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selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e
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PREFÁCIO

Caro, leitor.

Antes de prosseguir, esteja ciente de que este livro trata de temas


extremamente sensíveis.

Como o título indica, religião, ou seja, a fé católica desempenha um


grande papel neste livro, e seu retrato não deve, sob qualquer
circunstância, ser interpretado como uma zombaria de seus princípios ou
práticas. Cosa Nostra (máfia italiana) e o catolicismo estão inerentemente
entrelaçados. As representações religiosas presentes neste livro são usadas
para mostrar como essas práticas podem ser distorcidas para atender a
certas necessidades. Cosa Nostra opera sob um código de honra, e a Igreja,
com seus princípios intrínsecos, se encaixa dentro desse código de honra.
Essas considerações são apenas uma frente para a máfia e ajudam a
justificar ações que, de outra forma, seriam consideradas imorais.

AVISO DE GATILHO: abuso de animais, tentativa de estupro,


sangue (gore), abuso infantil, morte, termos depreciativos, abuso
doméstico, armas, violência gráfica extrema, situações sexuais gráficas,
situações incestuosas, sequestro, aborto espontâneo, assassinato,

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automutilação, suicídio, estupro descritivo, situações religiosas
desconfortáveis, representações de extremas tortura.

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PRÓLOGO

Dez anos atrás

Com os dedos trêmulos, aperto minha barriga. Há uma vida crescendo


dentro de mim. Uma vida que me foi forçada... Um soluço destrói meu
corpo quando me lembro de seus dedos gelados em mim. Imediatamente
me levanto e vou direto para o banheiro, esvaziando o conteúdo do meu
estômago. Depois de me recompor um pouco, passo para o espelho e
examino minha figura.

Já existe uma protuberância onde uma barriga lisa já esteve. Em


breve, não poderei esconder minha condição.

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Não quero pensar no que meu pai fará quando descobrir. Não importa
o que aconteça, esta criança não é culpada de nada, e pretendo protegê-la
com minha vida. É por isso que tenho esperado meu tempo para que seja
impossível fazer um aborto.

Já se passaram cerca de cinco meses... cinco devem garantir que meu


bebê esteja ileso, não?

Eu endireito minha espinha e desço as escadas antes que minha


determinação desapareça. Vou direto para o escritório do meu pai, e bato.

— Entre. — Ele late, e eu entro. Minha mãe e Enzo também estão lá,
e espero que talvez eles me ajudem.

— Catalina, que surpresa. — Meu pai me olha de um lado para o


outro em desgosto. Ele já sabe sobre o incidente. Eu estava desaparecida
há dois dias inteiros e, para uma criança de dezessete anos protegida,
fazer isso... Eles já sabiam o que esperar quando me encontraram. Desde
aquele momento, meu pai me declarou mercadoria danificada.

Não sei como consegui esconder a gravidez até agora, dadas as


circunstâncias, mas talvez tenha sido uma pequena misericórdia no
esquema de todas as coisas.

— Fale! — Ele exige, e minhas mãos começam a se mexer na minha


frente.

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— Eu estou grávida. — Eu sussurro, e minha cabeça cai, não
querendo encontrar o seu olhar. Só ouço um barulho estridente antes que
meu corpo seja apoiado à força contra a parede. Meu pai está com a mão
na minha garganta, os olhos brilhando de fúria.

— Você está grávida... — Ele dá uma risada sem alegria. — E você


percebeu apenas agora garota estúpida?

— Quero mantê-lo, — digo, esperando que minha voz tenha poder


suficiente. Ele me dá um empurrão e eu caio de joelhos.

— Ela quer ficar com ele. Você ouve isso? — Ele está rindo agora, uma
risada maníaca que me faz estremecer. — Depois de tudo o que fiz por
você, e é assim que me paga, garota? Eu poderia ter encontrado um marido
para ignorar sua falta de virtude, mas um bastardo. Ninguém vai te
querer agora.

— Por favor... — Eu sussurro, sem saber exatamente o que estou


pedindo.

— Fora! Saia! Se você não tem utilidade para mim, pode muito bem
desaparecer da minha vista.

— Mas papa... — eu começo, em pânico. Tenho dezessete anos e estou


grávida. Como posso sobreviver sozinha nas ruas?

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— Pai, acho que tenho uma solução melhor. Uma que também não
manchará nosso nome. — Enzo interrompe, seus olhos se virando para
mim e me pedindo para ficar quieta.

— Fale!

— Podemos mandá-la para Sacre Coeur. Ela pode dar à luz lá e viver
com as freiras. Se alguém perguntar, podemos dizer que ela tinha
inclinações religiosas, e não podíamos resistir ao seu caminho justo. Então
nosso nome não sofrerá mácula, mas também seremos elogiados por nosso
espírito católico. — Enzo explica, e meu pai considera isso por um minuto.

— Tudo bem. Mas ela nunca mais voltará. De agora em diante, ela
não é mais minha filha. — Ele declara, e só posso suspirar em alívio.

Eu estarei segura.

Meu bebê estará seguro.

Enzo vem até mim, me ajudando a levantar.

— Calma, Lina. Te peguei. — Ele sussurra perto do meu ouvido, e a


tensão nos meus ombros é subitamente liberada. Eu me deixei apoiar nele
enquanto me ajudava a sair do escritório e para o meu quarto.

— Você deve começar a arrumar alguns itens essenciais.

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— Obrigada, Enzo. Obrigada! — Eu me arremesso em seus braços. —
Você não apenas me salvou, mas também salvou meu bebê. — Seus braços
se apertam ao meu redor.

— Este é apenas o começo da estrada, Lina. Você tomou uma decisão


que afetará toda a sua vida, mas não posso dizer que culpo você. — Ele
balança a cabeça com tristeza.

— Pelo menos estarei com meu filho... e segura, — acrescento, um


arrepio passando pelo meu corpo ao pensar naquele homem com os olhos
âmbar.

— Eu vou ter certeza disso piccola. Quando me tornar Capo, me


certificarei de devolvê-la ao seu devido lugar. Apenas... espere por mim. —
Ele beija minha testa e sai.

Um convento...

Qualquer coisa é melhor do que permanecer neste covil de víboras.

Eu tenho alguém para proteger agora.

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Dois meses depois

Eu não esperava que Sacre Coeur fosse assim... sagrado. Tentei


interagir com algumas freiras e noviças, mas elas são frias comigo, como se
estar grávida fora do casamento fosse o maior pecado do mundo. Depois de
ser repreendida muitas vezes, parei de tentar. Elas me deram meus
próprios aposentos na forma de um quarto individual pequeno e árido. Não
é muito, especialmente para uma futura mãe, mas elas me disseram que
eu já tinha sorte de não ter uma companheira de quarto. De alguma forma,
duvido que tenha sido minha sorte, ou melhor, ninguém queria
compartilhar um espaço com uma pecadora.

Eu cuidadosamente arrumo minha cama antes de sair para o café da


manhã. Como sempre, todas as mulheres me dão olhares gelados, então eu
pego minha bandeja e vou em direção à parte de trás do refeitório. A
comida que elas servem não é a melhor..., mas acho que neste momento
não posso ser exigente. Eu tenho um teto sobre minha cabeça e fico com
meu bebê. Nada mais importa. Vou me acostumar com os padrões em
algum momento.

Cuidando do meu próprio negócio, fico surpresa com o som de metal


deslizando contra a minha mesa. Eu levanto minha cabeça uma fração e
vejo uma garotinha olhando para mim hesitante.

— Posso sentar aqui? — Ela pergunta com uma voz calma, incerteza
escrita em todo o rosto.

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— Claro. — Eu respondo imediatamente. Ela me dá um sorriso
hesitante e senta-se em silêncio diante de mim.

Ela é jovem, provavelmente com cerca de oito ou nove anos de idade.


Ela está vestindo um uniforme azul escuro, semelhante às outras garotas
da sua idade. O cabelo dela é tão loiro, quase branco, o que é contrastado
pelo tom de pele de oliva. Uma combinação muito incomum. Seus olhos, no
entanto, são o tom mais leve de marrom que eu já vi na minha vida. Ela
tem características impressionantes e, sem dúvida, quando adulta será
uma maravilha. Mas também há outra coisa. Um círculo vermelho
manchado estraga a pele do lado direito, espalhando-se do topo da
sobrancelha e entrando na linha do cabelo.

Percebo seu sorriso apertado tremendo um pouco na minha leitura e


percebo que estava olhando. Dou-lhe um aceno suave, esperando aliviar
seus medos de não a julgar por sua aparência.

Nós comemos em silêncio e não posso deixar de ouvir vozes silenciosas


ao nosso redor, algumas delas mencionando a prostituta de Satanás e a
filha do diabo. Claro que sei de quem elas estão falando. A garota na
minha frente provavelmente é igualmente marginalizada.

— Qual é o seu nome? — Eu pergunto.

— Assisi. — Ela responde depois de mastigar sua comida e engolir.

— Eu sou Catalina.

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Ela não responde, mas suas feições parecem mais relaxadas.

Depois de terminar minha comida, levanto-me para guardar minha


bandeja. Assisi imediatamente se levanta de seu assento também e me
segue.

— Eu posso ir também? — Ela pergunta com a mesma voz calma. Eu


franzo a testa.

— Onde?

— Onde quer que você esteja indo. — Ela encolhe os ombros um


pouco. Um olhar em volta e eu posso ver como as outras mulheres a
encaram. Pobre criança...

— Claro. — Eu digo e para mostrar a ela que está segura comigo, eu


pego sua mão. Ela parece um pouco surpresa com o contato, mas em vez de
se esquivar, ela se encaixa mais perto do meu corpo.

Eu mostro a ela meu quarto e ela se maravilha com o fato de eu morar


sozinha. Ela me diz que seus quartos de dormir têm dez camas sempre
cheias. Estou surpresa com isso. Certamente isso não pode ser legal. Não
comento, no entanto, pois está claro que tudo isso é conhecido por Assisi.

Sentindo alguma dor na parte inferior das costas, vou para a cama
descansar um pouco. O olhar de Assisi está focado na minha barriga, e ela
está franzindo a testa.

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— Por que sua barriga é tão grande? — Ela finalmente pergunta.

— Estou esperando um bebê. — Os olhos dela se arregalam.

— Um bebê? — Chegando para o meu lado, ela olha para o meu


inchaço maravilhada. — Aí?

Eu aceno, pegando a sua mão e colocando-a na minha barriga. Nesse


momento, minha filha decide chutar. Assisi retira a mão, uma expressão
chocada no rosto.

— Como o bebê mora aí? — Ela pergunta, quase horrorizada.

— É uma garota. E ela mora aqui através de mim. — Eu tento o meu


melhor para explicar a biologia a uma criança, quase esquecendo que
também não sou muito mais velha que uma. Tive sorte de Enzo não ter as
mesmas opiniões conservadoras que meu pai. Ele me marcou um
ginecologista para verificar a saúde do meu bebê antes de me mudar para
Sacre Coeur. Eu descobri que estava carregando uma garota saudável e
consegui ouvir o batimento cardíaco dela.

— Então você será mãe? — Ela pergunta, trazendo a orelha para o


meu inchaço e tentando ouvir os sons do bebê.

— Sim. — Eu respondo, não fazendo muito da pergunta dela. Ela


levanta a cabeça lentamente, os olhos abatidos.

— Eu nunca tive mãe. — Ela sussurra. — Ela não me queria.

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—Querida. — Pego a sua mão e aperto, tentando oferecer-lhe meu
conforto.

— Você pode ser minha mãe também? — Seus lindos olhos estão
cheios de esperança enquanto ela olha para mim.

— Querida, eu não posso ser sua mãe. — Eu começo, e o rosto dela cai
imediatamente. — Mas eu posso ser sua irmã. — Eu adiciono
rapidamente.

— Mesmo?

— Sim.

— Obrigada. — Ela me pega em seus braços e me dá um abraço. Meus


braços contornam seu corpo pequeno e eu seguro.

Nós duas estamos no mesmo barco agora.

Indesejadas.

Odiadas.

Mas pelo menos não estamos mais sozinhas.

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PARTE UM

Lasciate ogne speranza, voi ch'entrate 1

- Dante Alighéri, Inferno Canto III

1 Abandonem toda a esperança, vocês que aqui entram.

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CAPÍTULO UM

Presente

Eu estive sentado no túmulo de Tino pelo que parecia uma eternidade.


Dez anos... eu não o via há dez anos. E agora ele está morto. Nesta vida,
tive muitos arrependimentos. O que há mais para adicionar a coleção?
Com um último olhar, levanto-me para sair.

Não muito longe, eu vejo Vlad, com as mãos nos bolsos, esperando por
mim.

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— Vlad. — Eu inclino a cabeça, sabendo que a presença dele aqui não
vai me trazer boas notícias.

Eu pensei que com Jimenez morto, tudo terminaria. Eu estava errado.


Tudo está apenas começando.

— Capo Lastra. — Ele sorri para mim, e meu lábio se contrai de


aborrecimento.

— O que você quer? — Eu pergunto.

— Você precisa recuperar sua posição, meu amigo. A guerra está


chegando. — Eu zombei da escolha de palavras dele.

— Não estava interessado há dez anos, não estou interessado agora,


— respondo e passo por ele.

— E as suas irmãs? — Ele pergunta, e eu paro no meu caminho,


virando um pouco.

— O que tem elas? — Tenho duas irmãs, Assis e Venezia. Ambas


jovens... jovens demais para saber sobre a crueldade do mundo.

— Elas serão um alvo para quem procura legitimidade. Ainda não é


da sua conta?

— Elas vão conseguir. — Eu minto, sabendo que não há como elas


conseguirem.

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Havia uma razão pela qual deixei essa vida para trás há uma década.
Eu tinha feito algumas coisas que até agora me impediam de dormir à
noite.

— Você sabe que elas não vão. Venezia tem o que... quinze anos? —
Vlad pergunta casualmente, e eu tenho que cerrar os dentes.

Ela era uma criança pequena quando eu saí. Eu mal me lembro dela.
Mas ele está certo. Elas serão um alvo fácil se eu não intervir.

Por mais que eu queira fingir que as últimas semanas não


aconteceram, que ainda sou Marcel Lester e que Tino ainda está vivo e
bem... não posso.

— Vou me mudar para casa em breve. — Eu cedi.

— Eu sabia que você veria a razão. — Vlad sorri para mim. — Os


Gallaghers já fizeram seu primeiro movimento. Você sabe o que tem que
fazer.

— Eu sei. Vou passar por Enzo e fazer as pazes com ele, agora que
sabemos quem realmente matou Romina.

— Eu não estava falando sobre isso... — Vlad levanta os olhos para


olhar para mim. — Você precisará consolidar uma aliança. Casamento.

— Venezia é muito jovem, e Assisi em breve fará seus votos. — Eu


adiciono imediatamente.

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— Eu não estava falando sobre elas.

— Eu não posso me casar. Você de todas as pessoas deve saber o


porquê. — Eu enfatizo. Meu passado me sujou. Não posso nem suportar o
toque de uma mulher sem recuar com nojo.

Eu nunca poderia casar.

— Você deve. É o único caminho. — Vlad insiste.

— Há apenas uma mulher que eu consideraria casar. E ela se foi. —


Levanto a cabeça e fecho os olhos por um segundo, conjurando o rosto dela.

— Exatamente. Ela se foi. O que significa que você deve se casar com
quem Enzo propõe. Você precisa perceber que os tempos estão mudando. —
Vlad está sendo mais forte do que eu já o vi.

— Não vou me esquivar da minha responsabilidade... nem que seja


pelas minhas irmãs.

— Pode ser um casamento apenas no nome. Isso já foi feito antes. —


Ele acrescenta, e eu resmungo.

Um casamento apenas nominal é o único casamento de que sou capaz.

— Se é tudo... — Eu digo e faço menção de sair.

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— Não. — Vlad empurra um arquivo na minha frente. Eu franzo a
testa.

— O que é isso? — Eu pergunto, imaginando o que mais Vlad tem


debaixo da manga.

— Sua primeira tarefa como Capo. — Peguei o arquivo e o abro.

É um relatório do FBI, documentando assassinatos em série. Folheio


as páginas e sinto um nó apertando meu estômago.

— Há quanto tempo você sabe? — Eu pergunto, minha voz tremendo


de alarme.

— Tempo suficiente. — Ele encolhe os ombros e depois aponta para a


última página.

5 de maio - Filadélfia

— Este é o mês passado, — digo, olhando para os detalhes horríveis.

O assassinato é o de uma família com dois filhos. As imagens são


grotescas, mostrando adultos com os membros plantados das crianças e
vice-versa.

— Isso não pode ser Chimera, — digo com confiança.

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— Você está certo. Mas se não é Chimera, quem é? — Vlad franze os
lábios. Eu desvio o olhar e respiro fundo.

Nossos pecados sempre nos alcançam. E os meus estão me


perseguindo terrivelmente por muito tempo.

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CAPÍTULO DOIS

Cinco Anos

— Eu posso mantê-lo, não posso? — Eu olho para a expressão


desinteressada da mãe, implorando silenciosamente para que ela diga sim.
Com a mãe, você nunca sabe o que vai conseguir. Às vezes acho que ela
está de bom humor, mas apenas pedir um abraço pode desencadeá-la. Da
última vez, não foi bonito. Eu machuquei meu joelho e queria algum
conforto... Não sei porquê. Às vezes eu só quero um contato humano. Ela
disse que sim, inicialmente, mas um segundo depois ela me empurrou e me
jogou no chão, dizendo que é pecado um filho tocar sua mãe.

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Ela é imprevisível assim. Mas aprendi a me manter fora da sua
presença, principalmente porque não quero ser repreendido por pecar o
tempo todo. Eu nem entendo exatamente o que é pecado, mas a mãe diz
que eu peco. E considerando a sua reação, deve ser realmente ruim.

Talvez eu cometa pecado..., mas por que ela não pode me ensinar como
não fazer mais isso? Se não ela, então não sei mais quem. Meu irmão tem
vinte anos... Eu acho que é muito. Mas ele não gosta de falar comigo.
Geralmente apenas acena para mim e sai. E meu pai... Fico simplesmente
feliz quando ele não me nota. Honestamente, eu queria aprender como não
pecar por um longo tempo. Minha mãe diz que se eu não parar agora, vou
pecar ainda mais quando crescer.

Não quero pecar quando crescer. Eu quero ser normal... E talvez se eu


não pecar, a mãe também gostará de mim.

— Certo. — Ela dá uma olhada no filhote nos meus braços e encolhe


os ombros. Tínhamos acabado de voltar de uma reunião de pais e
professores no meu jardim de infância quando vi uma pequena bola de pêlo
do lado de fora da minha escola. Eu o aninhei na minha jaqueta e dei algo
para comer. Todo esse tempo eu estava esperando com preocupação,
pensando que ela diria que não. Mas ela concordou. Não posso deixar de
sorrir com o pensamento, abraçando o corpinho peludo mais perto do meu
peito.

Eu acho que o filhote gosta de mim. E agora, como a mãe diz que eu
posso ficar com ele, não ficarei mais sozinho. Eu vou ter um amigo.

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Eu sempre quis um amigo. Outras crianças no jardim de infância têm
amigos, mas nunca falam comigo. Disseram-me que seus pais os
advertiram para não se tornarem muito amigáveis comigo porque meu pai
é um homem mau. Eu sei que meu pai é ruim, mas não sou. Eu tentei
dizer isso a eles. Às vezes peco, mas tento ser um bom garoto. Pelo menos
para não irritar a mãe. Mas eles me ignoraram.

Mãe revira os olhos para mim e me leva em direção ao nosso carro,


onde o motorista está esperando por nós.

O caminho para casa não demora muito, mas a mãe continua


segurando o colar cruzado na mão e sussurrando alguma coisa. Eu tento
não pensar nisso, já que ela é assustadora quando está sussurrando coisas.

Quando chegamos em casa, saio correndo do carro, levando o filhote


comigo. Não quero esperar para que a mãe mude de ideia, ou pior, ela ter
um de seus ataques. Eu imediatamente corro para o meu quarto e fecho a
porta.

Nossa casa é enorme. Às vezes me perco, mas tento não vagar muito.
O pai já me disse para não ir aonde eu não deveria. Meu quarto fica no
terceiro andar, mas sou o único que resido aqui e é um pouco assustador.

Meu irmão, Tino, ficava aqui também. Agora, ele raramente está em
casa. Mas sempre me traz uma barra de chocolate quando vem. Eu gosto
disso... mesmo que ele não fale comigo, pelo menos se lembra que eu existo.

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Tentei descer uma vez, mas algumas áreas são proibidas,
especialmente o porão. Estou realmente curioso. Estou curioso desde que
ouvi algumas empregadas falarem sobre isso. Elas também não são
permitidas lá. Certa vez, tentei ir ao porão, mas homens de meu pai me
pararam.

O pai tem muitos homens obedecendo às ordens, e eles estão sempre


em casa. Ele me disse que há monstros no porão e que podem me
machucar. Não sei por que, mas não acredito nisso. Se existem monstros
lá, por que eles podem ir? Os monstros também não os machucam? Ou
talvez os monstros prefiram crianças... Não sei, mas acho que não quero
arriscar.

E não é apenas o porão. Também não tenho permissão no primeiro


andar. É onde pai e mãe moram. Mamãe me disse que nunca quer me
pegar lá, ou eu me arrependeria. Ela não disse nada sobre monstros, no
entanto. Mas seria estranho se eles vivessem com monstros, não? Como
eles poderiam sobreviver a isso? A menos que sejam monstros também.
Mas eu sei que não são. Porque se eles fossem monstros, eu também seria
um monstro. E eu não sou... Pelo menos acho que não. Sei que minha mãe
diz que peco muito, mas não acho que seja tão diferente de outras crianças.
Eu simplesmente não tenho amigos.

Desabotoo minha jaqueta e tiro cuidadosamente o filhote para colocá-


lo no chão. Ele olha para mim com olhos arregalados, e não posso deixar de
sorrir para ele. Ele dá um pequeno latido e depois corre pelo quarto,
inspecionando cada canto. Seu corpo é tão pequeno que seu pêlo tem um

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tom quente de marrom. Enquanto o observo correndo energicamente pela
minha cadeira, penso em um nome.

Ele deveria ter um nome.

Ele late algumas vezes para mim, e presumo que queira atenção. Eu o
pego novamente e o acaricio com minha bochecha. É quando eu cheiro algo
ruim. Não sei o que é esse cheiro, mas o filhote cheira a ele. Provavelmente
porque ele mora nas ruas.

— Vamos limpar você! — Eu digo a ele. Ele balança a cabeça e coloca


o nariz contra o meu pé, como se me entendesse. Talvez ele entenda.

— Você se sentirá melhor limpo. Eu sempre me sinto. — Abro a porta


do banheiro e, como não consigo alcançar a pia, deixo o filhote na banheira.
Tiro minhas próprias roupas, dobrando-as para que não se molhem antes
de me juntar a ele lá dentro.

Colocando a temperatura da água quente, esfrego o filhote de


cachorro, ensaboando uma boa quantidade de xampu no pêlo e lavando-o
bem. O filhote não parece muito feliz e tenta pular da banheira algumas
vezes. Eu franzo a testa para ele e tento dizer em tom severo que ele não
pode fazer isso.

De alguma forma, ele deixa de ser tão inquieto, e isso ganha um


sorriso de mim. Acho que consegui um filhote amigável.

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De volta ao nome... Fico pensando nisso enquanto o limpo, e apenas
uma coisa vem à mente. Ele será meu primeiro amigo... meu primeiro
amico2. É por isso que o nome dele deveria ser Amico.

Satisfeito, pego uma toalha e tento secá-lo antes de fazer o mesmo em


mim. Amico sai correndo do banheiro antes de terminar.

Tento me apressar o máximo que posso e, quando o alcanço, o tomo


nos braços.

— A partir de agora, seu nome é Amico.

Eu não acho que o pai o aprovaria.

Não estou preocupado que a mãe lhe conte, já que ela provavelmente
já se esqueceu disso. Nos dias depois de adotar Amico, vejo a mãe apenas
algumas vezes em casa, mas ela não me nota. Está tudo bem embora.
Geralmente é assim. E como ela toma a maioria de suas refeições em seu
quarto, não há realmente nenhuma razão para nos encontrarmos.

As empregadas também gostam de Amico, e às vezes escondem


comida para ele. Um deles até lhe deu guloseimas para cães. Eu me sinto
mal, já que não posso comprar comida de cachorro de Amico, e ele
geralmente fica com minhas sobras. Mas ele ainda não reclamou.

2 Amigo, em italiano.

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Fazia três dias agora que tinha Amico e não sei como consegui antes.
É tão diferente ter alguém com quem conversar, mesmo que Amico não
possa responder. E ele é tão brincalhão... está sempre com vontade de
correr.

— Signorino Marcello, — Amelia, uma empregada, me chama do


corredor. Ela é uma das poucas que me pergunta como estou. Eu sei que é
o seu trabalho, mas é bom.

— Melia. — Eu vou até ela e olho para cima, curioso por que ela quer
falar comigo. Amico está aninhado em meus braços e faz um pequeno
barulho. Ela olha para o filhote com uma expressão quase triste.

— O Signor está em casa. Seja cuidadoso. — Ela diz em tom abafado,


antes de ir para as escadas e voltar ao trabalho.

Suspiro profundamente, já desconfortável com o pensamento. Eu


imaginei que o pai ficaria fora por muito mais tempo. Ele raramente chega
em casa.

Volto ao meu quarto para deixar Amico, esperando que o pai retorne
rapidamente aos seus negócios, como de costume. Não sei o que acontecerá
se ele descobrir que trouxe um cachorro para casa. Ele tem regras rígidas...

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Abro a porta e me abaixo para pegar Amico. Ele mal sai das minhas
mãos quando corre de volta para o corredor e desce as escadas.

— Não... — Meus olhos se arregalam de horror e corro atrás dele. Eu o


vejo pulando algumas escadas e faço o mesmo, tentando alcançá-lo. Mas
ele é menor e mais rápido que eu. Ele corre para o segundo andar, e eu
estou horrorizado.

Não... é o primeiro andar. Eu corro ainda mais rápido depois dele,


precisando pegá-lo antes... antes...

Amico grita de dor. Paro, meus olhos se erguendo, assumindo a forma


do pai enquanto ele segura Amico pela nuca de uma maneira
desagradável. Ele zomba do nariz para ele antes de finalmente me olhar.

Tento mascarar meus sentimentos, tendo aprendido que o pai


despreza a fraqueza acima de tudo. Sua boca se enrola em meio sorriso
retorcido, sorrindo para mim.

— Isto é seu, garoto? — Ele me pergunta da maneira habitual e


descontraída. Eu só posso concordar.

— Palavras, garoto, palavras. — O tom dele está cortado desta vez, e


eu estou quase com medo de irritá-lo.

— Sim, Senhor. É meu. — Eu respondo. Ele ri por um segundo antes


que suas feições fiquem em branco. Ele vira as costas para mim e vai para
o final do corredor, Amico ainda em seu aperto.

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Eu não deveria estar neste andar...

— Senhor? — Tenho coragem de perguntar, hesitando em dar um


passo à frente.

— Siga-me. — Sua voz cresce no corredor vazio, e eu me mexo.


Continuo a andar atrás dele, tentando controlar meus membros trêmulos
para que ele não perceba o quanto estou com medo. Amico é tudo o que
importa agora.

O pai se aprofunda na ala, e é uma área que nunca vi antes. Ele


finalmente para na frente de uma porta e a abre descuidadamente,
entrando. Eu faço o mesmo.

É uma sala escura, iluminada apenas pelo milhão de velas ao redor


das paredes. Há uma parede cheia de cruzes. À sua frente, há uma mesa
que abriga algum tipo de caixa. A mãe está no chão ajoelhada, a frente
dobrada em direção à mesa, um lenço preto cobrindo o rosto. Ela está
sussurrando alguma coisa.

Não gosto quando ela está sussurrando.

— Liliana. — No momento em que a mãe ouve a voz do pai, ela corre


de volta, batendo na mesa.

— Giovanni... O que você está fazendo aqui? — Ela tenta


valentemente sorrir, mas está com tanto medo quanto eu.

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Pai levanta a mão segurando Amico e o sacode na sua cara.

— Quer me dizer o que é isso?

— Eu... — Ela começa, mas franze a testa, os olhos se movendo do pai


antes de se estabelecer em mim. Seu rosto está em uma profunda carranca
quando se dirige a mim. — Eu não te disse não?

— Mas... — Ela disse que sim... ela disse.

— Então você desobedeceu a sua mãe? — Pai imediatamente assume,


olhando para mim.

— Não... — Eu sussurro, mantendo meu olhar baixo, sem saber como


responder. Qual é a resposta correta? Se eu disser que a mãe me deixou
ficar com ele, eu a colocarei em problemas. Mas se eu disser que
desobedeci... O que vai acontecer comigo?

— Fale! — Pai comanda.

— Eu... Eu queria um amigo. — Admito, esperando que essa resposta


seja boa.

Não é.

— Você queria um amigo? — A voz do pai toma um tom sinistro


enquanto ele ri de mim. Eu mantenho minha cabeça baixa. Ainda vejo pelo
canto do olho Amico lutando no aperto do pai. Ele deve estar sofrendo.

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— Amico... — Eu olho para cima quando o pai de repente joga o filhote
nos meus pés. Amico! Eu imediatamente mexo, levantando Amico em
meus braços e tentando confortá-lo da melhor maneira.

— Ele queria um amigo... Ele até o nomeou Amico. — Pai balança a


cabeça, olhando para a mãe desta vez... Seu rosto está em branco enquanto
ela olha para o filhote.

— Resposta errada, garoto. — Pai dá um passo em minha direção, a


mão vai direto para a gola da minha camisa. Ele me enrola mais perto
para que seu rosto esteja bem na minha frente.

— Existem apenas duas respostas. Ou sua mãe lhe disse que não, e
você desobedeceu. Ou sua mãe lhe disse que sim, e ela está mentindo. Qual
é? — Mãe tem um olhar de horror no rosto enquanto ouve o pai falar, e
acho que ela teme o que a espera se eu escolher a segunda opção. Então eu
não faço. Eu escolho o primeiro.

— Eu desobedeci. — Eu sussurro.

— Bom. Estamos chegando a algum lugar. Você desobedeceu porque


queria um amigo. — Ele não solta minha camisa, e seu olhar sério se
instala em mim. — Você precisa ser punido, garoto.

Eu aceno, porque o que mais posso fazer? Eu sabia no que estava me


metendo... Eu sabia e, no entanto, arrisquei.

morally questionable
Ele se move de repente e eu vacilo, fechando meus olhos. Eu esperava
que ele me batesse.

Ele não faz.

Abro lentamente um olho para ver o pai me considerar pensativo.

— Eu tenho apenas o castigo certo para você, garoto. Um que te fará


lembrar a nunca mais desobedecer.

Ele casualmente caminha para a mesa atrás de minha mãe, pegando


uma cruz... ou o que parece uma cruz, porque uma extremidade é afiada. O
pai testa o afiamento da lâmina e estou tremendo de medo. Ele vai me
cortar?

Eu instintivamente me enrolo em uma bola, abraçando meus joelhos e


segurando Amico no meu peito.

— Então, garoto. Você tem uma escolha. Você aceita seu castigo ou
devo acreditar que sua mãe mentiu. E se ela mentiu... — O seu olhar se
desvia para ela, e ela está petrificada.

Eu lentamente me solto.

— Eu aceito meu castigo, Senhor. — Eu digo devagar e espero meu


castigo.

morally questionable
— Não é assim tão fácil. Seu castigo será livrar-se da praga que você
está carregando. — Ele se move em direção a Amico, e meus olhos se
arregalam na compreensão.

— Não... — Eu sussurro e tento me arrastar para longe dele.

— Não? — ele pergunta, divertido. — Tudo bem. — Ele encolhe os


ombros, levanta-se e se vira para minha mãe. Mesmo estando
aterrorizada, ela não se move de seu lugar. Ela calmamente vira as costas
para o meu pai e abre o vestido para que caia no meio do caminho. Eu nem
vejo o pai se movendo para pegar um pedaço de corda. Meu olhar está
preso nas costas da mãe. Mesmo com a pouca iluminação da sala, posso ver
que a pele dela está mutilada, quase nenhuma polegada de pele sem
manchas. Ela já sofreu disso.

Quando o pai está prestes a bater nas costas, eu grito.

— Eu vou fazer isso. — Minha voz está tremendo. Não sei o que me
fez escolher poupar a mãe, quando sei que ela nunca teria feito o mesmo
por mim. Mas eu fiz. Meus olhos vão para Amico, que está olhando para
mim com seus grandes olhos de cachorrinho. Sinto as lágrimas nos meus
olhos ao perceber o que escolhi.

O pai vem ao meu lado novamente e coloca a faca na minha mão,


envolvendo meus dedos em volta dela.

— Para uma morte rápida, você sempre vai para a jugular. — Ele
menciona.

morally questionable
Eu fico olhando para Amico, tentando me convencer disso. Sei que
estou hesitando quando disse que faria, mas não sei se posso.

— Liliana, não se vista ainda. — Pai diz com um pingo de aviso em


sua voz.

Minha mão está tremendo incontrolavelmente enquanto trago a faca


na garganta de Amico. Pai cobre minha mão com a sua.

— Faça! — Ele comanda, seu aperto aumentando em um grau


doloroso. Ele guia minha mão e com um golpe da faca, sangue jorra da
garganta de Amico, fluindo pela minha mão e cobrindo minhas roupas.

Eu não consigo me mexer. Eu apenas fico lá, vendo Amico lutar por
um segundo, antes de morrer — pelas minhas mãos.

Pai ri disso.

— Talvez eu ainda possa fazer algo de você. — Ele acrescenta antes de


sair e fechar a porta atrás dele.

Estou embalando o corpo morto de Amico em meus braços, finalmente


deixando as lágrimas fluírem. Na minha cabeça, continuo pedindo perdão,
sabendo que não há ninguém para conceder.

Devo ter ficado assim por um tempo, balançando para frente e para
trás com o corpo de Amico, implorando silenciosamente que ele me perdoe,
quando a mãe de repente me empurra para o chão.

morally questionable
Eu caio de costas e minha atenção finalmente se fixa nela. Ela tem um
olhar enlouquecido segurando uma garrafa na mão e uma cruz na outra.

— Limpar... deve limpar o pecado. — Ela continua repetindo enquanto


me pulveriza com a água e me bate com a cruz. Eu tomo uma postura
defensiva, e ela bate principalmente nos meus braços e pernas.

Não sei quando ela para de fazer isso, ou como acabo no quintal,
coberto de sangue e hematomas e tentando dar a Amico um enterro
adequado.

Mas há uma coisa que aprendi naquele dia.

Eu sou um monstro.

Eu sou um pecador.

E não há redenção.

morally questionable
CAPÍTULO TRÊS

Presente,

À frente da mansão Lastra, tenho que me apoiar nas memórias


indesejadas que se apressam. Eu nunca pensei que teria que voltar aqui —
nunca mais. Quando finalmente escapei desta vida, decidi que era para
sempre. Eu deveria saber que alguém como eu nunca pode fugir
completamente.

morally questionable
Já faz uma semana desde a morte do meu irmão. Eu tenho que ser
honesto comigo mesmo. A morte de Tino me atingiu com força. Mais difícil
do que o esperado, considerando que nunca estivemos perto. Ele me fez o
maior favor, no entanto, e assim ganhou meu respeito e minha lealdade.
Engraçado, como eu fui pego entre essa lealdade e minha amizade com
meu melhor amigo, Adrian, a quem acabei traindo.

E por minha causa, ele agora está deitado em uma cama de hospital,
incerto se vai acordar. Bianca, sua esposa, me proibira de visitar. Dado o
que eu fiz, eu mereço isso. Ainda... dói não estar ao lado do meu amigo
quando ele precisa de mim. Mesmo tendo causado danos irreparáveis ao
nosso relacionamento, ainda espero que um dia eu consiga fazer as pazes.

Algum dia.

Já suando, tiro o casaco e dobrei-o bem no braço. Acenando para dois


dos guarda-costas, vou na frente da porta e toco a campainha. Uma
mulher mais velha aparece e franze a testa para mim. Claro que ninguém
me reconheceria. Faz muito tempo.

— Eu sou Marcello. — Eu digo e vejo o rosto dela se espalhar em um


sorriso.

— Signor! Venezia ficará muito feliz em saber que você finalmente


está aqui.

— Finalmente?

morally questionable
— Sim, o Signor Valentino nos disse que você voltaria. Pena que ele
morreu. Que ele descanse em paz. — A mulher diz enquanto faz o sinal da
cruz com as mãos.

— Entre, entre. — Ela me conduz para dentro do grande salão, e eu


tenho que respirar fundo para desligar as memórias indesejadas. Os
gritos... A dor...

— Qual é o seu nome? — Eu pergunto a ela, mais por cortesia do que


qualquer coisa.

— Amelia, Signor.

— Amelia... — Eu digo o nome dela, de repente lembrando de algo. —


Aquela Amelia?

— Si, Signor. Fui recontratada por seu irmão, mas foi depois que você
foi embora. — Ela confirma, e estou um pouco mais à vontade.

— Você está... meu irmão? — Uma voz suave pergunta do topo da


escada. Levanto a cabeça e vejo uma jovem, olhando quase timidamente
para mim. Ela está usando um longo vestido azul. Seu cabelo mogno está
enrolado em cachos nos ombros. Ela tem um rosto em forma de coração,
com maçãs do rosto fortes e um par de olhos castanhos enviesados.

Ela se parece exatamente com a mãe.

morally questionable
— Você deve ser Venezia. — Afrouxo minhas feições em um sorriso
agradável. A última coisa que quero fazer é assustar a garota.

— Sim. — Ela assente antes de tentar dar um passo, e depois outro,


até estar no nível dos olhos comigo e com Amelia.

— Signorina. — Amelia se preocupa com Venezia, e é claro que elas


têm um relacionamento próximo.

— Você cresceu muito. — Eu acrescento, tentando criar um tópico


adequado. — Da última vez que me lembro, você era desse tamanho. —
Movo minha mão para mostrar que ela só alcançou minha coxa quando a
vi pela última vez... quando tinha cerca de cinco anos.

— Isso faz dez anos. — Ela diz, mas imediatamente abaixa o olhar
enquanto percebe seu tom.

— Signorina! — A voz indignada de Amelia repreende.

— Eu sei que estou fora há muito tempo. Mas agora estou aqui. E eu
cumprirei meu dever por esta família.

— É mesmo? — Venezia me exclama, com os olhos se estreitando. —


Como você fez com minha irmã? Diga-me, você também me mandará
embora?

— Signorina Venezia, seu irmão te quer bem. — Amelia tenta


interpor, mas Venezia não para.

morally questionable
— Ele quer o bem quando a chamou de a Filha do diabo e a entregou
a um convento? — A sua voz está cheia de malícia, pois enfatiza a filha do
Diabo. Eu tenho que fechar brevemente meus olhos para a acusação dela.
Como ela sabe? O discurso de Venezia continua, e eu sei que tenho que
fazer algo a respeito.

— Chega! — Minha voz cresce e as duas mulheres ficam quietas, com


os olhos arregalados enquanto me olham.

— A última vez que verifiquei, você está sob minha tutela, Venezia. E
agora eu sou o chefe desta família, então você fará bem em respeitar
minha autoridade. Você está certa. Mandei sua irmã embora. Seria muito
fácil fazer o mesmo com você. —Venezia abre a boca para dizer alguma
coisa, mas eu continuo. — Seria muito mais fácil se eu não precisasse me
preocupar com você... — Eu digo pensativo.

Venezia empalidece quando percebe que eu posso estar falando sério,


e ela murmura alguma coisa.

— Afinal, acho que suas maneiras estão faltando. Talvez uma escola
de aperfeiçoamento seja o suficiente.

— Você não pode fazer isso! — Ela exclama, se aproximando. Eu posso


dizer que ela está furiosa com a ideia.

— Cabe a você, realmente. — Eu tento o meu melhor para parecer


desinteressado pelo destino dela enquanto listo suas opções. — Mas,

morally questionable
novamente, se você se comportar... todos nós podemos nos dar bem, não
podemos?

Ela me olha desafiadoramente por um segundo, antes de admitir a


derrota.

— Sim.

— Sim, Venezia?

— Sim, Senhor. — Ela acrescenta humildemente antes de subir as


escadas.

Eu me viro para Amelia, mas ela está me olhando com decepção nos
olhos.

— Eu pensei que você era diferente. Senhor. — Ela diz antes de sair.

Sozinho no grande salão, respiro fundo.

Eu pensei que também era diferente...

Até eu não ser.

morally questionable
A casa ainda está como eu me lembro... E esse é o problema.

Trago uma pequena bagagem para um dos quartos no térreo,


pensando que isso bastaria por enquanto. Eu não possuo muitas coisas.
Tem sido um hábito desde o dia em que fugi. Eu desempacotei a bagagem e
tirei algumas camisas e calças, e uma pequena sacola de produtos de
higiene pessoal para colocar no banheiro adjacente.

O desejo de fugir quase me domina, mas tenho que me lembrar que


estou fazendo isso pelas minhas irmãs. Eu tenho que garantir a segurança
delas, especialmente porque um vazio de poder como a morte de Tino as
tornaria barganhas em uma possível aquisição. Com Venezia tão jovem e
Assisi ainda uma noviça, as chances de elas estarem em perigo são muito
altas. Não importa o plano que Vlad sugeriu...

Mas há coisas a serem feitas. Não importa o quanto eu possa temer


minha posição atual e o que ela implica, também preciso dela por seus
recursos. Para iniciar os planos de sucessão, eu me encontrei com os
advogados e contadores de Tino e eles me encaminharam os documentos
para examinar. Eu também recebi uma lista com todas as pessoas
anteriormente sob o comando de Tino.

Ser Capo não somente significa cuidar do lado comercial da família,


também significa ganhar o respeito das pessoas na família. Advogado de

morally questionable
profissão, não sou estranho aos aspectos legais da administração de um
negócio. Embora eu tenha me concentrado no direito penal a maior parte
da minha carreira, tenho alguma experiência com o lado corporativo, o que
deve ser útil. É a última parte que me preocupa. Devo convocar uma
reunião oficial dentro da família e me apresentar como Capo para fazê-los
me aceitar como a nova autoridade. Tino cuidou de tudo, no entanto. Ele
sabia que seu fim estava próximo e se certificou de que havia brechas
suficientes na ordem de sucessão para que eu fosse a opção mais viável
como Capo. Isso não significa que não haverá oposição.

Enquanto examinava a lista de nomes envolvidos com a família, não


posso deixar de identificar meu tio, Nicolo, como Consigliere. Ele pode não
ter sido o monstro que meu pai era, mas também não era anjo... E eu teria
que tomar cuidado com ele.

Estou perdido em meus pensamentos quando uma batida chama


minha atenção. A porta se abre lentamente e uma relutante Amelia me
olha para aprovação. Eu aceno e ela entra na sala.

— Signor. — Ela começa, com as mãos inquietas na sua frente. Ela


provavelmente já pensa que eu sou como meu pai. Por mais que eu queira
desiludi-la da noção, não posso. Não sou tão ingênuo a ponto de pensar que
não há ouvidos nesta casa. Eu preciso manter uma frente forte, e se eles
acham que eu sou um bastardo cruel e egoísta, que assim seja. Não é como
se estivesse muito longe da verdade, mesmo que meus motivos não estejam
tão egoístas.

morally questionable
— Sim. Fale!

— Eu... — Ela respira fundo antes de continuar. — Por favor,


desculpe a Signorina Venezia. Ela é jovem e teimosa, e nunca teve uma
mão orientadora antes. Ela não disse isso por malícia.

— Eu entendo que ela tem uma opinião sobre a minha ausência. Isso
não desculpa seu tom e falta de boas maneiras. Quem está encarregado de
sua educação?

— É exatamente isso, Signor... ninguém.

Eu franzo a testa.

— Como assim, ninguém?

Mais uma vez, a inquietação, como se ela estivesse tentando revelar


algum segredo, mas ainda não pode decidir se vai fazer ou não.

— O senhor Valentino nunca mais foi o mesmo depois que a Signora


Romina morreu... Ele se fechou e deixou a Signorina Venezia sozinha.

— Isso foi há oito anos. — Eu adiciono. — Você quer me dizer que


ninguém a assumiu desde então?

— Sim. Está correto. — Amelia desvia o olhar, desaprovando


claramente o tratamento de Venezia. — Tentei levá-la para baixo da
minha asa, ensinar algumas coisas a ela..., mas o Signor Valentino não

morally questionable
gostou que ela fosse muito amigável com a equipe. Havia tanta coisa que
eu poderia fazer.

— O que exatamente você está sugerindo?

— Signorina Venezia é um pouco travessa, mas é só porque ela


sempre quis atenção e porque ninguém a ensinou de maneira diferente.

Eu franzo meus lábios, considerando isso por um momento. Eu nunca


esperava isso. Claro, eu não achava que Tino seria uma figura paterna
espetacular, mas ele sempre foi mais humano do que qualquer outro
parente. Isso explica por que ela estava tão chateada com a minha
ausência. Na sua mente, eu tinha sido apenas mais uma pessoa que a
abandonou.

— Obrigado por sua informação. Vou me certificar que ela receba uma
educação adequada a partir de agora.

Amelia parece que está prestes a adicionar algo, mas então apenas
assente e sai da sala.

Acho que também devo ver uma governanta, já que não me sinto
confortável com Venezia indo para a escola sozinha. Pelo menos não agora,
quando as apostas são muito altas.

Depois de terminar de desembalar, saio de casa. Entrando no meu


carro, eu dirijo, precisando da distração. É a alguns quilômetros de
distância que meu telefone toca. Inicialmente, digo a mim mesmo para

morally questionable
ignorá-lo, mas uma olhada no identificador de chamadas me faz parar e
responder.

— Vlad. — Eu respondo, curioso para ver por que ele está ligando.

— Marcello, — ele começa, seu tom sério. — Eu pensei em informá-lo


de um desenvolvimento bastante repentino. — Ele faz uma pausa breve,
provavelmente para me deixar ainda mais curioso.

— Bem? — Eu pergunto.

— Todas as rotas de entrada através de NJ foram interrompidas.

— Todas?

— Incluindo a minha. — É por isso que ele está tão sério. Ele está
chateado... Isso não é um bom presságio. Espero que ninguém esteja
próximo dele.

— Eu assumo que o nosso também, então. — A família Lastra


mantém uma parceria de longa data com os russos de Brighton Beach,
meu pai sendo um bom amigo dos ex-Pakhan. E os dois principalmente
lidam com as mesmas coisas, drogas.

— Sim. — A resposta de Vlad está cortada.

— Os irlandeses?

morally questionable
— Não confirmado. Talvez. — Isso é incomum. Vlad está no circuito
sobre tudo. Ou ele realmente não sabe, ou não quer me deixar saber.

— Se não eles, então quem? — Eu pergunto.

— Cartéis. A morte de Jimenez criou um vácuo de poder. Há muitas


facções lutando pelo poder. É difícil identificar qual deles fez isso. — Ele
respira fundo antes de continuar. — Mas eu vou descobrir. E você vai
ajudar.

— Eu vou ajudar? — Eu pergunto, quase divertido. Mas eu já sei o


que ele vai dizer.

— Esta será a oportunidade perfeita para você provar a famiglia.


Limpe o caminho para a mercadoria, ganhe seu favor. Simples.

— Tão simples. — Repito zombeteiramente. Vlad ri.

— Vamos lá, será como nos velhos tempos. — Ele acrescenta com um
pouco de entusiasmo demais. Isso é verdade. Eu fugi enquanto Vlad
sucumbira.

— Vale a pena tentar. — Ele faz uma pausa e muda de assunto. —


Como a famiglia está te tratando até agora?

— Eu ainda tenho que conhecer a maioria deles. Mas não havia festa
de boas-vindas.

morally questionable
— Você esperava uma?

— Não. — Eu adiciono secamente. Sóbrio, pergunto algo que me


incomoda há um tempo, — quão seguro é Sacre Coeur?

— Seguro o suficiente. Por enquanto. Você está pensando em levar


sua irmã para casa?

— Se é isso que ela quer..., mas duvido muito.

— Não se preocupe com isso. Ela não é a única principessa escondida


lá.

Dou um grunhido e desligo. Tenho uma visita agendada com Assisi


amanhã para informá-la da morte de Tino. Embora eu duvide que ela
queira algo comigo.

Eu suspiro. Acho que nunca posso reparar todos que machuquei.

morally questionable
Sacre Coeur fica no Norte, meia hora de folga de Albany, em uma área
remota.

Eu saio da estrada e tento encontrar uma vaga de estacionamento.


Como é um lugar que não permite visitantes casuais, as instalações não
têm estacionamento. Depois de garantir que não sou obrigado a ser
rebocado, deixo meu carro e vou para o portão principal.

Há apenas uma palavra que pode descrever Sacre Coeur — grandiosa.


Construída como uma fortaleza, sua arquitetura gótica lhe dá uma
sensação indesejável. Também é assustadoramente semelhante aos Met
Cloisters, mas ampliado em tamanho. Uma parede de concreto de dois
metros separa o convento do mundo exterior. Em quase todos os lugares à
vista há um CFTV e, em todos os pontos de entrada, há guardas. Se você
não soubesse o que era isso, pensaria que era uma prisão. Há até arame
farpado em cima dos muros, um pouco demais. Mas agora entendo o que
Vlad quis dizer quando falou que era seguro. Eu me pergunto o que os fez
investir em tanta segurança. Não consigo imaginar um monte de freiras
tentando pular cerca para escapar...

Os guardas exigem um documento de identidade e me verificam


contra uma lista de pessoas aprovadas. Depois que ficam satisfeitos, eles
me fazem remover meus sapatos e passar por um detector de metais.
Sim... extra. Sou grato pela inspeção terminar aí e por não haver ninguém
para me dar um tapinha. Isso não iria bem.

Disseram-me então para esperar pela Madre Superiora.

morally questionable
— Senhor Lastra. — Uma mulher mais velha vestida com roupas
típicas em preto e branco me aborda. Sua pele está presa nos cantos da
boca, tornando sua feição possuir uma carranca perpétua.

Eu inclino minha cabeça. — Madre Superiora.

— Eu entendo que você está aqui para ver a irmã Assis?

— De fato. — Eu respondo, mas ela continua como se eu não tivesse.

— Uma garota caridosa, irmã Assis. E ela fará seus votos conosco no
próximo ano. Ela está em um caminho de luz. Espero que sua visita não
comprometa isso.

— Estou apenas aqui para transmitir algumas notícias. É claro que


ela continuará com sua cerimônia de voto, conforme planejado.

— Bom. — Madre Superiora responde, me observando de relance.

Caminhamos por um túnel que contém uma série de arcos pontudos


baixos, antes de chegar a uma clareira aberta. Existem espaços verdes, e
freiras estão andando por aí, conversando profundamente. Bem no meio da
clareira, há um contorno quadrado de pedra envolvendo fileiras de flores
bem cuidadas. No centro da praça, há uma réplica da Pietà de
Michelangelo, mas em bronze. Admiro a vista, quase deslumbrado com a
tranquilidade do lugar, quando Madre Superiora me manda sentar no
contorno quadrado.

morally questionable
— Vou buscar a irmã Assisi para você. Por favor, fique aqui.

Uma garotinha correndo por aí chama minha atenção. Ela está


vestida com um uniforme cinza e usando uma touca branca. Mas quando
ela se aproxima de mim, posso ver que seus olhos são de um verde
deslumbrante. Estou quase assustado com a intensidade e a semelhança
com outro par de olhos verdes. Preso nas memórias, mal tenho tempo para
reagir quando ela se planta na minha frente e me considera curiosamente.

— Quem é você? — Ela olha para mim como se eu fosse uma espécie
nova.

— Eu sou Marcello. — Eu lhe dou meio sorriso e ela retribui.

— Eu sou Claudia. — Ela proclama com orgulho. Nesse momento,


uma voz alta chamando seu nome ecoa pelo pátio.

— Ah, não! — ela sussurra, acenando adeus para mim e correndo em


direção à fonte do barulho.

De alguma forma, eu me pergunto se Assisi também era assim.


Brincando e correndo pelo pátio. Talvez entregá-la não tenha sido uma
decisão tão ruim. Foi melhor que a alternativa.

Do canto do olho, vejo Madre Superiora vindo em minha direção com


uma garota mais nova logo atrás dela. A marca acima da sobrancelha
direita a identifica como Assisi.

morally questionable
— Senhor Lastra, irmã Assis. Você tem uma hora. — Madre
Superiora diz com uma voz severa antes de recuar.

Eu e Assisi estamos olhando um para o outro. Seus olhos se movem


sobre mim e ela pisca rapidamente.

— Marcello? — Ela finalmente pergunta, e quando tento responder,


encontro minha garganta seca e rouca.

— Assisi. — Eu finalmente respondo.

— É realmente você. — A voz dela está cheia de admiração, e eu posso


ver o que ela pretende fazer no momento em que dá um passo em minha
direção e depois outro. Levanto a mão rapidamente e tento manter alguma
distância entre nós.

O rosto de Assisi cai com a rejeição, mas ela me dá um sorriso triste.


Sinto-me compelido a deixá-la saber que não é sua culpa.

— Não é que eu não queira... Eu simplesmente não posso. — Eu não


explico, e ela não pergunta. Há alguma compreensão tácita na maneira
como me considera que só posso mover para a pedra em que estive sentado
momentos antes.

Assisi também se senta, deixando algum espaço entre nós dois.

— Eu não pensei em vê-lo novamente. — Ela diz intensamente.

morally questionable
— E eu não pensei que você se lembraria de mim.

— Claro que sim. Você é meu irmão. — O seu rosto está tão quente,
tão cheio de... perdão.

— Eu sinto muito. — Apenas adiciono.

— Por que você está aqui?

— Valentino está morto. — Assisi suspira com a notícia, a mão indo


para a boca.

— Morto? — ela repete, e eu aceno. — Como?

— Suicídio. — Os seus olhos se arregalam de horror.

— Suicídio? — Ela sussurra como se fosse a pior maneira de morrer.


Eu acho que é... para os católicos.

— Ele foi diagnosticado com um distúrbio degenerativo. Ele já estava


morrendo..., mas devagar.

Lágrimas se juntam no canto dos olhos e ela usa um pouco do material


da touca para limpá-los.

— Eu não sabia... Ele veio visitar algumas vezes, mas nunca falou
disso.

morally questionable
— Eu não acho que ele queria te sobrecarregar.

— Talvez. Como está Venezia?

— Ela está... vai ficar bem. Talvez eu até a traga para visitar algum
dia. — No momento em que ela ouve minhas palavras, seu rosto muda
completamente.

— Sério? Você faria isso? — Há tanta admiração e otimismo na sua


voz que só posso concordar.

— Isso significaria o mundo. Obrigada! — Ela se inclina para a frente


para me abraçar, quase por instinto, mas recua no último minuto. Em vez
disso, me dá um sorriso.

Assisi pode ter essa marca no rosto, mas ela emana tanto brilho que
você não percebe nenhuma falha.

Pela primeira vez, acho que tomei pelo menos uma decisão certa ao
enviá-la para Sacre Coeur.

Conversamos um pouco mais e conto a ela sobre minha carreira como


advogado e como estive longe da família. Ela me conta sobre sua figura
materna e melhor amiga, e como ela está realmente feliz onde está.
Quanto mais eu falo com ela, mais percebo que ela não tem ideia do que
nossa família faz para viver. Madre Superiora sabe, seguindo o caminho
que ela me recebeu. Mas Assisi não tem ideia. E isso me deixa muito feliz.

morally questionable
Madre Superiora nos interrompe, dizendo que nosso tempo acabou e
nos despedimos.

— Eu voltarei. — Eu prometo, mas posso ver nos seus olhos que ela
não acredita em mim, mesmo que ela concorde.

— Deus te abençoe! — Ela vem até mim, ainda mantendo alguma


distância, e faz o sinal da cruz com as mãos sobre o meu corpo.

— Obrigado, Assis.

— Irmã Assisi tem outros deveres. — Mãe Superior interpõe, levando-


a embora.

Com um último olhar, eu saio.

morally questionable
CAPÍTULO QUATRO

— Claudia! — Eu coloco minhas mãos juntas em um O, tentando


gritar o mais alto que posso. Sei que as freiras desaprovam isso, mas não
me importo.

Aquela pequena causadora de problemas, no entanto? Não tenho ideia


para onde ela fugiu hoje. Só espero que ela não encontre Madre Superiora.
Isso sempre parece terminar com Claudia e eu sendo repreendidas por
nosso comportamento, principalmente eu, porque não criei minha filha
adequadamente. Eu zombei mentalmente da noção. Elas devem tentar dar

morally questionable
à luz primeiro e ter um filho e depois criticar minhas habilidades
maternais.

Não é como se eu não estivesse acostumada a isso. Quero dizer, com


quem estou brincando? Eu sabia desde o início para o que estava me
inscrevendo, mas me comprometi por causa de Claudia. Isso não dá a essas
freiras hipócritas o direito de repreender minha filha. Houve tantos casos
ao longo dos anos em que outras freiras fizeram comentários maliciosos
sobre Claudia e eu para ela ouvir.

Houve um tempo em que ela me perguntou o que prostituta


significava porque é isso que outras freiras se referem a mim. Como você
pode explicar isso para uma criança? Eu inventei algo, é claro, mas
Claudia é extraordinariamente perceptiva. Ela percebeu sozinha que era
uma palavra negativa.

Vou em direção a gráfica do convento, pensando em encontrá-la lá.


Ela gosta muito de espaços abertos. Temos apenas um quarto, e me sinto
péssima quando ela fica presa lá dentro, então eu cedo sempre que posso.

Claro, eu estava certa de que ela estaria na gráfica.

Eu paro e vejo como ela está correndo, para desgosto das outras
freiras. Estou desfrutando de muito desconforto para detê-la agora, mas
então ela de repente corre em direção a um homem estranho. Eu franzo a
testa. Quem é aquele?

morally questionable
Aproximo-me um pouco e o vejo sorrir para ela, com a boca formando
algumas palavras que não consigo entender.

Basta!

— Claudia! — Grito de novo, e desta vez minha voz chama sua


atenção enquanto ela se move para trás e corre em minha direção.

— Mamma, — diz ela quando me alcança, um pouco tímida. Ela


sempre é quando sabe que pode estar com problemas.

— Para o quarto, pequena causadora de problemas, você aterrorizou


freiras suficientes por hoje! — Eu sorrio para ela e dou um tapinha na sua
cabeça. Ela se diverte com o gesto e concorda prontamente.

— E você?

— Eu... — Estou prestes a dizer que vou me juntar a ela quando


encontro Madre Superiora e Sisi indo em direção ao homem desconhecido.
Minha curiosidade é despertada.

— Vá primeiro! Eu irei em breve. — Ela está prestes a fazer beicinho,


mas eu a enxoto para a frente, e ela desiste, pulando alegremente em
direção ao nosso alojamento.

Intrigada com a figura desconhecida e sua conexão com Sisi, eu


furtivamente caminho em direção a um arco que permita uma melhor

morally questionable
visibilidade. Depois que meu local é escolhido, eu me esforço para
distinguir o estranho.

E Senhor, ele é lindo. Espere... os homens podem ser bonitos? Eu


franzi a testa um pouco nisso. Eu nunca pensei nisso, principalmente
porque nunca interagi com nenhum homem que não fosse da família. Meu
irmão, Enzo, pode ser considerado bonito, mas ele é perfeito demais. Não,
esse estranho é bonito de uma maneira diferente. Se eu o colocasse em
uma peça bíblica (tecnicamente só tenho permissão para lê-las), ele seria
Lúcifer. Brilhante, mas com profundidades ocultas. Seu cabelo loiro escuro
está bagunçado e cai pela testa em fios indisciplinados. Sua pele tem um
tom de oliva e seus traços parecem ter sido esculpido em pedra.

Ahh... Solto um suspiro sonhador. Acho que você pode dizer o quão
privada eu estive dos colírios masculinos. Enzo me deu um telefone com
uma conexão à Internet, mas Deus é lento. Mesmo agora... hoje em dia. As
imagens são as piores para carregar. Mas considerando o fato de que estou
quebrando as regras apenas por possuir esse telefone... bem, eu vou pegar
o que posso conseguir.

Por enquanto.

Mas eu tenho minhas paixões por celebridades, como Marlon Brando...


(a versão jovem, é claro). E esse homem... bem, ele poderia dar a Marlon
Brando uma corrida pelo seu dinheiro, se ele não se tornar obeso na
velhice.

morally questionable
Como sempre, começo a pensar em algo e perco o fio... Meu cérebro
realmente deve ter entrado no modo de sobrecarga. Estou até me sentindo
um pouco corada e, ao me divertir, imagino como seria ser beijada por um
homem assim.

Eu suspiro alto.

Provavelmente melhor do que beijar Marlon Brando... e eu imaginei


isso um pouco. Quero dizer, você viu aquele clipe em que ele morde o lábio?
Sou um caso perdido.

Deve ser porque nunca fui beijada. Eu fantasiei tanto sobre isso que
todo homem levemente atraente se torna minha próxima fixação. Mas é a
primeira vez que vejo alguém que me agrada em um formato não digital.

Desde esse incidente, anos atrás, perdi a esperança de experimentar


esse tipo de sentimento na carne. Mas ninguém pode tirar minhas
fantasias.

Honestamente, mesmo que tenha acontecido na vida real, quem diria


que eu não reagiria mal a isso, dado o meu trauma?

É melhor admirar à distância. E esse homem será o protagonista dos


meus sonhos até eu ter uma melhor conexão com a Internet.

Estou mais uma vez tão perdida em meus pensamentos que não
percebo que Sisi e o estranho estão agora de pé, parecendo que estão se
despedindo.

morally questionable
Espero até que ele e a Madre Superiora se vão, antes de correr para o
lado de Sisi, pronta para obter mais respostas.

— Quem era aquele? — Sisi se assustou com minhas palavras, e eu


tenho que reprimir uma risada com a expressão dela. Ela coloca uma mão
para cima e outra no peito, indicando que está recuperando o fôlego.

— Eu disse para você não se aproximar das pessoas assim. — Ela


balança a cabeça com um sorriso e, tomando outro grande gole de ar, ela
começa a me contar tudo sobre o homem estranho.

— Ele é meu irmão.

— Seu irmão? Aquele? — Eu pergunto, minha reação é um pouco


reveladora? Sisi estreita os olhos para mim.

— Sim. Aquele. — Ela ri. — Ele veio me dar algumas atualizações


sobre a família. Meu outro irmão, Valentino, cometeu suicídio.

— Eu sinto muito. — Eu acrescento imediatamente, me sentindo um


pouco boba com o meu entusiasmo anterior quando Sisi recebeu más
notícias.

— Aparentemente ele já estava doente. Não importa agora, importa?


Já passou. Sinto-me mal com isso, mas não é como se tivéssemos um
vínculo estreito... Ele era essencialmente um estranho.

morally questionable
— Eu sei o que você quer dizer. — Eu pego o seu cotovelo e seguimos
em direção ao nosso quarto. Conseguimos, contra todas as probabilidades,
ficar juntas na mesma acomodação há anos.

— É triste. Mas é o que é. Marcello prometeu que iria visitar


novamente, e talvez até trazer minha irmã com ele. — Sisi diz e eu posso
ver o desejo em seu rosto. Ela sempre teve um problema com sua família a
abandonando no convento. Ao longo dos anos, eu a vi superar alguns de
seus problemas, mas isso não significa que parou de esperar que em um
momento ela se reunisse com eles. Embora agora ela se resigne a fazer
seus votos em breve, isso não significa que é o que ela quer. E eu sei disso
melhor do que ninguém. Ela está apenas fazendo o melhor da mão que
recebeu.

— Marcello? — Eu pergunto. —Esse é o nome dele?

— Esse é meu irmão.

— Eu nunca ouvi você falar sobre Marcello antes. — Eu adiciono. Ela


falou sobre sua família em termos vagos, e eu sei que Valentino visitou
algumas vezes.

— Ele deixou a família anos atrás... parece que ele voltou agora para
arrumar os assuntos. — Ele deixou a família? Isso é interessante. Também
o pinta sob uma luz muito mais positiva. Sisi sabe muito pouco sobre
nossas famílias, tendo sido criada no convento desde o nascimento. E eu
nunca tive coragem de dizer a ela que eles são criminosos. Também tive

morally questionable
interações suficientes com homens dentro da família para saber que
estamos muito melhor sem eles. Meu irmão é a única exceção em que
consigo pensar. Desde criança, ele me protegeu e me escondeu da ira de
nosso pai. Ele até preparou uma combinação adequada para mim antes do
incidente. Depois de... ele prometer me tirar de Sacre Coeur quando ele
herdasse. Faz dez longos anos, mas ainda não perdi a esperança. Confio
em Enzo e sei que cumprirá sua promessa. Quando meu pai não for mais
uma preocupação, Claudia finalmente poderá desfrutar do mundo exterior.
Só de pensar nisso me faz sorrir. É a única coisa que me mantém firme
todos esses anos.

— E o que ele faz? — Eu sondo. Estou um pouco curiosa demais com o


homem, admito.

— Ele era advogado. Ele prende criminosos. — Sisi sorri, o orgulho


reflete em seu olhar. Essa é definitivamente uma profissão louvável. Ele
está ganhando ainda mais pontinhos.

— Ele é muito bonito. — Eu adiciono descaradamente e posso sentir


minhas bochechas imediatamente avermelhadas.

— Lina! — Sisi exclama com diversão indignada. — É por isso que


você estava tão curiosa. — Ela provoca, e eu coro ainda mais.

— Não é como se eu visse um homem bonito todos os dias. — Eu


discuto, mas ela não está comprando nada disso.

— Talvez da próxima vez você possa conhecê-lo também.

morally questionable
— E fazer o que? Desmaiar aos seus pés? — O mero pensamento disso
é hilário. Uma cena se pinta lentamente em minha mente. Eu tropeçando
sem cerimônia e aterrissando no colo de Marcello. Encontrando os olhos
pela primeira vez, e ele percebendo que devemos ficar juntos. Tudo isso
terminando, é claro, com um beijo. Estou tão perdida nesse cenário que
Sisi me sacode fisicamente para me trazer de volta à realidade.

— Você realmente se foi desta vez. — Ela ri.

— Tenho certeza que ele não iria querer nada com uma meia-freira
com uma criança. — Eu murmuro com desdém, a realidade pode ser
bastante deprimente.

— Ei, não se rebaixe! Você não é freira, e você é linda. E eu quero


dizer muito bonita. Qualquer homem teria sorte em ter você. — Ela tenta
me confortar, mas eu dou de ombros. E daí se eu for bonita? Minhas
circunstâncias são decididamente contras.

— Deixa pra lá. — Eu tento mudar de assunto. Eu sei que sonhar é


sonhar..., mas quando se torna espera, tem o potencial de se tornar
prejudicial.

— Mamma! Tia Sisi! — Claudia nos cumprimenta quando voltamos ao


nosso quarto. — Você demorou muito tempo! — Ela faz beicinho da
maneira habitual e eu apenas balanço minha cabeça.

morally questionable
— Temos serviço de cozinha às quatro. — De repente me lembro,
minha cabeça estalando de volta para Sisi. Seus olhos se arregalam por
um momento antes de verificar a hora.

— Mais uma hora. — Ela suspira em alívio, e eu sigo o exemplo.


Madre Superiora nunca nos deixaria sem ouvir isso se chegarmos
atrasadas. A única graça salvadora é que posso levar Claudia comigo para
todos os deveres, incluindo cozinhar e assar. É uma das nossas atividades
mais divertidas. Amanhã é domingo e temos um banquete especial para
um novo padre que está chegando a Sacre Coeur. Juntamente com Sisi e
algumas outras irmãs, fomos designadas para o serviço de confeitaria para
garantir que tenhamos alguns bolos e doces para cumprimentar o padre.

— Um pouco mais de farinha. — Olho a massa que Claudia está


misturando. Todas nós fomos para biscoitos de chocolate e cupcakes de
milho. Madre Superiora visitou pessoalmente para aprovar nossas receitas
e, em suas próprias palavras, para garantir que façamos apenas o melhor
para o novo padre.

morally questionable
— Você sabe por que elas estão tão animadas com esse novo padre? —
Eu pergunto a Sisi, vendo-a congelando alguns cupcakes. As outras irmãs
estão fazendo o mesmo, mas estão fora da distância auditiva.

— Eu não faço ideia. Não é como nós necessitássemos de um novo. —


Ela mergulha o dedo na cobertura e o traz para a boca. Eu imediatamente
bato na mão dela, a olhando.

— Você não quer que elas vejam. — Ajusto meu corpo para que Sisi
não possa ser vista pelas outras irmãs.

Ela revira os olhos para mim, mas enfia o dedo na cobertura


novamente, desta vez trazendo-o para a minha boca. Eu levanto uma
sobrancelha para ela, mas vendo que ninguém está assistindo, eu também
provo rapidamente.

— Nada mal. — Eu aceno, e Sisi me dá um sorriso.

— Viu! Você precisa ser travessa de vez em quando. — Ela pisca para
mim.

Não há muitas coisas com as quais você possa se safar no Sacre Coeur,
mas Sisi já tentou todas. Adormecer durante a oração, gritando palavrões
em voz alta, trocar de ingrediente durante o serviço de culinária. Se ela
pudesse se safar de uma brincadeira, faria. Ela já acabou com isso agora.
Mas é claro que Madre Superiora coloca a culpa toda em mim, dizendo que
foi minha influência diabólica que desviou Sisi do caminho justo. Eu nem

morally questionable
me lembro de todas as vezes que ela teve que me lembrar que eu não
estaria aqui se não fosse pela influência da minha família.

— Se nem um lugar de Deus a aceitaria, o que isso diz de você? — Ela


jogaria em mim. Engraçado como eu sempre sou uma maçã podre, e ainda
assim é a Madre Superiora e seu exército de freiras e noviças que se
envolveram em bullying em grupo. Tudo porque engravidei enquanto
estava solteira. Como se isso fosse minha culpa. Eu tentei proteger
Claudia do pior, mas ela inadvertidamente percebeu que algumas coisas
estavam fora...

— Deveríamos ter colocado sal em vez de açúcar. — Eu adiciono


secamente, me sentindo um pouco mesquinha. Elas estão se esforçando
muito para impressionar esse novo padre, e eu realmente quero saber o
porquê.

— Lina, uma rebelde. Quem teria pensado? — Sisi provoca, mas então
sua expressão muda e ela se inclina para a frente. — Eu não sei o quão
verdadeiro isso é. Mas ouvi as outras noviças conversando.
Aparentemente, o novo padre tem altas conexões. É por isso que Madre
Superiora está tão empenhada em tudo ser perfeito.

— Conexões? — Eu franzi a testa.

Sisi olha em volta antes de se aproximar ainda mais, sua voz caindo
um pouco.

morally questionable
— A máfia italiana. — Ela sussurra, e uma risada me escapa. Ela se
inclina para trás e me considera desconfiada antes de perguntar. — Você
já sabia?

— Não, não, claro que não. Só que não acredito nisso. — Eu digo
imediatamente, não querendo admitir que estava rindo da ironia da
situação. Mas se o novo padre é máfia... então eu tenho que me perguntar
a qual família ele pertence. Também não posso dizer que sei muito sobre o
nosso mundo. A maioria das coisas que ouvira foi espionando. Ninguém me
diria nada de outra maneira. Estou mais familiarizada com a máfia de
Nova York e as cinco famílias. Agosti, minha família, e depois há Lastra, a
família de Sisi. Existem outros três, Marchesi, Guerra e DeVille.

— Era o que elas estavam dizendo. — Ela encolhe os ombros.

— Eu também quero um pouco! — Olho para baixo e vejo Claudia


apontando para a cobertura. Ela deve ter nos visto mais cedo. Não posso
recusá-la, então garanto que ninguém esteja olhando, antes de esgueirar
uma colher cheia de glacê para ela.

— Está bom. — Ela sorri lambendo a colher, e eu não posso me


ajudar. Eu me inclino e beijo o topo da sua cabeça.

— Você terminou com sua massa, moppet?

Ela assente, e eu vou verificar a textura. Vendo que está tudo bem, eu
preparo para o forno, dividindo-o em partes menores. Claudia se junta a
mim enquanto Sisi continua sua própria tarefa de decoração.

morally questionable
Até o final do dia, temos lotes suficientes de biscoitos e cupcakes para
toda a população de freiras e para o hóspede especial. Já sou um pouco
tendenciosa contra o homem, se ele é realmente da máfia. Meus lábios se
enrolam de desgosto com o pensamento.

Terminamos de limpar a cozinha e depois voltamos para o nosso


quarto. Há três camas dentro agora. Até alguns anos atrás, havia apenas
duas, pois eu dormia com Claudia em uma e Sisi na outro. Mas com minha
pequena causadora de problemas crescendo tão rápido, tivemos que pedir
outra cama. Não tinha sido o processo mais suave, e eu tive que fazer Enzo
intervir.

Falando em Enzo... ele não visitava há algumas semanas. É


preocupante, já que ele às vezes visita semanalmente. Eu pretendo ligar
para ele para garantir que está tudo bem. Talvez eu deva fazer isso em
breve…

No dia seguinte nós todas vamos juntas para o culto de domingo. Os


sermões vão como sempre, mas no final, Madre Superiora chama a atenção
de todos.

morally questionable
— Sacre Coeur tem muita sorte em receber o padre Antonio Guerra,
que estudou sob as maiores mentes teológicas do Vaticano. Ele é um dos
padres mais brilhantes de sua geração e nos honra em aceitar nosso
convite.

Um jovem com menos de trinta anos, está há alguns passos em frente


ao altar e se apresenta como padre Guerra. Sua aparência é indefinida,
mas há algo nele que eu não gosto. É apenas um sentimento, mas quando
ele olha ao redor da igreja, seu olhar parece quase predatório. Um arrepio
corre pelas minhas costas enquanto seus olhos se prendem a nós. Sua boca
se curva levemente, mas no segundo seguinte se foi. Eu nem sei se
imaginei... Talvez eu tenha. Costumo gostar de pessoas imediatamente ou,
no caso do padre Guerra, não gosto.

Mais tarde, perceberia que, pela primeira vez, minha intuição estava
certa.

morally questionable
CAPÍTULO CINCO

Oito Anos.

Um barulho me sacode acordando. Tomo um momento para perceber


que não estou sonhando e que meus olhos estão bem abertos. Não parece,
no entanto. Talvez porque tudo ao meu redor esteja envolvido na
escuridão.

morally questionable
Preso neste lugar minúsculo, minhas pernas estão rígidas de
agachamento. Mais uma vez, tento testar a força da fechadura com minhas
mãos. Eu empurro uma vez... duas vezes... não se mexe.

Não sei há quanto tempo estou aqui. Já dormi algumas vezes, mas
sem luz nem sei dizer se é dia ou noite.

Respiro fundo, tentando me acalmar. Mais lembranças de como tudo


isso começou a me agredir.

Foi durante o almoço de domingo. Pela primeira vez desde sempre, o


pai exigiu que comêssemos juntos como uma família. Tinha sido uma
refeição tensa. Todos nós sentamos em silêncio até a mãe começar com
seus sussurros loucos. A cabeça do pai estalou em sua direção e, com um
sorriso malicioso, ele viu a mãe derramar água benta em sua comida, o
tempo todo fazendo orações.

Quanto mais eu crescia, mais eu percebia que havia algo seriamente


errado com a mãe. E o pai apenas tira vantagem disso.

— Liliana. — Ele disse casualmente, encostado no assento, ainda


assistindo.

Minha mãe não reagiu, tão profundamente em suas orações que não
acho que ela percebesse que ele havia falado. Grande erro.

morally questionable
— Liliana! — Desta vez, sua voz ameaçou, e parecia tirar a mãe de
qualquer transe em que estivesse. Mas ela não estalou graciosamente.
Não... ela teve que jogar a água benta no pai.

— Demônio... você é o diabo. — Ela sussurrou, e o sorriso sinistro do


pai apareceu mais uma vez.

— Diabo, hein? — Ele zombou dela um momento, antes que seu punho
disparasse e se conectasse com sua bochecha. Eu ofegava enquanto
observava a mãe cair no chão, com os olhos arregalados, uma mão indo
para a vermelhidão aparecendo em seu rosto.

— Monstro... — Ela continuou. O pai sentou-se, inclinou a cabeça para


ela e com uma voz provocadora.

— E o que você vai fazer sobre isso?

As mãos da mãe haviam ido para sua cruz e ela a enfiou para a frente,
como se esperasse repelir o mal no pai. Isso apenas o fez rir.

— Seu Deus não está muito generoso hoje, está? — Ele pegou a faca
do prato, limpando-a lentamente com um guardanapo. Ao ver isso, percebi
que não podia simplesmente sentar e assistir.

Mãe estava doente... ela não era ela mesma. Mas o pai não se
importava.

morally questionable
— Não! — Eu saí, colocando meu corpo na frente da mãe e esperando
que fosse um bom escudo.

O pai parecia atordoado por um momento, antes de rir mais uma vez.

— Garoto, você quer defendê-la? — Ele levantou uma sobrancelha


para mim, como se estivesse me desafiando a admitir. — Você quer
defender essa prostituta sem fé? — Ele assobiava para ela antes de pegar
a frente da minha camisa e me levantar no ar.

— Porra de merda inútil. — Foi muito repentino. Um momento eu


estava pendurado no ar, no outro eu fui jogado pela sala e na parede. Como
minhas costas estavam conectadas com a superfície dura, eu fiz uma
careta. A dor tinha sido demais e, eventualmente, eu sucumbi a ela.

A próxima vez que acordei, estava aqui. Em um pequeno cômodo de


dois compartimentos. Ou pelo menos é o que eu suponho que seja, já que
tentei me mexer.

Pai apareceu um pouco mais tarde.

— Vamos ver se você sente o mesmo depois de passar algum tempo aí.
— Ele riu e me deixou.

E agora?

morally questionable
Eu nem sei o que é pior... sendo privado de luz por tanto tempo, ou
sentado em meu próprio mijo e merda por horas e horas. A princípio, o
cheiro me fez vomitar.

Agora... Eu acho que fiquei dessensibilizado com isso.

Tento ficar acordado por mais um tempo, mas sede e fome me


dominam. Eu fecho meus olhos.

— Caramba, cheira a merda aqui.

— Porra, você está certo. Mas o chefe disse para derrubar o pirralho...
Segure seu nariz.

Há alguns barulhos, e percebo que alguém está abrindo as portas.

— Porra... eca. — Um homem diz. Quando as portas se abrem, meus


olhos lutam para se acostumar com a luz.

— Pegue o pirralho e vamos lá. — O outro homem ordena com


desdém. Eu estou tão fraco... Não tenho o poder de lutar contra o aperto
dele quando me puxa pelas minhas roupas.

Eles continuam emitindo sons estranhos e reclamando de como sou


nojento, até me levarem ao primeiro andar, para a sala de oração da mãe.

Meus olhos vagam amplamente, imaginando o que está prestes a


acontecer. O homem que me carrega me joga no chão e os dois vão embora.

morally questionable
Trago meus joelhos perto do peito e ligo minhas mãos sobre eles,
balançando-me lentamente. Ainda não acabou. Eu sei, com tudo em mim,
que ainda não acabou. Estou aqui por uma razão.

Não sei quanto tempo passa, mas de repente a porta da sala se abre.
Pai entra, arrastando a mãe pelos cabelos.

— Aqui está ele.

Seus olhos estão em branco quando ela olha para mim. Ela não reage.
Os dedos do pai se apertam no couro cabeludo e, mesmo assim, seu rosto
não trai a dor que ela deve estar sentindo.

— Agora filho. Vou ensiná-lo a tratar uma prostituta sem fé. — Ele
franze os lábios por um segundo. — Acontece que ela é sua mãe. Você vai
interferir novamente? — Ele olha diretamente para mim enquanto
pergunta isso.

Não posso deixar de balançar a cabeça. Novamente... e de novo.

— Bom... Bom. Por que não colocamos isso à prova? — Ele joga a mãe
no chão e arregaça lentamente as mangas.

— Primeiro, você nunca quer manchar suas roupas. — Ele explica


com um sorriso maligno enquanto agarra uma grande cruz do altar da
mãe.

morally questionable
— Blasfêmia... — minha mãe finalmente pronuncia enquanto olha
para a cruz na mão do pai.

Ele lhe dá um olhar entediado, agitando a cruz antes de acerta-la no


rosto com o lado plano. Mãe se encolhe de dor, e eu já posso ver o sangue
caindo de seu rosto. Como se isso não bastasse, o pai agarra o colarinho e,
em um movimento, rasga o material do corpo dela. Suas costas cheias de
cicatrizes estão em exibição, e ele não perde tempo batendo a cruz para as
suas costas várias vezes, até que seus gritos se tornem berros.

— Viu isso, garoto? — Ele se vira para mim, e eu só posso assistir,


preso como estou no meu corpo inútil. Estou balançando ainda mais
rápido, e lágrimas rolam pelo meu rosto enquanto assisto a cena sangrenta
na minha frente.

— Liliana, querida. — Pai faz um som tsk. — Esta é uma lição para o
seu filho. Por que você não se comporta? — Ele a agarra pelo pescoço e a
joga em direção ao altar. Mãe tropeça e suas mãos agarram a mesa do
altar em busca de apoio.

— Sim. Bem desse jeito. — Pai cantarola em aprovação. Ele caminha


casualmente e, segurando a nuca dela, força seu rosto no altar. Usando
uma mão, o pai levanta a saia e a enfia nos quadris. De alguma forma, eu
sei que não devo ver isso.

Mãe está... nua.

morally questionable
Mas estou preso. Eu balanço ainda mais rápido, meus soluços presos
na garganta.

Pai abre o zíper da calça e se vira para mim. Sua mão está presa ao
redor do pênis.

— Assista e aprenda, garoto. É assim que você trata uma prostituta.


— Há muito veneno em sua voz...

Ele se vira e monta na mãe por trás. Há apenas um som dolorido


vindo da boca da mãe, mas o pai é rápido em empurrar o rosto para baixo
no altar.

Ele continua se movendo sobre ela, grunhindo toda vez.

Eu não quero assistir isso.

Eu não quero ver isso.

Mas não consigo me mexer.

Eu continuo balançando.

Em algum momento, acho que devo ter apagado, porque ouço o pai
dizer mais algumas coisas ininteligíveis antes de sair.

Eu tento me concentrar... Mãe está respirando com força enquanto


arrasta o corpo para o chão.

morally questionable
— Você... é tudo culpa sua. — Ela continua repetindo, arrastando os
joelhos para cima e imitando minha postura.

— Monstro! — ela diz enquanto se balança, como eu estava momentos


antes.

— Eu sinto muito. — As palavras são quase inaudíveis, mas eu as


digo de qualquer maneira.

Eu sinto muito... e ainda assim não pude fazer nada para ajudá-la.

Fraco.

Eu sou muito fraco.

morally questionable
CAPÍTULO SEIS

Presente.

— Você não é o que eu esperava. — O homem idoso na minha frente


diz, arrastando um grande gole de fumaça de sua garganta.

— E o que você esperava? — Eu levanto uma sobrancelha para ele.

morally questionable
— Um covarde. — Ele simplesmente afirma.

— O que faz você pensar que eu não sou?

— Você está aqui. Desarmado. Nenhum exército de guarda-costas. —


Ele sorri, mostrando grandes dentes amarelos.

— Deveria ter trazido algum?

— Talvez. — Ele pega outro trago e me move em direção a uma


cadeira.

— Me chame de Francesco. — Ele acena para mim. Sento-me em


frente a ele.

Francesco tinha sido o subchefe do meu irmão e sua mão direita. E ele
estava entre os únicos a se juntar às fileiras após a morte do pai. Eu tinha
lido o relatório. Valentino ajudou Francesco e sua família, trazendo-os da
Itália para os Estados Unidos e prometendo um futuro melhor para seus
filhos. Francesco jurou lealdade ao meu irmão e rapidamente subiu na
hierarquia para se tornar um ativo mais confiável. Depois de uma semana
na casa de Lastra, eu percebi que as coisas eram mais terríveis do que eu
esperava. As finanças estavam uma bagunça e, ao longo dos anos, alguém
estava sugando dinheiro de quase todas as contas. Valentino, em sua
busca por vingança, parecia não se importar tanto em acompanhar os
negócios. Seu único foco era Jimenez.

morally questionable
Eu imediatamente imaginei que o problema está nos homens do pai.
Além de Francesco e dos jovens soldados, todos os homens importantes da
famiglia estavam entre o círculo interno do pai. É também por isso que eu
vim conhecer Francesco. Se eu quiser fazer uma mudança dentro da
família, ela deve começar por dentro.

— Francesco. Eu acho que você sabe por que estou aqui. — Eu


adiciono, puxando algumas folhas de papel da minha pasta. Compilei
todas as evidências de atividades irregulares que encontrei. Ele as pega e
as percorre lentamente, estreitando os olhos de vez em quando.

— Sim? — Ele finalmente diz depois de largar os papeis.

— Eu pensei que você teria alguma ideia.

Ele faz uma careta para mim.

— E por que você achou isso?

— Porque me disseram que você não joga muito bem com os outros. —
Eu respondo. Francesco me considera silenciosamente por um segundo.

— E quem te disse isso?

— Eu não posso revelar isso. — Eu encolho os ombros. Muitas


informações vieram de Vlad. Seu relacionamento com Valentino tinha sido
mais próximo do que eu imaginava. Não sei exatamente qual é o fim do
jogo de Vlad, mas aprendi que as informações que ele fornece, embora

morally questionable
corretas, nunca estão completas. Ele gosta de brincar com pessoas assim
— dê-lhes migalhas e espere que elas descubram. Mas eu vou pegar o que
posso. Não foi difícil pintar uma imagem dos últimos dez anos de negócios.
Mas agora, preciso escolher minhas batalhas com cuidado. Ganhar terreno
dentro da família, resolva a crise da remessa e depois se livre das maçãs
podres. Teoricamente, um feito fácil. Mas estamos falando de velhos
mafiosos. Gângsteres que provavelmente viveram o auge das cinco
famílias e sobreviveram aos inimigos e à polícia. Eu tinha que abordar isso
estrategicamente. E o primeiro passo é encontrar pessoas em quem possa
confiar.

— O que posso revelar, no entanto, — continuo, — é que as coisas vão


mudar.

— Mudar? — Francesco bufa. — Você acha que seu irmão não tentou
isso?

— Não foi suficiente. Não vou fingir saber como Tino administrou as
coisas por aqui, já que não testemunhei. Mas o que eu sei, é o que esses
relatórios estão me dizendo. O negócio está quase no terreno e as facções se
desenvolveram dentro da família. Facções sem dúvida que adorariam me
ver fora da minha posição agora. Sejamos francos aqui. Tino deve ter
enfrentado isso também. As pessoas que foram os maiores apoiadores do
meu pai ainda estão por aí. E eles não estão satisfeitos com o seu
montante.

morally questionable
Francesco resmunga. Tomando outro trago de seu charuto, ele
responde.

— Valentino não conseguiu fazer o que você está sugerindo em dez


anos. O que faz você pensar que pode fazê-lo agora?

— Meu irmão estava distraído. A morte de Romina pesava sobre seus


ombros, e sua atenção não estava na famiglia. Eu não estou. Mas mais do
que isso, tenho algo que Tino não tinha.

— E o que é? — Ele levanta uma sobrancelha para mim.

— Informação sobre o círculo interno. Isso... e desgosto suficiente por


sua espécie para que eu não falhe. A questão é... você vai se juntar a mim?

— O que faz você pensar que eu não estou com eles? — Seus olhos me
estudam de perto, mas meu rosto não revela nada. Pai pode ter sido um
monstro, mas ele me treinou bem.

— Você não está. — Avanço outro documento. Ele pega e franze a


testa no conteúdo.

— Este... — Sua voz está cheia de descrença.

— Seu filho está livre para fazer o que bem entender agora. — Eu
explico. Nicolo e seus associados tentavam obter material de chantagem
em Francesco há muito tempo. Ele pensou que finalmente conseguiu

morally questionable
quando o filho adolescente de Francesco foi pego pela polícia em uma
facada que deu errado.

— Mas como?

— Eu sou advogado. Eu também trabalhei com a promotoria. O caso


do seu filho foi fabricado. Era apenas uma questão de desembaraçar a rede
de evidências.

Eu já posso dizer que o tenho. Levanto-me para sair, mas não antes de
ouvi-lo dizer.

— Grazie, Capo.

Eu aceno e me despeço.

Um aliado.

É um começo.

morally questionable
Os preparativos já começaram para a reunião com a famiglia. Eu
decidi por um banquete ostensivo que deveria marcar o começo da minha
liderança. Eu nunca quis estar nessa posição porque sei o que tenho que
fazer para garantir que mantivesse todos na linha.

O respeito na família é conquistado. Mas isso levaria tempo. Então,


por enquanto, vou me contentar com o medo.

Os últimos dez anos serão completamente apagados. Será como se eu


nunca tivesse saído. Talvez seja meu destino ter que fazer algo que detesto
com todo o meu ser, mas continuar fazendo isso.

Eu pego a obra-prima na minha frente, todas as preocupações


anteriores apagadas da minha mente. Eu ouço Amelia ofegar quando ela
entra no salão, a mão dela vai para a boca.

— Agora, Amelia. — Eu levantei minha mão. — Por favor, leve todos


os nossos hóspedes na sala de estar. E quando a lista de presenças estiver
cheia, você poderá orientá-los aqui.

Seu rosto está branco, mas ela lentamente acena para mim.

Quase uma hora depois, as portas do salão se abrem. Estou apoiado


na parede em frente às portas, taça de champanhe na mão, assistindo.

Os homens entram, todos vestidos de smoking. O primeiro lote entra e


para à vista. Vejo alguns homens engolirem ansiosamente antes de seguir
em frente. Continua assim até a última pessoa entrar.

morally questionable
— Boa noite, cavalheiros! — Eu inclino minha cabeça e levanto meu
copo.

— Qual é o significado disso? — Meu tio, Nicolo, dá um passo à frente.

— Bem, é como você pode ver. Meu presente para a famiglia.

Todos os homens estão olhando para a parede voltada para o norte e a


carnificina retratada nela. Estou bastante orgulhoso deste trabalho, talvez
porque desta vez é pessoal.

Há duas fileiras de cabeças humanas decapitadas pregadas na parede.


As duas linhas se encontram em um cruzamento para formar um T. Tenho
certeza de que todos na sala estão cientes do que esse T significa.
Traditore. Traidor.

Há seis cabeças, já que eu só consegui encontrar evidências definitivas


para punir seis pessoas por seus crimes contra a famiglia. Mas eles eram
seis homens governados por Omerta — eles não falaram. Inicialmente,
pensei em tirar o resto dos nomes deles por meio de tortura. Às vezes
esqueço que nem todo mundo reage à tortura da mesma forma. Esses
homens não tinham.

Pena.

Meu trabalho será muito mais difícil. Mas pelo menos agora o resto da
família sabe que não estou jogando.

morally questionable
— Por favor, pessoal, sente-se. — Há três fileiras de mesas na sala,
todas cuidadosamente preparadas com antecedência. Eles também têm
etiquetas. Isso não é apenas uma demonstração de força, é também um
estudo. Ao sentá-los estrategicamente, posso observar as interações entre
diferentes membros. Deve ser divertido.

Há alguns embaralhamentos enquanto os homens procuram seus


nomes nas cadeiras, mas logo todos estão sentados.

— À sua frente, você encontrará evidências dos crimes cometidos pelos


traidores. Este é o meu presente para todos vocês. Como o novo Capo,
posso prometer que não haverá maçãs podres. De fato, os seis sortudos são
apenas os primeiros de uma longa lista de pessoas que exploram os
recursos da famiglia para seu próprio ganho.

— Então, onde estão os outros? Você não sabe quem eles são, sabe? —
Um homem gordo ri no final da mesa. Dou-lhe uma olhada afiada, seguida
por um sorriso.

