias janelas aparecem, cada uma
mostrando uma parte diferente da casa.

O feed ao vivo.

Mas, ao examinar cada uma delas, percebo o que acionou o alarme.

Meus olhos se arregalam quando vejo pelo menos cinco homens


armados andando pelo jardim e avaliando o perímetro. Outros dois já estão
em casa, no térreo, e mais estão subindo as escadas.

Merda!
Todos estão fortemente armados e em pleno andamento. Alguns
parecem militares, mas não tenho certeza. Tudo o que sei no momento é
que tenho que chegar a Vlad.

Recusando-me a perder a calma, começo a coletar o máximo de facas


possível, amarrando-as ao redor do meu corpo. Eu preciso ser inteligente.
O melhor que posso fazer é pegar Vlad e ir para a sala de pânico.

Eu já sei que provavelmente o encontrarei nu e desarmado, então isso


não ajudará contra armas em punho.

Verificando o feed novamente para garantir que eles ainda não


estejam no porão, eu me açoito e abro a porta, indo para o corredor.

Merda, Vlad!

Por que ele teve que construir esse porão gigantesco? É o tamanho de
toda a propriedade, provavelmente ainda maior que um campo de futebol,
o que significa que, embora os invasores ainda não estejam aqui, eles
podem cair a qualquer momento com o tempo que levo para chegar à sala
de sangue.

Segurando firmemente as facas na mão, corro pelo corredor, meus


sentidos aguçados enquanto ouço qualquer barulho.

Estou no meio do caminho quando ouço tiros. Instintivamente, eu me


esquivo, fechando meus olhos.
Porra!

Os tiros estão vindo do andar de cima e, pelo som, estão descendo.

O alçapão!

Meus olhos se arregalam quando eu viro minha cabeça, olhando para


o alçapão que leva ao porão da sala de estar. Parte da construção original
da casa, é totalmente feita de madeira.

E não é à prova de balas.

— Estou fodida, — sussurro para mim mesma, olhando loucamente.

Eu posso atravessar e me apressar para a sala de sangue, mas eles


sem dúvida chegariam lá embaixo antes disso e eu seria um alvo direto em
um campo aberto. Eles atirariam antes que eu pudesse fazer qualquer
coisa.

Não, isso não é uma opção.

Virando-me, catalogo os vários quartos ao redor. Até a sala do pânico


está longe demais, mas isso está fora de questão, desde que Vlad não
esteja comigo. Eu nunca poderia me salvar sabendo que ele seria um alvo
vivo. Não importa o quão proficiente ele seja em tudo, ele é não imortal.
Um pouco mais perto está o campo de tiro e, ao ouvir a trava da
madeira, sei que tenho a melhor chance de chegar lá, talvez até me armar
ainda mais.

Eu corro o mais rápido que posso, chegando à porta no momento em


que o alçapão é quebrado em pedaços. Fechando a porta, eu mesma não
vou me desesperar. Eu só preciso encontrar armas e munição.

É verdade que eu não tive tantas lições de tiro quanto gostaria de me


sentir confortável com uma arma, mas acho que hoje é uma exceção.
Abrindo o armário de armas, tento me lembrar das lições de Vlad. Preciso
de algo que possa aguentar mais rodadas, já que sei que sou lenta em
recarregar e não é hora dedesperdício.

Classificando várias armas de fogo, finalmente encontro um rifle.


Verificando a câmara, fico feliz em ver que ela está totalmente carregada,
para não precisar gastar tempo procurando por isso também.

Armada da melhor maneira possível, vou para o tablet na parede,


conectando a senha e acessando o feed do corredor.

Três pessoas estão embaixo, procurando no porão, com o resto ainda lá


em cima.

Ok, três não é muito. Três é possível.

Mas não para mim.


Porra, mas o que estou fazendo? Eu não sou uma guerreira. Sou a
coisa mais distante de uma, se levarmos em conta o fato de que passei
vinte anos em um maldito convento. Mas conflito e morte não se importam
se eu sou freira ou soldado, então é melhor eu vestir minha calcinha de
menina grande e enfrentar isso.

Por enquanto, só preciso chegar a Vlad.

Liberando um fôlego, aceno para mim mesma. Mas quando olho para
a tela novamente, percebo que os homens já estão indo para o outro lado do
nível.

Para a sala de sangue.

Não sei como eles encontrarão Vlad, e se ele estará em alguma


capacidade de lutar. Seu humor é tão inconstante que simplesmente não
posso arriscar.

Amaldiçoando meus lábios, faço uma pequena oração antes de abrir a


porta.

Rifle debaixo do braço, minha postura pronta como ele me ensinou, eu


ajeito meus quadris e miro.

Os três homens estão em formação, um à frente e dois atrás. Eu tenho


a vantagem de que eles ainda não perceberam minha presença, então me
concentro no que está por vir, já que estou pensando que ele pode ser o
líder. Já que todos estão vestidos de uniforme, provavelmente com
equipamentos à prova de balas por baixo, minha única aposta é a cabeça.

Depois de ter uma boa mira, o rifle aponto para a parte de trás da
cabeça, para a pele nua entre o pescoço e o capacete, aperto o gatilho.

Eu me viro para trás enquanto a bala voa em direção ao alvo,


prontamente se incorporando exatamente onde seu crânio encontra as
vértebras cervicais.

É uma fração de segundo em que ele cai no chão, os outros dois


homens imediatamente em mim enquanto latem algumas ordens.

Piscando rapidamente, percebo que não há tempo a perder. Não


quando eles também estão atirando em mim. Mal tenho tempo de me jogar
dentro da sala antes que as balas passem pela porta.

O tempo é essencial, pois tenho que decidir rapidamente como lidar


com isso. Os homens certamente virão para a sala e, assim como o
corredor, é um campo aberto.

Tentando controlar meu pânico, percebo que o único esconderijo é...


atrás da porta.

Fechando os olhos, respiro fundo, me sentando atrás da porta e


esperando que eles invadissem. Se eu posso derrubar um, então eu posso
lidar com apenas uma pessoa, certo?
É melhor eu esperar que sim.

Mais alguns segundos e os homens quase derrubam a porta.

— Precisamos chegar a Kuznetsov. — Um observa enquanto o outro


grunhe, usando os dedos para sinalizar alguma coisa.

Espero até que eles entrem na sala antes de anunciar minha


presença. Segurando firmemente o rifle, eu miro, conseguindo acertar um
deles na bochecha.

O sangue jorra quando ele cai de joelhos, a arma caindo no chão, os


gritos de dor piores que os de uma mulher. Nem tenho tempo para
considerar isso, pois vejo o outro alvo para mim.

Antes de perceber o que estou fazendo, puxo a porta em minha


direção, usando-a como escudo.

As balas batem na porta de aço e estou agradecida por Vlad ter feito
todo o nível personalizado. Certamente fez a diferença entre vida e morte
agora.

Debatendo o que fazer a seguir, corro um risco e largo o rifle.

Neste ponto, trata-se de tempo, e reservar um momento para acertar o


alvo pode me custar segundos preciosos. Envolvendo meus dedos em torno
do punho de uma faca, espero até as balas ficarem quietas antes de
espreitar dentro da sala, jogando imediatamente a faca nele.

Errei.

Sem balas, ele está abandonando sua própria arma e pegando a do


amigo caído.

Merda!

Já no piloto automático, eu me revelo mais uma vez, minha visão


clara quando faço contato visual com ele. Ele tem uma expressão
presunçosa no rosto, como se já tivesse vencido, mesmo que seu parceiro
esteja sentado em um banho de sangue que eu causei.

Deixei meus lábios se espalharem em um sorriso antes de mover meu


ombro para trás, me preparando para o arremesso. Ele sorri enquanto
pega minha faca, provavelmente esperando que eu erre novamente.

Ah, mas eu tenho uma surpresa para ele.

Afinal, se há algo que eu sei fazer bem, é sobreviver.

E assim mantenho meu sorriso, meus dedos apertados contra o punho


do kunai e jogo.
Seus lábios estão presos em um sorriso perpétuo quando a ponta da
minha faca cai bem entre os olhos dele. Ele cai no chão com um baque, mas
eu não posso nem me gabar da minha vitória.

Não quando eu tenho que chegar a Vlad o mais rápido possível.

Eu quase saio da sala, indo direto para a sala de sangue. Mas, assim
que estou a dois passos da abertura da porta, mais quatro pessoas
aparecem no corredor, todas vindo da direção da escotilha.

Meus olhos se arregalam de horror quando percebo que estou


realmente presa.

Suas armas estão apontadas para mim enquanto avançam


lentamente.

Eu poderia me render, mas isso está simplesmente fora de questão.


Não quando eu sei o que eles provavelmente farão comigo se me pegarem.
Prefiro morrer a me abrir para esse tipo de inferno.

Pego outra faca na parte de trás da minha calça, pronta para fazer o
que for preciso.

— É só uma garota. — Um deles menciona quando se aproxima de


mim.
— Onde está Kuznetsov? Ele nos disse que estaria aqui. — Outro diz e
eu franzo a testa.

Quem disse a eles?

— Não importa, você sabe o que fazer. Sem testemunhas. — O terceiro


entra em cena e sei que meu tempo acabou.

Vlad...

Mas, quando estou prestes a deixá-los me matar ou fazer as honras, a


porta da sala de sangue se abre.

Um Vlad nu, inteiramente coberto de sangue, seus olhos


imediatamente se trancando com os meus. Ele me olha de cima a baixo,
dando um pequeno aceno quando percebe que estou ilesa.

Quando ele sai completamente da sala, percebo que ele não está
desarmado. Um rifle em uma mão, um cadáver na outra enquanto arrasta
o corpo pelo chão, ele não parece estar no meio de um episódio.

Ao contrário, ele parece perfeitamente são.

Os homens fazem uma dupla posição quando o vêem, a visão dele em


uma roupa de sangue aparentemente fazendo suar até soldados
experientes.
Meu próprio coração finalmente se acalma quando sei que ele está
aqui e que está lúcido. Isso significa que eles não têm chance. E então eu
libero uma respiração aliviada.

— Abaixe, — sua voz é suave e eu nem questiono o comando, me


jogando atrás dele e me esquivando na entrada da sala de sangue.

A coisa toda acontece em câmera lenta, quando Vlad, sozinho, abre


fogo contra os três homens, balas chovendo sobre eles e penetrando cada
centímetro de seu corpo não blindado. Ele é tão rápido que eles nem
conseguem apontar suas armas.

Quando alguém faz uma tentativa fraca de atirar em Vlad, ele


simplesmente levanta o cadáver com uma mão, usando-o como escudo
humano.

Quando todo mundo está morto, ele joga o cadáver, correndo em


minha direção.

— Minha corajosa, valente, garota, — ele me pega em seus braços,


balançando comigo. — Me desculpe, eu não estava lá antes. — Ele diz, me
segurando tão forte que mal consigo respirar.

— Está tudo bem, — digo, mesmo que meu corpo esteja tremendo um
pouco com o resíduo de adrenalina. — Estamos bem. Nós dois estamos
bem, — eu me inclino para trás para olhar para ele.
Ele balança a cabeça levemente, segurando minhas bochechas e
beijando todo o meu rosto. — Precisamos sair daqui, — ele menciona, me
puxando para os meus pés.

— Há mais pessoas lá em cima, — digo a ele o que tinha visto na


câmera, incluindo o fato de que alguém deve ter dito sua localização.

— Porra, — ele amaldiçoa debaixo da respiração.

Passando pelos mortos, ele pega as armas, me entregando duas e


mantendo duas para si.

— Fique ao meu lado, hell girl. Se alguém atirar, fique atrás de mim,
ok?

Suas feições são severas, sua voz grave, pois ele mais ou menos ordena
que eu o deixe levar quaisquer balas destinadas a mim.

Eu quero discutir, dizer a ele que nunca faria algo assim, mas um
olhar para ele e eu sei que provavelmente não será receptivo. Então eu
apenas aceno.

— Bom, — ele resmunga, pegando minha mão enquanto vamos para


o nível do solo. — Precisamos chegar ao carro e depois vamos direto para o
aeroporto. — Ele explica, me dizendo que a casa está comprometida agora
e não está assumindo riscos com a minha segurança.
Estamos no elevador de serviço, que felizmente também tem um
tablet, então Vlad é capaz de monitorar a atividade na casa.

— Você matou três, eu peguei quatro... — ele fala mais consigo


mesmo, fazendo as contas, pois conta mais algumas pessoas no andar
superior. — Eles mandaram uma unidade inteira.

Uma pitada de um sorriso aparece em seu rosto, e eu franzi a testa


para ele.

— Quem lhes contou sobre mim deu boas instruções, — ele sorri, uma
puxada sinistra de seus lábios que promete derramamento de sangue e
morte.

Mesmo quando me sinto mais segura ao seu lado, só posso lamentar o


dia em que essas pessoas decidiram atacar ele. Porque acho que não há
ninguém mais perigoso por aí. Se existe uma escala assassina, ele está no
topo.

E ele prova meu ponto de vista quando me deixa no elevador com um


encolher de ombros e um beijo, caminhando no meio da sala em toda a sua
glória sangrenta nua, armas levantadas no alto enquanto ele dispara
algumas balas no ar.

Os passos ressoam na casa enquanto os homens restantes se


apressam no andar de baixo. Trancada no elevador, só consigo assistir
através do feed de vídeo enquanto ele os atrai ao ar livre.
Um total de cinco homens o emboscam, todos aparentemente pasmos
em encontrá-lo nu e coberto de sangue.

— Você se atreve, — diz ele com um sorriso e eu ligo o volume da


câmera, não querendo perder nada, — entrar na minha casa e ameaçar
minha mulher?— A voz dele troveja na sala, mas o sorriso ainda está no
lugar.

Os homens estão em posição, mas Vlad parece não se importar, pois


ele simplesmente descarta suas armas no chão.

Meus olhos se arregalam e não consigo acreditar no que estou vendo.


Especialmente porque ele insistiu em tirá-las dos mortos.

Mas quando os outros apontam suas armas nele, ele faz algo que me
choca completamente. Ele se abaixa, jogando-se entre dois homens.

A coisa toda acontece tão rápido que é como se alguém aplicasse


efeitos especiais nas imagens.

Ele se levanta sem esforço logo atrás dos dois homens. Eles nem têm
tempo para reagir quando Vlad segura seus capacetes de proteção,
pegando-os e batendo na cabeça.

Eles lutam em seu domínio, mas não são páreo para ele. Mesmo com o
treinamento do exército, visto que são claramente profissionais, parecem
crianças sendo repreendidas por um adulto.
Os outros três homens estão prontos para atirar, mas parecem
relutantes, já que Vlad está usando os corpos dos dois homens como
escudos.

— Não é tão corajoso agora, é?— Ele pergunta, batendo a cabeça dos
homens mais uma vez, mas desta vez ele desfa os capacetes deles, jogando-
os no chão antes de bater a cabeça novamente. O som de ossos quebrando é
inconfundível, e até os homens restantes têm dificuldade em acreditar no
que estão vendo.

Certamente, mesmo para mim, parece quase impossível, e estou


acostumada a associar a palavra impossível com Vlad. Sua força deve ser
incrível se ele estiver quebrando seus crânios com as próprias mãos. E
parece sem esforço, sem tensão visível no rosto.

Ele continua o movimento até que a pele esteja rasgada, o cérebro


vazando da caixa craniana. Nesse ponto, os homens nem estão mais
lutando, seus corpos relaxam, suas armas agora à disposição de Vlad.

Isso é tudo um jogo para ele. Um show.

— O que...

— Ele não é humano... ele não pode ser, — um homem amaldiçoa.


E enquanto os outros continuam murmurando frases incoerentes,
percebo o verdadeiro propósito de Vlad para o espetáculo — ele quer o
medo deles.

O pânico é visível em seus rostos, com os pés inconscientemente dando


alguns passos para trás.

O sorriso de Vlad é inabalável, mas seu olhar é mortal.

Ainda assim, não sinto pena deles, porque entraram em nossa casa
com a intenção de nos matar. Eles trouxeram sobre si mesmos.

Dedos moldados na arma, Vlad atira.

Dois homens caem, sangue escorrendo de seus pescoços e inundando o


chão. Apenas um ainda está vivo, e é de propósito, pois Vlad deixa os
cadáveres caírem em seus pés, avançando em sua direção.

O homem nem tenta lutar quando cai na bunda, tentando rastejar


para trás, uma expressão de puro terror em seu rosto.

— Quem te enviou? —Vlad pergunta, vindo para ficar bem na frente


do homem. Ele balança a arma descuidadamente na mão algumas vezes
antes de apontá-la diretamente para a cabeça.

— Quem te enviou?— Ele pergunta novamente, o cano da arma se


movendo lentamente pelo rosto do homem. — Não sei se eles te disseram,
mas não sou fã de mortes rápidas. Seus amigos ali, — ele se move para os
homens caídos, — tiveram sorte. Mas você... — ele faz um som tsk. —
Você me diz ou eu vou tirar a resposta de você, — ele encolhe os ombros,
colocando-se de costas na frente do homem assustado, como se ele não
pudesse se importar se tentasse atacá-lo ou não.

Mais do que tudo o que Vlad parece... entediado.

— Eu... — o homem gagueja, — por favor, não me machuque, — ele


chora como uma garotinha e o sorriso de Vlad se amplia.

— Diga, — ele solicita.

— P... P... Petro Meester, — ele finalmente pronuncia as palavras, e


eu estreito meus olhos, quase certa de que já tinha ouvido o nome antes.

— Entendi, — Vlad assobia uma música curta, em surpresa ou


decepção, eu não sei. — E quem te disse onde eu estava?— ele continua, e
meus ouvidos se animam.

Observo atentamente, curiosa sobre a pessoa que vendeu Vlad porque


sei que poucas pessoas estavam cientes desse local.

— Eu... — o homem continua gaguejando, com os olhos arregalados


procurando uma saída onde não há.
Mais impaciente do que o habitual, Vlad agarra sua nuca,
aproximando-o de seu rosto. Eu empurro o volume do som ao máximo,
querendo ouvir tudo o que passa entre eles.

— Você me diz, e eu vou te dar uma morte rápida. Você tem minha
palavra. Se não... — ele franze os lábios, dizendo exatamente o que fará
com ele, um experimento horrível que significava mantê-lo vivo enquanto
seu corpo se contorce de dor. As descrições são tão vivas que o homem se
molha.

— Eu não sei... um homem careca, — diz ele, com o corpo inteiro


tremendo de medo.

Vlad dá um aceno brusco, o cano da arma na têmpora do homem antes


que eu possa piscar, o som da bala passando por seu cérebro e
imediatamente matando-o quase ensurdecedor.

A expressão de Vlad é grave quando ele se levanta, caminhando


pensativamente para a minha localização e abrindo as portas do elevador.

— Precisamos ir, — ele me diz, — mas primeiro, preciso fazer uma


última coisa.

Ele pega minha mão, me levando para a frente da casa antes de me


empurrar para trás dele.
— Saia, seu covarde,— ele grita no topo de seus pulmões. —
Maxiiiiiiim!— Seu rugido faria alguém pensar duas vezes antes de se
mostrar na frente dele.

Mas Maxim acaba saindo de casa, com um olhar resignado no rosto.

Tento espiar o rosto de Vlad e tenho que me perguntar o que ele está
sentindo. Eu sei que Maxim está com ele há anos. Trair Vlad assim deve
ser horrível. Especialmente porque, durante tanto tempo, Maxim tem sido
seu único contato com o mundo exterior.

Vlad dá um passo à frente, apenas uma palavra cruzando seus lábios.

— Por quê?

Maxim tem a vergonha de olhar para baixo, as pernas vacilam quando


ele cai de joelhos.

— Moya semya, vo Vladivostoke18, — ele começa, sua voz é desigual


quando fala sobre sua família na Rússia e como Meester lhe ofereceu um
acordo em troca de suas vidas.

— Maxim, — Vlad diz seu nome, e eu posso reconhecer um tom de


angústia por baixo.

18 Minha família, em Vladivostoke.


Ele não está afetado. E isso parte meu coração.

— Você poderia ter pedido ajuda. Ya nekagda ne tebe skazal net. Ti


znaesh shto ya vsegda hotel pomogat.19 — Ele balança a cabeça,
claramente decepcionado.

De cabeça baixa, Maxim nem se atreve a olhar para Vlad. Em vez


disso, ele tira um shashka do casaco, entregando-o com as duas mãos.

— Pazhalusta20, — ele sussurra.

A expressão de Vlad cai por uma fração de segundo, antes que seu
gelo retorne com força total. Agarrando a lâmina, ele nem hesita ao acenar
no ar, a borda afiada cortando a garganta de Maxim de orelha a orelha.

Ele cai no chão, sangue jorrando de seu corpo, os olhos bem abertos
enquanto olha para o nada.

— Zemlya tebe puhom21, — Vlad sussurra enquanto se abaixa,


colocando a palma da mão aberta sobre o rosto de Maxim e fechando os
olhos.

Chegando em minha direção, não posso deixar de sentir sua dor como
minha. Então eu faço a única coisa que posso. Eu o encontro no meio do

19 Eu nunca te disse não. Você sabe que sempre quis te ajudar.


20 Por favor.
21 Que descanse em paz.
caminho, meus braços em volta do torso enquanto o puxo para um grande
abraço.

Ele ainda está congelado por um momento antes de começar a reagir,


retornando o abraço.

— Você está segura, Sisi. Isso é tudo o que importa. — Ele fala,
acariciando meu cabelo, sua boca na minha têmpora dando um doce beijo
na minha pele.

— Nós estamos seguros, — eu o corrijo, — não quero imaginar um


mundo sem você, — digo a ele, minhas palavras estão atadas à agonia que
senti ao pensar que algo poderia acontecer com ele.

— Eu também não, — ele responde, sua voz vazia. — Eu também


não.

Uma rápida varredura na casa para conseguir alguns pertences e


então nós dois estamos no carro, indo para o aeroporto.

De volta a Nova York.

Eu nem quero imaginar o que nos espera lá. Dos inimigos de Vlad à
minha própria família desaprovadora, acho que ninguém vai nos receber
de braços abertos.

Pelo menos estamos juntos. E juntos vamos enfrentar tudo.


CAPÍTULO VINTE E OITO

Pegando uma toalha para secar meu cabelo, volto para a principal
área de estar do avião. Com o ataque improvisado à casa, sou grato por ter
mantido o jato em Nova Orleans. Não demoramos muito tempo em casa,
pegando apenas algumas coisas necessárias antes de levar o carro para o
aeroporto. Eu nem tinha tido tempo de lavar o sangue e definitivamente
corria o risco de dirigir sujo de sangue.

Ainda assim, é melhor ser detido por algum policial insignificante do


que arriscar ainda mais a segurança de Sisi. Eles haviam enviado uma
unidade para me despachar, então não há dúvida de que outra seguiria
quando perceberem que perderam a conexão com a primeira.

Pernas cruzadas, ela está sentada perto da janela, olhando para o


espaço vazio. Não pela primeira vez, paro para admirá-la. Mesmo cansada,
ela é deslumbrante, sua beleza única. Ela ainda está vestida com seu
equipamento de treino, um pouco de sangue respingado na pele. Seu
cabelo loiro está levemente manchado ao redor das pontas. Eu sugeri que
ela usasse o chuveiro primeiro, já que o banheiro do avião é muito pequeno
para caber nós dois, mas ela insistiu que eu precisava mais disso. Claro,
ela comanda e eu obedeço.

Ela está olhando pela janela, sua expressão serena. Serena demais,
considerando o que ela acabou de passar, e isso só me deixa mais
admirado.

Quando registrei que tiros estavam sendo disparados em casa, minha


Sisi estava lidando com aqueles bastardos sozinha. Eu mal posso me
perdoar por deixá-la enfrentá-los sozinha. Mas, mesmo estando com raiva
de mim mesmo por meu próprio fracasso, não posso deixar de admirá-la.
Ela os enfrentou bravamente e até matou alguns.

Um sorriso puxa meus lábios.

Ela realmente é única.

Embora ela tenha se comportado melhor do que eu jamais poderia ter


esperado, não deixarei nunca acontecer novamente. Mesmo que eu tenha
que algemar ela em mim, vou garantir que ela nunca mais esteja em
perigo.
Acho que não aguentaria se algo acontecesse com ela. Certamente, eu
não acho que o mundo poderia lidar comigo se algo acontecesse com ela.
Porque uma coisa é certa. Eu existo se ela existir. Esse é o meu único
requisito.

Ela me nota na porta e me dá um sorriso tímido acenando para eu ir


até ela.

— Aí está você, bonitão, — a mão dela estende para tocar meu rosto
enquanto eu me sento ao seu lado.

Sem nem pensar, eu a puxo para fora do assento e no meu colo,


segurando-a com força. Eu não acho que a visão daquelas pessoas
apontando suas armas para ela deixará minha mente tão cedo.

— Eu te amo, — digo a ela, enfiando meu rosto na curva do pescoço.


Saber que ela está aqui é a única coisa que preciso para me sentir em paz.

— Eu também te amo, — diz ela, sua voz suave acalmando a besta


dentro de mim.

Também me assusta pensar que eu seria capaz de qualquer coisa se


algo acontecer com Sisi. Eu não acho que haja limites para a destruição
que eu faria antes de me juntar a ela.

— Prometo que nunca mais vou colocar você em perigo. — Eu digo a


ela, minha mente já está trabalhando para aniquilar qualquer perigo em
potencial, começando pelas pessoas que me querem morto. Porque se eles
querem me prejudicar, certamente tentarão prejudicar Sisi também. E isso
eu não posso aguentar.

— Você não pode prometer isso, Vlad. Até você não é onisciente ou
onipotente, — ela repreende gentilmente, inclinando-se para trás para
olhar para mim.

— Eu serei a coisa mais próxima, se isso significa garantir que esteja


segura, Sisi.

— Oh, Vlad, — ela suspira, com os olhos claros e fodidos, tão


malditamente bonitos. — Não importa o quanto eu gostaria de argumentar
que às vezes as coisas simplesmente acontecem, não posso. Eu sei o que
você está sentindo porque também sinto, — ela pega minha mão e a coloca
no peito, bem acima do coração. — O pensamento de que aqueles homens
poderiam chegar até você enquanto estava incapacitado ou incapaz de
combatê-los quase me matou. Eu teria feito qualquer coisa para mantê-lo
seguro.

— Então você entende. Há essa raiva monstruosa dentro de mim,


pronta para ser desencadeada com a mera sugestão de que você estaria em
perigo. E não é a minha raiva furiosa. Não, isso é algo muito mais potente,
muito mais violento que eu temo que ninguém ficaria vivo.

— Eu confio em você, — ela imediatamente diz e as palavras


aquecem meu coração. Há pouco tempo, pensei que nunca seria capaz de
recuperar sua confiança. — E eu sei que estou segura com você, — o canto
da sua boca se levanta. — Você é meu protetor, — o sorriso dela aumenta,
— meu diabo guardião, — acrescenta e me vejo retornando o sorriso. —
Enquanto você estiver por perto, sei que nada e ninguém pode me
prejudicar.

Me comove perceber que ela realmente quer dizer essas palavras. Ela
realmente confia em mim para protegê-la, e naquele momento juro nunca
decepcioná-la.

— Mas talvez agora você possa me dizer sobre o que tudo aquilo era,
— ela me olha questionadora e eu respiro fundo.

— Eu não tenho muita certeza. Lembra-se de Meester do clube?— Eu


pergunto, lembrando-a do breve encontro e que ele foi o dono do lutador
que perdeu contra Seth. — Não sei por que ele mandaria pessoas atrás de
mim. Que eu saiba, a única vez que o ofendi foi anos atrás, quando recusei
o casamento com sua filha. Mas ele teria tido tempo de sobra para fazer
tentativas contra a minha vida antes de agora, — adiciono pensativo.

As coisas não estão fazendo muito sentido, e quanto mais penso nisso,
mais desconfio de todos.

— Isso é estranho, — ela observa e eu concordo.

— Eu sei que atualmente sou persona non grata na costa leste,


especialmente desde que matei os líderes da maioria da máfia russa na
área. Honestamente, eu esperava qualquerum deles por trás do ataque,
mas Meester?— Eu balanço minha cabeça, incapaz de encontrar uma
conexão lógica. — Talvez se ele estiver agindo em conjunto com eles?

— Você acha que ele também pode estar conectado a Miles?— Sisi
pergunta, mordendo o lábio em consternação.

Eu já tinha lhe dado um resumo da situação com Miles, ou pelo menos


as novas informações que reuni recentemente, incluindo o fato de que o
ataque no armazém deve ter algo a ver com Miles.

Depois que percebi que ele havia ido a Giovanni Lastra para obter
financiamento, tive a ideia de que ele não poderia ter sido o único a quem
procurara.

Após o ataque, quando Vanya me chamou por ser muito complacente,


eu fiz uma pequena escavação nas finanças dos outros mafiosos. Os
resultados foram bastante previsíveis e a maioria deles estava investindo
em uma empresa fantasma por anos.

A única maneira de conseguir conectar isso a Miles foi fazendo


referência cruzada de algumas das transações mais antigas com as de
Lastra, já que ele acabou fazendo alguns pagamentos a Miles.

Tal como é, está claro que a empresa de Miles não é apenas o trabalho
absurdo de um cientista louco. É um negócio. E ele conseguiu amarrar
alguns dos homens mais perigosos da costa leste.
Ainda não tenho certeza sobre o que ele prometeu a eles ou quais
eram os termos do acordo. Eu tenho que me perguntar se ele prometeu a
eles uma parte nos negócios quando conseguiu criar o soldado perfeito, ou
se eles simplesmente estavam interessados em obter esses soldados para
suas próprias organizações.

Ainda assim, parece um pouco ridículo que tantas pessoas invistam


cegamente com base em meras teorias e conjecturas. Nas minhas
memórias, e que eu saiba, Miles nunca conseguiu criar um soldado
perfeito.

Deve haver algo que estou perdendo.

— Possivelmente, — admito. — Eu tenho Seth trabalhando em


Boston, coletando informações de um dos Bratvas no poder. Pelo que ele
está me dizendo, não é apenas o dinheiro que essas pessoas estão
canalizando para os negócios de Miles, mas também para as pessoas.

Sisi franze a testa. — Você quer dizer que eles estão pesquisando
possíveis sujeitos para teste?

— Estou um pouco certo sobre isso. Seth conseguiu compilar uma lista
de pessoas desaparecidas, mas até agora nenhuma teve a mutação. Há
uma chance de não estar nos registros. Mas com o quão raro é, — eu
franzo os meus lábios, — duvido que todos teriam tido.
— Então por que Miles precisaria deles? Mais testes? Talvez ele esteja
tentando algo diferente?

— É isso que precisamos descobrir, — acrescento sombriamente.

Enquanto estava em Nova Orleans, tentei não pensar muito em Miles


e nas pessoas atirando em mim. Eu queria aproveitar meu tempo sozinho
com Sisi. Juntos, em nossa pequena bolha, tudo tinha sido perfeito. Mas
parece que não posso negligenciar isso para sempre.

— Uma coisa é certa, no entanto. Miles sabe que estou procurando por
ele, e ele está tentando me fazer desistir há um tempo, — digo, uma
expressão sombria no meu rosto. Toda minha bisbilhotice finalmente
chamou sua atenção. — Mas agora Meester? Se ele também está
trabalhando com Miles, pode fazer sentido.

— Qual é o plano?— ela pergunta, — porque você sempre tem um


plano, — ela levanta uma sobrancelha para mim e eu rio.

— Você está certa. Eu tenho mantido contato com Nero e ele está me
enviando informações sobre seu tempo com Miles e o que ele pudesse
lembrar. Com base nisso, montei alguns lugares onde Miles poderia ter
sua sede. Claro, duvido que ainda esteja lá hoje, mas é um lugar para
começar.

— Se ele faz parte de uma rede tão grande, duvido que ele seja tão
rastreável, — comenta Sisi.
— E ainda assim ele está me iludindo por anos,— Eu respondo
distraidamente antes de continuar, meus olhos se arregalando. — Merda,
— murmuro.

— O que?— Sisi franze a testa, se afastando de mim.

— Vamos fazer uma recapitulação rápida, — levanto-me, andando


pelo corredor do avião. — Descobri o Projeto Humanitas de seu irmão,
Valentino, na época em que percebi que Vanya havia morrido. Então isso é
cerca de quinze anos atrás, — começo, sentindo uma pequena bolha de
emoção se acumular dentro de mim, como sempre faço quando estou à
beira de uma descoberta.

— Então a tentativa de golpe de Misha aconteceu cerca de dez anos


atrás, quando Miles levou Katya, — continuo e meus olhos se arregalam
quando me lembro dos eventos.

— Porra! Porra! Porra!— Eu amaldiçoo, de repente tudo se esclarece.

— O que? O que é?— Sisi se levanta, vindo para o meu lado.

— Eu entendi tudo errado, hell girl... — Eu balanço minha cabeça. —


Quando Bianca e eu fomos emboscados, havia talvez seis pessoas no total.
Se Miles estivesse envolvido no planejamento, ele deveria saber que seis
pessoas nunca teriam me impedido. Muito menos o fato de Bianca estar
comigo também.
— Você está pensando que eles não foram enviados para te matar?—
Ela estreita os olhos, mas vejo seus traços modificarem lentamente
enquanto ela também processa tudo. — Eles foram enviados para atrasá-
lo, — ela finalmente diz e eu aceno.

— Miles não me queria morto. Ele só me queria longe para poder


chegar a Katya. Assim como ele provavelmente sabia que Misha não teria
chance quando voltei.

— Ele enganou seu irmão. Mas por que? Todo esse trabalho para não
te matar e apenas levar sua irmã?

— A mente de Miles não funciona como pessoas comuns, — digo,


rangendo os dentes. Eu deveria saber porque tenho imitado sua maneira
de pensar por quase duas décadas. — Ele precisava de Katya para
continuar seus experimentos internamente. Mas para mim, — balanço a
cabeça, sorrindo, — ele tinha outros planos.

— Eu não entendo, — Sisi franze a testa.

— Pense nisso. Valentino me encontrou em um lugar abandonado,


com Vanya morta ao meu lado. Não havia ninguém mais ao redor, exceto
Nero. Agora, por que Miles me deixaria ir se eu fosse o milagre dele?

Sisi pisca duas vezes e eu assisto as rodas girarem lentamente em sua


cabeça. Minha freira pode ter crescido em um convento, mas não há como
negar sua inteligência inata e julgamento sábio. Desde o início, fiquei
admirado com o funcionamento de sua mente, com seus sentidos aguçados
de observação quase sem paralelo.

Poucas pessoas que conheci conseguiram me surpreender tanto


quanto ela, e esse é um dos maiores elogios que eu poderia dar a alguém.
Claro, também uma das razões pelas quais eu a amo tanto.

— Ele fez isso de propósito. Ele queria que você fosse encontrado. Mas
por que... — as sobrancelhas franzem, a cabeça inclinada para o lado
enquanto pensa. — Deus, ele queria... — os olhos dela se arregalam na
realização e eu aceno.

— Exatamente. Ele queria me estudar no meu habitat natural, por


assim dizer. Isso significa que eu devo ter passado nos testes dele e estava
pronto para ser liberado para o mundo. Nero também, e eu não ficaria
surpreso se Miles tivesse conseguido suas novas peças biônicas para Nero
através de um intermediário. Ele está nos observando.

— Meu Deus! É por isso que ele sempre esteve um passo à sua frente,
— ela sussurra, agora obtendo a imagem completa. — Ele está te
observando esse tempo todo, não está?

— É o que eu penso, — eu aceno.

— Então por que ele iria querer você morto agora?

Eu sorrio, de repente a coisa toda parece um pouco diferente.


— E se ele não me quiser exatamente morto? E se for apenas mais um
teste?

— Droga, — Sisi murmura, esfregando os braços. — Isso faria


sentido.

— Mas também pode ser que Miles não esteja pessoalmente por trás
dos ataques, — acrescento, oferecendo outro ângulo. — É um negócio em
sua essência, e eu perseguir sua força total afetaria muitas pessoas.

— Isso também é verdade, — suspira Sisi. — Temos nosso trabalho


em dobro, não temos?— Ela faz uma tentativa fraca de sorrir.

— Nós vamos descobrir, hell girl. Agora, se eu pudesse me lembrar


detudo que aconteceu enquanto eu estava com Miles... Eu poderia pelo
menos entender todo o plano de sua pesquisa.

— Não se force, — a mão dela pega a minha, apertando-a com


conforto. — As memórias virão. Quando você estiver pronto para elas, —
ela diz e eu grunho.

— Há outra coisa que me atormenta há um tempo, — digo a ela. —


Havia uma terceira pessoa envolvida com Misha. É apenas evidência
circunstancial, mas com base no círculo de conexões, deve ter sido outra
pessoa da máfia. Alguém com interesses em Nova York.
— Você está certo, — ela concorda, — porque quem mais teria acesso
direto a Misha e Miles, se não alguém que conhecesse os dois?

Eu já tinha passado por todas as conexões de Misha de Nova Jersey —


a maioria deles já mortos— e eu tinha acabado de mãos vazias. Ainda
assim, há mais uma pessoa...

— Eu preciso olhar novamente para todas as pessoas com quem


Misha esteve em contato, — eu digo a ela.

O que não digo é que estou cada vez mais certo de que essa pessoa
pode ser Meester. Ele conhecia meu pai e nossa família, e com certeza
conhecia Misha. Além disso, sua tentativa acalorada de me casar com sua
filha anos atrás para se estabelecer em Nova York me deixa desconfiado.

Mas não descobri nenhuma evidência de que ele tenha entrado em


contato com Miles, de uma maneira ou de outra. O fato de ele ter enviado
um esquadrão inteiro para acabar comigo o coloca na corrida, mas eu não
quero falar sem ter nenhuma prova para apoiar meu palpite.

— Devemos fazer um desses quadros de conexão como eles têm em


programas de detetives, — sugere Sisi, empolgada. — Dessa forma,
podemos acompanhar todos.

— Sabe, hell girl? Isso não é uma má idéia, — eu a elogio, confiando a


ela a tarefa de fazer isso quando chegarmos em casa.
Casa...

Engraçado como nunca tinha estado em casa antes. Mas uma ex-freira
corajosa e toda a minha vida foram viradas de cabeça para baixo.

— Merda, Sisi. Seu irmão, — eu gemi quando o pensamento de


repente me passa pela cabeça.

Surpreendentemente, ele não veio me procurar em Nova Orleans.


Conhecendo Marcello, eu teria assumido que enviaria um exército inteiro
para resgatar sua irmã santa das garras do diabo — armadas com água
benta, é claro.

Mas agora que voltaremos à Big Apple, não há como Marcello não ser
alertado sobre nossa presença.

— Não se preocupe. Eu vou lidar com isso, — Sisi levanta a mão, uma
expressão séria no rosto. — Nós vamos para casa e vamos calmamente
explicar as circunstâncias. Ele é obrigado a entender, certo?

Não quero assustá-la dizendo que não há nenhuma maneira no


inferno que Marcello vai entender. Mas eu me pego concordando com ela
de qualquer maneira.

— Exatamente, não deve ser tão ruim, — eu aceno, minhas feições se


esforçam para permancer igual.
Mas ela está certa em um aspecto. Quanto mais rápido eu resolver a
situação com Marcello, mais cedo terei tempo para me concentrar toda
minha atenção em Miles e seus companheiros. Embora eu tenha certeza
que vá derramar sangue.

— Há também Guerra, — Sisi morde o interior de sua bochecha,


parecendo preocupada. — Eu também não acho que eles estejam muito
satisfeitos. Eles vão querer algum tipo de retribuição para salvar a cara.

— Eu vou lidar com Guerra, não se preocupe, — eu aceno minha mão


com desprezo. Eles são a menor das minhas preocupações agora.

— Como?

— Vamos apenas dizer que tenho algo que eles querem, — levanto o
canto da minha boca. — E eles certamente seriam eliminados se eu
oferecesse meus serviços à DeVille.

— Você é desonesto, — Sisi dá um soco no meu braço de brincadeira.

— É a política do nosso mundo, — eu encolho os ombros. — E você


está se tornando cada vez melhor em lidar com elas.

— Eu me adapto, — ela responde, um olhar assombrado em seu rosto.


— Eu sempre me adapto.
Enrolando um braço em volta dela, eu a trago para mim, sua frente
corada contra a minha. Nunca deixará de me surpreender que, apesar de
nossos diferentes tamanhos, nos encaixemos tão bem, o lugar dela
confortável nos meus braços.

— Você não precisa mais se adaptar, hell girl. A partir de agora, o


mundo se adaptará a você. — Eu digo a ela, pegando um fio de cabelo e
empurrando-o suavemente atrás da orelha para dar uma olhada melhor
em seu rosto adorável.

Ela levanta os olhos para mim, o olhar atordoado enquanto tenta


determinar a veracidade das minhas palavras.

— Fiz um voto para você, Sisi. Vou colocar o mundo inteiro aos seus
pés. Ninguém jamais olhará para você novamente.

Eu inclino seu queixo para cima, inclinando-me para a frente para


pressionar um beijo nos lábios.

— A partir de agora, todos se curvarão para você. — Eu continuo,


vendo uma pequena lágrima descer pelo seu rosto.

Pressionando meu polegar na pele dela, eu limpo.

— Você é minha deusa, — murmuro suavemente, — minha esposa,


minha parceira, — dou outro beijo na bochecha, provando lágrimas
frescas, — meu tudo. E isso significa que governamos juntos.
— Às vezes você é muito doce. — Ela levanta a mão para acariciar
minha mandíbula, os lábios se alargando em um sorriso lindo.

— Somente para você, hell girl. Você é minha única exceção.

— E você é minha. — Ela responde, girando os braços atrás do meu


pescoço e me puxando em sua direção, nossos lábios se encontrando em um
beijo de parar o coração.

A verdade é que tudo o que estou fazendo é para ela e sempre será
para ela. Incluindo enfrentar o meu passado.

Porque eu sei que nunca seremos capazes de viver em paz com tantos
fios soltos pairando sobre nossas cabeças.

As imagens não são proibidas. Minhas sobrancelhas se contraem


quando me vejo cada vez mais fundo em uma paisagem estranha, todo o
cenário desconhecido e confuso.
No entanto, uma coisa é certa.

Este sou eu.

— Você tem vinte minutos para concluir a tarefa, — uma voz soa
através de um alto-falante.

Olho ao meu redor, reconhecendo meu ambiente.

A sala é do tamanho de um estádio, paredes cinza sombrias ao redor.


À minha frente, existem algumas paredes que parecem obstáculos, todos
de tamanhos diferentes, obscurecendo o que está por trás. Há uma
prancha grande perto do teto exibindo os nomes de todos os participantes,
cada um com um zero ao lado — a pontuação do jogo de hoje.

À minha direita e esquerda, vejo outras crianças, todos da minha


idade. Eles estão em uma posição tensa, com os olhos focados enquanto
aguardam o sinal.

Não sei como sei disso, mas sei.

De fato, toda a situação parece de alguma forma errada. Sinto-me


como eu, mas ainda assim minha mente se sente vazia por algum motivo.
Há uma determinação de ganhar contra todas as probabilidades. Vejo
claramente como a única coisa que importa é a vitória.

Além disso, não consigo sentir qualquer coisa.


Não há medo, não há preocupação — nada. Eu me dou um tapinha
para garantir que minhas armas estejam em seus locais designados e, ao
mesmo tempo, tenho a oportunidade de verificar se sou de fato humano.

Há uma maldade em minha mente que nunca encontrei antes. Mesmo


nos meus piores momentos, nunca estive tão vazio. Como se meu corpo
inteiro fosse apenas uma casca que abrigasse uma consciência ausente.

Ainda assim, há uma nitidez no meu olhar enquanto filtro e catalogo


tudo ao meu redor. Tomo nota de quantas pessoas estou competindo e
estou fazendo dez planos simultâneos, um para cada movimento potencial
que meu inimigo pode fazer.

— Em suas posições, — anuncia a voz dos alto-falantes, e eu flexiono


meus joelhos, pronta para decolar no tempo designado.

Minhas mãos estão enroladas em torno dos montes de facas presas à


minha cintura, e eu sei que não vou deixar ninguém me vencer.

De fato, minha boca se levanta quando imagino o rio de sangue que


fluirá de minhas mãos, a única emoção positiva que senti até agora.

O sinal é dado e todo mundo começa a correr.

Não sei muito sobre os obstáculos ou o que está por trás dos muros,
mas sei que nada pode me parar.
Passo por uma primeira parede e vejo do canto dos meus olhos uma
pequena arma automática escondida no chão. É rápida e silenciosa quando
se abre e começa a atirar em nossa direção.

Um garoto é pego no braço, enquanto outro leva um tiro no rosto, todo


o crânio explodindo diante dos meus olhos, pedaços de sangue, ossos e
matéria cerebral espalhados pelo chão com alguns aterrissando em mim
também.

Eu sorrio enquanto me desvio e me esquivo, observando a contração


da arma de perto e calculando ângulos.

Desde o primeiro momento em que notei, comecei a observar padrões,


a maneira como o corpo se inclinava levemente até um grau em qualquer
direção antes de carregar para atirar.

Uma questão de focar até o menor movimento, e eu sou capaz de


calcular o lugar em que a bala acertará.

Enquanto todo mundo está tentando evitar as balas que chegam, eu


sei exatamente onde elas atingirão um segundo antes de o fazerem.

Felizmente, meu corpo é bem treinado e não há atraso entre meu


comando mental e a execução do movimento. Fluidamente se movendo
através das balas, estou correndo em direção ao ponto de origem, pulando
no ar e aterrissando logo atrás do cano da arma.
Sei que tenho alguns segundos no máximo antes que ele se vire para
mim, então canalizo toda a minha força no braço, agarrando o corpo de
metal e arrancando-o do chão, jogando-o para trás. E porque estou
acompanhando o tempo limitado, não permaneço.

O quadro que exibe nossos nomes muda repentinamente para mostrar


os mortos, bem como os que avançam para o próximo nível. Olho para cima
para ver meu nome em branco com cem pontos ao lado.

A primeira rodada.

De alguma forma, sei que preciso alcançar mil pontos para ser coroado
vencedor. Dez rodadas a serem vencidas, dez rodadas para mostrar o
quanto eu melhorei.

Há outras pessoas correndo ao meu redor, todas elas tendo a mesma


concentração intensa, mantendo os olhos no prêmio.

Ainda é muito cedo para começar a lutar um contra o outro, os testes


estão apenas começando. No entanto, sei que quem chegar ao fim comigo
já está morto, e meus olhos se filtram pela sala, estudando cada pessoa
para refletir sobre minha concorrência.

Um sorriso puxa meus lábios quando percebo que isso será fácil. A
parte mais difícil é atravessar todos os obstáculos.
Sem tempo para permanecer, corro para a frente, iniciando a próxima
etapa do teste. Passando por mais uma parede que delimita as provações,
encontro um poço cheio de víboras que ocupa todo o espaço nesta área
fechada. E para avançar para o próximo nível, tenho que cruzá-lo.

Rápido.

Há uma pequena corda amarrada de uma extremidade do poço à


outra, para atravessar as víboras. A corda é talvez do tamanho da minha
palma de espessura. O suficiente para acomodar um pé de cada vez.

Considerando que eu tive um treinamento extensivo de equilíbrio ao


longo do tempo, atravessá-lo seria fácil. A única questão é que as víboras já
foram agitadas e cheiram a violência enquanto assobiam para mim.

No momento em que meu pé bater nessa corda, sei que elas vão me
atacar. Aposto que Miles está olhando do lado de fora, curtindo o show
grotesco que estamos dando para ele.

E se ele quiser um show, ele terá um.

Eu paro, observando como duas garotas se apressam na corda,


apostando na velocidade para chegar ao outro lado. Embora seus
movimentos não sejam lentos, elas certamente não são páreo para víboras
raivosas.
As cobras atacam de todas as direções, indo para as pernas e
assustando-as para cair no poço.

Seus gritos ecoam dentro da sala, e eu abro o olhar, meus lábios


puxando para cima enquanto vejo dezenas de víboras enrolando sobre seus
corpos, seu veneno sendo injetado na pele.

Também deixei outro garoto dar um salto e não me surpreendo


quando ele também acaba caindo, as víboras o pegam de surpresa.

Há mais atrás de mim assistindo com ansiedade, provavelmente


tentando calcular como melhor resistir a isso.

Dou um passo à frente e, com um rápido olhar para o poço, decido que
chegou a minha hora.

Colocando todo o meu peso corporal nas pontas dos dedos dos pés,
concentro-me em regular a respiração e diminuir a velocidade do coração.

Quando sei que estou perto de um estado catatônico, ou como gosto de


chamá-lo, quieto, me movimento.

Com um pé na corda, meus olhos estão avaliando astuciosamente a


situação lá embaixo, meus ouvidos se animaram ao ouvir todos os sons
feitos por um ataque repentino.
Eu me movo rapidamente, e nem três passos depois o primeiro ataque
de víbora chega. Saltando, observo enquanto ela passa pela corda antes de
se abaixar de volta no poço.

Meus pés caem de volta na corda, meu equilíbrio é verificado quando


me inclino para a frente, o arco do meu pé fazendo contato com a pequena
superfície. Não perco tempo, pois me apoio em minhas mãos, dando um
cambalhota no ar, evitando mais duas víboras.

Empurrei meu corpo para frente para percorrer o máximo de distância


possível, minha respiração lenta e calma.

Isso é a chave.

Eu nunca deixo o pânico tomar conta de mim. No momento em que


permito isso, o jogo acaba.

E assim continuo a fazer uma combinação de saltos altos, cambalhotas


altas e andar de mãos dadas na corda, torcendo para evitar as cobras, às
vezes usando meus pés para chutá-las.

Assim como estou mais perto do outro lado, ouço um chocalho se


aproximando e percebo que está vindo de trás de mim.

Pela proximidade do som, percebo que não tenho tempo para me


esquivar. Então eu me viro, meu braço esticado quando minha mão pega a
cabeça da víbora no ar, meus dedos apertando sua mandíbula para que
não possa morder. Antes de me livrar dela, porém, forço os dentes afiados
a um pedaço de material das minhas roupas, pressionando para a frente
até que o veneno comece a vazar de suas glândulas. Reunindo-o com força,
prendo-o em uma bolsa improvisada.

Jogando a víbora para longe de mim, pulo para a superfície firme do


outro lado.

Não perdendo o fôlego, eu rapidamente me apresso para o próximo


teste.

Uma pequena câmara com um alvo flutuante, pego um pequeno


conjunto de facas. As instruções são bem simples. O alvo é sensível ao
toque e toda vez que chego ao centro, ganho dez pontos. Dez jogadas e é
isso.

Coincidentemente, este é um dos meus testes favoritos, já que minha


mira é perfeita, se é que posso dizer.

Agarrando as facas com força, deixei meus olhos seguirem o alvo um


pouco, tentando aprender seus padrões. Como estou convencido de que um
computador está controlando os movimentos, sei que deve haver um
padrão oculto que me permita adivinhar a próxima posição.

Certamente, alguns segundos e observo uma ligeira ondulação, o alvo


fazendo dois saltos antes de descer uma vez. Depois, desce duas vezes
antes de subir uma vez. O ritmo é repetido, mas em vez de uma linha reta,
o alvo está se movendo em movimentos circulares. Ainda assim, o padrão é
claro.

Fecho os olhos, contando com a minha audição enquanto conto as


posições.

Apontar.

A faca se incorpora bem no meio, um barulho alto indicando os pontos


adicionados ao lado do meu nome na tela.

Uma expressão presunçosa no meu rosto, continuo antecipando cada


posição, jogando facas direita e esquerda.

Em pouco tempo, acumulei o maior número de pontos possível,


terminando o teste.

A seguir, alguns semelhantes envolvem uma combinação de armas e


explosivos. O primeiro ainda está testando nosso objetivo, mas também
nossos reflexos ao montarmos uma arma do zero para atirar em diferentes
alvos. O segundo é um pouco mais complicado, pois nos pede para
desembaraçar os fios de um complexo explosivo C4.

A quantidade de C4 não é demais, mas é suficiente para explodir a


única pessoa que está mexendo com os fios. E assim é uma situação de vida
e morte.
Felizmente, tenho prestado atenção a todas as lições e memorizado
todas as informações.

Chegou a um ponto em que não sei se minha memória é minha ou se


foi lançada sobre mim em um dos experimentos malucos de Miles.

Tudo o que sei é que só preciso ver algo uma vez para lembrá-lo para
sempre, capaz de dissecá-lo em níveis de átomos muito tempo depois de vê-
lo.

E então eu também passo no teste de explosivos.

No meio do caminho.

Eu sei o suficiente sobre a mente perversa de Miles para esperar


apenas o pior. Afinal, este é um teste para separar os fracos dos fortes.
Aqueles que seguirão em frente e aqueles que não o farão.

Morto.

No fundo da minha mente, sinto um pouco de pulsação ao pensar em


minha irmã, a primeira aparência de sentimento em muito tempo. Pelo
menos eu consegui poupá-la sendo a cobaia exclusiva de Miles. Ela está
piorando de todas as experiências que ele a subjugou, e seu corpo está
lentamente falhando com ela.
Eu sei. Miles sabe. Todo mundo sabe disso. Ainda assim, se eu puder
mantê-la viva, eu o farei.

Farei qualquer coisa para garantir a segurança dela.

Eu mal a vejo hoje em dia. Miles me tem em treinamento ou em testes


todos os dias. O máximo que consigo é dizer algumas palavras para ela
antes de dormir. Mesmo com meus novos aprimoramentos físicos, estou
tendo alguns problemas para acompanhar alguns aspectos do programa de
Miles.

Os testes psicológicos foram os mais difíceis, porque eu poderia dizer


que lentamente, sem nem perceber, eles estavam me mudando de dentro
para fora.

Desde o início, fui forçado a sentar em uma sala escura com apenas
uma tela, sem parar assistindo atrocidades após atrocidades até ficar
dessensibilizado a tudo.

Carne? Sangue? Osso?

Acho que não há mais nada que possa me chocar. Certamente nem
mesmo como eu vejo, os vídeos estranhamente educacionais, como eles me
ensinaram a cortar e verificar, toda a anatomia humana de repente na
ponta dos meus dedos.
E Miles ficou encantado quando viu que eu poderia memorizar tudo
depois de uma hora. Então ele começou a me deixar realizar alguns dos
experimentos.

Quando você fecha a última parte sã de si mesmo, quase não há nada


que possa fazer você reagir. De fato, quanto mais eu começava a me
aprofundar nos segredos do corpo humano, mais intrigado me tornava,
finalmente começando a compartilhar o entusiasmo de Miles.

Eu não me colocaria na mesma categoria que ele, mas ao mesmo


tempo sei que não estou longe.

Eu mal mantenho minha cabeça no jogo. Mais alguns testes


mundanos e estou na liderança com uma pontuação perfeita. Eu estou...
entediado.

Devemos acabar com isso agora, já que todos sabemos quem será o
vencedor. Mas Miles não é de cortar recursos. Mesmo que ele tenha que
sacrificar outros soldados em potencial no processo, ele verá isso,
garantindo que apenas o mais apto será permitido para o próximo nível.

Seguindo os movimentos, percebo que já estou na nona tarefa e, ao ver


o que é, meu humor melhora repentinamente.

Tortura.
A voz dos alto-falantes explica a tarefa. Cada competidor que chegou a
esse ponto precisa obter informações dos prisioneiros — tudo parte do
Mossad.

Conhecidos por seu treinamento completo, eles são os menos


propensos a quebrar. Especialmente diante de algumas crianças magras.

Meu alvo está na minha frente em uma cadeira, mãos e pés


amarrados, um saco na cabeça.

Eu o circulo algumas vezes, tentando determinar com quem estou


lidando.

Outro segredinho que aprendi com Miles, a linguagem corporal pode


oferecer uma riqueza de informações. Verdade a ser dita, minha única
fraqueza é em reconhecer emoções faciais. É por isso que nunca me
concentro no rosto.

Em vez disso, vejo como as pernas se contraem levemente ou como os


músculos de seus braços parecem se mover involuntariamente quando ele
me ouve andar ao seu redor.

Ele está me estudando no momento em que o estou estudando, e a


perspectiva de encontrar alguém em pé de igualdade tem um novo tipo de
emoção fervendo dentro de mim.
Posso ser apenas uma criança, mas meu conhecimento supera em
muito a maioria das pessoas. Meu treinamento também não é nada para
zombar, e sei que só vou melhorar à medida que crescer.

E assim, para começar minha sessão, retiro o saco da cabeça dele,


deixando-o me ver, observando de perto a maneira como seus ombros
relaxam, todo o corpo à vontade, pois ele sem dúvida acha que uma criança
não pode prejudicá-lo.

Sim, me subestime. Será a sua morte.

Por mais que eu não admita, Miles me deu a melhor educação. Com
base em recursos de todo o mundo, minha mente está repleta de todo tipo
de conhecimento necessário para ter sucesso nesse negócio obscuro de
tortura.

Isso, juntamente com a minha experiência anatômica, me torna o


candidato perfeito para exigir a tortura perfeita.

Uma olhada na contagem regressiva e vejo que tenho mais dez


minutos até que todo o teste termine. Mas, considerando que há outro
nível, não quero arriscar gastando muito tempo com esse cavalheiro.

Olho para a nota em minhas mãos, a rápida nota que devo descobrir a
localização de algumas armas nucleares fora dos livros escondidas em
algum lugar ao longo da costa.
Há um kit muito básico de facas e ferramentas de tortura. Nada muito
chique, apenas o suficiente para fazer o trabalho.

Ele quer que, afinal, improvisemos por conta própria. Use nossa
criatividade e mostre a ele que suas lições não foram em vão.

Um sorriso astuto aparece no meu rosto enquanto eu arrasto meus


dedos sobre as ferramentas, sabendo que ele está me observando de perto.

Como eu, ele está tentando avaliar com quem está lidando.

Mas diferente de mim, ele já está subestimando minhas habilidades.

Pego a menor lâmina, testando sua fiação na minha perna. Satisfeito


com o resultado, sangue escorrendo no momento em que a ponta da lâmina
faz contato com a superfície da minha pele, eu a trago aos meus lábios
lambendo-a.

O homem está olhando para mim como se não pudesse acreditar no


que está vendo.

Ótimo. Ele está começando a ficar abalado.

Pegando a lâmina, trago-a para a camisa, o material cedendo


imediatamente, o peito nu à vista.
— Qualquer órgão que você goste particularmente?— Eu levanto
minhas sobrancelhas para ele em questão.

Ele cuspiu contra sua mordaça, batendo em seus limites enquanto


tentava se mover em minha direção.

— Tsk, tsk. Agora, isso é simplesmente rude, — acrescento, enfiando


a faca bem na coxa, o movimento calculado para acidentalmente não
acertar a artéria femoral. Ainda assim, está alojado não muito longe,
garantindo fluxo sanguíneo direto para a artéria. A faca está tão
profundamente embutida em seu corpo que eu posso sentir o osso bem
embaixo da ponta, um barulho arranhado tocando enquanto eu empurro e
a movo dentro da ferida, criando uma pequena conexão. O som é quase
como unhas em um quadro-negro, a fiação da faca garantindo o corte de
todos os músculos e tecidos conjuntivos.

Ele não pode nem gritar de dor, embora queira. E estou imensamente
triste com isso, pois teria sido música para meus ouvidos. Afinal, é tudo
que sei.

Abrindo minha pequena bolsa, tiro a faca, observando o sangue


disparar como um pequeno gêiser, manchando suas roupas e caindo no
chão.

Ele está me observando atentamente enquanto eu mergulho a faca na


bolsa, cobrindo a ponta em uma substância viscosa.
Ele franze a testa, estreitando os olhos para mim.

— Veneno, — dou-lhe um sorriso largo, — veneno de víbora, —


altero. Quando termino de pegar todo o veneno, simplesmente coloco a faca
de volta dentro da ferida, observando o rosto contorcer em agonia
desumana, a pele ficando vermelha, os olhos inchados na cabeça enquanto
ele tenta suportar tudo.

Ah, mas isso é apenas o começo.

Deixando-o cozinhar no veneno — literalmente, volto minha atenção


de volta ao peito, rapidamente fazendo uma incisão da clavícula ao
umbigo.

Ainda tendo alguns vestigios de veneno, no momento em que a


substância tóxica atinge sua carne aberta, ele volta a sentir dor. Deve ser
como uma sensação de queimação que continua ganhando profundidade. E
quando eu me aprofundo, suas reações também pioram.