— Oh eu sei... Eu realmente sei. — E enquanto digo isso, deixo meu


olhar vagar pela sala, poupando um olhar para todos os indivíduos. — Mas
estou apenas esperando.

— Para quê? — Meu tio late.

— Para eles tropeçarem.

morally questionable
As pessoas já estão inquietas. Ajuda que a sala esteja cheia de
câmeras ocultas. Linguagem corporal estará informando.

— Mas chega de conversa mórbida. — Eu continuo. — Vamos


desfrutar de um jantar tranquilo antes de conversar sobre negócios.

Ao meu sinal, a equipe selecionada entra no salão com o primeiro


percurso e começa a servir as mesas.

Conversas pequenas acontecem. Do meu lugar no topo da mesa,


observo.

Alguns homens continuam olhando para as cabeças decapitadas.


Outros se esforçam muito para não o fazer. Mas há aqueles que são
completamente incomodados pela bagunça sangrenta na parede, e eu sei
que são aqueles que eu preciso procurar.

Começando com meu tio Nicolo. Por causa de sua posição como
Consigliere — posição que infelizmente ele ainda mantém — ele está
sentado ao meu lado.

— Devo confessar que foi inesperado que você assumiu a liderança. —


Nicolo começa. Inclino a cabeça e, parecendo totalmente incomodado,
respondo.

— Eu diria que sim, dado que você esperou o papel a ser passado para
você. — Eu sorrio. Ele faz o mesmo. Nossas bocas estão se esforçando para
retratar o oposto do que estamos sentindo.

morally questionable
— Foi uma suposição natural... com você saindo da famiglia. Você
realmente acha que eles vão te aceitar? Você se mostrou não confiável
antes. Talvez, não tenha traído precisamente a famiglia, mas você a
deixou.

— E agora estou de volta.

Ele ri.

— Você acha que esse seu truque vai lhe dar qualquer coisa? Claro, os
covardes vão recuar com medo, mas é isso que você quer?

— Não... Eu quero fazer uma limpeza. É simples. Para que a família


prospere, precisamos de algumas regras.

— E você é o único a fazê-las?

— Estou aqui, não estou?

— Não por muito tempo.

Nicolo me desafia com o olhar dele, e eu não recuo.

— Hmm... Eu me pergunto. Talvez devêssemos manter essa conversa


depois do jantar. Tenho certeza que outros estarão interessados no que
tenho a dizer... — Eu paro e assisto meu tio fazer uma careta.

morally questionable
Ele está certo em um aspecto, eu realmente não ligo para covardes.
Mas geralmente, um covarde também é um traidor por extensão. As
cabeças decepadas eram apenas o aperitivo; um pequeno lembrete de que
eu também sou um homem feito. Depois do jantar, devo lembrá-los que
isso não é tudo o que sou.

Nicolo muda seu foco para as outras pessoas ao seu lado, e nossa
conversa é interrompida. Pelo menos uma coisa está clara agora. Ele está
atrás do poder, e ele acha que tem direito a ele.

Os pratos vão e vêm, e os homens ficam mais relaxados. Talvez seja


também porque o álcool flui livremente.

Logo é hora de discutir negócios e onde é melhor do que no porão. Os


homens são reticentes quando ouvem o destino, mas já estão cheios de
álcool, trazem seus charutos e levamos a festa para o porão.

Eles provavelmente esperam mais uma cena de crime sangrenta, mas


eu já limpei isso quando algumas pessoas descartaram os corpos sem
cabeça.

O porão é dividido em algumas câmaras, a maior quase do tamanho


do salão de baile. Eu tinha providenciado para que fosse decorado para
uma cerimônia de lealdade. Precisamos oficializar essa coisa.

Há dois guardas em pé no final da sala, onde eu prontamente tomo


meu lugar. Francesco já está lá, e ele me dá um aceno de aprovação.

morally questionable
— Senhores, vamos começar? — Eu pergunto enquanto me sento na
frente deles. Dou uma olhada em Francesco e ele toma a palavra.

— Antes de discutirmos algo de importância, todos serão obrigados a


jurar lealdade a Marcello Lastra como seu novo Capo. Tenho certeza que
você já estava esperando isso. — Ele olha em volta para a infinidade de
rostos. Alguns homens zombam, outros parecem bastante interessados,
enquanto outros emanam pura malícia.

Nicolo é quem avança e, como esperado, declara seu desafio.

— Como podemos confiar em uma criança, — ele zomba. —


Especialmente um que deixou a famiglia para trás. Ele pode ser o herdeiro
direto, mas como podemos confiar que ele não vai nos deixar novamente?

Há muitos tons silenciosos discutindo; alguns de acordo, alguns


levantando questões.

— Você está dizendo que está em melhor forma? Tio? — Eu olho


direto nos olhos dele e ele inclina a cabeça para trás em arrogância.

— Por que não?

Eu sorrio. Não é como se eu não estivesse esperando isso.

— Então parece que estamos em um impasse. Conte-me, tio, você está


oficialmente me desafiando?

morally questionable
Seus olhos se arregalam quando ele entende para onde estou indo com
isso. Ele não pode recuar, no entanto, já que fez uma reclamação.

— Eu acredito que você está.

— Eu estou. — Ele acrescenta imediatamente. Eu sorrio.

— Francesco, me diga as regras novamente?

— Os desafiados podem escolher o tipo de desafio. — Francesco


acrescenta para que todos na sala possam ouvir. Há hums de aprovação,
alguns deles podem estar muito ansiosos. Se eles querem um espetáculo...
bem, eles terão um.

Levanto-me, caminhando casualmente em direção a Nicolo.

— E daí? Punhos, espadas, pistolas? — Nicolo olha para mim e sorri.

— Xadrez. — Gosto do olhar em seu rosto quando ele ouve isso. Seu
sorriso cai lentamente e ele franze a testa. Os outros homens ao redor
também estão perplexos.

— Xadrez? Você está brincando.

— É meu direito como desafiado a escolher o desafio. Tem que ser um


tipo de combate ou violento? — Eu me viro para Francesco e pergunto.

— Não. Pode ser qualquer coisa. — Ele responde.

morally questionable
Todo mundo está quieto.

Eu me mudo para Francesco e ele traz um tabuleiro de xadrez,


colocando-o em uma mesa no canto da sala.

Com a mão, proponho Nicolo a seguir. Parece que ele quer discutir
com a minha sugestão, mas deve perceber agora que caiu na minha
armadilha. E não há retorno.

— Mas o que o xadrez diria sobre o novo Capo? — Ele engasga em


uma última tentativa de desviar a atenção.

— Então me diga, — começo, cruzando meus braços na minha frente,


— por que um Capo precisaria de habilidades de luta quando ele tem seus
soldados? Melhor ainda, você não diria: — Eu me viro e falo com o resto
dos homens. — Que um bom Capo deve ser inteligente o suficiente para
pesar estrategicamente seus movimentos... quase como em um tabuleiro de
xadrez.

O rosto de Nicolo cai, e posso dizer que também venci a discussão aos
olhos dos outros homens.

Sentamos em frente ao tabuleiro de xadrez e, depois de organizar as


peças, o jogo começa.

Não demora muito para eu ganhar. Depois que eu capturo sua rainha,
é apenas uma questão de alguns movimentos até que seu rei seja
encurralado. É algo em que contei quando pensei nesse encontro. Nicolo

morally questionable
pode ser inteligente e astuto, mas ele é o tipo de pessoa que menospreza
qualquer tipo de atividade intelectual, incluindo o xadrez. Eu reduzi sua
fraqueza e me certifiquei de que fosse o único a me desafiar. Eu sabia que
ele esperaria algum tipo de desafio corporal, como brigas ou tiros, nos
quais ele se destaca. Ele não é muito mais velho que Valentino, seu corpo
está em forma. Mas ele estava confiante demais. Eu tinha acabado de
jogar com a arrogância dele... e ganhei.

— Xeque mate. — As narinas de Nicolo brilham com o


pronunciamento, e ele está fazendo o possível para manter o
temperamento sob controle. Não deixo minha satisfação aparecer.

— Bom jogo, tio. — Eu digo a ele, dando um passo atrás para colocar
alguma distância entre nós.

Em um gesto sem precedentes, Nicolo inclina a cabeça e o corpo para


mim.

— Capo. — Ele diz através dos dentes cerrados.

Ele sabe que está perdido, mas pelo menos ainda tem sua dignidade.
Por enquanto, o plano está funcionando. Embora eu não seja tão ingênuo a
ponto de pensar que isso impediria Nicolo de assumir mais a famiglia.

Um a um, os outros membros da famiglia repetem o gesto, jurando


lealdade a mim como o novo Capo.

morally questionable
Quando toda a cerimônia termina, anuncio minhas próximas
intenções. Sabendo que Nicolo ficará à espera, preciso consolidar
rapidamente o poder. Ser Capo não é suficiente.

— Há duas coisas que eu gostaria de discutir e que estão na minha


agenda como Capo oficial. — Eu começo. Francesco entrou em contato com
a equipe e mais bebidas foram servidas antes do meu discurso.

— Antes da morte de Romina, a família Lastra desfrutava de boas


relações com os Agostis. Pretendo corrigir isso, unindo-me com a família
Agosti. De fato, terei uma reunião com Enzo Agosti, o novo Agosti Capo,
nos próximos dias.

Há muita alegria, e as pessoas parecem a favor dessa decisão. Percebo


pelo canto do olho que alguns não parecem muito felizes. Os mesmos que
pareciam suspeitos durante o jantar. Interessante...

— Além disso, todos vocês devem estar cientes de alguns problemas


em Nova Jersey. Algumas de nossas remessas para Nova York foram
interrompidas e apreendidas nos pontos de entrada de NJ.

Todo mundo assente. Também não é novidade para eles, a maioria


está diretamente envolvida com a cadeia de suprimentos.

— Farei parceria com a Bratva russa e a família Agosti, para


encontrar quem é responsável por isso e garantir que eles paguem por esse
crime. Quero que todos estejam em espera para pedidos futuros.

morally questionable
Meu discurso é interrompido pelo som de um sinal sonoro de um
telefone. É seguido por mais toques, incluindo o meu. Todos na sala agora
estão checando seus telefones.

— Sim, — respondo ao mesmo tempo em que Nicolo pega o telefone.

— Ataque irlandês em Newark. — O tom sombrio de Vlad me


cumprimenta na outra linha.

— E?

— Mercadorias roubadas e baixas. Ambos os nossos lados. É uma


declaração.

Eu protejo os meus lábios.

— Pelo menos sabemos quem está fazendo isso agora. — Eu respondo.

Vlad ri na outra linha.

— Eles não sabem o que desencadearam.

Eu sorrio para isso.

— Depende. — Eu adiciono antes de desligar.

Os homens estão todos com um olhar preocupado no rosto. Todo


mundo já ouviu falar sobre o ataque agora.

morally questionable
— E estamos oficialmente em guerra com os irlandeses. Quero que
todos me enviem um relatório com o que você faz, quantos homens você
tem sob comando e seus horários e locais precisos.

— Sim! — Todo mundo concorda em uníssono.

— Bom. Reunião terminada. — Nicolo está me observando com um


olhar inescrutável no rosto.

— Você será o fim desta família, garoto. Marque minhas palavras.

Congelo com a declaração dele, algo que o pai costumava me chamar.


Tentando mascarar meus sentimentos, eu respondo.

— Tenha cuidado com o seu fim, tio. Pode vir mais cedo do que você
pensa. — Deixo a ameaça pendurada.

Depois que todos saem, Vlad me envia um local para uma reunião e eu
me uno a ele para avaliar as baixas.

morally questionable
O ataque tinha sido muito bem coordenado. Vlad e eu chegamos a essa
conclusão, dado o momento e a localização. Além da mercadoria, também
acabamos perdendo algumas pessoas.

— Uma toupeira. —Vlad declarou, e eu concordei sombriamente.

As coisas estavam se deteriorando mais rápido do que eu imaginava, e


então eu resolvi agir mais rápido também. Marquei uma reunião com Enzo
para o dia seguinte.

É por isso que agora eu estava sentado em seu vestíbulo, esperando


para ser recebido em seu escritório.

— O Signor Agosti pode vê-lo agora. — Um homem corpulento olhou


para mim antes de me mostrar o estudo.

— Marcello. — Enzo me considera com um sorriso largo. — Faz muito


tempo.

Ou não o tempo suficiente, quero murmurar, mas tenho que fazer isso.

— Enzo. — Eu aceno para ele antes de me sentar.

— Tantas surpresas ultimamente, você não diria? — Os movimentos


de Enzo são lentos, e é óbvio que ele ainda não está completamente
recuperado. Apenas uma semana atrás, ele estava na UTI lutando por sua
vida. Ele é resistente... Eu vou dar isso a ele.

morally questionable
— Minhas condolências pelo seu pai.

— Já vai tarde. — Enzo acena com a mão com desprezo. — Assim


como o seu velho.

— De fato. — Eu cuido dos meus lábios, mas não comento.

— Diga, Marcello. Qual é o propósito desta visita? — O sorriso dele é


astuto, mas deve estar ciente do propósito.

— Para fazer as pazes, por assim dizer.

— Você sabe, só porque seu irmão está morto, isso não significa que
nosso conflito termina.

— Tenho certeza que você ouviu como Jimenez morreu. — Eu vou


direto ao ponto. O fato de ele ter me recebido civilizadamente me diz que
está disposto a ter uma discussão adequada, independentemente do
passado.

— Um pouco. — Ele parece intrigado, então eu continuo.

— Eu estava lá. Meu irmão também. Valentino foi quem matou


Jimenez, retribuição pela morte de Romina. — Eu paro para avaliar a sua
reação.

— Continue. — Enzo me pede.

morally questionable
— Jimenez usou a morte de Romina para conduzir uma brecha entre
nossas famílias.

— E então ele nos pegou um de cada vez. — Enzo interrompe. — Devo


admitir, eu estava pensando sobre isso há um tempo. Você acabou de
confirmar minhas suspeitas. Quando meu pai se envolveu com os
irlandeses, eu o aconselhei a manter nossas opções em aberto, mas ele
estava empenhado em seguir essa parceria. Mas, infelizmente, não vou
culpar meu pai por isso inteiramente, já que não fiz exatamente muito
para impedi-lo. Também fiquei cego pelas possibilidades.

— Então você suspeitou deles?

— Suspeitei? Hmm... Eu não diria suspeitei, por não confiar nas


intenções deles. Mas nunca pensei que eles trabalhariam para Jimenez. E
aquele foi o meu erro.

— Eu não acho que alguém poderia saber. Os irlandeses não são


conhecidos por trabalhar com os cartéis.

— E é por isso que foi uma jogada tão brilhante. Eles nos jogaram de
acordo com nossas expectativas. — Enzo coloca a caneta na mesa. — O
mundo está mudando, mas não estamos. Nossas famílias estão muito
mergulhadas na tradição.

— Talvez possamos fazer algo sobre isso.

— Hmm... aspirações elevadas para alguém que abandonou, Marcello.

morally questionable
— Pode ser possível. — Eu continuo.

Enzo encolhe os ombros. — Então você também pode entender por que
veio aqui.

Eu limpo minha garganta. — Eu quero uma aliança. Quero que


nossas famílias se dêem bem como antes.

— Interessante. — Enzo responde e se levanta, indo em direção ao seu


decantador. Derramando dois drinques, ele me entrega um copo. — Você
está dizendo o que eu acho que está dizendo, Marcello? — Enzo levanta
uma sobrancelha para mim.

— Sim. — Eu respondo.

— Eu devo perguntar sobre as meninas casadas de idade. Eu tenho


que te avisar, no entanto. Você não terá muitas opções.

— Enquanto ela for maior de idade. — Eu digo e quase me afirmo com


minhas palavras. Isso significaria uma criança de dezoito anos. O que eu
faço com alguém tão jovem?

— Não é exigente. — Enzo ri. — Eu gosto disso.

— Você seria a favor de um casamento?

— Seria a solução para os nossos problemas, não seria? — Enzo toma


um gole de sua bebida.

morally questionable
— De fato. — Esvazio meu copo e me levanto. — Deixe-me saber quem
você escolheu e marcaremos uma data.

— Você realmente não se importa? — Ele sonda mais, mas eu apenas


balanço minha cabeça.

— O que há para se importar? É meu dever. — Eu encolho os ombros.

morally questionable
CAPÍTULO SETE

— ENZO! — Minha voz vai um pouco acima. — Eu estive preocupada.

— Piccola, estou bem. — Ele tosse. — Não que eu estivesse bem antes.

— O que você quer dizer?

— Fomos atacados. Rocco está morto. — Meus dedos apertam o


telefone. Ele está? Uma onda de felicidade me envolve. Meu pai está
morto.

morally questionable
— E você? Por favor me diga que você está bem!

— Estou fora da zona de perigo, não se preocupe. Eles me


dispensaram do hospital há alguns dias.

— Bom! Isso é bom! Mas... isso significa? — Eu pergunto hesitante.

— Agora não piccola. É extremamente perigoso... Eu mal consegui


sair vivo. Temos inimigos atacando em nossos territórios. Não posso expor
você a isso. — Ele explica, e meu rosto cai. — Em breve. Apenas espere um
pouco mais.

— Ok. — Eu sussurro.

— Como está minha sobrinha favorita?

— Ela está bem. Mal pode esperar para vê-lo. Quando você estará
visitando?

— Vou tentar estar aí até o final da semana. Vejo você então piccola.

— Sim, obrigada, Enzo. Estou muito feliz que você esteja bem.

— Não se preocupe comigo, sou um homem difícil de matar. — Ele ri,


mas eu não compartilho o sentimento.

Depois que desligo, escondo meu telefone em seu lugar especial.


Raramente recebemos inspeções aqui, mas é melhor ter cuidado. A Madre

morally questionable
Superiora sempre teve rancor contra mim e não quero fazer nada que
possa provocá-la. Ela apenas irritaria Claudia.

Enzo ficou ferido... é por isso que ele não pôde vir. Respiro fundo e
sento-me, tentando acalmar meus nervos. Esta é apenas mais uma razão
pela qual odeio o que minha família faz. Sempre há perigo. Não quero isso
para Claudia e, no entanto, não quero que ela cresça conhecendo somente
as paredes deste convento também. Não é uma situação ideal.

— Mamma! — Claudia abre a porta e pula em meus braços.

— Aqui, aqui, pequena causadora de problemas, você me fará perder o


equilíbrio. — Eu repreendo, mas ela não está dissuadida.

— Olha o que eu tenho! — Ela levanta a mão para me mostrar uma


barra de chocolate. Eu franzo a testa.

— Onde você conseguiu isso? — Apenas um estranho poderia trazer


chocolate para dentro.

— O padre Guerra me deu. Ele disse que eu era uma criança


obediente. — Ela conta alegremente, e eu não posso deixar de sorrir.

Nos dias após a introdução do padre Guerra, aprendi a deixar meu


viés de lado e a se cordial com o homem. Mesmo que ele fosse de uma
família proeminente, e provavelmente por que eu tinha gostado tanto dele,
ele tinha sido gentil e generoso conosco. Até para mim. Ele não deixou

morally questionable
rumores ou preconceitos obscurecerem seu julgamento quando era sobre
como ele nos tratava, e eu fiquei agradecida. Era justo eu fazer o mesmo.

Ele tem sido particularmente gentil com Claudia, e agora percebo o


quanto ela precisa de uma figura paterna em sua vida.

— Então você pode comer depois do jantar. — Eu digo a ela e ela faz
beicinho.

— Posso ter um quadrado de chocolate agora? — Ela bate os cílios em


mim. Estou quase tentada a desistir, porque ela é fofa demais quando está
tentando conseguir alguma coisa.

— Não. Depois de comer!

— Tudo bem. — Ela me dá a barra de chocolate e eu a deixo de lado.

— Onde está sua tia Sisi? — Claudia deveria estar com Sisi.

— Ela foi parada pela Madre Superiora. Ela me disse para ir em


frente.

Isso é estranho. Eu encolho os ombros e coloco isso fora da minha


mente.

— Vamos te vestir.

morally questionable
O jantar de domingo é sempre uma refeição mais especial, e Claudia
pode usar um de seus vestidos mais bonitos — não que eu chame qualquer
coisa que ela tenha que usar bonita. Vou ao nosso armário e peço que ela
escolha o que quer vestir dessa vez. Ela escolhe um vestido rosa rodado.
Puxando uma de suas camisas brancas de uma gaveta, eu dou a ela para
vestir primeiro e depois a ajudo a vestir o vestido.

— Faça meu cabelo também?

Ela se coloca na frente do minúsculo espelho em pé sobre a mesa e eu


penteio o cabelo dela. Claudia parece uma mini-eu em todos os aspectos,
menos no cabelo. É um marrom claro, quase um loiro arenoso. Separo o
seu cabelo em mechas antes de arrumá-lo com uma longa trança. Não pela
primeira vez, meus pensamentos me levam para aquela noite... para o pai
biológico. Um estremecimento passa por mim. Eu rapidamente tento me
distrair ouvindo a conversa dela sobre as aulas da escola.

— Tudo feito.

— Obrigada, mamãe. — Ela agarra minha cintura e me dá um abraço.

— Aí está você. — Eu viro a cabeça e vejo Sisi entrar. Parece que ela
acabou de correr uma maratona.

— O que aconteceu com você?

Ofegante, ela se joga na cama.

morally questionable
— Que... ugh... aquela mulher maldita! — Ela dá um soco no
travesseiro.

— Sisi?

— Madre Superiora. Ela me disse que não estou fazendo minhas


tarefas corretamente e agora eu serei designada ao dobro de trabalho...
para aprender a trabalhar corretamente. — Mais movimentos da cama
antes que ela pule de pé.

— Eu nunca tive uma reclamação antes, mas de repente estou fazendo


tudo errado.

— Sisi...

— Você sabe o que, não importa. Eu farei o que ela diz..., mas isso
significa que não terei muito tempo para cuidar de Claudia.

— Tenho certeza de que podemos descobrir algo. — Eu adiciono.

— E eu sou uma garota grande. Eu posso cuidar de mim. — Minha


filha interpõe, fazendo Sisi e eu sorrir.

— Deixe-me vestir e eu irei com vocês para jantar. — Ela suspira e


tira uma roupa limpa.

Todas nós vamos para o grande salão e, tentando evitar as outras


freiras, sentamos em uma mesa no canto mais distante. Já estou

morally questionable
acostumada com os olhares e os sussurros malignos, mas estou sempre
tentando minimizar a exposição de Claudia a essas coisas. Felizmente, a
comida acaba sendo melhor do que antes, e todo mundo está gostando.
Terminamos e levamos nossas bandejas para serem lavadas.

— Posso comer o chocolate agora? — Claudia puxa a manga. Vendo


seu rosto esperançoso, não consigo dizer não.

— Certo. Você pode ir em frente.

— Yayy! — ela exclama antes de correr em direção ao nosso quarto.

— Você está estragando muito ela. — Sisi me repreende de


brincadeira.

— É o mínimo que posso fazer.

— Eu gostaria que minha mãe fosse como você. — O tom melancólico


de Sisi me lembra daquela época, anos atrás, quando ela me pediu para
ser sua mãe.

Dou um aperto rápido na sua mão com conforto.

Quando voltamos para o quarto, o convento fica quieto. Todo mundo


provavelmente está se preparando para as luzes se apagarem.

— Claudia? — Chamo minha filha quando abro a porta do quarto.


Nada. Eu entro.

morally questionable
— Claudia? Não é engraçado. — Repito e começo a olhar debaixo da
cama e depois no armário. Sisi faz o mesmo. Mas não há tantos lugares em
que você pode se esconder em um pequeno quarto.

— Onde ela poderia estar? — Meu coração ganha velocidade,


ansiedade subindo pelo telhado. Olho para o local onde colocaria o
chocolate dela e ainda o encontro lá, intocado.

— Eu não acho que ela veio aqui.

Eu me viro para Sisi e ela está tão preocupada quanto eu.

— Você pega a ala oeste; eu vou para o leste. Nós a encontraremos.

Separamos imediatamente. Eu corro, perguntando a cada freira se ela


viu Claudia. Vejo um grupo de freiras perto da gráfica e corro para o lado
delas.

— Você viu Claudia? — Elas zombam pelo nariz para mim.

— Não pode nem cuidar da sua filha? — Uma bufa para mim.

Nem tenho tempo para me sentir ofendida. Estou mais uma vez
correndo, perguntando a mais algumas freiras se elas viram Claudia.

— Acho que sim. Não tenho certeza se foi Claudia. — Finalmente,


alguém pode me fornecer algumas informações.

morally questionable
— Por favor, me diga de qualquer maneira. — Eu imploro.

— Ela estava indo em direção à capela.

— Obrigada! — Peguei as mãos dela nas minhas em um gesto de


gratidão.

Isso era do outro lado do convento, mas eu não me importei. Acabei de


mudar de direção e corri em direção à capela. Por que ela visitaria a
capela? E a esta hora? Embora ainda não esteja escuro, com as horas de
verão entrando em vigor, ainda é tarde. E Claudia sabe o quanto é
importante respeitar o toque de recolher.

Quando chego à capela, não vejo ninguém por perto. Também não há
barulhos. Esperando que a porta não esteja trancada, eu a abro. Cede
imediatamente. A capela em Sacre Coeur é como uma mini igreja gótica. É
grande o suficiente para acomodar todas as pessoas dentro do convento,
mas por outros padrões, não é tão grande assim. No interior, há duas
fileiras em cada corredor que levam em direção ao altar, e no lado direito
está o confessionário. Em cada lado da capela, vitrais representando
eventos bíblicos enfeitam as paredes. Ao entrar na capela, passo pela nave
central, indo direto para o altar. Certamente ela não estaria aqui...

A igreja está envolta na escuridão, mas ainda existem algumas velas


acesas no altar. Estou no meio da nave quando vejo duas figuras perto do
altar. Um é adulto, enquanto o outro é criança. Quanto mais avanço, mais
consigo distinguir as pessoas... e as ações.

morally questionable
É Claudia, minha doce Claudia, e o padre Guerra. E ele... ele está com
a mão no vestido dela. Suspiro ao perceber o que estou vendo. Sem nem
pensar, eu me jogo para a frente, com a intenção de apenas tirar minha
garotinha das garras deste homem.

Eles devem ter notado minha presença, porque o padre Guerra


imediatamente tira a mão e se compõe. Claudia se vira para mim e vejo
algo nos seus olhos que me faz estalar.

— Claudia, vá para o quarto. — Eu mando. Seus ombros estão


tremendo um pouco, não sei se pelo que aconteceu ou pelo tom da minha
voz. — Agora! — Reitero quando ela hesita.

— Mamma... — ela sussurra, olhando para mim por um segundo


antes de sair da capela.

— Catalina, não é o que parece. — O padre Guerra imediatamente


pula para se defender. — Eu estava apenas arrumando o vestido dela.

— Arrumando o vestido dela? Ou calcinha? — Meus pés me levam


diretamente na frente dele e um desejo repentino de causar danos me
ultrapassa. Ele colocou as mãos na minha filha.... minha filha de nove
anos. Quero desmoronar e chorar, mas não posso permitir que esse homem
vá embora sem penalidade.

— Catalina, tenho certeza de que podemos chegar a um entendimento.


— Ele levanta as mãos em um gesto aplacador.

morally questionable
— Que entendimento? Que você é um pedófilo? — Eu nem reconheço
minha voz enquanto grito com ele. — Madre Superiora vai ouvir isso. Vou
garantir que você consiga o que merece, seu desperdício de ser humano. —
Há tanto veneno na minha voz, mas ainda não faz justiça ao que senti
quando o vi tocando Claudia.

O padre Guerra ri. Ele tem a audácia de rir.

— E quem você acha que vai acreditar em você? Você, quem fodeu
quem sabe quem e ficou grávida? Nem sua família queria você. — Meu
rosto cai enquanto ele continua falando. — Oh, você acha que eu não
sabia? Você realmente acha que eu queria ser legal com você? Prostitutas
como você não devem ser permitidas em um lugar de Deus. — Ele se
atreve a falar de Deus... Minha mão dispara com uma mente própria. Ela
se conecta com a bochecha em um piscar alto.

— Vocês... você... — Eu engasgo.

Sua mão vai para a bochecha e esfrega lentamente.

— Puta de merda! — Ele cospe um segundo antes que sua mão se


envolva na minha garganta, restringindo meu fluxo de ar. Ele me empurra
para trás até eu esbarro na mesa do altar. Eu tento ofegar por ar, mas ele
continua a apertar seu domínio.

— Ninguém sentiria sua falta se você morresse. — A malícia pingando


de sua voz é palpável... Eu deveria ter ouvido meu instinto. Em vez disso...
Deus sabe o que ele fez com a minha Claudia. Esse é o pensamento que me

morally questionable
estimula a avançar. Ele tocou minha Claudia. Eu estendi meus braços
atrás de mim na mesa, minhas mãos procurando por algo... qualquer coisa
que eu possa usar para fazê-lo me deixar ir. Os segundos passam e me
sinto apagando.

Não!

É nesse momento que minha mão trava em algo... uma faca. Envolvo
meus dedos em torno do punho e com toda a minha força restante
mergulho o lado afiado no pescoço dele. Seus olhos se arregalam, olhando
para mim como se esse cenário fosse totalmente impossível. Ele
lentamente solta minha garganta, sua mão vai para a faca embutida em
sua carne.

No momento em que minha garganta está livre, tossi, tentando


recuperar o fôlego.

O padre Guerra tem a brilhante ideia de puxar a faca do pescoço. O


sangue jorra em jatos, fluindo como uma fonte para fora da ferida e para o
chão. Ele suspira algumas vezes, os joelhos dobrando sob o peso. Ele cai no
chão... e não se mexe.

Ainda estou lutando para me orientar quando percebo a extensão de


minhas ações.

Eu... o matei.

morally questionable
Quando essa percepção floresce, começo a surtar. Eu matei uma
pessoa... um ser humano. Quase começo a hiperventilar com o
pensamento, mas depois me lembro porquê eu o matei. Ele tocou Claudia...
Ele ia me matar... Há uma guerra acontecendo dentro de mim. Não consigo
decidir se devo me arrepender do que fiz ou não. Há essa parte de mim que
aprecia que um monstro esteja morto; mas há também outra parte que não
pode acreditar que tirei uma vida com minhas próprias mãos. Eu tento
racionalizar isso. Não é o fim do mundo, certo? Ele era um homem mau.
Sim... Ele era um homem mau, e o mundo está melhor sem ele. Mas e eu?
O que acontecerá comigo quando descobrirem? Eles provavelmente vão me
mandar para a prisão... Não! Isso não é uma opção. Não posso deixar
Claudia. Não posso deixar minha filha sozinha.

Pense, Catalina, pense!

Minha determinação foi renovada; entro no modo de correção. Não


posso permitir que isso me separe da minha filha. Ele não vai ganhar!

Pense Catalina!

É uma noite de domingo... ninguém saberá se eu me livrar do corpo.


Sim... Eu só tenho que me livrar das evidências e ninguém saberá. Pego a
faca e, usando um pano do altar, limpo-a e deposito-a de volta em seu local
original. Mas, olhando ao redor da capela, percebo que estou em apuros. O
que eu faço com o corpo? Não há absolutamente nenhuma maneira de me
livrar de um corpo sozinha...

morally questionable
Pense Catalina... Pense!

Com os olhos arregalados, procuro nos arredores alguma inspiração.


Então eu vejo o confessionário. Poderia funcionar... por enquanto. Pego nas
mãos do padre Guerra e o puxo em direção aos confessionários. Não é fácil,
considerando a discrepância em nossos tamanhos e minha falta de força.
Mas eventualmente eu consigo.

Deixando o corpo no chão, abro a porta do confessionário e tento o meu


melhor para enfiar o corpo dele, garantindo que nada fique de fora.
Infelizmente, há um rastro de sangue no chão. Respirando fundo, fecho a
porta e limpo o sangue. Faço o meu melhor, mas com recursos limitados, só
estou espalhando a bagunça.

A adrenalina está começando a desaparecer e o pânico se instala. Não


posso simplesmente deixar um homem morto no confessionário. Mas
também não posso arrastá-lo sozinha para enterrá-lo em algum lugar. Vou
precisar de outra pessoa para me ajudar a descartar o corpo. Não sei o que
vou fazer depois que eu me livrar do corpo, mas vou deixar para mais
tarde.

Colocando minha mão sobre meu coração, tento regular minha


respiração. Olho para o confessionário e espero novamente que a culpa me
assalte. Isso não acontece. Só de pensar naquele homem tocando Claudia...
Eu balanço minha cabeça. Eu preciso pensar sobre isso. Primeiro, não
posso sair com minhas roupas ensanguentadas. Olho em volta, tentando
pensar nas minhas opções. Eu vejo o órgão no corredor oposto. O banco

morally questionable
está coberto com um pano vermelho. Eu rapidamente me viro e fico feliz
em ver que é um pedaço de material bastante longo.

Tirando o vestido manchado, coloco o pano sobre o corpo e dou um nó


ao redor do ombro em estilo grego. Então, com meu vestido já sujo, limpo o
chão novamente, nos lugares mais óbvios.

Eu farei o resto mais tarde.

Fechando os olhos por um segundo, tento me acalmar novamente. Eu


posso fazer isso... Eu posso fazer isso. Com uma última olhada na capela,
saio e vou direto para o quarto, com cuidado para evitar áreas povoadas.
Quando chego ao quarto, abro-o lentamente e vejo Sisi na cama com
Claudia. A cabeça de Sisi se vira em direção à porta.

— Lina?

— Você pode sair por um segundo? E me traga um vestido. — Sisi


franze a testa, mas faz o que eu digo, sem fazer perguntas.

Espero do lado de fora por alguns minutos e então Sisi aparece com
um vestido.

— O que está acontecendo? — Os olhos dela se arregalam quando ela


vê minha aparência. Eu devo parecer assustada.

— Algo ruim aconteceu. Como terrível.

morally questionable
— Lina... você está me assustando.

— Claudia te contou alguma coisa? — Eu pergunto, quase temendo a


resposta.

— Não... ela só mencionou que você estava com o padre Guerra. — No


momento em que ela menciona o padre Guerra, eu desisto.

— Ele estava a tocando... — Eu sussurro, e as lágrimas finalmente


começam a derramar.

—O que você quer dizer? — Sisi pergunta.

— Ele estava tocando-a debaixo das roupas...

— Não! — ela exclama, horrorizada. — Onde ele está? O que


aconteceu?

— Eu... Eu o matei.

— Você está brincando.

— Não... Eu realmente o matei. Eu não queria, mas...

Conto a ela em detalhes tudo o que aconteceu, incluindo como


depositei o corpo no confessionário.

Após um silêncio prolongado, Sisi finalmente fala.

morally questionable
— Precisamos fazer algo sobre isso. — Eu olho para ela, esperando
que me odeie por ser uma assassina.

— Você... Eu matei um homem. — Repito, esperando por condenação.

— Sim, e eu também o teria matado. Aquele patife! Agora, sobre o


confessionário. — Ela acrescenta pensativa.

— Foi por isso que voltei. Eu não posso fazer isso sozinha. Eu sei que
isso é pedir demais, mas...

— Sem mas! — Sisi me corta e continua. — Vamos, vista-se, e nós


vamos descobrir. — Ela me dá um grande abraço e me deixa mudar para
algo mais decente.

— Eu preciso falar com Claudia primeiro. — Eu digo, e ela concorda,


voltando para me permitir entrar no quarto.

— Eu estarei aqui. Deixe-me saber quando entrar.

Deixo Sisi do lado de fora e lentamente abro a porta do quarto.

— Mamma! — Claudia exclama e vem em minha direção. — Eu sinto


muito. — Ela murmura e começa a chorar.

— Não, querida, não. Não é sua culpa.

morally questionable
— Mas você estava brava... você gritou comigo. Você nunca grita. —
Ela murmura, suas mãos pequenas esfregando os olhos.

— Shh... — Eu lentamente dou um tapinha no cabelo dela e a levo em


direção à cama.

— Claudia, meu amor, por favor me diga... o padre Guerra já tocou em


você assim antes? — Não sei como consigo mascarar o tremor na minha
voz. Claudia levanta seus olhos verdes com lágrimas para me olhar.

— Uma vez... ele me disse que me daria um chocolate todos os dias se


eu deixasse. — Meu coração está partido quando ela me diz isso.

— Ele fez... ele fez mais do que isso? — Eu quase não quero saber,
mas devo.

Claudia balança a cabeça.

— Você tem certeza? Você pode dizer mamãe; prometo que não vou
ficar brava.

— Não. — Ela balança a cabeça ainda mais. Eu quero acreditar nela...


Minha filha... minha filha quase passou pela mesma coisa que eu todos
esses anos atrás. Trago-a ao meu peito e aperto meus braços em volta dela.
Ela está bem... Ela está bem. E ele está morto... Ele não pode mais
machucá-la. É o que digo a mim mesma enquanto a balanço em meus
braços.

morally questionable
Um tempo depois, Claudia está dormindo profundamente. Sisi me
leva de lado e me conta a ideia dela.

— Pode funcionar. Ninguém saberá se o enterrarmos no cemitério.

— Como vamos carregá-lo lá, no entanto? — Eu sussurro de volta


para ela.

— Sua mala de bagagem? — Ela sugere. Isso pode funcionar.

Esvaziamos a mala de todo o seu conteúdo e depois partimos para a


capela.

— Sisi, você tem certeza que deseja fazer isso? É minha culpa... Eu
posso apenas contar a eles o que aconteceu. — Eu não quero arrastá-la
para a minha bagunça... A situação está ficando fora de controle. E isso é
minha culpa.

— E quem acreditaria em você? Você já disse que ele é de uma família


rica. Eles provavelmente têm influência suficiente para garantir que seja
responsabilizada por tudo. Pense em Claudia. O que aconteceria com ela
sem a mãe? — Ela pergunta, e eu congelo. Era exatamente o que eu estava
pensando. O que aconteceria com minha filha? Me entregar não parece
uma boa possibilidade, especialmente porque o padre Guerra era o favorito
da Madre Superiora.

— E se Madre Superiora também estivesse envolvida? — Sisi


pergunta de repente. Eu me viro bruscamente.

morally questionable
— O que você quer dizer?

— Ela sabe que quando você está de serviço, eu assumo o cuidado de


Claudia. Comigo fazendo o dobro das tarefas, Claudia seria deixada
sozinha.

— E vulnerável. Você está certa. Ele estava usando doces para ganhar
sua confiança desde o início. E ninguém teria voltado os olhos se ela fosse a
algum lugar com o padre Guerra. Ele é um padre, afinal. — Eu acrescento,
mas isso me deixa ainda mais enjoada do estômago. Eles estavam
planejando isso? Para contaminar meu lindo bebê? Eu mal posso controlar
a raiva que sinto por dentro com o pensamento..., mas sei que não me
arrependo de matá-lo, mesmo que estivesse em legítima defesa. Ele queria
machucar meu bebê.

Dentro da capela, seguimos direto para o confessionário. Sisi está


quieta quando abro a porta. Ela olha para o corpo sangrento do padre
Guerra com uma expressão quase inescrutável.

Abrimos a mala e a colocamos no chão. Então, nós duas agarramos o


padre Guerra e o jogamos na mala.

— Ele é muito grande. — Ela coça o nariz.

— Nós só precisamos dobrá-lo um pouco. — Ela inclina a cabeça para


o lado enquanto considera isso.

morally questionable
— Que tal tentarmos uma posição fetal? — Ela circula a mala, o rosto
ostentando uma grande carranca. Ela provavelmente está imaginando os
diferentes ângulos.

— Vamos tentar. — Eu encolho os ombros. Giramos seu corpo,


tentando ângulos variados para encaixá-lo dentro. Para nossa sorte, ele
não é um homem muito alto, provavelmente apenas cinco centímetros
mais alto que a minha própria estatura de 1,61m. Depois de muita
tentativa e erro, ele dobrou bem na mala. Pego um zíper enquanto Sisi se
segura no outro e tentamos nos encontrar no meio do caminho. É preciso
sentar em cima para fechar a mala, mas conseguimos.

— Droga. — Ela limpa o suor da testa com as costas da mão.

O convento tem seu próprio cemitério. Sacre Coeur tem uma história
que remonta a quase duzentos anos, e este cemitério foi inaugurado
durante o surto de gripe de 1918. Desde então, tem sido usado
escassamente, quando as freiras morrem. A vantagem é que o cemitério
está localizado perto da capela, para que o corpo possa ser enterrado logo
após os cultos religiosos. Talvez haja dois edifícios administrativos que
tenhamos que passar no caminho para o cemitério. A ideia de Sisi de
colocar o corpo na mala foi brilhante. As rodas da mala facilitam o
transporte para o cemitério. Uma vez lá, procuramos uma área oculta,
onde a presença de terra fresca passaria despercebida. Encontramos
apenas o lugar, ao lado de um salgueiro. A sombra lançada da árvore deve
mascarar a terra virada.

morally questionable
— Espere! — Sisi diz e corre em direção a um dos galpões menores ao
lado do cemitério. Ela leva apenas alguns minutos antes de retornar com
duas pás.

— Agora é a parte mais difícil. — Ela suspira e empurra a pá para o


chão antes de pegar um pouco de terra e jogá-la para o lado. Pego a outra
pá e faço o mesmo.

Deve demorar algumas horas depois, quando quase encharcadas de


suor, terminamos de cavar.

— Honestamente, isso não foi tão ruim assim. — Os comentários de


Sisi, e minha cabeça se encaixa em sua direção. Ela está falando sério? —
Acho que prefiro desenterrar sepulturas do que lavar a louça. Você acha
que posso me candidatar à posição? — Ela está extremamente séria
enquanto pergunta isso, e eu não posso deixar de rir.

— Sisi... — Eu começo, mas não consigo parar de rir. — Você


realmente quer trocar pratos por sepulturas?

— Ainda estaria trabalhando. — Ela encolhe os ombros, mas posso


dizer que ela também se diverte.

— Vamos fazer isso! — Eu levo a mala para frente e juntas a jogamos


no buraco.

— Eu digo que é profundo o suficiente.

morally questionable
— Acho que sim. — Concordo.

Pegamos as pás mais uma vez e cobrimos o buraco com terra. Isso não
leva tanto tempo e logo nos encontramos de volta à capela, tentando
limpar todas as evidências do crime.

morally questionable
CAPÍTULO OITO

Claudia não mencionou Padre Guerra nos últimos dias. Estou feliz
que ela não parece estar traumatizada por esse evento, mas acho que
realmente não entende o que aconteceu com ela. Eu tentei falar com ela e
explicar que o que aconteceu não está bem, e que ela não deveria deixar
ninguém a tocar assim. Ela parecia mais preocupada com o fato de eu ter
gritado com ela. Eu tinha garantido a ela várias vezes que não era culpa
dela, e que os adultos também podem se comportar mal, o exemplo é o
padre Guerra. Nossas discussões parecem ter afetado ela, pois
simplesmente parou de mencionar o evento.

morally questionable
Sisi também fingiu que nossa aventura criminal tarde da noite não
aconteceu. Ela não mencionou o padre Guerra nem uma vez, e tudo voltou
ao normal.

Ou assim pensamos.

Nem todo mundo havia se esquecido do padre Guerra e, alguns dias


depois, circulavam rumores de que ele havia saído de repente. Algumas
freiras disseram que Madre Superiora estava perturbada por sua ausência
repentina. Depois de ouvir todo mundo falar sobre o padre Guerra, eu
desisto e pergunto a Sisi.

— Você acha que elas vão procurá-lo?

— Não se preocupe. Não há chance de encontrá-lo, certo? Não há


vestígios dele. — Ela responde em tom silencioso.

Não importa o quanto eu tentei justificar minhas ações, ainda me


sentia culpada pelo que tinha feito. Não importa quantas vezes tentei
imaginar o padre Guerra com a mão na saia de Claudia, ainda não
conseguia esquecer os olhos dele antes de morrer. Eu não tinha contado a
Sisi, mas o padre Guerra vinha atormentando meus pesadelos desde
aquela noite. Antes, era apenas o monstro com os olhos âmbar. Agora...
meus pesadelos mudaram.

Eles sempre começam com aquele homem... aquele com os olhos


âmbar. Não consigo entender suas feições, apenas sei que ele inspira
sentimentos de pavor em meu coração que eu corro. Mas ele sempre me

morally questionable
alcança, me prendendo por trás. Antes, porém, os sonhos sempre
terminavam com ele levantando minha saia e se forçando em mim.
Agora... Eu revido e o empurro de mim. Mas quando tento me defender, ele
se transforma no padre Guerra.

E eu o mato.

Racionalmente, pensei que seria capaz de esquecer tudo. Meu


subconsciente, no entanto, parece contrário à ideia.

Naquela noite, eu sonho novamente. Chutando e virando, desisto de


qualquer esperança de descanso quando vejo que são quase seis.

Levanto-me silenciosamente e me sirvo um copo de água.

— Você não está bem, está? — Sisi se sustenta em sua cama, seus
olhos observando todos os meus movimentos.

Eu balanço minha cabeça.

— Ele mereceu, ok? — Ela dá um tapinha no local ao seu lado e eu me


deito.

— Eu sei disso... na minha cabeça. Mas ainda me sinto culpada.

— Apenas tente esquecer. Vai ficar mais fácil com o tempo. — Sisi
sugere.

morally questionable
Nesse momento, um grito permeia o ar. Eu olho para Sisi, franzindo a
testa. Outro grito, uma voz diferente.

Sisi sai da cama, rapidamente colocando seu hábito.

— O que você está fazendo? — Eu assobio.

— Você não está curiosa? — Ela pergunta, e ainda assim ouço mais
um grito.

Poupo um olhar para Claudia e ela ainda está dormindo


profundamente. Deixando-me convencida por Sisi, eu me visto e,
trancando a porta, seguimos em direção à origem do som.

— Eu acho que é na gráfica. — Sisi aponta nessa direção e começa a


correr. Balançando a cabeça, eu sigo. Talvez o que quer que seja tire minha
mente do padre Guerra por um momento.

Chegamos à gráfica e vemos um monte de freiras, todas elas


parecendo ter visto o próprio diabo. Algumas estão fazendo o sinal da cruz,
outras estão beijando uma cruz e outras estão apenas ajoelhadas e orando.
Impaciente, Sisi rodeia o mar de freiras, me levando com ela. Mas então
ela de repente para.

— Mãe de Deus... O que... — Sisi murmura. Ela está de pé na minha


frente, então eu dou dois passos para a direita para poder ver o que está
na frente dela. Eu paro com um suspiro.

morally questionable
A gráfica tem uma cópia da Pietà de Michelangelo como sua peça
central. E a escultura foi profanada da pior maneira.

Eu quase engasgo com a visão — e cheiro.

Em vez de o corpo de Cristo estar nos braços de Maria, é o corpo do


padre Guerra. Ele está nu, sua pele inchada e descolorida. Sua pele
anteriormente pálida agora é marrom com algumas manchas roxas. Seu
torso foi aberto, seus órgãos se espalhando. Acho que consigo distinguir o
intestino dele, arrastando os recortes do vestido de Mary. Há moscas
zumbindo e larvas rastejando para fora de sua cavidade torácica, algumas
delas se espalhando pela grama. Há alguns insetos pendurados no rosto de
Mary, tentando se enterrar nos orifícios abertos. O cheiro de putrefação
que faz os insetos zumbirem de alegria está causando o colapso em freira
após a freira no meio da oração.

Mas isso nem é o pior.

No fundo da estátua, pintado em sangue, há cinco palavras.

Eu sei o que você fez.

— Blasfêmia! — uma freira grita.

A cabeça do padre Guerra está pendurada frouxamente no pescoço, a


pele fina pela putrefação e os muitos predadores em jogo. Mesmo agora,
está se movendo levemente para cima e para baixo, a coluna totalmente
visível. As vértebras cervicais estão se esforçando para suportar o peso da

morally questionable
cabeça... até que eles não possam mais. A cabeça cai com um baque, todas
as freiras se contorcendo com o som. Em seguida, rola na grama até atingir
os pés de uma freira. Ela mal poupa um olhar, pois ela também cai no
chão.

Minha mão dispara, agarrando-se ao braço de Sisi. Eu tento me


firmar, mas meus pés estão balançando.

— Lina?

— Quem... — Eu sussurro... — Eu não posso.

— Precisamos sair. — Sisi agarra minha mão e me puxa para trás.


Nesse momento, Madre Superiora faz uma aparição.

No momento em que vê o padre Guerra, ou o que resta dele, ela faz o


sinal da cruz e cai de joelhos, com os olhos arregalados de horror.

— Vamos lá. — Sisi me empurrando ainda mais, tirando meu foco da


Madre Superiora. Eu a sigo até voltarmos para o quarto em segurança.

Claudia ainda está dormindo, então tentamos manter nosso volume


no mínimo.

— Alguém me viu... Oh Senhor, alguém sabe. — Não posso deixar de


entrar em pânico quanto mais penso nisso. A imagem do padre Guerra
estripada e exibida publicamente estará queimada para sempre na minha
cabeça. Eu nunca posso deixar de ver isso...

morally questionable
— Você não sabe disso.

— Foi escrito lá. Você viu também. — Trago minha mão para minha
testa e fecho meus olhos. Eu preciso fazer alguma coisa... Eu não posso
ficar aqui. Se alguém sabe... Estremeço só de pensar nisso. Quem fez
aquilo ao padre Guerra... Senhor! Não podemos ficar aqui. É muito
perigoso.

— Talvez tenha sido uma brincadeira.

— Uma brincadeira? — Eu me viro para Sisi. — Você viu o que eles


fizeram com o cadáver? Eles o degradaram... Não... Eu não posso fazer
isso. Não posso simplesmente sentar e esperar até quem quer que seja
volte para mim. Ou pior, Claudia.

— Eu entendo, mas o que você pode fazer?

Trazendo minhas unhas para a boca, eu as mordo, a ansiedade


comendo na minha sanidade. O que eu posso fazer?

Pense, Catalina, pense!

— Eu preciso ligar para Enzo, contar tudo para ele. — Eu deixo


escapar. Não sei se Enzo pode fazer alguma coisa, mas talvez possa pelo
menos proteger minha filha.

morally questionable
Nem espero Sisi responder. Vou diretamente para o meu local
escondido e pego meu telefone, discando para o Enzo. Ele pega na primeira
tentativa.

— Lina? — Ele pergunta, claramente surpreso que eu ligaria tão cedo.

— Enzo... Eu preciso de ajuda. Eu estraguei tudo. — Começo, minha


voz treme enquanto tento explicar o que aconteceu.

— Desacelere piccola. O que aconteceu?

E então eu digo a ele. Não em grandes detalhes, mas acho que ele
entende o suficiente porque me diz imediatamente.

— Eu estarei aí em algumas horas. Não se mexa! Não saia do seu


quarto, entendeu?

— Sim. — Eu sussurro e desligo.

— Você está indo embora? — Sisi pergunta.

— Eu não sei. Enzo me disse para esperar por ele. Estou mais do que
assustada, Sisi... Estou aterrorizada. E se algo acontecer com Claudia?
Você viu aquela coisa lá fora. Nenhuma pessoa sã faria isso.

— Não, você está certa. Você não pode arriscar a segurança dela ou a
sua.

morally questionable
— E você, Sisi? Você me ajudou! — Eu odiaria que algo acontecesse
com ela por minha causa.

— Eu vou ficar bem. — Ela diz com desprezo, mas não estou
convencida.

— Pelo menos ligue para seu irmão. Deixe-o saber que você pode estar
em perigo. — Eu adiciono.

— Eu não acho necessário. As chances são de que a segurança seja


reforçada por causa do incidente. Não se preocupe comigo, por favor. — Ela
pega minhas mãos nas dela. — Vamos arrumar suas coisas. Você precisa
sair daqui.

Eu concordo com relutância e enchemos algumas sacolas,


principalmente com roupas. Então acordo gentilmente com Claudia e
explico a ela que talvez precisemos ir embora. Em seu estado confuso e
sonolento, ela apenas concorda comigo, não fazendo perguntas.

Fiel à sua palavra, Enzo está aqui uma hora depois. Ele me chama
para descer, enquanto espera em frente ao prédio.

— Enzo! — Eu chamo enquanto corro para abraçá-lo. Ele beija o topo


da minha cabeça.

— Vai ficar tudo bem piccola— Ele pega Claudia e a gira.

—Você está pronta, moppet?

morally questionable
— Sim! — Claudia exclama. Não sei se ela entende que estamos
saindo do convento, já que ela nunca viu o mundo exterior, mas está
aberta a isso.

— E a Madre Superiora?

— Eu tive algumas palavras com ela. Ela estava perturbada demais


para discutir comigo.

— Ela provavelmente ficou feliz em me ver partir. — Eu adiciono


secamente.

— Acabei de dizer a ela que não poderia de boa fé deixar você aqui, na
cena de um crime. — Ele faz uma careta para a palavra crime, e eu desvio
o olhar. Eu não tinha contado tudo a ele, dado meu estado mental na
época. Mas eu vou.

— Vamos sair daqui. — Eu digo e ele assente.

Logo nos encontramos na traseira do carro de Enzo e a caminho de


sua casa... minha casa de infância. Claudia, ainda com um pouco de sono,
acena com a cabeça. Sou grata por isso, pois posso discutir as coisas com
Enzo mais livremente.

— Guerra, você disse?

morally questionable
— Sim. — E então, em um tom sombrio, dou a ele um relato completo
do que aconteceu, desde o momento em que o vi tocando Claudia, até Sisi e
eu o enterrando no cemitério.

— E você não tem ideia de quem poderia ter deixado essa mensagem?

Eu balanço minha cabeça vigorosamente.

— Foi como um espetáculo... de morte. Eu sinto que quem fez isso


estava zombando de mim.

— Não é a melhor situação, — admite Enzo com tristeza. — Mais


ainda porque ele era um Guerra. Nunca estivemos em bons termos com
eles.

— O que você acha que eles farão?

— Na melhor das hipóteses? Conseguir justiça. Na pior das


hipóteses... se vingar. — Enzo diz enigmático, mas tento não pensar muito
sobre isso.

Chegamos em casa e Enzo sugere que eu pegue meu antigo quarto.

— Vou manter Claudia comigo por enquanto, já que este é um lugar


estranho para ela.

morally questionable
— Vá descansar piccola. Se precisar de alguma coisa, me avise.
Allegra não voltará para casa tão cedo, mas Lucca está aqui. Eu vou te
apresentar mais tarde. Talvez ele e Claudia se dêem bem.

— Isso parece bom. — Eu aceno.

Enzo pega Claudia nos braços e a deita na minha cama de infância.

— Tudo é o mesmo... — Eu observo, quando Enzo está prestes a sair.

— Eu disse que te recuperaria piccola. Talvez as circunstâncias não


sejam ideais no momento, mas esta é sua casa.

— Obrigada! — Eu beijo sua bochecha.

Fechando a porta, respiro fundo e olho ao redor do meu antigo quarto.


Ainda tem minhas roupas de adolescente e tudo o que eu não consegui
levar comigo para Sacre Coeur. Mudando meu olhar para uma Claudia
adormecida, não posso deixar de sorrir.

Eu não me importo onde estou, desde que ela esteja comigo — segura.

Ela é tudo o que importa.

morally questionable
No dia seguinte Enzo pede para falar comigo. Pelo tom de sua voz,
posso dizer que ele não tem boas notícias para compartilhar. Depois que
acordamos, Claudia e eu fomos para o café da manhã, onde também
conhecemos o filho de Enzo, Lucca. Como esperado, Claudia e Lucca se
tornaram amigos rapidamente, especialmente quando Lucca a convidou
para brincar com seus brinquedos. Para uma garotinha que só viveu
dentro dos limites de um convento, essa foi uma aventura totalmente nova.
Eu a encorajei a se divertir.

Enquanto me sento em frente a Enzo, não posso deixar de me mexer.

— Lina... — Ele começa e balança a cabeça. Ele está segurando uma


carta na mão, que ele passa para mim.

— O que é isso? — Eu pergunto. Sua boca está inserida em uma linha


rígida. Com uma mão trêmula, pego a carta e a abro.

Ignorando o conteúdo, sinto meu estômago cair.

— Este..., mas como? — Eu pergunto.

morally questionable
— Eu não sei. Eu realmente não tenho ideia de como eles
descobriram. Quem jogou o corpo de Guerra na gráfica deve ter falado
sobre você.

— E agora?

A carta detalhava as coisas que os Guerras fariam comigo se me


pegassem. Eles declararam que sabiam que fui eu quem matou o padre
Guerra e que sofreria em espécie pelo insulto à família deles.

— Não é uma situação ideal. Eles se sentem menosprezados porque


você é uma mulher.

— E uma mulher não pode matar um homem, você quer dizer? — Eu


pergunto sarcasticamente. Enzo acena com acenos de cabeça.

— Você precisa de proteção, Lina. Você e Claudia precisam de


proteção.

— Nós temos você, certo?

Enzo balança a cabeça. — Não será suficiente. Você precisa de alguém


que a proteja o tempo todo; e alguém que eles não podem atravessar. Por
mais que me doa dizer... Estou muito enfraquecido. Entre administrar a
famiglia e nossos negócios, também há um conflito contínuo com outras
organizações.

morally questionable
— Nós poderíamos ficar aqui. Esconder-se aqui. — Eu acrescento,
tentando convencê-lo de que podemos estar seguras aqui.

— E se eles atacarem? Quem pode dizer que eles não atacarão quando
eu for chamado para lidar com alguma coisa? Isso poderia acontecer.

— Então o que eu posso fazer? — Estou tentando muito conter as


lágrimas. O que Enzo está dizendo... isso significa que nunca estaremos
seguras? Que teremos que sempre olhar por cima dos ombros? Não posso
ter isso para Claudia... até Sacre Coeur é melhor que isso. Mas o convento
não é mais seguro agora.

— Casar-se. — Enzo joga a bomba em mim. Minha boca fica aberta


em choque. Casamento? Mas quem... ninguém me teria.

— Casamento?

— Sim. Você poderia se casar com um homem poderoso o suficiente


para garantir sua segurança e a de sua filha.

— Mas... Enzo, certamente você sabe que ninguém vai me receber. Eu


sou mercadoria danificada. — Eu abaixo meu volume nas últimas
palavras, com vergonha de mim mesma.

— Não diga isso. Lina... nunca diga isso de novo. Você não é
mercadoria danificada. — Ele repreende, e eu viro a cabeça, não querendo
ver sua reação.

morally questionable
— Quem vai me querer, Enzo?

— Alguém vai. De fato, apenas alguns dias atrás, ele veio me ver
sobre uma aliança. Ele nunca diria não a você. — Enzo diz com confiança,
mas não posso deixar de ser cética. Certamente uma vez que o homem
percebesse quem eu sou... e que eu tenho uma filha, ele sem dúvida
recuará.

— Quem é? — Eu pergunto. Antes que Enzo me diga seu nome, faço


um voto para mim mesma. Quem quer que seja, contanto que ele me aceite
e minha filha, eu também o aceitarei e cumprirei meu dever como esposa.

Enzo franze seus lábios. — Marcello Lastra.

Meus olhos se arregalam e ofego quando ouço o nome.

— Irmão de Sisi? — Enzo assente.

— Se a situação não fosse tão terrível, eu nunca teria permitido.


Confie em mim, Lina. Mas agora, temo que ele possa ser nossa única
chance.

O homem bonito...

— Você tem alguma coisa contra ele? — Eu pergunto, quase hesitante.


Em termos de aparência, Marcello Lastra era bonito, talvez até bonito
demais.

morally questionable
— Há algo de errado com ele... Não consigo descobrir. Ele pediu sua
mão antes, você sabe. Eu nunca o aprovei, mas o pai estava pronto para o
casar com você.

— O que? — Estou chocada com essa informação. — Marcello pediu


para se casar comigo? Quando?

— Um pouco antes do incidente. — Enzo diz, parecendo


extremamente desconfortável trazendo isso à tona. — Claro, nunca
aconteceu por causa disso. Depois, seu pai morreu e Marcello
simplesmente desapareceu.

— Eu não sabia disso. — Eu adiciono devagar, tentando digerir isso.


Marcello queria se casar comigo? Uma sensação estranha de calor estava
se desenvolvendo no meu estômago. Talvez... talvez nem tudo esteja
perdido. Só de pensar no vislumbre que tive dele e no quanto gostei...

— Eu vou me casar com ele. — Eu digo, talvez muito rápido. — Por


Claudia. — Eu altero. E para mim.

Enzo suspira. — Eu realmente não queria que tudo se resumisse a


isso. Mas... Eu ligarei para ele. Pedir para ele vir para uma reunião.

morally questionable
Uma hora mais tarde, quando Enzo me informou que Marcello viria
para uma reunião amanhã, eu mal mantinha uma cara séria. Acenei com a
cabeça, agradeci e corri para o meu quarto.

Tenho que admitir para mim mesma que estou muito boba com a
perspectiva de encontrá-lo pessoalmente... falar com ele. Será como uma
cena dos meus sonhos. Ele até me beijaria...

Minha mão vai para os meus lábios e eu suspiro. Não quero pensar no
que vem depois de beijar. Agora não, quando estou tão feliz com a ideia de
me casar com alguém — alguém bonito.

Mas e se ele não gostar de mim? O pensamento de repente me faz


parar. E se... Sim, ele queria se casar comigo, mas isso foi há mais de uma
década? Eu era uma jovem intocada naquela época. Agora... Eu venho com
bagagem; emocional e física. Vou ter que ser extremamente honesta com o
deslocamento. Deixe-o saber tudo sobre mim. Então, ele pode decidir se
quer se casar comigo ou não. Decisão tomada; eu já me sinto um pouco
mais leve. Ainda estou preocupada que ele não me queira, talvez porque
EU quero muito ele. Eu sei que estou projetando porque não conheço o
cara. Mas minha atração por ele foi tão repentina e surpreendente que
deixou uma marca em mim. Então, eu usei todas as informações que tinha
sobre ele para criar essa pessoa ideal que às vezes me visitava nos meus
sonhos.

morally questionable
Gemo alto, me encolhendo internamente com meu comportamento. Eu
preciso parar. Aconteça o que acontecer, será. Preciso me preocupar com
minha filha, não com um homem que nem conheço.

Claudia parece gostar de termos deixado Sacre Coeur, ela continua


delirando com todas as coisas na casa que nunca viu antes, especialmente
as tecnológicas. Quando Lucca lhe mostrou seus brinquedos, ela ficou
admirada. Eu me senti mal porque nunca fui capaz de lhe dar algo assim.
Mas ainda há tempo, certo?

A única coisa que parece ser um problema é o fato de Claudia estar


sentindo falta de Sisi, ferozmente. Então o pensamento me ocorre. E se eu
puder convencer o irmão dela a tirá-la de lá também? Ela poderia morar
conosco... se ele me aceitar, é isso.

Eu não acho que Sisi sempre quis ser freira; ela certamente não tem
inclinação para isso. Mas ela nunca conheceu mais nada. Criada por
freiras desde o nascimento, é tudo o que ela já conheceu. Eu notei várias
vezes como ela tenta se convencer de que fazer seus votos é o que deveria
fazer, porque no fundo ela não ousa esperar que possa haver mais alguma
coisa para ela. Com tudo o que aconteceu na última semana, espero poder
dizer uma palavra para ela. Eu simplesmente não posso deixá-la
desperdiçar-se em Sacre Coeur.

Na manhã seguinte, vou cedo para a cozinha tomar uma xícara de


chá. Meus nervos estão me matando. Eu gostaria de pensar que todos na
minha posição — com o perigo pairando sobre nossa cabeça — ficariam tão

morally questionable
ansiosos. Eu me contento com Valerian pelos meus nervos. Estou na mesa
da cozinha, aproveitando o chá, quando uma mulher entra, sua
maquiagem borrada em todo o rosto, suas roupas em desordem.

— E você é? — Ela para em seu caminho ao me ver, com os olhos se


estreitando. Estou prestes a responder, mas ela apenas segue em frente
com seu discurso.

— Eu não acredito nisso! Ele agora está trazendo suas prostitutas


para casa. — Ela se planta na minha frente e me estuda da cabeça aos pés.
Seus lábios se enrolam de nojo. — Parece que o tipo dele também mudou.
— Ela inclina minha cabeça com o dedo.

— Você entendeu errado. — Eu saio do seu alcance. — Eu sou irmã de


Enzo, — tento explicar, embora seja estranho que ela não me reconheça.
Nós nos conhecemos algumas vezes no passado. — Catalina.

Ela franze a testa por um segundo antes de rir. — Isso é


simplesmente ótimo! Ele está em incesto agora? Eu deveria ter percebido.
— Ela murmura um pouco mais antes de sair da cozinha, jogando os
sapatos ao redor quando sai.

Bom Deus, esta é a esposa de Enzo? E onde ela estava se voltou para
casa assim? Quando Enzo desce, um tempo depois, mencionei o que
aconteceu, mas ele apenas balança a cabeça.

— Não ligue para ela. Ela não está bem. — Ele acrescenta
sombriamente.

morally questionable
— Ela pensou que eu era... — Eu coro, e Enzo rapidamente entende
isso.

— Eu posso imaginar o que ela pensou. Não a escute. Se possível,


ignore-a. É o que eu costumo fazer. — Ele encolhe os ombros, indo ao
balcão e servindo uma xícara de café.

— Ela não me reconheceu. — Eu murmuro mais para mim.

— Não me surpreende. — Enzo acrescenta com um escárnio antes de


se recompor. — Ela não está bem... mentalmente.

— Oh. — Eu deixo o assunto, percebendo que é um que incomoda


Enzo. Farei o meu melhor para evitar Allegra no futuro.

— Marcello chegará por volta do meio dia. — Ele traz seu café à mesa
e se junta a mim. — Eu vou falar com ele primeiro, então vocês dois podem
se encontrar. — Enzo define o plano e eu apenas aceno com a cabeça, a
ansiedade que senti antes retorna com força total.

— Lina, — Enzo coloca a mão em cima da minha. — Vamos superar


isso, eu prometo. Ninguém vai prejudicá-la, ou Claudia.

Eu aceno. Eu também espero.

morally questionable
Horas depois disso eu continuei andando pelo meu quarto, esperando
Enzo terminar sua reunião. A cozinheira, Melissa, se ofereceu para fazer
compras com Claudia e Lucca. Como tudo isso é novo para Claudia, eu
concordei, especialmente quando ela me garantiu que eles seriam
acompanhados por vários guarda-costas.

Minhas palmas estão suadas e, quando uma empregada vem me


avisar que Enzo me chamou, tento me recompor da melhor maneira
possível. Desço as escadas e vejo Enzo com um cigarro na boca. Ele acena
com a cabeça em direção ao escritório.

— Como foi? — Eu sussurro.

— Ele concordou, mas somente depois que ele falasse com você. Ele
disse que quer obter seu consentimento expresso.

No momento em que soube é como se um peso tivesse sido retirado do


meu peito.

— Sério? — Meu tom esperançoso deve ser óbvio demais, porque Enzo
faz uma careta.

morally questionable
— Eu não gosto disso. — Ele reitera. — Mas é a única solução para
nossos problemas. — Ele pega um trago no cigarro. — Continue. Acalme
sua mente e nos reuniremos para discutir os detalhes.

Deixando Enzo para trás, vou em direção ao escritório dele. Com uma
respiração profunda, tomo coragem e bato na porta antes de abri-la.

Marcello está de costas para a porta, sentado à vontade em uma


cadeira.

— Olá. — Eu o saúdo.

Ele se vira lentamente e seus olhos se movem sobre a minha forma.


De repente, me sinto constrangida. Não tenho tantas roupas, não
precisando de nada de especial durante meu tempo no Sacre Coeur. Para
esta reunião, eu coloquei meu melhor vestido de domingo. É um vestido
azul bastante simples que atinge meus tornozelos. Ele aperta a cintura,
então me dá uma pequena definição. Estendi minhas mãos pelo vestido,
tentando me livrar da umidade das palmas das mãos.

Marcello se levanta e me move em direção à cadeira à sua frente. Dou


um passo à frente e estendo minha mão em saudação. Ele dá uma olhada
passageira, mas não retribui, em vez disso, seus olhos estão fixos no meu
rosto. Sinto-me um pouco tola com a mão estendida assim, então
imediatamente finjo que estou suavizando meu vestido antes de me sentar.
Talvez ele não goste do que está vendo... por que ele não está dizendo
nada?

morally questionable
— Catalina. — Ele acena para mim e senta-se.

— Meu irmão deve ter lhe contado as circunstâncias. — Comecei


tentando parecer não afetada por ele. Ele parece tão bom quanto quando
eu o vi antes... ainda melhor de perto. Seus olhos são de uma cor quente de
uísque. Eu não tinha notado isso da última vez. Vestido com um terno
cinza, ele parece inteligente e profissional. Até o cabelo dele está
arrumado, não está mais bagunçado. Mais uma vez estou me perguntando
o que ele deve ver quando está olhando para mim. Talvez eu devesse ter
usado maquiagem. Mas como nunca usei realmente, não sei como aplicá-
la.

— Ele disse. — Ele responde, sua voz enviando arrepios pela minha
espinha. Há uma qualidade rouca no seu tom que me faz querer fazer mais
perguntas apenas para que continue falando.

Ele se inclina para trás em seu assento, ainda me observando. Eu


tento muito não me mexer sob seu olhar minucioso.

— Você está de acordo com o casamento? — Ele me pergunta, e eu


imediatamente aceno.

— Sim. — Mas então uma pontada de culpa me agride. Ele


provavelmente não sabe... — Mas primeiro, eu tenho que te dizer uma
coisa. Você pode decidir se ainda quer se casar comigo depois. — Eu dou
uma olhada nele, e ele tem uma expressão entediada. Ele casualmente
assente, e eu respiro fundo.

morally questionable
— Eu não sou... — Eu paro, sem saber como enquadrar isso. — Eu não
sou inocente. — Eu finalmente digo.

Sua expressão muda brevemente, mas ele apenas encolhe os ombros.


— Eu não ligo para isso.

— Isso não é tudo. Eu tenho uma filha...

— Enzo mencionou isso. — Há uma intensidade nos seus olhos que


quase me assusta. Antes de perder a coragem, continuo.

— Eu não vou me separar dela. — Ele assente.

Há um momento de silêncio em que ele apenas olha para mim.

— Quantos anos ela tem? Sua filha?

— Ela tem nove anos e meio. Ela é muito bem comportada, não vai
incomodá-lo, — sinto-me compelida a acrescentar. Talvez ele tenha
pensado que era um bebê ou uma criança pequena, e eles são mais
indisciplinados, então eu vejo por que ele estaria interessado.

Seus olhos se contraem por um segundo e ele vira a cabeça.

— Qual é o nome dela?

— Claudia.

morally questionable
— Bom. Você e Claudia não terão que se preocupar com nada.

— Não é... um problema?

— Não. Eu tenho uma irmã mais nova em casa. Elas não estão tão
longe de idade e podem se dar bem. — Eu dou um suspiro de alívio por
suas palavras. — No entanto, — ele continua. — Eu também tenho
algumas regras básicas. Por isso pedi a Enzo que me deixasse falar com
você de antemão.

Eu congelo. O que ele quer dizer? Espero que ele continue.

— Este será um casamento apenas no nome. Vou lhe dar meu nome e
provê-la e Claudia. Você não vai necessitar de nada. Receberá seu próprio
quarto em casa. Como você gasta seu tempo depende de você. Só lhe
imponho que se houver um evento para o qual somos convidados ou se
estamos organizando um, teremos que ir.

Um casamento apenas no nome? Espero que o alívio chegue, mas não


há. Por quê? Ele não deve gostar de mim... Essa é a única explicação
plausível.

— Isso é bom para mim. — Eu digo, tentando mascarar minha


decepção.

— E uma última coisa. Não me toque. — Eu chicoteei minha cabeça e


franzi a testa para ele. O que?

morally questionable
— O que você quer dizer?

— Só isso. Eu não gosto de ser tocado. Até algo pequeno, como uma
pincelada de mão. Não.

Estou atordoada demais para dizer qualquer coisa, então apenas


aceno entorpecida.

— É melhor definir nossas expectativas desde o início. Dessa forma,


não haverá decepção. — Ele menciona. Ainda estou me recuperando de seu
antigo pronunciamento.

— Isso não significa que você pode ver outros homens.

— E você? — Eu explodi.

— Eu? — Ele levanta uma sobrancelha para mim.

— Será apenas um casamento no nome, como você disse, mas não


tenho permissão para ficar com mais ninguém. Então e você? — Eu
pergunto a ele.

Ele joga a cabeça para trás e ri.

— Você não precisa se preocupar com isso, Catalina. — Ele se inclina


para a frente, então está mais perto do meu rosto. — Minha aflição, por
assim dizer, se estende a todos. Serei fiel aos meus votos; disso você pode
ter certeza. — Ele leva um momento para respirar profundamente, antes

morally questionable
de adicionar. — Se eu pudesse... — Ele balança a cabeça, um sorriso
amargo se formando nos lábios.

— Nós dois estamos de acordo? — Marcello pergunta e eu aceno.

— Ótimo. Vamos chamar Enzo para que possamos conversar sobre as


formalidades.

E assim fazemos. O casamento será uma cerimônia pequena, a ser


realizada em três dias. E depois disso, eu e Claudia vamos morar com
Marcello. Tudo parece adorável, mas por que tenho esse sentimento
irritante de decepção?

morally questionable
CAPÍTULO NOVE

Algumas Horas Antes.

Minha aversão ao toque não pode ser identificada em um único


momento, embora tenha havido um evento específico que possa ter
desencadeado isso. Talvez tudo tenha começado na infância. Há um estudo
que provou que os bebês que têm contato físico próximo com a mãe crescem

morally questionable
e se tornam indivíduos mais bem ajustados do que aqueles que não têm
uma figura materna. Eu pertenço à última categoria.

Não foi difícil descobrir o que havia acontecido no meu nascimento, os


empregados sempre fofocavam. Minha mãe deu uma olhada em mim e me
declarou pecador. Ela disse que um número infinito de batismos não
poderia purificar minha alma. O pai, é claro, adorou o pensamento de que
um filho dele seria o diabo encarnado. E então ele fez tudo ao seu alcance
para tirar a humanidade de mim. Minha mãe mantinha distância ou me
acusava do pecador que eu era.

Tudo convergiu para um único evento que provou ser o meu ponto de
ruptura. E assim, a partir de então, desenvolvi uma fobia ao toque.
Embora minha fobia se aplique a todos, é especialmente traumático
quando a pessoa em questão é uma mulher. E assim, na última década,
evitei todas as interações com o sexo oposto. Mesmo no trabalho, as
pessoas supunham que eu era gay simplesmente porque mantinha uma
distância respeitosa de todas as mulheres no escritório. E agora eu tenho
que me casar... provável que tenha dezoito anos de idade. O pensamento
disso me deixa doente.

Isso não quer dizer que não houve toques acidentais ao longo dos anos;
é praticamente impossível viver completamente isolado. Mas cada um
desses toques me causou dor física e tanta angústia mental que eu
precisava de tempo para me recuperar. Além disso, quero acreditar que me
adaptei o suficiente para viver na sociedade como um ser normal — ou o
mais normal possível.

morally questionable
— Signor, alguém para vê-lo. — Amelia me interrompe dos meus
pensamentos. Tiro meus óculos e massageei minhas têmporas.

— Deixe-o entrar.

Nem um momento depois, Vlad casualmente entra, colocando-se na


cadeira na minha frente.

— Marcello. — Ele sorri para mim, mascando um chiclete alto.

— Quaisquer desenvolvimentos recentes? — Eu pergunto, sabendo


que Vlad não viria aqui apenas para dizer olá. Tentamos chegar ao final do
último ataque, mas, segundo ele, Quinn e Matthew Gallagher se
esconderam após a morte de Jimenez.

— Na verdade não. Você sabe, o mesmo de sempre. — Ele diz, com os


olhos fixos no relógio atrás de mim.

— O que isso significa? — Com Vlad, você sempre tem que extrair as
informações dele.

— Oh, você sabe, — ele encolhe os ombros inocentemente. — O cartel


de Ortega está trabalhando com um capítulo de MC agora, Quinn está de
volta à cidade... mesmas coisas.

— Você disse que não houve aparições de Quinn.

morally questionable
— Oh, eu disse? Até agora, é isso. Meus contatos estão dizendo que ele
está se preparando para uma grande luta. Eles abriram mais algumas
arenas no Bronx.

— E você não achou que isso fosse um desenvolvimento?

— Eu não estou preocupado com Quinn. O cara é uma máquina, mas


uma máquina inteligente? Não penso assim. O pai dele, no entanto? Não
foi visto desde o ataque aos Agosti. Agora, se houvesse informações dele
que eu chamaria de desenvolvimento. —Vlad relaxou de volta na cadeira,
exibindo uma expressão despreocupada. Sua atuação é tão boa que acho
que ninguém notaria o que se esconde sob a superfície.

— Meu povo quer vingança pelas baixas. — Eu adiciono.

— E você acha que eu não quero o mesmo? — Vlad pergunta,


claramente ofendido.

— Eu não sei o que você quer. De fato, por que você veio aqui?

—Marcello, Marcello, você é sempre tão rude com seus convidados?


Não é de admirar que as pessoas não suportem sua bunda mal-humorada.
—Vlad balança a cabeça em falsa indignação.

— Corte a brincadeira, Vlad.

morally questionable
— Hmm... — Ele me estuda por um segundo. — Você fez a escolha
correta para assumir seu papel como Capo... e assim você colherá os
benefícios.

— Do que você está falando? — Eu franzi a testa.

— A coisa que você mais queria... é quase seu. — Vlad diz misterioso
antes de se levantar e caminhar em direção à biblioteca. — Houve uma
morte recente.

— Chimera? — Eu pergunto, percebendo que essa é a única razão pela


qual ele veio pessoalmente.

— Sim. Saratoga Springs.

— O que? Isso é...

— Está ficando cada vez mais perto, também mais rápido do que
antes. Se este fosse um serial killer normal, eu diria que o período de
reflexão está ficando cada vez menor. Mas nós dois sabemos que ele não é
normal.

— O que a polícia está dizendo?

— Sem impressões, sem evidências realmente. Os locais também são


escolhidos de maneira tão aleatória que não conseguem estabelecer um
padrão.

morally questionable
— Então nada. — Vlad assente.

— Mas temos algo que eles não têm. Motivo.

— Você disse antes que acha que ele está atrás de mim. Mas
simplesmente não consigo imaginar quem poderia ser.

— Pense, Marcello. Deve haver alguém.

— Havia dezenas, senão centenas, de pessoas, Vlad. — Eu me sacudo.


É inútil até tentar lembrar. Isso só pioraria tudo.

— Este Chimera, quem quer que seja, sabe tudo o que há para saber
sobre o verdadeiro modo de agir de Chimera. Infelizmente, não posso
ajudá-lo se você não se ajudar, Marcello. —Vlad suspira e joga um arquivo
na minha mesa.

— Talvez algo para sacudir sua memória.

Trazendo a mão para a testa em uma simulada saudação militar, Vlad


sai.

Olho para o arquivo na minha frente, quase não ousando abri-lo.


Quando finalmente o faço, é para ver meu maior pesadelo me encarando.

Há fotos da cena do crime em Saratoga Springs. Chimera sempre


deixaria para trás uma assinatura, para mostrar que o bicho-papão estava
na cidade. Chimera original reunia os dentes de sua vítima na forma da

morally questionable
letra C. Este Chimera parece ter se desviado disso, ainda que
ligeiramente. Embora ele tenha se apegado fielmente ao roteiro até agora,
parece que esse imitador está tentando deixar sua própria marca de certa
forma. Ainda existe a letra C, mas desta vez é montada de uma maneira
vistosa, usando as costelas do falecido.

A vítima, um homem ao que parece, é cortado ao meio. Seu torso está


colocado em uma mesa no meio da sala — a peça central. A cavidade
torácica está vazia de seus órgãos. Em vez disso...

Não posso deixar de desviar os olhos.

Um bebê morto é enrolado em uma posição fetal dentro da cavidade


torácica do homem, onde seus outros órgãos estariam. Simulando uma
morte no útero, o bebê é estrangulado pela tripa do homem, provavelmente
usado em vez de um cordão umbilical.

Eu não posso mais olhar. Jogo os papéis na minha mesa e fecho os


olhos por um segundo, tentando pensar em outra coisa.

Mas por mais que eu queira, não posso.

Porque, finalmente, é minha culpa que essas pessoas estejam mortas;


minha culpa é que o imitador dele tenha algo a provar.

É sempre minha culpa.

morally questionable
As coisas estavam mais calmas na famiglia ultimamente. Francesco
tem monitorado a atividade e tem me fornecido relatórios diários. Nicolo
parece ter engolido seu orgulho por enquanto, mas eu não deixaria passar
por ele estar planejando algo. É bom que a aliança com os Agosti esteja
quase concluída. Há pouco, recebi uma ligação de Enzo dizendo que ele
tinha algo a discutir comigo e que tinha um candidato em mente para
mim. Marcamos a reunião para depois do meio dia.

Enquanto isso, tenho que revisar os arquivos das governantas que


Amelia havia examinado para uma entrevista. Após o desastre com a
primeira governanta que chegou a chamar Venezia de deficiente mental
por sua falta de educação formal, eu decidi examinar cada candidato.
Existem dez no total que parecem ter as qualificações. É claro que, no
papel, até o último parecia espetacular, mas sua atitude em relação a
Venezia havia sido péssima. Eu faço referência cruzada da disponibilidade
deles com a minha programação e decido vê-los a partir da próxima
semana. Até então, eu deveria terminar com a maioria das coisas urgentes
dentro da famiglia.

Depois de alocar um tempo para cada candidato, devolvo a lista a


Amelia.

morally questionable
— Você não vai ficar para o almoço? — Ela pergunta quando me vê
indo para a porta.

— Eu tenho uma reunião. Diga a Venezia que a verei no jantar. —


Amelia resmunga, mas é óbvio que ela não está muito satisfeita com isso.
Não posso culpá-la exatamente, já que não estou muito presente em casa
desde que me mudei. Minhas interações com Venezia foram limitadas.
Amelia tinha sido inflexível em me lembrar toda vez como a garota havia
sido negligenciada e o quanto ela precisa de atenção. Suas sugestões não
caíram em ouvidos surdos, mas agora o tempo também é essencial para
mim. Eu tenho que solidificar minha posição na famiglia, e isso requer
reuniões e conversas. Quando recebo algum tempo sozinho, tenho que
revisar planos e estratégias de negócios. Não deixa exatamente muito
tempo para passar com Venezia.

Eu prometi a mim mesmo que lidaria com isso, no entanto.

Entro no meu carro e ligo a ignição. A casa de Enzo não está muito
longe. Olho para o meu relógio e vejo que posso levar o meu tempo.

Não posso deixar de pensar no meu amigo Adrian. Eu tentei receber


algumas atualizações de Vlad, já que sei que ele ainda fala com Bianca,
mas até agora ele não estava muito próximo. Sempre que pergunto, ele
apenas me diz que ainda não acordou. Mesmo quando ele se recupera, não
sei o que posso dizer para ele. Eu assumo total responsabilidade por minha
parte em trair sua confiança, e não vejo como ele seria capaz de me

morally questionable
perdoar por algo assim. Mas ainda quero explicar meu lado da história; ser
honesto pela primeira vez na minha vida com alguém.

Eu me sacudo das minhas reflexões e estaciono meu carro, já tendo


chegado ao meu destino. Lá dentro, uma empregada me leva ao escritório
de Enzo.

— Enzo. — Eu o saúdo e ele apenas assente. Sua expressão é sombria.

— Parece que nos encontramos mais cedo do que o esperado, Marcello.


— Ele acrescenta secamente e me oferece uma bebida. Eu recuso, e ele
apenas derrama uma para si. Trazendo-o para sua mesa, ele acende um
cigarro e se arrasta.

— A situação mudou um pouco. — Ele começa.

— Como assim? — É definitivamente algo que o perturbou, a julgar


pelas linhas em seu rosto.

— Você se lembra de Guerra?

— Sim. — Eu respondo. Guerra é outra família poderosa da cidade e


que não tem sido um jogador de equipe, historicamente. A disputa com a
família DeVille é coisa de lendas. De fato, a disputa deles faz com que o
conflito entre Agosti e Lastra pareça uma mera disputa.

— Vamos apenas dizer que surgiu algo que exacerbou nossas


diferenças com a família Guerra.

morally questionable
— Eu não sabia que você estava em maus termos com Guerra. —Eu
sei que eles nunca tiveram nenhuma conexão estreita com as outras
famílias, mas seu único conflito sempre foi com DeVille.

Enzo faz uma careta.

— Eu deveria me casar com Gianna Guerra. O contrato estava


praticamente assinado. — Enzo confessa.

— E você não fez. — Eu adiciono.

— Eu não casei. E eles se ofenderam com isso. Eles boicotaram nossos


negócios desde então.

— Por que você está me dizendo isso? — Eu pergunto, curioso para


ver aonde tudo isso leva. Eu nunca lidei com os Guerra e sei que Valentino
não teve problemas com eles.

— Porque alguém está com problemas com eles. Alguém que precisa
de proteção.

— Fale abertamente. — Então tudo se resume a isso. Provavelmente


tem a ver com o meu futuro casamento.

— A mulher em questão matou o sobrinho do Capo. E de alguma


forma a família soube disso. Não sei como, mas foi-me enviado isto. —
Enzo explica e empurra uma carta para mim. Eu abro o conteúdo e é o
suficiente para ter uma ideia do que está em jogo. Eles querem vingança e

morally questionable
não se importam que seja uma mulher. De fato, pode até ser pior porque é
uma mulher. Eles provavelmente não podem aceitar que um membro do
sexo oposto ousou matar um homem Guerra. Eu zombei do conteúdo da
carta.

— Por que ela o matou? — Eu realmente não me importo por que ela o
matou. Já posso adivinhar o que Enzo vai perguntar. Casar com ela e
oferecer-lhe minha proteção contra os Guerra.

Ele parece desconfortável. Ele pega um gole do copo antes de


responder.

— Ele estava molestando a filha dela. — Interessante. Ninguém


poderia culpá-la por fazer o que é justo com alguém tão vil.

— Então eu diria que era merecedor.

— De fato. Mas isso não é tudo. — Enzo relata como alguém havia
profanado propositadamente o cadáver e o exibiu no centro do convento de
Sacre Coeur.

— E sua irmã a ajudou. — Ele acrescenta, e eu tenho que piscar duas


vezes. Eu ouvi isso direito? Minha irmã ajudou a enterrar um padre?

— Você está brincando.

morally questionable
— Não. De fato, eu teria chamado você independentemente do nosso
acordo. Não tenho certeza de quão seguro Sacre Coeur é para ela agora. Se
alguém pode entrar e fazer algo assim... — Enzo balança a cabeça.

— Eu vou cuidar disso. — Eu respondo. Parece que preciso agendar


uma reunião com Assisi novamente e em breve.

— Agora, de volta ao nosso acordo. Dada a situação em questão,


gostaria que você se casasse com ela e lhe desse a proteção do seu nome.
Não posso ter a filha em perigo.

— Eu concordo. — Eu aceno. É ainda melhor do que eu imaginava.


Com ela tendo uma filha, imagino que ela não seja uma adolescente de
olhos estrelados e, portanto, poderei me dar bem com ela. Preciso de uma
pessoa madura para entender que tenho regras e limites e enquanto nós
estivermos casados, não será um casamento adequado.

— Bom, eu esperava que você dissesse isso.

— Quem é essa mulher de quem você está falando? — Eu pergunto,


não me importo muito neste momento. Ainda assim, é melhor pelo menos
ter um nome.

— Minha irmã, Catalina. — No momento em que ele diz o nome dela,


eu congelo. Não... Não é possível.

— Sua irmã? — Eu indago. Respiro fundo e tento me recompor, não


querendo revelar nada. — E ela concorda?

morally questionable
— Sim. Ela sabe que está em perigo e faria qualquer coisa pela filha.
— Catalina... e ela tem uma filha. Sinto uma pequena facada no meu
coração ao pensar.

— Eu concordo, com uma condição. Eu gostaria de me encontrar com


ela primeiro, para ver se ela está disposta. — Eu digo, meu pulso acelerava
apenas ao pensar em estar na mesma sala que ela.

Enzo considera isso por um segundo, me observando atentamente.

— Como quiser. — Ele se levanta para sair. Mas antes disso, ele
acrescenta uma última coisa. — Se isso não fosse tão importante, eu nunca
a teria permitido a você.

No momento em que ele está fora do escritório, tento respirar


profundamente. Dentro e fora. Catalina... a garota com quem eu queria me
casar há mais de uma década. Assim como a imagem de seu rosto como eu
a vi pela última vez passa pela minha cabeça, alguém bate na porta.

— Olá. — Ela está nervosa quando entra na sala. Ela parece


diferente, e ainda assim tão parecida. É como se os anos não tivessem
passado. O cabelo dela ainda é a mesma massa de madeixas negras. Seu
rosto está pálido e coberto de sardas. Ela parece jovem, inocente...
intocada. E aqueles olhos. Eu nunca vi um par de olhos mais expressivo. E
não há indícios de reconhecimento neles.

— Catalina. — Eu a saúdo, tentando controlar minha voz por trair


meus sentimentos.

morally questionable
— Meu irmão deve ter lhe contado as circunstâncias. — Suas mãos
estão bem dobradas no colo e ela parece tentar não se mexer. Eu a deixo
nervosa.... Se ela soubesse como ela me faz sentir. Eu quase ri com o
pensamento.

— Ele disse. — Eu respondo, tentando me concentrar na conversa, e


não nos meus pensamentos errantes.

Eu me faço parecer desinteressado. Eu preciso avaliar os sentimentos


dela no casamento, e talvez se ela se lembrar...

— Você é de acordo com o casamento? — Eu pergunto, e ela dá um


aceno rápido.

— Sim. — Ela diz, mas então uma carranca vinca a testa. — Mas
primeiro, eu tenho que te dizer uma coisa. Você pode decidir se ainda quer
se casar comigo depois. — Mascaro minhas feições novamente e espero o
que ela tem a dizer, esperando que não seja o que eu acho que é...

— Eu não sou... — Ela começa, mas balança a cabeça. — Eu não sou


inocente. — Ela me olha hesitantemente, esperando que eu a julgue por
isso. Como eu poderia? Quando as coisas que fiz são tão monstruosas... tão
hediondo que se ela soubesse, não estaria olhando para mim assim, com
aqueles grandes olhos luminosos dela.

— Eu não ligo para isso. — Eu forço as palavras para fora dos meus
lábios.

morally questionable
— Isso não é tudo. Eu tenho uma filha... — Ela continua, e eu paro,
lembrando o que Enzo havia me dito. O padre molestara a filha. Uma
névoa vermelha cobre meus olhos e tenho que respirar profundamente
para me manter calmo.

— Enzo mencionou isso. — Eu simplesmente digo.

— Eu não vou me separar dela. — Eu nunca esperaria que ela


deixasse a filha para trás. Eu posso ser um monstro..., mas eu não sou esse
maldoso.

Mas então... Eu tenho que perguntar. — Quantos anos ela tem? Sua
filha?

— Ela tem nove anos e meio. Ela é muito bem comportada, não vai
incomodá-lo. — Ela explica, e minha mão se agarra ao apoio de braço. Ela
tem nove anos... tão crescida. Viro a cabeça para que ela não veja a emoção
nos meus olhos. Catalina tem uma filha. Uma filha de nove anos. Foi por
isso que ela desapareceu?

— Qual é o nome dela? — Eu pergunto, mesmo que esteja me


matando por dentro.

— Claudia. — Claudia... Eu tento o nome dela na minha cabeça.

— Bom. Você e Claudia não terão com que se preocupar. — Eu


garanto a ela. Depois que elas tiverem meu nome, assegurarei que
ninguém possa prejudicá-las.

morally questionable
— Não é... um problema? — Ela realmente achou que eu me
importaria com isso?