— Vamos ver, — eu cantarolei apreciativamente quando abro


cuidadosamente o estômago, retalhos de pele de cada lado. — Acredito que
você ainda pode viver com um rim, — acrescento, minha mão pairando
sobre o par aconchegado ao lado dele. — Eu me pergunto, porém, quão
dolorosa é a remoção sem anestesia?— Eu pergunto pensativo.

Ele ainda não desmaiou de dor, o que por si só é um feito e fala de seu
treinamento. Ainda assim, no momento em que ele ouve sobre seus rins, e
especialmente quando ele pode olhar para sua própria barriga aberta, seu
rosto cai em resignação.

Peguei ele.

Caramba, ele está falando tudo que precisava saber.

Olhos no relógio percebo que tenho mais cinco minutos até o fim.
Satisfeito com suas respostas, eu simplesmente balanço a lâmina sob sua
garganta, cortando-a e garantindo uma morte rápida antes de passar para
a rodada final.

Atravessando a parede final, me deparei com uma visão


surpreendente.

Miles está casualmente sentado em um sofá, duas mesas de cada lado


dele.

Mesmo sendo o primeiro a chegar, há alguns outros que também


conseguem.

Imediatamente, somos movidos para as mesas, divididos em pares.

Estou junto com um cara alguns anos mais velho que eu em uma
mesa, enquanto na outra mesa há uma garota com outro garoto da minha
idade.
À nossa frente está um jogo de tabuleiro Go espalhado. Meus lábios se
contraem quando percebo qual é o teste final.

Estratégia.

Miles é um Go aficionado, e ele tem seu próprio conselho em seu


escritório. Ele até me ensinou a jogar uma vez, então eu tenho o básico.

Como o xadrez, um jogador recebe o lado branco enquanto o outro o


preto. Mas, diferentemente do xadrez, as peças do jogo são pequenas
pedras redondas. O objetivo do jogo é ganhar espaço no tabuleiro. Como
um mapa em guerra, as peças são como bandeiras em áreas conquistadas,
sendo o vencedor o mais com peças no tabuleiro.

É um jogo emocionante, e certamente um que pode dar uma pausa a


alguém.

Ainda assim, não é de admirar que Miles tenha escolhido isso, além de
seu interesse pessoal. O jogo conta com os posicionamentos estratégicos
das pedras para maximizar o território. Aos seus olhos, nosso sucesso no
tabuleiro deve refletir nosso sucesso no mundo exterior.

Há apenas um aspecto complicado.

Três minutos.
Com três minutos no relógio, é improvável que possamos terminar um
jogo Go e proclamar um vencedor. Esses jogos podem durar horas, se não
dias, então três minutos são realmente absurdos.

No entanto, ao olhar para Miles, seu sorriso insidioso amplo e quase


selvagem, percebo que ele também sabe disso.

Eu desliguei meu lado cético e, em vez disso, concentrei-me no jogo em


questão, vitória meu único objetivo. E daí se for quase impossível? Eu
tenho desafiado o impossível há tanto tempo desde que me lembro. Isso
não deve ser muito difícil.

Os segundos se estendem quando começamos a colocar nossas peças


no quadro. Sou preto enquanto meu oponente é branco. No momento em
que o jogo começa, minha mente se preocupa em antecipar todo movimento
que ele poderia fazer.

Enquanto eu conseguir calcular seus movimentos com antecedência,


também poderei calcular a quantidade de tentativas que levariam para
vencer o jogo.

Nossas mãos se movem com velocidade extrema, pois peça após peça é
assentada em um quadrado, os territórios começando a tomar forma.

Meu oponente não é ruim. Mas ele também não é ótimo, o que
funciona a meu favor.
Um minuto e trinta e cinco segundos.

Até agora metade do tabuleiro está cheio, minhas peças ofuscando a


dele. Mas há um aspecto complicado no Go. A menos que ele declare que
está perdendo, o jogo pode durar para sempre.

E assim, com os segundos passando, o tempo passando, minha


determinação pela vitória se fortalece. Dobro meus esforços, retratando
todos os resultados possíveis em minha mente enquanto abaixo uma peça.

Eu necessito encurralá-lo tanto que ele não terá outra opção senão
perder o jogo.

Mais três movimentos e eu o tenho onde quero. Um olhar para ele e


seus lábios estão tremendo, todo o seu rosto suado pelo esforço mental.

Eu levanto uma sobrancelha para ele, esperando que faça um


movimento onde não há.

Seus ombros caem e, eventualmente, ele se resigna a ser a parte


perdida.

Há um sinal sonoro retumbante na sala, e todo mundo de repente se


levanta.
— Bem, bem, — diz Miles, descruzando as pernas e levantando-se do
sofá. Ele é lento quando vem em minha direção, com a mão nas minhas
costas.

— Parece que temos um vencedor, — declara e uma expressão


presunçosa aparece no meu rosto. Eu nem paro para pensar no que pode
estar acontecendo com aqueles que perderam, aproveitando os elogios que
Miles está me oferecendo e sabendo que é limitado.

Como uma mini celebração, Miles me leva ao escritório dele,


oferecendo-me um copo de seu precioso bourbon e me contando seus
grandes planos.

— Estamos quase lá, Vlad, — ele suspira feliz. — Acho que nunca vi
alguém tão impressionante quanto você, meu garoto. Você certamente
superou minhas expectativas.

Eu apenas aceno, recebendo todos os elogios e prometendo fazer


melhor. Porque enquanto eu relutava no começo, agora reconheço que isso
não é apenas sobre mim.

É sobre revolucionar a ciência e como o caminho humano são vistos. É


simplesmente evolução, e pretendo estar no topo quando essas descobertas
forem divulgadas.
Certamente, no começo, eu achava as ideias de Miles estranhas e um
pouco irracionais. Mas logo ficou claro que ele estava interessado em
alguma coisa.

Após repetidas tentativas, minha pele parou de doer, a dor um eco


lento reverberando no meu cérebro, mas eu pude desligar. Minha mente
também adquiriu um novo foco, pois a clareza começou a filtrar minha
antiga névoa de emoções.

Ele estava certo. Livrar-se dos sentimentos, e especialmente do medo,


era libertador ao contrário de qualquer coisa. Isso, associado à adrenalina,
quando cortava a carne, dissecava os órgãos e brincava com tecido, era
quase prazeroso.

Sou inteligente o suficiente para perceber que parece haver uma


relação proporcional inversa entre meus sentimentos e minha arrogância.
À medida que minhas emoções se abafavam, minha arrogância crescia,
minha vaidade não conhecia limites.

Mas essa arrogância também me fez o melhor, porque me fez querer


continuamente me esforçar para ser o melhor.

— E agora para o seu prêmio, — acrescenta Miles, levantando-me e


mostrando-me uma moeda com um círculo de metal no topo, o número cem
gravado dentro.
Indo para a lareira, ele estende o metal ao fogo, observando quando
fica quente, o material ficando vermelho escuro.

— Você completou oficialmente sua centésima morte, meu pequeno


milagre. É hora de comemorar, — ele pronuncia, pegando a moeda quente
e me movendo para mostrar minha pele.

Eu nem me encolho enquanto puxo minha gola, agarrando minha


camisa e instruindo-o a colocá-lo bem no meio do meu peito.

Com um sorriso satisfeito, sua felicidade cresce apenas quando o


cheiro de carne queimada permeia o ar.

Como sempre, há um ligeiro eco de dor, mas eu a empurro para o lado,


concentrando-me neste dia importante.

É tarde quando voltei para os dormitórios.

Vanya está de costas, como sempre, com as feridas do estômago ainda


causando problemas no último experimento.

Fraca.

Não posso evitar, pois minha mente se aproxima dessas palavras.

Ela é fraca. Não é digna.


— V, — aceno para ela quando se levanta nos cotovelos para espiar
para mim.

— Você se foi há muito tempo, irmão, — diz ela naquela voz doce e,
por um momento, sinto uma pontada desconhecida, quase esquecida, no
meu peito.

— Eu ganhei, — encolho os ombros, mostrando orgulhosamente a


minha marca.

Ela não reage como eu espero. Ela mal olha para mim enquanto
encolhe os joelhos no peito, colocando a bochecha em cima deles e
suspirando profundamente.

Sento-me também, deitando do meu lado do colchão.

— Estou com medo, irmão, — ela sussurra, sua voz quase inaudível.

Assustada. Medo. Fraqueza.

— Por quê?— Eu pergunto mecanicamente.

— Mudar, — ela respira fundo, virando os olhos para mim. — A


mudança é assustadora, — observa ela.

— Não é, — respondo um pouco mais agressivamente do que o


pretendido. — Ser estático é assustador. A mudança é boa, — aponto.
— Até que não seja... — ela segue, — porque não precisa ser uma boa
mudança. Também pode ser uma mudança ruim.

— O que você está dizendo, Vanya?— Eu estalo.

— Você irmão. Você está mudando. E não sei se gosto, — ela


murmura, sua voz pequena olhando para longe de mim.

Sem dizer outra palavra, ela se vira de costas para mim, encerrando
prontamente a conversa.

Olho para o teto de nossa cela ainda suja, contando as manchas de


mofo enquanto ouço a respiração de Vanya enquanto ela dorme.

Mudança...

Talvez ela tenha razão. Há alguns momentos de lucidez em que me


pergunto o que estou fazendo. Mas então estou mais uma vez envolvido no
fascinante mundo da ciência, assassinato e curiosidades mórbidas de
Miles.

E eu me deixei escorregar.
— Vlad?— uma voz me chama.

Meus músculos estão enrolados de tensão quando abro os olhos, todas


as fibras do meu corpo carregadas de violência enquanto as memórias
tocam na minha mente. Miles me envolveu em seu dedo mindinho.

Eu falhei com Vanya e falhei comigo mesmo.

Um gosto arrogante de sangue e eu sucumbi, deixando tudo para trás


em troca da busca de conhecimento distorcido em gratificação ao meu
intelecto pseudo-superior.

Há um nada dentro de mim que ecoa no meu peito, a marca das


memórias muito fortes, o domínio delas sobre mim, mesmo no meu estado
de vigília, muito poderoso.

Eu me viro para olhar para a fonte do barulho, minha própria mente,


um lugar abandonado, cheio de fragmentos gritantes e choro, a capacidade
de reconhecer a realidade sombria.

O cabelo dela é tão leve que parece um raio de sol com o objetivo de
me cegar, o desejo de proteger meus olhos cada vez mais fortes. Alguns fios
de cabelo caem levemente na testa, emoldurando um rosto em forma de
coração.

Sinto outra pontada no peito enquanto a encaro, uma visão


dolorosamente bonita que me faz sufocar, meus pulmões tensos quando o
ar fica preso.

Ela pisca, seus olhos extraordinariamente leves e possivelmente a


visão mais atraente que já vi na minha vida. Inclinando-se para a frente,
ela coloca a mão na minha bochecha, a voz dela ainda tocando nos meus
ouvidos enquanto ela continua repetindo meu nome.

Esse pequeno toque ativa algo dentro de mim.

Minhas narinas dilatam quando eu sinto o seu cheiro, uma mistura de


sabão limpo e algo que é inerentemente ela. Como flores em um novo dia
de primavera, há uma doçura que inunda meus sentidos, meu corpo inteiro
estremecendo quando fecho meus olhos, simplesmente inalando.

— Vlad, — ela chama novamente, e meus olhos se abrem, estreitando


quando se movem mais baixo sobre seu corpo.

Ela está usando uma blusa decotada que não deixa nada para a
imaginação, seus seios cheios, seus mamilos visíveis. Movendo-se para
baixo, noto uma pequena extensão de estômago espreitando de calças
apertadas que acentuam os quadris bem torneados.
Minhas próprias calças ficam dolorosamente apertadas, minha boca
seca como o deserto enquanto engulo desconfortavelmente.

Necessidade.

Há uma necessidade crescente dentro de mim, e só sei que preciso


dela mais do que preciso do meu próximo suspiro. Há algo dolorosamente
familiar nela, e em um mar de nada, ela é aquela pequena onda que cai
contra o meu ser.

Eu só sei que eu necessito possuí-la, torná-la tão irrevogavelmente


minha que ela nunca pode escapar.

E assim, sem pensar, deixo o instinto assumir o controle, meu corpo já


sabe o que quer, mesmo quando minha mente luta para acompanhar.

Meu braço dispara, se instalando contra as costas dela e arrastando-a


em cima de mim. Ela vem naturalmente, com as pernas em ambos os lados
da minha enquanto me monta.

Olhos vidrados, só posso vê-la em fascínio, meu nariz enterrado na


curva do pescoço enquanto o traço para cima e para baixo, querendo me
imprimir com seu perfume.

Surpreendentemente, ela não luta, pois eu a coloco ainda mais forte


contra mim, meus sentidos sobrecarregados por sua presença enquanto
procuro me encher dela.
Eu movo meu rosto pelo seu pescoço, inalando. Chegando aos lábios,
deixei minha língua rastrear a costura, lambendo meu caminho até sua
bochecha.

Meu peito se expande com uma tensão insuportável, meu pau tão duro
que poderia abrir um buraco nas minhas calças. E ela não está ajudando,
se contorcendo um pouco e alinhando a pélvis bem em cima do meu eixo.

Uma mão em sua nuca, meus dedos cavando em sua carne, eu a trago
para perto de mim, levantando meu olhar para deixá-la ver a tempestade
se formando dentro de mim, uma selvageria esperando para ser
desencadeada — ela sendo o único alvo.

Suas pupilas estão dilatadas com desejo, sua boca rosada se


separando enquanto ela respira forte, sua bunda se movendo levemente
sobre minha ereção, seus cílios flutuando para cima e para baixo em um
movimento hipnotizante e sedutor.

Segurando o contato visual, abaixo a boca no srio, tomando um


mamilo entre os dentes, deixando minha língua molhar o broto pela
camisa.

Ela empurra seus seios ainda mais para o meu rosto, praticamente me
implorando para esbanjá-los com atenção. Um som dolorido e gutural me
escapa, precisando estar mais perto dela. Não, exigindo estar mais perto.
Seus choramingos macios acariciam meus ouvidos, seus pequenos
movimentos servindo apenas para me tornar mais instável.

Usando minha língua, deixo uma trilha molhada do vale de seus seios
até o pescoço e, finalmente, para o rosto. Ela está à minha mercê enquanto
me dá aqueles lábios carnudos, permitindo que eu prove tudo o que ela tem
a oferecer.

Levando o lábio inferior entre os dentes, mordisco-o o tempo todo,


observando cada jogo de emoção em seu rosto, sintonizado com tudo o que
ela é.

Não entendo necessariamente o que está acontecendo comigo, mas me


entrego a essa loucura que ameaça me explodir.

Segurando-a mais perto, chupo a língua na minha boca, explorando as


profundezas da boca e me perguntando como meu corpo responde. Meu
pau incha ainda mais nas minhas calças e sinto a ponta vazando, minhas
bolas pesadas e quase doloridas.

Seus lábios se fecham sobre os meus, aprofundando o beijo enquanto


ela me deixa a engolir toda, a urgência do beijo me fazendo suar com
impaciência e antecipação. A língua dela brinca com a minha, deixando-me
assumir a liderança enquanto eu persigo e ela se retira, cada golpe
enviando um raio para o meu pau e fazendo-o se contorcer contra o meu
zíper.
Os dedos nos meus braços, as unhas estão cavando na minha pele.

Eu traço minhas mãos pelas costas dela até chegar à sua bunda,
apertando sua bunda e aproveitando o peso dela enquanto a puxo,
aproximando sua boceta da minha virilha e deixando-a moer mais sobre
mim.

Mas mesmo isso não é suficiente, pois sinto algo me ultrapassar, um


instinto animalesco insano demandando que eu a leve.

Fodê-la com tanta força e profundo que ela perderá de vista a vida e a
morte, de mim e dela, ou qualquer outra coisa.

Minhas mãos no material das calças dela, agarro aproximadamente


até a borda, separando as costuras e rasgando o tecido.

Não sei o que estou fazendo. Só sei que preciso estar dentro dela.

Ela suspira, mas não se afasta, ajudando-me a tirar as calças, ou o


que resta delas. Seu perfume almiscarado de excitação invade meus
sentidos e me faz perder a cabeça. Minha mão fica entre as suas pernas
para encontrá-la encharcada, mais umidade pingando de sua entrada
enquanto eu brinco com ela.

— Mmm, — seus sons sexy não fazem nada além de aumentar minha
urgência, pois abro mais ou menos o zíper das minhas calças na minha
tentativa de tirá-las.
Meu pau salta, tão malditamente duro e cresce ainda mais, quando eu
sei que a boceta dela está me esperando. Pré- sêmem vazando da ponta,
deslizo o dedo sobre a cabeça, combinando nossos sucos, trazendo-o para os
lábios.

Seus olhos se arregalam, mas ela envolve os lábios carnudos em volta


do meu dedo, chupando-o e girando a língua em volta dele.

Gemo alto, aquela visão o suficiente para me trazer para o limite.

Meu corpo inteiro está tenso e sei que não posso perder mais um
segundo.

Meus dedos cavando em suas bochechas, eu a levanto sobre minha


ereção, empalando-a em um único impulso.

Um gemido baixo escapa dela enquanto empurro seu corpo, sentindo a


maneira como ela tira a vida de mim, seu corpinho apertado me levando
tão fundo que minhas bolas encontram sua bunda, um som alto
reverberando pelo ar enquanto a carne encontra a carne.

— Porra, — eu amaldiçoo, clareza e confusão, ambos fazendo sua


morada em minha mente.

Como um homem possuído, eu aperto seus quadris com força, indo


para a boceta com tanta intensidade que a cabeça do meu pau bate contra
a parte de trás do útero.
Cabeça jogada para trás, ela libera um gemido estrangulado
agarrando meus braços ainda mais forte para apoio.

— Sisi, — ouço minha própria voz dizendo o seu nome, meus


impulsos aumentando em velocidade.

No fundo, eu sei que não estou sendo gentil, muita agressão saindo de
mim enquanto a manobro.

Mas mesmo isso não é suficiente.

Eu preciso ir mais fundo. Mais rápido. Mais duro.

— Sim, — ela grita enquanto eu me levanto, levando-a comigo, seu


corpo ainda deslizando para cima e para baixo no meu comprimento. Ela
está tão molhada, seus sucos estão por todo o meu pau e se juntam nas
minhas bolas.

Ainda segurando sua cintura, eu a coloco em uma mesa, as costas


batendo na superfície fria enquanto eu praticamente rasgo sua blusa.

Eu assisto encantado quando seus peitos saltam para cima e para


baixo com cada impulso, e não consigo me ajudar quando minhas mãos se
aproximam deles, brincando com seus mamilos.

— Porra, Sisi, — grunho, os olhos dela meio fechados, a respiração


aumentando toda vez que bati profundamente no ventre dela, — não acho
que tenha ficado mais duro na minha vida, — digo a ela, minha própria
respiração esfarrapada.

As marcas deixadas por minhas mãos já estão aparecendo em seu


corpo, marcas profundas e vermelhas que mostram que ela foi manuseada
de maneira grosseira e isso só me faz querer marcá-la ainda mais.

— Vlad, — ela começa, mal consegue falar, meus impulsos aumentam


em velocidade, a mesa tremendo sob o ataque. Juntamente com o fato de
estarmos no ar, a sensação é completamente alucinante. — É demais, —
ela respira, — bom demais... também...

Ela está fora de controle quando seus gritos se intensificam, com as


mãos segurando a borda da mesa tentando se ajeitar, cada impulso
violento ameaçando mandá-la para fora da mesa.

Eu traço uma mão sobre o estômago dela e até a boceta.

Ver seus lindos lábios se abrindo para mim e me engolindo inteiro me


deixa louco.

— Sinta isso, hell girl, — eu pego a mão dela e a trago para a base do
meu pau. — Sinta como estou te fodendo.

Ela envolve os dedos pequenos sobre a minha espessura, sentindo a


bagunça escorregadia feita por sua boceta enquanto ela move a mão para
cima e para baixo no meu comprimento, me empurrando assim que a
ponta se move em movimentos circulares em sua entrada, esticando-a e
estimulando a área sensível.

— Sinta como sua boceta está me levando tão fundo, — eu agarro a


sua mão novamente, desta vez pressionando-a sobre a parte inferior do
estômago ao mesmo tempo em que eu me coloco completamente dentro
dela, as suas pernas se envolvendo na minha cintura enquanto minhas
bolas batem na sua bunda.

Eu a deixei sentir o contorno do meu pau através da barriga, a cabeça


cutucando levemente toda vez que eu a empurrava.

— Você é tão grande... — ela choraminga, olhando para o estômago e


a maneira como meu pau se molda para o interior— Deus, eu sinto você
na minha alma, — ela suspira, a cabeça balançando e se debatendo em
cima da mesa. Faço um som de tsk para ela, alertando-a sobre seu erro.

— O que eu disse sobre deus?— Eu pergunto a ela de brincadeira.

Eu jogo meu polegar sobre o clitóris, provocando-a lentamente, as


costas arqueadas na mesa, o corpo inteiro ficando frouxo. Suas paredes se
contraem ao meu redor, me agarrando com força, sua libertação repentina
a fazendo gritar por misericórdia.

— Ainda não, hell girl. Ainda não, — eu ri vendo um rubor envolver


todo o corpo, o rosto vermelho enquanto ela respira fundo, sons incoerentes
passando pelos lábios.
— Agora, quem é seu deus?— Eu continuo acariciando seu pequeno
clitóris, gostando do jeito que ela continua batendo, me implorando para
parar.

— Você. Só você, — ela arfa, — você é meu deus. Meu tudo, — ela
termina ofegante quando outro orgasmo a reivindica.

Ela é tão sensível, chegando tão viva em meus braços.

E eu tenho apenas um objetivo na vida — ver o prazer dela. E isso


significa que eu nunca irei parar. Não até que ela tenha tantos orgasmos
que mal consiga se mover. Essa é a única evidência que preciso saber que
estou fazendo meu trabalho corretamente.

— E você é meu, — ela vira a mão para envolvê-la em torno da minha


enquanto olha nos meus olhos, tanta emoção brotando em seu olhar. —
Você é toda meu, — ela repete.

— Sim, hell girl, — dou um aperto rápido na mão dela, — todo seu.
Corpo e alma, — digo a ela, observando o sorriso preguiçoso que puxa seus
lábios, todo o rosto se iluminando e fazendo meu próprio coração congelado
derreter.

Ela tem o poder de me transformar em pó. E com um sorriso, ela tem


o poder de me tornar indomável.

Somente com ela ao meu lado sinto que posso conquistar o mundo.
É engraçado como eu sempre fui um bastardo arrogante, mas não foi
até ela que eu entendi o que realmente significava confiança.

O amor dela por mim me deu esperança. E meu amor por ela me deu a
confiança de que precisava para avançar.

Estou tão focado nela que mal ouço meu telefone tocando. Com
desconfiança, paro brevemente para verificar o ID, percebendo que é o
Nero.

Franzindo a testa, eu me pergunto o que poderia ser tão importante,


já que ele nunca entrou em contato comigo diretamente antes.

Uma rápida olhada na minha garota, nua e toda espalhada sobre a


mesa, e sei que não posso decepcioná-la.

Meus lábios se puxam quando aceito a ligação, colocando-a no alto-


falante e colocando o telefone na mesa antes de me colocar dentro de seu
corpo novamente.

— Vlad, — Nero fala, sua voz alta no pequeno avião.

Os olhos de Sisi se arregalam quando ela vê o que eu fiz e ela tenta se


separar de mim. Eu não a deixo se mover enquanto eu coloco uma mão no
lugar do quadril, trazendo sua boceta para a base do meu pau e garantindo
que eu tenha as bolas fundo nela antes de colocar minha outra mão sobre a
boca dela, sabendo que ela não pode ficar quieta.
— Sim, — respondo, tentando parecer inalterado, enquanto continuo
transando com minha garota. O único ruído na sala são os da pele contra a
pele, a umidade escorregadia produzida por sua boceta melhorando os
sons.

Sisi parece envergonhada, mas também ligada, seu corpo procurando


ansiosamente o meu enquanto ela se empurra para mim toda vez que eu
diminuo meus impulsos.

— Lembro-me de algo um pouco sobre o orfanato em que meu irmão e


eu estávamos, — diz ele, e minha pequena atrevida tem a ousadia de
morder meu dedo.

Um sorriso ameaça se formar no meu rosto com a audácia dela. Ainda


mantendo minha mão na boca, abafo seus sons enquanto agarro seu
quadril, puxando-a para mais perto. Escorregando completamente dela,
esfrego a parte de baixo do meu pau sobre o clitóris, observando como seus
olhos parecem tremer fechados, a boca aberta sob a palma da minha mão.

— Como fomos recrutados para o Projeto Humanitas a partir daí,


pensei em perguntar um pouco para ver se eles sabem alguma coisa.

— Continue, — peço a ele, minha voz um pouco tensa.

— A diretora mudou, é claro, mas eu pude convencê-la a me mostrar o


arquivo deles, — continua ele.
— E?

— Não havia muito, mas encontrei uma foto do meu irmão e de mim.
Enviei para você agora. É de uma das celebrações de Natal que o orfanato
organizava todos os anos em conjunto com alguma igreja, — diz ele e eu
franzo a testa.

— Igreja?

— Eu tinha esquecido tudo, mas havia uma senhora que sempre


vinha para inspecionar as crianças. Durante muito tempo, pensei que ela
estivesse na Cruz Vermelha, porque ela também fazia exames físicos, —
explica ele e estou intrigado em ver para onde isso está indo.

Ao mesmo tempo, sinto Sisi sorrir debaixo da palma da mão,


estendendo a mão para o meu pau, os dedos roçando contra o ponto
sensível bem embaixo da cabeça.

Eu assobio, dando um olhar de aviso para ela, mas ela não cumpre.

Ela me empurra de volta para o corpo, apertando as paredes ao


mesmo tempo e me mantendo em cativeiro no lugar mais apertado que já
estive.

Meu corpo começa a suar profusamente enquanto eu tento o meu


melhor para não gozar ali mesmo, o orgasmo quase me provocando.
— Certo, — respondo, e desta vez minha voz definitivamente soa
errada.

— Mas agora eu percebo que ela era da igreja. E logo após nosso
último exame físico, fomos levados do orfanato e para as instalações de
Miles.

— Você acha que essa senhora pode ter algo a ver com isso?— Eu
pergunto, minha mente está sintonizando suas palavras, mas meu corpo é
escravo de Sisi.

— Pode ser uma pista. Eu tenho tentado localizá-la desde que


encontrei a foto, mas pensei que você teria mais sorte, — diz ele e eu
grunho.

— Verei o que posso fazer, — respondo, agradecendo-o rapidamente e


dizendo que vou mantê-lo informado.

Eu termino a ligação rapidamente, voltando minha atenção para a


minha pequena sedutora. Tiro a mão da boca, agora ela está sorrindo para
mim enquanto mói a pélvis, lentamente se fodendo no meu pau.

— Você é mau, — ela sussurra.

Eu já estou tão perto e depois de adiar minha libertação por tanto


tempo, há apenas um lugar onde eu gostaria de gozar.
Saindo dela, dou um passo atrás.

— De joelhos, hell girl, — eu a mando e ela ousa bater os cílios para


mim.

— É mesmo?— ela pergunta em um gemido suave, ondulando seu


corpo em minha direção.

— Agora, pirralha, — eu sorrio, minha voz grossa, minhas bolas


doendo por alívio.

Pecado encarnado, ela move seu corpo como se estivesse dando meu
próprio show pessoal. Saltando da mesa, ela se abaixa de joelhos, meu pau
se contorcendo enquanto molha os lábios com a língua.

— Você não sabe como receber ordens, sabe?— Eu aperto a mandíbula


dela, olhando para ela.

— Hmm, — ela cantarola, inclinando-se para mim até que sua


bochecha arranhe a parte de baixo do meu pau. Ela se move devagar, a
língua esgueirando-se para lamber a cabeça antes de abrir bem para me
levar para dentro.

— Foda-se, — murmuro enquanto ela chupa a ponta, a língua


brincando com a fenda.
Um segundo com a boca bonita em mim e eu já estou ficando louco.
Mão firmemente envolvida em seus cabelos, eu me forço mais fundo em
sua boca, empurrando até meu pau atingir a parte de trás de sua
garganta.

Ela engasga, cuspe driblando o queixo, lágrimas no canto dos olhos


enquanto eu fodo sua boca, assim como eu fiz com sua boceta.

Como um animal.

Olhos em mim, suas mãos estão na minha bunda enquanto ela se


mantém quieta, relaxando sua garganta para me receber o mais fundo
possível. Ainda assim, seus lábios estão apenas no meio do meu pau.

Sinto minhas bolas se contrairem, minha libertação se aproximando.


Eu puxo a cabeça dela um pouco para trás, apenas a ponta que permanece
na boca dela, mais cuspe acumulando em torno de sua boca e descendo
pelo meu pau.

E foda-se se eu já vi algo mais quente.

— Não engula. — Eu digo a ela, seus grandes olhos cheios de lágrimas


olhando para mim em confusão. Ela assente, o rosto dolorosamente
inocente e angelical, mas eu sei o que está por baixo da superfície.

Pecado. Meu pecado.


Seus lábios envoltos em torno da cabeça, eu seguro meu pau em um
punho, me acariciando até jatos de porra dispararem em sua boca aberta.

Como a garota obediente que ela é, desta vez, ela não engole.

— Mostre-me como você pega minha semente, hell girl, — eu a aviso,


acariciando sua bochecha, — deixe-me ver meu esperma na sua língua.

Meu pau cai de seus lábios, e eu assisto com fascínio enquanto ela
abre a boca para me mostrar sua língua, com um gozo cobrindo toda a
superfície com alguns pingando pelas laterais do rosto.

Ela parece tão fodida — e marcada — que não posso evitar o aumento
do meu coração no peito.

Caindo de joelhos ao seu lado, porque nunca a faria se ajoelhar por


mim se não estivesse pronto para fazer o mesmo, envolto um braço em
volta da sua cintura, aproximando-a do meu peito.

Minha mão se move pelo pescoço quando eu chego à boca, meu polegar
reunindo o gozo errante ao redor dos lábios e empurrando-o de volta para
onde ele pertence.

— Perfeito. Tão fodidamente perfeito, — sussurro, vendo a imagem


dela assim em minha mente.
Seus olhos se enrolam nos cantos enquanto ela me dá um sorriso
atrevido. Com a boca fechada, ela chupa as bochechas enquanto agita o
esperma na boca, misturando-a com a saliva antes de separar os lábios
novamente, mostrando-me as bolhas na superfície da língua e a maneira
como ela está brincando.

— Porra, hell girl, — eu gemo, me sentindo crescendo novamente.

Ela pisca para mim, fechando a boca novamente e engolindo alto.

— Delicioso, — ela se inclina para sussurrar.

Só por instinto, eu a agarro pela garganta, tomando a boca em um


beijo, me provando nos lábios e amando o jeito que somos sempre um.

— Eu não acredito que você me fodeu em um avião, — ela ri,


levantando-se com os pés vacilantes e olhando para a pequena bolsa que
ela havia embalado em casa.

— Você sabe que matar pessoas abre meu apetite, — eu brinco e ela
balança a cabeça para mim.

Se virando, ela puxa um vestido longo, deslizando-o facilmente sobre a


cabeça e amarrando o cinto na cintura.

Eu me recomponho, levantando-me e fechando minhas calças. Meu


olhar ainda se desvia para ela, e não posso deixar de admirar sua beleza, o
amarelo do vestido servindo apenas para acentuar sua pele deslumbrante,
a forma que mostra sua cintura e sua figura de ampulheta.

— Não, — ela cruza os braços sobre o peito. — Não estamos fazendo


isso de novo. Esta é a única peça de roupa que me resta, e você também
não está destruindo isso, — ela pressiona os lábios juntos, balançando a
cabeça para mim.

— Sisi, — eu gemo, embora saiba que ela está certa. Eu preciso me


controlar.

— Você não tem outras coisas para fazer?— Ela pergunta, vindo e
pegando meu telefone. — A foto que Nero enviou, — explica ela ao
desbloquear o telefone.

— Merda, eu esqueci, — murmuro, percebendo que a presença dela é


muito intoxicante. Ela me faz perder a noção de tudo, menos ela.

Eu me junto a ela quando abre a galeria para procurar a foto. Suas


sobrancelhas estão apertadas enquanto ela rola muitas fotos dela —
dormindo, comendo, andando, pensando. Eu tenho uma foto de tudo que
ela faz.

Ela olha para cima, levantando uma sobrancelha para mim e eu dou
de ombros, dando-lhe um sorriso, sem vergonha de ser pego perseguindo-a.
— Eu não posso evitar se você é bonita demais para o seu próprio
bem, — eu digo a ela.

— Como é que eu nunca vi você tirar isso?— ela continua a rolar por
pelo menos mais cem fotos: no jardim, na cidade, na banheira ou na cama.
Eu me certifiquei de pegá-la em todos os estados.

Há essa necessidade doentia dentro de mim de tê-la comigo a cada


maldito segundo. Eu tenho dificuldade em ficar parado, mesmo quando ela
usa o banheiro. E ela sabe disso também desde que eu a proibi de tomar
banho sozinha.

Mas inevitavelmente há momentos em que nem sempre podemos ficar


juntos, e por isso sinto minha sede por ela da única maneira que posso,
olhando para as fotos dela.

Porra, mas eu estou rendido.

— Eu não seria eu se me visse tirá-las, — eu pisco para ela.

Um sorriso toca em seus lábios e ela não parece nem um pouco


ofendida por eu parecer ter um santuário dedicado a ela no meu telefone.
De qualquer forma, ela parece se debruçar sob a atenção enquanto
percorre mais fotos.

— Espera... — ela franze a testa quando chega a algumas fotos mais


antigas. Gemo quando percebo para quem ela está olhando.
— Você estava me observando, — ela sussurra.

— Eu pedi para Seth me enviar fotos suas até eu ir para o Peru, já


que não havia conexão lá, — explico, e juro que os olhos dela parecem
brilhantes com lágrimas caídas.

— Por quê?— ela pronuncia essa pergunta tão baixo e meu coração se
parte novamente pelo que eu a fiz passar.

— Eu não conseguia ficar longe, — admito, — mas também não


consegui chegar perto. Eu sabia que no momento em que estivesse a uma
curta distância de você, jogaria toda a cautela ao vento e iria buscá-la. —
Suspiro ao me lembrar do tormento que eu resisti em encontrá-la longe de
mim.

Foi o pior momento da minha vida e, sabendo o que faço agora sobre o
meu tempo com Miles, isso está dizendo muito.

— Vlad... — ela balança a cabeça, levantando o olhar para encontrar o


meu e estou perplexo com a emoção que encontro naqueles olhos lindos. —
Estou aqui agora, — ela sussurra, levantando-se na ponta dos pés para
dar um beijo casto na minha bochecha. — com você.

— Você está, — fecho meus olhos, revelando sua proximidade. — E é


por isso que nunca vou deixar você ir. Há algo errado comigo, Sisi, —
admito, — porque não posso não estar com você. Há uma doença aqui. —
Pego a mão dela e aponto para a minha cabeça, antes de abaixá-la para o
meu coração, — e aqui. Está me deixando louco só de pensar em um
minuto sem você. Às vezes, é tão extremo que mal consigo dormir,
precisando ter certeza de que está ao meu lado, — respiro fundo, abrindo
os olhos para vê-la me observando de perto.

— Se você está doente, eu também, Vlad, — sua voz melodiosa é a


única coisa que pode acalmar a voz dentro de mim e, enquanto ela fala,
sua mão acaricia minha bochecha, seus olhos cheios de amor, eu não posso
ajudar, pois me entrego completamente a ela. — Porque eu também não
posso ficar sem você.

— Foda-se, Sisi, — murmuro, abraçando-a. — Estou feliz que você


não esteja brava com a minha coleção, — digo, tentando acrescentar um
pouco de leveza à conversa pesada.

— Brava? Só estou brava por não saber, porque agora quero o meu, —
ela sorri contra o meu peito.

Eu beijo o topo da sua cabeça, pegando o telefone e abrindo a pasta de


recebido que ela não tinha olhado.

— Aqui, — digo enquanto puxo a foto, franzindo a testa um pouco.

A imagem tem um tom acinzentado, fazendo com que o fundo do


orfanato pareça ainda mais assombrado e abandonado. Há uma mansão
antiga na parte de trás, algumas colunas na entrada. Na varanda, uma
mulher com dois meninos está posando para a câmera.
A mulher está sentada rigidamente entre os meninos enquanto sorri
jovial, segurando firmemente um pequeno presente embrulhado em papel
colorido.

— Que... — Sisi segue, apertando os olhos para ter uma melhor visão
da imagem. — Essa é a Madre Superiora. Eu tenho certeza disso. Mas
como?— Ela balança a cabeça. — Ela não está usando seu hábito, — ela
observa e eu aceno.

Já vi merda suficiente neste mundo que nada mais me encanta. O fato


de Madre Superiora ter sido algum tipo de olheira certamente não era algo
que eu previra, mas não estou surpreso. Mais do que tudo, estou chateado
por estar apenas descobrindo agora.

— Esta é Madre Superiora, — concordo sombriamente. — E isso


complica as coisas.

Porque se a Madre Superiora está envolvida, essa merda está


acontecendo bem debaixo do meu nariz.

— Mas se ela estiver envolvida, — Sisi olha para mim, suas


sobrancelhas franzidas enquanto ela trabalha todas as implicações.

— Se ela estiver envolvida, Sacre Coeur estará envolvido. E se Sacre


Coeur estiver envolvido, — meus lábios se alongam em uma linha fina, —
então as cinco famílias estão envolvidas.
— Sabemos que Miles se aproximou do meu pai, mas dos outros? Você
já suspeitou?

— Sim. E olhei as contas de todos. Os russos foram culpados desde o


início e eu já recebi a confirmação do envolvimento deles. Mas os
italianos?— Eu balanço a cabeça, me movendo para nossos lugares e
tirando meu laptop.

— Examinei todas as contas que pude encontrar e nenhuma havia


enviado pagamentos a qualquer local que eu pudesse vincular com Miles.
Eu certamente rastreei todas as outras transações. Mas Miles?— Eu
balanço minha cabeça.

— O que isso significa, então?— Sisi morde o lábio com preocupação.

— Isso significa que é muito maior do que pensávamos. E muito maior


que somente essas experiências, — eu cuido dos meus lábios, infinitas
possibilidades se estendendo diante de mim. — Precisamos conversar com
seu irmão, — acrescento sombriamente.

— Droga, — Sisi murmura.

— Sacre Coeur patrocina outros cinco orfanatos, — eu puxo um


documento e Sisi se inclina, coçando o nariz enquanto lê o conteúdo.
— Então eles estão alimentando crianças no programa de Miles, —
observa ela antes de parar de repente, com os olhos arregalados. — Vlad,
— sua mão estende para agarrar minha camisa.

— O que? O que é?

— Acabei de me lembrar de algo. E acho que você está certo. Isso é


muito maior do que prevíamos, — diz ela, com os lábios tremendo um
pouco.

— O que é?

— É uma lembrança muito vaga, mas não poderia ter mais de três,
talvez quatro anos. Mas lembro-me de ter sido levada ao hospital para
alguns testes. Eu não era a única. Todas as crianças da minha turma
também foram levadas. — Ela relata e eu tenho dificuldade em me
controlar pensando em alguém colocando um dedo na minha Sisi.

— Caralho, — murmuro, enfurecido que algo dessa magnitude


poderia ter me escapado.

— Mas tem mais. Eu nunca entendi o que aconteceu, mas as crianças


desapareceram o tempo todo em Sacre Coeur. Lembro-me de me perguntar
por que ninguém se importava com eles. Depois que eles desapareciam,
ninguém falou seus nomes novamente. Era como se nem existissem, — diz
ela, me falando sobre quem ela conhecera pessoalmente.
Sem nem pensar, eu a trago ao meu peito, meus braços apertados ao
redor dela enquanto percebo o quão perto ela esteve do perigo.

Porra!

Sacre Coeur não vai se safar disso. Especialmente porque eu já


prometi ver as pessoas que machucaram minha Sisi punidas.

— Nós vamos descobrir, hell girl, — eu falo contra o cabelo dela.

Um olhar no meu relógio e percebo que devemos estar chegando ao


aeroporto em breve, então digo a Sisi para se preparar para o pouso.

Mas quando estou prestes a guardar minhas coisas, o avião cai


repentinamente, uma pequena explosão soando da ala oeste.

O que?

Mal tenho tempo para recuperar meu equilíbrio enquanto agarro a


mão de Sisi, certificando-me de que ela esteja sempre ao meu lado.

O avião continua oscilando, barulhos altos vindos do motor. Usando o


interfone, entro em contato com o piloto.

— Acho que algo atingiu o motor esquerdo, senhor, — murmura o


piloto.
Minha mão ainda envolta em torno de Sisi, eu a puxo atrás de mim
enquanto olho pela janela em direção ao motor esquerdo.

— Vlad... isso é... — Os olhos de Sisi se arregalam quando ela olha


para as chamas que vêm do motor.

— Acho que fomos atingidos, — digo sombriamente, xingando. — Eu


não sabia que eles estariam com tal pressa de se livrar de mim, —
acrescento com desdém.

— Estamos caindo, não estamos?— Ela pergunta, e eu me viro para


ela, impressionado por não estar pirando, gritando ou pior, desmaiando em
mim.

Não, ela está apenas assistindo o fogo vindo do motor atingido, seu
rosto sereno.

— Nós estamos, — eu respondo.

Sem perder mais um minuto, abro o paraquedas do compartimento,


rapidamente me certificando de que tudo esteja em ordem antes de colocar
o colete e tudo em mim.

— Venha aqui, hell girl, — eu a aceno, amarrando-a firmemente na


minha frente. — Estamos indo bem, mas não estamos morrendo hoje, —
digo a ela com confiança.
Quando o paraquedas está seguro nas minhas costas e Sisi está
amarrada em segurança em mim, empurro a porta de segurança para o
lado, com o ar saindo da alta altitude.

O avião está tristemente tentando recuperar o equilíbrio, mas mesmo


assim a diminuição da altitude é visível, e eu sei que não conseguirá sem o
segundo motor por muito tempo.

— Pronta?— Eu pergunto a ela, e ela simplesmente acena com a


cabeça, com os olhos cheios de confiança.

Sem outras preliminares, apenas pulamos.


CAPÍTULO VINTE E NOVE

— Eu não posso acreditar que eles tentaram derrubar o avião, —


balanço a cabeça, tirando o cinto.

A viagem foi realmente emocionante, e em nenhum momento eu


estava preocupada com minha vida, ou qualquer coisa, na verdade. Eu
sabia que Vlad nos tiraria dali e que saberia exatamente o que fazer.
Minha confiança está firmemente depositada nele.

E ele não tinha decepcionado. Não, ele realmente fez tudo divertido.
Desde o momento em que pulamos, ele tentou me distrair da distância até
o chão, mantendo minha atenção nele, oferecendo piadas tolas e tentando o
seu melhor para me fazer rir, então esqueço a situação em que estamos.

Se isso não é doce, então não sei o que é.


Mas isso é apenas Vlad. Meu doce assassino.

Jogando o equipamento no chão, viro-me para olhá-lo, surpresa por ele


não estar respondendo.

Ele tem uma expressão ameaçadora no rosto enquanto observa o avião


caindo à distância.

— Vlad?

— Eles ousaram, — ele começa, um estrondo profundo que faz os


pelos do meu corpo se arrepiarem, — eles ousaram colocar em risco sua
vida. Mais uma vez, — ele ferve, uma aura de perigo diferente de
qualquer outra emana dele. — Vou acabar com eles, — afirma, piscando
duas vezes antes que suas feições voltem ao normal.

— Sim, você vai, — digo a ele, agarrando a mão na minha, — mas


primeiro devemos chegar em casa antes que tenhamos outro atentado
contra nossas vidas, — acrescento de brincadeira, mas ele não sorri.

— Estamos indo direto para o seu irmão. Precisamos consertar essa


bagunça antes que algo pior aconteça, — diz ele.

— Ele vai nos matar, — murmuro, mas Vlad não parece se importar
com isso.
— Eu vou lidar com Marcello. Ele provavelmente dará alguns socos e
poderemos conversar. Mas como sou ainda mais pária do que antes,
precisarei da ajuda dele para descobrir isso, — ele suspira, revirando os
olhos.

— Sério?— Eu inclino minha cabeça para olhar para ele. — Quem lhe
disse para começar esta guerra sangrenta com os russos? Devo lembrá-lo
que você provocou-os enviando-lhes a cabeça de seus homens por correio?

— Eu os provoquei?— Ele parece ofendido ao murmurar algo sob sua


respiração. — Eu apenas brinquei um pouco, procurando confirmar
minhas suspeitas sobre o envolvimento deles. O que acabou sendo verdade,
então não é como se eu estivesse errado, — ele encolhe os ombros.

— Mas você ainda começou.

— Eu comecei? Talvez eles me atacassem de qualquer maneira, já que


certamente não gostavam que eu fosse tão intrometido, — ele encolhe os
ombros, mencionando o incidente do armazém em que os líderes de toda a
costa leste de Bratvas se uniram para tentar matá-lo.

Aliás, ele acabou de provar a eles que não é fácil matá-lo.

Não por um humano, de qualquer maneira.


— Vlad, — eu viro meus lábios para ele, diversão ameaçando
transbordar. — Apenas admita que você queria matá-los em primeiro
lugar, — digo e assisto a um pequeno rubor envolver seus traços.

— Talvez, — ele desvia o olhar, e eu não posso me ajudar enquanto


me levanto na ponta dos pés para beijar sua bochecha.

Às vezes ele é muito fofo.

De mãos dadas, caminhamos alguns quilômetros por um campo sem


fim antes de chegarmos à estrada principal.

Já cansada, peço que ele faça uma pausa até recuperar o fôlego, o sol
já nascendo no céu, o que significa que os carros devem começar a circular
na área.

— Por que você acha que Meester continua tentando nos matar?— Eu
pergunto.

Ele está olhando à distância, examinando o horizonte em busca de


qualquer movimento, e por um segundo acho que ele não me ouviu.

— Eu tenho um palpite, — diz ele finalmente, se colocando na grama


ao meu lado.

Eu simplesmente levanto minhas sobrancelhas, esperando que


continue.
— Ele está protegendo seus interesses.

— O que você quer dizer?

— Eu repassei todas as possibilidades na minha cabeça, hell girl. Não


tenho contato com Petro há anos, nem uma década. Para ele enviar
pessoas de repente para me matar? Indo até chantagear Maxim para me
trair?— Ele franze os lábios, rasgando o topo da palha de grama e
colocando-o na boca. — Há apenas uma explicação. E posso estar me
precipitando, desde que eu não tenho outra evidência para isso. Mas... —
ele balança a cabeça.

— Merda, eu odeio fazer teorias infundadas, — ele amaldiçoa.

— Você acha que ele foi o terceiro homem envolvido com Misha e
Miles, não é?— Eu pergunto e ele assente, sua expressão sombria.

— Não há outra razão para ele ser tão inflexível em me limpar da face
desta terra. Primeiro a casa em Nova Orleans e agora o avião? E algo me
diz que ele também estava por trás do incidente do armazém. É urgente.
Ele está com medo de alguma coisa e está tentando se livrar de mim o
mais rápido possível.

— Então você acha que ele está apenas protegendo seus interesses
comerciais?
— Provavelmente. Mas isso também significa que há algo a proteger.
Precisamos descobrir como Sacre Coeur está envolvido com Miles e depois
disso talvez possamos ter uma pista para o quadro geral.

— Isso parece muito complicado, — observo. Existem tantas


conexões, e isso me surpreende ao tentar pensar em como cada segmento
se conecta ao outro.

— Se não fosse, não teria ficado escondido por tanto tempo. Eu tenho
um mau pressentimento sobre isso, hell girl.

— Estou surpresa que você nunca tenha conseguido se deparar com


isso até agora.

— Eu também. Mas, exceto pela minha busca para encontrar o


assassino de Katya e Vanya, nunca estive na cena do tráfico de pessoas.
Eu nunca deveria estar no circuito, e parece que eles estavam me
observando com cuidado para ter certeza de que eu nunca descobriria
demais. — Ele encolhe os ombros e eu percebo que está tentando digerir
todas as informações, uma pequena parte dele, sem dúvida, decepcionado
por não ter visto o que estava bem debaixo do nariz.

— Eu te disse antes, amor. Até você não é onisciente. Pare de se


culpar sobre isso. — Eu abaixo minha mão sobre a dele, tentando lhe dar
alguma aparência de conforto.
— Eu simplesmente não entendo como eu poderia ter perdido tantos
sinais. Retrospectivamente, as coisas estão começando a fazer sentido...

— Mas é exatamente isso. Miles conhece você. Ele sabe como sua
mente funciona. E, segundo todos os relatos, sua própria mente funciona
de maneira semelhante. Não seria exagero pensar que ele planejou tudo
para liderá-lo longe deles. Não para eles.

— Você está certa, — ele resmunga. — Não é atoa que passei quase
dez anos procurando nos lugares errados. Ora, o fato de eu ter encontrado
o Sr. Petrovic e obtivemos algumas informações dele foi um milagre.

— Eu acho que o Sr. Petrovic foi a falha no plano de Miles. Lembre-se


dos capangas do restaurante, — aponto e ele assente.

— Sim, acho que não queria que eu descobrisse sobre ele ainda. Mas é
isso, Sisi. Quanto mais me lembro dos anos que passei com ele, mais me
pergunto se realmente quero encontrar minha irmã viva, — diz ele, com a
voz pingando de vulnerabilidade.

— Vlad, — sussurro seu nome, acariciando a sua mão com a minha.


— Nós vamos descobrir. Encontraremos sua irmã e você também poderá
vingar Vanya, — digo a ele, apoiando a cabeça no seu ombro. — Faremos
tudo juntos. Um passo de cada vez.

— Sisi, — ele respira fundo, a cabeça tocando a minha enquanto me


aproxima, — Estou tão feliz que você está comigo. Em todo esse inferno,
você é a única coisa que me trouxe alegria. Verdadeira alegria. — Ele
levanta minha mão, ligando nossos dedos. — Mesmo quando meu
julgamento fica nublado, você está lá para assustar a tempestade, —
continua ele, e meu coração dá um salto mortal no meu peito.

— Sabe, você ainda pode abandonar sua vida de crime e se tornar um


poeta, — um sorriso aparece nos meus lábios, — você se tornaria um best-
seller instantâneo, — digo a ele, tentando aliviar o clima.

— Claro, — ele responde instantaneamente. — Você seria minha


musa e eu canalizaria toda a sua beleza em minhas palavras, — ele se
vira para mim e finalmente vejo seus lábios se divertindo. — Mas então eu
também teria que matar mais, — continua ele, uma expressão perversa
no rosto, — já que nunca posso compartilhar você com o mundo.

Tirando o cabelo do meu rosto, as juntas dos dedos acariciam minha


pele, movendo-se lentamente para baixo até o polegar deslizar nos meus
lábios.

— Já basta que eu queira matar todos os homens que estão sempre


olhando para você, — suas palavras me inflamam, mesmo quando percebo
a precariedade de nossa situação, encalhada no meio do nada, sem meios
de chegar em casa. — Mas ter o mundo inteiro apaixonado por você
também?— Ele balança a cabeça.

— O mundo inteiro apaixonado por mim? Você não está se


precipitando?
— Não, — ele responde imediatamente, — porque não há como
alguém dar uma olhada em você e não se apaixonar. — A voz dele me
arrepia, suas palavras me lembrando que Vlad não me vê como o resto.
Aos olhos dele, sou tão preciosa que não há como os outros me verem como
menos.

Eu levanto meu olhar em direção a ele, pegando sua mão na minha e a


trago para a minha boca, meus lábios contornando as juntas.

— Obrigada, — sussurro, — por me fazer sentir tão amada.

Sua consideração por mim nunca deixa de me surpreender, do jeito


que seu amor pode ser tão puro e, no entanto, tão perverso ao mesmo
tempo.

Ele me trata melhor que uma rainha. Eu, a garota que todo mundo
olhava — a amaldiçoada e indesejada. No entanto, quando ele olha para
mim com aqueles olhos escuros, finalmente sinto que tenho importância.
Que tudo o que sofri até agora nunca foi um infortúnio, mas um teste. Eu
tive que conquistar a sorte que agora tenho e, francamente, não teria de
outra maneira.

Porque meu passado não apenas me transformou em quem eu sou,


mas também me ajudou a reconhecer a sorte que tenho por ter o amor
desse homem incomum.
— Você nunca deveria me agradecer, Sisi, por tratá-la como merece.
Inferno, você merece muito mais do que eu posso lhe dar. Às vezes me
preocupo que você possa encontrar outra pessoa. Alguém... Melhor.

Sua voz está baixa, sua testa ligeiramente enrugada enquanto ele
admite isso. A vulnerabilidade por trás de sua voz me surpreende e
percebo que não sou a única a pensar que não sou digna.

Ele também é.

— Vlad, — eu chamo suavemente o nome dele, seus olhos escuros nos


meus enquanto me perco nessas profundezas. — Não há ninguém melhor
que você. Nunca haverá mais ninguém. Ponto.

Há uma ligeira contração no lábio superior quando ele me considera


atentamente, quase sem piscar.

— Para mim, você é a outra metade da minha alma,— Eu digo, e seus


traços relaxam, uma leveza aparecendo em seu rosto, — você é o único
requisito que preciso para viver, assim como eu sei que sou sua,— Eu
coloco a mão dele sobre o meu coração, deixando-o sentir como bate por ele.
— Nunca pense que você é menos, Vlad. Porque para mim você é tudo.

— Sisi, — ele lança um som angustiado, — minha querida Sisi, —


diz ele, me puxando para seus braços, me segurando com tanta força que
podemos fundir em um. — Não consigo deixar de me perguntar o que fiz
para merecer você. Você é apenas... — ele deixa escapar, os dedos se
movendo para cima e para baixo nas minhas costas em uma carícia lenta.

— Perfeição, — ele finalmente diz, e eu me aconchego mais perto em


seus braços, permitindo que seu calor penetre na minha pele, seu amor no
meu coração, sua adoração na minha alma.

E quando o sol nasce no céu, uma tonalidade avermelhada manchando


a linha do horizonte, ficamos assim —agarrados um no outro e fingindo
que somos realmente um. Que não somos seres separados, nem entidades
separadas. Não, enquanto minha bochecha repousa sobre a dele, meu
corpo é moldado para ele, somos um ser.

— Ya lyublyu tebya, — murmuro suavemente em seus cabelos,


dizendo que o amo em seu idioma, a única razão pela qual eu queria
aprender.

Ele fica quieto, chocado.

— Isho, — diz ele, pedindo-me para repetir, — isho.

— Ya ochen lyublyu tebya, — repito e ele bate a boca na minha,


abrindo meus lábios e respirando as palavras da minha boca.

— Ya tozhe, — ele fala. — Ah, milaya, ya tak tebya lyublyu... v etu


zhizn mne nuzhna tolka ti odna, — sua voz quebra quando ele me diz que
eu sou a única coisa que ele precisa nesta vida, o som de sua promessa de
amor sempre mais doce, pois eu sei que ele fala do fundo de seu coração.

Não sei quanto tempo ficamos assim, mas eventualmente decidimos


que precisamos continuar andando até encontrar um carro disposto a nos
levar para a cidade.

Vendo o cansaço no meu rosto, Vlad nem me deixa tentar andar, me


colocando por cima do ombro e me dando uma carona nas costas.

Eu seguro firmemente em seus ombros, deixando-me absorver o seu


calor.

Ele continua andando, e depois de algum tempo começo a me sentir


culpada por ter um peso adicional nas costas dele. Não importa a evidência
do contrário, ele ainda é humano.

— Você deveria me colocar no chão agora. Estou bem descansada, —


digo a ele, mas ele simplesmente se recusa, continuando teimosamente.

— Quero dizer, Vlad. Você pode me derrubar, — eu bato no ombro


dele, mas ele nem responde dessa vez, avançando.

Por acaso, vejo um carro se aproximando e começo a balançar as mãos


no ar, esperando chamar a atenção deles.
Um casal de quarenta e poucos anos pára ao nosso lado, dando-nos um
aceno antes de nos convidar para compartilhar o carro com eles.
Felizmente, eles também estão indo para o norte do estado, para que
possam nos deixar em algum lugar perto da casa de Marcello.

Uma vez dentro do carro, Vlad e eu começamos a relaxar um pouco.


Ainda assim, acho que ele não sabe o significado de relaxar, e posso ver
como sua mente está mais uma vez em ação, provavelmente trabalhando
em teorias e testando mentalmente cenários futuros.

Suspirando profundamente, só espero que o confronto com Marcello


não seja tão ruim. E antes que eu perceba, meus olhos se fecharam, um
sono profundo me reivindicando.

Não é muito depois que sinto Vlad lentamente me sacudindo. Abro os


olhos grogue, assim como ele me pega em seus braços, agradecendo ao
casal por nos levar e desejando uma ótima viagem.
— Você pode me colocar no chão, — digo a ele, minha voz rouca do
sono. Ele parece um pouco relutante em fazê-lo, mas eventualmente me
abaixa.

Eu estico um pouco, meus membros doem de todo o esforço e olho ao


nosso redor para tentar avaliar onde estamos.

— Quanto tempo até a casa de Marcello?— Eu levanto minha cabeça


para olhá-lo.

Seus olhos estão focados em mim quando um sorriso lento começa a


rastejar em seu rosto.

— O que?— Eu franzi a testa.

— Você disse a casa de Marcello. Antes, você costumava chamar de


lar, — ele responde, um pouco orgulhoso de si mesmo.

— Eu disse?— Eu finjo ignorância enquanto continuo andando. Ainda


assim, não consigo tirar o sorriso do meu rosto quando o percebo. Já faz
algum tempo desde que parei de chamá-lo de casa. E é tudo porque minha
casa mudou de um lugar para uma pessoa.

— Eu sei que você está sorrindo, — ele chama por trás de mim,
claramente divertido. — E você está indo na direção errada, — ele aponta
depois que eu já estou bem à frente dele.
Eu me viro bruscamente, meus olhos se estreitaram para ele.

— Apenas admita que eu sou sua casa, — seus olhos brilham de


malícia quando ele vem ao meu lado, pegando meu braço e colocando-o na
curva do cotovelo.

— Talvez, — meus lábios se contraem, mas é tudo o que estou


disposta a dar a ele. Seu ego já está muito inflado.

— Eu sabia, — ele assobia, me puxando para mais perto e me dizendo


que a casa não está muito longe.

— Você está preocupada com oencontro?— Ele finalmente pergunta,


seu tom sério.

Inclino a cabeça em sua direção, considerando brevemente a questão.

— Eu não sei, — respondo honestamente. Porque eu realmente não


sei. Marcello me proibiu veementemente de ter algo a ver com Vlad, então
eu sei que não será um encontro agradável.

Estou um pouco preocupada em decepcioná-lo. Podemos não nos


conhecer há muito tempo, mas eu aprendi a respeitá-lo e a seu verdadeiro
cuidado com a família. Ele pode não ser um livro aberto na maioria dos
dias, mas sempre foi justo comigo e me deu a oportunidade de morar com
ele quando não precisava. Afinal, eu era tecnicamente umaadulta quando
deixei Sacre Coeur e, definitivamente não era a responsabilidade dele.
E então me vejo encurralada, já que não quero perder a consideração
de Marcello, mas definitivamente não desistirei de Vlad.

— Podemos apenas esperar o melhor, certo?— Eu pergunto, forçando


um sorriso.

— Marcello não é um ogro, — brinca Vlad, — apesar de todas as suas


tendências ogras. Mas ele pode ser bastante inflexível, — menciona Vlad,
mas ao ver meus olhos se alargarem levemente de preocupação, ele altera,
— mas eu cuidarei disso, Sisi. Não se preocupe com isso. De fato, não se
preocupe com nada. Eu vou lidar com tudo, — ele me olha, sua expressão
tão sincera que não posso deixar de me apoiar um pouco nele, depositando
toda a minha confiança nele.

— Ok, — respondo suavemente.

O casal realmente nos fez um favor, deixando-nos perto da casa, então


só precisamos caminhar alguns quilômetros para chegar aos portões
principais.

Ao nos ver, os guardas imediatamente abrem os portões, recebendo-


nos lá dentro.