— Não. Eu tenho uma irmã mais nova em casa. Elas não estão tão
longe na idade e podem se dar bem. — Ela parece aliviada com as minhas
palavras. Mas preciso tirar proveito disso para que ela saiba os termos do
casamento. — No entanto, — começo, — também tenho algumas regras
básicas. Por isso pedi a Enzo que me deixasse falar com você de antemão.
— Eu também queria ver a reação dela. Mas agora? Como posso de boa fé
tirar vantagem dela... quando há muito errado comigo?

Como detesto meu passado e a bagagem que me deixa tão mal por ela.
E, no entanto, nunca consegui recusar. Ela não... nunca ela.

— Este será um casamento apenas no nome. Vou lhe dar meu nome e
provê-la e Claudia. Você não vai necessitar de nada. Receberá seu próprio
quarto em casa. Como você gasta seu tempo depende de você. Só lhe
imponho que se houver um evento para o qual somos convidados ou se
estamos organizando um, teremos que ir.

— Isso é bom para mim. — Ela parece atordoada com a minha lista de
requisitos, mas imediatamente concorda com todos eles.

— E uma última coisa. Não me toque. — Eu preciso adicionar isso.


Pela minha paz de espírito. E ainda... se eu pudesse suportar o toque de
alguém... esse alguém seria ela.

morally questionable
— O que você quer dizer? — Ela pergunta, apertando o nariz em
confusão.

— Só isso. Eu não gosto de ser tocado. Até algo pequeno, como uma
pincelada de mão. Não. — Eu sei que minha voz é brusca, mas talvez se eu
estabelecer um relacionamento legal desde o início, nós dois não
sofreremos o “e se.” Serei torturado o suficiente sabendo que ela está em
minha casa, ao meu alcance, e não poderei tocá-la. É melhor manter
limites.

Ela assente, quase distraidamente.

— É melhor definir nossas expectativas desde o início. Dessa forma,


não haverá decepção. — Eu digo a ela. Ela precisa saber que isso nunca
será mais do que um acordo comercial. Mas mais importante ainda EU
preciso ter isso em mente. Só então, percebo que há mais uma coisa que
precisa ser abordada. — Isso não significa que você pode ver outros
homens. — Ninguém vai tocá-la. Ela será minha... mesmo que ela não o
faça.

— E você? — Ela estreita os olhos para mim.

— Eu? — Estou quase tentado a rir. Ela não ouviu nada do que eu
disse até agora?

— Será apenas um casamento no nome, como você disse, mas não


tenho permissão para ficar com mais ninguém. Então e você? — Ela
elabora, e eu rio. É apenas ridículo. Ah... se ela soubesse que não toquei

morally questionable
em outra mulher desde a primeira vez que a vi, anos atrás... ela
provavelmente me acharia louco.

— Você não precisa se preocupar com isso, Catalina. — Eu me


concentro nela enquanto digo as palavras. — Minha aflição, por assim
dizer, se estende a todos. Serei fiel aos meus votos; disso você pode ter
certeza. — Eu tomo um grande gole de ar, a proximidade com ela já está
brincando com minha cabeça. — Se eu pudesse... — Eu paro. Ela não
precisa saber.

— Nós dois estamos de acordo? — Eu não acho que posso ficar perto
dela por muito mais tempo. Meu controle já está muito tenso.

Enzo se junta a nós em breve e decidimos registrar nosso casamento


até o final da semana. Sou muito breve nas minhas respostas e, quando
percebo que não sou mais necessário, saio.

É apenas no caminho de volta para casa que me ocorre que Vlad tinha
que saber. Sim, o que eu mais queria será meu... e não. Eu dou uma risada
seca do pensamento.... e lembro-me da primeira vez que vi Catalina. Ela
me hipnotizou naquela época, assim como fez agora. E eu estou me
casando com ela. Em outra vida, talvez eu tivesse me considerado sortudo.
Nesta... é mais um preço que tenho que pagar pelos meus pecados.

morally questionable
De volta na mansão Lastra, tento evitar esbarrar em alguém
enquanto vou diretamente para o meu quarto. Fecho a porta e tranco-a.
Rapidamente, tiro minha jaqueta e minha camisa, então estou nu da
cintura para cima.

Eu vacilo por um segundo antes de cair de joelhos. Cabeça baixa,


coloco minhas mãos nas coxas enquanto levo um momento para mim. As
memórias são demais. Elas estão ameaçando me afogar. E não importa o
quanto eu tente ofegar por ar, não posso. Minha mão se agarra ao material
das minhas calças, enquanto cerro os dentes em frustração.

Por quê?

Por que Catalina teve que voltar na minha vida?

Por quê?

Ajoelhado na frente do meu altar improvisado, agarro a alça da mesa


e envolvo uma ponta em volta das juntas dos dedos. Então, usando toda a
minha força, eu chicoteio de volta até que ela faça contato com a minha
pele, rasgando-a. Eu estremeço de dor..., mas eu mereço.

Eu sou um pecador.

morally questionable
Uma vez. Duas vezes. Três vezes.

A dor está ajudando a entorpecer meus sentidos.

Catalina... minha Catalina.

Eu nunca vou merecê-la.

Whip.

Whip.

Whip.

Eu posso sentir o sangue escorrendo pelas minhas costas.

Whip.

Whip.

Whip.

Minha respiração está esfarrapada quando a dor ameaça me fazer


perder a consciência. Quando estou prestes a alcançar esse auge, paro.

Eu tenho que casar com ela.

Você pensaria que eu me alegraria com o pensamento.

morally questionable
Mas eu não posso.

Eu só vou manchá-la. Contamina-la com minha corrupção. Maldita


seja a alma dela com a minha depravação.

Ela é minha única fraqueza. Um farol de verdadeira inocência...


Minha Beatrice.

Eu cambaleei até os pés, jogando o chicote no chão. Com movimentos


desiguais, chego ao chuveiro. Tirando o resto das minhas roupas, me apoio
sob o jato de água e deixo lavar o sangue. Tudo está vermelho.

Sangue...

Como naquela noite.

Perco o equilíbrio, caindo no chão do chuveiro. A água ainda está


correndo sobre minha cabeça e se misturando com minhas lágrimas.

Pego meus joelhos e começo a balançar.

Pecador.

Eu sou um pecador.

Senhor, o que eu fiz?

morally questionable
CAPÍTULO DEZ

Dez Anos.

— Caramba, garoto! — O pai grita comigo enquanto tento


acompanhar seus grandes avanços. Faz um mês desde que ele começou a
me levar com ele para suas reuniões com o Pakhan. A primeira vez que me
levou, também foi a primeira vez que o testemunhei interagir com alguém
fora de nossa casa. O Pakhan é muito parecido com o pai. Ele tem a

morally questionable
mesma frieza nos olhos. Ele também tem filhos, mas até agora eu só
conheci Misha. Ele é mais velho que eu, mas não posso dizer que gosto
dele. Ele é um valentão. Ele gosta de me pegar quando não há mais
ninguém por perto. Ele acha que suas palavras me impactam, mas depois
de viver com o pai por tanto tempo, acho que nada pode me assustar.
Raramente reajo às suas provocações e acho que isso o incomoda.

Chegamos a uma porta e o pai me dá um empurrão para dentro. — Eu


disse para você se apressar, garoto. Eu não tenho o dia todo. — Eu olho
nos seus olhos sem piscar e aceno. Uma coisa que aprendi ao lidar com o
pai é que ele me tratará ainda pior se eu mostrar algum sinal de fraqueza
ou medo. Ele gosta quando eu olho direto nos olhos dele. Pode-se até dizer
que ele está orgulhoso quando eu o defendo. Lá dentro, o pai é recebido
pelo Pakhan e eles se abraçam, se beijando nas duas bochechas.

— Giovanni, — o Pakhan diz e se move em direção a algumas escadas.


— Eu já os tenho prontos para você. — Um sorriso se espalha em seu rosto
com isso, e meu pai ri.

— É hora de mostrar a esses garotos como é feito, você não diria? —


Ele se vira para mim e tenho a súbita vontade de dar um passo atrás. Em
vez disso, apenas me preparo e tento parecer impermeável a qualquer
coisa que eles tenham a dizer ou fazer comigo.

— Eu tenho que dizer, mal posso esperar para ver do que seu filho é
feito.

morally questionable
— Vlad também está aqui hoje? — Pai pergunta. Eu já tinha ouvido
falar sobre Vlad antes. Ele é outro dos filhos de Pakhan, alguns anos mais
novo que eu.

— Sim... — Os Pakhan fazem caretas. — Eu preciso discipliná-lo. Ele


matou outro dos meus guardas. Novamente. — Ele balança a cabeça e
começa a andar em direção ao porão.

Eu tenho que me perguntar o que aconteceu com Vlad. Seu pai está
forçando-o a ser ruim também? Talvez possamos ser amigos.

Descemos as escadas até chegarmos a um porão. Existem algumas


portas, e o Pakhan nos leva à porta mais distante à direita. Ele abre e nós
o seguimos para dentro.

A sala está completamente vazia, mas para uma mesa ao lado. Há


algo em cima da mesa, mas não consigo entender, pois a iluminação é
extremamente fraca.

Um garoto está parado ao lado da mesa, com o olhar fixo no que quer
que esteja por cima.

— Vlad! — O tom agudo do Pakhan parece sacudi-lo de seu devaneio,


e ele lentamente vira a cabeça em nossa direção. Ele anda casualmente,
com passos medidos, até estar na frente do Pakhan.

— Otets. — Ele cumprimenta o pai com uma inclinação da cabeça.

morally questionable
Ele é um pouco mais baixo que eu, com cabelos escuros e olhos negros.
Tão negros, de fato, parecem sem alma — vazios. Sua pele, juntamente
com suas feições, faz com que pareça um boneco. Um boneco sem vida que
ainda se move. Não sei por que, mas apenas um olhar para ele e um
arrepio desce pela espinha. Ao contrário do pai e do Pakhan, seus olhos
não têm essa frieza maliciosa. Não, eles são apenas sombrios.

O Pakhan parece satisfeito com esse gesto de subserviência e acena


para um dos homens do lado de fora da porta. Logo, um homem está sendo
trazido para dentro da sala por dois guardas. Ele está se debatendo e os
guardas o prendem a uma cadeira. Uma olhada nos adultos, e posso ver
que eles estão gostando disso. Eu tenho uma ideia do que está prestes a
acontecer.

— Giovanni, este é todo seu. Por enquanto. — O Pakhan menciona e


um sorriso se espalha no rosto do pai. Ele vai para a mesa e pega alguma
coisa... uma faca, eu acho.

— Felix, você deveria saber que isso iria acontecer quando derramou
nossos segredos. — Pai dá alguns passos até estar na frente de Felix. Ele
segura a faca para cima, para que a lâmina reflita a luz, antes de movê-la
pela bochecha de Felix em um movimento carinhoso.

— Vamos ver o que você tem a dizer em sua defesa. — Ele abaixa a
mordaça da boca de Felix e imediatamente começa a dizer alguma coisa.

morally questionable
— Não foi.... — Pai aproveita isso para agarrar sua língua e, em um
movimento rápido, ele a corta. Olhando com nojo para o pedaço de carne
na mão, ele o joga de volta e cai nos meus pés.

— Eu acho que você falou o suficiente. — Pai diz, rindo de sua própria
piada. O Pakhan também se junta, assim como os guardas sentados ao
lado da porta. O olhar de Vlad está focado no sangue pingando da boca do
homem.

— Não existe perdão aqui. — Pai olha para mim enquanto diz isso. Eu
levanto minha cabeça e tento não mostrar que sou afetado pelo que está
acontecendo.

Eu me mantenho calmo e controlado enquanto vejo o pai mutilar o


homem, rindo de vez em quando em uma piada mórbida.

— É isso. — Pai joga a faca no chão e pega um pano branco para


limpar o sangue das mãos.

O prisioneiro está se contorcendo no chão, com alguns dedos


espalhados ao redor dele, com os olhos pendurados. Ele ainda está vivo,
mas mal.

O pai pisca para o Pakhan e se afasta, trocando de papel.

O Pakhan avalia lentamente a situação antes de pegar uma broca da


mesa.

morally questionable
— Assista e aprenda, garoto. — Pai diz.

Trago meu foco de volta ao Pakhan.

— Algumas áreas do corpo trazem mais dor do que outras. Isso não é
apenas tortura. É uma lição do que acontece se você nos trair.

Com uma mão, ele agarra o pé de Felix e o levanta.

— Veja aqui, o arco do pé é uma área muito sensível. — Ele começa a


broca e localiza um ponto médio no arco do homem, ele empurra a broca
para dentro. Felix engasga com a dor, emitindo um som estrangulado à
medida que a broca avança, até que a cabeça desapareça dentro do pé. A
dor deve ser insuportável, porque em algum momento ele desmaia.

— Porra! — O Pakhan amaldiçoa quando ele percebe isso.

— Termine e vamos comer. — Pai reclama, claramente não


impressionado com o resultado. O Pakhan balança a cabeça em decepção e,
tomando um pequeno machado, corta a cabeça do corpo.

— Vamos comer!

O almoço é ainda pior do que assistir alguém sendo torturado, se isso


for possível. Vlad está tão quieto quanto antes, às vezes se fixando em algo
com os olhos. Pai e Pakhan são barulhentos e simplesmente não calam a
boca. Você pensaria que pelo menos durante uma refeição eles se calariam
sobre seus atos depravados, mas é apenas mais uma oportunidade para

morally questionable
competirem pelo título de mais imoral da sala. Caso contrário, não sei
explicar por que eles conversariam sobre os homens que mataram, as
prostitutas que foderam e o dinheiro que ganharam... tudo ilegal, é claro.
Os detalhes são algo que não desejo ouvir, por isso faço o possível para
bloquear tudo e me concentrar na minha comida. Pena que até meu apetite
se foi.

Depois que terminamos, fico surpreso por voltarmos para o porão.


Ainda mais surpreso quando vejo que há um novo prisioneiro dentro, em
vez do morto. Este está praticamente vivo e aterrorizado.

O Pakhan explica que a bola está em nossa quadra agora,


especificamente a minha, já que Vlad provavelmente não piscaria um olho
em matar o homem — pelo menos pelo que eu tinha ouvido.

Pai abaixa a cabeça para sussurrar no meu ouvido.

— Não me decepcione, ou você vai se arrepender.

Com um tapinha um pouco agressivo nas costas, pai e Pakhan saem


da sala, deixando-me com Vlad, minha única audiência. Olho para a mesa
e depois para o prisioneiro, tentando fazer meu corpo se mover e fazer o
que o pai quiser que eu faça. Mas eu não posso.

Pego uma faca e olho para ela por um segundo, disposto a fazer isso,
sabendo o que acontecerá se não o fizer. Vlad dá um passo à frente e
inclina a cabeça, estudando-me.

morally questionable
— Você não vai fazer isso, vai? — A voz dele está tão vazia quanto os
olhos. Não há um traço de emoção nele.

Ele não espera que eu responda, passando a lâmina da minha mão e


caminhando casualmente em direção ao prisioneiro.

Enquanto antes o prisioneiro parecia aterrorizado, principalmente


porque o pai e o Pakhan também estavam lá dentro, agora ele parece
convencido, provavelmente não intimidado pela visão de duas crianças com
uma faca.

Mas nem um segundo depois, o sangue jorra da bochecha do homem.


Vlad está usando a faca como se tivesse anos de treinamento. Sua mão se
move e ele faz mais algumas incisões na bochecha do homem na forma de
um quadrado, cortando efetivamente um pedaço considerável de pele e
revelando a mandíbula do homem e sua maxila. O pano que havia sido
enfiado dentro de sua boca para impedi-lo de gritar também é visível
agora.

As características de Vlad estão consternadas quando ele considera


seu trabalho. Ele tem o pedaço de carne na mão e o aproxima do nariz,
inalando o perfume. Isso é apenas... errado.

Seu sorriso se alarga de repente e, removendo o pano da boca do


homem, ele enfia a carne.

— Coma. — Ele comanda, mas o prisioneiro apenas olha para ele com
olhos arregalados, balançando a cabeça. A lâmina de Vlad segue pelo torso

morally questionable
do prisioneiro, parando no estômago. O prisioneiro fica quieto. Vlad vai
ainda mais baixo, e a ameaça à virilha o faz ranger os dentes contra a
carne. A mastigação é relutante no começo, mas Vlad continua
encorajando-o com um beliscão aqui, um beliscão ali.

Vlad parece encantado enquanto olha para a mandíbula do homem


que percorre o pedaço de carne.

— Você nunca se perguntou... — Vlad começa, com os olhos brilhantes


de emoção, o máximo que eu já vi dele, — como mastigar se parece do lado
de fora? Nós sempre fazemos isso... tão naturalmente. E, no entanto,
tantas forças estão em ação.

— Pare! —Vlad comanda e o prisioneiro para de mastigar. Vlad


parece pensativo por um momento, antes de pegar o pano mais uma vez e
colocá-lo dentro da boca do prisioneiro.

— O que...? — Eu deixo escapar, minhas primeiras palavras desde


que estivemos aqui. A faca de Vlad já está arrastando na garganta do
homem. Ele parece extremamente focado na posição das incisões. Ele tenta
cortar, mas o prisioneiro se move, então retira sua faca, balançando a
cabeça.

— Você, — ele aponta para mim, — segure-o!

Hesito por um momento, mas acabo andando pela sala e plantando


minhas mãos nos ombros do homem, tentando mantê-lo no lugar.

morally questionable
Um pequeno sorriso puxa os lábios de Vlad, mas se foi imediatamente.
Ele mais uma vez se concentrou em suas incisões, cortando do pomo de
Adão do homem para baixo. Desta vez, seu corte é a forma de um
retângulo.

Ele remove a pele, mas faz uma careta quando percebe que ainda há
mais tecido muscular no caminho. Ele olha para ele por um segundo.

— O que você está tentando fazer? — Eu tenho que perguntar.

— Quero ver como ele engole. — Ele murmura, trazendo a mão


sangrenta para o queixo. Ele bate o pé com impaciência e sinto o homem
vacilar. Eu aperto meu aperto.

Os olhos de Vlad se iluminam. Ele pega o pano e lhe dá novamente


um pedaço de carne para mastigar.

— Coma!

O prisioneiro faz o que ele mandou, mastigando lentamente o pedaço


de pele. Quando ele está prestes a engolir, Vlad levanta a mão. — Pare!

Com um golpe repentino da faca, ele rasga um buraco na garganta do


homem. — Agora! — Ele comanda.

Não sei o que está acontecendo, exceto que há sangue saindo da


garganta do homem. Ele se contorce mais algumas vezes antes de ficar
mole sob meu domínio.

morally questionable
— Merda! —Vlad amaldiçoa, parecendo décadas mais velho que sua
idade real. Se eu não soubesse que ele era... Eu poderia jurar que
nenhuma criança poderia fazer algo assim.

A mão de Vlad aperta a faca e seus traços se estendem sobre o rosto


com raiva. Eu pisco. Em pouco tempo, ele está em cima do homem já
morto, enfiando a faca dentro e fora. Eu dou um passo atrás.

Ele está esfaqueado e esfaqueado, sangue derramado em seu rosto.

— Vlad! — Eu chamo, mas ele não responde, cavando mais fundo na


carne do homem.

— Vlad! — Eu grito, e de alguma forma ele sai disso. Ele se levanta,


joga a faca no chão e me olha como se estivesse atordoado.

Há sangue no seu rosto. Ele levanta a mão e, com um dedo, desliza um


líquido vermelho e o leva à boca, chupando.

Meus olhos se arregalam nessa cena.

Ele não é normal... ele não pode ser normal.

A porta se abre e o pai e o Pakhan entram. Eles entram e olham a


cena diante deles e imediatamente se concentram em Vlad.

— Misha, leve seu irmão para fora. — O Pakhan manda, e um


adolescente entra para arrastar Vlad para longe. Antes que ele possa

morally questionable
agarrá-lo, Vlad se inclina e sussurra algo no ouvido de Misha que o deixa
corado.

Vlad se deixa levar, e eu fico com o pai, e sua óbvia decepção.

— O que eu te disse, garoto? — Seus olhos brilham de fúria.

— Eu não quero matar ninguém. — Eu digo, minha voz cheia de falsa


confiança.

— Você não quer matar ninguém? — Ele me pergunta, estreitando os


olhos. Ele então abre a porta, pegando um guarda pela gola e fazendo-o se
ajoelhar dentro da sala.

— Você não queria matar alguém que claramente nos prejudicou.


Vamos ver como você se sente sobre alguém inocente. — Ele chuta o
guarda no chão. Ele me arrasta pela mão até eu estar na frente do guarda
e coloca uma arma na minha mão.

— Mate ele! — Ele comanda. — Não me envergonhe! — Ele assobia


antes de fechar meus dedos sobre a arma e apontá-la para o guarda.

— Mate! — Ele grita no meu ouvido, mas tudo o que posso fazer é
balançar a cabeça.

Eu não quero isso. Eu nunca quis isso.

morally questionable
— Mate, ou então, sua mãe pode não dormir bem esta noite, nem essa
coisa dentro dela. — Ele diz, e eu posso sentir minha pele arrepiar. Mãe
está grávida de oito meses. Certamente ele não faria... ele não mataria seu
próprio filho.

Mas então eu olho para ele. Ele faria... ele mataria alguém.

Ele ainda sente minha hesitação, então continua a descrever em


detalhes o que fará com ela.

— E quando a barriga dela estiver aberto, eu tiro essa coisa... — Eu


não consigo mais ouvir isso.

Aperto os olhos e pressiono o gatilho. Sou empurrado de volta pelo


disparo da pistola e vejo a bala atingir o alvo.

Mais sangue.

O chão está ficando encharcado de vermelho.

— Eu sabia que você tinha isso em você, garoto.

Eu tenho?

Parece que sim...4

morally questionable
Mãe está em trabalho de parto faz algumas horas desde que ela
começou, e eu posso ouvi-la gritar de vez em quando. Não sei o que está
acontecendo, mas o pai não queria mandá-la para um hospital. Em vez
disso, ele trouxe um médico para cuidar dela em casa. Mas não sei o
quanto ele está fazendo por ela, porque ela não parece bem para mim.

Estou preocupado. Não por causa da mãe, já que, nesse momento, eu


não poderia me importar menos se algo acontecesse com ela, considerando
a presença que ela teve na minha vida. Não, estou preocupado com meu
irmão. Estou preocupado que algo aconteça com ele... Espero que seja um
menino. Uma garota nunca poderia sobreviver nesta casa, não sob o
polegar do pai.

Estou ouvindo atentamente qualquer barulho quando um guincho


invade a casa. Abro a porta do meu quarto e corro em direção ao primeiro
andar, onde a mãe está descansando. A porta está fechada. Eu não entro.
Em vez disso, aproximo-me da porta e pressiono o ouvido, esforçando-me
para ouvir o que está acontecendo.

— Empurre! — alguém diz, e a mãe amaldiçoa.

Há mais barulhos antes de ouvir um som de lamentação. O som de um


recém-nascido.

morally questionable
Ainda estou grudado na porta quando vejo o pai vir. Ele me faz uma
careta, mas não diz nada quando abre a porta e entra. Eu sigo.

— É uma garota, Signor. — O médico se vira para o pai.

— Sem utilidade. — Eu o ouço murmurar baixinho, e meus punhos se


apertam ao meu lado. Pobre bebê...

— É a marca do diabo! Tire isso de mim! — Mãe empurra para longe o


pacote de pano sentado no peito.

— É amaldiçoado! É o diabo! — Ela grita e, contra meu melhor


julgamento, passo em frente e pego o bebê nos meus braços.

O pai ainda está na sala, exibindo uma expressão entediada, mas


posso ver que ele está avaliando meu próximo passo.

Olho para baixo e vejo o rosto mais doce. Ela é um pouco vermelha e
suja, mas quando ela abre os olhos para olhar para mim, sinto algo
puxando meu coração.

Eu nem sabia que tinha um.

É a primeira vez que sinto isso... Eu não posso nem nomear.

Meus dedos se apertam em torno de seu corpo pequeno, querendo


oferecer proteção, amor... Amor?

morally questionable
Eu quase ri do pensamento. Eu nunca amei ninguém, e ninguém
nunca me amou. Eu sei o que é isso?

Mas quando olho nos olhos profundos dela, acho que entendo.

Ela tem uma grande marca vermelha profunda que começa logo acima
do olho e se estende até a testa. É isso que a mãe deve ter visto quando
disse que era a marca do diabo.

Mas... De repente eu percebo.

Olho para a mãe e vejo que ela está segurando firmemente o rosário,
fazendo uma oração, um exorcismo provavelmente. Depois, há o pai, e ele
apenas olha para mim como se esperasse que eu escorregue.

Meus olhos se movem mais uma vez sobre a vida inocente em meus
braços e percebo o que preciso fazer.

Não posso deixá-la viver o que vivi... Sei exatamente o que virá, o
abuso que ela terá que suportar nas mãos da mãe, principalmente por
causa de sua marca de nascença. E pai... Eu nem quero pensar no que ele
poderia fazer com ela.

Eu posso suportar tudo o que ele ensina do meu jeito, mas se ele
fizesse isso com alguém com quem eu me importava... para minha
irmãzinha? E ele faria.

morally questionable
— Ela é amaldiçoada. — Eu digo, repetindo as palavras da mãe. É
preciso tudo em mim para fazer isso, mas ela está melhor sem essa
família.

— Ela tem a marca do diabo. Mãe estava certa. Deveríamos mandá-la


embora.

— É mesmo, garoto? — Pai se inclina para a parede, pegando um


cigarro do estojo e acendendo-o.

— Devemos mandá-la para um lugar sagrado, para que eles possam


tirar o mal dela. — Eu levanto minha cabeça e o olho nos olhos mortos.

— Ela nos trará azar se ficar. — Eu continuo, e minha mãe se vira


para mim, concordando de todo o coração.

— Sim! Leve-a embora. O diabo... é o diabo tentando nos tentar. Ela


vai trazer apenas azar. — Ela chora histericamente.

Pai encolhe os ombros. — Faça o que você quiser. Ela não é um


menino. — Ele joga a ponta do cigarro no chão e a joga com o sapato antes
de virar e sair.

Há algumas empregadas na sala, e eu também vejo Amelia. Eu vou


para ela.

— Onde podemos mandá-la? Em algum lugar ela será cuidada?

morally questionable
— Eu... Eu... — Ela gagueja, — há um convento. A famiglia tem
conexões lá.

— Leve-a. Leve-a para lá. — Entrego o bebê para ela, tentando não
olhar novamente, sabendo que quanto mais a seguro, mais difícil será
deixar ir.

— Ok. — Ela assente. — Mas... E o nome dela?

— Deixe as freiras a nomearem. — Eu digo e dou as costas, saindo do


quarto.

Porque se eu a nomeasse... Se eu me deixasse importar...

Eu não acho que poderia sobreviver.

morally questionable
CAPÍTULO ONZE

— Aqui está! — Eu ajudo Claudia a sair do carro. Passamos o dia todo


fazendo compras, já que não temos muitas coisas. Após a reunião com
Marcello, decidimos oficializar o casamento em três dias. Isso significava
que eu tinha três dias para me preparar para o meu futuro. Um arrepio
desce pelo meu corpo com o pensamento. Marcello não era quem eu
esperava que fosse. Claro, ele é bonito e atraente e eu sonhei em beijá-lo,
mas... Provavelmente nunca vai acontecer, e eu respeitarei seus limites.
Havia essa tristeza que se apegava a ele. Não consigo colocar o dedo nele,
senti como se ele estivesse se segurando. Pelo que, eu não sei. Estou

morally questionable
tentando não pensar muito sobre isso, especialmente devido à minha leve
paixão por ele.

Eu expliquei as circunstâncias para Claudia da melhor maneira


possível, e ela parecia entender. Pelo menos acho que sim. Ela está muito
animada por estar fora de Sacre Coeur pela primeira vez. E, dada a sua
educação protegida, não sei o quanto ela entende sobre casamento e o que
isso implica. Quando falamos sobre os termos do casamento, pedi a
Marcello para trazer um terapeuta para Claudia. Não quero que o que
aconteceu com o padre Guerra a assuste no futuro. E ela pode se beneficiar
disso ao se adaptar a esse novo estilo de vida também.

Entramos em casa, mas no momento em que entramos, ouço um


barulho. Parece um grito... Uma mulher gritando.

— Claudia. Vá para o seu quarto! Agora! — Ela olha para mim de


olhos arregalados, mas faz o que mando, subindo as escadas.

Pego a primeira coisa que vejo, um abajur, e vou em direção à fonte do


barulho. O que poderia ser, no entanto? Há tantos guardas por aí...
Quando entro na sala de estar, paro no meu caminho, meus olhos se
arregalam de choque, minha boca se abre. Não pode ser o que estou vendo,
pode?

Allegra, esposa do meu irmão, Allegra está nua de joelhos. Um homem


a está montando por trás, bombeando seus quadris dentro e fora dela. Há

morally questionable
outro homem na frente dela, e ela está colocando o membro na boca,
chupando. Eu ofego. O que ela está fazendo?

Os homens grunhem e Allegra geme com uma voz aguda. Ela continua
chupando o homem, e seus olhos vagam em minha direção. Ela não parece
nem um pouco surpresa ao me ver lá. Na verdade, ela pisca para mim. O
que? O homem atrás dela se afasta e outro homem, que eu não havia
notado antes, o substitui. O que é isso? Esta... depravação? Isso não pode
ser normal.

— Aqui está ela, minha cunhada. — Ela se arrasta, e o olhar de todos


se concentra em mim. — Junte-se a nós, sim? — Ela diz, e eu
instintivamente dou dois passos para trás, antes de correr para o meu
quarto.

Como Enzo pode permitir isso em sua casa? Ele sabe? Senhor, seu
filho mora aqui, e ele tem apenas cinco anos!

Ao entrar no meu quarto, tento sorrir e fingir que nada aconteceu.


Claudia parece não perceber o quão abalada eu estou. Em vez disso, ela
está animada com seus novos vestidos que compramos e os experimenta.
Tento tirar da cabeça a cena que testemunhei e me concentrar na minha
filha. Mas Senhor, é isso que as pessoas fazem no mundo exterior? Sei que
não tenho muito conhecimento dessas coisas, mas certamente isso não é
normal.

morally questionable
É muito mais tarde que encontro Enzo em seu escritório, imerso em
um livro. Eu bato suavemente e ele levanta a cabeça, um sorriso tocando
nos lábios.

— Lina.

— Enzo... posso falar com você sobre uma coisa?

— Claro, piccola. O que é?

— Quando você chegou em casa? — Eu começo, e ele me considera


estranhamente.

— Não faz muito tempo. — Ele olha para o relógio. — Talvez meia
hora atrás, por quê?

— Eu... Não sei como dizer isso, mas... Me deparei com sua esposa
hoje.

— Allegra? — Ele franze a testa. — Aqui? — Ele parece surpreso.

— Sim. Ela... ela estava traindo você. — Eu deixo escapar. A


expressão de Enzo não muda.

— Aqui? — Eu aceno.

— Droga, eu disse a ela para ficar de fora! — Ele amaldiçoa debaixo


da respiração. Ele sabia?

morally questionable
— Vocês... você sabe disso?

— Não importa, — diz ele. — Nosso casamento não é normal. Ela é...
não estamos juntos. — Ele balança a cabeça brevemente, como se estivesse
irritado.

— Quem foi desta vez? Foi um dos guardas? — Ele pergunta como se
isso fosse uma ocorrência comum.

— Eu não sei, — respondo honestamente. — Mas não era apenas um.


— Estou quase envergonhada ao dizer isso. Enzo apenas levanta uma
sobrancelha.

— Ela estava com três homens... na sala de estar.

— Porra! Eu disse a ela para manter essa merda fora da minha casa.
— Ele se destaca, claramente chateado. — Droga! Claudia ou Lucca
poderiam tê-la visto. — Ele bate o punho na mesa e eu me mantenho
quieta, embora o desejo de vacilar esteja lá.

— Foi com isso que eu estava preocupada também. Felizmente apenas


eu a vi, mas mesmo para os meus olhos era... — Eu interrompo.

— Oh, Lina! Claro! — Ele vem e me leva em seus braços. — Sinto


muito que tenha visto isso. Vou falar com ela para que não faça mais isso
aqui.

morally questionable
— O que aconteceu, Enzo? Vocês estavam tão apaixonados um pelo
outro. — Eu sussurro, a situação me confunde. Eu já conheci Allegra
antes. Ela veio com Enzo para me visitar. Ela tinha sido a mulher mais
linda, e eu pude ver o quanto eles se amavam. Faz pouco sentido.

— Nem tudo é como parece, Lina. Eu não poderia dar a ela o que
queria...

Eu balanço minha cabeça. — Não está certo.

— Não se preocupe com isso piccola. — Ele acaricia meu cabelo. —


Um dia, eu vou lhe contar tudo.

— Você está linda, mamãe — Claudia está descansando a cabeça nas


mãos olhando para mim.

— Você acha? — Eu giro um pouco, examinando a parte de trás do


vestido.

morally questionable
Pegamos esse vestido quando fomos às compras. De alguma forma,
não queria deixar passar a oportunidade de usar um vestido branco no
meu casamento, considerando que poderia ser o único que terei.

O vestido é um branco suave com gola alta e mangas curtas. A bainha


atinge minhas panturrilhas. Não é muito apertado, mas se molda muito
bem ao meu corpo. O assistente de vendas sugeriu que eu tentasse alguns
vestidos mais curtos e alguns que enfatizassem demais meu decote. Sim,
eles não pareciam ruins, mas eu estava tão desconfortável com eles, me
sentindo extremamente constrangida comigo mesma. Deve ser que eu me
acostumei a usar roupas aceitáveis pela igreja que perdi o gosto por
qualquer coisa do lado mais ousado.

Sorrio um pouco, agradavelmente satisfeita com minha aparência.

Um pensamento intrometido me diz que talvez Marcello também


goste, mas eu me freio rapidamente. É melhor cortar essa paixão pela raiz
antes que seja tarde demais. Quero dizer, quem sabe, talvez ele seja
realmente uma pessoa horrível.

Eu suspiro.

Eu nem sei se isso seria melhor ou pior. Claro, seria melhor porque
então eu poderia não gostar dele... ou pelo menos não como ele. Mas seria
pior porque realmente viveremos com ele e sua família. Olho para Claudia,
e ela está admirando seu próprio vestido no espelho. Acho que ela nunca
usou algo tão colorido quanto isso. É um belo rosa rodado, com brilho nas

morally questionable
mangas. Independentemente das circunstâncias que nos levaram a esse
ponto... talvez seja para melhor? Claudia pode finalmente ter uma infância
normal, e vou garantir que ela esteja sempre segura. Isso me deixa um
pouco preocupada... nos mudamos para uma casa estranha, especialmente
depois de todo o fiasco com o padre Guerra.

Balanço a cabeça, tentando dissipar esses pensamentos. Vale a pena


insistir nisso. Certamente nem todo mundo é como o padre Guerra.

— Você está pronta? — Ela pula da cama e acena para mim. Pego a
mão dela e saímos do quarto. A cerimônia será oficiada aqui e depois
partiremos para a casa de Marcello. Eu já tinha embalado todos os nossos
escassos pertences.

Ao descermos as escadas, posso ver Enzo conversando profundamente


com Marcello. Há uma distância significativa entre os dois, e isso me
lembra o fato de que Marcello não suporta ser tocado.

Parecia estranho quando ele disse isso, mas quem sou eu para julgar.
Talvez ele tenha seus próprios demônios para lidar.

Como eu sei que tenho....

Estamos a meio caminho da escada quando os dois olham para cima.


Enzo sorri para nós, enquanto Marcello parece quase entediado.

morally questionable
Seus olhos varrem meu corpo e sinto vontade de me cobrir, mas eu a
dissipo. Seu olhar se instala em Claudia e seus olhos se arregalam por um
segundo.

Claudia puxa a mão e corre para o fundo.

— É você! — Ela exclama, apontando para Marcello.

Por um segundo, estou preocupada que ela o toque, então eu vou atrás
dela. Espere, mas como ela o conhece?

— Olá, — Marcello se agacha para ficar no nível dos olhos com ela. O
canto da sua boca sobe lentamente e estou chocada. Marcello... Ele está
sorrindo... para Claudia.

— Como vocês se conhecem? — Enzo pergunta, suspeita pingando de


sua voz.

— Nos conhecemos brevemente. Em Sacre Coeur. — Marcello se


endireita e dá a Claudia um olhar terno antes que seu rosto fique em
branco mais uma vez. Ele olha para mim e assente. Um silêncio
constrangedor se segue, enquanto nós dois apenas nos olhamos.

— Bem então... o padre está na sala de estar. Vamos fazer isso, sim?
— Enzo nos interrompe e nos move em direção à sala de estar.

A cerimônia é breve, após a qual nós dois assinamos a certidão de


casamento. É isso...

morally questionable
É oficial.

Viro a cabeça levemente para olhar para Marcello. Há pelo menos


alguns metros de distância entre nós. Continuo esperando que a sua
expressão mude, para dar uma dica do que ele está sentindo, como ele fez
na última reunião. Mas até agora, sinto que está ainda mais distante do
que antes.

Ele tem algumas palavras trocadas com Enzo, antes de se virar para
mim.

— Você está pronta?

— Sim... — Eu começo, pega um pouco desprevenida. — Deixe-me


pegar minha bolsa. — Eu me viro para Claudia. — Vá pegar sua mochila.

Ela acena para mim e corre para o quarto. Estou prestes a seguir
quando Enzo me para.

— Alguém levou sua bagagem para o carro. — Ele menciona e se


aproxima.

— Tudo vai ficar bem, Lina. — Ele puxa um fio de cabelo atrás da
minha orelha. — Sinto muito, tinha que ser assim, mas... — Ele balança a
cabeça, a voz cheia de angústia.

— Eu vou ficar bem, Enzo. Não se preocupe comigo. — Eu lhe dou um


abraço rápido.

morally questionable
Marcello está parado na porta, assistindo nossa troca. Sinto-me um
pouco constrangida ao passar por ele para encontrar Claudia pelas
escadas.

— Vamos? — Ela pergunta, e eu estendo minha mão para ela.

Marcello nos alcança e todos vamos em direção ao carro. Ele fica no


banco da frente, enquanto eu e Claudia entramos atrás.

Há mais alguns carros que estão dirigindo à nossa frente e atrás de


nós, e acho que são nossa proteção. A casa de Marcello não está longe, e
então nos encontramos lá antes mesmo de ter tempo de processar tudo.
Uma olhada em Claudia, e posso dizer que ela está animada para ver o
novo lugar.

E eu estou... Não sei o que estou.

Saímos do carro e entramos em casa. Há funcionários por toda parte.

— Amelia, mostre a Catalina e sua filha onde estão os quartos. —


Marcello se dirige a uma senhora mais velha antes de virar à esquerda e
nos deixar lá.

Eu franzo a testa.

É isso?

morally questionable
Ainda estou olhando para o local em que ele acabou de sair quando
Amelia faz um gesto para segui-la.

— Mamma... — Claudia sussurra e puxa meu vestido. Eu me sacudo


rapidamente.

— Vamos lá.

Amelia nos leva ao segundo andar.

— Signor Marcello me disse para preparar dois quartos. — Ela abre


uma porta primeiro e minha boca cai um pouco quando eu pego a
decoração. É... luxuoso.

— Este é o meu quarto? — Eu pergunto a ela, tentando garantir que


não houve um erro.

O quarto é enorme... maior do que qualquer coisa que eu já vi, de fato.


Meus pais provavelmente tinham um quarto como este, mas eu nunca
tinha visto, então não tenho nada para comparar. Há uma cama king-size
no meio, mas, dado o tamanho do cômodo, parece que não ocupa tanto
espaço. Eu timidamente entro, soltando a mão de Claudia.

— Uau, mamãe, — ela também exclama, e ao contrário de mim, ela


corre em direção à cama e se joga.

Olho em volta, observando os armários enormes — certamente ele não


sabe que eu não tenho tantas roupas — e também há um banheiro. Abro a

morally questionable
porta e tenho que beliscar meu braço para me convencer de que isso não é
um sonho. O banheiro é decorado com uma combinação de branco e ouro.
Há uma banheira no meio, enquanto no canto leste, também há um
chuveiro. Ambos no mesmo banheiro? Isso parece muito extravagante.
Amelia deve ter notado a admiração em minha expressão enquanto ela
continua.

— Signor Marcello queria ter certeza de que você tem todos os


confortos.

— Este... tudo isso é maravilhoso. Obrigada. — Eu digo, e ela assente.

— Agora para o segundo quarto... — Amelia vira para sair, mas eu


interponho.

— Não precisamos de um segundo quarto. Quero dizer... isso é muito


grande. Claudia e eu podemos ficar aqui.

— Mamma... — Claudia faz beicinho e eu franzi a testa.

— Você quer ver o outro quarto? — Ela imediatamente assente.

— Mas...

— Se eles estão nos oferecendo outro quarto, eu gostaria de ter meu


próprio espaço. — Claudia diz e imediatamente olha para baixo, quase
envergonhada.

morally questionable
— Baby, não fique envergonhada... — Eu começo, mas depois tento me
colocar no lugar dela. Ela nunca teve seu próprio quarto. Sempre
compartilhamos um espaço no Sacre Coeur.

Eu suspiro.

Embora eu sinta falta de dormir com minha pequena causadora de


problemas, tenho que concordar que talvez ela precise de sua privacidade.
Ela está crescendo rápido demais.

— Tudo bem. — Eu digo. — Vamos ver o outro quarto.

Amelia nos leva pelo corredor. De alguma forma, eu pensei que nossos
quartos estariam próximos um do outro.

Ela abre a porta e entramos.

— Uau... — Claudia diz e dá um passo à frente. — Isso é incrível.

O quarto é menor que o meu, mas está decorado especificamente para


uma pré-adolescente. O papel de parede é rosa, com diferentes ilustrações
em ouro brilhante.

A cama também é rosa. Na verdade... o quarto inteiro é tão rosa, é


quase ofuscante.

morally questionable
— O senhor Marcello garantiu que o quarto estivesse pronto para a
Signorina Claudia. Ele queria que tudo fosse perfeito. — Amelia menciona
com um meio sorriso.

Verdade a ser dita, o esforço é visível. Eu não teria pensado que ele se
incomodaria com algo assim... em três dias, nada menos.

— Eu amo isso, mamãe! — Claudia declara do meio do quarto.

— Estou feliz que você goste. — Eu sorrio para ela carinhosamente.

— Sua bagagem será trazida em breve.

— E a irmã de Marcello? Ele mencionou uma irmã. — Eu me viro


para Amelia.

— Ela... ela também está neste andar. Algumas portas abaixo. Devo
me desculpar por ela não estar lá para cumprimentá-la. Ela tem estado
bastante indisposta ultimamente... — Ela explica.

— Eu gostaria de conhecê-la.

— Eu direi a ela.

morally questionable
Não sei o que eu esperava deste casamento, ou de se mudar para esta
casa, mas certamente não era ser ignorada.

Eu conheci Venezia logo antes do jantar, e ela estava... desagradável


seria um eufemismo. Ela tinha sido absolutamente rude comigo. Depois de
um primeiro encontro tenso, fomos para a sala de jantar, onde ela
continuou a dar dicas sobre seu descontentamento, até que ela me insultou
completamente.

— Você não poderia ter encontrado outra esposa... você sabe, uma sem
filha? — Ela perguntou imprudentemente a Marcello. Eu imediatamente
me virei para Claudia, tentando avaliar sua reação. Não queria que ela
tivesse vergonha da nossa situação...

Maldição!

Ela parecia tão atordoada quanto eu, enquanto voltava seu olhar
esperançoso para Marcello. Seus olhos se encontraram e eu pude ver uma
contração no lábio superior.

— Venezia, Catalina é minha esposa, e você faria bem em respeitá-la.


— Ele disse em tom severo.

morally questionable
Venezia bufou e imediatamente saiu da mesa, mas não antes de jogar
violentamente seus talheres no prato.

Após o incidente, Marcello ofereceu uma pequena desculpa para o


comportamento de sua irmã, e continuamos a comer em silêncio. Eu tentei
iniciar a conversa algumas vezes, apenas para ser ignorada. Eu não tinha
certeza de que ele queria interagir com alguém, então acabei falando com
Claudia. Depois do jantar, Claudia foi para o seu quarto e eu fiquei um
pouco para trás, tentando envolver Marcello na conversa, mas ela saiu
pela culatra novamente.

Ele acenou para mim, como sempre, depois virou-se e saiu.

E então, aqui estou eu, horas depois, prestes a bater na porta do


quarto dele. Depois de algumas horas de deliberação, decidi que precisava
ver onde estávamos.

Eu sei que ele colocou alguns limites, mas certamente ele não planeja
me ignorar pelo resto de nossas vidas. Ainda temos muitas coisas para
conversar... como estudos para Claudia, reservar sua terapia. Também
sobre mim... O que devo fazer comigo mesma? Não estou acostumada a
ficar sem fazer nada, e está bem claro que minhas habilidades básicas de
culinária ou limpeza não são necessárias aqui, pois Marcello tem um
exército de funcionários. Isso simplesmente me deixa sem nada para fazer.

Respiro fundo e fecho os olhos, bato. Há algum barulho do outro lado


da porta antes que uma voz diga.

morally questionable
— Eu te disse, Amelia... — A porta se abre de repente e meus olhos se
abrem quando eu vejo à aparição casual de Marcello.

É a primeira vez que o vejo assim. Ele está de camiseta branca e calça
de moletom preta. Seu cabelo está desgrenhado. É totalmente diferente do
Marcello que eu já conheci antes.

— Catalina. — Ele parece surpreso ao me ver, e eu tenho que me


recompor. Sim, eu preciso passar por isso.

— Podemos conversar, por favor? — Eu pergunto, e ele estreita os


olhos para mim.

— É urgente? — Ele pergunta, mantendo a porta apenas um pouco


entreaberta, para que eu não possa ver nada lá dentro.

— Sim, acho que sim. — Não é, mas se essa é a única maneira de fazê-
lo falar comigo, talvez seja.

Ele assente devagar, como se estivesse pensando nas minhas


palavras.

— Vá para o escritório e eu te encontro lá em alguns minutos. É a


segunda porta à direita. — Eu nem tenho tempo para responder antes que
ele feche a porta. Pelo menos ele não disse não... certo?

Encontro o escritório e sento-me. Fiel à sua palavra, Marcello aparece


alguns minutos depois. Ele senta em frente a mim.

morally questionable
— Então? Sobre o que você queria falar? — A maneira intensa que
está olhando para mim é quase o suficiente para me fazer contorcer no
meu lugar.

— Minha filha, Claudia. Eu queria falar sobre ela. — Eu deixo


escapar. Eu preciso ser inteligente sobre isso e fazê-lo me levar a sério.
Não ajuda que ele seja tão bonito, especialmente vestido assim. Eu me
pergunto como o seu cabelo é... seria suave se eu passasse minhas mãos
por ele?

Marcello limpa a garganta e minhas bochechas ficam vermelhas.

Merda... eu estava olhando? Espero não estar olhando muito também!

Endireito minha coluna e continuo. — Ela vai precisar de um


professor. Havia uma escola de gramática em Sacre Coeur, mas era mais
como um estudo da Bíblia. Receio que ela já tenha perdido muito em
termos de uma educação mais tradicional.

— Entendo. Você não tem motivos para se preocupar com isso. —


Marcello responde. — Também tentei encontrar uma governanta para
Venezia, já que ela também está um pouco atrasada na escola. — Ele faz
uma careta um pouco. — Se você quiser, podemos entrevistar potenciais
governantas juntos e decidir o melhor para as duas.

— Sério? — Meu tom talvez seja muito entusiasmado e noto que


inconscientemente me inclino para a frente. Eu tento me inclinar um

morally questionable
pouco antes de continuar. — Isso seria ótimo, obrigada. Quero garantir
que ela receba a melhor educação, mas também em um ambiente seguro.

— Eu concordo. — Ele dá um aceno rápido.

— Eu também quero encontrar um terapeuta para ela. Quanto antes,


melhor. Eu não gostaria que o que aconteceu com ela a assustasse.

Marcello inclina a cabeça quando me considera.

— Quão ruim foi? — Ele pergunta de repente.

— O que você quer dizer? — Eu franzi a testa para a pergunta dele.

— O que exatamente aconteceu com o padre Guerra? Ele fez... — Do


canto do meu olho, noto-o apertando o punho.

— Não foi longe demais, felizmente. Quando me deparei com eles, ele
levantou as mãos da saia dela. — Estremeço, lembrando os eventos
daquela noite. — Mas ele poderia ter... Senhor, ele poderia ter feito muito
pior... — Eu respiro fundo, tentando me recompor. Apenas o pensamento
daquele homem fazendo algo com minha filha...

— Você fez bem, Catalina. Você fez muito bem. — Ele me elogia,
mesmo que o que eu fiz tenha sido assassinato.

— Eu o matei... — Eu sussurro e fecho meus olhos, tentando bloquear


a memória do sangue derramado.

morally questionable
— Ele mereceu. Ele era um ser humano desprezível e você protegeu
sua filha. O que você fez foi muito corajoso. — Ele acrescenta, e eu olho
para cima para ver sua expressão. Os seus olhos estão quase quentes.

— Ele queria me matar. — Eu confesso. Eu o teria matado se ele não


tivesse me atacado? Talvez...

— Pare de se culpar. Acabou.

— Não é... Eu continuo lembrando... — Eu balanço minha cabeça.

Marcello se levanta e começa a andar pela sala.

— A primeira vez é certamente a pior.

Eu balanço minha cabeça para considerá-lo. Ele quer dizer...?

— Você já matou alguém antes? — Ouso perguntar.

Ele dá uma risada seca.

— Alguém... — Ele reflete antes de rir novamente. — Sim. Eu matei


alguém. — Ele faz uma pausa antes de dizer. — Eu matei muitos alguéns.

Estou surpresa com sua admissão, mais ainda porque pensei que
talvez ele fosse diferente. Eu sei que minha família estava envolvida nesse
tipo de negócio obscuro. Mas, considerando o que ouvi de Sisi sobre ele,
pensei que poderia ser diferente.

morally questionable
Com um último olhar, ele se vira para sair.

— Espere. — Eu chamo.

Eu não terminei. Por que ele está sempre tão pronto para me ignorar?
Eu sou tão desprezível?

— Vou pedir para Amelia compilar uma lista de terapeutas —


terapeutas do sexo feminino. Ela trará para você. Se isso é tudo... — Ele se
vira mais uma vez e abre a porta para sair, e se eu não estivesse tão
ansiosa, poderia ter revirado os olhos.

— Há algo mais.

Ele faz uma pausa, fecha a porta e se inclina contra ela.

— Estou ouvindo.

— O que eu devo fazer?

Marcello franze a testa para mim. — O que você quer dizer?

Trago minhas mãos no colo e começo a me mexer. Marcello não facilita


exatamente para eu falar com ele.

— O que devo fazer o dia todo? Quero dizer... — Eu paro, tentando


encontrar as palavras certas. — Venezia e Claudia terão suas lições, mas e
eu? Existe algo que eu possa fazer em casa?

morally questionable
— Não. Não há. — Ele responde.

— Então?

— O que você quer fazer? — Ele me pergunta e eu hesito. O que eu


quero fazer? Eu não tenho ideia.

— Eu não sei. — Eu respondo honestamente. — No convento, fiz


minha parte das tarefas e foi isso.

— Então deixe-me perguntar de forma diferente. O que você gosta? —


Seus olhos brilham na sala pouco iluminada, e eu me vejo perdida neles.

Você.

Eu me sacudo rapidamente quando percebo minha linha de


pensamento. Certamente não... não, claro que não. Esse foi apenas um
pensamento traiçoeiro.

— Eu? — Ele pergunta, seu tom meio divertido e meio maravilhado.

Maldição!

Eu disse isso em voz alta?

Meus olhos se arregalam na realização.

morally questionable
Eu fingi tosse. — O que você faz é o que eu quis dizer. — Eu me
encolho internamente.

— Não foi o que eu perguntei. — Ele levanta uma sobrancelha para


mim desafiadoramente.

— Bem, eu não sei o que eu gosto. — Eu encolho os ombros, tentando


mergulhar nesse assunto e esquecer meu erro anterior.

Senhor, aposto que minhas bochechas ainda devem estar em chamas.

Foco!

— Não havia muito que eu pudesse fazer no Sacre Coeur, tenho


certeza que você percebe isso.

— Que tal antes?

Antes? Esse é um pensamento estranho... Posso me lembrar de como


eu era antes?

Eu encolho os ombros novamente. — Eu costumava costurar às vezes.

— E você não poderia continuar em Sacre Coeur?

— Eu consertei algumas de nossas roupas, nada criativo. Eu não


tinha os materiais...

morally questionable
— Isso resolve então. — Marcello diz, parecendo quase ansioso para se
livrar de mim. — Comece a costurar novamente. — Ele levanta a mão para
checar o relógio. — Boa noite.

Desta vez ele realmente sai.

O que?

Quando chego ao meu quarto, ainda estou surpresa com a partida


repentina de Marcello. Eu não acho que ele gosta de estar na minha
presença. É um pensamento preocupante, realmente. Com um suspiro, tiro
o vestido e vou ao banheiro tomar um banho. Vejo que já existem alguns
conjuntos de toalhas limpas para mim, então levo um par comigo. No
banheiro, fico de olho na banheira e, após uma longa deliberação, decido
optar por um banho quente. Talvez isso me ajude a relaxar... limpe minha
cabeça.

Largo a toalha e vou para o espelho na parede do outro lado do


banheiro. Eu tento me olhar como alguém faria. Como Marcello faria. O
que ele vê que o repugna tanto? Eu não sou feia, que eu saiba. E, no
entanto, toda vez que vejo Marcello fazendo um esforço consciente para
evitar olhar para mim, é exatamente assim que me sinto. Acho que
também não tenho muito o que olhar. Minha pele pálida está cheia de uma
infinidade de sardas. A única característica notável que tenho é a cor dos
meus olhos, um verde brilhante que Claudia também herdou.

morally questionable
Mas então eu me viro um pouco, e a maior imperfeição está me
encarando.

Quando foi a última vez que olhei para o meu próprio corpo? Quando
foi a última vez que fiquei cara a cara com as repercussões daquela noite?
Quanto mais eu me viro, mais vejo o tecido esburacado da cicatriz branca
nas minhas costas. A última vez que ousei olhar, tinha sido um vermelho
irritado. Posso não me lembrar muito daquela noite, mas lembro-me da
dor das minhas costas sendo esculpida... A faca cortando minha pele; mais
e mais profundo. A dor tinha sido tão insuportável que eu desmaiei.

Eu me sacudo dessas memórias.

O que Marcello diria se me visse?

O que ele diria se soubesse que eu carrego as iniciais de um homem


impressas nas minhas costas? A frieza do ar agride minha pele, causando
arrepios. Olho para a banheira para ver que já está meio cheia. Eu me
afundo, fechando os olhos e saboreando a sensação da água quente. Eu
levanto minha mão coberta de gotículas e a traço na minha coxa.

Como seria?

Ser tocada por ele...

Ser amada...

Desejada...

morally questionable
Prendo a respiração e me abaixo sob a superfície.

E tento me convencer de que ficarei bem.

Mesmo se isso nunca acontecer.

morally questionable
CAPÍTULO DOZE

Estou de volta ao meu quarto antes que eu possa registrar o que


aconteceu. Fecho os olhos e me concentro na respiração. Quando concordei
com esse casamento, não achei que teria tanta dificuldade em me
controlar. Meu corpo estava adormecido por tanto tempo que pensei que a
proximidade de Catalina não seria capaz de me mover.

E, no entanto, aqui estou eu. Coração batendo. Pulso acelerado.

Duro.

morally questionable
Eu gemo alto com isso.

Porra!

Ela provavelmente não tem ideia do que faz comigo... que a ver e estar
tão perto dela faz com o meu corpo.

Estou no controle há tanto tempo. Mas apenas vê-la à minha frente foi
suficiente para me fazer esquecer, imaginando todos os tipos de cenários
que conheço sei muito bem que não conseguirei agir. Desde a cerimônia, eu
fiz o meu melhor para ficar longe dela. Ela estava tão bonita... tão pura.

Merda!

Só de saber que ela está perto me faz querer quebrar todas as minhas
regras. Balanço a cabeça com o pensamento e respiro fundo. Vou ter que
continuar a evitá-la. É o melhor.

Segurando a bainha da minha camisa, a puxo sobre a cabeça e a jogo


no cesto de roupa suja. Tiro minhas calças e cuecas boxer e vou para o
chuveiro.

Eu sempre pensei que havia um lugar especial no inferno com meu


nome. Um lugar no sétimo círculo onde meu castigo seria realizado por
uma eternidade futura. Eu tinha chegado a um acordo, por incrível que
pareça. Era o que eu merecia, afinal, e não dei desculpas pra mim mesmo.

Mas isso...

morally questionable
Ter Catalina perto de mim é uma forma de angústia que nem o
inferno poderia inventar. Mas é claro que uma alma tão pura como a dela
nunca se aproximaria daquele inferno.

Eu rio disso, uma risada cínica que quase me faz engasgar.

É isso, não é?

Que outro castigo eu poderia receber para rivalizar com este?


Nenhum...

Parece que é o inferno na terra...

A percepção de que a presença de Catalina aqui é o preço que devo


pagar por todos os meus pecados não me impede de pensar nela... ansiando
por estar com ela.

Minha respiração para com esse pensamento. Gotas do chuveiro


umedece meu cabelo até que grude no meu rosto.

Dez anos, e meu corpo se sente vivo novamente. Eu me sinto vivo


novamente.

A imagem de Catalina olhando para mim por baixo dos cílios, dizendo
que gostava de mim, mesmo sabendo que ela não quis dizer isso...

Meu pau já está se esforçando contra o plano do meu estômago, e eu


fico ainda mais duro quanto mais imagino seus lábios... Eu me pego na

morally questionable
mão, acariciando meu eixo de base a ponta, quase gemendo com a
sensação.

Tem sido um longo tempo também.

A pele no topo do meu pau é tão sensível que estremeço quando meu
polegar toca a cabeça e desliza pela parte de baixo.

Fecho os olhos e continuo visualizando, o tempo todo bombeando meu


pau cada vez mais rápido. Como ela ficaria de joelhos? A sua língua se
estenderia, esperando minha semente?

Minha respiração aumenta.

Ela cuspiria ou engoliria?

No momento em que a imagino engolindo meu esperma, lambendo os


lábios como se estivesse com sede, eu me perco. Sinto minhas bolas se
contraindo e atiro minha carga por todo o chuveiro.

— Porra! — Eu murmuro, mal consigo me segurar enquanto a


intensidade do orgasmo me atinge. Preciso colocar a mão na parede para
me estabilizar, o tempo todo tonto e respirando com força.

Não demora muito para que a euforia desapareça, e um profundo


sentimento de vergonha me envolve.

Porra... como eu poderia fazer isso? Como...

morally questionable
Como eu poderia contaminá-la assim, mesmo que esteja em minha
mente?

Eu amaldiçoo a mim mesmo.

Com as pernas trêmulas, saio do banheiro, minha mente ainda está


enevoada e desorientada. A quantidade de auto aversão que estou sentindo
agora me domina, e não posso fazer nada além de tropeçar em direção ao
meu altar. Eu tropeço nas minhas pernas e caio, mas meu foco obstinado
não me deixa parar.

Eu rastejo até chegar à mesa que abriga minha parafernália e pego


meu rosário em uma mão e o chicote na outra.

Eu preciso ficar longe dela...

Quanto mais estou perto, mais corro o risco de contaminá-la com a


minha escuridão... mais do que eu já tenho. Eu angulo o chicote e bato,
meus olhos se fecharam, minha boca se separou sentindo a dor.

Eu devo pagar pelos meus pecados.

Eu faço de novo.

Whip!

E de novo.

morally questionable
Whip!

Por quê?

Whip!

Por que devo querer tanto ela?

Whip!

Eu estou sujo... nojento.

Whip!

Lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto, mas eu não paro. Minhas
velhas feridas provavelmente reabriram, mas eu gosto da mordida extra
de dor.

Whip!

Eu preciso sofrer.

Whip!

Eu sou um pecador...

A dor me derruba e me deito no chão, trazendo os joelhos ao peito e


apertando o punho ao redor do rosário. Eu balanço lentamente enquanto
faço minha oração.

morally questionable
Eu rezo para que ela fique bem.

Oro por força para me manter longe.

E... Oro para que tudo acabe.

Treze Anos

Eu esfrego, esfrego e esfrego. Não vai embora.

Ainda sinto o perfume barato, aquele cheiro enjoativo que quase me


fez vomitar. Trago minha mão para a boca para me impedir de vomitar. Eu
provavelmente deveria me sentir orgulhoso por não ter vomitado com
aquela garota. Não é como se ela quisesse estar lá. É o trabalho dela.

Eu nunca imaginei que o pai fosse tão longe, mas ele entendeu que eu
precisava me tornar um homem, e que nenhum filho seu seria bicha.

morally questionable
Eu já tinha aprendido minha lição, anos antes, de que, ao lidar com o
pai, é melhor nunca mostrar emoção. Nunca mostrando se eu odeio ou
gosto de alguma coisa.

Quando ele me disse que havia um lugar para onde tínhamos que ir,
eu mantive minha cara de pôquer no lugar. Eu não tinha discutido. Eu
acabei seguindo.

Na pior das hipóteses, ele me faria matar alguém. Estive lá, fiz isso.
Depois da minha primeira morte, eu me ensinei a ficar dessensibilizado
sempre. Isso acontecia com todo mundo, não? O que importava como,
quando a morte era inevitável? Foi o que eu disse a mim mesmo. Eu
estava apenas correndo ao longo de um processo que já estava em
movimento. De uma matança para outra, e outra, toda nova vítima se
tornou apenas mais um rosto no mar de uma infinidade de rostos. Eu
aprendi a me desassociar do ato.

Fui eu quem os matou, e ainda... não fui eu.

Às vezes, eu sentia que estava tendo uma experiência extracorpórea,


me vendo puxar o gatilho ou esfaquear mais profundamente na carne de
alguém.

Era eu... e não era.

É também por isso que nunca questionei o que o pai tinha planejado.

morally questionable
Mas então nós paramos em um bordel. Eu aprendi que era um bordel
porque os soldados começaram a conversar. Isso e as mulheres nuas
desfilando dentro do lugar. E enquanto andávamos por aí, percebi o que o
pai tinha planejado.

Eu não gostava disso.

Minha introdução ao sexo foi a visão de mãe sendo estuprada pelo pai
no altar em seu quarto. E foi o suficiente para me desligar completamente
do ato. Depois disso, fui exposto a conversas obscenas, feitas
principalmente pelos soldados do pai. Isso não me impressionou ou me fez
mudar de posição em relação ao sexo. Foi também por isso que o
pensamento de fazer qualquer coisa naquele lugar sujo ameaçou me deixar
enjoado — meu rosto de pôquer estava condenado.

Pai não se importava em pedir minha opinião. Ele exigiu que a


madame trouxesse uma mulher e depois me levou para um quarto,
forçando-me a me despir. Quando a menina chegou, o pai puxou uma
cadeira e viu como ela tentara e não conseguiria me despertar.
Eventualmente, dada a futilidade do assunto, o pai a expulsou.

Eu realmente pensei que a provação estava prestes a terminar.

Mas eu estava errado.

— Você é bicha, não é? É por isso que você não pode responder quando
uma mulher toca em você. — Ele zombou de mim. — Nenhum filho meu
será marica, você me entendeu, garoto?

morally questionable
Eu só poderia concordar.

Ele saiu do quarto por um minuto, antes de voltar com uma pílula e
me forçar a tomá-la.

— Você vai se tornar um homem hoje. — Ele declarou e mais duas


mulheres entraram. Ambas pareciam ser mais velhas... vinte anos, ou
talvez trinta? O que se seguiu foi a pior experiência da minha vida. Olhos
em branco, eu apenas fiquei lá, deixando-as fazer o que quer que fosse no
meu corpo. Pai também se juntou. Conexão. Era assim que ele chamava.

A água ainda derramando sobre mim, eu desmaio no chão de azulejos,


tremendo com o ar frio.

Por favor, faça isso desaparecer!

Eu gostaria de poder apagar a sensação de suas mãos no meu corpo...


a maneira como elas persuadiram uma reação onde não havia nenhuma.

Eu tinha perdido mais do que controle sobre meu corpo naquela noite.

Eu também tinha perdido o controle sobre minha mente.

morally questionable
Eu continuei.

Pai me forçou a acompanhá-lo ao bordel todas as vezes. Eu já perdi a


conta de quantas vezes estivemos lá.

Ele também me apresentou seu passatempo favorito — orgias.

Toda vez que íamos ao bordel, havia um evento que envolvia uma sala
cheia de pessoas fodendo como coelhos.

Eu estava lá... e não estava.

Lentamente se tornou tão normal para mim quanto matar.

Era eu, e ainda... não era.

Meu corpo obedeceu, mas minha mente recuou em algum lugar


seguro.

Eu nunca consigo me lembrar das pessoas. É como se eu desmaiasse


depois de cada evento.

E de alguma forma... Estou feliz por isso.

Talvez seja a maneira de lidar com as coisas. Eu tenho lido muito


sobre o cérebro e como ele funciona... especialmente como ele reage a
eventos traumáticos.

morally questionable
Por quê?

Porque eu tenho medo. Minha vida inteira foi um evento traumático.


Quanto mais um humano pode aguentar? Quanto mais até eu quebrar?

E eu tenho medo... Porquê e se eu apenas... me perder? Me retirar tão


profundamente em minha mente que nunca ressurgisse. Sim... Isso me
assusta.

Eu podia ouvir os gritos o dia todo. O que é estranho, dado que o pai
não está em casa. Embora eu esteja bastante certo, a mãe deve ter se
perdido de novo.

Tantos anos, e ela ficou cada vez pior. Neste ponto, nem tenho certeza
se algo pode ajudá-la.

Passa um pouco das seis da noite, quando os gritos recomeçam. Desta


vez, não cessa. Desde que me acostumei com a mãe, sei que seus ataques
histéricos geralmente duram algumas horas, até que sua garganta fique
dolorida. Depois, há uma pausa quando ela perde a voz.

morally questionable
Do jeito que está fazendo isso agora, tenho certeza que ela não será
capaz de falar nos próximos dias.

Tento me importar com os meus negócios e ignorar o barulho


permeado, mas quando outra voz se junta, eu franzo a testa. Isso não é a
mãe. O que está acontecendo?

Relutantemente, desço as escadas para verificar o que está


acontecendo. Estou no topo da escada quando vejo a mãe em cima de uma
das faxineiras, gritando e chutando.

Aproximando-me, noto que a mãe está segurando um martelo e pregos


e está tentando segurar a mão da faxineira e enfiar um prego nela.

— Mãe! — Eu chamo, estendendo a mão para agarrá-la.

— Não! Impuro... você... diabo! — Ela gagueja quando vê que sou eu.
Seus olhos estão selvagens e sem foco.

— Mãe, pare. — Repito e a arrasto para fora da mulher que já sangra.


Eu tento afrouxar os dedos do martelo, para que ela não possa mais
machucar ninguém, mas ela me pega de surpresa empurrando uma unha o
mais forte que puder na minha coxa.

— Porra! — Eu murmuro baixinho, e minha mãe aproveita isso para


me empurrar de volta, subindo as escadas para o quarto dela.

morally questionable
Dou alguns suspiros estabilizadoras e, sem pensar, removo a unha
embutida na minha carne. Eu me deleito com a dor, pois ela me dá a
acuidade mental necessária para lidar com a mãe.

Eu ando determinado em direção ao quarto dela, com a intenção de


remover todas as suas armas. Ela pode se machucar o quanto quiser, mas
não deve abusar dos empregados. Chego o quarto dela e o abro, esperando
que a imagem a intimide.

Quão errado eu estou...

Mãe está me olhando com terror nos olhos. Ela está segurando uma
faca na mão e quando entro no quarto, ela continua se retirando em
direção ao altar.

— Mãe, me dê a faca. — Eu digo a ela, minha voz firme.

— Não...não — Ela balança a cabeça. — Diabo.... — Ela pega uma


cruz do altar e a enfia na minha frente, provavelmente esperando que eu
sofra alguns efeitos colaterais da santidade da cruz.

— Mãe, pare com isso. Eu não sou um diabo e você sabe disso. Eu sou
seu filho.

Seus olhos se arregalam por um momento antes que franza a testa.

— Meu filho? — Ela pergunta como se fosse a primeira vez que a


ouvisse.

morally questionable
— Sim, agora, por favor, largue a faca antes de se machucar. — Dou
outro passo à frente e ela faz o mesmo, batendo no altar.

— Não... meu filho é o diabo... — Ela continua balançando a cabeça, os


olhos sombrios olhando para mim. É como se ela fosse uma concha de uma
pessoa.

Eu tento estender a mão, mas ela brandiu a faca na minha frente, me


fazendo recuar um pouco.

— Vamos larga a faca, ok? — Faço o meu melhor para manter minha
voz calma. — Deus não gostaria que você se machucasse, certo? — Eu
mudo de tática, esperando que de alguma forma a torne mais receptiva.

— Não... Você é o diabo... Você está tentando me tentar, não é? — Ela


ri, uma carranca feia transformando suas feições. — Sim... Eu sabia que
você viria para testar minha fé. Mas você não vai ganhar.

Ela me dá um sorriso presunçoso antes de levantar a faca mais uma


vez. Eu acho que ela vai me atacar, então eu instintivamente dou um
passo atrás.

Ela não ataca.

Ela pega a faca e a posiciona perto de uma orelha. Meus olhos se


arregalam na compreensão, mas talvez seja um segundo tarde demais.
Ando em sua direção ao mesmo tempo em que ela corta sua própria carne e

morally questionable
arrasta a faca de uma orelha para outra, sorrindo como uma idiota
enquanto o sangue flui por suas roupas.

Eu paro.

Ela está ofegando por ar enquanto a essência de sua vida deixa seu
corpo, e eu apenas assisto. Os riachos de sangue fluem até que não haja
mais nada. Eu assisto até as últimas gotas de sangue deixarem o seu
corpo. Ela está uma bagunça no chão, os olhos ainda abertos e olhando
para mim desafiadoramente. Seus lábios ainda esculpiam em um sorriso
sombrio.

E não sinto nada além de alívio.

Ela se foi...

Viro as costas e saio, informando a equipe para limpar o quarto.

A morte está em toda parte. Por que eu deveria me importar mais com
uma pessoa do que com a outra?

Todos nós morremos eventualmente.

Mãe apenas precipitou sua morte. Como eu faço para tantos outros...

A morte está em toda parte. E finalmente estou em paz com isso.

morally questionable
CAPÍTULO TREZE

Meu plano estava indo suavemente. Por alguns dias, eu consegui


principalmente evitar Catalina. E considero uma façanha, já que ela está
tentando me deixar sozinho ao invés de iniciar outra conversa. Depois da
última vez, acho que vou passar. Só de saber que ela está em casa... Eu
diria que é tortura suficiente.

Felizmente, eu também estive ocupado. Desde que passei por todas as


contas financeiras e compilei um dossiê de todos os empreendimentos da
Famiglia, eu tinha entendido melhor como ela opera, ou melhor, como

morally questionable
deveria operar para maximizar o lucro. Eu fiz algumas anotações e tenho
trabalhado para implementá-las. Eu havia contratado alguns contadores e
especialistas do mercado de ações para revisar o portfólio e sugerir mais
investimentos.

Não posso me dar ao luxo de ser plácido, especialmente quando todos


os olhos estão em mim. Eu sei que Nicolo está apenas ganhando tempo.
Francesco tem monitorado os outros ramos da Famiglia e está me
atualizando diariamente. Também pagamos algumas pessoas para
acompanhar os suspeitos, e mal posso esperar para ver o que descobriram.

São pouco mais de cinco da tarde quando chego em casa. Passei o dia
inteiro no hospital com meu amigo — ex-amigo. Adrian havia se
recuperado de uma lesão cerebral e eu devia a ele esclarecer minhas razões
para trair sua confiança. Eu nunca o teria vendido se a dívida que eu devia
não fosse tão grande. Dez anos atrás, Valentino havia salvado meu mundo
inteiro e, em troca, concordei em fazer o que ele pedisse. Quem teria
pensado que minhas escolhas me morderiam na bunda novamente?
Confessei a Adrian meus segredos mais sombrios. Não queria sua pena,
nem seu perdão, pois sei que não mereço. Mas eu queria que soubesse que
eu valorizava sua amizade.

Entro, prestes a ir para o meu quarto. Enquanto passo pela sala, vejo
Venezia de pé, com as mãos nos quadris, rindo de alguém. Eu me movo um
pouco para a direita, mantendo-me fora da vista e noto Catalina sentada
no sofá em frente a Venezia.

morally questionable
— Eu apreciaria se você pelo menos respeitasse minha filha. Ela é
inocente nisso. — A voz de Catalina é calma, mas determinada. Do meu
esconderijo, noto que ela está olhando para Venezia diretamente nos olhos,
desafiando-a.

— Por que eu faria isso? Ela é sua responsabilidade. — Contrapõe


Venezia.

— Sim, ela é minha responsabilidade. Mas também é sua


responsabilidade se comportar como um ser humano. Não entendo por que
você sempre tem que retrucar. — Catalina continua estreitando os olhos
em Venezia. — Mas é isso que você quer, não é? Você quer fazer birras
infantis para chamar atenção. — Ela confronta Venezia à queima-roupa e
empalidece com a acusação.

— Cale a boca! — Venezia grita com ela. — Você não sabe nada!

— Entendo... — Catalina diz baixo. — Você quer atenção, não é? Do


seu irmão?

— Cale a boca! —Venezia responde, levantando as mãos e bloqueando


os ouvidos para que ela não possa ouvir nada.

— Mas ele não dá atenção, não importa o que você faça. — Catalina se
levanta e dá um passo em direção a Venezia.

— Não... Não vou ouvir o que você tem a dizer! —Venezia joga as
mãos no ar e começa a sair da sala.

morally questionable
Catalina se move ainda mais rápido e em menos de um segundo, seus
braços se movem em torno de Venezia e ela a puxa para frente em um
abraço.

— Está tudo bem, Venezia. — Ela diz, sua voz mais baixa do que
antes e eu me esforço para ouvir.

Catalina dá um tapinha nas costas e Venezia fica parada por alguns


momentos. Suas mãos ainda estão congeladas no ar, seu corpo rígido. É
como se ela não soubesse responder. A mão de Catalina vai para sua
cabeça e ela dá um tapinha nela lentamente.

— Não há problema em se sentir assim. Mas eu não sou o inimigo.


Minha filha não é inimiga. Não vamos tirar seu irmão de você. Eu também
sou sua irmã agora, você sabe. — As palavras de Catalina parecem ser um
bálsamo para Venezia porque ouço alguns soluços sufocados. As mãos de
Venezia descem lentamente, mas ainda assim, elas não estão tocando
Catalina.

Catalina, vendo que isso está funcionando, continua com sua voz
suave. Até eu, à margem, me sinto mais relaxado só de ouvir seu tom
melodioso.

— Eu... — Venezia começa, mas antes que ela possa continuar, ela
solta um lamento alto. Ela então soluça o coração, finalmente retornando o
abraço de Catalina. Ela chora e chora, e Catalina continua a confortá-la.

morally questionable
Sinto que já vi o suficiente e tento sair furtivamente antes de ser
visto. Vou para o meu quarto e fecho a porta. Se eu já não sabia do que
Catalina era capaz, agora sabia... Depois de como Venezia a tratou
atualmente, estou surpreso que tenha tanta paciência com ela. Ela não foi
nada além de adorável. Um sorriso toca nos meus lábios. Ela é outra
coisa... Catalina... Lina.

Às vezes, nas profundezas ocultas dos meus pensamentos, gosto de


chamá-la de Lina, a familiaridade do apelido me aquecendo. E mais uma
vez, eu gostaria que as coisas fossem diferentes. Oh, Lina... em outra
vida... talvez.

Balanço a cabeça, dissipando os pensamentos sem esperança, e volto


ao trabalho.

O barulho repentino da maçaneta da porta me faz franzir a testa. Dei


a Amelia instruções estritas de que não devo ser incomodado enquanto
estiver no meu escritório.

Então para.

morally questionable
Balanço a cabeça e volto a atenção para os documentos em cima da
mesa. Como os pontos de entrada da mercadoria foram bloqueados, vimos
perdas significativas. Eu prometi que resolveria esse problema e agora
parece que não se trata apenas de resolver o embargo, por assim dizer. Eu
tenho que descobrir como compensar as perdas também. Só de pensar
nisso me faz gemer. Não estou acostumado a lidar com esse tipo de
problema, e isso está me dando dor de cabeça.

À medida que eu zero os números, a maçaneta se move novamente,


mas desta vez ela se inclina para baixo e a porta é aberta. Uma pequena
figura espia pela porta ligeiramente aberta.

Ela parece incerta quando olha para mim, com os olhos arregalados de
curiosidade.

— Entre, Claudia. — Eu digo.

— Eu posso? — Ela pergunta educadamente, e eu aceno.

Segurando-se firme, ela entra. Ela está tentando parecer confiante,


mas posso dizer que está um pouco insegura de si mesma, especialmente
pela maneira como se senta e dobra as mãos no colo.

— O que te traz aqui? — Pergunto quando vejo que ela não está
disposta a iniciar a conversa.

Eu realmente não tinha interagido com Claudia até agora...


Principalmente porque não sei como agir com crianças. Mas notei que ela

morally questionable
parece mais madura que a sua idade, especialmente quando a ouço falar
com Catalina. Olhando para ela agora, tão leve e lembrando o que Guerra
ousara fazer...

Respiro fundo, tentando me acalmar.

— Eu... — Claudia começa e levanta os olhos verdes para olhar para


mim. Ela se parece exatamente com a mãe. — Você não nos quer aqui, não
é? — Ela finalmente pergunta e eu tenho que franzir a testa.

— O que você quer dizer?

Ela abaixa os cílios. — Você sempre nos evita. — As palavras dela


ainda me deixam em choque. Eu não sabia que ela era tão observadora.

— Eu não estou. — Eu respondo, a mentira voando pelos meus dentes.


— Eu estive ocupado.

— Oh, — ela sussurra, seu olhar baixando novamente, suas mãos


inquietas. — Eu pensei... — Ela começa, mas balança a cabeça.

— Você pensou o que?

— Eu pensei que você foi forçado a nos receber. Eu não sou cega... Sei
que algo aconteceu com mamãe que a deixou com medo. Especialmente
depois do padre Guerra... — O lábio dela treme um pouco, e sinto a súbita
necessidade de puxá-la para meus braços; dizer a ela que ninguém vai
machucá-la novamente.

morally questionable
Mas eu não posso.

— Mamma está tentando me proteger, não é? — Ela pergunta e eu


tenho dificuldade em encontrar uma resposta.

— Você não precisa mais se preocupar com nada disso, Claudia. Você
está segura aqui. Sua mãe está segura aqui. — Eu tento o meu melhor
para acalma-la.

— Mas... ela não está muito feliz. — Ela finalmente diz. Foi por isso
que ela veio aqui?

— O que você quer dizer?

— Você não gosta dela, não é? É por isso que você a evita.

— Ela disse isso? Que eu não gosto dela? — Eu franzi a testa. Não
sabia que minhas ações seriam interpretadas assim.

— Não exatamente..., mas ela acha que está impondo a você.

— Não é esse o caso, Claudia. Eu garanto-lhe. Gosto muito da sua


mãe e, como lhe disse, não a estou evitando, estou ocupado com o trabalho.

— Você gosta dela? — Os seus olhos se arregalam e um sorriso se


estende pelo rosto. Merda! Eu caí em uma armadilha?

morally questionable
— Erm... Claro que gosto dela. — O que mais posso dizer a uma
criança de dez anos?

— Sim, eu sabia disso! Mamãe também gosta de você, você sabe. Eu


acho que ela estava triste porque pensou que você não gostava dela. — Ela
pula do assento. — Eu tenho que contar a ela.

— Es... — Espere. Estou um segundo tarde demais, pois ela já saiu.

Droga!

Era exatamente disso que eu precisava. Balanço minha cabeça


tristemente com o pensamento.

Eu gosto dela e esse é o problema. E eu gosto muito dela para me


aproximar. Nosso arranjo precisa permanecer como está. Comigo o mais
longe possível dela.

Vendo a direção que meus pensamentos estão tomando, me distraio


examinando os documentos novamente. A remessa que havia sido
interrompida nos custou mais de dois milhões em mercadorias perdidas.
Desde o ataque, adiei outras entregas para descobrir uma rota alternativa.
É ainda pior porque ainda não sabemos ao certo se os irlandeses estavam
por trás do ataque ou de outras organizações. Quanto mais olho para as
figuras, mais frustrado fico. Puxo meu telefone e ligo para Vlad, esperando
que ele tenha algumas informações adicionais sobre o ataque.

Toca duas vezes antes de eu ouvi-lo.

morally questionable
— Vejo que a felicidade conjugal não é tudo o que eles dizem, é isso?
— Ele pergunta ironicamente, e eu tenho vontade de revirar os olhos.

— Você já ouviu alguma coisa sobre o ataque?

— Não. Devo admitir, sejam eles quem forem. Eles apagaram seus
traços. Do lado de fora, parece um ataque irlandês...

— Mas?

— Mas não se encaixa. Quinn foi avistado por toda Nova York desde
então. Você pensaria que, depois de uma declaração de guerra, ele teria
mais cuidado sobre onde mostra seu rosto.

— Eu acho que você esquece que o cara é uma máquina. Talvez ele
esteja confiante demais?

— Não. — Vlad faz uma pausa. — Ele cresceu nesse estilo de vida. Ele
sabe exatamente o que isso implica. Ele sabe, especialmente quando
recuar.

— Então o que você está dizendo? — Eu pergunto, curioso para ver o


que Vlad está falando.

— Eu tenho duas hipóteses de trabalho. Ou seu pai está trabalhando


sozinho, vendo como ele está escondido desde o ataque a Agosti, ou...

— Ou é uma encenação. — Eu digo.

morally questionable
— Sim. Para nos fazer focar nos irlandeses. Honestamente, neste
momento não podemos desconsiderar nenhuma opção.

— Mas quem se beneficiaria com isso? Quero dizer, com certeza,


muitos ficariam para vencer de uma guerra total.

— Se Jimenez estivesse vivo, eu diria que é o modo de agir dele. Mas


agora... Eu preciso de mais informações para isso. Estou tentando falar
com Quinn, sem derramamento de sangue. Vou deixar você saber no que
isso resulta.

Estou prestes a responder quando a porta do escritório se abre, uma


Catalina em pânico invadindo.

— O que... — Eu começo, abaixando o telefone.

— É Sisi. Algo aconteceu no convento. — As palavras dela estão muito


apressadas, então eu levantei minha mão para detê-la.

— Desacelere, Catalina. O que aconteceu?

— Um assassinato. — Ela diz, com os olhos arregalados de horror. —


Alguém matou uma freira na capela... — Ela balança a cabeça como se
quisesse dissipar a imagem mental.

— Ok, então uma freira foi assassinada. O que isso tem a ver conosco?

morally questionable
— Sisi disse... — Ela segue, os lábios tremendo, — ela tinha um C
esculpido na testa...

— Quando? — Eu tento me recompor. Tantas perguntas estão


passando pela minha mente. Por quê? Quem faria isso? Assisi está bem?

— Eles acabaram de descobrir, — Catalina diz, e eu me levanto


abruptamente.

— Você ouviu isso? — Trago o telefone de volta ao meu ouvido e Vlad


ri.

— Assassinato demais em um lugar tão sagrado, você não diria?

— Eu não tenho tempo para isso, Vlad. — Eu digo e estou prestes a


desligar, mas ele responde.

— Eu te encontro lá. — A linha está morta. Vlad típico.

— Não se preocupe. Eu estou indo para lá agora. — Volto minha


atenção para Catalina e tento garantir a ela.

— Eu também vou. — Ela me olha diretamente nos olhos, desafiando-


me a recusá-la.

— Catalina...

morally questionable
— Estou indo! — Ela diz mais uma vez, desta vez com mais convicção.
— Sisi é minha amiga. E se alguém se machucasse por minha causa... —
Ela diz e eu posso ver a angústia em seu rosto.

Suspiro e relutantemente aceno.

— Mas, — continuo, precisando estabelecer alguns limites, — você


não sai do meu lado nem por um instante. Estamos entendidos?

— Sim, Sim! Obrigada! — Ela assente com fervor e eu aceno para me


seguir até o carro.

Eu dirijo o mais rápido que eu posso, e chegamos a Sacre Coeur em


tempo recorde. Catalina ficou quieta o caminho inteiro, com o rosto tenso
de preocupação. Meus pensamentos vão para Assisi e para o fato de ela
estar no local. Depois do que aconteceu com o padre Guerra, conversei com
a Madre Superiora sobre a contratação de alguma proteção para Assisi
dentro do convento, mas fui imediatamente rejeitado. Eu até sugeri a
contratação de uma guarda-costas, já que os homens não eram permitidos

morally questionable
entrar, mas Madre Superiora tinha sido bastante inflexível que elas não
permitiam que estranhos residissem em Sacre Coeur.

Faz apenas alguns dias desde então, e já aconteceu outra coisa. Vlad
estava certo, de uma maneira distorcida. É altamente suspeito que dois
incidentes ocorram em um convento e tão próximos. Algo não está certo.

Estaciono o carro e Catalina e eu saímos, indo em direção à entrada


do convento. Pouco antes de passarmos pela segurança, vejo Vlad.

— Marcello, — ele inclina a cabeça para mim antes de mudar seu foco
para Catalina. Ela olha para ele curiosamente, e eu relutantemente faço
as apresentações.

— Catalina, este é Vlad. — Ele pega a mão dela, apertando-a.

— Eu ouvi muitas coisas sobre você, — diz Vlad sem problemas, e eu


tenho que me controlar. Apenas a visão da mão dele em cima da dela é
suficiente para fazer minha visão ficar vermelha.

— Vamos entrar. — Eu adiciono rapidamente, e Vlad levanta uma


sobrancelha para mim. Eu o ignoro, sabendo que ele está me provocando
de propósito.

A segurança é mais rigorosa que da última vez, mas superamos isso


rapidamente. Há freiras correndo por todo o lugar no que só posso
descrever como histeria em massa.

morally questionable
— Deixe-me ligar para Sisi, — Catalina pega o telefone e disca para
minha irmã.

— Eu não sabia que ela tinha um telefone. — Eu franzi a testa.

— Eu deixei meu telefone para ela. — Ela responde, antes de dizer:—


Sisi, estamos aqui... A gráfica? Estaremos lá. — Ela se vira para nós e
Vlad e eu acenamos.

— Lina? — Minha irmã corre em nossa direção quando vê Catalina.


Ela voa direto para seus braços e a abraça com força. — Oh, Lina! Senti
sua falta!

— Sisi, você está bem? — Catalina acaricia a cabeça carinhosamente.


Eu não sabia que o vínculo delas era tão profundo.

Assisi assente e depois olha para nós, franzindo a testa.

— Marcello? E... — Ela estreita os olhos para Vlad, mas ele parece
despreocupado com isso.

— Vlad. — Ele imediatamente se apresenta, um sorriso afável no


rosto. Ele está usando a voz encantadora nela. Vlad sempre faz isso para
parecer o mais inofensivo possível. Poucas pessoas podem vê-lo como ele
realmente é — um predador.

Ele estende a mão para ela.

morally questionable
Assisi poupa apenas um olhar, ignorando sua mão levantada. —
Certo, então, — diz ela, voltando-se para Catalina.

Eu olho para Vlad e, enquanto sua fachada está firmemente no lugar,


não há dúvida de que o desprezo machucou seu ego. Eu quase quero rir
disso, enquanto cumprimento minha irmã — se eu pudesse.

— Conte-nos o que aconteceu. — Eu digo a ela, e ela me dá um sorriso


triste.

— Também não conheço todos os detalhes, mas estava perto da capela


quando uma freira começou a gritar. Eu entrei e... Você deve ver por si
mesmo se Madre Superiora permitir. É apenas... — Ela balança a cabeça.

— Ela vai permitir. —Vlad interpõe, e todos seguimos em direção à


capela.

Há uma multidão lá fora, e algumas freiras idosas estão tentando


manter as outras em ordem. Madre Superiora também está do lado de
fora, parecendo contrita enquanto fala com um padre. Vlad imediatamente
vai até ela, e eles trocam algumas palavras. O que quer que ele esteja
dizendo a ela, ela não parece satisfeita. Ele volta para o nosso lado e nos
diz que podemos prosseguir para dentro.

— Vocês duas devem ficar aqui. — Eu me dirijo a Catalina e Assis,


mas ambas imediatamente balançam a cabeça.

— Não. — Elas dizem em uníssono.

morally questionable
Eu suspiro.

— Eu não acho que é algo que você deveria ver. — Eu adiciono.

— Eu já vi. — Assisi retruca.

— E isso me envolve... Eu preciso ver isso! — Catalina diz com


firmeza, levantando a cabeça para me olhar desafiadoramente.

Eu me viro para Vlad, mas ele está encolhendo os ombros.

— Tudo bem... — Eu cedi mais uma vez. Certamente não pode ser tão
ruim assim, vendo que Assisi está bem.

Entramos e Catalina imediatamente liga sua mão a Assis. Estou


quase tentado a dizer para elas esperarem do lado de fora, há uma
determinação de aço sobre as feições de Catalina que me deixa orgulhoso.
Ela é delicada, mas é tão forte.

Eu me sacudo das minhas reflexões e me concentro na tarefa em


questão.

Lá dentro, dou alguns passos, mas paro abruptamente.

A capela é projetada em estilo arquitetônico gótico, e o altar tem uma


imponente escultura em relevo que é no teto alto. Ele descreve a cena da
crucificação de Jesus como sua peça central. O teto alto permite figuras
quase em tamanho real. Ao redor de Jesus estão seus enlutados, tanto os

morally questionable
terráqueos quanto os seres celestes. Ou pelo menos, é assim que estou
assumindo que o altar seria em qualquer outro dia. Toda a parede é
pintada com sangue, algumas áreas manchadas com impressões de mãos
semelhantes a crianças.

O corpo da freira havia sido colocado no meio, em cima da forma de


Jesus. O assassino abriu os braços para imitar a posição da crucificação,
enquanto as pernas estavam presas juntas com uma corda. Ela ainda está
vestida com seu hábito, mas o pano foi rasgado no meio, efetivamente
revelando-a para o mundo inteiro. O branco de sua touca tem respingos de
sangue por toda parte.

Há um grande C na testa, esculpido aparentemente com uma unha.


Talvez até uma das unhas que agora a mantém segura na parede. Sua
boca está entreaberta, sua língua cortada. Não consigo ver bem a essa
distância, mas de repente estou curioso para ver se ela tem mais dentes.

Eu me aproximo.

O torso inteiro da freira foi aberto; seus órgãos retirados. Em vez


disso, eles foram dispostos na mesa como ofertas. O coração foi colocado em
um prato de prata. À direita, uma cruz de tamanho médio tinha o
estomago enrolado em seus recuos como uma serpente. Os pulmões foram
os próximos, todos cortados em pedaços pequenos ao lado de um cálice
cheio de líquido vermelho — sangue. Eu tenho que me perguntar se isso
deve imitar a Eucaristia.

morally questionable
Eu ouço um suspiro atrás de mim. Catalina levanta a mão na boca
olhando incrédula para a cena à sua frente.

— Quem faria isso...? — Ela sussurra.

Assisi está estudando a forma da freira, seu olhar se dedica ao buraco


na cavidade torácica.

Vlad está alguns passos atrás de nós, mantendo uma distância


moderada. Percebo que ele está se esforçando muito para evitar olhar para
o sangue.

Por que ele veio?

— Isso parece assustadoramente semelhante ao que aconteceu com o


padre Guerra. — Assisi comenta, apontando para o corpo. — Seu interior
também foi adulterado. Bem, não desta maneira, mas bastante
semelhante.

— Mas quem faria isso? Ainda não sabemos quem desenterrou o


padre Guerra e o colocou na gráfica... — Catalina balança a cabeça. — E
porquê? — Ela se aproxima. — Por que o C? — Catalina está se
concentrando no rosto da freira quando Assisi estreita os olhos.

— Espere... — Ela vai em direção ao altar e para bem na frente do


corpo.

— Assisi, o que você está fazendo? — Eu pergunto.

morally questionable
— Acho que vi algo brilhar lá... — Ela franze a testa e olha mais de
perto, quase enfiando a cabeça dentro do estômago da freira.

— Assisi, — repito, e ouço alguém gemer.

Vlad.

Assisi levanta a mão e a coloca dentro do corpo, coçando o nariz como


se estivesse procurando por algo.

— Pelo amor de Deus, Sisi! — Os olhos de Catalina se arregalam. — O


que você está fazendo? — Ela tenta se aproximar da minha irmã, mas eu
levantei a mão para detê-la.

— Assisi?

— Maldição! — Ela diz, a mão ressurgindo, o punho cheio de alguma


coisa.

Ela se move até ficar de pé sobre a mesa do altar. Ela abre o punho e
um monte de dentes sangrentos caem sobre a toalha da mesa.

— O que...? — Olho os dentes com horror nos olhos, e depois há o C.


Eu giro em direção a Vlad, e posso dizer que ele está pensando a mesma
coisa.

Ele traz um lenço e o enfia na testa antes de avançar.

morally questionable
— Agora, esta é uma virada interessante de eventos. Você não diria
isso, Marcello? — Ele se inclina um pouco para olhar para os dentes antes
de evitar o rosto com nojo.

Assisi revira os olhos para isso e volta ao corpo.

— Há algo mais. Eu não consegui ver isso antes. — Ela insere a mão
novamente e remexe através do conteúdo do estômago da freira.

É engraçado como Vlad está olhando para ela com meia admiração e
meia-distância.

— Aqui! — Assisi exclama e ela retira um pedaço de material


amassado.

Ela coloca na mesa e todos nos reunimos para analisá-la.

— É pergaminho... talvez um pergaminho humano. — Vlad comenta,


pegando uma faca e jogando-a para dar uma olhada melhor. Há algum tipo
de escrita, e Vlad relutantemente usa seu lenço para limpar o sangue dele.

— Pagando pelos pecados dos outros. — Eu li em voz alta e Catalina


suspira.

— É por minha causa, não é? Quem está fazendo isso, é por causa do
que eu fiz... — Uma lágrima desce pela bochecha e eu gostaria de poder
levantar minha mão e limpá-la.

morally questionable
— Catalina, — digo, tentando descobrir como dizer a ela que talvez
não seja ela que eles estão procurando, mas eu.

— De quem é a pele? — Assisi pergunta quando ela olha mais de


perto. — É dela? — Ela aponta para a freira.

— Provavelmente não, — digo e me faço careta para minhas próprias


palavras. É simplesmente como essa pessoa funciona.

Ela franze a testa.

— Como você tem tanta certeza?

— Porque quem fez isso, — começo e respiro fundo, virando-me para


olhar Catalina, — não está mirando em você.

— O que você quer dizer? — Ela pergunta, sua voz é um mero


sussurro.

— Isso, — Vlad brandiu sua faca em direção ao rosto da freira e o C


que estragou suas feições — é a marca de um serial killer. O C por si só
poderia ter apontado para você, — ele se vira para Catalina, — mas os
dentes confirmam que é um serial killer que estamos procurando.

— O que...? — Assisi pergunta, inclinando a cabeça, como se estivesse


incrédula.

morally questionable
— Deixe-me entender isso, — ela começa, e mais uma vez fico
impressionado com a compostura dela por tudo isso, — você está dizendo
que a pessoa que matou nossa irmã é um serial killer? Então, e o padre
Guerra? Não acredito que seja uma coincidência essas coisas acontecerem
quase uma semana uma da outra. — A mão dela vai massagear a testa,
manchando um pouco de sangue das mãos na pele.

Os olhos de Vlad estão colados ao rosto de Assis, especificamente à


pequena trilha de sangue na testa. Parece que ele está em transe enquanto
se move, e em dois passos ele está na frente de Assis.

— Vlad! — Eu chamo, sabendo que isso não é bom. Ele vai perder o
controle? Ele vai machucá-la?

Vlad não responde. Ele está fixado nas manchas vermelhas no rosto
de Assis.

— Não se mexa! — Eu falo para Assis, preocupado que qualquer


movimento repentino possa fazer Vlad estalar. A última vez que o vi em
um de seus episódios... não tinha sido bonito.

Seus olhos se arregalam de surpresa, mas ela acena lentamente.

Os olhos de Vlad estão em branco quando ele inclina a cabeça para


estudar o rosto da minha irmã.

— Vlad! — Eu chamo novamente, esperando acordá-lo de qualquer


transe em que ele esteja.

morally questionable
Seu braço se move para cima e eu já estou em movimento, pronto para
tirá-lo de Assis.

Para minha surpresa, a mão dele vai para a testa dela, quase com
ternura, e ele passa um pouco de sangue com os dedos. Ele a encara por
um segundo antes de trazê-lo aos lábios. Ele fecha os olhos e respira fundo,
apreciando o sabor do sangue.

— O que...? — Assisi parece atordoada enquanto franze a testa para


Vlad.

— Assisi, venha aqui, mas devagar. Ele pode ser perigoso.

Ela não parece convencida, mas faz o que é pedido, saindo do alcance
de Vlad. Ele ainda está trancado em algum lugar, com o rosto em branco.

— O que há de errado com ele? — Assisi pergunta quando chega ao


meu lado.

— Ele não é... normal, — digo porque é a única coisa que pode
descrever com precisão essa situação.

— Não é... normal? — Assisi repete, continuando a estudar a forma


rígida de Vlad.

— Fiquem aqui, vocês duas. — Eu lentamente ando na frente de Vlad


e estalo meus dedos na sua frente.

morally questionable
— Vlad! Saia disso!

Ele levanta os olhos para me considerar, estreitando os olhos para


mim. Ele gira o dedo no ar, pequenas manchas de sangue ainda na
superfície.

— Mais... — Ele sussurra, e eu solto um gemido. Ele não vai sair


disso, vai?

Sabendo o que pode acontecer se ele se deixar levar, eu me preparo


para agir. Eu preciso nocauteá-lo antes que se torne muito perigoso.
Mantendo meus olhos em seu rosto, dobro a manga da mão direita, já com
medo da ideia de contato com a pele.

— Marcello, o que você está...? — Assisi dá um passo à frente e eu me


viro bruscamente para detê-la. A mão de Catalina também dispara para
deter Assis, mas ela a escova.

Porra!

— Assisi, fique para trás! — Grito e estou momentaneamente


distraído com os movimentos de Assis. Em uma fração de segundo, Vlad
sai do meu lado.

Merda!

A mão dele está em volta da garganta de Assis, empurrando seu corpo


para dentro da parede e levantando-a do chão.

morally questionable
— Sisi! — Catalina choraminga, e de repente estou com medo.

— Lina, fique para trás, — digo a ela, me colocando na sua frente.

— Mas... — Ela começa.

— Sem movimentos bruscos. Precisamos tirá-lo disso! — Eu digo a


ela.

— Assisi, você está bem? — Eu pergunto a ela e percebo que ela não
parece ter medo.

— Estou bem... ele não está me machucando. — Ela responde, e eu


tenho que franzir a testa. Ele a coloca no ar pela garganta e não a está
machucando?

— Vlad, preciso que você se concentre, ok? Você está machucando


minha irmã agora. — Eu enuncio cada palavra, esperando romper a névoa
que nubla sua mente. Ele inclina a cabeça para o lado, quase como se me
ouvisse.

— Sim, essa é minha irmã que você está segurando. — Eu digo. No


passado, era imperativo falar com ele nos termos mais simples. Não sei
exatamente o que acontece com ele quando perde a cabeça assim, mas é
como se ele regredisse perto de um estado não verbal.

Ele faz uma pausa por um segundo.

morally questionable
— Irmã? — Um som gutural escapa de seus lábios.

É isso aí! Ele está perto.

— Sim, ela é minha irmã. E você está a machucando agora.

Ele move a cabeça novamente para o lado, com os olhos focados em


Assis.

— Irmã? — Ele diz novamente com uma nota ofegante. — Irmã...

Ele abaixa Assisi no chão, e Catalina e eu suspiramos em alívio.

Ele tira a mão da garganta dela e estou prestes a tirá-la de sua


proximidade. Mas de repente, Vlad cai de joelhos, com as mãos girando no
meio de Assis.

Ele está... abraçando-a?

— Irmã, — ele repete, quase admirado.

Assisi me olha com questionamento, e só posso balançar a cabeça,


sinalizando para ela ficar parada.

Os braços de Vlad se apertam ao seu redor, e ele continua repetindo a


mesma coisa.

— Irmã, — a palavra parece mais urgente a cada vez.

morally questionable
A mão de Assisi desce lentamente e ela dá um tapinha nas costas dele
confortavelmente.

A respiração de Vlad acelera e ele lança alguns sons baixos na


garganta.

— Está bem. Você está seguro aqui, — Assisi murmura, e as palavras


dela têm um efeito imediato nele, quando ele fecha os olhos.

— Eu acho que ele está dormindo. — Assisi diz depois de um tempo,


lentamente se desembaraçando de suas mãos. Vlad cai no chão, frio.

— O que foi aquilo? — Assisi pergunta, mas eu apenas balanço minha


cabeça?

Como posso explicar Vlad sem fazer a freira atualmente estripada


parecer brincadeira de criança?

Estou aliviado por as coisas não terem saído do controle. Eu já


testemunhei Vlad no meio de sua raiva antes, e todos esses episódios
haviam terminado com pelo menos alguns cadáveres. O que quer que
tenha clicado em seu cérebro quando eu mencionei que Assisi era minha
irmã deve ter impedido que ele ficasse furioso conosco.

— Ele... — Eu tento encontrar uma explicação plausível, — tem


algum trauma. Isso deve ter desencadeado ele. — Quero dizer, é
tecnicamente verdade.

morally questionable
Assisi e Catalina concordam, e eu mudo de assunto. Porque se elas
descobrirem mais sobre Vlad significaria descobrir mais sobre mim...

— Antes de partirmos, quero lhe perguntar uma coisa. — Eu digo à


minha irmã.

— O que?

— Você realmente quer fazer seus votos? Se você sente que esta vida
não é para você, pode me dizer. Estou preocupado com sua segurança aqui,
e Madre Superiora não me deixa contratar um guarda para você.

O lábio de Assisi treme por um segundo e ela levanta os olhos para me


olhar maravilhada.

— Vocês... você está dizendo... — Ela gagueja. — Você está dizendo


que eu posso deixar o convento? Mas para onde eu iria... Eu....

— Você pode vir morar conosco. — Catalina intersecta, vindo em


direção a Assis. — Adoraríamos ter você, não é, Marcello?

Eu aceno.

— É sua casa também. E você estaria mais segura lá.

— Eu... — ela balança a cabeça. — Sim, sim, por favor, — sua voz é
cheia de emoção e ela se joga nos braços de Catalina.

morally questionable
— Obrigada! Eu... você não entende o que isso significa para mim. —
Ela repete e de repente fico surpreso com sua reação.

— Você não gosta daqui? — Eu pergunto, quase hesitante.

— Não é isso, — ela começa, mas o movimento lento da cabeça


esconde suas palavras. — Eu não acho que estou apta para ser freira.

— Eu acho que essa é a melhor opção. Eu sempre soube que Sisi não
era para esta vida. — Catalina se vira para mim, um sorriso de aprovação
tocando nos lábios.

Todo esse tempo... realmente parece que nada do que faço está certo.

Um gemido alto ressoa na capela.

Vlad lentamente se levanta, com os olhos sem foco.

— Droga, — ele amaldiçoa. Ele parece que está acordando depois de


uma ressaca. — O que aconteceu?

— Acho que você teve sua cota de sangue por hoje, — acrescento com
desdém, sabendo que ele entenderá meu significado.

Suas feições são tensas, e ele me dá um rápido aceno.

morally questionable
— Desculpe por isso, — a transformação é imediata. Um momento em
que sua mandíbula está tensa, no outro um sorriso radiante aparece em
seu rosto.

— Estou feliz que você esteja bem. — Catalina diz, enquanto Assisi
bufa.

— Então, o que eu perdi? —Vlad tem a ousadia de perguntar, vindo


para examinar os dentes.

— Você tem certeza que quer fazer isso? De novo? — Eu levanto uma
sobrancelha, mas ele me ignora?

— Precisamos descobrir por que Chimera está mirando um convento.


Talvez seja... — Ele se vira e olha para Assisi e Catalina, apertando os
olhos.

— Falaremos sobre isso mais tarde. — Eu digo a ele tensamente. A


última coisa que precisamos é que elas pensem que um serial killer está
atrás delas.

— Você... você acabou de dizer Chimera? — Catalina empalidece, sua


voz é um mero sussurro.

— De fato. —Vlad responde e dobra os braços sobre o peito,


observando.

Catalina balança os pés e Assisi pega a mão, estabilizando-a.

morally questionable
— Por quê? — Minha irmã pergunta a ela.

— Nada... — Catalina balança a cabeça, mas ainda estou cético. É


possível que ela saiba sobre Chimera? Mas isso seria impossível, a menos
que...

— Podemos voltar? — Catalina não parece muito bem, então eu


concordo imediatamente.

— E quanto a mim? — Sisi pergunta, quando saímos da capela.

— Você vem conosco também.

— Mas Madre Superiora...

— Vou resolver tudo com a Madre Superiora. Vá com Catalina até o


carro e eu te encontro lá.

Ela não parece muito convencida, mas concorda.

— Sua irmã estava certa. É coincidência demais que Chimera apareça


aqui. — Vlad menciona depois que elas vão embora.

— Quem quer que seja, está chegando muito perto. E eu não gosto
disso.

— Entre os Guerras, Chimera e sua própria família, eu diria que você


está com as mãos cheias. — Ele ri.

morally questionable
— Você esqueceu os irlandeses. — Eu adiciono secamente.

— Certo... vamos ver sobre isso.

morally questionable
CAPÍTULO QUATORZE

Me viro inquieta na minha cama. Estou tentando dormir há algumas


horas, mas minha mente continua repetindo os eventos de hoje. Quem
pensaria que depois de todo esse tempo eu ouviria esse nome
novamente...? Balanço a cabeça, tentando dissipar esses pensamentos. Não
posso deixar isso chegar até mim, não de novo. Não depois de todo o esforço
que me levou para superar o passado. Ainda assim, não posso deixar de me
perguntar por que agora... Por que ele apareceu novamente? Sisi estava
certa, pois não pode ser coincidência que esses eventos tenham acontecido
tão próximos.

morally questionable
A única coisa boa que sai disso é o fato de Sisi poder morar conosco
agora. Eu sempre soube que ela não queria essa vida. Mas ela
simplesmente não teve escolha. Estou tão feliz por ela. Depois que deixei
Sacre Coeur, mantivemos contato e pude sentir sua tristeza ao pensar que
ficaria presa lá sozinha. Mas agora ela tem sua família. Venezia me
surpreendeu com seu comportamento, não apenas em relação a Sisi, mas
também a mim. Ela ficou muito feliz por ter sua irmã em casa, e elas se
deram bem imediatamente. Talvez a conversa que tivemos no outro dia
tenha a afetado.

Finalmente percebendo que o sono não está próximo, decido ir à


cozinha e fazer um chá para mim. Um olhar para o relógio e vejo que já
passaram das quatro da manhã. Eu franzo os meus lábios, frustrada mais
uma vez por não ter conseguido dormir. Talvez uma xícara de chá quente
me ajude.

Saio do meu quarto e tento ficar o mais quieta possível quando desço
as escadas e entro na cozinha. A casa é tão tranquila, é quase estranha. Eu
vasculho os armários até encontrar um chá e colocar na chaleira.

Esperando, bato no pé e olho em volta. A cozinha é moderna e ver


todos os aparelhos me faz pensar em assar. Talvez possamos fazer isso de
novo e incluir Venezia também. Eu sorrio. Isso com certeza parece bom.
Seria como um exercício de ligação.

morally questionable
Um som de clique indica que a água está pronta, então eu a despejo
em um copo. Estou prestes a levá-lo de volta ao meu quarto quando ouço
um barulho estranho.

Eu franzo a testa.

Parece alguém gritando de dor.

Deixando o copo para trás, vou em direção ao barulho. Quanto mais


perto chego, mais percebo que estou indo em direção ao quarto de
Marcello. Dou mais alguns passos e paro. Prendo a respiração, tentando
me concentrar no barulho.

Talvez eu tenha ouvido errado?

Mas então eu ouço novamente, desta vez mais intenso. É um som tão
angustiado, como alguém sendo torturado.

Pisco do lado de fora da porta de Marcello, hesitando. Não sei se


devo... Eu não acho que ele gostaria que eu invadisse sua privacidade.
Meus punhos se apertam quanto mais ouço os gritos doloridos, minha
decisão tomada. Vou checá-lo. Se ele estiver bem, vou me desculpar e sair.
Sim, isso parece um bom plano.

Meus dedos tocam a maçaneta da porta e, respirando fundo, abro. O


quarto é pequeno. Pelo menos em comparação com os outros quartos que
eu já vi até agora. Também é estéril, exceto por uma mesa no canto mais

morally questionable
distante do quarto. Minha atenção, no entanto, está enraizada em
Marcello.

Ele está tendo um pesadelo.

Ele está se debatendo em sua cama, os lençóis emaranhados ao redor


de seus membros. Ele está encharcado de suor, tentando combater o que
está incomodando. Mais gritos escapam de seus lábios enquanto ele agarra
o cobertor, puxando-o para baixo do peito.

Ele está... nu.

Eu desvio os olhos, o calor percorre minhas bochechas. Eu não deveria


estar vendo isso. Sinto vergonha de me intrometer, então dou um passo
atrás, preparada para sair.

— Não, — um gemido dolorido me assusta. — Por favor, não, — eu me


viro e Marcello está em uma posição fetal. Meu coração se parte por ele,
vendo-o tão vulnerável.

Com o que ele poderia estar sonhando?

Quanto mais eu ouço, mais me convenço de que não posso


simplesmente deixá-lo assim. Ele está sofrendo...

Entro no quarto, fechando a porta atrás de mim. Ainda mantendo


distância, quando me lembro do problema dele com o toque, me acomodo
na beira da cama.

morally questionable
— Marcello, — eu chamo o seu nome, esperando acordá-lo. —
Marcello, acorde!

Ele se contorce um pouco, mas acho que ele não me ouviu.

— Marcello? — Aumento o volume da minha voz, tentando alcançá-lo.

Ele está tremendo, ainda sussurrando — Não, — em uma suplica. Ele


parece tão lamentável; sinto uma pontada no meu peito.

— Marcello, por favor, acorde! — Eu tento uma abordagem mais


gentil, esperando assustar os monstros com bondade. — É apenas um
sonho, por favor, acorde!

Espero alguns segundos antes de chamá-lo novamente.

— Marcello, — começo, mas fico surpresa quando vejo os olhos bem


abertos, olhando para mim. — Marcello? Você está acordado. Graças a
Deus! — Suspiro em alívio e me levanto para sair.

Tão repentino que mal tenho tempo para reagir, a mão dele dispara,
agarrando meu braço.

— Marcello? — Peço hesitantemente, olhando para a sua pele tocando


a minha. Eu levanto minha cabeça para olhar para ele, mas ele ainda está
olhando para mim, quase confuso.

morally questionable
— Sinto muito por entrar, mas você estava tendo um pesadelo, e
estava gritando e... Eu não poderia deixar você assim. Eu realmente sinto
muito. — Eu digo rapidamente, esperando que não entenda mal minha
presença aqui.

Ele inclina a cabeça e estreita os olhos. O seu aperto no meu braço se


intensifica.

Ele é... assustador.

— Marcello, você pode me deixar ir? Você está me assustando. — Eu


sussurro, minha mão tentando arrancar os dedos do meu braço.

Ele não se mexe. Em vez disso, ele puxa meu braço e eu caio na cama,
quase nele.

— M... Marcello? — Eu murmuro, um arrepio correndo pelas minhas


costas. Por que ele está fazendo isso? Ele está tentando me punir por
entrar no seu quarto?

Olho nos seus olhos e eles estão em branco. Ele está olhando para
mim, mas acho que não está me vendo.

E se... E se ele ainda não estiver acordado?

— Marcello, — digo timidamente, movendo minha mão pelo braço


dele, testando sua reação ao meu toque. Ele poupa um olhar, mas parece
incomodado.

morally questionable
Eu moldo minha mão na sua mandíbula, sentindo sua pele pela
primeira vez.

— Marcello, acorde. — Eu digo a ele com ternura, meus dedos se


movendo para cima e para baixo em sua bochecha com uma carícia suave.
Ele empurra o toque, mas não se afasta. Suas sobrancelhas se franzem e
ele me considera questionador, como se o gesto não lhe fosse familiar.

— Marcello, você poderia soltar meu braço? — Eu pergunto a ele, e


franze as sobrancelhas novamente, me puxando para mais perto.

Meu rosto está a centímetros dele, e instintivamente prendo a


respiração. Seus olhos me atingiram com uma intensidade que eu nunca
tinha visto antes.

Largo minha mão no seu ombro e dou-lhe um empurrão suave, mas o


seu domínio sobre mim só aperta. Enquanto há pouco eu estava
preocupada com ele, agora não posso deixar de sentir medo, meu corpo
reagindo à proximidade. Um leve tremor envolve meus membros.

— Marcello, por favor, me deixe ir! — Eu digo a ele com mais firmeza.

— Shh, — ele finalmente fala, colocando o dedo nos meus lábios para
me calar. Eu suspiro de choque. O que...?

Seus olhos estão nos meus lábios, e ele os traça com as pontas dos
dedos.

morally questionable
— M... — Comecei de novo, mas desta vez sou calada por uma pressão
diferente nos meus lábios.

Meus olhos se arregalam de surpresa quando sinto seus lábios nos


meus. Eles são... suaves. A sensação é totalmente avassaladora, e eu quase
me derreto. Mas eu não posso... Não estaria certo. Empurro um pouco seus
ombros e abro a boca para dizer para ele parar. Seus lábios se abrem sobre
os meus, e eu sinto sua língua sondando por dentro.

É assim... Eu franzo a testa um pouco. Só por curiosidade, toco minha


língua na dele, e um arrepio corre pelas minhas costas.

Senhor!

Minhas mãos que o estavam empurrando antes agora estão segurando


seus ombros, buscando um contato mais próximo. Eu não deveria permitir
isso. Eu não deveria gostar tanto disso. Seu braço enrola em volta da
minha cintura e ele me traz em cima dele, moldando meu corpo no seu.
Seus dedos cavam na minha carne enquanto ele aprofunda o beijo. Não
consigo nem pensar e me apego a ele como se minha vida dependesse
disso. Seus dentes mordiscam meu lábio inferior e eu libero um gemido.

Senhor!

As mãos de Marcello se movem para baixo, até que ele toque minha
bunda na minha camisola. Ele encaixa as palmas das mãos nas minhas
bochechas e me aproxima do contato com a pélvis.

morally questionable
Eu ofego.

Sua boca está mais uma vez na minha, me devorando. Eu me perco no


beijo e mudo um pouco até entrar em contato com algo duro. Meus olhos se
abrem de repente, o medo roendo meu interior.

Não... Isso não!

Com uma força que eu não sabia que possuía, eu o empurro para longe
e me levanto. Corada e respirando com força, sento-me na beira da cama e
tento me recompor.

— Eu sinto muito... eu... — Eu balanço minha cabeça, ainda tentando


me acalmar. — Eu não quis... Isso me lembrou algo e... — Tento explicar
minhas circunstâncias, mas as palavras simplesmente não saem.

Aperto meus punhos em frustração.

— Eu... — Comecei de novo, virando-me para olhar para Marcello.

Ele está... dormindo? Suas respirações suaves e regulares confirmam


que está de fato dormindo. Eu quase ri da ironia da situação. Aqui eu
estava tentando revelar minha alma para ele e ele está dormindo. Balanço
a cabeça e relutantemente saio do quarto.

De volta à minha cama, não posso deixar de repetir os eventos na


minha cabeça. As sensações eram tão estranhas, mas sim... satisfatória.
Eu não posso nem explicar isso. Era algo que eu nunca tinha sentido

morally questionable
antes. Até aquele momento que ... Talvez se levarmos mais devagar, não
terei uma reação visceral na próxima vez. Um sorriso toca nos meus lábios
e estou tonta. Então é assim que se sente ao ser beijada... Eu ri com esse
pensamento.

Certamente não tinha decepcionado. Talvez ainda haja esperança


para nós.

Com esse pensamento, adormeço.

— Definitivamente pegue esse. Parece ótimo em você! — Eu digo a


Sisi que ela está olhando maravilhada para si mesma, vestida com algo
que não seja um hábito. O vestido que ela está usando é um vestido azul
que atinge seus tornozelos. Pode-se dizer que é um pouco antiquado, mas
vimos roupas mais modernas e Sisi disse que ainda não se sentia pronta
para elas.

Acho que temos isso em comum, pois me sinto um pouco


desconfortável em algo um pouco mais revelador.

morally questionable
— Eu deveria obtê-lo em algumas outras cores também, eu acho. Este
é o melhor que eu tentei até agora.

— Eu concordo, tia Sisi, — responde Claudia, entre mastigar sua


barra de chocolate e olhar para seu novo anel. Ela pegou em uma barraca
na rua, mas ficou obcecada com isso desde então. E depois houve chocolate,
que tem sido o maior prazer de Claudia desde que deixamos Sacre Coeur.
Ela tinha apenas um gosto, e ela se declarou completamente apaixonada
por isso.

Vamos para o caixa e pagamos por tudo, alguns guarda-costas nos


esperando lá fora.

— Precisamos conseguir algumas outras coisas, — acrescento, e


seguimos para outra loja. Marcello nos deu carta branca com nossos
gastos. Compramos roupas e outras necessidades, mas como as duas
começarão a estudar em breve, precisarão de computadores. Depois de
comprar telefones e laptops para todos, estamos prontas para ir para casa.
As garotas continuam conversando, enquanto eu estou ficando cada vez
mais nervosa. Eu não tinha visto Marcello de manhã, então não tivemos a
chance de conversar sobre o que aconteceu ontem à noite.

Eu tenho feito o meu melhor para manter minha mente ocupada com
esta viagem de compras, mas fiquei um pouco tensa o tempo todo. E se ele
se arrepender do que aconteceu? Eu nem quero imaginar como seria essa
conversa.

morally questionable
Uma vez em casa, as meninas ficam tontas com suas novas compras e
se reúnem para jogar nos computadores. Venezia parece relutante em se
juntar a elas a princípio, e acho que ela se sente como uma pessoa de fora,
considerando que Claudia e Sisi cresceram juntas.

Eu tento gentilmente encorajá-la a se divertir também, e ela me dá


um sorriso hesitante.

— Eu não sei... — Ela encolhe os ombros, mas o desejo em seus olhos


enquanto observa Sisi e Claudia é claro.

— Continue. Você também é da família, — a empurro, e ela acaba


cedendo.

Com um último olhar, viro-me para ir ao meu quarto, mas Amelia me


intercepta no caminho.

— Signora Catalina, o Signor Marcello quer vê-la em seu escritório. —


Eu paro e prendo a respiração.

— Ele disse o porquê? — Eu pergunto, preocupada com a resposta.

— Não, ele não disse.

— Eu vou. Obrigada, Amelia.

morally questionable
É melhor tirar isso do caminho agora. Eu serei a única a criar todos os
tipos de cenários na minha cabeça se esse confronto for adiado por mais
tempo.

Fecho os olhos por um segundo e endireito as costas. Eu posso fazer


isso.

Com falsa confiança, vou ao seu escritório.

Marcello está sentado atrás de sua mesa, com um par de óculos de


leitura no rosto. Ele está imerso em um documento e parece assustado ao
ouvir a porta se abrir.

— Catalina. Eu não esperava você tão cedo. — Ele diz, tirando os


óculos e dobrando-os sobre a mesa. — Por favor, — ele se move em direção
ao assento à sua frente e eu sento.

— Sinto muito, — digo no momento em que me sento, querendo tirar


isso antes de qualquer coisa. — Eu não deveria...

— Do que você está falando? — Ele franze a testa, inclinando-se para


a frente e colocando os cotovelos na mesa.

— Ontem à noite, eu não deveria... — Ele inclina a cabeça para a


direita, considerando-me como se eu estivesse dizendo bobagens.

— Catalina, o que aconteceu? — Ele pergunta novamente, um olhar


repentino de preocupação em seu rosto.

morally questionable
Ele... não se lembra?

— Por que você me chamou aqui? — Eu mudo de assunto


rapidamente, para não me incriminar mais.

— Eu queria falar com você sobre o assunto da governanta, — diz ele


e faz uma pausa. — Do que você estava arrependida? Aconteceu alguma
coisa? — Ele sonda mais.

— Eu quis dizer esta manhã, — eu altero, esperando que ele não


entenda. — Sinto muito por ter gastado tanto dinheiro, — digo, e ele
imediatamente relaxa.

— Eu disse para você conseguir o que precisava. Você não precisa se


preocupar com dinheiro. — Ele tenta me confortar, e eu arregalo o olhar,
culpada pela minha mentira. Mas se ele não se lembra... Talvez ele
estivesse dormindo e não pretendia que isso acontecesse. Especialmente
porque ele tem sido muito firme sobre sua aversão ao toque. O pensamento
me deixa com frio, mas me sacudo disso.

— E a governanta? — Eu tento mergulhar na conversa e esboçamos os


detalhes para algumas entrevistas.

— Hoje? — É um pouco repentino.

— Estou adiando isso há muito tempo. — Ele suspira. — Eu não sabia


o quão ruim as coisas estavam com Venezia antes. Ela nem sabe ler.

morally questionable
Eu franzo a testa. O que?

— Ela não sabe ler? — Repito em choque.

— Ninguém mostrou interesse nela antes... E ela tem quinze anos. Eu


nunca imaginei que a situação seria tão ruim. — Ele confessa. — Assisi e
Claudia também devem se beneficiar, pois não tiveram exatamente uma
educação normal.

— Sim. Claudia ainda é jovem, mas Sisi... Estou preocupada como ela
se adaptará a viver fora do convento.

— Eu não sabia que ela não gostava tanto disso... — Ele balança a
cabeça. — Se você gostaria de estar presente na entrevista, tenho três
candidatas chegando em algumas horas.

Eu concordo prontamente.

— Ótimo. Encontre-me, — ele olha para o relógio, — duas horas na


sala de estar?

Eu aceno e volto para o meu quarto para me trocar.

Quando vou para a sala de estar um tempo depois, Marcello já está lá,
um jornal no colo.

— A primeira candidata deve estar aqui em dez minutos. — Ele


menciona casualmente quando eu me sento ao seu lado. Ele parece ser

morally questionable
totalmente indiferente a mim, e eu me amaldiçoo por contemplar que
poderíamos ser algo mais. Não ajuda que agora eu saiba como é o seu
toque, como seus lábios nos meus podem me fazer sentir.

Soltei um longo suspiro, dizendo a mim mesma esquecer tudo.


Simplesmente não é para ser.

A primeira candidata entra e Marcello a questiona sobre sua


experiência. Ele faz o mesmo com a segunda e a terceira candidata, e
finalmente concordamos que nenhuma delas se encaixaria.

— Por que isso é tão difícil? — Ele geme quando temos uma pequena
pausa antes que a última pessoa entre.

— Não acredito como elas eram esnobes, — já estou frustrada com o


processo. Todas zombaram do fato de Venezia ter quinze anos sem
educação formal. Marcello havia guiado a entrevista para que pudessem
mostrar suas verdadeiras cores, já tendo tido uma experiência terrível com
a última governanta de Venezia.

Amelia anuncia que a última candidata está pronta para entrar. Ela
parece ter cerca de trinta e poucos anos, definitivamente mais jovem que
as outras antes dela. Ela se senta à nossa frente e prosseguimos com as
perguntas padrão. Suas respostas estão no ponto e eu dou um aceno lento
a Marcello. Ela até acertou as perguntas complicadas.

— Uma última coisa, — acrescento, querendo ter certeza absoluta


disso. — Como as três estão em diferentes faixas etárias e exigem

morally questionable
currículos diferentes, como você planejaria tornar as lições coesas para que
elas também não se sintam isoladas? — Espero que algumas lições
compartilhadas as ajudem a se relacionar. Deus sabe, Venezia realmente
precisa disso.

— Sim, claro. Enquanto examinava o anúncio de emprego, aproveitei


a oportunidade para elaborar uma agenda simulada. — Ela vasculha seu
dossiê e se levanta para nos entregar uma folha de papel. Ela vai
diretamente para Marcello, no entanto, quando fui eu quem fez a
pergunta. Tento não mostrar meu ligeiro aborrecimento com isso, mas me
sinto melhor quando Marcello balança a cabeça e faz movimentos em
minha direção.

O sorriso da mulher é apertado quando ela me entrega a


programação. Olho com cuidado, gostando do que estou vendo. O tempo
compartilhado seria durante as aulas de arte e etiqueta. O plano é
detalhado o suficiente para que eu possa ter uma sensação do que ela lhes
ensinaria.

— Muito bem, — olho para Marcello e ele concorda.

— Quando você pode começar? — Ele pergunta, e ela sorri.

— A qualquer momento.

— Até amanhã?

— Sim.

morally questionable
Passamos algum tempo esboçando os detalhes, e Sarah, a governanta,
teria sua própria sala de ensino no terceiro andar e rédea solta para usar
todos os recursos que possa precisar.

Depois que ela sai, suspiro em alívio.

— Estou tão feliz. — Eu digo em voz alta, para ninguém em


particular.

Viro a cabeça e pego Marcello me olhando com um leve sorriso nos


lábios. Quando meus olhos encontram os seus, ele de repente evita o olhar.

— De fato. — Ele diz e sai rapidamente da sala.

Na manhã seguinte Amelia bate na minha porta para me informar


que tenho uma entrega. Estou um pouco surpresa porque não pedi nada.
Observo alguns homens trazerem duas caixas gigantescas e as deixarem
no meu quarto.

morally questionable
— Você sabe o que é isso? — Eu pergunto a Amelia, mas ela balança a
cabeça e me deixa em paz.

Curiosa, pego uma tesoura e começo a cortar a camada superior da


primeira caixa. Quando vejo o que está dentro, fico impressionada.

É uma máquina de costura, com todos os acessórios necessários:


agulhas, linha, tesoura. Tudo. Uau... Eu não tenho palavras.

Eu vou rapidamente para a segunda caixa, querendo ver o que há


dentro dela também.

— Querido Senhor! — Eu murmuro quando a abro para encontrar


metros de tecidos cuidadosamente dobrado. São tecidos diferentes e na
maioria das cores.

Depois de remover tudo das caixas, encontro uma nota de Marcello.

Espero que você possa fazer o que quiser agora.

Minha mão vai para a minha boca, meus olhos lacrimejando de


emoção. Ele se lembrou do que eu disse... E me surpreendeu com isso.

Eu simplesmente não posso acreditar nisso.

Monto a máquina de costura e procuro todos os acessórios,


simplesmente espantada com este presente atencioso.

morally questionable
Acho que ninguém nunca me deu algo assim. Quando eu era mais
jovem, meus pais gostavam de fingir que eu não existia. Eu tinha meus
professores e funcionários, mas eles estavam longe de ser minha família.
Havia Enzo, mas enquanto ele sempre foi nada além de gentil comigo, ele
estava ausente enquanto eu crescia. Estamos separados apenas por alguns
anos, mas como ele era o herdeiro de meu pai, tinha responsabilidades
diferentes. Eu só o via algumas vezes por ano. O resto do tempo ele esteve
na Sicília, fazendo quem sabe o quê.

Eu enxugo o canto do olho com a bainha do meu vestido, me sentindo


sobrecarregada.

Eu tenho que agradecer a ele!

O pensamento surge em minha mente e eu imediatamente me ponho


em pé. Desço as escadas e vou ao escritório de Marcello, esperando
encontrá-lo lá.

Ele não está.

Pergunto a alguns funcionários e eles me dizem que ele saiu com


alguém há um tempo atrás.

Suspiro de decepção. Eu realmente queria que ele soubesse o quanto


seu presente atencioso significa para mim..., mas acho que posso fazer isso
mais tarde.

Voltando para cima, encontro Sarah.

morally questionable
— Sra. Lastra. — Ela me cumprimenta e eu lhe dou um sorriso
inexistente.

— Sarah, — inclino a cabeça, sem prestar muita atenção.

— Terminei a lição com Claudia. Ela é uma jovem tão brilhante. —


Ela comenta e eu instantaneamente fico alerta.

— Ela é, não é? — Eu digo carinhosamente. — Obrigada por fazer


isso, tenho certeza que ela vai aprender muito com você. — Eu adiciono.
Mas então eu dou uma olhada melhor em Sarah e tenho que piscar duas
vezes.

Ela está usando uma blusa decotada e seus seios estão praticamente
saindo dela. Eu tenho que colocar meus olhos no seu rosto e me forçar a
mantê-los lá. É assim que as pessoas se vestem hoje em dia? Quero dizer,
está ficando quente lá fora, então talvez seja moda de verão.

Não ajuda que ela tenha combinado o top com uma saia muito curta.

Embora eu esteja um pouco surpresa com o quão pouca roupa ela está
vestindo, tento fingir que não percebo. Ela pode usar o que quiser, mas eu
posso conversar com Claudia para que ela não tenha nenhuma ideia disso.
Acho que ainda não estou pronta para minha filha imitar isso.

— Vejo você amanhã. — Ela se despede e eu volto para o meu quarto.

morally questionable
Eu me instalo e, quando Claudia aparece, peço que ela modele para
mim. Acho que Marcello notou seu amor pelo rosa, porque muitos tecidos
são tons diferentes dessa cor.

Passamos o resto do dia brincando com tecidos, e Assisi e Venezia se


juntam a nós um pouco mais tarde.

Nos próximos dias, continuo convidando-as para que possamos passar


um tempo juntas, nos unindo. Venezia parece ter descongelado em direção
a Claudia. Sisi, sendo Sisi, ficou um pouco louca por seu computador, e ela
raramente faz uma pausa. Ela está lendo tudo e qualquer coisa. As lições
as ajudaram, e eu até notei Venezia fazer um esforço para aprender as
letras. Depois de seu horário com Sarah, tento revisar o material
novamente com ela. Ela precisa de toda a ajuda agora até conseguir
entender o básico.

Devo admitir que Sarah está fazendo um trabalho magnífico com as


meninas, mesmo que suas roupas pareçam cada vez mais curtas. Talvez
seja só eu, mas às vezes não posso deixar de encará-la. Fico feliz que
Marcello esteja longe, porque não seria embaraçoso para ele vê-la assim?
Eu balanço minha cabeça com o pensamento.

Eu tenho visto pouco dele ultimamente. Agradeci o presente, mas sua


resposta foi superficial, na melhor das hipóteses, e ele se apressou em sair
de casa. A semana inteira passa em um borrão. As meninas estão nas
aulas ou me fazem companhia enquanto eu tento fazer um vestido para
Claudia.

morally questionable
Eu esperava mostrar meu progresso para Marcello também, mas está
sempre ausente. Bem, hoje eu tenho certeza que ele estará em casa.
Suspiro profundamente e olho para o corpete que costurei. Parece bom
para uma primeira tentativa. Retiro as agulhas de segurança e levo
comigo lá embaixo.

Estou prestes a bater na porta do escritório dele quando ouço vozes.

— As meninas estão indo muito bem. Obrigada Sarah. —Marcello diz


a ela em seu tom monótono habitual.

Ele está ocupado... Não seria certo da minha parte espionar. Dou um
passo atrás, com a intenção de deixá-los conversar e voltar mais tarde.
Mas então, eu ouço Sarah falar.

— Existem maneiras de me agradecer, — diz ela e eu paro. Sua voz é


completamente diferente daquela que ela usou comigo ou com as meninas.
É agudo e...

— Acho que seu salário demonstra e eu e minha esposa apreciamos.


—Marcello responde com desdém. Eu coro com as suas palavras. Eu gosto
quando ele me chama de esposa.

Sarah começa a rir de suas palavras.

— Sua esposa, — ela começa a rir, — você quer dizer aquela com
roupas desajeitadas? — Eu olho para o meu vestido, franzindo a testa. Eu
não acho que é desajeitado... por que ela diria isso? — Não acredito que um

morally questionable
homem como você realmente acharia aquilo atraente. — Sarah tem a
ousadia de dizer e eu ofego. O que?

— Sarah, por favor, evite falar assim sobre minha esposa. —Marcello
diz a ela e isso me dá um pouco de esperança. Ainda assim, o soco dói.
Principalmente porque talvez ele não me ache atraente....

— Por quê? Eu estaria ofendendo seus sentimentos tenros? Não se


preocupe, ela não ouvirá nada de mim. — Ela diz e eu ouço movimento.
Não posso deixar de colar meu ouvido na porta, querendo saber o que está
acontecendo.

— Sarah, eu apreciaria se você não entrasse no meu espaço pessoal.


Isso é inapropriado. — Marcello a repreende muito profissionalmente.

— Por favor, Sr. Lastra. Eu conheço homens como você. — Ela


responde, e há uma pausa.

— Sarah, por favor, coloque suas roupas de volta e saia. — Ele


enfatiza a palavra sair. Por que ele está dizendo para ela vestir suas
roupas? O que está acontecendo?

Meu coração está acelerado e não sei se devo entrar ou não. Não
consigo mais ouvir nada e começo a me preocupar.

Marcello... não, ele não faria isso.

morally questionable
Minha mão está na maçaneta da porta e discuto comigo mesma se
devo abrir a porta. Eu...

Um som alto chama minha atenção e eu abro a porta, as


consequências que sejam condenadas. Sarah se vira para mim, com a boca
aberta. Ela está sem a blusa, os seios nus. Eu rapidamente mudo meu
olhar para Marcello e ofego quando o vejo no chão, um olhar em branco em
seu rosto. Suas mãos estão enroladas em torno de seus joelhos e ele está
balançando muito lentamente, perdido.

— O que aconteceu? — Eu pergunto a Sarah.

— Nada... Eu... Eu apenas o toquei e ele ficou assim, — ela gagueja,


mas eu não me importo. Ela o tocou. Marcello não gosta de ser tocado. E
agora ele está...

— Fora! — Eu digo, minha voz firme.

— Mas...

— Dá o fora antes que eu te jogue. E não pense em voltar! — Seus


olhos estão cheios de medo e ela assente devagar antes de sair da sala.

Fecho a porta atrás dela e ajoelho no chão ao lado de Marcello.

— Marcello — eu chamo, minha voz suave.

morally questionable
Ele está tremendo, todo o seu corpo tremendo enquanto balança cada
vez mais rápido.

— Marcello, você está seguro. — Eu tento novamente.

Eu estou com tanto medo. Só de olhar para ele assim, é o suficiente


para trazer lágrimas aos meus olhos. Ela o tocou. Ela o tocou e agora ele
está... ele está desligado, não está?

— Marcello, — abaixo minha voz, — veja o que tenho aqui. Eu fiz isso
com os materiais que você me presenteou. — Eu puxo o corpete que fiz na
frente dele e começo a falar. Talvez mudar de assunto possa ajudá-lo a sair
de qualquer lugar em que ele se trancasse.

Eu digo a ele tudo sobre o processo e como eu trabalhei nele.

— Eu quero fazer um vestido de princesa para Claudia. Você se


lembra de Claudia? Ela é minha filha. — Seu balanço diminui um pouco e
ele levanta a cabeça para olhar para mim. Seu olhar ainda está em branco,
mas uma palavra escapa de seus lábios.

— Claudia? — Ele resmunga, e meu coração explode de emoção no


meu peito.

— Sim, Claudia é minha filha. Você a conheceu. Ela tem quase dez
anos e é um pouco problemática. — Eu conto histórias sobre Claudia
assustando as freiras no convento, sobre suas pequenas acrobacias e seu
recém-encontrado amor por chocolate.

morally questionable
— Catalina? — A sua voz é rouca quando ele diz meu nome, e eu
aceno ansiosamente.

— Sim, sou eu. Você me reconhece?

Seus olhos olham diretamente para mim e ele franze as sobrancelhas,


como se estivesse limpando a névoa em torno de sua mente.

— Catalina? — Ele pisca duas vezes. Ele então se inclina para a


frente, deixando os joelhos no chão.

— Você está bem? — Eu me movo o mais perto possível dele, sem


deixá-lo desconfortável.

— Agora estou, — ele sussurra, — obrigado.

— Pelo quê? — Eu pergunto, perplexa.

— Você os fez ir embora... — Ele responde, olhando acima da minha


cabeça.

— Quem, Sarah?

— Não, — ele balança a cabeça e respira fundo, — os demônios. Você


fez os demônios irem embora. — Ele diz com toda a seriedade.

E então ele faz algo que me surpreende. Sua mão hesita e, com a
ponta do dedo, ele acaricia minha bochecha com o fantasma de um toque.

morally questionable
— Você sempre afugenta os demônios. — Ele sussurra e uma lágrima
cai em sua bochecha.

morally questionable
PARTE DOIS

Figliuol mio, qui può essere atormento, ma non morte. 3

-Dante Alighieri, Purgatorio Canto XXVII

3 Meu filho, aqui pode ter tormento, mas nã o a morte.

morally questionable
CAPÍTULO QUINZE

Algumas vezes parece como morrer; como mil agulhas cutucando sua
pele ao mesmo tempo, infligindo tortura infernal ao seu corpo.

Foi assim quando Sarah colocou a mão no meu rosto. Eu mal senti o
contato diante de minha mente simplesmente recuar. Já é fácil o
suficiente. Eu tenho meu próprio cantinho na minha cabeça, onde ninguém
pode entrar. Onde os monstros são mantidos afastados. Onde estou
sozinho..., mas pelo menos estou seguro. É como um quarto branco sem

morally questionable
janelas e sem portas. Não sei de onde vem a luz, mas minha mente deve
ter descoberto que mantém os monstros afastados.

E, no entanto, às vezes eles ainda entram.

Não é a primeira vez que a sala se parece grande demais, como se


houvesse muito espaço para os monstros vagarem livremente. E então eu
diminuo o tamanho. Eu imagino uma caixa. Uma pequena caixa que me
segura apenas dentro. Porque na minha mente, eu também sou pequeno.
Ainda criança. Eu me encaixo na caixa para que não haja espaço para
outras criaturas. E então espero, cantarolando uma oração para mim.
Espero a segurança que quase nunca chega.

Mas desta vez é diferente.

Quanto mais desejo desaparecer dentro de mim, mais alta fica a voz
do lado de fora. Uma voz suave que fala de coisas simples, como fazer
medições para um vestido. Uma voz melodiosa que me faz sentir calmo...
seguro. Ela diz um nome... Claudia e meu coração se contraem com um
sentimento estranho. E então ela me conta sobre essa jovem, suas
aventuras, seu crescimento.

Não sei como, mas minha caixa se expande. Quero agarrá-la e segurá-
la, mas se desenrola lentamente, até me encontrar na sala novamente. E
eu não estou sozinho. No meu quarto branco, vejo esse lindo anjo
sussurrando palavras calmantes. Quanto mais eu ouço, mais fascinado fico
pelo som.

morally questionable
Até uma porta aparecer.

Não!

Não quero enfrentar os demônios. Eles vão me levar embora.

Eu procuro me esconder, mas sua voz adorável não me deixa. Permeia


todos os átomos da sala e ecoa no meu próprio ser. Ela segura a mão na
minha frente, mas eu apenas balanço minha cabeça. Eu não posso tocá-la.
Ela é pura demais... Eu a contaminaria.

— Eu vou mantê-lo seguro. — O anjo me diz, e eu levanto minha


cabeça para olhar nos olhos dela.

Uma luz ofuscante me agride e, por medo ou por um senso de


segurança, agarro a sua mão.

— Catalina?

É difícil para meus olhos se ajustarem à luz do dia. Catalina está


sentada em seus quadris, com o rosto cheio de preocupação.

— Você está bem? — Ela pergunta, deslizando em minha direção.

— Agora estou, — tento formar as palavras, — obrigado.

Ela não tem ideia do que fez por mim.

morally questionable
— Pelo quê? — Ela franze a testa.

— Você os fez ir embora... — Eu não sei se ela entende...


Provavelmente ninguém entende.

— Quem, Sarah? — O nome daquela mulher me faz enrolar meu lábio


com nojo.

— Não, — paro, tentando encontrar uma maneira de fazê-la entender,


— os demônios. Você fez os demônios irem embora.

Também não é a primeira vez.

Nos últimos dez anos, seu rosto tem sido meu único guia de volta à
realidade. A única corda que eu tinha para o mundo.

Não sei se é o amor e a gratidão que sinto por ela em meu coração que
me leva a fazer isso, mas até me choco quando levanto minha mão para
tocar sua bochecha.

Fecho os olhos por um momento, esperando a dor chegar.

Surpreendentemente, não.

— Você sempre afugenta os demônios. — Abro os olhos e deixo as


lágrimas caírem. Não tenho medo de parecer fraco na sua frente. Não
quando apenas saber que ela está perto me faz sentir tão forte.

morally questionable
— Marcello, você... — Ela olha para mim com admiração. Com minha
bravata ainda intacta, dou um passo adiante e pego a mão dela na minha.
Eu soltei um gemido alto com a sensação. Hesitantemente, envolto meus
dedos em volta da sua mão e preciso de um minuto para regular minha
respiração. Contato humano. Contato humano não doloroso. Pela primeira
vez em mais de uma década.

— Lina, — eu murmuro, querendo transmitir tudo o que estou


sentindo agora, mas não sendo capaz.

— Shh, está tudo bem. — Ela arrulha e interliga nossos dedos.

Olho para nossas mãos ligadas pelo que parece uma eternidade.

— Eu posso tocar em você, — digo, mais para mim.

Talvez eu ainda esteja trancado em minha mente. Uma profunda


decepção me atravessa com o pensamento. Não seria a primeira vez... Toda
noite eu vou dormir pensando nela. Sonhando em tocá-la, beijando-a.

— Isso é real? — Eu sussurro, levantando os olhos para olhá-la,


implorando para que ela me diga que é.

— É real. Eu sou real. — O corpo dela se aproxima e nossos joelhos


quase se tocam.

Abro a boca para dizer alguma coisa, mas me vejo com a língua presa.
Ela é deslumbrante. Aquela beleza que brilha no fundo dela me tira o

morally questionable
fôlego. Aperto sua mão. Eu gostaria de poder colocar em palavras o quanto
ela significa para mim.

Mas eu não posso.

Eu não mereço isso. Eu não mereço nada disso. Nem sua compaixão,
nem seu conforto. No entanto, sou tão fraco que nem consigo ficar longe.

— Você está bem? — Ela me pergunta, e eu apenas aceno. Trago a sua


mão aos meus lábios para um breve contato.

— Obrigado, — digo a ela novamente, minha voz cheia de emoção.

— Você não precisa me agradecer, — os cantos dos seus lábios sobem,


— somos uma família.

— Família... — Repito, a palavra tão estranha na minha língua.


Nossas definições de família são inerentemente opostas. Família para mim
sempre foi sobre sofrimento... para ela, parece que o significado abrange
muito mais.

Ainda segurando minha mão, ela se move ao meu lado para que nós
dois fiquemos apoiados na estante. Ela estica as pernas para ficar em uma
pose mais relaxada e eu sigo seus movimentos.

— Posso perguntar por que você odeia ser tocado? — A voz dela é
pequena, mas é como um bálsamo para minha alma agredida.

morally questionable
— Eu não tive a melhor infância. — Eu começo e respiro fundo. —
Havia algumas coisas que aconteceram... — Eu balanço minha cabeça. Não
posso contar a ela, provavelmente nunca serei capaz de contar a ela.

— Shh, está tudo bem, você não precisa me dizer agora. Mas quero
que saiba que estou aqui... se precisar de alguma coisa.

— Obrigado.

Ficamos em um silêncio confortável por um tempo, e acho que nunca


senti essa calma antes.

— Eu... Tenho uma confissão a fazer, — diz Catalina, e me viro para


ela. Suas bochechas estão vermelhas, a cabeça baixa. — Eu nem sei como
dizer isso. Senhor! — Ela franze os lábios.

— Não há nada que você possa dizer que me deixe louco, Lina. —
Garanto-lhe, e um pequeno sorriso aparece em seu rosto.

— Eu gosto quando você me chama de Lina. — Ela sussurra, quase


envergonhada.

— Então é assim que eu vou te chamar a partir de agora.

— Eu... Há uma semana, eu estava na cozinha à noite e... Eu ouvi


você.

morally questionable
— Você me ouviu, — engulo com força, sem gostar de onde isso está
indo.

— Você estava tendo um pesadelo. — Ela explica e eu fecho meus


olhos, vergonha me enchendo.

Eu tenho tido terror noturno há tanto tempo quanto me lembro. Na


maioria dos dias, ajuda se eu me nocautear com pílulas para dormir, mas
mesmo assim... O pensamento de que Catalina teria me ouvido no meu
pior me estripa.

— Eu não quis me intrometer, mas estava preocupada com você, então


entrei no seu quarto. Eu sinto muito. — Ela acrescenta enfaticamente.

— Eu fiz... Eu fiz alguma coisa? — Eu não tenho controle de mim


mesmo durante esses momentos. Espero não ter machucado ela.

— Você, — ela começa, mas cora profusamente. — Me beijou. — A voz


dela é tão baixa que mal consigo ouvir.

— Eu te beijei? — Repito, quase admirado, e ela assente. Eu a beijei...


e eu nem me lembro disso.

Eu amaldiçoo debaixo da respiração.

— Sinto muito, — ela rapidamente tenta me aplacar.

morally questionable
— Não... Estou bravo porque não me lembro. Não porque aconteceu.
— Eu respiro fundo. Eu sonhei com isso por tanto tempo, e a única vez que
isso realmente acontece, não tenho lembrança disso? — Foi bom? — Eu
pergunto rapidamente, quase com medo da resposta.

Ela assente. — Acho que sim. Foi o meu primeiro beijo. — Ela
confessa e meus olhos se arregalam em choque.

Catalina parece envergonhada, então eu tento confortá-la com uma


confissão minha.

— O meu também, mesmo que eu não me lembre.

— Você está brincando. — Ela de repente se vira para me encarar. —


Você quer dizer que nunca beijou ninguém antes? Mas como? — Ela franze
a testa.

— Eu nunca quis. — Eu encolho os ombros. Isso é verdade, pelo


menos. Eu não gostaria que ela conhecesse meu passado sórdido... as
coisas que eu fiz para manter o pai longe das minhas costas. Mas mesmo
assim, eu traçara a linha para algo tão íntimo quanto beijar. Nunca
parecia certo.

— Oh, — ela parece insegura de si mesma, — podemos fazer isso de


novo, se você quiser. Desde que você não se lembra disso... — Ela segue.
Por um momento, não digo nada, muito chocado com o que ela acabou de
sugerir.

morally questionable
— Se você puder... e quiser, é isso. — Ela rapidamente se altera e eu
viro minha cabeça para encará-la.

— Eu gostaria de tentar.

Solto sua mão e timidamente seguro suas bochechas. Ela treme um


pouco, sua respiração se tornando mais dura. Meu polegar traça levemente
seus lábios, apreciando a sensação de sua pele. Nenhuma quantidade de
sonhos poderia me preparar para isso... pela crueza de sua pele nua
debaixo da minha.

Continuo esperando que a dor me bata e me faça recuar. Mas quanto


mais eu a exploro, mais confortável me torno.

Eu me sinto... em casa.

Meus dedos acariciaram sobre sua bochecha, traçando suas feições, as


inscrevendo em minha memória.

— Você é delicada, — minha voz é áspera. — Tão bonita.

Lina abaixa os cílios para os meus elogios, um ponto rosa manchando


sua bochecha. — Eu não achei que você gostasse de mim. — Ela diz em voz
baixa. — Você sempre me evitou.

— Só porque eu gosto muito de você. Estar perto de você e não poder


te tocar... — Eu gemi. — É pura tortura.

morally questionable
— Eu também gosto de você. — Ela confessa, e eu sorrio como um tolo.
As palavras pelas quais eu sempre desejei...

Eu me inclino lentamente para a frente até que nossas respirações se


misturem. Seus olhos estão bem abertos e ela morde o lábio. Eu não acho
que ela percebe o que isso faz comigo. Passe o dedo sobre os lábios dela,
quase com medo de dar o último mergulho.

Mas eu faço.

Meus lábios cobrem os dela, quase como o toque de uma pena. Eu


respiro em sua essência, e sua boca se abre para me deixar entrar. O
gosto... a sensação dela... Não posso me ajudar enquanto a puxo para mais
perto, transformando um doce beijo em um urgente. Suas mãos estão
rígidas ao seu lado, e eu percebo que ela está se esforçando muito para não
me tocar. Meu coração se aquece com a sua consideração. Nós nos beijamos
pelo que parece horas e, quando finalmente nos separamos, nós dois
estamos respirando com força.

— Onde isso nos deixa? — Lina me pergunta, sua voz esperançosa.

— Onde você quiser. — Parece que não posso ter muitos limites no
que diz respeito a ela. Ela está quebrando até os que eu pensei que eram
impenetráveis.

— Podemos ir devagar? Ter um casamento adequado?

— Lento, sim. Eu gostaria disso. — Eu respondo abertamente.

morally questionable
Talvez nem tudo esteja perdido.

Talvez haja esperança para mim, afinal.

É mais tarde que me encontro com Vlad em um local seguro. Depois


de estacionar o carro, ele sai e joga um arquivo para mim.

— O que é isso?

— Relatório forense para nossa adorável freira.

Abro e deslizo seu conteúdo. Não há muito. A causa da morte foi


considerada perda de sangue, mas o médico legista comentou a presença
de algumas lacerações no ventrículo esquerdo do coração. Isso e alguns
arranhões nas costelas e sugeriram que a freira poderia ter sido
esfaqueada no coração, após isso ela sangrou.

— Não vejo por que isso é importante. — Eu viro o arquivo e o devolvo


para ele.

morally questionable
— As observações do legista são bastante interessantes, no entanto.
Suponha que ela tenha sido esfaqueada no coração. Você e eu sabemos o
quão difícil é conseguir isso. Você precisa da lâmina perfeita, do ângulo
perfeito e da quantidade certa de força.

— Então, nosso imitador tem conhecimento anatômico suficiente para


infligir uma ferida mortal. — Eu levanto minha sobrancelha para ele.

Ele está certo ao dizer que esfaquear alguém no coração não é tão fácil
quanto parece, principalmente porque você não estaria esfaqueando o
coração, mas teria que inclinar a faca em um ângulo de baixo. E mesmo
isso depende muito do tipo de lâmina usada e da força do agressor, pois
você precisa passar primeiro pela gordura e pelos músculos.

— Eu tenho executado alguns cenários na minha cabeça. — Vlad


começa a andar na minha frente.

— Diga.

— O médico legista mencionou apenas lacerações, não buracos ou


qualquer coisa que possa identificá-lo singularmente como um evento de
facada. Isso significa que a ferida não era grande demais para começar.

— Ou ela não foi esfaqueada no coração. — Eu aponto o óbvio.

— Mas se ela foi, — Vlad continua, — então nosso imitador usou


propositadamente uma lâmina estreita para perfurar o coração, mas
acabou atrasando a morte.

morally questionable
— O que você está tentando entender?

— Então ela sangrou. Mas ela não sangrou imediatamente. Leva


tempo. Você e eu sabemos disso.

— E?

— Olhe novamente para o relatório. Há uma lista de todos os


ferimentos dela. Mas você sabe o que não há?

Espero, sabendo que ele vai me esclarecer.

— Feridas de defesa. Nenhuma. O relatório de toxicologia também


voltou limpo, então ela não estava drogada. Se a ferida fosse fraca, ela
teria tido tempo suficiente para lutar.

— Então, não houve luta. — Eu franzi a testa, processando as


informações. — Isso significaria...

— O agressor era alguém que ela conhecia.

— Você está supondo. — Eu digo. Poderia haver um milhão de outras


razões pelas quais ela não lutou com ele, certo?

— Eu estou? Passei a noite inteira percorrendo todos os cenários


possíveis. Está tudo bem aqui, — ele aponta para o arquivo, — sem feridas
defensivas e sem feridas restritivas também. Então suas mãos estavam
livres, mas ela não arranhou tanto o assassino. As unhas estavam limpas.

morally questionable
E não quero dizer limpo, como alguém os limpou de propósito.
Simplesmente não havia tecido estranho embaixo. — Eu posso ver que
Vlad está ficando animado, então eu espero que ele continue.

— Há dois resultados prováveis. Primeiro, ela ficou chocada demais


para reagir. Possível, mas não totalmente provável. É reflexivo reagir,
especialmente em legítima defesa. Dois... — Ele faz uma pausa e se vira
para mim. — Ela era uma participante disposta. — O seu rosto é sério,
pois ele diz isso, e não posso deixar de rir.

— Então ela queria. Você ouve como isso é absurdo? Quem


concordaria voluntariamente em ser estripada e exibida em um altar?

— Alguém que fez uma lavagem cerebral. Alguém que acredita que há
um propósito maior para a morte deles? —Vlad encolhe os ombros. — Os
humanos deram suas vidas por menos. — Ele diz em tom entediado.

— Você diz humanos como se você não fosse um. — Eu respondo com
desdém.

— Eu também poderia não ser. — Ele sorri e depois vai para o carro e
abre o porta-malas, revelando um homem adormecido.

— O que é isso? — Gemo, sabendo exatamente o que Vlad tem em


mente. Então é por isso que ele queria se encontrar aqui. Eu balanço
minha cabeça.

morally questionable
— Como eu disse, até agora é apenas uma teoria, mas eu gostaria de
colocá-la à prova.

— Você não poderia fazer isso sozinho?

— Você sabe que eu não posso. Preciso de alguém para me manter sob
controle.

Vlad então me diz que o homem em questão é um rato e ele teria


recebido um castigo semelhante de qualquer maneira.

Eu concordo com relutância e configuramos todas as variáveis para o


experimento de Vlad. Ele com certeza pensou em tudo.

Quando o homem está acordado, Vlad passa a esfaqueá-lo com uma


faca longa e estreita. O homem luta no porão de Vlad, com as mãos se
debatendo, tentando prender Vlad.

Estou à margem, observando.

Depois que Vlad remove a faca, um rastro de sangue começa a cair


lentamente. Ele dá alguns passos para trás e avalia a situação.

Certamente, o homem está em choque e tropeça um pouco, segurando


a ferida. Mas ele não cai. Ele ataca Vlad, tentando tirar a sua faca.

— Você provou seu ponto. Termine com isso. — Grito com Vlad, já
vendo sinais de que ele está lutando com seu controle.

morally questionable
Acho que meu aviso chegou um segundo tarde demais, porque Vlad
tem o homem nas costas, a faca cortando e cortando. Suspiro, a cena na
minha frente é muito familiar. Entro no meu carro e fecho os olhos por um
momento. Vai demorar um pouco até que sua raiva siga seu curso.

Uma batida na janela me assusta e eu me viro para ver Vlad coberto


inteiramente de sangue. Eu abro a janela e entrego alguns guardanapos
para ele. Ele limpa o sangue do rosto. O traje dele está pingando, e só
posso imaginar o estado do corpo se Vlad está assim.

— Obrigado.

Saio do carro e examino sua obra. O homem está completamente


massacrado, seu corpo uma massa de carne e ossos mutilados.

— Então, isso provou sua hipótese? — Eu pergunto ironicamente, e


Vlad ri.

Ele se agacha e pega a mão do homem, ou o que resta dela.

— Eu diria que provei meu ponto. Se você quer acreditar, depende de


você. — Ele encolhe os ombros, mostrando-me o resíduo sob a ponta dos
dedos do homem e alguns arranhões na própria pele.

Eu o ajudo a despejar o corpo no porta-malas do carro e ele está a


caminho.

morally questionable
A teoria de Vlad parece louca. Isso é louco. Por que alguém
voluntariamente se deixaria ser assassinado por um serial killer? Mas se
houver alguma chance de ele estar certo... Então a freira conhecia o
imitador. É um ponto de partida. E não posso me dar ao luxo de deixar
nenhuma ponta solta. Não quando tenho alguém para proteger.

Volto para o meu carro e dirijo para casa, observando o quão tarde
cheguei. Deve ser pouco mais de meia noite quando eu volto para casa.
Meu primeiro pensamento é me limpar, já que também devo estar uma
bagunça sangrenta.

— Marcello? — Eu ouço a voz de Catalina.

— Lina? O que você está fazendo acordada a essa hora? — Ela vem
em minha direção e suspira quando vê o estado em que estou.

— Você está machucado? Deus, o que aconteceu? — Ela franze a testa


quando me observa, com o rosto cheio de preocupação.

— Não é meu sangue. — Eu digo e tento o que acho ser um sorriso. —


Eu preciso lavar isso. — Eu vou em direção ao meu quarto e Lina segue
atrás de mim.

— Você fez... — ela começa e seu lábio inferior treme.

— Eu matei alguém? Não. Ajudei a me livrar de um corpo? Sim. — Eu


dou a ela a versão curta da história e desabotoo minha camisa. O sangue

morally questionable
vazou através do material e agora está manchando minha pele, a
viscosidade me fazendo sentir desconfortável.

— Você precisa de ajuda? — Lina pergunta, me chocando. Olho para o


meu torso nu e depois volto para ela, levantando minhas sobrancelhas em
questão.

— Se você quiser ajuda, é isso, — ela rapidamente reformula e abaixa


o olhar, claramente envergonhada.

— E se eu quisesse... — Dei dois passos até estar na sua frente. —


Como você me ajudaria? — Eu inclino o seu queixo levemente, revelando o
toque simples. Catalina pode ser a única mulher neste mundo que posso
tocar sem problemas... e não sei se é uma bênção ou uma maldição.

— Eu posso ajudar a limpar seu peito. — Os olhos dela estão olhando


para qualquer lugar, menos para mim.

— Mesmo? — Eu me diverti, gostando de vê-la assim. Ela apenas


assente.

— Siga-me. — Eu a levo no banheiro e lhe entrego uma toalha. Então


tiro minhas calças, tirando as cuecas boxer.

Catalina imediatamente vira seu rosto.

— Isso é necessário? — Ela pergunta em voz baixa, a mão cobrindo


levemente os olhos.

morally questionable
— Eu não gostaria de molhar minhas calças agora, gostaria? — Eu
desafio.

— Verdade. — Ela aceita minha explicação. — E a camisa então? Você


não deveria tirá-la também? — A sua pergunta é inocente o suficiente,
mas ainda não estou pronto para ela ver minhas costas. Não, em breve.

— Eu posso fazer isso sozinho se... — Eu mudo de assunto, mas ela


me interrompe.

— Eu vou fazer isso.

Ela pega a toalha e a umedece antes de vir na minha frente.

— Eu posso? — Ela busca minha aprovação antes de me tocar, e meu


coração ameaça explodir no meu peito.

— Por favor, — guio sua mão até descansar sobre minha caixa
torácica. Ela mergulha no sangue, seus movimentos macios e suaves.

— Obrigado, — eu digo. Eu poderia facilmente tomar banho, mas fazê-


la fazer isso? É como um sonho tornado realidade.

Ela está tão focada em sua tarefa que não percebe que está cada vez
mais e mais perigosamente baixo. Quando ela passou do meu umbigo,
tenho que sufocar um gemido. Ela sabe o que está fazendo comigo? Um
pouco mais baixo e ela veria o quanto me afeta.

morally questionable
Mas não quero assustá-la. Ainda não.

Pego sua mão e a trago para a minha boca para um beijo suave. Ela
deve ter notado tudo... a julgar pela mancha rosa em suas bochechas.

— Eu não posso evitar, você sabe. Não quando eu tenho uma mulher
bonita me tocando. — Eu me inclino para a frente para sussurrar em seus
cabelos. Ela ri um pouco, e o som é pura música para os meus ouvidos.

— Eu... Obrigada. — Ela responde, o vermelho se espalhando pelas


raízes do cabelo.

Depois que o sangue está fora do meu corpo, tento fazê-la ir para o
quarto e dormir um pouco.

— Posso ficar com você? — Lina pergunta, e eu gostaria de poder dizer


sim, mas...

— Agora não, Lina. Você viu como eu posso ficar durante a noite. E se
eu te machucar? — Eu balanço minha cabeça, sabendo muito bem o quão
ruim meus terrores noturnos podem ficar.

— Você não vai! — Ela diz imediatamente. — Você não fez da última
vez.

— Eu não confio em mim. Talvez no futuro. Mas agora? Não vou


correr riscos. — Eu me aproximo dela, com a intenção de mostrar que não
estou a rejeitando. Estou a protegendo. Mesmo que seja de mim. Acaricio

morally questionable
sua bochecha com as costas da minha mão antes de me inclinar e escovar
meus lábios sobre os dela.

— Vai. — Eu sussurro.

Ela olha para mim por um momento, com os olhos cheios de desejo,
mas faz o que mandei.

Droga!

Eu preciso me controlar. Mesmo que isso signifique terapia


novamente. Eu preciso fazer isso por Lina.

Tudo o que eu sempre quis está ao meu alcance. Eu só preciso ser


corajoso o suficiente para aceitá-lo.

morally questionable
CAPÍTULO DEZESSEIS

— Eu não sei quanto tempo isso levaria. — Claudia faz beicinho para
mim enquanto me concentro em prender o vestido corretamente.

— Leva tempo para fazer um vestido do zero. — Eu a viro levemente


para ajustar a bainha da saia.

— O que você acha? — Ela pisa na frente do espelho; um sorriso


satisfeito aparece em seu rosto.

— Eu amo isso! — Ela exclama, girando.

morally questionable
— Veja, vale a pena todo esse tempo.

— Dado que esse tempo é a única vez que você pode me poupar... —
Ela diz sugestivamente, seus lábios se contraindo.

— Ei, isso não é justo. Você tem suas lições durante o dia. — Eu a
lembro. Após o desastre com Sarah, voltamos a procurar um professor e,
eventualmente, encontramos a pessoa perfeita. Sra. Evans é uma mulher
idosa com mais de trinta anos de experiência em ensino. Ela está no
comando das meninas há algumas semanas e não tivemos uma queixa. Até
Venezia gosta dela.

— E você tem Marcello. — Ela retruca com uma voz infantil, mas
posso dizer que está brincando. Eu nunca pensei que ela ficaria com
ciúmes de eu passar um tempo com ele. Embora, para ser perfeitamente
honesta, tenhamos gasto muito tempo juntos.

Nós o tomamos um dia de cada vez, nos conhecendo melhor e


explorando sua tolerância recém-encontrada ao toque. Às vezes, sinto uma
expressão de admiração em seu rosto, como se ele não pudesse acreditar
que está tocando em alguém. Quanto mais tempo passamos juntos, mais
eu me apaixono por ele. É inevitável, especialmente porque eu tenho
alguns vislumbres de sua alma. Ele sempre usa uma máscara porque tem
medo de se machucar. Isso o faz parecer distante e severo para quem está
de fora. Mas também conheci o seu lado terno.

morally questionable
Um sorriso se espalha pelo meu rosto enquanto penso em nossa rotina
recém-desenvolvida. Como Marcello está sempre trabalhando em seu
escritório, perguntei se estava tudo bem para eu fazer companhia a ele e
ler um livro enquanto ele cuidava de seus negócios. Ele estava mais do que
aberto à ideia e, há algumas semanas, nos reunimos quase diariamente no
escritório. É um silêncio agradável, embora às vezes eu o pegue olhando
para mim.

— Você não tem ideia do quão difícil é se concentrar com você aqui. —
Ele gemeria.

— Eu posso sair se estou te distraindo. — Eu oferecia, não querendo


estragar o fluxo de trabalho.

— Nem pense nisso. Eu gosto de ter você aqui. — Ele respondia,


voltando ao seu trabalho.

Há dias em que ele está fora. Eu sei que é negócio da máfia, então
sempre que ele sai, não posso deixar de me preocupar. Esta vida é muito
perigosa.

Apesar de todo o tempo que passamos juntos, não fomos além de


beijar. Embora ele inflame meu corpo toda vez que me beija, ele sempre
recua quando as coisas estão ficando muito aquecidas. Eu gostaria de ir
além. Eu sei que estou pronta para isso. Até li alguns livros sobre o
assunto na internet. Mas não sei se Marcello está pronto para mais...

morally questionable
É engraçado como eu nunca pensei que seria capaz de sentir as coisas
que as mulheres normais fazem; tinha medo de tentar. Mas quando estou
com ele, esqueço tudo. Naquela noite, anos atrás, há quase uma lembrança
nebulosa, e acho que finalmente posso deixar para lá.

Eu tenho uma filha linda e agora tenho um marido incrível.

Talvez tenha valido a pena.

— Mamma! — Claudia levanta uma sobrancelha e percebo que estava


perdida no meu devaneio. — Veja, é exatamente isso que eu quero dizer. —
Ela sorri para mim e eu a belisco de brincadeira.

— Não me provoque, mocinha!

— Tudo bem, eu não vou. Mas saiba que estou de olho em você. — Ela
aponta dois dedos nos olhos e depois em minha direção.

Balanço a cabeça para ela e continuamos a trabalhar no vestido.

Mais tarde, Marcello bate na minha porta. Ele coloca uma caixa
enorme nos meus braços e me diz para me arrumar porque está me
levando para jantar. Muito pasma para responder, apenas aceno.

Coloquei a caixa na cama e levantei a tampa. Dentro há um lindo


vestido esbranquiçado e um par de sandálias. Sou imediatamente tocada
pelo gesto dele e tiro minhas roupas, prontas para experimentá-lo.

morally questionable
Marcello deve ter notado que eu prefiro usar vestidos até as
panturrilhas, porque ele escolheu o comprimento perfeito. Os sapatos
também se encaixam. Estou muito impressionada com isso e não posso
deixar de me perguntar como ele poderia saber. Talvez Amelia tenha
olhado minhas coisas e contado a ele?

Balanço a cabeça, um sorriso tocando nos meus lábios.

Ele quer me levar para sair. Estou quase tonta com o pensamento.

Eu tento o meu melhor para parecer composta, não querendo


envergonhá-lo. Olho para a bolsa de maquiagem que comprei da última
vez no shopping e aplico algumas bases para cobrir minhas sardas e um
pouco de rímel para alongar meus cílios.

Satisfeita com o resultado, desço as escadas. Marcello está me


esperando nas escadas, já vestido com um terno — não que ele use outra
coisa.

— Lina... você está incrível. — Ele pega minha mão, me puxando para
mais perto. Eu coro com o elogio.

— Obrigada. Você também. — Eu adiciono cautelosamente. Ele se


coloca um pouco mais perto de mim e franze a testa.

— O que você fez no seu rosto? — Minhas mãos voam na minha cara.

morally questionable
— O que você quer dizer? Eu só coloquei alguma base e um rímel. —
Eu adiciono, confusa.

— Suas sardas se foram. — Ele me estuda por um segundo. — Eu não


gosto disso.

Ele pega minha mão e me leva para a cozinha. Tirando um


guardanapo molhado, ele tira a base do meu rosto.

— Agora está melhor. — Ele cantarola em aprovação. Estou um pouco


envergonhada, então olho para cima.

— Ei, você é linda, não importa o quê. Mas eu amo suas sardas e
adoro olhar para elas. — Ele inclina meu queixo para olhá-lo nos olhos.

Eu lhe dou um sorriso tímido. Eu só queria parecer perfeita para ele.


Ele observa a mudança no meu humor e levanta os dedos para acariciar
lentamente meu rosto. Seus lábios se enrolam nos cantos e ele
rapidamente coloca um beijo no meu nariz.

— Você é perfeita. — Ele sussurra. — Agora vamos antes que nos


atrasemos para nossas reservas.

O restaurante que Marcello reservou para nós é um lugar italiano


deslumbrante com um jardim externo.

— Você mencionou que sua comida favorita era arancini. Este lugar é
famoso por sua comida siciliana.

morally questionable
— Você se lembrou disso? — Estou chocada com a consideração. Mas,
novamente, Marcello tem essa capacidade especial de me surpreender
todas as vezes. — Isso é incrível. Obrigada. — Eu digo a ele sinceramente.

Somos mostrados a nossos assentos no coração do jardim. Depois de


examinarmos os menus, nos acomodamos em uma refeição completa, com
aperitivos, sopa e um prato principal.

— Eu amo isso. — Eu digo enquanto olho ao meu redor. O jardim fica


entre dois edifícios, mas há um teto embutido cheio de rosas.

— Sinto muito por não ter estado muito por perto, mas as coisas têm
sido agitadas. — Ele pede desculpas.

— Você tem problemas suficientes agora. — Eu sei que ele está tendo
problemas com algumas empresas, mesmo que eu não conheça nenhuma
das particularidades.

— Houve alguns grupos desonestos que têm como alvo nossas


mercadorias, e não estamos mais perto de pegá-los. — Ele suspira e traz a
mão para massagear entre os olhos.

— Foi por isso que você concordou em se casar comigo, não foi? Pela
ajuda do meu irmão? — Sinto-me compelida a perguntar isso,
principalmente porque estava pensando há muito tempo.

Marcello faz uma careta, mas assente. — Isso e eu precisava trazer


algo para a mesa para fazer a famiglia confiar em mim como Capo.

morally questionable
— Entendo.

— Os últimos meses foram nada além de problemas. Existem muitos


jogadores novos na cidade, e ainda não sabemos com quem estamos
lidando exatamente.

Os aperitivos chegam e nós dois nos aprofundamos.

— Está tudo bem se você falar comigo... — Eu olho em volta antes de


sussurrar. — Isso? — Eu já tinha visto o suficiente em minha família para
saber que os homens não conversavam sobre negócios com suas esposas.

— Por que não? — Ele se inclina. — Você é minha esposa. — Ele me


dá um sorriso e sinto meu estômago se contraindo. Borboletas... Estou com
borboletas no estômago. Senhor! Agora eu entendo o que quer dizer.

— Homens na famiglia geralmente não são assim... flexíveis. — Eu


adiciono.

— Há muitas coisas em que eu e a famiglia não concordamos, e já é


hora de algumas delas mudarem.

— O que você quer dizer?

Marcello suspira. — Eu nunca quis me tornar Capo. Eu queria sair... o


mais longe possível da famiglia. Mas agora que estou aqui, tenho uma
responsabilidade, por isso posso tirar o melhor proveito disso. Eu tenho
tentado mudar algumas coisas na maneira como administramos nossos

morally questionable
negócios, mas algumas coisas estão tão arraigadas nas mentalidades das
pessoas... — Ele balança a cabeça.

— Como você planeja fazer isso?

— Ao definir um exemplo. — Ele me dá meio sorriso. — É por isso que


minha esposa deve estar a par do que está acontecendo ao nosso redor.

— Isso é... Não sei o que dizer. — Estou surpresa com a declaração
dele. Crescendo, me disseram inúmeras vezes que eu era um acessório e
que meu valor dependia do homem a quem me apegava. Quando
engravidei de Claudia, perdi todo o meu valor pela famiglia. De repente,
fui persona non grata.

— Não quero que minhas irmãs ou nossos filhos se conformem com


esse tipo de pensamento anacrônico. Não me importo com a tradição de
uma mulher ser apenas uma mãe que fica em casa. Elas devem ser ela
mesmas. — Ele acrescenta, e eu posso sentir um pouco de umidade se
formando nos meus olhos. Eu rapidamente pisco.

— Você não tem ideia do quanto isso significa para mim. Eu nunca fui
vista como uma pessoa, e sim como uma oportunidade para minha família.
Testemunhei minhas irmãs sendo vendidas para o casamento como gado, e
então tive que esperar até que fosse a minha vez. — Meu lábio se enrola
em desgosto. — Quando engravidei... — Sinto um nó se formando na
garganta ao me lembrar de como fui tratada por minha família. — Se não
fosse por Enzo naquela época, eu estaria sem teto. Meu pai disse que eu

morally questionable
trouxe vergonha para a família e isso.... — Eu respiro fundo, — que eu não
era mais filha dele. Minha mãe não se atreveu a intervir.

Um gemido escapa dos meus lábios e Marcello pega minha mão,


apertando-a com conforto.

— Você pode fazer o que quiser, sabe disso, certo? Talvez não agora,
porque é muito perigoso, mas uma vez que acabar...

Eu dou uma risada nervosa.

— Eu nem acho que saberia o que fazer. — Eu medito. O problema da


liberdade é que é ótimo... até você conseguir. Tantas vezes sonhei com o
que faria se estivesse livre. Tantos planos e tantos cenários, e aqui estou
eu. Livre, mas ainda presa. Presa na minha cabeça e nas infinitas
possibilidades. E se eu fizer a escolha errada?

Veja... liberdade é uma coisa perigosa.

— Você vai descobrir. — Ele diz com a confiança que me falta.

— Você mencionou filhos, — eu mudo de assunto, um pouco


desconfortável sendo colocada sob o microscópio assim, — você gostaria de
filhos?

— Você quer? — Ele atira de volta.

morally questionable
— Sim, — digo e olho para qualquer lugar, menos para ele. Tendo
filhos com Marcello... Eu acho que gostaria disso. Muito, de fato. Eu coro
com o pensamento.

— Então, eu também.

O garçom vem para limpar a mesa e depois traz as sopas.

— Você já ouviu alguma coisa sobre o padre Guerra?

Marcello balança a cabeça.

— É estranho, mas até agora eles não fizeram nada. Considerando a


carta que eles enviaram para Enzo, acho um pouco perturbador.

— Você acha que eles estão ganhando tempo com alguma coisa? —
Estou com um pouco de medo da perspectiva. Não tanto por mim, mas
para Claudia. Não quero que ela se torne um alvo apenas para me vingar.

— Sim. E eu não gosto disso.

Eu volto minha atenção para a sopa. Pego uma colher e quase engasgo
com um objeto estranho. Marcello corre para o meu lado, preocupado, e eu
imediatamente cuspi.

— Ugh, — eu me levanto, sentindo um arranhão na minha garganta.

morally questionable
— O que...—Marcello olha para minha mão onde está o objeto e eu
amaldiçoo.

É um anel. O anel de Claudia.

— Não... — Eu franzi a testa, chocado com o que estou vendo. Como


poderia estar aqui?

Volto minha atenção para a sopa e movo minha colher. Marcello


agarra minha mão, puxando-a para trás.

— Lina... — Ele balança a cabeça, a atenção na tigela da sopa. É


quando eu percebo. A ponta está logo acima do líquido, mas não há dúvida
sobre isso. É um dedo... um dedo humano.

Com um grito, eu pulo para trás, caindo. Não... isso não pode ser...

— Claudia... — Eu sussurro, um grito histérico escapando dos meus


lábios. — Esse é o anel de Claudia... não...

As pessoas já estão se reunindo ao nosso redor, sussurrando.


Lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas, eu agarro Marcello.

— Ligue para casa. Eu preciso falar com Claudia... — Estou gritando,


todo o meu bom senso pela janela. Preciso ter certeza de que Claudia está
bem.

Não pode ser...

morally questionable
Quanto mais penso nisso, mais histérica fico, desespero assumindo o
controle.

— Sim, sua mãe quer falar com você. — Eu ouço vagamente Marcello
dizer em seu telefone antes de passar para mim.

— Claudia? — Eu solto.

— Mamma? O que está errado? — Ela pergunta.

— Você está machucada em qualquer lugar? Você está bem? —


Minhas palavras estão apressadas, mas eu só preciso saber que ela está
bem.

— Claro. Por que eu não estaria? — Eu libero uma respiração.

— Bom... Bom. Onde está o seu anel?

— Anel? Eu não sei... Eu devo ter esquecido em algum lugar. Mas


como você sabia? — A resposta dela me ajuda a me acalmar um pouco,
então eu apenas garanto a ela que está tudo bem e que a verei em casa.

Desligo e olho para ver a expressão sombria de Marcello.

Ele me reúne em seus braços e eu me deixo levar.

morally questionable
— Eu tenho você, — ele sussurra no meu cabelo, com os braços
apertando ao meu redor. Ele me pega e me leva para fora do restaurante,
deixando todo mundo para trás olhando para nós.

Uma vez que eu tive a certeza de que Claudia está bem, Marcello me
leva para o seu quarto e me deixa lá.

Ele está entrevistando a equipe há algumas horas, porque alguém


deveria estar em casa para pegar o anel. Mas mais do que isso... eles
devem saber para onde estávamos indo. O fato de alguém conhecer nossos
movimentos e ter acesso pessoal a nós me deixa mal do estômago.

— Lina, — Marcello abre a porta e vem em minha direção. — Eu


tenho pessoas olhando para o restaurante agora. Vamos pegar quem fez
isso, prometo.

— É tudo culpa minha.... — Eu balanço minha cabeça. — Se eu não


tivesse matado o padre Guerra... Eles provavelmente estão tentando se
vingar, e agora estão ameaçando minha filha. — Um soluço escapa na
minha garganta com o pensamento. — É tudo culpa minha.

morally questionable
— Não diga isso, querida, — ele beija minha testa, — você fez a coisa
certa. Você foi tão corajosa, Lina.

Eu sucumbi ao conforto de seu abraço.

— Quando isso vai acabar? — Eu sussurro.

— Eu vou manter você e Claudia em segurança. Eu prometo a você.


Enquanto eu estiver vivo, não deixarei ninguém te machucar.

— Obrigada. Obrigada. — Eu continuo murmurando.

Eu choro até dormir, com Marcello me segurando tão perto que eu


quase acredito que nada pode me prejudicar.

Acordo um pouco mais tarde e olho ao meu redor, me sentindo


desorientada. Demoro alguns segundos para lembrar de tudo o que
aconteceu e o fato de estar no quarto de Marcello. Ele não está em lugar
nenhum à vista, no entanto.

Eu franzo a testa.

Saindo da cama, vou procurá-lo em seu escritório.

— Eu a dei para protegê-la e isto acontece? — A voz do meu irmão


cresce de dentro do escritório.

— Eu estou trabalhando nisso. —Marcello responde, sua voz cortada.

morally questionable
— Claro que parece isso. — Enzo responde sarcasticamente.

— Pode querer verificar o porão. — Marcello retruca. O que ele quer


dizer com isso?

— É uma declaração de guerra se eu já vi uma. E agora eles querem


que a gente vá ao banquete e finja que nada aconteceu? — Enzo
amaldiçoa, e minha mão congela na maçaneta da porta.

— É por isso que nem estou pensando em levar Catalina para lá.

Eu abro a porta.

— Onde?

Se é algo a meu respeito, então eu deveria saber.

— Lina... — Meu irmão geme e Marcello franze os lábios.

— Que banquete? — Eu pergunto.

— Você não deveria ter ouvido isso.

— Você não disse que discutiria as coisas comigo? — Eu me viro para


Marcello. — Eu tenho o direito de saber.

— Lina, não é assim tão simples. — Ele responde, mas eu não estou
ouvindo.

morally questionable
— Que banquete, Enzo?

— Os Guerras estão fazendo um banquete para as cinco famílias.


Espera-se que a liderança principal de cada família participe. — Ele traz o
copo aos lábios e o esvazia.

— Por quê? Por que agora?

— Mantenha seus inimigos por perto. — Enzo vai ao armário de


bebidas e enche seu copo novamente. — É uma questão de perspectiva,
realmente. Eles querem uma demonstração de força, mas também querem
avaliar a concorrência. Ambas as nossas famílias, — ele inclina a cabeça
para Marcello, — sofreram uma mudança bastante abrupta na liderança.
Marchesi é basicamente uma lata de lixo sedento por poder e DeVille... —
ele faz uma pausa, — eles são como sempre foram. Isolados.

— O que acontece se não formos? — Eu pergunto, com medo de já


saber a resposta.

— Uma afronta pessoal. — Marcello encolhe os ombros ao mesmo


tempo em que Enzo diz, — Guerra

— Ok, então precisamos ir.

— Não, nós não.

— Mas é isso, não é? Eles esperam que não vamos. E essa é mais uma
razão para eles formalmente irem contra nós.

morally questionable
Enzo sorri e aponta o copo na minha direção.

— E é por isso que você é minha irmã favorita.

— Se formos, — começa Marcello, — e isso é um grande se, não


saberemos o que esperar. Estamos no território deles.

— Eu quero ir. — Eu digo, de repente determinada. — Eu não posso


mais deixá-los me intimidar. Diga-me, quanto tempo você acha que até
esses joguinhos se tornarem sérios e eles acabam realmente me mirando,
ou pior ainda, Claudia? Se não formos, é como dizer a eles que
conseguiram suas ameaças.

— Ainda não sabemos se os Guerra estavam envolvidos com o


restaurante. — Nota Marcello.

— Você pode não saber, mas eu sei. Eu posso sentir isso. E isso só vai
piorar.

Ambos ficam em silêncio por um momento antes das observações de


Enzo.

— Eu estarei lá.

Olho para Marcello, e ele não parece nada satisfeito com a virada dos
eventos. Ele concorda com relutância.

morally questionable
Depois que Enzo sai, pergunto a Marcello por que ele está tão disposto
a arriscar um conflito em larga escala apenas para me poupar algum
desconforto. Sua resposta, no entanto, me deixa no chão.

— Eu nunca quero ver você se machucar novamente, Lina. E eu


conheço essas pessoas... Eles jogam sujo.

— Eu aguento.

— Não tenho certeza se posso...

morally questionable
CAPÍTULO DEZESSETE

— Lina, Assisi parece um pouco estranha para você ultimamente? —


Eu abotoo minha camisa enquanto ela passa por um arquivo detalhando
todas as pessoas que estarão presentes no banquete de Guerra.

— Você notou também? — Ela levanta a cabeça e pergunta, surpresa.

Sei que não receberei nenhum prêmio de irmão do ano, mas até
percebi que Assisi está se comportando um pouco estranha. Tudo começou
com ela perdendo alguns jantares, e agora ela mal sai do quarto, exceto

morally questionable
para ir às aulas. Até a Sra. Evans me disse que achou Assisi um pouco
distraída.

— Você tentou falar com ela? Não posso deixar de me perguntar se é


um trauma ao ver aquela freira assim. — Eu digo, embora Assisi tenha
sido composta durante toda a provação. Talvez isso me preocupe ainda
mais.

— Eu não sei. Estou um pouco preocupado com ela. Eu tenho tentado


dar a ela algum tempo para se acostumar com tudo. É a primeira vez que
sai do convento, afinal. Mas ela está nos excluindo. Todos nós. Até Claudia
notou a mudança nela. É como se ela estivesse sempre trancada dentro de
seu quarto. — Ela suspira, e está claro que o assunto a está incomodando.

— Talvez devêssemos marcar uma consulta com a terapeuta de


Claudia. — Eu sugiro. Não é saudável para ela se fechar do mundo. Talvez
seja a parte culpada de mim que está dizendo isso, mas quero que ela seja
feliz... normal.

— Se ela quiser. Vou tentar falar com ela, mas ela pode ser muito
teimosa.

— Você conhece o melhor dela. — Catalina me contou sobre a amizade


delas, e eu posso ajudar, mas sou extremamente grato por sua presença na
vida de Assis. Ela realmente é um anjo.

— Isso é muita gente. — Lina geme e fecha o arquivo.

morally questionable
— Você precisa estar em guarda hoje à noite, e é melhor se você puder
reconhecer todos.

— Mas só precisamos nos preocupar com Guerra, certo?

— Eu não tenho tanta certeza. Não sabemos com quem eles podem
trabalhar. — Os Guerra sempre foram isolados. Embora seu conflito com a
família DeVille seja lendário e remonta a muitas gerações, seus aliados
sempre foram um pouco mais difíceis de identificar. Geralmente é quem
odeia DeVille também. Estou quase com medo de ter a noção de que eles
podem estar conectados com o chamado Chimera.

— Pronta? — Eu me viro para Lina, me sacudindo das minhas


reflexões. Sua beleza, no entanto, me surpreende. Ela está usando um
vestido maxi preto e elegante que se apega ao corpo. Seu cabelo está
levemente enrolado nas pontas, dando-lhe uma vibração elegante. Ela
parece bastante constrangida ao mordiscar o lábio e dar um tapinha no
vestido.