Acho que eles não receberam o memorando de que Vlad é persona non
grata.
Há um longo caminho que leva dos principais portões de entrada até a
casa, canteiros de flores nos dois lados do caminho de pedra.

Estamos no meio do caminho quando sinto Vlad tenso. Eu nem tenho


tempo para perguntar o que está acontecendo quando ele me empurra
para trás, um tiro alto permeando o ar.

Com os olhos arregalados, olho para cima e vejo meu irmão e Lina na
porta. Marcello tem uma expressão assassina no rosto enquanto aponta
uma arma diretamente para nós.

— Realmente, 'Cello’? —Vlad dá um passo à frente. Seu braço ainda


está esticado para me manter atrás dele.

Mas algum tipo de aviso se apaga em minha mente, e eu bati o braço


dele para o lado. Observo horrorizada a mancha de sangue no ombro, a
bala profundamente alojada dentro. Vlad parece nem se importar, pois seu
olhar está firmemente no meu irmão.

— Você é louco?— Eu giro, gritando com Marcello. — E você, — viro a


cabeça um pouco. — Você acabou de levar um tiro!— Eu exclamo, já estou
em pânico. Eu nunca vi Vlad machucado antes, e a visão daquele sangue
escorrendo por sua camisa é suficiente para me fazer hiperventilar.

Uma coisa é quando ele está brigando e eu sei que não há ninguém
que possa superá-lo. Mas é outra coisa nessa situação, porque tenho
certeza que ele não vai encostar no meu irmão de forma alguma.
Eu já vi isso antes, na minha festa de aniversário. Há uma parte de
Vlad que considera Marcello seu amigo mais próximo, e mesmo que meu
irmão não possa compartilhar esse sentimento, fica claro que o código
moral distorcido de Vlad nunca permitiria que fizesse algo com ele. À sua
maneira distorcida, ele se preocupa com Marcello.

Os lábios de Vlad puxam um sorriso retorcido enquanto ele coloca a


mão sobre o lugar em que foi baleado, sentindo o buraco. Dedos juntos, ele
os coloca dentro da ferida, procurando a bala.

Meus olhos devem ter o tamanho de dois discos, pois não posso fazer
nada além de encarar essa demonstração de insanidade.

Seus lábios se contraem quando ele encontra a bala, mais sangue


pingando da ferida e abaixando a mão. Depois que ele tem uma boa
compreensão, puxa para fora, deixando-o no chão com um baque.

Sua camisa está uma bagunça, o material triturado no local da arma.


Mas é o buraco da bala que me preocupa, com uma aparência tão irritada
que jorra ainda mais sangue.

Em todos os programas médicos que assisti, é sempre imperativo não


remover o objeto estranho, pois pode levar a hemorragia.

Vlad também sabe disso. Eu sei que ele sabe. Então, o que ele acha
que terá com essa exibição?
Eu ajo apenas por puro instinto, agarrando a bainha do meu vestido e
rasgando a ponta dele. Não perco tempo, pois me apresso para o lado dele e
começo a envolver o material em volta do ombro e do ferimento.

— Você é louco, — murmuro, um pouco atordoada por ter tomado sua


própria segurança tão levemente.

Sobrevivemos a um quase acidente de avião apenas para ele sangrar


em mim por um tiro desnecessário? Não senhor. Eu não vou ter isso.

— Eu sou seu louco. — Ele murmura suavemente, seu olhar gentil


olhando para os meus esforços para alcançar seu ombro e enfaixá-lo
adequadamente.

Atentamente, ouço os sons dos passos atrás de mim e faço a única


coisa que posso. Eu giro e coloco meu próprio corpo na frente do Vlad.

— Chega!— Eu digo ao meu irmão.

Ele está a alguns passos de distância, sua arma ainda apontada para
Vlad. Lina está atrás dele, com o olhar cheio de preocupação olhando entre
mim e Vlad.

— Sisi, entre na casa, — Marcello late a ordem, com os olhos fixos em


Vlad.
— Não vou a lugar nenhum, — respondo, colocando-me firmemente
na frente da arma. — E você também não está atirando em ninguém.

— Sisi, entre, — ele range os dentes, e eu me pergunto se esse é o seu


ponto de ebulição. Ainda assim, conhecendo a obstinação de Vlad sobre
meu irmão, não vou deixá-lo em paz para que ele possa se oferecer como
sacrifício.

— Não, — dou alguns passos para trás até minhas costas chegarem à
frente de Vlad. — Não vou deixar meu marido, — afirmo com confiança.

— Marido? —Marcello tremula e os olhos de Lina se arregalam


quando ela olha para mim com atenção, provavelmente tentando
determinar a validade da alegação.

Eu pisco duas vezes quando percebo uma brecha que eu não tinha
pensado antes. Inclinando-me em Vlad, sussurro, — o casamento é real,
certo?

— Claro que é real, — ele responde imediatamente, quase insultado,


— eu não fingiria casar com você.

— Bom, — eu aceno. — Só queria checar, já que o ministro parecia


um pouco desanimado. Pensei que talvez você tivesse contratado um ator,
— admito cuidadosamente.
— Ele era real, — murmura Vlad, — eu apenas usei um pouco de
intimidação nele, nada mais. Mas acertidão é real e arquivado. Eu mesmo
me certifiquei disso. — Ele se aproxima, e de alguma forma eu não posso
levá-lo a sério com um buraco no ombro que agora está sangrando por toda
a tira de pano que eu tinha enrolado em torno dele.

— Ótimo, — mal acrescento.

— Sisi!— meu irmão grita comigo e eu me afasto de Vlad, um pouco


desorientada. — Eu não sei o que ele disse para você concordar em se
casar, mas você precisa se afastar. Eu vou cuidar dele.

— Devo contar a ele o que ameaçou fazer para me casar com você?—
Eu pergunto a ele, quase divertida.

Ele imediatamente balança a cabeça, o canto do lábio torcendo.

— Eu não acho que isso ajudaria a situação em que estamos, — ele


brinca.

Marcello geme e, pelo canto do olho, vejo-o balançando a arma de


forma imprudente.

— Você pode largar a arma e conversaremos depois?— Eu sorrio para


meu irmão, esperando adoçá-lo de alguma forma.

Lina está quieta ao seu lado, observando de perto Vlad e eu.


Marcello está prestes a responder, mas depois restringe os olhos em
mim, especificamente no meu pescoço.

— Você está morto, Vlad. Você... — Marcello balança a cabeça, tanta


raiva rolando dele, — você a marcou!— ele grita, apontando para a
tatuagem no meu pescoço.

Antes que eu possa piscar, a arma está pronta e apontada para atirar
em Vlad novamente.

— Pare!— Grito no topo dos meus pulmões, medo e preocupação


roendo para mim. — Apenas pare, — eu grito, minha voz crua. — Pedi
para ele me fazer essa tatuagem, — explico, mas Marcello não parece nem
um pouco maleável.

— Ele não me forçou a fazer nada, — continuo avançando lentamente


em direção a Marcello. — Por favor, pare e nos escute, ok? Ele não é um
perigo para mim, — estou quase na sua frente enquanto mantnho meus
olhos nele.

Minha mão estende para envolvê-lo, tentando impedi-lo de disparar a


arma. — Ele é meu marido e eu o amo. Apenas nos dê uma chance de
explicar tudo, — acrescento, e pela primeira vez noto uma reação em
Marcello.

— Você o ama?— Ele pergunta, incredulidade pingando de sua voz.


— Sim, — confirmo, finalmente fazendo com que ele abaixe a arma.

Ele não fala por um momento, enquanto seu olhar muda de mim para
Vlad.

— No meu escritório. Você tem cinco minutos, — diz ele antes de


virar rapidamente, agarrando o braço de Lina e arrastando-a para dentro
de casa.

Ela ainda está olhando para mim, suas feições cheias de preocupação.
Mas terei tempo para lidar com ela mais tarde.

Depois de convencer Marcello de que nosso relacionamento é real.

Corro para o lado de Vlad, com a intenção de estabelecer algumas


regras básicas antes de confrontar meu irmão.

— Não o provoque, — começo. — Eu sei que você vai querer. Eu sei


que você pode não ser capaz de ajudar a si mesmo. Mas por favor, não o
provoque.

— Você me feriu, hell girl, — ele geme, — agora, onde estaria o


divertimento nisso?

— Você já está ferido, Vlad. Provavelmente ficará ainda mais se não


ficar de boca fechada. Precisamos da ajuda dele, não da raiva.
— Tudo bem, — ele respira fundo. — Por você, eu vou fazer uma
exceção. Mas só posso prometer diminuir o tom. Você sabe que às vezes eu
não consigo me impedir de deixar escapar as coisas, — ele suspira, e um
olhar para ele me faz franzir meus lábios para parar de rir.

— Sim, eu fui o alvo da sua língua errante, — respondo, mal contendo


minha risada enquanto entramos em casa.

Vlad para, virando a cabeça levemente, os lábios se enroscaram em


um sorriso diabólico. — Sim, você foi, — diz ele antes de continuar
andando.

Eu franzo a testa e levo um segundo para entender o duplo sentido.

— Você é mau, — eu dou uma cotovelada nele, um sorriso nos meus


lábios.

Mas quando entramos no escritório de meu irmão, relaxo


imediatamente meus traços, querendo parecer séria.

Marcello e Lina estão atrás da mesa do meu irmão. Seu olhar tem
uma qualidade agressiva, quando nos aproximamos, observando enquanto
tomamos dois lugares na frente deles.

No começo, ninguém fala. O silêncio é ensurdecedor, pois todos estão


participando de algum tipo de concurso.
— Então, — eu limpo minha garganta, querendo acabar com isso o
mais rápido possível, para que eu possa costurar Vlad. É uma maravilha
que ele tenha mantido a calma como faz, já que há muito sangue saindo de
sua ferida. — Vlad e eu somos casados, — começo, e meu irmão estreita os
olhos para mim.

— Eu percebi isso, — acrescenta ele com desdém.

— 'Cello', Cello, você não pode relaxar um pouco? —Vlad pergunta, e


minha boca se abre enquanto eu o vejo levantar as pernas e apoiá-las na
mesa de Marcello.

Eu me viro bruscamente em direção a ele, minha expressão


claramente dizendo para ele parar.

Ele tem um sorriso largo no rosto enquanto descansa na cadeira,


levantando os braços e colocando-os atrás da cabeça como se não tivesse
um buraco no ombro.

Não querendo dar a Marcello e Lina a impressão de que estamos em


termos menos que estelares, eu me recostei na cadeira, me aproximando
um pouco dele e murmurando sob a respiração, — se comporte.

Seus lábios se curvam ainda mais, e eu resisto ao desejo de revirar os


olhos para ele. Ele simplesmente não pode se conter.
— Sisi, acho melhor ouvirmos de você, — Lina finalmente fala, se
dirigindo a mim. — O que aconteceu? E o Raf?— as perguntas saem dela, e
sinto uma pontada de arrependimento. Todo esse tempo e eu nunca parei
para pensar em como Raf deve ter se sentido em todo esse desastre.

Fato, o sequestro estava fora de meu controle, mas mesmo depois


disso, entre as brigas com Vlad e nossa reconciliação, eu não pensava nem
por um minuto em Raf.

Merda!

— Não havia nada entre Raf e eu, — começo, respirando fundo. Lina
e Marcello estão focados em mim enquanto falo, então admito todas as
mentiras que contei, esperando que não fiquem muito decepcionados
comigo. — Ele propôs um casamento de conveniência quando descobri que
estava grávida.

— Você sabia?— Lina suspira, — você sabia que estava grávida?

Eu aceno devagar, vergonha subindo minhas bochechas.

Mas então sinto a mão de Vlad em cima da minha, enquanto ele me


dá um aperto rápido e é tudo o que preciso para continuar.

— Sim, —eu admito. — Eu sabia.


— Sisi, — Lina balança a cabeça para mim. — Você sabia que poderia
ter vindo até mim a qualquer momento. Por que você faria...? — ela deixa
escapar e eu posso ver a decepção em seu olhar.

— Eu estava com medo, — sussurro, pronta para colocar todas as


cartas na mesa. Mas Marcello me interrompe, sua voz estrondosa
enquanto ele praticamente atira punhais em Vlad com os olhos.

— Você quer dizer que Raf não era o pai?— meu irmão pergunta, e
não sei por que me sinto tão envergonhada em admitir isso, mas aceno
lentamente, me sentindo ficando mais quente, minha vergonha me fazendo
suar.

— Porra, você se aproveitou dela, não foi?— ele rosna, batendo a


palma da mão contra a mesa, o barulho me fazendo estremecer.

Vlad está calmo, mesmo quando meu irmão continua furioso. A mão
dele na minha, ele é a única fonte de conforto, pois me encontro em uma
das situações mais desconfortáveis em que já estive.

— Eu não tirei vantagem dela, Marcello. Nós dois somos adultos e ela
pode tomar suas próprias decisões, — Vlad pronuncia preguiçosamente,
com os pés ainda sobre a mesa, a postura relaxada.

E isso parece deixar meu irmão ainda mais louco, com o rosto
vermelho de fúria olhando para Vlad.
— Ela cresceu em um maldito convento, Vlad. Que tipo de adulto você
pensa que ela é?— ele pergunta, e eu franzi a testa, não gostando da
direção que ele está tomando. — Porra, ela provavelmente nem sabia o que
era sexo, — continua meu irmão e, nesse momento, meus olhos estão bem
abertos em choque. — O que ele disse para convencê-la a dormir com
ele?— ele continua, dirigindo a pergunta para mim. — Ele te forçou? Ele
prometeu algo a você? Deus, eu não posso acreditar nisso, — ele
amaldiçoa debaixo da respiração, aparentemente mal tendo controle de si
mesmo.

— Eu não sou criança, Marcello, e eu preferiria que você não se


referisse a mim como tal, — começo, a necessidade de me levantar
comendo em mim. Posso não querer decepcionar meu irmão, mas isso não
significa que vou deixá-lo tirar toda a minha independência. — E eu
também não sou uma idiota. Eu posso ter crescido em um convento, mas
isso não tirou o bom senso de mim, — quase reviro os olhos para ele. — Eu
sabia exatamente no que estava me metendo com Vlad.

— Sisi, — ele balança a cabeça para mim, — não estou tentando dizer
que você é criança. Mas você é jovem e inexperiente. Ele é dez anos mais
velho que você, pelo amor de Deus. Como isso não é tirar vantagem de
você?

— Marcello, — suspiro, quase exasperada. — Você também o conhece,


— acrescento, dando uma olhada em Vlad e encontrando-o me observando
de perto, uma expressão intensa em seu rosto. O lábio inferior está
ligeiramente curvado, eu sei que ele está gostando do show. Mas, mais do
que tudo, fico feliz que ele esteja me deixando lutar minhas próprias
batalhas, já que, sem dúvida, se ele começar a falar, colocará tudo a
perder, piorando a situação mais do que já está.

— Ele tem a inteligência emocional de uma criança.

— Ei, — Vlad protesta de lado, tentando muito esconder um sorriso


crescente.

— Ele nem sabia falar com uma mulher antes de eu aparecer, —


continuo, e Vlad geme, com as costas da mão na testa, em uma cena
tipicamente dramática.

— Realmente, hell girl? Você tem que revelar todos meus segredos?—
ele pergunta, um sorriso divertido em seu rosto.

— É verdade, — eu dou de ombros. — Você nem sabia como beijar, —


acrescento, piscando para ele.

— Eu sabia mais do que você. Eu, pelo menos, tinha a base teórica, —
ele retruca.

— Certo, — eu bufo, — é por isso que você estava pronto para abrir o
braço para me fazer te beijar de novo, — eu levanto uma sobrancelha para
ele, um pouco perdida.
— Você gosta de sangue, admita, — ele rebate, os olhos mais escuros
que os pretos quando as pupilas ultrapassam as íris.

Sinto necessidade de me abanar, especialmente quando meus olhos


vagam pelo torso, sangue incrustado na camisa e alguns ainda fluindo
livremente de sua ferida. Mas eu me movo mais baixo e noto que não sou a
única excessivamente aquecida por essa conversa, uma parte dele
crescendo bem sob meu olhar.

— Talvez, — minha voz aparece em um tom ofegante quando eu tiro


meus olhos de volta para os dele.

— Vocês dois podem parar?— As palavras de Marcello nos


interrompem, mas a energia ainda é pesada quando me recostei no meu
lugar, pegando a mão dele na minha e me divertindo com o toque.

Ele me faz esquecer. Mesmo em situações como essa, quando sei que
devo manter minha cabeça no jogo, ele faz tudo desaparecer.

— Ele não me coagiu de forma alguma, Marcello. Nós apenas... — Eu


me viro para Vlad, — me apaixonei.

— E quando exatamente você se apaixonou? Não me lembro de você


conhecê-lo mais do que algumas vezes. Inferno, eu nem sei quando vocês
dois tiveram tempo. — ele segue, quase relutante em dizer a palavra sexo
novamente...
Escondo um sorriso ao perceber que meu próprio irmão pode ser uma
puritano maior do que eu.

— Eu escapei, — admito, contando um resumo de como nos


conhecemos. — E antes de comentar novamente EU queria vê-lo.

— Estou decepcionado com você, Assisi, — afirma Marcello à queima-


roupa depois que eu contei a ele sobre nossos encontros noturnos e como
Vlad e eu acabamos passando um tempo juntos. — Eu lhe disse
especificamente para ficar longe dele e você desconsiderou meu aviso, —
ele balança a cabeça.

Sinto Vlad tenso ao meu lado e dou um aperto suave na sua mão,
informando que ele não deveria intervir.

Há uma pausa quando Lina e Marcello se olham, algo passando entre


os dois.

— Tudo bem, — diz Marcello. — Digamos que eu entendo sua


história, — ele acena a mão para nós. — O que está feito está feito. Não
posso mudar o passado. Mas isso não significa que você precisa ficar
casada com ele, — diz ele com desprezo.

— Acho que você esqueceu a parte em que eu disse que o amo, —


murmuro com desdém. — Eu não vou deixá-lo.
— Amor?— Ele ri. — Ele não saberia o que é o amor se o atingisse na
cara. Sinto muito por estourar sua bolha, Assisi, mas você foi enganada, —
ele menciona casualmente. Lina franze os lábios, olhando preocupada para
o marido.

— Marcello, — ela coloca uma mão gentil no braço dele, tentando


fazê-lo parar de falar.

Mas ele não para.

— Você está certo que eu o conheço. É por isso que sei que haverá um
dia gelo no inferno antes da exibição de qualquer tipo de sentimento por
parte do Vlad.

— Então deve estar congelando, — acrescento ironicamente debaixo


da respiração.

Vlad me ouve, seus olhos brilhando de travessuras, e estou


impressionada com a sua calma. Talvez ele esteja levando meu conselho a
sério.

— Bem, — ele encolhe os ombros, tirando os pés da mesa e


levantando-se. — Tentamos, — diz ele, irreverente, pegando minha mão e
me puxando em pé.
— Você não a está levando a lugar nenhum, — meu irmão se levanta,
vindo para parar Vlad. — Eu não sei quais mentiras você contou a ela ou
como conseguiu seduzi-la, mas termina aqui, Vlad.

As características de Vlad mudam em um piscar de olhos. A expressão


divertida anterior se foi, substituída por uma fria e insensível.

— Você pode me tocar agora, Marcello. Mas é melhor você remover


sua mão antes que eu a quebre, — afirma ele friamente, jogando o braço
do meu irmão para o lado e me empurrando para trás. — Por cortesia a
você, eu queria dar a Sisi a chance de explicar como tudo aconteceu. Mas
eu te disse antes. No momento em que você tenta tirá-la de mim, todas as
apostas estão fora.

— Sério?— meu irmão dá uma risada cruel. — E onde você estava


quando ela estava no hospital abortando sua criança?— ele pergunta e eu
ofego, minha mão vai para a minha boca, pois mal posso acreditar que ele
foi tão baixo.

Os ombros de Vlad estão tremendo de tensão não liberada e, por um


momento, temo que ele possa quebrar.

— Chega!— Eu me coloco entre eles, — isso é entre mim e Vlad, e


fizemos as pazes com isso, — declaro, segurando o olhar de Marcello.

— Sisi, vá buscar suas coisas, — a voz de Vlad é baixa e dura para os


ouvidos, pois ele mal se contém.
— Vlad...

— Agora, — ele sussurra, e essa palavra suavemente pronunciada me


diz tudo o que preciso saber.

Com uma última olhada em Lina e Marcello, eu me afasto do


escritório, subindo as escadas para o meu quarto.

Sabendo que Vlad provavelmente está pendurado por um fio, pego


uma mala grande e enfio algumas das minhas coisas mais preciosas lá
dentro, pensando que talvez nunca volte aqui.

Eu tinha previsto que Marcello não ficaria emocionado conosco, mas


não achava que ele seria tão tirânico.

Balanço a cabeça quando sinto lágrimas queimarem atrás dos olhos,


decepção se instalando profundamente no estômago. Eu realmente não
queria que as coisas acabassem assim. Especialmente porque tudo que eu
sempre quis foi ter uma família.

Uma família que não me evitasse.

Um soluço sobe na minha garganta enquanto enfio alguns dos


vestidos que eu tinha comprado com Lina em uma bolsa, as poucas
lembranças que eu fiz nesta casa vindo à superfície e me fazendo sentir
ainda mais desamparada.
— Sisi, — viro bruscamente em direção à porta para ver Lina
timidamente entrar.

— Não se preocupe, vamos embora rapidamente, — digo, enxugando


os meus olhos.

De alguma forma, não quero que ela veja o quanto isso está me
afetando.

— Sisi, — ela repete, vindo em minha direção, com os braços


amortecendo meu corpo enquanto me puxa para o peito. — Ninguém está
te expulsando. Você não precisa ir, — ela acaricia meu cabelo.

— Mas eu preciso, — eu me inclino para trás, olhando para longe. —


Marcello claramente nunca vai nos aprovar, e eu não vou a lugar nenhum
sem Vlad, — digo sinceramente a ela.

— Você o ama tanto assim?— Ela pergunta, pressionando os lábios


juntos em consternação.

— Não posso colocar em palavras o quanto o amo, — sussurro,


piscando lágrimas.

Por que tenho que escolher entre minha família e Vlad? Por que eles
não podem simplesmente aceitar nosso relacionamento? Sim, eu sei que
Vlad não tem o melhor histórico, mas eles poderiam pelo menos lhe dar
uma chance.
— Mas você sabe quem ele é. — Ela franze a testa, como se não
pudesse entender como eu poderia amar alguém como ele.

— Sim, — respondo, — sei exatamente quem ele é, e é por isso que o


amo. Ele nunca mentiu para mim sobre quem ele é, e eu sempre o aceitei
de todo o coração.

— Mas ele é um assassino, Sisi. Ele é um assassino violento e


insensível.

— E o meu irmão?— Eu me oponho, — eu sei o que ele fez com você,


Lina. E você ainda está aqui, com ele. Você não pode me entender pelo
menos um pouco?— Minha voz diminui, minha garganta entupida de
emoção.

Parece que eu tinha lhe dado um tapa, um tom vermelho subindo


pelas bochechas.

— Vlad não é um santo. Eu sei disso. Deus, estou ciente de que ele é
provavelmente um dos homens mais perigosos do mundo. Mas ele é meu,—
Eu aponto para o meu peito. — Você não tem ideia do quanto ele me ama,
ou do quanto ele me faz sentir. Ele me completa de uma maneira que eu
nunca pensei ser possível, e não vou desistir disso. Nem mesmo porvocês,
— afirmo firmemente e os olhos dela se arregalam um pouco.

— Sisi... — ela se afasta enquanto tenta me ler.


— Eu entendo se você ou Marcello não podem aceitar isso. A escolha é
de vocês. Assim como é minha ir com ele. — Continuo colocando minhas
coisas na mala, recusando-me a sucumbir às minhas emoções. — Onde
estão Claudia e Venezia? Eu quero dizer adeus. — Outra pontada bate no
meu peito ao perceber que provavelmente também não poderei vê-las por
um longo tempo.

Venezia, eu só tinha acabado de conhecer, mas Claudia? Nós


crescemos lado a lado, e às vezes asinto como minha irmã e minha filha.

— Elas estão no museu com o professor. Fique, Sisi. Fique e as veja.


Você realmente não precisa ir, — continua Lina implorando, e a dor nos
seus olhos serve apenas para renovar a minha.

— Eu não posso Lina, — sussurro, todo o meu ser se rebelando nessa


situação em que me encontro. Ah, mas como eu gostaria de poder ter os
dois, minha família e meu amor.

Mas não se pode ter tudo o que se deseja, acho que isso deve estar bem
claro agora.

— Depois do bebê... — Eu deixo escapar, respirando fundo e querendo


explicar para ela, para que entenda, — eu estava em um lugar muito
escuro. Tão escuro que eu nunca pensei que sairia disso. Vlad foi a única
coisa que me fez sentir melhor, como meu antigo eu. Ele é quem me
mantém sã quando a dor ameaça transbordar.
Ela franze os lábios, tristeza por suas feições ouvindo minhas
palavras. Eu sei que não é justo com ela, já que eu não tinha deixado
ninguém saber sobre meus problemas. E é porque eu tinha segurado tudo
que me perdi para a dor.

— Não sei se faz sentido, se é algo menos que insanidade... — Eu


levanto meu olhar para o dela para que possa ver a sinceridade das
minhas palavras, — ele é minha única exigência para viver.

Nesse momento, a porta se abre um pouco e Vlad entra. Seu lábio está
aberto e presumo que Marcello não estava satisfeito em fazer um buraco
no peito, ele também teve que dar um soco nele.

A mala cai das minhas mãos enquanto eu corro para o lado dele, meus
dedos traçando a pele já machucada.

— Você nem se defendeu, não é?— Eu pergunto suavemente. Eu já


esperava que não lutasse e aceitasse o que Marcello lhe dissesse. No fundo,
acho que há uma parte dele que acredita que merece porque traiu o amigo.

Porque esse é apenas o tipo de homem que Vlad é. Honrado. Ele pode
ser um assassino, mas é de princípios, e eu respeito seu sistema de honra,
distorcido como é.

— Por que eu lutaria quando sei que venceria, — ele encolhe os


ombros um pouco, pegando minha mão.
— Eu... — Lina murmura alguma coisa, e eu percebo que ela ainda
está no quarto. — Eu vou agora, — diz ela, com os olhos contornando Vlad
para mim antes de sair correndo.

— Sinto muito, — ele murmura enquanto redireciono minha atenção


para a bagagem. — Eu não achei que ele seria tão inflexível, — ele
suspira profundamente.

— Pelo menos ele não te matou, — aponto com meio sorriso.

— Pelo menos isso, — ele ri, andando pelo quarto e me ajudando a


fazer as malas.

Abrindo uma gaveta, ele fica quieto, sua expressão tensa. Eu me viro
para ele, minhas próprias feições se aproximando de dor ao vê-lo levantar
a pequena imagem do ultrassom.

— Hell girl, — ele geme, abrindo os braços para eu entrar. — Porra,


sinto muito. Marcello estava certo. Eu deveria estar aqui. Eu deveria estar
ao seu lado, — ele fala no meu cabelo, me segurando perto do peito.

Eu tentei o dia todo ser forte, mas de alguma forma a visão dessa foto
me faz quebrar, soluços atormentando meu corpo enquanto finalmente
deixo as lágrimas caírem.
— Shh, — ele fala, me pegando nos braços e me colocando na cama.
— Quando você sofre, eu sofro, — ele sussurra, acariciando lentamente
minhas costas.
CAPÍTULO TRINTA

Lina me dá um olhar preocupado enquanto ela sai do escritório depois


de Sisi. Deixado sozinho com a maldição da minha existência, fecho os
olhos, respirando profundamente.

Antes que eu possa me ajudar, meu punho faz contato com sua
mandíbula. Eu já noto a maneira como seus olhos seguem todos os meus
movimentos, ou como ele apenas permite que minhas juntas machuquem
sua carne sem fazer o menor esforço para se defender.

Ele pisca. Lentamente. Então um sorriso torcido aparece em seu rosto


enquanto ele limpa o sangue da boca, trazendo-o para os lábios.
— Não é ruim, — ele encolhe os ombros, — mas nada comparado ao
da sua irmã, — diz ele, e é preciso tudo em mim para não atacá-lo
novamente.

Ele está tentando me provocar.

Algumas respirações depois e eu tenho um controle. Não posso me


envolver em seus jogos mentais, especialmente porque sei que Vlad nunca
faz algo sem propósito, e a última coisa que quero é convidar o perigo para
minha própria casa.

Virando as costas para ele, pego o decantador da mesa e me sirvo uma


bebida forte. Já sinto a sugestão de uma dor de cabeça emergindo quando
penso nas declarações de amor de Sisi.

Eu bufo alto, o pensamento tão incrivelmente absurdo que quero rir.


Mas mais do que tudo, quero saber como Vlad conseguiu fazer uma
lavagem cerebral nela assim. O que ele ganha com isso?

Eu nunca soube que ele estava interessado em uma mulher antes e,


além de Bianca, também não acho que ele tenha interagido com muitas.
Um sorriso cínico puxa meus lábios quando percebo que Sisi estava certa
em um aspecto — Vlad não é exatamente um homem de mulheres.

Então qual é o plano? O que ele está tentando alcançar indo atrás de
Sisi?
Ele sempre foi um bastardo inconstante, mas nem ele teria se
abaixado tanto a ponto de envolver um inocente em seus jogos.

— Acho que agora podemos conversar abertamente?— ele se arrasta,


colocando-se na cadeira novamente, um sorriso lânguido no rosto.

É a sua afabilidade fingida habitual que me enfurece ainda mais,


porque sei que ele não está levando isso a sério.

— Prometi a Sisi que não iria provocar você, mas uau, é difícil, — ele
ri para si mesmo, esfregando o ferimento no ombro e olhando para os
dedos manchados de sangue com uma expressão inescrutável. Mas, ao que
parece, se foi, e estou surpreso ao ver que ele ainda não está sucumbindo a
um de seus episódios.

— Corta a piada, Vlad. O que você quer para deixar Sisi?— Eu


pergunto a ele imediatamente.

Ele levanta o olhar para encontrar o meu, com os olhos escurecendo.

— Isso não está sobre a mesa, Marcello. Nem agora, nem nunca. Você
pode não acreditar em mim, mas eu amo sua irmã, — ele encolhe os
ombros casualmente, — e ela é a única coisa que me mantém são. Tirá-la
de mim, — ele faz uma pausa, inclinando a cabeça para me considerar
pensativo, — significaria um convite a guerra.

— Guerra, — eu bufo.
— E você sabe como eu gosto das minhas guerras, — sua boca se
estende em um sorriso largo, com os dentes brilhando na pouca iluminação
da sala, — sem ninguém de pé.

— Veja, esse é exatamente o problema, Vlad. Você fala tão


casualmente de matar todos, mas quer que eu acredite que você mantém
minha irmã em algum tipo de consideração superior, — reviro os olhos
para ele.

— Sisi não é todo mundo, Marcello. E esse é seu primeiro erro ao


supor que ela é como todo mundo. Ela é a única razão pela qual eu não te
matei por tirar o sorriso do rosto dela, — diz ele, com a voz baixa, o tom
sério.

De pé, ele vem ao meu lado, pegando o decantador e derramando um


copo de uísque. Em vez de beber, ele levanta no ombro, despejando o
conteúdo por toda a ferida aberta.

Meus olhos estão no seu rosto que não aparenta reação. Não há nem a
menor sugestão de que esteja com dor.

Seu sorriso aumenta quando ele vê minha expressão confusa,


derramando mais um copo e trazendo-o para os lábios, bebendo o líquido
de uma só vez.

— Por que não deixamos isso para trás, — ele começa, — Sisi ficaria
triste se você de repente parasse de estar na vida dela, e essa é a última
coisa que eu gostaria. Então, para o bem dela, — os lábios dele se
contraem, — e de todos, devemos fazer as pazes.

— Você está me ameaçando, Vlad?— Eu levanto uma sobrancelha


para ele.

— Eu?— Ele balança a cabeça, uma risada escapando. — Você


esquece uma coisa, Cello. Eu não ameaço. Eu faço, — ele coloca o copo de
volta na mesa, um som repentino que enfatiza ainda mais a tensão
silenciosa entre nós.

— Então você só quer que eu esqueça tudo e receba você na família de


braços abertos, — digo sarcasticamente e seu rosto se ilumina.

— Exatamente, — ele entoa rapidamente.

— Eu não sei em que mundo você vive, Vlad, mas isso nunca vai
acontecer, — eu dou uma risada seca. — Você pensa em fazer da minha
irmã uma prostituta e eu vou recebê-lo de braços abertos?

— Cuidado Marcello, — ele sussurra, a voz tensa, os punhos cerrados,


— cuidado com a maneira como você se dirige a ela, — ele dá um passo à
frente, as mãos de repente na minha camisa.

Vejo como seus braços estão tremendo como se ele mal estivesse se
contendo. Ele endireita a gola da minha camisa, os olhos no meu pescoço.
— Se fossem outros, eles estariam no fundo de uma vala, — ele
murmura sob a respiração antes de os lábios se enrolarem em um sorriso
novamente. — Mas não posso fazer isso agora, posso?— ele continua, —
não quando somos da família, — ele franze os lábios, dando um tapinha
no meu peito antes de voltar.

Sem nenhum aviso, ele se vira, quebrando uma das minhas


prateleiras em pedaços. É preciso apenas um contato com o punho para
que a madeira ceda, dividida em duas.

Eu o observo de perto, essa exibição é totalmente diferente do Vlad


que eu conheço. Inclinando minha cabeça para o lado, estudo como ele
respira com severidade, fechando os olhos e tentando recuperar o controle
sobre si mesmo.

— Ninguém, — ele range os dentes, as costas para mim, — ninguém


insulta Sisi, — as palavras são afetadas e pouco coerentes. — Muito
menos, chamando-a de prostituta, — ele cospe a palavra como se fosse a
coisa mais desprezível.

Suas juntas estão machucadas, a pele rasgando enquanto ele continua


a atacar minhas prateleiras até que não haja mais nada em pé.

Ainda assim, não intervenho, esperando que a raiva dele desapareça.

Mas, enquanto assisto à distância, não posso deixar de sentir que isso
é algo diferente sobre Vlad. No passado, ele nunca se permitia ter uma
explosão como essa, a menos que fosse um de seus episódios. Sua máscara
de civilidade firmemente no lugar, ele gosta de se apresentar como
totalmente inofensivo para o mundo.

E agora ele está fazendo o oposto.

Ele se vira, seu perfil lateral para mim enquanto suas narinas
dilatam, seus dentes rangem. Sem outra palavra, sai, seguindo seu
caminho.

Libero uma respiração profunda, já cansado do confronto. No mínimo,


Sisi não parecia pior. Com exceção daquela tatuagem monstruosa no
pescoço, ela parecia ilesa.

Sento-me na minha mesa, tirando os óculos e massageando a testa.

— Marcello, — a voz de Lina me assusta quando ela entrana sala,


com os olhos arregalados quando ela vê o desastre que Vlad deixou para
trás.

Estendendo meu braço em sua direção, eu a trago para o meu lado,


minha cabeça descansando contra a sua barriga.

— Estamos fazendo a coisa certa, Lina?— Eu pergunto, sem saber


como abordar isso. Não quero alienar Sisi, mas ao mesmo tempo conheço
Vlad muito bem para não questionar seu repentino interesse por minha
irmã.
— Acho que não, — ela responde pensativamente, me chocando.

— O que você quer dizer?— Eu levanto minha cabeça para olhar para
ela.

A mão na minha cabeça, ela enfia os dedos nos meus cabelos com uma
carícia suave, me acalmando da maneira que só ela pode.

— Ele foi para o quarto dela, — ela me diz, — e eu... Fiquei para trás
para espionar, — ela confessa, com um rubor nas bochechas. — Eu não
acho que ele tenha más intenções, Marcello. Na verdade, acho que pode ser
genuíno.

— Você também não, Lina, — eu gemo.

— Não, escute, — ela me impede de continuar. — Abra o computador


e obtenha o feed da câmera do outro lado do quarto de Sisi. Deixei a porta
entreaberta, para que pudéssemos ver algo, — sugere ela, e meus olhos se
arregalam um pouco.

— Você é desonesta, não é?— Um sorriso puxa meus lábios.

— Eu quero ter certeza. Eu nunca me perdoaria se deixasse Sisi sair


sem ter certeza... — ela balança a cabeça e eu posso ver como está
preocupada.
Para ela, Sisi é como uma irmã mais nova. Certamente, é sua melhor
amiga e eu sei o quanto se importa com ela e sua segurança. Por que,
desde o desaparecimento dela no casamento, não acho que Lina tenha
conseguido uma boa noite de sono.

A cada ligação que eu recebia, ela vinha ao meu lado para pedir mais
notícias sobre Sisi.

Mesmo quando Vlad ligou e tivemos a confirmação de que ela estava


segura, ela me implorou para encontrá-la o mais rápido possível.

E eu tentei. Se não fosse pelo fato de Vlad ser um bastardo astuto, eu


teria encontrado a localização. Em vez disso, Vlad não deixou vestígios,
simplesmente desaparecendo por meses.

— Tudo bem, — eu concordo, precisando dessa confirmação também.

Lina se instala bem no meu colo enquanto eu ligo o computador.


Enfiei meus braços em volta dela, aproximando-a do meu peito.

— Eu já te disse o quanto te amo hoje?— Eu murmuro contra a sua


bochecha. O canto do lábio se levanta.

— Apenas cem vezes, — ela sussurra, virando-se brevemente para me


dar um beijo rápido, — também te amo, — ela fala contra meus lábios, e
essas palavras por si só têm o poder de restaurar meu humor.
A tela liga e eu acesso rapidamente o feed da câmera. Assim como
Lina havia observado, a porta do quarto de Sisi está meio aberta, a câmera
tendo uma visão direta do interior.

— Você acha que também podemos ouvir o som?— Ela pergunta, e eu


aceno, ajustando as configurações.

Não é muito, mas podemos ouvir alguns sons que saem do quarto.

A primeira coisa que vemos é Vlad carregando Sisi nos braços


enquanto se instala na cama. Ele a está segurando perto do peito, não
muito diferente da posição em que estou com Lina.

— Ela está... chorando?— Lina sussurra, esforçando-se para ouvir.

— Sim, — respondo quase automaticamente, incapaz de acreditar nos


meus olhos.

Durante toda a minha vida, pensei ter visto tudo o que havia em Vlad.
Um gênio robótico vestindo roupas humanas, seus episódios anormais para
uma pessoa geralmente calma e composta. De fato, sua compostura era
sua qualidade vencedora, pois lhe permitia estudar a sala e tomar decisões
certeiras.

A explosão de hoje foi a primeira vez, exatamente como o fato de ele


estar tocando Sisi com tanta ternura também é a primeira vez.
A mão dele no cabelo dela está acariciando levemente, como se ela
fosse a pessoa mais preciosa para ele.

— Shh, — ele parece dizer. — Quando você se machuca, eu machuco,


— ele continua, e Lina e eu nos encaramos, incapazes de acreditar que
Vlad está dizendo essas palavras.

— Ele ainda é um assassino, Lina, — sinto-me compelido a


acrescentar.

— Sim. Mas ele é um assassino que derrama lágrimas, — ela franze


os olhos, apontando para a tela.

Franzindo a testa, coloco meus óculos de volta, apertando os olhos


para ver as ditas lágrimas.

Minha mandíbula fica mole, minha boca se abre assistindo estupefato


o homem que foi apelidado de Berserker por sua fúria assassina e como
seus olhos estão realmente derramando lágrimas.

— Eu nunca o vi chorar, — acrescento, quase em transe.

Inferno, eu nunca o tinha visto fazer qualquer dessas coisas.

Ele está segurando firmemente Sisi, tentando confortá-la. Ela levanta


as mãos no rosto dele, os polegares se movendo suavemente pelas
bochechas e enxugando as lágrimas antes de se inclinar para salpicar o
rosto com beijos.

De repente, estou desconfortável, como se estivesse me intrometendo


em um momento privado, destinado apenas aos dois.

Suas mãos vagam por toda a frente dele, enquanto ela rapidamente
tira a camisa dele.

— Chega, Lina, — eu gemo, prestes a fechar o computador.

— Não, espere, — ela para minha mão. — Olha, — ela franze a testa.

Sisi se levanta para pegar alguma coisa antes de se sentar na cama


novamente.

— Acho que ela está costurando o ferimento dele, — sussurra Lina,


com os olhos colados na tela.

E ela está certa quando eu assisto minha irmã meticulosamente


tentar trabalhar a ferida de Vlad, seus movimentos desleixados até à
distância.

— Ela nunca foi ótima nisso, — brinca Lina, e um pequeno sorriso


toca nos meus lábios.

— Estou surpreso que ela não seja sensível, — comento.


Vlad nem se encolhe quando a agulha penetra em sua pele, seus olhos
totalmente focados em Sisi.

E é aí que vejo algo em seu olhar que nunca teria associado a Vlad.

Amor.

— Acho que você está certa, Lina, — digo a ela, trazendo a mão para
os meus lábios para um beijo rápido. — Talvez precisemos conversar com
eles.
CAPÍTULO TRINTA E UM

Mordendo o lábio inferior, ela luta para atravessar a agulha pela


minha pele. Suas sobrancelhas são desenhadas juntas enquanto ela se
concentra em acertar, embora ela tenha admitido não ser ótima em artes e
trabalhos manuais.

Um sorriso no meu rosto, eu a observo encantado, o mero fato de que


suas duas mãos delicadas estão trabalhando para me costurar faz meu
coração inchar no meu peito.

— Eles ainda estão assistindo, você acha?— ela pergunta, abaixando a


voz.

— Eu não sei, — sussurro, minha boca perto do ouvido dela.


Assim que Catalina saiu do quarto, notei que ela estava demorando
um pouco no corredor, a mão subindo para abrir a porta um pouco melhor,
garantindo que o ângulo desse visibilidade suficiente o quarto. Um olhar
no corredor e eu tinha visto uma câmera apontada diretamente para nós.

Embora não tivéssemos agido por assim dizer, a dor de Sisi ainda
estava crua, a tristeza dela influenciando a minha, eu sussurrei em seu
ouvido que seu irmão poderia estar nos observando. Então ela decidiu que
o melhor exemplo de nosso trabalho em equipe seria me costurar.

— Eu ainda não acredito que ele atirou em você, — ela franze os


lábios perfurando a pele. Dois dedos estão segurando as laterais da pele
enquanto as costura no lugar. — E você teve que cavar a bala também, —
ela balança a cabeça e me olha e eu sei que ela golpearia meu braço se eu
não fosse o paciente.

— É tudo sobre o show, hell girl, — digo dando um tapinha no seu


queixo. — Eu queria que seu irmão visse que ele não me intimida, não
importa quantas armas ele aponte.

— As lágrimas também foram para o show?— ela pergunta em


silêncio.

— Sisi, — minha voz desce uma oitava. — Você machuca, eu


machuco, — trago a mão dela ao meu coração, pressionando-a no meu
peito para que possa sentir aquele órgão semi-inútil que bate apenas por
ela. — Você chora, eu choro. Nós somos uma equipe.
Um sorriso lento aparece em seu rosto, iluminando suas feições e
fazendo seus olhos brilharem nos cantos.

— Bom, — diz ela e eu respiro, sentindo que acabei de passar no teste


mais importante da minha vida.

— Devemos descer agora. — Eu aceno para ela pegar suas coisas


enquanto coloco minha camisa.

Quando ela está pronta, me mostra sua pequena bolsa e sinto uma dor
no peito ao ver seus bens escassos, prometendo que ela terá tudo o que
desejar no futuro.

Pegando sua bolsa, eu a movo para descer.

Como esperado, Marcello está nos esperando, uma expressão sombria


em seu rosto e eu sei que ele não quer admitir que estava errado. Ele
parece ainda mais azedo ao nos convidar para voltar ao escritório.

— Então, o que o fez mudar de ideia, 'Cello’?— Eu pergunto, olhando


ao redor da sala, — era meu olho para redecoração?— Eu aceno para as
prateleiras caídas e ele geme.

— Comporte-se, — Sisi me dá uma olhada e eu imediatamente


concordo, imitando um zíper na boca com dois dedos.
— Lina e eu decidimos lhe dar uma chance, — ele limpa a garganta.
— Podemos ver o quanto Sisi te ama, e só por isso aceitaremos seu
relacionamento, — continua ele, de costas retas, toda a sua postura alta e
poderosa.

Eu tenho que morder minha língua com muita força para não
responder a ele da maneira habitual, já que sei que esse é o gesto de paz
mais longo que ele está disposto a estender para mim.

— Obrigada, — Sisi é a primeira a falar, todo o seu rosto brilhando de


felicidade. E só por isso vou manter minha boca fechada.

— Acho que agora aos negócios mais importantes, — mudo o assunto


depois que todos tiveram tempo de ficar irritados.

— O que você quer dizer?— Marcello se vira para mim.

— Descobrimos algumas evidências apontando para Sacre Coeur


tendo relações com Miles. Mais especificamente, Madre Superiora,— Eu
rapidamente lhes dou um resumo de tudo o que descobrimos, e
relutantemente lhes digo sobre os ataques à casa e ao avião também,
mesmo que eu já possa ver fogo nos olhos de Marcello quando ele souber
que eu coloquei sua preciosa irmã em perigo.

— Não, — Sisi se coloca entre nós quando nossa disputa de encarar


se torna muito acalorada. — Não estamos fazendo isso de novo. Além
disso, eu lidei muito bem. Vlad tem me ensinado a me defender. — Ela
afirma com orgulho, o queixo erguido, as feições inabaláveis.

Essa é a minha garota!

— Nós não precisamos de vocês dois na garganta um do outro, — ela


suspira enquanto balança a cabeça, — não importa o quanto você não
goste que ele esteja comigo, — ela se vira para Marcello.

Porra, mas eu amo quando ela é tão confiante. Isso me deixa tão duro
que tenho que me mudar para não chamar atenção desnecessária para
mim mesmo, mais uma vez. Tenho certeza de que Marcello não gostaria
que eu esfregasse na cara dele que sua irmã e eu estamos realmente
fazendo sexo. Ou o mero fato de que sua voz, perfume e sua presença
fodida são suficientes para me dar uma ereção furiosa, como agora.

— Bom, — ela assente satisfeita. — Estou feliz por podermos


conversar civilizadamente pela primeira vez, — ela vem ao meu lado,
agarrando minha mão e colocando-a no colo.

— Lembro-me desses casos, naquela época, — começa Lina, mudando


o tópico de volta para Sacre Coeur, — quando os gêmeos desapareceram.
E alguns outros também. Você sempre me perguntava por que eles não
estavam procurando por eles, — aborda Lina, e Sisi assente com um
aceno de cabeça.
— Achamos que há um círculo de tráfico que pode ter raízes no Sacre
Coeur e em seus orfanatos, — diz Sisi.

— E há uma grande possibilidade de as cinco famílias estarem


envolvidas, — ressalto. — Sabemos que seu pai teve a ideia, mesmo que
ele nunca tenha seguido completamente, — aceno para Marcello, — mas
não consegui encontrar nenhuma evidência de que as outras famílias
estejam envolvidas. Eu falei com Enzo, e ele não tem ideia de quem é
Miles, então estou excluindo ele.

O sorriso de Catalina cresce quando menciono que o irmão dela é


inocente e sinto vontade de revirar os olhos. Enzo é tudo menos inocente,
considerando a merda em que está envolvido agora. Ele pode não ter
desejado o império de Jimenez, mas está preso a ele. E eu mal posso
esperar para ver como ele vai lidar com isso.

— Eu não ficaria surpreso se os Marchesi estivessem envolvidos, mas


eles estavam bastante ausentes da cena, — começo, mas Catalina me
para.

— Eles estão mortos, — diz ela, e eu franzi a testa.

Agora, essa é uma notícia que eu ainda não tinha ouvido.

— Sério?— Eu me inclino para trás no meu assento, um pouco


surpreso.
— Sim, e não sei quem é o próximo na fila para herdar o negócio.
Allegra tem um primo, mas não tenho muita certeza dos detalhes, —
menciona ela, detalhando um pouco sobre o esquema de Marchesi e como
os matou.

Eu mantenho para mim mesmo que já tinha conhecimento do segredo


de Enzo, mas devo dizer que estou impressionado que ela matou sozinha
toda a sua família.

— Então isso deixa Guerra e DeVille, e conhecendo sua inimizade, eu


não apostaria nenhum dinheiro que ambos se inscreveriam para a mesma
coisa, — eu ri.

O dilema de Guerra e DeVille é antigo, remontando a algumas


gerações. Ainda assim, as duas famílias estão sempre na garganta uma da
outra, procurando maneiras de falir e destruir a outra. E depois que a filha
mais velha de Benedicto, Gianna, fugiu com um DeVille, as tensões se
tornaram mais altas do que nunca.

— Sim, — concorda Marcello, parecendo pensativo, — é um ou outro.


Eu olhei mais de perto as finanças de Benedicto desde que deveríamos
fundir nossas famílias, — acrescenta ele com desdém, a animosidade
dirigida totalmente a mim, — e não pude ver nada suspeito. Mais uma vez
eu não estava procurando qualquer conexão com Miles. Mas pelo que vi,
seus negócios são principalmente do lado legal.

— Então isso deixa DeVille, — eu aceno com a cabeça.


O problema com DeVille é que eles são possivelmente a família mais
isolada de Nova York. Eles jogam de acordo com suas próprias regras e
não seguem os mesmos princípios que os outros.

— Estou curioso para saber como isso teria funcionado, já que,


segundo todos os relatos, Madre Superiora estava perto de Guerra, —
lanço a teoria.

— Bem, isso não é o motivo suficiente?— Marcelo sorri de maneira


lúdica, — competir com Guerra por recursos. É tudo o que eles já fizeram.
Benedicto tinha certeza de que era DeVille por trás do sequestro de Sisi. —
Ele levanta uma sobrancelha para mim, e eu ouço a condenação em suas
palavras.

— Então prestarei mais atenção a DeVille. Certamente será


interessante, — respondo, ignorando a piada de Marcello.

— Você sabe que Guerra estará atrás de sangue, não é? E eu não


estou ajudando você com isso. — Marcello murmura.

— Eu posso me cuidar, cunhado. Não se preocupe, — eu pisco para


ele.

— Pode ser mais difícil agora que Raf também está desaparecido, —
acrescenta Catalina com preocupação.
— O que você quer dizer?— Sisi é a primeira a falar e minha mão se
aperta em torno dela.

Sei que ela é amiga do garoto, mas não posso evitar a raiva que se
forma dentro de mim com o pensamento de que, se eu estivesse mais um
minuto atrasado, ela estaria perdida para mim.

Ah, mas como eu teria matado o garoto se não fosse pela promessa
estúpida que fiz a Sisi. Posso ser corrompido, mas sou corrompido e
cumpro minhas promessas, para minha consternação.

— Não sabemos as particularidades, — responde Marcello, — mas


Benedicto entrou em contato, pensando que quem sequestrou Sisi também
sequestrou seu filho. Agora, eu não contei a ele sobre sua brincadeira,
porque isso seria semelhante a declarar guerra, — diz ele, ainda me
olhando com hostilidade.

— Bem, tudo bem para mim. — Eu acrescento, descansando no meu


lugar, um pouco feliz demais na virada dos eventos. Eu nem preciso mexer
um dedo porque alguém me venceu.

— Vlad, — Sisi me dá uma cotovelada e eu levanto uma sobrancelha


para ela. Eu posso estar ao seu lado, mas isso não significa que não posso
ficar feliz porque um espinho ao meu lado — um espinho que eu não
conseguia puxar — desapareceu de repente. Então eu apenas encolho os
ombros, um sorriso no meu rosto.
— Parece que a sorte favorece os ousados, afinal, — inclino-me,
levantando a mão dela nos meus lábios e beijando as juntas dos dedos.

— Ou imprudente, — ela murmura sob a respiração, e meu sorriso se


amplia.

— Eu nunca me envolvo em imprudência, hell girl. Prefiro chamá-lo


de caos organizado, — murmuro suavemente, meu olhar treinado no dela.

— Somente você se orgulharia de algo assim, — ela bufa.

— Mas é claro, — eu sorrio, — você sabe que eu amo meus oximoros.

— Hmm, — ela estreita os olhos para mim, apoiando-se em mim


lentamente até que eu possa sentir sua respiração na minha bochecha, —
talvez porque você seja um, — ela observa, sua voz rouca e sedutora e
foda-se se isso não me deixa louco.

Marcello de repente tosse, olhando curiosamente entre nós dois.

— Acredito que estávamos discutindo algo, — ele interpõe, quase


divertido.

Estou começando a perceber o quão perigoso é ter Sisi comigo em


momentos como este. Não só sou incapaz de me concentrar, mas é preciso
apenas uma palavra dela para me perder na sua voz.
Definitivamente não é propício aos negócios.

— Eu tenho um plano de contingência em vigor, caso Guerra decida


que quer algum tipo de retribuição. — Eu adiciono irreverente. — Mas o
importante agora é descobrir como Sacre Coeur está envolvido com Miles e
descobrir o que Madre Superiora sabe.

— Não estou surpreso ao saber que Sacre Coeur estaria envolvido


nisso, — observa Catalina. — Não com todo o abuso acontecendo naquele
lugar.

Sisi assente, as sobrancelhas apertadas, e só consigo imaginar as


memórias que ela está revivendo.

— Devemos entrar e interrogar Madre Superiora. — O rosto de Sisi de


repente acende quando a ideia aparece em sua cabeça. — Podemos nos
disfarçar, — acrescenta ela com entusiasmo.

Meus lábios se curvam quando eu concordo prontamente, já pensando


na mesma coisa.

— Você pode se safar disso, — assente Marcello para Sisi, — mas


ele?— ele bufa, — a menos que você planeje vesti-lo como freira também.
Diga-me, Lina, eles tinham ex-freiras em Sacre Coeur?

Catalina mal consegue segurar seu sorriso enquanto balança a cabeça.


— Vamos lá, Cello!— Gemi, meio confuso, meio surpreso que Marcello
ainda tivesse senso de humor. Eu já teria pensado que tudo se foi agora. —
Eu faria uma freira maravilhosa. Até conheço uma oração, — um sorriso
safado curva meus lábios.

Todo mundo está olhando para mim com expectativa.

— Sério?— ele pronuncia, uma expressão cínica em seu rosto.

— Mas é claro. Sisi tem sido uma ótima professora, — começo e vejo
os olhos dela se arregalando percebendo que tipo de oração eu sei. — Eu
sei tudo sobre a grande vinda, — eu digo, incapaz de me ajudar. — É
realmente ótimo, — tenho tempo para acrescentar antes que Sisi coloque
a mão sobre a minha boca, me calando.

— Ele não é o aluno mais brilhante, — ela força um sorriso, o pé me


chutando na canela ao mesmo tempo. — Acho que ele misturou as orações.

— Eu não entendo por que eles só fizeram um segundo chegando.


Quero dizer, e o terceiro ou o quarto?— Eu continuo abaixando a mão dela.

Um olhar em sua direção e seus olhos estão atirando lasers em mim.


Por outro lado, Catalina está rindo e Marcello não parece muito atrás. Ora,
há uma contração no lábio superior.

— Você terá que perdoá-lo, — acrescenta ela docemente, — ele não


está exatamente em casa. Eu planejava pegar uma focinheira para ele, já
que também morde, mas infelizmente isso aconteceu, — ela se vira para
mim, levantando uma sobrancelha e me desafiando a responder.

— Eu só mordo quando provocado, — falo baixo, apenas para os


ouvidos dela.

A boca dela se abre um pouco, as pupilas aumentaram e eu sei que a


peguei. Rapidamente, volto-me para a conversa, acrescentando.

— Como você não acha que eu me encaixaria como freira, — suspiro


profundamente decepcionado, — então um padre deve servir.

— Existem apenas dois padres em Sacre Coeur, e todos os conhecem.


Como você acha que vai gerenciar isso?— Sisi pergunta.

— Vamos sumir com um deles, e eu serei o substituto.

Também é fácil, já que os padres nem sempre estão no Sacre Coeur.


Só precisamos escolher um, obter uma cópia do itinerário dele, matá-lo e
depois aparecerei prontamente como substituto.

— Pode funcionar, — concorda Marcello, — mas matar um padre?


Realmente? Não é um nível baixo, mesmo para você?

— Vou pesar os pecados deles e escolher o mais perverso, — reviro os


olhos para ele, — se você está tão preocupado com o estado da minha alma
imortal.
— Mais como alma imoral, — ele murmura com desdém. — Vou
verificar DeVille, talvez consiga algo. — Estou surpreso que ele se ofereça
para ajudar, mas não vou recusá-lo. Não quando sou inimigo público
número um, pelo menos em Nova York.

Analisamos mais alguns detalhes, e Marcello promete ficar de olho em


qualquer informação que possa parecer relevante para nossa busca.

— Bem, então temos um plano, — estico na minha cadeira. — Acho


que antes de partirmos, também devo informar que sou um homem
procurado, — dou-lhe um sorriso preguiçoso, — então, se alguém vier
procurar, diga que você não me conhece.

Pegando a mão de Sisi, eu a puxo para os pés, pronto para ir. — Oh,
— eu me viro bruscamente, — e preciso de um carro.

Marcello parece prestes a questionar, sem dúvida está digerindo


minha última frase. Ele pisca duas vezes e eu gemo alto, sabendo o que
está por vir.

— Pelo amor de Deus, Vlad, — sua voz troveja, e até Sisi parece
surpresa com a mudança repentina em seu comportamento. — Você não
vai embora com minha irmã. Que diabos você está pensando?— ele
continua furioso, falando sobre como é inseguro e como eu deveria ter
vergonha de colocá-la em perigo.
Um pé do lado de fora da porta, espero até que o monólogo termine
antes de responder.

— Você deveria saber agora, 'Cello', — inclino a cabeça, meu tom


sério, — que não sou eu, nem Sisi, que estamos em perigo. É todo mundo
que tenta prejudicá-la. Você me conhece e sabe do que sou capaz, — digo-
lhe diretamente. — Tenha certeza que ninguém vai sair vivo. É um
inconveniente? Sim, — dou de ombros, — mas Sisi está mais segura
comigo, onde posso vê-la, tocá-la, cheirá-la. Se não... — Eu paro, virando-
me para olhá-la e vendo o entendimento em seus olhos, — então ninguém
está seguro.

Marcello continua a cuspir, não que eu pensasse que ele cederia


imediatamente, mas Catalina é rápida em acalmá-lo.

Pegando a mão de Sisi, deixo o escritório, indo direto para a garagem


dele e pegando um de seus carros.

— Você foi melhor do que eu esperava, — ela menciona quando estou


ao volante e acelerando o motor. — E estou confiante de que eles aceitarão.
Eventualmente.

— Eles vão, — eu concordo, ligando o carro e me preparando para


uma longa viagem para casa.

Não seria minha preferência voltar para minha casa, mas é o mais
seguro agora. A estrutura subterrânea é incomparável e, por mais que
tenha sido construída para me manter, também manterá outras pessoas
afastadas.

Sisi está quieta olhando pela janela, seus olhos quase se fechando.

Com a intenção de deixá-la descansar, concentro-me na estrada,


passando mentalmente por possíveis cenários.

A ideia do disfarce não é ruim e, assim que chegarmos aos meus


computadores, farei uma análise aprofundada de Sacre Coeur e
vasculharei algumas das imagens recentes para aprender seus padrões.
Eu já sei que a segurança deles é bem difícil, e enquanto eu já tinha
entrado antes com alguma persuasão a maré está prestes a mudar agora
que eu não sou a pessoa favorita de todos.

Sem dúvida, a Madre Superiora também deve ter sido alertada sobre
minha busca por Miles, e ela deve tomar algumas medidas de segurança se
eu ligar.

Meu lábio se enrola em desgosto pensando naquela mulher que


abusou de Sisi a vida toda. Eu nunca gostei particularmente dela, mas ela
administrava Sacre Coeur com um punho apertado, e eu sei que muitos
mafiosos locais veem isso como uma vantagem quando se trata de manter
suas amadas filhas afastadas das tentações do mundo.

Sisi e Catalina não foram as únicas que foram enviadas para lá. De
fato, muitas filhas ilegítimas foram criadas em Sacre Coeur por décadas.
Lembro-me de que o próprio Benedicto Guerra tem uma irmã que fez
seus votos, com algumas outras na mesma situação.