Paro na sua frente e respiro.

Eu não a mereço.

Inferno, eu não mereço nada disso.

Mas ela está aqui, na minha frente. E eu posso tocá-la.

morally questionable
Com dois dedos, eu inclino a mandíbula para cima e vejo a apreensão
nos seus olhos.

— Você é a mulher mais bonita que eu já vi na minha vida. Não fique


envergonhada. — O calor viaja por suas bochechas e me dá um sorriso
tímido.

— Obrigada. — Ela sussurra.

Se eu conseguir do meu jeito, ela ouvirá isso todos os dias pelo resto de
nossas vidas. Mas sei no fundo que não tenho muito tempo com ela. E eu
vou levar tudo o que posso conseguir.

Curiosamente, o banquete é realizado no salão de festas do St.Regis


Hotel. Tudo sobre o caso aponta para um evento pacífico, visto que está
ocorrendo bem no centro da cidade. Mas as aparências podem enganar.

Chegamos ao hotel e somos escoltados em direção ao salão de baile.


Há uma verificação de segurança de rotina pela qual precisamos passar,
mas estamos prontos para ir.

Estamos prestes a entrar no salão, quando alguém chama meu nome.

— Marcello! — A mão de Catalina aperta meu braço.

Eu educo minhas feições e volto para cumprimentar meu tio. Não era
assim que eu queria vê-lo novamente. Eu tinha entrado em contato com
meus subchefes, mas não com ele. Tenho certeza que ele se ofendeu com

morally questionable
isso, sendo ele o Consigliere e supostamente minha mão direita. Eu quase
bufei com a noção.

— Tio, — eu o saúdo.

— Esta senhora adorável é sua nova esposa? — Ele começa com uma
voz melosa que não lhe é característica.

— Sim. — Eu respondo e puxo Catalina um pouco atrás de mim,


colocando meu corpo na frente dela.

— Marcello, — Nicolo balança a cabeça como se estivesse


decepcionado. — Você não pensou em convidar sua família? Imagine
minha surpresa quando descubro que meu sobrinho, — ele faz uma pausa,
— meu Capo se casou e ninguém na famiglia foi convidado. — Suas
críticas não passam por mim. Eu sabia desde o início que uma pequena
cerimônia levantaria as sobrancelhas na famiglia, dada a propensão a
casamentos extravagantes. Mas eu não pude... não sujeitaria Catalina a
algo assim. Não depois do que ela passou. Além disso, a conveniência tinha
sido primordial.

— Foi bastante repentino. — Eu respondo, fechando o assunto.


Catalina está fora dos limites. Para todos.

Nicolo estreita os olhos para mim, mas não comenta mais.

— Estou feliz que você possa estar conosco esta noite. — Ele finge
tosse e passa por nós.

morally questionable
— Então esse é seu tio... — Catalina franze a testa com sua figura em
retirada. Ele veio sozinho hoje à noite, ao que parece.

— Fique longe dele. Ele é perigoso.

— Por quê? — Ela me olha por baixo dos cílios.

— Ele não acha que eu deveria ser Capo. — Eu respondo


sombriamente. E por causa disso, não sei do que ele é capaz.

— Lina! — Enzo vem ao nosso lado. Ele parece imaculado como


sempre, vestido com um terno branco e uma camisa preta.

— Enzo. — Catalina solta meu braço para lhe dar um abraço.

— E sua esposa? — Eu pergunto, observando que ele está sozinho.

— Ela estará aqui em algum momento. — Enzo encolhe os ombros.

Abandonando o tópico, entramos no salão.

Deve haver cerca de cinquenta pessoas dentro, todas elas altamente


classificadas nas cinco famílias. Ou quatro... Examino a sala e vejo que
DeVille não apareceu ou enviou ninguém em seu nome.

— DeVille não está aqui.

— Você os esperava? — Enzo levanta uma sobrancelha.

morally questionable
— Na verdade não, mas coisas mais estranhas aconteceram. — Eu
comento, meus olhos se concentrando na multidão mais uma vez.

Eu me concentro em Benedicto Guerra, o Capo atual. Ele está com


quarenta e poucos anos, mas ainda parece em forma. Lembro-me dele de
antigamente, mas não posso dizer que tivemos muitas interações. Ao seu
lado está seu irmão, Franco, pai de Antonio Guerra. Ele é quem está me
chamando a atenção porque é o primeiro que gostaria de vingança pela
morte de seu filho.

Meu olhar se move mais e de cada lado de Benedicto estão seus filhos,
Michele e Rafaelo. Estou totalmente surpreso ao vê-los calmos na
proximidade um do outro. Eu conheci os dois quando eram mais jovens e a
inimizade deles era palpável. Quando Francesco me atualizou com
informações relevantes sobre as outras famílias, ele notou que a disputa
dos irmãos só havia se amplificado ao longo dos anos. Eles têm menos de
um ano de idade, mas têm mães diferentes. A mãe de Michele morreu no
parto, mas ela ainda não estava fria no túmulo antes de Benedicto se casar
com a mãe de Rafaelo. Isso provavelmente contribuiu para o conflito,
embora não tenha ajudado Benedicto querer nomear Rafaelo como seu
herdeiro, mesmo que ele não seja o primogênito.

— Ele se parece com o padre Guerra. — Sinto o leve tremor de


Catalina e a puxo para mais perto do meu lado.

— Ele não pode te machucar. — Eu digo a ela e ela me dá um aceno


forte.

morally questionable
Em nossa entrada, todos os olhos estão em nós. Os lábios de Franco se
enrolam imediatamente em desdém, e ele se inclina para dizer algo a
Benedicto, que levanta a mão em um sinal de parada.

Talvez ele mantenha seu irmão na linha.

— Eles definitivamente parecem surpresos. — Enzo observa


ironicamente. Ele vira a cabeça e percebe Marchesis com a esposa a
reboque. Ele não parece muito satisfeito com esse fato e sinaliza para nós
que está indo para o lado deles.

— Fácil, — sussurro para Lina quando entramos mais na sala. Ela


está se esforçando para manter a calma, exibindo um sorriso falso no rosto.

— Nós podemos fazer isso. — Ela respira fundo. Bem a tempo de


Benedicto vir nos cumprimentar.

— Lastra. Ouvi falar do seu irmão. Minhas condolências. — Ele


estende a mão para mim. Meu corpo imediatamente tenso.

— Prazer em conhecê-lo, Signor Guerra. — Catalina agarra sua mão


antes que eu possa reagir.

Benedicto parece surpreso, mas ele aperta a mão dela.

— E você Signora Lastra. Eu ouvi sobre suas núpcias. Pena que foi
um casamento tão pequeno. — Ele acrescenta.

morally questionable
— Não queríamos envolver muitas pessoas. Apenas amigos e
familiares. Além disso, ouvi falar da sua tragédia. Condolências pela sua
perda. — Espero que minha mensagem seja recebida. Por ser o primeiro a
abordar o assunto, posso controlar a direção que ele tomará.

— De fato. —Benedicto me olha, ao mesmo tempo em que seu irmão


me procura. O braço de Benedicto dispara, impedindo a Franco de avançar.

— Somos todos amigos aqui, certo fratello? — Sua voz está tensa
quando se dirige ao irmão e ele assente. Os olhos de Franco ainda são
assassinos quando olham para mim, depois para Catalina, e eu sei que isso
está longe de terminar. É muito público agora.

— Certo. — Franco concorda com relutância.

— Por que você não deixa sua esposa se juntar às outras mulheres, e
podemos conversar sobre alguns negócios? —Benedicto acena para o bando
de mulheres conversando em uma mesa próxima.

Não quero Catalina em nenhum lugar fora da minha vista, então


tento recusar respeitosamente.

— Não tenho certeza se ela ficaria confortável.

— Bah! —Benedicto exclama e grita com uma mulher.

— Cosima, venha aqui.

morally questionable
Uma mulher de quarenta anos se junta a nós, mantendo-se ao lado de
Benedicto.

— O que está errado amore?

— Por que você não pega a Signora Lastra e a apresenta a todas?

Cosima estreita os olhos para Catalina e ela não parece muito


interessada. Mas coloca um sorriso e se dirige a ela, de qualquer maneira.

— Catalina, eu sou Cosima.

Minha esposa me dá um aceno tranquilizador e se muda para ir para


Cosima.

— Você vai ficar bem? — Eu sussurro em seus cabelos, com medo de


deixá-la ir.

— Eu vou ficar bem. — Ela responde com confiança.

— Você sabe o que fazer se algo acontecer. — Eu a lembro.


Examinamos todas as possibilidades em preparação para esta noite e eu
lhe dei um botão de pânico. Se ela se sentir ameaçada de alguma forma,
deve apertar o botão e fará barulho suficiente para alertar todos na
vizinhança.

Já tenho que cerrar os dentes e deixá-la ir, mas sei que precisamos
seguir uma certa etiqueta.

morally questionable
Assim que Lina sai com Cosima, um Michele bêbado tropeça em nossa
direção. Ele está carregando uma garrafa meio vazia de Jack.

— Olhe para os pombinhos. Ele não suporta ser separado dela. — Ele
inspira e coloca a mão no ombro do pai.

De repente, sinto a tensão no ar.

— Você deveria aprender papai querido.

— Michele. — O irmão assobia por trás dele.

— Oh, há o retardado. Eu tenho que me perguntar por que você


organizou isso, Capo. — As palavras de Michele estão cheias de veneno. —
Você talvez queira mostrar ao mundo que o mais velho está bêbado, — ele
sorri sarcasticamente, — enquanto você herdeiro é um retardado. — Sua
ênfase no herdeiro não me escapa.

— N-n-não fff... fa..fale d-do pa..pai assim. — Rafaelo gagueja


agarrando Michele.

— Vocês dois parem! — Benedicto finalmente intervém.

— Sim, Raf, pare de falar. Você mostrará a todos que caiu de cabeça
no nascimento. — Michele diz em tom de zombaria, e a cabeça de seu
irmão está baixa de vergonha. Surpreendentemente, ele aceita o insulto
sem nem bater nos cílios.

morally questionable
— Eu s-s-sinto muito. — Ele responde, e eu sei que ele pode ter uma
gagueira. Isso não faz de alguém um retardado.

Estranho, no entanto. Quando os conheci anos atrás, Rafaelo não


tinha gagueira. Ou talvez não esteja me lembrando corretamente.

— Veja, — Michele ri e dá um tapinha no irmão no ombro. Rafaelo


encurva os ombros e abaixa o olhar em um gesto submisso.

— Chega! —Benedicto remove a mão de Michele e a dobra sem jeito.

— As pessoas assustadas podem pensar menos de você quando


descobrirem que seu herdeiro tem problemas mentais? — Ele ri de
escárnio e se livra do aperto de seu pai.

— Idiotas de merda. Porca Madonna! — Michele grita alguns


palavrões, mas se afasta da situação, simplesmente indo para a próxima
mesa disponível e pegando mais álcool.

— Você deve desculpar meu filho. Ele tem um problema com álcool.
Você sabe como é. — Benedicto explica.

Franco ainda está atirando punhais em mim, enquanto Rafaelo tem


um comportamento tímido e quase encolhido.

Eu mantenho minha expressão no lugar, aceitando a sua explicação,


mas por dentro tenho que me perguntar quanto disso é um show e quanto
disso é real.

morally questionable
— Então, Lastra, — começa Benedicto, — ouvi dizer que seus últimos
embarques foram apreendidos.

— Certo. — Eu respondo ceticamente. A notícia com certeza se


espalhou.

— Tenho certeza de que juntos podemos resolver algo. Eu estive na


sua posição. Jovem Capo, apenas começando. Você precisará de todo o
suporte possível.

Franco bufa com as palavras de Benedicto.

— Você permitiria o assassino do meu filho em nosso meio? —Franco


cospe, mas Benedicto revira os olhos, uma expressão entediada no rosto.
Ele faz um sinal de aceno com a mão e dá a Franco um olhar ameaçador.
Não sei exatamente o que isso significa, mas Franco imediatamente se
fecha, não muito satisfeito com isso.

— Eu acho que você pode ser necessário em outro lugar fratello. —


Benedicto diz sugestivamente. Franco parece controlado, mas pouco. Com
um aceno apertado, ele desaparece, perdendo-se na multidão.

— Você deve desculpar meu irmão. Ele ainda está de luto.

— Eu posso imaginar. — Eu não sei o que ele quer que eu diga.


Admita a culpa? Terminaria com Franco mais cedo antes do que deixar
alguém dizer uma palavra contra Lina.

morally questionable
— Agora, de volta ao nosso tópico. — Ele diz e tira um charuto de um
bolso interno no blazer. Ele acende e leva alguns sopros. — Minhas linhas
de transporte são totalmente seguras. Você poderia facilmente compensar
a receita perdida. — Ele explica que tem transporte duas vezes por
semana, mas pode apertar outra para mim.

— Entendo. E o que isso me custaria? — Estou bastante curioso sobre


o que Benedicto poderia querer em troca. Simplesmente porque suas ações
são um pouco... suspeitas. Tanta inimizade entre nossas famílias agora, e
ele quer uma parceria? Tem que haver mais do que isso.

— Bah! Eu não terei nada disso. Considere isso um presente. Para


melhores relações futuras. — Sim, bem, eu não compro isso. Então eu
continuo investigando.

— Eu nunca poderia, em sã consciência, aceitar uma coisa dessas de


você.

— Se você colocar assim... — Ele faz uma pausa e me considera,


estreitando os olhos. — Meu filho aqui é meu herdeiro. — Ele puxa um
Rafaelo ainda encolhido para o lado, batendo nas costas e fazendo-o ficar
mais reto. — Mas ainda não encontrei uma boa noiva para ele. Ele precisa
de uma boa mulher para cuidar dele e da casa. Difícil de encontrar hoje em
dia, — ele suspira, — com essas noções feministas, todas as mulheres são
subitamente independentes. — Ele balança a cabeça com nojo e começa um
discurso sobre como os lugares das mulheres devem estar em casa

morally questionable
cuidando de seus maridos e filhos. Estou meio ouvindo neste momento e
noto a expressão atormentada de Rafaelo.

— Eu... n-n-não q... quero uma eee...esposa. — Rafaelo reúne com


grande dificuldade, e eu sinto por ele.

— Mas você necessita de uma esposa. — O pai observa e segue em


frente, desconsiderando a opinião do filho. — Eu ouvi sobre sua irmã. —
Benedicto diz de repente, e eu vejo para onde isso está indo.

— Com todo o respeito, mas minha irmã é muito jovem.

— Não essa irmã. — Ele franze a testa. — Aquela que cresceu no


convento. — Eu tenho que mascarar cuidadosamente minhas feições.
Como é que ele sabe que Assisi não está mais em Sacre Coeur? — Ela seria
perfeita para o meu garoto. Tenho certeza de que as freiras devem ter
incutido seus valores tradicionais. — Ele diz com tanta convicção, como se
tivesse tudo planejado.

— Eu não acho que Assisi estaria pronta para isso tão cedo. E se ela
decidir se casar com alguém no futuro, deixarei para ela. — Eu tento
explicar. Não forçarei nenhuma das minhas irmãs em casamentos que não
querem. Eu quis dizer o que disse a Lina da última vez. Está na hora de as
coisas mudarem um pouco dentro da família.

— Vamos, Lastra. Você não pode dizer isso! — Ele começa com um
tom indignado, mas imediatamente se pega. — É claro que ela não estaria
pronta ainda. Mas por que não os deixamos se encontrar e ver para onde

morally questionable
vai? — Ele insiste, e eu tenho que me perguntar porque exatamente ele
está tão decidido a uma união entre nossas famílias. — Se eles decidirem
que se adequam, quem somos nós para enfrentar a felicidade deles, certo?

A maneira como formulou isso me deixou um pouco encurralado. Não


posso recusá-lo abertamente, então apenas aceno. — Talvez algo possa ser
arranjado. — É melhor ser vago.

— Boa. Eu sabia que você veria a razão. — Benedicto assente,


satisfeito. Mas então Rafaelo começa a tremer ao lado dele.

— Eu...Eu... — Ele gagueja, e eu ouço um som gotejante. Olho mais de


perto e vejo que um ponto úmido está se formando na frente da calça e na
perna.

Rafaelo apenas se mijou.

Seu pai observa isso imediatamente, mas ele não reage de forma
alguma. Em vez disso, ele se desculpa os dois e sai da sala.

Talvez Michele estivesse certo em alguma coisa... Talvez Rafaelo


tenha alguns problemas mentais. É difícil associar sua aparência física a
ela. Ele é um homem grande, se não por seus ombros caídos e pescoço
encolhido. Somente sua postura o faz parecer mais uma criança do que um
adulto.

Balançando a cabeça com o que acabei de testemunhar, procuro


Catalina no salão de baile.

morally questionable
Eu franzo a testa.

Onde ela está?

Não posso vê-la em lugar nenhum, então verifico com as mulheres


com quem ela esteve. Uma delas me diz que ela deve ter ido ao banheiro.
Mas eu não estou confiante.

Ela não pode ficar sozinha. Não aqui, com tantos para prejudicá-la.

Eu imediatamente me aproximei de Enzo. Ele está em uma área de


álcool, uma expressão entediada no rosto. Ele está olhando para o copo
meio vazio que está segurando, enquanto as pessoas ao seu redor estão
conversando. A esposa dele está ao seu lado, mas ela está ocupada
conversando com o pai.

— Catalina está desaparecida. — Eu vou direto ao ponto quando o


vejo. Eu tenho a atenção dele imediatamente, e ele abaixa o copo.

— Precisamos encontrá-la. — Ele diz, e planejamos cobrir toda a área.

— Onde você está indo? — Sua esposa, Allegra, se apega ao braço e


faz beicinho.

— Estou procurando minha irmã. — A voz dele está tensa enquanto


ele tenta afastá-la.

morally questionable
— Ela, — A voz de Allegra está cheia de veneno quando ela se refere a
Catalina. — Tenho certeza que ela está com alguém. — Antes que eu possa
reagir, Enzo a empurra.

Ele agarra a mandíbula nas mãos e, com uma voz insensível, diz a ela:
— Pare de abrir a boca se quiser manter esse rosto bonito. — Ele a
empurra para trás e, com uma careta, ele me sinaliza para me mover.

Depois de verificar todos os cantos do salão, sinto que estou perdendo


a cabeça. Onde ela está? As coisas que passam pela minha cabeça não
estão ajudando nem um pouco.

Verifico os banheiros, algumas mulheres gritando comigo e me


chamando de pervertido, mas não me importo.

Eu preciso encontrar Catalina.

Agora.

Estou hiperventilando.

Minutos passam, estou correndo por aí, e ainda não há sinal dela. Eu
até verifico fora do hotel e no estacionamento, e ela não está lá.

— Sem sorte? — Enzo parece tão sombrio quanto eu. Eu aceno e


entramos no salão novamente. Estou pronto para pular em Franco,
convencido de que ele fez alguma coisa. Após a agressão que ele exibiu
mais cedo....

morally questionable
Eu vou direto para ele, pronto para derramar sangue.

Mas é quando ouço os sussurros.

— O que você esperava? Ela voluntariamente deu à luz um bastardo.

— É claro que ela levantaria as saias para qualquer um.

— Mas você pode acreditar que ela realmente tentaria seduzir


Michele? Que vagabunda.

— Prostituta!

— Vagabunda!

As palavras estavam sendo lançadas de maneira tão descuidada. Um


grupo de mulheres está reunido em torno do outro lado do salão, e todo
mundo está ocupado fofocando.

Alguns estão comentando sua falta de moral, outros estão apenas


repetindo o que ouviram ou viram.

Eu bloqueio tudo.

Tudo o que vejo é Lina. Minha linda Lina está sozinha em um canto,
suas bochechas manchadas. O vestido dela estava rasgado na bainha e ela
está tentando o seu melhor para permanecer forte.

morally questionable
Os olhos de Catalina encontram os meus e um soluço escapa de seus
lábios.

Em dois passos, eu a tenho em meus braços. Eu a seguro, tentando o


meu melhor para confortá-la.

— O que aconteceu? — Eu murmuro, mal tendo controle de mim


mesmo.

— Ele... Ele tentou... — Ela começa, entre soluços. Lina tenta explicar
como Michele a pegou no banheiro e ela lutou com ele. Minha mão está no
seu cabelo, acariciando-a levemente e tentando garantir que ela está
segura agora.

Mas eu falhei com ela.

É como se alguém estivesse apertando meu coração com um punho de


ferro. Eu prometi a mim mesmo nunca mais falhar com ela.

É tudo culpa minha.

Eu me seguro, esperando que ela ignore as línguas cruéis que


balançam ao nosso redor.

— Não os escute. — Eu sussurro, pronto para levá-la para casa. Eu


rapidamente removo meu blazer e o coloco em volta dos ombros dela,
virando-a para a saída.

morally questionable
Mas então a voz mais alta de todas tem a ousadia de intervir.

Franco, enfeitando-se como um pavão, dá um passo à frente, trazendo


novas acusações com ele.

— Você vê, pessoal? Você vê como ela está tentando arruinar os


homens? Ela é uma Jezabel, eu lhes digo. Conduzindo bons homens para a
destruição! — Ele aponta o dedo para ela.

Coloco Lina atrás de mim, com a intenção de protegê-la.

Franco continua.

— Foi o que você fez com o meu filho também, não foi? Você o seduziu
e depois o matou. Ela é uma assassina! Uma assassina, Jezebel! — Sua voz
ganha em decibéis, e mais pessoas se juntam, denegrindo Lina a cada
palavra.

— Eu não o fiz! — A voz de Lina me surpreende quando ela responde.


No começo, ela é tímida, mas ela segue seu tom e continua. — Ele era um
pedófilo... Ele estava tocando minha filha. — Eu olho para ela com
admiração nos meus olhos. O que deve ter sido necessário para que ela
possa fazer essa afirmação?

Franco ri ironicamente. — Ah, sério? Tal mãe, tal filha então. Ela está
começando jovem.

Catalina suspira ao meu lado e eu me perco.

morally questionable
Ninguém. Absolutamente ninguém fala assim sobre Catalina ou
Claudia e se safa.

Antes que eu perceba, pego um garfo da mesa.

morally questionable
CAPÍTULO DEZOITO

Cosima me leva a uma mesa próxima, onde estão algumas outras


mulheres na casa dos trinta e quarenta. Elas não parecem muito
satisfeitas em me ver. Eu me torno um pouco constrangida quando elas me
ignoram e começam a conversar umas com as outras.

Eu franzo meus lábios e coloco um sorriso agradável no meu rosto. Eu


queria vir aqui, então agora tenho que ser forte e mostrar que elas não
podem me intimidar.

morally questionable
— Esse é seu filho? — Uma das mulheres pergunta a Cosima,
apontando para um homem bêbado.

— Ele é meu enteado. — Cosima range os dentes.

— Oh, eu esqueci disso. O que, com eles sendo tão próximos em idade.
— Outra mulher se junta e brinca. Lembro-me de ler sobre a família deles,
e que Benedicto Guerra tem dois filhos de duas mães diferentes. Suponho
que eles estejam aludindo ao fato de Benedicto ter se casado com Cosima
apenas alguns dias depois que sua primeira esposa morreu.

— Se ele me visse como sua mãe. — Cosima finge um suspiro e


começa a contar o quanto ela tentou ser mãe de Michele. — Mas ele
apenas me odeia.

As outras mulheres começam a confortá-la de uma maneira


obviamente falsa, e eu tenho que me perguntar o que estou fazendo aqui.

— Se me dão licença, preciso ir ao banheiro. — Eu lhes dou um sorriso


apertado e vou em direção à saída.

Dentro do banheiro, ligo a torneira e espirro um pouco de água no


rosto.

— Eu posso fazer isso. — Eu olho no espelho e digo a mim mesma. Eu


preciso ser forte...

morally questionable
Difícil de fazer quando nunca estive em uma situação como essa
antes.

Respiro fundo e estou prestes a sair quando a porta se abre e o homem


bêbado entra.

— Este é o banheiro feminino. — Eu digo a ele, pensando que ele


acabou de cometer um erro.

— É? — Seus lábios se enrolam em um sorriso cruel. Ele avança para


dentro, fechando a porta atrás dele.

— Você deveria sair. — Eu digo com um pouco mais de convicção. Não


tenho um bom pressentimento sobre isso.

Quando vejo que ele não está se mexendo, decido sair sozinha.

— Calma. — Ele diz zombeteiro, seus dedos cavando na minha carne.

— Me deixe ir!

— Agora, por que eu faria isso? — O jeito dele é casual, mas não posso
evitar o arrepio que passa pelo meu corpo.

— Me deixe ir! — Eu tento tirar meu braço de suas mãos, mas ele me
empurra para dentro na parede, me encurralando.

morally questionable
— Você sabe quem eu sou, não é? — A boca dele está muito perto de
mim e eu posso sentir o cheiro do álcool em sua respiração.

— Michele Guerra. — Eu respondo, movendo minha cabeça para o


lado.

— Hmm, — ele aperta meu queixo entre os dedos e vira com força em
sua direção.

Eu tento não mostrar o medo que estou sentindo. Em vez disso, olho
nos olhos dele, o tempo todo procurando o botão de pânico que Marcello
havia me dado. É um pequeno dispositivo que libera um ruído
ensurdecedor se ativado. Ele estava tão preocupado com a nossa presença
aqui que pensou em tudo, Deus o abençoe.

Seus dedos estão ásperos e machucando o meu rosto, mas eu tento não
gritar. Minha mão está na minha bolsa, procurando o botão de pânico.

— Foi assim que você conseguiu meu primo? Com esse seu olhar
inocente?

Eu não respondo.

— Me responda!

Eu franzo os meus lábios.

morally questionable
— Vadia! — O movimento dele é tão repentino que mal consigo reagir.
Sua mão dispara e se envolve em volta da minha garganta.
Instintivamente, meus braços giram em torno de seu aperto, tentando
afrouxar. Minha bolsa cai no chão, todo o conteúdo se espalhando.

Não!

— Deixe-me ir! — Eu gemi, minhas mãos socando seu peito e rosto.


Ele parece divertido com meus esforços e sorri.

— Pobrezinha, — ele é irônico. — Eu me pergunto se uma noite entre


suas coxas realmente vale a pena morrer.

Ainda me segurando com uma mão, ele começa a puxar meu vestido
com a outra.

Não! Isso não! De novo não!

Meu coração está acelerado, minha mente quase em branco. Lágrimas


se reúnem nos cantos dos meus olhos.

— Não, por favor. Não faça isso comigo! — Eu imploro, tentando


empurrá-lo de mim.

Ele não se mexe.

A parte de trás da mão dele se conecta com minha bochecha com tanta
força que estou vendo estrelas. Eu luto para manter o equilíbrio, e ele está

morally questionable
mais uma vez rasgando meu vestido, seus dedos deslizando pelo interior
da minha coxa.

Não!

Não sei o que acontece a seguir. Começo a gritar como um banshee,


membros batendo e chutando.

Eu não vou cair! Não vou deixá-lo fazer isso comigo!

Ele parece momentaneamente surpreso por eu revidar, mas é de curta


duração. Ele me empurra em direção às pias, e minhas costas atingem o
aço.

Eu me afasto da dor.

Ele está lutando com o cinto quando a porta se abre, e algumas


mulheres olham para nós.

— Ajuda... — Minha voz é rouca quando tento chamar, mas elas


apenas riem e vão embora.

Não!

— Você realmente acha que alguém vai ajudá-la? — Ele zomba me


segurando.

morally questionable
Ele está tentando puxar o vestido sobre meus quadris quando vejo
minha chance. Com tanta força quanto posso reunir, levo meu joelho para
cima e bato nele. Ele geme, tropeçando para trás e me liberando. Não
perco tempo ficando no banheiro.

Eu preciso encontrar Marcello. Eu preciso dele.

Apenas pensando no que aconteceria me deixa histérica, lágrimas


escorrendo pelo meu rosto.

Chego ao salão e olho desesperadamente para o redor, tentando


identificar meu marido.

E então eu os ouço.

Vagabunda.

Prostituta.

Depravada.

Minhas mãos estão tremendo, mas tento manter minha cabeça


erguida.

Todo mundo está falando de mim e do que essas mulheres pensam que
viram no banheiro. Como sou tão barata, estou disposta a levantar minhas
saias para qualquer homem.

morally questionable
Tantos sentimentos ameaçam me sobrecarregar — pânico, vergonha,
medo.

Mas então eu o vejo.

Fazemos contato visual e finalmente consigo respirar novamente.

Ele está aqui.

Seus olhos se movem pelo meu corpo e só consigo imaginar o que ele
está vendo... o estado em que estou.

Marcello corre em minha direção e me puxa para o peito, me


segurando com força.

— O que aconteceu? — Sua voz é baixa e áspera.

— Ele... Ele tentou... — Eu começo. Eu mal posso falar, mas conto


tudo a ele.

Suas mãos se apertam no meu cabelo. O calor que emana de seu corpo
me faz relaxar... Ele está aqui, é tudo que preciso saber. Quando estou com
Marcello, sei que estou segura. Enquanto ele me segura, as pessoas
continuam a abrir a boca, me chamando de todos os tipos de nomes.

Estou tão envergonhada por Marcello. O que ele deve pensar de mim?

morally questionable
— Não os escute. — A voz dele é apenas para os meus ouvidos, e a dor
nos seus olhos reflete a minha.

Ele passa o blazer sobre o meu vestido arruinado e pega minha mão,
pronto para sair.

Mas está longe de terminar.

Como o mar vermelho, a multidão se separa para revelar Franco,


parecendo extremamente presunçoso.

— Você vê, pessoal? Você vê como ela está tentando arruinar os


homens? Ela é uma Jezabel, eu lhes digo. Conduzindo bons homens para a
destruição! — Franco me olha diretamente, quase enfiando o dedo na
minha cara.

Marcello me coloca atrás dele em um gesto protetor.

— Foi o que você fez com o meu filho também, não foi? Você o seduziu
e depois o matou. Ela é uma assassina! Uma assassina, Jezebel! — Por que
todo mundo está tão contra mim? O que eu fiz para eles? Olho em volta e
tudo o que vejo é rostos acusadores... ouça palavras depreciativas.

Fecho meus olhos brevemente, tentando escapar das paredes dentro


de mim. Mas por que eu me incomodo? Eles já me marcaram como
prostituta e assassina.

morally questionable
— Eu não o fiz! — Acho minha voz, surpreendendo até a mim mesma.
Se eles querem um escândalo, eles terão um. Vou apenas declarar a
verdade.

— Ele era um pedófilo... Ele estava tocando minha filha. — As pessoas


ficam caladas ao redor da minha confissão, mas Franco ri.

— Ah, sério? Tal mãe, tal filha então. Ela está começando jovem.

Dou um passo atrás, minha boca aberta em choque. Ele... Ele acabou
de dizer... Lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto neste momento. Como
ele pode dizer isso?

Estou tão chocada que mal consigo registrar Marcello saindo do meu
lado. Eu imediatamente procuro por ele, precisando de sua presença.

Ele está talvez a dois passos de distância, com a mão no garfo.

Com velocidade desumana, ele joga o garfo em direção a Franco, com o


lado afiado para a frente. Tanto o objetivo quanto a força devem ter sido
incríveis, porque o garfo se incorpora ao olho direito de Franco.

Todo mundo está olhando horrorizado para a cena que se desenrola.

Franco está chorando de dor, segurando o olho sangrando. Seus


joelhos cedem e ele está no chão, seu corpo tremendo.

morally questionable
Marcello olha para ele sem um pingo de empatia em seu olhar. A
mudança é tão repentina que mal consigo acreditar nos meus olhos.

Eu nunca vi essa expressão em seu rosto antes. Ele se vira um pouco


em minha direção e me dá um aceno reconfortante.

O que ele está fazendo?

Marcello casualmente pega um copo de vinho tinto de um garçom


próximo e derrama o líquido dentro.

— O que você disse? Eu não ouvi você? — Ele se planta na frente de


Franco e se abaixa para ficar no mesmo nível.

— O que você disse sobre minha esposa? — Ele pergunta novamente,


sua voz dura e inflexível.

Franco, como um tolo, não sabe quando parar.

— Que ela é uma prostituta mentirosa. E aposto que a filha dela


também.

— É mesmo... —Marcello estreita os olhos para ele. — Devo lembrá-lo


que a filha em questão também é minha filha? — Ele reivindicando minha
filha como dele aquece meu coração de uma maneira que eu nunca pensei
que fosse possível.

morally questionable
Ele não espera uma resposta enquanto sua mão agarra a ponta do
garfo e puxa com força. Em um movimento fluido, o garfo sai, junto com o
olho de Franco. O sangue empoça em seu rosto e seus gritos ecoam na sala.

Marcello gira o garfo no ar, olhando-o com uma expressão entediada.

— Mais alguém tem algo a dizer sobre minha família? — Ele se vira
para enfrentar a multidão e desafia alguém dizer alguma coisa.

Há vozes sussurradas ao fundo, mas ninguém intervém


completamente. Em um gesto chocante, Marcello coloca o olho no copo de
vinho. Ele ergue o copo.

— Saúde. — Ele diz antes de tomar o conteúdo.

Algumas mulheres estão desmaiando, outras estão levantando e


esvaziando o conteúdo de seus estômagos. Até alguns homens parecem um
pouco amarelados.

Mas ninguém diz nada.

Marcello para novamente na frente de um Franco berrando e diz a ele


algo que eu não consigo entender. Seja o que for, está fazendo Franco
parecer ainda mais doente do que antes.

— Você disse alguma coisa? Eu não ouvi você. — Marcello diz em voz
alta.

morally questionable
Um maldito Franco, ainda de joelhos, faz o possível para rastejar em
minha direção.

— Eu sinto muito. — Sua cabeça está baixa, sua voz atada à dor.

— Ainda não ouvi você. —Marcello ecoa e Franco range os dentes.

— Eu sinto muito. — Desta vez, é alto o suficiente para todos ouvirem.

Benedicto emerge da parte de trás da multidão, batendo palmas.

— Bravo! — Ele balança a cabeça em admiração. — Bravo!

Ele pega o copo ainda abrigando os olhos de Marcello e vem em


direção a seu irmão.

— O que eu te disse fratello. — Ele faz um som tsk.

— Como... como você pode deixá-lo fazer isso comigo? — Franco


gagueja, seu rosto esticado de choque.

— Eu não deixei. Você deixou. — Ele encolhe os ombros e depois vira o


copo para que o globo ocular caia no chão.

Franco imediatamente tenta, mas Marcello está um passo à frente


dele, literalmente. Há um som suave quando o olho é esmagado sob o
sapato de Marcello, e Franco fica histérico.

morally questionable
Nem tenho tempo para processar, pois estou sendo levada pelo meu
marido.

— O que foi isso? — Eu sussurro em confusão. O episódio inteiro tinha


sido... Estou simplesmente chocada.

— Eu posso ter sugerido que ele poderia ter seu olho recolocado, se
algumas condições fossem atendidas.

— Ele pode? — Eu pergunto maravilhada.

— Não mais.

Entramos no carro e viajamos para casa; Marcello não solta minha


mão.

Enquanto ele dirige, olho para o seu perfil e me apaixono um pouco


mais por ele.

Para algumas pessoas, suas ações podem parecer muito cruéis, mas
para mim elas significavam o mundo. Ninguém publicamente me defendeu
antes.

Marcello ainda não sabe disso.

Mas ele acabou de se tornar meu anjo da guarda.

morally questionable
No momento em que chegamos em casa, ele me aperta nos braços e
me leva para o meu quarto.

— Shh, não fale. — Ele sussurra no meu cabelo enquanto me deita na


minha cama, seus olhos selvagens avaliando meu vestido rasgado e minha
carne machucada.

Ele vira as costas para mim e entra no banheiro. Eu posso ouvir o som
da água e acho que ele está me dando um banho.

— Marcello? — Eu pergunto timidamente.

Ele ressurge, vindo em minha direção lentamente. Com um olhar


angustiado, ele cai aos meus pés e coloca a cabeça no meu colo.

— Eu sinto muito. Você não tem ideia de como... É tudo culpa minha.
— Ele chora, sua voz cheia de emoção.

Minha mão vai para o seu cabelo e lentamente passo meus dedos por
ele.

— Não é sua culpa, amor. Não é. — Como ele poderia ter impedido
aquele homem de me agredir? No banheiro feminino de todos os lugares.

morally questionable
— O que você fez por mim... como você me defendeu. — Eu balanço
minha cabeça, meus olhos brilhando com lágrimas caídas. — Ninguém
nunca fez isso antes. Ninguém me defendeu assim. E por causa disso, você
é meu herói. — Eu digo a ele com ternura.

— Eu não sou o herói de ninguém. — Ele fala depois de uma breve


pausa. — Herói... eu, — ele dá uma risada seca. — se você soubesse...

Suas mãos vêm a minha cintura e ele me abraça.

— Sinto muito, — ele continua resmungando.

Ficamos assim por um tempo, e eu me deleito com o calor do seu corpo


ao lado do meu. Eu me sinto segura... tão segura. Me pegando em seus
braços mais uma vez, ele entra no banheiro, me colocando ao lado da
banheira quase cheia. Marcello parece conflituoso quando seu olhar se
move de mim para a banheira e volta para mim.

— Eu... — ele começa, mas balança a cabeça. — Eu estarei lá fora. —


Ele engole visivelmente antes de virar para sair.

— Espere, por favor! — As palavras estão fora da minha boca antes


que eu possa pensar demais.

— Fique. — Não sei de onde vem essa coragem, mas quando olho nos
seus olhos, sei que posso fazer isso. Eu posso mostrar a ele o meu eu mais
vulnerável.

morally questionable
Com os dedos trêmulos, puxo o zíper lateral do meu vestido e tiro.
Agora estou de pé apenas no meu sutiã e calcinha. O olhar de Marcello
escurece enquanto se move sobre minha forma e um arrepio sobe na minha
espinha.

Eu posso fazer isso!

Antes de sair, estico os braços atrás de mim e tiro o fecho do meu


sutiã, deixando-o cair.

— Lina, — Marcello geme e minhas bochechas esquentam de


vergonha.

Com a pouca coragem me restava, tiro rapidamente minha calcinha e


entro dentro da banheira.

A temperatura escaldante da água me dá arrepios e eu cerro os dentes


no calor doloroso.

Não demoro muito para me acostumar com a água. Olho para cima e
vejo que Marcello ainda está parado na porta, com os olhos fixos em mim.

— Você pode me ajudar? — Eu levanto uma esponja e seguro para ele.


Não sei de onde isso vem... essa franqueza..., mas não quero que ele vá
embora.

morally questionable
Ele vem em minha direção, dobrando as mangas da camisa. Quando
ele está ao lado da banheira, ele se ajoelha e pega a esponja das minhas
mãos.

Ele ensaboa uma boa quantidade de sabão líquido na esponja e


começa a cuidar do meu braço. Seus movimentos são lentos, a sensação da
esponja macia na minha pele.

Ele se move até a minha clavícula e eu tenho que engolir com força a
sensação. Eu o olho de relance e ele também não é alheio. Marcello cuida
dos meus dois braços antes de se preparar para me mover para as minhas
costas.

Pego a sua mão, de repente lembrando o que ele está prestes a ver.

— Não é bonito. — Eu sussurro, mas lentamente dou as costas para


ele.

Eu tenho medo da sua reação. Não vejo, mas posso dizer que ele está
chocado com a aspiração.

— Lina... — a voz dele é suave, a respiração quase tocando minha


pele. Então eu percebo o quão perto ele está de mim.

— Mar... — Eu me afasto quando sinto seus lábios nas minhas costas,


exatamente onde minha cicatriz começa. Ele começa a traçar o contorno da
cicatriz com os lábios e meus olhos se erguem.

morally questionable
— Você é linda, Lina. Tão bonita. — A voz dele é como um bálsamo
para o meu coração. Há esse calor... Acho que nunca me senti assim antes.
Essa emoção, maior que a vida, se expande no meu peito e procura sair.
Fico tensa, dolorosamente segurando a borda da banheira.

Querido Senhor, o que é esse sentimento?

A esponja toca minha pele novamente e Marcello continua com suas


ministrações. Quando ele termina, estou respirando com dificuldade e não
sei se é do vapor na água ou...

Ele me traz uma toalha e me ajuda, me enrolando. Ele me leva de


volta para a cama.

— Obrigado. Por isso. — Ele pega minha mão e a leva aos lábios para
um beijo leve.

Quando olho nos olhos dele, me vejo hipnotizada.

— Não vá embora. Fique comigo, por favor.

— Lina, você não tem ideia do que está pedindo.

— Eu sei... Eu quero isso. Eu quero você.

Pela primeira vez, quero controlar o que acontece com meu corpo. E
Deus eu o quero. Ele é tudo que é gentil e bom e eu nem sei o que fiz para
merecê-lo.

morally questionable
Ele é simplesmente tudo.

Meus dedos acariciam sua bochecha e eu me inclino para a frente para


dar um beijo em seus lábios, querendo mostrar o quanto eu quero isso.

— Você tem certeza? — Ele me pergunta, sua voz mal acima de um


sussurro.

Eu aceno.

— Por favor.

Sua mão sobe pelo meu pescoço e ele dá um toque na minha


mandíbula, me atraindo para o beijo dele. Eu separo meus lábios para
permitir que ele entre, minha língua procurando a sua.

Eu caio na cama, levando-o comigo. Minha toalha está aberta e tento


encaixar meu corpo no seu, querendo me sentir mais perto.

Suas mãos começam a traçar meu peito e eu tremo com o toque leve.

— Você tem proteção? — De repente me lembro de perguntar. Sei que


ele disse que quer filhos no futuro, mas não quero assumir que ele quis
dizer no futuro próximo.

Ele levanta a cabeça por uma fração, suas pupilas tão dilatadas que
seus olhos estão quase voltando.

morally questionable
— Não. — Ele faz uma pausa. — Mas eu estou limpo. Não estou com
ninguém há mais de uma década. — Suas palavras me surpreendem. Eu
nunca imaginei que um homem como Marcello seria celibatário por tanto
tempo. Mas, dado o problema dele com o toque... Eu vejo como isso pode
afetar as coisas. E isso me faz sentir incrivelmente honrada por ele estar
compartilhando essa parte de si mesmo comigo.

— Eu também não. — Eu respondo. — Eu nunca fiz amor antes. — Eu


coro com as palavras e instintivamente abaixo a cabeça com vergonha.
Tecnicamente, nem posso dizer que já fiz sexo antes... não como minha
primeira e única vez foi, ou quão pouco me lembro disso.

— Ei, — ele inclina minha cabeça para cima. — Eu nunca fiz amor
também. Eu posso ter estado com outras antes, mas não era... agradável.
— Uma pequena careta aparece em seu rosto. — Então esta é a primeira
vez para nós dois, ok?

— Ok. — Eu mal expiro a palavra antes que sua boca esteja na minha
mais uma vez. Ele me beija pelo que parece ser uma eternidade antes de
subir, arrastando beijos por todo o meu rosto: meu nariz, minhas
têmporas, minha testa.

— Eu posso tirar antes. Eu sei que ainda há um risco, mas...

— Não, não. Eu quero você, todo você. — Eu quero ser dele e quero
que ele seja meu. Uma eventual criança que possamos ter não passaria de
uma bênção.

morally questionable
Sua expressão suaviza minhas palavras e ele me regala com o sorriso
mais precioso que eu já vi. Meu coração está prestes a explodir no meu
peito.

Marcello se levanta e antes que eu possa protestar, ele tira a camisa.


Eu já tinha visto o seu torso antes, mas estava tentando muito não olhar.
Agora posso olhar para o conteúdo do meu coração. Ele pega minha mão e
a espalha no plano do estômago, pedindo que eu o toque. Eu me movo
timidamente a princípio, explorando os gomos duros do estômago, a forte
sensação da pele, tão diferente da minha. Assim que estou ganhando mais
confiança, ele me impede, dando um último beijo nas minhas juntas antes
de me espalhar na cama.

Sua boca está em toda parte, e a sensação é avassaladora. Um gemido


escapa dos meus lábios quando ele atinge meus seios, chupando um
mamilo na boca. É assim que deve ser feito? O pensamento sai
imediatamente pela janela enquanto ele toca meu corpo como um maestro.
Ele toca e eu respondo. Mas então ele desce, sobre a minha barriga,
deixando beijos em seu rastro. E mais baixo, até...

Isso não pode estar certo, pode?

Sua respiração se espalha pelo meu lugar mais privado e eu começo a


tremer novamente. Ele separa minhas coxas para acomodar seus ombros.

morally questionable
— Marcello! — O seu nome nos meus lábios começa como uma
pergunta, mas quando a sua língua encontra minha carne, termina em
uma exclamação.

Estou parcialmente escandalizada, parcialmente intrigada.

— Deus, Lina, — ele geme contra a minha carne, sua língua fazendo
maravilhas ao meu corpo. — Você é um milagre, — ele bate contra mim,
seu hálito quente me fazendo ofegar quando encontra um ponto específico.
— Você é o meu milagre, — suas palavras não devem me deixar tão
acalorada, mas Deus, ele poderia me dizer qualquer coisa agora e eu
simplesmente derreteria.

Ele está me beijando devagar, me saboreando e me trazendo à beira


do esquecimento. Por vontade própria, minhas mãos se enroscam nos seus
cabelos, puxando-o.

Ele captura meu clitóris entre os dentes e alterna entre chupar e


mordiscar, cada ação me faz perder o controle dos meus membros.

— Oh, Marcello... isso parece... — Eu ofego.

Como um concertista, ele estimula meu corpo até que ele comece a se
espalhar, terminando em uma sinfonia feliz.

Meus olhos se abriram, admiração enchendo todo o meu ser.

Eu acho que ouvi anjos cantarem.

morally questionable
Mas então eu desço, minhas mãos agarrando os braços de Marcello e
segurando firme. Minha respiração está difícil, quando eu pergunto.

— O que foi isso? — Eu pergunto, me sentindo lânguida, mas


espantada ao mesmo tempo.

— A coisa mais linda que eu já vi na minha vida, — ele responde, com


ternura nos olhos.

Ele se afasta e se levanta tempo suficiente para tirar as calças e as


roupas íntimas.

E ele está... nu.

Quero proteger meus olhos, o calor subindo pelo meu pescoço mais
uma vez.

Sentindo minha reação, Marcello toca meu rosto suavemente.

— Podemos parar se você quiser.

— Não. — Eu balanço minha cabeça vigorosamente. Eu quero isso. É


apenas a primeira vez que estou vendo...

Eu me forço a olhar para ele. É o Marcello. Meu querido Marcello. Não


há nada a temer. Concentro meu olhar no seu peito e, lentamente, deixo-o
vagar para baixo, em direção ao estômago e ao comprimento duro que se
contorce na minha direção.

morally questionable
— Isso não pode caber! — Eu inconscientemente deixo escapar, meus
olhos arregalados de horror. Eu sei como isso funciona, e não há como essa
coisa caber dentro de mim. Senhor, deve ser o comprimento do meu
antebraço. Lembrando a dor da última vez, instintivamente me afastei.

— Vai caber, eu prometo a você. — Marcello diz que, e pegando minha


mão, ele a abaixa entre minhas pernas.

— Sinta isso? Como você está molhada por mim? — Meus dedos
mergulham dentro das minhas dobras lisas e eu percebo o que ele quer
dizer. Se ele não estivesse tão convencido com isso, eu ficaria
envergonhada com a quantidade de umidade que encontro.

Ele se aproxima de mim, substituindo meus dedos pelos seus, me


acariciando para cima e para baixo. — Você está tão encharcada que vai
me levar para dentro de você como a boa garota que você é. — A sua voz é
tão suave que não posso deixar de acenar.

É como se eu estivesse em transe quando abro meus braços e pernas,


convidando-o para entrar.

Ele me cobre com o corpo e eu posso sentir essa parte dele perto do
meu centro.

— Relaxe, não tenha medo. Eu vou cuidar de você, — ele sussurra no


meu cabelo, os dedos traçando minha bochecha.

Eu engulo com a minha ansiedade.

morally questionable
— Eu não tenho medo. Não com você.

Nunca com você.

Ele entra em mim devagar. Não há dor quando ele avança e me estica
pouco a pouco.

— Oh! — Envolto minhas pernas em volta das costas, inclinando


minha pélvis para a frente e levando-o ainda mais fundo.

Está... maravilhoso.

— Porra! — Ele murmura. — Você é tão boa, Lina. Você é minha, —


ele fala contra meu ouvido, suas palavras fazem meu coração pular uma
batida. — Você foi feita para mim, garota bonita. Só para mim, — ele faz
uma pausa, totalmente dentro do meu corpo, enquanto me permite
acomodar o seu tamanho.

— Diga-me que posso me mover, — sua voz está dolorida e vejo como
ele está tenso.

— Por favor! — Eu o exorto, envolvendo minhas mãos nas costas e


trazendo seu peito em contato com meus seios. O atrito adicional é
delicioso à medida que nos movemos juntos.

Minhas mãos vagam pelas suas costas e noto alguns sulcos, não muito
diferentes dos meus. Eu não entendo isso, pois ele se retira e entra em
mim novamente.

morally questionable
Um gemido me escapa.

— Eu nunca soube... — Comento, apertando meus braços ao redor


dele, procurando sua boca.

— Lina...— Marcello geme e me beija com fome, o tempo todo se


movendo dentro de mim.

Ele ganha velocidade e sinto algo construir dentro de mim. É como


antes, mas não exatamente.

— Ah eu... — Ele parece saber do que eu preciso, porque ele move


uma mão entre nossos corpos e acaricia levemente meu clitóris. O efeito é
quase imediato.

Eu me apego a ele, sentindo tudo de uma vez.

É demais.

— Foda-se, eu estou vindo!

Alguns impulsos depois e um líquido quente reveste meu interior.

Marcello cai em cima de mim.

— Merda! — Ele amaldiçoa e rola para que eu esteja em cima dele. —


Eu não te esmaguei, não é?

morally questionable
A ternura em seus olhos me engole por inteiro, e só consigo balançar a
cabeça.

— Perfeito... tão perfeito. — Eu murmuro.

Minhas têmporas parecem pesadas, e a segurança de saber que


Marcello está ao meu lado me leva a dormir.

Tão perfeito...

morally questionable
CAPÍTULO DEZENOVE

Eu acordo com o calor de um corpo ao meu lado. Por um segundo de


pânico, o contato não é familiar. Mas então me lembro quem é e o que
aconteceu na noite anterior.

Abrindo os olhos, vejo a cabeça de Lina enterrada na curva do meu


ombro. A mão dela está subindo e descendo no meu peito, e uma perna
está pendurada em cima de mim. Ela parece tão pacífica enquanto
dorme... tão encantadora.

morally questionable
Respiro fundo, saboreando o momento.

Alguns meses atrás, eu nunca teria acreditado que seria capaz de


tocar outra mulher novamente. E agora... Passei a noite com alguém.

E ela não é somente alguém. Esta é a Catalina... a mulher com quem


sonhei nos últimos dez anos. Aquela que escapou...

Lentamente, levanto minha mão e acaricio seus cabelos, respirando


seu perfume. Eu gostaria de poder parar o tempo agora. Se ao menos
pudéssemos viver assim para sempre...

Ela mexe no sono, virando-se e empurrando a bunda para mim,


esfregando-se na minha perna.

Trazendo minha mão para minha testa, tenho que sufocar um gemido.
Eu já estou duro como o inferno, e ela provavelmente nem percebe o que
está fazendo.

A noite passada tinha sido... Eu nem tenho palavras para descrever


toda a experiência. Eu não ousara esperar que ela me recebesse em sua
cama... ou em seu corpo tão cedo.

Eu tinha sido completamente honesto com ela quando lhe disse que
nunca havia feito amor com uma mulher antes. Tudo tinha sido tão novo
para mim também. Da sensação de sua pele contra a minha, ao som de
seus gemidos e à aparência quando goza. Eu me senti como um viciado
sendo apresentado a uma nova droga. Seus lábios se separaram

morally questionable
levemente, seu canal me agarrando com força. O jeito que ela timidamente
me tocou.

Fechei os olhos com força, sentindo a culpa de minhas ações me


agredir.

Eu não merecia... qualquer coisa. E, no entanto, peguei o que não era


meu para levar. Tão ganancioso, tão insaciável que eu tinha sido pelo
toque dela que me fiz esquecer tudo. Naquele momento, havíamos apenas
nós. Sem passado, sem erros. Apenas duas pessoas se sentindo
profundamente uma pela outra.

Pelo menos eu assumi que é assim que ela se sentia. Catalina não é o
tipo de pessoa que iria para a cama com alguém que não se importava. E
esse é o maior presente de todos — o carinho dela. Não ouso chamá-lo de
amor porquê...

Balanço a cabeça levemente com o pensamento, melancólico sobre


mim. Não sou alguém que ela deva amar, mas vou pegar qualquer pedaço
que ela possa me dar. Se ela soubesse o quão profundo meus sentimentos
são por ela. Viro a cabeça e abraço sua forma sonolenta. Lina não tem ideia
do quanto eu a amo. Ela nem se lembra de mim. No entanto, eu lembro.
Esse ato de bondade está eternamente gravado em minha alma.

— Mhmm... — Ela murmura sonolenta, estendendo-se ao meu lado.


Lentamente, ela levanta a cabeça, um sorriso sonhador no rosto. Ela
procura o calor do meu corpo, seu rosto se aconchegando no meu peito.

morally questionable
Porra!

Eu pensei que poderia me controlar. Meu pau está duro como uma
pedra, e seus toques inocentes não estão ajudando. Eu nem acho que ela
percebe o jeito que está empurrando seus seios no meu peito, ou o fato de
que sua perna está subitamente perto da minha ereção latejante.

— Lina, — eu gemi, as sensações me matando.

Minha mão vai para sua perna, pretendendo movê-la um pouco. Mas
no momento em que minha palma se encaixa na coxa, não consigo me
ajudar.

— Lina? — Eu pergunto, minha mão subindo em direção à bunda.

— Marcello? — A voz dela é suave, quase audível. — Mhmmm... —


Ela choraminga quando eu passo a mão na bunda.

— Você está dolorida? — Meu dedo mergulha entre os globos e em


direção à boceta. Ela geme quando eu entro nela levemente, e ela se
empurra no meu dedo, me levando mais fundo por dentro.

— Não, — sua voz é ofegante quando eu trabalho meu dedo dentro e


fora. Uso meu polegar para deslizar sobre o clitóris, circulando-o cada vez
mais rápido até senti-la tremendo. Suas paredes apertam meu dedo e eu
foco minha atenção para o seu rosto, vendo-a se render ao orgasmo.

morally questionable
— Eu... — Ela gagueja quando goza. Um sorriso se estende pelo meu
rosto. Por todos os meus dias eu vou lembrar deste momento. O fato de eu
lhe dar prazer.

Sua mão minúscula começa a se mover pelo meu peito, e ela a envolve
em torno do meu pau, ou o máximo que pode em torno da minha
circunferência.

— Está tudo bem? — Ela olha para mim, com os olhos arregalados e
cheios de interesse inocente.

Abro a boca para responder a ela, mas ela de repente aperta e se move
para baixo. Um som tenso me escapa.

— Lina...

— O que eu faço?

Cubro sua mão com a minha e a movo para cima e para baixo, da base
à ponta. Ela está focada em acertar, os dentes mordiscando o lábio, as
sobrancelhas franzidas.

Quanto mais ela me provoca, mais sinto meu controle estalar.

Eu a paro.

— Eu fiz algo errado? — A voz é baixa quando ela pergunta.

morally questionable
— Não, não. Eu quero estar dentro de você quando eu gozar. — Eu me
viro para ela e coloco uma mecha atrás da orelha.

— Ok. — Ela me dá um sorriso hesitante, e eu me esforço para não a


virar de costas e transar com ela como um louco.

Eu a movo em cima de mim, uma perna de cada lado. Ela parece


confusa quando se instala no meu pau. Eu posso sentir como ela está
molhada enquanto ela mói contra minha pélvis. Apertando meu pau com
uma mão, eu o posiciono na sua entrada. Ela se abaixa lentamente até
mim até me levar ao punho.

— Oh. — Ela choraminga, as palmas das mãos nos meus peitorais.

Lina mexe um pouco com a bunda e minha cabeça recua na sensação.

— Sim, assim mesmo. — Eu a elogio, ajudando-a a subir e descer.

Logo ela encontra seu próprio ritmo e começa a me montar como se


tivéssemos feito isso mil vezes no passado.

Eu gosto de vê-la assim. No controle. Me levando.

Meu braço serpenteia em volta da cintura e eu a aproximo do meu


torso, minha boca procurando seu pescoço. Eu traço beijos molhados ao
longo de sua mandíbula antes de tomar sua boca.

morally questionable
Ela aumenta a velocidade, as mãos segurando firmemente o meu
cabelo. Ela está prestes a gozar. Eu posso sentir isso na urgência de seus
movimentos, na intensidade de seus beijos.

Suas paredes apertam meu pau e eu a seguro enquanto ela estremece.

— Porra! — Eu murmuro e a viro de costas, minhas mãos na bunda


dela enquanto empurro mais rápido, perseguindo meu próprio orgasmo.

— Marcello. — Ela geme, a cabeça jogada para trás, a boca aberta. —


EU... — Ela sai e volta quando eu me esvazio dentro dela.

— Senhor! — Lina tenta recuperar o fôlego e eu desmaio ao seu lado.

Quando nós dois tomamos banho, vamos para o café da manhã.


Surpreendentemente, Venezia e Claudia já estão na sala de estar. Venezia
está sentada obedientemente na beira do sofá e Claudia está brincando
com seus cabelos.

— E o que você está fazendo aí, pequena causadora de problemas? —


Lina para ao lado da dupla, observando o trabalho de Claudia.

morally questionable
— Estou tentando um estilo que vi na internet. Eu não sou muito boa
embora. Não sei como você sempre faz isso, mamãe. — Claudia franze a
testa, com as mãos se movendo nos cabelos de Venezia, dobrando e
torcendo.

— Mostre-me o que você está querendo.

Claudia pega o telefone e o entrega a Lina.

— Hmm, acho que você deveria ter separado dessa maneira. — Ela se
muda e pega um pente, ajudando-as.

Ambas estão focadas no que estão fazendo. Venezia suporta


pacientemente suas ministrações enquanto tentam e falham e depois
tentam novamente.

— Estou feliz em ver vocês duas se dando bem. — Noto, sentando-me


na frente dela.

— Isto é... agradável. —Venezia admite com relutância, mordendo o


lábio. Ela provavelmente se surpreendeu com essa entrega fácil.

Mas até eu tenho que reconhecer que ela mudou lentamente. Desde
que Catalina veio morar conosco, ela saiu um pouco da concha. Ela não é
mais aquela malcriada e rude.

— Sra. Evans elogiou seu progresso. — Eu adiciono e a mudança na


sua expressão é imediata. A princípio, há choque e depois há prazer.

morally questionable
— Ela elogiou?

— Ela disse que você está levando suas lições a sério e que alcançará
em tempo se continuar assim.

— Isso é legal da parte dela, eu acho. — Ela abaixa a cabeça, mas


Claudia puxa um fio de cabelo, fazendo-a gritar um pouco de dor.

— Desculpa. — Claudia pede desculpas.

Espero que Venezia retruque. Pelo menos é o que a velha Venezia


faria. Em vez disso, ela apenas dá um aceno rápido.

— Quero que você saiba que, desde que se esforce e obtenha seu GED,
você estará livre para ir para qualquer faculdade que quiser.

— Você quer dizer isso? — Ela parece surpresa, e isso me faz sentir
mal porque não consegui comunicar adequadamente minhas expectativas.

— Claro. Você pode se tornar o que quiser. — Eu acrescento, e


Catalina me dá um aceno de aprovação.

— Obrigada... Uau. Isso significa muito.

— Eu também! — Claudia interrompe.

Eu levanto minhas sobrancelhas para ela.

morally questionable
— E o que você quer se tornar?

— Uma advogada. — Ela sorri. — Como você.

Meu coração bate dolorosamente no meu peito.

— Como eu? — Repito de admiração.

— Sim. Mamãe me disse que você prende bandidos. Eu quero fazer


isso também! — Ela está totalmente entusiasmada enquanto conta isso.
Meu olhar vai para Catalina e ela parece envergonhada.

— Espero que você não se importe, contei a ela sobre o seu trabalho.
— Ela diz, dois pontos cor de rosa marchando suas bochechas.

De repente, estou tão honrado com isso.

— De modo nenhum. — Eu me apresso em adicionar. — Que bandidos


você prenderia, Claudia?

Suas sobrancelhas se movem para cima e ela franze os lábios,


profundamente pensando. Ela é tão fofa.

— Essas freiras ruins como Madre Superiora ou Irmã Celeste. Elas


sempre foram más comigo, mamãe e tia Sisi. Uma vez...

— Eu não acho que Marcello queira ouvir isso, querida. — Catalina a


interrompe.

morally questionable
— Não, deixe ela falar.

Eu quero saber. Inferno, eu preciso saber.

Claudia encolhe os ombros. — Elas estavam chamando nomes ruins a


mamãe e sempre estavam dando a ela mais tarefas do que as outras irmãs.
Uma vez ela ficou doente e elas nem permitiram que visse um médico.

— Claudia! — Catalina suspira.

— Isso é verdade? — Eu me viro para ela para perguntar.

— É sim! Eu entendo mais do que você pensa. — Claudia olha para a


mãe com olhos tristes.

E dói. Dói saber o quão ruim elas foram tratadas, e não havia
ninguém lá para defendê-las.

— Você não precisa se preocupar com o fato de sua mãe ser


maltratada novamente, Claudia. Eu prometo a você. — Eu garanto a
ambos.

Ela me considera com olhos esperançosos e estende a mão, o dedo


mindinho no ar. — Promessa de dedinho?

Olho para o dedo levantado e depois olho para ela. Ela está sorrindo, e
não consigo encontrar em mim para recusá-la.

morally questionable
Prendo a respiração e lentamente envolto meu dedo mindinho em
volta do dela.

— Yayy! — Ela pula, tirando a mão da minha.

Meu dedo ainda está no ar. O contato foi tão breve..., mas eu fiz.

Olho para cima e Catalina está me olhando com tanta ternura... Eu


quase quero pensar que é amor.

— Eu quero ser policial então. — Venezia intervém de repente e cruza


as mãos na frente dela, quase chateada que não a tínhamos incluído na
conversa. — Eles pegam os bandidos. — Ela diz presunçosamente.

— Mas... — Claudia franze a testa. — Você não é um homem.

— Por que seria um homem? — Venezia de repente se vira.

— Bem... é policial, certo? Então é um trabalho para um homem.

— As mulheres também podem ser policiais. Pense policiai, se quiser.


— Eu explico. — Eu te disse, você pode ser o que quiser. Seu sexo não deve
impedi-la. Apenas substitua o homem na profissão por mulher e você pode
fazê-lo.

Claudia e Venezia parecem pensativas, mas concordam com a minha


observação.

morally questionable
Enquanto isso, Amelia entra e nos informa que o café da manhã está
pronto.

As meninas correm em direção à sala de jantar, enquanto eu fico para


trás e ofereço meu braço a Lina.

— Você foi ótimo, você sabe? — Ela levanta na ponta dos pés para me
dar um beijo.

— Eu quis dizer tudo o que disse.

— Eu sei. Você é o melhor. — Os olhos dela estão brilhando de calor, e


eu tomo sua boca para um beijo rápido.

— Maldição! — Uma voz se amaldiçoa.

Olho para ver Assisi no topo da escada protegendo os olhos.

— Sisi?

Minha irmã desce casualmente as escadas, ignorando a pergunta de


Lina.

— Sisi, espera! — Ela diz que Assisi vira à esquerda para a sala de
jantar.

— O que? — Ela perde o fôlego.

morally questionable
— O que é isso?

A mão de Lina vai para o pescoço de Assisi e ela move o cabelo para o
lado para revelar uma mancha vermelha.

— Você está machucada? — Ela pergunta, preocupada com a amiga.

— O que? Não... algo deve ter me mordido. — Ela gagueja, os olhos


olhando para qualquer lugar, menos para Lina. — Estou com fome, vejo
você na sala de jantar.

— Estranho... — Lina comenta quando volta ao meu lado.

— Eu concordo. — Eu franzi a testa. Eu tinha notado por um tempo


agora que o comportamento de Assisi havia mudado. Não a conheço o
suficiente para comentar sobre sua personalidade, mas ela é
completamente diferente do que tinha sido no começo.

E há também a questão de ela ser extremamente secreta, mesmo com


Lina. Ela não sai do quarto, e isso me preocupa.

— Guerra quer que Assisi conheça seu filho. — Eu digo a ela, fazendo
careta com o pensamento. Explico nossa conversa e tentei recusar.

— Onde isso nos deixa? — Ela pergunta, mordiscando o lábio inferior.

— Concordei em um encontro casual, nada mais. Não pude recusar e


arriscar um confronto. Ou devo dizer outro confronto. Mas não se

morally questionable
preocupe. Eu disse a ele que seria uma decisão de Assisi no final. Nada vai
acontecer.

— Eu espero que sim. — Ela sussurra, mas claramente não está


convencida.

— Pense nisso como mantendo nossos inimigos próximos. — Eu


adiciono.

Porque certas coisas simplesmente não se somam. E pretendo


descobrir quem exatamente está aterrorizando minha família.

— Eu não pensei que eu estaria sentado em uma sala com vocês dois
novamente. — Adrian cruza os braços quando me considera e Vlad.

Mudamos para o escritório para discutir coisas de natureza mais


confidencial. Catalina, Claudia e Venezia ainda estão na sala,
conversando. Assisi havia sido bastante abrupta em sua partida, mas,
dado seu comportamento ultimamente, não era de todo surpreendente.

morally questionable
— Eu também não pensei. — Eu respondo com desdém. Com toda a
honestidade, não achei que Adrian me perdoasse pelo que tinha feito.
Depois de visitá-lo no hospital, ele apareceu para me dizer que teve algum
tempo para pensar nas coisas e, embora não saiba se pode me perdoar,
está disposto a tentar. Foram boas notícias, considerando que ele é meu
amigo mais querido.

— Vamos lá, rapazes, não sejam tão pessimistas. —Vlad faz um som
de tsk, levantando-se da cadeira e andando por aí, os olhos examinando as
pilhas de livros da biblioteca.

— Por que não chegamos ao ponto?

— O ponto. —Vlad gira em torno, levantando uma sobrancelha.


Adrian geme em voz alta.

É sabido que eles não se dão bem. Adrian tem uma forte aversão a
Vlad por causa de seu relacionamento próximo com sua esposa, Bianca.

Por todo o nosso velho conhecido, nem mesmo eu sabia da parceria de


Vlad e Bianca. Eles se conhecem há cerca de dez anos, sendo parceiros
para trabalhos de assassinato. Vlad é um canhão solto com seus problemas
de raiva, então Bianca acabou sendo a parceira perfeita para ele com seu
temperamento frio. Sem mencionar que ela literalmente cuidava das suas
costas em missões. Vlad prefere assassinatos imprudentes a curta
distância, enquanto Bianca é viciada em suas pistolas e rifles.

morally questionable
— Você disse que tinha novidades. — Eu atiro de volta em Vlad. Eu
me pergunto se ele tem ADD4 ou algo assim porque ele nunca fica parado.

— Notícias? Ah, de fato. — Ele puxa um chiclete do bolso e coloca um


na boca. — Eu falei com Quinn. — Ele se senta novamente, reclinando
para trás e colocando os pés na minha mesa.

Eu levanto uma sobrancelha para ele, mas ele me ignora.

— Como você entrou em contato com ele? — Adrian pergunta.

— O caminho normal. — Ele faz uma careta, como se contemplar que


recorreria à violência fosse uma ideia tão absurda. — Eu passei pela
academia dele.

Por que tenho a ideia de que há mais do que ele está deixando
transparecer?

— Como eu estava dizendo, ele não estava por trás dos ataques. Ele
diz que também não acha que era seu pai. Eles estão um pouco confusos
desde a morte de Jimenez.

— Confusos como?

— Eles perderam apoio e muitos recursos. Pode precisar sair de Nova


York. Voltar para Boston e tudo isso. Eles eram muito próximos, o que eu
achei incomum. — Ele faz uma pausa para mastigar. — Depois que as

4 Transtorno de Déficit de Atençã o.

morally questionable
notícias da morte de Jimenez chegaram aos círculos, todos os cartéis
diferentes que responderam a ele decidiram sair por conta própria. Ortega
ainda é um jogador importante, e acho que também está tentando colocar o
outro do lado. Qualquer que seja o império que Jimenez tenha, ele já está
rachado.

— Isso faz sentido com os dados que eu também tenho. — Adrian


acrescenta. — Conversei com algumas pessoas, pensei que deveria tirar
vantagem disso enquanto ainda estou vivo. — Ele brinca, referindo-se ao
seu plano de fingir sua morte. Como filho de Jimenez e herdeiro designado,
ele seria o primeiro alvo se alguém quisesse recriar o alcance de Jimenez.
— Houve muitos crimes mesquinhos relatados no último mês. Se você
comparar isso com os meses anteriores e anos anteriores, é
definitivamente um desvio.

— Então você acha que, porque de repente eles se viram sem


liderança, ficaram loucos?

— Isso faria sentido. A questão não é a taxa de criminalidade. É o fato


de que essas pessoas estão prontas para colheita. Qualquer um poderia vir
e dar-lhes um propósito. E isso os tornaria perigosos. — Vlad comenta,
seus olhos se concentraram de repente.

— Bem, aconteça o que acontecer, estou fora dessa questão em


particular. — Adrian levanta as palmas das mãos imitando um gesto de
rendição.

morally questionable
— É algo que estou monitorando. — Vlad dá uma olhada nele. —
Afinal, é meu trabalho garantir que o mercado permaneça em equilíbrio.
— Ele pisca para mim. — Mas acho que não vai acontecer exatamente
agora, que dá prioridade ao problema de remessa. Isso e o fato de quem fez
isso tentou culpar os irlandeses. — Ele enfia mais chiclete na boca antes
de continuar. — Embora haja uma coisa que eu notei.

Adrian e eu olhamos para ele com expectativa. Não há como negar


que, apesar de toda a sua instabilidade, Vlad é brilhante — e até brilhante
pode ser um eufemismo.

— De repente, há muito mais clamor nas cinco famílias. Apesar do seu


novo envolvimento, acho que não houve tanto tráfego em Nova York
desde ... — ele morde o interior da bochecha, tentando encontrar suas
palavras, — nos anos 90. Você só precisa olhar para quem está presente.
Quando foi a última vez que os Marchesi pisaram na cidade? E quanto a
Guerra? Nem por um segundo compro que o banquete deveria ameaçar
você. Aposto que Benedicto nem se importa que seu sobrinho desprezível
tenha morrido. — Ele respira fundo e eu posso ver que está ficando
animado. É claro que Vlad sempre fica animado quando se trata de caos e
confusão, e essa parece ser a receita perfeita para ele. — E, finalmente,
temos DeVille. Eles foram os mais ativos. Se eu fosse Benedicto, cuidaria
das minhas costas.

— Você esqueceu Enzo.

Ele descarta minhas palavras com as mãos.

morally questionable
— E você esquece que tenho ouvidos no escritório dele. — Ele ri. —
Ele está se debatendo, embora nada tenha a ver com negócios. Descobri
algumas coisas que são... excitantes. Eu nunca teria adivinhado isso sobre
ele. — Ele sorri timidamente, e Adrian e eu estamos esperando que ele
revele o que sabe.

— Ele não vai contar. — Adrian balança a cabeça, já desistindo.

— Eu não precisarei. Vai sair mais cedo ou mais tarde. —Vlad encolhe
os ombros.

— De qualquer forma, — começo, me afastando desse assunto em


particular. — Pelo que você está descrevendo, estou sentindo que você
suspeita de uma das cinco famílias.

— Bingo. — Sua mão dispara e ele aponta para mim com um sorriso
falso. — Embora, — seu sorriso cai imediatamente, substituído por uma
ligeira carranca. — Eles cometeram um erro por me envolverem também.
Agora me sinto obrigado a intervir. — Ele diz com toda a seriedade.

— Como se você não tivesse feito o contrário. — Eu respondo com


desdém. Ele está sempre envolvido nos negócios de outras pessoas.

— Você pode estar certo nisso, mas não com tanta pompa. Eu já estou
perdendo o sono por isso.

— Eu acho que você está perdendo o sono por outras razões. — Adrian
ri.

morally questionable
— Hastings, você acabou de fazer uma piada? —Vlad se vira para ele,
escandalizado. — Você pode ser salvo ainda. —Vlad se inclina em sua
direção para sussurrar, não muito silenciosamente. — P.S. embora, não foi
tão engraçado.

— De qualquer forma, — limpo minha garganta novamente, sentindo


o conflito iminente. — Se é uma das famílias, isso muda as coisas. Vou
tentar ser mais vigilante. — Eu digo, já passando por tudo o que aconteceu
no banquete e catalogando todos que estavam presentes.

— Bom, porque você tem um problema maior no seu prato. Alguém fez
uma análise sobre o trabalho deste Chimera. — Ele joga um arquivo na
mesa.

— Entendo. — Eu franzo a testa enquanto passo pelos relatórios.


Todos os incidentes de Chimera aconteceram ao mesmo tempo em que
estive na área. É estranho.

— É pessoal. — Eu pronuncio em voz alta o que venho pensando há


um tempo. — E Catalina está sendo alvo porque quem quer que seja sabe o
que ela significa para mim.

Vlad assente, seu olhar intenso.

— Tem que ser alguém ao seu redor. Quem mais conheceria o modo de
agir de Chimera para um T? Outra questão é o porquê agora?

morally questionable
— Veja, pelo que sabemos, começou há dois anos. Eu acho que estão
tentando brincar comigo.

— Jogos mentais. Poderia ser.

— A única outra pessoa que estaria tão intimamente consciente de


Chimera está morta. — Eu acrescento, sabendo que os dois entenderão
meu significado.

— E pessoas mortas não andam por aí matando outras pessoas. —


Adrian responde com desdém. — Eu perguntei por aí, e o FBI está vendo
os casos como prioridade total. Eles trouxeram alguns psicólogos forenses
famosos e criadores de perfis criminais, e tinham algumas coisas a dizer.

— Continue. — Eu aceno para Adrian, curioso para qualquer insight.

— Houve mais cuidado dado às mulheres. E eles sempre estavam


acompanhados por algum tipo de símbolo religioso. Havia um exemplo em
que a mulher tinha uma cruz esculpida na palma da mão, outra em que a
cruz estava fisicamente presente ao lado do cadáver. As opiniões são
realmente divididas. Um perfilador disse que pode ser alguma misoginia
internalizada, falando sobre como a mulher é inferior ao homem em
diferentes interpretações religiosas. Então outro sugeriu o contrário, que o
assassino está dando um cuidado especial às mulheres e que pode ser um
caso de recriar um certo tipo de morte por todo o lado. Por outro lado, os
homens são sempre subjugados aos piores tratamentos, e seus cadáveres
são os profanados.

morally questionable
— Isso é... — Eu franzi a testa, pensando na freira. Dirijo-me a Vlad e
vejo que ele está pensando o mesmo.

— Teoricamente falando, a freira não foi profanada. Era quase como


uma oferta, com a forma como os órgãos foram expostos. Os símbolos
religiosos são certamente mais prevalentes neste caso.

— Você está certo. E a posição dos dentes dentro de sua cavidade... o


ventre dela. — Eu adiciono pensativo.

— Eu acho que é um homem. — Vlad diz de repente, levantando-se. —


Se minha teoria anterior estiver certa, então a freira se ofereceu,
exatamente como uma oferenda. Por que uma mulher faria isso por outra
mulher? Agora tenho certeza de que poderia ser um caso de amor sáfico,
mas quais são as chances, realmente? Minha aposta é em um homem —
um homem muito charmoso. E você está certo sobre a colocação dos dentes.
Temos que pensar nisso como o assassino faria, todos os detalhes são
intencionais. Os dentes podem ser interpretados como um símbolo de
fertilidade; ele está colocando sua semente no corpo dela.

— A freira também foi agredida sexualmente? — Não me lembro de


ter lido isso no relatório forense.

— Não, ela não foi. Mas nenhuma das outras vítimas também foi.

— Certo, pureza, não profanação. — Eu digo, voltando aos conceitos


muito básicos que religião e Chimera têm em comum.

morally questionable
— Sim, as mulheres são tratadas quase com reverência, e os homens
opostos.

— Acho que estamos indo para o fundo do poço. — Adrian levanta a


mão. — Você está investigando isso demais. Você realmente acha que tudo
é um símbolo?

— Essa é a coisa. O modo de agir original do Chimera era apelar aos


instintos mais básicos. Ele usaria intencionalmente quaisquer referências
pessoais para provocar uma reação forte. — Vlad menciona, me dando um
olhar lateral.

— Então por que não tentamos olhar as pistas através das lentes de
Marcel? Se ele é o alvo, os símbolos estão diretamente conectados a ele.

— Uma mulher com fortes conexões religiosas? — Eu dou uma risada


seca. — Acho que conheço algumas delas.

— Certo. —Vlad diz de repente, franzindo os lábios. — Bem, vamos


toma-las um por um.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE

Quinze Anos

Com um último corte, jogo a faca no chão e pego um pano para limpar
o sangue. Vou ao banheiro e me olho no espelho.

morally questionable
Porra, o sangue realmente chegou a todos os lugares desta vez. Até
meu cabelo loiro agora está manchado de vermelho. Ligo a torneira e
espirro um pouco de água no rosto.

Quando volto para a sala, o pai já está lá inspecionando meu trabalho.

Existem quatro corpos sem vida no chão. Essa foi uma das minhas
sessões de tortura mais intensivas, já que eles não pareciam temer um
adolescente como um adulto.

Eu tinha provado que eles estavam errados.

Levei duas horas para quebrar o primeiro homem. Os outros seguiram


rapidamente, o que provou minha teoria de que seriam mais maleáveis se
vissem o que aconteceu com seus amigos.

O pai se abaixa e inspeciona os golpes mortais, com as sobrancelhas


franzidas.

— Você tem certeza que conseguiu tudo? — Ele se muda para o


próximo cadáver e faz o mesmo.

— Sim, Senhor. — Eu respondo, dirigindo-me a ele como devido.

— Isso foi rápido. — Ele se levanta, parecendo pensativo. — Eu tenho


que dizer, garoto, — ele faz uma pausa e eu me encolho mentalmente com
o uso dele de Garoto, — Estou impressionado. — Ele não parece assim. De

morally questionable
fato, sua expressão mostra quanto custou admitir isso. Afinal, sou sempre
a decepção.

Eu não respondo. Mesmo seus elogios não podem mais me afetar. Ao


contrário, eu me vejo ficando mais frio.

— Acho que finalmente chegou a hora do próximo passo. — Pai me


olha, quase relutante no que está por vir.

Eu simplesmente aceno.

Nos últimos anos, aprendi que quanto menos falo, menos me revelo ao
mundo. Dessa forma, ninguém encontrará falhas ou fraquezas em mim.

Eu simplesmente sou.

Minha existência é servir a famiglia e fazer o trabalho sujo do pai.


Cheguei a um acordo com o fato de que não posso mais ser nada.

Eu sou, mas eu não sou.

Mesmo a noção de dor não pode mais me afetar. A dor física é


exatamente isso — física e, como tal, efêmera. Eu posso fechar meus olhos
e me dissociar.

Dor emocional... Isso não desaparece. Então eu faço a única coisa que
posso. Eu paro de sentir.

morally questionable
— Vou mandar alguém limpar isso. — Ele aponta para os cadáveres
antes de adicionar. — Vamos ver como você se sairá na posição que tenho
em mente. — Ele se vira para a saída.

Eu lhe dou um rápido aceno, seguindo.

— Há uma razão pela qual as pessoas não mexem conosco. — Pai


continua me levando a uma área do porão em que não estive até agora.

— Não que eles não queiram, mas que não ousam. — Ele sorri, o
orgulho refletido em seu olhar.

Ele abre a porta e, por dentro, vejo um homem amarrado a uma


cadeira.

A sala é muito menor do que qualquer outra, mas nunca vi tantos


instrumentos de tortura em um lugar antes.

— Há uma tradição em nossa família. Os filhos mais novos são


treinados para servir seu Capo, que é o que tenho feito com você até agora.
Todo teste que eu fiz foi para isso. — Ele me move em direção ao centro da
sala.

— Você provou estar além das minhas expectativas. — Pai murmura,


e é a primeira vez que ele não me ataca. — Mas agora você deve passar no
seu maior teste.

morally questionable
— Sim, Senhor. — Eu confirmo. O que pode ser pior do que o que
passei até agora? Eu quase quero rir desse pensamento.

Sim, o pai fez algo certo, e isso está apagando a pouca humanidade
que me restava.

— Você vê, — ele começa examinando os instrumentos de tortura, —


sempre há um aluno eminente que se dá bem com isto. —
Inesperadamente, o pai está animado com alguma coisa.

— Quando alguém erra com a famiglia, temos que retribuir. Mas


nosso tipo de retribuição é um pouco diferente.

Ele pega uma faca comprida, testando sua afiação, passando-a pelo
dedo indicador.

— Chegamos onde dói mais e os informamos porquê e quem fez isso.

O pai caminha para o prisioneiro e, usando a ponta da faca, ele


remove sua mordaça.

— Romero Santos. Quer contar ao meu filho sobre o seu crime? Você
tem a chance de confessar seus pecados. — Os lábios do pai são
desenhados em um sorriso sardônico.

Eu movo meu olhar para o prisioneiro e o considero como ele está


respirando profundamente, suor caindo pelo rosto.

morally questionable
— Eu não sabia, eu juro. Eu pensei que ela tinha dezoito anos. — Sua
voz está implorando, e seus olhos saltam entre mim e o pai antes de se
estabelecer em mim. Em um tom suplicante, ele se dirige a mim.

— Por favor, por favor! Eu tenho uma família.

— Exatamente! — Pai interpõe, batendo no homem atrás da cabeça.


— E sua família saberá o que você fez. Isso deve mostrar às pessoas o que
acontece quando você mexe com alguém da nossa família.

— O que aconteceu? — Finalmente pronuncio, apontando a pergunta


para meu pai.

— Nada, eu juro. Ela queria isso! — Olhos inchados, ombros caídos, o


homem está tentando o seu melhor para professar sua inocência.

Irritado com a explosão, o pai coloca a faca, com a ponta afiada para
dentro, na boca de Romero.

— Agora ele está quieto. — Ele balança a cabeça, exasperado. — Este


homem, que a propósito tem 28 anos, seduziu e engravidou a filha de um
de nossos soldados.

Inclino a cabeça, absorvendo as informações.

E?

Não exprimo essa pergunta, pois o pai continua.

morally questionable
— Ela tem doze anos.

Minha expressão muda imediatamente, meus olhos em branco.

— Estupro? — Eu me viro para o pai.

— Isso importa? — Ele pergunta, encolhendo os ombros. Claro que


não importaria para o pai. Para ele, o estupro não é tão ruim assim em
primeiro lugar. Não é como se eu não ouvisse sua nova esposa gritando o
tempo todo em casa.

Não, isso é sobre orgulho. Romero ousou tocar uma filha da famiglia e
ele deve pagar por isso. Engraçado, mas se o pai tivesse feito a mesma
coisa, e eu sei que ele já fez isso antes, teria passado despercebido.

Eu educo minhas feições mais uma vez, concentrando-me no


estuprador na minha frente.

Doze. Ela tem doze anos. Isso é ainda mais jovem do que eu era
quando... Eu paro essa linha de pensamento. Sempre me deixa mal
pensando nesse encontro ou em qualquer um dos subsequentes.

— O que você quer que eu faça? — Eu pergunto.

— Entregue a mensagem. Personalize. Dê um castigo e um aviso ao


mesmo tempo.

Eu aceno.

morally questionable
Pai me considera por um segundo antes de virar para sair.

— Você tem duas horas.

Eu entendo. Este também é um teste.

Quando me resta Romero, ele tagarela, implorando para que eu o


salve. Nem ouço seus pedidos de ajuda pesquisando as ferramentas à
minha disposição.

Estupro.

Ele é um estuprador.

Um pequeno sorriso puxa o canto dos meus olhos, ansioso por isso
pela primeira vez.

Deixei de lado alguns instrumentos. Virando, tiro a faca da sua boca.


Olho por cima de sua forma, minha mente inventando novas ideias.

Personalize.

Eu posso ter exatamente a coisa certa.

Coloco a mordaça de volta na boca dele, sem querer ouvir seus gritos

Pego a alça da faca com facilidade treinada, colocando-a em ângulo.


Segurando a ponta do nariz, cortei a pele e a cartilagem. Ignoro o tremor

morally questionable
do corpo dele como vi através do material, cortando da maneira mais
eficiente possível.

A única pele restante é presa aos ossos nasais. Vou precisar disso um
pouco mais tarde.

Por um segundo, olho para ele, sangue escorrendo pelo rosto, nariz,
um orifício aberto, cercado por vermelho. Se Vlad estivesse aqui, ele ficaria
muito feliz em inspecionar o interior de seu sistema olfativo.
Momentaneamente, fico impressionado com um pensamento — quão bem
ele pode cheirar agora? Todo o meu tempo gasto com Vlad me estragou.
Agora eu penso como ele.

Jogo fora o pedaço de carne e tiro sua mordaça. Romero soluça


imediatamente, com os olhos colados no nariz no chão.

— Você realmente não sabia? — Eu pergunto a ele.

— Não... não, eu juro. — Ele balança a cabeça, lágrimas caindo pelo


rosto. Tolo, provavelmente vai doer quando tocarem a ferida. Não é da
minha conta.

— Mesmo? — Eu pergunto, continuando minha inspeção do seu corpo.

Pai quer algo criativo. Minha mente volta às agulhas e fios que eu
tinha visto entre as outras ferramentas.

morally questionable
Meus olhos se enrugam com alegria oculta. Eu tenho exatamente a
coisa. A faca desce em direção à virilha. Romero fica visivelmente mais
aterrorizado.

— Eu sabia ok? Eu sabia. Ela me disse. — Ele deixa escapar.

— Hmm. É mesmo? — Eu levanto meus olhos para que ele possa ver
que nada pode me influenciar.

Eu sou o que sou. E por causa disso, ele não tem chance.

— Sim... Eu a convenci... Por favor, me deixe ir. Eu vou me casar com


ela, ok?

— Mas Romero, — começo, minha voz é o epítome da falsidade. — Ela


tem doze anos. — Eu digo com uma voz aguda, como se quisesse enfatizar
minha posição.

Ele empalidece, percebendo que não há saída.

Trago a faca para a virilha e recortei o material até chegar ao pau


flácido e molhado. Ele se mijou.

Olho para Romero, levantando minhas sobrancelhas em questão. Ele


ainda está tremendo. Esperando mais dois minutos para garantir que ele
não mije em mim; eu posiciono a faca na raiz do pau dele e corto. É um
corte limpo, ele grita, música para os meus ouvidos. Um golpe fácil e seu
pau cai, separado de seu púbis. Usando dois dedos, eu pego e jogo no chão.

morally questionable
Agora suas bolas...

Todo o seu púbis está uma bagunça, o sangue se acumulando


rapidamente e se misturando com o mijo da uretra cortada. Eu supero meu
desgosto em breve, enquanto corto suas bolas, certificando-me de separá-
las através de uma incisão no meio. E só para que ele possa sentir mais
dor, eu faço isso antes de cortá-los do corpo.

Ele grita e lamenta até que sua garganta esteja dolorida.

Não vou mentir, essa era minha intenção o tempo todo. Eu sei que o
pai está me monitorando de perto.

Com toda a genitália separada do corpo, de repente tenho medo de que


ele sangre.

Não, isso não faria.

Dou um passo atrás e penso nas minhas opções. Pesando tudo, aceno
para mim mesmo e volto para os instrumentos. Pego o kit de costura e
volto para o lado de Romero.

Eu tiro sua mordaça e a enfio entre as pernas, para que ele não morra
antes que seja a hora. Então começo a costurar meticulosamente o pau
dele no nariz. A cartilagem do que resta do nariz são escorregadios, então
eu uso uma faca menor para separar um pouco da pele do osso. Seguro o
órgão e enfio a agulha na pele. Não é exatamente fácil acompanhar meus
pontos com todo o sangue ainda vazando do pau, mas eu me contento.

morally questionable
Romero para de se mover.

Franzindo a testa, verifico o pulso e ele ainda está vivo. Ele deve ter
desmaiado de dor.

Eu encolho os ombros e continuo focando na minha tarefa. Quando o


último ponto é feito, me afasto para examinar meu trabalho.

Entretanto, ter um pau no nariz definitivamente sinaliza seus crimes,


ainda não parece suficiente. Meu olhar passa pelas bolas abandonadas e
tenho uma ideia.

Como elas já estão separadas, é mais fácil trabalhar com elas, e eu


coloco cada bola em uma orelha. Elas ficam baixas, como brincos, seu peso
puxando a orelha.

Romero parece exatamente como ele agiu — com o pau em vez do


cérebro. Seu pênis está caído no rosto e nos lábios, quase como uma tromba
de elefante. Outro pensamento brilhante me passa pela cabeça e, usando
meus dedos, abri a boca e enfiei a cabeça do pau dentro.

Legal. Sinto-me satisfeito com este trabalho.

Mas ainda. Há mais um problema.

Ele não está morto.

morally questionable
Com cuidado para manter minha obra-prima, uso um machado grosso
para uma decapitação rápida. Deixando o corpo sem cabeça para trás, pego
a cabeça recém-adornada e a coloco em uma bandeja.

E é assim que o pai me encontra.

Seguindo seu zumbido de aprovação, eu diria que passei neste teste.

Romero... nem tanto, como sua família descobrirá em breve.

Dezessete Anos.

— Sério? — Eu encosto contra a porta de madeira, levantando uma


sobrancelha na carnificina diante de mim. — Você realmente não podia se
controlar? — Eu balanço a cabeça, não muito interessado no trabalho que
tenho que fazer.

morally questionable
— Eu perdi o controle. — Vlad chia, cuspindo um pouco de sangue.
Ele limpa a boca com as costas da mão, uma carranca no rosto. Ele sente o
rosto por alguns segundos. — Oh, não é meu. — Ele respira aliviado.

— Quer me dizer como o sangue que não é seu acabou na sua boca? —
Eu pergunto sarcasticamente.

Ele sorri para mim, mostrando dentes brancos manchados de


vermelho. — Eu poderia ter conseguido dele também. — Ele brinca, mesmo
tendo certeza de que não consegue se lembrar do que aconteceu.

Desde que começamos a trabalhar juntos, notei isso sobre Vlad. Ele se
torna uma máquina de matar, mas perde a cabeça ao mesmo tempo. Não é
exatamente... confiável. É aí que eu entro.

Dou um passo à frente, meu lábio enrolando de nojo.

Membros cortados, órgãos triturados, torsos estripados.

— Você sabe que eu tenho que limpar depois de você, não?

— Não é esse o objetivo disso. —Vlad acena o dedo entre nós dois. —
Eu destruo e você repara? É a sua arte.

— Seria mais fácil se você não... enlouquecesse nos alvos. — Eu


examino os restos mortais, tentando elaborar um plano para reuni-los
novamente. Afinal, deveríamos enviar uma mensagem pela cena do crime.

morally questionable
A única mensagem que você receberia disso é que um animal selvagem
havia escapado do zoológico e feito uma visita a essas pessoas.

— Às vezes me pergunto se você é um híbrido de animais e humanos.


— Eu murmuro em voz alta. Vlad da risadinhas no meu comentário.

— Você está com ciúmes. — Ele mostra a língua para mim. Às vezes
esqueço que ele é adolescente.

— Ciúmes do que? De ficar com o intestino preso entre os dentes? Eu


acho que vou passar.

— Foi uma vez, ok? Eu tenho pesadelos suficientes sobre isso, não me
lembre. — Ele levanta uma mão e a outra massageia sua testa. Drama
queen.

— Ou, — eu paro, um sorriso puxando meus lábios, — não perceber


que tem uma costela no cabelo e sair assim?