Ainda assim, todos os envolvidos no esquema de Miles devem ter sido


notificados de que estou sem conexões, então não espero que Sacre Coeur
seja diferente. Em qualquer outro cenário, teria sido infinitamente mais
fácil invadir, saquear o escritório da Madre Superiora e interrogá-la e
depois partir.

Mas, neste caso, a ideia de Sisi de se disfarçar tem mais mérito. E sem
o conhecimento dela, tenho outro motivo oculto para querer me infiltrar no
convento. Por fim, seus atormentadores vão aprender o que é o verdadeiro
inferno, bem ali no lugar santo deles.

— Estamos chegando?— ela pergunta grogue, esfregando os olhos com


as costas da mão.

— Quase, — respondo e ouço o estômago dela rosnando, um olhar


envergonhado cruzando o rosto. — Vamos pedir comida também, — eu
digo e ela me presenteia com um sorriso.

— Mal posso esperar para ter uma boa noite de sono, — ela boceja, de
repente parecendo tão jovem e vulnerável.

— Nós dois iremos, e depois abordaremos tudo.

Eu acelero pela cidade, voltando para casa antes que escureça.


O composto está completamente vazio quando entramos. Nós nos
instalamos rapidamente dentro do quarto, e Sisi coloca todas as coisas dela
no meu guarda-roupa antes de irmos buscar a comida e seguir para a
cozinha.

— Você precisa ligar para Sasha, — ela menciona enquanto dá uma


mordida no hambúrguer. — Eu não acho que fiz um bom trabalho com sua
ferida e não quero que tenha complicações por causa disso.

— Não dói, — eu dou de ombros.

— Pode não doer em você, mas quem sabe o que está acontecendo
dentro do seu corpo?— ela balança a cabeça. — Eu quero um médico
apropriado para olhar.

Quero protestar e dizer a ela que isso não é nada comparado a outras
lesões que tive ao longo dos anos, mas um olhar e sei que não posso
discutir. Então eu cedi, ligando para Sasha e dando a ele um resumo das
minhas feridas.

— Não é tão profundo, — observa ele quando estamos na enfermaria.


— Vou desinfetá-lo e fechá-lo corretamente. Você tem sorte que a bala não
rasgou os músculos. Isso colocaria você fora de serviço por um tempo, —
comenta e eu grunho, observando a maneira como Sisi está avaliando tudo
como um tubarão, garantindo que Sasha cuide bem de mim.
— Feito, — diz ele, colocando um curativo no meu ombro. — Ligue-
me se houver mais alguma coisa, — ele assente quando sai da sala.

— Veja, isso não foi muito difícil, — Sisi levanta uma sobrancelha
para mim, pegando minha mão e me levando para o nosso quarto.

Nós dois adormecemos no momento em que nossas cabeças batem no


travesseiro. Segurando-a perto de mim, sei que agora que encontrei meu
céu, nunca deixarei ninguém tirá-la de mim.

— Tem certeza que ele está morto? — Eu pergunto, usando meu pé


para virar o corpo.

— Sim, — ela revira os olhos. — Eu bati nele com força, — ela se


agacha, dois dedos vagando pelo pescoço para encontrar o ponto de pulso.

— Você deveria ter esperado por mim, hell girl, — eu gemi,


inclinando-me para verificar também.
Como prometi a Marcello, fizemos algumas pesquisas sobre os novos
padres de Sacre Coeur e, de fato, dos dois, um tinha sido pior que o outro,
com uma propensão a prostitutas.

Depois de muito debate e argumentos da minha parte, Sisi conseguiu


me convencer a deixá-la lidar com o padre, aproximando-se dele em
público e pedindo ajuda. Eu sempre tinha um olho nela, enquanto ela
levava o homem a um beco escuro, e eu estava prestes a explodir muito
cedo algumas vezes quando suas palavras foram ofensivas no limite.

Sei que Sisi queria que eu confiasse nela com isso, mas mesmo que
minha mente saiba que ela pode se controlar, meu coração não pode
pensar que ela esta em perigo.

Levou tudo em mim para ficar parado e deixá-la fazer suas coisas,
especialmente porque ela me disse o quanto queria sentir que fazia parte
da operação.

— Eu não quero me sentir desamparada, Vlad. Nunca, de novo. Eu


gosto de estar no controle e, embora aprecie sua preocupação, você sabe
que posso me cuidar. — Ela bufou para mim, aprofundando e listando
todas as razões pelas quais poderia lidar com o padre sozinha.

E então eu fiquei parado até não poder mais. Ao primeiro sinal de que
houvesse uma luta entre eles, eu saí do meu esconderijo apenas para
encontrar o padre no chão, morto.
— O plano era que você o atraísse para longe, não o matasse à vista,
— acrescento quando percebo que não há pulso.

— Diga isso a ele, — ela murmura baixinho, levantando-se e


ajeitando suas roupas. — Ele estava a um segundo de ficar muito prático,
então eu bati nele no pescoço dele, como você me ensinou. Acho que posso
ter batido nele com muita força, — acrescenta ela, pensando bem, olhando
para o morto.

— Você matou um homem com as próprias mãos. E não sei se tenho


orgulho de você ou raiva por se colocar em perigo. — Eu assobio, a visão
dela naquela saia apertada me dando uma terceira escolha — fodê-la por
me deixar orgulhoso e louco.

Ela bate os cílios, movendo-se lentamente em minha direção enquanto


passa por cima do cadáver.

— Normalmente, eu perguntaria o que você fará sobre isso,— ela diz


apontando o dedo para o meu peito, arrastando-o pelos meus peitorais e
meu pescoço e deixando-o descansar sob minha mandíbula, — mas não
acho que seria inteligente com um homem morto a nossos pés. À vista de
todos.

— Hell girl, — eu pego o dedo dela, já desconfortavelmente duro, —


você não está jogando limpo. — Eu rosno enquanto a sinto colada na
minha frente, meu pau contra o estômago.
Minha mão cai para baixo enquanto coloco uma perna sobre o quadril,
sentindo sua carne nua enquanto movo meus dedos pela coxa, traçando a
forma de uma bochecha da bunda.

— Você sabe que me deixa duro quando fala sobre cadáveres, hell girl.
Mas quando você está realmente deixando-os aos meus pés?— Eu gemo,
meu polegar deslizando entre as bochechas dela enquanto me movo mais
baixo.

— Pensei que você iria gostar do show. — Ela tem a ousadia de sorrir
para mim, acariciando o rosto na curva do meu pescoço, a língua
espreitando para lamber meu pulso.

— Sisi, — fecho meus olhos, meus dedos já encharcados em sua


excitação. — Estou a um segundo de levá-la contra a parede, bem neste
beco sujo, onde todos podem nos ver. — Minha respiração esfarrapada,
meu pau dolorosamente duro, mal consigo me controlar quando deslizo um
dedo dentro dela, sentindo seu canal confortável estrangular a vida de
mim.

— Isso seria tão ruim?— ela pergunta, sua voz baixa e tão atraente
que estou prestes a gozar nas minhas calças só pelo som.

— Foda-se, Sisi, — eu amaldiçoo, empurrando-a contra a parede. —


Isso te excita? Pessoas assistindo enquanto eu empurro em você? Ou é o
cadáver? Você quer gozar nos meus dedos sabendo que há um cadáver nos
seus pés?— Eu pergunto quando empurro dois dedos dentro dela.
Sua boca se abre, sua respiração chegando curta. Minha mão em volta
do pescoço dela, massageei lentamente a área antes de subir, meu polegar
separando os lábios e escorregando dentro da boca.

— Diga-me, é isso que você quer?— Eu empurro mais forte em sua


boceta, e sua umidade flui pelos meus dedos, cobrindo minha mão inteira.
Sinto como o seu corpo está ficando frouxo nos meus braços, os olhos dela
nunca deixam os meus, a língua brincando com a ponta do meu polegar
enquanto ela libera gemidos suaves e melódicos.

— Diga-me, — repito, querendo ouvir exatamente o que ela está


desejando.

Não importa o quão depravado.

— Você, — ela responde suavemente, os olhos tremulando fechados


enquanto ela se empurra nos meus dedos. — Você é tudo que eu quero, —
ela continua, chupando meu polegar enquanto eu brinco com sua boceta.

— Essa é a resposta perfeita, minha doce florzinha, — murmuro


contra os seus lábios, inclinando-me para a frente e dando-lhe uma longa
lambida com a minha língua. — Porque eu vou lhe dar um prêmio por sua
morte, — continuo a enfiar dentro e fora dela, meu polegar no clitóris
enquanto circulo o broto até que ela se contorça nos meus braços.
Meu joelho entre as pernas dela, eu a deixei colocar todo o seu peso
em mim quando ela começou a gozar, seu orgasmo a fazendo ofegar contra
minha boca.

— Mas eu não vou te foder agora. Não quando alguém poderia ver
você. Eu te disse antes, hell girl. Você é apenas para os meus olhos. Seus
sons, — aplico mais pressão na boceta dela com a mão inteira, a palma da
minha mão apertando o clitóris enquanto meus dedos estão enterrados
fundo, — suas expressões faciais. Tudo é para mim e somente para mim.
Compreende?

— Sim, — ela mal consegue falar enquanto bate contra mim, a cabeça
no meu ombro, a respiração dura.

— Bom, — levanto os dedos revestidos em sua essência e os trago


para a minha boca, sugando-os. — Porque eu teria que matar qualquer um
que visse você, — acrescento, minha outra mão ainda no pescoço dela
enquanto massageio gentilmente a pele dela. — Eu arrancaria os olhos
deles e transformaria seus cérebros em mingau, — prometo, a violência
fervendo dentro de mim ao pensar em outro olhando para ela.

— Você daria a eles uma lobotomia?— ela sonda, divertida.

— Eu destruiria todos os órgãos sensoriais, — continuo e percebo que


ela está se excitando na minha descrição. — Eu faria isso para que não
restasse nada deles. É isso que você quer, hell girl? Quer que eu os
esquarteje membro a membro enquanto assiste? Você gostaria disso, não
gostaria? Ver o rio de sangue que sai de suas veias... — Eu paro, sentindo
o jeito que o pulso dela aumenta. — Você acha que eu não percebi que o
sangue te excita?— Ela suspira suavemente, levantando aqueles lindos
olhos dela para olhar para mim, tão suaves e grandes e porra se o jeito que
ela olha para mim não me desfaz.

— O que há com isso que te desperta tanto? É a cor? Aquele vermelho


profundo que hipnotiza e atormenta os sentidos? Ou é a consistência?
Aquele sentimento pegajoso que lembra meu esperma por todo o seu
corpinho apertado?

O corpo dela começa a tremer, minhas palavras a afetam exatamente


como o meu toque. Suas bochechas estão coradas, suas pupilas tão grandes
como se ela se afogasse em belladonna. — Ou espere, — eu ri suavemente,
movendo minha boca sobre a bochecha dela até chegar ao ouvido,
mordiscando o pequeno lóbulo. — Eu acho que é a visão da vida deixando
um corpo que a deixa tão quente e incomodada. O fato de o vermelho ser a
própria essência da vida e quando flui... — Eu paro quando ouço a
respiração dela, — você ganha controle sobre a morte.

Sua boca se abre e o começo de um gemido escapa de seus lábios antes


que eu o engula inteiro com a minha boca, sentindo seu prazer como o
meu. Essa mera ação me fez gozar no local, meu pau puxando meu jeans,
jatos de porra manchando o interior das minhas calças.

Minutos depois, ela ganha o controle de seu corpo e, enquanto olha


para mim, sei que pode sentir o quanto eu gozei de agradá-la.
Os cantos da boca se erguem em um sorriso travesso.

— Você é perigoso,— ela sussurra, a mão seguindo pelo meu peito, —


mas talvez eu seja mais perigosa,— ela diz enquanto desliza a mão sob a
cintura da minha calça, me segurando e me dando um golpe rápido, a mão
dela reunindo todo o meu esperma enquanto ela o traz para o rosto. Ela me
provoca com a língua lambendo minha semente dos dedos, o tempo todo
me dando aquele olhar inocente.

— É isso, Sisi. Precisamos voltar, — expiro, mal consigo me conter. —


Agora.

Ela pisca duas vezes ao perceber a urgência das minhas palavras e,


pela primeira vez, começa a se comportar, provavelmente sabendo que se
ela me empurra eu irei fodê-la aqui, e então vou ter que matar qualquer
transeunte azarado.

Carregamos silenciosamente o padre na parte de trás do meu carro e


depois voltamos ao complexo, finalizando os planos.

Fiel à sua palavra, Sisi havia projetado um quadro de conexões para


todos em que pudéssemos encontrar informações, com alguns ainda
segurando pontos de interrogação — como DeVille e Guerra.

Há um ponto de interrogação de Meester a Miles também, mas suas


outras conexões com meu pai e irmão estão ficando mais claras.
Vestida com uma calça de pernas largas e uma camisa apertada, ela
está de pé na frente do painel, o polegar acariciando a mandíbula
enquanto considera as informações.

— Há algo que não se encaixa bem comigo, — ela se vira para mim,
franzindo a testa. Eu aceno para ela continuar, tomando uma cadeira e
esperando que ela fale.

— Veja aqui, — ela aponta para todos os mafiosos russos que estão
confirmados como envolvidos com Miles. Os mesmos que estão fora da
minha conexão agora. — Alguns deles são organizações muito pequenas,
— observa ela, pegando um arquivo e passando por cada organização em
parte. — Vasiliev tem talvez cinquenta pessoas no total, Semenov tem
ainda menos. Você e Yelchin têm mais sob você, mas mesmo isso não é
ótimo.

— Você está criticando minha organização, hell girl?— Eu pronuncio,


mas ela apenas revira os olhos para mim.

— Com esses números, por que eles estariam investindo em um


experimento de super soldado? O que há para eles? E um experimento que
também não possui dados confiáveis.

Meus lábios se enrolam e não posso deixar de olhá-la com admiração.

— Você estaria certa, — levanto-me da cadeira e vou para o quadro


dela, continuando a observá-la enquanto ela me conduz pelo raciocínio.
— No começo, pensei que talvez eles quisessem esses super soldados
para sua própria organização e, certamente, que desejariam alguém que
não sentisse dor, — ela inclina a cabeça para mim, — não tem medo e é
praticamente uma máquina de guerra. Mas essa é uma quantia
exorbitante de dinheiro que flui de e para as contas deles, — ela me
empurra os papéis.

Eu nem preciso olhar para saber do que ela está falando, já que eu os
memorizei.

— Então eu pensei que talvez eles estavam olhando para vendê-los, já


que seriam uma mercadoria quente para qualquer exército privado ou
nacional, — continua ela e meus lábios se contraem, orgulho inchando no
meu peito enquanto vejo para onde ela está indo.

Ela é a minha combinação. Em absolutamente todos os sentidos.

— Mas por que eles arriscariam muito dinheiro em algo que não está
remotamente próximo de um produto acabado? — pergunta ela, seu tom
sério.

— Você está dizendo que eu sou um produto inacabado, hell girl?— Eu


atiro de volta, aproveitando o jeito que ela fica perturbada.

— Vlad!— ela exclama, furiosa comigo.

— Vá em frente, continue, — levanto minhas mãos para acalmá-la.


— O que estou tentando dizer, — respira fundo, recorrendo ao
quadro, — é que não acho que o Projeto Humanitas esteja onde estiver,
está canalizando o dinheiro dentro ou fora de, — ela explica. — Talvez
parte disso acabe lá, já que Miles é claramente um fanático, mas quantas
pessoas você acha que comprariam a besteira do super soldado? Meu pai
certamente não o fez e, segundo todos os relatos, ele ficaria emocionado
com a perspectiva de ter máquinas de matar à sua disposição.

— De fato, — respondo, meus olhos brilhando de emoção. — Então,


de onde você acha que o fluxo de caixa está vindo?

Ela franze os lábios, as sobrancelhas se unindo.

— Tráfico de seres humanos de algum tipo. Mas deve estar em uma


escala insana. Pense nisso. Crianças desaparecidas. Pessoas sem a
mutação que falta. Deve haver algum tipo de ringue subterrâneo e todos
estão envolvidos. A questão é, no entanto, o que poderia ser tão importante
que todas essas pessoas estavam tão interessadas em investir? Está claro
que tudo está ligado a Miles de alguma forma, mas além de seus planos
estranhos e bastante pessoais sobre os super soldados, não há outras
informações sobre o que ele poderia estar fazendo.

— Você está certa, — eu concordo, minha voz cheia de orgulho. —


Meu palpite é que, uma vez que Miles percebeu que não podia obter o
investimento necessário para seu projeto, recorreu a outra coisa para
atrair pessoas. Ao mesmo tempo, ele canalizou parte desse dinheiro para
sua própria pesquisa. Você está certa de que nem todo mundo compraria a
porcaria de super soldado que ele estava usando, mesmo que os resultados
parecessem atraentes. A pesquisa, no entanto, não é confiável o suficiente
para que possa empurrá-la para as pessoas mais céticas, — acrescento,
vindo para ficar ao lado dela na frente do quadro.

— E acho que é aí que Meester entra em cena, — aponto para a foto


dele no topo do quadro, traçando sua conexão com Miles com meus dedos.
— Desde que meu pai o levou sob suas asas, ele tem exaltado as virtudes
do tráfico de pessoas como fonte de dinheiro rápido. Na época, meu pai
tinha seus próprios negócios, bastante lucrativos, com drogas, e ele não era
um homem propenso a mudar o que já estava trabalhando.

— Então Meester começou suas próprias coisas.

— Sim. Você viu a situação em Papilion Há uma demanda por tudo.


Simplesmente não há pessoas suficientes que possam atender a essas
demandas. Animais, humanos, raridades, cada um deles é valioso para o
comprador certo. E Meester certamente aproveitou isso

— E as lutas, — ela observa.

— Sim. Seu principal negócio é a luta. Ele compra escravos de todo o


mundo e os treina para serem a próxima melhor coisa.

— Você acha que pode ser isso? Luta ilegal? Mas isso não se
beneficiaria de combatentes fortes e geneticamente superiores?
— Eu também pensei nisso e consegui extrair alguns dados de suas
lutas passadas. Mas como tudo é tão obscuro, não consegui encontrar
muito. A informação que tenho aponta para lutadores regulares. Então, se
ele tem alguns daqueles super soldados que Miles pode ter criado, ele
ainda não os mostrou ao público.

— Então não pode ser luta ilegal que todo mundo esteja tão
interessado, certo?

Eu balanço minha cabeça.

— Não. É um nicho abundante e imprevisível para tantas pessoas se


envolverem nele. Também conversei com Enzo, já que muitas das coisas
que acontecem nessa esfera estão ligadas ao nome dele. Ele está
investigando e prometeu me enviar um arquivo atualizado com
compradores e fornecedores.

— Você acha que Jimenez pode estar envolvido nisso?— Ela pergunta,
franzindo a testa.

Eu tinha lhe dado um resumo completo dos negócios de Enzo e tudo o


que havia acontecido nos últimos anos, quando Enzo fez um acordo com
Jimenez para vender sua família. Mas com a morte prematura de Jimenez,
ele se tornou o único executor de metade de sua fortuna.

E como Jimenez era um traficante de sexo conhecido na região,


poderia fazer sentido que ele estivesse envolvido nessa merda.
Exceto que ele não está.

Eu deveria saber desde que ouvi todas as conversas de Enzo durante a


maior parte do ano, me dando uma ideia suficientemente boa do que
Jimenez deixou para trás e como Enzo está usando esses recursos.

— Não, — respondo sem hesitar. — Você poderia dizer que estou


intimamente familiarizado com o funcionamento do império de Jimenez
desde que ele foi o primeiro que tentei me infiltrar na minha busca por
Katya. Conheço quase todas as facetas dos negócios dele e posso garantir
que ele não poderia estar envolvido. Principalmente porque ele não podia
invadir Nova York até muito recentemente. Isso, — aponto para o quadro
de conexões, — é muito mais antigo e provavelmente remonta a mais de
uma década.

— Entendo, — ela assente, digerindo as informações.

— Mas agora, quando você coloca Sacre Coeur na equação, acho que é
algo um pouco diferente, — acrescento, estreitando meus olhos.

Tenho um palpite do que pode ser, mas reservarei julgamento depois


de recebermos as informações da Madre Superiora.

— É definitivamente algo valioso se tantas pessoas estão dispostas a


apostar tudo nele.
— Descobrimos o que é isso e encontramos Miles. Porque uma
operação dessa magnitude provavelmente precisará de muito espaço para
gerenciar esse fluxo de pessoas. E definitivamente, estamos falando de
muitos funcionários corruptos que permitem que isso aconteça.

— Querido Deus, mas isso significa níveis e níveis de corrupção, —


acrescenta ela, horrorizada.

— Sim. E sabendo o quão perigoso será, quão profundo, eu teria


cessado isso imediatamente para sua segurança. Mas eles já estão nos
mirando, então eu preciso ter certeza de que serão varridos da face desta
terra. Só então estarei em paz, — digo, resoluto em minha decisão de
acabar com isso para sempre.

Enquanto alguém pretender machucar minha Sisi, eles estão


praticamente mortos.

— Vlad, — ela se vira para mim, — você sabe que eu nunca deixaria
você fazer isso. Mesmo que fosse para minha segurança. Você precisa
encontrar sua irmã e ainda mais, você necessita descobrir o que aconteceu
com Vanya. Caso contrário, você nunca será capaz de superar isso.

Ela levanta a mão, encaixando-a na minha bochecha.

— Você viu como desbloquear algumas de suas memórias ajudou você.


Acredito que, uma vez que tenha certeza do que aconteceu com vocês dois,
poderá seguir em frente. E talvez seus episódios também desapareçam,
desta vez para sempre, — diz ela suavemente, com o olhar quente e cheio
de amor.

— Você está certa, — respiro fundo. — E eu preciso melhorar. Por


você, — começo, apoiando-me no toque dela, — e para a família que
teremos no futuro. Eu sei que não seria capaz de confiar em mim mesmo...
— Eu deixo escapar e ela sabe exatamente o que quero dizer quando sua
boca se instala em um sorriso triste.

— Você é o suficiente para mim, Vlad. Eu só quero que seja o melhor


você.

— Eu posso ser o suficiente agora, — traço um dedo pelo rosto dela,


enfiando um fio atrás da orelha, — mas não serei o suficiente para sempre,
— digo sinceramente.

Eu sabia disso desde que vi como ela foi afetada pelo aborto. Ela é tão
gentil e cheia de amor que qualquer criança teria sorte em tê-la.

— Você vai querer filhos eventualmente, Sisi e eu preciso ser normal o


suficiente para poder entregá-los a você.

— Vlad...

— Não, — coloco meu dedo nos seus lábios, — não minta para mim e
não minta para si mesma, Sisi. Eu sei que você vai querer uma família
algum dia. E eu também quero isso, porque sei que ótima mãe você será.
Mas até que esse momento chegue, farei o possível para trabalhar comigo
mesmo, para não ser um perigo para você ou para nossos filhos.

— Deus, Vlad, — sussurra, os olhos brilhando de lágrimas, — por


que você é tão perfeito? — ela suspira profundamente.

— Eu não sou. Mas pretendo ser. Para você, — inclino-me para beijar
sua testa.

— Nós precisamos nos concentrar no escritório e os aposentos dela, —


digo depois que assistimos cuidadosamente algumas das imagens de Sacre
Coeur, fazendo algumas anotações sobre os padrões da Madre Superiora.

— Ela é o tipo de pessoa que manteria tudo no papel, — observa Sisi


ventindo o seu hábito novamente.

Ao contrário das freiras que fizeram seus votos, seu hábito não é
preto, mas um azul claro.
— Não acredito que tenho que usar isso de novo, — ela murmura sob
a respiração enquanto enfia o cabelo na touca. — Bom?— ela se vira para
mim, levantando uma sobrancelha.

— O que você quer que eu diga? Para mim, você ficaria quente vestida
com qualquer coisa.

— Isso, — ela respira fundo, pegando um espelho de mão e


examinando sua marca de nascimento. — É por isso que eu odiava essas
toucas. Isso é sempre tão visível, — ela solta um suspiro decepcionado.

— Sisi, — em dois passos estou atrás dela, virando-a para me encarar


e fazendo-a largar o espelho. — Isso, — escovo minha mão na marca
vermelha, — apenas a torna mais única. Dá beleza ao seu personagem.

Eu me inclino para beijar o local logo acima da sobrancelha, — a


soma de suas imperfeições é o que a torna perfeita para mim, Sisi.

— Lá vai você de novo com suas palavras melosas, — ela murmura,


corando a raíz de seus cabelos.

— Não abaixe a cabeça novamente, — eu inclino o queixo para que


ela possa olhar nos meus olhos. — Eu te disse hell girl. A partir de agora
todo mundo vai se curvar para você, não te ignorar.

Ela acena para mim.


— Você está certo. Eu deveria parar de ter vergonha disso, — ela toca
sua marca de nascença com o dedo, — faz parte do que me faz eu,— ela
diz e eu não poderia estar mais orgulhoso dela.

— Sim, estou feliz por estarmos na mesma página, — eu ri, dando-lhe


um beijo rápido nos lábios, — agora termine de se vestir para que
possamos ir.

— Eu terminei, — diz ela, me avaliando com os olhos. — Não posso


dizer a mesma coisa sobre você, Sr. Sacerdote gostoso, — ela se move para
o meu pescoço.

Eu me visto inteiramente de preto, vestindo uma batina católica


clássica, mas ainda não havia colocado a gola clerical.

Tirando a peça branca da mesa, ela a coloca em volta do meu pescoço,


certificando-se de que esteja no lugar e cobrindo minha tatuagem.

— Agora, se você fosse meu padre, — ela começa a seduzir, movendo


as mãos sugestivamente por todo o meu peito, — sei que seria um
elemento permanente para a hora da confissão.

— Realmente, — eu pronuncio, — e qual seria sua confissão, hell


girl?— Eu pergunto, curioso para ver o que ela aprontaria.

Seus lábios se enrolam para cima em um sorriso felino, seus cílios


tremulando dessa maneira enlouquecedora. — Eu pediria perdão... — ela
segue em frente, imitando repentinamente uma colegial tímida olhando
para mim com vergonha, — por brincar com minha boceta enquanto penso
em você, — ela sussurra, dois pontos vermelhos manchando suas
bochechas.

Porra!

— Droga, Sisi! Você não pode dizer coisas assim e assumir que não
passarei o tempo todo pensando em você naquele maldito confessionário,
brincando consigo mesma enquanto ouço você gemendo seus pecados, —
eu gemo, fechando os olhos e dispondo meu corpo para se comportar.

Nós temos um plano. Um plano cuidadosamente elaborado que não


tem espaço para erros. Ou para um encontro ilícito no confessionário, ou
eu transando com ela na mesa do altar, porque caramba, se não é só isso
que posso pensar agora, a imagem dela exposta nua diante de mim,
cercada por objetos sagrados quando ela é de fato a mais santa de todas...

— Porra, Sisi. Você está me matando aqui, hell girl, — murmuro


quando chego para ajustar meu pau.

— Bem, você não vem?— Abro os olhos para vê-la já na porta, um


sorriso satisfeito no rosto.

— Você é uma maldita provocadora de paus, não é?— Eu falo pegando


minhas facas antes de segui-la.
Sua risada suave é a única resposta que recebo quando tento voltar à
área.

Eu sou um homem simples. Eu só tenho duas configurações padrão:


matar e Sisi. E quando o último for ativado, você pode apostar que serei
inútil por outra coisa senão ela.

O caminho para a igreja nos leva mais de uma hora, hora em que
repassamos o plano mais uma vez. Como Sisi está familiarizada com todos
os cantos do Sacre Coeur, não estamos ficando cegos. Embora eu tenha
feito minha lição de casa estudando as imagens de segurança, existem
apenas algumas câmeras de segurança destinadas aos claustros e
alojamentos das freiras. Então, vou confiar no conhecimento dela para
isso.

Assim que estamos em algum lugar perto do convento, estaciono o


carro, fazendo uma última verificação.

Sisi tem uma artilharia inteira amarrada ao corpo sob seu hábito,
assim como eu. Queríamos ser o mais completos passíveis e, como Sacre
Coeur está envolvido em negócios obscuros há anos, não devemos
subestimar o local.

— Verifique sua comunicação, — digo quando ela sai do carro.


O plano é fazê-la entrar primeiro, fingindo que está voltando ao
convento após uma visita prolongada à família, e eu logo me juntaria a ela
depois de passar pelo processo de validação nos portões.

Ela levanta a mão no ouvido, clicando no dispositivo e me levando a


dizer alguma coisa.

—Funciona, — ela confirma.

— Bom. Dê-me um sinal quando estiver dentro, — digo a ela, quase


não querendo a deixá-la sozinha.

— Vejo você daqui a pouco, — ela me dá um beijo rápido antes de


sair.

Enquanto espero, ouço atentamente tudo o que está acontecendo ao


seu redor, minha sede de sangue só aumenta quando ouço alguns elogios
dos guardas sobre ela.

— Não se importe com eles, — ela sussurra ao passar pelo ponto de


verificação de segurança, — eles provavelmente acabaram de ouvir os
rumores sobre mim, — diz ela como se não fosse grande coisa que eles a
chamassem de pária.

Eu aperto meu punho, minha raiva aumenta quando percebo que isso
é apenas um pouquinho do que ela teve que suportar ao longo dos anos.
E ah, mas eles definitivamente desejariam ter mantido a boca fechada
hoje. Especialmente depois que eu terminar com eles.

— Estou perto da gráfica, — ela fala no comunicador, — você deve


sair em cerca de cinco.

Ao sinal dela, saio do carro, mais uma vez verificando se todas as


minhas armas estão no lugar. Como sou uma nova adição ao convento, me
farão definitivamente passar pelo detector de metais. E então eu tive que
ser um pouco inteligente e me armar com facas obsidianas. Eu também
empilhei partes impressas em 3D de uma arma na minha capa, pronto
para pegá-las, se necessário.

Em suma, eu deveria poder passar por qualquer verificação de


segurança.

Entrando pelos portões, encontro dois guardas que me olham de cima


a baixo, tratando-me imediatamente dez vezes melhor do que Sisi.

Provavelmente porque sou homem.

Malditos bastardos, escaneio seus rostos com cuidado enquanto eles


passam por todo o protocolo comigo, garantindo que eu saiba quem matar
mais tarde.

Existem alguns documentos a serem assinados, mas logo sou


examinado e pronto para partir.
— Onde você está?— Eu pergunto a Sisi quando passo por eles.

Eles estavam incomumente relaxados comigo, nem se preocupando em


me fazer passar pelo detector de metais.

— Perto da capela, — ela responde.

— Bom, eu te encontro lá.

Nem consigo terminar minhas palavras quando ouço alguém se dirigir


a Sisi.

— Oh, olha quem está aqui, — diz uma garota. — Assisi, — seu
nome é proferido com desdém enquanto ela continua a insultar minha
esposa. — O que aconteceu, eles perceberam o quão perdedora você era e a
devolveram, — continua ela, rindo da Sisi.

— Eles provavelmente tiveram muita má sorte e decidiram se livrar


dela, — outra se junta, e ambas parecem estar rindo de Sisi.

Minha Sisi.

Meus pés rapidamente me carregam nessa direção, minha visão se


encolhe quando só vejo uma coisa, a morte.
— Ai, — meus olhos se arregalam ao ouvir uma voz gritar de dor, —
Pare, — ela continua, e então eu viro a esquina, tendo uma visão perfeita
da capela.

Um sorriso puxa meus lábios enquanto eu paro, cruzando meus braços


sobre meu peito e observando com orgulho enquanto minha garota cuida
dessas valentonas.

Sisi está de pé sobre as duas garotas, segurando uma em um


estrangulamento, enquanto a outra está no chão, o rosto dela na calçada
enquanto Sisi empurra o pé na bochecha.

— Por favor, — continua a implorar por misericórdia.

— Sério? O que você fez quando EU disse por favor?— Sisi pergunta,
sua voz inflexível. — Aqui, é o que acontece quando você diz por favor, —
ela sorri antes de torcer a outra freira, empurrando-a para o chão, a cabeça
esmagando na calçada.

Há apenas suspiros de dor, pois ela não consegue mais se levantar, as


mãos tremendo em uma tentativa ruim de se mover.

— Você quer dizer por favor também?— Sisi pede à outra freira,
inclinando-se para olhá-la.

Ela não responde, ou não pode responder, já que o pé de Sisi ainda a


está segurando. Apenas quando acho que pode deixá-las ir, ela vai um
passo além quando levanta o pé, usando o momento para colidir com o
rosto da garota.

Há um pequeno som através do comunicador, pois tenho certeza


absoluta de que ela quebrou a crista da testa.

— Sisi, venha aqui, — digo a ela, por um lado, extremamente


orgulhoso, por outro, preocupado que isso possa chamar atenção
indesejada para nós, com o qual estou bem, mas somente depois de
garantirmos o que estamos procurando.

Ela levanta o rosto, me vendo à distância. Seus lábios se enrolam e


começa a correr em minha direção, uma expressão despreocupada em seu
rosto que me deixa quieto, olhando para ela e sua magnífica beleza.

Porra. Eu.

Tenho certeza de que minha boca está aberta, pois só posso vê-la
correr em minha direção, sorrindo me cegando.

— Você viu, — ela me pergunta, animada e sem fôlego, — devolvi o


que elas mereciam, — continua ela, pura alegria em sua voz.

— Estou orgulhoso de você, hell girl, — eu a elogio, acariciando


suavemente sua cabeça.
De alguma forma, seu hábito a faz parecer ainda menor e mais
delicada, o topo da cabeça mal chega ao meio do meu peito. Eu me
acostumei tanto com ela ao meu redor o tempo todo que até nossas
diferenças de tamanho se tornaram um ponto discutível. Embora ela seja
pequena em comparação a mim, sua personalidade é uma força a ser
reconhecida, fazendo-me esquecer completamente que estou lidando com
um ser humano do tamanho de uma mosca.

Ela é apenas minha Sisi.

Estou tentando o meu melhor para manter uma distância confortável,


caso alguém nos veja. Ainda assim, a visão de seu sorriso alegre enquanto
me conta com entusiasmo como ela queria fazer isso por mais tempo só faz
meu coração bater mais rápido.

— Eu nunca realmente recorri à violência antes, — ela suspira, —


principalmente porque elas tinham força em números e eu sabia que eu
poderia tê-las machucado uma vez, mas na próxima elas garantiriam que
eu pagasse de volta. Mas agora... — ela olha para cima, os lábios se
separando em um sorriso tão deslumbrante, estou tendo dificuldade para
não pedir para ela me deixar pintar e imortalizá-lo para sempre. — Isso foi
tão bom, — ela exclama, pulando para cima e para baixo em uma dança
feliz.

— Hell girl, — paro de repente, e ela se vira para mim, inclinando a


cabeça e parecendo preocupada.
— Isso, — digo, colocando dois dedos nos cantos da sua boca,
puxando-os para baixo em uma posição neutra. — Vou ter dificuldade em
me concentrar se você continuar sorrindo, então, por favor, espere até
terminarmos, — eu a instruo, meu tom sério.

Ela começa a rir de mim antes de se sacudir, uma súbita expressão


séria no rosto enquanto assente.

— Entendido, — ela responde, mesmo que seus lábios estejam


tremendo de risada.

A atrevida.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Vlad não pode ajudar com o sorriso astuto toda vez que ele olha para
mim, e por todos os seus protestos de que eu não deveria tentá-lo ainda
mais, ele com certeza faz um bom trabalho em obter essa resposta de mim.

Enquanto nos dirigimos para os prédios administrativos, percebo que


o convento está mais silencioso do que estou acostumada. Especialmente
porque ainda não é toque de recolher.

Houve uma reunião não tão bem-vinda com Sofia e Carlotta, que
apenas tiveram que vomitar seu veneno em mim. Mas pela primeira vez
eu lhes dei o que elas mereciam, mesmo que fosse imprudente fazê-lo.
Mas quando elas disseram que eu era má sorte, acabei quebrando,
anos sendo chamada assim na minha cara, me fazendo esquecer tudo,
menos vingança.

Com toda a honestidade, eu esperava que Vlad me castigasse um


pouco por sair do plano, mas, em vez disso, ele acabou de dizer que estava
orgulhoso de mim, sua expressão cheia de tanto apoio que quase derreti no
local.

Ainda assim, não posso me afastar do plano novamente até


terminarmos com a Madre Superiora.

E assim, quando entramos no prédio que abriga seu escritório, as


habilidades de Vlad na fechadura têm a chance de brilhar.

— E essa é outra habilidade a ser adicionada ao seu arsenal, —


observo, divertida.

— Você verá, hell girl. Há poucas coisas que eu não sou bom, — ele
pisca para mim, a porta se abre com um empurrão mínimo.

— Me mostre, — murmuro assim que ele me manda para dentro,


entoando primeiro as damas.

O escritório é muito simples, com uma mesa, uma cadeira e algumas


gavetas.
— De acordo com o que observei, ela só vem ao escritório todas as
terças e quintas-feiras, o que significa que temos tempo de sobra para
procurar sem medo que ela apareça, — diz ele ao abrir uma gaveta,
retirando o arquivos.

Começamos a analisar tudo no escritório, mas a maioria dos


documentos são documentos administrativos de Sacre Coeur ou de um dos
orfanatos.

— Isso é principalmente doações, — suspiro quando termino com uma


gaveta.

— Nada do meu lado também, — ele comenta enquanto folheia os


papéis, com os olhos rapidamente procurando palavras-chave.

Às vezes esqueço que estou lidando com alguém que não é muito
humano. No tempo que levei para passar por uma pilha, ele passou por
três.

— Podemos ter que verificar o quarto dela, — acrescento,


decepcionada. Eu esperava que encontrássemos tudo o que procurávamos
no escritório para não demorar mais do que o necessário.

— Ainda não, — diz Vlad, com os olhos ainda nos papéis.

Quando ele termina sua leitura, os deixa cair na mesa com um baque,
parecendo irritado.
— Você disse que ela somente mantinha registros físicos, — ele
começa, o polegar acariciando a mandíbula.

Eu aceno.

— Ela era conhecida por sua aversão à tecnologia. Eles até tentaram
adicionar mais alguns dispositivos à igreja e outros lugares ao redor do
convento para facilitar as coisas para nós. Mas ela não quis. Foi um
enorme escândalo alguns anos atrás. Ela continuou dizendo que a
tecnologia é obra do diabo e não tem lugar na casa de Deus. A menos que
ela seja uma hipócrita maior do que eu lhe dei crédito, acho que ela não
teria nenhuma tecnologia.

— Você pode estar certa, — ele contorna a mesa, tira a cadeira e


inspeciona a parede. — Viu? Não há fios para internet ou mesmo uma
tomada. Com isso em mente, quem não usa pelo menos uma lâmpada?—
ele balança a cabeça, um sorriso nos lábios, — a menos que ela esteja
lendo todos esses documentos à luz de velas?— ele brinca.

Mas, quando viro a cabeça, vejo um castiçal vazio e mostro a ele. —


Luz de vela, — digo a ele e ele ri.

— Por que alguém que claramente não está interessado nos produtos
da vida moderna estaria envolvido no tráfico de pessoas? O que ela está
fazendo com o dinheiro?— Ele franze os lábios, continuando a olhar em
volta.
— Deveríamos ir para o quarto dela, já que não há nada aqui, —
limpo meu hábito enquanto me levanto, colocando tudo de volta dentro das
gavetas para que não pareça que alguém esteve aqui.

— Não, ainda não, — Vlad murmura, dando alguns passos para trás
e estudando as paredes.

Enquanto o convento é antigo, os edifícios administrativos foram


construídos mais recentemente, em algum lugar na parte posterior do
século XX, então tudo ao redor é puro concreto.

— Se ela não confia nos computadores para manter suas coisas


seguras, — ele estreita os olhos estudando a parede atrás da mesa, —
então ela deve confiar em algo, certo?

Seu olhar astuto se move lentamente sobre cada centímetro de


concreto. Eu franzo a testa quando chego ao seu lado, tentando ver o que
ele está olhando, mas não encontrando nada fora do comum. Simplesmente
paredes brancas.

— O que é isso?— Pergunto quando ele dá um passo à frente,


concentrando-se imediatamente em um ponto em particular, aquele que
está escondido atrás dos arquivos.

Ele não responde. Em vez disso, ele move os arquivos para o meio da
sala, voltando para a parede e batendo levemente no cimento. Ele continua
fazendo isso, movendo-se algumas polegadas para a direita toda vez.
Até ele parar.

— Ouça isso, — diz ele, com a orelha na parede. Quando estou perto,
ele bate novamente, e meus olhos se arregalam quando percebo o que ele
quer dizer.

— É oco.

Ele acena com a cabeça, com as mãos se movendo ao redor da


superfície da parede como se estivesse procurando alguma coisa. Quando
ele atinge alguns soquinhos na metade inferior da parede, ele bate a palma
da mão contra eles, empurrando-os para dentro.

Algumas tentativas, e um alçapão construído dentro da parede se


abre.

— Acho que este é o lugar de confiança dela, — ele sorri, claramente


satisfeito consigo mesmo.

Empurrando a parede falsa aberta, encontramos um espaço de


armazenamento muito pequeno, todo cheio de caixas.

— Acho que vamos passar algum tempo aqui, — acrescento com


desdém quando tiramos as caixas, colocando-as no chão. — Ou não... — Eu
reviro os olhos quando o vejo já colocando alguns arquivos, terminando
com eles.
— Eu sou um leitor rápido, — ele encolhe os ombros.

— Não, você é um leitor incrivelmente rápido. O que é isso mesmo?—


Pego uma caixa, removendo alguns papéis e começando a examiná-los.

— Eu posso ler quase duas mil palavras por minuto, — diz ele
casualmente, — ajuda a peneirar muitas informações.

— Uau, é claro que você se mediria a si mesmo, — acrescento de


brincadeira, — bom golpe para o seu ego.

Ele levanta os olhos, olhando para mim estranhamente.

— Foi Miles quem nos fez testar nossa velocidade. Ele queria que nos
destacássemos em todas as áreas. E eu, é claro, era seu aluno estrela, —
ele brinca e, enquanto tenta parecer divertido, posso dizer que ele não é
afetado por essa memória.

Quero me desculpar por ter mencionado, mas sei que ele não
apreciaria isso. Vlad gosta de fingir que é invencível, especialmente
quando se trata de assuntos de natureza mais emocional, já que ele não
está acostumado a seus sentimentos.

Isso não significa que ainda não é humano, com reações perfeitamente
humanas. Ele simplesmente não sabe como lidar com elas.
Continuamos examinando cada artigo em parte até Vlad finalmente
encontrar algo interessante.

— O que é isso?— Eu pergunto quando ele remove uma pilha de


pastas da parte inferior da caixa.

Ele franze a testa enquanto os espalha.

— Arquivos médicos, — diz ele, lendo os nomes das pessoas a quem


pertencem.

— Eu conheço essas pessoas, — interponho imediatamente. — Todo


mundo é de Sacre Coeur. Espera... isso significa que há um para mim
também?— Levanto-me, sentando-me rapidamente ao lado dele.

— Vamos ver, — ele os arrasta até que, com certeza, haja um com o
meu nome.

Pego-o das mãos dele, curiosa demais para ver o que está dentro.

— Isso não faz sentido, — murmuro ao passar por todos os resultados


do laboratório. Vlad se inclina para ler, com as sobrancelhas franzindo
enquanto aponta para alguma coisa.

— Sisi, — ele começa, e posso dizer apenas por sua voz que é algo
ruim. — Estes são todos os testes que eles fazem para compatibilidade de
órgãos.
— O que você quer dizer?

— Aqui, — ele tira a pasta de mim, apontando para uma página, —


esta é uma confirmação de compatibilidade para medula óssea, — ele
continua a digitalizar as informações, mas estou tendo dificuldade em
digerir o que ele acabou de dizer.

— Um transplante de medula óssea. Para mim? Mas não me lembro


de estar doente, — digo a ele.

— De acordo com este arquivo, você tinha três anos e sete meses
quando isso aconteceu. E você não estava doente, — diz ele com tristeza, e
há uma pitada de violência em suas palavras, — foi você quem dooua
medula óssea. Porra, Sisi... — ele amaldiçoa baixinho, voltando
rapidamente para os outros arquivos.

— Este. Tudo isso, — diz ele, abrindo cada arquivo e analisando os


muitos resultados do laboratório, — todos esses são resultados de
compatibilidade. Porra, — ele fecha os olhos, os punhos cerrados.

— Vlad, vá mais devagar, — toco o braço dele, uma pitada de pânico


inchando dentro de mim. — O que está acontecendo?

— Transplantes ilegais de órgãos. Essa foi a peça que faltava. É por


isso que todos estariam tão dispostos a se envolver, e é por isso que
existem tantos níveis de corrupção. Porque o que as pessoas não dariam
por um novo rim ou um novo pulmão, quando através dos canais oficiais
você espera anos por um novo órgão que talvez nunca venha.

— Vlad, — respiro fundo, muito impressionada com isso. — Você está


dizendo que eles tiraram medula óssea de mim para vender para alguém?
Fácil assim?

Ele acena com franqueza, os papéis na mão estalando sob a pressão de


seu aperto.

— Caralho, Sisi. Sinto muito, — diz ele, mas não consigo mais ouvir
nada.

Fecho os olhos, lembrando vagamente as visitas ao hospital quando


todas as crianças receberam doces após algum procedimento. Eu tento
muito lembrar o que aconteceu, mas nada vem a mim.

— Quem mais? Quem mais doou?— minha voz treme um pouco


quando eu viro para Vlad, arrancando as pastas do colo dele. — O que eles
doaram?

Mas, à medida que examinamos todos os arquivos, o que descobrimos


é horrível. Há casos de todos órgãos sendo retirados de crianças.

Crianças!
E quanto mais nos aprofundamos nas outras caixas, mais nomes
encontramos nos outros orfanatos.

— É um grupo inteiro, — sussurro. — E eles fazem isso há décadas.


Décadas, Vlad. E ninguém descobriu?

— Mas é exatamente isso, hell girl. Todo mundo sabia disso. Eles
apenas protegeram seus próprios interesses porque sabiam que, em algum
momento, também precisariam desses serviços.

— Então é isso que Miles aproveitou para obter financiamento para


seu projeto. Ele montou as instalações para os transplantes e forneceria os
médicos, certo?

— Sim. Exatamente. E isso significa que Madre Superiora deveria


saber onde fica sua sede, já que aposto que ele está abrigando todos os seus
procedimentos no mesmo lugar.

— Eu também quero saber, — sussurro, meus olhos nele. — Eu quero


saber quem tirou isso de mim. Quero saber quem pagou pela minha
medula óssea. Inferno, Vlad, eu... — Eu me afasto, minha garganta
travada de emoção ao perceber o quanto esse lugar me explorou.

Eu e todas essas outras crianças.

— Sisi, — ele agarra minha nuca, trazendo minha testa para a dele.
Fechando os olhos, ele me segura, a respiração nos lábios, o calor na minha
pele. — Nós vamos descobrir. Eu prometo a você. E eu vou matar todo
mundo que tocou um fio de cabelo no seu corpo, você me entende?

Suas mãos se movem lentamente para cobrir minhas bochechas,


pedindo que eu olhe nos olhos dele.

— Você me entende, Sisi? Eu vou matar todo mundo que você quiser.
Você acabou de me dar um nome, e está feito. Porra, — ele libera um
hálito esfarrapado. — Foda-se, Sisi. Não posso... — ele se inclina para
mais perto, beijando minha testa, meu nariz e, finalmente, meus lábios. —
O pensamento de você, pequena e indefesa em uma cama de hospital,
enquanto uma enfermeira improvisada enfia uma agulha na espinha está
me matando, — ele suspira profundamente. — Está me matando.

— Eu não lembro disso. Realmente não, — pressiono minha própria


mão na bochecha dele. — Talvez seja melhor assim, mas ainda preciso
descobrir. Eu... Isso não pode continuar, Vlad. Eu sei que o mundo é um
lugar fodido, mas estamos falando de crianças. Crianças indefesas sem
ninguém para cuidar delas, — minha respiração trava na garganta,
porque isso parece um pouco perto demais de casa.

Eu era uma daquelas crianças, afinal.

— Eles não conseguirão se safar, — continuo quase sufocando com


essa angústia, um abismo profundo no meu coração percebendo a sorte que
tive por sair dessa viva.
Quando os outros não saíram.

— Eles não vão, — ele é rápido em dizer. — Eles não vão. Uma
palavra sua, hell girl, e eu puxo o gatilho. É isso. Sem perguntas, — ele
acaricia meu cabelo suavemente, a emoção em suas feições quase
espelhando a minha.

Porque nós somos um.

— Eu sou sua máquina de matar. Então me use. Mate todos que


quiser. Você diz a palavra e suas cabeças caem. É fácil, — continua ele, e
posso ver que é a única maneira que ele sabe como me confortar.

— Nós vamos fazer isso. Juntos, — digo, mais resoluta do que nunca.

Quando terminamos de filtrar tudo, já é noite. Colocamos tudo de


volta e depois seguimos em direção aos alojamentos.

— Como vamos fazê-la falar?— Eu pergunto antes de entrarmos no


prédio.

— Deixe isso para mim, Sisi. Vou garantir que ela nos diga tudo antes
de matá-la da maneira mais dolorosa por tudo o que ela fez com você.

— Não, — eu paro, minha mão no braço dele. — Deixe-me, — levanto


meus olhos para os dele. — Eu quero ser a única a fazer isso. Eu...
Ele coloca o dedo nos meus lábios, não me deixando continuar.

— Eu sei. Eu sei, — ele pressiona os lábios em uma linha apertada.


— Eu vou ajudá-la com o que você precisar. Você sabe que eu sempre tenho
suas costas, — diz ele, suas palavras doces me aquecendo por dentro.

— Eu sei que todo o objetivo disso era encontrar Miles, — digo antes
de perder a coragem. — Mas também sinto que finalmente estou fechando
um capítulo doloroso da minha vida. Segredos passados estão sendo
revelados, e as pessoas que fizeram da minha vida um inferno serão
punidas.

— Estou feliz, — ele levanta minha mão na boca. — Enquanto você


estiver feliz, eu estou feliz, — diz, e não posso me ajudar quando pulo
rapidamente para dar um beijo na bochecha dele.

— Vamos fazer isso!

Exceto que Madre Superiora não está em seus aposentos. Procuramos


em todos os lugares por ela, mas ela não está lá dentro.

— Deixe-me verificar as câmeras rapidamente, — Vlad pega o


telefone, acessando o feed e procurando qualquer sinal dela.

— Ali, — ele a encontra em um quadro, deixando seus aposentos à


meia-noite. Acessando algumas das outras câmeras, conseguimos
identificar a localização dela em algum lugar ao redor da igreja.
Vlad também faz um de seus truques e consegue desviar todas as
imagens de segurança, colocando-as em um loop para que não haja
vestígios de nós.

— Ela deve estar dentro da igreja, — observo quando chegamos à


frente dela.

— Um pouco tarde demais para rezar seus pecados, você não diria? —
Vlad murmura com desdém, agressão já está rolando dele.

Ele tem sido assim desde que encontramos meu arquivo médico.
Embora ele não tenha dito isso, posso dizer que dói ainda mais do que eu,
já que não me lembro de nada. Mas ele tem um conhecimento íntimo de
como é ser cortado e sondado, por isso não deve ter sido fácil ouvir que eu
estava em uma situação semelhante.

Desde o início, pude observar a mudança na atmosfera ao seu redor


sempre que seu humor oscila, e a tensão se tornou cada vez mais
insuportável, pois eu o observava se agarrar e abrir os punhos quando
pensava que eu estava distraída.

À sua maneira, ele não quer me trazer medo de que isso possa
desencadear uma memória, e então eu sei que ele está se segurando muito.
Mas depois que terminarmos com Madre Superiora, pretendo ter uma
conversa com ele.
Parando em frente à igreja, respiro fundo, pronta para enfrentar todos
os meus demônios passados. Indo para Vlad, eu abro a porta.

Ele está atrás de mim, e eu sinto como seus olhos estão estudando
cada centímetro do nosso entorno, então eu sei que nada pode me
prejudicar. Tê-lo ao meu lado realmente me faz sentir invencível, e então
eu lhe dou um último sorriso antes de educar minhas feições.

O acerto de contas chegou.

Enquanto caminhamos pelo corredor, vejo a forma amontoada de


Madre Superiora. Ela está de joelhos, a cabeça baixa em frente ao altar,
um longo rosário pendurado nas mãos. Sua cabeça vira no momento em
que ouve o barulho atrás dela, seus olhos tendo dificuldade em discernir
quem é que está perturbando seu tempo privado.

— Você não sabe que é hora do toque de recolher?— Ela pergunta, sua
voz me irritando quando de repente me lembro de todos os insultos e
zombarias proferidos por essa mesma voz.

Eu não respondo, entrando mais na igreja.

Meu próprio cavaleiro de armadura brilhante está atrás, misturando-


se nas sombras enquanto ele apenas assiste, deixando-me fazer o que eu
preciso fazer. E sua confiança incondicional é a única coisa que me torna
capaz de seguir adiante.
A única luz dentro da igreja vem do altar, onde uma dúzia de velas
são acesas em um pequeno círculo, o tremor de luz confinado a uma
pequena área.

É assim até que eu esteja a poucos passos dela que Madre Superiora
percebe quem eu sou, seus olhos se arregalando, sua boca aberta em
choque.

— Assisi, — ela engasga, perturbada. — O que... o que você está


fazendo aqui?

— Madre Superiora, — digo sombriamente, e um pensamento


perverso de brincar com ela me passa pela cabeça. — Eu vim para lhe
cobrar suas dívidas, — continuo, muito lentamente colocando um pé na
frente do outro.

— Como é que você está aqui? Você não pode estar aqui.— Ela se
levanta, olhando para mim com confusão.

— Não é para onde todos vamos onde estamos sem rumo? Para o lugar
que conhecemos melhor? Lar?— A palavra lar queima nos meus lábios, e
saber que essa era realmente minha casa há tanto tempo faz pouco para
saciar a necessidade de destruição que se forma dentro de mim.

— O que... Não sei do que você está falando, — ela imediatamente


rebate, embora eu note uma ligeira contração nos olhos enquanto ela olha
em volta para qualquer saída.
— Você sabia o que eles fizeram comigo?— Eu pergunto, lutando
contra um sorriso enquanto ela estreita os olhos para mim. Apesar de sua
bravata percebida, posso ver o leve tremor de suas mãos, as contas do
rosário se movendo em um movimento para frente e para trás e se
encolhendo uma contra a outra. — Como eles tiraram do meu corpo até
que não restasse mais nada? E você permitiu, — entoei, colocando toda a
força em minha voz e aproveitando a maneira como o som ecoa na igreja.
Levanto o dedo e aponto para ela e, finalmente, recebo a reação que estava
esperando.

Suas feições estão em branco, sua máscara caindo quando ela percebe
o que quero dizer.

— O que... — ela sussurra, lentamente se afastando de mim. — Você


não é real, — ela balança a cabeça.

Bem, bem, mas acho que minha conversa fantasmagórica parece estar
funcionando. E então eu empurro, querendo ver o medo gravado em seu
rosto.

— A culpa é sua, — digo dando mais um passo em sua direção.

Ela continua balançando a cabeça, fechando os olhos e fazendo o sinal


da cruz sobre o corpo, os lábios murmurando uma oração silenciosa.

— Você está com medo agora? Com medo de enfrentar seus pecados?
Meu tom é consistente por toda parte, e faço um esforço consciente
para não me entregar explodindo em um grito, exigindo saber exatamente
o que ela fez comigo.

E parece funcionar enquanto ela continua se afastando até tropeçar


nos pequenos degraus do altar, caindo de bunda.

Seus olhos estão olhando para uma saída, a mão empurrando aquele
rosário no meu rosto como se pudesse protegê-la de mim.

Caindo em um joelho na frente dela, eu o arranco de suas mãos,


jogando-o no chão.

— Você, — ela vomita, as sobrancelhas se apertando, a mão


estendendo para tocar meu braço, — você não está morta, — continua ela,
sua voz acusadora.

E aí está o problema. Por que pensaria que eu estou morta se ela não
está até os joelhos nessa coisa toda?

— E como você saberia se eu morresse?— Eu inclino minha cabeça


para o lado, estudando suas reações.

— Você... — ela gagueja e suas mãos me alcançam mais uma vez,


provavelmente tentando aplicar mais alguns dos castigos que ela infligiu a
mim quando eu era mais jovem.
Há apenas um problema.

Eu não sou mais uma criança.

Eu pego as mãos dela no ar, torcendo-a até o meu braço em volta do


pescoço, restringindo o fluxo de ar.

— Acho que temos alguns problemas não resolvidos, Madre Superiora,


— sussurro em seu ouvido. — E eu gostaria que você cooperasse, —
continuo, agarrando o rosário do chão e envolvendo-o em volta da
garganta, as contas cavando em sua carne.

Um olhar para trás, e eu proponho que Vlad avance.

Ele casualmente passeia até o altar, imobilizando imediatamente os


membros da Madre Superiora para a mesa.

— E esse demônio, — ela cospe a palavra quando obtém uma visão


clara de Vlad. — Claro! Eu não poderia esperar mais nada de você, se
envolvendo com o diabo. Eu te disse, não disse?— ela dá uma risada
maníaca, — que você acabaria mergulhada em pecado. — Ela zomba de
mim e antes que eu possa me ajudar, meu punho voa para baixo e entra
em seu rosto, batendo-a para o lado.

Com os olhos arregalados, ela me olha como se não pudesse acreditar


que eu ousei fazer isso.
— Ah, mas eu escolheria meu diabo leal em vez de seu deus falso a
qualquer hora do dia, — inclino-me para a frente. — Você que condena
pecados, mas toma banho neles em particular. Você, — minhas narinas
dilatam quando minha raiva aumenta, — tem a audácia de dizer a mim
que estou mergulhada em pecado? Como se cada centímetro de sua carne
monstruosa, — eu agarro a mandíbula dela em minhas mãos, segurando-a
com força para que não possa desviar os olhos, — não está apodrecendo
enquanto falamos.

— Por que você está aqui, Assisi?— Ela pergunta, seu olhar
definitivamente encontra o meu, — ainda tendo problemas por ser
abandonada?— ela ri, pensando que suas palavras vão me machucar.

Ah, mas ela terá uma revelação diferente hoje à noite.

Afastando-me dela, simplesmente desapertei meu hábito, deixando-o


cair no chão para revelar a artilharia embaixo.

Estou vestindo um traje preto de látex, completamente moldado ao


corpo para permitir a liberdade de movimento. Em cada polegada usada,
há uma faca ou arma amarrada ao meu corpo.

Os olhos da Madre Superiora se arregalam de horror enquanto ela


observa na minha aparência, enquanto Vlad simplesmente assobia de
admiração.
— Vé pegá-la, hell girl, — ele pisca para mim, e eu não posso evitar o
rubor que me aparece.

Eu já tinha dificuldade em defender seus avanços quando estávamos


nos preparando, mas agora estou ficando positivamente mais quente sob
seu olhar aguçado, o pensamento de vingança e sexo — nessa ordem —
fazendo minha respiração recuperar o fôlego da excitação.

— Sabemos sobre o círculo de tráfico, — começo, sentando-me na


frente dela e desembainhando uma lâmina, — agora, o que não entendo é
por que você se envolveria nisso.

Ela bufa, virando a cabeça para não olhar para mim. Manobrando a
lâmina na minha mão, eu a aproximo da sua bochecha, deixando a ponta
se moldar lentamente na pele, mas ainda não cortando.

— O que diz, você vai responder, ou eu vou cortar?

Ela olha para mim e vejo uma pitada de medo nos seus olhos, mesmo
quando ela finge ser desafiadora.

— Que assim seja, — eu dou de ombros, deixando a lâmina deslizar


para baixo até atingir a gola de seu hábito. A faca é tão afiada que não é
preciso muita pressão para cortar o material, e sigo uma linha reta até que
todo o corpete esteja aberto. Ela está vestindo uma camisola por baixo,
então eu também cortei isso, descobrindo sua carne nua.
Toda a sua pele está coberta de arrepios do frio, e um sorriso brinca
nos meus lábios enquanto eu continuo a percorrer a lâmina sobre a
superfície, enganando-a sobre o tempo que vou de verdade cortar ela.

— Hmm, e Miles? Como você o conhece?— Faço outra pergunta, e um


leve tremor no lábio superior me alerta que eu poderia ter atingido um
ponto sensível.