— Foi uma vez também. —Vlad suspira. — E era uma costela


flutuante. Essas coisas podem ser pequenas.

— Certo. A partir de agora, faça suas vítimas fazerem um exame de


sangue. Você sabe, apenas no caso de você acabar engolindo outras partes.

— Eu faço, de fato. — Ele diz indiferentemente, focado no espelho na


mão e tentando limpar os dentes.

morally questionable
— Certo. — Repito ironicamente.

— Estou falando sério. Eu nunca faço uma tarefa se eles tiverem


alguma doença sanguínea. — Ele espreita a cabeça por trás do espelho. —
Eu não sou tão imprudente.

— Você está falando sério?

— Hum. — Ele assente e começa a assobiar, me ignorando.

Respiro fundo e levanto as mangas. Bem, é hora de começar.

Existem três homens no total. Parte da rede de distribuição, eles


foram pegos enchendo os bolsos com dinheiro que não era deles.

Ganância.

Esse é o pecado deles e pelo que eles serão lembrados.

Olho em volta, já imaginando o produto acabado.

— Quanto tempo você levará? — Vlad interrompe meus pensamentos.


Viro a cabeça um pouco e ele está se sentado confortável em um canto.

— Vá em frente, durma. — Eu digo irreverente, sabendo que é


exatamente isso que ele quer fazer.

— Brincadeira. Me acorde quando terminar.

morally questionable
Eu grunhi, voltando à minha tarefa. Pego minha mochila e pego meu
kit. Vlad não facilitou meu trabalho.

Um homem é cortado ao meio, seus órgãos se derramando. Outro tem


seus membros cortados, enquanto o terceiro está relativamente inteiro,
além de sua cabeça que está a alguns metros do corpo.

Decido usar o terceiro como a tela principal. Removendo os grampos


médicos da minha bolsa, eu os deito no chão ao lado do meu kit de costura.
Então eu monto as peças.

Pego o torso vazio do primeiro homem e o coloco ao lado do corpo sem


cabeça e do que está faltando nos membros. Eu já tenho experiência
suficiente para saber o que vai atrair os sentidos — o que vai aterrorizar e
horrorizar.

Antes de mais nada, retiro todos os órgãos, deixando-os de lado para


uso futuro. Então, eu garanto que os membros estão completamente
cortados.

Finalmente, tiro uma serra e serro as costelas, removendo o lado


direito do primeiro tronco, toda a caixa torácica do segundo e o lado
esquerdo do terceiro. Garanto que a coluna ainda esteja no lugar de cada
corpo. Então, pegando a pele solta do primeiro tronco, eu a grampeio para
o segundo e depois para o terceiro, garantindo uma continuação
frankensteiniana.

morally questionable
Ainda soltos, os três torsos estão agora unidos, simulando trigêmeos
siameses.

O meio está vazio, já que removi toda a caixa torácica daquele corpo
em particular. Para tornar a transição perfeita, uso as costelas
descartadas para construir uma réplica maior de uma caixa torácica. Pego
um martelo e algumas unhas e conecto o lado direito ao lado esquerdo com
as costelas restantes.

Leva meia hora para encaixar as peças. Mas, no final, os torsos


parecem compartilhar uma cavidade torácica.

Usando fita, prendo os espinhos nas costas, antes de passar para o


pescoço. Cortei e descartei qualquer pele desnecessária para criar um
diâmetro maior dos três pescoços. Depois, prendo-os juntos, certificando-
me de que eles aguentarão a peça final.

Voltando minha atenção para a cavidade torácica, recuperei os órgãos


e os enfio dentro do espaço vago. Coloquei os corações, pulmões, fígados,
bexigas, rins e estômagos nas costas, usando-os para aumentar o volume
mais do que qualquer coisa. Então eu volto minha atenção para o intestino
e os grudo todos juntos, convertendo-os em uma longa mangueira orgânica.

Partindo do fundo, espalhei o intestino de maneira labiríntica,


intercalando-o com os outros órgãos. Quando chego ao fim, deixo-os cair
por um momento.

— Você terminou? — Vlad pergunta em um tom entediado.

morally questionable
— Ainda não. Você também pode me ajudar se estiver acordado.

— Ugh, tudo bem. — Ele tagarela alguma coisa, mas vem ao meu
lado.

Ele examina minha obra, reconhecendo-a com relutância.

— E agora?

— As cabeças. Eu preciso quebrar os crânios.

— O que você quer fazer? — Ele estreita os olhos para mim, antes de
perceber. — De jeito nenhum! Você está falando sério?

— Sim. Deve ser viável.

— Você não pode controlar como eles vão quebrar. — Ele acrescenta.

— Eu vou colocá-los juntos. Eu preciso dos crânios quebrados, não


importa como.

— Bem. — Ele balança a cabeça antes de começar a esmagar


violentamente os crânios no chão. Sim, eu não esperava muitas peças. Isso
é muita reconstrução.

— Você fez isso de propósito! — Eu o acuso, especialmente depois de


ver sua boca erguida.

morally questionable
Ele encolhe os ombros.

— Eu não sei como ninguém te renomeou até agora Berserker. — Eu


dou uma olhada nele, sabendo que ele odeia o apelido. — Tão selvagem,
não admira que ninguém queira namorar você. — Eu finjo balançar a
cabeça em desespero.

Vlad apenas levanta uma sobrancelha, não afetado.

— Eu também não gostaria de namorar comigo. — Ele diz, de cabeça


para baixo.

— Certo, Casanova, ajude ou volte a dormir.

Ele faz beicinho, olhando entre as peças quebradas e os torsos. Seus


olhos se estreitam antes que ele dê um suspiro profundo.

— Tudo bem, eu vou ajudar.

Um sorriso ameaça aparecer no meu rosto, mas eu educo minhas


feições. Há uma coisa que posso ter certeza com Vlad — ele é incrivelmente
facilmente entediado. Ele precisa de algo para desafiá-lo constantemente,
ou ele se torna um pé no saco.

— Ajude-me a colar em pedaços que você quebrou na forma de um


cálice, mas sem fundo.

morally questionable
— Hmm. — Ele traz um dedo ao queixo processando as informações.
— Você quer fazer isso como um funil?

Meus olhos se arregalam de surpresa com seu pensamento rápido.

— De fato. — Eu respondo.

Antes de começarmos a trabalhar, pego os cérebros e os separo dos


fragmentos de osso, colocando-os de lado.

Então o trabalho meticuloso começa. Colamos os fragmentos até que o


cálice em forma de funil comece a se formar. Leva horas para concluirmos
em um grau satisfatório.

— Acabei. —Vlad passa a mão sobre a testa, apoiando-se nos


cotovelos. — Isso é chato.

Sim, não posso dizer que não esperava isso.

— Você pode ir. — Eu o dispenso. A escultura óssea está quase pronta.


Eu não preciso mais dele. No entanto, ele não se mexe.

— Eu quero ver a coisa acabada. — Eu balanço a cabeça para ele, mas


continuo focando na minha tarefa.

Quando o crânio sem fundo recém-construído estiver pronto, eu o


coloco no pescoço aumentado. Ainda há cabelos e couro cabeludo do lado de

morally questionable
fora, o que trai as transições sem costura em que trabalhei tanto, mas,
infelizmente, não tinha besouros que comessem carne à mão.

Quando as peças estão conectadas, coloco o cérebro dentro,


aglomerando-o em direção à parte estreita do funil para garantir que ele
não desmorone. Então, chego dentro da cavidade torácica e, com alguma
dificuldade, conecto o intestino ao pescoço e depois o grampo à matéria
cerebral.

Feito, mas...

Esta obra-prima exigirá uma audiência antes de ser concluída.

— Precisamos mover isso com cuidado. Você pode gerenciar isso? E eu


te encontro no armazém em uma hora?

Vlad suspira, exasperado, mas sei que, apesar de toda a sua exibição
imatura, ele é muito meticuloso em seu trabalho. Tanto que eu sei que a
exposição será intocada no destino.

— Bem. Onde você está indo?

— Eu preciso da última peça. Precisa ser uma exposição interativa. —


Eu explico.

Ganância.

Eles verão a ganância.

morally questionable
Uma hora depois, estou no armazém, uma bolsa cheia de amigos
peludos, e não da variedade doméstica.

Vlad está do outro lado, ao lado da exposição, sua expressão


claramente irritada.

— Você está atrasado. — Ele observa quando me vê, levantando a


mão para me mostrar o relógio.

— Dois minutos. — Eu gemi.

— Dois minutos tarde demais. Vamos fazer isso. Eu tenho coisas para
fazer. — Ele diz de uma maneira cortada. Sim, duvido que ele tenha algo a
fazer. Muito parecido comigo, Vlad é um solitário. Ainda mais do que eu,
ninguém se associaria voluntariamente a ele. Com sua natureza volátil,
você nunca sabe quando ele vai surtar.

Dou-lhe uma olhada antes de revelar a parte superior da obra de arte.


Pegando na minha mochila, agarro os ratos que trouxe — ratos de Nova
York — e os deixo em cima do cérebro. Quando eles começam a corroer a
matéria orgânica, eu aceno para Vlad e tiramos o lenço dele.

Pessoas de Bratva e Famiglia estão dentro do armazém, juntamente


com trabalhadores e outros funcionários essenciais. E todos estão
presentes para testemunhar.

Ganância.

morally questionable
Nem exige uma introdução, pois as pessoas param para olhar,
algumas ficam enjoadas, outras desmaiam.

Os ratos fazem um excelente trabalho da matéria cerebral antes de


atingir o intestino e, como Hensel e Gretel, seguem o labirinto de órgãos.
Tudo é visível do lado de fora.

— Como você chamaria isso? — Vlad pergunta de repente.

— Este? Eu não sei. Arte? — Eu brinco, mas ele nem está dando um
sorriso.

— Você sabe, se eu sou Berserker, você também deve ter seu próprio
nome. Vamos ver...

— Frankenstein? — Eu ri com o pensamento.

— Não. — A sua expressão é séria. — Muito feito pelo homem.


Precisamos de algo mais poderoso. Mítico.

— Hmm, — eu murmuro, mas não o levo exatamente a sério.

— Chimera. — Ele diz de repente.

— Chimera?

morally questionable
— Uma criatura de misturas. Não é inteiro, mas não falta. E acima de
tudo — aterrorizante. —Vlad se vira para mim, aguardando minha
resposta.

— Chimera, — repito, testando o nome. Na mitologia grega, era um


híbrido animal que respira fogo que incutia medo nas pessoas.

Não é ruim... nada mal.

Porque eu também me tornaria. Um nome tão temido, quase mítico


em reputação.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E UM

Um sentimento de pavor se acumula no meu estômago. Eu mudo


inquieta na cama, tentando fugir do que sei que está por vir. Mesmo no
meu estado sonolento, posso reconhecer os sinais. O suor escorre da minha
testa. Meus punhos se apertam ao meu lado em um esforço para evitar
isso.

Então, de repente, eu estou lá. Naquela sala. De bruços, amarrada a


uma mesa.

morally questionable
Meu coração está batendo alto. Acho que ouço vozes, mas não consigo
me concentrar no que elas estão dizendo. Não quando há dor rasgando
minhas costas. Eu sei que já desmaiei antes e, por um tempo, estou dentro
e fora da consciência. Mas a dor está sempre lá.

Eu me movo contra meus limites e gemo em agonia.

Quando isso vai acabar?

Depois, há alguém ao meu lado, acariciando meu cabelo e me


oferecendo algo para beber. Eu mal consigo discernir uma figura, mas seus
olhos têm um movimento de âmbar neles. Estou tão sedenta que bebo
avidamente, embora minha posição dificulte o deslocamento do líquido
pela garganta, muito derramando no rosto e no cabelo.

Eu soltei uma respiração dura, quase sufocando.

Eu pisco duas vezes, minha visão está ficando nebulosa. É como se


tudo estivesse se movendo em mim.

O que eles me deram?

Estou vagamente ciente de alguém desvinculando minhas restrições e


depois me arrastando para fora da mesa. O vestido que eu usava de
repente se levantou sobre meus quadris e alguém está me tocando lá.

Eu mal posso me mover, meu corpo muito lento.

morally questionable
Eu nem luto quando meu corpo é invadido. Mesmo no meu estado
mental nublado, sinto a dor de ser rasgada ao meio. É cortante, tão afiado.
Meus olhos ardem com lágrimas caídas, minha boca se abre com um grito
que não sai.

Então para.

Eu quase suspiro em alívio. Mas é muito cedo para ter esperança.

Metal frio me bate sob o queixo. Eu tento entender o que está


acontecendo ao meu redor, mas o metal continua cavando minha carne de
maneira ameaçadora.

Eu vou morrer?

Eles vão atirar em mim. É isso. No interior, estou hiperventilando,


mas por fora não consigo nem mexer um dedo.

A arma fica lá, colada a mim.

Então a dor recomeça.

Dentro e fora.

Eu pulo da cama, respirando com severidade, dando um tapinha no


meu lugar para ter certeza de que estou bem.

morally questionable
Foi apenas um pesadelo... o mesmo pesadelo que sempre tive desde
aquela noite. Meus olhos estão enevoados de lágrimas. Eu pensei que
tinha passado por isso... Eu pensei que finalmente tinha deixado isso para
trás.

— Lina? —Marcello pergunta grogue, sentado na cama. — O que está


errado?

— Nada. — Eu balanço minha cabeça e tento um sorriso calmante.


Ele franze a testa, não comprando minha explicação. A mão dele vai para o
meu pescoço, sentindo a umidade agarrada à minha pele.

— Lina, o que aconteceu? — Ele me puxa para mais perto, com os


braços em volta de mim.

— Eu sonhei com aquela noite. — Eu sussurro. Marcello endurece ao


meu lado.

— Você quer falar sobre isso? — Ele escova os lábios sobre a minha
testa.

— Eu não me lembro muito. Tudo está embaçado. Eu tenho algumas


impressões e... dor. — Estremeço ao me lembrar desse aspecto. Marcello
não pergunta mais, e me aconchego mais perto dele, me sentindo
imediatamente mais à vontade.

morally questionable
Compreendo que ele nunca me perguntou sobre o que aconteceu ou
sobre o pai de Claudia. Enzo deve ter lhe contado a versão curta, e ele teve
a gentileza de não falar disso. Ele nunca me envergonharia por isso.

— Você está segura agora. Vou mantê-la segura, prometo. — A


sinceridade em sua voz causa um arrepio na minha espinha.

Viro a cabeça e o beijo, querendo esquecer tudo. Ele deve sentir a


mudança em mim porque me deita nas costas e me cobre com o seu corpo.

— Me faça sua. — Eu me abro para ele, pedindo-o.

— Você é Lina. — Sua mão acaricia meu rosto, seus olhos me


encarando com uma intensidade que quase me assusta. — Você sempre
será minha.

— Você realmente pensa que Sisi irá com ele? — Eu franzi a testa e
começo a andar. Marcello de repente recebeu uma ligação de Benedicto,
que se convidou.

— Conversei com ela e expliquei que precisamos monitorar os Guerra


para ver se eles tinham alguma coisa a ver com o assassinato da freira. Ela
não era muito contra e disse que estaria em seu melhor comportamento.

morally questionable
— Você também a avisou sobre o filho deles?

— Eu disse a ela para ser gentil com ele. — Marcello diz e se move
para vestir a gravata.

— Eu ainda estou preocupada. Não quero Claudia por perto quando


chegarem aqui.

— De acordo. Vamos ver se a Sra. Evans pode ficar mais um pouco.

— Signor Lastra, o Signor Guerra e sua família estão aqui. — Amelia


bate para anunciar.

Marcello dá um aceno apertado e me oferece o braço.

Na sala de estar, cumprimentamos os convidados e assisto


desajeitadamente enquanto tentamos conversar. Os tópicos são muito
mundanos, mas não posso deixar de me sentir fora do meu elemento. A
única coisa em que consigo pensar é no dedo que encontrei na sopa e nas
ameaças... ter essas pessoas em minha casa é um pouco perturbador, para
dizer o mínimo.

Marcello também não parece muito entusiasmado com isso, pois ouve
Benedicto falar com meia atenção.

Pouco tempo depois, e depois de um discurso mais tedioso, Sisi desce.

— Boa tarde. — Ela diz, e Marcello prossegue com as apresentações.

morally questionable
— Meu filho, Rafaelo, é um pouco tímido. Mas espero que você possa
prosseguir. — Cosima entra, dando um tapinha nas costas do filho. O
pobre garoto parece encolher com o contato, concentrando sua atenção em
Sisi.

— P-p-prazer... e-e-m... encontrar você. — Ele estende a mão e Sisi a


aperta com um sorriso gentil.

— Lastra, por que não deixamos as mulheres e as crianças fazerem


suas coisas e podemos discutir alguns negócios. — Benedicto interpõe,
levantando-se.

Marcello relutantemente assente, mas ele não parece muito feliz com
a noção. Ele me dá um sorriso breve e triste antes de sair.

— Assisi, que nome adorável você tem. — Cosima começa, sua voz é
um tom meloso e irritante. Ela olha Sisi de cima a baixo, um pouco
carrancuda, estragando suas feições. Ela rapidamente educa sua expressão
e continua com gentilezas.

— Obrigada. — Sisi responde, sua pose e maneiras sem censura.


Ainda assim, esta não é o Sisi que eu conheço.

— Agora, diga-me, quais são seus pensamentos sobre o casamento? —


Cosima sondas ainda mais.

— M - M – mãe. — O filho dela interrompe, — p... Pare.

morally questionable
— Bobagem, Raf. — Ela acena com a mão e vira novamente para Sisi.

— Eu não pensei nisso desde que deveria fazer meus votos antes de
deixar Sacre Coeur. — Ela responde cordialmente, mesmo que eu veja que
não está satisfeita com essa linha de interrogatório.

— Há tempo suficiente para isso, querida. — Cosima diz


superficialmente. — Por que vocês dois não vão lá e se conhecem melhor?
— Ela finge um sorriso quando aponta para o outro sofá no final da sala.

— Mas, — estou prestes a intervir, não gostando disso. Cosima, no


entanto, fala novamente.

— Não se preocupe, Catalina, eles ainda estarão à nossa vista. Nada


de impróprio vai acontecer. — Ela tenta brincar, mas não me divirto.
Principalmente porque não confio em ninguém da famiglia.

Eu concordo com relutância e Sisi e Rafaelo se sentam em um canto


mais distante.

— Agora também podemos conversar ininterruptamente, não? — Ela


sorri conscientemente, como se fosse isso que ela pretendia desde o início.

— Certo. — Eu digo, cautela no meu tom.

— Eu tenho que perguntar. Estou curiosa desde que te conheci. Por


que você se casou com Marcello? Você não poderia ter encontrado outra
pessoa? Quero dizer, — ela me estuda. — Você é uma garota bonita. Tenho

morally questionable
certeza de que poderia ter encontrado alguém para desconsiderar, — ela
faz uma pausa, como se estivesse procurando as palavras certas. — O que
eles precisavam desconsiderar. — Ela sorri desajeitadamente. Sim, esse é
definitivamente o melhor eufemismo que ouvi até agora.

— Eu queria me casar com ele. — Eu respondo com o máximo de


confiança possível. Verdade a ser dita, não sei se havia outras opções. Mas
no momento em que Enzo mencionou Marcello, eu aproveitei a chance.
Não sei por que o queria tanto, mas acho que ele deixou uma profunda
impressão em mim quando o vi no Sacre Coeur.

— Mesmo? — Ela se inclina para trás, horrorizada.

— Sim, porque? — Agora é a minha vez de franzir a testa. O que ela


teria contra Marcello? Qualquer mulher com dois bons olhos podia ver
como ele é um problema.

— Bem, além de sua aparência, que é concedida como superior, sua


reputação é uma das mais manchadas que já ouvi falar.

— O que você quer dizer?

— Você não ouviu? — Ela inclina a cabeça, uma sobrancelha


levantada.

— Eu não sei o que você quer dizer. Estou ciente de que ele vive fora
da famiglia nos últimos dez anos, — começo, mas ela me interrompe.

morally questionable
— Oh querida, quero dizer antes disso. Marcello e seu pai tiveram o
pior tipo de reputação. Nenhuma mulher que se preze teria sido pega
tendo alguma conexão com eles.

— Por quê? — Estou confusa. Por um lado, estou curiosa para ouvir do
que ela está falando, mas, por outro, não sei se acredito em uma palavra
que ela diz.

— Oh, meu Deus, — ela levanta a mão na boca. Então, ela


rapidamente olha em volta, como se o que estava prestes a transmitir fosse
de maior sigilo.

— Você não descobriu isso de mim, mas, — ela se inclina para


sussurrar, — costumavam frequentar bordéis e se envolver nos atos mais
desprezíveis. — Ela olha para a porta novamente, antes de adicionar,
claramente escandalizada. — Em grupos!

— Eu não entendo. — Minhas sobrancelhas se confundem.

Cosima parece frustrada com a minha pergunta.

— Eles foram para orgias. Todo mundo sabia. Eles foram aos eventos
mais depravados; as coisas que as pessoas diriam sobre o que aconteceu
nesses eventos... — Ela balança a cabeça.

Orgias? Acho que nunca ouvi esse termo antes. Eu perguntaria a ela o
que isso significa, mas não acho que minha pergunta seja bem recebida,
então apenas aceno com a cabeça e a deixo continuar.

morally questionable
— Eles teriam até dez mulheres em uma noite. Sexo, drogas, álcool.
Toda coisa depravada no livro. Alguns rumores dizem que eles até tinham
animais. — O rosto dela está horrorizado quando conta isso.

Estou um pouco perturbada com as descrições, que até ignoro algumas


palavras.

— Sodomia e afins. — Ela estremece. — Estou extremamente


surpresa que seu irmão tenha aceitado o casamento. Ele deve ter sabido.

Meu rosto está em branco neste momento e lembro-me de trechos da


desaprovação de Enzo por Marcello. Na época, fazia pouco sentido..., mas e
se... Não! Eu me aperto. Não posso simplesmente confiar no que ela está
dizendo.

— Entendo. — Eu simplesmente respondo. Ela continua conversando,


me encantando com histórias mais sombrias sobre a família Lastra.

— Ora, a mãe dele se matou. E depois há aquela terceira esposa. Ela


se matou também. Eu me pergunto se pode haver uma maldição.

Estou tão chocada com o que ela está dizendo que apenas sorrio e
aceno.

Finalmente, ela muda de assunto.

— Olhe para eles. Eles não ficam bem juntos? — Cosima fala sobre
Sisi e Rafaelo.

morally questionable
Eu viro na direção deles, e eles parecem aconchegantes. Eles estão
sentados um pouco perto demais, e a cabeça de Rafaelo está inclinada para
Sisi intimamente. Sisi também está sorrindo e conversando animadamente
com ele.

Estou surpresa com esse desenvolvimento. Bloqueando tudo o que


Cosima me disse da cabeça, levo um momento para me concentrar nos
dois.

Eles têm mais ou menos a mesma idade, com Rafaelo apenas dois
anos mais velho aos vinte e dois. Mas, considerando seus problemas, me
pergunto se Sisi não está apenas sendo gentil com ele.

Quando a visita termina, levo Sisi de lado para perguntar como foi.

— Eu gosto dele. Ele é doce. — Ela responde e cora.

— Doce. — Repito, um pouco surpresa. — Isso é ótimo!

— Eu gostaria de continuar vendo-o, se isso for possível. — Ela parece


entusiasmada com isso, e eu estou feliz por ela. Se ela gosta de Rafaelo e
quer fazer amizade com ele ou mais, por que não deveria?

— Claro! Eu vou falar com Marcello.

Depois de garantir a ela que apoiarei eles com Marcello, me retiro


para o meu quarto.

morally questionable
Sozinha com o meu computador, a curiosidade tira o melhor de mim,
então procuro na web orgia. Não sei ao certo o que esperar, mas não é o
que encontro.

Segundo um dicionário urbano, uma orgia é de cinco ou mais pessoas


fazendo sexo.

Eu franzo a testa e levo um segundo para compreender o que estou


lendo. Como isso funciona?

Eu procuro um pouco mais e entro em uma página diferente. Um


vídeo começa a ser reproduzido, gemidos altos vindos dos meus alto-
falantes. Desliguei imediatamente o laptop, mortificada.

E se alguém ouviu isso?

Envergonhada com o que eu encontrei, mas ainda um pouco intrigada,


abro o laptop novamente, alterando o volume. O vídeo mostra algumas
pessoas, todas envolvidas em atos sexuais juntas. De certa forma, não é
diferente do que eu testemunhei Allegra fazendo.

morally questionable
É isso que Marcello gosta?

De repente me sinto insegura. Certamente isso... apenas pensando


nele assim me faz sentir enjoada. Não sei se é porque me sinto
desconfortável com os atos em si ou com ciúmes de ele estar com os outros
antes de mim. Ou talvez seja porque eu nunca seria capaz de fazer aquilo
para ele.

Balanço a cabeça, observando a virada perigosa que meus


pensamentos estão tomando.

Sim, eu posso nunca fazer aquilo para ele, mas certamente existem
outras maneiras de agradá-lo. Continuo navegando na web, lendo artigos
diferentes e me familiarizando um pouco mais com esse negócio íntimo.
Para minha grande surpresa, existem até tutoriais.

Envolvida neste novo mundo, mal percebo quando Marcello entra no


meu quarto. Tento parecer despreocupada quando lentamente coloco o
laptop no chão.

— Terminou? — Eu pergunto com um sorriso.

Ele assente distraidamente. — Eu vou tomar um banho primeiro.

Ele vai ao banheiro e eu volto rapidamente ao tutorial que estava


assistindo, tentando memorizar os passos. Quando estou relativamente
confiante, vou para o banheiro.

morally questionable
Eu bato na porta.

— Posso entrar? — Eu pergunto, esperando que ele receba minha


interrupção.

— Sim. — Ele grita e eu abro a porta.

Eu timidamente entro. Marcello está no box do chuveiro, e o vidro


transparente não deixa nada para a imaginação. Ele parece surpreso ao
me ver.

— Algo aconteceu? — Ele franze a testa e pronto para sair do box.

— Não. — Eu respondo, minhas mãos mexendo com o zíper do meu


vestido. Porra, eu deveria ter me despido antes de vir até aqui.

Seu olhar está em mim e ele está me observando atentamente. Saio da


roupa e ando em direção ao chuveiro.

Eu tento parecer tão confiante quanto a garota do vídeo, mesmo que


meus nervos ameacem tirar o melhor de mim.

A água está ligada, o vapor envolvendo minha pele no momento em


que entro no box.

— Lina, o que você está...—Marcello começa, mas eu não o deixo


terminar. Eu me levanto na ponta dos pés para beijá-lo. Um gemido

morally questionable
profundo escapa quando nossos lábios se tocam, e suas mãos se aproximam
da minha cintura, me atraindo para ele.

Ele já está duro. Sinto-o se esforçando contra o meu estômago, e isso


torna meu plano ainda mais fácil.

Quebrando o beijo, eu me abaixo de joelhos. Seus olhos escurecem


quando ele me vê pegá-lo na minha mão. Eu o toco como ele me ensinou,
de cima a baixo. Sua cabeça recua, um pequeno som escapando de seus
lábios.

— Lina, — sua voz é ofegante, e a maneira como reage sob meu toque
iniciante me faz ganhar ainda mais confiança.

Inclino a cabeça e abro a boca, levando-o para dentro. Ele é macio,


mas firme, e não é nada desagradável. Minha língua se estende para
acariciar a ponta e a mão de Marcello vai para o meu cabelo, de repente
apertando-o. Abro mais para levá-lo para dentro da minha boca, mas só
estou na metade do caminho quando começo a engasgar.

Ele deve ter me ouvido, porque ele deixa ir dando um passo atrás.

— Lina... o que você está fazendo? — Sua expressão está horrorizada.

— Eu quero te agradar. — Eu olho para cima, confusa com sua


explosão repentina.

morally questionable
— Por que você faria isso? — Ele balança a cabeça. Desligando a água,
ele sai do box.

— Eu fiz... eu fiz algo errado? — Eu pergunto, um pouco nervosa.


Ainda estou de joelhos, com medo de que, se eu tentar me levantar,
minhas pernas se transformem em mingau.

— Esta não é você. Você não precisa fazer isso... Droga. — Ele
murmura, estendendo a mão para pegar uma toalha. Ele a envolve na
cintura, seu membro ainda visivelmente excitado.

— Mas você gostou no passado. — Vendo-o prestes a sair, as palavras


estão fora da minha boca antes que eu possa pensar.

— O que você quer dizer? — Ele para, estreitando os olhos para mim,
e de repente me sinto exposta.

— Isso não importa. — Eu sussurro, um pouco envergonhada por


deixar as palavras de Cosima envenenar minha mente quando Marcello
parece odiar isso.

— Não, por favor me diga o que você quis dizer. — Ele se abaixa.

— Cosima me contou sobre o seu passado. — Eu confesso. — Sobre as


orgias. E eu pensei...

— Orgias. — Ele dá uma risada seca. — E você pensou o que? — Ele


levanta uma sobrancelha para mim.

morally questionable
— É isso que você quer. — Eu abaixo meu olhar, vergonha me come
por dentro. — Eu não posso fazer isso por você..., mas talvez haja outras
maneiras de agradá-lo. — Eu explico, mas ele me para.

— Lina, olhe para mim. — Sua voz é suave, então eu olho. — O que
Cosima lhe disse... sempre existem lados diferentes de qualquer verdade.
Fiz coisas das quais tenho vergonha, não vou mentir, mas é no passado.
Não estou com ninguém há mais de dez anos. Pareço alguém que gostaria
de orgias para você?

— Não, mas... você não poderia tocar em ninguém. E se você pudesse?


Tocar nos outros, quero dizer. Você gostaria?

— Não. — Ele responde antes mesmo que eu termine minha


pergunta.

— Não?

— Não, porque elas não eram a mulher que eu amava. — Suas


palavras me atingiram diretamente no meu peito. Perco meu equilíbrio e
caio na minha bunda.

— Mulher que você amava. — Repito entorpecida. — Quem era ela? —


Minha pergunta é imediata. Um vazio se forma em meu coração quando
penso nele amando outra pessoa.

Eu tenho uma chance?

morally questionable
Há uma tristeza em seus olhos, e ele rapidamente desvia o olhar. Ele
se levanta.

— Talvez eu te diga. Algum dia. — Ele se vira para sair.

Ainda estou surpresa com a virada dos eventos. Marcello amava


alguém. Talvez ele ainda ama. E eu já estou muito fundo; meus
sentimentos por ele aumentam a cada dia.

Levantando-me, estou prestes a dizer uma coisa, mas depois vejo sua
figura em retirada. Horrorizada é um eufemismo para o que sinto. Sua
pele está completamente desfigurada, suas costas uma mistura de
cicatrizes: velhas, novas e tudo mais.

Eu ofego, minha mão vai para a minha boca.

Querido Senhor! O que aconteceu com ele?

É então que percebo que, durante todas as vezes que estivemos juntos
na cama, nunca dei uma olhada nas suas costas. Ele tem intencionalmente
escondido suas cicatrizes de mim.

Mas por que?

Outra verdade se materializa em minha mente. Não sei nada sobre


meu marido, sei?

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Eu estou de volta ao meu quarto antes de causar danos irreparáveis


ao meu relacionamento com Catalina.

Droga!

Meus dedos formam um punho e eu soco na parede, suspirando


profundamente na sensação de dor. Eu preciso disso.

Eu mereço isto.

morally questionable
O que ela estava pensando tentando me agradar? Doce e inocente
Catalina, de joelhos diante de mim. Quantas vezes eu imaginei
exatamente isso? Mas vê-la lá, sufocando com meu pau por algum senso de
inadequação? Eu não poderia deixá-la fazer isso.

E então ela teve que mencionar as orgias. Eu quero rir disso. Ela
realmente pensou que eu quero algo a ver com essas depravações. Se ela
soubesse...

Balanço a cabeça, quase divertido com a ironia.

A maioria delas está em branco na minha mente. Não tenho orgulho


de admitir, mas em algum momento recorri a muitas substâncias para me
fazer passar por tudo. O que não foi apagado pela indulgência excessiva foi
definitivamente enterrado pela minha mente.

Meus lábios se enrolam de nojo e um arrepio desce pela espinha ao


pensar em mãos me tocando.

Não vai lá.

Devo um pedido de desculpas a Lina. Eu estava talvez um pouco


brusco com ela. O suficiente para que eu quase tenha deixado escapar
minha paixão de uma década. Eu estive no limite o dia todo. Do pesadelo
de Lina à visita de Benedicto e depois à busca de papelada suspeita, este
dia não ganhará nenhum prêmio.

morally questionable
Eu consegui me acalmar um pouco em relação aos dois primeiros, mas
o documento que encontrei me deixou inquieto.

Inquieto o suficiente para eu quase ter batido na única pessoa que eu


nunca tinha batido.

Fecho os olhos e conto até dez, já sentindo a tensão no meu corpo


aumentando. Puxo um dos telefones descartáveis que guardei na minha
gaveta e ligo para Francesco.

— Sim?

—Valentino mencionou algo sobre um asilo?

Uma pausa.

— Sim. Ele costumava visitar um algumas vezes por ano. Por quê?

— E você sabe quem ele estava visitando?

— Não. Eu o acompanhei algumas vezes, mas nunca entrei.

— Entendo. — Eu respondo sombriamente. — Eu preciso ir também.


Encontre-me em casa amanhã às dez.

— Entendido.

Desligo, me sentindo ainda mais irado do que antes.

morally questionable
— Porra! — Eu amaldiçoo em voz alta.

Coloquei algumas roupas rapidamente e fui ao meu escritório. Retiro o


documento que encontrei e o releio novamente.

Homem. Cinquenta e sete anos. Nascido em dois de novembro.

Assim como meu pai.

O pai que pensei ter matado.

O pai que me transformou em um monstro; quem me ensinou tudo


sobre tortura e assassinato.

O pai que estava intimamente familiarizado com Chimera.

— Porra! Porra! Porra! — Eu jogo o documento em cima da mesa. Por


que não considerei isso antes? Sim, eu o deixei morrer, mas nunca recebi
confirmação de que ele morreu. Quando Valentino assumiu, eu apenas
assumi que era o caso.

— Porra, inferno! — Gritei os dentes, sentindo uma raiva interior


direcionada principalmente para mim. Por ter sido imprudente, coloquei
em risco minha família. Novamente.

Claro.

morally questionable
Pai seria o primeiro a querer minha cabeça, e sua especialidade é
tortura — tortura psicológica. Não apenas o traí, mas também tentei
matá-lo. Se este é pai então...

Balanço a cabeça, já aterrorizado com a perspectiva. Mas preciso ter


certeza. Eu preciso ver com meus próprios olhos se esse homem é meu pai.
E se ele estiver, eu o mato novamente; desta vez para sempre.

No dia seguinte, encontro Francesco no asilo.

— E você nunca soube a quem ele visitou? — Eu pergunto a ele


enquanto entramos.

— Não, Valentino era muito discreto sobre isso. É por isso que eu era
o único homem que ele levaria com ele. — Francesco confirma o que eu
estava pensando. Não há como a famiglia deixar passar se o patriarca
favorito ainda estivesse vivo.

Tino, Tino... parece que você me traiu.

Tento conter minhas emoções enquanto preencho a papelada e explico


meu relacionamento com o paciente. Estou blefando, já que ainda não
confirmei sua identidade. Mas vamos ver se isso é verdade ou mentira.

— Ele está se saindo muito melhor. — Uma enfermeira me diz. — Ele


está comendo todas as suas refeições. — Ela continua conversando sobre
coisas que não tenho interesse. Eu ajusto tudo, em vez disso, focando no
homem atrás das portas fechadas.

morally questionable
— Aqui estamos. Deixe-me saber se ele se sente enjoado ou algo
assim.

Eu aceno para ela e entro no quarto, deixando Francesco para me


esperar lá fora.

Olhando em direção à janela, um homem em uma cadeira de rodas


está de costas para mim. Entro com relutância e, quando me aproximo,
percebo que a cabeça dele está inclinada em um ângulo estranho.

O flashback daquela noite volta com força, mas eu me paro.

Quando finalmente estou na frente dele, mal consigo acreditar nos


meus olhos. Meu pai em carne e osso. Seus olhos se arregalam quando eu
me inclino na sua frente, sua boca se movendo com um tremor, mas
nenhuma palavra sai. Suas mãos estão tremendo no apoio de braço, e ele
parece querer que seus membros se movam, mas eles não podem obedecer.

O médico responsável me informou. Paralisia provavelmente causada


por lesão cerebral. Parece que fiz alguns danos, afinal. Ele também me
disse que, embora o pai não possa se mexer ou se comunicar, ele pode me
entender.

— Então nos encontramos novamente, pai. — Minha voz está cheia do


ódio que tenho pelo homem — ódio que se acumulou ainda mais nos
últimos dez anos.

morally questionable
Seus olhos se movem descontroladamente da direita para a esquerda,
sabendo que essa não será uma visita amigável.

— Finalmente, não sou eu quem tem medo. — Comento casualmente e


me inclino no peitoril da janela, bloqueando a luz.

Eu me pergunto o que vai levar para ele se libertar desse ardil. EU


necessito saber que ele está definitivamente incapacitado.
Independentemente disso, seu destino será o mesmo.

— Como você se sentiria... — Eu paro, observando o pulso na base da


garganta. — Se eu colocar em ação tudo o que você me ensinou. — A única
reação que estou recebendo é a rápida vibração de suas pálpebras e sua
súbita respiração. No entanto, está me dizendo tudo o que preciso saber.

— Lembra quando você sugeriu que eu usasse dentes para a marca do


Chimera? Eu me pergunto, você vai sentir se eu arrancar seus dentes um
de cada vez? — Retiro um alicate do meu casaco. Eu vim preparado.

Gotas de urina caem no chão. Eu viro meu olhar para baixo.

— Então é assim que você reage quando está no lado contrário. Você
se mija. — Faço um som de desaprovação, abrindo o alicate e
aproximando-o do rosto.

— Vamos ver, se isso faz você se mijar, o que é necessário para causar
um ataque cardíaco? — Ele empalidece ainda mais com minhas palavras, e
eu não sei se devo chorar ou rir disso. Finalmente estou confrontando o

morally questionable
homem que fez toda a minha vida um inferno, e não consigo nem o fazer
corretamente. Que satisfação terei ao matar um homem em uma cadeira
de rodas? Nenhuma.

Mas matá-lo, preciso.

Nojo da situação, saio e sinalizo Francesco.

— Está feito. — Ele diz. Dou-lhe um aceno apertado e depois agarro


as alças da cadeira de rodas, levando o pai para fora do quarto.

Enquanto eu estava me familiarizando com ele, Francesco estava


resolvendo a papelada para liberar o pai sob nossos cuidados.

Partimos como a imagem da felicidade em família, e instruo Francesco


a fazer algumas voltas até estarmos perto de uma floresta isolada.

Quando tiramos o pai do carro, fico impressionado novamente com


uma pontada de arrependimento por essa morte de pena. Quantas vezes
eu imaginei pagar de volta por tudo o que ele fez comigo? Quantas vezes eu
orei por uma chance de colocá-lo em seu lugar?

E agora, ao olhar para o seu eu patético, não consigo mais reunir o


ódio.

Uma bala e ele está morto. Sua cabeça dispara de volta com a
velocidade da bala e seu corpo espasma mais uma vez antes que seus olhos
fiquem em branco. Desta vez para sempre.

morally questionable
Com um suspiro, aceno para Francesco para se livrar do corpo e da
cadeira de rodas. Volto para o carro e coloco a cabeça nas palmas das
mãos; eu choro.

Deixei tudo passar — três décadas de tortura nas mãos deste homem.
E a triste verdade é que acho que nunca vou me livrar da marca que ele
deixou em mim.

Me recompondo antes de Francesco voltar, eu o instruo a me levar


para casa. Só preciso de uma coisa agora — ela.

Quando abro a porta, encontro-a na cama, focada em um tecido que


está costurando. Ela pula um pouco, assustada em me ver.

— Existe algo errado? — Lina se vira para mim, uma carranca se


formando entre as sobrancelhas. Ela se mantém quieta, todo o corpo
rígido.

Dormimos em camas separadas na noite anterior. Principalmente


porque eu tinha tanta vergonha de mim mesmo, não conseguia me
encarar.

Mas agora acabou. Finalmente acabou.

E meu passado permanecerá exatamente isso; no passado.

— Posso entrar? — Ela dá um aceno rápido, os olhos ainda me


encaram com suspeita.

morally questionable
Enquanto ela me vê caminhando em sua direção, ela guarda seu
trabalho em uma cadeira próxima. Tomo isso como um convite para me
sentar.

Suas mãos estão bem dobradas no colo, o queixo ligeiramente


abaixado.

— Eu sinto muito. — Eu digo, minha palma cobrindo as mãos dela. —


Eu deveria ter dito isso antes.

— Eu também sinto muito. Eu não deveria ter assumido...

— Ei, nada disso. Sei que você não sabe muito sobre mim e, claro,
ficaria curiosa.

Lina balança a cabeça, os olhos nas mãos atadas.

— Eu não deveria ter deixado as palavras de Cosima chegarem até


mim. Eu deveria ter pensado antes de agir. Eu sei que nós dois fomos
jogados juntos nesse casamento por circunstâncias. Eu acho que... — Ela
faz uma pausa, me dando uma rápida olhada lateral. — Deixa pra lá.

— Lina, você não precisa se esconder de mim. — Eu tento fazê-la se


abrir, mas é em vão. Um sorriso tenso se estende em seu rosto e ela se vira
para mim.

— Está tudo bem, sério. Acabamos de ter nosso primeiro desacordo. —


Ela diz levemente.

morally questionable
— Eu estou perdoado?

Ela inclina a cabeça quando me considera por um segundo. Então, do


nada, ela deixa um beijo na minha bochecha.

— Eu gostei bastante disso. Você acha que pode repetir? — Ela revira
os olhos para mim, suas bochechas já coraram. Mas ela cumpre,
inclinando-se para mim para outro beijo rápido. Desta vez, porém, estou
preparado para ela. Meus braços envolvem sua forma leve, aproximando-a
do meu peito.

Minha mão se move para cima, segurando o seu pescoço antes de se


estabelecer na bochecha. Seus olhos tremulam, o verde de suas íris tão
intenso que é quase ofuscante. Quantas vezes eu sonhei com isso? De seus
lindos olhos olhando para os meus? De segurá-la em meus braços, nossa
pele se tocando, nossas respirações se misturando?

Meu polegar se move um pouco sobre os seus lábios, separando-os. A


língua dela espreita, molhando timidamente os lábios e tocando meu dedo.
Antes que eu perceba, ela está chupando meu polegar, com os olhos bem
abertos e olhando para mim com tanta inocência que eu gemo alto.

— As coisas que você faz comigo, Lina. — Eu digo.

— Bom, espero. — Ela responde atrevida.

— O melhor. — Minha cabeça cai para um beijo. Quando nossos lábios


estão prestes a tocar, alguém bate na porta.

morally questionable
Droga!

— Entre. — Lina recua, se compondo.

Claudia espreita a cabeça pela porta.

— Por que você não está com Sisi? — Lina franze a testa quando faz
seu caminho para dentro do quarto.

Claudia balança nos calcanhares, uma expressão tímida no rosto.

— Tia Sisi tem um visitante.

— Um visitante? — Repito, um pouco surpreso.

— Sim. O amigo dela, Rafaelo. Ela me disse para ir ao meu quarto,


mas estou entediada. — Claudia encolhe os ombros, parecendo uma réplica
da Catalina.

— Você sabia da visita? — Eu pergunto a Lina, mas ela balança a


cabeça.

Levanto-me, com a intenção de ver do que se trata, mas Lina me para.

— Vamos dar a eles algum tempo. Tenho certeza de que nada de ruim
acontecerá. Além disso, a equipe está lá embaixo.

morally questionable
— Mas... — Eu me afasto quando ela bate os cílios em mim, me
fazendo me perder nos olhos lindos.

Ela não está jogando limpo.

— Vou apenas informar Amelia para monitorá-los. — Eu cedi um


pouco.

— Você vai brincar conosco, Marcello? — Claudia vem ao lado de sua


mãe, pegando a peça em que Lina estava trabalhando. Eu dou uma olhada
em Lina, e ela me dá um pequeno aceno.

— Eu acho que vou.

— Legal. — O sorriso radiante de Claudia me engole inteiro e eu


devolvo o gesto.

Acho que sorri nos últimos meses mais do que já fiz em toda a minha
vida.

E há apenas uma razão para isso. Bem, agora duas.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Vendo Marcello interagir com Claudia aquece meu coração. Ele é tão
gentil com ela, ouvindo-a tagarelar e ajudando-a com o que quer que ela
esteja trabalhando. Se antes eu não tinha certeza dos meus sentimentos,
agora estou completamente certa. Estou apaixonada por Marcello Lastra.
Um sentimento tão desconhecido, mas que abriu caminho tão facilmente
dentro do meu coração.

Eu acho que sempre soube que tudo se resumiria a isso. Desde o


momento em que o vi pela primeira vez, tive esse sentimento... esse
formigamento no meu peito. Na época, eu o colocava na aparência de tirar

morally questionable
o fôlego e nos meus pobres olhos famintos — ele é um colírio para os olhos,
afinal.

Mas tinha sido mais do que isso. Desde o início, eu estava disposta a
confiar nele, algo que achei extremamente difícil de fazer após o incidente.
Havia algo nele. Talvez fossem seus olhos um pouco tristes, ou a maneira
como olhou para mim como se não pudesse acreditar que eu era real. Ou
talvez fosse o fato de ele ter sido gentil comigo quando ninguém mais o fez.

Ele me fez sentir querida; provavelmente pela primeira vez.

Eu assisto seus olhos se enrugarem nos cantos, diversão e carinho


refletidos em seu olhar enquanto Claudia explica meticulosamente seu
vestido ideal de princesa.

Talvez isto é o que eu precisava para aceitá-lo totalmente dentro do


meu coração. Saber que ele seria tão gentil com minha filha quanto
comigo.

Um sorriso toca nos meus lábios enquanto continuo assistindo os dois.

E é aí que eu decido contar a ele como me sinto. Estou ciente de que


ele pode não sentir o mesmo, mas talvez o tempo... Sim, não vou desistir.
Quem ele amava antes não tem direito a ele agora. Ele é casado comigo e é
meu. Eu coro com a direção dos meus pensamentos, mas sei que nunca
deixaria outra mulher tirá-lo de mim.

morally questionable
Um tempo depois, Claudia sai para completar sua lição de casa, e
Marcello puxa Amelia para o lado para perguntar sobre Sisi.

— Eles estavam apenas conversando, senhor. Eu me certifiquei de que


não havia nada impróprio acontecendo. — Ele assente com atenção e
agradece a Amelia por seu tempo.

— Você acha que eles gostam um do outro? — Ele pega minha mão e a
traz aos lábios para um beijo suave.

— Talvez. Isso seria legal, não seria?

— Eu não sei. Não confio em Guerra, e Sisi mal teve tempo de se


acostumar com a vida fora de Sacre Coeur. Pode ser muito rápido. —
Marcello franze a testa e sinto vontade de beijar suas preocupações.

— Ela tem idade suficiente para decidir por si mesma. Além disso, ela
é extremamente forte. Ninguém poderia pressioná-la a fazer o que ela não
quisesse. É por isso que acho que pode haver algo entre eles.

— Vamos ver. — É tudo o que ele diz.

— Você a chamou de Sisi. — Eu abafo um sorriso. — Essa é a


primeira vez.

— Eu chamei. Eu devo estar me familiarizando mais com ela. — Um


sorriso puxa o canto da boca.

morally questionable
Eu finalmente desisto. Levantando-me na ponta dos pés, dou um beijo
nos seus lábios. Dadas as nossas diferenças de altura, tenho que quase
pular.

— Você não deve começar o que não pode terminar, Lina. — Há uma
qualidade sedutora em sua voz quando ele coloca o braço em volta da
minha cintura e me puxa para ele.

— Quem disse que eu não posso? — Eu levanto uma sobrancelha para


ele. Não posso muito bem gritar ME DEVORE; não seria muito
apropriado.

— Você tem um segundo para mudar de ideia antes que eu jogue você
por cima do ombro e a leve ao meu covil para fazer o que eu quiser com
você. — Suas palavras sempre têm a capacidade de me fazer corar até as
minhas raízes.

— Hmm, isso não parece nada ruim. — Eu agito meus cílios para ele
sugestivamente.

— É isso! — Ele diz um segundo antes de me pegar e realmente me


jogar por cima do ombro.

— Marcello! — Eu ofeguei, chocada que ele faria isso ao ar livre. Sua


mão cai na minha bunda e ele dá um tapinha no meu vestido para que
permaneça no lugar. Ele não perde tempo, pois dá alguns passos de cada
vez, rapidamente chega ao meu quarto e me deposita no meio da cama.

morally questionable
Há algo diferente neste Marcello. Ele é mais despreocupado, mais
brincalhão. É como se um peso inteiro tivesse sido tirado de seus ombros.

Estou encostada nos cotovelos e olho para ele debaixo dos cílios,
esperando para ver o que vem a seguir.

Suas mãos vão para a camisa e ele a desabotoa lentamente, o tempo


todo focando em mim. Olhos vidrados de desejo, ele joga a camisa no chão e
vem em minha direção. Meu coração balança no meu peito, a antecipação
se acumulando e me fazendo tremer um pouco.

Uma noite longe e eu senti a separação queimar através de mim. Não


sei se dormi uma piscadela, me preocupando com ele. No curto espaço de
tempo em que estivemos juntos, as coisas evoluíram a tal ponto que eu
constantemente penso nele, querendo tocá-lo.

Seus joelhos bateram na cama, seu corpo vindo em minha direção.


Instintivamente, molhei meus lábios e, pegando sua mão, coloquei-a no
peito, no coração. Quero que ele sinta o que sinto, essa necessidade que
constrói e se acumula. A maneira como ele está total e completamente
gravado em minha alma.

Minhas costas podem estar sempre arruinadas com os restos daquela


noite, as iniciais do homem que me fez temer a escuridão. Mas meu próprio
ser é impresso pelo homem na minha frente, aquele que me fez redescobrir
a luz. Aquele que me fez esperar novamente.

morally questionable
Meus dedos roçam contra a barba por fazer, e esta pode ser a primeira
vez que vejo Marcello menos do que perfeitamente preparado. Talvez ele
tenha tido tanta dificuldade quanto eu?

Ele vira minha palma, beijando o centro antes de encaixá-la na


bochecha e fechando os olhos.

— Acabou... Finalmente acabou. — Ele sussurra, acariciando minha


mão.

— O que? — Eu pergunto, mas ele apenas balança a cabeça.

— Às vezes eu não acredito que você está aqui. — Ele dá um sorriso


triste.

— Eu também não. — Eu o aproximo, meu vestido ainda é uma


barreira entre nós. Olho nos olhos dele, tentando memorizar suas feições, a
maneira como seus olhos se iluminam quando olham para mim.

— Quando estou com você, sinto que posso ser um bom homem.
Alguém digno de você. — Suas palavras são uma mistura de dor e
reverência, o polegar traçando minha bochecha.

— Você é. Você é. — Repito, procurando seus lábios com os meus.

Dizem que leva apenas um momento para se apaixonar. Mas não


posso escolher apenas um momento. Se há algo como predestinação, acho
que é isso, porque tudo me levou até aqui e agora. Cada momento em sua

morally questionable
presença acendia uma pequena chama dentro de mim até atingir o
tamanho de um inferno.

Mas é exatamente isso. Eu ficaria feliz em queimar por ele.

A outra mão desliza pela minha perna, levando a bainha do meu


vestido com ela, até que ele está puxando-o de mim. Fico com um sutiã
branco simples e uma calcinha de algodão. Sei que ele já me viu antes, mas
não posso evitar o calor que sobe pelo meu rosto quando Marcello se
inclina para trás e olha para mim, com os olhos viajando por todo o meu
corpo.

— Pare com isso. — Eu o golpeei de brincadeira, envergonhada por ser


seu ponto focal. Quase instintivamente, cruzo os braços e viro a cabeça
para o lado.

— Lina, não se esconda de mim. — Suavemente, ele descruza meus


braços, seus lábios dando um beijo no meio do meu peito, bem entre meus
seios.

— Você é a coisa mais linda que eu já vi. Se eu pudesse gravar essa


imagem em minha mente para sempre, eu faria. — Sinto o hálito dele na
minha pele enquanto fala, e então ele se move lentamente para cima, em
direção ao meu pescoço, seu toque fazendo cócegas e me deliciando ao
mesmo tempo.

morally questionable
— Você também, — acrescento timidamente. — Você é realmente
bonito, é isso. — Eu digo a única coisa em que consigo pensar. É como se
meu cérebro estivesse em curto-circuito devido à sua proximidade.

Seu peito ronca de tanto rir, sua boca chegando ao meu ouvido. Ele
mordisca a área antes de tomar o lobo entre os lábios. — Estou feliz que
você pensa assim.

Chegando debaixo de mim, ele abre o sutiã e desliza dos meus braços,
enquanto sussurra palavras calmantes no meu ouvido. Meus olhos se
fecham e eu aprecio a sensação de sua pele em cima da minha. Minha
calcinha logo segue.

Tomada por uma urgência que nunca havia sentido antes, puxo o seu
cinto, procurando me aproximar ainda mais. Ele me ajuda a abrir o zíper
da calça e eu uso meus pés para puxá-las para baixo. Quando ele
finalmente está tão nu quanto eu, envolvo minhas pernas em volta dele,
querendo que essa parte dele me toque onde eu mais preciso.

— Ainda não, amor. — A mão dele se esconde entre nossos corpos, me


tocando, sentindo o quanto me afeta. — Você não está pronta. — Ele diz, e
minhas sobrancelhas se inclinam para suas palavras.

— Estou pronta, tão pronta. Por favor. — Como ele pode não ver como
estou pronta, pingando do meu próprio ser?

Ele ri e balança a cabeça, dando-me um beijo rápido antes de se


abaixar entre as minhas pernas.

morally questionable
Eu só o quero lá dentro! Minha mente está gritando, mas como a
língua dele faz contato com a minha carne, não posso mais ficar brava.

Eu recorro ao colchão, olhos selvagens, pernas nos ombros e mãos nos


cabelos.

Ele está me matando.

Minha respiração aumenta, meu corpo responde a cada toque.

— Marcello, — eu ofego, aquele sentimento ilusório se aproximando


um pouco.

Minhas coxas se apertam, apertando a cabeça dele. Suas mãos na


minha bunda me aproximam, seus movimentos aumentam, sua língua
torcendo cada prazer do meu corpo.

Até que tudo desmorone.

— Senhor! — Eu gemo alto, sentindo meu corpo ficar mole.

Marcello dá um beijo na minha barriga, tomando um momento para


colocar a cabeça no meu estômago.

Lembrando as estrias da minha gravidez, tento movê-lo, mas ele me


para.

morally questionable
— Não. — Sua voz é terna e cheia de emoção. Sua palma repousa
sobre a pior cicatriz, e ele a traça de uma maneira reverente.

— Não é bonito. — Eu paro a mão dele, colocando a minha em cima da


dele.

— Isto é. — Ele deixa cair outro beijo na pele estragada. — Porque


deu vida. Nunca tenha vergonha disso, Lina.

Suas palavras me emocionam, e eu tenho que piscar duas vezes para


me livrar da umidade que se forma nos meus cílios.

— Você desistiu de tudo para ter uma linda menina quando os outros
não fariam. Este é o seu distintivo de honra, Lina.

— Obrigada. — Minha voz é rouca. É a primeira vez que alguém


reconhece meus sacrifícios por Claudia. A primeira vez que alguém os vê
como algo menos vergonhoso.

— Você não tem ideia do quanto isso significa para mim. — Eu


acaricio sua testa, esperando transmitir a ele tudo o que estou sentindo.

Ele sobe meu corpo e sua boca envolve a minha em um beijo


escaldante. Todos os outros pensamentos desaparecem prontamente da
minha mente quando sucumbi à sensação.

Ele se instala entre minhas pernas, entrando lentamente em mim.


Meus braços dão a volta nas costas dele, segurando-o enquanto ele

morally questionable
gentilmente balança em mim. Ele adora meu corpo com cada toque, toda
carícia, e eu só posso olhar nos seus olhos, absorvendo sua intensidade.

É demais!

— Mais rápido, por favor! — Eu gemo, sentindo uma pressão


aumentar dentro de mim. Marcello aumenta o ritmo, o comprimento se
retirando e depois entra em mim novamente, me esticando e me fazendo
ofegar de prazer.

Está quase lá!

Eu me aperto ao seu redor, e todos os nervos do meu corpo acendem


de consciência. A intensidade é demais e as lágrimas começam a rolar pelo
meu rosto. Apenas alguns segundos depois ele se junta a mim e eu o sinto
se esvaziando dentro de mim.

— Deus, Lina. — Ele geme, a testa descansando no meu ombro. Ele


levanta a cabeça apenas uma fração, observando minhas lágrimas.

— Porra! Eu te machuquei? Você está bem? — Ele tenta se mover,


mas eu continuo o segurando.

— Não, você não me machucou. Foi apenas... demais. Muita sensação.


— Confesso, mordendo meu lábio. Suas sobrancelhas se franzem em
confusão.

— Tem certeza? — Ele pergunta novamente.

morally questionable
— Sim, tudo estava perfeito. — Minhas mãos deslizam pelas costas
dele e mais uma vez me lembro da visão horrível que eu tinha visto.

Nós nos acomodamos na cama e ele coloca o lençol em cima de mim.


Ficamos em silêncio por um tempo e eu tenho coragem de perguntar.

— O que aconteceu com suas costas?

— Você viu. — Ele diz lentamente. Eu me viro para encará-lo. Sua


expressão é apertada e ele está olhando para qualquer lugar, menos para
mim.

— Quem fez isso com você? — Seus ombros caem na minha pergunta.
Ele não deveria se sentir envergonhado com isso. Não sabendo que é algo
que eu possa entender muito bem.

— Eu... — Ele faz uma pausa, respirando fundo. — Eu vou te dizer


um dia. — Ele finalmente diz, não encontrando meus olhos.

Algum dia. Por que é sempre um dia com ele? Antes que eu possa me
controlar, eu deixo escapar.

— Como a mulher que você amava? — Eu nem reconheço minha voz.


É assim que se sente ciúme? Porque está me fazendo querer neutralizar
aquela mulher desconhecida.

morally questionable
Os olhos de Marcello encontram os meus. — Lina... — Seu tom
suplicante sugere que ele quer que eu abandone o assunto, mas eu preciso
saber.

— Você não pode me dizer? Eu quero saber contra quem estou


competindo. Ela ainda está na sua vida? — Mas o que eu mais quero
perguntar é: você ainda a ama?

— Está no passado.

— Marcello, — começo, tentando encontrar minhas palavras. — Acho


que devemos colocar tudo em cima da mesa.

— O que você quer dizer? — Ele franze a testa.

Eu respiro fundo.

— Estou apaixonada por você. Eu te amo e preciso saber se ainda há


alguém em sua vida... — Seus olhos se arregalam, e ele está olhando para
mim como se tivesse visto um fantasma.

— Você... me ama? — Ele repete em descrença.

Eu aceno. — Claro que sim. Acho que estou apaixonada por você desde
o começo. É por isso... Quero saber se há um lugar para mim em seu
coração. — Agora que a verdade está fora, não sei se devo me alegrar ou
chorar. Ele está apenas olhando para mim.

morally questionable
— Diga isso de novo. — Ele sussurra.

— Eu te amo? — Ele me puxa para seus braços, um abraço tão


profundo que está quase me esmagando.

— Você me ama. — Ele ainda está repetindo as palavras, balançando


lentamente comigo.

— Marcello? — Eu pergunto depois de um tempo. A cabeça dele está


enterrada na curva do meu pescoço, e ouço um leve soluço.

— Marcello. — Eu digo de novo.

— Não há mais ninguém. — Ele finalmente fala contra a minha pele.


— Nunca houve mais ninguém.

— Mas... aquela mulher...

— Sempre foi você.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

—Sempre foi você. — Eu digo a ela, sabendo que pode não me olhar da
mesma forma quando souber. — Eu só amei uma mulher; você.

— O que você quer dizer? — Os seus braços empurram meus ombros e


eu a deixei colocar a distância entre nós. — Como isso é possível... — Ela
balança a cabeça. — Você não precisa mentir para mim, Marcello.

— Eu não estou mentindo. Não sobre isso. Eu me apaixonei por você


há dez anos.

morally questionable
— Dez anos atrás..., mas... Quando?

— Eu te vi pela primeira vez em um dos banquetes de seu pai. Você


estava no jardim, tentando entrar furtivamente. — Eu posso imaginar o
momento exato em que a vi pela primeira vez. Tão bonita, tão pura. — Eu
queria me casar com você naquela época também. — Eu confesso.

— Eu não entendo. Nunca nos conhecemos antes, tenho certeza disso.


— Um vinco profundo se forma entre as sobrancelhas enquanto ela tenta
se lembrar de mim.

— Eu parecia uma bagunça, mas nos encontramos. Nos arredores de


sua casa. — Prossigo contando a ela o encontro que, mesmo agora, uma
década depois, ainda está impresso em minha mente. No momento em que
ela me teve, total e irrevogavelmente — se ela me queria ou não.

Eu sou dela desde aquele momento.

Vinte e Um Anos.

morally questionable
A dor está rasgando através do meu interior. Minha mão está
segurando minha ferida, tentando parar o sangramento. Sei que não é
provável que morra com isso, mas isso não significa que seja menos
doloroso.

Eu abaixo a cabeça enquanto continuo andando, o capuz coberto sobre


o meu rosto ajudando a cobrir os danos que o pai havia infligido.

Eu me pergunto se eu pareço mais humano.

Meus olhos estão incrivelmente inchados, com uma pálpebra


completamente aberta. Isso deixa apenas um olho bom que eu posso ver.
Minha bochecha está latejando de dor e acho que pode estar fraturada. Eu
nem deveria pensar no meu nariz, porque levou a maioria dos golpes
diretos.

O ferimento da faca foi uma surpresa, ou uma surpresa tão grande


quanto poderia ser do pai. Eu não esperava que ele fosse receber um tipo
de punição fora de serviço, mas eu realmente fui longe dessa vez.

Mais longe do que antes.

Eu enfrentei o pai e disse firmemente a ele que não me juntaria a ele


em suas visitas semanais ao bordel, nem me envolveria em qualquer tipo
de comportamento imoral.

morally questionable
Meu raciocínio tinha sido bem simples. Eu só preciso fazer minha
atuação para poder ser digno de Catalina.

Eu tinha certeza de que Rocco sabia das atividades do pai, e


implicitamente as minhas, e isso significava que ele nunca concordaria em
me dar a mão da filha em casamento. Entre os homens feitos é
desaprovado frequentar bordéis — não que isso importasse para o pai. Mas
para qualquer outro Capo que se preze, não seria aceitável que sua filha se
casasse com um mafioso que pudesse constrangê-la e manchar seu nome.

Embora o próprio Rocco não seja santo, seu gosto é mais voltado para
mulheres mantidas do que para mulheres pagas, mesmo que a diferença
seja muito pequena e pode-se argumentar que é a mesma coisa.

Mas quando você considera as tendências do pai... Eu não acho que


exista alguém por aí que voluntariamente daria sua filha em casamento a
alguém associado a essa devassidão.

E então eu cortei isso para mim. Não é como se fosse uma dificuldade
desistir disso, já que nunca gostei. Mas se estou sendo sincero, mais do que
tudo, quero fazer isso por Catalina.

Eu quero ser digno aos olhos dela. Alguém de quem ela não teria
vergonha... alguém que ela possa aprender a amar...

E então me vejo vagando perto da casa dos Agosti.

morally questionable
Papai não ficou satisfeito quando eu me recusei a ir com ele semana
após semana até que ele finalmente teve o suficiente. Ele disse que estava
apenas me ensinando uma lição. Que minhas ações estavam refletindo
sobre ele e que eu o fiz parecer fraco.

Ele teve seus soldados me segurando, enquanto socava meu rosto com
os punhos. Não bastava que eu quase desmaiasse de dor, então ele
completou o castigo com um ferimento de faca.

Eu gemo com a dor cortando. Ele me esfaqueou bem entre minhas


costelas, sabendo a posição perfeita para não danificar nenhum órgão
vital, mas para maximizar a dor.

Quando saí, não estava pensando direito. Eu estava muito focado na


dor física para pensar lucidamente. Eu comecei a andar, serpenteando.

E agora aqui estou eu...

Acho que no fundo eu esperava ter um vislumbre de Catalina.


Certamente entorpeceria a dor.

Não ouso ir para a frente da casa, no entanto. Isso significaria pedir


outra surra, e acho que já tive o suficiente por hoje.

Sentindo-me um pouco tonto, provavelmente pela perda de sangue,


ando um pouco mais em direção à parte de trás da casa. A grande cerca ao
redor garante que não posso entrar — não que eu queira no meu estado.

morally questionable
Vejo uma pequena brecha da cerca. Eu posso ver o quintal da casa
desse ângulo. É bom o suficiente para mim enquanto me apóio, respirando
com severidade. Eu mudo um pouco, tentando encontrar uma posição que
não envie dores mais acentuadas ao meu lado.

Qualquer um que passasse assumiria que eu sou um homem sem-teto.


Com minhas roupas sujas e meu blazer encharcado de sangue, eu também
acharia. Puxo meu capuz ainda mais para baixo do rosto e fecho os olhos,
adormecendo. Talvez eu até sonhe com ela...

Não sei quanto tempo faz, mas em algum momento sinto algo
cutucando no meu ombro. Estou assustado, minha primeira reação é
decidir entre luta ou fuga. Levanto a cabeça um pouco e apertei os olhos,
tentando me ajustar à luz.

Porra!

Tudo está tão embaçado. Espero que não haja danos permanentes.

— Você está bem? — Uma voz doce pergunta, e eu lentamente me


viro.

É ela.

Catalina.

Ela está do outro lado da cerca, mas como os piquetes não estão
próximos, ela pode encaixar a mão no espaço. O suficiente para me tocar...

morally questionable
— Eu... — Estou sem palavras quando a vejo. Eu tenho que me
perguntar se é meu cérebro a conjurando, ou se ela é realmente real.

— Você está machucado! — Ela suspira quando vê o estado do meu


rosto. Eu abaixo minha cabeça com vergonha.

O que estava em minha mente para vir aqui?

Com grande dificuldade, levanto-me para sair, sem querer ver pena
nos olhos dela.

— Espere, por favor! Não vá. — Ela diz, sua voz tão magnética que
estou preso no local.

Eu me viro para ela.

Ela está usando um vestido amarelo. Tão brilhante...

— Você precisa de alguma coisa? — Ela pergunta, as sobrancelhas


desenhadas com preocupação.

Eu balanço um pouco minha cabeça.

— Por favor, apenas... espere aqui. Espere por mim. — Ela faz uma
pausa para a minha resposta e, quando eu aceno, ela corre em direção à
casa.

Estou enraizado no local, tentando descobrir se ela é um sonho ou não.

morally questionable
Mas então ela voltou.

— Você não foi embora. — Ela bufa, respirando com força. — Você
pode se aproximar? — Ela gesticula em direção à cerca com a mão e, como
um servo fiel, obedeço.

— Aqui. — Ela diz e enfia uma pequena sacola no espaço da cerca.

Estendo a mão para pegá-la, escovando intencionalmente os dedos


contra os dela.

— Oh, — ela parece surpresa, mas não tira.

Olho para dentro da sacola e encontro um sanduíche, algumas frutas e


uma pequena garrafa de água.

Eu imediatamente volto minha cabeça em sua direção.

— Por quê? — Eu murmuro, minha voz rouca da dor.

— Você precisa se cuidar. — Ela sorri, um sorriso gentil que toca meu
núcleo.

— Obrigado... — Eu digo, ainda admirado por ela fazer isso por mim,
por um estranho.

Acho que ninguém nunca me deu nada.

morally questionable
Olho para o conteúdo da sacola e sinto uma umidade saindo do meu
olho bom. Eu fungo um soluço.

— Obrigado. — Eu sussurro novamente.

— Você não precisa me agradecer. Qualquer um faria o mesmo.

Ninguém nunca fez o mesmo. Não para mim...

— Você pode se aproximar? — Ela diz e tira um pano branco.

— O que é isso?

— Você precisa limpar suas feridas, verificar se elas não estão


infectadas. — Ela explica e me acena para chegar ainda mais perto.

Coloco meu rosto nos piquetes, e ela toca o pano na minha pele,
movendo-o suavemente e limpando minhas feridas. Ela aplica um pouco
desinfectante, e eu pulo de volta algumas vezes quando isso dói.

Ela ri.

Eu a encaro com reverência.

Ninguém nunca se importou com minhas feridas antes, e eu tive


minha cota.

morally questionable
Não sei o que me leva, mas paro a sua mão quando ela está prestes a
alcançar meu olho. Trago-o aos meus lábios e dou um beijo casto nas
juntas dos dedos.

— Obrigado. — Eu não ligo quantas vezes digo, ou como isso me faz


parecer. Mas sou grato a ela de uma maneira que nunca pensei ser
possível.

Ela cora, mas não remove a mão.

Ficamos assim por um tempo antes que ela me diga que precisa ir.
Mas antes que ela o faça, me pergunta algo que me choca profundamente.

— Você vem de novo?

Eu não respondo, e ela não pergunta novamente.

Mas pelos próximos dias eu apareço fielmente no mesmo horário, no


mesmo local. Ela me traz remédios e comida, e nós nos mantemos em
companhia, conversando sobre banalidades.

Ela não tem ideia de quem eu sou, ou o que ela significa para mim.

Ela não tem ideia do inferno que estou prestes a pagar por sonhar com
algo para sempre fora de alcance.

morally questionable
Presente.

Lágrimas estão rolando pelo seu rosto depois que eu conto tudo para
ela. Eu guardo para mim os detalhes mais sensíveis, como a razão pela
qual eu fui tão agredido naquele dia, ou que, ao me apaixonar por ela, eu
me tornei um fraco aos olhos do pai. E ele me acertou da pior maneira
possível.

— Eu não sei o que dizer. — Ela sussurra, limpando as lágrimas com


as costas da mão. — Por que você nunca veio atrás de mim?

— Eu não pensei que era digno de você. Meu passado... não é bonito.
— É uma meia verdade, mas se ela soubesse o verdadeiro motivo... Eu nem
quero ir lá. Eu posso ter ficado longe, mas isso não significa que ela deixou
meus pensamentos nem por um dia.

— Marcello, — meu nome nos seus lábios me acalma de uma maneira


que eu nunca pensei possível. Ela pode me deixar inteiro de novo. Mas
também tem o poder de me dilacerar.

— Você está brava?

morally questionable
— Brava? Por quê?

— Porque eu não te disse antes.

— Não... não. — Ela balança a cabeça, os olhos se suavizando


enquanto olha para mim. — Eu nunca poderia estar brava com você. Eu
tenho perguntas embora. — Ela se aninha mais perto de mim, com a
cabeça no meu peito. — Como é que você se apaixonou por mim apenas por
essas breves interações? Parece um pouco... singular. Não que eu não
esteja agradecida. Você não tem ideia de como estou satisfeita em saber
que você sente o mesmo. — As últimas palavras estão em um tom mais
suave, como se estivesse envergonhada.

— Foi bastante fácil. Quando tudo que você já conheceu é crueldade, a


única pessoa que lhe ensina bondade se torna o centro do seu universo.
Você se tornou minha, Lina. Quando você me deu aquela sacolinha com
comida, ou quando cuidou das minhas feridas, você me fez acreditar que
havia algo mais no mundo além do mal. Você me fez ter esperança
novamente. — Mesmo que essa esperança tenha sido frustrada mais tarde.
Ela ainda me mostrara uma maneira diferente de ser, e por isso ela se
tornou minha musa, meu desejo final.

— O que aconteceu com você, Marcello?

— Mais como o que não aconteceu. — Eu respondo com desdém. — Eu


vou te contar...

— Um dia. — Ela ri enquanto dizemos a palavra em uníssono.

morally questionable
— Não é que eu não queira, Lina. Mas é difícil falar sobre isso. — E
porque parte de mim não acha que ela me olharia da mesma forma se
soubesse as coisas que eu fiz.

— Estou aqui. Sempre que você quiser conversar. — Ela dá um beijo


no meu peito, o seu rosto está aninhado ao meu lado.

— Então você me ama. — Eu mudei sutilmente de assunto, mesmo


que ainda não possa acreditar que ela me ame. É simplesmente bom
demais para ser verdade, considerando que eu sonhava em ouvi-la dizer
essas palavras por tanto tempo.

— E você me ama. — Ela atira de volta, arqueando uma sobrancelha,


seus lábios se contraindo timidamente.

— Tanto que dói. — Eu levanto o seu queixo com o dedo, querendo


mostrar a sinceridade nos meus olhos. — Não há nada que eu não faria por
você, Lina. Diga-me para morrer amanhã, e eu vou. Diga-me para viver, e
eu serei seu servo. Para sempre.

Ela pisca duas vezes, um sorriso se espalhando em seus lábios. —


Bem. Como meu servo, ordeno que nunca pare de me amar.

— Simples.

— E eu quero ter muitos, muitos filhos.

— Fechado. — Eu digo imediatamente.

morally questionable
— Sério? Que tal dez? — Lina levanta a sobrancelha em um desafio.

— Dez funciona para mim, mas estou preocupado com você, pois você
fará o trabalho duro.

— Eu não me importo com isso. Eu quero uma família grande. — Ela


inclina a cabeça pensativamente. — Uma grande e amorosa família.

— Então eu vou te dar tudo o que você quiser.

Eu a pego em meus braços, minha cabeça descansando em cima da


dela.

E eu oro silenciosamente.

Que o amor dela será suficiente.

Quando chegar o dia…

— Eu amo você. — Colocando um beijo nos lábios de Lina, eu saio.

morally questionable
Desde que finalmente confessei meus sentimentos, aproveitei todas as
oportunidades para informar Lina o quanto ela significa para mim. Eu
poderia fazê-lo em excesso, mas dez anos de saudade reprimida podem
fazer isso com um homem.

Tento terminar todas as minhas reuniões a tempo para poder voltar


para casa. Eu aceitei a oferta de Guerra, mesmo que apenas
temporariamente. Embora eu ainda não confie nele, estou um pouco mais
preocupado com o estado da famiglia e a percepção deles sobre as coisas se
adiar a solução ainda mais da questão do transporte. Desde a inauguração,
comecei a sentir uma clara divisão entre os membros da famiglia, com uma
facção me apoiando enquanto a outra Nicolo. Não é como se eu não tivesse
considerado a possibilidade, mas a realidade significa que preciso
convencer todos que sou o candidato mais adequado para Capo.

Ainda tenho minhas dúvidas sobre Benedicto, pois não sei exatamente
qual é sua posição em relação ao irmão. O rancor de Franco em relação a
Catalina só deve ter aumentado desde sua humilhação pública. Mesmo
assim, duvido que seja ele quem está tentando aterrorizar Catalina. Não
com todas as evidências apontando para o imitador Chimera, que não
estou mais perto de descobrir.

Toda a situação é muito confusa. Só espero que, por enquanto, a


famiglia esteja satisfeita com as rotas de transporte de Guerra e com os
clubes de Enzo para distribuição.

morally questionable
Passo a maior parte do dia passando de armazém em armazém para
garantir que o próximo transporte seja seguro o suficiente. Depois de
sentir que tudo está em ordem, deixo Francesco para supervisionar os
detalhes.

Está quase escuro quando volto para casa. Acho as garotas na sala de
estar, Claudia e Venezia estão fazendo a lição de casa, enquanto Catalina
está focada em desenhar uma nova peça. Eu franzo a testa quando percebo
que Sisi está desaparecida. Ela tem feito muito isso ultimamente.

— Marcello! — Lina deixa tudo para pular nos meus braços.

— Calma amor. — Eu beijo o topo da cabeça dela.

Venezia e Claudia me cumprimentam com um aceno de cabeça, mas


parecem estar absorvidas pelo que estão trabalhando, então não quero
incomodá-las.

— Elas têm um teste amanhã. — Lina sussurra e me acena em


direção às escadas.

— Como foi o seu dia? — Ela pergunta quando entramos em nosso


quarto.

— Bom, eu acho. Ainda não tenho certeza. — Admito e dou a ela um


rápido resumo do que havia planejado.

morally questionable
— Se Guerra mantiver seu fim da barganha, isso poderá funcionar. —
Lina me ajuda a sair da minha camisa.

— A ajuda do seu irmão também é um bônus. Eu fiz as contas e


poderíamos recuperar nossas perdas em um mês, no máximo dois.

Ela franze os lábios, o rosto tenso.

— Eu nunca gostei do que Enzo faz. Quero dizer, eu não gosto de


qualquer coisa disso. Mas ele está explorando consciente e
intencionalmente mulheres. — Ela balança a cabeça. — Eu simplesmente
não consigo conciliar isso com a imagem que tenho do meu irmão.

— Há uma coisa que você precisa entender, Lina. — Eu me viro para


ela, acariciando suavemente o seu cabelo. — Os mafiosos sempre têm dois
rostos: um que eles mostram para sua família e outro que mostram para o
mundo exterior. Você não pode ter sucesso nesse ambiente cruel sem
crueldade e um compromisso com a moralidade. Você pode conhecê-lo como
um irmão amoroso, mas para todos os outros ele é um Capo e um homem
feito.

Ela parece pensativa por um momento.

— Eu sei quem você é comigo, — diz Lina, enfiando o dedo no meu


peito. — Mas qual é o rosto que você mostra para o mundo exterior? O que
você costumava punir Franco?

morally questionable
— Não. É muito, muito pior. — Eu digo a ela honestamente,
esperando que não busque mais.

— O que você quer dizer?

— Eu rezo para que você nunca descubra. — Eu levanto o dedo dela


para os meus lábios. Parece que ela quer dizer algo mais, então eu a
silencio com um beijo. O que ela me viu fazer com Franco foi tranquilo. Se
ela soubesse do que sou capaz... Eu realmente espero que ela nunca
descubra.

Antes que possamos levar as coisas adiante, Amelia interrompe para


me informar que recebi um pacote que ela havia deixado no meu escritório.

— Você tem que ir agora? — A mão dela segue suavemente pelo meu
braço antes de entrelaçar nossos dedos.

— Eu não vou demorar. — Eu digo, relutante em deixar o lado dela. —


Depois disso, sou todo seu.

— Eu vou esperar por você.

Antecipação já construindo dentro de mim, corro para o meu


escritório, com a intenção de acabar com isso rapidamente. Como Amelia
disse, há uma caixa grande no topo da minha mesa.

Estranho que Amelia não tenha mencionado de quem é. Um olhar


superficial me diz que não tem rótulos.

morally questionable
Eu encolho os ombros e começo abri-lo. Pegando uma tesoura, cortei a
fita segurando a caixa no topo.

Eu não tinha sentido nada antes, mas no momento em que abro a


caixa, o cheiro da morte me agride.

— Porra! — Eu murmuro, coçando meu nariz com nojo. Isso é outra


piada de mau gosto? Descuidadamente, rasgo o papelão para ver o que
está dentro.

E então eu paro.

Cortada do pescoço, a cabeça do pai é colocada de bruços dentro da


caixa. A pele está azul amarelada, uma mistura de pus e sangue
permanecendo na linha de decapitação. O ferimento de bala está infestado
de larvas, assim como seus bolsos nos olhos, ou o que resta deles.

— Porra! — Eu dou um passo atrás, olhando em choque para a cabeça


podre do pai. Quem poderia ter enviado isso?

Mas isso significa...

Respirando fundo, vasculho a caixa, procurando algumas pistas sobre


quem poderia ter feito isso. Não demoro muito para encontrar uma nota.

BOA TENTATIVA!

Minha mão se apega ao redor do pedaço de papel.

morally questionable
Eu fui enganado.

Tentando me acalmar, sento-me e repito os eventos recentes na minha


cabeça. Há apenas uma conclusão a ser tirada.

É alguém próximo de mim.

Isso é tudo uma piada para quem está fazendo isso. E colocar as coisas
em perspectiva me faz pensar que tudo tem sido um jogo até agora. De eu
encontrar os documentos do asilo quando o fiz — considerando que já
havia passado por todos os arquivos de Tino antes — para encontrar pai e
matá-lo, esperando que ele fosse a fonte do meu tormento.

Uma risada maníaca assume. Eu não posso nem me ajudar enquanto


me inclino para a frente, minha barriga doendo por rir tanto.

E então eu paro.

Eles acham que venceram, hein? Mas agora tenho uma pista
inestimável. Quem quer que seja, tem acesso irrestrito à minha casa. Mas
mais do que tudo, eles sabem sobre o meu passado e meu trabalho para o
pai. Isso restringe ainda mais a lista.

É alguém dentro da família.

Mas é mais do que isso. É pessoal. E não consigo pensar em ninguém


que ofendi. Claro, há Nicolo e seus companheiros, mas eu mal interagi com

morally questionable
eles. Há mais do que aparenta, mas simplesmente não tenho informações
suficientes.

Eu ligo para um soldado e o instruo a se livrar da cabeça.

Se eles estão tão perto.... Talvez eu precise plantar uma armadilha.

Volto um pouco mais tarde para o quarto, e Lina já está enfiada na


cama. Ela sorri quando me vê, abrindo os braços. Eu deslizo e a abraço.

Uma coisa é certa. Isso é guerra. Não posso deixar ninguém tirar
minha felicidade. Não quando finalmente a peguei.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E CINCO

É pela manhã quando recebo minha entrega semanal de tecidos.


Desta vez, pedi alguns, pensando que poderia surpreender Claudia com
seu vestido de princesa dos sonhos no seu aniversário. Esconder meu
trabalho para ela não seria fácil, no entanto.

As meninas ainda estão dormindo e Marcello já foi trabalhar. Isso me


deixa principalmente sozinha em casa. E é a oportunidade perfeita para
desembalar os materiais.

morally questionable
Pego as caixas no meu quarto e enfileiro todos os tecidos da cama para
melhor visualização. Quando vou jogar as caixas, um pedaço de papel cai.
Pensando que pode ser uma fatura, eu a pego para adicioná-la à minha
pasta.

Mas não é.

NÃO QUER SABER QUEM É O PAI DA SUA FILHA?

Eu congelo. O que é isso? Quem colocou dentro?

Volto às caixas e procuro em todas elas, mas não há mais nada.

Apenas este pedaço de papel.

Entorpecida, sento-me, o bilhete ainda na minha mão.

Não, não posso deixar isso me abalar. Tudo está no passado, e tenho
certeza de que quem está fazendo isso não pode saber o que aconteceu
naquela noite.

Demoro um pouco para me recompor. Rasgo o bilhete em pedaços e


jogo no lixo. Então, eu apenas me concentro no meu projeto.

Não vou deixar isso me incomodar.

À medida que o dia avança, eu esqueço. À noite, eu já tirei isso da


minha mente.

morally questionable
— Signora Catalina, isso veio para você. — Amelia me para no meu
caminho para o café da manhã no dia seguinte. Eu franzo a testa, mas
pego a carta.

Encontro um canto embaixo da escada e abro. Dentro há outra nota,


semelhante à que eu havia recebido no dia anterior. Meus dedos já estão
tremendo quando eu desdobro para ler outra mensagem perturbadora.

ELE ESTÁ MAIS PERTO DO QUE PENSA.

Quem está fazendo isso? Quem está se esforçando tanto para me


atormentar com a pior coisa que já me aconteceu?

Colocando o papel de volta em seu envelope, peço a Amelia que traga


a refeição para o meu quarto e desculpe minha ausência dizendo que estou
doente. Quando Amelia sai, eu corro para o meu quarto.

O que está acontecendo? Eu não entendo. Admito que pensei no pai


biológico de Claudia ao longo dos anos. Mas não foi porque eu estava
curiosa sobre a sua identidade. Era mais necessidade se eu podia ver seus
traços na minha filha. Felizmente, ela herdou todas as suas características
físicas de mim — exceto o cabelo.

Balanço a cabeça, nem mesmo querendo entender que a nota pode


estar certa. Que meu estuprador está perto de mim é algo que ameaça me
deixar doente.

Uma batida na porta me assusta.

morally questionable
— Lina? Você está bem? — Marcello pergunta. Corro para esconder a
carta debaixo do colchão, fazendo-o pouco antes de ele abrir a porta.

—Lina? Amor, você não parece muito bem. — Ele se aproxima e se


abaixa em seus quadris na minha frente. Verificando minha temperatura
com as costas da mão, ele franze a testa.

— Você está um pouco quente.

— É apenas uma dor de cabeça. Não se preocupe. — Pego sua mão e a


aperto, buscando o conforto familiar de seu toque.

— Eu não posso fazer isso. Eu sempre vou me preocupar com você. —


A gentileza de sua voz me acalma. Eu o puxo em meus braços, segurando-o
com força.

— Eu te amo. — Eu sussurro. Eu nem quero imaginar o que ele


pensaria de mim se soubesse... Fecho os olhos, querendo esquecer tudo.

— Eu te adoro, Lina. Não esqueça disso. — Ele recua, com o rosto


tenso de preocupação. Sinto-me culpada por isso, então rapidamente
exorto-o a voltar para a sala de jantar.

— Estou me sentindo melhor. Venha, vamos juntos. — Eu me levanto,


levando-o em direção à porta.

— Se você tem certeza...? — Seus olhos me examinam, tentando


avaliar a veracidade das minhas palavras.

morally questionable
Eu aceno e coloco um sorriso no meu rosto.

Ele tem problemas suficientes. Ele não precisa disso também.

As mensagens continuam chegando. Todos os dias, recebo uma carta


sem falta. Isso continua por uma semana. As notas geralmente têm uma
frase, mas me provocam com o conhecimento da identidade do pai de
Claudia. Após os primeiros dias, eu me recuso a abri-las, optando por
queimá-las.

Quem pensa em me atormentar com isso deve reconsiderar. Acabei de


jogar o que só posso descrever como um jogo doentio. Dois dias sem cartas
novas e pensei que finalmente tinha acabado. Mas eu estava errada. Eu
estava errada ao pensar que jogar fora as cartas faria tudo parar.

Navegando na internet no meu quarto, fico chocada ao ver um pop-up


aparecer na tela. No começo está vazio. Mas então, preenche as mesmas
frases que recebi em formato de carta.

MENINA TOLA, SE VOCÊ SOUBESSE.

O HOMEM QUE VOCÊ PROFESSA AMAR — NÃO PENSE QUE


NÃO OUVI.

Eu tento o meu melhor para sair da janela, pressionando todos os


tipos de teclas, mas é em vão. Ele continuou digitando.

morally questionable
O HOMEM QUE ESTUPROU VOCÊ ESTÁ MAIS PERTO DO
PENSA.

VOCÊ SE CASOU COM ELE.

O texto para de repente e meu computador trava. Ainda estou olhando


para a tela em branco, chocada com o que eu li. Ele está sugerindo que
Marcello é o homem daquela noite? A noção simples disso me faz rir.
Realmente, todo esse problema para quê? Para me fazer duvidar do meu
marido?

Quem quer que fosse deveria perceber o quão absurda é a ideia de que
Marcello poderia ser o pai de Claudia....

Balanço a cabeça, determinada a tirar isso da minha mente para


sempre.

Quando o jantar é anunciado, desço as escadas e percebo que todos,


exceto Assis, já estão à mesa. Marcello está conversando profundamente
com Claudia, e eles estão discutindo algum texto que ela teve que ler como
parte de sua lição de casa.

— Mas não é muito lógico. — Minha filha observa, sobrancelhas se


unem em consternação.

— Acho que você acabou de avançar para a sua série, Claudia. —


Marcello assente. — Você tentou dizer isso à Sra. Evans?

morally questionable
— Sim, mas ela quer que eu siga o caminho tradicional. Ela diz que eu
não deveria perder uma Educação normal. — Ela suspira, claramente
decepcionada com a abordagem de sua professora.

— Lina, aí está você. — Marcello me dá um sorriso brilhante


enquanto me sento. Eu aceno para eles, pedindo que continuem.

À medida que os pratos vêm e vão, não posso deixar de olhar para os
dois, procurando quaisquer semelhanças. Maldição! Agora que a ideia foi
semeada na minha cabeça, não posso deixar de pensar nisso.

Não há muito o que fazer. A única coisa que eles têm em comum são
seus cabelos levemente a mesma cor. De fato, quanto mais eu olho, mais
percebo que é o mesmo tom de loiro.

Senhor! Eu devo estar ficando louca.

— Lina? — Marcello chama meu nome, franzindo a testa.

— Sim, desculpe, eu não ouvi você.

— Você está perdida em pensamentos há um tempo.

— Apenas pensando no meu design. — Eu minto rapidamente,


forçando um sorriso. Bom Deus, se ele soubesse o que eu estava
pensando...

morally questionable
O próximo prato é servido, e vejo Marcello parecendo um pouco
desconcertado.

— Algo errado? — Eu pergunto quando um dos membros da equipe


coloca um prato na minha frente.

— Eu dei instruções específicas para evitar frutos do mar. — Ele


observa, pegando sua comida.

Olho para o meu prato e vejo que é uma mistura de frutos do mar.

— Aí credo. — Minha filha faz uma careta, afastando o prato dela.

— Por quê? — Eu pergunto, meus olhos ainda estão na minha filha.

— Eu tenho alergia a frutos do mar. — Ele balança a cabeça,


levantando-se para ir à cozinha para investigar mais.

— Uau. Eu também tenho alergia a frutos do mar. — Claudia


exclama. Marcello para em seu caminho e da meia volta para Claudia, sua
expressão inescrutável.

— Vou dizer a eles para não cometerem esse erro novamente. — A voz
dele está tensa, e minhas dúvidas de repente dobram.

Certamente é apenas uma coincidência?

morally questionable
Os dias seguintes são ainda piores. Observo Marcello e Claudia ainda
mais próximos, estudando suas interações e comportamentos. De repente,
vejo um padrão em tudo.

Isso está me afetando demais. Especialmente quando procuro na


Internet tipos de evidências de que duas pessoas podem estar
relacionadas. Com exceção de um teste de DNA, outro método muito
menos confiável é comparar os tipos sanguíneos dos pais.

Paro por um segundo para pensar. Meu tipo sanguíneo é 0 e o de


Claudia é B. Eu estudo alguns gráficos e o pai só pode ter um tipo
sanguíneo B ou AB. Ok, então não há muito o que fazer. Mas como sou tão
paranóica, acabo perguntando a ele tarde da noite na cama.

— De onde isso veio?

— Oh, eu tenho lido algumas dicas de bem-estar e elas levam em


consideração o tipo sanguíneo. — A mentira sai facilmente da minha
língua e sinto uma pontada de culpa. Estou ficando louca, mas se ele
disser 0 ou A, posso deixar minhas preocupações de lado.

— Hmm, isso é interessante. — Ele se vira para mim, com o rosto a


meros milímetros de distância. — É B, eu acho.

— Oh. — É tudo o que posso dizer.

— Quaisquer dicas para mim? — Ele brinca, me puxando para mais


perto.

morally questionable
— Eu vou ler e te conto?

— De acordo. — Sua boca cai na minha e eu perco o controle de todo o


resto.

Porque este é o homem que eu amo.

— Lina, preste atenção, — Enzo bate os dedos na minha frente.

— Desculpa. Ultimamente tenho me distraído.

Pedi a Enzo para me encontrar em um café próximo. Eu precisava de


alguém para confiar e, apesar de toda a nossa amizade, sabia que Sisi não
era a melhor opção nesse caso. Não apenas porque era sobre o irmão dela
que eu queria falar, mas também porque ela está muito distante
ultimamente.

— Eu vejo isso. — Ele se inclina para trás em seu assento, me


estudando. — Ele está maltratando você? Você pode me dizer qualquer

morally questionable
coisa, Lina. Vou fazê-lo se arrepender do dia em que ele nasceu, se ele fez
alguma coisa...

— Não, de jeito nenhum. — Eu o cortei. — Não é isso. Ele não foi nada
além de maravilhoso. — Eu digo rapidamente. Percebi no passado que
Enzo não tem a melhor opinião de Marcello, e tenho que me perguntar por
quê.