Vlad está me observando como um falcão, seu olhar se dedica a tudo o


que estou fazendo, mas ele não interfere. Ao contrário, toda vez que olho
para ele, me dá um aceno de aprovação que me estimula ainda mais.

E então, quando vejo o canto da boca dele se enrolar, sei que também
notou a reação dela.

— Aquele demônio ali, — eu me movo em direção a Vlad, — me


ensinou algumas coisas, — digo quando empurro a lâmina para a parte
superior do peito, — todas elas incluem algum grau de dor.

Ela começa a gemer baixo na garganta, a dor chega até ela quando eu
uso a ponta da lâmina para fazer um pequeno buraco sobre a ondulação do
peito esquerdo.

Os gemidos se voltam para gritos enquanto eu tiro para remover um


pedaço considerável de pele, um buraco restante no peito. Há um
sangramento mínimo, o corte nítido e eficiente.
— Mhm, hell girl, agora essas habilidades cirúrgicas, — ele traz os
dedos aos lábios em um som de beijo, aprovando o meu método.

— Vamos tentar novamente, — digo, dando-lhe uma pequena pausa


da dor, já que tenho alguns grandes planos para ela. Tudo isso incluirá
algumas das coisas pelas quais sofri ao longo dos anos. — Conte-me sobre
Miles, — repito.

Ela dirige seu olhar malicioso para mim e, por um momento, duvido
que ela coopere. Mas quando seu corpo começa a tremer lentamente — por
medo ou dor — eu sei que a tenho.

— Ele coordena os transplantes, — ela murmura, quase engasgando


com suas palavras. — Ele fornece as instalações e o pessoal médico, —
continua ela e eu olho para o olhar de Vlad.

As palavras não são ditas. É exatamente como teorizamos.

— E quem está no comando do lado financeiro?— Eu pergunto,


observando o pequeno aceno de aprovação de Vlad na minha pergunta.

— Eu não sei... — ela balança a cabeça. — Eu juro. Eu só tenho lidado


com algumas pessoas que são seus intermediários. Eles são os que
supervisionam a logística, enquanto Miles lida com os transplantes reais.

— Quem são os intermediários, então?


Seus olhos deslizam pela sala antes que ela pronuncie dois nomes.

— Guerra e Lastra, — ela sussurra, e meus próprios olhos se


arregalam.

Eu rapidamente olho para cima para ver Vlad ostentando a mesma


expressão de descrença, especialmente depois que Marcello nos garantiu
que as finanças de Guerra estavam em ordem.

— Talvez Benedicto não seja tão transparente quanto ele quer


aparecer, — comenta Vlad do canto.

— Benedicto?— Madre Superiora franze a testa, — não, não.


Benedicto não. Franco Guerra e Nicolo Lastra. Foram eles que
coordenaram tudo o que aconteceu aqui, — diz ela.

— Agora, isso, — Vlad vem ao meu redor, colocando a mão no meu


ombro, — eu acredito. Mas ambos estão mortos agora, então com quem
você está em contato?— Ele levanta uma sobrancelha.

Madre Superiora pisca rapidamente, surpresa por ter sido pega


naquela brecha.

Todo o seu corpo fica rígido, os lábios franzidos quando ela se recusa a
continuar falando.
— Interessante, — observa Vlad, pedindo-me silenciosamente para
continuar.

Levantando-me, me movo em torno do altar, observando os vários


itens colocados na mesa. Um sorriso diabólico aparece no meu rosto, pois
tenho o método exato para fazê-la falar.

Tirando uma velha lâmpada de óleo da mesa, eu a desmonto, vendo


que ainda resta um pouco de óleo dentro. Então, pegando uma vela acesa,
mais uma vez me coloco na frente da Madre Superiora.

O buraco no peito está irritado, mas não é profundo o suficiente para


alcançar o osso.

Isso será resolvido em breve.

— Porra, hell girl, você com certeza sabe como me deixar duro, — ele
geme de lado, olhando os itens em minhas mãos e antecipando o que tenho
em mente.

Madre Superiora apenas me olha horrorizada tentando entender, mas


somente quando começo a derramar o óleo na ferida ela percebe o que eu
planejei para ela.

— Não, — diz ela, com a voz um pouco acima de um sussurro, — eu


vou te dizer, — continua, se debatendo contra suas amarras.
É um pouco tarde demais, o momento em que o óleo preenche o buraco
no peito até a borda, trago a chama da vela sobre ela, vendo a coisa toda
acender.

Gritos de dor inundam a igreja quando o fogo queima sua carne. Eu


nem quero imaginar a agonia pela qual ela deve estar passando à medida
que o calor se espalha pelo corpo, a chama queimando através de seus
receptores de dor e fazendo-a suar, a respiração saindo em curtos períodos.

— Michele, — ela ouve, — Michele Guerra, — ela finalmente diz, e


eu bato no fogo, apagando-o momentaneamente.

Ela cai, sua respiração errática enquanto tenta se controlar. Todo o


seu corpo está convulsionando, totalmente coberto de suor, os olhos quase
rolando para a parte de trás da cabeça.

— Michele é o meu contato, — ela respira.

— Realmente, — não me surpreendo totalmente que alguém tão


viscoso quanto Michele esteja envolvido nisso.

— Bem. Veja, podemos conversar civilmente, — eu lhe dou um


sorriso. — E agora para a pergunta vencedora. Onde fica o centro de
transplantes?
Ela tenta voltar mais para a mesa, mesmo que suas amarras não lhe
permitam muito movimento. Ela balança a cabeça enquanto olha entre
Vlad e eu, quase pensando se vale mais a pena guardar o segredo.

— Ellis Island, — ela finalmente responde, sua voz pouco acima de


um sussurro.

Dirijo-me a Vlad para ver as rodas girarem em sua cabeça.

— Há um hospital abandonado lá, mas é federal, — ele franze a testa,


fechando os olhos e exalando, — isso é muito maior do que imaginávamos,
hell girl.

— Nós vamos resolver isso. Uma pessoa de cada vez. Pelo menos
agora também sabemos sobre Michele, — acrescento com um escárnio.

Eu conheci o homem apenas uma vez, mas foi o suficiente para colocá-
lo firmemente na minha lista de merda. Ele é um cretino que parecia
gostar de tornar aqueles mais fracos do que ele.

— Não, você não pode... — Madre Superiora começa a se mover,


estremecendo de dor quando a corda corta seus pulsos. — Você não pode
prejudicá-lo, — ela continua e eu franzi a testa.

— Por que? —Vlad se inclina na frente dela, batendo os dedos nela


quando ela apaga.
— Ele é seu irmão, — ela levanta o olhar para mim e, pela primeira
vez, vejo puro medo lá. — você não pode matar seu próprio irmão, —
continua ela, com a voz quebrada.

— O que? Isso é impossível. — Eu me viro para Vlad e ele tem a


mesma expressão de descrença.

— Não é, — sua voz treme enquanto ela continua. — Nicolo... ele, —


ela engole audivelmente. — Quando ele era mais jovem, Michele tinha
leucemia. Nicolo veio até mim com uma ideia, dizendo que ele poderia
melhorar se encontrássemos um compatível, — no momento em que ela
pronuncia essas palavras, eu já sei para onde ela está indo.

Meu corpo inteiro endurece, mas só posso ouvi-la quando ela conta
tudo.

— Ele sabia que Michele era seu filho, — ela ri muito, — assim como
Benedicto sabia que ele não era dele. Desde o início, Nicolo tentava
encontrar alguém compatível em silêncio, e ele passou por todos os
parentes sem sucesso. Até que ele veio até mim e me disse que poderia
haver outra possibilidade, — ela para, erguendo o olhar para o meu, —
você.

— Eu não entendo.

— Nicolo disse que havia uma possibilidade de você ser filha dele e,
nesse ponto, você era a última opção. Michele estava quase morto e
piorando a cada dia. E assim fizemos os testes, — ela faz uma pausa, com
os olhos brilhando em algo semelhante... pena? — E eles voltaram
positivos. Você não era apenas sua irmã, mas também combinava, — diz,
e há uma cadência incomum em sua voz, como se ela tivesse uma
participação pessoal nisso.

— Então, fez o transplante, — continuo e ela apenas assente.

Vlad está lá para cobrir meus ombros quando me sinto tonta.

Nicolo é, era meu pai biológico. Assim como Michele é meu meio-irmão
biológico. Minhas mãos começam a tremer de raiva assim que eu sei que
Nicolo sabia o tempo todo, e mesmo assim ele estava disposto a me
sacrificar por Michele.

— Sisi, — Vlad sussurra no meu cabelo, mas eu levantei a mão.

— Por quê? —Dirijo-me à Madre Superiora. — Por que passou por


todo esse problema para ajudá-lo?

Sua boca pressiona em uma linha dura enquanto ela vira a cabeça
para longe.

— Por quê?— Repito, segurando outra vela.

Ela reage imediatamente, empurrando seu corpo para trás.


— Ele é meu sobrinho, — ela sussurra, — do lado de sua mãe, — ela
finalmente admite e por um momento sinto muito por ela, porque tudo o
que ela fez foi pelo bem de sua família.

Mas, ao mesmo tempo, quantas outras pessoas precisam sofrer por


isso? Por que EU tenho que sofrer por isso?

Eu me liberto do abraço de Vlad, meus dedos apertando sobre o


pequeno recipiente de óleo.

Apertando a mandíbula, despejo todo o líquido na garganta,


aproveitando o som borbulhante quando ela engasga tentando cuspir.
Quando tudo foi ingerido, eu simplesmente agarro o punho da faca e a
mergulho no estômago dela, anos de dor e humilhação vindo à superfície e
me fazendo afogar nas memórias.

Eu giro a lâmina, fazendo um buraco ainda maior no abdome inferior.


Seus gritos de dor nem me impedem neste momento, meu único objetivo de
tornar sua morte o mais dolorosa possível.

Para mim e para todos os outros que ela abusou.

Eu cavo na barriga dela até que haja um buraco aberto, sangue


jorrando e derramando no chão. Ela grita e engasga com ainda mais
sangue subindo pela boca e pelo nariz, mas todas as suas tentativas são
em vão porque ela é mantida no lugar por restrições.
Agarrando outra vela, trago a vela sobre o estômago dela, segurando
perto e queimando no interior até que a chama encontre o óleo inflamável
no estômago, uma faísca acendendo e se estendendo rapidamente por todo
o intestino aberto.

Dou um passo atrás, respirando com força. Só posso admirar meu


trabalho quando o corpo dela se ilumina como uma fogueira, seus gritos
engolidos por pequenas explosões. Sua expressão está presa com horror,
olhos arregalados, boca aberta. Ela já desmaiou de dor e eu gosto da
maneira como a vingança nunca foi tão doce.

Por um longo tempo, eu apenas a encaro, deixando sua morte passar


por mim, na tentativa de preencher o vazio em meu próprio coração.

Mas isso realmente funciona?

Me sacudindo das minhas reflexões, olho em volta para encontrar


Vlad desaparecido.

— Vlad?— Eu chamo.

Eu estava tão focada em fazer a Madre Superiora pagar que não


estava prestando atenção em mais nada.

Por um momento, estou preocupada que a visão de sangue possa tê-lo


levado a um de seus episódios, e ele saiu para se recompor. Mas quando as
portas da igreja se abrem novamente, Vlad entrando e arrastando duas
mulheres pelos cabelos atrás dele, percebo o que estava fazendo.

Um sorriso aparece no meu rosto quando eu lhe jogo um beijo.

— Você sabe o caminho para o meu coração, — digo enquanto ele joga
a irmã Celeste no chão, acompanhada pela irmã Matilde, minha antiga
professora.

— Eu disse, todos que já prejudicaram você morrem, hell girl. Eu


também poderia ter visitado aquelas duas garotas desagradáveis do início
da tarde e é seguro dizer que não sairão de suas camas, nunca mais.

— Você foi rápido, — elogio e ele apenas sorri para mim, mostrando
dentes brancos e brilhantes, seus caninos longos e salientes fazendo-o
parecer ainda mais o predador que ele é.

— Para você? Em um piscar de olhos, — ele pisca para mim.

Ambas as mulheres me olham em choque, e suas expressões só pioram


quando olham para a altamente inflamável Madre Superiora, que
atualmente está enviando faíscas por toda a igreja.

— Assisi?— A irmã Celeste pergunta, levantando a cabeça para me


olhar.

— Qual é o significado disso?— minha ex-professora pergunta.


Olho para as formas patéticas delas e, de repente, só posso ter pena.
Pena pelas mulheres amargas que desperdiçaram suas vidas abusando de
outras pessoas, e provavelmente nunca conheceram qualquer tipo de
felicidade.

— Faça o que quiser, Vlad. — Eu digo a ele. — Eu quero assistir, —


digo, exatamente quando me sento.

Há um vazio dentro de mim que espero que seja preenchido por ter
um assento na primeira fila do espetáculo que será a morte delas.

Vlad não decepciona. Nem um pouco, enquanto ele constrói um roteiro


para pendurá-las do teto, de cabeça para baixo.

Ele é ainda mais impressionante, pois habilmente usa suas lâminas


para abri-las desde a junção entre as pernas até as mandíbulas. Suas
lâminas são tão afiadas que é preciso apenas um bom corte para os órgãos
derramarem no chão, um puxão mais forte e a caixa torácica também está
aberta.

Cruzo minhas pernas, meu queixo na palma da mão assistindo à sua


estripação rápida. Quando apenas as carcaças permanecem, ele pega o que
resta do óleo da lâmpada, espalhando-o pelos dois corpos antes de atirar
uma vela neles.

As chamas são rápidas em envolvê-las e, assim como Madre


Superiora, todas elas se perdem no fogo, fumaça espalhando na igreja, o
cheiro de carne queimada permeando cada canto. Toda a parte de trás da
igreja está agora cheia de chamas vorazes que procuram engolir tudo em
seu caminho.

Eu me levanto, pronta para sair.

Depois de jogar a última vela, alimentando as chamas gananciosas,


Vlad se vira em minha direção, com sangue manchando seu rosto e toda a
roupa. Seus olhos estão pretos quando suas pupilas derretem em suas íris,
sua boca puxando os cantos em um sorriso arrogante, mas perigoso.

Há algo a ser dito sobre a maneira como ele olha para mim,
especialmente quando, mantendo contato visual, ele abre a boca, a língua
lambendo o sangue dos lábios, os dentes manchados de vermelho.

Um arrepio desce pelas minhas costas quando instintivamente dou


um passo atrás.

Eu conheço esse lado dele. É o que demanda sangue para fluir. E, no


entanto, não é só isso.

Ele se aproxima, levantando a mão no ar e inspecionando as manchas


de sangue. O fogo está gritando atrás dele, as manchas de luz iluminando
suas feições e fazendo-o parecer exatamente como Madre Superiora havia
dito — um demônio.
Um demônio das profundezas do inferno, pisando em solo sagrado e
destruindo tudo. E não há nada que possa fazer para detê-lo.

Seus olhos se voltam para os meus e seu sorriso se intensifica. Apenas


uma palavra cruza seus lábios, e eu sei que estou com problemas.

— Corra, — o som suave escapa, mas eu sei o que me espera é tudo


menos gentil.

Meus pés voltam devagar, meus olhos nele observando todos os seus
movimentos.

Mas ele também. Um predador à espreita, não há nada escapando,


todos os meus passos provocando uma reação dele.

É na maneira como sua covinha se torna mais enfatizada, seu sorriso


mais forçado.

— Corra, — ele repete e eu não permaneço, recuando e correndo a


toda velocidade.

Andando pelo patio principal, vou em direção ao cemitério, lembrando


o mausoléu que havia sido minha verdadeira casa neste lugar por anos a
fio.
Sinto-o no meu encalço, mas não me sinto ameaçada, não de verdade.
Com sua velocidade, ele já poderia ter me alcançado. Ele poderia ter me
atacado e me prendido na lama, seu grande corpo em cima do meu.

Minha respiração trava, discutível se por correr ou pela umidade


correndo pelo interior das minhas coxas.

Corro ao longo dos túmulos, pulando sobre uma pequena cruz que não
tinha visto e quase caindo. Recuperando meu equilíbrio em uma fração de
segundos, olho para trás, vendo a forma de sua estrutura durante a noite,
a maneira como seu esboço promete minha destruição.

Não paro quando finalmente chego ao mausoléu, abrindo a porta e


entrando, esperando que isso sirva de refúgio.

Mas é preciso apenas que esse pensamento se forme para que eu


perceba que não há como escapar dele. Minhas mãos abaixam nas minhas
pernas passando pelas facas ainda embainhadas no meu corpo, segurando
a esperança de que elas possam me poupar algum tempo.

Eu mal dou alguns passos para dentro quando a porta é arrancada de


suas dobradiças, as mãos de Vlad em ambos os lados, quando ele a joga
facilmente para o lado.

Um tremor baixo começa nos meus lábios, descendo pelo meu corpo e
me estabelecendo profundamente na minha barriga.
— Vlad, — o nome dele nos meus lábios provoca um sorriso
presunçoso enquanto ele ronda por dentro, seus passos pesados e seguros.
Eu continuo me afastando e ele continua avançando, seus olhos fixos nos
meus, sua língua lambendo seus lábios com a promessa de sangue.

Mais sangue.

Um movimento e ele me pega pela garganta, meu corpo fica corado


quando ele move o nariz para cima e para baixo do meu pescoço, me
respirando.

— Minha, — ele rosna no meu ouvido, com o aperto no meu pescoço.


Meus braços estão se agitando enquanto eu tento tirá-lo de mim, mas ele
nem me dá a chance, me empurrando para trás até minhas costas
atingirem o caixão de mármore que ainda deve abrigar os restos mortais
de Cressida.

— Vlad, — expiro, minhas mãos encontrando seus ombros enquanto


empurro com toda a força que posso reunir. Ele nem se mexe. De qualquer
forma, minhas lutas parecem apenas excitá-lo ainda mais quando ele me
torce.

Com a mão na minha nuca, ele me empurra no caixão, minhas costas


para a frente enquanto tritura sua ereção em mim.

Eu mal percebo o que está acontecendo quando ele pega uma faca,
cortando meu traje de látex do meu corpo. Começando do meu pescoço e
para baixo até alcançar minhas pernas, ele quase rasga tudo, o ar frio
batendo na minha carne nua e me fazendo ofegar.

— Vlad, por favor, — tento argumentar com ele mais uma vez, mas
ele não reage às minhas palavras.

Não, há apenas sua respiração dura enquanto ele segue a faca sobre
minha pele nua, colocando pressão suficiente na lâmina para que eu a
sinta mordendo minha pele, mas não o suficiente para cortá-la.

Sabendo que a janela de tempo deve ser limitada antes que ele faça
algo ainda pior, paro de lutar. Eu o deixei acreditar que já me submeti a
ele, deixando-o fazer o que quiser com meu corpo.

Então, assim como ele segue a lâmina mais baixo, entre minhas
bochechas, eu me movo, minha mão no punho da minha faca.

Tudo acontece em câmera lenta enquanto eu me contorço, torcendo e


virando até que a ponta da minha lâmina se conecte com o peito dele,
tirando sangue.

Eu assisto horrorizada quando o corte que fiz parece aumentar sob


meus olhos, mais sangue jorrando.

E enquanto arrasto meu olhar para cima, percebo que ele está
sorrindo para mim.
Sem nenhuma preliminar, a faca é jogada para fora da minha mão,
colidindo com o chão de mármore com um baque.

Um pouco de medo desce pela minha espinha enquanto olho nos olhos
insensíveis e a maneira como todo o seu comportamento não promete nada
além de dor e destruição. Talvez haja uma fração de segundo em que eu
tente passar por ele, mas seus dedos estão de volta na minha garganta, me
empurrando de volta para o caixão, desta vez me levantando para que eu
esteja sentada nele.

Eu movo minhas pernas, tentando loucamente fazê-lo me deixar ir,


mas em vez disso, só o deixa mais divertido quando ele ri das minhas más
tentativas.

Uma mão segurando meu pescoço, já que ele não exige muito para me
manter subjugada, ele usa a outra para rasgar suas próprias roupas,
rasgando a capa do padre até que seu peito com tatuagens seja descoberto
à minha vista.

Sua pele brilha ao luar, sua selvageria enfatizada pela iluminação


ruim. Como um senhor da guerra bárbaro, sua raiva é sua espada e,
quando meu olhar cai, noto uma espada muito perigosa apontada
diretamente para mim.

— Vamos conversar sobre isso, — eu falo. Qualquer coisa para


aplacá-lo.
Mas, como da última vez, ele não me ouve. Seus ouvidos se animam
com o barulho, mas ele não ouve nada do que estou dizendo.

— Vlad, — eu o alcanço, mas ele balança minha mão para o lado,


colocando-se firmemente entre minhas pernas abertas. — Por favor, Vlad,
— peço-lhe novamente, assim como a ponta de seu pau sonda entre
minhas dobras.

Ele se esfrega contra mim, me provocando levemente antes de


avançar, o ataque quase me fazendo pular do caixão.

— V... — Abro a boca para dizer o nome dele, mas nada sai. Nada
além de um gemido alto enquanto ele me empala em seu comprimento.

Seus dedos apertam no meu quadril me segurando no lugar, recuando


até o fim antes de bater de volta em mim com força total.

Toda e qualquer palavra que eu possa ter tentado soltar me falha, pois
só consigo senti-lo me despedaçando, uma dor tão doce que me faz
choramingar, minhas paredes se contraindo ao seu redor, minha boceta
apertando-o no que só posso descrever como um orgasmo ofuscante.

Eu perco de vista tudo. Não há tempo e espaço, apenas seus impulsos


brutais enquanto ele continua prolongando o prazer amargo.

Antes que eu perceba, ele me virou na minha barriga, entrando em


mim por trás, me enchendo ainda mais. Seus impulsos são mais fortes,
mais dolorosos, mas oh, tão infinitamente mais doce também quando ele
me acaricia tão fundo que não consigo controlar os gemidos irrestritos que
escapam dos meus lábios.

— Minha, — ele sorri, sua voz baixa, o som reverberando no pequeno


recinto.

Sua mão ainda no meu pescoço, ele me puxa para ele, sua boca
seguindo beijos molhados no meu ombro, antes de morder.

— Vlad, — eu ofego, seus dentes rompendo a pele, a dor é breve, mas


abrasadora, à medida que ele aumenta o ritmo de seus impulsos. Com a
boca no meu ombro, ele alterna entre chupar e lamber, garantindo que
nenhuma gota de sangue seja desperdiçada.

Seus quadris entram e saem de mim a uma velocidade tão aterradora


que minha mente simplesmente não consegue acompanhar, outro orgasmo
rasgando através de mim e me fazendo cair no caixão, meus braços caem
nas laterais.

Então ele de repente se retira, seu pau ainda duro quando bate na
minha boceta, cobrindo todo o seu eixo nos meus sucos antes de arrastá-lo
para cima, entre minhas bochechas.

Meus olhos se arregalam quando percebo o que ele está tentando


fazer, mas meu corpo está mole demais para lutar.
Ele separa minhas bochechas, movendo a mão em volta da minha
entrada testando o anel apertado dos músculos com o polegar. Não muito
diferente da última vez, ele empurra para dentro, usando minha própria
excitação para facilitar a entrada. Mas seu polegar logo se vai, substituído
pela cabeça do pau.

A cabeça do seu pau enorme.

— Vlad, — eu choramingei, já com medo de ter aquele monstro na


minha bunda. Inferno, se ele rasgou minha boceta, não tenho certeza de
quanto dano isso causará no meu buraco na bunda. — Por favor, — eu
imploro, mas não sei exatamente o que estou pedindo a ele.

Seu pau firmemente em suas mãos, ele guia a cabeça em volta do meu
buraco apertado, mergulhando de vez em quando para recolher um pouco
de umidade da minha boceta. Mas quando eu acho que ele vai insistir, me
despedaçar de uma maneira que me faça implorar por misericórdia, ele
não faz.

Piscando um pouco de clareza nos meus olhos, eu me movo, inclinando


minha cabeça para o lado para ver o que ele está fazendo.

A lâmina de uma faca brilha ao luar, o aço frio me fazendo tremer ao


tocar minha pele. No entanto, não é a minha carne que corta.

É a dele.
Ele agarra bem os lados da lâmina, arrastando-a lentamente pela pele
da palma da mão aberta até o sangue jorrar, pingando cada vez mais
rápido pela lâmina e na minha bunda.

Não me ocorre o que ele quer fazer no começo. Mas quando ele pega
seu pau na mão sangrando, manchando o sangue que flui livremente por
todo o seu comprimento, percebo qual é o plano. Eu nem sequer protesto
quando a cabeça do pau dele cutuca novamente na minha entrada, desta
vez escorregadia, molhada e cheia de sangue, meu corpo se abre
lentamente e começa a aceitá-lo.

A cabeça mal passa pelo meu anel de músculos antes que ele abaixe a
lâmina na palma da mão novamente, garantindo mais fluxos de sangue
entre minhas bochechas, todas se reunindo naquele lugar onde seu pau
está penetrando na minha bunda. A substância viscosa ajuda seu pau a
deslizar cada vez mais fundo dentro de mim.

De repente, me sinto tão dolorosamente cheia — um tipo diferente de


plenitude, enquanto sua ereção espessa estende meus músculos,
empurrando-os até os limites e mostrando-me um novo tipo de prazer. O
sangue continua fluindo, o calor escorregadio associado ao seu pau grosso
entrando fundo, me fazendo ficar tonta, muito prazer construindo dentro
de mim, meu clitóris queimando com tensão inédita.

Lentamente, ele avança polegada a polegada até estar totalmente


dentro, um gemido rouco escapando dele enquanto suas bolas batem na
minha boceta, minha umidade fazendo contato com sua carne sensível.
— Porra, — acho que o ouço assobiar enquanto ele segura meus
quadris com as duas mãos, puxando seu pau para fora de mim antes de
jogá-lo de volta, o sangue agindo como lubrificante para facilitar seus
movimentos.

Suspiro com a sensação estranha, mas não posso evitar a maneira


como meu corpo simplesmente se abre para o dele, levando tudo o que tem
para me oferecer. Fechando os olhos, eu me entrego à sensação de ser
dominada por ele. Tão possuída, sua marca está queimada em minha
própria alma.

Lento no início, seus impulsos ganham velocidade à medida que meu


corpo relaxa o suficiente para permitir a intrusão. Há esse sentimento
perverso de ser dominada e, ao mesmo tempo, sinto que EU sou a única no
poder, fazendo-o perder todo o sentido no minuto em que estiver dentro de
mim.

Enrolando o braço sobre o meu estômago, ele me aproxima ainda mais


dele, com os dedos deixando um rastro de fogo enquanto se movem mais
baixo até se instalarem no meu clitóris. Ele pressiona sobre ele ao mesmo
tempo em que empurra seu pau para dentro de mim. Fogos de artifício
explodem diante dos meus olhos e, ele continua a acariciar meu clitóris, só
pode ficar mais forte, minha libertação sem fim.

Ele não está muito atrás, pois me empurra mais algumas vezes antes
que seu pau escorregue completamente de mim.
Eu ouço seus gemidos irregulares, assim como sinto sua semente
quente pousar na minha região lombar, e não posso evitar a maneira como
meu coração se aperta firmemente no meu peito.

Ele é meu. Este homem selvagem é todo meu.

Ainda estou caída no caixão quando ele me ajuda, me abraçando e me


envolvendo nas tiras de pano da batina.

— Eu te machuquei?— ele pergunta, acariciando meu cabelo, o calor


em seu olhar inconfundível.

— Não, de jeito nenhum, — suspiro de prazer, aninhando-me mais


perto.

— Acho que há algo errado comigo, — admito suavemente.

Quando tínhamos um plano curto, pouco antes de confrontar a Madre


Superiora, eu sugeri fazer uma simulação da última vez em que ele se
perdeu no sangue. Mas desta vez, ele estaria no controle.

Eu sei que ele sempre fica com vontade de foder depois de uma morte
horrível, então eu pedi para me perseguir e me levar como um animal. Eu
queria ser dominada por ele. À sua mercê, foder como um selvagem
comigo.
Ele estava um pouco relutante no começo, mas como eu tinha
garantido a ele que se me machucasse, eu falaria uma palavra segura, ele
estava aberto para tentar.

Há algo a ser dito sobre ser despojada do controle, estar à mercê da


pura luxúria animalesca enquanto ele me domina.

E só porque é ele que eu posso deixar ir.

Minhas bochechas ficam vermelhas quando percebo o quanto gostei da


sensação de ser sua presa, a adrenalina correndo pelas minhas veias
enquanto se misturava com a serotonina de sua reivindicação. Apenas a
sensação de suas mãos na minha garganta quando ele impiedosamente
empurrou em mim me fez ficar mais excitada do que nunca.

Ele me sacudiu como um animal, uma alegação que foi muito além de
qualquer coisa que já tínhamos tentado antes.

E sei que ele também ama — mais do que gostaria de admitir. Mas
está se negando porque não suporta o pensamento de me machucar.

— Não há nada errado com você, Sisi, — ele se inclina para dar um
beijo na minha testa, acariciando ternamente meu rosto.

— Eu não sei, — respiro fundo, — talvez eu deva ficar mais


traumatizada depois do que aconteceu, — digo e ele pisca devagar, com
dor evidente nos olhos, — mas há algo em renunciar a todo controle para
você, — levanto minha mão para cobrir o seu rosto. — Acho que isso me
excitou desde a primeira vez que nos conhecemos.

— Não, — ele coloca um dedo nos meus lábios, — não deixe ninguém
lhe dizer o que você deve sentir ou não. Foda-se. Eu tenho lutado comigo
desde o começo, tentando ser gentil com você como merece, quando tudo
que eu queria era jogá-la contra uma parede e seguir meu caminho com
você,— ele sorri de maneira lúdica, — violentamente,— ele sussurra, —
sem piedade,— traça meu lábio lentamente, — como um animal no cio.
Marcar você de maneiras que não poderia apagar de sua maldita alma.

Ele respira fundo, seus olhos infinitas poças de fogo e ah, mas se
afogar nunca pareceu tão quente antes.

— Você sabe que há essa violência em mim, — ele traz minha palma
ao peito, bem no coração, — é escuro, turbulento e mal contido, e não quer
nada além de engolir você inteira. Que você abraça toda parte de mim,
mesmo a selvagem e não civilizada... — ele deixa escapar e posso ver o
conflito interno.

— Eu sei que você não é muito crente, Vlad, — meus lábios se


levantam, — mas nossoencontro deveria acontecer. Inevitável. Isso é o que
eu chamaria de nosso relacionamento. Não está certo ou errado. É apenas
nós....

— Inevitável, — ele concorda com consideração, — eu gosto disso.


— Eu te amo, — digo, inclinando-me para ele, minha língua
esgueirando-se para lamber a ferida rasa que eu lhe dei.

— Porra, Sisi, — ele assobia de prazer. — Eu também te amo, hell


girl, — ele respira forte, com os olhos fechados. — Muito.

É um pouco mais complicado se limpar depois de nossa pequena


aventura, mas conseguimos passar despercebidos por Sacre Coeur quando
todos estão surtando sobre o fogo na igreja. A polícia e os bombeiros estão
no local, e a enorme incompetência é surpreendente, pois Vlad também
mata os seguranças.

— Eles te ofenderam, — ele encolhe os ombros quando voltamos para


o carro.

Balanço a cabeça para ele, embora sua consideração nunca deixe de


me aquecer.

Quando voltamos ao complexo, começamos a planejar.


CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

— Eu tenho olhos nisso, — Eu grito.

Como Ellis Island não é exatamente o lugar mais acolhedor para


pessoas de fora, e as câmeras de segurança existentes têm uma área
restrita de cobertura, tive que mudar para um Plano B. Enviei drones para
obter algumas imagens.

Sei que é uma via arriscada, mas também não vou entrar
despreparado. Eu preciso pelo menos ter uma ideia do layout do hospital e
do terreno circundante.

— Já?— Sisi sai da cadeira, vindo para o meu lado para olhar a tela.
— Três dos drones chegaram lá dentro. Dois foram abatidos, —
explico, — temos que esperar que eles também recebam imagens
suficientes antes de serem encontrados.

É muito provável que eles já os estejam procurando, já que os


anteriores deveriam tê-los alertado para a presença potencial de outros.
Ainda assim, espero que possamos conseguir alguma coisa.

— Isso não os colocará em guarda?

— É um risco que tenho que correr, — respondo com tristeza. — Não


é o ideal, mas eu nunca entraria cegamente.

Ela assente, continuando a assistir a tela.

Os drones restantes nos fornecem uma hora adicional de filmagem


antes de serem abatidos. Mas essa é nossa única visão do que acontece
dentro do hospital, então Sisi e eu começamos a analisar cuidadosamente
cada quadro, fazendo um esquema do edifício e o que esperar lá dentro.

Pelo que podemos ver, porém, o hospital é tudo menos abandonado,


com novos equipamentos em todos os níveis. Desde que enviamos os
drones à noite, não havia muitas pessoas vagando pelos corredores, mas as
poucas que pegamos na câmera conseguimos identificar.

— Estes são todos imigrantes, — observo enquanto compilo uma lista


dos rostos que vimos. — Médicos e enfermeiros imigrantes, — continuo
vasculhando os dados. — Faz sentido, já que alguns não seriam capazes de
obter suas qualificações reconhecidas para trabalhar em um hospital
oficial. Embora seja um pouco irônico, já que o próprio hospital costumava
ser um edifício imigrante, — eu ri.

— Você acha que eles sabem o que está acontecendo?

Eu franzo os meus lábios, assentindo.

— Sim. Mas esse é provavelmente o único tipo de trabalho que


poderiam encontrar que não lhes pedisse suas certificações, — digo
mostrando a ela de onde vêm algumas dessas pessoas. — É inteligente.
Obtenha pessoal de países devastados pela guerra para que eles não
tenham maneira de fornecer documentação.

— Não é outra forma de tráfico?— Ela pergunta pensativa, e um


sorriso puxa meus lábios.

— Somente se eles forem retirados de seus países. Se eles foram


contratados quando já se estabeleceram aqui, então não.

— Interessante, — observa ela, mordendo o final de sua caneta. — O


que você acha então? Eles estão adquirindo-os aqui ou estão traficando
eles?

Empurrando os arquivos que imprimimos do pessoal que


identificamos para ela, aponto para algumas das datas.
— Essas pessoas estão desaparecidas há anos em seus respectivos
países. E não há registro deles sequer estarem nos EUA. Meu palpite é que
eles foram trazidos com o incentivo de começar uma nova vida, mas depois
foram amarrados no negócio.

— Eu não sinto muito por eles, — ela encolhe os ombros. — Eles


sabiam das coisas que Miles estava fazendo nas crianças e nunca
pensaram em falar?

— Eu não acho que devemos julgá-los completamente. Se alguém


pensasse em falar, não estaria mais vivo. Isso é muito profundo. Mesmo
que alguém compilasse evidências e mostrasse às autoridades, como elas
saberiam para quem mostrar? Há muitas pessoas envolvidas em todas as
cadeias de comando. O sistema simplesmente apodreceu até o âmago.

— Mas não é assim que se luta com o vento? Terminamos o reinado de


Miles, mas quem pode dizer que não haverá mais Miles apenas tomando
seu lugar?

— É isso que você ganha quando chega ao olho do furacão. Você corta
uma cabeça, outra cresce em seu lugar. Nunca verdadeiramente acabou.
Especialmente quando se trata de algo tão lucrativo quanto isso. Onde
houver demanda, haverá oferta.

— Eu entendo, — ela suspira, — mas isso me faz sentir desamparada


e eu não gosto.
— Eu gostaria de poder protegê-la de todos os horrores do mundo,
Sisi, — eu me viro para ela, enfiando um fio de cabelo atrás da orelha, —
mas não posso. A única coisa que eu posso fazer, é derrotar qualquer
perigo que possa ameaçar você, — eu paro, — e verificar se você é forte o
suficiente para quando eu não estiver lá.

Sua mão estende para a minha enquanto ela me dá um de seus


sorrisos impressionantes.

— Eu sou forte porque você está comigo, — diz ela em voz baixa,—
não quero pensar em um momento em que você não estará comigo, Vlad.
Porque isso está fora de questão.

Eu grunho, porque também não consegui ficar um momento sem ela.


Mas não importa o quanto eu gostaria de estar com ela para sempre, a
verdade é que esse estilo de vida pode me levar para fora eventualmente.

Mesmo eu não sou invencível.

Inferno, o fato de eu ter chegado até aqui é surpreendente. Mas,


embora as probabilidades nem sempre estejam a meu favor, para Sisi
estou disposto a passar pelo inferno e voltar para garantir que ela nunca
terá que derramar uma lágrima por mim.

Continuamos assistindo as imagens em silêncio, até Sisi apontar para


a tela, interrompendo o vídeo.
— Acho que há algo no subsolo, — observa ela, com o dedo em uma
pequena abertura no fundo do prédio.

Eu amplio, observando as barras e o fato de que parece haver algo lá.

— Pode ser onde ele abriga seu projeto, se ele mantiver o hospital
estritamente para transplantes.

— O que vamos fazer então? Não podemos simplesmente entrar, —


ela morde o lábio, olhando para mim preocupada.

— Não. Vamos precisar de ajuda, — ela franze a testa e eu esclareço,


— backup. Eu já falei com seu irmão e ele está disposto a ajudar. Enzo e
Nero também estão presentes, então nossas forças combinadas devem ser
suficientes.

— Mas ainda é nível federal. Como você vai contornar isso?

Meus lábios se contraem.

— Vou pular um pouco a suposição, — acrescento, divertido, quando


vejo meu telefone piscar com uma mensagem de confirmação do Nero.

— Eu vou usar Meester, — digo a ela, e seus olhos se arregalam.

— Como é que é a primeira vez que ouço isso?— Ela levanta uma
sobrancelha, quase ofendida.
— Porque eu tenho tentado finalizar os planos com Nero e seu irmão e
garantir que seja uma alternativa viável.

— Explique. — Ela se inclina para trás, os braços cruzados sobre o


peito.

— A ilha está claramente bem protegida e eles nos verão chegando


imediatamente. Precisamos de um trunfo para entrar lá sem ser detectado.

— E como você convencerá Meester a levá-lo para a ilha quando ele


está tentando matá-lo nas últimas semanas?— Ela pergunta ceticamente.

— Nero está coberto, — eu ri. — Ele tem sua preciosa filha


atualmente em sua posse. De fato, faremos uma videoconferência com
Meester assim que chegarmos à casa de seu irmão, e tenho certeza de que
será muito convincente.

— Droga, — ela assobia, — isso não é uma má ideia.

Mas então ela franze a testa.

— Quantos anos tem a filha dele?

— Ela provavelmente está na casa dos vinte anos, — eu dou de


ombros. — Mas não se preocupe muito com ela. Ela também não é
inocente.
— O que você quer dizer?

— Em círculos restritos, eles a chamam de Black Widow. Ela foi


casada três ou quatro vezes e todos os seus maridos acabaram mortos em
circunstâncias misteriosas. Tudo dentro de um curto período de tempo do
casamento também. Ouvi dizer que Meester está tentando encontrar outro
marido há muito tempo, mas ninguém é corajoso o suficiente para se casar
com ela.

— Ela parece interessante, — sorri Sisi. — Eu quero conhecê-la.

— E você vai. Vamos para o seu irmão amanhã de manhã.

Com uma compreensão aproximada da ilha e do hospital,marcamos o


dia.

— Eu não percebi que o porão tinha uma entrada diferente, — diz


Sisi, com o braço apertado no meu.
Nós compilamos todas as informações que pudemos encontrar sobre o
hospital, então agora a única questão pendente é planejar o ataque.

Eu tinha falado com Nero ao telefone ontem à noite e, embora ele


tivesse tido alguns problemas menores com a filha de Meester, ele me
garantiu que estaria aqui hoje e poderíamos dar um salto no plano.

— Acho que Marcello selou a entrada da casa, — respondo, contando


a ela sobre a história bastante dissoluta do porão. — Ele provavelmente
não queria que Claudia ou Venezia se aventurassem lá por acidente.

Indo para a parte de trás da casa, onde um alçapão leva ao porão,


sinto os cabelos do meu corpo se levantarem, minha cabeça girando na
direção do telhado.

Um passo e eu tenho Sisi empurrada atrás de mim, assim como uma


bala me bate diretamente na testa.

Uma bala de tinta.

Minha boca se abre, mas nenhum som sai. Não quando Sisi balança
minha mão de lado, se colocando na minha frente e gargalhando.

— Você está toda azul, — ela mal consegue falar enquanto se inclina,
segurando o estômago, lágrimas no canto dos olhos por muitas risadas.
Como se isso não bastasse, a porta do porão se abre para revelar
Marcello e Catalina, seguidos por Adrian, todos rindo às minhas custas.

Mas se Adrian está aqui...

Olho para cima bem a tempo de ver Bianca pular do peitoril da janela
do primeiro andar, aterrissando de pé e sorrindo para mim.

— Você, — eu cerro os dentes, incapaz de reunir qualquer tipo de


resposta, já que quem levará um homem azul a sério?

A tinta está manchada em todo o meu rosto e pingando meu terno,


fazendo-me um smurf honorário oficial.

— Bem, — ela começa, uma expressão divertida em seu rosto, — você


conseguiu o que queria, — ela encolhe os ombros, voltando casualmente
para o marido. Ou é ex-marido?

— Quando pedi para ser pintado de azul?— Eu murmuro com secura,


levantando minha mão e limpando um pouco da gosma dos meus olhos.

Sisi ainda está rindo ao meu lado, mas quando vê que não estou
exatamente divertido, ela rapidamente tira um lenço, me ajudando a tirar
um pouco dessa merda do meu rosto.
— Oh, eu não sei, — Bianca revira os olhos dramaticamente, —
talvez quando você me chamou soluçando e me pediu para matá-lo
furtivamente para que não visse isso acontecer?

Eu franzo a testa.

— Eu fiz isso?

— Você é um idiota, — ela responde imediatamente, sacando o


telefone e tocando uma gravação.

Apenas me tire da minha miséria, B! Antes de fazer algo pior... como ir


atrás dela.

Eu engulo, envergonhado por ser exposto assim, já que essa é


claramente a minha voz. E embora eu não tenha lembrança desse
incidente em particular, posso adivinhar quando isso poderia ter
acontecido.

— Eu estava mal, — murmuro, mas ela precisa dar um passo adiante


e tocar outra gravação.

Um onde estou chorando.

Eu não posso viver sem ela...


O calor sobe pelas minhas bochechas quando percebo que não estava
apenas chorando. Eu estava soluçando.

— Filha da puta, — murmuro debaixo da respiração.

— Parece familiar?— Ela levanta uma sobrancelha, sabendo que me


pegou.

— Quando foi isso?— Sisi franze a testa, olhando para mim com
questionamento.

— Quando te mandei embora, — murmuro, — posso ter


experimentado alguns narcóticos, — muitos narcóticos — mas não me
lembro muito bem disso.

— E você estava me criticando, — Bianca entra em cena, e eu estou


ficando cada vez mais chateado com ela.

Ela realmente teve que me envergonhar tão bem na frente de Sisi?

Mas não tenho tempo para isso agora. Não quando preciso deixar
claro para Sisi que não sou viciado em drogas.

— Foi um momento de fraqueza, — viro-me para Sisi, agarrando as


mãos dela nas minhas e pedindo que me olhasse nos olhos. — E foi uma
coisa única. Juro. — Eu digo a ela, precisando que saiba que não estou
secretamente me drogando.
Ela franze os lábios, estreitando os olhos para mim.

Os outros estão falando em vozes silenciosas, ou pelo menos é o que


parece, porque toda a minha atenção está focada em Sisi e sua reação. Não
quero que ela pense que tenho um problema com drogas de todos os outros
problemas que tenho.

— Isso não soa como uma vez, — ela responde com ceticismo, e eu
amaldiçoo.

— Ok, talvez tenham sido alguns dias. Uma semana no máximo, —


eu altero, me encolhendo com minha própria explicação. — Mas eu não
toquei há meses, hell girl. Juro para você. — Dou a ela meu dedo mindinho
para que possa ver que estou a sério.

Ela não parece convencida, mas amarra seu dedo mindinho com o
meu.

— Bem. Você está livre, — diz ela e eu expiro, aliviado. — Mas só


porque você parece tão fofo chorando por mim, — ela se inclina para
sussurrar.

— Sisi, — eu gemo. — Quantas vezes eu tenho que lhe falar? Eu não


sou fofo. — Porque como qualquer homem que se preze pode ser fofo? —
Você pode me chamar de qualquer outra coisa. Como sexy, bonito... — Eu
paro para pensar, — feroz?
— Claro, — ela concorda prontamente. Quase muito prontamente. —
Você é ferozmente fofo, — continua ela, terminando comigo.

Mas quando ela se levanta na ponta dos pés, escovando os lábios


contra o meu lóbulo da orelha, não posso evitar a maneira como me
hipnotizo por ela.

— Não esqueça que o azul é minha cor favorita, — ela sussurra, sua
voz rouca e sexy e faz coisas estranhas ao meu coração.

— Corte isso, pombinhos, — a voz de Marcello arruina o momento


enquanto ele quase pega Sisi do meu lado. — Eu posso aceitar que vocês
estão juntos, — ele faz movimentos entre nós, quase com nojo, — mas isso
não significa que você pode esfregar na minha cara, — diz ele antes de se
colocar imediatamente entre nós dois.

Um sorriso ameaça puxar meus lábios e olho para Sisi para ver a
mesma reação.

— Droga, 'Cello’, mas você está levando o irmão superprotetor para


um nível totalmente diferente, — eu puxo, esgueirando minha mão atrás
das costas e agarrando o dedo mindinho de Sisi mais uma vez. Ela mal
consegue conter sua diversão enquanto olha para o irmão.

— Está certo, Marcello, — ela concorda, — pensei que tínhamos


concordado que sou adulta e posso decidir por mim mesma. Além disso, já
estamos casados.
Sinto uma onda de satisfação no peito ao ouvi-la defender nosso
relacionamento e, quando olho nos olhos dela, não posso deixar de piscar.

— Olhe para você todo idiota, — Bianca interjeta quando ela avança,
de mãos dadas com Adrian.

Como se ela pudesse falar alguma coisa. Ela esquece quanto


sofrimento eu tive que suportar dela por anos.

— Eu tenho que dizer que nunca pensei que veria esse dia, Kuznetsov,
— ri Adrian. — Você, envolvido com alguém?— ele balança a cabeça, como
se fosse a coisa mais absurda. — Tenho que dizer, por um longo tempo,
pensei que você estivesse no armário, — ele encolhe os ombros, olhando
preguiçosamente para Bianca com um olhar adorador.

Eu reviro os olhos para eles. Desde quando minha orientação sexual


se tornou um tópico tão quente? Mas eu não respondo, porque também não
seria justo me chamar de hétero. Não quando o único objeto da minha
atenção é ela. Se alguma coisa, eu sou assistemático. E se esse não é um
termo, estou fazendo um.

Opodondo a forma bastante inflexível de Marcello, levanto Sisi nos


braços, um pouco cansado desse joguinho que ele está fazendo.

Sei que ele tem muita culpa porque foi ele quem a entregou a Sacre
Coeur, mas isso não significa que teremos que sempre cuidar de suas
ternas sensibilidades.
— Ok, já chega, — falo com todos, meu tom sério. — Acho que
podemos superar as animosidades, Marcello. Sisi é minha esposa, e isso
não vai mudar se você gosta ou não. Em vez de comentar sobre minha vida
amorosa, deveríamos discutir outros negócios importantes, — aceno para
eles.

Todos me olham como se eu tivesse crescido uma segunda cabeça. Até


Sisi está olhando para mim, com os olhos arregalados, a boca ligeiramente
separada.

— Agora não é mais divertido, — suspira Bianca, e os outros parecem


se juntar a ela, todos parecendo bastante decepcionados. Em vez de
discutir, eles me dão as costas, voltando para o porão. Até Marcello parece
subitamente desinteressado e nem pisca duas vezes em Sisi e eu estar tão
perto um do outro.

— O que está acontecendo?— Pergunto a Sisi, um pouco confuso sobre


o que aconteceu.

— Eles estavam te provocando porque você é tão facilmente irritável,


— ela confidencia, um sorriso tímido em seu rosto. — Especialmente
quando se trata de mim.

— Droga, — murmuro, já cansado disso.

E eles se perguntam por que eu não gosto de socializar.


Indo para dentro do porão, vamos para a sala de reuniões, onde uma
mesa redonda ocupa o centro da sala, com cadeiras espalhadas em
desordem. Existem alguns computadores ao lado e um grande projetor
iluminando o outro lado da sala.

— Isso não mudou muito nos últimos dez anos, — acrescento, dando
uma olhada em Marcello. Eu tinha sido um acessório na casa dele devido à
amizade de nossos pais, e já estive aqui mais vezes do que pude contar.

— Pelo menos você limpou antes de nos chamar aqui, — eu tiro


minha mão na mesa, observando que está limpa.

— Vlad, — Sisi cutuca meu braço, — pare de antagonizar as pessoas,


— ela murmura, balançando a cabeça.

Encolhendo-me, apenas sento-me à mesa, observando atentamente


como Sisi também o faz, para poder puxar a cadeira dela direto ao lado da
minha.

Enquanto os outros se sentam também, eu viro para Bianca.

— Como é que você está aqui? Seu contrato não expira em alguns
meses?— Eu levanto uma sobrancelha.

Eu tive muitos problemas para conseguir um emprego para ela com


algumas conexões na Rússia e espero que ela não esteja relaxando, pois
isso refletiria mal em mim. E com minha reputação já em frangalhos em
todo o país, também não preciso disso no exterior.

— Estamos aqui para ajudar, seu idiota, — ela revira os olhos para
mim, a mão indo para a barriga e acariciando o que eu percebo ser um
solavanco bastante grande.

Meus olhos se arregalam.

Agora isso é algo que eu nunca esperaria de Bianca.

— Ela está grávida de quatro meses, — explica Adrian, — então ela


está diminuindo com as tarefas. Mas quando Marcello ligou para nos
contar sua situação, ela insistiu em vir aqui, — acrescenta com desdém.

Adrian e eu nunca nos demos bem, principalmente porque ele sempre


teve ciúmes da minha amizade com sua esposa. Não sei por que ele
estaria, já que deixei claro que Bianca nunca esteve no meu radar como
mulher, ou qualquer coisa realmente, exceto minha parceira de guerra.

Mas de alguma forma ele entendeu que eu era uma ameaça, e nunca
deixou de ser um pé no saco sobre isso.

— Ora, Hastings, devo dizer que estou impressionado, — eu já disse,


— já, — olho para o meu relógio, — trinta minutos e você não me insultou.
Podemos nos tornar melhores amigos ainda.
— Parece que, — ele bufa, — você tem mais chances de se tornar um
santo canonizado, — ele murmura sob a respiração.

— Não seria muito difícil, — encolho os ombros quando noto o


pequeno sorriso de Sisi. — Eu me certificaria de ficar mumificado após a
morte. Você faria isso por mim, não faria, hell girl?— Eu murmuro
suavemente, apoiando-me nela e inalando seu perfume fresco.

Ela vira para que apenas seu perfil seja visível.

— Somente se eu me juntar a você, — ela responde atrevida, —


seremos duas múmias, — sua voz é ofegante e maldita se meu pau não
pula nas minhas calças com aquele som sexy, — embrulhado um no outro
e prontos para a vida após a morte.

— Porra, Sisi, — eu gemo.

— Eca, — a voz de Bianca prejudica minha crescente ereção. —


Entendo agora por que você está com ela, — diz ela antes de apontar para
Sisi, — ou por quê você está com ele, — ela balança a cabeça, enojada.

— Podemos deixar para lá as morbidades estranhas, — diz Marcello,


massageando as têmporas com os dedos e parecendo completamente farto
conosco. Catalina, por outro lado, parece um pouco mais receptiva ao nosso
relacionamento, enquanto envia um sorriso reconfortante a Sisi.

Isso por si só a coloca nos em boas graças.


Até Marcello, apesar de toda a sua agitação e protestos, conseguiu me
surpreender convidando Bianca e Adrian. Pode não ser muito, mas sempre
há força nos números, especialmente quando eles são assassinos e
lutadores treinados.

Nesse momento, Enzo e sua esposa também passam pela porta.


Minhas sobrancelhas se levantam quando percebo que Marcello realmente
exagerou com isso.

— Nero deve estar aqui em breve, — é a primeira coisa que Enzo diz
ao se sentar ao redor da mesa.

— Você, — Bianca cospe, se lançando em Allegra. Seus olhos se


arregalam e ela mal foge do ataque de Bianca, Enzo rapidamente se
colocando entre as duas e protegendo sua esposa.

— Acho que ninguém contou a B sobre os novos desdobramentos, —


brinco, mas ninguém parece estar rindo.

Uma breve explicação de Enzo e Bianca finalmente se retira com um


bufo, colocando-se de volta na cadeira, onde Adrian prontamente tenta
confortá-la.

— É bom conhecer todos, — diz Allegra após uma rodada completa de


apresentações. Seu sotaque é grosseiro, mais forte que o de Enzo, e
provavelmente a melhor maneira de dizer que não é sua irmã, já que
Chiara desenvolveu um sotaque inglês impecável de todos os seus anos de
viagem.

É seguro dizer que Chiara não era a favorita de ninguém, muito


menos de Bianca, já que ela teve um caso com o pai enquanto tentava ficar
com o marido.

Enquanto esperamos que Nero apareça com o destaque da reunião de


hoje, eu rapidamente conto a todos o que descobrimos em Sacre Coeur.

— Sisi, — Catalina suspira, horrorizada quando ouve que Sisi havia


sido alvo de um transplante desse tipo. Os punhos de Marcello estão
cerrados quando ele, sem dúvida, se culpa novamente pelo que aconteceu
com ela.

— Mas isso não é a coisa mais importante, — interpõe Sisi, e posso


dizer que ela está tentando mudar a conversa dela, já que não gosta de ser
vista como vítima. — Havia algo mais que Madre Superiora disse, — ela
me dá um olhar preocupado, mas enquanto eu aceno, ela se vira para
Marcello.

— Nicolo era meu pai biológico, — explica ela com um suspiro.

Marcello está tentando o seu melhor para ficar parado, mas posso
dizer o quanto isso o está afetando, especialmente à luz de seu próprio
conflito com Nicolo. Ele estava tão obcecado com a mãe de Marcello que
deve tê-la agredido em algum momento, resultando no nascimento de Sisi.
— Mas a reviravolta mais inesperada, — acrescento, — é que Nicolo
teve outro, — eu paro e todo mundo parece em expectativa. — Michele
Guerra.

— Você está brincando, — Marcello é o primeiro a interpor, e eu


apenas balanço minha cabeça.

— Eu gostaria de estar, — respondo, contando tudo sobre o


diagnóstico de leucemia de Michele e o fato de Sisi ter sido compatível.

— Faz sentido por que ele prefere Raf pela sucessão, — observa
Catalina e eu aceno.

Michele já era odiado por sua tentativa de ataque a Catalina, mas


quando todo mndo ouve sobre seu envolvimento atual com os transplantes
clandestinos, é seguro dizer que ele agora está mais odiado.

— Aquele bastardo, — Enzo amaldiçoa, prometendo matar o próprio


Michele.

— Crianças, — levantei minhas mãos, — estamos nos adiantando. No


momento, o mais importante é quebrar a organização e depois podemos
separá-los um a um.

— Bom, porque Michele é meu, — Marcello cerra os dentes.


— Você também quer ter sua vez?— Eu pergunto a Sisi, já que ela
teve muitas boas razões para guardar rancor contra ele.

— Na verdade não, — ela encolhe os ombros, — ele é um ser humano


tão cagado que vai acabar morto de uma maneira ou de outra. Não estou
particularmente interessada em ser quem o mata.

— Eu farei isso por você, — proponho ansiosamente a alternativa.

— Não, — ela coloca a mão em cima da minha. — Deixe-o se debater.


Quando a operação de Miles terminar, ele não terá mais recursos. Quero
vê-lo se afogar como um peixe em terra seca, — diz ela, com os olhos
cheios de fogo enquanto os vira para mim.

Não posso me ajudar enquanto agarro sua nuca, trazendo-a para mim
para um beijo rápido.

— E lá vai ele de novo, — Marcello murmura.

— Você sabe, Kuznetsov, por alguém que proclamou que nunca


trocaria fluidos corporais com alguém, você está trocando bastante, — ri
Adrian.

— E lá vai a nossa trégua, Hastings, — eu gemo, ainda mantendo


Sisi ao meu lado. — Mas ela não é apenas alguém, — resmungo, quase
ofendido, ele agruparia Sisi na mesma categoria que todas as outras
pessoas comuns. — Ela é a única que torna a troca de fluidos corporais
loucamente atraente, — falo enquanto olho para a bochecha manchada de
vermelho. Há também algum resíduo azul da tinta no meu rosto, mas não
vou apontar isso.

Em vez disso, acaricio seu rosto suavemente enquanto removo todos


os vestígios da tinta. Eu não gostaria que ela ficasse brava comigo por
sujá-la também.

— Nós podemos parar de falar sobre a troca de fluidos corporais, —


Marcello interfere em voz alta, — especialmente desde que essa é minha
irmã. E eu realmente não quero imaginar... — ele deixa escapar, um
suspiro alto.

— Vou acabar colocando uma bala no cérebro dele, — murmura


Marcello, com Catalina ao seu lado tentando acalmá-lo.

— O que posso dizer, 'Cello’. Eu tenho esse efeito nas pessoas, —


acrescento presunçosamente.

Neste ponto, fazer as pessoas quererem me matar parece ser uma


habilidade.

Passamos mais tempo acompanhando o que todos estão fazendo e,


como Sisi me pediu, faço um esforço marcante para não irritar ninguém —
de novo. Não é tão fácil quanto parece, porque tenho que morder minha
língua por deixar escapar qualquer coisa que possa ser mal interpretada
como ofensiva. Afinal, podemos estar todos reunidos aqui, mas sei que a
maioria não tem nenhum amor por mim.

Ao contrário, sou apenas um mal necessário.

Minha mão na dela, já que preciso tê-la perto para funcionar, apenas
coloco meu sorriso mais encantador enquanto tento jogar junto.

Um tempo depois, a porta se abre e Nero entra, com o rosto desprovido


de qualquer expressão. Jogado por cima do ombro, está quem eu espero ser
filha de Meester, todo o corpo amarrado em um saco de batata. Há
barulhos abafados vindo de dentro, mas ele não parece se importar.

Olhando de relance para a sala, ele acena rapidamente antes de


colocar a prisioneira em uma cadeira, fazendo um trabalho rápido para
remover o saco enquanto mantém sua mordaça.

— Salome Meester, — ele acena quando puxa o saco da cabeça dela.

Salome Meester não é uma mulher de aparência ruim, pelo menos


acho que sim. Meus sentidos são distorcidos quando se trata desse tipo de
coisa, porque eu só tenho um padrão de ouro, e ela está sentada ao meu
lado.

Cabelos negros e pele pálida, Salome tem olhos azuis escuros


emoldurados por cílios escuros. Juntos, eles lhe dão uma aparência quase
de boneca e definitivamente inofensiva. Você não pensaria que alguém que
parecia inocente já teria passado por pelo menos três maridos.

Mas quando ela vira os olhos para Nero, seu olhar mortal, posso ver
que há algum fogo sob aquela aparência inócua.

— Removo?— ele pergunta, apontando para a mordaça dela. Quando


todos concordam, ele o faz, abaixando-o no rosto.

— Seu desgraçado. Eu vou te matar! Vou junta-lo a minha coleção e


fazer com que meus animais selvagens se alimentem de você!— Ela cospe
nele, empurrando seu corpo para frente enquanto continua a amaldiçoar
Nero.

— Ou não, — ele acena tardiamente, colocando firmemente a


mordaça de volta no lugar.

A mão dele permanece um pouco demais no rosto, os olhos se


arregalando um pouco.

Interessante.

— Acho que finalmente podemos ligar para Meester? —Marcello


pergunta, e posso ver que ele mal pode esperar que todos saíamos da casa.

Ora, ele não deveria ter sido o anfitrião se vai ficar tão ranzinza com
isso.
— Farei as honras, — levanto-me da cadeira, indo lentamente para
onde Nero e Salome estão.

— Vocês... — ela estreita os olhos para mim e eu posso ver uma dica
de reconhecimento.

— Foi o que? Oito anos?— Eu pergunto, divertido.

Ela era menor de idade quando Meester teve que me pedir para casar
com ela, e quando eu recusei, ele prontamente a casou com outra pessoa.
Eu nem tenho certeza de que era legal quando isso aconteceu.

— Por que estou aqui?

— Tenho certeza de que Nero deve ter lhe dito o porquê, — acrescento
e seus olhos se voltam para Nero.

— Ele?— ela pergunta, — até um tempo atrás, eu tinha certeza de


que ele era mudo, — ela sorri para ele, mas ele não reage. Uma expressão
entediada em seu rosto, ele apenas a encara. Quando ela vê que sua
provocação não funciona, ela se agita, virando-se para mim.

— Por que estou aqui? Você ouviu que estou de volta ao mercado do
casamento?— ela agita seus cílios sugestivamente.
Eu já sinto alguém fazendo um buraco nas minhas costas e não
preciso me virar para saber que Sisi provavelmente está a um passo de
atacar.

— Leve-a para a sala de tortura, — instruo Nero, não querendo tocá-


la e ter problemas com minha esposa.

Nero faz o que foi dito, colocando a mordaça de volta no lugar e


levando-a para fora da sala.

— Espero que você não planeje torturá-la, — diz Sisi vindo ao meu
lado.

— Não, — respondo, — nem sequer a toquei, — continuo colocando


as mãos no ar.

— Bom, — ela assente, satisfeita. — Eu posso fazer isso.

— Você?— Eu pergunto, surpreso.

— Claro. Isto é principalmente nosso negócio, então se você não pode


fazer isso, então cabe a mim fazer, — afirma ela de fato, levantando as
mãos e juntando os cabelos em um coque apertado na nuca.

— Certo, — respondo, mais uma vez admirado. — Mas só precisamos


machucá-la um pouco para que Meester nos leve a sério.
— Não se preocupe, — ela imediatamente responde, dobrando as
mangas da camisa e seguindo depois de Nero.

— Essa é minha irmã? — Marcello pergunta quase incrédulo, com os


olhos na figura em retirada de Sisi.

— Não. Essa é minha esposa, — digo com orgulho, — e ela é uma


força a ser reconhecida, — bato nas costas dele antes de segui-la.

Fazemos um trabalho rápido na sala de tortura, decorando-a para


mostrar que não estamos brincando e instalando uma câmera em frente a
Salome.

Sisi não estava brincando quando disse que estava segura, pois
Salome agora está com um lábio cortado e um olho já machucado.

Ainda assim, o mais surpreendente foi o fato de que, mesmo em seu


estado de espancamento, ela estava conversando com Sisi como se fossem
amigas há muito perdidos.

— Eu não sou a maior fã do seu pai, — menciona Sisi, — desde que


ele tentou matar Vlad e eu pelo menos duas vezes. Mas como você não está
do lado dele, acho que podemos ser amigas, — ela sorri, — depois que ele
estiver morto.

— Vocês planejam matá-lo?— Salome levanta o olhar enquanto faz a


pergunta.
Nero resmunga, ainda ao seu lado.

Na verdade, ele não foi embora, mesmo enquanto Sisi estava


reorganizando seu rosto.

Allegra está no final da sala com Enzo e Adrian, enquanto Marcello


está organizando a câmera no lugar. Catalina levou Bianca para o andar
de cima para alimentá-la desde que ela teve alguns desejos de gravidez.

— Sim, — respondo honestamente. — Ele é melhor morto.

— Droga, — ela murmura sob a respiração. — Você pode ter certeza


de que eu sou sua herdeira oficial antes de matá-lo? Eu realmente não
quero acordar e descobrir que ele deu a todos o dinheiro dele para alguma
caridade ou algo assim. Não que meu pai seja muito caridoso, mas ele faria
isso apenas para me irritar, — ela suspira profundamente.

— Por que ele faria isso?— Sisi pergunta.

— Nós nos odiamos. A única razão pela qual eu não o matei é porque
eu esperava que ele mudasse, — diz Salome, decepcionada.

Sisi se vira bruscamente em minha direção.

— Isso funcionará? Se ele a odeia?


— Oh, ele me odeia, mas ainda precisa de mim para um herdeiro
masculino, — interjeta Salome. — Essa é a única coisa pela qual sou boa,
aparentemente, — ela revira os olhos.

— Bom, isso funciona então, — aceno com a cabeça, voltando para a


câmera para garantir que está tudo bem.

Eu digo a todos para se afastarem, prontos para gravar Salome


implorando ao pai para salvá-la, mas estou um pouco surpreso ao ver que
Nero parece relutante em deixar o lado dela.

— Nero?— Eu pergunto, minha voz afiada.

Seu olhar encontra o meu e ele assente, se afastando.

— Faça seu melhor ato, Salome. Eu posso até forjar a vontade dele por
você, se você for bem-sucedida, — prometo.

Seus olhos se arregalam, suas pupilas brilhando de emoção.

— Negócio fechado, — ela concorda.

Começo a contagem regressiva e depois digo para ela começar.

A câmera aproxima o rosto de Salome, seu lábio sangrento e seu olho


roxo enquanto ela treme, fungando.
— É tudo culpa sua, velho! Por que você não me deixou ficar?— ela
grita, amaldiçoando o pai e chamando-o de todos os tipos de nomes.

Bem, se essa é a maneira dela de parecer convincente, que assim seja.

— Você sabe o que eles ameaçaram fazer?— ela continua gritando, o


rosto vermelho do esforço. — Uma histerectomia. Diga tchau, tchau para
seus herdeiros, papi querido. Eu sei que não sentirei falta deles, — ela
sorri para a câmera.

Trago minha mão para a testa, incapaz de acreditar em como aquela


mensagem fará com que Meester coopere.

— Eu estou surpresa que o vídeo funcionou, — comenta Sisi enquanto


ela se junta a mim no convés do barco.
Todo mundo está completamente preparado para o que encontrarmos
na ilha, e enquanto eu gostaria que Sisi ficasse para trás, desde que será
perigoso, eu não poderia impedi-la de vir.

Eu sei que ela teria me seguido de qualquer maneira, porque se há


uma coisa que aprendi sobre ela, é que há uma teimosia que infunde força
em qualquer decisão que ela tome. Ela nunca recua, independentemente
dos perigos envolvidos, e o ataque em Nova Orleans me mostrou que,
assim como eu faria para protegê-la, ela também faria por mim.

Ela entrelaça os dedos com os meus, a cabeça apoiada no meu ombro


enquanto observamos o barco sair do porto.

— Meester é tão mercenário quanto eu o imaginei, — digo a ela,


dando uma olhada em onde Meester está sentado no convés, contido e
atualmente sendo interrogado por Enzo.

As negociações com Meester foram planejadas. Embora a mensagem


de Salome não fosse tradicional, ela se aprofundou nos interesses de
Meester.

Quando falei com ele, demorou um pouco para convencê-lo de que


realmente temos sua filha, mas depois de ver a gravação, todos os vestígios
de dúvida haviam evaporado e ele concordou em nos ajudar a chegar à
ilha. Ele também entregou seu trunfo, pois pediu pelo menos uma dúzia de
vezes para garantir que sua filha — especificamente seu ventre —
estivesse seguro.
Também havia confirmado, sem dúvida, que Meester esteve envolvido
com Miles o tempo todo, inclusive todos aqueles anos atrás, quando eles
amarraram Misha em seus planos e atacaram minha casa. Só por isso,
estou reservando o direito de mandá-lo para o túmulo depois que tudo
acabar.

— Estamos tão perto, Vlad, — sussurra Sisi.

— De fato, — respondo rigidamente.

Agora que o momento do acerto de contas está tão próximo, não sei
como me sentir sobre tudo. Sou especialmente cauteloso em esperar
encontrar Katya viva. Porque se ela está, ela pode ser apenas uma concha
de um humano.

Depois que levamos Meester a cooperar, montamos um plano de


ataque, e Enzo e Marcello haviam oferecido alguns de seus melhores
homens. Eu lhes dei um resumo do experimento de Miles, especialmente os
testes que ele nos fez passar quando criança. Qualquer pessoa criada
nesses termos deve se tornar um filho da puta mortal — se tiver sorte o
suficiente para atingir a maturidade. E assim escolhemos os homens com
mais experiência em combate corpo a corpo e tiro.

O plano é bastante simples.

Levando o barco de Meester para chegar à ilha, escondemos alguns


dos melhores soldados a bordo. No minuto em que chegamos à ilha, a
primeira tarefa é retirar a guarda costeira e garantir que o porto esteja
limpo. Então, alguns outros barcos entrarão para ajudar na evacuação.

Pelo que eu vi nas imagens dos drones, todo o hospital está ocupado,
então precisaremos de espaço suficiente para levar todos em segurança.

Então, depois que todos forem evacuados das instalações, invadiremos


o porão.

Sisi havia trazido uma boa ideia de que a evacuação deveria ser
orgânica e não hostil, porque no momento em que começamos a tirar
muitas pessoas do hospital e as solicitações são enviadas do porão, todos
serão pegos no fogo cruzado.

Em vez disso, ela sugeriu que nós dois entrássemos disfarçados de


pessoal do hospital e tocássemos o alarme de incêndio, guiando todos em
direção a uma saída onde os homens de Enzo os buscariam e os levariam
em direção ao porto.

Então teríamos a liberdade de nos movimentar enquanto lidamos com


a situação do porão.

— Há algo te incomodando, — ela observa astuciosamente,


recostando-se para me estudar.

Eu respiro fundo. Nada nunca a escapa.


— Depois de tantos anos, a vingança é tão próxima que quase posso
provar. Mas e depois?

Nos meus planos originais, tenho vergonha de admitir que não


planejava viver muito mais tempo depois de cumprir minhas promessas.
Tudo tinha sido uma questão de manter minha palavra para minhas irmãs
e depois...

Eu nunca tive nada pelo que esperar e, com minha existência


solitária, não havia muito para manter minha atenção.

Agora, pensando em estar livre do meu voto e com tudo atrás de


mim... Eu me sinto perdido.

— Vamos lidar com isso quando chegar a hora, — ela responde,


pegando meu rosto nas mãos e me pedindo para olhá-la nos olhos. — Mas
eu estou aqui. Eu sempre estarei aqui. E juntos vamos superar tudo.

— Você está certa, — trago as juntas dos dedos nos meus lábios,
dando um beijo em cada uma. — Vamos levar um dia de cada vez.

Seus lábios se estendem para um sorriso ofuscante, do tipo que


sempre tem o poder de me deixar sem fôlego. Especialmente porque ela
está vestida com um daqueles trajes pretos de látex, armas embainhadas
por todo o corpo.
Eu enrolo meus dedos através dos aros que seguram o cinto no lugar,
arrastando-a para junto de mim.

— Você viu como os olhos de Marcello estavam atirando punhais em


mim quando viu o que você estava vestindo?

— Ele acha que você me fez uma lavagem cerebral de alguma forma,
— ela ri, — ele até me perguntou se estamos usando alguma droga.

— Maldita Bianca e sua boca grande, — eu gemi. — Agora eu não


somente pareço um assassino disfuncional. Mas um assassino disfuncional
drogado. Exatamente o que eu precisava, — murmuro baixinho.

— Não se preocupe, — ela sorri conspiradoramente, — eu disse a ele


que você me deu um forte coquetel de serotonina, ocitocina e dopamina.
Ele calou a boca.

Eu pisco duas vezes e antes que eu perceba, um sorriso se espalha no


meu rosto.

— Hell girl, — eu pronuncio, orgulho inchando no meu peito. — essa


é a melhor coisa que eu já ouvi. Acho que estou apaixonado, — assobio,
piscando para ela.

Parece que meu senso de humor está acabando com ela.


— Ele pode ter entendido alguma coisa, — ela levanta uma
sobrancelha, — desde que nós estamos ficando chapados, — ela se inclina
para sussurrar, — um no outro.

— Sisi, — coloco minhas mãos nos ombros dela, levantando-a do chão


e colocando-a firmemente longe de mim. — Estamos indo para a guerra,
mas quando você fala comigo com essa sua voz rouca, tudo o que posso ver
é você, eu e uma cama.

— Eu pensei que uma cama não era necessária, — ela retruca, e eu


fecho meus olhos.

Minhas narinas queimam, estou tendo o pior momento para me


controlar enquanto olho para suas curvas atraentes e para a maneira como
todo movimento sinuoso é uma obra de arte. Mesmo quando ela levanta
um dedo para puxar um fio de cabelo perdido de volta em sua roupa, não
posso evitar a maneira como meu pau se contrai.

Ou a maneira como meu coração bate alto no meu peito, minhas veias
latejando com pressão inédita.

Maldita.

Esta mulher vai ser a minha morte.

O sorriso oculto em seu rosto me diz que ela sabe exatamente como
me afeta e está capitalizando com força total. Se não fosse pelas
circunstâncias em que nos encontramos atualmente, eu não perderia um
segundo para mostrar a ela que uma cama não é necessária, o convés serve
muito bem.

Mas quando a ilha aparece, no momento em que esperamos uma


aproximação rápida, ela rapidamente se encolhe.

Reunindo-se com todos no convés, rapidamente repassamos o plano


novamente, delegando tarefas. Enzo e sua esposa estão encarregados de
tirar todos da ilha, enquanto Bianca, Adrian e Marcello são nosso apoio
depois que evacuarmos o hospital.

Seus homens também estão em espera aguardando ordens.

Depois de fazer outra verificação do equipamento, garantindo que


todos os dispositivos de comunicação estejam funcionando, estamos
prontos para partir.

Enquanto o barco atraca no porto, Enzo libera Meester de suas


restrições, indo conversar com a guarda costeira.

Todos esperamos na costa até recebermos o sinal para prosseguir.

Assim que estamos em terreno sólido, uma pequena luta se inicia.


Talvez haja cinco guardas costeiras no total, e levamos eu e outro homem a
tantos minutos para despachá-los antes que eles possam tocar o alarme.
Fase um concluída.

Alguns homens tiram as roupas dos guardas da costa e retomam seus


lugares na estação de controle, prontos para receber os outros barcos que
chegam à ilha.

Antes de partirmos, certifico-me de dar a Meester o que lhe é devido.


Um corte em seu estômago e eu ordeno que todos o deixem sangrar antes
de jogá-lo na água. É o que os traidores merecem, afinal. E eu não acho
que Meester jamaisfoi leal a qualquer pessoa em sua vida.

Viva como um traidor, morra como um traidor.

Além disso, ele sobreviveu ao seu uso. E embora ele mereça uma
morte mais prolongada por tudo o que tentou contra mim e Sisi, não há
tempo para insistir em particularidades no momento.

Eu tenho um propósito.

Chegar a Miles.

Do jeito que está claro, Sisi e eu vamos para o hospital, os outros


seguindo em silêncio para trás e esperando por mais instruções.

— De longe isso parece abandonado. — Sisi menciona quando


chegamos à entrada de serviço. Evitando qualquer câmera de segurança,
tiro algumas ferramentas do bolso, trabalhando na fechadura.
— É o local mais inteligente para fazer isso sem se incomodar, — digo
a ela, colocando a chave de tensão dentro da fechadura, — nenhum civil
invadiria e ninguém pensaria que algo errado está ocorrendo porque é um
terreno federal.

A porta cede com um clique e Sisi me dá um sorriso sonhador,


entrando comigo logo atrás.

Entramos na área de serviço e, voltando-se para mim, Sisi me garante


que ela conseguiu isso. Um sorriso tocando nos meus lábios, aceno para
ela, pedindo que continue.

Embora não haja um momento em que não me preocupe com a


segurança dela, também confio em suas habilidades e sei que ela pode
cuidar de si mesma. E sei que, sufocando-a com minha superproteção, eu
estaria sufocando seu potencial. Eu quis dizer o que disse a ela antes.
Quero que ela seja forte sozinha e não dependa de ninguém. Porque temo
que possa chegar um momento em que ela também terá que ser forte por
mim.

Enquanto espero em um dos quartos, ela sai, chamando a atenção de


uma das enfermeiras.

— O que você está fazendo aqui? Você não tem permissão para estar
aqui. — A mulher chama Sisi, seu sotaque estrangeiro inconfundível.
Um barulho alto e a porta se abre com Sisi arrastando a mulher para
dentro.

— Você está ficando muito boa em nocautear as pessoas. — Noto,


divertido, enquanto ela está pegando as roupas da enfermeira e as
colocando.

— É divertido. — Ela encolhe os ombros, piscando para mim.

Quando sua roupa está no lugar, ela sai novamente, desta vez
atraindo um dos médicos para a lavanderia.

Em pouco tempo, estou vestido como médico e estamos ambos nos


corredores do hospital.

Existem vários níveis no edifício, mas quando passamos por salas


abertas, todas cheias de pessoas, a imagem começa a ficar mais sombria.

— Caro Senhor, — Sisi sussurra quando para na porta de um quarto.


Virando a cabeça para ver o que ela está olhando, percebo que o quarto não
pode ter mais de trinta metros quadrados, mas tem cerca de seis crianças,
lotados em beliches, todos ligados em IVs.

— Como vamos evacuá-los?— ela pergunta, apontando para as


condições deles, — não acho que estejam aptos a andar, muito menos
correr se houver um alarme de incêndio.
Meus lábios se estendem em uma linha fina considerando as
possibilidades. Levantando um dedo para o meu comunicador, entro em
contato com Enzo, informando que o plano pode não ser tão tranquilo.

— Vamos enviar pessoas para conseguir as que não podem se mover


livremente, — ele responde, e lançamos um novo plano.

Em vez de tocar o alarme imediatamente, Sisi e eu fazemos algumas


rodadas em todos os níveis, catalogando quem pode precisar de assistência
e quem pode se mover por conta própria.

O que estamos vendo é terrível, no entanto, e Sisi está ficando cada


vez mais afetada ao ver mais e mais crianças em suas pequenas camas,
mal conseguindo se mover porque podem quebrar seus pontos.

— Deus, Vlad, — ela sussurra, — isso poderia ter sido eu. Isso
poderia ter sido qualquer um de nós.

Minha mão no ombro dela, dou-lhe um aperto rápido.

— Não há nada que possamos fazer agora, exceto afastá-los daqui, —


digo a ela.

— Eu sei, — ela suspira, anotando o último número da sala que pode


precisar de ajuda.
Com isso feito, tocamos o alarme de incêndio, observando as pessoas
começarem a correr, uma bagunça caótica se formando rapidamente no
hospital.

— Não podemos ficar, — eu a puxo para mim enquanto ela continua


olhando para as crianças doentes com tristeza nos olhos.

— Eu sei, — ela finalmente concorda, mas eu posso ver a mudança


em seu comportamento.

— Eu gostaria de poder fazê-los sofrer tanto, — sua voz está um


pouco acima de um sussurro, com as mãos fechadas nos punhos. Há uma
nova convicção nos olhos dela, e o fato de que isso a incomodou me faz ver
vermelho.

— Oh, mas eu vou, hell girl, — pego sua mão, desenrolando o punho e
massageando-a lentamente, — vou garantir que eles se arrependam no dia
em que nasceram. E você, — eu levanto os dedos dela para os meus lábios,
— terá a primeira fila para testemunhar sua agonia.
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

— Todos já devem estar fora agora. — Menciono abrindo uma porta


que leva ao porão.

Enquanto examinávamos o prédio, eu também encontrei uma planta


antiga. Embora eu possa assumir que o nível subterrâneo foi construído
muito mais tarde que o plano de construção, encontrei uma porta que leva
diretamente para lá.

— Não devemos esperar pelos outros?— Ela pergunta enquanto tira a


roupa de enfermeira, jogando-a no chão. Faço o mesmo com o jaleco de
médico branco, a roupa extra apenas impedindo nossos movimentos. E
precisaremos de toda a liberdade de movimento.

— Eles virão. Eventualmente. — Eu adiciono secamente.


Há essa ansiedade dentro de mim, a cada passo que dou me fazendo
imaginar o momento em que finalmente confrontarei Miles por tudo o que
ele fez conosco.

Vanya.

Não pela primeira vez, eu gostaria que ela ainda estivesse aqui. Eu
gostaria que ela pudesse me ver fazendo Miles pagar pelo que ele fez com
ela e por todo o sofrimento que nos fez passar.

Mais do que tudo, eu gostaria que ela pudesse me ver cumprir minha
promessa.

Eu não vou falhar com você, V.

Décadas de preparação, e foi tudo por esse momento.

Segurando firmemente Sisi, conduzo-nos por um caminho sinuoso até


um espaço semelhante a uma adega. Teias de aranha em todos os lugares,
fica claro que essa entrada específica não é usada há muito tempo.

— Os outros estão no prédio. — Sisi acena para mim quando


chegamos a um longo corredor.

— Fique perto de mim, — digo a ela, meus olhos já estão vigiando a


área.
Respirando fundo, deixei-me examinar meu entorno, todos os meus
sentidos prontos para captar qualquer sinal.

Há um silêncio misterioso, o único barulho são de nossos passos


avançando cuidadosamente.

Sisi coça o nariz com nojo quando chegamos a uma área específica
onde o cheiro da adega velha é demais.

Aperto minha mão na dela, deixando-a saber que deveria estar em


guarda. De acordo com os planos que vimos, este túnel deveria dar em
algum lugar. Mas o destino não havia sido registrado no projeto,
provavelmente porque foi construído muito mais tarde. Eu poderia apostar
um palpite, porém, sobre onde isso leva.

Ainda assim, levantando a mão para Sisi parar também. Levantando


um dedo para os meus lábios, faço um movimento para que ela fique
calada e ouça o barulho.

É muito fraco, mas quando fecho os olhos e me apego a ele, quase


consigo entender o som dos passos.

Um. Dois. Cinco.

Minha mão para cima, uso meus dedos para indicar quantas pessoas
estão indo em nossa direção. Ela acena para mim, uma expressão sombria
em seu rosto que lentamente dá lugar à emoção.
Eu deveria saber, já que simila muito bem o meu.

Acho que até que nossos reforços cheguem, teremos tempo para uma
pequena diversão.

Estendendo meu braço para ela como se eu a estivesse convidando


para dançar valsa, eu pisco e ela sabe exatamente o que fazer.

Ela finge uma reverência enquanto abaixa as mãos para os pés,


preparando os sapatos para a luta. Toda a sua roupa foi feita sob medida
para um propósito: se adequar ao nosso estilo.

E tivemos tempo suficiente praticando para desenvolver um estilo


muito particular. Especialmente quando minha mão esticada aperta a
dela, puxando-a para perto de mim com um puxão.

— Pronta para o confronto, hell girl?— Eu pergunto, divertido.

Não sei como os homens que estão vindo em nossa direção estarão
preparados, mas não tenho dúvidas de que não são páreo para nós juntos.

Seus lábios se enrolam nos cantos enquanto ela bate seus cílios em
mim, seu braço descansando em volta do meu ombro.

— Você não precisa perguntar duas vezes, — ela ronrona lentamente.


Eu posso ter ensinado a ela como lutar e se manter, mas também
treinamos para que pudéssemos nos complementar em uma briga.
Inspirados pela primeira vez que enfrentamos aqueles homens no
restaurante, praticamos por horas até que nossos corpos se
sincronizassem, não que eles já não estivessem.

Há algo sobre a maneira como nos comunicamos. Na metade do


tempo, as palavras são obsoletas, pois um olhar diz tudo.

Os sons de botas batendo no chão ficam cada vez mais altos até que os
cinco homens que eu contei apareçam à vista, armas levantadas e
apontando para nós.

— Você sabe que pode doer, certo?— Eu puxo enquanto traço minha
mão pelas costas dela, onde seu traje de látex está cobrindo equipamentos
à prova de balas.

— Você pode beijar para melhorar depois, — ela murmura.

Meus lábios já estão nos dela, o canto do meu olho estudando os


movimentos dos homens enquanto eles carregam e...

Eu a giro para uma música silenciosa, o único barulho são as balas


que passam por nós enquanto nos movemos sincronizados, evitando a
maioria dos tiros recebidos enquanto fechamos a distância entre nós e os
homens.
É uma valsa da morte quando Sisi e eu deslizamos no chão, a cada
passo nos levando para mais perto de nossos alvos.

E, assim como vejo que estamos no lugar certo, estendi minhas mãos
sobre a cintura dela, levantando-a no ar.

Os homens parecem completamente perplexos com a nossa exibição, e


nem estão mais tentando mirar em nós, balas voando aleatoriamente em
todas as direções, enquanto um late algumas ordens para os outros se
concentrarem.

É em vão, no entanto, quando seus olhos estão presos na forma


pecaminosa de Sisi enquanto ela gira no ar. Quase hipnotizados, eles nem
vêem as facas quando disparam de suas mãos e pousam em seus peitos.

O líder da unidade grita alguns comandos quando dois homens caem,


os outros imediatamente entram em uma formação diferente nos
cercando.

— Pronta?— Eu pergunto, sorrindo.

— Vamos fazer isso, — diz ela, com as mãos firmemente nos meus
ombros enquanto eu a coloco no ar, as pernas esticadas, as lâminas na
ponta dos sapatos estendidas. Girando-a, dou-lhe impulso suficiente para
coordenar o ataque, suas lâminas beliscando dois homens em suas
jugulares, sangue imediatamente jorrando.
— Mais um atrás de mim, hell girl, — sussurro, levantando-a para o
alto antes de abaixá-la no chão e empurrando-a para trás. Ela desliza no
chão entre as minhas pernas e se apoia nos cotovelos, envia o pé bem no
rosto do último homem, a lâmina fazendo contato com a área sob o queixo.

Dedo no gatilho, ele consegue um último tiro antes de cair morto.

— Bem, — espano meu terno, abrindo minha camisa para remover a


bala presa no meu colete à prova de balas. — Eu diria que correu bem.

Ela está sorrindo amplamente para mim.

— Isso foi fácil, — ela responde quando eu a ajudo.

— E sexy pra caralho. — Eu assobio, meus olhos revirando


apreciativamente sobre sua figura.

Mesmo que os homens não tivessem apontado suas armas para nós ou
pretendessem nos matar, eles ainda teriam acabado mortos porque haviam
sido um pouco generosos com seus olhares.

Retirando nossas armas dos homens caídos, estamos prontos para


seguir em frente.

— Eu tenho que dizer, elesnão eram o que eu esperava, — observa ela


enquanto continuamos andando, — nem precisávamos tentar. E eu sou
iniciante, — acrescenta, quase indignada com o desempenho deles.
— Acho que alguém está simplesmente brincando conosco, — digo
estreitando meus olhos na saída do túnel.

E assim parece, porque assim que saímos dos velhos túneis, nos
encontramos no meio de uma estranha câmara intermediária, dois homens
e uma mulher esperando na saída.

— O que é isso, os jogos vorazes? — Eu gemo quando percebo que é


apenas um jogo. Provavelmente Miles está nos observando agora, se
divertindo às nossas custas.

— Eu vou pegar a garota, você pega os caras, — Sisi acena para mim,
sua postura de luta no lugar enquanto sua atenção está focada na garota.

Com uma longa corrente, a oponente de Sisi não parece ter mais de
dezoito anos. Mas o que imediatamente me impressiona é o olhar dela,
está em branco.

— Sisi, — eu chamo, minha voz tensa. — Por favor, tenha cuidado.


Ela não é normal.

Eu rapidamente digitalizo meus próprios oponentes, observando os


mesmos olhos vidrados, sem emoção.

Preciso terminar com eles o mais rápido possível, porque se eles fazem
parte do experimento, é provável que sejam tudo menos comuns.
E Sisi não tem chance.

Um olho fixo em Sisi, dou um passo à frente em direção aos meus


próprios oponentes. Ambos estão segurando machados de batalha e,
quando olham para mim, um sorriso aparece em seus lábios.

Ah, o gosto da guerra.

É algo com o qual estou intimamente familiarizado, pois tive


dificuldade em me adaptar ao mundo real depois que voltei para casa.
Toda interação que eu tive com alguém começaria com o pensamento de
matá-los, essa sede de sangue tão profunda dentro de mim que levei anos
para aprender a subjugar.

E eu sei exatamente como eles se sentem. Há emoção na guerra, na


luta, no gosto da matança. Há uma alta intoxicante que só ocorre quando
você tem poder sobre a morte e, por mais da metade da minha vida, eu fui
escravo dela. Para este animal dentro de mim isso nunca é satisfeito por
algo menos que destruição — aniquilação total.

Eles avançam, seus sorrisos se ampliam e, em suas mentes


arrogantes, já podem provar a vitória.

Infelizmente para eles, eles foram enviados atrás da pessoa errada.


Agora a pergunta é bastante simples. Com ou sem armas. Mas, à medida
que avançam, não tomo essa decisão. Eles fazem isso por mim.
Meu lábio se curvando para cima, eu apenas me esquivo e me movo,
evitando cada golpe de seus machados, um olho ainda em Sisi.

Um kunai em cada mão, ela está segurando firmemente o punho


enquanto apara os ataques da corrente da outra garota.

O ar passa pelo meu rosto enquanto a lâmina do machado desliza uma


polegada para longe da minha pele.

Percebendo que eu deixaria que eles se divertissem facilmente, eu


decido terminar o jogo. Minhas mãos disparam, ambas envolvendo o eixo
de seus machado, assim como as balançam em minha direção.

Oh, eles são fortes.

Mas não tão forte quanto eu.

Um pé à frente, empurro contra eles, deixando minha mão ficar


frouxa por um momento como isca antes de segurar com força e arrancar
os machados de suas mãos.

A força do meu empurrão os envia para trás e, por um momento, eles


parecem desorientados ao perceberem que sua arma está faltando em suas
mãos.

Há algo estranho nas reações deles.


Além dos olhos mortos, desde o começo, há algo mais, o foco está
errado.

E enquanto eles continuam tentando acabar comigo, usando os


punhos agora, observo imediatamente o que está errado.

Robótico.

É como se todo o objetivo deles fosse acabar comigo, mas sem a ação
consciente por trás disso.

Porra!

Parece que Miles pode ter mudado seus planos. Certamente para eles
atingirem esse nível no experimento, eles teriam que ser quase tão fortes
quanto eu. Para eles ainda viverem...

Eu me abaixo novamente, estendendo meus braços e ganhando força


antes de deixá-los chegar a mim com força total, dobrando meus joelhos e
caindo no chão no momento em que eu bato, cada lâmina de machado se
aproximando de suas entranhas.

Seus grunhidos de dor são a única coisa que ouço quando o machado
os corta, abrindo-os para um rio de sangue e órgãos enquanto continuo
cavando a lâmina por dentro, garantindo que o dano seja debilitante e
permanente.
Quando há um buraco no interior, eu apenas dou a eles outro
empurrão, a lâmina batendo na parte de trás da coluna no que só posso
chamar de uma melodia adorável.

Ah, a sinfonia da morte.

Eles caem no chão, seus gemidos de dor esquecidos rapidamente


quando eu dirijo toda a minha atenção para Sisi.

Ela está respirando com força, mas ainda está se segurando contra a
garota. Um movimento errado, no entanto, e ela cai de costas, a corrente
pronta para atacar.

Eu me movo mais rápido do que me movi em toda a minha vida,


agachando-me na frente dela e recebendo todo o peso da corrente,
enquanto ela faz contato com minhas costas em um som ensurdecedor. É a
única coisa que me faz perceber que fui atingido, já que não há
absolutamente nenhuma dor.

Os olhos de Sisi se arregalam quando olham para mim, mas ainda não
terminei.

Eu me viro um pouco, meus ouvidos se animando enquanto ouço a


garota que está usando a arma. O ar gira em torno de mim e ela pega a
corrente de volta, puxando-a em sua direção antes de enviá-la voando em
minha direção mais uma vez.
Desta vez, em sintonia com a situação, levanto minha mão, movendo-
me para a esquerda e pegando a corrente no momento em que está prestes
a me atingir. Eu aperto bem a ponta do metal, puxando-a e a garota em
minha direção.

Ela está desequilibrada quando cai para a frente, e não é rápida o


suficiente quando eu arranco a corrente das mãos dela, jogando-a de lado.
Minha mão na sua garganta, só vislumbro os olhos nublados quando aplico
um pouco de pressão, o pescoço estalando, a cabeça dobrada para o lado.

Jogando o corpo dela para o lado, me viro para Sisi, ajudando-a a se


levantar.

— Acho que nunca vou me acostumar a vê-lo em ação, — ela respira,


o peito subindo e descendo, os seios enfatizados pelo aperto do traje.

Suas palmas vêm descansando no meu peito enquanto ela me sente,


seu toque acendendo meu corpo já alimentado com adrenalina.

— Do que seus músculos são feitos? Ferro puro?— ela pergunta, suas
pupilas engolindo suas íris, e eu percebo que talvez eu não seja o único que
pensa que os dois f’s juntos. Não quando ela se levanta na ponta dos pés, a
língua para fora lambendo minha bochecha.

— Hmm, — ela ronrona suavemente, seu hálito quente tocando


minha pele com uma carícia suave, — até seu suor me excita, — ela
continua, seus dedos se arrastando até que esteja traçando o contorno da
minha tatuagem no pescoço.

Então, antes que eu possa reagir, ela está fora de mim, com o olhar
atrás de mim.

— Cuidado, — ela adverte, e eu rapidamente me viro, pronto para


lidar com qualquer experimento fracassado que Miles tenha decidido
enviar no meu caminho.

Mas só dou um passo em direção ao recém-chegado antes que uma


bala se aloje na testa e ele simplesmente cai morto no chão.

— Você não podia esperar por nós, poderia?— Ouço a voz de Bianca e
olho para trás para vê-la entrando na sala, o marido em sua trilha
acompanhado por Marcello, que tem uma expressão sombria no rosto.

— Realmente, Vlad? Você poderia ter matado Sisi, — ele quase grita
comigo, com suas feições desenhadas com raiva.

— Realmente ‘Cello’, essa pouca confiança que você tem em mim?—


Eu me arrasto, resistindo ao desejo de revirar os olhos para ele.

— Estou bem, Marcello. — Sisi se vira e ela está revirando os olhos


para ele.

Porra, como eu amo essa mulher.


Eu não desisto e a agarro para um high five, sabendo que se o mal
humorado Marcello aparecer, não demora muito para Marcello rosnando
seguir o exemplo. E eu sei que então não vou ouvir o fim disso.

— Eu te disse que estava treinando com ele. Eu não estou


desamparada. — Ela empurra o queixo para cima, enfrentando-o
desafiadoramente.

— Essas pessoas são assassinas treinadas, Sisi. Não importa quanto


treinamento você tenha. E você também é uma garota, — continua ele, e
eu quase gemi, sabendo que acabou de cavar uma cova.

— O que?— Sisi pisca como as palavras se estabelecem. — Eu sou


uma garota, — ela fala devagar. — Então isso significa que não posso
lutar? Que não posso me defender?— Ela coloca os braços sobre o peito e
eu sei que estamos dentro de um sério território.

Para alguém como Sisi, que gosta de ter controle sobre sua própria
vida acima de tudo, ser lembrada de que seu sexo pode impedi-la é
semelhante ao pior insulto.

O problema é que ela pode ser uma garota, mas é uma maldita garota
fodona e qualquer um deve se sentir sortudo por tê-la ao lado.

Sabendo o quão aquecida ela deve estar, eu me junto a ela, colocando


um braço sobre o ombro.
— Você não é a mesma pessoa que nos disse que nosso sexo não
deveria nos impedir?— ela estreita os olhos para Marcello.

— Sim, mas não é o mesmo, — ele responde. — Você pode escolher a


profissão que quiser, mas isso não significa que deve mergulhar de cabeça
diante do perigo. E isso, — ele acena para os corpos no chão, — é ainda
pior que o perigo normal.

— 'Cello’, acalme-se. Enquanto Sisi estiver comigo, não há com que se


preocupar. Além disso, — eu digo enquanto olho para o rosto lindo dela, —
ela pode chutar uma bunda, — eu a elogio e sou recompensado com um
sorriso radiante.

— Você?— Ele quase grita. Novamente. — Você é o homem mais


instável que eu já encontrei, Vlad. Sim, claro, você a está protegendo do
perigo porque é o pior perigo, — ele murmura, irritado.

— Estamos fazendo isso de novo?— Eu levanto uma sobrancelha. —


Eu te disse que Sisi está em boas mãos. Eu nunca deixaria de bom grado
qualquer coisa acontecer com ela.

— Que tal sem querer? Todo mundo aqui sabe sobre seus episódios.
Não é um segredo que você não é normal. Quem pode dizer que, em vez de
protegê-la, da próxima vez você a matará?

Fecho os olhos, respirando fundo.


Mas não consigo controlar a reação do meu próprio corpo quando deixo
o lado de Sisi e, em dois segundos, tenho Marcello pela garganta,
apoiando-o na parede.

— O que você está insinuando, cunhado?— Eu mal posso conter a


raiva crua que irradia de mim. Está em todos os poros que procura ser
liberado.

— Isto!— ele olha para mim nos olhos, nem mesmo piscando enquanto
eu levanto a massa de todo o corpo do chão, meus dedos apertando seu
pulso. — É exatamente isso que eu quero dizer. Você é imprevisível.

Travo os dentes e, em vez de provar que eu sou de fato tão perigoso, eu


o deixei ir, lutando contra mim mesmo e tentando regular minhas
respirações.

Como se através de uma névoa, sinto a mão pequena de Sisi alcançar


a minha, embalando-a no peito enquanto ela olha preocupada para mim.

— Ele está melhor, Marcello, — diz ela em voz alta, com os olhos
apenas em mim. — Ele está trabalhando em si mesmo e está se saindo
muito melhor. Ele não teve um episódio desde Nova Orleans, e estou
orgulhosa dele.

Porra, mas existe alguma maneira de eu amar mais essa mulher? Aos
olhos dela, vejo tudo o que tenho desejado a vida inteira.
Amor. Ternura. Aceitação.

Ela conhece meus segredos mais profundos e nunca se afastou de


mim. Não apenas isso, mas ela publicamente me defendeu, uma e outra
vez, mesmo contra sua família.

Eu não acho que exista algum universo em que eu não a adorasse.

— Sisi...—Marcello começa, mas um olhar agudo de Sisi é o suficiente


para calá-lo imediatamente.

— Vocês não entenderam?— ela pergunta, sua voz grave. — Não há


nada que você poderia me contar sobre ele que me faria amá-lo menos. Eu
sei quem ele é e o que fez. Eu sei tudo. E eu ainda estou aqui. — Ela
respira fundo, e posso dizer que ela está se esforçando muito para manter
a paciência sob controle.

— Toda a minha vida me disseram como ser e como não ser. No


entanto, ninguém nunca me perguntou o quê EU quero. Ninguém além
dele, — ela aponta o dedo para mim. — Se eu disse a ele que queria lutar,
ele me ensinou a lutar. Se eu dissesse a ele que queria uma tatuagem, ele
me deu uma tatuagem. Se eu dissesse a ele que queria matar alguém, ele
me deu a oportunidade de fazê-lo. Ele nunca duvidou de mim, nunca me
disse que não deveria fazer alguma coisa porque eu sou uma garota.

Ela está respirando com força, os punhos cerrados ao lado olhando


para Marcello, sem se importar para o olhar severo dele.
— Você pode discordar sobre o nosso relacionamento, mas para mim,
ele é o único que me deu asas para subir, em vez de me arrastar para baixo
e me acorrentar ao chão. E isto, meu irmão, é a última vez que teremos
essa discussão. — Ela estreita os olhos para Marcello, antes de fazer algo
que me deixa completamente triste. Dando um passo à frente, ela levanta
o punho, batendo-o contra o peito. — Ele. É. Meu, — diz ela, enfatizando
cada palavra. — Fim.

Ela se vira, nem mesmo esperando a resposta de Marcello, e levanta


uma sobrancelha para Bianca e Adrian, que estão assistindo
silenciosamente a coisa toda.

— Não olhe para mim, — encolhe os ombros, — eu gosto de você. E


acho que você é boa para ele, — ela se move em minha direção. — Além
disso, — continua ela, — é preciso um tipo totalmente diferente de pessoa
para lidar com sua bunda maluca, então só por isso você tem meu respeito.

— Eu sou neutro, — Adrian é rápido em apontar e eu lhe dou um


aceno de agradecimento. Pelo menos ele sabe quando calar a boca.

— Bom, — abro os braços, um sorriso largo no rosto, já que agora


estou totalmente no controle de mim mesmo. — Agora podemos deixar o
drama da família para trás e matar alguns bandidos?

Sisi engancha o braço pelo meu enquanto seguimos primeiro,


ignorando os gemidos atrás de nós.
Deixando os cadáveres para trás, continuamos por outro pequeno
corredor que finalmente dá lugar a um amplo túnel.

— Então é aqui que está a ação. — Eu adiciono secamente quando


noto gaiolas de cada lado do túnel.

Inferno, o complexo subterrâneo parece ocupar toda a superfície da


ilha.

As primeiras gaiolas estão vazias, mas à medida que avançamos,


começamos a ver crianças pequenas e adolescentes de ambos os lados.

— Porra, — Marcello amaldiçoa quando vê a extensão da depravação


de Miles.

Bianca também, apesar de todo o seu comportamento sem emoção,


parece abalada quando vê a condição em que todos estão presos.

Roupas sujas, feridas sujas e purulentas, o cheiro de carne podre está


forte no ar.

— Que porra é essa, — a voz de Adrian soa quando paramos em uma


gaiola onde um garotinho está sentado no chão, de bruços, moscas
reunidas em toda a superfície do corpo. O cheiro confirma que ele está
morto há um tempo, e seu companheiro de cela, outro garoto da idade dele,
teve que suportar isso o tempo todo.
Pior ainda, quando olho mais de perto o garoto amontoado do outro
lado da cela, percebo que ele não está muito atrás.

Há um buraco no estômago vazando pus amarelo e verde, a boca


machucada, o corpo inteiro quase roxo.

Ele nos vê parar ao lado de sua gaiola, mas ele não reage — ele não
pode reagir. Apenas seus olhos se movem e indicam que ainda está vivo.

— Senhor, — sussurra Sisi, com a mão apertando no meu braço, —


isso é ainda pior do que no andar de cima.

Eu grunho, meus lábios franzidos. De alguma forma, duvido que seja o


pior que veremos aqui.

De maneira verdadeira, as imagens só ficam mais sombrias à medida


que avançamos e, considerando o tamanho do galpão, teremos muito o que
ver.

Levantando um dedo para o meu comunicador, dou a Enzo um rápido


resumo do que esperar aqui e para garantir que ele mantenha alguns
médicos do hospital para cuidar de quem sobreviverá. Depois de me avisar
que ele fará o possível para trazer as pessoas para cá para levar as
crianças, fecho a conexão.

— Essas são as falhas, — digo, diminuindo minhas próprias palavras.


Mas quanto mais olho para as gaiolas em ruínas, a carne podre e as
feridas infectadas, mais minha mente parece estar empurrando algo para
mim. Como uma espécie de lembrança, está lá, mas não consigo entender
completamente.

— Você está bem?— Sisi pergunta, seu tom preocupado quando ela
olha para mim. Minha mão na minha têmpora, aperto os olhos e dou-lhe
um aceno firme.

— Deve estar trazendo de volta memórias. — Eu murmuro, mesmo


que nada do que eu lembrei até agora tenha sido tão terrível.

Claro, Vanya e eu estávamos morando em uma pequena sala


infestada de mofo, mas não tinha sido tão ruim.

Ela assente devagar, mesmo que seus olhos me digam que não
acredita em mim.

— Este deve ser o lugar para onde eles são enviados para morrer, —
mudo de assunto, apontando para outra gaiola que abriga mais uma
pessoa morta.

Mas quanto mais avançamos, mais podre o fedor se torna.

Todo mundo leva as mangas ao nariz, incapazes de suportar o cheiro.


Estamos a meio caminho do túnel e neste momento todas as gaiolas
estão cheias de pessoas mortas.

— Porra, inferno, — amaldiçoa Bianca, usando a mão para golpear


algumas moscas de lado.

Mas não são apenas moscas.

Ratos, larvas e outros insetos estão espalhados pela área, o chão


repleto deles enquanto perseguem sua próxima refeição.

Até estou ficando enojado com o que estou vendo — e não me lembro
da última vez que fiquei com nojo. Especialmente quando os pequenos
insetos estão rastejando no chão, espalhando-se a qualquer momento que
dermos um passo à frente.

Incapaz de me ajudar, pego Sisi e a faço ficar nas minhas costas. Não
a quero nem perto daquilo.

— Você não deveria ter vindo, Bianca, — ouvi Marcello dizer a ela
enquanto ela está saindo. — Não pode ser bom para a sua gravidez, —
continua ele enquanto Adrian dá um tapinha nas costas dela, tentando
ajudá-la.

— Estou bem, — ela diz. — Eu não acho que Diana goste do cheiro de
pessoas mortas, — ela brinca limpando a boca com as costas da mão.
— Eu não acho que alguém goste. — Eu adiciono secamente quando
Adrian a pega em seus braços também, embalando-a no peito.

— Isso é uma infestação. Não acredito nisso, — Marcello balança a


cabeça pisando em alguns insetos, o som de suas carcaças disparando
reverberando no ar.

— Mas por que eles os manteriam aqui? Alguns deles estão mortos há
muito tempo, — acrescenta Adrian, apontando para uma cela onde um
corpo está meio comido pelos vários insetos e roedores.

— Porque é um castigo, — respondo.

— Um castigo? Para quem? Eles já estão mortos!— ele exclama.

— Para aqueles que ainda estão vivos. — Aponto para algumas celas
mais limpas, onde não há vestígios de cadáveres. — Deve ser outro truque
de lavagem cerebral. Imagine passar até uma hora neste lugar, cercado
pela morte e coisas que consomem a morte.

— Cacete, — as feições de Bianca aparecem com nojo. — Este é outro


nível de merda.

— É, — eu concordo. — E nem é o pior. — Eu digo e sinto os braços de


Sisi se apertando em volta do meu pescoço.
— Sinto muito, — ela sussurra no meu ouvido, sua voz apenas para
eu ouvir. — Isso não pode ser fácil para você.

— Não se preocupe comigo, hell girl. Estamos um passo mais perto de


Miles, e isso é tudo o que importa.

O túnel finalmente termina, e é como se pudéssemos finalmente


respirar fundo um ar não tão podre.

— Que porra é essa, — amaldiçoa Bianca enquanto respira, o peito


subindo e descendo rapidamente: — Eu nunca fui fã de carne putrefeita, —
acrescenta ela com secura, os lábios enrolados de nojo. — Isso é
simplesmente demais.

— É inteligente, no entanto, — diz Sisi enquanto eu a coloco de pé. —


Outro tipo de terapia comportamental. Especialmente para uma criança,
isso certamente os traumatizaria.

— Exatamente, — eu concordo. — É uma forma de controle. No


fundo, em um nível psicológico, porque você está com medo de se submeter,
mas também porque simplesmente o dessensibiliza. Você viu os olhares em
branco dessas pessoas.

— E eu pensei que tinha visto o pior que há para ver da humanidade,


— Marcello murmura, esfregando os olhos. — Isso pode superar tudo.
— Qual é o tamanho deste composto subterrâneo? Já andamos pelo
que parece ser uma eternidade. — Bianca reclama, uma mão no estômago
enquanto ela canta alguma merda para o bebê.

Tenho que dizer, nunca pensei que veria Bianca como mãe. E agora
ela está grávida? Estou surpreso que Adrian a tenha deixado vir, mas,
novamente, estamos falando de Bianca. Ela teria conseguido o que queria,
quer ele quisesse ou não.

Ainda assim, noto como seus olhos nunca se desviam dela, sempre
prontos para intervir, se necessário. Não muito diferente da minha
situação com Sisi, ele deixa Bianca fazer o que ela quer enquanto está
pronto para protegê-la a qualquer momento.

É engraçado como as coisas são subitamente colocadas em


perspectiva. Há um ano, eu nunca imaginaria ter empatia por Hastings,
ou Bianca, já que sua obsessão por ele nunca fazia sentido.

Agora? Quero rir alto da ironia, porque, se há algo, sou pior que
Bianca já foi.

Olho para Sisi, maravilhando-me com a força refletida em suas


feições, e sei que o que sinto por ela vai além da mera obsessão. Ela está
sob minha pele, no meu sangue, no meu maldito coração. Não resta mais
lugar em que ela não tenha tocado ou deixado sua marca.

Ela é minha dona, todo maldito átomo do meu corpo é dela.


Um barulho repentino me leva de volta à realidade, meus olhos se
estreitaram, minha atenção se concentrou no que quer que esteja vindo do
outro lado do túnel.

— Abaixa!— Eu grito, assim como os outros sintonizam o barulho.

Trago Sisi comigo, satisfeito por todos terem me ouvido e atualmente


estarem no chão.

Mais um segundo e um projétil voa do outro lado do túnel, atingindo


as costas, uma pequena explosão ocorrendo.

— Droga, — eu amaldiçoo. — Ele trouxe a artilharia pesada.

— A estrutura não entrará em colapso?— Marcello pergunta.

Eu balanço minha cabeça.

— As paredes principais são de aço revestido de concreto e esse foi um


projétil de variedade menor. É improvável que cause algum dano à
estrutura. Nós, no entanto... — Eu paro quando outro projétil voa para
nós.

— Não poderemos continuar adiante se eles continuarem nos


atingindo. Eu não consigo nem ver o outro lado, — reclama Bianca.

Meus lábios se estendem em uma linha fina analisando nossas opções.


Há algum tipo de fumaça ou névoa no fim do túnel, provavelmente de
propósito, para que não possamos detectar quem está atirando em nós. E
no momento em que nos levantarmos para andar, seremos atingidos.

— B, me dê sua arma, — digo a ela, uma ideia se formando na minha


cabeça.

— Minha arma?— Ela pergunta, escandalizada.

— Você não pode ver, então não pode atirar, — eu aponto.

— Bem, você também não pode ver.

Porra B e sua obsessão por suas armas. Ela nunca deixa ninguém
lidar com seus preciosos bebês, e embora eu possa respeitar que, nesse
caso em particular, é apenas idiota.

— Sim, mas eu posso ouvir.

Ela me conhece bem o suficiente para perceber que é a única


vantagem que temos nesse cenário específico.

— Tudo beeeem, — ela geme, empurrando a arma para mim no chão.

— O que você vai fazer?— Sisi sussurra no meu ouvido, o corpo dela
perto do meu.
— Eu vou ouvir a localização dele.

Ela franze a testa. — Você pode fazer isso?

— Espero que sim, — respondo com tristeza.

A verdade é que isso também fez parte do treinamento de Miles. Eu


tive extensas sessões de luta com os olhos vendados e contando com meus
outros sentidos para avaliar um ataque e entender meu adversário. E
depois, eu continuei a promover essas habilidades, minha profissão se
beneficiando muito delas.

— Todo mundo quieto, — digo enquanto assumo minha posição.

Na minha barriga, coloco um cotovelo no chão para apoio, minha outra


mão na arma enquanto envolvo um dedo no gatilho.

Fechando os olhos, respiro uma vez antes de parar minha respiração e


diminuir as batidas do meu coração para que eu não possa ter
interferência.

Assim que o silêncio me cumprimenta, passo minha atenção para a


presença desconhecida. Meus ouvidos se abrem e é aí que eu ouço. O som
de botas se equilibrando no chão, de mãos úmidas se movendo ao redor da
arma e de respirações ansiosas enquanto ele, sem dúvida, tenta nos vigiar.
Mais do que tudo, ouço os pequenos movimentos que ele faz, o chão
frio quase estalando sob seus passos.

Ele está avançando.

Então, se não vamos a ele, ele está vindo lentamente em nossa


direção.

Um sorriso puxa meus lábios e eu continuo ouvindo seus pequenos


passos enquanto ele avança. Há uma ligeira hesitação na maneira como
está se movendo, como se sua própria vida dependesse dessa tarefa.

E de certa forma, sim.

Porque no momento em que tenho certeza de sua posição, a arma na


minha mão está pronta e inclinada para cima, meu dedo apertando
suavemente o gatilho.

E então eu escuto.

Há uma pequena pausa antes que duas respirações saiam curtas, o


som de joelhos caindo no chão, me avisando que eu o acertara. Seu corpo
cai ainda mais, o metal de sua arma atingindo o cimento. Eu catálogo cada
som, certificando-me de que ele está fora.

No entanto, mesmo sabendo que ele está morto, ainda ouço, caso haja
mais pessoas.
— Limpo, — digo quando tenho certeza de que o perigo passou.

Todos nos levantamos, avançando até encontrarmos o corpo caído de


um adolescente.

— Droga, seu alvo era fresco, — observa Bianca quando vê a bala


rasgando o pescoço do garoto, uma marca de saída limpa do outro lado.

— Ele está me testando, — acrescento tensamente. — Isso é tudo um


teste.

— Então ele está assistindo, — comenta Sisi, olhando ao redor do


túnel em busca de câmeras.

— Sim, e aposto que ele está se divertindo imensamente.

Saindo do túnel principal, o caminho bifurca, uma para a direita e a


outra para a esquerda.

— Devemos nos separar, — sugere Adrian.

— Vamos por esse caminho, — aceno para a direita, pegando a mão


de Sisi na minha, — ligaremos se houver alguma coisa.

— Estou indo com vocês, — Marcello é rápido em interpor, a mesma


expressão rabugenta em seu rosto.
— Ok. — Aceno com a mão com desprezo, já que não estou com
disposição para outra discussão.

Assim que estabelecemos algumas regras básicas, nos separamos.

Segurando Sisi, não posso deixar de me divertir com Marcello,


seguindo de perto, sua atenção totalmente sobre nós.

— Relaxe, Cello, não vou arrebatar sua irmã em um corredor sujo. —


Eu dou a ele um olhar entediado, embora a ideia tenha mérito, em um
momento futuro.

Marcello pressiona os lábios juntos, sem responder à minha


provocação. Em vez disso, ele continua andando, quase resmungando algo
sob sua respiração.

— Eu não sou tão desamparada quanto você imagina, — Sisi se dirige


a ele. — Eu realmente não sou, Marcello.

— Eu só me preocupo com você, ok?— Ele admite com relutância. —


Eu sei que não estive presente em sua vida e que meu comportamento
pode parecer um pouco... esmagador. Mas tenho as melhores intenções no
coração, Sisi.

Sisi fica quieta por um minuto, com os dentes mordiscando o lábio


inferior.
— Obrigada. Significa muito que você se importa, — ela começa
enquanto dá um sorriso trêmulo, — mas eu tenho isso. Por favor, confie
que eu sei o que estou fazendo.

— Tudo bem, — ele cede, mesmo que não pareça mais feliz com isso.

— Bom, estou feliz por termos terminado este capítulo feliz em


família. Agora podemos nos concentrar nas coisas mais importantes... —
Eu paro.

Toda a atmosfera é diferente aqui e, quando paramos diante da porta


de vidro, percebo que acabamos de subir.

A porta tem proteção biométrica, o que confirma que não é apenas um


espaço comum. Trazendo meu relógio inteligente à vista, tento explorar a
estrutura um pouco chateado quando percebo que é uma rede fechada e
não consigo acessá-la tão facilmente.

Não é de se desesperar, eu simplesmente puxo o painel da porta,


inspecionando rapidamente os fios. Tenho que admitir que minhas
habilidades de engenharia são rudimentares, na melhor das hipóteses,
mas sou conhecido por ligar algumas coisas na minha vida. E assim,
alguns minutos de tentativa e erro e a porta está quebrada — quero dizer,
aberta.

Assim que entramos, no entanto, a diferença é forte.


Este quarto é estéril, o cheiro de alvejante permeando o ar. Quase
parece laboratório em sua condição imaculada.

Paredes brancas, pisos brancos e quatro portas elétricas.

— Fim do caminho, — comento como percebo que as portas são


provavelmente gaiolas de algum tipo, cada uma delas tendo uma pequena
abertura para permitir comida.

— Isso parece uma enfermaria de doentes mentais, — observa


Marcello enquanto caminha.

Do nada, há um estrondo contra uma das portas, seguido por algumas


outras trancas em cada uma das outras.

— Tem alguém lá dentro, — Marcello vai para uma porta, retornando


a batida para que eles saibam que estamos lá.

— Precisamos descobrir como abrir essas portas, — digo,estudando


cada uma, observando que elas são abertas por cartões de identidade e
biometria.

— Acho que teremos que repetir a outra porta, — murmuro com


desdém quando vejo que não há outra maneira de abri-las sem quebrá-las.
E assim, silenciosamente, trabalho na primeira porta, retirando o painel
elétrico e brincando com os fios. Depois que tenho uma combinação
vencedora, é tudo uma questão de repeti-la para as outras portas.
— Você nunca deixa de me surpreender, — sussurra Sisi enquanto se
levanta na ponta dos pés para beijar minha bochecha.

— Você precisa se acalmar, hell girl. Você sabe que minha mente só
pode fazer malabarismos com tantas coisas ao mesmo tempo, — murmuro
suavemente.

A verdade é que, quando se trata dela, minha mente não aguenta


mais nada exceto ela.

— Vlad, — ouço a voz de Bianca no comunicador. — Acho que


encontramos a área principal. Há uma arena enorme aqui, — continua
ela, descrevendo uma arena do tamanho de um campo de futebol, cheia de
vários níveis para os espectadores.

— Droga, — murmuro, percebendo exatamente para que serve.

De repente, lembranças das provações pelas quais fomos submetidos


ressurgiram em minha mente. Como Miles nos colocou um contra o outro.

O vencedor leva tudo.

E eu fiquei tão viciado em obter a aprovação dele que fiz tudo para
vencer esses julgamentos. Eu matei, mutilei e torturei. Ninguém foi
poupado do meu propósito singular.

Torne-se o melhor.
Lembrar das coisas que eu fiz apenas para obter a aceitação dele faz
minha pele arrepiar. Porque eu posso detestá-lo com todo o meu ser agora.
Mas em um ponto eu não fiz. Eu o admirei.

— Nos encontraremos lá depois de verificarmos algo aqui, — digo a


ela, explicando brevemente o que descobrimos.

— Vlad.—Marcello chama, as sobrancelhas apertadas enquanto olha


de porta em porta. — Abrimos as portas e ninguém tentou sair, — ele
aponta e eu franzi a testa.

— Você está certo.

Sem nenhum preâmbulo, puxo a primeira porta aberta, surpreso ao


ver uma garota que não podia ter mais de dez ou onze anos sentada no
final da sala, com as costas contra a parede, os olhos arregalados enquanto
olha para nós com medo.

— O que... — Sisi sussurra enquanto vê melhor a garota.

Surpreendentemente, ela parece saudável. De fato, até as roupas


estão limpas, o que é não algo que eu esperava, dado o que sei sobre como
Miles conduz seus experimentos.

Curioso para ver quem mais está nos outros quartos, abro apróxima e
a próxima, até estar naúltima.
Todas abrigam garotas pré-adolescentes.

Todas, menos a última.

Meus olhos se arregalam quando noto um casal amontoado ao lado de


uma cama. O homem está obstruindo minha visão da garota enquanto ele
se coloca na frente dela em uma postura protetora.

— Nero?— O nome sai da minha boca, mas mesmo assim eu sei que
não é Nero.

Seus rostos são idênticos. Cabelo preto curto e olhos azuis. Mas este
homem é maior. Seu corpo é o de um fisiculturista profissional, sua
musculação construída superando a da garota atrás dele.

— Você é irmão de Nero, — afirmo.

Aquele que supostamente morreu vinte anos atrás.

— Nero?— sua voz também difere completamente de Nero. Há uma


rouquidão, como se ele tivesse esticado suas cordas vocais ao extremo. —
Nero... — ele repete, suas feições nublando como se estivesse tentando se
lembrar de algo há muito esquecido.

— Maldição, — Marcello murmura quando vê o homem, ele também


percebe que é quase idêntico a Nero.
— É o irmão gêmeo dele, — acrescento sombriamente. — Sisi, por
favor, fique para trás, — estico minha mão para mantê-la fora,
reconhecendo a postura protetora que ele tem sobre sua mulher e sabendo
que pode ser perigoso se achar que somos uma ameaça.

— Está tudo bem, — começo, dando a ele um rápido resumo de quem


somos e que vamos colocá-los em segurança.

— Irmão?— Ele pergunta, franzindo a testa. — Meu irmão?

— Sim, Nero é seu irmão. Ele pensou que você tinha morrido anos
atrás, — explico.

Mas então uma pequena voz chama por trás dele.

— Estamos livres? Nós podemos sair?— a garota pergunta,


espreitando lentamente por cima do ombro.

— Shh, — o irmão de Nero se vira para ela, — não sei se podemos


confiar neles Bia mia. Você sabe que eu nunca colocaria você em risco.