— Você perdeu peso e parece magra. O que devo pensar? — Ele


arqueia uma sobrancelha para mim e espera que eu fale.

— Eu... — Eu começo, nem mesmo sabendo por onde começar. — Eu o


amo. Eu o amo como nunca pensei que faria. — Eu aperto a xícara de café
nas minhas mãos, baixando o olhar. — Ele é incrível, atencioso e, oh, tão
gentil. Ele é tudo o que eu poderia ter pedido e muito mais.

Enzo ri das minhas palavras e eu levanto minha cabeça. — É por isso


que não entendo por que você o odeia tanto.

— Você já ouviu alguma coisa sobre o passado dele?

Eu balanço minha cabeça. — Apenas um pouco... não muito.

— Ele disse que pediu sua mão anos atrás?

— Ele mencionou isso.

morally questionable
— Rocco aceitou a proposta. Passaram algumas semanas antes... —
Ele para e eu sei que ele quer dizer o incidente. — Depois disso, seu pai
morreu de repente e Marcello desapareceu.

— Por que o papai nunca disse nada? — Eu franzi a testa. Eu não


tinha percebido o quão séria a conversa sobre casamento tinha sido.

— Era tarde demais nesse ponto. — Enzo faz uma careta. Ele quer
dizer que eu já estava danificada como mercadoria até então.

— É por isso que você é tão contra ele? Porque ele deixou a famiglia?

— Não. — Os lábios de Enzo se enrolam nos cantos de forma


sarcástica. — Foi por causa do que ele fez antes de partir.

— Se você está falando sobre as orgias, então eu ouvi sobre isso. — Eu


digo de repente.

Enzo pisca duas vezes, surpreso com o meu comentário, mas ele
continua. — As orgias eram apenas uma pequena parte. Os Lastras eram
infames há dez anos. Marcello e seu pai estavam sempre juntos, adotando
as piores e mais degradantes práticas. — Enzo finge cuspir para enfatizar
o quão nojento ele acha essas práticas.

— Entendo. — Eu volto para o meu café mais uma vez, sem saber
como responder. O homem que conheço e o homem que ele está
descrevendo são duas pessoas diferentes. Mas esse é o ponto, não é? Ele é
um mafioso de duas caras.

morally questionable
— Por que você me chamou aqui, Lina? E seja honesta. Eu posso ver
que algo está comendo você.

— Eu tenho recebido algumas mensagens de assédio. No começo eram


cartas e depois começaram a aparecer no meu computador também.

— O que Lastra diz sobre isso?

— Eu não contei a ele.

— Lina... — Enzo geme, batendo a mão na testa. — Por que você não
contou ao seu marido? Eu só concordei com o casamento porque ele deveria
mantê-la segura.

— Porque as mensagens são sobre ele. — Eu sussurro, finalmente


chegando ao verdadeiro motivo pelo qual o chamei aqui.

— O que você quer dizer?

— As mensagens continuam dizendo que ele é o pai de Claudia. —


Reconto desde o início o que cada mensagem continha, e então minhas
dúvidas cada vez maiores e minhas observações.

— Então, sua evidência até agora é que eles têm o mesmo cabelo,
alergia e tipo sanguíneo? — Ele está pensativo, e eu apenas aceno.

— Não é exatamente evidência. Isso implicaria que eu já acredito que


ele é culpado. Eu simplesmente não posso deixar de ser paranóica.

morally questionable
Continuo olhando para tudo o que eles têm em comum e tenho essas
dúvidas...

Enzo está calado, sua mandíbula travada.

— É uma loucura, certo? É uma loucura demais para contemplar. —


Eu balanço minha cabeça. Eu só quero que Enzo me diga que estou vendo
muito disso. Quero que ele confirme que estou indo para o fundo do poço.

— Eu não sei se é muito louco.

Minha cabeça vira na sua direção, meus olhos arregalados.

— O que você quer dizer? — Eu pergunto, quase horrorizada.

— Lina, eu te disse que ele não era um bom homem. O Marcello que
eu conhecia... o Marcello que todos conheciam era um monstro. Porra!
Acho que nunca poderei me perdoar por concordar com esse casamento. —
Ele pressiona os dedos nas têmporas em uma massagem leve.

— O que você quer dizer com monstro? — Minhas palavras são um


mero sussurro.

— Toda coisa ruim que você conseguir pensar, ele era culpado. — Ele
diz com um suspiro.

— Mas são apenas rumores, certo? Você não pode ter certeza.

morally questionable
— Lina, houve um tempo em que absolutamente ninguém ousou ir
contra os Lastras. Todo mundo que os prejudicou acabou morto; morto da
pior maneira possível. Quando seu pai morreu e Marcello desapareceu,
ninguém lamentou. Como uma mancha na história das cinco famiglias,
eles foram prontamente esquecidos.

— Mas... isso não significa que ele faria algo assim comigo. — Eu
tento explicar para ele, mas mesmo para meus ouvidos parece falso. — Ele
queria se casar comigo, certo? Por que ele faria?

Enzo coloca um cigarro na boca e acende. Ele inala algumas vezes


antes de soprar uma nuvem de fumaça. Ele encolhe os ombros.

— Eu não estou dizendo que ele fez isto. Só estou dizendo que ele é
capaz de fazer isso.

Sua maneira casual não ajuda com o meu pânico já crescente. Não,
tenho certeza que Marcello não faria isso. Eu o conheço, não conheço? Eu
sei o quão gentil e carinhoso ele é. Como poderia uma pessoa assim...
Balanço a cabeça, nem querendo ir para lá.

— Se você está tão preocupada com o que um estranho disse, sempre


pode fazer um teste de DNA para confirmar suas dúvidas.

— Isso significaria que eu suspeito fortemente dele.

— Não, isso significa que você obtém um resultado, confirma que não
é ele, como você acredita claramente, e depois siga em frente. Você está tão

morally questionable
estressada agora com a possibilidade de que isso possa ser verdade, você
mal pode funcionar. — Enzo aponta apropriadamente tudo o que eu estava
pensando e tenho que concordar com sua linha de raciocínio.

— Você está certo. Eu não acho que é ele. Mas farei isso apenas para
ter certeza.

— Boa. Eu vou cuidar disso. Você só precisa coletar algumas amostras


de cabelo de Claudia e seu marido. Vou mandar alguém aparecer para
buscá-los.

— Eu estou assustada. — Eu admito pela primeira vez.

— Lina, por mais que eu não goste do seu marido, se você acredita que
ele não fez isso, confio no seu julgamento. É possível que alguém esteja
apenas tentando fazer uma separação entre vocês dois.

— Eu pensei sobre isso. Mas eu ainda estou...

— Você precisa ter certeza. Eu posso respeitar isso. Vou garantir que
obtenha os resultados o mais rápido possível.

morally questionable
Minhas mãos apertam o envelope fechado. Enzo havia enviado um de
seus homens para entregá-lo a mim. Levou menos tempo do que eu
imaginava, menos de uma semana.

Mas agora eu enfrento a maior decisão. Abra e descubra a verdade, ou


descarte, esqueça a coisa toda e confie no meu marido. Não ajuda que
Marcello e eu estamos mais próximos do que nunca. Ontem à noite, ele
teve um de seus terrores noturnos, e eu o confortei a noite toda, pois ele
compartilhou algumas coisas sobre seu monstro de pai.

Tantas peças simplesmente não se encaixam nessa história, e isso


está me deixando mais confusa do que nunca. Com um suspiro, coloquei o
envelope em uma gaveta.

Eu farei isso mais tarde.

Talvez eu tenha medo do que vou descobrir... Balanço a cabeça,


dizendo a mim mesma que há apenas um resultado provável, e esse é um
resultado negativo.

Tirando da cabeça, deixo meu quarto e desço as escadas. As meninas


estão na sala de estar, como sempre, jogando um jogo. Embora haja uma
diferença de cinco anos entre elas, Claudia e Venezia rapidamente se
tornaram melhores amigas. Sisi também está presente, sentada no canto
mais distante da sala, com o livro na mão.

— Então você decidiu se juntar à civilização novamente? — Eu brinco


enquanto me sento ao lado dela.

morally questionable
Sisi olha para mim, um sorriso culpado tocando em seus lábios.

— Eu sei que não estive muito por aqui. Eu tenho tentado me


encontrar. — Ela suspira. — É estranho ser livre para fazer o que eu
quiser pela primeira vez.

— Eu sei o que você quer dizer. Mas diga-me, isso inclui um certo
garoto Guerra? — Ela abaixa a cabeça e eu consigo ver um rubor. Então é
isso mesmo.

— Nós somos amigos. Eu acho que nos entendemos. Conte-me sobre


você e Marcello. — Ela se vira para mim, mudando de assunto.

— Nós estamos bem. — Eu confesso. — Mais que bem. Ele é


maravilhoso. — Os olhos de Sisi se arregalam por um segundo antes que
ela comece a rir.

Eu franzo a testa, sem entender sua explosão.

— Então eu sou maravilhoso. — A voz divertida de Marcello ecoa por


trás de mim. Eu chicoteei minha cabeça e lá está ele, sorrindo.

— Você não deve espionar. — Eu levanto uma sobrancelha para ele.

— Como não posso quando ouço pérolas assim? — Seus lábios se


enrolam. — Lina, posso te ver por um momento? — Eu aceno, e ele me leva
de volta para o quarto.

morally questionable
No centro da cama há uma grande caixa retangular branca.

— O que é isso?

— Abra.

Levanto a tampa para revelar um vestido branco, um vestido de


noiva.

— O que... Para que é isso? — Gaguejo enquanto desdobro o vestido.


Estou chocada ao olhar para o vestido mais bonito que já vi.

— Eu tenho trabalhado em algo para você. Sei que não conseguiu seu
casamento de conto de fadas e gostaria de remediar isso. — Sua expressão
é esperançosa, e meu peito se aperta com emoção.

Como eu poderia ter pensado nisso? Este homem poderia ser capaz de
qualquer coisa tão hedionda quanto o que experimentei naquela noite?
Como eu poderia suspeitar dele?

— Eu não tenho palavras. — Eu digo, meus olhos se movendo do


vestido para o homem maravilhoso na minha frente.

— Vamos lá, experimente. — Ele me pede, e eu aceito de bom grado.

O vestido é absolutamente perfeito. Com um corpete terminando em


um V e uma saia que brilha na verdadeira moda de princesa, não posso
deixar de amá-lo.

morally questionable
— Isso é perfeito. — Eu digo a ele, fazendo um giro e vendo as saias se
moverem comigo. Eu sempre quis fazer isso.

— Estou feliz que você goste. —Marcello se aproxima e coloca as mãos


na minha cintura, me puxando para o peito. — Você é absolutamente de
tirar o fôlego, Lina. — Seus lábios escovam sobre minha testa antes de
descer e parar ao lado da minha orelha. — E toda minha.

— Sim. Toda sua. — A cada pincelada dos lábios dele, minha


respiração aumenta, a antecipação me faz tremer.

— Há mais uma coisa. — Ele diz e se abaixa. Ele pega outra caixa
debaixo da cama. — Os sapatos. — Ele remove um par de scarpins de
cetim brancos cheios de enfeites brilhantes.

— Uau. — Eu expiro.

Ele gentilmente pega um pé na mão e o leva aos lábios. — Até seus


pés são perfeitos. — Ele comenta deslizando o sapato. Ele faz o mesmo com
o outro pé e depois dá um passo atrás.

— O espelho. — Ele me leva até o espelho da parede.

Eu ofego quando me vejo. Marcello vem e me abraça por trás,


colocando a cabeça no meu ombro.

— É isso que vejo quando olho para você. Algo tão etéreo que às vezes
acho difícil acreditar que você é real.

morally questionable
— Marcello, — sussurro de admiração. Olhando para mim no espelho,
usando este vestido deslumbrante, não posso deixar de me ver através dos
olhos dele. E eu me sinto bonita. — Obrigada.

— Eu te amo Lina. — Ele vem até mim, segurando meu rosto nas
palmas das mãos por um beijo.

— Eu também te amo. — Eu respondo e instantaneamente me sinto


culpada pelo que tenho escondido dele.

Ele provavelmente ficará tão decepcionado comigo por contemplar que


isso pode ser verdade. Mas eu tenho que contar a ele. Eu devo isso a ele.

— Eu preciso te contar uma coisa. — Eu dou um passo atrás. Suas


sobrancelhas se franzem em questão, então deixei as palavras escaparem
da minha boca antes de perder a coragem. — Há algumas semanas, recebi
uma nota anônima. Depois disso, mais notas começaram a aparecer, quase
diariamente. Até eu receber uma mensagem no meu computador.

— O que disse? Lina, você deveria ter me dito antes. Pode ser a
mesma pessoa que já a perseguiu antes.

— Os bilhetes eram sobre o pai de Claudia. — Eu abro o olhar. — E a


última mensagem disse... — Eu respiro fundo, — que você é o pai de
Claudia. É absolutamente insano, eu sei disso agora. Sinto muito por não
ter vindo até você antes. — Eu olho para ele, esperando que ele não se vire
contra mim.

morally questionable
O rosto de Marcello é branco como papel. Ele dá um passo atrás, sua
expressão é atingida.

— Marcello?

Ele balança a cabeça tão devagar, com os olhos arregalados de horror.


Sua reação é tão imediata que me sinto compelida a perguntar.

— Não é verdade, não é? — Ele empalidece ainda mais na minha


pergunta, e sinto meu coração parar.

Certamente não...

— Marcello, me diga que não é verdade. — Repito e vejo como ele


balança a cabeça continuamente, sem palavras saindo da boca.

Por que ele não está dizendo nada?

— Marcello... — Não, não pode ser... Ele continua recuando até as


costas baterem no espelho. Mas ele não fala.

Minha respiração aumenta, o pânico inchando no meu peito. Por que


ele não está dizendo nada? Por que ele não está negando?

— Por favor, diga alguma coisa. — Eu imploro, minha voz está


quebrando. Quando ele ainda não reage, faço a única coisa em que consigo
pensar. Abro a gaveta e tiro o envelope.

morally questionable
— Lina, — um leve tremor atravessa meu corpo, mas eu não paro.

Rasgo o papel até que os resultados estejam me encarando.

99,9% correspondem.

Eu lentamente levanto meus olhos para encontrá-lo. Ele deve ver a


mudança em mim, porque cai de joelhos, rastejando em minha direção. Ele
agarra minhas mãos, forçando-me a olhar para ele.

— Lina, por favor, me escute. Eu sinto muito... — Eu percebo tudo.


Sua voz se torna um zumbido nos meus ouvidos quando me deparo com o
que acabei de descobrir.

Marcello é o pai de Claudia.

Isso significa... Um soluço pega na minha garganta quando as


implicações ficam claras como à luz do dia.

Marcello foi o homem que me estuprou.

Olho para o seu rosto e não o reconheço mais.

Eu só vejo uma coisa. O homem com os olhos âmbar.

Eu vacilo com o seu toque, empurrando-o de mim.

morally questionable
— Você... — Eu começo, mas mal consigo formar as palavras. É como
se minha garganta estivesse fechada com a imensidão da situação,
decepção e desgosto me enchendo até o limite.

Isso dói.

Eu bato nas mãos dele, dando um passo atrás.

— Você me estuprou. Você... — Lágrimas estão caindo e todo o meu


ser é atacado pela pior dor que já encontrei. — Você me torturou e me
estuprou. — Eu deixo escapar.

— Lina, por favor. — Ele resmunga, seu rosto devastado pela agonia.
— Eu posso explicar, por favor. Eu te amo mais do que tudo.

— Você me ama? — Eu dou uma risada histérica, a mera idéia é


ridícula. — Você diz que me ama, mas me causou a pior dor que já
experimentei. Como isso é amor? Como? — Grito e vejo como ele se afasta.
— Eu não posso... Eu não posso fazer isso. — Eu balanço minha cabeça,
muito sobrecarregada. — Você sabia o quanto eu sofri, e nunca pensou em
me dizer a verdade? — Eu paro, outro pensamento passando pela minha
cabeça. — Você planejou me contar?

— Não. — O sussurro dele é quase audível. — Fiz tudo por você, juro.
— Ele continua, e é como se ele estivesse me esfaqueando no coração, de
novo e de novo. Mas agora ele também está virando a adaga para infligir o
maior dano.

morally questionable
— Por mim? — Eu engasgo. — Você me estuprou por mim? Me
desculpe se acho isso difícil de acreditar.

— Por favor, apenas me escute, Lina. Não é como você pensa.

— Pare! Somente... Pare. Como você pode dizer isso? Este teste
mostra que você é o pai biológico de Claudia. Como pode não ser assim? —
Respiro fundo, tentando encontrar uma aparência de calma. — Eu não
posso fazer isso. — Eu me viro para sair, mas ele de repente agarra minha
cintura, me segurando.

— Por favor. Eu te amo Lina, eu realmente amo. — Toda vez que ele
diz a palavra amor, ele está me matando ainda mais.

Foi tudo mentira?

— Que tipo de monstro você é? — Eu cuspo, indignada. Parece que eu


lhe dei um tapa fisicamente, mas não paro. — Se é assim que você ama
alguém, não quero saber o que acontece quando você os odeia.

— Eu estava errado em não contar, admito. Mas...

— Dez anos, Marcello. Dez anos vivi com essa dor, e você acha que
isso fará tudo magicamente desaparecer?

— Por favor, não me deixe. Sinto muito, farei qualquer coisa para você
acreditar em mim. — Ele me puxa para mais perto e não consigo encontrar
forças para me importar.

morally questionable
— Qualquer coisa? — Eu viro um pouco.

— Qualquer coisa. — Ele acena, seus olhos inchados e vermelhos.

— Eu nunca quero ver você na minha frente enquanto viver.

— Qualquer coisa menos isso. Não posso viver sem você, Lina, por
favor. — Suas mãos estão envoltas no tule do meu vestido, e ele está me
puxando em sua direção enquanto eu tento sair.

— Me deixar ir. — Eu digo através dos dentes cerrados, mas o aperto


dele fica forte. Pego seus ombros e o empurro com toda a força que posso
reunir.

Ele recua, a cabeça batendo no espelho e quebrando-o em pedaços.


Cacos estão caindo ao seu redor. Olhos arregalados, ele para. Há um
pequeno corte no rosto, um pequeno rastro de sangue descendo pela
bochecha e se misturando com as lágrimas. Deve haver outros cortes,
porque o sangue derrama no tapete intocado. Meu primeiro instinto é
ajudá-lo, então dou um passo à frente.

Mas eu não posso.

Em vez disso, volto-me para sair.

Ele é rápido quando agarra meu vestido novamente, suas mãos


sangrentas manchando o branco puro. Olho para ele e meu coração se
despedaça mais uma vez, como o espelho. Porque não importa o quanto eu

morally questionable
o odeie, eu também o amo. E esse é o paradoxo; enquanto eu viver, meu
amor por ele será sempre sombreado pelo ódio. E assim faço a única coisa
que ainda posso.

Eu o empurro, rasgando o vestido.

Então, eu corro.

morally questionable
PARTE TRÊS

L'amor che move li sole e l'altre stelle 5

- Dante Alighéri, Paradiso Canto XXXIII

5 O amor que move o sol e outras estrelas.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Dez Anos Atrás

Historicamente, as famílias Lastra e Agosti eram boas amigas. Era,


no entanto, o oposto de pai e Rocco Agosti. Embora Rocco sempre tenha
sido conhecido por seu estilo de vida extravagante e famoso por seus
banquetes luxuosos, ele nunca foi tão depravado quanto o pai em seus

morally questionable
gostos. De fato, Rocco preferia parceiras de cama de alta qualidade,
enquanto o pai preferia uma quantidade maior.

As festas de Rocco entretinham o creme de la creme de Nova York —


atores, músicos e políticos se misturando.

Foi durante uma daquelas festas que eu vi Catalina pela primeira vez.

Eu estava participando como sempre, fazendo o meu melhor para


socializar. Eu nunca tinha gostado dessas festas, pois sempre tinha
companhia. Mas eu tinha que ir. Ser filho do Capo significava que eu tinha
alguns deveres sociais, embora os temesse.

Eu estava tomando a mesma bebida pelo que parecia uma eternidade,


esperando uma chance de cumprimentar Rocco e me despedir. A festa foi
um arraso, com muitas pessoas, mesmo para a enorme mansão de Rocco.
Eu me retirei por um segundo no jardim, procurando um local isolado para
acender um cigarro, quando a vi.

Ela usava um vestido branco simples. Não era sexy. Longe disso. Era
um vestido reto e adequado que não mostrava absolutamente nenhuma
pele. Mas o rosto dela... foi a coisa mais espetacular que eu já vi na minha
vida. Ela era simplesmente de tirar o fôlego. Seu cabelo preto meia-noite
fluía livremente pelas costas, alcançando os quadris. Ela tinha uma pele
pálida com duas sardas espalhadas no nariz e nas bochechas. Mas foram
os seus olhos que me enraizaram no local. Olhos inclinados e parecidos

morally questionable
com gatos, suas íris eram um verde tão vívido que tive que piscar duas
vezes para ter certeza de que não estava imaginando.

Eu não estava.

Ela não era um sonho.

Eu dei um passo em direção a ela quando alguém se aproximo.

— Lina, o que você está fazendo aqui? Você sabe que não é permitida
nessas festas. — Eu reconheceria essa voz e sotaque em qualquer lugar.
Era Enzo, filho e herdeiro de Rocco. Ele tinha mais ou menos a minha
idade, mas nunca saímos juntos. Sempre houve uma distinção em nossas
estações. Enzo havia sido preparado para ser o próximo Capo; Eu estava
preparado para ser o que você temia quando apagava as luzes

Mesmo agora, eu estava assistindo a troca das sombras, como sempre.

— Eu estava curiosa. Eu queria ver o que eram essas festas. Você


nunca me deixa participar. — A voz dela, tão suave e melodiosa, se encaixa
no resto dela.

— Você é jovem demais, Lina. Você sabe que o pai não vai gostar
disso. — Enzo comentou, dirigindo-a em direção à entrada da casa. Eu me
escondi ainda mais fundo nas sombras, não querendo me intrometer.
Juntando dois e dois, percebi que a garota deveria ser a filha mais nova de
Rocco, Catalina.

morally questionable
— Eu vou fazer dezoito em breve, Enzo. Eu não sou tão jovem, você
sabe.

— Eu sei, piccola. Você realmente quer crescer tão cedo? Pai já está
procurando um casamento. — Eles desapareceram em algum lugar da
casa. Um sentimento estranho se desenvolveu dentro da minha alma
naquela noite.

Catalina não poderia se casar com ninguém além de mim.

Eu sabia que alguém como eu nunca poderia merecê-la. Ela era como
um raio de sol na minha vida sombria. Mas eu poderia tentar. Eu poderia
tentar merecê-la... ser um bom homem para ela.

Dois Meses Depois.

— Eu pensei que você não viria. — Ela se inclina contra a cerca,


procurando ver meu rosto. Eu abaixo meu capuz, não querendo que

morally questionable
perceba o quão ruim eu pareço. Mesmo que já se passaram alguns dias
desde o espancamento, meu rosto ainda está inchado, uma mistura de roxo
e amarelo ao redor dos meus olhos e nariz.

— Eu pensei que também não viria. — Eu admito, minha voz rouca de


dor. Minha facada estava infectada. Hoje de manhã, notei pus amarelo
saindo dela, então tive que cortá-la novamente e drená-la. Mas não vou
contar isso a ela. Isso a faria se preocupar. Se preocupar comigo... É tão
estranho pensar em alguém dando a mínima para como estou indo ou se
estou com dor.

Eu a espio debaixo do meu capuz, observando seu rosto celeste. Ver


seu sorriso tímido faz tudo desaparecer ao fundo.

— Eu não posso ficar muito tempo. — Pai tem acompanhado todos os


meus movimentos. Dei um perdido nos homens que ele colocava para me
seguir, mas não correrei riscos com Catalina.

Estou começando a acreditar que, não importa o quanto eu queira ou o


quanto tente, nunca posso estar com ela. Significaria convidar o perigo
para sua vida, e eu morreria antes de permitir que algo tão puro quanto
ela fosse contaminada pelo mal.

Levei algumas noites sem dormir, mas eu decidi ficar longe dela.
Mesmo que eu já tenha falado com Rocco sobre o casamento, vou ter que
dar um passo atrás. É o melhor.

morally questionable
— Você tem certeza que está bem? — Ela me examina, suas
sobrancelhas se unem em preocupação.

— Sim... obrigado. Por tudo. — Tento transmitir o que estou sentindo


com minhas palavras, mas duvido que algo faça justiça. Ela é como um
raio de sol, e eu vou carregar essa lembrança dela por toda a eternidade.

Respiro fundo e pisco duas vezes para me impedir de me partir.


Engraçado como eu nunca chorei durante a pior tortura, mas o
pensamento de nunca mais vê-la me faz quase chorar.

A parte mais triste é que nunca mais a encontrarei — nem mesmo na


vida após a morte. Ela pertence aos anjos, enquanto eu pertenço à sarjeta.

— Ei, você está bem? — Ela tenta chamar minha atenção e eu percebo
que me perdi em meus pensamentos.

— Eu não poderei voltar. — Eu digo a ela. — Isto é... complicado.

Sua expressão cai, e ela parece triste ao ouvir isso.

— Você está com problemas? Talvez eu possa falar com meu pai ou
meu irmão. — Catalina oferece imediatamente, e sinto a brecha entre nós
aumentando ainda mais. Ninguém pode me ajudar. Ninguém.

Mas pelo menos ela ofereceu.

morally questionable
Levanto-me para sair, sabendo que se eu ficar mais um segundo,
minha determinação vacilará.

— Senhor! — Ela exclama, apontando para o meu peito. Olho para


baixo e vejo que minha ferida se abriu novamente. — Você está sangrando
de novo.

Eu dou de ombros e viro para sair.

— Não, espera. — Suas mãos alcançam o pescoço e ela desamarra o


cachecol. — Você pode chegar um pouco mais perto? — Pondero por um
momento, debatendo se é sensato fazer isso quando a desejo como um
homem faminto.

Mas, assim como um homem à beira da fome, eu vou. Acho que nunca
poderia dizer não a ela. Quando estou ao lado da abertura da cerca, ela
alcança os piquetes para enrolar o cachecol no meu torso. Ela luta um
pouco, então eu tento ajudá-la, tendo uma última sensação de suas mãos
macias.

— Obrigado. — Eu digo mais uma vez e trago as duas mãos para os


meus lábios. O que eu não daria para adorar essa mulher pelo resto da
minha vida..., mas eu, melhor do que ninguém, deve saber que raramente
conseguimos o que desejamos.

Com um último olhar de despedida, eu saio, segurando um pedaço


dela comigo para sempre.

morally questionable
Ela é tudo que é puro e bom, e eu quero que ela permaneça assim. Eu
só a contaminaria com minhas mãos manchadas de sangue; segurando-a
com o peso dos meus pecados. Ela merece o melhor; pois eu não me
desejaria a meus maiores inimigos. Ela merece os céus e acima, mas só
posso lhe dar o inferno e abaixo.

Então eu a deixei ir.

E com ela, também estou deixando meu coração para trás — ou o


pouco que me restava.

Alguns Dias Mais Tarde.

Acordo com dor residual nas costelas. Gemo, me alongando um pouco


para encontrar uma posição mais confortável. Estendo minha mão,
agarrando o material sedoso no travesseiro ao meu lado. Trago-o ao nariz,
inalando o perfume suave de Catalina.

morally questionable
Eu nunca vou lavar isso.

Estou perdido em sonhos com ela quando alguém bate na minha


porta.

— Tuo padre ti sta chiamando.6 — Ele grita e eu estremeço. Quando o


pai chama, eu tenho que responder.

Dobrando cuidadosamente o cachecol e colocando-o em um espaço


seguro, eu me visto e saio. O soldado que bateu na minha porta me diz
para ir para o porão. Pai tem uma surpresa para mim, ele diz.

Não quero saber que tipo de surpresa me espera no porão,


especialmente após a última surra.

Eu educo minhas feições em um olhar entediado e desço as escadas.


Abrindo a porta, entro. Eu tenho que piscar algumas vezes para deixar
meus olhos se acomodarem à súbita falta de iluminação.

— Marcello, exatamente quem eu estava procurando. — Pai me


cumprimenta com um entusiasmo que desmente sua própria natureza.

— Pai. — Eu respondo em saudação.

— Venha, venha. Deixe-me mostrar o que eu tenho para você.

6 Seu pai está te chamando.

morally questionable
Eu franzo a testa. — O que você me trouxe? — Eu pergunto, confuso
com as palavras dele. Ele nunca em sua vida me deu nada.

— Considere isso um presente por seus anos de serviço. — Ele me leva


mais fundo no porão, abrindo outra porta.

Só dou um passo e paro, pensando que meus olhos estão pregando


peças em mim.

Mas eles não estão.

A mesa no meio da sala, geralmente usada para tortura, agora abriga


um novo prisioneiro. Seus pulsos e tornozelos estão presos em cada
extremidade da mesa, seu corpo formando um X. Seu vestido está
completamente rasgado, as costas uma bagunça de pele e sangue, líquido
vermelho ainda escorrendo pelas pernas.

Catalina.

— O que você diz, garoto? O que acha do meu presente? Devo dizer
que não foi tão fácil obtê-lo. Mas eu já a marquei para você. — Ele se
vangloria e começa a me dizer como a sequestraram da frente de sua casa.

Dou outro passo à frente e percebo o que ele quis dizer com marcação.

O pai esculpiu um M envolto por um grande C nas costas. As bordas


estão em carne viva, o suficiente para fazer Deus sabe que dor.

morally questionable
Catalina...

Eu abafo um soluço enquanto tomo sua forma.

O que ele fez com ela?

— O que é isso?

— Um presente para o Chimera. Eu diria que é bastante apropriado.


— Ele se aproxima, apontando para o trabalho com a faca. Aperto os
punhos, a agonia enraizada no peito, ainda não tanto quanto Catalina
deve estar se sentindo agora. Eu gostaria de poder poupar isso dela,
absorver sua dor no meu corpo. Quanto mais olho para o seu corpo
amarrado à mesa, mais sinto esse desejo assassino de matar todos que
ousaram tocá-la.

— Por quê? — Eu mantenho minha voz para que o pai não perceba o
quão afetado eu sou por isso.

— Você acha que eu não ouvi os rumores sobre sua obsessão por essa
garota? Você não foi exatamente discreto. — Ele bufa, e eu me viro para
olhá-lo. — Então é por isso que você parou de vir ao bordel. — Pai sorri,
seu olhar olhando para a forma de Catalina.

Eu respiro fundo. Não vou resolver nada se o atacar agora. Mais


soldados entrarão e me conterão antes que eu possa causar algum dano.

— Estou certo, não estou? Ela é a razão pela qual você está relaxando.

morally questionable
Nesse momento, um gemido de dor escapa a Catalina. Fecho os olhos,
pedindo silenciosamente perdão. Tudo o que eu temia antes aconteceu.

Agora só espero minimizar os danos.

— Eu não tenho relaxado. — Eu respondo. É tecnicamente verdade.


Eu matei como sempre mato — clínico e eficiente.

— Realmente? — Pai levanta uma sobrancelha, e eu sei que é um


ponto discutível continuar me explicando. — Isso é bastante simples. Eu a
peguei para que você possa apreciá-la, tirá-la do seu sistema. Ela é virgem,
não é? O melhor tipo. — Ele acena com aprovação, e eu estou ficando
enjoado só de ouvi-lo falar sobre ela assim. — Você será o primeiro a
provar seus encantos. Se esse não é o presente perfeito. — Ele apita,
balançando a cabeça com diversão. — O sangue dela cobrindo seu pau.
Alta qualidade aqui, garoto.

— Você esquece que ela é filha de Rocco. Nós não podemos fazer isso.
— Eu trago meu melhor argumento enquanto tento argumentar com ele.
Certamente até ele pode ver como isso é perigoso.

— Como se eu me importasse. — Ele encolhe os ombros, pegando um


charuto e acendendo-o. — Eu preciso que você coloque sua cabeça no jogo,
e isso não acontecerá até que ela esteja fora do seu sistema. Então, vá em
frente. Foda ela. — Ele se move com desdém para sua forma débil.

— Eu não farei nada. — Pela primeira vez, estou dizendo não. Eu não
tinha limites antes, mas acho que Catalina é onde traço a linha.

morally questionable
Pai pega um trago profundo de seu charuto, com os olhos voltados
para mim.

— Você está dominado, não é? Ele estava certo. — O pai observa


pensativamente.

— Quem?

Ele encolhe os ombros. — Se você não a quer, eu a darei aos guardas.


Aposto que eles vão adorar.

Meus olhos se arregalam ao entender a enormidade da situação. É


minha culpa. Tudo culpa minha...

Foi preciso apenas uma interação com ela. Tudo o que toco se
transforma em pó... Viro a cabeça levemente em direção à mesa e sei o que
fazer.

Vou dar ao pai algo que ele sempre quis, mas nunca conseguiu.

Meus joelhos dobram lentamente, até eu estar aos pés dele. Cabeça
dobrada; eu beijo seus pés.

— Eu farei qualquer coisa. Por favor... apenas deixe-a ir. — Eu suplico


a ele, o ato final de submissão.

Pai ri. Ele realmente joga a cabeça para trás e ri.

morally questionable
Ainda no chão, mantenho meus olhos no chão.

— Por favor...

— Veja garoto. Era exatamente disso que eu estava falando. Você é


fraco. Isso, — ele se muda para Catalina— está deixando você fraco. Como
posso confiar em você para fazer o necessário para a família quando você
faria qualquer coisa por ela? Você morreria por ela? — Ele pergunta
sarcasticamente, já sabendo a resposta. — Eu pensei que tinha tirado
esses sentimentos de você há muito tempo, garoto. — Ele suspira,
balançando a cabeça em decepção. — Parece que você precisa de um último
empurrão para deixar ir. Então você mata essas malditas emoções que
fazem de você uma maldita boceta, ou... — Ele tira a arma da parte de trás
da calça e aponta para Catalina. O pânico incha dentro de mim, então eu
imediatamente aceno.

— Eu farei o que você quiser. — Qualquer coisa para ele poupá-la.

— Você tem duas opções, garoto. Você a tira do seu sistema ou vê


meus soldados cada um dar uma volta. O que você diz? — Sua boca puxa
um sorriso maligno, e eu percebo que ele me deixou encurralado.

— Eu não posso fazer isso com ela. Ela vai...

— Sim. — Um sorriso satisfeito se espalha pelo rosto. — Ela vai te


odiar. Ela o desprezará pelo resto da vida. Ou você faz ou...

morally questionable
— Mas pai, ela é inocente. — Eu sei que minhas palavras são em vão,
mas preciso influenciá-lo da maneira que puder.

— Ninguém é inocente neste mundo, garoto. E esse foi seu primeiro


erro. Boceta é boceta. Você a colocou em um pedestal e permitiu que
emoções básicas obscurecessem seu julgamento. Se é isso que é preciso
para expulsar esses sentimentos de você à força, que assim seja. Leve-a e a
preencha. Contamine-a e veja como você pode se encarar depois. — Ele ri.

— Duas escolhas, Marcello. Você pode transar com ela e se odiar ou


pode assistir todo mundo transar com ela e se odiar. É uma situação em
que todos saem ganhando para mim. Mas para você... hmm. É um enigma,
não é? Faça você mesmo e observe-a desprezar você, ou dê um passo atrás
e deixe os outros transarem com ela. Ela nem saberá que você estava
envolvido.

— Não... — Eu sussurro. É exatamente nisso que meu pai se destaca


— jogos psicológicos. Ele sabe que eu vou estar cheio de auto aversão no
final.

— Não? — Ele levanta as sobrancelhas uma fração antes de encolher


os ombros. — Silvio, venha, você vai primeiro. — Um soldado entra.

— Não. Pare com isso. Por favor, não. Eu já estou de joelhos,


implorando. Por favor... — Eu nem reconheço minha voz quando imploro a
ele. Não posso fazer isso com Catalina, não com minha doce Lina.

Ele vira a cabeça e cospe em mim.

morally questionable
— Veja, é exatamente isso que eu odeio em você. Você é como sua
mãe, me implorando de joelhos. Diga-me, você vai chupar meu pau como
sua mãe fez? Talvez se você fizer isso, eu a pouparei.

Estou surpreso com as palavras dele e nem penso enquanto aceno.

— Qualquer coisa. — Não há nada que eu não faria por ela. Eu já me


perdi.

Pai faz uma pausa, olhando para mim com uma expressão
inescrutável. Então ele ri.

— Maldito garoto, eu deveria saber que você era bicha. — Há um


sorriso sinistro em seu rosto enquanto ele olha para mim. — Eu vou fazer
um acordo para você. — Ele diz, com os olhos enrugados de emoção. — Me
deixe duro, e eu vou deixá-la ir. Falhe e... — Ele balança a cabeça,
assobiando.

Deus... então é para isso que chegou? Eu aceno novamente. O que é


mais uma humilhação para mim? Eu aguento. Lina... ela não pode.

Com um sorriso torto, ele abre os botões da calça e tira o pênis flácido,
acenando na minha cara.

— Vamos ver como você usa essa boca. — Sua expressão me diz que
ele já espera que eu falhe.

morally questionable
Sabendo o que está em jogo, fecho meus olhos, esvaziando minha
mente.

Eu posso fazer isso!

Respirando fundo, pego o pau dele na minha mão, trazendo-o para a


minha boca. Eu abro bem quando o levo para dentro, morrendo um pouco
enquanto trabalho minha língua ao seu redor. Eu tento tudo o que consigo
pensar, rezando silenciosamente para provocar uma reação.

O pai está exibindo uma expressão entediada, as mãos cruzadas pelo


peito enquanto ele me vê engasgar com o pau. Enquanto eu lambo ele, uma
pequena contração de seu pau me dá esperança. Quando estou prestes a
aplicar mais sucção, ele me empurra, o pé me apunhalando na testa e me
empurrando para o chão.

Eu posso ver que ele está semi-ereto agora, mas ele rapidamente se
esconde.

— Você nem seria uma boa prostituta. — Ele cospe em mim, a ponta
do sapato fazendo contato com minhas costelas e me fazendo estremecer.

Merda! Minha ferida!

Pai balança a cabeça insensivelmente.

— Parece que você falhou, garoto. — Ele levanta uma sobrancelha


para mim. Ele só fez isso para testar meus limites, me envergonhando no

morally questionable
processo. — Agora, o que será? — Ele inclina a cabeça em direção à mesa,
levantando uma mão no ar, pronto para sinalizar Silvio.

— Eu... — Eu engulo. Meus olhos se perguntam loucamente pela sala.


Não há saída, há? — Eu vou fazer isso. — Eu finalmente concordo.

— Vamos ver. — Pai assente para mim, sentando-se na cadeira ao


lado da parede.

Eu me arrasto para os meus pés, meu olhar se põe sobre Catalina.

— Deixe-me dar um pouco de água a ela. — Eu digo enquanto a vejo


se contorcer de dor, seus membros tentando se mover contra os grilhões
que a mantêm firme.

— Faça rápido. — Ele resmunga.

Este é o momento em que agradeço aos céus pelo meu vício em pílulas
para dormir. Eu os carrego comigo por toda parte. Se eu não posso poupar
a sua dor... então pelo menos eu posso poupar a memória dela.

De costas para o pai, despejo em um copo de água, dissolvendo


rapidamente uma pílula dentro. Então eu me movo para a mesa,
agachando-me na frente da Catalina.

Seus lábios estão rachados e cheios de pequenas lacerações. Ela deve


ter mordido quando a dor foi demais. Apenas vê-la assim está me

morally questionable
matando. Levanto minha mão e acaricio levemente o seu cabelo, sabendo
que não tenho o direito de fazê-lo.

— Aghh... — Um pequeno gemido escapa de seus lábios, e eu serei


forte por ela.

— Shh, eu peguei você. — Eu sussurro em voz baixa para que o pai


não ouça. Ajudo-a a beber do copo, feliz em ver a maior parte do líquido
descendo pela garganta.

— Tudo vai acabar... em breve. — Eu prometo a ela. De alguma


forma, vou garantir que ela saia viva disso.

— O que está demorando tanto? — Pai reclama.

Eu endireito minha espinha, colocando minha melhor cara de pôquer.


Se ele souber o quanto ela significa para mim, ele a matará
imediatamente; um fato do qual estou dolorosamente consciente. Eu
preciso ganhar algum tempo para que a pílula a derrube.

— Eu não posso fazer isso. — Eu começo.

— Silvio! — Pai grita, mas eu o paro.

— Eu não quis dizer isso. Eu não posso ficar duro. Eu preciso de uma
dessas pílulas. — Ele sabe exatamente do que estou falando enquanto me
olha; não é como se fosse a primeira vez que eu precisasse delas.

morally questionable
— Às vezes me pergunto como você saiu das minhas bolas. Não pode
nem foder direito. — Ele abre a porta e vomita alguns comandos. —
Fracote do caralho, — ele murmura sob a respiração, mas eu ignoro a
piada.

Eu olho para Catalina, monitorando seus movimentos.

Querido Senhor, ela é inocente. Por favor, poupe-a.

Continuo orando, mesmo sabendo que é tarde demais.

Como esperado, o pai voltou cedo demais. Engolindo a pílula, só posso


esperar até que ela comece a funcionar.

— Pronto? — Pai pergunta com desprezo, acenando para a minha


protuberância. — Deixe o show começar.

Fecho brevemente os olhos e faço o que sempre faço — vou sair do


meu corpo. Exceto que desta vez, não está funcionando.

Com os dedos trêmulos, solto as algemas nos tornozelos e pulsos.


Então, eu a puxo em minha direção, então apenas o torso está deitado na
mesa.

Eu ouço um gemido suave. Deus, o que estou fazendo?

Acho que nunca me senti mais repugnante do que no momento em que


aperto a bainha do vestido e levanto nos quadris.

morally questionable
Meu coração está batendo loucamente no meu peito; um efeito
colateral da pílula associado à minha própria ansiedade. Minhas mãos vão
para minhas calças e eu as abro. Não a toco mais do que preciso, não
querendo contaminá-la ainda mais. Ângulo meu pau na entrada dela, eu
empurro.

Só espero que ela esteja fora disso, para que não sinta a dor quando eu
entrar, rompendo a barreira de sua virgindade. Quando estou
completamente lá dentro, ainda assim, a magnitude do que estou fazendo
colide comigo.

Eu não posso fazer isso. Isso não é meu, apenas dela para dar. Deus...

Acho que nunca apelei para uma divindade tanto quanto naquele
momento. A culpa de roubar sua inocência só é exacerbada pelo fato de ser
muito bom.

Eu sou um monstro... e este é o meu maior pecado.

Perdido em uma batalha interior com meus demônios, de repente sou


trazido de volta à realidade pela voz do pai.

— Eu deveria saber que você não poderia fazer isso. — Ele cospe em
mim, pegando a arma e empurrando-a sob o queixo de Catalina. — Precisa
de encorajamento, garoto?

Como uma substância cáustica, a visão da arma apontada para a


cabeça de Catalina queima minhas ideias e se imprime na minha cabeça.

morally questionable
O sorriso maldoso do pai se estende ainda mais pelo rosto quando ele vê a
turbulência em mim. Eu não posso mais esconder isso.

Ele enfia a ponta da arma ameaçadoramente no queixo dela mais


algumas vezes antes de eu desistir. Eu me movo — para dentro e para
fora. Enquanto imploro a todos os deuses por aí para fazer isso rápido.

Pela primeira vez alguém ouve minhas orações e eu gozo, a culpa


impressionante é um eco de prazer efêmero.

Doente. Torcido. Depravado.

Eu sou qualquer coisa além?

Eu saio, tonto, com um peso descansando no meu peito.

Maldito... Eu me amaldiçoei contaminando um anjo.

Pai começa a bater palmas, uma mão descendo pelas minhas costas
em um tapa de felicitações. Ele está dizendo algo, mas eu não posso ouvi-
lo. Olhos em branco, coração partido, eu me afasto do corpo miserável que
acabei de corromper.

Olhando para baixo, meu pau está manchado de vermelho, a evidência


da inocência que eu arruinei olhando para mim. É a última gota, e eu
tropeço de joelhos, levantando e esvaziando o conteúdo do estômago.

Pai faz um barulho de nojo antes de sair da sala.

morally questionable
Ele já conseguiu o que queria.

Pelo que parece ser uma eternidade, sento-me sozinho no meu vômito,
olhando para as paredes escuras. Catalina ainda está apagada, uma
pequena graça. Mas percebo para onde tudo isso está indo... próximo passo
do pai. Ela estará morta amanhã, e eu não posso permitir isso. Eu
enfrentarei toda a família, se for preciso, mas Catalina sobreviverá a isso.
É um voto solene que faço para mim mesmo.

Um dia, tudo isso será apenas um pesadelo distante para ela, mas
pelo menos ela estará viva.

E eu vou ficar longe; para sempre.

Aqui está apenas uma pessoa quem pode me ajudar a tirá-la de lá. O
único outro homem além do pai que tem acesso irrestrito à casa e ao porão,
meu irmão Valentino. Pedir a ele por esse favor e implicitamente fazê-lo ir
contra o pai por minha causa me custará fortemente.

morally questionable
Não ouso sair do seu lado, nem por um momento, enquanto planejo o
próximo passo. Ligo para meu irmão e explico o que preciso — alguém
para devolver Catalina à família dela enquanto fico para trás e encaro as
consequências.

Depois que estou mais no comando do meu corpo, tropeço nos meus
pés e, tirando a camisa, limpo-a com ela.

Sou muito gentil com as costas dela, as feridas em carne viva são como
se estivessem gritando comigo. Mesmo com a carne mutilada, as iniciais
são claramente distinguíveis. Isso me faz sentir ainda mais desprezível,
pois ela sempre carregará isso com ela.

Eu engulo um soluço quando chego mais baixo. Um fio de sangue está


escorrendo por suas coxas. Limpo com ternura a área, ainda mais enojado
quando vejo vermelho misturado com branco e a evidência do que fiz com
ela.

— Eu sinto muito... sinto muito. — Minha voz quebra enquanto eu


continuo repetindo, sabendo que ela não pode me ouvir.

Eu matei e mutilei na minha vida; torturei e profanei, e nunca senti


um tormento tão profundo por dentro. Eu me acostumei com o meu fardo
na vida, nunca pensando que poderia chegar ao fundo do poço, porque
como você pode quando sempre viveu no nível do mar? Mas isso... o que eu
fiz com ela...

morally questionable
Sei que vou passar o resto da minha vida me arrependendo, buscando
alguma absolvição inexistente.

Termino de limpá-la e tento o meu melhor para cobri-la com o que


resta de seu vestido. Suavemente, eu a abaixo da mesa, embalando seu
corpo agredido em meus braços. Eu tiro minha mão sobre suas feições
pálidas, levando-a pela última vez.

— Eu sinto muito... — Eu sussurro novamente em seus cabelos,


balançando um pouco com ela e deixando as lágrimas caírem. — Então,
desculpe. — Eu escovo meus lábios contra a sua têmpora, tentando
memorizar suas feições.

É assim que Valentino me encontra.

— Ela? — Ele acena para Catalina.

— Sim. — Eu me levanto, depositando-a cuidadosamente em seus


braços. — Por favor, cuide dela. Certifique-se de que chegue em casa em
segurança.

— Você tem sorte que ela é irmã de Romina, caso contrário eu não
faria isso.

— Eu sei.

morally questionable
— Você me deve, Marcello. E quando eu for cobrar, é melhor você
estar pronto. — Ele observa. Tino pode não ser pai, mas isso não significa
que seja menos que um bastardo egoísta.

— Obrigado. — Eu inclino minha cabeça em respeito. Enquanto ele a


entregar em segurança de volta à família, estou disposto a fazer qualquer
coisa por ele — devo viver.

— Boa sorte com o pai. — Ele diz antes de sair.

Eu assisto sua figura em retirada, dizendo adeus a Catalina uma


última vez.

É hora de acabar com isso.

Quando o pai entra, eu sou o único no porão. Ele rapidamente


examina a sala, com o lábio superior se contorcendo de descontentamento.

— O que você fez, garoto? — Ele cospe, me empurrando. Entendo,


porque é tudo o que mereço.

— Ela está segura. — Eu digo, mantendo minha compostura.

— Porra inútil. — Ele zomba, andando por aí. — Você sabe qual é o
seu castigo, garoto. — Eu abaixo a cabeça, já aceitando meu destino. Eu
sabia desde o momento em que fiquei para trás.

morally questionable
— Faça rápido. — Eu digo quando ele levanta a arma para apontar
para a minha cabeça.

— Você acha que isso acabou, não é? No momento em que você estiver
morto, eu vou levar aquela prostituta que você parece amar tanto e eu vou
fazer dela minha cadela. E quando eu tiver minha satisfação, mandarei
todos os meus homens se voltarem. Ela desejará estar morta, e ela vai
morrer, mas não antes dela te desprezar tanto que ela dê seu último
suspiro amaldiçoando seu nome, — ele ri, zombando de Catalina e dos
meus sentimentos por ela.

O interruptor é instantâneo. Eu tinha me resignado a morrer, já que a


morte seria o maior conforto, considerando o que eu tinha feito, e uma
misericórdia ao mesmo tempo. Sim, sou um covarde. Mas quando ele se
vangloria de tudo o que faria com Catalina, comigo impotente para impedi-
lo, não posso. Antes que ele possa puxar o gatilho, minha mão dispara,
arrancando-a do seu aperto.

O pai pode pensar que ele é superior só porque eu estava em paz com
a morte. Mas em uma luta física, ele não será o vencedor.

Uma raiva diferente de tudo que eu já senti toma conta de mim, e


meus dedos se envolvem na lateral do pescoço, empurrando a cabeça com
força na parede. O primeiro impacto provoca um grito do pai, e isso só me
estimula. Repetidas vezes, eu esmago seu cérebro contra a parede de
concreto, vendo sangue e matéria cerebral manchar a superfície. Eu só o
liberto quando ele para de lutar.

morally questionable
Está feito.

Faz meses desde então. Eu vi a luz do dia. Preso em um apartamento


minúsculo, uma prisão que eu me impus, só posso esperar pela próxima
atualização de Valentino sobre Catalina.

Essa é a única coisa que me mantém em movimento. O conhecimento


de que ela está indo bem e a esperança de que se cure.

Mas tudo cai um dia.

— O que você quer dizer? — Eu murmuro. — Como ela pode estar


desaparecida?

— Eu sinto muito. Romina disse que Rocco a deserdou. Ela


provavelmente... — Ele para, e eu entendo o que ele está sugerindo.

— Não. Não pode ser. Por que esperar tanto tempo? Faz meses e nada
aconteceu... Deve haver um erro. — Estou em pânico, o simples

morally questionable
pensamento de um mundo sem Catalina me enchendo de pavor
inimaginável.

— Você percebe que as chances de ela estar viva são pequenas, não é?
— A voz dele é sombria, e eu recuo, chocado em meu âmago.

Recusei-me a acreditar que sua própria família se voltaria contra ela.


Recusei-me a pensar que ela estaria tudo menos segura em casa.

Mas eu deveria saber melhor. Nenhum mafioso permitiria que uma


filha desonrada continuasse com o nome de família. E se Rocco tem um
pecado predominantemente mortal, é arrogância. Um orgulho que não o
deixaria ignorar sua falta de virtude.

Não...

Eu desligo, minha mente em branco.

Eu a matei. Eu fiz isso. Eu deveria saber que alguém como eu não


pode tocar em algo tão puro quanto ela sem manchá-la. E eu fiz isso... Eu a
condenei ao inferno.

Eu caio de joelhos, meus olhos lacrimejando. Sem nem pensar, envolto


minha mão em torno do chicote que está comigo e, com toda a força que
posso reunir, arremesso-o para trás, vacilando no contato cortante.

Eu mereço isso. Eu preciso sentir o que ela suportou naquela mesa. Eu


preciso me machucar por ela.

morally questionable
Quanto mais penso nela, mais força aplico.

Whip.

Whip.

Whip.

Eu sou amaldiçoado.

Whip.

Whip.

Whip.

Eu bati e bati, mas não é suficiente. Sangue e suor se misturam nas


minhas costas, grudando na minha carne como uma segunda pele.

Ainda não é suficiente.

Toda razão me deixa enquanto me movo entorpecido pela sala,


exercendo um último esforço. Minha mente está enevoada quando tudo
desaparece, meu único objetivo restante é me juntar a ela.

Uso um cabo antigo, dando um nó robusto e prendendo-o à luminária


no teto. Pisando em uma cadeira pequena, coloco o laço em volta do
pescoço, chutando imediatamente o apoio e esperando a morte.

morally questionable
Meus olhos se fecham, minha respiração diminui, o cabo cavando
minha pele. Tonto, me sinto escorregando. E lá está ela. Ela está sorrindo
para mim, seus olhos brilhando de carinho.

Lina...

— Estou morto? — Eu sussurro, segurando a miragem dela.

— Não, bobo, você não está. — A mão dela estende a mão para tocar
meu rosto, ternura emanando de todo o seu ser.

— Como você não pode me odiar? — Eu soluço, e ela me puxa para


seus braços.

— Eu não te odeio. Eu nunca poderia te odiar. — Ela me tranquiliza,


compartilhando seu calor comigo. — Mas ainda não é sua hora, Marcello.
— Ela repreende suavemente. — Saia do mundo e faça o bem. Mostre-me o
quanto você se arrepende ajudando os outros.

— Eu não quero te deixar. — Eu a seguro mais forte, implorando para


que ela me deixe ficar com ela.

— Vamos nos encontrar novamente. — Ela recua e coloca um doce


beijo nos meus lábios.

Abro os olhos, dor que emana de todas as minhas costas e cabeça. Eu


pisco duas vezes, percebendo que estou no chão olhando para o teto. Ainda
vivo.

morally questionable
Não vou decepcioná-la, Lina.

Leva mais alguns meses para me recompor, mas me inscrevo na


faculdade. Dedico todo o meu tempo para estudar, tudo para alcançar meu
novo objetivo, ajudar as outras Catalinas do mundo. Eu me acostumei a
estar vivo enquanto ela não está, mas dedico tudo à sua memória. Por
mais que eu me esforce para ser normal, algumas coisas mudaram
irrevogavelmente.

Como minha capacidade de dormir. Não que isso tenha sido ótimo
antes. Ou minha capacidade de suportar o toque. A primeira vez que
alguém passou a mão sobre a minha, tive um terrível ataque de pânico que
alguém chamou a ambulância.

Eu sou desprezível. Repugnante. Um monstro.

E ninguém deve ser manchado pelo meu toque.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E SETE

Presente,

— Lina, Abra. — Enzo bate na porta do banheiro, vindo me checar


pela décima vez hoje.

— Vá embora, Enzo. — Eu grito. Ele não consegue entender que eu


não quero ver ninguém?

morally questionable
— Lina, eu não vou embora até você abrir essa maldita porta. — Ele
bate ainda mais forte, e eu percebo que pode quebrar a porta.

Fecho meus olhos brevemente e respiro fundo. Então eu abro a porta.

— Lina... — ele geme quando me vê, meu rosto vermelho e inchado. —


Já faz alguns dias. — Ele comenta, balançando a cabeça. — Estou
preocupado com você.

Após o confronto com Marcello, levei Claudia comigo e saí


imediatamente. Ela fez muitas perguntas, decepcionada por estarmos
saindo. Mas o que mais me atingiu foi quando ela mencionou Marcello e
que sentiria mais falta dele.

Bom Deus! Ele sabe o tempo todo que Claudia é sua filha, mas como
devo contar a ela? Isso ou como ela foi concebida?

Enquanto Claudia voltava à rotina de brincar com Lucca, eu passava


meus dias no meu quarto chorando.

— Você não deveria estar. Estou bem. — Eu adiciono sem entusiasmo.


Eu tinha dito a Enzo o que havia acontecido, e levou tudo para impedi-lo
de ir atrás de Marcello.

— Você não parece bem. — Ele olha para mim com preocupação nos
olhos e, pela primeira vez, percebo o quão egoísta eu tenho sido, excluindo
todo mundo.

morally questionable
— Acabei de descobrir que o homem por quem me apaixonei era o
mesmo homem que me estuprou brutalmente há dez anos. Acho que estou
bem, considerando tudo. — Eu estalo, minha voz subindo um pouco. —
Desculpa. — Eu adiciono imediatamente quando percebo meu tom.

— Eu vou matá-lo. — Enzo gira e eu agarro seu braço.

— Não, por favor pare. Não torne isso mais difícil do que já é.

— Eu vou ter certeza de que você se divorciará. — Ele diz tensamente,


e eu só posso rir.

— Um divórcio? Você acha que alguém vai deixar isso passar? Não há
divórcio em nosso mundo, Enzo.

— Pode haver. — Não há convicção por trás de suas palavras, pois ele
sabe muito bem como as coisas funcionam.

— Não... Vamos viver separadamente.

— É tudo culpa minha, droga. Eu praticamente te ofereci a ele.

— Você só queria me proteger. — Eu dou um tapinha no seu braço em


um gesto reconfortante. — Quem poderia saber, realmente?

— Lina, eu sei que isso é estranho, mas tenho que perguntar. Você
está...? — Ele começa, seu olhar caindo em direção à minha barriga.

morally questionable
— Não. Eu não estou. — A tensão escorre de seu rosto, e ele solta um
suspiro de alívio. Eu entendo a perspectiva dele. Uma criança tornaria
incrivelmente difícil cortar laços com Marcello. Embora eu saiba disso,
houve um profundo sentimento de decepção quando menstruei ontem. Eu
queria um bebê — seu bebê? Não sei e não sei explicar por que isso me
machucou do jeito que aconteceu quando vi os primeiros sinais de
manchas.

Porque você o ama. Por mais que você o odeie.

E eu o odeio, porque agora tenho um rosto e um nome para os olhos


âmbar que foram a peça central dos meus pesadelos.

Convenço Enzo de que estou bem e fecho a porta do meu quarto,


aliviada por ficar sozinha mais uma vez. Não importa o quanto eu tente
me dizer isso, porém, é uma mentira. Como eu poderia ficar bem quando a
pessoa em quem confiava tanto acabou me traindo da pior maneira? Toda
vez que fecho meus olhos, lembro como ele olhava para mim, tão perdido e
sem esperança entre a miríade de cacos de vidro. Eu simplesmente não
consigo entender como ele poderia me enganar assim e ainda parecer como
a parte ferida.

Com uma respiração profunda, tento tirar isso da cabeça para não me
tornar uma bagunça chorosa novamente. Eu preciso me recompor, pelo
bem de Claudia.

morally questionable
Vou ao banheiro, com a intenção de tomar um banho. No momento em
que estou na frente do espelho, não consigo me ajudar. Tirando o vestido
dos meus ombros, eu meio que viro para poder olhar para as minhas
costas. Meu olhar percorre o comprimento da cicatriz, a pele enrugada que
faz o contorno das duas letras brilhando furiosamente para mim.

O M que agora sei ser de Marcello. Mas o C? Ele tem outro nome que
começa com um C?

Chimera.

O pensamento me deixa quieta.

Eu franzo a testa, pensando no meu sequestro, e nas poucas horas em


que fiquei lúcida. Estou certa de que o homem mencionou Chimera — que
eu seria um presente para o Chimera. Isso significa, isso...

Tirando a água, rapidamente aperto meu vestido e vou para Enzo.

Ele está em uma discussão acalorada com Allegra e, quando me vê,


conta a ela algo que a deixa pálida. Ela vira a cabeça levemente e todo o
comportamento muda quando me vê. A pedido de Enzo, ela nos deixa em
paz, mas não antes de me atirar punhais com os olhos. Não sei o que fiz
para ela, mas não tenho tempo para me perguntar sobre isso agora.

— O que é, Lina? — Enzo franze a testa quando me vê. Considerando


que eu tinha acabado de descer as escadas, meu rosto deve estar corado.

morally questionable
— Chimera. — Eu digo, e seus olhos se arregalam um pouco. — Você
já ouviu esse nome?

Enzo puxa minha mão em direção ao escritório, fechando a porta atrás


de nós.

— Por quê?

— Você sabe que eu tenho um C e um M nas minhas costas. Eu acho


que o C significa Chimera.

Enzo parece profundamente pensativo ao considerar minhas palavras.

— Diga-me por que você pensa isso.

Eu reconto tudo sobre aquela noite, e como Marcello havia


mencionado Chimera em relação ao assassinato de freira.

— Aquele bastardo... — Ele murmura, apertando os punhos.

— Enzo?

— Ele é obcecado por você, Lina, obcecado. Faz muito sentido...

— O que você quer dizer? — Estou confusa com a explosão dele.


Passando a mão através do cabelo, ele continua.

morally questionable
— Pense nisso. Ele veio a mim para uma aliança de casamento e, de
repente, você teve que deixar Sacre Coeur porque foi ameaçada pelos
Guerra.

Eu franzo a testa, não gostando de suas implicações. Certamente


Marcello não iria tão longe, iria?

— O tempo não era um pouco conveniente demais? — Ele dá uma


risada sarcástica.

— Mas isso significaria que ele... — Eu paro, mas ele continua.

— Ele te aterrorizou de propósito, então você cairia em seus braços.


Ele se tornou seu salvador depois de cada evento. — O lábio dele se contrai
de nojo. Dou um passo atrás, meus olhos se arregalando com a realização.

Tudo se encaixa.

Padre Guerra... A freira... E então o dedo.

Em suas próprias palavras, apenas alguém com acesso à casa poderia


ter roubado o anel de Claudia.

— Querido Senhor! — Minha mão vai para a minha boca e eu pisco


rapidamente.

— Ele é um monstro, Lina. Ele a condicionou a se sentir segura com


ele, a manipulou para se apaixonar por ele. Não é amor que você está

morally questionable
sentindo. — Ele suspira profundamente. — Ele era seu cobertor de
segurança, e isso fez você desenvolver sentimentos. — Ele continua
provavelmente pensando que me sentirei menos miserável se parar de
amá-lo.

— Não funciona assim, Enzo. — Assim como racionalizo o que ele está
dizendo, não posso deixar de sofrer por ele.

O raciocínio de Enzo faz sentido, mas não consigo imaginar alguém


sendo tão vil. Nem Marcello.

— Lina, você precisa assimilar tudo. Inferno, acho que não ouvi falar
de alguém mais depravado. — Ele balança a cabeça, indo ao armário e
servindo uma bebida.

— Posso ter um pouco? — De repente pergunto, esperando que isso


possa me ajudar também. Ele faz uma pausa por um segundo, olhando
para mim como um irmão mais velho percebendo que sua irmã não é mais
uma criança, antes de me preparar um copo também.

Eu seguro o copo com as duas mãos, olhando para o líquido âmbar.

Marcello estava realmente por trás de tudo?

Todas essas garantias, as amáveis palavras, a ternura do toque. Eles


eram todos uma mentira?

morally questionable
Sinto meus olhos lacrimejando, então rapidamente tombo o copo,
engolindo o conteúdo. O fogo que atravessa minha garganta me faz
engasgar.

— Mas por que? Por que eu? O que eu fiz com ele?

— Algumas pessoas estão desequilibradas, Lina. Não é sua culpa. Mas


isso me preocupa. Alguém assim é capaz de qualquer coisa.

— Você está certo. É por isso que estou com medo por Claudia. E se
ele a usar contra mim?

— Você não deveria ir a lugar nenhum por enquanto. Pelo menos até
descobrirmos o que podemos fazer.

— Não faça nada perigoso, Enzo. — Eu acrescento, sabendo que ele


tem uma tendência de se colocar na linha de fogo pelos outros.

— Eu não gosto disso, Lina. Eu não gosto nada disso. Vou dobrar o
número de guardas. Apenas fique parada, ok?

Eu aceno, assegurando-lhe que seguirei sua liderança quando se trata


de segurança. A última coisa que eu poderia fazer seria colocar minha filha
em perigo.

morally questionable
Me leva alguns dias para lidar com o fato de Marcello estar por trás
de tudo. Ainda tenho dificuldade em acreditar que ele poderia ser capaz
disso. Eu acho que isso mostra o quão crédula eu tinha sido e o quão
habilidoso ele era. Eu era presa fácil, não era? A garota que havia sido
abandonada por sua família, a pária que havia sido exilada por algo fora
de seu controle. Eu estava pronta para ser arrancada. Estou com raiva de
mim mesma? Sim. Mas mais do que tudo, estou brava por estar
decepcionada por tudo ter sido uma mentira.

Eu me recomponho, não querendo chorar de novo. Eu já fiz isso o


suficiente na semana passada. Preciso me aproximar de Claudia, já que
ela ficou extremamente confusa com a nossa partida repentina. Ela acabou
de se acostumar com a normalidade — uma família — e eu tirei isso dela.

— O que você queria me perguntar? — Olho para o livro didático de


Claudia. Suas pequenas feições são atraídas de volta em hesitação.

— Eu estava lendo esse problema. — Ela aponta para o texto e me


explica por que ela discorda da formulação.

— Não vejo nenhum problema com isso. — Eu digo depois de uma


longa deliberação. Ela franze a testa, frustrada.

morally questionable
— Claro que você não! — Claudia faz beicinho e estou surpresa com o
tom dela. — Marcello teria concordado comigo. — Ela cruza os braços pelo
peito.

Suas palavras me fazem vacilar.

— Mas Marcello não está aqui. — Eu digo, tentando manter minha


voz calma.

— E de quem é a culpa? — Ela me bate antes de sair correndo da sala.

— Claudia! — Eu chamo atrás dela, mas ela já se foi.

Maldição! Era exatamente isso que eu não queria que acontecesse. Ela
já está ligada a ele, e de repente eu sou o cara mal por separá-los.

O que ela faria se soubesse que ele é o pai dela?

Ela vai entender... ela deve.

Ainda estou pensando sobre como lidar melhor com Claudia agora,
quando alguém bate na minha porta.

— Entre.

Allegra espreita a cabeça para dentro, um sorriso tímido no rosto.


Chocada seria um eufemismo pelo que estou sentindo quando a vejo
entrar, seu rosto completamente diferente de antes.

morally questionable
— Estou incomodando você? — Ela pergunta com uma voz que eu não
reconheço. Melosa demais e sem a mordida habitual.

— Não, — eu franzi a testa. — O que você quer?

— Enzo ligou. Ele disse que a casa foi comprometida.

— O que você quer dizer? — Eu recupero, pânico me ultrapassando.

— Ele quer que a gente vá para uma casa segura. É urgente. Pegue
algumas coisas, um carro está esperando por nós.

— Deixe-me pegar Claudia. — Eu me levanto, pegando algumas


roupas no meu caminho.

— Ela já está no carro com Lucca.

— Por que ela não veio até mim? — Eu pergunto. Faz pouco sentido.
Claudia teria vindo até mim primeiro...

Mas então me lembro do nosso argumento e suspiro. Ok, talvez não


desta vez.

— Não importa, lidere o caminho.

Em frente à casa, um grande SUV está esperando. Allegra é a


primeira a entrar no banco da frente. Eu nem penso quando chego lá atrás.

morally questionable
— Allegra? Onde estão as crianças? — Eu pergunto, observando que
há apenas um outro guarda no carro, mas nenhuma visão de Claudia ou
Lucca.

Allegra ri, balançando a cabeça com diversão.

— Você realmente sente por isso.

— O que? — Eu franzo a testa, imediatamente tentando abrir a porta


do carro. Assim que meus dedos tocam a alça, o homem no outro assento
pressiona um pano na minha boca.

Meus olhos se arregalam e eu começo a lutar. É apenas por um


momento, porém, quando perco a consciência.

Eu acordo com uma enorme dor de cabeça, meus olhos mal se abrem.

— Acorda, vadia. — Acho que ouço a voz de Allegra antes que ela me
dê um tapa na cara.

morally questionable
O golpe é forte o suficiente para me fazer ver estrelas, mas também
para me alertar.

— Claudia... onde está Claudia? — Bom Deus, ela prejudicou minha


filha? O mero pensamento de algo acontecendo com ela me faz tremer
loucamente de medo.

Ao recuperar minha consciência, percebo que estou deitada no chão,


com as mãos e as pernas amarradas. Allegra está andando na minha
frente.

— Eu não ligo para sua filha. — Ela encolhe os ombros. Ela se inclina
na minha frente, um sorriso nojento se estendendo em seu rosto. — Mas
você... você finalmente vai conseguir o que está vindo para você.

— O que você quer dizer? Por que está fazendo isso?

— Por quê? — Ela ri histericamente, antes de me dar um tapa de


novo. Um anel pega no meu lábio e sinto um rasgo. Droga! — É tudo por
sua causa. — Seus olhos são maníacos, suas narinas brilhando de raiva.

— O que eu fiz para você? — Eu nunca entendi sua atitude. Posso


contar com uma mão quantas vezes já interagimos antes, e nunca fui nada
além de cortês com ela.

— Você roubou Enzo de mim. Não pense que eu não sei. Ele estava
visitando você semanalmente naquele maldito convento. Nenhum irmão,

morally questionable
nem mesmo um preocupado faria isso. Você acha que eu não sei que você
está transando com ele?

O que há de errado com ela?

Ela continua com suas ilusões, o que implica que eu estava no Sacre
Coeur para poder ter uma relação ilícita com meu próprio irmão. O que, à
mercê de Deus, é esse raciocínio?

Quanto mais ela fala, mais doente ela soa.

— Enzo é meu irmão, como você pode dizer isso? — Eu pergunto,


repelida pelo próprio pensamento.

— Vocês... — Ela cospe, se aproximando e enfiando o dedo na minha


testa. — Você é a razão pela qual ele me rejeitou. Você... você... — Suas
palavras são apressadas e incoerentes. — Você o fez me odiar.

— Allegra, você se ouve? Enzo é meu irmão, pelo amor de Deus! Não
houve impropriedade entre nós. — Eu tento argumentar com ela, mas ela
se torna ainda mais volátil, com o aperto machucando enquanto envolve os
dedos no meu pescoço. Ela está cuspindo tanta bobagem que eu me perco.

— ...depois que ele terminar com você, vou gostar de te quebrar. — A


boca dela se transforma em um sorriso distorcido, e só consigo ver uma
pessoa louca agindo com ilusões. Bom Deus, Enzo sabe? Mas então de
repente eu pego o que ela está dizendo.

morally questionable
— Quem é ele?

Ela ri, caindo de bunda e rindo.

— Ele vai brincar com você primeiro. E eu assistirei. — Eu não


entendo o que está dizendo, mas quanto mais tempo passo na sua
presença, mais medo fico. Ela é louca, e isso significa que é imprevisível.
Alguém sabe que estou desaparecida? E Claudia e Lucca, eles estão em
casa ou ela os levou para algum lugar também?

Allegra e eu viramos a cabeça enquanto os passos ecoam pelo


corredor. Logo, a figura de um homem vestido de terno aparece na porta.
Allegra pula para os pés e corre para o lado dele, envolvendo as mãos em
volta do pescoço e salpicando-o com beijos.

— Chega! — Ele levanta a palma da mão para detê-la.

— Por quê? — Allegra faz uma careta, mas o homem simplesmente a


empurra para o lado, indo direto para mim.

— E a garota?

— Eu não ligo para a pirralha. — Allegra encolhe os ombros, sua


expressão entediada.

O homem se vira para ela, sua expressão assassina.

— O que eu te disse, Allegra?

morally questionable
Ela se endireita, provavelmente percebendo o descontentamento em
sua voz.

— Para pegar Catalina e Claudia. — Ela abaixa a cabeça em


subserviência, a primeira vez.

Quem é esse homem?

— E?

— Eu não poderia me incomodar em olhar em casa por ela. Ela era


mais fácil de conseguir. — Ela aponta para mim, franzindo os lábios como
uma criança mimada.

— Você me desobedeceu. — O homem simplesmente declara, soltando


o cinto.

— Sinto muito, mestre. — Allegra diz de repente, se abaixando e de


joelhos.

— Você precisa ser punida. — Os passos do homem são calmos e


medidos. Ele alcança Allegra e, com um golpe suave, desliza o cinto pelas
costas dela. Há um som penetrante quando o couro encontra suas costas,
mas ela nem choraminga. De fato, se eu olhar de perto, posso vê-la
ronronando.

O que?

morally questionable
— Você fez de propósito, não fez? Você queria que eu te punisse.

— Mestre... — Ela geme.

O que parecia uma dança erótica, de repente fica horrível quando ele
a agarra pelo pescoço e esmaga o rosto no chão. Um som enorme escapa de
seus lábios, seus olhos revirando em sua cabeça. O homem parece
decepcionado com isso, então ele a chuta no estômago com o pé.

— Você deve me dar licença. — Ele se vira para mim, balançando a


cabeça com nojo da forma lamentável de Allegra no chão. — Onde estão
minhas maneiras? — Ele limpa as mangas do terno antes de me regalar
com um sorriso.

— Há quanto tempo, Catalina. Deixe-me me apresentar.

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E OITO

— Eu te disse tudo que eu sei. — Eu abro os olhos grogue, apertando


os com a luz dura do dia.

O que...?

Viro a cabeça um pouco e entro no meu novo ambiente. Hospital...


Estou em um hospital. Sinto dor irradiando da minha coxa. Uma rápida
olhada e vejo um gotejamento intravenoso conectado ao meu braço.

morally questionable
— Oficial, acho que há um mal-entendido. Ele não pretendia tirar a
própria vida. O espelho quebrou e ele se machucou. — Eu ouço a voz de
Sisi e parece que ela está discutindo com alguém. Ainda desorientado,
levanto-me para uma posição sentada, estremecendo com a dor aguda.
Olho para baixo e noto o curativo branco na parte superior da coxa. Leva
um momento, mas depois me lembro.

Ela foi embora.

Observando sua figura em retirada, eu não estava na melhor


mentalidade. Meu principal pensamento foi fazer tudo parar. Eu não
pretendia me matar. Eu só queria um pouco de paz, aquela calma que
somente a dor pode trazer.

Sentado entre os cacos de vidro, a reação foi um pensamento


inconsciente imediato. Eu tinha focado em uma peça maior e, envolvendo
minha mão em volta dela, esfaqueei-a na minha perna.

Cabeça jogada para trás, eu fechei meus olhos, sentindo a dor


cortante; a maneira como isso deixou minha mente em branco... esquecer
sua expressão horrorizada. Esquecer tudo. Quando a dor ameaçou ficar
entorpecida, eu removi o espelho, esperando o ar frio tornar a picada mais
potente.

Não sei quanto tempo fiquei lá, mas cada momento me aproximava do
estado de tontura que ansiava, onde até a simples tarefa de pensar era
prejudicada.

morally questionable
Com uma respiração profunda, acordo com minha realidade. Catalina
se foi. Claudia se foi.

— Marcello? — Assisi chama meu nome, percebendo que estou


acordado.

— Estou bem. — Eu murmuro, minha garganta seca.

— O que aconteceu? — As sobrancelhas dela estão juntas em uma


carranca enquanto ela olha para a minha perna. Eu não respondo. O que
posso dizer a ela? Quão desprezível eu sou? Ela provavelmente suspeita de
qualquer maneira.

Uma enfermeira vem para verificar o IV e ela menciona a sorte que


tive por minha irmã ter chamado a ambulância a tempo porque eu tinha
perdido muito sangue. Olhos em branco, olho para o nada, um vazio se
formando dentro do meu peito.

Estou vivo — de novo. E ela se foi — de novo.

A enfermeira continua falando, mas eu não registro nada. É só


quando ela pega minha ferida, provavelmente para limpa-la, que eu a tiro.

— Não me toque. — Eu grito, vacilando.

— Marcello? — Sisi intervém antes de se desculpar com a enfermeira.

morally questionable
— Senhor Lastra, preciso verificar sua ferida. — A enfermeira
acrescenta, e eu apenas balanço minha cabeça.

Desorientado, procuro uma saída. Eu não posso ficar aqui.

Usando minha mão esquerda, arranco o IV do meu braço. Há uma


pequena dor espinhosa quando pulo da cama. A enfermeira suspira e
Assisi chama meu nome, mas eu continuo.

Ignorando a todos, corro em direção à saída, meus únicos


pensamentos centrados em escapar. Sei que não estou pensando
claramente, mas isso não me impede de tropeçar, gritando para as pessoas
não me tocarem enquanto tentam ajudar.

Percebo vagamente que alguém está pedindo segurança e depois vejo


Vlad.

Levantando uma sobrancelha para mim, ele balança a cabeça. Meus


pés cedem e sucumbem aos joelhos, umidade pingando na minha coxa. Os
olhos de Vlad se contraem por um momento, mas ele coloca a palma da
mão em um sinal de parada.

— Me mate, por favor. — Eu falo, a agonia no meu peito se


acumulando em um crescente imparável.

— Agora, Marcello, o que eu disse antes? — Ele cai em um joelho na


minha frente. Ele olha por cima do meu ombro e acena com a cabeça.

morally questionable
— Por favor, — continuo querendo fugir. Fora da minha pele e longe
deste tormento Tartariano de minha própria autoria. Eu sabia que no
momento em que me casei com ela, ela me desprezaria se descobrisse. Eu
sabia, e ainda assim continuei, um egoísmo desprezível por minha
natureza pecaminosa. Pela primeira vez, eu queria algo para mim, ciente
do preço que pagaria no final. E aqui está — o acerto de contas; e como um
covarde, não consigo nem suportar o inferno que eu mesmo provoquei.

— Se você morrer, não será pela minha mão. — Ele bate os dedos na
minha frente, tentando chamar minha atenção. Eu franzi a testa para ele,
minha compreensão está atrasada.

— Por... — Estou prestes a dizer quando alguém enfia uma agulha no


meu pescoço. O efeito é quase imediato, quando meus membros se tornam
leves.

Ainda estou consciente, enquanto as mãos agarram meu corpo.

— Como é que você está aqui? — Sisi pergunta.

— Digamos que ouvi através da videira que alguém estava com


problemas. — Comentários de Vlad.

Suas vozes se tornam um mero eco quando finalmente perco a


consciência.

morally questionable
Uma semana depois

— Prazer em ver todos vocês tagarelas. — Vlad desliza para o assento


ao meu lado. — Você alugou toda a igreja, ou o quê? — Ele diz enquanto
percorre as fileiras vazias.

— Olá para você também, traidor. — Eu respondo tensamente,


fechando o punho sobre o rosário que eu estava segurando.

Eu mal saí do hospital e consegui dissuadir os médicos de me


conterem. Em vez disso, eu concordei em ter sessões semanais de terapia.
Não importa o quanto eu tentei contar, eles não acreditavam que não fosse
uma tentativa de suicídio.

Ontem, eu tinha meu primeiro compromisso, e tinha sido o melhor


possível, considerando tudo. Eu apenas arranhei a superfície no que disse
ao terapeuta. No final da sessão, o médico me perguntou à queima-roupa
se eu queria ajuda, porque minha deflexão não estava ajudando ninguém.
Ao sair, eu disse a ela que, se eu fosse mais sincero, teria que matá-la.

Ela riu.

morally questionable
Eu não estava brincando. Na verdade, não. Eu tive vários terapeutas
ao longo dos anos e, quando me abri um pouco mais, eles tiveram que me
denunciar às autoridades. Ainda bem que eu não confiava demais para
começar, e eu era capaz de assumir o controle da situação antes que
explodisse.

Mas agora devo ser monitorado por uma família próxima, sendo Assisi
a única encarregada de garantir que não me machuque mais.

Engraçado, porque se eu fosse um pouco mais egoísta, teria


mergulhado. Mas sei o que espera de minhas irmãs caso isso aconteça. Ou
Lina... Ainda há alguém lá fora, atirando em mim e, por extensão,
qualquer um que signifique algo para mim. Mesmo que ela continue me
odiando pelo resto da vida, eu ainda a protegerei.

O incidente com o espelho foi... bem, um ligeiro lapso de julgamento.


Eu só queria o máximo que sei que posso obter toda vez que a dor inunda
meus sentidos. Pela primeira vez, eu poderia ter levado longe demais.

— Você deveria me agradecer em vez de reclamar. —Vlad diz,


levantando as pernas e apoiando os pés na fileira de bancos à sua frente.

— Pare com isso! É uma igreja. — Eu grunhi. Mesmo que ninguém


esteja lá dentro, é desrespeitoso.

— Não deixe suas penas agitadas, Marcello. Eu não vim aqui para
cometer sacrilégio, ou Deus o livre pecado. — Ele estremece visivelmente
enquanto pronuncia a palavra Deus, e eu reviro os olhos para ele.

morally questionable
— Então, por que você veio?

— Sua irmã está preocupada com você. Ela diz que você não sai do seu
escritório por dias a fio.

— Eu não vou me matar, não se preocupe. — Eu franzo meus lábios.


— Desde quando você fala com minha irmã? — Eu estreito meus olhos
para ele.

— Desde que ela é a única adulta naquela casa. — Ele atira de volta e
eu seguro uma réplica.

— Bem, como você vê, estou bem.

— Há outra razão pela qual entrei nisso... — Sua boca se enrola com
nojo. — Despeja. — Ele se move para a igreja. Eu levanto uma sobrancelha
para ele, mas ele continua. — Hastings está trabalhando no caso do nosso
imitador. Ele está repassando todas as cenas de crime novamente.

— E? — Vendo o quão completa essa Chimera foi até agora, duvido


que Adrian tenha encontrado alguma coisa.

— Ele encontrou algo. — Vlad diz e eu viro minha cabeça para olhar
para ele.

— O que?

— Uma impressão digital parcial. Não é muito, mas...

morally questionable
— Quão parcial estamos falando?

— Podemos ter uma partida se tivermos algo para compará-la. É por


isso que estou aqui. Preciso que você faça uma lista de todos que suspeitar.

— E se for intencional? Para nos despistar? — Não é que eu não confie


no trabalho de Adrian, já que trabalho há anos com o homem e sei como
ele é meticuloso. Mas esse assassino imitador... tudo é intencional.

— Pode ser. —Vlad encolhe os ombros. — Ainda vale a pena dar uma
olhada.

— Não há tantas pessoas que poderiam ter feito isso. Eu diria que há
alguns na família que seriam capazes de fazê-lo. Mas motivo? É isso que
me deixa fora. — Eu suspiro. Não é como se eu não tivesse destruído meu
cérebro pensando em quem poderia estar, meu tio e seus companheiros
estavam no topo da lista. Mas por que?

— O que você ouviu do lado de Enzo? — Eu pergunto depois de uma


pausa. Enzo ainda não havia percebido que seu escritório havia sido
invadido e que Vlad está a par de todas as informações confidenciais que
saem dali. Ainda não sei por que ele fez isso, mas agora sou grato.

— Enzo antagonizou você ainda mais. Ela acha que você estava por
trás de tudo para poder confortá-la depois. Pelo lado positivo, a jovem está
sentindo sua falta.

morally questionable
— Claudia? — O nome dela aparece como um sussurro. Eu nem
mereço pronunciar o seu nome.

— Ela é muito apaixonada por você, não é? — Ele comenta, quase


ironicamente.

Eu me condicionei a não pensar nela. Como eu pude quando falhei


com ela e sua mãe?

Quando Catalina confirmou sua idade, senti como se tivesse sido


atingido por um raio. Esse incidente resultou em uma vida, uma garotinha
adorável que se parecia exatamente com Lina, mas tinha minha
personalidade. Ao conhecê-la, notei sua mente lógica e a maneira como ela
abordou problemas, não muito diferente de mim. Pela primeira vez, a
evidência do que eu tinha feito estava me encarando. E pela primeira vez,
não achei em mim mesmo arrependimento, porque isso significava
lamentar a garota bonita que eu adoraria tanto. Isso me torna ainda mais
hipócrita, não é?

— Ela vai me odiar também. — Eu adiciono em silêncio, sabendo que


nunca posso reivindicá-la como minha filha.

— Talvez sim. Talvez não. —Vlad se levanta, endireitando o terno.


Enquanto ele puxa as mangas, vislumbro suas tatuagens. Eu sempre me
perguntei por que todo o corpo dele está coberto de tinta.

— Você nunca me disse o que isso significa. — Eu aponto para os


desenhos, tentando mudar de assunto. Já é muito doloroso como é.

morally questionable
— E eu não vou. — Ele sorri para mim. — Não gostaria que o mistério
desaparecesse. — Ele encolhe os ombros e vira para sair.

Fico mais um pouco, perdido em orações. Quando chego em casa, já


está escuro lá fora.

Amelia é a primeira a me cumprimentar.

— Signor Lastra, alguém está aqui para você. — Ela se move para a
sala de estar e eu lhe dei um pequeno aceno. Eu nem sequer ponho os pés
dentro da sala de estar que Enzo vem me incendiando e me dá um soco na
cara.

— O que... — Eu momentaneamente perco o equilíbrio. Mas é o


suficiente para ele me prender no chão e continuar batendo.

— Onde diabos ela está, Lastra? Onde você a escondeu? — Ele


continua gritando, e eu paro.

Do que ele está falando?

Minha mão dispara e eu paro o punho que chega. Eu empurro para


trás e usando toda a minha força, eu o empurro para fora de mim.

— Do que você está falando? — Eu pergunto, cuspindo sangue. Ele fez


algum dano.

morally questionable
— Catalina. Não finja que não sabe o que estou dizendo. Onde você a
escondeu? Eu sei que ela deve estar aqui em algum lugar. — Ele então
grita. — Lina? Onde você está? Estou aqui para levá-la para casa!

— Catalina não está aqui. Obviamente. — Eu adiciono secamente,


indo para a mesa e tirando um guardanapo. Eu passo na minha boca,
observando que ele dividiu meu lábio. Movo um pouco minha mandíbula,
satisfeito por não sentir meus dentes soltos.

— Onde ela está? — Ele se vira para mim, com o rosto cheio de
preocupação.

— Você deveria saber, desde que ela foi para sua casa.

— Ela não está lá. Claudia ainda está em casa, mas não há sinal de
Lina.

Estou subitamente alerta. Catalina nunca deixaria Claudia sozinha.

— Do que você está falando? Onde ela poderia estar? — Meu pulso
começa a acelerar.

— Não ouse agir inocente, Lastra. Você é o único que poderia tê-la
levado, seu bastardo doente. Você já não fez o suficiente? Você não a
machucou o suficiente? Apenas deixe-a ir.

— Olha, Enzo. — Eu levantei minha mão. — Catalina não está aqui.


Eu juro. Mas se ela estiver desaparecida...

morally questionable
— Você realmente quer que eu acredite nisso? Quando você estava tão
obcecado por ela, você a estuprou e depois se casou com ela sem remorso?
Que tipo de merda doentia faz isso? — Ele cospe, e eu aceito. Porque não
está errado.

— Do que ele está falando? — Assisi decide nos agraciar com sua
presença naquele momento preciso.

— Oh, Assis. Você sabia que seu irmão aqui é o pai de Claudia? Ele
não apenas estuprou e torturou Lina, mas também a deixou para
enfrentar as consequências sozinha.

O rosto de Sisi cai e ela me olha horrorizada.

— Isso é verdade? — A voz dela é quase um sussurro. Viro a cabeça,


vergonha me enchendo.

— Senhor! É verdade. — Ela exclama, a mão indo para a boca.

— E agora Lina está desaparecida. E seu irmão deve saber


exatamente onde ela está. — Enzo acrescenta presunçosamente.

— Eu não. Juro que não tenho ideia de onde ela está. — Eu paro,
percebendo imediatamente que se ela não estiver com Enzo...

— Não... — Eu sussurro. — Não, não pode ser...

— O que? — Enzo pergunta abrasivamente.

morally questionable
— Chimera. — As palavras estão fora da minha boca.

Mas se ela estiver desaparecida... Senhor, por favor, não deixe nada
acontecer com ela.

— Você quer dizer você? — Enzo ri ironicamente.

Então me lembro do que Vlad disse, que eles acham que eu estava por
trás de tudo.

— Não, droga. Eu não. Olha, eu não professo ser inocente. Sei o que
fiz com Lina, e não é algo que jamais me perdoarei. Mas isto, Chimera não
sou eu. Alguém está se passando por Chimera para me atormentar.

— Conveniente, não é? — Ele bufa.

— Juro que não tive nada a ver com isso. Eu também amo Lina. Eu
não seria capaz de machucá-la.

— Certo, você já machucou.

— Maldito! Escute, Enzo, se Lina estiver desaparecida, precisamos


nos concentrar nisso.

— Lina não pode estar aqui. — Assisi finalmente intervém, dando-me


um olhar que transmite o quão decepcionada ela está comigo. — Eu tenho
observado Marcello de perto, na semana passada. Ele teve um incidente.
— Ela faz uma pausa. — Ele está sob supervisão para não tirar a vida.

morally questionable
Os olhos de Enzo se arregalam e ele se vira para mim, abrindo a boca
para dizer alguma coisa. Mas ele não faz.

— Você tem certeza que não é ele? — Ele finalmente pergunta a Assis.

— Positivo. — Ela respira fundo. — Precisamos encontrá-la, Enzo. —


O seu tom tem um ligeiro desespero, e então ela olha para mim. —
Marcello. Por favor.

— Eu vou te dar minha palavra, Agosti. Eu a encontrarei. Mesmo que


seja a última coisa que faço. — Eu digo solenemente.

— É melhor você fazer. Porque se algo acontecer com Lina... — Ele


balança a cabeça. — Eu vou te matar.

— E eu vou deixar. — Porque como eu poderia viver comigo mesmo


pensando que falhei com ela novamente?

Eu estive andando no meu escritório pela última hora como um louco.


Depois que Enzo saiu, enviei uma lista abrangente de pessoas para Adrian

morally questionable
testar. Ainda vai levar tempo... Tempo que podemos não ter, caramba. O
técnico de impressão digital precisa passar por cada impressão e combiná-
la manualmente com a registrada.

Porra, inferno!

Eu nem quero considerar que algo pode ter acontecido com Lina.
Segundo Enzo, todo o feed de vídeo em sua casa estava desligado quando
Lina desapareceu. Eu sugeri um empregado interno, porque realmente,
quem mais teria acesso à casa dele? Mas Enzo se recusou a acreditar que
alguém de seu círculo teria vendido sua irmã.

Sinto-me perto de uma ruptura mental. Quem poderia ter feito isso?

— Senhor, — Amelia bate na minha porta e entra.

— Alguém deixou isso para você. — Eu aceno distraidamente e peço


que ela deixe o pacote em cima da mesa.

Depois que ela se foi, ainda estou perdido em pensamentos, minha


mente me enganando e me mostrando todos os cenários possíveis, todos
terminando com Lina morta.

Não!

Eu preciso me concentrar. Não posso me permitir descer pela toca do


coelho.

morally questionable
Querido Deus, por que? Por que ela?

Minhas orações são ineficazes, não que elas já tenham sido.

Balanço a cabeça e volto a atenção para o pacote. Eu agarro,


observando que é muito leve. Curioso, pego uma faca e corto o papelão. No
interior, há apenas uma carta e um pedaço de material. Eu franzo a testa.

Abro cuidadosamente o envelope para encontrar uma foto e uma


pequena nota. Viro a imagem e ofego.

Lina!

Suas costas estão nuas, suas cicatrizes à vista. O vestido que ela
usava está na cintura. O mesmo vestido que agora estou segurando na
minha mão. Meus dedos se apertam em torno do material, o desespero
ameaçando me sobrecarregar.

Com movimentos desajeitados, me apresso em abrir o bilhete.

ESPAÇO DE SOBRA PARA OUTRA LETRA.

Fecho meus olhos brevemente, tristeza ameaçando transbordar.

O que eu fiz? O que eu trouxe sobre ela?

Aperto o pedaço de papel na mão, jogando-o na parede.

morally questionable
— Espere por mim, Lina. — Eu sussurro, mesmo que não haja
convicção genuína por trás das minhas palavras.

Bato na foto, vou diretamente para o meu quarto, para o meu


santuário interior. Tranco a porta atrás de mim e me ajoelho na frente do
altar. Viro os olhos para a peça central, a estátua de Maria, e a suplico.