Sua voz é completamente diferente quando ele se dirige a ela. Mais


suave, mais quente.

Cheio de amor.
— Nada vai acontecer com você. Eu juro. Atualmente, estamos
evacuando todo o complexo, — sinto-me compelido a explicar.

— Por favor, T, — continua ela, e vejo a sua mão estender para


acariciar o ombro dele, aquele toque que o torna incapaz de recusá-la.

— Se você pensa em nos enganar, você morrerá pelos meus punhos, —


ele se vira para mim, com o olhar grave.

— Concordo, — eu encolho os ombros.

Já estou ficando inquieto ao pensar na reunião iminente com Miles,


minhas têmporas latejando enquanto imagino como vou drenar a vida dele
— devagar e dolorosamente.

O homem ajuda a garota a se sentar, e a primeira coisa que noto é o


leve arredondado que ela está embalando com as mãos, sua postura
protetora enquanto dá um passo cauteloso em nossa direção.

Quando a luz atinge seu rosto, eu congelo.

Cabelos escuros que escorrem pelas costas e alcançam os joelhos, pele


pálida que quase parece translúcida na luz do néon e olhos escuros que
vejo toda vez que olho no espelho.

— Katya?— Minha voz treme quando eu pronuncio essa palavra. —


Katyusha?
Ela pisca devagar, com os olhos focados em mim como se não
reconhecesse quem eu sou.

Ainda assim, as feições são idênticas aos da Katya que eu conhecia. A


Katya de dez anos atrás.

Seus lábios tremem, os olhos brilham enquanto ela dá um passo à


frente.

O homem, observando a mudança nela, avança instintivamente para


se colocar entre nós.

— Não, eu o conheço, — ela pronuncia suavemente. — Eu o conheço...


— ela continua, sua voz quebrando em um soluço. — Ele é meu irmão.

— Irmão?— o gigante pergunta, virando-se para mim e me avaliando


com cuidado pela primeira vez. — Vlad?— ele pergunta e eu aceno,
surpreso ao ouvir meu nome saindo de seus lábios.

— Vlad. — A voz de Katya soa enquanto ela continua em frente.


Lentamente, tão devagar que ela entra nos meus braços enquanto eu a
abraço rígido.

Katya. Minha irmã está viva.

— Como... — Eu me sinto sem palavras pela primeira vez quando olho


para ela.
Ela não parece ruim. Certamente não como eu a imaginaria se a
encontrasse.

Mas há essa desolação nos olhos dela que substituiu a vibe jovem de
antes.

Ela parece desgastada, cansada e muito velha para seus 26 anos.

— Você está aqui para nos tirar daqui, — ela respira, uma pitada de
esperança brilhando em seus olhos. — T, — ela se vira para o homem, —
nós realmente estaremos livres, — diz ela antes de voltar para ele,
soluçando enquanto ela fecha os braços em torno de sua estrutura maciça.
— Conseguimos.

— Ah, Bia mia, — ele acaricia gentilmente o cabelo dela, — nós


conseguimos, — ele sussurra enquanto continua a segurá-la.

Uma mão macia entra na minha, me surpreendendo com a doce cena


na minha frente.

Sisi coloca a cabeça no meu ombro, os dedos apertando sobre os meus.

— Você fez isso, Vlad, — a voz dela é tão cheia de emoção, e um olhar
para o seu rosto me diz que ela está à beira das lágrimas, — você a
encontrou, — ela me dá um sorriso que poderia rivalizar com o sol em sua
intensidade.
E pela primeira vez sinto meu peito se expandir, alívio inundando
todas as células do meu corpo.

— Eu fiz, — respondo, — nós fizemos, — eu altero, porque ela está


comigo a cada passo do caminho.

Não desejando arriscar sua segurança mais do que o necessário, ligo


para Enzo para enviar uma equipe para evacuá-los, dizendo-lhe para
tomar um cuidado especial com eles porque são da família.

Quando os homens chegam ao nosso local, entrego-os a promessa de


que nos encontraremos mais tarde e que tudo dará certo.

Sozinhos mais uma vez, seguimos para a arena.


CAPÍTULO TRINTA E CINCO

Minha alma dói por Vlad assim que vejo sua expressão cheia de
confusão. Do jeito que eu tenho certeza que ele está além de feliz por ter
encontrado sua irmã, mas incapaz de mostrar o sentimento.

Uma infinidade de emoções atravessa seu rosto, como se ele não


soubesse em qual se estabelecer, o sentimento totalmente desconhecido.

Minha mão na dele, faço o possível para confortá-lo, para que saiba
que estou lá por ele com minha presença.

Tudo o que vimos até agora foi angustiante, mas há luz no fim do
túnel e, quando olho para Katya, seus traços são tão parecidos com Vlad,
sei que vamos superar isso. Ela pode ser a última peça a curar sua alma
fraturada.
Depois que as pessoas que encontramos são entregues a Enzo e seu
pessoal, continuamos silenciosamente na arena onde Bianca e Adrian
estão esperando por nós.

Eu nem sei mais o que esperar. Não depois do que eu testemunhei


desde que saí daquele barco, a tortura e o sofrimento alojados aqui além de
qualquer coisa que eu pudesse imaginar. As imagens daquelas crianças
mortas cobertas de moscas e devoradas por larvas permaneceram
estampadas na minha visão, e acho que não vou esquecê-las tão cedo.

Por esse motivo, espero que Vlad dê a Miles o que ele merece.

A pior morte possível.

Aproveitando o fato de que meu irmão está à nossa frente,


rapidamente me inclino para Vlad para sussurrar.

— Você foi ótimo. — Eu elogio gentilmente, sabendo que ele não sabia
exatamente como reagir, o abraço que ele compartilhou com sua irmã,
rígido e desconfortável.

— Ela não parecia mau, — ele responde, quase mecanicamente. —


Ela parecia muito melhor do que eu esperava encontrá-la.

Eu concordo. Eu também fiquei surpresa ao vê-la tão saudável.


— Ela está grávida, — eu comento. — Você acha que esse homem é o
pai?

Não tinha sido difícil adivinhar que havia algo entre o gigante e
Katya, não com a maneira como ele estava pronto para defendê-la com sua
vida. Mas toda a premissa de cativeiro parece antitética com o começo de
um romance.

— Não tenho certeza, — responde Vlad. — Não sei ao certo qual era o
objetivo dessa área, principalmente porque os outros prisioneiros tinham
menos de doze anos. Mas eu tenho um pressentimento, — acrescenta ele
sombriamente.

— Você acha que ele estava criando eles. — Eu digo o que ele já havia
teorizado meses antes. Porque enquanto Katya não tinha a condição de
Vlad, ela poderia ter sido uma transportadora para isso.

— Sim. E é muito mais plausível se o irmão de Nero foi usado como


doador de esperma, desde que ele tem a condição.

— Mas isso significaria... — Eu segui, o pensamento horrível.

— Sim. Isso significaria que essa não é sua primeira gravidez.

Faz quase dez anos. Eu nem quero imaginar o que ela passou e
quantos filhos ela perdeu por causa daquele monstro. Tendo passado por
algo semelhante, sei o tamanho do buraco a perda de um filho produz na
alma. Mas há um mundo de diferença na comparação de nossas situações,
e meu coração chora pelo que ela deve ter passado.

Examinando as teorias em potencial, está ficando cada vez mais claro


por que Miles recorreria a portadores do gene para suas incubadoras
humanas, em vez de pessoas que realmente tiveram a mutação.

— Por serem tão raros, Miles não desperdiçaria seu potencial assim.
Não quando ele já tinha escassez de pessoas para incluir em seus
experimentos, para começar, — explica Vlad.

Miles manteria as meninas com a mutação por seus experimentos e


criaria as que tinham o gene portador. Também explicaria as diferenças na
maneira como os primeiros foram tratados versus os últimos. Porque
apesar de todo o trauma que Katya havia sofrido, as condições em que ela
estava vivendo poderiam ser consideradas luxuosas em comparação com as
outras.

Este deve ser um crime contra a humanidade.

Não posso deixar de estremecer quanto mais penso nos horrores que
essas paredes viram e em todo o sofrimento que absorveram de todas as
crianças inocentes que viveram e morreram aqui.

Não demoramos muito para chegar a Bianca e Adrian, ambos


esperando do lado de fora de uma porta.
— Você não entrou?— Vlad pergunta.

Ela balança a cabeça.

— Não sabíamos o que esperar, pois é uma enorme área aberta, — ela
faz uma careta. — Joguei uma mini câmera móvel para obter algumas
imagens.

Ela remove um pequeno tablet da bolsa, mostrando o feed de vídeo por


dentro.

— Há câmeras por toda parte, — aponto com o dedo, surpresa ao ver


que não é apenas CFTV. Não, essas são câmeras profissionais grandes,
totalmente equipadas com luzes de holofotes e alto-falantes.

Há escadas de cada lado da sala que levam ao campo principal. Ao


redor, vejo uma área de estar para os espectadores e percebo que isso é
exatamente como um estádio.

— Ele está transmitindo os eventos, — comenta Vlad. — Inteligente,


— ele sorri apesar de si mesmo. — Como esses são testes de vida e morte,
não importa o fato de que são principalmente crianças competindo entre si,
muitas pessoas na dark web pagariam um bom dinheiro para vê-lo.

— Como vamos entrar, no entanto? Bianca está certa de que está


muito aberta. Eles poderiam nos atingir por todos os lados, — pergunta
Marcello, franzindo os lábios.
— Deixe isso para mim.

Vlad nem espera que respondamos enquanto ele abre a porta, quase
voando pelas escadas e caminhando dentro do estádio até que ele esteja no
meio do campo.

— Há quanto tempo, Miles, — ele grita.

Eu nem penso que, enquanto o sigo, meu irmão e o resto estão quentes
na minha trilha.

E assim que chegamos ao lado de Vlad, todo o estádio ganha vida. As


grandes luzes que vimos anteriormente piscam, com luz infundindo todos
os cantos do estádio.

— Bem-vindo, sejambem-vindos, — ressoa uma risada dos alto-


falantes.

Vlad vira o rosto para um grande estande à direita, um sorriso torcido


tocando nos lábios.

— Acho que você sabe por que estou aqui. — Vlad desafia, o queixo
erguido, os olhos com duas fendas enquanto ele se concentra naquele local
em particular.

— Eu preferiria que essa reunião acontecesse sob termos diferentes,


— diz a voz de Miles, — mas não sou nada se não adaptável.
— Você pode achar difícil se adaptar aos meus punhos, — Vlad
murmura com desdém.

— Ah, mas como eu senti falta desse senso de humor perverso, Vlad.
Estou planejando esta reunião há anos. Você acabou sendo exatamente
como eu previ. Invencível, — ele orgulhosamente brinca.

— Não exatamente. — Vlad sorri. — Você fez o que pôde para tirar
toda a humanidade que eu tinha. Infelizmente, não deu certo. Eu estou
aqui depois de tudo.

— Você levou tempo suficiente. — Miles comenta através dos auto


falantes.

Os punhos de Vlad estão cerrados ao seu lado, e eu sei que Miles toca
um acorde nele.

— Vou me referir à minha avaliação inicial, Vlad. Suas especificações


são impressionantes, mas sempre houve uma coisa que o impediu de
alcançar a perfeição, — continua Miles, — seus apegos insignificantes. Eu
pensei que sua irmã era a chave para quebrar isso, e por um tempo eu
realmente vi meu sucesso em você. Mas você teve que continuar no
caminho sem retorno, — ele faz um som indignado.

É estranho, mas sua maneira de falar me lembra muito Vlad. E eu


não sou a único a notar, pois os outros consideram Vlad com um olhar
estranho no rosto.
— Vanya —Vlad enfatiza o nome de sua irmã, sua mandíbula travada
com tensão. — O que você fez com ela?

Mais risadas.

— O que eu fiz com ela?— Miles ri. — Você não gostaria de descobrir?
Quem sabe... — ele segue, diversão clara em sua voz. — Eu posso até ter o
vídeo.

— Vlad, — sinto-me compelida a ir para o lado dele.

Porque eu sei lê-lo melhor do que ninguém. Eu posso ver por trás de
sua fachada polida e em sua alma torturada. E eu sei que neste momento,
há mares turbulentos atrás de seus olhos escuros, seu controle ameaçando
quebrar.

— Respire, — exorto-o, minha voz suave enquanto coloco a mão em


seu braço. — Respire, — repito quando não parece que ele me ouviu.

Mas lentamente —muito lentamente — sua respiração regula, a


tensão gradualmente aliviada quando ele coloca o mundo em foco
novamente.

— Obrigado, — ele sussurra baixo, seu olhar ainda preso no estande


iluminado.
— Eu tenho um acordo para você. — Miles explode e uma tela brilha
para a vida atrás de nós.

Virando, ofego quando vejo a imagem na tela.

Vlad e Vanya.

Ambos estão amontoados em uma cela pequena e suja, com os olhos


olhando desafiadoramente para a câmera.

— O que você quer? —Vlad range os dentes.

— Simples. Eu quero ver você lutar contra o meu melhor soldado. Um


último teste. — Há uma diversão doentia em sua voz. — Se você ganhar, o
vídeo é seu. Se não... bem, você não o obtém.

Vlad franze a testa.

— É isso?

— Mas... — Miles segue, uma qualidade travessa à sua voz. —


Nenhuma arma para você. Nenhum equipamento à prova de balas
também, — continua ele e eu paro.

Sem armas? Nada?


— Você tem um acordo. —Vlad é rápido em responder, já trabalhando
nos botões da camisa antes de jogá-la no chão. Ele faz o mesmo com o
colete à prova de balas. Ele está efetivamente tirando tudo, menos as
calças de pugilista.

— Sem armas, — ele levanta os braços para sinalizar.

— Vlad. — Eu pego a sua mão. — É muito perigoso. Você nem sabe


contra quem está lutando, — tento implorar por ele.

Porque uma coisa está clara. Este é outro dos testes de Miles. E temo
que possa ser demais.

— Não se preocupe comigo, hell girl. Você sabe que não há ninguém
por aí que possa me vencer.

— Sem armas, Vlad. Para você. Isso significa que ele pode ter armas.
Como isso é justo?

— Miles é tudo menos justo. Confie em mim que eu vou ficar bem, —
diz ele, tirando minha mão da dele.

— Cuide dela, — ele acena para Marcello antes de se afastar.

Só posso assistir estupefata quando ele abertamente corteja a morte.


E para quê? Um vídeo para abrir suas feridas cruas novamente?
— Vlad. Sisi está certa. Isso é loucura. Você realmente precisa desse
vídeo? Você sabe que ele a matou. Deve ser o suficiente, — Marcello tenta
discutir.

Um sorriso torto aparece no rosto de Vlad, metade do rosto


obscurecido pelo jogo das sombras.

O branco dos dentes brilha, seus caninos ainda mais enfatizados pela
iluminação distorcida. A mudança é imediata.

O predador está de volta.

— Eu preciso saber, — responde Vlad bruscamente, o perigo refletido


em seus olhos é inconfundível.

E assim, eu sei.

— Vamos lá, — eu os levo para as arquibancadas, meus olhos ainda


estão no corpo quase nu de Vlad. — Confie nele, — digo quando os vejo
hesitar.

— Sisi... — meu irmão geme, mas eu rapidamente balanço minha


cabeça.

— Pense nisso, — tento ser o mais racional possível. — Seus homens


estão vindo para cá. De fato, enquanto falamos, eles estão a caminho
daqui. Se algo acontecer, — eu paro, porque não consigo visualizar nada
acontecendo com Vlad. Agora ou nunca. — Eles terão nossas costas.

— Bem... — ele concorda com relutância, e todos seguimos para a área


de estar da arena.

Minhas mãos no meu colo, estou tentando o meu melhor para não
mostrar o quanto estou preocupada com essa próxima luta. Porque
enquanto minha confiança estiver totalmente colocada em Vlad e suas
habilidades, estamos falando de Miles. O mesmo Miles que tem iludido
Vlad nos últimos dez anos.

Ele é obrigado a ter algo debaixo da manga, e eu sei que ele vai jogar
sujo.

Sozinho no meio do campo, Vlad parece um guerreiro bárbaro com seu


corpo coberto e músculos ondulantes.

— Eu não sabia que ele tinha aquele corpo debaixo das roupas. — Até
Adrian observa, admiração nos olhos.

A verdade é que o corpo de Vlad é uma obra de arte. Nem um grama


de gordura, todos os músculos são definidos, alguns são melhor enfatizados
pela presença da tinta preta contra a pele pálida. As tatuagens o fazem
parecer ainda mais perigoso se alguém prestar atenção aos detalhes — as
cenas de guerra lindamente retratadas em sua pele, os demônios lutando
para sair dele e sitiar o mundo.
E enquanto eu o vejo assumir sua posição, sei que ele está pronto para
libertá-los sobre quem Miles enviará.

— Ele vai ganhar, — afirmo com confiança.

— Claro que ele vai ganhar, — bufa Bianca. — O cara é uma


máquina de guerra. Acho que não há ninguém que possa superá-lo, — ela
pára abruptamente quando as portas da arena se abrem para revelar o
oponente de Vlad.

— Acho que errei, — ela altera, piscando de surpresa para o recém-


chegado.

À medida que ele avança na arena, dou uma boa olhada nele.

Ele é enorme.

Esse é o meu primeiro pensamento ao apreciar sua estrutura


monstruosa. Enquanto Vlad é construído e musculoso, mas magro, seu
oponente parece ter seus músculos inchados de ar.

Mas não é a aparência dele que me deixa surtando. É o que ele está
vestindo.

Toda a sua área do peito é coberta por algum tipo de armadura com
espinhos saindo de dentro. Parece que a armadura cobre todos os pontos
fracos do corpo, fazendo-o assim realmente indestrutível.
Ele está segurando um machado de batalha em cada mão,
empunhando-os como se fossem uma parte estendida do corpo dele.

— Querido Deus, — as palavras escapam dos meus lábios.

Ele parece tudo menos humano à medida que avança. E quando olho
melhor para ele, percebo que tem o mesmo olhar em branco que os
soldados que havíamos lutado anteriormente.

— Como ele pode passar por essa armadura?— Bianca balança a


cabeça, ecoando meus próprios pensamentos.

Existem muito poucos pontos abertos na armadura onde as peças se


encontram. Mas, além disso, não há absolutamente nenhum lugar que
Vlad possa atingir sem se machucar primeiro.

O guerreiro sorri para Vlad, e é aí que percebo que ele está segurando
outra coisa debaixo da axila.

Um capacete.

— Meu Deus, — não posso evitar a maneira como meu corpo começa
a tremer, a ansiedade se agarra a mim como uma segunda pele enquanto
olho entre Vlad, quase nu, e o recém-chegado, quase blindado.

Ele coloca o capacete e, assim como a armadura, tem espinhos por


toda a superfície superior.
— Acho que nunca vi uma armadura assim. — Adrian observa,
franzindo a testa para a peça de metal.

— Deve ser pesado, certo?— Eu pergunto, meus olhos colados à arena.


Quando eles concordam, eu continuo. — Então Vlad tem a vantagem da
velocidade. Tenho certeza que ele pode resolver alguma coisa. Você o
conhece. — Eu viro pela metade, um sorriso fraco nos meus lábios, — ele é
imbatível.

— Eu gostaria de poder compartilhar seu entusiasmo, Sisi, —


comenta meu irmão, com as feições sombrias.

No momento em que ambos estão a poucos metros um do outro, a


batalha já começou.

Eu tento o meu melhor para entender a expressão de Vlad, curiosa


como ele se sente sobre seu oponente. Mas então eu lembro.

Ele não conhece o medo.

E assim minha ansiedade aumenta, porque não quero que ele tenha
confiança imprudente. Não na frente disso.

Eles circulam um ao outro, e Vlad parece estar avaliando-o, com os


olhos revirando a armadura no que só posso adivinhar é uma tentativa de
encontrar um ponto fraco.
— Como você luta com algo assim... — Bianca murmura,
aproximando-se do marido.

— Eu não acho que você luta, — ele responde sombriamente.

Suas palavras me preocupam, pois ele tem anos de experiência como


lutador underground. Então, se alguém pudesse avaliar as chances da
partida, seria ele.

No entanto, quanto mais ele fala, mais agitada fico.

Acalme-se.

Fechando os olhos, respiro fundo.

Estamos falando de Vlad. Ele não é apenas fisicamente imbatível, mas


também é um gênio. E se alguém pode vencer o cara blindado sem armas,
certamente é ele.

O gigante investe primeiro, empurrando seu corpo vestido de


armadura para ele e esperando penetrá-lo com os espinhos. Vlad é
realmente mais rápido quando ele se abaixa, rolando no chão em direção
aos pés do homem.

Apertando os tornozelos, uma das únicas áreas não cobertas por


espinhos, ele flexiona os músculos para jogar o homem para frente.
O rosto inteiro de Vlad fica vermelho com o esforço, e por mais que o
gigante se esforce para sair de seu alcance, ele não pode. Em vez disso,
vejo atordoado quando Vlad usa sua força antinatural para tirá-lo do chão
o suficiente para catapultá-lo para a frente.

O gigante perde o equilíbrio, o momento que o faz cair de cara para


frente, o capacete batendo no rosto por dentro. Sem dúvida, no contato com
o solo, os espinhos também reverberam por todo o corpo. Ele volta com dor,
tentando lentamente se levantar.

— De jeito nenhum, — amaldiçoa Bianca.

— Quanto você acha que esse homem pesa?— Eu pergunto, ainda


chocada com o que acabei de testemunhar.

— Pelo menos cento e oitenta quilos. Mais com a armadura. —


Marcello murmura uma resposta, com os olhos fixos na luta, a expressão
mostrando o mesmo tipo de maravilha que estou sentindo.

— É o ângulo que me confunde, — comenta Adrian, — que foi um


lance infernal.

— Eu disse que ele pode fazer isso. — Repito, minha confiança é mais
forte do que antes.

Ele consegue.
Assim que o homem tenta se mexer, Vlad salta rapidamente,
conseguindo arrebatar um dos machados de batalha do gigante.

— Agora eles são um pouco mais equilibrados, — diz Bianca, com os


olhos colados no meio da arena.

Desta vez, é Vlad quem ataca seu oponente, invadindo-o com o


machado levantado. O outro homem apela o golpe, tentando pousar um no
corpo de Vlad.

Os movimentos estão sincronizados quando um bate e o outro desvia,


machado bate no machado. Ainda assim, posso ver que o outro homem está
tentando aproximar Vlad dele para que possa ser esmagado por sua
armadura.

Mas, à medida que continuam a duelar, fica bem claro que suas
habilidades estão em um nível semelhante nessa área.

— Você pode fazer isso, — sussurro, uma oração para ajudá-lo a


vencer.

A batalha continua com Vlad mantendo uma distância confortável,


mas ainda atacando-o com o machado. No entanto, um movimento errado e
o machado do gigante passa pelo braço de Vlad, a lâmina contornando a
pele perto o suficiente para arranhar a pele e tirar sangue.
Meu coração na garganta, não posso evitar quando me levanto,
minhas mãos juntas em uma oração.

Um sorriso cruel aparece no rosto de Vlad quando seus dedos roçam


contra o sangue no ombro e o trazem para os lábios.

O gigante bate a cabeça como se estivesse tentando entender o que


está fazendo. E naquele momento Vlad ataca.

Ele é tão rápido que é quase irreal quando balança o machado bem na
base do pescoço do homem. Mas, em vez de tentar violar a armadura, ele
faz outra coisa. Ele aloja a lâmina exatamente onde o capacete encontra a
armadura do peito e, mexendo-a, aplica força suficiente para levantar um
pouco o capacete.

Ele recua, removendo a lâmina e girando em um movimento rápido


que até seu oponente tem dificuldade em seguir.

Trocando de mãos, ele coloca o machado na mão esquerda, distraindo


o homem com a direita enquanto repete o golpe. Desta vez, o momento
serve para ajudá-lo a enviar o capacete voando no ar.

O homem lança um grito de guerra, com os olhos arregalados e


enlouquecidos quando simplesmente ataca Vlad.

Observo a expressão de Vlad com atenção e noto como seus lábios se


enrolam, seus olhos enrugados de diversão.
Ele está gostando disso.

O homem está com ele, assim como Vlad joga o machado de lado, a
força que o impulsiona em algum lugar nas arquibancadas. Então, usando
a mão, ele abre as palmas das mãos abertas nos ombros do gigante,
enquanto os espinhos procuram fazer buracos na pele.

Um suspiro me escapa à vista.

Mas ele sabe o que está fazendo.

Mãos nos ombros, ele se levanta no ar. Um momento ele está fazendo
um pino nos ombros do homem, os espinhos entrando em suas mãos, o
sangue escorrendo lentamente pelas feridas, no próximo ele está atrás
dele, girando no ar e aterrissando de costas com o homem.

Mas desta vez, ele consegue agarrar o pescoço do gigante no espaço


entre a axila e o cotovelo, pressionando a área desprotegida do pescoço.

Suas alturas são semelhantes, mas como Vlad aumenta a pressão no


pescoço do homem, ele começa a se curvar para trás, seguindo os
movimentos de Vlad.

Observo o ligeiro levantar do canto da boca, a maneira como ele


começa a andar devagar, arrastando o corpo do gigante com ele.

É tudo um jogo.
Foi tudo um jogo. Tenho quase certeza que ele deixou ser atingido
para fazer o outro homem pensar que estava vencendo e depois ganhar
uma abertura sobre ele.

O gigante continua lutando, o aperto de Vlad no pescoço é forte


demais para permitir qualquer movimento.

Ele arrasta seu corpo agitado em um círculo ao redor do estádio


lentamente como um foda-se para Miles. Voltando ao meio, ele olha para o
estande enquanto simplesmente aperta com força, o pescoço estalando, os
movimentos do homem parando.

Em vez de deixar o corpo cair no chão, ele pega o machado que o


homem havia deixado cair e o agarra pelos cabelos, ele passa a cortar a
cabeça do corpo.

Três golpes, é tudo o que é preciso para que a cabeça se solte do


pescoço, o sangue fluindo para o chão.

— Eca, — Bianca torce o nariz com nojo.

Girando o braço para trás, Vlad se inclina para trás antes de jogar a
cabeça com toda a força que pode reunir em direção ao estande onde Miles
está. O vidro bate quando a cabeça rompe.

— Vlad, — eu chamo, mas ele não me ouve.


Em vez disso, ele está andando devagar, mas intensamente em
direção ao estande. Todo o seu corpo está tenso, adrenalina correndo por
suas veias e tornando-o ainda mais imprevisível que sua reputação.

Eu quero ir até ele, mas Marcello me segura, balançando a cabeça e


me dizendo para deixá-lo lidar com isso.

E quando eu viro minha cabeça para trás na direção de Vlad, eu o vejo


subir a parede, usando fios diferentes para manter o equilíbrio até chegar
ao estande.

Usando o punho, ele quebra o vidro até que ele possa caber dentro.
Mas ele não entra. Não, ele chega dentro do estande, segurando um pedaço
de material antes de jogar um corpo para fora.

— O que... — minha boca está aberta enquanto olho para o que


aconteceu.

Há um homem no chão da arena. Um homem pequeno e velho que tem


o sorriso mais distorcido que eu já vi. Mesmo enquanto ele luta para se
levantar do chão, o sangue já escorrendo de um ferimento na cabeça, ele
está sorrindo arrogantemente para Vlad.

Saltando do estande, os olhos de Vlad são completamente vidrados


quando se dirige para quem eu presumo ser Miles.
— Eu estava certo, — começa o homem, — você é meu pequeno
milagre.

— Conte-me. —Vlad rosna enquanto mantém o ritmo, avançando


lentamente, com os olhos completamente focados em Miles. — Diga-me, —
ele repete com uma voz mortal que deve fazer as pessoas estremecerem.

Em vez disso, apenas faz Miles rir mais, olhando para Vlad com uma
mistura de admiração e satisfação.

— Você é minha maior conquista, — diz ele, com os olhos brilhando


de ilusão.

— E você será minha maior matança, — Vlad zomba, suas narinas


brilham enquanto dá mais um passo, seus braços se enrolam de tensão, as
veias se projetando, seus músculos tensos.

— Sério?— Miles arqueia uma sobrancelha. — Sem descobrir o que


aconteceu com sua irmã?— ele ri, e esse som doentio já está me irritando.

Eu quero chegar lá e matá-lo por tudo o que ele fez Vlad passar. Ele
não merece nada além da pior tortura imaginável por tudo o que fez.

Meu próprio sangue está fervendo, pois mal posso esperar para ver
como ele encontra seu fim.
— Você a matou, — Vlad cospe as palavras e sinto sua raiva como a
minha.

— Não, Sisi, — Marcello aperta o meu braço enquanto eu tento ir até


ele novamente, — deixe-o ver isso, — ele acena para mim.

Mas, quando estou prestes a dizer algo, a risada maníaca de Miles


ressoa em toda a arena, o eco reverberando por todos os cantos.

— Eu? Pense novamente.— A boca dele se torce em arrogância, assim


como ele levanta a mão, um pequeno controle remoto nas mãos.

As portas da arena se abrem novamente, desta vez cinco soldados


entrando. Meus olhos se arregalam quando percebo que Miles nunca
pretendeu contar nada a Vlad. Ele apenas queria testar seus pontos fortes.

— Você está morto, — Vlad ameaça quando vê as outras pessoas


entrarem no estádio.

— Eu me pergunto... — Miles sai quando pressiona um botão no


controle remoto.

A tela volta à vida mais uma vez, a imagem de antes de agora é um


vídeo.

Todos nos voltamos para olhar para a tela quando os eventos


começam a ser reproduzidos. O que foi antes de duas crianças se
confortando na escuridão logo se transforma na cena mais horrível que eu
já testemunhei.

Lágrimas descem pelas minhas bochechas quando vejo Vanya cair no


chão, seu corpo machucado e espancado, um enorme buraco no peito
vazando sangue.

Mas meu coração dói ainda mais pelo garoto ao lado dela. Aquele que
segura o coração ainda batendo, esmagando-o nas garras — todo o sangue
escorrendo para o chão.

Seus olhos estão completamente vazios quando ele olha para o


cadáver dela, enquanto ele simplesmente levanta o coração para os lábios,
a boca se fechando sobre o órgão enquanto ele o morde.

— Que porra é essa, — ouço a voz de Marcello atrás de mim.

Bianca e Adrian estão dizendo algo, mas só posso encarar os eventos


que estão sendo exibidos na tela.

— Não... Não... — A voz de Vlad chega aos meus ouvidos enquanto ele
também olha para a tela, com os olhos arregalados, a boca aberta em
choque. — Não pode ser...

— É falso. Tem que ser falso, — sussurro, mesmo sabendo que é real.
— Oh, Vanya, o que aconteceu?— minha voz quebra quando percebo
que esse pode muito bem ser o fim.

Vlad cai de joelhos, todo o corpo tremendo, um som alto e uivando


escapando de seus lábios.

— Deixe-me ir, Marcello. Eu preciso estar com ele.

Eu tenho que estar com ele.

Porque sinto a dor dele como a minha, e todo o meu ser está tremendo
de angústia.

Suas feições são marcadas de tanta dor, sons tortuosos escapando de


seus lábios enquanto ele traz os punhos para o peito, batendo-os alto
contra a caixa torácica.

Eu sei o que ele está fazendo. Ele está tentando se punir.

Eu não posso deixá-lo.

— Deixe-me ir, por favor. Você não entende, — tento me afastar do


meu irmão, sabendo que cada segundo importa.

Há uma urgência dentro de mim, uma reação instintiva porque eu sei


que isso só pode terminar de uma maneira.
— Não, Sisi. É muito perigoso. Ele é muito perigoso.

Balanço a cabeça, meus membros tremendo.

Ele se machuca, eu machuco.

— Não, Marcello. Eu preciso chegar até ele. Eu preciso chegar até ele
antes... — as palavras morrem nos meus lábios quando vejo a mudança
repentina. A mudança que eu sabia que viria.

Não.

— Não, — sussurro, todo o meu coração se partindo ao vê-lo ceder a


essa tristeza e abraçar a escuridão. — Não, Vlad, por favor não, —
continuo, mesmo sabendo que já é em vão.

Não há mais nada atrás dos olhos dele.

Nada.

Ele se foi.

Um suspiro me escapa quando percebo a imensidão do que aconteceu


— do que continuará a acontecer. Ele simplesmente se retira para si
mesmo até se perder completamente.
— Me deixa ir! — Eu clamo, desespero arranhando-me quando o vejo
se levantar lentamente, o predador nele acordado e pronto para o sangue.

E são necessários apenas alguns passos para ele chegar a Miles,


envolvendo uma mão em volta do pescoço enquanto a outra está segurando
sua cabeça.

Até o olhar de Miles agora está cheio de horror enquanto ele percebe o
que desencadeou.

Um pouco de pressão dos dedos e do pescoço se dobra de lado, os olhos


mortos para o mundo. Assim como ele. Mas Vlad não para. Não, isso não
está certo. Este Vlad não para.

Ele continua a virar a cabeça até que as vértebras estejam quebradas,


um retalho de pele, a única coisa que mantém a cabeça presa ao resto do
corpo.

Segurando o joelho nos ombros, ele puxa a cabeça até que a pele ceda,
o sangue jorrando e espirrando por todo o corpo nu de Vlad.

— O que... — Adrian fica pasmo quando ele e Bianca olham para essa
exibição de selvageria.

Exceto que não termina.


Ele pega a cabeça de Miles e a esmaga no chão até que o cérebro
esteja espalhado por todo o chão, o crânio quebrado em milhões de
pedaços.

Ele é pura força e brutalidade.

Nenhuma humanidade permaneceu.

Sinto que não consigo respirar enquanto olho para ele assim.

Suor e sangue se apegam à pele, os olhos escuros e inflexíveis, e em


algum lugar do meu coração eu sei.

Eu o perdi.

Meu mundo inteiro entra em colapso ao entender todas as implicações


e, mais uma vez, tento me libertar.

Vlad já voltou sua atenção para os recém-chegados, um sorriso brutal


em seu rosto sangrento quando passam em sua direção.

Eles atacam com força total, todos de uma vez. Mas ninguém tem
chance. Não quando ele se move duas vezes mais rápido, sua sede de
sangue é o único ímpeto para continuar.

Ele agarra a cabeça de uma garota, batendo-a repetidamente contra a


parede até que seu rosto esteja uma bagunça irreconhecível. Alguém tenta
atacá-lo por trás, mas mesmo nessa névoa que cobre sua mente, seus
sentidos são ampliados quando ele se afasta facilmente, evitando o ataque.

Deixando o corpo da garota cair no chão, ele começa a esmurraro


homem que ousou perturbá-lo.

Continua e segue, este banho de sangue.

Isso nunca vai parar.

Estimulado por puro desespero revestido de uma desolação que puxa


meu coração, dou um último empurrão, jogando toda a minha força para
arrancar meu braço. Não espero que Marcello reaja enquanto corro em sua
direção.

Espere por mim.

Para onde ele vai eu vou. E se ele vai, eu vou.

Eu corro em direção a ele com força total, mas mesmo isso não é
suficiente quando os braços me cercam, me segurando.

De repente, Bianca e Adrian também estão ao meu lado, e Vlad, vendo


que não há mais vítimas para ele, dirige seu olhar enlouquecido em nossa
direção.
— Precisamos matá-lo. — Bianca balança a cabeça, a arma pronta
para disparar.

— Por favor, não!— Consigo gritar, mas é tudo em vão.

Vlad já está arrancando a arma do seu alcance, jogando-a fora, com as


mãos na garganta enquanto ele a levanta no ar.

— Vlad, não!— Eu imploro a ele, embora eu saiba que não pode me


ouvir.

Adrian está imediatamente com ele, mal conseguindo tirá-lo de


Bianca, levando-a em seus braços e longe dele. Um tiro ressoa no ar, e eu
não sei quem atirou em quem.

Eu não ligo.

Pode me fazer uma pessoa horrível, mas não ligo. Eu só me importo


com uma coisa.

Ele.

— Deixe-me ir até ele. Eu posso falar com ele. — Viro meus olhos
lacrimejados para Marcello, tentando fazê-lo ver a razão.
— Ele está fora de controle, Sisi. Muito perigoso. Ele vai te matar. —
Sua voz é grave quando ele responde, seu olhar para Vlad enquanto ele
examina seus movimentos, lentamente nos afastando dele.

— Ele não vai. — Eu balanço vigorosamente minha cabeça. — Ele


realmente não vai.

— Ele não é mais o Vlad que você conhece, Sisi. Ele se... foi.

— Não, — ofeguei, meu estômago se rebelando, meu todo sendo


quebrado com essas palavras. — Não.

Ele não pode ter ido embora.

Não sei o que está acontecendo, mas não consigo respirar. A sala
inteira começa a girar enquanto eu ofego por ar que não virá. Meus
pulmões parecem cheios e vazios ao mesmo tempo, mas não importa o
quanto eu tente, não consigo me controlar.

Estou tremendo da cabeça aos pés e até as palavras me falham


enquanto tento ganhar algum controle sobre mim.

Meus olhos enevoaram, sinto meu irmão me arrastar de volta para as


arquibancadas. Ele late algumas ordens, as palavras quase estranhas.
Mas quando olho para o lado, vejo.

Homens. Soldados. Todos armados.


E todos apontando para Vlad.

— Marcello... — as palavras mal passam pelos meus lábios. — O que


está acontecendo?

— Sinto muito, Sisi. Mas ele não gostaria de colocar você em perigo, —
diz ele com tristeza.

— Diga-me que não é o que eu acho que é, — sussurro. — Diga-me.

— Sinto muito, Sisi. Ele se foi. Não há nada que possamos fazer. —
Ele continua no momento em que Vlad ataca alguns dos soldados,
rasgando-os como um animal selvagem.

Não resta consciência. Eu sei disso. Mas ele ainda é Vlad.

Ele ainda é meu Vlad.

— Deixe-me tentar. Por favor, não faça algo que você se arrependa!—
Eu imploro, tentando libertar meus pulsos.

Eu só preciso chegar a Vlad e tudo ficará bem. Eu sei isso.

Marcello está me segurando firmemente, o tempo todo me arrastando


de volta e tentando colocar mais distância entre nós e Vlad.
— Por favor, Marcello. — Eu continuo implorando a ele, o tempo todo
tentando escapar de seu alcance.

Olhando para mim, ele me dá um sorriso triste e um pequeno


movimento de cabeça.

— Agora, — ele grita.

Imediatamente, os tiros soam. Eu me contorço, virando e assistindo


horrorizada como Vlad cai no chão, buracos no peito nu, sangue
escorrendo.

— Não, não, não, — murmuro incoerentemente e, pela primeira vez


na minha vida, não me importo com nada.

Um breve momento de lucidez me lembra as facas nas minhas botas.


Levantando um pé, eu o apoio na outra perna enquanto desembainho a
faca da frente da bota. Eu não penso, enquanto corto, esfaqueando meu
irmão e assustando-o a afrouxar seu domínio sobre mim.

Então eu apenas corro.

É uma tempestade de balas enquanto corro em sua direção.

Em direção à única coisa que importa.


Sinto cada golpe, cada bala que atinge meu corpo. E quando eu me
ajoelho na frente dele, só posso cobrir seu corpo com o meu. Faço-me de
escudo como ele fez comigo tantas vezes antes.

Há uma cacofonia de sons quando Marcello ordena que parem de


disparar, meu nome em seus lábios soando na arena enquanto ele grita
comigo. Uma voz tão próxima, mas tão distante.

Sangue está em toda parte.

Meu corpo. O corpo dele.

Levanto uma mão trêmula em seu rosto, pedindo que ele olhe para
mim, procurando alguma confirmação de que ainda há vida em seus olhos.

— Estou aqui, — sussurro, sabendo que ele não pode me ouvir.


Sabendo no fundo que ele se foi.

— Onde você for, eu vou, — acaricio gentilmente sua bochecha, seu


olhar vazio olhando para mim.

Ele se foi.

E eu também.
CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Antes

— Você não está ouvindo. — A voz de Vanya me irrita enquanto ela


continua puxando meu braço.

— O que você quer, Vanya?— Eu reviro os olhos para ela.

Desde quando ela se tornou tão carente? Ela não entende que eu
tenho outras coisas para fazer?
Treino diariamente, do amanhecer ao meio-dia, e depois estudo e
ajudo Miles em seus experimentos. Há pouco tempo, e quando o tenho,
Vanya enche meus ouvidos com sua tagarelice incessante.

Ela parece não entender que o que estou fazendo vai revolucionar a
ciência e a guerra. Ela parece não entender qualquer coisa.

Não importa o quanto eu tente explicar a ela que as descobertas de


Miles mudarão o mundo, ela não entende.

Tudo o que ela sabe é me incomodar todos os dias.

Ela está sempre com fome ou medo, ou com dor.

Fraca.

Os pensamentos não são aceitos e, embora eu saiba que ela é minha


irmã, não posso deixar de sentir vergonha dela. Eu tenho tentado dar
desculpas sobre ela para Miles há muito tempo, dizendo a ele que é apenas
uma questão de tempo até que ela reflita e perceba a importância do que
estamos fazendo. Que ela finalmente fará algum esforço para concluir os
treinos e experimentos.

Mas quanto mais o tempo passa, mais eu a vejo pelo que ela
realmente é.

Fraca.
De corpo fraco e mente fraca, ela só pode me arrastar para baixo.

— Temos um teste hoje. — Lembro-a em vez de admitir que não tenho


ideia do que ela estava falando. — Você deveria se recompor. Não podemos
permitir outro fracasso, — digo-lhe gravemente.

Afinal, o fracasso dela também reflete mal em mim.

— Vlad... — Eu me viro para olhá-la, círculos roxos sob seus olhos,


cortes por toda a pele. — Não posso pular?— ela pergunta em voz baixa.

— Vanya, — começo, meu tom sério, — você esquece o que estou


fazendo por você, — lembro a ela, — isso, — traço a pequena laceração na
pele dela que está curada principalmente, — é uma bênção.

Ela sabe o que eu quero dizer também, porque qualquer pessoa com
sua baixa resistência teria morrido há muito tempo. Em vez disso, eu
sempre atribuí testes que sabia que ela poderia lidar e, quando surgiu a
oportunidade de ajudá-la, eu o fiz. Mas fazer isso é arriscado para mim.

Acabei de ganhar a confiança de Miles. Se eu estragar tudo agora, vou


perder tudo. Vanya também, já que ela nunca seria capaz de sobreviver em
condições normais.

— Você sabe o que acontece com os outros, — eu levanto uma


sobrancelha para ela, levantando minha própria camisa para mostrar a
miríade de cicatrizes que correm ao longo do meu torso.
Mas meu caso é diferente.

Fiquei tão atraído pela dor, tão acostumado a ser aberto e colocado de
volta, que nada me incomoda mais.

Nada dói. Nada choca.

Eu estou... vazio.

É interessante quando você coloca assim, já que no tempo em que


estive com Miles, só me tornei mais inteligente, mais forte e mais rápido.
Mas enquanto meu cérebro absorveu todo o conhecimento disponível,
minha alma desapareceu lentamente.

Vazio.

Até a visão de Vanya desvaneceu e com dor deixou de despertar


qualquer simpatia de mim. A única reação que recebo é uma raiva racional
de que ela não pode fazer melhor.

Racionalidade fria.

Todo tipo de calor que eu poderia possuir em algum momento se foi.


Às vezes, nem me lembro como era... sentir.

— Eu não posso fazer isso de novo, Vlad, — ela reclama, balançando


a cabeça lentamente. — Eu...
Seus olhos estão vermelhos, seus lábios rachados. — Não sei quanto
tempo posso continuar assim, — ela sussurra, e vejo o que ela está
fazendo.

Ela já fez isso antes. Tentando me fazer sentir pena dela. E talvez
antes tivesse funcionado, mas minha paciência está acabando.

— Você precisa, Vanya, — digo a ela, exasperado. — Você vai se


tornar mais forte. Você verá. — Eu aceno para ela, deixando-a em seu
cantinho enquanto me levanto, me endireitando e me preparando para os
testes de hoje.

Miles e eu desenvolvemos outro sistema, uma nova área de


imunologia que poderia nos ajudar a melhorar nosso modelo para o
soldado perfeito.

O corpo pode ser forte e resistir à maneira que quiser diante da dor,
mas é tudo em vão se a imunidade for comprometida.

Então começamos a teorizar e montar uma lista que poderia afetar a


imunidade e como poderíamos detê-la.

Todo mundo já foi vacinado contra as doenças mais conhecidas, mas


há outras coisas por aí que podem ser igualmente mortais.

Como veneno. Ou algo tóxico.


Já tínhamos passado pelo estágio de veneno e ingerimos pequenas
dosagens de folhas moídas de plantas venenosas como beladona, acônita,
datura e muitas outras.

É claro que perdemos muitas pessoas até acertarmos as dosagens,


mas desde então notei um aumento no estado de alerta, meu corpo
respondendo melhor aos meus comandos e, assim, provando que nosso
experimento estava a caminho do sucesso.

Após um longo teste, Miles havia escorregado uma dose maior de


acônito na minha comida sem me dizer. Tudo foi para eliminar o viés ou o
efeito placebo dos resultados do estudo e, como sobrevivi, diria que o
experimento funcionou.

Vanya, no entanto, não se saiu tão bem. Ela está lenta desde sua
última dose de beladona, seu foco foi afetado e seu apetite.

Ela está ficando mais fraca.

Não quero admitir isso para mim mesmo, mas não sei quanto tempo
ela vai durar assim. E não sei como isso me faz sentir.

Ela segue lentamente atrás de mim enquanto vamos para a área do


laboratório, arrastando os pés no chão e tentando chamar minha atenção
com seus pequenos truques.

— Não vai funcionar, Vanya, — suspiro, agarrando a sua mão.


Sua cabeça está baixa enquanto ela continua andando comigo.

— Aí está você, — Miles nos cumprimenta, com seu jaleco branco, seu
sorriso fabricado. — Eu já preparei os espécimes e selecionarei
aleatoriamente um para cada um, — ele agita os dedos sobre algumas
seringas, como se estivesse debatendo qual escolher primeiro.

— Então?— Ele vira, arqueando uma sobrancelha, a seringa com o


veneno na mão. — Quem vai primeiro?

Dou um pequeno empurrão em Vanya, meus olhos nela enquanto


tento dizer com minha expressão que esta é sua chance de mostrar a Miles
que ela está melhorando.

Seus cílios tremulam quando ela pisca rapidamente, seus olhos em


mim como se estivesse buscando minha opinião.

Eu apenas aceno rapidamente, empurrando-a levemente em direção a


Miles.

— Pequena Vanya, — ele exclama, — maravilhoso.

Ela é rapidamente colocada na cama reclinada, com o braço, já cheio


de marcas de agulhas, esticada e esperando a aplicação.

Seus olhos estão fixos em mim, seu olhar em branco.


Não, isso não está certo. Seu olhar está cheio de algo, mas tenho
dificuldade em entender o que é. Seus olhos estão voltados para baixo, mas
claros. Não é felicidade, nem tristeza. Está...

Eu não sei.

Posso diferenciar algumas expressões e ensinei a mim mesmo o que


procurar na felicidade e na tristeza. Mas a expressão dela? Não é nenhuma
que conheça.

Eu franzo a testa enquanto continuo assistindo Miles injetar o veneno


na pele dela.

Ela aperta os olhos com a invasão, o local da injeção já inchado e


vermelho.

— Você não está curioso como isso vai desenrolar?— Miles me


pergunta quando ele pede a Vanya que desça da cadeira para eu tomar o
lugar dela.

— Eu sei que vai dar certo, — respondo com confiança enquanto me


sento, dobrando a manga e apresentando-o com o braço mutilado.

Apesar de todas as marcas de agulha que Vanya tem na pele, seu


braço parece intocado quando comparado ao meu.
Cicatrizes longas e irregulares correm por todo o comprimento do meu
antebraço e vão bem para o meu braço. O resultado de cirurgia em cima de
cirurgia, de ter meu braço aberto para testar minha dor ou estudar sua
estrutura anatômica, eu tinha suportado tudo.

Mesmo agora, Miles tem dificuldade em encontrar uma veia para me


injetar, o tecido cicatricial proeminente e retorcido. Ele franze os lábios
enquanto vira meu braço até encontrar um bom local para injetar o veneno
na minha pele.

— Você têm um veneno diferente. Vamos ver como você reage a isso,
— ele sorri.

Vanya olha entre nós dois, um suspiro escapando dela quando percebe
que começamos a conversar sobre os méritos do experimento e qual é o
próximo estágio se for bem-sucedido.

E quando voltamos aos nossos aposentos, ela nem se preocupa mais


em falar comigo.

Depois disso, só piora. Ela não me pede mais para ajudá-la ou poupá-
la, vindo comigo a todos os compromissos e sendo injetada com o veneno,
conforme o esperado. Ela nem reclama da dor ou da pele inchada.

Na verdade, ela simplesmente não interage comigo.


No começo, estou extasiado, pensando que ela finalmente refletiu e
que aceitou por que estamos aqui e nossa importância no grande esquema
das coisas.

Mas mais tempo passa e não posso deixar de notar que, apesar de todo
o seu comportamento silencioso, há algo estranho nela.

Não consigo entender. Mas algo está me incomodando.

Algo não está certo.

E só me ocorre quando ela começa a se sentir mal, sua pele pálida


muda de cor, mais machucada e inchada do que o habitual. Ela mal se
move, dormindo em todo o seu tempo livre.

Quando levo a questão a Miles, ele me diz que provavelmente é o


veneno que trabalha lentamente em seu corpo. Enquanto eu
relutantemente concordei com a explicação dele, ainda não consigo deixar
de sentir que algo não está certo.

No dia seguinte, Miles chama Vanya e eu para sua sala de cirurgia.

A situação já se tornou muito terrível, e um dos olhos de Vanya está


tão cheio de sangue e inchado que sinto que vai explodir a qualquer
momento.
— Não se preocupe, — Miles sorri para mim. — Esta é uma
oportunidade de aprender, — diz ele enquanto instrui Vanya a se deitar
na cama.

Ela olha para mim, seus olhos quase brilhando com sentimentos
indefinidos. Mas ela não protesta quando se senta.

Ela nem faz barulho quando Miles faz uma incisão ao redor do olho,
cortando tecido morto que apodrecia ao redor.

Estou à margem, vendo o olho dela geminado, pendurado, pequenos


movimentos indicando que ela está ciente e ela está me observando até
mesmo através daquele olho mole.

Embora eu não mostre reação, há um pequeno incomodo enquanto


assisto o sangue subir no rosto dela.

— Isso não deveria estar aqui, — diz Miles, enquanto remove uma
larva bastante grande por trás dos olhos. — Eu me pergunto como chegou
aqui, — ele reflete.

Tirando a larva por trás da retina, ele a joga em um copo pequeno.

Então ele apenas luta para colocar os olhos de volta.

Por todo o seu brilho, sei que ele não é cirurgião ocular. Portanto, a
perspectiva de ele trabalhar tão profundamente ao redor dos olhos de
Vanya me faz sentir um pouco desanimado. Não consigo exatamente
colocar o dedo nele, mas não é uma sensação agradável.

— Feito, — ele exclama, dizendo para ela sair e nos instruindo a


voltar para o nosso quarto depois que ele administra mais uma dose de
veneno em cada um de nossos braços.

— Como está o olho?— Eu pergunto a Vanya enquanto ela vai para o


seu pequeno canto. Miles colocou um pequeno curativo e se deu por
satisfeito.

Ela encolhe os ombros, suas feições em branco como se ela não se


importasse.

— V, como está o olho?— Eu pergunto novamente, algo estourando na


superfície ao vê-la tão indiferente.

— Está tudo bem, — ela responde, sua voz suave, mas falta algo.

Incapaz de me ajudar, já que algo continua me incomodando e eu não


sou de recuar diante de um desafio, vou para o pequeno suprimento que
tirei do laboratório, retirando um desinfetante.

— Mostre-me. — Sento-me ao lado dela, minha mão vai para o


curativo.
Eu sei que Miles não usou anestésico ou desinfetante, ele nunca usa.
Então ela precisa limpar a área, pelo menos da melhor maneira possível.

Mas quando eu retiro a gaze, o olho dela cai imediatamente, caindo


cerca de um centímetro da órbita ocular.

Não querendo assustá-la mais do que o necessário, despejo um


desinfetante e ponho ao redor dos olhos.

Ela me olha de maneira geral, examinando minhas feições em


detalhes. Não questiono seu interesse repentino no meu rosto, feliz por ela
ter algo para distraí-la dos olhos. Quando termino, empurro suavemente o
olho para trás, colocando uma nova gaze em cima.

Enquanto eu começo a me mover, algo acontece. A mão dela estende,


tocando meu braço.

— Você me chamou de V, — ela pronuncia as palavras tão


suavemente que eu mal a ouço. — Você nunca mais me chama de V, —
observa ela, apertando os dedos sobre o meu braço.

Eu encolho os ombros. — Depende do momento, — digo a ela, não


querendo examinar o significado por trás de suas palavras, ou o fato de
que eu realmente parei de chamá-la de V há muito tempo.

— Eu gosto, — seus lábios puxam um pequeno sorriso. — Isso me


lembra os velhos tempos.
Eu grunho.

— Quando éramos uma equipe, — ela continua, olhando para mim


com expectativa.

— Ainda somos, V. Mas você precisa se esforçar também, — eu


respondo. — Você sabe que estou fazendo isso para ambos, — continuo
balançando a cabeça para ela.

Seu sorriso cai imediatamente, seu olho bom sem piscar quando me
olha.

— Entendo... — ela diz, e eu não entendo o que ela está vendo.

— Bom, — aceno com a cabeça, levantando-me e me preparando para


o meu próximo ataque de treinamento.

Os próximos dias são ainda piores, pois Vanya luta para sair da cama.
Seus membros estão inchados, sua pele um tom amarelado e quente ao
toque.

E quando começo a ficar um pouco preocupado, Miles me chama para


o escritório dele.

— Sua irmã não está indo bem, — é a primeira coisa que ele diz
quando entro na sala.
Não respondo enquanto me sento, esperando o que quer que ele queira
me dizer.

— Você sabe que não preciso de fracotes aqui, — continua ele,


olhando para mim com uma sobrancelha levantada, como se estivesse
avaliando como estou reagindo às palavras dele.

— Sim, senhor. — Eu aceno.

— Estou feliz por estarmos de acordo, porque tenho uma tarefa para
você.

Eu franzo a testa. Uma tarefa?

— Claro, — concordo plenamente, já que não é meu lugar discordar.

— O teste final, se você quiser. E então você será o primeiro graduado


do programa, — ele ri, derramando um copo de álcool.

— Teste final? O que você quer dizer?— Eu pergunto, confuso.

É a primeira vez que ele diz algo sobre a graduação ou um teste final.
Eu pensei que tudo deveria ser aprendizado contínuo. Tentativa e erro ao
mapearmos o caminho para a revolução científica.

— Qual foi a primeira regra que te ensinei, Vlad?— Ele pergunta, o


canto da boca se enrosca quando me considera atentamente.
— Remova todos os laços. — Eu respondo imediatamente, a cena em
que matei Lulu piscando brevemente em minha mente.

— De fato. Você acha que ainda tem laços?

— Não, senhor.

— E a sua irmã, então?— Ele pergunta, divertido.

— Ela não é nada. — Eu nem penso quando as palavras passam pelos


meus lábios.

— É mesmo... — ele anda pela sala, girando o líquido em seu copo de


maneira pensativa.

Eu balanço minha cabeça, estudando-o e tentando entender o que está


acontecendo.

— Então não será muito difícil para você matá-la, — ele de repente
para, virando-se para mim, com os olhos astutos avaliando minha reação.

— Claro que não.

— Maravilhoso. Eu confio que isso será feito então?

Eu aceno devagar, uma pequena carranca aparecendo no meu rosto


quando me ocorre o que ele está me pedindo para fazer.
— Mas aqui está o problema, Vlad. Eu não quero uma morte limpa.
Não quero matar com misericórdia, — ele sorri. — Me dê um show, — ele
abre os braços em um gesto dramático, — mostre-me como você usa tudo o
que eu lhe ensinei!

Indo para a mesa dele, ele abre uma gaveta e me joga um conjunto de
facas.

— Entre em contato comigo, Vlad!— Ele inclina o copo em minha


direção antes de virá-lo de uma só vez.

Quando volto para a sala, um peso se instala em mim. Não sei por que
meu peito está rígido, meu eu preso no meu corpo, uma gaiola que me
sufoca e me segura com tanta força que mal consigo respirar.

Uma pequena guerra se forma dentro de mim. Eu a mato? Ela é


minha irmã. Mas Miles está certo de que laços só o deixa fraco. E fraco é
algo que eu nunca quero ser.

Não quando trabalhei tanto para me purificar de qualquer fraqueza


que possa ter.

E assim, enquanto continuo racionalizando a decisão, a resposta é


clara.

Eu preciso ser forte.


Vanya só vai me arrastar para baixo, com esse apego frágil que ainda
tenho a ela e com sua fraqueza inerente.

Eu serei forte.

Quando chego ao nosso quarto, a decisão é tomada. E de alguma


forma, Vanya também sabe disso.

Ela me observa de perto quando entro na sala, a faca escondida nas


minhas costas. Quando ela olha para o meu rosto, ela fecha os olhos,
respirando fundo. Quando abre novamente, uma paz parece se estabelecer
sobre suas feições.

Lentamente, muito devagar, ela se levanta. Seus passos são


vacilantes, seus movimentos desajeitados, pois ela mal consegue controlar
seu próprio corpo.

— Vlad, — ela diz meu nome naquela voz melódica, e por um


momento meu coração bate dolorosamente no peito, as batidas altas e
agressivas contra a minha caixa torácica.

E mesmo quando racionalizo a improbabilidade disso, é algo que eu


sei que está errado.

Estou errado.
Mas eu não me importo com isso. Não quando o teste final está ao
meu alcance. Quem sabe, Miles pode me aceitar como seu assistente em
tempo integral.

Ela está na minha frente, inclinando a cabeça para o lado e olhando


para mim como se fosse a última vez que me visse. Como se ela soubesse.

— Eu nunca te disse, — ela começa, de repente olhando para longe,


— mas eu sei o que você fez por mim.

Eu pisco duas vezes, franzindo a testa.

— O que você quer dizer?

— Eu sei que você tentou me salvar e, no processo, se perdeu. E


porque eu sei disso... também é minha culpa, — respira fundo, — não
culpo você. Eu não culpo você.

— Vanya... V, — eu chamo o nome dela, um sorriso triste no rosto


quando ela ouve.

— Se não fosse por mim... — ela deixa escapar, e noto uma lágrima
em seu bom olho. — Talvez você ainda fosse você.

— Eu não entendo, — eu digo. Enão. Como eu poderia ter me perdido


quando finalmente encontrei meu chamado?
— Eu sei que não, — ela balança a cabeça.

Ao vê-la tão perto, percebo que preciso tirar proveito de sua


proximidade. Abrindo o conjunto de facas, tiro a maior lâmina, pronto para
cumprir minha missão.

Mas enquanto eu levanto na frente dela, ela não se mexe. Ela não
reage.

Ela apenas olha nos meus olhos, um pequeno aceno esperando que eu
a mate.

E dentro daquele momento, apesar de toda a minha convicção de que


preciso fazer isso, apesar de toda a minha racionalização de que devo
matar minha própria irmã — minha irmã gêmea — acho que não posso.

— Não posso, — as palavras saem da minha boca, minha voz pouco


acima de um sussurro.

Meu peito está desconfortavelmente apertado, uma tensão latejante


nas minhas têmporas enquanto olho para minha irmã. No caminho, seu
cabelo outrora bonito agora está uma bagunça de sujeira e sangue. Ou
como sua pele pálida que antes brilhava agora está amarela com
hematomas roxos. Ou como seus olhos, uma vez radiantes, estão agora...
Minha respiração trava na garganta quando as memórias caem, a dor
aumenta lentamente, meus membros paralisados de medo quando eu
apenas olho para ela.

— Eu não posso, V, — eu sussurro.

— Sim, você pode, — ela responde, e antes que eu perceba, ela agarra
a mão segurando a faca, apontando a ponta da lâmina bem embaixo do
esterno antes de empurrar com toda a força, inclinando-a para o coração.

Há um suspiro alto.

Não sei se é de mim ou dela. Seus lábios se separaram, ela continua


empurrando a faca em sua carne.

— Termine, — ela gentilmente me pede. — Deixe-me estar em paz,


Vlad. Eu não quero mais me machucar.

Essas palavras quebram algo dentro de mim enquanto eu empurro a


faca mais fundo, a realidade ficando para trás em minha mente.

Eu avanço e empurro até saber que perfurei seu coração.

E assim que retiro a faca, o sangue escorrendo e drenando daquele


órgão vital, algo mais acontece.
Um soluço pega na minha garganta, minhas bochechas estão úmidas
quando meus olhos vazam algum tipo de líquido — lágrimas. Observo o
sangue lentamente deixar seu corpo, seus olhos presos na mesma posição,
seu corpo se agitando antes que ele caia, e sinto a pior dor que já senti na
minha vida.

Eu não deveria sentir dor.

Eu não deveria sentir.

E ainda assim eu sinto. Eu sinto isso no centro do meu ser. Ele destrói
todos os cantos do que considero ser eu, até me ver despojado do que
essencialmente me torna humano.

Eu já fui?

Meus olhos se concentram nesse sangue — a essência de sua vida —


enquanto ele continua derramando. Vazando e sangrado até que não haja
mais nada.

— Não, — eu estalo. — Não, — balanço minha cabeça, a faca caindo


da minha mão enquanto me ajoelho diante dela, minhas mãos agarrando o
sangue e tentando colocá-lo de volta dentro dela.

— Você não pode, — murmuro incoerentemente, — você não pode me


deixar, V.... Não.
Há uma loucura dentro de mim que parece ser desencadeada naquele
exato momento, minha sanidade se espalhando pelos limites normais e
inundando todas as células do meu corpo com insanidade. Porque não há
outra explicação para o que estou fazendo.

Não quando eu estou tentando enfiar o sangue na minha irmã já


morta. Não quando um grito de guerra cheio de dor escapa dos meus
lábios, meus dedos se pondo na faca quando eu a bati no peito, abrindo-a e
agarrando o órgão do corpo, embalando-o na mão e tentando fazê-lo
funcionar novamente.

— Por favor, V, — digo enquanto bombeio o coração.

Eu, que valorizava a lógica de tudo.

Conheço o ilógico.

Perco o controle de tudo, pois simplesmente empurro minha mente


racional o mais longe possível, trancando-a e jogando a chave. Eu me
entrego a tudo que é irracional, selvagem e emocional.

Tudo está nebuloso quando me vejo esmagar seu corpo em pedaços


com uma raiva alimentada pelo sangue.

Sangue está em toda parte.

Meu sangue. O sangue dela. Nosso sangue.


Banha meu corpo enquanto me consolo em saber que a força de sua
vida está em mim.

Em mim.

E como nada mais funciona, eu apenas trago o coração dela para a


minha boca, mordendo-o, sentindo o jeito que o seu sangue me enche.

Nós somos um.

Porque ela não pode ter ido embora. Ela não pode nunca ir.

Vermelho está em todo lugar. Um vermelho brilhante que me


cumprimenta. Um vermelho vívido que promete cumprir todos os meus
desejos. Um vermelho animado que é ela. Minha Vanya. Minha gêmea.

Mas ela se foi.

E eu apenas me perco.
Agora

Está tudo nublado, pois não consigo mais diferenciar entre o que é
real e o que não é; o que é passado e o presente. Há uma batida nos meus
ouvidos quando tudo se torna ruído estático. Meu pulso está elevado,
sangue batendo nas minhas veias e nublando meu julgamento.

Só sinto um buraco profundo no peito, o tamanho do buraco que


coloquei no peito da minha irmã quando a matei implacavelmente.

Anos. Passei tantos anos procurando pelo assassino dela quando


poderia ter me olhado no espelho.

Vanya...

O que resta do meu coração se parte ainda mais quando me lembro


das palavras dela.

Eu não quero mais me machucar.

De quem foi a culpa que ela se machucou?


Minha.

Porque eu tinha saído do controle, meu ego do tamanho de um


arranha-céu, pois pensei que tinha todas as respostas. Um garoto de
apenas oito anos assumindo o mundo inteiro e revolucionando a ciência.

O riso borbulha na minha garganta quando percebo o quanto eu tinha


permitido que Miles brincasse com minha cabeça. Ele me transformou em
um robô pronto para cumprir suas ordens.

E eu a matei.

Tudo vem correndo. Todos os eventos de vinte anos atrás são


subitamente claros em minha mente, quando me vejo envolvido em todos
os tipos de experimentos, sendo o rato do laboratório e o jaleco.

Vanya...

Não posso evitar quando caio de joelhos, meus dentes


trincadosquando um uivo me escapa, toda a dor que estou sentindo
ameaça me dominar.

Vanya...

Minha irmã gentil que nunca machucou ninguém. Minha gêmea.

Uma vez meu tudo.


Eu não posso fazer isso. Não posso chegar a um acordo de que essas
duas mãos que estou encarando foram a causa de sua morte. Que eu usei
esses dedos para envolvê-los em torno do punho de uma faca, esfaqueando
seu coração até todo o sangue derramar.

Não posso.

Meu corpo começa a tremer, a pressão se acumula dentro de mim


atingindo um ponto de ebulição.

E eu estalo.

Eu mal percebo como me mexo ou quando me mexo. A adrenalina está


correndo pelas minhas veias, meu corpo inteiro está sobrecarregado e
pronto para a destruição.

Só sinto o vento acariciar minha pele enquanto deslizo no chão, meus


punhos prontos para causar estragos, meu único objetivo de elevar o
inferno.

Eu preciso do caos. Eu me alimento do caos. Porque somente no caos


posso silenciar a voz que me diz que sou o assassino da minha irmã.

Eu necessito do caos para sobreviver.

E eles necessitam morrer.


Me movendo para frente, encontro o corpo débil de Miles, todo
pensamento racional me deixando e apenas um propósito restante.

Sangue.

Eu quero ver o sangue dele inundando a sala. Eu quero ver a vida dele
deixando seu corpo.

Morte. Eu quero ver a morte.

Eu agarro seu pescoço, torcendo até que não se mexa mais, e ainda
assim continuo puxando, sabendo que isso cederá eventualmente,
desencadeando uma tempestade violenta enquanto os respingos de sangue
se lavam sobre mim.

E quando o pescoço dele quebra, sangue e osso finalmente jorrando, eu


não paro. Eu apenas pego a sua cabeça e a esmago até o chão até que seu
crânio se torne pedaços menores que a areia fina. Até que não haja mais
nada.

Mas eu preciso de mais.

Mais sangue.

Eu me sinto percorrendo as pessoas.

Batendo, esmagando, destruindo.


Somente a sensação pegajosa de sangue enquanto reveste meu corpo
me faz sentir um pouco mais em paz. Tudo o que entra no meu caminho
está condenado.

Eu ouço ossos quebrando, rasgando a pele, sangue jorrando.

Um prazer diferente de qualquer outro me ultrapassa quando eu


simplesmente desisto. Eu sucumbi a essa raiva animalesca, esperando me
perder. Perder todas as partes de mim que ainda se lembram, todas as
partes de mim que sabe sobre Vanya.

Porque a alternativa é muito dolorosa.

E então eu continuo.

Eu mato, mato e mato. É a única coisa que alimenta a besta.

Até eu não poder mais.

Não sinto a dor da bala que bate no meu lado. Só sinto o sangue que
sai de mim, a força do golpe me impulsionando de volta e me fazendo
perder o equilíbrio.

Inconscientemente, eu caio, minha respiração acelerada, minhas


pálpebras pesadas.
No fundo da minha mente, sei que algo está errado. Que eu fui
gravemente ferido. Mas não posso reagir.

— Estou aqui, — acho que ouço uma voz.

Uma voz muito familiar.

— Onde você vai eu vou, — ela continua, o som tão melódico que faz
meu coração morto chorar.

E quando sinto uma mão pequena em minha bochecha, arrastando


meu olhar para baixo, pisco um pouco de clareza nos meus olhos.

A névoa está se levantando lentamente para revelar uma deusa loira


olhando para mim, os olhos vermelhos de chorar, as feições contorcidas
pela dor.

Abro a boca, querendo falar, mas nenhum som sai, exceto um


grunhido rouco.

Ela franze a testa, nunca tirando a mão da minha pele, seu corpo
amortecendo o meu, mesmo quando mais sangue cai entre nós.

— Si... Si... — Consegui tirar as sílabas, o esforço aparentemente


tirando tudo de mim.
— Sim, — ela sussurra fervorosamente. — Sim, — ela traz as duas
mãos para minhas bochechas enquanto me puxa em sua direção, seus
lábios nos meus enquanto eu provo sangue e lágrimas. — Sim, — ela fala
contra mim, e eu inspiro assim que trago as palavras dela.

— Hell girl, — eu gemo, minha mente está ganhando algum estado


de alerta.

— Vlad, meu Vlad, — ela continua falando em sons curtos e doloridos


que me fazem sofrer por ela.

Você machuca, eu machuco.

Tudo volta correndo, as memórias, a dor.

O amor.

— Minha Sisi, — eu resmungo, meus braços se aproximando de seu


pequeno corpo para puxá-la para mim. E quando me sinto nas costas dela,
encontro pedaços de metal embutidos em suas roupas.

— O que... — Eu começo, mas ela me silencia com mais um beijo.

— Estou bem. Estamos bem, — ela arrasta os lábios pela minha


bochecha. — Tudo vai ficar bem.
Não sei por que essas palavras simplesmente me quebram. E faço algo
que deveria ter feito há muito tempo.

Eu me deixei sentir.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

Uma mês depois.

— O que você está fazendo por aí?— Minhas mãos nos quadris, eu
olho para ele, minha expressão mostrando que não estou brincando.

— Eu estou bem, hell girl. Além disso, quem vai ajudar nas
reformas?— Ele me dá aquele sorriso encantador na esperança de derreter
minha raiva.

Derrete-me, mas não minha raiva. Não quando ele acabou de sair da
cama, seus pontos não estão completamente curados.
— Ninguém foi baleado quatro vezes no peito, Vlad, — reviro os olhos
para ele, — certamente não alguém que estava somente na porta da morte.
Largue a pá e venha comigo, — eu aceno em minha direção, uma
sobrancelha levantada esperando que ele discuta.

Ele não faz, porque sabe que não vai ganhar. Não quando eu fiquei dia
e noite ao seu lado, cuidando do corpo e da mente.

Algo aconteceu com ele naquele dia no complexo de Miles. Recuperar


todas as suas memórias havia mudado algo nele, e ele havia mudado —
total e irrevogavelmente.

Durante dias depois de ter sido mortalmente ferido, ele definhava na


cama, brigando entre a vida e a morte, e acho que nunca senti uma
angústia maior do que pensar que ele poderia apenas... morrer.

Ainda assim, eu tive que ser forte por nós dois. Eu não tinha saído do
lado dele por um minuto. Mesmo quando minha própria pele machucada
estava doendo, minhas costas estavam cheias de pequenas feridas pelo
impacto das balas contra o colete à prova de balas.

Eu colocaria tudo de lado, porque naquele momento eu tinha um


propósito — ele.

Mas quando ele acordou, a mudança era óbvia em suas feições, na


maneira como ele se sustentava. Mais do que tudo, eu podia ver uma nova
leveza nos seus olhos.
Ele não tinha conversado a princípio, olhando para o espaço vazio.

Mas lentamente, ele começou a se abrir, me contando tudo o que


aconteceu.

Como Vanya morreu.

Embora racionalmente perceba que não foi culpa dele, não pode deixar
de se responsabilizar por tudo o que aconteceu com sua irmã.

— Você é tão gostosa quando é mandona, — ele diz, quando chega ao


meu lado, o braço dele serpenteando na minha cintura.

Eu pego, balançando de lado quando me viro para ele, uma expressão


firme no meu rosto.

—Você não brinca de ladino encantador quando mal se levanta,


senhor. Se você pensar em sair da cama novamente, eu mesmo o
enterrarei, já que está claro que você tem um desejo de morte fervoroso.

— Hell girl, — ele murmura quando se aproxima, a boca passando


pela minha bochecha, — você sabe que eu amo quando você me ameaça, —
o hálito dele na minha pele, não posso evitar o arrepio involuntário que
desce pelo meu corpo.
— Vou deixar você me enterrar, — ele começa, e noto a diversão em
seu tom, — somente se eu receber visitas conjugais, — ele sussurra e
meus lábios se contraem.

— Vlad, — exclamo, escandalizada.

Não acredito que ele ainda está com vontade de brincar.

— Tudo bem, — ele finalmente concorda, — eu vou voltar para a


cama. Mas você vem comigo.

Não consigo encontrar em mim recusá-lo, então acabo indo para a


cama com ele.

— Você deveria perdoar seu irmão, — ele de repente diz enquanto me


segura. — Você sabe que ele quis o melhor.

— Ele teria matado você, — sussurro, ainda incapaz de remover essa


cena da minha mente. — Mais uma bala e você teria sido morto Vlad, —
minha voz treme quando olho para ele, com os olhos escuros me
observando atentamente.

— Você me salvou quando eu não merecia, Sisi, — a mão dele


descansa na minha cabeça antes que ele lentamente mova os dedos pelos
meus cabelos. — Mas eu estava fora de controle. Eu poderia ter... — uma
respiração trava em sua garganta, e reconheço a agonia por trás de sua
expressão.
— Mas você não fez. Você está aqui comigo. Nós dois estamos vivos.
Quanto a Marcello... Eu perdoarei, eventualmente. Ainda não, — suspiro.

Entendo por que ele fez isso, mas, ao mesmo tempo, meu coração não
suporta pensar na alternativa, do que poderia ter acontecido se eu fosse
um segundo tarde demais.

Ele o teria matado.

E por isso, acho que não posso perdoar Marcello tão cedo. Não suporto
nem pensar em estar na mesma sala que ele, o desejo de causar danos
esmagadores demais.

— Você não teve nenhum episódio até agora, — mudo o tópico quando
pulo da cama para pegar o kit médico e trocar as ataduras.

Ele se coloca em uma posição sentada enquanto espera que eu venha


cuidar dele, sua expressão pensativa.

— Acho que não terei mais no futuro, — ele menciona, e eu franzo a


testa.

— Por quê?

Trazendo o kit para a cama, começo a tirar cuidadosamente as


ataduras antes de inspecionar a condição de suas feridas.
— Estes parecem bons, — sorrio limpando as áreas, feliz em ver que
não há infecção e tudo parece estar curando muito.

Ele resmunga, olhando acima da minha cabeça enquanto eu continuo


mudando as ataduras. Estou focada na minha tarefa quando o ouço falar
novamente.

— Os episódios, — ele começa, sua voz distante. — Acho que eles


eram minha maneira de lidar com a morte de Vanya e a culpa que eu
tinha por isso. Sangue... — ele respira fundo, sabendo que este é um
momento importante para ele.

— Sangue me lembrou o que eu tinha feito. Do sangue dela nas


minhas mãos. E toda vez que eu via, me deixava um pouco louco.

É claro que ele tem pensado muito sobre isso e não posso deixar de me
preocupar com ele. Desde o dia em que descobriu que havia matado sua
própria irmã, ele mudou. Não sei se é uma mudança consciente, mas acho
que o último episódio libertou algo dentro dele.

— Vlad, — levanto meu olhar para ele, procurando sua expressão. —


Vanya não teria te culpado. Você sabe disso.

Ele franze os lábios com um sorriso triste.

— Eu sei. Sim, Sisi. Mas isso não tira o fato de que sinto um vazio, —
ele coloca o punho no peito. — Aqui.
— É normal. — Cubro o punho dele com as mãos, trazendo-o para a
boca e escovando levemente meus lábios através das juntas dos dedos.

— É normal se sentir assim. É humano. E embora seja discutível, —


meus lábios se enrolam, — você é humano. Dê a si mesmo tempo. Sentir.
Lamentar. Perdoar-se.

Além de sua lesão física, sua psique havia sido a mais afetada pelo
que aconteceu. Ele está lentamente começando a se abrir sobre seus
pensamentos e sentimentos e eu aprecio qualquer coisa que escolhe
compartilhar comigo. Não importa quanto tempo leve, estarei aqui por ele
e oferecerei a ele meu amor e apoio, incondicionalmente.

No final do dia, não pode ser fácil para um homem que nunca se
permitiu sentir qualquer coisa toda a sua vida ser subitamente inundado
com todas essas emoções estranhas. Às vezes, eu o vejo lutando para
entender o que está acontecendo dentro de sua mente, e dói meu coração
que não haja nada que eu possa fazer para aliviar sua dor.

Ele acena com atenção nas minhas palavras, embora seu olhar esteja
distante.

— Tempo... — ele repete.

— Temos todo o tempo agora. E talvez se aproximar de Katya possa


ajudá-lo, — eu jogo a ideia e ele imediatamente faz uma careta.
Assombrados por enfrentar o mundo exterior e ainda se acostumar à
liberdade, Katya e Tiberius vivem no complexo subterrâneo de Vlad.
Enquanto isso, estávamos na casa de infância de Vlad, pois eu pensava
que ar fresco e espaço aberto o fariam bem.

Embora eu ainda não esteja falando com meu irmão, a ajuda de Lina
foi uma bênção, pois ela ajudou Katya e Tiberius a se acomodarem à sua
nova realidade enquanto eu estava cuidando de Vlad de volta à saúde.

Eu os visitei algumas vezes, e eles também vinham aqui com


frequência. Vlad, no entanto, não foi muito aberto com sua irmã, mal
trocando palavras, seus encontros tensos e estranhos.

Não posso exatamente culpá-lo, pois sei que ele abriga algum tipo de
culpa pelo que aconteceu com ela, mas ele não pode continuar assim para
sempre.

— Vou tentar, — ele resmunga, as palavras quase inaudíveis.

— É melhor você tentar. — Eu bato nele de brincadeira no braço.

— Ai! Convalescente aqui, hell girl, — ele finge um gemido de dor.

— Até parece. — Eu bufo. — Você não estava convalescente quando


estava tentando cavar um buraco no jardim. Você não poderia ter pedido a
alguém para fazê-lo se fosse tão urgente?— Eu reviro os olhos para ele.
Sua reação à dor ainda é a mesma, inexistente. Embora isso me faça
feliz nesse cenário em particular, não consigo imaginar o quanto quatro
balas no peito doeriam.

A verdade é que Vlad sempre foi uma pessoa muito ativa fisicamente,
e não consigo imaginar o que estar preso no descanso da cama deve estar
fazendo com ele. Mesmo assim, não vou pôr em risco a sua saúde só porque
está fazendo beicinho para mim.

— Precisamos começar em breve, — reclama.

Depois que ele acordou, tivemos longas conversas sobre o nosso futuro
e o que queríamos fazer a seguir. Também tivemos conversas
extremamente difíceis sobre o que descobrimos no complexo de Miles e
como lidaríamos com isso. Mas juntos, decidimos ajudar as crianças que
resgatamos dos laboratórios de Miles e dar a elas um novo propósito na
vida.

— Uma academia?— Fiquei surpresa quando Vlad sugeriu a ideia.

— Eles são todos diferentes. Seja de nascimento ou por causa do que


foi feito com eles. Eles não sabem como se encaixar na sociedade, e a
maioria deles não tem ninguém a quem recorrer, — explicou, conseguindo
me chocar com sua consideração.
— Nós ensinamos a eles como se adaptar ao mundo, e nós lhes demos
um propósito, — seu sorriso se ampliou, e eu sabia que tinha que ser algo
insano.

— Uma academia de assassinos, — declarou ele com orgulho, me


fazendo piscar em confusão.

— Pense nisso. Eles já estão preparados para matar. Mas assim,


podemos ensinar-lhes uma matança mais ética, — ele fez uma pausa,
provavelmente percebendo que isso não se aplica exatamente a ele, — ou
pelo menos algum tipo de sistema de honra para que não se tornem muito
perigosos. Então eles não se tornam eu.

— Isso não é uma má ideia, — eu respondi. E quanto mais eu


pensava sobre isso, mais percebia os méritos do projeto.

— Em vez de impor alguns padrões impossíveis a eles, como Miles


vinha fazendo, promoveremos seus talentos naturais e os tornaremos os
melhores assassinos que o mundo já viu.

Quanto mais ele falava, mais eu percebia o quão entusiasmado ele


estava com a perspectiva. E com seu estado mental tão frágil, eu sabia que
era a coisa perfeita para ajudá-lo a sair de sua queda.

Ele teria um objetivo, uma missão. E assim ele não se deixou


sucumbir à dor que é a verdade da morte de Vanya.
Mas enquanto eu estou apoiando ativamente seu novo
empreendimento, isso não significa que ele possa forçar seu corpo mal
curado. Ele tem muitas pessoas para trabalhar nisso.

Outro efeito colateral de derrubar os negócios de Miles e Meester foi


recrutar muitas pessoas novas sob a liderança de Vlad. A maioria também
o procurou depois que as notícias foram divulgadas de que ele havia
despachado os líderes da máfia, e muitos homens declararam que queriam
trabalhar para os mais fortes, não para os mais fracos.

Foi bastante fortuito, pois recentemente reunimos os planos para a


academia e precisaremos de muitas pessoas para fazer a visão de Vlad
acontecer.

— Eu quero que as coisas voltem ao normal. Eu me sinto inútil


assim... — ele geme, levantando os dedos para as têmporas e
massageando-as.

— Eu sei, — eu suspiro. — Mas eu preciso de você saudável, Vlad.


Não posso ter outro susto como esse.

Eu ainda tenho pesadelos com ele sendo baleado, sangue saindo dele...

Eu me sacudo, sabendo que nunca é útil insistir nisso.

— Você não vai. Eu prometo a você, — ele pega minha mão, me


puxando em sua direção. — Você é minha única razão para melhorar, hell
girl. Então eu vou, — ele murmura suavemente, seus lábios na minha
testa enquanto ele segue pequenos beijos por todo o meu rosto. — Tudo
para você.

— Bom, — sussurro, apoiando-me nele e sentindo seu calor na minha


pele. — Eu te amo, — digo a ele, meus lábios se separaram quando me
entrego a um beijo sem fôlego.

— Eu também te amo. Sempre.

Alguns meses depois,

— Você sabe que não precisa fazer isso, Sisi, — meu irmão me diz por
trás.
Arrumando meu cabelo, me viro para encará-lo.

— Estamos fazendo isso de novo, Marcello? Pensei que tivéssemos


passado por isso, — balanço a cabeça para ele quando vejo o leve sorriso
em seu rosto.

— Eu tive que tentar, — ele encolhe os ombros, me dando o braço.

Quando saímos de casa e em direção ao jardim, ele de repente para,


dando um beijo na minha testa.

— Sinto muito, — ele pede desculpas e noto que realmente quer dizer
isso. — Conheci Vlad a vida toda e pensei que sabia tudo o que havia nele.
Mas acho que nunca tentei olhar mais fundo. Não como você fez, — ele me
dá um breve sorriso.

— Eu posso nunca estar completamente confortável sabendo que você


está com ele, porque eu o vi no pior dos casos, e... bem, você também
conhece o pior dele, — ele ri. — Mas eu posso ver como ele te faz feliz. Eu
também vi como você o faz feliz. Mesmo relutando em admitir, há algo em
vocês dois quando estão juntos. Quase como se vocês estivessem sempre
em seu próprio mundinho.

Meus lábios puxam um sorriso para as suas palavras, porque ele está
certo. Pode haver mil pessoas por perto, mas se Vlad estiver ao meu lado,
sempre seremos apenas nós dois.
— Reconheço que você tem algo especial e tem minha promessa de que
não tentarei interferir novamente.

— Obrigada. Isso significa muito para mim, — digo a ele, indo na


ponta dos pés para lhe dar um beijo na bochecha. — E obrigada por me
receber na família.

— Sisi. Eu sempre serei sua família, — ele me puxa em um abraço. —


Não importa o quê, — ele continua, e meu coração se aquece com suas
palavras.

— Bom, — fungo, o desejo de chorar esmagador. — Devemos ir antes


que eu chore, — brinco, agarrando o braço dele e caminhando em direção
ao jardim.

Um pequeno coreto está no final do caminho a pé. Vlad o construiu


com as próprias mãos quando recebeu a luz verde de que finalmente
poderia fazer um trabalho físico. E ele dedicou isso à memória de sua irmã.
Uma insígnia V fica no topo do telhado, o mármore brilhante brilhando à
luz do sol.

Há duas fileiras de assentos em cada lado do caminho sinuoso, todos


cheios de amigos e familiares. Lina, Claudia, Venezia e Katya estão de um
lado, todas usando vestidos azuis claros e delicados, cada uma segurando
um pequeno buquê de flores.
Seus rostos se iluminam quando nos vêem se aproximando, e eu lhes
envio um beijo no ar e uma piscadela enquanto continuamos a andar.

Do outro lado, Seth, Adrian e Tiberius estão de pé atrás de Vlad, seus


ternos pretos muito elegantes, mesmo que devam estar suando com esse
calor.

E depois há ele.

Meu Vlad.

Ele parece nervoso enquanto anda por aí, com a cabeça virando em
nossa direção enquanto nos aproximamos do mirante.

E quando ele me vê, seus olhos se arregalam, seu sorriso ofuscante


quando ele olha para mim, seu olhar ardendo de amor e... Fico quente
assim que sinto sua atenção em mim, um rubor subindo pelas minhas
bochechas.

De repente, sinto-me sem fôlego ao me aproximar dele, Marcello


entregando-lhe minha mão, sem nenhuma resposta engraçada também.

— Pronta?— ele sussurra, me puxando para perto.

Eu levanto minha cabeça, umedecendo meus lábios para responder a


ele, mas quando noto o brilho perverso em seus olhos, minha boca se abre
por vontade própria, nenhum som sai.
O canto da boca se levanta em um sorriso torto enquanto ele sorri
para mim, aquela arrogância pecaminosa que sempre escorre dele e me faz
querer matá-lo e amá-lo ao mesmo tempo.

Ainda assim, não há como confundir a adoração extasiada em seus


olhos enquanto ele percorre meu rosto, movendo-se sobre cada centímetro
de pele exposta e deixando um rastro de arrepios em seu rastro. Ele não
precisa me tocar ou fazer nada. Do jeito que ele olha para mim, como se
tivesse arrancado meu vestido de noiva do meu corpo antes de me levar a
correr para que ele pudesse me caçar, me fazendo suar sob camadas de
tule.

Eu sei o que ele está pensando.

Seus dentes roçam a superfície do lábio inferior enquanto sua atenção


está fixada no meu pescoço, exatamente onde sua inicial está marcada
contra a minha pele.

— Você está satisfeita com a aparência de tudo?— ele ronrona, nunca


tirando os olhos de mim.

— Sim, — expiro, a súbita proximidade chegando à minha cabeça e


me deixando tonta de vontade.

Droga.
Mesmo agora, de todos os dias, não consigo me controlar ao seu redor,
tão perdida em sua aura, sua energia me envolvendo e me engolindo
inteira.

— É exatamente como eu queria, — digo a ele, o que me dá um


sorriso dele.

A ideia de uma festa formal de casamento me ocorreu depois que eu


encontrei o vestido de noiva perfeito online. Eu estava simplesmente
navegando na internet quando me deparei com esse deslumbrante vestido
branco com um corpete apertado e uma saia rodada que lembra um vestido
de baile vitoriano. Fiquei tão impressionada com isso que um dia me vi
dizendo ao Vlad que queria um casamento de verdade.

Ele ficou surpreso no começo, já que eu não havia mencionado isso


antes, mas ele rapidamente se adaptou, ligando para todos e colocando as
coisas em movimento para que eu tivesse meu casamento perfeito.

Ele tem sido tão gentil, cuidando de absolutamente tudo, garantindo


que tudo tenha minha aprovação antes do grande dia.

Agora, eu me vejo usando meu vestido dos sonho, no casamento dos


meus sonhos, com o homem dos meus sonhos. E não posso evitar a
vertigem que se forma dentro de mim.

— Vamos então?
— Nós devemos, — eu sorrio.

A cerimônia é curta, mas doce, e comparada à minha primeira


tentativa de casamento, eu realmente ouço todas as palavras.

Minha mão na dele, o calor que brota de sua pele é o único conforto
que preciso saber que estamos nisso não apenas até que a morte nos
separe, mas além.

A cerimônia chega ao fim, quando o ministro nos pede para trocar


anéis.

— Eu sabia que perdi alguma coisa pela primeira vez, — Vlad


murmura divertido enquanto ele desliza uma linda faixa de prata sobre o
meu dedo.

— Eu estava tão brava com você que nem percebi, — admito,


enquanto é a minha vez de colocar o anel no dedo dele.

Tínhamos feito sob encomenda e gravamos duas frases muito queridas


para nossos corações no interior dos anéis. As mesmas frases que
pronunciamos agora, quando somos pronunciados marido e mulher.

— Não há Vlad sem Sisi, — ele é o primeiro a dizer, trazendo meus


dedos para a boca para um beijo sensual.
— E não Sisi sem Vlad, — completei a frase, meu pulso acelerando
quanto mais ele permanece com os lábios na minha pele.

Nesse momento, não importa o quanto eu quisesse um casamento


totalmente organizado com todos os presentes, eu só quero que ele me
arrebate, me marque, fixe em minha alma.

Mas, infelizmente, não podemos ter isso.

Não quando somos subitamente interrompidos por todos quando eles


vêm nos parabenizar pelas núpcias.

— Parabéns, tia Sisi, — Claudia me dá um grande abraço.

— Obrigada, amor, — eu beijo suas bochechas, feliz em saber que


agora somos recebidos na casa de Marcello e posso vê-la quando quiser.

Todo mundo vem até mim por beijos e um abraço. Um olhar para a
direita e noto Vlad em uma situação semelhante à dos homens que vêm
apertar a mão dele, parabenizando-o pelo casamento e por finalmente
conseguir uma mulher.

Quase coro ao ouvir algumas das conversas que eles estão tendo, mas
as meninas são rápidas em me deixar de lado, as fofocas e as conversas
estão fortes.
Transformamos todo o quintal em um local para o casamento e, com a
vista frontal para o oceano, é realmente o casamento dos sonhos.

— Eu sempre quis perguntar a você, — Bianca vem ao meu lado, com


uma taça de champanhe não alcoólico na mão. — Como você o domesticou?

— Domesticá-lo?— Eu levanto uma sobrancelha.

— Eu o conheço há mais de uma década. Euconheço ele. E, no entanto,


acho que não, não é mesmo?— ela pergunta, seu olhar se voltando para
onde Vlad está conversando profundamente com Adrian e Marcello.

— Eu não o domestiquei. Eu não acho que alguém como ele pode ser
domado. — Eu respondo honestamente.

Mesmo sem seus episódios, ainda há uma selvageria para Vlad que
desafia todas as lógicas. Ele é um animal selvagem em um terno caro, e ele
sabe disso. Oh, ele definitivamente sabe disso, pois me dá aquele sorriso
perverso, arqueando uma sobrancelha em um desafio silencioso.

— Eu só... — Eu paro, tentando encontrar as palavras. — Eu vi ele.


Eu vi quem ele era por trás da máscara.

— Você provavelmente é a primeira e a última, — ela murmura,


virando o copo. — Vou pegar um pouco desse bolo, — ela muda de repente
o tópico, as palmas das mãos sobre a barriga enorme, — essa criança será
a minha morte, — ela balança a cabeça, indo para o suporte de bolo.
Eu me misturo um pouco mais com os convidados, tendo tempo para
conversar um pouco com todos.

— Como você está, Katya?— Pegando um prato de bolo, eu sento ao


lado dela.

Ela não está tão longe quanto Bianca, mas sua gravidez teve algumas
complicações, então ela não tem permissão para se mover muito.

— Tudo bem, — ela sorri. — Ótimo. Isto é... maravilhoso. Estou tão
feliz por vocês dois, — ela me diz, suas palavras imbuídas de calor
enquanto ela pega minhas mãos nas dela.

Tiberius está ao lado dela, olhando para fora de seu elemento entre
tantas pessoas, seu olhar vibrando de um lado para o outro como se
esperando perigo a qualquer momento. Sua mão é colocada de forma
protetora sobre o ombro de Katya e ele não se move do lado dela por um
momento.

Ainda não sabemos exatamente a extensão do que aconteceu com eles


em cativeiro, e ambos estão atualmente vendo um terapeuta para ajudá-
los a lidar com o trauma residual. Katya mencionou de passagem, no
entanto, que ela teve algumas outras gestações antes disso, mas eu não
tinha investigado o que aconteceu com esses bebês, pois deve ser um
assunto difícil para ela.
— Acho que nunca poderia imaginar que seria Vlad quem me salvou,
a nós, — continua Katya, com o olhar no irmão. — Eu sempre pensei que
havia mais nele do que o que as pessoas estavam dizendo, — ela se vira
para mim. — Estou feliz que ele tenha você.

— Obrigada, — aperto a mão dela. — Eu sei que tem sido difícil se


aproximar dele. Mas não desista. Ele não é o melhor quando se trata de
emoções.

— Sério?— ela pergunta, divertida, apontando para a multidão


reunida na parte de trás do jardim.

Eu franzo a testa quando vejo Vlad girando em uma grade e


montando-a, chamando a atenção de todos.

— Obrigado a todos por terem vindo comemorar nosso casamento, —


ele levanta um copo. — Acho que devo fazer um discurso?— Ele franze a
testa. — Talvez... ou talvez não, — ele sorri maliciosamente, — mas eu
farei um de qualquer maneira.

Tirando o blazer do smoking, ele o coloca em uma cadeira, dobrando


lentamente as mangas da camisa.

— A primeira vez que vi Sisi, eu sabia que nunca poderia viver sem
ela, — ele começa e o vermelho rasteja pelas minhas bochechas enquanto
percebo o que ele está fazendo.
Todo mundo bate palmas com suas palavras.

— Ela deu uma olhada em mim e depois me ignorou. Se isso não é


amor à primeira vista, então não sei o que é, — continua ele, todo mundo
rindo de sua piada.

Ele rapidamente absorve o pensamento.

— Eu poderia ficar aqui e exaltar suas virtudes para sempre, já que


até suas imperfeições são perfeitas para mim, — ele pisca para mim, —
mas mais do que tudo o que quero é agradecer a ela.

Minhas sobrancelhas se levantam, curiosa com o que ele tem a dizer.


Todo mundo está ouvindo atentamente também, e acho que para muitos é
a primeira vez que vêem Vlad sendo outra coisa senão o seu eu de piadista.

— Obrigado por tentar me salvar quando todos pensassem que eu


estava condenado. Obrigado por me salvar quando todo mundo desistiu de
mim. E obrigado por me salvar quando EU pensei que estava além da
salvação, — ele faz uma pausa, uma intensidade inflexível em seus olhos
enquanto olha para mim. — Se eu estou aqui, agora, é tudo por sua causa,
hell girl. E é por isso que, — ele sorri, — no futuro, vou viver somente para
você.

Todo mundo bate palmas novamente, com algumas pessoas


sussurrando que esse não pode ser o mesmo Vlad que eles conheciam.
Mas quando olho para ele, tão elegante em sua camisa branca lisa e
calça preta, só consigo me sentir imensamente lisonjeada, meu coração
batendo alto no peito com a declaração dele.

— Eu também gostaria de lhe dar um presente, — diz ele, e agora


estou ainda mais curiosa ao vê-lo trabalhar em torno da grelha antes de
tirar a camisa e sentar em uma cadeira.

Sasha se levanta e contorna-o, uma pequena bolsa na mão enquanto


tira um bisturi.

Minha boca se abre quando me dou conta do que ele está fazendo.

Eu não sou a única completamente pasma com essa tela, suspiros


surgindo ao meu redor quando o bisturi corta nas costas de Vlad,
removendo um pequeno quadrado de carne e colocando-o na grelha.

— Eu sei que é costume os noivos compartilharem bolo, mas quero me


compartilhar com você, Sisi. Se você me receber.

Levanto-me com as pernas trêmulas, indo lentamente em direção a


ele, minha mente em mil lugares diferentes, enquanto percebo o quão
especial isso é.

— Sim, — respondo quando chego ao seu lado. Andando até as costas


dele, coloco minhas mãos nos ombros dele enquanto me inclino para
lamber os pedaços de sangue que caem do corte, fechando meus lábios
sobre a pele dele. — Esta é a surpresa mais maravilhosa, Vlad, — digo-lhe
sinceramente.

— Mas primeiro, quero que Sasha tire um pedaço de mim também.

As palavras mal saem da minha boca quando ele se vira para mim,
com os olhos arregalados.

— Hell girl, — ele geme e acho que ele vai recusar. Ele coloca a testa
no meu ombro, respirando com severidade. — Tendo uma parte de você...
— ele segue. — Eu não ousaria pedir isso.

— Você não precisa. É dado livremente, — acaricio sua bochecha,


dando um beijo rápido nela antes de me sentar.

O processo é rápido e não tão doloroso quanto eu imaginaria.

O pedaço de Vlad está pronto, enquanto a minha está cozinhando


rapidamente na grelha quente. Quando temos um pedaço um do outro em
nossas mãos, olhamos nos olhos um do outro, trazendo lentamente o
pedaço para nossas bocas.

Observo seus lábios se fecharem sobre um pedaço de mim, assim como


trago o pedaço de carne para a minha boca.

A explosão de sabor é imediata e é preciso tudo em mim para não


gemer com o sabor. Ou pior ainda, pular nele e rasgar suas roupas.
Ele parece ter uma reação semelhante, e seu olhar não se desvia de
mim enquanto mastiga lentamente o pedaço de carne.

— Você faz parte de mim agora, hell girl. Assim como eu sou parte de
você, — ele pronuncia, seu sorriso perigoso me envolvendo.

— Sim, finalmente somos um.

O momento se estende entre nós, e é como se tudo desaparecesse. Não


há barulho, não há pessoas por perto, apenas nós.

Nós olhamos um para o outro e sei que o que temos é mais forte do
que qualquer coisa neste mundo. Não há nada que possa nos separar.

Nem mesmo a morte.

Porque para onde um vai, o outro segue.

Em algum momento, os convidados partem e finalmente estamos


sozinhos. A casa inteira, no entanto, está uma bagunça e provavelmente
precisará de uma limpeza completa.

— Você foi um cavalheiro hoje. — Eu o elogio, brincando com a gola da


camisa e provocando a pequena extensão de carne visível.

— É mesmo?— ele pergunta, e meus olhos se encaixam nos lábios


dele, lambendo os meus em resposta.
Há apenas algo magnético na maneira como ele me puxa em sua
direção sem nem tentar. Meu corpo reage ao dele e, como uma mariposa
atraída por uma chama, não posso resistir. Eu quero que ele me consuma.

— Não se engane, Sisi, — ele começa, com as mãos descendo pelo meu
vestido até que ele segure firmemente o tule da minha saia no punho. —
Eu ainda sou um animal. Mas agora eu sou um animal lúcido, — aquele
sorriso perigoso de novo, e em pouco tempo, ele tem o material arrancado
do meu corpo, pedaços caindo no chão quando um olhar de pura satisfação
aparece em seu rosto.

— Corra, minha freira. Corra.

Ele sorri de maneira lúdica para mim, seus músculos ondulando com
tensão retida. Seus olhos estão em sintonia com todos os meus
movimentos, e eu sei que ele está pronto para atacar.

E o que você faz quando tem um predador quente em sua trilha?

Você corre.

E espero que ele me pegue.


EPÍLOGO

Alguns anos depois

— Você está pronta, hell girl?— Eu vou pegar a sua mão, mas ela não
está ao meu lado.

Virando-me, vejo-a ainda lutando para prender seu equipamento no


lugar.

— Sisi, — eu gemo, especialmente quando vejo sua pequena carranca


de concentração e a maneira como ela está mordendo o lábio...
Não é bom para o meu autocontrole.

— Só um segundo, — diz ela, levantando um dedo.

Ela não só tem uma expressão de me foda agora em seu rosto, mas ela
também está encharcada de sangue, e a combinação não poderia ser mais
letal para meus sentidos.

— Concluído, — ela respira aliviada. — Não importa quantas vezes


eu faça isso, nunca acertei, — ela murmura antes de tomar seu lugar ao
meu lado, enfiando a mão na minha.

— Já estamos atrasados. — Eu franzo os meus lábios, olhando para o


meu relógio. — A festa começou trinta minutos atrás.

— Nós vamos chegar lá, — ela me dá um tapinha no ombro, piscando


para mim.

— Vamos fazer isso, — digo quando abro o alçapão do avião, a


pressão do ar imediatamente me bate na cara.

Um olhar para Sisi e eu estou pronto para ir. Ainda segurando as


mãos um do outro, pulamos.

Em algum lugar no caminho, nós dois liberamos nossos pára-quedas,


aterrissando com segurança em solo sólido.
— Como eu estou?— ela pergunta enquanto se despoja de seu
equipamento, dando um tapinha no vestido como se fosse a coisa mais
elegante.

— Bom, — eu me afirmo quando as palavras saem da minha boca.

Ela parece bem, para mim. Não tenho certeza se as pessoas vão gostar
de ver encharcadas de sangue da cabeça aos pés.

— Parecemos terríveis, não é?— Ela suspira profundamente, com os


ombros caindo.

— Se Bianca nos quiser presentes, ela terá que nos receber assim
também, — tento animá-la.

Ela balança a cabeça, indo para andar na minha frente. Não hesito em
pegar a mão dela, trazendo-a para mim e mergulhando-a nos meus braços.

— Acho que a tradição dita que eu carregue você nos meus braços, —
corro o nariz em volta do rosto dela, inalando seu perfume.

— E quem sou eu para discutir com a tradição?

— Bom, — eu ri. — Eu pensei que você teria objeções. Além disso, faz
aproximadamente cinco horas desde a última vez que eu tive você em
meus braços. Eu preciso me atualizar.
Ela murmura algo incoerentemente, mas acaba sorrindo para mim,
sem lutar enquanto eu a carrego em direção à casa de Bianca e Adrian.

Hoje é o aniversário de Bianca, e ela sempre é muito incisiva sobre


todos os participantes. E como Sisi e eu dependemos de sua experiência na
academia, não podemos arriscar perturbá-la.

Logo após o parto de Bianca, seu contrato na Rússia havia terminado


e ela estava em busca de um novo emprego. Embora ela não tenha
terminado completamente com assassinatos particulares, ela aceitou se
tornar instrutora em nossa academia, V Academy — assim chamada em
homenagem a minha irmã.

O primeiro ano foi um pouco difícil, pois as coisas estavam


finalizando, as crianças um pouco nervosas ao nosso redor enquanto se
acostumavam com tudo.

Das pessoas que resgatamos do complexo de Miles, treze deles


decidiram ficar conosco, com idades entre seis e quinze. Todos eles vieram
com traumas diferentes de serem ratos de laboratório de Miles por tanto
tempo.

A única coisa de que sou grato é que, pelo que deduzi, o abuso sexual
parou com a nova geração. As interações dos guardas com as crianças
foram monitoradas com mais rigor e nenhuma interferência externa foi
permitida no plano de Miles. É claro que isso não exclui as depravações
doentias de Miles, mas as crianças ainda não sofreram muito nesse
quesito.

Como todo aluno estava lidando com traumas diferentes, tivemos que
conceder subsídios para cada um, o que significava criar um currículo
padrão, mas também visar cada faixa etária separadamente, além de
cultivar cuidadosamente os pontos fortes de todos.

É seguro dizer que não foi fácil organizar tudo.

Sisi e eu também começamos a ensiná-los pelo exemplo e, às vezes,


quando seguimos em uma missão, escolhíamos um aluno para nos
acompanhar, dependendo das habilidades necessárias para essa missão
específica.

A academia tem sido um sucesso até agora, com os mais velhos já


embarcando em missões por conta própria.

Também decidimos recentemente expandir e procurar novos recrutas.

Sisi havia planejado procurar pessoas como Seth, que haviam sido
forçadas a viver uma vida de luta perpétua por um meio de vida e que não
têm outras habilidades além de seus punhos. Garantiríamos sua liberdade
e um emprego se eles decidissem permanecer conosco.
Agora mesmo, voltamos de uma missão em Vermont, já que algumas
fontes estavam falando sobre um grupo de escravidão infantil na área.
Infelizmente, tinha sido um fracasso.

— Pelo menos tivemos que matar alguns bandidos, — comenta Sisi,


ecoando meus próprios pensamentos.

— Verdade. Pelo menos, tomamos um pouco de banho de sangue, —


sorrio para ela.

Considerando o estado de nossas roupas, parece que tomamos um


banho de sangue completo, não apenas um banho.

Mas como a companhia de hoje provavelmente não ficará ofendida


com a nossa aparência, não temos pressa em mudar.

— Hmm, — murmuro no cabelo dela. — Você parece tão deliciosa


agora que eu sei o que gostaria de fazer... — Eu digo sugestivamente.

— Festa primeiro. Outras coisas... — ela bate os cílios em mim, —


mais tarde.

— Você está me matando, hell girl, — eu reclamo.

Embora meus episódios tenham cessado depois que eu descobri a


verdade sobre a morte de Vanya, de repente não me tornei normal.
A sede de sangue ainda está lá, eu só tenho controle total sobre mim
agora.

E Sisi sabe muito bem o quanto eu amo ver ela no sangue. Uma
excitação para nós dois, continuamos nossa tradição com os banhos de
sangue pelo menos uma vez por mês.

Foi bastante simples. Escolhemos aleatoriamente alguns alvos de uma


lista de procurados e depois os matávamos até que a água do banho
estivesse totalmente vermelha. Então, nós apenas cedíamos aos nossos
impulsos animalescos em um acasalamento que geralmente nos deixa fora
de serviço por pelo menos um dia.

E olhando para as bochechas, tão lustrosa, a boca levemente


separada, eu sei que ela quer, anseia por isso.

Felizmente, antes que meus pensamentos possam dar uma guinada


bastante sombria, chegamos à casa de Bianca.

— Levou tempo suficiente, — diz Bianca assim que nos vê em pé na


porta. Mas um olhar mais atento e ela torce o nariz para nós. — Pelo amor
de Deus, vocês não poderiam tomar um banho?— ela balança a cabeça, nos
convidando para dentro e em direção ao banheiro.

— Há crianças por perto, — ela estreita os olhos para nós, como se


tivéssemos cometido a pior ofensa. — Pegue essas roupas e saia quando
estiver limpo. Sem sangue!— Ela exclama, enfiando algumas roupas em
nossos braços.

Ela não espera uma resposta enquanto se vira nos calcanhares,


retornando à área principal da casa.

Acho que a maternidade só a tornou mais irascível.

A festa está em pleno andamento, música tocando na casa.

E quando olho para Sisi, sua expressão confusa espelhando a minha,


nós dois começamos a rir.

— Esquecemos de lhe dizer feliz aniversário.

— Eu não acho que ela teria apreciado isso em nossos estados atuais,
— acrescento com ironia, abrindo a porta do banheiro e colocando as
roupas limpas em uma prateleira.

— Para uma assassina, ela é muito sensível quando se trata de


sangue.

— Ela sempre foi assim. Ela prefere mortes limpas. — Eu reviro os


olhos, porque onde está a diversão nisso.

— A perda é dela. — Sisi encolhe os ombros, desabotoando lentamente


o vestido e tirando.
— Mas você sabe o que isso significa?— Eu pergunto quando meus
olhos se fixam em seu corpo pecaminoso. Ela sabe o que está fazendo
enquanto remove sedutoramente a calcinha até que a carne nua esteja em
exibição.

E toda minha.

Em dois passos, estou atrás dela, minha frente se encaixava nas suas
costas enquanto lentamente movia meus dedos pelos ombros.

— Temos tempo para uma rapidinha, — sussurro em seu ouvido.

Sua respiração acelera, seu pulso aumenta quando eu continuo


acariciando sua pele.

— Foda-se, — ela murmura, o som de sua voz rouca indo direto para
o meu pau. — Eu estive esperando por isso o dia todo, — diz ela,
rapidamente se virando para me encarar.

— Hell girl, — eu gemo, quando sinto a mão dela se movendo pelo


meu peito antes que ela espalme nas minhas calças. — Eu ando com uma
ereção furiosa desde que você puxou a faca da garganta daquele homem, —
expiro, com a imagem se formando em minha mente novamente, — o
sangue jorrando e banhando você de vermelho... Hades no nono círculo do
inferno, mas eu teria fodido você ali em cima do cadáver dele se a polícia
não tivesse aparecido.
Ela ronrona com minhas palavras, o nariz inclinado para mim e me
cheirando, as mãos agarrando a bainha da minha camisa e puxando-a
sobre a minha cabeça.

— E eu adoraria isso, — ela responde quando seus lábios se fecham


sobre o meu pescoço, chupando e lambendo o caminho.

— Porra, — eu amaldiçoo, impaciente demais para esperar.

Agarrando-a pela nuca, eu a trago com força para perto de mim, todo o
desejo reprimido explodindo em um beijo. Abro a boca em cima da dela,
devorando sua própria essência quando sinto suas curvas se moldarem ao
meu corpo, minha ereção aninhada contra o estômago.

Seus dedos caem quando ela se atrapalha com meu zíper, puxando
minhas calças para baixo e envolvendo a mão em volta de mim.

— Sisi, — eu gemo com a sensação. — Eu preciso de você agora, —


digo a ela, minhas mãos vão para a bunda dela enquanto eu a levanto,
empalando-a no meu pau em um impulso rápido. Ela já está encharcada,
sua boceta me leva facilmente para dentro, seu calor forte enrolado em
mim e me recebendo em casa.

Ela geme profundamente na garganta, e eu a empurro contra a


parede, as costas batendo nos ladrilhos frios quando começo a bombear
para dentro e para fora dela.
Minhas mãos enrolam em sua caixa torácica, as pernas enroladas na
minha cintura, continuo a beijá-la cruelmente, assim como eu a empurro
agressivamente, deixando-a sentir o quanto ela me afeta, o quanto ela é
minha.

— Não acredito que durei até agora, — digo a ela entre respirações
severas.

— Eu também não, — ela choraminga. — Eu continuei apertando


minhas coxas no avião, — ela faz uma pausa em um gemido, — esperando
que você percebesse e... — ela grita quando eu bato em um lugar dentro
dela, — e me levasse. Porra, Vlad, mais forte, — ela me comanda e eu só
posso obedecer.

Seus olhos estão meio fechados, sua boca rosada se separa enquanto
ela mexe toda vez que avanço e recuo.

— Oh, eu notei tudo, — eu trago minha boca pelo seu pescoço, meus
dentes mordiscando a pele sensível, — mas eu sabia que uma vez que
começasse, não poderia ter parado até que eu estivesse de joelhos e
implorando por misericórdia. Nós nunca teríamos chegado aqui.

Ela sabe disso também. Se eu tivesse colocado uma mão embaixo do


vestido dela, teria terminado o jogo.

— Até isso é tortura, — continuo chupando com força a pele dela e


deixando minha marca. — É apenas um aperitivo.
— Hoje à noite, — ela geme, — eu preciso de mais, — ela prolonga o
som enquanto sua boceta se apega ao meu redor, suas pernas se apertando
ao redor do meu corpo quando ela goza.

— Hoje à noite, — repito, minha mão arrastando o corpo dela até


fechar os dedos sobre o seu pescoço. — Terei tempo para destruí-la.

Seus olhos rolam na parte de trás da cabeça enquanto ela se entrega


ao prazer, e isso por si só é suficiente para me deixar além do limite, meu
pau inchando ainda mais quando eu chego fundo na boceta dela.

— É uma promessa, — diz ela quando eu a abro.

Meu esperma está escorrendo pelo interior da coxa e eu o deslizo com


um dedo, trazendo-o para a boca. Os olhos dela em mim, ela se inclina,
chupando meu dedo.

— Eu quero que você toda seja marcada,hell girl. Quero que todos
vejam, cheirem e ouçam a quem você pertence, — sussurro enquanto me
inclino para ela, deixando outra mordida de amor no pescoço, para o caso
de aprimeira não ser visível o suficiente.

— Sim, — ela respira, mal mantendo o equilíbrio enquanto avança


em minha direção.

— Eu me pergunto se nossa anfitriã prefere gozo em vez de sangue, —


acaricio com ternura o rosto dela, — eu gostaria que você ficasse envolta
nele... — meus dedos escovam os mamilos e ela suspira, suas pupilas tão
dilatadas que engolem suas íris. — Sêmen pingando de cada centímetro da
sua pele...

— Hoje à noite, — diz ela naquele tom ofegante dela e já estou com
dificuldade novamente.

Mas ainda temos que sair do banheiro e nos misturar com os


convidados, então tomamos banho rapidamente, não podendo deixar de
transar com ela novamente, desta vez garantindo que minha semente
fique dentro dela para que me sinta toda vez que der um passo.

— Eu não sabia que você leva horas para tomar banho, — Bianca
arqueia uma sobrancelha quando finalmente saímos do banheiro.

— Havia muito sangue, — Sisi encolhe os ombros, sua expressão tão


genuína que você não pensaria em contradizê-la.

— Tanto faz, — estreitando os olhos, de repente, atrás de nós. —


Diana, não! Não é a faca, — ela grita antes de correr em direção à filha.

— Feliz aniversário, B, — eu chamo por trás, querendo garantir que


não esqueçamos o motivo de estarmos aqui.

Ela parece não ouvir e, enquanto supervisiona as crianças, começamos


a nos misturar com os outros convidados.
Acabamos esbarrando em Allegra e Catalina, atualmente muito
grávidas e no meio de uma discussão sobre criação de crianças.

— Vocês planejaram dar à luz ao mesmo tempo?— Sisi pergunta,


apoiando-se em mim.

— Não, mas de alguma forma aconteceu, — ri Allegra. — Pelo menos


eles terão alguém próximo em idade para brincar.

— Não acredito que você não está ficando louca com tantas crianças.

— Você se acostuma, — diz Lina antes de torcer o nariz, —


eventualmente.

— Quaisquer planos para você, Sisi?— Allegra pergunta


sugestivamente, e noto o leve rubor nas bochechas de Sisi.

— Em algum momento. Ainda estamos na fase de lua de mel, — ela


pisca, olhando para mim para confirmação.

— O que Sisi quer, ela recebe, — respondo, apertando a mão dela.

Tivemos longas discussões sobre o assunto e concordamos que, se


tivermos filhos, será mais tarde.

Eu disse a ela que estou prontopara ter um sempre que ela desejar,
mas ela respondeu que quer ter mais tempo para nós mesmos. No fundo,
acho que ela tem medo de ter outro aborto espontâneo como da última vez,
e sei que foi um dos períodos mais sombrios da vida dela. Se for esse o
caso, só posso estar lá por ela e apoiar sua decisão quando chegar a hora.

Porra, eu amo tê-la só para mim todos os momentos. Mas talvez um


pouco de Sisi correndo pela casa não fosse tão ruim.

Em algum momento.

— Por enquanto, ele é o suficiente, — diz ela suavemente, levantando


as pontas dos pés para me dar um beijo.

— Quando o fizer, vocês terão que nos ajudar. Tenho certeza de que já
sabemos todos os truques, — menciona Lina, divertida.

— Oh, especialmente quando se trata de criá-los, — Allegra franze os


lábios, balançando a cabeça. — Eles são todos monstrinhos fofos até
crescerem. É quando o verdadeiro pesadelo começa.

— Conte-me sobre isso, — suspira Lina, — Claudia está passando


pela puberdade e acho que nunca tivemos piores desentendimentos do que
agora.

— Vamos, Lina. Ela é uma ótima criança.

— Acho que ela está aprendendo com Venezia e sua rebelião


adolescente. Agora, essa é outra questão com a qual Marcello e eu estamos
lidando, — ela suspira. — Ela quer terminar o ensino médio em uma
escola pública.

— Seria tão ruim? Ela precisa de algum tipo de normalidade, Lina.


Você sabe que ela nunca teve amigos de fora, — comenta Sisi.

— Eu não sei... É disso que tenho medo. Ela é jovem e ingênua demais
para deixá-la sair sozinha no mundo.

— Ela precisa experimentar o mundo em algum momento. Pense nisso


como facilitando-a a isso.

Posso dizer que Sisi está um pouco irritada com a relutância delas
com Venezia.

Desde que reformamos a casa em Brighton Beach, Venezia se tornou


um elemento permanente, visitando quase semanalmente. Ela e Sisi
haviam desenvolvido um vínculo muito próximo e Sisi está tentando
convencer Lina e Marcello a dar-lhe um pouco de liberdade há um tempo.
Mesmo sem nenhum perigo surgindo no horizonte, Marcello não estava
muito entusiasmado em enviar sua irmãzinha para uma escola pública.

— Por que você não a deixa tentar por pelo menos um semestre?
Quem sabe, ela pode não gostar. Mas pelo menos deixe-a experimentar
sozinha, — continua Sisi.
— Vamos pensar sobre isso, — responde Lina, o máximo que ela
provavelmente está disposta a concordar. — Aliás, você ouviu falar de
Raf?— ela muda rapidamente de assunto.

Minha mão aperta imediatamente o ombro de Sisi em seu nome,


principalmente porque ainda estou amargo por ela quase se casar com ele.

— Não, — ela franze a testa. — Eles o encontraram? O que


aconteceu?

— Ele foi visto correndo com algumas pessoas do cartel. Marcello


recebeu uma nota sobre ele, mas... Ele não parece o mesmo Raf que você
conhecia, Sisi.

— O que você quer dizer?

— Ele é o braço direito do chefe. É um cartel, que apareceu


recentemente no mapa.

— Fenix, — acrescento sombriamente.

— Você sabe disso?— Sisi se vira para mim.

— Não exatamente. Eu sei sobre sua existência, mas como ela não
interfere nos meus negócios, nunca me aprofundei mais, — encolho os
ombros.
— Mas como ele poderia ter acabado com eles? Por que não voltar e
tomar seu devido lugar?

Pouco depois do misterioso desaparecimento de Rafaelo, Benedicto


havia se reerquido e morrido suspeitamente, deixando Michele no controle
de tudo dentro da famiglia.

— Michele colocou um preço em sua cabeça. Ele não pode pisar em


nenhum lugar da costa leste sem que todos os assassinos da região o
procurem, — respondo com tristeza.

Sisi vira o olhar afiado para mim, e eu sei o que ela está pensando.
Por que eu nunca contei a ela sobre isso?

Mas como eu poderia quando enlouqueci de ciúmes só de pensar nele?


Quando eu quero ir a uma matança quando alguém menciona seu nome?
Ele pode ser somente amigo dela, mas para mim ele é um lembrete de que
eu poderia tê-la perdido.

E não aguento esse pensamento.

As meninas continuam conversando enquanto eu fico rigidamente ao


lado de Sisi, tentando pensar em maneiras de me redimir com ela.

E quando ela me arrasta em um canto mais escuro da casa, onde a


música não é tão alta, sei que só tenho uma pequena janela de tempo para
defender meu caso.
— Antes de você dizer qualquer coisa, hell girl. Sim, eu sabia sobre a
recompensa em sua cabeça, mas não fazia ideia de que ele foi visto. Esse
cartel é ativo principalmente no Novo México, então não tinha motivos
para me aprofundar.

— Mas por que você não me contou? Nós compartilhamos tudo,— ela
responde e sinto a ligeira decepção em sua voz.

— Eu não gosto quando você fala sobre ele, — admito em voz baixa.
— É preciso tudo em mim para não entrar em uma raiva assassina quando
ele é mencionado.

— Vlad, — ela suspira, — ele é meu amigo. Ele nunca foi qualquer
coisa além de meu amigo.

— Eu sei. Mas não posso evitar, hell girl. O mero pensamento de que
você poderia ter se casado com ele me assombra agora. Eunão posso não
ter ciúmes, mesmo quando sei que não deveria estar.

— Seu animal bobo, — ela balança a cabeça, um pequeno sorriso


tocando nos lábios enquanto me dá um soco de brincadeira. — Você sabe
que é o único para mim, — ela murmura suavemente.

— Eu sei. Eu sei. — Eu sussurro contra o cabelo dela enquanto a


abraço para mim. — Mas isso não significa que vou parar de ficar com
ciúmes. Nunca.
Não quando eu sei que presente ela é, e que bastardo sortudo eu sou
para ela olhar na minha direção.

— Bem... — ela segue, — você tem sorte, às vezes eu gosto quando


está com ciúmes, — continua ela enquanto segue o dedo sobre o meu peito,
— quando você volta para um estado de homem das cavernas e tem seu
jeito perverso comigo.

— Porra, Sisi, — agarro a mão dela, minha respiração irregular


enquanto luto por um pingo de autocontrole. — Você está me deixando
louco.

— Agora não, — ela retruca o atrevidamente. — Hoje à noite.

— Hoje à noite, — repito sombriamente, já contando os segundos.

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