— Por favor, eu estou te implorando. Deixe-a ficar bem. Eu farei


qualquer coisa. Vou ficar longe dela pelo resto dos meus dias. Apenas
deixe-a ficar bem. — Continuo repetindo a mesma oração, esperando que
alguém me ouça.

Lina, minha linda Lina... uma alma muito inocente.

É tudo culpa minha.

Estou quase tentado a agarrar o cabo do chicote, desejando o toque


calmante da dor. Mas enquanto estou lutando contra esses pensamentos,
meu telefone emite um sinal sonoro. É o Adrian.

— Sim?

— Temos um suspeito. Você se saiu bem ao classificá-los.

— Quem é? — Eu pergunto.

— Sua primeira escolha...

morally questionable
CAPÍTULO VINTE E NOVE

— Nossa primeira escolha... — Adrian faz uma pausa, e a antecipação


está me matando. — Nicolo.

— Você tem certeza?

— Positivo. O técnico identificou uma pequena cicatriz no polegar que


também está presente na impressão parcial.

morally questionable
— Porra! — Eu murmuro, raiva se formando dentro de mim. —
Obrigado. Eu vou lidar com isso.

— Diga-me se precisar de alguma coisa.

Depois que desligo, tomo um momento para me acalmar. Não será


vantajoso para ninguém se eu mergulhar nisso com a mente nublada.
Nicolo já jogou o suficiente comigo.

Mas por que?

Ainda não consigo imaginar por que ele se esforçaria tanto para
chegar até mim. Ele quer minha posição? Parece um pouco extremo fazer
isso por anos apenas para se tornar Capo. Algo não soma.

O tempo é essencial agora. Não posso insistir nas razões quando Lina
está em perigo. Eu me atrapalho com meu telefone e ligo para Francesco,
instruindo-o a reunir todos os membros de alto escalão da famiglia. Ele
logo confirma que eles estarão aqui dentro de uma hora.

Há cerca de dez deles que ocupam posições significativas. Mais da


metade são homens de Nicolo, então alguns deveriam ter algum tipo de
informação.

Depois de reunir algumas ferramentas do porão, peço a Amelia que


conduza os convidados na sala de estar quando eles chegarem.

Espere por mim, Lina! Eu vou te encontrar!

morally questionable
Eu me armo com algumas armas e facas, sabendo que nenhum dos
homens terá armas, pois é desrespeitoso entrar armado na casa do Capo.
Quando Amelia me avisa que eles estão aqui, eu me aprumo. Eu preciso
fazer isso rápido.

Entrando na sala de estar, os homens estão conversando


profundamente. Quando me veem, param e me cumprimentam. Eu
mantenho uma expressão indefinida e me viro para trancar a porta.

— Vocês provavelmente estão se perguntando sobre a urgência da


minha mensagem. — Eu explico, sentando no sofá. — Meu querido tio,
Nicolo se tornou traidor. Quero qualquer informação que vocês possam ter
sobre ele. Agora.

Eles começam a clamar, alguns expressando descrença, outros


professando sua inocência. Eu me concentro no último.

— Mateo, você é um amigo íntimo do meu tio. Por que você não
começa? — Eu inclino minha cabeça para o lado, uma expressão entediada
no meu rosto.

— Eu não sei nada, Capo. Eu não sou o guardião dele. — Ele encolhe
os ombros e eu levanto uma sobrancelha para ele.

— Então como é que você o seguiu em toda parte? — Eu questiono.

morally questionable
— Isso não é verdade. Não sei quem lhe disse isso, mas não fiz nada
de errado. — Ele desvia imediatamente, e eu balanço minha cabeça
lentamente.

— Quem disse algo sobre acusar você, Mateo? — Eu me levanto e


ando em sua direção. Sua cabeça está baixa quando ele me vê avançar. Ele
está tentando parecer manso, mas vejo o leve puxão da boca, a maneira
como seu corpo coça para um desafio.

Uma lâmina fina na mão, eu a puxo para debaixo do queixo,


levantando a cabeça para olhar nos olhos.

— Mateo, Mateo... O que devo fazer com você? — Eu pergunto


hipoteticamente, querendo avaliar sua reação.

Ele ri nervosamente. — Você não pode fazer nada.

Empurro a borda afiada da lâmina logo abaixo do pomo de Adão e


observo como ele engole ansiosamente.

— Então você não tem nada a dizer? Estou lhe dando uma chance. —
Eu digo, meus olhos em Mateo.

— Não. — Ele responde, levantando o olhar para encontrar o meu,


tentando mostrar uma força que falta. Eu posso ver o medo em seu corpo
se afastando um pouco de mim, o tremor de seus lábios e o pequeno fio de
suor em sua testa. Ele está assustado.

morally questionable
— Ok. Bom. — Eu aceno, dando um passo atrás como se estivesse me
mudando para outro alvo. Assim que ele dá um suspiro de alívio, eu me
movo. Tão rápido que ele mal tem tempo para reagir, abro a boca e agarro
a língua. Uma fatia e o músculo cai, sangue escorrendo pelo rosto. — Como
você não tem nada a dizer, não deve dizer nada.

Suas mãos cobrem a boca, tentando parar o sangue.

— Vamos tentar novamente. Você sabe onde está meu tio? — A


atmosfera da sala muda imediatamente, e alguns homens removem armas
do interior de seus casacos, todos apontando para mim.

— Então é assim que vai ser. — Eu murmuro, dando um passo para


trás e levantando minhas mãos, fingindo rendição. Ao mesmo tempo, clico
no controle remoto que estava segurando.

A TV grande na sala ganha vida, a tela se divide em pequenas janelas,


todas mostrando homens mantendo famílias reféns.

— Um clique, e eles estão todos mortos. — Aperto minha mão,


mostrando a eles o que quero dizer.

Embora eu soubesse que alguns respeitariam as regras e ficariam


desarmados, não poderia me arriscar. Especialmente com o pessoal de
Nicolo.

— Eu preciso de apenas uma coisa de vocês. Localização de Nicolo. Se


me disserem isso, sinceramente, suas famílias escaparão ilesas.

morally questionable
Isso é mais potente do que qualquer tipo de tortura, e eles
prontamente largam suas armas.

Um homem dá um passo à frente, com os joelhos cedendo.

— Ele está no cemitério. Por favor, não prejudique minha esposa.

— Que cemitério?

— A cripta Lastra. Por favor. — Ele junta as mãos em uma oração, e


eu apenas aceno.

— Veja, não foi tão difícil.

Nesse momento, meu telefone toca. O número de Nicolo é exibido na


tela.

— Olá sobrinho. Vejo que você encontrou meu pequeno segredo.

— Nicolo. — Eu respondo tensamente.

— Um pouco tarde demais, você não diria? Quando você se cerca de


hienas, não me surpreende muito quando for traído. — Ele ri.

— O que você quer dizer? Como está Catalina?

morally questionable
— Você não gostaria de saber? — ele ri. — Tome cuidado, garoto, às
vezes a própria mão que alimenta você pode virar contra você. — Ele diz
enigmático, mudando as palavras do ditado original.

Ele desliga.

Droga!

Ainda nenhuma palavra sobre Lina.

Largo meu telefone no chão e, agarrando minhas duas armas, miro.


Primeiro os que têm armas e depois um por um nos outros. Quando abaixo
minhas armas todo mundo está deitado no chão.

Mortos.

Com um clique do botão, garanto que suas famílias tenham o mesmo


destino.

Destranco a porta para encontrar Amelia no corredor. Seus olhos se


arregalam quando ela me vê, e ela tropeça em suas palavras.

— Eu... Eu ouvi os tiros e...

Interessante. Geralmente as pessoas fogem dos tiros, não em direção a


eles. Mas então eu repito as palavras de Nicolo na minha cabeça. A mão
que te alimenta.

morally questionable
— Claro. — Eu sorrio para ela. — Você pode vir me ajudar?

Ela assente, me seguindo de volta para a sala de estar. Ela fica cara a
cara com os cadáveres, mas posso ver que ela está se esforçando muito
para se controlar.

— Diga-me, Amelia, por que você deixou o emprego de meu pai?

Ela abaixa a cabeça, seus cabelos quase prateados caindo sobre a


testa.

— Ele se forçou a mim, senhor. — Ela confessa, e por um momento


sinto uma pontada de culpa. Mais uma vítima do meu pai. Mas então
penso em Lina.

— E onde você foi depois disso? — Ela de repente me olha em pânico.

— Amelia, Amelia. Você sabe, você era a minha favorita quando


criança. Você sempre foi a mais gentil comigo. Mas agora? — Eu faço um
tsk soar com a minha língua, e ela empalidece. — Por que você fez isso?
Por que Nicolo? — Eu pergunto, meio blefando.

— Eu... — Ela gagueja, e eu posso ver a culpa em seu rosto.

— Ora, Amelia, por quê?

— Eu o amo. — Ela explode, mais emoção saindo dela do que eu já vi


antes.

morally questionable
— Você o ama. — Repito, inclinando a cabeça e estudando-a.

— Eu estava grávida e sozinha e ele me ajudou. Ele era tão gentil, tão
atencioso. Mesmo quando eu abortei, ele estava lá por mim, me apoiando.
Até confrontou seu pai em meu nome. E você sabe o que Giovanni fez? Ele
riu. — Ela enrola o lábio com nojo. — Riu por me estuprar e arruinar
minha vida! — Seus olhos estão lacrimejando e ela levanta uma mão para
pegar as lágrimas. — Nicolo foi tão bom para mim... tão bom.

— Tão bom que você basicamente serviu minha esposa em uma


bandeja para ele. Foi você quem plantou essas mensagens, não foi?

— Ele não vai prejudicá-la. Ele prometeu.

— Amelia, Amelia. — Eu balanço minha cabeça, vendo que não há


raciocínio com ela. Em sua mente, Nicolo é um personagem maior que a
vida, seu salvador.

— No momento em que você mirou em Lina, você perdeu. — Eu digo,


tristeza me inunda enquanto fico contra a única pessoa que tornou minha
infância um pouco mais suportável.

Mas ninguém mexe com minha Lina. Ninguém.

morally questionable
Há alguns meses atrás eu estive aqui, no túmulo de Tino. Parece uma
piada de mau gosto que Nicolo tenha escolhido esse local em particular. A
cripta da minha família é do tamanho de uma casa de dois andares, um
grande cofre acentuando a altura da construção. Quatro gerações da
família Lastra fazem seu lugar de descanso eterno aqui, incluindo a mãe e
o que deveria ser o túmulo vazio do pai.

Enquanto abro a porta estridente, tudo em que consigo pensar é em


Lina.

Por favor, deixe-me chegar a tempo!

A cripta é construída como uma casa, com alguns quartos diferentes.


Depois de verificar o térreo, vou em direção ao porão onde estão os
túmulos.

— Ai está ele! — Meu tio exclama enquanto desço as escadas


estreitas. No fundo, o porão se enche em uma sala ampla com quatro
pilares grossos. Nicolo está parado no meio, com os braços bem abertos, um
sorriso perverso no rosto.

morally questionable
Meus olhos vagam imediatamente pela sala até eu me encontrar com
a figura leve de Lina. Ela está em um canto, as mãos amarradas ao redor
de um pilar, o rosto apoiado na superfície gelada da coluna.

— Lina? — Eu chamo, absorvendo sua aparência desgrenhada e a


maneira como todo o seu ser se esquiva da minha presença.

Ela me odeia tanto?

Volto para Nicolo, lançando o presente que estava segurando em sua


direção.

A cabeça de Amelia rola no chão, os olhos bem abertos e olhando para


o meu tio.

— Então você descobriu. Pena, ela era uma boa de cama. — Ele
encolhe os ombros, chutando a cabeça ainda mais com o pé. Catalina grita
quando passa por ela e para a uma curta distância.

— Acho que sua esposa pode estar mais decepcionada com isso do que
eu. — Ele ri enquanto os olhos de Lina se arregalam de medo. Mesmo
quando ela se vira para mim, todo o seu ser parece revoltado pela minha
presença.

E isso parte meu coração.

— Deixe-a ir. Ela não tem nada a ver com isso.

morally questionable
— Ah, veja, aí está você errado. Ela tem tudo a ver com isso. Ela é o
seu gatilho principal, não é? — Nicolo pergunta, divertido.

Os olhos de Lina se voltam para mim, e a dor que vejo refletida neles
me faz querer enfrentar o próprio rei do inferno.

Tento transmitir com o meu olhar que vou cuidar disso, mas não
tenho certeza se acredito em mim neste momento.

— O que você quer, Nicolo? Você quer tanto a minha posição que
recorreria a isso? Pegue, é seu. — Eu afirmo, meus olhos se movendo dele
para Lina.

As sobrancelhas de Nicolo disparam um segundo antes de ele jogar a


cabeça para trás e rir.

— Você vai me dar sua posição? — Ele zomba de mim, ainda rindo. —
Veja, é por isso que você nunca esteve em condições de ser Capo. Você
sempre a coloca antes de tudo. — Ele comenta com escárnio. — Não se
preocupe, sua posição vai ser minha por padrão depois que você morrer. —
Ele encolhe os ombros e caminha casualmente em direção ao final da sala
para pegar uma faca enferrujada.

— Por que não tentamos isso?... — Ele torce a faca, provando sua
força. — Eu posso deixá-la ir, se você se submeter a mim.

— O que? — Eu apago, um sorriso maníaco aparecendo em seu rosto.

morally questionable
— Se renda a mim. É a única maneira de ela se libertar.

— Tudo bem. Eu vou fazer isso. Apenas deixe-a ir.

— Ainda não, — ele balança a cabeça e se move em direção a outro


poste. — Vá e algema-se.

Paro por um segundo e meus olhos encontram o de Lina. Suas


sobrancelhas estão desenhadas juntas em confusão. Apenas vendo ela lá...
Ando e, sentando-me, prendo minha mão em um poste de metal. Metade
da algema está enrolada em torno do metal para apoio, enquanto o outro
está circulando meu pulso.

— Por que você está fazendo isso? — A voz de Lina é apenas um


sussurro, quando ela pede.

Nicolo sorri lentamente, e de repente vejo o pai nele.

— Culpe tudo ao seu marido. Afinal, ele é a razão de todos os seus


infortúnios. — Ele diz alegremente a ela, encantado quando o seu rosto
cai. Ela se vira para mim um pouco, e sua expressão é de medo misturada
com decepção.

Eu falhei com ela. Repetidamente.

Nicolo caminha casualmente em minha direção, mudando e brincando


com a faca nas mãos. Ele se inclina na minha frente, empunhando a
lâmina perto do meu rosto.

morally questionable
— É hora de pagar, garoto. — Um golpe da faca e o material
segurando minha camisa caem. Ele segue a faca pelo meu peito, a ponta
tentadoramente perto de cavar na minha pele. Ele faz isso algumas vezes,
tentando enganar meus sentidos. Então ele corta.

Eu cerro meus dentes com a dor. Afinal, é algo que estou acostumado.
Catalina, no entanto, deixa escapar um suspiro alto enquanto estrelas de
sangue se acumulam no meu torso.

Nicolo continua fazendo pequenos cortes por toda parte, mas não lhe
dou a satisfação de reagir. Não, tudo o que posso fazer é manter meus
olhos em Lina, minha única razão para continuar lutando.

Não demora muito para parar, visto que ele não está recebendo
nenhuma reação de mim. Ele se levanta e franze a testa, olhando por cima
do meu corpo sangrando com uma pergunta nos olhos.

— Parece que isso não está funcionando. — Ele reflete, estreitando os


olhos para mim.

— O que você esperava? Que eu estaria chorando de dor? — Eu cutuco


ironicamente.

— Eu deveria saber que sua tortura não faria muito por você. Não
com Giovanni como seu pai. — Ele ri, como se tivesse acabado de perceber
algo importante.

morally questionable
Talvez o pai tenha ajudado minha maior tolerância à dor, mas
somente quando se trata de mim. Ele tentou tanto matar minhas emoções
que a única coisa que ele fez foi matar minha necessidade de
autopreservação. Eu não ligo para o que acontece comigo — não mais. Mas
Lina? Ela é a única que importa, e nem mesmo o pior tormento poderia me
fazer desistir dela.

— Não se preocupe, — ele provoca, — eu tenho muitos truques


debaixo da manga.

Nicolo se afasta de mim e, com um movimento de mão, ele sinaliza


para outra pessoa entrar. Seu sorriso só aumenta quando ele vê Franco se
mover, de olho.

— O que? — Eu expiro, confuso com a conexão.

— Franco aqui tem uma pequena queixa com você, não é Franco?

— E a cadela. — Franco acrescenta, com os olhos revirando sobre a


forma de Lina com um olhar de soslaio.

— Se a dor não quebrar você, — diz Nicolo, profundamente pensativo.


— Então talvez a visão de sua amada sentindo dor o faça.

Meus olhos se arregalam com a implicação dele, passando de Nicolo


para Franco.

Ambos riem, e Nicolo dá a Franco a luz verde para prosseguir.

morally questionable
—Marcello, Marcello, vamos ver como é estar tão desamparado...
assistir sua esposa ser fodida por outro enquanto você não pode fazer nada
para ajudá-la.

Meu pulso está acelerado, minha respiração está difícil.

Deus, não!

— Lina... — Eu sussurro e a vejo lutando, tanto quanto seus limites


permitem. Franco está nela em segundos, com as mãos agarrando as
pernas dela e puxando-as em sua direção.

Eu não posso assistir isso! Eu tento puxar minha mão do punho, mas
é em vão. O poste é altamente seguro, a algema apertada ao redor do meu
pulso.

— Não! — Lina grita, tentando chutar Franco. Uma mão


desajeitadamente trabalha na frente da calça, enquanto a outra continua
puxando o vestido.

Não!

Volto às minhas restrições, sabendo que o tempo é essencial. Vou


pensar em todas as possibilidades. Não posso arrancar o poste... Não
consigo quebrar as algemas, mas... Eu posso quebrar minha própria mão.

Os gritos de Lina se intensificam, e eles só me estimulam. Eu seguro o


poste com uma mão e dobro a outra dentro do punho, meu polegar

morally questionable
diretamente paralelo aos outros dígitos. Então eu puxo. Tão forte que
meus olhos lacrimejam, eu puxo e bato no punho ao mesmo tempo. Faço
isso até ouvir o som de ossos quebrando; até minha mão se tornar uma
massa mole de ossos esmagados. Até que fique livre.

Engolindo a dor e usando-a para alimentar minha raiva, estou de pé e


em Franco em um segundo. Há apenas um leve alívio ao ver que ele não
chegou a Lina antes da minha mão boa e o que resta da outra se envolver
em seu pescoço. Usando a força do meu pulso, refreio suas lutas e torço o
pescoço em ângulo, efetivamente quebrando-o. A adrenalina deve ter
surgido, porque não tenho noção de tempo, pois chuto seu corpo sem vida
para o lado e me ajoelho na frente de uma Lina assustada.

Seus olhos estão selvagens quando ela me vê, mas também noto uma
pitada de alívio neles. Hesito ao alcançá-la e, quando ela não se esquiva de
mim, eu a puxo para mais perto, segurando firme.

— Sinto muito, Lina. Sinto muito. — Eu expiro um soluço. — Eu vou


tirar você daqui. Você tem minha palavra, eu juro.

Ela não fala, seu corpo tremendo de medo. Eu chego atrás das costas
dela e com movimentos descoordenados; eu tento desatar as mãos dela.

— Que cena tocante. — A voz de Nicolo zomba por trás. Eu me viro e


vejo quando ele se aproxima, uma pitada de aborrecimento no rosto
enquanto ele pega minha mão mole.

morally questionable
— Sabe, eu nunca pensei que um monstro como você seria capaz de
emoções tão profundas. Eu costumava elogiar seu pai o tempo todo pelo
treinamento que ele fazia. Você era realmente o assassino perfeito. Até ela.

Ele tira uma arma da parte de trás da calça e aponta para Lina. Eu
reajo instintivamente, me colocando na frente dela, protegendo-a.

O riso de Nicolo ecoa na sala logo antes de pressionar o gatilho. Eu


soltei um suspiro quando a bala se incorporou no meu ombro. As mãos de
Lina me alcançam, sua expressão espelhando a dor que estou sentindo.

— Marcello, — com a boca aberta, ela parece incrédula quando o


sangue sai do meu ombro, misturando-se com o sangue já seco das minhas
outras feridas.

— Estou bem. — Eu murmuro, tentando lhe dar um sorriso de


garantia.

— Apenas me mate, — viro-me para falar com Nicolo. — Apenas me


mate e deixe-a ir, por favor.

— Por que eu faria isso, quando sua dor me dá tanta alegria? — Ele
sorri, girando a arma em torno de seus dedos. — Você não pode morrer
ainda.

— Por quê? — Eu grito, ainda usando meu corpo como um escudo


entre Nicolo e Lina. — Eu não entendo por que você teria tantos problemas

morally questionable
para personificar Chimera durante anos apenas para me atormentar. Por
quê?

Não faz sentido. Se ele estivesse apenas atrás da minha posição, ele
teria me matado há muito tempo. Então, por que fazer isso? Por que usar
truques psicológicos quando ele poderia ter me atacado abertamente?

— Essa é a coisa, garoto. Você nem sabe... — Sua boca se enrola de


raiva, mostrando os dentes para mim. Seu rosto escurece imediatamente,
sua mão ainda agitando a arma.

— Conte-me, faça a sua esposa saber que você matou sua própria mãe.
— Nicolo pergunta presunçosamente. Lina ofega, e ela me olha com
descrença. Eu balanço minha cabeça.

— Ela se matou. Eu não tive nada a ver com isso. — Eu declaro com
confiança. É uma coisa que ele não pode me acusar.

morally questionable
— Você não matou? — Ele levanta uma sobrancelha antes de ir para o
fundo da sala onde estão os locais de sepultamento. Eu rapidamente me
viro para Lina, tentando libertá-la antes que ele volte.

— Se você vir uma abertura, basta correr, ok? — Eu toco seu rosto
timidamente, deleitando-me sua presença uma última vez.

— E você? — Ela pergunta, sua voz rouca. Eu lhe dou um pequeno


aceno de cabeça.

— Isso não importa. Eu vou segurá-lo. — Eu sei que, na minha


condição atual, não poderei lutar muito, mas talvez eu possa ganhar algum
tempo para Lina fugir.

— Vá para o seu irmão. Ele saberá o que fazer. — Eu digo, mal


terminando a frase antes que Nicolo volte, carregando com ele um objeto
coberto por um pano branco.

Com um último puxão, os pulsos de Lina são livres. Eu me movo


rapidamente na frente dela para que Nicolo não perceba.

Ele espalha o pano reverentemente no chão, o descobrindo lentamente


para revelar um crânio humano.

— Ele matou você, não foi, querida? — Ele se aproxima do crânio,


uma expressão tenra, tão oposto ao semblante habitual do meu tio,
espalhando-se em seu rosto.

morally questionable
— Desde que ele nasceu, ele não passava de uma praga. — Ele
continua, seu rosto ficando malévolo quando se vira para mim. — Você a
matou, você a deixou doente. — Ele vomita, suas palavras cheias de ódio.
Amassando o crânio no peito, ele se levanta e levanta a arma novamente,
apontando-a para Lina.

— Você matou a pessoa que eu mais amava, então farei o mesmo com
você.

— Espere! — Eu chamo, procurando alguma maneira de atrasar isso e


fazer com que Lina tenha abertura para escapar. Nicolo claramente não
está mentalmente bem, e isso torna toda a situação complicada. — Eu juro
que não fiz isso. Eu a assisti tirar a própria vida. Eu tinha apenas treze
anos.

— Você condenou toda a sua existência antes de nascer! — Ele grita, o


máximo que ele levantou sua voz até agora. — Eu a amava, droga! Eu a
amava, mas Giovanni a alcançou antes de mim. E porque ela já estava
grávida, ela teve que se casar com ele. Ela tinha você, e sua vida acabou!
Você acha que eu não vi os machucados? A maneira como ele a tratou? Pior
que uma maldita prostituta e ela era sua esposa! Você a condenou a uma
existência pior que a morte!

Mordendo uma resposta sarcástica, porque realmente, eu não tinha


controle como embrião, continuo cutucando, desesperado para fazê-lo falar
para que ele possa se distrair.

morally questionable
— É por isso que você se disfarçou de Chimera? Para me pagar pelo
quê? Por nascer? — Ele estreita os olhos para mim, e eu me aproximo de
Lina, pronto para me tornar seu escudo mais uma vez.

Inesperadamente, porém, Nicolo ri. Ele se abaixa, segurando o


estômago. — Garoto, — ele sai correndo, lutando para respirar. — Você
acha que foi a primeira vez que joguei com você? — Ele emite um som
indistinto, como se estivesse tentando não engasgar com a diversão que eu
inconscientemente lhe forneço. — Eu era a mão direita de Giovanni. Uma
palavra aqui, uma palavra ali, e ele se certificou de que eu não precisava
fazer nenhum trabalho sujo. Por um tempo...

— O que você quer dizer? — Eu franzi a testa com as novas


informações.

— Claro, seu pai queria que você fosse um homem temido. Mas ele
não precisava ir tão duro com você. Os assassinatos, as prostitutas... Eu só
tinha que olhar para você para ver que você estava se perdendo cada vez
mais, até que se tornou uma concha de uma pessoa. Você abraçou o legado
de nossa família e ficou infeliz por isso. Essa foi a minha alegria. Liliana
estava sofrendo, mas você também. Até ela morrer. — Ele zomba das
palavras, voltando ao crânio e acariciando-o carinhosamente. — Depois
disso, todas as apostas foram canceladas.

Ele levanta os olhos para me dar um olhar arrepiante. — Quem você


acha que contou a Giovanni sobre a garota Agosti? Eu sabia no momento

morally questionable
em que você começou a circular ao redor dela que ela era diferente. De
repente, tive a melhor oportunidade de vingança.

A respiração de Lina se torna mais dura, e eu coloco minha mão na


perna dela, oferecendo o conforto que puder.

— Eu estava esperando por uma oportunidade como essa há anos. No


começo, pensei que você provavelmente teria uma overdose de toda a
merda que estava fazendo, mas não, você tinha que limpar seu ato por ela.
Que você conversou com Agosti por sua mão finalizou para mim. Eu sabia
que através dela eu poderia causar mais danos. — Ele ri, claramente
orgulhoso de si mesmo.

— O que você disse ao pai? — Eu sondo, dispondo minha mente a


desconsiderar a dor no meu corpo.

— Que ele deveria testar sua lealdade. A menina ou a famiglia. Eu


sabia qual você escolheria. — Ele faz movimentos em Lina com sua arma e
todo o meu corpo tensional. — Mas eu calculei mal. Não sabia o quanto
você estava disposto a fazer por ela. E então vocês dois desapareceram sem
deixar rastros. — Seus lábios se enrolam de aborrecimento. — Você não
tem ideia de quanto tempo eu procurei por você.

— Até você me encontrar. Dois anos atrás. — Eu acrescento, no


primeiro encontro, o Chimera falso começou a matar.

morally questionable
Nicolo sorri. — Depois disso não foi muito difícil. Eu sempre preferi
guerras longas e prolongadas, faz o inimigo se contorcer. Como você fez
quando viu aquela freira.

Eu pisco duas vezes, de repente percebendo as conexões. Os


especialistas forenses de Adrian sugeriram que a mulher estava sendo
cuidada mais do que os homens... de uma maneira religiosa. Mãe... ele
estava fazendo tudo pela mãe.

— Você estava tão ocupado sentindo pena de si mesmo que nem


percebeu o quão perto eu plantei meu povo. O convento era ainda mais
fácil de se infiltrar. Guerra, irmã Elizabeth... Madre Superiora. Não é
muito difícil dar um empurrãozinho.

— Você... Você sabia que o padre Guerra era um pedófilo, não sabia?
— Lina sussurra, falando pela primeira vez.

Seu sorriso está cheio de malícia enquanto ele sorri. — Claro. Esse era
o objetivo o tempo todo. Ela é, afinal, a filha de Marcello.

— Senhor... — Lina suspira, e eu gostaria de poder abraçá-la no meu


peito e tirar todas as suas preocupações.

Mais uma vez, tudo está acontecendo por minha causa.

— E então as notas. — Ela acrescenta, percebendo o grau em que


Nicolo jogou com nós dois.

morally questionable
— Eu precisava de você fora de casa. — Ele encolhe os ombros. —
Bônus por desprezá-lo. Amelia me contou tudo sobre isso, e foi tão
agradável ouvir. Especialmente sua tentativa de suicídio. — Nicolo se vira
para mim e sorri, satisfação clara em seus olhos.

— Tentativa de suicídio? — Lina se vira para mim, horror nos olhos.

Eu balanço minha cabeça — Não foi assim.

— Claro, quando você não morreu realmente, percebi que é hora de


dar um passo adiante.

— O que você quer dizer?

— É bastante simples. Você provavelmente está ciente de que, mesmo


que me ataque agora, as chances de fuga são muito pequenas. Se você fizer
o que eu peço, sua amada ainda poderá ter uma chance.

— O que você quer que eu faça? — Eu pergunto, minha voz vacilando


com a dor no meu braço. Eu já estou à beira e sei disso. O que quer que ele
tenha em mente não mudará isso.

— Eu quero que você termine o que começou. Quero que você pegue
essa faca, — ele tira a faca enferrujada novamente, — e corte sua própria
garganta. Morra como minha Liliana.

morally questionable
CAPÍTULO TRINTA

— E corte sua própria garganta. Morra como minha Liliana. — As


palavras rancorosas de Nicolo causam arrepios na espinha, as implicações
me aterrorizam.

Eu vacilo, balançando a cabeça para espiar Marcello. Ele parece


horrível. Sangue por todo o corpo, posso ver seu rosto se contorcendo de vez
em quando.

Ele levou uma bala por você...

morally questionable
E essa não tinha sido a única revelação de hoje. Se o que Nicolo diz é
verdade, e neste momento eu sei que é, há anos Marcello vive uma
existência infernal, atormentado por esse psicopata.

— Você me dá sua palavra de honra que ela sai viva e ilesa de


qualquer maneira? — Marcello finalmente fala, e meu coração desmorona.
Certamente ele não quer realmente se matar.

— Eu te dou minha palavra de honra. — Nicolo responde, um olhar


presunçoso em seu rosto.

— Me dê cinco minutos com Lina e juro que farei.

— Você tem dois. — Nicolo revira os olhos e recua, mantendo a arma


treinada em nós.

— Lina, — sua voz é devastada por tanta dor e angústia que não
posso deixar de chorar.

— Não... por favor não faça isso. Eu estou te implorando. — Eu me


aproximo dele, levantando minha mão no seu rosto. — Eu não quero que
você morra. — Acho que nunca fiquei tão assustada na minha vida. O
pensamento de um mundo sem Marcello... isso me deixa com frio. — Eu te
perdoo. — Eu adiciono imediatamente, sabendo que as palavras são
verdadeiras no momento em que as pronuncio.

—Infelizmente, mas eu não. Não posso me perdoar. — Ele levanta a


mão não ferida para cobrir a minha, trazendo-a aos lábios para o mais

morally questionable
breve dos toques. — Lina, minha doce, doce Lina. Eu falhei com você.
Novamente. — Lágrimas estão rolando por suas bochechas. A minha
também, mas preciso manter o juízo sobre mim. Ele não pode fazer isso.

— Temos uma filha, Marcello. Por favor, não faça isso. Não deixe sua
filha sem pai quando ela tem um. — Pode parecer que estou
chantageando-o emocionalmente, mas neste momento estou disposta a
tentar de tudo.

— É por isso que estou fazendo isso. Claudia precisa da mãe. Ela não
precisa de mim. — Ele balança a cabeça devagar, com um sorriso amargo
no rosto. — Você sabe, — ele puxa um fio de cabelo atrás da minha orelha,
com os dedos demorando um pouco na superfície da minha bochecha. — Eu
nunca me arrependi de te amar. Não quando você tem sido a parte mais
brilhante da minha vida. Em outra vida... — Ele abaixa a cabeça e engole
com força. — Talvez em outra vida, você ainda seja você, e eu seria alguém
melhor. Alguém que você mereceria. E talvez — ele funga um soluço, —
talvez você me ame uma fração do que eu te amo.

— Sim, Deus, eu amo. Então não! Por favor, não faça isso. Se você me
ama tanto, não me deixe sozinha! — Meus dedos cavam o material da
camisa dele, meus olhos implorando.

— É isso mesmo, Lina. Eu te amo demais para ficar. — Ele pisca duas
vezes, tentando clarear os olhos. — Eu não tenho medo de morrer. Não
mais. — Seus lábios tentam sorrir.

morally questionable
— O tempo acabou. — Nicolo interrompe de repente.

Marcello estremece e, inclinando-se para a frente, ele passa os lábios


pelos meus.

— Eu sempre vou te amar, Lina. Mesmo com meu último suspiro


moribundo. — Quero responder, mas ele se inclina para trás, lutando para
se levantar.

Ele pega a lâmina de Nicolo e a posiciona no pescoço.

— Não. Você deveria se ajoelhar. Morra ainda mais baixo que ela. —
Marcello não discute quando se abaixa, os joelhos batendo no chão duro.

Ele me dá um último olhar, falando para não olhar. Mas eu não posso!
Não posso simplesmente ficar parada. Eu impulsiono meu corpo em
direção a Nicolo, meu único pensamento para detê-lo.

Assim como estou a um pé dele, ele levanta a arma, apontando para


mim.

— Não! Eu vou fazer isso. — Marcello grita.

— Depressa, garoto, ou nossa barganha se tornará inválida.

Acho que ouço um barulho do lado de fora, mas tudo empalidece


quando fico horrorizada e vejo Marcello fazer o impensável.

morally questionable
Levantando a faca logo abaixo da mandíbula, ele cava a lâmina na
pele até que um pequeno fio de sangue escorre pelo pescoço. Com os dedos
firmes, ele a arrasta, alongando a ferida até chegar ao outro lado.

Sangue jorra de sua garganta. Como uma cachoeira, o líquido


escarlate banha sua pele, pintando-a de vermelho — mais vermelha do que
estava.

— Nããããããããoooooooooooooo! — Grito, correndo em direção a ele, sem


me importar se Nicolo me matar ou não, a morte é uma pequena
misericórdia neste momento.

— Não, não, não. — Eu murmuro histericamente quando o alcanço.


Coloquei minhas mãos na ferida, tentando parar o sangramento.

— Não faça isso comigo, droga.

Sua boca se move um pouco e ele parece querer dizer alguma coisa.

— Não fale. Por favor! — Pego o que resta do meu vestido e pressiono
a ferida. Enxarca imediatamente no sangue. Ele não pode morrer aqui. Ele
simplesmente não pode!

— Querido Deus, Marcello, por favor, não me deixe! Eu estou te


implorando. — Eu nem consigo ver direito pelas lágrimas vazando dos
meus olhos. Mas eu não deixo ir.

morally questionable
Em algum lugar à distância, uma sucessão de tiros permeia o ar. Eu
ouço, mas não registro nada além do meu querido Marcello, cujos olhos
ainda estão bem abertos, olhando para mim maravilhados.

— Por favor, amor. Por favor, fique comigo. — Eu lamento, minha voz
rouca.

— Lina! Lina! — Meu irmão está subitamente ao meu lado, me


sacudindo.

— Me solta! Não posso deixá-lo morrer... — Acho que não estou


fazendo sentido, mas minha visão limitada inclui apenas Marcello.

— Uma ambulância estará aqui em breve. Deixe-me ajudar. — Ele


pressiona as mãos em cima das minhas, ajudando com a pressão.

— Porra! — Eu ouço outra voz.

— O que diabos há de errado com ele? Indo sozinho sabendo que


Nicolo estava atirando nele? Porra, Marcel, você realmente fez isso, amigo.
— Outro homem fala, sua voz cheia de desespero.

— A ambulância deve estar aqui em breve. Vou levar Nicolo e Franco


para o carro. — Um deles acrescenta.

— Tudo bem. Vou mantê-lo atualizado.

morally questionable
Não sei o que acontece a seguir. Uma enxurrada de pessoas está
subitamente dentro da cripta, e eu estou sendo separada de Marcello.

— Senhorita, por favor, vamos fazer o nosso trabalho.

— Ele vai ficar bem? Por favor, diga-me que ele conseguirá. — Eu
imploro ao paramédico. Ele abre os lábios.

— Ainda temos pulso, mas não posso garantir nada. Precisamos levá-
lo ao hospital para uma transfusão urgente.

— B, o sangue dele é B. — Eu chamo, lembrando que as informações


foram solicitadas.

— Bom. Vamos colocá-lo no sangue assim que chegarmos ao carro. —


Ele me garante, e eles o colocam em uma maca.

Enzo ainda está me segurando, puxando minha cabeça sob o queixo.

— Ele não vai morrer. — Eu digo, disposta a acreditar também.

— Ele não vai... ele não vai. — Ele me abraça com mais força,
tentando me confortar.

morally questionable
O caminho para o hospital é tenso. Nós dois estamos cientes de que
podemos chegar lá e ele pode estar... morto.

— O que eles fizeram com os corpos?

—Vlad limpou a cena e se livrou deles.

Eu grunhi um reconhecimento. Então pergunto o que está pensando o


tempo todo.

— Por que você não veio antes? — Enzo percebe um traço de


desespero na minha voz, e ele resmunga um pouco.

— Não sabíamos a localização. — Ele admite. — Marcello deixou uma


mensagem automática para ser enviada após um certo período de tempo.

Respiro fundo, as coisas se tornando um pouco mais claras, e mais


alarmantes.

— Ele veio aqui para morrer, não veio?

Enzo não responde, mas o aperto firme de sua mandíbula me diz que
concorda comigo.

morally questionable
— Ele... Nicolo estava por trás de tudo. O incidente há dez anos, padre
Guerra... tudo. — Eu digo, fechando os olhos, sobrecarregada com tudo o
que havia acontecido.

— Isso importa? — Enzo pergunta depois de uma pausa, seus olhos se


concentraram na estrada. — Isso torna Marcello menos culpado? Deus,
Lina... Ele estuprou você. — Ele geme, emoção saindo do meu irmão como
eu nunca tinha visto antes.

— Eu não acho que seja preto e branco.

— Claro, ele apenas te estuprou um pouco. — Ele ri de forma irrisória.

— Pare... por favor. Eu não posso fazer isso agora. — Eu sussurro.

— Desculpa. — Ele pede desculpas e abandonamos o assunto


completamente.

Chegamos ao hospital para descobrir que ele foi internado em


cirurgia. O médico de plantão continua nos dizendo que foi um milagre que
ele tenha sobrevivido até agora, considerando seus extensos ferimentos e
perda de sangue. Pelo jeito que ele está contando, parece que o ferimento
na garganta não era muito profundo.

— Existem lacerações no nível da traquéia, e isso pode causar alguma


deficiência vocal, mas o esôfago está intacto, e essa é a boa notícia. Quanto
às outras feridas. Administramos uma injeção de tétano e agora temos
uma equipe conjunta trabalhando na garganta e no ombro.

morally questionable
— Ele vai conseguir, certo? — Eu pergunto, um vislumbre de
esperança florescendo dentro de mim.

— Não posso prometer nada, mas parece que sim. Poderia ter sido
muito pior.

Agradecemos ao médico por seu tempo e seguimos para a sala de


espera. Enzo está colado ao meu lado o tempo todo, como se estivesse com
medo de não conseguir lidar com isso.

— Eu estou bem, sério. — Eu tento garantir a ele, mas ele não parece
convencido.

— O que aconteceu lá, Lina? Nicolo fez... — Eu rapidamente balanço


minha cabeça.

— Mas há algo que você precisa saber. — Eu respiro fundo. — Allegra


foi quem me levou até lá. — A expressão dele é tensa quando eu digo o que
aconteceu, desde a mentira que ela contou para me tirar de casa, até a
maneira estranha que ela estava falando.

— Sinto muito, Lina. — Ele suspira. — Eu vou cuidar disso. Eu a


ignoro há muito tempo. — Ele balança a cabeça.

— Mas por que? O que aconteceu com ela?

— Ela não está bem... mentalmente. Tentei dar desculpas por ela por
causa disso, mas uma coisa é fazer merda louca o tempo todo, e outra é

morally questionable
trair a famiglia. Quando ela aceitou Nicolo, ela sabia no que estava se
metendo. — Ele murmura uma maldição debaixo da respiração.

— Mas se ela está tão doente, como você poderia deixá-la perto de
Lucca?

— Confie em mim, eu não deixo. Ela o vê brevemente e sob


supervisão. Ele precisa saber que sua mãe está pelo menos por perto.

— Eu sinto muito. — Eu toco seu braço levemente.

Os amigos de Marcello, Adrian e Vlad, se juntam a nós na sala de


espera.

— A polícia não será chamada? — Eu pergunto de repente, lembrando


o ferimento de bala. Não é um protocolo padrão chamá-los?

— Eu lidei com isso. — Adrian faz uma careta. — Nós escrevemos isso
como uma tentativa de suicídio que deu errado. Com sua história, ninguém
fará perguntas.

— Você quer dizer a última tentativa? — Eu sondo, curiosa sobre o


que Nicolo quis dizer.

Marcello insiste que não foi uma tentativa de suicídio, mas ele tem
um histórico de problemas psiquiátricos.

— O que você quer dizer?

morally questionable
— Além de sua fobia de toque, ele sempre teve problemas com a
insônia. — Ele confinado, e eu lembro dos muitos casos em que ele ficava
acordado até tarde citando razões de trabalho ou pesadelos...

— Entendo. — Eu aceno, sem saber mais o que acrescentar.

A cirurgia de Marcello é um sucesso, e ele logo se muda para um


quarto particular. Fico com ele na primeira noite enquanto ele está fora,
mas pela manhã Enzo me convence a ir para casa tomar banho e me
trocar.

Quando volto, o médico me puxa para o lado para me dizer que


Marcello não será capaz de falar por enquanto, não até que suas cordas
vocais se recuperem. Fora isso, sua condição está melhorando. Dado que é
sua segunda tentativa em um mês, ele sugere um centro de internação.
Não quero decidir nada agora, então sorrio e digo a ele que vou pensar
sobre isso.

Dirijo-me ao seu quarto e percebo que uma enfermeira está saindo de


lá.

morally questionable
— Você é a Senhora Lastra? — Ela pergunta, e eu aceno.

— Algo está errado?

— Senhor Lastra está acordado. — Ela começa e eu respiro fundo,


meus lábios se estendendo para um sorriso. — Mas ele não quer ver você.

— O que você quer dizer? — Eu franzi a testa, meu rosto caiu


imediatamente. Por que ele não quer me ver?

— Ele me pediu para lhe dar isso. — Ela me entrega uma carta. —
Seu nome foi removido dos visitantes permitidos, então... — Ela parece se
desculpar, mas eu apenas aceno mecanicamente.

Eu vou para uma área vazia e sento-me entorpecida. Desdobrando a


carta, começo a ler.

Minha adorável Lina,

Sinto muito por como tudo acabou. Você não tem ideia do quanto eu
gostaria que as coisas fossem diferentes... incluindo o que aconteceu
naquela noite há dez anos. Eu posso sentar aqui e dizer inúmeras vezes que
nunca quis te machucar. Mas a verdade é que eu te machuquei. Mesmo
quando tentei fazer o que considerava melhor na época, você acabou se
machucando.

Eu paro, lágrimas já caindo nas minhas bochechas. Mas eu vou ler.


Ele está relatando tudo o que aconteceu naquela noite em grandes

morally questionable
detalhes; como ele sabia que não tinha escolha, mas tentou me drogar para
não sentir dor; como ele fez um acordo com o irmão para minha segurança,
dedicando a última década a trabalhar para pegar um criminoso e trair
seu melhor amigo no processo. As descrições são tão dolorosamente vívidas
que meu coração dói pelo que ele tinha que viver.

Eu simplesmente não te mereço. Agora não. Não é assim. Não quando


eu sou um homem quebrado, com medo de enfrentar seus próprios
demônios. Se o que você disse lá atrás é verdade... que você me perdoa... Eu
também quero me perdoar. Eu quero me tornar alguém digno de você.

Mas para isso, preciso me ajudar primeiro. Não posso, em sã


consciência, ficar na sua vida sabendo que sou uma bomba que pode
explodir a qualquer momento. Não posso expor você ou Claudia a isso.

Eu sei que não tenho o direito de perguntar isso, mas... você vai me
esperar?

Para sempre seu,

Marcello

Eu mal consigo respirar enquanto soluços destroem meu corpo. Quero


ir até ele e dizer que tudo ficará bem, que eu o perdoo e que o amo. Se
possível, só me faz amá-lo ainda mais. Não consigo nem imaginar como é
viver com um fardo como esse. Não, eu nem consigo imaginar como
Marcello ainda está são depois de tudo o que passou.

morally questionable
É difícil entender tudo o que ele fez no passado, as pessoas que
torturou e matou..., mas é realmente ele? Ou é apenas quem a famiglia
queria que ele fosse? Como ele pode saber melhor quando, durante toda a
sua vida, testemunhou apenas crueldade humana? O fato de ele ter dado
tão facilmente sua própria vida por mim diz tudo. Para um homem que
nunca recebeu bondade, ele estava pronto para cometer o sacrifício final.

E esse é o verdadeiro Marcello. Minha alma reconhece a sua de uma


maneira que não pode ser explicada pela ciência ou pelas palavras. Ele
tem o coração mais gentil e puro. Ele apenas teve a infelicidade de nascer
na família errada. Ninguém nunca lhe ensinou bondade, e ainda assim é
tão natural para ele.

Limpo minhas lágrimas e vou até a recepção para pedir papel e uma
caneta. Então eu escrevo minha resposta.

Eu vou esperar.

morally questionable
CAPÍTULO TRINTA E UM

2 Meses Depois

— Lina. — Eu pratico na frente do espelho, ainda não acostumado à


minha nova voz. Limpo minha garganta e tento novamente. — Lina. — Eu
franzo os meus lábios. A faca danificou minhas cordas vocais e, embora os
médicos esperassem que se curassem completamente, minha voz agora

morally questionable
tem uma qualidade rouca. Não é desagradável, mas parece muito
estranho.

Como se eu tivesse fumado cem cigarros por dia nos últimos vinte
anos.

A cicatriz se curou bem, no entanto. Melhor do que eu esperava. Uma


linha rosa avermelhada agora estraga meu pescoço. Infelizmente, acho que
não vou conseguir escondê-lo, mesmo com uma gola alta.

Depois que recebi a carta de Lina, não tive notícias dela. Bem, não
diretamente. Peguei emprestado o dispositivo de escuta de Vlad e pude
ouvir algumas de suas conversas com Enzo. Catalina e Claudia estão indo
bem. Dos trechos que ouvi, Lina começou seu próprio negócio, vendendo
alguns de seus designs de moda e criando peças personalizadas para as
pessoas. Eu não poderia estar mais orgulhoso disso. Ela finalmente está
tomando a vida em suas próprias mãos.

E em breve, também poderei me juntar a ela.

Coloquei um blazer e fui para a minha consulta de terapia. Muita


coisa mudou desde que saí do hospital, grato por estar vivo. Acho que
nunca coloquei tanto preço na minha vida quanto quando Lina me
implorou para viver, tanto por ela quanto por Claudia. Mas desde então
aprendi que antes de poder viver para elas, também preciso aprender a
viver para mim.

morally questionable
No passado, todas as minhas tentativas de obter terapia haviam sido
falhas. Não que eu estivesse muito decepcionado, já que sempre odiei falar
de mim. Mas desta vez, o terapeuta nasceu na máfia e conhece como as
coisas são feitas.

Depois de receber alta do hospital, continuei vendo meu antigo


terapeuta por algumas sessões, mas as coisas não estavam dando certo. Eu
não poderia ser totalmente sincero, e como ela poderia me ajudar se não
tivesse ideia de qual era a extensão do meu trauma? Naquela época,
conversei novamente com Guerra, que havia pedido desculpas por seu
irmão, dizendo que não tinha ideia do que estava fazendo. Também
tínhamos percebido que Franco trabalhava há algum tempo com Nicolo, e
eles planejavam assumir a liderança dentro de suas famílias. O ataque
erroneamente atribuído aos irlandeses foi feito, aproveitando a terrível
reputação que os Gallaghers já tinham.

Eu também estava tentando consertar a falta dentro da família, e


Francesco tinha sido inestimável em executar minhas ordens e atuar como
meu procurador. Durante uma conversa, ele citou sua filha mais velha,
Giulia. Psiquiatra clínica com alguns anos de experiência, Giulia foi a
resposta para minhas orações. Eu não tinha sido seu primeiro cliente da
máfia, e certamente não o último.

Na minha primeira consulta, a conversa fluiu. Ela não havia sido


abalada por nada do que eu disse, ou pelo menos ela não tinha mostrado.
Mais algumas sessões e ela teve alguns diagnósticos para mim. Do TEPT 7

7 Transtorno Pó s-Traumá tico

morally questionable
à depressão, ela enfrentou minhas tendências de automutilação e minha
insônia. Não afirmo ter sido curado de repente, mas é melhor saber que há
uma explicação científica para todos os meus episódios, e não uma
possessão demoníaca como minha mãe o chamara. De fato, Giulia sugeriu
que a maior parte do meu trauma vem da minha mãe. O abuso do meu pai
só havia aumentado. Com suas constantes rejeições e fanatismo religioso,
ela incutiu em mim que não sou digno de nada. Foi fácil para meu pai me
transformar no que ele queria.

A sessão desta vez se concentra naquela noite e a fonte da minha


maior vergonha. Eu ando com Giulia por tudo o que aconteceu, e ela ouve
atentamente, sem mostrar nenhum desgosto por mim, que mulher não se
sentiria assim pelo que fiz?

— Entendo. — Ela empurra os óculos pelo nariz e faz algumas


anotações. — O que você acha que teria acontecido se não fizesse isso?
Diga-me sua opinião honesta.

— Pai teria cumprido sua promessa. Ele teria dado Catalina a seus
homens. Ou... porque ele era imprevisível, ele poderia tê-la matado
também.

— Você acha que poderia ter feito mais alguma coisa então?

Balanço a cabeça, fechando os olhos. — Não. — Eu expiro.

— Há duas coisas que vejo, Marcello. Se você não tivesse feito, alguém
teria. Ao fazer isso sozinho, e não estou desculpando suas ações, mas você

morally questionable
tinha controle sobre a situação. Você cuidou dela de uma maneira que
ninguém mais teria. Você se certificou de que ela saísse viva.

— Sim, mas...

— O que ela diz sobre isso? — Giulia pergunta de repente, e eu abaixo


minha cabeça com vergonha.

— Ela diz que me perdoa, mas não consigo entender como ela poderia
fazer isso.

— Por quê? Você não confia nela? Não confia na palavra dela? — Ela
se inclina para a frente, olhos treinados em mim, me desafiando.

— Eu confio. — Eu sussurro.

— Mas você não pode se perdoar. — Ela assente, virando-se para o


caderno e anotando alguma coisa. — Você não pode mudar o passado,
Marcello. Não importa o quanto você gostaria que isso não acontecesse,
aconteceu. Mas isso não significa que o homem que você é hoje ainda seja o
homem que você era antes. Ou que você não pode mudar para melhor. O
passado é o passado. Deixe ir. Você ainda pode mudar o futuro.

— Como posso me sentir merecedor dela, sabendo o que fiz? — Eu


pergunto, minha voz está quebrando.

morally questionable
— Você não vai. Mas isso fará você se esforçar mais a cada dia. Ame-a
mais todos os dias para que ela sinta que você merece dela. O ditado
sempre banal, as ações falam mais alto que as palavras.

— Eu posso fazer isso. — Eu digo com confiança. — Eu faria isso


independentemente, porque ela merece o mundo.

— Então mostre isso para ela. Um homem sábio disse uma vez que
todo santo tem um passado e todo pecador um futuro. Faça desse futuro
seu.

Eu aceno com a cabeça, porque sinto que posso fazê-lo. Mudar minha
vida. Mudar um pouco dia a dia.

— Obrigado. — Eu me levanto para sair, o relógio mostrando que


nossa sessão terminou.

— Certifique-se de me recomendar a seus outros amigos assassinos;


eu dou ótimos descontos. — Ela pisca para mim quando eu saio e eu
balanço minha cabeça, rindo.

Não acredito que a filha de um mafioso faria esse tipo de trabalho,


mas posso ver a utilidade disso. Ainda não consigo deixar de me perguntar
como Francesco havia permitido isso, com ela sendo solteira na sua idade.
Não é de todo o modo tradicional e me dá esperança para o futuro, para
minha filha e minhas irmãs.

morally questionable
Estou prestes a voltar para casa quando recebo um telefonema
repentino de uma Venezia aterrorizada.

— Desacelere, Venezia. O que aconteceu?

— É Sisi... Eu não sei, ela começou a sangrar. Liguei para uma


ambulância. Estamos no hospital agora.

Merda!

Entro no meu carro e dirijo direto para o hospital. Na recepção, dou o


nome dela e uma enfermeira me intercepta.

— Eu sou irmão dela. — Eu acrescento quando ela parece cética sobre


a nossa conexão.

— O médico acabou de vê-la. Ela está sedada agora.

— O que há de errado com ela?

Ela hesita e, em vez disso, me encaminha para o médico assistente de


Sisi.

— Senhor Lastra. Lamento informar que sua irmã sofreu um aborto


espontâneo.

Meu rosto cai e pergunto novamente para garantir que não ouvi mal.
Ele continua a me tranquilizar que não é nada preocupante. Não acho que

morally questionable
ele percebe o quão chocado estou ao saber que Assisi estava grávida. De
quem? Ela nunca saiu de casa, nunca viu ninguém...

Mas então eu lembro. Rafaelo Guerra. Droga!

— Você não precisa se preocupar. Não há nada errado com sua irmã.
Ela estava grávida de oito semanas e a placenta não conseguiu fornecer
nutrientes ao feto. Às vezes isso acontece, mas não deve afetar suas
chances futuras de ter filhos. Você deve apoiá-la durante esse período. Ela
parecia triste com as notícias.

— Obrigado por me avisar. — Eu digo entorpecido. Encontro Venezia


do lado de fora do quarto de Sisi e ela está chorando.

— Você sabia que ela estava grávida? — Eu pergunto, pensando que


talvez ela tenha compartilhado isso com a irmã.

Venezia balança a cabeça. — Não... Também ouvi falar pela primeira


vez.

Esperamos do lado de fora até que a enfermeira responsável nos


informa que Sisi está acordada. Digo a Venezia para me deixar falar com
ela primeiro, e ela concorda com relutância.

Quando entro no quarto, Sisi está sentada em sua cama, a cabeça


baixa, a dor escrita em todo o rosto.

— Sisi? — Eu pergunto, dando um passo em direção a ela.

morally questionable
Ela levanta a cabeça e eu posso ver que seus olhos estão molhados.

— Marcello? — Ela parece surpresa ao me ver, mas depois balança a


cabeça. — Eu sinto muito. — Ela sussurra.

— Não há nada para se desculpar, Sisi. Você vai me contar o que


aconteceu? — Pego uma cadeira e a coloco ao lado da cama.

Ela parece em conflito, mas eventualmente balança a cabeça.

— Quem era o pai, Sisi? — Eu pergunto o mais gentilmente possível.


Eu simplesmente não consigo imaginar quem poderia ter sido.

Ela ainda está quieta, seus olhos brilhando com lágrimas caídas.

— Foi Rafaelo? — Eu mudo de tática, já que ele é o único homem com


quem ela esteve em contato fora da família.

De repente, ela levanta a cabeça, os olhos arregalados, os lábios


tremendo.

— Era ele. — Eu afirmo, mais agressivamente do que antes. — Ele te


forçou? — Eu imediatamente questiono. Deus me ajude, se ele fez, ele está
morto!

— Não! — Ela chora. — Não! Não foi assim.

— Como foi então? Você o ama?

morally questionable
Sisi me olha por um segundo, com os olhos com medo; do que eu não
sei.

— Eu o amo! — Ela exclama, um pouco alto demais. — Eu o amo, ok?

— Deus! Ele te desonrou! — Eu me levanto, hostilidade rolando de


todos os poros do meu corpo. Não me importo com o meu excelente acordo
com Benedicto. O filho dele vai pagar por isso. Ele se aproveitou de uma
garota que mal saiu do convento. O que ela sabe sobre o amor? Sexo?

— Pare, por favor. — Ela pronuncia a última palavra com tanta


emoção que eu faço.

— Nós vamos nos casar. — Ela continua.

— Casar? Quem disse?

— Conversamos sobre isso. Ele me perguntou e eu aceitei.

— Sisi... é muito cedo. Por favor, pense sobre isso. Você não precisa
fazer isso só porque dormiu com ele. — Eu não quero que ela faça algo que
vai se arrepender pelo resto da vida só porque ela foi para a cama com o
garoto.

— Não... isso me deixa mais certa. Nós somos bons juntos. Nós nos
encontramos. Por favor, Marcello. — A maneira como ela está implorando
comigo dificulta dizer não.

morally questionable
— Vamos conversar sobre isso. Eu devo discutir com Benedicto. — Eu
acrescento, embora eu saiba que Benedicto mais do que seria bem-vindo ao
casamento. Era sua intenção desde o início. Ainda assim, saber isso torna
toda essa situação ainda mais questionável. Por que sinto que há algo
mais? Algo que Sisi não está dizendo?

Se eu descobrir que Rafaelo a coagiu... Eu não vou ficar parado.

Saio da sala, tentando acalmar meu próprio temperamento crescente.


Sisi está claramente perturbada com o aborto, e não quero que isso
influencie sua decisão.

Sentindo que a situação está simplesmente acima da minha alçada,


faço a única coisa em que consigo pensar.

Eu ligo para Catalina.

No momento em que a vejo caminhando para nós, perco todo o


sentido. É como água para um homem sedento. E eu a bebo. Ela está

morally questionable
vestindo um jeans escuro, o primeiro para ela, combinado com uma blusa
branca apertada que enfatiza suas curvas. Porra, se eu não estou olhando.

Ela é ainda mais bonita do que antes.

Ela para na minha frente e nós dois nos encaramos sem jeito. Eu não
falo e ela também não. A boca se separa um pouco, a língua molhando os
lábios inferiores. Eu acho que posso aproveitar muito apenas dessa vista.

Para impedir que qualquer incidente embaraçoso aconteça, assumo a


liderança.

— Sisi está lá. Você deveria ir. — As sobrancelhas dela se unem em


uma carranca às minhas palavras. Droga! Eu deveria ter lembrado que
minha voz não é como costumava ser.

Ela olha para mim por um segundo, sua boca ainda aberta, antes de
assentir. Ela relutantemente se move, entrando no quarto de Sisi.

— O que há com vocês dois? — Venezia pergunta quando eu me sento


ao seu lado.

— O que você quer dizer?

— Vocês gostariam de se divorciar?

— Não, não vamos.

morally questionable
— Legal. Isso é legal. — Ela assente, redirecionando sua atenção para
o telefone.

Cerca de uma hora depois, Lina volta, fechando a porta para nós.

— Como foi? — Eu pergunto, tentando manter a emoção na minha voz


no mínimo. Isso é sobre Assis.

Ela balança a cabeça.

— Eu vou vê-la agora. — Venezia olha entre nós dois com ceticismo.

— Certo. — Eu aceno para ela.

— Gostaria de pegar algo para beber? — Eu me viro para Lina mais


uma vez depois que Venezia se foi.

— Eu gostaria disso. — Ela responde, um leve rubor manchando suas


bochechas.

Vamos à cafeteria e tomamos uma xícara de café cada e, encontrando


uma mesa vazia, sentamos.

— Então, — ela começa, seu olhar na xícara de café nas mãos. —


Como você tem estado?

— Bom... Eu tenho estado bem. — Por que estou ansioso? E por que
estou respondendo às coisas mais básicas? Balanço a cabeça e digo a mim

morally questionable
mesmo para seguir o fluxo. Não há razão para me preocupar com isso,
mesmo que eu leve toda a minha força de vontade para não a carregar
para o armário de zelador mais próximo e foder ela.

Deus! Eu me encolho internamente na direção dos meus pensamentos.


O que eu me tornei?

— Marcello? — Lina se inclina para a frente, olhando para mim com


preocupação nos olhos.

— Sim? — Eu pisco em rápida sucessão, tentando me controlar.

— Eu fiz uma pergunta.

— Desculpe, eu não ouvi. — Eu faço uma careta. Não quero que ela
pense que não estou prestando atenção nela quando é tudo o que estou
fazendo.

— Você sabia sobre Sisi e Rafaelo? Eu simplesmente não posso


acreditar que eles... — Ela segue.

— Fizeram sexo?

— Sim. — Aquele rubor faz outra aparição, colocando suas sardas em


foco... me fazendo querer beijar cada uma delas... uma por uma.... Eu me
aperto de novo. Por que eu sou como um cão no cio? Faz apenas dois meses!
A última vez foram dez anos e eu não tive problemas.

morally questionable
— Eu também não percebi. Mas se ela quiser se casar com ele. Eu não
vou ficar entre eles.

— Isso é bom. Ela merece ser feliz. — Lina acrescenta, os dedos


inquietos. Essa é a única coisa que me diz que ela também não está à
vontade.

— Eu senti sua falta. — De repente digo, não sendo capaz de segurar


isso por muito mais tempo.

— Eu também senti sua falta.

— Eu tenho trabalhado em mim mesmo e acho que estou no caminho


certo. — Eu admito.

— Estou feliz, Marcello. Eu quis dizer isso; você sabe. Eu te perdoo. —


Ela estica o braço sobre a mesa e coloca a mão em cima da minha.

— Venha comigo! — Minha voz é urgente e eu a puxo para os pés,


deixando nossas bebidas intocadas em cima da mesa.

— O que...

Ando rápido, lembrando-me de uma pequena porta pela qual


passamos. É um tiro no escuro, mas... Eu abro e é um pequeno armário de
armazenamento. Mas é o suficiente para caber nós dois.

Eu a arrasto para dentro e fecho a porta.

morally questionable
— Marcello? — A voz de Lina tem uma qualidade ofegante e só está
me deixando mais duro. Droga! Eu deveria ter mais contenção do que isso.

— Deus, Lina! — Eu gemi, apoiando-a no canto. — Eu não acredito


que você está aqui. — Eu respiro o perfume dela, tentando me convencer
de que isso não é um sonho.

— Não devemos fazer isso... não até que você esteja pronto.

— Estou pronto. Tão pronto. — Eu falo com a voz áspera, sabendo


muito bem que não estamos falando do mesmo tipo de prontidão. Pego a
sua mão e pressiono-a no meu pau, querendo que ela sinta como estou
pronta para ela.

— Oh. — Ela suspira e, por um segundo, acho que ela vai recuar. Mas
ela não faz. Seus dedos lutam com o zíper das minhas calças e, alcançando
dentro, ela me pega na mão.

— Deus! — Gemo sem fôlego, e em um frenesi minha boca procura a


sua.

Ela continua me tocando, com os dedos segurando meu eixo com mais
força.

A língua dela na minha boca é o sabor que eu nunca soube que estava
perdendo na vida. Nós nos beijamos como duas pessoas desesperadas à
beira de um precipício.

morally questionable
Minhas mãos vão mais baixo até eu chegar à abertura do jeans dela.

— Que porra é essa! — Alguém grita por trás.

Eu mal tenho tempo para me dobrar e fechar quando uma multidão se


reúne.

— Merda! — Eu murmuro, abraçando Lina no meu peito para que ela


não seja vista, eu a levo para longe do armário. Há sussurros atrás de nós
e pessoas rindo.

Porra!

Ela vai ficar mortificada. O que estava na minha cabeça, realmente?


Eu me repreendo mentalmente por minha falta de autocontrole. É só
quando estamos de volta ao corredor do quarto de Sisi que eu a solto,
esperando ver decepção em seu rosto. Ela olha para mim de olhos
arregalados antes de rir, curvando-se para a frente com risadas.

— Senhor! Isso foi... — Ela começa, mas não consegue parar de rir.

— Você não está brava? — Eu pergunto timidamente.

Ela balança a cabeça, enrugando os cantos dos olhos por muito


esforço.

— Não... de modo nenhum. — Ela diz e me dá um sorriso de


conhecimento. Não posso deixar de devolvê-lo, e ficamos assim um pouco.

morally questionable
É nesse momento que Venezia sai do quarto de Sisi, com um olhar de
perplexidade no rosto.

— Sisi está dormindo. — Ela estreita os olhos para nós, e Lina e eu


não podemos deixar de sorrir. — O que há com vocês? — Ela balança a
cabeça, sentando-se e conectando os fones de ouvido.

— Devemos parar. Pela Sisi. — Lina diz e eu aceno. Ela está certa.
Precisamos nos concentrar na minha irmã agora. Mas isso não significa
que não vou levá-la para casa hoje à noite.

morally questionable
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

—Você tem certeza que está bem? Você pode falar comigo sobre
qualquer coisa. — Eu coloco o cobertor sobre o pequeno corpo de Sisi. Ela
está enrolada na cama, os olhos vermelhos por muito choro. Estou
preocupada com ela. Ela não é a mesma desde que deixamos Sacre Coeur,
e não tenho ideia do porquê.

— Obrigada, Lina. — Ela me dá um sorriso trêmulo antes de se virar,


terminando a conversa.

morally questionable
Suspiro e viro para sair. O médico a dispensou no final da tarde e
sugeriu que ela ficaria mais confortável em casa com um sistema de apoio.
Eu só queria que ela se abrisse para mim, mas sei que ainda deve estar em
choque. Pelo que eu percebi; ela não tinha ideia de que estava grávida.

Fecho a sua porta e encontro Marcello esperando do lado de fora,


apoiando-se no balaústre.

— Tudo bem? — Ele pergunta quando vê a leve carranca na minha


testa. Eu lhe dou um aceno rápido. Ele estende a mão para mim e eu a
pego, entrelaçando meus dedos com os dele. Nós vamos ao escritório e ele
derrama dois copos de uísque. Me entregando um, ele senta em frente a
mim.

— Como está Claudia? — Ele pergunta.

— Ela está bem. Sra. Evans começou a ensiná-la na casa de Enzo.

Ele assente, baixando o olhar para o copo.

É quase surreal estar de volta aqui. Nos últimos dois meses, Marcello
não deixou minha mente. Fiquei me perguntando como ele estava, mas
não queria me intrometer ou impedir o seu progresso, então fiquei longe.
Eu me perdi em meus desenhos e até encontrei um mercado para eles.
Quem sabia que as pessoas estavam com tanta fome de coisas artesanais?
Tudo começou como um hobby, mas logo comecei a ganhar dinheiro
também. Eu acho que foi a coisa mais chocante. Como filha de um Capo,
não era esperado que eu trabalhasse por dinheiro, mas deixasse tudo isso

morally questionable
para meu marido. Quando vi meu primeiro cheque, apesar de ter sido
apenas algumas centenas de dólares, fiquei mais do que emocionada. Eu
tinha dado meu primeiro passo na independência.

Mas então ele ligou. Acho que nunca fiquei tão feliz como quando vi o
número dele aparecer na minha tela. Eu tive tempo de sobra para pensar
em nosso relacionamento, especialmente com a constante interferência de
Enzo. Ele não gosta de Marcello, e tentou mudar minha mente a cada
chance que tivesse. Mas eu nunca vacilei.

Eu o quero ou mais ninguém. Acho que até convenci meu irmão,


porque quando corri para o hospital, ele nem sequer discutiu comigo,
oferecendo-se para cuidar de Claudia enquanto eu estava fora.

— E você? Como você tem estado? — Ele levanta os olhos um pouco.


Onde está o confiante Marcello de antes? Aquele que estava prestes a me
levar em um armário de armazenamento?

— Comecei o meu negócio. Está indo bem, eu acho. — Sua boca se


enrola.

— Você acha?

Eu encolho os ombros. — As pessoas parecem gostar dos meus


desenhos.

— Estou orgulhoso de você. — Seu sorriso conhecedor me faz pensar


que não é a primeira vez que ele ouve isso.

morally questionable
— Desde que você me ligou... — Comecei tentando encontrar coragem
para perguntar se ele está indo bem o suficiente para me deixar entrar.

— Sim. — Ele diz imediatamente, não me deixando terminar. — Isso


significa exatamente isso. — Colocando o copo na escrivaninha, ele se
aproxima até estar na minha frente. Seus dedos roçam contra o meu
cabelo, puxando um fio perdido atrás da minha orelha. Inclino minha
cabeça para trás para poder olhá-lo nos olhos. — Querido Deus, você não
tem ideia do quanto eu senti sua falta. Mas eu precisei... — Ele balança a
cabeça um pouco, sua voz já rouca soando ainda mais dura com a
intensidade de suas emoções. — Para me entregar totalmente a você, eu
precisava me encontrar primeiro.

— Você fez? — Eu pergunto, quase sem fôlego por sua proximidade.

Ele assente, seus dedos traçando meus lábios. — É um processo, mas


estou chegando lá. Eu quero te mostrar uma coisa. — Desabotoando a
camisa, ele se vira, empurrando-a lentamente para baixo para revelar suas
costas cicatrizadas. Parece melhor do que a última vez que o vi, mas ainda
é uma visão furiosa, como se alguém tivesse pegado uma faca e cruelmente
rasgado em uma tela. Levanto minha mão e, com a permissão dele, começo
a rastrear os cumes.

— Eu parei. — Ele observa. Eu levanto minhas sobrancelhas em


questão. — Eu parei de me machucar. — Eu ofego com as suas palavras.

morally questionable
— Você... você fez isso consigo mesmo? — Ele assente, abaixando a
cabeça com vergonha. — Por quê? Por que você faria isso? — Minha voz
quebra e eu tenho que piscar as lágrimas.

— Foi minha maneira de expiar o que aconteceu com você. A única


maneira de sentir o que você sentiu. — Ele se vira e pega minhas mãos nas
suas. — Sua dor seria impressa em mim, e eu nunca esqueceria.

— Marcello... — Eu não tenho palavras. — Você precisa deixar o


passado para trás. — Eu respiro fundo. — Nós precisamos deixar o
passado para trás.

— Mas como você pode ficar olhando para mim? Sabendo que eu ... —
Ele engole suas palavras.

— Porque agora eu conheço as circunstâncias. E eu conheço você, —


Aponto o dedo para o seu peito, — o homem por quem me apaixonei; o
homem que colocou sua vida em risco por mim. Como eu posso não fazer?
— Eu trago minhas mãos para o rosto dele, segurando suas bochechas e
fazendo-o me olhar nos olhos. — Estamos aqui agora. Deixe o resto ir.

— Mas... — Eu balanço minha cabeça, cortando-o.

— Mesmo que você possa mudar o passado, eu não gostaria que você
mudasse. Como posso me arrepender de tudo o que aconteceu desde que
me deu Claudia? Temos uma filha linda, Marcello. — Todo o sofrimento e
todo o desprezo que eu aguentei valeram a pena. Eu não trocaria minha
filha por nada no mundo.

morally questionable
— Lina, — ele geme, fechando os olhos e se rendendo ao meu toque. —
Eu prometo que farei o meu melhor. Você não vai se arrepender de me
escolher.

— Eu também acho. — Eu adiciono atrevidamente, movendo meu


dedo pelo peito sugestivamente.

— O que você está fazendo?

— Acho que você começou algo mais cedo. — O pensamento de ser


quase pega em flagrante me deixa ainda mais quente.

Os olhos de Marcello escurecem, a insinuação clara. Mas há algo mais


que preciso dizer a ele.

— Não se contenha, por favor. Não mais. — Eu acho que sua culpa
não o deixou se entregar a mim antes do segredo ainda entre nós. Agora a
lousa foi limpa.

— Você tem certeza? — Ele pergunta e eu aceno, minha bochecha se


moldando ao peito, minha boca no mamilo. — Me ame como você sempre
quis. — Eu imploro, dois meses de desejo reprimido em minha voz.

Ele aponta meu queixo com o polegar, dando um beijo no meu nariz
antes de me apoiar na mesa. Minhas costas atingem a moldura de
madeira, mas ele não para. Mãos na minha bunda, ele me levanta até eu
estar sentada na mesa, o torso dele entre as minhas pernas abertas.

morally questionable
— Eu acho que você está vestindo roupa demais. — Ele observa, seu
olhar viajando pelo meu corpo e parando na minha camisa branca. Eu
estava com tanta pressa de chegar ao hospital que nem tinha colocado um
sutiã. Meus mamilos estão duros e se esforçando contra o material, e seus
olhos parecem devorar a visão.

— Tire isso. — Ele comanda, sua voz completamente diferente. Há


uma qualidade esfumaçada que me faz tremer. Eu obedeço, puxando a
camisa do meu corpo e jogando no chão.

— Você tem os peitos mais lindos, Lina. — Ele raspa, olhando para
mim com reverência. Ele circula o nó com os dedos e eu jogo minha cabeça
para trás, ofegando com a sensação. Sua boca é a próxima, lábios
chupando, dentes mordiscando. Oprimida, eu o levo ao meu corpo,
beijando-o como sonhei nesses dois meses. Minhas mãos vão para as calças
dele e luto com o zíper, impaciente por senti-lo novamente.

— Calma. — Ele ri, me ajudando a tirar as calças, antes de fazer o


mesmo com o meu jeans. Envolvo minhas mãos ao redor do seu
comprimento, acariciando-o lentamente.

— Porra! Bem desse jeito. Deus... — Olhos fechados, boca aberta,


Marcello está perdido para a sensação. Apreciando a visão dele no meio da
paixão, dou um passo adiante. Eu pulo da mesa e de joelhos. Meu rosto
está no mesmo nível da excitação dele, e eu estico minha língua, circulando
a coroa. Sua respiração repentina me diz que estou fazendo isso direito,
então continuo a me concentrar nele, concentrando-me na parte de baixo,

morally questionable
onde ele parece ser mais sensível. Eu olho para cima, observando o rosto
dele em busca de pistas. Suas sobrancelhas estão juntas, as mãos no meu
cabelo. Envolvo meus lábios ao redor do eixo, sugando-o.

— Porra, Lina! Você está me matando. — A voz dele é dura, e só está


me estimulando. Eu balanço minha cabeça para cima e para baixo, levando
o máximo que posso. — Sim! Leve-me mais fundo. Sua boca é o paraíso. —
Ele sorri, empurrando minha boca e batendo na parte de trás da minha
garganta. — Porra, eu estou vindo! — Ele se move, mas eu aperto minhas
mãos ao seu redor, trabalhando com ele para cima e para baixo até que se
esvazie na minha garganta.

— Merda! Você está... — Eu lambo meus lábios, mostrando a ele que


não me importava. De fato, poderia ter sido a coisa mais erótica da minha
vida, tê-lo à minha mercê assim.

— Droga, você está realmente me matando aqui, Lina. — Eu levanto


minhas sobrancelhas em confusão, levantando-me e virando, então estou
de frente para a mesa. Apoiando-me nos cotovelos, enfio a bunda nele e
reunindo toda a minha coragem, digo a frase que eu tinha vergonha de
dizer antes.

— Foda-me, por favor. — Ele geme alto, minhas palavras têm o efeito
desejado. Mas ele não faz nada.

— Lina... você tem certeza? Isto é... — Ele segue, dor irradiando de
sua voz.

morally questionable
— Sim. Por favor. — Eu quero isso. Não eu necessito disso para
finalmente fechar aquele capítulo horrível da minha vida. Preciso que ele
me leve por trás e apague todas as memórias daquela noite.

Ele ainda está hesitando, e quando estou prestes a dizer algo, sinto
sua boca seguindo beijos na minha espinha e para baixo. Ele alcança
minha bunda, sua língua esgueirando-se entre minhas bochechas.

— Oh, — eu me contorço, a sensação nova, mas nem um pouco


desagradável. Os movimentos da língua dele me fazem agarrar a borda da
mesa. Meus gemidos se intensificam quando ele se move para baixo,
agarrando meu nó e chupando.

— Mar... — Eu começo, mas fico chocada quando ele insere um dedo


entre minhas bochechas, sua língua ainda brincando comigo. Os
movimentos são lentos, mas tentadores, à medida que o dedo entra e sai.
Meu prazer aumenta até eu gritar o nome dele no topo dos meus pulmões.
Senhor, nunca pensei que me perderia assim. Mas com Marcello...

Até minha linha de pensamento para quando ele de repente entra em


mim, seu comprimento é longo e grosso e me estica. Suas mãos estão em
cada lado dos meus quadris quando ele entra e sai. Eu ofego quando ele
bate em um local no fundo, e eu inclino minha bunda para encontrar sua
pélvis. Os impulsos começam lentos, mas logo ele está aumentando o ritmo
e me levando para o limite.

morally questionable
— Lina, — ele geme, me enchendo até minha própria alma. — Eu te
amo, porra. Adoro você. Te adoro. — Ele diz, mudando para o italiano. —
Cara mia, ti amo, ti adoro, ti venero. — Os sons me excitam ainda mais e
eu me aperto ao redor dele, sentindo meu orgasmo se aproximando. Eu
volto, tocando seu osso do quadril e pedindo que ele vá mais rápido.

— Porra! — Ele grita, derramando-se dentro de mim, assim que eu


chego. Ele cai sobre mim, me abraçando por trás e beijando meu ombro.

— Você é tudo para mim. Você sabe disso, não é? — Ele fala contra a
minha pele, o ar quente me fazendo tremer. Eu levanto meu pescoço,
trazendo a cabeça dele na curva do meu ombro para que eu possa tocar
meus lábios nos seus. — Eu também te amo, marito. — Eu sussurro,
usando a palavra para marido, reivindicando-o como meu.

Ficamos assim por um tempo, ele ainda dentro de mim, sua pele
produzindo calor sozinho, seus braços enrolados em volta dos meus. Até o
telefone tocar.

— Porra! — Ele murmura, relutantemente se arrancando do meu


lado.

— Sim? —Marcello atende o telefone e eu me viro, observando-o. Ele


franze a testa, estreitando os olhos para o que o orador está dizendo.

— Alguém ferido? — O que? Eu me endireito, agora curiosa.

morally questionable
— Entendo. — Ele diz, franzindo os lábios. Ele desliga, jogando o
telefone na mesa antes de se dirigir a mim.

— Foi seu irmão. Houve um incêndio em Sacre Coeur.

— E? — Estou subitamente alerta.

— Sua cunhada está morta.

morally questionable
EPÍLOGO

Anos Depois

Véspera de Natal

— A carne pode não estar pronta a tempo. — Lina se inclina para


sussurrar. Meus olhos se arregalam de horror.

morally questionable
— Você percebe que temos um monte de pessoas perigosas e famintas
naquela sala, não é?

Ela franze os lábios. — Eu não posso simplesmente fazer isso


magicamente. Todo mundo quer de maneira diferente. Enzo quer meio
passado; Adrian quer bem passado, e Bianca quer mal passado. Eu nem
vou pensar nisso, mas ela pediu especificamente um bife sangrento.

— E não queremos deixá-la com raiva. — Concordo.

— E você também precisa dizer para eles se comportarem. Não se fala


em matar alguém, drogas ou qualquer outra coisa que vocês façam. Você
sabe que Claudia está trazendo o namorado dela. Não queremos assustá-
lo. — Lina enfia o dedo no meu braço, sua expressão séria.

— Claro. Eles vão se comportar. — Eu aceno, mesmo que eu duvide.


Dou-lhe um beijo para distraí-la antes de voltar para a sala de jantar.

Enzo e sua esposa estão sentados de um lado, enquanto Adrian e


Bianca estão do outro. Eles parecem estar envolvidos em uma discussão
acalorada. Ao me aproximar, me encolho com o que ouço.

— Não, acho que não. Aposto que minha filha é melhor do que seu
filho. — Ela se levanta, plantando as palmas das mãos sobre a mesa. —
Vamos fazer um concurso. — Ela remove duas pistolas das costas e as joga
na frente de Enzo.

morally questionable
— Woo. — Eu levantei minhas mãos. — Eu pensei que disse sem
armas. — Adrian me dá um olhar e balança a cabeça. Sim, não é como se
eu acreditasse que Bianca viria sem uma arma com ela.

— Você. — Ela aponta para mim. — Você será o juiz. Diana contra
Lucca pelo melhor atirador. Eu mesmo treinei aquela garota, não tem
como o filho dele poder vencê-la. — Ela diz presunçosamente.

— Bianca, — começo, entrando no modo conciliatório completo. — Ela


tem dez anos. Ela não deveria estar usando armas.

— Você está com ciúmes. — Ela respira fundo, cruzando os braços


sobre o peito.

— E você, pare de morder a isca dela. — Eu me dirijo a Enzo.

— Eu não estou provocando ninguém. Estou apenas exaltando as


qualidades extraordinárias da minha filha. Muito superior ao do filho. —
Ela diz, parecendo inteiramente certa de sua declaração. Adrian geme alto
e se inclina para sussurrar algo em seu ouvido.

— Minha filha nunca! — Bianca exclama, escandalizada. Ela volta


para Enzo. — Diana nunca teria uma queda por seu filho. — Todo mundo
está rindo dessa afirmação. Bianca é a única desanimada pela ideia. Eu
também concordo que Diana parece ter uma queda por Lucca. Ela está
sempre seguindo-o. E ele não parece se importar muito.

morally questionable
— O que, você não gostaria de ter Enzo como seu cunhado? — Eu
pergunto brincando, mas a expressão dela me diz que devo deixar o
assunto de lado. Especialmente quando ela envolve a mão em torno de
uma pistola.

— Certo, — respiro fundo e mudo de assunto. — Claudia está


trazendo o namorado para casa pela primeira vez. Eu gostaria que todos
vocês se comportassem. Especialmente você Bianca.

Ela se inclina para trás, as sobrancelhas disparando. — Eu?

— Sim, você. — Eu respondo com desdém antes de continuar. —


Apenas tenha cuidado com o que você diz, ok? Este é o primeiro namorado
dela, e ela está falando sério sobre ele.

— Eu não acredito que você está deixando ela namorar. — Enzo


brinca. Ele mencionou suas opiniões sobre suas filhas namorando várias
vezes no passado, e é sempre a mesma coisa — nunca. Ainda bem que suas
filhas ainda são jovens, uma oito e a outra seis. Ele terá tempo para
aceitar.

— Não é tão fácil. — Eu suspiro. Claudia tem quase vinte anos agora,
e ainda não há como dizer a ela o que fazer.

Ela acabou sendo um prodígio. Ela conquistou seu GED aos quinze
anos e posteriormente se matriculou na faculdade. Ela se formou no ano
passado com honras e agora está em seu primeiro ano de faculdade de
direito. Foi também onde ela conheceu esse namorado. Meu humor azeda

morally questionable
só de pensar nisso. Quando eu fui contra o namoro dela, ela me deu um
ultimato pela primeira vez. Foi quando eu percebi o quanto ela se
importava com esse garoto que estava vendo. Claro que eu cedi. Não posso
deixar Claudia chateada comigo. Lina gosta de brincar que não há nada
que eu negasse à minha filha, e por mais que eu queira negar, ela está
certa.

Do canto do olho, vejo Lina me dando um polegar para cima. Eu aceno


para ela em reconhecimento antes de me voltar para os convidados.

— Alguém precisa reunir as crianças. O bife estará aqui em breve. —


Eu digo ao mesmo tempo que alguém bate na porta.

Merda! Eles estão aqui.

— Comporte-se, ok? — Repito antes de abrir a porta.

O rosto de Claudia sorri quando ela me vê, e ela pula nos meus braços.

— Papa, — ela envolve as mãos em volta do meu pescoço, me


segurando com força. Fecho os olhos e aprecio o sentimento. Não tinha sido
fácil dizer a ela que eu era o pai dela, e ela levou algum tempo para se
acostumar a me chamar de papai. Mas a primeira vez que ouvi a palavra
sair da sua boca, acho que chorei. Lina certamente diz que sim.

— Bem vinda ao lar! — Eu digo, e ela volta para me apresentar ao


namorado.

morally questionable
Eu disse garoto? Bem, ele definitivamente não era um garoto.

— Conheça Sterling, meu namorado. — Ela faz as apresentações


felizes. Eu estendo minha mão para um aperto forte. Relutantemente,
tenho que admitir que o domínio dele não é brincadeira.

Na mesma altura que eu, Sterling é bem construído. E com isso quero
dizer que ele é fisiculturista ou fanático por academia. Claudia parece
pequena ao seu lado. De repente, meus instintos paternais chutam a todo
vapor, e eu tenho que querer derrubá-lo um pouco para não envergonhar
Claudia.

— Prazer em conhecê-lo. — Eu cerro meus dentes.

— É ótimo finalmente conhecê-lo, Sr. Lastra. Claudia me falou muito


sobre você. Você é o modelo dela. — E ele é educado. Agora não posso odiá-
lo tanto, e isso me deixa louco.

Eu sorrio e os mostro para a sala de jantar.

Todo mundo já está sentado e, felizmente, a conversa é normal.

Claudia e Sterling seguem para o final da mesa.

Bem a tempo, Lina aparece com o último lote de bife. Colocando-o


sobre a mesa, ela senta ao meu lado. Eu lhe dou um beijo rápido.

morally questionable
— Eca! — Leo, nosso caçula, faz uma cara de nojo. Seu gêmeo, Mateo,
se junta e eles imediatamente começam a tagarelar e perturbar a
atmosfera.

Balanço a cabeça, mas evito repreendê-los desta vez. Afinal, é Natal.

Mirabella, nossa filha de oito anos, assume o comando enquanto


repreende os gêmeos. Depois que eles param, ela se vira para mim e pisca.
Não sei o que há com Mira, mas às vezes ela parece velha demais para a
sua idade. Talvez tenhamos outro prodígio em nossas mãos.

Eu rapidamente faço as apresentações, e Sterling se junta à conversa


sem esforço. Em algum momento, ele se vira para Claudia para perguntar.
— Onde estão suas tias? Você sempre falou muito bem delas. — O sorriso
de Claudia treme um pouco e ela olha para mim.

— Sisi não conseguiu. Ela está atualmente numa grande aventura


com o marido. Não sei o que ela está fazendo, mas estou assumindo algo
louco. — Eu balanço minha cabeça, um sorriso tocando nos meus lábios.
Sisi acabou sendo uma surpresa tão agradável. Quem sabia que dentro de
uma noviça havia uma rebelde?

— E a outra? Venezia, não era? — Sterling continua, e eu estreito


meus olhos para Claudia. Nós não falamos sobre Venezia. Nunca. Ela sabe
disso.

— Não estamos em boas condições. — Catalina interpõe, a mão dela


procurando a minha debaixo da mesa.

morally questionable
— Mas Claudia falou com muito carinho dela. O que aconteceu? — Por
que ele está tão curioso?

— Ela fez algumas escolhas que não eram do interesse desta família.
Agora ela tem que morar com eles. — Eu digo, esperando que ele abandone
o assunto. Venezia é um ponto dolorido para todos, sua traição cortou Lina
demais.

Enquanto as mulheres se dirigem para uma área separada com as


crianças — até Bianca, para minha surpresa — aproveito a oportunidade
para interrogar Sterling ainda mais.

— Então, o que você faz, Sterling? — Eu educo minhas feições para


que ele não perceba o quão perto estou de surtar. Eu nem quero imaginar
ele e minha filha... Sim, é melhor deixar a caixa de Pandora fechada.

— Eu sou um assistente técnico no departamento de economia. — Ele


sorri para mim calorosamente. Há apenas algo nele... Não consigo colocar o
dedo nele, mas ele me esfrega da maneira errada.

— E quantos anos você tem?

— Vinte e sete, senhor. — Ele responde. Eu tento me acalmar.

— Você percebe que minha filha tem apenas dezenove anos. Essa é a
diferença de idade. — Eu comento.

morally questionable
— Ela vai ter vinte anos no próximo mês, senhor. — Esse sorriso de
novo. — Nós nos amamos. Eu nunca faria nada para prejudicá-la.

— Eu vou estar te observando, Sterling. Ninguém mexe com minha


garota. Apenas lembre-se disso. — Eu olho nos seus olhos enquanto digo
isso, a ameaça refletida no meu olhar. Eu faria isso para que seu cadáver
nunca se recuperasse. Não inteiro, é isso.

Ele sorri. — Eu não ousaria, senhor.

Enzo e Adrian tem expressões divertidas em seus rostos, e quando eu


levanto uma sobrancelha para eles, eles dão de ombros e fazem um brinde.

Quando estou prestes a continuar a interrogá-lo, uma arma dispara


em casa.

— Porra! — Eu murmuro, correndo em direção à fonte do barulho.

Eu disse para eles se comportarem!

morally questionable
— Você sabe que ela não vai terminar com ele só porque você diz. —
Tiro meu robe antes de deslizar na cama ao lado de Marcello. Eu me
aconchego perto dele, colocando minha cabeça no peito.

— Eu não gosto dele. Eu o acho suspeito. Por que um cara de 27 anos


namoraria uma criança de dezenove anos? Faz pouco sentido, a menos que
ele esteja se aproveitando dela.

—Adrian não é oito anos mais velho que Bianca? — Eu pergunto,


tentando colocar as coisas em perspectiva.

Não é como se eu estivesse mais encantada com o namorado de


Claudia, mas sei como ela está apaixonada por ele. Ela compartilhou seus
sentimentos comigo desde o início, e eu a aconselhei a fazer isso. Ela nunca

morally questionable
olhou para um garoto antes, então pensei que ele devia ser especial. Mas
Marcello está certo de que Sterling não é exatamente o que imaginamos.
Pelo que Claudia havia descrito, nós dois imaginávamos algo como um
poeta incompreendido, um intelectual... O homem que conhecemos parecia
um problema; claro e simples.

— Isso é diferente. — Ele murmura baixinho, mesmo sabendo que é a


mesma situação. Pelo que ouvi, Bianca se envolveu com Adrian quando ela
tinha dezenove anos também.

— Eu sei que é a primeira vez que nossa filha está namorando, mas
lhe dê uma folga. Tente conhecê-lo. Tenho certeza que ele não pode ser tão
ruim se Claudia o ama tanto.

— Eu vou tentar. — Ele revira os olhos. — Isso não significa que eu


aprovo. — Eu inclino minha cabeça para trás para dar um selinho nos
lábios.

— Ele ficará até o Ano Novo, tenho certeza que você pode encontrar
um terreno comum. Marcello resmunga sua desaprovação, mas acaba
cedendo.

— Isso também significa nenhuma atividade no porão. Não


precisamos de ninguém questionando barulhos estranhos. — Eu o reprovo.

— Claro. Eu nunca faria isso com estranhos em casa.

morally questionable
— Bom. — Eu sussurro com aprovação. — Eu tenho um último
presente para você. — Eu abafo um sorriso enquanto vejo suas
sobrancelhas se franzirem em confusão. Eu já tinha dado a ele três
presentes, mas este é completamente diferente.

— O que é? — Ele olha para mim sedutoramente, e eu posso dizer


para onde sua mente está indo. Assim que ele me pega, eu o empurro de
volta.

Eu vasculho debaixo da cama e retiro um pequeno pacote.

— O que é isso? — Ele se coloca em uma posição sentada e pega o


pacote das minhas mãos.

— Por que você não descobre?

Ele rasga o papel até segurar um macacão branco bordado.

— É a minha nova coleção. — Eu dou uma dica a ele. Minha linha de


moda decolou nos últimos anos. Desde o início como uma pequena marca
online, agora sou um nome familiar para roupas femininas. Nesta
temporada, eu também expandi a linha para roupas de bebê,
especialmente devido à minha condição atual.

— É incrível, como sempre. — Ele elogia a roupa e se inclina para um


beijo.

— Isso não é tudo. — Eu adiciono timidamente.

morally questionable
— Não?

Pego a sua mão e a coloco na barriga. Seus olhos se arregalam


imediatamente na compreensão.

— Sério? — Ele sussurra, abaixando a cabeça e descansando na


minha barriga.

— Você me prometeu dez, Senhor. — Eu enfio minhas mãos no cabelo


dele.

— Eu não pensei que você me acompanharia nisso. — Marcello ri, mas


vira a cabeça e pressiona os lábios para onde está nossa pequena
maravilha.

— Obrigado. — Ele sussurra, levantando a cabeça para olhar nos


meus olhos. — Obrigado por me tornar o homem mais sortudo do mundo.

Fim

morally questionable

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